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Silvio Nunes da Silva Júnior

Organizador

ENTREVISTAS COM EGRESSOS:


O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM
LINGUÍSTICA E LITERATURA

TUTÓIA-MA, 2021
EDITOR-CHEFE
Geison Araujo Silva

CONSELHO EDITORIAL
Ana Carla Barros Sobreira (Unicamp)
Bárbara Olímpia Ramos de Melo (UESPI)
Diógenes Cândido de Lima (UESB)
Jailson Almeida Conceição (UESPI)
José Roberto Alves Barbosa (UFERSA)
Joseane dos Santos do Espirito Santo (UFAL)
Julio Neves Pereira (UFBA)
Juscelino Nascimento (UFPI)
Lauro Gomes (UPF)
Letícia Carolina Pereira do Nascimento (UFPI)
Lucélia de Sousa Almeida (UFMA)
Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB)
Marcel Álvaro de Amorim (UFRJ)
Meire Oliveira Silva (UNIOESTE)
Rita de Cássia Souto Maior (UFAL)
Rosangela Nunes de Lima (IFAL)
Rosivaldo Gomes (UNIFAP/UFMS)
Silvio Nunes da Silva Júnior (UFAL)
Socorro Cláudia Tavares de Sousa (UFPB)
2022 - Editora Diálogos
Copyrights do texto - Autores e Autoras

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Capa: Geison Araujo


Diagramação: Beatriz Maciel
Revisão: Autores e Autoras

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

E61
Entrevistas com egressos: o PPGLL/UFAL e a formação de pesqui-sadores
em Linguística e Literatura / Organizador Silvio Nunes da Silva Júnior. –
Tutóia, MA: Diálogos, 2022.

Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-89932-39-0

1. Línguas e linguagem. 2. Prática de ensino. 3. Literatura – Estudo e en-
sino. I. Silva Júnior, Silvio Nunes da.
CDD
370.71
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422

https://doi.org/10.52788/9786589932390

Editora Diálogos
contato@editoradialogos.com
www.editoradialogos.com
Sumário

Nota do organizador.................................................................................................. 7

Prefácio................................................................................................................................. 9

Entrevista com Rita de Cássia Souto Maior..........................................13


Rita de Cássia Souto Maior
Silvio Nunes da Silva Júnior

Entrevista com Valfrido Nunes........................................................................29


Valfrido da Silva Nunes
Maria Silma Lima de Brito

Entrevista com Marcelo Marques.................................................................42


Marcelo Ferreira Marques
Analice da Conceição Leandro da Silva

Entrevista com Fernando Oliveira................................................................49


Fernando Augusto de Lima Oliveira
Samuel Barbosa da Silva

Entrevista com Juliana Araújo.........................................................................57


Juliana Tereza de Souza Lima Araújo
Rosane Correia da Silva
Entrevista com Ana Luiza Fireman...............................................................66
Ana Luiza Azevedo Fireman
André Luis Guimarães Rocha

Entrevista com Almir Oliveira..........................................................................72


Almir Almeida de Oliveira
Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques

Entrevista com Antonio Carlos Lima.........................................................82


Antonio Carlos Santos de Lima
Geison Araujo Silva

Entrevista com Poliana Pimentel..................................................................89


Poliana Pimentel Silva
Humberto Soares da Silva Lima

Entrevista com Flávia Colen..............................................................................94


Flávia Colen Meniconi
Silvio Nunes da Silva Júnior

Entrevista com Lígia Ferreira.........................................................................105


Lígia dos Santos Ferreira
Nedson Antônio de Melo Nogueira

Posfácio............................................................................................................................116

Sobre os/as colaboradores/as......................................................................118

Sobre os/as entrevistados/as........................................................................123


Nota do organizador

Fui aluno regular do Programa de Pós-graduação em Linguística e


Literatura da Universidade Federal de Alagoas (PPGLL/UFAL) de 2017 a 2021.
Tenho acompanhado os avanços dados pelo PPGLL desde o meu ingresso e
percebo o compromisso social e político que uma pós-graduação em Linguística
e Literatura tem num estado com altos índices de analfabetismo e num contexto
acadêmico em que se privilegiam as ciências exatas.
Há 32 anos, a Profa. Dra. Maria Denilda Moura (in memoriam), após
travar uma grande luta dentro da UFAL e fora dela, conseguiu, com o apoio
de outros professores, a exemplo da Profa. Dra. Rita Maria Diniz Zozzoli,
ainda atuante no PPGLL, fundar o primeiro curso de mestrado do estado de
Alagoas, iniciado em 1989. Em 1995, outra conquista marcou a história da pós-
graduação em Letras, dessa vez com a implementação do curso de Doutorado
em Letras, dando uma amplitude acadêmico-científica à UFAL como um centro
de formação de professores e pesquisadores de Linguística e de Literatura com a
fundação do Programa de Pós-graduação em Letras.
Diante de um histórico repleto de desafios enfrentados e vencidos, o
PPGLL/UFAL tem sido uma oportunidade significativa para alunos que, assim
como eu, residem no estado de Alagoas e buscam qualificação profissional
pública, gratuita e de qualidade. Esses alunos, após concluírem seus cursos de
mestrado e de doutorado, vêm desempenhando suas funções pedagógicas e/
ou administrativas em diferentes partes do estado, da região e do país. Esses
resultados são de grande valia para que o PPGLL, a UFAL e os demais órgãos
possam observar os significativos impactos que a pós-graduação em Linguística
e Literatura proporcionam para a educação básica e o ensino superior no Brasil
e fora dele.

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Tomadas essas questões e considerando a minha posição de representante
discente no ano de 2019, quando o PPGLL/UFAL completou seus 30 anos de
existência e resistência, encabecei, por sugestão da Profa. Dra. Rita de Cássia
Souto Maior, o projeto de lançar um e-book comemorativo dos 30 anos da pós-
graduação em Linguística e Literatura na UFAL, tendo como foco o olhar do
aluno egresso sobre as contribuições do PPGLL para sua formação acadêmica e
profissional.
Por ser um projeto desafiador, contei com a colaboração de colegas alunos
regulares do PPGLL que trabalharam junto comigo para essa concretização
na busca por egressos do programa para realizar as entrevistas que aqui
apresentamos. Assim, a equipe foi composta por 10 alunos que entrevistaram
egressos de doutorado que desenvolveram investigações nas linhas de pesquisa
que compuseram o programa até o ano de 2019, a saber: Teoria e Análise
Linguística, Linguística Aplicada, Estudos Textuais, Análise do Discurso,
Literatura e História e Literatura, Cultura e Sociedade.
Dessa maneira, agradecendo aos colegas Maria Silma Lima de Brito, Analice
da Conceição Leandro da Silva, Samuel Barbosa da Silva, Rosane Correia da
Silva, André Luis Guimarães Rocha, Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques,
Geison Araújo Silva, Humberto Soares da Silva Lima e Nedson Antônio de
Melo Nogueira, convido aos leitores a mergulhar nesse conjunto de trajetos de
vida e pesquisa de egressos do PPGLL/UFAL, esperando que esta obra possa
instigar a busca de novos pesquisadores pelo ingresso no PPGLL, no intuito de
expandir as tantas contribuições que a pós-graduação pode dar para quem se
propõe a pesquisar e compartilhar saberes.

Silvio Nunes da Silva Júnior


Maceió, 12 de novembro de 2021

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Prefácio

Um livro à roda do diálogo, um PPG


à prova do tempo

Diálogo. Escolhemos começar o prefácio ao livro Entrevistas com egressos:


o PPGLL/UFAL e a formação de pesquisadores em linguística e literatura por uma
palavra – se todos/as que fazemos o Programa de Pós-Graduação em Linguística
e Literatura da Universidade Federal de Alagoas nos dedicamos, em última
instância, a reparar nas palavras, seja pelo viés da linguística, seja pela mirada
dos estudos literários. Entendemos que justamente o termo diálogo aglutina e
sintetiza os esforços, os sentidos e as possíveis repercussões deste livro organizado
por um distinto egresso do PPGLL e da graduação em Letras da UFAL, o
pesquisador e professor Silvio Nunes da Silva Júnior, que, em companhia de
atuais discentes do Programa, teceu uma potente roda de conversa com gente
que se formou e ajudou a formar isso que hoje é o maduro PPGLL.
A entrevista constitui um gênero discursivo dialógico por excelência, se
experimenta, suscita, faz a anácrise (provoca, no sentido grego dos diálogos
socráticos) do discurso do/a interlocutor/a. E, aqui, estamos diante de
interlocutores/as excepcionais porque contam suas narrativas junto ao PPGLL
sob duas perspectivas simultaneamente diversas e fundamentais: a de discentes,
que estiveram em formação no Programa, em variados momentos da história
deste; a de profissionais em atuação no mundo do trabalho, como egressos da
UFAL engajados em formar pessoas no âmbito das Letras nos mais diversos
espaços onde atuam. Tal lugar duplicado das/os entrevistadas/os permite às/
aos leitoras/es enxergar o PPGLL por dentro e por fora, conhecer suas Linhas

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de Pesquisa, muitos dos projetos que nele se desenvolvem, passar por alguns/
algumas docentes que aqui fazem história. Mas o livro permite saber também
que existe vida para além do PPGLL: que Maceió, o agreste e o sertão alagoanos,
suas diversas regiões, bem como as cidades e os estados limítrofes de Alagoas
se transformam pela palavra e pela ação dos tantos sujeitos que passaram pelo
PPGLL.
Este é o sentido maior de um Programa de Pós-Graduação stricto sensu
público e gratuito na área de Letras, o único com sede em Alagoas: transformar,
pela palavra e pelas práticas sociais, as pessoas e as histórias de um lugar. Sendo
“lugar” aqui entendido como um conceito-em-movimento, que vai se expandido,
como o PPGLL no decurso de sua história. O PPGLL responde por Alagoas,
mas também pelo Brasil e pelo mundo – na medida em que seus docentes,
discentes e egressos vão povoando a pesquisa em Linguística e Literatura por
onde circulam, fazendo parte de Associações da Área de Letras (ABRALIN,
ABRALIC, ANPOLL...), ocupando espaços nas diversas instituições de Ensino
Superior do estado e do país (IFAL, UNEAL, etc.), realizando estágios pós-
doutorais ou desenvolvendo projetos no exterior. Portanto, a condição dupla
da/o egressa/o – um pouco aqui, um pouco lá – vivamente explorada por esta
publicação, permite-nos pensar na condição dúplice de cada um/a de nós
atualmente em relação ao PPGLL. Somos a construção contínua desta história
de formação científica, docente e artística no estado de Alagoas. Somos, ainda,
responsáveis pela tarefa de espraiar o que pensamos e o que fazemos pelo Brasil
adentro, pelo mundo afora.
A convivência de diversos pontos de vista sobre um mesmo objeto – neste
caso, a formação propiciada pelo PPGLL – parece ser a fatura principal da
obra que se segue. Acessando este livro, a/o interessada/o poderá conhecer o
que é precisamente que pesquisamos em linguística e estudos literários, sendo
contempladas as vertentes investigativas em torno das quais se organizam as
Linhas de Pesquisa no Programa. Quando do início do desenvolvimento desta
publicação, em 2019, ano dos 30 anos do PPGLL, o Programa se despedia de
sua disposição em seis Linhas, aqui finamente representadas: Teoria e Análise

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Linguística; Linguística Aplicada; Estudos Textuais; Análise do Discurso;
Literatura e História; e Literatura, Cultura e Sociedade. No último biênio
(2019-2020), para atender melhor às demandas da CAPES e considerando-se a
realidade docente efetiva do Programa, ficamos com quatro grandes Linhas de
Pesquisa – vivas e em atividade até a presente data: Teoria e Análise Linguística;
Linguística Aplicada e Processos Textual-Enunciativos; Discurso: Sujeito,
História e Ideologia; Literatura: Poéticas, Cultura e Memória. A história, seja a
da Pós-Graduação, seja a das instituições, seja a de um lugar impele mudanças
sempre. Possivelmente, o diálogo responde como uma das formas mais seguras
e acertadas de mudar – forma não menos exigente e desafiadora.
Então, este livro de diálogos, com egressos que hoje são professoras/
es na Universidade Federal de Alagoas e no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia de Alagoas em seus mais diversos campi, ou que atuam
com processos da linguagem, práticas discursivas e ações pedagógicas nos mais
variados espaços e instituições, mostra que provocar a palavra e ouvi-la/lê-la/
apreendê-la ainda constitui uma importante forma de conhecimento – em
voga, pelo menos, desde os antigos discípulos de Sócrates... Entrevistas se fazem
com pessoas, assim, resta-nos agradecer às/aos egressas/os que se dispuseram a
fazer o caminho de volta para contar experiências, naquele sentido preconizado
pelo filósofo Walter Benjamin. Então, deixamos os nossos cumprimentos às
colegas de FALE/UFAL, Rita de Cassia Souto Maior, Flavia Meniconi e Ligia
Ferreira; ao colega de UFAL, Marcelo Marques, destacando a contribuição que
seguem oferecendo junto ao PPGLL, ou atuando como docentes permanentes,
ou formando quadros discentes que ingressem no Programa; como também
saudamos as professoras/pesquisadoras e os professores/pesquisadores que fazem
educação e ciência incansavelmente nos seus espaços laborais: Valfrido Nunes,
Fernando Oliveira, Juliana Araújo, Ana Luiza Fireman, Almir Oliveira, Antonio
Carlos Lima e Poliana Pimentel.
Há também um conjunto de figuras comprometidas com a história e com
o presente do PPGLL que precisamos destacar: as/os discentes que, por um
momento, deixaram seus objetos e corpus de pesquisa e foram tecer pontes de

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palavras com as/os egressas/os do mesmo Programa em busca de histórias – essas
que fazem a vida, em sua agoralidade, ficar plena de sentidos. Parabenizamos e
agradecemos, portanto, a: Maria Silma Lima de Brito, Analice da Conceição
Leandro da Silva, Samuel Barbosa da Silva, Rosane Correia da Silva, André Luis
Guimarães Rocha, Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques, Geison Araújo
Silva, Humberto Soares da Silva Lima e Nedson Antônio de Melo Nogueira e,
especialmente, a Silvio Nunes da Silva Júnior, pela empreitada corajosa. Sim,
porque dialogar no momento em que o país foi tomado pelo autoritarismo
político e pela barbárie sanitária (que, parece redundante dizer, é, em última
instância, também política), tornou-se gesto de coragem. Mas é isso mesmo que
a vida quer da gente – Guimarães Rosa o defendeu com suficiente propriedade
literária.
Finalmente, desejamos, após finda nossa gestão à frente do PPGLL/UFAL
(encerrada em junho de 2021) e findo este prefácio, que o presente livro possa
contribuir para o que todas/os nós almejamos: que este Programa de Pós-
Graduação em Linguística e Literatura, após 30 anos de existência, siga existindo
por mais tantos 30 anos. Existindo com qualidade, auferida pela Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pelas pessoas que o
fazem (discentes, docentes, egressos/as e técnicos); existindo com justiça histórica,
perpetuando justiça social, política e intelectual; existindo com humanidade e
liberdade – duas outras palavras que merecem destaque neste palco de diálogo.

Miguel Oliveira Jr. & Ana Clara Magalhães de Medeiros


Coordenador e Vice-Coordenadora na Gestão 2019-2021
do PPGLL/UFAL
Maceió, 01 de dezembro de 2021

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Entrevista com
Rita de Cássia Souto Maior
Rita de Cássia Souto Maior
Silvio Nunes da Silva Júnior

Concedida em 03 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-1
SILVA JÚNIOR: Para dar início, pergunto: quais os seus interesses de pesquisa
atuais e como seu período como discente de mestrado e doutorado no PPGLL
contribuiu para a ampliação dos seus olhares para os estudos sobre a linguagem
em uso?

RITA DE CÁSSIA SOUTO MAIOR: A sua pergunta me direciona ao


período em que era discente de mestrado e doutorado neste programa, mas
eu vou começar pela própria graduação, na Faculdade de Letras, porque o
andamento dos trabalhos de mestrado e doutorado, dentro do PPGLL/UFAL,
foi continuidade, de certa forma, ao que já tinha sido construído na graduação
em Letras na UFAL. Foi o período em que tive a oportunidade de ser bolsista
de Iniciação Científica. Trabalhei, à época, com a noção de compreensão e de
sujeito, mais especificamente de sujeito relativamente autônomo, categoria
desenvolvida pela minha orientadora na época, a professora Rita Maria Diniz
Zozzoli. Esse trabalho foi fundamental, posso dizer mesmo que basilar para o
que foi desenvolvido a posteriori. No mestrado, eu trabalhei com a perspectiva
da Teoria de Frankfurt, refletindo sobre a emancipação do sujeito, sobre a
argumentação e a noção de ética. Foi uma pesquisa de intervenção, numa escola
pública, com alunos/as do Curso Normal do Centro Educacional de Pesquisas
Aplicada/CEPA, em Maceió/AL. E, dentro desse trabalho de pesquisa-ação na
área de Linguística Aplicada, eu pude ver a atuação de um professor em sala
de aula e, naquele momento, já me despertava o interesse para a questão do
discurso e da relação discurso e subjetividade, discurso e sujeito, de como essa
relação vai se reverberando em práticas sociais e como os sentidos vão, de certa
forma, constituindo as práticas, os sentidos de mundo, as ações dos sujeitos
e vão inculcando, nas práticas sociais, na sociedade, determinadas “verdades”,
digamos assim. Aí já também se inicia meu interesse pela noção de ética, como
falei anteriormente. Na época, meu trabalho de mestrado foi qualificado com
a passagem direta para o doutorado. Tive que defendê-lo em dois meses após
a qualificação, e ele foi intititulado Argumentação, ética e emancipação em sala
de aula: uma pesquisa-ação. E essas noções de ética, de sentido, de discurso,

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de implicação das práticas sociais e de argumentação já me levaram para uma
discussão sobre o ethos do sujeito; não naquela perspectiva grega de sentidos,
mas numa perspectiva discursiva; um ethos que expressa uma constância no agir,
no sentido discursivo. Assim veio a tese. Eu construí a noção de ethos especular,
na qual, através da alteridade bakhtiniana, o sujeito uno é um sujeito também
coletivo, que surge na relação eu e outro. Então, acho que meu interesse
sempre girava em torno dessas temáticas. A tese foi defendida em dois anos e
intitulada As constituições de Ethos e os Discursos Envolventes no Ensino de Língua
Portuguesa em Contexto de Pesquisa-ação. Posso dizer, em resumo, que as minhas
problematizações me levam, até hoje, a questionar a implicação sobre o que se
diz, como se diz e para quem se diz. Atualmente, por exemplo, no ENALA,
que foi o Encontro Nacional de Linguística Aplicada [ocorrido em setembro de
2019, na Fale/Ufal], eu fiz uma palestra no evento – agora estamos terminando
de organizar o livro desse evento – sobre os discursos de ódio e as redes sociais1,
porque a Linguística Aplicada é uma área que vai se debruçando sobre os temas
da contemporaneidade, sobre o que surge nas práticas sociais de linguagem.

SILVA JÚNIOR: Numa análise de seu currículo na plataforma Lattes observei


que a senhora ocupou diferentes cargos administrativos e, atualmente, exerce o
cargo de Diretora da Faculdade de Letras da UFAL. Conte um pouco de seu
percurso enquanto professora e representante de cargos como coordenação de
cursos, membro de colegiados e gestora de unidade.

RITA DE CÁSSIA SOUTO MAIOR: Eu acho que, novamente, vou recorrer


um pouco à época em que era estudante. Sempre fui representante de sala,
principalmente na época em que não existia o WhatsApp e redes sociais [risos].
Havia a necessidade de ter aquela pessoa que iria entrar em contato com os
colegas, então, eu assumia esse papel muitas vezes. Na graduação, iniciada em
2002, não havia ainda essa facilidade de contato e também era uma época

1 A ética discursiva em tempos sombrios: linguagem e sentidos.

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diferente, fui representante de sala em alguns momentos, em algumas turmas e
disciplinas, naquelas que os professores solicitavam. Depois, quando passei na
seleção da pós-graduação, em 2006, fui representante discente por 4 anos. Como
representante, junto com meu colega, prof. do Instituto Federal de Alagoas
hoje, prof. Fábio Santos, organizamos o Seminário discente da pós-graduação.
Não era o primeiro, mas fundava uma série de Seminários bem importantes
na Fale a meu ver. Desse seminário, saiu o primeiro livro de resumos que, à
época, tinha sido publicado em um blog. Então, foi bem interessante. Assim
que assumi como professora efetiva na Fale, o primeiro cargo de gestão foi o
de Vice-Coordenação da Câmara de Extensão e, depois, de Coordenação. Na
Coordenação de Extensão, promovemos o 1º Seminário de Extensão da FALE/
UFAL. A extensão também recebe uma sala própria na época. Recebemos recursos
do Programa de Extensão e também bolsista de pesquisa. São boas lembranças.
Não quero dizer que fui eu que consegui tudo isso que estou relatando, mas
todo grupo articulado, toda faculdade, todos os professores que são muito
envolvidos com a extensão iniciam uma relação com a extensão mais político-
institucional. Hoje nós temos 20% da extensão de toda UFAL na Faculdade de
Letras, segundo um estudo que foi feito o ano passado e a Faculdade sempre
teve um histórico muito rico de protagonismo na área. As Casas de Cultura,
por exemplo, são extremamente importantes para a comunidade e estão na
memória dos cursos de línguas em Alagoas. Nossa extensão não se resume a elas,
obviamente, e muitos de nossos professores são envolvidos em outras frentes
com essa linha de atuação do tripé universitário [ensino, pesquisa e extensão].
Esse primeiro seminário de extensão foi muito empolgante, muito importante
para a faculdade também. Nós tivemos a sala, tivemos um programa, à época, de
extensão que dava um certo recurso e orçamento para a extensão. Conseguimos
computadores. Foi uma época muito boa para mim no sentido de aprendizado
político-acadêmico mesmo. Eu participava das reuniões do Comitê de Extensão
e me envolvia com todas as frentes que surgiam e que poderiam inserir a Fale no
seu lugar mais atuante, digamos assim. Sobre o interesse pela gestão, acho que é
por conta de eu sempre ter entendido a educação e a atuação social dos sujeitos
como atuações políticas. E não há nada melhor para você aprender a lidar com

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a política, com a organização sistemática das leis, normas, normatizações, com
discussões sobre andamento das atividades no sentido mais administrativo,
com o entendimento social dessas normas e com o engajamento nas mudanças,
como quando estamos na gestão. Nesse sentido, nunca consegui ser o que se
chama “dadora de aula”: uma professora que vai lá e ministra suas aulas. E, como
aluna, nunca fui apenas aquela que ia assistir às aulas. Sempre me envolvia com
outros projetos paralelos. E acho que a gestão foi um lugar em que me encontrei
como pessoa para atuar no sentido de contribuir com o coletivo. Depois da
Coordenação de Extensão, veio a Coordenação de Graduação. Foram quatro
anos de muito trabalho também porque foi o momento em que a graduação
de Língua Espanhola, Francesa, Inglesa e Portuguesa da FALE que, até então
era uma só, estavam se desmembrando em quatro cursos. Os quatro cursos
que, inicialmente, eram vistos e trabalhados como habilitações, mas que foram
desmembrados de fato naquela época. Foram atualizados os quatro PPCs – à
época a coordenação ainda era chamada de “supercoordenação”, porque era uma
coordenação para os quatro cursos presenciais de línguas, excetuando-se o de
Libras. Além de atualizar os projetos pedagógicos de curso, o corpo docente
dos cursos construiu, também, os projetos pedagógicos mais atuais, de acordo
com as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2015. Foi uma época de muito
trabalho, inúmeras reuniões, criação de Grupos de Trabalhos, etc. mas também,
um período de muito aprendizado para mim. A gestão é um lugar muito especial
porque lida com questões acadêmicas, políticas, humanas e administrativas, no
sentido orçamentário também, óbvio. Mas é um espaço no qual lidamos muito,
também, com as questões de base da educação no país porque é onde podemos
promover, de fato, essas mudanças que podem se reverberar para um âmbito
maior da sociedade. Não me lembro agora o nome, mas acredito que esse tipo
de mudança seja uma mudança de base. O trabalho na gestão, essa experiência
no sentido de contribuir, para mim, é como se fosse uma ação no mundo, é uma
“política de ação”. A gestão é o espaço pelo qual todos os professores deveriam
passar, na minha opinião, porque nós lidamos com a engrenagem da organização
do saber didático-pedagógico, com a engrenagem mesmo da política.

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SILVA JÚNIOR: Como docente pesquisadora, como a senhora avalia a
importância e os avanços dados pela linha de pesquisa de linguística aplicada no
PPGLL/UFAL?

RITA DE CÁSSIA SOUTO MAIOR: Hoje a linha se chama Linguística Aplicada


e Processos Textual-Enunciativos. Somos sete professores compondo essa linha.
Especificamente, falando da linguística aplicada, temos uma atuação muito forte
no estado, principalmente por conta desse vínculo com a perspectiva do ensino-
aprendizagem da educação básica, da educação de um modo geral. Tivemos,
recentemente, convênios internacionais na linha. Os projetos de extensão,
como já falei anteriormente, tem um número bastante expressivo dentro da
Universidade Federal de Alagoas. Então, há muitos trabalhos no PPGLL, na
linha Linguística Aplicada e Processos Textual=Enunciativos, que resultam de
trabalhos de extensão. Por exemplo, houve um projeto de extensão que fizemos
em 2016 e dele,três colaboradores – dos que me lembro – tiveram seus projetos
aprovados em trabalhos de mestrado, sempre com a educação básica do estado,
trabalhos que, agora, estão com todo fôlego para um possível doutorado.
Então os projetos sempre trazem um bom retorno para a pesquisa na área e
para a educação no estado. Também vale destacar essa interface com o próprio
PROFLETRAS2, porque hoje temos professores que atuaram lá naquele projeto
de extensão ou já formados ou se formando no curso Profissional. Estou dando
esse exemplo de 2016 do projeto que se chamava “Formação de Professores:
Ação na Reflexão”. Era um projeto interinstitucional. Foi feito com o professor
Antônio Carlos Santos, que foi o professor colaborador da dissertação que havia
desenvolvido há anos atrás no curso normal, sobre o qual falei. Então, a LA
tem um diálogo muito bom com a educação no estado nesse sentido. O Pibid,
também, que se expande em alguns projetos no PPGLL, surge como uma ação
na graduação, mas que se desenvolve para as pesquisas da pós. Com o Pibid,
que nas últimas três coordenações esteve nas mãos de professoras da LA, nós

2 Programa de Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS).

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temos desenvolvido TCCs, Pesquisas no Pibic, dissertações. Essa atuação no
Pibid faz com que os participantes ajustem projetos com muito mais fôlego para
a defesa de projetos no programa de pós-graduação, por exemplo. Lembro-me,
rapidamente, de pelo menos quatro dissertações que vieram dessa atuação no
Pibid. A linha de LA trabalha com algumas categorias que são, digamos assim,
muito operacionais no sentido de estarem vinculadas com o trabalho docente,
ou seja, com leitura e produção de texto, com letramento, com a perspectiva
dialógica do ensino. Então, são sempre categorias que são muito bem-vindas em
sala de aula. Elas são muito necessárias nesse processo de ensino-aprendizagem.
As principais, com meus orientandos, são: a questão da identidade do professor,
as subjetividades nas interações, a perspectiva do sujeito nas produções de texto,
na leitura e a perspectiva do ethos nos discursos. Acho nossa atuação, a da linha,
bem representativa junto às escolas de Alagoas e estados vizinhos também. Nós
temos alunos que vêm de outros estados e o ensino-aprendizagem é o carro-
chefe dos estudos, posso dizer assim. O discurso e o texto também são itens de
interesse dentro da linha. Eu creio que essa atuação junto aos professores e com
os professores seja nossa fortaleza.

SILVA JÚNIOR: Comente sobre as possíveis contribuições que as pesquisas de


linguística aplicada, desenvolvidas no PPGLL/UFAL, para o ensino de línguas e
a formação docente num estado tão necessitado como Alagoas.

