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Organizador
TUTÓIA-MA, 2021
EDITOR-CHEFE
Geison Araujo Silva
CONSELHO EDITORIAL
Ana Carla Barros Sobreira (Unicamp)
Bárbara Olímpia Ramos de Melo (UESPI)
Diógenes Cândido de Lima (UESB)
Jailson Almeida Conceição (UESPI)
José Roberto Alves Barbosa (UFERSA)
Joseane dos Santos do Espirito Santo (UFAL)
Julio Neves Pereira (UFBA)
Juscelino Nascimento (UFPI)
Lauro Gomes (UPF)
Letícia Carolina Pereira do Nascimento (UFPI)
Lucélia de Sousa Almeida (UFMA)
Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB)
Marcel Álvaro de Amorim (UFRJ)
Meire Oliveira Silva (UNIOESTE)
Rita de Cássia Souto Maior (UFAL)
Rosangela Nunes de Lima (IFAL)
Rosivaldo Gomes (UNIFAP/UFMS)
Silvio Nunes da Silva Júnior (UFAL)
Socorro Cláudia Tavares de Sousa (UFPB)
2022 - Editora Diálogos
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E61
Entrevistas com egressos: o PPGLL/UFAL e a formação de pesqui-sadores
em Linguística e Literatura / Organizador Silvio Nunes da Silva Júnior. –
Tutóia, MA: Diálogos, 2022.
Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
ISBN 978-65-89932-39-0
1. Línguas e linguagem. 2. Prática de ensino. 3. Literatura – Estudo e en-
sino. I. Silva Júnior, Silvio Nunes da.
CDD
370.71
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
https://doi.org/10.52788/9786589932390
Editora Diálogos
contato@editoradialogos.com
www.editoradialogos.com
Sumário
Nota do organizador.................................................................................................. 7
Prefácio................................................................................................................................. 9
Posfácio............................................................................................................................116
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SILVA JÚNIOR: Para dar início, pergunto: quais os seus interesses de pesquisa
atuais e como seu período como discente de mestrado e doutorado no PPGLL
contribuiu para a ampliação dos seus olhares para os estudos sobre a linguagem
em uso?
RITA SOUTO MAIOR: Essa é uma pergunta muito importante para que
possamos refletir sobre a educação a distância hoje. Eu fui professora de curso
de educação à distância e, como professora, eu vivenciei impressões e emoções
desses alunos que recebem a universidade nos interiores. Então, nós – que
somos a universidade –, somos sempre vistos como algo eminentemente muito
positivo. Então, eu, como professora, sempre fui muito bem recebida. Digo
mais do que isso, não só muito bem recebida, as pessoas se emocionam muito
em ter a oportunidade de estudar na Universidade Federal de Alagoas e de ver
que elas não precisam “ir à montanha”, mas que a montanha vai ao interior, e eu
falo especificamente das cidades interioranas do estado de Alagoas. Então, como
professora, foi muito emocionante participar por um bom tempo do ensino de
educação à distância. Na Faculdade de Letras nós temos três cursos que trabalham
nessa frente: Espanhol, Inglês e Português. Inicialmente, tivemos atuações em
5 polos, depois diminuímos para 3 polos de Espanhol, por exemplo. E nós
tivemos, por exemplo, na última turma, 40 formandos no curso de Espanhol.
Em Português, nós temos mais de 20 formandos já. E, tanto Português como
em Espanhol, são cursos que, provavelmente, continuarão nessas novas turmas.
Depende, também, do que o governo vai responder em relação essa demanda
da educação à distância. Nós tivemos cortes orçamentários, como todo mundo
SILVA JÚNIOR: Vi que a senhora atribui uma atenção especial para os estudos
discursivos em seus diversos trabalhos em andamento e publicados. Quais as
temáticas que vêm sendo trabalhadas pelos seus orientandos, desde iniciação
científica até o doutorado no PPGLL/UFAL?
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SILMA BRITO: Professor Valfrido, realizando uma retrospectiva a começar de
2010, quando iniciou o seu mestrado, quais foram suas expectativas naquele
momento?
SILMA BRITO: Você encontrou dificuldades para execução das suas pesquisas?
VALFRIDO NUNES: De modo geral, eu diria que não. Sempre tive uma boa
orientação e, como sempre trabalhei com análise de corpus de textos públicos,
tudo era mais fácil de operacionalizar. Um entrave que encontrei foi a literatura
acadêmica em inglês, os livros caros e difíceis de encontrar. Mesmo assim, foi
um momento que aproveitei para desenvolver a leitura instrumental em inglês.
