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Em destaque:

Leitura
Texto 1
Poesia
lírica
Texto 11
5
«Mar português» «Algumas proposições com
pássaros e árvores que o poeta
de Fernando Pessoa remata com uma referência ao
Texto 2 coração»
«O Mostrengo» de Ruy Belo
de Fernando Pessoa Texto 12
Texto 3 «Uma pequenina luz»
«Luís, o poeta, de Jorge de Sena
salva a nado o poema» Texto 13
de Almada Negreiros «Vilancete castelhano
Texto 4 de Gil Vicente»
«Camões e a tença» de Carlos de Oliveira
de Sophia de Mello Breyner Andresen Texto 14
Texto 5 «Contas»
«[Porque]» de Nuno Júdice
de Sophia de Mello Breyner Andresen Texto 15
Texto 6 «[Aquela nuvem]»
«[Se estou só, de José Gomes Ferreira
não quero estar]» Texto 16
de Fernando Pessoa «Receita de Ano Novo»
Texto 7 de Carlos Drummond de Andrade
«[Ó sino da minha aldeia]»
de Fernando Pessoa Escrita
t Escrita lúdica: escrever poemas
Texto 8
«[Floriram por engano Oralidade
as rosas bravas]» t Leitura expressiva do poema
de Camilo Pessanha
Texto 9 Gramática
«Quasi» t Variedades do português: português
de Mário de Sá-Carneiro europeu e português do Brasil
t Funções sintáticas
Texto 10
t Subordinação
«E tudo era possível»
t Classes de palavras
de Ruy Belo
t Coesão textual
5 Poesia lírica

GUIA DO PROFESSOR Texto 1


Todos os poemas desta se-
quência foram selecionados
com base na lista de poe-
mas a ler obrigatoriamente
Mar português
nas aulas publicada na sec-
ção «Educação literária» – 9º
Fernando Pessoa, Obra Poética, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1981 
ano – das Metas Curriculares
de Português.
Escrita
Poderá projetar um poema - Ó mar salgado, quanto do teu sal
reconstruído a partir do origi-
nal «Mar português».
- São lágrimas de Portugal!
Leitura - m,
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
1. Este poema pode ser desde - Quantos filhos em vão rezaram!
logo relacionado com o episó-
dio das «Despedidas de Be- 5 Quantas noivas ficaram por casar
lém» (p. 189), uma vez que há
nele referências a familiares
- Para que fosses nosso, ó mar!
dos marinheiros que sofreram
com a sua ausência e morte; - Valeu a pena? Tudo vale a pena
por outro lado, também está
ligado a episódios como o da
- Se a alma não é pequena.
«Tempestade» (p. 205) ou do - Quem quer passar além do Bojador
«Adamastor» (p. 195) porque
refere os perigos do mar. 10 Tem que passar além da dor.
2. e 2.1 O poema apresenta o - Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
mar como perigoso principal-
mente na primeira estrofe; na - Mas nele é que espelhou o céu.
segunda, a expressão «pas-
sar além do Bojador» apon-
ta no sentido do que de bom
o mar pode trazer: a riqueza
que os portugueses procura-
vam. Nos dois últimos versos Escrita
retomam-se as duas perspe-
tivas em relação ao mar: a ne- Os versos «Tudo vale a pena / Se alma não é pequena», publicados há cerca de oitenta
gativa e a positiva, sendo esta
valorizada através da utili- anos, são hoje conhecidos por toda a gente, que os repete até sem sequer saber a origem:
zação da conjunção coorde-
nativa adversativa que inicia
constituem já um verdadeiro ditado popular!
o último verso: o mar é peri- Escolhe uma das opções seguintes:
goso, mas cheio de beleza e
recompensas. A conjunção A. Escreve um texto em prosa, com um mínimo de 60 palavras e um máximo de 100,
estabelece um contraste en-
tre as duas perspetivas, real- no qual digas o que mais vale a pena para ti na vida.
çando a segunda.
B. Escreve um texto em verso sobre o que para ti vale a pena na vida. A estrofe deve ter
no mínimo seis versos e no máximo dez. Inicia-os sistematicamente por Vale a pena.
PowerPoint Segue a seguinte estrutura:
Texto Lírico ¤ Vale a pena + um nome ou dois, unidos pela conjunção coordenativa copulativa e;
¤ Termina com outra estrofe de um verso só que se inicie deste modo: Mas o que
Poema recriado:
LPP

“[Ó mar salgado, vale mesmo a pena é…


quanto do teu sal]”,
p. 33 Quer optes pela primeira proposta, quer pela segunda, lê o texto que escreveste aos
teus colegas.

Leitura
1. Identifica o episódio ou episódios de Os Lusíadas com que podes relacionar este poema
imediatamente. Justifica.

2. Mostra como os dois últimos versos constituem uma conclusão adequada ao sentido
geral do poema.
2.1 Justifica a utilização da conjunção coordenativa adversativa nesses versos.
234
5

Texto 2 GUIA DO PROFESSOR


Leitura

O Mostrengo 1. Este poema apresenta, tal


como sucede na poesia tradi-
cional popular, um verso que
funciona como refrão, no final
Fernando Pessoa, Obra Poética, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1981  de cada estrofe, com ligeira
variante na última ocorrên-
cia; além disso, a referên-
cia ao número três também
- O Mostrengo que está no fim do mar - Três vezes do leme as mãos ergueu, é própria da poesia tradicio-
nal de caráter narrativo – co-
- Na noite de breu ergueu-se a voar; 20 Três vezes ao leme as reprendeu, mo esta.
- À roda da nau voou três vezes, - E disse no fim de tremer três vezes:
- Voou três vezes a chiar, - «Aqui ao leme sou mais do que eu:
Áudio
5 E disse, «Quem é que ousou entrar - Sou um Povo que quer o mar que é teu; «O Mostrengo», poema
- Nas minhas cavernas que não desvendo, - E mais que o Mostrengo, que me a alma teme de Fernando Pessoa
- Meus tetos negros do fim do mundo?» 25 E roda nas trevas do fim do mundo,
- E o homem do leme disse, tremendo: - Manda a vontade, que me ata ao leme, CD áudio
- «El-Rei D. João Segundo!» - De El-Rei D. João Segundo!»

10 «De quem são as velas onde me roço? Animação


Gramática – recursos
- De quem as quilhas que vejo e ouço?» expressivos
- Disse o Mostrengo, e rodou três vezes,
- Três vezes rodou imundo e grosso.
- «Quem vem poder o que eu só posso,
15 Que moro onde nunca ninguém me visse
- E escorro os medos do mar sem fundo?»
- E o homem do leme tremeu e disse:
- «El-Rei D. João Segundo!»

Leitura

1. Este poema apresenta várias características da poesia tradicional popular.


1.1 Identifica-as.

2. Compara a descrição do Mostrengo com a que já conheces do Gigante


Adamastor – Os Lusíadas, Canto V, estâncias 39 e 40. Verifica quais os
aspetos comuns.

3. Escolhe a opção correta. Sabendo que o «breu» é um produto químico de cor


escura, identifica, justificando, qual dos seguintes pares de recursos expres-
sivos está presente na expressão «noite de breu», v. 2:
a. metáfora e hipérbole; c. metáfora e comparação;
b. metáfora e pleonasmo; d. metáfora e anáfora.
3.1 Explicita a expressividade de ambos os recursos.
235
5 Poesia lírica

4. Atenta na segunda estrofe e escolhe a opção correta. O contacto do Mostrengo com o


GUIA DO PROFESSOR navio ou navios que invade(m) os seus domínios é feito através de sensações:
Leitura – Págs. 235 e 236
(cont.) a. olfativas, auditivas e táteis;
2. O aspeto geral do «Mos-
trengo» aproxima-se muito b. gustativas, auditivas e visuais;
do do Adamastor. As caracte- c. táteis, visuais e auditivas;
rísticas físicas de ambos são
marcadas pela desmesura e d. táteis, visuais e olfativas.
pela feiura.
3. e 3.1 b. Metáfora porque
na expressão «noite de breu»
a noite é identificada com 5. Na segunda estrofe ocorre um recurso expressivo que revela o espanto e a ignorância do
o breu, dado que existe um Mostrengo perante o aparecimento das naus.
elemento comum entre am-
bas as realidades: a cor es- 5.1 Identifica-o.
cura; pleonasmo porque na
expressão «noite de breu» re- 5.2 Mostra como este recurso está associado a uma elipse de uma forma verbal.
força-se ou repete-se o cará-
ter escuro da noite através da
referência a um produto ne-
gro. São recursos expressivos
adequados para traduzir o ne- Gramática Pratica
grume da noite.
4. c.; táteis - «me roço», v. 10; Discurso direto e
visuais – «vejo», v. 11; auditi-
vas – «ouço», v. 11.
1. Passa para o discurso indireto a fala do «Mostrengo» da discurso indireto;
5. primeira estrofe. Utiliza o verbo perguntar para o iniciar. funções sintáticas
5.1 Trata-se da anáfora «De
quem são…?», vv. 10 e 11.
5.2 No segundo verso suben-
tende-se «são» a seguir a
2. Identifica as funções sintáticas das seguintes palavras ou expressões:
sõe
õ s:
s
«De quem». a. «à roda da nau», v. 3;
Gramática

CA
b. «o Mostrengo», v. 12;
1. O Mostrengo perguntou
quem era que ousava entrar c. «ao leme», v. 20; Funções
nas suas cavernas que não sintáticas
desvendava, nos seus tetos d. «as», v. 20. Págs. 39-48
negros do fim do mundo.
2. a. modificador [de grupo
verbal]; b. Sujeito (à direita
da forma verbal); c. comple-
3. Atenta na palavra que, presente nos vv. 1 e 6.
mento oblíquo; d. comple- 3.1 Indica, justificando, a que classe e subclasse de palavras
mento direto.
3. pertence.
3.1 São dois pronomes re-
lativos invariáveis cujo an- 3.2 Refere a sua função sintática.
tecedente se encontra ime-
diatamente à sua esquerda:
«O Mostrengo», v. 1 e «as mi- 4. O poema inclui várias orações subordinadas adjetivas relativas.
nhas cavernas», v. 6.
3.2 Sujeito na oração subordi- 4.1 Identifica uma explicativa, na terceira estrofe.
nada adjetiva relativa restriti-
va «que está no fim do mar»,
v. 1; complemento direto na
oração subordinada adjetiva
5. Explicita a diferença entre a palavra «as» nos vv. 19 e 20.
relativa restritiva «que não
desvendo»; o sujeito aqui é
subentendido – eu.
4. Escrita
4.1 «,que me ata ao leme,»,
v. 26.
5. Na primeira ocorrência tra-
ta-se de um determinante ar-
Escrita lúdica: escrever um poema
tigo definido, na segunda, de
um pronome pessoal. A partir destes dois poemas constrói um novo, relacionando
como entenderes os seus versos.
Animações Antes de iniciares o teu trabalho, o professor projetará um
Gramáticas:
Discurso direto e discurso
poema construído a partir destes dois, para que possas ver o que
indireto é possível fazer.
Funções sintáticas

236
5

Texto 3

Luís, o poeta,
salva a nado o poema
Almada Negreiros, Obra Completa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1997

- Era uma vez - Ia num barco - Tira-me as forças - À nossa terra


- um português - ia no mar - podes matar 85 irão parar
- de Portugal. 30 e a tormenta - a minha alma - lá toda a gente
- O nome Luís - vá d’estalar. - sabe voar. - há de gostar.
5 há de bastar - Mais do que a vida 60 Sou português - Só uma coisa
- toda a nação - há de guardar - de Portugal - vão olvidar
- ouviu falar. - o barco a pique - depois de morto 90 o seu autor
- Estala a guerra 35 Luís a nadar. - não vou mudar. - aqui a nadar.
- e Portugal - Fora da água - Sou português - É fado nosso
10 chama Luís - um braço no ar 65 de Portugal - é nacional
- para embarcar. - na mão o livro - acaba a vida - não há portugueses
- Na guerra andou - há de salvar. - e sigo igual. 95 há Portugal.
- a guerrear 40 Nada que nada - Meu corpo é Terra - Saudades tenho
- e perde um olho - sempre a nadar - de Portugal - mil e sem par
15 por Portugal. - livro perdido 70 e morto é ilha - saudade é vida
- Livre da morte - no alto mar. - no alto mar. - sem se lograr.
- pôs-se a contar - - Mar ignorante - Há portugueses 100 A minha vida
- o que sabia 45 que queres roubar? - a navegar - vai acabar
- de Portugal. - A minha vida - por sobre as ondas - mas estes versos
20 Dias e dias - ou este cantar? 75 me hão de achar. - hão de gravar.
- grande pensar - A vida é minha - A vida morta - O livro é este
- juntou Luís - ta posso dar - aqui a boiar 105 é este o cantar
- a recordar. 50 mas este livro - mas não o livro - assim se pensa
- Ficou um livro - há de ficar. - se há de molhar. - em Portugal.
25 ao terminar. - Estas palavras 80 Estas palavras - Depois de pronto
- muito importante - hão de durar - vão alegrar - faltava dar
- para estudar. - por minha vida - a minha gente 110 a minha vida
55 quero jurar. - de um só pensar. - para o salvar.

