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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

AS FRATURAS EXPOSTAS DO BRASIL:


O PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DO VALE DO RIO DOCE PELA
MINERAÇÃO E O CASO DO DESASTRE DE MARIANA.

WILSON CRISTIANO GERLACH

FLORIANÓPOLIS (SC)
2016
WILSON CRISTIANO GERLACH

AS FRATURAS EXPOSTAS DO BRASIL.


O PROCESSO HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DO VALE DO RIO DOCE PELA
MINERAÇÃO E O CASO DO DESASTRE DE MARIANA.

Trabalho de Conclusão de Curso submetido à


Universidade Federal de Santa Catarina como parte dos
requisitos necessários para a obtenção do Grau de
Bacharel em História. Orientador: Professor Doutor
João Klug.

FLORIANÓPOLIS (SC)
2016
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

Quantas toneladas exportamos


De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Carlos Drummond de Andrade


Este trabalho é dedicado à minha mãe, Hilda Reginatto dos Santos Gerlach.
ÍNDICE DE FIGURAS:

Figura 1. Distrito de Bento Rodrigues submerso pelos rejeitos ………………..…………. p. 9


Figura 2. Casa de Câmara, cadeira e Igreja no centro de Mariana... ...……..……...…… p. 20
Figura 3. Minerioduto da Samarco ...……………………………….………………….………. p. 28
Figura 4. Barragem de rejeitos...………………………………………………………...……... p. 29
Figura 5. Localização da bacia hidrográfica do rio Doce..…………………..………..…… p. 35
Figura 6. Imagem aérea do complexo do Germano…….……………………………..…...... p. 44
Figura 7. Imagem dos distritos abastecidos pela bacia do rio Doce ……….………...….. p. 46
Figura 8. Peixes mortos boiando no rio de lama ……………….....……...…………...…… p. 49
GLOSSÁRIO DE SIGLAS:

ANA…………………………......…………………..………….………..Agência Nacional das Águas


APP …………………………………………….………….…………...Área de Proteção Permanente
As……………………………………………….………..…....……...…………………………...Arsênio
BDA…………………...……………………….……..…………..Banco Desenvolvimento Ambiental
CBH ………………...………………………….….………………...Comitê de Bacias Hidrográficas
CETEC……………..…………………………..….Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais
DNPM.....…………..………….……………..……..Departamento Nacional de Produção Mineral
EMOP……………...…………………………..……………………..Escola de Minas de Ouro Preto
FEAM……………………………………….………………..Fundação Estadual do Meio Ambiente
FUNASA………………...…………………..………………………….Fundação Nacional de Saúde
IBAMA……………..……..……….... Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
IBGE……………………..…..……………………...Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH ……………………….………….………………………... Índice de Desenvolvimento Humano
MAB……………………...…..…………………………..Movimento dos Atingidos por Barragens
MG………………………….…….………………………………………………………...Minas Gerais
OMS………………….……………………..…………..…………….Organização Mundial de Saúde
PIRH………………….………………………………………Plano Integrado de Recursos Hídricos
PNDC……………..……………………….……………………....Política Nacional de Defesa Civíl
QF ………………………………….………..………………………………….Quadrilátero Ferrífero
SEDRU………………….……..……………….Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano
SEMAD………...…......Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SGMB ……...……………………….………………. Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro
SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO…………………………………………………………….………..…..…..11

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS………………………………………………………..…15

CAPÍTULO 1: O rio Doce e a mineração através dos séculos.

1.1 A mineração no período colonial. A época de ouro..................…..................…..……..22

1.2 O período Imperial. A Escola de Minas de Ouro Preto:…………........……….…......27

1.3 A pesquisa geológica no Brasil: O momento Estocolmo........……….……….……......28

1.4 A mineração na atualidade. A Vale do rio Doce a Samarco e a exploração do minério


de ferro………..……………………………………………………………………………..32

CAPÍTULO 2: Uma análise de caso: O Desastre de Mariana.

2.1 Características da bacia hidrográfica do rio Doce………….………..……..………...38

2.2 O Quadrilátero Ferrífero. A qualidade da água na região de atividade


mineradora…………………………………………………………………….……………42

2.3 O relatório de análise do Desastre socioambiental de Mariana. Um atestado de


óbito……………………………………………………………………………………..…...44

CONSIDERAÇÕES FINAIS……..……………………………….……….……….….…..58

FONTES E BIBLIOGRAFIA………….………..……………..……………...……...…....61
RESUMO

Este trabalho monográfico busca analisar o Desastre de Mariana pelo viés da História
Ambiental, mensurando os impactos ambientais da atividade mineradora ao longo da história
do vale do rio Doce, com o objetivo de compreender por quê considerar o rompimento da
barragem de Mariana não uma catástrofe instantânea, e sim a consequência do atual modelo
minerador para o meio ambiente. Um dos objetivos deste trabalho é problematizar, através da
análise histórica, o desenvolvimento da atividade mineradora e as consequências das técnicas
aplicadas na atividade que é chamada extrativista, mas que tem caráter verdadeiramente
predatório, pois, não se trata apenas de extrair os recursos necessários, mas sim de quantificar
todo o potencial exploratório dos chamados recursos naturais, até seu esgotamento. A questão
central na abordagem deste trabalho, com base teórica nos pressupostos conceituais da
História Ambiental, é como dimensionar os impactos de um evento da proporção do ocorrido
em Mariana-MG no dia 5 de novembro de 2015. Para tanto será lançado mão a análise crítica
de um relatório de impactos encomendado pelo governo do estado de Minas Gerais, e um
laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis – Ibama, através de análise objetiva e subjetiva dos principais pontos que tangem
a questão ambiental.

Palavra-chave: História Ambiental – Mineração – Desastre de Mariana.


11
INTRODUÇÃO

No dia 5 novembro de 2015 em Minas Gerais, próximo à cidade de Mariana, o rio


Doce, considerado uma das principais bacias hidrográficas do Brasil, foi inundado por um
mar de rejeitos de mineração provenientes de uma barragem que se rompeu em uma mina de
exploração de minério de ferro. O fato ganhou repercussão imediata e ficou conhecido como o
“Desastre de Mariana”. As imagens da destruição provocada pela força da lama que devastou
localidades, vidas humanas, causaram tremenda comoção internacional. Umas das imagens
que tiveram maior divulgação foi a imagem abaixo: (Figura 1. Distrito de Bento Rodrigues
submerso pelos rejeitos).

Fonte: http://www.jspecas.com.br/blog/desastre-ambiental-em- mariana-mg. Acesso em


19/11/2016.

Apesar de haver registros anteriores deste tipo de ocorrência na região do vale do rio
Doce1, nenhum teve tal amplitude. E, dos casos que já ocorreram em nível mundial 2, este foi o
maior. Além do perigo eminente que representam as barragens, o fato nos põe a refletir qual o
impacto real do modelo energético atual? a que interesses serve? a quem se destina? e de que
maneira a ação humana interfere nos processos naturais que asseguram as condições

1O mais recente antes de Mariana foi no dia 10 de setembro de 2014, quando ocorreu o rompimento da
Barragem de contenção de rejeitosda Mineração Herculano, no município de Itabirito/MG, deixando três vitmas
fatais além de muita destruição. A descrição detalhada da ocorrência pode ser encontrada no Inventário de
barragem do Estado de Minas Gerais / Fundação Estadual do Meio Ambiente. --- Belo Horizonte: FEAM, 2014.
2Cf. BROWN, David. et al.Desastres mais devastadores de todos os tempos. Trad. Catharina Pinheiro. 1ª edição
brasileira. São Paulo: Editora Lafonte, 2012. 501 p.
paramanutenção da vida na terra? Estas questões extrapolam os conhecimentos históricos,
porém, são de fundamental importância quando o assunto é História Ambiental.
13
O objetivo geral deste trabalho é refletir a relação que existe entre a atividade humana e a
degradação ambiental através da análise do histórico de ocupação e desenvolvimento da
atividade mineradora no vale do rio Doce, mais especificamente na região do Médio Vale ou
Vale do Aço, em um estudo que evidencie o processo gradual de extinção do rio, busca
demonstrar como é nociva a atividade mineradora a curto, médio e longo prazo. A proposta é
ir além das conceituações que compreendem os elementos naturais enquanto recursos
naturais, ou seja, como se estivessem ali à disposição do homem.
Analisar um desastre socioambiental como o ocorrido em Mariana, onde se registrou a
morte de um rio, sob a perspectiva da História Ambiental, é localizar no tempo e no espaço
uma prática predatória com consequências negativas em diversos níveis. Para tanto,
iniciaremos pela construção de uma narrativa histórica, a partir de uma bibliografia que tange
os registros da ocupação da região do médio rio Doce através dos séculos a partir da
descoberta de metais preciosos na região.
Compreendemos também no capítulo inicial o processo de desenvolvimento da
pesquisa geológica aplicada e a inserção das jazidas minerais brasileiras num contexto
internacional de exploração, e chegando ao modelo atual de mineração, responsável pela
hecatombe ocorrida no vale do rio Doce.
A segunda parte deste trabalho se dedica inicialmente a um estudo transdisciplinar
sobre as características da região, será realizada uma análise criteriosa do relatório de
impactos ambientais do rompimento da barragem encomendado pelo governo do estado de
Minas Gerais3.
As reflexões serão baseadas na compreensão dos conceitos que envolvem a temática,
dentre os quais as noções da História Ambiental sobre recursos naturais, território, fronteira e
natureza, desastre, risco e vulnerabilidade, tem importância destacada.
Já em relação à análise documental, nos apoiaremos no conceito de documento-
monumento apontado por Jacques Le Goff, que compreende que:

"[...] A intervenção do historiador escolhe o documento,


extraindo-o do conjunto dos dados do passado, preferindo-o a
outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho que, pelo menos
em parte, depende da sua própria posição na sociedade da sua
época e da sua organização mental, insere-se numa situação
inicial que é ainda menos "neutra" do que a sua intervenção. 4

3Relatório: Avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento da Barragem de Fundão em Mariana-MG


Responsável: Grupo da Força-Tarefa Decreto nº 46.892/2015 Belo Horizonte Fevereiro de 2016.
4LE GOFF, Jacques. Documento/Monumeno. História e Memória. 5. ed. Campinas: UNICAMP, 2003. p. 538.
14

Ou seja, a escolha do documento infere diretamente nos resultados das análises


obtidas. No caso em questão, o objetivo se encaixa na abordagem de LeGoff, pois, a proposta
é desconstruir a falsa noção de veracidade imposta pelo documento considerado verdadeiro
por se tratar de um documento “oficial”.
Assim, através de uma análise com base nas linhas teóricas e conceituações da área da
História Ambiental, lançaremos mão de outras fontes de informação a fim de contrastar as
informações contidas no documento com outras perspectivas, e evidenciar assim a posição
ideológica que sustenta o ponto de vista. Mesmo partindo dos registros documentais e
buscando na historiografia disponível, essencialmente econômica e política, a compreensão
estará sempre direcionada para o lócus ambiental.
Para tanto, lançaremos mão de análises hidrográficas com o fim de dimensionar o
impacto dos duzentos anos de mineração do ouro, fenômeno que ocasionou uma explosão
demográfica na região no período colonial, somados aos cem anos de extração do ferro, e as
alterações nas técnicas de extrativismo, que resultaram no colapso do rio enquanto
ecossistema.
15
CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Apesar de o rio Doce figurar com importância central no quadro historiográfico em


relação à história econômica do Brasil, o que se nota nos textos é a ausência de uma
perspectiva ambiental, que relativizasse questões como o impacto socioambiental provocado
pela mineração do ouro, no período colonial, bem como da produção agrícola de subsistência
ou da derrubada de árvores para a utilização da madeira nas fundições coloniais da região.
A análise social de viés econômico organizou o pensamento histórico ao longo do
século XX e atualmente é mais um paradigma a ser transposto no movimento de produção de
novos sentidos para o quadro em questão. Alguns trabalhos recentes demonstram esse
fenômeno quando abordam a história da mineração enquanto atividade econômica, mas que,
porém, relativiza os elementos envolvidos, dispondo-os em uma nova ordem de hierarquia
conceitual..
Entre os séculos XIX e XX a disciplina História tinha características que refletiam o
momento de unificação dos Estados Nacionais, interrogando e questionando assuntos que
mantinham ligação direta com a formação de uma identidade nacional, ou melhor dizendo, de
uma identificação com a trajetória de montagem do aparato político, econômico e legal da
instituição que se consolidava. “Esperava-se que o historiador investigasse os conchavos de
presidentes e primeiros-ministros, a tramitação de leis, as lutas entre os tribunais e os corpos
legislativos e as negociações dos diplomatas”5 nas palavras de Donald Worster6, cujo trabalho
consolidado na área é referência “Para fazer História Ambiental”7, levanta importantes
considerações sobre as transformações da pesquisa no campo.
A questão das mudanças de perspectiva teóricas e metodológicas, descritas por quem
analisa a metamorfose da disciplina História no século XX, aparentemente, se trata de um
deslocamento do foco para agentes secundários, mas que, porém, mantém o plano de fundo
nacional e as referências temporais culturais, “A história social, a história econômica e a
história cultural ainda são geralmente feitas dentro de fronteiras nacionais”8.
A História Ambiental surge no bojo dos movimentos sociais da década 1970, na luta
por direitos humanos, principalmente nos Estados Unidos da América. Quando se analisava,
por exemplo, a migração de determinados grupos devido às questões climáticas, ficava muito

