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FERNANDO PESSOA E

A FILOSOFIA HERMÉTICA
o conhecimento do pensamento fllosóflco-hermético de Femando Pes-
soa é de uma fundamental Importância para a leitura e compreensão da
sua obra, tanto poética como ensaistica. Nesta edição foram reunidos,
pela poetisa e investigadora Yvette Centeno, alguns fragmentos do espó-
lio ainda inédito. É o caso dos textos extraidos de O Caminho da Ser-
pente, do Ensaio da IniciaçSo, de A Ordem do Subsolo e A Ordem do Átrio.
A presente edição reproduz também, em fac-slml/e, os papéis em que
Femando Pessoa dactilografou estes textos, bem como manuscritos, es-
tudos e ainda alguns daqueles simbolos alquimicos, maçónicos e caba-
listicos, que, no dizer de Yvette Centeno, teceram o destino deste poeta
e pensador, ele próprio simbolo do Homem Modemo, do Homem Futuro,
ou de algum sonhado Quinto Império ...

TEMAS E
DOCUMENTOS
Y. K. CENTENO

FERNANDO PESSOA,
E A FILOSOFIA HERMETICA
FRAGMENTOS DO ESPóLIO

© Copyright by Y. K. Centeno e Editorial Presença, Lisboa, 1985


Reservados todos os direitos
para a língua portuguesa à
EDITORIAL PRESENÇA, LDA.
Rua Augusto Gil, 35-A 1000 Lisboa
INTRODUÇÃO
Agradeço ao Dr. António Brás de Oliveira, da Biblio-
teca Nacional de Lisboa, a gentileza com que sempre me
ajudou, e à Dr.' Maria Helena Rodrigues de Carvalho, da
Universidade Nova de Lisboa, a gentileza com que fez a
tradução do Essay on lnitiation.
Com este volume de inéditos do espólio referentes exclusivamente
à filosofia hermética, pretendo ampliar a informação que tenho vindo
a fornecer, nestes últimos anos, acerca de uma das facetas mais impor-
tantes do pensamento de Fernando Pessoa.
O critério seguido é, mais uma vez, o de deixar o leitor entregue,
tanto quanto possível, à leitura directa e à meditação dos próprios
textos. Por eles se verâ como foi intenso o fascínio exercido pela gnose
e pela iniciação, sob variadas formas. O destino do poeta teceu-se com
o desassossego da busca, e a palavra, nele transformada em centro
irradiante, materializou sempre, ou quase sempre, as experiências do
seu mundo interior, da sua visão não apenas literária mas também e
sobretudo profética e mística da vida.
Já várias vezes afirmei,1 a propósito da datação possível do seu
interesse pela filosofia hermética e pelo ocultismo em geral, que certos
poemas de Alexander Search, o heterónimo juvenil, e certas notas de
leitura do caderno assinado pelo mesmo, e referentes ao ano de 1906
(Esp. 144H-7, 144H-13 e 144H-26), mostram que é antiga a sua curio-
sidade e a sua relação com tais matérias. Do ano de 1916 vârias factu-
ras e listagens de encomendas de livros continuam a demonstrar idêntica
inclinação (Esp. 54B-14/15). E a consulta e estudo atentos dos livros
da sua biblioteca, abundantemente sublinhados e anotados à margem,
anula o resto das dúvidas com que possamos ficar. Indico apenas, a
título de curiosidade, que na sua biblioteca se encontram alguns dos
mais importantes autores de qualquer destas matérias herméticas: Ma-
çonaria, Rosicrucismo, Kabala, e até mesmo Alquimia: A. E. Waite,
com obras sobre a Franco-Maçonaria, a irmandade Rosa-cruz, a lenda
e simbolismo do Santo Graal; Mac Gregor Mathers, com a edição da
Kabala desnudada de Knorr von Rosenroth; Robert Fludd, com o seu
Tratado de Astrologia Geral; João Antunes, (passando aos portugueses)
com a História e a Filosofia do Hermetismo; Anselmo Caetano Munhos
de Abreu Gusmão e Castello Branco, com a sua Ennoea, ou tratado
sobre o entendimento da pedra filosofal. Este último, autor do século
dezoito, permite verificar até que ponto era conhecida e tida por ilustre
a matéria hermética, apesar das perseguições e obstáculos levantados pela
Inquisição. Em Anselmo Caetano encontrou sem dúvida o nosso poeta
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um manancial de informações, comentários, resumos, que muito lhe Note-se a i~portância atribuí~a aos romances de cavalaria em que
serviram para as suas próprias locubrações sobre este assunto. 2 s~ e~c.ontra, dIZ o poeta, a tradIção secreta do cristianismo. A criação
Um dos seus projectos de conto, arquivado no espólio, tem pre- hterana é, para Fernando Pessoa, uma das faces do mistério iniciático
cisamente por título O Filósofo Hermético (Esp. 27 19 M 8 1-13). Aqui Mistério que se encontra subjacente na Mensagem, bem como em tod~
define o oculto como «o interno, a outra face das coisas», dizendo o j~go da heteronimia, no diálogo profundo entre os vários poetas:
ainda que o oculto «significa o que não é presente, o que não é actual .. . CaeIro que responde a Search e a Pessoa ele mesmo recusando o mis-
o que já passou, o que virá a ser e também o que é mas nós não co- tério que a eles permanentemente intriga (<<Constituição íntima das
nhecemos.» cousas ... j'Sentido íntimo do Universo' ... / Tudo isto é falso tudo isto
Preparemo-nos para conhecer um pouco mais, através da viagem
não quer ~izer nada.»); e Campos respondendo a Caeiro que' um orça-
pelos textos: mento é tao natural como uma árvore (<<Um orçamento é tão natural
como uma árvore / E um parlamento tão belo como uma borboleta»),
1. O Caminho da Serpente ou a Pessoa que este momento é o da «Nova Revelação metálica e
dinâmica de Deus!».
Uma ~a~ in~uências que. mais s~ fez sentir em Portugal, desde a Trata-se para ele de dar corpo a vários corpos, a partir de um corpo
~ó'. de dar voz a várias vozes, a partir de uma só voz. A iniciação,
Idade MedIa, fOI a de Joachlm de Flore (1145-1202), monge cisterciense
que inspirou movimentos de visionários e profetas como o sapateiro umca e sempre a mesma, que encontramos no pensamento filosófico
co~~ na actividade literária, é a do desdobramento que na criação se
Bandarra e o Padre António Vieira, por exemplo, entre nós. (A ideia
do Evangelho Eterno e da Idade do Espírito Santo fizeram carreira ,:enflca de~d~ o primeiro ser, o Adão primordial de gnósticos, kaba-
e~ Por.tugal, graças sobretudo aos franciscanos.) É esta perspectiva
listas, ~qUlmlstas - todos os que se dizem herdeiros de uma tradição
mIlenansta que lança uma nova luz sobre o caso Bandarra, de que hermétIca. Desdobramento, multiplicação, que só depois de assumidos
Fernando Pessoa se ocupa longamente nos textos Sobre Portugal edita- e esgotados permitem a unidade.
dos por Joel Serrão. 3 O poeta, adepto por excelência, tem o desejo (ora mais ora menos
O poeta considera especialmente importante o Terceiro Corpo das reprimido) desse primeiro tempo de androginia perfeita. Mas só quando
Trovas, em que reconhece uma melhor ordenação e uma referência esgotar o mundo do possível pode sonhar recuperá-lo.
às «altas p.rofecias». Aqui se anuncia o regresso de D. Sebastião para Já que o mundo caiu, e caiu definitivamente, já que a infância se
uma ~ata sItuada entre 1878 e 1888. Ora, como bem observa Joel Serrão, ~erde~ (na infância não há ainda consciência da divisão), é na obra
1~88. e a data. do na~cimento do poeta, que parece estar atento à impor- literárIa que Fernando Pessoa-adepto procura realizar-se. O poeta trans-
tancla deste smal (amda que não o confesse claramente): cende o homem, a obra transcende a vida, e foi a essa transcendência
«No Terceiro Corpo das suas Profecias, o Bandarra anuncia o Re- que ele se ofereceu inteiro.
gresso de D. Sebastião (pouco importa agora o que ele entende por esse No Essa:y on Initiation, Fernando Pessoa escreve que o grau de Mestre
'regresso') para um dos anos entre 1878 e 1888. Ora neste último ano é comparável àquele em que se escreve poesia épica, poesia dramática,
(~888) d~u-se em Portugal o acontecimento mais importante da sua
e a fusã@ de toda a poesia, lírica, épica e dramática, em algo de superior
VIda na~lOnal desde as descobertas; contudo, pela própria natureza do que as transcenda.
Foi isto o que ele tentou e, penso eu, conseguiu.
acontecImento, ele passou e tinha de passar inteiramente desperce-
bido.»4 Num dos tex~os de Valenti.n Andrea (1586-1654), autor que Fer-
nando Pessoa CIta neste ensaIo, encontramos uma visão mística da
De Bandarra ao ~~dre An.tónio Vieira afirma-se uma tradição que é, linguagem. Ele fala de «escrituras mágicas» que serviram de base «à
para Pessoa, a tradlçao genumamente lusitana: elaboração de uma língua nova que permite exprimir e explicar a
«Que Portugal tome consciência de si mesmo. Que rejeite os elemen- natureza de todas as coisas simultaneamente». o
tos estr~hos. Ponha de parte Roma e a sua religião. Entregue-se à O simultaneismo da heteronimia é, neste sentido, um verdadeiro
sua própna alma. Nela encontrará a tradição dos romances de cavalaria exercício espiritual não confessado.
onde passa, próxima ou remota, a Tradição Secreta do Cristianismo Numa carta a Ophélia, datada de 29-XI-1920, Fernando Pessoa es-
a ~ucessão Super-Apostólica, a Demanda do Santo Graal. Todas essa; creve: «O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ophe-
c.Olsas, necessariamente dadas em mistério, representam a verdade ín- linha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres
tIma da alma, a conversação com os símbolos'»3 que não permitem nem perdoam.»
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Num poema como «Eros e Psique», de 1934, com uma epígrafe tirada
Que outra lei? Alguma lei semelhante à dos cátaros, que torna o do Ritual do Grau de Mestre do Átrio da Ordem Templária de Portugal,
casamento impossível, tanto quanto exalta o amor? Incorporando ele- aponta-se uma via, e uma revelação. Não é novo este tipo de poema. Em
mentos maniqueístas e gnósticos, o catarismo apresenta uma visão 1930 escrevera Fernando Pessoa «O Último Sortilégio». E em carta
dualista do mundo, que é o mundo da mistura (não puro), a esfera mais a Gaspar Simões, de 16 de Outubro de 1930, observa que ali se trata
baixa da emanação no universo criado. A perfeição, para os cátaros de «magia da transgressão». E que há outros: «'Lúcifer', que vai muito
como para os gnósticos, supõe a androginia, o regresso ao estado do além deste na mesma direcção; e esse é já antigoS. A mesma nuvem
Adão primordial descrito no Génesis. O corpo subtil deste Adão deve paira sobre os cinco poemas a que chamei Além-Deus, e que escrevi
ser glorificado, em detrimento do corpo material do outro, já corrupto, há ainda mais tempo.» E recusando-se a dar mais explicações, con-
do homem. Daqui a recusa do comércio sexual conducente à procriação. clui: «Deveras e realmente, não posso dar-lhe explicação nenhuma sobre
A energia sexual deve ser utilizada para outros fins, como no yoga da a génese particular deste poema. Sobre a génese geral dessa ordem de
mão esquerda, e levar o adepto à sua transmutação em «corpo de poemas é que talvez haveria alguma coisa a dizer. Mas isso não tem
diamante» (o corpo subtil do Adão primordial acima referido). interesse estético nem psicológico.»9
Nos documentos do espólio, Fernando Pessoa alude muitas vezes à Tem contudo o maior interesse, religioso e filosófico. Que o que se
via hermética que através da chamada Igreja gnóstica é transmitida aos esconde nestes poemas é obscuro, pelo menos para a razão do seu
Templários (Esp. 54-10). Esta é, para ele, a verdadeira Igreja, e a via tempo, não restam dúvidas. Que é algo de caro à alma do poeta - e
hermética a verdadeira via. Mas já na documentação publicada em por ser caro ele esconde, em vez de divulgar - também me parece
Páginas Intimas e de Auto-Interpretação, e Sobre Portugal, existem certo. Lendo «Eros e Psique» atentamente, e lendo a documentação
referências à Gnose e aos gnósticos que importa salientar: hermética do espólio, arrisco aqui uma hipótese: a de que a Princesa
«Esta heresia [a Gnose] não desapareceu nunca. Opressa, esmagada Adormecida do seu poema, e a iniciação que ele narra, são o eco da
exteriormente, essa seita de ocultistas tornou-se secreta, desapareceu lenda maniqueísta em que o amante, ao ser iniciado, é recebido por
da evidência histórica, mas não da vida. Não é impossível encontrar, uma jovem que lhe diz: «eu sou tu mesmo».10 Comparemos este final
aqui e ali, evidência da sua permanência secreta. E essa permanência com o final de Pessoa: «E vê que ele mesmo era / A Princesa que
oferece aspectos de conflito com o cristismo oficial e sobretudo com dormia».
o católico. A par do cristismo oficial, com os seus vários misticismos texto Esta raiz antiga, maniqueísta, e outras formas de gnosticismo e cata-
e ascetismos e as suas magias várias, nós notamos, episodicamente vindo rismo mais recentes, explicam talvez parte da dificilmente explicável
à superfície, uma corrente que data sem dúvida da Gnose (isto é da filosofia de Pessoa, hermética, sem dúvida, mas numa multiplicidade de
junção da Cabala judaica com o neoplatonismo) e que ora nos aparece sentidos, só comparáveis aos múltiplos da heteronimia. Explica também
com o aspecto dos cavaleiros de Malta, ou dos Templários, ora, desa- a sua recusa do casamento, em obediência a uma Lei superior. E o
parecendo, nos torna a surgir nos Rosa-Cruz, para, finalmente, surgir apagamento da mulher, na sua obra. A mulher é memória, nãO' tem
à plena superfície na Maçonaria. Os mações são os descendentes re- verdadeira realidade. E enquanto memória aponta só para a mãe, o re-
motos, mas segundo uma tradição nunca quebrada, dos esotéricos spí- ceptáculo da infância.
ritos que compunham a Gnose. As fórmulas e os ritos maçónicos são
nitidamente judaicos; o substrato oculto desses ritos é nitidamente Os textos de O Caminho da Serpente, formando embora um «livro
gnóstico. A Maçonaria derivou de um ramo dos Rosa-Cruz. que o não é», como Pessoa diz, revelam-se extremamente interessantes
Pareceria absurdo citar esta subcorrente cristista, se a importância para a nossa problemática. Tornam um pouco mais claro o que é a
dela na história não fosse, apesar de ser oculta, enorme. Ela agiu for- Lei superior e o Destino a que Pessoa obedece (ou diz obedecer).
temente na Renascença e na Reforma; a sua ingerência na Revolução Para os adeptos de Mani (246-277), Jesus foi o Anjo que no Génesis
Francesa é assinalada. A natureza do assunto preclui, claro é, que se tomou a forma da serpente, para tentar Adão. É um mensageiro da
haja feito um studo certo dele; mas o que sai pelos interstícios da verdade, antecedendo Mani. O Pai está no céu, o filho no sol, e a lua
história não deixa dúvidas a este respeito. A moderna revivescência e o Espírito Santo no ar.
dos sistemas ocultistas, notável sobretudo pela importação, nos países Ora Fernando Pessoa, no Caminho da Serpente refere-se a várias or-
dens, como a Ordo Solis (a do Filho, no Sol), a Ordo Serpentis (a dos
de língua inglesa, do chamado budismo esotérico, atroz amálgama de
iniciados da Ordo Solis) para chegar à Ordo Sebastica, «occulta e sem
superstições de selvagens, de humanitarismo decadente e de gnosticismo exterior» (Esp. 53-80). Este passa revela conhecimentas a que ele não
atrapalhado, trouxe outra vez à superfície o que pela Europa havia de alude, mas que passui. E atenção: o seu prafetismo sebástico, ao con-
restos da tradição oculta da Gnose.»?
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trário do que se julga, bebe em raiz heterodoxa, que tendo contaminado podem ser-lhe feitas invocações, como a Osíris, que é o mesmo deus.»
o próprio Joaquimismo não poderia chegar a nós sem mácula. Diz ainda que é preciso «sentir o Christianismo», e «repudiar o Chris-
Aqui se alude ao «Quarto Evangelho em processo de formação ... », tianismo»; e acrescenta «sentir tudo de todas as maneiras, e não ser
à «magua alchymica do Christo», à necessidade de «passar em Satan nada, no fim, senão o entendimento de tudo - quando o homem se
para chegar a Deus.» . / , ergue a este píncaro está livre, como em todos os píncaros, está só,
O caminho é o de um Jesus que se faz serpente, demómo tentador, como em todos os píncaros, está unido ao céu, a que nunca está unido,
para permitir que na criação se chegue ao momento do Futuro (a como em todos os píncaros» (Esp. 54A-8/9).
cosmogonia maniqueísta tem três momentos: o Passado, o Presente, «Sentir tudo de todas as maneiras», eis novamente um elo, bem ex-
e o Futuro), o fim dos tempos. plícito, entre a filosofia hermética e a prática dos heterónimos, a ma-
A Serpente é Portugal, diz Fernando Pessoa (Esp. 54-A-2), como neira que tem de se entregar sistematicamente à multiplicidade, até
quem diz que Portugal é a redenção, apontando através da sua pátria chegar ao uno, ao não-diferenciado.
para o Futuro desejado. Mas a filosofia da sua pátria não é a filosofia O que aqui se apresenta é altamente sincrético, como é altamente
do Portugal em que vive, católico e dogmático. Por isso a cala. sincrética a visão do mundo do poeta. Maniqueísmo, gnosticismo, joa-
A filosofia da sua pátria interior é a que se resume na fórmula «Faz quimismo, catarismo (além kabalismo, rosicrucismo, maçonismo, etc.),
o que quiseres é a única Lei» (Esp. 54A-38), entendendo que para se tudo nele conflui para a ideia de uma Igreja outra, não de Roma mas
fazer o que se quer, neste sentido hermético, a ordem é: «Descobre de Christo, ou do Espírito Santo, tudo nele conflui para a ideia de uma
aquilo que és; Descobre o que aquilo que és deseja; Faz o que desejas pátria outra de que o rei D. Sebastião poderia ser o símbolo. Mas sendo
enquanto aquilo que és.» (ibid). também ele um símbolo altamente complexo, como se vê por outro
O caminho está longe de ser fácil: apontamento inédito do espólio:
«Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto,
encontrará obstáculos incomprehensiveis e constantes. Se não fôssem (1) King Sebastian, the man
mais que os obstáculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou (2) King Sebastian, the hope
pela resistencia directa, bem iria, e os proprios obstaculos seriam o (3) King Sebastian, the symbol
clarim para o avanço. Mas encontrará outros - os obstáculos réles que (4) King Sebastian, the Master
vexam e vergam, os obstaculos suaves que adormecem e viciam, os obsta- (5) King Sebastian, the Christ
culos ternos que o farão, como Orpheu, volver o erro do olhar para
o vedado A vemo. Cercal-o-hão, não só resistencias duras, como as que D. Sebastião, o Cristo do Quinto Império. Homem, esperança, sí;n-
os penhascos erguem como tropeço, mas resistencias brandas, como as bolo, Mestre, Cristo - serpente do Quinto Império, ou seja, veiculador
memorias dos valles, e a dos lares nas faldas. E o triumpho consiste na de um outro conhecimento, que não o ortodoxo. Nascido, como dissera
força para, sabendo sentir essas attracções intensamente (pois não Bandarra, em 1888. Desconhecido, na sua qualidade de adepto, embora
sabeI-as sentir é não ter alma para a subida), as submeter á emoção já conhecido na sua qualidade de poeta. Propondo a poesia como gnose.
superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra, saber
submettel-as á vontade do espirita do mundo. Este processo de victoria, Fernando Pessoa revela-se venerador de um Deus-Mundo, de um
figuram-o os emblemadores no symbolo da Crucifixão da Rosa - ou Deus-Homem, de um Deus-Deus - reflexo do Espírito Santo, do Filho
seja no sacrificio da emoção do mundo (a Rosa, que é o circulo em flor) e de Si-Mesmo «manifestação de si-mesmo a si-mesmo, hermaphrodita
nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emoção fundamental, espírito-matéria», segundo diz num apontamento sobre a Kabala (Esp.
que formam o substrato do Mundo, não como Realidade (que isso é 54A-20).
o circulo) mas como producto do Espirito (que isso é a Cruz)>> (Esp. O segredo é simplesmente este, como descobriremos, acompanhando-o
54A-6). ao longo dos seus textos: «que todas as religiões são igualmente ver-
Neste caminho, a vontade «do amor e da terra» é submetida à «emo- dadeiras, que dizer Jupiter ou Jehovah é, não dizer coisas differentes,
ção superior». Não se trata de não sentir (quem não sente não tem a mas como quem diz a mesma coisa em línguas differentes.» (Esp.
qualidade necessária para ser eleito, para ser chamado à provação), 53A-40). E deste modo «Christo não é uma pessoa, mas um grau - o
trata-se de controlar o sentimento, como se vê nos romances de cava- mais alto da escala dos graus divinos e do templo» (Esp. 53B-78).
laria onde Fernando Pessoa encontra a chave da Igreja secreta. Acerca É indispensável ler o que nos diz sobre a Iniciação, e as Ordens de que
de Cristo (o Filho, no Sol, segundo Mani) diz que é o mesmo deus se ocupa, do Subsolo e do Átrio. Veremos como acentua o caminho da
que Osíris (deus do Sol dos antigos egípcios): «Na segunda ordem Vontade, do Sentimento e do Intelecto. Numa visão tripartida, como a

