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Projeto Gráfico de Capa e Miolo


Jéssica Macedo
Revisão
Equipe Portal

Esta é uma obra de ficção. Nomes de pessoas, acontecimentos, e


locais que existam ou que tenham verdadeiramente existido em algum
período da história foram usados para ambientar o enredo. Qualquer
semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.
Para minha leitora, Silvana ♡
Sumário
Sumário
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Sinopse

Alberto Oliveira, um bilionário do ramo de investimentos, era um


cafajeste, solteiro e sem qualquer intenção de se comprometer. Já se
envolveu com tantas mulheres que nem conseguia contar.
Ele não se lembrava de ninguém.
Ela nunca o esqueceu.
Silvana se mudou para São Paulo com sonhos e uma doçura
ingênua. Ela não esperava se tornar apenas mais uma conquista de Alberto.
Após uma noite juntos, ele desapareceu sem deixar rastros e Silvana se viu
sozinha, com a responsabilidade de criar suas filhas gêmeas.
Quatro anos depois, o destino os colocou frente a frente outra vez.
Ao revê-lo, Silvana estava determinada a não deixar que Alberto repetisse o
passado e abandonasse suas filhas mais uma vez, entretanto o bilionário não
queria acreditar nela.
Capítulo 1
— Isso! — gemi, acariciando o cabelo macio da mulher entre as
minhas pernas.
Puxei-o em um rabo de cavalo e fiz com se movesse mais rápido em
meio ao boquete.
Uma batida na porta me tirou completamente do clima e Bruna,
minha secretária, deu um salto de susto e batesse com a cabeça no fundo da
minha mesa.
— Ai!
Ela saiu debaixo da mesa no instante em que o Augusto abriu a porta
e entrou na minha sala.
Bruna ficou completamente constrangida enquanto o meu irmão me
lançava uma expressão séria.
— Depois o Artur reclama e você acha ruim.
— O Artur reclama, porque é um reclamão. — Dei de ombros ao
ficar de pé, ajeitando o zíper da minha calça.
— Temos uma reunião importante. — Meu irmão mais velho
manteve o tom firme.
— Já estou indo. Depois continuamos isso. — Pisquei para a Bruna.
— De preferência em outro lugar — resmungou Augusto.
— Vamos. — Dei tapinhas no ombro do meu irmão enquanto o
conduzia para o corredor.
— Cara, a secretária?
— Me deixa! Sou solteiro.
— Só não se envolva em confusão, por favor.
— Eu estou bem assim.
Augusto apenas balançou a cabeça em negativo enquanto pensava
na proposta que o meu pai fez. Artur aceitou sem hesitar, mas eu sabia que o
velho estava tentando nos pegar numa armadilha e eu não cairia assim tão
fácil. Não renunciaria à minha vida de solteiro, nem mesmo por todo aquele
dinheiro.
Seguimos até a sala de reunião, onde estavam meu pai, Artur e
outros colaboradores do nosso fundo de investimentos.
Capítulo 2
Montei a minha banca, preparando os principais recheios para o
acarajé que havia passado a madrugada fazendo. Desde que me mudei para
São Paulo há dez anos, eu sobrevivia vendendo o prato da minha terra para
pessoas que vinham fazer suas compras no Brás. Montava a minha pequena
barraca em uma das esquinas de maior movimento e já tinha clientes
recorrentes. Pessoas que decidiram experimentar e se apaixonaram pelo
meu tempero e a pimenta baiana.
Quando eu decidi me mudar, tinha apenas vinte anos, muitos sonhos
e minha mãe havia me avisado que morar em São Paulo não era tão fácil
quanto as pessoas diziam. Vim atrás do trabalho como modelo e atriz, mas
no fim, não consegui nada. Muitos profissionais eram lobos em pele de
cordeiro, estavam mais interessados em me transformar em acompanhantes
de luxo a me darem a carreira que eu estava buscando.
Aqueles que realmente tinham o poder de transformar minha vida,
nunca me deram uma oportunidade. Depois de três festas eu entendi que
não conseguiria o que eu havia buscado.
Meu orgulho me impediu de voltar para casa e reconhecer que eu
havia cometido um erro. Entretanto, foi muito difícil, principalmente depois
que eu descobri que estava grávida. Se eu mal conseguia cuidar de mim
mesma, criar gêmeas foi enlouquecedor.
Felizmente, o mundo não era feito só de pessoas ruins e eu fui
abraçada pela comunidade onde morava. Ganhei alimentos nos primeiros
meses em que eu não conseguia trabalhar e o dono do barraco onde eu
morava me deixou atrasar alguns aluguéis.
Quando eu consegui vaga para as minhas filhas na creche, consegui
voltar a trabalhar e me esforçava ao máximo para que elas tivessem o
mínimo e não passassem fome, mas não era nada fácil ser mãe solteira.
Eu fui muito ingênua ao sair com um daqueles playboys ricos em
uma daquelas festas. Ele havia prometido me ligar depois daquela noite,
mas nunca ligou.
Nunca ligaria…
Eu só tinha o primeiro nome dele, nenhuma outra informação. Por
mais que eu houvesse tentado encontrá-lo, São Paulo era grande demais.
Quando os meses se tornaram anos, eu finalmente aceitei que nunca o
encontraria e as minhas meninas eram apenas responsabilidade minha.
— Silvana! — Um rosto conhecido parou diante da minha barraca e
eu dirigi um sorriso para a senhora que trabalhava em uma loja próxima.
— Oi, Luiza.
— Monta para mim um caprichado. Coloca bastante camarão.
— Deixa comigo.
Peguei a massa, ajeitando em um guardanapo de papel e coloquei o
recheio, entregando para ela e apontando para o frasco de pimenta.
— Esse é o melhor acarajé que eu já comi.
— Muito obrigada!
— Deveria estar em um grande restaurante.
Dei uma risada, sabendo que era uma realidade impossível, mas eu
era grata pelas pessoas que compravam, pois com esse dinheiro eu pagava o
meu aluguel e comprava comida e roupas para as minhas filhas.
Se eu tivesse ficado na casa dos meus pais, talvez eu pudesse ter
estudado, entrado em uma faculdade pública, porém, era tarde para pensar
nisso. Eu havia feito uma escolha e precisava lidar com as consequências
dela.
No fim da tarde, quando as portas de algumas lojas já estavam sendo
abaixadas. Eu desmontei a minha barraca, coloquei os ingredientes que
haviam sobrado em uma bolsa térmica e deixei a estrutura na loja de
panelas do Joaquim. Ele havia me oferecido o espaço para que eu não
precisasse carregar a estrutura de madeira de um lado para o outro
diariamente. Já havia brigado com pessoas nos ônibus algumas vezes
porque elas não compreendiam que eu precisava daquilo para trabalhar e
achavam que eu só estava ocupando espaço.
Depois do ônibus lotado, eu chegava sempre atrasada a creche onde
as gêmeas passavam o dia todo. Na primeira semana em que precisei deixá-
las ali o meu coração doeu como nunca, mas eu não tinha escolha, precisava
trabalhar ou nós três morreríamos de fome.
— Obrigada. — Dei um sorriso sem jeito para a professora que
estava na porta me esperando com elas.
— Tenta chegar mais cedo.
— Me desculpa, mas o fim da tarde é o horário de mais movimento,
porque as pessoas estão saindo de seus trabalhos com fome.
— Se tiver outra pessoa que possa buscá-las.
— Somos apenas nós três. Me desculpa.
— Tudo bem. Vamos dar um jeito. Ser mãe solteira não deve ser
nada fácil.
— Realmente não é, ainda mais de gêmeas. — Sorri para as
meninas. — Vamos para casa, minhas Marias.
— Vamu! — disseram juntas.
Com a bolsa térmica equilibrada num braço, pendurei as mochilas
nas minhas costas e segurei a mão de cada uma para andarmos até o ponto
de ônibus.
Quando chegávamos em casa, eu sempre preparava um leite quente
para elas tomarem, pois jantavam na creche. Depois eu as colocava para
dormir. Nós três dividíamos uma pequena cama box que eu havia ganhado
de um dos vizinhos.
Assim que elas estavam em sono profundo, eu ia para a pequena
cozinha do barracão e preparava os ingredientes e a massa para o dia
seguinte.
Era exaustivo, mas eu não tinha escolha.
Capítulo 3
Estava sobre o bar, preparando um drink com gim e vodca quando
escutei os passos do meu pai. Ele deu uma tosse rouca antes de falar
qualquer coisa e fez com que eu me virasse.
— Alberto?
— Oi.
Ele se escorou no balcão, com a idade avançada, se cansava fácil e
não conseguia andar rápido.
— Preciso que você vá a uma loja no Brás amanhã.
— O que eu vou fazer no Brás, pai? — Revirei os olhos, impaciente.
— Tem uma rede de lojas que veio buscar nosso fundo para
investimento e quero que você analise o local, veja se tem potencial e se
devemos analisar mais profundamente antes de fazer uma proposta.
— Por que outra pessoa não pode fazer isso? — Torci os lábios.
— Por que você não pode? — Devolveu-me a pergunta.
— Eu… — Mordi o lábio inferior, sem argumento. — Tudo bem, eu
vou.
— Ótimo!
Minha mãe se levantou do sofá e chegou mais perto.
— Será que eu posso ir com você?
— Não!
— Mas…
— Você vai querer fazer compras e eu vou cuidar de negócios.
— Pode fazer isso enquanto eu vejo as lojas.
— Não!
Ela bufou, irritada.
— Faz um bom tempo que não saímos para um programa de mãe e
filho.
— Provavelmente porque eu já estou velho demais para isso.
— Sempre vai ser o meu menininho.
Peguei o meu drink e dei boas goladas, recusando-me a responder o
seu comentário.
Segurando o copo e saí da sala, indo para a área da piscina e me
sentando em uma das cadeiras de onde eu podia ver a lua e as luzes externas
sendo refletidas na superfície da água.
Puxei o meu celular do bolso e reparei nas muitas mensagens não
respondidas. Havia algumas da Bruna, minha secretária, e de várias outras
mulheres com quem eu já tinha me envolvido.
Eu não gostava de passar o meu número para ninguém com quem
saia, porque não pretendia repetir a noite, mas algumas delas acabavam
conseguindo.

Desconhecido:
Oi, gato!
Quando vamos remarcar aquela bebida?

Cliquei na mensagem e bloqueei o contato.

Alice:
Oi, esse é meu número novo.
Queria te chamar para vir aqui em casa.

Quem é essa?
Cocei a cabeça, pensativo. Reparei na imagem da foto. Eu deveria
conhecê-la de algum lugar, já que havia salvado o contato, mas não
conseguia fazer ideia de quem era.

Bruna:
Chefinho :P
Está precisando de um café no final de semana?
Deixamos aquele assunto mal resolvido.
Por que não nos encontramos para terminar?

Talvez o sexo no escritório com alguém que eu via diariamente não


havia sido uma boa escolha. Eu não conseguiria evitá-la como fazia com
todas as outras depois de perder o interesse.
Não respondi a Bruna nem nenhuma daquelas mulheres.
Já havia perdido a aposta com o Artur, por ele ter se casado primeiro
e não tinha nenhuma intenção de me prender a uma mulher, nem que fosse
apenas para um namoro.
Capítulo 4
Cobri a boca com a mão para esconder um bocejo no meio da
manhã quando eu me sentei em um banquinho de plástico atrás da minha
barraquinha. O meio da manhã e da tarde geralmente eram os horários mais
parados, porque ninguém estava pensando em comer e a maioria das
pessoas estava em seus trabalhos.
Era nesses momentos que eu ficava observando a vida passar e
refletia sobre tudo o que eu já tinha passado.
O sol naquele dia estava muito intenso e o calor me fazia suar. Eu
secava minha testa com um guardanapo de papel e mantinha minhas mãos
higienizadas com álcool, vestindo luvas quando ia servir os clientes para
evitar a contaminação da comida.
Na esquina onde eu ficava havia um semáforo, onde meninos faziam
malabarismo com bolinhas para ganhar alguns trocados. Eu estava
acostumada com a presença deles e, em momentos de baixo movimento
como aquele, eu parava para observá-los.
Nem estava reparando direito no trânsito, mas quando vi um rosto
no banco de trás de um dos carros, meu coração parou de bater. Eu não
conseguia acreditar. Depois de quatro anos jamais imaginei que voltaria a
vê-lo.
Fiquei de pé, determinada a correr até o carro, mas antes que
conseguisse, o sinal abriu e o veículo começou a se mover.
— Alberto!
Ele não percebeu que eu havia gritado, sequer olhou na minha
direção.
— Alberto!
Observei o carro, vendo-o dar a volta e parar na outra rua.
Eu não deveria largar a minha barraca sozinha, mas não pensei duas
vezes, apenas saí correndo e consegui atravessar na frente dele assim que
saiu do veículo.
— Alberto! — Eu estava ofegante e apoiei as mãos nos joelhos.
— Quem é você? — O engravatado encarou-me com um ar
surpreso.
— Você disse que ia me ligar.
— Ah! — Deu uma risada. — Eu sempre falo isso, mas nunca ligo
de verdade. Não se sinta ofendida, faço com todas…
Não consegui me controlar e dei um tapa na cara dele. Havia sido
tão difícil para mim que eu apenas extravasei.
— Ai! — Ele arregalou os olhos, massageando a bochecha. — Ficou
maluca?!
— Eu engravidei naquela noite.
Ele riu.
— Bela piada.
— É verdade. — Engoli em seco, com meus olhos se enchendo de
lágrimas.
— O que eu tenho a ver com isso? Nem me lembro de você, moça.
— Elas são suas…
— Elas? Deve estar me confundindo com outra pessoa. — Deu um
passo para o lado tentando passar por mim.
— Eu me lembro de você, Alberto.
— Mas eu não me lembro de você, moça. Agora sai da minha frente
porque eu tenho um assunto importante para resolver.
Fiquei parada enquanto ele passava por mim e entrava em uma loja.
Eu havia pensado mais de mil vezes sobre como seria se eu me
encontrasse com ele novamente. Achava que seria mágico e que ele
decidiria me ajudar e cuidar das filhas, mas ele nem se lembrava de mim.
Um gosto terrível tomou conta da minha boca.
Talvez fosse melhor lidar com a ilusão do que enfrentar aquela
realidade.
Capítulo 5
Que maluca!
Meu rosto ainda estava dolorido pelo tapa que levei daquela mulher.
Era só o que me faltava, ser parado na rua por uma doida que eu
nem sabia quem era, dizendo que tinha filhas comigo, não apenas uma, mas
no plural. Eu já havia me envolvido com muitas mulheres, era impossível
que eu me recordasse do rosto de todas, entretanto, essa era a primeira que
me dizia ter ficado grávida.
Ainda estava um tanto desorientado e balancei a cabeça em negativa
ao avançar para o interior da loja.
Era uma loja de roupas, para mim parecia apenas uma entre tantas
outras naquele bairro, sem nada de especial.
Uma das vendedoras se aproximou de mim, olhando-me dos pés a
cabeça e eu dirigi um sorriso malicioso.
— Oi!
— Bom dia — disse em um tom baixo e sedutor.
— Em que posso ajudá-lo? — Fazendo charme, ela colocou uma
mecha do cabelo atrás da orelha.
— Eu vim me encontrar com o dono.
— E quem você é?
— Al…
— Alberto!
Ah, meu Deus, a maluca de novo.
Tentei ignorar o grito, como se fosse apenas fruto da minha cabeça.
Se eu não reagisse, talvez ela fosse embora.
— Você não pode me ignorar assim.
— Quem é essa? — A vendedora franziu o cenho.
— Eu não sei.
— Você tem que me ouvir! — Senti as unhas cravarem nos meus
ombros e a mulher me girou, forçando-me a encará-la.
Eu olhei bem para a maluca. Ela tinha um rosto delicado, mas
parecia abatido, os cabelos encaracolados estavam debaixo de uma touca de
cozinha e o suor reluzia em sua pele negra.
Não conseguia reconhecer seu rosto de lugar nenhum, mas já tinha
me envolvido com tantas mulheres ao longo dos anos que era exigir demais
da minha memória me recordar de cada uma delas.
— Para com isso, sua maluca!
— Você não pode me ignorar e fingir que eu não falei nada.
— Dizer que sou o pai das suas filhas é um absurdo.
— Mas você é!
— Eu nem te conheço!
— O que está acontecendo aqui? — Um homem se aproximou, ele
tinha cabelos grisalhos e uma barriga volumosa que mal cabia dentro de sua
camisa social. Ele parou diante de mim com as mãos na cintura e alternou o
olhar entre mim e a maluca. — Essa gritaria na minha loja vai afastar os
meus clientes.
— Manda os seguranças tirarem essa mulher daqui — falou a
vendedora.
— Eu não vou a lugar nenhum! — Bateu o pé.
— Vocês se conhecem? — O proprietário alternou o olhar entre
mim e a mulher negra descontrolada que estava fazendo escândalo.
Eu fiz que não.
— É muito fácil dizer que não me conhece, não é? Continuar sem
assumir as suas filhas…
— Filhas?! — O proprietário da loja arregalou os olhos.
— Moça, você precisa parar com isso.
— Eu não vou parar.
— Chamem o segurança! — rugiu a vendedora.
— Eu não vou a lugar nenhum. — Ela bateu os pés.
A gritaria estava alta e acabou ecoando para fora do
estabelecimento, chamando atenção das pessoas que passavam na rua.
Algumas pararam para assistir, e isso atraiu uma viatura policial que fazia
ronda.
O circo estava formado e eu me sentia o palhaço.
Que porra!
Capítulo 6
Meu escândalo fez com que fôssemos parar na delegacia mais
próxima, onde fizeram um boletim de ocorrência por perturbação. Eu nunca
havia pisado em um lugar como aquele, mas não poderia deixar que o
Alberto escapasse de novo. As chances de encontrá-lo novamente eram
mínimas.
— Eu tenho que trabalhar — argumentava ele.
— Primeiro vamos entender o que está acontecendo aqui — exigiu
um policial.
— Essa maluca cismou comigo e começou todo esse escândalo.
— Ele é o pai das minhas filhas!
O policial se virou para o Alberto, esperando a resposta dele diante
da minha acusação.
— É uma louca!
— Vocês se conhecem? — quis saber o policial.
— Não! — Alberto respondeu rápido demais.
— Nos conhecemos em uma festa há quase quatro anos — comecei
a explicar. — Eu fui para um hotel com ele e passamos a noite lá. Descobri
que estava grávida dois meses depois e tive gêmeas.
— Gêmeas? — Ele se engasgou com o próprio fôlego.
— Essa informação procede? — Sério, de braços cruzados. O
policial manteve o olhar firme, alternando entre mim e o Alberto.
— Não! — exclamou o cafajeste. — Quero dizer, eu não sei…
— Como assim, senhor?
— Eu posso ter transado com ela. Já transei com tantas mulheres
assim que é plausível, mas quatro anos é muito tempo. Eu não me lembro.
— Creio que terão que resolver isso com a vara da família.
— Eu vou sair daqui! — Alberto deu um passo, mas eu agarrei seu
braço, o impedindo.
— Você não pode sumir assim.
— Não podem me segurar aqui. Ou podem? — Ele se virou,
esperando uma resposta do policial, que balançou a cabeça fazendo que
não.
— Por favor, policial — supliquei. — Esse homem vai sumir no
mundo de novo.
Alberto seguiu para fora da delegacia e eu tentei ir atrás dele mais
uma vez, porém, o policial me impediu.
— Senhora, vai ter que ir até uma vara da família.
— Mas eu nem sei o nome dele inteiro. — Meus olhos se encheram
de lágrimas…
— A denúncia de perturbação vai conter essa informação.
— Ele vai sumir de novo…
— Sinto muito.
Inspirando profundamente, sentei-me em uma das cadeiras na
recepção da delegacia.
Durante todos aqueles anos eu havia pensado que se encontrasse o
pai das minhas filhas tudo iria melhorar. Eu teria ajuda e elas, a presença
paterna. Entretanto, naquele momento só conseguia pensar no quanto fora
idiota.
Era tão óbvio que ele iria se negar.
Sua boba!
Estava me sentindo tão idiota e constrangida que tinha vontade de
me esconder.
Capítulo 7
— Acho que preciso de um advogado — anunciei ao abrir a porta do
escritório do Augusto num rompante.
— Quê? — Ele levantou o olhar da tela do seu notebook e me
encarou com ar de confusão.
Caminhei até mais perto e puxei uma cadeira diante da sua mesa.
— Encontrei com uma louca hoje dizendo que temos gêmeas.
— Gêmeas?! Caramba!
— Uma louca! Como você tem experiência com mulher maluca,
achei que pudesse me ajudar.
— Não acho que seja a mesma situação da minha ex-mulher.
— Mas você sabe… ao menos tem um advogado.
— Eu tenho.
— Isso, me passa o contato dele. Preciso me livrar dessa maluca.
— Se ela estiver falando a verdade, não vai ser assim tão simples.
— Ela não está!
— Tem certeza?
— Não, porra! Não me lembro dela, não lembro nem de todas as
mulheres com que transei mês passado, ainda mais há quatro anos.
— Então é possível que você tenha engravidado a moça?
— Sei lá! Talvez…
— Então, sim.
— É, pode ser…
— E se for? — resmunguei, irritado. — Vim aqui para ter a sua
ajuda.
— Se essas crianças forem suas, você tem que reconhecê-las.
— E se eu não quiser?
Ele bufou, revirando os olhos, como se houvesse se irritado comigo.
— Filhos não são como um brinquedo que você dispensa.
Mordi o lábio inferior, irritado. Eu não queria lidar com esse tipo de
situação, mas ao que parecia, eu não tinha escolha.
— Vou deixá-la correr atrás. — Dei de ombros. — Ela que prove se
realmente são minhas filhas.
A expressão do Augusto permaneceu séria e cheia de julgamento.
— O que quer que eu faça? — resmunguei. — Você sabe que pode
ser mentira.
— Faça um DNA. Se as filhas forem suas, assuma suas
responsabilidades.
— Não posso ignorar?
— Alberto!
Grunhi, irritado.
— As crianças não têm culpa pela forma como o você age.
— Se eu quisesse ser chamado de cafajeste, iria conversar com a
minha mãe.
— Cara, você pode fazer o que quiser com a sua vida, mas as nossas
escolhas têm consequências e precisamos enfrentá-las.
— Como quando tomamos uma decisão ruim e perdemos dinheiro?
— Às vezes mais complicado do que isso.
— Saco! — Bufei.
Eu não queria me casar, nem tinha planos para ser pai. Minha vida
estava ótima do jeito que era e não queria mudar isso.
Capítulo 8
Quando eu voltei para a esquina onde deixava a minha barraquinha
de acarajé, não havia mais nada lá, nem as madeiras que sustentavam a
estrutura.
— Ah, droga! — Passei a mão pelos meus cabelos.
Além de ser chamada de maluca e completamente ignorada pelo pai
das minhas filhas, ainda havia perdido minha única forma de sustento.
Meus olhos se encheram com lágrimas pesadas e o desespero me
consumiu.
— Ah, meu Deus!
Havia comprado tudo com muito esforço e não teria dinheiro para
repor.
— Silvana! — Natalia, que trabalhava como ajudante na loja de
panelas do seu Joaquim. acenou para mim.
— O que foi?
— Você sumiu, não falou nada. Decidi guardar as suas coisas antes
que as pessoas passassem e levassem.
— Ah, muito obrigada. — Fui até ela e dei um abraço bem apertado.
Aquela parecia a única boa notícia que eu receberia naquele dia.
— Por nada.
Peguei a minha estrutura e montei tudo novamente. Aquecendo a
comida com o fogareiro improvisado alimentado por álcool. Era melhor
deixar de lado aquela expectativa boba de ter a ajuda do pai das minhas
filhas.
Talvez reencontrar com ele naquelas circunstâncias servira para
acabar de vez com as esperanças tolas que eu tinha. Durante os últimos
anos eu só pensava que precisava vê-lo, que ele iria me reconhecer e ficaria
feliz por saber que era pai.
Como fui tola!
Enquanto tentava servir uma cliente, eu fazia o possível para engolir
minhas lágrimas e não deixar que elas caíssem.
— Está tudo bem com você, moça?
— Sim… — Apertei os lábios com ainda mais força. — Aqui está.
— Entreguei para ela o acarajé e a mulher se afastou.
Eu pude esconder o meu rosto e limpar as lágrimas na manga da
minha blusa.
Eu deveria ter previsto aquela situação, porém, foi impossível deter
a tristeza. Por que eu tinha me iludido tanto?
Era um homem do qual eu não sabia nada, com quem não deveria
ter me envolvido. Apesar de me culpar por ter transado com ele naquela
noite, não havia nada que eu amasse mais no mundo do que as minhas
filhas, mesmo com toda dificuldade para criá-las.
Capítulo 9
Eu deveria voltar à loja e me reunir com o dono, mas não fiz isso.
Uma parte de mim tinha receio de se encontrar novamente com aquela
mulher, além disso, não conseguia parar de pensar na minha conversa com
o Augusto. Depois de tudo o que o meu irmão mais velho havia passado, eu
imaginava que ele seria o primeiro a ficar do meu lado e me dizer como me
livrar daquela situação, mas a conversa foi o oposto do que eu esperava.
Faça o DNA!
Eu deveria pedir o exame e concordar que ele era a minha melhor
arma contra aquela situação, isso se as gêmeas não fossem minhas filhas.
Mas o que aconteceria se elas fossem?
Eu estava preocupado. Quem no meu lugar não estaria?
Artur vivia reclamando do medo dos golpes por parte das mulheres,
mas acabou caindo em uma armadilha do nosso pai. Eu acreditava que
poderia ser mais esperto do que isso.
Ter filhas não significava o fim da minha vida, eu ainda poderia
transar com quem eu quisesse e quando quisesse. No entanto, me deixaria
bem mais receoso para não acontecer de novo.
Eu ainda posso deixar para lá…
Se havia se passado tanto tempo, como ela dizia, a situação poderia
permanecer do jeito que estava. Era melhor para mim.
Ah, que droga!
Mesmo se as meninas não fossem minhas filhas, aquela mulher
havia conseguido atentar contra a minha paz e me deixar com a cabeça
doendo.
DNA…
Eu poderia me negar a fazer o exame e buscar provas de que eu não
era o pai da criança, mas, apesar de cansada, malcuidada e abatido, se ela
estivesse arrumada teria chamado a minha atenção. Mulheres negras sempre
foram o meu tipo. Eu sempre tinha preferência para elas entre as opções que
eu tinha em festas.
Apesar de não conseguir me lembrar, a lógica me colocava em
xeque.
E se…
— Ahhh! — Levantei-me da minha cama, irritado.
Aquilo estava dando um nó nos meus pensamentos e me causando
uma enxaqueca terrível.
Quem mandou transar com qualquer uma?
Poderia ouvir a voz da minha mãe me julgando.
Estivesse certa, ou não, aquela mulher havia conseguido o bastante
para perturbar a minha paz.
Peguei o meu celular sobre o móvel de cabeceira e mandei uma
mensagem para o Augusto.

Alberto:
Ainda acordado?
Augusto:
Miguel está resfriado, vai ser uma noite longa.
Alberto:
Podemos conversar?
Augusto:
Sim.
Alberto:
O que acontece se eu for realmente o pai dessas crianças?
Augusto:
Vai ter que assumi-las, ajudar nas despesas e na criação.
Alberto:
Pagar pensão?
Augusto:
Ser pai é mais do que isso, as crianças precisam da sua
presença como pai.
Alberto:
Eu não sei ser pai.
Augusto:
Nunca é tarde para aprender.
Alberto:
Isso é uma merda!
Augusto:
Você pode mudar de opinião quando conhecer suas filhas.
Alberto:
Duvido! Nem sabemos se elas realmente são minhas ou a mãe
só está mentindo. Esse mundo é cheio de gente tentando tirar proveito
da situação.
Augusto:
Está falando como o Artur.
A Ana mostrou que ele estava errado.
Alberto:
Quanto a ela, mas e o resto?
Augusto:
Não importa!
Isso não muda nada se as filhas forem suas.
Elas não têm culpa de qualquer atitude da mãe.
Alberto:
Ainda bem que o Miguel não é filho da Graciela.
Augusto:
Amém, mas se ele fosse, ainda assim seria meu filho.
Alberto:
Vou ter que fazer o DNA, não é?
Augusto:
Caso ela entre com um pedido de reconhecimento de
paternidade, o juiz vai solicitar um DNA, mas se você se recusar há
uma presunção de paternidade, você vai ter que provar que não há
possibilidade de ser o pai.
Alberto:
Eu posso ter dormido com ela, mas não me lembro.
Augusto:
Aceita o meu conselho.
Alberto:
Qual?
Augusto:
Faz o exame. Se der negativo, você fica livre.
Alberto:
Mas se for positivo não posso fugir.
Augusto:
Não pode.
Alberto:
Queria uma solução melhor do que essa.
Augusto:
Sabe que não tem.
Talvez não seja o que quer ouvir de mim, mas você precisa se
responsabilizar pelas coisas que faz.
Alberto:
Tomara que ela esteja errada sobre mim.
Augusto:
O exame vai te dizer.
Alberto:
É! Valeu.
Augusto:
Por nada.

Queria que aquilo não passasse de um pesadelo estranho do qual eu


acordaria logo, porém, estava na cara que não seria tão simples.
Augusto estava certo. Era melhor resolver logo o assunto do que
ficar pensando em hipóteses.
Capítulo 10
No dia seguinte, acordei cedo, deixando minhas filhas na creche
antes de sair para o trabalho. Eu havia vendido pouquíssimo no dia anterior
e precisaria correr atrás do prejuízo, caso contrário, não conseguiria pagar
as minhas contas.
Muitas vezes era desesperador, porém, as minhas filhas eram meu
motivo para continuar seguindo em frente. Eu não poderia desistir, nem
tinha a possibilidade de falhar, porque eu era tudo que as duas tinham e
precisavam que eu fosse a melhor possível.
Ainda passaria um bom tempo agradecendo a Natália e ao seu
Joaquim por terem guardado as minhas coisas. Nem sabia o que seria de
mim se houvesse perdido a minha barraca.
Servi tudo e esperei que os clientes se aproximassem. No início do
dia costumava ser movimentado, muitas pessoas saiam de casa sem tempo
para o café da manhã e comiam meu acarajé.
Havia uma pequena fila, cerca de cinco pessoas e quando chegou ao
último, tomei um susto que quase me fez cair para trás.
— Al… Alberto…
— Preciso falar com você.
— Eu não posso, agora é um horário de movimento e ontem eu
praticamente não vendi.
Ele ficou me encarando, abriu a carteira e tirou duas notas de cem,
colocando-as na minha frente.
— Isso paga por uma hora do seu tempo? Ou eu vou embora e
deixamos essa conversa para lá.
Duzentos reais era mais do que eu vendia no dia. Então era uma
grande oferta, além disso, eu queria descobrir o que havia o feito mudar de
ideia para conversar comigo.
— Eu só preciso guardar as coisas — disse por fim, colocando o
dinheiro no meu bolso.
— Não demora, não tenho muito tempo — falou ríspido.
— Tudo bem. — Guardei tudo o mais rápido possível e deixei na
loja do Joaquim, prometendo explicar a minha atitude depois.
Assim que saí. Alberto ainda estava no mesmo lugar, vestindo um
terno preto que parecia extremamente quente para aquele dia ensolarado,
apesar de ele não parecer incomodado.
— Tem um café no quarteirão debaixo. Vamos até lá. Mas tem que
me prometer que vai parar de gritar.
— Só queria que você me ouvisse.
— Eu vou ouvir.
— Obrigada.
Eu o acompanhei até o local. Era uma pequena lanchonete que tinha
mesas no interior. Ele pediu um café coado e eu disse que não queria nada.
Como as pessoas já estavam entrando em seus locais de trabalho, o
estabelecimento estava vazio.
— Você me disse que nos envolvemos em uma festa há quatro anos
— falou após bebericar o café.
— Era de uma agência de modelos.
— Você não parece uma modelo.
Engoli em seco, incomodada com o seu comentário.
— Os sonhos ficam de lado ao lidarmos com a realidade.
— Entendi. — Tomou um tempo, bebericando novamente o café. —
Gêmeas?
— Maria Lis e Maria flor.
— Elas têm algo em torno de três anos agora?
Fiz que sim.
— Já eliminou os outros possíveis pais?
— Outros, acha que eu não sei quem é?
— Imagino que tenha outros caras.
— Se veio até aqui para me ofender, é melhor ir embora.
— Se eu realmente transei com você, foi apenas uma vez. Quer me
dizer que foi o suficiente para te engravidar.
— Foi!
Ele revirou os olhos, deixando-me ainda mais irritada.
— Por que veio até aqui se não acredita em mim? — questionei,
irritada.
— Estou tentando entender a situação.
— Eu engravidei! O que mais precisa entender?
— Se realmente eu sou o pai.
— Você é!
— Okay! — Ele tirou um cartão do bolso e o empurrou para mim.
— O que é isso?
— O endereço de uma clínica. Leve-as até lá amanhã para fazer um
exame de DNA.
Peguei o cartão e o guardei no bolso.
— Se realmente forem minhas, vamos saber.
Ele me olhava com desdém, como se não acreditasse em uma única
palavra que eu dizia. Isso só me deixava ainda mais irritada, porém, o
exame de DNA iria provar que eu estava falando a verdade.
— Isso é tudo. — Ele se levantou sem nem ao menos olhar direito
para mim. — Tenha um bom dia.
Fiquei sentada na cadeira da lanchonete, enquanto observava as suas
costas e via o homem se afastar. Deveria estar feliz por ele ao menos aceitar
fazer o teste de DNA, mas havia um gosto amargo na minha boca e um
incômodo que subia pelo meu estômago.
Rever o príncipe daquela noite de amor o transformou em um sapo.
Toda a esperança de estar com alguém que amaria as minhas filhas e
ficaria feliz por conhecê-las se esvaiu.
Capítulo 11
— Está atrasado! — Artur reclamou comigo quando nos esbarramos
no corredor aquela manhã.
Geralmente eu levava as provocações dele na brincadeira, mas não
estava em um bom dia e revidei grosseiramente:
— Por que não cuida da sua vida?
— Ei! — Ele se virou, interrompendo o fluxo da sua caminhada
para me encarar melhor. — Está tudo bem com você?
— Como se estivesse preocupado — bufei, impaciente.
— Quer falar a respeito?
— Não!
— Mas…
— Só não me incomoda! — Passei por ele e segui o meu caminho
até a minha sala, trancando-me nela.
Já havia desistido de conversar com alguém que fosse fazer com que
eu me sentisse melhor. Todos, usando palavras diferentes, jogavam na
minha cara que eu precisava lidar com as consequências dos meus atos e
assumir o que havia feito. Entretanto, em momento algum esperava acabar
naquela situação.
Pai…
Eu tinha trinta e quatro anos, me considerava um jovem, com muito
para viver, coisas demais para aproveitar e me divertir. Ser o tipo de homem
de família com esposa e filhos que o Augusto era parecia uma realidade que
eu não almejava, ao menos não tão cedo.
Gêmeas?
Naquele momento eu até concordava com a minha mãe. Não
cuidava nem de mim mesmo, como conseguiria cuidar de uma criança,
ainda mais de duas? Eu não era o tipo de homem para esse papel e sequer
me preparei para ele.
Ainda não tinha o resultado, poderia torcer para que as meninas não
fossem minhas filhas. Certamente eu não era o único homem com que
aquela mulher transou, se é que realmente tínhamos transado, porque eu
nem me lembrava.
Com o resultado, eu poderia ter sorte e me livrar daquilo bem
rápido.
Capítulo 12
Segurei firme as mãos das gêmeas, uma de cada lado, quando
descemos do ônibus diante do ponto mais próximo do endereço que o
Alberto havia me entregado. Havia feito com que elas acordassem mais
cedo do que o comum para atrapalhar o mínimo possível as nossas rotinas e
eu pudesse ir trabalhar.
Por sorte, a clínica abria as seis da manhã.
— Mamãe, não vamu pá escola? — Maria flor perguntou para mim,
ao elevar a cabeça e me encarar com seus olhos castanho-claros assim como
os do Alberto.
— Vamos, sim, filhinha.
— Ondi que tamu? — quis saber Maria Lis.
— Viemos fazer um exame, vai ser rapidinho e logo eu deixarei
vocês duas na escola. Está bem?
Elas balançaram a cabeça em sinal afirmativo, chacoalhando os
cachinhos que eu levava tanto tempo para arrumar.
Assim que passamos pelas portas de vidro automáticas, um homem
da recepção se aproximou de nós. Ele reparou nas mochilas infantis e na
minha expressão de cansaço antes de falar qualquer coisa.
— Vocês têm horário marcado com algum médico?
— Não. Viemos fazer um exame de DNA. O Alberto me entregou o
esse cartão. — Tirei do bolso e estendi para ele. — Disse para eu vir aqui
com as minhas filhas.
Ele se aproximou do painel e imprimiu uma senha, entregando-a
para mim.
— Pode esperar ali que vão te chamar pelo número — indicou as
cadeiras na recepção.
— Obrigada. — Dei um meio sorriso e conduzi as minhas filhas
para lá. — Vamos ficar aqui, meninas.
— Vai dué?
— Doer o que, Maria Flor?
— O exami?
— Não vai não. Vai ser rapidinho.
— Prometi?
— Eu prometo. — Dei um sorriso para elas. — Se vocês se
comportarem vão ganhar um pirulito.
— Oba!
A minha senha apareceu no painel e eu contei a mesma história para
a moça do guichê na recepção. Ela encontrou o nome do Alberto no sistema
e fez um breve cadastro das minhas filhas antes de sermos conduzidas para
uma pequena sala de coleta. Tudo foi bem rápido, a responsável pela coleta
pegou um pouco da saliva de cada uma das meninas e da minha, guardando
tudo em frascos etiquetados com nossos nomes.
Ao sair da clínica, enquanto esperávamos no ponto de ônibus, eu
comprei um pirulito para cada uma delas de um vendedor ambulante que
estava passando.
Elas se divertiram com o passeio, enquanto não sabiam de fato o que
estava acontecendo.
Em alguns instantes já tinham me feito perguntas sobre o pai, mas
eu fugia, contando histórias fantasiosas, mas em algum momento elas
seriam maiores e teriam uma melhor compreensão do mundo para não
serem enganadas com qualquer papinho e eu teria que contar a verdade.
Capítulo 13
Eu fui informado, antes mesmo de sair de casa, que Silvana havia
comparecido com as crianças na clínica para serem submetidas ao exame de
DNA.
Depois do que o Augusto havia passado com a ex-esposa maluca
dele. Eu iria testar inclusive a compatibilidade delas com a própria mãe.
Nunca imaginaria que uma mulher pudesse roubar o filho de outra, mas
Graciela fizera isso e eu precisava me resguardar de qualquer armadilha.
Paguei para o resultado sair o mais rápido possível, sem esperar o
prazo padrão ao qual os demais clientes eram submetidos. Apesar de temer
o resultado, era muito pior ficar naquela dúvida.
Peguei o meu celular e mandei uma mensagem para o Augusto. Por
enquanto, ele era a única pessoa com quem eu conversei sobre o assunto e
preferia a certeza ou afastar a possibilidade antes de cogitar contar qualquer
coisa para os meus pais.
Do jeito que a minha mãe era, acabaria decretando as gêmeas como
netas antes de saber a verdade e depois disso seria ainda mais difícil afastá-
las.

Alberto:
Elas foram até a clínica.
Augusto:
Já tem o resultado?
Alberto:
Ainda não. Vou até lá para coletarem a minha amostra e me
prometeram o resultado até o fim do dia.
Augusto:
Ótimo!
Como está se sentindo?
Alberto:
Azarado para caralho.
Augusto:
Não é para tanto. Filhos são uma benção.
Alberto:
Quando a gente escolhe tê-los.
Augusto:
Se você não foi pai delas, é melhor optar pela abstinência
depois desse susto. Só assim vai garantir que não engravidará mulher
nenhuma.
Alberto:
Sem transar o meu pau vai cair.
Augusto:
Risos!
Nem vai precisar dele mesmo.
Alberto:
Rá!
Acho melhor fazer uma vasectomia.
Augusto:
O único método 100% eficiente é não transar.
Alberto:
Tá! Já entendi.
Augusto:
Vai dar tudo certo.
Alberto:
Espero que sim.
Augusto:
Me fala quando tiver os resultados.
Alberto:
Está bem.