5Idem p. 289.
6Donald Worster é professor do Departamento de História da Universidade de Kansas, em Lawrence (EUA).
7Este texto foi traduzido por José Augusto Drummond do original "Doing environmental history", extraído de
Donald Worster, ed., The ends of the Earth - perspectives on modern environmental history (Cambridge,
Cambridge University Press, 1988),p.289-307.
8Ibidem p 290.
16
evidente a falta de preocupação da História tradicional em dimensionar espacialmente as
características físicas ou os registros que refletiam além de fenômenos sociais, políticos, ou
econômicos, as circunstâncias ambientais que determinam muitas questões.
O surgimento do campo da história ambiental na década de 1970 tem uma ligação
profunda com as conferências ambientais9 do período, tal como se deve à emergência de
movimentos ambientalistas. Ou seja, teve uma influência política no período inicial, mas que
posteriormente se tornou um empreendimento acadêmico sem agenda definida, ao invés
disso, com objetivos mais pautados na compreensão da relação e do entendimento da natureza
pelas sociedades históricas, com seus reflexos visíveis. A relação homem-natureza está no
cerne da perspectiva analítica da História Ambiental, pois esta situa tal relação para além dos
paradigmas convencionais da “velha história”.
No texto intitulado As bases teóricas da história ambiental 10, José Augusto Pádua faz
uma revisão historiográfica do campo da história ambiental, que surge como disciplina
acadêmica na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, no ano de 1972, ministrada pelo
historiador Roderick Nash, “respondendo aos clamores por responsabilidade ambiental que
atingiram um crescimento nos primeiros meses daquele ano”11.
A obra de Roderick Nash se apresenta no centro da origem do debate da História
Ambiental, tanto por sua região de locução, os Estados Unidos da América, país com raízes
antigas na análise do “papel do ambiente na formação da sociedade” 12, principalmente através
dos estudos sobre a fronteira oeste dos Estados Unidos da América.13
A França, país com grande influência no pensamento historiográfico brasileiro,
também passou a ser identificada como incentivadora desse novo campo do saber histórico,
principalmente a partir da fundação da revista Annales, cujos dois fundadores, Marc Bloch e
Lucien Febvre tinham profundo interesse nos fundamentos ambientais da sociedade. Bloch
em estudos relacionados à vida rural na França 14, e Febvre com seus estudos de geografia
histórica e produção do espaço15. Entretanto, até hoje a França não tem uma tradição na área.

9Estocolmo 1972 foi a maior delas, a partir da qual se produziu uma declaração sobre o Meio Ambiente
Humano, tratando de princípios e responsabilidades dos governos para com as questões ambientais.
10PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estud. av. [online]. 2010, vol.24, n.68, pp.81-
101. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142010000100009.
11NASH, Roderick. “Environmental history”, em Herbert J. Bass, ed. The state of American history (Chicago,
Quadrangle Press,1970), p. 249-260
12Idem. pg. 82.
13TURNER, Frederick Jackson, Frontier and section: selected essays of Frederick Jackson Turner, edited by
Ray Allen Billington (Englewood Cliffs, New Jersey, Prentice Hall, 1961).
14 BLOCH, Marc. French rural history: an essay on its basic characteristics (London, Routledge & Kegan
Paul, 1966); Lucien Febvre, A geographical introduction to history (London, Kegan Paul, Trench, Trubner,
1932).
17
O fato é que os eventos recentes influenciaram a formação do novo campo cujas fontes
sempre estiveram presentes. O que se fez foi indagar a partir de novas perspectivas. Por
exemplo, quando a história se detinha a analisar a movimentação econômica de algum cultivo
de uma determinada região e deparava-se com algum dado deficitário em relação ao quadro
levantado, não havia direcionamento metodológico para compreender possíveis agentes
naturais, como uma grande seca que atingiu a região no período que se pretende analisar, e
que são determinantes para atingir a compreensão proposta. “Em termos bem simples,
portanto, a história ambiental trata do papel e do lugar da natureza na vida humana”16.
A necessidade da ampliação conceitual e metodológica no sentido das Ciências
Naturais é mais que obrigatória ao exercício da História Ambiental, pois se tratam de
ferramentas poderosas para compreensão do desenvolvimento das civilizações, sobretudo no
sentido de analisar processos e localizar fenômenos naturais de grande influência nas
sociedades humanas.
É necessário não perder de vista que a história ambiental não começa nem termina na
origem e decadência da civilização, ou mesmo da humanidade. Pois, na longuíssima duração,
escala de pesquisa do campo, a humanidade é fruto de um processo geológico, e não apenas
seu produto exclusivo. Ou seja, a História Ambiental teria surgido enquanto tentativa de
responder a certas questões que surgiram no debate criado em torno da questão ambiental,
com o surgimento do ambientalismo complexo multissetorial17 e todos os imperativos de mais
um silogismo ideológico, passível de cair na ordem do discurso e servir aos interesses
hegemônicos.
Pádua aponta através da história que a questão ambiental esteve no cerne da
globalização, não só enquanto questão política, mas também no complexo campo cultural,
sofrendo alterações influenciadas tanto pelo campo científico quanto pelas transformações
industriais e que ao chegar ao século XX, afirma:

Três mudanças merecem particular atenção: 1) a ideia de que a


ação humana pode produzir um impacto relevante sobre o
mundo natural, inclusive ao ponto de provocar sua degradação;
2) a revolução nos marcos cronológicos de compreensão do

15LEFEBVRE, Henri. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins (do original: La
production de l’espace. 4e éd. Paris: Éditions
Anthropos, 2000). Primeira versão : início - fev.2006
16 Ibidem p. 84.
17Conforme (Viola & Leis, 1991, p.24).A emergência de um “ambientalismo complexo e multissetorial” a partir
da década de 1970, dotado de alto perfil na cena pública global, representou um dos fenômenos sociológicos
mais significativos da história contemporânea. Ele pode ser considerado como um movimento histórico, mais do
que um movimento social, que repercutiu nos diferentes campos do saber. I
18
mundo; e 3) a visão de natureza como uma história, como um
processo de construção e reconstrução ao longo do tempo. 18

A pergunta sobre como a ação humana influencia na natureza passou a figurar no


centro da questão em torno da natureza. Já não se tratava mais de domar a natureza selvagem,
mas de protegê-la da ação humana, a qual era contabilizada enquanto danosa, pelo menos nos
casos analisados nas pesquisas de Richard Grove (1995) às quais:

(…) demonstraram que os assentamentos europeus no mundo


tropical, incluindo o período posterior às independências, se
tornaram um espaço privilegiado para esse tipo de preocupação,
na medida em que a rápida transformação das áreas florestais
em monoculturas e minas geravam modificações ambientais “a
flor da terra”, por assim dizer19.

O que José Augusto Pádua propõe é analisar “a construção da sensibilidade ecológica


no universo da modernidade”20. Para tal empresa, o pesquisador buscou nos relatos de
naturalistas e pensadores políticos, reflexões que tivessem como eixo central a questão
ambiental com ênfase na ação humana.
O primeiro exemplo é oriundo do contexto brasileiro e se chama José Bonifácio de
Andrada e Silva21. Na perspectiva de José Augusto Pádua, que analisou a atuação de
Bonifácio, aplicou uma perspectiva histórica para afirmar que, assim como a desertificação
das regiões do chamado Oriente Médio teriam sido fruto da ação humana, esta era a origem
da perda dos bosques de Portugal e que este seria o destino fatalista do Brasil, em menos de
dois séculos, segundo Andrada e Silva, devido à tecnologia rudimentar utilizada no modelo
escravagista de produção agrícola.
Apoiado na perspectiva analítica comparativa vinha outro brasileiro, já em 1860, para
corroborar as ideias de José Bonifácio, o qual foi o jurista cearense Tomás Pompeu de Sousa
Brasil, um dos primeiros a refletir sobre a crise hídrica e o problema das secas na região,
citando exemplos das matas destruídas na Berbéria, na África do Norte, para afirmar que:

Se compulsassem os documentos que existem sobre o estado


físico do Brasil no tempo de sua descoberta, no século XVI, e
18Ibidem p. 83.
19GROVE, Richard. (Richard H.) Green imperialism: colonial expansion, tropical island Edens and the origins
of environmentalism, 1600-1860 / Richard H. Grove. . … apud PÁDUA Op. cit. p. 84.
20op. cit. 84.
21 Cf PÁDUA, José Augusto — Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil
escravista (1786-1888). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, 318 p.
19
nas diversas épocas da sua história, e até pela simples
comparação das porções do seu território, aplicadas à cultura do
açúcar com as que se desenvolveu a do algodão, poder-se-ia
provar a influência que exerce a ação do homem sobre o clima
das terras que habita, e demonstrar a verdade deste princípio
enunciado há quarenta anos por Fourier, que a atmosfera é um
campo suscetível de cultura.22

No entanto, não se pode tratar tais estudos como sendo história ambiental, pois este
campo, surgido apenas em fins do século XX, não se trata de enumeração e catalogação em
uma espécie de “inventário diacrônico dos males infringidos pelos seres humanos ao
planeta”23, mas sim da incorporação de discussões teóricas de características não dualistas,
possibilitando o surgimento de uma rede de concepções, por sua vez, necessárias à
compreensão deste novo campo do saber histórico, e que neste momento nos permitem
analisar mais profundamente e refletir mais criticamente sobre a dinâmica que envolve
catástrofes e desastres de grande proporção, como é o caso da atividade mineradora e seus
riscos.
Alguns conceitos serão utilizados dentro da perspectiva da História Ambiental, para
contextualização, como o de “Fenômeno natural”, que, de acordo com Romano & Marskey, é
definido como “toda manifestação da natureza resultante de seu funcionamento interno (…)
os efeitos dos fenômenos naturais só são considerados desastrosos quando afetam a
organização social”.24
Na História Ambiental a noção de desastre ganha singularidade quando “proporciona o
estabelecimento de nexos entre causas naturais do desastre e os componentes relacionados à
ação humana”25. Desastre é “um evento que ocorre, de forma repentina ou inesperada e causa
alterações significativas sobre os elementos que estão submetidos, essas alterações podem ser
observadas na saúde da população ou destruição de bens da sociedade ou danos sobre o meio
ambiente”.26

22Ibidem p.86.
23 Ibidem p. 86.
24 ROMEIRO, G. ; MARSKEY, A. Como entender os desastres naturais. In: MARSKEY, Andrew (org). Los
desastres no son naturales. Panamá: Red de Estudios Sociales en Prevención de Desastres en América Latina,
1993. p. 111- 125. apud ALBINO, Lisangela. Desastres e impactos socioeconômicos: estudo de caso da Região
dos Baús, Ilhota (SC). p. 37 In: Nodari, Eunice, et al. (orgs.): Desastres Socioambientais em Santa Catarina. São
Leopoldo: Oikos, 2015. 302p.
25Op. Cit. p. 10..
26Ibidem p 37.
20
Um pesquisador que definiu desastre foi CUNY “apontando-o como produto da
relação entre o risco (natural ou provocado pela ação humana) e uma sociedade em condições
de vulnerabilidade”27.
Conforme LAVELL28, o termo vulnerabilidade “refere-se à condições da sociedade
que a deixa propensa a sofrer os impactos de um efeito físico determinado, de pequena, média
ou grande amplitude”.
No PNDC29 risco é definido como “a relação existente entre a probabilidade de que
uma ameaça de evento adverso ou incidente determinado se concretize, com o grau de
vulnerabilidade do sistema receptor de seus efeitos”.
A relação entre matéria e recurso também tem importância central para nossa
compreensão. Nas palavras de Espíndola

As concepções sobre a natureza participam do jogo relacional


do poder e expressam contextos históricos determinados. Para
Raffestin (1993) “...é uma concepção histórica da relação com a
matéria que cria a natureza sociopolítica e socioeconômica dos
recursos. ‘Os recursos não são naturais; nunca foram, e nunca
serão!”. 30

A noção de recurso faz parte de uma dimensão geo-histórica, já a noção de matéria faz
parte de uma realidade histórica. A matéria in natura, isto é, antes de ser caracterizada
conforme o que o autor chama de “classe de utilidade”31. A partir do momento que se torna
recurso, a matéria é regulada pela questão territorial, conforme as intenções sociais
econômicas e políticas envolvidas.
A questão da fronteira está imbricada nestas duas categorias, de natureza e território,
pois, a fronteira serve como forma de controle da área de interesse, incorporada à dinâmica
econômica, que se constitui em oposição à noção socioambiental, estando diretamente
relacionadas, estas três categorias formam o que se pode compreender como uma
reformulação socioespacial, enquanto estratégia geográfica.

27CUNY C., FREDERICK et. al “Ain and Scope of Disaster Management”, Disaster management Center
(D.M.C.). Winscosin: University os Winscosin, 1986. Apud ALBINO, Lisangela. Desastres e impactos
socioeconômicos: estudo de caso da Região dos Baús, Ilhota (SC). p. 37 In: Nodari, Eunice, et al. (orgs.):
Desastres Socioambientais em Santa Catarina. São Leopoldo: Oikos, 2015. 302p.
28 idem p. 38.
29LAVELL, A. La gestion de Los Desastres: Hipotesis, Concepto y Teoria. In: Estado, sociedad uy gestión de
los desastres em América Latina: em busca del paradigma perdido. Lima: La red, 1996.
30RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. França. São Paulo: Ática, 1993.
31ESPÍNDOLA, H.. Vale do Rio Doce: Fronteira, industrialização e colapso socioambiental; Fronteiras: Journal
of Social, Technological and Environmental Science Website:
http://revistas.unievangelica.edu.br/index.php/fronteiras/ v.4, n.1, jan.-jul. 2015, p. 164.
21
Espíndola32 trabalha com diferentes noções de relevância indispensável para a
compreensão que se propõe. Conceitos como território, fronteira e natureza são fundamentais
para compreender as transformações nas mentalidades socioambientais.
A começar por território, categoria que está presente em grande parte dos trabalhos que
relaciona questões sociais, ambientais, culturais e mesmo existenciais. Territorialidade pode
ser definida como formas de “estratégias geográficas” conforme SACK 33 quando há interesse
no controle de uma área ou de um grupo social, estando ligada, nesta perspectiva às relações
de poder. Raffestin34 consolida esta compreensão quando entende que todas as relações de
poder são mediadas por territorialidades.
Já natureza é uma categoria que flutua entre duas concepções, uma idealizadora, que
subentende uma imagem de natureza intocada, idealizada, enquanto a que se opõe aponta uma
natureza transformada a partir da ação humana, como parte das relações de poder.
A amplitude da História Ambiental enquanto metodologia é tal que nos permite um
ponto de vista específico sobre toda a construção histórica da civilização ocidental. Lançar
novas hipóteses a partir de novos questionamentos que levam a novos dados, que por sua vez
possibilitam novas interpretações sobre a trajetória histórica da humanidade conhecida.