No final, deu tudo certo.
SILMA BRITO: Pesquisando em seu lattes também foi observado que tanto no
mestrado como doutorado você foi orientado pela Doutora Maria Inez Matoso
Silveira. Como definiria sua orientação?
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ANALICE LEANDRO: Marcelo, pensando em sua formação acadêmica, con-
te-nos sobre seu percurso no PPGLL. Que interesses e oportunidades te levaram
às escolhas que você fez? Destaque as experiências que julga mais significativas.
ANALICE LEANDRO: Como você avalia o impacto de sua formação para sua
atuação profissional?
ANALICE LEANDRO: O que representa para você ser docente na mesma uni-
versidade em que fez sua formação?
ANALICE LEANDRO: Por que você escolheu a área dos Estudos literários?
Que importância você atribui aos Estudos em literatura para a formação de
um/a discente de Letras?
MARCELO MARQUES: Não houve muito cálculo quando escolhi Letras; foi
uma análise rápida com base no fato de eu ler muito, especialmente literatura
e poesia brasileiras, desde os 15 anos. A literatura foi minha primeira grande
oportunidade de mergulho no mundo das artes, enquanto leitor e enquanto
aspirante a poeta. Daí para a música e a canção não consigo identificar com cla-
reza a linha divisória. Do ponto de vista do professor que sou hoje, percebo que
a defasagem em relação à referência do texto poético ou genericamente artístico
é uma ausência significativa na formação dos(as) estudantes. E isso mesmo para
quem, na linguística, trabalha com texto. As sutilezas derivadas de certas cama-
das narrativas, a percepção artística da materialidade da palavra e outras ques-
tões tendem a educar a leitura e os sentidos de modo que, ao que parece, outros
textos não permitem. É arriscado falar isso, eu sei. Ainda mais quando sabemos
que tantas vezes é o olhar (ou a leitura) que edita, formata e constrói a poesia
ou, para usar uma palavra controversa, a literariedade de um texto. Mas quando
tratamos com o grau de falta de referências (e aqui não me refiro apenas ao câ-
none) com que nos deparamos nos primeiros semestres do curso, fica evidente o
quanto a leitura constante e cuidadosa e a posterior conversa, discussão, reflexão
são importantes. Não são poucos os(as) pesquisadores(as) que apontam o cará-
ter potencialmente perigoso, libertador ou mesmo humanizador da literatura.
Vivemos tempos que nos exigem revisão de conceitos e ampliação de noções.
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SAMUEL BARBOSA: Olá, Prof. Dr. Fernando Oliveira. É um prazer e uma
honra tê-lo nesta entrevista promovida pelo Programa de Pós-Graduação em
Letras e Linguística (PPGLL) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Ini-
cio nossa conversa com o desejo de saber resumidamente sobre a sua trajetória
acadêmica na Universidade Federal de Alagoas, pois, ao consultar seu currículo
lattes, li que sua formação a nível de graduação e pós-graduação é realizada em
nossa instituição, além disso, você teve como orientadora na graduação a con-
sagrada Profa. Dra. Maria Denilda Moura e, em nível strictu sensu, o prof. Dr.
Aldir Santos de Paula. Como foi vivenciar essa experiência acadêmica da gradu-
ação ao doutorado no curso de Letras e, posteriormente, no PPGLL?
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ROSANE CORREIA: A senhora tem um terreno sólido na Análise do Discurso,
pois vem desde a graduação (finalizada em 2012) agregando/fortalecendo
pesquisas na área. A senhora poderia falar um pouco da sua trajetória como
pesquisadora. E também sobre a relevância de ser bolsista?
ROSANE CORREIA: Ainda sobre sua obra publicada em 2019, gostaria que
a senhora colocasse em questão o valor das referências locais [(re) leituras dos
professores do programa] usadas para enriquecer a pesquisa.
ROSANE CORREIA: Por fim nos conte como se deu sua tomada de posição
dentro da Análise do Discurso.
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ANDRÉ GUIMARÃES: Seu percurso acadêmico ocorre todo dentro da
grande área de Letras. O contato com a Análise do Discurso (AD) se dá desde a
graduação ou ocorre em outro momento?