GUIA DO PROFESSOR
Leitura

1. O poema refere vários factos relativos à biografia de Camões.


Áudio
1.1 Refere-os. «Luís, o poeta, salva a
nado o poema», poema de
1.2 Indica qual desses factos corresponde a uma crítica que Camões fez à sua pátria no Almada Negreiros
final do Canto X de Os Lusíadas (estância 145).
CD áudio

237
5 Poesia lírica

GUIA DO PROFESSOR Texto 4


Leitura – Pág. 237 (cont.)
1.1 Camões embarca para
ir lutar (no Norte de África) –
vv. 8-11; fica cego de um olho
Camões
na guerra – vv. 12-14; inicia Os
Lusíadas, vv. 24-25; sofre um
naufrágio e salva o manuscri-
e a tença
to de Os Lusíadas – vv. 37-38;
queixa-se (tal como faz em Os Sophia de Mello Breyner Andresen,
Lusíadas) de o seu valor não Obra Poética, Lisboa, Caminho, 2010
ser recompensado – vv. 108-
-111.
1.2 O último. - Irás ao Paço. Irás pedir que a tença1
Leitura – Pág. 238 - Seja paga na data combinada.
1. O poema refere o facto de - Este país te mata lentamente
Camões ter solicitado ao Rei
uma «tença» como recom- - País que tu chamaste e não responde
pensa por ter escrito a epo-
peia nacional; concedida, era
5 País que tu nomeias e não nasce
paga com atrasos.
2.1 «Este país te mata lenta- - Em tua perdição se conjuraram
mente.», vv. 3 e 16.
2.2 Estes versos repetidos
- Calúnias desamor inveja ardente
devem relacionar-se com os - E sempre os inimigos sobejaram
versos que referem a «paciên-
cia», v. 12 e 15; também com
Leitura - A quem ousou seu ser inteiramente
o verso 14, no qual ocorre o
advérbio com valor de mo-
10 E aqueles que invocaste2 não te viram
do «pacientemente»; note-
1. O poema refere determinados factos - Porque estavam curvados e dobrados
-se que esta palavra rima com biográficos relativos a Camões que já co-
«lentamente»; os dois versos
- Pela paciência cuja mão de cinza
em causa podem, deste modo, nheces. Indica-os. - Tinha apagado os olhos no seu rosto
ser lidos como uma crítica ao
poder por não recompensar 2. Há um verso que se repete no poema.
devidamente o Poeta e como
uma denúncia do sofrimento
- Irás ao Paço irás pacientemente
2.1 Identifica-o.
que assim lhe era causado. 15 Pois não te pedem canto mas paciência
3. 3.1 Esta forma verbal con- 2.2 Explica que sentido lhe atribuis,
tribui, já que repetida, para relacionando-o com a referência à
marcar a denúncia das fre- - Este país te mata lentamente
quentes idas de Camões «ao «paciência» presente mais do que
Paço» a solicitar o que lhe era
devido.
uma vez no poema.
4.
4.1 Trata-se da oração subor- 3. A forma verbal «irás» ocorre várias vezes Vocabulário
dinada «que a tença / Seja pa- no poema. 1
pensão concedida pelo rei
ga na data combinada.», vv. 1 2
chamaste, a quem te dirigiste
e 2. Esta oração subordinada 3.1 Explica a expressividade desta repetição.
depende (é subordinada) do
/ pelo complexo verbal «Irás
pedir», v. 1, e tem a função de 4. A razão pela qual Camões ia frequentemente ao Paço é indicada numa oração subordi-
complemento direto.
nada substantiva completiva.
5.
a. O chamamento é a publi- 4.1 Justifica esta afirmação.
cação de Os Lusíadas – 1572.
b. A resposta não acontece 5. Atenta no v. 4 «País que tu chamaste e não responde».
pois Camões não vê o seu tra-
balho justamente recompen- Explica-o dizendo:
sado.
a. em que circunstâncias ocorreu o chamamento.
6.
6.1 «A quem ousou ser seu in- b. de que modo a resposta não acontece.
teiramente», v. 9.
6.2 Camões é apresentado 6. Atenta na segunda estrofe.
como alguém que não pac-
tuou com nada nem com nin- 6.1 Identifica o verso que caracteriza psicologicamente Camões.
guém, preferindo assumir-se
na sua integridade própria. 6.2 Indica que significado lhe atribuis.

238
5

GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1.
Texto 5 1.1 O verso 7 podia ser consi-
derado uma referência a Ca-
mões e a Os Lusíadas dado

[ Porque ] que Camões, no seu poema,


critica muitos aspetos negati-
vos da expansão portuguesa
e a corrupção em Portugal:
Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética, Lisboa, Caminho, 2010  não se calou.
2. e 2.1 A primeira metáfora
desta estrofe é a expressão
- Porque os outros se mascaram mas tu não «os outros são os túmulos
caiados», v. 5; esta metáfora
- Porque os outros usam a virtude associa-se intimamente com
as do verso seguinte «ger-
- Para comprar o que não tem perdão. mina … a podridão». Isto é, a
- Porque os outros têm medo mas tu não. primeira metáfora refere as
pessoas que, do mesmo mo-
do que um túmulo que é mui-
to bonito por fora está cheio
5 Porque os outros são os túmulos caiados1 de «podridão» por dentro,
- Onde germina calada a podridão. também elas parecem uma
coisa mas são outra. A me-
- Porque os outros se calam mas tu não. táfora revela-se, deste modo,
uma expressiva metáfora da
hipocrisia, da dissimulação,
- Porque os outros se compram e se vendem do cálculo.
3.
- E os seus gestos dão sempre dividendo2. 3.1 Trata-se da antítese tu /
10 Porque os outros são hábeis mas tu não. os outros: «Porque os outros
calculam mas tu não», v. 13.
3.2 A conjunção coordenati-
- Porque os outros vão à sombra dos abrigos Vocabulário
va adversativa «mas»: ocor-
re, nesse sentido, nos vv. 1, 4,
- E tu vais de mãos dadas com os perigos. 1
referência bíblica a túmulos belos 7, 10, 13.
- Porque os outros calculam mas tu não. por fora, brancos, asseados, mas 4. Resposta livre.
muito diferentes por dentro
2
lucro, no sentido financeiro da Nota:
palavra Sugira a leitura expressiva do
poema, propondo as seguin-
tes estratégias: que palavras
ou versos dirias com maior /
Leitura menor intensidade, que
versos ou partes de versos
podem ser lidos individual-
1. Este poema não apresenta um destinatário específico. Contudo, poderia ser dirigido a mente ou em coro, etc.
Camões, dado o que conhecemos da sua vida.
1.1 Justifica esta afirmação recorrendo pelo menos a um verso.

2. Identifica a primeira metáfora presente na segunda estrofe.


2.1 Explicita a expressividade dessa metáfora tendo em conta a totalidade da estrofe.

3. O poema, globalmente, está construído com base numa antítese.


3.1 Justifica esta afirmação apresentando pelo menos um verso que a comprove.
3.2 Identifica a classe de palavras que, pela sua repetição, mais contribui para a visão
antitética presente no poema.

4. Imagina que daqui a vinte ou trinta anos encontravas de novo este poema.
4.1 Lê em voz alta o verso ou versos que reconhecerias mais depressa.

239
5 Poesia lírica

Texto 6
Fernando Pessoa, Obra Poética, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1981

[Se estou só,


quero não estar]
- Se estou só, quero não estar,
- Se não estou, quero estar só, Texto 7
- Enfim, quero sempre estar Fernando Pessoa, Obra Poética, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1981
- Da maneira que não estou.

5 Ser feliz é ser aquele. [ Ó sino da


E aquele não é feliz,
minha aldeia]
-

- Porque pensa dentro dele


- E não dentro do que eu quis.
- Ó sino da minha aldeia,
- A gente faz o que quer - Dolente na tarde calma,
10 Daquilo que não é nada, - Cada tua badalada
- Mas falha se o não fizer, - Soa dentro da minha alma.
- Fica perdido na estrada.
5 E é tão lento o teu soar,
- Tão como triste da vida,
- Que já a primeira pancada
- Tem o som de repetida.

- Por mais que me tanjas perto


10 Quando passo, sempre errante,
- És para mim como um sonho,
- Soas-me na alma distante.

- A cada pancada tua,


- Vibrante no céu aberto,
15 Sinto mais longe o passado,
- Sinto a saudade mais perto.

240
5
Leitura

1. Atenta no poema «[Se estou só, quero não estar]». Dos quatro sentimentos ou GUIA DO PROFESSOR
atitudes seguintes, dois podem encontrar-se no poema: Leitura T6 e T7
1.
a. inadaptação;
1.1 a. e b. O sentimento de
b. insatisfação; inadaptação revela-se, por
exemplo, nos versos 3 e 4; o
c. intolerância; de insatisfação, por exemplo,
nos versos 1 e 2. Outras res-
d. imprevidência. postas / exemplos são possí-
veis.
1.1 Identifica-os, justificando. 2.
2.1 e 2.2
2. Atenta no verso «Fica perdido na estrada», v. 12. Do mesmo modo que a «es-
trada» é um percurso com
2.1 Identifica, justificando, o recurso expressivo nele presente. início e fim, a vida também o
é: trata-se, pois, de uma me-
2.2 Explica em que medida é expressivo, tendo em consideração todo o poema. táfora da vida; mas o verso
tem de ser lido, metaforica-
mente, no seu conjunto: «Fi-
ca perdido na estrada» o que
3. Atenta no poema «[Ó sino da minha aldeia]». não sabe o que fazer à vida,
3.1 Identifica um recurso expressivo presente no seu final, nos dois últimos ver- o que com ela se relaciona
mal. O poema é uma confis-
sos. são dessa realidade.
3.
3.2 Explicita o estado de espírito do sujeito poético com base nesses dois versos.
3.1 A anáfora («Sinto» / «Sin-
to»).
4. Refere os dois versos nos quais o sujeito poético identifica o modo como o sino soa 3.2 O sujeito poético caracte-
riza-se por estar sob o domí-
com o seu estado de espírito. nio do sentir, de sentimentos
de saudade (v. 16) relativa-
4.1 O modo como o sino soa tem determinada consequência. Identifica a oração mente ao passado que se
subordinada adverbial consecutiva que a exprime. afasta (v. 15).
4. Vv. 5 e 6: o soar lento do si-
no identifica-se com a triste-
za da vida.
4.1 «Que já a primeira panca-
Escrita da / tem o som de repetida»,
vv. 7 e 8. Estes versos acen-
tuam a monotonia e tristeza
Escrita lúdica: escrever um poema da vida.

A partir destes dois poemas constrói um novo, relacionando como entenderes os Escrita
Sugestão metodológica: an-
seus versos. tes de os alunos iniciarem
o trabalho, projete um poe-
ma construído a partir destes
dois para que sirva de mode-
lo do que é possível fazer-se.

