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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

FERNANDO EUNI NUNES

HISTÓRIA E HEAVY METAL:


A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL CONTADA PELAS
LENTES DOS HEADBANGERS

Campo Grande
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

FERNANDO EUNI NUNES

HISTÓRIA E HEAVY METAL:


A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL CONTADA PELAS
LENTES DOS HEADBANGERS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito parcial para obtenção do título
de graduação do curso de Licenciatura em
História da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, sob orientação do Professor Dr.
Carlos Batista Prado.

Campo Grande
2021
Dedico este trabalho aos meus pais,
Maria e Francisco,
e a todos os trabalhadores,
revolucionários e libertários.
Agradecimentos

Desde o início desta pesquisa contei com o apoio de inúmeras pessoas que foram
essenciais para a sua realização e deixo registrado aqui os meus agradecimentos.
Em primeiro lugar, aos meus pais Maria Fernandes Euni e Francisco Xavier
Nunes, também agradeço aos meus colegas a amigos Hidem Franco e Alefe Moreira, se
não fossem eles eu não estaria fazendo este trabalho de conclusão de curso. Agradeço a
todos meus amigos da Cophavila 2, sem exceções.
Agradeço também ao meu orientador, amigo e professor Dr. Carlos Prado, que
contribuiu muito para a realização e organização desse trabalho. Ele foi a pessoa mais
importante para a minha formação
Agradeço ainda a todos os professores do curso de História da UFMS, que
durante estes 4 anos me apoiaram constantemente na realização desta pesquisa. Registro
aqui, agradecimento especial a três professores. Jorge Fernandez, Fabio Sousa e Dilza
Porto por terem me guiado nesta jornada. Cabe mencionar alguns amigos, com os quais
debati e troquei ideias, me ajudando a pensar e amadurecer no trabalho; Marcio André,
Stella Carvalho Franco e Eduardo Tura.
Para finalizar, afirmo que o período de mais de 5 anos que me dediquei ao curso
serão sempre lembrados. Muitas pessoas não mencionadas aqui participaram de alguma
forma desse período e, a ausência nessa lista de agradecimentos não significa que foram
menos importantes.
Por fim dedico cada palavra, parágrafo em memória de minha amada tia Euzi
lima 06/ 01 /53 - 13 /01 / 21 † “eternamente em nossos corações”.
Viva para vencer, até morrer,
até as luzes apagarem de seus olhos
(Paul Stanley)
NUNES, Fernando Euni. História e Heavy Metal: a Segunda Guerra Mundial contada
pelas lentes dos headbangers. (Trabalho de conclusão de curso em História). Campo
Grande: UFMS, 2021.

RESUMO
A presente pesquisa tem o objetivo de apresentar e discutir a relação entre o heavy metal
e temas históricos, em especial a Segunda Guerra Mundial. O heavy metal é um dos
subgêneros do rock e entre as suas características, destaca-se, além da música pesada e
rápida, o fato de suas letras abordarem temáticas históricas. Muitas bandas do estilo
tratam de temas subversivos, violentos e sombrios de forma abstrata. No entanto, algumas
bandas buscam uma base histórica mais concreta para suas letras e acabam encontrando
referências em Guerras e conflitos reais, em especial, na Segunda Guerra Mundial. O
presente trabalho de conclusão de curso se divide em dois capítulos. No primeiro, aborda-
se, de forma breve, as origens do rock n roll e o seu desenvolvimento, passando pelo hard
rock até o heavy metal e suas diversas variações. Ainda nesse capítulo, discute-se a
relação entre diversas bandas e as temáticas históricas, destacando a Segunda Guerra
Mundial. O segundo capítulo, por sua vez, inicia-se com uma discussão teórico
metodológica, abordando as características particulares para se realizar análise de fontes
audiovisuais. Na sequência, realiza-se uma breve exposição histórica sobre a Batalha de
Stalingrado e uma análise da representação desta batalha na música Stalingrad da banda
Accept. Metodologicamente se trata de uma pesquisa de revisão bibliográfica, mas que
também realiza a análise de fontes audiovisuais.

Palavras-chave: História da música; Heavy Metal; Segunda Guerra Mundial;


Stalingrado.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...............................................................................................................7

CAPÍTULO 1: O heavy metal e a história: a guerra como tema privilegiado...............10


1.1 Do rock n roll ao hard rock.......................................................................................10
1.2 O heavy metal sobe ao palco......................................................................................13
1.3 Heavy metal e história................................................................................................18
1.4 Bandas de heavy metal e a Segunda Guerra Mundial.................................................21

CAPÍTULO 2: Stalingrado: guerra, memória e música..................................................30


2.1 Procedimentos metodológicos...................................................................................30
2.2 A batalha de Stalingrado.............................................................................................36
2.3 A representação da batalha de Stalingrado na música da banda Accept....................38

Considerações finais......................................................................................................45

Referências.....................................................................................................................47
INTRODUÇÃO

A música tem se tornado cada vez mais um elemento presente na vida das
pessoas. Essa popularização se concretizou ao longo do século XX e, com o
desenvolvimento tecnológico - novas mídias, redes sociais e plataformas de streaming –
o acesso tem se ampliado. Destaca-se que, especialmente nas duas últimas décadas não
se fomentou apenas as possibilidades para se ouvir música, mas também, ampliou-se, por
meio de home studio, as possibilidades para a sua produção. Diante dessas facilidades
para se ouvir e produzir músicas, elas têm acompanhado as pessoas diariamente, como
parte do cotidiano.1
Em um cenário em que a música tem se tornado cada vez mais presente,
historiadores tem destacado como que as músicas são carregadas de significados. De
acordo com Moraes (2000, p. 204), “a canção é uma expressão artística que contém um
forte poder de comunicação, principalmente quando se difunde pelo universo urbano,
alcançando ampla dimensão da realidade social”. Napolitano (2005, p. 235) acrescenta
que, “a música tem sido, ao menos em boa parte do século XX, a tradutora dos nossos
dilemas nacionais e veículos de nossas utopias sociais”.
Nesse mesmo sentido, Rodrigues (2016, p. 29) argumenta que a música deve ser
compreendida como um “interessante veículo de questões e cunho social, econômico,
político, cultural, nacional etc.” Rodrigues (2016, p. 23) ainda aponta que a música, assim
como o cinema, a literatura, os teatros, etc “reforça crenças, memórias, identidades e
posicionamentos políticos a partir de sua própria linguagem e singularidades”.
Devido a todo esse caráter social, a música tem despertado o interesse do campo
historiográfico. Muitos historiadores que trabalham com problemáticas do século XX tem
utilizado a música como fonte. Como afirma napolitano (2005, p. 235), “as fontes
audiovisuais e musicais ganham crescente espaço na pesquisa histórica”. Tem se

1
“Sons e ruídos estão impregnados no nosso cotidiano de tal forma que, na maioria das vezes, não tomamos
consciência deles. Eles nos acompanham diariamente, como uma autêntica trilha sonora de nossas vidas,
manifestando-se sem distinção nas experiências individuais ou coletivas. Isso ocorre porque a música, a
forma artística que trabalha com os sons e ritmos nos seus diversos modos e gêneros, geralmente permite
realizar as mais variadas atividades sem exigir atenção centrada do receptor, apresentando-se no nosso
cotidiano de modo permanente, às vezes de maneira quase imperceptível” (MORAES, 2000, p. 204).

7
ampliado a consciência da relevância da música enquanto fonte para o conhecimento
histórico. De acordo com Moraes (2000, p. 204-205), “a canção e a música popular
poderiam ser encaradas como uma rica fonte para compreender certas realidades da
cultura popular e desvendar a história de setores da sociedade pouco lembrados pela
historiografia”.
Ainda de acordo com Rodrigues (2016, p. 23):
Analisar estes produtos individualmente e a forma como os mesmos se
relacionam com a sociedade que os produzem e os consomem é
fundamental para o desenvolvimento de senso crítico diante destes
produtos, haja vista que os mesmos têm o poder de amplificar sua
mensagem lírica através da música e os estados afetivos com os quais
está dialoga.

Evidencia-se que o campo da historiografia vem se ampliando e a investigação


da música é um terreno que já vem sendo desbravado. Não obstante, o presente trabalho
de conclusão de curso busca analisar gênero musical em particular, o heavy metal. Este
estilo musical está inserido no vasto campo que é o rock n roll. Este, por sua vez, surgiu
em meados da década de 1950. Trata-se de um estilo que surgiu da mistura de diversos
outros gêneros musicais e se caracterizou pelo ritmo dançante e agitado, e pelas letras
provocativas, sexuais e subversivas.
Do rock n roll surgiu o hard rock, um estilo mais pesado, com presença mais
marcante para as linhas de guitarra. E, já no final da década de 1960 e início de 1970, o
heavy metal deu uma nova cara para o rock. Trata-se de uma música ainda mais pesada.
As letras também perderam o caráter mais festivo e juvenil e passaram a abordar temas
sombrios - como o ocultismo, mas também surgiram letras com críticas sociais e
referências históricas.
Muitas bandas de heavy metal, a partir de 1970, apresentaram grande afinidades
com a história. As referências a temáticas históricas são muito frequentes nas letras das
músicas. O objetivo de vários compositores é narrar e descrever eventos reais e não
apenas apresentar letras abstratas. Assim, não é difícil encontrar nas letras escritas pelos
headbangers referências a personagens históricos, civilizações antigas ou guerras e
conflitos reais.
Nesse contexto, a Segunda Guerra Mundial tem sido um tema presente nas
composições de diversas bandas de heavy metal. Trata-se de representações de
personagens e de eventos históricos específicos, nas quais, os autores das músicas buscam
de forma líricas elucidar bravura de soldados, de líderes militares e de povos passados.

8
São constantes as referências ao nazismo, às batalhas de Stalingrado, ou ao desembarque
da Normandia. Estes são temas que trazem à tona memórias e elucidam símbolos e
sentimentos cheios de significado.
Por conseguinte, a presente pesquisa tem o objetivo de apresentar e discutir a
relação entre o heavy metal e temas históricos, em especial a Segunda Guerra Mundial.
O presente trabalho de conclusão de curso se divide em dois capítulos. No primeiro,
aborda-se, de forma breve, as origens do rock n roll e o seu desenvolvimento, passando
pelo hard rock até o heavy metal e suas diversas variações. Ainda nesse capítulo, discute-
se a relação entre diversas bandas e as temáticas históricas, destacando a Segunda Guerra
Mundial.
O segundo capítulo, por sua vez, inicia-se com uma discussão teórico
metodológica, abordando as características particulares para se realizar análise de fontes
audiovisuais. Na sequência, realiza-se uma breve exposição histórica sobre a Batalha de
Stalingrado e uma análise da representação desta batalha na música Stalingrad da banda
Accept. Metodologicamente se trata de uma pesquisa de revisão bibliográfica, mas que
também realiza a análise de fontes audiovisuais.

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CAPÍTULO 1
O heavy metal e a história: a guerra como tema privilegiado

1.1 Do rock n roll ao hard rock

A cultura ocidental passou a ter novas perspectivas com final da Segunda Guerra
Mundial. O chamado período pós-guerra se caracterizou por apresentar importantes
mudanças culturais. Apesar da relativa estabilidade econômica, a Guerra Fria representou
um período de instabilidade, tensões políticas e sociais no mundo. Neste sentido, as
décadas de 1950 e 1960 se caracterizaram por uma nova onda de criações artísticas e de
movimentos culturais importantes (HOBSBAWM, 2002).
Neste período, sob um grande desenvolvimento econômico, os Estados Unidos
passaram por grandes mudanças que buscaram consolidar o chamado American way of
life (estilo de vida americano). Não obstante, mesmo nesse período de crescimento e
ascensão, a cultura americana assistiu ao surgimento de movimentos críticos. Segundo
Hobsbawm (2002, p. 19): “Talvez pareça incoerente que num período de tanta fartura,
surjam tantos movimentos contestatórios do status quo e do American way of life, vendido
incessantemente através da vitrine da reconstrução europeia e do consumismo”.
Dentre os vários movimentos culturais que eclodiam neste período, um gênero
musical em especial, chama atenção; o rock n roll. Este surgiu entre a segunda metade da
década de 1940 e começo da década de 1950. De acordo com Dannenhauer (2018, p. 15),
esse novo ritmo se caracterizava pela “mescla de diversos ritmos como o jazz, o gospel,
a folk music, mas sua essência vinha principalmente do blues e do country”. O rock n roll
se apresentava a partir de um sincronismo de diversos estilos musicais e se caracterizava
por ser um ritmo dançante e peculiar, acompanhado de letras provocativas, sendo
considerado até certo ponto subversivo para os padrões da sociedade americana da década
de 1950. Sobre essa questão, Rodrigues (2016, p. 39) argumenta que:
Considerado subversivo pelo agito de seu ritmo e, em certa medida, pela
sexualidade atribuída ao estilo – acompanhado de danças e insinuações,
tanto em coreografia quanto nas letras –, o Rock foi motivo de
desconforto para segmentos da sociedade conservadora da época,
principalmente a classe média branca. Tendo origem não apenas
musical, mas também lírica no blues, o Rock adquiriu deste último sua
propensão a contestar questões. (RODRIGUES, 2016, p. 39).

10
Com sua origem e raízes multifacetadas esta nova vertente causou um grande
impacto na sociedade americana. Desde o seu surgimento, “o rock adotou posturas
subversivas à época, tais como artistas de diversificadas origens étnicas – o que ao longo
do tempo se tornou uma das principais características do movimento cultural
(DANNENHAUER, 2018, p. 15). O sincretismo do rock n roll não era apenas musical,
mas também étnico. Havia artistas negros, mais entrelaçados ao blues como Chuck Berry
e artistas brancos mais ligados a country music como Elvis Presley (Figura 1), Bill Halley,
Jerry Lee Lewis e Little Richards (Figura 2).

Figuras 1 e 2. Elvis Presley e Little Richards


Fonte: Google.com

Com o sucesso de vendas não demorou muito para o estilo de música atravessar
o atlântico e conquistar a Europa. Em um país em especial, a Inglaterra, o rock americano
influenciou diversas tribos urbanas, entre as quais, o British rock. Desse modo, a cena por
lá começou a emergir e ganhou força: “interessante perceber o quanto essas cenas criaram
raízes e se tornaram paradigmas musicais e de comportamento da juventude local”, aponta
Dannehauer (2018, p. 15).
Mas como compreender o que levou o estilo a conseguir, em tão pouco tempo,
expandir seu público e se consolidar no cenário musical e cultural? De acordo com
Dannenhauer (2018, p. 16), a força do rock n roll está relacionada a sua capacidade de
penetração junto ao público jovem e à classe trabalhadora:
É interessante perceber o quanto essas cenas criaram raízes e se
tornaram paradigmas musicais e de comportamento da juventude local.
Na Inglaterra, uma característica muito marcante foi a ligação da cultura
de juventude com a classe trabalhadora, embora também existissem
cenas culturais cujos laços eram mais estreitos com uma “elite

11
intelectual” como ocorria em Londres, berço do rock progressivo; com
a classe média urbana, como os mods; ou ainda com a cena Mercey
Beat, cujo contato direto com a música produzida nos Estados Unidos,
através do porto de Liverpool, incentivou a formação de inúmeros
grupos musicais locais, como os The Beatles, por exemplo.
(DANNENHAUER, 2018, p. 16).

Ainda nesse contexto de acordo Dannenhauer (2018, p.15) o rock n roll foi
ganhando letras mais críticas que expressavam e denunciavam insatisfações sociais. Esse
diálogo com a música contestatória expressa a influência do folk norte-americano, cujos
principais expoentes eram Bob Dylan e Joan Baez. Bandas inglesas, como The Who com
sua música My generation e os Beatles com a música Revolution apresentavam um
amadurecimento artístico e expressavam um rock como crítica social.
A década de 1960 foi marcada por diversos movimentos de conflitos e
instabilidades, desde o assassinato de John F. Kennedy e de Martin Luther King, a corrida
espacial, e a construção do muro de Berlim. Todavia, dentre diversos eventos históricos,
um teve maior impacto e influência para os artistas daquela geração. Este evento foi a
Guerra do Vietnã. O conflito fez ascender um espírito contestatório. De acordo com
Dannenhauer (2018), dentre diversas composições marcantes, pode-se citar, músicas
como Eve of Destruction de Barry McGuire, e Blowin in the wind do Bob Dylan. Ambas
canções contestavam a guerra e tiveram ampla aceitação pelo público.
Por outro lado, o rock n roll, no final da década de 1960 passou por uma evolução
musical. Artistas como Jimi Hendrix (Figura 3), Cream, e The Kinks se mostravam
diferentes de outros grupos, especialmente porque tocavam suas guitarras amplificadas
cada vez mais alto. Estes talvez foram os percursores do gênero hard rock, o qual tinha
como principal característica uma sonoridade mais agressiva, com instrumentos mais
distorcidos e riffs (progressão de acordes) mais pesados.

Figura 3. Elvis Jimi Hendrix


Fonte: Google.com

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1.2 O heavy metal sobe ao palco

Já no final da década de 1960 e começo da década de 1970 as metamorfoses do


rock deram origem a um subgênero. Este ainda mais subversivo e pesado. Trata-se do
heavy metal. Contendo características do hard rock, o metal, como é conhecido, se
caracterizou por ter guitarras ainda mais distorcidas. Além da sonoridade mais agressiva,
destacam-se as letras que abordavam temas polêmicos, desde religião, sexo, drogas a
questões sociais. Dannenhuer (2018, p. 18) complementa que:
Inicialmente forjado em lugares que podem ser considerados hostis, o
Heavy Metal, desde a sua origem foi marcado por disputas e
contradições internas, ligação com o consumo de drogas, músicos
contestadores e associações com diversos tipos de apologias. De temas
sombrios, guitarras distorcidas e de posicionamentos claramente
combativos aos valores conservadores da sociedade, o gênero surge
como uma afronta aos movimentos do fim dos anos 60,
excepcionalmente o hippie com suas letras sobre paz e amor, como a
clássica San Francisco (Be Sure To Wear Some Flowers In Your Hear)
composto por John Phillips do grupo The Mamas & The Papas no ano
de 1967.

Segundo Camargo (2017, p. 152) o termo heavy metal apareceu pela primeira
vez na música Born To Be Wild do grupo de hard rock americano Steppenwolf. O verso
da música trazia as palavras “Heavy Metal Thunder”, numa referência às motocicletas.
Segundo Camargo (2017, p. 152): “Já no sentido de gênero musical a expressão heavy
metal foi usada pela primeira vez pelo crítico musical Lester Bangs no ano de 1972,
quando fazia a análise do primeiro álbum da banda para a revista Creem”.
Para além dessa citação, é possível destacar três grupos que foram percussores
no gênero: Black Sabbath Deep Purple e Led Zeppelin, bandas que surgiram nos anos de
1968 e 1969. Cada uma dessas bandas tinha suas características marcantes, mas desse trio
o Black Sabbath foi e é considerado por muitos, desde amantes do estilo até críticos e
jornalistas especializados, como os criadores do heavy metal.
Deste modo, dentre as três bandas citadas, o Black Sabbath (Figura 4), foi o
grupo que mais influenciou este gênero, especialmente, devido à temática satânica,
inspirada pelos filmes de terror da época. Cabe destacar ainda a influência que o contexto
social teve nas letras e no som da banda, uma vez que o grupo vinha de uma base operaria
em Birmingham. Segundo Camargo (2017, p. 152) o uso da estética agressiva tinha
origem em certos setores da sociedade e no contexto hostil da cidade repleta de violência,
gangues e pouca perspectiva social. Nesse contexto, a classe operária criou o que hoje

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faz parte da cultura do heavy metal, baseada no meio social em que viviam. Os cabelos
longos, o jeans rasgado e as roupas de couro compunham a estética do estilo, mas também
expressavam sua condição social.

Figura 4. Black Sabbath


Fonte: Google.com

Outra característica marcante do grupo seria o uso do trítono, ou seja, um


intervalo de duas notas que se ouve na faixa Black Sabbath que abre o álbum de estreia
da banda. Na faixa em questão, a sonoridade junto ao barulho de chuva, cria um ambiente
de tensão e drama. Ainda sobre o trítono, Dannenhauer (2018, p. 67) destaca que:
O trítono, ou quarta aumentada, é talvez o intervalo mais icônico na
linguagem da banda [Black Sabbath], e provavelmente o é devido ao
longo histórico no qual este intervalo é associação à tensão, dissonância
e principalmente à proibição pela igreja, durante a Idade Média, período
em que ficou conhecido como diabolôs in música. Em “Tritonal crime
and ‘music as music’”, n. 138, o musicólogo Phillip Tagg questiona os
motivos que levaram os intervalos de segunda menor e, sobretudo o de
quinta diminuta, a serem associados à temática de crimes e a serem
extensivamente utilizados em trilhas sonoras de filmes e seriados sobre
detetives nas décadas de 1950 em diante.

O Black Sabbath foi responsável por popularizar o gênero no início dos anos de
1970, abrindo as portas e influenciando várias outras bandas. Nos Estados Unidos
surgiriam nomes como o Kiss e Alice Cooper. Ambas aliaram o som pesado com a
temática teatral e foram os percursores do shock rock, o que gerou uma reação dos setores
mais conservadores da sociedade norte-americana.
Já no final da década de 1970 e no começo dos anos 80 surgiu na Inglaterra um
movimento chamado New British Heavy Metal. Bandas como Iron Maiden, Judas Priest,
Saxon, Motorhead, Def Lepard e Venon contribuíram para popularizar ainda mais o

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estilo. Nesse ínterim, vale destacar a estética apresentada pela banda Judas Priest (Figura
5).

Figura 5. Judas Priest


Fonte: Google.com

De acordo com Dannehauer (2018, p. 17):


Após seu vocalista [da banda Judas Priest], Rob Halford, fazer uma
visita a um sex shop. Ele acreditou que esses tipos de acessórios
causariam impacto, uma vez que eram símbolos considerados eróticos.
Tal ato condiz com a filosofia da contracultura, já que elementos e
assuntos de teor sexual eram, e ainda são considerados tabus.

A estética apresentada pelas bandas da New British Heavy Metal - o visual dos
Headbangers (fãs de heavy metal) - adota uma estética mais agressiva, com cunho
fetichista com correntes, gargantilhas e cintos de pirâmides. Bandas como Motorhead
(Figura 6) e Venon (Figura 7) ajudaram a propagar ainda mais o visual adicionando cintos
de balas e Spikes (braceletes de ferro), o que muito as bandas de Black Metal, Trash Metal
e Death metal das décadas dos anos 1990 e 2000.