Meu pai estava habituado que eu não fosse para o trabalho com ele e
não me fez perguntas quando eu saí de casa pela manhã e passei na clínica.
Tentei trabalhar ao longo do dia como se fosse qualquer outro,
porém, foi impossível me concentrar. A todo momento eu abria a minha
caixa de e-mail e recarregava para ver se havia algo da clínica. Eles me
garantiram entregar o mais rápido possível, porém, não poderiam diminuir
o tempo da máquina e queriam garantir que não houvesse erro.
Que merda!
Eu estava extremamente nervoso.
Inclinei o meu corpo para frente, massageando as têmporas e
inspirando profundamente.
Ouvi uma batida na porta e me remexi na cadeira.
— Quem é?
Bruna abriu a porta e colocou a cabeça para dentro da sala,
lançando-me um sorrisinho.
— Oi, chefinho.
— O que foi?
— Queria saber se precisa de uma mãozinha, ou algo mais.
— Não!
— Mas…
— Me deixa em paz.
— Tem certeza.
— Sai e fecha a porta — rugi em um tom ríspido.
Naquele momento eu não estava com clima para fazer
absolutamente nada. Só de pensar na possibilidade de me ver naquela
enrascada de novo, eu tinha calafrios.
Meu dia foi uma merda, não consegui me concentrar para fazer nada
direito e tinha certeza de que iriam me recriminar por isso, mas enquanto
aquele resultado não saísse, ficaria remoendo aquela sensação de angústia.
Já era quase seis horas da tarde quando abri a janela do meu e-mail
pessoal e atualizei a caixa de entrada, recebendo o e-mail da clínica. Abri
sem pensar duas vezes e rolei até o fim, onde estava um anexo em PDF com
o resultado.
Muitos termos técnicos, mas eu segui para a parte que me
interessava. Havia um exame para cada uma das crianças e a
compatibilidade genética comigo e com a Silvana…
Ah! Droga!
Não é que a maluca estava falando a verdade?
As duas meninas eram minhas filhas.
Alberto:
Saiu o resultado.
Augusto:
E aí!
Alberto:
Positivo, ao que parece.
Augusto:
Não há subjetividade, é sim ou não.
Alberto:
Elas são minhas filhas.
Augusto:
Parabéns!
Alberto:
Deveria ser: meus pêsames!
Augusto:
Você já as viu?
Alberto:
Ainda não.
Augusto:
Vai ver só como a sua vida vai mudar completamente quando
as conhecer.
Alberto:
Acha que eu quero mudar a minha vida?
Augusto:
Ser pai é uma coisa boa.
Alberto:
Para você.
Augusto:
Certo. Elas são suas filhas e já passaram um tempo sem você.
Está na hora de mudar isso. Quando vai encontrá-las?
Alberto:
Eu não sei.
Augusto:
Quanto mais cedo melhor.
Alberto:
Não vejo por esse lado.
Augusto:
Só seja o pai que elas precisam.
Alberto:
E se eu não conseguir?
Augusto:
Precisa ao menos se esforçar.
Alberto:
Vai comigo?
Tenho um endereço que a Silvana me passou.
Augusto:
Sim. Vou avisar a Elisandra e saímos daqui direto para lá.
Alberto:
Obrigado.
Augusto:
Daqui há meia hora. Pode ser?
Alberto:
Combinado.

Admito que eu preferia permanecer no local onde eu estava do que


ter que conhecer minhas filhas e assumir a minha responsabilidade como
pai, entretanto, parecia não haver mais essa opção e eu teria que lidar com
aquela bomba.
Capítulo 14
Eu possuía apenas um endereço, mas não tinha real noção de onde
era. Minha vida inteira eu morei em São Paulo, mas era uma cidade
enorme, que parecia caber o mundo inteiro, pois era possível encontrar um
pedaço de cada cultura. Apesar de ser uma cidade enorme, eu seria
mentiroso em dizer que saia da zona sul. Alguns compromissos
profissionais me levaram a outras regiões, mas eram raros e eu nunca fora a
uma parte tão marginalizada e pobre daquela grande metrópole.
À medida que as casa precárias e os carros antigos foram tomando
as ruas, que se tornavam cada vez mais estreitas, eu fiquei preocupado.
— Tem certeza de que estamos no local certo? — Cutuquei o ombro
do Augusto, que estava dirigindo.
Eu havia deixado meu carro no escritório e aceitado vir no dele, que
era maior e mais discreto. Eu sempre o achei simples demais, porém, diante
do que via ao nosso redor, pensei se não estaria chamando muita atenção.
— É o enderenço que você passou — respondeu ele, segurando
firme o volante. — Estou seguindo o GPS.
— Acho melhor voltarmos. Vai que algo acontece com a gente.
— É só uma região mais humilde.
— Será que ela mora mesmo aqui?
— Vamos descobrir quando chegarmos no endereço.
Permaneci tenso no banco do carona enquanto o Augusto virava em
uma esquina e depois em outra, parando antes de um amontoado de areia na
rua. Já passava das sete horas da noite e havíamos enfrentado um trânsito
horrível para chegar ali, mas ainda vi pessoas na rua e crianças correndo.
Assim que estacionamos e descemos do carro, todos olharam em
nossa direção como se houvesse um holofote piscando.
— Acho que o número é aquele. — Augusto apontou para um
pequeno portão verde, muito enferrujado, onde havia uma série de letras,
como se fossem muitas residências no mesmo local, porém, não se tratava
de um prédio.
Nos aproximamos do portão e eu procurei por um interfone, mas
não tinha. Augusto tomou a iniciativa e bateu por mim. Alguns minutos
depois, apareceu uma mulher com mais de cinquenta anos, aparecia cansada
e cabelo desgrenhado.
— Quem são vocês? Por acaso são da polícia?
— Não senhora. Estamos aqui para ver a Silvana. Sabe me dizer se
ela mora nesse lugar?
— Mora sim. — Deu um passo para trás. — No barracão C, podem
passar.
— Obrigado.
Eu fiquei em silêncio, seguindo o meu irmão mais velho pelo espaço
estreito com chão de cimento arrebentado em algumas regiões, onde
cresciam ervas daninhas. Por todo o percurso eu vi muito lodo. Parecia um
ambiente insalubre demais para alguém viver, ou uma realidade tão
diferente da minha que eu nem conseguia cogitar.
— Acho que o C é esse.
A porta estava entreaberta e Augusto foi entrando, fazendo com que
eu o seguisse por reflexo.
Se do lado de fora já não era bonito, por dentro pareceu ainda pior.
As paredes ainda eram de tijolos, sem qualquer acabamento. Havia uma
pequena sala, que também parecia uma cozinha e não apostava que tivesse
muitos cômodos a mais.
Silvana estava no centro, sentada no chão de cimento batido,
ajudando as duas meninas a comer algo que me parecia arroz, feijão e ovo.
Ela tomou um susto enorme quando percebeu que entramos.
As duas meninas gritaram diante da reação da mãe e os pratinhos de
plástico caíram no chão.
— Por que estão invadindo a minha casa?
— Silvana, certo? — Augusto estendeu a mão para ajudá-la a se
levantar. — Eu sou o irmão mais velho do Alberto e viemos até aqui para
conhecer as meninas.
Ela ainda estava boquiaberta e piscou os olhos várias vezes para se
situar antes de dizer qualquer coisa.
— Então… então…
— Ai! — Dei um grito quando o meu irmão me deu uma
cotovelada.
— O que foi?
— Conta para ela.
— O resultado saiu? — Silvana deduziu por si própria.
Balancei a cabeça fazendo que sim.
— Eu estava certa, não é?
— Sim.
Meus olhos se moveram e eu encarei as duas meninas. Elas eram
pequenas, talvez menores do que eu imaginava, porém, eu não entendia de
crianças para afirmar um tamanho correto. Elas tinham longos cabelos
cacheados, e uma pele que parecia a mistura da minha com a da sua mãe.
Os olhos, pareciam exatamente como os meus, apesar dos demais traços do
rosto lembrarem a Silvana.
Eu senti algo estranho uma mistura que fez meu estômago revirar.
Prendi o fôlego por alguns instantes, tentando colocar meus pensamentos
em ordem.
— Elas são lindas — disse Augusto, rompendo o silêncio.
— Obrigada — Silvana murmurou ainda tensa.
— Vocês têm que sair daqui — soltei, fazendo com que Silvana
arregalasse os olhos novamente.
— O que você está dizendo?
— Não pode continuar aqui. Esse lugar é horrível.
— Ficou maluco? Aparece do nada na minha casa e começa a falar
essas coisas.
— Um chiqueiro deve ser melhor do que isso.
— Escuta aqui! — Silvana cerrou os dentes. — Eu mantenho tudo
muito limpo dentro do possível. Não pode ofender desse jeito a minha casa.
— Alberto… — Augusto tentou me fazer recuar.
— Olha só, irmão. — Apontei para que ele olhasse em volta. —
Acha que elas têm que continuar nesse lugar?
— E o que pretende fazer? — Sua pergunta me fez engolir em seco,
ainda não havia pensado sobre isso.
Precisei de alguns minutos para pensar, enquanto as meninas me
lançavam um olhar curioso. Sem saber o que dois desconhecidos estavam
fazendo na sua casa e Silvana parecia cada vez mais irritada.
— Vocês vêm comigo — anunciei.
— Eu não vou a lugar algum — Silvana bateu o pé.
— Não podem ficar aqui.
— É o que eu consigo pagar.
— Viu o mofo na entrada? Elas vão acabar ficando doente.
— Eu cuido muito bem das minhas filhas. — Silvana colocou as
mãos na cintura e estufou o peito.
— Não é isso que ele está querendo dizer — apaziguou Augusto.
— É melhor vocês dois irem embora.
— Não vamos!
— Alberto…
— O quê? Ela me parou na rua, fez a maior gritaria e agora vem
achar ruim que eu reclame desse lugar? Arruma as coisas delas que eu vou
levá-las daqui.
— Você não vai levar as minhas filhas para lugar nenhum!
— Alberto! — Augusto segurou o meu ombro e saiu me arrastando.
— Vamos conversar lá fora.
— Não tenho o que conversar.
— Por favor…
— Está bem! — Bufei diante da súplica do meu irmão.
Eu e meu irmão voltamos para aquele corredor terrível e só de ficar
ali por alguns minutos, meu nariz começou a incomodar.
— Não estou te entendendo. — Confortei-o com o olhar. — Não
disse que eu precisava ser pai delas e fazer o que eu não fiz antes. Olha para
esse lugar! É... asqueroso.
— Aposto que se a Silvana pudesse pagar por outro lugar, não
estariam vivendo aqui. A quantidade de pessoas que nascem como nós, é
menor do que você imagina, irmão.
— Quer o quê? Que eu as deixe aqui? Por mim nunca havia
embarcado nessa furada, foi você quem insistiu. — Eu funguei
profundamente. Só o que faltava era o meu nariz começar a escorrer.
— É obvio que tem que tirá-las daqui! O problema é que se falar
com a Silvana desse jeito, ela nunca vai aceitar qualquer imposição sua.
— Okay! — Cruzei os braços. — Qual sua sugestão?
— Eu vou tentar convencê-las, mas primeiro preciso saber para
onde pretende levá-las. Para mansão?
— Não! Minha mãe vai ter um troço, eu preciso prepará-la e o nosso
pai antes de contar. Além disso, e uma coisa sou eu morar com eles. Não
quero levar a Silvana para tão perto.
— Ela não vai renunciar às meninas.
— Presumi isso.
— Alugar um local ou comprar leva tempo. Não podemos fazer isso
agora.
— Hotéis são algo que não faltam nessa cidade. Pode ser provisório
até eu encontrar outro lugar.
— Sim, acho uma boa opção. — Ele concordou com a cabeça.
— Nem sou tão ruim assim.
Augusto riu.
— Agora eu preciso convencê-las disso.
Capítulo 15
Maria lis se levantou do sofá, contornou o prato ainda caído no chão
e segurou a minha mão. Atraindo minha atenção para ela.
— Mamãe, que foi?
Elas não estavam entendendo o que estava acontecendo e eu nem
sabia por onde começar a explicar. Eu deveria ter pensado melhor sobre
como seria quando esse momento chegasse, porém, nunca imaginei que o
Alberto apareceria daquele jeito na minha casa.
Sabia que aquele barracão precário estava longe de ser a melhor
residência do mundo, mas eu tinha que me desdobrar para cuidar das duas e
ao menos era um teto sob as nossas cabeças e um local onde eu sabia que
elas estariam seguras. Era muito arrogante chegar fazendo ofensas sendo
que nunca esteve por perto para me ajudar.
Os dois irmãos haviam saído e eu cogitei que pudessem ter ido
embora.
— Por que vocês duas não vão escovar os dentes? — Esquivei-me
da pergunta dela, empurrando as duas para o banheiro. — Está na hora de
dormir.
Assim que elas foram, eu me ajoelhei para recolher os pratos do
chão e limpar a bagunça quando eu vi um par de sapatos brilhantes e caros
se aproximar, mas antes que eu me levantasse, o sujeito se agachou para me
ajudar.
— O Alberto só está assustado.
— Bela forma de agir.
— Ele só quer o melhor para as filhas.
— Não foi o que pareceu quando eu contei para ele.
— Temos um histórico de problemas, mas não é culpa sua. Me
desculpe.
— Obrigada.
Não conseguiria imaginar que alguém com o mesmo sangue do
Alberto pudesse ser tão gentil e educado.
— Eu sei que tem dado o seu melhor pelas meninas, mas não
precisa mais ser tão difícil. Agora que a paternidade foi esclarecida, nós
vamos ajudar.
— Ofendendo a minha casa?
— Mais uma vez me desculpa por isso. O que o meu irmão queria
dizer, mas não escolheu as palavras corretas, é que as filhas dele merecem
viver num lugar melhor do que esse e vamos providenciar isso. Quero que
venham conosco, vamos colocá-las em um hotel até providenciarmos uma
casa ou um apartamento adequado.
— Quer que eu deixe tudo para trás só porque vocês decidiram que
não gostam daqui. Essa é a minha vida!
— Compreendo que foi muito difícil para você, mas tem a minha
palavra de que nunca mais ficarão desamparadas.
Mordi o lábio inferior, encarando aquele homem que dizia
exatamente o que eu quis ouvir por muito tempo, entretanto, ainda era
difícil de acreditar depois de tudo o que eu já havia passado.
— Quem me garante que não vão me largar e sumir?
— Eu. — Ele me deu um sorriso gentil. — Sei que não é muito para
fazer você acreditar, mas tudo o que eu posso te dar agora é a minha palavra
de que o Alberto vai fazer a parte dele e eu estarei lá para ajudar.
Fiquei de pé, segurando os pratos de comida e o encarei com o olhar
firme.
— O que eu vou falar para as minhas filhas?
— A verdade, mas tenho certeza de que vai pensar na melhor forma.
Faça as suas malas e a das meninas, vamos esperar lá fora.
— Obrigada.
— Por nada. — Ele me deu um sorriso e saiu do cômodo.
— Mamãe, eles ainda tão aqui?
— Vamos passear com eles.
— Para ondi?
— Eu ainda não sei, mas vamos fazer as malas.
Ao mesmo tempo, em que eu estava muito receosa em deixar tudo e
seguir com aqueles homens, sabia que as minhas filhas mereciam mais.
Capítulo 16
Eu estava do lado de fora, escorado no carro enquanto ficava
desconfortável com as pessoas que passavam e reparavam em mim como se
eu fosse um animal de circo. Certamente eu não fazia parte daquele local,
mas seria melhor se eu não ficasse tão constrangido.
Não sei quanto tempo se passou até que o Augusto surgisse no
portão e caminhasse até mim, parando ao meu lado.
— Ela virá?
Balançou a cabeça fazendo que sim.
— Como a convenceu.
— Às vezes só precisa ser um pouco mais compreensivo. Deveria
tentar.
Dei um sorriso amarelo, mas não falei nada.
Nós esperamos muito até que eu começasse a ficar impaciente,
quando estava prestes a entrar na casa e perguntar se elas não haviam
mudado de ideia, Silvana saiu segurando as mãos das meninas e
equilibrando malas de pano nos dois ombros.
— Vá ajudá-la! — Augusto me deu outra cotovelada.
Estava começando a me arrepender de ter chamado meu irmão.
Atravessei a rua e peguei as malas. Silvana veio com as meninas
enquanto o Augusto abria o porta-malas para que eu colocasse os pertences
delas. As três foram para o banco de trás e esperamos que se acomodassem
antes do meu irmão ligar o carro.
Ele sugeriu um flat mais próximo do local onde trabalhávamos e eu
concordei com a ideia, seria mais fácil visitar as meninas e saber se estava
tudo bem. Eu nunca havia pensado em comprar um local para mim, era
muito mais cômodo morar com os meus pais, sem preocupação com a
gestão dos empregados, com todos os meus pertences sempre organizados e
roupas limpas.
Nem sabia o nome das empregadas, mas elas estavam lá e minha
mãe cuidava delas.
Embora fosse ótimo, não havia nenhuma possibilidade de eu levá-
las para lá. Para início de conversa, eu estava disposto a cuidar das minhas
filhas, mas não manteria nenhum relacionamento com a Silvana. Se ela
ficasse perto da minha família poderia acabar confundindo as coisas.
Não seria difícil encontrar uma casa ou apartamento melhor do que
aquele pulgueiro em que elas estavam.
Augusto parou na porta do flat e Silvana colocou a cabeça para fora.
— Aqui é muito longe da creche das meninas.
— Vamos arrumar outra creche — disse sem pensar muito,
considerando a casa, provavelmente o local onde as meninas passavam o
dia, também era terrível.
— Não pode mudar a vida delas desse jeito do dia para a noite.
— Vamos solucionar isso — prometeu Augusto —, mas primeiro
temos que acomodar vocês três.
Deixei-os no carro e fui fazer o check-in, escolhendo um dos
apartamentos que achei mais adequado. Apesar de funcionar num esquema
de hotel, com as pessoas permanecendo por pouco tempo, com limpeza e
administração. Os ambientes eram pequenos apartamentos, incluindo um ou
dois quartos, cozinha e banheiro.
Depois eu acertei tudo e peguei a chave, voltei para buscá-las.
Capítulo 17
Eu estava esperando um local bem menor do que aquele. Às vezes
que estive em hotéis, todos eram apenas uma cama com banheiro, nenhum
deles parecia com uma casa de verdade. Já as minhas filhas, não conheciam
nada diferente daquele lugarzinho onde moravam e ficaram completamente
deslumbradas.
­— Que isso? — perguntou Maria Flor ao olhar em volta.
— Vocês vão morar aqui por enquanto — respondeu o Alberto.
— Sélio? — Maria Lis ficou boquiaberta.
Sim.
— Ondi vô dormi? — Maria Lis quis saber.
Alberto abriu a porta de um dos cômodos e mostrou um quarto com
duas camas de solteiro perfeitamente arrumadas e cobertas por um lençol
muito branco e com cheiro de amaciante, como se houvesse acabado de ser
lavado.
— Cada uma escolhe uma das camas.
— Uma pla cada uma? — Maria Lis arregalou os olhos.
Alberto fez que sim.
Desde o nascimento dividíamos uma única cama e elas não sabiam
como era ter o próprio espaço, nem que isso era possível.
— Fiquem à vontade, meninas.
— Eba!
As duas entraram correndo no cômodo e ele se virou para mim.
— O outro quarto é para você.
— Obrigada. — Engoli em seco. Eu não tinha escolha a não ser
agradecer, apesar de toda a situação me deixar incomodada e desconcertada.
— Aqui é provisório, vão ficar por umas semanas até que eu consiga
algo definitivo.
Concordei com a cabeça.
— Tem serviço de quarto se estiverem com fome.
Estava tão boquiaberta quanto as minhas filhas, sem saber o que
dizer.
Fiquei encarando o Alberto e ele me encarou de volta, eu não estava
mais com tanta raiva quanto no momento da delegacia, mas não sabia
descrever com exatidão o que estava sentindo.
— Eu tenho que voltar para casa — disse o irmão mais velho,
fazendo com que o mais jovem desviasse o olhar e se afastasse.
— Preciso de uma carona.
— Okay.
— Se precisarem de algo, você liga — falou Alberto, entregando-me
um cartão, antes de fechar a porta e me deixar sozinha com as minhas filhas
no que parecia um verdadeiro palacete.
Ouvi um ranger de cama e peguei a Maria Flor no ar antes que ela
despencasse no chão.
— Não podem pular — rugi.
— Macio! — Ela suspirou.
Estendi a mão para tocar o lençol, parecia tão suave quanto uma
gota de chuva. Deveria ter todos aqueles fios que eram prometidos nas lojas
de roupas de cama que eu via no Brás.
Soltei um suspiro profundo e joguei o meu corpo para trás, sentindo-
o afundar no melhor colchão que já tinha experimentado.
Capítulo 18
— Na balada em dia de semana? — resmungou a minha mãe ao me
ver entrar pela sala bocejando.
Eu não estava na balada, mas preferi não falar onde estive para não
alimentar ainda mais suas perguntas. Ainda estava lidando com aquela
loucura de ser pai de duas garotinhas e precisava de tempo para absorver a
situação antes de ter que enfrentar a minha mãe e possivelmente contê-la.
Era um saco o fato do Augusto e do Artur serem filhos de outra
mulher, porque a minha mãe teria com quem mais se preocupar e não me
perturbaria tanto. Apesar do Augusto ser um pouco mais simpático com a
presença dela, Artur não cansava de lembrá-la que era a madrasta.
— Estou com sono. — Segui para a escada.
— Alberto! — Ela gritou comigo.
— Deixa ele! — Ouvi o meu pai dizer. — Quando tinha essa idade
também queria curtir a vida.
— Ele já não é mais um menino.
Deixei os dois falando e segui para o meu quarto, precisava de um
tempo sozinho, talvez bem mais do que só alguns minutos.
Eu sou pai!
Talvez o tempo da gravidez servisse para nos preparar para aquele
momento, mas as meninas já estavam crescidas, sabiam andar e falar. Eu
me sentia um estranho na vida delas, assim como eram na minha, mudar
isso não parecia nada simples.
Após fechar a porta do meu quarto, joguei-me na cama, tentando
processar tudo o que aconteceu naquela noite. Ainda me esforçava para me
lembrar da maldita festa, mas tudo era um grande branco. Já havia dormido
com tantas mulheres em minha vida que Silvana não passava de mais uma.
O rosto daquela mulher, mãe das minhas filhas, dava voltas como uma
espiral em minha mente.
Enquanto me afundava nos lençóis, não pude deixar de me
perguntar como tudo se seguiu após aquela noite. Quatro anos… Quatro
anos desde aquela noite em que nossos caminhos se cruzaram como já
havia sido com tantas outras.
Um turbilhão de emoções invadiu meu peito e fez com que eu me
sentisse sufocado. Experimentei uma falta de ar que provavelmente era
causada por uma angústia. A incerteza misturava-se com a ansiedade, e a
curiosidade competia com o medo do desconhecido. Nunca me vi como pai
nem me sentia preparado para isso. Mas uma coisa era certa: eu precisava
enfrentar essa situação. Não podia fugir para sempre.
Depois do DNA a Silvana havia deixado de ser a maluca falando
asneiras e ganhou a razão, apesar de isso parecer horrível, eu precisava
escutar o Augusto e lidar com as consequências dos meus atos.
Decidi que precisava de algum tempo antes de compartilhar essa
notícia com minha família. Precisava processar tudo e, mais importante
ainda, descobrir como enfrentar essa situação com a mulher que agora era
mãe de minhas filhas.
Eu não sei como meu pai iria agir, minha mãe certamente surtaria.
Antes de enfrentá-los, eu precisaria estar confortável com a situação, o que
eu não sabia quando iria acontecer, nem se aconteceria em algum momento.
Enquanto isso, o peso da descoberta parecia pressionar meus
ombros a cada segundo que passava, pensava sobre as meninas, minhas
filhas. Como estariam? O que estariam fazendo agora? Perguntas sem
resposta que ecoavam incessantemente em minha mente.
Eu havia visto de perto o ambiente insalubre em que elas viviam,
um lugar completamente incompatível com a realidade de herdeiro abastado
que eu conhecia. Apesar da ideia de ser pai ainda me soar estranha, tinha
certeza de que não podia mais permitir que elas continuassem em um lugar
assim. A decisão de tirá-las de lá e colocá-las num local melhor foi
assertiva, mas aquele apart-hotel era provisório, precisava de um lugar
melhor para viverem, onde pudessem ter um quarto, quem sabe um quintal
para brincar.
Decidi que era hora de enfrentar a situação e assumir minhas
responsabilidades. Como pai daquelas gêmeas, teria que fazer parte da vida
delas e garantir que pudessem crescer com as condições que o meu dinheiro
poderia proporcionar.
Capítulo 19
Ao acordar naquela manhã, senti um peso no peito, como se um nó
se formasse em minha garganta ao me dar conta da realidade que me
cercava. Revirei de um lado para o outro da cama, sem coragem de acordar.
Abri os olhos e olhei ao redor, ainda um pouco sonolenta, sem reconhecer o
ambiente em que estava, até que a lembrança da noite anterior veio à minha
mente.
Eu estava no apart-hotel alugado por Alberto, o pai das minhas
filhas. O pensamento fez meu estômago se revirar com uma mistura de
emoções. Ao mesmo tempo, em que sempre sonhei com aquela ajuda,
pensava que ela poderia ter consequências complicadas. A noite anterior foi
um turbilhão de sentimentos, desde o choque inicial ao ver o Alberto entrar
no meu barracão e ver o local onde eu morava com as minhas gêmeas. Ele
falou sobre o exame de DNA e reconheceu a paternidade das meninas.
Admito haver um medo enorme de permitir que aquele homem
mudasse nossas vidas e depois desaparecesse novamente.
Levantei-me da cama com cuidado, tentando não acordar as
meninas, que dormiam tranquilamente no quarto ao lado. O apartamento
parecia mais luxuoso do que qualquer local que eu já havia morado, mas
acolhedor, e eu me sentia grata por ter um lugar seguro para ficar, pelo
menos por enquanto.
Enquanto me arrumava, minha mente vagava por todos os
acontecimentos dos últimos dias. Me reencontrar com o Alberto ao acaso
em uma das ruas do Brás e exigir que ele me escutasse parecia o certo a ser
feito, mas havia virado minha vida de cabeça para baixo, e eu ainda estava
tentando processar tudo.
A ideia de ter que lidar com Alberto novamente me deixava
desconfortável. Não sabia ao certo o que esperar dele, nem como ele
reagiria à presença das meninas em sua vida. Eu só sabia que,
independentemente de qualquer coisa, eu faria de tudo para proteger minhas
filhas, custasse o que custasse.
Terminei de me arrumar e fui até o quarto das meninas,
encontrando-as ainda dormindo tranquilamente. Um sorriso suave se
formou em meus lábios ao vê-las ali, tão serenas e inocentes. Elas eram
meu raio de sol em meio à tempestade, minha razão para continuar lutando,
mesmo nos momentos mais difíceis. Cada sacrifício meu foi sempre para
garantir o melhor para elas. Pelas meninas eu consegui causar um escândalo
e fazer com que o Alberto me ouvisse.
Estava disposta a enfrentar o que fosse necessário de cabeça erguida
para proporcionar a elas uma vida melhor do que a minha, se isso
significava conviver com um homem que nem se lembrava de mim, estava
tudo bem.
Maria Lis se remexeu na cama e esfregou os olhinhos castanhos
antes de abri-los e olhar para mim.
— Bom dia, mamãe.
— Bom dia, minha princesinha. — Dirigi a ela o maior sorriso do
mundo.
Maria Flor também acordou e as duas se levantaram, vindo até mim.
— Não vamos para a creche hoje, mamãe? — perguntou Maria Lis.
— Hoje não, meninas, vamos ficar juntas — afirmei, acariciando
seus cabelos volumosos e cacheados como os meus.
Elas trocaram olhares animados, claramente empolgadas com a ideia
de passarem o dia todo comigo.
Elas se assustaram ao ouvir um barulho na porta e antes que eu
pudesse detê-las, saíram a tempo de ver o Alberto entrar. Daquela vez ele
estava sozinho, sem a companhia do irmão que havia tornado a situação
mais fácil na noite anterior.
Quando nossos olhares se cruzaram, eu engoli em seco.
— Bom dia, Silvana.
— Bom dia…
As meninas observavam a cena com curiosidade, sem entender
completamente a tensão no ar.
— Quem é esse, mamãe? — Maria Flor perguntou, olhando para
mim em busca de uma explicação.
Alternei meu olhar entre o Alberto e minhas filhas, buscando
palavras para explicar a situação a elas de uma forma que não as deixasse
ainda mais confusas.
— Esse é... um amigo, queridas — respondi, tentando manter o tom
calmo, mas certamente falhei.
Alberto assentiu, talvez houvesse percebido o meu desconforto. A
necessidade de proteger as minhas filhas parecia melhor do que jogar a
bomba da verdade sem uma forma de antecipar.
— Eu vim para conversar com a mãe de vocês sobre algumas coisas
— Inclinou-se na direção delas com um sorriso, mantendo o tom calmo e
controlado.
Eu não sabia exatamente o que esperar daquela conversa, apesar de
ter certeza de que ela era necessária. Por mais que estivesse disposta a
enfrentar o que fosse necessário para proteger minhas filhas, a presença de
Alberto trazia à tona uma série de emoções complicadas e me deixava com
um gosto amargo na boca e borboletas no estômago.
— Podemos conversar lá fora? — Alberto sugeriu, indicando o
corredor com um gesto da cabeça.
Hesitei por um momento, mas acabei concordando. Não queria
expor as meninas ao que poderia ser dito. Quando fosse o momento de
conversar com elas, esperava ter as palavras certas e controlar da melhor
forma possível o impacto que teria.
— Tudo bem. Vamos lá fora — respondi antes de me virar para as
minhas filhas. — Meninas, fiquem quietinhas aqui, a mamãe já volta.
Acomodei as duas no sofá e liguei a televisão em um canal de
desenho infantil. Elas estariam seguras e distraídas enquanto eu conversava
com o pai delas sobre o futuro de todas nós.
Caminhamos para fora do apart-hotel, ficando no corredor e eu
fechei a porta, mantendo a chave no bolso. Apesar da privacidade, eu ainda
poderia ouvir o que estava acontecendo lá dentro e correr até as meninas
caso algo acontecesse.
Capítulo 20
Eu não dormi nem um pouco aquela noite, virando de um lado para
o outro da cama, pensava sobre o que teria que ser feito a seguir. Não
parecia haver forma certa de lidar com a situação nem um manual que
explicava exatamente como ser pai. Para começar, meu pai e o Augusto
pareciam homens diferentes, mas eu sentia que os dois faziam bem os seus
papéis, mas ambos eram casados com as mães de seus filhos.
Eu não tinha nenhuma intenção de me casar e encontrar uma forma
de fazer funcionar parecia ainda mais difícil.
Chegamos ao lado de fora do apart-hotel, mas não houve alívio para
a tensão no ar. O peso do mundo permanecia sobre os meus ombros.
Silvana e eu nos encaramos por um momento, antes de começarmos
a conversar sobre o que precisava ser discutido. A sensação que eu tinha era
que nenhum de nós queria falar, mas não poderíamos nos omitir diante da
situação que estava em seu limite.
A verdade já havia sido escancarada e não poderíamos fugir dela,
por mais que houvesse sido a minha vontade no início.
— Silvana, precisamos falar sobre o futuro das meninas — comecei,
escolhendo minhas palavras com cuidado.
Ela assentiu, sua expressão séria mostrando que entendia a
gravidade da situação.
— Eu sei. Estou disposta a fazer o que for melhor para elas. —
respondeu em meio a um tom firme.
Respirei fundo, pensando nas palavras para discutir o assunto.
Tentei encontrar as melhores, mas certamente não consegui.
— O DNA provou que elas são minhas filhas…
— Ainda bem que existe um exame já que as palavras de uma
mulher não bastam — falou um tanto irritada.
Voltei a controlar a minha respiração. Meu intuito ali não era
discutir com ela, mas fazer o que precisava ser feito e assumir meu papel
como pai.
— Eu sei que não estive presente na vida delas até agora, mas quero
mudar isso — disse com calma e pausadamente. — Elas merecem a
presença de um pai como qualquer criança e estou determinado a cumprir
esse papel.
Ela abriu a boca, mas não emitiu nenhum som, pareceu surpresa
com minha declaração, mas não negou minhas palavras.
— Eu… — engoliu em seco, também controlando as palavras. — É
exatamente o que eu quero para elas.
— É bom entrarmos em um consenso.
Balançou a cabeça em afirmativa.
— Entendo que isso é muita coisa para elas processarem e que você
possa precisar de um tempo para contar, mas eu quero que elas saibam que
eu sou o pai e estou aqui para fazer parte das suas vidas. — Por reflexo,
estendi a mão e toquei o seu ombro, ela olhou para o meu gesto, mas não se
esquivou, nem me afastou.
— Obrigada — assentiu, sua expressão suavizando um pouco diante
das minhas palavras.
Eu sorri, sentindo um peso sendo tirado dos meus ombros. Sabia
termos muito trabalho pela frente, mas estava determinado a fazer o que
fosse preciso para garantir o melhor para as nossas filhas.
— São muitos detalhes a serem discutidos e vamos definir isso com
calma durante os próximos dias, como o local onde elas vão morar e
estudar. Existem excelentes escolas em São Paulo e vou me inteirar sobre
cada uma delas para tomar a melhor decisão…
Eu havia sido criado para ser um homem de negócios, apesar de se
tratar das minhas filhas, parecia difícil não encarar a situação como um
investimento a longo prazo buscando os melhores resultados. Garantir o
futuro delas parecia a minha maior obrigação.
— Não sei se devemos mudá-las assim — Silvana recuou, receosa.
— Elas são novas e podem se acostumar facilmente — garanti.
— Sim, mas… — ela permaneceu hesitante.
— Mas o quê?
— Apesar de querer o melhor para elas. — Desviou o olhar, sem
conseguir permanecer me encarando — Eu… eu não posso arcar com os
custos de uma escola particular nem para uma delas, ainda mais para a duas.
Dei um sorriso, isso nem estava em minha mente.
— Posso garantir que estou disposto a arcar com todos os custos
relacionados à educação das meninas — disse confiante.
Silvana franziu o cenho, claramente surpresa com minha oferta.
— Você faria isso? — perguntou, um tanto incrédula.
— Eu sou o pai delas, a final. — Dei de ombros. — Meu pai sempre
dizia que a educação era a melhor herança que poderia nos deixar. Farei
tudo o que estiver ao meu alcance para garantir que as meninas recebam a
melhor educação possível.
— Eu agradeço…
Ela ponderou, mordendo o lábio inferior e ainda evidenciando o seu
receio.
— O que foi? — insisti para falar.
— Até quando?
— Como assim? — Franzi o cenho, confuso.
— Até quando pretende fazer isso? O que me garante que não vai
cansar amanhã e abandoná-las.
— A lei — falei o óbvio. — Assumindo a paternidade delas,
qualquer juiz vai garantir que eu arque com parte da criação das minhas
filhas.
Silvana permaneceu em silêncio por um momento, parecendo
ponderar sobre o que eu havia dito. Finalmente, ela suspirou e se dirigiu a
mim com um ar mais calmo.
— Muito bem, então. Se você está disposto a cuidar disso, vou
confiar.
— Ótimo!
Antes que eu falasse qualquer outra coisa, meu celular começou a
tocar e eu atendi a chamada do Artur, revirando os olhos, já prevendo que
ele iria me perturbar.
— Onde você está, porra? Se esqueceu da reunião com os chineses.
— É em uma hora.
— Na verdade, começa em cinco minutos.
— Droga! Já vou para aí.
— Rápido — desligou a chamada com mau-humor.
— Desculpa — falei para a Silvana ao guardar o meu celular. — Era
meu irmão. Preciso ir para a empresa se não vou chegar atrasado para uma
reunião importante.
— O Augusto?
— Não. O chato. — Fiz uma careta, torcendo os lábios e ela riu.
— Tem outro?
— Mais um. Quem sabe um dia vai ter o desprazer de conhecê-lo.
— Nossa! Assim parece que ele é uma pessoa terrível.
— Talvez só comigo. — Dei de ombros. — Mas eu preciso
realmente ir.
— Tudo bem.
Abri a minha carteira e tirei um dos meus cartões de crédito,
entregando-o a ela.
— Eu vi um supermercado na esquina. Não sei o que as meninas
gostam de comer, mas vá até lá e compre para elas. Preciso do número do
seu celular para mandar a senha por mensagem.
Ela hesitou, virando o cartão de crédito entre os dedos, imaginei
que, por orgulho, deve ter pensado em recusar, mas não fez.
O bem-estar das meninas era mais importante do que qualquer coisa.
Capítulo 21
Depois da conversa com Alberto do lado de fora do apart-hotel,
retornei ao interior do apartamento, onde encontrei minhas filhas Maria Lis
e Maria Flor, distraídas assistindo desenhos animados na televisão. O alívio
inundou meu peito ao vê-las tão tranquilas e contentes, mesmo em meio a
toda a turbulência que estava ocorrendo em nossas vidas.
Eu sabia que elas seriam as mais impactadas por toda aquela
mudança, mas para o bem delas, era necessário. Apesar de ter que engolir
meu orgulho, sabia que o pai poderia oferecer a elas um futuro melhor do
que eu, mesmo com todo meu esforço.
Me aproximei delas com um sorriso e chamei sua atenção.
— Meninas, que tal irmos ao mercado comprar algo para vocês
comerem?
— Eba! — Elas saltaram do sofá com empolgação e se
aproximaram de mim, envolvendo as minhas pernas com os seus pequenos
bracinhos.
Empolgadas por poderem sair comigo, segurei as suas mãozinhas e
as conduzi para fora do apart-hotel. A região onde estávamos era bem
diferente de onde morávamos, parecendo mais ampla, segura e até mesmo
limpa. Era uma parte daquela enorme cidade que eu desconhecia até o
momento.
As meninas estavam alegres, pulando e cantarolando, ingênuas
demais diante daquela situação que me proporcionava um nó no estômago.
O fato de Alberto ter me oferecido seu cartão de crédito para fazer compras
para as meninas me deixava muito desconfortável, apesar de estar sem
dinheiro por mal ter trabalhado nos últimos dias…
Respirei fundo e empurrei esses pensamentos para o fundo da minha
mente, focando no presente e na necessidade imediata de garantir o bem-
estar das meninas.
Assim, saímos do apartamento e nos dirigimos ao supermercado
mais próximo, que de fato ficava na esquina. Enquanto percorríamos os
corredores, Maria Lis e Maria Flor se encantavam com as cores e os
produtos expostos nas prateleiras, fazendo comentários animados sobre
tudo o que viam.
Em um determinado momento, Maria Lis virou-se para mim com
uma expressão curiosa.
— Mamãe, quem é quele, seu amigu?
Meu coração deu um salto em meu peito ao ouvir a pergunta de
Maria Lis. Eu não tinha certeza de como explicar a situação para elas, mas
sabia que precisava ser honesta.
— Bem, queridas, aquele homem é... — comecei, tentando
encontrar as palavras certas para explicar a relação complexa entre nós e a
presença repentina de Alberto em nossas vidas.
Mordi o lábio inferior, demorando demais, o que fez com que ela
ficasse ainda mais impaciente.
— Mamãe!
— Aquele homem é... Bom… Ele se chama Alberto e... — parei por
um momento, buscando as palavras certas para explicar a situação delicada.
— Ele é como um amigo especial que veio nos ajudar.
As meninas me olharam com curiosidade, claramente intrigadas
com a resposta, mas antes que pudessem fazer mais perguntas, continuei:
— Na verdade, ele é mais do que um amigo. Ele é o pai de vocês —
revelei, observando atentamente suas reações.
Um momento de silêncio se seguiu enquanto Maria Lis e Maria Flor
processavam a informação. Então, os olhos delas se arregalaram em
surpresa e espanto.
— O papai?! — exclamou Maria Flor, sua voz carregada de
incredulidade.
— Sim, queridas. O Alberto é o papai de vocês — confirmei,
aceitando que o melhor era dizer logo a verdade.
Eu as observei e esperei.
Depois de um instante de choque, um sorriso radiante se espalhou
pelo rosto das meninas, e elas me abraçaram, pegando-me de surpresa.
— Qui legal, mamãe! — exclamou Maria Lis, sua expressão
transbordando de alegria.
— Quiriamos um papai, que nem as clianças da creche! —
acrescentou Maria Flor, seus olhos brilhando com entusiasmo.
Soltei um suspiro de alívio. Um peso saiu dos meus ombros ao ver a
reação positiva das minhas filhas à revelação. Isso não significava que eu
poderia garantir a felicidade delas, mas era um primeiro passo.
Talvez todo aquele medo de dar errado e o receio quanto ao
abandono que elas pudessem sofrer seria apenas meu.
Por mais que eu ainda questionasse a integridade do Alberto e
pudesse cogitar que ele estava brincando conosco, ele havia me dado um
importante argumento. Após ir tão longe e assumir as meninas, ele não
poderia voltar atrás, mesmo se quisesse.
Mais tranquila, por ter contado para as meninas a verdade,
continuamos caminhando pelo supermercado e eu escolhi alguns itens
básicos para o café da manhã, como pão e leite. Além me mantimentos para
o almoço. Tomei cuidado para que não fosse uma despesa alta. Como eu
nunca tinha dinheiro para mais do que o necessário, as meninas já haviam
se acostumado a não pedir.
Capítulo 22
Cheguei à empresa de investimentos, atrasado naquela manhã
agitada. Estava ciente dos meus compromissos, mas precisava me encontrar
com a Silvana e as gêmeas, mesmo sabendo que teria que lidar com o
temperamento do meu irmão do meio e uma possível bronca do meu pai.
Os negócios eram importantes, mas não mais do que tudo o que
estava acontecendo e fazendo com que o meu mundo virasse do avesso.
Meu coração ainda estava acelerado pelo turbilhão de emoções que
havia enfrentado desde que descobri que era pai de duas meninas. Medo,
repulsa quanto a ideia e depois a certeza de que não poderia mais afastar a
responsabilidade.
Admito que o empurrão do Augusto foi fundamental para a minha
decisão, mas eu não poderia negar que ele estava certo.
Entrei na sala de reunião, pegando todos de surpresa e fui para a
minha cadeira em silêncio, tentando não atrapalhar o momento e deixei que
meus irmãos e meu pai continuassem a conversa sem me intrometer.
Eu não queria atrapalhar.
Assim que a reunião acabou e nos despedimos dos chineses, Artur
foi o primeiro a abordar minha chegada tardia.
— Onde você estava, Alberto? Quase perdeu a reunião com os
empresários chineses! — ele me repreendeu, franzindo a testa com
desaprovação. — Muito irresponsável da sua parte.
Senti um aperto no peito ao ser confrontado por Artur. Ele sempre
pegou no meu pé, e eu sabia que minha ausência não passaria despercebida.
Antes que eu pudesse responder, Augusto, o mais compreensivo,
interveio em meu favor.
— Artur, dê um tempo para o Alberto. Ele teve seus motivos para se
atrasar — disse, lançando-me um olhar solidário.
Artur arqueou uma sobrancelha, claramente cético em relação à
minha desculpa tardia.
— E quais seriam esses motivos? — ele perguntou, cruzando os
braços e esperando por uma explicação. — Aposto que estava jogando
cartas com alguma prostituta.
— Artur! — recriminou nosso pai.
Eu massageei as minhas têmporas ao respirar fundo. Percebi que
continuar fugindo daquele assunto não traria nenhum tipo de benéficio para
mim. Decidi que deveria compartilhar a verdade com eles, ao invés de
simplesmente continuar evitando o assunto.
Respirei fundo e encarei o Artur.
— Descobri que sou pai de duas gêmeas — confessei, aguardando
as suas reações.
Artur arregalou os olhos, claramente surpreso com minha revelação.
Ele franziu a testa, evidentemente confuso.
— Que história é essa, Alberto? Você tem filhas? Desde quando? —
perguntou, sua voz misturando-se com incredulidade e indignação.
Engoli em seco. Ainda era complicado para eu aceitar aquela
situação, mas se eu estava determinado a fazer parte da vida das minhas
gêmeas, sabia que elas precisavam fazer parte da minha.
— Acabei de descobrir. Encontrei a mãe das meninas alguns dias
atrás.
— Quando pretendia nos contar? — questionou meu pai.
— Eu não sei — admiti, tenso.
— Tem certeza de que essas meninas são suas? — Artur ainda
estava bem incrédulo, processando claramente a informação.
— Fiz o teste de DNA.
— Então você está dizendo que tem filhas com uma mulher que mal
conhece? — Torceu os lábios, me lançando um olhar carregado de
julgamento.
Assenti, sentindo-me desconfortável com a acusação implícita em
suas palavras.
— Não é como se você não tivesse transado com nenhuma
desconhecida antes — devolvi, um tanto irritado com como ele me tratava.
— Mas nunca engravidei nenhuma delas.
— Isso é o que você sabe por enquanto. Além disso, se acha o certo,
dono da razão, mas se casou com uma mulher só para ganhar dinheiro.
— Não é bem assim… — Tentou se esquivar.
— É exatamente assim.
— Eu amo a Ana Paula.
— Você só ama seu ego.
— Ei, vocês dois, parem com isso! — exigiu meu pai, intervindo no
meio da briga que começou a preencher o ambiente da sala de reunião. —
São irmãos, não podem ficar assim.
— Não somos irmãos! — Artur e eu falamos juntos.
— Parem com essa besteira. É claro que são! Parem de agir como
crianças.
De braços cruzados, eu bufei.
— Artur, não vamos julgar o Alberto. Todos nós já fomos
surpreendidos por situações adversas. — Augusto interveio, lançando um
olhar de compreensão em minha direção. — Temos que ajudá-lo a lidar
com isso.
Agradeci silenciosamente a intervenção de Augusto, sentindo-me
um pouco mais aliviado com seu apoio.
— Onde estão essas bebês? — quis saber meu pai.
— São meninas — corrigi. — Elas já têm três anos.
— Quando pretende nos apresentar.
— Vamos com calma, elas ainda nem sabem que sou o pai dela.
— Você não vai contar? — questionou Artur.
— Só não quero chocá-las.
— Em algum momento elas terão que saber.
— Sim — assenti.
— E o que vai fazer em relação à mãe delas?
— Eles podem conviver de forma amigável — foi Augusto quem
respondeu e eu apenas concordei com a cabeça.
— Eu e a sua mãe vamos querer conhecer essas meninas — insistiu
meu pai.
— No seu devido tempo.
— Chega desse assunto — encerrou Artur. — Precisamos trabalhar.
Eu apenas concordei, porque ainda estava sendo muito difícil para
mim lidar com toda aquela situação para lá de desafiadora.
Capítulo 23

Após um dia muito tumultuado e cheio de informações e


descobertas para as minhas meninas, elas escovaram os dentes, trocaram de
pijama e se aconchegaram em suas camas, esperando ansiosamente por suas
histórias favoritas antes de dormir.
Melhor do que eu imaginava, elas estavam se dando muito bem com
o apartamento e, em momento algum, me questionaram se voltaríamos para
a nossa casa. Admito que eu ainda tinha medo de aceitar aquela nova
realidade acabar voltando para antiga num piscar de olhos.
Depois de tudo que havia acontecido na minha vida, era difícil
simplesmente confiar e acreditar que tudo ficaria bem.
Depois de contar a história, como de costume, dei um beijo na testa
de cada uma, desejando-lhes boa noite.
Antes de apagar a luz, Maria Lis olhou para mim com seus grandes
olhos castanhos e perguntou:
— Mamãe, cadê o papai?
Um nó se formou em minha garganta ao ouvir aquela pergunta tão
inocente e, ao mesmo tempo, tão complexa. Eu sabia que era hora de ser
honesta com elas, mas também queria protegê-las de qualquer decepção.
— Querida. O papai não vai aparecer esta noite. — Sorri para ela.
— Ele não vai morá cum a genti? — Maria Flor levantou a cabeça
para me encarar.
— Não, o papai mora em outra casa.
— Ah!
As expressões das meninas se entristeceram um pouco, mas logo
voltaram a se aconchegar em seus travesseiros, prontas para dormir.
— Boa noite, mamãe. — disseram juntas, antes de fechar os olhos.
Deixei o quarto das meninas com o coração apertado. Talvez eu
devesse ter falado para elas sobre o pai de maneira diferente, porque
poderiam ter criado uma expectativa que não existia. Alberto poderia ser o
pai delas, mas não éramos um casal, muito menos morávamos juntos.
Ao me dirigir para o meu próprio quarto, peguei meu celular e
decidi enviar uma mensagem para Alberto.
Silvana:
Está aí?