32 Ibidem p13.
33SACK, R. D. Human territoriality: its tneory and history. Cambridge: Cambridge University Press. 1986.
34Op. cit. p. 13.
22
CAPÍTULO 1:

Contexto histórico: O rio Doce e a mineração através dos séculos.

1.1 Período colonial: A época de ouro do rio Doce.

A água sempre foi e sempre será indispensável à vida na Terra. A água é um mineral
que existe na mesma quantidade desde a formação do planeta, e que atua de forma cíclica na
sua constituição. A interferência neste ciclo pela ação humana se dá de várias formas, diretas
ou indiretas, dentre as quais uma das mais degradantes é a atividade mineradora. O que é
certo é que a água poluída ou desperdiçada não retorna a seu ciclo natural, fazendo com que
haja cada vez menos água pura no planeta.
Os rios são como as veias da terra. Esta frase é conhecida de quase todo ser humano,
mas não dá a real dimensão dessas biosferas, e dentre os quais alguns carregam importância
destacada devido sua dimensão espacial. Um destes rios de importância proeminente no
Brasil é o rio Doce.
Na impossibilidade de escrever a história de um rio, devido a sua dimensão temporal,
tudo que podemos propor é analisar o processo histórico de alterações ocorridas na bacia do
rio Doce desde a chegada dos europeus, o que por sua vez significa deparar-se com a história
do desenvolvimento econômico e industrial do Brasil, desde a época colonial até a atualidade.
A exploração e exportação de matéria prima ainda são centrais na atividade econômica
na região, variando-se ao longo dos tempos de acordo com as novas descobertas da
aplicabilidade destas matérias, que vêm a se tornar recursos naturais, são processos que
podem ser compreendidos em períodos de tempo bem definidos. Neste primeiro capítulo de
contextualização, utilizaremos como referência a divisão da história política tradicional,
iniciando-se pelo período colonial, onde nossa análise busca elementos que caracterizem a
ocupação inicial, que dura trezentos anos, entre 1696 e 1808.
A descoberta de ouro, muito esperada pela Coroa portuguesa, principalmente após as
notícias das grandes quantidades dos nobres metais encontrados pela Coroa espanhola na
região do México e Peru, além da crise que a Metrópole enfrentava com as quedas de preço
no mercado açucareiro, devido a alta produção holandesa alcançada nas Antilhas35. Foram
investidos muitos recursos nas incursões exploratórias, dentre as quais uma era a do

35 Cf. BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São Paulo: Cia das Letras, 1992.
23
bandeirante Fernão Dias, o “caçador de esmeraldas”, um dos primeiros a chegarem à região
do vale, por volta de 1674. Pronto em breve encontrariam os primeiros aluviões auríferos de
que se têm notícia. Coincidentemente, exatamente no atual ribeirão do Carmo, o qual, a partir
do ponto em que se une ao rio Piranga formam o rio Doce, onde foram formadas das
primeiras povoações de Mariana, Ouro Preto anteriormente chamadas Passagem e Vila Rica,
respectivamente.
Após a descoberta do ouro em 1696, o fluxo de portugueses vindos de Portugal em
direção à região cresceu exponencialmente. Para se ter uma ideia, no século XVIII a
população das cidades do centro de Minas Gerais era maior que em qualquer outra parte da
América colonial. No período a estimativa é que mais de cem mil portugueses teriam
emigrado rumo às terras onde foram encontrados os aluviões auríferos36.
Houve também um grande número de pessoas trazidas do continente africano, em
situação de escravidão, sendo a mão de obra nas minas. Há estudos aprofundados sobre a
formação de uma identidade nacional a partir da confluência intercultural gerada pelas
relações que se estabeleciam na região inóspita.
Um fator interessante é que em algumas regiões da África já havia um conhecimento
difundido acerca da fundição do ferro, A preferência por escravos originários dessas regiões,
como a Costa da Mina, por exemplo, sucedeu na implementação das primeiras forjas de ferro,
com o qual se confeccionavam utencílios para o uso nas lavras37.
Logo iniciaram as disputas pelas terras, disputas que foram controladas pela Coroa
quando Dom João V, rei de Portugal estabeleceu, através de uma carta enviada a Antônio
Albuquerque Coelho de Carvalho, nomeando-o “governador de São Pulo e das Minas do
Ouro” e ordenando este a deslocar-se à região com objetivo de fundar ali algumas povoações,
através das quais pudesse subordinar as pessoas ao rei e organizar o aparelho administrativo,
com o fim de garantir a hegemonia sobre a pérola preciosa da coroa portuguesa.
As informações são de acordo com a pesquisa desenvolvida por Renato da Silva Dias,
o qual realiza uma acertada exposição sobre as relações sociais no período colonial, com base
nos vários códices do arquivo público de Minas Gerais. Sua pesquisa dá ênfase para as redes
formadas a partir da descoberta de minério na região dos sertões dos Caetés, na primeira fase
que vai de 1693 a 1740, quando a coroa ainda não tinha domínio do território. A noção
desenvolvida pelo historiador é a de que havia aí um “vácuo no poder” que deu ensejo às

36Ouro de superfície, fácilmente esgotável.


37 Cf. BOSI, Alfredo. Dialética da colonização Companhia das Letras, 1992 – 4ª ed., 2001.
24
diversas desordens, dentre as quais a mais marcante teria sido a Guerra dos Emboabas 38, em
1709, que representou a necessidade de imposição de domínio das terras então pertencentes à
Capitania do Rio de Janeiro.
Foi assim que surgiram as primeiras vilas, na região até então conhecida como
“Arraial e Barra do Sabará”, a saber, aos 17 de julho de 1711, o governador da capitania de
São Paulo e Minas do Ouro, na presença de uma junta governamental, informou aos
principais moradores da região, que havia uma ordem régia de se formar povoações naquela
região, e por ser considerado local mais capaz e cômodo para se erigir uma vila no arraial de
Sabará, que passou a ser intitulada Vila Real de Nossa Senhora da Conceição, isto “por ser
padroeira da sua Paróquia”. Desta forma, os presentes assinaram o termo de criação39.
Após a acedência dos presentes, estes deveriam trabalhar para edificar uma Igreja uma Casa
de Câmara e uma Cadeia. A imagem abaixo é da praça central da cidade de Mariana, onde é
possível localizar estas três construções edificadas a três séculos. Na imagem a seguir se vê a
casa de câmera e cadeia, e abaixo a primeira igreja. (Figura 2: Casa de Câmara, cadeira e
Igreja no centro de Mariana)

38Cf. ROMEIRO. Adriana. Gerra dos Emboabas: balanço histórico. Rev. Do Arquivo Público Mineiro.
Disponível em http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/ensaio01_2009.pdf. Acesso em
14/11/2016.
39DIAS, Renato da Silva. Entre a cruz e a espada: religião, política e controle social nas Minas do Ouro (1693-
1745). Vária História, v. 26, 2010, p. 156.
25

Fonte: https://marcosocosta.wordpress.com/2011/07/31/a-praca-minas-gerais-em-mariana/ Acesso em


19/11/2016.

Três anos depois, em 1714, foram os distritos de Caeté e Serro Frio, considerados pelo
novo governador D. Brás Baltasar da Silveira, ambos com “capacidade e subsistência para se
levantarem uma Vila em cada uma delas, e tendo outro sim consideração ao muito que
conviria ao serviço de Sua Majestade e ao bom governo dos povos naqueles distritos” 40.
Dessa forma, aquela localizada no distrito do Serro Frio foi denominada de Vila do Príncipe, e
a do Caeté, Vila Nova da Rainha41.
O difícil acesso à região era o principal fator dificultante da imposição da lei e controle
dos vassalos e da inibição da ação dos contrabandistas de ouro. Apesar da vigilância e criação
40Ibidem p. 156.
41Ibidem p. 160.
26
de postos de tributação nas áreas de passagem de difícil acesso, como desembocaduras de
rios, e até mesmo da proibição da circulação do outo em pó, fica evidente a dificuldade da
coroa, de bloquear o brilho do ouro, que tanto chamava atenção de aventureiros, como
aumentava os índices de criminalidade.
Uma primeira ação das autoridades no sentido de impor maior controle sobre a região
das Minas do Ouro, foi a expulsão dos ciganos. Ainda segundo Dias, D. Lourenço de Almeida
expediu ordem aos seus oficiais de Itabira “para que prontamente sejam presos a bom recado
todos os ciganos, ciganas e quaisquer outras pessoas que os acompanharem ou favorecerem”,
e ainda sequestrando todos os seus bens, que seriam negociados e com os rendimentos pagar-
se-iam as despesas em sua condução ao Rio de Janeiro. 42 Apesar de serem movimentos
estratégicos no aparelhamento da máquina administrativa, tais ações demonstravam até então,
pouca efetividade no controle social e da região como um todo. O que torna impossível
mensurar senão através dos testemunhos registrados, a real quantidade de ouro extraída das
minas neste primeiro período.
O chamado ciclo econômico do ouro iniciou o processo de degradação ambiental da
região, e o impacto pôde ser sentido ainda naqueles tempos, pois o desiquilíbrio causava
epidemias diversas e falta de alimentos, que teriam sido os principais motivos para a
decadência da mineração no início do século XIX.
Com a chegada da família real ao Brasil, o interesse pelas minas é retomado, e na
tentativa de recuperação da produção mineral, foi que o rei D. João VI mandou contratar um
especialista para diagnosticar e avaliar os recursos naturais do Brasil. Veio então da Alemanha
o Barão Wilhelm Ludwig Von Eschwege. O Barão chega ao Rio de Janeiro em 1810 e dirige-
se à região do Vale do rio Doce, onde funda a Sociedade Mineralógica de Passagem e a
Fábrica Imperial de Ferro. Neste momento se inaugura a era do ferro no rio Doce.
Para viabilizar a retomada da atividade mineradora uma das estratégias da Coroa foi
autorizar a entrada de recursos estrangeiros, que vieram associados a novas técnicas de
mineração. E principalmente as empresas inglesas, de aplicarem seus métodos
hidrometalúrgicos de mineração do ouro.

42Ibidem p. 163.
27
1.2 A mineração no período imperial. A Escola de Minas de Ouro Preto.

Durante esses trezentos anos, após a chegada dos europeus à América, a região do
Vale do rio Doce marcava uma fronteira natural, e depois da descoberta de ouro nos idos de
1696, o vale do rio Doce era território de passagem proibida. A Coroa portuguesa e depois de
1824, o império brasileiro, tentaram preservar a região da esperteza dos faiscadores que
buscavam ouro, que não eram poucos, porém o difícil acesso pelo fato do rio ser navegável
em apenas alguns trechos, além da forte presença indígena, fez com que a região mantivesse
suas características preservadas neste primeiro momento.
Criada em 1876, a Escola de Minas de Ouro Preto foi idealizada por D. Pedro II, a
partir do período que passou estudando em Paris, onde tomou contato com a Academia de
Ciências de Paris. O principal encarregado do ensino da geologia e mineralogia no início das
atividades da Emop foi Henry Gorceix, o qual foi indicado por Auguste Daubrée, diretor da
Academia de Paris, Gorceix no período se dedicava ao estudo de um vulcão na Grécia, e ao
cabo de sua pesquisa dirigiu-se ao Brasil para iniciar as atividades da Escola de Minas e Ouro
Preto43.
Desde o início, a pedagogia de ensino da escola era a da ciência aplicada, ou seja, com
base na identificação e análise dos elementos minerais disponíveis na região. Por este fato
Ouro Preto foi o local escolhido para instalação da Escola de Minas, uma questão prática para
a pesquisa de campo.
A Escola de Minas tinha um caráter diferenciado, tanto para os alunos quanto para os
professores. O investimento no campo da mineralogia garantia bons soldos aos professores e
assistia aos alunos com bolsas de estudos, exigindo de ambos, em troca, dedicação exclusiva.
As turmas tinham cerca de dez alunos e os com melhor desempenho eram gratificados
com viagens de estudos. Gorceix foi grande encorajador da entrada de capitais europeus para
a pesquisa geológica e mineralógica no Brasil, alegando principalmente que a quantidade e a
qualidade da madeira das florestas garantiria a fundição de ferro de qualidade, devido à
utilização do carvão mineral. A fundição Belgo Mineira foi resultado desse incentivo por
parte da Escola e seu diretor.
Em 1881 surgia os Anais da Escola de Minas e Ouro Preto, onde eram publicados
periodicamente os artigos e que se configurou o principal veículo de produção dos alunos,
professores e ex-alunos.

