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Mônica Cristina

~ 2023 ~
Copyright © 2023 – Mônica Cristina

Domando o Cowboy - Mônica Cristina


1ª Edição

Coordenação Editorial: Márcia Viana


Capa: Raphael Viana
Revisão: Bárbara Pinheiro
Diagramação Digital: VM Diagramações

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
O amanhecer no vale é sempre um espetáculo, tudo que se ouve
são os pássaros e, aos poucos, o orvalho vai dando lugar ao sol e a névoa
vai se dissipando e o calor tomando espaço, os dias quentes e as noites frias.
Eu nasci em Horses Valley, mas minha história acho que começa
muito antes do meu nascimento. O vale é uma cidadezinha pequena no
interior do Texas, cheia de seus princípios e vícios de comportamento e,
para minha mãe, ela parecia não caber seus sonhos, então deixou tudo,
incluindo o amor que sentia por meu pai para ir atrás do sonho e tudo deu
errado, tudo deu errado para ele também, papai queria ser um cowboy de
rodeios, sofreu um acidente e seu sonho ficou pelo caminho, os dois
infelizes cada um num canto do país, até mamãe retornar e os dois se
encontrarem e resolverem as mágoas do passado e a cidade ganhar um novo
jeito de olhar para as pessoas e as coisas.
Mamãe não foi bem-recebida quando retornou, mas sua dor, sua
história, tudo que viveu fez a cidade e meus avós repensarem e hoje ainda
somos um pequeno pedacinho do mundo quase descolado da realidade, mas
já não somos mais tão fechados para as mudanças.
Horses Valley tem seus famosos, Peggy Sue e Guy Montpellier, os
artistas do vale, quando estão aqui, tudo é um alvoroço, mas eu gosto
mesmo é do cotidiano, do amanhecer, das horas lentas do vale, do comum.
Os anos na faculdade foram os mais difíceis, eu queria vir todo fim
de semana e quase consegui, vez ou outra ficava presa em algum trabalho
extra, algum curso de férias, mas o fato é que voltei para casa no dia
seguinte da formatura.
“Você pode ser qualquer coisa, Holly”, “Você pode ir a qualquer
lugar”, é isso que escuto o tempo todo, mas eu quero ficar, neta da prefeita,
filha dos donos do Drunks, o bar preferido dos cowboys, criada livre, dona
de mim, pronta para fazer qualquer coisa e se meus pais tinham sede do
mundo e voaram para voltar com as asas quebradas e os corações partidos,
eu quero os meus pés fincados nesta terra que amo. Este é o meu lugar.
Tomo um gole do café fumegante do jeitinho que gosto e fecho
melhor a jaqueta, deixando a varanda e voltando para cozinha, vovô Butch
toma seu chá enrolado em uma coberta na sua cadeira preferida, beijo sua
testa.
— Tão cedo para estar de pé, vovô.
— Velhos acordam cada vez mais cedo. — Faço careta.
— Eu não vou ser esse tipo de velha — aviso. — Eu nem sei se
vou ficar velha, acho que vou ser sempre assim, jovem.
— Jovem e valente! Como sua mãe. — Ele toma mais um gole do
líquido, as mãos tremem um pouco.
— Atrasamos. — Minha mãe chega à cozinha, apressada. — Noah,
se quiser café antes de irmos, tem que ser já! — ela grita enchendo uma
xícara de café e cortando uma fatia do bolo.
— Vou colocando as malas no carro — aviso.
— Eu faço isso, filha. — Papai chega à cozinha.
— Eu posso fazer, papai, não sou feita de louça — reclamo,
deixando a cozinha, empurro as malas até a varanda, desço os degraus com
uma de cada vez, coloco na caçamba e quando me volto, os dois estão
descendo os degraus.
— Vamos, querida, não podemos perder o voo — minha mãe diz
se acomodando no carro, meu pai vem logo depois dela, senta-se no banco
da frente e eu me coloco atrás do volante.
— Tem certeza de que dá conta do bar? — meu pai insiste e reviro
os olhos.
— Ela dá conta como eu dou conta, sua filha é firme, mais do que
nós dois, quem se meteria a besta com ela? — mamãe me defende, ela me
criou para ser forte e eu sou.
— Sabe que eu amo o Drunks, papai, não se preocupe, coloco
aqueles briguentos para fora no primeiro sinal.
— Isso! — mamãe concorda enquanto dirijo para Dallas.
— Tudo bem, são apenas duas semanas — meu pai enfatiza.
— Quando voltarem, vão trabalhar menos e eu vou cuidar do bar
— digo, decidida. — Não tem discussão, é o que eu quero fazer.
— Eu entendo, anjinho. — Mamãe sempre ri quando ele me chama
assim porque eu sou muitas coisas, mas nenhuma delas se parece com um
anjo. — É que você foi estudar turismo, sua avó é prefeita da cidade, ela te
ofereceu a chance de desenvolver algum projeto turístico na cidade e você
não quis.
— Nepotismo, papai, não quero emprego na prefeitura, as pessoas
falariam, vamos praticar apenas na vida privada, certo? Eu cuido do bar e
meu projeto turístico é este, um bar típico para receber os visitantes. Um
salon como nos filmes de faroeste.
— Mas o Drunks sempre foi assim. — Ele ri.
— Bom, então meu projeto está pronto! Fui estudar turismo para
não me chamarem de ingrata e essa coisa toda, sempre quis ficar e cuidar do
meu patrimônio.
— Quem sabe um cowboy rouba seu coração? — papai me
provoca.
— Tão tem homem para mim nesta cidade, papai, acredite. —
Faço uma careta.
— Nisso eu concordo — minha mãe diz, terminando de arrumar o
cabelo e se maquiando no banco de trás, duas semanas na Europa, a viagem
especial que planejaram há anos. — Quem vai domar o coração da minha
Holly? Eu não acho que um daqueles cowboys seja capaz.
— Boa, mamãe, nem estou pensando nisso agora, ainda quero
viver minha vida antes de encontrar o amor.
— Dá para amar e viver a vida, filha, eu e a sua mãe fazemos isso
há alguns anos. — Olho para ele, se conheço bem meu pai, ele seria o
primeiro a colocar defeito em qualquer homem que eu apresentasse.
— Pai, eu sei qual é o seu jogo, finge me incentivar só para saber
se tenho alguém, mas acredite, não sinto nada por nenhum homem da
cidade.
— Tudo bem. — Ele suspira, alisando a camisa. Afunda o chapéu
na cabeça.
— Papai, você não vai com esse chapéu para a Europa, não é
mesmo?
— O que tem de mais? Sou texano, eu uso chapéu.
— O mundo já vai saber pela bota e a camisa xadrez, papai. — Rio
enquanto ele faz careta. — A mamãe separou umas roupas lindas, vai
destoar.
Agora ele fica preocupado, sorrio, meu pai não vai querer deixar
mamãe chamar atenção por aí sem estar à altura dela. É assim que ele sente
que a protege e marca território.
— O chapéu fica no carro e pego na volta.
— Amo você, Holly! — mamãe me agradece. — Cuide do vovô
Butch, não o deixe fazer tudo que quer, ele anda muito teimoso, qualquer
coisa, chama o vovô Paul.
— Pode deixar. — Eu sei que eles se preocupam, mas eu já sou
uma adulta, não preciso chamar meu avô como se fosse uma menininha
assustada.
— Lolla vai cantar hoje, sabe que o bar fica muito lotado, então se
começar uma briga, se alguém beber além da conta…
— Papai, eles sempre bebem além da conta! — Rio da
preocupação dele.
— Certo, vamos te deixar em paz. — Ele suspira resignado e
agradeço mentalmente. — De qualquer modo, nunca conseguimos controlar
você, porque agora, à distância, seria diferente?
— Bem pensado, papai! Vamos falar de Paris?
A conversa muda o rumo, no fundo, eles estão felizes, eu nunca os
imaginei em uma viagem como esta, acho que meu pai também não, mas
fico feliz que ele se esforce para dar algo assim romântico e diferente para
minha mãe. Os dois merecem uma nova lua de mel e momentos para
recordar.
As despedidas no aeroporto são mais engraçadas do que triste,
temos uma vida feliz, somos uma família unida e isso é o mais importante,
eu aceno assistindo ao casal sumir para a sala de embarque e dirijo de volta
para casa, animada.
Vovô está tomando sol na varanda com um livro e uma cerveja,
coloco a mão na cintura e o observo até que ele me olha, risonho.
— Os velhos foram embora, vamos aproveitar a vida, mocinha! —
Ele ri.
— Tudo bem, vovô, tome sua cerveja, mas lembre-se, não é nem
hora do almoço.
— Eu queria fazer alguma loucura e só pensei nisso. — Ele ri e me
acomodo na mureta da varanda, aspiro o ar limpo do vale, Dallas está cada
dia mais insuportável, nem sei como consegui ficar lá nos anos de estudo.
— E se dermos uma festa, chamamos os idosos da cidade,
colocamos um country antigo e, sei lá, enlouquecemos todos?
— Te amo, minha menina! — ele diz suspirando. — Você é o sol
dessa família, um sol em verão, desses que queima a pele.
— Vocês me amam tanto — brinco, saltando da mureta. — Vou
preparar algo para comermos e depois vou para o bar, volto pela manhã e o
senhor trate de não aprontar muito.
— Deixa comigo! — Ele pisca. Quando chego ao bar, o dia está
quente, acendo as luzes e encaro o salão, o lugar não mudou muito desde
que o meu pai o assumiu, mamãe fez algumas mudanças quando eu era
criança, um novo balcão, com uma madeira mais tratada, o palco que
criaram para Lolla também passou por algumas mudanças e agora tem uma
nova iluminação e um equipamento de som bem moderno.
O equipamento de som foi presente de Peggy Sue, porque nossa
estrela maior se recusa a cantar sem luz e som à sua altura nas visitas que
faz ao vale.
Os primeiros clientes começam a chegar, como sempre, os
cowboys da fazenda Berckman, eles largam o trabalho e sempre vêm beber
e comer para terminar a noite.
O ensopado está pronto, borbulhando na panela na cozinha,
começo a servir os pratos e, claro, algumas cervejas e drinks mais fortes.
Lolla Queen chega com seu vestido esvoaçante, num lilás cheio de
vida, com um turbante elegante e brincos dourados, as unhas bem-pintadas
e o sorriso que ilumina o ambiente.
Trocamos umas palavras e ela vai passar o som, os homens se
acomodam em mesas para assistir, um casal entra e duas mulheres vêm em
seguida, o bar começa a lotar, fico atrás do balcão, nos dias comuns, sem
show, até servimos nas mesas, mas quando Lolla vem cantar, é cada um por
si e os clientes devem vir ao balcão pedir e receber a bebida.
A voz de Lolla é um espetáculo, eu ainda digo que ela devia estar
brilhando nos palcos mundo afora, mas isso todo mundo diz e sua resposta
é que ela é feliz cantando aqui quando tem vontade e seguindo a vida que
escolheu.
Adoro cantar, ela diz que tenho muito talento, mamãe também
canta um pouco e vovó Judith tem uma voz linda, mas eu nunca quis ser
cantora, eu só me divirto cantando sozinha quando estou feliz e às vezes,
quando Lolla insiste muito.
— Mais um, Holly! — Person me pede.
— Está aqui desde que eu abri, não acha que chega por hoje? —
Ele balança a cabeça negando, reviro os olhos, Person é um bom homem,
velho amigo do meu pai. — Ok, você bebe e eu bebo, vai me deixar bêbada
— digo, enchendo seu copo e um novo que viro num só gole depositando o
copo no balcão e dando de cara com um bonitão que eu nunca vi antes
parado ao lado do Person.
O homem é lindo, típico cowboy, camisa xadrez, chapéu, fivela, se
me dobrar sobre o balcão, talvez possa ver as botas e, quem sabe, até
esporas.
— Mais uma, Holly, a última — Person pede.
— Eu avisei! — exclamo, enchendo seu copo e o meu, viro e ele
faz careta.
— Venceu, eu vou embora — ele resmunga, deixando o bar e logo
atrás do cowboy gato surge Mike Berckman.
— Cai fora! — digo ao garoto que revira os olhos.
— Olha como fala, moça! — o cowboy se intromete e meu olhar
encontra o dele, não sei qual dos dois com mais desprezo, bonito e idiota, é
tão óbvio.
— Fora! — insisto com Mike.
— Ei, já mandei ter cuidado como fala! — ele repete irritado e eu
podia atirá-lo na calçada se não estivesse lidando com Mike e sua
imprudência.
— Eu falo como quiser e a porta está aberta, é só ir embora.
— Eu não vou embora! — ele me desafia e que se dane, pagando e
consumindo, pode fazer o que quiser.
— Mike, fora! — Ignoro o encrenqueiro e me concentro em Mike.
— O tio Noah não está na cidade, deixa eu ficar, Holly!
— O tio Shane está e o xerife também!
— Tio? — o cowboy defensor de idiotas se intromete, surpreso. —
São parentes?
— Não! — respondemos juntos. Salto pelo balcão, Mike é muito
teimoso. — Vem, Mike, dá tchau para o seu amiguinho idiota — peço, o
segurando pela camisa.
— Por favor, Holly, a Lolla está cantando.
— Você não liga a mínima, Mike! — Rio enquanto cruzo o salão o
puxando pela gola e o deixando do lado de fora.
— Eu não pretendia beber nada, só vim com o Nat, ele é novo na
cidade, eu quis ser legal.
— Mike, uma vez por semana você tenta entrar no bar, quer que eu
ligue para o tio? Pior, para a tia?
— Droga, Holly, você é insuportável! — ele avisa me dando as
costas e montando para partir. — Volto com vinte e um.
— Acredite, o Drunks vai dar uma festa nesse dia! — Sorrio
voltando para dentro do bar, o homem que antes o defendia e que é lindo,
mas insuportável, agora está em uma mesa, ouvindo Lolla.
Quando passo em direção ao balcão, ele faz sinal me chamando e,
claro, eu ignoro e pulo para dentro do balcão mais uma vez, posso ouvir a
voz do meu pai dizendo para passar pela portinhola que eu não sou um
cowboy em um rodeio.
Volto a servir, o homem fica balançando a mão vez por outra como
se estivesse a me chamar, ele acha mesmo que vou deixar o balcão para
atendê-lo? Não seria assim tão ridículo. Só pode estar me provocando.
—Tommy, ainda tem um pouco de ensopado, o que acha de eu te
servir um prato? — pergunto ao cowboy já tropeçando nos próprios pés.
— Quero não — ele avisa virando a cerveja e se encostando no
balcão. — Quando o Noah volta?
— Demora, vai ter que me aturar.
— Você é uma belezinha, Holly, muito melhor que o seu pai, pelo
menos encanta o salão. — Reviro os olhos e depois sorrio. — Quando é que
vai arrumar um namorado? Estou disponível.
— Que graça! — Encho seu copo outra vez com conhaque
enquanto ele toma mais um gole da cerveja. — Não tem homem para mim
neste lugar. — Meus olhos seguem quase que involuntariamente na direção
do cowboy folgado, ele aproveita para erguer a mão me chamando, é tão
irritante, quem me conhece sabe que paciência não é uma virtude que tenha
nascido comigo, a questão é, ele não me conhece.
Salto outra vez pelo balcão, Lolla está terminando a canção e
aproveito para ir ao palco, Jay está na primeira cadeira, como o marido
apaixonado que é, sorri feito um bobo.
— Posso? — peço a ela o microfone, ela faz uma mesura dando
um passo para trás. — Pessoal! — Ganho quase todos os olhares, o dele em
especial, com os braços cruzados no peito e cara de poucos amigos, como
se um olhar desses pudesse me assustar. — A bebida e a comida são
vendidas exclusivamente no balcão, quem quiser atendimento especial,
deve, por favor, procurar o próximo bar, porque aqui é assim que funciona.
— Eu me afasto do microfone, depois retorno para um último recado. —
Ops! O próximo bar fica em Dallas! — Aponto a porta e quando penso em
deixar o palco, Lolla me segura.
— Ninguém sobe no meu palco e desce sem cantar. — Balanço a
cabeça negando.
— Lolla, está lotado! — Aponto o balcão com as pessoas à minha
espera.
— Quem quer ouvir a Holly? — ela pergunta ao microfone e tem
aquela algazarra que conheço bem, todos velhos amigos, gente que me viu
crescer e, claro, vão entrar no jogo.
— Ok! — Sorrio sem condições de dizer não. — Minha música. —
Pisco para Jay que vem tocar guitarra e me acompanhar, Lolla ri gostando
da brincadeira, aproveita para tomar um gole do seu vinho. — “Let’s go,
girls.” — As garotas do bar vêm para frente do palco cantar comigo. Shania
Twain sempre foi um ícone por aqui, mamãe já cantava é o que costumo
cantar. — A melhor coisa em ser mulher é a prerrogativa de poder se
divertir… — Meus olhos seguem até o cowboy que assiste sem expressar
qualquer reação. — Quero ser livre e sentir o que eu quiser….
Quando a música termina, os aplausos me fazem rir e volto para o
bar para uma fila de pedidos e quando finalmente estão todos servidos e
Lolla está em suas últimas canções, o cowboy se aproxima do balcão,
parece que eu venci, penso, olhando para ele com um sorriso provocador.
— O que vai querer, cowboy?
— Por enquanto uma cerveja!
Nat
Que garota linda e insuportável, o jeito como ela cantou olhando
para mim, me provocando, o jeito como colocou Mike para correr do bar e
como atende a todo mundo e ainda bebe com os cowboys, eu não sei, eu
acho que nunca vi ninguém assim.
Sinto uma curiosidade estranha, vontade de saber dela e, ao mesmo
tempo, uma irritação sem fim só com a sua presença.
Ela me entrega a cerveja, eu comecei isso, tenho que admitir,
primeiro me metendo numa briga que não era minha, depois provocando,
sentado à espera que ela viesse me servir.
Jurava que ganharia essa, mas que nada, ela me deixou feito um
idiota com a garganta seca e cansado de esperar, eu tive que vir. Ela pode
até estar ganhando essa partida, mas o jogo segue.
Seus olhos são quentes, o modo sensual e provocador com que me
encara me deixa um tanto tonto. Tiro o chapéu um instante, passo a mão
pelo cabelo e coloco o chapéu de volta, termino a cerveja, ela já está
servindo outro, depois deixa o balcão para se despedir da artista, os outros
ficam, a noite parece que vai longe.
Eu tomo mais uma cerveja, ela me serve enquanto serve um
conhaque a outro que eu não conheço, com certeza não é da fazenda dos
Berckman.
Quando vim para Horses Valley, atrás de emprego na maior
fazenda da região, não esperava nada além de trabalho digno no que amo,
cavalos, mas encontrei gente boa e honesta, um dos melhores patrões que já
tive.
Fiquei surpreso com o poder que Gwen tem sobre os cavalos, já vi
muito domador, mas como dizem por aqui, ela é uma encantadora de
cavalos e isso é para poucos.
Qualquer noite dessas, saio atrás do tal cavalo fantasma, Estrela da
Noite, Mike jura que o viu e adora contar essa história, passou a noite com
o cavalo, os Berckman confirmam, mas a verdade é que ninguém tem
certeza e quero descobrir sozinho.
Uma confusão começa perto das três da manhã. John e um homem
que não conheço, talvez de outra fazenda, os dois discutem e quando o
primeiro soco acerta John, a coisa fica feia, mas o engraçado é que os
homens olham quase que ao mesmo tempo para o balcão e sigo os olhos de
todos, assisto quando ela salta pelo balcão, linda em um jeans colado e
botas de cano longo e sensual.
A mulher é um monumento, linda, olhos faiscando, é de perder o
fôlego e os caminhos se abrem para ela chegar à briga e pegar John e o
outro pelo colarinho, rio quando me dou conta de que nenhum deles reage
enquanto ela os arrasta para fora.
— Já disse que no meu bar, não! — ela avisa voltando para dentro
enquanto finge limpar as mãos e os homens riem, animados, olho pela
janela, os dois cowboys rolam no chão de terra do lado de fora, é como um
velho filme de faroeste, ninguém vai se meter, a noite simplesmente
continua e fico espantado.
No fim, depois de uns momentos atordoado com o que vi, ainda
assisto aos dois homens se ajudarem a ficar de pé depois das trocas de socos
e caminharem juntos.
Embora pareça que ela se acha muito poderosa e que os homens
por aqui demonstram respeito, eu não sei se é confiável deixar essa mulher
sozinha aqui.
Às quatro, os homens começam a sair, acho que alguns vão
inclusive direto para o trabalho, porque embora seja domingo, existem
trabalhadores que precisam cumprir tarefas não importa o dia.
Os bares não costumam ficar até tão tarde, mas ela está animada
atrás do balcão, e eu me aproximo.
— Chega por hoje, cowboy, o bar está fechando — ela avisa sem
erguer os olhos, lavando copos.
— Não tenho intenção de beber mais. — Holly ergue os olhos, é
bonita feito o diabo, do tipo que enlouquece um homem.
— Ah! Você! — comenta com desdém.
— Nat — eu me apresento.
— Ok, Nat, boa noite! — Ela indica a porta.
— Moça, você não tem um pingo de educação!
— Eu disse boa noite! Fui mais educada do que merece, você
tentou me irritar a noite toda.
— O que não parece ser muito difícil. — Rio, a irritando ainda
mais, não consigo evitar, ela é linda, e brava fica um estouro.
— Se já entendeu isso, por que insiste? — me pergunta, secando as
mãos e indicando a porta. — Se puder sair sem que eu tenha que arrastá-lo,
agradeço. — Toco o chapéu em despedida, giro nos calcanhares e deixo o
bar, do lado de fora, eu me encosto no pilar, assisto um a um todos os
últimos clientes deixarem o bar, alguns precisando de ajuda, rindo,
acendendo cigarros, entrando em carros, motos, montando cavalos, até que
tudo silencia, ela vai ficar sozinha aqui, com o dinheiro todo que ganhou
esta noite?
Cruzo os braços, posso não ser gentil, mas não sou canalha, posso
acompanhar a moça ou pelo menos ficar de olho até ela voltar. O cavalo
está tranquilo, dormindo perto do bebedouro.
Escuto sua voz cantarolando do lado de dentro, rio me lembrando
do show que deu no palco enquanto tentava me provocar.
Quando a porta abre e ela deixa o local, vejo seu sobressalto, pelo
menos não é tão tola e irresponsável como pensei, ela está alerta.
— É sério, cowboy? Pensei que tinha sido clara.
— Moça, só achei seguro esperá-la, está escuro e vazio. Aliás, o
prefeito desta cidade podia dar um jeito de cuidar melhor do lugar, isso
parece o velho oeste. Não que se possa esperar algo de políticos, são sempre
sem caráter.
— A prefeita é minha avó! — Ela ergue uma sobrancelha, se acha
que isso me constrange, está enganada.
— Pior ainda, ela não sabe que você fica aqui sozinha no meio da
noite? Por que não ilumina melhor a região?
— Por que você não cuida da sua vida? — Holly diz cruzando os
braços. — Há quanto tempo está na cidade, umas horas?
— Uma semana, gosto do trabalho, amanhã… quer dizer, hoje é
minha folga e o Mike me indicou este lugar.
— Se está todo esse tempo na cidade, já devia ter percebido que a
cidade é muito bem-cuidada e que isso aqui é proposital, temático, não se
deu conta, porta duplas, bebedouro para cavalos, é um bar country das
antigas.
— Ah! Puxa, que grande ideia! — Sou irônico. — Enquanto isso,
se arrisca?
— Moro na esquina, cowboy, não seja tolo, isso é Horses Valley,
nunca tivemos um único assalto na região. — Ela começa a caminhar e eu a
sigo.
— Tem sempre uma primeira vez, pode chegar um forasteiro.
— Como você? — Ela se volta. — Escuta, se quer me assaltar, vá
em frente, estou com pressa e quero dormir um pouco, se puder parar de
rodeios e ir direto ao ponto.
Minha gargalhada ecoa pela rua silenciosa e vazia, ela se irrita, os
olhos faíscam enquanto eu me aproximo dela.
— Moça, quero muitas coisas, nem imagina, mas nenhuma delas
inclui o seu dinheiro. Já a sua boca…
— Prefiro o assalto! — Ela ergue o queixo, me enfrenta e isso me
provoca muitas reações, ela me irrita e ao mesmo tempo me encanta, esse
queixo erguido, os olhos firmes, a coragem, o modo como me desafia.
Parece implorar pelo beijo, uns centímetros de mim e eu nem sei como é
que chegamos tão perto um do outro, quase posso sentir o seu desejo, o
calor dos olhos, os lábios perfeitos e semiabertos à espera do beijo, não
desta vez, não depois de ter me provocado a noite toda, me feito ir até ela,
me ignorando como fez. Ela fez o primeiro ponto, agora é a minha vez.
— Não! Hoje não! — Toco outra vez o chapéu e desta vez, sou eu
a dar as costas a ela e caminhar em direção ao cavalo que ficou na porta do
bar.
— Vá para o inferno, cowboy!
— Nos encontramos por lá! — grito sem olhar para trás, sorrio, me
dando conta de que eu consegui irritá-la. Monto e cavalgo de volta ao
alojamento da fazenda com o sol nascendo e colorindo o céu em uma paleta
de cores de perder o fôlego. Holly, essa garota é mesmo um perigo.
Holly
Quem esse idiota pensa que é? Ele acha mesmo que pode me
provocar assim e não vou revidar? Ele que aguarde.
Vovô está dormindo quando chego, eu vou para cama com o dia
amanhecendo. Nos outros dias da semana o bar fecha muito mais cedo, mas
aos sábados e, em especial, quando Lolla canta, o bar praticamente fica
aberto a noite toda.
Quando me levanto, perto da uma da tarde, vovô está na cozinha,
aquecendo o almoço, ele ainda é um homem forte, mas por pura
preocupação, meu pai o convenceu a vir morar conosco, sua casa está para
alugar, não que tenha muitas propostas, somos uma cidade pequena e estão
todos bem acomodados.
Já pensei em me mudar, eu devia fazer isso, mas gosto de dividir as
tarefas com eles, ajudar com o vovô, ficar no bar quando eles querem uma
folga. Meu futuro é cuidar do bar, é o que eu quero para mim, gosto de estar
lá, de conversar com as pessoas, da música, de inventar drinks e receber os
visitantes, gosto de viver minha vida do meu jeito, e meus pais me dão essa
liberdade. Talvez seja parte da história deles, de toda liberdade que lhes foi
roubada e que os levou a cometer certas tolices, papai sobre um cavalo, no
acidente que o fez abandonar seu sonho; mamãe fugindo para Nova York e
vivendo tantas tristezas, já falamos sobre isso algumas vezes, sobre o bebê
que ela perdeu, sobre como eu sou importante para eles.
— Seus pais ligaram, chegaram bem, sua mãe está muito feliz e
seu pai cansado. — Sorrio, beijando o rosto do meu avô.
— Que bom, vovô. Essa comida está com cheiro bom.
— Minha neta que fez ontem. — Ele sorri.
— Você tem muita sorte, essa menina vale ouro. — Vovô me beija
a bochecha, arrumo a mesa e nos sentamos para comer juntos. — Acho que
eu vou dar um pulo na casa da Gwen.
— Ah! Faça isso, vá passear um pouco, antes de abrir o Drunks.
— Foi uma noite boa — aviso, mesmo ele não estando
preocupado. — Encheu, Lolla cantou, ganhamos algum dinheiro.
— E o que mais, está com uma carinha de que tem mais. — Dou
de ombros.
— Mais nada. — O rosto de Nat não sai da minha mente. — Quer
dizer… teve um cowboy.
— Uou! Um cowboy?
— Vai com calma, não vem nenhum elogio, eu vou criticar o
idiota, acredita que ele ficou me esperando, achando que eu corria risco, é
novo na cidade, intrometido, como se eu precisasse de segurança, e ainda
insinuou que eu queria um beijo dele.
— E queria?
— Vovô! — ralho com ele, indignada, ele ri.
— Fez cara de que queria. — Meu queixo cai.
— Eu nem tenho essa…. essa… expressão, que ideia.
— Pareceu ser um bom rapaz, se preocupou com sua segurança.
— Um machista, me achando incapaz, é isso que ele foi — digo só
por implicância. — Vamos comer?
— Sim. — Ficamos em silêncio até o fim do almoço. — Lavo a
louça, vá ver o cowboy.
— O quê? Eu não vou ver cowboy nenhum, eu disse que iria até a
Gwen.
— Eu ouvi e aposto como o novo cowboy trabalha para o Shane.
— Faço careta. Beijo meu avô.
— Você está muito chato hoje. Te vejo mais tarde. — Coloco o
chapéu e sigo para a caminhonete. — Vou direto para o bar, te vejo na volta
— aviso enquanto ele me acena da varanda.
A fazenda é a coisa mais linda que eu já vi, bem-cuidada, com
flores próximo às escadas da varanda, um verde infinito e os cavalos a
pastar livres pelo campo, ao menos parte deles, vejo alguns peões
trabalhando, mas de longe, eu não saberia dizer se Nat está entre eles. Gwen
vem me receber, desce os degraus sorrindo animada, me abraça.
— Já soube que colocou o Mike para correr, o que eu faço com o
meu filho?
— Você doma cavalos selvagens, domou o Jimmy que dizem que
era terrível, vai dar jeito no Mike. — Passo meu braço pelo dela. — Não
vou demorar, vim só… dar uma volta, mamãe ligou, chegaram bem.
— Eu falei com ela — Gwen me conta.
— Pensei em… sei lá, cavalgar um pouco. Vamos? Está ocupada?
— Não! — ela diz, sorrindo. — Vou adorar, vem. — Seguimos em
direção aos estábulos. — Os meninos foram pescar com o pai e ainda não
voltaram, eu detesto pescar, o processo é silencioso e lento demais para
mim.
Vejo Nat encostado na cerca, ele assiste a alguns homens treinando
cavalos ou qualquer coisa assim, eu não entendo nada da vida em uma
fazenda de cavalos.
— Ah! Que droga, esqueci uma panela no fogo. — Gwen leva a
mão à testa. — Nat! — antes que eu possa reagir, ela o chama e nossos
olhos se encontram, o sorriso cínico dele me irrita. — Pode selar um cavalo
para a minha amiga. Acho que se conheceram ontem. — Ela me sorri. —
Holly, esse é o Nat, eu encontro você — ela me avisa, partindo quase
correndo e eu simplesmente sei que ela está armando para me deixar
sozinha com ele e quero sumir com a minha burrice, é claro que o Mike
abriu a boca e insinuou coisas e essa droga de minicidade já deve estar
marcando a data do casamento.
— Boa tarde, moça, veio atrás do cavalo ou do beijo?
—Do beijo, é claro! — digo, só para ver o que ele faz e é difícil
não rir quando ele quase parece que vai desmaiar, ele não esperava por essa.
Seus passos são firmes em minha direção, assim que se recupera
do choque, sua mão direita me envolve a cintura, ele cola seu corpo ao meu
e tem pegada, isso não posso negar, além de um perfume masculino de
deixar qualquer uma doida, os olhos são escuros e estão quentes, seus lábios
se aproximam, decididos, e quando está a milímetros dos meus, eu coloco
minha mão sobre eles, impedindo o beijo.
— Pensando bem, prefiro o cavalo! — aviso com um sorriso
vitorioso, ele me solta imediatamente, os olhos em chamas, mas o meio-
sorriso de quem sabe que a bola agora está em meu campo.
—Está brincando com fogo, Holly, cuidado! — ele me alerta, se
refazendo do choque, eu alargo meu sorriso. Passo por ele, erguendo o
queixo, e caminho uns passos, provocando, me volto quando ele continua
parado.
— Virou estátua? Está com medo de mim, cowboy? Gwen pediu
para selar um cavalo.
— Está indo para o lado errado! — Ele aponta a construção mais à
esquerda e torço o nariz, é o fim da minha cena de cinema. Peggy Sue teria
ficado orgulhosa, tinha ficado ótimo, eu devia ter calculado melhor, volto
até sua direção e seguimos os dois para o lado certo, ele rindo de mim, que
humilhação.
— Sabe montar ou devo selar uma ovelha para não passar
vergonha?
— Monto tão bem quanto qualquer Berckman — aviso de queixo
erguido e é verdade, eu cresci por aqui e meu pai me ensinou a montar.
— Callan não tem muito talento! — Ele ri e tenho que concordar,
não é o mundo dele, mesmo assim, ele sabe se virar sobre cavalos. Assisto,
calada, enquanto ele ajeita a sela do cavalo e me oferece a mão para montar,
mas ignoro, montando sozinha e puxando as rédeas para me afastar feito
uma idiota mal-educada, acontece que eu não consigo, então me volto.
— Obrigada, Nat! — Sorrio e ele toca o chapéu em resposta, ele
podia parar com isso, coisa mais sexy esse toque no chapéu com olhos
penetrantes.
Cavalgo por meia hora, claro que Gwen não aparece, nem
ninguém, porque ela me quer sozinha com o cowboy e eu bem que gostei da
chance. Volto pensando no Drunks, tenho que descer as cadeiras, organizar
a cerveja e abrir, porque é domingo e os rapazes adoram passar a tarde por
lá.
Nat está conversando com Shane que me sorri, vindo me ajudar a
saltar, ganho um beijo na testa que me faz sentir meio infantil, mas é de se
esperar, ele me viu crescer e sempre foi carinhoso, podia ser pior, podia ser
o Mathieu que pensa que eu não cresci ainda e me trata como criança.
— Tudo bem? — ele me pergunta estranhando minha visita.
— Sim, vim cavalgar um pouco para relaxar, agora vou abrir o
Drunks.
— Certo, está tudo bem por lá? Mike…
— É, ele continua a tentar. — Rio com Shane. — Vamos dar uma
festa para ele quando fizer aniversário, promete? — Shane revira os olhos
enquanto concorda.
— Certeza! Agora escute, se precisar de alguma coisa, se um dos
meus homens te der problemas, avise, eu prometi ao seu pai que deixaria
todos eles na linha, embora você faça isso melhor que eu, terminou com
uma briga ontem, não foi?
— Eu não, tio, eu só os coloquei para brigar lá fora — conto,
achando a coisa toda engraçada. — Foram embora juntos.
— Bom, hoje é domingo, vem muita gente de longe e os meus
rapazes sempre querem marcar território, me liga se precisar.
— Pode deixar.
— Nat, você que é o mais sensato dos cowboys, vai ao Drunks? —
Eu não acredito que ele vai fazer isso, Nat também pressente pelo modo
como sorri.
— Vou, aliás, já estava de saída, mas ela chegou, então eu entendi
que o bar está fechado.
— Perfeito! — tio Shane comemora. — Ajude a Holly se precisar,
pode quebrar uns narizes se os rapazes passarem do ponto, mesmo que a
minha Holly aqui já tenha feito isso uma vez.
— Tio! — Nat me olha, surpreso.
— O homem achou que podia tentar beijá-la sem consentimento,
trabalhava para mim, ela acertou feio o imbecil.
— Entendo, então quando ela não quer um beijo, ela quebra o
nariz! Agora faz todo sentido — Nat me provoca e meu tio não compreende
e não se importa. Eu me estico, beijo seu rosto para fugir antes que ele
conte algo pior.
— Tenho que ir, tio, fala para a Gwen que não pude esperar.
— Tudo bem. Nat, vai com ela, na volta vem de carona com
alguém, tem sempre uma carona para voltar.
— Com todo prazer, chefe, mas só se a moça concordar, não quero
meu nariz quebrado.
— Nem todos valem o esforço. — Aponto o carro. — Pode vir. —
Ele me acompanha, se acomoda na caminhonete ao meu lado e ficamos em
silêncio até deixar a fazenda.
— Horses Valley é uma cidade peculiar — ele diz enquanto acelero
em direção a ela. — Eu sinto que todos se conhecem da vida toda, que a
cidade ficou perdida no tempo.
— Nem tanto, as coisas mudaram muito, é o que dizem. Shane já
foi alguém que não era bem-vindo, as pessoas tinham um olhar ruim para
minha mãe quando ela voltou, depois de ter ido tentar a sorte na cidade
grande, sei lá, muita coisa mudou, as pessoas evoluíram.
— Não foi uma crítica, eu estava atrás de paz quando escolhi este
lugar.
— Paz? Isso eu já não sei, aqui todo mundo sabe da vida de todo
mundo e todo mundo tem sempre uma opinião, um palpite, mil certezas.
— Não me importo com isso, só quero alugar uma casa, seguir
meu trabalho na fazenda.
— Pensei que estava morando no alojamento por escolha. — Ele
balança a cabeça negando.
— Nem pensar, aquele lugar é horrível, os caras ficam num entra e
sai o tempo todo, quero paz, realmente paz.
— Já entendi, quer casar e criar filhos e raízes! — Eu me odeio por
questionar isso, fica tão claro o que quero saber que aperto o volante com
raiva de mim.
— Não! Eu nem acho que exista uma mulher no meu estilo por
aqui, quero paz também sobre isso.
— Quanta arrogância! — digo agora brava com ele. — Por que
acha que as mulheres daqui não servem para você? Temos mulheres
incríveis nesta cidade.
— Não quis te ofender. — Ele ri. — Estou apenas dizendo que eu
não quero me envolver com ninguém, eu só quero viver a minha vida e que
aqui, um envolvimento acabaria gerando falação e como não quero
compromisso…
— Nisso está certo! — concordo, sem vontade de admitir. Ele me
olha como se estivesse me estudando. — O que foi?
— Por que uma mulher bonita como você está sozinha?
— Quem disse que eu estou sozinha? — pergunto só de raiva dele,
não quero me expor, ele já disse que não tem mulher aqui para ele, então
que se lasque sem saber mais sobre mim.
— Pobre homem! — ele diz rindo quando estaciono na frente do
Drunks, deixo o carro ainda mais brava, dou a volta e fico de frente para ele
assim que deixa o carro e bate a porta.
— Por que ele seria um pobre homem por ficar comigo? — Cruzo
os braços no peito exigindo uma resposta.
— Seria? Então ele não existe?
— Não respondeu minha pergunta.
— Holly, eu quase te beijei ontem, teria beijado se eu quisesse,
estava disposta e hoje você foi até a fazenda me provocar. Então, se tivesse
um namorado e eu não acredito que tenha, ele seria um coitado.
— Presunçoso. Eu não tinha planos de beijar você e se tivesse, eu
teria beijado, pode ter certeza disso.
— Ah! Então quer dizer que estou em suas mãos e eu é que sou
presunçoso? Moça, você é linda, mas não estou interessado, não nos
beijamos porque eu não quis. — Meu queixo cai com a provocação, eu
detesto esse cara e mais ainda porque no fundo eu tenho que admitir que
talvez ele tenha razão, descruzo os braços e apoio as mãos na cintura, ergo
meu queixo e o encaro fundo nos olhos.
— Está me desafiando, cowboy, e eu ainda vou te ver implorar por
um beijo meu. — Dou as costas enquanto ele ri e caminho em direção ao
bar, começo a abrir enquanto ele me segue para dentro, acendo as luzes e
ele começa a descer as cadeiras, que seja, se ele quer ajudar que ajude, eu
vou fazer esse idiota implorar por um beijo. Ele vai saber que não se
provoca Holly Anderson Smith.
Nat
Ela não precisa fazer qualquer esforço para me fazer beijá-la, só de
existir já me deixa tonto, mas é impossível evitar a satisfação que sinto em
provocá-la, tirá-la dos eixos.
Não é preciso ser nenhum gênio para saber que ela tem tudo que
quer, é mimada, e que nenhum dos caras da cidade vai chegar até ela
beijando o chão que ela pisa, Holly gosta de desafios e eu dei isso a ela,
agora é com ela, vamos ver até onde ela pode ir com isso. Estou pronto para
o jogo.
Antes de terminarmos de descer as cadeiras, dois cowboys chegam
juntos, eles se acomodam em uma mesa e ela vai até eles.
— Boa tarde, rapazes. O que vão querer? — Os dois se olham.
— Música e uísque, ela me deixou! — um deles avisa e Holly puxa
uma cadeira enquanto fico do balcão, esperando para ser atendido.
— É sério, Bill, como foi? Eu disse que estava sendo idiota. Você
não me ouviu.
— Ele ouviu, mas não consegue evitar ser idiota, é a natureza dele
— o outro diz, ela dá um empurrão em seu ombro.
— Não seja malvado, Frank. Bill, eu vou colocar a música e trazer
o uísque, mas acho que você precisa é ir atrás dela e ainda hoje.
Ela deixa a mesa da dupla, vai buscar os drinks, me ignora por
completo, como se eu não fosse um cliente em busca de uma bebida, me faz
sorrir, ela simplesmente ganha minha atenção me ignorando, desafiando,
provocando.
Ela ganha minha atenção existindo, em especial dentro desse jeans
apertado e com essas botas.
O bar enche, Bill parece decidido a seguir seu conselho e vai
embora, Frank me paga uma cerveja e ficamos conversando sobre o
trabalho, ele me conta histórias sobre o vale e sobre Holly, como sua família
domina a cidade há décadas e de como ela não se envolve em política, mas
não sabe nada da vida amorosa, se ela teve alguém, é de fora da cidade e
não duvido que tenha tido, ela é bonita e interessante demais.
É perto da meia-noite quando as pessoas começam a ir embora e
decidido a deixá-la irritada, eu me junto aos homens que estão voltando
para a fazenda na intenção de ir antes que ela feche só para perturbá-la e
fazer com que pense em mim.
— Está apressada hoje, Holly! — um desconhecido brinca quando
ela começa a erguer as cadeiras.
— Esqueceu que não abrimos amanhã? Hoje, a noite é minha e eu
estou indo para Dallas.
Dallas? Quase meia-noite e ela vai dirigir sozinha para Dallas? O
que tem lá que a interessa?
— Claro, faz bem, tem uns bares muito bons por lá — o homem
diz antes de deixar o bar com os clientes que estão partindo.
Um casal aos beijos na mesa do canto é quase esquecido quando
ela começa a apagar as luzes e Frank me puxa para ir embora, enquanto
tento pensar em uma desculpa para não ir.
Do lado de fora, eu caminho lentamente para a caminhonete
estacionada ao lado da dela. Podia me oferecer para ir junto, mas não vou
dar a ela esse gostinho.
— Boa noite, rapazes. — Ela me sorri diretamente, pisca e entra na
caminhonete, depois simplesmente dirige para fora da cidade.
— Ei, quer carona ou não? — Frank insiste e eu me obrigo a entrar
no carro.
— O que acha da Holly indo sozinha para Dallas a essa hora?
— Aqui não tem muita diversão, é o bar do Noah ou Dallas,
normal gente jovem dirigir até lá para se divertir, todo mundo faz isso.
— Sozinha? — Frank me olha enquanto dirige, eu desvio o olhar
tentando fingir que não me importo.
— Holly sabe se cuidar e vou dizer uma coisa, se está interessado
nela é bom saber que ela não aceita cabresto, ela é como você, não andou
por aí dizendo que é um lobo solitário e que não quer mulher te dizendo o
que fazer?
— Sim.
— Então deixa a garota em paz, porque essa daí vai te dizer o que
fazer o tempo todo.
E se eu quiser alguém que me tire do sério, que me diga o que
fazer e que traga um pouco de tensão à minha vida? Em alguns meses,
completo trinta anos, meus pais já se foram, meu irmão mora longe e tem
uma vida completamente oposta à minha, com filhos, uma esposa e um
trabalho em um conglomerado em Nova York, passa seus dias olhando para
janelas e concreto, tomando café e reclamando da bolsa de valores, mas este
lugar, o jeito como Holly vive e que se encaixa no jeito que eu vivo, isso é
bem diferente, isso faz sentido.
— Perdeu a língua? — Ele me desperta e sorrio, negando. — Ah!
Você quer mesmo alugar uma casa?
— Sim, eu preciso.
— Então devia falar com o avô dela, o velho Butch tem uma casa
quase em frente ao bar, ele deixou o lugar para morar com o Noah, colocou
a casa para alugar.
— Em frente ao bar? — Sorrio pensando no quanto ela ficaria
furiosa. Quem sabe eu procuro o avô e alugo a casa.
— Sim. Noah casou e depois de um tempo ele e a Harper
construíram a casa que moram hoje, fica perto.
— Eu sei, vi a Holly indo embora caminhando.
— Pois é, mas o velho Butch morava em frente ao bar, era lá que
cozinhavam o ensopado antes, mas… agora o bar modernizou, tem uma boa
cozinha.
— Vou pensar nisso — digo, me encostando no banco do carro,
não consigo deixar de pensar nela sozinha em Dallas.
Holly fica invadindo minha mente a noite toda, é a coisa mais
estranha que já me aconteceu, nunca fiquei tão interessado em uma mulher
como estou interessado nela, mudando de pensamento o tempo todo.
Eu nunca quis ninguém, mas agora eu já não tenho certeza, o plano
era perturbá-la, dar corda para vê-la achando que podia me domar e me
pego pensando se, no fundo, não é isso mesmo que eu quero.
Só queria mesmo provar meu ponto e vencer, agora o jogo virou,
sou eu que não consigo tirá-la da cabeça, é bem feito, fui cutucar e agora
preciso aguentar o tranco.
Sou um dos primeiros a chegar ao trabalho depois da noite
infernal, Mike vai me ajudar hoje e quem sabe ele tem mais informações
sobre Holly, o garoto é falador, animado e cheio de histórias e é bom em
contá-las, está sempre prendendo a atenção de todos com a conversa de que
é amigo do Estrela da Noite.
— Conhece a Holly desde criança?
— Vida toda — ele diz enquanto cuidamos do couro das selas
limpando e pendurando na cerca depois de hidratados. Tem uma fila delas
para limpar. — Nos vemos pouco porque agora estou estudando em Dallas
e só venho mesmo nas férias e fins de semana, como quando ela estava
estudando.
— Ela também estudou lá?
— Sim, teve uns namorados por lá, quando eu comecei, ela estava
terminando e até saímos juntos em turma umas vezes, lá ela não ficava
implicando que eu não tinha idade.
— Não é o bar dela que seria fechado se alguém te pega bebendo.
— Identidade falsa, eu tenho uma ótima. — Mike ri. — Está
interessado na Holly? Ela é gata e muito legal, mas é durona, não vai ser
simples.
— Também sou durão e não estou interessado, só curioso — minto
com medo de que ele abra o bico. — Conhece o avô dela?
— Os dois, o ex-prefeito e o Butch, o Paul, que era o prefeito é
mais reservado, mas o Butch é a melhor pessoa que conheço.
— Parece que ele tem uma casa para alugar, sabe onde eu o
encontro?
— Na casa dele, ele não sai muito, ele e a Holly são muito ligados,
ele cuidava dela um pouco quando era pequena e os pais iam para o Drunks
trabalhar. É mais próximo dela do que os avós políticos.
— Então eu posso procurá-lo para falar do aluguel da casa? —
Mike diz que sim e a decisão está tomada, no fim do dia vou até lá.
As horas passam lentas, ela invadindo meu pensamento mesmo
que eu saiba que só pode estar bem ou já saberíamos se algo tivesse dado
errado.
Pego um dos cavalos no fim da tarde e cavalgo para o vale, eu
deixo o animal diante da casa, num bebedouro que parece bem comum
neste pedaço da cidade, a parte mais central, onde fica a praça e a igreja não
é tão cheia de lugares para cavalos, talvez porque os cowboys não querem ir
mais longe que o bar.
É o velho a me receber, simpático, me convida para um café na
cozinha, me conta sobre si, sobre a casa e o preço que é compatível com o
que eu esperava, me faz perguntas sobre meu jeito de viver, se tenho planos
de dar festas, sozinho o tempo todo, eu tentando ouvir se Holly está em casa
e não apareceu só para me torturar.
— O que diabos está fazendo aqui? — Ela surge vinda da rua,
deixa o chapéu sobre a pia da cozinha e me olha, surpresa.
— Já conhece o Nat, querida? — o homem pergunta a ela que dá
de ombros.
— Sim, ele… ele… trabalha para o tio Shane.
— Eu sei, ele veio alugar a casa e eu aluguei.
— Como assim? Vovô, você… tem certeza? — Butch deixa a mesa
e vai buscar a chave em uma gaveta ao lado da pia. Volta e me entrega.
— Tenho certeza sim, agora seja boa para mim, estou com dor na
perna, vá mostrar a casa para ele.
Ela revira os olhos, depois sorri e me dou conta que está com a
mesma roupa, que festa é essa que foi e só voltou no fim da tarde?
— Vamos, cowboy! — ela me convida indicando a porta,
deixamos juntos a casa depois de me despedir e agradecer ao avô, me fez
lembrar do meu pai e senti saudade da vida que tínhamos quando eu era
adolescente e sonhava com a vida como cowboy entre cavalos e terra, meu
pai venceu um rodeio na juventude e talvez por ele eu tenha aprendido a
amar os cavalos.
— Gostei muito do seu avô, um homem inteligente e muito
agradável.
— Eu sei, todo mundo gosta — ela diz quando caminhamos para a
casa. — É bom que não dê problemas a ele, porque o vovô já está velho
para se preocupar com um inquilino problemático.
— Não sou problemático, só quero um canto, podia ter me dito que
estava para alugar.
— Podia! — ela responde sem dar continuidade e sorrio. Será que
estou ficando doido? Talvez ela não quisesse mesmo nada comigo e
imaginei coisas, posso ter sido presunçoso e arrogante, me achando muito
especial, ao mesmo tempo… eu sei que ela queria me beijar, eu só não sei
por que fui bancar o idiota.
Holly
Eu não queria pensar tanto nesse cowboy idiota, mas ele estragou a
minha noite invadindo meus pensamentos e tornando todos os outros caras
sem a menor graça. Antes das três da manhã, já estava no sofá da Brenda, a
ouvindo choramingar porque o cara por quem está apaixonada não
apareceu. Conversamos até o dia amanhecer, depois dormi um pouco, a
cabeça estava doendo e quando acordei, foi ele que me tomou o primeiro
pensamento.
Não devia ter contado nada à Brenda, agora ela tem certeza de que
estou apaixonada e pelo olhar do meu avô, ele também tem essa certeza.
— A noite foi boa? — ele pergunta quando subimos os degraus até
a porta da casa e indico a ele o caminho para ir na frente, já que agora a
casa é mais dele do que minha.
— Incrível.
— Dá para ver, chegando só agora, com a mesma roupa de ontem.
Namorado novo?
— Esta é a sala, não é grande, mas é confortável. Ah! Essa cadeira
de balanço é do vovô, quando tiver um tempo venho buscar. Ele ama essa
cadeira — aviso, seguindo em direção à cozinha. — A cozinha é pequena,
mas tem tudo que precisar.
— Ótimo, eu gosto de cozinhar minha própria comida — ele me
conta.
— São dois quartos, este é do vovô e o outro é menor, então acho
que vai preferir aqui. — Mostro os quartos e não me demoro, caminho de
volta para a sala. Nat me segue. — Está em casa, seja… bem-vindo.