Poema recriado:
LPP

“[Ó sino da minha


aldeia]”,
p. 34

241
5 Poesia lírica

Texto 8

[ Floriram por engano


as rosas bravas]
Camilo Pessanha, Clepsidra e Outros Poemas, Porto, Lello Editores, 1997 
-

-
Floriram por engano as rosas bravas
-
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas1, meu bem? Porque me calas
5
As vozes com que há pouco me enganavas?
-

-
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
-
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que num momento
-
Perscrutaram nos meus2, como vão tristes!
10

-
E sobre nós cai nupcial3 a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve Vocabulário

-
Juncando o chão, na acrópole de gelos4... 1
pensas; 2 olharam
intensamente para os meus;
- 3
branca, da cor do vestido
Em redor do teu vulto é como um véu!
- de casamento, das núpcias;
Quem as esparze5 – quanta flor! – do céu, 4
num monumento imenso
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos? de gelo; 5 espalha

GUIA DO PROFESSOR
Leitura
1.
1.1 O verso 5 constitui uma
imagem poderosa do fim de Leitura
uma ilusão, metaforizada em
«castelos» arruinados; trata-
-se de uma imagem que se Este soneto é dos mais belos poemas em língua portuguesa. O trabalho que vais fazer
pode relacionar facilmente permitir-te-á lembrar que o poema é feito de palavras relacionadas entre si, que guardam
com as «rosas bravas», ilu-
sões que «floriram por en- sentidos aparentemente escondidos…
gano» «no inverno» e foram
pelo vento destruídas; estas
marcas negativas são refor- 1. Atenta no v. 5: «Castelos doidos! Tão cedo caístes!...» e observa agora as expressões que
çadas pela referência à tris- constam da grelha:
teza dos olhos, na segunda
quadra. Isto é, detetam-se no
poema as ideias de ilusão, de- Primeira quadra Segunda quadra
silusão, tristeza.
1.2 Estas ideias surgem nos «as rosas bravas»: «teus olhos»:
dois tercetos também: a «ne- a. «floriram por engano»; a. «como vão tristes».
ve», v. 9, associa-se ao inver-
no; o gelo triunfante (v. 11), b. «no inverno»;
tudo domina; a sensação de
desilusão total é acentuada
c. «o vento» desfolhou-as;
pela referência aos «gelos»,
v. 11, que impedem qualquer 1.1 Relaciona-as com o v. 5 de modo a demonstrar a existência de identidade de sentido
esperança. (Dada a extrema
riqueza literária deste poema, entre elas e esse verso.
muitas outras respostas são
possíveis, desde que basea-
1.2 Descobre nos dois tercetos exemplos de palavras ou expressões que possas asso-
das na sua matéria verbal). ciar a estas. Justifica.

242
5
2. Compara ainda os seguintes versos:

Primeira quadra Primeiro terceto


GUIA DO PROFESSOR
Floriram por engano as rosas bravas E sobre nós cai nupcial a neve, Leitura
No inverno: veio o vento desfolhá-las... Surda, em triunfo, pétalas, de leve 2.
Juncando o chão, na acrópole de gelos… 2.1 «pétalas», v. 10, uma
vez que as rosas as têm. Es-
tas «pétalas» são metáfora
dos flocos de neve que ca-
2.1 Identifica a palavra que, no primeiro terceto, se pode relacionar com «rosas bra- em. Imagisticamente, são as
vas». Justifica. rosas / as ilusões destruídas.
2.2 Desfolhar significa tirar
2.2 Relaciona a frase «veio o vento desfolhá-las…», v. 2, com os dois últimos versos do as pétalas às rosas; elas ca-
primeiro terceto, justificando. em ao chão nessa situação.
São as «pétalas» que juncam
«o chão» no v. 11. As desilu-
3. Atenta no v. 13. Justifica a utilização do nome «flor» relacionando-o com o primeiro sões caídas por terra.
3. A palavra «flor» é uma
terceto. Para responderes corretamente a esta pergunta deves dar especial atenção ao metáfora dos flocos de neve;
pronome pessoal existente no v. 13, verificando qual o seu antecedente. relaciona-se com o primei-
ro terceto, pois nele há refe-
rências às «pétalas das rosas
4. A estação do ano referida no v. 2 pode relacionar-se com duas realidades referidas no bravas», v. 1, desfolhadas, ca-
ídas; também os flocos de ne-
primeiro terceto. ve, metaforizados em flores,
caem, num gelo – símbolo
4.1 Identifica-as. da desesperança – que tudo
cobre… O pronome pessoal
4.2 Justifica a sua ocorrência tendo em consideração os sentidos globais do soneto. «as», v. 13, tem como ante-
cedente as «pétalas» / flocos
de neve do verso 10.
5. Relê o primeiro terceto:
4.
E sobre nós cai nupcial a neve, 4.1 O inverno relaciona-se
com a «neve», v. 10 e os «ge-
Surda, em triunfo, pétalas, de leve los», v. 11.
Juncando o chão, na acrópole de gelos... 4.2 Estes elementos – a ne-
ve e os gelos – podem con-
siderar-se símbolos da
Observa o seu caráter visual: ele é como uma fotografia: a neve cai em silêncio trans- impossibilidade da relação
formando a paisagem num horizonte branco e gelado… entre o sujeito poético e o seu
destinatário. Todo o soneto
está marcado por essa im-
5.1 Indica se os estado(s) de espírito do sujeito poético sugeridos com esta paisagem possibilidade, desde os dois
são negativos ou positivos. primeiros versos.
5.
5.2 Justifica. 5.1 e 5.2 Muito negativos: a
vida é praticamente impos-
sível numa paisagem gela-
Pratica da: forma poética, imagística,
Gramática de sugerir a infelicidade, a de-
Funções sintáticas
sesperança, as desilusões, a
morte do espírito…
1. Identifica em «Floriram por engano as rosas bravas / No
inverno», vv. 1 e 2, as seguintes funções sintáticas: Gramática
1.
a. Sujeito b. Modificadores c. Predicado a. «as rosas bravas»;
[de grupo verbal] b. por engano / No inverno;
c. Floriram por engano (…) No
inverno.

Animação
Gramática – Funções
sintáticas
CA

Funções
sintáticas Funções sintáticas
Págs. 277-279 Págs. 39-48

243
5 Poesia lírica

GUIA DO PROFESSOR Texto 9

Áudio Quasi
ema de Mário de
«Quasi», poema
Sá-Carneiro
o Mário de Sá-Carneiro, Poemas Completos, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996

CD áudio
udio - Um pouco mais de sol – eu era brasa,
- Um pouco mais de azul – eu era além.
- Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
- Se ao menos eu permanecesse aquém...

5 Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído


- Num baixo mar enganador d’espuma;
- E o grande sonho despertado em bruma,
- O grande sonho – ó dor! – quasi vivido...

- Quasi o amor, quasi o triunfo e a chama,


10 Quasi o princípio e o fim – quasi a expansão...
- Mas na minh’alma tudo se derrama...
- Entanto nada foi só ilusão!

- De tudo houve um começo... e tudo errou...


- – Ai a dor de ser-quasi, dor sem fim...
15 Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
- Asa que se elançou mas não voou...

- Momentos d’alma que desbaratei...


- Templos aonde nunca pus um altar...
- Rios que perdi sem os levar ao mar...
20 Ânsias que foram mas que não fixei...

- Se me vagueio, encontro só indícios...


- Ogivas para o sol – vejo-as cerradas;
- E mãos d’ herói, sem fé, acobardadas,
- Puseram grades sobre os precipícios...

25 Num ímpeto difuso de quebranto,


- Tudo encetei e nada possuí...
- Hoje, de mim, só resta o desencanto
- Das coisas que beijei mas não vivi...

- Um pouco mais de sol – e fora brasa,


30 Um pouco mais de azul – e fora além.
- Para atingir, faltou-me um golpe d’asa...
- Se ao menos eu permanecesse aquém...
Paris 1913 - maio 13

244
5
Leitura

1. Recorda o verso do soneto de Camilo Pessanha que leste anteriormente: «Castelos doi- GUIA DO PROFESSOR
dos! Tão cedo caístes!...». Leitura
1.1 Identifica no poema de Mário de Sá-Carneiro pelo menos três destes «castelos» 1.
1.1 «o grande sonho», vv. 7
que nem chegaram a ser construídos ou que também caíram cedo… e 8; «o amor», v. 9; «o triun-
fo», v. 9.
2. Identifica as anáforas que sugerem a proximidade dos sonhos quase atingidos. 2. «Um pouco mais de», vv. 1
e 2 e vv. 29 e 30; «Quasi o»,
vv. 10 e 11.
3. Várias metáforas disseminadas pelo poema sugerem esses sonhos que poderiam ter 3.
sido, mas não foram… 3.1 «Um pouco mais de sol –
eu era brasa», v. 1, «chama»,
3.1 Identifica pelo menos três. v. 9, «Templos», v. 17.
3.2 «Chama», v. 9: trata-se
3.2 Explica a expressividade literária de uma delas. de uma metáfora: do mesmo
modo que a chama aquece,
brilha, se levanta em movi-
4. Atenta no verso 3, «Para atingir, faltou-me um golpe de asa...». O verbo «atingir» é tran- mento, também aquele que
triunfa se levanta na socieda-
sitivo – alguém atinge alguém ou alguma coisa. de. O que não sucedeu com o
4.1 Explicita o que o sujeito poético gostaria de ter atingido com base em elementos sujeito poético.
4.
textuais.
4.1 O sujeito poético gostaria
4.2 Identifica o outro verso que, pelo significado, é idêntico a «faltou-me um golpe de de ter atingido um «além», v.
2, um «grande sonho», v. 7, o
asa». «amor», v. 8, «o triunfo», v. 8,
etc…
4.2 V. 16 «Asa que se elançou
5. Escolhe as opções corretas. Tanto no poema de Camilo Pessanha, como neste, os sujei- mas não voou».
tos poéticos estão marcados por sentimentos de 5. a., b., d. Não há referências
ao sentimento de desprezo.
a. ilusão, desilusão, tristeza. b. ilusão, desencanto, angústia.
6.
c. ilusão, desprezo, tristeza. d. ilusão, desalento, desengano. 6.1 Contrasta com «além»,
v. 2.
7.
6. Atenta no verso 4, que se repete no último.
7.1 Estes dois versos repeti-
6.1 O advérbio «aquém» contrasta com outro. Identifica-o. dos mostram bem o desejo
do sujeito poético em não vi-
ver a insatisfação e desilusão
7. No verso repetido «Se ao menos eu permanecesse aquém…», o sujeito poético exprime que vive; mas mostram, so-
bretudo, pela hipótese lança-
uma possibilidade e deixa em suspenso alguma coisa que não é dita – através do sinal da e pela pontuação final dos
versos, a incapacidade dele
de pontuação final. em viver sem sonhar e sofrer
7.1 Explica que sentido atribuis a estes versos repetidos. as desilusões do sonho.
8. Resposta livre, mas que
deve ter em conta a não rea-
8. Este é também um dos mais conhecidos poemas escritos em língua portuguesa, lido e lização de muitos dos nossos
sonhos no decorrer da vida e
apreciado por jovens e adultos, embora apresente uma visão da vida infeliz, desiludida… a desilusão que nos vai mar-
cando.
8.1 Assim sendo, dá a tua opinião sobre este facto aparentemente contraditório. Re-
Gramática
flete, antes de responder, pensando no que é que o poema pode ter a ver com a 1. Os três predicativos são
natureza humana, com cada um de nós. «brasa», v. 1, «além», v. 2 e
«aquém», v. 4.
2. Complemento oblíquo –
«sobre os precipícios», v. 24.
Gramática Funções
sintáticas
Pratica Págs. 277-279
1. Identifica os três predicativos de sujeito presentes na Funções sintáticas Animação
Gramática – Funções
primeira estrofe.
CA

sintáticas

2. Identifica, na sexta estrofe, o complemento oblíquo nela presente. Funções


sintáticas,
Págs. 39-48

245
5 Poesia lírica

GUIA DO PROFESSOR
Leitura
Texto 10
1. a.
1.1 Refere-se explicitamen-
te ao seu passado pois apre-
senta vários factos desse
passado, da «juventude»: as
E tudo era
leituras de livros, v. 4, o co-
nhecimento da natureza pri-
maveril, v. 5, a inocência, a
possível
felicidade… A referência ao
presente efetua-se por con- Ruy Belo, Todos os Poemas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000
traste com a realidade do
passado – longínquo – v. 11.
No presente já não existe a
felicidade desse passado, o - Na minha juventude antes de ter saído - E tudo se passava numa outra vida
sujeito poético já não tem «o
poder de uma criança», v. 12,
- da casa de meus pais disposto a viajar 10 e havia para as coisas sempre uma saída
já não vê a vida através do so- - eu conhecia já o rebentar do mar - Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
nho e da inocência.
2. - das páginas dos livros que já tinha lido
2.1 Trata-se do poder de so- - Só sei que tinha o poder duma criança
nhar («o sonhador falar / da
vida», vv. 7 e 8), do poder de 5 Chegava o mês de maio era tudo florido - entre as coisas e mim havia vizinhança
tudo ter uma solução positiva - o rolo das manhãs punha-se a circular - e tudo era possível era só querer
(«havia para as coisas sem-
pre uma saída», v. 10), do po- - e era só ouvir o sonhador falar
der de se relacionar com a
vida de um modo feliz, v. 13, - da vida como se ela houvesse acontecido
do poder de acreditar na vi-
da, v. 14.
3. Trata-se de uma forma po-
ética fixa constituída por duas
quadras e dois tercetos.
4. abba / abba / ccd / eed;
4.1 Interpolada; Leitura
5. V. 1 - Na / mi / nha / ju /
vem / tu / de an / tes / de / 1. O poema refere-se:
ter / saí / (12 sílabas métri-
cas); v. 2 - da / ca / sa / de a. explicitamente, ao passado do sujeito poético; b. implicitamente, ao seu presente.
/ meus / pais / dis / pos/ to
a / vi / a / jar (12 sílabas mé- 1.1 Justifica estas afirmações.
tricas).
5.1 Versos dodecassílabos ou
alexandrinos. 2. O sujeito poético afirma que tinha, na «juventude», «o poder de uma criança», vv. 1 e 12.
2.1 Justifica esta afirmação com base em elementos textuais que te permitam explicitar
em que consiste esse «poder».

