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ARCADISMO

NEOCLASSICISMO
(XVIII)
• O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo,
caracteriza-se pela busca de restauração dos ideais de
sobriedade e equilíbrio da Antiguidade Clássica em
contraposição aos excessos do período anterior, o Barroco.
• Busca da simplicidade e da clareza, da harmonia e
equilíbrio com a natureza
• O nome "Arcádia“, região montanhosa da Grécia Antiga
que, segundo a mitologia, era habitada por poetas e
pastores. Assim, representa a perfeita comunhão entre
homem e natureza, daí o Arcadismo ter como tema
privilegiado o bucolismo, em que a natureza é vista como
refúgio último das noções de verdade e beleza.
• No Brasil, os poetas que melhor representam o movimento
são Tomás Antônio Gonzaga (autor de Marília de Dirceu) e
Cláudio Manuel da Costa. Ambos participaram da
Inconfidência Mineira, movimento político que visava a
emancipação do Brasil em relação a Portugal.
• Marco inicial do Arcadismo no Brasil: publicação de Obras
Poéticas,1768, de Cláudio Manuel da Costa e a fundação
da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica.
CONTEXTO HISTÓRICO

• Século XVIII – manifesta o cansaço do


Barroco (arte ligada à Contrarreforma e à
aristocracia decadente).
• Rebuscamento Barroco agora beirava o
mau gosto.
• Burguesia se cansa de sustentar luxo da
nobreza (que exercia papel puramente
decorativo na sociedade).
• Donos do dinheiro e já muito instruídos,
burgueses lutam para ocupar espaço na
sociedade e nas artes.
CONTEXTO HISTÓRICO

• Fé, religião, dúvida, negação da carne são substituídos


pela crença no valor da ciência (o exercício da razão
leva ao progresso de todas as verdades).
• Os colégios da Companhia de Jesus foram fechados.
• O Marquês de Pombal (ministro de D. José I -1750 a
1777) -, déspota* esclarecido, expulsa os jesuítas das
cátedras e os manda para os cárceres. Promove uma
reforma no ensino, desligando-o da influência jesuítica
(laicização* do ensino).
• Portugal vivia, novamente, grande período de
prosperidade, gerada pelo afluxo do ouro do Brasil e
pelas ideias iluministas (Rousseau valoriza o contato
com a natureza).
• O desenvolvimento do comércio e da indústria,
principalmente na França e na Inglaterra, transformara
as cidades em locais desagradáveis, agitados, sujos e
poluídos.
• Essa desenfreada urbanização despertou nos poetas
uma nostalgia pela vida campestre.
*Déspota - qualificação dada à pessoa que governa de forma arbitrária ou opressora.
* Laicizar - separar-se da religião
CONTEXTO HISTÓRICO

Base do Arcadismo: quadro geral da cultura


européia:
• Novos pensadores: Rousseau, Montesquieu,
Diderot;
• A edição da Enciclopédia (1751-80);
• A Revolução Francesa (1789);
• A Revolução Industrial na Inglaterra;
• A fundação das Arcádias ou Academias
Neoclássicas;
• O despotismo esclarecido;
• A independência dos Estados Unidos;
• A conjuração mineira (1789), que NÃO coincide
com a época de Pombal, e sim de D. Maria I
(1777), a qual anulou muitas medidas de
Pombal e permitiu que a aristocracia retomasse
a força.
Características
• Volta aos modelos clássicos:
- Racionalismo - Visão racional
- Objetividade (predomínio do que é observado)
- Lirismo controlado pela razão (há emoção, mas
moderada); comedimento
- Fantasia e imaginação são deixados em
segundo plano
- Submissão às regras e modelos (soneto; écloga,
que é um poema pastoril);
- Ordem direta
- Verso branco (sem rimas)
- Arte como imitação do real (mímesis)
Uso das convenções clássicas (neoclassicismo)
Volta à Antiguidade Greco-romana:

