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LÍNGUA PORTUGUESA

O ARCADISMO
PROFESSORA SANDRA HELENA SILVA
O ARCADISMO NO BRASIL
DE 1768 A 1825
OUTROS NOMES PARA O ARCADISMO:
SETECENTISMO
NEOCLASSICISMO
ETIMOLOGIA
Havia, na Grécia Antiga, uma
parte central do Peloponeso
denominada Arcádia. De relevo
montanhoso, essa região era
habitada por pastores e vista como
um lugar especial, quase mítico, em
que os habitantes associavam o
trabalho à poesia, cantando o paraíso
rústico em que viviam.
No século XVIII, o termo Arcádia
passou a identificar as academias ou
agremiações de poetas que se
reuniam para restaurar o estilo dos
poetas clássico-renascentistas, com
o objetivo declarado de combater o
rebuscamento barroco.
CARACTERÍSTICAS
A idealização da vida no
campo
A estética desenvolvida
nessas academias de
poetas passou a ser
chamada Arcadismo.
Tinha como
característica principal
a idealização da vida
no campo. O desejo de
seguir as regras da
poesia clássica fez com
que essa estética
também fosse
conhecida como
Neoclassicismo.
Marília de Dirceu: LIRA XIX
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia Natureza

(Tomás Antônio Gonzaga)


O BUCOLISMO
O adjetivo Marília de Dirceu: Lira XIII
bucólico faz Num sítio ameno,
referência a tudo Cheio de rosas
aquilo que é De Brancos lírios,
Murtas viçosas,
relativo a pastores
e seus rebanhos, à Dos seus amores
Na companhia,
vida e aos Dirceu passava
costumes do Alegre o dia.
campo. (Tomás Antônio Gonzaga)
O PASTORALISMO
Um dos aspectos
mais artificiais da
estética árcade
é o fato de os
poetas e de suas Sou pastor, não te nego; os meus
montados
musas serem São esses, que aí vês; vivo contente
identificados Ao trazer entre a selva florescente
A doce companhia dos meus
como pastores e gados;
pastoras.
(Soneto IV - Cláudio Manuel da
Costa)
LINGUAGEM: SIMPLICIDADE
ACIMA DE TUDO
Marília de Dirceu: LIRA XIX

O Arcadismo adota Enquanto pasta alegre o manso


como missão gado,
Minha bela Marília, nos
combater a sentemos
artificialidade verbal À sombra deste cedro
(rebuscamento) dos levantado.
poetas barrocos. Por Um pouco meditemos
isso, elege a Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos
simplicidade como descobre
norma para a criação A sábia Natureza
.
literária
(Tomás Antônio Gonzaga)
IMITAÇÃO DOS CLÁSSICOS Pintam, Marília, os poetas
a um menino vendado,
Processa-se um retorno ao universo de com uma aljava de setas,
referências clássicas, que é proporcional arco empunhado na mão;
à reação antibarroca do movimento. O ligeiras asas nos ombros,
escritor árcade está preocupado em ser o terno corpo despido,
simples, racional, inteligível. E para e de Amor ou de Cupido
atingir esses requisitos exige-se a são os nomes que lhe
imitação dos autores consagrados da dão.
Antiguidade, preferencialmente os
pastoris. Diz um árcade português:
O poeta que não seguir os antigos,
perderá de todo o caminho, e não poderá
jamais alcançar aquela força, energia e
majestade com quem nos retratam o
formoso e angélico semblante da
natureza.
O RESGATE DE
TEMAS
CLÁSSICOS
• fugere urbem: fuga da cidade; afirmação das qualidades da
vida no campo.

• aurea mediocritas: valorização das coisas cotidianas, simples,


focalizadas pela razão e pelo bom senso.

• locus amoenus: caracterização de um lugar ameno, onde os


amantes se encontram para desfrutar dos prazeres da
natureza.

• inutilia truncat: eliminação dos excessos, evitando qualquer


uso mais elaborado da linguagem.