43Cf. CARVALHO, José Murilo. A Escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória. Belo Horizonte: Editora
UFMG, 2002. Primeira edição Rio de Janeiro: Finep/Cia. Editora Nacional, 1978.
28
Em pesquisa a respeito da mineração no Brasil entre 1850 e 1927, Rafael Freitas
Souza44 nos apresenta um quadro de inserção dos empreendimentos gigantescos na região de
Passagem de Mariana. O trabalho propõe uma análise da inserção do modelo capitalista na
realidade das minas de exploração, inicialmente aurífera e posteriormente de minério de ferro,
tal como suas implicações e transformações no mundo do trabalho e na realidade laboral da
região. Este fato reflete e coaduna com o momento histórico de extinção da mão de obra
escrava e do ciclo das migrações.
O movimento intenso e o processo de transformação social pelo qual atravessou a
região de Passagem de Mariana, no vale do rio Doce, faz com que a região se configure uma
“zona de contato”45 nas palavras de Souza, o qual nos apresenta as tensões e distensões entre
os atores sociais que configuram no quadro histórico. Da mesma maneira em relação ao meio
ambiente e ao processo de adaptação dos migrantes à nova realidade.
E é neste trabalho que localizamos em nossa pesquisa os registros mais antigos sobre a
mina de Fundão, local onde ocorreu o fatídico rompimento da barragem. Nos registros consta
que foi ali que, em 1835, se organizou a Sociedade União Mineira, quando a mesma foi
adquirida pelo comendador Francisco de Paula Santos, mas que por não obter êxito na
empresa, foi logo vendida para Thomas Bawden e Antonio Buzelin, em 1850, e que da
mesma maneira seria revendida para a companhia Anglo-Brazilian Gold Company em 186346.

1.3 A mineração na Primeira República. A pesquisa geológica no Brasil.

O processo de integração do Brasil ao projeto de exploração geológica internacional,


que será aqui retomado, foi demonstrado anteriormente por Georg Fischer, no texto intitulado
“Minério de ferro, geologia econômica e redes de experts entre Wisconsin e Minas Gerais,
1881-1914”47 onde consta que a partir do 11° Congresso Geológico Internacional, ocorrido em

44SOUZA, Rafael de F. Trabalho e Cotidiano na Mineração Aurífera Inglesa em Minas Gerais. São Paulo,
2009. Tese 479 p. Disponível em
file:///C:/Users/06604225909/Downloads/RAFAEL_FREITAS_E_SOUZA.pdf acesso em 17/11 2016.
45 Sobre o conceito “zona de contato” PRATT, Mary Louise,; NASCIMENTO, André et al.Utopi-
as linguísticas.Trab. linguist. apl.[online]. 2013, vol.52, n.2, pp.437-459. .
46Ibidem. p. 144.
47 FISCHER, Georg. Minério de ferro, geologia econômica e redes de experts entre Wisconsin e Minas Gerais,
1881-1914, p.247-264. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59702014000100247 acesso em 04/11/2016.
29
Estocolmo em 1910, houve a “incorporação do subsolo mineiro ao espaço global de
mineração”48. O momento Estocolmo.
Antes disso, a primeira vez que se reuniram os principais grupos de geólogos do
mundo foi na Exposição Universal de Paris, em 1878. A partir daí as reuniões eram realizadas
a cada 4 anos, tornando-se a referência para sistematização de ideias a respeito da geologia,
paleontologia, paleobotânica, ou seja, a história profunda do planeta. Através dos congressos
formaram-se comissões de pesquisa e uniformização das nomenclaturas relacionadas. Estas
comissões organizavam excursões mundiais que visavam o mapeamento das reservas
minerais do planeta.
Neste período o mundo passava por uma crescente demanda de materiais minerais,
devido a Revolução Industrial, o que causou a reorganização da disciplina, que já não tinha os
hábitos rústicos dos geólogos da primeira metade do século XIX, mas sim se dirigia para a
pesquisa aplicada e dimensionada economicamente, ou seja, com vistas no lucro que o
desenvolvimento industrial poderia acarretar. A questão ambiental era combatida neste
momento, com vistas no desenvolvimento da técnica, as impressões denotadas pelos
chamados naturalistas tornaram-se românticas e o mundo viu o potencial econômico na
produção energética, o que determinou por fim a intenção de dimensionar esses novos
recursos.
Assim, por volta de 1890 iniciam as incursões científicas com interesse em identificar
os minerais e sua aplicabilidade, com fim de obter maior aproveitamento das jazidas
exploradas. O fruto destes trabalhos refletiu nas primeiras publicações científicas, como a
revista Economic Geology 49, fundada em 1905, nos Estados Unidos.
Os estudos publicados nesta revista relacionavam diferentes áreas do conhecimento,
que antes não eram relacionadas. Principalmente com relação às questões técnicas e logísticas
de exploração desses materiais. A principal inovação da geologia aplicada nesta época foi na
preocupação com a instalação de complexos minerais, agregado ao mapeamento e
quantificação dos minerais existentes em todo o globo.
Os números demonstraram a ameaça do esgotamento eminente destas reservas
estratégicas, e assim, para o 11° congresso que ocorreria em 1910, foi encomendado dos
geólogos do mundo inteiro uma relação de informações sobre jazidas minerais, a fim de fazer
um mapeamento a nível global. Foi através deste relatório que o mundo tomou conhecimento
da existência do Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, na região da bacia ado rio Doce.

48Idem. p. 259.
49Idem. p. 260.
30
Uma das dificuldades enfrentadas pela comissão exploratória era um fato que mesmo
hoje em dia é contraditório, que está relacionado aos títulos das terras. Ainda mais a partir de
1891, quando da 1a Constituição da república recém-fundada, que previa a posse do subsolo
relacionada à propriedade do solo. As comissões deram início a um sem número de conflitos
agrários na região. Sendo que os membros da Emop ocupavam neste momento os principais
cargos públicos relacionados à mineralogia e foram criticados e questionados pelas elites
progressistas e positivistas mineiras, cujo pensamento se refletia na noção apresentada em
carta ao presidente Francisco Sales, em 1902, pelo político João Pinheiro: “Que importa a
análise de todos os corpos químicos em uma pura ciência (…) sem encarar o valor prático, o
valor industrial, o valor de negócio, que é e que deve ser principal objetivo de tais estudos?”50.
Para aplicar os conhecimentos técnicos desenvolvidos em prol dos interesses
econômicos, 1907 foi fundado o Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro, o SGMB, por
um dos principais expoentes da geologia brasileira, que era na verdade estado-unidense,
Orville Derby, que ficou conhecido como pai da geologia no Brasil, devido sua importante
atuação na formação do SGMB e pelo incentivo a investidores estrangeiros para a
mineralogia e construção de fundições no Brasil. Foi ele o responsável pelo mapeamento
cujas informações foram encaminhadas para a Associação Geológica Sueca, organizadora da
Conferência Internacional de Geologia em 1910.
A partir desta conferência o minério brasileiro já estava inserido num contexto global,
e a chegada de cada vez mais interessados na exploração dos minérios causou a organização e
o estabelecimento de uma rede de agentes que envolvia desde pesquisadores in locus, até
advogados para tratar das questões legais com relação à posse das terras, principal fato que
até então se configurava um entrave para a consolidação da pesquisa exploratória na região.
Haruf Espíndola, principal pesquisador da História do rio Doce e suas imbricações
histórico-sociológicas, nos apresenta o vale do rio Doce a partir dos documentos históricos as
transformações na paisagem do rio Doce, abordando temas como a ocupação desordenada das
margens do rio, principal razão para a ocorrência de enchentes em diversos pontos ao longo
da bacia. Também aborda a questão da mineração e do interesse econômico em relação às
matas ciliares, proporcionando impactos ambientais a longo prazo.
O principal motivo da ocupação do vale do rio Doce foi sempre o econômico. A
presença de metais preciosos, seguida pela exploração de outros minérios causou uma

50 ESPINDOLA, Haruf S.. Vale do Rio Doce: Fronteira, industrialização e colapso socioambiental. Fronteiras:
Journal of Social, Technological and Environmental Science, v. 4, p. 160, 2015. p. 73
31
constante exploração da região, que acarretou em graves danos ao sistema integrado que
representa a bacia hidrográfica como um todo.
Na segunda metade do século XIX a modernização nas técnicas de exploração de
minérios também afetou a mentalidade em relação à natureza o que pode ser identificado nos
discursos colhidos por Espíndola, representando a origem da concepção histórica de natureza
enquanto recuso.
Um dos relatos analisados por Espíndola se trata de um artigo escrito por Gorceix,
publicado em 1880 pela Revista Brasileira, intitulado “O ferro e os mestres de forja na
província de Minas Gerais”. No texto Gorceix afirma a importância do desenvolvimento da
mineralogia para o futuro da província, tal qual da Escola de Minas e Ouro Preto. Na
interpretação de Espíndola:

Ele busca convencer o governo de Minas Gerais da necessidade


de se fazer a carta geológica e de se tomar as providências para
o aproveitamento das riquezas minerais. Em sua opinião não se
teria muitas dificuldades para a exploração do minério de ferro,
pois “ocupam o andar superior dos terrenos”. O problema do
custo do transporte seria solucionado ao se colocar os
estabelecimentos metalúrgicos próximos as áreas de extração. 51

O objetivo de Gorceix era relacionar a riqueza mineral à oferta de carvão vegetal,


proveniente da madeira derrubada das matas da região, aproveitando-se também o potencial
energético das quedas d'água. No seu discurso Gorceix defende que a atividade agropecuária
estaria pondo em risco “a fortuna do país”52, que representariam as matas.
As opiniões de Gorceix retumbaram nos discursos políticos do início do século XX
quando se tratava da preservação das matas, pois a elite econômica do país teria encontrado aí
uma consonância com seus interesses em controlar as terras públicas devolutas. O próprio
presidente da república na época Francisco Salles defendeu medidas contra a invasão e
ocupação de terras públicas, defendendo que a solução se daria por meio de uma colonização
sistemática da região, bem como de medidas punitivas e maior vigilância das terras.

51Ibidem p. 19.
52Ibidem p. 73.
32
1.4 A mineração na atualidade. A Vale do rio Doce a Samarco e a exploração do
minério de ferro.

Na atualidade o minério de ferro mantém-se como sendo componente fundamental no


processo de industrialização de qualquer país, sendo encontrado nas máquinas, nas
construções, nos principais produtos, embalagens, etc.
O minério de ferro é um dos elementos mais abundantes na crosta terrestre, de acordo
com Souza53, o que ocorre geralmente é que sua exploração depende mais de questões
logísticas do que necessariamente da disponibilidade do mineral.
O histórico do processo de exploração do minério de ferro apresenta questões como a
exaustão das jazidas mais estratégicas, acompanhado de um desenvolvimento técnico que
viabilizasse a exploração de novas jazidas, tal como o aproveitamento de minerais com menor
teor ferroso. Lamoso54 nos apresenta o dado de que atualmente 85% da exploração do minério
de ferro é realizada por método de “bancada”, onde as jazidas se encontram a céu aberto.
Nesse modelo, o minério é desmontado através da introdução de dinamites, e suas partes são
transportadas por caminhões especiais até o local de beneficiamento.
Haruf Espíndola, citado anteriormente, em artigo intitulado: Vale do Rio Doce:
Fronteira, industrialização e colapso socioambiental55 inscreve sua pesquisa na área da
História Ambiental para tratar do último ciclo da mineração no rio Doce, a mineração do ferro
ao longo do século XX. Aponta que após os 300 anos que o vale permaneceu como fronteira
aberta, no início do século XX a escassez de terras forçou a frente pioneira que adentrou a
região em busca dos materiais que agora figuravam como importantes recursos naturais.
Ao mesmo passo ocorria a modernização dos centros urbanos da região, graças aos
investimentos daqueles que eram os maiores interessados na exploração dos minérios, e que
garantiram o processo de territorialização do Quadrilátero Ferrífero, através de uma gama de
ações entre discursos e construções culturais relacionadas ao vale.
Inicialmente a questão do território se apresenta como uma disputa na ordem do
discurso que referencia a região como Vale do rio Doce, devido principalmente à relação entre
a região do rio Doce, cuja nomenclatura varia de acordo com as características morfológicas,
hidrográficas ou socioespaciais, mas que têm como principal característica a relação mantida
com a empresa multinacional Vale, que antes se chamava Vale do Rio Doce.

53Ibidem 19.
54LAMOSO, Lisandra Pereira. A exploração de minério de ferro no Brasil e no Mato Grosso do Sul. São Paulo,
2001.
55Op. cit. p. 27.
33
Outro aspecto que torna o objeto central na análise da conjuntura que se propõe
analisar, que é o impacto socioambiental causado pela atividade mineradora da forma como
vem sendo desenvolvida, e das técnicas utilizadas, bem como o nível do aumento da extração
dos elementos da natureza.
As técnicas mais modernas em termos de mineração são as utilizadas pela Samarco
Mineradora. Conforme Lamoso, desde o mineroduto, que transporta o minério de ferro moído
em uma espécie de polpa deste a mina até uma usina localizada na Ponta Ubu, no Estado do
Espírito Santo, onde passa por um processo de pelotização. O sistema chega a transportar 13
milhões de toneladas em um ano. Por ser um sistema que carece de muita energia elétrica para
seu funcionamento, compromete a distribuição para toda a região.
Na imagem abaixo se pode notar a grandeza do empreendimento que significa o
mineroduto: (Figura 3: Minerioduto da Samarco).

Fonte: http://www.buenoengenharia.com.br/obra.php acesso em 17/11/2016.

