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O Pensamento musical de Eurico Thomaz

de Lima.
Notas sobre entrevistas do compositor à Imprensa portuguesa e
críticas de concertos.

UNIDADE CURRICULAR

Investigação em
Musicologia
DOCENTE:
DOUTORA ELISA LESSA

TRABALHO DE:
PEDRO DINIS DA ROCHA
MEIRELES

Licenciatura em Música – Ciências Musicais

Ano 2021/2022

1º Semestre

Índice
Nota Introdutória.......................................................................................................................3
1ª PARTE....................................................................................................................................5
1.1. PERFIL BIOGRÁFICO DE EURICO THOMAZ DE LIMA.................................................................6
2ª PARTE...................................................................................................................................12
2.1. ELENCO DE TEXTOS DA AUTORIA DE EURICO THOMAZ DE LIMA E ENTREVISTAS DO MESMO NA
IMPRENSA NACIONAL..................................................................................................................13
2.2. ELENCO DE CRÍTICAS AOS CONCERTOS E RECITAIS NA IMPRENSA NACIONAL E ESTRANGEIRA..............13 Página | 2
2.3. ALGUMAS TRANSCRIÇÕES DE TEXTOS DE VARIADAS FONTES........................................................15
2.3.1. Texto da autoria de Eurico Thomaz Lima................................................................15
2.3.2. Entrevista a Eurico Thomaz Lima.............................................................................17
2.3.3. Críticas na imprensa nacional e estrangeira...........................................................19
3ª PARTE..................................................................................................................................27
3.1. NOTAS SOBRE ENTREVISTAS DO COMPOSITOR À IMPRENSA PORTUGUESA E CRÍTICAS DE CONCERTOS - O
PENSAMENTO MUSICAL DE EURICO THOMAZ DE LIMA......................................................................28

4º PARTE...................................................................................................................................30
4.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................31
Bibliografia.................................................................................................................................33

Na capa: Retrato de Eurico Thomaz Lima, desenhado por Renato Torres, 1937 (Dias, 2016)

Nota Introdutória

O presente trabalho, iniciado no âmbito do estudo da Unidade Curricular (UC) de


Seminário de Estudos Musicológicos, lecionada no 2º semestre do 1º ano da
Licenciatura em Música, variante de Ciências Musicais e continuado na UC de
Investigação em Musicologia, lecionada no 1º semestre do 2º ano da mesma
licenciatura.
A professora Elisa Lessa propôs a realização de um trabalho de projeto, que
visava a obra de Eurico Thomaz de Lima (1908-1989), uma vez que o Departamento de
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Música – área de Ciências Musicais do Centro de Estudos Humanísticos da
Universidade do Minho (CEHUM) detêm um projeto pluridisciplinar em curso, que tem
precisamente por objeto de estudo o espólio1 deste pianista, compositor e pedagogo.
O trabalho de projeto foi, entretanto, dividido pelos alunos desta UC de tal modo
que cada um pudesse ficar responsável pela realização de uma parte incidindo apenas
sobre um dos temas propostos.
Ora o presente trabalho vai incidir a sua análise muito em particular no
pensamento musical de Eurico Thomaz de Lima, e nas notas sobre uma das entrevistas
do compositor à imprensa portuguesa e críticas de concertos.
Para que este trabalho fosse exequível a Doutora Elisa Lessa, responsável pelo
espólio do pianista, conservado no Edifício dos Congregados da Universidade do
Minho, facultou-nos o acesso presencial ao mesmo que permitiu a recolha e pesquisa de
preciosos e indispensáveis recursos e elementos bibliográficos.
O estudo incidirá, igualmente, numa revisão bibliográfica e documental que
privilegiou o recurso mais intenso aos meios digitais disponíveis
No que respeita a estas fontes digitais a informação existente sobre Eurico
Thomaz de Lima revelou-se escassa, sendo mais frequente o registo de alguns
apontamentos sobre a sua biografia. Quanto á produção de trabalhos de investigação
sobre este autor também se nos afigura que esta está ainda muito longe do que talvez,
fosse desejável, atenta a relevância deste pianista, compositor e pedagogo na cultura
musical portuguesa e em particular na cidade de Braga e Guimarães onde lecionou
durante largos anos.
Na primeira parte do trabalho apresenta-se o perfil biográfico do pianista.
Na segunda parte, por sua vez, faz-se elenco (e transcrição de uma) de várias
entrevistas dadas pelo compositor à imprensa nacional, em texto escrito pelo próprio e

1
Espólio doado à Universidade do Minho, em maio de 2000, por Eurico Adolfo Lapa Tomás de Lima, filho
de Eurico Thomaz de Lima. Fazem parte do mesmo: obras musicais impressas, manuscritos musicais,
partituras impressas de Eurico Thomaz de Lima e de outros compositores, livros, coleções de jornais e
revistas, álbuns de registo da sua vida artística, documentação diversa com programas de concertos,
fotografias, diplomas, correspondência, pequenos objetos de decoração, quadros, prémios em ouro e
prata, ofertas ao compositor, recordações, fitas gravadas e discos em vinil com obras suas e o seu piano
de estudo. (http://cehum.ilch.uminho.pt/eurico#espolio – acedido a 10 de junho de 2021).
publicado e bem assim, elencam-se e transcrevem-se várias críticas publicadas na
imprensa por ocasião de vários concertos do pianista.
Na terceira parte, tecem-se as notas sobre entrevistas do compositor à Imprensa
portuguesa e críticas de concertos, indo ao encontro do pensamento musical de Eurico
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Thomaz de Lima.
Na quarta e última parte tecem-se as considerações finais, julgadas pertinentes,
procurando-se captar e caraterizar as notas essenciais do pensamento musical de Eurico
Thomaz de Lima.
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1ª PARTE

1.1. PERFIL BIOGRÁFICO DE EURICO THOMAZ DE LIMA

Eurico Thomaz de Lima nasceu na ilha de S. Miguel, Açores, na cidade de Ponta


Delgada a 17 de dezembro de 1908. Filho de Maria Ernestina Santos Lima e de António
Thomaz de Lima (Lisboa 1887-1950) notável compositor, violinista e maestro e que se
distinguiu como professor do Conservatório Nacional de Música de Lisboa das classes
de Violino e Direção de Orquestra e, mais tarde, de Composição e Música de Câmara.
Em 1910, com apenas 18 meses de idade, deixa as ilhas e vem para a cidade de
Lisboa. Em 1921, com 13 anos, inicia os seus estudos no Conservatório Nacional de
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Música de Lisboa onde foi discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço 2 e Vianna da
Mota3 nas Classes de Piano, de Luís de Freitas Branco 4 em Estética e História da
Música e de Hermínio do Nascimento,5 em Composição, e de Fernando da Costa
Pereira, em Solfejo.
No dia 5 de maio de 1924 faz a sua primeira audição como aluno do
Conservatório Nacional interpretando o 1.º Andamento da Sonata em Mi menor de J.
Haydn e o Estudo em Ré menor de S. Heller.
Até terminar o seu curso, em 1929, Eurico Thomaz de Lima atua em vários
concertos, entre eles, no Teatro de S. Carlos (2 de dezembro de 1925) interpretando
Fantaisie-Impromptu de Chopin, na Sociedade Nacional de Música de Câmara de
Lisboa (1926 e 1929), e um recital de música erudita “Uma hora de Arte” (1927 e 1928)
dedicado aos operários de Lisboa e realizado no Asilo, Escola António Feliciano de
Castilho.
De 1928 datam as duas das primeiras grandes obras do compositor: Nocturno op.
1, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano.