RITA SOUTO MAIOR: Eu acho que abordei um pouquinho sobre o ensino


na resposta três. Então, vou fazer o seguinte. Vou pedir que se considere essa
interface entre a três e a quatro. Vou só complementar dizendo que, para mim,
o interessante em estar em um programa de pós-graduação, ter sido aluna e ter
visto, também, o lado do que é o fazer dentro do programa de pós-graduação, é
a contribuição que pude dar para uma cultura do fazer aqui no nosso programa.
Ter estado nesses espaços de gestão, ter feito parte do colegiado do programa
de pós-graduação ainda como aluna, depois como professora e, ainda, atuando
como professora, acho que o importante é todo esse diálogo que fazemos com

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o que está acontecendo. Não se trata de um estudo apenas do que aconteceu.
Por exemplo, a BNCC, que está sendo discutida e estamos na fase de consulta
pública da base para o ensino médio, ela tem sido mote de alguns estudos dentro
do nosso programa de pós-graduação, às vezes, não como o projeto maior, mas
é impossível não falar sobre a base hoje, como estamos tratando de sala de aula,
de ensino de línguas de um modo geral, não só a língua materna. Porque, por
exemplo, a BNCC-Linguagens tem uma proposta de transdisciplinaridade.
Quando falamos em linguagem, falamos de língua portuguesa, língua inglesa
como língua estrangeira, que é a língua eleita para o ensino nessa perspectiva
do estado, educação física e artes. Então, essa é uma preocupação muito atual
para os professores que estão nas redes públicas e privadas do estado. E, estando
num programa de pós-graduação, você tem a oportunidade de fazer uma análise
crítico-acadêmica e discursiva daquele documento e das repercussões deste
para a constituição da subjetividade desse professor que lida com essas políticas
educacionais. Saber e pesquisar sobre o que a base significa para o trabalho
docente, quais as repercussões em sala de aula etc. Nós temos muitos trabalhos
de observação, de pesquisa-ação, pesquisa de intervenção e essas tomam rumos
a partir do orientador e da perspectiva dentro da linguística aplicada que se
assume. Penso que a contribuição das pesquisas em linguística aplicada para
o ensino de línguas e para a formação docente vem principalmente nesse
sentido: de estarmos sempre atentos a como podemos contribuir para o que
está acontecendo contemporaneamente. Isso é fundamental porque não se trata
apenas de um estudo da práxis por si mesma, há sempre nessa perspectiva de
situar o interesse de análise na história e nas relações interpessoais. Acho que isso
é muito importante como contribuição.

SILVA JÚNIOR: Quais as principais atividades que a senhora exerce como


coordenadora do GT ensino-aprendizagem na perspectiva da Linguística
Aplicada na associação Nacional de Pós-Graduação em Letras e Linguística?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 20


RITA SOUTO MAIOR: Eu posso responder a essa pergunta dentro de uma
perspectiva mais técnica e dizer, de fato arrolar as atividades que tenho, mas
entendi que não é isso exatamente que você pretende saber. Primeiro, é bom
compreendermos o quanto é importante ter um GT que fale especificamente
sobre um tema e que traga essa relação com outros programas de pós-
graduação, com outros professores que atuem em todo Brasil. É um papel
extremamente importante e uma responsabilidade muito grande. Eu sinto
uma responsabilidade, mas também muito prazer e felicidade por estar, hoje,
coordenando esse GT. Inicialmente, falando sobre o grupo, tivemos que fazer
algumas reformulações ao assumir a coordenação, como a inserção de novos
membros e a organização de uma produção, porque o GT tinha uma proposta de
sair com um livro todos os anos. Nós tratamos sobre a educação básica no livro
do ano anterior. A obra em 2020 será um dossiê na Revista Leitura do PPGLL,
com a participação dos membros e da comunidade externa também. Lembro
também que houve uma reunião da Associação Nacional dos Programa de Pós-
graduação em Letras e Linguística – Anpoll em Maringá, dos coordenadores
de GT, em setembro de 2019, em que estavam também os coordenadores de
pós-graduação. Nessa reunião, recordo que o tema que foi muito importante e
debatido era a necessidade de uma popularização da ciência. E isso está além do
nosso GT claro. O ataque às universidades que percebemos até hoje alertou para
esse desconhecimento que a população tinha do que fazíamos – do que fazíamos
digo de modo geral. Penso que linguística aplicada tem uma atuação diferenciada
nesse sentido porque ela sempre teve não só o pé, mas a mão, o corpo todo, na
perspectiva prática da linguagem, pois essa é uma das características da linguística
aplicada: problematizar. Você vai desnaturalizar o que parece ser natural. Você
problematiza, busca temas que são relevantes para a sociedade, desmistifica
determinadas crenças nas perspectivas de linguística aplicada. E eu falo no plural
mesmo: as perspectivas. Eu acho que essa preocupação com a popularização
da ciência é muito pertinente e importante e visa a “desencastelar” o papel da
pesquisa nas academias. Nós estamos num programa de pós-graduação e não
podemos pensar que aqui se faz pesquisa independentemente do mundo lá fora,

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 21


porque o que a fazemos na pesquisa implica em ações no mundo e em sentidos.
E é exatamente esse viés de trabalho que assumo como pesquisadora: como
os discursos vão construindo e constituindo as relações interpessoais, e como
isso, na perspectiva macro, traz implicações legais, éticas e até de sobrevivência
humana mesmo. Então, penso que essa agenda é nacional e é agenda da LA. É
preciso juntar forças e pensar em estratégias de aproximação, cada vez mais, com
as comunidades.

SILVA JÚNIOR: Como a senhora avalia os impactos gerados pela oferta de


cursos de graduação em letras, na modalidade à distância, para a promoção da
educação de qualidade no Estado de Alagoas?

RITA SOUTO MAIOR: Essa é uma pergunta muito importante para que
possamos refletir sobre a educação a distância hoje. Eu fui professora de curso
de educação à distância e, como professora, eu vivenciei impressões e emoções
desses alunos que recebem a universidade nos interiores. Então, nós – que
somos a universidade –, somos sempre vistos como algo eminentemente muito
positivo. Então, eu, como professora, sempre fui muito bem recebida. Digo
mais do que isso, não só muito bem recebida, as pessoas se emocionam muito
em ter a oportunidade de estudar na Universidade Federal de Alagoas e de ver
que elas não precisam “ir à montanha”, mas que a montanha vai ao interior, e eu
falo especificamente das cidades interioranas do estado de Alagoas. Então, como
professora, foi muito emocionante participar por um bom tempo do ensino de
educação à distância. Na Faculdade de Letras nós temos três cursos que trabalham
nessa frente: Espanhol, Inglês e Português. Inicialmente, tivemos atuações em
5 polos, depois diminuímos para 3 polos de Espanhol, por exemplo. E nós
tivemos, por exemplo, na última turma, 40 formandos no curso de Espanhol.
Em Português, nós temos mais de 20 formandos já. E, tanto Português como
em Espanhol, são cursos que, provavelmente, continuarão nessas novas turmas.
Depende, também, do que o governo vai responder em relação essa demanda
da educação à distância. Nós tivemos cortes orçamentários, como todo mundo

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 22


sabe. Isso vem prejudicando muito o andamento dessa proposta de educação à
distância e de outras propostas que, como falei, acho extremamente importante.

SILVA JÚNIOR: O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência é


a iniciativa que oportuniza o contato do licenciando com o ensino na educação
básica. Destaque, como ex-coordenadora do programa do curso Letras-Português,
os principais desafios que foram enfrentados no período que a senhora ficou
responsável.

RITA SOUTO MAIOR: O Pibid, para mim, é um programa, uma ideia,


uma organização excelente, um divisor de águas mesmo em muitas atuações
de licenciados. Digo isso porque muitos dos nossos alunos egressos, quando
concluem seus cursos e não tiveram a oportunidade de passar pela experiência do
Pibid, entram no mercado de trabalho e se tornam um pouco órfãos da academia,
porque não sabem muito bem o que fazer com tal problema porque aquela
teoria ou aquela discussão, de repente, não se encaixam no problema em que se
encontra lá na escola. E, aí, o que acontece? O Pibid desmonta essa estrutura
do trabalhar pós-estudo e você faz um trabalho docente, ao mesmo tempo em
que você está estudando. Então, por exemplo, em nosso Pibid montávamos
projetos de atuação junto com a professora da escola e toda semana nós fazíamos
as discussões sobre as problemáticas que eram encontradas. E, muitas das vezes,
ali, com o grupo todo reunido, discutindo, íamos construindo possibilidades
de atuação com aquele problema que surgia ou com aquela questão que surgia.
E, às vezes, era necessário retomar questões teóricas que tinham sido estudadas
para serem agora discutidas “com a prática” – veja que a questão teórica surge da
prática. O interessante não é você ter uma teoria solta no seu saber, é importante
se desenvolver trabalhos com reflexões práticas – claro que sabemos que há base
de estudos para tornar alguém, digamos assim, “especialista naquela área”, porque
temos os estudos de base, mas desenvolver esse saber sem reflexão crítico-prática é
muito complicado para uma formação docente. Há temáticas que são previsíveis
para a atuação de professores nas escolas e cursos, há categorias que se espera que

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 23


o egresso conheça para poder atuar naquele espaço, mas o que nós tínhamos com
o Pibid? Nós tínhamos, com o Pibid, uma ação prática nas escolas. Tínhamos o
retorno para a academia, para uma discussão com a coordenação pedagógica e,
também, com os supervisores, que eram os professores que atuavam junto com os
alunos na escola básica, coisa que não ocorre quando você conclui o curso. E nós
ali dialogávamos e não vou dizer que, com isso, sanávamos todos os problemas,
mas fazíamos surgir uma perspectiva de um pesquisador crítico, de um sujeito
crítico, de um professor crítico e reflexivo. Aquele professor crítico reflexivo que
tantos autores citam, explicam, caracterizam, nós víamos ali, na prática, surgir.
Porque o aluno, o formando sai de uma perspectiva mais teoricista para uma
perspectiva teórico-prática. Então, para mim, foi um programa fundamental,
uma experiência muito grande como coordenadora. Aprendi muito. Só para
finalizar, nós temos, com as Diretrizes Curriculares Nacionais de 2015, essa
mudança nos projetos pedagógicos, essa tentativa de mudança em relação à
questão prática nas licenciaturas. Nós temos a inserção de 400 horas práticas a
mais na carga horária, que passa de 2800 para 3200 horas. Infelizmente, as 400
horas de práticas não estão vinculadas a vagas para professor para a universidade.
Isso é lamentável porque visualizo nisso um problema. Mas nós temos, hoje, nos
novos projetos pedagógicos, que são regidos pelas diretrizes e pelos documentos
que saíram dos instrumentos de avaliação dos cursos de graduação. Nós temos
toda essa linha de raciocínio de se inserir a dimensão pedagógica com 1/3 da
carga horária e as 400 horas de práticas a mais. Eu acho que isso foi um ganho
muito bom para que as licenciaturas saíram dessa nódoa de serem tachadas de
bacharelados.

SILVA JÚNIOR: Vi que a senhora atribui uma atenção especial para os estudos
discursivos em seus diversos trabalhos em andamento e publicados. Quais as
temáticas que vêm sendo trabalhadas pelos seus orientandos, desde iniciação
científica até o doutorado no PPGLL/UFAL?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 24


RITA SOUTO MAIOR: Eu vou falar de modo geral, mas, depois, vou fazer
algumas remissões. Meu trabalho gira em torno de discurso e gênero, discurso e
identidade, discurso e poder, discurso e compreensão, discurso e ética, discurso e
epistemologia da pesquisa, discurso e ethos. Eu tenho orientado trabalhos sempre
numa perspectiva, como já tinha pontuado, de interpretação discursiva e como
isso implica nas práticas sociais. Então, por exemplo, eu tenho um trabalho,
agora, defendido pelo ex-aluno de mestrado, agora já mestre, Wanderson
Queiroz Bonfim, que é intitulado “A Construção das Identidades Homossexuais
Masculinas: Estudo de Caso de Cunho Etnográfico no Ensino Médio da
Cidade de Maceió” que trata de um tema que precisa ser estudado cada vez
mais. Tem trabalho da Joseane dos Santos do Espírito Santo, também defendido
em 2019, é uma professora da UFAL de Penedo. Traz uma discussão sobre
os “Discursos Envolventes nas Práticas Linguístico-Discursivas no Ensino de
Língua Portuguesa Escrita para Estudantes Surdos”. Essa perspectiva de ensino-
aprendizagem para os surdos também é uma temática de interesse dentro nossos
estudos e de extrema relevância para o desenvolvimento de uma educação mais
comprometida. Nós temos também atuado em alguns acontecimentos, fatos
históricos, como o próprio impeachment da Dilma Rousseff que foi o trabalho de
Valéria Moreira da Silva: “Humor e Crítica: Uma Análise Linguístico-Discursiva
das Charges Que Retrataram o Cenário do Impeachment da Presidenta Dilma
Rousseff”. Esses todos no ano de 2019. Em 2018, nós tivemos alguns trabalhos
já relacionados com aquele projeto de extensão que havia comentado. Tem o de
Ivandelma Gabriel da Silva, com o trabalho intitulado “A Construção Identitária
e Movimentos Interlocutivos Entre Professores e Alunas nas Atividades de
Produção de Textos do 1º Ano do Ensino Médio”. O de Rozirlania Florentino da
Silva, com “Análise e Construção das Identidades Responsivas de um Professor
de Língua Portuguesa”. O de Márcia Vanessa dos Santos Souza, que trabalha com
língua portuguesa como língua estrangeira, também é nosso interesse. Márcia
defendeu o trabalho já em 2017, não em 2018, intitulado: “As Constituições
do Ethos Especular de Estudantes Estrangeiros/as no Aprendizado de Português
como Segunda Língua Dentro de Uma Perspectiva Dialógica de Ensino”. Esses

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 25


são alguns temas. Vou citar mais dois de 2017. Foram os trabalhos de Lilian Luz:
“Práticas Linguístico-Discursivas em Consígnias e as Identidades do Docente
na Constituição de Saberes: Estudo Interpretativo em Turmas de Letras EAD
do IFAL”. Então, EAD também é uma ideia de interesse. E, por fim, o Kathia
Maria Barros Leite, também em 2017, que estuda os resultados desses projetos
de extensão: “Refletindo Sobre as Constituições de Ethos de Uma Professora da
Rede Pública de Alagoas: Uma Pesquisa Interpretativa”. Do Pibid, temos alguns
trabalhos em andamento, como o trabalho do André Praxedes, que está fazendo
uma análise sobre a perspectiva da avaliação no Pibid e o que significa avaliar
nessa perspectiva do ensino-aprendizagem. As áreas de interesse vão girando em
torno dessas temáticas que eu coloco. Tem o trabalho da professora Kristianny
Brandão, que está pesquisando também a perspectiva de EAD e formação de
professores. Tem o de Marta Marinho, que pesquisa sobre o Enem, com a
perspectiva discursiva. Então, veja que são sempre temáticas relacionadas ao
processo de ensino-aprendizagem, não só na perspectiva da sala de aula, mas no
discurso sobre a sala de aula. Isso é extremamente importante. Na graduação tem
alguns trabalhos. Eu orientei um trabalho na turma de Português na Educação
à Distância, da Eliane da Silva dos Santos, intitulado: “O Ethos do Professor
do Ensino Médio e suas Implicações no Ensino de Língua Espanhola”. Então,
tenho orientado para língua espanhola em alguns momentos, também, quando
o tema se refere a questões identitárias, de subjetividade. Foi o caso, também,
da aluna de graduação Vera Lúcia Galdino de Lima, com o trabalho “O Ethos
do Professor do Curso de Letras na Contemporaneidade, do curso de Letras-
Espanhol: observação e análise”. Tem um trabalho de graduação de Wilton
Petrus, que foi sobre o Pibid também, intitulado “A Produção de Textos na
Escola e as Relações Dialógicas Entre Interlocutores na Sala de Aula no Pbid de
Letras-Português”, e outros trabalhos, mas esses esses são os que, digamos assim,
dão um norte ao tipo de pesquisa que eu faço.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 26


SILVA JÚNIOR: Para finalizar a entrevista, gostaria que a senhora explicasse as
inquietações que a levaram a, atualmente, desenvolver um projeto na temática
da formação de professores e de que especificamente trata o seu projeto em
andamento?

RITA SOUTO MAIOR: Meu projeto em andamento trata exatamente


de formação dos professores, mas buscando fazer uma interlocução com a
perspectiva de Tardiff, de Pimenta, quando eles tratam sobre os saberes docentes.
Minha preocupação é saber interpretar e relacionar esses saberes docentes ao que
hoje a BNCC está implementando na perspectiva curricular, porque a BNCC
trata de currículo, do que vamos ensinar e de como vamos ensinar, porque há
propostas de grandes ateliês. Nos ateliês, vai haver a implementação dessa visão
de transdisciplinaridade, de diálogo entre os componentes curriculares. Nela as
disciplinas vão surgir, os objetos de estudo vão ser trabalhados, mas não com
essa linha tão forte de divisão entre: “aqui começa o saber e aqui termina o
outro”. A proposta é que nós trabalhássemos com temáticas dentro da própria
BNCC e, a partir delas, nós vamos encontrando esses componentes, como:
língua portuguesa, educação artística, educação física, língua inglesa, só para
dar exemplo com linguagens, mas há outras áreas obviamente. E, nessa rede,
vamos chamar assim, de saberes, a minha preocupação, com o meu trabalho
de pós-doc, desenvolvido na UFC, é entender como essa formação do curso
de Letras está hoje com a implementação das novas diretrizes, entendendo esse
olhar para o currículo. Eu considero como uma grande modificação do currículo
quando se pede, por exemplo, para que os temas transdisciplinares, de fato,
estejam no currículo dos licenciandos em letras e vemos a transdisciplinaridade
sendo tratada também na BNCC. Mas, ao mesmo tempo, acho que foi todo
o discurso contrário com a lei da “Escola Livre”, da “Escola Sem Partido” e
todo esse, digamos assim, discurso fossilizado de comunidades dentro dessa
sociedade que vão de encontro a essa formulação didático-pedagógica. Então,
minha preocupação, muito especificamente, é pensar nesses saberes: saber
didático-pedagógico, saber experiencial e o saber do objeto de estudo e na

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 27


constituição de uma dimensão de pesquisas sobre a ética do discurso. Como
é que esses saberes confluem para essa nova prática, a partir desses paradigmas
que hoje se formulam dentro da sociedade, e como as práticas de linguagem
constituem novas narrativas sociais, como os sujeitos se engajam nelas. Porque
nós estamos numa sociedade extremamente dicotômica em relação aos discursos
e precisamos saber como é que esses discursos se relacionam com questões da
dignidade humana, equidade social, respeito ao outro, cidadania etc.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 28


Entrevista com
Valfrido Nunes

Valfrido da Silva Nunes


Maria Silma Lima de Brito

Concedida em 05 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-2
SILMA BRITO: Professor Valfrido, realizando uma retrospectiva a começar de
2010, quando iniciou o seu mestrado, quais foram suas expectativas naquele
momento?

VALFRIDO NUNES: Eu era professor da rede estadual de ensino de


Pernambuco, efetivado com dois concursos, mas não queria parar de estudar.
Eu sabia que se permanecesse daquele jeito, eu estacionaria ali mesmo, como
a maior parte dos meus colegas. Sempre esteve claro para mim que eu deveria
verticalizar na minha área de formação. Como se tratava de um sonho, fui em
busca de sua realização. Prestei a seleção e fui aprovado. Minha maior expectativa
era busca pelo conhecimento, um conhecimento sedimentado, uma vez que a
graduação e até mesmo a especialização que eu tinha me pareciam um tanto
superficiais, talvez até pela minha falta de maturidade e de inexperiência com a
vida acadêmica. E posso afirmar que o PPGLL/FALE/UFAL foi fundamental
para essa consolidação dos saberes que eu buscava. A partir dali, desenvolvi certa
autonomia para caminhar com minhas próprias pernas.

SILMA BRITO: Você realizou alguma publicação em revistas/congressos ou


em outros meios de circulação acadêmica durante o período no PPGLL-UFAL?
Caso positivo, liste as temáticas que você considera mais relevantes.

VALFRIDO NUNES: Sim. Durante o mestrado participei de 11 congressos,


dos quais 2 foram internacionais, mesmo tendo ocorrido no Brasil. Publiquei
2 capítulos de livro, 7 trabalhos completos em anais de congressos e fiz 8
apresentações de trabalhos em eventos. Todas as temáticas abordadas nessas
publicações tinham a ver com o meu objeto de estudo, que focava em gênero
jornalístico, ou seja, a carta do leitor no Jornal do Commercio de Pernambuco.
Apresento assim, os resumos de alguns dos trabalhos divulgados durante o
mestrado:

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 30


• (Re)visitando os conceitos de língua/linguagem e gêneros do
discurso sob a ótica bakhtiniana: Considerando as diferentes perspectivas
teóricas existentes acerca do fenômeno da linguagem – estruturalismo,
gerativismo, interacionismo, dentre outras –, o presente trabalho discute
os conceitos de língua/linguagem e de gêneros discursivos à luz das ideias
do Círculo de Bakhtin. Muito além de uma abordagem puramente
formalista, a ênfase é dada às questões discursivas, em que se leva em
consideração o mundo da vida e a natureza do enunciado em sua realização
dialógica no contexto da interação verbal. Assim, os fundamentos teórico-
filosóficos deste trabalho pautam-se, prioritariamente, em algumas obras
do Círculo de Bakhtin (1997; 1998; 2003; 2009), bem como em leituras
de escritores autorizados que discutem estas mesmas obras, dando suas
contribuições, a exemplo de Faraco (2003) e Sobral (2009). A metodologia
adotada para este trabalho consiste em um cotejo entre as referidas obras
do Círculo, em que se pretende discutir os conceitos ora postos. Trata-se
de uma proposta relevante, visto que é fundamental para os profissionais
de língua (materna ou estrangeira) ter bem definidos esses conceitos,
especificamente quando da sua transposição para o ensino.

• Saussure e Bakhtin: duas visões, um mesmo objeto: Ancorados


precipuamente em leituras de Bakhtin e de seu Círculo (1997; 1998;
2003; 2009), bem como no clássico CLG de Saussure (2006), o presente
trabalho faz um estudo teórico, reflexivo e contrastivo entre as visões
de língua(gem) na perspectiva formalista e interacionista. As figuras
centrais são, respectivamente, Saussure e Bakhtin, para quem o objeto-
língua(gem) é focado sob um olhar radicalmente diverso. Um linguista
suíço e um filósofo russo, o sistema e o discurso: estas são apenas pistas
de uma acalorada discussão travada em torno da língua(gem), cuja
elucidação atrela-se a outros conceitos subjacentes, tais como a noção
de signo, o princípio do arbitrário, a ideia de social em cada uma das
tendências, o (não)atravessamento da ideologia etc. Assim, pretende-se

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 31


discutir tais visões à luz da realidade científico-filosófica contemporânea
de cada uma delas, sem esquecer as implicações que essas perspectivas
teóricas acarretam no ensino da língua portuguesa.

• No continuum fala/escrita, a carta do leitor: Discute traços da oralidade


no gênero textual Carta do Leitor e tem por finalidade evidenciar que,
embora se trate de um gênero escrito, é possível situá-lo no continuum
tipológico dos gêneros textuais, ratificando o posicionamento de que fala
e escrita, de algum modo, são bastante híbridas. Descartando uma visão
dicotômica dessas modalidades linguísticas, a análise parte de um exemplar
autêntico do gênero, colhido da secção Opinião do Jornal do Commercio
de Pernambuco. O procedimento metodológico é do tipo qualitativo,
em que se faz uma análise interpretativa do gênero, identificando a
presença da repetição de frases feitas, as quais são típicas da conversação
espontânea do cotidiano. O referencial teórico-epistemológico assenta-se
na Linguística do Texto e do Discurso e mais especificamente na Análise
de Gêneros, a partir dos estudos de Bakhtin (2003; 2009), Marcuschi
(2003; 2007a; 2007b; 2008; 2009), Koch (2009), Melo (1999), Matias
(2009), dentre outros. Assim, partindo de uma concepção dialógica da
língua, espera-se clarificar as relações fala/escrita neste gênero, com o
intuito de contribuir para possíveis aplicações no ensino-aprendizagem
da língua portuguesa.

• Aspectos da oralidade no gênero carta do leitor: Discute traços


da oralidade no gênero textual Carta do Leitor e tem por finalidade
evidenciar que, embora se trate de um gênero escrito, é possível situá-lo no
continuum tipológico dos gêneros textuais, ratificando o posicionamento
de que fala e escrita, de algum modo, são bastante híbridas. Descartando
uma visão dicotômica dessas modalidades linguísticas, a análise parte de
um exemplar autêntico do gênero, colhido da secção Opinião do Jornal
do Commercio de Pernambuco. O procedimento metodológico é do

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 32


tipo qualitativo, em que se faz uma análise interpretativa do gênero,
identificando a presença da repetição de frases feitas, as quais são
típicas da conversação espontânea do cotidiano. O referencial teórico-
epistemológico assenta-se na Linguística do Texto e do Discurso e mais
especificamente na Análise de Gêneros, a partir dos estudos de Bakhtin
(2003; 2009), Marcuschi (2003; 2007a; 2007b; 2008; 2009), Koch
(2009), Melo (1999), Bezerra (2007), dentre outros. Assim, partindo de
uma concepção dialógica da língua, espera-se clarificar as relações fala/
escrita neste gênero, com o intuito de contribuir para possíveis aplicações
no ensino-aprendizagem da língua portuguesa.

• O gênero textual carta do leitor na mídia impressa: uma abordagem


sociorretórica: Resulta de uma pesquisa em andamento cujo objetivo
é analisar e descrever o gênero textual Carta do Leitor, do ponto de
vista textual-discursivo, numa perspectiva retórica. Admitindo ser
a Carta do Leitor um gênero complexo – uma vez que pode servir a
múltiplos propósitos comunicativos – e por excelência opinativo, é
justificável que ele seja analisado sob o prisma sociorretórico, em função
dos seus componentes argumentativos e persuasivos. Tais componentes
manifestam-se tanto no plano linguístico – com a presença dos marcadores
discursivos, da modalização e dos processos de referenciação –, quanto
no plano discursivo-enunciativo: quem produz o gênero, com que
intenção; quem recebe, quem seleciona; a forma como ele é publicado;
enfim, as relações de forças, de restrição, de conveniências e o jogo de
interesses que a produção, publicação e recepção desse gênero implica.
Enfatiza-se também a análise do gênero sob a ótica da sua organização
retórica, mesmo sabendo-se da sua heterogeneidade em relação a esse
aspecto, considerando os seus traços recorrentes, quanto à forma e aos
movimentos retóricos. Os procedimentos metodológicos da pesquisa são
de natureza qualitativa/interpretativa, a partir da análise de um corpus
– constituído de exemplares autênticos do gênero – colhido do Jornal

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 33


do Commercio de Pernambuco, durante o primeiro semestre do ano de
2010. Os fundamentos teórico-epistemológicos do trabalho assentam-
se na Teoria de Gêneros, em sua abordagem sociorretórica, através da
contribuição de Miller (2009), Bazerman (2006; 2007; 2009), Swales
(2009) e Bhatia (2009), sem deixar de lado os relevantes estudos de
Bakhtin (2003; 2009), Marcuschi (2007; 2008), dentre outros. Desse
modo, espera-se contribuir para ampliar as pesquisas sobre a temática em
questão, sem perder de vista as contribuições para o ensino-aprendizagem
da língua portuguesa.