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das Idades do Mundo do Abade Joaquim - do Pai, do Filho e do Es-
pírito Santo. O «Adeptus Exemptus», como lhe chama Pesso~ no mais No documento 53B-54 faz-se alusão a uma ordem de ciência, ou de
alto grau de completude é «Mágico, Santo e Génio» (Esp.' 54A-49). sabedoria, que é a da emoção: «Ha tres ordens da sc&: a da vontade, a
Assim se verá que a busca, como a iniciação, diz respeito a «trez da intelligencia, a da emoção. A intuição é a intelligencia da emoção.
ordens de coisas: (1) a verdadeira natureza da alma humana da vida Mas a emoção pura - eis a sciencia.» E adiante, no mesmo documento:
e da morte, (2) a verdadeira. ,
maneira de entrar em contacto' com as «O mystério (que é tudo) não é comprehensível senão á emoção. A in-
forças secretas da natureza e manipulá-las, e (3) a verdadeira natu- telligencia não pode compreender o mysterio.»
reza de Deus ou dos Deuses e da creação do mundo» (Esp. 54-97). A ordem do Subsolo (<<or the like»), como também se diz, por exem-
É interessante o que Pessoa escreve acerca da morte de D. Sebas-
plo nos documentos Esp. 54-90 e 54-97, seria próxima da Grande Re-
tião (Esp. 54-93) e da sua passagem (pela espada) ao grau de Mago. forma pensada pela Ordem de Cristo, e cujos pontos fundamentais se
Mago é, nas várias listas que o poeta organiza, um dos graus máximos encontram, escreve o poeta, «no 42 Evangelho» (Esp., 34-74). Para ele os
na escala de iniciações (Cf. Esp. 53-96; 53A-20; 53A-71; 54-28). Evangelhos são «rituaes dramaticos, nada tendo que ver com qualquer
Interessante, porque se prende a uma dita Ordem Sebástica todo um realidade historica» (ibid.).
s,:nho d.e regeneração espiritual e teI?plária por parte do poeta, que Os símbolos e ritos de que pensa tratar não são fáceis de entender.
nao hesita em ~roclamar o seu desejo de um destino outro, para si Dirigem-se à «intelligencia analogica». tntrapassam a nossa capacidade
e para o seu paiS. de entendimento (Esp. 54-75).
Num outro. conjunto de tex!os, fala Pe~soa do ano da fundação da No documento 54-85, refere-se o poeta à S.J. (Sociedade de Jesus)
Ordem de Cnsto, 1318, a partir do qual, Juntando o número da Besta, e relaciona-a, «por dentro», com a O.C. (Ordem de Cristo). E noutros
666, se chega a 1984. E interroga: «que anno?» (Esp. 53-79). documentos inicia uma análise do Antigo Testamento à luz de uma
Mas a Bula Papal de João XXII data de 1319. E somando a este possível interpretação ocultista, maçónica. Faz depois uma série de co-
ano o número da Besta chega-se a 1985. Que ano? Para Fernando mentários sobre as infiltrações de umas Ordens nas outras, referindo
Pessoa, volvido meio século sobre a sua morte, e para Portugal? por exemplo o caso do célebre Nunes, que «quis fundar uma Ordem
de Cristo dentro da Maçonaria», o que estava «de antemão condemna-
do ... » (Esp. 54-87); afirma ainda que a iniciação na Ordem de Cristo
2. Subsolo teria sido a causa da destruição de outro adepto, Antero de Quental.
No documento 54-90 alude a vários capítulos do projectado ensaio.
<?s textos apresent~dosnão passam de fragmentos, ou projectos semi- No primeiro tratar-se-ia das iniciações e das leis da «vida occulta»,
-almha~ados de e~sruos,. que o poeta não chegou a acabar. O que con- segundo a célebre regra do Pimandro de Hermes: «o que está em baixo
tudo nao lhes retira o mteresse. Se é verdade que é na obra poética é como o que está em cima» (Esp. 54A-29). No segundo capítulo
que se dá a grande realização de Fernando Pessoa, não é menos ver- dar-se-ia informação acerca das altas ordens, como são constituídas
dade que a contínua reflexão filosófica e religiosa, a contínua busca e como a sua constituição pode ser «chave» do governo secreto do
de um rumo em experiências ditas à margem da ortodoxia são uma mundo. Pois em tudo há uma «dupla vida», uma «ordem externa» e
faceta igualmente importante, que convém revelar. Não para' que abafe uma «ordem interna».
c?m o seu peso e desordem a «unidade» que ele tanto procurou «Orga- Fernando Pessoa continua com várias indicações em que tenta ex-
niza a" tua vida como uma obra literária, pondo nela toda a unidade plicar «todas as Ordens», e «todas as maneiras de Ordens», pois «tudo
que for possível» (Esp. 28-43), mas simplesmente para que se vá co- é o mesmo» (Esp. 54-91). E também para os símbolos procede a uma
nhecendo melhor o seu génio complexo, e a vastidão dos problemas análise em que quer demonstrar que «tudo é um». Não entrarei nos
a que durante toda a vida se entregou. detalhes das suas congeminações, porque difícil seria discuti-los e chegar
Subsolo organiza-se à volta de um projecto, a criação de uma or- a alguma conclusão. O «Subsolo» parece ser o esboço de uma estrutura
dem interior, «Ordem da Emoção», com os seus graus próprios, que simbólica servindo de suporte às ordens iniciáticas conhecidas, uma
o autor enumera, ainda que a título provisório, como se conclui espécie de «assinatura», de «fundamento» de todas as que o poeta pro-
das anotações manuscritas em que diz «Isto é a Ordem Interna», e curasse organizar. Ordem simbólica, para o seu entendimento contribui
«Notas a Externa» (Esp. 54-96). Os documentos 54A47/50 todos em o texto em que se indica a gradação dos vários sentidos do símbolo,
inglês excepto .0 último, e todos dactilografados, são ta~bém notas literal, alegórico, moral, espiritual e divino. Para concluir que «numa
sobre a ordem mterna (<<Notes on the Inner Order»), e contêm esqu~ cadeia racional, tudo é um» (Esp. 54-91).
mas e tabelas de correspondências entre a ordem interna e a externa. Estamos em plena filosofia hermética. É Hermes Trismegisto quem,
na Tabula Smaragdina, diz que tudo é um, o que está em cima como
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E como sabeis tudo isto, deixarei o que isto é e significa; passarei de
o que estâ em baixo, o que estâ em baixo como o que estâ em. cima. novo voltando sobre os antigos passos, o atrio e a porta do Templo,
Do mesmo modo não hã separação e~tre as Or?en~ do Átn~, do e, olhando para fóra, dir-vos-hei o que vejo. Se. o vejo bem ou mal,
Claustro e do Templo. As do Átrio eqUIvalem à P?meIr~ gra~aç~o. do vós o medireis (?); se digo bem ou mal o que veJo, estâ em vós o com
símbolo, as do Claustro à segunda, as do Templo a terceIra, Jâ dlVlna. que medil-o.»
São vârios os documentos em que Fernando Pessoa se ocupa da
Ordem do Templo, de que se disse filiado, afirmand<? que ela se encon- Por aqui vemos como a tríade da iniciação se define por um~ r~­
trava em «dormência» desde 1888 (data do seu naSCImento). flexão política (e de facto a política não está menos presente na IdeIa
Herdeira da Ordem do Templo, surge em Portugal a Or~em de de Pessoa do que a filosofia), uma reflexão metafísica e um~ reflexão
Cristo cujo ideârio é o mesmo. Mas Fernando Pessoa alude aInda ao verdadeiramente respeitante à alma (à sombra), oculta, esoténca. O Sa-
movi~ento da Reintegração, do judeu talvez português Martines de tan de que se fala é como a Serpente, um portador de luz. Não se
Pasqually, autor do célebre tratado do mesmo nome. U chega ao céu sem passar pelo inferno do mundo.
Numa «Oração ante o Throno» (Esp. 54A-71), descreve Pessoa a Fernando Pessoa alude, nestes documentos, a Zacharias Werner, autor
situação do iniciado ao Grau de Mestre do Átrio na Ordem de Christo de Os Filhos do Vale (1803), drama esotérico que teve na altura grande
de Portugal com as seguintes palavras, que passo a transcrever: repercussão. Henry Corbin, em Templo e Contemplação12 faz uma
«Chegado's, meus Irmãos, a esta encruzilhada de todas as coisas,. e~ anâlise detalhada desta obra, pois vê nela o desejo de recuperação do
que nem disciplina de fóra tem espirito que nos convença, nem dISCI- ideal templârio - reconstruir o Templo, criar o espaço adequado à Je-
plina de dentro força que nos compilla, nós, os que somos europeus, rusalém Celeste, onde perenemente se ficarâ ao serviço do Espírito.
e com sei-o creâmos este mundo inteiro (social, prolixo) em que huma- Prende-se esta visão do Templo (e do Reino do Espírito) à idade do
namente se vive, temos que, um momento que seja, e porque estamos Evangelh~ Eterno, proclamada pelo abade Joaquim de Flora, à Ter-
na sombra, meditar comnosco - não já como europeus mas como ceira Idade (a do Espírito Santo) e à Terceira Ordem de que se ocupa
homens, nem jâ como homens mas como iniciados - o 9ue é e~te Fernando Pessoa. Como em Zacharias Werner, esta Terceira Ordem
mundo (esta sociedade) em que estamos (que vemos), o que e esta VIda é uma Ordem mística, interior, «oculta» até mesmo no sentido de «es-
que vivemos, e, tambem, o que somos nós nelIes (nelIas). A primeira condida» - no caso do autor alemão num misterioso vale (o vale de
meditação p6de dizer-se politica, e elIa compete a cada homem que Josaphat), no caso do nosso autor neste Subsolo (que mais não é do
neste mundo se move com a consciencia intelIectual dos outros. A se- que a variante encontrada para a Sombra, o segredo da alma, onde
gunda meditação póde dizer-se metaphysica, e ella compete a cada a busca e a transmutação do negro em luz virâ a ter lugar). O dra-
homem (alma) que nesta vida pensa com a consciencia intelIectual do maturgo alemão, na sua obra, faz uma crítica aos maçons do seu tempo,
mundo. A terceira, que é nossa, não tem nome, porque estâ na sombra, contaminados pelo racionalismo e mais vocacionados para a política
como nós (mesmos) estamos, mas compete-nos, a cada um de nós, por- do que para a prática interior, e um apelo: ao ressurgimento da alma,
que, na theoria, quando não na practica, estamos libertos das illusões do verdadeiro Templo, que a história, com as suas vicissitudes, não
do poder externo e da sciencia interna, scientes de que, na ordem das pode degradar. Desde o sacrifício de Jacques de Molay que Robert de
coisas e das almas, somos subditos do a quem S. Paulo, alto iniciado, Heredom, na Escócia, protege o santuârio e o seu segredo. O seg~edo
chamou o Principe d'este Mundo. é o do Vale, tão bem guardado como outrora o Graal no seu reCInto
Esse Principe, como todos sabemos, é Satan, porque este mundo é mâgico.
o Inferno de que falIam. O fogo eterno é aqui - não eterno porque A imagem do Vale, com o seu simbolismo hermético, prende-se à
dure sempre para cada um, mas (porém) eterno porque dura sempre. descrição, na Bíblia, de um lugar santo descrito pelo profeta Joel (Joel,
Pela Lei da Morte (de Adão ou da Morte), que é a Vida, nos podemos 3/2): o vale de Josaphat. Mas esse vale é, para Werner, um puro, es-
libertar d'elIe durante um tempo, e até que regressemos. Pela Lei do paço interior: «eu - em mim - nós somos - o Ser», exclam~ o fIlho
Christo (de Deus ou do Christo), que é a Vida Eterna, nos podemos do Templo, ao ser iniciado. descobrindo esta verdade esqueCIda (Cor-
libertar d'elIe para sempre, (e) para não regressar nunca. bin, p. 404). Fernando Pessoa alude a este vale, no seu poema Do Vale
Tudo isto sabeis vós, meus Irmãos, e eu comvosco, e sabemos tam- à Montanha. A Montanha é a montanha sagrada de Heredom, na Es-
bém como haveremos, se pudermos, resistir aos trez assassin.o~ e guar- cócia, Mas para lâ chegar é preciso receber a iniciação, atravessar o
dar comnosco ainda que mortos para os outros, a Palavra DlVIna, para Vale. Num documento do espólio, que eu jâ transcrevi noutro estudolB
que outros, e~ seu modo breve e em nossa obscura similhança, sejam Fernando Pessoa estabelece a relação com a iniciação maçónica, que
levantados de onde nós o fomos, e attinjam, -buscando, o que nós com permite situar e entender o seu poema. Enquadrados também, do mesmo
buscar attingimos.
19
18
modo, os fragmentos do Subsolo, o espaço oculto da alma o~de busca de vida. São o que, na simbólica alquímica, se designa pelos «quatro
e revelação têm lugar, podemos passar ao novo grupo, do Átno. estados da Grande Obra» e de que a putrefacção (a nigredo) é o pri-
meiro, representando a morte para o mundo, e a rubedo o último, e
3. Átrio mais perfeito, em que se assiste ao casamento químico da alma consigo
mesma, depois de regenerada.
No documento 54A-29 do Espólio, Fernando Pessoa refere-se ao ce- Nesta fase as verdades do Átrio e as do Claustro, aparentemente
lebrado pymandro de Hermes: «O que está em baixo é como o que opostas entre si, unem-se numa mesma verdade. O inferior liga-se ao
está em cima». Por esta citação se estabelece o elo (que ele deseja ra- superior. Melhor: o inferior revela-se o superior, pois tudo é um. Mas
cional, mas que não precisa de o ser, quando se trata do oculto) do aqui já não se pode, por palavras, dar ideia do que é a revelação (Esp.
Subsolo ao Átrio. Como Pessoa diz, a organização das chamadas Baixas 54A-89).
Ordens copia, «guardadas as diferenças obrigatórias», a organização Oswald Wirth, estudioso da maçonaria citado várias vezes por Pessoa,
das Altas Ordens. As Ordens do Átrio iniciam por meio de símbolos, escreve a propósito do simbolismo oculto da Franco-Maçonaria que só
as Ordens do Claustro, superiores às primeiras, por meio de chaves se pode captar a sua essência viva compreendendo que ela se põe ao ser-
herméticas, e as Ordens do Templo «iniciam plenariamente - isto é, viço da Vida e ensina a viver «como artista iniciado na Arte de Viver».a
dizendo e explicando os mysterios» (Esp. 54A-99). Esta ideia da arte ligada à iniciação é importante, como sabemos, para
Mas o iniciado pode, logo no primeiro grau, ascender aos últimos Pessoa. Os Superiores Desconhecidos são, como ele, discretos artistas
mistérios. Para Pessoa o grau de Aprendiz não é um grau menor senão da alma, que em silêncio modelam. O verdadeiro Mestre opera (<uniti-
em aparência, pois é «o símbolo de toda a iniciação», no mais elevado vamente), pela imaginação (a estrela no homem, como diz Parace1co),
sentido (:&p. 54B-6). e é também isso que ele procura fazer estudando a Alquimia, a Kabala,
Ao adepto são pedidas várias vitórias: a vitória sobre o Mundo, o Rosicrucismo, a Maçonaria, a Astrologia, a Teosofia, etc. - e pro-
a vitória sobre a Carne, a vitória sobre o Diabo (Esp. 53-59/60). Mas curando, de todas as maneiras, o essencial, o vivo, das .doutrinas.
quando chega ao fim do seu caminho descobre que «terá o que sempre
teve», isto é, que nada lhe é dado exteriormente que ele já não possua 4. Ensaio sobre a Iniciação
primeiro, interiormente.
:&te é o sentido místico de toda a iniciação. Dá-se no «Ego íntimo» Quando preparava os fragmentos do Subsolo surgiu-me no meio desse
(Esp. 53-78), em quem morreu o mundo, a carne, o diabo (a tentação material outro igualmente interessante, embora igualmente fragmen-
de ambos) e que ressurge para uma vida nova, esclarecida (iluminada). tário - o ensaio sobre a Iniciação, escrito em inglês'·.
Mas a vida, diz Fernando Pessoa, é uma «symbolologia confusa» O Subsolo era uma Ordem Interna, e estes documentos permitirão
(Esp. 53B-79), e nada deve ser tido por definitivamente adquirido. O melhor o seu entendimento, explicando o que é a iniciação numa Ordem
perigo do erro e da ilusão está sempre subjacente a este género de desse género.
experiências: A maçonaria é, para Fernando Pessoa, «uma vida» mais do que uma
«O caminho dos symbolos é perigoso, porque é facil e seductor, sociedade, ou uma Ordem. O objectivo final que se pretende atingir
e é particularmente facil e seductor para os de imaginação viva, que é, na sua opinião, a sabedoria, e não um Grau. Entendido pela intuição
são precisamente os mais faceis de induzir-se em erro e, tambem, de (que é a inteligência da emoção, como ele diz), o significado dos sím-
romancear para os outros, formando fraudes por vezes innocentes, por bolos ritualmente recebidos, o adepto transforma-se em filósofo.
vezes um pouco menos que isso. Nada ha mais facil que interpretar Ao filósofo ele aconselha como regra o silêncio, o estudo e o trabalho.
qualquer coisa symbolicamente; é ainda mais facil que interpretar E que organize a sua vida «como uma obra literária», pondo nela a
prophecias.» (Esp. 53B-80). maior unidade possível (Esp. 28-43).
Feito o aviso aos incautos, para quem tudo é fácil, o poeta continua, Os erros são frequentes, em qualquer das vias que se escolher, caba-
desenvolvendo a ideia de que a iniciação tem a ver com a alma, sendo lística, maçónica ou tântrica. São várias as formas de iniciação apon-
<<uma espécie de nova região por onde se a alma transforma.» (Esp. tadas, mas sobre elas não chega Fernando Pessoa a conclusões defini-
53B-83). tivas. Interroga-se e faz com que nos interroguemos também. Diz con-
Para Fernando Pessoa a Maçonaria, em qualquer dos seus graus, tudo que «o significado real da iniciação é, para este mundo em que
Menores ou Maiores, é «uma vida nova, e uma alma nova», que se vivemos, um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos
ganham no contacto com os seus mistérios. Os graus de iniciação pelos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras, que
representam estados de conhecimento que são simultaneamente estados o que vemos é uma ilusão» (Esp. 54A-55). A iniciação é o dispersar
20 21
a literatura, que é a UOlca verdade, com o pensamento, que é afinal
dessa ilusão. E é simbólica porque «a iniciação não é um conhecimento a única maneira de conhecer e sentir.
mas uma vida» (ibid.). Na .biblioteca de Fernando Pessoa encontram-se As Confissões do
Acima de tudo confia-se no estudo e na intuição. A intuição é reve- mago inglês Aleister Crowley, por quem o poeta se interessou ao ponto
ladora de conteúdos profundos, espirituais. Permite «a união com Demm de trocar correspondência com ele, lhe traduzir um longo poema
de que se fala (Esp. 54A-63). Aquele que procura ~iciar-se to~a-se mágico, o «Hino a Pã», de escrever outros, como o «último Sortilégio»
adepto da «Ordem Interior». Despe-se de pre~onceltos dogmahcos. de nítida marca ritual e sob a sua influência, tudo isto culminando no
A iniciação não se obtém na Igreja, ~ necessárIO conhecer todos os encontro lisboeta e na farsa do desaparecimento do mago na Boca do
sistemas religiosos e filosóficos que eXIstem, bem como os modernos Inferno a que o nosso poeta deu também cobertura. Por intermédio
contributos da ciência (Esp. 54 B-I6). de Crowley e da Ordem rosicrucista da Golden Dawn, a que este per-
Mais tarde, já o adepto pode elaborar o seu próprio sistema, inter- tenceu, juntamente com S. L. MacGregor Mathers,16 se abre a porta
pretando o universo na sua «tripla linha de. v.erdade, beleza e conduta~). da alta magia para Pessoa.
Depois de elaborado, deverá abandoná-lo (/b/d.). O seu crer vale maIs A magia e a astrologia merecem um estudo à parte, mas não posso
do que os outros existentes. Dos três caminhos à escolha poderá seguir deixar de referir a relação existente entre os graus e as experiências
o místico, o mágico ou o gnóstico. (Mas só aparentemente, pois a ver- iniciáticas da Golden Dawn e as próprias meditações de Pessoa, tal
dadeira iniciação inclui os três.) como chegaram até nós. 17 A distinção entre Ordem Exterior e Interior,
Os graus também são três: Neófito, Adepto, Mestre. Ou melhor, são a alusão à existência de Mestres Superiores, ao contacto com os Anjos
dez: quatro em Neófito, três em Adepto e três em Mestre. E pelo meio da Guarda, à prática da escrita automática como meio de revelação,
outros graus, não numerados. O Neófito é essencialmente um estu- a fusão que propõe entre a Kabala, a magia dos Egípcios e a alquimia,
dioso. No Adepto há o progresso da unificação do conhecimento com - todo este universo é o mesmo em que Pessoa se move, buscando
a vida. No Mestre há a destruição desta unidade por via de uma unidade ultrapassar a mediania da condição humana. Os graus de Neófito, Ze-
mais alta (Esp. 54 B-17). lator, Theoricus, Praticus, Philosophus, da Primeira Ordem da Golden
Suponhamos, diz ainda Pessoa, para exemplificar melhor, que es- Dawn, são os mesmos que encontramos nos escritos do poeta. E na
crever grande poesia é o objectivo da iniciação. O grau de Neófito Segunda Ordem, os de Adeptus Minor, Adeptus Major e Adeptus
será a aquisição dos elementos culturais com que o poeta terá de lidar Exemptus são igualmente os mesmos. Quanto à Terceira Ordem - a
ao escrever poesia, o grau de Adepto será o de escrever simples poesia Ordem Interna, sobre a qual também escreve, contém os graus de Ma-
lírica, o grau de Me'ltre será o de escrever poesia épica, poesia dramática, gister Templi, Magus e Ipsissimus (seres supra-humanos já libertos do
e a fusão de toda a poesia, lírica, épica e dramática, em algo de peso da existência física). No grau de Adeptus Minor vive-se uma morte
superior que as transcenda (Esp. 54 B-18). simbólica, seguida de uma ressurreição. No grau de Exemptus, atra-
Muito do que nestes fragmentos se diz é discutível. Aliás, o próprio vessado o abismo, perde-se a consciência do eu, sofre-se o «solve» da
autor muitas vezes discute logo a seguir a ter dito. Pretende lançar transmutação alquímica, o que permIte chegar à ftxaçao da Consciência
ideias, mais do que dar certezas. Contudo, é para nós sempre interes- Suprema, descobrindo-se o Nada que é Tudo, como tantas vezes o
sante ver de que modo lhe corre o pensamento: sempre ocupado com vemos repetir.
a obra literária. O que a nós, seus leitores, faz pensar: será a escrita As «Notas sobre a Ordem Interna», e a reflexão sobre a Terceira
a grande revelação? Ordem, adequada ao caso português, serão objecto de um próximo es-
tudo. 18 Saliento no entanto, e só para terminar, que Fernando Pessoa
Fernando Pessoa encontra na filosofia hermética uma via para o privilegia a busca individual, «interna», mais do que qualquer outra
instruir sobre a natureza do homem (e da arte, como sua mais elevada (por isso, ao fim e ao cabo, dificilmente poderia ter seguido a via do
dimensão), a natureza do universo e de Deus. Alcança deste modo mago Crowley). Mas faz um esforço no sentido de não a desgarrar
uma forma de sabedoria, a que lhe permite fechar o círculo da serpente de um certo destino mítico, lido na colectividade e sobre o qual tece
ouroboros, descobrindo e afirmando que «tudo é um» e que ao artista, as considerações que o levam da Ordem do Templo à Ordem de Cristo
como ao adepto, compete «reconhecer a verdade como verdade. e ao de Portugal, e à que denominará Terceira Ordem de Portugal.
mesmo tempo como erro; viver os contrários, não os aceitando; sentir
tudo de todas as maneiras, e não ser nada, no fim, senão o entendi- Lisboa, 1985
mento de tudo ...
Para lá de todas as ficções, com que verdade se fica, com que conhe- Y. K. CENTENO
cimento? Retomando as palavras do Livro do Desassossego, fica-se com
23
22
1. CI. Y. K. Centeno/Stephen Reckert, Fernando Pessoa: Tempo. Solidão.
Hermetismo, Moraes Editores, Lisboa, 1978; e Y. K. Ce~teno, Fernando Pessoa,
O Amor, A Morte, A Iniciação, Ed. A Regra do Jogo, Lisboa, 1985.
2 Fernando Pessoa noutro lugar, aponta leituras feitas na Biblioteca Nacional
(Bsp. 144-Q3): Banda:.ra descoberto nas suas trovas (1810) e Explicaç~o do Ter-
ceiro Corpo das Prophecias d~ Gonçalo. Jannes de Bandarra (185~);. amda a res-
peito da sua tendência profétlca, é curioso lembrar a correspondencla com Sam-
paio Bruno que em carta hoje arquivada na Biblioteca Nacional lhe recomenda
que leia O 'Encoberto. Quanto aos livros da sua biblioteca: a catalogação encon-
tra-se já feita por Jaime Herculano da Silva em Fernando Pessoa and the English
Romantic Tradition (dissertação para Doutoramento, Harvard University, 1980).
8 Fernando Pessoa, Sobre Portugal, Ed. Atica, Lisboa, 1979.
• Ibid., p. 174. FRAGMENTOS DO ESPóLIO
lbid., p. 177.
Bernard Gorceix (trad.), La Bible des Rose-Croix, P.U.F., Paris, 1970.
1 Fernando Pessoa, Páginas Intimas e de Auto-Interpretação, Ed. Atica, Lis-
boa, s. d., pp. 252-53; Sobre Portugal, pp. 84 e 189.
S Localizei fragmentos do poema Luci/er no espólio (Bsp. 30A-18/19 e
30A-24). Têm a indicação de serem para integrar no Fausto.
Fernando Pessoa, Obra Poética, Ed. Aguilar, Rio de Janeiro, 1972, p. 691.
10 Cf. Denis de Rougemont, L'Amour et l'Occident, Ed. Plon, Paris, 1972, p. 333.