3. Este poema é um soneto. Explica porquê.

4. Indica o seu esquema rimático.


4.1 Classifica o tipo de rima existente na primeira quadra.

5. Faz a escansão dos dois primeiros versos.


5.1 Classifica-os tendo em conta o número de sílabas métricas.

Escrita

Recorda a tua infância, agora que és já um(a) adolescente. Escreve um texto que tenha um
mínimo de 100 palavras e um máximo de 120 em que digas qual das duas fases da vida te é
mais cara. Justifica a tua escolha com, pelo menos, duas razões ou argumentos.

246
5

Texto 11

Algumas proposições com pássaros


e árvores que o poeta remata
com uma referência ao coração
Ruy Belo, Todos os Poemas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000

- Os pássaros nascem na ponta das árvores


- As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
- Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
- Os pássaros começam onde as árvores acabam
5 Os pássaros fazem cantar as árvores
- Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-see
- deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animall
- Como pássaros poisam as folhas na terra
- quando o outono desce veladamente sobre os campos
10 Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
- mas deixo essa forma de dizer ao romancista
- é complicada e não se dá bem na poesia
- não foi ainda isolada da filosofia
- Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
15 Quem é que lá os pendura nos ramos?
- De quem é a mão a inúmera mão?
- Eu passo e muda-se-me o coração

Escrita

Trabalho de pares

Reescreve o poema seguindo as instruções. No novo poema:


¤ mantém o número de versos;
¤ divide-o em duas estrofes;
¤ altera a posição dos versos como entenderes;
¤ passa sistematicamente as formas verbais que se encontram
na primeira pessoa do singular para a primeira do plural;
¤ começa e termina cada estrofe com o verso «Eu passo e muda-
-se-me o coração» alterado para Nós passamos e muda-se-nos
o coração.
Lê o poema em voz alta: a leitura pode ser feita em coro pelo par ou,
em alternativa, cada elemento lê metade.

247
5 Poesia lírica

Escrita

Trabalho individual

Escreve um texto, com um mínimo de 60 palavras e um máximo de 80, no qual digas o


que é que te muda o coração e/ou quem te muda ou pode mudar o coração.
Justifica o teu ponto de vista, apresentando dois argumentos.

Oralidade
EXPRESSÃO

Apresenta propostas ao teu professor para realizar a leitura expressiva deste poema
na sala de aula. Verifica as sugestões indicadas para o poema de Sophia de Mello Breyner
Andresen da página 239.

Texto 12

Uma pequenina luz


Jorge de Sena, Poesia II, Lisboa, Edições 70, 1988

- Uma pequenina luz bruxuleante - Silenciosa não crepita


- não na distância brilhando no extremo da estrada - heiro.
não consome não custa dinheiro.
- aqui no meio de nós e a multidão em volta - o.
Não é ela que custa dinheiro.
- une toute petite lumière 25 Não aquece também os quee de frio se juntam.
5 just a little light - Não ilumina também os rostos que se curvam.
- una piccola… em todas as línguas do mundo - Apenas brilha bruxuleia ondeia
- uma pequena luz bruxuleante - indefetível próxima dourada.
- brilhando incerta mas brilhando - Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
- aqui no meio de nós 30 Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
10 entre o bafo quente da multidão - Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
- a ventania dos cerros e a brisa dos mares - Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
- e o sopro azedo dos que a não veem - Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
- só a advinham e raivosamente assopram. - brilha.
- Uma pequena luz 35 Uma pequenina luz bruxuleante e muda
15 que vacila exata - Como a exatidão como a firmeza
- que bruxuleia firme - como a justiça.
- que não ilumina apenas brilha. - Apenas como elas.
- Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda. - Mas brilha.
- Muda como a exatidão como a firmeza 40 Não na distância. Aqui
20 como a justiça - No meio de nós.
- Brilhando indefetível. - Brilha.

248
5
Oralidade
EXPRESSÃO
GUIA DO PROFESSOR
1. Procede à leitura do poema em voz alta com os teus colegas. Oralidade (Expressão)

2. Ouve a versão gravada que o teu professor vai passar.


Áudio
2.1 Comenta as opções de leitura do declamador, comparando-as com as da turma. «Uma pequenina luz»,
poema de Jorge de Sena

Leitura CD áudio

Leitura
1. Este poema de Jorge de Sena tem sido lido e interpretado como um poema que trans- 1.
mite uma mensagem de esperança. 1.1 Resposta livre. Mas espe-
ra-se que os alunos associem
1.1 Dá a tua opinião sobre esta interpretação, dizendo se concordas ou não e justificando a «pequenina luz» e o seu bri-
o que disseres com elementos textuais. lho permanente à esperança,
à justiça, à solidariedade…
2.
2. A «pequenina luz» está disseminada em todo o poema. 2.1 Ver 1.1.
2.1 Indica o que pode ser esta luz. Para isso atenta no seguinte: 2.2 Trata-se de marcar, com
ela, o contraste entre a di-
Uma pequenina luz bruxuleante e muda mensão da «pequenina luz» e
a sua força.
Como a exatidão como a firmeza 3.
como a justiça. 3.1 Vv. 12 e 13: «e o sopro
azedo dos que a não veem /
Apenas como elas. só a advinham e raivosamen-
Mas brilha. te assopram»; ou os vv. 29 e
30: «Tudo é incerto ou falso
ou violento: brilha. / Tudo é
2.2 Explica a presença da conjunção coordenativa adversativa no final deste conjunto terror vaidade orgulho teimo-
de versos. sia: brilha».
3.2 Resposta livre. Mas espe-
ra-se que sejam referidos to-
3. O poema refere opositores à «pequenina luz». dos aqueles que promovem
a injustiça, a corrupção, etc…
3.1 Indica os versos onde isso acontece.
3.3 Resposta livre. Mas espe-
3.2 Dá a tua opinião, justificando, sobre quem podem ser os que recusam a «pequenina ra-se sejam referidos todos
aqueles que necessitam de
luz». paz, de justiça social, de es-
perança, etc…
3.3 Refere também, justificando, quem, na nossa sociedade, precisa desta «pequenina
luz». Gramática
1.
Pratica 1.1 a.
Gramática 2. lhe – complemento indire-
Funções sintáticas; coordenação
to; muda – predicativo do su-
jeito.
1. Atenta no verso 18: «Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda». 3. Entre as duas primeiras
orações a coordenação é as-
1.1 Escolhe a opção correta. Os três sujeitos das formas verbais são, respetivamente sindética; entre a segunda e a
terceira é sindética.
a. indeterminado / indeterminado / subentendido.
b. subentendido / indeterminado / subentendido.
c. subentendido / subentendido / indeterminado. Animação
Gramática – Tipos de sujeito
– subentendido
2. Indica a função sintática das duas palavras destacadas no e indeterminado
CA

verso.
Funções
sintáticas Funções sintáticas
Págs. 277-279 Págs. 39-48
3. Mostra como este verso apresenta um exemplo de coor-
Coordenação Coordenação
denação sindética e outro de assindética. Pág. 279 Pág. 51

249
5 Poesia lírica

Texto 13

Vilancete castelhano
de Gil Vicente
Carlos de Oliveira, Trabalho Poético – Primeiro volume,
Lisboa, Livraria Sá da Costa Editora, s/d

-
Por mais que nos doa a vida
-
nunca se perca a esperança;
-
a falta de confiança
5
só da morte é conhecida.
-
Se a lágrimas for cumprida
-
a sorte1, sentindo-a bem2,
-
vereis que todo o mal vem
-
achar remédio na vida.
10
E pois3 que outro preço4 tem
-
depois do mal a bonança,
-
nunca se perca a esperança
enquanto a morte não vem. Vocabulário
1
a vida; 2 refletindo bem nela, na vida;
3
E já que; 4 valor

Leitura

1. O poema desenvolve-se confrontando a vida que dói, v. 1, com «a esperança», v. 2.


1.1 Preenche a coluna da esquerda com palavras do poema relativas à dor de viver e a da
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
direita com as que se ligam à «esperança»:
1.
A dor de viver A «esperança»
1.1 A dor de viver - «morte»,
v. 4, «lágrimas», v. 5, «mal»,
vv. 7 e 10;
A «esperança» - «remédio»,
v. 8, «bonança», v. 10.
2. Os dois últimos versos re-
petem esta ideia.
3. Resposta livre. Mas a ten-
dência otimista parece evi-
dente: para tudo haverá 2. Identifica os dois versos que repetem a ideia contida nos vv. 3 e 4: «a falta de confiança / só
remédio exceto para a morte. da morte é conhecida».
4.
4.1 Depois da tempestade
vem a bonança. 3. Com base no trabalho realizado, explica se a mensagem deste poema é otimista ou pessi-
4.2 São dois versos que refe- mista. Justifica.
rem a esperança que deve-
mos ter sempre, mesmo na
adversidade. O mesmo suce- 4. Atenta nos vv. 9 e 10 «E pois que outro preço tem / depois do mal a bonança,».
de no provérbio.
4.1 Refere o provérbio popular que, pelo sentido, se aproxima destes versos.
4.2 Indica que sentido lhes podes atribuir.

250
5

Texto 14
GUIA DO PROFESSOR
Leitura
Contas 1.
1.1 No verso 1, o segmento
«quando na noite não acaba-
Nuno Júdice, Poesia Reunida, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000 va» é um evidente exemplo
da presença do tempo psico-
lógico, pois a duração da noite
é apresentada de forma sub-
- Uma noite, quando a noite não acabava, jetiva.
- contei cada estrela no céu dos teus olhos; 1.2 Trata-se de um tempo de
felicidade, no qual a noite não
- e nessa noite em que nenhum astro brilhava acaba devido a tudo de bom
que o sujeito poético recebe,
- deste-me sóis e planetas aos molhos. a dádiva referida no verso 4.
2.
5 Nessa noite, que nenhum cometa incendiou, 2.1 «nessa noite em que não
- fizemos a mais longa viagem de amor; houve madrugada,». Este
verso é também um exemplo
- no teu corpo onde o meu encalhou, de tempo psicológico, pois
o sujeito poético exprime o
- fiz caminho de náufrago e navegador. sentimento do tempo de for-
ma muito pessoal, oposta a
- Tu és a ilha que todos desejaram, um tempo físico – a madru-
gada é a última fase da noite.
10 a lagoa negra onde sonhei mergulhar, 3.
- e as lentas contas que os dedos contaram 3.1 Trata-se da metáfora pre-
sente no verso «no teu corpo
onde o meu encalhou».
- por entre cabelos suspensos do ar –
3.2 Trata-se de uma metáfo-
- nessa noite em que não houve madrugada, ra que exprime bem a união
entre os amantes: do mes-
- desfiando um terço sem deus nem tabuada. mo modo que um barco en-
calhado não se pode separar
do local onde encalhou, tam-
bém o sujeito poético não se
separou da pessoa amada to-
da a noite.
Leitura 3.3 «longa viagem», v. 6,
«náufrago», v. 8, «navega-
1. O tempo psicológico está presente no início do poema. dor», v. 8.
Gramática
1.1 Justifica esta afirmação.
1.
1.2 Com base na primeira quadra, explica justificadamente se se trata de um tempo de 1.1 «que nenhum come-
felicidade ou de infelicidade. ta incendiou». Oração su-
bordinada adjetiva relativa
explicativa.
2. Este tipo de tempo psicológico está ainda presente no último terceto. 1.2 Modificador apositivo do
2.1 Identifica o verso que comprova esta afirmação, justificando-a. nome «noite».

3. Atenta na segunda quadra.


3.1 Identifica a metáfora que sugere a união amorosa do sujeito poético.
3.2 Explica a sua expressividade.
3.3 Refere outras palavras ou expressões presentes na quadra que se podem ligar pelo
sentido a esta metáfora.