Enviei a mensagem e me deitei na cama, esperando por uma


resposta. Não demorou muito tempo para o meu celular vibrar.

Alberto:
Sim.
Silvana:
Fiquei pensando se você iria aparecer mais tarde.
Alberto:
Não deu. Eu cheguei atrasado e tive um dia complicado na
empresa.
Silvana:
Com seu irmão?
Alberto:
Ele também.
Silvana:
Sinto muito.
Alberto:
Relaxa! Como estão as meninas?
Silvana:
Bem, acabei de colocá-las para dormir.
Alberto:
Estava pensando em como vamos contar a elas sobre mim.
Silvana:
Eu já contei.
Alberto:
Ah, que bom!
Silvana:
Mas talvez não tenha sido da melhor forma.
Alberto:
Por quê?
Silvana:
Elas estavam me perguntando sobre você e se não iria chegar.
Alberto:
Por que isso é ruim?
Silvana:
Elas têm que entender que não moramos juntos e não somos
um casal.
Alberto:
Tem razão.
O que disse para elas?
Silvana:
Que você mora em outro lugar.
Alberto:
Como elas reagiram?
Silvana:
Aceitaram.
Alberto:
Vai ficar tudo bem.
Silvana:
É o que eu mais quero.
Alberto:
Eu também.
Silvana:
Obrigada por ter me emprestado o seu cartão, amanhã eu vou
deixar as meninas na creche e ir trabalhar para comprar os outros
mantimentos. Devolvo ele para você assim que nos virmos.
Alberto:
Fique com o cartão.
Silvana:
Não posso.
Alberto:
Prometo decidir sobre a escola amanhã.
Você pode ficar com elas por mais um dia?
Silvana:
Posso perder os meus clientes.
Alberto:
Quer vender acarajé para o resto da vida?
Silvana:
É um trabalho digno e honesto que garantiu o sustento das
meninas pelos últimos três anos.
Alberto:
Não foi o que eu perguntei.
Você estudou? Tem vontade de fazer outra coisa?
Silvana:
Gosto de fazer acarajé.
Alberto:
Tudo bem.
Pode ficar com elas só amanhã.
Silvana:
Posso.
Alberto:
Preciso que me envie as certidões de nascimento, vou
matriculá-las na escola e dar entrada no reconhecimento de
paternidade.
Silvana:
Obrigada.
Alberto:
Por nada, boa noite.

Depois que paramos de trocar mensagens, eu ainda fiquei encarando


o celular absorvendo a nossa conversa até finalmente dormir.
Capítulo 24
Na noite seguinte, eu tentei me dedicar no escritório, apesar da
minha cabeça ainda estar longe, perdida nos acontecimentos dos últimos
dias e na loucura de descobrir que era pai, depois de passar no cartório e na
escola que escolhi para matricular as gêmeas, finalmente cheguei ao apart-
hotel onde elas estavam.
Ainda precisava escolher uma casa para elas, mas era muita coisa
para fazer num único dia e precisaria de mais tempo. Por enquanto, elas
estavam bem acomodadas ali, num local confortável, limpo e seguro.
Batendo à porta, eu esperei do lado de fora até que Silvana viesse
abrir e escutei o som animado das vozes das meninas que ecoavam pela
sala. Elas estavam na mesa de jantar, comendo, mas se levantaram para vir
até mim com um largo sorriso.
— Papai! — gritaram.
Um turbilhão de emoções me invadiu. Era uma felicidade
indescritível, um sentimento que nunca pensei que fosse experimentar. Ver
o sorriso radiante das minhas filhas e sentir o calor de seus abraços
preencheu meu coração de uma forma que eu não sabia explicar.
— Papai, papai! Olha qui a mamãe fez! Macarrão! — Maria Lis
falou animadamente, segurando minha mão e me levando em direção à
mesa.
— É verdadi, papai! É bom! — Maria Flor acrescentou, seu rostinho
iluminado pela alegria.
Olhei para Silvana, que estava parada na porta da sala, observando a
cena com um sorriso doce nos lábios. Nossos olhares se encontraram e pude
ver a gratidão. Foi um momento que mexeu profundamente comigo, porque
eu nunca me imaginei naquela situação. A única família que passava pela
minha mente eram meus pais e irmãos.
— Obrigado por cuidar delas hoje — disse em um tom terno,
aprendendo a falar com jeitinho como o Augusto havia me ensinado para
evitar conflito.
Eu queria que ela me visse como alguém que estava ali para ajudar e
parecia estar funcionando. Era um bom sinal.
Silvana sorriu, seus olhos brilhando com ternura.
Foi a primeira vez que eu reparei nela de verdade desde que havia
cruzado o meu caminho. A pele negra e reluzente, os cabelos encaracolados.
Ela era radiante e bonita, apesar dos olhos fundos de cansaço e um pouco de
olheiras. Para mim ainda parecia haver um longo caminho até aprender a
ser pai, porém, não deveria ser nada fácil para ela cuidar daquelas duas
sozinha e sem dinheiro.
As meninas me puxaram para a mesa, insistindo para eu
experimentar o macarrão que a mãe delas havia preparado. Embora
estivesse inicialmente relutante, cedi às suas súplicas, sentando-me à mesa
com um sorriso.
Queria estar presente e isso poderia exigir um pouco de esforça da
minha parte.
— Vamos, papai, come! — Maria Lis disse, empurrando um prato
na minha direção.
Servi uma pequena porção para mim e encarei aquela mistura de
queijo e massa.
— É bom, papai, vai gostá! — Maria Flor acrescentou, com os
olhinhos brilhando de expectativa.
Aos poucos, eu peguei um garfo e provei o macarrão. Para minha
surpresa, o sabor era delicioso, apesar de ser um prato tão simples. Olhei
para as meninas, que estavam me observando com expectativa, e sorri.
— Uau, isso é realmente ótimo! — elogiei, surpreendido pela
qualidade da comida.
Eu nunca havia provado a acarajé da Silvana, mas ela poderia ser
boa nisso.
As meninas vibraram de alegria, orgulhosas por terem me
convencido a experimentar o prato. Sentindo-me mais à vontade naquele
ambiente, continuei a compartilhar o jantar com elas, aproveitando cada
momento ao lado das minhas filhas.
Artur não estava assim tão errado sobre mim, eu costumava levar
uma vida de festa e farra, cercado de mulheres das quais mal me lembrava
depois, porém, eu gostei muito daquele simples jantar com as minhas filhas.
Ser pai era uma revolução da qual eu tive medo, mas que poderia
me fazer muito bem.
À medida que a noite avançava, notei que as meninas começaram a
bocejar, mostrando sinais de cansaço após um dia cheio de atividades. Com
os olhinhos sonolentos, elas se aproximaram de mim e seguraram minha
mão com carinho.
— Papai, quelo dormir — Maria Flor disse, esfregando os olhinhos
com delicadeza.
— É, papai, a gente tá com sono — complementou Maria Lis,
bocejando.
Olhei para Silvana, que assentiu com um sorriso, indicando que era
hora de levá-las para a cama. Levantei-me da mesa, estendendo as mãos
para as meninas.
— Vamos lá, princesinhas. Eu vou colocá-las para dormir — Guiei-
as em direção ao quarto.
Elas caminharam ao meu lado, agarrando-se às minhas mãos,
enquanto íamos para o quarto delas. Chegando lá, ajudei-as a se
acomodarem em suas camas.
Cobri as duas e dei um beijo suave na testa de cada uma delas.
— Durmam bem, minhas princesas — disse, antes de apagar a luz
do quarto.
Observando-as adormecer tranquilamente. Aos poucos, elas
afundaram nos travesseiros, entregando-se ao sono. Com um sorriso, deixei
o quarto das meninas e retornei à sala, onde Silvana estava sentada no sofá.
— Dormiram?
Fiz que sim ao me sentar ao lado dela.
Distraído, envolvido pelo silêncio do cômodo onde ecoava apenas o
som baixo da televisão. Eu me virei, reparando na Silvana.
Como ela é linda!
O pensamento que tomou conta da minha mente foi completamente
involuntário. Com toda certeza, não deveria pensar nisso, mas foi mais forte
do que eu.
Seus olhos eram escuros e reluzentes como jabuticabas e a pele,
apesar de não estar tão bem cuidada quanto deveria, ainda transmitia
alguma maciez. Umedeci os lábios ao reparar nos dela, volumosos e
carnudos…
Porra!
Queria muito me lembrar da noite em que transamos, mas apesar de
todos os meus esforços, ainda era um grande branco na minha mente. Olhar
para ela me dava a certeza de que eu teria me sentido muito atraído, porque
eu estava naquele instante.
Inclinei-me na sua direção, subindo com a mão pelo seu braço,
tocando a sua pele cedendo ao meu impulso. Ao chegar mais perto percebi
o quanto o cheiro dela era bom e atiçava ainda mais o meu desejo.
Eu queria mais…
Meus dedos subiram lentamente pala linha do seu braço até tocar o
seu rosto, contornando suas bochechas até tocar seus lábios. Eu me inclinei
e a beijei. Subindo com a mão pela sua nuca e a puxando para mais perto,
envolvendo a sua cintura como o outro braço enquanto o meu corpo
inclinava sobre o seu no sofá.
Minha língua deslizou pelo espaço entre os seus lábios, procurando
pela sua e eu tirei a mão da sua nuca para me apoiar no sofá.
Quando a necessidade por fôlego me fez afastar, desci com a boca
pelo seu pescoço, deixando um caminho de mordidas e chupões, mas antes
de alcançar o seu decote. Silvana empurrou os meus ombros, fazendo com
que eu me afastasse.
— Alberto, ficou maluco!
— Desculpa… — recuei, um tanto confuso.
— Não deveria ter me beijado.
— Está certa, eu não deveria.
— Eu não sei o que você pensou, mas estou aqui pelas minhas filhas
e não significa que eu queira qualquer coisa com você.
— Claro…
Eu estava completamente desconcertado, ciente de que havia
cometido um erro.
— É melhor eu ir embora.
— Sim!
Eu olhei em volta para ter certeza de que não estava esquecendo
nada e saí o mais rápido possível. Fechando a porta atrás de mim.
Oh, droga!
Onde eu estava com a cabeça?
Desci para a rua e entrei no meu carro, indo embora.
Capítulo 25
O que ele fez?
Assim que o Alberto saiu, eu corri para trancar a porta. Apesar de
saber que ele tinha a chave, eu só queria alguma ilusão de que ele não iria
voltar.
Fui para a minha cama, esforçando-me para cair no sono, mas não
consegui dormir.
Quando a luz da manhã entrou pelas cortinas, sentei-me à beira da
cama, sem conseguir impedir que as lembranças da noite anterior tomassem
meus pensamentos. O sabor do beijo do Alberto ainda estava em meus
lábios, me provocando uma mistura embriagadora de desejo e
arrependimento.
Eu sabia que não deveria ter cedido à tentação, mas a proximidade,
o calor daquele momento, foi como uma armadilha da qual eu não consegui
escapar. Eu derreti completamente diante da intensidade daquele beijo,
perdendo-me nos braços dele, como se nada mais importasse.
Mas importava…
As minhas filhas eram tudo para mim. Eu já tinha caído na perigosa
teia daquele homem bonito uma vez e não poderia cometer o mesmo erro.
Não poderíamos nos envolver, tínhamos algo mais importante em jogo do
que aquele desejo idiota.
Alberto era o cara errado, o galinha, garanhão, que pegava todas e
uma festa e nunca se lembrava delas. Ele nem se recordava do nosso
envolvimento. O fato de ele estar se esforçando para ser um pai não
significava nada entre nós dois. Eu não poderia nem ao menos cogitar essa
possibilidade, ou as chances de me machucar seriam muito grandes.
Sentindo um nó apertar minha garganta, eu respirava com certa
dificuldade enquanto a tristeza pesava sobre meus ombros.
Sua tola!
Talvez ele estivesse pensando que pudesse brincar comigo, se
divertir enquanto bancava o pai amoroso, mas eu não poderia permitir ser
tratada daquela forma. Seu esforço em ser um bom pai, se é que isso era
real, não significava nada em relação a nós dois. Alberto poderia não se
importar com isso, mas eu ainda tinha um coração batendo do qual eu
deveria cuidar.
Em meio ao silêncio pesado que preenchia o quarto, meu sofrimento
interno se tornou ainda mais alto, sussurrando verdades dolorosas que eu
não podia ignorar. Alberto não era o tipo de homem que levava uma mulher
a sério, jamais poderia me esquecer do quão perigoso era me envolver com
ele.
Silvana, não!
De jeito nenhum!
Eu não poderia simplesmente arriscar tudo por conta de um desejo
idiota. Havia sacrificado muito pelas minhas filhas, para garantir a
segurança e o bem-estar delas, para me deixar levar por uma atração
imprudente.
Ter transado com o Alberto uma vez já tinha me colocado naquela
situação e eu precisava do mínimo de amor-próprio para não repetir a dose.
Meu coração bateu apertado e eu senti falta de ar em meio a uma
culpa cada vez mais intensa por ter correspondido ao beijo. A minha mente
berrava para que eu fosse responsável e tivesse prudência, mas não
conseguia negar o quanto eu me sentia atraída por ele.
— Mamãe! — ouvi a voz de uma das meninas e me levantei,
determinada a seguir com o meu dia.
Era melhor fingir que o episódio da noite passada não havia
acontecido. Com sorte, Alberto também não tocaria mais no assunto.
Capítulo 26
Meus pensamentos vagueavam em meio a lembranças do beijo com
Silvana. Eu estava completamente envolto por aquela sensação, ainda me
recordando do gosto da boca dela. Daquela vez eu sabia que eu não iria
esquecer, mas para o restante do meu corpo, um beijo não parecia o
suficiente. Queria mais… permanecia perdido em minha própria mente, até
que fui trazido de volta à realidade por uma bolinha de papel que atingiu
minha cabeça.
— O que foi isso? — Meu olhar encontrou o de Artur, meu irmão,
que sorria maliciosamente do outro lado da mesa naquela reunião.
— Alberto, está prestando atenção? Estamos em uma reunião aqui!
— ele disse, alto o suficiente para que todos pudessem ouvir.
Assenti, tentando disfarçar minha distração.
— Sim, claro, estou aqui! — Forcei um sorriso, mas que
provavelmente pareceu uma careta.
Artur franziu o cenho, desconfiado.
— Parece perdido. Pensando nas suas filhas?
— Estou sim — menti, tentando manter o sorriso e parecer
convincente.
— Ah, as filhas… logo o meu vai nascer também. — Artur balançou
a cabeça com uma mistura de simpatia e desdém. — Você precisa focar no
trabalho. Fraldas custam caro, sabia?
Augusto, riu baixinho ao meu lado.
— Acho que as gêmeas já devem ter abandonado as fraldas —
comentou, provocando um sorriso involuntário em meu rosto.
— Quando vai trazê-las para podermos conhecer — Nosso pai, que
geria a reunião, intrometeu-se no assunto casual. — Sua mãe mal pode
esperar para vê-las.
— Contou para a minha mãe? — Revirei os olhos, irritado.
— Claro que sim! É a sua mãe.
Engoli em seco.
— Em breve, pai. Em breve… — respondi vagamente, desviando o
olhar para evitar o julgamento dele.
Depois da noite passada em que eu havia beijado a Silvana, não
sabia como seria quando nos encontrássemos até mesmo para falar sobre as
meninas. O clima estranho provavelmente seria inevitável.
Capítulo 27
Ao chegar para trabalhar no Brás naquela manhã, senti o peso dos
últimos dias sobre meus ombros. O sol brilhava no céu, mas eu sentia como
se houvesse uma assombração atrás de mim. Quando eu saí correndo atrás
do Alberto e exigi que ele me escutasse, deveria ter em mente que a
situação seria bem mais complexa do que eu havia previsto.
Após ter pegado um carro de aplicativo para deixar as meninas na
escola que o Alberto havia as matriculado, eu cheguei na loja de panelas do
seu Joaquim, para buscar a estrutura da minha barraca de acarajé.
Seu Joaquim estava atrás do balcão, distraído com algum afazer e
demorou para notar a minha presença. Ao me ver, ele ergueu os olhos
castanhos, e deu um sorriso singelo.
— Silvana, Onde você estava, menina? Comecei a pensar que você
tinha desaparecido — comentou, com os olhos me vasculhando em busca
de algum sinal que pudesse ajudá-lo a encontrar respostas.
Abri um sorriso amarelo, tentando disfarçar a tensão que me
consumia.
— Estive resolvendo alguns problemas pessoais — respondi
vagamente, evitando entrar em detalhes sobre a complicada situação em que
me encontrava.
— Tem alguma coisa a ver com as meninas? Elas estão bem?
— Sim! Elas estão ótimas. — Esforcei-me para manter o sorriso.
Minhas filhas pareciam estar lidando com a situação muito melhor
do que eu. Nunca as vi tão animadas e empolgadas, até mesmo quando as
deixei na escola. Era um ambiente muito diferente e sofisticado, mas elas
não pareceram se acanhar. Foram recebidas pela nova professora e mal se
despediram de mim antes de entrar.
— Fico contente em saber que está tudo bem — falou seu Joaquim,
encerrando o assunto, compreensivo
Ele sempre foi um homem de poucas palavras, mas seu olhar
sempre me acolheu com generosidade e carinho, devia muito a toda ajuda
que recebia dele desde o primeiro dia que comecei a vender meus acarajés
ali.
Peguei minhas coisas e me preparei para mais um dia de trabalho.
Apesar de estar com a mente completamente dispersa, sabia que
precisava me dedicar. O Alberto estar cuidando das meninas não significava
que os meus problemas haviam acabado e eu nem poderia me deixar levar
por essa ilusão.
Capítulo 28
Eu havia passado o dia inteiro pensando sobre o que havia
acontecido na noite anterior e o beijo imprudente que dei na Silvana.
Mesmo que involuntariamente, eu poderia ter complicado bastante a
situação entre nós depois de ter feito aquilo.
Talvez o Artur estivesse certo ao falar que eu era um irresponsável.
De fato, beijar a Silvana daquela forma fora muita irresponsabilidade da
minha parte.
Que droga, caralho!
Trancado na minha sala, eu também não estava pensando em voltar
para casa. Definitivamente não estava a fim de lidar com a minha mãe e
suas exigências de conhecer as minhas filhas, como se ela nunca
compreendesse que havia mais complicações do que a vontade dela.
Peguei o celular e mandei uma mensagem para a Silvana, esperando
que ela respondesse. Estar em um lugar com a presença de outras pessoas
poderia tonar o clima entre nós menos estranho.
Alberto:
Meus pais querem conhecer as meninas.
Eu posso passar aí no domingo para buscar vocês e trazer para
a minha casa?

Fiquei encarando o aparelho e levou quase dez minutos para chegar


uma resposta dela.

Silvana:
Okay.
Alberto:
Obrigado.

A conversa acabou daquele jeito, nenhum de nós ousou dizer mais


nada.
O que eu estava pensando depois de beijá-la?
Havia um excelente motivo para que eu não voltasse a ver as
mulheres com quem transava, mas com a Silvana não poderia ser assim,
tínhamos duas filhas para criar e precisávamos manter uma relação de paz.
Eu não queria prejudicar isso por não conseguir manter meu zíper fechado.
— Chefinho…
Revirei os olhos quando levantei a cabeça e vi a Bruna entrar na
minha sala, esgueirando-se lentamente como se fosse uma pantera.
— O que foi? — bufei, mal-humorado.
— Todos já foram embora.
— E daí?
— Como você ficou…
Elevei os olhos reparando na porta de madeira atrás dela quando
Bruna a fechou.
— Estou ocupado.
— Aposto que pode parar um pouquinho para ver a cor da minha
calcinha nova.
— Não, Bruna!
— Mas…
— Vai para casa.
— Tem certeza de que não quer a minha companhia?
— Tenho.
— Isso é por causa dela? — Cruzou os braços, irritada.
— Dela quem? — Franzi o cenho, fingindo-me de desentendido.
— A mãe das suas filhas. Ouvi seu pai comentando que você tem
gêmeas. Eu nem sabia disso.
— É uma novidade para todo mundo. — Dei de ombros.
— Isso significa que você está com ela?
— Não é da sua conta, Bruna.
— Mas… — Seus lábios tremeram, parecendo estar irritada e se
segurando para não chorar.
Por que as mulheres adoravam complicar tanto as coisas?
— Mas, nada, Bruna — disse, sério. — Vá para casa.
Bruna ficou me encarando por um momento, sua expressão
sustentava um ar triste, contendo as lágrimas como seu eu estivesse
partindo o seu coração.
— Eu pensei que… — começou ela, confusa.
Interrompi-a antes que pudesse continuar.
— Nunca prometi nada para você, Bruna — afirmei, com uma voz
firme e inquestionável.
Com um suspiro pesado, Bruna se virou e saiu da sala, batendo a
porta com força. O som ecoou por toda a minha sala. Fiquei aliviado por
desfrutar da solidão novamente, permanecendo com os meus pensamentos,
mas a gratidão não durou por muito tempo.
Enquanto fitava a porta fechada, uma sensação de incômodo me
preencheu e me deixou sufocado. Era como se toda a bagunça da minha
vida estivesse se acumulando, me fazendo refletir sobre as minhas escolhas.
Nunca imaginei que a minha vida regada a envolvimentos
passageiros e mulheres bonitas, uma diferente por noite, poderia me trazer
problemas. No entanto, desde que soube das gêmeas, foi como se a minha
vida tivesse girado e me colocado de cabeça para baixo em uma montanha-
russa. Eu estava vendo tudo em uma nova perspectiva. Talvez a escolha de
não me comprometer, de manter tudo superficial, não me livrasse de
problemas como eu sempre me afirmei.
Enquanto eu refletia sobre isso, percebi que minha mente estava
voltando para Silvana e para as gêmeas. Mesmo que eu tentasse ignorar,
não podia negar a atração que sentia por ela e a responsabilidade que
compartilhávamos como pais das meninas.
Afundei-me na cadeira, perdido em meus próprios pensamentos,
tentando afastar reflexões que sempre voltavam.
Augusto certamente me diria que ter uma família era a melhor
escolha e o Artur me diria para tomar cuidado, porque não poderia confiar
em todas as mulheres. Ainda assim, os dois estavam casados e pareciam
felizes.
O nosso pai havia armado uma bela arapuca e o Artur caiu que nem
um patinho, quando ele se deu conta, estava apaixonado pela Ana Paula.
Armação…
Aquela palavra ficou rodando em loop pela minha cabeça e, apesar
de parecer pouco provável, eu me perguntei se o meu pai tinha um dedo
naquilo, como se ele soubesse das minhas filhas e havia me colocado no
caminho da Silvana.
Armadilha ou não, ali estava eu, questionando todas as decisões que
havia tomado nos últimos anos e o que mudava com a presença da Silvana e
das meninas na minha vida.
Eu não poderia me deixar levar apenas pela atração que sentia pela
mãe delas, achando que não precisava me comprometer. Tinha que manter
um limite muito claro entre nós dois para que a situação não ficasse muito
complicada.
Capítulo 29
Na manhã de domingo, eu estava no sofá quando as gêmeas
acordaram. Forcei um sorriso para tentar manter o clima de que tudo estava
bem enquanto o sol brilhava através das janelas daquele lugar amplo e bem
iluminado onde estávamos morando. Eu deveria estar feliz, mas tudo o que
eu conseguia sentir era uma terrível aura de incertezas.
Depois do beijo que troquei com o Alberto, tive certeza de que não
tinha o controle de nada e poderia acabar perdendo mais do que conseguia
imaginar. Eu não queria que as minhas filhas se decepcionassem, mas
admito que também tinha medo da decepção. Parecia melhor me blindar do
que arriscar sair com o coração partido.
Se o Alberto e eu…
Balancei a cabeça, interrompendo aqueles pensamentos antes que
começassem a me perturbar e tirassem ainda mais o meu sossego. Eu iria
vê-lo naquele dia e precisava manter a situação de uma forma tranquila e
pacífica. Eu não queria que as meninas sequer imaginassem que algo
estranho poderia estar acontecendo.
Atrapalhar a felicidade delas por puro impulso estava fora de
cogitação.
Eu estava nervosa com a ideia de levar finalmente as meninas para
conhecerem os avós paternos. Não sabia o que esperar desse encontro, nem
como eles reagiriam ao verem as gêmeas pela primeira vez.
Alberto era um homem rico e éramos de um mundo muito diferente
e eu não queria que as meninas fossem maltratadas por isso.
O som da batida na porta ecoou pelo apartamento, anunciando a
chegada de Alberto. Meu coração disparou e eu engoli em seco, como se
houvesse um gato arranhando a minha garganta e causando um desconforto
intenso. Respirei fundo, tentando controlar o nervosismo e, e fui até a porta
para abri-la.
Dei de cara com Alberto, que sorriu timidamente ao me ver.
— Oi — murmurou ele.
— Ei! — disse sem jeito.
Era a primeira vez que nos víamos desde o beijo, mas nenhum de
nós teve coragem de falar sobre o assunto, nem por mensagem.
Seus olhos passearam por mim, antes de ele desviar para algum
ponto atrás do meu ombro para não ficarmos nos encarando.
— Bom dia, Silvana. — Alberto cumprimentou, com a voz tensa,
como se estivesse medindo cada uma de suas palavras.
— Bom dia, Alberto. As meninas estão prontas para ir — respondi,
tentando esconder a minha própria tensão.
Ele assentiu com um aceno de cabeça e entrou no apartamento.
— Papai! Papai! — As meninas correram em direção a Alberto,
envolvendo-o em abraços apertados.
— Olá, minhas princesas. Estão prontas para conhecerem os avós?
— perguntou, acariciando os cabelos das meninas.
— Tamo! — disse Maria Flor.
Elas assentiram animadas, os olhinhos brilhando de empolgação. Eu
me senti grata por ver como Alberto estava se esforçando para se conectar
com as meninas, mesmo que tudo ainda fosse tão novo para ele.
Era nisso que eu precisava focar, a felicidade delas e a convivência
merecida com o pai.
Apesar de ter rejeitado a ideia quando eu contei para ele que
tínhamos duas filhas, depois de um choque de realidade, ele ao menos
parecia estar se esforçando e isso as deixava muito alegres.
— Vamos?
Peguei uma mochila com as coisas delas, porque eu nunca sabia
quando iam se sujar e descemos de elevador até o carro do Alberto
estacionado na rua.
Quando ele abriu a porta de trás do veículo, que eu ainda não havia
visto antes, surpreendi-me com duas cadeirinhas de proteção.
— Você comprou para elas? — questionei, surpresa.
Alberto balançou a cabeça, fazendo que sim.
— Quero garantir que elas estejam seguras durante o trajeto. — Ele
disse, de um jeito que me pareceu sincero, assim como o sorriso que se
formou nos meus lábios.
Vê-lo realmente preocupado com o bem-estar e a segurança das
meninas foi consolador. Sempre havia sido só eu, mas finalmente parecia
haver alguém para dividir aquele papel. Era um gesto simples, mas
significativo, que mostrava a responsabilidade que ele tinha com as nossas
filhas.
— Alberto, obrigada.
Ele sorriu timidamente, desviando o olhar para ajudar as meninas a
se acomodar nas cadeirinhas, prendendo o cinto e verificando se estava bem
afivelado.
Enquanto ele dirigia para a casa dos pais, sentada no banco do
passageiro, eu observava as meninas no banco de trás, tagarelando
animadamente sobre conhecer os avós paternos. Afinal, éramos apenas nós
três.
Elas não conheciam os meus pais, na verdade, já fazia muito tempo
que eu não conversava com eles, o orgulho não me deixou voltar para a
Bahia e eu não queria admitir estarem certos quando me falaram que eu não
deveria me mudar para São Paulo.
Passamos por uma guarita de segurança e entramos em um
condomínio fechado. As meninas se remexeram nas cadeirinhas para tentar
ver as casas enormes que surgiam pela janela. À medida que nos
aproximávamos da luxuosa mansão da família dele, minha respiração ficou
presa na garganta, certa de que era outro mundo, um ao qual eu não
pertencia. A arquitetura moderna da casa era de tirar o fôlego, com linhas
elegantes e detalhes sofisticados que a destacavam na paisagem mesclada
por algumas árvores.
A casa era cercada por um jardim bem cuidado, com uma variedade
de arbustos e flores coloridas que emolduravam a entrada principal. A
piscina enorme reluzia ao sol.
As meninas estavam completamente encantadas ao avistarem a casa
dos avós. Eu não queria que elas se deslumbrassem, mas era impossível,
porque até mesmo eu estava boquiaberta.
Alberto estacionou na entrada da casa onde havia outros carros e as
gêmeas pulavam para tentar se livrar do cinto de segurança.
— Esperem, meninas — tentei contê-las.
— Podemos nadar na piscina, mamãe? Por favor! — Maria Lis
implorou, com os olhos arregalados e cheios de súplica, como se fosse o
suficiente para me convencer.
Espertinha…
Se eu não as conhecesse poderia até cair naquela armadilha, mas
não era assim.
— Hoje não, meu amor. — Ajudei elas a descerem do carro.
— Outro dia — prometeu, Alberto.
As meninas pareciam um pouco desapontadas, mas logo se
animaram com a fala do pai e vista daquela casa maravilhosa. Juntas,
caminhamos em direção à entrada principal.
A cada passo que eu dava, sentia que o meu coração viria à boca,
apesar de não haver nenhum motivo evidente para ficar tão tensa. Alberto e
eu não havíamos conversado sobre os pais dele, além do fato de quererem
conhecer as netas.
O irmão dele que eu havia conhecido fora muito gentil comigo.
Respire fundo, está tudo bem, disse a mim mesma.
Ao nos aproximarmos da entrada da luxuosa casa, fomos acolhidos
por sorrisos calorosos dos pais do Alberto. Seu pai, um homem de
semblante gentil e olhar acolhedor, estendeu a mão em um gesto amigável.
— Sejam bem-vindas — disse ele com voz serena.
Ele olhou bem para as minhas filhas e sorriu para elas. Ao contrário
do que eu temia, não houve nenhum olhar atravessado, ou cara feia, apenas
sorriso.
A mãe do Alberto era uma mulher elegante e refinada, usando um
vestido bem alinhado e joias que pareciam caras, apesar de serem discretas.
O cabelo tinha um tom dourado, mas não poderia afirmar se era natural. Ela
surgiu logo atrás do marido e se aproximou das meninas com um sorriso
largo e acolhedor, abraçando-as com carinho e depositando um beijo na
bochecha de cada uma delas.
— Que surpresa maravilhosa — exclamou ela, sua voz estava
transbordando de entusiasmo. — Finalmente podemos conhecer nossas
netinhas. Ah, elas são umas bonequinhas!
— Obrigada — falei sem jeito.
As meninas ficaram felizes com a recepção calorosa, retribuíram os
abraços dos avós. E eu me senti muito aliviada. Foi um peso enorme tirado
dos meus ombros, porque de alguma forma eu pensei que pudessem
maltratá-las por qualquer motivo. Era reconfortante ver minhas filhas sendo
recebidas com carinho, mas eu ainda me sentia um pouco fora do lugar
naquela atmosfera de luxo.
Logo os irmãos de Alberto se aproximavam, a energia da casa cheia
se tornou ainda mais alegre. Não poderia engar que uma atmosfera familiar
e calorosa era ótima para as minhas filhas.
Augusto, o irmão que eu já conhecia, sorriu ao nos ver. Ao lado dele
havia uma mulher bem mais jovem, porém, as alianças e a proximidade me
fizeram pensar serem um casal.
— Meninas, esse é o tio Augusto — apresentou Alberto, indicando o
irmão. — Esse é o tio Artur. — Apontou para o outro.
Lembrei dele falando sobre o chato e pensei se poderia ser aquele,
afinal, além do pai, havia apenas outros dois homens.
— Essas são as tias Elisandra e Ana Paula.
— Ela goliu uma bola? — perguntou Maria Lis, olhando para a Ana
Paula e todos deram uma longa gargalhada.
— Não, filha — Alberto se agachou na altura dos olhos da nossa
garotinha. — A titia está carregando um bebê.
— Dentlo da barriga?
— Sim, as mamães carregam os bebês dentro da barriga até eles
estarem grandes para sobreviver do lado de fora.
— Ah… — Apesar de ainda parecer confusa, ela aceitou a resposta
do pai.
As meninas estavam muito curiosas com tudo, observavam cada
detalhe com os olhos arregalados, não querendo perder nada. Até que elas
identificaram outras duas crianças na sala, um menino sentado no tapete,
brincando e outro num carrinho de bebê.
— Papai, quem são? — Maria Lis perguntou, apontando para os
meninos.
— Esses são os filhos do tio Augusto. Seus priminhos, Miguel e
Pedro — explicou Alberto.
— Tem um bebê, mamãe! — Maria Flor deu pulinhos animados,
sem sair do lugar, apontando para o garotinho no carrinho.
— Sim, filhinha é um bebê.
Enquanto as meninas corriam para ver os primos, sendo
acompanhadas pelo pai, Ana Paula se aproximou de mim, com um ar gentil
e doce.
— Silvana, espero que possamos nos conhecer melhor. Parece que
temos muito a conversar. — disse Ana Paula, com um sorriso largo.
Apesar do Alberto reclamar do irmão, eu me senti um pouco mais à
vontade na presença da esposa de Artur. Não sabia explicar como, mas senti
que ela compreendia o meu desconforto e estar ali.
Capítulo 30
Subimos de elevador após sairmos do carro. Já era tarde quando
voltamos para o apart-hotel onde Silvana estava morando com as meninas.
O corredor estava silencioso, exceto pelo som da respiração das meninas,
que dormiam tranquilamente.
Havíamos tirado as duas com cuidado do carro e subimos as
carregando nos braços. Estavam exaustas, mas eu me sentia bem pelo
encontro com a minha família ter saído melhor do que eu esperava. Tinha
muitos receios quanto ao comportamento da minha mãe, mas ela soube se
controlar bem e não bancou a perua maluca.
Carreguei Maria Lis nos meus braços, sentindo o peso leve do seu
corpinho tão pequeno. Ela dormia serena, como se não tivesse com o que se
preocupar. Apesar de eu estar sendo pai recentemente, conseguia ter certeza
de que ela deveria se sentir assim sempre e eu me esforçaria para garantir
isso.
Eu abri a porta do quarto delas e Silvana seguiu atrás de mim,
carregando Maria Flor, e juntos as acomodamos as duas nas camas. Elas se
remexeram, mas apenas se acomodaram, sem acordar.
Ficamos um tempo ali, observando as meninas dormindo
tranquilamente. Depois saímos do quarto, tentando fazer o mínimo de
barulho possível e Silvana fechou a porta.
Ao pararmos na sala, ficamos nos encarando até que eu ousasse me
pronunciar. O clima entre nós, ainda estava muito estranho e eu pensava ser
melhor não ser assim.
— Silvana… — chamei num sussurro, buscando seus olhos.
Ela virou-se para mim, encarando-me.
— Obrigado por ter levado as meninas para conhecer a minha
família hoje. Significou muito para mim.
Silvana sorriu.
— Foi bom vê-las sendo tão bem recebidas e eles felizes em
conhecê-las.
— Eles estavam — apressei-me em responder.
— Isso foi ótimo.
— Tinha medo de que fosse diferente? — questionei ao perceber a
sua tensão.
— Bom… eu não sou como a sua família, quando entrou na minha
casa, fez todo aquele escândalo, eu pensei que… ah, deixa para lá.
— Ei! — Eu me aproximei mais dela e toquei o seu rosto,
prendendo seus olhos aos meus. — Eu não deveria ter feito aquilo, mas só
queria que vocês ficassem em um lugar melhor.
— Tudo bem. Eu deveria ser grata. Você tem feito muito pelas
meninas, mais do que eu poderia pedir.
— É o mínimo, eu já não estive na vida delas por três anos.
— Elas precisam de você.
— Agora eu consigo entender isso.
— Fico aliviada.
— Queria lembrar de como nos conhecemos… — Balancei a
cabeça, como se aquilo fosse o suficiente para desembaralhar os meus
pensamentos, mas é obvio que não funcionou.
— Isso não importa mais.
— Importa.
Silvana deu de ombros.
— Boa noite, Alberto. — Tentou se virar, dando as costas para mim.
— Espera! — Segurei-a pelo pulso, fazendo com que voltasse a me
encarar. — Silvana…
— É melhor você ir embora.
— Não conversamos sobre o que aconteceu naquela noite.
— Eu não quero falar sobre isso.
— Mas e se eu quiser?
— Mas e se eu quiser? — minha voz soou desesperada, implorando
por uma resposta que ela não estava pronta para dar.
— Alberto… por favor… — ela implorou.
— Eu posso não lembrar do que aconteceu antes, mas o que está
acontecendo agora…
— Para! — deu um grito, logo se encolhendo, arrependendo-se com
medo de acabar acordando as meninas. — Isso é um erro enorme.
— Mas…
— Não percebe que não podemos fazer isso. As meninas são o mais
importante, não dá para brincar com elas no meio de tudo isso.
— Eu não quero brincar.
— Não é só o que você faz? — Silvana riu em um tom de deboche
misturado com tristeza.
— Bom… — Engoli em seco. Não poderia exatamente negar as
palavras dela. — Pode ser… antes…
— Por favor, Alberto. Não vamos brincar com isso. Há quatro anos,
quando transei com você naquela festa, eu era uma mulher completamente
diferente da que sou hoje. Minhas prioridades mudaram, tenho duas
filhas…
— Nós temos duas filhas — corrigi-a.
— É fácil dizer isso agora quando você não estava lá nos momentos
mais difíceis. — As lágrimas se acumularam em seus olhos.
— Eu sinto muito…
— Não sente nada! Nem acreditou em mim.
— Eu me envolvi com muitas mulheres…
— Pois é!
— Okay… — Recuei buscando ser sincero. — Eu posso não ter
dado o melhor exemplo, mas quero ser um bom pai para elas.
— Então não podemos fazer isso.
— Por que não?
Silvana desviou o olhar, parecendo ponderar cada palavra antes de
responder.
— Porque não podemos arriscar tudo o que estamos construindo, a
felicidade das nossas filhas, por uma transa — Sua voz estava pesada,
carregada de ressentimento. — Não podemos colocar em risco a
estabilidade e o bem-estar das nossas filhas, para ficar brincando como se
fossemos adolescentes e depois você tratar como uma qualquer quando
decidir que não tem mais qualquer interesse em mim.
Abri a boca algumas vezes, mas não consegui pronunciar nenhum
som.
Queria dizer que ela estava errada, mas tudo o que eu havia feito até
o momento provava que Silvana tinha razão.
Um silêncio tenso pairou entre nós, carregado com o peso das
palavras dela. Eu sabia que ela estava certa, mas uma parte de mim desejava
ignorar a lógica e ceder ao desejo de agarrá-la e beijar sua boca.
Que droga!
— Eu entendo… — murmurei, lutando contra a frustração que
tomava conta do meu peito.
— Eu agradeço por você ter vindo buscar as meninas e por tê-las
levado para conhecer a sua família — disse, levando o assunto para outra
direção e me fazendo compreender que estava encerrado, não iriamos mais
discutir aquilo.
— Elas merecem isso — falei.
— Sim, merecem… — Ela concordou.
Mesmo não tendo saído nenhum som dos seus lábios, foi como se
ela houvesse repetido que as meninas eram mais importantes do que
qualquer desejo que eu pudesse sentir por ela.
Com um suspiro resignado, eu me afastei, dando um passo em
direção à porta.
— Boa noite, Silvana — sussurrei.
Ela apenas acenou com a cabeça e trancou a porta atrás de mim sem
hesitar.
Capítulo 31
Eu me escorei na porta, ouvindo o som dos passos do Alberto se
afastando até tudo ficar em completo silêncio e eu pudesse ouvir apenas os
meus suspiros enquanto as lágrimas se acumulavam nos meus olhos.
Que porra, Alberto!
Minha vontade era gritar em desespero, com o misto de raiva e
indignação que me preenchiam. Eu estava com muita raiva.
Como ele ousa fazer isso?
Não era justo…
Eu me permiti deslizar pelo batente da porta, deixando o peso das
minhas emoções me arrastar para baixo, como se estivesse sendo sugada
por um vórtice de desespero. Cada suspiro era um eco da batalha interna
que travava dentro de mim, uma luta entra a racionalidade e uma vontade
louca de beijá-lo.
Queria me recordar de como era a sensação da sua pele na minha, os
gemidos enquanto as mãos firmes dele percorriam as curvas do meu corpo
nu. Ele era um homem lindo, mas eu continuava tentando me convencer de
que não valia o risco.
As lágrimas escorreram ainda mais intensamente pelo meu rosto,
carregando a frustração que transbordava do meu coração. Coloquei as duas
mãos sobre o peito, tentando lidar com aquilo, mas só intensificou ainda
mais. Eu queria tanto ceder ao desejo, mas sabia que não podia, não
deveria.
Fechei os olhos, buscando algum refúgio, mas tudo o que consegui
foi intensificar ainda mais as imagens dele.
Cobri a boca com as mãos para abafar meu grito de agonia.
Ahhhhh!
Por mais que doesse, eu sabia que era o certo. Não podíamos nos
permitir fraquejar, não quando as nossas filhas dependiam de nós, não
quando tínhamos a responsabilidade de sermos os melhores pais que
pudéssemos ser.
Em meio a um suspiro, enxuguei as lágrimas e ergui-me lentamente
do chão.
Eu precisava cuidar das minhas filhas e nada mais importava.
Capítulo 32
— Porra! Caralho! Que merda! — gritei todos os palavrões que
conhecia ao entrar no meu carro e bater à porta com força.
Eu praguejava, debruçado sobre o volante do meu carro. Apesar de
estar me esforçando, sentia que estava fazendo tudo errado. Eu não fazia o
tipo homem de família e a Silvana havia jogado isso na minha cara. O pior
de tudo era que eu nem tinha argumentos para confrontá-la.
Dei partida no carro com as palavras da Silvana ecoando na minha
mente.
Ela tinha razão, eu não era o tipo de homem e pai exemplar, muito
menos, um modelo de família. Tinha muito orgulho da minha vida a da
forma como eu a conduzia antes de saber que as minhas filhas existiam.
Quando eu cheguei novamente na casa dos meus pais, eu ainda
estava tão frustrado, que permaneci jogado no veículo. Quanto mais eu
tentava não pensar na Silvana, mais a minha mente me traía.
Meus irmãos já tinham ido embora e me arrisquei a pegar o meu
celular e mandar uma mensagem para o Augusto, precisava conversar com
alguém. Ele era a minha melhor opção, apesar de não ser bom em dizer o
que eu queria ouvir.