11 A referência à Reintegração surge no documento Esp. 53B-76. Mas para


o estudo da maçonaria .templária e ocultista o melhor guia será René le Forestier,
La franc-maçonnerie templiere et occu/tiste, Ed. Aubier-Montaigne, Paris, 1970.
12 Henry Corbin, Temple et Contemplation, Ed. Flammarion, Paris, 1980.
18 Y. K. Centeno/Stephen Reckert, op. cit., p. 167.
14 Cito da trad. franc., Oswald Wirth, Le Symbolisme occu/te de la franc-
-maçonnerie, Dervy-Livres, Paris, 1975, p. 77 (sublinhados do autor).
10 Publiquei o original inglês em 1979, no n.· 4 dos Cadernos de Literatura
da Universidade de Coimbra.
10 A sua tradução da Kabala de Knorr von Rosenroth encontra-se na biblioteca
de Pessoa.
11 Estas denominações conhecem-se já em Ordens anteriores, do século dezoito.
mas o natural é que Pessoa as tenha bebido nos autores que encontramos na sua
biblioteca, entre eles Hargrave Jennings, com The Rosicrucians, their rites and
mysteries.
18 Fernando Pessoa: Os Trezentos e a Terceira Ordem de Portugal (a publicar).

24
1.

o CAMINHO DA SERPENTE

Horizontal, a S. deitada, contraria á ascensão.


Caminho da evitação (ascensão por evitação,
attainment by avoidance).
O duplo SS pode ser, por exemplo, Shakespeare.
(x) A S. não se «ergue»; ergue só a cabeça. (7)
Lettras da S. (?) R (cabeça) S (corpo) C (cauda).
Intercalar o EA RUX (?)
R (Ratio) S (Spiritus) C (Corpus).
(x) S. com asas, primeira vertical ao nivel de AA-MM, sendo as asas
os ramos entre Intuição-AA e Intuição-MM.
O Caminho da S. / Livro que o não é /
(Esp. 53-50)

Trez ramos ascendentes, com trez ordens de subida em cada um.


Ao todo são sete ordens, sendo trez angulares, seis externas, uma inter-
na. Considerar isto.
Na ordem externa inferior esquerda, Ordo Solis, a congregação dos
infieis, a quem só o Sol, realidade externa, é visível, actual ou symboli-
cameme.

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Na ordem externa inferior direita, Ordo Signit, a congregação dos É ignobil na terra porque não é da terra. É subtil porque estâ f6ra.
fieis externos, que aceitam não propugnar senão certos principias
abstractos e christãos, cuja similhança com outros não vêem. A tentação de Eva é a admissão da Intelligencia na Vida. O fructo
Na ordem interna-externa inferior, Ordo a congregação dos prohibido é
ingressos, sub modo, na O. de C.
Conto: «O Senhor das Sete Ordens», indicando exactamente o que
Na ordem media esquerda, Ordo Serpentis, a congregação dos ini- se queria fazer.
ciados da o. Solis. (Esp. 54A-2)
Na ordem media direita, Ordo Sepulchri, a congregação dos in
Na ordem media central (a occulta e sem exterior); Ordo Sebastica,
a congregação Ordo Sallctissimorum.
(Esp. 53-80) Way of lhe Serpento

Ella atravessa todos os mysterios e não chega a conhecer nenhum,


pois lhes conhece a illusão e a lei. Assume formas com que, e em que,
A Serpente, cujo olho direito é o sol em sua gloria ... se nega, porque, como passa sem rasto recto, pôde deixar o que foi,
visto que verdadeiramente o não foi. Deixa a Cobra do Eden como a
as lagrimas alchymicas do Christo (a magua alchymica do Christo). pelle largada, deixa Saturno e Satan como pelle largada, as f6rmas que
assume não são mais que pelles que larga.
É preciso, quando se é Serpente, passar em Satan para chegar a Deus.
E quando, sem ter tido caminho, chega a Deus, ella, como não teve
A Serpente, retida pela Vesica .... No vertice nada a retém ... caminho, passa para além de Deus, pois chegou alli de f6ra.

Os Evangelhos Synopticos não são mais do que o Quarto Evangelho o Caminho da Serpente.
em processo de formação ...
(Esp. 54A-l) Manuscripto por encontrar.
A Serpente, que, na ordem divina é o SS, na ordem Foi a Cobra3 do Eden, mas s6 em sua pelle, e largou a pene. Foi
espiritual direita e na esquerda Saturno do Mundo, mas s6 em sua pene, e largou a pelle. Foi Satan
é na ordem material direita Portugal. 2 de Deus, mas só em sua pene, e largou a pelle.
A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a comprehensão
inteIlectual da vacuidade d'ellas. Seguindo um caminho que não é o de A sua fuga é o seu mysterio, e o seu caminho a chave de todos os
nenhuma ordem nem destino, ena ergue-se â Altura que é a sua origem mysterios. Mas ella não sabe nem do seu mysterio nem de todos os
e evita os lagares por onde os homens passam. O entendimento de tudo, mysterios, porque conhece tudo, e conhecer é não existir.
a fusão dos oppostos, a sciencia da indifferença do bem e do mal, a
sciencia da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade, (Esp. 54A-3)
a egual ironia para com os sabias como para com os nescios. No seu
culto adultaram os últimos maghos no seu nome adolesceram os pri-
meiros.
A consciencia transcende a unidade. É o ponto absoluto que só
S 'existe' porque para que qualquer cousa exista, tem elle q~e exi~tir
E R P infinitamente nella. O ponto, sendo a negação do espaço e a vlda
E N S d'elle.
1 Varo «Sotis».
2 Está assim no original. a Varo «Serpente».

28 29
Way of lhe Serpento
Wav of the Serpento
No seu feitio de S (que, se se considerar fechado, é 8, e, deitado, Sendo os numeros e as figuras os typos externos da ordem e destino
egualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclue dois espaços, que do mundo, a mais simples operação arithmetica, algebrica ou geome·
rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo trica, desde que seja bem feita, contém grandes revelações; e, sem
o mundo superior.) Em outra figuração serpentina - a da cobra em precisão de mais signaes, na mathematica estão as chaves de todos os
circulo, a bocca mordendo a cauda - reproduz·se, não o S, de que a mysterios. Isto não quere dizer - o que seria absurdo - que todos os
letra é signal, mas o circulo, symbolo da terra, ou do mundo tal qual mathematicos conscientemente nos estão communicando os signaes de
o temos. No feitio de S a Serpente evade·se das duas Realidades e de. segredos, quando fazem os seus calculoso Assim, não ha razão para
sapparece dos Mundos e Universos. suppor que Euclides, nos livros da sua Geometria, tenha tido outra
especulação senão a geometrica; mas os livros de Euclides, da primeira
A illusão é a substancia do mundo, e, segundo a Regra, tanto no proposição á ultima, são signaes reveladores, para quem os saiba ler.
mundo superior como no mundo inferior, no occulto como no patente. Nos proprios irracionaes da algebra estão contidos grandes mysterios.
Assim, quando fugimos do mundo inferior, por elle ser illusorio, o
(Esp. 54A-5)
mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos illusorio; é illu·
sorio de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos
abertos - ou os circulas «incompletos» - dos dois mundos foge á illu· Way of the Serpento
são e conhece o principio da verdade.
A magia e a alchimia teem ilusões como a sciencia e a sexualidade, Todo homem, que tenha que talhar para si um caminho para o Alto,
que são as suas figurações no baixo mundo. Construimos ficções, com encontrará obstaculos incomprehensiveis e constantes. Se não fôssem
a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca mais que os obstaculos que se atravessam e estimulam, pelo perigo ou
determinado demonio, e vê apparecer materialmente esse demonio, pela resistencia directa, bem iria, e os proprios obstaculos seriam o
póde crer que esse demonio existe; mas não está provado que elle exista. clarim para o avanço. Mas encontrará outros - os obstaculos réles que
vexam e vergam, os obstaculos suaves que adormecem e viciam, os
Existe. porventura, só porque foi creado; e ser creado não é existir,
obstaculos ternos que o farão, como Drpheu, volver o erro do olhar
no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser para o vedado Avemo. Cercal-o-hão, não só resistencias duras, como
Deus - isto é, ter·se creado a si·mesmo; em outras palavras. não de. as que os penhascos erguem como tropeço, mas resistencias brandas,
pender substancialmente de nada e de ninguem. como as memorias dos valles, e a dos lares nas faldas. E o triumpho
A G.D. é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do des. consiste na força para, sabendo sentir essas attracções intensamente
folhavel no morto, do perecivel no perecido, para que nada pereça. (pois não sabeI-as sentir é não ter alma para a subida), as submeter á
A G.D., em outras palavras, é a creação de Deus. emoção superior; sabendo organizar as vontades do amor e da terra,
A magia e a alchimia são caminhos de illusão. A verdade está só saber submettel-as á vontade do espirito do mundo. Este processo de
no instincto directo (representado nos symbolos pelos cornos) e na linha victoria, figuram-o os emblemadores no symbolo da Crucifixão da
directa da. sua ascenção ao instincto supremo; no instincto directo, cuja Rosa - ou seja no sacrificio da emoção do mundo (a Rosa, que é o
fórma actIva é a sexualidade, cuja fórma intermedia é a imaginação circulo em flor) nas linhas cruzadas da vontade fundamental e da emo-
fantasia, ou creação pelo espirito, cuja fórma final é a creação de Deus: ção fundamental, que formam o substrato do Mundo, não como Rea-
a união com Deus, a identificação abstracta e absoluta comsigo mesmo, lidade (que isso é o Orculo) mas como producto do Espirito (que isso
a verdade. é a Cruz).
(Esp. 54A-6)

(Esp. 54A·4)
Way of the Serpento

Há em tudo trez ordens de coisas: ha trez ordens de cousas no Ser,


trez ordens de cousas no Universo, trez ordens de cousas no Mundo,
30
31
comprehendido com a intelligencia. Aquelle que, tendo chegado até
e assim por deante. Tudo é triplo, mas o triplo ser de cada cousa onde esse processo existe como formula de relação, p6de assistir á reve-
consiste em trez graus ou camadas, um baixo, outro medio, outro alto. lação intima, s6 esse o saberá, se é que, no mesmo sabeI-o, o souber.
Tudo que se dá numa camada se reflecte e figura em outra. É este o
principio fundamental de toda a sciencia secreta, e assim o representou (Esp. 54A-8)
o Hermes Trismegistos na formula, «o que está em cima é como o que
está em baixo, e o que está em baixo é como o que está em cima».
Devidamente entendida, esta formula explica muita cousa. Assim, na Way of the Serpento
astrologia, parece a principio estranho que a posição dos astros no nas-
cimento de um homem, ou no inicio de um emprehendimento, mostre, Considerar todas as coisas como accidentes de uma illusão irracional,
em suas relações e aspectos, o destino d'esse homem ou o curso d'esse embora cada uma se apresente racional para si mesma - nisto reside
emprehendimento. Não são porém os astros que operam sobre o homem o principio da sabedoria. Mas este principio da sabedoria não é mais
ou o successo. Opera sobre elles um destino, e esse destino, que existe que metade do entendimento das mesmas coisas. A outra parte do en-
como força espiritual numa camada superior, encontra-se representado tendimento consiste no conhecimento d'essas coisas, na participação
material, ou mundanamente, nos astros. Quando digo que devo tal intima d'ellas. Temos que viver intimamente aquillo que repudiamos.
successo de minha vida a tal aspecto de Saturno, digo, ao mesmo tempo, Nada custa a quem não é capaz de sentir o Christianismo o repudiar
bem e mal. Digo bem porque, de facto, seguindo a leitura do horoscopo, o Christianismo; o que custa é repudial-o, como a tudo, depois de ver-
posso prever esse successo pela previsão do aspecto de Saturno, que dadeiramente o sentir, o viver, o ser. O que custa é repudial-o, ou saber
apparentemente o causa. Não é porém o planeta Saturno que material- repudial-o, não como f6rma da mentira, senão como f6rma da verdade.
mente o causa: é o que o planeta Saturno representa, no mundo ma- Reconhecer a verdade como verdade, e ao mesmo tempo como erro;
terial, que causa o successo. viver os contrarios, não os acceitando; sentir tudo de todas as maneiras,
e não ser nada, no fim, senão o entendimento de tudo - quando o
Para os effeitos do mundo em que vivemos - não digo a terra, mas homem se ergue a este pincaro, está livre, como em todos os pincaros,
o conjunto de materia animada que forma este universo - as coisas di- está s6, como em todos os pincaros, está unido ao céu, a que nunca
videm-se em trez camadas - a material, a espiritual, e a divina. Entre está unido, como em todos os pincaros.
ellas ha uma exacta correspondencia. Cada uma, por sua vez, se divide
em trez. A camada material divide-se na camada physica ou exterior, A luz falsa da realidade, a luz falsa da ficção, a luz falsa da iniciação
na camada magnetica ou media, e na camada astral ou interior. A ca- e do secreto - dia, crepusculo, noite, que são ellas a quem contempla
mada espiritual divide-se' a Razão limpa, a Serpente colleante atravez de mais que os mundos?
(Esp. 54A-7)
A Serpente está acima das ordens e dos systemas, e, ainda que ascenda
como o sentido d'elles, dispensa as linhas e os caminhos. O seu movi-
mento, para a direita na ordem inferior das coisas e dos seres, é-o apenas
Way of the Serpento
para que possa ser para a esquerda na ordem superior d'elles. O que
Christo, que, na dispensação material é um deus christão, e na dis- os homens não podem conseguir senão dominando-se, ou conjugando-se,
pensação magica um deus, é, na dispensação divina, Deus. Na primeira ou impondo-se, consegue a Serpente sosinha na sua liberdade. Para ella
ordem podem ser-lhe dirigidas orações, que terão ou não effeito segundo mandar é subordinar-se á idéia de mandar; livre e cauta, ella segue
as regras magicas d'essas operações da fé. Na segunda ordem podem rasteira atravez do mundo, e do espirito, até que sahe do mundo e do
ser-lhe feitas invocações, como a Osiris, que é o mesmo deus, e o espirito.
effeito derivar-se-ha da perfeição do incantamento e do rito. Na ter- Ella liga os contrarios verdadeiros, porque, ao passo que os caminhos
ceira ordem não poderão ser-lhe dirigidas orações nem invocações; do mundo são, ou da direita, ou da esquerda, ou do meio, ella segue
o processo de união com Elle não pode ser indicado em palavras nem um caminho que passa por todos e não é nenhum. Ella parte, como o
caminho direito e o esquerdo, do Instincto para Deus, mas não sofre
a quebra onde os triangulos se unem; não f6rma angulo comsigo mesma.
4 Incompleto no original.
33
32
(Não a traçam os symbolos senão em O ou em S, limitando ou evitando Na «Tormenta» estão dados mais intimas mysterios que em todo FIood,
o mundo.) Nem ascende sem quebra, como o caminho medio, do Ins- e estão dados em belleza, porque teem o signal de Deus na Materia
que e, essa mesma belIeza. '
tincto a Deus. Conhecendo que ha outros caminhos, que não o media,
ella reconhece-os, pois se desvia do media, e repudia-os, pois não segue (Esp. 54A-IO)
a nenhum d'elles. Ao sahir do vertice instinctivo, ao sahir para o vertice
divino, ella roça a curva produzida da vesica involvente, e assim mostra
que sabe d'ella; mas roça-a e passa-a, e não segue a sua curva nem a Wa:y of the Serpento
sua maneira. ElIa assim se distingue de todos os modos e condições
de Deus e dos Seres. Onde parece que é egual é differente, e os dois ~ disposição mundana das coisas, que são geradas pelo Fogo, tem
(por assim dizer) que a formam são oppostos em seu feitio e natureza. a fIgura do symbolo do Fogo, que é a Pyramide (de pyr, que em grego
No baixo mundo ella é a lua crescente, no mundo superior a min- é Fogo). Quer dizer, as Ordens das cousas são Um em cima, Dois a
guante ... meio, e Trez em baixo. São um em cima, porque o vertice é um ponto;
são trez em baixo porque a pyramide real tem trez faces, cada uma
ElIa não conhece os mysterios mas os envolve, desvia-se dos caminhos composta de um triangulo equilatero; são dois em meio porque, embora
e das iniciações; deixa a sciencia por onde passa; nega a magia, que nada em meio seja materialmente, ou nump.rlcamente, dois, é dois to-
atravessa; e quando chega a Deus não para. davia o que está entre Um e Trez.
(Esp. 54A-9)
E assim é que os trez graus de significação - o actual ou material,
o magico, e o divino - conteem respectivamente trez, duas, e uma or-
dem, havendo duas pontes, transeptos ou passagens, entre a ordem ma-
The Way of the Serpento terial e a magica, e a ordem magica e a divina.
(Esp. 54A-ll)
Só o contacto com qualquer coisa do Verti ce, isto é, da Unidade, dá
o poder completo, ou alguma cousa completa no poder, sobre nós e as
cousas. Nos graus intermedios a força é muitas vezes confusão, e o Wa:y of the Serpento
conhecimento vertigem. É por vezes imprudente aventurar-se o espirita
feliz em caminhos para que não tem bussola. Assim é que, sendo Lytton O caminho da Serpente está fora das ordens e das iniciações, está,
sem duvida um conhecedor de grandes segredos da ordem menor, isso até, f6ra das leis (rectilíneas) dos mundos e de Deus. O caracter maldito,
o não privou de ser um pessimo escriptor; não houve magia que o o aspecto repugnante, da Cobra, traz marcado a sua Opposição ao
fizesse mestre do proprio equilibrio e dono da sua personalidade. Com Universo - profundo e obscuro Mysterio Magno. ElIa é o Spirito que
ser iniciado, qualquer que fôsse o modo em alguns dos mysterios do Nega, mas nega mais, e mais profundamente, do que em geral se en-
proprio Segundo Limiar, não conseguiu Robert FIood ser senão um tende ou se póde entender. Nega o bem no seu baixo nivel, em que é
expositor confuso e indigesto. Esta fallencia do dominio esthetico e s6 Serpente e tenta Eva; nega a verdade no seu segundo nivel, em que
superior - e a esthetica é a saliencia da figuração divina, pois a belleza é nega o bem e o mal no seu terceiro nivel, em que é Satan; nega
é a fórma Divina em materia - encontra-se frequentemente em homens a verdade e o erro no seu quarto nivel, em que é Lucifer; (ou Venus);
que são innegavelmente versados nos mysterios do mundo magico. nega-se a si mesma e a tudo no seu quinto nivel, e fuga, em que é SS,
a Revelação Suprema. e a si mesma se tenta e se mata.
Certo que estas considerações podem ser tomadas ao contrario: ha Todos os caminhos no mundo e na lei são rectilíneos; o caminho da
certas disposições intimas e proprias, que fazem com que o individuo Serpente é a evasão dos caminhos, porque é, substancial e potencial-
seja chamado, e assim elIe recebe o que nasceu para merecer. Por isto mente, a Evasão Abstracta, o reconhecimento da verdade essencial,
foi que Shakespeare, desde que a Grande Fraternidade o chamou a si que póde exprimir-se, poeticamente, na phrase de que Deus é o cadaver
sem lhe fallar, pôde adquirir aquelle commando de sua propria alma de si-mesmo; a descoberta do Triangulo Mystico em que os trez ver-
que o ergueu, como expressar, acima de todos os poetas do mundo; tices são o mesmo ponto, o segredo da Trindade e do Deus Vivo, que,
por isso é que este homem que não buscou, senão com a substancia em certo modo, é o Homem Morto em e atravez de Deus Morto.
intima do seu ser, entrou em mais intima (embora inconsciente) posse
dos Segredos Maiores do que o buscador Flood ou o maçon Bacon. (Esp. 54A-12)