2
Alexandre Jorge Maria Idalécio Raimundo Rey Colaço (Tanger, Marrocos, 30 de abril de 1854 - Lisboa,
11 de setembro de 1928) foi pianista, compositor e professor no Conservatório Nacional de Música de
Lisboa.
3
Vianna da Mota (São Tomé e Príncipe, 22 de abril de 1868 – Lisboa, 1 de junho de 1948) foi um
pianista, compositor, maestro, musicógrafo português, professor, escritor e conferencista. Entre 1918 e
1938, assume a direção do Conservatório Nacional de Música de Lisboa, formando em 1918, a
Sociedade de Concertos de Lisboa, da qual foi o primeiro diretor artístico. Esta sociedade permitiu ao
público entrar em contacto com as figuras cimeiras da música portuguesa.
4
Luís de Freitas Branco (Lisboa, 12 de outubro de 1890 - 27 de novembro de 1995) foi musicólogo,
compositor, pedagogo e professor português, tornando-se uma das figuras mais importantes da cultura
portuguesa do séc. XX. Em 1916, foi professor de Leitura de Partitura, Realização de Baixo Cifrado e
Acompanhamento no Conservatório Nacional de Lisboa e, em 1918, foi vogal da Comissão de Reforma
do Conservatório de Lisboa, propondo a criação de várias disciplinas. Após a reforma do mesmo,
tornou-se subdiretor até 1924 e, entre 1919 e 1930, foi o único professor de Ciências Musicais.
5
Hermínio José do Nascimento (Torres Vedras, 4 de janeiro de 1890 - Lisboa a 14 de outubro de 1972)
compositor, regente de coros, professor, crítico e musicólogo. Foi professor de composição no
Conservatório Nacional de Lisboa, a partir de 1919, tendo assumido o cargo de subdiretor entre 1924 e
1938. Autor prolífico no domínio do lied e da música de câmara (sonatas, quartetos, peças para piano),
uma boa parte do seu catálogo é preenchido com obras para coro e orquestra e para coro à cappella,
tendo também publicado diversos arranjos de melodias tradicionais e livros didáticos.
Em 1929, Eurico Thomaz de Lima termina o Curso Superior e de Virtuosidade
com Distinção e Louvor, obtendo a mais alta classificação até então concedida no
Conservatório Nacional e adquirindo o diploma de Professor particular de Piano.
O seu professor, Mestre Vianna da Motta, referindo-se ao jovem pianista,
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escreveu: “[...] Possui qualidades artísticas excepcionais, fina musicalidade que lhe
permite penetrar inteligentemente o sentido das obras que executa, perfeição técnica,
excelente sonoridade, maleabilidade de interpretação e a maior probidade artística
[...]”.6
No mesmo ano apresenta-se no 12º Concerto da Associação Académica do
Conservatório Nacional interpretando quatro obras da sua autoria: Valsa, Prelúdio e
Estudo de Concerto, para piano e Capricho, para piano e violino, marcando o início da
sua carreira como compositor. No dia 8 de dezembro dá-se a sua estreia com a orquestra
que interpretou a obra de L. V. Beethoven, Concerto em Dó Maior n.º 1 para piano e
orquestra, sob direção do Maestro Fernandes Fão.
Apresenta-se, em 1930, pela primeira vez em concerto com o seu pai, no Salão do
Conservatório Nacional e no ano seguinte (1931) realizam juntos novo concerto na
Academia Mozart no Porto onde assumiu, em 1932, o cargo de Diretor Artístico e
professor de piano, desempenhando as funções até 1934. No mesmo ano realiza
concertos nos Açores, Coimbra e Porto, marcando o início de uma próspera e intensa
carreira como pianista, realizando em todo o país inúmeros concertos, interpretando
obras de vários compositores e também interpretando frequentemente obras da sua
autoria, contribuindo para uma dinâmica divulgação da música portuguesa e dá a
conhecer mais duas das suas obras: Estudo em forma de Dança e Estudo de Execução
Transcendente em Mi bemol Maior, para piano.
Em 1931 é convidado pelo Professor Tomaz Borba, Diretor da Academia de
Amadores de Música de Lisboa, para a classe de piano, cargo que ocuparia até janeiro
do ano seguinte. Em 1932 realiza o primeiro recital só com composições da sua autoria,
consagrando-se como compositor. São deste ano as obras: Tema e Variações em Fá
Maior, Estudo n.º 1 (Staccato), Estudo em Sol bemol e Fantasia em Sol bemol para
piano; Prometeu Heróico para dois pianos.
Eurico Thomaz de Lima participa constantemente em Concertos, apresenta-se
regularmente em recitais na Rádio Difusão Portuguesa (ex-Emissora Nacional), no
6
Lisboa, Conservatório Nacional, 1929 apud DIAS, Victor, Eurico Thomaz de Lima (1908-1989), Pianista,
Compositor e Pedagogo adotado pela Maia in Revista da Maia – Nova Série, Ano I, Nº 2 julho/dezembro
2016, pp. 99-102.
Rádio Clube Português, na Rádio Renascença e na Radiotelevisão Portuguesa (RTP-
Estúdios do Porto).
Decorria o ano de 1934 e o compositor e pianista casa-se no Porto, com Ângela
Lapa nascendo-lhe um filho um ano mais tarde.
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É por esta altura que compõe as obras: Estudo n.º 2, 1.ª Sonata, Barcarola e
Minuete, para piano (1933); Canto de Amor para flauta e piano; Poema, para violino e
piano e Dança Portuguesa, para piano (1934).
Em 1934, quando deixa a Academia Mozart passa a viver apenas das aulas
particulares e dos seus recitais e concertos.
Decorria o ano de 1937 e abre a Academia Beethoven no Porto para a qual
Thomaz de Lima é convidado a lecionar, ficando responsável pela classe de Piano,
cargo que ocupa até 1939. É nestes anos que participa no sarau Noite da Figueira, na
Figueira da Foz, num recital no Primeiro Congresso Açoriano no Casino do Estoril,
num concerto no Clube Fenianos Portuenses, interpretando obras da sua autoria e
realiza dois recitais no Salão Orfeo um com obras de Chopin e outro com o
Violoncelista Celso Carvalho. São desta época as suas obras: Canção da Vida e da
Morte, para canto e piano (1936); Balada dos olhos tristes, para canto e piano (1937);
Sonatina n.º 1, para piano e Mors-Amor, para
canto e piano (1938); Marcha e Improviso sobre canções Populares Açoreanas, para
dois pianos (1939).
Nos anos de 1940/41, Eurico Thomaz de Lima, juntamente com outras figuras de
relevo da cultura musical portuguesa, nomeadamente Madalena Sá e Costa, Paulo
Manso e Leonor Vianna da Motta, apresentou-se em todo o país em Recitais de Música
de Câmara integrados nas Missões Culturais do Secretariado da Propaganda Nacional,
do qual era chefe. Dos programas faziam parte, frequentemente, obras inéditas
compostas por eles. Nestes anos compõe Dança Negra n.º 2 – Angola e Abelhas
Douradas, para piano e Canção, para canto e piano (1940); Fantasia à memória de
Chopin e Algarve, para piano e Canção7 e Senhora Quintaneira, para canto e piano
(1941).

7
Com esta obra (1940) – Canção, para canto e piano, é-lhe atribuída uma Menção Honrosa nos “Jogos
Florais da Primavera”, organizados pela Emissora Nacional de Radiodifusão, concorrendo à modalidade
de “Canção para canto e piano”. Concorrendo novamente no ano seguinte, obtém o Primeiro Prémio –
Papoila de Ouro – atribuído por um júri constituído pelos Maestros Pedro de Freitas Branco, Pedro
Blanch, Frederico de Freitas e o Professor Tomaz Borba, o que imprime novo folego à sua qualidade
como compositor.
Entre os anos de 1942 e 1945 Thomaz de Lima continua a participar em vários
concertos e compõe algumas das suas obras que continuam a evidenciar o seu
virtuosismo ao piano como instrumento de eleição e o seu cunho marcadamente
nacionalista: Ó Ribeira, ribeirinha e Vira, para canto e piano (1942); Dança Negra n.º 3
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– Angola, Divertimento e Estudo n.º 3, para piano, Dorme, dorme, meu menino e Verde
Gaio, para canto e piano (1943); Marcha n.º 1, para piano; Fantasia Depois de uma
leitura de Camilo, para piano e orquestra8 e uma versão da mesma para dois pianos 9;
Triste Cantiga de Amor para canto e piano (1944); Samba e Buchenwald10 para piano
(1945).
Em 1945 iniciou uma classe de piano, na cidade de Guimarães, onde durante 18
anos, dirigiu cursos de aperfeiçoamento e interpretação pianística.
Em 1949 este pianista virtuoso de craveira internacional realizou uma importante
tournée no Brasil, apresentando-se com êxito nas salas de concertos mais importantes
daquele país feito que repetiu em 1952 em nova viagem ao Brasil consolidando o seu
prestígio como compositor e intérprete, chegando a receber do Liceu Literário
Português e da Casa do Porto do Rio de Janeiro diplomas de Sócio Honorário. Grava,
ainda no Brasil, aquando da segunda digressão, na Rádio Ministério da Educação e
Saúde na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro as obras – Morna nº 1, Três
Danças Negras e Coral Alentejano da Suite Portuguesa nº 1 – transmitidas
posteriormente pela Rádio Renascença do Porto.
Durante os anos que dirigiu os cursos em Guimarães, Thomaz de Lima continuou
uma intensa atividade artística, quer como compositor quer como interprete em
inúmeros recitais e concertos, onde teve a oportunidade de estrear algumas das suas
obras: Recital no Salão Nobre do Grémio do Comércio de Guimarães (1948) apresenta
as obras Sonata nº 2 e Suite Portuguesa nº 1 (composta em 1947); no dia 1 de dezembro
de 1948 estreia a Sonata nº 3, composta no mesmo ano, no Clube Fenianos Portuenses;
no dia 1 de junho de 1949 estreia na cidade de Guimarães as Variações Vimaranenses
(composta em 1948);

