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Dragon Lords of Valdier

Livro 5

Encurralando Carmen

Por S.E. Emith


É S E MP RE B O M L E M B R A R Q U E …

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Faça sua parte e divirta-se!


Carmen Walker passou os últimos três anos de sua vida se concentrando em vingar

o assassinato de seu marido. Seguindo as pistas para o homem responsável, ela

finalmente tem a chance de encerrar a dor e a tristeza avassaladoras que estão lentamente

consumindo-a. Pegando uma carona no jato executivo que sua irmã está co-pilotando,

segue para a Califórnia para se encontrar com seu informante. Os planos mudam quando

uma das mulheres a bordo é sequestrada ao pousar e Carmen é mortalmente ferida. Ela

acorda para se encontrar a bordo de uma nave de guerra alienígena rumo a um mundo

distante.

As habilidades de Creon Reykill como guerreiro são lendárias entre os Valdier. Ele

é creditado por encerrar as guerras entre os mundos Valdier, Curizan e Sarafin e

construir uma forte aliança com seus antigos inimigos. Mas essa vitória teve um custo.

Creon perdeu as esperanças de encontrar sua verdadeira companheira, acreditando que

sua alma é escura demais para ter uma.

Tudo muda quando uma pequena e delicada fêmea diferente de tudo que ele já viu

antes é trazida ao seu mundo. No momento em que a olha, sabe que ela pertence a ele.

Seu dragão fará qualquer coisa para reclamá-la, sua simbiose fará qualquer coisa para

protegê-la e ele fará qualquer coisa para afastar as sombras de seus olhos. Pois ele sabe

que encontrou a luz de suas trevas.


Agora, o desafio será encurralá-la por tempo suficiente para que ela perceba que ele

é o único no universo que pode curar seu coração despedaçado. Ela lutará com ele a cada

passo para voltar para casa e terminar o que começou. E ele fará tudo ao seu alcance para

mantê-la ao seu lado. Será necessário usar todas as habilidades que possui para ficar um

passo à frente dela.

Ele pode convencê-la a dar ao amor uma segunda chance antes que ela arrisque

tudo, incluindo sua vida, por vingança?


O texto a seguir foi revisado de acordo conforme as novas Regras Ortográficas,
entretanto, com o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a revisão pode sofrer
alterações e apresentar linguagem informal em vários momentos, especialmente nos
diálogos, para que estes se aproximem da nossa comunicação comum no dia a dia.

Alguns termos, gírias, expressões podem ser encontrados bem como objetos que não
estão em conformidade com a Gramática Normativa.

Boa leitura!
Florencia, Colômbia, três anos antes…

— Carmen, lembre-se de cuidar de suas costas. — Scott disse enquanto roçava um

beijo em seus lábios. Ele tinha um mau pressentimento sobre esta noite. — Não gosto

disso. Esta reunião é muito importante para o cartel de drogas ignorar. Se o governador

desta região obtiver o apoio de que precisa, o cartel perderá o controle sobre a área.

Carmen sorriu para o homem que era seu marido há quatro anos. Podiam ter se

casado há pouco tempo, mas ele foi o amor da vida dela desde o primeiro dia no jardim

de infância, quando a defendeu contra outra garotinha que estava mexendo com ela. Ela

colocou os braços em volta do pescoço e enterrou o rosto contra ele, inalando seu

perfume maravilhoso.

— Eu vou. — Sussurrou. — Tenho um bom motivo para ser extremamente

cuidadosa agora. — Ela riu.

Scott se afastou e olhou para o rosto brilhante de Carmen. Seus olhos se arregalaram

quando entendeu o que ela queria dizer. Seu rosto se contraiu com repentina

preocupação. Nunca deveria ter aceitado esta última designação. Praguejou baixinho

enquanto sua mente repassava tudo o que poderia acontecer.


— Shhh. — Carmen sorriu para ele. — Esta noite deve ser fácil. Você e sua equipe

estão cobrindo o governador e sua esposa. Minha equipe cobrirá seu filho. Nos

encontraremos no aeroporto e colocaremos todos no avião. Depois disso, a tarefa estará

concluída e iremos para casa. Nós cobrimos todos os cenários. — Ela adicionou enquanto

os braços dele a envolveram com força.

— Quando... quando você descobriu? — Scott perguntou com voz rouca, movendo

uma das mãos para descansar na barriga ainda plana de Carmen.

— Esta manhã. — Ela riu novamente. — Pedi para Maria pegar um teste de gravidez

para mim enquanto ela estava fora.

Scott passou os braços em volta de Carmen e a segurou como se ela fosse a coisa

mais preciosa do mundo. E ela era exatamente isso para ele. Ele se apaixonou por ela no

momento em que olhou em seus olhos castanhos escuros; quando os dois tinham cinco

anos. Ela estava no parquinho com os punhos erguidos e uma expressão obstinada e

feroz no rosto. Ele ficou lá observando Sally Mae dar um passo para trás enquanto

Carmen avançava para ela. Sally Mae estava puxando as tranças de Carmen e ela estava

farta disso. Quando um dos amigos do segundo ano de Sally Mae empurrou Carmen,

Scott se cansou. Ele entrou lançando um soco. Ninguém mexia com a menininha de olhos

cor de chocolate amargo, cabelos da cor do sol e o rosto mais bonito que ele já vira.

Sally Mae e seus amigos o espancaram, mas valeu a pena. Daquele dia em diante,

Carmen e ele ficaram inseparáveis. Quando chegaram ao colégio, ele pediu que ela fosse

sua namorada para sempre e ela concordou. Seus pais se preocuparam no início, mas

finalmente aceitaram os sentimentos incrivelmente especiais que Carmen e Scott tinham


um pelo outro. Scott tinha prometido a seus pais e a Carmen que esperaria até que eles

se casassem antes de agir de acordo com seus sentimentos. Quando os pais de Carmen

morreram em um acidente de carro durante o último ano do ensino médio, isso selou

sua determinação de cuidar da garota dos seus sonhos. Casaram-se dias depois da

formatura e embarcaram na vida de aventura da qual falaram durante anos.

Agora, enquanto Scott olhava para os olhos animados de Carmen, ele se perguntou

se havia tomado as decisões certas. Ele deveria ter desistido há seis meses. Carmen queria

aceitar esta última missão, mas ele deveria ter dito não. Sim, isso lhes daria o dinheiro

extra de que precisavam para abrir seu próprio negócio em casa, mas o medo de que algo

pudesse acontecer com ela o inundou com a necessidade de protegê-la diferente de tudo

que ele já havia sentido antes.

— Eu te amo, Carmen Walker. — Scott disse calmamente. — Esta noite é a última

vez. Amanhã iremos para casa e começaremos uma nova vida. — Scott murmurou

enquanto se afastava. — Não quero que você vá com a equipe esta noite. Quero que

espere por mim aqui, onde sei que estará segura.

Carmen balançou a cabeça, rindo.

— Você está ficando todo protetor comigo, Scott Michael Walker? Porque se você

estiver, deixe-me lembrá-lo.... — A voz de Carmen sumiu quando Scott pressionou seus

lábios contra os dela.

— Sim, eu estou. Eu também sou o chefe desta operação, caso você não se lembre.

— Scott disse intensamente. — Fique no carro, pelo menos. O resto da equipe pode

garantir que José estará em segurança a bordo do avião.


Carmen amoleceu quando viu o medo nos olhos de Scott.

— Tudo bem. — Ela concordou, carinhosamente passando a mão em sua bochecha.

***

Mais tarde naquela noite, as equipes partiram. Cada equipe faria uma rota diferente

e utilizaria vários veículos diferentes para transportar o governador da província local

na Colômbia e sua família ao aeroporto. As ameaças do grupo local do cartel

aumentaram e Scott estava levando cada uma delas a sério. Ele deu ordens estritas às

equipes para não correrem riscos.

Scott se aproximou de Carmen quando ela estava prestes a entrar no veículo com o

filho de dez anos do governador Álvaro, José. Ele a puxou para o lado e deu um beijo

forte em seus lábios. Seus olhos brilharam com determinação quando ele olhou para ela.

— Se houver algum problema, se você sentir mesmo a mais leve coceira de que algo

está errado, dê o fora. — Ele disse severamente. — Faça o que for preciso para

permanecer segura, Carmen. Você é minha vida. Eu te amo.

Carmen sorriu para os olhos verdes de Scott.

— Idem para você. Eu te amo muito. Fique seguro. — Ela colocou uma mão

protetora sobre seu estômago. — Por nós dois.


Scott deu outro beijo forte em seus lábios antes de se afastar e gritar para que todos

se mexessem. Ele olhou para trás para Carmen uma última vez antes de se mover em

direção ao veículo com o governador.

***

Carmen olhou para a escuridão que cercava o veículo. A viagem para o aeroporto

foi felizmente monótona. Eles haviam feito vários cortes antes de virar para entrar pelo

Norte. Carmen era a única que sabia como eles se aproximariam. Scott se certificou de

que apenas o líder da equipe de cada veículo conhecesse a rota para reduzir a chance de

vazamento.

O SUV preto parou no portão. Marcus, um dos membros da equipe avançada, abriu

o portão com um aceno de cabeça. Ele deu o sinal de que Scott e os outros já estavam lá.

Scott estava perto do avião quando eles pararam. Carmen saiu primeiro, olhando ao

redor. Ela acenou para os outros dois homens no carro que estava tudo limpo. Sorriu ao

ver o rosto assustado do menino que se sentava em silêncio no banco de trás.

— Você vai andar comigo? — José perguntou em voz baixa.

— Sí. — Carmen disse gentilmente em espanhol. — Vamos, vamos falar com seus

pais.
Ela estendeu a mão e apertou a dele em encorajamento quando ele colocou sua mão

menor na dela.

— Está quase acabando. — Ela sussurrou com uma piscadela.

Seu sorriso hesitante quebrou seu coração. Uma criança nunca deveria sentir esse

tipo de medo. Scott a avisou que o cartel poderia ter como alvo o menino, em um esforço

para se vingar da repressão do governador contra eles. Carmen se certificaria de que eles

nunca o alcançassem. As crianças eram a essência da inocência e deveriam ser protegidas

a todo custo.

Ela estava na metade do caminho para o avião quando o SUV do qual tinham

acabado de sair explodiu, jogando todos eles no chão. Carmen instintivamente rolou seu

corpo sobre José e cobriu sua cabeça. Ouviu os sons de tiros automáticos à distância

acima do som dos motores do jato acelerando. Balançou a cabeça para limpar o zumbido

em seus ouvidos. Carlos e Enrique estavam lutando para se levantar ao lado dela.

Forçando seu corpo para cima, puxou José com ela fazendo questão de protegê-lo

enquanto o empurrava em direção ao avião. Carlos estava atirando atrás deles em vários

veículos que irrompiam pelos portões e se aproximavam em alta velocidade.

Carmen viu Scott respondendo ao fogo contra os veículos que se aproximavam

enquanto corria em sua direção. E se engasgou ao sentir uma bala perfurar sua coxa. Ela

desabou com um grito. Enrique mergulhou, agarrando José e correndo em direção ao

avião com Carlos cobrindo suas costas. Carmen rolou, segurando a perna com uma das

mãos enquanto disparava sua pistola 9 mm semiautomática contra os veículos.


O tiroteio estourou novamente e Carmen estremeceu quando uma das balas a

atingiu no braço, jogando-a para trás no pavimento. Sua cabeça se virou quando ouviu

outras balas atingindo outra coisa não muito longe dela. Um grito de negação saiu dela

enquanto observava o corpo de Scott sacudir quando uma série de tiros o cortou. Ele caiu

a cerca de dois metros e meio dela. Carmen lutou contra a agonia que queimava seu

corpo, determinada a chegar ao homem que amava. Ela chegou a menos de um metro

dele antes que um par de sapatos polidos surgisse em sua linha de visão.

A figura se abaixou, segurando seu ombro ileso, e a virou até que ela estava olhando

diretamente para os olhos negros de Javier Cuello. Os olhos de Carmen se afastaram

daqueles olhos frios, tentando encontrar Scott. Seu único pensamento era chegar até ele.

— Tanta beleza. — Javier disse suavemente, afastando uma mecha de cabelo loiro

branco do rosto de Carmen e virando sua cabeça em sua direção. — Ouvi falar da jovem

da equipe de segurança americana que protegia o governador e sua família. Meus

informantes não mentiram quando disseram que a mulher era de uma beleza

excepcional. — Disse ele, rindo quando Carmen tentou virar a cabeça novamente.

Javier olhou para onde Scott estava deitado, lutando para respirar.

— Ele significa algo para você, sí? Os outros, eles não se importam tanto com você.

Eles a deixaram sozinha. — Ele disse, balançando a cabeça e passando o polegar sobre

seu lábio inferior. — Talvez eu deva mantê-la como um prêmio.

Os olhos de Carmen brilharam de fúria.


— Vá para o inferno. Você é um covarde e um valentão. — Carmen engasgou com

a voz rouca.

Javier riu.

— Um valentão? — Ele respondeu, rindo alto enquanto olhava para seus homens.

— Não sou chamado de valentão desde que era criança. — Disse ele, voltando-se para

olhar para Carmen com um sorriso frio. — Não pequena americana, eu não sou um

valentão. Sou um assassino de coração frio.

Um soluço escapou de Carmen quando seu olhar seguiu Javier enquanto ele se

levantava e caminhava até onde Scott estava deitado. Scott olhou para Javier antes de

virar os olhos para Carmen. Ela viu amor, aceitação e arrependimento em seus olhos.

— Não! — Carmen tentou gritar. — Afaste-se dele! Afaste-se dele! — Ela soluçou,

lutando para se mover.

Javier acenou com a cabeça para um de seus homens para segurar Carmen enquanto

ele usava o pé para cutucar Scott.

— Você não precisa se preocupar. Vou cuidar muito bem de sua mulher. — Javier

sorriu enquanto puxava uma arma de seu bolso. — Por muito, muito tempo. —

Acrescentou ele antes de puxar o gatilho.

Os gritos de Carmen perfuraram a noite. As lágrimas queimaram, mas se recusaram

a cair enquanto ela observava o homem que significava o mundo sacudir uma vez antes

de permanecer imóvel. Um frio envolveu seu corpo e alma enquanto olhava nos olhos

cegos de Scott. Seus dedos agarraram a faca que ela havia desembainhado ao lado do
corpo. Seus olhos se voltaram para Javier, que balançou a cabeça em desgosto antes de

deslizar a arma de volta em seu bolso.

— Agora, que cuidei da competição.... — Ele disse casualmente, movendo-se para

se agachar ao lado de Carmen novamente. — você será minha.

— Quando o inferno congelar. — Disse Carmen em uma voz sem emoção enquanto

levantava a faca que segurava com força em seu punho.

Ela enterrou a faca o mais profundo que pôde na coxa de Javier. Ele caiu para trás

com uma maldição estrangulada, agarrando a faca espetada em sua perna. Um de seus

homens sacou sua arma e disparou contra Carmen várias vezes, enquanto vários outros

homens puxavam Javier para longe dela. Ela sorriu enquanto ouvia os sons fracos dos

gritos de Javier enquanto eles o moviam de volta para seu veículo. À distância, ouviu o

som de sirenes, mas nada disso importava para ela. Ela usou o que restava de sua força

para estender o braço bom para onde Scott estava deitado perto dela. Precisava tocá-lo

uma última vez. Um soluço ficou preso em seu corpo machucado, mesmo enquanto as

luzes piscantes giravam ao redor deles.

Eu preciso tocá-lo.... uma... última... vez, ela pensou vagamente enquanto seus dedos

carinhosamente roçavam sua bochecha antes que a escuridão a envolvesse.


A bordo da nave de guerra Valdier V’ager: Dias atuais

Carmen ficou paralisada na plataforma do transportador. Uma parte dela queria se

rebelar contra deixar a nave de guerra alienígena em que ela havia acordado semanas

antes. Estava com medo de que, uma vez que estivesse fora da nave de guerra, todas as

chances de encontrar um caminho para casa seriam perdidas. Olhou para sua irmã. Sabia

que no fundo Ariel estava aliviada com a estranha reviravolta dos acontecimentos em

suas vidas. Ariel acreditava que Carmen teria que desistir de sua sede de vingança agora.

Isso nunca aconteceria, Carmen pensou com tristeza. Nem que seja a última coisa que eu

faça, voltarei para a Terra.

Carmen não se lembrava do momento real em que foi trazida a bordo da nave de

guerra. Ela estava morrendo. O homem que sequestrou Abby, a artista que estava

viajando com elas, a esfaqueou. Ela não o viu puxar a faca até que fosse tarde demais.

Foi distraída pelos sons de alguns animais selvagens que a haviam assustado. Ou, pelo

menos, pensava que fossem animais selvagens. Carmen não tinha certeza em que

categoria os homens que se transformavam em dragões estariam classificados no mundo

científico. Pessoalmente, ela realmente não dava a mínima. Sua maior preocupação era

voltar para casa.


A princípio, uma parte dela ficou furiosa por morrer antes de terminar o que

prometera a Scott. Mesmo enquanto aquela fúria a percorria, outra parte dela estava

aliviada que a intensa dor que tinha vivido nos últimos três anos estava prestes a acabar

de uma vez por todas. Cedeu à sensação de paz que a envolvia em seus braços apertados,

pronta para finalmente se juntar a Scott.

Quando acordou há quase um mês na unidade médica a bordo de uma nave de

guerra alienígena, a fúria a inundou. Ela enganou a morte novamente. Passou a primeira

semana descontando sua raiva nos homens a bordo da nave de guerra na esperança de

que eles apenas a tirassem de seu sofrimento. Depois da primeira semana, entretanto,

teve que admitir relutantemente que começou a gostar dos alienígenas esquisitos. Eles

tinham um senso de humor excêntrico.

E, eles eram bons lutadores, pensou, olhando para alguns dos homens olhando para

ela de uma forma que a deixou desconfortável.

Sabia que eles só iam à unidade médica para fazê-la se sentir bem. Ela podia ter

causado alguns novos hematomas, mas nunca realmente machucou nenhum deles. Bem,

exceto pelos dois caras da primeira vez, quando ela ainda estava na unidade médica.

Ariel, Trisha e ela os pegaram de surpresa e usaram alguns golpes menos do que justos

para os nocautear. Foi quando a raiva atingiu seu apogeu. Depois disso, era quase

divertido quando um dos guerreiros chegava à porta de seus quartos antecipando sua

resposta.

Ela usou esse tempo para praticar e desenvolver suas habilidades. Treinou com os

homens com quem lutou, desfrutando de sua maior força e agilidade. Isso a ajudou a
voltar à forma, fez o tempo a bordo passar voando e aprimorou suas habilidades de luta.

Percebeu que poderia usar todas as habilidades que pudesse aprender quando voltasse

para a Terra. Precisaria delas para chegar a Cuello quando o encontrasse.

Carmen balançou a cabeça e se concentrou enquanto ouvia Trelon dizer ao homem

atrás do transportador para transportá-los para baixo. Precisava aprender tudo o que

pudesse se quisesse escapar. Era melhor manter suas memórias onde pertenciam agora,

no passado. O local se iluminou ao seu redor e ela sentiu uma sensação de desorientação

antes de tudo ficar borrado.


Creon Reykill não estava de bom humor. Na verdade, ele estava de péssimo humor

quando seu irmão mais velho agarrou seu braço, virando-o na direção da sala de

transporte localizada em uma das alas do palácio. Era o último lugar que ele queria ir.

Odiava mulheres chorosas. Odiava mulheres frágeis, pegajosas e choronas. Dê a ele uma

forte fêmea Sarafin ou Curizan qualquer dia. Não que não houvesse algumas mulheres

Valdier que pudessem competir por sua atenção, mas pelo menos ele não tinha que se

arriscar a encontrar novamente uma mulher Sarafin ou Curizan com quem se deitou, a

menos que quisesse. Todas as mulheres Valdier queriam algo dele; ou seja, uma posição

elevada, o conforto do palácio, e ele esperando para fazer tudo o que quisessem.

Clarmisa era um exemplo perfeito de tudo o que ele odiava nas mulheres fracas. Ele

acabou tendo que deixar o planeta antes que ela voltasse para seu clã. Ela o enlouqueceu

com suas lamentações: a comida estava muito fria, os quartos muito pequenos, os criados

muito rudes. Então, começou a ser pegajosa. Era muito fraca para andar sem ele

segurando sua mão ou estava assustada com as sombras nos corredores. Ele não sabia

por que ela o tinha como alvo. Finalmente teve o suficiente na noite em que ela entrou

em seus aposentos. Ela desabou em uma torrente de lágrimas depois que ele ordenou

que ela saísse de seus quartos. Clarmisa teve muita sorte de sua simbiose não a ter

matado. A única coisa que a salvou foi provavelmente o desgosto de até mesmo tocá-la.

Creon sentiu seu dragão estremecer ao pensar em tocar a linda, mas vazia, princesa

Valdier. Podia sentir sua própria pele arrepiar ao se lembrar dela tocando seu peito com
seus dedos macios. Ele havia tomado um longo banho quente antes de fazer as malas e

partir novamente para o sistema estelar Sarafin. Havia retornado há apenas alguns dias.

Estava procurando informações sobre o sequestro de seu irmão mais velho, Zoran mas

sabia que os Curizan não estavam por trás disso. Ele era o melhor amigo de Ha'ven, o

líder Curizan. Um de seus informantes mencionou a possibilidade de que Vox, o líder

Sarafin, pudesse saber de algo. Creon era amigo do enorme shifter felino. Eles eram uma

espécie astuta, tão ferozes quanto habilidosos. Ele salvou o grande filho da puta durante

uma das batalhas nas Grandes Guerras. Enquanto Vox se recuperava, Creon e ele

conversaram. Eles descobriram que havia mais por trás das guerras do que foram

levados a crer, mas certas facções dentro de seus governos os alimentavam com

informações falsas. Uma amizade foi formada e eles trabalharam juntos nos bastidores

com Ha'ven para expor a trama para derrubar cada um de seus respectivos governos.

— Ainda não entendo por que preciso estar lá. — Creon murmurou para Mandra

enquanto caminhava ao lado dele. — Não é ruim o suficiente eu ter que lidar com

Clarmisa se esgueirando para a minha cama? Por que eu tenho que lidar com essa espécie

fraca que Zoran está trazendo de volta? Certamente você pode lidar com isso. — Ele

gemeu.

Mandra olhou para seu irmão mais novo.

— Você me deve! Depois que você saiu, tive que lidar com ela e o pai dela. Ele queria

exigir que você a reivindicasse como sua companheira. No final tive que ameaçar desafiá-

lo se ele não voltasse para o seu clã. — Ele rosnou de volta. — Posso lidar com uma

mulher frágil e chorosa, mas não com duas. Trelon disse que precisava de ajuda com as
duas irmãs. Conversamos ontem sobre como elas eram delicadas e frágeis. Assim que as

instalarmos, teremos a mãe e os curandeiros cuidando delas.

Creon gemeu silenciosamente. Odiava lidar com situações como essa. Dê a ele uma

boa luta, algum trabalho secreto, até mesmo uma tentativa de assassinato em sua vida,

mas nunca, nunca uma mulher carente. Suspirou enquanto seguia Mandra para a sala

de transporte. Fez uma pausa para olhar ao redor, esperando que as fêmeas já tivessem

chegado e por algum milagre não as tivessem visto.

Caminhou até um pequeno grupo de guerreiros que reconheceu por estar na nave

de guerra de seu irmão Kelan. Eles devem ter descido antes. Ficou surpreso por eles

ainda estarem aqui. Normalmente, uma vez que os guerreiros chegavam, eles

desapareciam para encontrar uma ou duas mulheres dispostas.

— Bem-vindo ao lar. — Disse Creon calmamente. — Estou surpreso que ainda esteja

aqui. Achei que já teria corrido para uma das casas de prazer agora. — Brincou ele, dando

um tapa no ombro de Jurden.

Se havia uma coisa em que ele se destacava, era em deixar os outros à vontade e

obter informações. Trelon tinha os lábios fechados quando conversaram com ele. Creon

gostava de lidar com todas as informações que pudesse obter. Se as mulheres precisavam

de um curandeiro imediatamente, ele queria um por perto para cuidar delas o mais

rápido possível.

Jurden sorriu para Creon.


— É bom estar de volta, Lorde Creon. Estamos esperando as fêmeas humanas serem

transportadas para baixo. Eu continuo esperando para ver se posso capturar a de cabelo

curto. Ela é inacreditável!

Creon franziu a testa. Por que um guerreiro tão feroz como Jurden quer uma fêmea

alienígena fraca? Ele ouviu enquanto os homens brincavam sobre ser o único forte o

suficiente para capturar o coração da mulher alienígena. Eles riram sobre como Tammit

ainda se gabava de seu encontro com ela.

Do que em nome dos Deuses eles estavam falando? Creon se perguntou com um

aceno de cabeça. Olhou para Mandra com um encolher de ombros confuso. Certamente

deviam estar falando de outra pessoa.

Não havia como estarem falando sobre as fêmeas do planeta em que seu irmão

pousou. Ele tinha visto e conversado com a companheira de Zoran. Ela era tão gentil e

delicada quanto as flores de sua mãe. Parecia que uma brisa suave iria derrubá-la.

Creon se virou para dizer algo a Mandra quando o corpo de seu irmão, Trelon, e três

mulheres apareceram na plataforma do transportador. Creon observou desapontado

quando três pequenas figuras apareceram ao lado de Trelon. A mais próxima dele

parecia uma criança. As outras duas mulheres eram semelhantes na cor, mas isso era

tudo que tinham em comum, pelo que ele percebeu com um rápido olhar. Ficou surpreso

quando ouviu Trelon gritar para ele e Mandra agarrarem as fêmeas. Trelon agarrou a

menor por cima do ombro e saiu correndo para a porta. Creon se virou a tempo de ver a

mulher de longos cabelos brancos plantando o pé com a bota no rosto do irmão.


Creon se virou para agarrar a mulher de cabelo curto. Gritos de advertência dos

homens atrás dele chegaram tarde demais. Ele alcançou o braço da mulher apenas para

sentir seu corpo deixando o solo e subindo no ar por um breve momento. Foram apenas

seus anos de treinamento que o impediram de cair de costas. Ele torceu no último

minuto, caindo de pé com um rosnado.

A figura esguia se virou para ele e golpeou sua garganta. Creon recuou um passo

enquanto se afastava do golpe que o teria deixado com falta de ar se o tivesse atingido.

Sentiu seu dragão rugir e empurrar contra sua pele em uma batalha feroz para se libertar.

Escamas negras, a cor do céu noturno mais escuro, ondulavam sobre seus braços e seu

pescoço enquanto ele lutava pelo controle.

— Que diabos está acontecendo com você? — Ele explodiu enquanto se esquivava

de outro golpe com o objetivo de incapacitá-lo e girou para circundar a figura.

— Companheira! — Seu dragão ofegou. — Minha companheira! Eu capturo minha

companheira.

— Companheira? — Creon perguntou confuso ao sentir uma bota se conectar com

seu estômago enquanto perdia o foco. — Você acha que esse demônio que está tentando

nos matar é sua companheira? — Ele ofegou enquanto tentava sugar o ar quando o

próximo chute dela acertou sua virilha.

Creon bloqueou golpe após golpe tentando evitar que seu traseiro fosse chutado

enquanto tentava ganhar o controle de seu dragão. A maldita coisa estava se recusando

a ouvi-lo enquanto lutava para escapar e agarrar a fêmea que se movia com movimentos
rápidos como um relâmpago. Ele finalmente teve o bastante e soltou um rugido alto e

frustrado quando finalmente colocou os braços ao redor de sua forma esguia.

Estava com medo de abraçá-la com muita força, caso a machucasse. Esse foi seu

primeiro erro. Ela aproveitou a proximidade para infligir mais danos. Ele sentiu a cabeça

dela bater em seu olho esquerdo em um golpe que trouxe lágrimas aos seus olhos. O

segundo erro foi pensar que se ele puxasse a cabeça dela para mais perto, ela não poderia

bater nele novamente. Ele gritou quando os pequenos dentes dela apertaram sua orelha

em uma mordida viciosa que o fez se soltar. Esse foi seu terceiro erro. Isso o deixou

vulnerável ao joelho dela, que encontrou o caminho para sua virilha antes de se conectar

com sua boca.

Creon viu estrelas ao soltar a feroz selvagem de cabelos brancos. Ele recuou vários

passos tentando recuperar o fôlego enquanto colocava as duas mãos nos joelhos para se

firmar para não cair de bunda. Cuspiu o sangue de seu lábio estourado enquanto

respirava fundo, desejando afastar a dor.

— Vá! Por que você espera? Nossa companheira fugiu. Persiga ela! Persiga ela! — Seu

dragão pulou dentro dele.

— Persegui-la? Eu vou estrangulá-la! Só não sei se vou fazer isso antes ou depois de

matar Trelon. — Creon rosnou, endireitando-se dolorosamente.

Ele olhou para os homens tentando esconder suas risadas.

— Acho que vocês precisam explicar onde nas bolas do dragão meus irmãos

conseguiram essas fêmeas e de quem foi a ideia estúpida de pensar que eram delicadas?
— Creon rosnou, enxugando o sangue da boca e estremecendo ao sentir primeiro o olho,

depois a orelha.

— Aquela pequena selvagem quase me castrou! — Creon rosnou quando os homens

começaram a rir. — Sem mencionar que quase arrancou minha orelha com uma mordida.

Jurden sorriu.

— Agora você sabe por que estávamos esperando. Elas não são magníficas?

Creon apalpou sua orelha novamente, fazendo uma careta ao toque de sangue que

escapou de seus dedos.

— Simplesmente magnífica. — Ele respondeu sarcasticamente. — E você vai calar a

boca! Você não está ajudando meu nível de dor neste momento. — Ele rosnou.

— Meu Senhor? — Jurden perguntou confuso.

Creon lançou um olhar de dor para os homens o olhando como se ele tivesse perdido

mais do que uma luta.

— Você não. — Ele fez uma nova careta indo em direção à porta. — Meu estúpido

dragão pensa que o demônio é sua companheira. — Ele resmungou enquanto as portas

se fechavam atrás dele.

***
Carmen girou em círculo. Ela estava em algum tipo de corredor longo. As janelas do

chão ao teto refletiam a luz brilhante do planeta. Quando finalmente escapou do homem

que tentava agarrá-la, tudo que conseguia pensar era em encontrar um lugar para se

esconder e se reagrupar. Correu para fora da sala como se os cães do inferno estivessem

atrás dela. De certa forma, ela se sentia como se ainda estivessem. No momento em que

aquele homem a tocou, algo dentro dela reagiu a ele. Isso... a assustou. Carmen

murmurou uma maldição sob sua respiração. Isso foi estúpido. Os únicos sentimentos

que havia deixado dentro dela eram de vingança.

Ela caminhou ao longo do corredor até chegar a outro conjunto de escadas estreitas

que conduziam para cima. Olhou para trás brevemente para se certificar de que ninguém

a estava seguindo antes de se virar e dar um passo hesitante para frente. Logo ela estava

subindo as escadas, olhando maravilhada para os murais do teto e as esculturas nas

paredes. Correu uma mão ao longo da pedra branca que brilhava com pequenos cristais

que refletiam enquanto sua mão se movia sobre eles.

Carmen dobrou a esquina no topo e parou sem acreditar na magnificência do átrio

que preenchia o andar superior. O teto era de vidro transparente, chegando a quase dez

metros de altura. Plantas de todos os tamanhos, formas e cores cresciam em abandono

selvagem. Carmen se virou tentando ver tudo de uma vez, mas havia muito para ver.

Flores brilhantes pendiam e vinhas com verdes, roxos e rosas pulsantes enrolavam-se em

altas estátuas de dragões e outras criaturas que nunca tinha visto antes.

Ela andou ao longo dos caminhos estreitos, curvando-se sob as vinhas suspensas,

tocando nas flores e ofegando quando elas se fechavam de repente. No centro do átrio

havia uma piscina elevada. Pequenas fontes em forma de pássaros despejaram água de
volta na piscina. No final, a enorme forma de um dragão deitado de costas com água

escorrendo de sua boca e sobre sua barriga formava uma pequena cachoeira.

Carmen se aproximou para olhar seu reflexo na superfície da água. A tristeza a

inundou enquanto ela olhava nos olhos que costumavam brilhar de excitação. Agora

tudo o que via era desolação e dor. Ela estendeu a mão, espirrando na superfície até que

não pudesse mais ver sua imagem antes de se sentar na beira da piscina. Inclinou a

cabeça para olhar para o teto, sem vontade de olhar em seus próprios olhos novamente.

Através do vidro transparente ela podia ver as imagens de dragões reais voando no alto.

Envolvendo os braços em volta da cintura, ela balançou para frente e para trás.

— Oh, Scott, eu gostaria que você pudesse me abraçar novamente. — Ela sussurrou

em uma voz suave. Mesmo tão baixinho quanto ela falava, o som parecia ecoar acima do

som da água. — Estou com tanto medo. Eu não sei o que fazer.

Ela ficou sentada por um longo tempo, deixando um plano após o outro fluir por

sua mente, na tentativa de descobrir como poderia voltar para casa. Descartou um após

o outro quando percebeu que não tinha ideia de onde estava, muito menos como pilotar

uma nave espacial. Sua mão se moveu para a faca que sempre mantinha com ela. Era a

faca de caça de Scott. Era a faca que ela usaria para matar Cuello quando o encontrasse.

Seus dedos correram sobre o cabo antes que ela os envolvesse e puxasse para fora. Ela

mantinha a lâmina tão afiada quanto o bisturi de um cirurgião. Levantando a mão,

deixou a ponta cortar a palma fundo o suficiente para tirar sangue. Ela precisava daquele

pequeno lembrete de que ainda estava viva, de que ainda tinha a chance de completar a

última tarefa que havia estabelecido para si mesma.


Carmen se assustou quando ouviu o som de garras raspando na pedra. Levantando-

se lentamente, ela embainhou a faca na cintura e olhou ao redor. As plantas se moveram

para a esquerda, então ela se moveu para a direita, tentando manter a borda da piscina

entre ela e o que quer que estivesse vindo em sua direção. Tropeçou para trás quando a

forma de um enorme dragão dourado apareceu. Cores rodopiaram pelo corpo dourado,

mudando conforme a luz de cima refletia nele.

— Saia daqui. — Carmen disse em uma voz baixa e severa. — Vá! Saia. — Ela

repetiu.

Ela não tinha o mesmo toque com os animais que sua irmã tinha. Ariel poderia olhar

para um leão da montanha e a maldita coisa começaria a ronronar e tentar ser um gato

de colo. Carmen pareceria um almoço para essa maldita coisa. Ela tinha visto criaturas

semelhantes a bordo da nave de guerra. Os homens se referiam a eles como suas

simbioses. Eles pareciam ter algum tipo de relação simbiótica com as criaturas vivas.

Tudo o que importava era que se aquela coisa estava aqui, isso significava que sua outra

metade poderia não estar longe. Para ela, isso significava problema.

— Vá embora, porra! — Carmen disse começando a se sentir um pouco nervosa

quando a criatura deu mais um passo em sua direção.

Ele ergueu sua enorme cabeça no ar e parecia como se estivesse farejando algo.

Carmen observou sua cabeça abaixar até parar ao seu lado. Ela seguiu a linha de visão

da criatura dourada e amaldiçoou quando viu que estava focada em sua mão. O sangue

acumulou nas pontas dos dedos de onde ela cortou a palma. Carmen cerrou os punhos
em um esforço para evitar que o sangue pingasse, mas era tarde demais. Uma pequena

gota se agarrou teimosamente antes de cair no chão de pedra branca imaculada.

A cabeça de Carmen se ergueu ao sentir a mudança no ar enquanto a criatura

respondia ao sangue. Ela estremeceu de surpresa quando uma linha de ouro disparou

dele, enrolando em torno de sua mão ferida. Ela entrou em ação, lutando para quebrar o

controle sobre sua mão. Quanto mais ela lutava, mais ouro girava em torno dela,

envolvendo-a em seus tentáculos até que ela fosse mantida imóvel por ele. Ela se recusou

a se encolher. Se era assim que deveria morrer, então que fosse. Seus olhos brilharam

intensamente por um momento antes que ela os fechasse e visualizasse uma imagem de

Scott em sua mente.

Memórias de seu cabelo castanho claro ondulando nas pontas depois que ele saiu

do chuveiro brilharam e se formaram. Carmen abraçou as memórias, puxando-as para

ela até que estava envolvida em seu calor e amor novamente. Ela se lembrou de seus

olhos verdes dançantes enquanto a provocava por estar louca. Lembrou-se da maneira

como ele fez amor com ela em frente à lareira na pequena casa que eles haviam comprado

em sua cidade natal. Lembrou-se dele segurando-a como se nunca fosse deixa-la ir

quando ela descobriu que seus pais morreram em um acidente de carro. E, se lembrou

do olhar de pura admiração quando ela disse a ele…. Dor e tristeza a encheram de

repente a ponto de ela se perguntar se a criatura teria que se preocupar em matá-la. Ela

se sentia como se estivesse morrendo de novo ali mesmo.

