Você está na página 1de 434

Ela é do Supremo

Mih Franklim
Santa Selene...
Prólogo

Em uma manhã fria de uma quarta-feira do ano 1805, o tempo se


encontrava nublado. Provavelmente o resto do dia seria gélido e frio,
mantendo um clima não muito agradável a um pequeno povoado.
Não muito longe das casas que eram cobertas pelas finas e curtas
gotas de chuva, uma bela catonephele numilia, uma borboleta não
muito conhecida por essa região, parecia flutuar por entre a neblina
dessa manhã. Suas asas negras se destacavam por entre o topo de
uma montanha. Lutando contra a fina chuva, a pequena borboleta
cada vez mais se aproximava do chão. Suas grandes e desajeitadas
asas não conseguiam se desviar das gotas de chuva, que se
tornavam mais fortes. Então o pequeno lepidóptero, pousou sobre a
mão de um jovem homem.
Tendo os sentidos apurados, o homem, que antes estava
chorando ajoelhado no meio da neblina, focou toda a sua atenção
na pequena e guerreira borboleta que mesmo sabendo que sua
chance de sobreviver na chuva era mínima, continuou tentando até
fazer a escolha de pousar sobre algo desconhecido, tomando a
decisão de se arriscar para proteger-se da chuva que começava a
ficar mais forte. Uma decisão que poderia lhe custar à vida, mas,
sem sombra de dúvidas, uma decisão necessária.
Sentindo-se encorajado com a atitude do pequeno ser que
batalhava pela vida, o homem se levantou enxugando suas lágrimas
e caminhou até uma árvore, colocando a borboleta sobre à mesma,
protegendo-a da chuva. Seu coração havia sido tomado por uma
decisão. O homem que chorava na colina naquela manhã fria, sabia
que havia perdido uma parte de si na noite passada. Na noite em
que foi humilhado, tendo seu coração torturado e despedaçado.
A deusa, que o havia criado, o castigou pela desobediência que o
rodeou por um bom tempo, tirando todo o poder que havia dado a
ele. O jovem Alfa perdeu todo o controle da magia branca e da
magia negra que tinha recebido logo assim que se tornou o supremo
alfa do mundo sobrenatural, desenvolvendo o domínio sobre todos
os filhos da deusa Selene. Mas isso havia acabado de mudar, o lobo
inexperiente se tornou um supremo incompleto e desonrado.
Se afastando da borboleta que colocou na árvore, ele sentiu seu
corpo esquentar, tomando-o com um alto rugido e caindo no chão,
deixando seu lobo preso e amargurado sair por completo. O
sentimento que ele tinha em sua alma, poderia ser qualificado como
sendo totalmente rasgado e estraçalhado por inteiro de dentro para
fora. A amargura que corria em suas veias parecia ter se libertado,
assim que ele caiu no chão com suas quatro patas. Pisando forte, o
jovem alfa tentava se erguer em meio à vergonha e desonra. Dessa
forma, ele se tornaria o que sempre foi treinado para ser: um líder
que percebeu cedo demais que inimigos estão mais próximos do
que imaginamos.
Sendo guiado por suas patas, foi levado até o topo de uma
pedra na montanha. A raiva que ele tinha de si não iria o consumir,
em um futuro muito próximo seria um aprendizado.
Se aproximando do topo da pedra ergueu seu peito e soltou
todo o fôlego que havia em seus pulmões em um alto uivo de
tristeza em direção ao sol. Em seu coração, nasceu a devasta
certeza de um recomeço.
Capítulo Um

Um recomeço muda nossa vida, refaz nossos planos.


E com toda certeza, amadurece nossos pensamentos!

Mih Franklim
Antonella
Embora tenha nascido em Southampton na América, meus
pais se mudaram para Rosnov, na Romênia assim que vim ao
mundo. E agora, quase dezoito anos depois, estamos voltando para
Southampton por causa de uma bendita herança de família. Não
entendo a insistência dos meus pais em voltar para esse lugar.
Afinal, meus avós já estão mortos. Se não os conheci vivos, não
será agora que vou querer vir a esse lugar. Nunca achei que teria
que recomeçar de novo em outro país, em outra cidade totalmente
diferente, faltando apenas três meses para o término do meu último
ano do colegial. Isso sim, com toda certeza, é umas das piores
ideias que meus pais já tiveram, e olha que já foram muitas! Teve
uma vez que minha mãe me levou no parque e me esqueceu por lá,
isso sim foi uma grande loucura. Mas até que aproveitei, tinha doze
anos e acabei conseguindo ir nos brinquedos que meus pais não me
deixavam ir. Foi aí que tomei um belo trauma de montanha russa.
As ideias que meus pais geralmente efetuam sempre são
loucas ao ponto em que eu me torno a adulta responsável
promovendo momentos marcantes para todos. Porém, nunca
discordei tanto de uma ideia como a de mudar de cidade.
— Vamos, querida, não fique dessa forma. Você vai gostar da
cidade. — Com convicção, minha mãe dizia ao me olhar pelo
espelho retrovisor do carro.
— Claro, claro! — revirei meus olhos respondendo-a ao me
conter. Aumentei a música que ouvia no fone de ouvido.
Talvez assim eles fiquem um pouco em silêncio e eu consiga
pensar um pouco sobre como vai ser a minha vida daqui para frente.
Bom, me chamo Antonella Maria Johnson. Eu sei, um nome
não muito comum, mas fazer o que se meus pais parecem não bater
muito bem no quesito escolher nomes?! Faço dezoito anos em
algumas semanas.
Nesse momento passou-se a música do filme da Disney - A
princesa e o sapo ‘Quase lá’. Sorrindo de uma forma desdenhosa,
desviei o olhar da placa de boas vindas da cidade.
— ‘Bem-vindo à Southampton’ — com total ironia, li em voz
baixa. Afinal, não tem nada de bom, só queria mesmo voltar para
Rosnov.
Olhando por um novo lado que talvez me agrade, Nova York
não fica muito longe daqui. Prevejo possíveis fugidinhas. Se meus
pais acham que vou ficar presa estão muito enganados. Talvez não
seja tão ruim! Quem eu quero enganar? Isso é horrível, sim! Deixar
a Mia e o Mateus foi a pior coisa da minha vida. Conheço o Mateus
há muito tempo, já Mia a conheci através dele e, por incrível que
pareça, nos tornamos melhores amigas.
Graças aos céus, não aguentaria perder o meu melhor amigo
para uma namorada.
Sou filha única e minha família são apenas meus pais.
Somos sozinhos e, não querendo parecer dramática, acho melhor
assim, mesmo que seja deprimente em algumas datas
comemorativas. Minha mãe se chama Maria Lívia Johnson e meu
pai Rick Johnson. Vemos claramente que a maldição vem de família
por ter nomes estranhos e que não combinam muito. Meus pais
sempre são uns amores de pessoa e são bastante compreensivos,
mais um fator estranho para nossa inesperada mudança, já que eles
não são nada apegados a bens materiais.
Meus avós, eu não conheci, tanto os paternos quanto os
maternos, porém me parece que eram loucos, já que ordenaram
que para termos a propriedade que herdamos como definitivamente
nossa, temos que morar aqui por um ano. Imagina só, eu nessa
cidade, nesse país que não conheço por um ano inteirinho! Seria um
pesadelo? Mas é só a minha realidade mesmo.
— Ei? Antonella?
— Ah, oi, mãe. — Retirei os fones ao ver que minha mãe
estava com uma cara de impaciente. Provavelmente é agora que eu
vou morrer.
— Estou há cinco minutos te chamando e você não me
escuta. Tira essa merda de fones. Já chegamos. — Minha mãe
pronunciou-se ao mostrar sua raiva abrindo a porta do carro. A
fechou novamente com um pouco mais de força.
Não disse? Um verdadeiro amor!
Assim que saí do carro, olhei em volta observando a imensa
mansão antiga. Esse lugar é bonito, contudo, precisa de uma boa
reforma. Como iríamos morar em uma mansão um pouco afastada
da cidade, me assustei um pouco ao ver que em volta há uma
densa mata fechada. Havia tanto mato. Era mato aqui, mato para lá
e para cá. Acho que vou ficar doida de tanto mato! Poderia virar
uma cigana e sair pelo mundo a fora sendo feliz e vendendo minhas
artes?
— Não vai entrar, querida? — me virei rapidamente ao ver o
sorriso que meu pai tinha em seu rosto, tendo em mãos algumas
caixas da mudança.
— Sim, pai.
Ao pegar minha mochila, a coloquei nas costas e entrei na
nossa nova casa que era verdadeiramente enorme. Uma grande
mansão um pouco exagerada, mas realmente bonita. No hall de
entrada havia uma sala vazia, a não ser por um lustre enorme no
meio dela que chamava a atenção. Mais à frente, duas escadas de
mármore que se unem no começo, o que me fez soltar um grande
"uau”.
— Não sabia que você era rico, pai! — estou realmente
admirada com tudo. Não sabia que éramos agora supostamente
ricos. Sempre tivemos uma vida boa, mas isso aqui está muito além
de tudo que tivemos.
— Não somos ricos, Antonella. Seus avós eram ricos. — Ao
me corrigir, meu pai colocou as caixas no chão, enquanto minha
mãe aproveitava para explorar todos os cômodos da casa.
— Por que não me disse que eles eram ricos? — voltei a
perguntá-lo, deixando com que as pontas dos meus dedos
tocassem o mármore da escada sentindo a textura lisa da madeira
envernizada. Realmente tudo isso é algo lindo.
— Porque não havia necessidade! Antonella, vai pegar as
suas caixas no carro. E que tal explorar a casa depois?
— Posso escolher o meu quarto?
— Com toda certeza! — ao proferir suas palavras com
divertimento, dei um pulinho comemorando mesmo sabendo que
não tem nenhuma importância o fato de que vou escolher o meu
quarto.
Tentando demonstrar uma felicidade que não estava sentindo
ao meu pai, sorri saindo em direção ao carro para pegar algumas
das minhas coisas. Não trouxemos muito, apenas o suficiente para
sobrevivermos. E a casa também é toda mobiliada, não tinha
necessidade de trazermos tudo. E dentro do meu ser, tenho uma
pequena esperança de voltar para o meu antigo país, meus amigos,
escola, voltar para a minha vida.
Suspirando alto parei por um minuto ao sentir-me observada.
Assim que peguei uma caixa, me virei de costas para a floresta,
sentindo meu corpo se arrepiar por completo. Um vento forte trouxe
juntamente com ele o sentimento de medo acompanhado por um
arrepio tenebroso que percorreu toda minha pele da cabeça aos
pés. Me sentindo observada, um longo suspiro saiu dos meus
lábios. Essa cidade tem um clima completamente sombrio.
Tratei de entrar em casa rapidamente já que estava
começando a anoitecer. Fechei a porta com um pouco de força e só
assim percebi que estava ofegante e suando frio. Não corri nem dois
minutos e já estou assim? Preciso voltar a praticar exercícios
urgentemente.
— O que foi, filha? — do nada minha mãe apareceu na porta
perguntando com um olhar preocupado. Coloquei minhas mãos
sobre meu coração deixando as caixas que tinha em mãos cair pelo
leve susto que levei.
— Não foi nada mãe. — Dizia ao me abaixar no chão
empilhando corretamente as caixas que haviam caído. A olhei e
suspirei de cansaço, a viagem foi longa e muito exaustiva.
— Tudo bem, então! Não bata a porta com tanta força assim.
Queremos manter a casa inteira. — Falou sem me olhar voltando a
caminhar para a cozinha mudando totalmente o seu humor, de
preocupada para estressada.
Minha mãe anda muito nervosa. Tudo bem que ela não é a
paciência em pessoa, mas ultimamente a dona Maria Lívia está
demais. Isso me faz pensar que talvez algo esteja incomodando
tanto ao ponto de alterar todo o seu humor. Entretanto, acho que é
somente coisa da minha cabeça.
— Mãe, vou subir para tomar um banho e escolher o meu
quarto. — Gritei já estando no meio da escada.
Uma coisa nessa casa que me deixou maravilhada foi a sua
incrível decoração rústica. Com total certeza, meus avós tinham um
bom gosto para decoração.
Ao começar minha exploração, entrei a passos lentos por um
longo corredor começando a abrir porta por porta, até achar uma
sala que fez meus olhos se encherem de lágrimas de alegria.
Isso é uma biblioteca? Eu finalmente estou no céu? Algo
divino já pode aparecer! Não é novidade que eu amo livros, e essa
biblioteca conseguiu ganhar totalmente o meu coração. Viu só,
Antonella, talvez não seja tão ruim ficar aqui nessa cidade. A voz da
razão ecoou em minha cabeça.
Eufórica, entrei na sala começando a analisar os livros nas
prateleiras. Era um mais fantástico que o outro. Havia livros de
mitologias, todos os tipos de romances e até mesmo livros
científicos. Mas o que me chamou a atenção foi um em específico.
Ele era como um diário antigo. Pensando bem é um diário antigo,
sem sombra de dúvidas. Minha imaginação de leitora voraz levou
minha mente a pensar que talvez seja o diário da minha avó
contando um romance. Isso seria fantástico!
Ao pegá-lo, meus olhos brilharam transbordando alegria.
Cheia de animação começo a analisar cada detalhe atentamente. A
capa era antiga e desgastada pelo tempo contendo uma cor preta.
Talvez uma verdadeira relíquia? O folheava com pressa em ver o
que tinha escrito. A decepção foi grande ao ver que todas as folhas
estavam em branco.
— Como assim não tem nada escrito? — abrindo
descaradamente o diário, o virei de cabeça para baixo sacudindo-o
até uma carta cair no chão. Peguei a carta curiosa, sentindo a
textura do envelope totalmente desgastado.
— Um diário que nunca foi escrito... uma carta ... seria uma
linda história de romance mal terminada?
Como uma romântica de “carteirinha” que é apaixonada pela
literatura, guardei a carta dentro do diário o colocando debaixo do
braço, saindo assim da biblioteca já tendo certeza de que esse seria
o meu lugar preferido de toda essa cidade. Por agora, voltei para a
minha missão; procurar o melhor quarto.
Para falar a verdade nem continuei procurando, o primeiro
que entrei assim ficou. Não tenho paciência para esse tipo de
atividade, nem me importo com qual quarto irei ficar. Mas apesar de
tudo, o quarto que escolhi é aconchegante. Os móveis são rústicos,
nada que um toque de Antonella não resolva.
E a vista que terei da sacada é incrível, diretamente para a
floresta isolada. Não sei ao certo dizer o porquê, mas algo nessa
floresta me atraiu tremendamente. Talvez seja o lado sombrio e
cativante que ela tem. É como se minha alma e meu corpo fossem
enfeitiçados para adentrá-la, um convite para explorar o
desconhecido por detrás de todas as árvores.
Quebrando o transe no qual me encontrava, balancei minha
cabeça em negação e tratei de ir para o banheiro. Preciso tomar um
bom banho e comer alguma coisa. As longas horas dentro de um
avião e depois dentro de um carro, foram muito desgastantes.
Arranquei minhas roupas sem nem mesmo observar a
decoração do banheiro. Entrei no box já ligando o chuveiro e
deixando que a fria água molhasse meus cabelos que estavam
amarados. Fechei os olhos suspirando devido ao cansaço do meu
corpo.
Logo uma sensação de que estava sendo observada me
preencheu de tal forma que me fez arrepiar da cabeça aos pés.
Desliguei o chuveiro rapidamente me enrolando na toalha ao olhar
meio desesperada em volta para ver se via alguém, mesmo
sabendo que não tinha nenhuma possibilidade de ter alguém ao
meu redor. Saio do banheiro indo para o quarto conferindo se a
porta estava bem trancada. Suspirando fundo, me sentei na cama
com um pouco de medo deixando que a sensação de desconforto
passasse aos poucos. Que coisa estranha é essa?
Capítulo Dois

No final de tudo acabamos sempre esperando mais do


próximo.
Acabamos esperando mais do próprio mundo E no final,
nunca esperamos de nós.

Mih Franklim
Antonella
Estava há exatamente vinte minutos sentada na cama
olhando para o nada. O sol já entrava fortemente pela janela, um
belo motivo para me levantar. A não ser pela reação que estou
tendo. Diria que estou: chocada, abobada, anestesiada e realmente
pensativa. Isso tudo por somente ter meu primeiro sonho erótico.
Um sonho louco sendo com um homem que era uma espécie de
‘lobisomem’ ou sei lá. Estou verdadeiramente chocada com meu
nível de perversidade. Bem que Mia me avisou, se eu ficasse lendo
muitos livros de romance de lobos e vampiros, provavelmente viraria
uma pervertida e isso me aconteceria. Bom, eu nunca gostei muito
desse tipo de romance em livros, mas confesso que já li alguns.
Ao me levantar da cama totalmente relutante, me espreguicei
mantendo meu olhar para a janela vendo a floresta. Não sabia dizer
ao certo, será que a sensação de me sentir observada vem de lá?
Preciso urgentemente colocar cortinas!
— Antonella, você definitivamente precisa parar de ler esses
romances eróticos. — Em bom som, dizia para que de alguma forma
ficasse gravado na minha mente.
Assim que entrei no banheiro, me assustei ao me olhar no
espelho dando de cara com uma versão minha que havia acabado
de acordar.
— Nossa, sou um demônio quando acordo! — fazendo uma
careta exagerada pisquei repetidamente os olhos ao ver minha
imagem.
Eu estava horrível, com olheiras enormes pela noite mal
dormida por ser uma noite na casa nova, o que visivelmente me
incomodou bastante. Óbvio que vai levar um tempo para me
acostumar com a cidade, o clima, e os costumes. Contudo, nas
poucas horas que consegui dormir sonhei com um cara que parecia
um demônio de olhos vermelhos. Nitidamente ele queria me comer.
Já que tentava morder o meu pescoço transando comigo.
Meu subconsciente deve ter criado uma espécie de vampiro-
lobisomem ou algo desse gênero. Porém confesso que meu
subconsciente trabalhou bem, a atração que sentia no sonho era
verdadeiramente real e magnética.
Antonella, você é uma garota bem estranha, entretanto não
deve ser a única a ter sonhado com algo erótico.
Logo depois de escovar meus dentes e ficar apresentável, saí
do banheiro indo em direção ao meu notebook. O tendo em mãos,
passei pelo pequeno espaço que tinha no quarto pulando algumas
caixas que estavam espalhadas pelo chão. Me joguei na cama
sorrindo. Precisava falar com meus amigos ou poderia morrer de
saudades.
— Nella! — ao escutar sua voz, sorri olhando Mateus assim
que conectou a ligação via webcam.
— Céus, que saudades! — me pronunciava ao receber um
lindo sorriso. Logo Mia pulou na frente aparecendo na tela, o que
me fez sorrir de forma mais contagiante.
— Também estou com muita saudade de você, Nella. —
Dramaticamente Mia falou. — E como é a casa nova? Você gostou?
— perguntou empolgada.
— É legal, mas meio sombria. — Sorrindo, dei de ombros
sem demonstrar importância.
— Sombria? Não me diga que está com medinho? — ao
escutar a voz sarcástica do Mateus, revirei os olhos.
— Eu? Medo? Acho que não me conhece mais. A casa é
bem antiga e muito grande, a decoração rústica que é um pouco
assustadora. — Totalmente convencida, dizia ao piscar
repetitivamente meus olhos como uma criança. — Me lembra uma
casa de filme de terror!
— E a cidade? Você gostou? Já conheceu algum cara
bonito? — Mia me olhou com malícia.
— Não fui na cidade ainda, mas já odiei. Não vejo a hora de
voltar para casa e para minha vida normal! Como está a escola? —
a respondo ignorando a parte da pergunta sobre o cara bonito.
Desde o momento em que cheguei nessa cidade sentia
saudades da minha antiga vida. Minha antiga escola em si, era
minha vida. Como uma líder de torcida, era um pouquinho popular
tendo bastante amizades. Sem falar que tinha um pouco de
saudades do Hugo.
— Nella, tenho certeza de que você vai gostar da cidade. —
Tentando me passar confiança, Mia falava docilmente.
— Não tenho tanta certeza assim. Ainda não sei porque
meus pais inventaram de mudar logo agora. — Digo bufando. — E
como está Hugo? — perguntei mordendo meu lábio inferior.
Hugo e eu tínhamos a famosa amizade colorida. Certamente
me sentia atraída por ele, no entanto, nunca namoramos. Confesso
que deixá-lo sozinho naquela cidade com várias garotas lindas, a
princípio, me deixou desconfortável, mas somente no quesito
amizade.
— Hugo? Ainda está na dele? — Mateus pronunciou-se
olhando para Mia de forma séria, que engoliu seco.
— Ele é meu amigo! — revirei meus olhos novamente assim
que os vejo se comunicarem por código no olhar.
Céus! Como eu odeio quando eles fazem isso.
— Esquece ele, Nella. Por que não vai conhecer a cidade? —
sorrindo falsamente fingiu uma empolgação. Minha amiga me fez
suspirar de frustração por sua reação. Eu a conheço bem, sei
quando está fingindo ou escondendo algo.
— Porque não quero. Ainda tenho que arrumar muitas coisas.
— Às vezes meus amigos escondem algo e sempre tentam me
jogar para fazer alguma coisa, mudando de assunto. — Acho melhor
desligar, tenho que esvaziar as caixas ainda. — Suspirei derrotada.
Simplesmente odeio quando eles fazem isso. O fato de que
as pessoas tentam saber da minha vida, mais do que eu mesma me
deixa nervosa. Mia estava me tratando falsamente como se eu fosse
uma espécie de cubo mágico que ela soubesse desvendar. Seu
comportamento mudou exatamente duas semanas antes dos meus
pais me falarem sobre nossa mudança. Esse foi o período em que
ela começou a intervir em minha relação com Hugo. Desde então
comecei a desconfiar dela, acho que perdi minha amiga para algo
maior. Já o Mateus estava distante, mas não mudou a forma de me
tratar. Ainda era como uma irmã para ele!
— Tudo bem, então! — concordaram ao me olharem de
forma compreensiva.
— Amo vocês. — Digo com sinceridade mesmo estando
desconfortável pela atitude da Mia.
— Também te amamos. — Disseram juntos me fazendo
sorrir. Mia e Mateus tinham uma ligação que era única. Poderia
qualificar o relacionamento deles como um romance de filme.
Desliguei o notebook, triste ao me sentir mal por ter falado
com meus amigos. Olhando em volta vejo as diversas caixas
espalhadas por todo quarto, o que me fez suspirar ao me jogar na
cama fechando os olhos. Odeio mudanças! De certo modo esperava
me sentir bem, e não foi isso o que aconteceu.
Preciso me acalmar.
Mateus e Mia são seus amigos, eles só querem que você se
sinta bem. Deve ser isso. Na tentativa de mudar os rumos dos meus
pensamentos, arranquei minha blusa ficando só de sutiã e shorts de
dormir. Peguei meu celular colocando minha música preferida: - "Je
l'aime a mourir" de 'Francis Cabrel'. Então comecei a arrumação do
meu quarto, dançando lentamente sentindo a melodia meio triste
das notas musicais.
Quando me dei conta já havia acabado de arrumar tudo.
Satisfeita, olhei o resultado do quarto. Sem dúvidas esse cômodo
recebeu um toque da Antonella. Tratei de caminhar em direção ao
banheiro, vendo que já marcava meio dia e dez. Daqui a pouco
minha mãe vem me tirar à força desse quarto.
Tirando o resto de roupa que vestia, entrei de uma vez
debaixo da ducha de água fria. Meu corpo logo recebeu um leve
choque térmico. Fechei os olhos respirando ofegante pela gélida
água que entrava em contato diretamente com minha pele quente.
Calmamente desfiz o coque dos meus cabelos ruivos. Molhando-os,
massageava lentamente meu couro cabeludo.
Ainda mantendo meus olhos fechados, minha mente
começou a imaginar cenas obscuras que poderiam ser feitas nesse
banheiro. Imagens dos olhos verdes invadiram meus pensamentos.
Os olhos verdes que ficavam vermelhos, do homem do meu sonho.
Suspirei ofegante quando meu corpo ficou mais quente ao me
lembrar do sonho, pequenos flashbacks passavam por minha
memória trazendo-me de volta as sensações que as mãos ágeis e
desconhecidas me proporcionaram em um simples sonho. Abri
rapidamente meus olhos ao me dar conta que estava excitada.
Fiquei excitada com um cara que meu subconsciente criou?
Antonella, você está ficando doida, provavelmente é por causa da
mudança e do estresse.
Saio do banheiro e me enrolo na toalha tentando esquecer
que fiquei com tesão por causa de um sonho. Mesmo que pareça
real, não deixa de ser um sonho.
— Antonella, você ainda está dormindo? — me assustei
vendo que minha mãe entrou no quarto de uma vez, me fazendo
segurar com força a toalha.
— Mãe! Não entre assim, eu poderia estar pelada. — Disse
com vergonha. Minha mãe tinha esse problema, ela nunca batia na
porta para entrar, sempre era afobada.
— Desculpe, querida! Achei que estava dormindo. O almoço
já está pronto. — Disse dobrando as mãos no seu vestido azul.
Parecia olhar com curiosidade a arrumação do quarto. — Você fez
um bom trabalho aqui! — me olhou uma última vez e saiu do quarto
fechando a porta.
Não demorei para me arrumar. Não queria ceder às
sugestões da Mia e do Mateus, mas preciso conhecer a cidade que
estou morando. E para isso tenho que sair e andar por ela. Meu
estilo de hoje era algo mais ‘das trevas’, já que está condizente com
o meu humor. Me olhei no espelho soltando meus cabelos ruivos
que estão em um comprimento longo. Peguei o diário que achei
ontem na biblioteca apertando-o em um abraço forte e saí do quarto
pronta para explorar essa cidade.
Tinha uma leve sensação no peito ao sair do meu quarto,
tendo a impressão de que minha vida poderia mudar igual aos
contos que tanto leio. Talvez eu realmente tenha endoidado a
cabeça. Se meus pais me dissessem o porquê mudamos de última
hora, me conformaria mais. Já que não me disseram ainda.
Capítulo Três

O desconhecido seria algo que nos cativaria?


Seria algo que valeria o esforço?
O desconhecido seria algo, que valeria a vida?

Mih Franklim
Antonella
Andando pelas ruas não asfaltadas rumo à cidade, olhava
para a floresta a todo o momento. Algo ali me incomodava, algo que
não sabia ao certo explicar. Para compensar o dia está totalmente
nublado e frio, deixando o clima mais parecido com um filme de
terror. Tratei de caminhar segurando com força o diário apressando
meus passos para chegar até a cidade, já que minha casa ficava
afastada da civilização ‘humana’.
A cidade não era tão pequena quanto achei que fosse, o fluxo
de pessoas era veloz e algumas me encaravam desdenhosas.
Sentia-me estranha ali, como se todos se conhecessem e eu fosse
uma forasteira. O que de fato era verdade! Todos acenavam
levemente com a cabeça, como se fosse uma espécie de
reverência. Será que isso é o jeito deles se cumprimentarem?
Acenava para eles parecendo uma abobada, enquanto tentava ser
receptiva.
Vejo uma cafeteria do outro lado da rua que conseguiu me
chamar a atenção. Com cores chamativas, me parecia um ótimo
lugar para ler essa carta e, quem sabe, conhecer pessoas novas.
Entrei no local com um sorriso no rosto, me encaminhei para uma
mesa, sentando-me em um sofá vermelho. Todo o local chamava a
atenção como se fosse uma área de festa para crianças. Óbvio que
de uma forma mais divertida misturando uma decoração moderna e
rústica. Uma mulher que suponho ser a garçonete, por suas
vestimentas, se aproxima com um sorriso simpático.
— Olá! — falou sorrindo ao me entregar o cardápio.
— Oi! — coloquei o diário sobre a mesa para ver as opções
que tinha no cardápio com atenção. — Bom, vou querer um suco de
maracujá.
— Claro! — se virando de costas, a garçonete parou e voltou
a me olhar com dúvida. — Me desculpe a intromissão, mas você é
nova na cidade?
— Sim. Me mudei ontem.
— Seja bem-vinda a Southampton! — sendo bem receptiva,
falou amigavelmente.
— Obrigada!
— Desculpa a intromissão... você é parente dos Johnson? —
ela perguntou parecendo curiosa. — Me desculpe se fui invasiva, é
que você se parece muito com uma pessoa que conheci com esse
sobrenome.
— Bom, me chamo Antonella Johnson. — A olhei de forma
curiosa, ao ver seu constrangimento.
— Ah, sim, c-claro. Vou preparar o seu suco, com licença. —
Assim ela saiu apertando a prancheta que tinha em mãos, com as
bochechas vermelhas, parecendo estar constrangida.
Não entendi o porquê do sobrenome "Johnson" tê-la afetado
dessa maneira, já que ela reagiu como se tivesse visto um
fantasma. Será que meus avós eram cafetões? Sorrindo pelos meus
pensamentos ridículos, peguei o diário em minhas mãos. Lembre-
se: país diferente, cidade diferente, cultura diferente, costumes
diferentes.
Abrindo o diário, suspirei com a possibilidade de descobrir um
novo romance ao ler a carta que tinha algo escrito de forma
destacada na dobradura do papel: "A escolhida da profecia"
“Eu, Elizabeth Johnson, trago essa mensagem a todos os
Alfas que possam atender ao meu pedido.
Muitos dizem que a deusa da lua errou ao escolher o nosso
lendário Supremo. Porém, eu como a anciã mais antiga de toda
alcateia do sul, digo e afirmo que não há nada de errado com o
nosso Supremo de coração frio. Contudo, quem sou eu para julgar?
A deusa da lua Selene, viu que nosso Supremo não era digno de
uma companheira nesse momento e, como todos sabem, por esse
motivo ela o amaldiçoou a viver anos sem encontrar sua alma
gêmea. Essa é a versão da história que todos conhecem, mas a
mim Selene revelou o verdadeiro motivo. Revelou o porquê de
causar tamanha dor ao Supremo.
Eu, a Luna terceira da alcateia Lua Negra do Sul, vou contar
a vocês.
A nossa Luna Suprema terá um fruto com o nosso Supremo.
E esse filhote poderá salvar toda a nação. Ele trará a paz esperada
entre lobos e vampiros, ambos filhos da noite. Ambos filhos da
deusa da lua. Do grande laço entre o Supremo e sua companheira
nascerá o primeiro híbrido de sua descendência.
A deusa da lua me revelou mais e me mostrou quem seria a
nossa Luna Suprema. Tenho a honra de dizer que nascerá da
linhagem pura da minha família Johnson. Ela me revelou quem seria
e o nosso Supremo já foi avisado.
Mas, até lá, peço que cuidem da nossa Luna. Muitos inimigos
vão querer evitar essa paz desejada tentando impedir o seu
nascimento.
Protejam nossa Luna.
Protejam nossa escolhida.
Protejam Antonella.
Deixo essa carta para todos os alfas, pedindo a proteção da
nossa escolhida.
18/02/1805

Fiquei totalmente sem reação ao descobrir que não era uma


carta romântica como achei que fosse. É na realidade uma carta em
forma de aviso. Escrita à mão por uma mulher que também tinha o
sobrenome Johnson. Elizabeth Johnson. Preciso saber mais sobre
essa mulher e ter a certeza de que ela é da minha família. Até
mesmo meu nome foi citado nessa "história". Óbvio que isso não é
real. Provavelmente alguma brincadeira do meu pai para me animar
devido a nossa mudança de cidade. A carta que acabei de ler me
deixou confusa e cheia de dúvidas. E se não for o meu pai? E se
realmente for uma antepassada minha? Se for o caso,
provavelmente essa Elizabeth tinha problemas psicológicos. Talvez
tenha existido outra Antonella na família dos Johnson. Isso seria
loucura e uma grande coincidência!
Me dei conta de que preciso ir para casa. Daqui a pouco já
terá anoitecido. Tratei de começar a caminhar mais rápido saindo da
cafeteria. Ao sentir o frio em meu rosto, comecei a bater meu queixo
levemente. Céus, o clima dessa cidade está frio e os moradores se
vestem como se morassem em Dubai, debaixo de 30 graus na
praia! As pessoas andavam para lá e para cá com rapidez e
agilidade. Tentava acompanhar o ritmo deles em vão. Até ver uma
trilha na beira da estrada que deve dar exatamente nos fundos da
minha casa.
Surgiu a dúvida: ‘realmente devo entrar na floresta correndo o
risco de morrer apenas para chegar em casa?’ Óbvio que sim!
Minha mãe é muito pior que qualquer bicho, lobo, urso, aranha,
formiga e todos os outros insetos e animais perigosos que possam
me matar. Nenhuma dessas mortes se compararia com a morte que
eu teria pela minha mãe. E, afinal, eu só vou adiantar o caminho.
Dentro de meu ser, sabia que não era uma boa escolha.
Poderia estar indo diretamente para a minha "cova".
— Espero que saiba o que está fazendo, Antonella. —
Balançava minha cabeça em negação pela minha estúpida escolha
de ir pela floresta, mesmo assim entrei pela trilha.
Na realidade essa floresta é linda e encantadora de todas as
formas. De um jeito que atraía e amedrontava qualquer pessoa.
Assim que comecei a fazer a trilha me senti livre, algo me tomava,
me dominava. Minha alma pedia para sair correndo por entre as
árvores o mais rápido possível. Era uma sensação louca do
desconhecido com o sentimento de aconchego caseiro. Como se
meu coração tivesse encontrado o seu lar verdadeiro. Essa é a
melhor forma de descrever o que estou sentido. Sem pensar duas
vezes, comecei a correr por entre as árvores apenas sentindo a
felicidade sendo liberada de dentro de mim.
O vento contra o meu rosto, meus cabelos balançando,
sendo manuseados em uma dança no sentido contrário ao vento. O
frio que eu sentia já não estava em meu corpo, nem ao meu redor.
Somente sentia-me livre e feliz. Tenho que correr mais vezes na
floresta, se soubesse que isso era bom, tinha feito antes. Sendo
desastrada como sempre, pisei em um galho um pouco grande, o
que me fez cair no chão.
— Mas que merda!
Olhei para o meu mais novo machucado e aparentemente só
havia ralado o joelho. Revirando os olhos me levantei do chão,
sentindo um pouco de ardência no machucado que fiz. Bato minhas
mãos de leve sobre o sangue retirando as pedrinhas.
Suspirei assim que me toquei que já estava de noite e o
encanto que a floresta tinha havia se acabado, atraindo todo o lado
macabro de volta com força total. Era absolutamente assustador e
logo o sentimento de liberdade que eu sentia foi substituído por
medo e pavor.
— Droga... — sussurrei. Olhando em volta vi apenas
escuridão e o reflexo da lua sobre algumas árvores. — Sua mãe te
mata, isso se você não morrer antes. — Digo para mim mesma.
Pegando meu celular, vi que só tinha 20% de bateria e estava sem
sinal.
Sim, minha mãe vai me matar. Liguei o flash do meu celular e
comecei a iluminar o caminho da trilha, quase correndo por entre as
árvores. Um tempo depois parei ofegante e cansada. Maldita ideia
que tive! Não existia nenhum sinal indicando que acabaria logo a
trilha.
Antonella, você é burra!
Me bateria se tivesse como. Sou ridícula ao ponto de entrar
dentro dessa floresta sem conhecer nada estando quase
anoitecendo. Alguém por favor, me bata!
Arregalei meus olhos assim que escutei um galho se quebrar
atrás de algumas árvores. Sem controlar minha respiração se
desregulou. Me virei calmamente mirando o flash do meu celular
para o local do barulho. Meu coração disparou assim que vejo
reflexos de coisas que pareciam ser olhos, vultos que não consegui
identificar muito bem. Engoli seco achando que poderia estar vendo
demais. Sem pensar duas vezes, tratei de correr, estava com o
coração a mil e morrendo de medo.
Não acredito que você entrou em uma floresta com
psicopatas. Quem sabe não seja o próprio Jeff The Killer!
Corria rápido sem olhar para trás. Tinha certeza do que havia
visto e, mesmo que fosse coisa da minha imaginação, o lugar que
estou e a situação em que me encontro, dizem que não posso
questionar e nem duvidar de absolutamente nada. Senti minhas
pernas latejarem, já estava sem fôlego algum. Me arrisquei a olhar
para trás com o flash do celular e não vi absolutamente nada. Parei
e logo à frente vi uma cabana. Por que diabos teria uma cabana no
meio da floresta?
Fui em direção à mesma batendo na porta desesperadamente. Se
essa for realmente a bruxa de João e Maria, pelo menos vai me dar
água antes de me matar. Tentar ver o lado bom dessa estupidez
não estava ajudando. A realidade é que não tinha lado bom. Estou
perdida na floresta, correndo de algo, e agora estava batendo na
porta de uma cabana no meio do nada. Certamente estou pedindo
para morrer.
Apoiei minhas mãos nos joelhos, tentando puxar o fôlego,
assim que a porta da cabana se abriu. Acho que a teoria João e
Maria estava certa.
— Olá, minha querida, estava esperando por você. —
Olhando o doce sorriso que a senhora tinha, engoli seco um tanto
apavorada.
Capítulo Quatro

Os raios do sol iluminaram seu quarto.


O despertador tocou, trazendo a certeza de uma manhã
amarga.
Deu-se um nó na garganta, apertando-se sua alma.

Mih Franklim.
Antonella
— Como, minha senhora? — assustada a olhei.
Sem dúvidas a pior decisão da minha vida foi sair pela
floresta quase anoitecendo e, o pior, não tendo a total certeza que a
trilha daria na minha casa. Que tipo de merda eu tenho na cabeça
para fazer tal coisa? Não conheço essa floresta, então realmente eu
fui muito imprudente por ter tomado essa decisão.
Quando você estiver velha, irá rir disso. “Isso se essa
senhora não me matar aqui antes, né?” Matar-me? Olha a cara dela
de inofensiva, não faria mal nem a uma mosca. “A bruxa de João e
Maria também tinha essa aparência.” Ah, que coisa ridícula,
Antonella, vamos parar de conversa com você mesma e se
concentrar na sua morte aqui.
— Me parece que está perdida, não? — ela me olhou e sorriu
mais amplamente. — Venha, entre, você chegou na hora do chá.
Faça-me companhia e te levarei para casa depois.
Entrei em sua casa totalmente relutante acenando em
negação comigo mesma. Hoje eu havia quebrado todas as regras
da vida, por assim dizer. Havia entrando em uma floresta sozinha à
noite e, por fim, batia na porta da casa de uma estranha. Não me
julguem, estava cansada pelo tanto que andei e corri, nessas
circunstâncias mataria por um copo de água apenas. Creio que uma
senhora não conseguiria fazer nenhum mal a mim. Quando ela
pensar em fazer algo, já estaria pulando aquela janela. Assim
pensava ao seguir a mulher em um corredor, indo na direção da sala
da sua casa. Meus pensamentos, os quais tentavam me acalmar,
foram embora assim que vi um homem alto parado no meio da sala
de estar. Deveria ter 1,90 de altura. Um corpo todo tatuado, olhar
sério e intimidador. Embora fosse muito bonito, me passava medo.
Talvez porque ele seja um completo desconhecido.
— Visitas? — o homem a perguntou se levantando e me
olhou com um sorriso que diria parecer cínico.
Agora ela consegue me matar. Claro que vai me matar! Com
a ajuda desse homem ela me mata. Ele é obviamente mais forte do
que eu. Os dois conseguem me matar e ainda sair no jornal depois
de quinze anos: "Vovó do crime mata garota perdida na floresta".
— Sim. Essa é a Antonella. — Falou apontando para mim.
Sendo educado, o homem pegou em minha mão a beijando. Seu
olhar mudou, transparecia medo, eu diria, ou talvez fosse respeito.
— Como? Eu não disse o meu nome para a senhora. —
Totalmente espantada, a olhava sorrir.
— Eu disse que estava à sua espera. — Me deixando
curiosa, saiu da sala, voltando com uma bandeja de biscoitos e chá.
— Vamos, sente-se e coma um pouco.
Oh céus, o que há de errado com as pessoas dessa cidade?
Como essa senhora tem tanta naturalidade com isso? Okay,
realmente ela é a bruxa de João e Maria e vai me engordar para me
matar.
— Eu... eu... — intrigada, não conseguia dizer uma frase bem
formada, nem me mexer de pânico.
Ótimo jeito de correr de uma possível assassina, Antonella.
— Vamos, minha querida, não vou matá-la. — Dizia
demonstrando uma ternura em seu olhar. O tipo de coisa que uma
assassina diria para a sua vítima?
— Bom, a senhora tem visitas e tenho que voltar para casa.
Se me permite, com sua licença. — O homem levantou-se e a
abraçou. Logo em seguida, ele faz uma pequena reverência da
mesma forma que todos da cidade estavam fazendo mais cedo.
Talvez essas pessoas sejam realmente loucas. Eu tenho é que sair
dessa cidade. Como vou convencer meus pais? Isso será um
pequeno problema.
— Sente-se, querida. — Ao me servir um pouco de chá, falou
de forma autoritária enquanto segui com meu olhar os passos do
homem para fora da cabana. — Tome, beba, você deve estar com
sede. — Me sentei de frente para a senhora.
— Me desculpe... como a senhora sabia que eu viria? Como
sabia o meu nome?
— Minha querida, calma, uma pergunta por vez. — Disse me
entregando uma xícara de chá. Ela possuía uma calma que eu
desconhecia. — Eu sei de muita coisa.
Isso significa que vou morrer?
— Como?
— Não se preocupe com esse tipo de coisa! Vejamos, como
está se adaptando a cidade? Está gostando de ficar na casa da sua
família? Já conheceu pessoas novas?
— Você conhece a minha família? — disse espantada. Tudo
bem, algo realmente está acontecendo aqui.
— Oh, sim claro, claro! Os Johnson’s. Eu era uma grande
amiga da sua avó. — Ela sorri de uma forma nostálgica.
Sendo assim, melhor. Acho que ela no final de tudo só é uma
amiga da minha família que sabe demais. Porém, isso não
responderia o fato dela saber o meu nome... Suspirei aliviada,
sorrindo pela primeira vez para ela. Seu olhar me passava
confiança, mesmo que fosse estranho.
— Estou bem! — uma sensação estranha rondou por minhas
veias, então digo no impulso colocando a xicara de chá sobre a
mesinha de centro na sala.
De imediato, não estava mentindo. Não gostei dessa cidade.
Para falar a verdade não é questão de não gostar, só sinto
saudades dos meus amigos. E da minha vida, do meu antigo quarto,
até mesmo do ar que respirava...
— Tenho certeza de que você vai se acostumar rápido. — Ela
sorriu. — Afinal é o seu destino. — Por fim balançou os braços de
forma positiva.
— Destino? Não acredito em destinos, senhora. Sou dessas
pessoas que acreditam no agora. Porque o amanhã não nos
pertence. — Digo a olhando um pouco convencida.
— Tem razão, não nos pertence, minha jovem. Mas ele já
está traçado! — dando de ombros, se levantou. — Bom! Vamos, eu
vou te levar para casa.
Levantei-me a seguindo para fora da cabana. Assim que ela
fechou a porta, olhei mais uma vez para a floresta, me lembrando
dos vultos que vi. Sinto medo novamente sem demonstrar.
— Vamos? — falou entrando em um carro que eu não vi aqui
quando bati em sua porta.
Achei que ela me mostraria uma vassoura voadora. Quem
sabe um portal ou algo do tipo? Sorri com meus pensamentos
idiotas e entrei no carro vendo-a dar a partida. Me remexia sentindo-
me um pouco desconfortável no carro.
— A senhora...
— Pode me chama de Mali. — Me interrompeu sorrindo.
Estava tão distraída que até agora não havia perguntado o
seu nome.
— Mali, certo. Saberia me dizer se tem algum tipo de bicho
nessa floresta? Ou sei lá, algum tipo de maldição? — perguntei me
lembrando dos vultos que me assustaram.
—Maldição? — ela ri. — Por que a pergunta?
— Bom, eu vi alguns vultos, não sei, com olhos. — Disse
tentando não parecer meio louca.
— Têm lobos nessa região.
— Lobos? Lobos perto de Nova York? — a olhei perplexa.
— Sim. Esse é um segredinho da cidade. — Piscando
discretamente, Mali estacionou o carro em frente à minha casa.
— Obrigada! — meio dispersa saio do veículo vendo-a dar
partida dando a volta pela estrada que viemos.
Sempre fui a favor do desconhecido e de mudanças, mas
essa já está me deixando louca. Essa senhora nem me perguntou o
endereço. Céus! Preciso falar com meus pais para sairmos dessa
cidade o mais rápido possível. Não acreditava em bruxas, mas
também nunca disse que elas não poderiam existir.
Bati na porta de casa com pressa. Estava com medo de ficar
ao lado de fora, já esperava que minha mãe me matasse juntamente
com o meu pai por te chegado tarde e passar o dia fora sem avisar.
— Antonella? — ao abrir a porta, minha mãe me olhou
suspirando de alívio e me puxou para um abraço.
— Desculpa, mamãe, eu...
Ela me interrompeu, segurou o meu rosto com suas mãos,
olhando dentro dos meus olhos e forçou um sorriso.
— Tudo bem! Já jantou? Eu separei o seu jantar. — Começou
a andar para dentro de casa me deixando plantada na porta.
Como é que é? Como assim? Ela não vai brigar comigo? O
quê? A cidade fez uma lavagem na cabeça da minha família. Não
tem outra explicação! Antonella acorda, essa cidade está fazendo
uma lavagem na sua família! Indignada fui atrás dela para a
cozinha.
— Mamãe? — seguindo seus passos para a cozinha, a vejo
pegar um prato de comida e colocá-lo sobre a mesa como se não
tivesse acontecido nada.
— Sim? — fui capaz de notar a preocupação no seu olhar.
— O que está acontecendo? — eu sabia que algo não estava
certo. Acho que qualquer um em sã consciência saberia que tem
algo de errado. Primeiro, nossa mudança inesperada. Depois, essa
carta ‘pré-histórica’, a senhora na floresta e agora minha mãe
agindo como se não fosse ela.
— Nada, Nella. Pare de bobagem! Venha vou jantar com
você. — Ela disse sorrindo forçadamente. Assim que me sentei na
cadeira, logo ela se sentou ao meu lado.
Conhecendo minha mãe, algo estava a deixando
preocupada. E meus instintos dizem que tem total relação com essa
cidade.
— Você sabe que pode sempre contar comigo, não sabe? —
a olhei assim que segurei sua mão por cima da mesa.
— Sim, minha filha. Por que está falando isso?
— Mãe, te conheço bem, sei quando tem algo te
incomodando. Você pode me dizer, sabe... — sorri ao tentar lhe
passar confiança. — Tem relação com essa mudança de última
hora, não tem?
— Não foi uma mudança de última hora. — Suspirou fundo,
focando seu olhar para um ponto específico na parede.
— Seu pai e eu estamos planejando essa mudança desde o
seu nascimento... É... coma logo antes que sua comida esfrie.
— Mamãe, como assim essa 'mudança' já estava planejada
há muito tempo? O que vocês estão escondendo?
— Pare de bobagem! Não estamos escondendo nada. — Se
levantou nervosa assim que a olhei. Não estou acreditando que
meus pais estavam escondendo algo de mim.
— Hoje... — comecei a dizer. Talvez ela me conte se eu
dissesse a ela. — Fiquei perdida na floresta. Foi totalmente estranho
a forma.... a forma, que essa floresta me deixou contente e com um
sentimento de aconchego... bom, ... fiquei perdida até uma senhora
me ajudar, foi ela quem me trouxe. — Digo esperando uma resposta
de sua parte, porém ela permaneceu em silêncio começando a lavar
louça, o que me deixou perplexa e completamente indignada. —
Sério? Eu digo que fiquei perdida, que conheci uma estranha e a
senhora não diz nada. — Minha voz não disfarçava o quanto estava
aflita e incomodada com isso.
— Quer que eu diga o que, Antonella? — se virando para
mim novamente, veio e se sentou ao meu lado me olhando
seriamente.
— Como o que? Talvez o essencial? Como por que nos
mudamos, já que vocês só me contaram um dia antes, não é
mesmo?
— Esse assunto não lhe diz respeito agora. — Ao escutá-la
falando de uma forma seria, parei de jantar na mesma hora, a
olhando sem acreditar.
— Eu moro com vocês, então isso me diz respeito sim, mãe!
— Esse assunto está encerrado. — Indignada, suspirei
pesadamente demonstrando minha revolta.
Conheço a minha mãe há tempo suficiente para entender que
quando ela diz isso, realmente acabou. Agora mais que nunca sei
que essa cidade não é normal, talvez aquela carta não seja uma
brincadeira do meu pai.
— Cadê o papai? — perguntei. Meu pai sempre foi mais
compreensivo. Ele me falaria, tenho certeza.
— Ele teve que sair. — Com seu olhar severo, me respondia
sendo direta e objetiva.
— A essa hora da noite?
— Sim.
Suspirei derrotada, começando a comer em silêncio. A todo o
momento minha mãe me olhava de um jeito que eu não sabia
descrever e aquilo estava me incomodando.
— Mamãe, pare de me olhar assim. Parece que vou morrer!
— digo revirando meus olhos em um ato desdenhoso.
— Desculpe, querida! — com um suspiro de derrotada, minha
mãe abaixou os ombros desfazendo um pouco a postura que havia
tomado. — Você logo completará seus dezoito anos. — Sem
nenhuma empolgação, falou fechando os olhos.
— Ainda falta algumas semanas. — Completei.
— É, ainda falta. — Como se fosse algo bom, veio em minha
direção e beijou meus cabelos de forma carinhosa.
Era nítido que algo estava acontecendo aqui e que meus pais
não vão me contar. Terei que descobrir sozinha. O que será que
Southampton esconde?
Capítulo Cinco

Uma parte de mim é todo mundo.


Outra parte é ninguém, perdida na imensa escuridão desse
universo que estamos destinados a viver.

Mih Franklim
Antonella
Acordei assustada no meio da noite suando frio, ao sentir-me
observada de novo. Odiava sentir-me assim. Olhando no meu
celular, vi que já eram três e trinta e cinco da madrugada. Talvez
essa seja a noite mais mal dormida de toda a minha vida. A
conversa que tive com minha mãe não me deixava descansar
corretamente. Tenho certeza de que ela sabe o que está
acontecendo, mas o pior de tudo é saber que ela não vai me dizer
nada. Terei que descobrir sozinha. Me sentei na cama e olhei para a
janela entreaberta, a cortina balançava conforme o vento de uma
forma meio macabra.
— AHHHHH... — me assustei dando um pequeno pulo sobre
a cama, segurando com força o lençol que me cobria.
Um uivo vindo do lado de fora da casa fez meu pobre
coração disparar como um tambor. Uma onda de medo percorreu
todo o meu corpo, me fazendo suspirar alto e segurar a colcha da
cama com força me cobrindo toda. Eu sei que a Mali disse que
havia lobos nessa área, mas isso me assusta.
Demorei um tempo até conseguir pegar no sono de novo.

***

Primeiro dia de aula na escola nova, sem dúvidas é um


verdadeiro porre. Eu sei o quanto é chato ser a novata. Eu sei como
é horrível e ridículo, ainda mais no último ano escolar.
Acordei de mais uma noite mal dormida, já que não
conseguia dormir direito com os sonhos eróticos que vinha tendo. E
confesso que depois do uivo do suposto lobo na floresta, fiquei com
um pouco de medo. Sem contar que a conversa que tive com minha
mãe não saía da minha cabeça.
Me levantei da cama bufando. Um mal humor matinal pior
que o meu, acho que não se encontra nessa terra.
— Merda! — o sentimento de insatisfação por ter acordado
cedo me rondava. Minha cabeça latejava e doía como nunca. Enfim,
um típico dia de aula.
Vou caminhando para o banheiro e tomo um bom banho,
fazendo toda minha higiene matinal. Coloquei o uniforme da escola
que é extremamente chamativo em uma cor laranja. Me sentia uma
abóbora, já que meus cabelos também são ruivos. Sou dessas
meninas que acorda e prende o cabelo, sem passar nenhuma
maquiagem, e já vai para a escola. Não entendo como as outras
garotas conseguem se arrumar tanto para irem à escola, é só a
escola. Desci as escadas com meu mau humor matinal.
— Antonella, que saia é essa? — assim que entrei na
cozinha e peguei uma maçã, meu pai deu indícios de que daria um
sermão pela minha roupa.
O olhei revirando os olhos assim que mordi a fruta. Eles
nunca colocaram limites nas minhas roupas, por que agora iriam
colocar? Por que estão agindo estranhamente nessa cidade? Por
que estão me tratando como uma criança que vai morrer ou ser
mandada para um orfanato? Ah, me poupe! E afinal, é o uniforme,
não sou eu que escolhi essa saia laranja igual a uma abóbora.
Porque, porque, porque, tantos "porquês" cansei, quero respostas!
— É a minha saia. — Sendo irônica, comecei a sair em
direção à porta da cozinha.
— Não fale assim com o seu pai, Antonella! — minha mãe
advertiu se sentando à mesa.
— Desculpa. — Suspirando olhei para o meu pai, um pouco
arrependida por minha arrogância. Depois que nos mudamos para
esse lugar minha mente parece estar como um turbilhão.
— Está muito curta, Antonella. Vá trocar de roupa. As
pessoas dessa cidade vão pensar coisas erradas ao seu respeito.
— Ao me olhar seriamente, minha mãe falou assim que suspirou
bebendo um pouco de café.
— Não! — falei atraindo os olhares espantados dos meus
pais.
Pela primeira vez na vida, eu disse ‘não’ para minha mãe, e
estava pronta para morrer. Na realidade, eu estava pronta para tudo.
Tudo o que possa me explicar o porquê desse comportamento
deles.
— Antonella! Por que você está assim? O que está
acontecendo com você? — meu pai me olhou incrédulo. Talvez eu
esteja sendo dura demais com ele, afinal, meu pai não teve culpa da
conversa de ontem com minha mãe.
— Papai me desculpe, mas não vou ficar agindo como se
tudo estivesse bem se vocês não estão agindo com normalidade. Eu
sei que está acontecendo alguma coisa e enquanto vocês não me
contarem, eu vou tentar descobrir de todas as formas. — Com
calma, olhei atentamente para eles.
— Antonella... — interrompendo minha mãe falei: — E minha
saia faz parte do uniforme. Querem que eu mude de roupa?
Reclamem com a escola. — Sentindo meu coração se acelerar, uma
raiva me tomou de uma forma incontrolável me fazendo dar um soco
na parede. Olhei perplexa para minha mão que atravessou o outro
lado dos blocos de concreto, sem doer.
— Antonella! — minha mãe levantou-se vindo em minha
direção, preocupada.
— Como? — incrédula, olhei para minha mão que não tinha
um arranhão sequer.
Como era possível? No mínimo, era para eu ter quebrado a
mão. Por que eu senti uma força fora do comum dentro de mim? Por
que não está doendo? Por que essa porra não está sangrando?
Meu Deus do céu, eu sou uma alienígena? Olhei para minha mãe
incrédula esperando no mínimo uma explicação. Mas como sempre
nada!
Meu pai abaixou a cabeça e suspirou assim que minha mãe
voltou a se sentar em seu lugar, continuando a tomar café sem falar
absolutamente nada, como se nada tivesse acontecido. É oficial,
meus pais sofreram uma lavagem cerebral! Bufei frustrada quando
vi que não iria obter as respostas que queria e precisava para não
ficar louca.
— Vou usar a sua bicicleta, pai. — Dei as costas para os
dois, tendo a certeza de que não adiantaria falar nada.
— Eu te lev... — levantei a mão o interrompendo.
— Não! — saí de casa sem olhar para os meus pais,
totalmente frustrada, com mais perguntas do que respostas.
Andei até a garagem e bufei de raiva subindo na bicicleta
verde que meu pai tinha.
Fala sério, eu não era normal! Isso eu já consegui entender.
Como uma garota de dezessete anos consegue quebrar a parede
da casa e não se machucar? Nem um arranhão sequer. Algo não
estava certo e eu sei que no fundo isso tem ligação com o
comportamento dos meus pais. Aquela carta de Elizabeth Johnson,
então, é real? Eu só precisava descobrir o que estão escondendo,
talvez tenha uma interligação com essa carta. Estou farta disso!
Definitivamente farta! Seria tão simples me contarem e falar logo o
que está acontecendo, ainda mais se for comigo. É um direito meu
saber, não é?
Eu sabia mais ou menos onde era escola. Contudo, na
realidade, estou tão frustrada que não ligava para ela. Só consigo
pensar em como foi possível eu ter quebrado a parede de casa sem
me machucar. Essa cidade, que cidade estranha! Que tipo de
cidade tem lobos e, pior, perto de Nova York?
Freei bruscamente a bicicleta olhando assustada a mata ao
meu redor. Um sentimento de frustração e de respostas veio como
uma alavanca na minha cabeça. De repente, tudo começou a fazer
sentido.
Lobos, floresta estranha, pessoas estranhas, os livros na
biblioteca sobre lobisomens, o soco que eu dei na parede e não me
machuquei, o comportamento dos meus pais, a carta de Elizabeth e
a volta dos meus pais para esse país depois de anos sem ao menos
conversarem comigo sobre nossa família. Tudo começou a fazer
sentido.
Provavelmente estou louca por pensar assim! Como seria
possível? Não, não, não existem lobos e vampiros, essa realidade é
somente no mundo cinematográfico e em livros. Mas e se não for? E
se realmente não for apenas em livros?
Eu, definitivamente, estou ficando louca. Olha onde meus
pensamentos então me levando, a essa altura do campeonato eu já
não duvido de nada. Será que sou algum tipo de ser mitológico?
Será que minha família é assim? Isso explicaria o soco na parede.
Preciso de provas, não posso tirar conclusões precipitadas! Estou
ficando louca por achar que todos dessa cidade são lobisomens?
Ou estou certa?
Capítulo Seis

A sensação do vazio nem sempre é pela falta de algo, mas


sim por estar cheio de tudo, a ponto de sufocar aquilo que realmente
é essencial.

