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DIFERENÇAS ENTRE

O BARROCO E O
ARCADISMO
DIFERENÇAS ENTRE O BARROCO E O ARCADISMO

O Barroco surgiu a partir de uma oposição religiosa, dividindo os pensamentos


entre o antropocentrismo (homem no centro das coisas) e teocentrismo (Deus
no centro de tudo). Assim, a produção artística passou a ser usada para
expressar o que se pensa, mas sempre mostrando alguma divisão ou conflito
com o bem e o mal, com o céu e o inferno.
Já o Arcadismo, surgiu como uma reação ao Barroco. Ele representou o
equilíbrio, a simplicidade, o antropocentrismo e, principalmente, a vida
simples no campo.
Enquanto o Barroco usava excessivamente o jogo de palavras, as figuras de
linguagem e o intelectual, o Arcadismo usava uma linguagem mais simples,
por considerar o Barroco obscuro e de mau gosto
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO BARROCO:
Arte rebuscada e exagerada;
Valorização do detalhe;
Dualismo e contradições;
Obscuridade, complexidade e sensualismo;
Barroco literário: cultismo e conceptismo;
OS PRINCIPAIS ESCRITORES BRASILEIROS DESSE PERÍODO FORAM:
Bento Teixeira (1561-1618);
Gregório de Matos (1633-1696);
Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711);
Frei Vicente de Salvador (1564-1636).
Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768)
AS DUAS TENDÊNCIAS QUE PREDOMINARAM NESSE MOVIMENTO LITERÁRIO FORAM:

CULTISMO - É o chamado "jogo de palavras". Nele está presente o formalismo e o


vocabulário rebuscado, bem como o emprego frequente das figuras de linguagem
(metáfora, antítese, paradoxo, hipérbole e prosopopeia).

CONCEPTISMO - É o chamado "jogo de ideias". Nele está presente o raciocínio e o


pensamento lógico.
Enquanto o Barroco representa um homem em conflito entre o
sagrado e o profano, o Arcadismo apresenta um sujeito fiel à
razão, crente na ciência. Além disso, vale dizer que a linguagem do
Barroco era rebuscada e cheia de paradoxos, enquanto, no
Arcadismo, comunica-se com mais clareza e simplicidade.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ARCADISMO
Como o Arcadismo surgiu com a proposta de contrapor o Barroco, a transição foi lenta por causa
da quebra de paradigmas, em especial no Brasil. Isso porque a corrente foi trazida para o país
através de filhos de burgueses que viajavam para estudar em Lisboa, e depois retornavam,
achando o cenário “brega” e ultrapassado. Com o novo estilo, passou a ser evidenciado:
• Busca da simplicidade, da razão e do equilíbrio;
• Inspiração na natureza;
• Reprodução dos clássicos com base na cultura Greco-Romana;
• Eliminação da subjetividade, dos sentimentos expressados com exagero;
• Amor galante, a mulher passou a ser exaltada e cortejada de forma muito elegante;
• Bucolismo: está relacionado à natureza e tudo que está ligado a ela;
• Pastoralismo: vem dos pastores que passam horas nos campos com as pastoras, com as
ovelhas, cercados por cachoeiras, árvores, explorando ainda o dia, o sol e os ventos frescos.
PRINCIPAIS AUTORES DO ARCADISMO NO BRASIL:
• Cláudio Manuel da Costa – Introduziu o Arcadismo no Brasil com o livro
“Obras”. O livro apresenta características do Arcadismo mas ainda é marcado
também por traços do Barroco.
• Tomás Antônio Gonzaga;
• Alvarenga Peixoto;
• Basílio da Gama;
• Frei Santa Rita Durão.
POESIA LÍRICA – GREGÓRIO DE
MATOS
Discreta formosíssima Maria, Goza, goza da flor mocidade,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora Que o tempo trota a toda ligeireza,
Em tuas faces a rosada Aurora, E imprime em toda a flor sua pisada.
Em teus olhos, e boca o Sol e o dia:
Oh, não aguardes, que a madura idade
Enquanto com gentil descortesia Te converta em flor, essa beleza
O ar, que fresco Adônis te namora, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, e nada.
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:
POESIA LÍRICA – CLÁUDIO MANUEL
DA COSTA
Pouco importa, formosa Daliana Um obséquio, que foi de amor rendido
Que fugindo de ouvir-me, o fuso tomes Bem pode ser, pastora, desprezado;
Se quanto mais me afliges, e consomes, Mas nunca se verá desvanecido:
Tanto te adoro mais, bela serrana
Sim, que para lisonja do cuidado
Ou já fujas do abrigo da cabana Testemunhas serão de meu gemido
Ou sobre os altos montes mais te assomes Este monte, este vale, aquele prado.
Faremos imortais nossos nomes, (1768)
Eu por ser firme, tu por ser tirana
POESIA RELIGIOSA – GREGÓRIO DE
MATOS
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado, Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Da vossa piedade me despido, Glória tal, e prazer tão repentino
Porque quando mais tenho delinquido, Vos deu, como afirmais na Sacra História:
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Se basta a vos irar tanto um pecado, Cobraia-a, e não queirais. Pastor divino.
A abrandar-vos sobeja um só gemido, Perder na vossa ovelha a vossa glória.
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
MARÍLIA DE DIRCEU – TOMÁS
ANTÔNIO GONZAGA
É a obra mais emblemática do poeta árcade luso-brasileiro.
Trata-se de um longo poema lírico que foi publicado em Lisboa, a partir de 1792.
Os protagonistas da história são os pastores de ovelhas: Marília e Dirceu. Ele
representa a voz do poema (eu-lírico).
O espaço, ou seja o local em que se passa a história, não é revelado na obra.
As principais características encontradas nessa obra são: romantismo, bucolismo,
pastoralismo, descrição e culto à natureza e à simplicidade.
De caráter autobiográfico, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) escreveu essa
obra inspirado na sua própria história de amor.
Conheceu sua musa inspiradora quando estava morando e trabalhando como
Ouvidor Geral na cidade de Ouro Preto, Minas Gerais. Seu nome era Maria
Doroteia Joaquina de Seixas Brandão.
Chegaram a ficar noivos, entretanto, Tomás foi acusado de conspiração, uma vez
que estava envolvido com o movimento da Inconfidência Mineira.
Sendo assim, ele foi preso e exilado na África, se afastando de sua amada.
Nesse tempo, escreveu a obra que o consagraria.
A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira foi um movimento de caráter
separatista que ocorreu na então capitania de Minas Gerais, em 1789.