• carpe diem: cantar o dia; trata da passagem do tempo como


algo que traz a velhice, a fragilidade e a morte, tornando
imperativo aproveitar o momento presente de modo intenso.
HISTÓRICO DO
ARCADISMO NO
BRASIL
O Arcadismo no Brasil ocorreu em meados do século XVIII e
concentrou-se principalmente na região da Vila Rica, atual Ouro
Preto, em Minas Gerais.

Esteve diretamente ligado ao crescimento urbano das cidades do


Estado e sofreu influências de outros movimentos intelectuais,
como o Iluminismo na Europa.

O Arcadismo teve início, no Brasil, a partir da publicação do


livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, no ano de 1768.

Concentrou-se, principalmente, na região de Ouro Preto em Minas


Gerais durante o Ciclo do Ouro, o que tornou o local o centro
econômico do país.

Na época, o Brasil ainda era colônia da coroa portuguesa,


portanto, ainda tinhas seus recursos atrelados à metrópole.
Vila Rica (atual Ouro Preto)
O ARCADISMO E A
INCONFIDÊNCIA MINEIRA
A opressão administrativa
portuguesa, o declínio da
produção do ouro, a
convivência com as
idéias liberais de
Rousseau, Montesquieu,
John Locke e a
revolução na América do
Norte foram os principais
fatores que contribuíram
para o início de um
movimento
revolucionário em Vila
Rica.
Libertas quae sera tamen
Os inconfidentes
pretendiam proclamar a
a República e tornar o
Brasil independente de
Portugal. A bandeira
escolhida estamparia o
lema dos inconfidentes,
extraído de um verso de
Virgílio: Libertas quae
sera tamen (liberdade
ainda que tardia).
LITERATURA
ÁRCADE
A Linguagem do Arcadismo é racional, clássica
e sem rebuscamento, ou seja, adota um
vocabulário simples.

Importante notar que os escritores árcades,


prezavam pela simplicidade da linguagem,
expressas sobretudo nos sonetos (forma fixa
literária muito utilizada por eles) de versos
decassílabos (dez sílabas poéticas).
AUTORES
BRASILEIROS
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
Seu pseudônimo árcade
era “Glauceste Satúrnio”.
Sua obra lírica era
bastante influenciada
pelo Classicismo
português, embora tenha
traços do Barroco.
Temas: o sentimento
amoroso e a natureza.
O fim: Cláudio Manuel da Costa

Foi denunciado e
preso. Enforcou-se,
em 1789, na cela
da prisão em que
aguardava
julgamento,
localizada na
Casa dos Contos.
Trecho do soneto LXII, de
Cláudio Manuel da Costa
Torno a ver-vos, ò montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros,
Onde um tempo os gabões deixei
grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino.
(...)
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que té agora se tornava em pranto
Se converta em afetos de alegria.
TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
Pseudônimo poético:
Dirceu; e sua musa
inspiradora: Marília.
Importantes obras:
Marília de Dirceu/ Cartas
chilenas.

Preso e degredado
para Moçambique por
participar da
Inconfidência Mineira.
O fim: Tomás Antônio
Gonzaga
Em sua denúncia, Joaquim
Silvério dos Reis, um dos
financistas do grupo dos
inconfidentes, nomeou Tomás
Antônio Gonzaga como
“Primeira cabeça da
inconfidência”. Ele e os
demais líderes foram presos
pela coroa portuguesa.
Chegava a um triste fim o
primeiro movimento para
tornar o Brasil livre da
exploração econômica da
metrópole. Gonzaga foi
deportado para
Moçambique, onde
reconstituiu a vida. Lá faleceu
em 1810.
Trecho de Marília de Dirceu - Lira
XIV
Ornemos nossas testas com as flores.
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
(...)
Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.
BASÍLIO DA GAMA
Obra principal: o poema
épico “O Uraguai” –
uma luta entre índios e
o exército luso-
espanhol.