Figuras 6 e 7. Motorhead e Venom


Fonte: Google.com

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De acordo com Camargo (2017, p. 152), essa estética foi influenciada pelos
instrumentos da inquisição da Igreja Católica. Além disso, esse visual reforçava ainda
mais o apelo sexista. Essas características visuais foram importantes referências para as
próximas gerações de bandas.
Enquanto a New British Heavy Metal se consolidava no cenário mundial da
música, nos Estados Unidos outro movimento estava em ascensão. O glam metal surgiu
também no final da década de 1970, a partir da influência de bandas como o Kiss, Alice
Cooper e Van Halen, este novo subgênero do heavy metal, apresentou características
particulares. Musicalmente o som não era mais tão pesado. O glam metal se caracterizou
por apresentar músicas mais cadenciadas e melódicas, abordando temas mais juvenis,
especialmente, relacionamentos, sexos, festas e drogas. Quanto ao visual, adotou-se um
estilo mais colorido, roupas coladas e rasgadas e cabelos esvoaçados.
Segundo Camargo (2017, p.152):
Incorporando a maneira rápida de tocar solos de guitarrista como Eddie
Van Halen e extravagantes visuais de bandas como Kiss e artistas como
David Bowie são estabelecidas as bases do Glam. Bandas desses
gêneros herdaram também a sexualidade no visual de bandas como
Judas Priest, optando por roupas coladas e cabelos cheios de laquê.

Este subgênero se tornou bastante popular na primeira metade dá década de 1980


e chocou a sociedade conservadora pela sua estética e pelo estilo de vida dotado de
exageros. Os principais representantes desse estilo foram as bandas; Van Halen (Figura
8), Mötley Crue (Figura 9), Twister Sister, Ratt, Quiet Riot e muitas outras. Várias destas
bandas alcançaram grande sucesso comercial. Segundo Haman (2013) o álbum Metal
Heath, do Quiet Riot vendeu 6 milhões de cópias nos Estados Unidos e foi responsável
por colocar pela primeira vez o Heavy Metal nas paradas da Billboard.

Figuras 8 e 9. Van Halen e Mötley Crue


Fonte: Google.com

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Um fator importante para a popularização do glam metal e, consequentemente,
do heavy metal em geral, foi a MTV. Com os vídeos clipes exibidos em sua grade de
programação, o estilo foi se popularizando e alcançando cada vez mais adeptos. Segundo
Camargo (2017, p.154):
O que auxiliou na explosão do glam metal foi o surgimento, no ano de
e 1981, do canal de televisão focado na música, Music TV, o primeiro
inteiramente focado em música e assim popularizando o que viria a se
tornar comum na indústria musical até hoje, os videoclipes. Os clipes
das músicas glam eram geralmente muito sexuais e sempre
acompanhados de imagens provocativas e eróticas, não muito
diferentes dos clipes pops de hoje.

Nesse contexto, deve-se destacar o Thrash Metal, estilo que vinha na contramão
do glam metal, com bandas como Metallica, Slayer, Megadeth e Antrax. Estas bandas
apresentavam músicas com muita distorção, velocidade, mudanças de tempo e letras que
abordavam temas violentos e sombrios. Outra característica do estilo foi a fusão do peso
e da melodia das bandas da New British Heavy Metal, como Iron Maiden, Diamond Head,
Judas Priest, com a velocidade do Punk e Hardcore de grupos como Dead Kenedy.
Acredita-se que um dos fatores que influenciou o estilo do thrash metal foi a
competição com as bandas de glam. Ainda segundo Camargo (2017, p. 155):
As letras do thrash metal eram opostas às letras glam, geralmente
tratavam de temas como psicopatas, guerras, satanismo, temas bíblicos
e a própria cena de Metal. Era de interesse das bandas afastar o máximo
possível daquelas de Hair metal e chocar os ouvintes. Sendo assim, a
música que melhor sintetiza tais aspectos é Angel of Death da banda
Slayer que trata de Josef Mengele, cientista nazista que, durante a
Segunda Guerra Mundial, foi responsável por realizar experimentos em
humanos vivos.

Ainda sobre as temáticas abordadas pelas bandas de trash metal, Biarchi (2018,
p. 8) acrescenta que:

As bandas de thrash metal sempre buscaram, em suas capas e


composições, abordar temas como o apocalipse, a morte, a
contaminação radioativa, a proliferação de doenças e epidemias
globais, as guerras, as desigualdades sociais, a violência urbana, a
exploração dos países pobres, entre outras temáticas políticas e sociais.
(BIARCHI, 2018, p. 8).

Com a ajuda da MTV, o heavy metal foi um dos gêneros musicais mais populares
dos anos 80 até o começo dos 90, e passou a se dividir em vários subgêneros. De acordo
com Camargo (2017, p. 154), diante das várias ramificações distintas, criou-se uma
verdadeira arvores genealógica do gênero. Depois da explosão do glam metal que ajudou
a popularizar o gênero e do surgimento do thrash metal, vários outros estilos vieram a

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existir como o black metal, crossover, death metal, metalcore, doom metal, nu metal,
power metal, dentre muitos outros.
Segundo Camargo (2017, p. 154) outra influência no surgimento de novos estilos
foi o meio em que cada uma das bandas surgiu, seja o meio familiar ou, em um âmbito
mais amplo, o ambiente cultural. Mesmo depois de cerca de cinquenta anos da criação do
heavy metal ainda vemos novos subgêneros surgindo, vemos tantas gerações de bandas
reinventando o estilo. Prova disso é, por exemplo, a fusão de estilos mais pesados como
o death metal com as linhas melódicas do rock progressivo e vocais limpos, ou a mistura
de música eletrônica com guitarras pesadas culminando no metal industrial. Em suma, o
heavy metal com seu amplo universo de possiblidades é um dos estilos musicais mais
amplos e criativos no campo musical do rock.

1.3 Heavy metal e história

O rock n roll é um estilo musical muito particular, seja pela paixão de seus
admiradores, pela longevidade que o gênero musical alcançou, ou ainda devido aos seus
subgêneros diversos, tais como punk, rock progressivo e o heavy metal. Segundo Santos
(2016) dentre as vertentes do estilo o heavy metal se destaca não só pela sua enorme gama
de referências líricas, mas também pela influência da música clássica e do folk.
Outro aspecto relevante é a inspiração em fatos históricos para compor e
construir canções ou álbuns conceituais com temáticas históricas. Camargo (2017, p. 156)
explica que:
Então, não muito diferente dos filmes, os temas das músicas de heavy
metal geralmente são baseados em livros, histórias religiosas e história
em geral. Todavia, o que adiciona individualidade às letras são as
experiências de cada músico já que eles adicionam às letras elementos
próprios, oferecendo uma visão diferente sobre cada tema.

Os temas históricos influenciaram muito o subgênero, desde inspiração para as


composições das canções até as roupas e cenários de palco. Segundo Santos (2016) e
Dannehauer (2018) as referências históricas aparecem de três maneiras: primeiro, são
constantes as citações dos grandes heróis e personagens, chefes, líderes e guerreiros,
muitas músicas apresentam uma pequena biografia em torno desses personagens; segundo
são os acontecimentos ou temas históricos. É comum músicas que fazem referência à
Idade Média, na contemporaneidade, aos conflitos do século XX, as batalhas da Primeira

18
e Segunda Guerras; terceiro, referências às antigas civilizações e povos da antiguidade,
que são inspirações para canções e nomes de bandas.
Isso se tornou uma marca registrada de algumas bandas do subgênero desde o
power metal até death metal. Dentre essas bandas, Camargo (2017, p. 156) cita o Iron
Maiden como um destaque:
Um exemplo de acontecimentos históricos retratados em letras de heavy
metal, é a música Aces High da banda inglesa Iron Maiden. A música
conta a história de um piloto inglês, em uma das primeiras batalhas,
entre a Luftwaffe e a Royal Air Force. Ao longo da música são usados
termos próprios da aviação, dando ainda mais veracidade à canção
Quando analisamos o meio onde o compositor da música Steve Harris,
viveu, percebemos que o fato de ele ter nascido na Inglaterra
influenciou muito suas composições. Várias outras músicas tratam da
história da Inglaterra.

Uma das primeiras bandas de heavy metal a abordar temas históricos em suas
letras foi o Black Sabbath, que também foi o criador do estilo. A música War pigs que
abre o disco Paronaid, de 1970, faz alusão a guerra do Vietnã e aos acontecimentos da
guerra fria. A faixa retrata a tensão geopolítica que marcou o período. Segundo Santos
(2016), o baixista da banda Geezer Butler, compositor da música, afirmou em inúmeras
entrevistas que a aproximação do Reino Unido com a guerra foi predominante para
compor a música.

Figuras 10 e 11. Capas dos álbuns Saxon e Crusader


Fonte: Google.com

Outra importante banda que não pode deixar de ser lembrada é o Saxon,
conterrâneos do Black Sabbath, que também fizeram parte da New British Heavy Metal.
O primeiro álbum da banda, homônimo, de 1979, apresenta várias referências à história,

19
principalmente à época medieval (Figura 10). Logo na capa pode ser percebida a
referência ao povo saxão com o desenho estilizado de um guerreiro. Referências
históricas também estão presentes na cada do álbum Crusader (Figura 11), lançado em
1984, que narra um fato histórico, as cruzadas cristãs à Jerusalém.
Mas a bandas que mais se utilizou de temas históricos tanto em suas músicas e
até mesmo em seus videoclipes. Foi o já citado Iron Maiden. Segundo Santos (2016), o
sucesso estrondoso da banda ajudou a popularizar o estilo na década de 1980 e com isso
o interesse do público pelas letras cresceu proporcionalmente. Um fato não menos
importante é que o vocalista da banda, Bruce Dickinson, possui graduação em História.
Assim, logo após sua entrada no grupo, em 1982, ele influenciou os outros integrantes,
mais notadamente Steve Harris, líder e fundador, a explorar temas históricos em suas
letras.
Logo após seu ingresso na banda, Bruce Dickinson começou a contribuir nas
composições. No álbum de 1982, intitulado The Number of the Beast, ele compôs a
música Invaders, na qual relata a invasão da Inglaterra pelos normandos “que no
momento já eram vikings recém-convertidos para o cristianismo” (SANTOS, 2016). A
partir de então, a banda passou a fazer ao menos uma referencias histórica a cada disco
lançado:
Com efeito, as músicas com esse viés figuram de modo tão constante
em sua discografia que é mesmo possível traçar-se uma “linha
histórica”, abrangendo desde a Pré-História até a Segunda Guerra
Mundial, passando por várias épocas e sublinhando os feitos tanto dos
grandes vultos da História, como os de personagens anônimos, que
ganham voz através das canções. (MELLER, 2005, p. 3).

Por consequente, várias outras bandas passaram a abordar temas históricos em


suas músicas. De acordo com Santos (2016) surgiram bandas que se especializaram em
vários temas históricos, desde guerra, Egito antigo até os mais inusitados, como é o caso
do grupo Running Wild que abandonou as temáticas ocultistas e mais comuns do gênero
para se aprofundarem nas narrativas dos piratas do século XVII e XVIII. A banda fez uma
série de álbuns que eram uma espécie de biografia de líderes e personagens da pirataria.
O que nos remete a uma das características de enfoque das letras, ou seja, contar em não
mais de 5 minutos de música, a história de vida de um personagem.
Antes de abraçar a pirataria como tema, no álbum Gates to Purgatory,
a banda Running Wild fez uma música sobre Gengis Khan. Ele foi o
primeiro que teve sua vida contada por uma banda. Ele é visto pela
banda como um libertador que liderou o povo mongol à liberdade,
apesar de considerá-lo um homem comum. (SANTOS, 2016).

