Você está na página 1de 9

A Deus primeiramente, pois Ele é a minha fonte de inspiração,

Para meus amigos e familiares que sempre esteve ao meu lado.


Meu pai dizia que tudo tinha um propósito, seja lá qual fosse o
tamanho do acontecimento ou do sentimento, o que sinto agora é sau-
dade, por perde-lo, sei que se tivesse aqui nesse momento ele falaria que
isso era momentâneo, e havia algo além da dor. Faz apenas algumas se-
manas e hoje estou aqui dentro de um busão, admirando a paisagem en-
quanto estou indo para outra cidade, digo, viver em outra cidade, minha
mãe achou que era melhor recomeçarmos nossa história de vida.

Meu pai veio de Sergipe, minha avó, sua mãe, acabou morrendo
e meu avô se afundou no álcool, foi por isso que ele morreu segundo meu
pai, que já jovem trabalhava pra se sustentar, ele tinha mais irmãos só
que cada um foi para um canto e não se falaram mais, e meu pai veio pra
Sampa, da onde estamos indo embora, se tornou um policial, e acabou
conhecendo minha mãe que estudava na capital do estado, então se apai-
xonaram , namoraram, noivaram, casaram e tiveram filhos, uma sur-
presa, pois esperavam um, mas vieram nós dois, eu e meu irmão, o Leo-
nardo. Minha mãe estava em Sampa por estudos e moraria por lá até
concluir a faculdade, mas o seu romance com meu pai estendeu esse
tempo e ela começou a dar aula para o ensino médio. Minha mãe veio de
Santa Bárbara d’Oeste, uma cidade do interior de SP, a qual estamos nos
mudando.

Tia Marcela e a minha avó mora lá, nós iremos morar junto com
a minha avó, já que ela mora sozinha e minha tia ia muitas vezes para
dar companhia e auxiliar no que era preciso, bom fazia um tempinho que
não via elas, só via nas férias quando eu e meu irmão vinha pra cá, agora
irei ver quase sempre, daqui uma hora mais ou menos, bom deixa eu
continuar olhando a paisagem. Não tinha muito o que olhar, aparecias
uns florestamentos as vezes, algumas casas, não era a beleza do mundo,
mas distraia minha mente, das coisas que eu deixei para trás, meus ami-
gos, a casa onde cresci. Tudo ficou lá mais a saudade está aqui, espero
que aconteça o melhor daqui em diante.
— Lucas, também vou sentir falta — diz Leonardo que estava ao
meu lado — mas talvez seja hora de começar algo novo em nossas vidas.

—É mano... Realmente, tentar algo diferente, mas o que mais


sinto falta é o pai...

— Eu também mano, eu também, mas ainda temos a mãe, e te-


mos que cuidar dela nesse momento difícil, e você tem a mim e eu tenho
a você — Leonardo aperta minhas mãos e eu retribuo, seus olhos estavam
brilhando por conta das lagrimas contidas. Era difícil, mas sustentáva-
mos uns aos outros nesse momento.

— Bom já estamos chegando — diz meu irmão — vou ligar para a


Mãe a avisar ela.

Nossa mãe tinha ido de carro, sozinha, ela nos deixou na rodovi-
ária, comprou as passagens. Nós não levamos muitas coisas embora de
São Paulo, algumas coisas minha mãe doou ou vendeu. Ela colocou al-
gumas coisas no carro e não ia dar pra levar nós, ela não ia chamar um
caminhão de mudança só pra algumas coisinhas não é mesmo? Bom, já
tínhamos idade suficiente para viajarmos sozinhos, me senti mais res-
ponsável por conta disso.

Estávamos na rodoviária da cidade vizinha esperando por nossa


mãe, um tempinho e ela chegou, pelo visto não estava sozinha...

— MARA DO CÉU COMO ESSE MENINOS ESTÃO GRANDES —


diz uma voz familiar, mas não difícil de reconhecer

— OI TIA — diz eu e Leonardo em uníssono

— Olá meninos, há quanto tempo, cês cresceram bastante hein!

Era nossa tia Marcela, irmã de nossa mãe, ela era digamos, um
pouco fora das ideias, mas era isso que a fazia tão especial para nós, era
aquela tia “jovial” que curtia as coisas de heróis, filmes, enfim coisas que
nós curtíamos fazer, ela nos levava para todo canto quando víamos aqui
nas férias, ela não tinha filhos por isso nos tratava dessa maneira, enfim
velha e doce infância,

Chegamos, aonde agora seria nosso novo lar, a casa da minha vó,
aquela casa que te traz várias memórias sabe? Lembro dos dias de
quando eu era mais pequeno e vivia correndo por volta da casa, do Tho-
mas, era um cachorro que minha vó tinha, joelho ralado, cheirinho do
bolo assando, bom, velhos tempos...

— A vó de vocês tá super animada, ela ficava “Ai meus mininho


não vejo a hora de ver eles” — comenta tia Marcela — Agora entrem, ela
está esperando por vocês.