8
A versão para piano e orquestra teve a sua estreia a 25 de maio de 1962, no Teatro Cine da Covilhã,
com a Orquestra Sinfónica do Sindicato dos Músicos sob direção do Maestro Raul de Lemos e com a
colaboração do Orfeão da Covilhã.
9
A versão para dois pianos teve a sua primeira audição em maio de 1957 num recital realizado no
Conservatório de Música do Porto com Eurico Thomaz de Lima e o pianista José Neves.
10
Buchenwald é uma obra inspirada no drama dos campos de concentração alemães. Thomaz de Lima
estreou esta obra num concerto no Porto, em dezembro de 1946, onde foi grande a recetividade desta
obra, tendo sido executada diversas vezes em concertos posteriores.
no 218º Serão Cultural e Recreativo da FNAT, executa, a 5 de agosto de 1950 a obra O
Ferreiro para orquestra, composta no mesmo ano (neste ano compõe ainda a 2.ª
Sonatina, e Marcha n.º 2, para piano; em 24 de maio de 1954 no clube Fenianos
Portuenses, apresenta seis obras da sua autoria em primeira audição: Sonata n.º 4,
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Estudo n.º 6, Tocata n.º 3, Pirilampos, Polichinelozinho e a Suite Portuguesa n.º 2; Em
maio de 1956 no Conservatório de Música do Porto, realiza um recital com a cantora
Lucinda da Rocha Barbosa Henriques onde, mais uma vez, estreia composições suas:
Prelúdio e Scherzino e Brasil11. Estes são alguns dos exemplos, mas muitos outros
concertos e recitais poderiam ser enumerados e mais obras do compositor poderiam ser
referenciadas.
Em 1965, Eurico Thomaz de Lima é nomeado Diretor Artístico dos Cursos de
Música e Belas-Artes, na cidade do Funchal, Ilha da Madeira, regressando ao Porto em
1967. Durante este tempo na ilha da Madeira compôs uma Suite em seis quadros a qual
chamou Ilha do paraíso em homenagem ao arquipélago da Madeira e inspirada na
paisagem e folclore da ilha.
Decorria o ano de 1967 e é convidado para lecionar na Academia Parnaso, no
Porto, onde exerce funções até 1975. A partir de 1972, Eurico Thomaz de Lima também
é professor na Escola de Música Calouste Gulbenkian, em Braga, lecionando as classes
de Piano, cargo que ocupa até à sua jubilação, em 1978. Aos setenta anos de idade é
então homenageado no referido Conservatório, realizando a 17 de dezembro um recital
com obras da sua autoria.
As obras que se seguem, algumas das quais compostas entre 1956 e 1972
continuam a impor Eurico Thomaz de Lima na literatura para Piano, que constitui o
maior número de obras do compositor: Regresso dos Ceifeiros, para piano (1956); O
Bailador de Fandango, para piano; Suite para Violoncelo e Piano (1957); Barcarola e
Dança Cigana, para dois pianos (1958); Rondino, Marcha Humorística e Toadilha, para
piano a 4 mãos (1961); Vira, para coro (1965); A minha primeira valsa, para piano a 4
mãos (1967); Dança Portuguesa n.º 1, para dois pianos (1968); Canção sem palavras,
Profecia, para piano e Dança Portuguesa n.º 2 para dois pianos (1970); Dança do Pica-
Pau, para dois pianos (1972).
Algumas das suas obras são editadas pela Casa Moreira de Sá e pela Editorial
Franciscana. A sua discografia em vinil, é ainda editada no Brasil, França, Inglaterra e
Estados Unidos.
11
Com versos do poeta brasileiro Carlos Valle, que foi o responsável pelas suas digressões no Brasil.
Depois de uma vida dedicada intensivamente à Música como pianista,
compositor e pedagogo, Eurico Thomaz de Lima falece na Maia, cidade onde residiu
nos seus últimos vinte anos, a 8 de junho de 1989 e os seus restos mortais encontram-se
sepultados na Freguesia de Vermoim da mesma cidade.
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Em 2008, por ocasião da comemoração do centenário de nascimento a Câmara
Municipal da Maia atribuiu a uma das mais amplas avenidas novas da cidade, o nome
de Avenida Eurico Thomaz de Lima. Foi, igualmente, promovido um recital e o
lançamento de um álbum com as suas obras para piano e para piano e canto, com
interpretações da soprano Sara Braga Simões e do pianista Luís Pipa, tendo sido o
primeiro disco editado em formato CD, ao qual se sucederam outras edições com o
intuito de divulgar a obra do artista considerado um compositor de relevo na História da
Música Portuguesa do século XX.
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2ª PARTE
2.1. ELENCO DE TEXTOS DA AUTORIA DE EURICO THOMAZ DE LIMA E
ENTREVISTAS DO MESMO NA IMPRENSA NACIONAL.

DATA JORNAL / REVISTA NOTAS


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15 julho de Revista Sol Nascente Texto da autoria de Eurico Thomaz de


1937 (Porto) Lima, com o título:
Nº 11, p. 15 Porque não se organiza no Pôrto a «Hora
de Arte» para os operários?
03 janeiro de Jornal Diário do Entrevista dada por Eurico Thomaz de
1947 Minho Lima a Vidal Caldas Nogueira.
(Braga)
p. 3
11 abril de Revista O Século – Entrevista dada por Eurico Thomaz de
1947 Rádio Mundial, Lima
nº 15

2.2. ELENCO DE CRÍTICAS AOS CONCERTOS E RECITAIS NA IMPRENSA


NACIONAL E ESTRANGEIRA.

DATA JORNAL / REVISTA NOTAS

28 junho de Jornal de Notícias Estreia da obra A Marcha, no Festival de Arte


1944 (Porto) no Teatro Rivoli do Porto, a 26 de junho de
1944.

17 dezembro de Comércio do Porto Recital promovido pela Associação Feminina


1946 (Porto) para a Paz; o pianista interpretou de novo
Buchenwald.

(depois ou a) 2 Jornal O Século 28º concerto da Sociedade de concertos


fevereiro de (Lisboa) Sonata, organizado por Lopes–Graça a 2 de
1947 por fevereiro de 1947, da responsabilidade de
Luís de Freitas Branco Eurico Tomás de Lima, que interpretou
algumas obras da sua autoria.
13 de fevereiro Diário de Lisboa O 28º concerto da Sociedade de concertos
de 1947 (Lisboa) Sonata, organizado por Lopes–Graça a 2 de
por fevereiro de 1947, da responsabilidade de
Francine Benoît Eurico Tomás de Lima, que interpretou
algumas obras da sua autoria.
13 junho de Noticias de Guimarães Valsa. Estreia de Dois Pianos ou Piano a 4 Página | 14
1948 mãos - 7 de junho de 1948 na cidade de
Guimarães, no salão de festas do Teatro
Jordão.

13 junho de Comércio do Porto Dança Cigana - 8 de junho de 1949 na cidade


1949 de Guimarães, no salão de festas do Teatro
Jordão.

11 setembro de Jornal Voz de Portugal


1949 do Rio de Janeiro

11 setembro de O Jornal do Rio (Brasil) Recital de 8 de setembro na Escola Nacional


1949 por de Música da Universidade do Brasil.
Armando Boaventura

11 setembro de Jornal Correio da Recital de 8 de setembro na Escola Nacional


1949 Manhã de Música da Universidade do Brasil.
por
Eurico Nogueira
França
1 novembro de O Diário de Belo Concertos de 29 e 30 de outubro. (Petrópolis,
1949 Horizonte (Brasil) Niterói, Belo Horizonte).
por
Roberto Franck

23 novembro de Correio da Noite Concerto de 15 de novembro de 1949,


1949 (Brasil) promovido pela casa do Porto, no Salão
por Leopoldo Miguez, no Rio de Janeiro.
Laura de Figueiredo

30 setembro Vanguarda (Brasil) Concerto no Conservatório de Música


1952 por Brasileiro a 24 de setembro de 1952.
Laura de Figueiredo
(depois ou a) de Revista Ilustração Recital no Clube Ginástico Português a 16 de
16 de outubro Brasileira (Brasil) outubro de 1952.
de 1952

(depois ou a) 19 O Estado de S. Paulo Concerto dado no Teatro Municipal de S. Página | 15


novembro de (Brasil) Paulo a 19 de novembro de 1952.
1952

25 junho de Notícias de Guimarães Marcha Humorística Para Piano a 4 mãos ou


1961 2 Pianos - 19 de junho de 1961 na cidade de
Guimarães, no salão de festas do Teatro
Jordão.