Outro fato, este sim preponderante em nossa análise, é que este modelo de extração e
transporte que, garante maior eficácia no processo, também gera os rejeitos, que seria a água
após passar pelo processo de filtragem e eletrólise, que seria a lavagem dos minérios com
produtos químicos, a fim de separar o que é utilizável e o que é considerado descartável.
Nesse iterem surge a demanda pelas barragens de rejeitos.
34
A seguir será exposta uma breve análise de um Inventário 56 sobre a evolução das
barragens de rejeitos em um passado recente, entre 2001 e 2009, realizado pela FEAM –
Fundação Estadual do Meio Ambiente.
No texto introdutório do Inventário, se faz referência ao caderno Técnico Gestão de
Barragens de Rejeitos e Resíduos em Minas Gerais publicado em 2008 pela FEAM, no qual
consta o registro de cinco grandes acidentes envolvendo barragens de rejeitos e resíduos no
estado. E de acordo com a Comissão Internacional de Grandes Barragens, as principais causas
dos rompimentos são problemas de fundação, de capacidade inadequada, de erosão, falta de
inspeção e de procedimentos de segurança. Este primeiro parágrafo do documento aponta
para o perigo eminente e risco potencial ao meio ambiente e à vida humana que representam
essas estruturas.
Abaixo, em uma imagem de uma barragem de rejeitos se pode ter a dimensão desse
tipo de estrutura: (Figura 4: Barragem de rejeitos)

Fonte:https://www.organicsnewsbrasil.com.br/meio-ambiente/o-que-e-barragem-de-rejeitos/ com acesso em


17/11/2016.

56Fundação Estadual do Meio Ambiente. Inventário estadual de barragens de Minas Gerais / Fundação Estadual
do Meio Ambiente. --- Belo Horizonte: Feam, 2009. 41 p. ; Il.
35
A mineração é a base econômica do estado, tão importante historicamente que
engendra inclusive a alcunha Minas Gerais. Devido esse papel central em relação ao país, é
que foi iniciado em 2001, pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável - SEMAD, por meio da Fundação Estadual do Meio Ambiente – FEAM um
processo de gestão de barragens envolvendo diversos setores da sociedade, e criando a partir
de então um cadastro de barragens.
Este Inventário de 2009 tráz os principais dados deste cadastro desde 2001. O objetivo
desta compilação, de acordo com o documento, é “elaborar um inventário mais consistente e
mais completo, apontando também a evolução dos resultados obtidos no gerenciamento desde
a sua implantação”57.
Para contextualização e conceituação, o texto apresenta a deliberação normativa da
COPAM sobre barragens, que seriam: “qualquer estrutura – barramento, dique ou similar –
que forme uma parede de contenção de rejeitos, de resíduos e de formação do reservatório de
água; Rejeito é o material descartado, resultante do processo de beneficiamento do minério”.58
Nas barragens de contenção, assim como nas barragens convencionais, que seriam de
armazenamento, condições locais tais como topografia, geologia, hidrologia, água subterrânea
e superficial, clima, sismicidade, possibilidade de terremotos, etc., são fatores determinantes,
mas que, porém, nas barragens de contenção, as modificações características nas propriedades
dos rejeitos precisam ser levados em consideração no projeto.
É recorrente a utilização de projetos de barragens convencionais para projetos de
barragens de contenção, considerando as dimensões de uma possível ruptura e os riscos de
poluição atmosférica das barragens. Para as barragens de rejeitos, a vida útil é calculada de
acordo com a vida da mina, e a construção é simultânea.
Como objetivos o texto propõe a atualização de todos os dados referentes às barragens
no estado de Minas Gerais, além do cadastramento das novas barragens; A análise crítica dos
dados informatizados a partir do novo mecanismo incorporado pela COPAM, o BDA -Banco
de Declaração Ambientais. A partir desta análise seria possível acompanhar atualizações sobre
mudanças na altura da barragem, volume do reservatório; verificar questões relacionadas à
estabilidade das estruturas, avaliar relatórios técnico-fotográficos, com o fim de fiscalizar
melhor as estruturas; resguardar através deste mecanismo, o meio ambiente e as vidas
humanas á jusante.

57 Ibidem p. 41.
58 Ibidem p. 42.
36
O texto demonstra, entre outros, a forma como a sistematização dos dados levantados
pela FEAM foram incorporados ao BDA. Além disso, o texto cita um ofício, a ser emitido e
dirigido a todas as empresas que possuam barragens classe I e III, que ainda não tenham
apresentado declaração de estabilidade. Esta classificação é descrita no próximo item.
Sobre a caracterização das barragens cadastradas na FEAM, a distribuição das
barragens no estado de Minas Gerais de acordo com o potencial de dano ambiental, pelo DN’s
62/2002 e 87/2005 do COPAM. As classes são: classe I (baixo potencial de dano ambiental),
II (médio potencial de dano ambiental) e III (alto potencial de dano ambiental). Das 720
barragens cadastradas até o ano de 2009, 30% (218) das barragens são classe I, 39 % (280)
são classe II e 31 % (222) são classe III59.
O estudo ainda caracterizou as tipologias de barragens, e dividiu em subcategorias
sendo estas: mineração, indústria, indústria de polvilho, destilaria de álcool. Destas, 63%, ou
seja, 463, são barragens de mineração. Analisando a relação entre a classe na análise de risco
e o tipo de barragem, o inventário constatou que o número de barragens na classe III é maior
que nas classes I e II, demonstrando o alto potencial de dano ambiental relacionado a este tipo
de empreendimento.
Na sequência o inventário demonstra uma relação das barragens distribuídas de acordo
com as regiões do estado de Minas Gerais, demonstrando que a maior concentração está
situada na região central do estado, onde se localiza o vale do rio Doce e o Quadrilátero
Ferrífero.
Também é apresentada uma relação das barragens de acordo com as bacias
hidrográficas, onde se lê que a maioria se encontra no rio Doce, um total de 136 barragens,
sendo a maioria (49) de classe III no índice de risco.
De acordo com o texto, para que fosse possível sistematizar os dados contidos no
relatório técnico realizado em 2009, anexos à auditoria da FEAM sobre as condições físicas,
técnicas e legais das barragens, no objetivo de informar os empreendedores, no caso de não
conformidades:
Com relação à conclusão do auditor quanto às condições de
estabilidade da estrutura, verificou-se que das 606 estruturas
cadastradas na FEAM em 2006, 478 (79%) apresentaram-se
estáveis, 55 (9%) não possuem garantia de estabilidade e 73
(12%) não obtiveram conclusão sobre sua estabilidade,
principalmente devido à falta de dados técnicos e de
monitoramento60.

59 Ibidem . p. 14.
60 Ibidem. p. 15.
37
De acordo com o texto, no ano de 2008, em relação ao ano de 2007, houve um
aumento em três pontos percentuais no número de barragens com estruturas consideradas
estáveis. E o número de estruturas sem conclusão devido à falta de documentação ou outras
questões, reduziu de 7% para 5%. A porcentagem das estruturas sem garantia de estabilidade
também reduziu de 10% (58) em 2007 para 9% (62) em 2008.
O item 7 chega aos resultados da Gestão de Barragens no ano de 2009. O texto inicia
apontando melhoras em relação ao ano anterior e indica que os possíveis motivos teriam sido
as melhorias nas ações de gerenciamento da FEAM, somados á atitude responsável dos
empreendedores no cumprimento das determinações.
De acordo com o texto, as diretrizes estipuladas para 2009 seriam: Análise dos
relatórios das estruturas em não-conformidade, verificadas em 2008; análise e
acompanhamento da implementação das medidas propostas pelos auditores; gerenciamento e
informatização do Banco de Declarações Ambientais – BDA; fiscalização das barragens sem
garantia de estabilidade feita pelo auditor e sem conclusão devido falta de documentação.

Através dessa ferramenta os usuários cadastrados no sistema


estão atualizando os dados do cadastro das estruturas,
cadastrando novas estruturas, apresentando a declaração de
estabilidade. O desenvolvimento do banco baseia-se na
melhoria da prestação de serviços públicos aos cidadãos
mineiros, simplificando e facilitando o seu relacionamento com
o Poder Público. Assim, permitirá à FEAM realizar um controle
mais efetivo, com maior agilidade das ações, com maior
eficácia da atualização dos dados que, possibilita uma melhor
gestão com foco na melhoria ambiental.61

No item conclusivo o texto apresenta dados considerados satisfatórios, pois houve


acréscimo nas estruturas estáveis, de 88% para 89%. O texto conclui ressaltando a
responsabilidade destinada aos empreendedores pela segurança das barragens, tanto no
processo de operação quanto monitoramento.
Em síntese, constatamos que o documento aponta dados não consolidados, que as
informações estão incompletas, pois não há a relação propriamente dita das barragens. Para
um trabalho de pesquisa como o que estamos realizando, que se refere a barragens, mas mais
especificamente a uma barragem, os dados são insuficientes.

61 Ibidem. p. 19.
38

CAPÍTULO 2:

Uma análise de caso: O Desastre de Mariana.

2.1 Características da bacia hidrográfica do rio Doce.

A História Ambiental se ocupa da dinâmica existente entre o ser e o meio, sempre


buscando, através da análise técnica e conceitual, compreender o processo de alteração
causado pela ação humana ou de fenômenos naturais sobre um determinado espaço. Para isso
é necessário o levantamento das características físicas do espaço estudado, que neste caso é o
rio Doce, um ecossistema integrado, composto por entes vegetais, minerais, hídricos,
históricos e sociológicos, quando pensamos a alteração da paisagem devido à presença
humana. Neste último aspecto, a análise se concentra no mapeamento dos riscos provenientes
das vulnerabilidades sociais em relação susceptibilidades do meio natural no qual a atividade
de mineração é praticada.
O caso em questão é especial, pois possui uma característica singular, fato que ocorreu
no final de 2015, quando o rio Doce foi inundado por uma quantidade imensa de rejeitos da
mineração do ferro, provenientes de uma barragem que se rompeu, liberando uma materia
tóxica que literalmente sufocou o rio e causou o colapso socioambiental total da área
correspondente à calha ou bacia do rio Doce.
Também será necessário evidenciar alguns conceitos relativos à temática proposta, a
fim de que a compreensão deste trabalho se dê de forma mais ampla. Para análise das
características físicas do rio, utilizaremos conceitos específicos das respectivas áreas da
ciência que se debruçam sobre os diferentes aspectos do rio, considerados pertinentes à nossa
conjuntura. Outros conceitos utilizados são da área da História Ambiental, ou seja,
evidenciam a relação dinâmica entre ser humano e meio ambiente, seja por meio da
apropriação de seus materiais.
Esta parte do trabalho se concentra na descrição das principais características da bacia
hidrográfica do rio Doce. Para tanto, foi realizado um levantamento das fontes bibliográficas
e documentais, onde foram encontrados dois documentos em especial importância, pois
39
permitem a análise comparativa sobre os aspectos hídricos da bacia do rio Doce antes e
depois do Desastre de Mariana.
Um deles é o PIRH62. O documento é fruto da Política Nacional dos Recursos
Hídricos, que pela Lei Nº 9.433/97 institui o planejamento, a participação pública a gestão
através dos Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH. Para efetivar a participação pública
foram realizadas reuniões mensais, juntamente com a população, em diferentes localidades ao
longo da bacia, onde era feito o acompanhamento de cada etapa em que o trabalho se
desenvolveu, que foram o Diagnóstico, o Prognóstico e os Programas do Plano Integrado. O
Diagnóstico e Prognóstico possibilitam uma compreensão das características da bacia
hidrográfica do rio Doce, através dos dados específicos sobre a Bacia, que serão utilizados em
nossa contextualização.
A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9.433 em 8 de janeiro
de 1997, incorpora princípios e normas para a gestão de recursos hídricos adotando a
definição de bacias hidrográficas como unidade de estudo e gestão. Assim, é de grande
importância para gestores e pesquisadores a compreensão do conceito de bacia hidrográfica e
de suas subdivisões

Uma bacia hidrográfica é um sistema terrestre e aquático


geograficamente definido e composto por sistemas físicos,
biológicos, econômicos e sociais. Contém, portanto, uma
grande diversidade de ambientes onde se desenvolvem
diferentes atividades econômicas, as quais exercem uma
influência direta na vegetação, nos solos, na topografia, nos
corpos d’água e na biodiversidade em geral. Esta unidade
geográfica tem no seu rio formador o ponto central para onde
convergem os remanescentes de todas as atividades ali
desenvolvidas63.