Um som baixo de lamento escapou dela quando a dor se tornou mais do que podia

conter. Abriu os olhos e olhou para as escuras chamas douradas queimando nos olhos

da criatura. Ela olhou para ele com um pedido silencioso de misericórdia.


— Por favor. — Sussurrou Carmen. — Por favor. Eu não quero mais viver. Isso dói

muito. Por favor, me dê paz. — Ela implorou à criatura em voz baixa.


Morian ficou nas sombras com os punhos pressionados com força contra os lábios.

Seu coração estava partido pela frágil fêmea humana. Ela soube o momento em que a

jovem entrou em seu santuário. As plantas reagiram de maneira diferente às mudanças

em seu ambiente. Este era o único lugar para onde ela se retirava quando a solidão e a

dor a dominavam. Trabalhar com as plantas e o solo dava-lhe uma sensação de paz

quando precisava.

Ela sentia falta de seu companheiro. Embora ele não tivesse sido seu verdadeiro

companheiro, ela o amava e ainda sofria por sua morte. Tinha pensado em se juntar a ele

na morte no início, pois este era o caminho do verdadeiro companheiro de seu mundo,

mas algo lhe disse que não era sua hora.

Quando seu filho mais velho, Zoran, foi sequestrado, ela ficou com medo de ter que

sobreviver à perda de um de seus filhos também. Em vez disso, seu sequestro se

transformou em uma bênção dos deuses e deusas. Ele tinha descoberto sua verdadeira

companheira com uma fêmea do mundo distante, onde buscou refúgio. Além disso,

parecia que a viagem tinha abençoado todos os seus filhos com seu verdadeiro

companheiro, se a simbiose de Creon fosse alguma indicação.

Ela havia assistido do pequeno escritório que mantinha em um nível superior do

átrio enquanto a simbiose de Mandra brincava com a mulher de cabelos longos e brancos.

Pensou em deixar seu santuário para encontrar a garota quando esta aparecesse. Mesmo
à distância, ela sabia instintivamente que a garota queria ficar sozinha. Morian havia lhe

dado aquele espaço, mas estava curiosa sobre essas criaturas lindas e frágeis que haviam

conquistado os corações de seus filhos. Ela se esgueirou por um dos muitos caminhos e

a seguiu. Suas palavras sussurradas atraíram Morian. A garota tentava parecer dura por

fora, mas por dentro estava sofrendo profundamente.

Morian esperou para ver o que a simbiose de Creon faria. Se esta menina fosse a

verdadeira companheira de seu filho, ele faria tudo ao seu alcance para ajudá-la. Morian

mordeu o lábio quando a simbiose dourada soltou um som baixo de angústia pela dor

da garota. Suas cores brilhavam em uma mistura que se movia rapidamente, refletindo

sua angústia.

A garota engasgou enquanto o som crescia até ecoar pela sala enorme. A forma

dourada ao redor dela mudou novamente até que ficou na forma de uma grande criatura

com orelhas longas e caídas. Era uma forma incomum para uma simbiose, uma que

Morian nunca vira antes, mas a garota deve ter reconhecido. Morian observou a figura

esguia cair de joelhos e passar os braços ao redor da forma, agarrando-se a ela e

sussurrando baixinho.

— Sinto muito. — A voz fraca de Carmen ecoou suavemente. — Eu sinto muito. Está

bem. Eu não deveria ter pedido isso a você. É só que às vezes... — Sua voz sumiu antes

de falar novamente. — Às vezes a dor é demais para eu aguentar. Logo, porém, logo

tudo ficará bem. Assim que eu voltar para casa, tudo ficará bem. — Acrescentou ela com

um sorriso determinado.
Morian se afastou quando sentiu outra mudança no átrio. Olhou para a menina

acalmando a simbiose de seu filho e um sentimento de medo por ela a invadiu. Algo lhe

dizia que não seria uma boa coisa para a garota retornar ao seu mundo. Virando-se,

Morian se moveu para impedir seu novo visitante. Ela precisava avisá-lo de que nem

tudo era o que parecia.

***

Creon praguejou baixinho novamente. Ele estivera procurando a selvagem de

cabelos brancos nas últimas horas, sem sorte. Havia encontrado seu irmão Mandra em

vez disso... inconsciente! A outra demônia o nocauteou com um vaso e escapou por uma

das janelas que davam para os jardins. Uma vez que ele se certificou de que seu irmão

ficaria bem, deixou-o para lidar com a outra fêmea enquanto caçava por sua irmã.

Não acredito que pensamos que elas precisariam de um curandeiro! Creon pensou

desgostoso. O que precisamos é de uma gaiola para elas. Vou jogar a bunda dela em uma

das velhas celas sob o palácio por alguns dias e ver se ela gosta disso! Ou talvez eu apenas

a amarre e a entregue a Trelon para que ele possa levá-la de volta ao seu mundo.

Creon franziu a testa. Nenhuma das ideias deu a ele a satisfação que pensava. Na

verdade, a ideia de alguém levar a mulher a qualquer lugar fez uma onda de raiva feroz

explodir dentro dele.

— Talvez eu apenas a amarre na minha cama. — Creon murmurou baixinho


— Sim, sim, sim, sim, sim... — Seu dragão respondeu com esperança. — Você amarra,

eu mordo. Nós dois temos uma companheira.

Merda! Creon pensou enquanto sentia seu pau inchar com a imagem da selvagem

de cabelos brancos amarrada em sua cama.

A imagem continuou a se formar em sua mente até que ele teve que parar e ajustar

a frente da calça para que pudesse andar sem doer. Tinha que admitir, seu corpo estava

dizendo sim, sim, sim para a ideia. Isso o irritou ainda mais. Ele não tinha tempo para

isso. Precisava descobrir o que diabos estava acontecendo e descobrir quem estava por

trás do sequestro de seu irmão antes que começasse outra guerra.

Creon ainda resmungava baixinho quando de repente sentiu uma pequena mão

agarrar seu braço. Recuou por instinto e moveu-se para sacar a arma que sempre

mantinha ao seu lado. Franziu a testa fortemente quando viu sua mãe parada nas

sombras, olhando para ele com uma expressão preocupada no rosto. Ele abriu a boca

para perguntar o que havia de errado, mas ela balançou a cabeça rapidamente e

pressionou os dedos contra seus lábios para silenciá-lo.

Creon seguiu seu olhar quando ela olhou para um conjunto espesso de arbustos,

mas não viu nada fora do comum. Sobressaltou-se de novo quando ela puxou seu braço

e indicou que deveria segui-la. Sua carranca ficou escura enquanto seus olhos

continuavam a procurar o que havia chateado sua mãe. Se houvesse uma ameaça para

ela, ele mataria quem quer que fosse sem piedade. Ele a seguiu por um caminho que se

abria para a escada escondida que levava ao seu escritório particular. Eles se moveram

em silêncio. Creon continuou a olhar em volta com cuidado, tentando encontrar a


ameaça. Ele parou no meio da escada, procurando na folhagem espessa por algo

incomum. Seus olhos se arregalaram quando ele teve um vislumbre de cabelo branco

perto da piscina central. Ele se mexeu um pouco, deixando seu dragão avançar para

aumentar sua visão. Em segundos, os detalhes nítidos da mulher que o atacou na sala de

transporte entraram em foco. Ela estava ajoelhada no chão ao lado de...

— Minha simbiose. — Creon rosnou baixinho.

— Venha, eu preciso falar com você. — Disse Morian, puxando o braço de Creon. —

Por favor, é sobre a garota.

A cabeça de Creon se virou para olhar para sua mãe, que estava esperando

impacientemente por ele. Ela estava mordendo o lábio inferior e parecia muito

preocupada. Creon virou a cabeça para encarar a figura esguia novamente. Algo estava

acontecendo com a garota? Ela foi ferida? Ele a machucou sem saber quando a agarrou

ou bloqueou alguns de seus golpes? Ele deixou seus olhos se moverem para baixo sobre

sua figura, realmente dando uma boa olhada nela.

Ela estava muito magra, ele pensou com crescente preocupação. Parecia que não era

alimentada corretamente há muito tempo.

Havia algo mais sobre ela. A maneira como estava agarrada a sua simbiose o

confundiu. Ele passou a mão pelo cabelo em frustração. Havia algo que estava perdendo;

ele simplesmente não conseguia pensar direito. Estava em sua linguagem corporal, a

maneira como ela estava segurando sua simbiose, a aparência frágil dela.
Creon balançou a cabeça. Isso não fazia sentido algum. Ele sentiu sua força quando

ela lutou contra ele. Ela não desistiu e era rápida, muito rápida e usou movimentos que

ele nunca tinha visto antes misturados com movimentos que ele treinou pessoalmente

alguns de seus guerreiros. Ela também era muito boa em desaparecer. Ele levou horas

para descobrir onde ela tinha ido e mesmo assim ele não tinha certeza se ela estava aqui.

Um leve gemido escapou dele quando outro fato foi absorvido; ela estava agarrada

a sua simbiose e ele estava enrolado em torno dela. Seus olhos se estreitaram nas grossas

faixas de ouro em seus pulsos delicados. Seus olhos se voltaram para sua garganta, onde

mais ouro brilhava. Sua simbiose a reivindicou. Seu dragão a queria, e ele...

Creon fechou os olhos e respirou fundo tentando acalmar a necessidade furiosa de

ir até ela e abraça-la. Ele queria protegê-la, possuí-la e reivindicá-la para que todos

vissem. Abrindo os olhos, ele se virou para olhar para sua mãe, que estava olhando para

ele atentamente.

— Ela é minha verdadeira companheira. — Disse Creon com uma convicção

silenciosa.

— Sim. — Morian respondeu suavemente. — Mas há mais nela do que aparenta.

Venha comigo. Há algo que você deve saber.

Creon sentiu seus olhos se moverem de volta para a figura bem abaixo dele. Ela

estava sentada no chão agora com a cabeça de sua simbiose em seu colo. Sua simbiose

tinha a forma de alguma criatura incomum que a garota parecia achar reconfortante. Seu

dragão parecia sentir algo na voz de sua mãe porque queria ir até a garota e se enrolar

em torno dela.
— Minha companheira. Algo aconteceu com minha companheira? — Seu dragão

perguntou com medo, empurrando sua pele novamente para se libertar. — Deixe-me ir

até ela. Eu protejo.

— Vamos protegê-la. — Disse Creon tentando acalmar seu dragão. — Mas primeiro,

precisamos saber o que aconteceu. Mamãe não ficaria tão preocupada se nossa

companheira estivesse bem. Se ela estiver em perigo, faremos o que for preciso para

protegê-la. Mesmo que isso signifique trancá-la até sabermos que ela está segura.

Ele sabia que seu dragão não gostava da ideia de trancar sua companheira, mas até

que soubesse que perigo ela corria, não haveria escolha. Subiu os degraus atrás de sua

mãe. Ele sempre foi bom em descobrir os segredos dos outros. Ele era ainda melhor em

protegê-los.
Carmen inspirou profundamente para se acalmar, usando as técnicas de meditação

que aprendeu depois da Colômbia. Kevin Arbor, o chefe deles na Security International,

exigiu que ela recebesse aconselhamento após a morte de Scott. A terapeuta, Connie

Wong, os ensinou a ela. Connie explicou que a ajudaria a lidar com os ataques de pânico

e a depressão de que sofria depois de uma experiência tão traumática. Carmen os tinha

aprendido simplesmente para que pudesse permanecer focada no único objetivo que

havia deixado em sua vida para cumprir... matar Javier Cuello.

— Vai ficar tudo bem. — Carmen repetiu em voz alta. — Você só precisa descobrir

como sair deste mundo e voltar para casa. Você consegue. Você pode fazer o que quiser.

Não pare, não desista. — Carmen disse baixinho para si mesma enquanto se concentrava

na respiração. — Só tem que ter um plano, só isso.

Ela continuou a passar a mão suavemente sobre a enorme criatura dourada que era

uma réplica quase exata de Harvey, seu velho Basset Hound de orelhas caídas com quem

ela tinha crescido. É verdade que era um Harvey muito maior e mais brilhante do que o

original. Ainda assim, a forma era reconfortante para ela enquanto acariciava a superfície

macia e brilhante. Sentiu um pequeno sorriso curvar seus lábios enquanto olhava para

os olhos da criatura.

— Você tem um nome? — Ela perguntou baixinho. — Se não, vou chamá-lo de

Harvey. Ele era um cão desajeitado e adorável que tive quando era pequena. Foi o único
animal que gostou mais de mim do que de Ariel. Ele me seguia por toda parte. — Ela

falou em voz baixa, sentindo-se repentinamente mais calma desde... desde que Scott

morreu.

Carmen olhou para baixo assustada quando uma onda de calor a inundou. Seus

olhos se arregalaram enquanto imagens de seu velho Basset Hound flutuavam em sua

mente. Seu sorriso cresceu até que ela pudesse sentir as lágrimas queimando seus olhos.

A cauda da criatura dourada balançou para frente e para trás em resposta à sua surpresa

e sorriso.

— Eu não entendo nada disso. — Ela sussurrou com um aceno de cabeça. — Este

mundo, você, os guerreiros que conheci e o homem... — Sua voz se desvaneceu quando

uma imagem do homem da sala de transporte se formou em sua mente.

Um arrepio percorreu seu corpo quando a imagem se tornou mais clara. O guerreiro

alto foi mais do que um páreo para ela. Ele reagiu com graça e estilo que enviou ondas

de calor por seu corpo. Seu corpo ágil se torceu como se fluísse em uma dança graciosa

quando ela o jogou por cima do ombro. Carmen reagiu com medo e a necessidade

instintiva de escapar de um predador. Não havia dúvida em sua mente que era

exatamente o que ele era, um predador mortal. Cada linha de seu corpo gritava que ele

era letal. Seus olhos dourados brilharam com um calor que alcançou algo profundo

dentro dela que ela pensou que tinha morrido três anos atrás, quando ele a olhou com

fúria. Seu cabelo longo e preto fluía ao redor de seus ombros musculosos e escuros que

estavam claramente exibidos sob o colete de couro preto que ele usava. Suas calças pretas

estavam bem esticadas nas coxas grossas e musculosas. Ela temia que, se não pudesse

fugir dele imediatamente, nunca poderia escapar.


— Ele é sua outra metade? — Ela perguntou, mordendo o lábio inferior em

preocupação enquanto olhava ao redor.

A nova onda de calor que a criatura enviou através dela confirmou o que ela temia.

Se esta criatura era a simbiose do homem, ela precisava escapar dele também. A menos

que... Carmen olhou para os olhos tristes e caídos... a menos que isso pudesse ajudá-la.

— Preciso encontrar minha irmã e voltar para casa. Você pode me ajudar a escapar?

— Ela perguntou com uma voz ligeiramente suplicante. — Por favor, temos que voltar

para casa imediatamente. Já passou mais tempo do que eu esperava. Tenho que

encontrar alguém. É importante que eu volte para meu mundo o mais rápido possível.

Pode me ajudar?

Uma parte dela se sentia culpada por pedir a ajuda da criatura, mas ela sabia quão

poderosos eles eram. Ela os observou quando estava se esgueirando pela nave tentando

aprender tudo que podia sobre as espécies que sequestraram sua irmã e amigos. Ela sabia

que Abby confiava neles. Ela se apaixonou por aquele chamado Zoran. Ela não culparia

ou negaria a ninguém sua chance de amor. Ela teve sua chance. Ela não iria embora sem

Ariel, Trisha e Cara, a menos que elas quisessem ficar. Se era isso que elas queriam, ela

iria sozinha. Tinha certeza de que Trisha gostaria de voltar para a Terra. Ela nunca

deixaria seu pai para trás.

Paul Grove foi como um segundo pai para ela e Ariel durante toda a vida, mesmo

antes da morte de seus próprios pais. Elas passaram tanto tempo na casa de Trisha

quanto ela na casa delas. Bem, quando elas não estavam tentando escondê-la e mantê-la.

Carmen sempre amou a menina quieta que era um pouco mais velha do que ela. Não
conseguia contar as vezes que convenceu Trisha a se esconder na casa delas para que

pudesse ter duas irmãs mais velhas. Paul e seus pais finalmente desistiram e deixaram

as meninas se revezarem ficando na casa uma da outra nos fins de semana. Mesmo

enquanto elas cresciam, sua amizade especial havia sobrevivido. Ela teria partido o

coração quando Ariel e Trisha foram para a faculdade mais cedo, se Scott e Paul não

estivessem lá. Quando seus pais foram mortos, Paul assumiu a guarda dela durante seu

último ano do ensino médio. Ele a levou com ele durante alguns de seus exercícios de

treinamento, mostrando-lhe como sobreviver no deserto. Ele também tinha mostrado a

ela como deixar a paz das montanhas tirar um pouco da dor que ela estava sentindo. Ela

havia trabalhado com Samara, outra garota que trabalhava meio período para Paul e

tinha a mesma idade que ela, com os cavalos que Paul mantinha em seu rancho. Samara

era pouco maior do que Cara e quase tão hiperativa. Ela tinha um temperamento

explosivo, entretanto. Provavelmente por ter que lidar com quatro irmãos mais velhos

que gostavam de mandar nela.

Carmen estava tão perdida em suas memórias que, quando Harvey se levantou de

repente, ela teve que se sacudir para trazer tudo de volta ao foco. Quando percebeu que

não estava mais sozinha, uma carranca escura torceu suas feições pálidas em uma

máscara hostil.

— Você de novo não! — Carmen mordeu sarcasticamente. — Não teve sua bunda

chutada o suficiente?

Ela olhou ferozmente para a imagem do homem alto que a fez correr em pânico.

Nunca deixaria ninguém saber que estava com medo. Também não permitiria que ele ou

qualquer outra pessoa a impedisse de sua missão. Ele precisava entender isso logo de
cara. Ela não deixaria seu corpo dominar sua cabeça. Levantou-se para ficar

desafiadoramente diante dele, seu corpo retesado com a tensão.

— Eu preciso voltar para o meu planeta imediatamente. — Ela adicionou com uma

inclinação determinada de seu queixo enquanto o encarava. — Tipo, ontem.

***

Creon ouviu sem acreditar os temores de sua mãe pela mulher esguia em seu jardim.

Ela havia contado a ele sobre o desejo da garota de acabar com sua vida. Que algo a

estava machucando. Lágrimas se formaram em seus olhos quando ela contou a ele sobre

as palavras sussurradas de medo que a garota expressou e sobre o choro doloroso que

foi arrancado da garota quando sua simbiose a segurou. A dor tinha sido tão intensa que

sua simbiose havia absorvido um pouco e estava angustiado.

— Eu nunca vi nada arrancar um grito assim de uma simbiose antes. — Morian disse

desesperadamente. — O som disso ressoou com tanta dor e tristeza que rasgou meu

próprio coração. Sua companheira está sofrendo. Não sei se ela está doente ou o quê, mas

você deve ajudá-la.

Creon olhou duvidosamente para sua mãe até que a imagem da pequena figura

agarrada a sua simbiose veio à tona em sua mente. O medo varreu por ele com o

pensamento de sua companheira com dor. Ele precisava se conectar com sua simbiose

para que pudesse ver o que havia de errado com ela. Se ele precisava se arriscar a colocá-
la na transformação, onde as qualidades de cura adicionais de seu dragão a ajudariam,

ele o faria. Seria perigoso, mas se houvesse o risco de ela morrer de qualquer maneira,

ele não teria escolha. Creon sabia que se houvesse algo de errado com ela e ela não

sobrevivesse, ele não viveria. Mesmo sem reivindicá-la totalmente, suas vidas estavam

interligadas, quer eles quisessem ou não.

— Tem certeza? — Ele perguntou baixinho à mãe.

— Sim. — Morian respondeu olhando cuidadosamente para seu filho mais novo.

Ele havia sofrido muito durante as Grandes Guerras. Ele também foi o motivo das

guerras terem terminado pacificamente. De todos os filhos, era com ele que ela se

preocupava mais. Ele sempre foi o mais quieto dos cinco meninos com quem ela foi

abençoada. Ele também era um dos mais letais em sua proteção Valdier e seu povo. Não

que seus outros filhos não tivessem feito o que era necessário, mas Creon sacrificou uma

parte de quem ele era para garantir o fim bem-sucedido das guerras.

— Ela é um demônio. — Ele respondeu com uma ligeira curva em seus lábios

enquanto tocava primeiro sua orelha, então seu olho, antes de seu lábio. — É difícil

acreditar que algo possa estar errado com ela, mas vou me certificar de que esteja bem.

— Ele acrescentou enquanto se virava para descer as escadas.

— Creon. — Sua mãe chamou suavemente.

Creon parou na porta e olhou para sua mãe.

— Sim.
— Olhe sob a máscara que ela usa como proteção e você verá a verdadeira garota

por baixo. — Morian aconselhou baixinho. — E esteja preparado para uma luta diferente

de tudo que já teve que enfrentar antes. Ela não vai desistir facilmente.

Os lábios de Creon se curvaram em um sorriso, mesmo quando um brilho forte

apareceu em seus olhos.

— Sou muito versado na arte da guerra, Dola. E eu nunca perco. — Ele respondeu

com uma voz de aço.

Morian observou enquanto seu filho descia os degraus e se dirigia para onde a

garota humana estava sentada. Seus olhos seguiram a figura feroz até que ele parou

sobre a menor sentada ao lado de sua simbiose. Quando a garota se levantou, ela viu o

endurecimento desafiador de seu corpo e a inclinação teimosa de seu queixo.

Morian balançou a cabeça preocupada.

— Espero que você esteja certo, meu filho. Pois esta é uma batalha que pode levar

seu coração e também sua vida se você perdê-la.

***

Creon girou os ombros para aliviar um pouco a tensão neles e fez uma careta ao

sentir um novo hematoma. O encontro no jardim com a selvagem de cabelos brancos

tinha transcorrido tão bem quanto o da sala de transporte. Ele finalmente teve que
amarrá-la e puxar seu traseiro para fora do átrio, chutando, gritando maldições e jurando

fazer mais do que castrá-lo quando ela se libertasse. Sua simbiose tinha sido muito

protetora com a fêmea, mas ao mesmo tempo trabalhou para ajudá-lo a capturá-la.

Ela olhou para sua simbiose com tal olhar de traição que ela disparou quase

imediatamente depois que ele a trancou em sua suíte. Os sons de vidro quebrando contra

a porta quando ele a fechou mostraram que seu temperamento não tinha se acalmado

durante o tempo que ele a carregou por cima do ombro para seus aposentos.

A única coisa que ele descobriu foi que ela não estava ferida fisicamente. Pelo menos,

isso é o que ele esperava da informação que sua simbiose foi capaz de lhe dizer durante

o breve contato que teve com ela. Ele tentou enviar as pulseiras e o colar que formou

sobre seu corpo para ter certeza, mas ela os removeu, jogando-os pela janela antes que

pudesse ter certeza.

Agora, ele precisava descer para a sala de conferências. Deveria se encontrar com

seus irmãos para repassar as informações que havia descoberto até agora. A informação

mais recente de Ha'ven era muito perturbadora para compartilhar ainda. Pelo menos,

até que ele pudesse verificar. Deveria se encontrar com Ha'ven em alguns dias. Até então,

era melhor manter o que suspeitava para si mesmo. Queria contar a seus irmãos o que

havia descoberto em sua viagem ao sistema estelar Sarafin. Ele se encontrou com Vox, o

líder da raça shifter de felinos. Vox disse que vários de seus guerreiros mais confiáveis o

abordaram sobre um membro da família real Valdier solicitando um encontro com ele.

Vox adiou a reunião quando estava prestes a desembarcar em uma viagem rápida a um

dos espaço portos Valdier para negociar um acordo para mais cristais e farejar algumas

informações preocupantes sobre um de seus conselheiros que havia desaparecido


repentinamente enquanto estava no espaço porto. Vox estava preocupado, pois o homem

era um de seus amigos mais confiáveis.

Respirando fundo, voltou a se concentrar em sua situação atual. Ele tinha que

comparecer à reunião lá embaixo, mas primeiro precisava ter certeza de que sua

companheira estava segura. Olhou para as portas fechadas onde sua companheira ainda

podia ser ouvida gritando ameaças terríveis de assassinato e caos.

Uma boa surra na bunda poderia estar reservada para seu irmão enquanto ele

estivesse lá. Não mudaria nada, mas o faria se sentir um pouco melhor. Ele revirou os

ombros novamente e fez um gesto para os dois guardas que estavam de pé ao lado,

esperando por suas instruções. Os dois estavam olhando para a porta com cautela, como

se esperassem que alguma fera insana aparecesse de repente.

— Proteja-a com sua vida. — Instruiu Creon antes de fazer uma careta. — Bolas de

dragão! — Ele murmurou quando outra série de maldições nada femininas soou através

da porta seguida por outro estrondo. — Apenas... certifique-se de que a porta permaneça

trancada e ela não saia. — Disse ele, exasperado.

Os guardas concordaram com um aceno para Creon antes de se posicionar na frente

do quarto. Ambos estremeceram quando um pequeno baque atingiu a porta seguido por

um berro para ser libertada imediatamente ou então... Creon balançou a cabeça em

resignação antes de se virar e caminhar pelo longo corredor. Seria um dia muito, muito

longo.
Creon podia ouvir a voz de Mandra antes mesmo de entrar na sala de conferências.

Pelo que parecia, seu irmão mais velho estava de mau humor. Creon entrou na sala

quando Mandra estava ameaçando chutar a bunda de Zoran.

— Você trouxe aquelas mulheres aqui! Eu deveria chutar sua bunda por isso. —

Mandra rosnou em voz baixa.

— Eu concordo! — Creon disse entrando na sala e movendo-se em silêncio para se

sentar na bela mesa de pau rosa com um display holovid montado no centro. — Eu vou

te ajudar, Mandra, com total prazer.

Creon não pôde deixar de lançar um olhar sombrio para Trelon e Kelan enquanto se

sentava em um dos assentos de couro escuro aveludado. Ele esfregou uma mão cansada

sobre a testa antes de se sentar para assistir seus dois irmãos mais velhos se enfrentando.

Eles estavam presos de braços dados, seus músculos tensos enquanto cada um

empurrava o outro.

— Não consigo encontrar essa maldita fêmea em lugar nenhum. — Mandra rosnou.

— Eu deveria chutar a sua bunda para trazê-la de volta! — Ele disse olhando

sombriamente para Trelon também.

Trelon ergueu a mão em defesa.


— Não me culpe! Tenho o suficiente em minhas mãos. Eu mal consigo pegar a que

tenho. Ela nunca dorme, nunca se cala e desmontou tudo na nave de guerra de Kelan e

na minha casa pelo menos uma dúzia de vezes tentando ver como funciona.

Kelan olhou para Mandra e Creon com um olhar de longo sofrimento em seu

próprio rosto.

— A mulher chamada Trisha está exigindo que eu a leve para casa com seu pai. Ela

é uma coisinha teimosa. E se recusa a desistir da ideia.

— Como você está, irmão? — Kelan perguntou se virando para olhar para Creon. —

Você já encontrou a demônio de cabelo curto? Ela foi um pé no saco a bordo do V’ager.

Ela lutou com todos os homens que podia e dane-se se eles não se apaixonaram por ela

por isso.

O rosto de Creon ficou enrugado de tensão com o pensamento de outros machos

lutando com sua companheira.

— Sim, ela não está feliz comigo agora. Ela insiste em retornar ao seu planeta

imediatamente. Tive que contê-la para que eu pudesse prendê-la. — Ele disse

laconicamente.

Zoran olhou para Mandra e Creon confuso.

— Eu pensei que vocês dois iriam encontrar companheiros para as outras duas?

Certamente há homens que as levarão. — Zoran disse.


Creon estava de pé, rosnando perigosamente para Zoran antes que pudesse se

conter. Seu dragão lutou para se livrar da ideia de entregar Carmen a outro homem.

Escamas negras ondulavam incontrolavelmente sobre sua pele enquanto ele lutava pelo

controle.

Zoran olhou para frente e para trás entre Mandra e Creon assistindo com espanto

enquanto seus dois irmãos mais novos lutavam pelo controle. Nunca tinha visto nenhum

deles perder o controle assim antes. Demorou um pouco antes de perceber o que havia

acontecido.

— Vocês também? — Zoran perguntou baixinho, olhando entre os dois. — Ambos

reivindicaram as mulheres?

Creon voltou ao seu lugar e olhou melancolicamente para fora da janela com os

braços cruzados sobre o peito. Não, ele ainda não havia reivindicado aquela chamada

Carmen. Ele finalmente soube o nome dela depois de baixar os relatórios da V’ager.

Tinha lido sobre suas façanhas a bordo. Como ela antagonizou os homens a bordo para

lutar contra ela. Como mal estava viva quando foi trazida a bordo. Mesmo com a

tecnologia avançada de Valdier, Zoltin escreveu que quase a perdeu mais de uma vez.

Ela foi esfaqueada várias vezes no peito e na lateral. O som de Mandra falando sobre a

irmã de cabelos compridos interrompeu seus pensamentos.

— Sim. — Mandra estava dizendo. — O problema é que toda vez que chego perto

dela, ela me ataca! Agora, eu nem consigo encontrá-la. Ela quebrou meu nariz e saiu

correndo. Ela está se escondendo em algum lugar e eu não consegui localizá-la ainda.

A cabeça de Creon se ergueu.


— Ela quebrou seu nariz? Quando fez isso? Pensei que ela tinha apenas te

nocauteado. — Disse Creon com uma carranca, tentando se lembrar da condição de seu

irmão quando o encontrou inconsciente. — Seu nariz não parecia quebrado.

Creon se perguntou se todas as criaturas do planeta em que Zoran pousou eram

assim. As mulheres não deveriam saber como lutar. Qual era o propósito de ter um

planeta cheio de guerreiros do sexo masculino se as mulheres eram tão cruéis quanto os

homens poderiam ser?

Kelan grunhiu enquanto se levantava e caminhava até o pequeno bar para servir

uma bebida.

— O que vamos fazer com elas? — Ele perguntou desanimado. — Como pode uma

espécie tão frágil e delicada causar tantos danos e ser tão teimosa? — Sua voz sumiu

enquanto todos eles contemplavam as mudanças repentinas em suas vidas.

***

Várias horas depois, Creon estava do lado de fora das portas de seus aposentos. Ele

se perguntou vagamente se tinha mais objetos de vidro para sua companheira quebrar.

Sua simbiose ficou ao seu lado olhando para a porta também. Ambos estavam um pouco

desconfiados do que encontrariam.


— Você ouviu alguma coisa recentemente? — Ele perguntou a um dos guardas que

estavam perto da porta.

— Não, meu senhor. — O guarda respondeu. — Não houve nenhum som na última

hora ou assim.

— Não acho que sobrou nada para ela quebrar. — Disse o segundo guarda com um

olhar simpático. — Eu também não fazia ideia da existência de tantas maneiras de

amaldiçoar alguém. — Acrescentou ele com um pequeno sorriso de apreciação.

Creon passou a mão cansada na nuca. Ficar aqui não tornaria a tarefa à frente mais

fácil. Ele pode muito bem enfrentar a fúria de sua companheira. Ele tinha a sensação de

que ela não iria gostar quando descobrisse que eram os quartos dele que ela ocupava.

Acenou em agradecimento aos dois guardas antes de abrir a porta silenciosamente.

Ficou surpreso que o chão não estava cheio de cacos de vidro quebrados. Empurrou a

porta um pouco mais e ouviu. Tudo o que o cumprimentou foi o silêncio. Ele acenou com

a cabeça para sua simbiose ir na frente dele. Depois entrou, fechou e trancou a porta com

um golpe de sua mão. O painel escondido na parede brilhou brevemente para mostrar

que estava trancado.

Creon olhou ao redor. Contra a parede perto da porta estava uma pequena cesta que

ele pegara durante uma de suas muitas viagens. Estava cheio até o topo com pedaços de

cerâmica e vidro quebrados. Ao lado dela estava uma pequena vassoura que os

empregados usavam para limpar seus aposentos. A mulher o confundiu. Sua mãe ficou

preocupada por estar frágil e sofrendo, enquanto tudo o que ele via era a hostilidade e o

desafio ferozes.
Sua simbiose parou na porta de seus aposentos e olhou para dentro. Virou-se para

ele e sacudiu seu corpo maciço antes de entrar no quarto. Creon caminhou lentamente

para frente até que parou na porta de seus aposentos. Enrolada em uma pequena bola

no meio da cama estava sua companheira. No brilho suave da lua, ele podia ver seu

cabelo loiro-branco. Os fios caíram ao longo de sua bochecha e enrolaram em seu

pescoço. Podia ver a constante ascensão e queda de seu peito enquanto ela dormia.

Ele se aproximou da cama, sentando-se cuidadosamente na beirada para não a

incomodar. Levantando delicadamente uma mecha de seu cabelo macio, ele colocou-a

atrás da orelha, maravilhando-se com a textura macia. Ela se mexeu em seu sono,

inclinando a cabeça até que sua bochecha descansasse contra a palma da mão dele. Creon

apertou a outra mão em um esforço para controlar os sentimentos que o bombardeavam.

Era como se todo o seu corpo estivesse de repente vivo e sintonizado com esta bela

criatura.

Incapaz de se conter, ele correu o polegar sobre sua mandíbula até pousar em seu

lábio inferior. Seus lábios se separaram em um suspiro suave. Um pequeno sorriso puxou

seu lábio inferior. Creon se inclinou para roçar seus lábios nos dela. Uma necessidade

diferente de tudo que ele já sentiu antes sobrecarregou seus sentidos. Ele a queria,

precisava dela de uma forma que puxava a própria essência de sua alma. Ele se afastou

um pouco, determinado a acordá-la quando ela de repente sussurrou em uma voz suave

e rouca.

— Oh, Scott, eu senti sua falta. — Carmen murmurou em seu sono. Ela se virou

inquieta antes de suspirar. — Eu te amo. Volto para casa em breve.


Os olhos de Creon escureceram até queimarem ferozmente. O nome de outro

homem nos lábios de sua companheira enviou ondas de ciúme por ele. Afastou-se

rapidamente ao sentir a mudança passando por ele. Incapaz de evitar que seu dragão

assumisse o controle, Creon correu para as portas abertas que davam para a varanda e

se lançou sobre o parapeito. Ele mudou quando seu corpo caiu em direção ao chão.

Grandes asas se desdobraram e pegaram o ar sob elas, permitindo-lhe planar a poucos

metros do chão antes de empurrar e se elevar mais alto, voando sobre as paredes do

palácio. Permaneceu invisível para todos, incluindo os guardas. O único que podia vê-

lo era sua simbiose que havia se dividido. Uma parte deitada enrolada ao lado de sua

companheira, enquanto a outra parte voou até se dissolver em torno dele no ar,

formando uma armadura em torno de seu dragão.

Voou por quilômetros tentando escapar do calor escaldante que explodiu dentro

dele. Ele havia passado pela densa floresta e se dirigido para as regiões montanhosas.

Costumava voar longas distâncias à noite. Normalmente, era para escapar dos

pensamentos sombrios que o atormentavam durante as longas e solitárias horas. Hoje à

noite ele fez isso para lidar com a raiva ardente porque sua companheira queria, amava

outro.

— Nós a tomamos de qualquer maneira. Ela aprenderá a nos amar. Ela é nossa. — Seu

dragão rugiu de raiva. — Nós a manteremos. O homem do mundo dela não a mantém segura.

Ele não a merece.

— Você acha que eu não sei disso? — Creon rosnou de volta. — Zoran, Kelan e

Trelon trouxeram as mulheres contra sua vontade. Nossa companheira foi mortalmente
ferida e teria morrido em seu planeta. Mas isso não significa que ela não pudesse

pertencer a outro.

— Ela está aqui agora! Ela é nossa. Eu não devolverei. — Seu dragão disse com

determinação. — Eu quero minha companheira! Ela é minha. Você não a mandará embora.

— Não, eu não vou mandá-la embora. — Creon disse cansado, puxando seu dragão

o suficiente para que ele pudesse guia-lo até uma pequena saliência na encosta de uma

montanha. — Ela foi aceita por todos nós. Minha simbiose é muito protetora com ela,

você a quer, eu preciso dela.

O dragão de Creon pousou na saliência estreita e se virou com um calafrio, olhando

para o vasto terreno. A escuridão não interferiu em sua visão. Ele via tão bem no escuro

quanto durante o dia. Uma leve brisa soprou sobre as árvores altas, a maioria das quais

tinha mais de mil anos. À distância, podia distinguir o brilho do luar refletindo na água

de um rio próximo. Ele estava acima da linha das árvores e pequenos tufos de neve ainda

pairavam na face da rocha em que ele pousou. O frio também não o incomodava. Seu

corpo era quente e em forma de dragão, suas escamas ajudavam a isolar seu corpo dos

elementos externos.

Creon se moveu em um círculo na borda estreita antes de se deitar e dobrar suas

asas firmemente contra seus lados. Ele era um pouco menor do que seus irmãos em

forma de dragão, mas em alguns aspectos era mais letal por causa disso. Podia se mover

em áreas em que eles não podiam e suas escamas unicamente pretas refletiam o ambiente

ao seu redor até que ele estava praticamente invisível.


Ele deitou a cabeça nas garras dianteiras e olhou cegamente para a escuridão ao

redor. Combinava com sua alma agora. Por um breve vislumbre, pensou ter encontrado

o brilho de luz que o faria se sentir completo novamente. Era uma falsa esperança. Sua

verdadeira companheira amava outro. Ele nunca tinha ouvido falar de tal coisa antes.

Em toda a sua vida, em todos os arquivos que leu secretamente, nunca tinha ouvido falar

dos deuses e deusas presenteando um Valdier com uma verdadeira companheira que

amava e ansiava por outro.

Teria que olhar os arquivos novamente. Ele se recusava a acreditar que era possível.

Mesmo os deuses e deusas não poderiam desejar puni-lo por coisas nas quais ele não

tinha escolha. Seus pensamentos se tornaram mais sombrios quando se lembrou das

Grandes Guerras. Ele havia matado muitos durante as guerras. Em todos os três lados,

Sarafin, Curizan e Valdier. Ele tinha feito o que tinha que fazer para proteger seu povo.

Quando encontrou traidores dentro dos Valdier que estavam trabalhando com um

pequeno grupo da realeza Curizan e Sarafin a fim de derrubar todos os três governos de

seus respectivos sistemas estelares, ele, Ha'ven e Vox trabalharam juntos para erradicá-

los. Um dos traidores era sua amante, Aria. Ele pensava que a amava. Sabia que ela não

era sua verdadeira companheira. Sabia que teria sido uma vida difícil tentar equilibrar

as três partes de quem era para estar com ela, mas ele estava disposto a tentar.

Nunca se esqueceria de quando Vox o abordou com suas suspeitas. Ha'ven havia

sido ferido, quase morto, em uma tentativa de assassinato pouco antes de ser capturado

por um grupo desconhecido. Os únicos que sabiam onde e quando ele estaria eram

Creon, Vox e Ha'ven. Creon resgatou Ha'ven e arrastou sua bunda para fora das

masmorras do inferno, literalmente. Ha'ven foi levado para o Inferno, um asteroide de


mineração abandonado nas regiões externas do sistema estelar Curizan. Lá ele estava

sendo torturado na esperança de descobrir informações sobre os movimentos de naves

de guerra Curizan, Valdier e Sarafin.

Não foi até que Vox mencionou que deveria haver um vazamento em algum lugar

dentro de seus intergrupos que uma sensação de pavor o varreu. Vox soube pouco tempo

depois que um de seus guerreiros os traiu. Vox torturou o homem até que ele revelou

que havia dado a informação a uma mulher chamada Aria, que ele tinha tomado como

amante. Ela era uma das principais agentes do grupo por trás do início da guerra. Só ela

sabia para onde Ha'ven fora levado.

Creon não confrontou Aria com a informação a princípio, não querendo acreditar

que ela pudesse traí-lo daquele jeito. Em vez disso, ele e Vox montaram uma missão falsa

e prepararam uma armadilha. Apenas os dois e Aria tinham as informações. Ele contou

a Aria sobre seus planos de transportar um membro da realeza Curizan que haviam

capturado para um novo local de detenção. Um pequeno grupo de mercenários

contratados apareceu na transferência planejada. Antes que o último morresse, Creon

teve a prova de que sua amante era quem estava dando as ordens. Ele se sentia como se

tivesse traído seu povo. Centenas, senão milhares de guerreiros Valdier, Curizan e

Sarafin morreram por causa da ganância de poder de alguns membros das casas reais.

Ele se apaixonou por um deles e, sem saber, deu-lhes informações privilegiadas. Creon

sentiu a morte de cada guerreiro que morreu durante a batalha como uma marca contra

sua alma.

Tinha sido uma noite clara quando Aria veio até ele pela última vez. Não tinha sido

muito diferente da noite que ele estava olhando. As luas haviam surgido várias horas
antes e ela estava deitada na cama envolta em nada além do luar. Ela estava linda. Seu

cabelo escuro espalhado ao redor dela e seus seios fartos eram firmes e convidativos.

Mas olhando para ela pelo que era naquela luz pálida, ele foi capaz de ver a frieza em

seus olhos e a torção cruel de sua boca enquanto ela falava de seu amor por ele. Ele a

matou lentamente, extraindo cada pedaço de informação dela antes de dar-lhe a paz da

morte. Seu dragão queimou seus restos mortais. Ele não deixaria nada dela para lembrá-

lo de sua traição. Na manhã seguinte, ele e Vox foram atrás de Ha'ven. Eles haviam

matado todos no asteroide. Demorou muito até que Creon pudesse começar a se perdoar

pelo que aconteceu com seu melhor amigo. Embora Creon nunca pudesse se perdoar

verdadeiramente, Ha'ven nunca o culpou.


Carmen acordou assustada. Foi a primeira vez em três anos que ela dormiu uma

noite inteira sem ter pesadelos. Mesmo quando tomava analgésicos e antidepressivos,

ela ainda era atormentada por eles. Sua mão se estendeu para se firmar, apenas para

descobrir que não estava sozinha na cama. Uma versão menor de Harvey estava ao lado

dela.

— De onde você veio? — Carmen perguntou confusa, olhando ao redor em confusão

enquanto tentava se lembrar de onde estava.

Ela soltou uma lufada de ar.

— Oh, aquele traidor! É melhor ele planejar me levar para casa hoje! — Ela disse,

saindo da cama. — Eu preciso encontrar minha irmã e ter certeza de que ela e Trisha

estão bem, sem mencionar a pobre Cara.

Carmen balançou por um momento.

— Primeiro eu preciso de um banho. Sinto como se minha cabeça estivesse cheia de

bolas de algodão. Então, cafeína. Deus, espero que eles tenham café aqui. — Ela

murmurou enquanto abria vários painéis na parede procurando por qualquer coisa que

pudesse vestir.
Deu um suspiro de alívio quando encontrou várias camisas grandes. Elas iriam

engoli-la, mas ela não se importava. Enquanto estivesse coberta, isso era tudo que

importava. Enfiou a mão e tirou um par de calças de couro. Elas eram muito grandes,

tanto nos quadris quanto no comprimento. Teria que fazer um cinto e enrolá-las, mas

elas serviriam na falta de algo melhor. Sem calcinha, mas não era como se ela não tivesse

ficado sem elas uma ou duas vezes quando ela e....

Carmen mordeu o lábio para parar seus pensamentos. Ela não iria lá esta manhã.

Estava se sentindo muito vulnerável sem trazer lembranças. Entrou na grande sala

localizada na parede oposta. Ela havia encontrado o banheiro depois de sua tentativa

fracassada de quebrar todos os pratos do lugar. Sinceramente, ela se cansou de jogar os

pratos em um objeto inanimado. Depois de explorar por um tempo, finalmente decidiu

que precisava limpar a bagunça que tinha feito. Isso ia contra tudo dentro dela e a

maneira como ela foi criada para deixar a bagunça. Sua mãe teria revirado em seu túmulo

se visse Carmen quebrando pratos do jeito que ela fez em seu acesso de raiva por estar

trancada no quarto ontem.

Carmen entrou no banheiro admirando as belas cores da pedra. Uma enorme piscina

que a lembrava de alguns dos antigos banhos romanos ficava no centro da sala. Havia

um banheiro, o que parecia ser uma pia longa e rasa, e uma área de banho grande o

suficiente para caber um carro compacto. Na parte de trás do chuveiro havia um jardim.

Na verdade, consistia apenas nas duas paredes finais e no teto. Os dois lados compridos

eram abertos. Por que alguém precisaria de áreas tão grandes para tomar banho estava

além de Carmen. Ela estava feliz com seu pequeno chuveiro. Era muito mais fácil de

limpar.
Colocou as roupas que juntou sobre uma mesinha e começou a se despir. Ela não se

olhou no espelho que cobria uma parede inteira. Sabia o que veria. Estava perdendo peso

novamente. Era difícil se forçar a comer. Ela simplesmente não tinha mais apetite.

Bem, ela pensou com um sorriso torto, eu tenho, mas não por comida.

O sorriso desapareceu quando uma nova imagem surgiu em sua mente e não era

Javier Cuello. A imagem era do homem alto e moreno que lutou com ela e a trancou

nestes quartos sem dizer uma palavra. Claro, ela não deu a ele muita chance.

Seu rosto queimou de vergonha quando ela se lembrou de algumas coisas que havia

dito, sem mencionar sua linguagem. Ela estava em uma forma rara ontem. Entre o medo,

a raiva e a sensação de que sua vida estava fora de controle, ela deixou tudo sair em um

grande acesso de raiva que teria deixado qualquer criança de dois anos orgulhosa, sem

a linguagem inventiva.

Carmen deixou suas roupas caírem em uma pilha bem organizada no chão. Ela as

lavaria e penduraria para secar quando terminasse. Entrou na enorme área do chuveiro

e girou em um círculo. Não havia portas para isso. Não havia nem cortina de chuveiro.

Ela olhou para o teto que devia ter pelo menos 3 metros e meio de altura. Ela podia ver

uma série de buracos por onde a água poderia sair. Estava prestes a desistir e

simplesmente pular na banheira romana quando uma névoa suave e quente começou a

ficar um pouco mais pesada. Uma risadinha assustada escapou dela enquanto a envolvia

em uma chuva leve. Fechou os olhos e apreciou o jato quente que caiu sobre ela.
***

Creon ainda estava cansado. Ele não tinha dormido muito na noite anterior. Sua

mente e seu dragão se recusaram a acreditar que sua companheira pudesse pertencer a

outra pessoa. Ele estava determinado a confrontá-la. Ele a deixaria saber que ela teria

que aceitar que nunca voltaria para o homem de seu velho mundo. Seu lugar era agora

em Valdier ao seu lado. Uma vez que a transformação fosse concluída, ela não teria

escolha. Seu corpo seria muito diferente para ela ser capaz de retornar com segurança a

seu mundo.

— Morremos sem nossa companheira, — acrescentou seu dragão. — Essa é boa

razão para não deixar a companheira ir.

— Como você acha que eu ainda não pensei nisso? — Creon mordeu

sarcasticamente antes de soltar um suspiro quente. — Sinto Muito. Não devo descontar

minha frustração em você.

— Eu não me importo. Eu te ignoro, contanto que você me consiga minha

companheira. — Seu dragão bufou.

Creon lutou contra o desejo de revirar os olhos. Seu dragão tinha uma mente única

agora. Ele queria acasalar e não iria parar até que o fizesse.

— Como se você não quisesse foder sua companheira também. — Seu dragão sorriu.
Essa era a outra desvantagem de ter três partes de si mesmo, os outros dois sabiam

exatamente o que ele estava pensando e sentindo. Ele se mexeu desconfortavelmente

dentro de seu dragão. Sim, ele a queria. Ele a queria desesperadamente. Seu corpo

clamava por tomá-la forte e rápido no início, então longo e lento. Queria colocar sua

marca nela para que todos vissem. Ele se lembrou das palavras de Kelan sobre como

metade dos homens a bordo do V’ager estavam apaixonados por ela. Podia entender por

quê. Ela era uma lutadora feroz e forte. Embora fisicamente parecesse delicada e frágil,

ela tinha uma força que a fazia parecer tão forte quanto qualquer guerreiro Valdier.

Creon varreu as paredes do palácio. Ele esticou as asas o máximo que pôde e

deslizou, fazendo um ligeiro arco até ficar alinhado com a varanda que levava ao seu

quarto. A mesma sacada da qual ele havia se jogado na noite anterior. Pousou levemente

na grade de pedra, transformando-se ao pousar. De volta à sua forma de duas pernas,

ele desceu e passou rapidamente pelas portas. Seus olhos varreram para frente e para

trás observando os lençóis desgrenhados. Uma versão menor de sua simbiose dormia no

meio da cama. Ele ergueu a cabeça, enviando imagens de Carmen para ele. Um sorriso

malicioso curvou seus lábios quando ouviu o som de água caindo. Talvez fosse hora de

apresentar a selvagem de cabelos brancos a seu novo companheiro.

Creon rapidamente tirou suas roupas e entrou no banheiro. Ele parou por tempo

suficiente para apreciar a beleza de sua companheira. Seus olhos percorreram sua forma

ágil. Ela estava virada de lado com a cabeça inclinada para trás e os olhos fechados, um

pequeno sorriso curvava seus lábios. Ele ignorou o fato de que o sorriso provavelmente

desapareceria, mas seu desejo por ela só cresceu enquanto seus olhos percorriam seu

corpo esguio. Seus próprios lábios se curvaram quando ele notou o formato de suas
costelas delineadas sob sua pele. Ele cuidaria disso em breve. Ele se certificaria de que

ela tivesse o suficiente para comer. Seu cabelo curto estava penteado para trás por causa

da água. Gostava de como ele se enrolava nas pontas. Ela se virou, deixando cair a cabeça

para frente. Ele avançou com curiosidade quando viu que ela tinha algo sobre um ombro.

A imagem colorida parecia brilhar.

Ele entrou no chuveiro com ela e estendeu a mão para tocar as asas delicadas da

criatura voadora pintada em um ombro. Ele tinha certeza de que ela explodiria em

violência com seu toque. Em vez disso, ela congelou como se apenas o toque dos dedos

dele contra sua pele a mantivesse imobilizada.

— O que é isso? — Ele perguntou baixinho.

Carmen manteve a cabeça baixa e se virou ligeiramente. Ela estava perdida na magia

do chuveiro e não percebeu que não estava mais sozinha. Um arrepio percorreu seu

corpo no momento em que o homem atrás dela a tocou. Uma parte dela queria se cobrir

e outra parte estava curiosa sobre o que aconteceria. Seu corpo pareceu ganhar vida de

repente. Fazia tanto tempo que ela não se sentia viva que queria sentir isso por apenas

mais um breve momento.

— É uma fênix. — Respondeu ela em voz baixa e rouca.

Creon traçou as bordas da bela criatura pintada em sua pele. Ele tinha visto outras

pessoas com essas imagens, mas nunca uma tão bonita como esta. As linhas intrincadas

iam do topo de seu ombro até o quadril. A criatura tinha uma cabeça delicadamente

curva com pequenas penas subindo para cima. Isso o lembrou da mulher em pé na frente

dele. Havia uma expressão de tristeza em seus olhos, como se tivesse passado por muita
dor e sofrimento. A parte de trás dela curvava-se para baixo em uma linha suave até que

alcançava as penas da cauda que eram longas e fluidas, alcançando para tocar a leve

curva de sua bunda e envolvendo seu quadril. Foi pintado em tons gloriosos de

vermelho, rosa e roxo suave. O artista dedicou tempo para tornar cada pena individual

única. Foi claramente um trabalho de amor para o artista. Era como se a criatura nas

costas de sua companheira tivesse capturado uma parte de sua essência para sempre.

— É lindo, como você. O que há de tão especial sobre esta criatura? — Ele perguntou

maravilhado.

— A fênix é uma criatura mítica do meu mundo. — Carmen disse levantando a

cabeça para olhar para frente. — Ela vive eternamente, passando por um ciclo sem fim

de morte e renascimento até envelhecer. — Ela sussurrou.

Ele se inclinou para frente para que pudesse ouvir suas palavras suavemente faladas

e deslizou os braços em volta da cintura dela. Inclinou o rosto apenas o suficiente para

que pudesse sentir o calor dela contra seus lábios. Ouviu a dor em sua voz. Esta criatura

simbolizava algo muito importante para ela.

— O que acontece quando envelhece? — Ele pressionou calmamente.

Carmen se virou em seus braços e ergueu o rosto para ele. A água do chuveiro

grudou em seus longos cílios como lágrimas. Ela olhou profundamente em seus olhos

escuros, como se avaliando se deveria ficar ou tentar escapar.


— Ela constrói um ninho especial, fica no ninho e é consumida pelo fogo. — Seus

olhos escureceram de tristeza. — Das cinzas da velha fênix, uma nova nasce para viver

outra vida.

Creon levantou a mão para segurar suavemente a bochecha de sua companheira.

— Eu sinto tanta dor dentro de você. Isso me rasga. Deixe-me ajudá-la. Deixe-me

tirar a sua dor. — Disse ele roucamente. — Deixe-me assumir isso por você para que

possa se erguer novamente.

Lágrimas queimaram os olhos de Carmen. Ela enrijeceu, recusando-se a ceder ao

desejo de deixar outra pessoa tirar seu fardo dela. Ela tinha feito uma promessa que

nunca esqueceria. Sua mão desceu para sua barriga lisa. Ela cerrou o punho contra ela.

Havia ressuscitado três vezes das cinzas. Era hora de retornar à Terra e construir seu

ninho final. Somente quando ela terminasse, não renasceria, mas buscaria a paz eterna.

— Não. — Ela respondeu, afastando-se da tentação.

Carmen saiu rapidamente do chuveiro e agarrou a toalha que havia estendido,

envolvendo-a ao redor dela. Enfiou as pontas entre os seios para segurá-la antes de pegar

as roupas que havia trazido para o banheiro com ela. Precisava sair daqui. Precisava ir

para casa. Tinha coisas para fazer, pessoas para ver, alguém para matar. Tinha que

encontrar sua irmã, Trisha e Cara.

Sem se virar, ela falou alto o suficiente para que ele a ouvisse.

— Eu tenho que falar com minha irmã, Trisha e Cara. Precisamos voltar para a Terra.

— Ela disse em uma voz sem emoção antes de sair da sala.


Creon soltou uma pequena maldição sob sua respiração. Seu plano para reclamá-la

mudou quando ele viu a imagem nas costas dela. Ele precisava saber o que a estava

machucando. Sua simbiose a examinou minuciosamente enquanto ela dormia. Ela havia

enviado a informação assim que ele voltou. Ela tinha várias cicatrizes antigas que sua

simbiose curou. Ele estava preocupado com o quão perto muitas delas haviam chegado

de seus órgãos vitais.

No momento em que ele entrou em seu quarto, Carmen estava vestida com uma de

suas camisas e um par de calças. A camisa dele ia quase até os joelhos e ela estava

ocupada enrolando as pernas das calças para cima. Ele não resistiu à risada que escapou

dele.

— Você parece uma criança brincando de se vestir com minhas roupas. — Observou.

Carmen lançou lhe um olhar sombrio.

— Eu não tenho nenhuma outra roupa, exceto a que eu estava vestindo e elas estão

sujas. Vou lavá-las e devolver as suas assim que puder coloca-las de volta. Estou

supondo pelo seu comentário que este é o seu apartamento. Como espero sair daqui mais

tarde hoje, não vou pedir meu próprio lugar para ficar. Quero ver minha irmã e amigos,

depois quero transporte de volta para casa. Preciso voltar o mais rápido possível.

— Por quê? — Creon perguntou encostado na parede.

Carmen lançou um rápido olhar para ele antes de virar a cabeça novamente. Ela

realmente gostaria que ele colocasse algumas roupas. A toalha que tinha enrolado em

torno dele não cobria o suficiente para deixá-la confortável. Inferno, nada sobre ele,
vestido ou não, a deixava confortável. Seu corpo estava hipersensível no que dizia

respeito a ele. Ela nunca tinha estado com ninguém além de Scott. Ele era o único homem

que a tinha visto sem roupas, exceto pelos médicos que a operaram. Até mesmo sua

ginecologista era mulher. Uma onda de culpa a inundou quando percebeu que podia

pensar em Scott e não parecia doer tanto quanto antes. Ela apertou a mandíbula. Não

permitiria que seus sentimentos confusos pelo homem que estava diante dela a

dissuadissem de seu caminho.

— Tenho coisas a fazer. — Disse ela, virando-se. — Eu deveria encontrar alguém.

— Scott? — Creon perguntou com um rosnado profundo.

Carmen girou em choque e raiva.

— Como você sabe sobre Scott? — Ela perguntou ferozmente.

— Quem é este homem? — Creon exigiu, endireitando-se. — Eu não vou devolver

você para ele. Você é minha agora. Você não pode voltar para ele.

Carmen empalideceu.

— Eu não sou sua. Nunca poderei ser sua. Vou voltar para o meu planeta. Com ou

sem sua ajuda. Nunca vou desistir.

O ciúme pesou profundamente em Creon. Ele não permitiria que sua companheira

tivesse a impressão de que ela voltaria para o homem que ela deixou para trás. Sua vida

estava com ele em Valdier agora. Podia demorar, mas ela iria aceitar. Nenhum deles

tinha outra escolha.


Ele avançou até que se elevou sobre ela. Forçou-se a ignorar a angústia em seus

olhos. Agarrando seus braços com força, ele a puxou contra si e pressionou seus lábios

contra os dela em um beijo feroz e possessivo que falava de sua reivindicação.

Carmen explodiu contra ele, lutando como ele esperava antes. Ele não cometeu os

mesmos erros que cometeu na sala de transporte. Segurou-a contra seu corpo, não dando

a ela a oportunidade de usar as pernas contra ele. Suas mãos mantiveram os braços dela

firmemente pressionados contra o seu lado. Sua boca a impedia de usar a cabeça.

Infelizmente, sua boca ainda era uma arma letal, ele pensou ao sentir a picada aguda

e o gosto de sangue onde os dentes dela morderam seu lábio inferior.

Ele se afastou com relutância.

— Você é minha, mi elila. Não podemos sobreviver sem você. Quanto mais cedo

você aceitar isso, mais fácil será para todos nós.

Carmen se recusou a olhar para ele. Ela manteve os olhos grudados em seu peito

largo. Tudo dentro dela queria ceder, mas suas palavras doeram. Ela mordeu o lábio

inferior até sentir o gosto de seu próprio sangue se misturando ao dele.

— Eu não posso. — Ela sussurrou. — Eu tenho que voltar.

— Por quê? — Creon exigiu em desespero.

Carmen ergueu os olhos quando o som de angústia rompeu sua própria dor.

— Eu tenho que matar alguém.


Creon olhou melancolicamente para fora da janela. A revelação de sua companheira

de que ela precisava voltar para matar alguém o pegou de surpresa. Ela continuava a

confundi-lo. Cada vez que ele pensava que estava começando a entendê-la, ela dizia ou

fazia algo totalmente diferente do que ele esperava. Estava tão confuso que fez a única

coisa que podia para ajudá-lo a entender a situação... procurou sua mãe para pedir

conselhos. Havia algumas coisas na vida de um guerreiro em que ele se destacava e

outras quando sabia que estava totalmente fora de si. No caso de entender o que fazer

com essa mulher, ele decidiu que seu melhor curso de ação era buscar a ajuda de outra

mulher. Era por isso que estava agora de pé nos aposentos de sua mãe, em vez de sair

correndo para se encontrar com Ha'ven como deveria.

— Creon, o que é? — Morian perguntou preocupada enquanto entrava em sua sala

de estar vinda da biblioteca no corredor.

Ele se virou para olhar para sua mãe. Ela ainda era muito bonita. Seu cabelo ainda

era tão preto quanto o céu da meia-noite quando as luas não surgiam. Seus olhos

brilhavam com um ouro suave e quente. Sua pele tinha algumas novas rugas ao redor

dos olhos e boca, a maioria delas aparecendo após a morte de seu pai. Ela se movia com

a graça natural de uma princesa Valdier. Quando seu pai morreu durante um acidente

enquanto caçava, ele temeu que ela o seguisse logo depois. Por vários meses, sua dor foi

tão tangível que ele sentiu que poderia estender a mão e tocá-la. Passaram-se vários anos

desde a morte de seu pai e às vezes ele ainda sentia a profunda dor dentro dela. Ela sentia
falta de seu companheiro. Ele sabia que seu pai não era seu verdadeiro companheiro.

Eles se casaram para criar um relacionamento mais forte entre dois clãs poderosos,

tornando-os um só. Seus pais vieram das Casas da Realeza. Dizia-se que sua mãe era

uma sacerdotisa dos deuses e deusas cujo sangue vital corria em suas veias e cujo sangue

dava vida a suas simbioses. Sua mãe sabia coisas que outras pessoas não percebiam. Ela

podia se comunicar com todas as simbioses e seu amor pelas plantas que viviam em seu

planeta era evidente. Se ele não soubesse melhor, juraria que ela poderia falar com elas e

vice-versa.

— Eu preciso de sua ajuda, Dola. — Ele respondeu solenemente.

— Claro. — Disse ela, colocando uma mão reconfortante em seu braço. — É sobre

Carmen?

Ele acenou com a cabeça, sem saber por onde começar. Moveu-se para se sentar em

uma das cadeiras de veludo perto da janela. Decidiu contar a ela tudo o que havia

acontecido até agora. Talvez ela pudesse ver o que ele não podia.

— Ela está sofrendo e se recusa a permitir que eu a ajude. — Disse ele enquanto

terminava de contar tudo a ela, incluindo sobre a imagem nas costas de sua companheira

e seu desejo de retornar ao seu mundo para matar alguém.

Morian olhou para o rosto tenso de seu filho. Era óbvio que a dor da jovem estava

irradiando para fora até afetar Creon e seu dragão. Talvez fosse hora de ela mesma visitar

a jovem.
— Talvez ela precise de outra mulher para conversar. — Morian sugeriu. — Eu irei

vê-la. Há um jantar planejado para esta noite. Pedi à costureira que fizesse algumas

roupas para cada uma das mulheres com base nas informações que Zoran me enviou.

Será uma boa desculpa para passar um tempo com ela.

Creon deixou escapar um suspiro de alívio.

— Eu adoraria isso. Ela não está falando comigo novamente. Uma vez que recusei

seu pedido para ver sua irmã e amigos e levá-la para casa, ela me deu as costas e se

recusou a dizer outra palavra. Isso me preocupa mais do que qualquer outra coisa. —

Ele disse com uma expressão de dor.

Morian abriu a boca para responder quando uma batida rápida em suas portas

externas a deteve. Ela não esperava mais ninguém. Levantando-se, ela se assustou

quando a batida soou novamente, desta vez ainda mais forte.

Morian correu para a porta e a abriu. Um guarda estava do lado de fora parecendo

muito sério. Ele se curvou respeitosamente para Morian, mas seus olhos estavam

procurando atrás dela.

— Meu senhor, precisamos de você. — Disse o guarda com urgência.

Creon se levantou, carrancudo.

— O que houve?
— É a fêmea humana. — O guarda disse severamente. — Ela escapou de seus

aposentos derrubando seu guarda. Nós a recapturamos, mas ela está lutando contra nós.

Tenho medo de que ela se machuque.

— Oh, querido. — Morian disse, sua mão indo para sua garganta. Ela se virou para

Creon, que estava avançando. — Eu vou com você.

Creon acenou com a cabeça, uma expressão tensa em seu rosto.

— Leve-me até ela.

***

Carmen ignorou a pulsação em seu tornozelo. Ela o machucou quando chutou o

último cara. Esses caras eram mais difíceis de pegar de surpresa. Ela estava começando

a suspeitar que os guerreiros a bordo do V’ager estavam brincando com ela. Não ficaria

surpresa se eles tivessem vindo comprar uma briga com ela apenas para aliviar o tédio

de ficar confinado em uma nave de guerra por longos períodos de tempo ou se ela fosse

uma novidade para eles porque esses caras eram totalmente sérios.

Ela escapou batendo um vaso na cabeça de seu guarda. Foi preciso um pouco de

atuação da parte dela apenas para o cara abrir a porta para ver como ela estava. O grito

alto e o estrondo finalmente conseguiram. Ela mandou Harvey buscar flores e inventou

uma história sobre como adoraria ter flores para decorar o apartamento. Depois de
algumas fungadas e alguns movimentos de seus cílios, Harvey relutantemente cedeu.

Ela percebeu que tinha uma chance de escapar com Harvey e o alto, moreno e confuso

fora do caminho. Inferno, ela nem sabia o nome dele!

Agora, estava cercada por sete... não oito... homens muito altos, de aparência muito

séria. Ela também estava ferida. Seu tornozelo estava latejando o suficiente para que ela

soubesse que estava pelo menos torcido. Dores quentes e agudas irradiaram por sua

perna no momento em que ela a pressionou. Seu braço esquerdo também latejava. Um

dos homens bateu nele quando ela se virou para acertá-lo quando ele a agarrou. O

desespero a invadiu. Ela não foi capaz de encontrar sua irmã, Trisha ou Cara. Ela não

tinha como sair deste planeta. Não tinha mais nada pelo que viver. A única coisa que a

manteve viva nos últimos três anos foi uma necessidade obstinada de vingança. Agora,

até mesmo isso parecia um objetivo impossível.

A depressão a atingiu com força. Tão duro, senão mais duro do que no primeiro ano

após a morte de Scott e ela perder seu filho. Ela se sentia totalmente inútil. Girou em um

círculo, favorecendo o pé machucado. Sua mão direita foi instintivamente para a faca

que carregava. Ela se sentia tão presa agora quanto naquela noite na pista. Sua mente

estava começando a se fragmentar enquanto ela lutava contra o pânico de estar presa e

indefesa novamente.

Carmen puxou a faca de sua bainha e a girou em um amplo arco, forçando os

homens a pular para trás. Um olhar selvagem surgiu em seus olhos quando ela percebeu

que não haveria como escapar, pelo menos não viva. Um soluço baixo escapou dela

enquanto a depressão contra qual ela vinha lutando a oprimiu com um sentimento de

total desesperança. Tentou se concentrar nas técnicas de mediação que Connie lhe
mostrou, mas ela estava além disso. Tentou acreditar que poderia voltar para casa, mas

mesmo isso parecia fora de seu alcance.

— Para trás. — Ela rosnou em voz baixa. — Saiam de perto de mim.

Harvey apareceu fora do pequeno círculo. Ele empurrou dois dos guardas,

ignorando suas ordens para ficar para trás. A simbiose lentamente se aproximou de

Carmen, como se reconhecesse que ela estava se segurando em sua sanidade por um fio.

— Vá, Harvey. — Carmen comandou na mesma voz baixa. — Vá. Eu não quero você

aqui. Volte para o seu mestre.

A simbiose tremeluziu de angústia ao afundar no chão a poucos metros dela. Ele a

observou cuidadosamente, como se sentisse que ela estava assustada e lutando pelo

controle. Um som de zumbido baixo escapou dele enquanto cintilava em vários tons de

cores diferentes.

— Não desta vez. — Carmen sussurrou enquanto seus olhos passavam de um

guarda para outro. — Tudo que eu queria era encontrar minha irmã e amigas e ir para

casa. — Disse ela com voz rouca para a figura dourada que a observava tão atentamente.

— Carmen. — Uma voz profunda a chamou.

Os olhos de Carmen voaram para a nova figura que se movia em sua direção. Era

seu guerreiro de cabelos escuros. A raiva explodiu nela. Era sua culpa ela estar nessa

bagunça. Ele deveria apenas tê-la mandado de volta para casa. Isso os teria poupado de

muita dor de cabeça.


— Eu quero encontrar minha irmã e ir para casa. — Carmen sibilou, mantendo a

faca na frente dela. — Apenas me mande para casa.

Creon olhou fixamente nos olhos selvagens de sua companheira.

— Eu disse que não posso fazer isso. — Ele respondeu calmamente enquanto fazia

um gesto para que os guardas os deixassem.

Carmen deu um salto para o lado quando viu os guardas atrás dela se afastando.

Tropeçou um pouco quando a dor atingiu seu pé. Reprimiu um grito quando as agulhas

quentes de dor subiram por sua perna.

Creon deu um passo em sua direção, mas parou quando ela apontou a faca para ele.

— Deixe-me ajudá-la. — Disse ele calmamente. — Você está ferida. Deixe-me cuidar

de você.

— Não! — Carmen respondeu laconicamente. — Eu não quero ou preciso da sua

ajuda em nada além de voltar para casa.

— Eu disse que não posso deixar você voltar. — Ele disse suavemente dando outro

passo mais perto.

Carmen deu um doloroso passo para trás, para longe dele.

— Então não há mais nada para mim. — Ela sussurrou olhando para ele com olhos

cheios de dor. — Eu não tenho razão para continuar lutando. Não há razão para

continuar... — Sua voz enfraqueceu quando a dor a dominou.


Um arrepio de advertência percorreu a espinha de Creon com as palavras ditas

suavemente. Havia uma convicção nisso, uma aceitação. Ele precisava de mais tempo

para entender como poderia ajudá-la. Ele podia sentir que a estava perdendo.

— Scott não gostaria que você acabasse com sua vida. — Morian disse baixinho

enquanto ela se movia para ficar ao lado de Creon. — Ele não gostaria que você desistisse

da chance de ser feliz.

Carmen balançou perigosamente ao ouvir o nome de Scott, seus olhos refletindo sua

dor e tristeza.

— Você não sabe como é a dor dia após dia. Isso está me destruindo. Eu sinto tanto

a falta dele. — Ela engasgou com a voz cheia de lágrimas. — É minha culpa que ele esteja

morto. Se eu tivesse ficado em casa, ele ainda estaria vivo. Nosso... nosso bebê teria

sobrevivido. — Sussurrou Carmen enquanto uma única lágrima se soltou e rolou por

sua bochecha.

— Matar o homem que tirou isso de você trará algum deles de volta? — Morian

perguntou enquanto dava um passo para mais perto de Carmen. — Scott gostaria que

você fosse atrás do homem sabendo como isso seria perigoso para você? Você acha que

ele culparia você do jeito que está se culpando?

Carmen deixou cair o braço que segurava a faca ao lado do corpo.

— Não, isso não os trará de volta. — Ela engasgou. — Mas eu fiz uma promessa a

Scott, ao nosso bebê e a mim mesma de que mataria o homem responsável. — Ela falou

com uma voz um pouco mais forte, um pouco mais alta.


Morian deu outro passo mais perto até que ela estava ao alcance do braço de

Carmen.

— Mesmo que isso te mate? — Ela perguntou gentilmente.

Carmen olhou nos olhos dourados quentes da mulher à sua frente e acenou com a

cabeça.

— Sim. — Ela respondeu em um sussurro quase inaudível. — Pelo menos então a

dor vai acabar.

— Para você, mas não para mim ou para o resto da família de Creon. Pois se você

morrer, meu filho também morre. Estou pedindo que você dê uma chance a esta vida. —

Morian respondeu calmamente. — A dor pode diminuir se você der uma chance. A vida

pode começar de novo. Assim como com sua fênix. Você ressuscitou das cinzas, Carmen.

É hora de começar sua nova vida.

Carmen balançou a cabeça, seus olhos procuraram o homem parado em silêncio

atrás da mulher.

— Como minha morte pode prejudicar seu filho... Creon? — Ela perguntou,

hesitando enquanto dizia o nome do guerreiro que se recusou a deixá-la ir.

— Ele é seu verdadeiro companheiro. — Morian explicou. — A vida dele, a vida de

seu dragão e a vida de sua simbiose estão em suas mãos. Você tem o poder de decidir se

ele vive ou morre.


— Mas... — Carmen franziu a testa para a mulher antes de olhar para o homem

parado rigidamente atrás dela, esperando para ver o que ela decidiria. — Eu não

entendo. — Ela murmurou confusa.

Morian sorriu gentilmente e estendeu a mão.

— Venha conosco, minha filha. Dê-nos uma chance de explicar.

Carmen olhou para a mão que foi estendida para ela. Olhando para cima, ela olhou

para os olhos pacientes esperando por ela fazer sua escolha. Seus olhos passaram pela

mulher para fitar os olhos escuros e dourados do homem. Algum instinto disse a ela para

dar a eles pelo menos a chance de explicar.

Creon, ela pensou consigo mesma. Agora ela sabia o nome dele.

Carmen lentamente deslizou a faca de volta na bainha e colocou os dedos trêmulos

na mão estendida da mulher. Dedos fortes e finos se enrolaram nos dela e os apertaram

em encorajamento. Um momento depois, um braço forte e musculoso rodeou sua cintura

apoiando seu peso.

— Você me permitiria carregá-la? — Creon perguntou com voz rouca.

Carmen corou e acenou com a cabeça.

— Eu machuquei meu tornozelo. — Ela murmurou.

O rosto de Creon se contraiu de raiva.

— Vou disciplinar os homens por machucar você.


Carmen fez uma careta quando Creon a pegou.

— Eles estavam seguindo suas ordens, então se alguém precisa ser disciplinado, é

você! — Ela retrucou. — Eles estavam apenas fazendo o que lhes foi dito.

A risada de Morian impediu Creon de responder.

— Eu acho que você encontrou seu par, meu filho. Ela é tão protetora dos guerreiros

quanto você.

Creon gemeu.

— Eu estava tentando impressioná-la com minha proteção! — Ele rosnou de volta.

Carmen olhou para ele com ceticismo.

— Eu não acho que dizer aos homens para me manter prisioneira, e depois

discipliná-los quando o fizerem, seja proteção. Se você tivesse apenas me deixado ir em

primeiro lugar, nada disso teria acontecido.

— Eu pensei que estávamos além disso. Quantas vezes eu tenho que dizer que nunca

vou deixar você ir? — Ele retrucou, cansado de ela não o ouvir.

— Bem, para sua informação, ouvir vai nos dois sentidos! — Carmen respondeu

com a mesma veemência. — Você não está ouvindo o que estou dizendo, então por que

eu deveria ouvi-lo?