O índio aparece, pela


primeira vez, como o
bom selvagem.
Trecho do Canto IV – Morte
de Lindoia de Basílio da Gama
Entram enfim na mais remota e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra.
SANTA RITA DURÃO
Sua obra mais importante: o
poema épico “Caramuru”, que
se caracterizava pela exaltação
da paisagem brasileira e contra
a chegada dos portugueses à
Bahia.
Personagens principais: o
português Diogo Álvares Correia
(o Caramuru) e as índias
Paraguaçu e Moema.
Trecho de Caramuru

De um varão em mil casos agitados,


Que as praias discorrendo do Ocidente,
Descobriu recôncavo afamado
Da capital brasílica potente;
Do Filho do Trovão denominado,
Que o peito domar soube à fera gente,
O valor cantarei na adversa sorte,
Pois só conheço herói quem nela é forte.
A POESIA
O ARCADISMO no Brasil foi um
movimento essencialmente poético:

A) POESIA LÍRICA – poesias descritivas e elogiosas


da vida rural;

B) POESIA SATÍRICA – denuncia desmandos


administrativos da Capitania de Minas;

C) POESIA ÉPICA – inova com a utilização de temas


de nossa história colonial.
UMA CURIOSIDADE!
O ARCADISMO brasileiro
foi o primeiro
movimento literário a
colocar o índio como
personagem
importante.
A presença do índio
(forte por natureza) na
poesia reflete o ideal do
"bom selvagem" e dá
ao Arcadismo brasileiro
um tom diferente do
europeu.
1 - Uma das afirmações abaixo é incorreta. Assinale-a:
a) O escritor árcade reaproveita os seres criados pela mitologia
greco-romana, deuses e entidades pagãs. Mas esses mesmos
deuses convivem com outros seres do mundo cristão.
b) A produção literária do Arcadismo brasileiro constitui-se
sobretudo de poesia, que pode ser lírico-amorosa, épica e
satírica.
c) O árcade recusa o jogo de palavras e as complicadas
construções da linguagem barroca, preferindo a clareza, a ordem
lógica na escrita.
d) O poema épico Caramuru, de Santa Rita Durão, tem como
assunto o descobrimento da Bahia, levado a efeito por Diogo
Álvares Correia, misto de missionários e colonos português.
e) A morte de Moema, índia que se deixa picar por uma serpente,
como prova de fidelidade e amor ao índio Cacambo, é trecho
mais conhecido da obra O Uruguai, de Basílio da Gama.
SONETO
Obrei quanto o discurso me guiava,
Ouvi aos sábios quando errar temia;
Aos bons no gabinete o peito abria,
Na rua a todos como iguais tratava.
Julgando os crimes nunca os votos dava,
Mais duro, ou pio do que a lei pedia:
Mas devendo salvar ao justo ria,
E devendo punir aos réu chorava.
Não foram, Vila Rica, os meus projetos,
Meter em ferro cofre cópia de ouro,
Que farte aos filhos, e que chegue aos netos:
Outras são as fortunas, que me agouro,
Ganhei saudades, adquiri afetos,
Vou fazer deste bens melhor tesouro.
2 - Analisando as características do poema, assinale o movimento literário ao
qual ele pertence, bem como o seu autor:
a) Romantismo, de autoria de Gonçalves Dias.
b) Arcadismo, de autoria de Santa Rita Durão.
c) Arcadismo, de autoria de Tomás Antônio Gonzaga.
d) Simbolismo, de Alphonsus de Guimaraens.
e) Romantismo, de autoria de Álvares de Azevedo.
3 - ENEM
Torno a ver-vos, ó montes; o destino (verso 1)
Aqui me torna a pôr nestes outeiros,
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte, rico e fino. (verso 4)
Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros (verso 7)
Atrás de seu cansado desatino.
Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia (verso 10)
Que, da Cidade, o lisonjeiro encanto,
Aqui descanse a louca fantasia,
E o que até agora se tornava em pranto (verso 13)
Se converta em afetos de alegria.
Cláudio Manoel da Costa. In: Domício Proença Filho. A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 2002, p. 78-9.
Considerando o soneto de Cláudio Manoel da Costa e os elementos
constitutivos do Arcadismo brasileiro, assinale a opção correta acerca da
relação entre o poema e o momento histórico de sua produção.
a) Os “montes” e “outeiros”, mencionados na primeira estrofe, são imagens
relacionadas à Metrópole, ou seja, ao lugar onde o poeta se vestiu com
traje “rico e fino”.
b) A oposição entre a Colônia e a Metrópole, como núcleo do poema,
revela uma contradição vivenciada pelo poeta, dividido entre a civilidade
do mundo urbano da Metrópole e a rusticidade da terra da Colônia.
c) O bucolismo presente nas imagens do poema é elemento estético do
Arcadismo que evidencia a preocupação do poeta árcade em realizar
uma representação literária realista da vida nacional.
d) A relação de vantagem da “choupana” sobre a “Cidade”, na terceira
estrofe, é formulação literária que reproduz a condição histórica
paradoxalmente vantajosa da Colônia sobre a Metrópole.
e) A realidade de atraso social, político e econômico do Brasil Colônia está
representada esteticamente no poema pela referência, na última estrofe, à
transformação do pranto em alegria.
4 - A primeira imagem abaixo (publicada no século XVI) mostra
um ritual antropofágico dos índios do Brasil. A segunda mostra
Tiradentes esquartejado por ordem dos representantes da
Coroa portuguesa.