34 35
2.
SUBSOLO

Os Evangelhos são somente dramatizações - ou, em outras palavras,


christianizações - da tragedia de Lydda. São rituaes dramaticos, e os
trez primeiros evangelhos - os chamados synopticos - sãe primeiras
redacções: só no Quarto Evangelho está acabada a dramatização, e postos
os sellos magicos. Porisso, para o Catholico verdadeiro, são dispensaveis
os outros Evangelhos. Quanto ao Velho Testamento, não é para elle
mais que litteratura hebraica, que pode ler como homem, mas não
acceitar como crente.

Diz-se que a Grande Reforma, como a pensou a Ordem de Christo,


se baseava nos cinco pontos seguintes (1) As bases do Christianismo,
isto é do Catholicismo Liberto e Puro, seriam (a) o Evangelho de S. João,
(b) as Epistolas de Paulo, (c) o Apocalypse; (2) tudo mais que está na
Biblia, Velho e Novo Testamento, seria rejeitado como impuro e «não
acceito».
Dada a tragedia de Lydda, os Demiurgos ergueram o Martyr em Verbo.

Tudo quanto o V. T. poderia ministrar de verdadeiro está fechado


no 4.2 Evangelho.

Os Ev.· são rituaes dramaticos, nada tendo que ver com qualquer
realidade historica.
(Esp. 54-74)

SS.
Todos os symbolos e ritos dirigem-se, não á intelligencia discursiva e
racional, mas á intelligencia analogica. Porisso não ha absurdo em se

37
das outras linhas - na Egreja e na Ordem Menor da linha da Frater-
dizer que, ainda que se quizesse revelar claramente o occulto, se não ~dade. Os Chefes S~cretos da Egreja podem fazer o mesmo, como já
poderia revelar, por não haver para elle palavras com que se diga. fIZeram, na Maçonana, onde ha ritos que são d'esta origem. E é sabido
O symbolo é naturalmente a linguagem das verdades superiores à nossa q~e o ~esm<: su~cedeu com as ordens maiores dependentes da Frater-
intelligencia, sendo a palavra naturalmente a linguagem d'aquellas que mdadei a acçao d ellas deve a Maçonaria grande parte da sua formação.
a nossa intelligencia abrange, pois existe para as abranger. Tudo Isto se passa, 0.'1 por combates no Além, ou por entendimentos
(Esp. 54-75) no Abysmo, e está aCIma da nossa comprehensão humana.
O q.ue nunca há, nem pode haver, é infiltração de egual para egual.
O maI~ que pode haver, neste caso, é erro ou confusão humana. Um
Cathohco pode, d~ facto, entrar para a Maçonaria, ou, pelo menos, para
Sub-Solo. alg~ns dos se,us ntos, pois .ella o não exclue - pelo menos por essa s6
raza~. Mas e mau cathol~co o que entra para a Maçonaria, pois a
E é de notar que, estando a S.J. dentro da O.C. e fazendo d'ella Eg~eJa expressamente pr~hlbe aos seus fieis que ingressem em qualquer
parte, os Chefes Secretos de uma e de outra são todavia differentes socIedade secreta, de maIS a mais profana. .
(diversos, distinctos). (Nunes quiz fundar uma O.C. dentro da M. Isso estava de antemão
_ O proprio nome S.J. não é senão o nome O.C. traduzido para a
condenado ......... )
designação de uma Ordem do Atrio (Pateo): onde está Ordem em cima (As provas da OCo Sob ellas ficou esmagado Anthero de Quental, que
está Sociedade em baixo; onde está Christo em cima está em baixo nunca passou de escudeiro. A sua associação com elementos maçonicos
Jesus, que é a incarnação de Christo. e similhantes em parte contribuiu para a sua derrota astral.
r (Esp. 54-85)
(Esp. 54-87)

SS (1)
Mais propriamente se chamará aos judeus o Povo Excluso pois ado-
ss.
ram a Jehovah que é o Deus deitado abaixo do abysmo, se bem que
O nome B.andarra, que é de facto o appellido do sapateiro propheta,
o creador do nosso mundo - o Satan-Deus manifestado, mero atrio da
passou a deSIgnar, a dentro da Ordem de Christo, qualquer dos Irmãos
Ordem Divina.
que. assumir~ a mesma luz, ou, fallando figurativamente, o mesmo grau.
O Atrio da Divindade patente consiste nas duas columnas do templo, ASSIm a maIor parte das prophecias, ou trovas, ditas do Bandarra nada
symbolos da Dyade do Abysmo, e no espaço, que é a entrada, entre teem que ver com a pessoa humana do sapateiro de Trancoso. Sobre-
ellas, symbolo da admissão á Divindade além de Deus - Balança, inter- tudo o não tem o chamado Terceiro Corpo, a obra prophetica mais
calação de liberdade entre a scisão da Dyade, Jakin Scorpio e Boaz completa (no sentido, por assim dizer, artistico ou intellectual) que se
Virgem. tem visto no mundo. Em vez da desordem da intelligencia, que se pode
dizer que distingue toda a prophetica, desde o Apocalypse a Nostradamo,
Jehovah como Adam Kadmon. A adoração de Jehovah como culto ha uma systematização rigorosa, uma geometria do predizer. A lin-
do manifesto, em vez de culto. atravez do manifesto, do não-manifestado. guagem, certo, é symbolica, mas assim é a linguagem geralm dos ensi-
namentos superiores, dos quaes a prophecia é tamsômente um caso
(Esp. 54-86)
particular.
O Apocalypse, por exemplo, é uma visão mystica; o Terceiro Corpo
do Bandarra é uma visão racional.
SS.
(Esp. 54-88)
As infiltrações de uma linha na outra são sempre feitas de Alta Ordem
para Baixa Ordem, nunca entre Ordens de egual nivel. Assim os Chefes
Secretos da Maçonaria podem fazer infiltrações nas Ordens Menores
39
38
Subsolo. A Stricta Observancia, recebendo a alma da sua missão da Ordem de
Christo, ficou com certa parte da informação sobre a alma do Templo
o Papa está no nivel dos Altos Graus da Maçonaria, e pode ser des- dos Templários. Isto explica porque é que o poeta allemão Werner, es-
cripto, analogicamente, como o Supremo Commendador do Ultimo crevendo um drama meio-esoterico, nelle incluisse, sem talvez bem saber
Grau abaixo dos Crypticos. Acima d'elle estão os Chefes Secretos da como ou porquê, o cavalleiro escocez Robert de Heredom, afinal, o fun-
Egreja Catholica, sob a Obediencia do Grande Concilio Romano, que dador da M.
está já fóra do Atrio. usou do nome do cavalleiro escocez R. de H.,
ainda que num sentido deslocado e attributivo.

(Esp. 54-90)
Convém que rigorosamente se saiba que por Graus Crypticos da
Maçonaria se não entendem os graus onde está já desdobrado no seu
ulterior sentido o ensinamento que se contém nos symbolos e ritos da Subsolo.
Ordem. Isso acontece s6 nas Altas Ordens. Os Graus Crypticos são
simples Graus de Passagem, mas nelles - ou, antes, nos que os teem, Ha,. em
. as ordens menores, ordem externa e ordem interna·, formam
está o Governo Supremo e Secreto da Maçonaria. Os Graus Crypticos, a pnmem~ os. neophytos e zeladores, a segunda os practicos e phil os 0-
entenda-se, não são Graus das Altas Ordens, mas tamsomente Graus de phos; a pnmeIra abrange app. e comp. os simples iniciados (Neophytos)
Passagem para ellas, quer ellas se attinjam por elles quer não. e os Mestres (Zeladores), e a segunda os graduados dos Altos Graus, e
De resto, pode attingir-se uma alta Ordem, ainda das que exigem, os g.raduados dos Graus de Passagem - practicos e philosophos res-
para a entrada n'ellas, a preparação maçonica, sem ser mais que Mestre pectIvamente.
Maçon. Não é necessário passar pelos Altos Graus, nem até pelos Graus Nas ordens maiores, ha a ordem externa e a ordem interna também·
Crypticos. O Grau de Mestre é já Grau de Passagem, se fôr completado, a ordem externa consiste numa organização que parte do l.!! e vae a~
ou complementado, por determinados attributos pessoaes do Aspirante lO.!! grau, exactamente como está indicado; a ordem interna, visto que
ao Limiar. se trata de altas ordens (e a ordem interna é que é a verdadeira, sendo
(Esp. 54-89) a exter~a apparente), começa no Adepto Menor, que é Neophyto da
ordem lOterna. Segue no Adepto Maior que é o Zelador da Ordem
Interna; no Adepto Exempto, que é o Pratico da ordem interna fóra
e o Philosopho da ordem interna dentro. O Mestre do Templo da Ordem
Subsolo (or the like). Externa é o Adepto Menor da Ordem Interna; o Mago da Ordem
Externa é o Adepto Maior da Ordem Interna· o Ipsissimo da Ordem
O primeiro capitulo trata das iniciações e expõe as trez leis da «vida Externa é o Adepto Exempto, f6ra, e o Me~tre do Templo, dentro,
occulta» - (1) o que está em baixo é como o que está em cima, (2) da Ordem Interna.
quando o discipulo está prompto, o mestre está prompto também, Nestas disposições interpretativas se contém a explicação de todas as
(3) cada coisa tem cinco sentidos. ç>rdens e de toda.s .as maneiras de <?rdens. Ellas se applicam, por egual,
No segundo capitulo dá-se a informação da constituição das altas as Ord~ns que dIr.Igem a ~açonana, ás que governam a Egreja, e ás
ordens e da maneira como essa constituição pode ser applicada, como que ammam os LI~r<?s, pOIS tudo é o mesmo, porque vem do mesmo,
chave, á interpretação do governo secreto do mundo e das sociedades SIm, do mesmo IpsIssImo (que quer dizer «mesmo») da Ordem Interna.
que nelle participam, de uma ou de outra maneira.
. ............................................................................................ .
I. - A dupla vida religiosa - a dupla vida-
Dos quatro sentidos do symbolo, a gradação é assim:
Em todas as ordens definidas, mas com fundamento occulto, ha a prof. sentido literal
ordem externa e a ordem interna. Assim nos Templarios, na data da N. - sentido literal do symbolo
sua extincção violenta, era Chefe Externo (Grão Mestre) o cavalleiro Z. - sentido allegorico do symbolo, Atrio (Pateo)
francez Jacques de Molay, e era Mestre Interno (Mestre do Templo) Pr. - sentido moral do symbolo sent. alleg.
o cavalleiro escocez Robert de Heredom. Ph. - sentido espiritual literal do symbolo.

40 41
AMin - sentido espiritual allegorico do symbolo Claustro mais violento, e tanto mais duradouro, quanto se empregou para exter-
AMaj. - sentido espiritual moral do symbolo sent. Moral minar o Grão Mestre o processo do Fogo, sendo que os iniciados da
AEx. - sentido inteiramente espiritual do symbolo. Ordem o eram do Fogo. Assim o Adepto Exempto, em vez de passar a
Mestre do Templo recebeu logo o grau de Mago, apto a pronunciar
AEX (dentro) - sentido divino literal do symbolo Templo a palavra do aeon seguinte. E elle pronunciou-a contra a Egreja.
M. T. - sentido divino allegorico do symbolo sent.
Mago ... - sentido divino moral do symbolo spirit. Toda a acção contra as ordens, baixas ou altas, tem que ser orientada
Ipsissimo - sentido divino espiritual do symbolo no nivel a que ellas pertencem, e pelos processos que competem a esse
nivel.
Assim, numa cadeia racional, tudo é um.
(Esp. 54-91)
Tut-ank-amen ...... abertura physica do tumulo.
Milton, «Comus», o erro magico.
(Esp. 54-92)
SUBSOLO

As Ordens Maiores e sobretudo os Graus Magicos d'essas Ordens,


teem que ser atacados: quando o sejam, com as annas proprias .do grau. O supplicio physico de Jacques de Molay, impotente para produzir
AtacaI-as com armas de outro grau é desencadear as forças magIcamente nenhum resultado mais que baixamente material, desencadeou sobre a
defensoras do grau atacado; e, como estas são de ordem superior áquellas Egreja as forças magicas que essa acção material era incompetente para
que se empregam para o attaque, desencadeia-se sobre o inimigo,. so- dominar, servindo s6 para as desencadear. E o peor foi que o processo
bretudo se victorioso no grau onde attacou, tudo quanto está magIca- de immolação fôsse pelo Fogo, isto é, pelo Elemento da Ordem. Assim,
mente de guarda ao grau attacado. (Nas proprias Ordens ~e.n0res há para fanar um pouco obscuramente, o que era Adepto Exempto, em
que haver cuidado, quando se attacam, em que o attaque lI~cIda so?r~ vez de passar a Mestre do Templo, foi erguido a Mago, e, apto a pro-
aquillo que se ajusta aos processos de attaque. Se o attaque e as actIvI- nunciar a Palavra da Era, pronunciou-a como Innão Negro, e contra
dades externas de ordem deve incidir sobre os indivíduos, deixando a a Egreja. Toda a civilização moderna, desde a Reforma aos nossos
Ordem intacta. Se o attaque é ás ordens mesmas, deve incidir sob~e a tempos, no que é opposição á Egreja e conspurcação d'ella e dos seus
sua intima natureza e ser feito por processos não-externos. É pOrISSO principios, é a vingança incarnada de Jacques de Molay. A fogueira
um erro crasso attacar a Maçonaria sempre que se quer atacar a sua em que foi queimado o Grão Mestre dos Templarios foi o lume que
actividade abusiva, politica ou outra. A Maçonaria, sendo uma Baixa ateou o incendio em que hoje todos ardemos.
Ordem, é com tudo uma Ordem magicamente sellada pelos seus Supe- Num ponto, porém, a vingança de Molay, operando per vias infe-
riores Secretos; e todo o attaque que, com o pretexto de ser ás suas riores, cahiu no mesmo erro em que haviam cahido os seus algozes.
actividades inferiores, se faz á propria Ordem incide contra for.ças Foi quando D. Sebastião, AE, foi feito cahir em Alcacer-Kibir. Cahiu
magicas, poisque, em vez de ser dirigido contra os chefes secundános, pela espada, isto é, pela Terra, e o erro foi o mesmo que o de fazer
passa a seI-o contra os chefes supremos. Molay cahir pelo Fogo, porque de egual natureza. No mesmo modo
o Adepto Exempto ascendeu a Mago, queimando o grau intermedio,
Ha um terrível exemplo historico da imprudencia profana de attacar e pronunciou, no tempo dado, a Palavra da Era seguinte
uma Ordem - neste caso uma Alta Ordem - com processos inferiores.
A Ordem dos Templarios tornara-se satanista; era chefe do seu rito (54-93)
satanico o Mestre Externo do Templo, o Adepto Exempto Jacques de
Molay. Querendo, com justa razão, attacar o Satanismo da Ordem, a
Egreja, ou ignorante dos processos de o fazer, ou já levada por forças Sub-Solo.
magicas adversas, dissolveu a Ordem dos Templarios, e fel-o por pro-
<:essos materiaes; mais, suppliciou o Adepto Exempto que era o seu As Altas Orde:ts distinguem-se das Baixas Ordens em que naquellas
<:hefe supremo; peor, suppliciou-o pelo Fogo. Tam poderosas eram as o grau é duplo, e, ao passo que o circulo, o triangulo e o esquadro são
forças magicas annazenadas nos Templarios que o erro de proces~o pro- os symbolos das Baixas Ordens, a oval, o quadrado e a cruz são os
duziu o retorno individuado chamado a Reforma; e o retorno fOI tanto symbolos das Altas.
42 43
5. Santos ou Heroes
Isto, em certo modo, explica o quadrado que, em vez do circulo, dis- 6. Semi-Deuses
tingue um dos graus parallelos das Altas ordens. 7. Deuses