15 de maio de Jornal da Madeira - Barcarola. Para dois pianos a 4 mãos- 14 de


1966 Funchal maio de 1966 na cidade do Funchal.

15 de maio de Diário de Notícias – Barcarola. Para dois pianos a 4 mãos- 14 de


1966 Funchal maio de 1966 na cidade do Funchal.

16 julho de Jornal A Época Dança do Pica-Pau Para dois Pianos - 15 de


1972 julho de 1972 na cidade de Lisboa,
Conservatório Nacional

2.3. ALGUMAS TRANSCRIÇÕES DE TEXTOS DE VARIADAS FONTES.

2.3.1. Texto da autoria de Eurico Thomaz Lima

Porque não se organiza no Porto a “Hora de Arte” para os operários? (Revista Sol Nascente,
Nº 11, p. 15, Porto, 15 julho de 1937)

Desde que fixei residência, em 1932, quer como acompanhador, na “Hora de


recordo sempre com saudade as minhas Arte” para os operários de Lisboa, que se
assíduas colaborações, quer como solista
efetua no Asilo António Feliciano de Chaby Pinheiro, Gabriela Castelo Branco,
Castilho. Maria Luísa Malheiro Dias e Madalena de
Já tentei por duas vezes animar, interessar Martel Patrício; e os músicos notáveis,
elementos artísticos para a organização como Viana da Mota, Alexandre Rey
entre nós da “Hora de Arte”, mas Colaço, Francisco de Lacerda, Campos
“démarches” efetuadas resultaram Coelho, José van Rosenstock, Botelho Página | 16
desanimadoras e infrutíferas. Leitão, Varela Cid, Luís da Cunha
Duma vez, expus a ideia a um colega e Menezes, Fernando Cabral e Silva Pereira,
constatamos que no nosso meio não sendo-me impossível mencionar os nomes
escasseiam elementos artísticos e de todos os colaboradores, o que de
literários, para a realização das sessões. numerosos, tornar-se-ia monótono.
Rogar-se-ia o patrocínio moral e material Cada sessão “Hora de Arte” inicia-se
de algumas senhoras que, certamente, não sempre por uma palestra, escolhendo-se
veriam os seus nomes embaciados com a por tema, um assunto sobre moral social ou
participação ou coadjuvação nesta obra de a leitura e análise de um trecho seleto dos
elevado alcance social: dar aos operários nossos prosadores e poetas, ou a evocação
do Porto um pouco de pão espiritual. das grandes figuras da história portuguesa,
Esse colega, depois de me apontar os prós pela narrativa dos seus feitos, nunca
e contras da tentativa, expondo-me várias devendo a sua duração exceder 20 minutos.
razões, que me abstenho de transcrever Seguem-se depois trechos de canto, violino,
aqui, desiludiu-me… violoncelo, plano ou recitação, até
O ano passado, tendo ido a Lisboa realizar totalizarem o tempo exato: uma “Hora de
um concerto, não quis regressar sem trazer Arte”.
no peito a gratidão dos seus operários, e Que dizer-se, depois desta lição de cultura
nos ouvidos, as estrepitosas palmas, que popular, da recetividade emocional dos
mais uma vez me emocionaram. operários, que ouvem com a maior
Após o meu regresso, novamente consegui atenção, uma audição da “Sonata de
interessar uma distinta senhora portuense Kreutzer” de Beethoven?!
a abordar o assunto junto de outras para Ainda era vivo o ilustre Chaby Pinheiro,
uma necessária coadjuvação. quando numa das sessões da “Hora de
Resposta dificultosa... Arte” tive a enorme satisfação de ouvir a
Impossível? Irrealizável?! direção impecável e magistral do
Historiando a “Hora de Arte” para os inesquecível grande comediante que
operários de Lisboa foi fundada, em 1922, audaciosamente recitara líricas em
pelo maestro e compositor Francisco de português, castelhano, francês e italiano.
Lacerda, contando pois já 15 anos de Surpreendente e comovedor o entusiasmo
existência, tendo se efetuado para mais de assimilador com que os operários
duzentas sessões, que começam no Outono, vitoriaram o eminente ator! Aquelas mãos
rodam por todo o inverno, entram calosas aplaudem freneticamente, em
brilhantemente na primavera e só se uníssono, os artistas que vão exibir-se
interrompem nas férias grandes, mantendo- especialmente para eles.
se sempre o mesmo rigoroso método, desde O que é necessário afinal?
a fundação até hoje. Uma sala com cinquenta ou cem lugares e
A “Hora de Arte” devem os operários as um plano nada demais!
maiores consolações espirituais das suas Não haverá no Porto um asilo, uma
vidas laboriosas, escutando instrutivas associação de benemerência ou uma
palestras pronunciadas por alguns sociedade orfeónica, que empreste o seu
intelectuais; recitações de, entre outros,
salão de festas para a realização da “Hora apresentar esta minha sugestão,
de Arte”? acalentada com entusiasmo há já alguns
Como mais acima informei, Lisboa anos, esperançado em que me auxiliaram
mantêm há 15 anos esta simpática obra na organização da bela hora.
cultural e social. Leiria, a velha e sempre E para terminar, transcrevo aqui um
linda cidade de D. Dinis, já organizou a aforismo bem verdadeiro de Jules Verne: Página | 17
“Hora de Arte” para os seus operários, “Não há nada impossível; há só vontades
devido ao esforço do reitor do liceu Sr. mais o menos enérgicas”.
Agostinho Tinoco.
E o Porto?... Eurico Thomaz de Lima
Á comissão diretiva e aos prezados leitores
de “Sol Nascente”, tenho o prazer de lhes

2.3.2. Entrevista a Eurico Thomaz Lima

(Jornal Diário do Minho, 3 janeiro de 1947, p. 3, por Vidal Caldas Nogueira)

A verdade é esta: O espírito do jornalista compositor Eurico Thomaz de Lima!


não pode subentender o dia de amanhã. Interpretava, então, o “Scherzo”, em si
Um momento depois de outro é um mundo menor de Hopie. Sentado, sem o
de coisas novas e de novas ideias - e quem interromper, considerámos a obra extensa
é novo vive nesse mundo. em quantidade e qualidade. E. Thomaz de
Lima:
Como são bastantes as figuras do Porto,
que queremos entrevistar, hesitávamos em - Para piano: Duas sonatas; uma Sonatina;
escolher um escritor, um pintor, um Tema e Variações duas Danças Negras;
poeta… Fantasia à memória de Choupin; Algarve
(suite em oito quadros); Buchenwald, que é
O momento trouxe a resolução!
a ptatexto musical do artista contra os
precisamente no momento, em que
horrores dos Campos de Concentração da
comemorámos na rádio nortenha, o I
última guerra; e peças de caráter episódico
centenário das “Viagens na Minha Terra”.
- Marcha; Estudo; Bacarolla; Minueto,
Através de um programa variado, emitêmos
Rumba; Samba e Vira, estas ainda inéditas.
um “julgamento” das “Viagens” de
Garrett, tendo deposto nele, entre outros, o - Para dois pianos a quatro mãos; Poemeto
Dr. F.C. Pires de Lima, Amorim de Heróico; Tocata e Improviso sobre
Carvalho, Dr. Pedro Homem de Melo, Canções Populares Açorianas.
Guilherme Castilho e Eurico Thomaz de
- Para canto e piano: “Mors-Amor”,
Lima. Já que para o “Diário do Minho”
soneto de Antero; Canção da Vida e da
havíamos entrevistado um romancista e
Morte, Letra de Ludovina Frias de Matos;
uma poetisa, achamos por bem preencher o
“Balada dos olhos Verdes, letra de Amélia
terceiro lugar com um compositor. Tivemo-
Vilar; Triste Cantiga de Amor, letra de
lo em frente a nós ao microfone. Porém,
António Botto; Dorme, dorme, meu menino,
guardamos a intenção…e, dia seguinte,
toada de Augusto Gil; Três Canções
estávamos no estúdio do pianista
Populares Portuguesas; Canção, de Além-Atlântico a minha obra, certo de
premiada, com Menção Honrosa nos Jogos que em terras de Santa Cruz encontraria o
Florais da E. N. em 1940, e Canção, 1º mesmo carinho e compreensão, que ela tem
prémio (Papoila de Ouro), nos Jogos grangeado em certo sector do um país…
Florais da E.N. em 1941.
- Mas… terá, ao menos, a sua obra sido
- Para piano e orquestra: Fantasia à executado no estrangeiro?! Página | 18
Memória de Camilo - ainda inédita:
- Que eu saiba, em Paris, Bruxelas e Rio de
Lembrámo-nos de E. Thomaz de Lima nos Janeiro - nesta última cidade o flautista
dizer que ainda era autor de dezanove brasileiro Moacyr Lisera obteve êxito com
obras, às quais havia renegado por as o meu “Canto de Amor”, no concerto
considerar agora ingénuas e banais: realizado na Academia Brasileira de
Música, sendo com Rui Coelho os únicos
O nosso entrevistado dedilhava a última
compositores portugueses que figuraram
nota do “Scherzo” e atende-nos.
nesse programa.
- De facto, não esperávamos outra coisa
- Como em todos os campos da arte, a sua
senão encontrar o pianista ao piano…
há de ter, por certo, os cultores do bom
- Na minha profissão temos que aprender fruto e o próprio ódio, os pseudo-artistas,
até morrer e tenho que ter os meus dedos cujo o nome morrerá mais depressa que o
em forma! corpo. Abstraindo desses, admira…