O PIRH foi elaborado a partir dos resultados dos trabalhos de um grupo de


acompanhamento técnico, formado por diversos especialistas de áreas como a Engenharia,
Geologia, Biologia, Botânica, Sociologia, Economia, Letras entre outras áreas. O fato de não
haver nenhum profissional da História tem a ver com o lento processo de regulamentação da
profissão, que tramita no congresso nacional.
Além da descrição das características físicas, utilizaremos também o estudo onde se
avaliaram a qualidade da água e as disponibilidades hídricas da bacia no ano de 2008, as
62Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce e Planos de Ações Para Unidades
de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos no Ãmbito da Bacia do Rio Doce.
63TEODORO, Valter L. et al.; O Conceito de Bacia Hidrográfica e a importância da caracterização
morfométrica para o Entendimento da dinâmica ambiental local.REVISTA UNIARA, n.20, 2007.
40
quais foram utilizadas como base para análise comparativa com os dados levantados pela
Agência Nacional de Águas – ANA, órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente64.
Os limites da bacia são definidos de acordo com critérios técnicos feitos a partir de
curvas de nível, que incluem a separação dos divisores de água a partir da identificação das
cabeceiras dos canais de primeira ordem, chegando-se à delimitação dos rios que formam a
rede de drenagem principal65, por isso para fazer o estudo de uma bacia hidrográfica é preciso
ter a sua delimitação topográfica.
Conforme o relatório “A configuração topográfica dada pelas serras na bacia do rio
Doce, acentua as características das massas de ar envolvidas na dinâmica de sua circulação
atmosférica, conferindo à região variação climática”66. Segundo a classificação de Köppen67,
identificam-se basicamente três tipos climáticos na bacia: tropical de altitude com chuvas de
verão e verões frescos, presente nas vertentes das serras da Mantiqueira e do Espinhaço e nas
nascentes do rio Doce; tropical de altitude com chuvas de verão e verões quentes, presente
nas nascentes de seus afluentes; e clima quente com chuvas de verão presente nos trechos
médio e baixo do rio Doce e de seus afluentes.
Espacialmente a precipitação média anual varia de 1500 mm, nas nascentes
localizadas nas Serras da Mantiqueira e do Espinhaço, a 1.000 mm, na região da cidade de
Aimorés/MG, voltando a crescer em direção ao litoral. As temperaturas médias anuais na
bacia variam de 18º C em Barbacena, a 24,6º em Aimorés. O período mais quente
compreende os meses de janeiro e fevereiro, enquanto, que as temperaturas mínimas ocorrem
em junho e julho.
Este fenômeno como resultado da ação do homem sobre o seu ambiente, e de
fenômenos naturais, como a variabilidade climática. É um processo, quase sempre lento, que
mina, que corrói pouco a pouco a capacidade de sobrevivência de uma comunidade, e a
destruição da base de recursos naturais.
As nascentes do rio Doce situam-se no Estado de Minas Gerais, nas serras da
Mantiqueira e do Espinhaço, sendo que suas águas percorrem cerca de 850 km, até atingir o

64Encarte Especial sobre a Bacia do Rio Doce Rompimento da barragem em Mariana/MG CONJUNTURA
RECURSOS HÍDRICOS no BRASILdos INFORME 2015.
65STRAHLER, Arthur N. Quantitative geomorphology of drainage basins and channel networks. In: CHOW,
Ven Te (Ed.). Handbook of applied hydrology: a compendium of water resources technology. New York: Mc-
Graw Hill, 1964. Section 4-II Part II, 4-39 – 4-75.
66Op. Cit. p. 26.
67Classificação climática de Köppen-Geiger, mais conhecida por classificação climática de Köppen, é o sistema
de classificação global dos tipos climáticos mais utilizada em geografia, climatologia e ecologia. Cf ALVARES,
Clayton Alcarde; Stape, José Luiz; Sentelhas, Paulo Cesar; de Moraes Gonçalves, José Leonardo; Sparovek,
Gerd. (2013). "Köppen's climate classification map for Brazil" (em inglês). Meteorologische Zeitschrift 22 (6):
711–728.
41
oceano Atlântico, junto ao povoado de Regência, no Estado do Espírito Santo (Figura 1.1).
Ao longo da margem esquerda, os principais afluentes do rio Doce são os rios do
Carmo, Piracicaba, Santo Antônio, Corrente Grande e Suaçuí Grande, em Minas Gerais; São
José e Pancas no Espírito Santo. No lado correspondente à margem direita são os rios Casca,
Matipó, Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em Minas Gerais; Guandu, Santa Joana e Santa Maria
do Rio Doce no Espírito Santo.
A bacia do rio Doce abrange doze municípios de Minas Geras e cinco municípios do
Espírito Santo que estão na área do entorno. Os Municípios de Minas Gerais são: Águia
Branca, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Colatina, Mantenópolis, Marilândia, Pancas, Rio
Bananal, São Domingos do Norte, São Gabriel da Palha, Sooretama e Vila Valério. Já os
municípios do Espírito Santo são: Franciscópolis, Itambacuri, Malacacheta, Rio Vermelho e
Serro. (Figura 5: Localização da bacia hidrográfica do rio Doce)

FONTE:
IBGE, 2005. Cbh Doce. Consórcio Ecoplan – Lume. Agosto de 2008.
42
2.2 O Quadrilátero Ferrífero. A qualidade da água na região de atividade
mineradora.

Ao analisar a questão da qualidade da água na região onde ocorre a mineração


Bernardino Ribeiro Figueiredo, que é pesquisador geocientista vinculado à Unicamp
apresenta o quadro atual de degradação e contaminação dos recursos hídricos da região do
vale do rio Doce na altura do Quadrilátero Ferrífero 68, apontando para a presença de Arsênio
nas nascentes que se encontram em rochas próximas às minas de exploração de minérios. As
fontes antrópicas do Arsênio são as pilhas de rejeitos, como os da barragem de Mariana.
Corroborando nosso argumento sobre o impacto socioambiental da atividade mineradora, este
trabalho demonstra uma das consequências da prática predatória.
Figueiredo apresenta a questão da qualidade da água no Quadrilátero Ferrífero, como
um exemplo do que ocorre em grande parte do país, onde, em consequência da poluição da
água da superfície, a alternativa encontrada foi a perfuração de poços para captação da água
subterrânea, isenta de contaminação por esgotos ou poluição industrial. É de conhecimento
comum que o rio passa por ciclos temporais relativos que causam alterações na vazão, é um
processo natural. Porém, o acumulo de sedimentos e toda a poluição que se acumula nas
margens são carregadas quando a vazão aumenta, ocasionando queda na qualidade da água.
Porém, o que se verifica na região de exploração das minas, o a cúmulo sedimentar
extrapola a dinâmica do rio, ocasionando contaminação do solo por metais pesados como o
Arsênio69, inclusive afetando a qualidade das águas subterrâneas e tornando-as impróprias ao
consumo humano. Através de um estudo geoquímico das águas entre Ouro Preto e Mariana na
região do rio das Velhas, no Quadrilátero Ferrífero, foi constatado que o nível de Arsênio:

As origens do As nos sedimentos e nas águas superficiais se


devem à oxidação natural das rochas e principalmente à
atividade antrópica, que se deu por meio do lançamento dos
rejeitos da mineração nas drenagens. Segundo estimativas de
Borba et al. (2000), a atividade antrópica provocou o
lançamento nos rios do QF de, pelo menos, 390.000t de As
durante 300 anos de mineração.70

68FIGUEIREDO, Bernardino. Arsênio na água subterrânea em Ouro Preto e Mariana, Quadrilátero Ferrífero
(MG) REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 57(1): 45-51, jan. mar. 2004.
69Os principais modos de intoxicação por arsênio ocorrem via consumo de águas poluídas e por ingestão de
solos contaminados. A intoxicação por arsênio pode resultar em efeitos tóxicos, agudos ou crônicos, relativos a
exposições curtas ou longas, respectivamente, ocasionando diferentes patologias.
70Idem p. 47.
43

Na pesquisa, foram coletadas amostras de água em diferentes pontos entre nascentes e


poços artesianos, os índices comparativos foram utilizados de acordo com os valores
compatíveis ao consumo humano71.
O valor máximo considerado seguro ao consumo humano de acordo com a FUNASA é
de 10 µg/L72, os índices nas amostras variaram entre 2 a 2980 µg/L. Em algumas amostras
foram encontradas inclusive espécies mais tóxicas de Arsênio.
Ainda de acordo com o autor:

As amostras de água com concentrações de Arsênio impróprias


para consumo humano foram encontradas na mina de
Passagem, em Passagem de Mariana (município de Mariana) e
em minas e nascentes de Ouro Preto, com exceções das
amostras M-4 e M-5, da mina de Passagem e de uma nascente
em Passagem de Mariana, que possuem concentrações de As
inferiores a 10 µg/L. É importante ressaltar que as
concentrações de As determinadas nas amostras de água são
representativas do momento da amostragem e podem sofrer
variações em seus valores, para mais ou para menos, ao longo
do tempo.73

Segundo alguns geólogos como Borba & Figueiredo74 o Arsênio é produzido


naturalmente pela oxidação de sulfetos presentes nos minerais, “devido à elevação do pH do
meio, há a dissolução do arsenato de ferro com baixa cristalinidade previamente formados, o
que resulta na formação de goethita e liberação do As em solução para a água subterrânea.”75.
Considerando que a pesquisa se restringiu à região de exploração mineral, porém com
base nos dados da OMS - Organização Mundial de Saúde e FUNASA, e verificou índice
elevado de Arsênio na região, onde há processos de drenagem ácida pela atividade
mineradora, o que favorece o aumento da mobilidade do Arsênio dos minerais para os lençóis
freáticos e reservatórios de água subterrânea. Também é de conhecimento que “o Arsênio é
encontrado nas águas superficiais, monitoradas pelo Projeto Águas de Minas, acima dos
limites permitidos para o consumo humano em inúmeros pontos da bacia (IGAM, 2002b)”76.

71Portaria 1.469 da FUNASA de dezembro de 2000 (Tabela 1). in FIGUEIREDO, p. 48


72Ibidem p. 48.
73Ibidem p. 47.
74BORBA R.P., FIGUEIREDO, B.F. A influência das condições geoquímicas na oxidação da arsenopirita e na
mobilidade do arsênio em ambientes superficiais tropicais. Revista Brasileira de Geociências, (no prelo).
75Idem p. 49.
76Idem p. 50.
44
O texto aponta para a necessidade de um monitoramento constante dos níveis de
Arsênio nas águas superficiais e subterrâneas da região do Quadrilátero Ferrífero, e que os
tratamentos convencionais com flúor e cloro não removem o arsênio da água.

2.3 O relatório de análise do Desastre socioambiental de Mariana. Um atestado


de óbito.

Neste momento o trabalho se volta inicialmente para a análise das fontes documentais
que são fontes históricas em duas vias, primeiro por propor a reconfiguração dos fatos
ocorridos envolvendo o rompimento da barragem, e segundo por se tratar de um “documento
oficial”, sendo por sua natureza documental, passível de análise crítica sócio-histórica. Falar
em documento oficial é sempre lidar com a concepção positivista, da escola metódica, que
apenas considerava documentos históricos os registros oficiais, como este documento aqui
analisado, mas que porém, sob a ótica da Nova História e suas práticas metodológicas de
análise crítica e subjetiva preponderando sobre a análise objetiva da fonte. Segundo consta no
Dicionário de Conceitos Históricos:

“Fonte histórica, documento, registro, vestígio são todos termos


correlatos para definir tudo aquilo produzido pela humanidade
no tempo e no espaço; a herança material e imaterial deixada
pelos antepassados que serve de base para a construção do
conhecimento histórico. O termo mais clássico para conceituar
a fonte histórica é documento. Palavra, no entanto, que, devido
às concepções da escola metódica, ou positivista, está atrelada a
uma gama de ideias preconcebidas, significando não apenas o
registro escrito, mas principalmente o registro oficial. Vestígio é
a palavra atualmente preferida pelos historiadores que
defendem que a fonte histórica é mais do que o documento
oficial: que os mitos, a fala, o cinema, a literatura, tudo isso,
como produtos humanos, torna-se fonte para o conhecimento da
história”. .77

77SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 2ª ed, 2 reimpressão,
São Paulo, Contexto, 2009. p 158.
45
No caso particular no relatório analisado neste trabalho, praticamente não há análise
dos danos ambientais, senão, apenas o que se percebe é uma tentativa dissimulada de
justificativa que ignora a real questão que é o risco ambiental causado por toda a atividade
mineradora. Ao se concentrar na análise da qualidade da água, por exemplo, ignora os fatores
históricos de ocupação desorganizada de toda a região. É visível interesse implícito no
discurso que o documento, que
nas palavras de Le Goff:

O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de


uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da
época, da sociedade que o produziram, mas também das épocas
sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido,
durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo
silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o
testemunho, o ensinamento (para evocar a etimologia) que ele
traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-
lhe o seu significado aparente. O documento é monumento.
Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao
futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada
imagem de si próprias. No limite, não existe um documento-
verdade. Todo o documento é mentira. Cabe ao historiador não
fazer o papel de ingênuo.78

Para escrever a história de um rio é preciso partir da perspectiva da longuíssima


duração, pois, o processo geológico de formação e as transformações pelas quais passa uma
bacia hidrográfica.. Não nos convém empresar uma história que não tem começo, e que, por
fim, é compreendida de forma cíclica. Nos cabe apenas delinear a relação histórica entre o
ecossistema integrado que representava a bacia do rio Doce e a mineração, atividade humana
de cunho econômico, que impactou a paisagem e transformou profundamente o ecossistema
ao qual pertence o rio, parafraseando o célebre texto de Eduardo Galeano 79 que inspirou o
título deste trabalho.
Ao longo do capítulo também serão discutidas a relação entre a forma como se faz
referência ao ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, sobre os reais impactos
socioambientais da atividade mineradora na região, refletindo os interesses que estão em
constante disputa. Chamar de crime ou acidente, de catástrofe ou desastre, são e discursos que
carregam uma ideologia ou interesse de manipulação da informação.