Mih Franklim
Antonella
Ao receber alguns olhares, apenas os ignorei suspirando.
Minha cabeça estava a mil, e não tinha hipótese de me preocupar
em ser a “novata”. Caminhando para dentro da escola, segurava
minha mochila com medo. Medo do que eu poderia descobrir.
Talvez se eu ligasse para o Mateus ou para a Mia, eles
poderiam me ajudar. Ajudar como, Antonella? Você está aqui há
alguns dias e até então eles não te procuraram! Eu sei que eles nem
me mandaram sequer uma mensagem. Mas e se eles puderem me
ajudar? Talvez eles digam algo que faça sentido. Algo que não
permita que eu fique louca de uma vez.
Eu realmente deveria ver o Hugo. Suspirei desanimada. Hugo
estava muito próximo de mim nesses dias, ele seria tão útil nesses
momentos. Ele sabe dos meus medos e de alguns segredos que me
cercavam. Eu precisava do Hugo na minha vida! Um Hugo que
apenas me escutasse e me ajudasse a não ficar louca.
De repente, sinto uma imensa vontade de chorar, o medo se
apossou de mim tão rápido quanto um resfriado que chega no frio
da madrugada. Olhei para algumas pessoas no corredor e limpei
uma lágrima que teimosamente saía dos meus olhos. Tratei logo de
me controlar. Olhando o horário das minhas aulas, me encaminhei
até a minha sala já que o sinal havia batido, fazendo os corredores
ficarem lotados com a agitação de todos, que se encaminhavam
para suas salas.
Entrando na sala, me sentei em uma das últimas mesas.
Encostei-me à parede e comecei a reparar nas pessoas chegando.
O primeiro grupo de pessoas que passou pelas portas foram os
nerds (todas as escolas que frequentei foram assim), o segundo
grupo era os jogadores de alguma coisa. Como eu sei? A camisa os
entregava. Eles são lindos, mas geralmente o cérebro é do tamanho
de uma cereja. Por último, vemos claramente que as que
comandavam a sala estão em ação. A importância da existência
delas em minha vida é tão fútil quanto uma mosca.
Ao todo eram cinco garotas. Cinco meninas que pareciam
viver para reinar e comandar. De primeira já vi quem comandava o
suposto rebanho. Bonita, não vou negar. Tem cabelos curtos que
vão até seus ombros, seus lábios estão marcados por um batom
vermelho e suas roupas deixavam expostos os traços do seu corpo.
Já as outras eram como se fossem uma cópia dela.
No momento em que ela me viu, tive certeza de que teria
problemas.
Conheço bem esse tipo de garota, já lidei com muitas. Sorri
para ela de uma forma receptiva. Não quero arranjar confusão,
entretanto também não quero ser a chacota dela. Suspirei sentindo
a tensão no ar. O grupo das garotas se sentou perto dos garotos
que não estão muito longe de mim. Começaram a cochichar
baixinho, me deixando desconfortável. Não tenho tempo para essa
baboseira, tenho que descobrir o que meus pais estão escondendo.
Estando distraída, dei um pulo de susto ao sentir uma mão no meu
ombro. Olhei rapidamente para o lado e vejo um garoto do time.
— Oi, gatinha, satisfação. Sou Daniel, mas pode me chamar
de Gênio da lâmpada para satisfazer os seus desejos. — Revirei os
olhos demonstrando meu incômodo. Que cantada ridícula!
Como eu disse, sem cérebro. Me controlei para não me
estressar por completo. Vamos com calma Antonella, não é porque
seu dia está uma merda que você deve matar uma pessoa.
— Olá, Daniel. — Sorrindo de uma forma totalmente forçada,
digo o olhando ao piscar repetidamente meus olhos. — Que cantada
barata! Acho que deveria tentar de novo.
Escutei alguns dos seus amigos rindo, já a menina me olhou
analisando-me. O que me deixou desconfortável, me fazendo
remexer na carteira.
— Como você se chama? — ela perguntou fazendo todos da
sala ficarem em silêncio. Olhei para ela, engolindo seco com total
desconforto.
— Antonella. — Ao dizer meu nome, notei o olhar dos garotos
demonstrando espanto.
— Me desculpa, não foi minha intenção... dar em cima de
você. — Daniel abaixou a cabeça em uma forma de reverência, o
que me fez achar estranho. Nesse momento, não posso surtar.
— Cara, você está morto! — um de seus amigos falou assim
que ele se sentou novamente no seu lugar.
Essa reação deles... por quê? Por que ficaram
desconfortáveis com a minha presença? Essa situação está me
deixando definitivamente louca e sem ação. Está decidido, hoje
mesmo vou ligar para Mia e Mateus, eles têm que me ajudar. A
professora entrou na sala com os materiais em mãos. Suspirei
desconfortável vendo que alguns olhavam para mim de uma forma
que não sabia responder.
— Bom dia, alunos! Vejo que temos uma novata. Certo,
apresente-se. — Assim que a professora me viu, falou tudo o que eu
não queria ouvir. Odeio apresentações.
— Me chamo Antonella, vim de Rosnov na Romênia... acho
que é só isso! — totalmente constrangida, me levantei e falei rápido
olhando para o chão.
— Tudo bem, Antonella, pode sentar-se.
Durante toda a aula o desconforto era tão irritante que minha
vontade era de levantar e gritar para todos: "Parem de me olhar,
porra!". Mas já estou ficando louca e totalmente fora do normal,
imagina só se fizesse isso! Aí realmente teria a certeza de que estou
louca.
Assim que tocou o sinal para irmos embora, me levantei sem
rumo. Tudo indicava que iríamos sair mais cedo, não me perguntem
o porquê! Ao andar pelo corredor totalmente distante da minha
realidade, um esbarrão me fez gemer de dor e dar alguns passos
para trás com o impacto.
— Aiii! — coloquei a mão em meu ombro pelo impacto. A
garota da sala me olhou de cima a baixo como se eu fosse um
problema.
— Desculpe, não foi minha intenção machucar a protegida.
— Com pura ironia, falou me empurrando me fazendo dar dois
passos para trás.
— Protegida? — a olhei incrédula, sem entender
absolutamente nada do que dizia. Essa história toda já estava me
dando nos nervos, agora me resta essa também.
Ela sorriu passando por mim e me empurrando na parede, o
que me deixou sem reação. Como isso era possível? Eu literalmente
cheguei ao meu limite. Chega de pessoas agindo de uma forma
diferente ao saberem o meu nome, chega dos meus pais me
escondendo algo, chega de saber que tem alguma coisa de anormal
comigo! Eu quero respostas!
Assim que ela deu as costas para mim, pelo impulso e
adrenalina que sentia momentaneamente, a empurrei contra a
parede. Olhando em seu rosto via o medo passar por seus olhos. Eu
estava ofegante e pronta para dar um soco na cara dela, mas não
iria fazer isso, eu só precisava de respostas. Talvez ela tenha o que
eu precise saber ou talvez só seja mais uma sabichona mesmo.
Torça para ser a primeira opção.
— Você está louca, garota? Sabe quem eu sou? — como se
rosnasse por entre dentes, atraiu a atenção de todos que passavam
pelo corredor.
Dei o meu melhor e mais trabalhado sorriso cínico, coloquei
uma mão ao lado do seu rosto e continuei a olhando de uma forma
desafiadora. Enquanto a imprensava contra a parede no corredor,
um pequeno grupo de pessoas começou a se formar ao nosso
redor. Na realidade, eu estava morrendo de medo. Nunca briguei na
escola, nunca precisei ter que enfrentar alguém. Mas se isso era
necessário, eu iria enfrentá-la.
— Não. Quem é você? — a perguntei baixo em um sussurro,
tendo a sensação de que todos escutavam minhas palavras.
— Eu sou Amélia Schweitzer. — Exalando confiança e
autoridade, empinou o nariz me olhando de uma forma superior.
Sorri. Era isso que eu queria. Queria alguém que não
reagisse como se eu fosse uma pessoa diferente.
— Tá rindo do quê? — ela diz bufando de ódio.
Sou surpreendida com uma manobra que ela faz. Ao segurar
meu braço com força, inverteu a posição em que estávamos
segundos atrás. Olhando em seus olhos, os vejo mudar para a cor
laranja. Ela rugiu alto. Espera, ela está rugindo? Encolhi os ombros
assim que ela me apertou contra os armários do corredor.
— Para com isso, Amélia! — um garoto a segurou pela
cintura arrancando-a de cima de mim — Você está louca? E se for
ela realmente... Você estaria colocando sua cabeça a prêmio, sua
idiota! — ele gritou, a arrastando para longe.
Tentei recobrar minha consciência. Realmente não estou
louca. Os olhos dela mudaram de cor. Escorei na parede ao tentar
digerir tudo que estava acontecendo. Preciso de uma prova mais
concreta, precisava ter a certeza de que isso não é loucura. Passei
a mão na minha testa e suspirei alto fechando meus olhos. No
fundo, eu sei o que todos são, sei o que meus pais são e o que eu
sou. Só não quero acreditar.
— Oi, você está bem?
Capítulo Sete

Seu coração grita por misericórdia, transparecendo a tristeza


que há em sua alma.
Como um vasto sonhador, tenta descobrir o melhor para si
só.

Mih Franklim
Antonella
— Você está bem? — perguntou novamente atraindo a minha
atenção.
— Sim. — Sorri simpaticamente para o garoto, pegando o
copo de água que ele erguia, me oferecendo.
— Não liga para o que a Amélia diz. Ela é assim mesmo. —
Falou sorrindo, e que sorriso lindo!
O encarava de relance ao beber água. Os traços do seu rosto
pareciam que foram feitos à mão. Os cabelos loiros bagunçados e o
seu olhar, chamava completamente atenção. Com um estilo de "bad
boy" e um sorriso de molhar calcinhas, eu diria que provavelmente
ele é popular.
— Obrigada! Como se chama?
— Que vacilo meu! Me chamo Thomas Underwood. — Ele
sorri, esticando a mão para me cumprimentar. Finalmente uma
pessoa normal nessa cidade. A julgar por seu jeito, ele aparenta ser
normal.
— Prazer, Antonella, Antonella Johnson. — Disse
simpaticamente sorrindo. Sem cumprimentos estranhos, sem
assuntos estranhos. Ele era um homem normal, aparentemente o
mais normal de toda essa cidade louca.
— Eu te acompanho até lá fora. — Disse.
Concordei. Não deixei de notar alguns olhares sobre nós, o
que não me incomodou. As pessoas faziam os acenos estranhos e
ele ignorava como se não fosse nada.
Talvez eu devesse ignorar isso tudo.
E se ele for uma pessoa que possa me ajudar. Talvez eu
encontre respostas nele. Me tornei uma obcecada. Suspirando com
curiosidade a palavra "lobisomem" rondava em minha cabeça.
Resolvi perguntá-lo. Afinal, não custa tentar, né? Porém antes que
eu pudesse perguntar, ele falou sorrindo: — Foi bom te conhecer,
Antonella, mas tenho que ir. — Reparei em um carro preto do outro
lado da rua, já que ele olhava discretamente naquela direção.
— Tudo bem, foi um grande prazer! — concordei, ainda
encarando o carro, que graças aos vidros escuros, não conseguia
ver o seu interior.
— Você quer uma carona? — falou me olhando. Sinto meu
estômago revirar.
— Não. Eu vim de bicicleta. Obrigada por você, sabe... — um
pouco constrangida, me referi à minha idiota discussão com Amélia.
— Tudo bem, amigos servem para isso, não é? — ao sorrir
de forma contagiante, Thomas falou deixando visível sua
sinceridade.
Eu sei que é errado confiar em alguém que conhecemos há
tão pouco tempo, mas eu cheguei em uma fase que não confio em
ninguém mais. E o Thomas... me pareceu ser uma boa pessoa e,
principalmente, verdadeiro.
Olhei mais uma vez para o carro sentindo um arrepio
percorrer todo o meu corpo. A minha curiosidade era tanta que, para
não ir até lá, tive que apertar a alça da minha mochila com força.
Medo, borboletas no estômago, minhas mãos começaram a suar e
meus olhos eram como ímãs que me atraiam para aquele carro.
Não sei o que esses sentimentos são e não sei por que eu sinto
isso. Olhei para o Thomas que parecia analisar minha reação com
um sorriso travesso no rosto.
— Tem certeza de que não quer a carona? — totalmente
travesso, ele me olhou de forma divertida arqueando uma
sobrancelha.
— Não. Estou bem... bom é... que gosto de car-carros. —
Gaguejei um pouco vendo ele rir da minha mentira.
— Sei, sei, então você gostou do Impala do meu irmão?
— Sim, o Impala é bonito. — Dei de ombros concordando.
— Antonella, é uma BMW. — Gargalhando da minha cara.
Me fez bufar ao me deixar desconfortável.
— Idiota! — segurei a risada, mas logo ri o acompanhando,
ao dar um leve tapa em seu ombro. Não sabia mentir. Isso era bem
visível para todos. Sorrindo para ele, eu olhei de novo para o carro e
me virei suspirando ao arquear uma sobrancelha em forma de
divertimento.
— Pelo menos não tenho uma babá para me buscar na
escola. — Sendo irônica, digo o zoando, assim que ele sorri de uma
forma charmosa.
— Não é minha babá. É o meu irmão e ele não vem me
buscar... eu não estudo mais. — Thomas olhou para o carro, depois
voltou a me olhar.
— Não é um aluno? Achei que fosse... E o que faz aqui? —
demonstrando a minha curiosidade, o fitei. Sua aparência me
lembra um estudante.
—Quantas perguntas!
— Desculpa a intromissão... — sinto minhas bochechas
esquentarem.
— Tudo bem! Precisava resolver uns assuntos. — Me dando
um abraço, Thomas não tirou seus olhos do carro. — A gente se ver
por aí! Tome, esse é o meu número, qualquer coisa me liga. Até
mais, Antonella! — dito isso me entregou um bilhete com o seu
número. Beijou minha bochecha me pegando desprevenida.
Olhei para ele acenando, assim que o vejo se afastar,
Thomas entrou no carro sorrindo. Logo em seguida o veículo deu
uma partida rápida e saiu cantando pneu, cheguei para trás
negando com cabeça ao sorrir. Doidos! Subo na minha bicicleta
para ir embora depressa.
Assim que vejo o local no qual vi os vultos, suspirei ficando
em alerta. Havia tomado a decisão de ir pela floresta. Quem sabe ao
traçar a trilha que me perdi naquela noite não consiga respostas?
Como ainda são duas horas, não corro o risco de anoitecer. E sei
que não vou me perder como da outra vez, já que lembro bem o
caminho que Mali fez. Assim eu espero! Tudo é tão calmo durante o
dia, nenhum sinal dos "lobos" que estavam me olhando aquele dia.
A brisa suave da tarde tocava meu rosto, me fazendo suspirar e
sorrir. Nesse momento, era tão agradável essa floresta que se
pudesse morava dentro dela. Pedalava com muita calma.
Impressionante a forma que esse lugar se transforma de uma hora
para a outra. Por um momento me esqueci de tudo. Esqueci que
meus pais me escondiam algo, que eu quebrei a parede de casa
com apenas um soco, que estou desconfiada que lobisomens
pudessem existir e, principalmente, que eu possa ser um
lobisomem. Isso está me deixando frustrada e louca. Louca por
respostas.
Sinto o impacto de alguém me empurrando, fazendo meu
corpo voar por cima da bicicleta. Fico sem respirar por segundos.
— Aiiiiiiiiiiiiii — coloquei minhas mãos sobre minha cabeça
sentindo o sangue quente escorrer por entre meus cabelos. Minha
visão ficou turva, ao ponto de me deixar totalmente zonza.
Tentei abrir os olhos, mas via tudo embaçado. Estava tonta e
sem fôlego. Com a força com que fui arremessada da bicicleta, bati
de costas em uma árvore. Minha perna doía. Droga, não conseguia
mexê-la direito!
— Tão frágil! — um homem parou em minha frente dizendo
de forma macabra, fazendo cada parte do meu corpo sentir pavor.
— Quem é você? — assustada, tento me sentar com
dificuldade pela dor em meu corpo.
Olhei para o homem que parecia se divertir com o meu
sofrimento. Ao sentir o medo me dominar, logo comecei a suar frio.
Minhas mãos ficaram geladas. Escorei na árvore por completo, já
que não conseguia mexer minha perna esquerda. Acho que deve ter
quebrado.
— Sem perguntas. Não gosto de falar da minha vida com a
comida. — Vejo presas crescendo em sua boca, seus olhos mudam
de cor e começaram a tomar uma formar demoníaca, cheia de veias
pretas em volta do seu rosto.
— Você-ê é um vampiro! — minha voz saiu em um sussurro,
carregada de temor.
Isso era tudo que eu precisava para confirmar minhas
paranoias. Estava vendo um ser mitológico bem na minha frente,
então não tinha possibilidades de estar ficando louca. Céus, não
estou louca! Olhei incrédula, sentindo meu sangue gelar. Então era
isso? Eu iria descobrir a existência desses seres e iria morrer? Era
isso que o destino me reservava?
— Isso mesmo, lobinha! — conforme se aproximou do meu
corpo, sinto meu sangue gelar completamente, deixando bem visível
o medo transparecer em minha face.
"Lobinha", ele me chamou de lobinha. Então eu estava certa,
eu era alguma espécie de lobisomem. Engoli seco com a minha
descoberta e, possivelmente, com minha morte que iria acontecer
bem aqui e agora. Ao se aproximar, ele pegou uma mecha do meu
cabelo, a tirando do meu rosto. Eu tremia, ‘tremia de medo!’ Não
sabia como reagir a essa situação. Acabei de descobrir da pior
forma possível que sou uma "loba", ou algo desse gênero, e tem um
vampiro disposto a me matar bem agora.
Ele sorri como se soubesse dos meus sentimentos. De uma
forma doentia fechou seus olhos farejando o ar ao redor do meu
rosto, como se fosse algo muito bom. Chegando bem perto do meu
rosto, pude sentir sua respiração que despertou repulsa no meu
corpo.
— Como ‘ele’ tem coragem de deixá-la assim, frágil e
sozinha?
Capítulo Oito

E se não fosse a tempestade tão certa, Se eu soubesse


navegar melhor, Se meu barco não tivesse virado, Se não fosse o
mau-olhado, Se seu coração não tivesse ancorado no passado, E
se o sol não lembrasse tanto o seu sorriso, Acho que poderíamos
ter vivido um grande amor.

Mih Franklim
Antonella
O medo e a angústia me rodearam até que eu ficasse
completamente sem ar. Frustrada pela aproximação do seu rosto
em direção ao meu pescoço, minha respiração se acelerava cada
vez mais, o desespero nascia em meu ser, fazendo meu corpo
começar a tremer. Sinto suas presas roçarem em minha pele. O
vampiro segurou meu rosto com força, impossibilitando meus
movimentos. Soltei um grito apavorante ao sentir a agonia de sua
mordida.
A dor ficava cada fez mais forte na medida em que tentava
lutar sem obter sucesso. O vampiro me segurou de uma forma que
impossibilitou todos meus movimentos. E ali estava eu! Com uma
dor infernal fazendo-me sentir cada parte do meu corpo desfalecer,
sendo sugada por um vampiro que irá tirar a minha vida.
Fechei os olhos sentindo a fraqueza me dominar lentamente.
Comecei a afrouxar minhas mãos, que o seguravam com força para
empurrá-lo. Era inevitável não me sentir fraca, indefesa. Já estava
bastante zonza quando escutei uma voz. Poderia dizer que estava
delirando ou vendo coisas devido à falta de sangue no meu corpo.
—TIRA SUAS MÃOS DELA! — o vampiro foi brutalmente
arremessado para o outro lado da floresta. Tentei me sentar
corretamente e abrir os olhos para ter a certeza de quem era o dono
da voz. Zonza, via tudo embaçado. Contudo, dentro do meu
coração, reconheço o meu Salvador.
— Ma-mateus... — sentindo me agoniada, digo tentando me
mexer. Ao gemer de dor, meu amigo correu ao meu encontro
totalmente desesperado.
— Antonella... calma, não se mexa! — Mateus aproximou-se
colocando suas mãos no meu pescoço. Tinha certeza do que estava
vendo! Mateus tinha os olhos amarelos e seu rosto tinha um pouco
de pelo, já em sua boca saltava quatro presas enormes, duas em
cima e duas em baixo.
— Voc-ê também-m — a única coisa que consegui dizer.
— Shiuu. — Mateus falou me pegando no colo.
— Cuidado, o vampiro pode voltar. — Tentava alertá-lo
desesperada, com medo, mas ele não demonstrava importância em
minhas falas.
— Não se preocupe, tenho certeza de que a essa hora ele já
está morto. Agora fique quieta, você está perdendo sangue. —
Olhando em volta, meu amigo começou a andar comigo em seus
braços.
O olhei incrédula sentindo minha visão escurecer. Minha
perna doía, meu pescoço não parava de sangrar e estava fraca
demais. Tive a certeza de que meu amigo é um lobisomem. Apaguei
assim.

***

Estava fraca e não tinha forças para abrir meus olhos, então fiquei
quieta, deitada enquanto escutava passos e vozes ao meu redor.
— Como? Você está louco se acha que vai levá-la. Esse não
era o nosso trato. — Escutei a voz do meu pai, totalmente alterada.
— Calma, Rick! — minha mãe tentava acalmá-lo.
— Como ousa falar nesse tom de voz comigo? — a voz que
conhecia bem dos meus sonhos falou, deixando meu corpo em
alerta. Tinha vontade de me sentar e abrir os olhos. Eu queria dizer:
“ei, o que vocês estão falando? Eu estou aqui, me expliquem isso
direito”, contudo, não conseguia me mexer. Onde estava? Nem isso
saberia responder, porém parecia ser no meu quarto.
— Eu ainda sou o Supremo e exijo respeito. E SE EU
QUISER LEVÁ-LA, EU VOU. — A voz dos meus sonhos gritou de
forma autoritária. Pareço sentir o medo de todos.
— Vamos conversar lá embaixo. Antonella precisa descansar.
Isso aqui não é bom para a recuperação dela. — Agora Mateus se
pronunciou, tentando acalmar o ambiente que estava palpável de
nervosismo e de tensão.
Sentia que esse homem iria matar todos...
— Mateus, não tem conversa. Você me conhece, minha
palavra ainda é lei. E aliás, eu só estou pegando o que é meu! Você
viu o que aquele vampirinho de merda fez com ela? — ao rosnar,
sinto meu corpo inteiro se arrepiar. Estou nitidamente desconfortável
com tudo isso. — Não era para eu ter matado ele tão rápido. —
Completou de forma maquiavélica.
— Supremo, entenda, ainda não é o prazo. — Meu pai
demonstrou angústia em sua voz.
— Eu já disse, vamos conversar em outro lugar... — Mateus
voltou a repetir com calma suas palavras, tentando apaziguar o
ambiente.
— Não tem conversa, mas tudo bem, vamos. — O local ficou
em silêncio. Só conseguia escutar suspiros altos devido à tensão.
Parecia que o medo exalava nesse lugar. Eu sentia...
Não conseguia me mexer. Meu corpo doía e meus olhos
pareciam que estavam pregados. Ao sentir uma respiração sob meu
rosto, meu corpo sentiu medo. Assim, uma mão tocou levemente
meu pescoço e tirou meus cabelos do meu ombro. Parecendo
analisar o lugar que fui mordida.
— Supremo? — a voz do meu amigo parecia distante, mas o
rosnado que ele recebeu em troca aparentava estar bem perto de
mim, o que fez meu corpo tremer levemente não de medo, contudo,
não saberia explicar ao certo o que era. Todos ficaram em silêncio
assim que ele tocou o local da mordida como se estivesse
analisando-a. Um sentimento embrulhou meu estômago e fez meu
coração disparar.
— Eu sei que você está acordada. — Sussurrou em meu
ouvido. Sou capaz de sentir o calor humano do ser que está bem
perto do meu corpo de uma forma excitante. Eu estava sonhando?
Tendo alguma espécie de paralisia do sono? Ou algum tipo de
alucinação?
— Não precisa ter medo.
Sim, tive a certeza de que estava acordada. O que sinto é
muito forte e eufórico para ser apenas um sonho. Minha alma
parecia me dizer que de agora em diante tudo seria diferente na
minha vida... Talvez um diferente que eu não gostasse muito.
Capítulo Nove

Uma das coisas mais importantes das nossas vidas É o


cumprimento de promessas que fazemos a nós mesmos.
Afinal, você é o seu maior vilão.

Mih Franklim
Antonella
Quando sua vida muda e tudo que você acreditava toma
outro rumo, um rumo que você não conhece e não tem muita noção,
suas crenças tornam-se diferentes. Assim como seu jeito de pensar
vira outro, transformando aquilo que você sempre acreditou que
fosse uma mitologia, em realidade. A sua nova realidade agora! Ao
abrir os olhos demorei um tempo até me acostumar com a claridade
do ambiente. Meu corpo doía levemente, o que me fez suspirar. Era
uma dor suportável como se todos os ossos e músculos do meu
corpo tivessem sido moídos e retidos do lugar. Sentei-me sobre a
cama retirando a coberta que me cobria. Vejo meu pé enfaixado,
será que quebrou?
— Do jeito que você anda com uma sorte, óbvio que quebrou,
Antonella. — Me respondo em voz alta.
Passei a mão no meu pescoço, mas logo murmurei
reclamando de dor. Óbvio que iria doer! Realmente havia sido
mordida. Será que agora eu me tornei uma vampira? Não tenho
vontade de beber sangue ainda, será que... ai, droga, Antonella!
Sabia que minha vida iria ser diferente agora. Será que era isso que
meus pais me escondiam? Talvez eles saibam da existência dos
seres mitológicos.
— Antonella? — minha mãe entrou no meu quarto sorrindo.
Sem pensar duas vezes ela veio e me abraçou com força.
— Ai! — digo sentindo a dor no meu corpo pelo abraço
apertado que recebia.
— Desculpa, eu... eu ... fiquei tão preocupada, minha filha. —
Ao colocar as mãos nos meus ombros, percebo que ela estava
chorando.
— Não chora, mamãe! — limpei suas lágrimas esbanjando
um sorriso de compreensão. — Eu estou bem.
— Eu sei que está. Graças à Selene! — começou a distribuir
vários beijos por todo meu rosto. Fechei os olhos sorrindo. — Você
deve estar com fome, muita fome. — Levantou-se de forma
apressada e saiu do quarto não deixando tempo para que eu falasse
nada. Voltando com uma bandeja de comida.
— Isso é muita comida. — Digo olhando a quantidade
absurda de alimento.
— Você precisa. Perdeu muito sangue, então coma tudo. —
Colocou a bandeja com a refeição ao meu lado e se sentou
aparentemente esperando que eu comece a comer.
— Eu vou comer... mãe, não acha que me deve uma
explicação? — a perguntei suspirando.
— Eu sei, minha querida, eu sei... eu vou lhe contar tudo.
Mas coma antes, tudo bem? — não conseguia evitar o sorriso que
havia se formado nos meus lábios.
Comecei a comer enquanto ela me olhava atentamente.
Sorri, pois eu finalmente iria ter respostas. Minha mãe tinha
preparado muita coisa e não consegui comer nem a metade, mas
estava bastante satisfeita e chegava a suspirar de tão cheia.
Posicionei-me para sair da cama e olhei o meu pé enfaixado.
— Quebrou? — perguntei a ela.
— Tinha quebrado, mas agora não está mais fraturado. —
Ela falou, parando na minha frente para me ajudar a levantar.
— Como? — perguntei sem acreditar.
— Está enfaixado só para não doer até seu corpo melhorar.
— Dizendo com calma me ajudou a ficar de pé e analisou meu
corpo com um olhar indiscreto.
— Como isso é possível? — a perguntei sem entender.
— Eu já vou te explicar tudo. Consegue tomar um banho
sozinha? —falou pegando um pijama e uma toalha, indo para o meu
banheiro.
— Consigo. — Fui mancando devagarzinho até ela.
— Tudo bem, então. Tome o banho. Assim que acabar eu
venho te contar tudo e trago algumas coisas para você. — Saiu do
meu quarto ao me deixar sozinha com meus pensamentos.
Comecei a tirar a minha roupa lentamente pela dor no meu
corpo. Olhei no espelho grande que tinha dentro do meu banheiro,
meu pescoço estava com a marca da mordida, já cicatrizada.
Contudo, em minhas costelas, abaixo dos meus seios e por diversos
outros lugares do meu corpo, havia hematomas. Confesso que
tomar um banho foi difícil. Eu tive que fazer malabarismo por causa
da faixa no meu pé, mas sinto-me de alguma forma mais aliviada.
Depois de vestir uma camisa masculina dos “Winchesters" que
ficava como um vestido em meu corpo, vesti uma calcinha da "Hello
Kitty" que minha mãe escolheu. E assim me sentei na cama, vendo
minha mãe entrar pela porta. Que agilidade!
— O que é isso? — perguntei olhando um livro enorme em
suas mãos. — Onde conseguiu essa enciclopédia? — ri.
— Esse livro aqui, vai responder todas as suas perguntas. —
Se sentou ao meu lado e soprou sobre a capa do livro levantando
muita poeira.
— O quê? — a olhei abismada. — Eu achei que íamos ter
uma conversa de mãe e filha civilizada.
— E vamos ter. — Ela sorriu de lado colocando o enorme
livro sobre a minha cama. — Eu estou pronta para responder todas
as suas perguntas. — Mamãe levantou-se indo até minha
penteadeira, pegou uma escova de cabelo e se sentou atrás do meu
corpo. Tirando a toalha dos meus cabelos que estavam molhados,
começou a penteá-los.
Eu esperei tanto por esse momento que não sei ao certo por
onde começar.
— O que eu sou? — fui direta e objetiva, ao sentir meu
coração disparar assim que minha mãe suspirou.
— Eu temi por essa pergunta a minha vida toda. — Começou
dizendo baixinho. — Mas não sei ao certo porque temi.
— Mamãe...
— Deixe-me falar, Antonella. — Segurou meus ombros com
carinho e recomeçou a pentear meus cabelos.
— Tudo bem! — prudentemente prestei atenção no que ela
falava.
— A nossa família... A família Johnson, vem de uma
linhagem pura de lobos. — Sorrindo, balançou sua cabeça negando.
— Bom, eu acho que você já sabe que seres sobrenaturais são
reais, certo?
— Sim... — concordei engolindo a seco ao me lembrar
vagamente do vampiro na floresta.
— O mundo sobrenatural é mais real do que os humanos
possam imaginar. Lobos, vampiros, sereias, gnomos, fadas, entre
outros, todos são reais. Vivemos escondidos dos humanos há
séculos sendo guiados por nossa deusa, Selene.
— Vocês acreditam na mitologia grega, então? — a perguntei
curiosa.
— Fomos gerados por Selene. Todos os seres sobrenaturais
são filhos do sangue de Selene e de Hélio. Não estou dizendo que
as outras crenças são inválidas, no entanto, a nossa é tão real
quanto todas. — Dizia com uma voz dócil.
— Como eu ia dizendo, nossa família é de uma linhagem
pura de lobos. Mas não apenas por esse motivo os Johnsons são
conhecidos. — Engoliu a seco e continuou. — Há muitas gerações
houve uma morte muito marcante em nossa linhagem sanguínea.
Diferente de quando acontece de um lobo morrer assim que sua
companheira morre, ele sobreviveu. Carlos Johnson sobreviveu e
então virou um homem sanguinário tomando ódio de sua própria
raça. Ele foi o primeiro caçador.
— Caçador? — chocada a olhei.
— Sim, ele era um lobo, mas caçava a sua própria espécie
devido a morte de sua amada.
— Por que o Carlos teria que morrer quando a sua
"companheira morresse?", e o que é companheira?
— São almas gêmeas. É o famoso amor que os humanos
tanto falam. Sempre que alguém da nossa espécie nasce, a deusa
da lua já reserva a sua alma gêmea. Mas isso você vai entender
melhor assim que ler esse livro. — Dizia tocando com ternura a
capa da ‘enciclopédia’ que trouxe.
— Eu sou um lobisomem? Você e o papai também são? —
ela ri.
— Não, querida, somos lobos legítimos de uma linhagem
pura. Não dizemos "lobisomem", achamos uma ofensa para nossa
raça ser nomeada assim pelos humanos. Lobisomens são os
humanos que por alguma artimanha do destino, acabam virando
lobos. Contudo, não gostamos desse nome, os chamamos de
ômegas.
— Então eu sou uma loba? — totalmente sem reação, sinto
meu coração um tanto disparado com essa descoberta.
— Isso mesmo.
— Como me transformo, então?
— Sua transformação vai acontecer depois do seu
aniversário. — Parou em minha frente segurando minhas mãos. —
Nella, me perdoa por esconder isso tudo de você. Eu precisei. Seu
pai e eu conversamos e achamos que foi o melhor para a sua
segurança.
— Segurança? Por que segurança? Se essa é a minha
verdadeira vida por que seria perigosa? — a olhava com dúvida.
— O mundo sobrenatural pode ser perigoso quando se tem
algo valioso. — Ao beijar meus cabelos, logo se levantou. — E você,
Antonella, tem algo que é muito valioso.
— O que é?
— Desculpe, minha filha, isso eu não posso lhe contar.
— O quê? Ah não, mãe! Eu achei que iria ser sem segredos
agora. — Era inevitável não esconder meu desapontamento.
— E não temos segredos, meu amor. Eu vou lhe contar tudo
do passado, tudo o que você precisa saber sobre nossa espécie.
Mas o futuro... ele não me pertence. — Dizendo seriamente, minha
mãe me olhou esperando que eu concordasse.
— Mamãe...
— Sem mas, já chega por hoje! — ao me olhar sorrindo de
uma forma divertida, ela saiu do meu quarto. Me deixando cercada
de novas dúvidas.
— O quê? Não, volta aqui! — me levantei desesperadamente
da cama na tentativa de ir atrás dela, mesmo que esteja mancando.
— Antonella, descanse. Você se feriu muito ontem. Vou te
contar tudo que você precisa saber, minha lobinha, mas sua saúde
vem em primeiro lugar.
Bufei.
— Por que não aproveita e lê o livro? Ele tem tudo que você
precisa descobrir sobre a nossa espécie e sobre os seres
sobrenaturais. — Novamente com calma, ela pegou o livro e
colocou sobre meu colo assim que suspirei.
Capítulo Dez

Quando nós perguntamos demais É porque a resposta está


bem na nossa frente, basta vermos.

Mih Franklim
Antonella

...Os seres sobrenaturais foram gerados através de cada gota


de sangue derramada da guerra entre Hélio, o deus do sol, e
Selene, a deusa da lua”. Eles dividiram-se, Selene comandaria à
noite e Hélio durante o dia.
Feiticeiros, lobos, vampiros; todas as criaturas das trevas são
filhos da deusa da lua.
Já os gnomos, fadas, duendes e criaturas de luz são filhos de
Hélio, o deus do sol.
Nem todos os filhos da luz são bons, assim como nem todos
os filhos das trevas são ruins. Pelo contrário, o tal nome de filhos
das trevas vem pelo fato de terem sido gerados pelo maior comando
da noite. Assim como os filhos da luz...

Parei de ler e suspirei. Como é? Eu sou descendente de uma


deusa da mitologia grega? Não imaginaria isso nem em mil anos.
"Filhos das trevas", o que isso quer dizer?
Me sentei na cama mudando de postura, já que estou um
bom tempo lendo esse livro, ‘põe tempo nisso!’ Peguei a pipoca e
coloquei entre minhas pernas, mudando a página do livro.
Os vampiros

Os vampiros eram uma raça fraca, até ocorrer um pacto de


um velho rei entre os filhos das trevas. Nossa deusa da lua se sentia
triste pela rebeldia dessa raça e assim nasceu a "Lua de Sangue",
um período que os lobos ficariam mais fortes do que todos os
vampiros, mais fortes do que todos os seres sobrenaturais. Em
consequência do próprio pacto, eles não se dão muito bem com a
luz do sol. Nossa deusa os castigou...

— Consequência? — quase me engasguei com a pipoca.


Pego o copo de suco e bebo rápido, na tentativa de desengasgar.
Consequência. E só isso que eu vejo nesse livro. Primeiro,
que coisa cafona a briga entre Hélio e Selene. Eu tecnicamente sou
fruto de uma consequência, então? Sim! Revirei os olhos e voltei a
ler.

...Assim como os lobos possuem suas almas companheiras,


os vampiros também possuem seus "laços de sangue". Mas,
diferentemente do que sabem, não é como dos lobos que tem uma
idade para isso. Os vampiros podem encontrar suas almas gêmeas
muito antes de chegarem à fase adulta, no entanto, assim como
todos os outros seres, podem chegar a não encontrá-las.
Jeito de procriação: normal.
Laços de sangue: pessoas destinadas para viverem juntas
até a consumação dos séculos.
A linhagem pura dos vampiros é mais forte e possui a
capacidade de conviver mais tempo sem sangue humano. Os
vampiros se procriam como todos os outros seres sobrenaturais e
humanos da terra.
Já a linhagem que não contém sangue puro, demora a
aprender a se adaptar, afinal, são humanos que foram mordidos.
Para conseguirem se transformar em vampiro, um humano tem que
ser mordido e passar pelo falecimento. Assim que renascer, ele tem
o direito de escolha se quer beber sangue para completar a
transformação. Se não completada, ele pode morrer.

Sorri. Então é tudo mito? Essa parada que os vampiros não


conseguem ter filhos?
— Olha, Hollywood, você está bem atrasada nesse quesito
aqui. — Sorrio ao beber suco voltando a ler.
Espera um pouco, eu fui mordida então vou virar uma
vampira? Ahhh! E agora? Joguei o suco todo para fora tossindo
freneticamente, meu coração se acelerou.
— OOOH, MÃEEE! — gritei minha mãe, já que não
conseguia mexer por causa da minha perna.
— Antonella? O que foi minha filha? — entrando no quarto
com a mão no coração, me olhou apavorada.
— Eu sou uma vampira agora? É isso? — perguntei
apavorada.
— O quê? Não... — ela começou a responder.
A interrompi começando a falar desesperada.
— Céus, mãe! Vocês vão ter que me exilar, eu não quero
beber sangue humano. Me mata, mãe, ME MATAA!
— Antonella! — ela começou a rir. Eu tentava entender o
porquê, sendo que estou nitidamente apavorada.
— Mãe, para de rir. Eu estou falando sério! — exclamei ao
suspirar.
— Você não é vampira, é uma loba, menina. — Ela fala com
as mãos na cintura reprimindo seus lábios em forma divertida.
— Mas, eu fui mordida por um vampiro... — era impossível
não demonstrar dúvida em meu rosto.
— Aquele sanguessuga só sugou o seu sangue, não para te
transformar.
— Mas...
— E você não vai virar vampira, menina. — Ela sorriu saindo
do quarto. Escutei de longe sua gargalhada ao descer as escadas.
Céus, eu realmente achei que era uma vampira agora!
Suspirei ao voltar para minha posição segurando o livro. Me lembrei
de que ainda não perguntei o que o Mateus estava fazendo aqui e
por que ele escondeu que era um lobo. Ainda não vi meu pai hoje e
já são quatro e sete da tarde, espero que ele chegue logo, tenho
muitas perguntas! Suspirei voltando a ler.
Os gnomos

Gnomos são muito semelhantes aos humanos, mas não


possuem alma, por isso não são eternos. Sua natureza é mais sutil,
já que habitam um meio mais denso (rochas, pedras). São ágeis e
rápidos, se assemelhando aos espíritos, podendo atravessar as
rochas mais densas, da mesma forma que nós conseguimos
atravessar o ar. Os Gnomos são os guardiões dos tesouros da terra
e metais, fazendo com que estes não sejam encontrados todos em
um só dia, sendo distribuídos pouco a pouco. Eles têm uma estatura
pequena, de mais ou menos dois palmos e habitam as montanhas.
A representação mais comum dos Gnomos é com um chapéu
vermelho na cabeça (onde residem seus poderes ocultos), com
botas (demonstrando sua facilidade de locomoção na terra), com
cabelos e barbas brancas (representando seu grande conhecimento
e pureza de espírito). A aparência deles varia muito conforme a
região onde são encontrados, pois costumam se parecer com os
habitantes.

— Caramba, preciso conhecer um! Iria realizar meu sonho de


princesa da Disney. — Devo dizer que não consigo conter a
felicidade por estar finalmente obtendo respostas. Mesmo elas
sendo improváveis.
Os duendes

Geralmente são descritos entre 15 e 30 cm de altura, tendo


como característica notável a cabeça em formato cônico (muitas
vezes independentemente de possuir chapéu), personalidade
extremamente volátil (seres primários, também denominados
"elementares") e atributos encantados, como a capacidade de
atravessar paredes, mudar de forma e cor, e alta velocidade. São
criaturas que não guardam qualquer receio com o ambiente urbano
e, curiosamente, há muitos relatos de aparições em construções
inacabadas. Gostam de espreitar pelos cantos, observando os
habitantes da casa e pregando-lhes peças, como o sumiço de
objetos, abertura de portas, produção de ruídos, dentre outras
perturbações.
Os duendes ficam localizados em um jardim ou floresta
compondo talentos para ajudar a natureza, se autodividindo,
enquanto os que não têm uma habitação tendem a sair e fazer
travessuras com os humanos.
Feiticeiros

Têm livre acesso em toda a magia, tanto com a magia de luz


como com a magia das trevas. Possuem contatos com o mundo dos
espíritos, podem entrar livremente no submundo igual a um
Supremo Alfa. Sua origem sanguínea é a origem das bruxas de
Salém. São a única espécie que não foi oficialmente criada por
Selene, um pequeno grupo de humanos foi abençoado pela deusa
para carregar tamanho poder.
Feiticeiros também possuem seus laços.
Alguns da espécie efetuam funções, como feiticeiros(as) da
floresta, que cuidam das árvores e dos animais. Feiticeiros(as) das
águas e do ar. Já outros são mais poderosos e possuem acesso à
magia, como a linhagem dos Wallet´s.

— Nossa! — digo suspirando.


Leio o próximo título, "fadas". Já estava cansada de ler,
passei o dia todo lendo sentada nessa cama. Meu corpo não dói
como antes e já estou bem melhor. Me levantei da cama suspirando
e vi que já era noite.
— Nossa, quanta informação! — passei as mãos nos meus
cabelos desfazendo o coque, me levantei indo para o banheiro.
Preciso de um banho.

***

— Mãe? — entrei na cozinha devagar, afinal, eu tirei a faixa


do meu pé, mas ainda estava mancando um pouco.
— Antonella, já acabou de ler? Ia agora levar a comida no
seu quarto. — Ao me ver, ela sorri.
— Ainda não acabei, mas já estou quase... — me sentei à
mesa. — Tem certeza de que tudo isso é sério, né? Que essa
história do livro é real?
— Não só tenho certeza como sei que ela é a nossa história.
— Confirmou ao colocar meu prato sobre a mesa.
—Então a senhora e o papai se transformam em lobos?
— Sim.
— E como é isso? — não nego a minha curiosidade.
— Você vai ver um dia. — Sendo evasiva, respondeu-me.
Não insisto, sei que deve estar sendo um dia movimentado para
minha mãe, assim como é para mim.
— Cadê o papai? Ele ficou fora o dia todo? — a olhei de
relance.
— Já deve estar chegando.
Estando distraída, começamos a comer e, assim que
escutamos a campainha tocar, sorrimos juntas.
— Não disse. — Piscando de forma discreta, se levantou e foi
atender a porta certamente feliz.
De repente, me bateu um calor, meu coração estava
disparado sem eu saber ao certo o motivo. Comecei a suar, minhas
mãos estavam geladas e borboletas voltaram a frequentar o meu
estômago como se fosse um campo de futebol. Não sabia porquê
estava assim. Mas estava exatamente igual ao dia que vi o carro
depois da escola...
Olhei para a porta e minha mãe entrou de cabeça baixa.
Engoli seco. Logo depois meu pai entrou e sorriu ao me ver, em
seguida abaixou a cabeça. Levantei-me sem entender o motivo de
estarem assim.
— Pai, mãe? — perguntei recebendo um olhar vago dos
meus pais. — O que está aconte...
— Olá, Antonella!
Capítulo Onze

Nem tudo depende do tempo para acontecer.


E sim de atitudes que nos rodeiam.

Mih Franklim
Antonella

— Olá, Antonella! — me virei com medo, pela reação dos


meus pais, em direção à voz. Acho que meu coração estava tão
rápido que perdeu o controle das batidas.
— Thomas? — senti um alívio.
— O que faz aqui? — fui em sua direção para o abraçar.
Thomas era definitivamente um menino que arrancava suspiros.
— Passei para ver como você estava. — Sorriu ficando um
pouco tenso com o meu abraço, mesmo o retribuindo.
— Mãe, pai, por que estão assim?... Esse é o Thomas. —
Digo de imediato, empolgada, mas logo arqueei uma sobrancelha.
— Vocês já o conhecem...?
— Como vai, Thomas? — ao sorrir de forma simpática, minha
mãe o olhou tristemente.
— Estou bem senhora Johnson, só passei para ver Antonella
como combinamos ontem. — Minha mãe concordou, me fazendo
olhar para eles sem entender.
— Combinaram? — cruzando os braços sobre meus seios,
olhava esperando uma explicação. — Mãe, ele também é... — parei
de falar, quando ele me olhou sorrindo.
— Sim, Antonella, eu também sou um lobo. A propósito,
todos dessa cidade são. Estamos em uma alcateia. — Debruçando-
se sobre o balcão da minha cozinha, Thomas tinha um sorriso
irônico em seu rosto.
— Espera, todos? — perguntei assustada. — Mãe, como não
me contou isso?
— Estávamos esperando você acabar de ler o livro. — Se
justificou dando de ombros.
— Não acabou ainda? —Thomas perguntou me olhando
travesso.
— Não. Aquele livro me deu sono. É isso que vocês
aprendem na escola? Tudo o que está naquele livro? — o perguntei
sorrindo. Olhei para Thomas e me sentei de novo.
— Não, nós aprendemos as mesmas coisas que os
humanos. Aquele livro é só o chato do meu irmão que faz lobos
iniciantes, como você, lerem.
— Por que eu tenho que ler? Não seria mais fácil me
contarem tudo?
— Seria. — Ele sorri se levantando. — Mas qual seria a
graça de ver você lendo aquela enciclopédia do tempo dos homens
das cavernas? — piscou para mim, divertidamente me olhando. —
Bom, senhor Johnson, senhora Johnson, eu já vou indo. Temos que
ir à cidade resolver alguns problemas na empresa. Buscaremos
Antonella amanhã como o combinado. — Thomas falou fazendo-me
engasgar com o suco que bebia.
— Me buscar? Para quê? — olhei para os meus pais, que se
entreolharam e não falaram nada. — Ah não, mais segredos não! —
me levantando com raiva, paro perto do Thomas. — Desembucha!
— olhava seriamente para ele.
— Achei que o seus pais já tinham lhe contado que você vai
morar com o meu irmão. — Ele dá de ombros.
— O quê? Mãe... pai? — olhei para os meus pais, chocada e
voltei a olhar para o Thomas. — Por quê? — tudo o que eu
conseguir dizer foi isso. Por que eu teria que morar com ele sem
motivos? Um silêncio assustador se fez presente no ambiente.
— Antonella, acho melhor você acabar de ler o livro, assim
você vai entender melhor. — Meu pai suspirou.
— O que eu tenho que entender? Thomas, você só sairá
daqui quando me explicar essa porcaria direito! Eu estou cansada
de mentiras e de ver as pessoas escondendo as coisas de mim. —
Dizia seriamente, tão séria que ele me olhou espantado, mas logo
em seguida sorriu.
— Antonella! — minha mãe me repreendeu pela forma com
que falei com Thomas.
— Não me venha com "Antonella"! — me virei para ela,
morrendo de raiva.
Já estou cansada de segredos. Eu quero a verdade. Estou
com tanta raiva que poderia matar alguém. Poderia, não tenho
certeza que mataria. Devo estar vermelha e meus cabelos, sendo
ruivos, não estão ajudando muito. Certamente estou parecendo um
tomate. Thomas me olhava com curiosidade, demonstrando que
estava tenso. Já meu pai e minha mãe pareciam não saber o que eu
iria falar, ou fazer. Para ser sincera, nem eu sei.
— Antonella... — meu pai tentou falar, só que eu o interrompi
com um gesto levantando minhas mãos. Estava cansada de
desculpas.
— Chega, eu estou cansada disso! — disse olhando para
eles. A raiva transborda de mim.
— Antonella, acalme-se. — Minha mãe falou.
— Me acalmar? Primeiramente, vocês se mudaram para essa
cidade onde todos são estranhos. Eu tive que ser atacada por um
vampiro e quase morrer, para enfim descobrir que era uma espécie
de loba. Eu sei que vocês estão escondendo mais coisas de mim.
Coisas que a porcaria desse livro não vai conseguir me explicar,
então acho bom vocês começarem a falar logo. — Trincando a
mandíbula, tentava me controlar de todas as formas, o que se
tornava mais difícil a cada segundo.
— São ordens do meu irmão, Antonella. — Com uma calma
que me enojava, Thomas dizia.
— Que se foda você e seu irm...
— Antonella, controle-se já! — alterando a voz, minha mãe
me faz calar a boca na mesma hora. Soltei um rosnado entre dentes
como um cão raivoso. O que está acontecendo comigo?
— Me parece que sua loba já está dando alguns sinais de
vida. — Thomas sorriu ao parar em minha frente tocando levemente
meus ombros. — Quando você acabar de ler entenderá que toda
alcateia tem um Alfa e o meu irmão, digamos que é o Alfa de todas
as alcateias. — Ele suspirou e voltou a falar. — Você vai morar com
ele, a mando dele.
— Eu não vou morar com seu irmão, Thomas. — Tentava, de
todas as formas, regular minha respiração.
— Infelizmente você não tem direito de escolha. — Era nítido
que Thomas estava tão tenso quanto todos nessa cozinha. Que
quebrando as regras da física, parece ter virado uma sauna.
Meu ódio exalava por todo lugar. Não sabia ao certo o que
tinha acontecido, mas conseguia ouvir melhor. A minha audição
havia se tornado tão apurada que era capaz de ouvir o coração de
cada um deles batendo rapidamente. Apesar de assustados, algo
me dizia que tinha relação com a minha reação.
De repente, comecei a suar frio. Soltei um leve suspiro
quando vi minha mãe e meu pai olharem seriamente para a porta.
Thomas cruzou seus braços, encarando-a com a sobrancelhas
arqueadas. Segurei firme minhas mãos uma na outra e tentei
ignorar a reação estranha do meu corpo. Novamente as borboletas
invadiram meu estômago, me fazendo soluçar de nervoso.
— O que está acontecendo aqui?
Quando enfim vi o dono da voz, não consegui evitar o
espanto em meu olhar. Era o cara dos meus sonhos, parado na
porta da cozinha dos meus pais, me olhando de um jeito que nunca
saberia descrever. Seus cabelos pretos estavam perfeitamente
alinhados, já seus olhos verdes eram marcantes e totalmente
chamativos. Seu terno marcava bem o seu corpo e não consegui
evitar que meu olhar fosse para seus braços. Braços que me
pegavam de jeito em meus sonhos!
Ele era uma perdição em sonho, imagina agora na realidade
bem na minha frente. Engoli seco, não sabendo como reagir ao ver
um homem criado por meu subconsciente em minha frente. Era
claro meu espanto, transparecendo para todos que de alguma forma
já o conhecia.
Sem conseguir quebrar o contato visual, dei alguns passos
para trás segurando na mesa. Me toquei que suspirava alto assim
que ele me encarava sustentando nossa troca de olhares intenso.
Algo dentro do meu ser parece pular de felicidade, como se
quisesse correr e se jogar nos braços desse estranho...
Capítulo Doze

As pequenas atitudes, Os pequenos gestos


Tornam-se grandes
Perante a chuva do turbilhão de sentimentos que nos
rodeiam.

Mih Franklim
Antonella
Pequenas descargas e tremores passavam pelo meu corpo,
meu coração se acelerou e minhas veias pareciam correr o sangue
de uma forma mais intensa. Não sabia ao certo que tipo de
sentimento era esse que me deixava com falta de ar, o qual fazia
meu coração disparar como se estivesse prestes a morrer de uma
parada cardíaca. Parecia não existir saliva dentro da minha boca,
nem que eu tentasse criá-las em mil anos. Não com esses olhos me
olhando dessa forma intensa. Mesmo com tantas pessoas ao meu
redor, tenho a sensação de que estou sozinha com esse homem.
Como isso era possível?
— Eu já estava de saída, Francis. — Com calma, Thomas
pronunciou-se tentando quebrar o clima que se formou na cozinha.
Um clima que eu não sabia distinguir ao certo, contudo, de fato era
pesado.
— Supremo... — tentando falar, minha mãe não consegue
terminar a frase.
— Como isso é possível? — sussurrei, tendo a certeza de
que todos me escutaram.
De repente, seu olhar parou novamente sobre mim. Tento de
alguma forma recobrar o fôlego. Fôlego que eu não tenho nesse
momento. Um sorriso, ao certo meio cafajeste, se formou em seus
lábios assim que arqueou uma sobrancelha. Ele cruzou os braços
me fazendo acompanhar seus movimentos com o olhar. Cada gesto
que fazia parecia me acordar por inteiro. De uma forma desafiadora,
ele parecia saber o que eu estava pensando. O que de fato me
deixou constrangida com as bochechas ruborizadas ao me lembrar
dos sonhos eróticos que tive com esse homem que até então,
achava que era um ser da minha imaginação. Subconsciente traidor!
— Antonella, esse é o meu irmão Francis Underwood, ele é o
supremo Alfa. Como você não acabou de ler o livro, acho que não
saberá o que isso significa. — Thomas falou sorrindo, ao tentar
quebrar o clima pesado que havia se formado.
Algo me diz que nem se todos começarem a dançar bem aqui
na minha frente, esse clima tenso vai deixar de pairar no ar. Apenas
acenei confirmando vendo meus pais saírem da cozinha, com se
não tivessem escolha.
— Que climão! — com uma certa malícia estampada em seu
rosto, Thomas me olhou divertidamente apoiando-se no balcão. —
Vamos, isso vai ser divertido. Xvideos de lobos.
— Thomas! — Francis o olhou de uma tal maneira que me
fez ter medo. Thomas apenas levantou as mãos em sinal de
rendição, nos deixando sozinhos. Por que eles estão saindo? Eu
não quero ficar sozinha com esse cara, não! Suspirei tentando
buscar forças para dizer algo ou ter alguma reação que não fosse
essa.
— Eu-u não vou morar com vocês. — A única coisa que
conseguir dizer foi isso e ainda gaguejei.
Assim não dá, Antonella!
— Você não tem escolha. — Ele sorri de lado descruzando os
braços, me fazendo acompanhar com o olhar os movimentos do seu
corpo. ‘Que voz é essa, Selene?!’ Tentei recobrar minha dignidade,
se é que eu já tive isso algum dia. Tirei forças de onde não tinha,
suspirei o olhando de cima a baixo, levantando a cabeça e
empinando meu nariz.
— Não me interessa quem você seja, eu não vou morar com
você só porque você quer. — De uma forma superior, o olhei
semicerrando meus olhos.
— Você é exatamente como eu imaginei que fosse. — Disse
começando a dar passos que encurtavam a distância entre nós.
Meu corpo tremeu em ver a forma dominadora que ele tem. — Tem
a personalidade forte... — dizia ao se aproximar cada vez mais.
— O que... — tentei falar algo, mas falhei assim que ele
acabou com a distância.
— O seu cheiro... — ao tirar meu cabelo do meu ombro,
aproximou-se puxando com força o ar perto do meu pescoço. Sem
reação, paralisei. — Está começando a aparecer. — Falou ao tocar
levemente minha pele despida. — E o melhor; só eu posso sentir.
Engoli seco pela forma que suas palavras foram proferidas.
Eu estava o encarando demais. Cada movimento que ele fazia era
como se fosse em câmera lenta retratado pela minha cabeça. E, o
pior de tudo, as borboletas no meu estômago pareciam estar em
guerra, a guerra mais louca que existe com direito a stripper e
música no momento da batalha.
— O que pensa que está fazendo? — tentei empurrá-lo, sem
sucesso. Ele parecia ter o domínio sobre cada parte do meu corpo e
isso me assustou.
Permanecendo em silêncio, sua mão que estava no meu
ombro, desceu lentamente pelo meu braço fazendo-me arfar. Sua
boca se aproximou um pouco da minha e eu sabia que ele iria me
beijar, o que me deixou mais explosiva. Se antes eu estava
fervendo, agora sou um vulcão que já está em erupção. Como eu
poderia ficar tão rendida assim? Nem o conheço e já tenho esse
penhasco por ele, imagina se eu o conhecesse...
— Francis... — Thomas entrou na cozinha com rapidez, mas
paralisou ao ver a cena. Logo recebeu um rosnado em reprovação.
Francis o olhou, rapidamente, com raiva fazendo-o engolir seco. —
Desculpe atrapalhar, mas já estamos trinta minutos atrasados. —
Thomas bateu com o dedo no relógio de seu pulso ao sair da
cozinha.
Minhas bochechas tomaram certa cor só de imaginar que
Thomas me viu quase beijando o seu irmão. E o pior é que acabei
de conhecê-lo.
— Eu já vou, mas amanhã volto para te levar para casa. —
Falou calmamente em um tom de voz baixo, me causando
sentimentos impróprios. Do nada ele adquiriu esse controle sobre
mim. Isso é inaceitável!
— Eu já disse que na-não vou. — Tentei falar com confiança,
porém novamente gaguejei. — Está para nascer quem vai mandar
em mim. — Dizia ao tomar uma postura mais séria.
— Que atitude fofa! — com um sarcasmo divino, falou
pegando uma mecha do meu cabelo. — Muito fofo da sua parte,
mas não quero pensar nos nossos filhotes agora. — Soltou meus
cabelos saindo da cozinha, me deixando sem reação.
"Nossos filhotes?"
Eu não sou cachorra para ter filhotes. E que porra é essa?
Esse cara está usando alguma espécie de droga? Sentindo a raiva
me dominar pelo fato de ter mais mentiras e segredos envolvidos,
saí disparada atrás dele. E posso jurar que desfiguraria aquela
carinha bonita sem problema nenhum. Passei pela sala vendo meus
pais me olharem com dúvida. Os ignorei abrindo a porta
bruscamente, vendo Thomas e ele entrarem no carro.
— EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU! — gritei da porta de casa.
— Até amanhã. — Sorrindo de uma forma cafajeste, ele
entrou no carro dando partida.
Quem esse cara pensa que é?
Bati a porta de casa com força, indo na direção dos meus
pais. Que Selene me dê paciência! Dei passos firmes com o intuito
de questioná-los de todas as formas possíveis. Mas ao olhar para
eles, parei no mesmo instante respirando fundo. "Elizabeth
Johnson".
— Antonella? Você está bem, minha filha? — meu pai
perguntou me olhando.
— Sim... vou para o meu quarto. — Não adiantaria
questionar, com toda a certeza iriam esconder coisas como fizeram
antes.
Fechei a porta do meu quarto suspirando fundo. Vejo o livro
sobre nossa espécie em cima da cama, marcado onde havia parado
de ler. Elizabeth Johnson... esse nome não saía da minha cabeça e
algo me diz que ele é a resposta para todas as minhas dúvidas. Eu
vou descobrir tudo. Ou não me chamo Antonella Maria Johnson!
Capítulo Treze

Coisas incríveis não acontecem dentro da zona de conforto.


É necessário explorar o inimaginável para se surpreender.

Mih Franklim
Antonella
As fadas

Fadas são pequenas, possuem no máximo 30 centímetros.


São criaturas de luz e ficam encarregadas de cuidarem das florestas
e dos animais que nelas habitam.
Há várias espécies de fadas e cada uma exerce sua função.
Não possuem coração, mas são sábias e inteligentes.

Suspirei depois de ler um breve resumo sobre "fadas" no


livro. Eu fiz a coisa mais sensata que podia se fazer; voltei para o
quarto e estou acabando de ler o livro.
Não iria adiantar perguntar nada para os meus pais, eles
sempre me escondem coisas. Talvez se eu achasse uma bruxa ou
uma feiticeira, ela me ajudaria. Deve existir alguma forma de entrar
em contato com os mortos. Se eu tivesse um minuto com Elizabeth,
seria o suficiente para entender tudo.
Peguei o livro é continuei a ler.
Os lobos

Lobos são fortes e são separados em classes. Os ômegas,


betas, alfas e o supremo. Os ômegas são compostos por três
divisões: Ômega X: são os humanos que viraram lobos.
Ômega Black: são lobos que são comuns em matilhas.
Ômegas XZ: são lobos solitários que são exilados das suas
matilhas.
Já os betas, são os braços direito dos alfas. Normalmente um
alfa tem um beta, já o supremo tem dois betas.
Alfas são fortes e comandam a sua alcateia. Não podem ser
desrespeitados, mas sim desafiados por outros lobos para tomarem
o lugar de alfa. Uma briga que é levada até a as últimas
consequências.
O supremo é o mais forte dos lobos e tem acesso ao
submundo. Ele comanda todas as alcateias e os alfas, sendo assim,
todos os demais lobos são submissos a ele e seus comandos.
O laço de companheirismo acontece quando um lobo atinge
seus dezesseis anos e passa por sua primeira transformação.
Liberando seu lobo pela primeira vez, ele fica pronto para encontrar
seu companheiro (a). A forma de reconhecer é através do cheiro.
Quando um lobo morre e já tem o laço efetuado, ambos morrem,
pois não conseguem viver um sem o outro.
A lua de sangue foi feita efetivamente para os lobos, os
deixando mais fortes e prontos para a procriação.

Tentei entender tudo direito. Lembro que o Thomas falou que


seu irmão Francis é o Supremo. Então eu tenho que obedecê-lo? Só
porque ele é o Supremo? ‘Que merda!’ Isso explicaria o fato da
minha mãe e meu pai terem se retirado da cozinha sem contestar.
Também explica o porquê de não terem reagido quando o Francis
disse que eu iria morar com ele.
No livro, diz que eu iria encontrar meu companheiro com
dezesseis anos e já faço dezoito daqui alguns dias. Tem alguma
coisa de errada comigo? Deve ter. Isso responderia o fato de o
Supremo querer que eu more com ele. ‘Lembro que Francis disse
que meu cheiro estava começando a aparecer’... será que... não,
isso seria ridículo! O livro fala que a forma de encontrar o
companheiro é pelo cheiro. Bom, eu não senti cheiro nenhum, então
não é isso! A carta da Elizabeth. Se eu for a tal garota escolhida...
‘Está bem, isso é muita loucura! Definitivamente loucura’.
Ok, eu estou ficando doida.
Suspirei me jogando para trás na cama, coloquei o livro no
criado mudo e puxei minha coberta para me cobrir. Olhe como
minha vida deu essa reviravolta até agora. Me mudei de cidade,
deixei pessoas importantes para trás. E, logo em seguida, descobri
que sou uma loba e moro atualmente em uma alcateia. Meus
antepassados eram caçadores da sua própria espécie e um
Supremo quer me obrigar a morar com ele por alguma razão que
ainda não sei. Normalidade, era disso que eu precisava. Peguei no
sono com pensamentos que estão me deixando nervosa, ansiosa e
aflita.
Capítulo Quatorze

Nada acontece duas vezes, nem acontecerá.

Mih Franklim.
Antonella
Acordei sentindo uma leve dor por todo o meu corpo. Mesmo com
todas as emoções vividas nesses últimos dias, me parece que até
os lobos vão à aula. Passei a noite lendo e descobrindo coisas
novas sobre minha vida. Foi algo realmente inovador. Finalmente
estou descobrindo quem eu sou e o melhor: o que sou.
Parei de caminhar pelo corredor e olhei para a porta da
biblioteca, tomei a decisão de procura a carta de Elizabeth. Dei
passos lentos, à procura do diário, já que a carta estava dentro do
mesmo. Porém, não consigo encontrar a bendita carta. Apressei
meus gestos olhando por entre as diversas prateleiras de livros.
Simplesmente sumiu e não consigo encontrá-la de nenhuma forma.
Será que meus pais estão com o diário?
— Que merda! — frustrada. Estava muito frustrada. Não a
perdi na floresta, tenho certeza. Mas por que meus pais
esconderiam esse diário? Que droga! Saí da biblioteca descendo as
escadas.
— Bom dia, filha. — Minha mãe falou me olhando, ao me ver
entrando na cozinha.
— Bom dia! — empolgada a respondo. Passei ao lado da
mesa dando um beijo na cabeça do meu pai que sorriu lendo o seu
jornal. Abrindo a geladeira, peguei o leite me sentando logo em
seguida. Parece que tudo está como nos velhos tempos.
— Eu fiz suas panquecas. — Mamãe se sentou em minha
frente.
— Obrigada. — Comecei a me servir colocando o leite na
xícara, logo em seguida o café. Peguei um pouco de açúcar na
colher e coloquei na xícara mexendo. Olhei minhas panquecas no
prato e peguei o caramelo para jogar por cima.
— Isso deve estar estragado. — Meu estomago embrulhou
assim que sinto o cheiro do caramelo.
— Deixe-me ver. — Minha mãe pegou o vidro onde estava o
caramelo, fazendo o mesmo processo de cheirar o doce com
normalidade. — Não, não está. — Afirmou com calma.
— Mãe, olha o cheiro disso, está horrível! — falei começando
a comer sem o caramelo.
— Você disse cheiro? — ela olhou e sorriu para o meu pai.
— Eu disse cheiro. — Me levantei bebendo todo o meu café
com leite de uma vez, logo suspirei cheia, pegando uma maçã.
— Já vou, estou atrasada. — Subi as escadas correndo para
ir ao banheiro escovar meus dentes. Desço as escadas como o
flash, caminhando para a porta, mas parei assim que senti um
cheiro estranho.
— Ô, mãe, que fedor... — parei de falar quando vi Mateus e
Mia sorrindo em volta da mesa. Correndo, me joguei neles,
abraçando-os com força.
— Meu Deus, o que vocês estão fazendo aqui? — abracei
Mia e logo em seguida abracei Mateus. — Eu estava com saudades.
Ao abraçar meu amigo, cheirei o ar em volta dele e o empurrei de
uma forma amigável.
— Meu Deus, você está fedendo a cachorro molhado! — falei
o olhando. — Na realidade, todos vocês estão fedendo, eca! —
coloquei a mão no nariz olhando para todos que sorriram.
— Acho que a loba dela está começando a dar um sinalzinho
de vida. — Erguendo seu copo de café como se fosse brindar,
minha mãe falou.
— Minha loba... — minha voz saiu baixa, como um modo de
aceitação. Sinto Mia pular em meu ombro animadamente.
— Não esquenta. É assim só antes da transformação, depois
você consegue controlar o seu olfato. — Se pronunciou com um
belo sorriso.
— Vocês também são lobos? — perguntei assim que vejo
Mateus engolindo seco. — Por que nunca me contaram? Achei que
éramos melhores amigos.
— Nós somos melhores amigos. — Mateus levantou as mãos
em rendição.
— Melhores amigos não possuem segredos. — Afirmei o
olhando.
— Nella, todos têm seus segredos. E mesmo que te
conhecemos bem, você também tem seus segredos. —Segurando
meus ombros, Mia dizia com carinho. — E isso não quer dizer que
não somos melhores amigas. — Ela me abraçou de novo. — Senti
sua falta. — Sussurrou.
— Eu também...
— Vamos? Eu vim te dar um carona. — Mateus levantou a
chave do carro para o alto.
— Não vai estudar aqui também? — o perguntei vendo que
ele estava sem mochila.
— Então... eu meio que não preciso mais estudar. — Coçou
sua nuca constrangido.
— O QUÊ? — totalmente chocada, é assim que estou.
— Isso mesmo! Eu já me formei há muito tempo. —
Parecendo não querer se estender muito nesse assunto, voltou a
dizer. — Vamos logo, vocês vão se atrasar.
— Como assim? Que tipo de segredos vocês AINDA
escondem de mim? Ah, mas vocês vão ter que me falar tudo! —
dizia de forma divertida. Caminhávamos para o carro vendo o
sorriso animado do Mateus.
Me sentei no carro atrás, Mateus e Mia na frente, como
sempre fazíamos. Sorri olhando o carro se afastar da "minha” casa.
Eu sentia falta disso, dessa normalidade que eles me transmitem.
Mateus e Mia estão aqui há quinze minutos e já me trazem de volta
à normalidade. Comecei a olhar as árvores passarem rapidamente
pela janela, até que puxei assunto perguntando animadamente.
— Então vocês dois são lobos, certo? — acenaram
concordando.
— Sim. — Ao colocar o pé perto do vidro do carro, Mia me
olha mais confortável.
— Vocês são companheiros, então?
— Garota esperta! — Mateus confirmou sorrindo.
— E como funciona isso? — me olharam com certo
divertimento devido a minha curiosidade.
— Como funciona? — com seu olhar fixo na estrada Mateus
dizia ao batucar com calma seus dedos no volante.
—Tudo isso. — Sentindo meu coração se retrair, continuei
olhando para a janela, mas logo me arrastei para o meio do carro,
deixando meu o rosto entre suas poltronas. — Ahhh, vocês sabem,
têm coisas que os livros não contam.
— Lobos são ciumentos e possessivos. — Mia começou a
dizer se sentando de lado empolgada. — A primeira transformação
é dolorosa também. Deixe me ver... — colocou o dedo em seus
lábios, pensando.
— Quando o laço de companheirismo é feito, é como se
fosse um casamento. —Mateus completou parando o carro por
causa do semáforo.
— Vocês são casados, então?
— Se você quiser ver dessa forma, sim. — Minha amiga deu
de ombros concordando.
— Nossa! — olhei para eles digerindo o tanto de informação
de uma só vez. — Por que nunca me falaram nada? — olhei para
Mateus.
— Não podíamos. Era para a sua segurança. — Mateus
suspirou. — Bom, mas agora você já sabe e tudo vai encaminhar
como realmente deve ser.
— O que quer dizer com isso? — o olhei.
— Agora você vai morar com o Supremo, as coisas vão
entrar nos eixos, e tudo finalmente vai se normalizar. — Mateus
falava como se isso fosse normal.
— Eu não vou morar com ele! — adverti fazendo-os me olhar
de uma vez, como eu tivesse acabado de jogar uma bomba no meio
deles.
— Antonella, não tem como falar ‘não’ para ele. Ele é o
Supremo. — Revirei os olhos pelo tom de voz que minha amiga
usou.
— Pois eu digo: “não”, “no”, “non”, “moenie dit doen nie”,
“nicht”, “búyáo”...
— Okay, entendemos que você quer dizer não. — Ela
levantou as mãos em rendição. — Não precisa falar "não" em todos
os idiomas.
— Talvez eu falando, vocês entendam que eu não vou morar
com ele. — Emburrada, encostei no banco do carro já vendo a
escola bem próxima.
— Antonella... — Mateus parecia meu pai tentando me
corrigir.
— Ah, qual é, Mateus você tem quantos anos? —
transbordando ironia, falava gesticulando com as mãos. — Estamos
em um século avançado, nada nem ninguém vai me obrigar a fazer
aquilo que eu não quero.
— Isso aí amiga! Bate aqui, garota. — Mia se jogou para trás
estendendo a mão.
— Vocês são loucas! — Mateus suspirou, assim que parou
em frente à escola.
— Que nada, querido! Mesmo o boy da Nella sendo um
pedaço de mau caminho, ela tem que ser durona mesmo. Não pode
ser assim de mão beijada. — Entretida, Mia pegava sua bolsa para
sairmos do carro.
— Ele não é meu boy! — a corrijo.
— Ah, então a "senhorita" acha o Francis um "pedaço de mau
caminho"? — Mateus a olhou com ciúmes. — Que bom, porque eu
também acho a Antonella um pedaço de "mau caminho". —
Completou erguendo uma sobrancelha em forma provocativa.
— Ah não! Não me coloquem nisso, não! — exclamei ao sair
do carro, revirando os olhos.
Esperei dois minutos e Mia saiu do carro com o batom um
pouco borrado, o que me fez olhá-la sorrindo. Estava com saudades
dela e do seu jeito de maluca. Mateus abaixou o vidro do carro
sorrindo e, de uma forma provocativa, colocou seus óculos escuros.
— Antonella... sobre o assunto Francis, eu acho bom não
tentar desafiá-lo e ir morar logo com ele. Ninguém o desafia.
— Ainda bem que minha mãe disse que não sou todo mundo.
— Ironicamente, cruzei os braços sobre meus seios.
— Antonella... — o interrompo erguendo uma mão para o
alto.
— Quer pagar para ver? — agarrei o braço da Mia,
arrastando-a para dentro da escola. Corremos como duas crianças
com os braços entrelaçados, enquanto várias pessoas olhavam para
a gente como se fôssemos imaturas.
— Você foi má. — Mia me olhava sorrindo de lado, assim que
entrávamos pelos corredores movimentados.
— Ele mereceu. — A puxei pelo braço assim que entramos
na sala, que já estava cheia. A primeira aula era de química e,
graças à Santa Selene, Mia tinha algumas aulas comigo.
— Então me diz, já conheceu pessoas novas? — ela
perguntou olhando em volta.
— Ainda não fiz amigos, porém já nomeei os grupos. — Me
virei para trás ficando de bruços sobre sua mesa.
— Ah, olha só! Eu adoro ver você nomeando as pessoas,
vamos. — Mia sorri empolgada assim que arqueei a sobrancelha
divertidamente.
— Olha só, aqueles lá são os sem cérebros. — Apontei de
forma discreta para os jogadores no fundão.
— Até que são gatinhos. — Falou ao se virar para vê-los.
— Já aquelas ali na frente são as inteligentes, mas
nomeadas pela nossa sociedade de nerds. — O grupo de meninas
olhou para trás e logo voltou a conversar entre si.
— Até que as nerds dessa escola são bonitas. — Ela olhou
de cima a baixo para as meninas.
— A nossa esquerda temos os esquecidos. — Disse
acenando para alguns meninos que jogavam xadrez.
— Hahahaha.
— E aquelas... são as encrencas. — Olhei com antipatia para
as meninas que são populares. — Até que parece uma escola
normal.
— Somos normais, esperava o que? — Mia completou
sorrindo.
—Sei lá, talvez um bando de vampiros sem camisa, que
brilhassem no sol com um tanquinho bem sarado. — Digo sorrindo
com divertimento.
— Vampiros? Um não tentou te matar esses dias? —
provocou-me.
— Eles são bem mais vistos na literatura. Ahhh, sem falar
que os romances de vampiros são divinos. — Disse beijando
minhas mãos.
— Assim você ofendeu todo mundo. — Ela deu um tapinha
no meu ombro.
— Só falei verdades. — Falei dando de ombros e me virando
para frente sorrindo.
— Acho que o seu Supremo não iria gostar de saber que
você é uma loba tarada, que curte vampiros que brilham no sol. —
Mia sussurrou muito baixo no meu ouvido, o que me fez sorrir.
— Ele não é "meu Supremo". — Respondo-a olhando para a
professora que entrou na sala.
— Olha só, você falou de todos os lobos, disse que preferia
os vampiros e ainda está falando que ele não é seu, que tipo de
loba é você? — ironicamente sussurrou em meu ouvido para me
provocar.
— O tipo Antonella. — Digo ao me virar para trás fazendo
uma careta para ela que sorriu.
—Bom dia, alunos... temos uma novata? Gostaria de se
levantar e apresentar-se? — a professora a olhou.
— Oi, sou a Mia.
— Melhor apresentação do mundo. — Com ironia, sussurrei.
Capítulo Quinze

Quando você começa a amar uma pessoa Tem vontade de


rir, porque o amor é indeciso, inesperado E totalmente único.

Mih Franklim
Antonella
Ter Mia aqui comigo, em algumas horas, me tem feito mais feliz
do que esses dias todos que passei aqui nessa cidade, onde
descobri coisas que mexeram com a minha estrutura e com a minha
vida. Descobrir que você é uma loba não é fácil. Descobrir que você
vai se transformar no seu aniversário, e que isso é doloroso, é pior
ainda. Mas o fato de saber que ainda escondem coisas sobre mim,
me deixa grandemente frustrada e nervosa.
— É aula de que agora?
Passamos as aulas mais conversando do que estudando e,
olha, acho que essa professora já chamou a minha atenção umas
cinco vezes. Afinal, não conseguia controlar e acabava falando alto
demais ou riamos alto. Na realidade eu estava com saudades da
Mia. Foi uma péssima ideia termos vindo à escola hoje. Deveríamos
ter ficado em casa, botando o assunto em dia.
— Luta. — Falou sorrindo.
— Luta? Temos aula disso? — a olhei, enquanto seguíamos
para a quadra com o resto da turma.
— Bom, é um treinamento de defesa para lobos. — Deu de
ombros.
— Isso existe?
— Se não existisse não estaríamos aqui, né! — ela revirou os
olhos e riu me arrastando para o banheiro feminino.
Meio constrangida, fui até o meu armário e peguei o short de
malha e a blusa do uniforme para exercícios. Era um pouco curto,
mas o único uniforme que essa escola tinha. Sem ter vergonha
alguma, arranquei minha blusa ali na frente das meninas, que me
olhavam como se eu fosse uma porcelana. Tratei de mudar de
roupa logo, e Mia fez o mesmo. Sentei-me em um banco e esperei a
Mia acabar de amarrar o seu tênis. O banheiro foi se esvaziando
rapidamente.
— Anda Mia, vamos nos atrasar. — Impaciente, dizia parada
na porta.
— Espera, deixa só eu pegar minhas luvas... ahh, o seu
celular está aqui, vou colocar no meu bolso. — Falou fechando seu
armário com força. Corremos até o círculo de pessoas que nos
esperavam se alongando e conversando entre si.
— Desculpe a demora, professor. — Disse parando ao seu
lado no círculo.
— Tudo bem. Vocês são as novatas, certo? Sejam bem-
vindas à aula de ataque e autodefesa. — Ele parecia falar algo em
grego, já que eu não prestava atenção em nada. Comecei a reparar
o seu corpo, que era muito bonito. Seus braços eram fortes e seus
cabelos tinham perfeitos cachos. Sua pele era morena.
— Achei que gostasse de vampiros que brilhassem no sol. —
Mia sussurrou no meu ouvido, me fazendo rir.
— Gosto, mas os lobos até que não estão tão atrás na
literatura assim.
— Pervertida!
— Então, venha para o centro... senhorita? Ei, senhorita? —
Mia me deu um empurrão, me fazendo balançar a cabeça ao ver
que todos estavam me olhando.
— Ahh, oi? — engoli seco sem entender.
— Eu estava te chamado para vir ao centro do círculo para
uma demonstração.
Suspirei relutante e fui para o centro do círculo com os
olhares queimando em minhas costas. Caramba, eu estava muito
desconfortável! Na realidade desconfortável era meu nome nesse
momento.
— Bom... Senhorita Amélia, venha ao centro.
Olhei para a Amélia, que abriu um sorriso, satisfeita e
empolgada. Se aproximando de mim, me encurralou como um leão
faz com sua presa. Acho que ela não vai com minha cara. Está bem,
eu tenho certeza disso.
— A regra é clara: sem mordidas e arranhões, apenas
demonstração. — O professor falava com calma.
—O quê? — o olhei incrédula. — Você não pode deixar a
gente brigando como duas selvagens aqui!
— Vocês são selvagens. — Respondeu-me seriamente.
Amélia começou a me encurralar. Enquanto andávamos em
círculos, vi os seus olhos tomarem uma cor amarelo fosco. Mia ficou
com o corpo rígido. Poderia jurar que ela iria atacar Amélia. Olhei a
movimentação em volta e todos estavam atentos, esperando a
nossa briga começar, o que me fez ter a certeza de que nessa
escola todos são loucos.
Ela dá um passo para frente e vejo suas garras crescerem
normalmente. Se não pode arranhar por que as garras? Olhei mais
uma vez em seus olhos amarelos e suas presas aparecendo, quatro
ao todo, duas em cima e duas em baixo. Engoli seco e disse alto: —
Professor, isso é trapaça! — deixei de ficar em posição de defesa.
Era a primeira vez que tinha visto uma pessoa se transformar,
nem que fosse pela metade, era a primeira vez que via uma. Apesar
de estar nervosa e chocada pelo o que acabei de ver, tentei agir
normalmente. O que foi meio difícil.
— Não, não é, senhorita. — Falava sem me dar importância.
— Claro que é! Não me transformei ainda. — Cruzei os
braços.
— Como não se transformou? Você tem que idade? —
perguntou sem acreditar entrando no círculo e fazendo um sinal
para Amélia retomar a sua forma normal. Ela bufa insatisfeita.
— Faço dezoito daqui alguns dias.
— Você é mesmo uma Johnson? — ele perguntou atraindo
os olhares de todos.
— Sim. — Respondo-o sentindo-me constrangida.
Amélia riu voltando a sua forma humana.
— Tem certeza de que essa é a companheira do Supremo?
— ela proferia suas palavras com ironia fazendo algumas pessoas
rirem.
— Tudo bem, volte para o seu lugar. Carlos e Brendom,
venham aqui na frente e façam a demonstração. — O professor
chamou alguns meninos para dentro do círculo.
— Você é mesmo uma Johnson? — voltei para o meu lugar
fazendo Mia rir da minha falha tentativa de imitação.
Ignorei o olhar de algumas pessoas que cochichavam baixo,
mas não conseguia sentir raiva deles, minha mente se voltava para
o que Amélia acabou de falar "tem certeza de que essa é a
companheira do Supremo?" Suas palavras não saíam da minha
cabeça e me fizeram engolir seco com a possibilidade daquela carta
estar se referindo a mim. Balancei a cabeça tentando voltar ao plano
de não pensar muito e só agir normalmente. Isso explicaria tanta
coisa. Será que realmente é isso?
— Não liga para eles, Nella! — Mia dizia com calma tentando
me confortar.
Os dois foram ao círculo e tiraram as camisas ficando em
posição de ataque. Logo em suas mãos cresceram garras e seus
olhos tomaram a cor amarela, como os da Amélia. Brendom tinha os
cabelos cacheados amarrados em um coque. Ele era moreno e,
céus, seus olhos naturais eram em um azul incrível. Já o Carlos era
loiro com os cabelos lisos, seus olhos são castanhos como uma
pinha. Em algo os livros acertaram em cheio, todos os seres
sobrenaturais que conheci até agora são bonitos como na ficção.
— Até que os lobos não estão tão atrás assim. — Disse
olhando as costas do Brendom, que parou bem em nossa frente.
— Meu Deus, eu criei uma pervertida!
Brendom parte para cima do Carlos, o derrubando pela
barriga, fazendo um barulho muito alto assim que ele caiu no chão.
Dei um pulinho de susto. Santa Selene, que selvagens! De repente,
Carlos deu a volta por cima de Brendom, o pegando pelo pescoço,
dando um mata leão, o que deixou seu rosto vermelho, fazendo ele
soltar rugidos de raiva. Segurei a mão de Mia pelo susto.
— Não está com medo, né? — Mia sussurrou segurando
minha mão.
— Medo? E-eu? Não, isso é muito normal... a gente vê dois
caras se matando no chão todo dia! — gaguejei fazendo-a sorrir.
— Relaxa, Nella, eles não estão se matando. Isso aí... é
como uma brincadeira.
— Brincadeira? Isso? — olhei para eles que riam enquanto
se ‘matavam’ rolando no chão. — Era só o que me faltava.
Olhava os movimentos selvagens que eles faziam quando
algumas pessoas riam com os tombos deles. Realmente eles estão
se matando. Do nada, começaram a surgir borboletas no meu
estômago, minhas mãos gelaram e meu corpo dava leves
descargas de tremores. Ultimamente meu corpo só está reagindo
assim quando Francis, o irmão de Thomas, está por perto. Será
que...?
Merda!
— Com licença?
— O que o Mateus está fazendo aqui? — perguntei
sussurrando para Mia, que acenou com a cabeça como se dissesse
que também não sabia.
— Senhorita Antonella! — o professor me chamou acenando.
Fiz uma careta para a Mia que me olhou e sorriu.
— Eu? O que ele quer comigo? — falei enquanto pegava um
prendedor, que estava no bolso da Mia, e amarrava meus cabelos.
— Algo me diz que não é ele. — Mia completou apontando
para o outro lado do estacionamento.
Em pé, parado perto de um Camaro preto, eu não sei muito
sobre a marca porque sou péssima com carros, porém, posso jurar
que vale mais que minha vida, lá estava Francis com óculos
escuros, os braços cruzados e com uma linda carranca de
impaciência. Suspirei assim que ele mexeu os braços junto com sua
respiração. Engoli seco, sentindo minha garganta ser rasgada. Ele
estava com um terno preto dessa vez. Caralho, ele fica muito lindo
de terno! Tomei a garrafa de água que a Mia pegou e bebi um pouco
quando ela me olhou com uma sobrancelha arqueada. Me afastei
dela e fui para o lado do Mateus.
— Francis quer falar com você.
— Não vai comigo? — o perguntei vendo algumas pessoas
olharem para mim.
— Não mesmo! ‘Eu quero apostar’. — Mateus fez uma
linguagem labial sem dizer palavra alguma.
Filho da puta! Ele estava revidando porque eu disse aquilo
para ele na entrada? O olhei com indiferença, já que ele abraçava a
Mia por trás. Comecei a caminhar até a minha morte, sentindo meu
coração disparado.
— Merda! — sussurrei.
Passei pelo portão apertando a garrafa de água com força.
Olhei brevemente para trás, e Mia e Mateus iam em sentido
contrário ao meu. O professor tinha voltado a dar a aula
normalmente, mas alguns alunos ainda me olhavam, inclusive
Amélia. Olhando para frente vi que Francis me encarava. Meu
coração parecia que iria saltar pela boca.
— Queria falar comigo? — perguntei, já sabendo a resposta,
ao parar em sua frente, cruzando os braços.
Me analisando da cabeça aos pés, seu olhar pairou sobre
meus lábios até chegar nos meus olhos. Tentava ignorar de todas as
formas, as sensações que ele me causava só por estar bem aqui na
minha frente.
— Não acha que esse short é muito curto? — disse
analisando minha roupa.
— Aposto que não veio aqui para falar da minha roupa. —
Cruzei meus braços sobre os meus seios, assim que ele começou a
olhá-los. Que tarado!
— Você está certa, mas não imaginava que estaria pelada. —
Falou seriamente. O que me fez olhá-lo com indignação.
— Pelada? Em que mundo você vive?
Quem esse cara acha que é para tentar controlar minhas
roupas?
— Nesse. — Ele olhou nos meus olhos e tentou esconder um
sorriso travesso que começou a nascer em seu rosto.
— Como você mesmo falou, você é o Supremo e blá-blá-
blá... Me parece que você que manda em tudo, então tecnicamente,
o uniforme da escola ser curto é culpa sua. — Com um ar de
superioridade que eu desconhecia, empinei meu nariz como se ele
não me afetasse.
Me olhando, sorriu diferentemente da reação que achei que
ele teria. Todo mundo fala que ele é mal, que não deveria desafiá-lo.
Engraçado, até agora ele não foi mal comigo. Pelo contrário, é bem
compreensivo. E parece que gosta de me ver irritada de certa forma.
Olhei em seus olhos por um momento sem conseguir quebrar o
contato visual. Tinha algo nele que me atraía, tinha algo nele que
me deixava perdida e abobada. Talvez tivesse algo nele ou talvez
fosse ele todo.
— Entrarei com providência.
Descruzando os braços do seu peitoral, acompanhei cada
movimento que ele fazia, sentindo meu corpo traidor ter leves
tremores. Ele é literalmente um pedaço de mau caminho! Francis
retirou o terno que usava, me fazendo arfar e olhar agora sua
camisa, que marcava bem seus músculos. Eu devo estar parecendo
uma obcecada. "Fecha a boca, Antonella, você deve estar
babando". Depois de fazer o seu "show" de stripper, Francis
estendeu seu paletó em minha direção.
— O quê? — perguntei sem entender bem.
— Coloque-o. — Ordenou, me fazendo tremer de medo.
— Por quê? — mesmo com medo, mesmo com o meu
coração acelerado, eu o questionei.
— Porque essa roupa está muito curta e não quero ter que
matar ninguém por esse motivo. — Começou a dizer com uma voz
fria, me fazendo ficar paralisada.
— Matar? Po-por que mataria? — gaguejei engolindo a seco
sem conseguir me mexer, sem conseguir raciocinar corretamente.
— Pense comigo! — Francis começou a falar caminhando
para trás do meu corpo. Arfei assim que senti suas mãos em meus
ombros colocando o seu paletó. — Se algum garoto olhar para suas
curvas nessa roupa, eu teria que matá-lo. Iria adquirir problemas
com a família do garoto e com o Alfa que iria perguntar o motivo de
eu ter cometido tal ato. — Tirando o meu cabelo do ombro, Francis
colocou o rosto entre a curva do meu pescoço.
Ele continuou a falar me deixando sem reação.
— Então eu diria que o matei porque ele olhou para você.
Isso obviamente não seria um motivo. Então ele iria duvidar da
minha capacidade como Alfa Supremo, eu perderia o controle e
mataria ele também. — Parou de falar e continuou cheirando
levemente meu pescoço, despertando arrepios por todo meu corpo.
Fechei os olhos quando suas mãos tocaram minha cintura, me
segurando, já que minhas pernas ficaram bambas na mesma hora.
Eu vou cair de cara no chão.
— A família do Alfa falaria com o conselho sobrenatural, que
informaria todos os alfas, iniciando assim uma guerra entre lobos.
Óbvio, eu mataria muita gente. — Arfei. — E você não quer minhas
mãos sujas com sangue de inocentes, não é mesmo?
Suspirei tão alto. Nem havia me tocado que segurava a
respiração com tanta força. Balancei a cabeça concordando com
ele. Eu não queria que ele matasse ninguém. Ele exalava esse
controle sobre mim, mas eu sabia que ele exalava isso sobre todos.
— Boa garota! — ficou novamente em minha frente, sorrindo
enquanto eu parecia uma verdadeira abobada.
Minhas bochechas coraram. Segurei com força o seu paletó
por dentro assim que o cheiro do seu perfume chegou às minhas
narinas. Algo dentro de mim pula pelo simples cheiro do seu
perfume. Merda! Eu me sentia horrível pela forma que o deixava me
afetar, me sentia pior ainda porque ele sabia que me afetava e, com
toda certeza, me sentia incomodada e envergonhada pelo fato de
estar excitada com a sua presença. Algo me diz que ele sabe disso.
Será que ele sabe dos meus sonhos eróticos? Que bobagem,
Antonella!
— Vim avisar que não vou poder buscá-la hoje, embora
quisesse muito. — Começou a dizer, com as mãos dentro do bolso
da sua calça. — Aconteceu um imprevisto na minha empresa. Vou
passar essa noite lá para conseguir resolver.
— Por que está me falando isso? — digo engolindo seco —
Você não me deve explicações. — Com um aperto no peito, tentei
ignorar esse sentimento de medo e receio.
— Quem disse? — Francis falou seriamente olhando nos
meus olhos. — Eu te devo explicações, assim como você me deve.
— Me puxou pela cintura, deixando-me em êxtase. Olhei para ele
sem reação... acho que morri. Arfei assim que ele me apertou mais
contra o seu corpo.
— O-o que você pensa que está fazendo? — tentei dizer,
mas minha voz saiu mais falha do que eu esperava.
— Não precisa ter medo... — sussurrou perto dos meus
lábios, me fazendo tremer da cabeça aos pés.
Ele sabia que eu estava assustada e ao mesmo tempo a
excitação exalava dos meus poros. Suspirei alto soltando um leve
gemido manhoso assim que suas mãos apertaram mais minha
cintura. Todos os sonhos eróticos que tive com ele me vieram à
memória, corei na mesma hora. Uma de suas mãos subiu pelo meu
braço e parou no meu pescoço, seus lábios se aproximaram dos
meus tocando-os com uma delicadeza que eu desconhecia. Ele
estava me beijando? Era isso.
Um selinho demorado, mas que fez meu coração parar de
bater durante alguns milésimos de segundos. As borboletas no meu
estômago estavam brincando de tiro ao alvo nesse momento e o
alvo, sem dúvidas era eu. Fechei os olhos como no automático. Meu
corpo amoleceu em seus braços, fazendo-o me trazer mais para si.
Com calma, ele pediu passagem com sua língua, iniciando um beijo
calmo e lento.
Com o coração a mil, sem conseguir resistir, eu correspondi ao
beijo na mesma intensidade, sentindo que meu coração poderia sair
pela boca a qualquer momento. Seu cheiro, suas mãos em minha
cintura de uma forma possessiva e autoritária, me deixavam louca.
O beijo foi tomando forma e se intensificando de uma forma sedenta
e selvagem.
— Eu não gosto de ver você com medo. Prefiro quando me
responde. — Totalmente ofegante, falou ao finalizar o beijo tomando
meu rosto em suas mãos.
— Que-quem você pensa que é? — digo recobrando minha
consciência. — Não pode sair beijando as pessoas assim. — Tentei
empurrá-lo, mas ele apenas sorriu. — E-e você tem que parar de
ficar me seguindo. — Sair dos seus braços era algo difícil e tentar só
resultou em um aperto ainda mais forte em minha cintura.
— Eu não estou te seguindo. — Falou revirando os olhos. —
Estou apenas cuidando do que é meu. — Disse me fazendo
estremecer.
— Eu não sou um objeto para ser seu!
— Bem que eu adoraria discutir com você, agora, as diversas
formas que você é minha e que me pertence... — ele para de falar e
seu olhar se volta mais uma vez para meus lábios que estavam
inchados pelo beijo. — Mas realmente tenho que ir.
— Posso te fazer uma pergunta? — engoli a seco quando ele
acenou concordando. — Nós somos companheiros? É por isso que
você me persegue?
— Achei que já soubesse que... — ele ia dizer, mas um cara
o interrompeu chegando por trás de nós.
— Supremo? A gerência da empresa ligou pela quinta vez. —
O homem dizia estando com um telefone no ouvido.
Olhei para o cara e o reconheci de imediato. Ele era o
homem que estava na cabana da Mali no dia em que me perdi na
floresta. O cara da cabana.
— Derek, não me interrompa mais! Você sabe que odeio isso.
— Francis apertou minha cintura, rosnando entre dentes de uma
forma baixa.
— Eu vou ter que ir, mas assim que chegar respondo suas
dúvidas. — Deixou um beijo no canto da minha boca, o que me fez
paralisar de imediato o vendo se afastar e entrar no carro abaixando
o vidro. — Arrume suas coisas. Assim que chegar amanhã, vou
direto na sua casa te buscar.
Ele dá a partida no carro, me deixando ali parada em pé no
estacionamento da escola completamente abobada e sem entender
o que acabou de acontecer aqui. Suspirei, alto demais. Não tinha
me tocado que segurava o ar há tanto tempo assim. Aonde eu me
meti, Selene?
— Merda...
Tentava de todas as formas conseguir andar sem cair de cara
no chão. Como ele pode me dar um beijo assim, despertar esses
sentimentos dentro de mim e ir embora sem me explicar nada?
Tenho certeza de que não vou gostar do que vou descobrir.
Capítulo Dezesseis

Continuo pulsando, sentindo, vivenciando, Falando, deixando


que a adrenalina corra por entre minhas veias.
Estou mais viva do que nunca.

Mih Franklim
Antonella
Acordei de uma noite mal dormida. Afinal, só conseguia
lembrar o acontecimento de dois dias atrás. Isso mesmo, dois dias!
Francis me beijou aquele dia no estacionamento da escola e até
hoje não voltou e não deu uma notícia sequer. Não que ele fosse
obrigado a me dar explicações, mas eu acho que mereço uma. As
pessoas não podem ser assim, beijar e sumir sem dar nenhuma
explicação. Na verdade, pode sim, mas não comigo. Eu sou um
bebê!
Já são 09h10min e, como perdi o horário, não vou à escola.
O lado bom é que ultimamente meus pais não me mandam mais
fazer nada, então eu ter faltado hoje vai ser como nada diante de
tudo que está acontecendo.
Levantei-me da cama meio cambaleando de sono e fui até o
banheiro, evitando olhar no espelho. Deus sabe como sou de
manhã! Sem pensar duas vezes, arranquei a única peça de roupa
que usava. Uma blusa do The Vampire Diaries, que ficava como um
vestido. Me joguei debaixo da ducha fria, começando a ensaboar o
meu corpo. De imediato meus pensamentos começaram a me
torturar novamente.
Se eu realmente for a companheira do Francis, isso quer
dizer somos casados? O que isso realmente quer dizer? Isso talvez
explicasse meus sonhos eróticos com ele antes mesmo de conhecê-
lo. Também explicaria a forma que ele me atrai. Aí entraria a carta
de Elizabeth Johnson, será que essa carta é real? E se for, um
suposto filho meu e do Francis mudaria o quê?
Cheiro, me lembro de que isso era o primeiro passo para
identificar o companheiro de acordo com o livro. Mas também tem o
fato de que não me transformei ainda. Só poderia achar o meu
companheiro após a transformação. E por que não havia me
transformando ainda? De acordo com o livro, era para eu ter me
transformado com dezesseis anos, já faço dezoito e não me
transformei. O que há de errado comigo?
Aquele dia no estacionamento, suas mãos, a forma que me
tocava, sua pele estava quente como a minha. Era como se eu
fosse fogo e ele o inferno inteiro.
— Francis, o que você está fazendo comigo? — perguntava
para o vazio. Assim que escorei na parede do banheiro fechei os
olhos e apenas senti a água fria tocar meu corpo, que estava
totalmente quente.
Eu estava ofegante e com calor, muito calor. Apenas o fato de
lembrar dele já me deixou assim? Minha Santa Selene, aonde me
meti? Que Selene, Hélio e todos os outros deuses, me ajudem
porque sinto que me ferrei bonito agora.
Terminei o banho rápido e saí enrolada na toalha. Assim que
cheguei no quarto, meu celular vibrou, avisando que tinha recebido
uma mensagem. Peguei o mesmo e comecei a ler: "Oi, my girl,
saudades de você. Bom, estou em Nova York com os garotos do
time, você mora aqui perto, certo? Não teria como dar uma
passadinha aqui? Vou mandar meu endereço pelo GPS. Bjs.”

Sorri vendo a mensagem e subi na cama pulando de


empolgação. Eu realmente parecia uma criança. My girl, eu amava
esse apelido. Ele me chama assim desde sempre, mas,
especificamente, esse apelido foi criado na quinta série.
***

— Mãe, me empresta o seu carro?


—Para que? — ela me olhou desconfiada bebendo o seu
café.
— Eu estava pensado em dar uma voltinha. — Tentando
convencê-la, fiz uma cara fofinha. — Por favor!
— Antonella, eu achei que ia ficar em casa já que faltou à
aula hoje. Não está passando mal? Por que faltou hoje, então?
—Então, cof*cof, estou com um pouco de cof*cof. — Fingi
estar com uma tosse.
— Antonellaaa! — ela me olhou de tal maneira que me fez
engolir seco.
— Está bem, está bem! Eu perdi o horário. — Suspirei dando
de ombros. — Estava pensando em sair de carro um pouco, só isso.
— Antonella, acho melhor você ficar em casa. — Ela falou me
olhando e depois bebeu o seu café.
Suspirei. Eu não iria sair derrotada disso tudo. Não mesmo.
Fazia séculos que não via o Hugo, estava morrendo de saudades.
Agora que tenho a oportunidade de vê-lo e quem sabe voltar à
normalidade da minha vida nem que seja por algumas horas, acham
mesmo que vou me contentar com um simples não?
Meu pai entrou na cozinha com uma cara de sono. Então, foi
aí que surgiu a brilhante ideia. Olhei para o meu pai e sorri feito uma
garotinha indefesa.
— Papai, me empresta seu carro hoje? — batia os olhinhos
em forma de charme, o que fez ele me olhar e sorrir.
— Clar... — minha mãe o interrompeu.
—Não. — Ela disse me olhando, o que me fez bufar.
— Ah, mãe! Por que não? — meu pai ficou quieto e arqueou
uma sobrancelha se sentando para tomar café conosco.
— Meu instinto maternal me diz que você vai aprontar. —
Falou me olhando, quando colocou a xícara de café sobre a mesa.
— Ah, claro, maravilhoso! Além de loba, agora virou vidente.
— Revirando os olhos, suspirei.
— Não vire os olhos para mim, mocinha.
— Mãe, desculpa. Olha, o que custa? Eu não vou sair
matando pessoas na rua, nem gritando para o universo que sou
uma loba. — Tentava ser convincente, mas não estava funcionando.
— Deixa a Nella sair um pouco, querida! — meu pai falou
olhando para minha mãe.
— É, deixa mãe. — Juntei as mãos a implorando.
—Não! Eu te conheço, Antonella. Além do mais, o Supremo
chega hoje. Então é melhor evitarmos problemas.
Meu estômago embrulhou, senti um aperto no meu coração
me deixando desconcertada. Eu estava com saudades dele, estava
com saudades até mesmo de ser sarcástica com ele. A olhei e
engoli seco. Ele chegaria hoje? E não me disse nada? Suspirei com
ódio pelo fato de ser a última a saber novamente da minha vida.
— E daí? — a olhei — O que tem que ele vai chegar hoje? O
que isso vai interferir na minha saidinha?
— Como eu bem te conheço, sei que não será só uma
saidinha. — Minha mãe se pronunciou se estressando. — Chega,
assunto encerrado!
A olhei triste e suspirei.
— Não fique triste, querida. Outro dia você pega o meu carro
e vai até Roma se quiser. — Meu pai se levantou, deu um beijo em
minha testa e, logo em seguida, um selinho em minha mãe. — Eu
tenho que ir. Estou ajudando Thomas enquanto o Supremo não
está.
— Tchau, papai! — o via sair feliz pela porta.
Pelo menos alguém está feliz aqui. Suspirei derrotada.

***

Passei o meu dia vidrada no tédio. Acabei ajudando minha


mãe que me respondeu algumas coisas básicas de lobos, como por
exemplo: a lua de sangue é um período definitivamente para os
lobos procriarem, ou seja, eles ficam como coelhos. Ela também me
disse sobre o período fértil da fêmea. Eu sei, ridículo eles usarem
essa palavra. Mas confesso que não foi tão chato assim o meu dia.
Fazia tempo que não tínhamos um momento de garotas só para nós
duas.
Já era de tardezinha e, nesse exato momento, tento
acompanhar a conversa do meu pai, minha mãe e do Thomas, que
estão falando alguma coisa sobre alcateia. Porém, confesso que a
única coisa que se passa realmente na minha cabeça é a
possibilidade de conseguir sair escondido se eles saírem com
Thomas.
Vamos lá, Selene! Eu nunca te pedi nada, me ajuda vai...
Seria fácil manobrá-los. Eles iriam sair e, provavelmente
chegariam por volta da madrugada. Aí eu entraria em ação,
colocando algumas almofadas na cama e tampando com o edredom
e pronto. O carro do meu pai está na garagem, então o usaria.
Provavelmente, minha mãe não vai guardar o dela devido ao horário
que chegarem. Algumas horas de viagem, e chego em Nova York
antes da meia-noite. E volto antes das cinco da manhã, e pronto.
— Antonella? O que me diz? — Thomas me perguntou e eu o
olhei já que não prestei atenção em nada.
— Perdão, o que disse? — perguntei meio sem graça.
— Eu disse que você poderia ir à alcateia. Todos estão
curiosos para te conhecer. — Thomas sorri.
— E-eu? Acho melhor não, Thomas. Aquele dia eu já fui à
cidade.
— Mas não da forma correta.
— Mesmo assim, acho melhor não. — Dei de ombros,
fingindo não ter importância.
— Seria bom que você fosse. Meu irmão está passando o
cargo de Alfa dessa alcateia para um amigo dele. Bom, como ele é
o Supremo, ele conseguia administrar tudo, mas agora ele que ter
mais tempo vago... — me olhando, fez um barulho com a garganta.
De certa forma, eu sabia que esse tempo vago tem total
relação com a minha pessoa.
— Acho melhor eu ficar, estou com um pouco de sono. —
Abro a boca, como se estivesse com sono.
— Tudo bem, então. — Ele se levantou juntamente com
meus pais e foram em direção a porta.
— Antonella, não vamos demorar muito. — Papai me alertou
passando pela porta, assim que minha mãe parou me olhando.
— Nada de aprontar. Qualquer coisa me liga. Se
demorarmos, durma antes das 23h30min e... — meu pai a
interrompeu.
— Misericórdia, mulher! Ela não vai assaltar um banco.
— Só tome cuidado, minha filha! — me dando um beijo
estalado na bochecha, se afastou preocupada.
—Tchau, também! — acenei para eles.
Sorrio enquanto vejo meus pais e Thomas se afastarem entrando
no carro, fecho a porta e escuto o carro se afastando.
— Obrigada, Selene!
Abri meu guarda-roupa e me arrumei rápido. Um short preto um
pouco curto e uma camisa masculina larga com o desenho de um
alienígena na frente. Peguei meu velho e tão amado tênis branco e
o coloquei com uma meia preta com duas listras brancas para
combinar com a blusa. Um batom roxo apenas e soltei meus
cabelos. E estava pronta.
Olhei no espelho e algo me dizia que iria dar merda.
— Pare de bobagem, Antonella, você já fez isso antes. —
Digo ao me olhar pelo espelho.
Peguei uma mochila e coloquei meu celular, algumas balas e
minha documentação. Saindo do quarto, pego a chave do carro do
papai.
Quando cheguei na garagem, o carro estava lá como
previsto. Entrei no mesmo olhando no relógio. Suspirei, arrumei o
retrovisor vendo se meu batom estava borrado, liguei o som e tratei
de colocar a música “Run The World Girls” da nossa deusa terrestre
Beyoncé. Só o fato de estar cantando já tirava totalmente minha
culpa e me fazia sentir mais leve, e livre.
O caminho todo foi agitado, eu parecia uma típica
adolescente que pega um carro e mais canta do que dirige. Meu
caminho todo até Nova York foi cantando, me sinto uma cantora
profissional. Hugo tinha mandando o local pelo GPS e foi fácil achá-
lo na grande cidade de Nova York.
— Cheguei! — olhando no relógio vejo que não gastei mais
do que o tempo estimado.
Estacionei o carro em frente a uma pista de skate onde havia
várias pessoas. Assim que saí pegando apenas a chave do carro,
procurei com o olhar alguém que me pudesse ser familiar, até
encontrar Hugo de costas.
Sorrindo, eu fui correndo em sua direção. Tinha certeza de
que era ele, eu havia dado aquela camisa de presente para ele no
seu aniversário. Sem pensar duas vezes, me joguei em suas costas,
rindo, o pegando de surpresa.
— Meu Deus, você engordou! — Hugo falava empolgado
assim que eu descia de suas costas o abraçando com força.
Suas mãos me apertam de uma forma que me deixou sem ar.
Logo seu perfume, que eu gostava, invadiu as minhas narinas, me
fazendo fechar os olhos. Sorrindo, ele me girou no alto. Olhei em
seus olhos enquanto sentia a felicidade me invadir.
— Você está linda! Nossa, como senti sua falta! — segurando
o meu rosto, Hugo olhou fixamente nos meus olhos.
— Eu também senti saudades. — Digo desfazendo o sorriso
que tinha em meu rosto. Meu corpo gelou ao ver que o rosto de
Hugo se aproximava dos meus lábios.
Capítulo Dezessete

De modo sorrateiro, ela chegou Transformou aquela dor no


amor.
Já não vejo mais a escuridão em mim.
Seu sorriso colocou a cor Que faltava no meu mundo Preto e
branco que estava!

Mih Franklim
Antonella

Virei o rosto e sorri desconsertada, deixando que ele desse


um beijo na minha bochecha. Seus olhos tinham confusão, mas
apenas sorri sem dar nenhuma explicação. O que eu iria falar? Que
não poderia o beijar porque estou pensando no Francis? Ou porque
tenho medo do Francis matá-lo? Eu não sei ainda do que ele é
capaz, mas sei que é poderoso, e poder significa perigo.
Ao certo, não precisava da nenhuma explicação para o Hugo.
Nunca tivemos nada sério. Foram apenas beijos, mas mesmo
assim, eu não quero perder a amizade dele, que de fato é
importante para mim. Uma vez, no ano passado, tentamos namorar,
mas eu não conseguia. Era como se me compromete-se sendo de
outro alguém. Foi estranho, mas hoje eu entendo o porquê que me
sentia assim, com toda certeza tem total ligação com Francis.
— E aí, galera?! — comecei a cumprimentar todos os
meninos que iam batendo na minha mão no famoso toca dez.
Pedro, Luca, Will e Hugo. Conhecia todos da minha antiga
escola, eles faziam parte do time e eu era a chefe das líderes de
torcida. Não tinha como não conhecer. Depois de abraçá-los e
cumprimentá-los, sorri, parando novamente do lado do Hugo, que
colocou suas mãos por cima do meu ombro. Uma sensação de
desconforto preencheu meu peito, não sabia porquê. Sempre
tivemos esse tipo de contato, mas nunca me senti estranha com
isso. Engoli seco e tratei de ignorar a sensação.
— Você sumiu, deve ter se esquecido da gente. — Pedro
comentou, me fazendo sorrir.
— Vai por mim, eu queria muito não ter sumido.
— Você está morando por aqui, certo? — Will perguntou.
—Sim. É uma cidade por aqui perto. — Digo dando de
ombros.
— Antonella em toda cidade deve arrasar corações. — Hugo
disse apertando meu ombro de uma forma amigável.
— Bem que eu queria! — sorrindo, o olhei.
— Deve ter um monte de caipiras velhos. — Luca
pronunciou-se fazendo todos rirem.
— Também não é assim. — Me lembrando do Francis, sorri
de lado.
— E como é a escola nova? —Hugo perguntou, assim que
me puxou para sentar do seu lado em uma escadaria.
— Uma merda! E como está a escola lá?
— As meninas vão competir de novo no campeonato
estadual de líderes de torcida. O time se classificou para as finais.
— Escutando Hugo dizer empolgado, apoiei minha cabeça em seu
ombro suspirando. — Mesmo assim, não é a mesma coisa sem
você.
— Concordo plenamente. Adorávamos ver você regendo as
meninas na pista... e as roupas... — Pedro falou me olhando com
malicia, recebendo um soco, não esperado, no ombro de Luca, o
que me fez rir.
— Eu também sinto falta. Mas essa é a minha vida agora... —
Me levantei vendo todos sentados no chão. — E, cá entre nós, não
é tão ruim assim! — não esperava descobrir que sou uma loba, mas
confesso que é empolgante.
Hugo se levantou animadamente, sorrindo e batendo palmas.
— Bom, já que estamos aqui, que tal aproveitarmos a
cidade?
— E o que tem em mente? — desconfiado, Luca levantou,
olhando Hugo de forma duvidosa. — Conhecendo você, imagino
que deva ter um mapeamento de toda cidade.
— Me conhece tão bem! — sorrindo ironicamente, Hugo
colocou uma mão sobre seu coração, me fazendo rir. — Bom...
como eu sou uma pessoa preparada e totalmente da farra,
pesquisei algumas boates em Nova York e achei uma que me
chamou a atenção.
Olhei para os meninos, que me levantaram quando Hugo
mostrava fotos de uma boate neon. Eu gostaria de ir, mas a
sensação de que daria merda estava começando a me deixar
inquieta. Sorri meio sem jeito para os meninos já tomando a decisão
de ir embora.
— Acho melhor eu voltar para casa. — Atraindo os olhares
dos meninos, tentei sorrir para animá-los.
— Ah, Nella, fica, vai! — Hugo parou em minha frente
suspirando.
— Acho melhor eu voltar, Hugo. — Disse sem jeito.
— Meninos, vamos pegar o carro... — Luca cutucou Will e
Pedro que saíram sem graça, nos deixando a sós.
— O que aconteceu, My girl? — Hugo segurou novamente
meu rosto com ternura.
— Nada eu só... fugi de casa para te encontrar.
— Você o que? — ele ri. — Você não muda mesmo, né?
— Nunca.
— Você conheceu alguém, certo? — ele de repente me
perguntou, mudando de assunto. Fico desconcertada.
— Co-como? — o olhei com vergonha.
— Não precisa ficar assim... o nosso trato era que quando
achássemos alguém, falaríamos, lembra? — sem graça, eu
concordei com ele.
— Não é bem conhecer... — abaixei meu olhar com
vergonha. — É como se eu tivesse encontrado, sabe? É meio
confuso.
— Eu não sei. — Ele sorri. — Mas respeito a sua escolha.
Você é maravilhosa, Antonella! E você sabe que gostei de você no
passado. Mas agora, fico feliz que tenha encontrado alguém. E que
ele possa te fazer feliz. Bom, se não fizer, vai se ver comigo. —
Falando divertidamente como um verdadeiro irmão mais velho,
Hugo me puxou para um abraço, no qual eu realmente me senti em
casa.
Imaginei Hugo tentando enfrentar o Francis. Seria
desnecessário e sem reação, afinal, Hugo é um humano, não teria
chance com um lobo, ainda mais com o Supremo...
— Obrigada por entender.
— Sempre vou estar aqui para te compreender. — Falou
sorrindo. Por um momento, me senti sortuda e burra ao mesmo
tempo.
Eu tinha Hugo bem ali. Ele era perfeito. Sempre me tratou
bem, já provou que me amou no passado. Sem contar que tivemos
uma história juntos. Ele, sem dúvidas, daria tudo por mim e eu daria
minha vida por ele, mas como amigo. Era só isso. Eu não conseguia
sentir mais nada por ele que não fosse um amor de irmão. Hugo era
lindo, romântico, engraçado, compreensivo, ele era perfeito só que
faltava algo nele para mim. Ele não era o Francis... Senti meu
coração ter falhas batidas. Eu sabia que sentia algo pelo Francis. Eu
estava apaixonada? Como isso era possível? Como eu poderia me
apaixonar por um cara que nem conhecia direito? Droga!
— Que tal aproveitar seu amigo aqui e ir para a balada
comigo? Vamos, por favor! — me segurando pelos ombros, Hugo
me sacudiu de leve, me fazendo rir.
— Está bom, está bom.
Hugo passou sua mão pelo meu ombro me guiando até o
carro. Segurava com força sua camisa enquanto via o carro parado
logo à frente. Seu toque já não me incomodava mais. Talvez fosse
pelo fato de estarmos esclarecidos. Sorrindo, ele me disse, quando
aproximávamos do carro: — Você sabe que agora você acabou de
deixar o caminho livre para a Valentina, né? — ele me perguntou
enquanto eu revirei os olhos.
— Valentina? Não sabia que gostava dela. — Fiz uma careta.
Valentina e eu nunca nos demos muito bem. Ela era a antiga chefe
das líderes de torcida.
— Ela tem uma bunda! — disse de forma maliciosa. Dei um
tapa nele, vendo-o rir.
— Pervertido. — Abrindo a porta do carro, me sentei no meio
de Hugo e Will, enquanto Pedro e Luca iam na frente.
— O casal foguinho está de volta? — Luca falou
divertidamente dando partida no carro. Era assim que nos
chamavam, afinal, éramos os únicos ruivos da minha antiga escola.
— Começou o preconceito com a nossa cor, querido. — Digo
olhando para Hugo que sorria. Sempre brincávamos assim.
—Só porque nossos filhos seriam lindos. — Hugo completou
entrando na brincadeira.
— Os filhos de vocês iriam parecer albinos com um tomate
na cabeça. — Will fala fazendo Luca e Pedro rirem.
— Quanta inveja por não conseguirem pegar uma ruiva. —
Revirei os olhos, ao ouvir a voz de Hugo em uma entonação
maliciosa.
— E para onde vamos? — Will perguntou.
—Vamos para a Bloody Wolf. — Empolgadamente Hugo
falou. Sinto meu estômago embrulhar.
— Lobo sangrento, que bosta de nome! — Pedro colocava as
coordenadas no GPS.
Até parece que Selene está me dando um sinal de que isso
não vai acabar em boa coisa.

***

Assim que entramos na boate, as luzes sorrateiramente


piscavam junto, dando um clima e ambiente agradável. A música
alta tinha um ritmo contagiante, as pessoas dançavam unicamente,
uma em cada ritmo. Olhei para os meninos que foram buscar
algumas bebidas.
— Vamos dançar! — começando a me puxar para a pista de
dança, Hugo balançava os ombros em uma dança engraçada me
fazendo sorrir.
Trinta minutos depois, e não havia colocado sequer uma gota
de álcool na boca. A sensação de desconforto não foi embora,
porém estava feliz e animada dançando com meu amigo. O ritmo da
música fazia cada fibra do meu corpo pular e saltitar. Fazia tempo
que não me sentia livre assim, sem problemas, sem lobos,
vampiros, ou o Supremo que te persegue. Era a velha Antonella ali,
dançando e apenas curtindo o momento. Eu sentia falta dessa
Antonella, mas algo nela já não me agradava mais. A minha nova
vida era a realidade para mim agora. E querendo ou não, tenho que
me acostumar com ela.
Os meninos já haviam sumido de nossas vistas. Uma
sensação de liberdade circulava por meu corpo. Hugo passava as
mãos calmamente na minha cintura, me guiando em uma dança
sem nexo e ritmo, me fazendo sorrir a todo momento enquanto
pulávamos. Logo meu corpo foi surpreendido por uma angústia.
Parei de dançar, olhando em volta. Hugo continuou dançando do
meu lado, me olhando. Sorri sem graça para ele e a sensação de
desconforto se intensificou. Logo a música foi cortada e algumas
pessoas pararam de dançar.
— O que aconteceu? — Hugo me perguntou, tocando meu
ombro levemente.
Com o simples toque dele no meu ombro, escutamos um
praguejo como um rosnado, que fez todos da boate ficarem em
silêncio. Meu corpo se arrepiou e senti medo. As borboletas
voltaram ao meu estômago. Me virei para trás dando de cara com
quem eu não queria ver agora. Francis estava muito irritado e
começou a caminhar lentamente em minha direção. Sinto minhas
pernas fraquejarem, assim que via o vermelho tomar seus olhos por
inteiro... o olhar do meu sonho.
Capítulo Dezoito

O amor é construtivo e ao mesmo tempo avassalador.


É o certo e o errado.
É o novo e o velho.
O amor é tudo o que precisamos...
E nada do que praticamos.

Mih Franklim
Antonella

Meu coração deu falhas batidas, que me fizeram suspirar de uma


maneira exagerada. Olhei em volta e as pessoas haviam feito uma
roda ao nosso redor. Encarei o Hugo, que me olhou sem entender
nada.
— O que está acontecendo? — Hugo perguntou de novo, só
que dessa vez olhando para Francis, que vinha em nossa direção.
— Eu... — tentei falar algo, mas não conseguia tirar os olhos
do Francis, que estava bem perto.
Ele estava lindo se não fosse pelo seu rosto que dava
indícios que mataria alguém. Porém esse ar autoritário o deixava
incrivelmente sexy e, ao mesmo, tempo assustador. Dei dois passos
para trás, mas ele rosnou de uma forma que fez meu corpo tremer
de medo. Um predador encurralando sua presa.
— Não se afasta. — Disse com uma voz assustadora, que eu
não conhecia. Fiquei parada no mesmo lugar sentindo minhas
pernas bambas.
Quando, enfim, chegou totalmente perto do meu corpo,
conseguia ver a raiva que era evidente no seu rosto. Seus olhos
estavam vermelhos, mas ele tentava lutar contra seu lobo. De
alguma forma, ele tentava se manter calmo mesmo não estando.
Francis segurou com força meu braço, me fazendo resmungar baixo
por causa do seu aperto. Sem pensar duas vezes, me puxou
bruscamente contra o seu corpo. Uma de suas mãos foi para minha
cintura. Me apertando com força, cheirou meu pescoço, fazendo
cada parte do meu corpo ter medo pelo rosnado que ele deu assim
que sentiu o perfume do Hugo em mim.
Olhando para Hugo com raiva, foi para cima do meu amigo, o
que me fez entrar na frente dele na mesma hora. Eu estava com
medo dele, seus olhos estavam agora em um vermelho vinho o que
me deixou assustada, mas não me acovardei. Eu temi pela vida do
meu amigo.
— Não, Francis. — O olhei nos olhos, deixando uma de
minhas mãos tocar seu peito que subia e descia freneticamente
assim como o meu.
Recebi um rosnado em troca como reprovação, enquanto
todos me olhavam chocados pelo simples fato de falar não para o
Francis. Eu sabia que, com esse nome, essa boate poderia ser
algum lugar de lobos de verdade. Deveria te seguido meu instinto.
— Nella? — novamente Hugo me perguntou.
— Hugo, eu acho melhor ir embora. — Ainda com minhas
mãos tocando o peitoral do Francis, tentava manter a calma ao
afastá-lo de Hugo, já que ele olhava para o meu amigo como se ele
fosse uma indefesa presa.
Aos poucos, a respiração do Francis foi se regulando, seus
olhos já não estavam vermelhos, porém a raiva era evidente no seu
rosto. Ele olhava cada gesto que eu fazia. Com toda certeza,
prestava atenção se iria me aproximar mais de Hugo. O olhei e
abaixei calmamente minha mão. Me virei de frente para Hugo e
forcei um sorriso. Meu amigo arqueou uma sobrancelha
demonstrando dúvida. Suspirei assim que sinto as mãos do Francis
agarrarem com força minha cintura por trás e arfei sentindo sua
respiração em minha nuca.
— Eu juro que estou tentando me controlar... eu preciso de
um motivo para não matar esse moleque. — Francis sussurrou em
meu ouvido com uma voz que me fez sentir muito medo. Virei para
trás e vi o leve vermelho tentando tomar seus lindos olhos verdes de
novo.
— Hugo é importante para mim... E se você o machucar, vai
estar me machucando... — sussurrei.
Voltei meu olhar para frente fazendo um barulho com a
garganta. Logo a música preencheu novamente o ambiente. As
pessoas voltaram a dançar como se nada tivesse acontecido. Com
vergonha por ter Francis colado ao meu corpo, tentava retirar suas
mãos da minha cintura sem obter sucesso. Suspirando
pesadamente, sorrio para Hugo e começo a falar gritando pelo
barulho da música.
— Hugo, foi bom ver você de novo, manda um abraço para
os meninos, mas eu tenho que ir agora. — De uma forma totalmente
forçada, tentava transparecer calma.
—Tem certeza de que tudo está bem? — Hugo me perguntou
e veio em minha direção para me abraçar, o que resultou em um
rosnado do Francis.
Céus, esse cara é louco!
— Já chega! — Francis pronunciou-se, tentando ir
novamente para cima de Hugo, só que dessa vez Mateus apareceu
e o segurou pelo braço.
— Francis, calma. Já estamos com problemas com o clã dos
sanguessugas, não queremos que os humanos descubram nossa
existência para iniciar uma guerra agora. — Mateus disse o olhando.
— Antonella, quem é esse cara? — Hugo me perguntou.
Mateus o olhou conferindo se Francis não iria para cima dele de
novo.
— Oi, Hugo, e aí como você está? — Mateus cumprimentou
Hugo de uma forma calorosa, tentando amenizar a situação.
Dei um grito quando Francis se abaixou e me pegou pelas
pernas, me colocando no ombro como um saco de batatas.
Deixando Mateus sorrir sem graça e Hugo sem reação, começou a
me carregar para fora da boate assim que comecei a bater em suas
costas.
— Seu... seu... homem das cavernas, me põe no chão-o,
que... o que está fazendo? — gritava distribuindo socos por suas
costas, mas parecia não ter efeito.
As pessoas olhavam e não faziam absolutamente nada.
Agora tenho a certeza de que essa boate tem ligação com os lobos,
ou talvez com a própria alcateia que estou.
— FRANCIS, ME COLOCA NO CHÃO! — gritei vendo-o
fazer o caminho para o estacionamento como se nada estivesse
acontecendo.
— FRANCIS! — digo alto, ganhando um forte tapa na bunda.
— PARA COM ISSO! — batendo em suas costas, tentava fazer com
que ele me soltasse.
— Que diabos você pensa que estava fazendo? — abrindo a
porta do carro, Francis me colocou sentada na poltrona de uma
forma bruta. — Me dá a suas chaves. — Com a mão estendida,
exigia me olhando severamente.
— Que?
— Mateus vai levar o carro dos seus pais. — Pegou da minha
mão as chaves do carro, jogando para Mateus, que apenas acenou,
me deixando sozinha com esse doido.
Ótimo amigo que eu fui arrumar.
— O que você pensa que estava fazendo? — Francis tinha
sua expressão séria, assim que entrou dentro do carro batendo com
força a porta.
— Fazendo o quê? Eu só estava encontrando um amigo. —
Virei o olhando, vendo-o apertar o volante com força assim que
entrava na estrada principal.
— Amigo? Pois a minha vontade é de ir lá e matar esse seu
amigo, o cheiro dele, de humano idiota, está exalando de você e...
você não tem noção de como isso me deixa com vontade de... —
ele para de falar e trinca a mandíbula.
— Eu não entendo, por que diabos você está na minha cola
desse jeito?! — digo com raiva.
— Eu acho que não deixei muito claro. — Ele falou me
olhando, mas logo voltou o seu olhar para a estrada principal. —
Mas vou ser específico agora. Você é MINHA!
— Que? — o olhei incrédula. Sua respiração estava
acelerada e era nítido que ele estava com raiva.
— Você é minha! MINHA! E eu não quero ver nenhum
homem perto de você, escutou BEM? Eu não quero sentir outro
cheiro em você que não seja o seu, ou o meu. — Demonstrando seu
nervosismo, Francis parou o carro em uma rodovia deserta.
— Você só pode estar louco... — sinto minhas pernas
fraquejarem.
— Estou louco! Louco por você. — Francis veio com tudo
para cima de mim. Sendo específica, para cima dos meus lábios.
Com uma agilidade que eu desconhecia, ele pegou em minha
perna me dando impulso para me sentar no seu colo, iniciando um
beijo feroz sem me dar tempo para protestar ou reclamar. Seus
lábios me atacaram com uma rapidez que eu desconhecia, uma de
suas mãos apertou minha cintura, me fazendo arfar enquanto ele
rosnava de uma forma diferente. Minhas pernas fraquejaram e, se
eu não estivesse em seu colo, provavelmente iria cair no chão.
O beijo do Francis era quente, diferente de qualquer outro do
mundo. Era feroz e agressivo e, ao mesmo tempo, era carinhoso e
viciante. Eu estava literalmente pegando fogo. Queria bater bem
forte nele e falar que não sou uma propriedade para ser taxada
como dele, mas tudo o que eu consegui foi corresponder ao beijo.
Quando a falta de ar infelizmente nos atingiu, eu não sei por qual
motivo, meu coração não saiu pela boca. Queria questioná-lo,
enchê-lo de perguntas, mas não conseguia formar nenhuma
palavra. As borboletas do meu estômago? Provavelmente,
morreram de ataque cardiovascular agora.
— Francis... — sussurrei quando senti seus lábios tocarem
minha mandíbula.
A buzina do carro fez um barulho alto, assim que me joguei
para trás arfando no momento que ele beijou meu pescoço. Um
cheiro maravilhoso, que eu não tinha palavras para descrever,
invadiu minhas narinas, me fazendo suspirar e sorrir de olhos
fechados. Então, Francis sussurrou no meu ouvido: — Eu vou te
marcar bem... aqui. — Francis tocou com as pontas dos dedos meu
pescoço, me provocando arrepios.
Rosnei um pouco alto... Espera, eu estava rosnando? Estou
ficando louca. Não conseguia compreender o porquê estava assim,
ou porque o Francis me deixava assim. Não sabia como ele
conseguia ter esse controle no meu corpo.
Suguei o ar, sentindo o cheiro maravilhoso cada vez mais
perto, até perceber que esse cheiro vinha do Francis. Abri os olhos
e ele me olhou com uma cara de assustado, mas logo sorriu de uma
forma provocativa. Então subi as minhas mãos pelos seus braços e
cheirei de perto seu pescoço. Rosnando baixo, dei um beijo no seu
pescoço, assim que Francis se inclinou deixando a área do seu
pescoço livre para que eu pudesse distribuir diversos beijos. Ele me
olhou sorrindo e apertou a minha cintura.
— Você é surpreendente! Não faço a mínima ideia de como
conseguiu identificar o meu cheiro antes de hora. — Disse
suspirando. Sinto sua pele se arrepiar, assim que dei uma mordida
perto de sua orelha. — Mas acho que Selene acertou em cheio
quando me deu você.
O encarei séria. Contudo, ele sorriu segurando o meu rosto.
Me remexo no seu colo e sinto algo rígido entre minhas pernas, o
que fez minhas bochechas corarem na mesma hora.
— Você provavelmente vai ser a única loba com olhos dessa
cor. — Me encarou com certo brilho no olhar.
Olhei para trás, no retrovisor, e vi que meus olhos estavam
em um azul totalmente chamativo, o que me fez levar um susto.
— O que é isso-o...? — me olhei pelo espelho do retrovisor.
— Isso, meu amor... é a sua loba! — sentindo meu coração
disparar, fecho os olhos ao tentar regular minha respiração.
O olhei e abri a porta do carro saindo de cima dele. Comecei
a correr pela floresta que tinha do lado da estrada. Eu estava
assustada comigo mesma, mas, ao mesmo tempo, me sentia livre.
Comecei a rir enquanto corria olhando para trás. Algo em mim
esperava que Francis estivesse correndo atrás de mim. Era
excitante e assustador ao mesmo tempo. Meu corpo exalava desejo,
desejo pelo Francis, o que me deixava sem reação. Eu era virgem,
mas parecia uma gata no cio quando se tratava do Francis por
perto. Era como se correndo, estivesse tentando atraí-lo. Assim que
cheguei no topo de uma pedra, vejo a vista da cidade. Tentei regular
minha respiração devido ao tanto que havia corrido. Já não estava
mais tão quente como estava há minutos, com o Francis na minha
cola.
Ouvi um rosnado alto que me fez parar, sentindo minhas
pernas bambearem. Eu exalava tensão. Sinto minha pele ficar
quente no momento que olhei em direção à floresta escura, que só
era iluminada pela lua. Olhei mais uma vez em volta e vi dois pares
de olhos vermelhos que me fizeram perder o ar na mesma hora. Eu
sabia que era o Francis. Nunca o tinha visto em sua forma lupina
pessoalmente, mas já o vi tantas vezes nos meus sonhos que seria
impossível não o reconhecer.
Cautelosamente, Francis saiu detrás da árvore me
encurralando como um leão faz com sua presa. Fui dando passos
para trás, assim que seu corpo ficou nítido sob a luz do luar. Era um
lobo seis vezes maior que eu, com uma pelagem preta. O lobo
rosnou baixo me fazendo suspirar ao sentir uma mistura de medo e
algo que não conseguiria explicar.
Com um uivo alto que ele deu, caí no chão, assim que me
embolei com minhas próprias pernas pelo susto. Não parei de olhá-
lo, nem toda a movimentação que ele fazia. Me abracei, sentindo
meu coração disparado, enquanto o enorme lobo preto cheirava o ar
que me rodeava me intimidando.
— Francis... — digo baixo assim que o lobo parou em minha
frente uivando como se tivesse me reconhecido.
Meu sangue ferveu no momento que vejo Francis voltar a sua
forma humana. Lentamente ele se levantou mantendo seu olhar fixo
no meu. Seus traços se destacavam pela luz da lua. De uma forma
rápida e feroz, Francis parou por cima do meu corpo. Seguindo meu
extinto me deitei no chão frio da floresta, arfando assim que seus
lábios me atacaram em um beijo roubando todo o ar de meus
pulmões. A luz da lua era a única coisa que iluminava toda a densa
floresta escura. Olhando para o lado, vejo as pequenas luzes
distante da cidade. As mãos dele pareciam já saberem onde tocar
deslizando sobre minha quente pele, me deixando em completa
euforia.
— Minha... — ao falar em meu ouvido, Francis beijava
lentamente toda extensão do meu pescoço.
Passei minhas mãos por suas costas. Nossas respirações
estavam altas. Dei um grito alto de dor quando senti seu membro
me penetrando de uma vez, me pegando desprevenida. Santa
Selene, quem diria que eu perderia a virgindade na floresta...
— Calma... — sussurrou no meu ouvido não fazendo
movimento algum.
Gemi quando a dor foi sendo substituída pelo prazer, Francis
distribuía mordidas no meu pescoço começando um movimento de
vai e vem com calma para que não me machucasse. Me sentia
tomada ali naquela densa floresta, no meio da noite, como se cada
parte do meu corpo pertencesse ao Francis. Meus gemidos eram
abafados pelos seus beijos, que eram literalmente possessivos e
calculados, ao mesmo tempo em que eram impulsivos e
apaixonados.
Pode-se dizer que essa foi, sem dúvidas, a maior loucura que
eu já fiz na vida tendo a lua como minha única testemunha.
Capítulo Dezenove

O exagero mora dentro de você.


A intensidade está solenemente em sua essência!

Mih Franklim
Antonella
Acordei com uma respiração pesada no meu pescoço,
sentindo uma mão me abraçando pela cintura. Me remexo na cama,
que era maravilhosa e muito diferente da minha. Em uma cama
dessas corre o risco de não acordar nunca mais.
— Ah? — assim que abri meus olhos, vejo a decoração
bastante diferente do meu quartinho.
As paredes eram cinza e a decoração meio rústica. Que lugar
é esse? Minha memória voltou rapidamente e veio à tona os
gemidos, a floresta; lembrei que Francis me carregou no colo até o
seu carro e depois eu dormi no caminho de volta. Santa Selene!
Virei para o lado com rapidez e tranquei a respiração na mesma
hora em que vi Francis dormindo calmamente com a mão na minha
cintura em um sono muito pesado.
— Puta merda... — retiro a mão do Francis da minha cintura,
com calma para que ele não acordasse. — Selene... — dei um pulo
da cama sem fazer barulho, olhando para a imagem do homem
dormindo pesadamente, esticado sobre a cama. Me cobri com
minhas mãos e corri em direção a uma porta, a batendo com um
pouco de força. — Ah não, não, não, não, não, não!
Assim que vi que era o banheiro, me escorei na pia
suspirando. Que tipo de merda eu tinha na cabeça por transar com
Francis assim tão facilmente e sem conhecê-lo há um tempo? Ai, ai,
meu deusinho, Selene e todos os outros deuses viventes nessa
terra. Quero meu hímen de volta! Pensando bem quero não, foi algo
muito mais selvagem do que eu imaginei como seria minha primeira
vez. Preciso voltar ao foco aqui.
Foco Antonella! Você está em uma casa que não conhece,
mas evidentemente é a do Francis. Está pelada... Sem roupa
alguma... isso quer dizer que ele viu minha preciosa? Que pergunta
idiota, Antonella! Óbvio se você estava peladona do lado dele! Está
bem, começando por achar uma roupa ou alguma coisa para me
cobrir.
— Isso deve servir. — Vesti uma camisa que estava pendura
pelo banheiro.
Lavei meu rosto na pia, comecei a abrir as gavetas e vi uma
escova nova, então escovei meus dentes, em seguida, amarrei
meus cabelos em um coque. Pelo menos o demônio aqui, está sem
bafo! Coloquei a mão na minha barriga e me sentei na tampa da
privada, sentindo uma leve ardência na minha parte íntima. Selene,
eu não sou mais virgem, o que será da nação? Quanto drama!
— Nella?
— A-ah? Oi! — meu coração disparou assim que escutei a
voz do Francis, do outro lado da porta.
— Você está bem? — ele perguntou um pouco preocupado.
— Si-sim! — tentei não gaguejar, uma tentativa obviamente
falha.
— Quer alguma coisa? — ele voltou a perguntar, tentando
abrir a porta.
— Não, não? Eu vou, ahh-h, tomar um banho. — Disse me
levantando rapidamente da tampa da privada e ligando o chuveiro.
— Tudo bem, então. Vou preparar o nosso café. — Escutei
seus passos se afastando da porta.
Suspirei alto quando percebi que estava segurando o ar com
muita força. Me levantei e arranquei a camisa, entrando debaixo do
chuveiro de uma única vez. Soltei meus cabelos, que estavam
sujos. Por que será? Talvez porque você estava deitada na floresta,
não?
Depois de tomar um banho bem demorado e quente, o que
foi bom para minha dor no corpo, vesti a mesma camisa e deixei
meus cabelos secarem naturalmente. Abri a porta devagar,
esperando não encontrar ninguém no quarto, o que foi exatamente o
oposto, porque a cena do Francis de cueca deitado na cama, com
um jornal em suas mãos, tomando café, fez minhas bochechas
corarem instantaneamente. O desgraçado era bonito até assim!
— Demorou. Achei que estava morta dentro daquele
banheiro. — Falou ironicamente, sem me olhar. Com uma dignidade
que não tenho mais, afinal, a perdi na floresta. Andei com passos
firmes parando em frente a cama o olhando.
— Onde está a minha roupa? — sinto minhas bochechas
corarem, mas tento não demonstrar minha vergonha.
— Bom... — divertindo-se do meu constrangimento, Francis
fechou o jornal que estava em suas mãos. — A sua roupa de ontem,
digamos, que ela não tem solução, a não ser que você queira os
retalhos que sobrou dela.
— Babac... — coloquei a mão na cintura assim que ele me
olhou sorrindo, parecendo gostar de me deixar com raiva.
— Porém, as suas roupas que vieram da casa dos seus pais
já estão no closet. — Ele sorriu como se esperasse eu falar algo.
— Como?
— Bom, eu falei, você irá morar comigo. — Afirmou
arqueando uma sobrancelha como se isso explicasse tudo.
— Eu disse que você não manda em mim. — O olhei irritada
quando ele se sentou na cama, me deixando mais nervosa. — Que
babaca! Acha que manda em mim? Troglodita, homem das
cavernas, acha mesmo que eu vou ficar obedecendo você, como os
seus cachorrinhos fazem só porque você tem esse título de
Supremo? — comecei a andar de um lado para outro, serrando os
punhos.
Olhei para ele, que sorria, sentado na cama com os braços
cruzados, se divertindo com a minha revolta.
— E ainda está rindo da minha cara? Não acredito que me
deitei com você! Pelo amor de Selene, devolve meu hímen! — parei
com os braços cruzados sobre o peito, assim que ele deu uma
gargalhada gostosa.
Francis levantou-se rindo e tentado se aproximar. Arqueei
minha sobrancelha e dei passos para trás, desviando dele. Porém,
ele me puxou pelo braço, colando nossos corpos.
— O que pensa que está fazendo? — tentei empurrá-lo, ao
sentir meu coração se acelerar novamente.
— Já disse que o fato do seu cheiro estar cada vez mais forte
me deixa louco? — ele disse cheirando meu pescoço, me fazendo
arrepiar.
— Pode parar. Acha que é assim? Você vem com esse papo
de cheiro de novo, aí me beija e fica me enrolando para explicar isso
tudo? Negativo, pode começar a falar. — Disse tentando empurrá-lo
pelo ombro, só resultou em um aperto a mais na minha cintura.
— Muito justo. Eu disse que quando eu voltasse de viajem
responderia suas perguntas. Mas, você resolveu aprontar uma e
fugir de casa. — Ele falou, fazendo uma carranca.
— Eu não fugi de casa, só saí com meus amigos como
pessoas normais fazem. — Retruquei.
— Acontece que você não é uma pessoa normal! Você é a
minha companheira e só esse fato já te tira da normalidade. —
Falou ao olhar nos meus olhos.
— Merda... — sussurrei.
Eu sabia que era a companheira dele, mas tentava dizer para
mim mesma que não era. Eu só precisava dessa confirmação.
Engoli seco, lembrando da carta de Elizabeth Johnson que achei
dentro do diário. Então essa Antonella que a carta citou sou eu?
Olhei para Francis, que parecia tentar me decifrar com o olhar, o
que me deixava constrangida e sem reação.
— Eu quero saber tudo sobre Elizabeth Johnson. — O
perguntei seriamente.
— Como sabe da existência de Elizabeth Johnson? —
Francis me olhou meio espantado.
Capítulo Vinte

O passado faz parte do que somos.


Saber dele é prevenir futuras quedas em nosso presente.

Mih Franklim
Antonella

O olhei e percebi que ficou incomodado com o simples fato


de que pronunciei o nome Elizabeth Johnson, o que me deixou
curiosa e com um pouco de ciúmes, o que é ridículo.
— Você falou que responderia. — Francis me soltou e voltou
para a cama, suspirando.
— Eu vou responder. Vem, sente-se aqui, vamos tomar café
da manhã enquanto conversamos. — Francis estendeu sua mão
sobre a cama, dando algumas batidinhas de leve com a mão, me
chamando para me sentar ao seu lado.
Suspirei um pouco relutante e me sentei ao seu lado, vendo-o
me servir uma caneca de café.
— Bom, Elizabeth Johnson foi uma grande mulher. — Francis
começou a dizer parecendo perdido em seus pensamentos. — Eu a
conheci há muito tempo. Ela era da sua linhagem, uma loba pura.
Tinha uma filha, Eliza Johnson. Elizabeth sentia orgulho em ser uma
loba, mas sua filha não. Ela odiava o fato de ter que se transformar.
Eliza era apaixonada mesmo pela feitiçaria. — Totalmente
nostálgico, Francis parecia estar em outra dimensão, o que me
deixou meio sem jeito.
— Feitiçaria? — perguntei, tentando parecer curiosa e não
enciumada.
—Sim. Ela estudava todos os tipos de feitiços e, se realmente
fosse uma feiticeira, com toda certeza, seria a melhor — sorriu ao
beber mais café.
— Por que ela estudava feitiços se não podia praticar? — me
sentindo desconfortável, tentava aprofundar no assunto.
Olhei para Francis, conhecia esse olhar. Um olhar perdido de
um típico apaixonado, seu sorriso era sincero enquanto falava dela
e parecia ter boas memórias com ela, afinal, se não estivesse
sorrindo tanto, não teria.
— Só os feiticeiros podem praticar a magia, mas o
conhecimento é para todos, Antonella — O olhava sem graça.
Antonella... poderia ser uma baita bobeira, mas a forma que
cada letra saiu dos seus lábios, sem demonstrar nenhuma
importância, fez meu coração dar uma batida falha.
— E como era essa Eliza? Além de ser apaixonada pela
magia. — O olhei meio sarcástica.
— Você quer dizer aparentemente? — Francis arqueou uma
sobrancelha em forma de dúvida. Acenei positivamente. — Ela era
bonita, para ser sincero, era a sua cara, a não ser pelos cabelos.
— A minha cara? Como uma gêmea do passado? —
perguntei sorrindo, mas Francis ficou sério, então parei de rir na
mesma hora. — Você só pode estar brincando, né? Ela era mesmo
a minha cara? — o olhei seriamente.
— Poderia se dizer que sim. Era realmente a sua cara. Se ela
existisse hoje em dia, com toda certeza, vocês seriam gêmeas. —
Ele afirmou me olhando, enquanto engolia a seco. — Os cabelos
dela eram negros, isso é a única diferença entre vocês duas.
— Sério? A única diferença entre nós duas é apenas um
cabelo? — me senti um pouco triste.
— Não, a personalidade de Eliza era diferente também. Ela
era menos explosiva e mais persuasiva. — Francis me analisava
com o olhar.
Senti meu coração dar uma falha batida como se quisesse se
partir. Não sabia por que estava dando tanta importância para isso.
— Como você a conheceu? Você tem quantos anos? —
tentei mudar de assunto para que ele não percebesse o meu
desconforto.
— Bom, digamos que eu sou antigo. — Sorrindo, Francis foi
capaz de despertar um calafrio por todo meu corpo.
— Você é mais velho que meus avós? — quase me
engasguei com o café.
— Basicamente, sim.
— Quê? Então meu companheiro é idoso? — digo vendo
Francis revirar os olhos.
— Também não é assim. — Francis pegou, das minhas
mãos, uma torrada que iria comer e a mordeu, sorrindo. — Eu não
envelheço, só vou começar a envelhecer quando achar minha
companheira e, no caso, tiver o filho que herdará o meu suposto,
digamos assim, cargo de Supremo.
— Primeiramente... — tomei da mão dele minha torrada. —
Nunca toque na minha comida e segundo; se eu realmente for a sua
companheira, já vou deixar claro que não vou ter filhos nem tão
cedo.
— Tudo bem, eu também não quero ter filhos agora. — Ele
dá de ombros.
— Então você viu o que aconteceu com a minha família e os
caçadores? — perguntei e ele assentiu.
— Eu mesmo tive que matar Carlos Johnson... — Francis me
olhou seriamente continuando a dizer. — Na época, ele começou a
matar pessoas inocentes em pequenas alcateias, o que nenhum
Alfa poderia permitir. Então, eu, como Supremo, tive que fazer o que
é certo.
— Como a companheira dele morreu? — perguntei me
lembrando do que minha mãe havia me falado.
— Ellen Johnson morreu por causa de um ataque de um clã
de vampiros. — Deitando-se novamente sobre a cama, Francis
cruzou os braços demostrando seu conforto, ao esperar por mais
perguntas minhas.
— Bom... — peguei a bandeja de comida e a coloquei no
chão, me deitando ao seu lado na cama. — Ontem na boate,
quando eu tentava evitar que você matasse meu amigo, escutei o
Mateus falando algo sobre um clã de vampiros, é o mesmo clã? —
perguntei assim que ele se virou de lado, sorrindo.
— Você é boa. Sim, é o mesmo clã de vampiros. Naquela
época, não tínhamos um tratado de paz com eles.
— E agora? — digo ao me virar deitada, para olhar com
detalhes os traços do seu rosto.
— Agora acho que também não temos. Bom, depois que
matei o irmão do líder deles na floresta aquele dia, com toda certeza
o tratado foi quebrado. — Francis me olhou nos olhos.
— Você está falando do dia que eu fui atacada por um
vampiro? Você o matou? — não escondia meu espanto ao saber
que ele havia matado alguém.
— Claro que o matei! Não poderia deixá-lo vivo, não depois
do que ele fez com você. — Francis tirou uma mecha do meu cabelo
que estava sobre o meu rosto e sorriu. — Afinal, você é minha
companheira.
— É... — Com vergonha, me levantei da cama, dando a volta,
ficando em pé perto de Francis. — Quero saber mais sobre Eliza
Johnson.
Ele me olhou se sentando na cama, como se tentasse saber o
que eu pensava. Suspirei quando se levantou e parou na minha
frente. Por que eu estava com ciúmes? Era tão ridículo esse
sentimento.
— Você quer saber sobre Eliza Johnson ou se me deitei com
Eliza Johnson? — ao reprimi um sorriso zombeteiro que começou a
se formar em seus lábios, colocou suas mãos em minha cintura,
olhando nos meus olhos de uma forma intensa.
— Por que eu precisaria saber se você se deitou com Eliza
Johnson? Isso quer dizer que você se deitou com ela?
Capítulo Vinte e um

Não há tempo perdido.


Nem tempo a se economizar.
Na realidade, só há tempo. Tempo de amar.

Mih Franklim.
Antonella

Uma confusão de sentimentos, acompanhada por aflição e


medo de algo que não sei ao certo ainda, surgiram dentro de mim.
Olhei para Francis e não soube decifrar sua expressão facial, o que
me deixava inquietante e ansiosa por sua resposta. Mas, ao certo,
não mudaria nada se ele realmente se deitou com Eliza, não é? Eu
preciso encontrar Mali, talvez ela possa me ajudar com isso.
— Por que quer tanto saber sobre isso? O passado não é tão
importante assim. — Francis dizia e, por uma fração de segundo,
ele olhou para os meus lábios se contraindo. Não era essa a
resposta que eu esperava.
— O passado é importante, ainda mais se ele tem o poder de
afetar o meu futuro. — Sendo curta e grossa, falei para ele, que
apenas me puxou pela cintura, colando mais nossos corpos um ao
outro.
— O futuro é muito claro, não acha? Eu e você. Não precisa
ter um passado detalhado. — Com convicção, colocou uma mecha
do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Não acho que seja assim. Não gosto da forma que o
sentimento de companheiro me deixa em suas mãos. — Sinto
minhas bochechas corarem o vendo sorrir.
— Eu também não gosto da forma que a ligação mudou
meus planos. — Francis me olhava de uma forma muito intensa,
despertando meu coração.
— Que planos? — um frio em minha barriga, fez com que eu
perdesse um pouco meu equilíbrio, ao sentir receio de sua resposta.
— Isso não importa agora. — Fechando os olhos, Francis
chegou com o rosto bem perto do meu, o que me fez paralisar.
— Seu cheiro aparece mais quando você está nervosa,
sabia? — sorrindo, Francis passou seus lábios na minha bochecha
descendo-os até meu pescoço, suspirando forte contra minha pele.
— No seu aniversário, na hora da sua transformação, eu vou
acompanhar você. — Falou colocando o rosto na curva do meu
pescoço.
— Eu tinha esquecido o meu aniversário... — afirmei assim
que ele levantou seu rosto para me olhar.
— Quem esquece o seu próprio aniversário? — com calma,
Francis me induziu para me sentar em seu colo sobre a cama. Aos
poucos comecei a esquecer de que estava com ciúmes de uma
mulher que está morta.
— Você faz quantos anos? — perguntei o vendo sorrir.
— Parei de contar no cento e dez. — O olhei engasgando
com o ar. — O assunto aqui é você e seu aniversário. — Vendo
minha reação, Francis voltou a colocar seu rosto entre meu
pescoço, me cheirando.
— A transformação, como é? — arfei sentindo uma de suas
mãos entrar por baixo da minha blusa, tocando levemente a pele de
minhas costas.
— É dolorosa a primeira vez... Por isso vou estar lá com
você. — Levantando meu rosto, Francis mergulhou novamente em
meu olhar.
Sinto minha pele perder a cor e um nó se formou em minha
garganta, me fazendo remexer no seu colo e suspirar, assim que
suas mãos apertaram minha cintura. Seus lábios tocaram os meus
de uma forma feroz, então apertei minhas mãos em seu pescoço,
respondendo na mesma intensidade o beijo, que era de tirar todo
meu fôlego.
Beijar o Francis era algo que não tinha como explicar. Um
sentimento nunca vivido, uma sensação nunca sentida. Era como se
eu ganhasse na loteria e, ao mesmo tempo, perdesse tudo que
havia ganhado. Algo dentro de mim gritava como se minha vida
inteira se resumisse apenas nisso. Apenas em Francis e em mim. E
isso me assustava, não poderia ter uma vida toda apenas para viver
para ele.
Um dia eu li em um livro que todos têm um objetivo nessa
vida. Por mínimo que fosse, todos vêm a esse mundo por alguma
razão. Tenho medo de a minha razão ser apenas o Francis e não eu
mesma.
O celular do Francis começou a vibrar o fazendo bufar.
Interrompendo o beijo, Francis atendeu o celular com uma cara não
muito amigável. Coloquei meu rosto na curvatura do seu pescoço,
fechando os olhos sentindo seu cheiro.
— Fala... Chegou agora? Tudo bem, estou descendo... peça
para os lobos de ataque da zona sul ficarem em alerta e os da
sentinela também... Ok...
— Aconteceu algo? — perguntei assim que ele me ajudou a
levantar do seu colo.
— Tenho uma reunião com o conselho de Selene. Eles
marcaram aqui na alcateia... o líder dos vampiros foi convocado, me
parece que vamos falar sobre a minha quebra de contrato. — Falou
começando a andar em direção ao closet para se vestir.
— Quebra de contrato? Por causa da morte daquele
vampiro? — perguntei o seguindo. Comecei a abrir as portas do
closet e vi todas as minhas roupas arrumadas em ordem de cor e
tamanho. Esse povo é louco!
— Sim. O que está fazendo? — Francis parou de arrumar a
gola da camisa social que vestia, me olhou e viu que eu peguei um
vestido e um conjunto de lingerie preto, indo em direção ao
banheiro.
Ainda vou conversar sobre morar aqui, mais tarde.
— Estou me arrumando para a reunião, não está óbvio? —
entrei no banheiro sem dar tempo para ele responder e fechei a
porta.
— Antonella, você não vai. — Tentou dizer seriamente, mas
apenas revirei os olhos.
— O Lobão ainda acha que me controla? — saio do banheiro
já com o vestido, soltando meus cabelos.
— Eu já disse voc... espera, você me chamou de quê? — ele
me olhou com malícia sem conseguir controlar o sorriso em seu
rosto.
— Vamos, vamos! Suponho que estamos atrasados. —
Sendo apressada, vou para a porta do quarto abrindo-a.
— Você não tem jeito.
— Não pense que escapou da conversa sobre morar aqui. —
Comecei a dizer assim que Francis me segurou pela cintura, me
guiando pelo corredor de sua casa. Saímos pela porta da frente.
Francis apenas pegou a chave do carro da mão de um cara, que
estendeu para ele fazendo uma longa reverência para nós dois.
— Antonella, esse é o nosso motorista Josias. — Francis
falou meu nome de uma forma fria, ao olhar para o motorista, que
permaneceu com a cabeça abaixada.
— Prazer, Antonella! — tentando ser educada, peguei em sua
mão sem que ele a entendesse.
— Lu-una... prazer... — ele me olhou espantado como se
estivesse surpreso com meu simples aperto de mão, o que me fez
alargar o sorriso para o pobre senhor.
— Josias, hoje eu vou dirigir. — Francis pronunciou-se
novamente abrindo a porta para que eu entrasse.
— Sim, Supremo. — Josias disse ao se retirar. Como Francis
pode tratar um senhor dessa forma?
Olhei para Francis, que estava friamente olhando para
Josias, quando entrou no carro no lado do motorista. Ele ligou o
carro e deu a partida, assim que coloquei o cinto de segurança.
— Não precisava ser tão frio assim com ele... — olhava para
Francis de relance.
— Com o tempo você aprende que cada um tem o seu
devido lugar.
Engoli a grande vontade de mandá-lo tomar em um lugar
santo, e de iniciar um grande discurso, explicando detalhadamente
que todos são iguais e fazer diferença social é ridículo, até mesmo
para ele. Mas apenas guardei tudo para mim, já que Francis parecia
bem sério e pensativo, o que me deixava com medo dele. Olhei para
as árvores e já podia ver algumas casas juntas como um vilarejo
não muito pequeno, mas muito moderno, o que me fez ter a certeza
que estou na alcateia. Muitos olhavam para o carro e eu comecei a
me sentir desconfortável. O vidro era escuro, mesmo que as
pessoas não me vissem, o desconforto era grande. Acho que eles
sabiam que aquele era o carro do Francis.
— Chegamos. — Disse parando o carro em frente a uma
casa no centro do vilarejo. Engoli a seco observando as pessoas
que iam chegando.
— Por que tanta gente? — sinto vergonha.
— É uma forma de reverência. Toda vez que venho ao
vilarejo, eles veem ao centro e fazem uma reverência. E acho que
eles querem conhecer a Luna deles. — Francis diz normalmente ao
sair do carro e dar a volta.
Assim que ele abriu a porta e me estendeu a mão, suspirei
desconfortável ficando de pé ao seu lado, escutando alguns
cochichos. De imediato, as pessoas fizeram uma reverência para
Francis e acho que para mim, o que era desconfortante.
— Isso é desconfortável! — Francis passou a mão pela
minha cintura ignorando todos.
— Acostume-se! — disse de uma forma fria. Não faço
questão de responder já que começávamos a subir as escadas do
prédio.
Um frio na minha barriga invadiu todo o meu corpo e as
borboletas, que eu achei que estivessem mortas há muito tempo,
deram um sinal de vida. Não sei porquê, mas tenho um
pressentimento ruim.
Capítulo Vinte e dois

Seja uma devasta imensidão, ao qual jamais perdera sua


essência que vem do coração.

Mih Franklim
Antonella
— Luna. — O homem que vi na floresta na casa de Mali
aquele dia, sorriu e fez uma reverência. É o mesmo cara que
atrapalhou o beijo no estacionamento da escola. Como se chama?
Lembro que Francis mencionou o nome dele... Derek, isso, ele se
chama Derek! Sorri e ignorei completamente a reverência que ele
fez, pegando em sua mão, o que não o deixou surpreso, mas
apenas o fez sorrir.
— Eu sou o segundo beta do Supremo, Derek Wallet, a suas
ordens.
— Você também é um lobo? — digo ao fitar as diversas
tatuagens que possuía em seus braços. Esse mundo é tão diferente
do que estou acostumada, mas tenho que me adaptar. Afinal, esse é
o meu novo mundo agora.
— Sou um feiticeiro, Luna.
— Supremo. — Mateus chega e faz uma breve reverência,
olhando para todos nós. — Todos do conselho de Selene já estão
na sala à sua espera.
— Estamos indo! — Francis concordou começando a me
guiar novamente pela cintura, para um corredor que não conhecia,
sem trocar uma palavra sequer comigo.
Acenei para o meu amigo, que me deu uma piscadinha
discreta, como se todo esse comportamento sério dele, fosse uma
baita fachada.
— Olha, se quiser, eu posso ficar aqui com Mateus e Derek,
acho que eu só atrapalharia a reunião e també...
— Eu quero que venha comigo, é bom que você não deixe
que eu perca a cabeça. — Sem me olhar, de uma forma fria, disse
completamente nervoso.
Não gostava de vê-lo nervoso, centrado e exalando
superioridade, na medida em que passávamos por cada pessoa.
Caminhando em direção à sala onde seria a reunião, ele se tornava
mais frio. Não gostava dessa versão que eu ainda não conhecia,
completamente diferente do Francis que eu conheço, que me
perturba, é possessivo, é irônico e, arriscaria dizer, um pouco
romântico talvez...
Entramos em uma sala grande que esbanjava luxúria e que
intimidava qualquer um. O cheiro de flor do campo invadiu minhas
narinas, me fazendo procurar em volta de onde vinha o cheiro. Olhei
em uma estante do outro lado da sala e tinha apenas uma flor.
Nas quatro cadeiras que tinham em volta da mesa, apenas
duas estavam ocupadas por dois homens que são iguais, e a única
coisa que os diferenciavam é o cabelo já que um é loiro e o outro
tem cabelos pretos. Nas duas cadeiras vagas que ficavam na ponta
da mesa, Francis se sentou em uma com um olhar muito
intimidador. Ele me puxou pelo pulso quando ia me afastando e me
sentou no seu colo, fazendo minhas bochechas corarem. Fiquei
constrangida com todos os olhares sobre nós.
Francis deu a volta na minha cintura com uma mão enquanto
olhava seriamente para a cadeira que estava vazia bem na nossa
frente. Apertei uma mão na outra, afinal, estava nervosa, mas não
sei por que ao certo. Olhei para o cara de cabelos loiros que sorriu.
A porta se abriu e todos seguiram o olhar, menos Francis,
que permaneceu centrado na cadeira vazia na nossa frente, mas
algo me diz que ele sabia quem era e isso o incomodava, já que o
aperto que ele deu em minha cintura me deixou desconfortável.
Olhei para a porta e três homens entraram na sala, dois com ternos
pretos e com o porte físico bem chamativo, o que dava um pouco de
medo. O terceiro homem era ruivo, tendo um belo par de olhos
verdes. Ele usava um terno um pouco mais despojado tendo um
sorriso irônico no rosto.
— Supremo, é bom revê-lo. — Se sentou na cadeira bem a
nossa frente com os seus dois ‘guardas costas’ ficando parados ao
seu lado.
— Cavalheiros, vamos começar a reunião que rege o
contrato entre duas raças que comandam o mundo sobrenatural.
Estão presentes nesse local, Aiden representado a deusa da lua e
todas as criaturas regidas pelas trevas. Amon, representando o
deus do sol e todas as criaturas regidas pela luz. Nosso Supremo,
Francis Underwood e, a mando do Conde Estevan Russell, seu
primo Alonso Russell. — Falou o homem de cabelos pretos que
estava ao nosso lado.
Olhei e o segundo homem de cabelos loiros se levantou
também e disse: — Como defensor das escrituras de Hélio, o Deus
do sol, vim para esse meio termo dizer que o contrato de paz, criado
através do sangue de Selene, foi quebrado pelo Supremo Francis
Underwood. — Francis levanta a mão com uma arrogância que eu
desconhecia como se o mandasse educadamente calar a boca.
— Primeiramente, eu estava em meu território. Só pelo fato
de um vampiro estar em meu território sem ter uma permissão, já
vemos claramente que não foi eu que quebrei o tratado de paz. —
Ele olhou para o cara em nossa frente e continuou a dizer com um
ar de superioridade. — E acha mesmo que deixaria um vampiro
entrar em meu território e atacar um dos meus, saindo impune? —
Francis sorri. — A morte do vampiro foi justa e não tão dolorosa
quanto eu queria que realmente fosse.
Alonso Russell pronunciou-se.
— Se o Supremo tivesse tomado uma providência
diretamente com o Conde, como um dos nossos estava em seu
território, daríamos o direito para que o próprio Supremo punisse se
assim desejasse, mas não a morte, afinal, não é assim que as
coisas verdadeiramente se resolvem. O Supremo, como um
intelecto do mundo espiritual, deveria saber disso.
— Saberia punir da forma correta se não estivesse envolvido
minha companheira no meio, já que o seu vampiro veio diretamente
nela. Ela era o alvo o tempo todo, não foi um acidente e, o pior,
atacá-la sem ela ser transformada? Isso sim foi algo inapropriado.
— Francis dizia ao tentar visivelmente manter a calma.
— Então você quer basear todos os acontecimentos apenas
por sua companheira? Que tipo de gerenciamento é esse? —
Alonso Russell rebateu.
— Minha companheira não é só o centro dos lobos, já que a
carta de Elizabeth Johnson envolveu a sua espécie no meio.
Sinceramente, acho desnecessário discutir isso com você, o lacaio
do Conde. — Francis arqueou uma sobrancelha.
— Ora, Supremo, não seja modesto. O Conde Estevan
Russell não está aqui por estar justamente resolvendo algo grave no
clã. — Alonso me olhou sorrindo, o que fez Francis fechar mais a
expressão facial, e apertar a minha cintura, de uma forma clara ali
para todos que ele não gostava nem um pouco do vampiro. — Já
que deseja conversar diretamente com o Conde Estevan Russell,
marcaremos outro dia no nosso clã, você e sua bela companheira
serão nossos convidados especiais.
— Co-comigo? — gaguejei. Se Francis tem tanto ódio desse
vampiro, imagina do outro? Santa Selene... Olhei para todos ali e
acho que encarei demais o cara de cabelos negros. Tendo minha
visão ampliada por segundos, fui capaz de ver detalhes ao qual não
conseguiria vê a olho nu. Balancei a cabeça e minha visão voltou ao
normal.
— Será uma honra tê-la conosco. — Alonso afirmou. —
Entrarei em contato assim que marcarmos o dia. Agora, se me
permite, gostaria de falar com o Supremo sozinho... — ele olhou
para mim e sorriu.
Me levantei concordando. Quando ia me afastando, Francis
segurou meu braço e me olhou com o mesmo olhar que ele olhava
para todos nessa sala, um olhar intimidador.
— Fique ao lado do Mateus e me espere. — Dito isso, ele me
soltou com seu jeito de superioridade que odeio.
Eu queria fazer um show ali e dizer para ele que não
precisaria me tratar como os lobinhos dele, que eu não sou assim e
não vou ser submissa às suas ordens. Mas, primeiro, eu não
consigo, ele realmente tem esse comando sobre mim, acho que é
sobre todos. Segundo, não queria fazer isso na frente dessas
pessoas, isso poderia afetar, sei lá o que, talvez a sua fama de
Supremo. Terceiro, ele é capaz de me matar se eu fizer isso. E, por
último, ele me dava medo sim e, com toda certeza, sou muito nova
para morrer dessa forma. Saio da sala revirando os olhos
discretamente. Infelizmente, minha língua eu consigo segurar, mas
meu rosto é impossível.
Assim que fechei a porta, suspirei aliviada, começando a
andar pelo corredor por onde passamos. Cada passo que eu dava,
a sala onde Francis estava ficava mais distante. Parei no mesmo
momento que escutei uma voz, olhei para todos os lados, mas eu
era a única aqui, o corredor estava vazio. Encostei na parede. Era o
que faltava, eu ficar louca!
— Mas supremo, acho que temos assuntos a tratar, já que de
acordo com sua antepassada através da sua companheira vamos
ter o primeiro híbrido. Isso de fato deve pertencer ao Conde Estevan
Russell...
Parei e olhei para a porta onde estava acontecendo a
reunião. Essa voz era a voz do Alonso. Como eu estava escutando
eles conversarem? Isso é impossível, não é? Olhei para a porta e
comecei a prestar atenção na conversa. Mesmo sabendo que isso é
errado.
— Minha companheira é assunto que não lhe diz respeito.
Não vai pertencer ao Conde. Estamos falando de um ser aqui, não
um objeto. O que de fato é impossível, é que eu e minha
companheira possamos ter um filho híbrido, a não ser que... Bom,
esse assunto eu só irei tratar pessoalmente com o Conde.
Francis falou. De alguma forma eu senti a agonia que ele
teve momentaneamente, o que me fez suspirar fundo de aflição.
Então realmente a carta de Elizabeth Johnson é real.
— Antonella? — coloquei a mão no coração de susto.
Pega em flagrante!
— Ahhh, Mia, pelo amor dos céus! Caramba, que susto,
assim eu vou morrer cedo! — fechei meus olhos, colocando uma
mão sobre meu coração.
— Você que estava viajando aí. Eu vim te buscar, o Matt
comentou que você estava aqui com o Supremo. — Mia me olhou
de uma forma maliciosa, o que me fez revirar os olhos retirando a
mão do meu coração.
— Me buscar?
— Sim, você não conhece minha casa ainda. Está na hora do
almoço e bem que você poderia almoçar comigo, já que o Mateus
tem que esperar o Supremo. — Abri meu melhor sorriso e passei a
mão no seu braço, entrelaçando nossas mãos sem pensar duas
vezes.
— Por que não falou antes que tinha comida no meio?
Vamos, vamos!

***

De acordo com que passávamos pelas ruas de mãos


traçadas, algumas pessoas olhavam diretamente para mim, o que
era desconfortante.
— Isso é desconfortável! — olhei para a Mia que parecia lidar
normalmente com toda essa situação.
— Acostume-se, essa é só uma alcateia, imagine as outras
que você terá que visitar com o Supremo.
— Outras?
— Minha querida, seu companheiro é o Supremo, não um
Alfa. — disse dando um empurrão no meu ombro de leve. —
Chegamos!
— O que você quer dizer com isso? — dei um giro de
trezentos e sessenta graus, olhando a casa por fora.
— Quero dizer que ele não comanda só uma alcateia, tipo,
são todas elas. — Mia me arrastou para dentro do seu lar. — Bem!
— ela sorri.
— Eu gostei.
— Eu sei que gostou, fui eu que decorei! Vem, vou te mostrar
a casa. — Totalmente empolgada, Mia me puxou pelo braço.
Logo depois de conhecer a casa da Mia e do Mateus,
estávamos almoçando uma comida que classificaria como a melhor
do mundo.
— Realmente está muito bom.
— Está sim, você caprichou dessa vez, Matilda. — Mia sorriu
para a senhora que nos serviu o almoço.
— Eu tenho que concordar. — Olhei para a senhora, que
sorriu discretamente, fazendo uma reverência se retirando. — Por
que não almoça conosco? — a chamei.
— Oh não, Luna, obrigada! — ela falou ao ficar sem jeito.
— Não me chame de Luna, meu nome é Antonella, mas, se
quiser, pode me chamar de Nella. — Tentando ser simpática, a
olhava. — Acho que Mia não se importaria, não é? — olhei para a
Mia, que concordou sorrindo.
— Desculpa, mas não vou poder, tenho que ir em casa ainda,
mas obrigada pelo convite, Luna. Perdão, por não poder me sentar
à mesa com vocês.
—Tudo bem, não precisa pedir perdão. — Sorrio para ela,
que fez outra reverência saindo da sala de jantar desajeitada.
— Agora me conta o que você arrumou ontem? — Mia me
cutucou.
— Arrumei? — a olhei sem entender, vendo-a revirar os
olhos.
— Você deixou o Supremo de cabelos em pé. Quando ele
veio buscar o Mateus para ir atrás de você, pedi proteção pela sua
alma porque ele realmente estava fora de controle. — Com seu tom
de voz dramático, Mia falou me fazendo rir.
— Não é para tanto! — digo ao beber suco.
— Não é? Até o Mateus estava com medo de ficar 100%
perto dele. — Mia falou como se fosse o óbvio.
— Eu só saí com o Hugo e os meninos do time. Bom, eles
estavam em Nova York e me chamaram, aí acabou que fomos para
uma boate, um lugar chamado Lobo sangrento, alguma coisa assim.
— Minha amiga soltou uma gargalhada.
— Bloody Wolf? Vocês foram na Bloody Wolf? Diretamente
para a boca do lobo.
— Não foi ideia minha, foi do Hugo e os garotos
concordaram. — Bufei reconhecendo o nosso erro.
— E o Hugo, morreu? — Mia falou com tranquilidade, o que
me fez olhar para ela espantada.
— Tá louca? Nunca deixaria o Francis matar o meu amigo.
— Isso até ele saber que esse amigo já deu uns amassos na
companheira dele. — Mia dizia fingindo beijar alguém.
— Idiota! — disse rindo dela. — Vamos falar da vez que você
deu um beijo no J. Parkson, acho que o Mateus não ia gostar
também. — Ao me ouvir dizer, Mia fez uma cara feia.
— Em minha defesa, não sabia que o Mateus era meu
companheiro. — Falou bebendo seu suco, enquanto eu ria de sua
reação.
Olhei para ela sentindo minha cabeça um pouco zonza.
Escorei na mesa enquanto via a cara de preocupada da Mia.
— Mia, acho que não tô muito bem... — sinto meu corpo ficar
fraco, perdendo os sentidos de repente.
— Antonella!
Mia me chamando foi a última coisa que escutei antes de
apagar com muita dor na cabeça.
Capítulo Vinte e três

Não tenha o hábito


De depender
Dos outros, para compensar aquilo que Você acha que não
tem!

Mih Franklim
Antonella
Abri os olhos sentindo minha cabeça doer e latejar tanto que
sinto que fui atropelada por um caminhão.
— Ela acordou! — escutei a voz estridente da Mia gritar, o
que me fez colocar a mão na cabeça.
— Não grita, por favor! — digo abrindo os olhos vendo que
Mia estava na minha frente preocupada.
— Santa Selene! Eu achei que você iria morrer e que eu
fosse morrer, porque o Supremo está a ponto de matar a todos.
Antonella, por que não me contou que tinha iniciado o processo de
ligação com o Supremo? Você poderia morrer, sabia? — Mia falou
desesperadamente suspirando de alívio.
— Ligação? O que aconteceu? Por que eu desmaiei? —
coloquei minhas mãos sobre minha cabeça. Acho que as borboletas
foram para o cérebro.
— Eu pensei em tudo, até mesmo que você poderia estar
grávida. — Mia deve ter ficado louca.
— Grávida? — me sentei sobre a cama, a olhando com uma
cara de sonsa. Logo identifiquei que estava na cama do Francis.
— Sim. Vai que o Lobão te engravidou por pensamento, sei
lá... — minha amiga falou exageradamente. — Mas aí eu lembrei
que você era virgem, isso mesmo, ERA! COMO VOCÊ não me
contou isso? — colocando suas mãos sobre a cintura, Mia parecia
indignada. Assim que ela começou a falar algo possivelmente para
me ameaçar, Mateus e Francis entraram no quarto.
— Como eu vim para aqui? — ignorei todos, olhando em
volta tendo a certeza de que estamos na casa do Francis.
— Você nos assuntou, não faz mais isso! — Mateus parou ao
lado da Mia, me olhando com um olhar mortal. — Tudo bem, eu sei
a saída. — Completou ao ver Francis aparentemente nervoso.
— Te vejo depois, Antonella — Ao me lançar um último olhar,
Mia saiu juntamente com Mateus, fechando a porta.
— Por que você não me obedece? — Francis começou a
dizer suspirando, vindo em minha direção. — Eu mandei você
esperar. Era simples só me obedecer.
— Eu não vou ficar fazendo tudo que você mandar como uma
cachorrinha. — Com a voz baixa pela dor de cabeça, falei.
— Insolente! — ao se sentar na cama, Francis estendeu seu
dedo dando um peteleco na minha testa.
— Aiiii! — exclamei colocando minha mão massageando o
local do peteleco.
Os braços do Francis que me empurraram para a cama,
assim que ele se deitou por cima do meu corpo, me abraçando.
Ouvia sua respiração pesada em meu ouvido. Seu coração
acelerou-se, me fazendo entender que ele estava preocupado. Com
um pouco de esforço, consigo retirar minha mão do seu aperto e
retribuir o abraço, mexendo nos seus cabelos com calma, enquanto
escutava seus batimentos cardíacos acelerarem.
— Por que eu desmaiei? — perguntei com calma.
— Eu iniciei a nossa ligação, só que não concluí. Não
podemos ficar longe por muito tempo um do outro até que o
processo de ligação esteja completo. — Sua voz era baixa e calma,
apenas o ouvia continuando a fazer carinho em seus cabelos.
— Desculpe, não sabia disso. — Francis e eu
conversávamos em sussurros. Esse sem dúvidas era um ótimo
momento para ficarmos assim.
— Não faz isso. — Ao se sentar na cama, Francis passou as
mãos em seus cabelos parecendo estar frustrado.
— Fazer o quê? — olhei sem entender, contudo, Francis
apenas se levantou retirando-se do quarto.
Levantei da cama e peguei meu celular. Ao perceber que se
passou um dia, levei um baita susto. Não acredito que dormi por um
dia inteiro! Daqui a três horas será o meu aniversário e eu não sei o
que fazer agora. Havia me esquecido do meu aniversário.
A leve dor em meu coração me deixa certamente mais
nervosa por descobrir que dormi por um longo dia.

***

Com tudo isso que aconteceu, fiz a escolha mais sensata que
poderia ser feita, fui tomar um banho quente. Assim que saí do
banheiro, vi que Francis estava sentado na cama, mexendo no meu
celular, o que me fez bufar. Odeio essa bipolaridade dele, odeio
mais quando as pessoas são curiosas e pegam aquilo que não é
delas.
— Por que você tem senha? — Francis perguntou
desinteressado. Apenas virei as costas e entrei em seu closet para
vestir uma roupa. Já que todas as minhas roupas estavam aqui. —
Se arrume, seus pais virão jantar conosco essa noite para
comemorar o seu aniversário.
— Meu aniversário só é amanhã. — Ao olhá-lo, de imediato
minhas bochechas ruborizaram ao notar como Francis ficava lindo
estando de torso nu.
Filho da mãe, por que não veste uma camisa?
— Eu sei, porém amanhã à noite você irá se transformar.
Será nos dois. — Andou lentamente em minha direção como se eu
fosse uma presa. Dei a volta, sentindo meu coração disparar, peguei
um vestido branco qualquer que vi e olhei para ele.
— Bom tenho que me trocar, então. — Passei por ele indo
até o banheiro, tecnicamente correndo.
Ao fechar a porta, meu pobre coração estava a mil. Se
pararmos para analisar, eu até que estou lidando bem com as
coisas que aconteceram em apenas dois meses. O fato de ser uma
loba não me deixa ter uma escolha sobre isso, na realidade, eu até
gosto, finalmente, é como se eu soubesse quem eu sou. Também
tem o fato de que estou ligada ao Francis para sempre.
Ao me olhar no espelho, amarrei meus cabelos em um rabo
de cavalo, logo em seguida, vestindo o meu vestido. Via no espelho
meu reflexo, eu sabia quem eu era, sabia que era Antonella Maria
Johnson. Mas agora, quando me olho, surgiu a questão; não sei
quem verdadeiramente é essa pessoa... quem verdadeiramente era
Antonella Maria Johnson? Eu sou a companheira do Francis? A filha
dos Johnson que tem um legado de caçadores, uma família de
lobos legítimos? A garota da carta de Elizabeth Johnson?
Quem eu realmente era?
— Antonella? — Francis bateu na porta.
— Estou pronta! — me pronunciei passando com pressa um
batom vermelho em meus lábios.
Sorrindo abro a porta dando de cara com Francis. Seu olhar
brilhou ao me ver, fazendo o sorriso em meu rosto aumentar. Eu
Antonella ‘sei’, ao mesmo que ‘não’ sei, quem sou. Bom, sei do que
sou capaz, sei dos meus limites. Estou disposta a me tornar quem
quero ser.
Capítulo Vinte e quatro

Eu só quero ser tudo que sou capaz de me tornar!

Mih Franklim
Antonella
A raiva que estava sentido era evidente a quilômetros de
distância. Somente Francis parecia não perceber isso, ou ele
percebeu e está fazendo justamente para me provocar, o que eu
acho que não seja o caso. Quando ele disse que iria ter um jantar
para comemorar o meu aniversário, eu imaginei que viriam meus
pais, Mateus e Mia, talvez o Derek, e o Thomas. Mas não, essa
mulher apareceu diretamente do inferno, enviada exclusivamente
por Lúcifer, ou sei lá quem, com seus peitões de melancia,
esfregando bem na nossa cara, na cara do MEU Francis para ser
exata. Bem que eu soube no dia que a conheci na escola que ela
me traria problemas. Amélia era um verdadeiro pé no saco.
Mia já havia percebido que eu não gostei da atitude que ela
estava tendo. Já Mateus, Derek e Thomas estão tão entretidos que
nem estão ligando para a minha existência. Mamãe e papai
parecem que estão constrangidos comigo, já que nem olham na
minha cara. Já o Francis, eu não sabia descrevê-lo agora. Talvez
porque minha raiva e meu ciúmes estejam me consumindo tanto
que estou só querendo pegar aquela linda carinha dele e socar tanto
até sangrar, aí depois dar um monte de beijinhos. Estou ficando
louca de ciúmes, ele precisava trazer esse embuste? Justamente na
comemoração do meu aniversário!?
Me parece que Amélia é filha dos Schweitzer. Tradução: o pai
dela é amigo do meu Francis e é o mesmo homem que o Francis
está elegendo como Alfa dessa alcateia. Bom, o pai da Amélia não
compareceu por algum problema pessoal e a mãe dela decidiu
mandar a filha para representar a família. Eu só queria saber como
faço para enviá-la de volta, só que dessa vez para o inferno. Pelo
menos Francis está do meu lado, mas o que não ajuda é que ela
está do lado dele.
— Antonella? — escutei a voz do Thomas sussurrar, o que
me fez acordar da minha viagem a ciúmelândia.
— Oi? — olhei para ele discretamente o vendo sorrir
travessamente.
— Você está viajando de novo? Aonde essa cabecinha foi
dessa vez? — Thomas sussurrou olhando para Amélia, que
conversava com Francis.
— Nem pense em dizer alguma coisa! — bufei. Tentando ter
calma, coloquei uma colher de comida na minha boca, olhando para
frente.
Mamãe e papai estavam de frente para mim. Thomas do meu
lado esquerdo e Francis do direito, Mia do lado de Thomas e Mateus
do lado da Mia. Amélia estava entre minha mãe e Francis, uma
distância calculada para que eu não pulasse no seu pescoço,
porém, acho que, se eu subir na mesa, eu consigo atacá-la e
arrancar seus olhos.
— A Luna e eu estudamos na mesma escola que você, não
é, Amélia? — Mia pronunciou-se atraindo a atenção de todos.
— Sim, sim. — Amélia sorri forçadamente, o que me deixou
desconfortável ao ver Mia e Thomas trocarem olhares de
cumplicidade.
— Ainda me lembro do primeiro dia de aula da Luna. Amélia
e ela não se deram muito bem, se não me engano. — Thomas
tentava não demostrar interesse em suas palavras, o que deixou
Francis visivelmente curioso.
— Não foi assim também... apenas um pequeno
desentendimento. — Amélia sorri sem graça, assim que me
engasguei com a comida a olhando.
— Você quase me bateu! — digo com sarcasmo ao me
recompor. — Mas, claro, um pequeno desentendimento, não é
mesmo? — continuei a olhá-la com ironia. — Olhe pelo lado bom,
agora eu sei quem você é de verdade, não é, senhora Schweitzer.
— É senhorita, não sou tão velha assim... Luna. — Amélia
ergueu o rosto para me olhar. Eu podia sentir a tensão ao
pronunciar a simples palavra ‘Luna’.
— Oh, desculpe! Bom, eu achei que você pudesse ter um
pouco mais de idade, já que geralmente os lobos têm. – Infantilidade
e ironia, sabia que estava sendo assim, contudo não podia evitar.
— Bom, Antonella, estava com saudades, filha. — Minha mãe
tentou atrair minha atenção para encerrar essa conversa.
— Eu também, embora esteja só alguns dias fora de casa. —
Digo olhando com carinho para meus pais, que sorriam.
— Vá nos visitar, minha querida! — falou mamãe
transparecendo um pouco de tristeza em seu olhar.
— Não decidi se vou morar aqui ainda, mamãe. — Disse
olhando com calma para minha mãe, atraindo a atenção de Amélia,
que pareceu ter ficado interessada na conversa. Faço um barulho
com a garganta para acabar com o assunto.
— Antonella! — Francis me repreendeu com suavidade em
sua voz. Desviei meu olhar dele o ignorando.
— Como está o Hugo? — Mateus provocou, fazendo minhas
bochechas corarem.
— Está bem! — o respondo constrangida ignorando o olhar
sério de Francis que pairou sobre mim.
O resto do jantar seguiu cheio de olhares meu para Francis e
Amélia, que parecia se jogar para ele. Meus pais foram os primeiros
a ir embora, Mia e Mateus logo em seguida, já passava da meia
noite, Thomas também já se foi. Olhei por cima do celular e suspirei
de novo enquanto respondia alguns parabéns por mensagem dos
meus amigos. Ver a cena dessa menina se jogando para cima do
Francis já estava me deixando sem paciência.
— Vou beber água — bufei ao me levantar do sofá para ir até
a cozinha.
— Quer que eu te acompanhe? — Francis me olhou como se
pedisse misericórdia. Apenas acenei negativamente.
Ainda não sabia ao certo onde ficavam os lugares da casa,
porém, não demorei muito para achar a cozinha. Assim que abri a
geladeira, um pouco frustrada, suspirei, mas logo sorri quando vi
que tinha muitas coisas que me acalmaria, principalmente um
pedaço de bolo de chocolate, que eu absolutamente não ligo de
quem seja. Bebo água, mas, não sei ao certo, um aperto no meu
coração me dizia para voltar, então eu comecei a andar.
Quando cheguei na sala, o clima pesado pairava no ar. Antes
de entrar no ambiente, parei e suspirei baixo, sentindo meu coração
se apertar com uma dor que eu desconhecia. Francis segurava as
duas mãos da Amélia como se quisesse afastá-la dele, ela
continuava a dizer algo que eu não entendia. Devido à raiva que
sentia, algo dentro de mim começou a crescer sombriamente e me
tomar por inteiro.
— Luna? — Amélia dizia com um sarcasmo estupendo.
Reparei que todo o seu batom estava borrado e não consegui evitar
o sorriso que se formou em meu rosto, sorriso de ódio.
Sorri frustrada, sentindo a raiva dentro de mim aumentar de
uma maneira que nunca tinha sentido. Suspirei fundo e olhei de
novo para Francis, que a empurrou com mais força dessa vez, a
fazendo cair no chão assim que ela perdeu o equilíbrio. Ele
levantou-se do sofá vindo em minha direção.
— Antonella, não é isso que você está pensando. — Falou a
típica frase, porém apenas o ignorei, levantando uma mão na sua
direção para fazê-lo parar de falar. Nesse momento, estou usando
todas as pequenas forças que tenho para não estrangular essa
garota.
— Você tem três segundos para sair da minha frente antes
que eu arranque sua cabeça fora. — Em uma tentativa de me
controlar, começo a caminhar de um lado para o outro. Sentia meus
pés pegarem fogo, minha mão coçou para arrancar a cabeça da
Amélia.
— Como...? – começou a retrucar.
A interrompo indo em sua direção.
A energia negativa exalava do meu corpo. Olhei mais uma
vez para Amélia, que parecia assustada. Via meu reflexo no espelho
atrás dela, meus olhos estavam azuis novamente. Com uma rapidez
que não reconhecia, a peguei pelo pescoço da mesma forma que
ela havia feito comigo na escola no meu primeiro dia de aula, só que
eu a levantei, a empurrando na parede, soltando um rosnado, que
saiu autoritário dos meus lábios. Sinto seu corpo se arrepiar de
medo. Francis manteve-se quieto e não interferiu na minha ação em
momento algum, o que me deixava mais exaltada por estar no
comando. Com rapidez, a virei de costas, a segurando pelos dois
braços, deixando sua cabeça erguida para frente, fui a empurrando
para fora de casa, enquanto ela proferia algo que eu não conseguia
entender.
— Aiiiiiiiii! — gritava exageradamente. A puxei pelos seus
cabelos, parando na porta de casa e sussurrei em seu ouvido de
uma forma assustadora que eu desconhecia: — Da próxima vez que
você encostar no MEU Francis, eu vou quebrar cada osso do seu
corpo! — A joguei na rua.
— Voc-ê-ê está louca? Como a deixa fazer isso, Supremo?
Eu não fiz nada de errado. — Amélia falava ao se levantar do chão.
Enquanto a olhava soltei um rosnado indo para cima dela, mas duas
benditas mãos me seguraram pela cintura me impedindo de me
mover.
— Acho bom você começar obedecer a sua Luna, Amélia e, a
propósito, não a quero em nossa casa novamente. — Francis falou
seriamente.
Fechando rapidamente a porta, me soltou assim que rosnei
para ele insatisfeita por te me segurado.
— Como ousa me segurar? Eu iria arrancar a cabeça dela e
pendurar como troféu na sala. — Esbravejei começando a subir as
escadas ao sentir meu sangue ferver. Estou literalmente nos nervos.
— Você... não sabe como fica extremamente irresistível
dessa forma! — vejo há cor vermelha tomar os olhos do Francis de
uma forma rápida.
— O que você está faz... — sendo interrompida, Francis me
puxou pela cintura de uma forma sensual. Ao senti minha respiração
se desregular, arfei tentando controlar as reações do meu corpo.
— Francis... — digo me rendendo a uma força que me
dominou rapidamente. O olhava ofegante reparando em seus olhos
que cada vez mais tomava a cor vermelha, intensificando-se.
— Diga de novo que eu sou seu! — sussurrando em meu
ouvido, Francis acariciou levemente a despida pele de meu ombro.
Meu corpo traidor, fraquejou.
— Você é meu, Francis! — digo baixo em seu ouvido. A raiva
que estava sentindo sumiu, dando lugar apenas para sentimentos
carnais aos quais meu corpo demostra que precisa para sobreviver
nesse momento.
Sem quebrar o contato visual, Francis me deitou sobre o
chão no meio da escada, iniciando um beijo quente e cheio de
desejo. Suas mãos percorriam todo o meu corpo deixando um
suspiro alto sair dos meus lábios. Suas mãos passeavam pelo meu
corpo sem escrúpulos, já as minhas, puxavam levemente seus
cabelos ao sentir necessidade em tocá-lo.
— Francis! — ofegante, observei meu vestido ser rasgado
rapidamente. Sem dar tempo para que eu protestasse, Francis
voltou a me beijar mais intensamente, se é que isso é possível.
Ao sermos atingidos pela falta de ar, seus lábios tocaram
meu pescoço de uma forma devasta. Arfei fechando meus olhos em
um alto suspiro. Meu sangue estava fervendo e meu coração ia a
mil. Os olhos do Francis já não estavam mais em um vermelho
intenso, mas ele ainda continuava feroz, me dominava
completamente.
— Você é completamente minha, Antonella. — Parando de
me beijar por um minuto, falou ofegante.
Francis segurou meu rosto e levou seus lábios até meu
pescoço me dando uma mordida, fazendo cada parte do meu corpo
se arrepiar ao trazer uma onda intensa de calor por toda minha
alma. Ao sentir meu sangue escorrer por minha pele, fechei os olhos
tendo uma explosão interior. Ansiava cada toque de suas mãos
sobre meu corpo. O seu cheiro invadiu minhas narinas de uma
forma avassaladora, sua boca reivindicava a minha demonstrando
que sou dele, dava ao meu corpo os sinais de que o queria, que
queria que ele me dominasse momentaneamente.
De uma coisa eu tenho certeza; não sei se a ligação tem
culpa desses sentimentos, mas meu coração batia aceleradamente
por Francis Underwood.
Capítulo Vinte e Cinco

Você sempre será surpreendida.


Você sempre será única.
Você sempre terá que viver suas dores sozinha.
Então por que se bastar em pessoas?

Mih Franklim
Antonella
Já sendo seis horas da tarde, havíamos passado o dia na
casa do Francis apenas deitados e conversando. Ele me contou um
pouco do seu passado, sobre sua infância e como foi nascer sendo
escolhido pela deusa da lua, destinado a ser o Supremo. Ele foi
privado da família, de amigos, de uma vida normal, desde que
nasceu foi apenas ensinado pelas anciãs mais sábias das linhagens
de lobos puros para ter um preparo. Sua mãe teve que o deixá-lo
assim que nasceu, então ele não tem uma família, por isso adotou o
Thomas como irmão há três anos. Thomas se tornou tudo o que ele
tem de família até agora. Saber de uma história tão triste assim,
saber que ele passou por tudo isso, que foi privado de sentimentos
dessa maneira, me deixou com uma dor tão intensa no coração,
mas, ao mesmo tempo, com a vontade de mostrá-lo todos esses
sentimentos que lhe foi privado.
Eu não sei porque, mas sei que vai além da ligação, não
pode ser apenas um destino escrito para vivenciarmos. O que estou
sentindo pelo Francis não pode ser baseado em uma ligação criada
pela deusa da lua, eu acredito que sentimentos são coisas
incontroláveis, coisas não escritas, coisas que acontecem sem
serem medidas. Eu, Antonella Maria Johnson, me recuso a acreditar
que meu coração está pertencendo a um homem apenas por uma
profecia que tem que se cumprir.
Seu olhar me passava tanta confiança. Não sabia como em
tão pouco tempo ele conseguiu conquistar minha confiança, mas
gosto desse sentimento que tenho por ele.

***
— Não tenha medo, estarei ao seu lado a todo o momento.
— Francis beijou a minha testa e se afastou em uma distância
razoável.
Suspirei olhando para o horizonte vendo o sol se pôr. Francis
disse que assim que o sol entrasse todo entre as montanhas,
começaria a minha transformação. Mentalmente, eu comecei a
contar até dez, sentindo minhas mãos suarem frio de nervosismo.
Quando o sol entrou todo dentro das montanhas, já não sentia as
borboletas que me seguiam desde que cheguei nessa cidade. Olhei
para o Francis e parecia que, pela primeira vez, estava preparada
para aceitar o meu destino, eu estava pronta para ser o que deveria
me tornar.
Um leve formigamento começou nas pontas dos meus dedos.
Olhando minhas mãos suspirei, começando a sentir uma forte
ardência por toda extensão da minha pele, que parecia estar
pegando fogo. Me joguei no chão gritando de dor quando senti o
meu osso da perna estalar e quebrar.
— Ahhhhhhhhhhhh! — a dor era tanta que fechei os olhos
sentindo algo lutando para sair de dentro do meu peito.
Me contorcia no chão sentindo cada osso do meu corpo se
quebrando em pequenos pedaços, minha pele parecia estar sendo
rasgada por uma adaga, meus músculos doíam e já não aguentava
tanta dor. Já era noite e parecia ter se passado horas, horas de dor.
— Vamos, Antonella! — Francis estava apreensivo, notei a
preocupação em sua voz. — Você não está deixando sua loba sair.
Pare de prendê-la, Antonella. — Falou seriamente alto. Mais um
grito de dor que foi sendo subtítulo por um breve rugido.
Rugi várias vezes sentindo a pele dos meus dedos serem
rasgadas por unhas enormes, meus ossos se contorceram dentro
do meu corpo uma última vez quando soltei um rugido de dor sem
ter controle algum. Suspirei ofegante e aliviada, sentindo a dor sumir
do meu corpo, que parecia estar mais alto do que o costume. Abri
os olhos e vi tudo muito nítido, minha visão havia melhorado.
Francis parecia ter ficado pequeno ao meu lado, o sorriso no seu
rosto mostrou que tudo tinha dado certo. Com calma, ele se
aproximou de mim, me dando um leve susto, no momento que vejo
que minhas mãos foram substituídas por patas enormes, patas
brancas.
— Calma, não se assuste! — segurou um focinho que havia
brotado bem no meio da minha cara. — Você é a loba mais linda
que já vi! — Francis falou. Fechando seus olhos, colou sua testa em
meu rosto.
Balancei a cabeça sentindo os pelos de toda minha extensão
facial balançarem, o que era uma sensação maravilhosa. Ele
passou a mão por minha pelagem fazendo assim com que eu
fechasse meus olhos. Apenas tê-lo perto de mim já me deixava feliz.
O sentimento que eu tinha por Francis nesse exato momento
duplicou infinitamente. Ele me olhou uma última vez sorrindo como
se quisesse me passar tranquilidade, um sorriso que seria simples
se não fosse dado pelo Francis.
Assim que ele se afastou, seus olhos ficaram totalmente
vermelhos, seu corpo começou a crescer, e vi seu tamanho sendo
triplicado, ele não esboçava dor e, se sentia, não demonstrava. O
lobo preto do Francis parou bem na minha frente e rosnou baixo, o
que me fez ter medo. Ele caminhou sobre as quatros patas e
cheirou o ar, passando seu focinho por meu pescoço rosnando.
Fiquei um longo tempo deitada no chão, enquanto ele estava por
perto ao me vigiar.
— Vamos, acho que agora você já consegue andar. — Ao
escutar a voz de Francis por telepatia, me assustei. Vendo minha
reação, respondeu antes que eu pudesse questionar. — Sim, todos
os lobos conversam por telepatia.
— Isso é estranho. — Ao dizer, a risada de Francis ecoou
dentro da minha cabeça.
Fiquei ao seu lado e olhei os movimentos que as patas dele
faziam, já que caí umas quatro vezes tentando andar. Me apoiei
mais uma vez no seu corpo e comecei devagar, depois com mais
confiança, comecei a andar com ele ao meu lado a todo momento.
Até que me senti 100% adaptada. Então o olhei e comecei a correr.
No começo, tropecei, mas insisti e, quando vi, já estava longe só
sentindo o vento contra meu rosto. A brisa balançava toda a
pelagem do meu corpo, os passos que eu dava pareciam mais
como saltos de tão longos que eram. Me sentia em sintonia com
minha forma lupina, me sentia livre e a floresta parecia parte de
mim.
Francis deixava que eu corresse em sua frente como se
respeitasse meu espaço e esperasse que eu entrasse em contato
com a natureza. Subi correndo várias pedras ao escutar as pisadas
pesadas de Francis logo atrás de mim, o que me motivava a correr
mais rápido para chegar primeiro. O vento estava mais forte nesse
ponto da floresta e ousaria dizer que esse local parecia aquelas
pedras de quadrinhos nas histórias de lobisomens.
Um medo bem pequeno brotou no meu coração, e eu não
sabia de onde vinha. Olhei para o lobo preto que me seguiu até aqui
e parou ao meu lado, encostando em mim. Ele me olhou como se
me perguntasse se tudo estava bem.
— Você também sentiu isso? — perguntei a ele, que olhava
reto para a vista.
Ele rosnou baixo e seus olhos vermelhos ficaram um pouco
mais intensos. De repente, ele uivou altamente. Assim que ele
acabou, entendi que queria que fizesse o mesmo. Fechei os olhos e
a loba dentro de mim se libertou por completo em um uivo alto.
Capítulo Vinte e Seis

Você exala coisas boas, lembre-se sempre disso.

Mih Franklim
Antonella
Depois de passarmos a maior parte do tempo andando e
correndo pela floresta, já era muito tarde. Corria seguindo o Francis
até o lugar que aconteceu minha transformação. Quando chegamos,
Francis voltou a sua forma humana segurando uma mochila que ele
tinha deixando ali assim que chegamos.
— Acho melhor voltarmos, você precisa descansar um pouco.
— Olhei para ele me sentando no chão.
Ele vai voltar pelado assim?
Fechei os olhos e meu corpo foi voltando ao normal de pouco
a pouco. Sorri quando me toquei que fui rápida demais, achei que
iria levar um século para voltar ao normal, mas só mentalizei e
funcionou muito bem. Assim que abri os olhos, me cobri com as
mãos. Francis estendia um roupão preto, o peguei rápido o vestindo
ainda sentada.
— Vamos? É capaz de ter pessoas esperando a nossa volta,
bom, eles não te conheceram oficialmente ainda. — Francis me
estendeu sua mão para que eu a pegasse.
— Vamos, mas e você? — olhei para o seu corpo nu,
demostrando minha indignação.
— O que tem? — perguntou sorrindo assim que o encaro
demais. Com toda certeza ele percebeu.
— Você não vai pelado assim. — Digo o óbvio.
— Eu sou um lobo, Antonella, todo mundo já me viu assim. —
Deu de ombros ao me deixar sem resposta.
— Ótimo! — arranquei o roupão que vesti e joguei nele,
começando a andar confiante.
— O que você está fazendo? — perguntou olhando meu
corpo, sem entender o que estava fazendo.
— Eu sou uma loba, Francis, todos ainda vão me ver assim.
— Repito sua frase com sarcasmo.
— Ah, não, você não vai voltar nua! — Francis pegou o
roupão do chão o jogando sobre meu ombro, me fazendo revirar os
olhos.
— Escuta aqui... — comecei a falar alterada, mas logo
abaixei o tom de voz ao perceber que iria iniciar uma discussão. —
Se você vai voltar assim, eu também posso. Aonde já se viu?
Igualdade é para todos.
— Para de ser teimosa, mulher! — Francis revirou os olhos
cruzando suas mãos sobre seu peitoral.
— Teimosa? Até parece! Você chega peladão desfilando com
um monte de lobas assanhadas vendo você? Não é assim que a
banda vai tocar. — Apontei um dedo no meio de seu peito com
raiva, mas ele apenas sorriu.
— Você está com ciúmes. Que linda! — sorrindo, Francis me
puxa pela cintura me fazendo bufar.
— O Lobão descobriu o universo? — falei o fazendo
gargalhar. — Volta na forma lupina então, já que não tem outro
roupão. — Sorri de forma meiga ao falar, parecendo resolver todos
os problemas.
— Não, assim vou parecer um lobo domesticado. — Ele
bufou.
— Mas você está domesticado. — Reprimi um sorriso, o
olhando.
— Antonella! — advertiu com raiva ao fechar a cara.
— Está bem, está bem, não falo mais que você é
‘domesticado’. — Sorrindo, dei um selinho um pouco demorado em
seus lábios, passei minhas mãos por seus ombros até chegar no
seu pescoço. — Mas você tem essa escolha, ou volta como lobo ou
nos dois voltamos normais, só que sem o roupão. — Digo sendo
firme.
Obviamente, eu iria morrer de vergonha se chegasse nua no
meio da alcateia. Estou torcendo mentalmente para ele aceitar isso
se não vou ter que voltar nua, afinal, palavra é tudo! Fechei os
olhos. Chegando perto do seu pescoço, senti seu cheiro que era
simplesmente maravilhoso. Acordei da minha viagem quando senti
minha pele se arrepiar com sua voz me trazendo de volta à
realidade.
— Está bem, seu lobão aqui volta como lobo e você vestida.
Ok? — Francis falou com uma cara emburrada.
— É justo. — Digo ao me afastar dele pegando o roupão.
Saio andando em sua frente.
Sorri quando Francis bufou e me alcançou em sua forma
lupina. Ele estava um pouco emburrado, o que me fez rir do rosnar
que soltou baixo. Começamos a andar calmamente lado a lado, era
uma longa caminhada até a alcateia do Francis. Meu corpo doía um
pouco devido à forma que eu fiquei e agora ter voltando aos meus
1,60 de altura. Se não estivesse com dor, eu iria achar estranho.
Não imaginei que a transformação fosse dessa forma
dolorosa, mas prazerosa no final, o contato intenso que tive com a
floresta; a sensação era maravilhosa, eu a protegeria, e ela
retribuiria, era essa a intensidade.
— Você podia me dar uma carona, eu estou com dor. — Falei
o olhando de relance. Francis me olhou e rosnou. Ele ainda estava
um pouco bravo por achar que, voltando como lobo, ele parecerá
domesticado. — Vai, por favorzinho! — digo ao fazer um pouco de
drama.
Ao parar ao meu lado, Francis deitou-se no chão. Me sentei
de lado sobre suas costas e ele se levantou começando a andar.
Era tão grande que eu me deitei de barriga para baixo sobre suas
costas. Estava morta de sono e com dor no corpo. Os pelos macios
dele eram melhores que um colchão, e estão tão quentinhos que me
deixava mais sonolenta. Comecei a fazer carinho em seu pescoço.
Ele mantinha os passos devagar para não me derrubar.
— Sabe, Francis... eu acho que gosto de você bem mais do
que deveria... — ao sussurrar, sinto meus olhos ficarem pesados
começando a se fechar lentamente pelo sono.
Capítulo Vinte e Sete

E quando eu cometer um erro muito grave?


Quando a felicidade não estiver mais entre nós?
Quando o sol entrar entre as colinas, Você ainda vai me
amar?

Mih Franklim
Antonella

As carícias que eram distribuídas em minhas costas até o


final de minha bunda, me faziam suspirar. Mantive os olhos
fechados, sentindo meu corpo relaxar em contato com o lençol
macio e confortável da cama do Francis.
Soltei um suspiro de insatisfação quando o lado da cama se
levantou, eu sabia que Francis tinha saído do meu lado. Havíamos
acabado de chegar, acordei quando Francis me colocou na cama e
retirou o roupão que eu estava usando. Mesmo sendo com certa
delicadeza para não me acordar, foi inevitável não sentir falta de
estar em contato com sua pele. Ou minha loba sentiu tanta falta dele
e, por esse motivo, acordei na mesma hora que meu corpo encostou
na colcha da cama do Francis. O fato é que estava tão bom ser
cuidada por ele que continuei com os olhos fechados, fingindo estar
dormindo. Qualquer pessoa no meu lugar faria o mesmo.
Abri os olhos e vi que ele não estava no quarto, mas logo
fechei rapidamente os olhos assim que ele saiu do banheiro pelado.
Eu tinha notado que Francis só dorme assim, afinal, desde o
primeiro dia, ele não dormiu um dia sequer de roupa. Não que eu
esteja reclamando, adoro a vista!
Quando o colchão ao meu lado afundou novamente, soltei a
respiração que segurava. Logo uma mão envolveu minha cintura,
me puxando com força até seu corpo encostar todo no meu. Engoli
seco e apertei os olhos, sentindo meu corpo se arrepiar. O corpo do
Francis era quente, muito quente.
— Eu sei que está acordada. — Com uma rouquidão na voz,
Francis falou ao fazer cada pedacinho do meu corpo morrer e
ressuscitar em segundos.
— Assim não tem graça! — respondo baixo fazendo-o soltar
uma risadinha.
— Antonella? — sua voz exalava certa curiosidade, que não
via vindo dele constantemente.
— Sim? — o respondi. Me virando de frente para ele, envolvo
minhas mãos na sua nuca até começar a mexer lentamente nos
seus cabelos, quando o seu aperto em minha cintura duplicou.
— O que você quis dizer com "gosto de você mais do que
deveria?" — ele prendeu seu olhar no meu. Senti as famosas
borboletas voltarem com todo o sambódromo no meu estômago.
— Em que sentido você quer saber? — digo tentando enrolar
para respondê-lo.
— Em todos os sentidos possíveis, Antonella. — Francis
afirmou ao apertar minha cintura colando mais meu corpo ao seu.
— Não sei... só acho esse negócio de ligação complicado
demais... E, para ser sincera com você, algo dentro de mim acredita
firmemente que tudo o que eu sinto quando estou ao seu lado é
muito mais do que uma simples ligação. — Via seus olhos
brilharem.
Sorri para ele passando minhas mãos por seu pescoço,
descendo com os dedos até chegar em seu peito que subia no
mesmo ritmo frenético que o meu. Fechei os olhos quando o seu
cheiro inebriante invadiu de novo minhas narinas, me fazendo sorrir
e deitar minha cabeça na curva do seu pescoço, onde dei um beijo
em sua pele. Com certa leveza, subi minhas mãos pela lateral do
seu pescoço até chegar nos seus cabelos. Não evitando sorrir
quando seu corpo se arrepiou com um simples beijo que dei na
curvatura do seu pescoço.
— Francis? — o chamei, percebendo que ele ficou quieto
demais. Levantei minha cabeça da curva do seu pescoço e olhei
nos seus olhos, que tinham certa tristeza e paixão ao mesmo tempo.
— Você está bem? Não sente, ou pensa da mesma forma que eu, é
isso? — perguntei ainda mexendo as pontas dos meus dedos em
seus cabelos.
Ele permaneceu em silêncio por um tempo, o que me deixou
aflita e nervosa. Afundei novamente meu rosto em seu pescoço, seu
cheiro conseguia me acalmar me mantendo longe de toda aflição.
Olhei assustada assim que suas mãos me viraram e Francis ficou
completamente por cima de mim. Uma de suas mãos foi parar no
meu rosto. Meu peito subia freneticamente rápido. Sua respiração
estava pesada, mas um brilho diferente no seu olhar conseguia me
passar uma calmaria que eu desconhecia.
— Você seria capaz de me perdoar? — as suas palavras
saíram carregadas de mágoa da sua boca. Eu podia perceber o
nervosismo em sua voz.
Não tinha ideia do que ele estava falando. Não fazia a
mínima ideia do que se tratava esse suposto perdão que teria que
liberar. Mas apenas sorri, acariciando seu rosto com a palma da
minha mão. Olhei para ele e o respondi tudo que meu coração dizia
em falhas batidas rápidas e contínuas.
— Todos têm o direito a uma segunda chance, Francis. —
Afirmei segurando minha respiração, assim que sua boca encostou
na minha lentamente.
Fechei os olhos passando meus braços por seu pescoço, o
puxando mais para mim. Seus lábios eram macios e quentes, um
beijo ardente e calmo que nunca tinha dado antes na vida, até esse
momento. Suas mãos seguraram meu rosto com delicadeza
enquanto as minhas desciam por suas costas e subiam até chegar
nos seus cabelos, onde, com as pontas dos dedos, eu mexia
calmamente. Assim que, infelizmente, a falta de ar nos atingiu,
suspirei pesadamente de olhos fechados quando sua boca se
afastava da minha em uma lentidão absurda.
— Antonella. — Francis me chamou, me fazendo abrir os
olhos. Meu coração deu uma falha batida e posso jurar que as
borboletas do meu estômago estão no meu cérebro fazendo um
reboliço. — Eu não esperava que você fosse assim. — Confessou
dando uma risada gostosa de ouvir, continuando a fazer carinho em
minha bochecha. — Mas você é exclusivamente perfeita... Eu te
amo!
Ele sorriu, colocando o seu rosto entre meu pescoço
começando a distribuir beijos calmos e delicados demais para
serem dados pelo Francis. Pelo meu Francis! Envolvi minhas mãos
no seu pescoço fechando meus olhos, soltei um baixo gemido
quando meu corpo se arrepiou com seus beijos em minha pele.
Minha cabeça tentava digerir todas as palavras que foram
pronunciadas da sua boca, "eu te amo", Francis me amava? O meu
Francis me amava? Sorri de olhos fechados fazendo uma leve
carícia em seus cabelos, sinto seu cheiro tão maravilhoso sobre
minha pele.
— Diga o que você quer dizer, meu amor. — Seus lábios
tocaram minha mandíbula, dando uma mordidinha. — Diga de quem
você é, Antonella. — Sua voz saiu um pouco mais autoritária e sexy
do que o normal.
— Eu sou sua, Francis! — afirmei com meus olhos fechados.
Assim que os abri, vi Francis me encarando com uma leve
vermelhidão, o que me fez sorrir passando a mão por seu pescoço.
— Sou sua, Francis, completamente sua! — cheguei perto do seu
ouvido e sussurrei, fechando os olhos, sentindo sua respiração
acelerar.
Soltei um gemido baixo e manhoso quando, de uma única
vez, me senti invadida pelo seu membro. Apertei minhas pernas em
volta de sua cintura e arranhei levemente suas costas, soltando um
rosnado baixo.
— A partir de hoje, Antonella... — enquanto dizia, Francis
começou a fazer movimentos lentos de vai e vem, me fazendo
fechar os olhos e apertar mais minhas pernas em sua cintura. —
Você será para sempre... — sua voz rouca em meu ouvido fez meu
corpo se arrepiar por completo. — Minha!
Ele completou quando desci minhas mãos por suas costas, o
arranhando. Um rosnado alto saiu de seus lábios, despertando
arrepios por todo meu corpo. Francis me mordeu no pescoço com
força, cada vez, aumentando os movimentos de vai e vem. Quando
me toquei, os gemidos estavam escapando dos meus lábios e
minha loba estava eufórica dentro de mim, sentia o meu sangue
escorrer por meu pescoço, mas, loucamente, eu não sentia uma dor
sequer. Pelo contrário, me sentia completa. O meu desejo por ele
duplicou nesse exato momento, o prazer parecia correr por minhas
veias e me vi sendo completamente entregue a ele. Meu corpo e
alma pertenciam a Francis Underwood. Agora, nesse exato
momento, eu sabia que o pertencia por completo. Afinal, eu havia
acabado de ser marcada por ele, marcada na minha alma!
Capítulo Vinte e oito

Um lado seu é infinito.


O outro é gratidão
Já o restante é a pura imensidão.

Mih Franklim
Antonella

Abri os olhos vendo que estava em um grande quarto branco.


O sol entrava pelas cortinas claras e medievais, a decoração do
quarto era diferente; em tons claros, com móveis antigos parecendo
pertencer a uma época passada. Olhei em volta do quarto e vi uma
mulher de cabelos brancos de costas, sentada em uma penteadeira,
escovando os longos cabelos. A olhei me sentando na cama.
— Foi um bom trabalho. — Sua voz era doce e suave,
semelhante a minha.
— Obrigada, mas que trabalho? E quem é você? — se
levantou de costas. Usando um vestido meio medieval que também
era em tons claro.
— A nossa transformação. — Ela se virou e arregalei os
olhos, assustada.
— Como isso é possível? — chocada, me levantei da cama
de uma única vez, vendo-a sorrir.
Ela era absolutamente a minha cara, a não ser pelos cabelos
e sua pele, que era um pouco mais branca. Porém, o mesmo
tamanho, mesmo olhar, até nossas medidas, me arriscaria dizer,
que eram as mesmas.
— Eu sou você, bom, na realidade, sou sua loba. E, antes
que me pergunte você está dormindo, então aproveitei para me
apresentar formalmente por sonho.
Ela falou se sentando na cama, balançando os pés quando
toquei sua mão com um dedo, a fazendo sorrir. Santa Selene, que
loucura é essa?
— Eu sou real, não uma miragem, Antonella...
— Então... você é Antonella, digo eu... digo a Antonella... Ah,
acho que entendeu! — falei e ela acenou ao concorda com a minha
confusão.
— Sim, mas não me chame dessa forma, gosto de ser
chamada de Luz. Bom, mesmo eu sendo você. — Me falou com
calma.
— Isso é loucura! — digo a olhando admirada.
— A vida é uma grande loucura, não? Mas loucura mesmo foi
você tentar me segurar ontem ao máximo na hora da nossa
transformação. — Me repreendeu. Sinto minhas bochechas corarem
ao me lembrar de que Francis havia me falado para soltar minha
loba.
— Eu sei, me desculpe, tudo isso ainda e muito novo,
inclusive os sentimentos. — Afirmei.
— Eu sei que é. — Se levantando da cama, Luz parou perto
de mim cruzando os braços. — É isso que me preocupa. Você é
muito inocente, não sei se devemos contar isso como vantagem ou
como maldição. — Me confessou caminhando em passos rápidos
para frente da janela.
— Como? — olhei para mim mesma, digo, para a Luz.
— Antonella, coisas ruins estão para acontecer e eu preciso
que você... eu preciso que você nos coloque na posição certa. Sem
envolver sentimentos. Logo teremos que priorizar outras coisas e
preciso de você. — Luz voltou em minha direção e pegou em
minhas mãos, sorrindo.
— Coisas ruins? Ah não, não, me diga isso! Prioridades
novas? O que seria? Já não bastou o tanto de mudança que minha
vida teve? Ai, Santa Selene!
—Tudo bem, estamos juntas nessa, confie em mim, confie
em nós. A nossa loba branca dá conta, só que depende
exclusivamente de você. — Suspirou — Só preciso que você
aprenda a reconhecer meu sinal.
Dita tais palavras, ela olhou uma última vez em meus olhos e
deu alguns passos para trás até começar brilhar e ficar tudo branco
de repente.
— Mas o que você quer dizer... — ela sumiu do nada me
deixando sozinha.
Um sentimento conhecido como medo invadiu toda a minha
alma. Olhei em volta no quarto e não havia ninguém. Caminhei em
direção à janela, já que entrava um vento forte e frio. Fechei rápido
o vidro, mas, assim que olhei para fora, meu coração se apertou ao
ver duas rosas vermelhas em um jardim com todas as outras rosas
secas. Olhei para o céu e o tempo estava fechando rápido demais,
formando uma grande chuva, parecia que daria uma tempestade
daquelas.
Então começou, trovões e relâmpagos invadiram todo o
ambiente, fazendo o medo do meu corpo aumentar. Olhei para as
rosas e a vontade que eu tinha era de correr até elas para salvá-las
da terrível tempestade que começou, mas, se eu arrancasse, estaria
matando-as. Então apenas fiquei olhando o balançar delas de
acordo que a ventania que se intensificou. Um raio muito forte
atingiu uma rosa, fazendo meu coração doer e se quebrar em mil
pedaços. Senti vontade de chorar pela perda de uma das rosas. O
tempo se abriu e, de repente, a outra rosa começou a se fechar
assim que não viu a sua companheira do seu lado.
Ela foi se fechando pouco a pouco até começar a morrer
lentamente. O sol apareceu e, aleatoriamente, outra rosa pequena
brotou no chão no lugar daquela que não havia aguentando a
chuva. Sem se dar conta, a rosa que foi destruída se recuperou da
chuva e a pequena rosa que nasceu floresceu mais. Mas a rosa que
murchou devido a sua perda não voltou à vida.
Capítulo Vinte e nove

Só me sinto completa Quando vejo seu sorriso.


Só me sinto completa Quando me torno o motivo dele.

Mih Franklim
Antonella
Acordei sentindo as carícias no meu ombro, o que me fez
sorrir e manter os olhos fechados. Logo, lembranças da noite com o
Francis invadiram a minha mente, me fazendo sorrir e ficar um
pouco constrangida. Sinto os lábios do Francis tocarem meu
pescoço no local que ele me mordeu, o que me fez arrepiar por
completo. Meu corpo já o reconhecia a quilômetros de distâncias,
suas mãos eram familiares para minha pele, sem falar no cheiro
delicioso que está exalando dele.
— Não acha que está na hora de acordar? — Francis disse
com uma voz rouca de sono. Meu deusinho!
— Não acho, não. — Falei ainda com os olhos fechados.
— Preguiçosa! — sorrindo, Francis beijou meu pescoço no
local que ele mordeu, descendo com seus beijos até meu ombro. —
Minha preguiçosa!
— Está bem, acordei. — Me sentei na cama rapidamente.
Olhei para ele e um sorriso malicioso nasceu em seu rosto,
seguindo o olhar para baixo vi que estava nua, puxei a colcha rápido
cobrindo meus seios, ao ver que Francis parecia se divertir com
meu constrangimento.
— Agora sei como te acordar. — De uma forma convencida,
Francis falou colocando as mãos apoiando sua cabeça, deitando-se.
— Engraçadinho... Aii! — sinto uma leve dor de cabeça.
— É normal você sentir dor hoje, sua transformação foi muito
demorada. Vem. — Francis encostou no meu braço, me puxando de
leve para me deitar sobre seu peitoral.
— Acho que vou tomar um remédio para dor. — Falei me
aconchegando sobre seu corpo.
— Não tem necessidade, seu organismo agora é de uma
loba, daqui a pouco você já está boa. Mas se você quiser tomar o
remédio mesmo assim... — falava ao mexer em meus cabelos.
— Vou esperar então... Francis? — o chamei com uma voz
manhosa. O que eu virei, Santa Selene?
— Oi? — ele me olhou esperando eu dizer.
— Tem algo de errado com a minha loba? — ele arqueou
uma sobrancelha.
— De onde você tira essas paranoias? — Francis perguntou
fitando meu rosto. — Não tem nada, absolutamente nada de errado
com a nossa loba.
Ele falou com obsessão, o que me fez lembrar que minha
loba é do lobo dele também. Ainda fazendo carinho no meu braço,
ele continuou: — Por que você perguntou isso? — ele disse tirando
uma mecha do meu rosto e colocando atrás da minha orelha.
— Porque os poucos lobos que vi não são como a minha
loba... e, bom, ela é alta, branca e... — ele sorriu colocando um
dedo nos meus lábios, me interrompendo.
— Ela é isso tudo e, também, a companheira do Supremo, a
primeira loba branca até agora. Não se preocupe em não ser
comum, as pessoas incomuns são as que mais fazem a diferença.
— Eu também gostei dela... digo de mim, digo dela, ah, você
entendeu!
— Entendi sim. Infelizmente, eu vou ter que viajar hoje,
mesmo querendo ficar com você a todo o momento. Vou dormir fora
essa noite. É algo de novo na empresa de Nova York. — Ele
suspirou.
— Você tem uma empresa de que? — o perguntei meio triste.
— É uma afiliação de revender empresas falidas. Eu te
levaria comigo, mas você vai ter que resolver um problema aqui na
alcateia. — Francis falou me puxando para um abraço, onde eu
ficava por cima do seu corpo.
— Que problema é esse na alcateia? — tentei levantar-me do
seu colo, mas ele apertou mais seus braços em minha cintura.
— Problemas comuns. Thomas vai te mostrar tudo e prometo
voltar amanhã cedo, para à noite, te apresentar oficialmente como a
Luna Suprema. — Cheirando meu pescoço, Francis falou.
— Me apresentar?
— Apresentar você como Luna. — Ele me olhou ao roubar
um selinho. — Agora eu acho que podemos tomar café da manhã,
eu estou morrendo de fome! — Francis falou ao me apertar mais
contra seu corpo, invertendo os lados ficando por cima de meu
corpo, entre minhas pernas.
— Vamos, mas onde está o café da manhã? — olhei em
volta, pensando que ele poderia ter trazido enquanto eu dormia,
mas não encontrei nada.
Olhei para ele novamente, que sorriu maliciosamente.
Sentindo minhas bochechas corarem, dei um tapa em seu ombro,
constrangida fazendo-o sorrir ao dar uma mordida no meu ombro de
forma sedutora.
— Seu pervertido! — suspirando, sinto seu membro roçar em
meu corpo. — Santa Selene! — digo em bom som, assim que seu
rosto desceu por entre meus seios, ao sorrir por causa da minha
reação. Francis beijou com suavidade minha pele, me fazendo arfar.
— Você exala tensão. — Francis fala dando mais um beijo
por entre meus seios, se ajeitando sobre meu corpo. — Tensão
sexual. — Completou iniciando um beijo lento e calmo.
— Golpe baixo isso...
Voltando a me beijar com intensidade, apertei minhas pernas
em volta da sua cintura. Uma de minhas mãos desceu arranhando
suas costas, quando apertei mais meu corpo contra o seu. Assim
que começamos a ter falta de ar, comecei a distribuir beijos por seu
pescoço, o abraçando como se o quisesse inteiramente todo para
mim. Sorri vendo que ele se arrepiava com meus simples beijos.
— Francis? — a voz do Mateus ecoou do outro lado do
quarto, o fazendo bufar. Ignorei e continuei dando os beijos por sua
mandíbula. — Eu sei que você está aí. Pelo amor de Deus, deixem
isso para a lua de sangue! — Mateus voltou a dizer, me fazendo rir,
assim que ele bateu novamente na porta.
— Eu vou matá-lo se me chamar de novo! — Francis falou
baixinho, o que me fez rir e continuar a beijá-lo.
— Você não... não vai matar ninguém. — Ao inverter a
posição, fiquei por cima de seu corpo novamente.
— Não vou matá-lo. — Francis sorriu ao repetir minhas
palavras e fechou os olhos quando mordi seu ombro, sorrindo.
Capítulo Trinta

Dentro de você há um ser cujo nome é desconhecido.


Cujo título é temido.
Cuja coragem é inesperada.
Cuja vida é traçada.

Mih Franklim
Antonella

Assim que Francis saiu, o que levou horas, pois enrolamos


muito na cama, Thomas apareceu e tomou café comigo. Agora, pelo
que me parece, eu tenho que ir até a casa dos Schweitzer. Deus
queira que não encontre a Amélia. Thomas me falou que depois
vamos resolver os assuntos da minha escola. Não posso faltar, mas
também não posso ficar indo, já que agora tenho obrigações
demais. Thomas conversou com a diretora e vou fazer uma prova
amanhã e só voltar para pegar meu diploma. Não queria isso, mas,
se é o melhor, então não tenho escolha, também só restam algumas
semanas de aula.
— Antonella, é só um encontro com o futuro Alfa Lorenzo
Schweitzer e a Luna Karen. Francis ainda não passou o cargo para
ele. — Thomas falou estacionando o carro do lado de fora da casa.
— Quer dizer que vou ter que aguentar os pais da Amélia.
— Sim. Eu particularmente não o aprovo para virar o Alfa. —
Thomas desligou o carro dando de ombros. Olhei para ele
esperando que continuasse a dizer só que não o fez, apenas saiu
do carro e deu a volta, abrindo a porta do lado que eu estava.
— Vamos, Thomas, diga! — disse fechando a porta do carro
o segurando pelo braço. — Quais são os seus motivos para achar
que esse homem não pode ser o Alfa? — o olhei curiosa.
— Em meu ponto de vista, ele não saberia administrar essa
alcateia que por sinal, é a maior de todas. Fora que ele já falou com
o Francis que quer fechar os dois orfanatos que temos para cortar
custos. Aí, eu me pergunto, aonde ele vai enfiar todas as 1.100
crianças? — Thomas dizia com raiva.
— Orfanato? Ele pode fazer isso? — tentava digerir todas
suas palavras.
— Tendo o consentimento do Supremo, você pode fazer tudo.
— Thomas falou com ironia. Francis não pode apoiar isso.
Assim que Thomas bateu na porta da casa dos pais da
Amélia, ele se afastou me deixando sozinha.
—Thomas, aonde você vai? — o perguntei.
—Tenho outros assuntos para resolver, Antonella. Em torno
de uma hora e meia, passo aqui para te levar a escola. — Falou
entrando no carro e dando partida.
Suspirei tentando não pirar. Eu não sei o que preciso fazer
aqui. Santa Selene, o que vim fazer aqui? Não deve ser tão difícil,
não é mesmo? Para quem mudou drasticamente a vida em menos
de quatro meses, não é uma coisa de outro mundo.
Isso mesmo, Antonella, você consegue! Você é uma loba
forte e... destemida, conversar com os pais de Amélia deve ser
moleza.
Suspirei pesadamente de novo, assim que notei que estava
suando frio. A porta abriu na mesma hora, me fazendo engolir seco
e sorrir falsamente para a mulher que era a cara de Amélia. Amélia
seria um clone então?
— Luna? — me olhou sorrindo. — Nossa! Não esperava
você... digo, é tão nova! — a mãe de Amélia falou. Daqui a pouco
vai falar que tenho que ir para a escolinha!
— Idade... um simples par de números, não? —disse
seriamente. — Me chamo Antonella, prazer em conhecê-la, senhora
Schweitzer. — A mesma fez uma breve reverência.
— Vamos, entre! Estamos à sua espera. — A segui entrando
em sua casa.
— Desculpe pela a ausência do Fran... digo, do Supremo. —
Balancei a cabeça me corrigindo —Tudo bem, o Beta do Supremo,
o Mateus, já nos avisou. — Concordou se sentando em uma cadeira
na sala de estar.
Sorri me sentando a sua frente, recebendo uma prévia
reverência do seu marido, que parecia ser uma pessoa simpática
aparentemente. A casa da Amélia me parecia normal. Normal
demais para uma garota como ela! Só de lembrar que a expulsei da
minha casa no nosso último encontro me deixa desconfortável por
estar aqui.
Não sei se gosto da mulher que estou me tornando, também
sei que amadureci muito rápido. De uma adolescente que gostava
de se encontrar com amigos e ter uma vida social ativa, para uma
mulher que parece ser casada, resolvendo assuntos importantes e
com um cargo efetivamente importante, ao lado do Supremo. Acho
que me superei. Não vou dizer que não sinto falta da velha
Antonella, e da velha vida que tinha na minha antiga cidade, porém,
eu gosto dessa vida também. Gosto de ter o Francis e gosto de ser
uma loba.
O fato é que eu mudei muito nessa cidade, ou essa cidade
me mudou?
— Bom, aqui estão os contratos regentes que quero fundar
assim que assumir o cargo como Alfa. — O senhor Schweitzer me
entregou um monte de papel.
— Posso ler? — segurei toda a papelada me sentindo
desconfortável. Não sei por que, mas minha loba estava em alerta
máximo.
— Claro, fique à vontade. — Ele concordou.
Comecei a ler e não me agradou em nada. Só falava de
investimentos na segurança e na forma de deixar nossa espécie
mais encoberta o possível para os humanos. Eles tirariam recursos
de onde para manter esse padrão de segurança nessa alcateia
apenas? Olhei para ele.
— O Thomas me falou que o senhor quer tirar o orfanato?
Qual o fundamento disso? — fui direta e clara.
— O senhor Thomas é rápido quando se trata de
informações. — Um sorriso cínico nasceu em seus lábios. — Com
todo respeito, Luna, mas creio que isso seja assunto de homem,
não? — a ironia da voz dele era evidente. Agora sei de onde Amélia
puxou isso.
— Depende do que você qualifica como assunto de homem.
O simples fato de responder uma pergunta minha? — o olhei séria,
enquanto sua mulher parecia avaliar tudo o que eu falava. — Ou por
que, se sua resposta não me agradar, tem medo que eu diga ao
Francis, digo, ao Supremo?
— Perdão, Luna, não foi a minha intenção lhe ofender de
alguma forma. — Se sentou corretamente na cadeira.
Aparentemente, eu estava mostrando controle e autoridade,
mas, por dentro, estava morrendo de medo. Eu não mato nem uma
barata, enfrentá-lo assim, na cara dura, não era para qualquer um.
Era óbvio que eu iria conversar com Francis a respeito disso. Não
tem como se desfazer de um orfanato. Afinal, eles vão colocar os
órfãos aonde? São pessoas, são crianças que precisam de carinho
e não de ter a renda diminuída.
Bom, eu percebi que comandar uma alcateia é como ser o
prefeito de uma grande cidade cheia de problemas e assuntos que
você não consegue resolver. Só de lembrar que Francis tem um
grande papel em todas as alcateias, me dá sono.
— O que pretendia fazer com os órfãos? — perguntei vendo
que ele estava sem jeito.
— Estava resolvendo esse assunto com o Supremo ainda.
— Entendo! Bom, eu já vou indo! Entregarei os documentos
ao Supremo. — Me levantei.
— Foi um prazer, Luna! — a mãe da Amélia disse sorrindo.
— Perdoe por perguntar, mas onde está a Amélia? —
sentindo-me incomodada por ela não estar aqui, falei.
— Amélia não voltou ontem, deve estar na casa de alguma
amiga.
— Ah, sim, bom já vou indo. — Me virei saindo da residência
dos Schweitzer. Não sabia por que estava me importando com
Amélia, mas de fato é um sentimento que não conseguia evitar.
Eles me acompanharam até a porta e soltei todo o ar que
segurava sem ver quando me afastei da porta de entrada da casa.
Ainda faltam vinte minutos para dar o prazo que Thomas deu, achei
melhor ir andando, já que não era longe.
A brisa estava uma delícia e o cheiro que vem da floresta é
simplesmente maravilhoso, fechei os olhos sentindo a forte ventania
que deu no sentido da floresta. Olhei para as crianças que estavam
em um parque ali perto, rosnei baixo e não sabia porquê, mas minha
loba estava me tomando por inteiro.
Capítulo Trinta e um

Desculpas a mim mesma, venho aqui pedir.


Pois quando caí, fingi, e apenas sorri!
Quando me levantei, não fui tão forte quanto imaginei.
Mas, no meu recomeço, outro ser me tornei!

Mih Franklim
Antonella

Caminhei para frente das crianças ficando cara a cara com a


floresta. Eu estava com medo e em alerta máximo. Algumas
pessoas também pareciam ter percebido e colocaram-se em forma
de ataque. Os sons de passos ficavam altos enquanto olhava
assustada para a floresta, que parecia ter seu lado sombrio e sua
beleza ativa.
— Antonellaaaa! — Thomas chegou por trás do meu corpo e
segurou meu braço.
— Santa Selene, que susto!
— A alcateia está sendo atacada, vamos! — Thomas
começou a me arrastar para fora dali. Era quase palpável toda
tensão no ar.
— O quê? Mas e as crianças? — tentava me soltar. —
Thoommmass! — gritei atraindo sua atenção. — Não vou correr,
vamos tirar as crianças daqui então. — Digo o óbvio.
— Minha prioridade agora é você. — Thomas falou, assim
que puxei o meu braço com força.
— Não, sua prioridade tem que ser a vida. E, nesse
momento, as crianças estão desprotegidas, caramba! — digo ao dar
passos para trás, indo até uma menina que brincava no balanço.
— Antonella! — ele gritou. Apenas o ignorei, indo na direção
da garotinha.
De repente, ouvi um estalo muito alto que causou pânico nas
pessoas, que começaram a correr. As mães que estavam no parque
pegaram as crianças e começaram a sair correndo no sentido
contrário dos barulhos. Olhei em volta e uma menina morena de
cabelos cacheados ficou no balanço assustada. Outro barulho muito
alto surgiu, então comecei a correr na direção dela.
— Oi, meu amor, vem com a tia. — Estiquei meus braços
para ela, a pegando no colo.
Olhei para o lado e tinham lobos enormes indo lutar em
direção dos barulhos. Sem pensar duas vezes, comecei a correr
com a garotinha no colo indo até o Thomas, que havia se
transformado em um enorme lobo. Ele estava perto da porta do
carro, esperando que eu entrasse. Mas um barulho alto fez meus
ouvidos doerem. Coloquei a menina na cadeira do passageiro
entrando no carro quando Thomas rugiu como se mandasse eu
dirigir para longe dali.
Sem pensar duas vezes, pisei no acelerador indo o mais
longe que poderia. Thomas ia na frente, abrindo passagem e
empurrando alguns lobos pretos que tinham olhos verdes.
Estávamos sendo atacados por lobos, é isso? Mas como? Acelerei
e um lobo preto muito grande pulou no Thomas, o derrubando para
o lado.
Eu queria parar e lutar. Eu devia parar e lutar! Mas não
conseguia, não conseguia voltar lá e enfrentar tudo. Minha loba
estava a mil, estava com medo, algo me dizia que era muito além do
que um simples ataque de lobos.
— Calma, vai ficar tudo bem! — sussurrava com calma para
a menina que chorava, acelerando mais o carro. Assim que peguei
uma estrada principal, não escutava mais tantos barulhos.
— Você é a Luna? — ela limpou as lágrimas. Concordei.
— E onde está o Supremo? Ele ajudaria a gente. — Disse
fazendo um bico de forma chorosa. Eu a olhava sem saber como
reagir.
Não sei qual parte de mim foi mais afetada nesse momento. O
medo que estou sentindo, a adrenalina que corre em minhas veias,
ou as palavras dessa garotinha que parece ter seis anos. E detesto
admitir, mas ela está totalmente certa. Eu tinha que ter ficado para
lutar, o dever de uma Luna é proteger a todos e eu não fiz, eu corri
covardemente. Sinto uma forte dor no meu coração e acho que
minha loba ficou triste na mesma hora.
Comecei a chorar sem saber se era de susto ou se era pela
minha incompetência.
— Não precisa chola. — Completou me olhando assustada.
— Você me ajudou! — a olhei sorrindo sem mostrar os dentes.
Vendo pelo retrovisor, já estávamos longe da alcateia, a rua
era deserta. Será que Thomas está bem? Será que alguém se
machucou? Será que todos estão bem? Não devia ter corrido, devia
ter ficado para lutar. Meu celular começou a tocar, como estava
dirigindo ignorei, mas aí começou a tocar várias, e várias vezes, até
eu encostar o carro no acostamento e atender.
—Alô. — Suspirei disfarçando a voz de choro.
— Por que não me atendeu antes? Onde você está? Se
machucou? Me responda! — a voz nervosa do Francis ecoou do
outro lado da linha.
— Francis... — a única coisa que consegui dizer antes de
segurar o choro mordendo o interior da minha bochecha.
— Chego aí em dez minutos, não saia daí! — falou ao
desligar o telefone na minha cara.
Chegar aqui? Como, se eu não disse onde estou?
Olhei para o lado vendo que a menina estava dormindo. Saí
do carro e sentia vontade de gritar jogando para fora o que estava
sentido de alguma forma. Suspirando fui para frente do carro e me
sentei no capô, olhei a estrada vazia. Será que devo voltar? Uma
forte ventania jogou todos meus cabelos para trás, medo e uma
certa tristeza me fizeram ficar em alerta. Me lembrei do sonho que
tive e engoli seco.
Eles chegaram, mas a grande pergunta é: eles quem?
Capítulo Trinta e dois

Seja revolucionário!
Torne-se a voz que tem que ser ouvida.
No meio da multidão, seja sua própria iluminação.
Falar é fácil, difícil é ter identidade própria!

Mih Franklim
Antonella

Fechei os olhos sentindo as batidas do meu coração


diminuírem o ritmo frenético. Já estava anoitecendo e o medo que
eu sentia já não estava mais presente em meu corpo. Olhei para
trás e a menina dormia calmamente, eu nem sei de quem é essa
criança, tenho que levá-la de volta, os pais dela devem estar
preocupados. Será que já está tudo bem na alcateia? Apertei meus
olhos com tantos pensamentos me torturando.
Um barulho de carro na estrada deserta me fez olhar
rapidamente para o farol que iluminava a estrada, com um pouco de
medo, mas logo o cheiro do Francis fez meu pobre coração disparar
como um louco. Levantei quando o carro parou em frente do carro
que vim, a porta foi aberta brutalmente, e um Francis com raiva,
ódio e preocupado veio em minha direção em passos rápidos. Seus
cabelos estavam desarrumados e o seu terno aberto com sua
gravata frouxa.
Sem pensar duas vezes, me joguei nos seus braços, que me
acolheram de uma forma desesperada em um abraço apertado e
rápido. Ele estava ofegante e muito preocupado, eu sentia sua
preocupação a quilômetros de distância. Não há palavras para
descrever a alegria que estou sentindo.
— Me diga que está bem? — ele perguntou colocando seu
rosto em meu pescoço, me cheirando.
— Agora sim! — fechei meus olhos sentindo que estava em
casa nós seus braços.
— Como me achou tão rápido? — ele afrouxou o abraço.
— Nossa ligação. Logo depois, Thomas me ligou preocupado
porque te perdeu de vista, me contou tudo o que aconteceu na
alcateia, que ela foi atacada por lobos pretos. O que é estranho, já
que só alfas são lobos pretos. — Francis passou a mão pelo meu
rosto.
— Então fomos atacados por alfas? — o perguntei.
— Aí que está, não eram alfas. Tinha alguma magia
envolvida. — Ele suspirou. — Vamos voltar para a alcateia, já está
tudo calmo na medida do possível.
— Como? O ataque já acabou?
— O alvo era você, Antonella. — Francis afirmou
transparecendo a preocupação em sua voz.
— Eu era o alvo por quê? — o perguntei sentindo medo.
Minha garganta secou-se quando ele se afastou passando as
mãos em seus cabelos suspirando pesadamente.
— Não sei ainda, mas não se preocupe, eu vou cuidar de
você. Nada de ruim vai acontecer com você, Antonella! — me
encarando seriamente Francis tocou meu rosto com os dedos, me
dando um selinho demorado.
Meu coração se apertou e um medo me invadiu. Não sei o
que me aguarda agora. Ele olhou para a o carro e arqueou sua
sobrancelha, me olhando novamente.
— Quem é a criança? — perguntou ao me olhar.
— Eu tive que pegá-la... ela estava sozinha no momento do
ataque e... eu não fiz nada, Francis. Eu corri. Era para eu ter feito
alguma coisa! Eu senti tanto medo...
— Ei, meu amor, você fez o certo. Eu não posso imaginar se
tivesse a perdido, Antonella! Não se sinta mal. — Francis me
abraçou me dando um beijo em minha testa. — O que eu posso
fazer para não ver você assim?
— Eu não sei... talvez... — fechei os olhos passando minhas
mãos por seus cabelos. — Me ensina, Francis. Me ensinar a lutar.
Eu preciso defender as pessoas, é o meu dever como Luna.
Olhei em seus olhos e vi o brilho nascer neles. Um sorriso
transpareceu em seu rosto. Minha respiração estava desregulada e
sentia as borboletas começarem a surgir em meu estômago. Minha
loba estava feliz com minha escolha, eu sentia medo, mas algo
dentro de mim dizia que estava no caminho certo.
— Eu vou te ensinar. — Disse colando minha testa na dele.
— Vamos agora, minha Luna...
Passei minhas mãos por seus cabelos, deixando suas mãos
irem diretamente para a minha cintura. Fechei os olhos suspirando,
ao sentir seu cheiro invadir novamente minhas narinas, me acalmei
instantaneamente. Francis tinha esse poder sobre mim. Ele me
acalmava rapidamente em absolutamente tudo que fazia, tudo tinha
efeito sobre mim. Seja positivo ou negativo, ele sempre me
influenciava em todos os ângulos.
Enquanto estávamos na frente dos dois carros, já tinha
anoitecido e apenas o farol do carro que Francis veio iluminava todo
o local, deixando a noite escura e sombria na beira da estrada.
Escutamos a porta do carro que eu vim se mexer, olhei para a
menina que saiu do carro olhando para nós. Francis colocou o rosto
na curvatura do meu pescoço dando um beijo no local que me
mordeu.
Capítulo Trinta e três

Minha perseverança não é medida pelas minhas vitórias.


Meu caráter não se
mede por minhas roupas.
Minha alegria não se mede em um sorriso.
Minha fé não se mede Por minhas conquistas.

Mih Franklim
Antonella

— Ok, mas vocês podem me explicar o motivo? Eu quero


saber porquê eu seria o alvo de alguém? Eu já entendi que sou o
alvo, mas quero saber o m-o-t-i-v-o. — Esbravejava batendo com
força minhas mãos sobre a mesa, estando muito nervosa e irritada.
Estávamos há três horas nessa sala, tentando entender o
motivo do ataque. Eu, Francis, o pai de Amélia, Lorenzo Schweitzer,
Thomas, Mateus e o Derek. Eu era a única mulher na sala e a única
irritada pelo fato deles não desembucharem e dizerem o motivo.
Olhei para Francis que se levantou e colocou as duas mãos no meu
ombro na tentativa de me acalmar. Derek suspirou como se
soubesse de algo.
Quando chegamos na alcateia fomos à procura dos pais da
garotinha, o que levou duas horas para os encontrarmos. Logo
depois, eu fui para a casa dos meus pais verificar se estavam bem.
Por sorte, não houve nenhuma morte. Perceberam que eu não
estava na alcateia e cessaram o ataque imediatamente. O que mais
me deixa nervosa é que eles sabiam que eu estava sozinha sem o
Francis.
— Tenha calma, Antonella! — Francis soltou um longo
suspiro, começando a fazer uma espécie de massagem em meus
ombros.
— Vocês acham que poderia ter alguma relação com a carta
de Elizabeth? — perguntei o óbvio.
— Como sabe sobre a carta de Elizabeth? — perguntou.
— Eu li! — digo.
— Eu pedi para seus pais tirarem aquele diário da casa
deles, como você leu? — Francis pronunciou-se seriamente.
— Por que pediu isso? — retirei as mãos dele do meu ombro.
— Eu tenho o direito de saber sobre minha própria vida.
— É meio óbvio. Você lendo algo, sabendo que vai ter um
filho comigo? Que lógica teria isso? Eu estava tentando te prevenir
do nosso futuro. — Tentou-se explicar com certa razão.
— Mesmo assim, Francis, você não tem o direito de esconder
o meu próprio destino. — Suspirei.
— Desculpa interromper a DR, mas vamos focar no ataque.
Sabemos que a Anto... digo a Luna é o alvo, o que deixa a vida dela
em risco. — Mateus começou a dizer demonstrando sua
preocupação.
— Mesmo que eles estejam atrás da Luna, não acho que seja
só pela carta de Elizabeth Johnson. Isso não faz sentindo! — o pai
da Amélia dizia.
— Não faz porque não estou grávida e é bem explicativa a
carta no fato deles quererem a possível criança híbrida. O que eu
acho impossível, afinal eu sou uma loba e o Francis também é. —
Falei começando a prender meus cabelos.
— Mesmo se você estivesse grávida, eles não teriam nosso
filho isso eu não permitiria! — Francis tomou uma postura seria.
— Acho que tem algo a mais. — Derek atraiu a atenção de
todos, ele estava sério e pensativo. — Essa magia é poderosa,
muito poderosa. Uma magia que consegue controlar a mente de
lobos, além de mudar a pelagem deles; ela tem que ser antiga. Uma
magia negra e antiga. — O olhei pensativa.
— Magia negra? — olhei para Francis que tomou uma
postura rígida apoiando suas mãos em meus ombros. Ele estava
tenso.
— Impossível! A única pessoa que já teve envolvimento com
esse tipo de magia morreu há séculos. — Mateus falou como se
soubesse de tudo.
— Vocês estão falando de quem? — perguntei curiosa.
— De Eliza Johnson. — Thomas respondeu suspirando.
— Eliza, minha antepassada? — perguntei — Ela não era
uma loba? Como teve envolvimento com a magia?
— Ela odiava ser loba. Então fez alguns pactos que a
levaram ao poder. Mas, digamos que foi caro o valor que ela teve
que pagar. — Mateus respondeu.
— E qual foi o valor? — digo engolindo seco. Olhei para
Francis nervosa. Por que ele escondeu esse detalhe?
— Sua vida. — Francis disse sério sem me olhar nos olhos, o
que fez meu coração disparar e eu ter certo receio.
— Ela morreu por isso? — perguntei olhando todos em volta
da mesa.
— Não sabemos se ela morreu. Têm lendas que dizem que
só o seu corpo morreu, porém, sua alma ainda está entre nós. —
Thomas pronunciou-se fazendo meu corpo se arrepiar.
— Quê? — Que papo de fantasma é esse?
— Óbvio que ela já morreu, já faz décadas. — Francis revirou
os olhos, se sentando na cadeira ao meu lado.
— Realmente não sabemos. — Derek se levantou da cadeira
e parou perto da janela. Ele olhou para nós segurando uma espécie
de pingente que sempre usava. — Nunca devemos duvidar, ainda
mais quando tem magia envolvida. A magia é traiçoeira, a negra
então... não podemos ter o direito da dúvida. — Ele me olhou
seriamente e vi seus olhos em uma cor meio roxa.
— O que você quer dizer? — perguntei.
— Eu, Mateus e o Supremo sabemos que Eliza Johnson era
exatamente a sua cara. A não ser pelos seus cabelos, que eram
negros.
— Não faz sentido isso, Derek. Sabemos que, se fosse para
acontecer algo com a Antonella, já teria acontecido antes, afinal,
Mateus a vigiou a vida toda. — Ao dizer, suas palavras saíram
amargas.
Sem nenhum sentimento, olhei para Francis. Meu coração
doeu de uma forma inexplicável, fechei os olhos, segurando todas
as lágrimas. Então minha amizade com Mateus foi toda a mando do
Francis? Nada foi real? Olhei para ele com uma cara de desgosto
que não sabia explicar ao certo. Francis me olhou rapidamente
como se sentisse minha dor. Ele segurou minhas mãos e me olhou
preocupado, acho que ele percebeu que falou demais. Contei até
dez mentalmente e engoli minhas lágrimas. Mateus me olhou como
se não entendesse nada, mas logo arregalou seus olhos se tocando
do que aconteceu.
— Antonella, me deixa expl... — o interrompi levantando uma
mão.
— Não precisa explicar nada! Voltemos ao foco aqui, que é
"minha vida", não? — disse com sarcasmo. — Sempre foi isso, não
é? Então continue, Derek, me diga sua teoria. — Disse sentindo
meu coração doer, o desprezando. Mateus abaixou a cabeça.
Ele me magoou. Eu acabei de descobrir que o meu melhor
amigo teve a amizade comprada. Era como se Francis o tivesse
comprado para ser meu amigo, ou melhor, na realidade, foi assim.
Será que Mia também é uma falsa amiga? Deve ser, afinal, eu a
conheci através do Mateus. Balancei a cabeça voltando a prestar
atenção no Derek, Francis suspirou pesadamente do meu lado.
— Pode ser que por vocês serem parecidas, haja uma
conexão de alma. — Ele disse e suspirei sentindo meu coração
disparar.
— E o que isso quer dizer? — falei sentindo um frio na
barriga.
— Ela dominar o seu corpo, Antonella! Há um feitiço que, se
der certo, ela pode jogar sua alma para sempre no abismo e assim
ela ficaria com seu corpo, já que são antepassadas interligadas...
— O quê? Está me dizendo que eu vou ser possuída? É
isso? — perguntei chocada.
— Tecnicamente é isso, tem uma possibilidade.
— E agora o que devemos fazer? —Thomas parecia não ter
reação. Notei que Francis estava totalmente pensativo e não tão
surpreso assim.
— Eu aconselho que preparem nosso ataque e façam
aliados. — O pai de Amélia falou. — Se ela está envolvida com
magia negra, nossas chances são poucas, mesmo com o Supremo
ao nosso lado.
— Fazer aliados com quem? — Francis o olhou seriamente.
— Eu sugiro que entrem em contato com o Clã dos sangues
sugas. — Derek voltava a olhar para fora da janela de forma
divertida.
— Não acho que eles aceitem fazer um acordo pela vida da
Antonella, ela é minha companheira e eles me odeiam. — Francis
falou o óbvio.
— Por você não, mas... — interrompo Derek.
— Pelo bebê híbrido, sim... — falei meio dispersa, olhando
para o nada.
Me virei para Francis que segurou minha mão. Ele me olhou
e acenou concordando, como se aceitasse o trato com os vampiros
por mim. As coisas pareciam fazer sentido...
Capítulo Trinta e quatro

Sou a voz da revolução.


Aquela que vai bater forte com a mão no coração, Declarar
guerra com a sociedade.
A que busca igualdade na diversidade.

Mih Franklim
Antonella

Amarrei meus cabelos em um rabo de cavalo alto. Francis


chegou por trás sorrindo abraçando minha cintura, depositou um
beijo em meu pescoço. Era notável que ele estava meio obsessivo
depois que me mordeu.
— Não acha que essa calça está muito justa? — beijou
novamente meu pescoço.
— Não acho, não, toda roupa que eu coloco você fala merda,
então vai ser essa mesma! — digo ao me virar de frente para
Francis beijando seus lábios com calma.
— Vamos, então! — suspirou sabendo que não ganharia
essa batalha com minha roupa.
Sorri ao sair em sua frente. Ontem foi difícil, depois que
chegamos em casa Francis ligou para o conde e marcou uma
reunião. Eu vou com ele e bom, sei que é desconfortável para ele
ter alguma coisa que o ligue com os vampiros, mas não posso fazer
nada que mude isso. Já Mateus, estou o ignorando. Ele tentou falar
comigo, mas não quis, ele me traiu de uma forma horrível. A pior
traição é a traição de uma amizade que você confia muito. Óbvio
que estou chateada com o Francis também, porém, Mateus que
estava atuando comigo. Será que era atuação tudo o que vivemos?
Nossa amizade era de longa data, de sorrisos, choros e filmes com
pipoca, guerra de bombas de água e anos de confidencias.
Sinto uma lágrima escorrer pelos meus olhos e trato de
limpá-la logo. Francis segurou meu braço antes de entrar no carro e
me olhou, analisando meu rosto. Ele sabia que meu coração estava
machucado. Francis parecia sentir juntamente comigo a dor da
"traição".
— Antonella, me perdoe. Eu precisava te proteger, não queria
causar esse sentimento em seu coração, amor! — passou o polegar
em minha bochecha.
— Eu estou bem! — digo ao sorrir fracamente para ele.
Francis entrou do lado do motorista e me olhou uma última
vez dando a partida no carro.
Nosso destino agora era a minha escola. Iria fazer a prova
para não precisar mais estudar. Bom, com tudo o que está
acontecendo, com esse ataque e com, digamos, meu corpo a
prêmio pela minha antepassada Eliza que não sabemos se está
viva, eu não tenho tempo para pensar na escola. Não tenho tempo
para nada mais. Nem para os meus pais, que eu dei graças a Deus
por eles terem ido viajar hoje cedo. Bom que eles fiquem longe
disso tudo! Não tive tempo para meus amigos mais e isso incluía
Hugo e os meninos do time. Mia me ligou ontem, mas preferi não
atender, afinal, eu sei que é por causa do Mateus.
— O que você tanto pensa nessa sua linda cabecinha?
— Nada, só em tudo que está acontecendo... — olhei para
fora da janela, sabendo que ele me fitava.
— Não se preocupe e nem fique enchendo sua cabeça com
essas coisas. — Falou ao colocar sua mão em minha coxa a
apertando de leve.
— Por que não me contou o que Eliza tinha se tornado? —
perguntei.
— Não achei que fosse necessário tocar nesse assunto. —
Francis dizia ao manter seu olhar para a estrada.
— Francis? O que você está me escondendo? — o olhei
arqueando uma sobrancelha.
Seu corpo exalava tensão. Minha loba estava muito agitada e
aflita, ela me dizia que Francis escondia algo, eu sabia, sentia isso.
Ao parar o carro em frente à escola, suspirou, passando as mãos
sobre seus cabelos ao dizer engolindo seco, o que fez meu coração
dar uma leve pontada e temer por algo que não conhecia.
— Você disse que me perdoaria! — sussurrou.
— Eu preciso saber do que se trata para poder perdoar. —
Com calma, segurei sua mão o incentivando a falar.
Assim que um silêncio se fez presente levei um susto com a
Mia batendo no vidro do carro. Olhei para ela e algumas pessoas
olhavam em volta do carro. Sorri fracamente para Francis, dando
um breve selinho em seus lábios.
— Tudo bem, eu confio em você.
Sorrindo ele segurou meu braço e me puxou para um beijo de
verdade. E que beijo! Beijar Francis era exatamente a primeira
maravilha do mundo! Nunca me cansaria de seus lábios, isso com
toda certeza eu posso afirmar. Segurei delicadamente seu rosto,
enquanto ele dava uma leve mordida em meus lábios no final do
beijo lento e longo que havíamos dado.
— Eu te amo, volto já para te buscar. — Sorrio e sinto que
seu corpo estava mais relaxado.
— Também te amo, Francis! — sussurrei para ele que abriu
um lindo sorriso, transparecendo o brilho que nascia em seu olhar.
Abri a porta sorrindo e fechei acenando para ele, que deu
partida no carro, acelerando rapidamente. Me virei para trás e vi
uma Mia completamente preocupada e séria. Ela rapidamente pulou
em meus braços, me abraçando com força quando senti um estalo
na minha pobre coluna. Com certeza ela se quebrou agora matando
todas as borboletas que tenho no estômago, levando junto minha
vida! Abracei-a retribuindo na mesma intensidade. Eu precisava de
um abraço desses que me mostrasse onde estou.
— Amiga, eu soube o que o Mateus fez, eu sinto muito... —
era notório como a voz de Mia estava carregada de tristeza.
— Quer dizer que você não sabia, então? — a olhei assim
que ela desfez o abraço.
— Obviamente não! Nunca apoiaria isso e ele também se
arrependeu.
— Tudo bem, eu estou bem! — sorrir fracamente para ela.
Óbvio que isso me afetava, porém, esse era o menor dos meus
problemas agora.
— Antonella, eu não sabia... e eu sinto muito... — a
interrompi sorrindo.
— Eu já disse que está tudo bem! Vai me acompanhar? —
sorri para ela que me abraçou novamente.
— Eu te amo, amiga. — Falou com sinceridade em suas
palavras.
— Eu também te amo. — Deu para todo mundo dizer que me
ama agora?
A olhei, Mia tagarelava algo sobre a escola que eu não dava
muita importância. Minha mente estava realmente pensando em
tudo que estava acontecendo. E, agora, será que tem coisa pior me
aguardando? Essa era a dúvida que rodeava meu coração, mas
minha loba dizia freneticamente e com uma frieza que tudo havia
apenas acabado de começar.
Capítulo Trinta e Cinco

A imensidão me atingiu, balançando minha estrutura.


Mostrou-me que a sua chegada Foi a melhor mudança de
rotina que eu poderia ter.

Mih Franklim
Francis

Olhei mais uma vez minha imagem no espelho e sorri vendo


que o terno que Antonella havia escolhido caiu perfeitamente bem
para a ocasião. Ela havia chegado há pouco tempo oficialmente em
minha vida, porém, já não me via sem ela, e me perguntava como
vivi sem ela esse tempo todo. Hoje era o dia que a apresentaria
como Luna Suprema oficialmente para toda alcateia. Obviamente,
os alfas e alguns representantes do conselho viriam para presenciar
a cena que, para muitos, era boato até agora. É isso que me
preocupa, quando todos oficialmente souberem da chegada de
Antonella em minha vida, isso, sem sombra de dúvida, nos trará
problemas.
— Vamos? — ela chegou na porta, não pude evitar de sorrir
pela forma que ela estava nervosa.
Evitei fazer o comentário que minha garganta coçou para
fazer sobre o quanto esse vestido marcava suas curvas. Isso a
deixaria mais nervosa e furiosa. Engoli meus ciúmes e a segurei
pela cintura. Ela estava maravilhosa nesse vestido de cor vermelha,
que marcou perfeitamente as curvas do seu corpo que eu conhecia
bem, seus cabelos longos, que amava, estavam presos em um
coque, deixando suas costas nuas, ao menos seu vestido era longo,
o lado ruim é que uma de suas pernas ficava à mostra pela fenda
lateral que tinha. Olhei nos seus lindos olhos azuis que me
chamaram tanto a atenção.
— Você está linda! — falei sorrindo assim que recebi um
selinho, suas mãos carinhosamente foram para minha nuca,
mexendo de leve nos meus cabelos. Adorava quando ela fazia isso!
— E bastante nervosa. — Concluí.
— Você não tem noção, eu odeio falar em público, mesmo
sendo bem sociável. — Antonella suspirou de uma forma sexy que
só me deixava com vontade de arrancar esse vestido que tanto
marcava seu corpo e assim beijar cada parte, a tornando minha a
noite toda. Porém, me controlei, já estávamos atrasados para o
evento que pedi que fosse oficialmente fechado para todas as
alcateias devido ao ataque que tivemos.
— Não há necessidade de tanto desespero, a cerimônia será
fechada. — Tentava amenizar a situação com minhas palavras.
— Fechada, mas transmitida para todos. — Falou
constrangida. — Vamos logo, Francis, quanto mais rápido formos,
mais rápido acabará.
— Está certo, vamos! — confirmei a seguindo pela casa.
Fomos com o motorista dessa vez, eu via que Antonella está
totalmente nervosa, a todo o momento ela olhava para a janela e
suspirava como se isso fosse o fim do mundo. Eu concordo com ela
que esse não era o momento certo de apresentá-la, afinal, estamos
em guerra. Mas todos já estão curiosos para saber se é apenas um
boato que finalmente uma Luna Suprema chegou. Apresentarei
Antonella e vamos focar no que devemos, no ataque que tivemos.
— Não precisa temer, vou estar ao seu lado a todo o
momento. —Sussurrei para ela assim que o carro parou em frente
ao local do evento.
— Eu sei que vai, isso que me conforta. — Disse sorrindo ao
me dar novamente um selinho.
O motorista abriu a porta fazendo uma breve reverência para
nós. Saí primeiro e dei a mão para Antonella, que a pegou e
suspirou sentindo-se nervosa devido a alguns olhares.
— Você disse que era um evento fechado. — Suspirou com
vergonha.
— Mas é apenas essa alcateia e alguns alfas. — Olhava a
movimentação ao nosso redor.
— Já que vou passar vergonha, que seja com a barriga
cheia. — Antonella falou pegando alguns petiscos que um garçom
passou nos servindo.
Logo depois de cumprimentarmos muitos alfas conhecidos
meus, Antonella já não estava tão nervosa assim, havia conversado
com algumas Lunas e sua tensão era algo menos notável agora.
Sorri para ela balançando a cabeça, confirmando que teria que ir até
o palco e apresentá-la. Subi as escadas em passos confiantes,
segurando a cintura dela, quando todos faziam uma breve
reverência assim que passávamos até chegar ao palco.
Olhei para Mateus que me entregou o microfone. Antonella
ainda estava triste com ele e isso me machucava de certa forma.
Ele sorriu sem mostrar os dentes para minha mulher que continuou
séria.
— Boa noite a todos! — segurando sua mão tentei lhe passar
confiança. — Eu o Supremo Francis Underwood, vim apresentar
oficialmente a vossa Luna Antonella Johnson. — Com calma puxei
lentamente a colocando do meu lado, as pessoas bateram palmas e
se curvaram brevemente em uma reverência rápida e respeitosa, o
que fez as bochechas de Antonella corarem.
— Mesmo a Luna sendo um pouco tímida. — Digo a olhando
assim que escutamos algumas pessoas rirem baixo. — Vou passar
a palavra para ela. — Entreguei o microfone para Antonella que me
olhou apavorada.
—Bom... — Antonella parou de falar e olhou para todos que
esperavam atentamente suas palavras. Por um momento, achei que
ela fosse jogar o microfone para cima e sair correndo, contudo,
suspirou e continuou. — Espero exercer corretamente meu papel de
Luna Suprema, mesmo sendo a primeira até agora. — Não pude
evitar de sorrir, como algumas pessoas no local.
— Sei que não estamos em um ótimo momento para
comemorações, sei também que uma Luna deve cuidar e zelar pela
vida. E prometo fazer o meu melhor pela vida e por todos que são
injustiçados. — Falou por fim.
Com orgulho da minha mulher, percebo que exalava controle,
mesmo eu sabendo que ela não tinha um sequer nesse exato
momento. Suspirei e a segurei pela cintura, a guiando para sairmos
do palco. O resto do evento foi monótono, conversamos com vários
conhecidos meus, Antonella acabou fazendo amizade com algumas
lunas, principalmente com Luísa, a companheira do Alfa Jeff das
montanhas do norte. Eu agradeci mentalmente a Selene por não ter
nenhum tipo de ataque ou guerra que tirasse o foco do evento,
nossas vidas estavam bastante movimentadas ultimamente, tanto
que sei que Antonella estava exausta mentalmente por tantas
mudanças vividas em sua vida em tão pouco tempo.
Depois que chegamos em casa, nos amamos no banho, o
que acabou na nossa cama. Cada noite que a tornava minha
novamente, era uma forma diferente e mais intensa que tínhamos
de fazer amor. Ela conseguiu me fazer amar cada parte do seu
corpo, sem pensar duas vezes.
Coloquei seus cabelos para trás da sua orelha e beijei
levemente sua testa vendo que ela já dormia pesadamente. Nossos
corpos estavam tão bem encaixados que lutei comigo mesmo para
me levantar. Eu não queria fazer isso, mas era necessário.
Precisava resolver logo o problema que criei. Me levantei com calma
e com cuidado para não a acordar, dei um breve beijo em seus
cabelos. Antonella se mexeu e pegou meu travesseiro o abraçando,
ela tinha o sono pesado.
Vesti uma roupa rapidamente e saí de casa no escuro.
Olhando pelo vidro da janela, temia pelo perdão de Antonella, talvez
ela não me perdoasse por tudo que fiz. Se ao certo ela soubesse
que o grande culpado desses ataques sou eu, ela não me perdoaria.
Suspirei frustrado. Se algo acontecesse com sua vida por minha
culpa, eu nunca me perdoaria, mesmo que eu não esperasse que
meu plano não desse certo. Eu não esperava que a droga da
ligação fizesse eu me apaixonar completamente por ela. O plano era
simples, esperar ela se transformar e dá-la a Eliza para podermos
viver juntos. Acontece que o que eu senti um dia pela Eliza não
chega nem perto do que eu sinto pela Antonella.
Parei na velha cabana que sempre odiei, suspirei pensando
em acabar logo com essa conversa. Saí do carro e já fui entrando
na casa. Só de imaginar que ela queria o corpo da Antonella para
poder viver nesse mundo físico, me deixava com ódio, ela viveu
esses anos todos de corpo em corpo, o que não durou muito, afinal,
ela só conseguia ser a feiticeira que tanto sonhava com um corpo
que fosse ligado com a verdadeira antepassada dela e esse corpo
era o da minha Antonella. Embora elas fossem iguais não eram ao
mesmo tempo. Eliza era fria e calculista, completamente o oposto
da Antonella.
— Eliza Johnson, precisamos conversar. — Abri a porta da
cabana a olhando.
Ela apenas sorriu ironicamente.
— Estava à sua espera, Francis!
Capítulo Trinta e Seis

Tenha resiliência!

Mih Franklim
Francis

Eliza caminhou até minha direção, passou por trás e fechou a


porta da cabana. A realidade é que eu amei a velha Eliza, que é
totalmente diferente dessa que está envolvida até o topo com magia
negra. Conheci Eliza há séculos, quando ela estava no seu corpo
original, que por ironia da deusa da lua, era a cara da minha
Antonella. Vivemos um romance quente, por assim dizer, antes que
eu fosse nomeado oficialmente como Supremo, já que eu nasci para
isso. Não posso dizer que não amei Eliza e pelo fato de dela ser da
família Johnson, só me fez acreditar mais que ela era a minha
companheira. Até sua mãe Elizabeth Johnson me alertava dizendo
que Eliza era ambiciosa e a deusa da lua não a escolheu para mim,
pela teimosia e com os olhos cegos de desejo sexual, eu a ignorei.
E tive a idiotice de aceitar o trato com Eliza. Foi aí que surgiu a carta
de sua mãe. Elizabeth Johnson viu que cometeríamos mal a
Antonella e, de alguma forma, escreveu aquela carta, mandando
para todos os alfas para proteger minha possível companheira de
mim mesmo.
Não sei porquê aceitei esse acordo idiota, mas de fato foi há
décadas. Era jovem e incoerente. Acreditava que eu controlaria meu
próprio destino e não seria a deusa da lua que escolheria por quem
me apaixonaria e, devo admitir, o desejo sexual pelo corpo de Eliza
ajudou a influenciar. Quando Eliza decidiu se envolver com a magia
negra eu a apoiei, tinha acesso ao mundo espiritual e a ajudei. Foi
aí que a deusa da lua me castigou. Desde então, eu não tenho mais
esse acesso e isso me prejudicou de uma forma enorme. Não iria
mais ter o controle total que fui destinado a ter e só iria conhecer
minha companheira muito tempo depois. O que era um absurdo, um
Alfa sem sua companheira era um Alfa solitário. Imagina um
Supremo sem uma?
Eliza conseguiu o tão esperado poder que queria, mas foi um
alto custo. Cada parte do seu corpo queimou com o fogo de Selene
até que ela perdesse tolamente a vida. Foi o que todos pensaram,
mas, como eu tinha acesso ao mundo espiritual, vi seu espírito e as
diversas pessoas que ela vem tomando os corpos até o nascimento
de Antonella, que era o corpo perfeito para Eliza; um corpo
exatamente igual ao de sua antepassada, que seguraria
completamente seu espírito.
— Pois diga, meu Francis. — Ela me olhou com o olhar que
eu bem conhecia, se sentou no sofá me olhando como se já
soubesse de cada palavra que eu pronunciaria.
— Precisamos conversar sobre nosso acordo! — um sorriso
malicioso surgiu em seus lábios. Era impressionante como ela
conseguia ser ela mesma em corpos diferentes, reconheceria Eliza
em um corpo de uma criança de nove anos.
— Espere, deixe-me ver! Eu já sei o que você irá dizer. —
Eliza falou com ironia. — Você sumiu desde quando a ruivinha
aguada apareceu na cidade. Não deu notícias, então veio finalmente
dizer que se apaixonou pela sua companheira de alma e blaá, blá,
blá, e quer cancelar o nosso acordo, certo?
— Exatamente isso. A propósito, pare com seus ataques.
Como Supremo, não posso permitir que você continue possuindo a
mente de lobos ômegas. — Ela soltou uma gargalhada sarcástica.
— Você achou que vindo até aqui me faria mudar de ideia e
que continuaria vivendo à míngua em corpos nojentos quando a
minha casca perfeita anda perambulando por aí? — se levantou
vindo em minha direção, passando suas mãos por meus ombros e
parando atrás do meu corpo. — Francis, Francis não seja inocente,
nós bem sabemos que Antonella nasceu para isso! — sussurrou em
meus ouvidos.
— Eu nunca esperei que você aceitasse, só escuta bem o
que eu vou te dizer. — Virei meu corpo para trás e encarei seus
olhos. — Não chegue perto da Antonella, senão acabo com você da
pior forma possível. — Vejo a abri um sorriso.
— Francis, Francis... — Ela chegou perto, tocando meu
abdômen como se fosse me dar um abraço e sussurrou ao deixar
meu corpo em alerta. Eliza era como uma cobra traiçoeira que eu
conhecia bem. — Eu posso abrir mão de você e desse corpo... —
ela passou a mão nas minhas costas e veio alisando lentamente
meu abdômen, o que fez meu lobo ficar nervoso. — Mas eu não
abro mão do meu corpo. Antonella vai ser minha por bem, ou por
mal! — ela sussurrou, colocando as mãos no meu pescoço.
Soltei um rosnado alto e a peguei pelo pescoço. Sentia meu
lobo rugir dentro de mim, a vontade de matá-la era enorme, suas
mãos foram em direção a minha para que afrouxassem o aperto do
seu pescoço, ela estava sufocada e eu iria matá-la se isso fosse
possível, afinal, ela iria para outro corpo. Apertei mais seu pescoço
e ela começou a tossir ficando roxa. Meu lobo estava enfurecido e
gritava para estraçalhar cada parte dela só por pensar em Eliza
encostando na Antonella.
— Pode fi-ca ...cof* cof*... — começou a dizer quando soltei
novamente um rosnado, apertando mais seu pescoço. — Nervosinh-
o-o... eu vou adorar acabar com você, Francis!
— Eu vou acabar com você, Eliza Johnson. — Sussurrei com
uma voz demoníaca que eu bem conhecia. A estrangulei com toda
força até seus olhos virarem para cima e ela morrer. Logo vi sua
alma negra saindo do seu corpo e sumindo.
Eu sabia que tinha conseguido um tempo até Eliza achar
outro corpo. A joguei longe quebrando uma parede no meio da
cabana. Passei as mãos sobre meus cabelos e soltei um rosnado
alto. De uma coisa eu tinha certeza, faria o que fosse possível para
proteger a vida da minha Antonella.
Capítulo Trinta e Sete

Me recuso a recomeçar.
Como posso reiniciar, Se ainda tenho tanto para relembrar?

Mih Franklim
Antonella
Os fatos da vida que eu odeio: odeio quando vou beber água
e não tem água gelada na geladeira, odeio quando algum homem
se acha superior ao meu lado, odeio quando Francis é possessivo
demais, odeio esses ataques que estão acontecendo com certa
frequência. Mas, nesse exato momento, eu descobri que não odeio
nada mais do que acordar de madrugada para fazer exercícios
físicos, lutar e treinar autodefesa.
— Antonella, vamos, vamos! — Mateus gritou batendo
palmas. Apoiei minhas duas mãos sobre meus joelhos, suspirando
pesadamente de exaustão — Não tem graça, isso é cansativo
demais. Espera caramba! — me joguei no chão, fingindo de morta.
— Você sabe que isso não funciona, né? — Mateus sorriu
negando com a cabeça.
— Cala a boca! Somos lobos, lobos têm parentesco com
cachorros, então isso funciona SIM. — Dizia com os olhos fechados,
jogada no chão.
— Eu concordo com ela, isso funciona sempre comigo. —
Thomas falou, fazendo algumas pessoas rirem. Olhei para ele com
uma cara fechada. Thomas estava em cima do carro em que veio,
comendo algum tipo de petisco gorduroso.
Um completo "Bad Boy"!
— Toma, beba água. — Mateus me entregou uma garrafinha
de água. Me sentei no chão.
— Para de falar comigo, por favor! Ainda estou com raiva de
você. — O olhei fazendo uma cara de indiferença ao beber a água.
Mateus levantou as mãos em um sinal de rendição se afastando.
Estou aqui há muito tempo, diria que horas. O dia já havia
amanhecido. Eu sei, absurdo isso! Francis achou que Mateus era a
pessoa certa para me treinar e me transformar em uma verdadeira
loba de ataque. Eu sei que tem absolutamente tudo a ver com o fato
de não estar conversando mais com ele. Francis e Mia estão
fazendo de tudo para voltarmos a nos falar. Aceitei apenas porque
preciso aprender alguma coisa, tenho que me defender e zelar pela
vida de todos.
Olhei para o Francis, que estava sem camisa e suado igual a
mim. Um sorriso malicioso estava em seu rosto. Estou morrendo no
chão; suada, lutando e correndo há mais de duas horas e, para
piorar, com muita, muita fome.
— Já cansou? — Francis falou ironicamente estalando os
dedos de sua mão.
— Cala a boca você também! — mostrei o dedo do meio para
ele, me jogando na grama de novo.
Era horrível ficar brincando de lutinha com Francis. Porque
para mim, era isso que parecia ser, uma brincadeira que era um
pouco agressiva, confesso, mas cansativa também. O que me deixa
revoltada é que ele não está nem um pouco cansado como eu. Pior
do que ficar se agarrando com o Francis, não da forma que queria, é
escutar Mateus gritando e dando instruções de como eu poderia
derrubá-lo. Eu sei que não parece, mas Francis não me deixou
ganhar uma vez sequer. Covardia! Eu precisava ganhar pelo menos
uma partida. A meta era quem derrubava o outro primeiro no chão,
já perdi a conta de quantas vezes caí só essa manhã e olha que
Francis não foi nada delicado, acho que desloquei meu braço. Não
tinha possibilidades de ganhar. Minha Selene, ele é o Supremo, será
que eles não veem isso? Não vou conseguir derrubá-lo.
Ainda com os olhos fechados e quase morrendo com a
respiração pesada, fazia questão de não me mover. Eu estava com
uma roupa de academia, que já estava encharcada pelo suor, sinto
algo batendo na minha testa. Abri os olhos e vejo Francis com uma
bola de tênis na mão. Algumas pessoas da alcateia, que estavam
vendo o treinamento desde cedo, reprimiam um sorriso e eu
arqueava a sobrancelha. Ô povo curioso que adora me ver cair!
— Se você jogar uma dessas bolinhas de novo, eu arranco
as suas bolas, subo no maior prédio de Nova York e jogo para baixo
para os cachorros comerem. — Algumas pessoas não conseguiram
evitar e riram assim que Francis me olhava desafiando-me.
Estávamos fazendo um show e tanto para as pessoas que
pareciam se divertir nos vendo.
Acho que era uma forma de me conhecerem e conhecer o
Francis de verdade, já que ele tem a maior fama de sanguinário,
mas, quando está comigo, é um sanguinário "fofinho".
— Que agressiva! Você está muito nervosinha hoje, meu
amor! — ele me olhou e começou a dizer com a ironia que sempre
me irritou nele. — Está certo! Não jogo mais para você buscar a
bolinha. — O olhei arqueando uma sobrancelha, incrédula. Esse
safado está me chamando de cachorra? Ele sabe que odeio isso e,
o pior, eu sei que é absolutamente para me provocar.
— Como? — me levantei limpando minha roupa e o seu
sorriso aumentou. Eu sabia que isso tudo era para me provocar.
— Isso mesmo, lobinha, não jogo mais para você ir buscar a
bola. — Ele me olhou e pronunciou a palavra lentamente. Eu odeio
e ele sabe disso. — Deixa que eu jogo para os nossos f-i-l-h-o-t-e-s!
— Quem quer apostar que agora o Supremo morre levanta a
mão? Vamos, gente façam suas apostas! — Thomas levantou as
mãos atiçando o pequeno público de quinze pessoas, os fazendo rir.
— Como é? — olhei para Francis, ignorando Thomas e todos
que estavam ali. Francis sabia que eu odiava quando falava que
meus futuros filhos eram "filhotes". Isso era ridículo.
— Isso, meu amor, os nossos futuros filhotes buscam a bola.
— Francis me olhou se virando de costas, para jogar a bola para
Thomas.
Sem pensar duas vezes, corri em sua direção, deixando
minha loba me tomar. Não estava nervosa, estava sentindo-me
desafiada. O puxei pelo braço, o rodando e o joguei no chão,
rosnando alto e caindo em cima dele com as duas mãos sobre seu
peito. Um sorriso satisfeito se formou em seus lábios, e suas mãos
foram diretamente para minha cintura. Eu ouvia cochichos das
pessoas que estavam ali, ninguém tinha visto minha loba ainda, e
tenho certeza que meus olhos estão totalmente azuis chamativos
agora. Suspirei pesadamente tentando voltar ao normal, senti a
calmaria invadir meu corpo novamente, olhei para ele e um sorriso
irônico se formou em meu rosto quando suas mãos apertaram
minha cintura. Ele disse baixo, de uma forma que ninguém pudesse
escutar, já que todos estavam conversando.
— Seu cheiro está muito forte. — Francis fechou os olhos,
dando uma cheirada nada discreta em meu pescoço, o que me fez
arrepiar.
Me levantei de cima dele rápido com as bochechas
ruborizadas, tanto pelo suor quanto pelas sensações que os simples
gestos do Francis me fazem sentir. Francis revirou os olhos por te
me afastado tão rápido dele. Mateus começou a guardar os
equipamentos, afinal, era claro que quando eu conseguisse derrubar
o Francis, eu o venceria. As pessoas começaram a ir embora
animadamente.
— Vamos na cachoeira? — Francis perguntou me olhando.
— Não precisa nem perguntar. — Afirmei.
— Vou na alcateia resolver uns negócios e já volto. — Francis
me deu um selinho e fez um sinal com a mão chamando o Mateus.
— Vai indo na frente com a Antonella para a cachoeira, vou ver o
motivo das dezenove chamadas perdidas do Derek. — Pegou seu
celular indo correndo para dentro da floresta.
Dezenove chamadas? Caramba, pior que minha mãe!
Falando nisso, ela deve estar uma fera porque não liguei para ela
hoje ainda. Mamãe voltou para Rosnov. Acho que foi resolver uns
antigos problemas para se mudar definitivamente para
Southampton.
Comecei a seguir o Mateus a uma distância razoável, já que
não queria manter contato mais íntimo com ele, não da forma que
tínhamos. Eu já não estava chateada com ele, não da forma que
fiquei quando descobri isso tudo. Só estava decepcionada. Olhei em
volta e a floresta estava calma e com pouca movimentação.
— Antonella... — Mateus me chamou parando de caminhar
me esperando.
— Sim? — cheguei perto dele soltando um breve suspiro.
Eu sabia que chegaria um momento que teríamos que
conversar sobre isso. Afinal, Mateus é um grande amigo meu e
saber que ele foi contratado para me proteger a vida toda me deixou
chateada e acreditando que tudo possa ter sido programado. Todos
nossos momentos juntos e todos os sentimentos que sentia por ele,
eu amava Mateus como se fosse um irmão.
— Me perdoa? — Mateus segurou meus ombros e olhou em
meus olhos.
— Perdoar? Por que eu deveria fazer isso? Afinal, você não
fez nada de errado, só é o seu trabalho. — Falava cada palavra com
uma imensa dor no meu coração.
— Antonella... eu admito, errei com você. No começo, sim,
era apenas a mando do Francis. Alguns ataques estavam
acontecendo a você e sua família quando você nasceu, eu
precisava te proteger.
— Ataques? Então isso não é de agora? Oh, céus, eu
realmente não sei nada da minha vida! Sempre quando acho que
sei algo, me toco que ando mais para trás. — Coloquei minhas
mãos na cabeça, quando me afastei um pouco dele.
Suspirei pesadamente com uma imensa dor no peito. Eu
definitivamente iria explodir, são tantas perguntas sem respostas.
Quanto mais eu descubro, mais perguntas aparecem. O que Eliza
queria comigo? O que Elizabeth quis dizer com um filho meu que
poderia ser algum tratado de paz? Esses ataques são feitos pela
Eliza? Se sim, como ela ainda está viva? Os vampiros? Será certo ir
mesmo nesse encontro e formar certa união com eles? Aquela noite
que perguntei ao Francis como ele conheceu Eliza, a forma que ele
falou dela... Santa Selene, eu vou explodir!
— Depois... — Mateus se aproximou de mim novamente
parando na minha frente, ele retirou suas mãos do seu bolso e levou
elas aos meus cabelos, continuando a dizer — Depois você se
tornou minha melhor amiga. Os ataques pararam quando você
completou quatro anos. Só fiquei esse tempo todo porque você é
minha melhor amiga, é minha irmã mais nova.
— Eu fiquei chateada... sempre confiei tanto em você e, do
nada, eu descobri que você me escondeu tantas coisas sobre meu
passado que...
— Eu sei, me perdoe. Se tiver alguma forma que eu possa
apagar isso. — Por um momento vejo a sinceridade no seu olhar.
Pela primeira vez em meses, vi meu melhor amigo ali.
—Tem sim! — cruzei meus braços sobre meus seios o
olhando. Eu sabia que poderia ser errado isso, porém tinha que
descobrir de alguma forma.
— Me diga o que quer?
— Você é tão velho quanto Francis, certo? Então você o
conhece há bastante tempo...
— Antonella... eu conheço esse olhar. — Mateus me olhou de
cima a baixo e suspirou. — Mas palavra é palavra, prossiga.
— Quero saber tudo que você sabe, tudo que estão
escondendo de mim. Tudo sobre Eliza, tudo sobre essa profecia,
tudo sobre os vampiros e, principalmente, tudo sobre esses
ataques.
— Antonella...
— Não me venha com Antonella, Mateus, apenas me diga e
acabe com a porcaria desse mistério todo... E eu sei, eu sei que
você sabe tudo.
— Tudo bem, Antonella, não precisa se alterar. — Mateus
levantou as mãos, assim que rosnei para ele. — Eu vou te dizer
tudo o que sei.
Capítulo Trinta e Oito

Eu descobri que era amor, quando ao pronunciar a palavra


‘amor’, seu nome passou ser a primeira palavra que se passava em
minha mente.

Mih Franklim
Antonella

Olhei a cachoeira assim que acabamos de chegar no local,


suspirei cansada me joguei no chão. Era muito bonito, devo admitir
que um pouco longe, mas bonito! O som das águas caindo em
cascatas, o vento um pouco gélido e úmido e a paz que esse lugar
me transmitia, me fez sorrir e pensar que tudo, por um momento,
pudesse ser turbulento, mas passageiro como as águas de uma
cachoeira.
— Estou esperando. — Mateus se sentou ao meu lado e me
olhou morta no chão, tanto morta fisicamente como mentalmente.
Eu estava esgotada.
— Pergunta-me. — Falou fazendo um gesto com a mão, o
que me fez sorrir.
— Por que é tão difícil para Francis fazer o tal trato com o
vampiro? — o olhei.
— Bom, isso é de séculos... eles não se dão muito bem.
Francis e o Conde... têm uma longa história, muito longa, mas isso
não tem nada a ver com você, então creio que não é sobre isso que
queira falar, certo? — mordi meus lábios me sentando mais perto do
Mateus.
Mateus me conhecia há bastante tempo para saber a forma
que eu agia e pensava. De certo, isso não me interessava por
agora. Minha loba estava começando a se agitar e posso dizer que
uma leve turbulência se passava no meu estômago. Não sei por
que, mas hoje estou mais cansada que o normal, com uma leve dor
de cabeça, o que é estranho, já que sou uma loba e meu organismo
se cura rápido.
— Certo! Eliza e Francis... o que eles tinham...? — perguntei
sentindo minha loba ficar triste.
— O que te faz pensar que eles tinham algo? — ele parecia
chocado.
— Bom... uma vez ele me falou dela e, não sei, a forma que
ele disse tudo, era diferente. — Com sinceridade, falei. De fato, isso
mexeu comigo! Eu ainda me lembro do brilho no seu olhar quando
Francis falou de Eliza.
— Eliza era um tanto misteriosa. — Mateus começou a falar
de Eliza, olhando para as águas, o que me fez pensar que ele
poderia estar tendo um momento de nostalgia. — Ela era a sua
cara, por isso era tão bonita! De certo, a única diferença física dela
para você são os cabelos... ela era mais fria... calculista e muito,
muito ambiciosa. Francis era amigo de Eliza, pelo que eu saiba.
— Só amigos? Tem certeza que era só isso? — perguntei o
olhando.
— Pelo que eu saiba, sim. Mas por que isso mudaria alguma
coisa? — sua pergunta me fez parar e refletir.
Não, não, mudaria nada! O que eu sinto pelo Francis e o fato
de estamos destinados a viver juntos, não mudaria se ele tivesse
algum tipo de caso no passado com Eliza. Até porque eu nem
nascida era ainda. Como poderia cobrar algo dele se também já tive
meus casos, só acho que seria bom saber.
— Não mudaria nada. É só uma curiosidade minha. — Digo
por fim dando de ombros. — Mateus, seja sincero!
—Sim?
— Além de sabermos que Eliza estar supostamente atrás de
mim e que, evidentemente, está mais forte e viva. Algo que eu acho
surpreendente. Uma coisa não consegue fazer sentido. Não na
minha cabeça. — O olhei quando ele arqueou uma sobrancelha,
esperando que eu falasse. — Como Eliza pode desafiar o Francis?
Digo, ele é o Supremo! Não que eu ligue para cargos, mas eu sei
que ele é forte e Eliza não chegaria perto no quesito cadeia
alimentar.
— Eu sei... já pensei dessa forma também. É isso que nos
preocupa, se Eliza está desafinado o Francis, significa que ela tem
força suficiente para enfrentá-lo. — Mateus disse voltando a olhar
disperso para frente.
— Ultimamente Francis está muito nervoso, com razão,
afinal, os ataques aumentaram... você acha que ela possa esperar
um momento ideal para a tacada final? — olhei para Mateus que
rapidamente me olhou arregalando os olhos.
— Como não pensamos nisso?! — levantou-se começando a
andar de um lado para o outro.
— Mateus, você vai ficar tonto, para com isso!
— Antonella, você é um gênio, brilhante, magnífica... — me
levantei um pouco assustada. Logo, ele veio até mim me abraçando.
— Explica pelo amor de Selene! — digo colocando uma mão
na cintura, Mateus continuou a andar de um lado para o outro
fazendo uma espécie de cálculos com os dedos.
— Eliza vai atacar na lua de sangue! É óbvio. — Parou me
olhando.
— Lua de sangue? Mas os lobos não ficam mais fortes? —
disse que era burrice atacar na lua de sangue.
— Sim, mas também ficam mais despercebidos. Deixe-me
ver, a lua de sangue é daqui alguns dias...
Capítulo Trinta e Nove

Não se torture tanto.


No final, todos temos o que merecemos, Seja algo bom...
Seja algo mal.

Mih Franklim
Francis

— Tudo vai ocorrer bem. — Digo para Antonella, assim que


paramos em frente aos portões da mansão do Conde Estevan
Russell.
Depois que tivemos o ataque, as coisas só pioraram, ainda
mais quando eu resolvi tirar satisfações com Eliza. Ela sumiu
completamente do mapa, tenho mandado tropas à procura dela, o
que é difícil, já que ela troca de corpo toda vez que chegamos perto.
De fato, eu sei que sou o único que conseguiria encontrá-la, mas
deixar Antonella sozinha e desprotegida está fora de questão. É
absolutamente o que Eliza quer. Com isso tudo, os ataques
aumentaram bastante. Tive que reunir todos os alfas das alcateias
maiores para saberem sobre a situação. Eliza estava usando
ômegas recém-transformados em lobos pretos com a força de um
Alfa, o que era preocupante, já que os ataques aumentaram
constantemente, deixando bem claro que era para entregarmos
Antonella.
Nem nos sonhos deles entregaria Antonella nas mãos de
Eliza. E eles sabem disso e nem ousam falar nessa possibilidade
comigo.
— Sim... minha cabeça está doendo. — Saímos do carro.
— Eu sei, desculpe por ter que fazer isso logo hoje. —
Envolvi minhas mãos por sua cintura, suspirando alto. Estávamos
vestidos formalmente, afinal, o Conde insistiu em dar uma festa
formal.
— Eu estou um caco! Meu corpo está enorme, sem falar que
todo músculo do meu corpo dói, Francis! — ela me olhou com uma
carinha de cachorro sem dono. A abracei de lado sentindo seu
corpo um pouco febril. — Você deveria ter me deixado ficar em casa
dormindo...
— Eu deixaria, meu amor. Tudo que eu menos queria era que
você fosse conhecer esse sanguessuga, mas não posso correr o
risco de deixá-la desprotegida. — Digo a olhando de relance,
fazendo uma leve carícia em sua cintura.
— Eu não estava desprotegida. Estávamos na alcateia e
temos lobos por toda parte, sem falar que você encheu a casa de
lobos. — Com um pouco de raiva, Antonella suspirou.
As alterações do humor dela estavam evidentemente
perceptíveis.
— Quando se trata de você, eu só confio na minha proteção,
não posso correr esse risco. — Mantenho a calma quando ela
suspirou concordando.
Faltavam poucas horas para começar a lua de sangue. Como
previsto, o efeito já estava começando a cair sobre Antonella. Ela
estava inquieta e eu conseguiria sentir o seu cheiro do outro lado do
planeta. Pelo que me parece, o seu cio se inicia juntamente com a
lua de sangue, o que a deixava mais inquietante e nervosa. Por
esse motivo, resolvi marcar agora a reunião com o Conde Estevan
Russell, já que durante os próximos vinte dias estaria ocupado
somente com a Antonella, e me preparando para o possível ataque
que Eliza está tramando.
— Tudo bem... vamos logo então, quanto mais rápido formos,
mais rápido eu posso voltar para a cama. — Um vampiro apareceu
fazendo uma breve reverência para nós.
— Supremos... por aqui. — falou educadamente andando em
nossa frente.
Começamos a entrar pela residência do conde. Olhei para a
Antonella e vi de relance que ela estava encantada, olhando os
mínimos detalhes da decoração rústica. Quem me dera ao mínimo
conseguir uma boa distração para minha cabeça, mas tudo que
consigo é pensar na vida da Antonella, e como ela corre perigo.
Precisaria sumir logo com Eliza Johnson, mesmo que a opção mais
aconselhável seja falar abertamente com Antonella sobre todas as
coisas de errado que já fiz. Não é todo dia que se chega para o
amor da sua vida e diz que você planejou, com outra mulher, antes
dela nascer, doar o corpo dela. Não necessariamente nesse sentido,
mas sim, eu iria dar o corpo de Antonella para que Eliza pudesse
viver na forma humana novamente. Isso foi antes de me apaixonar
perdidamente por ela. Hoje sei que estou em suas mãos, em todos
os sentidos! O fato é que Eliza tinha que aparecer justamente agora,
atrapalhando tudo e me submetendo a ter que fazer um acordo com
o Conde dos sanguessugas. Não vou reclamar, pois eu sei que
mereço.
— Gente... — me distraio com um dos comentários que
Antonella fazia, assim que viu uma pintura do Conde no corredor.
— O que foi? — perguntei arqueando minha sobrancelha,
assim que paramos em frente a um quadro no corredor.
— Se me falar que ele brilha no sol, eu viro a Bella Swan. —
Revirei os olhos, dando um pequeno peteleco na sua testa quando
ela colocou a mão na boca se tocando com quem estava falando.
— Não seja insolente! — digo com raiva.
— Não fica com raiva, amorzinho, só falei da boca para fora!
— ela colocou as mãos para o alto em forma de rendição quando
voltei a arrastá-la pela cintura.
Especificamente para longe daquele quadro.
— Sua sorte é que quero salvar sua vida. — Voltamos a
caminhar em uma distância razoável do vampiro que nos guiava.
— Não fique com ciúmes. No filme, eu sempre torcia para o
lobo pegar a protagonista. — Antonella dizia e eu não entendia
bulhufas do que ela falava, porém, ela parecia empolgada com essa
história.
— Você sabe que não entendo nada do que você está
falando, não sabe? — a perguntei chegando em frente a uma
grande porta, que dava para a entrada do salão de festa.
— Eu sei, só é literatura humana mesmo. — Ela deu de
ombros.
Olhei para o jovem vampiro que parou abrindo a porta
fazendo uma reverência para entrarmos. Antonella segurou meu
paletó com delicadeza, quando disse baixo achando que o vampiro
não escutaria o que estávamos falando. Acho que às vezes ela
esquece que todos tem a audição apurada.
— Tem algo que eu precise saber?
— Tipo o que?
— Não sei, são vampiros me diga você! — Falou olhando nos
meus olhos.
— Só não deixe que eu mate ninguém. — Disse fechando
minha feição.
Assim que entramos pela porta, a melodia de época parou de
tocar, atraindo a atenção de todos para nós. Olhei seriamente para
todos e achei o conde no segundo andar com os braços sobre o
corrimão. O sorriso que seu rosto esbanjava era muito irônico, o
clima tenso que emanava entre nós era palpável. Antonella segurou
minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus me fazendo manter
minha sanidade e não pular em seu pescoço com o intuito de matá-
lo. Não consegui conter o sorriso irônico que se formou nos meus
lábios assim que seus olhos passaram para um vermelho sangue
rapidamente acendendo e apagando. Estranho, esse tipo de coisa
só acontece quando um vampiro acha uma alma de sangue...
— Estevan Russell. — Falei com ironia, sentindo que meu
lobo estava pronto para atacá-lo.
Lentamente ele desceu as escadas centrais do seu salão de
festa. Quando as pessoas se afastaram do mesmo, ele me ignorou,
olhando Antonella de cima a baixo, especificamente parando com o
olhar sobre sua barriga, o que me fez apertar sua cintura, a trazendo
para mais perto de mim.
— É realmente... — Estevan voltou a olhar para a barriga da
minha mulher contendo um brilho em seu olhar. — Um grande
prazer, tê-los aqui! — completou finalmente olhando no meu rosto.
Capítulo Quarenta

Talvez amar seja isso; Um cacto cheio de espinhos e, mesmo


assim, Continua cuidando até gerar uma flor!

Mih Franklim
Francis

Realmente Estevan não mudou absolutamente nada, seu


traço mais marcante sempre foi o olhar meio demoníaco, que veio
de brinde do demônio do seu pai. Demônio no sentido literário
mesmo. Costumávamos usar esse quesito quando saíamos juntos
para nos divertirmos no meio dos humanos. Foi realmente uma boa
década, o que nunca voltará a se repetir, já que hoje em dia,
considerando o último acontecimento, sou capaz de matá-lo se
ficarmos no mesmo ambiente por mais de meia hora.
— Ahh... eu sou Antonella, prazer em conhecê-lo. —
Antonella estendeu a mão para cumprimentá-lo sorrindo, tentando
quebrar o clima tenso que tinha no local.
— É realmente um grande prazer conhecê-la, Antonella. Ou
deveria chamá-la de Suprema? — pegou sua mão com um sorriso
no rosto e a beijou calmamente, o que fez um rosnado baixo sair da
minha boca, fazendo Antonella sorrir sem graça.
— Não, só me chame de Antonella... — Nella falou
calmamente. A segurei firmemente pela cintura. — Suprema não
pega muito bem! — falou sorrindo, fazendo Estevan concordar com
ela.
— Concordo plenamente com minha senhora. Por aqui, se
me permitem, sigam-me. — Disse formalmente, fazendo um gesto
para o seguirmos.
É, parece que ele ainda tem o vocabulário como o de antes.
Com a mão, Estevan fez um gesto para que a melodia
mórbida voltasse a tocar, fazendo as pessoas no salão começarem
a dançar novamente uma valsa clássica e antiga. Subimos para o
segundo andar e paramos em uma área um pouco mais reservada,
Estevan se sentou em nossa frente com seus dois guardas costas
ao seu lado. Puxei a cadeira para que Antonella se sentasse no meu
lado. O clima parecia ter brasa de tão pesado que se encontrava.
De fato, eu estava inquieto e com uma leve vontade de quebrar o
pescoço de Estevan. Olhando para mim, ele sorriu e fez um
pequeno gesto dispensando seus guardas costas. Afinal, não há
necessidade disso. Tanto eu quanto ele sabemos que são
irrelevantes.
— Confesso que assim que me notificaram que o Supremo
queria ter-me em sua presença, fiquei curioso. — Estevan serviu
vinho em uma taça, em seguida, sangue para ele em outra. Esse
cheiro não era agradável. — Mas agora, conhecendo a minha
senhora, consigo compreender bem o motivo. Eliza, se não me
engano, correto?
— Então você também a conheceu? Santa Selene, não me
diga que ela dormiu com uma geração inteira! — Antonella suspirou
de raiva.
— Não. Eu a conheço, mas não dormi com ela. — A
respondeu. Antonella ficou um pouco constrangida.
— Pelo menos um! — falou me olhando assim que Estevan
reprimiu um pequeno sorriso. O fato de ter dormido com Eliza ainda
mexe com Antonella. Ela fica furiosa mesmo que apenas desconfie.
— Eu vou ajudar. — Estevan disse sendo objetivo, o que me
fez olhar desconfiado. Como ele toparia algo que nem sequer saber
o que é? — Porém, quero ouvir de você. — Sorriu com ironia.
— De mim? — Antonella perguntou não entendendo quando
ele acenou a cabeça negando.
— Não de você, querida! — falou com certa ternura para ela,
o que me fez tentar levantar. Antonella parece ter previsto e segurou
minha mão, me impedindo de arrancar a cabeça dele.
— Como? Se você já sabe de tudo e se já entendeu por que
estamos aqui, por que tenho que falar? — exclamei com raiva,
assim que Antonella deitou-se sobre meu braço enlaçando nossas
mãos. De fato, ela queria evitar uma morte.
— Acha que perderia a oportunidade de ver você se
humilhando por minha ajuda? — com uma risada um pouco
demoníaca, ele jogou a cabeça para trás e apoiou as suas mãos
sobre a mesa sorrindo, se divertindo com toda a situação. —
Vamos, Francis, diga!
— Só nos seus sonhos. — Disse me levantando de uma vez
juntamente com Antonella, que parecia preocupada tentando evitar
que cometesse o homicídio do Conde.
— Não há necessidade disso! — ele disse voltando a beber
sua taça quando nos olhava com calma. — Sei que você não irá
pedir, não custa tentar certo?
— Se controle, Francis! — olhei para Antonella que parecia
preocupada. Colocando uma mão no meu peito, ela disse
calmamente, olhando nos meus olhos. — Se acalma, tudo está
bem!
— Escute sua Companheira, não há necessidade disso,
afinal, não somos selvagens, correto? Bom, não mais! — Estevan o
serviu, fazendo um pequeno gesto para trazerem uma bebida para
Antonella.
— Não entendo. Por que vai ajudar? Você não tem motivos
para isso. — Pensei alto. Ele me respondeu bebendo seu sangue
com um olhar brincalhão no rosto.
— Pela criança, obviamente. — Falou me olhando. Arregalei
os olhos sentindo meu coração se acelerar. — Espere, você não
sabia ainda? Achei que já tinha notado pelo cheiro. — Completou
sorrindo quando Antonella me olhou.
Me aproximei dela e cheirei ao seu redor tentando sentir algo
até que sinto um leve aroma diferente, misturado com o cheiro dela.
Não tinha percebido pelo tanto de coisas que vêm acontecendo e o
cheiro é bem fraco ainda. Sem acreditar muito bem, ela me olhou
um pouco assustada, mas como se tivesse entendido tudo, colocou
a mão sobre a barriga, engolindo seco.
— Não vou te dar nenhum filho meu, se é isso que você
esteja achando. — Me levantei puxando Antonella juntamente
comigo. Me virei, mas Estevan tocou meu braço, me fazendo olhá-
lo.
— Não adianta tentar passar a perna em Selene de novo
Francis. — Disse ao se aproximar com uma taça nas mãos. — Eu
vou adorar tirar seu bem mais precioso, nem que para isso eu tenha
que esperar. E sabe qual é o melhor, Francis? — perguntou
retoricamente quando senti Antonella se contrair com medo nos
meus braços — Você não vai poder fazer nada, porque não se pode
lutar contra o destino.
Sem pensar duas vezes dei um soco em sua boca, o fazendo
cambalear um pouco. A música parou e todos olharam para nós,
esperando que iniciássemos uma guerra, mas ele apenas levantou-
se sorrindo, arrumou seu terno e voltou a se sentar. Coloquei as
mãos sobre a mesa e rugi deixando meu lobo enfurecido, meus
olhos ficaram vermelhos e a vontade de matá-lo aumentou em
100%. Apertei a madeira da mesa sentindo-a estalar em minhas
mãos. Estevan me encarou seriamente quando retribui o olhar.
— Eu faço o meu destino.
Capítulo Quarenta e Um

O amor não é cruel.


A crueldade está nos corações humanos.

Mih Franklim
Antonella

Senti minha cabeça rodar e as borboletas, que faziam


morada no meu estômago desde que cheguei nessa cidade,
pareciam que triplicaram em quantidade, minha pele gelava
completamente. Eu já estava com uma enorme dor de cabeça e me
sentindo inchada devido à lua de sangue que começaria essa noite.
Sem falar que Mia disse que eu poderia estar no cio. Isso explicaria
meu lado 100% tarado quando Francis se aproximava de mim. Ele
parecia ser um pedaço de mau caminho que me chamava para o
sexo a cada instante.
Porém, o mundo parece ter parado nesse exato momento.
Olhei para o Francis, que estava com bastante raiva. Quando o
Conde Estevan finalmente começou a levar a sério o que estávamos
falando aqui, segurei o braço do Francis assim que a música parou
e todos olharam para nós. O clima era quase palpável, havia tensão
no ar. Era evidente que Francis estava tentando se segurar para não
se transformar.
— Calma, vamos acabar logo com isso! — enlacei minhas
mãos na do Francis, que rosnou de raiva quando comecei a arrastá-
lo para uma espécie de escritório que o conde nos levava.
Um grande nó parecia ter se formado em minha garganta. Eu
estava grávida? Obviamente, eu desconfiava pela mudança do meu
corpo nessas últimas semanas, porém, deixei para lá, achando que
poderia ser uma mudança devido à lua de sangue e ao meu cio.
Céus, eu só tenho dezoito anos! Evidentemente isso não é bom,
não sei ser mãe. E justamente nesse momento? Justamente quando
Eliza está atrás de mim? Eu estou colocando a vida dessa possível
criança em risco. Santa Selene, eu só queria ir para casa dormir, ou
forçar o Francis a fazer alguma massagem nas minhas costas, já
que meu corpo parece estar pegando fogo cada hora que passa.
— Não fique nervosa, vamos acabar logo com essa conversa
e, quando chegarmos em casa, conversaremos sobre isso juntos. —
Francis apertou minhas mãos e suspirou se controlando devido ao
meu estado mórbido.
Alguém me bata, por favor, eu só consigo pensar em sexo
nesse exato momento. Calma, calma, lembra, você está grávida,
Antonella!
— Desculpe-me por ter sido direto, não sabia que vocês não
haviam percebido ainda. — O conde disse fechando a porta do
escritório enquanto voltava a nós olhar. — Se a presença de Eliza
incomodou tanto vocês ao ponto de o Supremo recorrer a minha
ajuda, receio que seja algo muito sério. —Estevan parou em nossa
frente.
— Sim, Eliza está poderosa. Ela está obviamente envolvida
com magia negra, está usando e transformando ômegas em
escravos das trevas... — digo o respondendo, já que Francis ainda
tentava se acalmar. Eu entendo, controlar seu lobo quando ele está
louco para tomar o controle, não é fácil. Eu que o diga!
— Interessante. Por que Eliza está atacando sua própria
espécie? — perguntou parecendo curioso.
— Bom... bom... — fui interrompida pelo Francis, que colocou
suas mãos sobre meu ombro, me puxando para me apoiar nele.
— Eliza quer o corpo da Antonella. — Francis foi direto ao
ponto e eu suspirei. Falando dessa forma até parece que ela quer
me comer! Não no sentindo literal.
— O corpo de sua companheira? Mas isso não pode ter
procedência! Mataria a criança. — Estevan falou trincando a
mandíbula quando passava a mão sobre seu rosto. Senti meus pés
fraquejarem. Matar?!
— E não vai ter! Não permitirei. — Francis disse parando ao
meu lado, passando suas mãos por minha cintura.
Quem não vai permitir sou eu, ora!
— Como eu disse, ajudarei. — Falou gesticulando com as
mãos.
— De que forma? Com tropas? — Francis perguntou
arqueando uma sobrancelha sem entender. — Não acho adequado
misturar lobos e vampiros em uma guerra, isso me parece que não
daria um bom resultado.
— Concordo, acabaria relutando em alguma guerra
individual. Disse que ajudaria. Se tem uma coisa que descobri
durante todo meu período existencial e creio que você também, é
que, se quer algo bem feito, faça você mesmo, certo? — Ele
colocou as mãos dentro do bolso e nos olhou.
— Está dizendo que você irá lutar? — Francis parecia não
acreditar quando ele concordou.
— Exatamente, meu caro amigo, você mais que ninguém
sabe que, quando se trata de algo meu, eu mesmo faço o serviço!
— escorou-se sobre a mesa que tinha no escritório.
— Se for por esse motivo, não precisaremos de sua ajuda,
afinal, não tem nada seu aqui. — Francis suspirava e tentava me
puxar para fora da sala.
Evidentemente, já estava ficando nervosa com isso tudo. A
dor no meu corpo tinha aumentado e agora o fato de eu estar
grávida estava escancarado na minha testa. Ainda estou digerindo
isso. Sem falar que, se Eliza conseguir o que quer, mataria meu filho
e isso eu não permitiria. Mesmo que não esteja 100% bem para
pensar em como serei mãe, deixar meu bebê morrer está fora de
questão!
— Acho que você não se deu conta ainda, mas deixe que eu
explique para você, Francis. — Estevan parou novamente em nossa
frente apontando o dedo de uma forma discreta na minha barriga, e
continuou a dizer. — A criança me pertence! Não estou fazendo isso
por você. Mesmo que tenhamos um passado amistoso. — Sinto a
tensão pelo corpo do Francis, ele estava nervoso.
— A criança te pertence? Como? — sem entender em que
sentido ele dizia, coloquei a mão sobre a barriga, sentindo um
friozinho no estômago.
— Você sabe, minha querida! Esse negócio todo de
companheirismo, e laço de sangue, entre outras coisas. — Deu de
ombros. — Irônico, a deusa da lua parece estar querendo brincar
conosco. — Estevan sorri com um pouco de ironia.
— Mas como você sabe? Digo...
— Um vampiro não é igual a um lobo, podemos conhecer
nossos laços de sangue ainda que eles estejam sendo gerados. —
O conde Estevan me respondeu com calma.
—Tudo bem, queremos sua ajuda. — Acenei com a cabeça
seriamente.
— Antonella! — Francis falou me repreendendo.
— Não, Francis, não seja infantil. Sabemos que precisamos
da ajuda dele, se não precisássemos, não estaríamos aqui, certo?
— coloquei a mão na cintura já sem paciência com essa ladainha
deles. Pelo amor de Selene! — Vá daqui dois dias na alcateia, você
será bem-vindo para planejarmos o plano de ataque.
— Certo! Daqui dois dias? Querem um prazo maior? Eu
entendo que esteja na lua de sangue... Compreendo que vocês
possam estar um pouco ocupados... — Estevan dizia com um
sorriso um pouco malicioso no rosto.
— Não, dois dias está ótimo. Eliza pode estar planejando
atacar na lua de sangue, por isso, vamos nós três na linha de frente.
— Voltei para o lado de Francis, que protestou rosnando, me
fazendo rosnar para ele da mesma forma.
— Não, você não vai lutar na linha de frente. — Ele disse me
fazendo olhá-lo.
— Eu tenho que concordar com Francis, seria colocar você
em risco e, colocando você em risco, colocaria a criança. — O
conde disse olhando para mim da mesma forma que o Francis.
— Ah, calem a boca! Vocês estão até agora trocando farpas
pelo passado de vocês. Eu vou lutar sim, isso não se trata do
passado, ou pelo fato de Eliza querer meu corpo. — Comecei andar
para sair do escritório do conde Estevan, parei perto da porta
esperando o Francis para irmos embora. — Ninguém vai machucar
esse bebê! Eliza não me tinha como inimiga, até agora.
Capítulo Quarenta e Dois

Para muitas pessoas, isso é sinal de amor e humildade.


Mas, na verdade, a humildade se resume Também em cuidar
de nós mesmos, Nós reconhecermos pequenos e fracos!

Mih Franklim
Antonella
Gostaria de ressaltar que estar no 'cio' tem me deixado
completamente louca por sexo. E isso, por um lado não é bom, já
que não consigo raciocinar direto. Quando isso acabar, vai rolar
greve de sexo por meses e olhe lá. Por outro lado, Francis também
está igual a mim, bom, não exatamente igual, já que ele consegue
ter um controle maior do que o meu quando o assunto é sexo. A
questão é a péssima hora para estar no cio, péssima hora para
começar a lua de sangue, péssima hora para estar grávida. Não
parece ter caído a ficha ainda. Às vezes, eu me esqueço de que
estou grávida, o que me deixa em choque quando lembro que estou.
Eu sei, quem diria, Antonella sendo mãe?! Eu nunca me vi
nesse papel, mas já consigo amar mais que minha própria vida esse
bebê. E isso inclui protegê-lo a todo custo, o que me faz pensar em
diversas formas de matar Eliza Johnson. Conversei com Francis e
ela é imortal, digo, é um espírito, não tem nada que a mate. Bom,
ainda.
Meus pais ainda não sabem sobre a gravidez, resolvemos
não contar para ninguém ainda, já que estamos em guerra
constante com Eliza e seus aliados das trevas. Depois que
chegamos da casa do Conde Estevan, não conversamos
civilizadamente ainda sobre o bebê, já que eu venho atacando
sempre o Francis sempre que ele chega perto de mim. Se eu já o
achava atraente antes, triplicou em 100%. Francis era como um
pedaço de imã que me chamava para ele a todo instante. Seu
corpo, seu cheiro, seus toques, cada parte de minha loba gritava e
uivava por ele a cada momento, o que era cansativo.
Parando para analisar minha vida, eu nunca diria que, em
sete meses eu estaria casada, faria uma prova para acabar os
estudos, me tornaria a Luna Suprema, descobriria que era uma loba
e estaria grávida. É, acho que isso que é realmente uma mudança
radical.
Ainda deitada sobre o peito do Francis, suspirei cansada.
Nunca achei que me cansaria de fazer sexo com ele. Passei minhas
mãos sobre seu abdômen, fazendo leves círculos em sua pele
quando sentia suas carícias no meu cabelo. Está bem, não me
cansei, já estou prontinha para uma segunda rodada.
— Você vai querer participar da reunião de ataque com o
Conde hoje? — Francis perguntava fazendo carícias no meu cabelo.
— Óbvio que sim! — dei um leve beijo no seu pescoço
sentindo sua pele quente. — O que foi? Por que está pensativo? —
perguntei o olhando, já que ele estava fitando o teto.
— Acho que agora que está grávida, finalmente vou
envelhecer. — Respondeu-me com um pouco de ironia.
— Já está na hora, não? — digo sorrindo quando comecei a
fazer carinho na pele do seu pescoço. — Vai ficar muito gostoso de
cabelos grisalhos. — Francis sorri de uma forma gostosa. Apertando
minha cintura, passou sua mão sobre minha barriga, o que fez meu
coração se derreter.
— Não é isso que me preocupa, só o fato de envelhecer ao
seu lado já me deixa incondicionalmente feliz. — Francis começou a
fazer uma leve carícia na minha barriga.
— O que te preocupa, então? — fechei os olhos sentindo
suas carícias.
— Nossa bebê, além de ser a companheira daquele
sanguessuga, vai herdar o lugar de supremo, já pensou nisso? —
me olhou um pouco preocupado. — Vai ser tão difícil para ela, sem
contar que lidar com o mundo sobrenatural, não vai ser fácil e... — o
interrompi colocando um dedo sobre seus lábios.
— Eu entendo sua preocupação, contudo isso é algo que não
podemos evitar. Vai ser a aventura dela, ela vai ter que viver sua
própria história sozinha. — Suspirei. — Vamos estar aqui para ela,
só que não poderemos protegê-la de tudo, nem de todos. — Olhei
em seus olhos. — Eu entendo que você tem algo com o Conde que
faz você ter raiva dele, mas, se Selene o escolheu para nossa
lobinha... não poderemos evitar. — Disse sorrindo sem mostrar os
dentes.
— Nossa filhote não será obrigada a viver um destino que ela
não queira. — Francis diz apreensivo.
— Sim, mas sem sombras de dúvidas, ela vai querer vivê-lo.
— Digo sorrindo ao suspirar. Sentia meu corpo voltar com o leve
formigamento incômodo que ele está por causa da lua de sangue.
Até parece que preciso de sexo para viver.
— Por que diz isso? — Francis me perguntou arqueando uma
sobrancelha assim que cheirou o ar ao meu redor.
— Porque eu quis viver o meu destino. — Falei o olhando.
Francis parou de me cheirar. — Eu escolhi viver meu destino com
você, mesmo que eu tenha tido outra opção. Eu poderia ter criado o
meu próprio destino, digo... suponhamos que eu escolhesse me
casar com Hugo e viver com ele para o resto da vida. — Francis
rosnou em reprovação só pelo simples fato de falar o nome do
Hugo.
— Não fale isso nem brincando, você é minha! — me
prendeu nos seus braços, colocando o rosto na curvatura do meu
pescoço, me fazendo sorrir.
— Eu sei que sou sua, mas isso não tiraria o fato que, se eu
quisesse, poderia criar meu próprio destino. — Fiz carícias nos seus
cabelos. — Nosso destino está pronto, mas nós decidimos vivê-lo. E
eu quero que me prometa que não vai decidir isso pela nossa filha,
nem influenciar em nada o destino dela. — Segurei seu rosto para
olhar nos seus olhos.
— Tudo bem, eu prometo. — Francis suspirou com um pouco
de relutância.
— Muito bem. — Digo dando viários beijos por seu rosto.
— O cheiro do nosso filhote ainda está bastante fraco e
quase não é reconhecível. Bom, acho que o fato de estarmos na da
lua de sangue ajuda a encobrir o cheiro dela. — Ele disse
segurando minha cintura com um pouco mais de força, colocando
seu rosto em meu pescoço, me cheirando.
— Ainda não consigo sentir o cheiro dela! — fiz um biquinho
quando ele sorriu. — Você tem sorte que eu estou de bom humor e
não ligo que você a chame de filhote. — O sorriso do seu rosto
aumentou e vi uma leve ironia no seu olhar.
— Quando passar o seu cio, você vai sentir, é quase tão bom
quanto o seu! De uma forma diferente, mas é bom. — Francis deu
um beijo em meu pescoço. — Por que não liga mais que eu diga
filhote? — fingiu desapontamento por não conseguir me estressar
mais.
— Porque você fica extremamente lindo quando está fofo.
Quando está fofo, você fica sexy. — Respondo-o sem pensar, o que
fez ele sorrir alto com uma gargalhada gostosa de se ouvir.
Com um pequeno susto, dei um gritinho quando ele me virou,
ficando por cima de mim. Sorrindo, ele desceu com os lábios e
depositou um pequeno e terno beijo na minha barriga, o que fez
meu coração se despedaçar de amor.
Capítulo Quarenta e três

O fim definitivamente É o recomeço mais lindo que Podemos


ter.

Mih Franklim
Antonella

— Filha, você realmente está bem? — minha mãe perguntou


pela 10° vez quando me abraçou.
—Sim, mãe, eu já disse. — Falei me sentando na varanda da
sacada do meu quarto e do Francis.
Assim que meus pais descobriram que estamos sendo
atacados e que o motivo era eu, voltaram correndo para alcateia e
chegaram hoje. Bom, ainda estamos na lua de sangue, só que com
tudo que está acontecendo, não consigo ficar muito tempo com
Francis. O que é horrível e revoltante, digo, só eu absolutamente
sinto dor, e o Francis, se ele sente, consegue disfarçar bem, porque
não aparenta. Enfim, eu fico o dia todo trancada nesse quarto e o
Francis até fica um pouco de tempo comigo, mas sempre que tem
notícias sobre os ataques de Eliza, ele dá uma volta na alcateia para
fazer uma ronda.
Agora ele saiu porque recebeu uma notícia do Conde
Estevan e foi verificar juntamente com ele. Como faltava apenas três
dias para a lua de sangue acabar, os sintomas do meu corpo não
eram mais fortes como nos primeiros dias, porém, meu corpo ainda
estava louco pelo do Francis.
Meus pais não sabiam da minha gravidez, eu e Francis
decidimos anunciá-la apenas depois que acabarmos com tudo isso.
— Eu fiquei preocupada, por que não me contou antes sobre
os ataques? — minha mãe falou segurando minha mão quando meu
pai entrou no quarto bebendo água.
— Pela segurança de vocês. Eu sabia que viriam, aqui vocês
estão correndo risco. — Sorri desanimada assim que cruzei minhas
pernas. — Por esse motivo, vou pedir que voltem para Rosnov, ou
vão até mesmo para Nova York.
— Como? Até parece que vamos deixar você aqui nessa
situação, Antonella! — minha mãe me repreendeu me fazendo
sorrir. Segurei sua mão, assim que meu pai se sentou do seu lado.
— Eu estou bem, tem o Francis e o Conde Estevan. E,
também, não sou nenhuma mocinha indefesa, mamãe!
— Como não é indefesa? Você não mata nem uma barata,
faz um escândalo quando vê uma. — Meu pai disse me fazendo rir.
— Não comparem aquele monstro com Eliza. — Fiz uma
careta. — É sério, vão ao menos para Nova York. Vocês correm
risco e eu não me perdoaria se acontecesse algo com vocês.
— Não vamos voltar, vamos ficar e lutar com você. — Minha
mãe falou. Acenei negando com a cabeça.
— Não, não, não! Nesse caso, eu exijo como Luna de vocês
que voltem.
— Não pode fazer isso conosco, essa lei não funciona com
sua mãe! — mamãe falou como sempre dramática.
— Querida, na verdade, ela pode sim. — Meu pai tentou falar,
porém ganhou um pequeno tapa no seu ombro.
— Injustiça! Antonella, nos deixe ajudar. — Falou como se
estivesse se dando por vencida.
— Vocês vão ajudar estando em segurança. — Digo vendo-a
bufar. Papai segurou sua mão, tentando confortá-la. — Vou mandar
uma mensagem para o Josias, o motorista de Francis, para levar
vocês de volta.
— Nosso motorista! — Francis apareceu dizendo, ao entrar
no quarto um pouco suado.
Santa lobinha, que golpe baixo! Olhei para ele engolindo
seco, era injustiça eu não conseguir me controlar direito quando ele
estava perto. Sorrindo, assim que percebeu o efeito que causou em
mim, se aproximou e deixou um rápido selinho nos meus lábios, e
voltou a olhar para os meus pais. A lua de sangue para lobos
normais havia acabado há quatro dias e a nossa ainda não. Isso era
revoltante, gente! Além de começarmos antes, acabamos depois.
— Senhor e Senhora Johnson, não fui informado que
estavam na alcateia, tem muito tempo que chegaram? — Francis
perguntou assim que pegou na mão do meu pai, o cumprimentando,
em seguida, recebeu um beijo na bochecha da minha mãe.
— Não faz muito tempo, mas, pelo que me parece, já
estamos de saída. Antonella não nos quer aqui até que tenham
capturado Eliza. — Meu pai dizia com calma.
— Não é que não quero vocês aqui, é um risco muito alto. Já
pensou se Eliza captura um de vocês e usa como chantagem? —
digo o olhando e ele concordou.
— Mesmo assim, somos ótimos lobos de ataque! — minha
mãe falou me fazendo sorrir e segurar sua mão.
— Nesse caso, eu tenho que concordar com Antonella, é
perigoso que vocês fiquem aqui. Os ataques estão aumentando
cada vez mais. — Francis disse apoiando por trás da cadeira que eu
estava, o que me incomodou.
Santa lobinha o seu cheiro...
— Se vocês acham melhor, vamos para Nova York. — Meu
pai pronunciou-se me fazendo suspirar aliviada. — Se você se sente
melhor assim, minha filha... — sorri quando ele segurou minhas
mãos me olhando com ternura.
— Obrigada! — segurei a mão do meu pai de leve.
Logo depois que mandei a mensagem para Josias, Francis
saiu novamente. Me parece que as coisas estão movimentadas
hoje, então fiz questão de despachar logo meus pais para um lugar
mais seguro. Eu estou inquieta e confesso que com uma sensação
não muito boa, o que me deixa um pouco sem reação.
Olhei para minha mãe, que estava um pouco emburrada, ela
entrou no carro, o que me fez sorrir negando com a cabeça. Ela não
queria ir embora, mas se era para a segurança dela, eu a mandaria
embora nem que fosse a força.
— Filha, não se preocupe com sua mãe, isso é só um pouco
de pirraça, você sabe que puxou completamente a ela. — Meu pai
diz me abraçando.
— Eu não faço pirraça! — digo sorrindo quando me apoiei na
janela do carro assim que ele entrou e abaixou o vidro.
— Antonella, você e sua mãe são como fogo, céus! — meu
pai falou passando uma mão em seus cabelos.
— Mia? O que faz aqui? — fiquei surpresa quando a vi com
uma cara nada boa no banco de trás da limusine segurando a mão
de uma mulher de cabelos loiros curtos.
— Lun-na? — a mulher me fez sorrir ao olhar a reverência
que ela fez, um pouco desajeitada.
— Prazer, Antonella. Desculpe, eu te conheço? — Josias
tocou meu ombro fazendo uma reverência para que eu olhasse para
ele.
— Luna, o pedido do beta do Supremo era para levar a sua
companheira em segurança juntamente com seus pais... e,
aproveitando a viagem, Thomas também mandou que levasse a sua
companheira... eu achei que não teria problema fazer apenas uma
viagem... — Josias falou um pouco preocupado.
—Tudo bem, Josias, não há problema algum! — ele fez uma
reverência e entrou no carro quando eu voltei a ficar no vidro.
— Então você é a companheira do Thomas? Não sabia que
ele tinha uma... — a olhei vendo que ela era bonita; cabelos loiros
curtos cacheados, olhos verdes e baixinha. Parecia uma boneca!
— Sim, me chamo Amanda somos companheiros há um ano
já... — ela sorri quando Mia bufou, ela obviamente estava indo
obrigada.
— É um grande prazer em conhecê-la! — Mia me olhou
fazendo um rosto de cachorrinho.
— Nella, por favor, eu não quero ir! — Mia falava esperando
que eu fizesse algo.
— Eu sei que não quer, mas não posso interferir nisso. — Ao
dizer isso, minha amiga colocou a mão em seu peito se fazendo de
chocada.
— Como não? Você é a Luna. — Balancei a cabeça
negativamente.
— Vou ver o que eu posso fazer. — Pisquei para ela. Assim
que minha mãe me olhou com uma cara nada boa, me afastei do
carro antes que isso desse em morte. — Até mais! — digo
acenando vendo o carro se distanciar.
Suspirei aliviada, pelo menos eles estariam a salvo e em
segurança, voltei para dentro de casa dando um grande suspiro alto.
Francis saiu novamente e não voltou ainda, me parece que hoje as
coisas estão realmente sérias, entrei e subi rapidamente as escadas
passando pelos seguranças que ele tinha arrumado. A casa ficava
lotada de gente, sorri para eles e acenei com a cabeça.
Assim que entrei no quarto, tranquei a porta suspirando alto,
mas logo um calafrio percorreu todo meu corpo, meu coração se
acelerou na medida em que me virava lentamente para trás. Meu
sorriso se foi assim que vi uma mulher de cabelos ruivos deitada na
minha cama.
— Finalmente nos encontramos, Antonella.
Capítulo Quarenta e Quatro

O jogo começou.
Cabe a nós jogarmos da forma correta, cabe a nós deixarmos
fluir e ver quem realmente merece ganhar.

Mih Franklim
Antonella

— Eliza... — digo engolindo seco.


— Bingo! — ela sorri de uma forma irônica. — Realmente
nosso encontro demorou a acontecer, não é mesmo?
Encostei na parede com a respiração um pouco desregulada,
me lembrei que Eliza mudava de corpo facilmente, então esse corpo
era o 20° nessa semana. Ela aparentava ter quarenta anos, porém,
era muito vistosa. Cabelos ruivos tingidos que iam até o meio de
suas costas, um corpo escultural muito maior do que eu. Seu olhar
era completamente sombrio, o que me fez temê-la. Engoli seco e
mantive a postura.
— O que faz aqui? Não acha arriscado vir diretamente na
boca do lobo? — falei com certa ironia que a fez rir.
— Se eu temesse o Francis teria desistido há tempos, não?
— ela se sentou na cama e cruzou as pernas. — Ele não me
machucaria!
— E por que acha que ele não a machucaria? — perguntei
quando parei perto da janela para olhá-la.
— Você machucaria seu primeiro amor? — ela me perguntou
com ironia quando arqueei uma sobrancelha para ela.
— Como? — a olhei sentindo uma pequena dor no coração.
— Não seja ingênua, querida Antonella! Acha mesmo que eu
conseguiria o corpo de alguém sem o consentimento do Supremo?
— Eliza revirou os olhos quando voltou a me olhar, inclinando o
rosto para o lado com um sorriso diabólico nos seus lábios. — Você
não sabia...
— Do que está falando? — disse assim que ela começou a
andar calmamente até me encurralar na parede do quarto. Uma de
suas unhas passou levemente por minha bochecha, me fazendo
arrepiar completamente de medo.
— Não acho justo você morrer sem saber da história. —
Falou sorrindo quando desceu com a unha até meu pescoço,
apertando levemente minha pele.
Nesse momento, minha vontade era de gritar e correr, mas
olhei seriamente para ela que sorria me desafiando com o olhar.
Minha loba queria sair a qualquer custo, o nosso foco era realmente
defender o meu bebê.
— Quando conheci Francis, sabia que ele poderia me dar o
que eu tanto almejava. — Andou calmamente pelo quarto enquanto
mexia nas coisas sorrindo sem fazer bagunça.
Que enxerida!
— E o que seria? — perguntei entrando no seu jogo.
— Poder. — Respondeu me olhando. — Francis era jovem e
havia sido criado justamente para ser o Supremo. Desde quando
nasceu, sem mãe, sem pai, sem família e sem amigos. Criado por
três anciãs escolhidas pela deusa da lua, e adivinha quem foi uma
delas?
— Elizabeth Johnson... — sussurrei colocando a mão na
minha boca enquanto sentia meu coração se apertar.
— Exatamente! Minha mãe. — Ela fez uma pequena careta
irônica e continuou a falar, algo me dizia que eu não gostaria de
ouvir nada disso. — Você sabe, nossos ancestrais são
problemáticos e tudo isso, blá-blá-blá... — fez novamente uma
careta quando se jogou na cama sorrindo, me olhando.
Fui para cima dela, só que ela apenas estendeu a mão, me
fazendo arfar assim que minhas costas se chocaram contra a
parede. Minha loba está querendo sair e tomar todo o controle e eu
lutava para isso não acontecer, não queria estragar tudo e agir com
impulsividade, então a segurava ao máximo, o que me fazia rosnar,
tendo a certeza que meus olhos estão azuis nesse momento.
— Que coisa feia... deixe-me terminar, minha querida! —
Eliza dizia negando com a cabeça quando levantou a mão, me
subindo completamente na parede, tirando os meus pés do chão.
Parecia que eu estava sendo sufocada por alguém invisível.
— Eliza... — sussurrei seu nome um pouco sufocada,
sentindo a raiva me dominar. Se eu sair daqui, vou estraçalhar essa
mulher em pedaços.
— Continuando... Francis era muito poderoso, hoje em dia
não, ele não é nada! Bom, nada comparado ao que já foi. — Ela deu
de ombros. — Mas, antigamente, ele tinha o acesso completo da
magia, tanto da negra quanto da branca, sem falar que era o único
que entrava no mundo espiritual na hora que quisesse... eu
precisava disso. Odiava a transformação, odiava ser uma loba,
entã... — a interrompi sentindo meu coração se acelerar no
momento que vi a luxúria transbordar dos seus olhos.
— Você o usou... — digo a vendo concordar com um sorriso.
— Você não é tão burra quanto achei que fosse! — Eliza se
levantou da cama dando a volta no quarto novamente, parando na
janela. — Não foi um sacrifício dormir com ele. Foi a penas
diversão, bom, pelo menos da minha parte.
— Quando eu me soltar, vou te estraçalhar tanto que vai ter
tripas suas até no teto. — Um rosnado alto saiu dos meus lábios a
vendo sorrir.
— Sou imortal, e mesmo que você consiga se soltar da minha
magia e atingir esse corpo, eu não morreria. — Eliza parou ao lado
da janela, me olhando completamente irônica.
— Escute bem, Eliza... eu vou achar uma forma de te matar,
todos têm um ponto fraco... e, quando eu descobrir qual é o seu,
vou usá-lo da forma mais lenta possível, até ver você desfalecer
lentamente por minhas mãos. — Falei calmamente para que ela
entendesse cada palavra, o que a deixou séria quando dei um
impulso quase me soltando, mas ela logo ergueu a outra mão me
pressionando mais na parede.
— Ah, onde eu estava? Ah, vejamos, na parte que dormi com
o Francis diversas vezes. Devo dizer, ele é bom de cama
realmente... às vezes, sinto falta... — me provocou quando dei outro
impulso sentindo meu corpo bater fortemente na parede.
— CALA A BOCA! — gritei sentindo meu coração se corroer
pela raiva que sentia. Abaixei a cabeça e suspirei alto. Minha
respiração realmente está muito desregulada.
— Não entende, Antonella? Eu precisava ter acesso total à
magia e eu sabia dos riscos que teria, eu iria perder meu corpo e o
Francis? Bom, o Francis perderia 50% do seu comando como
Supremo. — Ela dizia quando eu voltei a olhá-la.
— Como?... Se você sabia que perderia seu corpo, por que
fez? — um sorriso surgiu no seu rosto assim que ela veio
caminhando lentamente em minha direção.
— É aí que você entra! Eu já tinha o Francis e a magia negra.
Só que queria mais, eu queria o controle total da magia branca
também, e adivinha onde ela está? — com ironia, ela desceu com
uma de suas mãos da minha bochecha, até parar no meu coração,
que disparou rapidamente. — Está em você, Antonella! Eu só
precisava que o Francis caísse no meu jogo e desse o seu corpo
para mim, como ele é o Supremo, preciso da confirmação dele para
qualquer coisa.
— Como Francis... — começo a dizer quando ela desceu
meu corpo da parede e deixou que meus pés tocassem o chão
novamente, mas continuava me pressionando de uma maneira que
não conseguiria me mover.
— Eu não quero só o seu corpo para poder viver
normalmente, eu quero o que Selene deixou para você guardar. A
grande companheira do Supremo... — dizer com ironia. — A
primeiríssima loba branca, a que trará de volta o poder do Francis, a
mãe do primeiro híbrido... — me olhou nos olhos.
Olhei perdidamente para o nada por um tempo sentindo meu
coração se quebrando. Eu estava com raiva, mas a sensação de
que fui traída me preencheu da pior forma possível. Francis havia
me traído, ele traiu a confiança que eu tinha por ele. Nem Eliza na
minha frente poderia ser pior do que a dor que estou sentindo. Sinto
uma lágrima escorrer pelos meus olhos e Eliza a enxugou com certa
ironia, me impossibilitando de me mexer.
Receber todas as respostas nunca foi tão dolorido!
— Pobre criança, não chore, eu vou acabar com esse
sofrimento... — falou segurando meu queixo olhando nos meus
olhos.
Seus olhos esbanjam luxúria e poder. Um barulho alto fez
com que nossos olhares voltassem para a porta, que foi
completamente estraçalhada.
— Antonella! — Francis entrou no quarto abrindo a porta de
uma única vez, soltando um rosnado e logo se transformando no
imenso lobo preto que eu tanto conhecia.
— Que bom que você chegou para a festa, Francis! — Eliza
sorriu assim que soltou o meu queixo.
Capítulo Quarenta e Cinco

Para uma nova estrela que se vai Outra chega para brilhar,
Para um novo fim que se termina, Outro recomeça para nos ensinar!

Mih Franklim
Antonella
Francis pulou em cima de Eliza Johnson rosnando
completamente alto, era impossível não ver sua raiva. Nunca tinha
visto ele dessa maneira. Suas patas pressionavam com força o
ombro de Eliza e, com uma cara de dor, ela soltou um gemido assim
que suas unhas cortaram profundamente a pele do seu ombro.
Assim que ela se distraiu com a dor, eu caí no chão. Coloquei
rapidamente minhas mãos no meu pescoço, suspirando aliviada. Eu
estava completamente sufocada. Eliza estava me matando
sufocada.
— Você está bem? — olhei para o lado quando o Conde
Estevan apareceu e segurou minha mão, me levantando.
Como ele ainda pergunta isso?
— Não, não estou nada bem! — falei ao seu lado assim que
ele me segurou pelo ombro, me arrastando, tentando me tirar do
quarto.
Paramos de andar quando Eliza empurrou Francis na nossa
frente, o fazendo voltar na forma humana, batendo com força o seu
corpo na parede ao ser arremessado para longe dela. Os olhos de
Eliza ficaram completamente negros e alguns dos seus fios de
cabelos flutuam, era evidente a enorme nuvem negra em sua volta.
Ela olhou para nós, o que me fez suspirar e cada parte do meu
corpo ter uma descarga elétrica. Eliza me jogou novamente na
parede, me fazendo grunhir de dor, sentia novamente o
sufocamento no meu pescoço. Olhei para o lado vendo o Conde ser
arremessado ao lado do Francis. Santa lobinha, ela parece um
demônio com os olhos negros e com sangue escorrendo das suas
roupas. Um sorriso demoníaco se formou em seu rosto quando
alguns de seus cabelos flutuam em volta do seu corpo.
Nada nem ninguém havia me preparado para isso.
— Calma... Nella. — Francis tentava se levantar e ir até mim,
mas não conseguia sequer olhar no seu rosto. Ele era o causador
de tudo isso. E tenho certeza que ele sabia como estava me
sentindo, seu olhar preocupado o entregava.
Francis havia colocado minha filha em risco, traído minha
confiança e agora como ele está? Igual a mim, igual ao Conde, igual
a minha filha. Correndo perigo. Eliza estava certa. Talvez Francis
não fosse forte como antes, talvez o que ele fez cortou
completamente o meu coração em migalhas, além de ter perdido
grande parte dos seus poderes, mas, nesse exato momento só
consigo pensar em como vê-lo no chão dessa forma, sem conseguir
reagir, me deixa mais destruída ainda.
— Como você consegue? — Eliza me perguntou levantando-
me novamente na parede sem me tocar fazendo Francis rosnar,
sendo mantido no chão.
Não imaginava que o nível de poder de Eliza era extremo.
Eliza estava ofegante e com os cabelos despenteados devido ao
tombo que teve no chão quando Francis a derrubou. Um grande
corte no seu rosto escorria sangue completamente por todo seu
corpo, juntamente com os cortes feitos pelo o lobo do Francis no
seu ombro. A expressão facial de Eliza mantinha a fúria estampada
nos olhos, pela primeira vez, Eliza não estava sendo irônica. O
Conde Estevan foi para cima dela, mas, antes que ele chegasse até
ela, foi arremessado na parede parando perto do Francis, que
tentava de todo custo se soltar da sua armadilha.
— Como você conseguiu unir esses dois? — com fúria Eliza
falava, usando evidentemente o máximo de sua força para prender
os dois no chão. — Eu fiz de tudo para mantê-los afastados nesse
período e você os uniu? Você é realmente surpreendente, Antonella.
Finalmente uma inimiga a altura. — Virei meu rosto para ela,
suspirando pesadamente. A essa altura, meus olhos estavam
completamente azuis e minha loba já estava me tomando por
inteiro.
— Você nunca muda com esses joguinhos mentais? —
Francis rosnou entre dentes, o que a fez sorrir.
— Funcionou com você, não é mesmo? — Eliza falou no
mesmo momento que rosnei. Me ignorando, ela começou a falar
alto. — Triste, então usei Tyler Russell à toa como fantoche? Não
funcionou em absolutamente nada. — Bufou com ironia quando o
Conde a olhou com os olhos completamente vermelhos, deixando
que suas presas aparecessem. Algumas veias saltitaram do seu
rosto. Céus, ele me dava medo!
Olhei para os dois que estavam um pouco abaixo de mim,
tudo fazia sentindo agora. O ataque na floresta, o vampiro que me
atacou, então foi premeditado por Eliza? Ela planejou tudo! Vaca
oxigenada, então fomos fantoches em seu circo? Eu vou arrancar a
cabeça dessa mulher!
— Usar o irmão do Conde de fantoche para que o grande
Supremo o matasse e assim iniciar uma guerra para distração foi
um ótimo golpe. — Eliza me olhou. — Lhe admiro por conseguir
domar essa situação. — Admiro eu estar presa aqui, se não, estaria
fazendo você comer seu próprio cabelo tingido de tinta vermelha
barata de farmácia.
Olhei para ela que sorriu ironicamente, de repente, em um
gesto rápido, sem que conseguíssemos medir, Eliza é surpreendida
por trás pelo Conde Estevan, que conseguiu se soltar e a segurou
pelo pescoço com uma mão, a enforcando. Ele estava irado! Pela
primeira vez, senti medo dele, nunca tinha o visto dessa forma.
Seus olhos eram negros e saltitavam diversas veias enormes pretas
por seu rosto, e seus dentes? Somente de olhá-los dessa forma já
me dava calafrios. Ele parece um demônio, ele é um demônio!
— Vocês são fracos. — Eliza sorriu assim que arrancou uma
pequena faca acertando na perna do Francis, que rosnou de dor
colocando a mão rapidamente na ferida.
— Francis... — seu nome saiu de meus lábios como um
suspiro cheio de agonia, sua dor era a minha e, quando eu menos
esperava, já estava chorando, vendo sua expressão. Por que ele
não está conseguindo tirar a faca? Céus, POR QUE ELE NÃO
ESTÁ TIRANDO A PORRA DA FACA PARA SE CURAR?
Uma nuvem preta pairou em volta dele, que não conseguia
se mexer. Maldita Eliza! Era uma faca enfeitiçada? Céus, era uma
faca enfeitiçada!
—Вы будете медленно страдать в моих руках[1]. — O
conde sussurrou no ouvido de Eliza algo em russo que eu não
entendia antes de enfiar suas presas no seu pescoço a fazendo
gritar de dor.
Eliza não morreria, mas sentia a dor da morte toda vez que
era morta em um corpo diferente. Ela havia perdido suas forças e
estava agonizando de dor, enquanto Estevan sugava
completamente o sangue da pobre humana, que foi apenas uma
azarada por traçar o caminho de Eliza. Caí no chão novamente com
uma mão no pescoço, assim que Eliza começou a desfalecer
lentamente nas mãos do Conde.
Me arrastei para perto do Francis, do meu Francis, que
começou a desaparecer lentamente na medida que o espírito negro
de Eliza ia saindo do corpo da pobre humana. Passei minhas mãos
sobre seu rosto vendo que ele estava arrependido. Sem conter as
lágrimas, eu chorei assim que ele sumiu completamente junto com
Eliza em uma nuvem negra, que saiu pela porta da sacada do nosso
quarto, deixando apenas a faca de prata enfeitiçada que Eliza usou
para levar o Francis. Desgraçada!
— Francis? FRANCIS! — gritei quando ele desapareceu
completamente, meu coração doía. Olhei para o Conde, que
suspirava pesadamente com o sangue do corpo da humana
escorrendo por sua boca.
Estevan suspirou fundo e regulou sua respiração, assim que
suas veias sumiram lentamente, seus olhos voltaram ao azul
normal. Ele soltou o cadáver da mulher e veio em minha direção, se
abaixando perto de mim, me abraçando. Eu estava apavorada pelo
o fato de não ter o Francis aqui comigo, mesmo que ele tenha feito
tudo isso, mesmo que tenha partido meu coração. Eu preciso dele.
— Calma, ele não morreu. — Estevan limpou minhas
lágrimas, me sujando um pouco com o sangue que havia em sua
roupa. — Eliza o levou como isca. — Estevan suspirou
pesadamente.
Suspirei escorando na parede. Era só o que me faltava! Eliza
não pode encostar no Francis, eu quero matá-lo, não é ela que vai
me atrapalhar de fazer isso. Passei as mãos sobre meu rosto,
limpando o resto das lágrimas, me levantei parando de chorar, não
adiantaria chorar agora. Eu tenho motivos para lutar, tenho várias
vidas por quem lutaria. Afinal, sou a Luna Suprema, não? Parei em
frente à janela quando vi a nuvem negra se distanciando, ela havia
levado o Francis para me atrair. Eliza sabia que, mesmo estando
chateada com ele, mesmo estando decepcionada, o nosso laço de
companheirismo me levaria até ele, era inevitável.
— Eu tenho um plano. — Voltei meu olhar para o Conde, que
arqueou uma sobrancelha passando a mão sobre seus cabelos.
— E qual é? — sua voz tinha dúvida, mas sabia que ele
toparia. Afinal, ele seria meu genro, não?
— Nós vamos à guerra.
Capítulo Quarenta Seis

Agora sinto meu coração pulsante, Pulsante por você,


Pulsante para saber, Pulsante em entender, Se realmente
mereço seu perdão!

Mih Franklim
Francis
Olhei em volta e rosnei alto tentando me mexer. Uma falha
tentativa. Minhas mãos estavam presas sobre minha cabeça, há
tantas correntes me segurando que não tem possibilidade de que eu
consiga me soltar. O peso que elas têm me causa dor sobre os
ombros. Ferro de leencond obviamente, Eliza não era trouxa e iria
usar o único ferro que é possível prender um lobo. Mesmo que eu
seja o Supremo, há tanta quantidade desse minério nessas
correntes que não conseguiria me soltar. Essa porra aprisiona meu
lobo!
As paredes são antigas com blocos medievais, o lugar que
estou exalava antiguidade. Era impossível não saber onde estava.
Eliza me trouxe para as ruínas do castelo dos Johnson. A ruína de
uma época medieval que queria muito esquecer. A época que
conheci Eliza, que matei o primeiro caçador que surgiu na família da
minha Antonella.
Antonella... quando vi seu olhar de tristeza, de desprezo
sobre mim, meu coração se partiu. Tinha certeza que Eliza tinha
falado toda a história para ela, tinha certeza que ela havia
descoberto da pior forma possível. Eu deveria ter contado para ela,
mas fui fraco, assumo.
— Achei que não acordaria mais! — Eliza entrou pela porta
do local com um sorriso radiante no rosto.
—Vá à merda! — digo sem olhá-la.
—Shiuuuu! Sem agressividade, meu amor. — Eliza sorri com
ironia.
Rosnei alto e meus olhos ficaram vermelhos, logo depois
voltando ao normal. Como eu disse, lobo aprisionado! A olhei e vi
que ela já estava em um corpo diferente, agora era morena com os
cabelos cacheados.
— O que você acha que vai ganhar como isso? — a olhei
com ódio.
— Como assim? Obviamente a Antonella! Ela virá atrás de
você. — Ela parou em minha frente.
— Minha mulher não iria vir atrás de você. Ela não colocaria
a sua vida em risco dessa maneira, ainda mais depois de tudo que
você falou. Eu te agradeço por isso, ela deve estar com tanta raiva
que nem ousaria tentar me salvar. — Falei calmamente.
Mesmo estando com o coração na mão, eu agradeço a Eliza
por ter quebrado completamente a minha imagem com minha
mulher. Assim ela não virá aqui em uma tentativa louca de me
resgatar. Não colocaria sua vida em risco, nem a do nosso filhote.
Talvez assim eu me sinta menos culpado por ter conhecido Eliza. E
pensar que eu era completamente indestrutível. Era forte, controlava
a força da magia do bem e do mal, mesmo que não as usasse, eu
tinha a famosa balança. Até eu dar para Eliza, céus, eu apaixonado
era completamente idiota! Logo a deusa da lua me castigou,
retirando a magia branca e, por esse motivo, eu sou um Supremo
incompleto! Me sinto fraco, inútil. Sinto que falhei vagarosamente
como Supremo, como Alfa e, principalmente, como companheiro da
Antonella.
— Não seja tolo, Francis! — revirou seus olhos e se afastou
um pouco pegando um punhal de prata o molhando no álcool, eu
reconhecia o cheiro. — Vocês são ligados, ainda estamos na lua de
sangue e, mesmo com suas burrices, Antonella te ama. Ela vai vir
como uma lobinha apaixonada e desesperada atrás do companheiro
dela.
— Você vai atrai-la aqui justamente por isso? A que ponto
você se rebaixou, Eliza? Essa com certeza não é a mulher por quem
me apaixonei. — A olhei sentindo nojo. Nojo por um dia ter amado
Eliza.
— Não, essa é a mulher forte que eu criei. — Eliza disse se
aproximando. — Agora isso, seu desgraçado, foi pelo dia que você
me atacou na cabana. — E enfiou a estaca de prata na minha
barriga, me fazendo gritar de dor.
— Merda... — gemi trincando a mandíbula pela dor, a estaca
tinha leencond, não iria conseguir me curar facilmente.
— E isso... é por você ter cancelado nosso acordo. —
Enfurecida falou quando tirou a adaga de prata e perfurou
novamente minha pele, só que agora na minha perna. — E isso é
por você ter me feito escolher entre você e a magia... — ela tirou a
adaga e perfurou minha outra perna.
Eliza estava enfurecida, seu olhar transbordava ódio. Ela
estava com muita, muita raiva de mim. Trinquei forte a mandíbula
para não gritar com a dor. Embora ela seja insuportável. Precisava
aguentar, no fundo, eu só estava pagando pelo que fiz.
— E isso é por você existir! — falava quando perfurou minha
perna de novo caindo no chão chorando.
— Eliza? — a olhei gemendo de dor.
— Eu te odeio, Francis! — como se cuspisse as palavras na
minha cara, Eliza se levantou do chão limpando suas lágrimas e
tentou se recompor. Não sabia por que ela estava dessa maneira. —
Vou tirar o que mais te mantém vivo... sua sanidade. — Eliza
chorava de uma forma macabra. — Vou tirar de você... Antonella.
Capítulo Quarenta e Sete

A ruína da morte chegou Aprisionando meu eu novamente!


A força do meu ser é tão forte, Que, de tudo, renasceu minha
alma.

Mih Franklim
Antonella
Minha pele estava fria e levemente arrepiada.
— Antonella? Vamos, não temos muito tempo... — ouço uma
voz familiar, sinto uma mão me cutucando.
Abro os olhos e a claridade de imediato me cegou, me sentei
olhando em volta. Eu estava em um bosque, um lindo bosque cheio
de rosas vermelhas e todas estavam lindas e desabrochadas.
— Nossa, você demorou! — olhei para o lado e ver a Luz me
fez sorrir.
Esse era o segundo sonho que tenho com ela e confesso que
é estranho sonhar com alguém que seja absolutamente sua cara.
Mas, ao mesmo tempo, a presença de Luz era boa, afinal, ela era
eu, minha loba não me faria mal algum.
— Luz!
— Estava a sua espera... — Luz sorriu olhando para frente
suspirando. — Você se saiu bem na sua decisão.
— Então era disso que se tratava? A decisão que você me
falou antes? — perguntei a encarando e o sorriso no seu rosto se
desfez.
—Sim. — Ela se virou segurando em minhas mãos. — Nella,
vou ser direta, temos pouco tempo! A magia que há em você... a
que Eliza Johnson falou, você precisa devolvê-la ao Francis.
— Como? Então se a magia branca está comigo, eu posso
enfrentar Eliza... — me levantei quando Luz negou com a cabeça.
—Antonella! Resolver ódio com ódio, nunca é a resposta.
— Eu sei, mas fiz uma promessa. Eu vou matar Eliza
Johnson, eu vou descobrir uma fraqueza dela.
— Tudo bem... sua decisão será a minha! Mas tome cuidado,
não se esqueça de que temos prioridades. — Falou desaparecendo.

***

Acordei sentindo minha cabeça latejar, estava dormindo no


sofá, só havia conseguido dormir por duas horas, apenas pela a
insistência do Conde Estevan, que me prometeu fazer uma reunião.
Ele prometeu entrar em contato com Mateus, Mia, Thomas e Derek.
Eu precisava reunir um exército para salvar Francis. E só quando
ele estivesse a salvo, e com todos os ferimentos curados, eu
poderia finalmente matá-lo por não ter me falando que teve um caso
com Eliza e, pior, por ter feito um acordo idiota sobre o MEU corpo.
— Já acordou? —Estevan entrou na sala com um copo de
uísque em mãos.
— Você deveria saber que não consigo dormir. — Me levantei
do sofá, soltando um longo suspiro — Já entrou em contato com
todos?
— Sim. Eles estão a caminho. — Me olhou friamente.
Estevan me dava medo às vezes.
— Ótimo! — comecei a subir as escadas.
— Onde vai? — Estevan perguntou parando no fim da
escada me fazendo olhar para ele.
— Vou me arrumar. Afinal, temos uma guerra, se Eliza pensa
que vai me enfrentar com essa cara... — apontei para meu rosto
que estava um pouco inchado pelo choro. — Ela está muito
enganada!
Subi para o meu quarto. Tudo já estava limpo, contudo a
sensação vívida nesse lugar me deixou para baixo. Tanto que estou
apenas dormindo na sala esses últimos dias.
Em passos rápidos, eu caminhei para o banho e entrei
debaixo da ducha fria, fazendo todo meu corpo se arrepiar com o
choque térmico levado. Estava frio, porém, nada está mais sombrio
e frio quanto o meu ser sem Francis ao meu lado. Eu nem sequer
sentia mais minhas famosas borboletas no estômago. Céus, eu
preciso tanto do Francis... balancei a cabeça negativamente
querendo parar de pensar dessa forma. Eu iria ficar louca se
pensasse no Francis mais uma vez. Eu precisava salvar logo meu
homem.
Uma história ao contrário, onde a mocinha salva o mocinho.
Sorri balançando minha cabeça negativamente, assim que
me secava com a toalha. Eu costumava pensar que meu mundo era
uma história de livro. Um conto, um romance, um clichê que era
absolutamente delicioso de ser ler. Isso até esse momento, onde eu
estou tecnicamente enlouquecendo com a vida do Francis em risco.
Eu preciso tanto dele aqui. Olhei no espelho enxugando minhas
lágrimas enquanto deixava a toalha sobre a pia e passava a mão
sobre minha barriga que não tinha relevo algum.
— A mamãe vai salvar o seu papai... — falei sozinha
acariciando minha barriga.
Hoje era o último dia da lua de sangue, o cheiro do meu
filhote logo começará a aparecer. Tenho que acabar logo com isso!
"Filhote", Francis o chamava assim, e pensar que eu achava ridículo
um ato tão carinhoso desses.
Saio do banheiro indo em direção ao meu closet, coloquei
uma calça jeans preta, uma blusa branca de alcinhas finas, jogando
uma jaqueta do Francis por cima. Uma jaqueta que parecia um
vestido, mas que tinha o cheiro dele. Coloquei minha bota preta e
soltei meus cabelos logo após penteá-los, iria deixar que eles
secassem naturalmente.
Assim que saio do quarto, desço as escadas indo
diretamente para o escritório do Francis. Eu sabia que todos
estavam aqui. Sentia o cheiro deles.
Hoje fazia dois dias que Francis tinha sido levado por Eliza e
ela não escondeu sua localização. Na realidade essa é a intenção.
Ela quer que cheguemos até ela. Eu sei que há uma forma de
conseguir matar Eliza, eu só preciso descobrir.
O fato de que estou grávida, só me deixa mais nervosa. Eu
precisava fazer algo, eu preciso fazer algo! A faca de prata que Eliza
jogou na perna do Francis, foi com essa faca que ela o enfeitiçou
para conseguir levá-lo com ela, essa faca era a grande culpada e
era amaldiçoada, e fez Francis virar fumaça. A faca que estava
sobre a mesa do escritório. Sem pensar em uma maneira menos
dura de dizer, falei assim que entrei no escritório, atraindo a atenção
de todos.
— Vamos entrar em guerra. E eu preciso da ajuda de todos,
mas tem uma exceção, quero matar Eliza com minhas mãos. —
Falei ao fechar a porta.
— Definitivamente não! — revirei os olhos quando o Conde
falou, me fazendo colocar a mão em minha cintura.
— Não pedi sua permissão, Estevan. — Passei por Estevan e
parei na frente de Mia, Mateus, Thomas e Amanda.
O clima já não estava um dos melhores, só pelo simples fato
de ter um vampiro aqui. Acho que eles não estão entendendo bem o
porquê do Estevan está opinando tanto em minhas decisões dessa
maneira. Quando entrei em contato com eles dizendo que o Francis
havia sido levado pela Eliza, todos me apoiaram e, como eu era a
Luna Suprema, tive que me manter forte e dar ordens necessárias
para que a alcateia não entrasse em um completo caos. Nunca me
senti tão atarefada como fiquei esses dois dias sem o Francis. Mas
tinha certeza que fiz o certo em apenas dois dias. Coloquei Thomas
como Alfa dessa alcateia, uma decisão importante, que deixou o
senhor Schweitzer furioso, porém, minha palavra agora se tornou
lei. Colocar Thomas como Alfa foi a melhor coisa que fiz, ele
manteve a calma e me ajudou a não deixar todos entrarem em
pânico sem a presença do Supremo.
Thomas era um bom Alfa e Amanda era sim uma ótima Luna.
— Não vou colocar você em risco dessa forma. — Estevan
dizia entre dentes.
— E já sei, já sei, a criança. — Revirei os olhos, e Mia
arregalou os seus olhos.
— Não se trata só da criança, se trata de você também. Não
posso deixar que cometa um suicídio dessa forma. — Estevan dizia
ao abrir os botões do seu terno. — O seu plano em si é ótimo,
porém, uma dama como a senhora não irá liderar duas tropas por
junções de raças.
— Machismo agora? — sorri irônica.
— Eu apoio a ideia. — Mia pronunciou-se me fazendo sorrir.
— Você não vai lutar. — Mateus falou quando ela olhou para
ele resmungando.
— Eu acho que, na ausência do Supremo, a maior voz é da
Luna, então, se você acha isso uma boa escolha, eu te apoiarei e
servirei a ti, fazendo parte do seu exército. — Thomas disse
abaixando a cabeça para mim, o que me pegou desprevenida.
— Eu ainda acho uma loucura. Mas sei que esse é o seu
destino, Antonella. — Mateus falou fazendo a reverência juntamente
com Mia e Amanda.
— Bom, acho que não tenho escolha. Mas quero que saiba
que não apoio essa loucura. — Estevan pronunciou se com ironia, o
que me fez revirar os olhos vendo-o fazer uma reverência.
— Gente, não precisa disso, eu fico contente que vocês me
apoiem. — Digo sorrindo sem mostrar os dentes.
— Ótimo, não me perdoaria se todos soubessem que me
ajoelhei para um lobo. — Estevan sorri, o que me fez sorrir também.
— Não qualquer lobo. — Digo com a mão na cintura assim
que ele se sentou na cadeira a nossa frente.
— Pelo menos não foi o Francis. — Completou sorrindo.
— Mas foi a companheira dele. — Mia rebateu com ironia.
— Eu digo que foi pela minha loba, e não se fala mais nisso.
— O Conde falou como se estivesse vencido. Minha, é estranho
imaginar que meu bebê teria o destino traçado pelo Estevan, sendo
apenas um bebê.
— Sua... Antonellaaaaa... — Mia correu para perto de mim
quando tentava farejar o ar ao meu redor.
— Sim, eu estou grávida, Mia. — Falei com as bochechas
coradas.
— Como você não me contou isso? Céus, Antonella! — ela
colocou a mão sobre meus ombros. — Então é por isso que estão
trabalhando com o sanguessuga?
— Obrigada pela parte que me toca. — Estevan disse com
ironia.
— Desculpe a demora, sair nessas ruas não tem sido fácil
ultimamente. — Derek entrou no escritório de uma vez, atraindo a
atenção de todos, que o olharam, mas logo voltaram a me olhar.
— Como isso é possível? —Thomas perguntou.
— Não sei! Bom, isso não é o foco agora. — Disse parando
perto da porta e passei a mão sobre a minha barriga. — Se Selene
escolheu o Estevan para a minha lobinha, não posso fazer
absolutamente nada. Não contamos para ninguém pelo fato de
estarmos em guerra e peço que continue assim. Uma criança ser
anunciada a essa altura do campeonato não é o certo. — Olhei para
eles, que concordaram.
— Uma criança? Já está grávida, que maravilha! — Derek
aproximou-se passando a mão sobre minha barriga. — Bom, me
digam o que eu perdi?
— Antonella vai enfrentar Eliza. — Thomas falou com
tranquilidade.
— Interessante! — Derek sorri parando perto da porta, ele
segurou seu colar como sempre fazia.
— Não temos outra escolha. — Falei suspirando.
— Eu concordo com você, Luna. — Amanda deu um passo à
frente e me olhou. — Então qual é o plano?
— Vamos colocar os lobos de ataque na linha de frente
juntamente com os melhores vampiros do exército do Conde
Estevan. Eu quero vinte lobos e vinte vampiros para combater o
exército de frente. — Voltei meu olhar para a janela. — Os melhores
guerreiros que tivermos, eu quero que você os comande, Mateus.
— Mia e Amanda, preciso que vocês juntem algumas
curandeiras para oferecer assistência aos lobos e vampiros que
serão feridos na guerra, tanto do nosso lado quanto os lobos
enfeitiçados por Eliza.
— Certo. — Mia concordou juntamente com Amanda.
— Estevan, quero que você invada a zona leste das ruínas
do castelo. Vamos atacar de frente para distraí-la. — Coloquei a
mão sobre a mesa e olhei para o Conde Estevan. — Preciso que
escolha seus melhores soldados.
— Por que apenas o vampiro vai invadir sozinho? Não seria
perigoso? — Amanda perguntou.
— Porque os vampiros possuem mais agilidade, se
colocamos os lobos, até o tempo da transformação, já teremos sido
atacados. E o Conde Estevan, ele sabe se virar, afinal, ele é o
Conde. — Falei obtendo um sorriso de Estevan.
— Lembrando que os monstros de Eliza são lobos
hipnotizados, não vamos machucá-los. — Mateus suspirou.
— Isso é impossível! — Thomas falou. — E o que eu faço?
— Preciso que você mantenha a ordem na alcateia, Thomas.
Fique como Alfa e proteja todos. — O olhei seriamente. — Eliza
pode querer atacar quando estivermos atacando e, de alguma
forma, ferir pessoas inocentes. Isso tudo será apenas uma
distração, até que eu ache o Francis e o liberte. — Disse pegando a
faca que Eliza usou na perna de Francis, o enfeitiçando. — Só mais
uma coisa, Eliza... deixem-na comigo...
Capítulo Quarenta e Oito

Cada coração
É um museu de antigas raridades, Um museu do passado,
Um museu de história de reciprocidades.