— Você é a mulher mais confusa, irritante e enfurecedora que já conheci! — Ele

soltou.
— Confusa? Eu? — Carmen olhou para ele com surpresa. — Você me colocou em

seu apartamento, entrou no chuveiro comigo quando eu estava nua e me disse que eu

pertenço a você como se fosse um grande privilégio. Eu nem sabia seu nome até dois

minutos atrás! Não sou eu que sou confusa. Eu disse exatamente o que queria!

Uma risada assustou os dois de volta à percepção de que não estavam sozinhos.

— Creon, por que não a curamos, tomamos alguns refrescos, explicamos onde ela

está, por que você a está reivindicando e o que isso significa para vocês dois? — Disse

Morian exasperada. — Estou começando a entender por que ela está tão confusa.

Creon grunhiu em resposta à observação alegre de sua mãe. Ele subiu os degraus

de pedra branca que levavam de volta aos seus aposentos. Harvey trotou ao seu lado,

esperando ter uma chance de curar sua companheira. Creon meio que se perguntou se

sua simbiose poderia curar sua pequena demônia de cabelos brancos se ele a

estrangulasse. Ele grunhiu quando sentiu um puxão forte em seu cabelo.

— Você disse isso em voz alta. — Carmen murmurou baixinho enquanto soltava o

cabelo dele. — Você não tem permissão para me estrangular se estiver me protegendo.

Os olhos de Creon brilharam perversamente por um momento antes dele se inclinar

o suficiente para sussurrar em seu ouvido.

— E quanto a palmadas? Elas contam?

Carmen recuou, corando furiosamente.

— Sim. — Ela sussurrou. — Elas contam!


— Mas como o quê? — Ele murmurou enquanto a colocava suavemente no sofá da

sala de estar.
Já fazia mais de uma semana desde que ela chegou ao planeta e estava se sentindo

tão confusa agora quanto quando chegou. E tão frustrada. Depois de sua captura no pátio

do palácio, Creon a carregou de volta para seus aposentos. Sua mãe, Morian,

pacientemente preparou algo para todos comerem enquanto Creon fazia Harvey curar

sua perna e braço. Carmen ficou cética no início, mas em poucos minutos toda a dor

passou.

Posteriormente, Morian e Creon deram a ela uma breve história de seu mundo e

suas crenças, ou seja, as crenças sobre companheiros verdadeiros. Carmen tinha ouvido,

mas era impossível para ela acreditar que sua partida poderia prejudicar, muito menos

matar Creon. De certa forma, poderia entender se fosse como se ela e Scott se

conhecessem por toda a vida e estivessem juntos o tempo todo, mas à primeira vista? Foi

por isso que ela tentou escapar novamente e novamente.

Ela tinha chegado aos corredores uma tarde, mas ele a encurralou em uma das salas

dos fundos quando ela pegou o caminho errado. Ela acabou em uma sala sem outra saída

além da porta pela qual entrou. Seu rosto queimou ao se lembrar do beijo escaldante que

ele lhe dera. Ela se sentiu verdadeiramente encurralada naquele dia quando ele a

prendeu contra a parede e a beijou tão apaixonadamente que ela estava ofegante depois.

Ele puxou a bunda dela de volta para seus aposentos dizendo que não havia nenhum

lugar onde ela pudesse ir que ele não a encontrasse. Ela estava mais determinada do que

nunca a provar que ele estava errado!


— Isto é ridículo! — Ela murmurou, olhando pela janela novamente para toda a

atividade lá embaixo.

— Acho que eles estavam apenas inventando, então eu não tentaria escapar.

Isso não a impediu. Ela tentou escapar várias vezes na semana passada. Agora, o

número de guardas estacionados fora de seus aposentos parecia um time de futebol em

miniatura. Ela estava ficando sem meios para tentar enganá-los. Uma das vezes que

tentou escapar, convenceu dois dos guardas de que precisava de ajuda com um vaso

sanitário entupido, de todas as coisas. Ela havia trancado os guardas no banheiro.

Chegou ao final do corredor antes que Harvey a pegasse e a arrastasse de volta. No dia

seguinte, ela tinha quatro novos guardas fora da porta.

Depois disso, tentou fugir vestida como uma das criadas que vieram fazer a limpeza.

Ela amarrou a pobre garota e a colocou no quarto dos fundos. Desceu até a metade da

escada antes que o alarme soasse mais uma vez, graças a Harvey! A simbiose dourada

estava começando a lhe dar nos nervos. Creon explodiu de raiva quando a viu correndo

determinada para os portões do palácio. Ele a pegou e puxou sua bunda de volta para

cima. Ela acabou com oito guardas naquela noite. Eles foram instruídos a identificar cada

indivíduo que entrasse e saísse de seus aposentos.

Carmen olhou feio para Harvey.

— Ele ainda está chateado por eu não estar falando com ele.

Uma imagem da cama enorme no quarto de Creon passou por sua mente. Carmen

fez uma careta para as pulseiras de ouro em seus pulsos. Harvey se recusou a removê-
las após o incidente no pátio do palácio. Ela havia tentado arrancá-las, mas nada que

fizesse iria removê-las.

— E porque me recuso a dormir com ele! — Ela adicionou. — Se o que eles dizem é

verdade, dormir com ele e deixá-lo me reivindicar completamente seria ainda pior.

Talvez se ele não me reivindicar como dizem e eu sair, ele ficará bem. Ele será capaz de

encontrar outra garota para acasalar. — Ela argumentou, ignorando a pontada de ciúme

com a ideia de Creon estar com outra garota.

Praguejou baixinho novamente. Os sentimentos dentro dela estavam ficando mais

difíceis de ignorar. Felizmente para ela, até agora Creon tinha sido o cavalheiro perfeito.

Ele não tentou empurrar toda a sua coisa de sobre ela. Ele se certificou de que ela tivesse

comida, que ela beliscava enquanto ele resmungava. Ele apenas soltou alguns bufos e

grunhidos quando ela levou as roupas que Morian lhe entregou para um quarto de

hóspedes menor, em vez de seu quarto. Ele até cedeu um tanto graciosamente sobre ela

se recusar a comparecer ao jantar. Ela percebeu que tinha algo a ver com as palavras

murmuradas. — Pelo menos não terei que matar outro guerreiro se ele tentar reivindica-

la, uma vez que ainda não o fiz.

Então, dois dias atrás, ele desapareceu e ela não o tinha visto desde então. Ela sabia

que algo estava acontecendo. A atividade no pátio havia aumentado quase tão

dramaticamente quanto o número de guardas fora de seus aposentos. Carmen tinha

ficado tão chateada ontem que tentou apenas passar por eles. Eles estavam aprendendo

que seria mais fácil pegá-la se trabalhassem em equipe. Ela também suspeitou que Creon

prometeu esfolar qualquer um deles vivo se ela se machucasse novamente, porque eram
muito cuidadosos sempre que brigavam com ela para se certificar de que o faziam com

todo cuidado possível. Isso a estava irritando regiamente!

Ela tinha sido mantida virtualmente uma prisioneira aqui. Morian viera visitá-la no

dia seguinte ao incidente no pátio. Creon saiu para uma reunião pouco depois. Ela tentou

fazer perguntas sobre Scott, mas Carmen se recusou a dizer qualquer outra coisa. Temia

que quanto mais eles soubessem, mais tentariam usar a informação para fazê-la mudar

de ideia.

Morian tinha compartilhado calmamente o quão difícil foi no começo quando seu

companheiro morreu repentinamente. Ela falou sobre a dor, tristeza e solidão que ainda

a afetava às vezes. Quando Carmen apontou que ela ainda estava viva, Morian explicou

que embora ela tivesse amado seu companheiro profundamente, ele não tinha sido seu

verdadeiro companheiro.

— Qual é a diferença? — Carmen perguntou, ainda mais confusa com a diferença.

— Enquanto Zlatan me amava como eu o amava, seu dragão e sua simbiose nunca

me aceitaram totalmente. Eles cuidaram de mim e me protegeram, especialmente sua

simbiose, já que eu era uma sacerdotisa. Mas não era a mesma coisa que se eu fosse sua

verdadeira companheira. Seu dragão cuidou de mim, mas não havia o fogo para mim

que um verdadeiro companheiro teria. Mas Zlatan, o homem. — Morian suspirou

enquanto tomava um gole de chá. — O homem Zlatan era muito apaixonado e atencioso.

Ele compensou o que estava faltando.

— Ainda não entendo. — Disse Carmen com impaciência. — É ridículo acreditar

que só porque você vê alguém, você morrerá se não o reivindicar.


Morian estudou Carmen cuidadosamente, olhando sob a máscara teimosa que ela

usava para a menina assustada por baixo. Carmen estava com medo de se permitir amar

novamente. Ela estava com medo de se abrir para o amor. Seu filho teria que lutar para

superar as paredes que esta jovem e frágil terráquea havia construído ao redor de seu

coração. Mesmo que ela agisse muito duramente, por baixo estava equilibrada em um

precipício que poderia levar ao desastre para ela e Creon.

— Uma verdadeira companheira é um presente muito raro e especial com que todos

os guerreiros esperam ser abençoados pelos deuses. — Morian explicou

cuidadosamente. — Só uma verdadeira companheira é aceita pelas três partes do

guerreiro. O homem, seu dragão e sua simbiose. Todos os três formam o guerreiro e lhe

dão sua força. Mas, é uma existência solitária. No fundo existe uma fome que só uma

verdadeira companheira pode saciar. A necessidade de se sentir completo consome o

guerreiro, crescendo com o tempo. Ele pode gostar de sexo com uma mulher, mas isso

nunca sacia sua fome. Seu dragão se tornará mais difícil de lidar à medida que ele

envelhece, querendo uma companheira para si. Isso só pode acontecer com a mulher

certa. Só então o fogo do dragão queimará. Torna-se mais difícil para o macho controlar

quando ele descobre sua verdadeira companheira. O fogo vai queimar mais e mais

quente até que ele a tome.

— E se ela não quiser ser tomada? — Carmen perguntou em voz baixa, olhando para

as mãos postas em vez de para Morian. — E se ela não quiser ser reivindicada?

— Ela não tem escolha, minha filha. — Morian respondeu gentilmente. — Uma vez

mordida, o fogo do dragão se acenderá dentro dela, transformando-a, puxando seu

próprio dragão para a superfície em resposta ao chamado de seu companheiro. Ela não
será capaz de negar nem o homem nem o dragão. Uma vez que for reivindicada, nunca

poderá deixar seu companheiro.

Carmen ficou sentada no sofá por horas depois de pensar. Ela precisava fugir antes

que Creon a mordesse. Era por isso que ela havia tentado escapar a semana toda.

Precisava colocar a maior distância possível entre eles antes que fosse tarde demais.

A batida repentina na porta trouxe Carmen de volta ao presente. Franziu o cenho.

Não esperava ninguém. Morian normalmente batia uma vez e entrava. Quem quer que

estivesse na porta estava batendo como se fosse um bombo.

Carmen agarrou a pequena estátua que estava usando como arma para intimidar os

guardas e caminhou até a porta. Abrindo-a, sua carranca se transformou em surpresa

quando ela olhou para a visitante rapidamente. Olhou para os guardas que a observavam

com cautela. Estendendo a mão, ela agarrou o braço de sua irmã mais velha e puxou-a

para dentro antes de bater à porta com força.

— O que você fez? Matou alguém? — Ariel perguntou provocativamente. — Eles

têm meio pelotão protegendo você.

Carmen revirou os olhos com o exagero antes de voltar para a sala de estar.

— Você não está exagerando um pouco? E não, eu não matei ninguém... ainda. —

Ela acrescentou baixinho. — Onde diabos você esteve? Você sabe o que está

acontecendo?

Ariel foi até o sofá antes de responder.


— Você ouviu sobre Abby e Zoran? — Ela perguntou enquanto se sentava.

— Sim, Morian me disse. Parece que merda acontece até em mundos alienígenas. —

Disse Carmen, indo até um carrinho e servindo uma bebida. Ela se aproximou e entregou

a Ariel. — Eu pensei que você tinha sumido da face do planeta. Ninguém me disse onde

você estava e eu não consegui te encontrar.

Ariel se contorceu quando Carmen olhou para ela atentamente.

— Eu estive nas montanhas. — Ariel murmurou antes de tomar um gole de sua

bebida. — Com Mandra. — Ela adicionou baixinho.

— Mandra, hein? Qual é ele? — Carmen perguntou com uma sobrancelha levantada.

Enrubescendo, Ariel olhou para sua bebida por um momento antes de levantar os

olhos preocupados para Carmen.

— Ele era um dos caras na sala de transporte, aquele tentando me pegar.

— Parece que ele fez mais do que tentar. — Carmen respondeu secamente, olhando

a marca no pescoço de sua irmã.

— Sim, ele fez. — Ariel respondeu mordendo o lábio. — Gosto muito dele, Carmen.

Eu... eu o amo.

Carmen olhou para sua irmã mais velha com olhos tristes. Não havia muito que

pudesse dizer. Ela notou a marca no pescoço de Ariel quando a puxou pela porta e

reconheceu aquele brilho em seus olhos. Ela tinha aquele mesmo brilho há muito tempo,

quando Scott estava vivo. Estava feliz por Ariel. Seria mais fácil deixá-la sabendo que ela
seria cuidada e não estaria sozinha. Tudo ficaria bem. Ela sabia em seu coração agora

que poderia deixar sua irmã mais velha sem se sentir culpada.

— Estou feliz por você, mana. Se alguém merece felicidade, é você. — Carmen disse

calmamente.

A cabeça de Ariel se ergueu.

— Você ainda vai tentar voltar para casa, não é? — Ela perguntou resignada.

— Sim. — Respondeu Carmen.

— Então eu vou com você. — Disse Ariel, abaixando-se para colocar sua bebida na

mesinha. — Seria melhor ir enquanto a maioria dos caras está fora.

Carmen balançou a cabeça tristemente.

— Não, Ariel. Você tem uma vida aqui agora. Esta não é sua batalha, é minha.

Existem algumas coisas que tenho que fazer sozinha. Esta é uma delas. Eu quero...

preciso saber que você está segura e feliz. — Disse Carmen, esperando que Ariel

entendesse e concordasse. — Por favor, preciso saber que você está segura e feliz.

Carmen viu os olhos de sua irmã se encherem de lágrimas.

— Nós prometemos que sempre estaríamos lá uma para a outra, não importa o que

aconteça. Eu vou com você, então cale a boca e aceite isso. — Ela murmurou.

Carmen soltou a respiração que estava prendendo.


— Tenho tentado descobrir uma maneira de escapar. — Disse Carmen. — Você tem

alguma ideia? — Ela perguntou olhando para sua irmã.

— Não tenho certeza. Eu tentei sair pela janela e quase me matei. — Ariel disse com

um sorriso torto. — Senhorita Graça, não sou eu. A saliência era estreita demais para me

segurar. Eu estava indo para outra sala e escapulir por ela.

Carmen pensou por um minuto antes de sorrir.

— E se, em vez de ir ao longo da saliência, descêssemos pelo lado? Poderíamos

descer de rapel até a varanda abaixo de nós.

Ariel parecia em dúvida.

— Você tem alguma corda? — Ela perguntou.

— Não, mas tenho cortinas. Podemos amarrá-las como costumávamos fazer quando

éramos crianças. — Disse Carmen, de repente animada.

— O.... ok. — Ariel falou.

— O que então?

— Tenho visto transportes decolando não muito longe da cidade. Nós vamos até lá

e roubamos um deles. Você disse que achava que poderia pilotar um, não é? Então, nós

o programamos para nos levar para casa. — Disse Carmen se ajoelhando na frente de

Ariel e segurando sua mão com força.

Ariel olhou nos olhos de Carmen com preocupação.


— E se não conseguirmos encontrar o caminho de volta?

— Você pode. — Carmen disse seriamente. — Eu sei que você pode, Ariel. Eu tenho

que ir embora antes...

Ariel apertou as mãos de Carmen.

— Antes do que?

— Antes que ele me reivindique. — Disse Carmen, com um olhar de súplica pela

compreensão da irmã. — Se ele me morder, com certeza vai matá-lo quando eu for

embora. Eu não quero machucá-lo. Preciso partir antes que ele faça isso.

Ariel mordeu o lábio em incerteza.

— Seria uma coisa tão ruim, Carmen? Você tem a chance de deixar o passado para

trás, de recomeçar. Você não pode dar uma chance? Scott... — Sua voz sumiu quando

Carmen se afastou com raiva.

— Esqueça. — Disse Carmen, levantando-se e se afastando de Ariel. — Acho que

seria melhor se você fosse embora agora.

Ariel se levantou e agarrou o braço de sua irmã mais nova, virando-a para que fosse

forçada a olhar para ela.

— Não, não vou esquecer. Eu vou te ajudar, mas você tem que me ouvir primeiro!

— Ela disse com força. — Scott nunca iria querer que você fizesse isso. Ele gostaria que

você seguisse em frente! Ele não esperaria que você assumisse uma missão suicida para
vingá-lo. Por que você não pode deixar ir? Por que você não pode seguir em frente com

sua vida? — Ariel exigiu.

O rosto de Carmen estava congelado em uma máscara sem emoção.

— Porque o bastardo que assassinou Scott também matou nosso bebê. Perdi mais

do que você pode imaginar naquela noite. Não vou pedir que você desista do homem

que ama, Ariel. Eu sei o que é ser amada e amar outra pessoa com cada fibra do seu ser.

O que espera que eu faça? Esqueça-os? Agir como se eles nunca tivessem existido? Eu

não quero nunca mais me apaixonar. Não vou correr o risco de me abrir assim de novo.

O rosto de Ariel suavizou quando ela viu o medo nos olhos de Carmen.

— Você se importa com Creon, não é?

Carmen tentou se afastar do olhar conhecedor de Ariel, mas sua irmã se recusou a

deixá-la ir.

— Ele me deixa confusa. — Sussurrou Carmen finalmente. — Quando olho para ele,

sinto coisas que nunca pensei que sentiria novamente. Tento irritá-lo, mas ele apenas me

olha como se pudesse ver dentro de mim. — Carmen olhou para Ariel com uma

expressão confusa. — Estou com medo, Ariel. Eu sabia o que fazer na Terra. Não sei o

que fazer aqui.

— Você acha que fugir vai resolver os sentimentos que você está tendo? — Ariel

perguntou com um sorriso compreensivo.


— Não. — Carmen respondeu com um pequeno sorriso. — Mas, não custa pelo

menos tentar.

— Sabe que provavelmente seremos pegas, não é? — Ariel respondeu levemente. —

E, quando os caras descobrirem, eles vão ficar mais do que um pouco chateados conosco.

Um leve rubor subiu no rosto de Carmen quando ela se lembrou da ameaça de

Creon de bater em sua bunda.

— Sim, mas pense na diversão que teremos antes que isso aconteça.

Ariel riu com uma voz baixa e rouca.

— Carmen, você está agarrando um dragão pelo rabo e puxando-o.

— Pelo menos não são os dentes. — Disse Carmen suavemente, virando-se para o

quarto de Creon, onde longas cortinas pendiam ao redor da cama enorme.

Ariel observou sua irmã enquanto ela caminhava em direção ao quarto.

— Eu não contaria com isso. — Ariel murmurou com uma explosão de esperança.

Um enorme sorriso iluminou seu rosto. Sua irmã estava fazendo um último esforço

para escapar, a fim de absolver a culpa que sentia por não ser capaz de cumprir a

promessa que havia feito a si mesma. Mas, no fundo, Ariel podia ver a esperança nos

olhos de sua irmã de que ela falharia.


Creon revirou os ombros para aliviar a tensão neles. Ele havia passado os últimos

dois dias com seus irmãos, Ha'ven e um pequeno grupo de guerreiros nas regiões

montanhosas ao norte da cidade. Eles descobriram onde o traidor Curizan, Ben'qumain,

havia levado Abby apenas para descobrir que ela escapou dele ao se transformar. Zoran

tinha ido em busca dela.

Ha'ven havia dado a ele a confirmação final que ele precisava de que o irmão mais

velho de seu pai, Raffvin, ainda estava vivo e era responsável pelo assassinato de seu

pai. Ha'ven também relatou que seu irmão, Adalard, quase foi morto em uma tentativa

de assassinato e Vox foi sequestrado.

— Estou pronto para matar o bastardo por quase matar meu irmão, mas tenho que

reconhecer que ele foi capaz de sequestrar Vox. — Disse Ha'ven com um sorriso. — É

muito difícil chegar furtivamente e capturar aquele grande gatinho.

Creon lutou contra uma risada.

— Você sabe que ele vai chutar a sua bunda se continuar a chamá-lo assim. —

Respondeu ele enquanto voltavam para os transportes que esperavam para devolvê-lo

ao palácio e Ha'ven a sua nave de guerra.

— Como se aquele grande bichano tivesse uma chance. — Disse Ha'vem. — Você

sabe que termos que ir resgatar sua bunda lamentável. Estou ansioso para esfregar isso
em seu rosto. Ouvi dizer que o venderam para uma operação de mineração administrada

pela Antrox. Odeio lidar com esses insetos sem emoção. — Ele resmungou.

— Tenho certeza de que Vox está tendo o melhor momento de sua vida agora. —

Creon respondeu baixinho, sua mente já de volta para tentar descobrir como lidar com

sua companheira.

— Eu te digo como lidar com ela. — Seu dragão rosnou teimosamente. — Eu digo a você

uma e outra vez, mas você não me escuta. Deixe-me mordê-la. Eu cuido disso. Você também tem

medo dela. Eu não estou com medo. Eu ensino a ela quem está no comando.

— Eu não estou com medo! — Creon mordeu de volta em frustração. — Estou

tentando dar a ela tempo para nos aceitar!

— Não, você está com medo. — Seu dragão respondeu secamente. — Ela não é Aria. Eu

nunca gostei de Aria. Harvey nunca gostou de Aria. Nós gostamos de Carmen. Ela é boa

companheira. Ela é uma companheira teimosa. Ela é mais teimosa do que você. Ela é uma boa

companheira perfeita.

— Eu sei que ela não é Aria! Eu só.... — Creon soltou um suspiro de frustração. —

Bolas de dragão! — Ele rosnou baixinho.

Ha'ven olhou para ele com uma sobrancelha levantada.

— O que o torceu assim? Eu podia dizer que você e seu dragão estavam discutindo

sobre algo. — Disse ele com um movimento da mão para os braços de Creon, que

estavam cobertos por escamas pretas. — Você não costuma deixar que nada o perturbe
o suficiente para perder o controle. O que houve? Zoran e sua companheira ficarão bem

e você sabe que Vox pode lidar com qualquer coisa que o Antrox jogar nele.

— Eu tenho uma verdadeira companheira. — Disse Creon relutantemente. — Ela é

de uma espécie que nunca encontramos antes.

Ha'ven parou de andar e olhou atentamente para o amigo. Esta era uma grande

notícia. Ha'ven sabia que Creon se recusou a deixar outra mulher se aproximar dele após

a traição de Aria. Ele também sabia que era quase impossível para um Valdier encontrar

sua verdadeira companheira. O fato de Creon ter encontrado a sua com uma espécie

desconhecida era, bem, incrível.

— Então qual é o problema? Pensei que um guerreiro Valdier devesse abraçar

encontrar sua verdadeira companheira e tudo. Parece que você prefere trocar de lugar

com Vox nas minas. Ela é feia? — Ha'ven perguntou curiosamente.

Creon lançou a seu melhor amigo um olhar de desgosto.

— Não, ela não é feia. Na verdade, ela é muito, muito bonita. É só... — Creon fez

uma careta antes de murmurar o resto da frase. — É só que ela não quer nada comigo.

A gargalhada de Ha'ven ecoou ao redor deles.

— Ela não... — Ha'ven riu ainda mais. — Ela não quer ter nada a ver com você. —

Ele gritou tentando recuperar o fôlego. — Você encontra sua verdadeira companheira e

ela é a única mulher em dez sistemas estelares que não quer ter nada a ver com você! Eu

tenho que conhecer essa espécie.


Creon deu um soco na mandíbula de Ha'ven, derrubando o enorme príncipe

Curizan em sua bunda.

— Não é engraçado! — Ele rosnou.

Ha'ven sentou-se esfregando seu queixo.

— Talvez não para você, mas para o resto de nós é! — Ele riu, rolando para ficar de

pé a tempo de não ser chutado por Creon. — Vamos! Quantas mulheres você roubou

quando paramos nos bares dos espaço portos? As mulheres sentem o cheiro de um

Príncipe Dragão Valdier e o resto de nós desaparece em segundo plano.

— Você está exagerando. Aconteceu uma vez e as mulheres não tinham ideia de que

você e Vox eram príncipes também porque estavam agindo como se fossem meus servos.

Eu ganhei o sorteio. Vox tinha sido o Príncipe na vez anterior e elas estavam em cima

dele. — Creon respondeu. — E não se atreva a dizer nada a minha companheira sobre

isso. Estou tendo um tempo difícil o suficiente com ela sem você contar suas histórias

fantásticas.

— Talvez ela quisesse você se pensasse que outras mulheres estavam competindo

por sua atenção. — Ha'ven especulou enquanto escovava as folhas e a sujeira de sua

bunda. — Não poderia doer, certo?

— Pelos deuses, estou falando sério, Ha'ven. Tenho lido sobre as informações que

Kelan e Trelon baixaram sobre as mulheres da Terra. Elas não gostam que seus

companheiros olhem para outras mulheres. Eu li um relatório que uma mulher

realmente cortou o pau de um homem por fazer isso. Eu não duvido que minha
companheira seja capaz disso. Ela é uma lutadora feroz. Ela não iria parar em apenas

cortar isso. — Alertou Creon.

Ha'ven se encolheu e se segurou protetoramente.

— Talvez eu não queira conhecer esta espécie, afinal. — Ele murmurou.

— Vamos. — Disse Creon, cansado. — Eu a deixei sozinha por muito tempo. Ela

tentou escapar pelo menos uma dúzia de vezes na semana passada. Tive que triplicar os

guardas. Ela continua atacando-os e tenho medo que ela se machuque.

— Boa sorte, meu amigo. Cuidarei dos arranjos necessários para ir atrás de Vox e

me encontrar com você amanhã, a menos que você queira deixá-lo esperando um pouco

mais. Diga a Mandra que ele deve se encontrar com Adalard. Ele já o está esperando.

Depois de resgatar o gatinho, nos encontraremos com ele e Adalard. Até lá, devemos

saber onde seu tio está escondido. — Disse Ha'ven com um tapa simpático no ombro de

Creon.

Creon acenou com a cabeça quando eles romperam a clareira.

— Esteja seguro, meu amigo. Até nos encontrarmos mais tarde.

Creon deu um passo em direção à nave que o levaria de volta ao palácio enquanto

Ha'ven subia naquela que o levaria de volta a nave de guerra que eles usariam para ir

atrás de Vox. Talvez fosse hora de levar Carmen a algum lugar de onde ela não seria

capaz de escapar. Uma vez que ela estivesse na nave de guerra, não havia nenhum lugar

que pudesse ir que ele não pudesse encontrar.


***

Uma hora depois, Creon tremia de raiva profunda. Carmen escapou novamente.

Desta vez com sua irmã. Ele ouviu em um silêncio frio enquanto os guardas lhe contavam

que as duas mulheres haviam desaparecido no dia anterior. Os guardas não perceberam

que algo estava errado até que ficaram preocupados quando não houve resposta para o

servo que trazia os lanches noturnos. Elas ainda não haviam sido encontradas.

— Nada! Onde diabos elas estão? — Mandra mordeu selvagemente.

— Não sabemos, meus senhores. Procuramos extensivamente o palácio e

expandimos ainda mais a busca. Não parece que foram levadas, mas sim partiram por

conta própria. — Disse o guarda, hesitante.

— Como elas passaram por vocês? — Creon rosnou com uma intensidade fria que

fez o guarda engolir em seco, nervoso.

O guarda ficou congelado quando viu os olhos de Creon escurecer. Ele tinha ouvido

as histórias do jovem lorde, algumas que gelariam o sangue de qualquer guerreiro. Seus

olhos piscaram para a longa faca curva que o mais jovem real segurava cerrada em seu

punho.

— Elas desceram a sacada e escalaram a parede até uma sacada inferior usando as

cortinas ao redor da cama como uma corda. — Respondeu o guarda.


Creon rosnou novamente e jogou a faca com raiva. Escamas negras ondulavam

sobre seus braços e seu pescoço. Seu rosto começou a se alongar enquanto ele deixava a

mudança tomar conta dele. Ele mataria cada guarda se algo acontecesse com sua

companheira. Ele lhes deu instruções estritas para proteger sua companheira e não a

deixar escapar. O grupo de guardas congelou quando a faca estremeceu onde ficou presa

na parede. Creon puxou seu dragão de volta sob controle, ignorando seu desagrado

quando sentiu a mão de Mandra em seu ombro.

— Nós as encontraremos. — Disse Mandra em uma voz mortal. — Elas não podem

ter saído do planeta.

Uma batida na porta fez todos os homens olharem em volta. Um guarda vestindo o

uniforme padrão de calça de couro preta, colete preto e botas pretas de cano alto estava

na porta. Ele esperou até ser reconhecido antes de falar.

— Meus senhores, nós as pegamos. — Disse o homem nervosamente, olhando para

Creon.

— Onde? — Mandra rosnou ameaçadoramente.

— Na base de lançamento, meu senhor. — O homem respondeu apressadamente.

— Elas roubaram uma das naves, mas conseguimos anular os controles.

Creon se virou e se dirigiu para a porta no momento em que soube onde sua

companheira estava. Ele não lhe daria mais tempo para aceitar seu acasalamento; ale a

reivindicaria assim que a tivesse sozinha e então a tiraria daqui até que ela entendesse

que ele nunca a deixaria partir. Empurrou para fora da porta, transformando-se em seu
dragão assim que ele estava fora. Moveu-se rapidamente em direção à base de

lançamento.

E, ele prometeu silenciosamente, eu darei a ela a surra que ameacei dar antes.

— Finalmente. — Seu dragão murmurou em concordância. — Você finalmente cresceu

algumas bolas de dragão.

— Foda-se. — Creon rosnou enquanto circulava para pousar perto da base que

mantinha sua companheira.

— Não me foder, foder nossa companheira. — Seu dragão rosnou em triunfo. —

Finalmente reivindicaremos nossa companheira.

***

Carmen segurou o braço com cautela contra o peito. Estava inchado e doía o

suficiente para deixá-la nauseada. Ela sabia que seu pulso estava quebrado. Sentiu os

ossos quebrarem quando o guarda a agarrou. Seu rosto doía também. Sabia que estava

inchando com o calor que irradiava de sua bochecha. Ela queria tocá-lo, mas tinha medo

de soltar o pulso por tempo suficiente para senti-lo. Manteve o queixo enfiado no peito.

Usou todos os movimentos que aprendeu com Scott e com os guerreiros a bordo da

V’ager, mas os guardas eram muito fortes. Na realidade, ela não tinha planejado lutar

com nenhum deles. Finalmente aceitou que nunca seria capaz de retornar à Terra a
menos que Creon a levasse. Seus olhos piscaram para o maior guarda. Ele tinha quase

quatro vezes o tamanho dela e de Ariel. Ele agarrou Ariel rudemente quando ela

tropeçou. Deve ter pensado que ela tentaria escapar porque, quando a agarrou, quase a

empurrou do chão. Quando sua irmã gritou de dor, Carmen foi atrás dele. Ninguém

machucava sua irmã mais velha. Tudo foi para o inferno depois disso. Quando um dos

caras deu um soco em Carmen, jogando-a no chão, Ariel pulou em sua bunda. Não foi

até Carmen gritar de dor quando seu pulso quebrou que todos congelaram. Ela

desmoronou no chão em agonia enquanto Ariel a protegia dos guardas, recusando-se a

deixar qualquer um deles tocar em sua irmã mais nova.

Agora, o grande guarda olhava com crescente inquietação para a porta. Ele se

recusou a olhar para Carmen depois que trouxeram ela e Ariel para o pequeno escritório.

Ariel a ajudou a se sentar. Quase imediatamente, dois dos guardas colocaram restrições

para prendê-las em suas cadeiras. Uma vez que eles não podiam conter seus braços, eles

as prenderam em seus tornozelos delgados. Carmen mordeu o lábio para não

choramingar enquanto lágrimas silenciosas de dor escorriam por seu rosto.

Pouco tempo depois, o rugido alto de um dragão ecoou pela base. Os três guardas

parados na sala com elas empalideceram com o som. Um momento depois, Creon

irrompeu na sala. Ele não tinha se transformado totalmente de volta em sua forma de

duas pernas. Seu rosto ainda estava ligeiramente alongado, seus olhos eram duas chamas

douradas de fúria e escamas negras ainda cobriam seus braços, pescoço e bochechas.

Seus olhos se fixaram em Carmen. O rosnado baixo e perigoso retumbando dele fez

os homens na sala recuarem até que foram pressionados rigidamente contra a parede.
Seus olhos se moveram de um para o outro antes de voltarem para o corpo maltratado

de Carmen.

— Quem a machucou? — Ele perguntou em uma voz baixa e mortal. Quando

ninguém respondeu imediatamente, ele olhou para os guardas novamente e rugiu. —

QUEM A MACHUCO?! — Ele perguntou, dando um passo ameaçador em direção a eles.

— Creon. — Carmen gritou baixinho. Os olhos de Creon voltaram para os dela. —

Eu... — Carmen começou antes de parar para lamber os lábios repentinamente secos. —

Eu... preciso de sua ajuda. — Ela pediu baixinho. — Por favor... você vai me ajudar? Eu

não quero machucar mais. — Ela adicionou suavemente enquanto novas lágrimas

enchiam seus olhos e escorriam por suas bochechas pálidas. — Por favor. — Ela

sussurrou entrecortada.

Creon olhou em seus enormes olhos castanhos brilhantes. Ele ouviu suas palavras

não ditas. Ela estava finalmente pronta para lhes dar uma chance. Ele não tinha certeza

do que havia mudado, mas podia ouvir o apelo silencioso. Ela estava com medo, mas

estava pronta para dar o primeiro passo em direção à cura, o primeiro passo em direção

a aceitá-lo e ao que seria sua nova vida. Ela estava finalmente pronta para se levantar das

cinzas.

Carmen olhou para ele silenciosamente implorando para que ele entendesse o que

ela não podia dizer. Ela viu o momento em que ele reconheceu seu apelo tácito. Creon

respirou fundo, trêmulo, enquanto caminhava até ela. Ele ouviu Mandra entrar na sala e

caminhar até Ariel, que estava sentada em silêncio ao lado de sua irmã.
— O pulso dela está quebrado. — Ariel murmurou baixinho para Creon. — Ela

também levou um duro golpe no rosto. Por favor, cuide dela. Ela estava tentando me

proteger.

Creon olhou para o rosto machucado da companheira de seu irmão. Seus olhos se

moveram para os homens parados ao lado. Ele se encontraria com cada um para mostrar

o que aconteceria se eles colocassem outra mão em sua companheira ou em qualquer

uma das companheiras de seus irmãos. Todos os três homens baixaram a cabeça em

reconhecimento, percebendo que haviam usado força desnecessária contra as duas

pequenas fêmeas.

— Creon. — Sussurrou Carmen, olhando para ele enquanto ele soltava as amarras

em seus tornozelos. — Não os culpe ou Ariel. Foi minha culpa.

Sua cabeça se ergueu e sua mandíbula se contraiu de raiva.

— Vamos discutir isso depois que eu curar você. Nunca mais, Carmen. Você estará

ao meu lado de agora em diante até que eu saiba que você não tentará me deixar. Eu

reivindico você. Assim que estiver curada. Vou terminar minha reivindicação e se os

deuses e deusas nos abençoarem, você será minha para sempre. — Disse ele com firmeza,

levantando-se.

Carmen deu um pequeno aceno de cabeça para mostrar que ela entendeu que não

haveria mais como escapar.

— Eu tive que tentar uma última vez. — Ela disse em uma voz tão fraca que ele

quase perdeu.
Creon se abaixou e gentilmente a ergueu em seus braços, com cuidado para não

bater em seu braço ferido. Ele se virou e rosnou para Harvey voltar para seus aposentos

e esperar por eles. A enorme criatura dourada estremeceu de raiva, virando sua enorme

cabeça para olhar fixamente para os três guerreiros que estavam em silêncio dentro da

porta. Ele emitiu um rosnado baixo antes de se transformar em um pássaro enorme e

partir para o palácio.

Ele parou na porta, virando-se para olhar para cada homem.

— Se vocês tocarem em minha companheira novamente, eu irei pessoalmente

destruir cada um de vocês. Vou levar meu tempo e vou aproveitar cada momento. —

Disse ele friamente. — Isso não está acabado.

O maior guerreiro deu um passo à frente e fez uma reverência.

— Por favor, aceite minhas desculpas por prejudicar sua companheira, meu senhor.

Ela é uma lutadora feroz e muito protetora. Ela é uma companheira forte para você.

Estarei pronto para responder pelo mal que fiz.