78Op. cit. p. 8.
79GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina: tradução de Galeano de Freitas, Rio de Janeiro,
Paz e Terra, (estudos latino-americano, v.12) 201 p.
46
Começaremos a análise do “Relatório de avaliação dos desdobramentos do
rompimento da barragem de Fundão em Mariana-MG”, elaborado por uma força tarefa que
envolveu diversos órgãos ambientais governamentais80, a partir do decreto de lei
n°46.892/2015, publicado pelo governo de Minas Gerais na data de 20 de novembro de 2015,
com o intuito de avaliar os efeitos e desdobramentos do rompimento das barragens de Fundão
e Santarém, localizadas no vale do rio Doce, na localidade de Bento Rodrigues, distrito do
município de Mariana, cidade histórica que figura no centro da nossa análise iniciada no
primeiro capítulo deste trabalho. O trabalho foi coordenado pela Secretaria do Estado de
Desenvolvimento Regional de Política Urbana e Gestão Metropolitana e foi publicado no mês
de fevereiro de 2016.
Nossa análise se inicia pela descrição objetiva do documento. É um trabalho extenso,
com 287 páginas divididas em 8 partes prenunciadas no sumário, sendo que, a primeira parte
apresenta a metodologia de trabalho da força tarefa e os relatórios utilizados, enquanto que a
segunda parte trata dos danos ambientais na escala microrregional, ou seja, na região onde
está localizada a barragem que se rompeu, e a terceira parte trata dos danos ambientais em
escala macrorregional, ou seja, em toda a extensão da bacia do rio Doce. O segundo e o
terceiro capítulos estão subdivididos nos pontos - Danos Ambientais: sobre a qualidade e
disponibilidade da água, sobre a biodiversidade; - Danos materiais: economia regional e
infraestrutura; -Danos Humanos: danos à saúde e à segurança pública, impactos sobre a
educação, cultura e lazer, danos sobre a organização social.
A partir da quarta parte o relatório trabalha com a análise da projeção dos danos e as
medidas corretivas e compensatórias de caráter material, ambiental e humano. A quinta parte
propõe diretrizes para uma mineração sustentável. A sexta parte projeta a forma como as
ações poderiam ser desenvolvidas. A sétima parte é a mais extensa e traz em seu conteúdo as
atas das reuniões ocorridas nos dias 18 de novembro e 25 de novembro de 2015 em Mariana;
em 02/12/2015 em Barra Longa, em 15/12/2015 em Governador Valadares e em 06/01/2016
em Resplendor. A oitava parte trata de um resumo executivo dos prejuízos econômicos
levantados pelos municípios a partir de um formulário elaborado por esta força tarefa e
encaminhado aos municípios.
Analisando superficialmente o relatório já é possível identificar nuances de sua
postura em relação ao fato. Na estrutura do sumário por exemplo, se nota desde o título, o

80SEDRU – Secretartia do Estado de Desenvolvimento Regional, SEMAD – Secretaria do Estado de Meio


Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Gabinete Militar do Governador, IGAM – Instituto Mineiro de
Gestão das Águas, Mesa de Diálogo, Advocacia Geral do Estado, COPASA – Companhia de Saneamento de
Minas Gerais e CEMIG – Companhia de Energia de Minas Gerais. IBAMA.
47
qual afirma que o trabalho se trata de uma avaliação dos efeitos e desdobramentos, invés de
tratar de danos e impactos, o que é claramente uma forma eufemista de referência à real
dimensão do fato ocorrido. Outro ponto a ser analisado em relação ao título é que este refere-
se apenas à barragem de Fundão, enquanto que, na introdução do trabalho se faz referência à
Barragem de Santarém, outra barragem que compõe o complexo do Germano, de propriedade
e sob responsabilidade da Samarco, alegando que esta não sofreu rompimento, conforme se
lê:

Em resposta ao desastre, o Governo de Minas publicou, no dia


20 de novembro de 2015, o Decreto nº 46.892/2015, que
instalou uma Força-Tarefa para avaliação dos efeitos e
desdobramentos do rompimento das Barragens de Fundão e
Santarém, localizadas no subdistrito de Bento Rodrigues, no
Município de Mariana. Os trabalhos reuniram representantes de
órgãos e entidades do Estado1 e de municípios afetados2, e
foram coordenados pela Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Regional de Política Urbana e Gestão
Metropolitana - SEDRU. Ressalta-se que inicialmente a
mineradora Samarco havia informado o rompimento das
barragens de Fundão e de Santarém. Entretanto, posteriormente,
a empresa responsável informou que apenas a barragem de
Fundão se rompeu, e que os rejeitos passaram por cima da
barragem de Santarém81.

A diferença é que a barragem de Santarém continha água, e não rejeitos, e esta foi
tomada pela lama de rejeitos provenientes da barragem que se rompeu. Conforme publicou o
jornal O Tempo82, no dia 17 de novembro de 2015 “sofreu erosões que podem levar a um
desabamento. Em uma escala de risco de 0 a 10 (quanto maior o número, maior o risco), o
reservatório atingiu a pontuação máxima, segundo o DNPM”83.
Ainda de acordo com a matéria publicada pelo jornal de Belo Horizonte:

Antes armazenando água (usada no beneficiamento do minério


e para reter eventuais resíduos da Fundão e da Germano), a
Santarém se transformou agora em uma imensa poça de lama. A
água que havia no local (cerca de 7 milhões de m³) foi expulsa
pela avalanche da Fundão e deu espaço para cerca de 5,5
milhões de m³ de rejeitos, segundo o DNPM – o órgão não
81Relatório: Avaliação dos efeitos e desdobramentos do rompimento da Barragem de Fundão em Mariana-MG
Responsável: Grupo da Força-Tarefa Decreto nº 46.892/2015 Belo Horizonte Fevereiro de 2016.
82http://www.otempo.com.br/cidades/tomada-por-lama-barragem-de-santar%C3%A9m-atinge-risco-
%C3%A1ximo-1.1170856 acessado em 24/10/2016
83O DNPM é o Departamento Nacional de Produção Mineral.
48
explicou por que a lama não atingiu a capacidade máxima da
barragem (7 milhões de m³).
Além de praticamente cheia, Santarém sofreu danos com a
passagem da avalanche. A crista da barragem (parte mais alta
da parede de contenção) baixou menos de 1 m por conta de
erosões, o que pode ocasionar vazamentos. “Como a crista
erodiu, uma chuva forte no local pode ocasionar vazamento, e a
barragem não foi feita para passar água por cima”, afirmou o
geólogo Eduardo Antônio Gomes Marques, que trabalhou na
concepção da estrutura84.

A informação é de que seriam 17 mortos, quando o número real é 19, além de dois
desaparecidos. E, se considerando que o relatório foi apresentado três meses após o
rompimento da barragem, todos os outros dados são relativizados. Dando sequência à análise
do relatório, na primeira parte, que apresenta a metodologia de trabalho da força tarefa, é
pontuado que as avaliações feitas tomaram como base fundamental o impacto ambiental
gerado pelo rompimento da barragem, e sendo os impactos materiais e humanos entendidos
enquanto desdobramentos do desastre ambiental.
Ou seja, em nossa análise percebemos que no seu todo, o relatório está mais voltado
para as questões materiais e humanas do que com a análise do impacto sobre a biodiversidade
e a qualidade da água, que ao todo, não somam mais que treze páginas, entre as partes dois e
três do relatório, enquanto que o espaço dedicado à apresentação dos danos materiais e
humanos soma pelo menos oitenta e uma páginas. Isto considerando que estamos tratando da
análise criteriosa do documento em questão. O que fica explícito é uma tentativa de
transformar um crime com dolo em uma catástrofe ambiental, justificando assim os dados
sobre as perdas materiais e mesmo sobre as vidas humanas.
Assim se lê na introdução:

No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de Fundão,


localizada na unidade industrial de Germano, no subdistrito de
Bento Rodrigues, no Município de Mariana, na Região Central
de Minas Gerais, se rompeu, causando uma enxurrada de lama
e rejeitos de mineração que provocou a destruição do
subdistrito, deixou 17 mortos, mais de 600 pessoas
desabrigadas e desalojadas, milhares de pessoas sem água e
gerou graves danos ambientais e socioeconômicos a toda a
Bacia do Rio Doce.85

84 Op. cit. p. 34.


85 Ibidem. p. 5.
49

De acordo com reportagem do portal G186 publicada em novembro de 2015, seriam


mais de 1265 desabrigados contabilizados a partir dos registros no número de pessoas
alojadas nos hotéis e pousadas da região, o que corresponde a mais que o dobro do número
que consta no relatório.
Na sequência o relatório afirma serem mais de 55 milhões de metros cúbicos de
rejeitos de minério, quando em pesquisa se encontrou o seguinte dado:

Um dia após o rompimento de duas barragens de contenção de


resíduos de mineração no município de Mariana, em Minas
Gerais, na tarde dessa quinta-feira, diretores da empresa
responsável pelas barragens, a mineradora Samarco, disseram
hoje (6), em entrevista à imprensa, que cerca de 62 milhões de
metros cúbicos de rejeitos foram liberados no meio ambiente, o
suficiente para encher 24.800 piscinas olímpicas 87.

Além destas incongruências e informações desconexas, o relatório, que pode


facilmente ser encontrado na internet digitando em pesquisar desastre de Mariana ou
rompimento de barragem traz muitos outros pontos que podem ser refutados a partir de
análise superficial e conhecimento mediano dos fatos ocorridos.
Outra questão que vale ser frisada é a frase recorrente, que também se lê na introdução
do relatório, de que: “O rompimento da barragem de Fundão foi considerado o maior desastre
ambiental do Brasil”, é de que a nossa compreensão e a tese aqui defendida é a de que se trata
do maior desastre ambiental do Brasil devido à característica destrutiva da atividade
mineradora, a longo prazo, pois os reais efeitos começam a ser sentidos.
A exploração de minérios na região, que se expandiu acompanhando as
transformações causadas a partir da revolução industrial, mas cuja preocupação com as
técnicas da atividade, que durante um período foram desenvolvidas, mas que no decorrer da
instalação do modelo mercantil denominado liberalismo, se tornaram cada vez mais
predatórias e despreocupadas com o impacto socioambiental de seu extrativismo predatório e
tão nocivo ao planeta e a todas as formas de vida que coexistem e que a tanto tempo vem
sendo subjugadas pela ação predatória do “homem moderno”.

86 http://especiais.g1.globo.com/minas-gerais/2015/desastre-ambiental-em-mariana/1-mes-em-numeros/
acessado em 04/11/2016.
87 http://www.ebc.com.br/noticias/2015/11/rompimento-liberou-62-milhoes-de-metros-cubicos-de-rejeitos-diz-
mineradora acessado em 24/10/2016
50
O relatório traz também algumas imagens que ilustram mais que demonstram os
impactos reais da tragédia. A primeira imagem se refere ao complexo do Germano, que é
composto por quatro barragens, sendo que na imagem aparecem apenas duas barragens:
(Figura 6. Imagem aérea do complexo do Germano)

Fonte: http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2015/11/vale-admite-
que-usava-barragem-de-fundao-para-depositar-rejeitos.html.
51
Na introdução também se encontra uma tabela das trinta e cinco cidades atingidas,
onde constam o IDH, a população e a área do município, de acordo com o senso IBGE
2010.Nos dirigimos então para o nosso foco na análise, que são os danos e impactos
ambientais na escala macrorregional, de acordo com o relatório, que peca também em sua
estrutura por compreender que haja possibilidade de subdivisão entre as perdas, como se as
perdas ambientais não afetassem direta e indiretamente em termos materiais e humanos.
No que consta a danos ambientais se lê:

Os principais danos ambientais de caráter macrorregional são


aqueles de maior abrangência frente ao desastre, portanto, se
estendem por toda a Bacia do Rio Doce. As questões
relacionadas à água são as de maior relevância, uma vez que, à
jusante da barragem de Candonga, a lama praticamente não
extrapolou a calha do Rio Doce. Já os danos à biodiversidade
ainda são de difícil mensuração, tendo em vista que o processo
de análise posterior ao desastre ainda está ocorrendo. Nesse
sentido, é importante adiantar que diversas análises ainda
deverão ser feitas, uma vez que os referenciais para a análise
das condições do Rio Doce podem ter se alterado
drasticamente, motivo pelo qual não é possível afirmar que os
dados doravante encerram a discussão88.

Como se percebe, não há análise dos danos ambientais, senão uma justificativa
dissimulada que ignora a real questão que é o dano ambiental causado por toda a atividade
mineradora. Ao se concentrar na análise da qualidade da água, por exemplo, ignora os fatores
históricos de ocupação desorganizada de toda a região que percorre o rio doce no chamado
vale do aço, conforme a figura abaixo, que contribuíram diretamente para a poluição do rio
Doce e seus afluentes, bem como a técnica atual de mineração, que utiliza água no transporte
e na separação dos minérios, e nesta água ficam concentradas grandes quantidades de metais
pesados, os quais penetram com facilidade o solo, alcançando os lençóis freáticos e
alcançando os rios, dentre os quais o principal, o rio Doce.
Na imagem a seguir, podemos verificar a proporção de localidades abastecidas pelas
águas do rio Doce e seus afluentes: (Figura 7: Imagem dos distritos abastecidos pela bacia
do rio Doce)

88 Ibidem. p. 69.
52

Fonte: SEDRU/MG.
53
O que estamos afirmando aqui é que, se a turbidez da água causou alarde e comoção,
se as imagens fortes da lama que tomou conta de toda a calha do rio e causaram a morte de
toda a biodiversidade que ali existia, os danos reais causados pela atividade mineradora, que é
no modelo atual uma das matrizes energéticas, a longo prazo, são muito maiores. Pois, tendo
passado quase um ano do ocorrido, quase toda a lama já foi carregada para o mar, causando aí
mais destruição e desequilíbrio. Porém, a poluição da água nas regiões de mineração é uma
ameaça constante.
Sobre a qualidade da água, as informações encontradas podem ser contestadas,
com base em outras fontes, pois, no relatório afirma:

Os monitoramentos do IGAM apontaram os seguintes


resultados: os valores de pH estão dentro da normalidade, isto
é, não apresentaram violação dos limites estabelecidos na
legislação (faixa de 6 a 9); pouco potencial de dissolução de
metais pesados, uma vez que não houve variação de pH;
verificou-se que os resultados de ferro dissolvido, alumínio
dissolvido e manganês total, coletados no dia 20 de novembro,
apresentaram valores que permanecem acima do limite de
classe 2 em todos os pontos da calha do rio Doce, desde o
município de Rio Doce até Aimorés, apesar da redução
observada ao longo dos dias a partir da data do pico do rejeito
em cada ponto de monitoramento, porém, com tendência de
queda; em relação aos resultados dos parâmetros arsênio,
cádmio, cobre, cromo, níquel e mercúrio analisou-se os
resultados do dia 20 de novembro, os valores desses parâmetros
apresentaram-se abaixo do limite de classe 2 em todos os
pontos da calha do rio Doce desde o município de Rio Doce até
Aimorés, porém, o chumbo não esteve em conformidade em
todos os pontos do Rio Doce89.