• A carta do leitor no jornal do commercio de pernambuco: uma


análise contextual/enunciativa: Relata parte de uma pesquisa que
investigou como o gênero textual carta do leitor funciona no universo
midiático impresso, considerando aspectos do seu projeto enunciativo. A
pesquisa teve como objetivo descrever a analisar cartas do leitor, a partir
de uma análise contextual-enunciativa, em que se buscou entender quem
produz o gênero, com que intenção; quem recebe, quem seleciona; a
forma como ele é publicado; enfim, as relações de forças, de restrição, de
conveniências e o jogo de interesses que a produção, publicação e recepção
desse gênero implica. Os procedimentos metodológicos adotados na
pesquisa são de natureza predominantemente qualitativa, a partir da
análise de um corpus colhido do Jornal do Commercio de Pernambuco,
durante o primeiro semestre do ano de 2010. Os fundamentos teóricos do
trabalho assentam-se na Teoria de Gêneros Textuais, em sua abordagem
sociorretórica, através da contribuição de Swales (1990; 2009a; 2009b),
Bhatia (1993; 1997; 2009), Miller (1984; 2009) e Bazerman (2006;
2007; 2009), sem deixar de lado os relevantes estudos de Bakhtin (1976;
1993; 1997a; 1997b; 1998; 2003; 2009), Marcuschi (2007; 2008; 2010a;
2010b), dentre outros. Os resultados revelaram que a carta do leitor é um
gênero bastante heterogêneo. A análise dos dados mostrou também que
os processos de produção, edição e recepção desse gênero são complexos,
visto que várias questões socioideológicas estão aí embutidas.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 34


No doutorado, mudei o objeto, mas não a base teórica. Continuei estudando
gênero textual, mas mudei para a esfera administrativa, focando exclusivamente
na correspondência oficial via memorando. Durante o doutorado, também
participei de 11 eventos, dos quais 4 foram internacionais. Em todos esses
eventos apresentei trabalhos relativos ao meu objeto de estudo, publiquei 3
capítulos de livro e 9 artigos em revistas. Segue alguns dos trabalhos publicados
durante o doutorado. E, mesmo depois de concluir o doutorado, minha tese
seguiu dando frutos. Produzi outros trabalhos a posteriori.

• Letramento burocrático: práticas discursivas e gêneros textuais


na esfera administrativa estatal: Resultou de uma investigação sobre
práticas discursivas na esfera administrativa estatal, cuja finalidade foi
identificar as práticas de letramento e o conjunto de gêneros produzido
por uma chefe de gabinete em sua rotina de trabalho. A relevância desta
produção justifica-se em razão de haver pouco estudo crítico especializado
sobre esse tema, ao mesmo tempo em que contribui para alargar a
compreensão sobre o funcionamento real da língua, em sua modalidade
escrita, numa sociedade grafocêntrica como a nossa. O arcabouço teórico
filia-se aos Novos Estudos do Letramento – por meio de Street (1984;
2006), Barton & Hamilton (2000), Kleiman (1995), Marcuschi (2007;
2008), dentre outros – e à Análise de Gêneros Textuais, na concepção
sociorretórica – conforme Swales (1990), Bhatia ([1997] 2009), Miller
([1984] 2009), Bazerman (2005; 2006), dentre outros. Em relação
aos procedimentos metodológicos, trata-se de uma análise qualitativa,
de cunho indutivo, a partir de um estudo de caso (GODOY, 1995;
VENTURA, 2007), cujo instrumento de pesquisa foi um questionário
semiestruturado. Os resultados apontam que a escrita está presente de
forma intensa nas rotinas de trabalho, por meio de inúmeros gêneros
textuais que organizam as mais diversas práticas discursivas, evidenciando
inclusive as relações de poder aí subjacentes.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 35


• Um olhar sobre a carta do leitor na mídia impressa: Objetivou
descrever a analisar cartas do leitor na mídia impressa, a partir de dois níveis:
um que se centra no contexto e outro que foca o texto. Os procedimentos
metodológicos adotados na pesquisa são de natureza predominantemente
qualitativa, respaldada por dados quantitativos relativos às recorrências,
a partir da análise de um corpus – constituído de 237 exemplares
autênticos do gênero – colhido do Jornal do Commercio de Pernambuco,
durante o primeiro semestre do ano de 2010. Os fundamentos teóricos
do trabalho assentam-se na Análise de Gêneros, por meio da contribuição
de Swales (1990), Bhatia (1993), Miller (1984), Bazerman (2006; 2007;
2009), Bakhtin (2003), Marcuschi (2010), dentre outros. Os resultados
revelaram que a carta do leitor é um gênero bastante heterogêneo, tanto
do ponto de vista dos seus propósitos comunicativos, quanto da sua
organização retórica e mostraram também que os processos de produção,
edição e recepção desse gênero são complexos, visto que várias questões
socioideológicas estão aí embutidas.

• Análise de gênero discursivo na esfera burocrática estatal: o caso


do memorando: Partindo do princípio de que o conceito de gênero
hoje tem se tornado objeto de múltiplas reconceituações, em virtude
da amplitude que tem tomado e das diferentes perspectivas teóricas
existentes, o presente artigo tece algumas considerações acerca da noção
de gênero discursivo, especificamente à luz da teoria dialógica de Bakhtin
e seu Círculo. Desse ponto de vista, objetiva-se verificar o funcionamento
do gênero memorando na esfera burocrática estatal, observando não só
os aspectos sociais que o engendram, mas também aqueles que dizem
respeito à sua estrutura composicional e ao seu estilo verbal. Do ponto
de vista teórico-epistemológico, este artigo filia-se aos estudos dialógicos
do discurso, abordagem filosófica postulada pelo chamado Círculo de
Bakhtin (VOLOSHINOV & BAKHTIN, 1976; BAKHTIN, 2003;
BAKHTIN & VOLOCHÍNOV, 2009; BAKHTIN, 2013; BAKHTIN,

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 36


2014), que têm gerado trabalhos profícuos, em diferentes áreas do
conhecimento, inclusive no mundo ocidental, e que vem crescendo no
Brasil com repercussão significativa no ensino e na aprendizagem de
línguas. A metodologia insere-se no paradigma da pesquisa qualitativa,
a partir da análise de corpus, constituída de um exemplar do gênero
memorando, colhido em uma instituição pública de ensino, pesquisa e
extensão. Embora saibamos que o exemplar em análise não dê conta,
de forma mais ampla, do funcionamento discursivo do memorando em
sua relação com as atividades humanas e com os sistemas de gêneros
que organizam as práticas de escrita no mundo do trabalho, propomos
lançar o gérmen para estudos ulteriores. Os resultados evidenciam a
complexidade do funcionamento discursivo do memorando e a sua
tendência à estabilidade, bem como as marcas linguísticas da formalidade
e da busca pela objetividade.

• O gênero memorando na esfera administrativa estatal: breves


considerações à luz da concepção de tradição discursiva: O presente
trabalho – que retoma parte de nossa tese de doutorado, qualificada em
2017 no Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Faculdade
de Letras da Universidade Federal de Alagoas – versa sobre os usos
autênticos do memorando, gênero textual típico da esfera burocrático-
administrativa estatal e empresarial, no âmbito do Instituto Federal de
Pernambuco (IFPE), Campus Recife, durante os séculos XX e XXI. O
objetivo principal deste estudo é discutir a relação entre gênero textual e
tradição discursiva, buscando compreender como isso funciona no gênero
memorando, visto que este construto genérico tem uma evolução, desde
o seu surgimento até os dias atuais, impulsionada principalmente pelas
transformações socioeconômicas e pelos avanços tecnológicos, dentre os
quais a máquina de datilografia e o computador. No plano linguístico-
discursivo, considerando-se as tentativas de desburocratização como
formas de simplificar a linguagem burocrática, cujo cerne aponta para

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 37


o banimento de expressões típicas do chamado burocratês, este trabalho
sustenta que tais expressões constituem-se em tradições discursivas que
marcam a história do memorando, especialmente pelo fato de este gênero
textual ser um tipo específico de carta. Dos pontos de vista teórico e
epistemológico, este trabalho filia-se a uma concepção de gênero textual
de base sociorretórica, entendida como uma espécie de combinação
entre a abordagem dos Estudos Retóricos de Gêneros (MILLER, 1984;
BAZERMAN, 2009) e a perspectiva do Inglês para Fins Específicos
(SWALES, 1990; BHATIA, 1993), em diálogo com os estudos do círculo
bakhtiniano (BAKHTIN, 2003), especialmente no que diz respeito à noção
de esferas da comunicação humana; a concepção de tradição discursiva
adotada pauta-se pela contribuição de Kabatek (2005a; 2005b; 2012).
Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa,
respaldada por dados quantitativos no que diz respeito às recorrências,
operacionalizada por meio da análise de um corpus constituído por 60
(sessenta) memorandos coletados no Arquivo Geral do IFPE, os quais
circularam entre 1973-2014. Os resultados sinalizam que, a despeito das
forças que normatizam a linguagem burocrática, as marcas linguísticas
da formalidade e de uma pretensa impessoalidade configuram-se como
tradições discursivas vivas no gênero em tela.

• O memorando como um gênero de especialidade no âmbito da


correspondência oficial da burocracia estatal: Versa especificamente sobre
o gênero memorando na esfera burocrático-administrativa estatal – objeto
de investigação de nossa tese de doutorado, qualificada no Programa de
Pós-graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas
–, pretende lançar um olhar sobre esse tipo de correspondência oficial e
empresarial como um gênero de especialidade no mundo do trabalho. O
objetivo central da discussão em tela é provar que o memorando, enquanto
gênero produzido no âmbito das profissões, no seio institucional, pode ser
considerado um gênero de especialidade, nos termos de Hoffmann (1988;
1998; 2000) e Lima (2016). Teoricamente, estabelecemos um olhar para

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 38


o nosso objeto de estudo à luz dos autores supramencionados, em diálogo
com uma concepção sociointeracional da linguagem, efetivada por meio
dos gêneros textuais como tipos relativamente estáveis de enunciados
situados dentro de esferas comunicativas específicas (BAKHTIN, 2003),
bem como pelas noções de propósito comunicativo e prototipicidade dos
construtos genéricos (SWALES, 1990; 2004). Valer-nos-emos, ainda, das
categorias de sistema de gêneros (BAZERMAN, 1994) e de metagêneros
(GILTROW, 2002), conforme preconizam os Estudos Retóricos de
Gênero, aplicadas ao artefato genérico em discussão. Do ponto de vista
metodológico, trata-se de um estudo qualitativo, realizado a partir de
um corpus constituído por memorandos coletados no Instituto Federal
de Pernambuco (IFPE)/Campus Recife, no período compreendido entre
1973-2014. Os resultados sinalizam que o gênero em debate pode ser
considerado, de fato, um gênero de especialidade, uma vez que circula
dentro de uma esfera discursiva típica, é produzido especificamente por
profissionais no exercício de suas funções, tem circulação estritamente
intrainstitucional, é regulado por metagêneros específicos (manuais e
cursos de redação oficial), apresenta um registro linguístico específico:
o chamado burocratês, consoante Silveira (2008), e está a serviço da
manutenção das estruturas de poder, naturalizando-as e tornando-as
duradouras.

SILMA BRITO: Em relação à linha de pesquisa que você escolheu, Estudos


Textuais, ela atendeu as suas expectativas? Os construtos teóricos e as disciplinas
oferecidas atenderam as suas necessidades de pesquisador?

VALFRIDO NUNES: Evidente que o objeto de pesquisa que escolhi afinava-


se mesmo com a linha de estudos textuais; entretanto, tenho algumas críticas,
não só à linha que pertenci, mas ao PPGLL em geral. Na verdade, havia pouca
oferta de disciplina e, em geral, elas não dialogavam com o objeto de pesquisa
dos estudantes. Essa não era só uma reclamação minha. No caso dos estudos

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 39


textuais, era uma linha com poucos docentes e com interesses de pesquisa bem
diferentes: uns em escrita colaborativa, outros em oralidades, alguns em texto
e poucos em gênero. Tive a sorte de ter a profa. Inez Matoso que se interessava
por gêneros, para poder executar os meus projetos, tanto no mestrado quanto
no doutorado.

SILMA BRITO: Ao terminar o mestrado você logo ingressou no doutorado.


Isso facilitou o andamento de suas pesquisas?

VALFRIDO NUNES: A bem dizer, eu parei de estudar por um ano, entre o


mestrado e o doutorado. Foi 2013, quando tive uma série de questões pessoais
que impediram de continuar sem interrupção. Creio que ingressar no doutorado
em seguida facilita a vida do estudante pesquisador, porque ele já está no ritmo.
Quando se para, retomar é bem mais difícil, pois se precisa de um tempo para
readaptação à vida acadêmica. Facilitou também o fato de eu já ter sido aluno do
Programa, pois conhecia os docentes, aproveitei créditos, reencontrei amigos; de
fato, estava em casa.

SILMA BRITO: Você encontrou dificuldades para execução das suas pesquisas?

VALFRIDO NUNES: De modo geral, eu diria que não. Sempre tive uma boa
orientação e, como sempre trabalhei com análise de corpus de textos públicos,
tudo era mais fácil de operacionalizar. Um entrave que encontrei foi a literatura
acadêmica em inglês, os livros caros e difíceis de encontrar. Mesmo assim, foi
um momento que aproveitei para desenvolver a leitura instrumental em inglês.
No final, deu tudo certo.

SILMA BRITO: Pesquisando em seu lattes também foi observado que tanto no
mestrado como doutorado você foi orientado pela Doutora Maria Inez Matoso
Silveira. Como definiria sua orientação?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 40


VALFRIDO NUNES: Inez Matoso é mais que uma orientadora, tecnicamente
falando; é uma grande parceira acadêmica, uma pessoa muito sábia; sua dose
de humor e rigor acadêmico é bastante equilibrada. Nós sempre tivemos uma
relação amistosa dentro da relação orientador-orientando. Não posso deixar de
registrar que minhas primeiras orientações, por assim dizer, foram dadas pela
profa. Inez, quando fiz duas disciplinas com ela, em 2009, ainda como aluno
especial do PPGLL. Desde ali, a Inez confiou no meu potencial e eu em suas
orientações. Foi uma parceria que deu certo.

SILMA BRITO: Sou mestranda do PPGLL, na mesma linha de pesquisa que


você cursou, qual a orientação que você me daria?

VALFRIDO NUNES: Aproveitar as disciplinas o máximo possível; perguntar


o máximo que puder; canalizar o que puder das disciplinas para seu objeto
de pesquisa; escrever, escrever e escrever. Sugiro também que dialogue com as
outras linhas do Programa. Eu mesmo fiz disciplinas na Análise do Discurso e
na Linguística Aplicada. Elas me foram muito úteis.

SILMA BRITO: Você participa de algum grupo de pesquisa? Caso positivo,


quais a contribuições destes grupos para sua vida profissional/pesquisador?

VALFRIDO NUNES: Eu lidero um grupo de pesquisa, intitulado GEL (Grupo


de Estudos em Linguagens) no IFPE, Campus Garanhuns. Ele tem sido muito
profícuo para minhas pesquisas, que atualmente focam em gêneros acadêmicos
e profissionais. Fundei esse grupo em 2018, depois que concluí o doutorado no
PPGLL e tenho 2 orientandos de iniciação científica que são bolsistas CNPq.
Na UFAL, estou como pesquisador do GETEL (Grupo de Estudos do Texto e
da Leitura), mas confesso que falta maior articulação do grupo, em função da
demanda dos professores, que são poucos e, ao mesmo tempo, muito atarefados.
A questão geográfica também é importante, pois hoje não estou mais em Maceió.
Isso dificulta bastante.

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Entrevista com
Marcelo Marques

Marcelo Ferreira Marques


Analice da Conceição Leandro da Silva

Concedida em 18 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-3
ANALICE LEANDRO: Marcelo, pensando em sua formação acadêmica, con-
te-nos sobre seu percurso no PPGLL. Que interesses e oportunidades te levaram
às escolhas que você fez? Destaque as experiências que julga mais significativas.

MARCELO MARQUES: Entre fins de 2006 e início de 2007, momento em


que tinha de equilibrar o fim da graduação com a pretensão de ingressar no PP-
GLL, foi absolutamente natural pensar em ampliar e aprofundar alguns aspectos
do TCC. Nesse sentido, a dissertação voltou-se, de início, para o estudo das
diretrizes racionais e geométricas na obra poética de Augusto de Campos e, após
algum tempo, para os aspectos tipográficos dessa poesia. No doutorado, embora
tenha principiado com uma ideia de aprofundamento de questões desenvolvi-
das no mestrado, alterei a rota e estudei algumas manifestações de hibridismo
no cancioneiro de Chico César. Do fim da graduação à defesa de doutorado, os
temas e questões estiveram ligados a interesses e inquietações (como a dimen-
são visual da poesia e as variadas relações da poesia com a sonoridade) que me
acompanham até hoje. As experiências mais significativas ao longo de mestrado
e doutorado não se concentram em pontos muito localizados; são certamente as
trocas e conversas com minhas orientadoras, amigos e amigas, os eventos de que
participei, as leituras que fiz, as aulas de que participei.

ANALICE LEANDRO: Em relação a sua atuação profissional, gostaria que


você falasse, brevemente, sobre as atividades que desenvolve atualmente, desta-
cando a importância que você atribui a essas atividades em nível local e regional
e nacional.

MARCELO MARQUES: Atuo hoje como docente no Curso de Letras da


UFAL Campus Arapiraca, ministrando disciplinas como Introdução à leitura
do Texto Literário, Literaturas de Língua Portuguesa (1, 2, 3 e 4), e eletivas
variadas como Literatura Infanto-juvenil, Literatura Popular e Literatura Dra-
mática. Após alguns períodos como coordenador de área de PIBID e de alguns
projetos de Extensão, hoje também desempenho o cargo de Coordenador de

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 43


Extensão do Curso. Um ponto imediato quando penso na relevância de uma
atividade como as de ministração dessas disciplinas e atividades (e, de resto,
das disciplinas e atividades de outros e outras colegas de curso) é a oferta de
formação superior a um grupo significativamente heterogêneo de estudantes.
O campus e o curso recebem estudantes provenientes de Arapiraca e, em sua
maioria, de cidades circunvizinhas e mesmo distantes. A diversidade geográfica
congrega também uma diversidade de formação prévia; há muitos estudantes
egressos de escolas rurais, por exemplo. Em sua maioria provém, com todos os
problemas e eventuais experiências enriquecedoras disso derivadas, do ensino
público. A interiorização dos campi, a menos de duas décadas, de que o campus
de Arapiraca é um exemplo, cumpre um papel fundamental, a médio e a longo
prazo, na renovação, mapeamento e melhoria das realidades educacionais dessas
regiões. Como ponto adicional, quando penso em minha própria formação (em
tantos sentidos continuada, em constante mutação), imagino que algo do fato
de eu mesmo vir de camadas menos favorecidas da sociedade, de buscar equilí-
brio entre minhas proposições de fala (fundadas em minha graduação, leituras,
reflexões, aprendizados etc.) e escuta (fundadas também em tudo aquilo mas
também numa capacidade de abertura que confina, às vezes, com a simples ob-
servação do que as coisas ao redor estão dizendo) – penso que algo disso tudo
conflui para a consciência que hoje tenho de meu papel enquanto professor,
leitor em sala de aula, ouvinte de meus e minhas estudantes, numa direção que,
quero crer, os acrescenta e enriquece tanto quanto eu me sinto acrescentado e
enriquecido na vivência com eles e elas.

ANALICE LEANDRO: Como você avalia o impacto de sua formação para sua
atuação profissional?

MARCELO MARQUES: O fato de hoje atuar como docente numa graduação


em Letras, área em que me formei, me permite reflexões que antes só existiam,
em sua maioria, num estado de impressões. Em muitos cursos de Letras, disci-
plinas de literatura tendiam e ainda tendem a ter um caráter quase bacharelesco.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 44


Por um lado, acrescentar reflexões sobre ensino a disciplinas de literatura com
teor historiográfico pode “inchar” os conteúdos e descaracterizar um pouco as
ementas tradicionais. Contudo, não parece fazer muito sentido a ausência dessa
reflexão sobre ensino quando tratamos de licenciaturas. Embora a reformulação
de PPCs esteja em curso nas universidades, há muito que fazer nesse sentido.
É a partir dessas reflexões que penso que se por um lado guardo lembranças
maravilhosas da graduação, acredito também que teria sido importante (e não
como um apetrecho ou complemento, mas como coisa basilar) um foco maior
em discussões que a) levassem em conta a relação entre literatura e ensino e b)
um foco maior na apreciação/realização oral de textos. Este último ponto incide
no que acredito ser uma das contradições mais sobressalentes de nossas aulas,
de literatura ou não. Lemos e escrevemos muito sobre oralidade, mas é raro
que, para tomar um exemplo da área em que atuo, estudemos a palavra em sua
dimensão sonora, rítmica. Mesmo em aulas sobre metrificação, o ritmo muitas
vezes parece ser abordado de um ponto de vista abstrato, conceitual e muito
menos sensível, sensorial. Essas observações podem parecer pontuais o suficiente
para comprometer a resposta à presente pergunta. Mas acredito que ela é parte
de um quadro maior de questões. Dito isso, é importante indicar que tive au-
las com professores e professoras que, em conjunto, dispuseram para mim de
referências muito sólidas e heterogêneas no que tange à seleção e abordagem de
conteúdos, perspectivas de leituras. Consigo reconhecer traços claros, nas aulas
que dou hoje, de muito que me impactou e inspirou ao longo da graduação; uns
muito mais, uns muito menos.

ANALICE LEANDRO: A pós-graduação coloca-se como uma possibilidade


para seus/suas discentes? Alcança o alunado em Arapiraca? Como você analisa
esse alcance e a importância da pesquisa para este público?

MARCELO MARQUES: A existência de uma pós-graduação stricto sensu faz


parte de um horizonte ainda distante para o curso de Letras da UFAL Arapi-
raca. Contudo, no presente momento, há um processo em andamento para a
implementação de uma especialização em formação de professores. A proposi-

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 45


ção nasce exatamente da ideia de oferecer formação continuada a egressos e não
egressos da região que optem por realizar a continuidade de sua formação em
Arapiraca, por opção ou por dificuldades de locomoção a outras instituições.

ANALICE LEANDRO: Como pesquisador quais seus interesses, planos e me-


tas atualmente?

MARCELO MARQUES: Desde o início da atuação no ensino superior, quase


6 anos atrás, tenho me envolvido com leituras, reflexões e projetos significativos.
Contudo, tenho dado pouca atenção à publicização dessas atividades, o que pre-
tendo fazer ainda no segundo semestre deste ano.

ANALICE LEANDRO: Retomando a questão do seu percurso acadêmico,


você acompanha outros egressos? Tem notícias de colegas que estejam atuan-
do profissionalmente no estado de Alagoas ou em outros lugares? Como você
percebe a importância da atuação dos egressos de literatura para a educação em
nosso estado?

MARCELO MARQUES: Tenho notícias e acompanho relativamente de perto


pouco mais de uma dúzia de egressos. Alguns inclusive de minha geração. Pes-
soas como Ari Denisson, Elaine Raposo, Tazio Zambi, Allan Nogueira, Nilton
Resende, Hudson Canuto (conferir sobrenome) e tantos outros e outras pro-
fissionais, atuam ou diretamente no Ensino superior ou na interface de ensino
Médio e graduações, como no caso de quem trabalha no IFAL. Essas pessoas,
além de serem leitores e leitoras dedicados, são profissionais que puderam viver
mudanças geracionais importantes e se encontram em contato direto com uma
juventude muito diferente da que existiu 30 anos atrás. Esse fato, acredito, para
quem se põe propositivo(a) e permeável ao diálogo, é de grande importância.

ANALICE LEANDRO: O que representa para você ser docente na mesma uni-
versidade em que fez sua formação?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 46


MARCELO MARQUES: Há uma certa alegria de permanecer na mesma “casa”.
Pelo contato com professores e professoras que hoje são meus e minhas colegas,
por trocas que se baseiam também em amizade e afeto bons ao longo do tempo.
Mas isso se deu num fluxo um tanto natural, em decorrência das circunstâncias
não acadêmicas da vida porque, de fato, caso tivesse havido chance, eu teria feito
seleção de doutorado em outra instituição, talvez UFMG.

ANALICE LEANDRO: Por que você escolheu a área dos Estudos literários?
Que importância você atribui aos Estudos em literatura para a formação de
um/a discente de Letras?

MARCELO MARQUES: Não houve muito cálculo quando escolhi Letras; foi
uma análise rápida com base no fato de eu ler muito, especialmente literatura
e poesia brasileiras, desde os 15 anos. A literatura foi minha primeira grande
oportunidade de mergulho no mundo das artes, enquanto leitor e enquanto
aspirante a poeta. Daí para a música e a canção não consigo identificar com cla-
reza a linha divisória. Do ponto de vista do professor que sou hoje, percebo que
a defasagem em relação à referência do texto poético ou genericamente artístico
é uma ausência significativa na formação dos(as) estudantes. E isso mesmo para
quem, na linguística, trabalha com texto. As sutilezas derivadas de certas cama-
das narrativas, a percepção artística da materialidade da palavra e outras ques-
tões tendem a educar a leitura e os sentidos de modo que, ao que parece, outros
textos não permitem. É arriscado falar isso, eu sei. Ainda mais quando sabemos
que tantas vezes é o olhar (ou a leitura) que edita, formata e constrói a poesia
ou, para usar uma palavra controversa, a literariedade de um texto. Mas quando
tratamos com o grau de falta de referências (e aqui não me refiro apenas ao câ-
none) com que nos deparamos nos primeiros semestres do curso, fica evidente o
quanto a leitura constante e cuidadosa e a posterior conversa, discussão, reflexão
são importantes. Não são poucos os(as) pesquisadores(as) que apontam o cará-
ter potencialmente perigoso, libertador ou mesmo humanizador da literatura.
Vivemos tempos que nos exigem revisão de conceitos e ampliação de noções.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 47


Literatura, o que é, após tantas idas e vindas, proposições e contestações? Quem
faz literatura hoje e o que fazemos da literatura do passado. Na minha experiên-
cia, o texto literário continua sendo Vir da vida e ir para vida, é Refratar.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 48


Entrevista com
Fernando Oliveira
Fernando Augusto de Lima Oliveira
Samuel Barbosa da Silva

Concedida em 09 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-4
SAMUEL BARBOSA: Olá, Prof. Dr. Fernando Oliveira. É um prazer e uma
honra tê-lo nesta entrevista promovida pelo Programa de Pós-Graduação em
Letras e Linguística (PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Ini-
cio nossa conversa com o desejo de saber resumidamente sobre a sua trajetória
acadêmica na Universidade Federal de Alagoas, pois, ao consultar seu currículo
lattes, li que sua formação a nível de graduação e pós-graduação é realizada em
nossa instituição, além disso, você teve como orientadora na graduação a con-
sagrada Profa. Dra. Maria Denilda Moura e, em nível strictu sensu, o prof. Dr.
Aldir Santos de Paula. Como foi vivenciar essa experiência acadêmica da gradu-
ação ao doutorado no curso de Letras e, posteriormente, no PPGLL?

FERNANDO OLIVEIRA: Entrei na UFAL em 2004. Ao ser aprovado em


Letras, já cursava na FAL – Faculdade de Alagoas – o curso de Administração
em Comércio Exterior. Em 2005 houve o processo seletivo para inserção no
Programa de Educação Tutorial (PET), coordenado pela profa. Dra. Maria De-
nilda Moura. Me candidatei e fui aprovado em 2º lugar. Nesse momento, sabia
que não teria como cursar duas graduações. Seria preciso fazer uma escolha! Foi
então que resolvi trancar Administração em Comércio Exterior e dar ênfase à
Letras. Sabia que, para crescer profissionalmente, era preciso focar em algo e ser/
tentar ser bom naquilo que me propus. A partir desse dia, iniciei meu foco nos
estudos linguísticos, inspirado pela nossa tutora do PET. A experiência de fazer
parte de um Programa do Governo Federal foi fundamental para que eu desse
continuidade ao curso e também desenvolvesse a tríade acadêmica: pesquisa, en-
sino e extensão. Foram inúmeras atividades desenvolvidas no PET, no período
de 2005 a final de 2007. O mais importante de tudo isso foi o meu crescimento
acadêmico. Em 2007, já tinha capítulo de livro publicado, organização de inú-
meros eventos no currículo, artigos publicados em periódicos qualificados, já
havia lecionado em programa de extensão (PAESP – Programa de Apoio aos Es-
tudantes das Escolas Públicas) e apresentado inúmeros trabalhos em congressos
regionais, nordestino e nacionais. No final de 2007, ao abrir o processo seletivo
do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFAL (PPGLL), me

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 50


inscrevi e consegui a aprovação em 1º lugar. Aí entra a minha outra inspiração
do curso de Letras, o prof. Aldir. Durante o PET, Denilda foi a nossa tutora e,
consequentemente, a minha orientadora. No Mestrado e no Doutorado tive
o prazer de ter sido orientado por um dos melhores docentes que conheci na
UFAL. O resultado disso? O resultado foi a concretização do Mestrado e a mi-
nha inserção no Doutorado (em que dei continuidade aos estudos desenvolvidos
no Mestrado). Posso afirmar aqui que o meu percurso no strictu sensu foi muito
produtivo. Durante o período em que estive no PPGLL consegui aprofundar
os meus conhecimentos nos estudos Linguísticos, ponto fundamental para a
minha aprovação no concurso para Docente do Magistério Superior, em 2014,
na Universidade de Pernambuco, Multicampi Garanhuns.

