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anos depois para o Brasil. Aqui, formou-se em Filosofia na Universidade de São Paulo
(USP) e deu início a sua produção literária a partir livro Rosa dos Tempos – de 1980,
seguido de O Que é Poesia? dentro da coleção Primeiros Passos, dois anos após.
Nesta referida obra – “O que é poesia?” – Paixão debate a importância da poesia enquanto
entidade ativa no tecido social e como se dá, de fato, essa relação entre linguagem e
sociedade, bem como a função do tempo e o ritmo da poesia.
Em primeira análise, o poeta parte do pressuposto emocional que vem, em seguida, guiar
a discussão, ao afirmar que a poesia age como um fogo rápido que esquenta a frieza do
dia-a-dia e desvenda fatos reais através de uma lente especial: a sensibilidade. Ou seja, a
partir da marca pessoal e intrasferível do autor é tecida a poesia como um todo e, diante
da realidade vivida pelo leitor a essência do poema é captada.
Para embasar seu argumento, Paixão discute a famigerada frase “Eu te amo”, tão
desgastada, mas que ao ser reelaborada e reinventada por cada pessoa, traz consigo um
significado único e particular. Logo, para o ensaísta, a poesia é aquilo que vem do
sentimento, que acontece devido a alguma experiência captada e sintetizada pelo poeta.
Diante disso, pode-se perceber que a poesia se qualifica principalmente pelo uso criativo
e inovador que se faz das palavras, expressando a subjetividade.
Antigamente, a linguagem possuía um caráter poético, desfrutado pelo coletivo por meio
dos rituais e cerimônias, mas com a divisão dos homens em classes sociais coagiu a poesia
a limitar-se ao domínio dos poetas. A linguagem deixou de ser expressão coletiva de
autenticidade para tornar-se instrumento de dominação do homem sobre o homem. Em
virtude dessa problemática, passou a sobressair na sociedade a linguagem prática usada
na política em função de resultados econômicos e sociais, enquanto o valor da linguagem
poética foi esvaindo-se e tomando um lugar de privilégio onde poucos têm acesso.
Diante disso, Paixão apresenta a seguir o que ele entende como sendo um grande impasse
da sociedade atual, que é entender a poesia contemporânea. Tal problemática dá-se pelo
fato das pessoas lerem poemas como se lê um jornal ou como se estuda um livro didático.
Esses materiais impressos lidos por uma grande parcela da sociedade são como maneiras
de dominação, onde comumente é ditado o que deve ou não deve ser feito. Com o seu
desânimo mental, adaptadas às normas recebidas pelos ditadores acerca das trilhas do
caminhar, os indivíduos assustam-se ao notar que a poesia fala sobre o incerto e usa
expressões de subjetividade. Aterrorizam-se de verem que a poesia não conduz a um
aprendizado direto e imediato, mas estimula o uso das faculdades do pensar, além de
estimular o senso crítico do ser que, em tese, deveria ser pensante e fazer da subjetividade
a sua alavanca em busca de benefícios.
O autor expõe, de forma prática, quatro tempos que se encontram no momento do poema,
apresentando a sua concepção no tempo. Paixão nos fala sobre o tempo histórico-social
vigente na situação ideológica do poema; o tempo pessoal do indivíduo do poeta, com
suas próprias experiências, existências e a sua vivência na linguagem durante anos; o
tempo das imagens que aparecem intrínsecas no poema, onde aos poucos são revelados
que o poeta tem um universo simbólico e, por fim o tempo rítmico da frase, em que o
leitor é incentivado a um movimento imaginário no pensamento.
Fazendo aplicação da subjetividade, o poeta determina uma ponte entre ele, com seu
universo simbólico e o real. Percebe-se então que todos os tempos, através do uso das
tendências emocionais, passam a se relacionar simultaneamente dentro da realidade,
viabilizando assim que o poeta faça a associação dos quatro tempos, sintetizados por meio
do tempo poético, apresentando no tema central do poema a ligação desses tempos
determinantes.
Paixão finaliza o livro afirmando que o ser poético – bem como o fazer – não equivale
somente a ter sabedoria para procurar palavras e organizar estruturalmente os versos, mas
principalmente saber britar e jardinar fatos no mundo da vida: solidariedade, diferenças,
amor, ou seja, uma capacidade que esteja ao alcance de todos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS