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Música Tradicional Açoriana

Chamarrita, Pezinho e Sapateia

Pedro Dinis da Rocha Meireles


 
 
LICENCIATURA EM MÚSICA – CIENCIAS MUSICAIS
ETNOMUSICOLOGIA – TEORIA E MÉTODO
Docente: Doutor Pedro Moreira
A metodologia

 Investigação e revisão da literatura (uma pesquisa bibliográfica)

 Inquéritos exploratórios e observação de contacto direto –

- uma pesquisa de campo


• INTRODUÇÃO
• CAPÍTULO 1
• 1.1. Etnomusicologia
• 1.2 Música Tradicional
• 1.2.1. Conceito de Música Tradicional
Estrutura do • 1.2.2. Música Tradicional Portuguesa

Trabalho • 1.2.2. Música Tradicional Açoriana


• CAPÍTULO 2 – Música Coreográfica Açoriana
• 2.1. Chamarrita
• 2.2. Pezinho
• 2.3. Sapateia
• CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chamarrita

 Trata-se de uma criação originalmente açoriana;


Dança popular e espécie de
 Contrariamente à maioria das cantigas populares
fandango bailado onde, se trai
açorianas, possui menos melodia e harmonia e mais
uma certa influência do corte
energia rítmica.
rítmico da valsa.
Grande Enciclopédia Portuguesa Brasileira  Em 1972 - A primeira Chamarrita escrita - no livro
Músicas e Canções Populares Coligidas das Tradições de
Adelino António das Neves Mello, onde são transcritos os
textos literário e musical de uma “Chamarrita Velha” e de
uma “Chamarrita Nova”.
 Em 1985 - surgem as transcrições de César das Neves,
que no Cancioneiro de Músicas Populares apresenta
quatro variantes da Chamarrita: identificadas como
variada, velha e nova e só na última indica a
procedência Micaelense.
Chamarrita (Cont.)

ORIGEM DO NOME:
Chamarrita de S. Jorge
 Uma influência da origem espanhola da palavra
“chimarrão” ou “chamearão”;
Chama-Rita, Chama-Rosa,
venham ambas à janela
 Na aglutinação verbo “chamar” e do nome “Rita” -
ver uma cara formosa
“Chamarrita”
de uma tão linda donzela.
ou na  
Chama-Rita, Chama-Rosa,
justaposição do verbo “chamar” e do nome “Rita” -
venham ambas ao portão
“Chama-Rita”
ver um moço tão bonito,
ver um cravo em botão.
Chamarrita (Cont.)
Chamarrita de S. Miguel

 Um texto de uma Chamarrita de S. Miguel - sugere A senhora Chamarrita


é uma santa mulher
um padrão de mulher brejeira, impondo uma
dá os ossos ao marido,
tendência para a brejeirice, que de resto está come a carne com quem quer
 
presente nos textos característicos de várias
A senhora Chamarrita
outras danças açorianas. é uma santa mulher:
sai de manhã para a missa
entra à noite quando quer
 
Volta ó minha Chamarrita,
Ó minha Chamarritinha;
Se não tens a cama feita,
Vem cá, deita-te na minha.
Chamarrita (Cont.)

Volta minha Chamarrita


 Também um lirismo fresco e simples pode ser para o lado do meu peito;
não cabe um amor tão grande
encontrado em quadras da Chamarrita:
num palácio tão estreito.

Chamarrita do Caracol
• Existem quadras que são especificas de algumas
A vida do caracol
danças, como é o caso da Chamarrita do Caracol - É uma vida arrastada,
Anda com a casa às costas
Ilhas do Pico, Faial e Flores - onde o seu conteúdo Onde quer faz a morada.

literário está relacionado semanticamente com o título Caracol, caracol tu pensas


Que sempre vais escapar,
Mas qualquer dia é de noite
da dança. Por certo vais-te enganar.
Chamarrita (Cont.)