20
Dentre essas leque de variedades históricas ainda teríamos o Grave Digger,
banda alemã, que lançou álbuns inspirados na história da Escócia. Outra banda que
merece ser destacada é o System of a Down, que em algumas de suas músicas chama a
atenção para genocídio armênio que ocorreu durante e após a Primeira Guerra Mundial.
Também pode-se apontar a banda de death metal, Nile, que tem como referência e
inspiração a história do Egito antigo. Enfim, a lista de bandas com temas históricos é
realmente vasta.

1.4 Bandas de heavy metal e a Segunda Guerra Mundial

A guerra é dos temas históricos mais retratado pelas fontes áudio visuais, desde
a antiguidade até os conflitos do início do século XXI. Segundo Rodrigues (2016, p. 17)
estes fenômenos históricos sempre chamaram a atenção do público, não só pelos seus
registros iconográficos e escritos, mas também pela reprodução audiovisual:
Esta temática move milhões de entusiastas, curiosos e estudiosos às
salas de cinema, livrarias, entre outros espaços, em busca de
entretenimento, reflexão, emoção, entre outros motivos pelos, quais
algumas pessoas buscam o contato com temas bélicos a partir de um
viés lúdico.

Devido ao seu alcance popular, os filmes se tornaram o maior expoente


audiovisual para estes eventos históricos. As obras cinematográficas sobre guerra fizeram
muito sucesso e tiveram um grande alcance e influência. Ainda segundo Rodrigues (2016,
p. 17) tais obras têm uma forte ligação com suas trilhas sonoras, “independente do período
histórico que o filme representa. Seja o trabalho de Trevor Jones e Randy Edelman em O
último dos moicanos (1992), seja a trilha sonora de John Williams em O resgate do
soldado Ryan (1998)”.
Faz-se necessário ressaltar que as trilhas sonoras são elementos importantes
para o “diálogo com os estados afetivos do público diante de produções audiovisuais”
(RODRIGUES, p.17). Ou seja, a música é responsável por transmitir significados a uma
cena, os sentimentos reais dos personagens vividos. A música revela significados e
sentidos para cada representação cinematográfica.
Embora cinema e música seja uma combinação grandiosa, estamos
familiarizados a compreender essa combinação no cinema e na televisão, principalmente
nos filmes de Hollywood. Não obstante, “nos parece válido afirmar que estudos a respeito

21
dessa combinação (guerra e música) no que concerne à produção estritamente musical
ainda são poucos” (RODRIGUES, 2016 p. 18). Se tratando da nossa historiografia, os
estudos sobre o heavy metal e a história são ainda bastante incipientes.
Vimos que o heavy metal é um estilo de música que dialoga bastante com
temáticas históricas, especialmente com guerras. Nesse cenário, a Segunda Guerra
Mundial é um dos temas mais abordados nas letras e de diversas bandas. O Iron Maiden
foi uma das primeiras bandas a popularizar o tema da Segunda Guerra Mundial em suas
canções e no heavy metal. A primeira música do grupo a fazer referência a Segunda
Guerra foi Aces High (Figura 12), do álbum Powerslave. Esta música busca representar
um piloto da Royal Air Force (RAF), defendendo os céus de Londres contra os nazistas
em uma das maiores batalhas aérea de todos os tempos.

Figura 12. Capa do single Aces High


Fonte: Google.com

Além dessa música, o Iron Maiden compôs outras canções com temas da
Primeira e Segunda Guerras. Por exemplo, a Música The Longest Day do album A Matter
of Life and Death, narra o fatídico dia “D”, quando os aliados desembarcaram no litoral
norte da França para liberta o país dos alemães: “A história tem como pano de fundo o
início do desembarque aliado nas praias francesas da Normandia, onde confrontariam
uma bem postada defesa alemã, com metralhadoras e cerca de 700 mil soldados”
(ROCHA, 2008).
Mas antes mesmo do Iron Maiden, outras bandas já vinham explorando essa
temática em suas canções. A banda Motörhead na música Bomber, do álbum que leva o

22
mesmo nome, de 1979, também aborda os bombardeios da Alemanha contra a Inglaterra.
Sobre a abordagem particular de Lemmy nessa canção, Contrera (2017) afirmar que:

O Motörhead chega a tratar do assunto até com certo desprezo, como


se a curtição fosse mesmo estar na mira dos Stukas, que gritavam em
direção ao solo, jogando bombas e disparando balas de vários tipos.
Claro que muitos outros também abordaram o tema guerra, mas
notemos que Lemmy teve sua mentalidade forjada pela guerra e pelo
que veio em seguida (tornando-se um grande estudioso informal sobre
o assunto).

Lemmy Kilmister, vocalista do Motorhead, anos depois passou a ser


colecionador de objetos da Segunda Guerra e pesquisador de temas que implicavam o
conflito.

Por sua vez, as bandas de thrash metal que inicialmente abordavam temas mais
ocultistas, posteriormente, passaram a abordar temáticas que implicavam em críticas
sociais e, nesse sentido, a guerra passou a ser incluída quase sempre em seus álbuns,
principalmente quando se trata de conflitos nuclear, pois o mundo naquela época
vivenciava as aflições da Guerra Fria.

O que queremos evidenciar é que entre as bandas do trash metal, algumas tratam
necessariamente da temática da Segunda Guerra Mundial. É o caso da banda
estadunidense Slayer, na música Angel of Death, que narra a perversidade do médico
nazista Josef Mangele e seus experimentos em Auschwitz. Também, pode-se destacar a
banda Nuclear Assault, cuja capa do primeiro disco, chamado Game Over (Figura 13),
representa a explosão da bomba atômica em Hiroshima.

Figura 12. Capa do single Aces High


Fonte: Google.com

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Evidencia-se que essa relação do heavy metal com os temas bélicos,
especialmente a Segunda Guerra Mundial, sempre foi muito próxima. Muitas bandas
utilizam deste tema para a composição de suas músicas. A fim de caracterizar melhor essa
relação, segue abaixo a Tabela 1, que apresenta em ordem alfabética e cronológica uma
lista de álbuns lançados desde 1978 até o ano de 2020, com o tema, ano e país de origem
das bandas.

Música Álbum Banda Ano Tema País


Bomber Bomber Motorhead 1978 Bombardeios em Inglaterra
Londres pelos
nazistas

Aces High Powerslave Iron Maiden 1984 Bombardeios em Inglaterra


Londres pelos
nazistas

Angel of Reign In Slayer 1986 Experiências de Josef EUA


Death Blood Mengele em judeus
aprisionados em
Auschwitz

Sacred Sacred Sacred Reich 1987 A queda do Terceiro EUA


Reich Reich Reich

Todas as Campo de Holocausto 1987 Holocausto Brasil


musicas extermínio
Hiroshima Insult to Whiplash 1989 Bombas atômicas em EUA
Injury Hiroshima e
Nagasaki

Take No Rust In Megadeth 1990 Desembarque na EUA


Prisoners Piece Normandia – Dia D

Stalinorgel Better Off Sodom 1990 Batalha de Alemanha


Dead Stalingrado

Todas as Panzer Marduk 1999 Segunda Guerra Suécia


musicas Division Mundial

Cristal Masterplan Masterplan 2003 Noite dos cristais Alemanha


Night

City Of Promise Blaze Bayley 2010 Cerco a Leningrado Inglaterra


Bones And Terror

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Stalingrad Stalingrad Accept 2012 Batalha de Alemanha
Stalingrado.

Storming Long Live 3 Inches Of 2012 Desembarque na Canadá


Juno Heavy Blood Normandia – Dia D
Metal

Todas as Heroes Sabaton 2014 Segunda Guerra Suécia


músicas Mundial

Hail Of Wolves Of Wolfheart 2020 Conflito entre Finlândia


Steel Karelia Finlandia e União
Soviética.

Tabela 1. Lista de bandas que abordam a temática da Segunda Guerra Mundial.


Fonte: Elaborado pelo autor (2021).

A lista começa com o Motorhead e Iron Maiden, com as músicas Bomber e Aces
High que, como já apontado, são músicas que abordam a batalha aérea entre a RAF na
invasão da Inglaterra pela Luftwaffe nazista. No caso do Iron Maiden, destaca-se que a
banda utiliza do discurso do primeiro ministro, Winston Churchill, na introdução da
música. “Um discurso que ficou para a história por vários motivos, dentre eles o fato de
ser uma ação (de consistir numa ação clara), mas também por ser curto, claro e definitivo.
Ele só diz que resistirão” (CONTRERA, 2017).
Outro fato importante é a adaptação teatral e pirotécnica para a apresentação ao
vivo da canção, onde a banda traz uma réplica de um dos aviões usados na batalha aérea,
os Me-109, como vemos na figura 13.

Figura 13. Performance ao vivo do Iron Maiden interpretando Aces high


Fonte: Google.com

25
Outra música que compõe a lista é também a já citada, Angel of death, da banda
Slayer. O guitarrista da banda, Jeff Hanneman, a compôs depois de ler uma autobriografia
de Josef Mengele, médico do partido nazista, que ficou conhecido como “o Anjo da
Morte” (SOARES, 2018). A música conta a história do médico que praticou eugenia com
prisioneiros nos campos de concentração nazistas em Auschwitz. Desde o seu lançamento
até hoje, esta música tem causado polêmica, devido a diversas interpretações que as
pessoas tem feito dela. Alguns comentadores já apontaram que a música poderia ser
interpretada como uma apologia ao nazismo. Não obstante, segundo o próprio guitarrista
afirmou em uma entrevista:
Eu me lembro de parar em algum lugar e comprar dois livros sobre
Mengele. Eu pensei ‘Isso é uma coisa doentia’, então chegou na hora
de gravar para o álbum e aquilo ainda estava em minha cabeça, foi daí
que veio a música Angel of Death. (apud SOARES,2018).

As próximas bandas a aparecerem na lista são os americanos do Sacred Reich e


os Brasileiros do Holocausto. Ambos abordam temáticas relacionadas ao nazismo. A
primeira, em sua canção Sacred Reich que dá nome a banda, conta a história da Blitzkrieg,
que aparece como objeto norteador de uma letra que aborda a ascensão, a revolta interna
e a queda do Terceiro Reich. Por sua vez, os brasileiros do Holocausto, apresentam uma
abordagem mais profundada do tema, especialmente, no álbum intitulado, Campo de
extermínio, de 1985. Assim como o Slayer, a banda também foi mal interpretada. Em uma
entrevista, o guitarrista Valério “Exterminator”, afirmou que:
Naquela época, recebíamos muitas, muitas cartas todas as semanas.
Entre essas cartas havia uma escrita no remetente: “Frente Nazi-
fascista”. Abrimos e então tomamos consciência do que se tratava. Eles
elogiavam nossa postura (obviamente devido às suásticas nazistas e
etc.) e nos convidavam para entrar na FNF. Então respondemos que não
estávamos fazendo apologia ao nazismo, mas sim, usando os fatos
acontecidos na humanidade como temática, e com o propósito de
mostrar à humanidade como cada um tem responsabilidade por tudo
que acontece, seja no Oriente ou no Ocidente. (apud DINIZ, 2011).

