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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO – UFPE

CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO – CAC


MARIANA VIEIRA DE ARAÚJO
1º PERÍODO – MATRÍCULA: 20098461

Fernando Paixão, poeta e professor, nasceu em Portugal, em 1955, vindo a transferir-se


6 anos depois para o Brasil. Aqui, formou-se em Filosofia na Universidade de São
Paulo (USP) e deu início a sua produção literária a partir livro Rosa dos Tempos – de
1980, seguido de O Que é Poesia? dentro da coleção Primeiros Passos, dois anos após.

Nesta referida obra – “O que é poesia?” – Paixão debate a importância da poesia


enquanto entidade ativa no tecido social e como se dá, de fato, essa relação entre
linguagem e sociedade, bem como a função do tempo e o ritmo da poesia.

Em primeira análise, o poeta parte do pressuposto emocional que vem, em seguida,


guiar a discussão, ao afirmar que a poesia age como um fogo rápido que esquenta a
frieza do dia-a-dia e desvenda fatos reais através de uma lente especial: a sensibilidade.
Ou seja, a partir da marca pessoal e intrasferível do autor é tecida a poesia como um
todo e, diante da realidade vivida pelo leitor a essência do poema é captada.

Para embasar seu argumento, Paixão discute a famigerada frase “Eu te amo”, tão
desgastada, mas que ao ser reelaborada e reinventada por cada pessoa, traz consigo um
significado único e particular. Logo, para o ensaísta, a poesia é aquilo que vem do
sentimento, que acontece devido a alguma experiência captada e sintetizada pelo poeta.

As palavras são a união de letras sensíveis, assim começa o capítulo denominado


“Linguagem tem preço”; nele, Fernando faz uma análise efetiva acerca das palavras que
compõem um poema, afirmando assim, que mesmo sendo carregadas por letras visíveis
não possui conteúdo concreto, embora abram espaço para a imaginação. Palavras são
usadas nas mais diversas ocasiões assumindo diferentes significações como forma de
conhecer e intervir sobre a realidade.

Apesar de conhecer as palavras com maestria, o poeta – segundo Paixão – é


imprevisível para com elas, pois pode escrever laudas lamentando um acontecido ou
declarar seus pêsames em apenas duas linhas. O que é relevante para o poeta são seus
sentimentos que demonstram a sua visão de mundo, e ele fará isso refazendo o
significado das palavras, retirando-as do seu cotidiano e colocando-as em um contexto
diferente e, portanto, não usual.

Diante disso, pode-se perceber que a poesia se qualifica principalmente pelo uso
criativo e inovador que se faz das palavras, expressando a subjetividade.

Antigamente, a linguagem possuía um caráter poético, desfrutado pelo coletivo por


meio dos rituais e cerimônias, mas com a divisão dos homens em classes sociais coagiu
a poesia a limitar-se ao domínio dos poetas. A linguagem deixou de ser expressão
coletiva de autenticidade para tornar-se instrumento de dominação do homem sobre o
homem. Em virtude dessa problemática, passou a sobressair na sociedade a linguagem
prática usada na política em função de resultados econômicos e sociais, enquanto o
valor da linguagem poética foi esvaindo-se e tomando um lugar de privilégio onde
poucos têm acesso.

Diante disso, Paixão apresenta a seguir o que ele entende como sendo um grande
impasse da sociedade atual, que é entender a poesia contemporânea. Tal problemática
dá-se pelo fato das pessoas lerem poemas como se lê um jornal ou como se estuda um
livro didático. Esses materiais impressos lidos por uma grande parcela da sociedade são
como maneiras de dominação, onde comumente é ditado o que deve ou não deve ser
feito. Com o seu desânimo mental, adaptadas às normas recebidas pelos ditadores
acerca das trilhas do caminhar, os indivíduos assustam-se ao notar que a poesia fala
sobre o incerto e usa expressões de subjetividade. Aterrorizam-se de verem que a poesia
não conduz a um aprendizado direto e imediato, mas estimula o uso das faculdades do
pensar, além de estimular o senso crítico do ser que, em tese, deveria ser pensante e
fazer da subjetividade a sua alavanca em busca de benefícios.

Como já mencionado, o grande motivador de tal problemática é o inacesso as poesias,


estando disponível a uma pequena parcela dominante, tendendo à formação do quadro
social poético que Fernando Paixão nos apresenta.

O autor expõe, de forma prática, quatro tempos que se encontram no momento do


poema, apresentando a sua concepção no tempo. Paixão nos fala sobre o tempo
histórico-social vigente na situação ideológica do poema; o tempo pessoal do indivíduo
do poeta, com suas próprias experiências, existências e a sua vivência na linguagem
durante anos; o tempo das imagens que aparecem intrínsecas no poema, onde aos
poucos são revelados que o poeta tem um universo simbólico e, por fim o tempo rítmico
da frase, em que o leitor é incentivado a um movimento imaginário no pensamento.

Fazendo aplicação da subjetividade, o poeta determina uma ponte entre ele, com seu
universo simbólico e o real. Percebe-se então que todos os tempos, através do uso das
tendências emocionais, passam a se relacionar simultaneamente dentro da realidade,
viabilizando assim que o poeta faça a associação dos quatro tempos, sintetizados por
meio do tempo poético, apresentando no tema central do poema a ligação desses tempos
determinantes.

No último capítulo, o papel do devaneio também é levantado pelo autor permitindo ao


poeta o livre passeio entre as ideias e as coisas da realidade, sem uma pré-organização e
sem uma ordem temporal fixa.

Paixão finaliza o livro afirmando que o ser poético – bem como o fazer – não equivale
somente a ter sabedoria para procurar palavras e organizar estruturalmente os versos,
mas principalmente saber britar e jardinar fatos no mundo da vida: solidariedade,
diferenças, amor, ou seja, uma capacidade que esteja ao alcance de todos.

Dessa forma, é compreensível a visão de Fernando Paixão a respeito da definição de


poesia: verso que desfruta da criatividade e inovação no jogo das palavras, resultando
no processo de subjetividade que provoca comoção no leitor conforme suas vivências.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PAIXÃO, Fernando. O que é poesia. São Paulo: Brasiliense, 1982.

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