O esquema rítmico habitual das quadras satisfaz No entanto há um conjunto de quadras


quase sempre a rima consonante, entre o segundo e o próprias à Chamarrita em que o primeiro verso
quarto versos – como se pode verificar, por exemplo, está relacionado ritmicamente com o segundo
voltando aos exemplos anteriores. e o terceiro com o quarto:

Chamarrita de S. Miguel
Chamarrita de S. Chamarrita do Caracol
A senhora Chamarrita
Jorge
é uma santa mulher
dá os ossos ao marido, Chamarrita vai e fica
come a carne com quem quer A vida do caracol
Chama-Rita, Chama-Rosa, É uma vida arrastada,
venham ambas à janela   Como o vinho vai à pipa.
A senhora Chamarrita Anda com a casa às costas
ver uma cara formosa Onde quer faz a morada. Chamarrita vai e torna
de uma tão linda donzela. é uma santa mulher:
  sai de manhã para a missa Como o vinho vai à dorna.
entra à noite quando quer Caracol, caracol tu pensas
Chama-Rita, Chama-Rosa,
  Que sempre vais escapar,
venham ambas ao portão
Volta ó minha Chamarrita, Mas qualquer dia é de noite
ver um moço tão bonito, Por certo vais-te enganar.
ver um cravo em botão. Ó minha Chamarritinha;
Se não tens a cama feita,
Vem cá, deita-te na minha.
Chamarrita (Cont.)
Chamarrita do Meio (Corvo)
• Quanto à ESTRUTURA RÍTMICA - é composta por
compassos 6/8 (binário composto) e 3/4 (ternário) –

o que lhe confere características iguais a tantas outras


danças distinguindo-se, na sua singularidade, pelas
caraterísticas de expressividade local que lhe são dadas
pelo sotaque de cada uma das ilhas, pelos padrões
estéticos de determinada voz e pelos instrumentos que a
acompanham.

Quanto à MELODIA, a Chamarrita revela uma estrutura


simples, ressaltando os intervalos de segunda maior ou
menor (movimentação por graus conjuntos).
Chamarrita (Cont.)

Chamarrita do Meio (Corvo)


• A harmonia que envolve a melodia progride da tónica
para a dominante, da dominante para a tónica e assim
sucessivamente nesta alternância até à cadência final,
percorrendo todas as pequenas unidades melódicas,
respetivamente.

No que respeita às tonalidades em que


tradicionalmente são executadas as Chamarritas,
pode-se afirmar um ascendente do modo maior sobre o
modo menor,
Chamarrita (Cont.)
• Nas ilhas do Pico, Faial e S. Jorge - as Chamarritas conhecem uma expressão mais característica - são mais
aceleradas e coreograficamente mais complexas.

• Na ilha das Flores o número de espécimes diferentes da Chamarrita, é bastante maior que em qualquer outra das
ilhas do Arquipélago.

•  E como CURIOSIDADE - existia uma variante que era dançada só por homens, nos rituais da matança do porco em
S. Jorge.

•  Dança-se frequentemente aos pares, predispostos em fileiras opostas que se cruzam e afastam, voltando depois a
aproximar-se. Inicia-se com 2, 4, 6, … pares, e nunca são em número ímpar.

•  Caracterizam-se pelo facto de serem danças mandadas, supondo a presença de um mandador-bailador que anuncia
aos bailadores as figuras coreográficas a executar através de curtas expressões verbais codificadas - as mudanças -
sem ordem predefinida.
Chamarrita (Cont.)
CURIOSIDADES

A 23 de julho de 2015 a ilha do Pico fixou o recorde


no livro do Guiness World Records da Maior Roda
de Chamarrita do Mundo. na categoria "maior dança
tradicional portuguesa". 544 bailadores reuniram-se no
Estádio Municipal da Madalena, formaram 4 rodas
concêntricas e bailaram a Chamarrita do Pico durante
5 minutos. Mas o Recorde foi ultrapassado a 20 de
agosto de 2017 pelo “Vira do Minho”, evento ocorrido
em Ponte da Barca e que reuniu 667 folcloristas.

No dia 1 de junho de 2020, dia da Região Autónoma dos Açores, foi estreado um jogo de
tabuleiro baseado na dança da Chamarrita, contribuindo para a valorização da tradição
açoriana e dar a conhecer a Chamarrita a novos públicos. O jogo é composto por: - um
tabuleiro de madeira onde estão inscritas as casas de jogo, um dado onde estão gravados 6
diferentes passos de Chamarrita, um par de peões por cada jogador e uma folha de regras
Pezinho
 O Pezinho era muito executado nos bailes antigos e, em
algumas freguesias os Pezinhos mais antigos são
apenas cantados.

 O Pezinho é sempre alegre, quer pelo


acompanhamento, quer pelo canto, quer ainda pela letra
das cantigas, por vezes lírica, mas quase sempre
divertida e até brejeira.

 Quanto à ORIGEM DO NOME – pode ser um diminutivo


carinhoso adotado pelo homem para se referir ao pé da
sua amada. Conforme os pés eram posicionados, ora
aproximando-se ora afastando-se eram considerados
um artificio para comunicação entre os namorados.