Alberto:
Por que eu sinto que estou fazendo tudo errado?
Augusto:
O que aconteceu?
Alberto:
Eu beijei a Silvana há alguns dias e hoje tentei me aproximar
de novo.
Ela me mandou embora, no melhor resumo da situação.
Augusto:
O que você quer com ela?
Alberto:
Como assim?
Augusto:
Ela é mãe das suas filhas.
Alberto:
Eu sei.
Augusto:
Não dá para agir como se ela fosse só mais uma.
Alberto:
Foi o que a Silvana disse.
Augusto:
Se quiser ficar com ela, vai ter que ficar de verdade, com
amarras.
Alberto:
Um relacionamento?
Augusto:
Óbvio!
Alberto:
Não sei se eu quero isso.
Augusto:
Enquanto não tiver certeza, deixa a mulher em paz.
Alberto:
Por que falar parece muito mais simples do que colocar em
prática?
Augusto:
Porque é!
Mas pense que vocês têm duas filhas que não pode arrastá-las
para uma confusão.
As meninas são a prioridade.
Alberto:
É o que ela diz.
Augusto:
Isso faz dela uma boa mãe.
Alberto:
Eu sou um péssimo pai.
Augusto:
Calma, cara…
Você descobriu ser pai ontem e está se esforçando. Vi o quando
as meninas são felizes na sua companhia, isso é o que importa.
Alberto:
Espero que sim.
Augusto:
Você vai se sair bem.
Alberto:
Queria ser como você.
Augusto:
Minha vida está bem longe de ser perfeita.
Alberto:
Mas parece.
Augusto:
Já passei por coisas que prefiro nem ficar pensando.
Alberto:
Mas superou tudo.
Augusto:
Ainda bem!
Alberto:
Às vezes eu penso que se fosse mais como você saberia lidar
com tudo isso.
Augusto:
Quem disse que eu sei?
Rsrs.
Alberto:
Parece.
Augusto:
Irmão, quem vê de fora, não sabe o que realmente está
acontecendo.
Já está na hora de você aprender isso.
Fiquei tempo demais preso em um casamento do qual não
conseguia me livrar com uma mulher maluca que arquitetou um
plano para que eu engravidasse outra e ela roubasse o bebê para fingir
que engravidou de mim. Tudo isso para não perder acesso ao meu
dinheiro.
Alberto:
Okay, você venceu.
Augusto:
Rsrs!
Viu?
Alberto:
Você tem razão.
Augusto:
O importante não é quantos tombos nós levamos, mas a nossa
capacidade de nos levantar.
Alberto:
Vou me lembrar disso.
Augusto:
Ótimo!
Alberto:
Obrigado pela conversa.
Augusto:
Por nada.

Eu sabia que a conversa com o meu irmão não tomasse o rumo que
eu queria, mas conversar com ele fez com que eu me sentisse melhor.
Apesar de não ser perfeito, como ele mesmo dizia, Augusto parecia saber
lidar com as situações melhor do que qualquer um de nós.
Capítulo 33
— Mamãe!
— Mamãe!
Acordei com as mãos das minhas meninas nos meus braços. Abri os
olhos com sonolência e percebi haver dormido no sofá. A minha cabeça
estava latejando e eu não consegui espantar a sensação ruim que tomava
conta do meu peito.
Alberto…
Eu não queria pensar que quase havíamos ido longe demais, porém,
era praticamente impossível afastar aqueles pensamentos. Esquecer como
ele olhou para mim quando eu fui firme em minha decisão.
Mais firme do que eu imaginei que poderia ser…
Eu seria uma mentirosa se dissesse que não queria. A vontade de
experimentá-lo novamente palpitava em mim e esse era um motivo ainda
mais forte para que eu a repelisse com toda a força, pois eu não queria cair
em um abismo do qual não havia retorno. A chance de que os meus
sentimentos nos colocassem em uma situação difícil era enorme, por isso,
eu acreditava que me convencer de que não daríamos certo era a melhor
escolha.
Alberto não era o homem de uma mulher só e certamente não valia a
pena o risco.
— Mamãe! — Maria Lis voltou a gritar.
— O que foi, querida?
— A escola!
— Que horas são?
— Na hora da escola…
Levantei-me do sofá em um salto e procurei pelo meu celular para
verificar quantas horas eram e tomei um grande susto. As meninas estavam
atrasadas e eu também.
Ah, droga…
— Vamos, filhas! Vamos!
Troquei os pijamas dela pelo uniforme o mais rápido possível e
preparei um misto frio para irem comendo pelo caminho enquanto íamos
para a escola, que não ficava muito longe dali. Chegamos quase uma hora
depois do horário de entrada das crianças e levei uma bela bronca da
professora, mas felizmente, deixaram que elas entrassem.
Perdi completamente a hora e meu celular não despertou, como se
nem ele quisesse estar ao meu lado.
Ah, Alberto…
Não queria prejudicar as minhas filhas pelo que eu sentia ou deixava
de sentir por aquele homem, porém, acabou acontecendo e isso me deixava
ainda mais irritada comigo mesma.
Eu só poderia pensar nele como pai das meninas e nada, além disso.
Capítulo 34
Enquanto você não tiver certeza do que quer, deixe-a em paz…
Apesar da conversa com o Augusto ter sido por mensagens em um
aplicativo, eu escutava a frase dele, como se fosse a sua própria voz. Não
tinha dúvidas de que o meu irmão estava certo, mas, na prática, a situação
era bem diferente.
Eu queria a Silvana. Eu não conseguia pensar nela só como mãe das
minhas filhas. Parecia um tarado que mal fechava os olhos e tentava
imaginá-la nua. Esforçava-me para me lembrar de como havia sido há
quatro anos quando transamos, mas não conseguia. Tantas mulheres já
passaram pela minha cama que seria praticamente impossível me recordar
de cada uma delas.
A Silvana definitivamente não era apenas mais uma, porém, isso não
mudava a minha mentalidade da época. O que havia acontecido no passado,
literalmente ficou no passado.
Já que eu não iria me lembrar, parecia simples criar uma lembrança
nova. Só mais uma transa para que eu não ficasse tão frustrado, mas não iria
rolar. Não com a Silvana.
Ela não me deixaria brincar e depois desaparecer como sempre
fazia. Com duas filhas entre nós dois, havia perdido o direito de
desaparecer.
Ou eu ficava com ela, ou iria brincar com outra mulher.
Era o sim ou não mais difícil da minha vida.
Abdicar da minha vida de solteiro não era nada que eu sequer havia
cogitado, mesmo quando o meu pai ofereceu uma fortuna para que eu e o
Artur nos casássemos. Meu irmão aceitou aquela proposta, sem pensar duas
vezes, e a agilidade dele o fez vencer a aposta...
Os meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.
— Pode entrar… — Eu me remexi na cadeira, pensando que poderia
ser a Bruna. Depois das últimas conversas que tivemos, a relação com a
minha secretária não estava das melhores.
O pior de tudo era que haviam me avisado para não me envolver
com alguém tão próximo porque poderia acabar me arrependendo.
Parecia um pouco tarde para pensar sobre tomar uma decisão
diferente. Se ela não conseguisse agir com profissionalismo, eu poderia
conseguir outro emprego para ela e me livrar da dor de cabeça.
Soltei um suspiro de alívio ao ver o Artur. Não que ele fosse alguém
que eu esperasse ou desejasse conversar, porém, diante da situação, era uma
alternativa melhor.
— Tudo bem? — Ele me observou com atenção como se estivesse
procurando por algo.
— Sim, por que não estaria?
— Sei lá! — Deu de ombros.
— Em que posso ajudá-lo? — Inclinei-me na mesa, observando-o
com atenção.
Artur raramente vinha até a minha sala. Ele me evitava sempre que
possível. Então imaginei que pudesse ser algo grave ou emergencial.
Apesar de não termos culpa pelo que aconteceu à mãe dele, meu
irmão ainda continuava culpando a mim e a minha mãe. Com o passar dos
anos, percebendo que ele não conseguia deixar para lá, acabou virando
parte da nossa convivência.
— Deixei passar algum assunto importante? — insisti quando ele
não falou de imediato.
Artur amava apontar os meus erros, apesar de ele estar longe de ser
perfeito e de não acertar cem por cento das vezes. Queria provar que me ter
por perto era uma atitude estupida do nosso pai, que acabava relevando e só
me dava uma bronca quando realmente era necessário. Considerando que
nos últimos dias a minha mente estava completamente alheia aos negócios,
não seria uma surpresa que eu houvesse dado um motivo para o Artur vir
tripudiar em cima de mim.
— Ah… — Pensou por alguns instantes. — Não.
— Então o que foi? — Arqueei as sobrancelhas, ainda mais confuso.
— A Ana Paula… — bufou.
Minha expressão destacou ainda mais o fato de eu não estar
compreendendo nada. Artur nunca havia compartilhado confidências
comigo e não conseguia ver um motivo para ele começar a desabafar sobre
o casamento.
Permaneci o encarando, esperando que continuasse.
— Minha esposa quer convidar vocês para almoçar conosco no
sábado. Ela disse que não aceita não como resposta.
— Ah… — Fiquei boquiaberto.
— Então vocês vão?
— Vou falar com a Silvana.
— Obrigado.
— Okay. — Ele se virou, mas antes que saísse da minha sala, voltei
a chamá-lo.
— Artur!
— Sim? — Girou nos calcanhares para voltar a me fitar.
— Obrigado pelo convite.
— Por nada.
Artur nunca havia me convidado para a casa dele. Nem sabia como
era o seu apartamento, só que ele morava perto do Parque Ibirapuera.
Seja lá como havia sido a conversa dele com a esposa, a mulher
conseguiu ser bem convincente para fazer com que ele me suportasse em
seu espaço.
Apesar do Augusto ser o mais velho e ter se casado pela primeira
vez há mais de uma década, Artur saiu de casa bem antes disso. Ele foi o
único de nós a começar a trabalhar com nosso pai antes de terminar a
faculdade e usou o salário para conseguir a própria casa. Meus pais não
foram contra a saída dele, porque o Artur brigava muito com a minha mãe,
mesmo quando ela não estava fazendo nada. Confesso que a casa havia se
tornado um ambiente melhor depois da saída dele.
Só voltamos a conviver quando eu comecei a trabalhar na empresa,
mas a opinião dele sobre mim não havia mudado. Eu poderia jurar que
jamais mudaria e já tinha aprendido a lidar com a situação.
Capítulo 35
Depois de um dia péssimo com apenas duas vendas, eu estava
exausta quando fui buscar as meninas na escola. Ouvi elas falarem
animadas sobre como havia sido o dia. Elas haviam começado a plantar
uma horta e foram as responsáveis pelos tomates. Esse tipo de atividade
sempre as deixava felizes.
Entramos no apartamento e eu coloquei as mochilas sobre a mesa de
centro na sala e elas foram correndo até o banheiro.
— Tomem banho direito — gritei para elas. — Eu vou conferir se
estão limpinhas. Vi que as unhas estão cheias de terra.
— Tá bom!
Soltei um longo suspiro antes de elas começarem a gritar.
— Mamãe!
— Mãeeee!
— Já estou indo.
Cheguei no banheiro e vi Maria Flor na ponta dos pés, tentando
abrir o registro do chuveiro. Elas ainda eram muito pequenas para alcançar.
Ri ao ajudá-las e entreguei o chuveirinho para que dividissem.
Maria Lis se molhou e depois passou a mangueira para a irmã
enquanto pegava o sabão da minha mão para se lavar.
— Muito bem. — Incentivei enquanto observava o empenho delas.
Depois que eu desliguei o chuveiro e enrolei as duas nas toalhas
brancas e macias oferecidas pelo apart-hotel, surpreendi-me com o som de
alguém batendo na porta.
Alberto!
Meu coração deu um salto no peito. Por mais que eu houvesse
passado o dia inteiro tentando me convencer de que poderíamos conviver
como pessoas maduras e determinadas a garantir o bem das nossas filhas,
tive certeza de que essa teoria poderia cair por terra no primeiro deslize.
— Papai! — As meninas vibraram e também imaginavam que
pudesse ser ele.
— Vão se vestir. Coloquem o pijama que eu vou abrir a porta.
Elas assentiram com um movimento de cabeça.
Engoli em seco, sentindo como se houvesse um ouriço-do-mar na
minha garganta, machucando com os seus espinhos. Meu coração foi
ficando cada vez mais apertado à medida que eu me aproximava da porta.
Não queria sofrer por antecipação, mas parecia impossível.
Você é mais forte do que isso…
Mais madura.
O pior de tudo era que naquele momento eu não sabia se força e
maturidade era o suficiente para lidar com a situação.
Suspirei ao me dar conta do suor frio nas minhas mãos quando
toquei na maçaneta da porta para abri-la. Minha esperança de não ser o
Alberto se esvaiu quando eu o vi parado no corredor, usando um terno
cinza, como se houvesse acabado de sair do trabalho. Ele levantou a cabeça
e me encarou com um sorriso.
— Boa noite, Silvana.
— Boa noite… — Tentei retribuir, mas provavelmente só consegui
fazer uma careta.
— Tudo bem?
Balancei a cabeça fazendo que sim, mas a minha vontade era gritar:
claro que não! Como ele poderia querer que eu estivesse bem depois de
tudo que havia acontecido.
Preferia acreditar que ele não sabia do impacto que suas palavras e
atos podiam provocar em mim do que pensar que ele estava fazendo de
proposito só para me jogar num sofrimento angustiante.
Eu abri a boca, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, as
meninas apareceram gritando.
— Papai!
Elas passaram por mim, quase me derrubando e o abraçaram,
envolvendo as pernas dele e Alberto se agachou para retribuir o carinho.
— Oi, minhas meninas!
— Ah, papai!
Era impressionante a habilidade que as crianças tinham de
abandonar o passado. Alberto não esteve presente na vida delas por anos,
mas tudo o que importava para as duas era que ele estava ali agora. Não
havia mágoas, nem ressentimentos, apenas a alegria de poder conviver com
o pai e se sentirem amadas por ele.
— Como foi o dia de vocês hoje? — Ele se levantou, guiando as
meninas para dentro do apartamento e fechou a porta.
— Fizemos hortá! — disse Maria Lis.
— Horta?
— Sim — respondeu Maria Flor. — Tomate.
— Ah, vocês plantaram tomate?
— Hum rum…
— Que legal!
— Sim…
— Enquanto vocês estão com o papai, eu vou preparar o jantar.
— Tá!
Elas não se importaram quando eu me afastei, como se quisessem
apenas a atenção do Alberto. Tentei não me sentir enciumada, afinal eu fui
atrás dele para garantir que as meninas tivessem aquele direito.
Ouvi o riso e a felicidade delas, enquanto cozinhava e isso era o
bastante para me deixar feliz também.
Era o que importava.
Capítulo 36
Percebi pelo olhar da Silvana que ela estava desconcertada assim
que ela me viu na porta. Tive a sensação de que ela torcia para que não
fosse eu. Poderia ser apenas uma impressão, mas o clima estava pesado
entre nós.
Ambos estávamos tentando fingir que nada havia acontecido, mas
ficava cada vez mais óbvio que éramos ruins nisso.
Ela não queria ser só mais uma transa minha, mas não significava
que eu conseguisse evitar a minha vontade de tê-la. Eu havia passado o dia
todo com aquela pele negra na minha mente, com uma vontade de enfiar
meus dedos naquele cabelo cacheado, minha boca nos seus lábios
carnudos…
Eu queria dizer que era fácil afastar todos aqueles pensamentos da
minha mente, mas só provava para mim mesmo o quanto eu estava
fracassando. Não conseguia evitar aquela perturbação que me deixava com
dor de cabeça.
As meninas conseguiram me distrair por um tempo, mas eu sabia
que era momentâneo, quando eu estivesse sozinho novamente, meus
pensamentos acabariam fluindo para ela. Tentar me convencer de que não
deveríamos ficar juntos, só fazia com que eu me provasse que a queria mais
do que minha racionalidade dizia ser aceitável.
— Papai! — Maria Lis segurou na lapela do meu paletó.
— Oi, princesa?
— Gosta de horta?
— Nunca plantei.
— Ah!
— Mas deve ser muito legal.
— É sim!
— O jantar está pronto — anunciou Silvana ao colocar os pratos
sobre a mesa e servir a refeição das meninas.
— Vamos comer. — Segurei nas costas das minhas filhas e ajudei as
duas a ficar de pé.
— Vamos! — Elas comemoraram.
Meu olhar cruzou com o da Silvana e eu engoli em seco, mas
nenhum de nós ousou dizer nada.
Se não queríamos deixar a situação entre nós constrangedora,
estávamos falhando miseravelmente.
Servi um pouco da refeição para mim e acabei me sentando no lado
oposto da mesa de quatro lugares, encarando a Silvana. As meninas eram
novas demais, mas qualquer outra pessoa mais madura conseguiria perceber
que havia algo pesando demais entre nós como se uma nuvem cinza e
chuvosa pairasse sobre nossas cabeças.
Éramos como duas crianças emburradas que não conseguiam deixar
os problemas de lado.
— Hum… ótimo! — exclamei depois de mastigar um pedaço da
carne.
— Obrigada — Silvana deu um sorriso sem jeito.
— Já pensou em ter um restaurante?
— Restaurante? — Franziu o cenho, surpresa com a minha
pergunta.
— Sim.
— Uma vez, mas…
— Mas o quê? — insisti.
— É complicado…
— Acha que não conseguiria?
— Não por isso.
— Então pelo quê?
— Para abrir um restaurante precisa de um investimento muito
grande que eu nem consigo imaginar. Alugar um local, comprar os
eletrodomésticos, sem contar as pessoas para trabalhar… eu mal conseguia
pagar o aluguel daquele barracão, nunca conseguiria dinheiro para algo tão
ambicioso como um restaurante.
— Mas você gostaria de ter um?
— É algo fora das minhas possibilidades…
— Responda com sim ou não — cortei-a, enfático.
— Não sei… quero dizer, sim. Claro que sim! Mas o
investimento…
— Deixe o investimento comigo.
— Não! — Ela deu um grito que assustou as meninas.
— Mamãe…
— Desculpa, meninas — sussurrou, sem jeito, antes de voltar a me
encarar. — Não posso aceitar o seu dinheiro, Alberto. Uma coisa é cuidar
das nossas filhas, mas eu não procurei você para tirar proveito da situação.
— Não foi o que eu disse.
— Mas aposto que é o que todo mundo acaba pensando.
— Que todo mundo? — Franzi o cenho, mantendo o meu ar
questionador.
— Seus pais… Seus irmãos… Eu não sei.
— Eles nunca disseram nada.
— Mas podem estar pensando… — Mordeu o lábio inferior, tensa.
— Já pensou que pode estar só na sua cabeça e não na deles?
Ela ficou em silêncio.
— De qualquer forma, como você mesma disse, é um investimento
e eu sou um investidor. É com isso que eu trabalho, então são negócios para
nós dois. Você entra com a mão de obra e eu com o dinheiro. Não é um
favor, mas um negócio que eu acredito no potencial de rentabilidade. O que
você me diz?
— Eu… Eu não sei… Vale a pena?
— É você quem vai me dizer. É um bom investimento ou vou rasgar
dinheiro?
— Eu… eu não sei…
— Não precisa me responder agora. Pense sobre o assunto?
Balançou a cabeça, concordando.
— Obrigada.
Não apenas por ser mãe das minhas filhas, Silvana era uma boa
cozinheira e eu acreditava que ela merecia um local melhor para trabalhar
do que aquela banca precária na rua. Poderia atrair os clientes que já tinha e
fidelizar novos. Minha família ganhava muito dinheiro investindo em
negócios e o meu pai me treinou para perceber quando havia algum
potencial ou se eu perderia dinheiro.
Capítulo 37
Queria que ele fosse embora antes das meninas dormirem, seria
mais fácil para mim e evitaria o constrangimento de ficarmos sozinhos, mas
as minhas filhas não contribuíram comigo, insistiram para que ele contasse
uma história e só fecharam os olhos depois do segundo livrinho.
Eu estava parada na porta, observando, até que o Alberto se levantou
da beirada da cama da Maria Lis, deu um beijo na testa dela e depois na da
Maria Flor antes de caminhar na minha direção e eu dei dois passos
cambaleantes para trás no corredor.
— Elas estão gostando da escola nova.
Balancei a cabeça concordando.
— Se adaptaram melhor do que eu imaginava.
— É tudo mais fácil quando a gente é criança.
— Uma pena que a gente cresce.
— Também existem vantagens de ser adulto.
— Eu não sei…
— Claro que sim. — Ele tocou o meu rosto e eu afastei por reflexo,
batendo com as costas na parede do corredor.
— Alberto…
Ele aproximou o seu rosto do meu e quando me dei conta, seu corpo
estava perto demais para nos manter agindo com prudência e
responsabilidade.
— Eu não consigo… — Desabafou com a voz rouca e baixa, como
se estivesse sentindo falta de ar, mas ele não era o único sem fôlego.
— O que…
— Parar de pensar em beijar você.
— Alberto, não…
Ele tirou a mão do meu rosto e a colocou na parede, encostando sua
testa na minha. Sua respiração estava urgente e acelerou a minha. Meu
coração começou a galopar no peito e imaginei que ele pudesse acabar
pulando da boca.
— Não podemos…
— Acho que não — sussurrou com os lábios tão próximos dos meus
que eu os sentia se atraindo como se fossem lados opostos de um ímã.
Foge!
Minha mente berrava, tentando agir com racionalidade diante de
toda aquela atração.
Alberto acabou com a distância entre as nossas bocas, raspando os
lábios nos meus de forma lenta e provocante que deixou o meu coração
ainda mais acelerado.
Que fiquei com sede, uma necessidade tão desesperada pela boca
dele, como se fosse um verdadeiro oásis. O que começou com um roçar de
lábios, numa leve provocação, acabou num beijo perigoso quando eu
empurrei a minha língua contra a boca dele.
As mãos do Alberto caíram da parede e pararam na minha cintura
quando ele prensou meu corpo contra a superfície rígida com a pressão do
seu peito contra o meu.
Enquanto a minha consciência berrava para afastá-lo, eu estava
sendo seduzida pelo desejo ao subir com as mãos pelos seus ombros e
abraçar o seu pescoço.
A língua dele mergulhou na minha boca com ainda mais
intensidade, roubando meu fôlego e a lógica enquanto as mãos pesadas
escorregavam da minha cintura e apertavam a minha bunda protegida pela
calça jeans.
Eu já não conseguia mais respirar quando ele interrompeu o beijo,
mas ao invés de se afastar, sua boca deslizou pelo meu pescoço, deixando
um rastro de mordidas e chupões que me fizeram enlouquecer.
Segurei os seus ombros, pensando em empurrá-lo, mas tudo o que
consegui fazer, foi ficar as unhas no seu paletó, enquanto cerrava os lábios
para não gemer ao senti-lo abocanhar a minha garganta.
Deixei escapar um suspiro quando ele apertou a minha bunda com
ainda mais força, encaixando uma perna entre as minhas coxas e a fricção
aumentou ainda mais o meu desejo por ele. Por mais que parecesse um
enorme erro admitir, queria muito estar com aquele homem novamente.
— Você tem que ir embora…
— Você não quer que eu vá embora. — Lambeu meu pescoço,
provocando uma série de calafrios que me deixaram toda arrepiada antes de
voltar a roçar os lábios nos meus.
— O que eu quero, não importa.
— Nós dois sabemos que não é bem assim.
A minha racionalidade já não estava sendo forte o bastante para me
impedir de cometer aquele erro. Minhas palavras poderiam dizer uma coisa,
mas meus atos certamente demonstravam outra.
Como eu poderia convencê-lo a ir embora se o meu corpo
continuava a se esfregar no seu e eu sentia a palpitação entre as minhas
coxas se intensificar.
— As meninas…
— Estão dormindo. — Mordiscou o meu queixo. — Não vão ver
nem saber de nada.
Mas eu vou saber!
Isso já deveria ser o bastante para empurrar o Alberto e mandá-lo
sair dali, mas ao invés disso, minha boca estava na sua, beijando com ainda
mais ferocidade enquanto o sentia entrar por debaixo da minha blusa e tocar
os meus seios. Mordi o seu lábio inferior, tentando não gemer enquanto
seus dedos torciam meus mamilos após ter invadido o meu sutiã e tê-lo
puxado para baixo.
Eu tentei falar o seu nome, protestar contra aquele erro enorme, mas
a sua língua se afundou ainda mais na minha boca, acabando de vez com a
pouca prudência que eu deveria ter.
As mãos saíram da minha blusa e eu finalmente achei que ele se
afastaria, mas ao invés disso, foram para a minha cintura e me pegaram no
colo. Diante do movimento rápido, tudo o que eu consegui fazer foi jogar as
pernas ao redor do seu quadril e permitir que ele me carregasse para o meu
quarto.
Alberto fechou a porta e dessa vez o beijo me devorou, enquanto ele
me pressionava contra a madeira. O seu beijo e toques estavam carregados
de uma necessidade incontrolável, faminta e urgente.
Minhas coxas ainda estavam ao redor da sua cintura e eu sentia o
volume da sua calça ser pressionado e friccionar contra mim de uma forma
que aumentava ainda mais o meu desejo.
Ah, Alberto!
Sua boca escapou da minha e outro calafrio me varreu quando seu
fôlego soprou a minha orelha.
— Você é mais gostosa do que eu estava imaginando — confessou
ele.
— Você estava imaginando?
— Não faz ideia do quanto.
Voltou a me beijar, mordiscando e lambendo os meus lábios de uma
forma tão enlouquecedora que colocou fogo em cada parte do meu corpo.
Eu havia perdido completamente o controle e não conseguia mais ficar só
nos beijos.
Subi com os meus dedos pela sua nuca, puxando o seu cabelo,
tornando o beijo mais intenso do que eu julgava possível. Já as mãos dele,
subiram pelas minhas coxas, agarrando minha bunda e apertando as
nádegas. Naquele momento, o tecido jeans pareceu muito fino, quase como
se ele estivesse me tocando diretamente.
Alberto me carregou até a cama sem afastar os seus lábios dos meus.
Sua língua estava brincando com a minha quando ouvi o zíper da minha
calça e senti suas mãos puxando a peça para baixo.
Ele se afastou momentaneamente para me encarar e eu percebi
como seus lábios ficaram avermelhados pelo beijo e eu notei que havia
deixado a marca das minhas unhas na pele clara do seu pescoço, mas ele
não parecia se importar. Alberto umedeceu os lábios ao perceber que eu
estava o encarando e me dirigiu um sorriso enquanto puxava a minha
calcinha assim como havia feito com minha calça.
Empurrando-me mais para o meio da cama, ele se acomodou entre
as minhas coxas e se inclinou lentamente até posicionar a sua cabeça. Eu
estremecia em antecipação quando seu fôlego me arrepiou antes que a
língua me tocasse. Agarrei o seu cabelo macio, remexendo-me na cama
quando ele me abocanhou e abriu meus grandes lábios com a língua,
fazendo movimentos circulares no meu clitóris e me deixando ensandecida.
Comecei a rebolar na cama, mas Alberto agarrou as minhas coxas, detendo
meus movimentos antes de enterrar a língua em mim e fazer com que o meu
corpo arqueasse.
Oh… ah!
Alberto não poderia se lembrar de como havia sido há quatro anos,
mas eu nunca tinha me esquecido e poderia garantir que ele estava se saindo
bem melhor.
Seus beijos, sua língua e chupões me levaram à beira de um
precipício de êxtase, mergulhando-me em uma névoa que me deixava
completamente atordoada.
— Alberto! — Deixei escapar um gritinho.
— Shi! — Ele colocou o dedo esticado sobre os meus lábios
enquanto os seus ainda estavam enterrados na minha intimidade. — Não vai
querer acordar as meninas.
Balancei a cabeça fazendo que não e ele retornou ao trabalho.
Se havia alguma chance de eu afastá-lo, ela se esvaiu
completamente em meio aquele oral, quando eu percebi que tudo o que eu
queria era mais dele. Seus lábios, sua língua, seu corpo inteiro…
Estremeci quando a tensão se transformou em milhares de
fragmentos que percorreram o meu sangue, me fazendo formigar.
Quando eu soltei o lençol que estava puxando e comecei a respirar
com mais urgência, Alberto percebeu que havia me levado ao ápice e voltou
a me encarar.
Sua boca voltou para a minha, deixando-me sentir meu gosto na sua
língua e ele me beijou, mordiscou os meus lábios, ao terminar de tirar
minha roupa. Suas mãos agarraram os meus seios, apertando meus
mamilos, torcendo-os e afundando-os de um jeito que só aumentava meu
tesão.
Ele abocanhou o meu pescoço e eu estremeci, enquanto tentava
recuperar o controle do meu corpo para tirar a roupa dele.
Capítulo 38
Os dedos delicados e longos dela abriram o meu paletó e eu,
praticamente, arranquei a minha camisa ao jogá-la no chão.
Silvana estava esparramada sobre o lençol, com seus cabelos
volumosos abertos como se fosse um laque, recuperando-se do oral
enquanto ela me observava me despir. Linda, completamente nua, com a
pouca luz que entrava pela janela, reluzindo na sua pele suada.
O cinto me deixou impaciente, enquanto eu lutava para tirá-lo e
finalmente me livrava da parte debaixo das minhas roupas, empilhando-as
no chão antes de avançar para cima da Silvana e voltar a beijá-la.
Minhas mãos percorriam seus contornos, emoldurando-os, enquanto
eu desfrutava da minha pele escorregando pela sua. Eu estava
completamente louco para ter aquela mulher nos últimos dias e finalmente
tocá-la nua só me deixou ainda mais faminto.
Afastei as suas coxas grossas e esfreguei o meu pau na abertura
molhada. Meu corpo vibrou ainda mais em necessidade antes que eu
escorregasse para dentro dela, me afundando naquele canal quente e
apertado.
Foi a minha vez de conter um gemido de satisfação e êxtase ao
finalmente poder desfrutar daquele corpo maravilhoso. Inclinei-me para
frente, passando os braços atrás do corpo dela, envolvendo a sua cintura e a
puxei para cima, fazendo com que se sentasse em mim enquanto eu estava
ajoelhado sobre o colchão.
Ela se acomodou em mim, rebolando no meu colo e eu subi com
uma das mãos para a sua nuca, trazendo a sua cabeça para mim, voltando a
beijá-la. Nossas línguas se entrelaçavam enquanto eu segurava a sua bunda
com a outra mão e fazia com que ela começasse a quicar no meu colo,
subindo e descendo de uma forma maravilhosa.
Era disso que eu estava me esquecendo?
Faminto, devorei a sua boca, enquanto permanecia cravado nela.
Sentindo o seu canal se contrair em mim a cada movimento que ela fazia.
Soltei seu pescoço, segurando a sua bunda com as duas mãos e
Silvana jogou a cabeça para trás, fazendo seus cabelos esvoaçarem,
selvagens, enquanto os seios empinados roçavam no meu peito.
— Você é maravilhosa… — sussurrei.
Ela deixou escapar uma risadinha enquanto segurava nos meus
ombros para aumentar a velocidade com que se movimentava em mim.
Eu estava louco de desejo, queria congelar o momento bem ali para
podermos ficar nele para sempre. No entanto, quando a suas unhas
rasparam na minha pele e o aperto do seu canal se tornou ainda mais
intenso, eu não consegui mais resistir.
Deixei escapar um rugido baixo enquanto todo meu corpo se
preenchia de prazer ao alcançar o orgasmo.
Eu inclinei meu corpo para trás, apoiando-me no colchão enquanto
me recuperava e ela continuou subindo e descendo em mim da melhor
maneira possível. Eu poderia assistir aquele corpo suado, os seios pulando e
os olhos revirados para sempre.
Capítulo 39
De olhos fechados, queria me convencer de que fora um sonho até
sentir a língua quente e molhada contornando o meu mamilo.
Quando levantei as pálpebras, vi o Alberto beijando os meus seios,
chupando-os e dando leves mordidas que me atiçavam. Eu teria os
esfregado na sua boca, pedindo por mais, se não houvesse sido atingida por
um choque de realidade.
— Você precisa sair daqui!
— Hum… — resmungou confuso, como se também estivesse
acordando.
Levantei-me da cama, empurrando-o para o lado e peguei as suas
roupas, jogando-as contra ele.
— Se veste e sai!
— Silvana…
— As meninas não podem acordar e te ver aqui.
— Mas…
— Veste, Alberto!
Massageei as minhas têmporas, como se estivesse com dor de
cabeça, mas era peso na consciência por ter transado com ele, mesmo tendo
me garantido que não cometeria o mesmo erro de novo.
— Por que não volta aqui para cama e a gente continua o que
começou ontem?
— Você ficou maluco? Imagina o que vai acontecer se as meninas
acordarem e te verem aqui… — Eu peguei minhas próprias roupas e me
vesti mais rápido do que ele.
— Somos os pais delas.
— Mas não somos um casal…
— Silvana… — Ele me puxou pelo braço e me jogou de volta na
cama.
— Você precisa se vestir. — Cerrei os dentes, brava.
— E se pudermos fazer funcionar? — Encarou-me sério, deixando-
me ainda mais confusa.
— Do que está falando?
— Sobre nós dois.
— O que aconteceu ontem foi um erro!
— Eu não acho.
— Não podemos fazer isso… — Tentei me esquivar, mas ele estava
em cima de mim, capturando os meus olhos com os seus.
— Podemos! Namora comigo?
— Você está de brincadeira? — questionei, incrédula.
— Pareço estar brincando? — Encarou-me sério.
— Alberto…
— Eu quero ficar com você. Acho que podemos fazer funcionar.
— Mas se não conseguirmos fazer funcionar? — Engoli em seco,
tensa.
Eu não queria ter que admitir para ele a minha vontade de ficarmos
juntos. Minha consciência dizia que eu estava sendo idiota, caindo no
mesmo papinho só para que ele conseguisse sexo, mas o meu coração
realmente queria fazer funcionar. Sermos um casal parecia um sonho, mas
meu receio me dizia ser impossível.
— Silvana… — Ele estendeu a mão para tocar o meu rosto,
acariciando lentamente a minha face e se inclinou na minha direção.
Pensei que ele fosse me beijar e eu fechei os meus olhos, mas um
grito me trouxe de volta a realidade.
— Mãe!
— Se veste! — Empurrei-o, fazendo com que ele cambaleasse para
trás.
— Silvana, mas…
— Agora vai ficar escondido até as meninas irem para a escola.
— Elas…
— Shi! — Levantei a mão em sinal de pare.
— Eu…
— Silêncio!
— Mãe! Mãe!
Olhei séria para o Alberto, que assentiu com um movimento de
cabeça e eu saí do quarto, fechando a porta atrás de mim e me deparando
com as gêmeas no corredor, encarando-me com uma expressão de confusão.
— Oi, minhas princesas. — Abri um sorriso amarelo ao encará-las.
— Vamos para escola? — Maria Lis tombou a cabeça, reparando em
mim e tentando identificar se havia algo de errado.
A expressão delas fez com que o meu suor frio aumentasse.
— Sim! Vocês vão sim!
— Eh!
— Agora vão escovar os dentes e se trocar. Eu vou preparar o café
da manhã para vocês duas.
Fiquei tensa durante todo o momento, esperando que as meninas,
não se encontrassem com o Alberto. Eu o mataria se ele as deixasse
confusas. Já não estava sendo fácil para mim processar a noite passada, para
as minhas filhas seria ainda mais complicado. Para elas só funcionava sim
ou não, qualquer talvez era confuso demais.
Assim que elas se arrumaram, dei um misto quente para cada uma
delas e saímos antes que vissem o pai.
Capítulo 40
Esperei o silêncio completo antes de abrir a porta do quarto e sair.
Silvana e as meninas não estavam mais ali e eu aproveitei para tomar um
banho e coloquei o terno do dia anterior para ir direto para o escritório.
Não era a primeira vez que eu passava a noite fora e tinha essa
atitude, porém, dessa vez era completamente diferente. Antes ema apenas
noites passageiras, sem qualquer envolvimento. Nem sequer havia cogitado
assumir aquelas mulheres, porém, com a Silvana, estava ciente de que não
poderia ser assim e não me arrependia de querer algo sério.
Além de linda, Silvana tinha outras características que me
encantavam, como a sua determinação e como priorizava as meninas. Era
uma ótima mãe e tinha tudo para ser uma boa esposa.
Esposa…
O que eu estava pensando? Namorar era uma coisa, mas tomar a
decisão de me casar tornava tudo mais sério e profundo. Eu queria estar
com ela, mas precisava ter certeza de que estava pronto para esse passo
antes de decidir tomá-lo.
Silvana estava certa, com as nossas filhas no meio de tudo aquilo, eu
não poderia tomar uma decisão e me arrepender nos meses seguintes. O
bem-estar delas tinha que estar na minha prioridade.
Eu saí do apart-hotel e fui até o meu carro estacionado na rua. Antes
de ir para a empresa, fiz uma ligação para o gerente da minha conta pessoal
no banco. O dinheiro no meu nome vinha da divisão de lucros no fim do
ano, mas eu quase não fazia movimentações pessoais, porque a maioria dos
meus gastos eram feitos no cartão corporativo. O meu próprio dinheiro era
reinvestido e transformado em uma renda passiva. Morando na casa dos
meus pais, eu não tinha muitas preocupações, entretanto, queria comprar
um local para as minhas filhas, além de estar pensando em outro
investimento…
Usando o meu próprio dinheiro, eu não precisava da aprovação dos
meus irmãos, nem convencer os outros diretores de que era uma boa
estratégia de negócios. Confiava no potencial da Silvana e isso era o
bastante para mim.
Depois da conversa com o gerente sobre a disponibilização dos
meus fundos de investimentos, eu liguei para a minha secretária. Estava
evitando falar com ela devido aos últimos acontecimentos, mas ainda
precisava que ela fizesse o seu trabalho.
— Bruna…
— Oi, chefe. — Ouvi sua voz soar manhosa do outro lado da linha.
— Preciso que consulte minha agenda para mim.
— O senhor tem uma reunião depois do almoço com o dono de uma
rede de supermercados. Ele tem interesse em expandir para o estado de
Minas Gerais e está procurando por investidores.
— Preciso que ligue para ele e remarque esse encontro para amanhã.
— Aconteceu algo?
— Não. Só tenho outras prioridades para hoje. Se meu pai ou os
meus irmãos procurarem por mim, diga que eu estou fazendo trabalho de
campo hoje.
— Quer a minha ajuda…
— Não! — cortei-a, enfático.
— Mas…
— Tenha um bom dia, Bruna. Desliguei a chamada sem me
estender.
Eu sabia que a Bruna já havia começado a confundir demais o nosso
relacionamento e eu não queria dar mais motivos para a má interpretação
dela.
Dirigi para o Brás, onde havia me encontrado com a Silvana pela
primeira vez e sabia que ela trabalhava. Deveria haver lojas e
estabelecimentos para compra e aluguel e eu procurei por eles durante toda
a manhã, fazendo algumas visitas e observando o interior.
Estava em um deles quando o meu celular começou a vibrar.