Carmen se sentiu horrível pelo grandalhão. Ele estava apenas cumprindo seu dever.

Não era culpa dele que ela fosse um pouco mais frágil do que estava acostumado. Ela

virou o rosto para o pescoço de Creon e o beliscou levemente para chamar sua atenção.

O estrondo suave de um ronronar assustou os dois.

— Não fique bravo com ele. Ele estava fazendo seu trabalho. — Sussurrou ela,

olhando para Creon com os olhos arregalados.


Os olhos de Creon se estreitaram na bochecha pálida e machucada de sua

companheira. Ele acenou com a cabeça para o guerreiro. Precisava levar sua

companheira de volta ao palácio. Tinha saído com tanta pressa que não tinha pensado

em transporte de volta quando a encontrasse. Viu Mandra ajudando Ariel a entrar em

sua simbiose, que tinha a forma de um pequeno skimmer. Ele já havia mandado a sua

de volta para o palácio.

— Espere um pouco. — Ele disse rispidamente antes de invocar seu dragão. —

Venha, meu amigo. Precisamos levar nossa companheira para casa. — Ele sussurrou.

Carmen engasgou quando os braços que a seguravam se transformaram em torno

dela. Eles engrossaram e cresceram. Escamas negras da meia-noite ondularam e se

formaram. As asas compridas e coriáceas se desdobraram e se expandiram, mesmo

enquanto ela sentia o mundo ao seu redor mudando, então ela estava muito mais alta do

que estava momentos antes. Em questão de segundos, ela estava olhando com olhos

arregalados para a cabeça elegante de um dragão. Ela estava embalada em suas garras

dianteiras. Incapaz de se conter, ela estendeu a mão boa e timidamente tocou as escamas

negras da meia-noite no peito do dragão. As escamas eram duras e lisas ao seu toque.

Ela sentiu um arrepio percorrer o corpo enorme enquanto deixava seus dedos

explorarem o máximo que ela podia alcançar. A cabeça negra alongada se virou para ela

e soprou uma lufada de ar quente. Carmen estendeu a mão e tocou suavemente a ponta,

passando os dedos ao longo de um focinho arredondado.

— Você é tão lindo. — Ela suspirou, esquecendo sua dor e medo em um momento

de puro espanto. — Você é mágico.


Creon queria rugir enquanto ela o tocava, mas tinha medo de assustá-la. Em vez

disso, ele se moveu nas patas traseiras, batendo as asas e decolou para o céu. Soltou uma

série de tosses com o grito assustado de sua companheira e puxou-a para mais perto de

seu corpo quente. Sentiu-a relaxar contra ele. Uma nova sensação de triunfo fluiu por ele

em sua confiança nele em sua forma de dragão. Esta noite um novo dragão nasceria. Ele

não tinha dúvidas de que sua companheira sobreviveria à transformação. Ela tinha

sobrevivido a mais do que a maioria dos guerreiros. Ela era sua fênix.
Creon pousou levemente na varanda de seus aposentos, equilibrando-se

suavemente enquanto se transformava. Ele desceu, tentando não empurrar Carmen mais

do que o necessário. Ela estava mais pálida do que antes e ele estava preocupado que ela

tivesse ferimentos internos.

Chamou por Harvey. A simbiose dourada estava saltando de um pé para o outro.

Ele estava de volta à forma da estranha criatura que Carmen parecia achar tão

reconfortante. Suas longas orelhas douradas balançavam para cima e para baixo e eram

tão compridas que parecia que ele poderia tropeçar nelas na emoção de chegar até

Carmen.

Creon caminhou rapidamente pelo corredor até seu quarto. Colocou Carmen

cuidadosamente nas cobertas macias. Ela estava segurando seu braço e mordendo o

lábio. Linhas tensas de dor beliscaram os cantos de sua boca e uma névoa de dor nublou

seus lindos olhos castanhos. Ela estava respirando rapidamente pela boca.

— Cure-a. — Disse Creon com urgência para sua simbiose.

Ele se sentou na beira da cama e passou a mão com ternura pela testa dela. Harvey

se dissolveu e fluiu sobre Carmen, tentáculos dourados movendo-se sobre seu pulso

quebrado primeiro, então continuando até tocar cada centímetro de seu corpo

machucado. Creon observou enquanto uma névoa de ouro subia pelo pescoço de sua
companheira e pela bochecha machucada. Carmen estremeceu e ficou perfeitamente

imóvel enquanto a simbiose se movia sobre sua pele.

— É uma sensação tão suave e quente. — Murmurou Carmen, olhando para Creon

com os olhos arregalados cheios de admiração. — É um formigamento.

Creon sorriu para o sussurro ofegante de admiração. Já que um guerreiro Valdier se

unia a sua simbiose enquanto ele ainda era uma criança, ele nunca pensou em como se

sentia enquanto o curava. Era tão natural quanto respirar. Assim como seu dragão. Ele

não conseguia imaginar como seria se não tivesse nenhum dos dois.

— Eu nunca pensei sobre isso antes, mas você está certa, formiga quando cura. —

Ele respondeu ainda passando a mão sobre a testa dela antes de deixar seus dedos

fluírem pelos fios sedosos de seu cabelo.

— Por que você correu de novo? Certamente você sabia que nunca teria saído do

planeta e mesmo se tivesse, teria sido capturada antes de chegar longe. Teria sido

suicídio pensar que poderia retornar ao seu mundo em um ônibus espacial. Você teria

morrido antes de chegar a uma fração da distância de seu planeta. — Ele perguntou com

voz rouca.

Carmen virou a cabeça para a palma da mão dele.

— Eu não queria que você me mordesse. Achei que se pudesse me afastar, você

encontraria outra pessoa. Quero dizer, se você não me reivindicasse, quando eu partisse,

nada te aconteceria se você não tivesse me reivindicado até o fim. — Carmen tentou

explicar.
Ela estava tendo dificuldade em pensar direito. Ela não estava mais sofrendo, pelo

menos não de suas feridas que agora estavam curadas. Seu corpo clamava pelo dele. Ela

podia sentir a atração. Estava mais forte do que nunca. Era como se houvesse algo dentro

dela que o chamasse.

Ela observou enquanto seus olhos escureciam para um ouro ainda mais escuro. As

chamas gêmeas queimaram com uma intensidade que enviou um arrepio de consciência

através dela até que ela sentiu como se seu sangue estivesse fervendo. Ela virou a cabeça

quando Harvey se refez ao lado dela. O enorme Basset Hound dourado passou uma

língua comprida e dourada pelo lado do rosto.

— Oh. — Ela riu, assustada. — Obrigada. — Ela disse baixinho, apoiando-se em um

cotovelo para dar um beijo no nariz dourado de Harvey.

Um suspiro escapou dela quando de repente foi erguida em um par de braços muito

fortes e possessivos.

— Nunca pode haver outra para mim. Você é minha companheira, para sempre. —

Creon murmurou antes de seus lábios esmagarem os dela.

O suspiro de Carmen se transformou em um gemido suave quando ela timidamente

colocou os braços em volta do pescoço dele. Creon pressionou até que sentiu os lábios

carnudos e macios de sua companheira se abrirem hesitantemente. Ele se aproveitou de

seu suspiro assustado para aprofundar o beijo, enredando os dedos em seu cabelo e

inclinando sua cabeça para um lado.


Quando ele se afastou, seus olhos tinham se tornado tão escuros e castanhos que era

quase impossível ver suas pupilas. Ela estava respirando de forma curta e profunda. Ele

gemeu quando sentiu seu peito se expandir, esfregando seus mamilos retesados contra

seu peito enquanto ela tentava estabilizar a respiração. Ele enterrou o rosto em seu

pescoço e respirou fundo. No momento em que seus lábios tocaram sua pele aquecida,

ele sentiu seus dentes se alongarem.

— Eu reivindico minha companheira agora. — Seu dragão rosnou.

Creon ficou surpreso quando seu dragão ganhou o controle de repente, atacando

com uma única determinação... reivindicar sua companheira. Ele gemeu alto quando o

doce sangue de Carmen se derramou em sua boca. Seu dragão rugiu dentro dele ao sentir

a resposta de sua companheira a ele e o gosto de seu sangue. O fogo do dragão queimou

em sua garganta enquanto crescia e se derramava dele para Carmen. Um grito agudo

ecoou na sala quando o corpo de Carmen se arqueou contra o dele com a intensidade do

calor que se derramava por ela. Ela se sentia como se estivesse pegando fogo de dentro

para fora. O calor se juntou e se acumulou entre suas pernas. Ela se moveu inquieta,

tentando fugir do fogo abrasador.

Um rosnado baixo a advertiu para não lutar. Creon continuou respirando o fogo que

seu dragão começou, determinado a não deixar sua companheira escapar dele

novamente. A necessidade primitiva de acasalar, de reclamar, de possuir o prendeu

firmemente em suas garras. Ele pressionou o corpo esguio sob ele mais para baixo nas

cobertas macias de sua cama, rastejando sobre ela até que ele a tivesse enjaulado. Suas

pernas correram ao longo do lado de fora das dela e ele apertou seu pênis pesado contra

ela para que ela soubesse o efeito que tinha sobre ele. Ele manteve a parte superior do
corpo levantado apenas o suficiente para não esmagá-la. Seus dedos ainda estavam

travados firmemente em seus cabelos sedosos, segurando sua cabeça enquanto ele

continuava a respirar o fogo transformador dentro dela.

Ele podia ouvir seus suspiros ásperos em seu ouvido enquanto ela lutava para

respirar quando o fogo do dragão explodiu por ela. As mãos dela agarraram suas costas

e ombros, alternando entre tentar empurrá-lo e agarrá-lo com força contra ela.

— Creon. — Ela choramingou. — O fogo... — Ela engasgou.

Tudo o que ele podia fazer era gemer enquanto o fogo derramava em ondas sem

fim, batendo contra as paredes de sua resistência, quebrando o medo e substituindo-o

pela necessidade. Seu dragão lutou ferozmente para superar o que restava de sua

resistência. Era como se ele entendesse que, como a fênix mística, somente quando a

resistência de Carmen fosse finalmente queimada até as melhores cinzas ela poderia

renascer, livre da dor e da tristeza de sua antiga vida.

O gemido de Creon aumentou à medida que o fogo dentro dele cresceu a um ponto

em que se perguntou se ele queimaria com ela. O grito de Carmen perfurou a sala quando

a onda de fogo explodiu, envolvendo-a. Incapaz de suportar o grito de angústia vindo

de sua companheira, Creon arrancou a boca de sua pele delicada e passou a língua na

marca para aliviar a dor e selar sua marca. O símbolo de um dragão negro puro, asas

bem abertas com uma de suas patas dianteiras levantadas em desafio, mostrado

claramente na curva entre seu pescoço e ombro. Ele nunca tinha visto uma marca mais

clara ou mais bonita em uma companheira.

— Ela é minha. — Seu dragão rosnou. — Eu a reivindico.


— Deuses, o que fizemos? — Creon murmurou para seu dragão. — Você não deveria

ter respirado tanto nela. Ela é muito frágil para lidar com tanto fogo do dragão de uma

só vez.

— Minha companheira. — Seu dragão estalou ferozmente.

Creon olhou para o rosto pacífico de sua companheira enquanto ela estava deitada

contra os travesseiros. Seu rosto estava vermelho, suas bochechas de um vermelho

rosado. Seus cílios pareciam crescentes ainda contra suas bochechas e um leve orvalho

cobria sua testa, fios de cabelo loiro-branco escurecidos com a umidade caindo contra

ela. Ele se afastou e deu um suspiro de alívio quando viu o leve subir e descer de seu

peito. Ela desmaiou quando a última explosão do fogo do dragão queimou através dela.

Ele franziu a testa ao ver a leve mancha de sujeira em sua bochecha, onde ela havia

caído ao ser atingida. Ele se afastou e rapidamente tirou suas roupas antes de começar a

despi-la. Ele iria dar banho e prepará-la. Quando ela acordasse, o fogo do dragão

queimaria através dela com uma intensidade que o assustaria. Normalmente, pelo que

ele leu nos arquivos, um guerreiro morderia sua companheira várias vezes durante o

processo de acasalamento. Cada vez, o fogo do dragão aumentaria em intensidade,

mudando sua companheira por dentro, remodelando seu sangue, órgãos, sua própria

essência enquanto um novo dragão nascia.

Seu dragão tinha derramado tudo que ele tinha naquela mordida. Um leve gemido

escapou de Carmen e ela se moveu inquieta na cama quando o fogo começou a aumentar.

Creon amaldiçoou a impaciência de seu dragão e sua incapacidade de controlá-lo às


vezes. Rapidamente pegou Carmen em seus braços e foi para o banheiro. Ele foi até a

enorme banheira, descendo os degraus e afundando na água aquecida.

Sua respiração ficou presa quando os olhos de Carmen se abriram de repente para

olhar para ele em silêncio. Flocos de ouro misturados com o marrom escuro agora,

brilhando na luz fraca do banheiro. Seus lábios se separaram como se fosse dizer algo,

mas nada saiu. Seus olhos se arregalaram, tornando-se um ouro mais escuro. Ela respirou

fundo antes de se inclinar para trancar sua boca com a dele em um beijo que era tão

possessivo dele quanto o dele havia sido antes para ela.

Creon estremeceu e passou as mãos pela cintura dela, movendo-as para puxá-la para

mais perto. Ele fez uma pausa quando sentiu um movimento ao longo de suas costas sob

a pele. Quebrou o beijo para olhar para baixo em choque e preocupação quando viu a

ondulação de escamas brancas, vermelhas, rosa e roxas deslizando sobre sua pele. Seus

dedos se cravaram em seus ombros, suas unhas tirando sangue quando uma onda de

fogo explodiu dentro dela, forçando um grito agudo de necessidade de sua garganta.

— Por favor. — Ela gritou com voz rouca. — O fogo está me queimando.

— Não lute contra isso, minha linda fênix. — Ele sussurrou com admiração

enquanto observava as mudanças nela. — Dê-se a mim e eu cuidarei de você.

Carmen começou a balançar a cabeça, o medo apertando sua mandíbula.

— E se você me deixar? — Ela perguntou, lágrimas brilhantes queimando, mas

nunca caindo.

— Nunca. — Ele prometeu. — Você nunca estará sozinha novamente. Eu juro.


Carmen lutou contra o fogo que queimava nela. Ela queria gritar com a força disso.

Um poder que não entendia estava tomando conta dela, mudando-a, transformando-a

em algo novo, algo diferente. Ela olhou nos olhos do homem que a pegara de surpresa.

Ele lutou para quebrar todas as barreiras que ela ergueu. Ele se recusou a deixá-la

desistir. Sua antiga vida estava chegando ao fim. Seu ninho foi construído, pronto para

ela queimar até as cinzas para que pudesse se levantar e viver novamente.

— Leve-me. — Ela finalmente sussurrou, caindo para frente até que estava enrolada

firmemente contra seu corpo. — Me leve, me abrace... me ame e nunca me deixe ir. —

Ela disse enquanto as lágrimas que ela segurou por tanto tempo finalmente caíram,

lavando a dor e a tristeza.

O coração de Creon se encheu de amor pela força, beleza e coragem contidas no

corpo esguio envolto firmemente em seus braços. Ele a virou suavemente até que ela

montou nele. Capturando seus lábios, ele agarrou suas coxas, guiando-a até que ela

estivesse alinhada com seu pênis inchado e puxou-a para baixo enquanto inclinava seus

quadris, empalando-a em seu longo comprimento. Ele sentiu os dedos de Carmen

deslizando ao longo de seu couro cabeludo enquanto ela torcia os dedos em seu cabelo

para puxá-lo para mais perto enquanto começava a balançar para frente e para trás. Suas

lágrimas salgadas se misturaram ao beijo, selando-os juntos.

— Eu te amo, mi elila. — Creon sussurrou contra seus lábios. — Você é minha vida.

Eu reclamo você como minha verdadeira companheira. Nenhum outro pode ter você.

Vou viver para te proteger. Você é minha, minha linda fênix.


Carmen se recusou a desviar o olhar dos olhos dourados do homem que deu a ela

um motivo para querer viver novamente. Suas pálpebras caíram enquanto as chamas

dentro dela queimavam mais brilhantes, puxando um gemido profundo dela enquanto

o prazer intenso crescia. Ela podia sentir seu pau longo e grosso acariciando-a

profundamente. A sensação erótica da água quente girando ao redor deles, combinada

com o impulso forte e afiado enquanto ele se movia profundamente dentro dela era

demais.

— Sim. — Ela ofegou enquanto seu clímax aumentava. — SIM! — Ela engasgou

quando seu corpo explodiu ao redor dele.

Um rosnado baixo escapou de Creon quando ele sentiu seu corpo apertar contra o

dele, agarrando seu pênis enquanto ela pulsava ao redor dele. Ela era muito bonita

enquanto gozava. Seus olhos estavam fechados e sua cabeça ligeiramente jogada para

trás, expondo a coluna delgada de sua garganta para ele. Um olhar de felicidade curvou

seus lábios. Incapaz de resistir, ele se balançou mais forte, mais rápido. Aproveitando

seu suspiro quando seus olhos se abriram em choque enquanto seu corpo se apertava

novamente.

— Creon. — Ela suspirou com voz rouca. — Oh! — Ela gritou, agarrando seus

ombros enquanto seu corpo endurecia novamente.

— Você é minha. — Ele rugiu quando seu próprio corpo respondeu ao dela.

Os olhos de Creon se fecharam quando ele sentiu sua semente pulsando

profundamente dentro dela. Podia sentir suas paredes vaginais acariciando-o, puxando

mais para fora dele. Por dentro, seu dragão rugiu querendo ver sua companheira nascer.
O fogo do dragão queimou sua garganta novamente. Ele não achava possível sobrar mais

nada dentro dele, mas seu dragão se recusou a ser saciado até que ele soubesse que sua

companheira estava transformada. Seus olhos se abriram, focados na coluna esguia e

pálida à sua frente.

— Morda-a! — Seu dragão rugiu com determinação.

Ele assumiu o controle mais uma vez com uma força que Creon nunca

experimentara antes. As escamas de meia-noite ondularam e seus dentes se alongaram.

Seus olhos baixaram para o seio pequeno e firme de Carmen. Abaixando a cabeça, ele

cravou os dentes no globo redondo. Suas mãos a impediram de se afastar e se machucar

quando ele mais uma vez colocou sua marca nela.

— Creon? — Carmen perguntou com uma voz confusa.

Sua cabeça se abaixou quando sentiu o beliscão forte, seguido pelo puxão em seu

seio esquerdo. Seus olhos se arregalaram enquanto observava Creon chupar. Um

pequeno rastro de sangue escorreu de um lado, escorregando até cair na água morna da

banheira. Um gemido escapou dela quando ela sentiu o calor inundá-la, fazendo seu

mamilo inchar em resposta. Logo, a pulsação entre suas pernas combinava com o

movimento de sucção de sua boca enquanto ele continuava a se mover para frente e para

trás, passando a língua sobre o mamilo tenso até que se tornou ultrassensível.

— Você vai me matar. — Ela gemeu com uma voz rouca enquanto as ondas de desejo

e necessidade cresciam novamente.


Um estrondo baixo foi a única resposta às suas palavras gemidas. A necessidade se

alimentou e cresceu a um nível explosivo dentro dela. Ela estourou quando atingiu o

pico, esfregando seus quadris contra o alívio que ele procurava. Ela sentiu um leve puxão

quando ele soltou seu seio, seguido por uma língua quente sobre o mamilo hipersensível.

Prazer/dor explodiu por ela na liberação repentina.

A cabeça dela caiu para a frente para se apoiar no ombro dele, enquanto soluços

agitados saíam de sua garganta. O mundo se inclinou quando um braço forte deslizou

para baixo para apoiar sua bunda enquanto ele se levantava. Água derramou por seus

corpos que ainda estavam presos. Seu outro braço a segurou pela cintura, mantendo-a

pressionada contra seu peito largo. Ela sabia que ele estava voltando para o quarto, mas

não se importou. Ela era uma massa de nervos supersensíveis agora incapazes de

funcionar ou sustentar seu próprio corpo. Ela mordeu o lábio quando ele saiu de dentro

dela, tentando sem sucesso impedir que o grito de negação escapasse de seus lábios

inchados.

— Shh, apenas começou. — Sua voz profunda sussurrou baixinho contra seu ouvido

enquanto ele a deitava suavemente em sua cama.

Carmen forçou os olhos a se abrirem para olhar para cima em descrença.

— O que você quer dizer com apenas começou? — Ela perguntou em choque.

— O fogo do dragão. — Respondeu Creon, dando um beijo em seu ombro, depois

em seu seio, antes de descer para seu estômago.


— O que é o fogo do dragão? — Ela perguntou com uma voz estrangulada, olhando

para o topo da cama enquanto ele continuava se movendo para baixo, puxando uma das

pernas dela por cima do ombro.

— Se os deuses e deusas nos abençoarem, seremos um quando a transformação for

concluída. — Disse sua voz abafada antes de se agarrar ao pequeno cerne inchado entre

as pernas e começar a festejar.

Carmen se arqueou em sua boca ainda olhando para cima. As imagens refletidas na

superfície espelhada acima dela mostravam tudo o que ele estava fazendo com seu

corpo. A visão e o som eram tão eróticos que ela não conseguia fechar os olhos para

bloqueá-los. Ela viu a imagem de si mesma se abrindo para ele como uma flor buscando

o sol. Abriu mais as pernas, abrindo-se para ele. Seus dedos se enrolaram com força nas

cobertas da cama. Ela podia ver a marca em seu seio esquerdo. Ele latejava, como se sua

boca ainda o mantivesse cativo. Um grito saiu de sua garganta quando seu corpo se

estilhaçou de repente. Ela podia sentir a força de seu orgasmo quando explodiu para fora

dela. O puxão aumentou em vez de diminuir. Incapaz de aguentar mais, seus dedos

soltaram a colcha e enrolaram em seus longos cabelos.

— Pare. — Ela gritou mesmo enquanto enrolava as pernas em volta da cabeça dele,

prendendo-o contra ela. — Oh, Deus! — Ela murmurou várias vezes enquanto o prazer

a inundava.

Creon se afastou com um rosnado suave e estrondoso. Ele agarrou suas coxas,

puxando-as ao redor de sua cabeça e deslizou as mãos até sua cintura, onde a girou com

força até que ela deitou de barriga. Puxando-a sobre os joelhos, ele a segurou pela cintura
e deslizou seu pênis latejante entre as dobras lisas e inchadas até que estava tão enterrado

quanto podia. Ele a segurou com força, mesmo enquanto ela lutava contra a intrusão

contra seu centro sensível. Ele reprimiu uma maldição quando as ondas do fogo do

dragão enredaram os dois em suas garras gananciosas. Seus quadris se moveram para

frente e para trás cada vez mais rápido enquanto queimava mais quente. Escamas

ondularam sobre os dois em resposta, as pretas dele contra as dela brancas, vermelhas,

rosas e roxas.

Os olhos de Creon se concentraram na teia de veias que se espalhava por suas costas.

A imagem da fênix em suas costas deu a ilusão de movimento. Suas asas se espalhando,

abrindo, levantando voo. Os vermelhos se transformando em chamas, enquanto o rosa e

o roxo se torceram, se transformando e se transformando em um dragão. Sua garganta

se fechou de emoção com a beleza de sua transformação.

Seu corpo explodiu em um caleidoscópio de faíscas, explodindo em uma explosão

que o deixou tremendo e ofegante. Ele se curvou sobre seu corpo, esforçando-se para

derramar cada grama de sua essência, de seu amor nela.

— Nunca. — Ele engasgou com a garganta grossa de emoção. — Nunca vou deixar

você.
Creon ficou deitado de lado olhando para o rosto relaxado de sua companheira. Ele

estava maravilhado com sua beleza, sua força e sua determinação. Um sorriso curvou

seus lábios quando percebeu que havia um leve tremor em sua mão. Ele estava

maravilhado com ela. Ela não se esquivou da reivindicação dele ou de seu dragão. Ela

combinou com ele toque por toque, gosto por gosto, fogo com fogo ao longo da noite

apenas para cair em um sono profundo enquanto as luas se punham e o sol brincava no

horizonte. O sorriso desapareceu lentamente. Ele nunca seria capaz de deixá-la retornar

ao seu mundo sozinha.

Durante a noite, ela havia hesitantemente contado a ele sobre sua vida antes. Ela

falou do marido sem esconder nada. Ele ficou surpreso a princípio com a falta de ciúme

que sentia pelo outro homem. Talvez tenha sido a maneira triste, mas pacífica, como ela

lhe contou sobre sua vida antes. Quanto mais ele aprendia, mais estava grato pelo outro

homem ter estado lá para ela. Ele a abraçou com força quando ela lhe contou como ele

foi assassinado e sobre o homem de quem ela havia buscado vingança. E, ele a confortou

quando ela chorou ao lhe dizer sobre a perda do filho que ela e seu primeiro

companheiro haviam concebido devido aos ferimentos que havia sofrido. Ele havia

jurado naquele momento que faria três coisas. Ele plantaria sua semente dentro dela, não

para substituir a criança que ela perdeu, mas para preencher o vazio em seu coração e

braços. Ele a protegeria com cada fibra dele, de seu dragão e de seu ser simbiótico. E, por
último, eles voltariam para seu mundo e ele mataria pessoalmente o homem que tirou

tanto dela.

Sua mão desceu para tocar suavemente seu estômago plano. O sorriso voltou a

crescer lentamente enquanto ele pensava no fato de ter cumprido sua primeira tarefa.

Pouco antes das luas se fixarem, ele plantou suas sementes profundamente dentro dela.

Ele sentiu seu dragão se mexendo em confusão e admiração quando as pequenas luzes

gêmeas acenderam para a vida, ancorando bem no fundo de seu útero. Seu dragão

ronronou satisfeito antes de se enrolar protetoramente ao redor deles.

— Minha companheira. — Seu dragão ronronou de prazer. — Eu disse a você que a

reivindicava.

— Sim, você fez. — Creon respondeu secamente antes de relutantemente rolar para

fora da cama. — Você realmente precisa aprender um pouco sobre controle.

— Controle é para fracos. — Seu dragão respondeu revirando os olhos. — Você

precisava das minhas bolas de dragão para perder o controle.

— Foda-se. — Creon rosnou de volta, brincando.

— Não, fodo minha companheira. — Seu dragão respondeu com um enorme bocejo. —

Depois da soneca.

Creon balançou a cabeça. Ele provavelmente precisaria de um cochilo mais tarde,

pensou, enquanto cambaleava em direção ao banheiro. Precisava finalizar as coisas com

seus irmãos antes de partir. Ele também precisava falar com sua mãe. Queria agradecê-

la por sua ajuda. Ela disse que ele precisava olhar sob a máscara para a criatura ferida
por baixo. Ele agora entendia a profundidade da dor e tristeza que sua companheira

havia sofrido e faria tudo o que pudesse para tornar a vida dela feliz e gratificante. Hoje

era o primeiro dia de sua nova vida e ele estava determinado que seria um dia que ela

nunca, jamais se arrependeria.

***

Várias horas depois, Carmen estava caminhando ao lado de Cara, Ariel e Trisha em

direção aos aposentos de Abby. Junto com mais de uma dúzia de guardas que

mantinham uma distância marginal atrás dela. Carmen ficou surpresa com as batidas na

porta e, por hábito, pegou o vaso que mantinha perto da porta antes de perceber que

provavelmente não precisava mais dele. Ela abriu a porta para encontrar Cara quicando

como uma super bola. Atrás dela estavam Trisha e Ariel e um carrinho carregado com

potes de...

— Café? — Carmen perguntou esperançosa olhando para o carrinho com um olhar

que fez os guardas recuarem ainda mais. — Você tem café?

A risada leve de Cara encheu o corredor.

— Potes e potes e potes disso. Todas as coisas boas! Eu tenho reprogramado os

replicadores para fazer isso. Demorou um pouco, mas acho que descobri. Eu também fiz

um monte de outras coisas. É tão legal. Você sabia que...


Carmen tinha perdido a noção do que Cara estava tagarelando. Algo para fazer se

você cruzar este fio com aquele e adicionar outra coisa, você acaba com algo novo. Tudo

que seu cérebro conseguia processar era o cheiro de café. Ela teria seguido as mulheres

a qualquer lugar se isso significasse pegar uma xícara ou cem.

— Estamos indo ver Abby. Ela teve a aventura mais incrível! — Cara disse

animadamente. — Eu ouvi que Mandra disse a Kelan, que disse a Trelon, que ela

queimou o cara que a sequestrou! Eu quero aprender como fazer isso.

Carmen balançou a cabeça e colocou a mão no ombro de Cara para interromper seus

movimentos enérgicos.

— A única pergunta que tenho é se eu ganho uma xícara de café se seguir você?

— Sim! — A resposta veio de três vozes risonhas.

Carmen olhou para os guardas que deram mais um passo para trás. Ela franziu a

testa em confusão para eles. Antes, pelo menos dois ou três deles estariam em sua bunda

agora. Ela deu um passo em direção a eles e eles quase tropeçaram tentando se afastar

dela. Ela balançou a cabeça em confusão antes de fechar a porta e seguir as outras

mulheres pelo corredor. De vez em quando, olhava por cima do ombro para ver se os

guardas ainda estavam lá. Estavam, mas eram como um cardume de Barracudas. Eles

mantinham a mesma distância dela. Se ela se movia em direção a eles, eles recuavam. Se

ela avançava, eles davam um passo mais perto. Era totalmente estranho.
— Então, o que há com todos os guardas? — Cara perguntou enquanto saltava pelo

corredor. — Eu teria pensado que tínhamos proteção suficiente com todas as nossas

melhores amigas de ouro.

Carmen não ficaria surpresa se Cara começasse a dançar no teto com a quantidade

de energia que ela estava gastando. Se pudessem controlá-la, poderiam alimentar todo o

planeta por pelo menos um mês ou dois. Em vez disso, ela fez uma careta quando ouviu

a resposta de sua irmã.

— Oh, eles não estão nos protegendo. Estão aqui para impedir que Carmen e eu

tentemos escapar novamente. — Ariel estava dizendo.

Cara se virou caminhando para trás, praticamente tremendo de excitação.

— Você precisa de ajuda? Aposto que poderia religar o V’ager! Podemos explorar.

Talvez pudéssemos tentar... — Gemidos altos dos guardas arrancaram risadas das

mulheres.

Mesmo Carmen não conseguiu esconder o sorriso que curvou seus lábios. Cara era

aditiva e exaustiva, tudo na mesma frase. Era óbvio que ela estava em uma forma rara

hoje. Ela se perguntou como o irmão de Creon estava se saindo. Cansado, exausto,

esgotado foram alguns adjetivos que vieram à mente. Carmen tinha visitado Trisha e

Ariel o suficiente nos últimos três anos para saber como sua amiguinha poderia ser.

Ultrajante em um dia bom e destrutiva em um ainda melhor. Ela nunca tinha visto Cara

tendo um dia ruim, então ela imaginou que o mundo estaria seguro até esse dia chegar.
Ela deu um silencioso obrigada quando eles chegaram à porta de Abby. Estava

prestes a se tornar selvagem se não pegasse uma xícara de café logo. O cheiro era o

paraíso e ela estava pronta para mais do que uma baforada. Abaixou a cabeça para

esconder o rubor que subiu em suas bochechas quando se lembrou por que estava com

uma necessidade tão desesperada de uma xícara. Ela estava funcionando com cerca de

três horas de sono. Creon foi insaciável na noite anterior. Já fazia muito tempo que ela

não fazia um treino assim. Desde que ela e Scott passaram aquele longo fim de semana

no Rio de Janeiro. Um brilho suave e quente a encheu. Ela agora podia pensar em suas

memórias com ele com uma medida de felicidade em vez de apenas dor e tristeza. Eles

viveram, amaram e riram da vida ao máximo. Agora, era hora de deixar ir e viver

novamente. Lágrimas queimaram seus olhos. Não de tristeza desta vez, mas com uma

gratidão por ela ter recebido a chance de ser amada assim, não uma, mas duas vezes em

sua vida. Seus dedos caíram para o lado dela. Ela sentiu um calor se espalhar pelas

pontas dos dedos em seu braço enquanto Harvey roçava nela. Longos tentáculos de ouro

saíram de seu casaco, envolvendo-se em seus braços e movendo-se sob sua camisa para

envolver seu pescoço.

— Obrigada, meu amigo. — Ela murmurou baixinho.

Ele soltou um pequeno bufo antes de trotar pela porta aberta para os aposentos de

Abby, onde ele prontamente se virou em um círculo várias vezes antes de se deitar no

primeiro local ensolarado que pôde encontrar perto das janelas. Carmen ouviu as outras

mulheres conversando animadamente sobre tudo o que aconteceu. Ela calmamente se

serviu de uma xícara de café e foi até a cadeira mais próxima de onde Harvey estava

deitado. Enrolando as pernas sob ela, ela seguiu junto com a história de Abby de tudo
que aconteceu com ela. Ela se inclinou para frente quando Abby soltou sua pequena

bomba.

— Eu posso me transformar em um dragão. — Abby estava dizendo com uma

risadinha nervosa.

As palavras ecoaram por Carmen quando Abby descreveu a Cara como ela fez isso.

Carmen olhou para a pele macia cor de pêssego de seus braços, mas estava se lembrando

da noite passada. Ela tinha visto como ondulações de cor subiam e desciam por eles.

Assim como quando Creon se transformou na base, ela pensou atordoada. Isso foi o

que ele quis dizer sobre a transformação. Isso era o fogo ardente que estava dentro de

mim. Ele estava me transformando... como... sua mente congelou por um momento.

...como a fênix. Eu renasci ontem à noite.

Uma pequena risada nervosa escapou dela quando mais memórias vieram. Como

ela se sentiu como se algo estivesse se movendo sob sua pele. Como suas costas

queimaram e coçaram como se algo estivesse tentando explodir delas. Como seus olhos

se iluminaram com paixão, desejo e deleite enquanto a olhava fixamente. Como algo

dentro dela estava tentando tocar...

— Meu companheiro. — A voz rouca dentro dela sussurrou. — Eu quero meu

companheiro.

Carmen permaneceu imóvel, ouvindo a voz dentro dela em vez das risadas vindas

de Cara e Abby. Ela abaixou a cabeça para que os outros não pudessem ver a confusão
em seus olhos ou perceber quando ela os fechou enquanto se concentrava internamente.

Estendeu a mão novamente para ver se o que tinha ouvido era imaginário ou real.

— Eu real. — A voz ronronou. — Assim como nossos bebês.

Os olhos de Carmen se abriram e seu pulso acelerou até que ela sentiu que estava

prestes a hiperventilar.

— Nossos o quê?! — Ela engasgou silenciosamente.

— Nossos bebês. — Disse a voz com um suspiro de satisfação. — Veja, você olha. Você

me vê e nossos bebês que nosso companheiro nos deu.

Carmen soltou um suspiro trêmulo e fechou os olhos novamente. Ela se concentrou

profundamente dentro dela, sem saber o que estava procurando ou o que fazer. Era como

se algum fio invisível de repente começasse a brilhar dentro de sua mente. As imagens

giravam, se misturando e formando uma forma sólida, tornando-se mais claras quanto

mais ela focava. A imagem de um belo dragão esguio nas cores da fênix em suas costas

apareceu. Tons de branco se mesclavam com vermelhos, rosas e roxos da ponta de seu

focinho longo e estreito até a cauda. Suas asas estavam dobradas perto de seu corpo.

— Olhe mais de perto. — Disse a voz rouca. — Olhe para o presente do nosso companheiro

para nós.

Carmen observou enquanto uma delicada asa se erguia para revelar duas

minúsculas faíscas de luz. Elas eram tão pequenas e frágeis, mas brilhavam com uma

força que desmentia seu tamanho. Elas se aproximaram uma da outra e do dragão

enrolado protetoramente ao redor delas. Carmen podia sentir o aperto no peito enquanto
lutava contra uma colagem de emoções. Estendeu a mão com sua mente para acariciar

suavemente as pequenas faíscas.

— Serei capaz de me transformar em um dragão como Abby? — Ela perguntou a

seu dragão com a voz trêmula.

— Boba, de que outra forma eu tocaria em meu companheiro se você não mudasse! — Seu

dragão disse enquanto envolvia sua asa em torno das duas faíscas novamente. — Meu

companheiro tão excitado quanto o seu. Ele não quer esperar muito. Veja. Ele me chama.

Carmen não conseguiu parar a risada nervosa que explodiu dela. Ela abriu os olhos

e olhou para Abby novamente. Depois que começou, não conseguia parar. O ar se encheu

com suas risadas enquanto uma felicidade diferente de tudo que ela já pensou ser

possível novamente a encheu. Todos os olhos se viraram para encará-la, incapaz de

acreditar de onde vinha o riso.

Carmen enxugou os olhos tentando parar de rir.

— Oh, Abby, por favor, nos ensine. Eu adoraria ser capaz de dar o inferno a alguém,

e tenho certeza de que poderia pensar em uma centena de maneiras diferentes de fazer

isso na forma de um dragão. — Disse ela, enquanto imagens de Creon em sua forma de

dragão tentando alcançá-la se formou em sua mente.