- Que nos diz do recital que deu em - Já lhe digo: pelo meu caráter, admiro
Guimarães? aqueles com quem possa ainda aprender,
mas não suporto os bonzos – idólatras da
- Só lhe traduziria emoções que a minha “mentira em arte”! A esses a sua
alma de artista sentiu. Executei um impotência criadora se encarrega de os
programa sugestivo “Chopin - Liszt”. desmascarar.
Como vê, resumi no meu programa os dois
românticos do século XIX, que foram, como - Sei que na sua obra para canto e piano
é sabido, grandes amigos, que se estilizou motivos populares portugueses e,
admiraram mutuamente, sem invejas como já agora, vou fazer-lhe uma pergunta,
só os génios são capazes… cuja resposta pressuponho: o fado será
como pretendem, a canção nacional?
- Tem razão, a virtude contra a inveja
confunde-se quase sempre com a inveja… - Não! embora o queiram reconhecer como
diga-nos Thomaz de Lima, quais foram os tal, é uma espécie de morfina que
seus mestres de piano? adormenta quase um povo. Rey Colaço,
com mui bom gosto, tratou os seus fados
- Alexandre Rey Colaço, a quem devo a populares de uma forma superior,
minha formação pianística e intelectual, e eliminando a monotomia - da tónica á
Vianna da Mota, em virtuosidade! dominante - para o enriquecer com uma
- Quantos concertos já deu? Lembra-se? harmonia nova. O que lhe digo é uma mera
análise estética. O problema é difícil!
- Em números redondos, aí uns
quatrocentos concertos, por todo o país. - Posso apresentar-lhe cem opiniões a
favor e outras tantas contra … Só pondo-o
- O estrangeiro não o tenta? fora da lei…
- Gostaria imenso de ir a Paris e ao Brasil, - E quanto ao nosso rico folclore
a este último para levar aos meus irmãos português?
- É preciso resgatá-lo do abastardamento - Bethoven, Chopin, Liszt e todos os
das pseudo-canções revisteiras, a que o mestres da escola eslava.
povo inconscientemente se habituou. Urge
- Fechemos a entrevista: qual a obra dos
propagá-lo através de versões sérias, esse
compositores portugueses que mais
novo típico folclore, tão rico em ritmo e cor
admira?
nos seus “viras” “fandangos” e “toadas”. Página | 19
- A minha própria obra…
- Finalmente, quais são os seus autores
predilectos?

2.3.3. Críticas na imprensa nacional e estrangeira

Jornal de Notícias (Porto)


28 junho de 1944.
A pessoa em si não interessa: - gordo, ou
magro, alto ou baixo, simpático ou não,
Introito
tudo desaparece quando se trata apenas de
Se o meio musical do Porto não fosse avaliar o seu potencial de criação e medir
dirigido por fazedores de “panelinhas”, o a sua obra cultural. E se para nós, como
êxito do público do Festival de Arte seria jornalistas, isso tem importância, maior a
igual ao êxito artístico. deve ter para mestres e orientadores da
Cultura.
Anunciado com antecedência larga, ele
merecia por tudo as atenções de todos e Thomaz de Lima deve trabalhar dentro de
principalmente dos que alçam aos altos um ambiente de resistências, a avaliar pelo
lugares de orientadores da Cultura facto anotado no introito desta notícia.
Musical. Não quiseram, porém, dar Mas, novo como é, forte e seguro no seu
atenciosa camaradagem a Thomaz de Lima campo, há-de vencê-las _ que o tempo se
e antes pretenderam desviar-lhe público encarregará de lhe permitir larga vitória.
coma realização de uma lição musical que
O Programa
tanto podia ser dada anteontem como
depois de amanhã. Dividido em três partes, o programa foi
confecionado com gosto e critério. O
Este reparo nosso é justo e preciso para
concertista que se apresentou na primeira
que não se ande a todo o tempo a pregar
parte, escolheu escrupulosamente quatro
unidade e se permitam “as panelinhas” …
peças de Chopin que fossem marca distinta
no seu papel divisionário.
de quatro fases do grande romântico.
Thomaz de Lima Assim, conseguiu Thomaz de Lima dar
prova da sua nítida adaptabilidade,
Estamos em presença de uma Artista forte, interpretando com virtuosismo a notável,
pujante, com uma personalidade marcada, complicada e simples (vá o paradoxo)
e bem marcada, quer como concertista, estrutura da alma do Mestre Polaco.
quer como compositor. Completou-se esta primeira parte com as
Devemos-lhe a atenção que a todos os Dolorosas (nº 2) de Óscar da Silva e o
valores da nossa terra (que não tem Estudo de Concerto de Marcel Clampri,
demais) a obrigação manda oferecer. este executado como medida da poderosa
técnica de T. de Lima.
A segunda parte coube a D. Aida Monteiro, Já em tempos escrevemos algo sobre esta
que deve ter largos horizontes na prática obra, para que seja preciso mais.
do “lied”.
A Marcha que nos deu em primeira
É uma voz volumosa, fácil, com igualdade audição é de uma urdidura ultra-moderna
e facilidade em todos os registos, de timbre – ensaio atonal para que se verifique que
bonito, adaptável em larga escala a todos Thomaz de Lima anda “á la page” com os Página | 20
os motivos e cultivada com cuidado e amor. revolucionários.

Cremos ser discípula de D. Cesariana Lira, Mas não é preciso essa bizarria. Thomaz
por sua escola que bem se revela, desde a de Lima é um compositor moderno que não
nítida articulação à macieza dos seus precisa de forçar-se em nada. A sua
transportamentos e pormenores “Rumba” é uma música de hoje, obra que
ornamentais da voz. Cantou com merece instrumentar-se para figurar nos
hieratismo Bach, com ternura hinária nossos grandes programas orquestrais.
Schumann com lirismo profundo Liszt, com
Julgamos sinceramente que Thomaz de
dramático poder Gretchmaninow e com
Lima pode ser um grande colaborador dos
fulgor os espanhóis Obradors e Falla.
Bailados Portugueses.
Na terceira parte Thomaz de Lima
O Estudo que tocou em extra-programa (e
apresentou-se como compositor, na sua
vá de dizer-se que ele conseguiu uma peça
linda suite, “Algarve”, numa Marcha na
de alto brilho com todas as características
Barcola, Rumba e (em extra-programa) um
dificultosas de um Estudo) bem como a
Estudo e Dança Negra.
Dança Negra, deviam ser entregues a quem
O “Algarve” que cremos estar já publicado as interpretasse coreograficamente. E
é uma obra que caracteriza o compositor e decerto resultariam dois magníficos
sublinha as suas qualidades de receção. bailados, o último ganhando rara e
Não traduz apenas em som os descritos portuguesíssima imponência.
exteriores, vai mais fundo: _ ao íntimo das
E aqui deixamos dito o que em rigor e
coisas, abrindo com “Aben-Afan” o
verdade a missão nos manda dizer.
cenário de um Algarve Mourisco e
cerrando com “Sagres uma epopeia do P.M.
Mar”.

Jornal O Século de Lisboa


2 de fevereiro de 1947
Por Luís de Freitas Branco

SOCIEDADE “SONATA”. No nosso salão executadas, deixaram agradável


de festas efetuou-se ontem, à tarde, o 28.º impressão. São escritas com uma técnica
concerto desta sociedade de música que revela o conhecimento das tendências
moderna. da moderna composição musical e o seu
conteúdo expressivo não fica prejudicado
O programa compôs-se de obras de Eurico
pelas preocupações de escrita.
Thomaz de Lima, Artur Honegger e Albert
Roussel. A “Sonata” para violoncelo e piano de
Artur Honegger, teve em Filipe Loriente e
As peças para piano do nosso compatriota
Maria da Graça Amado da Cunha
E. Thomaz de Lima, por ele próprio
inteligentes intérpretes.
Completava o programa “Serenata” op.30, Caldeira e Filipe Loriente já fizemos
de Albert Roussel, muito acertadamente referência, quando do anterior concerto
repetida, a cuja excelente execução Cecília desta simpática sociedade. _ F.B.
Borba, Luís Boulton, Silva Pereira, Fausto