• Inutilia truncat – cortar o que é inútil (eliminar o


rebuscamento do barroco – linguagem rebuscada,
excessiva).
• Carpe diem – colha o dia (como no barroco); postura
voltada para o gozo dos prazeres; vida é fugaz.
• Fugere urbem* – fugir da cidade
• Locus amoenus – lugar ameno, agradável; valorização
da natureza, busca pelo campo, bucolismo;
• Áurea mediocritas – mediocridade áurea - simboliza a
valorização das coisas cotidianas focalizadas pela razão
e desprezo pelo exagero; busca o essencial para se
viver bem.
• Na verdade, a fuga da cidade é simbólica, cujo objetivo é apresentar uma solução às
tranformações urbanas.
Uso de pseudônimos
• Fingimento poético, pseudônimos
pastoris. Para melhor incorporarem essa
atmosfera pastoril, dando maior
verossimilhança aos ambientes
retratados, os pastores árcades, que
nunca foram pastores, assumem uma
identidade poética.
• Tomás Antônio Gonzaga era o poeta
Dirceu e Cláudio Manuel da Costa, o
guardador de rebanhos Glauceste
Satúrnio.
Principais autores

Cláudio Manuel da Costa (Vila do Ribeirão do Carmo (Mariana) –


1729, Vila Rica, 1789); pseudônimo de Glauceste Satúrnio
(pedra, penhascos, penhas, rochas – símbolo de algo eterno,
frio; serve de contraste a uma alma terna; mostra o
enraizamento na terra natal).

Destes penhascos fez a natureza


O berço, em que nasci! oh quem cuidara,
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigre por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mais se apura
Tomás Antônio Gonzaga (Porto,1744 — Ilha de
Moçambique, 1810), cujo nome arcádico é Dirceu. A
poesia de Tomás Antonio Gonzaga apresenta as típicas
características árcades ou neoclássicas: o pastoril, o
bucólico, a Natureza amena, o equilíbrio etc.
Paralelamente, possui características pré-românticas
(principalmente na segunda parte de Marília de Dirceu,
escrita na prisão): confissões de sentimento pessoal;
ênfase emotiva, estranha aos padrões do
neoclassicismo.

• Cartas chilenas – usa recursos para driblar a censura da


época. Obra traz críticas sobre fatos ocorridos em Vila
Rica. São 13 poemas satíricos com estrutura de carta
(epístolas) escritos por Critrilo (pseudônimo do autor por
muito tempo obscuro) escritas a Doroteu (Cláudio M. da
Costa). Os desmandos, atos corruptos, nepotismo,
abusos de poder, falta de conhecimento e tantos outros
erros administrativos, jurídicos e morais são relatados
em versos decassílabos do "Fanfarrão Minésio" (o
governador de Minas Gerais, Luís Cunha Menezes) no
governo do "Chile" (a cidade de Vila Rica).
• Marília de Dirceu – Poema lírico-amoroso dividido em três partes. A
primeira de suas três partes é dividida em 33 liras.
• Nela, o autor canta a beleza de sua "pastora" Marília (na verdade, Maria
Dorotéia Joaquina de Seixas). Descreve sempre apenas sua beleza
(que compara à de Afrodite) e usa de várias figuras mitológicas. O autor
também se dirige a seus amigos "Glauceste" e "Alceu" (Cláudio Manuel
da Costa e Alvarenga Peixoto), seus "colegas pastores". O bucolismo
nesta parte da obra é extremo, com referências permanentes ao campo
e à vida pastoril idealizada pelos árcades.

• A segunda parte é dividida em 37 liras e foi escrita na prisão, após


1789. Nela o bucolismo é diminuído, mas a adoração a Marília continua,
apesar de tratar mais de Dirceu do que da pastora. Nesta parte, existe a
angústia da separação e o sentimento de ter sido injuriado, o que
aumenta a declarada paixão pela amada. Aparece também a angústia
da separação que sofreu de seu amigo "Glauceste" (em regime de
incomunicabilidade, não sabia do suicídio de Cláudio Manuel da Costa.).
O tom confessional, o sentimentalismo e o pessimismo (em alguns
momentos) são considerados traços pré-românticos.

• A terceira parte não possui apenas suas 8 liras; tem também sonetos e
outras formas de poesia. Mas apenas as 8 liras possuem referências a
Marília e quando elas acabam, começam a aparecer outras poesias de
"Dirceu".
1 “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
2  que viva de guardar alheio gado,
3  de tosco trato, de expressões grosseiro,
4 dos frios gelos e dos sóis queimado.
5  Tenho próprio casal e nele assisto;
6 dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
7  das brancas ovelhinhas tiro o leite
8 e mais as finas lãs, de que me visto.
9 Graças, Mar flua bela,
10  graças à minha estrela!