O objetivo era proclamar uma República independente, criar uma universidade e


abolir dívidas junto à Fazenda Real.

O movimento, porém, foi descoberto antes do dia marcado para a eclosão por
conta de uma delação. Com isso, seus líderes foram presos e condenados.
ESTRUTURA DA OBRA
Marília de Dirceu é um longo poema lírico e narrativo. Escrito em versos, a
linguagem utilizada é simples.
Quanto à estrutura, a obra está dividida em três partes, com um total de 80 liras
e 13 sonetos.
•Primeira parte: composta por 33 liras que foram publicadas em 1792.
•Segunda parte: composta por 38 liras que foram publicadas em 1799.
•Terceira parte: composta por 9 liras e 13 sonetos que foram publicadas em 1812.
As liras de Marília de Dirceu exploram o tema do amor entre dois pastores de
ovelhas.
No decorrer da obra, o eu-lírico expressa seu amor pela pastora Marília e fala
sobre suas expectativas futuras.
Dentro do contexto do Arcadismo, Dirceu revela a ambição de ter uma vida
simples e bucólica ao lado de sua amada.
A natureza torna-se, portanto, uma forte característica, a qual é descrita em
diversos momentos. No entanto, esse amor não pode ser consumado, visto que
Dirceu foi exilado de seu país.
Na primeira parte da obra, o foco maior é a exaltação da beleza de sua amada
e da natureza.
Parte I, Lira I
“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”
Na segunda parte, o tom de solidão já começa a aparecer, uma vez
que o eu-lírico vai para a prisão. Isso porque Dirceu esteve envolvido
no
movimento da Inconfidência Mineira, em Minas Gerais.

Parte II, Lira I


“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.
Vejo, Marília, sim, e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes”
E, por fim, na terceira parte, o tom de melancolia, pessimismo e
solidão é notório.
Exilado na África, o eu-lírico revela a saudade que sente de sua
amada:
PARTE III, LIRA IX
“Chegou-se o dia mais triste
que o dia da morte feia;
caí do trono, Dircéia,
do trono dos braços teus,
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!
Ímpio Fado, que não pôde
os doces laços quebrar-me,
por vingança quer levar-me
distante dos olhos teus.
Ah! não posso, não, não posso
dizer-te, meu bem, adeus!”

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