Enquanto que, em pesquisa por dados que contrastem com os números e resultados de
análises detalhados no relatório, se encontram os seguintes dados:

Vale notar que os rejeitos de mineração de ferro também têm


potencial para afetar o solo ao longo do tempo, por se tratarem
de material inerte sem matéria orgânica, causando
desestruturação química e afetando o pH do solo. Tal alteração
dificultará a recuperação e o desenvolvimento de espécies que
ali viviam, podendo modificar, a médio e longo prazos, a
vegetação local, com o estabelecimento de ecossistemas
diferentes dos originais90.

89 Ibidem p. 71.
90 Ação Inicial da Advocacia Geral da União contra a empresa Samarco. Disponível em
file:///C:/Users/06604225909/Downloads/acao_inicial_agu_es_mg_samarco.pdf acessado em 24/10/2016
54

Já considerado o maior desastre ambiental da história do país, a tragédia causou a


morte e o desaparecimento de pessoas, afetou toda a bacia do rio Doce, atingindo 41
municípios, percorrendo dois estados, Minas Gerais e Espírito Santo, até invadir mais de 200
quilômetros Oceano Atlântico adentro. Dificilmente pode ser calculado ou mesmo
quantificável o impacto ambiental. Sem retorno positivo ao entorno ou estudos de impactos e
planos de contingência em casos de acidentes, a realidade verificada, estes empreendimentos
quase sempre são um perigo eminente, uma bomba relógio.
Em um laudo confeccionado pelo Ibama que foi utilizado na parte do relatório que
tange aos impactos ambientais, apontando as possíveis causas e os danos socioambientais, a
constatação da devastação provocada era maior. É possível identificar uma diferença clara nas
posturas do Estado e da mineradora e dos movimentos independentes como o MAB-
Movimento dos Atingidos por Barragens inclusive ao se referirem ao ocorrido chamando de
acidente ou de crime.
Pensar a dimensão política de um desastre ambiental é um desafio de complexidade,
que exige relacionar fatores históricos, geográficos, socioeconômicos, ambientais. O trabalho
de pesquisa histórica busca fazer uma análise da exploração de recursos naturais no Brasil,
problematizando os fatores que podem ser considerados no sentido da análise do histórico da
mineração no Brasil, no estado que leva a alcunha de Minas Gerais. A criação da companhia
Vale do Rio Doce e da mineradora Samarco na bacia do rio Doce.
Fatores geográficos passíveis de análise da conjuntura de um desastre ambiental são
inúmeros. A começar por todo o estudo hidrográfico, a partir do qual se pode dimensionar a
proporção perimetral afetada pelos resíduos. Também a Fitogeografia, campo da ciência
geográfica que estuda as florestas, além do sensoriamento remoto e georreferenciamento, os
quais apontaram “a destruição de 1.469 hectares ao longo de 77 km de cursos d´água,
incluindo áreas de preservação permanente” ao longo de toda a bacia do rio Doce.
Após a tragédia, a empresa Samarco tratou a situação sem a devida importância. No
laudo preliminar o Ibama informa que a mineradora Samarco contratou uma empresa de
nome Bioma, para coletar as carcaças de organismos mortos ao longo do rio, para conter o
cheiro forte oriundos da decomposição do rio. A contabilização foi de mais de 7 mil peixes de
21 espécies, as quais o laudo apresenta uma tabela. O laudo ressalta que a maior porção dos
peixes do rio Doce são de pequeno porte, e podem se diluir rapidamente. Ou seja, é
impossível estimar as perdas em números reais.
55
A imagem a seguir retrata o colapso da vida aquática no rio Doce: (Figura 8. Peixes
mortos boiando no rio de lama )

Fonte:http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2015/11/mais-de-2-t-de-peixes-mortos-ja-foram-recolhidas-no-rio-doce-
diz-ibama.html

No laudo técnico desenvolvido pelo Ibama, mensurando a evolução do desastre in


loco desde o dia 06/11 verificou-se impactos de grandes proporções sobre a fauna, impactos
socioeconômicos e da qualidade da água na bacia do rio Doce. Na análise, foram
56
considerados os impactos às APPs, áreas de proteção permanente, cujas quais constitui crime
ambiental, de acordo com o art. 38 da lei 9605/98, que diz “É crime ambiental destruir ou
danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação, ou
utilizá-la com infringência das normas de proteção” 91
Os dados apresentados pelo laudo são dos impactos na fauna da região, que abrange
dois biomas: O Cerrado e a Mata Atlântica, onde foram analisados a Herpetofauna, a
Avifauna, a Mastofauna, que, em síntese, retratam a região de inserção do mineroduto como
uma região essencialmente alterada pelo uso antrópico do solo. Além dos impactos sobre a
fauna, o laudo também fez um levantamento dos impactos socioeconômicos, com bases em
pesquisas anteriores, como a da CETEC – Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais,
onde consta:

95% das terras da bacia constituem pastos e capoeiras,


demonstrando a predominância da atividade pecuária. As
florestas plantadas, constituídas principalmente por espécies do
gênero Eucaliptus, são expressivas no médio rio Doce. Quase
todos os reflorestamentos pertencem a empresas siderúrgicas da
região, e as produtoras de celulose. Os campos e áreas
cultivadas apresentam-se em menores proporções. 92

A partir da análise do laudo, se tem dimensão de que os danos causados pelo


rompimento da barragem de Fundão:

(…) não se limitam aos danos diretos, devendo ser considerado


que o meio ambiente é um sistema complexo, na qual diversas
variáveis se inter-relacionam, especialmente no contexto de
uma bacia hidrográfica, sendo que as medidas de reparação dos
danos, tangíveis e intangíveis, quando viáveis, terão execução a
médio e longo prazo, compreendendo neste caso pelo menos
dez anos. 93

O laudo prevê então um projeto de restauração ambiental da bacia do rio Doce, que
envolve 3 eixos:

91Ibidem p.7.
92Idem p. 9.
93Idem p. 34.
57
-Plano de recuperação e conservação do solo e da água, abrangendo a cadeia de recuperação
florestal, bem como fiscalização de áreas de preservação permanente, recuperação de áreas
degradadas e das nascentes;
-Plano de gerenciamento do material a ser removido na bacia do rio Doce, que
compreende também as etapas de transporte e tratamento e disposição do material sedimentar;
-Programa de monitoramento ambiental por toda a bacia do Rio Doce e área marítima
afetada, visando conhecer os impactos secundários e a efetividade das ações de recuperação a
serem desenvolvidas em todos os compartimentos ambientais. Tal programa deverá ser
apresentado ao Ibama para aprovação e acompanhamento. O programa deverá contemplar
toda área atingida e ter metodologia padronizada, resguardando as especificidades de cada
ambiente a fim de gerar dados com alta confiabilidade 94.
Na conclusão, o laudo ainda aponta para a importância do gerenciamento da própria
população, a qual deve ser incentivada a se mobilizar pelos programas desenvolvidos pelas
Nações Unidas.

94Idem p. 34.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se concentrou na análise da ocupação do vale do rio Doce pela atividade
mineradora ao longo dos diferentes momentos históricos, para compreender a dimensão do
impacto ambiental a curto, médio e longo prazo, enquanto a análise ambiental compreende a
forma como a atividade é nociva a toda a vida que constitui o ecossistema integrado ao qual
pertence o rio Doce. Porém, muitos seriam os caminhos para fazer esta análise. Poderíamos,
por exemplo, ter seguido as linhas teóricas da História Política e analisar as mudanças na
legislação em relação à mineração ao longo dos séculos. Caso fosse de interesse descrever os
acontecimentos envolvendo rompimento de barragens de rejeitos na região, esta seria
possibilidade para um trabalho monográfico de caráter quantitativo. Ou também analisar, por
exemplo, a relação entre a mineração e o rio Doce pelo viés social, com referência nas
pessoas atingidas pelos impactos dessas atividades predatórias.
Quando pensamos em exemplos recentes de reconstrução pós-devastação nos ocorre o
caso do Japão, que atingido por um tsunami em 2011, e, graças à organização social, se
reergueu completamente, em parte característica cultural, como estratégia de sobrevivência
dentro da pequena ilha, em parte pela elevada condição econômica do país, derivada da
produção de energia nuclear. Paradoxo.
Outro caso que nos vem à memória foi o terremoto que atingiu o Haiti em 2010. É de
conhecimento geral o caos social, político e econômico em que se encontra o pequeno país
com histórico de luta política, tendo sido o segundo país no continente americano a declarar
independência e o primeiro a ser governado por pessoas de ascendência africana, movimento
considerado decisivo no processo de libertação dos escravos. Porém, por não ter uma base
governamental que garantisse o desenvolvimento da sociedade haitiana, o país colapsou após
o terremoto.
A questão do deslocamento forçado de pessoas, causado pela construção de grandes
represas de usinas hidrelétricas sendo um fenômeno típico do século XX, e que, porém, já tem
um histórico de consequências negativas, com cifras que apontam para milhões de pessoas
que se vem em situação de deslocamento anualmente. Para além dos prejuízos econômicos
dos atingidos e aspectos polêmicos com relação às questões ambientais, também se
desenvolveu um sentimento comum que deu origem a um movimento anti-barragens. Pois, de
um lado há uma compreensão de desenvolvimento em termos de aumento de infraestrutura e
tecnologia, porém em contrapartida existe a noção de que estes projetos de desenvolvimento
devem servir ao bem comum, ou seja, refletir em qualidade de vida para a população e não
59
resultar em deslocamentos. A proposição de que o desenvolvimento acarreta algumas perdas,
refletidas em deslocamentos, é uma grave violação dos direitos humanos e ambientais. Fica
explícita a polarização que existe nas duas linhas de pensamento.
Não se trata de ser simplesmente contrário à instalação de mineradoras ou outros
empreendimentos que gerem impactos semelhantes, como no caso das hidrelétricas. É
compreensível a importância do desenvolvimento econômico das regiões, frente ao modelo
econômico que se expande e por todas as regiões do planeta, tornando cada vez mais
improvável a possibilidade de alheamento. O objetivo de transformar o desenvolvimento em
um processo que garanta melhoramento das circunstâncias materiais, opções de
reassentamento, controle das circunstâncias de sua vida cotidiana. Se faz necessário, além
disso, que nessas regiões haja um plano de emergência ativo, por exemplo, em caso de algum
imprevisto ou acidente, como ocorreu no caso do rompimento das barragens.
Para que seja realizado um projeto de desenvolvimento que garanta o bem comum, é
necessário respeito às estruturas sociais e práticas culturais da população afetada e o
ecossistema como um todo. E nos casos como o de Mariana, onde a população foi obrigada a
abandonar suas casas e perder tudo que constituía sua vida, é preciso um projeto de
reassentamento que seja implementado de forma sensível e responsável, pois a experiência
traumática e a situação de sofrimento nessas situações são muito grandes. Estes projetos de
reassentamento devem converter-se em oportunidades de melhoramento das condições de
vida dos atingidos, que geralmente são pessoas em situação de marginalidade social.
É importante não perder de vista a noção de que existe a necessidade de se articular
para negociar através dos meios legais, administrativos, relacionados com o “poder”, a fim de
tornar possível a negociação e a reivindicação do cumprimento de todos os direitos garantidos
aos atingidos direta ou indiretamente, pois, além daqueles que são obrigados a deslocarem-se
a fim de preservar suas vidas perdem tudo, há aqueles que perdem seus recursos de
subsistência.
Seja por causas naturais como inundações, terremotos, secas, em outros casos devido a
questões sociais como guerras, pobreza, a questão dos deslocamentos forçados, que têm sido
uma constante na história da humanidade.. O que tem em comum em todos os casos é o
abandono de locais tradicionais, porém o que há de específico nos casos de deslocamentos
devido a questões sociais, é que estes se inserem no campo político quando operam em certas
lógicas como “poder social”, e estão envolvidos em questões conceituais como
“legitimidade”, direitos coletivos”, “interesse público”. A importância de determinar o destino
60
de um projeto como no caso de uma barragem é uma questão de fatores políticos, pois estão
envolvidos interesses diversos me múltiplos atores sociais.
Está também vinculada aos grandes projetos de desenvolvimento, compreendendo que
estes processos complexos não tocam somente aos interesses de dois blocos principais, que
seriam as empresas e a população. Da mesma maneira, a noção de que as consequências
sociais e naturais são eventos que ocorrem em marcos temporais e processos históricos, e não
fenômenos instantâneos. As principais áreas de impactos causadas por grandes projetos de
desenvolvimento que seriam: As estratégias da população afetada, o que envolve “um mapa
mental de recursos aptos a serem explorados”95. No caso das mineradoras, não havia por parte
dos afetados a extração e comercialização ou utilização do minério de ferro, ou seja, a questão
do conceito de recurso natural pode ser problematizada a partir desta perspectiva.
Finalmente, os mecanismos de apropriação simbólica do meio natural e social, ou
seja, sua relação e referenciação nos aspectos da paisagem, como os rios, montanhas, espécies
de bichos, cemitérios, que no caso de Mariana representam perda considerável do horizonte
de perspectiva dos atingidos. Estas categorias de análise não esgotam o universo de
consequências que pode ser analisado, e que é apenas uma generalização com base na maioria
dos casos analisados.

95BARTOLOMÉ, Leopoldo J. Combatiendo a Leviatan. La articulación y difusión de los movimientos de


oposición a los proyectos de desarrollo hidroeléctrico em Brasil (1985-91). In:Balazote, A. O.; Catullo, M. R.;
Radovich, J. C. (orgs.). Antropologia y grandes projectos em el Mercosur. La Plata: Editorial Minerva, 2001.
61
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Horizonte Fevereiro de 2016.
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