Pratica
Gramática
Subordinação
CA

1. Atenta na frase complexa, vv. 5 e 6, « Nessa noite, que nenhum cometa


Funções
incendiou, / fizemos a mais longa viagem de amor;». sintáticas

1.1 Identifica a oração subordinada nela presente e classifica-a. Págs. 48


Subordinação Subordinação
1.2 Refere a sua função sintática na frase complexa à qual pertence.
Págs. 279 Págs. 53
251
5 Poesia lírica

GUIA DO PROFESSOR
Leitura – Pág. 253
1. A epígrafe refere um local,
a «praia» e uma personagem
que lá observa as «nuvens»,
o menino, aprendendo a sua
«linguagem», isto é, apreen-
dendo a realidade das «nu- Texto 15
vens» de um modo poético,
imaginativo, concretizado no
poema.
[ Aquela nuvem]
José Gomes Ferreira, Poeta Militante II, Lisboa, Moraes Editores, 1983

(Na praia. o menino aprende


a linguagem das nuvens.)
- Aquela nuvem
- parece um cavalo…

- Ah! se eu pudesse montá-lo!

- Aquela?
5 Mas já não é um cavalo,
- é uma barca à vela.

- Não faz mal.


- Queria embarcar nela.

- Aquela?
10 Mas já não é um navio,
- é uma Torre Amarela
- a vogar no frio
- onde encerraram uma donzela.

- Não faz mal.


15 Quero ter asas
- para a espreitar da janela.

- Vá, lancem-me no mar


- donde voam as nuvens
- para ir numa delas
20 tomar mil formas
- com sabor a sal
- – labirinto de sombras e de cisnes
- no céu de água-sol-vento-luz concreto e irreal…

252
5
Leitura

1. Tem em atenção a epígrafe que antecede o texto e explica a sua relação com o poema.
GUIA DO PROFESSOR
Leitura (cont.)
2. Mostra como na primeira estrofe está presente a comparação, enquanto que na terceira e 2. A comparação ocorre atra-
na quinta ocorrem metáforas. vés da forma verbal «pare-
ce»: compara-se a forma da
«nuvem« com o perfil de um
3. O menino que olha para as nuvens vai descobrindo diferentes realidades que se vão substi- «cavalo».
tuindo: «um cavalo», v. 2, «uma barca a vela», v. 6, «uma Torre Amarela», v. 11. Na terceira estrofe está pre-
sente a metáfora em que a
3.1 Identifica a palavra que anuncia o aparecimento de novas realidades. nuvem é uma «barca à vela».
A identificação dá-se com
3.2 Indica a que classe de palavras pertence. base em elementos formais
idênticos à nuvem e à embar-
cação. Por outro lado, em a
4. Na última estrofe o sujeito poético faz determinado pedido. nuvem «já não é um cavalo»
ocorre também uma metáfo-
4.1 Explicita-o. ra do mesmo tipo; na quinta
4.2 Explica por que razão as nuvens de «mil formas» terão «sabor a sal». estrofe uma nuvem é metafo-
rizada, identificada portanto,
4.3 Identifica, justificando, o recurso expressivo presente no verso 20, «tomar mil formas». dadas as semelhanças for-
mais, com uma «Torre Ama-
4.4 Justifica a referência ao «labirinto de sombras e de cisnes», v. 22, relacionando este rela».
verso com o poema em geral. 3.
3.1 e 3.2 «Mas»: conjunção
4.5 Identifica o recurso expressivo presente neste verso. Justifica. coordenativa adversativa.
4.
5. Classifica todas as estrofes tendo em conta o número de versos de cada uma. 4.1 Pede que o lancem ao
mar para se tornar numa nu-
vem e ir.
6. Atenta nos versos incluídos na grelha seguinte e indica o número de sílabas gramaticais e 4.2 As nuvens partem, saem
de sílabas métricas de cada um: do mar «donde voam as nu-
vens»; como a água do mar é
salgada, as nuvens também
Sílabas Sílabas o serão.
Versos
gramaticais métricas 4.3 Hipérbole, evidente exa-
gero que sugere bem as mui-
a. «Ah! Se eu pudesse montá-lo!», v. 3; tas formas das nuvens.
4.4 e 4.5 Um labirinto é um
b. «onde encerraram uma donzela», v. 13; espaço problemático no qual
é difícil encontrar a direção
c. «tomar mil formas», v. 20. certa. Também as nuvens,
pela constante mutação em
6.1 Classifica os três versos tendo em conta o número de sílabas métricas. que se encontram, dificultam
uma análise objetiva. O labi-
rinto é, assim, uma sugestiva
metáfora das nuvens, no qual
o sujeito poético observa-
Gramática Pratica dor se perde, dadas as cons-
tantes transformações – das
Funções sintáticas quais o poema dá conta.
1. Preenche a grelha para identificares as funções sintáticas dos 5. Primeira: dístico; segunda:
seis grupos nominais nela existentes, de acordo com a ocor- monóstico; terceira: terceto;
quarta: dístico; quinta: quin-
rência no poema. tilha; sexta: terceto; sétima:
septilha.
Predicativo do Complemento 6. a. 9 sílabas gramaticais e
Versos Sujeito 7 sílabas métricas (verso de
sujeito direto
redondilha maior ou heptas-
1.1 «Aquela nuvem», v. 1; sílabo); b. 11 sílabas gramati-
cais e 9 sílabas métricas; c.
1.2 «um cavalo», v. 2; 5 sílabas gramaticais e 4 sí-
labas métricas (tetrassílabo).
1.3 «um navio», v. 10; Gramática
1.
1.4 «uma Torre Amarela», v. 11;
CA

1.1 S; 1.2 PS; 1.3 PS; 1.4 PS;


1.5 «uma donzela»; v. 13; Funções
1.5 CD; 1.6 S.
sintáticas
1.6 «as nuvens», v. 18. Págs. 39-48

253
5 Poesia lírica

Texto 16

Receita de Ano Novo


Carlos Drummond de Andrade, Poesia Completa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 2002

- Para você ganhar belíssimo Ano Novo


- cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
- Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
- (mal vivido talvez ou sem sentido)
5 para você ganhar um ano
- não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
- mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
- novo
- até no coração das coisas menos percebidas
10 (a começar pelo seu interior)
- novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
- mas com ele se come, se passeia,
- se ama, se compreende, se trabalha,
- rita,
a
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
15 não precisa expedir nem receber mensagens
- (planta recebe mensagens?
- passa telegrama?).
- Não precisa
- fazer lista de boas intenções
20 para arquivá-las na gaveta.
- Não precisa chorar arrependido
- pelas besteiras consumadas
- nem parvamente acreditar
- que por decreto da esperança
25 a partir de janeiro as coisas mudem
- e seja tudo claridade, recompensa,
- justiça entre os homens e as nações,
- liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
- direitos respeitados, começando
30 pelo direito augusto de viver.
- Para ganhar um ano-novo
- que mereça este nome,
- você, meu caro, tem de merecê-lo,
- tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
35 mas tente, experimente, consciente.
- É dentro de você que o Ano Novo
- cochila e espera desde sempre.

254
5
Leitura

1. Identifica o verso que funciona como continuação do v. 1 «Para você ganhar belíssimo Ano GUIA DO PROFESSOR
Novo», isto é, o primeiro verso que refere o que se deve ou não fazer para isso. Leitura
1. Verso 14.
2. Indica que sentido ou sentidos atribuis aos versos seguintes: 2.
a. Ano Novo muito diferente
a. v. 3, «Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido»; dos anos anteriores;
b. Ano Novo completamente
b. v. 7, «mas novo nas sementinhas do vir-a-ser»; novo, muito diferente do que
c. vv. 18 a 20, «Não precisa / fazer lista de boas intenções / para arquivá-las na gaveta»; já foi vivido;
c. Não é necessário pensar no
d. vv. 20 e 21, «Não precisa chorar arrependido / pelas besteiras consumadas». que se vai fazer de novo para
depois não cumprir;
d. Não é necessário arrepen-
3. Identifica a metáfora presente entre os versos 21 e 30 que melhor resume tudo o que, in- der-se das asneiras feitas.
genuamente, as pessoas pensam que será um novo ano. 3. «claridade», v. 26.
4.
4.1 É dentro de cada um de
4. Nos últimos seis versos, o poeta apresenta a sua receita para uma verdadeira mudança no nós que está a capacidade de
Ano Novo. mudança para melhor, e is-
so não depende de uma co-
4.1 Explicita-a. memoração do Ano Novo:
em qualquer altura podemos
4.2 Apresenta uma opinião fundamentada sobre esta receita: se é válida, se não é, se con- mudar.
cordas com ela, se é fácil ou difícil de seguir… 4.2 Resposta livre.
Gramática
1.
1.1 «belíssimo» está no grau
Gramática Pratica superlativo absoluto sintéti-
co; «novo», no grau normal.
Classes de palavras; funções sintáticas;
2.
1. Atenta nos adjetivos «belíssimo», v. 1, e «novo», v. 7. subordinação; coesão textual
2.1 «que mereça este nome».
1.1 Indica em que graus se encontram. 2.2 modificador restritivo do
nome «ano-novo».
2.3 o, em «merecê-l(o)».
2. Observa os versos 31 a 33: 2.4 «ano-novo».
Para ganhar um ano-novo 2.5 vocativo.
3.
que mereça este nome, 3.1 «que não é fácil».
você, meu caro, tem de merecê-lo, 3.2 oração subordinada subs-
tantiva completiva.
2.1 Identifica a oração subordinada adjetiva relativa restritiva neles presente. 3.3 «sei».
2.2 Indica a sua função sintática. 3.4 complemento direto.

2.3 Indica o único complemento direto pronominalizado neles presente.


2.4 Especifica o seu antecedente.
2.5 Refere a função sintática de «meu caro».

3. Atenta na frase complexa «eu sei que não é fácil», v. 34.


3.1 Identifica a oração subordinada.
CA

Classe
3.2 Classifica-a. dos adjetivos Funções sintáticas das
Pág. 268 orações subordinadas
Pág. 57
3.3 Identifica a forma verbal/elemento de que depende. Coesão e coerência
textuais Subordinação
3.4 Indica a sua função sintática relativamente a esse elemento. Págs. 282-283 Pág. 58

255
5 Poesia lírica

Oralidade
COMPREENSÃO
GUIA DO PROFESSOR
Oralidade (compreensão) Pré-escuta
Na pergunta 1, o profes-
sor deve orientar as respos- O português do Brasil apresenta várias diferenças relativamente ao português europeu.
tas dos alunos não apenas
para o som <tch> – como Essas diferenças verificam-se na pronúncia, no léxico e até na sintaxe.
em <gentche>/<gente>, mas
também para adições ou al-
terações de fonemas co- 1. Indica palavras cuja pronúncia seja diferente nos dois países.
mo em <rapaiz>/<rapaz> ou
<minino>/<menino>.
2. 2. Estabelece correspondências entre as expressões seguintes:
2.1 Já te disse para não faze-
res isso. Português do Brasil Português europeu
2.2 Entrei num autocarro.
1. Já falei que você não deve fazer isso.
2.3 Eu disse-lhe para ir à bi-
blioteca.
3. 2. Subi num ônibus.
3.1 e 3.2. Exemplos possí-
veis: diferenças fonéticas: 3. Eu disse a ele para ir na biblioteca.
pronúncia de palavras como
paiz / paz; ganhá / ganhar; re-
cebê / receber; pricisa / pre-
cisa; matinau / matinal, etc;
Diferenças morfológicas: uso Escuta
de «você» / tu.
Diferenças lexicais: «cham-
panha» / champanhe; «bes-
3. Ouve o poema «Receita de Ano Novo» de Carlos Drummond de Andrade e preenche a
teira» / disparate, asneira; grelha identificando diferenças fonéticas, morfológicas, lexicais e sintáticas nele existentes
«cochilar» / dormitar, etc.
relativamente ao português europeu. De seguida, procede à correspondência com as for-
Diferenças sintáticas: «você
não precisa beber…» / você mas do português europeu.
não precisa de beber; «para
arquivá-las na gaveta» / para Diferenças Português do Brasil Português europeu
as arquivar na gaveta.
4. Epêntese. Trata-se da adi- Fonéticas
ção de um fonema no interior
de uma palavra.
Morfológicas

Lexicais
Áudio
«Receita de Ano Novo»,
Sintáticas
poema de Carlos
Drummond de Andrade

4. Identifica o processo fonológico presente na mudança de paz>paiz. Justifica.


CD áudio
Pós-escuta
Teste de compreensão
LPP

oral, Consulta o quadro da página 257 e elabora


pp. 48-49
uma síntese escrita através da qual justifiques
as principais diferenças que a variedade bra-
sileira apresenta relativamente ao português
europeu.