ANA LUIZA FIREMAN: Na UFAL meu contato teórico foi apenas com a
linha francesa pecheutiana, tendo como base, além dos seus pressupostos
teóricos, o materialismo histórico de Marx. Porém, como sou inquieta, procurei
ler e estudar outras linhas, sobretudo a chamada AD crítica norteada pelas
teorias de Foucault. Posso afirmar que a principal diferença está na concepção
de ideologia e na forma como se enxerga e se trata os fenômenos sociais e as
relações de opressão e poder. Muitas abordagens e pesquisas na linha da AD
crítica foucaultiana não estabelecem as relações intrínsecas entre relações de
poder e de opressão e o modo de produção capitalista e suas contradições, como
a luta de classes. Apontam as relações de poder implícitas no discurso, mas não
as explicam.
ANDRÉ GUIMARÃES: Hoje você tem atuado com ensino médio e EJA.
Quais as contribuições da AD nesse campo de atuação e quais as semelhanças e
diferenças no que se refere a sua atuação no ensino superior?
ANDRÉ GUIMARÃES: Qual a interlocução que você faz entre a sua formação
ANA LUIZA FIREMAN: Para onde vou faço questão de afirmar que sou “cria”
da Universidade Federal de Alagoas! Graduação, mestrado e doutorado. A con-
tribuição do Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da UFAL é
fundamental em minha formação e atuação profissionais. Posso dizer que é um
divisor de águas em minha vida, não somente como profissional, mas como
cidadã, como ser político. Em minha convicta opinião, a AD deveria ser mais
difundida e socializada.
ANA LUIZA FIREMAN: Preciso ser sincera. Tenho produzido bastante desde
a defesa de minha tese, no final de 2017, mas tenho dificuldade em publicar
minhas produções. A AD ainda sofre rejeição dentro da própria área de Lin-
guística, e a conjuntura atual da sociedade brasileira em que até mesmo dizer o
nome “Paulo Freire” ou “Marx” nos torna alvo de perseguição e de discurso de
ANDRÉ GUIMARÃES: Qual mensagem você deixaria para quem está iniciando
ou pretende ingressar nessa área de pesquisa?
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ANDRESSA MARQUES: O que levou o senhor a fazer mestrado e doutorado
em linguística, especificamente na área de teoria em análise linguística?
ALMIR OLIVEIRA: Bem, eu não tinha nem ideia do que era ser um professor
universitário antes de entrar no PPGLL. Foi após entrar ao programa, fazer
as disciplinas, inclusive participando de estágio docência, que eu pude me
aprofundar mais dessa área acadêmica e profissional do ensino superior. E
com certeza foi o fato de ter feito mestrado e doutorado nesse programa é
que fez com que eu passasse em concurso público e pudesse exercer atividades
acadêmicas ligadas ao ensino superior. Então, sem dúvida, houve um incentivo
e houve um preparo de minha parte, através do daquilo que aprendi, daquilo
que obtive dentro do programa. De modo que carrego comigo muito gratidão
aos professores e ao programa de pós graduação em Letras e Linguística pelo que
me proporcionaram quanto formação docente e profissional.
ALMIR OLIVEIRA: Sem dúvidas! Com toda certeza não existem línguas sem
haver antes cultura. Por mais que a gente possa trazer uma reflexão sobre a
natureza da língua, sobre a língua ser natural ou convencional, uma coisa que
desde os gregos antigos já se questionava. Uma coisa que perpassa aí as principais
teorias linguísticas. E por mais que a gente possa pensar sobretudo a existência
de uma língua apenas como um componente mental, mas sem dúvida essa
língua necessita de um espaço social para a sua realização. Não há como a gente
ter uma língua estrutural ou uma língua de uso, se a gente pensar uma cultura
que a afeta, a manipula e a dá vida. A gente olha por exemplo para a variação
linguística e a gente vê que não só a língua se realiza entre seus falantes como
a própria língua é afetada por esses falantes. E há elementos externos como
sexo, idade, escolaridade, que interferem diretamente no uso que essa língua vai
ter. Desde o século dezenove, com os estudos dos comparatistas, precisamente
com a contribuição daqueles que foram chamados de neogramáticos que já
observam que determinados traços culturais determinam o comportamento do
usuário e consequentemente determinam esse status da língua. Então, quando
pensamos a língua como um instrumento, sobretudo de comunicação social, é
imprescindível levar em consideração que todos os aspectos dessa sociabilidade,
que vem constituir os traços culturais de determinada cultura, interferem
e condicionam as escolhas linguísticas do falante, logo língua e cultura são
indissociáveis.
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GEISON ARAÚJO: Sua trajetória acadêmica, de modo geral, tem sido no
campo da Linguística Aplicada. A partir de sua experiência, de que maneira
você enxerga essa área de estudos?