Página | 21
Diário de Lisboa
13 de fevereiro de 1947
Por Francine Benoît

“Sonata” compositores de vanguarda que


precisavam, fosse como fosse, de outro ar e
O ambiente para o último concerto
de outros horizontes. A Sonata de
promovido por “Sonata” ressentiu-se um
Honegger é mais um padrão experimental;
pouco do mau tempo e do dia e hora menos
resulta forte, maciça, sem
favoráveis. Mas são já 28 programas, a
condescendência, exceto no final, talvez,
obra pró-música moderna avoluma-se, e
muito difícil para o piano, e não fácil para
toma expressão de vitória se vamos a
o violoncelo, do qual, de uma maneira
pensar na soma de dificuldades que é
geral, aproveita o timbre na sua
preciso demover para obter originais
modalidade mais escura. Não será uma
renovados, (nas atuais condições de edição
obra feliz mas é sincera, tanto quanto
e transporte), e uma razoável colaboração
podemos apreciá-la numa primeira
de grupos de câmara.
audição condicionada pela dura vida dos
Este programa deu um bom quinhão á nossos músicos profissionais, _ no sentido
música portuguesa, apresentando pela em que é músico profissional! Filipe
primeira vez o pianista e compositor Loriente, e como poderia Maria da Graça
Eurico Thomaz de Lima, que mostrou Amado da Cunha, que só se tinha feito
merecer este estímulo. Eurico Thomaz de ouvir como concertista solista, até agora,
Lima foi intérprete de si mesmo, com uma “improvisar” uma segurança e uma
Sonatina, (1997), duas Danças Negras maleabilidade, extra-musicais afinal?...
(1935-1940) e uma Marcha (1944). Pelas Assim mesmo damo-nos por felizes que a
datas se confirma a evolução do autor, Sonata de Honegger fosse confiada a um
brandamente enfronhada na linguagem violoncelista experimentado e a uma
Raveliana, na Sonatina, submetida, na verdadeira pianista.
Marcha á influência mais acintosa de
O programa foi completado pela receção
Prokofieff. O que mais nos agradou,
da Serenata op.30, de A. Roussel, pelos
porém, foram as Danças Negras, mais
mesmos intérpretes que tinham dado a sua
marcadas na sua singeleza aparentada com
primeira audição no concerto anterior, sem
os famosos “Negro- Spiritual’s”. A Rumba,
nos dar ensejo de mudar de opinião.
tocada extra-programa, é aceitável como
corolário de demonstração pianística que
foi de bom nível geral.

Claro, outro foi o caso da Sonata para


violoncelo e piano, de A. Honegger. Data
de 1920, não é obra recente, portanto,
longe disso; mas nesse anterior período de
post-guerra, a agressividade da escrita era
moeda mais corrente do que ora nos
Diário de Belo Horizonte do Brasil.
1 de novembro de 1949.
Por Roberto Franck.

A série dos próximos feriados obriga-nos a segunda das “Duas Danças Negras”, em Página | 22
interromper, durante alguns dias, a que ecoa o interessantíssimo folclore dos
sequência de nossos “Flagrantes” indígenas de Angola.
consagrados ao teatro de “Eva e seus
Na segunda parte daquela noite, ouvimos
artistas”, adiando também tudo o que
encantados, seis peças de Chopin entre
estava em nossa intenção publicar logo
elas o grandioso Estudo que, á pouco já
depois sobre assuntos urbanísticos,
ouvimos executado pela grande artista
cinematográficos e sobre outros teatros, em
uruguaia, Fanny Ingold, execuções que
favor de dois saraus de alta arte do teclado
obrigaram o pianista a ceder às frenéticas
às quais, improvisamente, pudemos assistir
exigências de “bis” da numerosa
na noite de sábado passado, no
assistência, interpretando com idêntica
Conservatório e na do último domingo, no
perfeição e individualidade ainda duas das
auditório do Centro da Colónia
mais famosas obras do grande polonês.
Portuguesa.
Na terceira parte tínhamos ocasião de
Tocou em ambos os recitais o pianista-
admirar o pianista particularmente,
compositor português Eurico Thomaz de
quando executou o conhecido “Allegro
Lima, filho do compositor lusitano A.
bárbaro” de Bela Bartok, a famosa peça de
Thomaz de Lima. O recitalista evidenciou-
Debussy, “ Catedral submersa”, “ Três
se no Conservatório logo na execução da
danças fantásticas” de Schostakovitch,
primeira parte consagrada inteiramente a
incluindo uma conhecida “Polca” do
composições próprias, como um talento de
“modernista” russo, uma obra, antes
raras capacidades, seja no domínio da
sentimental, “Noite de Maio”, de
composição, seja no da própria arte do
Palmgreem e _ coisa raramente realizada
piano.
sob mãos tão “virtuosas” _ um “Estudo de
Dotado de uma técnica, cuja perfeição Concerto”, lembrando conhecidíssima
“virtuosa” nem por isso descuida da peça de Rimsky-Korsakoff, originando, com
profundeza do pensamento musical, toda razão, uma tempestade de palmas.
executou o solista da noite sua “Suite
No segundo concerto teve o pianista á sua
Algarve”, consistindo em 8 movimentos
disposição um piano menos próprio á sua
meio descritivos, meio folclóricos e sempre,
grande arte de solista. Chegando por força
ainda que não exageradamente, dominados
maior com pouco atraso, sentimos
por uma fatura de tendências “modernas”,
sinceramente que não pudéssemos assistir
de maneira raramente perfeita, mostrando-
á execução da “Suite portuguesa”, que
se simultaneamente como mestre do toque
precedeu músicas já executadas no
do teclado e no uso dos pedais.
concerto anterior. Na segunda parte deste
Gostando nesta “Suite” principalmente do programa ouvimos com satisfação
sexto movimento (Joardina de Estói) e do particular a repetição da peça
último (Sagres) ficamos mais ainda “Caminheiro saudoso do lar”, da autoria
convencidos pela parte seguinte dos do pai do compositor, (já executada como
trabalhos do artista, sobretudo pela um dos “bis” da primeira audição), obra
belíssima Barcarola, o Minueto e a em que o autor amavelmente emprega o
conhecido tema de um toque de repouso, Enormes aplausos de um público em que,
uma “Dança da Noite”, trabalho folclórico como no concerto precedente, se
do Ruy Coelho, uma composição adequada encontraram os mais assíduos dos nossos
de Óscar da Silva, “Dança Portuguesa”, círculos musicais e grande parte da colónia
um pequeno e interessante “opus” de Leça, portuguesa, encabeçada pelo próprio
do século XVIII, e de, Rey Colaço, uma cônsul do país irmão e sua esposa, Página | 23
peça de não menor interesse “Vira”. agradeceram também desta vez ao
eminente concertista, palmas de que pode
Na terceira parte encontrou-nos de novo
participar outra grande artista lusitana
“Estudo de concerto” de Marcel Ciampi,
presente na sala: a senhora Lucília Simões,
mas antes de tudo o “Polichinelo”, de Vila-
ilustre ensaiadora de “Eva e seus artistas”,
Lobos, cuja realização nunca antes
que ultimamente, e com grande interesse,
ouvimos de maneira simultaneamente tão
vimos participar na representação da peça
“virtuosa” e bela.
de Machado de Assis, “Helena”.

Correio da Noite do Brasil.


23 de novembro de 1949.
Por Laura de Figueiredo.

Recital de despedida de Eurico Thomaz de “Caminheiro saudoso do lar” composta


Lima pelo pai do pianista A. Thomaz de Lima, é
imitativa, inspirada e bela.
Regressando da sua viagem a Belo
Horizonte, onde foi homenageado e “Dança Portuguesa” de Óscar da Silva e
aplaudido, o festejado pianista e “Balada” de Bortkiewiez também
compositor Eurico Thomaz de Lima, ilustraram a primeira parte do programa
abalizado Diretor da Academia Mozart, do ambas agradáveis.
Porto, ofereceu-nos um magnífico
“Rondó” de Clemente, composta por dois
concerto, com a colaboração da professora
pianos por Eurico Thomaz de Lima, “Valsa
e pianista Nair Bevilaqua Barrozo Neto no
Slava” de Windsor, “Improviso sobre
Salão “Leopoldo Miguez”, patrocinado
canções populares esaçoreanas” “Tocata”
pela Casa do Porto.
e a “Marcha” com uma harmonização
Além de possuir aprimorada técnica o originalíssima e esquisita, todas trazem o
insigne artista procura tirar o maior cunho característico do autor: talento e
proveito possível das linhas melódicas mais erudição.
sensíveis e belas que ele compõe, ou adapta
Nair Bevilaqua Barrozo Neto, recebeu
das lindas canções populares do seu país,
simpáticas homenagens tanto da Casa do
rico de tradições.
Porto como do pianista compositor, pois
A “Sonatina” de Thomaz de Lima, interpretou com maestria uma das partes a
apresentada na primeira parte é uma duo.
filigrana burilada por verdadeiro artífice,
A maravilhosa Suite “Algarve”, painéis
assim como a delicada música de autoria
sonoros de Portugal dividida em: Aben-
de Armando Leça, intitulada_ “De
Afan, Praia da Rocha, D. Payo Peres
Cadeirinha” género verdadeiramente
Correia, Ponte de Piedade, Olhão da
evocativo às românticas árias de antanho.
“Villa Cubista”, Jardins de Estoi,
Bailarico e Sagres, engendrados pela
privilegiada idealização de Eurico Thomaz Oxalá Eurico Thomaz de Lima possa voltar
de Lima, finalizou a noite de arte oferecida novamente ao Brasil pois aqui deixou uma
pela Casa do Porto. viva impressão da estranha e elevada
cultura musical portuguesa.
Obras de diversos compositores foram
também incluídas nesse término do recital.
Página | 24

Notícias de Guimarães
13 de junho de 1948

Foi brilhante a audição das alunas de ensinamentos artísticos têm ministrado às


Thomaz de Lima suas numerosas discípulas.

No Salão de Festas do Teatro Jordão e Num programa variado e que a todos


perante uma assistência numerosa e deixou uma agradável impressão, fizeram
distinta, entre a qual avultava o elemento ouvir-se Mesdemoiselles Maria José
feminino, realizou-se na segunda-feira á Ferreira, Maria Manuela Aguiar Mendes
noite a anunciada audição das alunas do Ribeiro, Maria de Jesus Rodrigues
distinto Pianista Eurico Thomaz de Lima, Laranjeiro, Maria Ana Viamonte Figueira
que constituiu um acontecimento artístico de Sousa, Elisa Emília Guimarães
de muito valor. Folhadela Marques, Maria Blandina
Salgado Abreu, Maria Felicidade V.
Foi nos dado apreciar as qualidades
Figueira de Sousa, Maria Manuela
artísticas de um gracioso número de
Guimarães, revelando todas a sua
meninas desta cidade e arredores, que ali
sensibilidade artística.
colheram merecidos aplausos no final da
sua exibição. Ao professor Eurico Thomaz de Lima e
como prova de reconhecimento de todas as
Desses aplausos compartilhou o Prof.
suas alunas Vimaranenses foi oferecido um
Thomaz de Lima, que tantos e tão bons
formoso ramo de flores.

Notícias de Guimarães
25 de junho de 1961

Audição dos alunos de Thomaz de Lima simpáticos executantes muito aplaudidos


pela assistência que era numerosa e seleta
Realizou-se na segunda-feira á noite no
e entre a qual se viam as famílias dos
Salão de Festas do Teatro Jordão, a
alunos.
costumada audição de piano dos discípulos
do Prof. Compositor Eurico Thomaz de Thomaz de Lima compartilhou, e muito
Lima, do seu curso desta cidade e que merecidamente desses calorosos aplausos.
decorreu com muito brilho, tendo sido os
Jornal A Época de Lisboa
16 de julho de 1972

Pianista de três anos estreia-se em público Em sessão efetuada, na noite de ontem, na


no Conservatório Nacional Sala de Concertos do Conservatório
Nacional, o Prof. Campos Coelho fez Sensacional no certame foi o aparecimento
apresentação dos seus alunos e das suas do pequeno Artur Manuel da Nóbrega
possibilidades. Pizarro de Brito Subtil, de 3 anos de idade,
que interpretou dois trabalhos de Eurico
As famílias dos jovens, estes com idades
Thomaz de Lima: “a minha primeira
compreendidas entre os três e os vinte e
valsa” e uma primeira audição da “Dança Página | 25
dois anos, enchiam por completo o amplo
do Pica-Pau”. Tocou pelo papel e era tão
salão. E com exceção de sete peças, todas
pequeno o seu tamanho que não pode
as demais foram interpretadas a dois
descer da cadeira para agradecer os
pianos. Do vasto programa constaram
calorosos aplausos que a sua atuação
primeiras audições de Eurico Thomaz de
arrancou à plateia.
Lima, Frederico de Freitas e Ruy Coelho,
enquanto que foram também executadas Rui Manuel Catarino de Moura e
obras de outros autores conhecidos, como Carminda Manuela Vieira Pinto Soares de
Beethoven, Berlioz, Mozart, Debussy, Barros, ambos de 5 anos de idade e Nuno
Chopin, Vitorino de Almeida, George Bull, Manuel Barros Leite Marques, de 6 anos,
Emílio Rojal e outros. foram os mais jovens intérpretes e aqueles
que mereceram maior carinho e apoio da
sala.
Jornal A Voz de Portugal do Rio de Janeiro
13 de setembro de 1949

O primeiro concerto de Eurico Thomaz de ovação extraordinária. Excelente figura:


Lima nesta capital distinção nas maneiras e apresentação
primorosa. Um silêncio profundo se
Na passada quinta-feira realizou-se, com
observa: é dado o início ao concerto. O
início às 21h, no Salão Leopoldo Miguez o
primeiro número é “Algarve” (suite),
quinto “Concerto Extraordinário” da Série
escutado com verdadeiro respeito faz
Oficial de 1949, promovido pela Escola
vibrar no final a numerosa assistência:
Nacional de Música da Universidade do
está-se na realidade, frente a um grande
Brasil, que é dirigida pela competente
artista. Depois seguiram-se “terceira
maestrina D. Joanidia Sodré.
Sonata”, “Marcha”, “Barcarola”,
Realizou-se este concerto, a que assistiu “Pantomima Rústica” e “Dança Negra”
elevado número de pessoas, o pianista (Angola). Grandes interpretações,
compositor português Eurico Thomaz de magníficas composições, efeitos
Lima, diretor artístico da Academia Mozart surpreendentes: ao nosso gosto destacamos
da cidade do Porto, autor de elevado “Marcha”, música intercortada com os
número de obras de grande valor, filho do acorâes de “A Portuguesa” e “Pantomima
afamado pianista A. Thomaz de Lima e Rústica” em que se realça o folclore
uma das mais expressivas figuras da português.
música contemporânea portuguesa. Na segunda parte, Thomaz de Lima
executou “Chula” de Viana da Mota;
O programa foi dividido e três partes: a “Mazurka”, de Ruy Coelho: “dança
primeira de composições de sua autoria, a portuguesa”, de Óscar da Silva;
segunda, de obras de afamados “Caminheiro Saudoso do Lar”, do seu pai
compositores portugueses brasileiros e a A. Thomaz de Lima; “Prelúdio” de Berta
terceira de compositores internacionais. A Alves de Souza; “Vira”, de Rey Colaço;
sua entrada no salão foi recebida com uma
“Toada” de Camargo Guarnieri e “Dança A terceira parte compõem-se de: “Allegro
de Negros”, de Frutuoso Viana. Músicas Bárbaro”, de Bela Bartok; “A Catedral
de cunho acentuadamente popular, Submersa”, de Debussy; “Três danças
agradaram profundamente, a avaliar pelas fantásticas” de Schostakovitch; “Noite de
prolongadas salvas de palmas que se Maio”, de Palmgzen e “Estudo de
seguiam no final de todas. Interpretações Concerto”, de Marcel Ciampi. Página | 26
impecáveis: Thomaz de Lima soube com Ótima escola no reportório internacional;
mestria, tirar partido de todos os efeitos, músicas que agradaram a todos os
chegando a arrebatar a assistência paladares e mais uma vez a mão de mestre
sobretudo em “Dança Portuguesa”, de posta na execução.
Óscar da Silva, que foi bisado. A escolha
“A Catedral Submersa”, a nosso ver, levou
foi boa a interpretação foi magnífica a
as palmas da terceira parte e as restantes
simpatia de que goza entre nós esse grande
como todas as de que se compôs o concerto
artista “tripeiro” é incontestável _ era
mereceram, sem favor, o aplauso que no
assim como que instintivamente, prestada
final se fez sentir.
homenagem a esse grande pianista-
compositor que, através dos seus 81 anos É pena que tão belo concerto não tivesse
tantos louros tem proporcionado à música assistência de maior número de
portuguesa. O outro número em que portugueses e de representantes dos seus
Thomaz de Lima fez vibrar o público foi em organismos associativos. Esperamos,
“Caminheiro Saudoso do Lar” de A. porém, que nas novas apresentações isso
Thomaz de Lima. Música sentimental a não se verifique, para o prestígio da
tocar-nos o coração; virtuosidade na música portuguesa, representada com tanto
interpretação; beleza no efeito; enorme brilho por Thomaz de Lima.
ovação premiava o trabalho do executante
e do compositor; homenageava-se com as Representando o senhor embaixador de
constantes e prolongadas salvas de palmas, Portugal esteve presente o Dr. Trigueiros
na pessoa de Thomaz de Lima, filho, o Aragão, secretário da Embaixada; também
consagrado artista Thomaz de Lima, pai, se viam no salão, o escritor Herculano
que por aqui passou, deixando bem Rebordão, adido cultural e de imprensa e
assinalada e indelével a marca da sua arte, vários músicos e professores portugueses, a
a verdadeira arte portuguesa que tão maestrina Joanidia Sodré e muitos
afastada tem andado de nós. professores da Escola N. de Música.

M.S.