O portão ainda o mesmo, nem as cores minha vó mudou, todo


ano repintava nas mesmas cores

— O mãe, chegamos! — grita minha tia

E lá vinha minha vó, com aquele jeitinho de sempre, o cabelo


mais branco do que antes, a armação do óculos havia mudado, mas seu
olhar e seu sorriso permaneciam os mesmos, mal peço bença e já lhe dou
um abraço

— Eu comentei com a Marcela, o quanto a vó sentia saudade dos


menininhos — diz ela — Cada ano estão maiores, não vão parar de cres-
cer não?

— Tem poucos anos para crescermos, mas esperamos que uma


hora paremos — diz Leonardo rindo.

— Sinceramente vó, antes a senhora nos carregava, hoje nós po-


demos te carregar — Digo sorrindo, enquanto vejo aquele seu sorriso
banguela que me trazia amor
— Entrem, fiz aquele bolinho que vocês gostam— diz minha avó
— fubá com goiabada
Já era quase noite, uma das coisas mais legal da casa da vó, era
o quintal, era um pouco amplo, havia um banco que eu amava deitar e
olhar para o céu, quando criança olhando e imaginando formas nas nu-
vens, as vezes ouvir os pássaros cantando, era aconchegante.

— O bolo tava incrível né — diz Leo

— Sim, como sempre — respondo — Acho que ninguém faz esse


bolo igual a vó

— Nem a mãe faz desse jeito — ri Leo — quer dar uma volta? Tem
uma praça aqui por perto, queria conhecer um pouco mais.

— Bora, deixa eu pegar meu celular

— O mãe, tamo saindo — grita Leo

Pego meu celular e vou para rua, apesar de ter prédios, não era
aquilo que víamos em São Paulo, era bastante casas, morávamos pró-
ximo ao centro da cidade e dava pra ver alguns prédios que tinham. A
cidade era grandinha, o ar era leve, muitas árvores e área verde também,
não tinha comtemplado muito dessa cidade até então.

— Tudo diferente né? — fala meu irmão enquanto contempla a


vizinhança — SP parecia um caos, aqui tem um pouco, mas não chega a
ser como lá.

— Aqui tem paz, mas talvez não seja o lugar, talvez nosso coração
esteja assim — respondo — Ter vindo pra cá nesse momento mais com-
plicado, ver a vó novamente, tá me ajudando, tenho sentindo todo esse
aconchego
Leonardo estava pensativo, como se soubesse de algo e não que-
ria contar

— Que foi mano?

— Eu tou bem cara, só pensando nessa nova vida

— Hum, acho que essa é a praça que você falou

— É sim — ele mira os olhos então sorri — Olha ali é o Tiago


mano!
Leonardo vai então em direção a pista de skate onde ele estava.
Tiago, ele era nosso amigo, ele morava perto da casa da minha vó e ela ia
muito na igreja com a mãe dele, como era perto nós vivíamos jogando
vídeo games juntos e assistindo filmes, engraçado não termos se encon-
trado mais cedo.

— E aí Tiago, meu mano — fala Leonardo

— Vê se não é os gémeos mais feio de SP — responde Tiago

— Talvez éramos os mais feios de sampa — digo — Agora somos


os mais lindos de SBO

— Cês tão zoando né? — surpreende Tiago — caraca que fita


mano, agora sim cês vão aproveitar a vida

Tiago estava estranho, um pouco nervoso, seus olhos estavam


cansados, e exalava um cheiro reconhecível

— Bom cara, fazem quase dois anos que não nos vemos — diz Ti-
ago — Cês nem vieram aqui ano passado, e minha vida mudou, e agora
tou apenas vivendo o que importa pra mim, foi bom em ver vocês, mas
tenho que ir agora, os manos do skate me esperam — Tiago nos abraça
— amo vocês, gêmeos mais feios de SBO

Tiago segue seu caminho, e por mais que mascarasse seu rosto
com seu sorriso, nós sabíamos que ele não estava muito bem.
Andamos mais um pouco pela praça, Leonardo ainda parecia
preocupado

— O Tiago, acho que não está muito bem — digo — ele tava chei-
rando a álcool e acho que também andou fumando umas

— Hum — meu irmão suspira — deve ser o que importa pra ele,
como ele disse, por isso foi embora tão rápido

— Léo, sei que te acontecendo algo — olho fixamente pra ele

— Sabe Lucas, tou tentando ficar bem ainda, é tudo novo, mas
ainda dói aqui, e também escutei a tia Ma conversando com a mãe, eu
apenas não sei o que sentir...

— O que você ouviu? — pergunto preocupado, os olhos de meu


irmão brilhavam

— É a vó, temos que aproveitar o máximo com ela — as lágrimas


agora saíam do rosto de meu irmão — parece que o câncer voltou, e dessa
vez pode ser grave, ela tem pouca chance. Acho que a mãe não veio aqui
apenas pra viver algo novo

Dou um abraço em Leo que soluçava. Minha vó tinha vencido o


câncer alguns anos atrás, falaram que não havia mais nada, acho que eu
não aguentaria perder ela, nesse momento, com certeza não.

Você também pode gostar