SAMUEL BARBOSA: Professor, de maneira mais restrita, gostaria que falas-


se sobre suas pesquisas desenvolvidas no mestrado e doutorado no PPGLL da
UFAL e por qual razão escolheu a linha de pesquisa em Teoria e Análise Lin-
guística.

FERNANDO OLIVEIRA: A motivação pela escolha da linha de pesquisa em


Teoria e Análise Linguística teve início quando entrei no PET. Desde 2005
venho desenvolvendo pesquisas referentes à Teoria da Variação e da Mudança
Linguística, consoante os pressupostos teórico-metodológicos de Labov (2008
[1972]). Entre os estudos que se ocuparam em verificar a alternância entre o fu-
turo do pretérito (doravante FP) e pretérito imperfeito do indicativo (doravante
PII), há o comum pensamento de que uma das explicações mais recorrentes para
tal variação está no fato de que esses verbos compartilham a possibilidade de ma-
nifestar traços de aspecto inconcluso (SOUSA, 2007; COSTA, 1997; COSTA,
2003; SILVA, 1998; BARBOSA, 2005). Nesse sentido, as minhas pesquisas de
Mestrado e Doutorado tiveram como objetivo ampliar os estudos sobre a alter-
nância entre as formas verbais de futuro do pretérito (FP) e de pretérito imper-
feito do indicativo (PII), na apódose, em construções hipotéticas iniciadas por
se, mediante uma pesquisa de campo na comunidade de fala alagoana.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 51


SAMUEL BARBOSA: Como você avalia a contribuição da sua formação aca-
dêmica no PPGLL para sua formação profissional? Li em seu currículo que é
professor da Universidade de Pernambuco, no campus de Garanhuns, a nível de
graduação e no Mestrado Profissional em Letras nesta mesma instituição. Pode-
ria contar um pouco dessa relação da sua formação acadêmica com seu campo
de trabalho?

FERNANDO OLIVEIRA: A minha inserção no PPGLL foi de grande valia


para o meu crescimento acadêmico. As disciplinas cursadas, a possibilidade de
desenvolver uma pesquisa inovadora em Alagoas, já que o estudo da alternância
entre as formas de FP e PII nunca havia sido desenvolvido no Estado, contribu-
íram para o meu aperfeiçoamento teórico, metodológico e profissional. Durante
o Mestrado e o Doutorado tive que aprender a coletar e a manusear dados em
Sociolinguística. Esse conhecimento foi fundamental para que eu pudesse dar
continuidade aos estudos Sociolinguísticos na Universidade a qual estou vincu-
lado. Foi através de todo o conhecimento adquirido, advindo de uma Univer-
sidade Pública e de qualidade, que outros alunos puderam desenvolver as com-
petências investigativas de fenômenos variacionais, sejam eles morfossintáticos
ou fonético-fonológicos. Foi aí que surgiu o Grupo de Estudos em Análise e
Descrição Linguística (GEADLin/UPE/CNPq).

SAMUEL BARBOSA: Professor Dr. Fernando Oliveira é também líder do Gru-


po de Estudos em Análise e Descrição Linguística (GEADLin). Tive oportuni-
dade de acompanhá-lo algumas vezes em defesas de seus orientandos e orientan-
das neste grupo de pesquisa. Por gentileza, fale-me brevemente sobre a origem
deste grupo de pesquisa, assim como quais são as pesquisas que foram e/ou estão
sendo desenvolvidas no GEADLin.

FERNANDO OLIVEIRA: O GEADLin (UPE/CNPq) sempre foi uma ideali-


zação na minha vida. Lembro-me que, quando estava participando do processo
seletivo do PET, a tutora me fez a seguinte pergunta: “qual o seu interesse em

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 52


entrar no PET?”. Parei uns instantes e a respondi: “o PET me possibilitará de-
senvolver a tríade acadêmica: pesquisa, ensino e extensão; logo, quero fazer Mes-
trado, Doutorado, ser professor da Universidade e coordenar um grupo de pes-
quisa”. Essa minha afirmação passou, desde então, a ser o meu foco de vida. A
cada conquista concebida, lembrava-me desse momento. Então, a “origem” do
GEADLin veio de um sonho inicial de um “mero” estudante de Letras. Quando
fui efetivado como docente do curso de Letras da UPE, apenas um grupo de
pesquisa estava em atividade. Sentia o interesse em construir um grupo conso-
lidado e efetivo em suas tarefas. No entanto, havia certa resistência por parte
dos (as) alunos (as), pois a descrição linguística não era uma linha de interesse
dos (as) discentes. A concretização da criação do GEADLin só foi efetivada em
outubro de 2016, quase dois anos após o início das minhas atividades na UPE.
A criação do grupo ocorreu quando 6 alunas, 3º período, após lerem um arti-
go meu (resultado da minha Dissertação), ficaram encantadas com a proposta
metodológica e teórica da Variação Linguística e foram até a minha sala. Para
minha surpresa, elas estavam interessadas em desenvolver pesquisas relacionadas
à variação linguística e foram perguntar se eu tinha interesse em ser o orientador
delas. Dois meses após, o grupo estava em plena atividade. O GEADLin ob-
jetiva desenvolver pesquisas nas seguintes perspectivas de estudo: a) Descrição
e análise linguística; b) Observações de Línguas (línguas veiculares, nacionais,
vernáculas, indígenas e gírias); c) Linguística de corpus (coleta de dados verna-
culares, métodos de análise, mapeamento linguístico); d) Reflexões epistemoló-
gicas e teórica referentes à Sociolinguística Educacional; e) Variação Linguística
no Agreste Meridional: aspectos morfossintáticos e fonético-fonológicos; e f )
Descrição de Gestos Emblemáticos no Português Brasileiro. Já passaram, nesses
quase 4 anos de GEADLin, mais de 15 alunos (as). Desses (as), uma aluna foi
aprovada no Mestrado da UFPE. Das pesquisas desenvolvidas, já publicamos 4
artigos em periódicos qualificados, Qualis B1. E estamos esperando o resultado
de mais 3 submissões às revistas científicas voltadas ao Curso de Letras. Con-
seguimos organizar mais de 10 corpora e mapear mais de 10 cidades do Agreste
Pernambucano, que, em breve, serão divulgados no site do GEADLin, que está
em construção. Atualmente, o grupo conta com 9 discentes pesquisadores (as).

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 53


SAMUEL BARBOSA: Atualmente, você está realizando seu pós-doutoramento
na Universidade Federal do Pará. Qual seu objeto de estudo/investigação nesta
fase de pós-doutoramento? E qual a relevância desta pesquisa para os estudos
sociolinguísticos na contemporaneidade?

FERNANDO OLIVEIRA: Em 2019 obtive a aprovação do Projeto de Pós-


-Doutorado Júnior, submetido ao CNPq, intitulado Quando o corpo fala: mape-
amento de gestos emblemáticos em comunidades de prática de Pernambuco e Alago-
as, com supervisão da Profa. Dra. Regina Célia Fernandes Cruz (UFPA). Os ges-
tos emblemáticos são caracterizados por poderem ocorrer independentemente
da fala e por serem estabelecidos socialmente (KINSBOURNE, 2006; GIBBS,
2005), daí a importância de um estudo descritivista que catalogue os usos dos
gestos emblemáticos e seus significados. Dessa forma, este tipo de estudo tor-
na-se relevante para a complementação e a ampliação dos estudos linguísticos
centrados na descrição de gestos tanto no Brasil quanto no exterior. Portanto,
o objetivo principal desta proposta é catalogar e organizar, em forma de banco
de dados, os gestos emblemáticos realizados no Português Brasileiro (PB) ainda
não descritos nem categorizados nos estudos de gestos. Esta pesquisa está em-
basada nos pressupostos teóricos da Sociolinguística Cognitiva (SC), vertente
linguística que nos auxilia a entender a linguagem e o seu uso no contexto so-
cial, compreendida dentro de uma dimensão funcional da perspectiva cognitiva
(SILVA, 2009, p. 1), seja no aspecto linguístico ou não linguístico. A descrição
dos resultados obtidos e a disponibilização online do banco de dados possibilita-
rão o desenvolvimento de futuros trabalhos sobre os gestos emblemáticos, o que
contribuirá para a inserção de mais um tema relevante de pesquisa dos estudos
descritivistas.

SAMUEL BARBOSA: Considerando o cenário político brasileiro atual e o des-


caso do Ministério da Educação para com as universidades públicas e as pesqui-
sas realizadas nas ciências humanas, como você avalia o impacto destas aversões
à produção da pesquisa nas ciências humanas, em especial, nos cursos de pós-
-graduação em Linguística no Brasil?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 54


FERNANDO OLIVEIRA: Infelizmente, o desmonte que o Governo Federal
vem imputando às Universidades Públicas tem dificultado o desenvolvimento
de pesquisas relevantes para os estudos linguísticos. Para melhor entendimento
do desmonte referente às pesquisas realizadas nas ciências humanas, descrevo,
brevemente, a minha experiência. Como disse, obtive aprovação no Pós-Douto-
rado Júnior do CNPq. No entanto, na minha primeira tentativa, obtive, apenas,
o mérito da pesquisa e a recomendação do Comitê de Letras e Linguística do
CNPq, mas não me enquadrei dentro do quantitativo de vagas aprovadas para a
nossa área: apenas 2. Quando fui verificar os aprovados em outras áreas e efetuei
uma comparação, mesmo que boba, pude comprovar que em áreas conside-
radas prioritárias do governo, havia um quantitativo muito maior de projetos
classificados. Só para se ter uma ideia, a área de “Biotecnologia” obteve mais de
40 projetos selecionados, enquanto que Letras e Linguística, 2. Há uma discre-
pância, em termos quantitativos, do número de trabalhos aprovados na área de
humanas quando comparado às outras áreas. Outro ponto negativo diz respeito
à diminuição/corte de bolsas. Infelizmente, muitos estudantes precisam desse
dinheiro para se fixarem na cidade do Mestrado, principalmente, os alunos que
vêm do interior. Só para se ter uma ideia, 3 discentes pesquisadoras do GEA-
DLin não participaram do processo seletivo da UFAL (2020), por estar posto no
edital “[...] não estando garantida a concessão de bolsas aos/às selecionados/as”.
Essas meninas são excelentes pesquisadoras, mas, por advirem de um contexto
familiar humilde, não poderiam se manter em Maceió durante o curso. Esse
exemplo, que se junta a outros exemplos vivenciados nos mais diversos progra-
mas de strictu sensu, confirmam o desmonte latente à produção da pesquisa nas
ciências humanas, infelizmente.

SAMUEL BARBOSA: Quais são os principais desafios para o pesquisador atual


na área de Linguística?

FERNANDO OLIVEIRA: Existem vários, depende da ótica do problema.


Mas, a meu ver, o maior problema para o pesquisador de Linguística está no
pouco financiamento às pesquisas, comprovado através dos inúmeros cortes, em

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 55


específico, de pesquisas nas ciências humanas, pelo Governo Federal. As pessoas
acham que o nosso tipo de pesquisa não demanda verba para a sua concretiza-
ção. Como assim? Por exemplo, para que eu pudesse coletar os dados referentes
ao meu projeto de Pós-Doutorado, tive que comprar todo um aparato tecnoló-
gico. Como seria fazer Descrição Linguística sem a verba (me refiro aqui à bolsa
de pesquisa) necessária para a coleta? Esse foi apenas um aspecto relatado, fora
os inúmeros que eu poderia inserir aqui. Infelizmente, essa é a nossa atual reali-
dade. Precisamos resistir!

SAMUEL BARBOSA: Nesta última pergunta proponho a seguinte questão:


Como o cientista da área de linguística pode contribuir para o ensino/apren-
dizagem dos/as estudantes na educação básica a partir dos estudos da Teoria e
Análise Linguística?

FERNANDO OLIVEIRA: Eu sempre falo, aos meus alunos, a respeito da im-


portância dos estudos linguísticos, nas suas inúmeras concepções teóricas, para
a construção de um perfil docente. Um professor que tenha um conhecimento
sobre as concepções linguísticas consegue repensar melhor sobre as suas práticas
em sala de aula. Sendo a língua concebida, primordialmente, como instrumento
de comunicação, o papel da descrição linguística é depreender as circunstâncias
discursivas que envolvem as estruturas linguísticas e seus padrões de uso. Ade-
mais, de forma mais específica para o meu escopo de pesquisa, os estudos na
perspectiva da Teoria e Análise Linguística possibilitam, aos docentes, refletir
sobre a variação e a mudança linguística; a relação língua e sociedade; entender
os processos cognitivos de produção e de compreensão da linguagem; e compre-
ender os fenômenos linguísticos, sejam eles dentro de um viés mais linguístico
ou até mesmo social.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 56


Entrevista com
Juliana Araújo
Juliana Tereza de Souza Lima Araújo
Rosane Correia da Silva

Concedida em 22 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-5
ROSANE CORREIA: A senhora tem um terreno sólido na Análise do Discurso,
pois vem desde a graduação (finalizada em 2012) agregando/fortalecendo
pesquisas na área. A senhora poderia falar um pouco da sua trajetória como
pesquisadora. E também sobre a relevância de ser bolsista?

JULIANA ARAÚJO: Iniciei a graduação em Letras-Português, em 2008, na


Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Já nos primeiros períodos, tive interesse
pela pesquisa, por meio dos projetos integradores. Em um desses projetos,
trabalhamos com o perfil do professor de Letras nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para os cursos de Letras (MEC, 2002). Essas diretrizes foram, também,
o objeto de pesquisa do meu trabalho de conclusão de curso. No terceiro período,
realizei o processo seletivo de monitoria da Profissão docente na Faculdade de
Letras da UFAL. Fui aprovada e comecei a desenvolver atividades com o Prof.
Helson Sobrinho, que me apresentou à Análise do Discurso e orientou todas
as pesquisas que eu desenvolvi na área. Atuei também na monitoria de Análise
do Discurso e fui pesquisadora bolsista no Programa Institucional de Iniciação
à Docência (PIBID) na FALE. Foram meses de prática e reflexão docente em
uma escola da rede estadual de ensino e nas reuniões semanais que realizávamos,
sob a orientação da Profa Lúcia de Fátima. No PIbid, eu pude estabelecer
um diálogo entre a Linguística Aplicada e a Análise do discurso, buscando
compreender discursos produzidos por alunos/as com os/as quais/ trabalhamos
oficinas de leitura e produção de textos. Já no fim da graduação (2011), realizei
a seleção para ingressar no Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística
(PPGLL) da UFAL, na linha de pesquisa Sujeito, História e Ideologia. No
início de 2012, iniciei a minha pesquisa de mestrado, com a orientação do
Prof. Helson Sobrinho. Com a bolsa do CNPQ desenvolvi uma pesquisa que
buscou compreender o entrecruzamento de sentidos de docência nos discursos
de professores universitários aposentados. Nessa pesquisa, percebi nos gestos
de interpretação que havia uma discursividade (que circulava, principalmente,
em mídias (revistas, (tele) jornais) que interpelava os sujeitos trabalhadores/as
velhos/as à volta/perminaica ao/no mercado de trabalho. Diante disso, elaborei

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 58


um projeto de doutorado que propôs uma análise do processo discursivo de
(re) significação da aposentadoria na sociedade brasileira. Iniciei o doutorado
em 2014, ano em que também defendi a dissertação de mestrado.  Cursei
disciplinas que foram fundamentais para a pesquisa e para a escrita da tese.
A dedicação exclusiva foi possível, pois a minha pesquisa foi financiada pela
CAPES. Vale ressaltar que esse trabalho resultou na publicação obra “O processo
de (re) significação da aposentadoria: discurso, trabalho e capitalismo (2019),
publicada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas (EDUFAL),  9ª
Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Minha trajetória mostra como ser
bolsista foi uma condição que me possibilitou a continuidade e a dedicação
às pesquisas desenvolvidas ao longo dos anos,  da graduação ao doutorado -
PIBID/CAPES, PIBIC- CNPq, Mestrado-CNPq, Doutorado- CAPES - com o
acréscimo de mais quatro bolsas referentes à licença maternidade).

ROSANE CORREIA: Como é desenvolver pesquisa, hoje, na área de Análise


do Discurso como integrante do Grupo de Estudos em Discurso e Ontologia
(GEDON-UFAL) e do Núcleo de Estudos em Práticas de Linguagem e Espaço
Virtual (NEPLEV - UFPE) diante do contexto que as Universidades Federais se
encontram, como, por exemplo, os cortes nas bolsas de pesquisas? 

JULIANA ARAÚJO: Os grupos de pesquisa são fundamentais para a produção


e a circulação de pesquisas e das suas respectivas discussões e contribuições. O
Gedon, coordenado pela Profa. Belmira Magalhães e pelo Prof. Helson Sobrinho, 
é formado por pesquisadores/as que desenvolvem trabalhos no PPGLL/UFAL. As
análises têm sido publicadas em revistas especializadas e em livros, havendo uma
participação expressiva dos/as pesquisadores/as nos eventos de AD. Além disso,
a interlocução com a ontologia lukacsiana configura-se como uma característica
desse grupo, o que representa uma especificidade no modo de realizar os gestos
de interpretação à luz da AD. As produções publicadas em revistas especializadas
integram o NEPLEV, coordenado pelas professoras Fabielle e Evandra. O
grupo, que é composto por pesquisadores da UFPE e de outras universidades,

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 59


organiza o Seminário de Estudos em Práticas de Linguagem e Espaço Virtual
(SEPLEV), que este ano (V edição) será realizado, mais uma vez, em Maceió.
As reuniões nos proporcionam debates e estudos de obras dos/as autores/as
que norteiam as reflexões teórico-analíticas das pesquisas, contribuindo para o
desenvolvimento dos trabalhos em andamento.  Manter as ações acadêmicas e
políticas dos grupos de estudos em um contexto de ataques às universidades, as
pesquisas, à educação, é reafirmar o posicionamento pecheutiano de que “não
há dominação sem resistência” (PÊCHEUX, 1988).

ROSANE CORREIA: Como a senhora avalia as produções atuais da Análise do


Discurso no Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura (PPGLL)
da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Alagoas?

JULIANA ARAÚJO: As pesquisas desenvolvidas na área de Análise do Discurso


no PPGLL têm como característica a diversidade de análises de materialidades
discursivas. Os trabalhos buscam compreender discursos de diferentes
formulações na sociedade brasileira em um contexto de crise estrutural do
capital.  As pesquisas analisam, entre outros, discursos sobre educação, gênero,
velhice, aposentadoria, morte, empreendedorismo e seus diversos modos
de circulação. As produções acadêmicas apontam para uma forte crítica à
sociedade capitalista, desvelando os mecanismos de produção de sentidos nas
materialidades discursivas, e explicitando os modos de como a ideologia, em
seu funcionamento, produz evidências no processo de produção de sentidos,
processo que, conforme Pêcheux ([1975]1988), ocorre concomitante à
constituição dos sujeitos. Assim, compreendendo que o sentido sempre pode
ser outro, as pesquisas em AD no PPGLL têm contribuído para a explicitação
das contradições que se materializam nos discursos, enquanto efeitos de sentido
entre sujeitos inscritos em uma formação social, na relação constitutiva entre
língua, história e ideologia. 

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 60


ROSANE CORREIA: No livro, Análise do Discurso: fundamentos e práticas
(2009), publicado pela EDUFAL, O professor Helson Sobrinho nos diz que: não
basta ser analista do discurso, é preciso tomar, enquanto analistas do discurso,
uma posição política na Análise do Discurso. Nesse sentido, como a senhora
avalia a contribuição de Pêcheux para esta tomada de posição?

JULIANA ARAÚJO: Na obra Semântica e discurso, o autor apresenta a AD


como uma teoria materialista dos processos discursivos.  É uma tomada de posição
de Pêcheux no quadro dos estudos da linguagem. O autor não separou prática
teórica de prática política. Dessa forma, tomar uma posição política é “tomar
partido”. No texto “Só causa daquilo que fala ou o inverno político francês:
início de uma retificação, Pêcheux afirma que  “Intervir filosoficamente obriga
a tomar partido”, acrescentando “ eu tomo partido pelo fogo de um trabalho
crítico” . É preciso reiterar que não há neutralidade nas práticas discursivas,
uma vez que o discurso é materialidade específica da ideologia.  Pesquisamos/
analisamos discursos sempre de um lugar sócio-histórico.
 
ROSANE CORREIA: O livro de sua autoria – O processo de (re) significação
da aposentadoria na sociedade brasileira: discurso, trabalho e capitalismo –
retoma sua tese realizada e defendida na Ufal em 2019. Como a senhora poderia
relacionar sua obra com o recente quadro de desmonte da Previdência Social?

JULIANA ARAÚJO: Iniciei a pesquisa de doutorado no PPGLL em 2014. 


Quando publiquei o livro, em 2019, pela EDUFAL, fruto da pesquisa, ouvi de
muitas pessoas que o trabalho era atual, devido à reforma da Previdência. Gosto
de explicar que a discussão que levanto em meu gesto de interpretação, de fato,
é atual, mas é, também, histórica, resulta de uma crise estrutural do capital, que
tem como um de seus mecanismos de controle e crescimento  a retirada massiva
de direitos conquistados por meio de lutas intensas pelos/as trabalhadores/
as. Trabalhei na constituição do corpus de análise buscando apresentar como
em diferentes momentos históricos, desde a sua implementação oficial pelo

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 61


Estado até as recentes reformas, a Previdência Social materializou o embate entre
capital e trabalho, que, por sua vez, foi reproduzido nas práticas discursivas que
significaram os/as trabalhadores/as aposentados/as. Dessa forma, as pesquisas
produzidas em AD no contexto do quadro atual de desmonte da Previdência
Social e de outros direitos dos/as trabalhadores/as brasileiros/as contribuem
para o desvelamento dos mecanismos ideológicos de produção de sentidos das
materialidades discursivas analisadas, bem como a articulação dos discursos com
suas constitutivas condições de produção.

ROSANE CORREIA: Ainda sobre sua obra publicada em 2019, gostaria que
a senhora colocasse em questão o valor das referências locais [(re) leituras dos
professores do programa] usadas para enriquecer a pesquisa.

JULIANA ARAÚJO: Os gestos de interpretação  apresentadas em livros e artigos


dos/as professores/as e dos/as pesquisadores/as que fazem análise do discurso na
UFAL são fundamentais para os trabalhos que desenvolvemos em AD, pois
representam distintas análises de materialidades discursivas que têm formulação
e circulação específicas, a partir da perspectiva da teoria materialista dos processos
discursivos. Dessa forma, cito dois livros de professores/as do PPGLL  que se
configuraram como bases para os gestos de análise que venho realizando ao
longo do caminho, a saber: 1. Discurso, velhice e classes sociais: a dinâmica
contraditória do dizer agitando as filiações de sentidos na processualidade
histórica (EDUFAL, 2007), pesquisa de doutorado do Prof. Helson Sobrinho  e
2. Análise do Discurso: fundamentos & práticas (EDUFAL, 2009), de autoria
das Professoras Belmira Magalhães, Socorro Cavalcante, Ana Gama e do prof
Helson Sobrinho, pesquisadores/as integrantes do Gedon. 

ROSANE CORREIA: Em 2019, a senhora já com o título de doutora e iniciando


um novo caminhar na Universidade Federal de Alagoas como professora
substituta, ministrou com excelência o minicurso − Análise do Discurso e o
caráter material do sentido – promovido pelo Enala (Encontro Nacional de

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 62


Linguística Aplicada). Ali, (ou)vimos a história da AD atravessada pela linguagem
através de Denise Maldidier, Eni Orlandi e pelo próprio Pechêux. Gostaria que
a senhora nos falasse um pouco da relevância dos trabalhos de Eni Orlandi.

JULIANA ARAÚJO: Quando falamos em Análise do Discurso pecheutiana


no Brasil, a professora Eni Orlandi é a nossa grande referência. A tradução de
textos de Pêcheux e as obras da própria autora foram e são fundamentais para a
AD no Brasil. Na obra, Discurso em análise: sujeito, sentido e ideologia (2012),
Orlandi, ao tratar das condições de produção de implementação da AD como
disciplina na Unicamp, descreve-nos que a teoria foi trazida para o Brasil “Em
um momento em que a luta pela palavra é fundamental e em que o silêncio
trabalha politicamente, significando o que não pode ser dito” (p. 20). Ser analista
de discurso em um contexto de silenciamento representou a tomada de posição
de Orlandi no interior dos estudos da linguagem, posição teórico-política que
nos inspira na prática analítica. Conheci a teoria e realizei os primeiros gestos de
interpretação  a partir da leitura dos textos de Orlandi, especialmente, das obras
“Análise do Discurso: princípios e procedimentos” e “As formas do silêncio: no
movimento dos sentidos”. As leituras que a autora faz dos textos de Pêcheux
norteiam, também, a nossa leitura, pois trazem reflexões detalhadas sobre a
teoria materialista dos processos discursivos.

ROSANE CORREIA: Em recente entrevista, Marie-Anne disse aos integrantes


da Contradit (Coletivo de Trabalho: Discurso e Transformação) que “É preciso
repolitizar a Análise do Discurso recolocando-a numa perspectiva materialista”
(PAVEAU, 2019) referindo-se aos estudos de AD na França. De que forma a
senhora analisa a proposição acima no que se refere aos estudos desenvolvidos
no Gedon (Grupo de Estudos em Discurso e Ontologia)?

JULIANA ARAÚJO: O materialismo histórico compõe o quadro epistemológico


da AD. Encontramos esse fundamento explícito na AD em vários textos de Pêcheux.
No texto “Remontemos de Foucault a Spinoza”, por exemplo, Pêcheux faz uma

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 63


observação que aponta para a relação da AD com o materialismo, quando afirma
que Marx e Engels não desenvolveram uma teoria do discurso, mas realizaram
leituras que confrontavam politicamente panfletos, manifestos, declarações, ou
seja, diversas materialidades discursivas. Denise Maldidier, Claudine Normand
e Régine Robin - “Discurso e ideologia: bases para uma pesquisa” - destacam
também o lugar do materialismo histórico na AD, afirmando que uma “teoria
materialista das práticas discursivas não poderá ser pensada senão no quadro
do materialismo histórico de uma maneira rigorosa e não metafórica”. As
pesquisas realizadas no Gedon confrontam o político nas práticas discursivas
e tomam o materialismo histórico do quadro teórico-metodológico da AD
de modo rigoroso, compreendendo que o discurso é produzido em condições
de produção. Dessa forma, “recolocar” a AD numa perspectiva materialista é
reconhecer o seu fundamento enquanto teoria dos processos discursivos. E
quando assumimos essa posição enfatizamos necessidade de tomar partido por
uma análise ontológica do discurso, considerando o real sócio-histórico como o
fundamento das discursividades e de seus efeitos de sentidos.

ROSANE CORREIA: Por fim nos conte como se deu sua tomada de posição
dentro da Análise do Discurso. 