Pai:
Onde você está, Alberto?
Não passou a noite em casa e agora não vem trabalhar.
Alberto:
Minha secretária não disse que eu faria trabalho de campo?
Pai:
Disse, mas você poderia inventar desculpas.
Alberto:
Ah, pai, não me enche.
Pai:
Olha como fala!
Você tem que se preocupar com os negócios.
Alberto:
Estou tratando de negócios. Estou procurando um local para
abrir um restaurante.
Pai:
Restaurante? Desde quando se interessa por esse ramo?
Alberto:
Desde que eu percebi como a Silvana cozinha bem e merece
mais do que uma banca de madeira debaixo do sol forte.
Pai:
Aprecio a sua atitude, mas investimentos para a abertura de um
novo negócio precisam ser discutidos com a diretoria.
Alberto:
Eu sei, por isso vou usar meu próprio dinheiro.
Pai:
Nesse caso eu só posso desejar boa sorte.
Alberto:
Obrigado, pai.
Pai:
Só não se deixe levar pelas emoções e tome decisões
impensadas, ou só vai perder dinheiro.
Alberto:
Pode deixar!

— Alberto? — chamou o dono do estabelecimento quando percebeu


que eu estava distraído com o celular.
— Sim… — Guardei o aparelho no bolso.
— O que acha? — Ele abriu os braços, mostrando o salão.
— Precisa de uma boa reforma.
— Ficou fechado por um tempo — disse sem jeito, encolhendo-se
diante do meu olhar analítico.
— Tem alguns pisos quebrados, mofos…
— Mas com uma boa reforma… — tentou argumentar.
— Eu tenho que pensar muito bem no valor que vai requerer de
investimento antes de tomar qualquer decisão.
— Mas é um ponto ótimo, cercado de lojas e empresas…
— Onde também existem outros restaurantes — argumentei.
Eu não era um amador e havia crescido no ramo dos negócios.
Apesar de ser a primeira vez que lidava com um restaurante, havia situações
que não mudavam independente da área de atuação.
— Mas se oferecer uma boa comida a preço justo pode conquistar
muitos clientes.
— Veremos.
— Você vai pensar e perceber que é um ótimo ponto.
— Posso ficar com a chave até amanhã? Vou conversar com um
arquiteto e ver o que é possível ser feito a um baixo custo.
— Claro! Claro que pode! — falou todo animado, sem esconder a
alegria diante da possibilidade da locação.
— Obrigado.
Saímos do local, trancando-o e o homem entregou as chaves para
mim. Eu ainda estava analisando, mas de todos os locais em que havia
estado, aquele me pareceu o melhor, apesar da necessidade de uma boa
reforma.
Capítulo 41
Mal via a hora do sol baixar e minha cabeça parar de doer. O meio
da tarde era o pior período, porque o movimento ficava ruim e o clima,
mais quente. Estava me abanando com um folheto que recebi de uma
autoescola quando observei o Alberto surgir no horizonte. Ele veio
caminhando na minha direção e só tive certeza de que não era um delírio
quando ele parou diante de mim.
— Oi! — Deu um sorriso ao colocar as mãos nos bolsos da mesma
calça com que eu tinha o visto no dia anterior.
— Você não deveria estar trabalhando? — questionei-o.
— Eu estava. Por falar nisso, nem consegui almoçar. Pode fazer um
acarajé para mim? Eu gosto de camarão e pouca pimenta, por favor.
Sorri para ele e me levantei do banquinho para preparar o seu
pedido.
Alberto esperou paciente até que eu o servisse o acarajé e pagou por
ele como qualquer um dos meus clientes.
— Por falar em negócios — começou enquanto limpava as mãos em
um guardanapo de papel barato que eu havia oferecido. — Eu preciso que
você venha comigo.
— Agora? — Arqueei as sobrancelhas.
— Sim.
— Eu não posso!
— Só dessa vez.
— As pessoas vão começar a sair daqui a pouco e é o melhor
horário de movimento. Não posso fechar a banca. Ainda mais depois dos
últimos dias.
— Eu pago pela sua tarde.
— Alberto, você não pode fazer isso.
Para ele o dinheiro parecia tão fácil que chegava até ser uma ofensa
como se comportava.
— É por um bom motivo. — Torceu os lábios como se fosse uma
criança suplicando.
— Eu não posso…
— Por favor. Tenho certeza de que vai valer à pena quando ver. Só
precisa vir comigo.
— Para onde? — Franzi o cenho, ainda receosa.
— Só vai descobrir quando vier comigo. — Estendeu a mão,
esperando que eu segurasse.
Fiquei encarando a palma dele por longos instantes até que
finalmente assenti.
— Está bem, mas precisa me ajudar a guardar tudo.
— É claro.
Deixamos tudo na loja do seu Joaquim e eu finalmente segui o
Alberto para onde ele pretendia me levar, sem saber o que esperar disso.
— Aonde estamos indo?
— Espera.
— Alberto. — Torci os lábios.
Olhei de um lado para o outro enquanto atravessávamos um
semáforo e andávamos para o outro quarteirão. Ele não havia falado se seria
uma caminhada longa ou curta e isso me deixava ainda mais ansiosa.
Sabia que não deveria ter fechado a barraca, ao mesmo tempo, em
que estava muito ansiosa para descobrir o que ele poderia estar aprontando.
Viramos na esquina e logo ele parou diante de uma porta de metal
com uma placa escrito: aluga-se.
— O que é isso? — questionei enquanto olhava para o local.
— Espera.
Se a intensão dele era me deixar mais calma, não estava
conseguindo.
— O que estamos fazendo aqui?
— Não sabe esperar?
Fiz que não.
Ele riu, enquanto destrancava a porta e empurrava para cima.
— Por que estamos aqui, Alberto? — questionei quando a porta foi
aberta e um grande cheiro de poeira tomou conta do ambiente.
— Está sujo e precisa de uma boa reforma, mas esse vai ser o local
do seu restaurante — indicou para que eu seguisse em frente.
— Isso é sério?! — coloquei as mãos na boca, mas só evidenciei
ainda mais o meu espanto.
Ele balançou a cabeça, fazendo que sim.
— Ah, meu Deus! — exclamei, sentindo minhas pernas começarem
a tremer enquanto o meu coração acelerava.
— Como eu disse, precisa de uma boa reforma…
— Está perfeito! — interrompi.
O local era incrível, tinha uma boa camada de sujeira, mas nada que
uma boa faxina não resolvesse.
— Já consigo ver as mesas pelo salão. — Girei, reparando em volta.
— Isso é bom. — Alberto deu um sorriso.
— É incrível! Depois que eu fizer uma faxina, podemos conseguir
aquelas mesas de plástico e...
— Calma! Vamos fazer isso direito. Esse local precisa de uma boa
reforma e pintura, depois compraremos o mobiliário. Nada de cadeiras de
plástico, esse vai ser um restaurante e não um bar copo sujo.
— Mas para fazer tudo isso precisa de muito dinheiro.
— Vai ser um investimento considerável — ponderou ele.
— Alberto, tem certeza de que quer fazer isso.
— Eu tenho, mas preciso que me prometa uma coisa.
— O quê?
— Você vai se esforçar para servir as melhores refeições e fidelizar
os clientes para podermos recuperar o investimento.
— Eu posso fazer isso. — Estufei o peito.
— Perfeito!
— Nem sei como te agradecer.
— Podemos pensar num jeito. — Lançou-me um olhar malicioso
que me fez corar.
— Alberto!
— Não disse nada. — Deu de ombros.
— Ainda…
— Vamos lá atrás verificar o local da cozinha.
— Hum!
— Vem!
Ele me guiou até um espaço na parte de trás separado por uma porta
velha. Havia uma bancada de pedra e uma pia, apesar de ser um ambiente
grande, ele estava vazio.
— E aí? — Ele chegou mais perto, colocando a mão no meu rosto e
eu recuei alguns passos até ser parada pelo balcão.
— Acho que precisamos começar por uma faxina.
— Isso é importante.
— Muito!
Suas mãos escorregaram pela lateral do meu corpo e ele segurou a
minha cintura, fazendo com que eu me levantasse e me sentou na bancada.
— Alber…
— Hum…
— Está sujo aqui.
— Como se você nunca houvesse se deitado no chão.
— É diferente.
— Podemos tomar um banho depois.
— Temos que buscar as meninas na escola.
— Ah, isso também…
— Albert… — Não consegui terminar a frase porque os lábios dele
encontraram os meus, fazendo com que meus protestos se cessassem.
Suas mãos contornaram a minha cintura, apertando-a
dolorosamente, enquanto a sua língua forçava passagem por entre meus
lábios e eu não tinha escolha a não ser retribuir ao beijo.
Subi com as mãos pelos seus ombros, embrenhando meus dedos no
seu cabelo liso e macio enquanto ele tornava o beijo mais intenso e eu só
conseguia mover a cabeça, em busca do encaixe perfeito.
O ambiente onde estávamos deixou de ser um problema quando as
nossas roupas passaram a se friccionar e o desejo falou mais alto do que a
racionalidade.
Cruzei as pernas ao redor do seu quadril enquanto ele enfiava a mão
por debaixo da minha blusa para tocar meus seios.
Desfrutando da sua língua brincando com a minha, minhas unhas
percorreram seus ombros e nuca, enquanto o amasso se tornava ainda mais
intenso.
Senti as mãos dele percorrerem as minhas coxas, e um impulso de
moralidade me fez interromper o beijo.
— Alberto, aqui não!
— Ninguém vai nos ver.
— Vai…
— Shi… — Mordeu o meu lábio inferior e a minha vontade de
corresponder aos seus toques se tornou mais intensa, antes mesmo de sua
mão ir parar entre as minhas pernas, e deixar minha calça jeans úmida com
as suas provocações.
Parei de raciocinar quando o meu zíper foi aberto e Alberto tirou a
minha calça, deixando-me de calcinha em cima do balcão que já havia sido
parcialmente limpo no meu jeans.
— Sabia que tem um charme em te ver de calcinha? — disse com os
lábios ainda nos meus.
— Ah, tem?
Balançou a cabeça, fazendo que sim.
— Então por que não deixa a minha calcinha?
— Vou deixar.
— Então quer dizer que posso ir?
— De jeito nenhum! — Cercou o meu corpo com os braços.
— Mas… — Não consegui pronunciar uma frase completa antes
que ele voltasse a me beijar.
Sua língua entrelaçando na minha e meu corpo se atiçando de uma
maneira quase incontrolável.
Eu ainda estava com a minha calcinha quando o Alberto abriu a sua
calça e tirou o membro da cueca. Ele só puxou a renda para o lado antes de
se encaixar em mim. Eu inclinei a cabeça para frente, abocanhando o seu
ombro para evitar um gemido.
Segurei seus antebraços, cravando as unhas no seu terno quando ele
começou a se mover e toda a tenção do local inapropriado foi se
transformando em um prazer cada vez mais intenso e delicioso.
Sua mão subiu pela minha nuca e ele me puxou para trás num tranco
firme, voltando a me beijar enquanto seus movimentos ganhavam cada vez
mais ritmo e velocidade.
Foi rápido, mas não menos intenso. Quando o Alberto estava prestes
a gozar, tirou de mim para não me sujar e me fez chegar ao ápice com os
seus dedos.
— Agora são duas contra uma — murmurou enquanto se
recompunha, fechando o zíper da calça e eu saltava do balcão para me
vestir também.
— Do que está falando, seu maluco?
— Eu me lembro de duas vezes que nos transamos.
Ri enquanto balançava a cabeça em negativo.
— Acho que conta pontos ao meu favor.
— Pontos para quê?
— Para que aceite namorar comigo.
— Não me parece uma boa ideia. — Dei alguns passos para trás
enquanto tentava me esquivar do assunto.
Era obvio que eu queria namorar ele, mas dada a situação em que
estávamos, qualquer relacionamento entre nós poderia ser extremamente
delicado.
— As nossas filhas… — Comecei com a desculpa de sempre, mas
ele me impediu.
— Aposto que se perguntar para elas, se querem ver o papai e a
mamãe juntos, elas vão responder que sim.
— Elas não têm maturidade para perceber as complicações.
— Acho que elas vivem, de uma forma muito mais descontraída e
leve do que nós, adultos.
— Mas somos nós que temos que nos preocupar.
— Ainda pensa que não me preocupo com elas? — cruzou os
braços, assumindo uma postura bem diferente da leve e descontraída de
minutos atrás.
— Não era o que eu queria dizer.
— Pois foi o que pareceu. — Continuou emburrado.
— Só acho que elas passaram por muita coisa… — desconversei,
desviando o olhar por ser incapaz de continuar encarando-o sem arriscar
deixar que ele percebesse o quanto eu estava me esforçando para
simplesmente não me jogar em seus braços e dizer que ficar com ele era
tudo o que eu mais queria.
— Tudo que eu mais quero é tornar a vida delas mais fácil.
— Eu sei…
— Pois não é o que parece. Tudo o que faço você continua dizendo
que temos que pensar nelas. Eu estou pensando desde que fui ao barracão
inabitável onde vocês moravam e as tirei de lá.
— Muito obrigada por isso, muito obrigada por tudo.
— Estou me esforçando.
— Eu sei, mas não significa que precisamos ficar juntos pelas
meninas. Existem muitos pais que não tem um relacionamento romântico.
— Silvana… — Ele inspirou profundamente, como se estivesse
buscando paciência ou as palavras certas para prosseguir. — O que mais
precisa que eu diga para que você entenda que eu quero ficar com você?
Seria mentira se eu dissesse que as meninas não têm parte nisso,
provavelmente eu nunca pensaria em um relacionamento se não soubesse
que sou pai, mas isso é um crime?
— Não…
— Então qual o problema? A não ser que você não queira ficar
comigo.
— Eu quero! — respondi rápido demais. — Só não sei se
devemos…
— Já disse que só vamos saber se tentarmos. — Ele tocou o meu
rosto e me fez encará-lo com atenção. — Nem eu, até onde eu sei, nem
você, conseguimos prever o futuro. Já vi casais improváveis ficarem juntos
pelo resto da vida e outros que parecia perfeitos não darem certo. Se fosse
há um ano eu juraria que nunca iria me comprometer com mulher alguma,
mas estou aqui, agora, querendo ficar com você.
Engoli em seco, paralisada pelas suas palavras e a sinceridade que
percebi nelas.
Eu queria ficar com ele e percebi que não poderia deixar que todo
meu medo me impedisse.
— Eu quero isso.
Ele abriu um largo sorriso e me puxou para mais um beijo, porém,
antes que o intensificasse empurrei-o para trás.
— Eu preciso pegar o que sobrou de hoje na loja do seu Joaquim e ir
para o ponto de ônibus. Se não vou acabar me atrasando para buscar as
meninas na escola.
— Meu carro está em um estacionamento aqui perto, vamos até ele
e depois passamos na escola das meninas juntos.
Concordei com um movimento de cabeça, sabia que elas ficariam
felizes ao verem o pai na escola.
Assim que pegamos as minhas coisas na loja do seu Joaquim, fomos
direto para a escola. O trânsito não estava bom, mas como eu sempre me
atrasava, não seria uma novidade.
— Ah! Eu esqueci de dizer. — Alberto se virou para mim ao
pararmos em um semáforo.
— O quê?
— Meu irmão nos chamou para almoçar no sábado.
— O Augusto? — Foi o primeiro que me veio à mente. Ele fora
muito gentil comigo desde o primeiro momento.
— Não, o Artur… — Alberto não me pareceu amimado ao dizer.
— Isso não é bom? — arrisquei-me a perguntar.
— É! Não sei…
— Estou sem entender.
— A minha relação com o Artur é complicada.
— Vocês não se dão bem?
— É uma história longa...
— Qual é? — Inclinei-me na sua direção, ainda mais interessada.
— Desde que nasci o Artur implica comigo. Sem mencionar o ódio
dele pela minha mãe.
— Sem motivo?
— Sei lá, ele é maluco! — Deu de ombros, ao desabafar. — Sei que
foi triste quando a mãe dele morreu, mas a culpa não é nossa.
— Não é!
— Então! — Bufou. — Pensei que isso nunca mudaria.
— Talvez seja o momento.
— Espero que sim — disse quando paramos em uma de vaga na rua
da escola.
— Quem sabe ele tenha começado a compreender que, apesar da
morte da mãe ter sido dolorosa, você e a sua mãe não tem culpa.
— Acho difícil…
— Não custa ter esperança.
— É!
Nós dois descemos do carro e fomos até a frente da escola, onde
duas professoras esperavam com as crianças.
— Vim buscar as gêmeas — disse para a mulher que já havia
começado a se familiarizar com meu rosto.
Ela assentiu e depois voltou de braços dados com as duas.
— Mamãe! — Correram para mim.
— Oi, princesas.
— Papai! — Os sorrisos delas se tornaram ainda mais largos quando
o viram.
— Ele veio buscar a genti — comemorou Maria Lis.
— Sim.
— Oba! — Maria flor deu alguns pulinhos sem sair do lugar.
— Vamos para casa, meninas. — Segui na frente e fiz um gesto para
virem.
— Mamãe! — Maria Flor puxou o meu braço, atraindo a minha
atenção.
— O que foi, princesa?
— Sua calça está suja.
— Está? — Torci o corpo para observar a parte detrás da calça e
fiquei constrangida ao ver que estava manchada de preto.
— Eu me sentei em um lugar sujo — disse a elas.
— Ah!
Felizmente, minhas filhas não me encheram de perguntas que me
deixariam ainda mais constrangida por lembrar do que havia acontecido
para a minha calça ficar daquele jeito.
Alberto nos deixou no apart-hotel, mas não entrou, apesar da grande
insistência das filhas. Ele disse que precisava ir para casa, mas as meninas
não sabiam que ele já havia dormido comigo na noite anterior.
Nos despedimos com um abraço desajeitado e eu virei o rosto
quando ele tentou me beijar. Havia aceitado o seu pedido de namoro,
porém, ainda acreditava precisarmos de um tempo para absorver aquilo
antes de contar para as meninas.
Capítulo 42
Quando recebi o convite do meu irmão Artur para almoçar no
apartamento dele, confesso que fiquei surpreso. Nossa relação nunca foi das
melhores, e esse gesto repentino me deixou tenso. No entanto, sabia que
precisava ir, pois era uma chance de melhorar a nossa relação. Além disso,
não imaginava que ele fosse ser hostil na presença das gêmeas e da Silvana,
por mais babaca que já houvesse sido comigo em muitos momentos.
Enquanto me arrumava, não conseguia deixar de pensar no passado
conturbado que tive com Artur. Ele sempre se esforçou para provar que eu
não passava de um estorvo, apontando meus defeitos e enaltecendo as
próprias qualidades. Como não me importava muito, acabava deixando para
lá.
Mas naquele momento, com as gêmeas na minha vida, as coisas
haviam mudado. A minha percepção sobre família tinha se transformado
completamente e eu não queria mais viver sem amarras e na curtição, como
antes. Isso poderia significar uma mudança até na relação com o meu
irmão.
Fui buscar as gêmeas no apart-hotel onde Silvana estava hospedada.
Havia priorizado a ideia do restaurante e ainda não encontrara um
local para que elas morassem, mas faria isso ao longo dos próximos dias.
Talvez o fato de estarem confortáveis e bem acomodadas tirasse a
preocupação das minhas costas.
Prendi a respiração ao bater na porta e Silvana levou alguns minutos
para vir abrir. Ela estava visivelmente constrangida, evitando meu olhar.
Agora eu lembrava das duas vezes e queria mais, entretanto, ao ver
as meninas sentadas no sofá atrás da mãe, sabia que precisava me controlar.
— Bom dia, Silvana — cumprimentei-a, tentando manter a voz
calma e neutra.
— Bom dia, Alberto. As meninas estão prontas para sair —
respondeu, encarando o chão.
Eu queria tocar o seu rosto, fazer com que olhasse para mim, mas
me detive. Poderia acabar tentando beijá-la e não era o momento.
Pegamos as gêmeas e seguimos para o apartamento do meu irmão
Artur. Durante o trajeto, o silêncio entre nós era quase palpável, só ouvimos
as meninas conversando entre si no banco de trás.
— Olha o parque! — gritou Maria Lis, assim que as meninas viram
o Parque Ibirapuera.
— É o parque — respondi.
— Podemos ir lá, papai? — questionou Maria Flor.
— Outro dia, filha — foi Silvana quem respondeu. — Hoje vamos
na casa do tio Artur.
— Tá! — Responderam em coro.
Chegando ao apartamento do Artur, ele veio abrir a porta e fomos
recebidos com um sorriso no rosto dele. Fiquei surpreso quando ele se
ajoelhou e abraçou minhas meninas. Augusto tinha um perfil de tio legal,
mas o do meio poderia estar se esforçando. Ana Paula, minha cunhada,
apareceu logo em seguida para nos cumprimentar com um abraço caloroso.
Ela estava radiante, com a barriga cada vez maior, prestes a explodir a
qualquer momento. Imaginei que a realidade de ser pai também estivesse
afetando o meu irmão.
Ao adentrar o apartamento do Artur, fui envolvido por uma
atmosfera de luxo e requinte. Dos três, sem dúvidas ele sempre foi o mais
exibido e extravagante. O espaço era amplo demais para um simples casal,
com uma decoração moderna e sofisticada que evidenciava o exagero do
Artur. As paredes eram adornadas com obras de arte contemporâneas,
enquanto móveis elegantes preenchiam o ambiente, combinando
perfeitamente com o piso de madeira clara.
Depois a minha mãe era a exagerada!
Fiquei com aquele pensamento apenas para mim. Era melhor não
criar caso por algo tão superficial.
— Alberto, fico feliz que tenham vindo! — Artur me cumprimentou,
estendendo a mão para um aperto firme.
— Obrigado pelo convite, Artur. — Tentei sorrir, apesar da tensão
que me corroía.
Artur olhou para Ana Paula, que estava ao seu lado, e sorriu. O
gesto evidenciou que ela era a responsável por tudo aquilo e não o meu
irmão, mas eu preferi não falar nada. O esforço dele em reconhecer que
poderíamos ser mais unidos era válido.
— Acho importante mantermos os laços familiares, principalmente
agora que temos as meninas. — Ana Paula assentiu com um sorriso gentil.
— E logo nosso bebê também vai nascer. — Ela acariciou a barriga que
fazia curva no tecido do vestido.
Silvana, ao meu lado, pareceu relaxar aos poucos, e isso me trouxe
um certo alívio.
Durante o almoço, Artur e eu trocamos algumas palavras, tentando
manter a conversa leve e amigável. Só o fato de ele não ter me alfinetado ou
feito qualquer comentário grosseiro, ou estupido como de costume, já
demonstrava que ele estava se esforçando para agradar à Ana Paula.
As gêmeas interagiam com a tia e faziam perguntas sobre o bebê na
barriga dela, também adoraram ver o quarto do priminho, já todo decorado
e com coisas de bebê. Para elas aquela relação com a minha família era
ainda mais importante.
Já estava no meio da tarde quando Silvana e eu trocamos olhares e
decidimos ir embora.
Agradeci ao meu irmão pelo convite e percebi que, talvez, com um
pouco mais de tempo, pudéssemos construir uma relação melhor graças a
esposa dele.
Capítulo 43
Depois do almoço agradável com o irmão do Alberto e sua esposa,
retornamos para o apart-hotel. Eu não poderia negar que a família dele
estava recebendo a mim e as minhas filhas muito bem. Apesar de todo o
receio que eu pudesse sentir pela condição financeira dele ser bem diferente
da minha, os familiares me acolheram e as meninas com uma receptividade
impressionante.
Por maior que fosse o meu medo de dar o braço a torcer, eu já não
tinha mais tantos motivos para ter medo nem para manter o Alberto longe
de mim quando a minha vontade também era de fazer com que o
relacionamento funcionasse.
Enquanto ele e as meninas se acomodavam na sala brincando com
nossas filhas, eu fui preparar o jantar na cozinha.
O aroma delicioso da comida típica baiana começava a se espalhar
pelo ambiente, enchendo-o de uma sensação acolhedora e familiar.
Enquanto cortava os ingredientes e mexia as panelas no fogão, podia ouvir
as risadas das meninas e os comentários animados de Alberto. Ele estava se
tornando um pai que eu jamais imaginei, mas alguém que eu sempre quis
para as minhas filhas. Ninguém merecia mais cuidado e amor do que elas.
— Mamãe, o papai está fazendo uma torre muito alta com os
blocos! — exclamou uma das meninas, vindo falar comigo com um largo
sorriso.
— Que legal! Então o papai é bom em construir coisas? — rebati,
voltando minha atenção para o jantar que preparava.
— Ele é sim!
Enquanto as meninas se divertiam com Alberto na sala, eu podia
sentir uma calma e a sensação de que tudo poderia ficar bem. Ele estava
falando a verdade quando dizia querer ver as meninas felizes, ninguém se
esforçaria tanto se não estivesse disposto. O dinheiro era necessário, seria o
que o juiz o obrigaria, mas o que as meninas precisavam mesmo era do
carinho e amor do pai.
Quando o jantar ficou pronto, chamei todos para se sentarem à
mesa. As gêmeas correram animadas e se sentaram ao lado de Alberto,
ansiosas para saborear a minha comida.
— Mamãe, mamãe! A Tia Ana disse que o primo Enzo nasce logo!
— exclamou uma das meninas, com os olhos brilhando de empolgação.
— Sério? Que legal! Estou ansiosa para conhecê-lo. — respondi,
sentindo-me feliz por ver as meninas tão animadas com a chegada do
primo.
— Eu também! — vibrou Maria Flor.
Minhas meninas estavam muito felizes. Antes éramos apenas nós
três, mas juntamente com o pai, veio uma família inteira para que pudessem
conviver. Apesar de serem as mais velhas, tinham três priminhos com que
logo poderiam brincar.
Enquanto jantávamos, Alberto chamou a atenção das meninas,
fazendo com que eu voltasse a ficar tensa.
— Meninas, sabem o que o papai e a mamãe vão fazer?
— O quê? — questionaram juntas, se entreolhando.
— Alberto… — Lancei um olhar sério para ele. Ainda não queria
que contasse para elas sobre o nosso envolvimento, apesar de ser algo que
eu não pudesse evitar para sempre, mas queria sentir que era real primeiro.
— Vamos abrir um restaurante.
— Que legal, papai! — exclamou Maria Flor.
— Podemos ajudar também? — perguntou Maria Lis, animada.
— Claro que sim, minhas princesas! Será ótimo ter vocês ao nosso
lado. Vamos fazer tudo juntos, em família.
Eu olhei para ele e foi impossível não sorrir.
Movimentei os lábios em um obrigada e ele retribuiu com um por
nada.
As meninas estavam felizes e eu também.
À medida que a noite avançava e as meninas começavam a bocejar e
esfregar os olhos, percebemos ser hora de colocá-las para dormir. Com
cuidado e carinho, ajudamos cada uma delas a se deitar em suas camas,
cobrindo-as com os cobertores macios e desejando-lhes uma boa noite de
sono.
Assim que as meninas adormeceram, Alberto e eu nos encontramos
sozinhos na sala, envolvidos pelo silêncio do apartamento. Nos encaramos
de pé na sala e ele foi o primeiro a se pronunciar.
— Sabe que não podemos continuar desse jeito.
— Jeito? — fingi-me de desentendida.
— Agindo como se o que estivesse acontecendo entre nós, fosse
assim tão desconfortável que você nem consegue me encarar.
— Eu estou te encarando.
— Poxa, Silvana! — ele deu um passo firme na minha direção e
dessa vez eu não me esquivei, apenas engoli em seco até me derreter no
calor dos seus braços quando ele me envolveu e puxou contra o seu peito.
— Eu quero você!
— Eu também…
— Isso não é o bastante? — Encarou-me com um olhar firme e
cheio de exigências,
— É...
Eu não disse mais nada antes que os seus lábios selassem os meus
quase como se fosse uma sentença e suas mãos foram parar diretamente nas
minhas nádegas, apertando-as sem qualquer pudor e espremendo o meu
corpo contra o seu. Se algo não havia mudado desde a primeira vez em que
nos envolvemos, foi a sua forma de beijar. Era impossível resistir e não
ficar viciada no seu sabor.
Enquanto a sua língua mergulhava na minha boca, correspondi ao
beijo agarrando a gola da sua camisa e o puxando comigo para o quarto.
Apesar das meninas dormirem a noite inteira, não poderíamos correr o risco
de que elas vissem algo.
Eu fechei a porta e o Alberto girou a chave. Nos trancando do lado
de dentro antes de me pressionar contra a parede.
Sua mão subiu pelo meu rosto, contornando a minha face e
colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Prendi a respiração
enquanto os seus olhos estavam fixos nos meus. Ele contornou meu rosto e,
seu polegar traçou meu lábio inferior, pressionando-o para baixo e arrancou
de mim um leve gemido.
Um sorriso malicioso se formou em seus lábios antes que ele
voltasse a me beijar. Sua língua veio de encontro a minha e eu correspondi
ao beijo na mesma intensidade, deixando meus receios de lado para
desfrutar do momento.
Tracei o contorno da gola da sua camisa polo, enquanto minha
cabeça se movimentava, buscando o encaixe perfeito. Mordisquei os seus
lábios e ele sugou os meus em um ato travesso enquanto as mãos desciam
para os meus seios, apertando-os sob o tecido da minha blusa.
O fato de eu querer tanto aquele homem era tão insano que
alimentava o meu medo. Naquele instante eu admiti para mim mesma que o
meu temor não era só em relação as minhas meninas, mas a mim também.
Elas poderiam se recuperar bem mais fácil do que o meu coração.
Entretanto, eu não poderia deixar que o medo me paralisasse.
Eu queria viver, ser feliz com o Alberto.
Puxei a sua camisa, jogando-a no chão, raspando as minhas unhas
nos seus ombros largos, enquanto ele mordiscava e deixava chupões no meu
pescoço.
— Gostosa — murmurou, descendo a língua até o vale entre os
meus seios e fazendo com que eu arrepiasse todos os pelos do meu corpo.
Cerrei os lábios, estremecendo, fechando os meus olhos enquanto
me espichava contra a parede, sentindo o tesão se espalhar por todo o meu
corpo ao passo que o Alberto ia descendo até se ajoelhar diante de mim.
Acariciei o seu cabelo, puxando-o para trás e fazendo com que ele me
encarasse.
Alberto sorriu para mim e me lançou um olhar malicioso enquanto
abria a minha calça e a puxava para baixo. Tirei o meu tênis e fiquei só de
meias da cintura para baixo. ele pegou as minhas coxas e colocou sobre os
seus ombros. Eu me remexi, apoiando-me contra a parede enquanto a
cabeça do Alberto se ajeitava entre as minhas coxas.
Revierei os olhos quando senti a sua língua me tocar. Ele começou
lento, explorando os meus lábios e eu cravei as unhas na parede, sentindo a
necessidade me consumir cada vez mais.
— Hum… — Deixei um suspiro escapar quando ele afundou os
dedos na pele das minhas coxas e aumentou a pressão com que a língua me
explorava.
Minha frequência cardíaca aumentou e foi ainda mais difícil me
manter em silêncio enquanto os movimentos circulares rodavam sobre meu
clitóris.
— Alberto…
Ele enterrou ainda mais a boca em mim e eu joguei a cabeça para
trás, batendo-a na parede e não me importei com a leve dor. O prazer do
oral era muito mais intenso. Senti o meu corpo começar a tremer e a
necessidade pelo orgasmo gritar dentro de mim. Rebolei no seu rosto e me
inclinei ainda mais, pedindo que ele continuasse, fosse mais fundo até…
Ahhhhhhh…
Minha mão escorregou pelo seu cabelo macio, enquanto eu
esmorecia em meio ao clímax. Escorada, bamba contra a parede. Ainda
estava me recuperando quando ele colocou as minhas pernas no chão e se
levantou.
Agarrei a gola da sua camisa e o puxei para mim, e eu suguei a sua
boca, correspondendo ao prazer que ele havia me proporcionado. As mãos
dele voltaram a passear em mim e tirou a minha blusa e eu puxei o sutiã,
finalmente ficando nua enquanto ainda nos beijávamos.
Foi a minha vez de voltar a beijá-lo, descendo pelas curvas dos seus
músculos, explorando-os com a boca e as mãos, mordiscando o seu
abdômen até ficar de joelhos. Abri a sua calça e Alberto me ajudou a tirá-la
juntamente com a sua bermuda.
Mordisquei a sua coxa e ele deu um gritinho, rindo para mim
enquanto acariciava o meu cabelo e o colocava para trás, no instante em que
envolvi seu membro com meus dedos e me inclinei para abocanhá-lo. Ele
deslizou sobre a minha língua e eu salivei, sentindo ainda mais desejo e
uma vontade louca de chupá-lo.
Alberto acariciou meu couro cabeludo, incentivando-me a continuar.
Minha boca subia e descia por toda a sua extensão, rodeando-o com os
lábios, enquanto os seus dedos massageavam minha cabeça. Eu continuei,
fazendo movimentos lentos e às vezes mais ágeis até que ele agarrou o meu
cabelo e me puxou para trás, fazendo com que eu parasse.
Ele me direcionou para a cama. Fiquei de quatro e engatinhei na
direção da cabeceira da cama até que ele agarrou a minha cintura e o puxou
para si. Dei um suspiro quando as minhas nádegas colidiram contra a sua
pélvis. Alberto agarrou o meu cabelo e o segurou em um rabo de cavalo
enquanto se encaixava em mim. Inclinei-me para frente em meio ao tranco
quando ele começou a se mover.
Agarrei o lençol, torcendo-o entre os meus dedos enquanto as
estocadas do Alberto me empurravam para frente, mas o seu agarre no meu
cabelo e na minha cintura me mantinham no lugar. Eu me esfregava nele,
arqueando mais meu corpo e empinando a bunda enquanto ele ia cada vez
mais fundo e mais forte.
Eu não conseguia pensar em mais nada a não ser o meu desejo
desenfreado por mais. Em meio a um frenesi cada vez mais selvagem, senti
ele gozar, mas continuei levando o meu corpo ao seu, esfregando a minha
bunda até alcançar um segundo orgasmo. Exausta, soltei-me na cama, de
bruços e ele se deitou ao meu lado.
Não dissemos nenhuma palavra, apenas nos acomodamos um no
outro até pegar no sono. Estávamos exaustos e por um ótimo motivo.
Capítulo 44
Quando eu acordei pela manhã, Silvana ainda estava dormindo nos
meus braços, com os cabelos cacheados e volumosos espalhados sobre o
lençol branco e alguns fios grudados no rosto pelo suor da noite anterior.
Linda, com a pele nua sendo iluminada pela luz que entrava pelas frestas da
cortina, ela parecia um anjo.
Com cuidado, afastei uma mecha rebelde que lhe cobria parte do
rosto, e ela se moveu, os olhos ainda pesados de sono se abrindo lentamente
para me encarar.
— Alberto…
— Bom dia.
— Por que você continua aqui? — Silvana perguntou, com um leve
franzir de sobrancelhas, enquanto se ajeitava na cama, agora mais desperta.
Ela puxou o lençol, colocando-o sobre o corpo, como se tivesse o
intuito de se esconder dos meus olhos, mesmo após eu ter visto cada detalhe
do seu corpo.
— Porque eu não pretendo ir embora agora. É domingo e temos o
dia inteiro pela frente para ficarmos juntos e nos divertir com as meninas —
respondi, fitando-a nos olhos.
Ela parecia surpresa com minha resposta, como se não esperasse que
eu fosse tão direto.
— Não pensei que você fosse ficar — sussurrou.
— Você está me expulsando? — questionei, tentando entender a
razão de sua pergunta.
— Não é isso… é só que… — ela começou, mas pareceu hesitar,
buscando as palavras certas.
— Nós não estamos fazendo nada de errado, Silvana. — Interrompi
suavemente. — Não há motivo para eu sair fugido, como se tivesse
cometido algum crime.
Silvana permaneceu em silêncio por um momento, parecendo
refletir sobre minhas palavras.
— Eu sei que não é um crime… — ela murmurou, desviando o
olhar por um instante antes de me encarar novamente. Havia uma expressão
de hesitação em seu rosto.
— Então… o que é? — insisti suavemente, esperando que ela se
abrisse e me dissesse a verdade.
Silvana soltou um suspiro pesado antes de admitir:
— Eu tenho medo…
— Medo? — repeti. — Medo de quê?
Ela fez uma pausa antes de responder, olhando para o meu braço ao
redor da sua cintura e formando uma elevação no lençol.
— Tenho medo de que… nós não… — ela começou, mas pareceu
lutar para encontrar as palavras certas.
— Não darmos certo? — sugeri, completando sua frase quando ela
hesitou.
Silvana assentiu.
— Silvana, escute… Eu sei que não existe uma fórmula mágica para
isso funcionar, mas é o que eu quero. Vou me esforçar para dar certo —
declarei, olhando diretamente nos olhos dela, transmitindo toda a
sinceridade das minhas palavras. — Mas é um relacionamento, depende de
nós dois e preciso que você queira…
Antes que pudesse terminar a minha frase, Silvana se aproximou e,
sem uma palavra, colou seus lábios nos meus em um beijo suave, mas cheio
de significado. Era como se aquele gesto expressasse tudo o que ela estava
sentindo naquele momento.
Ela queria, assim como eu.
Por um instante, tudo ao nosso redor pareceu desaparecer, e fomos
envolvidos apenas pela sensação dos nossos lábios se tocando, num ato
muito mais singelo e delicado do que a fome voraz com que havíamos
transado na noite passada, mas eu poderia reconhecer que havia um lado
bom na delicadeza.
Antes que pudéssemos nos entregar completamente ao momento e
aprofundar o beijo, fomos interrompidos pelo som dos gritos das gêmeas,
chamando pela mãe. Silvana se afastou lentamente, com um olhar de
surpresa e preocupação, enquanto eu me endireitava na cama, tentando
recuperar a compostura.
— Parece que as meninas acordaram — comentei, tentando
disfarçar a decepção por termos sido interrompidos.
— Eu vou vê-las. — Ela caminhou pelo quarto, se vestindo,
enquanto ouvíamos leve batidas na porta, por sorte, ela estava fechada.
Eu fiquei ali por um momento, refletindo sobre o que acabara de
acontecer e sobre o que aquilo significava para nós.
Capítulo 45
Ao sair do quarto naquela manhã, dei de cara com as minhas filhas,
que estavam paradas no corredor com sorrisos sonolentos nos rostos.
— Mamãe! — chamou Maria Lis.
— Tô com fome — disse Maria flor, esfregando os olhos por ainda
estar sonolenta.
— Bom dia, minhas princesas! — cumprimentei, sorrindo para elas.
— Vamos lá, hora de escovar os dentes antes do café da manhã.
Enquanto elas se dirigiam ao banheiro, dei uma rápida olhada para
trás e vi Alberto saindo do quarto também. O coração disparou com a
tensão e eu senti um gosto amargo tomar conta da minha boca. Engoli em
seco, sentindo um peso entalado na minha garganta.
As meninas, com sua ingenuidade infantil, perceberam a presença
do pai e não hesitaram em perguntar:
— Papai, você dormiu aqui? — perguntou Maria Flor, olhando para
Alberto com seus grandes olhos castanhos.
Silenciosamente, trocamos olhares, compartilhando algumas
palavras não ditas. Antes que eu pudesse responder, Alberto interveio com
uma expressão leve e descontraída.
— Sim, dormi aqui — disse com uma voz firme, mas serena.
As gêmeas trocaram olhares confusos, mas eram ingênuas demais
para entender a situação. Eu Inspirei profundamente e aceitei que não
poderia ficar fugindo da realidade nem esconder o fato delas.
— Meninas… — comecei, escolhendo cuidadosamente minhas
palavras. — Papai e eu… nós estamos namorando.
Um brilho de compreensão iluminou os rostinhos delas.
— É sério? — Maria Lis se espichou.
Balancei a cabeça fazendo que sim.
— Oba! — As duas comemoraram com uma alegria que me fez
relaxar um pouco e me sentir menos culpada por tudo.
— Papai! — Maria Flor foi para perto do Alberto e puxou a mão
dele, fazendo com que a encarasse com atenção.
— Oi, filha.
— Você vai morar com a genti?
Ele olhou para mim antes de voltar a encarar a nossa filha e
responder:
— Não, meninas.
— Por quê? — Maria Flor torceu os lábios, um tanto decepcionada.
— O papai ainda mora com o vovô e a vovó.
— E a genti?
— Vou sempre vir ver vocês.
— Ah…
Elas estavam desapontadas, mas eu preferi que não continuássemos
no assunto e coloquei as mãos sobre os seus ombros, direcionando-as para o
banheiro.
— Ainda não escovaram os dentes. Vão lá que a mamãe e o papai
vão preparar o café da manhã de vocês.
Elas assentiram sem questionar e se direcionaram para o banheiro.
— Silvana… — Alberto segurou a minha mão antes que eu me
afastasse e fez com que eu me virasse para encará-lo.
— Um passo de cada vez — falei para ele antes que o
questionamento das meninas se tornasse uma conversa nossa.
Estávamos bem e era melhor que não metêssemos os pés pelas mãos
nem tomássemos nenhuma decisão imprudente da qual poderíamos nos
arrepender.
Ele apenas assentiu com um movimento curto de cabeça e me
soltou, deixando que eu fosse para a cozinha, preparar nosso café da manhã.
Capítulo 46
Na segunda pela manhã eu ainda estava pensando sobre o que as
meninas haviam falado. Passara a noite na minha cama, girando de um lado
para ou outro e pensando em como seria se eu morasse com elas, se
dormisse todos os dias com a Silvana.
Por um momento, a ideia pareceu tentadora. Nos imaginar sob o
mesmo teto, vivendo juntos, era algo que me aquecia por dentro. No
entanto, eu sabia que não podia deixar as emoções momentâneas
influenciarem minhas decisões.
Tudo estava acontecendo rápido demais. Minha vida havia virado do
avesso e eu havia questionado verdades que pensava serem imutáveis. Era
um solteiro convicto, cheio de conquistas e contatos telefônicos, mas já
tinha aberto mão de tudo isso para ficar com uma mulher só, a mãe das
minhas filhas.
Deixar a casa dos meus pais para morar com elas ainda parecia um
grande passo para o qual eu ainda não sabia estar pronto. Decidi que era
melhor seguir o fluxo das coisas, permitindo que nosso relacionamento se
desenvolvesse naturalmente. Não queria estragar tudo por agir
impulsivamente, sem considerar todas as consequências.
Ao chegar para trabalhar na segunda-feira de manhã, depois de sair
pelo elevador e caminhar até a minha sala, fui recebido por Bruna, minha
secretária, que não demorou a notar o brilho diferente em meus olhos.
Ela se remexeu em sua cadeira e se inclinou na minha direção, com
um ar de questionamento e um certo espanto.
— Por que está tão animado, chefe? — Mexeu no cabelo longo,
jogando charme, mas daquela vez eu ignorei completamente.
— Estou namorando — respondi, percebendo o quanto aquela frase
me deixava estranhamente feliz.
Bruna franziu o cenho surpresa e não conseguiu esconder o fato de
ficar desconcertada com a notícia.
— Namorando? Com quem? — indagou, tentando disfarçar a
pontada de ciúmes em sua voz.
Fingi não perceber o tom de Bruna.
— A mãe das minhas filhas.
A ela arregalou os olhos e sua surpresa aumentou quando percebeu
que havia algo a mais entre mim e a mulher com quem eu estava me
envolvendo. Não havia entrado em detalhes sobre isso com ela e nem
achava que precisasse saber da minha vida íntima, ao mesmo tempo em que
não tinha motivos para esconder nada.
— Estou muito feliz.
Bruna engoliu em seco e cerrou os dentes, mas inspirou fundo e
tentou se recompor.
— Não reconheço mais o homem com quem comecei a trabalhar.
Sorri, sentindo-me um pouco desconfortável com a reação de Bruna,
mas não era nada com que precisava me preocupar.
— As pessoas mudam, Bruna. E isso é uma coisa boa. Estou bem
com essa nova versão de mim.
— Veremos até quando. — Deu uma risadinha debochada.
— Eu espero que dure por um bom tempo, talvez para sempre. Mas
nosso foco aqui é nos negócios, vamos trabalhar!
Ela assentiu, tentando processar tudo o que havia ouvido, enquanto
eu me dirigia para minha sala, pronto para começar mais um dia de
trabalho.
Voltei a pensar na ideia do restaurante e mandei um e-mail para a
Bruna, pedindo que ela me fizesse uma lista com a recomendação de
arquitetos para o projeto de reforma do restaurante. Queria que a Silvana
pudesse trabalhar nele quanto antes.
Capítulo 47
À medida que os dias foram se transformando em meses, percebi
que minha relação com Alberto estava se aprofundando cada vez mais. Não
conseguia evitar a paixão intensa que crescia dentro de mim a cada
momento que passávamos juntos. Eu estava apaixonada e não conseguia
deter esse sentimento, apesar de ainda ter algum receio.
Depois de três meses, eu tinha mais certezas do que incertezas em
relação ao Alberto.
Naquela manhã, depois de termos compartilhado a mesma cama, o
que acontecia com cada vez mais frequência, deixamos as gêmeas na escola
e ele me levou para ver o restaurante. Alberto havia mencionado que a obra
finalmente havia sido concluída, e eu mal podia conter minha ansiedade
para ver o local.
Descemos do carro e eu sentia o meu coração acelerado. Um sonho,
que parecia tão impossível antes, estava se tornando bem real. Caminhamos
lado a lado, de mãos dadas, até parar diante da porta.
Meus olhos se iluminaram ao ver o resultado. O restaurante estava
completamente renovado, com uma atmosfera acolhedora e convidativa. As
cores vibrantes das paredes e os móveis elegantes criavam um ambiente
agradável e sofisticado ao mesmo tempo.
Alberto observava atentamente minha reação, um sorriso orgulhoso
brincando em seus lábios.
— E então, o que achou? — perguntou, ansioso por minha opinião.
Eu não conseguia conter minha empolgação. Minhas mãos tremiam
e a minha boca estava seca. Cheguei a me beliscar para ter certeza de que
não estava sonhando.
— Alberto, está incrível! Eu não consigo acreditar que finalmente
está pronto. É tão lindo. Muito melhor do que eu poderia ter imaginado.
Provavelmente ele havia gastado uma pequena fortuna naquela
reforma, porém, eu não quis me martirizar com isso. Alberto havia decidido
fazer aquilo por mim e me dar condições melhores de trabalho e
crescimento, só deveria ser grata.
— Muito obrigada!
— Fico feliz que tenha gostado. Espero que esse lugar se torne
especial para nós dois. — Ele sorriu, satisfeito com minha reação.
Meus olhos se encontraram com os dele, e por um momento, senti
uma onda de emoção percorrer meu corpo. Era difícil acreditar em tudo o
que havíamos passado até chegar ali, mas diante daquele restaurante
renovado, eu tinha esperança de que nosso futuro pudesse ser tão incrível
quanto aquelas paredes recém-pintadas.
— Vamos entrar? — Alberto estendeu a mão para mim.
Aceitei o convite com um sorriso e juntos adentramos o restaurante,
prontos para começar uma nova fase de nossas vidas.
Ao adentrar o restaurante, meus olhos foram imediatamente atraídos
para o reluzente piso cinza, que imitava mármore, com delicados fios
marrons. Cada detalhe do salão era cuidadosamente planejado, desde as
mesas bonitas, cobertas por toalhas elegantes, até a iluminação suave.
Enquanto caminhávamos pelo salão, observei cada detalhe com
atenção e encanto. O cuidado aos detalhes era evidente em cada canto do
restaurante. Alberto cuidara de tudo sozinho e eu não poderia negar o seu
incrível bom gosto. Era como se cada elemento tivesse sido escolhido com
o propósito de criar uma experiência única para os clientes.
Fui arrastada de volta à realidade quando Alberto me conduziu até a
cozinha, o local onde eu iria trabalhar. O coração começou a bater mais
rápido de excitação e nervosismo enquanto eu observava os
eletrodomésticos novos e o espaço para mantimentos e a louça. Já
conseguia ver aquele lugar funcionando a todo vapor.
Eu o encarei por um momento, sentindo uma mistura de emoções.
Este lugar não era apenas um restaurante para mim; era um sonho se
tornando realidade.
— Mal posso esperar para começar a trabalhar aqui — falei com um
sorriso radiante nos lábios.
Alberto assentiu, parecendo satisfeito com o resultado.
— Tenho certeza de que você será incrível.
— Como não ser incrível com todo esse investimento?
— Ferramentas não servem de nada para quem não sabe operá-las,
mas eu tenho certeza de que você se sairá bem.
— Você tem sido tão incrível.
— Fico contente em saber que estou fazendo um bom trabalho. —
Estufou o peito em meio a um sorriso.
Eu fiquei na ponta dos pés, para dar um selinho rápido nele em
agradecimento, mas o Alberto não se contentou apenas com o choque
rápido dos nossos lábios. Ele passou a mão ao redor da minha cintura e me
ergueu, fazendo com que eu me sentasse na bancada que havia sido
completamente modificada.
— Alberto!
— Agora a sua calça não vai mais ficar suja.
— Não é isso… — Tentei me esquivar enquanto ele buscava a
minha boca para um beijo.
— Temos que aproveitar enquanto aqui não está cheio de
empregados e clientes…
— Cheio?
— Você tem dúvidas? — Franziu o cenho ao me encarar sério.
— Não é isso.
— Eu espero recuperar logo o investimento.
— Mas…
— Se preocupe em cozinhar. Deixe os números comigo.
Eu assenti com um movimento de cabeça enquanto ele subia com a
mão pela minha nuca e puxava o meu rosto para mais perto.
Não criei nenhuma resistência quando os nossos lábios se
encontraram. Desfrutei da suavidade das suas mãos percorrendo a lateral do
meu corpo enquanto o contato das nossas línguas se tornava cada vez mais
intenso.
— Não tira a minha roupa — murmurei, envergonhada enquanto ele
esfregava o seu volume em mim.
— Não seja por isso.
Fui surpreendida quando o Alberto me puxou da bancada e fez com
que eu me virasse, espalmando o granito gelado enquanto ele jogava o meu
cabelo para o lado e abocanhava a minha nuca.
Suas mãos subiram por dentro da minha blusa folgada, invadindo o
meu sutiã para brincar com os meus seios sem me despir. Eu só conseguia
gemer enquanto todos os meus pelos se arrepiavam por ter a sua língua
brincando com a minha orelha.
Arranhei a superfície rígida e me inclinei um pouco mais para frente
quando as suas mãos caíram pela lateral do meu corpo e ele abaixou a
minha calça, juntamente com a minha calcinha. Senti o seu corpo invadir o
meu num tranco forte e meus olhos reviraram nas órbitas.
Deixei escapar um gemido quando ele começou a se mover,
pressionando-me contra a bancada. A boca do Alberto ainda estava contra a
minha orelha, expirando contra a minha pele e me provocando calafrios. As
mãos dele deslizaram pelos meus braços, descendo até as minhas e
segurando-as contra a bancada.
— Eu te amo — murmurou em meio aos movimentos e eu não
esperava ouvir aquilo, nem achava estar pronta para isso.
Não consegui responder, fiquei em silêncio e me escondi na
desculpa de ser levada pelo tesão do momento, enquanto processava o peso
daquela frase que poderia ter sido dita sem pensar e por puro impulso.
Em meio ao vai e vem frenético, Alberto chegou ao ápice e soltou as
minhas mãos, descendo com uma das suas para o encontro das minhas
coxas até pressionar o meu ponto de maior prazer.
Eu estremeci, esfregando-me nele, enquanto me entregava ao deleite
do orgasmo que logo preencheu minhas veias.
— É melhor aproveitarmos enquanto podemos. Não sei quando
estaremos sozinhos nessa cozinha novamente — sussurrou ainda
deliciosamente encaixado em mim.
— Não precisamos fazer só aqui nessa cozinha.
— Gosto muito de ouvir isso — deixou escapar uma risadinha que
me fez ficar mais leve.
Instantes depois, ele saiu de mim e nos recompomos. Eu precisaria
de um banho quando saíssemos dali, mas não era uma preocupação no
momento.
— Agora, vamos dar uma olhada no restante do restaurante. — Ele
puxou a minha mão e saiu me arrastando pelo local que parecia maior do
que antes da reforma.
Com isso, seguimos em frente, explorando cada canto do
estabelecimento. Eu mal podia esperar para poder receber os clientes.
Capítulo 48
Desde que eu havia dito que amava a Silvana, um sentimento de
inquietação tomava conta de mim. Ela não havia dito as mesmas palavras
em resposta, e isso me deixava inseguro. Talvez eu tivesse me precipitado
ao revelar meus sentimentos, mas a verdade era que eu não conseguia evitar
o que sentia por ela. Cada vez que eu questionava minhas próprias ações,
minha certeza de que estava apaixonado por ela só aumentava.
Silvana não era apenas linda; ela era uma mulher incrível em todos
os sentidos. Sua determinação, gentileza e carinho me encantavam
diariamente, e eu sabia que estava disposto a fazer qualquer coisa para vê-la
feliz. Não era mais só sobre as nossas filhas, mas por nós dois, como um
casal.
Constatar isso ainda parecia uma grande loucura para alguém que
não se via preso a nenhum relacionamento antes. Chegava a ser engraçado
pensar que Artur e eu tínhamos algo incomum, havíamos caído em uma
armadilha que nenhum de nós conseguiu impedir, mas o futuro que nos
esperava não poderia ser melhor.
À medida que os dias passavam, Silvana e eu nos dedicávamos à
preparação do restaurante. Contratamos os funcionários necessários,
refinamos o cardápio e cuidamos de todos os detalhes para garantir que a
inauguração fosse um sucesso.
Finalmente, o grande dia havia chegado. Era a concretização de
meses de trabalho árduo e empenho. Eu não havia investido apenas meu
dinheiro no restaurante; mas também o meu coração e muito suor.
Realmente queria que tudo desse certo, e esperava colher os melhores frutos
desse empreendimento.
Enquanto me arrumava para a inauguração, eu estava nervoso. Não
queria apenas recuperar as centenas de milhares de reais que havia investido
no local, mas fazer com que a Silvana tivesse um local para desempenhar
seu trabalho de forma apaixonada e dar a ela oportunidades de construir seu
próprio legado para as nossas filhas.
Silvana e eu abrimos o local juntos, de mãos dadas, enquanto
esperávamos a chegada dos funcionários e da banda responsável pela
música ao vivo da inauguração. As gêmeas estavam ao nosso lado, radiantes
e animadas com o novo ambiente. Minha família logo chegou, trazendo
uma onda de felicitações e apoio, todos pareciam muito empolgados com a
minha empreitada e não apenas meu pai havia demonstrado o seu apoio.
Augusto se aproximou de mim, enquanto olhava em volta,
reparando em cada detalhe no alcance dos seus olhos.
— Alberto, esse lugar ficou incrível! Vocês realmente fizeram um
ótimo trabalho — disse ele, com um sorriso sincero no rosto.
— Obrigado, Augusto. Significa muito para mim, ouvir isso vindo
de você — respondi, sentindo-me grato pela aprovação do meu irmão.
Enquanto Augusto elogiava o ambiente, Ana Paula se aproximou
com um olhar de admiração.
— Parabéns, Alberto. Estou impressionada com o que vocês
conseguiram aqui.
— Você gostou mesmo?
— Claro que sim! Mal posso esperar para experimentar a comida.
Quando vocês vão me dar um descontinho de família? — brincou, fazendo
todos rirem.
— Eu vou para cozinha. — Silvana ficou na ponta dos pés, me
dando um rápido selinho antes de sair para fazer o seu trabalho.
Convidei meus pais e meus irmãos para se sentarem e desfrutarem
de uma refeição, enquanto Silvana se encarregava da cozinha para atender
os clientes que começavam a chegar.
Ao observar o movimento ao redor, fiquei muito contente de ter
tomado aquela decisão e tornar aquele momento real.
Capítulo 49