 Na ilha das Flores o número de espécimes diferentes do


Pezinho, tal como na Chamarrita, também é bastante
maior que em qualquer outra das ilhas do Arquipélago.
Pezinho (Cont.)
Ponha aqui,
Como primeiro exemplo, um exemplar do princípio do
Ponha aqui
século XIX - do Cancioneiro de Músicas Populares para O seu Pesinho,
Canto e Piano de César das Neves referenciado como Ponha aqui,
coreográfica e segundo o autor: Ordinariamente dança-se Ponha aqui,

com damas e cavalheiros, em número ímpar, fazendo Ao pé do meu.


Ao tirar,
roda e dando as mãos. Adiantando o pé direito e tocando
Ao tirar,
com o bico d’este no chão repetidas vezes, a compasso,
O seu pesinho,
cantando a seguinte trova:  
(os pés vão-se retirando)

Um abraço Ai Jesus
Ai Jesus
Um abraço ou Que lá vou eu

E soltando todas as
Lhemãos de repente, abraçam-se aos pares
dou eu.
Pezinho •O exemplo do Pezinho anterior - quanto à estrutura rítmica,
enquadra-se no compasso binário simples - característica de
(Cont.) todos os Pezinhos.
Pezinho (Cont.)
Outro exemplo é a quadra seguinte: Que é usada com dupla utilização de ritmos da palavra - embora a
Chamarrita se escreva, como vimos, em compasso binário composto
Meu coração fecha, fecha, ou ternário simples um Pezinho do Meio da ilha das Flores é
Fecha com dois cadeados: construído sobre um texto de uma Chamarrita de Cima da mesma
Numa banda fecha amores ilha, evidenciando um duplo tratamento musical do texto - explorando
Noutra penas e cuidados. de forma diferente as potencialidades rítmicas da estrutura literária.

Chamarrita de Cima Pezinho do Meio


Pezinho (Cont.) •O texto literário no Pezinho está, em geral, organizado em sextilhas, o que faz
com que quando se empregam letras originalmente constituídas em quadras, o
primeiro e terceiro versos repetem-se de forma a se obter os seis versos
necessários à sua estrutura melódica – como se pode ver no exemplo:

Meu coração fecha, fecha,

Meu coração fecha, fecha,

Fecha com dois cadeados:

Numa banda fecha amores

Numa banda fecha amores

Noutra penas e cuidados.


Pezinho (Cont.)

Também no Pezinho é possível uma permuta de letras de ilha


Minha sogra é uma raia,
para ilha, sendo que uma letra quando criada numa ilha difunde-
se pelo Arquipélago fora. Um exemplo é a sextilha utilizada no Mora na Lomba da Maia,

Pezinho do Meio da ilha das Flores e que também é Abaixo do Benjamim.


conhecido na ilha de S. Miguel, onde deve ter sido criada antes A todos chama canalha,
de se difundir, uma vez que o segundo verso faz referência à
Antes a boca lhe caia
Freguesia da Lomba da Maia, pertencente ao concelho da Ribeira
Grande, da ilha de S. Miguel. Do que mo chame a mim.
Pezinho (Cont.)

 Quanto ao TEXTO MUSICAL – o canto é silábico – cada nota da


melodia corresponde rigorosamente a cada uma das silabas das
palavras.

 Quanto à ESTRUTURA MELÓDICA – não é estável nem


padronizada.

 A ANÁLISE HARMÓNICA – tal como na Chamarrita, oscila entre


os acordes da tónica e da dominante.
Notas Finais

 SAPATEIA

 As melodias criaram-se, com características próprias, transparecendo o sentido de identidade e


todo o ambiente açoriana, próprio do isolamento da Ilhas.

Os cantares e as danças juntavam os povos, proporcionavam convívio e acompanhavam o trabalho


e as festividades religiosas ou profanas.

 Eram acompanhadas pela viola da terra ou viola de dois corações que se juntavam certos
instrumentos como as castanholas e a pandeireta, entre outros.

 A Viola da Terra é, então, o principal instrumento da música açoriana. Instalou-se com os


primeiros povoadores das Ilhas, com singulares características físicas e sonoras, que fazem com
que se diferencie das suas semelhantes continentais.
Conclusão

Sendo um tema que prezei muito explorar e aprender (apesar de muito teoricamente), um dia
gostaria de ter a oportunidade de aprofundar, recorrendo às metodologias que não foram
possíveis, e assim fazer um estudo mais atual das três músicas coreográficas, objeto deste
trabalho, nomeadamente como evoluíram nos seus vários aspetos e como são hoje tocadas e
dançadas pela população açoriana.

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