JULIANA ARAÚJO: O modo como pensamos e fazemos a AD é determinado,


em última instância, historicamente pelas leituras que fazemos, pelas aulas que
temos, pelos diálogos que estabelecemos. Nesse processo vamos nos constituindo
como sujeitos analistas de discurso, cujos gestos de interpretação são orientados
pelo dispositivo teórico-metodológico da AD. Interpretações que têm como
princípio a busca do sentido, a relação complexa constitutiva entre língua,
história e ideologia. Assim,  a tomada de posição é um ato político diário, que
requer a não separação entre prática teórica e prática política. Um ato analítico-
político cuja prática possibilita a compreensão de que “as contradições de classe
atravessam os discursos sem nunca serem claramente resolvidas” (PÊCHEUX,
[1978] 2011). Assim, a minha tomada de posição na AD se inscreve na

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 64


interlocução constitutiva da Teoria com o Materialismo histórico-dialético,  uma
posição que busca compreender como a ideologia mascara o caráter material dos
sentidos em seu funcionamento que produz efeitos de evidência nas práticas
discursivas, funcionamento que desvelamos quando mobilizamos conceitos
da AD - condições de produção, formação ideológica, formação discursiva,
interdiscurso. Desse modo, a posição/partido que tomamos nos estudos da
linguagem e no interior da AD considera  a prática analítica como “uma questão
de ética e política : uma questão de responsabilidade” (PÊCHEUX, 2012).

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 65


Entrevista com
Ana Luiza Fireman

Ana Luiza Azevedo Fireman


André Luis Guimarães Rocha

Concedida em 20 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-6
ANDRÉ GUIMARÃES: Seu percurso acadêmico ocorre todo dentro da
grande área de Letras. O contato com a Análise do Discurso (AD) se dá desde a
graduação ou ocorre em outro momento?

ANA LUIZA FIREMAN: Embora não tenha cursado na graduação uma


matéria específica de AD, tive professores e abordagens que me conduziram
a um olhar sobre o fenômeno linguístico para além do código, observando o
contexto de produção dos enunciados, os implícitos e silenciamentos. Tive uma
excelente formação no curso de Letras da UFAL. Mas foi no mestrado que tive
um contato mais íntimo com a AD a partir de uma disciplina que cursei com a
professora Belmira, voltada para a crítica literária na perspectiva da AD. Ela foi
minha orientadora no mestrado.

ANDRÉ GUIMARÃES: Além da AD de linha francesa, você estudou outras


linhas de Análise de Discurso? Quais as diferenças e aproximações que pode
apontar?

ANA LUIZA FIREMAN: Na UFAL meu contato teórico foi apenas com a
linha francesa pecheutiana, tendo como base, além dos seus pressupostos
teóricos, o materialismo histórico de Marx. Porém, como sou inquieta, procurei
ler e estudar outras linhas, sobretudo a chamada AD crítica norteada pelas
teorias de Foucault. Posso afirmar que a principal diferença está na concepção
de ideologia e na forma como se enxerga e se trata os fenômenos sociais e as
relações de opressão e poder. Muitas abordagens e pesquisas na linha da AD
crítica foucaultiana não estabelecem as relações intrínsecas entre relações de
poder e de opressão e o modo de produção capitalista e suas contradições, como
a luta de classes. Apontam as relações de poder implícitas no discurso, mas não
as explicam.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 67


ANDRÉ GUIMARÃES: Sua atuação docente é quase que totalmente voltada
ao ensino superior, mais fortemente nos cursos de Direito. Como você avalia o
impacto da AD em sua prática docente?

ANA LUIZA FIREMAN: Atuei no ensino superior na rede privada, sobretudo


no curso de Direito, por 19 anos, até junho do ano passado (2019), quando fui
nomeada e empossada como professora efetiva do IFAL em regime de dedicação
exclusiva. Posso afirmar que foi imprescindível para uma abordagem crítica
para além do código, iluminando com os alunos as artimanhas argumentativas,
as contradições do discurso jurídico, os implícitos, o uso excessivo de termos
técnicos, próprio da área, como instrumento de exclusão, dentre outros inúmeros
aspectos.

ANDRÉ GUIMARÃES: Hoje você tem atuado com ensino médio e EJA.
Quais as contribuições da AD nesse campo de atuação e quais as semelhanças e
diferenças no que se refere a sua atuação no ensino superior?

ANA LUIZA FIREMAN: O fato de eu ter uma base em AD está fazendo


toda a diferença também no Ensino Médio e na modalidade EJA. O público é
bastante distinto (ensino médio, adolescentes; EJA, jovens adultos e idosos que
retornaram aos estudos após um tempo fora da escola), o conteúdo programático
é significativamente diverso, os textos utilizados também, mas a abordagem e a
perspectiva posso afirmar que são a mesma, embora os métodos de ensino sejam
diferenciados, principalmente na EJA. Estou constantemente a problematizar
com meus alunos os discursos (religioso, político, publicitário etc.), apontando
com eles as contradições, as relações de poder, os implícitos, o não-dito, a partir
da análise do contexto de produção, do lugar do sujeito que fala, estabelecendo
suas implicações e suas relações com a práxis humana e os fenômenos sociais.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 68


ANDRÉ GUIMARÃES: Qual a influência da AD em suas práticas como escri-
tora, pesquisadora, revisora editorial, etc, e em sua vida pessoal?

ANA LUIZA FIREMAN: A influência é fortíssima. Em minha vida pessoal, na


relação com colegas de trabalho, amigos, parentes, é inevitável não buscar e não
identificar na fala do outro as ideologias subjacentes, as intencionalidades, as
contradições. Como pesquisadora, é minha base teórica fundamental, embora
eu não me limite à AD, pois estudo muito a área de Antropologia e ela tem-me
dado uma contribuição significativa em minhas pesquisas e produção acadêmi-
ca.

ANDRÉ GUIMARÃES: Diante da atual crise econômica e política vivida no


Brasil desde 2014, qual a contribuição da AD em sua atuação docente diante
desse cenário?

ANA LUIZA FIREMAN: Embora o conteúdo programático das disciplinas


que leciono atualmente seja bem específico, voltado para o estudo da Língua
Portuguesa, posso afirmar que, diante deste cenário de crise, a formação em AD
tem impactado bastante em minha atuação docente, passando pela escolha dos
textos, das músicas e dos vídeos que seleciono para estudar com meus alunos,
bem como pela concepção de língua que norteia meu trabalho, a perspectiva, a
abordagem etc. Por exemplo, tenho analisado com eles músicas de Chico Buar-
que e Belchior para tratar de liberdade de pensamento, de expressão e de criação
artística, focalizando os aspectos linguísticos, estéticos e estilísticos (como o uso
de metáforas), mas construindo com eles as pontes entre história e presente, en-
tre história, discurso e sentidos. É importante que eles enxerguem o fenômeno
da linguagem como práxis humana inserida num contexto social e histórico e
que os sentidos dos enunciados, ou dos discursos, não podem ser captados e
compreendidos apenas nas letras frias do código.

ANDRÉ GUIMARÃES: Qual a interlocução que você faz entre a sua formação

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 69


em nível de mestrado, na área da literatura, com seu doutorado na AD?

ANA LUIZA FIREMAN: Fiz o mestrado na UFAL na área de Literatura, em


Crítica literária, mas minha base foi a crítica social de Antonio Candido, ou
seja, mesmo não sendo em AD, a perspectiva de minha pesquisa manteve uma
interlocução com vários pressupostos da AD: os implícitos, silenciamentos, as
contradições, a noção de discurso, a análise do contexto histórico (e a Histó-
ria) como ponto de partida para interpretação e captação dos sentidos etc. Já o
doutorado fiz em AD também na UFAL, e tive como objeto de estudo decisões
judiciais.

ANDRÉ GUIMARÃES: Quais as contribuições que o programa de pós-gradu-


ação que engloba a linha de Análise do Discurso pode trazer para a sociedade?

ANA LUIZA FIREMAN: Para onde vou faço questão de afirmar que sou “cria”
da Universidade Federal de Alagoas! Graduação, mestrado e doutorado. A con-
tribuição do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFAL é
fundamental em minha formação e atuação profissionais. Posso dizer que é um
divisor de águas em minha vida, não somente como profissional, mas como
cidadã, como ser político. Em minha convicta opinião, a AD deveria ser mais
difundida e socializada.

ANDRÉ GUIMARÃES: Sente-se realizada como pesquisadora da AD no que


tange as contribuições que suas pesquisas trazem ou podem trazer para a socie-
dade, assim como para sua prática docente?

ANA LUIZA FIREMAN: Preciso ser sincera. Tenho produzido bastante desde
a defesa de minha tese, no final de 2017, mas tenho dificuldade em publicar
minhas produções. A AD ainda sofre rejeição dentro da própria área de Lin-
guística, e a conjuntura atual da sociedade brasileira em que até mesmo dizer o
nome “Paulo Freire” ou “Marx” nos torna alvo de perseguição e de discurso de

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 70


ódio e marginalização, não tem sido fácil. Ser pesquisador em AD é um ato de
resistência. Ainda não publiquei minha tese, embora tenha sido elogiada pela
banca, que recomendou a publicação.

ANDRÉ GUIMARÃES: Qual mensagem você deixaria para quem está iniciando
ou pretende ingressar nessa área de pesquisa?

ANA LUIZA FIREMAN: A AD é uma área de estudo e de pesquisa incrível,


apaixonante! Eu me identifico bastante com ela. Corre nas minhas veias. É
sempre meu ponto de partida, o cais em que me aporto. Mas é preciso ousar, é
preciso coragem, é preciso resistir.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 71


Entrevista com
Almir Oliveira

Almir Almeida de Oliveira


Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques

Concedida em 28 de março de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-7
ANDRESSA MARQUES: O que levou o senhor a fazer mestrado e doutorado
em linguística, especificamente na área de teoria em análise linguística?

ALMIR OLIVEIRA: Bem, desde a minha graduação que eu tenho me


identificado com as disciplinas de linguística e mais precisamente com as
disciplinas que refletiam a teoria em análise linguística. Então, no mestrado fui
pesquisar, dentro da linguística gerativa, com professor Jair Farias, os operadores
aspectuais e sua interferência na leitura do predicado. No doutorado, talvez não
por opção, mas pelo contexto que tinha e ainda olhando dentro da perspectiva de
análise e teoria linguística, eu fui investigar palatização progressiva das oclusivas
ovulares, com o Prof. Aldir de Paula. Mas não sei se é uma coisa escatológica ou
de qualquer outra natureza, mas nunca me vi pesquisando em outra área que
não dentro da teoria e análise linguística. Se tornou, portanto, uma paixão.

ANDRESSA MARQUES: Como as pesquisas desenvolvidas dentro do PPGLL


auxiliaram no desenvolvimento enquanto profissional da educação?

ALMIR OLIVEIRA: Bem, eu não tinha nem ideia do que era ser um professor
universitário antes de entrar no PPGLL. Foi após entrar ao programa, fazer
as disciplinas, inclusive participando de estágio docência, que eu pude me
aprofundar mais dessa área acadêmica e profissional do ensino superior. E
com certeza foi o fato de ter feito mestrado e doutorado nesse programa é
que fez com que eu passasse em concurso público e pudesse exercer atividades
acadêmicas ligadas ao ensino superior. Então, sem dúvida, houve um incentivo
e houve um preparo de minha parte, através do daquilo que aprendi, daquilo
que obtive dentro do programa. De modo que carrego comigo muito gratidão
aos professores e ao programa de pós graduação em Letras e Linguística pelo que
me proporcionaram quanto formação docente e profissional.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 73


ANDRESSA MARQUES: Há vínculos necessários entre língua e cultura?

ALMIR OLIVEIRA: Sem dúvidas! Com toda certeza não existem línguas sem
haver antes cultura. Por mais que a gente possa trazer uma reflexão sobre a
natureza da língua, sobre a língua ser natural ou convencional, uma coisa que
desde os gregos antigos já se questionava. Uma coisa que perpassa aí as principais
teorias linguísticas. E por mais que a gente possa pensar sobretudo a existência
de uma língua apenas como um componente mental, mas sem dúvida essa
língua necessita de um espaço social para a sua realização. Não há como a gente
ter uma língua estrutural ou uma língua de uso, se a gente pensar uma cultura
que a afeta, a manipula e a dá vida. A gente olha por exemplo para a variação
linguística e a gente vê que não só a língua se realiza entre seus falantes como
a própria língua é afetada por esses falantes. E há elementos externos como
sexo, idade, escolaridade, que interferem diretamente no uso que essa língua vai
ter. Desde o século dezenove, com os estudos dos comparatistas, precisamente
com a contribuição daqueles que foram chamados de neogramáticos que já
observam que determinados traços culturais determinam o comportamento do
usuário e consequentemente determinam esse status da língua. Então, quando
pensamos a língua como um instrumento, sobretudo de comunicação social, é
imprescindível levar em consideração que todos os aspectos dessa sociabilidade,
que vem constituir os traços culturais de determinada cultura, interferem
e condicionam as escolhas linguísticas do falante, logo língua e cultura são
indissociáveis.

ANDRESSA MARQUES: Sabe-se que o preconceito linguístico está relacionado


a determinadas variedades linguísticas. Contando as pesquisas pelo senhor
realizadas, quais as variedades mais sujeitas ao preconceito? Por quê?

ALMIR OLIVEIRA: Pois é, de fato escolhas linguísticas são afetadas por


valorização social. Na verdade, não existe um preconceito linguístico. O
preconceito é social, mas acaba se manifestando nas escolhas linguísticas do falante

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 74


a depender da classe e do espaço social que esse falante ocupa numa sociedade.
Dentro das pesquisas que eu tenho feito, que eu tenho estudado, acho que pelo
menos dois fenômenos têm marca clara de estigma. Primeiro, talvez o mais
marcado deles, é a concordância, tanto a concordância nominal e principalmente
a concordância verbal. Acho que dentro dos elementos linguísticos variáveis, esse
é o elemento mais sensível a um preconceito linguístico. Todos os estudos que eu
tenho visto desta natureza mostram que quanto mais o indivíduo estuda, mais
ele busca a forma de prestígio. Mostra claramente que o não uso da concordância
linguística, da concordância verbal, principalmente, faz com que esse falante
seja identificado como pertencente a uma classe menos favorecida, como pessoa
de baixa escolaridade, mais velha e residente em áreas de periferia ou em zona
rural. E outro fenômeno que também tem visivelmente uma marca de estigma
é a palatização progressiva da oclusivas ovulares, em formas linguísticas como:
muitho, doidho, goxto, suxtho. São formas muito comuns no território alagoano.
Em quase todas as cidades de Alagoas é possível perceber a sua realização. Talvez
a única exceção seria o sertão e as cidades mais distantes do litoral, cidades mais
ao sertão do estado, elas tenham uma pouca realização dessa palatização. E essa
é uma forma também que tem carregado sua forma uma marca negativa. É uma
marca que tem carregado seu valor negativo. E talvez isso ocorra justamente
a depender de quem a utiliza. As pesquisas que têm tratado dessa palatização
mostram que ela sobrevive no Nordeste, principalmente nas zonas da mata e do
agreste do Nordeste, pelo menos da zona da mata da Bahia até o Rio Grande do
Norte. Todos os estados do litoral nordestino e que se mantêm principalmente
nas periferias das cidades dessas regiões. Então por natureza esse é um fenômeno
produzido por nordestinos que moram em lugares de periferia, em cidades que
por si já são periféricas, pessoas de baixa escolaridade e pessoas mais velhas.
É, então esse é o extrato que favorece esse fenômeno e por isso ele padece de
uma marca negativa porque quando alguém produz uma palavra com esse tipo
de palatização ou qualquer outro tipo de variação linguística que tenha marca
negativa, acaba havendo um processo de identificação. Em que se identifica a
origem desse falante, ou seja, é um valor social que recai sobre o falante a partir

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das escolhas linguísticas que ele faz, dos usos linguísticos que ele faz. Então, se
o indivíduo, por exemplo, tem esse extrato social que eu acabei de descrever ele
acaba sofrendo não pela forma linguística que ele produz, mas pelo ambiente,
pelo status social que vive e aí qualquer pessoa que produza vai ser identificado
como pertencendo a esse grupo, que é um grupo socialmente já discriminado.
Ou seja, a discriminação é social, mas acaba também sendo recaindo nas escolhas
linguísticas do falante, que sofre a partir de sua fala, um preconceito que é social.

ANDRESSA MARQUES: O Brasil é um país em que há uso concomitante de


diferentes línguas, pois além da língua portuguesa outras línguas são faladas, na
comunidade de descendências africanas, descendência negra, alemãs, italianas,
japonesas, como também nas aldeias indígenas. Ao considerar isso, como o
senhor percebe o preconceito linguístico e prestígio social nas comunidades
minoritárias?

ALMIR OLIVEIRA: De certo modo, já respondi parte dessa pergunta na


questão anterior. Na verdade, o preconceito não é linguístico, o preconceito
é social. Uma coisa que gosto de falar quando se pensa em comunidades
minoritárias é observar por exemplo a relação que o português tem com as
línguas estrangeiras. A gente olha por exemplo a influência que tem o inglês e o
espanhol no português. E eu sempre pergunto aos meus alunos: quantas palavras
do espanhol nós temos usado diariamente no português? E geralmente os alunos
lembram uma, duas, três palavras. Quando eu pergunto: quantas palavras de
origem inglesa nós usamos diariamente no português? E aí, eles vão lembrar
centenas talvez milhares de palavras que diariamente nós utilizamos que são
palavras de origem inglesa. E o curioso é que todos os países que fazem fronteira
com o Brasil, acho que a única exceção seria a Guiana francesa, falam espanhol.
E mesmo assim, nós temos uma influência muito pequena do espanhol. Quanto
ao inglês, o país mais próximo que fala inglês é os Estados Unidos, que está
mais de oito mil quilômetros de distância do Brasil. Muito longe da gente,
mas, mesmo assim, tem uma influência muito forte nos usos linguísticos que

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 76


fazemos português falado no Brasil. Para mim isso é uma evidência de que os
usos linguísticos são diretamente afetados pelo prestígio da comunidade que
produz. Então, o brasileiro olha, por exemplo, para o norte-americano, para os
ingleses, para os australianos e nós identificamos aí um status social acima do
que o status do brasileiro. Já quando a gente olha, por exemplo, para o falante
do espanhol nós olhamos para comunidades economicamente desfavorecidas
em relação em relação ao Brasil. Então, pra mim isso é uma evidência clara,
dessa preferência linguística. Outra coisa também que a gente pode observar,
fazendo analogia, é como ouvir que o português mais correto é o português
falado em Portugal. Nós aceitamos isso sem problema nenhum. Qualquer
pessoa que disser isso popularmente vai ser aceito sem nenhuma resistência. Já
se você for, por exemplo, em países como Estados unidos e Austrália e disserem
e dizer que o inglês mais correto é o inglês da Inglaterra, provavelmente vai
haver resistência. Porque por trás da noção de certo e errado anda a noção do
prestígio social e o prestígio social tá diretamente atrelado à posição econômica,
à liderança econômica, tá diretamente relacionado ao poder econômico desse
povo. Então a mesma coisa recai, por exemplo, quando a gente olha pra essas
comunidades no Brasil. Curioso a gente observar através de uma série de estudos
sobre comunidades quilombolas em que já não existe mais uma língua africana
falada em território brasileiro e os traços que talvez pudessem ser remanescentes
de uma origem africana são muito sutis. Por outro lado, as comunidades de
imigrantes alemães, italianos e japoneses geralmente têm uma marca linguística
original muito forte. Por exemplo, a comunidade dos alemães e italianas,
principalmente no sul do país, predominantemente utilizam essas línguas e
não o português, embora estejam em quinta, sexta geração de imigrantes. Ou
seja, eles percebem que essas línguas têm um poder, ou melhor, essas línguas
representam comunidades que têm um poder social econômico mais elevado do
que o português. Assim, os falantes naturalmente se esforçam pra manter esse
prestígio. Por outro lado, a gente olha as comunidades indígenas que há uma
tendência muito grande a serem, a utilizarem menos suas línguas nativas em
busca, em busca da língua portuguesa. É, a inclusive eu acho que no Nordeste a

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 77


única comunidade indígena que ainda tem uma língua nativa seria a comunidade
Yathee. Eu conversava há pouco tempo com uma professora que trabalha com a
língua e ela dizia que há uma resistência dos jovens, por exemplo, em preservar
o Yathee dos povos indígenas, porque como a comunidade indígena está muito
próxima das cidades que falam o português, as principais relações sociais são
com o português e os jovens entendem que ao utilizar o Yathee recai sobre eles
uma marca social negativa. Já em relação ao português não. Então tudo, no
final, das contas vai depender de quem está falando. Esse grupo é um grupo
socialmente econômico de prestígio ou não? Se é o grupo é economicamente
favorecido é natural que recaia sobre essa comunidade um valor positivo, caso
contrário é um valor que vai ser negativo.

ANDRESSA MARQUES: O tema preconceito linguístico tem sido tratado em


diversos livros e reportagens e tem se levantado a discussão de que o preconceito
linguístico é uma variação do preconceito social. Qual a sua opinião sobre isso?

ALMIR OLIVEIRA: De fato, o preconceito não é linguístico, mas um


preconceito social que se manifesta na língua. Até porque geralmente quem
sofre de um preconceito linguístico também vai sofrer um preconceito pela cor
da pele, vai sofrer um preconceito pelo corte de cabelo, vai sofrer um preconceito
sobre a roupa que veste, vai sofrer um preconceito sobre os ambientes que
circula. Porque o preconceito não é apenas linguístico. Em aula eu dou exemplo
de um programa de televisão que achei bem interessante, uns episódios daquele
programa Legendários, em que o indivíduo pega uma moça aqui de Alagoas e um
rapaz da Paraíba que estão em São Paulo para estudar. São pessoas que passaram
pelo Enem e por escolherem estudar em São Paulo e estão procurando lugares
para dividir apartamento, procurando anúncio de apartamento na internet para
dividir. E o Legendários vai lá e pega as séries de anúncios que tem na internet
e começa a ligar para essas pessoas a fim de saber as condições de divisão desse
apartamento e curiosamente a metade dos lugares para os quais esses nordestinos
ligaram, tanto o paraibano quanto a alagoana não estavam mais a disposição,

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 78


já tinham sido alugados por outras pessoas. Mas quando o apresentador, que
é um carioca, ligava esses lugares estavam disponíveis. Ou seja, as pessoas ao
identificarem na fala desses nordestinos, o fato de serem nordestinos, agiam com
discriminação o que fez com que os lugares não estivessem mais a disposição.
Isso pra mim fica claro, claríssimo como que esse preconceito social, por
exemplo, contra o nordestino acaba se manifestando nas escolhas linguísticas
que o nordestino faz. Na hora que nós falamos, somos identificados e recai sobre
nós toda uma carga histórica e social carregada do estereótipo estigmatizado do
nordestino que vai para o Sul e Sudeste. E isso recai sobre as escolhas linguísticas.

ANDRESSA MARQUES: De que forma os estudos voltados às teorias


linguísticas podem contribuir no combate ao preconceito linguístico?

ALMIR OLIVEIRA: Sem dúvida, muito importante que haja política


linguística no sentido de mostrar às pessoas esse conhecimento que é teórico.
Esse conhecimento nosso de que não existe forma correta ou forma errada.
Na verdade, o que existem são variações e geralmente as variações tidas como
corretas é porque estão ligadas a camadas sociais mais elevadas. Todas as outras,
naturalmente, vão receber um selo de erro, vão receber aí uma marca negativa.
E é fundamental que haja, principalmente no ambiente escolar, a intensificação
de políticas linguísticas para que as pessoas entendam, assim como as pessoas
já entendem, por exemplo, discriminações de outras naturezas como de pele,
como regional. Que as pessoas entendam que esse preconceito linguístico existe
de fato. Ou melhor, voltar a dizer, esse preconceito chamado linguístico, que
na verdade é o preconceito social que vai se manifestar na fala desse falante.
E entenderem que se existe uma discriminação, essa deve ser tratada como
qualquer outro tipo de preconceito, como racial, sexual, etc. Até para em caso de
serem ofendidas começarem a falar, começarem a denunciar. De não aceitarem,
por exemplo, serem discriminadas pelas escolhas linguísticas que fazem. Eu acho
que esse é um dos papéis da escola. De mostrar a esse aluno que ele pode usar as
escolhas linguísticas que ele quiser, que ele saiba que essas escolhas linguísticas

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 79


vão causar um estranhamento no outro lado, a depender de quem estiver do
outro lado. E que a qualquer momento que ele se sentir discriminado que ele
possa falar, que ele possa exigir não ser avaliado pelas escolhas linguísticas que
ele faz. Porque ele tem liberdade de pertencer a comunidade de fala e fazer os
usos linguísticos que julgar adequados. Acho que do mesmo modo que nós
temos uma liberdade para escolhermos a roupa que nós usamos, para o corte de
cabelo que nós usamos, nós também temos que ter uma liberdade para a escolha
linguística que utilizamos.

ANDRESSA MARQUES: Quais os desafios da linguística para o século XXI?

ALMIR OLIVEIRA: Eu acho que o desafio da linguística para o século XXI


perpassa o desafio da ciência para o século XXI. Estamos vivendo um momento
bastante conturbado e curioso que é a repelia à ciência. Em que as pessoas já
não acreditam ou questionam muito facilmente as verdades científicas. E um
dos problemas que a ciência sofre é a não popularização do seu conhecimento.
Eu acho que todo conhecimento científico acabou sofrendo com o pecado dos
cientistas de ficarem fechados em seus laboratórios e não divulgarem para o
grande público as suas descobertas e a importância da ciência. Então, de igual
modo, eu acredito que a linguística passa pelo mesmo problema. Um dos
principais desafios que nós enfrentamos é fazer com que aquilo que a gente
investiga chegue ao conhecimento das pessoas comuns, que elas entendam a
importância dos estudos linguísticos e que elas entendam principalmente a
relação da linguística com a educação, que elas entendam que a linguística é
uma ciência de fato. Porque se as pessoas não entenderem o que de fato faz a
linguística, assim como para que que serve a ciência vai ser muito mais fácil que
essas políticas anticiência acabem crescendo. Então é fundamental para o século
XXI, que os cientistas gastem tempo para divulgarem os resultados de suas
pesquisas, a importância do que fazem. Não é possível que após 300 anos de
expansão do racionalismo científico, possamos regredir e deixar que ignorância
volte a ter mais aceitabilidade que o conhecimento metodologicamente testado e

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 80


verificado. Divulgar a importância dessa ciência e torná-la popular é o caminho
para continuarmos a pesquisar e fazer novas descobertas, não só na linguística,
mas em todos os campos da ciência.

ANDRESSA MARQUES: A linguística teria algum compromisso necessário


com a educação? Se sim, como isso ajudaria na educação básica?

ALMIR OLIVEIRA: Um dos papéis fundamentais da linguística é contribuir


para a educação. Eu acho que de algum modo já vem contribuindo com a
educação básica. A gente vê, por exemplo, que os materiais didáticos já têm
sofrido consideráveis transformações desde os anos noventa e até os dias atuais.
Em que já não se ensina mais a gramática normativa como apenas um conjunto
de regras a serem memorizadas pelos alunos. Os livros didáticos já não trazem
mais a gramática normativa como um único conteúdo a ser estudado e como a
única forma do ensino de língua portuguesa. Eu acho que se nós olharmos para a
língua portuguesa, a construção de material didática hoje já está completamente
afetada pelo conhecimento da teoria da linguística. E isso pra mim é uma
contribuição muito grande. A percepção, por exemplo, da variação linguística é
uma contribuição sensacional e principalmente para o profissional de Letras. É
fundamental que o profissional de língua, seja de língua portuguesa ou de língua
estrangeira, que ele entenda, principalmente, o que é a língua, ele entenda as
teorias linguísticas pra melhor saber ensinar. Sem dúvida não há necessidade,
por exemplo, de nós substituirmos a gramática normativa das gramáticas
escolares, por exemplo, por uma gramática gerativa tão teórica quanto. Mas sem
dúvida é importante, principalmente para quem trabalha na educação básica,
que entenda os processos de aquisição de linguagem que a gerativa traz e utilize
esse conhecimento teórico pra propiciar esses alunos mecanismos e ferramentas
adequadas pra aprendizagem. Então, como se daria isso não necessariamente
colocar conhecimento linguístico, científico profissional nos livros didáticos e
na sala de aula. Mas que principalmente o profissional consiga utilizar todo
conhecimento teórico da linguística para melhorar os índices de alfabetização,
consiga melhorar os índices de educação.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 81


Entrevista com
Antonio Carlos Lima
Antonio Carlos Santos de Lima
Geison Araujo Silva

Concedida em 04 de abril de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-8
GEISON ARAÚJO: Sua trajetória acadêmica, de modo geral, tem sido no
campo da Linguística Aplicada. A partir de sua experiência, de que maneira
você enxerga essa área de estudos?