256
5
Gramática

Aprende GUIA DO PROFESSOR


Gramática
Variedades do português:
português europeu e português do Brasil
V Observa a palavra «besteiras», v. 22. Animação
Gramática – Variedades
do português: português
Esta palavra corresponde, no português europeu, a “asneiras”. Para além do léxico,
europeu e português do
podem ainda verificar-se diferenças nos planos fonético / fonológico, morfológico e Brasil
sintático.
No quadro seguinte organizam-se algumas diferenças entre as duas variedades.

Diferenças Portugal Brasil

Diferenças Perceção Percepção


ortográficas*/ Facto Fato
fonéticas Dezasseis Dezesseis
Um bilião Um bilhão
Terramoto Terremoto
Camioneta Caminhonete

Designações para Polaco Polonês


nacionalidades e Vietname Vietnã
nomes de lugares Médio oriente Oriente médio

Siglas/acrónimos SIDA (síndrome da AIDS (acquired immunodeficiency


imunodeficiência adquirida) syndrome)

Palavras diferentes Boleia Carona


para os mesmos Autocarro Ônibus
significados Comboio Trem
Fato Terno
Talho Açougue
Cancro Câncer

Diferentes Banheiro (o vigia das praias) Banheiro (casa de banho)


significados para as Rapariga (mulher jovem) Rapariga (prostituta)
mesmas palavras

Contração da Procede-se à contração de Não se procede à contração de


preposição em preposição com determinante. preposição com determinante/
Ex.: Vi o livro numa estante. pronome.
Ex.: Vi o livro em uma estante.

Infinitivo /gerúndio Predominam as construções com Predominam as construções com


infinitivo. gerúndio.
Ex.: Estou a ler um livro. Ex.: Estou lendo um livro.

Colocação do Depois do verbo (dou-te um livro) Antes do verbo (te dou um livro) –
pronome pessoal – ênclise. próclise.
No interior do verbo (dar-te-ei um Antes do verbo (te darei um livro)
livro) – mesóclise. – próclise.

Colocação do Usa-se antes de determinante Não se usa antes de determinante


determinante definido possessivo. possessivo.
(o, a, os, as) Ex.: Publiquei o meu romance. Ex.: Publiquei meu romance.

* A entrada em vigor do acordo ortográfico minimizou estas diferenças, tornando-as residuais.

257
5 Poesia lírica

Teste de verificação
de conhecimentos
GUIA DO PROFESSOR
Conhecimentos verificados –
Metas Curriculares de Por-
tuguês
Leitura – EL7 18.4 (Sistema-
tizar elementos constitutivos
da poesia lírica (estrofe, ver-
so, refrão, rima, esquema ri-
mático) – perguntas 1.1, 1.2
e 1.3.
L7 8.5 (Fazer inferências e de-
duções) – pergunta 3.
L9 9.5 (Analisar relações in-
tratextuais: semelhança, opo-
sição, parte – todo, causa
O menino da sua mãe
– consequência, genérico – es-
Fernando Pessoa, Obra poética, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1998
pecífico.) – perguntas 4, 5, 6.
EL9 20.7 (Identificar e reco-
nhecer o valor dos recursos - No plaino abandonado - Caiu-lhe da algibeira
expressivos já estudados e,
ainda, dos seguintes: anáfo- - Que a morna brisa aquece, - A cigarreira breve.
ra, símbolo, alegoria e sinédo- - De balas trespassado- - Dera-lha a mãe. Está inteira
que) – perguntas 4.1 e 7.
- Duas, de lado a lado-, - E boa a cigarreira.
Gramática – G7 21.4 Siste-
matizar padrões de forma- 5 Jaz morto, e arrefece. 20 Ele é que já não serve.
ção de palavras complexas:
derivação (afixal e não-afixal)
e composição (por palavras e - Raia-lhe a farda o sangue. - De outra algibeira, alada
por radicais). – pergunta 1.
- De braços estendidos, - Ponta a roçar o solo,
G – 22.1 (Integrar as palavras
nas classes a que pertencem) - Alvo, louro, exangue, - A brancura embainhada
– pergunta 3. - Fita com olhar langue - De um lenço… deu-lho a criada
G9 25.1 (Sistematizar as re-
gras de utilização do pronome
10 E cego os céus perdidos. 25 Velha que o trouxe ao colo.
pessoal em adjacência verbal
em todas as situações) – per-
guntas 2.1 e 2.2. - Tão jovem! Que jovem era! - Lá longe, em casa, há a prece:
G9 25.2 (Consolidar o conhe- - (agora que idade tem?) - “Que volte cedo, e bem!”
cimento de todas as funções
sintáticas) – perguntas 4. 5 - Filho único, a mãe lhe dera - (Malhas que o Império tece!)
e 6.1. - Um nome e o mantivera: - Jaz morto e apodrece
G7 23.7 (Identificar processos
de subordinação entre ora-
15 «O menino da sua mãe.» 30 O menino da sua mãe
ções:
b) subordinadas adjetivas re-
lativas.) – pergunta 6.
Escrita – E9 17.1 (Escrever
um pequeno comentário crí-
tico (cerca de 140 palavras)
a um texto lido.) – pergunta
única. Leitura
1. O tipo de estrofe, tamanho do verso e tipo de rima contribuem para a construção do
Teste interativo ritmo num texto poético.
Poesia lírica 1.1 Classifica o tipo de estrofe presente no texto.
Teste interativo (aluno)
Poesia lírica 1.2 Faz a escansão do terceiro verso, explicitando a razão pela qual se verifica uma
diferença entre o número de sílabas métricas e o de sílabas gramaticais.
Testes de avaliação 1.3 Elabora o esquema rimático da primeira estrofe.
LPP

modelo GAVE,
pp. 93-97
2. Este texto possui uma estrutura narrativa. Prova que esta afirmação é verdadeira.

3. Indica a relação que se estabelece entre o espaço e a personagem que jaz morta.
3.1 Explica o sentido da antítese que se estabelece entre os vv. 2 e 5.

258
5
4. Explica o sentido da frase interrogativa «agora que idade tem?», v. 12.

GUIA DO PROFESSOR
5. Explicita a relação que se pode estabelecer entre «Jaz morto e arrefece», v. 3, e «Jaz Leitura
morto e apodrece», v. 12. 1.
1.1 Quintilha.
6. Explicita a simbologia presente na «brancura», v. 23, do lenço da personagem. 1.2 O verso é composto por
seis sílabas métricas e sete
gramaticais. Esta diferença
explica-se porque as métri-
Gramática cas apenas de contam até à
última sílaba tónica, enquan-
1. Indica o processo de formação presente nas palavras to que as gramaticais se con-
tam todas.
a. «cigarreira», v. 17; b. «brancura», v. 23; c. «apodrecer», v, 30.
1.3 ABAAB.
2. Este é um texto com es-
2. Considera a frase «Caiu-lhe da algibeira a cigarreira breve.», v. 16-17. trutura narrativa, pois nele
encontram-se presentes al-
2.1 Coloca-a na forma negativa. gumas categorias da nar-
rativa, como personagens
2.2 Inicia-a com o verbo no futuro do indicativo. (soldado), tempo (no pre-
sente), espaço (no «plaino
abandonado»; «em casa») e
3. Indica a classe a que pertence a palavra «que» nos seguintes contextos: narrador (3ª pessoa).
3. A relação é de oposição. O
a. «que», v. 2; b. «que», v. 12; c. «que», v. 25. espaço aquecido pela «morna
brisa» contrasta com o aban-
dono do soldado morto que ali
4. Preenche a grelha, identificando as funções sintáticas presentes nas expressões da co- «arrefece».
luna da esquerda. 3.1 A antítese coloca em evi-
dência o contraste acima re-
ferido: o soldado morto que
a. o sangue, v. 6 «arrefece» em oposição à
planície aquecida pela «mor-
b. um nome, v. 14 na brisa».
4. Como a idade é a conta-
c. A cigarreira breve, v. 17 gem do nosso tempo de vida,
a pergunta tem valor retórico,
uma vez que, morto, o solda-
d. a criada velha, vv. 24-25 do deixa de ter idade.
5. É uma relação de gradação
(um corpo morto começa por
5. Indica a função sintática das expressões seguintes. apodrecer e depois arrefecer)
que o tempo vai ampliando.
a. «No plaino abandonado», v. 1. b. «De braços estendidos», v. 6. 6. A «brancura» do lenço sim-
boliza a inocência precoce-
mente ceifada pela guerra. O
6. Escolhe a opção correta. Na frase complexa «deu-lho a criada / Velha que o trouxe ao soldado é ainda o «menino»
colo.» o segmento destacado é uma a quem a «criada velha» deu
o lenço.
a. oração subordinada adverbial consecutiva. Gramática
1.
b. oração subordinada substantiva completiva.
a. derivada por sufixação;
c. oração subordinada adjetiva relativa restritiva. b. derivada por sufixação;
d. oração subordinada adjetiva relativa explicativa. c. derivada por parassíntese.
2.
6.1 Indica a função sintática que desempenha relativamente ao seu elemento subordi- 2.1 Não lhe caiu da algibeira a
nante. cigarreira breve.
2.2 Cair-lhe-á da algibeira a
cigarreira breve.
Escrita 3. a. pronome relativo;
b. determinante interrogativo;
Elabora um pequeno comentário crítico ao texto que leste orientando-o para a temática c. pronome relativo.
da inutilidade da guerra (máximo de 140 palavras). 4. a. Sujeito; b. complemen-
to direto; c. sujeito; d. sujeito.
5. a. e b. São ambos modifica-
dores [de GV].
6. c. oração subordinada adje-
tiva relativa restritiva.
6.1 Modificador do nome res-
tritivo.

259
ANEXO
AT
INFORMATIVO
A · Conceitos básicos sobre
narrativa, poesia e drama
Narrativa: categorias da narrativa 262-263
Poesia: versificação, combinação de rimas
e estrofes e esquema rimático 264
Drama: características do texto dramático 265

B · Gramática essencial
Variação e mudança 266
Plano morfológico
Processos morfológicos de formação de palavras 267
Plano das classes de palavras
Classes abertas de palavras (classes dos nomes, 267-270
adjetivos, advérbios, interjeições e verbos)
Classes fechadas de palavras (classes dos 270-274
determinantes, quantificadores, pronomes,
preposições, conjunções)
Plano sintático
A frase e os seus constituintes / grupos frásicos I, II e III 275
Funções sintáticas dos pronomes pessoais 275
Lugar dos pronomes pessoais átonos na frase 276
Frase ativa e frase passiva 276
Funções sintáticas ao nível da frase 277
Funções sintáticas internas ao grupo verbal 278
Funções sintáticas do nome 279
Articulação entre constituintes da frase e entre frases
Coordenação e subordinação 279
Identificação e classificação de orações 280
Plano lexical e semântico
Relações semânticas entre palavras
(sinonímia / antonímia; holonímia / meronímia;
hiperonímia / hiponímia) 281
Monossemia e polissemia 281
Campo lexical e campo semântico 281
Plano discursivo e textual
Discurso direto e discurso indireto 282
Coesão e coerência textuais (construir a coesão) 282-284
Tipos de texto / sequência textual 284-286
Recursos expressivos 286-287
Plano da representação gráfica e ortográfica
Sinais de pontuação: usos mais comuns 288
Anexo informativo

Conceitos básicos sobre


A. narrativa, poesia e drama
Narrativa
As narrativas são relatos de acontecimentos ou ações envolvendo personagens; caracterizam-se pelo dinamismo
dos acontecimentos que se sucedem no tempo e no espaço.

