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Frustração é uma fita complicada; pra mim, lidar com ela é sinônimo de amadurecer.

Chega uma idade em que é complicado bater o pé, chorar e/ou xingar se a internet não
funciona, se as pessoas somem, ou, é obrigado a fazer algo que por ti, pessoalmente,
preferiria deixar pra lá. E realmente estou amadurecendo! E apesar de coisas como cuidar da
própria higiene, não se endividar ou buscar “ter um futuro” pode não ser tão fácil, mas tinha
algo que eu realmente queria permanecer criança pra sempre, e essa coisa é pagar a própria
conta nos restaurantes.
Mês passado fiz um passeio pra Curitiba que, pra mim, teria seu ponto alto no
Nômade, por Lênin Palhano, restaurante conceitual em um hotel luxuoso que serve o mais
famoso Brunch da cidade e apontado como melhor estabelecimento do Sul do Brasil. Fora o
menú degustação com ingredientes da região e técnicas aprovadíssimas, fora o brunch à
vontade por R$120, fora a ideia de que esse seria o ápice de uma experiência gastronômica,
o renomado chef já foi meu mestre, e quando aspiro a comer nesse restaurante, só penso
em tudo que o Lenin quis ser no C La Vie e não pode por uma série de limitações; bem, no
Nômade, elas parecem terem sido superadas, e o chef realmente aparenta atingir uma
maturidade dourada, resultado do singular trajeto que ele tomou.
Mas o motivo que me fez escrever esse texto está no fato de que não pude comer lá.
E essa foi minha segunda tentativa de conhecer o lugar, a primeira fracassada porque
contava com a minha mãe pagar a conta como forma de presente de aniversário. Na
segunda, já fui pra cidade com o valor do Brunch contado na carteira, e uma excitação de
quem iria aproveitar ao máximo a experiência. Dessa vez, era minha mãe quem não tinha
dinheiro pra pagar a conta dela, e eu não tinha peito para me aventurar sozinho lá. Fiquei
frustrado, queria bater o pé e ganhar todo um menu degustação harmonizado com vinho só
por ter sido mão de obra para o chef em tempos passados, ou argumentar contra a
propriedade privada até que ela acabasse, por exaustão. Não tinha saída: a refeição era
cara, e não para o nosso bico.
Minha expectativa foi grande, esse seria o terceiro restaurante de alta gastronomia em
que pisava os pés, em 4 anos como cozinheiro, e parecia que eu nunca mais pisaria em um.
Eu quis nunca mais desejar comer num estrelado michelin, nunca mais ler uma crítica de
restaurantes caros no Paladar, parar com a pagação de pau. Hoje fazem 4 semanas e meia
que isso aconteceu, e pensei em escrever esse texto logo depois de comer uma janta trazida
pelo namorado da minha vó, o Zé. Ele só pisa no mercado pra comprar a cerveja Malta dele,
porque tudo de comida, ele consegue dos colegas através do escambo que faz com o peixe,
que ele mesmo pesca. Hoje foi ovo caipira, abóbora, carne seca e quiabo. E só consigo
pensar numa coisa: obrigado Zé. Se algum dia eu tiver dinheiro, espero poder comer no
Nômade, mas até lá, vou tratar das “experiências gastronômicas” não como algo que se
atinge um ápice, mas sim algo que se tem carinho e respeito diariamente, como o zé tem
pelo peixe dele que coloca tanta comida boa na mesa.

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