ANTONIO LIMA: A escolha pelo PPGLL/UFAL deu-se sob, pelo menos, três
aspectos. O primeiro, pelo fato de o Programa estar localizado na cidade onde
resido e na qual mantenho vínculo empregatício; mesmo concursado em esfera
pública, não é fácil conseguir afastamento para cursar uma pós-graduação. Um
segundo aspecto, de grande relevância para minha escolha pelo Programa, foi o
fato de eu ser colaborador/sujeito de pesquisa em um estudo da professora Dra.
Rita de Cássia Souto Maior, à época aluna do curso de Mestrado no Programa.
Era uma pesquisa com observação participante e como tal, possibilitou profícuas
discussões, inclusive reflexões sobre minha condução metodológica. A partir
dessas discussões, Rita Souto me convidou para participar do grupo de pesquisa
ANTONIO LIMA: Na verdade, o trabalho foi uma reflexão sobre minha prática.
Como informado anteriormente, meu ingresso no PPGLL ocorreu após minha
participação na pesquisa da professora Rita Souto. O fato de ser uma observação
participante, logo com a possibilidade de diálogos entre a pesquisadora e
participantes/sujeitos, possibilitou-me sucessivas reflexões. É como se eu tivesse
sido “contaminado” pela noção de professor reflexivo, na perspectiva de Selma
Garrido Pimenta. Assim, fui refletindo sobre minha prática e sobre a dos meus
pares. Isso me motivou para elaborar o projeto de pesquisa para o ingresso no
PPGLL, no curso de mestrado. Inicialmente pensei – e até tentei – analisar a
prática de outros professores, mas fui obrigado, por circunstâncias institucionais,
a realizar uma auto-observação. Inclusive, essa técnica de coleta de dados
coaduna-se com a perspectiva teórico-metodológica da Linguística Aplicada. Na
verdade, o trabalho foi a formalização de práticas que foram se redimensionado
ao longo do meu percurso na academia ou, fazendo menção a termos utilizados
meus estudos no doutorado, no meu histórico de letramento acadêmico.
ANTONIO LIMA: Diante desse contexto, diria que a resposta para a indagação
ora apresentada pode ser resumida com o título de um artigo publicado por
Maria Cristina DAMIANOVIC, na Revista Linguagem & Ensino, vol. 8, nº 2:
“O linguista aplicado: de um aplicador de teorias a um ativista político”. Esse
título me chama muita atenção porque confere ao linguista aplicado o seu real
papel, na acepção que a LA é concebida hoje. Nesse sentido, como uma forma
de combater o que Penycook (2008) denomina de iniquidades, o professor,
pesquisador, linguista aplicado precisa ser um ativista político, abordando em
suas pesquisas e em suas atuações aspectos que promovam a transformação, para
melhor, da realidade social.
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SILVIO JÚNIOR: Para iniciar nosso diálogo, relate um pouco do seu trajeto
profissional como Pedagoga e professora de língua espanhola.
SILVIO JÚNIOR: Nas pesquisas que você tem orientado, incluindo iniciação
científica, iniciação à docência e Trabalhos de Conclusão de Curso, quais temas
são mais frequentes nas escolhas dos graduandos?
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NEDSON NOGUEIRA: Por que escolheu ser professora?
LÍGIA FERREIRA: Posso dizer que foi bem turbulento. Minha trajetória
escolar e familiar não foi de estímulo a práticas de leituras de obras literárias. Sou
da época em que os livros eram “sacralizados”. Havia uma proibição doméstica
e escolar de tocarmos nos livros, eram para serem admirados nas estantes. As
bibliotecas públicas tinham pouca diversidade de títulos e não existiam projetos
de incentivo à leitura, de empréstimo de livros, muito menos condições
econômicas para aquisição de livros que me interessavam. Por isso, quando
cheguei na Ufal, o acesso aos livros de qualquer área me deixava deslumbrada.