Logo, elas estavam rindo e inventando maneiras de levar os homens à loucura,

alternando entre humanos e dragões e usando as simbioses. Cara era a mais criativa, mas

Carmen veio com a mais tortuosa. Ela poderia escapar pelas janelas e voar por níveis

diferentes ou voar sobre o oceano que ela tinha visto à distância ou quando ele ficasse
mandão, ela poderia envolve-lo com o rabo e pendurá-lo de cabeça para baixo na

varanda até que ele cedesse. Continuou e continuou, cada um ficando mais ridículo do

que o anterior. Quando Zoran entrou na sala algumas horas depois e encontrou todas as

cinco mulheres histéricas, ele gemeu alto. Carmen olhou para o rosto dele e começou a

rir ainda mais.


Creon passou a mão pelos cabelos, exausto. Eles partiriam pela manhã. Mandra

estava levando Ariel com ele para encontrar Adalard. Creon parou do lado de fora da

porta de seus aposentos e olhou para o grupo de homens do lado de fora. Todos estavam

olhando para ele com cautela. Parecia que sua ameaça de destruir pessoalmente qualquer

homem que tocasse em sua companheira havia se espalhado. Cada um deles parecia que

esperava que ele começasse a esculpi-los a qualquer momento.

— Ela tentou escapar hoje? — Ele perguntou ao primeiro guarda corajoso o

suficiente para olhar para ele.

— Não, meu senhor. — O guarda respondeu hesitantemente. — Ela passou a maior

parte do dia com as outras mulheres. Ela não tentou atacar nenhum de nós.

Ele teria dado um suspiro de alívio se não fosse pela pausa hesitante na voz do

guarda. Algo aconteceu. Um sentimento de pavor o percorreu. Não tinha como ela

conseguir saber sobre ele dando a ela... ele olhou para a porta enquanto uma sensação

de tribulação o percorria.

— O que você não está me dizendo? — Ele perguntou enquanto sua mandíbula se

contraiu em determinação.

O guarda olhou para alguns dos homens parados perto dele, mas eles apenas

olharam para o teto e colocaram as mãos atrás das costas. Ele fez uma careta para os
covardes. Eles o estavam deixando para enfrentar a ira do jovem príncipe conhecido por

não mostrar misericórdia ao lidar com aqueles que o desagradavam.

— Parecia que ela estava mexendo em coisas lá dentro. Não podíamos entrar para

verificar se ela estava bem. Cada vez que tentávamos, ela ameaçava fazer sushi com a

gente. — Disse o guarda. — Não tínhamos certeza do que era sushi, mas parecia muito

perigoso. Ela disse que se precisasse de nós, pediria nossa ajuda quando o inferno

congelasse. — Acrescentou o guarda. — Também não tínhamos certeza do que isso

significava, mas decidimos que ela estava bem pois estava gritando e nos ameaçando.

Creon esfregou a nuca com a mão cansada. Ela não estava feliz com alguma coisa.

Ele esperava que ela não descobrisse sobre sua amiga, Trisha. Ele tentou pensar se havia

alguma maneira que ela pudesse ter feito isso. Sua amiga nocauteou um dos guardas

com ela e desapareceu. Seu irmão, Kelan, estava fora de si. Algo foi dito ou algo

aconteceu quando eles estavam com sua amiga Abby. Ele nunca deveria tê-la deixado ir!

Tudo era muito novo e estranho para ela.

Endireitando os ombros, ele acenou para os guardas dispensando-os. Ele lidaria com

o que quer que estivesse errado. A última coisa que queria, porém, era os guerreiros

ouvindo-o lutando com sua companheira.

— Vocês todos podem partir. Eu vou lidar com isso. — Ele disse rispidamente,

esperando até que todos tivessem saído antes de se virar em direção às portas de seus

aposentos.

É melhor acabar com isso, ele pensou em desespero.


— Eu posso morder novamente. — Seu dragão disse esperançoso.

— NÃO! Não, acho que você já fez o suficiente. Deixe-me cuidar disso desta vez. —

Creon respondeu severamente.

— Você precisa de bolas de dragão maiores. — Murmurou seu dragão.

— Foda…

— Eu sei. Foda-me. Eu não quero você, eu quero minha companheira. Ela é mais meu tipo.

— Seu dragão falou sarcasticamente.

Creon fechou os olhos e contou até dez antes de abri-los e abrir a porta com

determinação. Pronto ou não, ele iria enfrentar sua companheira. Ele entrou na sala

escura e fechou a porta. Não havia dado mais do que três passos para dentro da sala

quando sentiu algo envolver seus tornozelos, levantando-o tão rapidamente que ele não

teve tempo de reagir. Antes que percebesse, ele estava pendurado de cabeça para baixo,

olhando para um par de olhos castanho-escuros e dourados brilhantes. Um par de olhos

castanhos e dourados muito orgulhosos e determinados, presos a um dragão fêmea

igualmente orgulhosa e determinada que tinha escamas brancas com bordas vermelhas,

rosas e roxas. Ela torceu o pescoço e inclinou a cabeça até ficar olhando para ele enquanto

ele estava suspenso no ar por sua cauda.

— Você descobriu o seu dragão. — Disse Creon, lutando contra o sorriso que tentava

se libertar quando sua companheira olhou para ele como se se perguntasse se ela queria

deixá-lo cair de cabeça ou engoli-lo.

Uma lufada de ar quente respondeu à sua observação.


— Eu suspeito que você descobriu mais do que o seu dragão. — Ele murmurou

enquanto ela o erguia mais alto para que pudesse olhá-lo nos olhos com mais facilidade.

Um rosnado baixo seguido por um bufo respondeu a essa observação também. Ele

a olhou com cautela enquanto ela virava a cabeça para olhar ao redor da sala. Seus olhos

seguiram os dela. Ele viu que todos os móveis foram empurrados para um lado, dando

a ela mais espaço para manobrar em sua forma de dragão. Começou a ficar um pouco

nervoso quando ela começou a balança-lo para frente e para trás.

— Carmen, eu posso explicar. — Ele começou a dizer pouco antes de sentir que

estava decolando.

Ele caiu de costas no sofá macio com um baque suave. Olhou para o teto por um

momento, tentando acalmar o coração e a cabeça. Sentando-se, ele abriu a boca para

tentar acalmar sua companheira quando ela passou correndo por ele. Antes que ele

pudesse dizer uma palavra, ela se agarrou à varanda e se empurrou. Um rugido de raiva

explodiu dele quando seu dragão respondeu à fuga de sua companheira. Ele rolou para

fora do sofá caindo de quatro, mudando de posição. Com a habilidade de séculos atrás

dele, ele correu através das grandes portas abertas pulando na varanda e voando atrás

de sua companheira.

***
A alegria fluiu por Carmen enquanto ela voava pelo ar quente da noite. Respirou

profundamente, sentindo o cheiro do oceano. Ela se sentia livre, viva e feliz. Nunca

pensou que se sentiria assim novamente. Ela passou a tarde quando voltou da visita de

Abby e as outras garotas tentando se transformar. Estava muito inquieta para descansar,

embora soubesse que deveria estar exausta por não dormir o suficiente. Em vez disso,

estava com mais energia do que nos últimos três anos. Ela havia movido todos os móveis

para um lado, querendo ter espaço suficiente para se transformar. Os guardas a

deixavam maluca com suas batidas constantes, querendo saber se ela estava bem, se ela

precisava de alguma coisa e querendo saber o que estava acontecendo atrás da porta

fechada. Ela suspeitava que Creon tivesse falado com eles, ou mais como ameaçado com

ferimentos físicos, se eles a tocassem ou perturbassem de alguma forma.

Foram necessárias algumas tentativas, mas em pouco tempo ela foi capaz de se

transformar. Ela começou deixando as escamas subir e descer em seus braços. Parecia

estranho, mas seu dragão assegurou-lhe que não doeria. Depois que ela finalmente cedeu

ao seu dragão, foi incrivelmente simples. Seu corpo formigou e uma onda quente a

inundou. A próxima coisa que percebeu, tudo parecia mais claro, mais nítido e menor!

Foi uma coisa boa ela ter movido a mobília, caso contrário, teria voado quando ela

tentasse dar uma boa olhada em seu novo corpo. Seu dragão explodiu em risadas baixas

e roucas, enquanto ela tentava agarrar o rabo com as garras dianteiras. Ela acabou se

virando até rolar de costas no chão. Suas asas eram outra fonte de diversão para seu

dragão enquanto ela as segurava para que pudesse olhar para elas. Ela era bonita!

Praticou a transformação para frente e para trás até se sentir confortável. Então,

começou a planejar. Não estava com raiva de Creon por não ter contado o que estava
acontecendo com ela. Sinceramente, teria sido a última coisa em sua mente e a menos

importante. Ela teria concordado com qualquer coisa, uma vez que ele a tocou. Uma

onda de prazer tão intensa que parecia quase como uma dor percorreu seu corpo quando

ela se lembrou das coisas incríveis que ele fez com ela. Não, ela não se arrependia.

Finalmente aprendeu que a vida era muito curta para ter arrependimentos, muito menos

insistir neles. Ela vinha fazendo isso nos últimos três anos e tudo o que isso lhe trouxe

foi mais dor de cabeça.

Em vez disso, decidiu se concentrar no hoje. Ela abriu suas asas apreciando a

sensação de liberdade e o ar quente circulando ao redor de seu corpo. Estava prestes a

virar para a esquerda quando uma sombra apareceu pelo canto do olho vindo direto

para ela. Ela rolou tentando ver mais, mas era muito rápido. De repente, algo se enrolou

em seu rabo, girando-a de cabeça para baixo e segurando-a suspensa para que pudesse

agarrar suas pernas.

— Agora é minha vez de abraçá-la. — Disse Creon com uma voz sombria e rouca.

— Só se você prometer nunca me deixar ir. — Carmen respondeu com a voz trêmula.

— Eu não apenas prometo, eu juro pela minha vida. — Ele jurou enquanto a puxava

para mais perto de seu corpo maior.

Carmen relaxou contra ele, deixando suas asas penduradas como véus sob ela.

Ergueu a cabeça até que pudesse se esfregar contra seu pescoço longo e musculoso. Ela

e seu dragão responderam à textura suave e ao cheiro de seu companheiro. Seu dragão

se aproximou, esfregando sua barriga contra o macho maior. Incapaz de resistir, Carmen
virou a cabeça e passou uma língua longa e estreita pela garganta de Creon e sob sua

mandíbula. Um estrondo baixo e profundo enviou ondas de necessidade através dela.

— Eu... amo você, Creon. — Ela disse baixinho. — Preciso de você.

— Segure-se em mim. — Disse ele com a voz tensa.

Carmen agarrou seus enormes antebraços com suas garras menores. Ela engasgou

quando ele desceu. Não conseguia ver para onde ele os estava levando. Só podia confiar

cegamente que cuidaria dela. Suas asas poderosas moviam-se com golpes fortes para

baixo enquanto ele se aproximava de uma clareira nos altos penhascos ao longo da costa.

Ele soltou suas pernas traseiras, mas manteve sua cauda firmemente amarrada a ele com

a sua mais longa. Ele pousou suavemente em uma pequena saliência gramada,

equilibrando-se nas patas traseiras enquanto cuidadosamente colocava o corpo menor

de Carmen embaixo dele. Uma vez que ela estava deitada em silêncio sob seu corpo

maior, ele soltou suas pernas dianteiras. Ficou sobre ela olhando para sua barriga

exposta. Podia sentir seu dragão ficando duro com a imagem da pose submissa de sua

companheira. As dobras que cobriam seus genitais se separaram, revelando seu desejo

por sua companheira. Seus olhos brilharam enquanto ele olhava cuidadosamente ao

redor, cheirando o ar para se certificar de que eles estavam seguros antes de tomá-la. Ele

era um macho no auge e no momento mais perigoso. Nada sobreviveria à sua fúria se

ele ou sua companheira fossem ameaçados. Ele ergueu a cabeça e soltou um rugido longo

e alto avisando a qualquer um que pudesse ouvir para ficar longe da área. Seus olhos

varreram o horizonte e ele ouviu cuidadosamente antes de baixar a cabeça para sua

companheira. O fogo ardente em seus olhos a avisou que seria um longo e duro

acasalamento. Os lábios do enorme macho puxaram para trás para revelar seus longos
dentes afiados. Um rosnado baixo foi o único aviso que a fêmea menor teve antes que

aqueles dentes se prendessem em seu pescoço esguio, perfurando as escamas lisas e

segurando-a no lugar enquanto ele abaixava seu corpo sobre o dela.

Uma série de tosses roucas escapou da fêmea menor enquanto o enorme macho

acima dela lentamente a empalava com seu eixo espesso e longo. Sua cabeça se sacudiu,

tentando quebrar o domínio que o macho tinha sobre ela enquanto seu corpo lutava para

aceitar seu eixo rígido. O macho, sentindo a tentativa de sua companheira de quebrar

seu domínio e fugir, avançou com um rosnado baixo, mordendo com mais força. O

sangue quente e fragrante derramou-se em sua boca, fluindo sobre sua língua e garganta

abaixo. O sabor era tão rico e doce que Creon perdeu o pouco controle que tinha sobre

seu dragão. A necessidade primitiva de acasalar e reivindicar o sobrepujou, deteriorando

seu domínio de civilidade. Ele era um macho puro em seu aspecto mais animalesco.

A forma menor de Carmen se contorceu sob o enorme macho. Ela esticou o pescoço,

dando-lhe melhor acesso à sua coluna esguia. O fogo queimou através dela e dentro dele

enquanto a segurava, bebendo dela enquanto ele balançava mais forte, mais profundo e

mais rápido. Ele esticou suas asas, as garras no centro e nas pontas travando com as dela

até que ela se espalhou sob seu corpo enorme, incapaz de resistir. Ele puxou a cauda para

cima, forçando a parte inferior de seu corpo a subir. A posição o levou ainda mais fundo,

arrancando um grito longo e baixo dela enquanto ele continuava a penetrá-la

repetidamente. Mesmo quando ele inchou, travando seus corpos juntos, continuou se

movendo.

— Creon! — Carmen gritou ao sentir o poder do clímax de seu dragão por todo o

caminho até sua alma.


O gemido de Creon foi o único som que ele pôde emitir enquanto seu próprio corpo,

preso bem no fundo de seu dragão, respondia ao macho tomar sua companheira. Sua

mente se despedaçou quando o poderoso lançamento o envolveu, puxando sua própria

essência enterrada profundamente dentro do macho.

O grande macho liberou o pescoço de sua companheira enquanto seu corpo se

apertava até que o prazer e a dor se tornassem um. Ele se sacudiu mais uma vez antes

que sua semente quente enchesse a fêmea menor presa a ele. Sua cabeça balançou até

que ele olhou para as estrelas brilhando no alto e rugiu sua reivindicação enquanto seu

corpo enorme balançava mais e mais conforme ele liberava seu cheiro, sua essência, sua

própria alma no delicado dragão preso sob ele.

Seu corpo retesou, os músculos tensos e protuberantes enquanto a última gota de

sua semente jorrava dele, deixando-o verdadeiramente saciado pela primeira vez em sua

vida longa e solitária. Só então ele abaixou a cabeça para lamber suavemente as feridas

que havia infligido. Ele soltou suas asas, deixando-a puxá-las contra seu corpo trêmulo,

mesmo enquanto ele envolvia ternamente suas próprias asas ao redor dela. Ele segurou

seu peso fora de sua forma menor esperando que o inchaço em seu pênis diminuísse o

suficiente para que pudesse sair dela sem machucá-la. Sua cauda tremulou para frente e

para trás esfregando a dela em conforto enquanto uma tosse suave escapava dela

enquanto ela voltava de seu orgasmo.

— Você é tão linda. — Creon repetia sem parar enquanto seu dragão acariciava seu

pescoço com a língua. — Eu te amo muito, mi elila. Você é o ar que respiro, a luz da

minha escuridão. Agora você conhece os medos que tenho. Há momentos em que não
consigo controlar meu dragão. É uma batalha constante. Você pode me perdoar? Pode

nos perdoar? — Ele implorou mais e mais.

A cabeça delicada do dragão de Carmen se virou para olhar para seu companheiro.

Ela carinhosamente passou sua língua longa e sedosa sobre sua bochecha e ao longo de

seus lábios. Aninhando-o com o focinho, ela mostrou a ele através do toque que não

havia nada a perdoar.

— Eu não iria querer você de outra maneira. — Carmen disse sonolenta. — Segure-

me. — Ela sussurrou enquanto caía em um sono leve.


Carmen nervosamente alisou a mão sobre as coxas novamente. Ela era mais o tipo

de garota no chão. Dê a ela uma motocicleta e ela poderia correr em círculos ao seu redor.

Não era como sua irmã mais velha, que amava a ideia de subir ao alto ou mesmo para o

espaço sideral. Não, ela gostava de onde o chão era próximo e o ar ao seu redor era

respirável.

Forçou um sorriso trêmulo aos lábios para mostrar a Creon que ela estava bem. Ele

deve ter percebido que era apenas uma atuação. Ele cuidadosamente enroscou os dedos

em sua mão com os punhos firmes, esfregando o polegar nas costas enquanto continuava

falando com vários homens a bordo da nave. Carmen fechou os olhos e se concentrou

nos exercícios de mediação que Connie lhe ensinou. Inspire, segure por quatro segundos,

expire por quatro segundos, faça quatro vezes. Carmen decidiu que faria isso pelo menos

quarenta vezes em vez disso. Com sorte, eles já estariam a bordo da Horizon. Era a nave

de guerra Curizan disfarçada de cargueiro de longo curso usando algum tipo de

dispositivo de camuflagem que fazia a parte externa da nave parecer diferente do que

realmente era.

Creon explicou que os Curizans eram famosos por sua tecnologia e engenhosidade.

Tudo o que importava era que a maldita coisa não tivesse um vazamento no meio do

nada. Ela deixava os aparelhos e coisas assim para Cara e a viagem espacial e o voo

rápido para Trisha e Ariel. Tudo o que queria eram grandes espaços abertos e uma moto
rápida sob sua bunda. Se ela estivesse se sentindo realmente aventureira, faria isso sem

capacete. Essa era sua ideia de viver perigosamente.

— Quanto tempo mais? — Ela engasgou com o nó em sua garganta enquanto um

ataque de pânico completo fervia dentro dela. — Talvez fosse melhor se eu ficasse para

trás. Eu poderia explorar e me familiarizar mais com o seu mundo. — Ela disse com voz

rouca.

Creon se virou com uma carranca escura que se dissipou quando ele viu a leve

camada de suor escorrendo de sua testa, o aperto de seus lábios e sua tez quase

translúcida. O ônibus espacial sacudiu violentamente ao sair da atmosfera do planeta. Se

possível, ele juraria que ela ficou ainda mais pálida.

Ele tentou puxar sua mão livre da dela para que pudesse tocá-la. Ela o segurou com

tanta força que ele pôde sentir que estava entorpecido pela restrição de sangue. Quando

ela não quis soltá-lo, usou a outra mão para inclinar o queixo dela para que fosse forçada

a olhar em seus olhos. Ele sustentou o olhar dela até sentir que ela começava a relaxar

um pouco.

— Respire. — Ele murmurou baixinho.

— Estou respirando. — Ela murmurou à beira das lágrimas. — Não está

funcionando! Eu realmente acho que deveria ficar aqui. Não quero ir para o espaço. —

Ela extravasou, frustrada.


— Estaremos fora por muitos meses. Não posso ficar longe de você por tanto tempo.

— Disse Creon, ainda mantendo contato visual com ela. — Você estava com tanto medo

antes? Quando estava a bordo do V’ager?

Carmen balançou a cabeça rapidamente.

— Eu estava quase morta quando eles me trouxeram a bordo. — Ela sussurrou. —

Realmente não pensei sobre o fato depois disso, porque era como estar em um grande

navio no oceano, apenas sem escotilhas para olhar para fora, sem mencionar que

estávamos cercadas por alienígenas.

Os olhos de Creon se estreitaram com a menção de quão perto ela esteve de morrer

antes que ele a conhecesse. Teria que se lembrar de agradecer a seus irmãos por sua

intervenção. Não conseguia imaginar uma vida sem ela agora. Ela era seu mundo e o

afligia que ela estivesse sofrendo tanto por causa dele.

— Eu deveria ter nos transportado a bordo. — Ele amaldiçoou em voz baixa.

— Eu não deixaria, lembra? — Carmen disse, apertando a mão dele com mais força.

— Estava com medo de que machucasse os bebês, embora você tenha dito que não faria.

Não vou correr o risco de perdê-los. — Disse ela puxando uma respiração estável. — Eu

ficarei bem. Apenas sou um tipo de garota mais pés no chão, só isso.

— Estaremos a bordo da Horizon em breve. — Ele a tranquilizou. — O pior já

passou. Será tranquilo agora que rompemos a atmosfera. Uma vez a bordo, irei me

assegurar de levá-la aos nossos quartos para que possa se deitar um pouco. Você teve
muito com que lidar e pouco descanso. Ainda está muito magra, também. — Ele

acrescentou com um impulso teimoso de sua mandíbula.

Ela gemeu e levou a mão ao estômago. Ele vinha tentando alimentá-la

continuamente desde o primeiro dia em que chegou. Um carrinho com comida estava

sempre disponível em seus aposentos e ele tentava verificar o quanto ela comia ao longo

do dia. Ele havia se tornado ainda mais persistente nos últimos dois dias.

— Creon. — Disse ela balançando em seu assento. — Eu realmente, realmente não

acho que seria uma boa ideia tentar me fazer comer agora. A menos que você queira isso

sobre sua roupa.

Ele reprimiu uma risada. Se soubesse que levá-la para o espaço a enfraqueceria a

ponto de ela ser uma gatinha indefesa, teria feito isso antes. Ele se concentrou nas

simbioses douradas enroladas em seus pulsos. Pediu para ajudar no enjoo de sua

companheira. Uma fração de segundo depois, o ouro ao redor de seus pulsos se juntou

aos dela e começou a se mover. Minúsculos pontos de ouro apareceram em suas orelhas

e ao redor de seu pescoço, formando uma longa corrente que desapareceu no decote do

top preto de seda que ela estava usando. Ele reprimiu um gemido quando o ouro pousou

na protuberância de seus seios, provocando-o quando ela se moveu em seu assento.

— Oh, mi elila. — Ele gemeu com voz rouca. — Espero que você se sinta melhor

mais tarde.

***
Pouco tempo depois, Creon olhou para Carmen para se certificar de que ela estava

melhor. Deu um suspiro de alívio quando ela lentamente relaxou contra ele. A cor em

seu rosto havia retornado assim que as vibrações de quebrar a atmosfera cessaram. Ele

também a incluiu nas discussões que estava tendo com dois dos guerreiros que viajavam

com eles em um esforço para distraí-la. Parecia estar funcionando enquanto ela ouvia

atentamente a discussão, às vezes fazendo uma ou duas perguntas esclarecedoras. Os

dois irmãos faziam parte de uma equipe de elite que ele montou durante a Grande

Guerra. Sabia que podia contar com eles para proteger sua companheira com suas vidas.

Ele também queria que ela os conhecesse e confiasse neles, pois sua responsabilidade era

garantir que ela estivesse segura em todos os momentos. Eles a protegeriam quando ele

não pudesse estar ao seu lado. Ele se recusava a correr o risco de que qualquer coisa

acontecesse com ela ou seus filhotes agora que a havia encontrado.

Creon escolheu especificamente os irmãos por suas habilidades mortais e lealdade.

Eles eram rápidos, ferozes e funcionavam como se fossem uma única força de combate

mortal. Ele havia lutado com eles muitas vezes e valorizava suas habilidades de luta

excepcionais. Era quase impossível distingui-los; havia aprendido há muito tempo a nem

mesmo tentar. Custou-lhe mais de uma bebida quando foi desafiado a distinguir os

irmãos.

— Então, minha senhora, você não se importa com viagens espaciais? — Cree

perguntou com um sorriso educado. — Poucas mulheres fazem.

Carmen ergueu a sobrancelha com o tom ligeiramente condescendente.


— Não é minha praia. Eu prefiro a força de uma moto embaixo de mim e grandes

espaços abertos. Minha irmã e minha melhor amiga adoram viagens espaciais, no

entanto. Elas estavam no exército em casa e queriam fazer parte do programa espacial

de lá. — Ela respondeu, estudando cada homem cuidadosamente.

— Fêmeas nas forças armadas? Você está brincando, sim? — Calo perguntou usando

o mesmo tom. — Todos os guerreiros sabem que as mulheres não são feitas para lutar.

Elas são feitas para o prazer.

Creon lutou contra um gemido quando viu a boca de sua companheira se apertar e

seus olhos se estreitarem com o desafio involuntário. Ele havia aprendido nas últimas

semanas que, quando ela tinha uma expressão como essa, alguém estava fadado a se

machucar. Debateu se deveria corrigir os irmãos, mas decidiu que se eles iriam ajudá-lo

a proteger sua companheira, precisavam saber o que ela era capaz de fazer. Ele quase

mudou de ideia quando Carmen passou uma mão casualmente pela frente de sua blusa

até que seus dedos acariciaram sua garganta pálida, onde a marca do dragão estava

claramente exibida.

Uma risada suave e sexy escapou dela quando ela inclinou a cabeça para o lado.

— Você estaria disposto a testar isso? — Ela perguntou inocentemente.

— Carmen. — Creon rosnou de repente, tendo terceira, quarta e quinta dúvidas. —

Não, eu proíbo.

Ela encolheu os ombros e recostou-se na cadeira.


— Ok. Eu não gostaria de machucá-los, de qualquer maneira. — Ela disse, sorrindo

brilhantemente para os dois homens à sua frente. — Sei como os guerreiros Valdier

podem ser frágeis.

Calo riu divertido enquanto Cree franzia o cenho.

— Você nos machucar? — Cree murmurou baixinho. — Eu gostaria de ver isso!

Calo riu novamente.

— Sua companheira tem um bom senso de humor. Quem sabe, podemos precisar

dela para nos proteger nesta viagem, irmão.

A maldição de Creon encheu a nave.

— Eu não a antagonizaria se fosse você! — Ele avisou enquanto pegava a mão dela.

Carmen apenas ficou sentada em silêncio, ouvindo e observando os irmãos pelo

resto da viagem. Ela havia sido treinada para procurar as menores coisas que poderiam

ser usadas contra um oponente durante os anos em que ela e Scott trabalharam na

segurança. Descobriu imediatamente a diferença entre os irmãos. Ambos tinham o

mesmo cabelo escuro dos Valdier e olhos dourados. Ambos tinham a linha da mandíbula

forte e feições orgulhosas dos guerreiros, também; para não mencionar a constituição

musculosa. Uma diferença era a marca de nascença perto do canto do olho direito. A

marca de nascença de Cree formava um semicírculo terminando no canto. A marca de

nascença de Calo acabava um pouco antes disso. Era apenas uma pequena diferença e a

maioria das pessoas perderia, mas estava lá. Cree também usava mais a mão esquerda

do que a direita, era o mais quieto e atencioso dos dois e tinha o hábito de tocar a faca ao
lado do corpo a cada poucos minutos. Calo, por outro lado, usava um pouco mais a mão

direita, era mais aberto e seus olhos se moviam constantemente, como se para verificar

se nada havia mudado. Ela sabia exatamente o que faria no minuto em que

desembarcassem e não ia tirar uma soneca.

Creon deu um suspiro de alívio quando o transporte começou sua abordagem final

para atracar com a nave de guerra. Ele tiraria Carmen do transporte e a levaria para seus

aposentos antes que algo acontecesse. Percebeu o brilho calculista em seus olhos e sabia

que ela não esqueceria ou perdoaria o que os dois guerreiros em frente a eles haviam

dito. A voz do piloto veio através de seus comunicadores dizendo que a atracação estava

completa e eles poderiam remover as restrições de assento. Ele estendeu a mão e desfez

a de Carmen primeiro.

— Não. — Ele sussurrou em seu ouvido enquanto se inclinava sobre ela. — Eles vão

aprender.

— Pode ter a maldita certeza que vão. — Ela sussurrou de volta ferozmente antes

de lançar um sorriso inocente para os dois homens.

— Bolas de dragão! — Ele sibilou sabendo que ela estava prestes a colocar dois de

seus melhores guerreiros em seus lugares.

***
Carmen deu um suspiro de alívio quando desembarcaram na nave. Ela podia

compreender perfeitamente por que alguns marinheiros da antiguidade se ajoelhavam e

beijavam o solo ao desembarcar. Certo, era apenas um ônibus espacial e ela agora estava

em uma nave ainda maior no espaço, mas se sua mente quisesse negar esse fato, ela podia

lidar com isso. Simplesmente não gostava de voltar para algo do tamanho de uma lata e

viajar para o grande desconhecido e irrespirável!

A baía de pouso foi preenchida com a atividade conforme os suprimentos eram

descarregados e os ônibus espaciais movidos e armazenados em preparação para a

viagem aos asteroides de mineração onde eles acreditavam que Vox estava sendo

mantido. De acordo com as informações que ouvira na viagem para fora do planeta,

havia três lugares possíveis que ele poderia ter sido levado e eles precisariam verificar

cada um. Parecia que o cara poderia cuidar de si mesmo se algumas das histórias que os

caras estavam contando fossem alguma indicação. De qualquer forma, eles não pareciam

muito preocupados com ele. Uma área de mineração ficava nas bordas externas do

sistema estelar Cardovus, que era o mais próximo. Eles iriam verificar aquele primeiro.

Se ele não estivesse lá, eles parariam em dois portos espaciais diferentes antes de seguir

para o próximo. A maior preocupação deles era se um assassino havia sido enviado para

cuidar dele. Se Vox fosse morto e rumores de que Curizan e Valdier se uniram para fazê-

lo se espalhassem, haveria outra guerra. Ao que parece, isso teria um efeito devastador

em ambos os sistemas estelares, especialmente o Valdier.

Carmen se aproximou de Creon quando um homem muito grande se aproximou

deles. Parecia que ele podia ser um filho da puta mal se quisesse. Ele era tão alto quanto

Creon e tinha aquele mesmo tom sombrio, como se tivesse visto e feito coisas das quais
não se arrependia. Ela encarou seus olhos roxos escuros, recusando-se a recuar. Um

rosnado baixo escapou dele em seu desafio. Carmen sorriu e ergueu a sobrancelha.

— Eu pensei que você tinha uma companheira, Creon. — Disse o homem alto

olhando Carmen de cima a baixo. — Ela parece pouco maior do que uma criança.

— Pare com isso, Ha'ven. — Creon rosnou baixinho. — Eu sei que você está apenas

tentando irritá-la para ver o que ela vai fazer, mas não vou deixar você insultá-la.

Ha'ven lançou a Creon um olhar sofrido.

— Eu estava esperando para ver se sua companheira tinha o fogo que você

mencionou. Ela se parece mais com um gatinho para Vox brincar.

Cree e Calo riram. Carmen deixou o sorriso permanecer em seu rosto. Se eles

queriam vê-la como uma gatinha, então que fosse. Ela estava prestes a mostrar a eles que

esta gatinha tinha garras muito afiadas e uma cauda perversa. Movendo-se rapidamente,

ela se virou, arrancando a faca de Cree de sua bainha enquanto dava um chute na

mandíbula de Calo antes de girar em um arco gracioso e derrubar os pés de Cree debaixo

dele. Ela também não tinha acabado com eles. Em segundos, ela tinha Ha'ven pendurado

de cabeça para baixo por seus pés em sua cauda. Ela deu um sorriso largo para Ha'ven

antes de jogá-lo contra os dois irmãos que estavam se levantando, suas bocas abertas por

um breve momento antes de pegarem o corpo inteiro do grande guerreiro em seus peitos.

Antes que eles pudessem se levantar, Carmen sentou-se branca, vermelha, rosa e

roxa em cima deles. Talvez ela não fosse uma gatinha, afinal, mas um cachorro grande,

porque ela era definitivamente a rainha desta pilha de cães! Nenhum dos homens
poderia se levantar a menos que ela o fizesse. Ela agarrou a faca afiada em sua garra

dianteira. Abaixando-se para ficar olhando para os três rostos com um sorriso, cortou

uma pequena mecha de cabelo de cada uma das cabeças dos homens antes de soprar um

pequeno anel de fumaça ao redor deles.

— Eu acho que você provou seu ponto, Carmen. — Disse Creon, recuando com os

braços cruzados sobre o peito, rindo. — Não tenho certeza se Calo consegue respirar.

Parece que ele está ficando de um tom engraçado de azul.

Carmen virou a cabeça brevemente para olhar para seu companheiro. Ela bufou

antes de se levantar lentamente, certificando-se de bater em algumas partes delicadas do

corpo enquanto o fazia. Segundos depois, um par de braços fortes envolveu sua forma

de duas pernas. Ela segurava a faca de Cree em uma mão esguia e três comprimentos

diferentes de cabelo na outra. Eles eram seu prêmio e ela não iria devolvê-los.

— Miau. — Disse Carmen, seus olhos brilhando com humor e desafio enquanto

olhava para os três homens agora parados cautelosamente na frente dela.

Ha'ven esfregou a virilha com a mão. Ela deu uma joelhada nele enquanto se

levantava e estava latejando dolorosamente. Ele estudou a mulher novamente com uma

nova apreciação. Ela era rápida, engenhosa e tinha um senso de humor perverso... ele

decidiu naquele momento que queria uma para si.

— Que espécie você disse que ela é? — Ele perguntou curiosamente, apreciando o

castanho suave de seus olhos, sua pele pálida e delicada, cabelos amadurecidos pelo sol

e lábios carnudos, para não mencionar o resto de seu corpo.


Em um flash, Carmen foi empurrada para trás do corpo maciço de Creon e ele estava

rosnando. Escamas negras ondularam sobre seu corpo e ele parcialmente mudou. Ele

avançou até estar a poucos centímetros do rosto do outro homem.

— Ela é minha! — Ele rosnou. — Lembre-se disso ou eu irei lembrá-lo.

Os olhos de Ha'ven se estreitaram enquanto ele estudava o homem enfurecido na

frente dele.

— Eu protegeria sua companheira com minha vida, meu amigo. Não tenho desejo

de tomar o que é seu. Você merecia esta bênção há muito tempo. — Ele disse calmamente.

— Mas eu não me importaria de encontrar uma para mim. — Acrescentou ele com um

sorriso pequeno e malicioso.

Creon olhou fixamente nos olhos do amigo. Tudo o que podia ver era a veracidade

por trás de sua declaração. Com uma palavra baixa para seu dragão, ele deu um passo

para trás e respirou fundo várias vezes para acalmar seu dragão e a si mesmo.

Gradualmente, relaxou o suficiente para acenar em compreensão.

— Ainda somos muito protetores com ela. — Ele murmurou para o amigo.

Cree e Calo se levantaram para ficar ao lado deles. Os outros guerreiros que pararam

para assistir ao pequeno show de Carmen e a reação de Creon a ele lentamente voltaram

ao trabalho. Calo colocou o braço em volta do ombro do irmão e riu.

— Pelo que parece, ela é quem poderia fazer a proteção! — Ele disse com uma risada

divertida. — Posso pegar minha faca de volta agora, gatinha?


Carmen ergueu a sobrancelha e sorriu quando ela deu um passo à frente para ficar

ao lado de seu companheiro.

— Não é sua, Calo. Pertencia a Cree. Agora, pertence a mim. — Ela disse antes de

virar para Cree. — Eu posso usá-la quando tiver que proteger suas bundas.

A risada de Ha'ven ecoou pela baía de atracação. Cree e Calo ficaram com suas bocas

abertas novamente e olhando com espanto enquanto Creon colocava uma mão

possessiva na parte inferior das costas de sua companheira e a guiava em direção a uma

das saídas. Os dois irmãos ficaram paralisados até perceberem que estavam sendo

deixados para trás.

— Eu quero encontrar uma para nós também. — Cree murmurou baixinho para seu

gêmeo enquanto caminhava atrás da bunda sexy e oscilante da mulher que tinham sido

designados para proteger.

— Você acha que a espécie dela poderia lidar com nós dois juntos? — Calo

perguntou maravilhado.

Os olhos de Cree de repente se iluminaram com fogo.

— Acho que a questão será se nós dois podemos lidar com a mulher!
Carmen colocou as mãos nas bochechas de Creon e puxou sua cabeça para a dela.

Ela pressionou seus lábios contra os dele; beijando-o profundamente antes de recuar,

sem fôlego. Seus olhos estavam brilhando de desejo enquanto ele olhava para ela.

— Eu ouvi você na primeira, segunda, terceira, quarta... — Ela não podia continuar

porque ele a estava beijando novamente.