3ª PARTE
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3.1. NOTAS SOBRE ENTREVISTAS DO COMPOSITOR À IMPRENSA PORTUGUESA


E CRÍTICAS DE CONCERTOS - O PENSAMENTO MUSICAL DE EURICO THOMAZ
DE LIMA.
Na entrevista12 dada a Vidal Caldas Nogueira - Jornal Diário do Minho 13 a 3
janeiro de 1947, p. 3. - Eurico Thomaz de Lima dá-se-nos a conhecer, ainda que de
forma não demorada, e revela-nos um pouco da sua alma de artista e carácter de homem
e bem assim, algumas das facetas do seu vasto percurso artístico–musical, no âmbito do
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qual tem oportunidade de fazer referência ao seu reportório, aos compositores da sua
predileção, aos seus mestres e bem assim, aos seus gostos musicais, entre outros
aspetos, rejeitando categoricamente o pretenso reconhecimento do fado como a canção
nacional.

Tendo realizado cerca de quatrocentos concertos dentro do país, exprime o


desejo de que teria gostado de ter ido ao Brasil apresentar a sua música, que no Rio de
Janeiro obteve êxito, e fora também executada em Paris e Bruxelas.

Como intérprete, revela uma decidida preferência pessoal pela utilização de


reportório do período romântico de compositores como Beethoven, Chopin e Liszt e por
todos os mestres da escola eslava.

Elogia o bom gosto de Rey Colaço que a seu juízo, com as suas novas
harmonizações, enriqueceu de forma superior a estética do fado popular, e pugna pela
imperiosa necessidade de «resgatar» o que designa de «abastardamento das pseudo-
canções revisteiras» do nosso rico folclore de viras, fandangos e toadas.

Confessa, sem falsas modéstias ou rodeios á parte, que a sua obra é, de entre a
dos compositores portugueses, aquela que mais admira, tal como já e, aliás, no inicio da
entrevista, e sem cerimónia, manifesta admiração por todos aqueles com quem ainda se
pode aprender, ao mesmo tempo, que diz depositar esperança que o tempo se
encarregue de desmascarar a «impotência criadora» daqueles que insuportavelmente
designa por «bonzos – idólatras da “mentira em arte”».

No ano em que concedeu a referida entrevista (1947) compôs Suite Portuguesa


nº1 e Pantomima Rústica para Piano, duas obras que representam o pensamento musical
do compositor na sua relação com a música popular. Um número significativo das suas
composições para piano têm por base temas da música popular portuguesa e de países
africanos de expressão portuguesa.

12
Entrevista transcrita no presente trabalho – pp. 17-19.
13
Jornal Diário da Braga.
Eurico Thomaz de Lima, reconhece-se nesta entrevista como um verdadeiro
compositor nacionalista, defendendo o nosso património musical folclórico genuíno -
viras, fandangos e toadas - não aceitando o fado como autêntica música nacional.

Além deste aspeto nacionalista (que bem se pode depreender dos títulos das suas obras), Página | 29
que também foi dominante em outros compositores da época, como é o caso de Fernando
Lopes-Graça, a critica aponta que Eurico Thomaz de Lima é “um compositor moderno”
referindo-se à sua obra A Marcha como uma “urdidura ultra-moderna”.14 Luís de Freitas
Branco15 refere, ainda, numa outra critica: “(…) são escritos com uma técnica que revela
conhecimento das tendências da moderna composição musical”.

14
Jornal de Notícias (Porto), 28 junho de 1944 (p. 20 do presente trabalho).
15
Jornal o Século de Lisboa – 2 fevereiro de 1947 (p. 20 do presente trabalho).
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4º PARTE

4.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Eurico Thomaz de Lima foi sem dúvida um artista versátil e frutífero que se
espraiou pela composição em inúmeros e variados domínios: Música Sinfónica, Música
de Câmara, Música Coral, um vasto Repertório para Infância, e um igualmente vasto
repertório para Piano, instrumento que dominava em toda a sua plenitude, Música para
Canto e Piano, para Piano Solo, para piano a quatro mãos e para dois pianos.

Infelizmente não nos deixou registos discográficos da maioria das suas obras
para que delas pudéssemos usufruir e apreciar ao tempo das suas criações artísticas. Página | 31

Tendo participado em inúmeros recitais e concertos ao longo da sua carreira é,


contudo, na atividade pedagógica que tem uma experiência de grande gratificação,
como é atestado pelas notas de imprensa às audições dos seus alunos, sempre carregadas
de grandes elogios, mencionadas como brilhantes e merecedoras de grandes aplausos do
público que nelas via os bons ensinamentos artísticos que o compositor ministrava aos
seus discípulos.

Se nos primeiros concertos interpretava peças de outros compositores, com o


tempo as obras da sua autoria passaram a dominar as suas execuções.

Na sua orientação estética encontramos ainda, de um modo geral, o culto das


formas e linguagens tradicionais, com influências dos compositores neoclássicos do
seculo XX e dos nacionalistas românticos.16

Cremos que o seu pensamento musical não é dominado por qualquer corrente
estética de escola que o leve a colocar a sua música ao serviço da ideologia, do poder e
da política, e em particular, do Estado Novo.

Ainda que seja inegável que se esteja diante de um compositor nacionalista,


avulta sobretudo, outrossim, uma consciência cívica de preferência pelo folclore, isto é,
da música popular portuguesa como manifestação genuína dos valores de identidade de
um povo, assente numa visão pessoal e, por isso, muito própria deste género musical
que não se confundia com a folclorização17 promovida pelo aparelho de propaganda
política do Estado Novo, que ele combatia e lhe havia de trazer alguns dissabores.

Talvez, onde a faceta mais político e ideologicamente apologética seja mais


evidente e clara esteja na obra Buchenwald, essa sim, aquela em que o grito de ser
humano não indiferente as violações á dignidade da pessoa humana, o levam a escrever
em música «dolorosas páginas de angustiante tragédia, de desespero» sendo nesta obra
16
LESSA, Elisa Maria Maia da Silva, Música e expressão ideológica: a obra Buchenwald para piano solo
de Eurico Tomás de Lima (1908 -1989) in Música, Discurso e Poder, Colecção Hespérides Literatura 26,
Húmus, Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos, pp. 59.
17
Neste sentido, cf. Entrevista Jornal Diário do Minho, 3 janeiro de 1947, p. 3, por Vidal Caldas Nogueira
(transcrita nas páginas 17 e 18 do presente trabalho).
para piano solo, aquela o compositor nos revela «as sua emoções, a sua indignação, o
seu protesto musical» de repúdio do horror do Holocausto nazi dos campos de
concentração como vem anotado na partitura, contra Buchenwald, um dos maiores
campos de concentração nazi.18
Página | 32
Em suma, estamos diante de uma figura incontornável da música e cultura
portuguesa, no dizer de José Vianna da Mota “dotado de qualidades artísticas
excecionais, fina musicalidade que lhe permite penetrar inteligentemente o sentido das
obras que executa, perfeição técnica, excelente sonoridade, maleabilidade de
interpretação e a maior probidade artística, trabalhando com rigoroso método e
consciência”.

Bibliografia

Geral

• DIAS, Victor, Eurico Thomaz de Lima (1908-1989), Pianista, Compositor e Pedagogo


adotado pela Maia in Revista da Maia – Nova Série, Ano I, Nº 2 julho/dezembro 2016;

• GONÇALVES, César Luís Vila Franca, Obras para a Infância de Eurico Thomaz de Lima:
Os Duetos para Piano, Tese de Mestrado em Estudos da Criança – Especialização em
Educação Musical, Braga, outubro de 2005;

18
LESSA, Elisa Maria Maia da Silva, Música e expressão ideológica: a obra Buchenwald para piano solo
de Eurico Tomás de Lima (1908 -1989) in Música, Discurso e Poder, Colecção Hespérides Literatura 26,
Húmus, Universidade do Minho, Centro de Estudos Humanísticos, pp. 64 e 66.
• LESSA, Elisa (2007). Eurico Thomaz de Lima e a Imprensa Brasileira: Um Caso Feliz de
Recepção Musical in Revista Música, São Paulo, v. 12, pp. 165-174;

• LESSA, Elisa Maria Maia da Silva, Música e expressão ideológica: a obra Buchenwald
para piano solo de Eurico Tomás de Lima (1908 -1989) in Música, Discurso e Poder,
Colecção Hespérides Literatura 26, Húmus, Universidade do Minho, Centro de Estudos
Humanísticos, pp. 57-66. Página | 33

Sites

• http://cehum.ilch.uminho.pt/eurico (consultado a 24 de junho de 20121);

• https://www.editions-ava.com/pt/eurico-thomaz-de-lima-1908-1989 (consultado a 24
de junho de 20121);

• https://www.meloteca.com/portfolio-item/eurico-thomaz-de-lima/ (consultado a 24
de junho de 20121).

Fontes Primárias

 Espólio do Compositor no Instituto de Estudos da Criança – Universidade do Minho.

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