Mih Franklim
Estevan
Sejamos sinceros, Francis, eu, e até mesmo o papa Nicolau
V, já enfrentamos demônios piores do que essa Eliza Johnson. Mas,
de alguma forma, essa Eliza conseguiu o que ela tanto queria,
atenção. Pessoas como essa mulher só querem chamar atenção
para si próprias, pessoas como Eliza gostam de conflitos que a
tornam o centro dos holofotes.
— Ainda não entendo por que estamos ajudando o Alfa
Supremo. — Olhei para o lado mostrando minhas presas a um dos
meus guerreiros.
Como um ser insignificante ousa me desafiar dessa forma?
— Você tem que entender que eu sou o Conde, eu mando e
você faz. — Parei em sua frente, mostrando minhas presas fazendo-
o abaixar sua cabeça.
Finalmente vamos acabar logo com isso e tudo vai enfim se
normalizar. Muitos boatos que o Conde estava andando junto com
os sarnentos já se espalharam por todo o Clã. E isso significa
problemas. Bom, eu nem sei ao certo porque resolvi ajudá-los, mas
acho que é o mínimo que posso fazer à minha destinada de alma, já
que não vou querer encontrá-la.
Não era hora de pensar sobre isso. Balancei a cabeça
quando olhei para o lado vendo Antonella tomar a frente, subindo a
famosa Pedra do Lobo. A pedra do Supremo que indicava poder, o
controle e o comando sobre uma possível matilha, isso era o gesto
de autoridade de sua raça. Estávamos esperando suas ordens de
ataque, já que o castelo em ruínas onde o Supremo estava não era
longe. Me admira essa mulher baixinha e com o rosto tão angelical
conseguir fazer com que lobos e vampiros trabalhem juntos sem se
matarem.
Bom, até agora! Pensei assim que vi um lobo e um vampiro
se olhando com ódio, o que me fez sorrir com ironia. Essa guerra é
algo muito pessoal para acabar dessa forma. Voltei meu olhar para
a Luna Suprema que subia em passos firmes e fortes calmamente
sobre a pedra, todos olhavam seus movimentos calculados, os
lobos a olhavam com admiração. Eles parecem se orgulhar da Luna
que tinham. Aos poucos, ela começou a se transformar em uma
enorme loba branca, nunca havia visto uma até agora, caminhando
rápido sobre suas quatro patas. Assim que chegou no topo da
pedra, ela uivou alto fazendo todos os lobos ao nosso redor se
transformarem e uivarem juntamente com ela, em seguida, rosnou
começando a correr na direção do castelo onde o Supremo estava.
Sem pensar, todos a seguiram, deixando que ela fosse na
frente guiando e abrindo caminho como uma líder. Corríamos em
uma velocidade sobrenatural quando o cheiro do Supremo ficou
forte. Ele parecia estar próximo. Assim que chegamos em frente ao
castelo, os vampiros e os lobos que o beta do Supremo estava
comandando já foram atacados pelas bestas que Eliza criou.
Enormes lobos pretos com os olhos completamente vermelhos.
Olhei para o lado quando um vampiro do meu Clã subir por trás de
um lobo inimigo, dando a volta por seu corpo quebrando seu
pescoço, o fazendo cair morto no chão. As ordens foram não matar,
mas não vou impedir, já que estamos em guerra. Ignorei a cena
dando a volta pela entrada principal, pulando uma janela como
Antonella havia falado. Não gosto de seguir ordens, porém, essa me
parece uma luta justa. Antonella luta para salvar seu companheiro e
eu protejo a minha.
— Merda! — resmunguei quando dois lobos pararam a minha
frente rugindo alto.
Rapidamente o lobo que estava a minha esquerda pulou,
mas desviei do seu ataque, porém, o lobo que estava na direita
pulou e conseguiu me derrubar, assim que me distraí olhando o
outro lobo. Eu segurava seu pescoço fortemente enquanto ele
tentava me morder no rosto de todas as formas. Suspirando, o
empurrei deixando meu rosto longe de suas presas.
— Eu sei que a Luna me disse para não matar. Mas eu não
sigo ordens! — com ironia olhei a besta negra na minha frente.
Forçando com as mãos, segurei cada lado de sua boca,
puxando com força quando rasguei seu rosto, jogando um lado da
sua face para um canto do corredor, eu estava levando um belo
banho de sangue. Um grande desperdício! Me levantei parando com
uma mão o outro lobo que veio para me atacar, e acabei quebrando
uma de suas patas quando o derrubei no chão, arrancado o seu
coração. Esses lobos são muito maiores que o normal, quase do
tamanho do Supremo.
Agora estava completamente banhado com sangue, o que
não me incomodava, lambendo um dos meus dedos, dei de ombros
e comecei a andar mais rápido, tentando seguir o cheiro fedorento
do Supremo Francis. Bom, esse cheiro de sangue não está me
ajudando em nada, já que está tirando completamente minha
concentração.
Era possível escutar os barulhos de ossos sendo quebrados
do lado de fora. Andei mais rápido pelo corredor sentindo que o
cheiro de Francis vinha de uma sala a minha frente. Sem pensar
duas vezes, dei um soco na porta, quebrando-a com facilidade.
— Aí está você... nossa, meu amigo, você está acabado! —
Francis me olhou sem dizer uma palavra.
O tão famoso, lendário e destemido Supremo Alfa estava
todo ensanguentado, com várias correntes em seu pescoço, braços
e pernas. Correntes que o machucavam nitidamente. Andei
calmamente até ele e arranquei as correntes da parede, o soltando.
Em outra situação me divertiria em vê-lo dessa forma, acabado e
sem um pingo de vida no olhar. Eliza não era burra, essas correntes
tinham a única coisa que poderia derrubar um lobo, leencond. Tem
tanta quantidade disso nessas correntes que era impossível não
segurar o Supremo. Na realidade, tem tanta quantidade disso nessa
sala que me admirava Francis ainda estar vivo.
Assim que o soltei, ele caiu no chão, sentado apertando seus
pulsos um nos outros me olhando de forma fria. Arqueei uma
sobrancelha e suspirei revirando os olhos.
— Vamos, não temos o dia todo! — fui até a porta, entretanto
parando quando ele se levantou e sua mão tocou meu ombro, me
fazendo virar rapidamente para vê-lo, quando sou surpreendido com
um soco forte que me fez cambalear para trás. — MAS QUE
PORRA É ESSA... — o olhei tocando levemente meus lábios,
limpando o sangue que escorreu pelo soco que ele havia me dado.
Olhei para ele com raiva, logo arregalei os olhos vendo seu
olhar completamente amarelo. Eliza tinha o enfeitiçado? Ela tinha o
enfeitiçado para quando Antonella o encontrasse, ele a matasse.
Essa mulher consegue ser completamente manipuladora e
calculista. Me levantei, desviando assim que Francis transformou se
colocando em posição de ataque. Sem pensar duas vezes, mostrei
minhas presas de uma forma sútil, comparado a ele. Éramos
completamente dois selvagens, não achei que fosse lutar com o
Supremo justamente agora, e sei que estou em vantagem se
compararmos o estado que ele se encontra.
Porém, uma luta é uma luta. E devo assumir, estou
esperando por essa há tempos.

***
Mateus
— Amanda, onde está Mia? — dizia aflito.
— Ela não voltou ainda? — Amanda parecia ter dúvida.
— Não, ela não estava com você? — passei as mãos sobre
meus cabelos nervoso.
— Estava, mas ela foi buscar uma anciã na floresta... —
coloquei a mão no rosto como se tentasse lembrar de algo.
— Anciã? Que anciã, Amanda? — a olhei sentindo o meu
coração disparar.
— Acho que é... Mali, algo assim. Ela disse que Antonella a
conhecia. — Amanda me olhou como se quisesse entender por que
estava daquela forma.
— Não existe nenhuma anciã com esse nome Amanda. —
Falei suspirando, aflito.
Oh céus, onde está minha mulher? Eu definitivamente sabia
que essa não era uma boa ideia. Estamos em guerra e, mesmo que
Antonella tenha dado ordens para Mia e Amanda cuidar dos feridos
da guerra, mesmo que ela seja a Luna Suprema, não duvido do meu
instinto quando sinto que minha mulher está em risco. Desço as
escadas da sentinela correndo e, a nova Luna da alcateia, Amanda
me olhou sem entender.
— Aonde você vai? Ma-Mateuuus? — ela disse timidamente
quando a olhei andando de costas.
— Diga ao Thomas... digo, ao Alfa, que fui atrás da minha
companheira. — Voltei a correr negando com a cabeça pelo meu
erro. Não estava acostumado com o Thomas sendo o Alfa ainda.
Me transformei e comecei a correr em quatro patas, sentindo
o cheiro de Mia, o que me fez acelerar os passos, e se ela estiver
em perigo? Assim que atravessei a alcateia em forma lupina,
correndo como um verdadeiro louco, não dando atenção para as
pessoas que pareciam ter dúvida pelo fato de que eu estava
transformando, parei na entrada da floresta. Assim que olhei, vi
várias criaturas, as bestas que Eliza criou prontos para atacar.
Merda! Preciso avisar que vamos ser atacados.
Com o coração doendo e com a alma completamente
apertada por não ir atrás de Mia, voltei para trás, rugindo autoritário
para algumas crianças que estavam na rua para entrarem em suas
casas. Elas logo entenderam o recado. Entraríamos em guerra.

***

Mia — Então a senhora vai nos ajudar? — digo simpaticamente,


sorrindo para a senhora que tinha uma boa aparência.
A Luna Amanda e eu havíamos recrutado várias pessoas
para cuidar dos possíveis feridos que a Nella disse. Bom, o fato de
Amanda ser a nova Luna e não a mãe da Amélia, me agradou
muito, porém, nem podemos comemorar com essa tal de Eliza
aprontando todas conosco. Devo assumir, Antonella está furiosa
como nunca. E, por um lado, é bom. Isso demonstra o quanto a
Luna Suprema é completamente forte, destemida e que sabe tomar
atitudes em situações desesperadoras quando a matilha entra em
estado crítico. Espera só essa história se espalhar por todas as
alcateias do mundo!
Quando todos souberem como temos uma Suprema forte.
— Claro, só um minuto... — ela falou se levantando.
Concordei dando as costas para ela.
Antonella havia comentado sobre essa senhora um dia
quando foi me visitar e contou a versão que ela se sentiu a Maria de
João e Maria. O que me fez rir de sua cara, mas, confesso, essa
mulher morar no meio da floresta é estranho. Talvez seja realmente
uma bruxa.
— Aiii... — falei colocando a mão em minha cabeça. Assim
que senti o sangue escorrer por minha testa, olhei para a vovó do
crime apelidada carinhosamente pela Nella assim. — Ma-as?
Que porra é essa?
— Você não vai morrer, não se preocupe. — Colocou uma
seringa vazia em uma mesa da sala.
— O que você fez comigo, sua VELHA MALUCA? — sinto
minhas pernas formigarem, logo meus braços e, por fim, uma
terrível dor na minha cabeça.
— Nada demais... nada com que tenha que se preocupar
minha jovem. — Sorriu sem mostrar os dentes como uma
verdadeira psicopata.
Aos menos parecia uma nessa situação.
— Mas-s por que, Mali? — falei com dúvida, sentindo minha
língua travar e meu corpo ficar imóvel. Não consigo me mexer, que
merda!
— Mali... — ela sorri negando com sua cabeça me olhando.
— Já está na hora de acabarmos com isso, me chame pelo meu
nome, Mia. Eu sou Elizabeth Johnson.

***
Antonella
Assim que todos começaram a guerra, me toquei que havia
esquecido do mais importante, voltei rosnando até minha casa,
quando entrei na mesma, fui até o escritório e peguei com a boca a
faca que Eliza usou para enfeitiçar o meu Francis. Voltei a correr
ainda em forma lupina de volta ao castelo.
A adrenalina fazia parte completamente de cada parte do
meu ser, eu corria rapidamente dando a volta no castelo, garantindo
que Eliza não iria fugir, não dessa vez! Minha loba estava tomada de
ódio, tomada de raiva, e completamente no comando do meu corpo.
Assim que entrei pelas ruínas do castelo, dei de cara com diversos
lobos que eram comandados por Eliza. Com minha loba
completamente no controle, uivei de uma forma que nunca havia
uivado, os fazendo se afastarem um pouco, abrindo caminho para
que eu andasse no meio deles ao encontro de Eliza, que desceu
alguns degraus de uma escada em ruínas que tinha ali. Obviamente
estávamos no antigo salão de festa do antigo castelo dos Johnson.
— Estava à sua espera Antonella... — Eliza começou a dizer,
contudo sem dar tempo rosnei para ela fazendo todos os lobos
saírem nos deixando a sós.
Estava tomada de raiva. O simples som da sua voz já me
dava nojo. Sem pensar duas vezes, avancei nela correndo em
quatro patas. Pegando impulso pulei em cima do seu corpo a
derrubando no chão. Com meu corpo na forma lupina em cima do
seu, minha loba cortou seu rosto, arrancando sangue no momento
que Eliza me empurrou, ficando com os olhos pretos.
Bati fortemente com as costas na parede, mas logo me
levantei, começando a cercá-la. Como um lobo faz com sua presa.
Seus olhos estavam pretos e seus cabelos agora eram negros.
Pobre humana que foi pega por Eliza Johnson! Seu olhar
demoníaco não me assustava mais. Vendo suas mãos erguidas,
avancei rosnando assim que a empurrei com raiva quando caímos
rolando pelas curtas escadas das ruínas do castelo. Suas mãos
tinham unhas como de lobos que me arranhavam, perfurando
completamente minha pele. Óbvio, Eliza era uma loba, porém, ela
não se transformou acho que ela não pode. Mordi fortemente seu
ombro escutando o barulho de sua pele sendo rasgada por minhas
presas. Com um grito de dor, ela toca meu pescoço com as pontas
dos dedos roxos, me fazendo voltar a forma humana.
Estávamos ofegantes, mas meu olhar ainda tinha raiva, mais
raiva ainda por ter voltado a forma humana. O que essa Bruxa fez?
Dei um tapa fortemente estalado no seu rosto começando a ficar
histérica. Eliza segurou minhas mãos no chão com sua magia se
levantando do chão cambaleando e meio dispersa.
— Me soltaaaaaaa! — gritei, minha voz era misturada pelo
rosnado de minha loba que havia sido aprisionada por Eliza.
Com ódio, ela me olhou retirando o excesso de sangue que
escorria do seu rosto. Me apertou no chão com sua magia e se
aproximou. Seus olhos completamente negros, seus cabelos
flutuando, como da última vez — Finalmente vou ter meu corpo. —
Eliza parou com sua mão na minha cabeça, ficando com os olhos
roxos. — Sabe, Antonella, foi uma ótima ideia deixar que o Conde
matasse seu companheiro. Mas façamos isso logo, preciso ter seu
corpo antes disso acontecer. — Falou com deboche e ironia.
Estevan! O Conde estava com meu Francis? Santa Selene,
me ajude! Minha respiração se desregulou, tentei sair de todas as
formas do chão, o que não era possível, gritava de raiva e agonia
quando ela começou a sussurrar palavras que não compreendia
bem.
— Mude meu corpo com esse espírito, mate o espírito vivo
neste ser. — Arfei compreendendo suas palavras.
Fechei os olhos esperando que algo acontecesse. Quando os
abri rapidamente, vi que não aconteceu nada.
— Mas... — me olhou sem entender quando voltou a repetir
as palavras. — Mude meu corpo com esse espírito, mate o espírito
vivo neste ser.
— Algo de errado? — Eliza parecia não entender por que não
funcionou.
Sem pensar duas vezes, assim que ela afrouxou o aperto,
pulei em cima dela. Ficando por trás do seu corpo, coloquei uma
mão no seu pescoço pegando a faca que ela usou na perna do
Francis, a posicionado sobre sua pele. Eu a tinha agora! Poderia
matá-la. Mas, essa não sou eu. Antonella é fraca demais para tirar a
vida de alguém.
— Eu disse que iria descobrir sua fraqueza. — Digo
apertando a faca sobre a pele de seu pescoço, suspirei
pesadamente no momento que enfiei a adaga, em sua perna assim
como ela fez com Francis.
Parei na sua frente a olhando ainda ofegante, vendo-a se
contorcer de dor no chão. Esses últimos dias andei tão obcecada
em matar Eliza que agora que posso matá-la, vejo que não vale a
pena sujar minhas mãos com sangue. Seria fácil demais tirar a vida
dela. Abaixei perto dela, colocando minha mão sobre sua testa,
enquanto ela se contorcia de dor. Fechei os olhos e suspirei fundo
transferindo a magia negra para mim. Agora teria a magia branca e
a negra, assim poderia devolver ao Francis e ele teria de novo o
total controle do seu lobo. Já Eliza, ela ficaria presa nesse corpo
humano que escolheu e perderia a imortalidade.
— Eu descobri que a magia branca tem uma vantagem sobre
a negra. — A olhava com a respiração desregulada. Suspirei, o
feitiço virou contra o feiticeiro. Ela não se mexeria mais.
— Não se vanglorie tanto... eu ganhe-ei no afinal de-e tudo...
— Eliza falou fazendo uma careta com dor.
Francis...
Comecei a correr atrás do Francis, sentindo meu peito pulsar.
Minhas pernas estavam levemente bambas e tinha uma pequena
dor incomoda no pé de minha barriga. Selene, proteja meu bebê!
Pensei alto começando a chorar. Sentindo o cheiro do Francis,
comecei segui-lo.
Capítulo Quarenta e Nove

Para cada queda, um levantar.


Para cada lágrima, um sorriso.
Para cada coração partido, uma nova reconstrução.
Para cada história, um final.
Para cada fim, um novo recomeço.

Mih Franklim.
Antonella
Na medida em que corria sentindo meus longos cabelos
completamente desajeitados sobre minha pele nua, o que eu não
ligava nesse momento, se bem que meus cabelos estão enormes,
eles cobrem todo o meu corpo indo até o meio da minha bunda,
tudo que me importa agora era garantir que Francis estivesse bem,
que ele estivesse a salvo. Selene, me ajude! Sentia meu coração
disparar em falhas batidas com medo do que encontraria.
Na medida em que corria entre as ruínas do castelo, passei
entre várias janelas que davam acesso ao lado de fora e vi que
todos os lobos negros que eram comandados por Eliza voltaram ao
normal, se transformando em humanos. O feitiço havia sido
quebrado. Acho que todos os feitiços que Eliza Johnson fez se
quebraram no momento que peguei a magia negra de volta.
Assim que entrei em uma sala sabendo que o Francis estava
lá, sentindo o seu cheiro que estava muito forte, arregalei os olhos
quando vejo Francis e Estevan rolando no chão, brigando.
— PAREM COM ISSO! — gritei escorando na parede
sentindo novamente a pontada na ponta da minha barriga, só que
dessa vez foi um pouco mais forte.
Rapidamente os dois me olharam. Ambos estavam
ensanguentados e machucados, porém, Francis estava muito mais.
Ele tinha diversos cortes por todo seu abdômen, estava bastante
ferido, mas algo me dizia que isso foi feito pela Eliza e não pelo
Conde Estevan.
— Antonella! — rapidamente o Conde soltou Francis, um
pouco constrangido, o que achei completamente estranho, até eu
me lembrar de que estava completamente nua.
— A-aaa... — tentei dizer algo, cobrindo com as mãos minha
intimidade, já que meus cabelos cobriam completamente meus
seios. Graças a Selene!
Sem pensar duas vezes, Estevan retirou sua camisa social e
veio rapidamente em minha direção, colocando sobre meu ombro, o
que me fez sorrir em forma de agradecimento sem mostrar os
dentes. Sentindo minhas bochechas corarem, abotoei todos os
botões de forma rápida.
— Vocês...? — Francis me olhava meio sem reação quando
insinuou que eu e o Estevan tivéssemos tido algo.
Indignada e ignorando a dor na minha barriga, coloquei a
mão na minha cintura e olhei para ele com o rosto completamente
fechado. Era só o que me faltava, além de vender meu corpo para
Eliza Johnson em troca de sexo, ele havia acabado de insinuar que
eu havia o traído.
Acho que nitidamente vou matar o Francis. Me virei para
Estevan falando com uma voz doce e calma.
— Espero que tenha o machucado muito. — Olhei de relance
para o Francis, me referindo completamente a briguinha que eles
estavam tendo.
— Não da forma que queria, mas se quiser... — interrompi
puxando levemente seu braço, ele sorriu ironicamente indo para
cima do Francis de novo. Balancei a cabeça negativamente quando
falei com ele.
— Preciso que vá até Eliza, ela pode arrumar alguma
maneira de escapar... ela está no salão de festas. — Nem precisei
acabar de falar, Estevan saiu em sua velocidade sobrenatural.
Não matei Eliza, não tinha força para tirar a vida de alguém.
Por mais inútil que Eliza seja, não me sinto no direito de decidir se
devo ou não matar alguém, porém, tenho certeza que o Estevan vai
matá-la. A coragem que não tive, ele tem de sobra e, sem sombra
de dúvidas, depois que Eliza disse que premeditou a morte do seu
irmão, ele vai matá-la. Eliza Johnson está nitidamente nas mãos do
Conde Estevan Russell nesse momento.
— E você! — disse voltando meu olhar para o Francis indo na
sua direção. Andando raivosa, apontei o dedo para ele. — Como
ousa insinuar que tenho algo com meu futuro genro? — toquei seu
peito com a ponta do dedo.
Nitidamente eu estou enfurecida com Francis. Vou quebrar
essa carinha linda dele para depois cuidar dele.
— Antonel... — o interrompo com um forte tapa no seu rosto,
que estalou fazendo um grande eco por todo local.
— Isso é pela porcaria de acordo que você fez com Eliza, por
ter dormido com ela, por não me contar a porcaria da verdade e ter
me submetido a tudo isso! — falei chorando de raiva enquanto
apontava o dedo no seu peito.
Eu estava nitidamente louca de raiva, embora tenha quase
morrido esses dias sem ele. Já o Francis estava nitidamente
arrependido. Era possível ver seu olhar triste e sentir sua dor por ter
me feito passar por isso. Ele estava completamente ensanguentado,
tenho certeza que não foi uma colônia de férias para ele, mas
precisava colocar para fora tudo antes que eu ficasse louca e
morresse por não dizer o que sinto. Cheguei perto dele tocando seu
rosto e as lágrimas escorriam pelo meu rosto descontroladamente.
Eu estava com tanta saudade do Francis, como eu senti falta do seu
cheiro, dos seus olhos! Em que parte da minha vida, eu me tornei
tão dependente assim?
— E isso é por tudo que você passou... — selei nossos lábios
em um selinho longo e demorado.
Agora já chorava e não sabia ao certo os motivos das minhas
lágrimas, talvez sejam pelo medo que tive de perdê-lo. Senti minha
loba pular de felicidade e ficar aliviada quando ele finalmente
envolveu suas mãos na minha cintura, me apertando depois de um
minuto não entendendo que eu estava o abraçando. Idiota, ele não
percebe o quanto senti falta dele? O quanto fiquei preocupada? Oh
céus, eu vou matá-lo! Distribui vários beijos por todo seu rosto sem
me importar que ele estivesse ensanguentado. Estava apenas
avaliada, porque o meu Francis estava inteiro, estava
completamente bem e vivo.
— Antonella... — começou a dizer com a voz embargada,
mas o interrompi o beijando com calma, em completa lentidão.
Suas mãos pararam na minha cintura, apertava-me de leve.
Selene, como eu estava com saudades dos seus lábios, saudades
do seu cheiro, do seu toque! Assim que tivemos que parar o beijo
por falta de ar, Francis colocou minha testa na sua, respirando
pesadamente com os olhos fechados, mas logo abriu e eu pude me
deparar com seu olhar querendo se formar várias lágrimas Ele vai
chorar? Comecei a cariciar com calma seu rosto como se o
reconfortasse.
— Antonella, me perdoe. — Uma lágrima escorreu dos seus
olhos. O olhei e estava quase chorando também. Céus, dois
chorões! Porém, comecei a falar disparadamente enquanto o olhava
séria.
— Eu tenho vontade de te matar, porque você não tem noção
de como me senti sem você. Estávamos na lua de sangue, Francis!
Você não sabe como é ser do sexo feminino e não ter a porra DO
COMPANHEIRO LÁ quando você precisa. Sem falar que não me
contou sobre Eliza. O que tinha na cabeça? Eu precisava saber, eu
tinha o direito. — Suas mãos ainda seguravam minha cintura e as
minhas envolviam seu pescoço.
— Eu tive medo, no começo. Antes de tudo que vivemos, eu
realmente tinha feito esse acordo idiota. Mas depois eu conheci
você... e me apaixonei por você. Tive medo que não me perdoasse,
tive medo de te perder, Antonella. — Francis olhava nos meus
olhos.
— Eu entendo seu medo, mas um relacionamento tem que
ser a base de confiança e isso envolve você me contar esse tipo de
coisa, mesmo que me magoe. Sabe, Francis, eu sei que, quando
nos conhecemos, eu era bem imatura. Está bem, talvez eu ainda
seja um pouquinho... — ele sorri. — Mas no momento que assumi
para mim mesma que queria ficar ao seu lado, eu tentei mudar,
assumir as responsabilidades que vieram de brinde com você.
Nunca achei que fosse ter nenhuma influência sobre ninguém e olha
o que me tornei? A Luna Suprema, a mãe dos seus filhos, Francis.
Então sim, eu mereço a verdade, isso é o mínimo que temos que
compartilhar um com o outro. — Com calma, comecei uma leve
carícia na pele do seu pescoço.
Ele parecia chocado, acho que ele não acreditava que eu
estava falando daquela forma.
— Antonella, eu assumo meu erro. Fui um completo idiota
quando fiz aquilo tudo, ainda mais quando não conversei com você
abertamente sobre tudo isso. Eu prometo que, de hoje em diante,
você vai saber tudo sobre minha vida. — Francis distribuía vários
selinhos, o que me fez sorrir.
Santa Selene, eu estava com tantas saudades dele!
— Tudo? — perguntei o vendo sorrir, concordando.
— Absolutamente tudo, tudo que você quiser saber, meu
amor! Todos os meus anos de vida.
— Santa Selene, são muitos! — passava as mãos sobre seus
cabelos tentando arrumá-los, já que estavam tão sujos e
desajeitados. — Não vejo a hora que você possa começar a me
contar por que não gosta do Conde Estevan.
— Te contarei detalhe, por detalhe. — Me abraçou
novamente. — Nem acredito que você me perdoou, eu realmente
achava que você não faria isso...
— Por que achava isso? O fato que você dormiu com Eliza
me incomoda, mas foi antes de nos conhecermos. — O soltei. —
Bom, te perdoei, estamos bem, vamos ter um bebê, finalmente
acabamos com Eliza e todos os ataques... e vou poder te castigar
da forma correta. — Francis arqueou uma sobrancelha, olhando o
sorriso maligno que eu tinha no rosto.
— Castigar? Antonella...
— Shiuuuu! — disse tocando seus lábios. — Você me fez
passar por uns bons perrengues, não achou que eu fosse deixar
você completamente impune, achou? — beijava novamente seus
lábios. Francis precisava de um banho. — Você me fez ficar sozinha
na lua de sangue...
— Ah, não, Antonella... — meu sorriso aumentou no
momento que ele pegou uma calça que tinha no chão e vestiu. —
Meu amor, eu não saí de lá porque quis, Eliza me sequestrou... vai
por mim, eu também sofri por não ter você na lua de sangue.
— Seis meses sem sexo me parece bom... — digo o
provocando com uma cara de pensativa.
— O QUÊ?

***
Mia
Olhei para Mali que aleatoriamente acabei de descobrir que é
Elizabeth Johnson. Ela está sentada no sofá e parece muito calma.
Bom, na realidade, a única que estava gritando feito louca aqui era
eu. Eu havia a xingado de todos os nomes possíveis, até que cansei
de gritar.
— Cansou? — ela disse assim que viu que parei de gritar.
— Diga logo, adianta o processo de sofrimento. — Falei
revirando os olhos quando ela se levantou.
— Ótimo! Já estava me arrependo por ter escolhido você,
acho que foi um erro, deveria ter ido diretamente à Antonella. — Ela
disse enquanto pegava um caixa de veludo e a entregava em
minhas mãos.
— Eu não posso pegar, você paralisou meus moviment... —
ela me interrompeu colocando a caixa na mesa de centro e se
sentou novamente.
— Não paralisei seus movimentos, a injeção foi justamente
para paralisar sua loba por alguns minutos, assim você não me
atacaria quando eu dissesse que sou a mãe de Eliza. O efeito passa
quando a sua raiva passar. — Ela falou e eu arqueei a sobrancelha.
— Santa Selene! Você não deveria estar morta, o que faz
aqui? Por que quer entregar isso a Antonella? Então não é do mal?
— perguntei disparadamente quando consegui me sentar no chão.
— O mundo dos espíritos está aberto, já que o Supremo não
possui a magia negra e branca ainda. Vim ajudar, na realidade, vim
buscar minha filha. — Ela olhou no relógio em seu braço. — Não vai
demorar muito para que ela finalmente passe desse plano para o
outro. Minha menina já perturbou muito esse plano, está na hora de
pagar por suas escolhas no mundo espiritual.
— Você é um anjo da morte ou algo do tipo? — perguntei
chocada.
Como assim? Ela veio para levar a própria filha?
— Não, sou a guardiã do portal das dimensões até agora.
Assim que o Supremo recuperar sua magia, vou poder finalmente
descansar em paz. Esse colar pertenceu aos meus antepassados,
os primeiros lobos da linhagem sanguínea dos Johnson. Só achei
que Antonella o merecia. — Ela sorriu acenando e se levantou.
— Então como conhece o Derek? Eu sei que ele te chama de
vó e Antonella o viu aqui aquele dia. — Perguntei quando me
levantei do chão, olhando seus movimentos. Ela olhava fixamente
para a janela.
— Derek é um feiticeiro poderoso, eu diria o mais forte vivo
até hoje... ele me ajudou a criar um corpo nesse plano para que eu
não precisasse possuir um humano. — Ela falou como se explicasse
tudo. — Bom, querida... essa é minha hora!
Elizabeth me olhou e sorriu antes de voltar para o centro da
sala e pegar novamente a caixinha de veludo azul colocando em
minhas mãos.
— Até mais, querida.
Dito isso, ela desapareceu com um forte clarão branco me
deixando abobada ali. Um segundo depois, Mateus entrou
completamente louco arrombando a porta em sua forma de Lobo.
Assim que ele viu que eu estava bem, se transformou em humano e
veio me abraçar com força.
— Amor... achei que estava em perigo. — Falou ao me
apertar muito forte no abraço, o que me fez praguejar de dor.
— Também achei que pudesse estar em perigo... — retribui o
abraço, sentindo meu coração disparar assim que minha loba se
acalmou nos braços do meu lobinho.

***
Estevan
Um sorriso completamente demoníaco surgiu nos meus
lábios. Eliza estava agonizando de dor no chão, provavelmente, ela
não morreria com esse ferimento na perna, ótimo, mas, sem dúvidas
ela teria que amputá-la se continuasse viva. O que não aconteceria,
pois só de lembrar que a culpa do meu irmão estar morto foi dela,
me vejo com uma raiva completamente incontrolável.
Caminhava para perto dela em passos lentos, torturantes,
que me fazia sentir o seu medo. E isso me deixa mais animado para
torturá-la, o que resultava o sorriso macabro do meu rosto se
alargar. Não me orgulhava de ser filho de um demônio, mas, nesses
momentos, meu pai finalmente serviu para alguma coisa.
Isso é o lado bom de não ser um vampiro comum.
— Que foi amor? Tá doendo? — disse quando me abaixei
perto dela e toquei levemente seu rosto. — Você é fraca, pobre
Eliza... — digo utilizando suas próprias palavras.
Sua pele estava arrepiada, sua cara de dor misturada com
medo, essa sim, me fez um enorme agrado. Eliza arregalou os olhos
quando mostrei meu verdadeiro rosto de demônio para ela, e isso a
deixou em choque. Não era o meu melhor lado e quase nunca me
orgulhava de ser metade demônio, porém, não posso correr das
minhas raízes. O olhar negro, meus dentes ficavam igual à de um
lobo, e meu rosto modificava o tamanho, ficando mais cumprido e
destorcido.
A cara do meu pai!
— Que-e porra é essa? — Eliza sussurrou fazendo o sorriso
se alargar no meu rosto.
Primeira vez que vê um demônio, adoro essa reação de
principiante.
— Isso, sua vadia, quero que tenha medo do monstro que
sou. Nunca mais você vai ousar atravessar o meu caminho, nem
quando te encontrar no inferno! — segurando seu pescoço, fiz com
que ela olhasse nos meus olhos. — Que foi? Achou que eu era igual
o lobinho idiota do Francis? Que você fez de gato e sapato? — uma
gargalhada completamente maligna e macabra saiu dos meus
lábios.
— Mas...
— Mas nada, eu disse que você iria sofrer lentamente em
minhas mãos. — Me levantei pisando em cima da adaga que tinha
em sua perna. — E eu, sou um homem de palavra... — segurei o
seu braço, o quebrando.
— AAAAHHHHHHHHHHHH — Eliza gritou de dor, chorando.
O sorriso do meu rosto crescia mais.
— Entendeu? — a segurando pelo pescoço, olhei nos seus
olhos e sorri. — Agora, Eliza Johnson, devo dizer que foi um grande
desprazer conhecer você. — Falei a levantando pelo pescoço.
Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar e,
nitidamente, Antonella fez com que ela se se transformasse em uma
simples humana. Uma fraca humana. Eu sabia que Antonella sentiu
pena de matá-la. Mas eu não!
— Agora, bruxinha, mande lembranças ao meu pai por mim.
— Sorrindo abria os portais do inferno no meu olhar.
— AAAHHHHHHHHHH — ela gritou de uma forma
estrondosa quando viu o local que iria pelos meus olhos. Aos
poucos, sua alma foi levada.
Diretamente para o inferno!
Soltei o resto de sua carcaça morta no chão e suspirei me
recompondo, logo meu rosto voltou a ser de um vampiro normal e
depois, finalmente, humano. Suspirando pesadamente, comecei a
andar para fora desse castelo mesquinho e ridículo. Só duas
pessoas na terra sabem que sou metade demônio, Willians, meu
assistente, e o Supremo Francis.
Lobos idiotas, pessoas irritantes, preciso sair logo desse
lugar! Por que eu resolvi ajudar mesmo?
Suspirei assim que cheguei em frente ao castelo. Alguns
vampiros meus estavam feridos. Até que enfim isso acabou! Fui
andando entre os seres sobrenaturais, mas parei assim que senti o
cheiro da cria da Antonella e do Supremo. Esse foi o motivo pelo
qual comprei uma guerra que não era minha.
Me virei para trás e vi Antonella e Francis parados na escada.
Meu olhar se focou na barriga da Antonella. O que me fez suspirar.
Droga, esse cheiro tinha que ser tão viciante?
— Eu gostaria de agradecer a todos que ajudaram nessa
batalha. — Antonella começou a dizer para cada lobo, até mesmo
meus vampiros prestavam atenção. — A ajuda de cada um de
vocês, seres sobrenaturais, foi de uma imensa importância. Aquela
mulher era um perigo eminente para nossas raças. Foi um gesto
nobre unirem forças e não olharem para as desavenças de ambas
as raças.
Ela olhou para o Supremo, que tinha orgulho esbanjando do
seu olhar. Realmente ela é uma grande mulher! Segurando o rosto
do seu companheiro, ela sorriu e olhou novamente para todos.
— Hoje, justamente esse dia ficará na história! O dia que
duas raças uniram suas forças para encontrar a normalidade no
mundo em que vivem. E justamente hoje eu devolvo esse equilíbrio
ao mundo sobrenatural.
Ditas tais palavras, Antonella voltou a olhar para o Supremo e
colou sua testa na dele. Logo uma luz negra e uma branca saíram
juntas de sua aura e foram transferidas para Francis. Assim que
acabou toda a transfusão do controle total dos seus poderes,
Francis cambaleou para trás, mas logo abriu seus olhos assumido o
vermelho total. O Supremo uivou altamente começando a se
transformar. Os lobos rapidamente se ajoelharam, fiz um gesto e
todos os meus vampiros já estavam longe da cena.
Agora sim, tudo voltou à normalidade. Francis era mais forte
que eu novamente. Merda!
Capítulo Cinquenta

Tudo tem seu tempo.


Há tempo para o próprio tempo, Tempo para amar,
Tempo para começar,
Um tempo para o fim se iniciar.
E, assim, outro início em um novo tempo recomeçar!

Mih Franklim
Antonella
Depois que chegamos na alcateia, fomos recebidos bem por
todos. Contei todas as mudanças que fiz quando assumi o comando
na ausência do Francis, como o fato de ter colocado o Thomas para
ser o Alfa. Francis parece ter ficado impressionado com o tanto de
mudanças que fiz, contudo, parece que gostou.
Mas agora, justamente um dia depois de tudo, ele não saía
do meu pé. Não desgrudava um minuto de mim, ainda mais quando
a curandeira da alcateia disse que a dor que senti foi um
deslocamento de placenta e poderia perder o bebê se não fizesse
repouso até que meu corpo se curasse. O que demoraria um pouco
mais, já que meu metabolismo ficou lento por causa da gravidez.
Enfim, ela disse que tudo estava bem e, no final, era só fazer
repouso que não estava em risco ou nada disso. Meu bebê estava
bem.
Mas Francis parece não entender isso. Até quando vou ao
banheiro, ele quer vir atrás. Céus, meu Lobão se tornou um chiclete
excessivo! Sem falar que parece que o jogo virou e, nesse
momento, Francis parece estar no cio.
Sorri dos meus pensamentos idiotas.
— Antonella... — Francis murmurou atrás de mim, enquanto
me desviava dos seus braços.
— Eu já disse, Francis, c-a-s-t-i-g-o! — falei quando me
sentei na cama e ameacei me levantar.
— Não, não, não! Você escutou a curandeira da alcateia,
aquele tombo na escada não foi bom. Você tem que ficar de
repouso até seu metabolismo se curar completamente e você sabe
que demora um pouco por causa da gravidez, meu amor. — Francis
me empurrou lentamente pelo ombro, para me deitar novamente, o
que me fez revirar os olhos.
— E você ainda está querendo abusar da minha pessoa. —
Francis sorriu do meu drama.
— Eu faço com jeitinho... — Francis beijou meu pescoço me
fazendo arfar.
— Não vou cair no seu jogo. — Senti meu coração disparar e
o empurrei de leve lutando contra minhas forças.
Não vou ceder aos encantos do Lobão!
Francis suspirou derrotado, se jogando ao meu lado na cama.
Era óbvio que eu queria tanto quanto ele, mas minha mãe me
ensinou a não ceder tão facilmente. Ele merecia um castigo, por
mínimo que fosse, torturá-lo um pouquinho era engraçado.
— Isso é covardia! — Francis me olhava com cara de
cachorro sem dono.
— Não é não. — Falei sorrindo. Ao me deitar sobre seu
peitoral, coloquei meu rosto no seu pescoço, sentindo o seu cheiro.
— É engraçado... o grande e temido...tam, tam, tam
...Supremo implorando por sexo... e completamente nas mãos de
uma mulher. — Disse como se estivesse narrando a cena, o que fez
ele rir apertando minha cintura, mas logo Francis ficou sério, vejo
suas pupilas se tornarem escuras, no momento que suas mãos
apertaram mais minha cintura.
Como o clima mudou assim?
— Não é só uma mulher... — Francis falou ficando
lentamente por cima do meu corpo. Não protestei estava
hipnotizada com seu olhar. — É a minha mulher... — beijou
lentamente meu pescoço.
— Francis... — a intenção era o repreender, mas minha voz
saiu manhosa demais. Merda!
— A minha companheira... — ele continuou a dizer enquanto
fazia uma trilha de beijos por meu pescoço. — A mãe dos meus
filhotes... — sorrindo me contorci sentindo a rigidez do seu membro
tocar minha coxa.
Golpe baixo!
Sem pensar duas vezes, iniciei um beijo lento em seus lábios,
que estavam secos e pareciam implorar pelos meus. Santa Selene!
Mamãe que me perdoe, mas não consigo ser tão resistente quanto
ela me ensinou a ser. Minhas mãos já estavam desgovernadas
subindo e descendo rapidamente pelas costas do Francis.
A maciez da sua pele e a quentura que seu corpo transmitia
me fizeram suspirar. O surpreendi virando na cama e ficando por
cima do seu corpo, coloquei uma perna em cada lado no seu corpo
e sorri maliciosamente. Francis sabia que conseguiu tirar meu alto
controle nesse exato momento.
— Sabia que não iria resistir. Você me quer tanto quanto eu
te quero, meu amor! — convencido disse me deixando tomar a
frente beijando seu peitoral que estava descoberto. Um pedaço de
mau caminho, meu pedaço de mau caminho!
— Não pense que é por você... — o provoquei. — Só estou
satisfazendo meus desejos de gravida. — Francis sorriu apertando
levemente minha bunda, assim que mordi seu lábio inferior.

***

Cinco meses depois...


— Mas é claro, doutor! — sorria empolgada.
— Podem ir até o trocador e vestir o pijama do hospital. —
Sorrindo para o médico, me levantei concordando freneticamente.
— Dá para tirar essa cara de bunda, pelo amor de Selene! —
Francis entrou no trocador comigo. Eu retirava minha calça com um
pouco de dificuldade devido ao enorme tamanho da minha barriga.
Uma barriga muito grande para cinco meses, eu acho.
— Ele tem mesmo que tocar sua barriga? — Francis
perguntou como se fosse o fim. Francis tinha ficado mais ciumento
quando se tratava de mim e da nossa lobinha.
— Sim, Francis! — suspirei me sentando. Francis me ajudou
a retirar minha blusa demonstrando o quanto não se agradava com
isso. — Combinamos que iríamos fazer a ultrassom. Eu quero ter a
certeza que tudo está bem com o meu bebê.
— Mas está. Você sabe que não gosto desse tipo de coisa,
ainda mais quando envolve humanos. — Francis falou me fazendo
revirar os olhos.
— Eu fui criada como humana e vou aderir a esse método
sim! Minha barriga está enorme e quero ter a certeza que tudo está
bem com minha garotinha. Concordei em fazer o parto da forma que
você achava certo na alcateia e você concordou em me deixar fazer
a ultrassom para que eu ficasse tranquila. Já sabemos que é
menina, mas eu preciso ter certeza que ela está bem e esse exame
vai mostrar isso.
—Tudo bem, tudo bem! Vamos acabar logo com isso! —
suspirando Francis me deu selinho.
Dentro desses cinco meses, muita coisa mudou. Thomas
ficou como o Alfa oficial da alcateia que estamos, Mateus e Mia
estão esperando seu primeiro bebê, ela está com um mês ainda.
Meus pais parecem dois andarilhos, só vivem viajando e
conhecendo o mundo, mas todos os dias ligam para saber do bebê.
Hugo está em um relacionamento sério com Valentina, a menina
que eu odiava na minha antiga escola. Não gosto dela ainda, mas,
se meu amigo está feliz, eu estou feliz. Não mantemos contato com
o Conde Estevan Russell, as coisas tomaram a normalidade, e a
velha rivalidade que Francis tem com ele falou mais alto. Mas, no
fundo, sei que Selene o juntará com minha lobinha.
Já eu e Francis, resolvemos nos casar no civil. Não gosto de
festas, e nem era meu sonho me casar na igreja. Sem falar que o
meu barrigão não ajudaria muito e, como ele queria um casamento
humano para me agradar, aceitei oficializarmos no papel. Mesmo
que isso não represente nem metade do nosso amor.
Minha gravidez está indo muito bem. Vou ter o parto normal
na alcateia com as parteiras. Mas quero fazer um ultrassom só para
garantir que tudo esteja bem com meu bebê. Mesmo que eu saiba
que sim. Não escolhemos o nome ainda, bom, deixei isso para o
Francis, já que minha família tem um histórico tosco para escolher
nomes de bebês. Mas me parece que foi uma péssima escolha, já
que ele só falou em nomes estranhos.
Acho que você não vai escapar da maldição dos nomes
estranho, minha lobinha! Acariciava minha barriga e ignorava a cara
nada boa do meu Francis. Ele não queria que eu fizesse a ultrassom
só porque o médico é homem e, de acordo com ele, não quer ver
um homem tocando a barriga da sua mulher e sua cria. Ridículo!
Mas até que ele está se saindo bem, claro, ele sabe que, se
discordar, vamos nitidamente discutir feio e eu, como sempre, vou
ter razão no final.
— Pode se sentar aqui, senhora Johnson Underwood. — O
doutor apontou para a maca e eu me sentei sobre ela. Francis ficou
ao meu lado, encarando cada gesto do médico.
— Estou ansiosa. — Digo sorrindo.
O médico sorriu concordando, assim que Francis segurou
minha mão. Calmamente em gestos respeitosos, ele abriu a
camisola do hospital que usava, deixando toda minha barriga de
fora e começou a espalhar um gel gelado sobre minha pele.
— Pode ser um pouco gelado, mas não vai doer nada. — O
doutor falou e concordei. — Entendo seu nervosismo. Vejamos, já
sabem o sexo do bebê? — ele perguntou assim que colocou o
aparelho na minha barriga e várias imagens meio turvas
apareceram na tela.
Não entendo nada disso.
— Menina. — Francis o respondeu. Apertei sua mão, sei que
para ele, é difícil passar por cima do seu orgulho.
— É isso mesmo. — O doutor confirmou o que sabíamos,
que era uma lobinha. — Vejamos, todas estão muito bem, e a
gravidez está se desenvolvendo perfeitamente bem.
—Todas? — o questionei o olhando um pouco assustada,
depois olhei para Francis vendo que ele tinha a mesma expressão
que a minha, dúvida.
— O que você quer dizer com todas, doutor? — Francis o
perguntou. O doutor olhou para nós dois sorrindo.
— Os três bebês estão perfeitamente bem, meninas fortes e
saudáveis.
— O QUÊ? — digo juntamente com Francis, deixando o
doutor constrangido.

Fim?
Epílogo

A nossa casa é onde a neve aquece.


A nossa festa, onde o luar acaba.
Cada verso próprio apodrece.
Cada jardim nos fecha a sua entrada.
Diga "alô" a uma nova história que é chegada!

Mih Franklim
Três anos depois Antonella
— FRANNNCCIIISSS? — gritava com raiva descendo as
escadas com Lizzie no colo.
— Mama tá blava... — ela falou um pouco assustada e eu
suavizei a expressão do meu rosto, beijando suavemente suas
bochechas.
— Meu amorzinho, mamãe não está brava com você. Só com
o seu papai! — abrindo a porta de casa rosnei ao ver a cena. — EU
ACHO BOM VOCÊ COLOCAR A CHLOE E A ELLA PARA DENTRO
AGORA!
— Para quê esse nervosismo todo, meu amor? Elas nunca
tomaram banho de chuva. — Francis falava como se fosse a coisa
mais normal do mundo.
— ELAS VÃO PEGAR UM RESFRIADO, PELO AMOR DE
SELENE, FRANCIS, ESTÁ TROVEJANDO, EU NÃO QUERO QUE
MINHAS FILHAS MORRAM POR UM RAIO NA CABEÇA. —
Gritava devido ao forte barulho da chuva que caía.
Ah, não, ele não está rindo! Eu vou matá-lo.
— Meu amor, elas são lobas. — Falou rodopiando Chloe no
ar, logo depois pegou a Ella, fazendo o mesmo. — Vem também,
querida, o papai está fazendo aviãozinho! — ele disse chamando a
Lizzie que mordeu os lábios querendo ir.
— Mama eu possu? Ou vlai fica blava? — Liz me olhou com
os olhinhos brilhando, o que me fez suspirar e colocá-la no chão,
deixando que corresse na chuva indo até o Francis, que a pegou no
colo, a rodando no ar.
Saio na chuva na direção das minhas filhas e, fechando a
cara para o Francis, cheguei perto dele, que colocou Lizzie no chão.
Ella começou a correr com os braços abertos como se estivesse
voando, já Lizzie se sentou no chão mexendo na lama, enquanto
Chloe pulava nas poças de água. Todas elas tinham um sorriso
enorme no rosto e isso me fez sorrir e diminuir um pouco da minha
raiva. Todas elas estavam encharcadas pela chuva, igual a mim,
igual ao Francis.
— Viu só? — chegando perto, Francis me puxou pela cintura,
colando nossos corpos.
— O quê? — mantinha meu olhar nas meninas, porém,
passei minhas mãos pelo pescoço do Francis.
— Nossas filhas estão completamente alegres. — Ele me
roubou um selinho molhado.
— Eclaaaa — as três disseram fazendo uma careta fofinha.
— Isso, continuem assim, meninas. — Francis olhava para
nossas meninas, me fazendo revirar os olhos.
— Minhas filhas vão beijar cedo. Não tem isso de eca não! —
Francis rosnou para mim como se me repreendesse, eu apenas
sorri.
— Chloe já começou, tinha que ver o selinho fofinho que ela
deu no Izaac. — O provoquei.
— COMO? Aquele moleque beijou minha lobinha? — disse
bravo e apertou minha cintura me fazendo rir.
— Ele só tem dois anos, Francis. — Neguei com a cabeça.
Extremamente possessivo!
— Vou conversar seriamente com Matheus, ele tem que
controlar o filho dele. — Francis falou. Dei um beijo em sua
bochecha, sentindo sua pele molhada pela chuva.
— Nós sabemos que não é bem assim... isso me preocupa
um pouco. — Me olhou acariciando meu rosto. — Chloe é apegada
ao Izaac, mas sabemos que ela é destinada ao Conde. — Suspirei
baixo.
— Entre o Izaac e o Estevan, obviamente, eu prefiro o Izaac
para a minha menina. — De forma divertida, Francis dizia
acariciando meu rosto.
Apoiei minha cabeça no peito do Francis enquanto olhava
minhas filhas brincarem alegremente na chuva. Chloe é cinco
minutos mais velha que suas irmãs, logo depois vem Lizzie, e, por
último, Ella. Minhas meninas completaram três anos um mês atrás e
só me enchem de orgulho.
Por Chloe ser a mais velha, ela herdará os poderes do
Francis e, por esse motivo, achamos que ela possa ser a
companheira do Conde Estevan Russell. Por falar no Conde, ele
não está nos arranjando problemas. Mesmo ele falando para o
Francis que não vai querer nada com a Chloe quando ela chegar à
idade adequada, sei que é completamente mentira, não se pode
fugir de sentimentos como esses.
Mateus e Mia tem um filho de dois anos. Izaac é um amor de
criança, Thomas e Amanda estão esperando um bebê, uma menina,
sem contar que a administração deles como Alfas é ótima. Amélia e
seus pais trocaram de matilha e estão em uma alcateia no norte da
França. Ouvi dizer que ela achou seu companheiro, graças a
Selene! Já o Hugo está noivo de Valentina, quem diria que daria
certo aquele romance louco deles. Eu e Francis nos mudamos para
uma casa maior e que fica mais na floresta. Francis continua como
Supremo, mas sempre consegue um tempo para sua família. Sem
dúvidas, nossa família é um presente de Selene.
Sobre minhas lobinhas, Chloe e Lizzie são ruivas com olhos
verdes como o de Francis, e minha Ella tem cabelos negros e olhos
azuis como os meus. Minhas garotas são lindas!
Virei meu rosto para o outro lado, olhado a enorme floresta.
Suspirei usando minha visão de lobo, assim que vi Estevan sobre a
Pedra do Lobo, a pedra que Francis sempre usava quando se
transformava. Estevan sorriu e piscou desaparecendo. Meu transe
foi quebrado quando Francis beijou meu pescoço, me trazendo de
volta à realidade.
— A gente podia ir fazer mais bebês... — Francis sussurrou
no meu ouvido para que as meninas não escutassem.
— Atchin! — olhei para minhas lobinhas e vejo que Ella
estava espirrando.
— Agora teremos que cuidar dos bebês que temos. — Disse
ao me soltar dos seus braços, pegando Ella no colo.
Eu falei que minhas meninas iriam ficar resfriadas.
DESCUBRA O QUE IRÁ ACONTECER EM...

O VAMPIRO DE ELLA

TRILOGIA UNDERWOOD LIVRO II


Um recomeço para você.
Um recomeço para nós!

Mih Franklim
Estevan

Vinte anos atrás...

Impaciente, apreensivo, nervoso e com o humor muito


alterado. Bom, é assim que me encontro hoje, e olhe que acabei
definitivamente de abrir os olhos. Essa semana havia sido uma
péssima semana que não consegui dormir.
Quanta incoerência!
— Conde, a sociedade das empresas Russell ligou. Querem
marcar uma reunião, para saber quem irá assumir como presidente
chefe. — Interrompo minha secretaria Samantha com um gesto,
assim que andávamos pelo vazio corredor.
— Ligue e marque para semana que vem, diga que indicarei
alguém para assumir, você mais que ninguém sabe que não gosto e
não tenho tempo para lidar com humanos. — Suspirei pesadamente
assim que passei pelas portas do meu escritório, dando de cara com
Willians.
— Willians, é uma lástima ver sua cara a essa hora do dia. —
Dizia com uma certa ironia, que o faz revirar os olhos.
— Fico feliz em saber que sentiu saudades Estevan. —
Willians se sentou de forma folgada na cadeira a frente da minha
mesa, o ignorei pegando alguns papéis.
— E como foi a viagem? — perguntei o olhando.
— Impecável! Há belas moças em Berlim. – Sorri
concordando com Willians.
— E qual é o motivo da sua visita? — digo ao cruzar os
braços.
— Como o combinado, iria passa na casa do pulguento, digo
do Supremo. — Um sorriso largo nasceu em meu rosto, notando
sua ironia ao falar sobre o digníssimo supremo.
— Então? — o perguntei ansiando sua resposta.
— A Luna ainda se encontra grávida, me parece que tudo
corre bem com a criança. — Afirmou levantando-se da cadeira.
— Ótimo! Obrigado pela informação, qualquer acontecimento
me avise. — Sem me importar, respondo-lhe assim que começou a
sair do meu escritório. — Willians? O que me diz sobre cuidar das
empresas Russell?
— Como? — disse parecendo um pouco espantando com a
proposta. Sorrio balançando uma pasta em mãos.
— Você sabe que não gosto de lidar com humanos e como
não quero me desfazer da empresa dos meus pais, vou arrumar um
representante, tem chances de se você Willians. — Afirmei, voltando
a organizar os papéis. — Agora se me de licença, retire-se.
— Claro, com sua licença. — Ainda disperso, Willians fez
uma breve reverência e saiu me deixando sozinho.
O dia se passou lentamente, cada segundo a mais, parecia
que ficava mais nervoso. O sangue gelado que corre em minhas
veias, parece aquecer-se de uma forma inexplicável. Não sei a
razão, mas, meu coração está totalmente acelerado.
Ironicamente ele nem bate!
Ao me levantar da cadeira suspirando, parei em frente à
grande janela que havia em meu escritório. Condizente com o clima
frio, as gotas de chuva caíam fortemente do lado de fora. Um forte
raio me deixou desconcertado, fazendo com que o copo de uísque
caísse de minhas mãos. Ao praguejar, me abaixei para recolher os
cacos de vidro, olhei para o céu vendo que outro raio, um pouco
mais forte, havia se formado me deixando hipnotizado. No momento
ao qual olhei para o céu, a lua apareceu de forma rápida, estando
magnífica. Em milésimos de segundos uma nuvem a cobriu, tendo
em seguida um estalo muito alto me fez piscar repetitivamente.
Ao sentir meu coração bater de forma rápida, coloquei a mão
sobre meu peito me apoiando na mesa, tentando recuperar o fôlego.
Fechei os olhos sentindo cada parte do meu corpo vibrar, por alguns
segundo meus olhos se mantiveram inteiramente vermelhos.
— Ela nasceu.
Agradecimentos

Minha Santa Selene, como tanta coisa mudou em tão pouco


tempo!
'Ela é do supremo' foi feito com tanto carinho, que fico
realmente feliz em saber que cada um de vocês embarcaram nas
loucuras da minha carreira como escritora.
Agradeço a minha agente literária, Awlly Cristyenn, cuja
pessoa foi a grande provedora para que esse livro se torne físico.
Precisaria de muitas páginas para descrever quão grata eu
sou ao meu amigo Lucas Castro. Obrigada por sempre acreditar e
apoiar o meu trabalho! Com toda certeza, você foi importante para o
desenvolvimento desse livro.
A Ketlyn Beatriz, eu sou imensamente grata por tudo! Você é
uma excelente amiga, obrigada por sempre me apoiar e escutar
todas minhas ideias loucas para livros.
Não poderia deixar de citar pessoas como Jéssica Borda,
Maria Eduarda Souza, Mikaelly Souza, Karol Neves, Sther de Sousa
Silva e Daisy Maria de Fabia, Lana Vilas Boas e até mesmo a
escritora Heloisa Batistini. Pessoas que me deram um
empurrãozinho, por menor que fosse, mas me ajudaram
imensamente. Obrigada por todas as dicas construtivas!
Agradeço a minha irmã Michele e a minha mãe Sirlene. Foi
de extrema importância ter vocês ao meu lado.
Dedico meu amor em especial aos leitores do Wattpad, que
estão me acompanhando nessa nova jornada, espero que vocês
tenham gostado da história do Francis e da Antonella.
Biografia da autora

Mirela Scardini Franklim, ou Mih Franklim, nasceu na


pequena cidade de Pancas, conhecida como Cidade Poesia, no
interior do Espírito Santo, em 2001. Em sua infância, sempre teve
acesso a livros. Mas foi só em 2017 que descobriu o seu amor pela
leitura através de um aplicativo de celular. Desde então se tornou
uma leitora de carteirinha, onde teve a iniciativa de escrever um
livro, que acabou atraindo mais de meio milhão de leitores que se
apaixonaram por essa história, alimentando assim sua paixão pela
escrita.

[1] frase em Russo: você vai sofrer lentamente em minhas mãos.

Você também pode gostar