ANTONIO LIMA: Respaldado pela fundamentação teórico-metodológica desse


campo de investigação, posso afirmar que o vejo como uma área que possibilita ao
profissional uma atuação mais condizente com o ideário de formação dos sujeitos
nos mais variados aspectos. Isso porque um linguista aplicado, apropriando-se
de saberes inerentes à área, comporta em sua atuação questões necessárias a tal
ideário de formação, tais como ética, identidade, gênero, entre outras questões,
destacando-se a formação de professores, lugar que ocupo bem antes da minha
formação inicial. Além disso, na perspectiva da Linguística Aplicada, os aspectos
relacionados à linguagem são abordados para além de estruturas da língua,
considerando os diversos contextos nos quais ela é utilizada.

GEISON ARAÚJO: Você concluiu os cursos de Mestrado (2010) e de Doutorado


(2019) no Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística (hoje Programa
de Pós-Graduação em Linguística e Literatura) da Faculdade de Letras da UFAL,
ambos na linha de Linguística Aplicada, o que o levou a escolher o PPGLL e,
mais especificamente, a linha da LA?

ANTONIO LIMA: A escolha pelo PPGLL/UFAL deu-se sob, pelo menos, três
aspectos. O primeiro, pelo fato de o Programa estar localizado na cidade onde
resido e na qual mantenho vínculo empregatício; mesmo concursado em esfera
pública, não é fácil conseguir afastamento para cursar uma pós-graduação. Um
segundo aspecto, de grande relevância para minha escolha pelo Programa, foi o
fato de eu ser colaborador/sujeito de pesquisa em um estudo da professora Dra.
Rita de Cássia Souto Maior, à época aluna do curso de Mestrado no Programa.
Era uma pesquisa com observação participante e como tal, possibilitou profícuas
discussões, inclusive reflexões sobre minha condução metodológica. A partir
dessas discussões, Rita Souto me convidou para participar do grupo de pesquisa

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 83


“Ensino e Aprendizagens de Línguas”, liderado pela professora Dra. Rita Maria
Diniz Zozzoli. Apesar do interesse pela esfera acadêmica, algo me desmotivava a
ingressar no PPGLL, pois na minha época de graduação era muito forte a linha
Teorias e Análise Linguística e eu não a considerava um campo de estudos que
pudesse contribuir para minha atuação, sobretudo após as reflexões realizadas
na condição de colaborador/sujeito de pesquisa do trabalho de Rita Souto.
Da mesma forma, não se ouvia (pelo menos eu) falar em Linguística Aplicada
na perspectiva na qual ela é concebida hoje. A terceira razão, portanto, foi a
participação no grupo de Pesquisa, que me fez ampliar a visão sobre ensino de
línguas, bem como outras temáticas como letramento e formação de professores.
Assim, a escolha da Linguística Aplicada ocorreu em meio ao envolvimento com
as ações acadêmicas das pesquisadoras Rita Zozzoli e Rita Souto, pois apesar de
não ter consciência de que atuava como um linguista aplicado, o contexto de
reflexões no grupo me atraia. Com isso, tive a oportunidade de realizar uma
pesquisa sobre leitura, utilizando pressupostos teóricos de Bakhtin e reflexões da
professora Rita Zozzoli, ancorado numa abordagem de natureza qualitativa, de
cunho etnográfico e com a possibilidade de refletir sobre minha própria prática.
Isso graças à adoção dos pressupostos teórico-metodológicos da LA como
norteadores de minas reflexões e atuação.

GEISON ARAÚJO: Paralelo à Pós-graduação, você também atuou – e continua


atuando – como professor no Instituto Federal de Alagoas. Nesse sentido, quais
as contribuições mais significativas de sua vivência acadêmica à sua prática como
docente do Ensino Básico?

ANTONIO LIMA: A contribuição mais significativa de minha vivência


acadêmica na minha prática como docente foi a ampliação da visão sobre os
mais variados aspectos que envolvem a linguagem, que tem sido o grande
diferencial na minha prática pedagógica. Sem dúvida, esse diferencial está
relacionado às minhas experiências na academia, principalmente em nível de
pós-graduação. Essa gama de conhecimentos adquirida no contexto acadêmico

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 84


tem sido significativa não apenas no Ensino Básico, mas também no Superior.
Sinto-me mais seguro para refletir sobre minha própria prática, assumir as falhas
cometidas com maturidade e com condições de redimensionar minha prática
para superá-las.

GEISON ARAÚJO: Em sua dissertação de mestrado defendida no PPGLL,


você abordou o tema “o papel do professor de LM no desenvolvimento da
compreensão ativa em contextos de leitura”. De que maneiras essa pesquisa
colaborou para sua a sua atuação como docente de Língua Portuguesa?

ANTONIO LIMA: Na verdade, o trabalho foi uma reflexão sobre minha prática.
Como informado anteriormente, meu ingresso no PPGLL ocorreu após minha
participação na pesquisa da professora Rita Souto. O fato de ser uma observação
participante, logo com a possibilidade de diálogos entre a pesquisadora e
participantes/sujeitos, possibilitou-me sucessivas reflexões. É como se eu tivesse
sido “contaminado” pela noção de professor reflexivo, na perspectiva de Selma
Garrido Pimenta. Assim, fui refletindo sobre minha prática e sobre a dos meus
pares. Isso me motivou para elaborar o projeto de pesquisa para o ingresso no
PPGLL, no curso de mestrado. Inicialmente pensei – e até tentei – analisar a
prática de outros professores, mas fui obrigado, por circunstâncias institucionais,
a realizar uma auto-observação. Inclusive, essa técnica de coleta de dados
coaduna-se com a perspectiva teórico-metodológica da Linguística Aplicada. Na
verdade, o trabalho foi a formalização de práticas que foram se redimensionado
ao longo do meu percurso na academia ou, fazendo menção a termos utilizados
meus estudos no doutorado, no meu histórico de letramento acadêmico.

GEISON ARAÚJO: Sua tese de doutorado deu relevo ao contexto da Educação


a Distância, com enfoque no letramento acadêmico. Como essa pesquisa
impactou sua atuação como coordenador e professor do programa Universidade
Aberta do Brasil? (UAB/IFAL)

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ANTONIO LIMA: Confesso que foi um movimento inverso. Foram minhas
experiências, inicialmente como professor e, posteriormente, como coordenador
do Sistema UAB, que me motivaram a empreender a pesquisa. Assim, – até me
lembro que utilizei mais ou menos as seguintes palavras na arguição do meu
projeto de doutorado – poderia contribuir para a melhoria da qualidade da
formação de egressos de cursos de graduação a distância do IFAL, extensivo
a outras instituições de ensino a partir da publicação dos resultados. Como
professor, identifiquei que alguns alunos, já em fase de conclusão do curso de
Letras-Português a distância, ainda careciam de conhecimentos essenciais para
suas futuras atuações profissionais. E tais conhecimentos, a meu ver, estariam
relacionados ao processo de formação, logo de letramento acadêmico. Essa
reflexão foi decorrente de minha vivência como aluno especial na disciplina
Letramento de Formação de Professores, quando pretendia reingressar no
PPGLL para cursar o doutorado. Na disciplina, aprofundei meus estudos sobre
letramento e, mais precisamente, sobre letramento acadêmico. Desse modo,
nesse movimento inverso, foram os conhecimentos construídos ao longo da
minha experiência no Programa, seja como aluno regular no mestrado ou como
aluno especial para o doutorado, que nortearam meu ideário de pesquisador,
cujos achados têm contribuído para minha atuação como docente e gestor. Mas
não posso negar que foi a partir da minha vivência no então grupo de pesquisa
“Ensino e Aprendizagem de Línguas” que adquiri subsídios para refletir sobre as
mais variadas questões sobre as quais pesquisa/estudo hoje.

GEISON ARAÚJO: Além de atuar no Ensino Básico, você também tem se


dedicado à formação de outros professores. De que forma experiências adquiridas
e compartilhadas em seu percurso no PPGLL vêm colaborando para o seu
trabalho em cursos de Graduação e Pós-graduação lato sensu?

ANTONIO LIMA: Como afirmei na finalização da questão anterior, minha


vivência, iniciada com a participação no grupo de estudos foi a responsável
pela ampliação da minha atuação profissional, iniciada quando fui professor

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da rede estadual do ensino de Alagoas e, atualmente, como professor e gestor
no IFAL. Tive a oportunidade de atuar em formação de professores em serviço
utilizando conhecimentos dessas vivências. O título de mestre, por exemplo,
advindo dessa experiência, permitiu-me atuar no curso de Pós-graduação lato
sensu em Linguagem e Práticas Sociais, ofertado pelo IFAL. Ministro a disciplina
“Linguística Aplicada” na turma do campus Murici e ministrei, por três anos, no
campus Arapiraca, a disciplina “Novos Letramentos e Formação de Professores
de Língua Materna”. Nesses cursos, além da atuação docente, oriento Trabalhos
de Conclusão de Curso relacionados, não somente à temática trabalhada por
mim atualmente, letramento acadêmico, mas aos diversos assuntos que estão no
âmbito da Linguística Aplicada. Na graduação a distância, mesmo afastado da
docência por estar numa função gestora, oriento TCC, na mesma perspectiva
que o faço na pós-graduação lato sensu. Toda a experiência adquirida no percurso
no PPGL tem contribuído, dessa forma, para o fortalecimento da formação de
professores no nosso Estado. Mas não posso me esquecer das contribuições que
essa vivência trouxe para o contexto da Educação Básica, pois na minha carreira
de professor EBTT não posso prescindir da atuação nesse nível de ensino.

GEISON ARAÚJO: Você lidera o Grupo de Pesquisa Educação,


Empreendedorismo, Letramento e Tecnologia, do IFAL, e também é membro
do Grupo de Estudos Discurso, Ensino e Aprendizagem de Línguas e Literaturas,
da UFAL. Que pesquisas você tem desenvolvido nesses grupos e como a
participação neles tem auxiliado na sua formação como professor/pesquisador?

ANTONIO LIMA: Minha atuação no “Grupo de Estudos Discurso, Ensino


e Aprendizagem de Línguas e Literaturas” é recente; ingressei no final do ano
de 2019, pois tive que me afastar quando ainda era “Ensino e aprendizagem de
Línguas”. Como tenho dito, minha inserção no grupo foi fator indispensável
no meu trajeto acadêmico pós formação inicial. Nesse grupo, portanto, minha
atuação encerrou-se com a dissertação de mestrado. A esse grupo devo toda
trajetória que tenho percorrido. No “Grupo de Pesquisa de Pesquisa Educação,

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Empreendedorismo, Letramento e Tecnologia” pude transpor as experiências
vivenciadas no grupo do qual participara antes. Nesse grupo, também lidero
a linha de pesquisa “Letramento e formação de professores nas modalidades
presencial e a distância”, no qual pesquisadores do IFAL, da rede estadual e
municipal contribuem com reflexões acerca das temáticas que englobam o
título da referida linha. Como resultado das ações do grupo, foram publicados
artigos em periódicos qualificados, pesquisa de iniciação científica do IFAL e
participação em eventos acadêmicos, possibilidades de divulgar resultados de
pesquisas do grupo. As pesquisas têm como temática os estudos de letramento,
a formação de professores nas modalidades presencial e a distância o ensino de
línguas materna e estrangeira. Essa experiência tem enriquecido minha formação
e atuação como docente e pesquisador.

GEISON ARAÚJO: A Universidade e a Escola Básica têm sofrido, recentemente,


severos golpes através de uma série de medidas, como cortes orçamentários,
difusão de fake news, ataque à liberdade docente. Em sua visão, como os
linguistas aplicados podem contribuir na luta em defesa desses espaços e de seu
caráter democrático?

ANTONIO LIMA: Diante desse contexto, diria que a resposta para a indagação
ora apresentada pode ser resumida com o título de um artigo publicado por
Maria Cristina DAMIANOVIC, na Revista Linguagem & Ensino, vol. 8, nº 2:
“O linguista aplicado: de um aplicador de teorias a um ativista político”. Esse
título me chama muita atenção porque confere ao linguista aplicado o seu real
papel, na acepção que a LA é concebida hoje. Nesse sentido, como uma forma
de combater o que Penycook (2008) denomina de iniquidades, o professor,
pesquisador, linguista aplicado precisa ser um ativista político, abordando em
suas pesquisas e em suas atuações aspectos que promovam a transformação, para
melhor, da realidade social.

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Entrevista com
Poliana Pimentel
Poliana Pimentel Silva
Humberto Soares da Silva Lima

Concedida em 11 de novembro de 2020

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HUMBERTO LIMA: De acordo com a sua trajetória acadêmica como
pesquisadora na área do ensino de Língua Inglesa, no campo da Linguística
Aplicada, como a senhora concebe a noção de língua e linguagem?

POLIANA PIMENTEL: Considero a língua, no âmbito dos estudos


Bakhtinianos, um fenômeno social que se manifesta durante a interação social,
levando em consideração o contexto e outros elementos. Entendo, portanto,
que a linguagem manifesta-se na interação entre os indivíduos entre os sujeitos
da língua, agindo por meio de diferentes objetivos.

HUMBERTO LIMA: Ainda em relação à sua trajetória acadêmica, desde a


graduação em Letras (2007) ao pós-doutorado (2018), poderia descrever um
pouco a respeito das inúmeras experiências adquiridas e compartilhadas durante
esse longo percurso desenvolvendo pesquisa?

POLIANA PIMENTEL: Foi uma trajetória enriquecedora por diversos motivos,


principalmente pois conduzi minhas pesquisas sob diferentes aspectos na área de
ensino da língua estrangeira. Na graduação, observei a contribuição no uso de
diferentes gêneros textuais no ensino de inglês. No mestrado, a interação entre
os alunos e o professor em aulas de inglês sob a perspectiva da Sociolinguística
Interacional. No doutorado, o ensino de inglês utilizando elementos do humor
nas atividades, este por sua vez, enriqueceu minha trajetória como pesquisadora.
Por fim, o aperfeiçoamento da minha pesquisa de doutorado na Universidade
da Califórnia apenas mostrou como podemos explorar diversos elementos no
processo de ensino das línguas estrangeiras nas escolas do nosso país.

HUMBERTO LIMA: Entende-se que o campo da Linguística Aplicada (LA),


segundo Moita Lopes (2006), é indisciplinar e interdisciplinar, pois é um
processo constante de “renarrar a vida social”. Como é problematizar pesquisas
no campo da LA?

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POLIANA PIMENTEL: Na minha concepção, problematizar é olhar de forma
particular para uma questão social e levar em consideração os seus diversos
ângulos e, consequentemente, oferecer possibilidades e/ou contribuições para
aquele contexto social estudado.

HUMBERTO LIMA: A participação em diversos congressos acadêmicos é muito


importante para a construção de novas discussões teórico-metodológicas, bem
como auxilia no modo como o(a) pesquisador(a) desenvolve suas pesquisas. A
senhora poderia mencionar a participação mais significativa que teve em algum
congresso?

POLIANA PIMENTEL: Ao longo da minha trajetória participei de vários


congressos, todos eles foram importantes pois, nas interações com outros
pesquisadores, melhorei ou visualizei fatos que não conseguia perceber sozinha.
Sendo assim, não há nenhum congresso mais significativo, todos foram
importantes.

HUMBERTO LIMA: Em relação à sua passagem, nos cursos de Mestrado e


Doutorado, no Programa de Pós-graduação em Linguística e Literatura – PPGLL,
da Universidade Federal de Alagoas – UFAL, qual(ais) contribuição(ções)
significativa(s) à sua formação como professora da Educação Básica?

POLIANA PIMENTEL: Acredito que a minha passagem por cada disciplina


durante o processo de metrado e doutorado enriqueceu muito a minha formação
como professora de educação básica.

HUMBERTO LIMA: Como professora da Educação Básica de ensino, quais


as contribuições das suas pesquisas para atuação do(a) professor(a) no ensino de
língua estrangeira?

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POLIANA PIMENTEL: Acredito que as pesquisas foram desenvolvidas
pensando como me comportaria como professora de inglês em turmas de educação
básica. Na pesquisa de doutorado, como eu era a professora pesquisadora, houve
mais reformulações nas atividades, por isso acredito que houve uma contribuição
maior em relação as possibilidades que outros professores poderiam realizar em
sala de aula. Além disso, continuo com minhas pesquisas no IFAL com meus
alunos de ensino médio e os resultados estão sendo divulgados em eventos
acadêmicos.

HUMBERTO LIMA: A partir da sua enorme experiência e contribuição na


área da LA, mais precisamente no ensino de Língua Inglesa, como aproximar
as pesquisas desenvolvidas na academia com a realidade de sala de aula da rede
pública de ensino?

POLIANA PIMENTEL: Às vezes o mundo acadêmico parecia distante da


minha realidade como professora em escolas públicas do interior de Alagoas,
por isso, sempre questionava nas aulas do mestrado e doutorado como as
teorias de LA poderiam me ajudar a entender a realidade dos meus alunos do
ensino básico e como adaptar as atividades as diversas realidades encontradas.
O resultado dessas discussões em sala de aula e individualmente com os meus
professores de LA abriram portas para possibilidades de situações tão reais de
ensino e aprendizagem de LE que minhas pesquisas, atualmente, estão mais
próximas as necessidades dos meus alunos.

HUMBERTO LIMA: No curso de doutorado, a senhora pesquisou o gênero


“humor” como produção situada de sentido em Língua Inglesa, numa escola
pública, em uma vila de pescadores em Alagoas. Quais foram os desafios e as
conquistas marcantes durante a realização da sua pesquisa?

POLIANA PIMENTEL: O mais interessante durante a pesquisa sobre o humor


em aulas de inglês é que todas as atividades propostas no projeto tiveram que

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ser adaptadas durante as próprias aulas, uma vez que a riqueza do conhecimento
cultural dos alunos da região sobre pesca, artesanato, culinária e tantos outros,
nos conduziam a diversas discussões enriquecedoras.

HUMBERTO LIMA: É verdade que o(a) professor(a) jamais deixa de pesquisar


e desenvolver estudos. Após o pós-doutorado, finalizando em 2018 nos Estados
Unidos, a senhora pretende, no campo da LA, enveredar por outras vertentes
metodológicas ou prosseguir as suas discussões acerca do ensino de Língua
Inglesa?

POLIANA PIMENTEL: A minha experiência com a Professora Dra. Claire


Kramsch na Universidade da Califórnia abriu os meus olhos para outras vertentes,
outras formas de ensinar línguas. Confesso que estou aos poucos adaptando as
nossas conversas nas minhas turmas, porém é um pouco complicado pois são
alunos de cursos técnicos e a falta de investimentos (ex.: recursos tecnológicos,
materiais e salas adaptadas) dificultam muito o desenvolvimento dos projetos.
Mas, sempre encontro formas de realizá-los (sempre adaptando) não utilizo a
falta de recursos como desculpa para não aplicar o que aprendi com os meus
professores e minha supervisora (Profa. Kramsch) até aqui.

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Entrevista com
Flávia Colen
Flávia Colen Meniconi
Silvio Nunes da Silva Júnior

Concedida em 20 de novembro de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-10
SILVIO JÚNIOR: Para iniciar nosso diálogo, relate um pouco do seu trajeto
profissional como Pedagoga e professora de língua espanhola.

FLÁVIA COLEN: Minha formação na área da educação começou no


Ensino Médio, quanto optei por estudar o Magistério para trabalhar com a
educação infantil. Cheguei a atuar como professora recuperadora em escolas
públicas e professora da educação infantil. Ao terminar o magistério, resolvi
estudar pedagogia, pois tinha o sonho de abrir uma escola. Estudei na
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). Entretanto,
na universidade, apaixonei-me pela vida acadêmica e meus planos mudaram.
Comecei a idealizar a docência no ensino superior. Passei, então, a abraçar todas
as oportunidades que a universidade oferecia em relação ao desenvolvimento
acadêmico: monitoria, iniciação científica, participação de congressos, entre
outras. Ao final da universidade, fui a Espanha aprofundar os estudos acerca
da inserção das tecnologias na educação, tema da minha pesquisa de iniciação
científica, na época da graduação. Realizei alguns cursos relacionados à área de
estudos, na Universidade Complutense de Madrid. Quando voltei ao Brasil,
após um ano na Espanha, não havia concursos para a área de pedagogia e, muito
menos empregos. Eu precisava trabalhar. Foi, então, que comecei a dar aulas
de espanhol em cursos de idiomas e escolas da Educação Básica. A época, por
volta de 2001/2002, coincidiu com o boom do espanhol no Brasil. Não havia
professores formados para suprir as demandas das escolas. Então, comecei a
direcionar toda a minha formação para a área de Letras e linguística, voltadas
para o espanhol. Em 2002, matriculei-me como aluna especial na disciplina de
Linguística Aplicada a línguas estrangeiras, no Programa de Pós-Graduação da
UFMG. Nesse mesmo ano, fui aprovada na seleção para o mestrado e comecei
a realizar meus estudos na área da linguística aplicada. Ainda no mestrado,
comecei a dar aulas no curso de Letras de faculdades particulares em Minas
Gerais e no Programa de Pós-Graduação em Língua Espanhola, da PUC-Minas
(PREPES). Atuei dez anos como professora de língua espanhola de escolas da
Educação Básica e do Ensino Superior. Em 2010, realizei o concurso da UFAL

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 95


para a área de língua espanhola e estágio supervisionado. O que me motivou a
candidatar-me à vaga foi o fato de o concurso ter sido aberto para graduação
em “áreas afins”, já que não tinha a formação em Letras/Espanhol, requerida na
maior parte dos concursos. Fui aprovada na seleção e fiquei muito feliz. Mudei-
me para Maceió em 2010 e comecei a atuar como docente de língua espanhola,
estágio supervisionado e linguística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras no
Curso de Letras/Espanhol da UFAL. Estou na UFAL há quase 10 anos. Sinto-
me realizada como professora da instituição. Pretendo continuar meu processo
formativo na área para que, assim, possa continuar contribuindo para a formação
de professores de línguas estrangeiras, nos níveis da graduação e pós-graduação.

SILVIO JÚNIOR: Como você avalia o ensino e a formação de professores de


língua espanhola na educação básica no estado de Alagoas?

FLÁVIA COLEN: Não estamos nos melhores momentos de ensino-aprendizagem


do espanhol no estado de Alagoas, em função do apagamento da disciplina
nos currículos das escolas de Educação Básica. O espanhol está sendo retirado
dos currículos devido à Medida Provisória - – MP nº 746/2016 que, por sua
vez, estabelece a obrigatoriedade do ensino do inglês no Ensino Fundamental,
desconsiderando a possibilidade de escolha de uma língua estrangeira.
Entretanto, nas poucas escolas que ainda ofertam o ensino do idioma, venho
acompanhando o trabalho dos professores por meio das orientações de nossos
alunos de Letras/Espanhol, em atividades de estágio supervisionado e também
através da participação em programas de formação para a docência, financiados
pela CAPES (PIBID e Residência Pedagógica). Esses programas permitem o
desenvolvimento de trabalhos direcionados para a formação continuada de
professores da educação básica, a partir do diálogo entre aspectos teóricos
diversificados e à prática docente. No que diz respeito às disciplinas de estágio,
já observei práticas muito interessantes e significativas de ensino de espanhol
por meio dos relatos compartilhados pelos discentes de Letras/Espanhol. Em
muitos momentos, os licenciandos relatavam os trabalhos que os professores

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desenvolviam a partir do uso de jogos, dinâmicas diversificadas, filmes, entre
outros. Entretanto, em alguns momentos, deparei-me também com relatos de
aulas muito centradas na gramática e completamente desmotivadoras. Discussões
em torno de problemas relacionados à indisciplina dos alunos nas aulas das escolas
básicas são constantes, tanto nas aulas de estágio quanto nos programas PIBID
e Residência Pedagógica. Vejo a indisciplina muito relacionada aos aspectos
vinculados à motivação durante as aulas. Então, busco direcionar a formação
de nossos alunos e dos professores com os quais trabalhamos nestes programas a
partir de atividades de discussões teóricas e práticas em torno dos problemas que
observamos nas salas de aula. Essas discussões nos levam a planejar nossas ações
nas escolas a partir do desenvolvimento de sequências didáticas que objetivam
tornar as aulas mais criativas, interessantes e motivadoras para os alunos. Sinto
que os professores das escolas básicas, de um modo geral, carecem de programas
de formação continuada, principalmente voltados para o trabalho com textos
em sala de aula e propostas de letramento crítico. Muitos desconhecem teorias
e pesquisas atuais em torno do ensino de línguas estrangeiras, na perspectiva
da Linguística Aplicada. Como formadores de professores de espanhol, sinto
que temos um sério compromisso em ofertar essas formações para os docentes
que atuam escolas públicas, principalmente, entre outros fatores, porque fomos
nós quem formamos a maior parte desses professores. Também não podemos
deixar de refletir e lutar por políticas de valorização do professor. Sabemos que
os baixos salários, superlotação das salas de aula, acúmulos de trabalho, falta
de recursos nas escolas, baixa carga-horária, entre outros fatores, exercem uma
enorme influência no trabalho docente e, consequentemente, na qualidade desse
trabalho.

SILVIO JÚNIOR: Sua pesquisa de mestrado, realizada na Universidade Federal


de Minas Gerais (UFMG), está inserida na perspectiva da Linguística de Corpus
e focaliza analiticamente em materiais didáticos de língua espanhola. A pesquisa
realizada trouxe subsídios para a sua prática como professora da citada língua
estrangeira? Mencione as principais contribuições.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 97


FLÁVIA COLEN: Em minha pesquisa de mestrado, fiz uma análise descritiva
e sociolinguística de diálogos em língua espanhola dos principais materiais
didáticos adotados pelas escolas (centros de línguas e escolas da educação básica),
em 2003. Defendia (e ainda defendo) que esses diálogos não propiciavam o
desenvolvimento da competência comunicativa dos estudantes de espanhol, já
que eram criados de forma artificial, sem um exame mais profundo, por parte dos
autores, dos enunciados que estavam mais presentes na fala real espontânea, de
diferentes contextos de interação. Para tanto, comparei enunciados de diretivos
dos materiais didáticos com os mesmos enunciados provenientes de um corpus
oral espontâneo, da Universidade Autônima de Madri. Em minha pesquisa,
observei vários problemas em relação a esses diálogos e verifiquei que, de fato,
não refletiam a fala natural. Recentemente, repliquei minha pesquisa de mestrado
na análise dos materiais que utilizamos no Curso de Letras/Espanhol e na Casa
de Cultura no Campus (CCC-espanhol). Verifiquei que, após mais de 15 anos
de desenvolvimento da pesquisa de mestrado, os mesmos problemas em torno
da artificialidade dos diálogos ainda permanecem. Tal fator me levou a repensar
a formação de nossos alunos de Letras/Espanhol e a formação continuada dos
professores que atuam na Educação Básica, de forma a tentar incorporar o
trabalho com corpus espontâneo de língua espanhola nos conteúdos das aulas e
na elaboração de projetos e pesquisas voltadas para a criação de materiais didáticos
de língua espanhola mais autênticos. No projeto Casas de Cultura no Campus
(língua espanhola), já estamos fazendo isso. Os professores em formação inicial
estão lendo e discutindo acerca de teorias vinculadas aos estudos pragmáticos e
desenvolvendo materiais didáticos a partir do uso de corpus oral espontâneo.