11 Eu vi o meu semblante numa fonte:


12    dos anos inda não está cortado;
13    Os pastores que habitam este monte
14 respeitam o poder do meu cajado.
15    Com tal destreza toco a sanfoninha,
16    que inveja até me tem o próprio Alceste:
17    ao som dela concerto a voz celeste,
18    nem canto letra que não seja minha.
19 graças, Marília bela,
20   graças à minha estrela!”
• Pastoralismo — bucolismo: na exaltação da vida
pastoril, campestre; no entendimento de que a felicidade
e a beleza decorrem da vida no campo.Observe estas
palavras: “vaqueiro", “gado”, “ovelhinhas”, “fonte",
“pastores”, “monte”, “cajado”.
• Autovalorização- muitas vezes, Dirceu dirige-se a
Marília como se estivesse dialogando com ela, mas, na
realidade, fala o tempo todo de si, parecendo mais
encantado com seu canto do que com seu amor. -
narcisismo, exaltação da sensibilidade artística; versos
15 e 16.
• Otimismo — no estribilho, o poeta manifesta-se
satisfeito com o próprio destino: “Graças, Marília bela, /
Graças à minha estrela”
• Ideal burguês de vida (cai em contradição quanto a
sua postura de pastor): na afirmação da condição de
proprietário, no orgulho pela posse da terra (versos de 5
a 8), apóia-se o poeta para expressar a consciência de
superioridade sobre “o vaqueiro que viva de guardar
alheio gado”, que o poeta deprecia (versos 3 e 4).
Observa-se esse ideal também no verso 19.
Manuel Maria du Bocage

• Pseudônimo pastoril – Elmano Sadino: anagrama de Manuel/ rio


Sade (Setúbal). Musa: Gertrúria (Gertrudes)
• Adotou o Arcadismo apenas per postura, pois, de fato, foi um poeta
pré-romântico.
• Foi árcade no apuro formal.
• Debate-se entre a razão e o sentimento:

“Razão, de que me serve o teu sorriso?


Mandas-me amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue, eu penso, eu morro.”

• Poesia confessional, sofrimento profundo, de abandono; formas


macabras, busca da morte como solução dos problemas, tom
noturno. (características românticas)

“Ah!, Não me roubou tudo a negra sorte:


Inda tenho este abrigo, ainda me resta
O pranto, a queixa, a solidão e a morte.”
• Como poeta satírico, ironizava do clero à aristocracia decadente.
• José Basílio da Gama (1741-1795)
• Poeta mineiro, estudou com os Jesuítas no RJ. Em Roma e
ingressou na Arcádia Romana, adotando o pseudônimo de
Termindo Sipílio. Escapou de acusações de jesuitismo e do
dregredo em Angola, escrevendo elogios ao casamento da filha do
Marquês de Pombal. Escreveu, em 1769, O Uraguai, sendo a
segunda passagem uma das mais famosas de sua obra: a morte de
Lindóia.
• O Uraguay, 1769
• Inovação no tema contemporâneo para um poema épico: exaltar o
Marquês de Pombal e sua política, e criticar os jesuítas. No poema
é narrada, apesar de ainda exaltar a natureza (que não chega a ser
bucólica) e o bom selvagem (instigados pelos jesuítas espanhóis), a
luta de portugueses e espanhóis contra os índios dos Sete Povos
das Missões. No drama principal, além dos personagens jesuítas
caricaturizados e do herói português que comandou a tomada, os
índios Sepé (o famoso Sepé Tiaraju), Cacambo e Lindóia. Sepé
morre logo no começo e depois o também guerreiro Cacambo
morre. Lindóia, que era sua esposa, fica extremamente deprimida e
deixa que uma cobra a pique.
• Manifestações próximas ao Romantismo (valorização da natureza,
nativismo, índio): Caramuru (Sta Rita Durão) e Uruguay (Basílio da
Gama)
• Slide 1: O pintor francês Watteau é o
grande intérprete do refinamento das
elites francesas do século XVIII, antes da
Revolução. Festas galantes, cenas
campestres e referências pastoris
constituem o seu universo temático, a
exemplo dos textos do Arcadismo
Exercício 1

Texto 1 – “Discreta e formosíssima Maria”- Gregório de Matos


Goza, goza da flor da mocidade
Que o tempo trata a toda a ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.
Oh não aguardes que a madura idade ( VIDA É CURTA; BREVE)
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada

Texto 2 – Marília de Dirceu, Lira XVI - Tomás Antônio Gonzaga


Que havemos de esperar, Marília bela?
Que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;( VIVER ENQUANTO A
VELHICE NÃO CHEGA; VIDA EFÊMERA)
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
O estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça.

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