A Maçonaria é formada pelas Baixas Ordens todas, ou, se se preferir, 8. Anjos


as Baixas Ordens são formadas pela Maçonaria. Baixos ou Altos Graus 9. Archanjos (Demiurgos)
que seja, todos são das Baixas Ordens, e para todos é preciso ser maçon.
As Altas Ordens não necessitam todas que se seja ou houvesse sido Isto é a Ordem Interna.
maçon: em algumas (como foi a Soco Ros.) tem que se ser mestre-maçon Notas a Externa.
para ser admitido ou iniciado; em outras como a G D, não se exige
essa qualificação; em duas, pelo menos, é condição essencial para ser O systema misto é, como o Maçonico, da Vontade, mas a vontade é
admitido o não ser (em uma o não ser, em outra o não ser nem ter sido). obtida por emoção, P.-F. - Os Santos christãos estão entre a linha da
Emoção e - F.SS. - a da Intelligencia
Os Mestres representam o Padre, e as suas formulas são essencial- (Esp. 54-96)
mente do Velho Testamento, do Talmud e da Kabbala, o que tem indu-
zido muitos em suppor nellas e atravez d'ellas uma acção judaica, o
que não é verdade, pois o intimo sentido do emprego d'esses elementos
está acima e além do judaismo ou de qualquer raça ou religião. O Con- Subsolo (or lhe like).
cilio representa o Filho, ou Verbo, e, como a Egreja Catholica, que
governa, exclue todos os elementos hebreus no Christianismo. A Fra- Afinal, o conteudo dos mysterios resume-se em ensinamentos sobre
ternidade representa o Espirito Santo. trez ordens de coisas, que sempre se julgou não deverem ser reveladas
(Esp. 54-94) ao geral dos homens. Sempre se julgou que aquelles ensinamentos, que
as religiões ministram, deveriam ser adaptados à mente dos que os re-
cebem, e, como muitos d'elles - tal é a opinião dos iniciados - são de
ordem que o povo em geral os não comprehenderia e que portanto,
Subsolo. comprehendendo-os pervertidamente, se perturbaria com elles, segue que
se pensou que esses ensinamentos se deveriam dividir em duas ordens:
... Assim tambem A.M.D.G., que só no primeiro sentido quer dizer exotericos ou profanos os que são expostos de modo que a todos possam
Ad Majorem Dei Gloriam. ser !llin!strados; esotericos ou occultos os que, sendo mais verdadeiros,
ou mteIramente verdadeiros, não convém que se ministrem senão a
O Segredo da AIchimia, isto é, da transmutação do Inferior no Su- individuos previamente preparados, gradualmente preparados, para os
perior sem alteração .. . r~ce~er. A esta preparação se chamava, e chama, iniciação. E esta ini-
cIaçao é ella mesma gradual em todos os mysterios, e de tal modo dis-
No Templo: o Segredo Alchimico, posta que o individuo inapto para receber esses ensinamentos occultos
RC as ReinCtio. se revela tal antes que elles lhe sejam inteiramente dados.
(Esp. 54-95)
_Se esses ensinamentos occultos são verdadeiros, ou apenas especula-
çoes abstrusas, é outro problema. Se os hierophantes do occulto teem
na verdade, maior conhecimento da verdade pura do que nós profanos:
:iubsolo. que a buscamos, se a buscamos, com a leitura; ou a meditação ou a
inteIligencia discursiva e dialectica - não o podemos nós saber.' Tudo
Ordem da Emoção isso pode ser sinceramente crido pelos iniciados, e ser falso. O occulto
pode ter hallucinações proprias, enganos seus.
1. Fieis.
2. Padres (Mestres) Seja como fôr, o certo é que os ensinamentos ministrados nos mys-
3. Alto Clero, incluindo o Papa. terios abrangem trez ordens de coisas: (1) a verdadeira natureza da
4. Santos(?) (Delegados dos Chefes)
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alma humana da vida e da morte, (2) a verdadeira maneira de entrar e as Epistolas de Paulo forma o corpo doutrinario essencial do Chris-
em contacto ~om as forças secretas da natureza e manipula-las, e (3) tianismo, como tambem da Maçonaria.
a verdadeira natureza de Deus ou dos Deuses e da creação do mundo. (Os Joanitas, e o derrame da tradição essencial quanto á origem do
São respectivamente, o segredo alchimico, o segredo magico, e o se- Chmo.)
gredo mystico. Ao primeiro chama-se alchimico porque os ensinamentos (Esp. 54-98)
relativos a elIe são em geral ministrados atravez de symbolos da cha-
mada alchimia, que não é mais, como hoje claramente se sabe, do que
uma linguagem symbolica.
(Esp. 54-97) Subsolo.

A Ordem de Christo não tem graus, templo, rito, insignia ou passe.


Não precisa reunir, e os seus cavalleiros, para assim lhes chamar, co-
Subsolo. nhecem-se sem saber uns dos outros, falIam-se sem o que propriamente
se chama linguagem. Quando se é escudeiro d'elIa não se está ainda
Nas doutrinas secretas dos Templarios estão os quatro segredos, que nella; quando se é mestre d'ella já se lhe não pertence. Nestas palavras
o haviam de ser depois da Maçonaria, assim como de todas as Ordens. obscuras se conta quanto basta para quem, que o queira ou saiba, en-
O primeiro, contido nas cores branca e preta da bandeira dos Tem- tenda o que é a Ordem de Cluisto - a mais sublime de todas do mundo.
plarios, e nos signos Virgem e Scorpio do zodiaco, é o chamado Segredo
do Grau de Mestre (entendendo-se Mestre do Templo). O segundo, Não se entra para a Ordem de Christo por nenhuma iniciação, ou,
contido na cruz vermelha, é o da Incarnação de Christo, e é a chave pelo menos, por nenhuma iniciação que possa ser descripta em palavras.
não só de toda a religião christan, senão tambem da sua verdadeira Não se entra para elIa por querer ou por ser chamado; nisto ella se
origem historica, por traz das allegorias evangelicas. O terceiro, contido conforma com a formula dos mestres: «Quando o discipulo está prompto,
na colIocação da Cruz, á esquerda, sobre o hombro, é a chave da Ordem, o mestre está prompto tambem». E é na palavra «prompto» que está
e portanto de todas as Ordens. O quarto, contido nos trez graus, com o sentido vario, conforme as ordens e as regras.
que a Ordem é formada, é a chave do Governo Secreto do Mundo;
tambem é conhecido por o Segredo da CavalIaria. (Cavalleria) Fiel á sua obediencia - se assim se pode chamar onde não ha obe-
3. 2 porque o é da Manifestação. decer - á Fraternidade de quem é filha e mãe, ha nella a perfeita regra
de Liberdade, Egualdade, Fraternidade. Os seus cavalIeiros - chamemos-
..... ................................................................... ........... .. .... ... ... -lhes sempre assim - não dependem de ninguem, não obedecem a nin-
guem, não precisam de ninguem, nem da Fraternidade de que depen-
J ben H, erg. como C. cerca de 96 (ou 100?) annos depois. (A divisão dem, a quem obedecem e de que precisam. Os seus cavalleiros são entre
em seculos - tempo entre a m. e a inc. de J ben H). si perfeitamente eguaes naquillo que os torna cavalleiros; acabou entre
elIes toda a differença que ha em todas as coisas do mundo. Os seus
cavalleiros são ligados uns aos outros pelo simples laço de serem taes,
................................................ ......... ............ ..................... .... e assim são irmãos, não socios nem associados. São irmãos, digamos
assim, porque nasceram taes. Na ordem de Christo não ha juramento
Para operar, os Templarios da Escocia serviram-se da Associação nem obrigação.
ou Gremio Secreto de Pedreiros ou Constructores de Cathedraes, que,
tendo em si principios occultos que datam de tempos remotos, tinham Ella, sendo assim tam similhante á Fraternidade em que respira,
todavia perdido a Palavra (isto é, o Sentido, Logos) do ritual que con- porque, segundo a Regra, «o que está em baixo é como o que está em
servavam e das estructuras que erguiam. Nesse rito morto introduziram cima», não é com tudo aquella Fraternidade: é ainda uma ordem, em-
os Templarios da Escocia a Palavra que traziam, erguendo-o; e, se o bora uma Ordem Fraterna, ao passo que a Fraternidade não é uma
fizeram, é porque as analogias eram perfeitas. ordem.
(Esp. 54-99)
A redacção allegorica perfeita foi por fim attingida no Evan~elh.o .de
(ou segundo) S. João, que, com o Apocalypse de egual attnbulçao,

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) '" l t,
.
/

1
3.
ATRIO

FM (Air).

Sentido moral: regra de vida; dever de se conservar fiel ao que se


jurou, etc.

Sentido historico: A abolição da Ordem do T. Consequencias.

Sentido philosophico: o que succede a todos os Exemplares.

Sentido religioso: a unidade de todas as religiões na figuração egual


do Deus sacrificado e resurrecto (em outro aspecto, e em nós)?

- - - - Sentido mystico: o M. Oinguagem, por exemplo, do buddhismo


esoterico) quere dizer Ego intimo. É morto pelo Mundo, a Carne e o
Diabo, mas ressurge d'essa falsa morte, poisque não foi elle que morreu
mas a sua «figura».

- - - - Nos sentidos I a 4 da E. vê-se o mesmo symbolo a desdobrar-se


cada vez mais, mas sempre no mesmo caminho e sentido. O sentido
I applica-se directamente à Ordem directa; o 2 à origem da Ordem;
o 3 ao sentido geral que tem esse sentido; o 4 ao sentido supremo que
tem esse sentido 3. (Ha que não esquecer que, no sentido 2, o M.
significa a O. do T. e não o G.M. d'ella, que apparece no sentido 3.)

- - - - Nos sentidos I a 4 da D. o mesmo succede. No 10M. est anima.


No 2 est Deus. No 3 Ch. est. (ex.) O 4 não se conhece.

(Esp. 53-78)

49
A TRIO.
Atrio.
~. calminho dos srmbolos é perigoso, porque é facil e seductor e é
A expressão «valle», de que se usa para definir o logar das institui- par ~cu armente fac.iI e sc:duct~r para os de imaginação viva, qu~ são
ções m-cas, é um acto de humildade e verdade que a Ordem seguiu preCIsamente os maIS facels de mduzir-se em erro e tambem d
por indicação superior. É a definição da baixa qualidade da iniciação cear para os outros, f?rmando fraudes por vezes innocente~ ;o~o~~~;
que ella ministra, em relação á alta iniciação, nas Altas Ordens, referida u",l pouco m~nos que I~SO .. Nada ~a mais facil que interpret~r qualquer
sempre a uma montanha, seja a de Heredom, seja a de Abiegno. Pode COIsa symboI.camente; e amda maIS faci! que interpretar prophecias.
bem ser que estas coisas nunca houvessem sido combinadas em palavras,
mas ficaram certas nos factos. Em tudo qualquer coisa de superior s~cc~de, aind~, que os grandes symbolos são relativamente simples
dirigiu e firmou. f:i~~ a~ o-s~ aSSIm a uma série infinita de interpretações. Figure-se ~
ás dr, Imarnando, qua~tos valores symbolicos se não poderão attribuir
Em meio d'isto tudo, ha desvios e erros. Intervém, umas vezes, a es- duas fO umnas no atno do Templo de Salomão, ou, aliás, a quaesquer
peculação não-iniciada, outras a especulação claramente fraudulenta. ,uas co umnas em qualquer parte. Tudo quanto na vida ou no sonho
Mas nem uma nem outra, nem outras que diversamente participam ~ composto de ~ma dualidade - e quasi tudo' na vida ou no sonh~
de uma e de outra, conseguem obliterar, para quem saiba lêr as pistas, mvolve u~a dualIdade qualquer -, tudo isso se pode suppor symbolizado
o caminho essencial para o Magno Fim. E é evidente para todos: desde por aq~e as duas columnas. EUas, porém, não podem destinar-se a
que a Palavra se perdeu, quantos maus caminhos e fingimentos de symbohzar tudo quanto se queira. Algum ou alguns h- d
veros s f d . . , " ao e ser os
caminho não haverá que encontrar na sua busca? Ainda os que mentem, t' en I os mtImos d eU~. O que se pergunta, pois, é isto: que cri-
mentem por devoção a um anseio de busca. Ainda os que viciam, vi- :no temos ~6s para detern,tmar, entre tantos symbolos ossiveis uaes
ciam para, fingindo que encontraram, satisfazer a sua sêde de encontrar. sao os que sao deveras apphcaveis, os verdadeiros? p , q
O filtro da Palavra Perdida tornou-os seus amantes, e seguem atraz d'ella,
cavelleiros errantes sem dama certa, por vias e florestas de sonho e Para . isto ~xiste o ~riterio do quintuplo sentido: cada coisa tem na
symbollca, CInCO sentIdos; e esses cinco sentidos estão uns dentro' d
erro, na eterna selva escura do conseguimento imperfeito. ~~tro:~ sendo cada u~ ? desenvolvimento do anterior. Quando Pi~:
(Esp. 53B-77) dist~ t ha'lara a mal?na dos symbolos maçonicos, quatro atribuições
rof c as, IZ bem,. po~s, como. é de ver, exclue o sentido litteral, ou
~ ~o, que ,é o pnmeIro ~os cmco e não entra na consideração d'elle
. ~an o, porem, passa a dizer que um é o sentido moral outro o .
htIC~d vae maIl, poisque o s~ntido politico, não é o desen~olvimentoP;~
A trio. sen I o mora, mas uma COIsa de outra ordem.
No espirito confuso de muitos a Kabbala tem a preeminencia de uma (Esp. 53B-80)
verdade. A Kabbala, porém, não é necessariamente uma verdade. pode
seI-o; pode não seI-o. É tamsomente uma especulação metaphysica feita A TRIO.
sobre dados mais completos do que os que o phiIosopho profano ordi-
nariamente tem. É sujeita aos mesmos perigos de erro e de illusão que ~ompõe-se ~ste livro de uma série connexa de especulações ociosas
as especulações profanas, pois as melhores premissas não dão aos espe- s re a matena que possa haver para um profano no que se conhece
culadores a logica ou o entendimento com que d'ellas forçosamente dos symbolos e seus modos da Fr. M .
extraiam melhores conclusões. Trabalhando sobre os dados mortos do (Esp. 53B-81)
mundo visivel, póde Kant, por sua qualidade de genio, chegar-se mais
à verdade do que o Rabbi Akiba, que tinha o poder de trabalhar sobre
A trio.
os dados vivos do mundo invisivel.
O:. caminh?s do sym,?olism_o, sobretudo desde que se entra na estrada
Toda a vida é uma symbolologia confusa. (Esp. 53B-79) ~ys ~ca ~ mterpretatIVa, sao cheios de illusões de devaneios e de
rau es. profano a elles não sabe em que fundar-se do que lê nos

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50
auctores da especialidade, de tal modo se mixturam, nas obras de quasi e não propriamente idéa, não é transmissivel verbalmente nem ainda
todos elles o sentido certo, a fantasia delirante e a fraude consciente pelas palavras que claramente dissessem os seus mysterios: se taes pa-
e semi-co~sciente. E isto é extensivo ás proprias personalidades dos lavras se devessem, ou sequer pudessem, dizer ou escrever.
mystos e dos epoptas antigos e modernos. É fóra de du.vida que Caglios-
tro era um charlatão; mas não é menos fóra de duvIda que era tam- Os grados são essencialmente estados; se o não são, nada são.
bem, e parallelamente, um alto iniciado. É fóra de duvida que Madame
Blavatzky era um espirito confuso e fraudoso; mas também é fóra de .... ... ...... .... ....... ..... ............... .......... .... .. ..................................
duvida que recebera uma mensagem e uma missão de Superiores In-
cognitos. Nos nossos dias ha um exemplo estrondoso da mesma mixtura;l . Os graus de iniciação representam estados de conhecimento que são
não o cito explicitamente por motivos faceis de comprehender. slmultaneamente estados de vida.
Os pri~eiros grau~ são graus de provação, os segundos graus de ÍD-
Estas coisas desorientam os profanos, e ainda mais os sinceros que os terpretaçao~ os terc:lro~ graus de comprehensão, os quartos, e ultimos,
curiosos. É natural que o individuo, dentro ou fóra da O. M., que saiba graus de rel~tegraça? (mtegraç~~).. Na via maçonica estes quatro typos
que o REAA - que nem é e. nem ant. nem ac. - é baseado numa de graus estao perfeItamente dlVldldos, salvo que os ultimos como até
complexa sobreposição de fraudes, incluindo um diploma falsificado, ce!to ponto os terceiros, estão jâ fóra d'ella, sendo elIa todavia o ca-
immediatamente conclua que todo o rito é da mesma ordem e do mesmo mmho para elles.
valor que esses seus titulos. Esta conclusão seria erronea. Ha muito
de valia no rito, mas o peor é que o elemento fraudulento se introduz É isto que na symbolica dos alchimistas se designa pelos quatro-
na propria substancia da estructura dos graus e dos rituaes, de sorte -estados d~ Grande Obra - putrefacção, pois o iniciado tem que mor-
que só quem tenha conhecimentos superiores aos que o rito inteiro mi- rer para SI mesmo, ou, antes que morrer-se;2
nistra pode, em certo modo, destrinçar o que estâ certo do que é falso
ou errado; e, pela natureza das coisas, os que estão passando atravez (Esp. 53B-83)
do rito raras vezes terão graus ou conhecimentos que excedam o con-
teudo d'elle e portanto os habilitem a conhecer o caminho.
A trio.
(Esp. 53B-82)
No ultimo e excelso sentido, a Loja é o arcano ou arca da Verdade
O Mestre e os Dois que estão com elle no governo da Loja são ~
A trio. symbolo das Trez Verdades fundamentaes ou cabalísticas. Os dois que,
com es!es t~ez~ ~ormam os Cinco que completam a Loja, são symbolo
Cada religião é um mundo àparte, mas mais particularmente o é dos Do:s pnnclplOs externos ou de Relação, per meio dos quaes a Ver-
quando é essencialmente iniciatoria. Isto é, uma religião composta de dade . nao ~ Erro. E os outros dois, per meio dos quaes a Loja fica
mysterios, no conhecimento dos quaes se sobe por grados, é uma especie perfeIta, sao os symbolos dos Dois ultimos principios, per meio dos
de nova região por onde se a alma transforma. qua.es a Verdade pode descer ao nosso conhecimento se nós soubermos
subIr a ella. '
Isto é eminentemente verdade da FM, que é a unica religião mo-
derna de typo iniciatorio puro. Nas outras os graus são estados de Os trez p,:inclpioS que formam a Loja são: (1) Jehovah não é Deus,
emoção; nesta são estados de entendimento, e até o são para o profano, (2) Adam nao e .Homem, (3) Eva nunca existiu. Os dois principios que
se elle consegue - pois isso não é impossivel- entrar, por meio de fio completam a LOJa são: (4) No principio foi (ou era) o Verbo (5) E o
proprio, no labyrintho dos seus segredos. Verbo se torn?u C~rne. Os dois ultimos principios, pelos qua~s a Loja
se .torna perfeIta, sao: (6) O que estâ em cima é como o que estâ em
É, de facto, uma vida nova, e uma alma nova, a que se ganha no baIXO, e (7) Quando o discípulo estâ prompto o Mestre estâ prompto
contacto com estes mysterios, e o modo, o typo, a fórma d'essa vida tambem. '
nova, não se pode expôr nem explicar, pois como é vida propriamente,
1 Provavelmente tratar-se-ia de Aleister Crowley. 2 Está incompleto no texto.

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53
(6) De Deus nascemos, em Jesus morremos, pelo Spirito Sancto re- O sen~ido profano é como o tacto das coisas, obscuro e material'
surgimos, (7) Bemdito seja Deus nosso Senhor, que nos deu o Verbo. e allegonco como o gosto, que é um tacto intimo, material ainda mas:
o moral como o olfacto, que é o gosto desfeito mentalizado entendid~
Assim, em seu intimo e verdadeiro sentido, exposto entre nevoas para na sua essencia e na definição de que o deu; o ~spiritual co~o o ouvido
que se perca quem não sente o caminho, se descobre a verdade da F.M.,
como um Magno Mysterio Christão. S6 no divi.?o, que ~~o podemos ter, sendo homens, se attinge a plenitude
do conheCimento, Ja sem tacto, sem contacto, sem que é repre-
I ou, Em Deus somos entrados, em Jesus passados, pelo Spirito Sancto sentado pela vista. .
erguidos. Se isto for comprehendido, e, sobretudo, meditado, haverá entendi-
mento de muitas coisas.
Na FM não estão, é certo, tão patentes os mysterios sagrados como (Esp. 54A-29)
no Rito Latino, nem ha grau ou ordem nella que attinja a altura em
que está o Pontifice Romano. Mas assim como a Rocha de Pedro é
um dos Symbolos da Verdade, assim o é a Maré de Paulo - outro modo, Oe.
devidamente entendido da Scylla e da Charybdes, a rocha e o rede-
moinho, entre os quaes singra a Realidade material, na velha symbo- <? ~rranjo e .a estructura das ordens iniciaticas baseiam-se numa dis-
logia pagã. poslçao symbohca do Templo de Salomão.
(EsP. 53B-84)
N~sse schema symbolico, entende-se que o Templo é construido da
segumte. maneira. É dividido em trez partes, num andar só. Abre com
um. Atn<:- para o qual se entra por um Limiar, e logo na entrada do
A grande regra do Occulto é aquella do Pymandro de Hermes: «o ~t~o estao duas columnas. Este Atrio é quadrado quanto à sua super-
que está em baixo é como o que está em cima». Assim, a organização flcle, mas em altura, pé direito como se costuma dizer tem o dobro
das Baixas Ordens copia, guardadas as differenças obrigatorias, a or- da largura ou do comprimento. '
ganização das altas ordens; reproduzem-se os mesmos transes, por vezes
as mesmas especies de symbolos; o sentido é outro e menor, mas a D'esse Atrio se pass~ para uma outra parte, chamada Claustro, e
regra da similhança tem que ser mantida, pois, de contrario, a ordem tam.bem Cam ara do ~elO; esta expressão deve, porém, ser evitada, pois
menor não vive e abatem, por si, as columnas do seu templo. Parece, ,
~
colhde com .a expressao :gual, usada na Maçonaria, que serve de designar
ãs vezes, que é dos graus simples que se desinvolvem os altos graus, outra espe_cle ~e sala, nao no andar terreo, e que, portanto, no presente
e que foi nos altos graus que as altas ordens foram buscar (alargando schema nao figura. A passagem do Atrio para o Claustro chama-se
o sentindo) os seus aditos e cursos. Não é, porém, assim. Vemos o ca- o Transepto.
minho como o trilhamos, mas foi de lá para cá que elle foi construido.
E, de facto, as altas ordens começaram por fabricar os graus simples, 9 Claustro é como que o Atrio deitado; isto é, o tecto, ou altura,
convertendo certos gremios profanos em templos menores por um pro- b.roxa a metade do que era no Atrio, e o comprimento sobe ao dobro
cesso enblematico, a princípio fechado, como um leque, depois gradual- fIcando a largura a mesma. '
mente abrindo-se, como esse mesmo leque que se abrisse, ou, talvez,
que abrissem. Mais tarde, e foi esse a especie de abrir o leque que Do Claustro se passa para o .Sa~r~rio,. e a passagem de um para outro
revelou os desenhos nelle - se bem que o exacto entendimento das fi- se chama '? Adyto. O Sacrano e mtelramente cubico: tem a largura
guras não possa ser dado só com vel-as - e assim permitiu que os altos e, o compnmento, eguaes, do Atrio; tem a altura, egual a qualquer
d essas, do Claustro.
graus se formassem por evolução intima, emblematica, ou especulativa,
dos graus da base ou fundamento. De modo que, quando, depois ainda,
de alguns altos graus, e em virtude do ensinamento contido nelles, al- .Todas ~stas medidas teem um sentido symbolico, e qualquer, que
saIba medI!ar, poderá chegar perto de o descobrir. Deverá reparar em
gumas altas ordens se fizeram ou foi permitido que se fizessem, não
q~e o Atno e o Claustro são. a mesma coisa imperfeita em posições
houve nisso, no fundo e no intimo, mais que uma Devolução, o regresso d~ffere~tes, mas 9ue o Sacra no tem tudo egual e perfeito, nenhuma
à origem, a Reintegração, como também se diz. dimensao predommando sobre outra. A11i se attinge, neste schema de
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architectura mystica, a perfeita harmonia, ou, em outra linguagem, A~ O:dens do Claustro, ou Altas Ordens, não iniciam, porém em
a paz. exphcaçoes de symbolos, mas tamsômente conferem aos seus iniciados
as chaves hermeticas~ por meio das quaes, se eIles souberem applical-as,
Segundo este schema se organisam, como disse.. as ordens iniciatica~, os symbolos do Atno, a Formula do Atrio, poderão ser entendidos.
mas deve entender-se que, não havendo em mUitos dos que nellas fi- Isto é, ao passo que no Atrio os symbolos (os regulares bem enten-
guram ou mandam o conhecimento perfeito do que faze_m, resultam did~) estão certos e firmes, mas são desvios os discurso's e interpre-
contradicções com as formulas do Templo, e essas ordens sao, portanto, taçoes~ nas Ordens do Claustro, os symbolos (se os ha) são indirectos
illicitas. São-o, importa que se diga, na maioria dos casos. e de~vlados,. sendo com tudo certas e firmes as explicações dadas, e que
se nao apphcam a esses symbolos
As Ordens do Atrio, que servem de ministrar os primeiros conheci-
mentos do que está occulto, e que são pois, por assim dizer, a instrucção Pass~do o Adyto, as verdades do Atrio e as do Claustro, oppostas
primaria da iniciação, seguem a lei que lhes é imposta pela primeira e~t!e SI, un..em-se numa mesma verdade. Mas ahi a iniciação é plenaria,
presença do Atrio, que são as duas columnas que nelle se encontram. dlVlna, e nao se.póde. dar idéa d'~lla por meio de quaesquer palavras,
Quere isto dizer que ha duas ordens do Atrio, e só duas. Uma d'ellas qualquer que seja a lInguagem, directa ou indirecta, que se lhes faça
é a Maçonaria. Não direi qual é a outra. Não deixarei, porém, de dizer, fallar.
para que o comprehenda quem possa, que a Maçonaria corresponde
à columna da esquerda do Atrio, isto é, a que nos fica à direita se Tudo isto, que será sempre confuso para muitos, ainda que clara-
olhamos para o templo. A columna da ·direita corresponde a outra mente se exponha, póde talvez ser illustrado por um exemplo. E esse
Ordem, a irmã e complementar da maçonica. exemplo será o de como se escreve um ritual atravez das trez ordens.
Seguem-se passado o Transepto - ou regularmente, por iniciação Supponhamos os Mestres ou Sacerdotes de uma Ordem do Templo,
plenaria em' qualquer das duas ordens citadas; ou irregularmente, por de posse" como taes, de uma verdade divina, e supponhamos que essa
contacto directo com os Altos Iniciadores, e sem necessidade portanto verdade e a do Verbo incarnado e sacrificado para a redempção do
de passar por qualquer d'essas ordens - as chamadas Ordens do Claus- Mundo. Supp,?nhamos, .ainda, que esses sacerdotes, de posse d'essa ver-
tro ou Altas Ordens. Mais tarde';" passado o Adyto, e do mesmo modo dade. real e nao ~y'mbohca, vivem num mundo pagão, crente nos deuses
regular ou irregularmente, se attingem as Ordens do Sacrario, ou, em multIplos da relilpão grega ou romana. Supponhamos, mais, que esses
termo mais vulgar, do Templo, poisque, attingido o amago do Templo, mestres da doutnna secreta querem ~ommunicar aos que o mereçam,
o mesmo Templo se attinge, em todo o seu sentido. por provarem que merecem, a doutnna secreta de que são senhores.
Formarão para isso Mysterios, ou Iniciações. E, na formação do ritual
As Ordens do Atrio iniciam por meio de symbolos (a Maçonaria) d'esses Mysterios, procederão da seguinte maneira.
ou de linguagem symbolica (a outra ordem). Tudo quanto nellas se
explique ou se revele, é só em apparencia que se explica ou se revela. Buscarão, primeiro, entre os deuses pagãos qual é aquelle cuja historia
O que h~ de vâlido nellas é os symbolos: os discursos, as interpretações, possa conformar-se, como a sombra ao corpo que a projecta à vida
ou são da superficie, e portanto profanos (quando menos o pareçam); e.à .morte do Ver~o. En~ontrarão, por exemplo, Baccho, em cuja' historia
ou são falsos, e feitos para despistar os iniciados nos graus, quando dlVln~ ha ~naloglas eVidentes com a do Verbo incarnado, ainda que
sejam incompetentes para elles lhes serem conferidos; ou são, por sua em Dlv~l ~hfferente, que. é o que é preciso. Redigirão uma formula em
vez, symbolicos, sendo, quer o mostrem ou não, como uma decifração que, eh~maD:do os accldentes que perturbem a similhança, consigam
que está numa segunda cifra. dar, na hlstona de Baccho, por symbolo e analogia, a historia do Verbo.
E esta formula, uma vez encontrada, chamar-se-ha a Formula do Tran-
As Ordens do Atrio a quem é dado um symbolo, ou explicação septo. NeIla está obti?o o segredo supremo da Ordem ou Mysterio a
symbolica, central, a q~e se chama a Formula do Limiar, culminam, crear, mas o verdadeiro segredo está guardado por eIles altos inicia-
para os que verdadeiramente aproveitam da iniciação symbolica, e nella dores, pois o que vão transmitir como verdade suprema' nesse mundo
conseguem lêr o que ella é, numa nova formula, communicada fóra dos pagão é ainda uma sombra da verdade.
rituaes, a que se chama a Formula do Transepto. Por meio d'ella se
obtém o accesso ás Ordens do Claustro, ou Altas Ordens, ou ao que Feito isto, prosseguem. E buscam então uma figura, real ou mythica,
irregularmente a eIlas seja par. para quem possam transpôr os incidentes, não já da vida e da morte
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do Verbo mas da vida e da morte de Baccho. Qualquer figura servirá,
desde qu; nella não haja baixeza, e o que com ella se passa possa attrahir
de uma maneira indirecta; e será preferivel uma figura, ou inteiramente
mythica, ou de quem tam pouco conste na historia, que tudo que se
queira se lhe possa sem risco ser attribuido. Para essa figura transpõem
os pormenores da vida e da morte de Baccho, ém maneira translata
- isto é, a figura não pode ser de um Deus, nem de qualquer modo
II revelar que occulta a de Baccho. Haverá mais intimo afastamento en.tre
esta figura e a de Baccho, que entre a de Baccho e a do Verbo. Obt~da
esta figura, faz-se a equivalência da sua vida e morte, com a v.Ida
e a morte de Baccho; e é em torno d'esta figura, duplamente symbolrca,
que se escreve o ritual. Assim, todo o ritual é o symbolo de um sym- 4.
bolo a sombra de uma sombra. E é a esse ritual, que por iniciação
se c~mmunica aos candidatos, que se chama a Formula do Limiar. ENSAIO SOBRE A INICIAÇÃO
(Esp. 54A-88j90) (tradução de Maria Helena Rodrigues de Carvalho)

Iniciação.

Há muitas Cabalas, e é difícil acreditar que não possamos atingir


II 8 união com Deus, seja o que for que se entenda por isso, a não ser
que estejamos familiarizados com o alfabeto hebraico.

Há Erros do Caminho, Erros da Estalagem e Erros da Caverna. São


Erros do Caminho aqueles em que o próprio caminho é tomado pela
sua finalidade. Erros da Estalagem são aqueles em que metade do ca-
minho é tomado pelo todo. São Erros da Caverna aqueles em que a
caverna, que é a base do Castelo, é tomada pelo próprio Castelo. (é
tomada pela entrada do Castelo).

Estes erros são comuns a todos os caminhos e o da Gnose não está


mais isento deles do que os caminhos místicos e mágicos.

Posso passar sem o ascetismo, mas não sem a verdade, nem creio
que Deus se me não manifeste a não ser que eu fique sentado imóvel
durante cinco horas, ou que seja capaz de respirar naturalm~nte po;
qualquer das narinas à escolha.

O facto, porém, é que, qualquer que seja o caminho que tomemos,


não o devemos fazer antes de termos percorrido os graus preparatórios,
os graus de neófito. O Misticismo procura transcender o intelecto
(pela intuição), a Magia aspira a transcender o intelecto pelo poder;
a Gnose, a transcender o intelecto por um intelecto superior. Mas para
transcender uma coisa devidamente, é preciso primeiro passar por essa
coisa. A vantagem do caminho gnóstico é que há menos tentação de
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alcançar o intelecto superior sem passar pelo inferior - uma vez que através dos sentidos é uma morte e um sono, ou, por outras palavras,
ambos são intelecto e há uma diferença de quantidade entre um e que o que vemos é uma ilusão. A iniciação é o dissipar - um dissipar
outro - do que nas vias mística e mágica, onde há uma diferença de gradual, parcial- dessa ilusão. A razão do seu segredo é que a maior
qualidade, não de quantidade, entre emoção e intelecto, entre a vontade parte dos homens não está adaptada a compreendê-lo e, portanto,
e o intelecto. compreendê-Io-á mal e confundi-Io-á, se for tornado público. A razão
(Esp. 54A-51) de ele ser simbólico é que a iniciação não é um conhecimento mas
uma vida, e o homem deve, portanto, descobrir por si o que mo~tram
os símbolos, porque, assim, viverá a vida deles, não se limitando a
aprender as palavras em que são mostrados.
Oe.
Dizer que Cristo é um símbolo do Sol é põr o processo iniciatório
Há três tipos distintos de iniciação - simbólica ou exterior, intelectual ao invés. É o Sol que é o símbolo de Cristo. Por outras palavras, Cristo
(exterior à interior) e vital (interior). Nas iniciações simbólicas, que é a realidade e o Sol a ilusão, Cristo é a luz, e o Sol a sombra. (O Ine-
reforçam a vontade e que, portanto, conduzem à Magia como realiza- fável é a luz; o GA, corpo; o mundo, sombra - a sombra projectada
ção, o candidato não passa por graus de entendimento, mas ~o~ graus pelo denso quando iluminado pelo subtil. A luz está na circunferência
de intuição, por assim dizer; ele está continuamente à superflcle e na e a sombra lançada para o centro. Isto tem alguma coisa a ver com
aparência das coisas, e, embora ele atinja o grau mais elevado~ qualquer o pt. dentro do c.?) (Cf. a ideia cabalística do En Soph retirando-se para
que seja a ordem ou ordens por que prossiga, esse grau maIS elevado dentro, manifestando-se dentro e não fora).
não precisa de corresponder (geralmente não corresponde) a qualquer
coisa como um grau paralelo em qualquer das iniciações interiores. Nas Iniciar um homem por um ritual complicado e mais ou menos im-
iniciações intelectuais, que reforçam o intelecto e que, portanto, con- pressivo e depois confiar-lhe, sob promessas de segredo e juras mais
duzem ao Misticismo como realização, o candidato passa por estádios ou menos terríveis, que a Primavera vem depois do Inverno - isto
de entendimento, mas não por estádios de vida; ele pode saber muito, nunca podia ter sido o plano de qualquer corpo ou sistema iniciático.
mas não precisa de viver aquilo que conhece no mesmo plano em que Mas tê-lo-ia sido ensinar o contrário - que a Primavera, seguindo-se
o conhece. Nas iniciações vitais, que reforçam a emoção e, portanto, ao Inverno, é um símbolo de coisas maiores, que o natural é uma figu-
conduzem à Alquimia como realização, o candidato vive aquilo que ração do sobrenatural.
sente e sabe.
Ist~, feito com mais ou menos pormenor, em símbolo, depois em
(Isto está certo?). Não será antes que estas iniciações diferem numa doutrIna, depois em revelação, é a essência de todas as verdadeiras ini-
outra medida enquanto a diferença entre Magia, Misticismo e Alquimia ciações, de Eleusis a Kilwinning.
(então e a Gnose?) se encontra noutro plano de interpretação? Estas
iniciações não são antes físicas, etéreas e astrais? (ou, talvez, etéreas" Ordens de inic.: (1) através de símbolos e (mais tarde) explicações
astrais e espirituais, ou astrais, mentais e espirituais?). em si próprias simbólicas - cf. Pike; (2) através de doutrina simbólica,
verdadeira ao seu nível, e explicações, já não simbólicas; (3) através
- Possivelmente há três modos pelos quais as iniciações podem ser de comunicação directa, embora não necessariamente falada ou expressa.
interpretadas: (1) os três caminhos de realização, mágico, místico e Não digo que estas coisas representem uma verdade e não digo que
gnóstico, (2) os três estádios de realização, Neófito, Adepto e Mestre, o não façam. Digo que este é o significado da iniciação, que é assim
(3) os três graus de realização, astral, mental e espiritual. que a iniciação existe e que é para estes fins que ela existe.
(Esp. 54A-52)
(Esp. 54A-55)

Oe. Ensaio sobre a Iniciação.


Mas o significado real da iniciação é que este mundo visível em que São muitas as dificuldades do assunto. Nunca podemos ter a certeza
vivemos é um símbolo e uma sombra, que esta vida que conhecemos de estarmos a ler uma obra que merece ser lida ou o discurso retórico
60
61
de alguém que sabe alguma coisa. Não é o caso de apanharmos um cado e afinal a coisa escrita acaba por ter mais. É essa provavelmente
escritor «oculto» em flagrante disparate; isso é insuficiente. O seu co- a razão por que das fábulas, mesmo das dos povos incultos tão facil-
nhecimento pode ser fraco nesse ponto e forte noutro. Se somos astró- mente emergem significados profundos, a razão por que ~ obra de
logos e lemos um livro que trata, entre outras coisas, de alquimia e grandes poetas revela tais compreensões que não podemos conceber que
astrologia e descobrimos, à luz do nosso conhecimento, que a parte o poeta tenha tido consciência delas; a razão por que obras escritas
astrológica é um disparate, não é preciso que nos precipitemos a pres- para crianças afinal aparecem como elaborações da Cabala ou de outro
supor que a parte alquímica (em que não somos versados) está igual- conhecimento oculto; a razão por que gracejos pensados como tal vêm
mente errada. O facto de um jornal publicar uma notícia falsa sobre a revelar ter um significado terrivelmente sério.
uma coisa que testemunhámos ou de que temos conhecimento levar-
-nos-á naturalmente a duvidar das suas notícias sobre qualquer outro Não há caso mais curioso, e em parte porque se trata de um caso
assunto. Isto não tem de ser assim. extremo, do que o da autoria e modo de autoria de As Núpcias Quí-
micas de Christian Rosencreutz. Toda a evidência aponta para a cir-
O facto de um homem ser um charlatão prova tão-pouco que ele cunstância de esta obra ter sido escrita por John Valentine Andrea.
escreve sempre como charlatão, como o facto de Wordsworth ter es- o livro é altamente imaginativo e Andrea não era. Toda a evidênci~
crito alguns versos miseráveis prova que ele seja um poeta miserável. parece mostrar que foi escrito por Andrea quando este tinha cerca de
Um charlatão não tem de ser um charlatão em tudo ou de ser sempre 17 anos de idade; e a obra é de um género que tornaria isto normal-
charlatão; um charlatão pode ser inspirado. me~te impossível. T?da a. evidência parece mostrar que o livro foi
escnto como uma -bnncadeua, mesmo como brincadeira de um garoto;
Mesmo o escrever um disparate consciente, deliberado, não significa ? t~ata-se de u~a ?bra de profundíssimo simbolismo. Não podemos
necessariamente que o resultado seja um disparate real. A velha frase IludIr as consequencIas por recurso à suposição de que ele tivesse rou-
I
segundo a qual muitas palavras verdadeiras são muitas vezes. proferidas bado ~ ?br~ ou de que a tivesse feito passar em seu nome por ordem
com gracejo é aqui aplicável. Há registos de que John Valentme Andrea ou soltcItaçao do autor (a não ser que isto seja entendido em certo
escreveu, por gracejo, com apenas 16 ou 17 anos, as Núpcias Químic:as sentido).
de Christian Rosencreutz. Será difícil contestar que ele tenha escnto
o livro. Contudo, o livro, escrito nessa idade e (se acreditarmos nas O Caliban de Shakespeare é uma sátira óbvia sobre a democracia
suas palavras, e não há razão para duvidarmos delas) como gracejo, moderna. Não parece ser tal sátira; é. Contudo, Shakespeare não viveu
é uma grande história simbólica, válida em si. Sei de pessoas que dão no nosso tempo nem foi aquilo a que normalmente se chama um pro-
uma data de nascimento errada - ano, mês, dia, tudo errado - e, con- feta, no significado corrente do termo.
tudo, o horóscopo levantado para essa data coincide nos pontos fun- (Esp. 54A-59)
damentais, mesmo em direcções, com o verdadeiro.

(Esp. 54A-58)
Iniciação.