Alberto e eu nos afundamos no sofá após um longo e exaustivo dia


de inauguração do restaurante. Sentindo o peso do dia sobre nossos ombros,
deixei escapar um suspiro enquanto me acomodava no estofado macio.
Alberto estava ao meu lado, emanando o mesmo cansaço, mas também uma
sensação de realização pelo sucesso do evento.
— Ufa, que dia! — ele comentou, passando a mão pelo rosto suado.
Concordei com um aceno de cabeça, compartilhando do sentimento
de alívio. Apesar do cansaço, havia uma satisfação muito grande por ter
sido um sucesso e as expectativas serem as melhores.
— Valeu a pena, não é? — comentei, deixando escapar um leve
sorriso.
— Valeu muito a pena. Estou orgulhoso de nós dois. — Sorriu
enquanto me encarava com os seus olhos castanhos brilhando.
Nossas filhas haviam finalmente adormecido, entregues ao sono
após um dia muito agitado, enquanto se esforçavam para nos ajudar dentro
das suas limitações infantis. Havíamos as acomodado em suas camas antes
de nos jogar no sofá. Aconcheguei-me mais perto de Alberto, sentindo-me
grata por tê-lo ao meu lado. Estava vivendo uma realidade que eu jurava ser
impossível.
— Obrigada por estar comigo, Alberto. Não teria conseguido fazer
tudo isso sem você — agradeci, tombando a minha cabeça em seu ombro.
— E eu não teria conseguido sem você, Silvana. Estamos juntos
nessa! — ele respondeu, envolvendo-me em um abraço reconfortante.
Ficamos ali, desfrutando da paz e da serenidade do momento,
tentando recompor nossas forças enquanto eu pensava no que estávamos
construindo.
Juntos…
O que mais preciso para ter certeza de que ele quer ficar comigo?
Naquele instante, todos os meus medos pareceram uma mera
bobagem. Durante os últimos meses o Alberto tinha me dado uma
infinidade de provas para que eu acreditasse em tudo o que ele me dizia.
Com um suspiro contido, tomei coragem e finalmente deixei escapar as
palavras que vinham martelando em minha mente há tanto tempo.
— Alberto, eu… eu te amo — murmurei, sentindo meu coração
acelerar diante da revelação.
Ele se virou para mim, os olhos refletindo uma mistura de surpresa e
emoção diante das minhas palavras. Por um instante, o silêncio pairou entre
nós, carregado de expectativa sobre sua reação.
— Silvana… — sua voz saiu suave, quase em um sussurro,
enquanto ele buscava as palavras certas para responder.
Eu aguardei ansiosa, prendendo a respiração, enquanto observava as
expressões que passavam pelo rosto dele. Era como se estivéssemos à beira
de um precipício, prontos para dar o próximo passo.
Finalmente, após um instante de contemplação, um sorriso sincero
se formou nos lábios dele, iluminando seu rosto.
— Eu também te amo, Silvana — ele declarou, com uma ternura
que fez meu coração transbordar de felicidade.
Um calor reconfortante se espalhou por todo o meu ser, dissipando
qualquer dúvida ou receio que pudesse existir. Ele estava disposto a ficar
comigo e tudo o que havia acontecido antes não pareceu mais importar e
sim a possibilidade do futuro que poderíamos construir juntos como um
casal e pai de duas gêmeas fofas.
Nossos lábios se encontraram em um beijo repleto de paixão e
desejo, dando início a um momento de intimidade que nos envolveu
completamente. Cada toque, cada carícia, alimentava o fogo que ardia entre
nós, tornando o ambiente carregado de eletricidade.
Suas mãos passeavam pelo meu corpo, como se já conhecessem
cada pedaço das minhas curvas e soubessem navegar por elas. Eu também o
tocava, acariciava e desfrutava da sua pele, me envolvia pelo calor do seu
corpo e a necessidade por mais.
Os beijos se tornaram mais intensos, mais profundos, enquanto
nossos corpos se aproximavam. Era como se estivéssemos conectados em
um nível mais profundo e romântico.
O calor do momento nos envolveu, fazendo-nos esquecer de tudo ao
nosso redor, exceto um pelo outro. Cada suspiro, cada arrepio, era uma
expressão do amor que compartilhávamos, um vínculo indissolúvel que nos
unia de forma indomável.
— Alberto… — Minha intenção era dizer para ele que estava
cansada demais para fazermos qualquer coisa, mas o meu corpo me
contrariava.
— Sim… Por quarto?
— Hum rum… — Foi tudo o que eu consegui responder num
múrmuro enquanto ele me pegava nos braços e me carregava até a cama.
Começamos lentamente, mas também prazerosa, enquanto ele
despia minhas roupas e explorava cada parte do meu corpo.
Sobre a cama, com o seu corpo acomodado em cima do meu.
Nossos lábios se encontraram em um beijo avassalador, onde as paixões e
desejos se misturavam em uma dança ardente e sedutora das nossas línguas.
Cada toque era um convite para explorar os recantos mais profundos da
nossa alma, enquanto nossos corpos se aproximavam com uma intensidade
avassaladora. Sentia o calor da sua pele e ele se mesclava com a minha, nos
fazendo suar e tornando a necessidade por ele cada vez mais desesperadora.
Minhas mãos também percorriam o seu corpo, traçando as linhas
das suas costas e ombros, aumentando meu desejo e prazer, enquanto as
suas mãos me seguravam com firmeza, como se nunca quisessem me soltar.
Cada suspiro escapava dos nossos lábios em um sussurro de êxtase,
preenchendo o ar com a promessa de uma conexão incontrolável.
Quando a minha calcinha finalmente caiu no chão, Alberto se
ajeitou entre as minhas pernas e inundou-se em mim, fazendo com que eu
remexesse abaixo dele e envolvesse sua cintura com as minhas pernas,
fazendo que ele entrasse ainda mais fundo.
Nossos corpos se moviam em perfeita harmonia, como se fossem
feitos um para o outro, enquanto nos entregávamos ao calor e à intensidade
do momento. A sensação era amplificada, cada toque era uma explosão de
prazer que nos envolvia por completo. Os músculos tensos e os suspiros
entrecortados, eram uma promessa de prazer ainda maior, transformando-se
em uma ânsia incontrolável onde nos uníamos em um só.
Quando o prazer explodiu, eu fiquei ainda mais exausta, mas
deliciosamente satisfeita e feliz por tudo.
O destino finalmente parecia estar conspirando a favor da minha
felicidade.
Capítulo 50
Naquela manhã ensolarada, adentrei a empresa com um sorriso
estampado no rosto, uma sensação de contentamento que eu não conseguia
conter. Os raios de sol iluminavam o elegante corredor de mármore, criando
um jogo de sombras que dançava ao ritmo dos passos dos funcionários.
Enquanto caminhava em direção ao meu escritório, fui surpreendido
pelo meu irmão, Augusto, que estava parado próximo à entrada, com seu
característico sorriso caloroso e a expressão amigável.
— Alberto! — exclamou, estendendo a mão para me cumprimentar.
— Quanta alegria!
Vestido impecavelmente em um terno cinza-chumbo, Augusto
irradiava confiança e elegância. Seus olhos escuros brilhavam com genuíno
interesse enquanto aguardava minha resposta.
— Bom dia, Augusto. — Retribuí o aperto de mão. — Estou feliz
com tudo o que aconteceu nos últimos meses.
Um leve sorriso brincou em seus lábios enquanto ele assentia,
compreendendo a minha felicidade.
— Fico feliz em ouvir isso, irmão. Você parece diferente, mais…
realizado. — Seus olhos perspicazes capturaram os meus, enquanto nos
encarávamos com uma certa cumplicidade.
De nós três ele era quem possuía mais experiência e em
relacionamentos duradouros. Apesar do primeiro ter fracassado, não foi o
bastante para que ele desistisse de tentar e havia se casado de novo.
Conversamos brevemente sobre o novo restaurante e os desafios que
eu poderia enfrentar naquela nova empreitada. Augusto me deu alguns
conselhos e me incentivou a ir em frente, principalmente pela importância
na relação com a mãe das minhas filhas.
Enquanto conversávamos, observei os detalhes ao nosso redor: os
quadros nas paredes, os móveis elegantes, o burburinho constante dos
funcionários ocupados. Era reconfortante estar ali, compartilhando
momentos fraternos com Augusto.
— Eu queria que a Silvana tivesse um local melhor para trabalhar,
com real potencial de crescimento e onde pudesse ter uma renda melhor do
que naquela barraca precária que tinha.
— Foi uma escolha muito inteligente. Admirável, eu diria. Você
poderia simplesmente dar dinheiro para ela e tentar convencê-la a deixar
aquela vida, mas preferiu investir em um propósito que faria com que ela se
orgulhasse.
— A Silvana jamais aceitaria o meu dinheiro dessa forma.
— Você fez bem.
— Obrigado.
— E quanto a vocês?
— Estamos nos acertando…
— Vai pedi-la em casamento?
— Ainda não pensei sobre isso.
— Acredite, Alberto, a família nos transforma. — Augusto declarou
com seriedade, suas palavras ecoando no corredor.
Concordei com um aceno de cabeça.
Casamento era um passo muito grande, mas eu havia feito muitas
coisas que achava impensáveis pela Silvana e por minhas filhas. Era algo
que certamente me deixaria pensando.
Chegando à minha sala, encontrei Bruna, minha secretária, ocupada
em seu posto habitual. Seus olhos curiosos brilharam ao me ver, e não pude
deixar de notar uma ponta de sarcasmo em seu sorriso.
— Bom dia, chefe. Ouvi dizer que a inauguração do restaurante foi
um sucesso. Parabéns! — Ela cumprimentou, tentando mascarar sua
provocação mal disfarçada.
Assenti com um sorriso amarelo, tentando ignorar a insinuação
velada em suas palavras.
— Sim, Bruna. Foi realmente um grande sucesso. Estou bastante
animado com esse novo empreendimento — respondi, mantendo a
compostura, apesar da irritação começar a surgir em meu peito.
Desde que ela soube que o negócio seria gerido pela Silvana, mãe
das minhas filhas, ela tratava como se fosse uma escolha ruim minha, um
péssimo investimento. Entretanto, era eu quem entendia de negócios, além
disso, o dinheiro era meu, poderia fazer com ele o que eu bem entendesse.
Bruna não parecia satisfeita com minha resposta e continuou com
suas alfinetadas:
— Espero que sua sócia não te deixe na mão, Alberto — referiu-se a
Silvana pejorativamente, o que me deixou ainda mais irritado. Afinal, você
investiu tanto nesse negócio… — Ela provocou, com um sorriso maldoso
nos lábios.
Senti a raiva borbulhar dentro de mim, mas me esforcei para manter
a calma.
— Silvana não é apenas minha sócia, Bruna. Ela é uma profissional
competente e confiável. Tenho plena confiança nela e no nosso trabalho em
equipe — respondi, tentando soar diplomático, mas a tensão era palpável no
ar.
— Então não está fazendo isso só para atender a um capricho da
mulher que diz ser mãe das suas filhas?
— Não! — Cerrei os dentes. — Ela não diz ser mãe das minhas
filhas, ela é. Além disso, mesmo que fosse para atender a um capricho,
estou no meu direito.
— Sim, senhor…
Bruna pareceu satisfeita em me deixar incomodado e voltou sua
atenção para suas tarefas, deixando-me sozinho com meus pensamentos
tumultuados.
Entrei em minha sala, sentindo-me irritado com a situação. Era claro
que minha relação com Bruna não estava mais funcionando. Precisava
tomar uma decisão em relação a isso, mas por enquanto, minha mente
estava ocupada demais com os desafios do novo restaurante e a minha
relação com a Silvana e as minhas filhas.
Queria aproveitar as coisas boas que estava vivenciando e não me
irritar com uma secretária intrometida.
Capítulo 51
Cheguei ao restaurante logo cedo, sentindo-me ansiosa pelo
primeiro dia após a grande inauguração. Encontrei Giovana, Marta,
Roberta, Felipe e Pedro, minha equipe estava pronta para mais um dia de
trabalho árduo. Cumprimentei a todos com um sorriso, sentindo-me grata
pelo empenho de cada um para iniciarmos aquele empreendimento.
— Bom dia, pessoal! Como estão todos hoje? — perguntei,
buscando transmitir confiança e entusiasmo.
Giovana, a gerente, se aproximou de mim, com uma expressão
determinada e confiante.
— Bom dia, Silvana! Vamos começar. Repassei com a equipe como
foi o evento de inauguração e conferi nosso estoque de mantimentos.
Estamos preparados para o almoço de hoje se tivermos o mesmo fluxo de
clientes. Então, teremos que recorrer aos fornecedores para o jantar.
— Vamos torcer.
— Estamos na expectativa. — Ela sorriu
Agradeci a Giovana pela organização e continuei minha inspeção
pelo restaurante, observando cada detalhe com cuidado. O ambiente estava
calmo e sereno, mas eu podia sentir a energia pulsante de inquietação tomar
conta de mim.
Adentrei a cozinha e dei início aos preparativos para o almoço,
concentrando-me em cada etapa do processo. Eu estava determinada a fazer
tudo certo.
A tensão estava palpável enquanto eu trabalhava na cozinha. Cada
movimento era executado com cuidado e atenção aos detalhes, para que eu
não errasse nenhum prato, mas por dentro, meu coração batia acelerado de
ansiedade. O peso da responsabilidade sobre meus ombros era quase
sufocante, mas eu sabia que não podia me deixar abalar. Alberto havia
depositado sua confiança em mim, e eu estava determinada a não o
decepcionar.
Enquanto cortava os ingredientes e temperava os pratos, minha
mente vagava entre pensamentos sobre o futuro do restaurante. Será que as
pessoas voltariam depois do evento de inauguração? Será que os clientes
ficariam satisfeitos com a comida e o serviço? Essas dúvidas pairavam no
ar, mas eu precisava permanecer focada no presente e fazer o melhor que
podia.
A voz de Giovana me trouxe de volta à realidade, interrompendo
meus devaneios momentâneos.
— Silvana, os primeiros clientes estão chegando. Estamos prontos
para recebê-los? — Ela perguntou, colocando a cabeça na cozinha para
olhar para mim.
Marta e Roberta eram minhas assistentes e também estavam
cuidando das suas partes para tudo sair o melhor possível.
Assenti com firmeza, respirando fundo para dissipar as
preocupações que ameaçavam tomar conta de mim.
— Sim, estamos prontas! — Busquei transmitir confiança, tanto
para Giovana quanto para mim mesma.
Com esse pensamento em mente, redobrei meus esforços na
cozinha, trabalhando com ainda mais determinação.
Capítulo 52
O ambiente da minha sala estava impregnado com a tensão
acumulada dos últimos dias. Eu me encontrava imerso em papéis e
relatórios financeiros, tentando decifrar os números que se arrastavam
diante dos meus olhos. Cada gráfico e cada cifra pareciam dançar em uma
coreografia caótica, que dava nós no meu pensamento. Enquanto eu me
dedicava ao restaurante, acabei deixando o meu trabalho um pouco de lado
e os números se acumularam. Não podia deixar que a situação saísse do
controle ou o Artur teria motivos concretos para me importunar, além de
acabarmos perdendo dinheiro.
Meus pensamentos foram interrompidos quando Bruna entrou na
sala sem sequer bater na porta. Levantei os olhos, irritado com a interrupção
abrupta.
— O que está fazendo aqui? — rugi, mal-humorado.
— Desculpe a interrupção, Alberto. Trouxe um café para você.
— Obrigado, Bruna. Pode deixar na mesa.
Ela se aproximou, trazendo uma xícara de café fumegante. Agradeci
silenciosamente com um aceno de cabeça, indicando a mesa ao meu lado
para que ela colocasse a bebida.
Assim que Bruna se retirou, deixando-me novamente em meu
silencioso escritório, suspirei aliviado. A presença dela sempre me deixava
com os nervos à flor da pele.
Não poderia negar que a iniciativa de trazer o café havia sido gentil
da sua parte, mas não amenizava tudo que ela havia feito mais cedo.
Meu celular vibrou sobre a mesa e eu o puxei para ver quem era e
um sorriso se formou nos meus lábios diante da mensagem da Silvana.

Silvana:
Eu nem acredito!
Alberto:
Em quê?
Silvana:
O almoço foi ainda mais cheio do que no dia da inauguração.
Lotamos! Quase que os mantimentos não foram o suficiente.
Alberto:
Isso é maravilhoso!
Silvana:
Sim.
A Giovana teve que sair correndo ou não vamos ter nada para
servir durante o jantar.
Alberto:
Eu sabia que iria se sair bem.
Silvana:
Obrigada por me apoiar.
Alberto:
Sempre!
Silvana:
Estou muito feliz.
Alberto:
Eu também.
Tenho certeza de que o restaurante ainda vai crescer muito
mais.
Silvana:
Vou me esforçar para isso.
Alberto:
Eu sei.
Silvana:
A Giovana chegou, preciso preparar as coisas para o jantar.
Alberto:
Bom trabalho.
Silvana:
Para você também.
Ah, eu devo ficar até tarde aqui. Você pode buscar as meninas
na escola?
Alberto:
Claro! Vou com as meninas buscar você.
Silvana:
Obrigada.