SILVIO JÚNIOR: Seu ingresso na Universidade Federal de Alagoas (UFAL)


como docente se deu em 2010. Nesses quase 10 (dez) anos de atuação na UFAL,
você identifica contribuições de sua atuação profissional anterior na educação
básica?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 98


FLÁVIA COLEN: Acredito que experiência de atuação na educação básica,
também durante dez anos, traz contribuições muito valiosas para o meu trabalho
direcionado para a formação de professores de espanhol na universidade e
também para a formação continuada de professores da educação básica. Essa
experiência me ajuda a ilustrar, com exemplos concretos, as teorias propostas
para leitura e discussão, principalmente nas aulas de estágio supervisionado,
linguística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras e nos programas de
Residência Pedagógica e PIBID. Procuro, sempre que possível, articular a minha
experiência docente na escola com as teorias que estamos estudando no curso
de Letras/Espanhol. Em meu ponto de vista, essa articulação torna as aulas mais
interessantes, motivadoras, compreensíveis e significativas para os alunos, pois
os exemplos contribuem para a compreensão de conceitos e teorias discutidas ao
longo do curso.

SILVIO JÚNIOR: Quais elementos de formação e atuação profissional


conduziram a sua escolha por realizar seu doutorado na linha de Linguística
Textual, enfatizando a questão da argumentação no processo de escrita em
língua espanhola?

FLÁVIA COLEN: Como professora sentia a necessidade de aprender a trabalhar


com textos no ensino do idioma espanhol, pois acreditava que as minhas aulas
ainda estavam muito centradas no ensino de funções comunicativas da língua
e na exposição da gramática. Embora não tivesse consciência do motivo, sentia
que algo estava errado e que poderia melhorar em relação à minha atuação
docente. Essa insatisfação me levou a buscar uma resposta na área da linguística
textual. Matriculei-me, como aluna especial do PPGLL, em uma disciplina
sobre estudos textuais, ministrada pela Profa. Maria Inez Matoso. Apaixonei-
me pelas teorias estudadas e também pela professora. Vi que, de fato, era o que
estava faltando em minhas aulas: o trabalho voltado para a leitura e textos de
diferentes gêneros textuais. Durante o curso da disciplina do PPGLL, resolvi
desenvolver um projeto piloto em uma disciplina eletiva de compreensão leitura

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 99


e escrita em língua espanhola que lecionada no Curso de Letras/Espanhol. Para
tanto, utilizei as teorias da linguística textual e o trabalho com diferentes gêneros.
Os resultados relacionados aos avanços dos alunos em relação à habilidade de
produção textual foram surpreendentes. Observei que o ensino explícito das
regras de progressão textual contribuiu muito para a aprendizagem da escrita
em língua espanhola. Então, quando entrei para o doutorado, resolvi replicar
a pesquisa do projeto piloto em uma turma de nível inicial do curso de Letras/
Espanhol, pois essa escolha traduziria o caráter inovador de minha pesquisa
de doutorado, já que há uma crença de que os alunos de idiomas estrangeiros
precisam, primeiro, adquirir conhecimentos básicos das estruturas da língua para
que, depois, comecem a produzir textos. Desejei inverter esse processo e mostrar
que uma sequência didática planejada e desenvolvida de ensino escrita, nas fases
iniciais de aprendizagem da língua, poderia contribuir para a aprendizagem
de elementos linguísticos de forma mais contextualizada e significativa para os
alunos. O tipo textual argumentativo foi escolhido devido ao fato de estar presente
em grande parte dos gêneros acadêmicos. Imaginei que o aprofundamento do
conhecimento de estratégias retóricas e argumentativas por parte dos alunos
pudesse ajudá-los na elaboração de textos futuros, contribuindo também para a
formação cidadã, crítica, politizada e transformadora.

SILVIO JÚNIOR: Nas pesquisas que você tem orientado, incluindo iniciação
científica, iniciação à docência e Trabalhos de Conclusão de Curso, quais temas
são mais frequentes nas escolhas dos graduandos?

FLÁVIA COLEN: Em relação aos trabalhos de conclusão de curso, venho


orientando pesquisas relacionadas a diferentes temas: ludicidade, ensino e
aprendizagem da oralidade, escrita, entre outros. Entretanto, nos últimos tempos,
sinto que os alunos estão mais interessados em pesquisar sobre letramento
crítico e ensino de línguas. Tenho orientado muitos trabalhos nessa perspectiva.
Acredito que o estudo das teorias vinculadas às práticas de letramento crítico
nas escolas, durante o curso de Letras/Espanhol, tem despertado o interesse

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 100


dos alunos para o aprofundamento no tema, em atividades de pesquisa. Já na
iniciação científica, as pesquisas que oriento relacionam-se mais com minha área
de estudo: argumentação e ensino da escrita como processo em língua espanhola.
Os alunos que demonstram interesse pela área são convidados a participarem
da pesquisa como bolsistas ou voluntários. Os temas de investigação dentro
da área da retórica e da argumentação são variados (carta do leitor, editorial,
histórias em quadrinhos, artigos de opinião), mas todos são trabalhados a partir
do desenvolvimento de sequências didáticas de ensino da escrita argumentativa
como processo, no Projeto Casas de Cultura no Campus.

SILVIO JÚNIOR: Após a defesa de sua tese de doutorado, como a perspectiva


da Linguística Textual contribuiu para projetos extensão orientados por você?

FLÁVIA COLEN: Como já mencionei, o trabalho com textos no processo de


ensino-aprendizagem da língua espanhola, principalmente nos níveis básicos,
mostrou-me possibilidades de direcionar o ensino do idioma para uma perspectiva
mais discursiva, crítica e significativa para os alunos. Encontrei, na perspectiva
da linguística textual, caminhos interessantes voltados para o trabalho com
o idioma de forma mais contextualizada. Desde, então, venho defendendo o
estudo, a pesquisa e o desenvolvimento de sequências didáticas envolvendo a
leitura e escrita de textos em línguas estrangeiras, nos projetos de extensão que
oriento. Nas propostas formativas dos projetos de ensino (PIBID) e extensão
(Casas de Cultura no Campus) que oriento, apresento as teorias e resultados
da pesquisa que desenvolvi no doutorado e convido os alunos a desenvolverem
trabalhos com textos em suas salas de aulas. Orientei alguns trabalhos de PIBIC
e TCCs que foram desenvolvidos no Projeto Casas de Cultura no Campus a
partir de teorias e práticas de ensino envolvendo a perspectiva da linguística
textual. Alguns desses trabalhos foram publicados em forma de artigo.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 101


SILVIO JÚNIOR: De acordo com os dados encontrados em seu currículo
na Plataforma Lattes, fica destacada a sua participação na elaboração de livros
didáticos. Quais os pontos positivos e negativos, na sua opinião, no uso do livro
didático por professores de língua espanhola em atuação?

FLÁVIA COLEN: Eu defendo que o material didático é o principal recurso


didático de apoio ao professor. Não há como negar que, a partir dele, a maior parte
dos docentes planeja e desenvolve atividades de ensino-aprendizagem do idioma
que leciona. Por isso, em minha opinião, é de fundamental importância que esse
material seja elaborado dentro de uma perspectiva formativa crítica e discursiva
e que, acima de tudo, os professores recebam formações sólidas e contínuas para
que consigam trabalhar em sala de aula, não só aspectos linguísticos do idioma,
mas também a formação cidadã, crítica e reflexiva de seus alunos. Em minha
opinião, há muitas falhas em relação às atividades propostas pelos autores dos
materiais didáticos, principalmente em relação ao desenvolvimento das quatro
habilidades dos alunos (oral, escrita, auditiva e leitora). Tais problemas podem
ser encontrados em obras elaboradas para o ensino de línguas em centros de
idiomas que, por sua vez, são também adotados em escolas de nível básico. A
maior parte dessas obras peca em relação às mostras da língua espontânea e real
nos diálogos elaborados para fins didáticos e às propostas para o desenvolvimento
da competência sociolinguística, crítica e discursiva dos estudantes. A gramática
e os exercícios apresentados em muitos materiais didáticos ainda estão presos à
exposição das regras de forma repetitiva e descontextualizada. Esse fator pode
refletir negativamente no trabalho desenvolvido pelo professor em sala de aula.
Para mim, esses são os principais pontos negativos em relação à adoção de
materiais didáticos para o ensino de línguas estrangeiras. Por outro lado, de um
modo geral, avalio positivamente os materiais didáticos de língua espanhola
que foram aprovados pelo PNLD (Plano Nacional do Livro Didático). A maior
parte desses materiais apresenta propostas mais críticas e discursivas de ensino-
aprendizagem de idiomas. Entretanto, sinto que alguns professores ainda ficam
muito perdidos em relação ao desenvolvimento das atividades apresentadas

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 102


por esses materiais, o que acaba por levá-los a avaliar negativamente os livros
didáticos, deixando até mesmo de utilizá-los em sala de aula. Por isso, acho de
extrema importância não só ofertar materiais com propostas de ensino de idiomas
mais críticas e discursivas, mas repensarmos a formação inicial e continuada de
professores para que estes possam ser capazes de avaliar os materiais didáticos,
selecionar atividades mais interessantes do ponto de vista crítico-discursivo e,
por que não, criar seus próprios materiais.

SILVIO JÚNIOR: Dentre seus artigos, livros e capítulos de livros publicados


nos últimos 5 (cinco) anos, quais as abordagens teórico-metodológicas mais
frequentes? Tem visualizado retornos positivos dessas publicações?

FLÁVIA COLEN: Em relação aos artigos, livros e capítulos que produzi e


publiquei nos últimos anos, em grande parte deles, respaldei-me nos estudos
de cunho retórico (PERELMAN; OlBRECHTS-TYTECA, 2005; PLANTIN,
2008; REBOUL, 1998; MEYER, 2007), em teorias do letramento crítico
(ROJO, 2004; MENEZES DE SOUZA, 2011; MONTE MÓR, 2013; JANKS,
2013) e da escrita como processo (BOOKES; GRUNDY, 1988; MADRIGAL
ABARCA, 2008; FLOWER; HAYES, 1981; MENICONI, 2015; 2017).
Tenho visualizado vários retornos positivos em relação a essas publicações,
principalmente no que diz respeito às pesquisas que oriento. Como trabalho com
a pesquisa-ação de base interventiva em estudos investigativos, meus orientandos
quase sempre relatam as mudanças positivas em relação às suas percepções de
língua, linguagem e práticas docentes. Já orientei alguns estudos que replicaram
minha pesquisa de doutorado nos níveis básicos de ensino do idioma espanhol,
e os resultados são quase sempre muito positivos, o que me leva a continuar
defendendo a tese de que é possível ensinar a escrita no idioma espanhol, nos
níveis básicos de ensino, a partir de sequências didáticas...

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 103


SILVIO JÚNIOR: Por fim, quais os seus planos para o futuro como professora
e pesquisadora na UFAL?

FLÁVIA COLEN: No futuro, gostaria de começar a lecionar e orientar pesquisas


na Pós-Graduação. Tenho também o interesse em realizar o pós-doutorado na
Espanha.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 104


Entrevista com
Lígia Ferreira
Lígia dos Santos Ferreira
Nedson Antônio de Melo Nogueira

Concedida em 25 de novembro de 2020

DOI: 10.52788/9786589932390.1-11
NEDSON NOGUEIRA: Por que escolheu ser professora?

LÍGIA FERREIRA: É engraçado como essa pergunta me remete à lembrança


de uma das escolhas (in)voluntárias de minha vida profissional. Por que digo
isso? Porque me lembro de ter ensinado meus/minhas colegas da escola e até os/
as da universidade. Fui monitora, algumas vezes ao longo da vida, e aprendia
muito quando exercitava falar em voz alta repetidas vezes o que estava estudava
e ensinava nas “matérias”, termo usado na época. Quando fiz filosofia, o intuito
era de ser “a filósofa, a pensadora”, posto que desejava resolver as minhas dúvidas
internas, que estavam ali desde a infância e, por isso, não tinha me dado conta
de que tinha prestado vestibular para licenciatura. Lembro-me que muitos/as/es
também incorreram nesse mesmo erro, até que em uma reunião com o colegiado
do curso foi explicado que o curso anteriormente era de bacharelado mas, após
a reintrodução devido à suspensão no período do golpe militar, tornara-se de
licenciatura e que tínhamos que aceitar essa realidade. A partir desse momento,
eu entendi melhor qual seria a minha formação profissional, mesmo sem a
inclusão da filosofia nos currículos – cuja luta nacional e local contou com
nossa participação –, comecei a aprofundar meus estudos, visando desenvolver
uma prática docente que levasse em consideração os sujeitos participantes
das aulas. Para tanto, eram sempre evocadas as mestras pretas de minha vida,
inclusive minha avó do coração, vovó Emília, e minha mãe, Maria, além de
mestres pretos, indígenas e aliados/as brancos/as no processo de uma educação
representativa e crítica. Destaco, nesse percurso de formação docente, a Profa.
Marilene Machado, a nossa “professora maluquinha”, que me ensinou a didática
de educar com alegria e leveza.

NEDSON NOGUEIRA: Por que escolheu o Programa de Pós-Graduação em


Linguística e Literatura?

LÍGIA FERREIRA: Inicialmente, porque não existia um Programa de Pós-


graduação Stricto Sensu em Filosofia na UFAL, em 2002, depois, porque, nas

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 106


aulas de Estética, do Prof. Fernando Guilherme Aires, aprendi a gostar das
reflexões filosóficas acerca da arte, em todas as suas manifestações. Foi quando
conversei com a Profa. Belmira Magalhães se ela aceitaria orientar o meu TCC,
lembro da carta de intenções que escrevi até hoje, e ela aceitou. Fiz o TCC sobre
estética lukacsiana, especificamente sobre a categoria da particularidade estética,
e com a Profa. Belmira aprendi muito sobre militância na vida e na Academia.
Com ela, cresci enormemente e comecei a entender que a arte é uma reprodução
social “que nos remete a patamares elevados de sociabilidade” (LUKACS, 1978),
isto é, remete-nos a outras perspectivas de vida contrárias à vida imediata. Nessa
trajetória, tive a felicidade de ter a Profa. Enaura Quixabeira, Prof. Renato Gama
e Profa. Eucy de Mello, como leitor/as, revisor/as de um texto escrito de modo
hermético e técnico. Aprendi com ele/as que o texto deve ter beleza, deve ser
feito com amor, zelo e atenção ao/à leitor/a. Com ele/as, aprendi, também, a
formatar o texto porque o computador era algo novo pra mim. Penso que só
consegui resistir a Academia, a sensação do “não lugar”, quando me dediquei a
entender as exigências da pós-graduação e as da vida cotidiana. Era bom pensar
junto com autores/as da literatura, da estética, das teorias literárias, marxistas
e educadores/as que se posicionavam como se estivessem “entre nós”, não
“diferente de nós”.

NEDSON NOGUEIRA: O que significou a pós-graduação na sua vida?

LÍGIA FERREIRA: A decisão de elaborar o meu projeto mestrado e de


participar do processo seletivo do PPGLL se deu em um momento de vida
bastante aventureiro e libertário. Estava em Foz do Iguaçu, em férias, quando ao
conversar com Profa. Belmira Magalhães, por telefone, ela indicou a leitura do
romance Tereza Batista Cansada de Guerra, do baiano Jorge Amado, publicado
em 1972, dizendo que eu iria gostar. Recordava-me que tinha assistido à
minissérie exibida em 1992, protagonizada pela atriz Patrícia França. Eu era
uma adolescente, tinha 16 anos, quando assisti e fiquei chocada com as cenas de
violência contra aquela menina – consentida por sua mãe – que se tornaria uma

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 107


mulher repleta de lutas e “mortes das costas”. Com essas imagens em mente, fui
à biblioteca pública de Foz para ver se tinha um exemplar e o encontrei. Tomei
por empréstimo e o li no período que estava por lá. Com o tempo de análise,
fui vendo que as cenas de violência da minissérie eram pequenos extratos do
complexo de violência constitutiva daquela narrativa. Tereza, como muitas
mulheres negras de ontem e de hoje, sofre em demasia e, mesmo assim, não
desiste de lutar contra os mais variados tipos de violência a que são submetidas,
irmanando-se com outras mulheres, o que é denominado de “dororidade”.

NEDSON NOGUEIRA: Como se deu o seu percurso acadêmico na Pós?

LÍGIA FERREIRA: Posso dizer que foi bem turbulento. Minha trajetória
escolar e familiar não foi de estímulo a práticas de leituras de obras literárias. Sou
da época em que os livros eram “sacralizados”. Havia uma proibição doméstica
e escolar de tocarmos nos livros, eram para serem admirados nas estantes. As
bibliotecas públicas tinham pouca diversidade de títulos e não existiam projetos
de incentivo à leitura, de empréstimo de livros, muito menos condições
econômicas para aquisição de livros que me interessavam. Por isso, quando
cheguei na Ufal, o acesso aos livros de qualquer área me deixava deslumbrada.
Ao chegar no mestrado, vivi duas sensações decorrentes do contato com as obras
literárias, que ora me fascinava, ora me angustiava, posto que se tornava evidente
o meu atraso nas leituras literárias citadas pelos/as/es professores/as. O que fazia
me sentir sempre uma “retardatária na maratona” do domínio dos “clássicos”. A
cada aula em que autores/as de diversas nacionalidades eram mencionados/as/es,
eu construía uma lista infindável de obras que eu deveria ler, muitas indisponíveis
na biblioteca, principalmente as mais contemporâneas (ainda não estávamos na
era da proliferação dos pdfs!). Era desafiador lidar com as “limitações” do meu
percurso de leitora não provocadas por mim, necessariamente, e a exigência da
produção de conhecimento científico “inédito” que não se desenvolve de uma
hora para outra, tendo em vista tudo que foi relatado até agora. Os 24 anos
que me conduziram à pós-graduação contaram, sobremaneira, com a “leitura

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 108


de mundo precedendo a leitura da palavra”, nos termos de Paulo Freire, pois
me lembrava das canções populares de cordel que a minha mãe entoava quando
faltava energia e nós todas ouvíamos em volta do candeeiro, das histórias de
botija, além disso, das leituras filosóficas que aprendi no curso de Filosofia.

NEDSON NOGUEIRA: De que maneira o PPGLL contribui para a sua


formação, enquanto pesquisadora e professora universitária?

LÍGIA FERREIRA: O PPGLL foi sim o espaço com o qual aprendi a ter uma
relação de amor e ódio pela pesquisa. Quando fui do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), durante três anos, pude fazer parte
da pesquisa sobre a produção dramatúrgica alagoana nos anos de repressão
militar, sob a orientação do Prof. Otávio Cabral, com o qual aprendi a me
posicionar diante de um/a/e entrevistado/a/e e questionar as concepções. Jamais
me esquecerei do momento em que ele dizia, ao entrevistar teatrólogos/as/es,
escritores/as, atores/atrizes alagoanos/as/es como Anilda Leão, Pedro Onofre,
Romero Cavalcante entre outros/as/es de suma importância para a história
do teatro em Alagoas, a expressão: “está passando agora pela minha cabeça...”
e, eu, intimamente pensava: “por que não passa nada pela minha?”. Hoje,
eu entendo o meu questionamento e respondo que o estudo e o tempo são
essenciais para a formação de qualquer educador/a/e. É necessário estudarmos
muito e ouvirmos/entendermos as pessoas sobre aquilo que desejamos pesquisar,
investigar, explorar, desvendar. Desse modo, a cada projeto, orientação de
trabalho acadêmico, coordenação de qualquer processo, tento me lembrar
desse início imaturo, de certo modo ingênuo, de “desconhecimento” de alguns
assuntos, da caminhada lenta e meticulosa para me apossar de temáticas novas
ao meu cotidiano e do aprofundamento das questões para a compreensão dos
fenômenos. Esse ensinamento me seguiu nos cursos do PPGLL (mestrado e
doutorado) e me segue até hoje.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 109


NEDSON NOGUEIRA: Quais contribuições você deixou para o Programa?

LÍGIA FERREIRA: Confesso que não sei dizer se contribuí como deveria
no PPGLL. Talvez minha atuação política, como representante estudantil no
colegiado, tanto no mestrado quanto no doutorado, tenha produzido mais
efeitos do que o desenvolvimento das minhas pesquisas. Minha dissertação,
defendida em 2004, orientada pelo Prof. Vicente Ataíde, com o qual aprendi
que a literatura precede qualquer teoria, por isso nos fazia ler muitas obras
literárias, principalmente as de Jorge Amado, Érico Veríssimo, Amando Fontes,
Guimarães Rosa, Raquel de Queiróz, não foi um trabalho que condiz com o que
gostaria de ter produzido. Passei por inúmeras situações, inclusive psicológicas,
que me impediram de materializar o meu propósito da alegria e liberdade do
início do projeto. Meu processo de maturação de leitura e escrita é muitíssimo
demorado, ele exige o pensamento exaustivo para depois se materializar no papel.
Fui professora substituta com cinco turmas e ministrava aulas no horário da aula
obrigatória, vinha da filosofia, apesar de áreas afins, mas o meu domínio da escrita
era “bizarro”, fiz alguns cursos de produção textual para aprender a não ter medo
dos meus pensamentos e a representá-los por meio da escrita. Tudo isso exigiu
um período de adaptação distinto do prazo Capes de defesa. Ainda assim, tentei
a seleção do doutorado, por questões socioeconômicas, na época sobrava bolsas
de doutorado porque o número de doutorandos/as/es era pequeno, lembro
que na seleção em que fui aprovada, tinha apenas mais uma colega. Defendi a
dissertação prestes a começar as aulas do doutorado e, por isso, minhas ideias
que ainda estavam no “carbureto” foram forçadas a amadurecerem antes do
tempo de sua existência mais refinada e foram consumidas pela Academia. De
qualquer modo, a minha dissertação tem um valor, ela foi fruto de diálogos
inesquecíveis com o Prof. Vicente Ataíde, nas tardes do bloco de Comunicação
Social da Ufal. Ele me inspirava a estudar a literatura e a história do Brasil. Das
aulas e conversas com a Profa. Vera Romariz, que me incentiva demasiadamente
a estudar Jorge Amado e a explorar suas personagens. Da atuação da Profa.
Zuleide Duarte (UFPE) nas bancas de qualificação e defesa, momentos que me

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 110


proporcionavam liberdade para produzir ideias. Dos encontros sobre o Uroborus,
a trajetória do herói – a partir do Joseph Campbell – e os estudos de gênero
na literatura, propostos pela Profa. Izabel Brandão. Além da leitura atenta e
zelosa dos meus trabalhos, realizada pela Profa. Ildney Cavalcanti. Minha tese
trouxe mais confiança, mais vontade de continuar estudando as protagonistas
amadianas. Continuei estudando as protagonistas e personagens femininas
dos romances de Jorge Amado, guiada pelas histórias fortes de Tereza Batista
juntamente com Gabriela, Dona Flor e Tieta do Agreste. Pouco se estudava
sobre esses romances em conjunto no PPGLL. Profa. Belmira Magalhães, que
orientou meu TCC e a minha tese, tinha escrito antes sobre Gabriela e Tereza
Batista, e a visão dela também serviu de parâmetro para o desenvolvimento das
minhas inquietações sobre as personagens que eram representações das histórias
de muitas mulheres que eu conhecia na época e que conheço até hoje. E foi sobre
essas representações que quis pesquisar, escrever e falar, ainda sem o conhecimento
das teorias sobre negritude nacionais e internacionais que hoje as tenho, as quais,
naquela época, recusava-me estudar, efeito da carga teórica eurocêntrica vigente
na Academia. Apesar disso, minha tese começou a fluir quando li Romântico,
anarquista e sedutor: como e por que ler Jorge Amado hoje?, publicado em
2006, de Ana Maria Machado, cuja escrita se caracteriza como “tecelagem” das
palavras, de um posicionamento artístico-político. Quando ela, exímia escritora
e professora, abre espaço para a apresentação do que representou Jorge Amado
para a narrativa literária brasileira, em um ciclo de conferências em Harvard,
comecei a entender a importância da autodenominação de “escritor de putas
e vagabundos”. Espero, ainda, revisar teoricamente minha tese, defendida em
2009, para inserir determinadas análises interseccionais (de classe, raça e gênero)
que, certamente, enriquecerão este trabalho. Na verdade, diante do exposto,
gosto mais de minha tese do que da dissertação, por naquela ter pensado mais
no/a/e leitor/a/e em diálogo com o que escrevi.

NEDSON NOGUEIRA: Quais momentos foram vistos por você como


desafiadores no PPGLL?

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 111


LÍGIA FERREIRA: Todos os momentos foram desafiadores nos cursos stricto
sensu. Cursei mestrado e doutorado no PPGLL/UFAL, foram, aproximadamente,
sete anos, e o que sempre me inquietava era o curso ser de Crítica Literária e
não de Ensino de Literatura ou algo relacionado à prática de leitura literária nas
escolas e nas universidades. Somos poucos/as/es leitores/as de literatura no país,
no estado de Alagoas menos ainda. Como professora, desde 2013, do Mestrado
Profissional em Letras (PROFLETRAS/UFAL), com participação no II e III
Fórum Nacional de Comissões Temáticas (2013/2014) para a elaboração das
disciplinas de literatura, o desafiador era me posicionar como leitora que analisava
e indicava obras literárias neste estado com a maior taxa de analfabetismo do
país, inclusive da população negra, ainda nos dias atuais (PNAD/IBGE, 2016-
2018). Daí a necessidade de reformulação curricular do Programa, da oferta de
linhas de pesquisa que estimulem professores/as/es e profissionais de outras áreas
a desenvolverem projetos de práticas de leituras literárias e outras linguagens, os
denominados “letramentos literários”. A escolha do corpus das minhas pesquisas
no mestrado e no doutorado foi, demasiadas vezes, ignorada, sob o jugo da “obra
de menor valor”, reproduzida pelos seguidores do “guardião” da “boa literatura”
de modo conciso e, como tal, superficial.

NEDSON NOGUEIRA: Que tipos de atividades acadêmicas e atuações foram


relevantes para você, enquanto pós-graduanda?

LÍGIA FERREIRA: Como já mencionei, a participação como representante


estudantil no colegiado do PPGLL fez com que eu me sentisse parte daquele
espaço, haja vista que eu me construí como sujeito atuante, em todas as áreas
de minha vida, por meio da política, concebendo-a como roda de conversa,
como espaço coletivo de decisões. Lembro-me que sempre fui assim, desde a
época de escola, minha amiga e comadre Dirlene dos Santos Silva que o diga,
ela participou comigo de muitas atuações no ensino médio. Eu me satisfazia
ensinando as lições, principalmente as de matemática, do mesmo modo que me

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 112


satisfazia e me satisfaço em contribuir com as causas individuais/coletivas. Com
relação às atuações relevantes nas atividades acadêmicas que participei, lembro-
me da participação nas sessões de defesa pública das dissertações e/ou teses dos/
as/es colegas do PPGLL e nos cursos espontâneos ofertados, geralmente, por
professores/as/es convidados/as/es de outras instituições, para participarem
das bancas de defesa, dos quais destaco a Profa. Mónica Zoppi-Fontana
(UNICAMP), Prof. Eduardo de Assis Duarte (UFMG) e Profa. Carlinda Nuñez
(UERJ). Em conversa com os dois últimos citados que formulei e cunhei a
categoria de análise da minha tese, a saber “heroínas periféricas”. Eram diálogos
abertos e cultos, sem hierarquização. Aprendi deveras com esse/as professor/as.

NEDSON NOGUEIRA: Como foi a experiência de ter sido diretora do Núcleo


de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (atual NEABI/UFAL), pela gestão
Outra Ufal é possível?

LÍGIA FERREIRA: Essa questão evoca inúmeras lembranças boas à memória!