Em seguida, aparecem três bandas de trash metal, a primeira é o Whiplash com


a música Hiroshima, do álbum Insult to Injury, de 1989. A letra dessa canção retrata a
história dos ataques nucleares no Japão, desde os ataques de Pearl Harbor até a bomba
atômica jogada na cidade. Depois, a banda Megadeth, com a música Take No Prisoners
do álbum Rust in Piece, de 1990, a qual retrata o desembarque da Normandia e o horror
do conflito armado, a morte e o medo.

26
A terceira banda, também da Alemanha, é o Sodom que na canção intitulada
Stalinorgel, do álbum Better Off Dead, de 1990, retrata a luta do Exército Vermelho em
Stalingrado e a vitória dos soviéticos contra as tropas nazistas em 1943, momento
decisivo da Guerra, pois a partir de então, o exército nazista começou a perder território
e, consequentemente, a guerra.
Na sequência, uma banda de black metal. Trata-se do Marduk, que no Panzer
Division Marduk (Figura 14), aborda diretamente a temática da Segunda Guerra Mundial.
Como podemos observar, a capa do álbum faz referência direta aos tanques de guerra
alemães. “A visão de um tanque de guerra desse porte voltado frontalmente aos olhos, é
algo que aterrorizaria qualquer inimigo no auge da Segunda Guerra Mundial. A banda
Marduk autodenomina-se uma “Divisão Panzer” através do título do álbum” (ROADIE
METAL, 2018).

Figura 14. Capa do algum Panzer Division Marduk, da banda Marduk


Fonte: Google.com

Outra banda alemã, chamada Masterplan, no álbum que leva o mesmo nome da
banda, lançado em 2000, apresenta uma música chamada Cristal Night, a qual faz alusão
ao episódio histórico conhecido como “Noite de cristais”, o famoso massacre a judeus de
1938. A música faz muitas referências a esse episódio da Segunda Guerra em sua letra.
Destaca-se a citação ao Ministro nazista Joseph Goebbels e suas propagandas de ataques
aos judeus. Abaixo um pedaço da letra:

Walking so blinded Andando cegamente


Surrounded by brown coated lies Cercados pelo paletó marrom das mentiras
Hear propaganda which says Ouvem a propaganda que diz
Bleed for the master race Sangre pela raça superior

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O próximo artista da Tabela 1 é o ex-vocalista da banda Iron Maiden, Blaze
Bayley, com a música City Of Bones. A canção aborda o cerco a Leningrado (1941-44)
pelas tropas nazistas. O conflito durou cerca de 900 dias, mas os soviéticos resistiram e
defenderam a cidade, apesar do grande número de baixas. Em seguida, a tabela traz a
banda Accept que, em 2012, lançou um álbum conceito abordando a Segunda Guerra
Mundial, com destaque para a batalha de Stalingrado, que é o título do álbum em questão
e de uma canção do mesmo. Adiante, destaca-se a banda 3 Inches Of Blood que conta um
pouco da história do dia D. A banda presta uma homenagem aos compatriotas que em 6
de junho de 1944 tomaram a praia da Normandia.
A lista continua com uma das bandas que mais tratam da temática da guerra, uma
vez que todos seus álbuns são conceituais e abordam este tema histórico. Trata-se dos
suecos do Sabaton, banda formada em 2000. Já em seu primeiro álbum, Primo Victoria,
apresentam influência de guerras em suas letras. Cabe destacar o algum Heroes, lançado
em 2014, que retrata os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial: “Com "Heroes", o
Sabaton quis lembrar heróis de guerra, definidos pela banda como pessoas que arriscaram
a sua vida para o bem de outras pessoas” (COELHO, 2014).
Os destaques do álbum são as músicas Smoking Snakes e Inmate 4859. A
primeira canção conta a história dos soldados Brasileiros da FEB (força Expedicionária
Brasileira), em especial três soldados. “A história dos Três Heróis Brasileiros ocorreu
especificamente durante a batalha de Montese, onde em um momento, os três soldados da
FEB foram surpreendidos por um batalhão Nazista com mais de cem homens” (SOARES,
2021). A canção chama a atenção também pelo seu refrão, uma vez que as palavras são
cantadas em português “Cobras fumantes, eterna é sua vitória”. Como se vê, trata-se de
uma homenagem aos soldados Brasileiros. Sobre a relação entre a FEB e o título de
Cobras fumantes, Soares (2021) esclarece:
Bom, isso se deve ao fato de que quando Getúlio Vargas, presidente do
Brasil na época, declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e
Japão), grande parte da população não levou muito a sério a
participação brasileira na guerra pelo fato do país estar muito longe de
ser uma potência bélica, tendo muitos falado que era mais fácil uma
“cobra fumar” do que o Brasil lutar na guerra.
Por conta disso, de forma não oficial, o principal símbolo da FEB
acabou sendo uma cobra fumando um cachimbo, tendo os soldados
recebidos o apelido de “cobras fumantes” (inclusive, aqui está a origem
do termo “a cobra vai fumar”.

28
Figura 15. Cobra fumando - FEB
Fonte: Google.com

Acima, a figura 15, faz alusão a expressão cobras fumantes.


A outra música do álbum do Sabaton é a Inmate 4859 que retrata a história de
um prisioneiro no campo de concentração. Trata-se do soldado Witold Pilecki que foi um
combatente da resistência polonesa e se ofereceu para ser espião no campo de
concentração de Auschwhitz e executar um ataque lá dentro.
Por fim, a última banda que fecha a tabela, é o Wolfheart, banda da Finlândia,
com o álbum Wolves Of Karelia, de 2020, com a música Hail Of Steel. Esta canção relata
a Guerra de Inverno entre Finlândia e União Soviética. Em suma, são muitas as bandas
que fazem referência a Segunda Guerra Mundial, com as mais variadas abordagens do
tema.

29
CAPÍTULO 2
Stalingrado: guerra, memória e música

2.1 Procedimentos metodológicos


Segundo Napolitano (2005, p.22) os historiadores de ofício chegaram atrasados
no campo de pesquisa da música popular, uma vez que outras áreas já vinham
apresentando pesquisas nessa área, como as ciências sociais e as letras. Ainda de acordo
com Napolitano (2000, p. 254): “Aqui não estamos considerando a vasta produção das
histórias da música erudita ou popular, muitas vezes escritas por jornalistas dilatantes ou
eruditos”. Os primeiros trabalhos no campo historiográfico datam da década de 1970 e
são de autoria de José Tinhorão, historiador e crítico musical.
Não obstante, estas primeiras investidas pautavam as pesquisas da música
popular em suas fontes escritas, essencialmente nas letras das canções. Por conseguinte,
argumenta napolitano (2005, p. 254), as investigações de outros elementos que
compunham a música eram deixadas de lado. Não se dava atenção aos demais elementos
técnicos e estéticos que abarcavam a produção musical. De acordo com Moraes (2000, p.
206):
A produção historiográfica da música popular urbana moderna
acompanhou, em um movimento de mimetização, a tendência
predominante das biografias e a descritiva de gêneros existentes nas
interpretações da “boa música”. No entanto, os problemas e distorções
existentes nessa área foram aprofundados pelo fato de os pesquisadores
realizarem suas obras sem clareza metodológica, de modo amadorístico
e precário, e muitas vezes sem apoios institucionais e financeiro.

Com o avanço de uma metodologia específica, o campo de investigação da


música popular passou a incorporar o material musical, como a partitura, o Lp, o
fonograma e os vídeo clipes. Napolitano (2005, p. 256) aponta que “a partir da década de
1980 os vídeos clipes e as apresentações de cantores em programas de televisões passou
a determina a característica da produção musical”. A música popular que antes era
produzida para ser ouvida e dançada, passou a ser produzida, cada vez mais, para ser
vista, ou seja, uma experiência não apenas sonora, mas também visual, que apela para os
estímulos estéticos. É possível dizer que a música passou a ser mais estética, e cada vez
mais subordinada à imagem.
Em vista disso, Napolitano (2005, p. 257) ressalta que é possível perceber um
rico painel manancial de fontes fílmicas e fonográficas que ainda não foram usadas pelos

30
historiadores na análise da música popular. Ele ainda expõe que, a partir dos anos 1990,
os trabalhos historiográficos iriam incorporar cada vez mais as fontes áudio visuais e
sonoras para o estudo da música popular.
A grande questão que tem se colocado aos historiadores diz respeito aos
procedimentos metodológicos para se trabalhar com a música enquanto fonte histórica.
De acordo com Napolitano (2005), apesar dos avanços, a música ainda é uma fonte pouco
estudada e não há um campo de pesquisa consolidado. Por conseguinte, sua metodológica
segue em construção e se apresenta como um grande desafio, especialmente por seu
estatuto paradoxal.
Ainda segundo Napolitano (2005), por um lado, as fontes audiovisuais (cinema,
televisão, etc.), podem ser consideradas testemunhos objetivos da história, como vestígios
diretos de eventos, fatos e personagens históricos. Por outro lado, estas fontes, com
características artísticas podem ser abordadas como testemunhos de subjetividade
absoluta, como impressões estéticas de eventos exteriores.
A percepção objetivista, devido as técnicas de imagens e sons, causam um
“efeito de realidade” aos expectadores e ouvintes. É o caso, especialmente, das fotografias
e do cinema – filmes comerciais, históricos ou documentários. Por sua vez, a percepção
subjetiva é mais perceptível com o documento musical.2 Para Napolitano (2005, p. 236)
a análise dos significados da música sugere uma “dose de especulação por parte do
historiador, na medida em que a obra teria um conjunto de significados quase insondáveis
e relativos, variável de acordo com a fruição do ouvinte”. Esse aspecto relativista é
perceptível na interpretação da “letra”, conteúdo verbal da canção.
Não obstante, para Napolitano (2005, p. 236) a abordagem que compreende a
música como testemunho puramente objetivo ou subjetivo se equivocam. Ele observa que
a questão central é “perceber as fontes audiovisuais e musicais em suas estruturas internas
de linguagem e seus mecanismos de representação da realidade, a partir de seus códigos
internos”. Ao abordar fontes de natureza não-escritas, o historiador precisa relacionar a
linguagem técnico-estética destas fontes, ou seja, destacar seus códigos internos de
funcionamento, com a representação da realidade histórica e social que é perceptível em
seu conteúdo narrativo (NAPOLITANO, 2005).

2
“Aqueles que se arriscam em trabalhar com a canção popular como fonte documental, também apontam
sua suposta condição excessivamente subjetiva como dificuldade adicional. Inicialmente porque a música,
além de seu estado de imaterialidade, atinge os sentidos do receptor, estando, portanto, fundamentalmente
no universo da sensibilidade” (MORAES, 2000, p. 211).