Ao chegar no mestrado, vivi duas sensações decorrentes do contato com as obras
literárias, que ora me fascinava, ora me angustiava, posto que se tornava evidente
o meu atraso nas leituras literárias citadas pelos/as/es professores/as. O que fazia
me sentir sempre uma “retardatária na maratona” do domínio dos “clássicos”. A
cada aula em que autores/as de diversas nacionalidades eram mencionados/as/es,
eu construía uma lista infindável de obras que eu deveria ler, muitas indisponíveis
na biblioteca, principalmente as mais contemporâneas (ainda não estávamos na
era da proliferação dos pdfs!). Era desafiador lidar com as “limitações” do meu
percurso de leitora não provocadas por mim, necessariamente, e a exigência da
produção de conhecimento científico “inédito” que não se desenvolve de uma
hora para outra, tendo em vista tudo que foi relatado até agora. Os 24 anos
que me conduziram à pós-graduação contaram, sobremaneira, com a “leitura
LÍGIA FERREIRA: O PPGLL foi sim o espaço com o qual aprendi a ter uma
relação de amor e ódio pela pesquisa. Quando fui do Programa Institucional
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), durante três anos, pude fazer parte
da pesquisa sobre a produção dramatúrgica alagoana nos anos de repressão
militar, sob a orientação do Prof. Otávio Cabral, com o qual aprendi a me
posicionar diante de um/a/e entrevistado/a/e e questionar as concepções. Jamais
me esquecerei do momento em que ele dizia, ao entrevistar teatrólogos/as/es,
escritores/as, atores/atrizes alagoanos/as/es como Anilda Leão, Pedro Onofre,
Romero Cavalcante entre outros/as/es de suma importância para a história
do teatro em Alagoas, a expressão: “está passando agora pela minha cabeça...”
e, eu, intimamente pensava: “por que não passa nada pela minha?”. Hoje,
eu entendo o meu questionamento e respondo que o estudo e o tempo são
essenciais para a formação de qualquer educador/a/e. É necessário estudarmos
muito e ouvirmos/entendermos as pessoas sobre aquilo que desejamos pesquisar,
investigar, explorar, desvendar. Desse modo, a cada projeto, orientação de
trabalho acadêmico, coordenação de qualquer processo, tento me lembrar
desse início imaturo, de certo modo ingênuo, de “desconhecimento” de alguns
assuntos, da caminhada lenta e meticulosa para me apossar de temáticas novas
ao meu cotidiano e do aprofundamento das questões para a compreensão dos
fenômenos. Esse ensinamento me seguiu nos cursos do PPGLL (mestrado e
doutorado) e me segue até hoje.
LÍGIA FERREIRA: Confesso que não sei dizer se contribuí como deveria
no PPGLL. Talvez minha atuação política, como representante estudantil no
colegiado, tanto no mestrado quanto no doutorado, tenha produzido mais
efeitos do que o desenvolvimento das minhas pesquisas. Minha dissertação,
defendida em 2004, orientada pelo Prof. Vicente Ataíde, com o qual aprendi
que a literatura precede qualquer teoria, por isso nos fazia ler muitas obras
literárias, principalmente as de Jorge Amado, Érico Veríssimo, Amando Fontes,
Guimarães Rosa, Raquel de Queiróz, não foi um trabalho que condiz com o que
gostaria de ter produzido. Passei por inúmeras situações, inclusive psicológicas,
que me impediram de materializar o meu propósito da alegria e liberdade do
início do projeto. Meu processo de maturação de leitura e escrita é muitíssimo
demorado, ele exige o pensamento exaustivo para depois se materializar no papel.
Fui professora substituta com cinco turmas e ministrava aulas no horário da aula
obrigatória, vinha da filosofia, apesar de áreas afins, mas o meu domínio da escrita
era “bizarro”, fiz alguns cursos de produção textual para aprender a não ter medo
dos meus pensamentos e a representá-los por meio da escrita. Tudo isso exigiu
um período de adaptação distinto do prazo Capes de defesa. Ainda assim, tentei
a seleção do doutorado, por questões socioeconômicas, na época sobrava bolsas
de doutorado porque o número de doutorandos/as/es era pequeno, lembro
que na seleção em que fui aprovada, tinha apenas mais uma colega. Defendi a
dissertação prestes a começar as aulas do doutorado e, por isso, minhas ideias
que ainda estavam no “carbureto” foram forçadas a amadurecerem antes do
tempo de sua existência mais refinada e foram consumidas pela Academia. De
qualquer modo, a minha dissertação tem um valor, ela foi fruto de diálogos
inesquecíveis com o Prof. Vicente Ataíde, nas tardes do bloco de Comunicação
Social da Ufal. Ele me inspirava a estudar a literatura e a história do Brasil. Das
aulas e conversas com a Profa. Vera Romariz, que me incentiva demasiadamente
a estudar Jorge Amado e a explorar suas personagens. Da atuação da Profa.
Zuleide Duarte (UFPE) nas bancas de qualificação e defesa, momentos que me