Ter sido diretora, no período de março de 2016 a fevereiro de 2020, do Núcleo
de Estudos Afro-brasileiros (NEAB/UFAL), que passou a ser Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/UFAL), em 17 de dezembro de 2019, a
partir da aprovação da Resolução CONSUNI/UFAL nº 100/2019, constitui-
se como o melhor momento da minha vida na Academia até agora. Foi minha
primeira experiência de gestão institucional, com um grupo político com
o qual me identifico, coordenando um setor que traz na história o valor da
ancestralidade e de feitos relevantes, como o tombamento da Serra da Barriga,
o maior quilombo do país, lugar sagrado pela luta e pelo sangue derramado de
milhares de pessoas negras, indígenas e brancas aliadas contra a maior barbárie
da humanidade que foi a escravidão, entre outros feitos, além de protagonizar as
políticas de ação afirmativa no país como uma das cinco primeiras universidades
a implementar o Programa de Políticas de Ação Afirmativa (PAAF), com a
Resolução CONSUNI/UFAL nº 33/2003, reservando vagas para estudantes
oriundos/as/es de escolas públicas, afrodescendentes (negros/as/es, cor preta ou

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 113


parda) e mulheres, bem antes da Lei nº 12.711/2012, a conhecida Lei de Cotas,
que reserva 50% de vagas para estudantes oriundos/as/es do ensino médio em
escola pública, que sejam negros, indígenas e pessoas com deficiência (PcD).
Assumir a direção de um “espaço de poder negro” como o NEAB, considerando
o racismo estrutural que se revela no racismo institucional que a UFAL possui,
como todas as instituições públicas do país, foi uma proposta irrecusável. No
momento do convite, recordei de minha dissertação e tese, sobre as teorias que
eu não tive acesso e refutei a busca, sobre o quanto temos a aprender com as
nossas histórias ancestrais negras e indígenas. Posso afirmar que cada dia no
NEAB/NEABI, aprendi que “nada sabia” e que o olhar atento e a escuta ativa
foram imprescindíveis no processo de gestão de um setor que detém muito
mais do que papeis e processos. Cada livro, documento, móvel, quadro,
escultura e pessoa que por lá circulava emanava uma energia leve, boa, que
não consigo explicar, apenas sentia. Como eu me sentia bem em ficar naquele
espaço e visitar muitos outros para os quais era convidada ou que, mesmo sem
convite formal, eu aparecia! Aprendi com as comunidades quilombolas, os
povos indígenas, os povos de terreiro, os/as/es capoeiristas/es, os/as/es artistas/
es, os/as profissionais de diversas áreas, os/as/es estudantes, os/as/es professores/
as, as lideranças comunitárias, os movimentos sociais, as crianças, os/as/es
jovens, os/as/es adultos/as/es e os/as/es idosos/as/es. Foi nesse movimento de
ensino-aprendizagem que se intensificaram a minha identidade étnico-racial e
a minha compreensão acerca das diásporas dos/as meus/minhas ascendentes e,
consequentemente, as minhas também. Cada abraço, sorriso, cumprimento,
homenagem e crítica me fez entender que a UFAL tem um papel na sociedade
alagoana junto às comunidades externas aos campi, que integramos uma roda,
um/a/e coletivo/a/e. Por tudo isso, agradeço o convite feito pela Profa. Valéria
Correia e Prof. José Vieira, reitora e vice-reitor, respectivamente, no mês de
março de 2016, a partir da indicação de pessoas da comunidade acadêmica e da
comunidade externa à UFAL. Estou certa de que fiz o máximo que pude para
honrar a confiança em mim depositada.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 114


NEDSON NOGUEIRA: Quais ações afirmativas poderiam ser encaminhadas
na Pós-Graduação, em relação às questões étnico-raciais?

LÍGIA FERREIRA: Com essa última questão, na expectativa de que você,


leitor/a/e, tenha chegado até aqui, retomo o que mencionei durante esta
entrevista sobre a minha trajetória no PPGLL. A inserção de literaturas afro-
brasileiras e indígenas como linha de pesquisa corroborará o que preconiza a Lei
nº 11.645/2008, que torna obrigatório o ensino da temática “história e cultura
afro-brasileira e indígena” nas escolas. Inclui-se, também, a literatura surda,
considerando a Lei nº 10.436/2002, a denominada Lei de Libras. Dessa forma,
não há como os cursos stricto sensu de Estudos Literários se excluírem dessa
oportunidade de atuar, de modo expressivo, na promoção de novos espaços e de
(re)formulação de percursos de pesquisa na UFAL. A Universidade do Estado da
Bahia (UNEB) faz isso há muito tempo e tem contribuído sobremaneira com a
produção cientifica a partir das práticas sociais de leituras e escritas literárias das
populações e indígenas. Passou do tempo dos cursos de Letras da UFAL, como
grande parte dos cursos, reformularem seus currículos, como dispõe o PAAF
desde a sua origem, reelaborarem os conteúdos a partir dos sujeitos estudantis
que os constituem, inclusive, estimular mais representatividades étnico-raciais
e de gênero no quadro docente, haja vista o PAAF ser de 2003, iniciando com
25% de reserva de vagas e, em 10 anos depois, expandiu-se para 50%, com a
sanção da Lei de Cotas, estabeleceu-se a reserva de vagas para estudantes de
escola pública, negros/as/es (pretos/as/es e pardos/as/es) e indígenas, além das
pessoas com deficiência. Quanto aos concursos públicos, a Lei nº 12.290/2014
reserva 20% de vagas para pessoas negras. Portanto, faz-se necessário a oferta
de linhas de pesquisa que promovam a diversidade cultural, étnico-racial e de
gênero nos cursos de graduação e pós-graduação das universidades brasileiras,
em especial, no PPGLL.

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 115


Posfácio

Formação de pesquisadores/as e professores/as pelo


PPGLL/UFAL

Para além da avaliação quantitativa de mestres/mestras e doutores/as


formados/as pelo PPGLL desde sua implementação, a qualidade dessa formação
necessita ser relacionada às demandas sociais numa região com carências históricas
no plano da educação. Nesse sentido, o PPGLL possui um papel fundamental
na criação do corpo docente e de pesquisadores/as da própria UFAL e de várias
outras instituições de natureza diversa, desde o nível básico ao ensino superior.
Grupos de pesquisa interinstitucionais atuam conjuntamente em investigações e
desenvolvem ações em ligação com outros grupos da região, do país e, em certos
casos, com docentes de outros países.
Vale lembrar, ainda, que, na própria instituição, o Programa se estabelece
como o primeiro a ser criado nesse nível e é muito significativo que isso seja feito
numa área que não tem sido prioritária nas instâncias administrativas e agências
financiadoras nacionais e no mundo acadêmico de modo geral.
No que diz respeito ao/à egresso/a, em documento de 2018 sobre a avaliação
da pós-graduação no Brasil, a CAPES afirma que as definições que caracterizam
a qualidade desses/dessas profissionais passam por uma discussão do próprio
cerne dos valores da pós-graduação nacional. Esses valores não são, para mim,
desvinculados daqueles que norteiam a própria educação no país e infelizmente
o momento em que vivemos não é propício para tal debate.
Enquanto se aguarda um período mais favorável para que uma ampla
proposta se delineie, fora do conceito de educação como insumo mercadológico
que tem pautado amplamente planejamentos, programas e condutas, mesmo em
se tratando de educação pública, os Programas de Pós-graduação devem seguir

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 116


os parâmetros definidos pela CAPES sobre a qualidade da formação discente, os
quais dizem respeito à empregabilidade, o impacto das produções intelectuais
dos/as egressos/as e sua contribuição social para o ambiente local.
A esse respeito, como já foi observado, o PPGLL da UFAL tem formado
profissionais que têm se inserido na docência e na pesquisa nos diversos níveis e
em diversas instituições locais, regionais e em outras regiões do país em alguns
casos. Os estudos sobre a linguagem de um modo geral e especificamente em
linhas da Linguística e da Literatura, e, mais particularmente, na Linguística
Aplicada (linha de pesquisa a que pertenço e sobre a qual posso falar mais de
perto), proporcionam conhecimentos capazes de contribuir socialmente não
apenas nessas áreas, mas também em interface com outros campos de estudo
tradicionalmente afins ou não. Essa plasticidade do/a estudioso/a da linguagem,
egresso/a do PPGLL é um ponto forte em sua formação. Dados específicos sobre
a abrangência da formação proporcionada podem ser encontrados nos relatórios
do Programa ao longo de sua história podem dar respaldo a essas reflexões.
Particularmente a Linguística Aplicada (LA), com suas características
de transdisciplinaridade e de foco na ação, oferece um caminho a favor da
diversidade em diferentes âmbitos: em temas de estudos, em recursos teóricos
e metodológicos, em articulação com as práticas sociais. Pode-se dizer que o/a
estudioso/a em LA tem em potencial uma abertura de visão que lhe permite
o enfrentamento de realidades díspares e a compreensão do caráter híbrido
das possibilidades humanas e de suas experiências, uma vez que aprende que o
próprio conhecimento é transdimensional e frutifica quando não fragmentado.
Tenho confiança nesse caminho plural, não apenas para a LA, mas para o
futuro do conhecimento humano.

Rita Maria Diniz Zozzoli


Professora Colaboradora do PPGLL/UFAL
Maceió, 20 de outubro de 2021

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 117


Sobre os/as colaboradores/as

Analice da Conceição Leandro da Silva


Licenciada em Letras - Inglês pela Universidade Federal de Alagoas (2014) e mestra
em estudos Literários pelo Programa de pós-graduação em Letras e Linguística
da Universidade Federal de Alagoas (2017). Atualmente é pesquisadora em
nível de doutorado com financiamento da CAPES pelo mesmo programa. Tem
pesquisado Literatura Brasileira e Estudos Culturais, com ênfase nos utopismos
da cultura, atuando principalmente nos seguintes temas: Utopismos, Estudos de
gênero, Literatura, Estudos culturais e Mitopoética da Jurema Sagrada. E-mail:
analice_lean@hotmail.com

André Luis Guimarães Rocha


Possui graduação em Administração Pública - Bacharelado - pela Universidade
Estadual de Alagoas (2011), Especialização em Docência do Ensino Superior
pelo CESMAC - Centro de Estudos Superiores de Maceió (2013), mestre e
doutorando em Linguística, na linha Discurso: sujeito, história e ideologia, no
PPGLL/UFAL. Tal linha realiza estudos acerca do discurso e das concepções
de linguagem e de língua como materialidades significantes historicamente
produzidas, do ponto de vista da problematização do sujeito e das formações
histórico-ideológicas. Tem experiência na área de Administração, com ênfase
em Administração Pública. Na área da docência, foi professor voluntário da
FACIMA-TI - Faculdade da Cidade de Maceió para a Terceira Idade, ministrando
a disciplina Educação Financeira. Hoje coordena o curso de Administração da
FAMA - Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais de Maceió, onde também
ocupa as cadeiras de Administração Mercadológica e Administração da Produção
e de Materiais e Coordena o NEAD - Núcleo de Educação à Distância. E-mail:
decogrocha@hotmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 118


Andressa Kaline Luna de Oliveira Marques
Possui graduação em Letras- Português e Suas Respectivas Literaturas pela
Universidade Estadual de Alagoas, mestrado e doutorado em Letras e Linguística
pela Universidade Federal de Alagoas. Atualmente é professora de Língua
Portuguesa da rede pública. E-mail: marandressa0@gmail.com

Geison Araújo Silva


Especialista em Linguística Aplicada (UCAM). Graduado em Letras Português
pela Universidade Estadual do Piauí (2018). Foi bolsista no Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) - subprojeto Letras do
Delta e Pesquisador Bolsista FAPEAL/CAPES. É Membro do Grupo de Estudos
Discurso, Ensino e Aprendizagem de Línguas e Literaturas - GEDEALL (CNPq/
UFAL). Tem interesse por estudos em Linguística Aplicada, notadamente
relacionados à formação de professores de língua; discurso de ódio e mídias
sociais; interfaces entre linguagem, gênero e identidade; estudos bakhtinianos.
E-mail: geison-araujo@hotmail.com

Humberto Soares da Silva Lima


Mestre e doutorando em Linguística, na linha de Linguística Aplicada,
no Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura (PPGLL), da
Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Possui graduação em Letras -
Português, UFAL (2011). Cursos de Especialização (lato sensu) em Gestão
Escolar e Coordenação (Uninassau), Tecnologia da Informação para Educadores
(UFAL) e Linguagem e Práticas Sociais (IFAL, campus Murici). É professor-
monitor da rede pública do estado de Alagoas, bem como professor numa
escola da rede particular de Maceió-AL. Foi Tutor de Sala, nos cursos de Letras
e Pedagogia, na Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, lotado na CEAP-
Cursos. Integrante do Grupo de Estudos - Discurso, Ensino e Aprendizagem de
Línguas e Literaturas (GEDEALL-CNPq-UFAL), desenvolvendo pesquisas sob
a perspectiva da Linguística Aplicada. E-mail: letrasbeto@gmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 119


Maria Silma Lima de Brito
Possui graduação em Letras (Português/Inglês) pela Universidade Estadual de
Alagoas (2007) e mestrado em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação
em Linguística e Literatura (PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL). Professora de Língua Portuguesa - colégio de Nossa Senhora do Bom
Conselho. Professora de Atendimento Educacional Especializado na Secretaria
de Educação Municipal, atuando na Escola Marechal Dantas Barreto na cidade
de Bom Conselho- PE, onde realiza pesquisas sobre Neurociência e alfabetização.
Professora contratada da Universidade de Pernambuco (UPE/Garanhuns).
E-mail: mariasilma95@gmail.com

Nedson Antônio de Melo Nogueira


Graduado em Letras/Português pela Faculdade de Letras (FALE) e mestre
em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura
(PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Foi membro discente
titular do colegiado do mesmo Programa. Integra o Grupo de Estudos Discurso,
Ensino e Aprendizagem de Línguas e Literaturas (GEDEALL/CNPq/UFAL),
onde atua como pesquisador, tendo como linha os estudos textuais-enunciativos,
étnico-raciais, identitários e dialógicos em interface com às práticas discursivas e
de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa (LP). É colaborador do Núcleo
de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/UFAL), compondo comissão
de banca avaliadora de heteroidentificação para cotas raciais de candidatos/as
autodeclarados/as negros/as, dentre outras ações. E-mail: nogueira.nedson466@
gmail.com

Rosane Correia da Silva


Mestranda em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística e
Literatura da Universidade Federal de Alagoas (PPGLL/UFAL), especialista em
Linguagem e Práticas Sociais pelo Instituto Federal de Alagoas (IFAL) e graduada
em Letras pela Faculdade de Letras da UFAL (FALE/UFAL). Atualmente é
professora de Língua Portuguesa do quadro permanente da Secretaria Municipal

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 120


de Educação de Maceió. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Discurso e Ontologia - GEDON. E-mail: cs.rosane@hotmail.com

Samuel Barbosa da Silva


Doutor (2021) e mestre (2016) em Linguística no Programa de Pós-Graduação
em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Especialista
em Língua Portuguesa e suas Literaturas pela Universidade de Pernambuco -
campus Garanhuns (2014), Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade de
Teologia Integrada (Fatin). Possui Graduação em Letras (Língua Portuguesa
e suas Literaturas) pela Universidade de Pernambuco (2012). Graduando em
Letras-Libras (FALE -UFAL). Foi Professor do Núcleo de Ensino a Distância
(Nead) do Departamento de Letras na Universidade de Pernambuco, atuando
nas disciplinas: Trabalho de Conclusão de Curso, Teoria Literária I e II, História
da Língua Portuguesa e Leitura e Produção de Texto. É membro dos seguintes
Grupos de Pesquisa: 1- Grupo de Estudos e Pesquisa Discurso e Ontologia
Marxiana (GEDOM) do PPGLL/UFAL; 2 - Grupo de pesquisa do CNPq
Gênero e Emancipação humana; 3 - Grupo de Estudos e Pesquisas em Análise
do Discurso (GEPAD) da Universidade de Pernambuco campus Garanhuns.
E-mail: samuca.bs@gmail.com

Silvio Nunes da Silva Júnior


Doutor e mestre em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em Linguística
e Literatura da Universidade Federal de Alagoas (PPGLL/UFAL), com tese
e dissertação na perspectiva da Linguística Aplicada, com foco no ensino do
português como língua materna. Possui licenciaturas em: Letras/Português e
Literaturas, pela Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL), Pedagogia, pela
Faculdade IBRA de Brasília (FABRAS), e Artes, pelo Centro Universitário FAVENI
(UNIFAVENI). Realiza estágio pós-doutoral no Programa de Pós-graduação
Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos da Universidade
do Estado da Bahia (PPGESA/UNEB), com pesquisa sobre responsividade e
saberes docentes de estagiários do curso de Letras/Português. Mantém vínculo,

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 121


como professor efetivo, com a Secretaria Municipal de Educação de Palmeira
dos Índios/AL. Atua, também, como professor substituto e professor formador
II (EAD) de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade Federal de
Alagoas (FALE/UFAL) e do curso de Letras da Universidade de Pernambuco
(UPE/Garanhuns). É membro do GT Ensino e Aprendizagem na perspectiva
da Linguística Aplicada da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa
em Letras e Linguística (EAPLA/ANPOLL). Pesquisador do Grupo de Estudos
Discurso, Ensino e Aprendizagem de Línguas e Literaturas (GEDEALL/CNPq/
UFAL) e um dos líderes do Grupo de Estudo das Narrativas Alagoanas (GENA/
CNPq/UNEAL). Tem atuado como parecerista de periódicos científicos da
grande área de Linguística e Literatura. E-mails: junnyornunes@hotmail.com /
silvionunesdasilvajunior@gmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 122


Sobre os/as entrevistados/as

Almir Almeida de Oliveira


Possui Doutorado (2017) em Letras e Linguística pela Universidade Federal de
Alagoas, pesquisando a variação linguística na cidade de Maceió. Desenvolveu,
no Estágio de Pós-doutoramento, pesquisa sobre os usos linguísticos de /t/ e /d/
em Alagoas (2019). É Professor Adjunto da Universidade Estadual de Alagoas,
onde, além de atuar na gestão como coordenador do curso de Letras, lidera
o Grupo de Estudo da variação linguística de Alagoas - GEVAL-AL. E-mail:
almirprofessor@yahoo.com.br

Ana Luiza Azevedo Fireman


Doutora em Letras/Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
com concentração em Análise do Discurso. Professora Eletiva do Instituto
Federal de Alagoas (IFAL) - lotada no Campus Piranhas. Em pesquisa, atua
principalmente nos seguintes temas: crítica sócio-cultural, análise do discurso,
teoria da argumentação e educação. E-mail: analua.luiza@bol.com.br

Antonio Carlos Santos de Lima


Possui graduação em Letras (Português e Inglês) pela Universidade Federal de
Alagoas (UFAL) e Especialização em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira
pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). É mestre em Linguística
pelo Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Faculdade de
Letras (FALE) da UFAL. É doutor pelo mesmo Programa (PPGLL/FALE/
UFAL) no qual desenvolveu pesquisa sobre letramento acadêmico em cursos
de Letras-Português a Distância do Instituto Federal de Alagoas (IFAL). Atua
como professor de Língua Portuguesa e Leitura e Produção de Textos no Ensino
Médio e na graduação, respectivamente. Na pós-graduação (lato sensu), atua

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 123


na área de Linguística Aplicada, com ênfase em ensino de leitura, letramento
e formação de professores de línguas. Coordena o programa Universidade
Aberta do Brasil (UAB) no âmbito do IFAL e lidera o Grupo de Pesquisa:
Educação, Empreendedorismo, Letramento e Tecnologia CNPq/IFAL. E-mail:
professorantoniolima@hotmail.com

Fernando Augusto de Lima Oliveira


Possui Graduação em Letras Português e Espanhol pela Universidade Federal
de Alagoas. Durante o período de 2005-2007 foi bolsista do Programa de
Educação Tutorial - PET/Letras. Bolsista de Pós Doutorado Júnior (PDJ/
CNPq) na Universidade Federal do Pará. Mestrado e Doutorado em Linguística
na Universidade Federal de Alagoas, sob a perspectiva teórico-metodológica da
Teoria da Variação Linguística. Atualmente, é professor da Universidade de
Pernambuco, Campus Garanhuns; líder do Grupo de Estudos em Análise e
Descrição Linguística - GEADLin (CNPq/UPE) e Professor Permanente do
Mestrado Profissional - PROFLETRAS UPE/Garanhuns. Tem experiência na
área de Análise e Descrição Linguística, com ênfase em: 1. Documentação de
línguas brasileiras, incluindo a descrição e a análise do Português Brasileiro (PB);
2. Linguística de Corpus (coleta de dados vernaculares, métodos de análise e
mapeamento linguístico); 3. Reflexões epistemológica e teórica na perspectiva
linguística e suas implicações para o ensino de Língua Portuguesa; 4. Estudos
referentes à Sociolinguística Educacional; 5. Variação Linguística no Agreste
Meridional: aspectos morfossintáticos; 6. Variação e/ou mudança linguística; 7.
Categorias semântico-discursivas de Tempo, Aspecto e Modalidade; 8. Estudos
sobre as orações condicionais (formas simples e perifrásticas) no português
falado; e, 9. Mapeamento de gestos emblemáticos em comunidades de prática
do PB. E-mail: fernando.oliveira@upe.br

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 124


Flávia Colen Meniconi
Possui graduação em Pedagogia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (1999), mestrado em Letras pela Universidade Federal de Minas Gerais
(2003) e doutorado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de
Alagoas (2015). Atualmente é professora adjunta da Universidade Federal de
Alagoas. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Línguas Estrangeiras
Modernas, atuando principalmente no seguinte tema: pragmática, corpus
linguístico, gêneros textuais e práticas de letramento. E-mail: flavia.meniconi@
fale.ufal.br

Juliana Tereza de Souza Lima Araújo


É doutora e mestra em Linguística pelo Programa de Pós-graduação em
Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas (PPGLL-UFAL).
Possui Graduação em Letras- Português (2012) pela mesma Universidade. É
professora substituta da Universidade Federal de Alagoas/Faculdade de Letras.
É professora de língua portuguesa na rede pública de ensino de Alagoas,
integrando, atualmente, o Núcleo Estratégico de Inovação e Tecnologia na
Educação (NEITE) da Secretaria de Estado da Educação de Alagoas. Atuou
como tutora da Universidade Aberta do Brasil (UAB) (2014-2015) no curso
de Letras (Faculdade de Letras - UFAL). É autora da obra “A (re)significação da
aposentadoria na socidade brasileira: discurso, trabalho e capitalismo” (2019),
publicada pela EDUFAL. Desenvolve pesquisa na área de Análise do Discurso,
com ênfase em discursos sobre aposentadoria, velhice, educação e docência.
Integra o Grupo de Estudos em Discurso e Ontologia (GEDON-UFAL) e o
Núcleo de Estudos em Práticas de Linguagem e Espaço Virtual (NEPLEV -
UFPE). E-mail: jtslima@gmail.com

Lígia dos Santos Ferreira


Licenciada em Filosofia (2001), mestra em Literatura Brasileira (2004), doutora
em Estudos Literários (2009) pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL),
bolsista do PIBIC/UFAL/CNPq (1998-2001), da FAPEAL (2003-2004) e da

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 125


CAPES (2004-2008), integrante do movimento estudantil na graduação e na
pós-graduação, é professora associada 1 da UFAL, atua no curso de Letras-
Libras (FALE/UFAL) ministrando as disciplinas de Profissão docente, Literatura
Surda, Metodologia Científica e afins; no Programa de Mestrado Profissional
em Letras - PROFLETRAS - como professora de Leitura do Texto Literário/
Literatura Infantil e Juvenil; como vice-líder do Grupo de Pesquisa Gênero e
Emancipação humana e do Grupo Interdisciplinar de Formação de Professores/
as e Pesquisa, ambos cadastrados no CNPq; atuou como como diretora/
coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas - NEABI-
UFAL, campus A. C. Simões (gestão “Outra Ufal” 04/2016-2020); no Comitê
Gestor da Serra da Barriga - Ministério da Cultura/Fundação Cultural Palmares
(05/12/2017-atual); como coordenadora do Núcleo Docente Estruturante
- NDE - do curso de Letras-Libras (2014-2016), compõe o Colegiado do
PROFLETRAS, a comissão de Tecnologias Sociais e Políticas Afirmativas da
FAPEAL (04/2018-atual), coordenou a Comissão de Heteroidentificação da
UFAL (2018-2020). Recebeu a Comenda Dandara, da Câmara Municipal de
Maceió-AL (03/08/18) e o Prêmio Tia Marcelina, da Secretaria de Estado da
Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh). E-mail: ligia.ferreira@fale.ufal.br

Marcelo Ferreira Marques


Doutor em Letras (Estudos Literários) pela Universidade Federal de Alagoas
(2013), instituição na qual também desenvolveu Mestrado (2009) e Graduação
(2007). Atualmente, é docente no Curso de Letras da Ufal, no campus
de Arapiraca, ministrando as disciplinas de ACE I, Introdução à Leitura do
Texto Literário e Literatura Infantojuvenil. Nos referidos Curso e Campus é
coordenador de Extensão, sendo coordenador do projeto ViraArte, contemplado
no edital ProCCAExt. É integrante dos grupos de Pesquisa Interartes e DALLT
(Descrição e Análise Linguística, Literatura e Texto) Atua na área da poesia e
canção brasileira contemporâneas, relações variadas entre literatura e outras artes
e Literatura e Ensino. É músico, integrante da banda Gato Zarolho, arranjador e
compositor de trilhas sonoras para curtas, teatro e espetáculos de dança. E-mail:
marcelofmarques81@gmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 126


Poliana Pimentel Silva
Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Alagoas (2007),
mestrado em Letras e Lingüística pela Universidade Federal de Alagoas (2010)
e doutorado em Linguística pela Programa de Pós-Graduação em Letras e
Lingüística pela Universidade Federal de Alagoas (2014). Esteve como professora
Visitante Fulbright na Berkeley University - CA (EUA), no ano de 2017.
Atualmente encontra-se como professora de inglês no Instituto Federal de Alagoas
- Campus Marechal Deodoro. Desenvolve pesquisas abordando os seguintes
temas: negociação da imagem; estratégias discursivas, Lingüística aplicada,
humor, cultura e novos letramentos no processo de ensino e aprendizagem de
línguas. E-mail: poli.pimentel@yahoo.com.br

Rita de Cássia Souto Maior


Professora associada de Graduação e Pós-graduação na Faculdade de Letras (Fale)
da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Doutora e mestre em Linguística
pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística e Literatura da Universidade
Federal de Alagoas (PPGLL/Ufal), foi licenciada em Letras/Português na mesma
Universidade. Pós-doutora no Programa de Pós-graduação em Linguística (PPGL/
UFC) pela Universidade Federal do Ceará. Atualmente é diretora da Fale/Ufal,
membro titular do Colegiado do PPGLL/Ufal, Coordenadora do GT Ensino e
Aprendizagem na Perspectiva da Linguística Aplicada (EAPLA) da Associação
Nacional de Pós-graduação em Letras e Linguística (ANPOLL) e secretária da
Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN). Integra a Comissão Editorial
das Revistas Leitura (PPGLL) e Saberes Docentes em Ação (SEMED/AL) e
é membro do Conselho Editorial da Revista Práticas de Linguagem (UFJF).
Participante e vice-líder do Grupo de Estudos Discurso, ensino e aprendizagem
de línguas e literatura (GEDEALL/UFAL) e participante do Grupo de Estudos
e Pesquisas em Linguística Aplicada (GEPLA/UFC). E-mail: ritasoutomaior@
gmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 127


Valfrido da Silva Nunes
Tem pós-doutorado em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas
(2020); doutorado em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas
(2017); mestrado em Linguística pela Universidade Federal de Alagoas
(2012); especialização em Programação do Ensino de Língua Portuguesa pela
Universidade de Pernambuco (2008); graduação em Licenciatura em Letras -
habilitação Português/Inglês e suas respectivas Literaturas pela Universidade
de Pernambuco (2005); atualmente, é professor e pesquisador do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE), Campus
Garanhuns; coordenador do Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Linguagem
e Práticas Sociais (IFPE/Campus Garanhuns); líder do GEL - Grupo de Estudos
em Linguagens (IFPE/CNPq); membro-pesquisador do GETEL - Grupo de
Estudos do Texto e da Leitura: perspectivas interdisciplinares (UFAL/CNPq).
Tem interesse em Linguística Textual, Teorias e Análises de Gêneros Textuais/
Discursivos, gêneros acadêmicos, escrita científica, gêneros profissionais, escrita
no mundo do trabalho e ensino de Língua Portuguesa. E-mail: fridoval@
hotmail.com

ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 128


ENTREVISTAS COM EGRESSOS: O PPGLL/UFAL E A FORMAÇÃO DE PESQUISADORES EM LINGUÍSTICA E LITERATURA 129

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