— Quer jantar comigo? Vou comprar umas coisas e você vem mais
tarde, o que acha, já que não trabalha?
— Não! — nego, firme, mesmo querendo. Ele não vai ter tudo que
quer na hora que quer depois da provocação e daquela conversa de que eu
queria beijá-lo. — Tenho que ir. Te vejo por aí.
Sem esperar por qualquer resposta, eu vou caminhando para a
saída, ele me acompanha, pega a cadeira e quando me volto está com ela
como se não fosse nada de mais.
— Vou levar para o seu avô — é tudo que ele diz e eu apenas deixo
que passe na frente. Meu pai bem que devia ter feito isso antes, Nat
caminha até minha casa, entra quando abro a porta, vovô me sorri e reviro
os olhos, eu não devia ter falado nada.
— Aqui está, Butch, Holly me disse que é a sua cadeira preferida.
— Sim, é bem antiga. Obrigado, Nat. Gostou da casa?
— Perfeita para meus planos de uma vida tranquila, vou buscar
minhas coisas e comprar mantimentos, te espero para jantar comigo. —
Vovô sorri.
— Claro, será um prazer, o que acha, Holly?
— Sua neta recusou o convite, Butch, mas tenho certeza que
damos conta de nos divertir um pouco, gosta de jogar cartas?
— Parece que a noite vai ser perfeita! — vovô se anima. — Ouviu,
Holly, passou a noite com a sua amiga Brenda e hoje sou eu que vou passar
a noite fora. — Meu avô tem essa boca grande que irrita, odeio o sorriso de
Nat e amo ao mesmo tempo, que homem irritante.
— Te espero lá em casa mais tarde.
Nat vai embora como o vento e olho para o meu avô, brava. Ele me
sorri, caminha até mim, para na minha frente.
— Esse é o cowboy que me falou? Nem precisa responder, eu sei
que sim, sabe o que tenho a dizer?
— Acho que eu não quero saber.
— Vou dizer mesmo assim, já domou o cowboy, não precisa lutar
contra, experimente um pouco a vida que eu sei que é isso que quer fazer e
a Holly que eu conheço sempre faz o que quer.
— Obrigada pelo conselho, vovô, agora vou tomar um banho e
arrumar o meu jantar, já que me abandonou! — Ele fica rindo de mim e eu
nem sei se é seguro deixar esses dois sozinhos, tenho até medo do que o
meu avô vai falar, por que eu não aceitei o convite? Teria pelo menos a
chance de controlar as coisas.
Meu avô volta para casa quase à meia-noite, estou no sofá, lendo
ou fingindo ler, ele faz mistério sobre o que conversaram, só garante que foi
uma ótima noite e que convidou Nat para jantar com ele qualquer dia
desses.
Vou para cama pensando em tudo, nas palavras do meu avô, no
modo como esse homem que acabou de chegar à cidade mexe com minhas
emoções como ninguém nunca mexeu, mas decidida a não me curvar, ele
foi sim presunçoso, então ele que volte atrás no que disse e, quem sabe, eu
dê a nós dois uma chance.
Agora sou eu que estou sendo arrogante, eu nem mesmo sei se ele
está interessado realmente.
Ele não aparece no bar nenhuma vez por toda semana, mas está
sempre em sua varanda quando fecho, acena e sinto seus olhos em minhas
costas enquanto caminho para casa todas as noites.
Na sexta, ele se acomoda em uma mesa assim que abro, perto das
quatro da tarde, os homens logo começam a chegar, as garotas também, a
música fica alta e sirvo muitos ensopados e muitas cervejas. Quando a coisa
toda se acalma e a noite está terminando, casais começam a dançar as
românticas na pequena pista de dança, e eu sinto falta dos meus pais, eles
sempre dão um jeito de dançar.
Pulo o balcão para assistir aos casais dançando, feliz por Bill ter
conseguido seu amor de volta, ele me acena e pisca, grato pelo conselho de
correr atrás dela, sorrio para ele.
Um homem se aproxima, está bêbado e não é da cidade,
provavelmente algum viajante, ele toca meu ombro e se aproxima do meu
ouvido.
—Dança comigo, é errado moça tão linda ficar apenas assistindo.
— Não, obrigada!
— Vamos, vai me deixar passando vergonha, é só uma dança —
ele insiste, me tocando outra vez. Os velhos clientes se agitam, olhares de
alerta se espalham e eu já sei que vem confusão, metade desses homens me
viu crescer e a outra metade cresceu comigo.
— A nossa música, amor! — Nat diz, me puxando pela mão. —
Temos que dançar essa. — Ele olha para o homem. — Com licença, amigo.
O homem, é claro, se conforma automaticamente, porque isso não
machuca sua masculinidade, afinal, eu tenho um homem e só por isso não
vou dançar com ele e isso é bem irritante, mas dançar com Nat é algo que
me interessa, então eu os deixo agirem como idiotas.
— Eu podia dar um jeito — aviso quando ele para no meio do
salão e me envolve a cintura.
— Sei disso, já te vi atirar dois caras para fora ao mesmo tempo —
ele comenta quando sem escolha ou por escolha, eu envolvo seu pescoço.
— Só quis evitar a pancadaria, os seus amigos não estavam gostando do
jeito invasivo.
— Não vou agradecer, eu não pedi ajuda!
— Está dançando comigo, para mim já basta. — Sorrio, eu não
consigo evitar, queria, mas não consigo. Sinto seu perfume e descubro que
amo seu cheiro.
Me entrego à dança, à música suave, à balada country que eu tanto
amo, me deixo sentir seus braços a me envolverem mais e mais, enquanto
seu corpo se cola ao meu e outra música começa e depois mais uma e
quando olho em torno, voltando à realidade, sobramos apenas nós dois.
— Eu… acho que a noite acabou — aviso, estranhando a leveza da
minha voz, é quase como um sussurro, ele sorri, uma de suas mãos desliza
por meu rosto e gosto do toque masculino, da mão pesada e ao mesmo
tempo se esforçando para trazer delicadeza ao toque bruto.
— Sabe que a gente se merece, não é? Que combinamos!
— Isso é você que está dizendo. — Ele sorri, engulo em seco
encarando os lábios que quero provar mais que qualquer outra coisa.
— Quero beijar você! — ele afirma e balanço a cabeça negando.
— Não vim atrás de romance quando me mudei para esta cidade, mas desde
que vi você, é só no que eu penso.
— Sinto muito! — digo só para irritá-lo, ele ri, ainda dançamos,
ainda tenho os olhos pregados aos dele e quero que me beije.
— Quer fazer esse pobre cowboy implorar por seu beijo?
— Eu cumpro minhas promessas — conto, deslizando minhas
mãos pelo peitoral trabalhado no peso de uma vida de trabalho duro. No
fundo, a vida me ensinou a respeitar e admirar o trabalho dos cowboys.
— Estou ansioso para quando prometer me amar para sempre,
porque acredite, vai fazer essa promessa. — A pior parte é que meu coração
diz que ele está certo e eu nem mesmo sinto o medo que devia sentir.
— Até lá, posso implorar todos os dias por um beijo seu, a
começar por hoje, me deixa beijar você, Holly?
— O que está esperando, cowboy? — pergunto, puxando Nat pela
gola da camisa e quando seus lábios tocam os meus e minha boca se abre
em um convite, ele toma posse dos meus lábios e também do meu coração e
sei que vamos cumprir sua promessa e vai ser para sempre.

FIM

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