Os caminhos do Misticismo e da Magia são muitas vezes caminhos


Ensaio sobre a Iniciação de ~ng~n..? e de e~o..0 Misticismo. significa essencialmente confiança
n~ I!ltU!çao; a MagIa_ sIgmfIca essenCIalmente confiança no poder. A in-
Não só, contudo, pode a inspiração, ou o que assim é chamado, ope- t~lçao ~ uma operaçao da ~ent~ pel~ qual os resultados da inteligência
rar com um medium consciente - alguém que sabe estar a escrever sao obtIdos sem o uso da mteligencIa. O poder, no sentido do poder
aquilo que normalmente não tem competência para fazer, não só pode mág~co, é _uma ~peração da mente pela qual os resultados do esforço
operar com um medium inconsciente - alguém que escreve aquilo que contmu? sao obtIdos sem o uso do esforço contínuo. Ambos, porém,
não pode escrever nem entender depois de o ter escrito, porque o es- por maIS tempo que levem a operar, são atalhos para o conhecimento.
II creve em transe ou em mediumnidade directa, mas a inspiração pode
ainda operar com um medium erradamente consciente, isto é, com
Em certo sentido, tanto o Misticismo como a Magia são confissões
de impotência. O místico é um homem que sente que não tem em si
alguém que supõe estar a escrever uma coisa quando na realidade está a. for~a do pensamento para atingir a verdade pelo pensamento. O má-
a escrever outra, ou que supõe estar a escrever algo com um signifi- gICO e um homem que sente que não tem em si a força de vontade
62 63
para atingir a verdade (ou o poder) pela força de vontade. A rapariga
ociosa que adivinha ou que se deita a adivinhar coisas é uma mística emerge numa sessão ou que emergiu em sess- .
den~ro do seu campo superficial; é demasiado preguiçosa para tentar ~ig~ jue est~ja cer!o: digo ,!ue não hã meio deo~~n~~~~~~~a:o~ri~::
saber. A camponesa que tenta reter o amor do marido por meio de a ln ormaçao assIm re~eblda, e quando a informação diz res eito
encantamentos e poções é um mágico dentro das suas fronteiras es- ~áoutr?s dmundohs ou a COISas de outro modo não verificáveis neste pnão
treitas; ela é demasiado ignorante e demasiado fraca para intentar melo e con ecermos a sua origem ou a sua verdade. '
atingir o seu fim por encantamento directo, por sedução permanente.
Em ambos os casos há uma evasão. (Esp. 54A-61)
Isto não quer dizer - ou, pelo menos, não precisa de querer dizer-
que os resultados do Misticismo e da Magia estejam necessariamente
Iniciação.
errados. Quer dizer, contudo, que não há nenhum critério pelo qual
possamos distinguir entre um resultado errado e um resultado certo
num caminho ou noutro. Na Gnose, onde empregamos o intelecto, doAC~~~~ira ~ent~ão a ser vencida, para que sejam evitados os Erros
temos, pelo menos, o lastro do raciocínio; podemos, pelo menos, com-
parar um «resultado» com outro, examinar se eles são contraditórios, sejam e~?ta~os ~ E~~~odaAp~~~:~ ~e:tda~e~ ~rt:r~~~!:ie~~~aã~u:
quer cada um em si, quer em referência um ao outro. Podemos não ~r tVencI'!.a, p~ra que sejam evitados os Erros da Cripta é o Jiabo
raciocinar bem, mas raciocinamos. Se errarmos, é porque nos enga- ~ .entaçoes sa,.? comuns a todos os caminhos, mas o místico está mai~
namos e não porque estejamos errados, como nos outros dois caminhos. ~ui:~t~~~e~~abi~:~ Mundo, o mágico à tentação da Carne, o gnóstico
É como quando se soma mal; a falha não está em somar, mas em não
somar bem; somar é, porém, o sistema correcto para obter um total.
Isto ficará claro, se formos buscar exemplos simples, podíamos dizer O Mundo significal
correntes, ao Misticismo e à Magia. Um caso simples de Misticismo
é o tipo comum de intuição a que se chama «palpite» em linguagem Dificilmente haverá um mágico que não sucu b .
vulgar. Iam a fraqueza da vontade O fi ' m a a cOIsas que reve-
embrutecido pelo álcool é u~ cas m ternvel de MacGr~gor Mathers
Uma pessoa tem um palpite de que em certo número terá o primeiro
prémio da lotaria. De vez em quando o palpite sai certo, mas todos ~~~a~l~~ ~a~O;ú~fa,a
Abrbemb~din; não ~or~:::;~e~ c~:tr~fadre~: s~~l:(~cf~~=
e I a ou a desonestIdade) .
sabemos que, por cada vez que sai certo, há milhares de vezes em que
sai errado. Se assim não fosse, um clube de apostas não seria o grande
negócio que sempre é. Neste caso, na verdade, há um caminho fácil (Esp. 54A-62)
para verificar a exactidão do palpite: a lotaria, uma vez extraída, mos-
trá-Io-á. Mas como é que se hã-de provar ou refutar o palpite do mís- Inic. (Occ.)
tico de que atingiu a unidade com Cristo? Ele diz que sabe, que sente ...
Mas o louco que se julga Cristo ou rei de certo país está tão seguro
disso como o místico da sua intuição. É difícil, claro, compreender o que se entende por União com D
mas pode dar-se uma certa ideia do u . . eus,
Tomemos, de novo, um caso simples de Magia - o espiritismo. O es- ~os quedqualquer que tenha sido o ~OâOls(~~d~~~~dd:~~~~~:t~r~~u:r~
piritismo é magia, porque é evocação dos espíritos dos mortos a esta o uso e um tempo verbal que implica tempo) co D .
vida. Faz-se uma sessão, evoca-se o espírito do falecido X, a voz do ~undo, a ósub.stância ~:ss~ criação foi a conversão, ef~~uad:u;o~n~:u~
medium, a mesa pé de galo ou a prancheta anuncia que ele apareceu. a sua pr pna conSClenCla na consciência pI r I d '
Como é que sabemos que sim? A comunicação de coisas conhecidas O grande clamor da Divindade Indiana «Oh up~d os seres sepa~ados.
somente de um dos presentes pode ser uma projecção da mente desse dá a ideia, sem a ideia de realidade. ,esse eu ser mUItos!»
que está presente. A comunicação de coisas somente conhecidas do fa-
lecido e depois verificadas pode ser uma comunicação de alguma força A! ~~~fn~o~ g~us _signiflica,
Pal°rtanto, .a repetição pelo Adepto do
ou mesmo espírito, outro que não o do falecido. E quando o espírito A

açao pe o qu ele é Iden hco a Deus em acto ou


dá informação da sua morada presente, por que método nos assegura-
remos se essa informação é certa ou errada? Não digo que tudo o que
1 Está incompleto no texto.
64
65
em modo de acto, mas, ao mesmo tempo, uma inversão do Acto Divino de Neófito da Ordem Interior? Ele deve começar por familiarizar-se
pelo qual ele continua a estar separado de Deus ou a ser o oposto de com sistemas filosóficos e com a filosofia que emerge, mal ou bem, das
Deus; se não, seria o próprio Deus e não seria necessária qualquer união. aquisições mais recentes da ciência. Com este suporte, ele deve reflectir
e comparar, confrontando sistema com sistema, teoria com teoria, e
o Adepto, se conseguir a unidade entre a sua consciência e a cons- parte de cada sistema com as outras partes. Desenvolverá assim a sua
ciência de todas as coisas, se conseguir transformá-la numa inconsciência inteligência abstracta sem a qual a intuição que ele busca desenvolver
(ou inconsciência de si próprio) que é consciente, repete dentro de si mais não será do que emoção. .
o Acto Divino que é a conversão da consciência individual de Deus na
consciência plural de Deus em indivíduos. Mas, assim, ele alcança a Ele deve começar por se despir de todos os preconceitos dogmáticos,
pluralidade que Deus atingiu quando da feitura do todo de que ele é de todas as coisas que foram introduzidas no seu espírito pela educação
parte e, ao repetir o Acto de Deus, ele está realmente a invertê-lo, e, e pelo hábito. Q caminho da iniciação não pode ser alcançado através
ao invertê-lo, a fazer o caminho de regresso a Deus e, assim, a alcançar dos portais de qualquer das igrejas, mas antes através dos portais de
a união com Deus. todas ao mesmo tempo ou de nenhuma. Seguidamente, ele deve fami-
liarizar-se com sistemas religiosos de todas as espécies, com sistemas
Se representarmos todo este esquema por dois triângulos equiláteros filosóficos .... (ut supra).
com a mesma base, cada um, por assim dizer, oposto ao outro, teremos Deve depois elaborar, o melhor que puder, um sistema próprio seu,
uma ideia clara, ou tão clara quanto possível, do método da obtenção construído lentamente, com aquilo que ele aprendeu, sem necessaria-
da União com Deus. Deus, vértice do triângulo superior, abre para a mente o escrever, um sistema, tão coerente quanto ele puder fazê-lo,
base e a base estreita-se até ao vértice virado para baixo do triângulo de interpretação do universo nas triplas linhas de verdade, beleza e
inferior. Do vértice do triângulo inferior há ascensão para a linha-base conduta.
de ambos: assim a descida de Deus é repetida no sentido ascensional e, Depois procederá ao abandono do sistema que formar. Terá chegado
ao mesmo tempo há ascensão para Deus. a amá-lo, mas cabe-lhe agora reconhecer que ele não vale mais do que
os outros sistemas filosóficos que ele comparou entre si e, uma vez que
Ora isto, seja qual for o modo por que seja considerado, conduz-nos estabeleceu o seu próprio sistema, rejeitou.
à teoria peculiar dos três tipos de consciência: a Consciência Divina, Assim, ele terá atravessado os quatro estádios da tentação do Mundo
a Consciência do Mundo e a Consciência Individual. Na primeira a - o Dogma, a Inteligência Concreta ou Ciência, a Inteligência Abstracta
identidade é absoluta, não havendo sujeito nem objecto. Na segunda ou Filosofia e a Inteligência Crítica.
o sujeito fez de si o seu próprio objecto, e, sendo infinito porque indi-
visível, torna-se objectivamente infinito, isto é, infinito porque infinita- O Dogma pelo qual ele está preso aos outros; a Ciência pela qual
mente divisível. Na terceira, o sujeito fez de si mesmo como objecto ele está preso à Natureza; a Filosofia pela qual ele está preso aos espí-
o seu próprio sujeito, e tomou consciência de si próprio e, por conse- ritos de outros; a sua própria filosofia pela qual ele está preso a si
guinte, consciência de si próprio em cada elemento infinitesimal desse próprio, porque o Mundo é tudo isto. Uma vez que passou estes quatro
objecto. estádios do grau de Neófito, está pronto para a iniciação. Dele de-
pende agora escolher por que caminho a fará - se pelo caminho mís-
Quanto mais cada sujeito infinitesimal faz de si próprio objecto para tico, se pelo caminho mágico ou pelo gnóstico. É mais justo dizer
si próprio, mais se aproxima do primeiro passo à rectaguarda em di- o caminho por onde ele começará a fazê-la, porque a iniciação plena
recção à Suprema Consciência. De aqui passará eventualmente à anu- no grau de Adepto inclui os três. No primeiro Grau de Adepto ele
lação disto e ao regresso ao estádio original da Divina consciência. tomará a via que escolheu e completará o seu caminho nela; no segundo
Grau de Adepto ele tomará uma das outras duas vias; no terceiro Grau
(Esp. 54A-63) de Adepto ele tomará a via que resta.
Ele tem de vencer as três tentações que estão subjacentes à Carne
- os desejos que são vencidos pelo Misticismo; as indecisões que são
II Iniciação. vencidas pela Magia; os enganos que são vencidos pela Gnose. Tem
de vencer 2
Como, então, deve um homem que busque a iniciação treinar-se para
ela? Como, por outras palavras, deverá ele tomar dentro de si os Graus 2 Incompleto no original.

66 67
I
d
preender; de símbolos, para que o candidato fosse forçado a abrir o
Dir-se-á que isto torna a iniciação uma tarefa muito difícil. Torna-a, seu próprio caminho, lutando por interpretar os símbolos, em vez de
porque assim é. Por que é que a iniciação havia de ser fácil? Dir-se-á se julgar cheio de conhecimento se a comunicação tivesse sido feita
que só um homem de especial inteligência pode tomar os graus de por ensinamento dogmático ou filosófico.
neófito, uma vez que é necessário ter capacidade de reflexão abstracta
para se ser apto em filosofia, e nem toda a gente a possui. Mas por que Não digo que estas três razões se apresentassem claras ou em sepa-
é que toda a gente havia de estar em condições de ser iniciado? Se se rado ou em conjunto, embora assim divididas, nos espíritos dos antigos,
disser que isto é injusto, podemos replicar assim: Porque é que o uni- sacerdotes ou leigos das suas religiões. Mas digo que, quando não
verso havia de ser justo? - o que é talvez uma resposta errada, mas por inteligência directa, ao menos por intuição, eles basearam as suas
certamente suficiente, - ou que a questão se baseia no pressuposto religiões neste esquema divisional.
de que não há desenvolvimento no mundo; ou, por outras palavras,
que o homem termina num curto lapso de vida terrena e que é possível As religiões dos Antigos, e sobretudo as religiões pagãs da Grécia
que a reencarnação seja verdadeira quando não há injustiça, mas apenas e Roma, que são as que mais nos interessam, uma vez que os nossos
graus, porque na própria vida exterior há graus de força, beleza, inte- espíritos são seus filhos, estavam divididas em três formas. Havia uma
ligência e outras coisas idênticas. forma social, o culto, que era do homem como cidadão. Havia uma
forma individual, a poesia, que era do homem como não-cidadão; cum-
Um homem pode, pelo menos, aspirar à iniciação e, se a inteligência prido o culto devidamente, ele podia interpretar para si os deuses como
abstracta é o primeiro grau no caminho e ele não tem inteligência entendesse e elaborar as suas lendas como lhe parecesse mais adequado.
abstracta, pode pelo menos aspirar a ela; custa-lhe tanto ou tão pouco E havia uma forma secreta, a iniciação, que participava em segredo das
aspirar à inteligência como à iniciação, e realmente ele aspira à mesma características de ambas: era individual porque, mesmo quando a ini-
coisa na ordem própria quando aspira à inteligência. ciação era colectiva como nos grandes Mistérios pagãos, era sempre
o indivíduo o iniciado e não o grupo; era social, porque a iniciação
(O místico sem inteligência não atingiu o primeiro Grau de Adepto: era comunicada em ritual e o ritual é social.
ele não fez mais do que atingir o grau intermédio entre os Graus de
Neófito e de Adepto, o purgatório vazio da ascensão errada). O que com os Cristãos raramente está associado ou fundido com a
poesia como acontecia com os pagãos. (Não compreenderemos a Idade
(Esp. 54B-I6) Média até .que compreendamos que a teologia era a sua poesia, que a
ausência de poesia então mais não era que a presença da poesia sob
outra forma).
o ensaio sobre a Iniciação.
Todas as religiões, porém, estão no mesmo estado que as grandes
Havia três razões pelas quais nas religiões pagãs certas verdades, ou religiões pagãs. As três formas de religião serão encontradas de uma
coisas supostas serem verdades, eram transmitidas só em segredo e forma ou de outra em todas. Nas religiões cristãs, por exemplo, temos
reclusão, por iniciação. A primeira era uma razão social: pensava-se o culto público, quer seja altamente cerimonial como na Igreja Romana,
que essas tais verdades eram impróprias para transmissão a qualquer
quer pobre até à nudez como nas seitas protestantes extremistas; temos
homem, a não ser que ele estivesse em certa medida preparado para
as receber, e que elas teriam resultados sociais desastrosos se fossem a religião individual significando a reflexão pessoal sobre os dogmas
tornadas públicas, pois isso significaria que seriam mal compreen- e fórmulas de fé, e isto é teologia onde (com os pagãos), era antes
didas. «Etiamsi revelare destruere est...» A segunda era uma razão poesia; e temos a vida interior do cristão, que é a sua iniciação, porque
filosófica: supunha-se que, em si próprias, essas verdades não eram de nas religiões cristãs a iniciação é considerada como dada por Cristo, SÓ,
um género que o homem comum pudesse compreender e que lhe pode- misticamente, e não por qualquer sacerdote ou hierofante ritualmente
ria advir confusão mental e desequilíbrio na conduta se lhe fossem ou ceremonialmente. Por outras palavras - cujo sentido mais exacto
inutilmente comunicadas. A terceira era, por assim dizer, uma razão será compreendido mais tarde - a iniciação pagã encaminhou-se para
espiritual: pensava-se que, por serem verdades da vida interior, essas a Magia, como fazem todas as iniciações rituais, e a iniciação cristã
verdades não deviam ser comunicadas, mas sugeridas, e que a sugestão encaminhou-se para o Misticismo, como fazem todas as iniciações me-
devia ser impressiva, rodeada de secretismo, para que pudesse ser ditativas.
sentida como de valor; de ritual, para que pudesse impressionar e sur-
69
68
Qualquer que seja o número de graus, exteriores ou interiores, na que funde a sua fé e a sua vida, atingiu o começo da iniciação real,
escala de ascensão para a verdade, eles podem ser considerados como enquanto o neófito aperfeiçoado, no qual a fé (ou conhecimento) e
três - Neófito, Adepto e Mestre. Na realidade, os graus são dez - qua- a vida ainda estão separados, não a atingiu. Mas se o Adepto espon-
, tro para o Neófito, três para o Adepto e três, por assim dizer, para
o Mestre. Hã realmente também dois intergraus que ficam entre o pri- .
tâ.neo tiver atingido o Quinto Grau sem ter passado pelos cinco pri-
meiros (que incluem o grau Zero), terã de permanecer largo tempo à
meiro e o segundo, e entre o segundo e o terceiro hã ordens, estas tam- entrada da Câmara do Meio, onde se pode adequadamente dizer estar
bém não numeradas. Os graus não numerados são graus de noviciado, «colocado» o primeiro grau de Adepto. Para passar ao Sexto Grau ele
enquanto os outros são, cada um na sua medida, graus de realização. terã, em certo sentido, de voltar ao princípio.

O Neófito, ao longo dos graus que esta expressão descreve, é essen- (Esp. 54B-17/18)
cialmente um aprendiz; o seu caminho é em direcção à realização do
conhecimento na esfera exterior. No Adepto, ao longo dos seus três
passos, hã um progresso na unificação do conhecimento com a vida.
No Mestre hã, ou diz-se que hã, uma distribuição da unidade assim Initiation (original inglês)
atingida em virtude de uma unidade mais elevada.
Uma comparação com coisas mais simples tomarã isto mais claro, There are many Kabbalas, and it is hard to believe that we cannot
creio. Suponhamos que o escrever . grande poesia é o fim da iniciação. attain to union with God, whatever that may mean, unless we are
O grau de Neófito serã a aquisição dos elementos culturais com que acquainted with the Hebrew alphabet.
o poeta terã de tratar ao escrever poesia e que são, grau a grau e no
que se afigura ser uma analogia exacta: O) gramãtica, 1) cultura geral, There are Errors of the Path, Errors of the Inn and Errors of the
2) cultura literãria particular, 3)8 Cave. Those are errors of the path where the path itself is taken for
O grau de Adepto serã, extraindo a analogia da mesma maneira 5) its purpose. Those are errors of the Inn where half-way is taken for all
o escrever poesia lírica simples como num poema lírico comum, 6) o the way. Those are errors of the Cave where the cave, which is at the
escrever poesia lírica complexa como em, 7)4 o escrever poesia lírica base of the Castle, is taken for the CastIe itself (is taken for the Hall
ordenada ou filosófica como na ode. of the CastIe).
O grau de Mestre serã, da mesma maneira: 8) o escrever poesia
épica, 9) o escrever poesia dramãtica, 10) a fusão de toda a poesia, These errors are common to all paths, and that of Gnosis is no more
lírica, épica e dramãtica em algo para lã de todas elas. free from them than the mystical and the magicaI paths.

Ao leitor desta analogia literãria ocorrerão três observações. A pri- I can dispense with asceticism, but not with truth, nor will I believe
meira é que se pode ser poeta sem os graus de Neófito, Adepto do that God will not be manifest to me unless I can sit still for five hours
primeiro grau de Adepto sem sequer se «tomar» o primeiro grau de or can breathe naturally through either nostril at will.
neófito. A segunda é que a progressão descrita não corresponde à que
habitualmente acontece na vida, seja ela a de um poeta ou a de qual- The fact is, however, that whatever the path that is taken, it should
quer outro homem. A terceira é que a função de toda a poesia, lírica, not .be taken before the preparatory grades, the neophyte grades, have
épica e dramãtica, em algo que fica para além das três, é uma reali- been traversed. Mysticism seeks to transcend the intellect (by intuition),
zação que excede a compreensão. magic to transcend the intellect by power; gnosis to transcend the
intellect by a higher intellect. But to transcend a thing rightIy you
Levei o leitor a fazer estas observações para que eu pudesse, repli- must first pass through that thing. The advantage of the gnostic path
cando-lhes, completar a analogia com uma explicação. is that there is less temptation to reach the higher intellect without
Quanto à primeira observação: O primeiro grau de Adepto é, mi passing through the lower, since both are intellect and there is a diffe-
verdade, o primeiro grau real da iniciação real. Um místico simples, rence of quantity between the one and the other, than in the mystic
and the magic paths, where there is a difference of quality, not quantity,
between emotion and intellect; between the will and intellect.
8 Incompleto no original. t

4 A numeração salta no original. (Esp. 54A-51)

70 71
;;---_.-
I
Oe. To say that Xt. is a symbol of the sun is to put the initiatory process
I the wrong way about. It is the sun that is the symbol of Xt. ln other
I I There are three distinct types of initiation - symbolic or ou ter, ÍD- words, Xt. is the reality and the sun the illusion, Xt. the light and the
tellectual (ou ter of inner), and vital (inner). ln the symbolic initiations, sun the shadow. (The Ineffable is light, the GA body, the world shadow
! which reinforce the wi11 and therefore lead to Magic as attainment, - the shadow cast by the dense when lit by the subtle. The light is in
the candidate does not pass through stages of understanding, but through the circumference (1) and the shadow cast into the centre (?) - Has
ii stages of intuition, so to speak; he is continually on the surface this anything to do with the pt. within the c.?) (ef. the kabbalistic idea
and appearance of things, and, though he attains the highest degree of En Soph drawing inwards, manifesting in and not out).
in whatever order or orders he goes through, that highest degree
need not correspond (generally does not correspond) to anything like To initiate a man by a complicated and more or less impressive ritual
a parallel degree in any of the inner initiations. ln the intellectual ini- and then confide to him, under pledges of secrecy and oaths more or
tiations, which reinforce the intellect and therefore lead to Mysticism less terrible, that spring comes after winter - this could never have
as attainment, the candidate passes through stages of understanding, been the device of any initiatory .body or system. Rather will it have
but not through stages of life; he may know much, hut he need not been to teach him the contrary - that spring following winter is a
live that which he knows on the sarne leveI as he knows it. ln the vital symbol of greater things, that the natural is a figurement of the su-
initiations, which reinforce the emotion and therefore lead to Alchemy perna tural.
as an attainment, the candidate lives that which he feels and knows.
This, carried to more or less detail, in symbol, then in doctrine, then
(Is this right? Do not rather these initiations differ on another in revelation, is the essence of all real initiations, from Eleusis to
score, whereas the difference between Magic, Mysticism and Alchemy Kilwinning.
(what of Gnosis?) lies on another plane' of interpretation? Are not these
initiations rather physical, etheric and astral? (or, perhaps, etheric, Orders of init: (1) through symbols and (later) explanations in them-
astral and spiritual, or astral, mental and spiritual?) selves symbolic - cf. Pike; (2) through symbolic doctrine, true on its
leveI, and explanations no longer symbolic; (3) through direct though
- Possibly there are three modes in which initiations can be inter- not necessarily spoken or uttered communication.
preted: (1) the three ways of attainment, magical, mystical and gnostic,
(2) the three stages of attainment, Neophyte, Adept and Master, (3) the
three degrees of attainment, astral, mental and spiritual.
.