31
Ao investigar fontes não-escritas audiovisuais o historiador acaba adentrando em
um campo novo, no qual precisará dialogar com outras disciplinas para conseguir realizar
a análise técnica da fonte em questão. No caso do documento musical, o historiador
precisará dialogar com a musicologia para compreender os seus códigos internos. Ao
investigar uma música, o historiador precisa ter a consciência de que sua análise deve
englobar o conteúdo verbal (a letra) e a sua linguagem técnico-estética, quer dizer, trata-
se de analisar o ritmo, a harmonia, a melodia, a entonação vocal, as pausas e os arranjos
como um todo. Todos estes aspectos técnicos-estéticos são os códigos internos que
compõe a música e que também transmite mensagens e se comunicam com o ouvinte.
Segundo Napolitano (2005, p. 238):
Mesmo que o historiador mantenha sua identidade disciplinar e não
queira se converter em comunicólogo, musicólogo ou crítico de cinema,
ele não pode desconsiderar a especificidade técnica de linguagem, os
suportes tecnológicos e os gêneros narrativos que se insinuam nos
documentos audiovisuais, sob pena de enviesar a análise.

Trata-se, portanto, de uma dupla decodificação. Em primeiro lugar, o historiador


precisa compreender a linguagem técnico-estética, destacando a construção musical. Em
segundo lugar, coloca-se a decodificação de natureza representacional que evidencia o
contexto histórico apresentado na letra; os eventos, personagens e processos históricos
representados. Ainda segundo Napolitano (2005, p. 238):
Na prática, essas duas decodificações não são feitas em momentos
distintos, mas à medida que analisamos a escritura específica do
material audiovisual ou musical, suas formas de representação da
realidade vão tornando-se nítidas, desvelando os “fatos” social e
histórico nela encenados direta ou indiretamente.

Esta dupla decodificação revela que a música não pode ser analisada de forma
isolada. Não se trata de uma simples investigação do objeto. Faz-se necessário, ao
historiador, trazer à tona o contexto social no qual ela foi produzida. A música, enquanto
fonte e objeto, não pode ser abordada fora da conjuntura social. Trata-se de um equívoco
analisar a obra de forma fragmentada; a letra não pode ser abordada separada da música,
tampouco a música e o autor separada da sociedade.
A investigação da música vai muito além da análise do conteúdo expresso em
sua letra. De acordo com Middleton (Apud RODRIGUES, 2016, p. 32): “A maioria dos
estudos sobre letras tomaram a forma de análise de conteúdo – que tende a simplificar
excessivamente a relação entre o conteúdo lírico e a ‘realidade’, e ignorar a especificidade
estrutural dos sistemas de significação verbais e musicais”. Evidencia-se que não importa

32
apenas o que é cantado, mas como é cantado. A forma como a letra é interpretada, bem
como os elementos estéticos da música compõem o sentido do texto e influencia o seu
significado.
A música popular não pode apenas ter suas análises feita a partir de suas letras.
Pois ela tende a ultrapassar os limites restritos à linguagem poética que se encontra na
letra da canção. Segundo Moraes (2000, p. 215)
Com relação à linguagem musical interna é necessário levar em conta
variantes básicas relacionadas com a linha melódica e o ritmo. A(s)
melodia(s) principal(is), os motivos musicais, o andamento, os ritmos e
a harmonização são elementos da linguagem musical que podem ser
analisados isoladamente e nas relações entre si, pois têm um discurso e
características próprias que normalmente apontam indícios importantes
e determinantes para sua compreensão (MORAES, 2000, p. 215).

Sobre essa questão, Rodrigues (2016, p. 33) argumenta:


Nuances vocais, rítmicos e/ou melódicos têm o poder de dar a
determinadas palavras uma acentuação em seu apelo como discurso –
ou m esmo contradizer sua letra, na forma, por exemplo. de ironia – que
fazem com que a música não possa ser negligenciada, como um objeto
a ser deixado em segundo plano em detrimento dos aspectos discursivos
líricos.

Evidencia-se que além do discurso expresso na letra, existe o discurso musical.


A construção estética da música suscita sensações e significados distintos. Nessa
perspectiva teórica, entende-se a canção como a junção entre letra, melodia, harmonia,
tonando a fonte um objeto mais completo e rico em significações. A inserção de um órgão
remete imediatamente ao ouvindo o ambiente de uma Igreja, o som de uma viola caipira
lembra o ambiente do sertão e a zona rural. Da mesma forma um vocal em notas altas
aponta para determinados sentimentos e sensações específicas. Nota-se que o discurso
musical, sua construção estética, é decodificado pelo ouvinte. A linguagem musical é
portadora sentidos, o que remete a determinados ambientes e emoções:
O sentido das letras depende, em parte, do contexto sonoro, a junção
entre letra e som, o quanto um complementa o outro; forma-se, então,
um discurso não atrelado apenas à narrativa textual inteligível da letra,
mas também aos elementos sonoros que, carregados de sentido
compreensível através da ‘bagagem’ prévia do ouvinte – ou seja, sua
assimilação de códigos audiovisuais e elementos culturais e as
conexões que eles faz entre esses elementos e suas significações -,
compõem a mensagem que a obra apresenta. (RODRIGUES, 2016, p.
33).

O historiador interessado em trabalhar com fontes musicais não pode ignorar


toda essa linguagem musical. A forma como a música é construída, seu ritmo e melodias,

33
bem como a maneira como cada palavra da letra é cantada são fundamentais para se
compreender o seu contexto e significado. O historiador deve ter cautela na abordagem
dos códigos internos musicais uma vez eles não serão tão acessíveis ao leigo quanto
parece, e exigirá um certo tipo de formação técnica.
Se a letra não pode ser compreendida em separado da linguagem musical
utilizada, da mesma forma a música não pode ser investigada fora do seu contexto
sociocultural. A obra não pode ser separada da conjuntura histórica em que foi produzida.
Como afirma Middleton (Apud RODRIGUES, 2016, p. 33-34), o significado das músicas
“estão sempre fundamentados socialmente e historicamente, e eles operam num campo
ideológico de interesses, instituições e memórias conflitantes”. A música é socialmente
determinada. Ela está localizada em determinado contexto histórico, está atrelada e se
insere em um meio específico com seus condicionamentos sociais. Uma análise
satisfatória da música não pode menosprezar o contexto histórico-cultural no qual ela está
inserida. “Música, como qualquer produto da indústria cultural, é fruto de seu tempo”.
(RODRIGUES, 2016, p. 34).
Essa contextualização também pressupõe a não separação entre o autor
(compositor) e a sociedade: “Imerso na cultura da mídia de seu recorte temporal e
geográfico, o autor de uma música será influenciado pelo ambiente ideológico no qual
está inserido” (RODRIGUES, 2016, p. 34). Para o historiador é importante que ele
identifique o autor da música e o seu contexto histórico. Ele precisa investigar o ambiente
social do autor a fim de compreender aspectos da sua subjetividade, seus interesses
políticos, ideológicos e sua inserção sociocultural.
Ao compreender o contexto histórico social do compositor é possível identificar
os discursos ideológicos conflitantes e as bases hegemônicas daquele período e, por
conseguinte, identificar se a composição apresenta um discurso que corrobora ou se
opõem à organização social estabelecida. De acordo com Kellner (2001, p. 11-12): “a
cultura veiculada pela mídia induz os indivíduos a conformar-se à organização vigente da
sociedade, mas também lhes oferece recursos que podem fortalecê-los na oposição a essa
mesma sociedade”. Cabe ao historiador buscar desvelar os interesses políticos-
ideológicos expressos na composição musical. O autor e sua música estão inseridos em
um contexto histórico determinado, com seus conflitos político, culturais, sociais e
econômicos e, por conseguinte, a música reflete estes dilemas e embates.
Kellner (2001, p. 27) acrescenta:

34
Enquanto a cultura da mídia em grande parte promove os interesses das
classes que possuem e controlam os grandes conglomerados dos meios
de comunicação, seus produtos também participam dos conflitos sociais
entre grupos concorrentes e veiculam posições conflitantes,
promovendo às vezes forças de resistência e progresso.

Não é difícil perceber que a maior parte das músicas com grande apelo popular
apresentam um discurso de conformidade social, reproduzindo o discurso hegemônico
estabelecido. Não obstante, também existe um espaço na mídia cultural que é preenchido
por um posicionamento contra hegemônico. Logo, não é prudente que o historiador
caracterize e identifique toda canção popular como produto do discurso dominante e
conservador. Sobre essa questão, Kellner (2001, p. 27) argumenta:
Consequentemente, a cultura veiculada pela mídia não pode ser
simplesmente rejeitada como um instrumental banal da ideologia
dominante, mas deve ser interpretada e contextualizada de modos
diferentes dentro da matriz dos discursos e das forças sociais
concorrentes que a constituem. (2001, p. 27)

Cabe ao historiador investigar a letra e os códigos internos da música a fim de


identificar em sua construção o seu discurso político-ideológicos. Tal tarefa não é simples
e não cabe aos historiadores simplesmente apontar se as músicas e os artista são
“progressistas” ou “conservadores”, de “esquerda” ou de “direita”. A tarefa do historiador
de análise do discurso musical é buscar compreender o contexto social em que ela foi
elaborada, caracterizando as ambiguidades, contradições e interesses políticos explícitos
e implícitos, intencionais ou não.
Em síntese, Rodrigues (2016, p. 37) afirma que:
Portanto, todos estes elementos, (letra, música, contexto, obra, autor,
sociedade, estética e ideologia) estão intrinsecamente relacionados no
que concerne à análise do discurso musical. Ainda que em determinados
momentos alguns destes elementos sejam de difícil análise ou sejam
considerados menos importantes para o panorama geral da avaliação do
conteúdo da obra, a compreensão da complexidade da análise musical
é fundamental para os estudos deste produto da cultura da mídia.
(RODRIGUES, 2016, p. 37).

A análise do discurso musical é uma problemática relativamente nova para os


historiadores, mas desde a década de 1990 vem se ampliando os estudos nesse campo.
Dessa forma, tem ocorrido importantes avanços nas discussões e formulações
metodológicas para se trabalhar com a música como fonte e objeto da história. Nesse
primeiro capítulo, buscou-se apresentar os pontos mais relevantes desse debate
metodológico em torno da análise historiográfica da música.

35
2.1 A Batalha de Stalingrado

A Segunda Guerra Mundial durou de 1939 a 1945, e foi um dos conflitos mais
sangrentos da história da humanidade. Tendo em vista vários episódios históricos
marcantes desde a ascensão e queda do Terceiro Reich e do fascismo, como o bombardeio
de Londres pela Luftwaffe (Força aérea alemã), a Bomba de Hiroshima jogada pelos
Estado Unidos, ou ainda o desembarque americano na Normandia e o dia “D”. Mas talvez
um dos episódios a ser considerado um dos mais importantes, se não o mais importante
para os rumos que a guerra foi a Batalha de Stalingrado. “Entre 17 de julho de 1942 e 2
de fevereiro de 1943, foi o ponto de virada na frente Leste da guerra, marcando o limite
da expansão alemã no território soviético; é considerada a maior e mais sangrenta batalha
de toda a história” (COGGIOLA, 2015, p. 115). A batalha que praticamente decidiu
futuro da Segunda Guerra Mundial aconteceu na cidade Russa as margens do rio Volga e
ficou marcada tanto pelas estratégias do exército vermelho, e pela bravura e heroísmo
tanto dos civis quanto dos soldados russos.
Para entender a batalha de Stalingrado é preciso voltar ao pacto Molotov-
Ribbentrop (pacto de não agressão entre a Alemanha e União Soviética) de 1939. Este
pacto dividiu a Polônia entre os nazistas e a União Soviética. “Uma vez assinados o pacto
de não agressão e os protocolos secretos, Stalin propôs um brinde a Hitler. Ele disse a
Ribbentrop que sabia “o quanto a nação alemã ama o seu Führer” (BEEVOR, 2015, p.
26). Não obstante, não tardou até que Hitler rompesse o pacto com a Operação Barbarossa
em 1941. A invasão nazista visava destruir a União Soviética:
Em 22 de junho de 1941, o Eixo, comandado pela Alemanha nazista,
atacou a URSS com três milhões de soldados alemães e mais de 600
mil soldados italianos, húngaros e finlandeses, numa frente de batalha
de 1.500 quilômetros. Hitler deixou claro para o alto comando militar
que a “Operação Barbarossa” devia ser travada como uma “guerra total
de aniquilamento do inimigo” (COGGIOLA, 2015, p. 110).