Passaram-se duas semanas desde que deixaram Valdier e não estavam mais perto

de encontrar Vox do que antes. A área de mineração que visitaram primeiro foi

abandonada pela Antrox, mas eles não levaram tudo quando partiram. O Antrox havia

deixado um velho e um menino para trás quando partiram. O coração de Carmen se

compadeceu deles. Eles eram humanos. Haviam sido retirados da Terra quatro anos

antes. De acordo com o relato que Creon deu a ela, o homem não era mais considerado

viável, pois não conseguia produzir trabalho suficiente a cada dia para justificar sua

alimentação. Eles ficaram com apenas alguns suprimentos e um jovem Pactor aleijado

demais para trabalhar. O velho humano disse que o menino era seu neto. O menino havia

escapado, se escondendo nos túneis para não se separar do avô. Pelo que o velho disse a

Ha'ven e Creon, o menino era o responsável por cuidar dos Pactors.

Creon relutantemente interrompeu o beijo e encostou a testa na dela.


— Talvez você possa falar com o velho e o menino hoje. Isso pode tornar a vida mais

confortável para todos. O menino não deixaria o Pactor nas minas. Ele se recusou a sair

dos túneis até que prometemos que ele poderia trazê-lo com eles. Por que ele se apegou

à besta feia, nunca vou entender. Ele tem jeito com a criatura, entretanto. Isso o segue em

todos os lugares. O velho e o menino também se recusaram a interagir com ninguém. O

velho tem uma boca suja. Ele não deixa ninguém se aproximar do menino dizendo que

é mentalmente incapaz de entender o que está sendo dito. Ele também disse que o

menino era mudo. Pelo menos, esse foi o motivo que ele deu para manter o menino longe

de todos. Ele recusou assistência médica para os dois. Tandor não insistiu, pois os dois

pareciam bem e os exames iniciais quando foram trazidos a bordo não sinalizaram

nenhuma doença ou enfermidade. Ainda assim, eles estão sendo muito pouco

cooperativos. — Disse Creon com voz rouca. — Talvez fossem mais receptivos à nossa

ajuda se você falasse com eles.

— Eu posso tentar. — Carmen respondeu, se afastando para que pudesse colocar

suas roupas. — Você dificilmente pode culpá-los. Veja o que tiveram que suportar nos

últimos quatro anos. Eles foram arrancados de tudo e de todos que conheciam e usados

como escravos. Isso vai contra tudo em que acreditamos.

— Já se passou mais de uma semana desde que os trouxemos a bordo. Tentamos

assegurar-lhes que as coisas serão melhores. Ha'ven finalmente acabou seccionando uma

das baias de reparos. O velho, o menino e o Pactor estão usando como seus aposentos.

— Ele disse, olhando distraidamente enquanto ela pegava suas roupas no chão onde ele

as havia jogado antes. — Eu gosto mais de você do jeito que você está. — Acrescentou

com voz rouca, os olhos colados em sua bunda arredondada.


Carmen lançou um olhar divertido por cima do ombro enquanto se abaixava para

pegar as calças que ele havia tirado dela. Ela reprimiu uma risada quando o ouviu gemer

alto. Estava se tornando um mau hábito dele tentar mantê-la nua. Ela estava aprendendo

que, se quisesse deixar seus aposentos a bordo da Horizon, seria melhor fazê-lo antes

que ele saísse da unidade de limpeza, ou só sairia muito mais tarde.

— Em que nível eles estão? — Carmen perguntou enquanto colocava as calças.

— Primeiro... venha aqui. — Creon exigiu com voz rouca.

Carmen riu enquanto pegava a camisa dele e a jogava em sua cara.

— Não, se eu fizer, nenhum de nós irá embora. Achei que você tivesse uma reunião

com Ha'ven e fosse conversar com seus irmãos.

Um suspiro pesado foi a resposta ao seu lembrete.

— Merda! Eu esqueci. Você é distração demais para mim, mi elila. — Ele respondeu

ao mesmo tempo que seu comunicador soou.

— Creon? — Ha'ven rosnou em aborrecimento. — Onde nas bolas do dragão você

está? Houve uma situação em Valdier. Tilkmos, e aquele maldito garoto está causando

problemas de novo. Ele foi atrás de alguns guerreiros com uma pá quando eles entraram

na área de reparos para pegar algumas peças. Devíamos ter apenas deixado seus três

traseiros na mina! O velho é tão ruim quanto.

— Vá ver o que aconteceu. — Disse Carmen enquanto dava um beijo nos lábios de

seu companheiro. — Eu vou cuidar do velho e do menino.


Creon estendeu a mão e agarrou a dela com força por um momento, olhando para

ela atentamente.

— Cree ou Calo irão com você. Não vou correr o risco de eles atacarem você.

Ela parou por um segundo, prestes a discutir antes de ver que ele estava

genuinamente preocupado.

— Ok. Diga a eles para me encontrarem fora da área de reparos.

— Obrigado. — Disse ele, passando os dedos ao longo de sua bochecha. — Eu te

amo, mi elila, muito.

Os olhos de Carmen escureceram de emoção. Ela agarrou a mão dele e segurou-a

com força contra a pele. Lágrimas queimaram seus olhos com a intensa emoção

brilhando nos dele. Ela podia entender. Esses mesmos sentimentos estavam correndo

por ela. Ela nunca pensou que teria uma segunda chance e estava com medo de que algo

pudesse tirá-la dela.

— Eu também te amo. — Ela sussurrou, olhando em seus belos olhos dourados com

um olhar assombrado. — Às vezes, fico com tanto medo de que isso seja um sonho e eu

acorde.

Ele a puxou contra si, envolvendo os braços em volta dela e segurando-a com força.

— Então, estou tendo o mesmo sonho. Um do qual eu nunca quero despertar. — Ele

respondeu rispidamente.
***

O olho de Creon queimava de raiva enquanto ouvia Zoran. Suas companheiras

foram atacadas. Eles foram capazes de resgatar Abby antes que ela fosse levada, mas

Cara e Trisha não se saíram tão bem. Além disso, a notícia devastadora de que seu tio

agora tinha uma arma poderosa o suficiente para destruir uma simbiose era horrível.

Zoran relatou friamente as mortes dos guardas e suas simbioses. Ele explicou suas

descobertas, mas ainda não tinham certeza do que era poderoso o suficiente para destruir

algo feito de pura energia. Trelon e Kelan estavam liderando o ataque a uma nave de

guerra de Curizan que a simbiose de Trelon estava seguindo. Ele os manteria informados

sobre quando eles recuperassem Cara e Trisha. Zoran se recusou a acreditar que as duas

mulheres não voltariam em segurança.

— Quem as levou? — Creon perguntou asperamente, olhando para a janela de

exibição na sala de conferências.

— N'tasha estava por trás disso. — Zoran respondeu com uma voz mortalmente

fria. — Se Kelan ou Trelon não a matarem, eu o farei. Ela cometeu um crime hediondo

contra seu povo. Quero saber cada traidor que está em aliança com Raffvin.

— Estamos indo para o espaço porto de Kardosa. — Disse Creon. — Vox não estava

na primeira operação de mineração. Estava abandonada. Ha'ven e eu temos alguns

contatos em Kardosa que podem saber para qual ele foi levado. Receio que Raffvin

mande uma mensagem para ir em frente e assassiná-lo.


— Cuidado. — Zoran avisou. — Ele está ficando desesperado e se agora tem uma

arma capaz de tais atrocidades a ponto de matar nossas simbioses, ele é ainda mais

perigoso do que pensávamos originalmente.

— Você já teve notícias de Mandra e Adalard? — Ha'ven perguntou de onde ele

estava sentado na longa mesa de conferência. — Eles já deveriam ter se encontrado.

— Sim. — Zoran respondeu. — Eles se encontraram hoje cedo. Adalard tem um

informante que sabe onde a base principal de Raffvin está escondida. Eles estão viajando

para se encontrar com ele. Se tiverem uma maneira de deter Raffvin, eles continuarão

com o ataque. Se Raffvin suspeitar de alguma coisa, ordenará a execução de Vox

imediatamente para inflamar seus irmãos e os guerreiros Sarafin. Podemos muito bem

ter uma guerra em nossas mãos.

— Você avisou Mandra sobre a arma que Raffvin tem? — Creon perguntou

preocupado. — É muito perigoso para ele e Adalard irem atrás dele sozinhos.

— Mandra está ciente do que aconteceu e usará seu melhor julgamento. Pode ser a

única vez que temos uma chance contra Raffvin. Ele não prosseguirá a menos que tenha

certeza de que pode derrotá-lo. Ele não arriscaria sua vida ou a de sua companheira. —

Zoran assegurou a seu irmão mais novo.

— Lembre-se também que ele não está sozinho. Adalard pode ser mortal. — Disse

Ha'ven com orgulho de seu irmão mais novo. — Ele já tem um motivo para querer a

cabeça de Raffvin montada em sua parede. Ele estará ao lado do seu irmão.
— Então, continuamos em nosso curso para Kardosa, a menos que as coisas mudem.

— Creon respondeu pesadamente. — Avise-me assim que as mulheres forem resgatadas.

Entrarei em contato com Mandra e discutirei seu apoio caso eles encontrem Raffvin.

— Fique forte e lute bem, irmão. — Zoran disse, citando sua despedida durante os

tempos de batalha.

— Você também, irmão. — Disse Creon antes de desligar. Ele se virou para olhar

para Ha’vem. — Precisamos encontrar Vox o mais rápido possível e apoiar Mandra.

Tenho um mau pressentimento de que Raffvin fará tudo o que puder para matá-lo assim

que descobrir que juntamos forças em vez de declarar guerra.

A expressão sombria no rosto de Ha'ven mostrou que ele concordava.

— Vamos nos separar em Kardosa e ver o que podemos aprender. Eu me preocupo

com as companheiras de seus irmãos. Se ele tiver sucesso em matar uma ou as duas... —

Sua voz sumiu quando os dois perceberam a terrível possibilidade de que Creon e

Valdier pudessem perder dois de seus guerreiros mais valiosos.

A mandíbula de Creon apertou.

— Isso não vai acontecer. Vamos rever o que sabemos. Isso ajudará a restringir nossa

pesquisa.

***
Carmen olhou para Cree e revirou os olhos. Ele tentou insistir que era Calo no início,

mas finalmente desistiu quando ela balançou a cabeça em desgosto. Foi realmente

divertido vê-lo tentar descobrir como ela podia diferenciá-los. Ela se recusou a dizer a

ele, o que o deixou ainda mais irritado. Do jeito que estava, ele se recusou a deixá-la

entrar primeiro na área de reparos.

— Você está sob minha proteção. — Ele insistiu, tentando conter seu temperamento

quando ela apenas olhou para ele com uma sobrancelha levantada. — Creon disse isso.

— Acrescentou defensivamente, sem saber o que dizer.

— Tanto faz. — Carmen respondeu e apertou o painel de controle. — Se isso faz com

que suas calças de menino pareçam melhores, fique à vontade. Sempre posso arrastar

sua bunda para fora se você se machucar.

— Eu gostaria de mostrar a você minha... — Ele começou antes de morder de volta

uma maldição. — O que eu quero dizer é…

Carmen quase sentiu pena dele.... quase.

— Vá em frente, eu sei exatamente o que você ia dizer. — Ela riu, apreciando como

suas bochechas ficaram mais vermelhas.

Ela observou enquanto ele se movia cautelosamente para a área de reparos. Ele

gritou para o velho que havia trazido um visitante. Foi só quando Cree viu o velho acenar

com a cabeça quando estava saindo da sala lateral preparada para seu uso, que ele deu

um passo para o lado para permitir que Carmen entrasse.


— Eu não estou vendo o menino. — Ele murmurou quando ela passou por ele. —

Mantenha seus olhos atentos. Dizem que ele não está bem da cabeça.

— Vou me certificar de que gritarei como uma menina se o vir. Tenho certeza de que

isso o fará se sentir melhor também. — Ela respondeu.

— Espertinha, ele é mudo. Ele não iria ouvi-la se você fizesse isso. — Cree mordeu

arrogantemente.

Carmen balançou a cabeça. Não iria corrigir o mal-entendido de Cree. Mudo

significava que o menino não conseguia falar, não que ele não pudesse ouvir. Ela olhou

para o velho que estava olhando para ela com preocupação. Ele avançou, agarrando a pá

enquanto o fazia.

Cree estendeu a mão para agarrar o braço de Carmen e puxá-la para trás, mas ela se

abaixou e se torceu antes que ele pudesse, afastando-se dele. Ela deu um sorriso caloroso

para o homem que caminhava em sua direção. Ele parecia ter sessenta e poucos anos,

embora fosse difícil dizer pelas rugas que revestiam seu rosto. Seus olhos eram afiados e

ele manteve seu olhar não nela, mas em Cree.

— Ele é realmente um amor-perfeito gentil. — Disse ela enquanto estendia a mão

em saudação. — Meu nome é Carmen Walker. Sou originalmente de Wyoming.

O homem parou na frente dela. Ele segurou a pá com firmeza, mas a abaixou de

modo que ela encostou em seu lado direito. Ele enxugou a mão esquerda ao longo da

perna esfarrapada da calça antes de lentamente estender a mão e agarrar a dela com

firmeza, mas gentilmente.


— Cal Turner. — Ele respondeu. — Eu e o menino somos dos arredores de Clayton,

Geórgia.

Carmen deixou que ele segurasse a mão dela um pouco mais do que o normal. Era

quase como se ele tivesse medo de que ela desaparecesse. Ela apertou a mão dele para

que ele soubesse que ela havia entendido.

— Você se importaria se nos sentássemos para uma conversa? — Ela perguntou

baixinho. — Cree será um bom menino e ficará perto da porta se isso te deixar mais

confortável.

Ela riu quando ouviu Cree grunhir baixinho.

— Eu gostaria de mostrar a você... — Ele parou com outra maldição e apenas olhou

para as costas dela.

— Ele está todo nervosinho, não está? — Ela perguntou em um sussurro exagerado

e piscou para Cal. — Eles fazem muito isso, mas realmente são como cachorrinhos

crescidos demais.

Cree rosnou novamente e cruzou os braços sobre o peito enorme. A porta se abriu

ao lado dele e a simbiose de Creon entrou na forma de um Basset Hound. Desta vez, suas

orelhas estavam exageradas a ponto de realmente se arrastarem no chão e ele tropeçar

em uma delas.

Uma risadinha suave quebrou o som da baia de reparos. Carmen, Cal, Harvey e

Cree se viraram para ela, assustados. Harvey estremeceu, fazendo com que suas orelhas

grandes voassem ao redor dele antes de saltar para a forma esguia do garoto meio
escondido atrás de uma criatura estranha do tamanho de um pônei Shetland. A figura

desapareceu rapidamente novamente antes que Carmen tivesse a chance de dar uma boa

olhada nele. Ela se virou assustada quando ouviu um estrondo profundo vindo de Cree.

Virando-se, ela ficou chocada ao ver os olhos dele colados na direção do menino. Seus

olhos de ouro escuro tinham chamas e parecia que ele estava tendo problemas com seu

dragão.

Carmen se virou para ver o que ele estava olhando. Ele parecia estar focado no jovem

Pactor. Talvez seu dragão tenha pensado que era o almoço. O que quer que estivesse

acontecendo, estava tornando difícil convencer o homem parado na frente dela de que

ele não queria fazer mal, já que ele soltou um rosnado baixo e estrondoso.

— Cree. — Carmen gritou severamente. — Você poderia, por favor, me esperar lá

fora? Prometo que se precisar de você, chamarei. Estou com Harvey comigo, então me

sinto perfeitamente segura.

Os olhos de Cree ainda estavam grudados no Pactor. Ele estava ofegante e suando

profusamente agora. Ela teve que chamá-lo várias vezes antes que ele relutantemente

voltasse os olhos para ela. Com um olhar de dor torcendo suas feições, ele deu um aceno

de cabeça concordando e saiu, surpreendendo-a.

— Bem, eu acho que o dragão dele gosta de Pactors. — Ela murmurou. Voltando-se,

ela balançou a cabeça em confusão. — Homens! Não me importa de que planeta eles são,

acho que nunca vou entendê-los.

Cal riu, baixando a pá novamente.


— Eu não sei você, mas eu gostaria de uma xícara de café quente. Não pude acreditar

quando me mostraram. Pensei que tinha morrido e ido para o céu.

Carmen riu.

— Você e eu. Na verdade, eles não tinham café até que minha amiga, Cara, o

reproduzisse. Ela é saltitante o suficiente, mas quando o aperfeiçoou, pensei que eles

poderiam ter alimentado uma dúzia de naves de guerra com sua energia.

Cal se virou e olhou para Carmen com atenção.

— Eles não estão abusando de você e da sua amiga, estão? Você pode ficar comigo

e com Mel se quiser. Nós vamos proteger você.

Carmen colocou a mão no antebraço de Cal e apertou.

— Não, eles nunca abusaram de nenhuma de nós. Na verdade, eu estaria morta

agora se não fosse por eles. Se você quiser compartilhar seu café comigo, contarei uma

história minha, de minha irmã e de nossas amigas. Acabou sendo realmente incrível. —

Ela prometeu, esperando que ele decidisse se ela estava dizendo a verdade ou não.
Mais tarde, Carmen se sentou na beira da cama esperando que Creon contasse o que

o estava incomodando. Ele voltou mais tarde do que de costume e estava muito quieto.

Ela o observou cuidadosamente enquanto ele vinha em sua direção. Linhas escuras de

preocupação estavam gravadas em torno de sua boca e seus olhos mantinham o olhar

distraído que ela vira em Scott antes de uma missão difícil.

— Diga-me. — Disse ela calmamente, passando as mãos sobre os ombros lisos. — O

que aconteceu?

Creon desviou o olhar. Carmen sabia que ele estava avaliando se contava a verdade,

parte da verdade ou nada. Ela o empurrou até que ele estivesse deitado e o cutucou para

que ele soubesse que ela queria que rolasse. Ele grunhiu, mas fez o que ela queria. Uma

vez que ele estava deitado de bruços, ela subiu em cima dele, montada em sua cintura.

Começando lentamente, começou a massagear seus ombros enormes trabalhando nos

nós de tensão neles. Uma vibração baixa e retumbante, semelhante ao ronronar de um

gato, começou quando ela usou seus dedos fortes para relaxá-lo.

Curvando-se para sussurrar em seu ouvido, ela perguntou novamente.

— Por favor, me diga, eu preciso saber a verdade sobre o que está acontecendo.

Creon apoiou a cabeça no braço dobrado. Os dedos dela trabalhando em seus

músculos podiam ser descritos como nada menos que felicidade. Ele apreciou que ela
não tentou pressioná-lo com lágrimas e acessos de raiva. Ela esperou calmamente, como

se soubesse que ele só precisava de alguns minutos para colocar seus pensamentos em

ordem.

— Cara e Trisha foram levadas. N'tasha, uma das mulheres do palácio, estava por

trás do ataque. Ela era uma das amantes de Trelon antes dele conhecer sua companheira.

Tentaram levar Abby, mas um dos guardas foi capaz de interceptar o homem que a

segurava antes que eles pudessem transportá-la para fora do planeta. — Ele começou

calmamente.

— Seus irmãos sabem para onde podem ter sido levadas? — Ela perguntou,

mantendo a voz calma, mesmo enquanto seu coração batia de medo por suas duas

amigas.

— Cara tinha um pedaço da simbiose de Trelon com ela. Estava enviando sinais para

a simbiose deixada para trás. Eles as estão perseguindo e devem intercepta-las a qualquer

momento. — Respondeu ele com voz rouca.

— Mas... — Ela acrescentou.

Creon, cansado, esfregou a testa no braço.

— Raffvin tem uma arma diferente de tudo que conhecemos antes. É poderosa o

suficiente para matar uma simbiose, algo que achávamos impossível de fazer.

Carmen congelou por um momento antes de se obrigar a continuar.


— Ele a usou contra as simbioses de seus irmãos? — Ela perguntou com firmeza,

pensando em como seria horrível se algo ruim acontecesse com Harvey.

Ele soltou um suspiro profundo.

— Sim e não. Dois dos guardas que protegiam Trisha e suas simbioses foram mortos.

Trisha estava usando uma pequena quantidade da simbiose de Kelan. O que sobrou foi

encontrado na cama onde ela estava descansando. — Disse ele pesadamente.

— Acham... — Ela começou antes de sua garganta apertar de medo por Trisha. —

Eles acham que ela foi morta também? — Ela perguntou com voz rouca enquanto suas

mãos apertavam contra a pele quente de suas costas, esperando.

Ele rolou tão rapidamente que ela se viu sentada em seu estômago em vez de em

suas costas. Ele agarrou ambos os punhos cerrados com força em suas mãos.

— Não! — Ele disse com firmeza. — Ela não está morta. Kelan saberia

imediatamente se ela tivesse sido morta. Ele sentiria tudo em sua alma. Não havia

sangue. Eles acreditam que ela foi levada viva. Eles vão encontrá-la. Kelan nunca vai

desistir de procurá-la. — Ele enfatizou, forçando-a a olhar em seus olhos para que

pudesse ver que ele estava dizendo a verdade.

— Ela não merece isso. — Sussurrou Carmen. — Ela já passou por muito. Por que

eles a levariam? O que poderiam querer com ela?

— Raffvin sabe que matar nossas companheiras é uma sentença de morte para nós.

— Respondeu ele com voz rouca, olhando em seus belos olhos castanhos. — Vocês são

nossa maior força e nossa maior fraqueza. Não podemos sobreviver por muito tempo se
vocês forem tiradas de nós. Nossos dragões chorariam, nossas simbioses perderiam a

essência necessária para sobreviver longe da colmeia e eu... — Ele fez uma pausa e

respirou fundo. — Eu não poderia viver com o vazio de uma vida sem você.

Carmen assentiu enquanto olhava para seu rosto torturado.

— Eu sei sobre o que você está falando. Sei o que é perder algo tão precioso que o

vazio corrói a sua vontade de viver. — Ela sussurrou entrecortada.

Um gemido baixo foi puxado dele com a dor e tristeza nos olhos e na voz de sua

companheira enquanto ela se lembrava de sua vida passada e perda. Ele ficou dilacerado

por ela ter que se lembrar de uma dor tão avassaladora. Ele a puxou para si, esmagando

seus lábios contra os dela em um beijo desesperado de necessidade e medo.

— Eu tiraria sua dor se pudesse. — Ele disse com um estremecimento. — Eu daria a

você apenas pensamentos e sentimentos felizes para sempre.

Carmen se afastou para olhar para ele.

— Você já fez isso. Você pegou a dor e o vazio e os preencheu com luz, amor e

esperança. Você me prometeu para sempre, Creon. Eu quero cada segundo desse tempo.

— Ela disse, carinhosamente escovando a mão sobre o cabelo dele e colocando-a contra

sua bochecha.

Ele virou a cabeça o suficiente para que pudesse dar um beijo em sua palma.

— Eu não te daria nada menos. — Ele respondeu antes de puxá-la de volta para

baixo e fazer amor lento e terno com ela.


***

Creon olhou para Carmen novamente enquanto a puxava para mais perto dele. Ele

estava dividido entre trancá-la em seus aposentos a bordo da Horizon ou amarrá-la ao

seu lado, onde poderia vê-la o tempo todo. Em vez disso, não estava fazendo nenhum

dos dois. Seu olhar se moveu para Cree e Calo, onde estavam no canto do grande

elevador com suas simbioses. Deu a eles instruções estritas de que deveriam ficar ao lado

de sua companheira como se fossem parte dela. Harvey também estaria com eles.

— Você ouvirá Calo e Cree. — Ele murmurou quando o elevador se moveu.

Eles haviam chegado a Kardosa algumas horas antes. Ele e Ha'ven se separariam e

encontrariam com vários informantes diferentes que tinham no espaço porto. Carmen

era muito incomum para não chamar atenção indesejada para eles. Sua pele clara e

aparência incomum já haviam chamado a atenção de todos os membros da tripulação a

bordo da Horizon. Felizmente, os guerreiros a bordo sabiam melhor do que mexer com

a companheira de um dragão Valdier, muito menos a companheira de um dos Príncipes.

— Eu vou. — Ela respondeu calmamente, tentando não mostrar sua empolgação. —

Devo ficar à vista deles o tempo todo, não me afastar, e se eles me disserem para fazer

qualquer coisa, então devo fazê-lo imediatamente. — Disse ela, recitando as instruções

literalmente.

Ele inclinou a cabeça para que pudesse olhar em seus olhos.


— Promete?

— Claro... vou tentar. — Disse ela maliciosamente. — Quem sabe, talvez eu tenha

que salvar suas bundas! Além disso, não estarei sozinha. Mel e Cal estão se encontrando

conosco. Ambos precisavam de alguns suprimentos e isso me dará a chance de passar

algum tempo com eles. Mel ainda não vai chegar perto de mim. Ele parece estar curioso

sobre mim, no entanto. Cal quer ver um espaço porto de verdade. Eles estão trancados

nos últimos quatro anos, depois na Horizon. Acho que será bom para os dois saírem.

Pode ajudar Mel também.

— É melhor ele não atacar ninguém ou vou deixar sua bunda aqui. Ele começou a

jogar coisas em Yar ontem, quando foi buscar algumas peças para um dos motores. —

Creon fez uma careta feroz. — Não vou deixar aquele jovem machucar você.

— Ele não vai. Ele sempre mantém distância quando visito Cal. Sei que ele entende

o que está acontecendo enquanto ouve nossas conversas. Acho que ele é apenas jovem e

assustado. — Ela o tranquilizou. — Não se preocupe. Terei Harvey e os gêmeos Bobbsey1

comigo.

— Um dia desses... — Cree murmurou baixinho atrás dela em sua provocação.

— Sim, eu sei. Um dia desses, Carmen! POW! Bem no beijador. — Disse ela,

mudando a voz para soar como Jackie Gleason antes de cair na gargalhada, sentindo-se

jovem, livre e selvagem novamente.

1
Gêmeos Bobbsey são personagens fictícios, dois conjuntos de gêmeos fraternos - o par mais velho chamado Bert e Nan, o
mais jovem Freddie e Flossie - que são apresentados em uma extensa série de livros infantis da autora americana Laura Lee
Hope (um pseudônimo coletivo de muitos escritores, incluindo Harriet S. Adams).
Os olhos de Creon se arregalaram com a excitação queimando nos olhos de sua

companheira. Ela estava se divertindo! Esta era a primeira vez que ele via seus olhos

completamente sem sombras. Ela estava… brilhando. Sua garganta se apertou com o

quão verdadeiramente, impressionantemente bonita ela era quando estava sorrindo e

feliz. Foi incapaz de resistir a puxá-la contra ele e deslizar a mão sobre sua barriga lisa.

Logo, começaria a inchar com seus filhotes. Fechando os olhos brevemente, ele estendeu

a mão da simbiose enrolada em seus pulsos para as que estavam nela para se conectar.

Ele procurou profundamente dentro dela até que encontrou seu dragão enrolado

firmemente em torno das pequenas faíscas de vida dentro dela. Seu dragão abriu sua asa

assim que sentiu a busca de seu companheiro. O calor o inundou enquanto ele se

concentrava nos faróis gêmeos. Ele sentiu a resposta deles ao seu toque leve.

Recuou ao sentir o elevador parar. Abrindo os olhos, ele olhou para ela com uma

combinação de orgulho e posse. Viu como seus olhos se enrugaram e seus lábios se

curvaram em um sorriso conhecedor quando ela reconheceu que pertencia a ele.

— Para sempre. — Ela sussurrou antes que as portas se abrissem e as ruas

movimentadas de Kardosa os obrigassem a se separar.

***

Creon observou Carmen se afastar ansiosamente para a multidão, Harvey na forma

da criatura de orelhas caídas trotando ao lado dela enquanto Cree e Calo, e suas
simbioses em forma de gêmeos Werecats, seguiam de perto atrás. Sua mandíbula doía

por apertar com tanta força em um esforço para conter sua exigência de que ela voltasse

para seu lado. Uma carranca escura torceu suas feições quando ele a perdeu de vista.

— Ela está em boas mãos, meu amigo. — Disse Ha'ven calmamente. — Deixe-nos

encontrar as informações que viemos para que você possa se reunir com ela.

— Eu juro pela minha vida, Ha’ven. — Creon murmurou sombriamente. — Quando

eu encontrar meu tio, vou estripá-lo. Ele causou muita dor para ter até mesmo o

privilégio da morte de um guerreiro.

— Concordo. Mas primeiro, devemos encontrar Vox. — Ha'ven gentilmente

lembrou a seu amigo. — Você tem que admitir que será muito divertido ver a cara de

Vox quando resgatarmos sua bunda lamentável.

Creon grunhiu, lutando contra o desejo de rasgar através da multidão atrás de sua

companheira.

— Vamos terminar isso. Quero levar minha companheira a algum lugar onde sei

que ela estará segura.

Creon se virou e saiu, misturando-se às ruas lotadas. Iria encontrar Devnar primeiro.

Ele era um Toluskin, uma besta de pele grossa com duas pernas e quatro braços. Devnar

era dono de uma empresa de peças e recuperação que negociava com equipamentos

legais e ilegais. Qualquer pessoa que precisasse de uma peça para o transporte passava

por ele. Ele lidava com alguns capitães de cargueiros honestos, alguns militares honestos

e muitos desonestos, sem mencionar a grande variedade de piratas espaciais que


visitavam o espaço porto. Ele também nunca esquecia uma conversa ou um rosto o que

o tornava melhor do que qualquer holovid.

Ele se moveu pelas ruas lotadas com facilidade, já que a maioria dos clientes olhava

para ele e lhe dava bastante espaço. Manteve uma das mãos na espada curta em seu

quadril e a outra na pistola a laser firmemente presa em sua mão. Seu longo cabelo preto

estava preso na nuca. Ele vestia o uniforme típico de calça e colete de couro preto com

uma camiseta preta. Tinha várias facas escondidas ao redor de seu corpo, incluindo duas

em cada bota. Este era um mundo com o qual ele estava muito familiarizado e sabia que

era melhor não baixar a guarda.

Virando em um beco estreito, olhou para uma dupla de Marastin Dow, uma espécie

esguia e roxa que eram piratas espaciais conhecidos. Eles não seguiam as regras do

sistema estelar. Seu próprio mundo era um labirinto mortal de ladrões e assassinos. Seus

filhos aprendiam desde cedo que a vida era matar ou morrer. Na verdade, homens e

mulheres recebiam o mesmo treinamento na arte da pirataria. Ele tinha estado no mundo

deles várias vezes e não tinha nenhum desejo de ir novamente.

Creon os ignorou sabendo que eram mais carniceiros e nunca atacariam um dragão

guerreiro Valdier adulto a menos que estivessem em um grande grupo. Preferiam

esgueirar-se sobre seus oponentes e cortar suas gargantas. Ele dobrou vários outros becos

antes de voltar para uma via pública maior perto dos ancoradouros menos vigiados.

Fez uma pausa para olhar em volta com cuidado. Sabia que estava sendo seguido.

Ele podia sentir isso e seu dragão também. Ele estava andando para frente e para trás em

agitação.
— Eu também sinto, meu amigo. — Ele disse silenciosamente. — Paciência, eles vão

se mostrar em breve.

— Eu mato. — Seu dragão rosnou com raiva.

— Só depois de obtermos as informações que desejamos. — Creon se assegurou de

seu lado mais temperamental.

Ele empurrou a porta parcialmente aberta ouvindo quando um carrilhão soou para

que Devnar soubesse que tinha companhia. O enorme corpo redondo do Toluskin teve

que virar de lado para passar pela porta dos fundos da pequena loja. A loja estava mal

iluminada, mas isso não era um problema para Creon quando ele chamou seu dragão à

superfície. Seus olhos se estreitaram em longas fendas e brilharam em ouro escuro e rico.

— Sabe, eu poderia obter bons créditos por esses seus olhos. — Devnar bufou.

— Os créditos não têm utilidade para um homem morto, Devnar. — Creon

respondeu como uma saudação de retorno.

A risada profunda de Devnar fez todo o seu corpo se mover. A pele de couro laranja

escuro e cinza ondulou quando ele se aproximou do balcão estreito que separava a frente

da traseira. Ele apoiou dois de seus braços no balcão, mantendo os outros dois

escondidos abaixo da superfície marcada.

— O que o velho Devnar pode fazer por um Príncipe Dragão Valdier? — Devnar

bufou com uma voz grossa com sotaque. — Se você quiser entrar nos ringues de luta,

posso conseguir alguns bons oponentes. Eu poderia fazer 60/40 com você. A melhor

oferta que já fiz a alguém.


— A primeira coisa que você pode fazer é levantar seus outros dois braços acima do

balcão antes que eu arranque os que estão apoiados nele. Não desejo machucá-lo, meu

velho amigo, mas tenho pouca paciência agora. — Disse Creon, puxando parcialmente a

espada curta da bainha.

Devnar bufou várias vezes, mas lentamente levantou seus outros dois braços,

descansando os quatro no balcão.

— Agora você sabe que o velho Devnar sabe melhor do que mexer com você. Tenho

uma dívida de vida com você. — Respondeu ele, apoiando-se pesadamente no balcão.

— Diga a Devnar o que quer e eu pego para você.

— Você me deve três dívidas de vida, seu velho ladrão. — Creon grunhiu,

aproximando-se. — Não preciso de peças, preciso de informações. Sei que se alguém

falasse, você ouviria.

Devnar concordou.

— Que informação você precisa? Há muita conversa acontecendo. Isso tem alguma

coisa a ver com o desaparecimento de um certo príncipe gato teimoso e cabeça quente?

Os lábios de Creon se torceram com a descrição de Devnar de Vox.

— Você não está chateado com ele ainda, está? Ele salvou sua vida daquele assassino

bovino.

— Sim, ele fez, mas eu tenho garras de gato na minha bunda dele me agarrando e

me puxando para baixo daquela maldita lançadeira. Minha senhora não ficou feliz
comigo. Ela pensou que eu tinha estado na casa de prazer e fui pego por um guerreiro

Sarafin trabalhando em sua mulher. Levei quase um mês para fazê-la parar de jogar

coisas em mim. — Devnar bufou com raiva.

Creon encolheu os ombros.

— Agradeça que foi sua bunda que ele agarrou e não outra coisa. O que você ouviu?

— Ouvi dizer que seu tio decidiu que quer controlar o sistema estelar Valdier, de

preferência sem a realeza atual viva, exceto por uma bela princesa Valdier. Nunca ouvi

o nome, mas ele disse algo sobre que ela deveria ter sido sua, em vez de companheira de

seu irmão. Presumo que você saiba de quem ele estava falando? — Devnar perguntou,

esfregando duas de suas mãos enquanto uma dos outros coçava sua bunda.

— Você ouviu isso diretamente dele? — Creon perguntou olhando nos olhos negros

redondos.

Uma mão subiu para esfregar sua nuca grossa.

— Bem, não exatamente dele. Eu ouvi de um homem que estava conversando com

outro homem que estava trabalhando em uma nave que ouviu alguns tripulantes a bordo

da Mortar, uma das naves de guerra que seu tio usa, falando sobre isso. — Ele respondeu

com um dar de ombros.

Creon lutou contra o desejo de cerrar os dentes em frustração.

— O que mais você ouviu?


— A Mortar estava levando um príncipe cabeça quente e dois de seus homens para

o asteroide de mineração Antrox entre as luas de Quillar de Bosca e Dorland. Eles fariam

o Antrox trabalhar com ele até que enviassem uma mensagem para ele ser eliminado.

Eles estavam dando aos malditos insetos três vezes os créditos apenas para mantê-lo. —

Devnar sorriu, se você pudesse chamar a torção de seus lábios grossos de um sorriso. —

Ouvi dizer que ele matou três dos membros da força de segurança que o protegiam antes

de derrubarem sua bunda novamente. O capitão ordenou que ele e seus homens fossem

mantidos sedados até serem entregues ao Antrox. Aposto que a bunda peluda dele está

realmente chateada! — A barriga de Devnar rolou novamente. — Você entendeu? Bunda

real peluda! Droga, às vezes eu sou bom.

Creon balançou a cabeça em desgosto com o óbvio prazer de Toluskin pela situação

de Vox.

— Você ouviu mais alguma coisa? — Ele perguntou, pronto para terminar com o

Toluskin e voltar para a nave.

— Só para você cuidar de suas costas, dragão. — Devnar disse, de repente muito

sério. — Seu tio tem uma nova arma da qual a tripulação estava se gabando que pode

matar um guerreiro Valdier, seu dragão e sua simbiose. Essa é uma arma pela qual cem

sistemas estelares pagariam o tesouro de créditos de um rei.

— Você ouviu o que é a arma? — Creon perguntou laconicamente.

Devnar estava balançando a cabeça.


— Não, o bastardo está mantendo em segredo. Nem a tripulação sabe o que é, só

que funciona.

— Obrigado, meu amigo. — Disse Creon virando-se para sair. — Você só me deve

duas dívidas de vida. Agradecemos sua ajuda. Cuide-se até que isso seja resolvido. —

Ele acrescentou com cautela antes de se virar para a porta novamente.

Devnar gritou quando Creon alcançou a porta.

— Diga àquele maldito shifter gato que minha dívida com ele está paga. Prefiro ficar

em dívida com você do que com ele.