Categorias da narrativa

Narrador
O narrador é a entidade imaginária, criada pelo autor, que conta a narrativa, os acontecimentos. Não pode ser confundido com o autor.
Participante Quando participa nos acontecimentos que narra.
Presença
Não participante Quando não participa nos acontecimentos que narra.
Objetivo Quando narra os factos tal e qual se passaram, objetivamente.
Posição
Subjetivo Quando apresenta opiniões sobre o que aconteceu, tornando a narração subjetiva.
falamos de focalização omnisciente quando o narrador conhece
Indica a perspetiva pela todos os factos da história que narra, as personagens, o seu íntimo,
qual o narrador narra pensamentos, emoções, etc.
acontecimentos, descreve Quanto a focalização interna é feita de acordo com a perspetiva de uma
espaços ou caracteriza à ciência: personagem.
personagens consoante a
Ponto de vista a focalização externa ocorre em narrativas com um narrador
ciência (conhecimento) e
(ou focalização) observador, que se limita a contar o que observa, deixando o leitor
a presença que tem numa
retirar as suas conclusões (a sua perspetiva dos factos).
narrativa. O ponto de vista,
numa narrativa, também a focalização pode ser de 1ª pessoa (quando o narrador é
pode ser exercido por uma Quanto personagem principal ou quando é uma das personagens)
personagem. à presença: a focalização pode ser de 3ª pessoa (quando o narrador não
participa na história que conta)

Ação
Ação é o conjunto de acontecimentos que se sucedem em determinados espaços, durante períodos de tempo, praticados por uma ou
mais personagens. Quando na narrativa os acontecimentos se sucedem por relações de causalidade, a ação chama-se intriga. Numa
narrativa podem existir várias ações.
Ação principal É a que tem maior importância, tem um desenvolvimento maior.
Importância
ou relevo Relaciona-se com a ação principal, sendo constituída por acontecimentos menos
Ação secundária
importantes.
Encadeamento em narrativas
Os acontecimentos sucedem-se por ordem cronológica.
curtas como os contos
Encaixe em narrativas mais Resulta de um processo que permite ao narrador incluir uma história no interior de
Articulação
extensas (novela, romance, outra sem que a unidade da ação se perca– tal como acontece em Os Lusíadas nos
das sequências
poema épico) cantos III e IV, em que Camões conta ao Rei de Melinde a História de Portugal.
narrativas
Alternância em narrativas
Os acontecimentos não se desenrolam de forma encadeada, mas de modo
mais extensas (novela,
alternado.
romance, poema épico)

Normalmente, a ação, principalmente nos contos, desenvolve-se através do seguinte processo:


1. situação inicial de equilíbrio; 3. situação de desequilíbrio; 5. reposição do equilíbrio.
2. acontecimento perturbador; 4. acontecimento reparador;

262
A. Conceitos básicos sobre
narrativa, poesia e drama

Personagem
A personagem vai surgindo na narrativa conforme a ação avança. A sua caracterização vai sendo revelada no decorrer dos
acontecimentos.
Quando mantêm as mesmas características (físicas, psicológicas, sociais…) ao longo da
Planas
narrativa.
Quando são dotadas de complexidade psicológica e a sua personalidade se altera com o
Modeladas
desenrolar da ação.
Definição
Quando possuem os traços característicos de personagens coletivas, representando grupos
sociais, profissionais, económicos, religiosos ou outros. É o caso de personagens do Auto da
Personagens-tipo
Barca do Inferno, de Gil Vicente, como o Frade, o Sapateiro, o Onzeneiro e a Alcoviteira, entre
outras.
É a que apresenta maior relevo no desenrolar da ação, desempenha o papel mais importante,
Principal
aparece frequentemente.
Importância
ou relevo Secundária Desempenha um papel menos importante, mas é necessária para o desenrolar da ação.
Figurante Não tem qualquer participação na ação, mas pode servir para caracterizar ambientes sociais.
Aspetos físicos ou psicológicos da personagem vão sendo apresentados diretamente pela
Direta própria personagem que, deste modo, se autocaracteriza, ou por outras personagens, ou pelo
Caracterização narrador.
Aspetos físicos e psicológicos são descobertos pelo leitor a partir das ações, comportamentos,
Indireta
palavras e atitudes das personagens.

Espaço
Refere-se a locais de natureza geográfica (urbana, rural…), espaços concretos
Físico (interiores ou exteriores) nos quais decorrem os acontecimentos e onde as
personagens se movimentam.
Reflete as características políticas, sociais, culturais, entre outras, de uma
Social dada sociedade. É o ambiente social no qual decorrem os acontecimentos e as
personagens atuam.
Localiza-se no interior das personagens, na sua intimidade, e respeita a sua
Psicológico
vivência íntima (sonhos, pensamentos, divagações, etc).

Tempo
É o tempo objetivo ao longo do qual decorrem os acontecimentos.
da história É um tempo cronológico, isto é, ao longo do qual se verifica a sucessão dos
acontecimentos.
É a ordem pela qual esses acontecimentos são contados pelo narrador. Se
num determinado momento da narrativa, o narrador optar por contar factos
anteriores está a utilizar uma analepse.
Exemplo: Em Os Lusíadas, Vasco da Gama, em Melinde, conta ao Rei factos da
História de Portugal, cronologicamente anteriores ao tempo da viagem à Índia.
do discurso
Por outro lado, se num determinado momento da narrativa o narrador antecipar
factos que apenas vão ocorrer no futuro, estamos perante uma prolepse.
Exemplo: Quando, em Os Lusíadas, o Adamastor profetiza os naufrágios e
demais sofrimentos de que os portugueses serão vítimas por atravessarem o
Cabo das tormentas.
psicológico É o tempo subjetivo, sentido de forma particular pelas personagens.

263
Anexo informativo

Poesia
Versificação

Métrica
Podemos definir métrica como o conjunto de regras que regulam a medida e o ritmo das sílabas tónicas
e átonas de um verso. A sílaba métrica distingue-se da sílaba gramatical por se contar de acordo com o
ritmo e não seguindo as regras da divisão silábica.

Regras para a contagem das sílabas métricas


Como nem sempre as sílabas métricas coincidem com as sílabas gramaticais, ao contar as sílabas mé-
tricas de um verso deve-se ter em conta os procedimentos seguintes:
1. contá-las apenas até à última sílaba acentuada, isto é, não se contabiliza(m) a(s) sílaba(s) que
aparece(m) depois da sílaba tónica da última palavra do verso.
2. fazer-se a elisão da sílaba átona final de uma palavra quando a seguinte se iniciar por vogal.
Exemplo de contagem de sílaba métrica e sílaba gramatical: “As armas e os barões assinalados” (v. 1,
Canto I, Os Lusíadas, de Luís de Camões).

Sílaba gramatical as ar mas e os ba rões as si na la dos 12 sílabas

Sílaba métrica a sar mas eos* ba rões a ssi na la ** 10 sílabas


* reestruturação silábica ** não se conta

Combinações de rimas e estrofes e esquema rimático


Rima emparelhada: quando os versos que Rima interpolada: o 1.o verso rima com o 4.o e o 2.o com o 3.o.
rimam se sucedem dois a dois.
Amor é fogo que arde sem se ver, a
Ó mar salgado, quanto do teu sal a É ferida que dói, e não se sente; b
São lágrimas de Portugal! a É um contentamento descontente, b
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, b É dor que desatina sem doer. a
Quantos filhos em vão rezaram! b Luís de Camões
Quantas noivas ficaram por casar c
Para que fosses nosso, ó mar! c Rima encadeada: o 1.o verso rima com o 3.o, o 2.o com o 4.o e
Fernando Pessoa com o 6.o, o 5.o com o 7.o e com o 9.o e assim sucessivamente.

Sei de uma criatura antiga e formidável, a


Rima cruzada: os versos rimam o 1.o com o 3.o
Que a si mesma devora os membros e as entranhas, b
e o 2.o com o 4.o.
Com a sofreguidão da fome insaciável. a
Gato que brincas na rua a Habita juntamente os vales e as montanhas; b
Como se fosse na cama, b E no mar, que se rasga, à maneira do abismo, c
Invejo a sorte que é tua a Espreguiça-se toda em convulsões estranhas. b
Porque nem sorte se chama. b Traz impresso na fronte o obscuro despotismo; c
Fernando Pessoa Cada olhar que despede, acerbo e mavioso, d
Parece uma expansão de amor e egoísmo. c
Machado de Assis

Classificação das estrofes quanto ao número de versos


Monóstico Estrofe de um verso Sextilha Estrofe de seis versos
Dístico Estrofe de dois versos Sétima Estrofe de sete versos
Terceto Estrofe de três versos Oitava Estrofe de oito versos
Quadra Estrofe de quatro versos Nona Estrofe de nove versos
Quintilha Estrofe de cinco versos Décima Estrofe de dez versos

264
A. Conceitos básicos sobre
narrativa, poesia e drama

Drama
Características do texto dramático

O texto dramático compõe-se de

Texto principal Texto secundário

Constituído pelas falas das Constituído por indicações sobre estrutura externa
personagens: do texto em:
‡ diálogo – interação entre duas ‡ atos (para mudança de cenários);
ou mais personagens ‡ cenas e quadros (entrada ou saída de
‡ monólogo – discurso de apenas personagens em cena);
uma personagem ‡ listagem inicial das personagens;
‡ apartes – discurso que não ‡ didascálias – indicações cénicas apresentadas
se destina a ser ouvido pelas entre parênteses e em itálico com informações
personagens. sobre:
‡ caracterização, movimentação e atitudes das
personagens em palco;
‡ indicações sobre o cenário, a iluminação e o
som.

O texto dramático destina-se, em geral, à representação. Estes são alguns dos intervenientes do es-
petáculo teatral:

Seleciona e/ou executa os adereços necessários para uma


Aderecista
representação (objetos, vestuário, etc.)
Cabeleireira de cena Prepara os penteados dos atores.
Maquilhadora de cena Faz as maquilhagens dos atores.
Eletricista Responsabiliza-se pela parte elétrica do espetáculo.
Responsabiliza-se pelos vários tipos de sons que podem ser
Sonoplasta
necessários.
Encenador Encena o espetáculo, sendo responsável pela direção de atores.
Elenco O conjunto de atores que vai representar uma peça de teatro.

265
Anexo informativo

B. Gramática essencial

Variação e mudança
Famílias de línguas são grupos de línguas que derivam de um antepassado comum, uma língua-mãe, e
que por isso revelam semelhanças entre si.
As diversas línguas faladas pelos povos indo-europeus que há cerca de seis mil anos emigraram para a Ásia
e para a maior parte da Europa deram origem às atuais línguas europeias, as quais, por seu turno se agrupam
em famílias de línguas, como se pode observar de forma resumida no quadro seguinte.

Línguas indo-europeias Família de línguas Línguas que as compõem


Celta Célticas Bretão, galês (País de Gales), gaélico (Irlanda e Escócia).
Búlgaro, macedónio, esloveno, checo, polaco, russo, bielorrusso, ucraniano,
Eslavo Eslavas
eslovaco, servo-croata.
Inglês, alemão, sueco, dinamarquês, neerlandês (Holanda), flamengo
Germânico Germânicas
(Flandres), norueguês, islandês.
Grego Grego Grego moderno.
Latim – línguas Português, galego, castelhano, catalão, francês, provençal, italiano, sardo,
Itálico
românicas reto-romano, romeno.

Etimologia
A etimologia é a disciplina que estuda a origem e evolução das palavras. Tem por objetivo o estudo das
palavras ao longo do tempo até remontar ao seu étimo, isto é, à sua origem. No caso do português, a sua base
etimológica é o latim vulgar, mas incorpora também palavras pré-latinas (do celta, por exemplo) e pós-latinas
do germânico e do árabe.

Étimo
O étimo, ou origem, é a forma antiga da qual deriva diacronicamente (através do tempo) outra palavra.
Assim, a palavra latina pedem evoluiu para pee (até séc. XV) e, finalmente, para pé (pedem> pee> pé).
A evolução de uma palavra pode fazer-se apenas em termos fonéticos, isto é, apenas varia o som da pala-
vra, como ilustrado no exemplo acima, ou em termos fonéticos e semânticos quando às alterações do som da
palavra se juntam também mudanças do seu significado inicial:
a) salarium [quantia dada aos soldados romanos para comprarem o sal] > salário [remuneração paga a
alguém em troca de trabalho ou serviços prestados].

Palavras divergentes e convergentes


Embora a maioria do léxico do português provenha do latim vulgar (via popular), há palavras que se for-
maram a partir do latim clássico, em épocas posteriores, principalmente na relatinização verificada durante o
Renascimento (formação por via erudita).
Assim, há palavras que embora tenham o mesmo étimo latino apresentam formas e até significados dife-
rentes em português. A estas palavras damos o nome de divergentes. Vejamos o quadro:

Étimo latino macula(m) solitariu(m) plenu(m) parabola(m)


Formas por via erudita mácula solitário pleno parábola
Formas por via popular mancha, mágoa, malha solteiro cheio palavra

Já as palavras convergentes são as que provêm de étimos latinos diferentes mas apenas apresentam
uma forma em português. Vejamos o quadro:

Étimos latinos sanum> sunt> sanctu> rideo> rivu>


Palavras portuguesas são são são rio rio
Classes a que pertencem adjetivo forma verbal nome / adjetivo forma verbal nome

266
B. Gramática essencial

Plano morfológico
Processos morfológicos de formação de palavras

1. Derivação
Processos morfológicos Exemplos Descrição
Prefixação Desconforto Prefixo + radical ou palavra
Sufixação Sapateiro Radical ou palavra + sufixo
Afixação Prefixo + radical + sufixo
Parassíntese Enfraquecer (a palavra apenas se forma com a associação
simultânea de um prefixo e um sufixo)
Processo através do qual se Vou comprar um livro. / Fiz uma
comprar (v) compra (n)
formam nomes a partir de uma compra com um bom desconto.
Derivação não forma verbal, substituindo a
afixal vogal temática e o afixo de Preciso de trocar uma nota de
flexão pelo índice temático dos 100 euros. / Dê-me troco de 5 trocar (v) troco (n)
nomes. euros, por favor.