A operação tinha três alvos; a cidade de Leningrado, Moscou e Stalingrado maior


cidade industrial da União Soviética. Mas o avanço que parecia letal, rápido e fulminante,
começou a se tornar lento e penoso a “reviravolta começou em finais (inverno) de 1941,
quando os alemães, em Rostov e Sebastopol, enfrentaram pela primeira vez uma
encarniçada resistência, casa a casa, rua a rua, combate corpo a corpo”. (COGGIOLA,
2015, p.112). Em meados de 1942, Stalingrado se tornou uma obsessão para Hitler, uma
vez que a cidade era um polo industrial importante para os soviéticos. A cidade ficava às

36
margens do rio Volga, e era a porta de entrada do Cáucaso, região rica em minério e
petróleo.
Segundo Coggiola (2015, p. 114), a invasão a Stalingrado pelo exército alemão
culminou na virada das forças soviéticas. A resistência partiu das ordens de Stalin. Ele
proibiu as pessoas de abandonarem a cidade, pois acreditava que a fuga dos civis
desencorajaria as forças armadas soviéticas. Os civis também ajudaram cavando
trincheiras e fazendo fortificações defensivas em todo perímetro urbano. Ataques aéreos
transformaram a cidade em um verdadeiro caos, repleta de destruição e morte:
O forte bombardeio aéreo causou um grande incêndio, matando
milhares de civis e transformando Stalingrado numa paisagem repleta
de destroços e ruínas fumegantes. A impotente força aérea soviética foi
esmagada pela Luftwaffe, perdendo 201 aviões no período de uma
semana no fim de agosto. Apesar de reforços aéreos, as perdas
soviéticas continuaram grandes durante o mês de setembro, fazendo
com que a força aérea alemã tivesse o domínio completo dos céus sobre
Stalingrado e regiões próximas durante as primeiras semanas de
combate. (COGGIOLA, 2015, p. 115).

Depois dos ataques alemães da Luftwaffe, se iniciou o primeiro grande ataque


terrestre, em 13 de setembro de 1942. Friedrich Von Paulus, Marechal nazistas, tinha
recebido uma ordem direta de Hitler para que estipulasse um prazo para a tomada da
cidade. A conquista de Stalingrado mobilizou muitos recursos para a invasão e isto custou
caro, pois prejudicou a Alemanha em outros frontes de batalha. “Hitler atacou a URSS
com 4,4 milhões de homens, divididos em 153 divisões super-organizadas”
(COGGIOLA, 2015, p.111). Depois de derrotas iniciais, o Exército Vermelho se
reorganizou e uma armou uma verdadeira fortaleza de resistência que possibilitava o
contra-ataque. “Um pelotão de soldados soviéticos transformou um edifício de
apartamentos numa fortaleza impenetrável.” (COGGIOLA, 2015, p. 116).
Segundo Coggiola (2015, p. 116), a Alemanha passou a concentrar a maior parte
do seu front em Stalingrado. Logo, Hitler ordenou que se transferisse a artilharia para a
cidade, no entanto, não conseguiram enviar tropas através do rio Volga, o que permitiu
que os soviéticos instalassem ao longo do rio uma grande leva de artilharias e baterias de
defesas que cada a dia que passava bombardeava as tropas alemães:
Os defensores, na cidade, usavam as ruínas destes bombardeios como
posições de defesa. Os panzers alemães se tornavam inúteis no meio de
montes de destroços que chegavam a formar pilhas de oito metros de
altura e eram varridos de altura e eram varridos pela artilharia
antitanque inimiga. Franco-atiradores soviéticos usaram as ruínas para
infligir pesadas baixas às tropas alemãs. O comando militar soviético
transferiu as forças do Exército Vermelho da área de Moscou para o

37
baixo Volga, e sua aviação de todo o resto do país para a cidade.
(COGGIOLA, 2015, p. 117).

A derrota do exército nazista parecia ser questão de tempo. Em dezembro de


1942, o Exército Vermelho lançou sua segunda ofensiva, que empurrou as forças do eixo
pelo rio Don. Além disso, as tropas alemãs estavam isoladas, sem suprimentos, alimentos
e combustíveis. Os soviéticos tinham o conhecimento do território a seu favor e contavam
com o frio intenso. As forças alemãs, cercadas em Stalingrado, estavam sem esperança
de reforços, mas maioria das tropas no front não sabiam disso. A guerra urbana tinha
começado na cidade e os soviéticos apostaram nessa estratégia, para empurrar os alemães
de volta para o Rio Volga.
A rendição nazista ocorreu em 2 de fevereiro de 1943. Segundo Coggiola (2015,
p. 118), um enviado soviético fez uma oferta de rendição ao exército nazista, que foi
levada pessoalmente ao general Friedrich Von Paulus. Caso se rendessem, os nazistas
receberiam garantia de vida para todos os prisioneiros de guerra, cuidados médicos,
suprimentos e comida. “Após a rendição, eles foram mandados para campos de trabalho
por toda a União Soviética; doentes, sem cuidados médicos e com fome, a grande maioria
deles morreu. Alguns oficiais mais graduados foram levados a Moscou e usados para
propaganda antinazista” (COGGIOLA, 2015, p. 120).
Desse modo, com a derrota dos alemães em Stalingrado, deu-se início a uma
ofensiva armada pelos aliados. Com a chegada da União Soviética em Berlin, os avanços
do desembarque dos aliados na Normandia e a derrubada do regime fascista de Mussolini,
a derrota de Hitler se tornou evidente.

2.3 A representação da batalha de Stalingrado na música da banda Accept

Ao se realizar a análise da representação presente na música Stalingrad da banda


de heavy metal Aceept, faz-se necessário apresentar um breve histórico da banda. Entre
o final da década de 1970 e no começo de 1980, a Alemanha começava despontar no
cenário mundial do heavy metal. Silva (2017) destaca que a banda percussora do estilo
foi o Lucifer´s Friend, considerados pioneiros do Heavy Metal na Alemanha”. O álbum
de estreia da banda foi lançado em 1970, dois anos antes do primeiro álbum do Scorpions
e nove anos antes da estreia do Accept. O Lucifer´s Friend, portanto, foram inspiração
para estas duas bandas que foram responsáveis por difundir ainda o estilo.

38
A banda Accept foi formada em 1976, na cidade de Sollingen, região da Renânia.
Seu álbum de estreia, homônimo, foi lançado em 1979 e já apresentava várias
características que marcariam a história da banda. Destaca-se o vocal agudo de Udo
Dirkschneider e os riffs pesados e bem marcados de Wolf Hoffman. Outra característica
marcante da banda eram suas letras que abordam sexo, drogas, violência e demais
problemas sociais.
A banda não alcançou sucesso nos três primeiros álbuns. Foi com o quarto
trabalho, intitulado Restless and Wild, lançado em 1982 que a banda se tornou conhecida
em todo cenário headbanger europeu. Este álbum é aclamado pelos fãs e pela crítica
especializada que o considera como um dos mais importantes da história do heavy metal.
A faixa de abertura, Fast As a Shark, tornou-se um grande sucesso do grupo.
No ano seguinte, em 1983, a banda lançou o seu quinto álbum, Balls To The
Wall, e alavancou ainda mais o status da banda. Músicas como a faixa título e Fight it
back se destacaram nas rádios e nos meios de comunicação levando a banda a festivais
no mundo todo. A exibição de vídeos da banda na MTV também contribuiu para o
reconhecimento.
Em 1985 foi lançado o álbum Metal heart que apresentava canções mais
acessíveis com o intuito de entrar no mercado americano. As músicas que se tornaram
single no álbum foram a faixa-título do disco e Midnight Mover. Em 1986, o álbum
Russian Roulette, marcou o rompimento do Accept. Por divergências artísticas, o
guitarrista Jorg Fischer e o vocalista Udo abandonam o grupo. Este último se lançou em
carreira solo”.
Em 1989, a banda retornou com Eat the Heat que trazia o vocalista David Reece
no lugar do Udo. A repercussão do novo vocalista não foi bem aceita pelos fãs e na década
de 1990 foi conturbada para a banda. Em 1996, Udo Dirkschneider retornou à banda e
eles lançam Predator, mas a banda não se estabilizou e encerrou suas atividades.
Em 2010, a banda retornou com um novo vocalista, Mark Tornilo e com Wolf
Hoffman nas guitarras. Este retorno foi ocorreu com o lançamento de Blood of nation,
álbum que foi muito bem aceito pelos fãs e críticos musicais e se tornou um grande
sucesso. Na sequência, dois anos depois, em 6 de abril de 2012, a banda lançou o álbum
Stalingrad. Este trabalho também obteve uma boa repercussão e rendeu uma turnê
mundial. Desde então, a banda lançou mais três álbuns de estúdio, são eles: Blind Rage
(2014), The Rise of Chaos (2017) e To meen to Die (2020). A banda segue em atividade
e, com a diminuição da pandemia está retornando aos palcos.

39
Mas, para o presente trabalho de conclusão de curso, o objeto de nosso interesse
é o álbum a faixa Stalingrad, presente no álbum de mesmo nome. Este álbum do Accept
é conceitual, ou seja, todas as músicas as onze faixas abordam temas relacionados com a
guerras, especialmente, com a Segunda Guerra Mundial. O fato da banda ser alemã é um
fator determinante para essa aproximação com a temática.
É importante ficar atento aos detalhes visuais da capa do single (Figura 16); o
fundo vermelho e a fonte da letra de Stalingrad fazem referência à sangrenta e decisiva
batalha entre os soviéticos e os nazistas

Figura 16. Capa do single, Stalingrad


Fonte: Google.com

Em uma entrevista, Wolf Hoffmann, guitarrista e líder da banda, comentou sobre


a inspiração para a composição do trabalho:
A história da Batalha de Stalingrado é uma história terrível que nos
inspirou a escrever a música. Sempre preferimos eventos reais e
questões sociais como material para uma música, então eu senti que isso
era uma coisa muito ‘Aceitável’ de se fazer. Não tentamos fazer de
‘Stalingrado’ algo 'diferente' de ‘Sangue das Nações’. ‘Blood of the
Nations’ foi provavelmente o nosso álbum de maior sucesso de todos
os tempos, e sem dúvida o retorno de maior sucesso de uma banda de
metal - de acordo com os fãs e a mídia.
Portanto, não queremos mudar nada, apenas escrever coisas novas e
interessantes - mas não necessariamente “diferentes”. (HISTÉRICAS
CABRACIONES, 2012).