I do not say that these things represent a truth and I do not say that
they do not. I say that this is the meaning of initiation, that it is thus
that initiation exists and that it is for those purposes that it exists.
(Esp. 54A-52)
(Esp. 54A-55)

Oe.
Essay on Initiation
But the real meaning of initiation is that this visible world we live in is
a symbol and a shadow, that this life we know through the senses is The difficulties of the subject are many. We Can never be sure whether
a death and a sleep, or, in other words, that what we see is an illusion. we are reading a work which is worth reading or the rant of one who
knows something. It is not the case of catching an «occul!» writer in
lnitiation is the dispelling - a gradual, partial dispelling - of that
flagrant nonsense in something we know; that is insufficient. His know-
illusion. The reason for its secret is that most men are not adapted ledge may be weak in that point and strong in another. If we are
to understand it and will therefore misunderstand and confuse it if it astrologers and read a book dealing, arnong other things, with alchemy
be made publico The reason for its being symbolic is that initiation is and astrology and find, by the light of our knowledge, that the astro-
not a knowledge but a life, and that man must therefore think out for
himself what the symbols show, for thus he will live their life and not .

logical part is nonsense, we need not hurry to presume that the alche-
mical part (in which we are unversed) is equally wrong. The fact that
only learn the words in which they are shown. a newspaper publishes false news on something we have witnessed or
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j
know of will naturally lead us to doubt its news on any other subject. it be, points to this work having been written by John Valentine Andrea;
This need not be soo ' the book is high1y imagina tive and Andrea was not. AlI evidence seems
to show that it was written by Andrea when about 17 years of age;
The fact that a man is a charlatan is not sufficient to prove that and the work is of a kind as to render that normally impossible. All
he always writes like a charlatan, any more than the fact that Words- evidence seems to show that it was written as a joke, even a boy's joke;
worth often wrote so wretchedly is proof that he is a wretched poet. and the work is one of the deepest symbolism. We cannot evade the
A charlatan need not be a charlatan in everything or always a charlatan; issue by making Andreas a genius or an initiate. We cannot evade the
a charlatan may be inspired. issue by supposing he stole the work or passed it under his name by
the author's order or request (unless this be meant in a certain sense).
Even the writing of conscious, deliberate nonsense does not necessarily
mean that real nonsense results. The old tag about many a true word ,',, Shakespeare's Caliban is a manifest satire. on modem democracy.
being often spoken in jest is here applicable. It is on record that John It does not seem to be such a satire; it is. Yet Shakespeare did not live
Valentine Andrea wrote, when only 16 or 17, the Chemiçal Nuptials in our times, nor was he what is normally called a prophet, meaning
of Christian Rosencreutz as a jest. It is hard to dispute that he did currentIy one.
write the book. Yet the book, written at that age, and (if we believe (Esp. 54A-59)
his words, and there is no reason not to believe them) in jest, is a great
symbolical story, valid in itself. I have known a person blurt out a
wrong date - year, month, day, everything wrong - as his birthdate,
yet the horoscope erected for that date coincide in the main points, Initiation
even in directions, with the true one.
(Esp. 54A-58) The paths of Mysticism and of Magic are often paths of delusion
and of error. Mysticism means essentially trust in intuition; Magic
means essentiaIly trust in power. lntuition is an operation of the mind
by which the results of intelligence are obtained without the use of
Essay on lnitiation intelligence. Power, in the sense of magical power, is an operation of
the mind by which the results of continuous effort are obtained without
Not only, however, can inspiration, or what is so called, operate with the use of continuous effort. Both, however long they may take to
a conscious medium - meaning one who knows that he is writing operate, are short cuts to knowledge.
something which he is normally incompetent to write, not only can
it operate with an unconscious medium - meaning one who writes ln a certain sense both Mysticism and Magic are confessions of impo-
something he neither can write nor understands after it is written, tence. The Mystic is a man who feels that he has not the strength of
whether because he writes in trance or in direct mediumship, but inspi- thinking in him to get to truth by thinking. The Magician is a man
ration can operate with a wrongly conscious medium, that is to say, who feels he has not the strength of will in him to get to truth (or to
with one who supposes he is writing something whereas he is really power) by strength of will. The idle girl who guesses things, or guesses
writing something else, or who supposed he is writing something with at things, is a mystic within her shaIlow province; she is too lazy to try
one meaning and the thing written is found to have more than one. to know. The peasant woman who tries to keep her husband's love by
This is probably the reason why deep meanings emerge so easily from charms and potions is a magician within her garret-frontiers; she is too
fables, even those of uncuItured peoples; why the work of great poets ignorant and too weak to strive to do so by direct charm, by persistent
reveals such understandings that we cannot conceive the poet to have seduction. ln both cases there is an evasion.
been conscious of them; why works written for children tum out to
elaborate things out of the Kabbala or other hidden knowledge, why This does not mean - or, at least, it needs not mean - that the results
purposed jokes tum out to have a terribly serious meaning. of Mysticism or of Magic are necessarily wrong. It does mean, however,
that there is no criterion by which we can distinguish a wrong from
No case is as curious, perhaps, and in part because it is an extreme a right result in one path or the other. ln the Gnosis, where we employ
case, than that of the authorship and manner of authorship of The inteIlect, we have at least the baIlast of reasoning; we can at least
Chemical Nuptials of Christian Rosencreutz. All evidence, littIe though compare one «result» with another, examine whether they be contra-
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I
dictory either each within itself, or one in respect of the other. We may
not reason weIl, but we do reason. If we 'go wrong it is because we go to the temptation of the World, the magician to the' temptation of the
wrong and not because we are wrong, as in the other two paths. It is Flesh, the gnostic to the temptation of the Devil.
, like adding up wrong, where the mistake is not in adding but in not
adding weIl; adding is, nevertheless, the right system to get a total. The World means the

This will be clear if we take simple, we might say current, examples There is scarcely a competent magician who does not falI a prey to
! things which reveal the weakness of the will. The terrible end of
II: of mysticism and of magico A simple case of mysticism is the common
type of intuition that is calIed «a hunch» in vulgar speech. A man has MacGregor Mathers, in sodden drunkenness, is a poignant case. He
a hunch that a certain number will have the first prize in a lottery. might perhaps control Abremalin's devils; he could not control his own.
Now and again the hunch comes out right, but we alI know that for (- be it lust, drink or dishonesty).
I every time it comes out right there are thousands it comes out wrong. (Esp. 54A-62)
If it were not so, a gambling club would not be the great business pro-
position it always is. ln this case, indeed, there is an easy way to check
the rightness of the hunch: the lottery, once drawn, will show. But
how is the mystic's hunch that he has attained unity with Christ to lnit. (Occ.)
be proved or disproved? He says he knows, he feels ... But the madman
who thinks himself Christ or the king of some country is as sure of It is difficult, of course, to understand what is meant by Union with
that as the mystic of his intuition. God, but some idea may be given of what it is intended to mean. If we
assume that, whatsoever may have been (apart from the falseness of
Take, again, a simple case of magic - spiritism. Spiritism is magic using a tense, which implies time) the manner of God's creation of the
because it is evocation of the spirits of the dead to this life. A séance world, the substance of that creation was the conversion by God of
is made, the spirit of the departed X is evoked, the voice of the me- His own consciousness into the plural consciousness of separate beings.
dium, the three-Iegged table or the planchette announces that it has The great cry of the Indian Deity, «Oh that I might be many!» gives
appeared. How do we know that it has? The communication of things the idea without the ideia of reality.
known only to one present may be a projection of the mind of that
one present. The communication of things known only to the dead Union with God means therefore the repetition by the Adept of the
man, and afterwards verified, may be a communication from some force, Divine Act of Creation, by which he is identical with God in act, or
or even spirit, other than the dead man's. And when the spirit gives manner of act, but, at the sarne time, an inversion of the Divine Act,
information of its present abode, by what method do we ascertain if by which he is still divided from God, or God's opposite, else he were
that information is right or wrong? I do not say that alI that emerges God Himself and no union were required.
in a séance or has emerged in séances is wrong; neither do I say that
it is right: I say that there is no means of knowing the origin of the The Adept, if he succeed in making his consciousness one with the
information thus received and where the information is concerning consciousness of alI things, in making it an unconsciousness (or
other worlds, or things otherwise unverifiable here, no means of knowing unselfconsciousness) which is conscious, repeats within himself the Di-
either its origin or its truth. vine Act, which is the conversion of God's individual consciousness into
(Esp. 54A-61) God's plural consciousness in individuals. But, at the sarne time, he
thus reaches back to the plurality God attained when making that
whole of which he is a part, and, in repeating God's Act, he is really
lnitiation inverting it, and, in inverting it, going back on the way to God, and
thus attaining union with God.
The first temptation to be conquered, that the Errors of the Path
be avoided, is the World. The second temptation to be conquered, that If we represent the whole scheme of this by two equilateral triangles
the Errors of the Inn be avoided, is the Flesh. The third temptation on the sarne base, each, so to speak, opposite to the other, we shalI
to be conquered, that the Errors of the Crypt be avoided, is the Devil. obtain a clear idea, or an idea as clear as possible, of the method of
The temptations are common to alI paths, but the mystic is most liable attainment. God, apex of the upper triangle, opens out into the base,
and the base narrows down into the cast-down apex of the lower triangle.
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1

From the apex of the lower triangle there is ascent into the base-line He will then proceed to abandon the system he has formed. He will
of both: thus the descent of God is repeated upwards, and, at the sarne have come to Iove it, but it is now for him to reflect, that it is not
time, there is ascent towards God. worth more than the other philosophic systems, which has compared
among themseIves, and, since he has established his own system, rejected.
Now this, whichever way it be considered, leads us to the peculiar
theory of three types of consciousness: the Divine Consciousness, the He will thus have traversed the four stages which are the temptation
World Consciousness, and the Individual Consciousness. ln the first of the World - Dogma, Concrete Intelligence or Science, Abstract In-
I identity is absolute, there being neither subject nor object. ln the second telligence or Philosophy, and Critical Intelligence.
the subject has made itself its own object, and, ,being infinite because
indivisibIe, becomes objectively infinite, that is infinite because infinitely Dogma, by which he is tied to others; Science, by which he is tied
divisible. ln the third the subject has made itself as object its own to Nature; Philosophy, by wich he is tied to the minds of others; his
subject, and has taken consciousness of itself, and therefore consciousness own philosophy, by which he is tied to himself. For the World is alI
, of itself in every infinitesimal element of that object. these. Once he has passed these four stages of the Neophyte stage, he
is ready for initiation. It lies then with him to choose on which path
The more each infinitesimal subject makes itself an object unto itself, he shalI make it - if on the mysticaI, the magicaI ar the gnostic path.
the more it approaches the first back-step to the Supreme Consciousness. It is juster to say the path on which he shall begin to make it, for the
From this it will eventualIy pass to annulling this, and going back to
full initiation in the Adept Stage includes alI three. ln the first Adept
the primaI stage of Divine consciousness.
(Esp. 54A-63) Grade he wilI take the one path he has chosen and complete his way
in it; in the second Adept Grade he will take one of the other two
paths; in the third Adept Grade he will take the one that remains.

lnitiation He has to conquer the three temptations which are under the FIesh
-Iusts, which are conquered by mysticism; indecisions, which are con-
How, then, is a man who seeks «initiation» to train himself for it? quered by magic; deIusions, which are conquered by the gnosis. He has
I! How, in other words, is he to take within himself the Neophyte Grades to conquer
of the Inner Order? He should begin by making himself acquainted
with philosophical systems and with such philosophy as emerges, right1y It will be said that this makes initiation 3. very difficult task. It makes
or wrongly, from the more recent acquisitions of science. Once thus it because so it is. Why should initiation be easy? It will be said that
grounded, he should reflect and compare, putting system against system, onIy a man of special intelligence can take the neophyte grades, since
theory against theory, and part of each system against other parts. He to be grounded in philosophy the capacity for abstract reasoning is
will thus develop his abstract intelligence, without which the intuition required, and not alI men possess it. But why should alI men be fit for
he seeks to deveIop will be no more than emotion. initiation? If it be said that that is unjust we may repIy, either that why
should the universe be just? which is perhaps a wrong, but is certainly
He should begin by stripping himself of alI dogmatic prejudices, of a sufficient, reply; or that the question is put on the assumption that
alI things that have been put into his mind by education and custom. there is no deveIopment in the world, otherwise that the man is ended
The path of initiation cannot be reached through the portaIs of any in one span of earthly life, and that it is possibIe that reincarnation
of the churches, but either through the portaIs of alI at the sarne time,
or by the portals of none. He should next make himself acquainted be true, when there is no injustice but onIy degrees, as in outer life
with religious systems of all kinds, with philosophic systems and ... ... (ut itself there are degrees in strength, beauty, intelligence and the like.
supra).
A man can at least yearn for initiatioo, and, if abstract iotelligence
He shouId then elaborate, as welI as he can, a system of his own, is the first stage in the path and he has oot abstract intelligence, he can
build up sIowIy, out of what he has Iearnt, and not necessarily writing at least yearn for it; it costs him as much, or as littIe to yearn for
it, a system, as coherent as he can make it, of the interpretation of intelligeoce as for initiatioo, aod he is really yearning for the sarne
the universe in the tripIe lines of truth, beauty and conduct. thing in the proper order when he yearns for intelligeoce.

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(The mystic without intelligence has not attained the first Adept Which with the Christians is rarely linked or fused with poetry as
Grade: he has no more than attained the intergrade between the Neo- it was with the pagans. (We will not understand the middle ages until
phyte and the Adept Grades, the blank purgatory of wrong ascent). we understand that theology was their poetry, that the lack of poetry
then was but the presence of poetry under another form).
(Esp. 54B-16)
: All religions, however, are in the sarne state as the great pagan re-
ligions. The three forms of religion will be found, one way or another,
lhe essay on INITIATION in all. ln the Christian religions, for instance, we have the public cult,
! be it highly ceremonial, as in the Roman Church, or poor to nakedness,
There were three reasons why, in the pagan religions,. certain truths, as in the extreme Protestant dissensions; we have the individual religion,
or things thought to be truths, were delivered. only l~ secrecy and meaning the personal reflection on the dogmas and formulae of faith,
apartness, by initiation. The first r~ason was. a socIal one:'lt was thought and this is theology where (with the pagans) it was rather poetry; and
that those certain truths were unflt for delivery to any man, unless he we have the inner life of the Christian, which is his initiation, for in
was in a certain measure prepared to receive, a~d that they would have the Christian religions initiation is considered as given by Christ alone
disastrous social effects if they were made publIc, for that would mean mystically, not by any priest or hierophant ritually or ceremonially.
that they would be misunderstood. «Etiamsi revelare destruer.e est. .. » ln other words - the exacter meaning of which will be understood
The second reason was a philosophic one: it was thought that, 10 them- later -, pagan initiation moved towards Magic, as all ritual initiations
selves, such truths were not of a kind that the common man cou!d do, Christian initiation moved towards Mysticism, as do all meditative
understand, and that mental confusion and therefore. unbalance. 10 initiations; it will also be seen later that there is a third type of initiation.
conduct would result from their being ~s~lessly co~uDlcated to hlm.
The third reason was, so to speak, a spmtual one: It was though~ that Whatever be the number of grades, outward or inward, in the scale
such truths, being truths of the inner life, should ~ot be ~om~umcated of ascent towards Truth, they may be considered as three - Neophyte,
but suggested, and that the sugge~ti011: should be ImpresslVe, It had. to Adept and Master. ln reality the grades are ten - four under Neophyte,
be girt round with secrecy, that It ml~ht be. felt to be valuable, wlth three under Adept and three (so to speak) under Master. There are
ritual, that it might impress and astoDlsh, wlth s~~bols, t~at the can- really five under Neophyte, but the first grade is not numbered. There
didate be forced to work out his own way, by stnvm~ to mterp~et !he are also two intergrades, falling between the first and second, and the
symbols, instead of thinking himsel! full o! knowl 7dge, If commuDlcahon second and third orders, and these are unnumbered too. The unnum-
had been ma de by dogmatic or philosophic teachlOg. bered grades are grades of probation whereas the others are, each
within its measure, grades of attainment.
I do not say that these three reasons stood c1~ar, eith~r severally or
together yet divided thus, in the minds.of the anc~ents, pnes~s or laymen The Neophyte, throughout the grades which this expression describes,
of their religions. But I do say th~t, If .n?t by dlre~t l.n~e~lgence, then is essential1y a learner; his way is towards the completion of knowledge
at least by intuition, they based thelr religlOns on this dlVlslOnal scheme. in the outer sphere. ln the Adept, throughout his three steps, there is
a progress ín the unifying of knowledge with life. ln the Master there is,
The religions of the ancients, and preeminently so the pagan ~eligions or is said to be, a destruction of the unity thus attained in virtue of
a higher unity.
of Greece and Rome, which are those that most concern US, SlOce our
minds are their children, were divided into three f0x:n?-s. There was a A comparison with simpler things will, I think, render this c1ear.
social form, the cultus, which was of the man as cIÍlzen. Ther~. was Let us suppose that the writing of great poetry is the end of initiation.
an individual form, the poetry, which was of the man as non-cIÍlzen; The Neophyte stage will be the acquisition of the cultural elements
the cultus duly fulfilled, he could interpret to himse~f the gods as he which the poet will have to deal with in writing poetry - being, grade
chose and elaborate their legends as he best thought flt. And there was by grade and in what seems to me to be an exact analogy: (O) grammar,
a secret form, initiation, which participated in secrecy of t~e. ~h~ract7- (1) general culture, (2) particular literary culture, (3)
ristics of both: it was individual, because (even when Imtlaho~ ~s The Adept stage will be, drawing out the analogy in the sarne manner:
collective, as it was in the great pagan ~ysteries) ~t is always .t~e. I~dl­ (4) the writing of simple lyrical poetry, as in a common lyric, (5) the
vi dual who is initiated and not the group; It was SOCIal, because lDltiahon writing of complex lyrical poetry, as in (7) the writing of ordered or
was communicated in ritual and ritual is social. philosophical lyrical poetry, as in the ode.

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I
The Master stage will be, in the sarne manner: (8) the writing of epic
poetry, (9) the writing of dramatic poetry, (lO) the fusing of all poetry,
lyric, epic and dramatic, into something beyond all these.

Three remarks will occur to the reader of this literary analogy. The
first is that one can be a poet without the Neophyte grades, an Adept
of the first Adept grade without even «taking» the first Neophyte one.
The second is that, the progression stated throughout does not corres-
pond to what usually happens in life, be it that of a poet or of any
other mano The third is that a fusing of all poetry, lyric, epic dramatic,
into something beyond all three is an attainment passing understanding.
íNDICE
I have made the reader make these remarks that I may, by replying
to them, complete the analogy with an explanation.
As to the first remark. The first Adept grade is indeed the first real Introdução 7
grade of real initiation. A simple mystic, who fuses his faith and his life, Fragmentos do Espólio 25
has attained to the beginning of real initiation, whereas the perfected L O Caminho da Serpente 27
neophyte, in whom faith (or knowledge) and life are still separate, has
not attained it. But if the spontaneous Adept has reached the Fifth 2. Subsolo ... .., ... . .. 37
Grade without having passed the first five (wich include the Zero grade) 3. Átrio ... '" ." .. . . .. 49
he will be kept standing for a long time at the entry of the Middle
4. Ensaio sobre a Iniciação: versão portuguesa seguida do original inglês ... 59
Chamber, where the first grade of adeptship may conveniently be said
to be «placed». To pass to the Sixth Grade he will have to come back,
in a sense, to the beginning.

(Esp. 54B-17/18)

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1 em 1985
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