Sorri, contente por ter conversado com a Silvana. A alegria e


gratidão dela me deixou mais tranquilo apesar dos comentários
inapropriados da minha secretária.
Afundei-me na cadeira, pegando a xícara de café entre as mãos. O
aroma robusto do líquido escuro envolveu-me, trazendo um momento de
calma em meio ao caos dos meus pensamentos. Bebi alguns goles antes de
voltar a trabalhar.
Capítulo 53
O restaurante finalmente começava a se acalmar após uma noite
agitada. Enquanto eu respirava fundo, preparando-me para fechar a cozinha,
meu coração começou a bater mais rápido ao pegar meu celular. Iria ligar
para o Alberto e confirmar se ele já estava vindo com as meninas. No
entanto, ao desbloquear o telefone, deparei-me com muitas chamadas não
atendidas da escola das minhas filhas, o que me deixou em alerta.
Com as mãos trêmulas, liguei de volta para a escola, meu coração
batendo forte no peito enquanto esperava alguém atender do outro lado da
linha. Quando finalmente ouvi a voz da secretária, meu estômago se revirou
de ansiedade.
— Alô, como posso ajudá-la? — disse uma voz feminina do outro
lado da linha.
— Boa noite, aqui é a Silvana, mãe da Maria Lis e da Maria Flor.
Acabei de ver as chamadas perdidas no meu celular. O que está
acontecendo? — perguntei, tentando manter a calma, apesar da
preocupação me corroer.
— Ah, boa noite, Silvana. Sim, precisávamos entrar em contato com
você. As meninas ainda estão aqui na escola. Não apareceu ninguém para
buscá-las — explicou a secretária, sua voz transbordando de preocupação.
— O quê? — Um nó se formou em minha garganta ao pensar nas
minhas filhas esperando sozinhas na escola. — Meu Deus, eu não sabia! Eu
estou a caminho agora mesmo. Por favor, mantenha as meninas aí até eu
chegar. Desculpe-me pelo transtorno.
Lutei para manter a calma enquanto o pânico se alastrava por cada
parte do meu corpo. Acreditava que o Alberto já estava com as meninas,
mas ele não apareceu e as deixou sozinhas. Ele precisava de uma explicação
muito boa para não ter ido até lá nem me avisado que havia acontecido
algum problema.
— Claro, Silvana. Não se preocupe, estamos cuidando bem delas.
Até logo!
Eu avisei a Giovana que precisava buscar as minhas filhas e saí,
deixando que os funcionários fechassem o restaurante. Com o coração
pesado, eu me culpava pelas meninas terem sido esquecidas na escola,
apesar de não saber o que poderia ter acontecido com o Alberto.
Ao sair do restaurante, pedi um carro de aplicativo, para chegar até
as minhas gêmeas o mais rápido possível. Enquanto o veículo seguia em
direção à escola das minhas filhas, eu tentava ligar para o Alberto,
desesperada para saber o que havia acontecido e por que ele não havia
buscado as meninas. No entanto, todas as minhas tentativas foram em vão,
pois as chamadas continuavam caindo na caixa postal.
Um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente enquanto eu
tentava manter a calma. Onde estaria o Alberto? Por que ele não atendia
minhas ligações? Será que algo havia acontecido com ele? Minha
preocupação só aumentava a cada minuto que passava.
Chegando à escola, desci do carro apressadamente e corri para
dentro do prédio. Minhas pernas tremiam de ansiedade enquanto eu
atravessava os corredores em direção à secretaria. Ao me aproximar, avistei
as minhas filhas sentadas em um dos bancos, com expressões confusas e
preocupadas.
— Maria Lis, Maria Flor! — chamei, aliviada ao vê-las em
segurança. — Vocês estão bem?
Elas se levantaram imediatamente ao me verem e correram na
minha direção, abraçando-me com força.
— Mamãe! — exclamaram em uníssono.
— Está tudo bem, queridas. Eu estou aqui agora — eu disse,
tentando acalmar seus medos enquanto as segurava contra o meu peito.
— Onde estava você, mamãe? Por que demorou tanto? — perguntou
Maria Lis, com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu… Eu tive alguns contratempos, mas estou aqui agora e isso é
o que importa — respondi, lutando para encontrar as palavras certas para
explicar a situação sem preocupá-las ainda mais.
Enquanto eu abraçava minhas filhas, senti um misto de alívio por tê-
las em meus braços e uma profunda frustração pela ausência do Alberto. Eu
sabia que teríamos muito o que conversar quando ele finalmente aparecesse,
mas por enquanto, o mais importante era garantir que as meninas
estivessem seguras e protegidas.
Capítulo 54
A luz do sol invadia o escritório através das cortinas entreabertas,
criando um ambiente meio sombrio e meio luminoso. Meus olhos arderam
com o brilho intenso, contrastando com a penumbra que ainda pairava em
minha mente.
Levantei-me com dificuldade da cadeira, sentindo cada músculo
doer como se tivesse sido submetido a uma maratona. O chão estava repleto
de papéis espalhados, como se uma tempestade tivesse passado por ali
durante a noite. O celular vibrava freneticamente debaixo de uma pilha de
pastas jogadas ao acaso no chão, parecendo estar implorando por minha
atenção.
Com um suspiro pesado, caminhei até o celular e o peguei,
desbloqueando a tela para ver quem estava me ligando tão cedo. O visor
mostrava a hora: sete da manhã.
Não era um horário para que eu estivesse no escritório. Eu tentava
me lembrar do que havia acontecido, mas tudo era uma grande página em
branco.
— Alô? — murmurei, minha voz rouca e cansada.
— Alberto? É você? — a voz de Silvana soou do outro lado da
linha, carregada de preocupação.
— Sim, sou eu — respondi, tentando me concentrar, apesar da dor
latejante em minha cabeça.
— Você sabe que horas são? Por que não atendeu minhas ligações?
As meninas ficaram até dez da noite na escola ontem esperando para que
fôssemos buscá-las. Você disse que iria pegá-las na escola depois do
trabalho, mas não foi, nem me disse nada. Onde você estava com a cabeça?
Eu confiei em você, elas não podem ficar sozinhas. Deveria ter me avisado
que não poderia buscá-las que eu daria um jeito.
Um calafrio percorreu minha espinha ao ouvir suas palavras. Como
eu pude ter me esquecido das meninas?
— Silvana, eu… Eu não sei o que aconteceu. A última coisa que me
lembro é de estar trabalhando aqui no escritório… — admiti, sentindo-me
envergonhado e confuso.
— Como assim não sabe?!
— Eu… eu… — Engoli em seco, completamente atordoado. Ainda
estava difícil ligar os pontos e compreender aquela amnésia temporária.
Silvana suspirou do outro lado da linha.
— Eu sinto muito.
— Deveria ter me avisado, as meninas não podem ser esquecidas na
escola.
— Eu sei disso.
— Não parece…
— Me desculpa.
— Onde você está?
— Acabei de deixá-las na escola e vou para o restaurante.
— Encontro com você lá.
Prometi a Silvana que estaria lá o mais rápido possível e desliguei o
telefone, sentindo-me como se tivesse levado um soco no estômago. O que
havia acontecido comigo? Como eu pude ter sido tão descuidado a ponto de
esquecer das minhas próprias filhas?
Com passos vacilantes, saí do escritório em direção ao meu carro,
determinado a resolver essa bagunça.
Capítulo 55
Ao chegar ao restaurante depois de deixar as meninas na escola,
sentia um turbilhão de emoções dentro de mim. Tentava, com todas as
minhas forças, esconder a profunda chateação que me consumia por dentro.
Como ele pôde esquecer das meninas? Como pôde deixá-las esperando na
escola? Minhas filhas precisavam de nós, de nossa atenção e cuidado
constante. Esse tipo de descuido era inaceitável!
Enquanto abria o restaurante, antes mesmo dos funcionários
chegarem, meu celular começou a vibrar com mensagens. Num primeiro
impulso, imaginei que fossem dele, Alberto, tentando se explicar ou
pedindo desculpas. No entanto, ao desbloquear a tela, o choque me atingiu
em cheio. Eram fotos indecorosas dele com outra mulher, ultrapassando
todos os limites da moralidade.
Meu coração parecia se partir ao meio diante daquelas imagens. A
dor e a decepção se misturavam em meu peito, formando um nó apertado
que parecia sufocar-me. Como ele pôde fazer isso comigo? Como pôde trair
nossa confiança dessa forma?
Ele não havia dito que me amava? Então por que estava com outra
mulher no colo? Beijando, transando…
O restaurante ao meu redor parecia desfocar, como se estivesse em
um mundo à parte, enquanto eu tentava processar a magnitude da traição
que acabara de descobrir. Meu corpo tremia com a intensidade das
emoções, enquanto lágrimas amargas ameaçavam escapar de meus olhos.
Agora, mais do que nunca, eu sabia que precisava confrontá-lo.
Precisava de respostas, de explicações, de uma razão para continuar
acreditando nele. A traição cortava como uma faca afiada, dilacerando não
apenas minha confiança, mas também a possibilidade de continuarmos
tendo um relacionamento.
Respirei fundo, tentando reunir a força necessária para enfrentá-lo,
por mais doloroso que pudesse ser.
Capítulo 56
Quando cheguei ao restaurante, deixei meu carro estacionado na
frente e entrei correndo, desesperado para encontrar Silvana. A encontrei na
cozinha, seus olhos vermelhos e inchados denunciavam que havia chorado
muito.
— Silvana, me desculpa por ter esquecido as meninas. Eu não tive
essa intenção e não sei o que aconteceu — desabafei, com a voz embargada
pela culpa e pelo arrependimento.
Silvana me encarou, seus olhos expressando uma mistura de dor,
raiva e decepção. Senti meu coração se apertar diante daquela visão,
sabendo que eu era o motivo de toda aquela dor que a consumia.
— Você esqueceu das meninas, Alberto. Elas ficaram lá, esperando
por você. Elas precisam de nós, precisam da nossa atenção, do nosso
cuidado. Como você pôde fazer isso? — ela desabafou, sua voz carregada
de mágoa e tristeza.
As palavras dela atingiram como um soco no estômago, cada uma
delas ecoando em minha mente como um lembrete doloroso de minha
negligência. Eu sabia que não havia desculpas que pudessem apagar o que
eu havia feito, mas mesmo assim, precisava tentar explicar.
— Eu sei, Silvana. Eu sei que errei. Foi um descuido terrível da
minha parte e eu sinto muito. Eu não queria magoar você nem as meninas.
Por favor, me perdoa — implorei, com a voz embargada pela emoção e pelo
remorso.
Silvana permaneceu em silêncio por um momento, sua expressão
uma mistura de dor e indecisão. Eu sabia que havia quebrado sua confiança,
que havia ferido profundamente seu coração.
— Isso tudo porque você estava com outra mulher! — Silvana
gritou, despejando aquela acusação em mim com a voz cheia de raiva.
Fiquei confuso diante da acusação. Outra mulher? Não conseguia
entender do que ela estava falando. Meu coração começou a bater mais
forte, temendo o pior.
— Outra mulher? — perguntei, incrédulo. — Isso é uma loucura!
Silvana me encarou com uma mistura de tristeza e indignação.
— Recebi mensagens de um número desconhecido, com fotos suas
com outra mulher. Você me traiu, Alberto? — sua voz tremia, revelando
toda a dor que ela estava sentindo.
Que merda!
Eu já não conseguia compreender o fato de ter acordado daquela
forma em meu escritório, mas parecia que a situação era ainda pior do que
eu imaginava.
Um turbilhão de emoções se apoderou de mim. Eu não podia
acreditar no que estava ouvindo. Será que alguém estava tentando nos
separar, inventando mentiras para nos afastar? Só podia ser!
— Silvana, eu juro que não sei do que você está falando. Eu não te
traí, nunca faria isso. Você precisa acreditar em mim — implorei,
desesperado para que ela entendesse a verdade.
Mas as palavras dela ecoaram em minha mente, deixando um gosto
amargo na minha boca. Eu temia pelo futuro de nosso relacionamento,
sabendo que aquela suspeita poderia nos separar para sempre.
— Eu te amo, Silvana! — disse em desespero, buscando nos olhos
dela uma faísca de compreensão, uma centelha de confiança em minhas
palavras.
Silvana recuou dando dois passos para trás, seu olhar endurecido
refletindo a dor que ela carregava.
— Ama nada! — retrucou, suas palavras cortantes como lâminas,
dilacerando meu coração em pedaços.
Cada sílaba que escapava de seus lábios era como uma faca cravada
em minha alma, rasgando-a sem piedade. A dor diante da possibilidade de
perdê-la inundou-me, sufocando-me com uma intensidade avassaladora. Eu
me sentia como um náufrago à deriva em um oceano de desespero, sem
esperança de ser resgatado.
Aquele momento de desamparo me mostrou o quão frágil era nosso
vínculo, quão facilmente podia ser rompido por uma simples suspeita. Mas
eu estava determinado a lutar por nós, a provar a Silvana que meu amor por
ela era verdadeiro.
— Que fotos são essas? Me deixa ver! — implorei, estendendo a
mão na direção do celular que Silvana segurava com firmeza.
Ela hesitou por um momento, mas acabou me entregando o
aparelho. Minhas mãos tremiam enquanto deslizava pelos registros, e meu
coração afundava a cada imagem terrível.
As fotos retratavam um momento íntimo, comprometedor, eu e
outra mulher em um abraço no meu escritório. No meu colo, com o meu
rosto entre os seios. Ela sorrindo enquanto me fazia um boquete… A cada
foto era uma cena pior do que a outra. O nó em minha garganta apertou-se
ainda mais ao reconhecer quem era a desgraçada. Achava que não teria
grandes problemas com ela, mas ali estava ela, sorrindo para a câmera
como se fosse a pessoa mais importante do mundo.
Silvana, de braços cruzados, aguardava a minha reação, seus olhos
ainda cheios de dor, aguardando uma explicação que eu mal conseguia
formular.
— Bruna! Minha secretária! — exclamei ao ver as fotos, uma
mistura de choque e indignação dominando minhas palavras.
— É com ela que está me traindo? — Silvana ergueu o olhar para
mim.
— Eu não estou traindo você! — Minha voz saiu mais alta do que
eu pretendia, repleta de desespero.
— Olha só para essas fotos, Alberto! — ela indicou o celular que eu
estava segurando, sua voz tremendo de emoção. — Como pode me dizer
que não é você?
As imagens na tela do celular pareciam acusar-me, mas eu sabia a
verdade. A angústia apertou meu peito quando percebi o quão longe essa
traição poderia nos separar.
— Parece que sou eu — confessei, minha voz soando fraca diante
da acusação.
— Parece? Não! É você! — rugiu, com os olhos queimando de
raiva.
— Sei que é o que parece, mas eu vou ter uma boa explicação para
você. Devem ser fotos antigas… — Tentei justificar, sentindo-me
impotente.
As palavras mal saíram da minha boca, mas eu sabia que não seriam
suficientes para apagar aquela situação constrangedora e só poderiam piorar
tudo. A confusão e a desconfiança se instalando sobre nós como nuvens
cada vez mais escuras, anunciando uma tempestade.
— Antigas? Então você já transou com ela? — Silvana me encarou
com olhos cheios de mágoa.
— Sim, mas… — tentei explicar, mas fui interrompido.
— Continua transando? — sua voz soou como um golpe.
— Não! — respondi rapidamente, tentando conter a confusão e a
tristeza que me consumiam.
As palavras mal saíram, carregadas de arrependimento e angústia.
Sabia que a confiança entre nós estava abalada, e a culpa pesava sobre mim
como uma âncora, arrastando-me para o fundo do abismo que eu mesmo
criei.
— Eu deveria ter imaginado que você era incapaz de se
comprometer — Silvana disse entre soluços, lágrimas escorrendo por suas
bochechas.
Seu tom era carregado de desilusão e dor, como se cada palavra
fosse uma faca afiada perfurando meu peito. Eu queria poder voltar no
tempo, consertar meus erros e apagar a mágoa que causei nela. Mas sabia
que as palavras não podiam desfazer o que foi feito, e a dor que eu causei
era profunda demais para ser simplesmente esquecida.
— Você está errada! — minha voz saiu num misto de frustração e
desespero, ecoando pela cozinha vazia.
Eu precisava fazê-la entender, mas as palavras pareciam desmoronar
antes mesmo de sair da minha boca. A dor que vi nos olhos dela era como
uma faca em meu coração, cortando-me profundamente a cada segundo que
passava.
— Errada? Essas fotos me dizem que você continua o mesmo
canalha de antes!
As palavras dela atingiram-me como um coice que me deixou sem
fôlego. Eu sabia que ver aquelas fotos a magoavam, e a dor refletida em
seus olhos era quase insuportável de se encarar. Respirando fundo, lutei
para encontrar as palavras certas, mas elas pareciam fugir de mim, como se
tivessem medo de enfrentar a situação em que me enfiei.
— Silvana, eu sei que parece… — comecei, mas as palavras
travaram em minha garganta.
A sensação de impotência era avassaladora. Como eu poderia
convencê-la de que as fotos eram apenas parte de algo que eu não tinha
culpa?
Inspirei profundamente, chegando à conclusão que o mais certo era
fazê-la acreditar no que eu sabia ser verdade.
— Silvana, por favor… acredite em mim. Eu mudei! Mudei por
você e pelas nossas filhas. Eu sei que não era muito confiável no passado,
mas estou disposto a fazer tudo diferente agora. Eu te amo, Silvana. Por
favor, me dê uma chance de provar isso para você.
— Vai embora, Alberto!
— Silvana… — supliquei.
— Por favor, vá embora, Alberto. Eu preciso de um tempo. —
Silvana virou-se de costas, recusando-se a encarar-me.
Meus ombros tremiam sob o peso da decepção. Eu senti meu
coração se partir em pedaços ao ouvir suas palavras. Nunca imaginei que a
possibilidade de perder uma mulher pudesse ser tão dolorosa. Com um nó
na garganta, engoli em seco e respirei fundo, lutando contra as lágrimas que
ameaçavam escapar.
— Alberto, Vai…
— Tudo bem… Mas, por favor, saiba que eu estarei aqui, esperando
por você, quando estiver pronta para falar.
Silvana não respondeu. Apenas o silêncio frio do ambiente
preencheu o espaço entre nós, enquanto eu me retirava, deixando para trás o
rastro da dor e da incerteza.
Que merda!
Por que quando tudo finalmente estava se acertando na minha vida
alguma coisa assim acontecia?
Aquilo tudo doeu demais e eu voltei para o meu carro desnorteado e
desesperado, sem conseguir lidar com aquela situação.
Capítulo 57
Escorreguei pela bancada da cozinha e caí no chão frio, que acolheu
meu corpo trêmulo, enquanto as lágrimas vertiam sem controle pelos meus
olhos marejados. O peso da dor me envolvia, apertando meu peito com
força, como se quisesse sufocar meu coração.
Eu amava o Alberto…
Eu o amava. Mesmo diante da traição, mesmo com toda a decepção,
meu coração ainda batia por ele, pulsando com uma intensidade dilacerante.
Era uma dor tão profunda que parecia me consumir por inteira, arrastando-
me para um abismo de desespero e angústia.
Como poderia amar alguém que foi capaz de fazer algo assim
comigo? Como poderia continuar nutrindo esse sentimento, mesmo sabendo
que ele estava disposto a me trair porque era incapaz de abandonar a antiga
vida.
Você é uma idiota!
Fui recriminada pela minha própria consciência. Era como se ela
estivesse gritando que tinha me avisado todo aquele tempo e que eu havia
caído por burrice e ingenuidade minha.
Minha mente girava em um turbilhão de pensamentos, buscando
respostas que pareciam escapar por entre meus dedos trêmulos. Eu queria
entender, queria encontrar uma razão para justificar o amor que ainda
pulsava dentro de mim, mesmo diante de tanto sofrimento.
Mas, no fundo, eu sabia. Sabia que o amor não se explicava, nem se
justificava. Mesmo que eu quisesse negar, apesar da minha luta para sufocar
a dor, ele persistia, como uma chama ardente que se recusava a se apagar.
Então, ali no chão da cozinha, envolta em lágrimas e soluços, eu me
esforcei para recordar do motivo pelo qual eu havia ido atrás do Alberto,
nossas filhas. Elas eram muito mais importantes do que o meu coração
partido e a minha confiança esmigalhada.
Giovana entrou na cozinha e seus passos se detiveram ao me ver no
chão, envolta em lágrimas e soluços. Seus olhos escuros me fitaram com
preocupação, e eu me esforcei para secar as lágrimas e disfarçar a dor que
me consumia por dentro.
— Silvana, o que aconteceu? Você está bem? — sua voz soou cheia
de preocupação, ecoando pelo ambiente silencioso da cozinha.
Tentei sorrir, mesmo que meu coração ainda estivesse em pedaços e
com a dor insistindo em me sufocar.
— Está tudo bem, Giovana. Só… só me senti um pouco tonta e
acabei tropeçando, nada de mais — menti, buscando tranquilizá-la enquanto
lutava para manter a compostura.
Giovana se aproximou e estendeu a mão para me ajudar a levantar,
seus olhos ainda carregados de preocupação. Eu aceitei sua ajuda e me
ergui do chão, forçando um sorriso.
— Obrigada, Giovana. Desculpe pelo susto. Vamos voltar ao
trabalho, temos um restaurante para cuidar, não é mesmo? — Tentei soar
firme, apesar do tremor que ainda percorria meu corpo.
Ela assentiu, ainda me lançando um olhar preocupado, mas não
insistiu em questionar mais. Juntas, voltamos às nossas atividades, mesmo
que o sofrimento continuasse a ecoar dentro de mim, como uma ferida
aberta e sangrando.
Capítulo 58
Ao adentrar meu escritório, estava tomado por uma tempestade de
pensamentos e emoções. O turbilhão de sentimentos me consumia,
deixando-me transtornado e confuso. A raiva se misturava com a angústia, e
eu lutava para compreender o que havia acontecido e como poderia
consertar tudo.
Meus passos ecoavam no silêncio tenso do ambiente, enquanto eu
tentava controlar a respiração acelerada e o coração descompassado. A
imagem das fotos ainda ecoava em minha mente, provocando uma mistura
de culpa e indignação.
Eu queria convencer a Silvana de que era inocente, porém, sabia que
não havia palavras que pudessem consertar a situação, que minhas
desculpas seriam vazias diante da traição que ela acreditava ter acontecido.
O meu histórico pregresso não contribuía ao meu favor, no entanto,
isso não deveria ser suficiente para que ela não acreditasse em mim.
Durante os últimos meses tinha me esforçado para mostrar o quanto estava
disposto a ser feliz com ela e as minhas filhas.
Sentei-me em minha mesa, as mãos tremendo enquanto eu tentava
formular alguma estratégia para reconquistar a confiança dela. Não podia
perdê-la, não podia suportar a ideia de viver sem ela ao meu lado.
A dor em meu peito era sufocante, o ar rarefeito como se estivesse
preso em uma redoma de vidro. Eu precisava encontrar uma maneira de
consertar tudo, de provar para Silvana que ela era a única que importava,
que eu consegui mudar e me redimir.
A confiança quebrada era uma ferida profunda, e eu não tinha ideia
de como poderia começar a curá-la apesar de ser inocente. Minha mente
estava tomada pelo caos, e eu me sentia perdido em meio ao vendaval de
emoções que me assolava.
Eu ouvi o som da cadeira da minha secretária ranger ao ser puxada e
me levantei num rompante, deparando-me com ela ocupando a sua mesa
como se fosse um dia como qualquer outro, sem qualquer preocupação.
— Bruna!
Minha secretária recuou instintivamente diante da minha expressão
furiosa. Seus olhos se arregalaram de surpresa e medo enquanto eu
avançava em sua direção, minha voz carregada de indignação e raiva.
— O que você fez? — gritei, minha voz ecoando pelo escritório,
carregada de emoções intensas.
Minhas mãos tremiam de fúria enquanto eu lutava para conter a
torrente de ira que me consumia. Minha mente estava turva, tomada pela
raiva. Eu precisava de respostas, queria entender o que havia acontecido e
por que Bruna havia tramado contra mim e Silvana.
O silêncio tenso pairava no ar enquanto eu esperava por uma
resposta, meu olhar fixo nos olhos de Bruna, em busca de qualquer sinal de
remorso ou culpa. Contudo, o que encontrei foi apenas o brilho nervoso de
quem sabia que havia sido descoberta.
A raiva borbulhava dentro de mim, ameaçando transbordar a
qualquer momento. Eu não queria ter uma acusação de agressão somada aos
meus crimes, então precisei me controlar, mas estava muito difícil. Por que
estragar minha vida? Eu precisava saber o motivo para que ela pudesse
trair minha confiança e sabotar o meu relacionamento com a mãe das
minhas filhas.
— O que você colocou no meu café, Bruna? — rugi, minha voz
mais firme, embora ainda carregada de raiva.
A tensão no ar era palpável, e eu podia sentir meu coração batendo
com força no peito, ansioso por uma explicação que ela se justificasse por
armar contra mim e a minha felicidade.
— Eu não fiz nada! — ela tentou se esquivar, mas sua expressão
nervosa e os olhos evitando o contato denunciavam sua culpa.
— Mentirosa! — retruquei, minha voz carregada de toda a minha
fúria que estava fazendo o meu sangue ferver. A sensação de ter sido
sabotado por alguém em quem confiava era devastadora.
— Não fui eu! — Bruna tentou se defender mais uma vez, mas eu
não estava disposto a acreditar em suas palavras.
— Você colocou algo no café que me deu ontem! — insisti. A
verdade estava clara em minha mente, e eu não permitiria que ela escapasse
impune.
— Não coloquei! — ela continuava a negar veementemente.
— Então o que vai acontecer se eu fizer um toxicológico? —
retruquei.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Bruna engoliu em seco, seus
olhos evitando os meus, enquanto eu a encarava com firmeza, esperando
por uma resposta que ela parecia relutante em dar. Cada segundo que
passava aumentava a minha impaciência e a urgência em desvendar a
verdade por trás daquela situação complicada.
— Bruna! — rugi, em exigência. Ela não escaparia de mim.
— Quer Saber? Eu te fiz um favor! — Ela ergueu o queixo
levemente, como se estivesse se preparando para me enfrentar.
— Um favor? — repeti, incrédulo. — Que tipo de favor você
poderia ter feito para mim, Bruna? — perguntei com sarcasmo, minhas
mãos se fechando em punhos ao meu lado.
— Você não é o tipo de homem para perder tempo brincando de
casinha com uma mulher sem graça e duas bonecas.
As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. Eu me
senti revoltado, humilhado e profundamente magoado. A imagem que ela
pintava de mim era uma distorção cruel do que eu acreditava ser. A raiva
queimava com ainda mais intensidade dentro de mim, misturada com uma
sensação de desamparo pelo que ela havia me causado.
— Como ousa falar assim? — minha voz saiu entre dentes cerrados,
carregada de fúria contida.
— Estou te ajudando, chefinho. — Ela deu um sorriso, mexendo no
cabelo com um ar de deboche. A arrogância em sua voz só aumentou minha
indignação. Ela parecia se divertir com meu sofrimento, como se estivesse
jogando um jogo onde só ela conhecia as regras.
— Ajudando? — Cerrei os punhos com ainda mais força, sentindo
as minhas unhas cravarem nas minhas palmas.
Juro por tudo que era mais importante para mim, como as minhas
filhas, que eu precisei de um controle sobre-humano para não avançar para
cima dela. Eu nunca fui agressivo, mas ela havia quebrado todo o limite
aceitável e me deixado fora de mim. A cada palavra que saia pela sua boca
me deixava ainda mais puto.
— Você não tem ideia do que está fazendo, Bruna. E vai pagar caro
por isso.
— Vai me demitir? — Estufou o decote. — Você já ia fazer isso
mesmo.
Sua confiança excessiva me irritava profundamente. Ela parecia
achar que tinha o controle da situação, mas eu estava determinado a mostrar
que não era o caso.
— Você acha mesmo que vai sair impune dessa? Acha que pode
brincar com a minha vida e sair ilesa?
— Eu não fiz nada. — Deu de ombros. — Só te dei um café como
uma boa secretária e mandei umas das muitas fontinhas que eu tirei
enquanto estávamos nos divertindo. Um tempo em que você era muito mais
gentil, vale ressaltar.
Minha fúria elevou como um termômetro quebrando em desenho
animado. Ver como ela usava momentos íntimos entre nós para manipular a
situação me deixou ainda mais indignado.
— Você não pode brincar com a minha vida e a da minha família!
— É você que não percebe o quanto isso é ridículo.
Eu a agarrei pelo braço e a arranquei de sua cadeira. A adrenalina
pulsava em minhas veias enquanto eu a encarava com olhos ferozes,
incapaz de acreditar na audácia de suas palavras e ações.
— Você vem comigo! — rugi, apertando firmemente seu braço.
— O que está fazendo? — Ela se debateu, tentando se soltar, mas eu
a segurava com firmeza, determinado a levá-la para fora dali.
— Me solta! — gritou, lutando contra minha pressão sobre seu
braço. Suas palavras ecoaram na sala, carregadas de raiva e medo.
— O que está acontecendo aqui? — Artur apareceu, surpreso com a
cena que presenciou. — Que escândalo é esse?!
— Fala para o seu irmão me soltar — pediu Bruna, visivelmente
aflita.
— Essa vadia armou para mim! — exclamei.
Artur olhou de mim e para Bruna, claramente confuso com a
situação.
— O que está acontecendo aqui? — repetiu, sua expressão agora
séria.
— Essa desgraçada colocou algo no meu café! Me fez desmaiar
ontem e mandou fotos onde transávamos para a Silvana, como se fossem
recentes — explodi, apontando para Bruna.
— Isso é verdade? — Artur perguntou, seus olhos fixos em Bruna,
que se encolheu diante do seu olhar penetrante.
— Não! Ele está mentindo! — Bruna protestou, seu tom carregado
de desespero.
Artur se voltou para mim, esperando uma explicação. Eu respirei
fundo, tentando acalmar minha raiva.
— Bruna estava tentando sabotar meu relacionamento com Silvana
— expliquei.
Artur franziu o cenho, processando a informação.
— Sério, Alberto? — Ele ainda parecia confuso e um tanto
incrédulo.
— Sim, muito sério. Eu preciso resolver isso.
Artur olhou para Bruna, seus olhos transmitindo desaprovação.
— Você vai ter que me explicar tudo, Bruna. — Ele disse, sua voz
firme.
Bruna engoliu em seco e olhou para Artur com uma mistura de
medo e desespero estampada em seu rosto.
— Eu… Eu posso explicar tudo, senhor Artur — começou, sua voz
tremendo ligeiramente. — Não tive escolha, ele estava prestes a me demitir
e eu não tenho outro emprego…
Artur franziu o cenho, claramente insatisfeito com a resposta.
— Isso não justifica sabotar o trabalho do meu irmão ou prejudicar
um relacionamento pessoal.
Eu olhei para Bruna com desdém, sentindo a raiva lutando para se
inflar novamente e tomar o controle dos meus atos.
— Você cruzou uma linha que não deveria ter cruzado, Bruna. —
disse o Artur. — Agora, você terá que lidar com as consequências de suas
ações. — Ele deu de ombros.
— Senhor Artur! — Bruna gritou.
— Precisa da minha ajuda? — Meu irmão a ignorou, com a atenção
fixa em mim.
— Sim, não quero esganá-la.
— Para onde vai?
— Resolver isso. — Saí arrastando a Bruna enquanto ela gritava,
chamando a atenção de todos pelo caminho, mas eu a ignorei até jogá-la no
banco de trás do meu carro.
Capítulo 59
Eu estava tentando me controlar para não derramar lágrimas nos
pratos nem deixar que os meus funcionários percebessem o quanto eu
estava abalada.
Enquanto supervisionava o funcionamento da cozinha, lutei para
manter a compostura, mesmo com o coração pesado de dor e desilusão.
Cada movimento era uma batalha contra as lágrimas que teimavam em
escapar dos meus olhos, ameaçando que as mulheres comigo percebessem
haver algo de errado. Apesar de estar me sentindo destruída, não queria que
eles sequer imaginassem algum problema entre mim e o Alberto, porque
isso poderia prejudicar os negócios.
Respirei fundo, tentando encontrar forças para continuar sabendo
que precisava permanecer firme para não desmoronar diante dos meus
funcionários. A mágoa queimava dentro de mim, mas eu me recusava a
deixar que ela me dominasse.
Com os olhos pesados de lágrimas prestes a desabar, eu me afastei
da cozinha em direção ao banheiro. Cada passo era como carregar um peso
insuportável, e eu podia sentir o coração pesar no peito, como se estivesse
sendo esmagado por uma dor avassaladora. Ao me olhar no espelho, vi uma
versão despedaçada de mim mesma refletida ali. O rosto inchado e os olhos
vermelhos me mostravam a magnitude do sofrimento que eu estava
enfrentando. Senti-me como se estivesse à beira do abismo, prestes a ser
consumida pela escuridão que me envolvia. Cada batida do coração parecia
ecoar naquele lugar vazio e sombrio dentro de mim, uma lembrança
constante da ferida que agora sangrava livremente. Eu estava destruída,
completamente devastada pelo fim do meu relacionamento com Alberto.
Aquela era uma possibilidade que eu poderia enfrentar, porém, eu
me joguei sem pensar que bateria a cabeça.
Tentava não ficar pensando em como seria contar para as minhas
filhas que eu e o pai não estávamos mais juntos. A simples ideia de
enfrentar minhas filhas e explicar que o pai delas e eu não tínhamos mais
uma relação, era como ter uma estaca enfiando no meu peito. Imaginar a
dor nos olhos inocentes delas e as perguntas que inevitavelmente surgiriam
me deixava ainda mais angustiada. Como eu poderia protegê-las da tristeza
e da confusão que certamente viriam com essa revelação? O peso dessa
responsabilidade pesava sobre mim como uma âncora, prendendo-me ao
chão e impedindo-me de encontrar qualquer alívio para o sofrimento
avassalador que eu enfrentava.
Meu coração acelerou ao ouvir os gritos de Alberto ecoando pelo
restaurante. Eu não pensava que ele fosse voltar assim, fazendo um
escândalo. Saí correndo do banheiro e meus funcionários também vieram
para o salão. Felizmente ainda era cedo e os clientes não haviam começado
a chegar.
Uma sensação de apreensão me envolveu quando o vi segurando
firmemente uma mulher pelo braço. Meus passos se tornaram mais rápidos,
movidos por uma mistura de curiosidade e medo do que poderia estar
acontecendo.
A visão de Alberto soltando a mulher me deixou atordoada. Meus
olhos se fixaram na figura desconhecida que cambaleava para frente,
revelando uma expressão de confusão e desconforto. Senti um nó se formar
em minha garganta, enquanto o choque da cena me impedia de dizer
qualquer palavra.
Era como se o chão tivesse sido arrancado sob meus pés, deixando-
me em um estado de vulnerabilidade e confusão.
Enquanto Alberto e a mulher se aproximavam, lutei para manter a
compostura. Meu coração batia descompassado e as mãos tremiam. Sabia
que precisava confrontar Alberto, descobrir o motivo daquela cena
desconcertante. No entanto, no momento, tudo o que eu conseguia fazer era
observar em silêncio.
Eu senti uma onda de choque percorrer meu corpo ao perceber que
aquela mulher era a mesma com quem Alberto estava tendo um caso. A
mesma das fotos. A raiva e tristeza tomaram conta de mim, deixando-me
ainda mais sem palavras. Meu coração doeu em vê-la. O que o Alberto
estava fazendo? Ele queria me machucar ainda mais?
A mulher de cabelos claros e olhar insolente parecia alheia ao caos
que havia causado, o que só aumentou a indignação que fervia dentro de
mim. Lutei para conter as lágrimas que ameaçavam transbordar novamente,
a dor da traição ecoando em cada fibra do meu ser.
Alberto se aproximou, com uma expressão de desespero no rosto.
Ele tentou dizer algo, mas as palavras pareciam fugir dele, como se a
gravidade do que havia feito o tivesse deixado sem voz.
Meus sentimentos oscilavam entre a raiva, a decepção e a tristeza.
Eu queria gritar, queria chorar, queria entender como tudo havia chegado a
esse ponto. Mas as palavras se recusavam a sair, presas em minha garganta
como um nó apertado. Estava culpando a mim mesma por ter acreditado no
felizes para sempre com um homem que tinha um histórico como o dele.
Alberto nem se lembrava de mim quando nos revemos. Era óbvio
que ele não conseguiria se manter em um relacionamento monogâmico.
Sua idiota!
Finalmente, após um longo momento de silêncio pesado, ergui os
olhos para encontrar os dele. Meu coração estava estrangulado e eu me
sentia tão terrivelmente culpada que mal conseguia respirar.
— Silvana, eu posso explicar… — ele começou, mas fui incapaz de
ouvir mais uma palavra. Minha mente estava tumultuada, minhas emoções
estavam em frangalhos.
— Não há nada que você possa dizer que mude o que aconteceu,
Alberto. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava.
— Se você me escutar…
— Não entendeu? Eu não quero escutar nada! — gritei. A revolta e a
indignação transbordavam como leite esquecido no fogo.
Era muita audácia da parte dele em trazê-la diante de mim, depois
de tudo o que eu havia visto nas fotos, era quase inacreditável. Como ele
ousava?
Apesar da torrente de emoções que inundava meu coração, mantive
a compostura. Pensando que meus funcionários estavam presenciando tudo
aquilo. Engoli em seco, lutando para manter a calma diante da situação que
me deixava tão devastada por dentro.
Capítulo 60
A agonia se apoderava de mim enquanto Silvana se recusava a me
ouvir. Por mais que tentasse explicar, ela parecia decidida a não dar ouvidos
às minhas palavras. E eu me via diante de uma situação angustiante, em que
meu passado de cafajeste pesava contra mim, mas eu era inocente daquela
vez.
Bruna era a culpada por toda aquela confusão, mas convencer
Silvana disso parecia uma tarefa impossível, porque ela nem me deixava
falar. Ela estava magoada, decepcionada, e eu não conseguia culpá-la por
isso. Afinal, aquelas fotos eram terríveis, entretanto, não eram atuais, foram
de um momento antes de estarmos juntos.
Os meus irmãos tinham me avisado que me envolver com uma
secretária era um erro. Aquela situação fazia com que eu me sentisse ainda
mais idiota e arrependido por não os ter ouvido antes.
Era tarde demais, só não queria que fosse tarde para que a Silvana
me entendesse. Não podia desistir. Precisava encontrar uma maneira de
fazê-la me ouvir, de mostrar que eu não tinha culpa naquilo tudo.
Silvana não era só uma paixão passageira ou a mãe das minhas
filhas, eu tinha me apaixonado por ela. Aberto o meu coração, como nunca,
para nenhuma outra mulher e perder isso por uma armação da Bruna era
inadmissível.
— Silvana, escuta. — Fui surpreendido quando Artur começou a
falar, ao dar um passo à frente e projetar a voz, querendo se fazer ouvir. —
Eu sei que o Alberto é um vacilão às vezes, mas ele não tem culpa do que
aconteceu.
Silvana também ficou surpresa com a fala do meu irmão. Ela elevou
as sobrancelhas e abriu a boca algumas vezes até finalmente emitir algum
som.
— Artur, você não sabe o que está dizendo — retrucou Silvana, com
uma expressão de incredulidade no rosto.
— Eu sei que é difícil de acreditar, mas o Alberto não traiu você. —
Artur insistiu, olhando para mim em busca de apoio. — Por favor, escuta o
que ele tem a dizer.
Eu assenti, desesperado para que Silvana me desse uma chance de
explicar.
— Eu sei que as fotos parecem que eu estava traindo você, mas elas
são antigas. Ela tirou muito antes de eu encontrar com você. Se tem algum
crime que eu cometi foi transar com essa mulher, mas, meu amor, eu juro
que foi no passado. Antes de estarmos juntos. Ontem foi tudo uma armação
da Bruna. — Empurrei-a para frente, fazendo-a cambalear. — Ela colocou
algo no meu café para me dopar e eu apaguei no escritório. Por isso não fui
buscar as meninas e nem atendi às suas ligações, mas eu juro, não te traí —
expliquei rapidamente, esperando que Silvana entendesse.
Silvana ficou em silêncio, encarando-me com uma expressão séria.
Parecia processar a informação, olhou de volta para Artur e depois para
mim.
O silêncio voltou a pesar sobre nós, estrangulando a minha garganta
e me deixando aflito, sem conseguir respirar.
— O que você tem a dizer sobre isso? — Silvana encarou a Bruna.
— Cafajeste uma vez, sempre cafajeste. — Minha secretária deu
uma gargalhada.
— Você é uma mentirosa! — rugi.
— Vai acreditar nele agora, Silvana? — Bruna provocou, cruzando
os braços.
Silvana olhou para mim, ainda visivelmente abalada e confusa.
— Eu posso provar que Bruna armou tudo isso! — falei com
firmeza, pegando meu celular e mostrando as mensagens trocadas com ela.
— Essas fotos… São antigas, ela as usou para me incriminar.
Silvana olhou para as mensagens, sua expressão alternando entre
descrença e compreensão.
— Alberto… — Silvana sussurrou.
— Eu te amo — declarei.
Silvana respirou fundo, parecendo ponderar minhas palavras.
— Deixa que eu dou um jeito nessa aqui — anunciou meu irmão.
Silvana assentiu em silêncio enquanto observava Artur arrastar
Bruna para fora do restaurante. Eu a encarei, esperando alguma reação, mas
ela permaneceu quieta, perdida em seus próprios pensamentos.
— Eu sei que já cometi muitos erros — admiti. — Posso ter dado
muitos motivos para que você não acreditasse em mim, mas dessa vez eu
sou inocente.
— Você já dormiu com ela?
— Sim, mas isso foi antes de ficarmos juntos. Eu juro!
Silvana olhou para mim com um misto de tristeza e incredulidade.
Era evidente que minhas palavras não a convenciam totalmente, mas eu
precisava fazer de tudo para reconquistar sua confiança.
— Eu te amo mais do que tudo, Silvana. Por favor, me dê uma
chance de provar que posso ser o homem que você merece.
Com os olhos cheios de lágrimas e um misto de dor e incerteza
refletido em seu rosto, Silvana permaneceu hesitante. Por um momento,
permaneceu calada, enquanto ela processava minhas palavras. Então,
finalmente, ela falou com a voz embargada:
— Eu não sei se consigo confiar em você, Alberto.
Eu queria desesperadamente consertar tudo, não podia perdê-la por
uma armação, nem por nada. Eu fui muito longe para deixá-la escapar por
entre meus dedos.
Respirei fundo, tentando encontrar as melhores palavras para me
fazer entender e conseguir convencê-la da minha inocência. Eu estava
desesperado e poderia dizer qualquer coisa que complicaria ainda mais
minha situação.
— Eu te amo… — repeti. — Não mudei de ideia sobre o que eu
disse para você, Silvana. Eu queria e ainda quero fazer com que nós dois
fiquemos juntos. Eu tenho um passado, mas quero construir um futuro com
você.
— Promete para mim? — ela ponderou.
— Eu prometo — falei sem hesitar.
— Eu posso ser o homem que você precisa, Silvana — afirmei,
determinado.
— Eu quero acreditar em você, Alberto… — Ela me olhou por um
momento, seus olhos buscando sinceridade nos meus.
— Nem mesmo o Artur acredita em mim, mas dessa vez ele estava
aqui. Sei que isso não parece muita coisa, mas eu só quero provar que não
foi culpa minha.
— Quantas ex-namoradas ainda vão aparecer? — questionou ela.
Eu fiquei em silêncio e engoli em seco.
— Hein, Alberto?
— Eu não sei… — fui obrigado a admitir.
Silvana olhou para mim com uma mistura de tristeza e decepção nos
olhos. Era doloroso vê-la assim, sabendo que eu era o motivo de sua
angústia.
— Eu só quero ser feliz com você, Silvana — falei, tentando
expressar a sinceridade dos meus sentimentos.
Ela suspirou profundamente, parecendo ponderar minhas palavras.
— Eu também quero, Alberto. Mas não posso continuar assim,
sendo surpreendida por revelações do seu passado.
Engoli em seco, sentindo o peso das minhas falhas.
— Eu prometo que vou fazer de tudo para que isso não aconteça
novamente. Eu te amo, Silvana. Por favor, me dê outra chance. Eu
realmente quero ficar com você. Deixar a Bruna, e todas as outras mulheres
com quem já me envolvi, no passado.
Ela olhou para mim por um momento, seu olhar expressando uma
mistura de dúvida e desejo.
Eu sabia que o “Eu te amo” era uma expressão profunda e eu nunca
tinha dito ela para ninguém. realmente queria ficar com a Silvana. Ter uma
família com ela e as minhas filhas.
Eu fiquei de joelhos, estendendo a mão trêmula na direção dela.
— Quer se casar comigo?
Silvana olhou para mim, surpresa com a minha proposta inesperada.
Seus olhos ainda refletiam a hesitação e a incerteza que pairavam sobre nós.
Eu segurava sua mão, aguardando ansiosamente por sua resposta, meu
coração batendo forte no peito.
Depois de um momento de silêncio tenso, ela finalmente falou, sua
voz soando suave e carregada de emoção:
— Alberto, eu… Eu preciso pensar sobre isso.
Engoli em seco, compreendendo sua hesitação, mas ainda ansioso
por sua resposta.
— Eu entendo. Mas prometo que serei o melhor marido e pai
possível, se você me permitir. Você me ensinou o que é amar, o que era me
importar com alguém mais do que comigo mesmo. Foi difícil, mas a minha
vida se transformou completamente com a sua presença e a das meninas. Eu
não sou mais o mesmo homem que se envolveu com a Bruna, nem com
todas as outras. Muito menos o cara que se esqueceu de você.
Ela assentiu, tocando suavemente meu rosto com a outra mão.
— Eu também te amo, Alberto. Mas é um passo muito importante.
— Eu sei que é um passo importante e eu não pensei nele agora.
Tenho refletido sobre essa possibilidade desde que me comprometi com
você há meses. Cada dia que passa eu tenho mais certeza de que você é a
mulher da minha vida e que quero passar o resto dela ao seu lado. Não me
importo com a Bruna, nem com nenhuma outra. Só com você e as nossas
filhas.
Capítulo 61
As palavras de Alberto tocaram fundo em meu coração, dissipando
parte das dúvidas e incertezas que eu havia sentido. Seu amor e
comprometimento eram evidentes em cada palavra que ele pronunciava, e
eu podia sentir a sinceridade em seu olhar.
De fato, as fotos pareciam antigas e a mulher não me pareceu muito
confiável, então eu não poderia continuar na minha revolta cega sem
ponderar sobre a verdade. Se eu deixasse que ela nos separasse, quem
estaria perdendo?
Tudo o que eu havia visto nos últimos meses era o Alberto se
esforçando para que eu e as meninas ficássemos bem, para que fôssemos
felizes.
Eu não poderia ser ingênua, sempre soube que ele tinha muitos
casos, inclusive eu era um deles. Não havia deixado isso ficar entre nós
antes, mas deixaria agora?
Com uma mistura de emoções, eu segurei sua mão com firmeza,
sentindo um calor reconfortante inundar meu peito.
— Alberto, eu… Eu também o quero ao meu lado. — Meus olhos
encontraram os dele, encontrando conforto e serenidade. Ele me amava e eu
também. — Sim, eu quero me casar com você.
Uma onda de alívio e felicidade me envolveu enquanto Alberto
sorria, seus olhos brilhando com alegria.
— Silvana, eu farei de tudo para ser o marido e pai que vocês
merecem.
Ele se levantou e me envolveu em seus braços. Os lábios de Alberto
encontraram os meus com uma ternura avassaladora, como se estivessem se
encontrando pela primeira vez, mas também carregados de toda a história
que compartilhávamos. Seu beijo, apesar de mais contido do que os dados
quando estávamos sozinhos, era cheio de paixão e desejo, fazendo meu
coração bater ainda mais rápido.
Nossos lábios se moviam em perfeita sincronia, explorando cada
canto de nossas bocas em meio à fome. Senti suas mãos firmes segurando
meu rosto, enquanto me entregava ao momento, mergulhando no calor
reconfortante de seus braços.
Cada toque, cada respiração compartilhada, era uma declaração
silenciosa do amor que sentíamos um pelo outro. O tempo parecia
desacelerar ao nosso redor, deixando apenas nós dois em nosso próprio
mundo de intimidade e cumplicidade.
Quando finalmente nos separamos, foi com um suspiro de
contentamento e os olhos brilhando com a promessa de um futuro juntos.
Em seus braços, senti-me completa e feliz.
Fomos surpreendidos com o som das palmas dos funcionários
ecoando pelo restaurante. Eles deram assobios e gritaram, por finalmente
termos nos entendido. Envergonhada pela presença deles, escondi meu
rosto no peito do Alberto, sentindo o calor reconfortante de seus braços ao
meu redor.
Alberto sorriu e olhou ao redor, agradecendo aos funcionários com
um aceno de cabeça. Sua expressão irradiava felicidade, enquanto ele me
segurava com ternura, transmitindo uma sensação de proteção e amor que
aqueceu meu coração.
Em meio aos aplausos, trocamos olhares cúmplices, compartilhando
o momento de felicidade depois daquela tempestade que tentou nos abalar.
Ele estava disposto a fazer que funcionássemos como casal e eu também.
Capítulo 62
Eu estava aliviado pela Silvana ter aceitado o meu pedido de
casamento. Era como se um peso tivesse sido tirado dos meus ombros, e eu
não conseguia conter a empolgação de começar a planejar nosso futuro
juntos.
— Eu quero que você venha comigo — pedi a ela, ansioso para ficar
a sós com a mulher que amava.
Silvana olhou preocupada para os funcionários e para o movimento
no restaurante. Ela estava muito comprometida com o trabalho, mas depois
do momento terrível que havíamos passado, era importante ter um momento
entre nós.
— Não posso! Os clientes vão chegar — ela respondeu, tentando se
esquivar de mim.
Eu me virei para os funcionários que estavam nos assistindo,
buscando apoio para minha proposta.
— Podem segurar as pontas aqui por você, não é? Por favor? —
implorei, esperando que entendessem.
A gerente deu um passo à frente e me dirigiu um sorriso
compreensivo.
— Podemos sim.
Movimentei os meus lábios em um obrigado.
Silvana ainda parecia hesitante, mas eu sabia que precisava
convencê-la. Encarei os seus olhos cor de jabuticaba.
— Por favor? — Fiz uma expressão de súplica.
— Está bem. — Ela acabou cedendo, e eu não pude conter minha
felicidade.
— Eba! — falei como as nossas filhas, e ela riu da minha
empolgação.
Estendi a mão para ela e a conduzi para o meu carro estacionado do
lado de fora.
— Para onde vamos? — perguntou Silvana ao se acomodar no
banco do carona ao meu lado.
— Eu te pedi em casamento, mas falta uma aliança — expliquei,
ansioso para surpreendê-la.
— Alberto, não precisa se preocupar com isso.
— Claro que precisa! — Insisti, sorrindo. — Eu quero que o mundo
todo saiba que você é minha.
Seu sorriso se alargou e acabou contagiando a mim também.
Dirigi pela cidade de São Paulo, sentindo a empolgação pulsar em
meu peito, até chegarmos a um dos famosos shoppings da região.
Estacionei o carro e, juntos, caminhamos em direção às vitrines, repletas de
joias brilhantes e alianças.
Entramos na loja de joias, e um sorriso nervoso brincava em meus
lábios enquanto observávamos as opções disponíveis. Queria encontrar a
aliança perfeita, aquela que simbolizaria a todos que eu estava
comprometido, principalmente para que nenhuma outra ousasse fazer o que
a Bruna havia feito.
Silvana examinava as peças com um brilho curioso nos olhos. Eu
não saia do lado dela, envolvendo os seus ombros com o meu braço e
acariciando-a.
— Ei, olha essa aqui. — Apontei para uma aliança delicada, com um
design elegante e simples. — O que acha?
Silvana estudou a peça com atenção.
— É linda, Alberto!
— Vamos levá-la então. — Entramos na loja e eu comprei o par de
alianças, com a masculina que combinava, colocando a peça no dedo dela
ali mesmo.
Capítulo 63
Depois de comprarmos as alianças, insisti para que Alberto me
levasse de volta ao restaurante. Por mais que desejasse ficar ao lado dele,
não podia negligenciar nosso empreendimento. Apesar de confiar na
competência dos meus funcionários, sabia que não podia deixá-los
sozinhos.
Ao chegar, fui recebida por Giovana, que me cumprimentou com
um sorriso caloroso e expressou sua satisfação por tudo ter corrido bem na
minha ausência.
— Achei que iria demorar um pouco mais, Silvana.
— Eu não podia. Nosso restaurante mal abriu, não posso dar
motivos para que os clientes nos abandonem.
— Estávamos nos virando bem — garantiu ela.
— Giovana, obrigada por cuidar de tudo aqui.
— Todos estamos comprometidos com o nosso trabalho.
— Realmente temos uma equipe incrível.
— Temos sim. — Ela sorriu, parecendo genuinamente feliz pelo
nosso sucesso. — É um prazer trabalhar aqui, Silvana. Fique tranquila,
cuidamos de tudo conforme você nos ensinou.
Senti um alívio.
— Isso é ótimo de ouvir — eu respondi. — Mas agora preciso voltar
ao trabalho. Ainda estamos no meio do horário do almoço e mais clientes
vão chegar.
Enquanto me afastava para retomar minha posição na cozinha, não
pude deixar de notar o brilho da aliança de noivado em meu dedo, um
lembrete da promessa do Alberto. Mal podia esperar para encerrar o
expediente e vê-lo novamente, além de contar para as nossas filhas que nos
casaríamos.
Capítulo 64
Assim que cheguei à empresa, Artur foi a primeira pessoa que
avistei. Ele saía da sala do nosso pai e parou no corredor assim que nossos
olhos se encontraram.
— Alberto! — ele chamou.
— Oi, Artur!
— Já encaminhei a Bruna para o RH e providenciaram a demissão
dela — avisou. — Agora vê se contrata um homem ou uma lésbica para não
se meter em confusão de novo.
Eu deixei escapar uma risadinha.
— Pode deixar! Muito obrigado.
— Por nada. — Ele deu de ombros.
— Não apenas por isso, mas por intervir e fazer com que a Silvana
me ouvisse. Vou ser eternamente grato.
— Não precisa agradecer tanto — disse ele, com um tom
descontraído. — Eu já estive nessa situação, mas, diferente de você, tinha
uma grande parcela de culpa. Não sei como seria se a Ana Paula não tivesse
me ouvido.
— Obrigado mesmo assim.
— Por nada. — Ele deu alguns passos para se afastar no corredor,
mas antes disso, virou-se novamente para me encarar. — Por falar em ouvir,
Ana Paula tem razão.
— Sobre o quê? — perguntei, confuso.
— Você e a sua mãe não têm culpa pelo que aconteceu com a
minha.
— Que bom que você finalmente entendeu. — Sorri para ele.
— Isso não significa que viramos melhores amigos — recuou,
fechando a cara.
— Pode deixar! — Ri.
— Vamos trabalhar. — Artur se despediu de mim e seguiu para a sua
sala.
Sem secretária, eu tinha muito trabalho a fazer.
Voltei meu foco para as tarefas do dia, ainda absorvendo a conversa
com Artur. Ele sempre teve um jeito peculiar de agir comigo, me
perseguindo sem motivo e me julgando sempre, mesmo que fosse por meio
de comentários sarcásticos e brincadeiras ácidas. Entretanto, parecia que
finalmente estávamos nos acertando e poderíamos desenvolver uma boa
relação. Ana Paula havia feito um verdadeiro milagre com ele, entretanto,
eu precisava admitir que me apaixonar também tinha me mudado.
Enquanto eu caminhava em direção à minha sala, percebi alguns
olhares curiosos dos funcionários, provavelmente comentando sobre o
ocorrido com Bruna e a situação com Silvana. Aquilo era o tipo de fofoca
que se espalhava rapidamente em um ambiente corporativo, mas eu não
tinha tempo nem deveria me preocupar com isso. Estava feliz demais para
deixar que qualquer um me atrapalhasse.
Ao entrar na minha sala, deparei-me com uma pilha de papéis sobre
a minha mesa, exigindo a minha atenção. Sentei-me em minha cadeira e
mergulhei no trabalho, concentrando-me em resolver os problemas que
surgiam.
Enquanto isso, as imagens da Silvana continuavam a tomar conta da
minha mente. Pedi-la em casamento era a melhor decisão que eu poderia ter
tomado. Mesmo com toda a confusão recente, eu sabia que tinha sorte de tê-
la em minha vida. E agora, mais do que nunca, eu estava determinado a
provar a ela o quanto eu a amava e o quanto estava comprometido em fazer
o nosso relacionamento funcionar.
Com esse pensamento, mergulhei de cabeça no trabalho, disposto a
garantir o futuro da minha família.
Capítulo 65
Eu ainda estava na cozinha, preparando os pratos do jantar, quando
percebi a entrada das minhas filhas e ouvi suas vozes alegres ecoando pelo
restaurante. Eu me virei imediatamente e vi Maria Lis e Maria Flor
correndo em minha direção, seguidas de perto pelo Alberto.
— Mamãe! — Maria Lis gritou ao se jogar nos meus braços.
— Olá, minhas princesas! — exclamei, abrindo os braços para
recebê-las. — Cuidado com o fogão quente.
As duas se lançaram em um abraço caloroso, enchendo-me de
alegria e ternura, enquanto as apertava contra mim.
— Oi, Silvana. — Ouvi a voz do Alberto. — Hoje as busquei e estão
aqui em segurança.
Olhei para ele e encontrei seus olhos cheios ternos. Ele parecia
tranquilo e feliz, disposto a deixar o terrível dia anterior no passado.
— Oi, Alberto, muito obrigada — Afastei-me do abraço que
envolvia as minhas filhas e coloquei as mãos nos ombros delas,
direcionando-os para a saída. — Vão esperar com o papai lá fora que a
mamãe já está indo.
Elas assentiram e o Alberto as levou para o lado de fora. Depois de
terminar os pratos pendentes. Eu tirei o avental e fui me juntar a eles. Segui
para a mesa onde se sentavam e as meninas vibraram, ansiosas para contar
como havia sido o dia de aula.
Estávamos jantando juntos quando Maria Lis observou minha mão e
ela estendeu os seus dedos ao perceber a aliança reluzente em meu dedo.
— Mamãe, que isso? — perguntou, apontando para a aliança.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto ao me recordar do que
aquele anel significava.
— Isso é uma aliança, querida — respondi, segurando sua mão com
carinho. — É um símbolo muito especial.
— De quê? — Maria Flor se juntou à conversa, seu rosto cheio de
interesse.
Olhei para Alberto, que sorriu me encorajando a continuar. Queria
muito contar para as meninas sobre o nosso futuro.
— Significa que eu e o papai decidimos nos casar — anunciei,
vendo a surpresa e alegria tomar conta das expressões angelicais delas.
As meninas se entreolharam e vibraram empolgação.
— Sério? — exclamou Maria Lis.
— Sim, querida. Nós vamos nos casar e ser uma família ainda mais
feliz.
As meninas pularam de alegria, envolvendo-nos em abraços
apertados. Alberto sorriu e compartilhou o abraço das nossas filhas.
Quando eu insisti que ele fizesse parte da vida delas, não imaginava
que acabaria mudando a minha tão profundamente e me tornando uma
mulher muito feliz, talvez a mais feliz do mundo.
Capítulo 66
Semanas depois…
Enquanto a minha mãe surtava a Silvana com os preparativos de
casamento, eu sabia que ainda faltava uma parte importante do nosso futuro
juntos para ser decidida. Passei a buscar o lugar perfeito, aquele que ela e as
meninas reconheceriam como lar.
— Já posso tirar? — perguntou Silvana, tentando puxar a minha
gravata que eu havia amarrado ao redor dos seus olhos.
— Ainda não. — Puxei a mão dela de cima da venda improvisada.
— Alberto... — choramingou enquanto eu segurava a sua cintura,
conduzindo-a pelo passeio do condomínio fechado.
Enquanto caminhávamos, eu sentia a ansiedade crescendo dentro de
mim. Este momento significava muito para nós dois, e queria que fosse
perfeito. Estava muito tenso, imaginando se não deveria tê-la deixado
participar da escolha. Não queria decepcioná-la.
— Alberto, por favor! Não estou vendo nada mesmo — protestou,
sua voz carregada de impaciência.
Eu ri baixinho, sentindo o coração bater mais rápido com a
expectativa. Paramos em frente a uma das casas, iluminada pelo sol e com
um jardim.
— Agora pode tirar. — disse, desfazendo a venda improvisada.
Silvana removeu a venda dos olhos, e sua expressão foi toada por
uma surpresa e ela ficou boquiaberta.
— Alberto, é... é linda! — exclamou.
— Eu sei que não é muito grande, mas pensei que seria o lugar
perfeito para nós começarmos uma nova vida juntos. Além de ser segura e
ter um quintal para as meninas brincarem. — Segurei a sua mão,
incentivando-a a seguir em frente.
— Você ficou maluco?! Ela é gigante! — gritou, encarando-me com
uma expressão de revolta.
Eu ri, compreendendo sua reação.
— Eu sei que é grande, mas pensei que seria um espaço perfeito
para nós e as meninas. — Tentei explicar. — Eu cresci em uma casa grande,
além da segurança do condomínio…
Silvana ficou em silêncio por um momento, examinando a casa com
um misto de choque e admiração.
— Acho que podemos transformá-la em um lar acolhedor para nossa
família — disse finalmente, com um sorriso tímido.
Senti um alívio imenso e puxei-a para um abraço.
A casa se erguia imponente, com uma fachada majestosa de tijolos
claros à vista e detalhes em madeira que conferiam uma mistura charmosa
de modernidade com um ar rústico. Ao entrar pelo portão de ferro forjado,
um caminho de paralelepípedos levava até a entrada principal, ladeado por
um exuberante jardim repleto de flores coloridas e arbustos bem cuidados.
O quintal espaçoso se estendia além da casa, proporcionando um
amplo espaço para as crianças correrem e brincarem. No centro do quintal,
um pequeno playground, com balanços, escorregador e uma casinha de
madeira. Ele havia sido decisivo no momento da minha compra, mal podia
para ver as meninas brincando ali, suas risadas e aventuras.
Uma área de gramado bem verde e macio ocupava boa parte do
quintal, onde poderíamos fazer piqueniques ou simplesmente rolar.
— Vamos entrar para ver! — Segurei a mão dela e a conduzi para o
interior.
Ao adentrar a casa, nos deparamos com um hall de entrada
espaçoso, iluminado por uma imponente luminária de cristal que pendia do
teto alto. O piso de mármore brilhante contrastava com as paredes claras,
criando uma sensação de amplitude e elegância.
À direita do hall, uma ampla sala de estar se estendia, decorada com
móveis confortáveis e modernos. Um sofá generoso ocupava o centro do
ambiente, cercado por poltronas estofadas e uma mesa de centro de vidro
lapidado.
Do outro lado do hall, estava a sala de jantar com uma mesa de
madeira maciça, acompanhada por cadeiras estofadas em tecido bege,
ocupava o centro do ambiente, enquanto mais um lustre de cristal pendia do
teto, criando um efeito de brilho.
Continuamos explorando o ambiente enquanto eu a conduzia pela
cintura, disposto a mostrar para ela cada canto da nossa casa.
A cozinha, espaçosa e moderna. Como a Silvana gostava de
cozinhar, eu tive uma preocupação a mais com aquele espaço e pedindo que
fosse bem equipado com eletrodomésticos de última geração e bancadas de
granito.
Voltamos para a sala e subimos para o segundo andar. Ela parecia
tão animada que já estava me arrastando e isso me deixava bem empolgado.
No segundo andar da casa, estavam os quartos. Eram quatro, um
para cada uma das meninas, um de hóspedes e o de casal, além de um
escritório para os dias que eu precisasse trabalhar de casa.
O quarto das meninas era como os de princesas. Talvez eu tivesse
exagerado um pouco, mas queria que as minhas filhas amassem quando
vissem, com paredes pintadas em tons pastel e móveis delicados. Camas
com dossel, cercadas por cortinas leves e coloridas, além de estantes
enormes e espaço para os brinquedos. Minha mãe já havia comprado vários
e colocado ali.
— Alberto… — Silvana começou a sussurrar, mas eu não deixei que
ela terminasse a frase.
— Espera! Falta o último cômodo. — Puxei-a para a porta do nosso
quarto.
Uma cama king-size ocupava o centro do espaço, cercada por
móveis no mesmo tom de madeira clara. Um banheiro privativo, revestido
em mármore e equipado com uma banheira de hidromassagem e um
chuveiro de vidro, além de um closet bem grande para caber as roupas dela
e os meus ternos, além da minha coleção de relógios.
— Alberto, isso tudo é muito… caro. — Silvana ficou boquiaberta.
— Eu sei, Silvana. Mas você e as meninas merecem o melhor que
eu posso oferecer. Quero que nossa casa seja um lugar onde você se sinta
feliz e confortável, onde possamos construir nossa família e viver
momentos inesquecíveis juntos.
— Vou precisar me acostumar com tudo isso — disse, receosa.
— Minha mãe vive dizendo que a gente se acostuma rápido com
coisas boas. — Inclinei-me na sua direção e envolvi sua cintura com os
meus braços.
— Alberto…
Não deixei que terminasse a frase antes de unir nossos lábios e
pressionar a minha língua para encontrar com a sua.
Nossos lábios se encontraram em um beijo intenso e voraz,
enquanto minhas mãos exploravam suavemente o contorno do seu corpo,
deslizando pelas curvas delicadas e provocantes. Senti sua pele macia
arrepiar sob meu toque, enquanto nossos corações batiam cada vez mais
rápido. Meu corpo pulsava, ansiosos pelo que estava por vir.
— Vamos testar para ver se a cama é confortável o bastante — disse
contra a sua boca.
— Aposto que sim — respondeu ela.
— Quero ter certeza. — Mordi o seu lábio inferior antes de lambê-lo
e retomar a intensidade do beijo.
Com um movimento suave, as roupas começaram a cair, sendo
jogadas em um canto qualquer do quarto. Cada centímetro de pele exposta
fazia com que eu ansiasse ainda mais por tocá-la.
Eu fiz com que ela se deitasse na cama e me acomodei sobre ela,
sentindo seu corpo macio e delicado sob o meu, enquanto minhas mãos
tiravam qualquer tecido pelo caminho. Por fim, até a calcinha dela foi parar
no chão e eu abocanhei um dos mamilos, sentindo-o endurecer sob o
contato da minha língua.
— Alberto! — deixou escapar meu nome em meio a um gemido
alto. Por enquanto, estávamos sozinhos na casa e ela não tinha motivos para
se conter.
Parei de sugar os seus seios e voltei a encará-la. Nossos olhares se
encontravam em uma troca de emoções. Não dissemos nada, mas era mais
do que evidente o quanto estávamos apaixonados um pelo outro.
Subi com as mãos pelas suas coxas e acaricie-as antes de me
acomodar entre elas. Trocamos um olhar cúmplice, enquanto eu esfregava o
meu membro na sua entrada, atiçando ainda mais a sua excitação e a
deixando molhada. Os lábios do seu sexo beijando a minha glande me
deixavam ainda mais louco de tesão. Talvez eu devesse esperar um pouco
mais, porém, não consegui, inundando-me em seu canal quente e apertado.
Gememos juntos enquanto eu a pressionava com o meu peito e enfiava tão
fundo quando a posição permitia.
Com as minhas mãos ainda nas suas coxas, eu comecei a me mover,
deliciando-me com os agarres que ela me dava. Esses se toraram ainda mais
intensos quando ela abraçou a minha cintura com as pernas. Nossos corpos
se moviam em perfeita harmonia. Isso só me dava mais certeza do quanto
ela nasceu para ser minha. em um ritmo que ecoava os batimentos
acelerados dos nossos corações apaixonados.
Os sussurros de prazer preenchiam o quarto, misturando-se ao som
suave da nossa respiração entrecortada. Nossos lábios se encontravam em
beijos famintos, explorando cada canto e de nossas bocas com a língua e os
dentes.
Eu puxei-a para o meu colo, fazendo com que se sentasse em mim,
rebolando no meu pau duro e cheio de tesão. Afundei os meus dedos em sua
bunda, fazendo com que ela se movesse ainda mais rápido, no ritmo
acelerado dos nossos corações. Seus seios saltavam no meu rosto,
aumentando ainda mais a minha excitação.
Ela é maravilhosa! A mulher mais linda e gostosa do mundo.
Eu não pensava em mais nada além da visão maravilhosa de tê-la no
meu colo, rebolando, deixando escapar gemidos em meio aos nossos beijos.
Subi com uma das mãos pela sua nuca e afundei meus dedos no volumoso
cabelo encaracolado, trazendo sua boca de volta para minha e mergulhando
a minha língua outra vez.
Ela aumentou o ritmo com que cavalgava no meu colo, aumentando
a fome desenfreada que urrava em mim, querendo cada vez mais. Afundei
os meus dedos nas suas nádegas e transformei tudo em um frenesi insano.
Logo meus músculos ficaram mais rígidos e o meu corpo saiu do
controle enquanto eu experimentava o prazer maravilhoso de gozar dentro
dela. Silvana continuou se movimentando em mim até alcançar o próprio
prazer.
Exaustos após o sexo, nos aconchegamos na cama, e Silvana se
acomodou sobre meu peito. Com um sorriso sereno nos lábios, ela olhou
nos meus olhos.
— Eu te amo, Alberto. — Sua voz era suave, e ainda ofegante pelo
recente orgasmo.
Envolvendo-a com meus braços, senti o quanto tê-la em minha vida
me fazia feliz e completo. Com um suspiro de contentamento, sussurrei em
resposta:
— Eu também te amo, Silvana.
E ali, naquela cama, envoltos pelo silêncio reconfortante e pela luz
suave da lua, soube que aquele era apenas o início do resto de nossas vidas.
Capítulo 67
Enquanto eu adentrava a igreja, seguindo minhas filhas gêmeas,
perfeitas em vestidos de dama de honra, sentia um turbilhão de emoções
inundar meu coração. Cada passo rumo ao altar era uma mistura de
nervosismo, ansiedade e uma imensa felicidade. Meus olhos brilhavam ao
avistar Alberto, parado no altar, vestido impecavelmente, esperando por
mim.
Toda a discussão com a minha futura sogra pelas decisões
extravagantes dela pareceram completamente insignificantes diante do
momento do meu casamento. Tudo estava mais lindo e perfeito do que eu
poderia imaginar. Sem dúvidas, a felicidade sobrepujava todos os
sentimentos que rodopiavam dentro de mim.
O corredor da igreja parecia se estender infinitamente enquanto eu
caminhava em direção ao amor da minha vida. Cada passo era um lembrete
de tudo o que eu havia passado até chegar ali, dos desafios enfrentados para
criar as minhas filhas sozinha e da alegria de ter finalmente o Alberto ao
meu lado para tonar as dificuldades mais suportáveis.
Eu não havia sonhado com aquele momento antes porque parecia
algo inalcançável, mas estava se tornando real e palpável.
Ao me aproximar do altar, nossos olhares se encontraram e o resto
pareceu desaparecer. Ali, diante de Deus e de todos os nossos entes
queridos, estávamos prontos para selar nosso compromisso pelo restante de
nossas vidas.
Enquanto as nossas filhas se acomodavam, trocamos sorrisos
cúmplices, cheios de amor e de promessas silenciosas. Meu coração batia
forte no peito, transbordando de gratidão por ter encontrado alguém tão
especial como Alberto. Estávamos prontos para embarcar na próxima fase
de nossas vidas, lado a lado, para sempre.
O padre conduziu a celebração com serenidade, iniciando os ritos do
casamento com as palavras de bênção e de amor. Enquanto ele falava,
nossos olhares se cruzavam, repletos de emoção e de promessas silenciosas.
Trocar as alianças fez com que um sorriso tomasse conta do meu
rosto. Ao deslizar a aliança pelo dedo de Alberto e sentir a dele deslizando
pelo meu, um arrepio percorreu meu corpo, lembrando-me da importância
daquele gesto.
É real! Pertencemos um ao outro.
O padre continuou a cerimônia, abençoando nossa união e
pronunciando as palavras que selariam nosso matrimônio perante Deus e
perante todos os presentes na igreja. Finalmente, chegou o momento tão
esperado: “Pode beijar a noiva”.
Com um sorriso e o coração transbordando de felicidade, Alberto
aproximou-se de mim e selou nossos votos com um beijo apaixonado.
Eu não conseguia descrever o momento com outra palavra que não
fosse alegria profunda.
Estávamos começando o nosso “felizes para sempre”.
Epílogo
Um ano depois…
Um sorriso iluminou o meu rosto quando vi minhas filhas correndo
com os primos no quintal da minha casa enquanto sentia o cheiro de carne
queimada. Certamente Artur não era um bom churrasqueiro, apesar de ele
não dar o braço a torcer.
Silvana veio até mim, radiante, com um prato de salada nas mãos.
Seus olhos brilhavam de felicidade enquanto observávamos nossa família
reunida, celebrando mais um domingo juntos.
— Parece que foi ontem que nos casamos — ela comentou, olhando
para mim com ternura.
— Parece mesmo — concordei, estendendo a mão para tocar o
volume da sua barriga. Ela estava grávida novamente, dessa vez era um
menino, nosso João Pedro.
Nossas filhas se aproximaram, com os rostos pintados e sorrisos
largos.
— Papai, olha o que achamos! — uma delas exclamou, mostrando
uma joaninha.
— Que linda, filha! — elogiei, fazendo carinho em seus cabelos.
Olhei ao redor, absorvendo a minha família: meus irmãos, suas
esposas, filhos e meus pais. Quando eu era o homem desprendido de tudo e
sem qualquer ambição de ter uma família, aquele parecia um momento
impensável, mas eu nunca estive tão feliz em minha vida.
— Obrigado por tudo, Silvana — sussurrei, abraçando-a com
carinho.
Ela sorriu, envolvendo-me em seus braços.
— Obrigada você, Alberto, por tornar todos os meus sonhos
realidade.
Juntos, permanecemos ali, cercados pelo amor que
compartilhávamos e alegria da nossa família.
Agradecimentos