Importante destacar que, de acordo com o guitarrista, a banda sempre optou por
escrever suas músicas inspirados em “eventos reais” e “questões sociais”. De fato, ao
conferir a discografia da banda é possível evidenciar diversas composições que fazem
referências e são representações de fatos históricos marcantes ou de questões políticas

40
relevantes. Apenas como exemplo, o álbum Blood of the nations, está repleto destas
referências. Trata-se de um trabalho que aborda conflitos internacionais na faixa-título,
guerras em Shades of death, e pandemias, na música Pandemic. É importante destacar
que a música não é uma narrativa científica do evento em questão, mas apenas uma
representação dos eventos que compõe a Batalha de Stalingrado.
Retomando a análise sobre a faixa Stalingrad, destaca-se que a análise da
música, como destaca Napolitano (2008), não deve considerar apenas a sua letra, mas
também os seus códigos internos; a harmonia e a melodia dos instrumentos são essenciais
na composição e não podem ficar em segundo plano.
A música se inicia com uma lick3 de guitarra próxima de um solo nos primeiros
13 segundos. Essa primeira frase de guitarra faz referência a melodia do hino da União
Soviética. Logo depois as guitarras mudam para um ritmo mais cavalgado, chamado de
palm mute4, junto da bateria e do baixo que seguem uma linha mais cadenciada e pesada.
O ritmo sombrio e agitado passa para o ouvinte uma sensação de tensão e ansiedade,
como se uma batalha estivesse prestes a começar. Logo, aponta o primeiro verso da
música:

Out along the Volga Ao longo do Volga


Minds set to kill Mentes prontas para matar
Men standing ground with iron willos Homens de pé no chão com desejo de ferro

A primeira estrofe da letra faz referência ao rio Volga e destaca a bravura dos
soldados soviéticos que queriam defender a cidade a todo custo. Sobre a resistência
soviético é importante destacar que houve uma intensa propaganda com o objetivo de
construir um sentimento de defesa da Pátria Mãe, a Guerra Patriótica. Sobre essa luta
psicológica e o papel do moral nas tropas, Coggiola (2015, p. 112) assinala que:
Stalin rapidamente recrutou os dois maiores nomes da literatura russa
do momento, Alexei Tolstói e Ilya Ehrenburg (judeu), providenciando-
lhes completa proteção, para escreverem artigos jornalísticos pintando
os alemães como cães ferozes, descrevendo as atrocidades cometidas
pelos alemães no front e nas regiões russas conquistadas (“Eu conclamo
ao ódio”, titulou Tolstói um de seus primeiros artigos). O mais famoso

3
O lick é como se fosse uma frase do texto. Um pequeno trecho do solo. Os licks são muito estudados na
guitarra porque eles dão ideias de como construir ou improvisar um solo.
4
A cavalgada é uma técnica que originalmente era uma técnica de contrabaixo. Ela é uma técnica rítmica,
onde o guitarrista faz uma espécie de “galope” com a palheta (imitando um cavalo mesmo). Para isso é
utilizada a técnica de palm mute.

41
romance de Ehrenburg, A Tempestade, conclui numa Praça Vermelha
cheia de pessoas ouvindo entusiastas o discurso supracitado de Stalin.

A musica segue ainda de modo cadenciado com a bateria e guitarra ainda dando
a sequência da técnica de palm mute com uma levada cavalgada. A estrofe seguinte faz
alusão a aproximação nazista e de como a resistência soviética se preparou para batalha
se esforçando ao máximo para conter o inimigo nazista:

Deathmatch approaching Batalha mortal se aproximando


Evil in stride Mal em marcha
Never giving quarter to the other side nunca dando trégua para o outro lado

Dando continuidade antes de partir para a próxima estrofe, aos 43 segundos a


música tem uma “ponte”5 para o próximo refrão. Trata-se de uma variação rítmica antes
de voltar para o verso com o guitarrista da banda usando da técnica de alavancadas6, a
fim de dar um clima de suspense na música.
Na terceira estrofe a letra traz referências aos soldados soviéticos mortos tanto
por estarem encurralados pelos nazistas quanto por não terem equipamentos, armas e
comida. Mesmo assim resistiram a todo custo:

Gunfire and bloodshed Tiros e derramamento de sangue


Shredding flesh and boné Rasgando carne e ossos
As young men die in the killing zone Os jovens morrem na zona da matança

Já no quarto verso, a música ainda segue a mesma fórmula de cavalgadas na


guitarra e com a bateria cadenciada. A letra, dessa vez, aborda o conflito urbano em
Stalingrado, onde as ruinas de prédios e fabricas cidade foram transformadas em
barricadas, o que favoreceu a luta do Exército Vermelho, já que impedia a passagem dos
panzer alemães, como a letra destaca:

Through streets and factories Através das ruas e fábricas


Fighting hand to hand Lutando corpo a corpo
Be prepared to die for the Mother land Esteja preparado para morrer pela Pátria

5
Essa é a parte da canção que muda – ela pode ter seu ritmo alterado, ou volume, ou instrumentação – não
existem regras para esta variação.
6
Trata-se de uma técnica que muda a afinação da nota tocada.

42
Sobre essa luta corpo a corpo na cidade em ruínas, Coggiola (2015, p. 112)
descreve que:
Os defensores, na cidade, usavam as ruínas destes bombardeios como
posições de defesa. Os panzers alemães se tornavam inúteis no meio de
montes de destroços que chegavam a formar pilhas de oito metros de
altura e eram varridos pela artilharia antitanque inimiga. Franco-
atiradores soviéticos usaram as ruínas para infligir pesadas baixas às
tropas alemãs.

Na sequência a música tem nova ponte do mesmo modo da primeira, mas agora
ela intercala um pré-refrão. Essa parte da letra traz outra referência a bravura aos soldados
soviéticos que em meio as dificuldades por falta de comida e armamento não desistiram
de lutar por Stalingrado.

So hungry, so cold Tão faminto, tão gelado


But there can be no surrender Mas não deve haver rendição
For creed and pride, take hold Por credo e orgulho, aguente
Blood is the cry, we'll do or die O sangue é o clamor, fazer ou morrer

Já o refrão segue a mesma ordem do pré-refrão, exaltando a resistência soviética,


mas voltando para a parte rítmica acelerada, dando mais ênfase e energia para a música:

For Stalingrad Por Stalingrado


We kill and die Nós mataremos e morremos
Stalingrad Stalingrado
Blood is the cry Sangue é o clamor
It's the battle of Stalingrad Essa é a batalha de Stalingrado

O sétimo e o oitavo estrofes abordam a “missão esquecida”. Aqui, a banda faz


referência a execução dos desertores da pátria soviética. Soldados ou civis que
abandonassem os seus postos eram executados por crime contra a pátria.

Two soldiers dying Dois soldados morrem


Battered and blind Atingidos e cegos
Enemies no more they've come to find Descobrem que não são mais inimigos

Mission forgotten Missão esquecida


Now brothers in death Agora irmãos na morte
They hold each other abreast Eles seguram uns aos outros

43
to the final breath até o suspiro final

Mais uma vez, a música tem uma ponte para o refrão seguindo a mesma ordem
instrumental, no entanto, a letra muda e surgem mais três versos que dão continuidade a
passagem anterior, abordando a “missão esquecida” para execução dos desertores:

We're only following orders Nós estamos apenas seguindo ordens


We gave our hearts and souls Nós entregamos nossos corações e almas
Brothers we fight, frozen in time Irmãos na luta, congelados no tempo

Depois da ponte e do refrão a musica volta no primeiro lick de guitarra seguindo


de coros de vozes acompanhando a melodia, passando um clima épico para o ouvinte.
Logo depois o guitarrista reproduz o hino da união soviética com um solo de guitarra.
Caminhando para o final da canção, a banda repete o refrão; os mesmos liks do início da
música seguida de coros. Com o conjunto de bateria e guitarra cadenciados, a musica se
encerra com 6 minutos e 7 segundos.
Essa análise da música Stalingrad foi utilizada na presente pesquisa, como uma
espécia de “análise de caso”, cumpriu o papel de exemplificar as representações da
Segunda Guerra Mundial presentes nas interpretações dos headbangers.

44
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa tem o objetivo de apresentar e discutir a relação entre o heavy


metal e temas históricos, em especial a Segunda Guerra Mundial. Nesse ínterim, buscou-
se destacar a importância das fontes audiovisuais para os historiadores. Trata-se de um
campo de pesquisa em desenvolvimento, que já apresentou muitos avanços nos últimos
anos, mas que ainda tem muito espaço e possibilidades para continuar se desenvolvendo.
Espera-se que este trabalho possa contribuir para aproximar não só estudantes de História
para a área da pesquisa, mas também os leigos a se interessarem por temas históricos.
No primeiro capítulo, buscou-se evidenciar as origens do rock n roll e o
desenvolvimento desse gênero musical. Destacou as características do heavy metal
enquanto subgênero do rock. Apresentando uma musicalidade mais pesada e um visual
mais agressivo, este estilo ganhou força na década de 1970 e se consolidou nos anos de
1980. Buscou-se evidenciar que as composições dos headbangers frequentemente
dialogavam com a história, fazendo referências a personagens e eventos históricos.
Assim, as canções se apresentavam como verdadeiras representações históricas. Dentre
os diversos temas abordados, a Segunda Guerra Mundial foi um dos mais destacados.
No segundo capítulo, inicialmente se dedicou algumas páginas para abordar os
procedimentos metodológicos para se trabalhar com a análise de fontes audiovisuais,
especialmente com a música. A partir da abordagem de Napolitano (2008) evidenciou-se
a complexidade metodológica de análise da música enquanto fonte histórica. Desde
analise da letra, passando pelo contexto social em que o artista se encontra, até os códigos
internos de uma música.
Ainda no segundo capítulo, realizou-se uma análise, uma espécie de estudo de
caso, da música Stalingrad, da banda Accept. Primeiramente, apresentou-se de forma
breve o evento histórico para na sequência realizar a análise da letra e da música em si. A
análise revelou que a banda buscou, de forma lírica, elucidar a bravura e a força dos
soldados soviéticos. Pode-se dizer que a letra é uma espécie de homenagem à resistência
soviética em Stalingrado.
Por fim, faz-se necessário apontar que as fontes audiovisuais são um leque
variado e amplo para a pesquisa histórica. Buscou-se evidenciar como que o heavy metal
está repleto de referências históricas e a análise dessas canções revelam relações sociais
importante, afinal, as canções são carregadas de significados, símbolos e buscam

45
construir memórias e afetividades, defender bandeiras políticas e evidenciar críticas
sociais. Não apenas a música, mas também o cinema são campos superinteressantes que
os historiadores devem continuar desbravando para avançar e ampliar suas pesquisas.
Almeja-se que este trabalho passa contribuir no sentido de incentivar novas
pesquisas no campo da música, especialmente do heavy metal.

46
Referências

BEEVOR, Antony. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Editora Record, 2015.

CAMARGO, Pedro Vieira Cunha. História do heavy metal. Revistas Resgates exercício
da escrita/ Colégio Stockler. São Paulo - SP. nº 7, dez. 2017. Ensaio acadêmico. p.151-
161.

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COGGIOLA, Osvaldo. A Segunda Guerra Mundial: causas estruturas e consequências.


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DINIZ, Écio Souza. Entrevista com Holocausto: “no front do metal e de Guerra!”.
Whiplash. 2011. Disponível em: Disponível em: https://whiplash.net/materias/
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HAMAM, Rogério. Quiet Riot: primeiro a ocupar o posto no 1 da Billboard. Whiplash,


2013. Disponível em: https://whiplash.net/materias/cds/174398-quietriot.html, acessado
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MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento
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