Imagens da esquerda para direita: (a) Théodore de Bry / Os Filhos de Pindorama. Canibalismo no Brasil em 1557 / public domain.
(b) Pedro Américo / Tiradentes Esquartejado, 1893 / Museu Mariano Procópio / public domain.
A comparação entre as reproduções possibilita as seguintes
afirmações:

I. Os artistas registraram a antropofagia e o esquartejamento


praticados no Brasil.
II. A antropofagia era parte do universo cultural indígena e o
esquartejamento era uma forma de se fazer justiça entre luso-
brasileiros.
III. A comparação das imagens faz ver como é relativa a diferença
entre “bárbaros” e “civilizados”, indígenas e europeus.

Está correto o que se afirma em:

(A) I apenas.
(B) II apenas.
(C) III apenas.
(D) I e II apenas.
(E) I, II e III.
I. É uma escola literária que, no Brasil, compreendeu o
período entre 1768-1808, e antecede o Romantismo.
II. Também é conhecido como Setecentismo e
Neoclassicismo.
II. Fugere urbem, Locus amoenus e Carpe diem são
expressões em latim que expressam tendências árcades.

5 - Analise as alternativas:
a) Apenas III está correta.
b) Nenhuma está correta.
c) Apenas II está correta.
d) I e II estão corretas.
e) Todas estão corretas.
6 - São características do Arcadismo:

a) Relato do cotidiano e nacionalismo.


b) Idealização da arte pela arte.
c) Bucolismo e idealização da mulher.
d) Dualismo e riqueza de detalhes.
e) Nacionalismo e pessimismo.
7 - O Arcadismo no Brasil surgiu em 1768. Que
obra marcou o seu início?

a) “Obras Poéticas”, de Cláudio Manuel da


Costa.
b) “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo.
c) “Fanfarras”, de Teófilo Dias.
d) “Suspiros Poéticos e Saudades”, de
Gonçalves de Magalhães
e) “Missal”, de Cruz e Souza.
.
8 - Indique a alternativa INCORRETA acerca do
Arcadismo.

a) Os poetas árcades eram chamados de


“poetas fingidores”, porque utilizavam
pseudônimos.
b) Os poetas árcades foram influenciados por
três pilares do Iluminismo: natureza, razão e
verdade.
c) O Arcadismo é uma escola literária marcada
pela linguagem coloquial e pela abordagem a
temas polêmicos.
d) Carpe Diem, expressão em latim que significa
“aproveite o dia” reflete uma tendência do

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