2. Composição
Processos morfológicos Exemplos Descrição
tecnologia radical + radical
Processo através do qual se autopsicografia radical + radical + radical
Composição associam dois ou mais radicais
ortopedia radical + radical
morfológica (por (normalmente de origem grega
socioeconómico radical + palavra
radicais) ou latina) ou um radical e uma
palavra. lusodescendente radical + palavra
afro-americano radical + palavra
porco-espinho duas palavras (nome + nome)
cachorro-quente duas palavras (nome + adjetivo)
Composição
Processo através do qual se surdo-mudo duas palavras (adjetivo + adjetivo)
morfossintática
associam duas ou mais palavras. saca-rolhas duas palavras (verbo + nome)
(por palavras)
vaivém duas palavras (verbo + verbo)
pôr do sol três palavras (verbo + preposição + nome)

Plano das classes de palavras

Classe dos nomes


Nomes próprios Nomes comuns
Portugal e João são nomes próprios, Região e rapaz são nomes comuns, porque designam Nomes comuns coletivos
porque designam entidades entidades não individualizadas.
Os nomes coletivos são
individualizadas. Os nomes comuns são contáveis, podem contar-se (livro, contáveis quando admitem
O nome próprio não admite plural, automóvel), ou não contáveis (farinha, educação). plural (alcateia / alcateias);
embora possa entrar em construções O nome comum varia em género, número e grau são não contáveis quando não
semelhantes às dos nomes comuns. (diminutivo e aumentativo). o admitem (fauna / flora).
1. Portugal é bonito. 1. A rapariga é bonita. 1. A alcateia atacou o
O João ganhou um prémio. O rapaz ganhou um prémio. rebanho.
2. *Portugais são bonitos. 2. As rapariguinhas são bonitas. 2. A fauna portuguesa é
*Joões ganharam um prémio. Os rapagões ganharam um prémio. variada.
* A frase é agramatical.
267
Anexo informativo

Classe dos adjetivos


Adjetivo qualificativo Adjetivo numeral
O adjetivo qualificativo exprime a qualidade de um nome. Coloca-se, O adjetivo numeral exprime ordem ou sucessão. Coloca-se, em
em geral, à direita do nome (nome + adjetivo). A sua colocação à geral, à esquerda do nome.
esquerda do nome dá origem a alterações de sentido. Ex.: Pobre Varia em género e número. Não varia, tipicamente, em grau.
homem, perdeu tudo! / Um homem pobre vagueia pelo mar.
Varia em género, número e grau (diminutivo e aumentativo).
1. Um gato enorme apanhou o rato. / O aluno violento atacou um 1. O primeiro amor é inesquecível. / O atleta que ficou em
colega. segundo lugar ganhou a medalha de prata.
2. Uns gatos enormíssimos apanharam o rato. / O aluno mais 2. *O mais primeiro amor é inesquecível. / *O atleta que
violento atacou um colega. ficou em muito segundo lugar ganhou a medalha de prata.
* A frase é agramatical.
Grau dos adjetivos (qualificativos)
Consideremos o adjetivo alto, em O Pedro é alto.

Normal O Pedro é alto.


de superioridade O Pedro é mais alto do que o João.
Comparativo de igualdade O Pedro é tão alto como o Francisco.
de inferioridade O Pedro é menos alto do que o Cláudio.
sintético O Pedro é altíssimo.
absoluto
GUIA DO PROFESSOR
analítico O Pedro é muito alto.
Superlativo
Advérbio de frase e advér- de superioridade O Pedro é o mais alto [de todos].
bio de predicado são desig- relativo
nações que não constam de inferioridade O Pedro é o menos alto [de todos].
das Metas Curriculares de
Português.

Classe dos advérbios


O advérbio é uma palavra invariável em número e em género, embora alguns advérbios possam variar em grau. Na maior parte dos
casos, os advérbios desempenham a função sintática de modificadores ou a função sintática de complemento oblíquo ou predicativo
do sujeito. Os advérbios possuem diversos valores semânticos e funções.

Classes Valores semânticos / funções Exemplos

Advérbio Modifica a frase e pode ter diferentes valo- Eles chegam no domingo, provavelmente.
[de frase] res semânticos. Felizmente, o exame correu bem.

Faz parte do grupo verbal e pode ter vários 1. Eles trabalham ali.
Advérbio
valores semânticos: lugar (1), tempo (2) 2. Ela chegou ontem de Paris.
[de predicado]
ou modo (3). 3. Eu bebi o leite rapidamente.
Advérbio Nega a afirmação contida na frase e surge,
A Sofia não vai às aulas.
de negação normalmente, à esquerda do verbo.
É usado na resposta a uma frase Vais ao ginásio? Sim.
Advérbio
interrogativa total, como modificador de um
de afirmação A Rosário chegou não hoje, mas sim ontem.
elemento da frase como forma de reforço.
Advérbio de Dá informação sobre o grau ou a Estou muito cansado.
quantidade e grau quantidade. O livro é bastante interessante.
Informa sobre a presença ou a ausência de Até a Sara sabe a resposta. (inclusão)
Advérbio
algo ou alguém num determinado conjunto O João também vai ao cinema. (inclusão)
de inclusão
e pode modificar qualquer constituinte da
e de exclusão Todos participaram, inclusivamente, o João. (inclusão)
frase.

268
B. Gramática essencial

(cont.) Só tu me podes ajudar. (exclusão)


Apenas o Ricardo participou no concurso. (exclusão)
Todos foram à visita salvo / exceto o Bernardo. (exclusão)
Ninguém falou senão o Miguel. (exclusão)
1. Está a chover; contudo, o João vai para a escola.
Tem a função de estabelecer ligações
2. Alguns alunos, nomeadamente o João e a Maria, tiraram muito
entre frases (1) ou constituintes da frase
boas notas a Português.
(2), como, por exemplo, relações de
consequência (3), de contraste (4) ou 3. O Pedro estudou pouco. Consequentemente, tirou uma má nota.
Advérbio ordenação (5).
conectivo 4. Alguns alunos não estudaram. Todavia, nem todos reprovaram.
Os advérbios conectivos distinguem-se
5. Primeiro coloca-se a frigideira ao lume, seguidamente
de conjunções com valor idêntico por
colocam-se os temperos, finalmente frita-se o bife.
poderem, por exemplo, ocorrer entre o
sujeito e o predicado (6). 6. Estava um frio de rachar. O João, contudo, continuou na praia.
(*Estava um frio de rachar. O João, mas, continuou na praia.)
1. Quando chegaste?
Surgem em construções interrogativas
Advérbio diretas ou indiretas e remetem para 2. Onde estiveste, de manhã?
interrogativo ideias de tempo (1), lugar (2), de modo 3. Como conseguiste esse emprego?
(3) ou de causa (4).
4. Chegaste tarde porquê?
Locuções adverbiais: sequência de palavras que funciona, sintática e semanticamente, como um advérbio. Tal como o advérbio,
apresenta diversos valores semânticos:
Locativo: à direita / de cima/ de perto/à distância . Temporal: de manhã/ à tarde / de vez em quando. De modo: à vontade / de bom
grado/ de propósito. De negação: de modo nenhum / de forma alguma. Quantidade e grau: de mais / de menos/ de todo / no máximo
/ no mínimo. Modalidade: na verdade / de facto/ com efeito / sem dúvida …
* A frase é agramatical.

Classe das interjeições

Palavras que servem para 1. Ah!, oh!: alegria. 2. Oh!, oxalá!: desejo. 3. Eia!, vamos! animação.
exprimir emoções.
4. Bravo!, viva!: aplauso. 5. Ai!, ui!: dor.

Classe dos verbos


Os verbos flexionam em pessoa (1.a, 2.a e 3.a), número (singular/plural), tempo 1. O João correu ontem.
(presente, pretérito e futuro) e modo (indicativo, conjuntivo, imperativo e condicional). 2. O João está cansado.
O verbo exprime eventos (1) e estados (2), situa-os no tempo (3) e organiza a 3. O João correu ontem, corre hoje, correrá
estrutura da frase. amanhã.
Mantém o paradigma de flexão, sem alteração do radical. Canto, cantei, cantava, cantara, cantarei,
verbo regular
cante, cantasse, etc.
Não mantém, em algumas formas, o paradigma de conjugação (1) sentir: sinto (não respeita o radical sent);
verbo irregular
a que pertence, alterando o radical. perder: eu perco (não respeita o radical perd):
Verbo cuja conjugação é incompleta, uma vez que não flexiona Precaver, falir, remir, abolir, entre outros,
verbo defetivo: em todas as formas possíveis num paradigma flexional. não se conjugam em algumas formas do
presente do indicativo.
Apenas flexiona no infinitivo e na 3.a pessoa do singular. Não 1. Hoje chove como nunca.
coocorre com sujeito. Os mais frequentes são os verbos * Nós chovemos hoje.
impessoal
meteorológicos, como trovejar, nevar, chover, chuviscar e 2. Neva na serra da Estrela.
orvalhar. * Eles nevam na serra da Estrela.
Apenas flexiona no infinitivo e na 3.a pessoa do singular e do 1. Os cães ladraram muito hoje.
unipessoal plural. São deste tipo os verbos onomatopaicos que se referem 2. O cão ladrou muito hoje.
a vozes de animais, como ladrar, miar, cacarejar e ganir. * Tu ladraste muito hoje.
* A frase é agramatical.

269
Anexo informativo

Verbo: principal, copulativo, auxiliar

Verbo principal Transitivo 1. O menino encontrou o ninho.


Transitivo 2. Ele encontrou-o.
Determina a ocorrência direto Seleciona um complemento direto.
de um sujeito e de um ou
vários complementos. 1. O menino sorriu ao pintassilgo.
Transitivo 2. Ele sorriu-lhe.
indireto 3. O menino gosta de ninhos.
Seleciona um complemento indireto/oblíquo.

Intransitivo 1. O menino contou a sua aventura aos pais.


Transitivo 2. Ele contou-a aos pais.
direto 3. Ele contou-lhes a sua aventura.
1. O pintassilgo nasceu. 4. O menino pôs o passarinho no ninho.
2. Ele nasceu. e indireto
Seleciona um complemento direto e um
Não seleciona complementos. complemento indireto/oblíquo.

Verbo copulativo ser permanecer 1. O menino era traquinas.


estar continuar 2. O menino ficou admirado com o ninho.
ficar tornar-se
Liga o sujeito e o 3. O menino revelou-se corajoso.
parecer revelar-se
predicativo do sujeito. … 4. O João está em Lisboa.

Verbo auxiliar ter 1. O menino tinha visto o ninho.


ser 2. O ninho foi observado de perto pelo menino.
estar
Ocorre antes de um verbo principal ou dever
de um verbo copulativo constituindo um ir “tinha visto” complexo
complexo verbal. Pode ocorrer mais que e
poder “foi observado” verbal
um verbo auxiliar com o verbo principal. …

1. Verbo auxiliar de tempos compostos ter e haver


2. Verbo auxiliar da passiva ser

Classes fechadas de palavras

Classe dos determinantes


Determinante artigo definido Determinante artigo indefinido Determinante indefinido

O artigo definido varia em género e O artigo indefinido varia em género O determinante indefinido varia em género e
número e contribui para a construção e número e usa-se antes do nome número. Contribui para a construção do valor
do valor referencial do nome, cujo referente não foi previamente referencial do nome, indefinindo-o. Distingue-se do
identificando-o. Na frase, o artigo identificado ou não é conhecido dos determinante artigo, porque pode coocorrer com
definido surge antes do nome. Os interlocutores. Os determinantes artigos ele: «os outros/uns outros». Os determinantes
determinantes artigos definidos são: indefinidos são: um, uma, uns, umas. indefinidos são: certo, certa, certos, certas, outro,
o, a, os, as. outra, outros, outras.

1. Traz-me o livro. 1. Traz-me um livro. 1. Certos livros foram lidos por mim.
2. Vi a Maria ontem. 2. Vi uma pessoa ontem. 2. Vi outras raparigas na praia.
3. Ele comeu as maçãs. 3. Ele comeu umas maçãs.

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