Meu agradecimento mais que especial às minhas leitoras e


meus leitores, que me motivam a continuar sempre, em particular a
todos os participantes do meu grupo do Whats: Nalu, Marliany
Caetano, Mariana Telles, Rachel, Eglaia, CHIRLY RODRIGUES,
Ilza Mendes, Gaby, Tatiana Amorim, Ana Paula Mendes, Nedja,
Agda, Priscilla, DHIENEFER, Ângela, Mi, Jennifer Barcelos,
Leidiana, Katlyn, Juliana Lelis, Laiz, Pauline Quesada, Silvana
Brito, Marília P, OLIVEIRA, Cintia, Daniele souza, Regina
Fabbris, Maria Cristina (Andromeda), Cris Ribeiro, Josy
Guimarães, Angelica Lorena, Tatiane, Sandra Fontana Aragão,
Val,Camila, Lidiane, Marinalva Sales, Silvana, Simenya,
karina,Gilcelia Martins, Gilvane, Lynna, Ivana Sandes, Daniela
Bispo, Gardenia Feitosa, Fatima Aguiar, Carol, Larissa Rocha,
Dayane Santos, Elisandra, Thaty, Cris Tiemi, Rosiane Ferreira, Ana
Sergia, Ticyanne Brito, Jessyka Monyka, Jeh, Jessika, Beatriz
Soares, Crislane Rocha e todas as outras. Agradeço também aos
leitores do Instagram e Facebook por todo o carinho e incentivo
constante, em especial à Micheline, amiga, apoiadora e leitora pela
qual tenho um carinho todo especial.

Obrigada, Rosi, por todo carinho. O seu trabalho duro em


me assessorar em todas as etapas dos meus livros, da criação à
divulgação, é responsável pelo meu sucesso. Em especial por me
acolher, apoiar, dar conselhos que acabam se transportando para as
páginas dos livros.

Gratidão a toda equipe do Grupo Editorial Portal.


Agradeço meu marido, Gabriel, por estar sempre ao meu
lado, me dando apoio incondicional.

Agradeço a minha coautuara mirim, minha filinha Aurora,


digitando/atrapalhando rsrs, ou só ficando no meu colo e sendo
inspiração para minhas cenas com bebês.

Gratidão aos meus mentores e protetores espirituais! Que


meu caminho até vocês sempre esteja aberto para que possam me
orientar e proteger, para que eu tome as melhores decisões e nunca
desista dos meus sonhos.
Sobre a autora

Jéssica Macedo é mineira, de 28 anos, Under 30 da Forbes


Brasil, a lista dos jovens mais promissores do país e foi
homenageada pelo prêmio Minas Gerais de Saberes. Mora em Belo
Horizonte, Minas Gerais. De dentro de seu apartamento, na
companhia do marido, da filha e de três gatos, ela produz livros
fantasia, romances de época e contemporâneos, e, principalmente,
obras da literatura hot, um verdadeiro fenômeno editorial entre o
público feminino, vendidas em um ritmo intenso nas plataformas
digitais.

Autora best-seller da Amazon, iniciou sua experiência no


mundo da escrita aos nove anos e tornou-se autora aos 14, com o
lançamento do seu primeiro livro “O Vale das Sombras”. Com mais
de 200 obras publicadas, é escritora, editora, designer e roteirista.
Ajudou a adaptar um dos seus romances “Eternamente Minha” para
um longa-metragem lançado na plataforma Cinebrac. Hoje, Jéssica
é o principal nome de um time de autores, a maioria mulheres, que
compõem o catálogo do Grupo Editorial Portal, que ela fundou a
partir das experiências vividas em outras editoras.

Acompanhe mais informações sobre outros livros da autora


nas redes sociais.
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Instagram - www.instagram.com/autorajessicamacedo/
Página da autora na Amazon - https://amzn.to/2MevtwY
Outras obras
IMORAL: Grávida do pai do meu ex (Os Katsaros
Livro 1)

link => https://a.co/d/iWJzzrq

Sinopse:

AGE GAP - ROMANCE PROIBIDO - PAI DO EX - GRAVIDEZ


ACIDENTAL - REJEITADA

Maximus Katsaros, um juiz no auge de sua carreira, enfrentava o luto e a


distância emocional de seu único filho. Quando conheceu Eglaia, uma
jovem vibrante, ele se viu diante de uma paixão avassaladora, gerando mais
turbulência à sua já tumultuada vida.

Nova demais para ele...


A diferença de idade já era um enorme obstáculo, ao saber do
envolvimento de Eglaia e seu filho, Maximus terminou o romance.

Eglaia, ao descobrir uma gravidez e, com o coração partido, lutava para


alcançar o homem que fechou as portas para ela. Entretanto, Maximus
estava determinado a não voltarem a se falar.
Contratada para casar com o Magnata (Irmãos
Oliveira Livro 2)

link => https://a.co/d/fHb3tBO

Sinopse:

AGE GAP - GRUMPY X SUNSHINE - CASAMENTO POR CONTRATO


- GRAVIDEZ ACIDENTAL

O bilionário Artur Oliveira era um solteiro declarado. O cafajeste não


queria se casar até que o pai o ofereceu algo inesperado.

Ele precisava de uma esposa.


Ela precisava de dinheiro.

Ana Paula vê seu sonho desmoronar quando seu projeto social enfrenta o
risco de fechamento por falta de recursos. À beira do despejo, o destino a
coloca frente a frente com Artur Oliveira, um magnata com um dilema
próprio. Ele decide oferecer a Ana Paula um acordo selado em contrato.

Convencidos de que poderiam manter a farsa por seis meses, não


imaginavam que a atração inesperada desafiasse o acordo e terminasse
numa gravidez.
Desprezada pelo mafioso (Cartel Velásquez Livro
4)

link => https://a.co/d/axtR7wO

Sinopse:

As mulheres são moeda de troca e, a vontade delas nunca é a prioridade


quando se nasce no mundo obscuro dos cartéis. A doce e ingênua irmã
caçula, Alma Velásquez, imaginou que seu brilho seria apagado quando foi
obrigada a casar-se com um homem com o dobro da sua idade.

Adrián Ruiz tinha muitos motivos para odiar os Velásquez. Era culpa do
líder do cartel rival ter ficado viúvo e estar em uma cadeira de rodas, mas
foi obrigado a recuar e aceitar uma aliança diante de um inimigo em
comum.

Ela estava sozinha e assustada.


Ele a desprezava e rejeitava.

Poderia o amor e a doçura de uma jovem virgem derreter o coração de um


homem amargurado? Adrián não queria ser um bom marido para ela, mas
será impossível não se envolver e uma gravidez será inevitável.
O bebê do Magnata (Irmãos Oliveira Livro 1)

link => https://a.co/d/3yT9M5E

Sinopse:

Elisandra era apenas uma garota simples, ingênua e inocente que saíra do
interior para tentar uma vida melhor na cidade grande até o seu caminho
cruzar com o Magnata bilionário Augusto Oliveira.

Ela era virgem.


Ele colecionava prostitutas em sua cama.
Era para ser apenas uma noite, ele sequer disse o seu nome para a jovem,
querendo evitar qualquer envolvimento futuro, porém, o fruto daquela única
ocasião estava prestes a mudar a vida dos dois para sempre.

Augusto era incapaz de acreditar que seria pai, após o fim do seu terrível
casamento. Ele queria se manter longe de qualquer relacionamento, mas o
rosto daquele garotinho foi capaz de derreter seu coração e fazer com que
repensasse as decisões que havia tomado.
Presa ao mafioso (Cartel Velásquez Livro 3)

link => https://a.co/d/ch636ba

Sinopse:

Ela tentou fugir do casamento e vai pagar com o coração.


Miguel Velásquez falhou ao tentar matar o líder do Cartel de Medellín,
diante de um possível banho de sangue, o mafioso viu que a melhor
alternativa era uma aliança forjada através de um casamento arranjado.
Enquanto ele sabia que o preço a se pagar era necessário, sua noiva não
pensava da mesma forma.
Mirelle Ruíz abominava a ideia de se casar com o responsável por deixar
seu irmão numa cadeira de rodas e matar sua cunhada. Ela jurava jamais
conseguir amar alguém capaz de tal crueldade, mas sua opinião não parecia
ser o suficiente para quebrar o acordo.

Pensar em fugir seria apenas o início do seu maior pesadelo, quando Mirelle
perceber que havia confiado na pessoa errada e o monstro com quem iria se
casar era o único poderoso o bastante para salvá-la e mantê-la segura.
Eu errei com elas

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Sinopse:

Ele deixou tudo para trás para ser um juiz, inclusive ela.

Abandonei tudo para me dedicar ao meu maior sonho. Determinado a me


tornar juiz, buscava prestígio, sucesso e dinheiro que eu nunca iria ter
seguindo o caminho dos meus avós naquela cidadezinha.

Ninguém era mais importante que o meu objetivo, nem Janine, minha
sonhadora namorada, que deixei com apenas um bilhete, sem me explicar
ou dar a chance que suas lágrimas me impedissem de partir.

Seis anos se passaram, tornei-me o juiz que havia sonhado, mas com isso
veio a frieza e a solidão. Ainda assim, nada importava até que um
diagnóstico jogou meu mundo no chão, mostrando que dinheiro e prestígio
não importavam.

Decidi ir atrás da Janine e descobri que tínhamos uma filha juntos,


entretanto eu poderia não ter tempo de conquistar o perdão pelo meu erro.
Não seja boa, seja minha!

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ebook/dp/B0CQ7Q2FBS

Sinopse:

MONSTER ROMANCE
ELE É O VILÃO DAS LENDAS DE NATAL.
ELA É UMA MOCINHA INOCENTE.
ELE TEM UMA CAUDA E SABE COMO USAR.
ELE A QUER E TERÁ A QUALQUER CUSTO.

Todos o conhecem por ser o assombroso demônio que pune aqueles que
se comportam mal. Krampus era mau, o terror das lendas natalinas e
ninguém desejava estar na sua lista de crianças más.
Nalu sempre se esforçou para ser uma menina doce, amável e prestativa
que agradava a todos. Abria mão das próprias vontades para ser vista como
boa, mas isso não estava sendo o suficiente.
Krampus sempre a quis, mas ela permanecia longe dos seus domínios.
Entretanto, estava disposto a tudo para tê-la para si, inclusive levá-la para o
mau caminho.
Gavião: O marido que me rejeitava (agents of
S.A.E.W. Livro 2)

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ebook/dp/B0CP742SPT/

Sinopse:

O solteiro mais cobiçado de Londres vai se casar!


O milionário Adan Stanley finalmente anunciou o fim da sua vida de
solteiro cafajeste e a noiva era uma garota irlandesa de origem humilde.
O príncipe e a plebeia, um conto de fadas, ao menos era o que todos
pensavam.
Regina Evans nunca havia se encontrado pessoalmente com Adan, antes de
seu pai tê-lo apresentado como seu futuro marido. Um casamento arranjado
com o homem dos sonhos era inacreditável, mas ela não sabia que só estava
sendo usada.
Adan nunca quis se casar, entretanto o agente secreto da inteligência inglesa
estava disposto a tudo pelo seu país. Seu objetivo era apenas expor uma
célula terrorista comandada pelo pai da Regina, Adan pretendia conseguir o
divórcio antes de consumar a união. No entanto, a pobre garota ingênua não
entende por que o marido a rejeita e, deseja um casamento completo.
Rejeitada pelo antigo amor (Irmãos Baker Livro 3)

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ebook/dp/B0CMC1K5RM/

Sinopse:

AGE GAP – REJEITADA ABANDONADA – BEBÊ POR CONTRATO –


SEGUNDA CHANCE

Keyla Baker carregava consigo um segredo que levaria até o túmulo pela
felicidade daqueles que mais amava. Até que uma doença terrível abalou
tudo e a verdade veio à tona.

Depois de uma gravidez na adolescência, e de ter sido rejeitada e


abandonada pelo pai do bebê, foi obrigada a acompanhar de longe o
crescimento da filha, mas com a doença dela, precisou contar a verdade.
Entretanto, apenas isso não foi o bastante, o sofrimento foi maior ao ter que
reencontrar o homem que mais a machucou.

Para salvar a primeira filha, precisava de outro bebê...

Keyla estava disposta a tudo, inclusive engravidar novamente do cretino


egoísta que só se importava com ele mesmo.
Jonas Bennet só pensava em se dar bem na vida, o viúvo, achava que ter
ficado milionário era a única coisa que importava e não se arrependia de ter
abandonado Keyla. Após tantos anos, ele não havia mudado, e só aceitou ter
outro filho mediante a um contrato que o isentava de responsabilidades com
a criança.

Ele achava que não precisava de amor, mas estava prestes a descobrir o
quanto a sua vida sem uma família era vazia.
Eu sou o pai

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ebook/dp/B0CLC2BBCJ

Sinopse:

Ulisses Weber estava focado em construir a própria carreira. Após se


formar na faculdade, ele só pensava em subir na hierarquia empresarial. Ao
começar a trabalhar para a CEO da Global Solutins, ele não esperava que a
linda mulher fosse ensiná-lo mais do que se dar bem no mundo dos
negócios. Determinado, Ulisses tinha mantido as mulheres em segundo
plano e ainda era virgem, mas sua chefe decidiu ajudá-lo com isso.

Não era certo se envolverem, mas foram longe demais...

Então, ele desapareceu.


Gilcélia achou que Ulisses tinha fugido de tudo e, descobrir que estava
grávida, só piorou as coisas, no entanto, ela não sabia da verdade.

O pai de Ulisses o abandonou quando ele era um bebê e só se arrependeu


quando já era tarde demais para recuperar o filho, porém, ao morrer, deixou
uma herança milionária ao seu único herdeiro. Mesmo odiando o pai, havia
um império que Ulisses precisava administrar.

Os dois não imaginavam que se reencontrariam, mas um evento os


colocou frente a frente. Ulisses só desejava se desculpar por ter
desaparecido, mas descobriu que tinha um filho e de uma coisa estava certo,
não cometeria o mesmo erro do pai.
Os gêmeos rejeitados do mafioso (Cartel Velásquez
Livro 1)

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Vel%C3%A1squez-ebook/dp/B0CJWWJVYH/

Sinopse:

Agda Martins era só uma garota comum, filha caçula de pais amorosos e
estudante universitária até o cara errado cruzar seu caminho. Sexy, com um
sotaque forte e tatuagens, ele parecia apenas um estrangeiro gato numa
festa. Quando descobriu a verdade sobre ele, era tarde demais...

Herdeiro de um dos maiores cartéis do México, Sandro Alberto Velásquez


colecionava inimigos. Entretanto, suas vindas ao Brasil, garantiam um
pouco de normalidade e permitiam que ele baixasse a guarda.
Era para ser apenas um dia de festa com uma brasileira jovem e bonita,
Sandro esperava nuca mais voltar a vê-la, porém, foi o início do pesadelo de
Agda.

Uma transa que acabou numa gravidez inesperada...

Agda tinha medo de quem era o pai de seus bebês, no entanto, ainda assim
decidiu contar para ele, deparando-se com desprezo e rejeição. Porém ser
abandonada pelo homem que a engravidou estava longe de ser o seu maior
sofrimento, pois os inimigos dos Velásquez viriam atrás dela.
A arrogância de Henzel (Os pecadores)

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ebook/dp/B0CHXVZDZD/

Sinopse:

Age GAP – Dark Fantasy – Ela se apaixona pelo vilão — Anjo caído
Deus não aceita os arrogantes em sua presença (Salmos 5.4,5)

Para as pessoas, Henzel Pellegrini não passava de um homem recluso


que controlava a pacata cidade de Bella Colina. Raramente viam o
milionário fora de sua reservada mansão. Contudo, ninguém imaginava o
que ele realmente escondia.

Anna Lombardi só desejava encontrar um lar. A jovem órfã estava


perdida e sozinha. Sua única opção foi se mudar para Bella Colina, onde
havia herdado a casa de sua avó e o único lugar onde teria para morar. Com
apenas um punhado de euros no bolso, ela esperava poder começar de novo.

Henzel abominava os humanos e a mediocridade deles, preferia não os


ter por perto, mas para manter aquela casa enorme, precisava de
empregados. Assim Anna cruzou seu caminho, colocando a soberba que o
fez cair diante da gentileza e humildade de espírito de uma jovem ingênua.

Anna viu a luz nele, mesmo anjo caído fazendo de tudo para afastá-la.
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