Creon acenou com a cabeça em concordância antes de sair pela porta. Ele se virou

para o lado oposto de onde veio. Queria saber quem o estava seguindo e queria respostas

para o que seu tio estava fazendo a seguir. Ele caminhou pela rua movimentada, saindo

de uma passagem estreita antes de se esconder em uma porta coberta. Seus olhos

escanearam a multidão focando em uma espécie de réptil com escamas verdes escuras e

castanhas, frequentemente contratada por suas habilidades como assassinos.

— Lá! — Seu dragão silvou de raiva.

— Você sabe o que fazer, meu amigo. — Creon murmurou sombriamente.

— Sim! — Seu dragão rosnou lambendo os lábios em antecipação.


Carmen sorriu para o comerciante que estava tentando chamar sua atenção com

uma grande coleção de contas coloridas. Ela riu quando ele juntou as mãozinhas como

se implorasse para que ela fizesse uma compra em seu estande. Ela manteve os olhos

escaneando as multidões e as paradas no mercado. Um dos guerreiros mais velhos que

trabalhava na área de serviço de alimentação a bordo da Horizon tinha se tornado amigo

de Cal e prometeu escoltar Cal e Mel ao mercado para que eles pudessem se encontrar.

Harvey os viu antes de Carmen. A enorme simbiose dourada quicou na direção de

Mel, circulando o garoto várias vezes antes de se sentar para que ele pudesse se curvar e

esfregar nele. O menino manteve a cabeça baixa e um enorme chapéu cobria sua cabeça.

Carmen ainda não tinha visto o rosto de Mel. O menino era extremamente tímido. Ele

nunca chegava perto quando ela vinha visitá-la, preferindo ficar com o pequeno Pactor

de quem estava cuidando ou escondido no labirinto de enormes caixotes armazenados

na área de reparos. Ela não sabia quem estava mais surpreso, ela ou Cree e Calo, quando

suas duas simbioses de repente correram para o menino que estava ajoelhado. Ambas as

simbioses esbarraram nele, exigindo um pouco da atenção que estava dando a Harvey.

Ela observou enquanto o menino, que mantinha a cabeça inclinada para baixo, esfregava

as mãos para cima e para baixo em ambas as simbioses afetuosamente.

— Carmen, é bom ver você. — Cal disse com um largo sorriso e um suave sotaque

sulista, chamando sua atenção de volta para ele. — Zuk tem nos mostrado o lugar.

Deixamos a nave assim que atracou para que pudéssemos pegar algumas coisas que Mel
e eu precisávamos. Você comeu? Zuk estava dizendo que há um bom lugar não muito

longe daqui.

— Não. Temos explorado. Isso não é totalmente alucinante? Quer dizer, eu vi filmes

alienígenas em casa, mas vê-los na vida real é.... tão diferente do que eu esperava! —

Carmen disse enquanto observava várias criaturas que obviamente eram fêmeas

passarem por eles olhando para ela com tanto interesse quanto ela estava olhando para

elas.

— Se você me permitir, minha senhora, seria um prazer acompanhá-la, Cal e Mel

para comer algo. — Disse Zuk educadamente, certificando-se de ter a permissão de Cree

e Calo também.

— Obrigada, Zuk. — Carmen respondeu, olhando para onde Mel ainda estava

ajoelhado com as três simbioses ao seu redor. — Cal, você acha que Mel se importaria se

nos juntássemos a você?

Cal se virou para olhar hesitantemente para seu neto antes de se virar e olhar para

os dois homens atrás de Carmen.

— Sim, Mel vai ficar bem. Apenas certifique-se de que aqueles dois fiquem para trás

ou isso pode assustá-lo. Ele não gosta de estar aqui e está nervoso como o diabo. Talvez

seus amigos dourados possam sentar com ele. Eles parecem ter um efeito calmante no

menino.

Carmen sorriu em compreensão.

— Isso seria ótimo. — Carmen respondeu com alívio.


O pequeno grupo moveu-se lentamente pelo mercado, descendo a rua e finalmente

subindo dois níveis. Mel seguiu atrás de todos com Harvey e os gêmeos Werecats ao seu

lado. Ele se certificou de manter uma ampla distância de Cree e Calo, que ficavam se

virando e franzindo a testa para ele quando ele arrastava seus pés demais. Carmen sentiu

pena do menino. O chapéu enorme e as roupas muito grandes acentuavam sua figura

pequena.

— Cal, Mel sempre foi assim? — Carmen perguntou baixinho, não querendo que o

menino a ouvisse.

— Não, só desde que fomos levados. — Ele respondeu rispidamente. —Tem sido

especialmente difícil para ele. Ser tirado de seu mundo em uma idade tão jovem. A única

coisa em que ele encontrou conforto foi cuidar daquelas malditas criaturas.

— Talvez eu possa falar com Creon sobre levá-lo de volta para a Terra. — Carmen

disse hesitante. — Não posso prometer nada, mas ele pode concordar em devolver você

e seu neto quando tudo isso acabar. Se não, vocês são bem-vindos em Valdier. É

realmente um mundo incrível e tenho certeza de que você seria bem-vindo.

Cal olhou para Mel, que estava ficando para trás novamente. Ele se assustou quando

viu Calo caminhar na direção de seu neto. Ele franziu a testa quando viu Mel recuar até

que as simbioses de Calo e Cree e Harvey o cercaram de forma protetora. Calo disse algo

baixinho para Mel antes de se virar bruscamente com uma expressão de raiva em seu

rosto normalmente alegre e marchou de volta para ficar atrás de Carmen em um silêncio

rígido.
— Nós agradeceríamos qualquer coisa que você pudesse fazer. — Cal disse

tristemente. — Mel e eu nunca esqueceremos sua gentileza. — Acrescentou ele, olhando

para Mel uma última vez antes de seguir Zuk até o pequeno restaurante sobre o qual

havia falado.

Eles estavam sentados em uma grande mesa retangular perto da porta do pequeno

bar. Isso lembrou a Carmen de algumas das Cantinas, no México. Havia um bar circular

no centro da sala. Todos os diferentes tipos de criaturas estavam sentados, bebendo e

comendo ao redor dele, bem como ao redor das mesas amplamente espaçadas. Carmen

ficou intrigada a princípio por que as mesas estavam tão distantes uma da outra, até que

viu as garçonetes se movendo, anotando pedidos e servindo bebidas. A menor tinha

quase um metro de largura e um metro e oitenta de altura. Cada uma delas usava lenços

transparentes sobre o que parecia ser duas peças que mal cobriam seus seios múltiplos e

região inferior. Eles tinham uma pele vermelha escura e escamosa com longos cabelos

verdes. Seus rostos eram achatados, com apenas duas pequenas fendas onde estava o

nariz, sem lábios para falar e minúsculos olhos negros.

Carmen sabia que estava encarando e teve que forçar seus olhos de volta para as

imagens na mesa.

— Se quiser pedir qualquer coisa, basta tocar na imagem. — Disse Zuk com um

sorriso. — Se você não tem certeza do que é algo, posso ajudá-la.

Cree olhou para o final da mesa onde Mel estava sentado. Ele franziu a testa quando

viu as faixas gêmeas de ouro aparecendo ao redor dos pulsos delgados do menino

brevemente antes de puxar a jaqueta sobre as mãos novamente.


— O que você quer comer, garoto? — Ele gritou asperamente.

Os olhos verdes escuros de Mel o espiaram brevemente antes que ele abaixasse a

cabeça novamente e afundasse em sua cadeira, como se estivesse tentando desaparecer

nela. A mandíbula de Cree apertou e ele olhou para seu irmão que estava olhando em

um silêncio pétreo para Mel. Cree sacudiu a cabeça brevemente para seu irmão quando

se voltou para olhá-lo.

— Vou pedir para Mel. — Cal disse vivamente. — O menino não come muito.

— Ele precisa comer mais. — Calo mordeu rispidamente. — Ele é muito pequeno

para sua idade. Como se tornará um guerreiro forte se não começar a comer? Talvez Cree

e eu possamos trabalhar com ele no desenvolvimento de sua força e habilidades de luta.

— Isso não será necessário. — Respondeu Cal. — Carmen vai pedir ao seu

companheiro para nos devolver ao nosso mundo. Mel ficará bem do jeito que está

quando chegarmos em casa.

Ambos os homens se viraram para encarar Carmen antes de olhar para baixo com

raiva.

— Talvez seja melhor assim. — Calo finalmente disse em um tom baixo. — Se você

não se importa, não estou com fome. Vou patrulhar a área externa. — Acrescentou ele,

levantando-se.

Cree também se levantou.


— Vou pegar os fundos. Vamos deixar nossas simbioses com você. Se precisar de

alguma coisa, é só gritar. Estaremos perto.

Carmen franziu a testa para os dois irmãos quando eles rapidamente deixaram o

bar. Ela olhou para baixo e ficou surpresa quando viu os olhos de Mel seguindo os

homens. Ela estava definitivamente perdendo alguma coisa, mas não conseguia

descobrir. Estava prestes a dizer algo quando uma das garçonetes apareceu com a

comida. Ela olhou para os pães, queijos e frutas com alívio. Reconheceu muitos deles da

nave de guerra e de Valdier.

Ela ergueu os olhos quando ouviu Zuk rir.

— Não achei que você se interessaria pela comida mais típica dos residentes daqui.

— Disse ele, apontando para seu próprio prato que parecia uma combinação de

minhocas cozidas e tiras de carne malva.

Carmen pressionou a mão em seu estômago quando de repente rolou de angústia.

— Eu preciso visitar o banheiro das meninas. — Ela sussurrou, ficando pálida.

Cal olhou para Carmen preocupado.

— Você está se sentindo bem? — Ele perguntou ansiosamente.

— Estou bem. — Ela engasgou. — Banheiro?

Zuk apontou para um corredor estreito. Carmen lançou lhe um sorriso agradecido,

embora trêmulo, antes de correr para o banheiro. Ela suspirou de alívio quando viu um

emblema que reconheceu de seus estudos e abriu a porta. Chegou ao banheiro bem na
hora em que seu estômago se rebelou. Apoiou as mãos na parede até sentir como se

tivesse expulsado tudo o que estava para sair. Passou a mão na boca, trêmula, enquanto

se endireitava. A luz iluminou a bacia do vaso sanitário e o conteúdo desapareceu. Ela

tropeçou até o dispositivo na parede e acenou com as mãos na frente dele. Outra luz

apareceu e deslizou sobre suas mãos. Ela só precisava de algo para sua boca agora.

Arriscando-se, ela se inclinou para frente e abriu a boca na frente do sensor de luz. Com

certeza, a luz se concentrou em sua boca, limpando-a. Com alívio, Carmen abriu a porta

apenas para se encontrar enfrentando duas mulheres esguias e roxas paradas do lado de

fora da porta. Uma delas borrifou algo em seu rosto. Carmen vagamente sentiu a outra

agarrando-a quando ela começou a desmaiar. Seu primeiro pensamento foi uma

sensação de descrença de que isso pudesse estar acontecendo antes de ela enviar um

breve pedido de ajuda enquanto a escuridão descia sobre ela.

***

Zuk e Cal estavam conversando baixinho quando Harvey de repente mudou para a

forma de um Werecat e sibilou alto em perigo. As duas criaturas sentadas ao lado de Mel

imediatamente se aproximaram e começaram a brilhar em uma variedade de cores ao

sentir o perigo ao qual Harvey havia reagido. Zuk ordenou que Cal ficasse com Mel

enquanto ele se levantava rapidamente, gritando por Cree e Calo.

Harvey estava se movendo pelas mesas, ignorando as maldições enquanto

derrubava várias, espalhando comida e bebida por toda parte. Ele se moveu rapidamente
em direção ao corredor onde Carmen havia desaparecido. Ele fez uma pausa enquanto

congelava para cheirar o ar ao redor da porta, seu som alto de angústia era tão agudo

que o vidro se estilhaçou.

— O que houve? — Calo perguntou ao jogar alguns dos clientes que estavam em

seu caminho.

Cree se moveu silenciosamente pela entrada dos fundos.

— Marastin Dows. — Disse ele, abaixando-se e pegando o recipiente vazio de gás

anestésico.

A maldição de Calo encheu o ar enquanto ele olhava ao redor.

— Eles não a levaram para a frente. — Disse ele asperamente.

— Ou nos fundos. — Cree disse. — Devem tê-la transportado para a nave. Eles

devem estar trabalhando com alguém com autoridade no espaço porto. Nunca teriam

sido capazes de transportar de outra forma.

O espaço porto impedia que todas as espécies usassem qualquer tipo de feixe de

transporte, a menos que fosse autorizado. Eles tinham escudos no lugar para evitar que

fosse usado. Seria muito fácil para assassinos, ladrões e possíveis criminosos usá-lo para

escapar do caos em massa. Os Marastin Dow's não seguiram nenhuma regra,

acreditando que estavam acima de qualquer tipo de restrição. Cree apertou seu

comunicador e informou a Horizon da situação. Eles não seriam capazes de entrar em

contato com Creon ou Ha'ven até que os homens ligassem seus comunicadores
novamente. Eles não queriam ser distraídos ou ouvidos por alguém tocando em seu

dispositivo de comunicação.

— Leve uma equipe de segurança para a torre de autoridade. Quero todas as naves

bloqueadas. Ninguém está autorizado a sair até que tenha sido revistado completamente.

— Cree mordeu rapidamente. — A companheira de Creon foi levada pelos Marastin

Dow.

Calo já estava abrindo caminho pela multidão seguindo Harvey, que estava se

comunicando com as finas faixas douradas de Carmen.

— Zuk, leve Cal e seu neto de volta para a nave imediatamente. — Calo gritou

enquanto corria para fora do bar.

Cree se deteve um momento na frente de Zuk antes de seguir seu irmão. Seus olhos

estavam grudados onde Mel estava ao lado das simbioses dele e de seu irmão. Chamou

sua simbiose para ficar com Mel. Ele finalmente forçou seus olhos para longe da pequena

figura curvada.

— Vou considerá-lo pessoalmente responsável pela segurança deles. — Murmurou

antes de chamar a simbiose de seu irmão para segui-lo enquanto ele corria atrás de seu

irmão.

Ele sabia que a simbiose de seu irmão poderia encontrar Calo, que estava seguindo

Harvey pelas ruas movimentadas. Parecia que a enorme criatura dourada estava se

afastando das baias de ancoragem e entrando nas áreas de vida mais difíceis do espaço

porto. Ele acelerou até que pudesse ver seu irmão à frente. Parou de repente quando
dobrou uma esquina e encontrou seu irmão parado nas sombras enquanto Harvey se

movia furtivamente pela lateral de um prédio alto, parando periodicamente antes de

continuar para o próximo nível.

— Isso não é como os Marastin Dow fazem. — Disse ele baixinho por trás de seu

irmão.

— Por que eles a trariam aqui? — Calo perguntou, observando enquanto Harvey

subia a varanda para outro nível.

— Eu não sei, mas estão mortos, então não importa. — Cree falou enquanto

avançava para seguir Harvey.

Calo e Cree escalaram furtivamente enquanto a simbiose de Calo se transformava

em uma grande criatura voadora e pousava no topo do prédio ao lado de Harvey. Eles

se ergueram e passaram pelo nível mais alto do edifício. A porta no topo foi aberta

revelando a escada escura. Os dois irmãos invocaram seus dragões para que sua visão

fosse aprimorada o suficiente para que vissem na escuridão. A simbiose de Calo se

dividiu ao meio e se dividiu novamente. A maior parte tinha a forma de um pequeno

Werebeast enquanto as duas partes menores formavam uma armadura sobre os irmãos.

Calo acenou com a cabeça para sua simbiose seguir Harvey e eles se moveram para

a escuridão. Eles tinham que encontrar Carmen. Os dois irmãos sentiram o peso de seu

fracasso em protegê-la. Se alguma coisa acontecesse com ela, eles nunca poderiam viver

com a desonra de não proteger a companheira de seu príncipe.


***

Carmen ficou imóvel enquanto lentamente recuperava a consciência. Ela ouviu o

murmúrio suave de vozes femininas na sala. Pareciam estar tentando freneticamente

convencer alguém de algo. Ela não tinha a sensação de que elas estavam com raiva,

apenas... desesperadas? Ela franziu a testa e abriu os olhos para ver onde estava.

Estremeceu de surpresa quando viu um par de olhos castanhos escuros olhando para ela

com preocupação.

— Você consegue me entender? — A voz perguntou parecendo enferrujada.

— Quem é você? E o que está fazendo aqui? — Carmen perguntou com a voz rouca

enquanto olhava para o rosto perturbado de um homem muito humano.

O homem sorriu nervosamente para ela.

— Meu nome é Ben Cooper. Você está bem? Sinto muito pelo que aconteceu. Eu não

sabia que Evetta e Hanine fariam isso. — Disse ele baixinho enquanto puxava uma

cadeira para perto da cama em que ela estava deitada.

Os olhos de Carmen voaram para as duas mulheres de pele roxa que estavam atrás

dele. Uma delas estava mordendo o lábio enquanto a outra olhava para Ben com um

olhar preocupado. Uma das mulheres disse algo baixinho a Ben antes de desaparecer na

outra sala.

— Por quê… Por que elas me sequestraram? — Carmen perguntou confusa.


Ela se sentou para poder ver melhor a sala ao seu redor. Estava escura, com apenas

algumas pequenas luzes acesas. As paredes estavam sujas e gastas, mas parecia que o

lugar estava sendo mantido o mais limpo possível com a mobília e os acessórios gastos.

As paredes e o chão eram de um cinza fosco. A mobília era escassa, com apenas a cama

de solteiro e uma pequena mesa e cadeira no quarto em que ela estava. O quarto externo

não parecia muito melhor. Ela podia ver outra mesa parecendo velha e quatro cadeiras

nela.

— Onde estou? — Ela perguntou hesitante, olhando de perto para o homem a sua

frente.

Ele tinha longos cabelos castanhos claros e olhos castanhos escuros como os dela.

Parecia estar na casa dos trinta e poucos anos e tinha cerca de um metro e oitenta e cinco,

se ela tivesse que adivinhar. Ele estava magro, entretanto, como se não comesse bem há

muito tempo.

— No apartamento que estamos alugando temporariamente. — Ele respondeu

baixinho, olhando para trás e estendendo a mão. — Esta é Evetta. Ela é minha esposa. —

Ele disse suavemente enquanto seus dedos se fechavam sobre os finos roxos. — Meu

irmão e eu fomos sequestrados da Terra quase quinze anos atrás. Fomos vendidos como

escravos várias vezes antes que o cargueiro em que estávamos fosse invadido pela nave

que Evetta e sua irmã estavam há cinco anos. — Disse Ben antes de dar um beijo leve na

palma de Evetta. — Tínhamos convencido todas as espécies desde que fomos levados

que meu irmão Aaron e eu não poderíamos ser separados, senão morreríamos. Evetta e

sua irmã trabalhavam como especialista em engenharia e programação na nave que

sequestrou a nossa.
— Eu vi Ben. — Disse Evetta, hesitante, olhando para Ben com um sorriso suave. —

Seu toque, sua voz, me fizeram sentir coisas que nunca senti antes. Eu daria minha vida

por ele. Ele é meu marido. — Ela disse com orgulho enquanto sorria para ele.

— Estamos fugindo desde que conseguimos escapar, há duas semanas. Aaron foi

ferido na fuga. Ele precisa de ajuda. Evetta e Hanine estavam procurando um curandeiro

que trabalhasse barato. Não temos muitos créditos e temos que ter cuidado com quem

abordamos. — Disse ele, cansado. — Sou muito incomum para sair. Isso teria enviado

uma bandeira vermelha imediatamente.

Evetta olhou para Carmen.

— Minha irmã e eu vimos você. Você se parecia com meu marido e o irmão dele.

Achamos que você saberia como curar o marido da minha irmã. Ele está com muita dor.

Você viaja com o Valdier. Seu ouro é mágico. Você vai usá-lo para curá-lo. — Disse Evetta

com determinação. — O marido da minha irmã não pode morrer.

Carmen olhou entre o rosto cansado e abatido de Ben e o olhar determinado no rosto

de Evetta.

— Deixe-me dar uma olhada nele. Posso não ser capaz de fazer muito, mas o

curandeiro a bordo da Horizon pode ajudá-lo. — Disse ela, levantando-se da cama

estreita. — Eu farei tudo que puder para ajudá-lo. — Disse ela, colocando a mão no braço

de Ben para encorajá-lo. — Você, seu irmão e suas esposas são bem-vindos para partir

conosco quando formos. Temos dois outros humanos que também foram levados.

Espero que meu companheiro os devolva à Terra. — Acrescentou ela.


Evetta removeu cuidadosamente a mão de Carmen do braço de Ben antes de puxá-

lo para mais perto dela. Ben sorriu para sua esposa, envolvendo um braço apertado em

torno de sua cintura. Ele murmurou algo em seu ouvido que pareceu fazê-la se sentir

melhor enquanto relaxava contra ele.

— Agradeço a oferta. Ficaríamos felizes com o transporte para algum lugar seguro,

mas nem meu irmão nem eu podemos voltar para a Terra. Como imagina, Evetta e

Hanine se destacariam e eu não a deixarei. — Disse Ben em voz baixa e determinada.

Os lábios de Carmen se curvaram em um pequeno sorriso.

— Sei exatamente como você se sente. Vamos dar uma olhada em seu irmão. —

Disse ela.

Ben se virou e saiu para a outra sala. Havia outra cama estreita ao longo da parede

e um homem pálido e suado estava deitado sobre ela. Ele abriu os olhos cheios de dor

para olhar para ela. Hanine estava usando um pano úmido para enxugar a testa. Ele tinha

uma bandagem ensanguentada enrolada com força em volta do peito.

— Por favor, ajude meu marido. — Hanine disse lentamente. — Ele está com muita

dor.

— Vou ver se posso ajudar. — Disse Carmen suavemente. — Vou precisar entrar em

contato com meus amigos. Ele vai precisar de mais do que eu posso fazer.

— Não! — Hanine disse, levantando-se para ficar na frente de Aaron. — Você ajuda!

Você é o mesmo que ele! Você sabe como consertá-lo.


— Eu não sou uma curandeira, Hanine. — Disse Carmen suavemente. — Farei tudo

que puder para ajudá-lo, no entanto. Por favor, confie em mim. Eu não machucaria você,

sua irmã ou Aaron e Ben.

Carmen se ajoelhou ao lado de Aaron quando Hanine finalmente deu um passo para

o lado. Ela passou a mão na testa dele. Estava quente. Ele estava com febre alta. Ela

moveu a mão para baixo para puxar a bandagem. Um buraco irregular na lateral do

corpo mostrava que ele tinha um corte profundo no lado direito. Tinha cerca de sete

centímetros de comprimento e ela achava que era quase tão profundo. As bordas

estavam vermelhas, quentes e inchadas e um leve pus escorria da ferida.

— Está infectado. — Disse ela enquanto puxava a bandagem ainda mais para trás.

— Por favor, você tem que ajudá-lo. — Ela disse suavemente para as faixas de ouro

em seus pulsos.

Ela sentiu as faixas estremecerem em negação. Eles não queriam ajudar aqueles que

a haviam levado. Ela viu a imagem de Harvey vindo atrás dela.

— Por favor, ele é como eu. — Ela implorou. — Eles só me levaram porque estavam

desesperados. Eu nunca saberia sobre eles de outra forma. Temos que ajudá-los. Por

favor, por mim.

O ouro enviou um forte calor de infelicidade antes de se dissolver lentamente e fluir

para o homem deitado rigidamente na cama estreita. Ele se moveu rapidamente sobre

ele, limpando a ferida e retirando o veneno antes que se recuperasse com a mesma

rapidez e se enrolasse de volta no pulso de Carmen com uma sacudida.


A ferida não foi curada, mas a infecção foi drenada e a pele não parecia tão irritada.

Ela pegou um pedaço de pano limpo e colocou sobre o ferimento. Virou-se para Hanine,

que a observava com dúvida e preocupação nublando seus olhos escuros.

— É muito pequeno e seu ferimento é muito ruim para curar completamente. Foi

capaz de retirar a infecção e limpar a ferida. Ele precisa de uma cura adicional que minha

simbiose não pode fazer. — Disse Carmen, levantando-se e virando-se para Ben e Evetta.

— Não! — Hanine disse, sacando sua espada laser. — Você faz isso curá-lo! Eu quero

que ele seja curado! — Ela gritou com raiva.

— Ele está gravemente ferido para curá-lo completamente. — Carmen insistiu

enquanto olhava nos olhos selvagens de Hanine. — Hanine, eu sei o que é perder alguém

que você ama. Se você me deixar entrar em contato com meu pessoal, ele pode

sobreviver. Por favor, é o único jeito.

— É um truque. — Eela disse, levantando sua espada laser. — Você pode curá-lo se

quiser, mas pensa em nos enganar e nos entregar. Meu marido não vai morrer!

— Hanine. — Uma voz fraca sussurrou. — Ela está certa. Eu posso dizer que fez o

que podia, amor. Confie nela. — Aaron disse, olhando para sua esposa. — Por mim…

por nós. Confie nela.

Antes que Hanine pudesse responder, a porta de seu apartamento pequeno e sujo

se espatifou e um werebeast dourado muito furioso apareceu na porta. Estendeu-se,

envolvendo tentáculos de ouro em torno do braço de Hanine que segurava a espada


sobre Carmen e puxou-a rudemente em sua direção, enquanto outra seção de ouro fluiu

para formar um escudo na frente de Carmen.

Aaron rugiu fracamente de onde estava deitado. Ben empurrou Evetta para trás

dele, ignorando seu grito de indignação quando sua irmã foi puxada para baixo e sob o

enorme werebeast dourado. Momentos depois, Cree e Calo invadiram a sala com suas

espadas de laser e pistolas em punho. Cree levantou seu braço para atirar em Ben.

— Cree! Não se atreva! — Carmen gritou com toda a força de seus pulmões. —

Harvey, deixe Hanine ir agora mesmo! Estou falando sério. AGORA! — Ela gritou com

raiva.

Cree fez uma pausa, mas não baixou o braço. Harvey estava com a boca aberta,

pronto para perfurar a garganta de Hanine com os dentes em forma de adaga em sua

boca. As pontas de dois de seus dentes haviam tirado apenas uma pequena quantidade

de sangue enquanto Hanine lutava inutilmente sob a criatura gigantesca.

— Acalme-se. — Carmen disse em uma voz afiada. — Harvey, deixe-me sair.

O escudo de ouro ao redor dela se dissolveu lentamente, transformando-se em

vários pequenos dragões voadores que pairavam ao redor dela como mosquitos ao redor

de um pedaço de fruta madura. Carmen balançou a cabeça em irritação, mas não disse

nada sabendo que a simbiose dourada estava apenas tentando protegê-la. Ela deu um

passo na direção de onde Hanine agora jazia silenciosamente no chão.

Carmen enxotou Harvey de volta ao estender a mão para ajudar Hanine a se

levantar.
— Este é Harvey. — Disse ela, enquanto Hanine se movia um pouco atrás dela em

um esforço para se afastar dele. — Esses dois são os gêmeos Bobbsey, Cree e Calo. Não

se preocupe com qual é qual. Eles respondem a qualquer um.

— Eu juro, Carmen. — Calo murmurou em uma voz sombria. — O que diabos está

acontecendo e por que você está protegendo um par de escória de Marastin Dow?

— Cale a boca. — Ben rosnou, dando um passo na direção de Calo. — Essa escória

de que você está falando é minha esposa e a esposa do meu irmão!

Cree assobiou baixinho.

— Você acasalou com uma delas? — Ele perguntou com uma sobrancelha levantada,

olhando para as duas mulheres magras e roxas com surpresa.

— Sim. — Disse Ben com os dentes cerrados. — Eu não dou a mínima para o que

você pensa sobre isso. Se não pode ser educado com ela, mantenha a boca fechada ou eu

fecharei para você.

Calo pareceu divertido.

— Parece que uma boa brisa o derrubaria. — Disse Calo com um sorriso torto. —

Carmen, você quer explicar por que Cree e eu não devemos matá-los?

Carmen colocou as mãos nos quadris e balançou a cabeça em desafio.

— Porque se você fizer isso, terei que chutar seus traseiros e então direi a Creon que

você me aborreceu. Acho que ele pode matar você apenas por isso. — Ela respondeu

sarcasticamente. — Evetta e Hanine me viram e sabiam que eu era humana como Ben e
Aaron. Aaron precisa de atenção médica imediata. Elas pensaram que eu poderia ajudá-

lo, já que somos da mesma espécie. Agora, pare de ser um idiota e me ajude a levá-los

de volta à Horizon.

— Você percebe que os Marastin Dow não são confiáveis. — Cree disse ceticamente

olhando para ambas as mulheres.

Carmen levantou seu dedo médio para Cree.

— Vá para o inferno, Cree. Eu confio neles. Se eu categorizasse todos os Valdier da

mesma forma que você faz com os Marastin Dow, não confiaria em nenhum de vocês.

— Você está comparando um Valdier com um Marastin Dow? — Calo perguntou

incrédulo enquanto embainhava sua espada e sua pistola. — Não há comparação!

— Sim? — Carmen perguntou enquanto cruzava os braços sobre o peito. — Uma

palavra… Raffvin.

Ambos os homens empalideceram com o nome e murmuraram algumas palavras

desagradáveis sob sua respiração.

— Tudo bem, mas você pode explicar isso para seu companheiro e Ha'ven quando

eles encontrarem um par de esc.... fêmeas Marastin Dow a bordo de sua nave de guerra.

— Calo rosnou olhando para Ben, que deu outro passo ameaçador em sua direção

quando ele quase insultou sua esposa e a irmã dela novamente.

— Esta deve ser a viagem mais estranha que já fiz. — Cree murmurou baixinho antes

de ligar para a Horizon e avisá-los para se prepararem para alguns novos passageiros.
— Precisamos levá-lo à Horizon sem chamar muita atenção. — Disse Carmen em

uma voz cheia de preocupação. — Ben e Evetta estão preocupados que possa haver

algum Marastin Dow ainda procurando por eles.

— Hanine cuida disso. — Disse Evetta baixinho antes de acenar para a irmã. — Leve-

nos para a doca deles, Hanine.

Hanine ergueu uma tela de computador em suas mãos e tocou uma série de

comandos.

— Espere. — Disse ela com um sorriso antes de passar o dedo sobre ele novamente.

O último pensamento de Carmen foi tanto para evitar irradiar em qualquer lugar

quando estava grávida, enquanto tudo mudava ao seu redor e desbotava.


Mais tarde naquela noite, Carmen se sentou na cama tentando aprender a língua

Valdier com o tablet que Calo havia conseguido para ela, mas estava tendo problemas

de concentração. Aaron estava muito melhor. Tandor assegurou a Hanine que seu

marido se recuperaria totalmente. Carmen riu quando Hanine se jogou em seus braços e

soluçou. Ele a segurou, olhando sem jeito para o pequeno grupo em busca de ajuda.

Nenhum dos Valdier jamais tinha visto um Marastin Dow agir com tanta alegria e alívio

antes. Ben passou os braços em volta de Evetta e a segurou com força enquanto os dois

choravam de alívio. Demorou um pouco para Carmen convencer o oficial de segurança

a bordo da Horizon de que nenhum de seus novos passageiros era uma ameaça. Ele não

acreditou nela até que viu as duas mulheres chorando incontrolavelmente na unidade

médica.

Sua mente vagou para Cal e seu neto. Zuk garantiu que os dois voltassem em

segurança para a Horizon. Havia algo estranho sobre o menino, mas ela não conseguia

definir o que era. Talvez fosse sua idade. Ele tinha se sentado longe de todos e não comia

muito. Harvey e as outras duas simbioses ficaram de guarda como se soubessem que ele

precisava de proteção ou apoio extra. Carmen se lembrou de Samara, a garota que

trabalhava com os cavalos no rancho do pai de Trisha. Os animais reagiam da mesma

forma com ela. Eles pareciam saber que ela preferia sua companhia aos humanos. Ariel

era assim até certo ponto. Carmen suspeitava que os animais simplesmente sabiam que

Ariel era uma otária que podia ser enganada em qualquer coisa quando se tratava deles.
Ela sorriu quando ouviu Creon entrar em seus aposentos. Deslizou da cama e

caminhou até a porta. Ele estava perdido em pensamentos e não percebeu que ela o

observava. Ela o viu estremecer de dor quando removeu a bainha da espada amarrada

nas costas. Ela se apressou e o ajudou a removê-la sem dizer uma palavra. Ele fez uma

pausa para olhar para sua cabeça inclinada enquanto ela se concentrava em desfazer os

fechos que a seguravam.

— Senti sua falta hoje, mi elila. — Disse ele com voz rouca, escovando o cabelo atrás

da orelha. — Você teve um dia muito emocionante pelo que ouvi. — Ele adicionou

rispidamente enquanto tocava seu cabelo. Estava ficando mais longo e deslizava

facilmente por entre seus dedos.

— Também senti sua falta. — Ela sussurrou baixinho. — Você precisa que Harvey

venha curar você. Tem um corte longo e estreito com cerca de dez centímetros de

comprimento e cerca de dois centímetros de profundidade ao longo de seu ombro

esquerdo. — Ela insistiu enquanto passava um dedo ao longo da borda externa da pele

cortada.

— Havia dois assassinos em vez de um. — Ele suspirou pesadamente. — Devo estar

ficando velho. Eu nunca teria cometido tal erro antes.

— Talvez não seja que você esteja envelhecendo, mas está se distraindo... por minha

causa. — Ela disse com remorso.

Ele colocou um dedo sob seu queixo e forçou sua cabeça para que pudesse olhá-la

nos olhos.
— Nunca pense isso. Foi meu erro e não vai acontecer de novo. O assassino que eles

enviaram normalmente trabalha sozinho. Eu não previ o desejo deles de matar o

assassino tanto quanto a mim. — Ele insistiu severamente. — Isso não tem nada a ver

com você. Há muitas coisas acontecendo agora. Partimos para o cinturão de asteroides

entre as luas de Quillar de Bosca e Dorland. É para lá que acreditamos que Vox foi levado.

Carmen assentiu antes de chamar Harvey. Ela continuou removendo as roupas de

Creon enquanto a simbiose dourada se movia sobre sua pele, curando os cortes e

hematomas. Ela não disse nada, sabendo que ele iria informá-la sobre o que tinha

acontecido e as novas informações que ele descobrira quando estivesse pronto. Scott era

da mesma forma. Era como se eles precisassem ter tudo bem organizado em seus

cérebros antes que pudessem compartilhar com qualquer outra pessoa.

— Ha'ven me disse que Trelon resgatou Cara. — Disse Carmen enquanto o puxava

suavemente atrás dela em direção ao banheiro. — Ou, devo dizer, ele resgatou os pobres

Curizans que a levaram. Acho que ela escapou e reprogramou a nave deles. — Ela disse

levemente.

Creon murmurou uma maldição sombria.

— Não há nada de pobre neles. Espero que meus irmãos tenham matado todos eles.

— Meu Deus, você está se sentindo um pouco sedento de sangue, não está? — Ela

brincou antes de ficar séria. — Kelan matou N’tasha. Ela disse que tinha matado Trisha.

— Ela colocou as mãos em ambas as bochechas quando ele gemeu de horror. — Me deixe

terminar. Ela disse que a matou, mas não o fez. Trisha foi levada por outro grupo. Kelan
foi atrás dela. Muitos dos homens a bordo estavam sob coação. Raffvin prendeu suas

famílias e os forçou a ajudar. Trelon enviou uma tripulação para resgatá-los.

Creon fechou os olhos. Agora, a única que ainda não havia sido encontrada era

Trisha. Ele orou aos deuses e deusas para que ela estivesse segura até que seu irmão

pudesse alcançá-la. Ele havia enviado um breve relato do que havia descoberto a Ha'ven,

mas não teve tempo de se encontrar com ele antes de partirem.

— Trisha vai ficar bem. — Disse Carmen com confiança. — Ela não só foi treinada

por nossos militares em casa, mas seu pai é um dos melhores treinadores de

sobrevivência do mundo. Ele a ensinou a caçar, rastrear e lutar de maneiras que ninguém

mais sabe fazer. Se alguém puder escapar, será ela.

Creon abriu os olhos e puxou-a para perto dele.

— Banhe-se comigo. — Disse ele com voz rouca. — Preciso te abraçar por um tempo.

Carmen recuou um passo e lentamente começou a desabotoar sua camisa. Explodiu

em risadas quando ele gemeu impacientemente e apenas arrancou-a dela. Ela se torceu

em um esforço para salvar as calças, mas ele era muito rápido para ela.

— Se você continuar fazendo isso, eu não terei nenhuma roupa para vestir. — Ela

riu sem fôlego.

— Isso parece bom para mim. — Ele gemeu, envolvendo suas grandes mãos em

volta da cintura dela. — Você ainda precisa ganhar mais peso. Eu não posso esperar até

que você esteja cercada de nossos filhotes.


— O que há com você e me ver gorda? — Ela reclamou. — A maioria dos caras quer

garotas magras e elegantes em casa.

— Eles são idiotas. — Ele respondeu deslizando a boca ao longo do ombro dela. —

É mais divertido ter algo em que se agarrar quando estou enfiando meu pau em você.

Ela estremeceu com a imagem que se formou em sua mente.

— Então, você está dizendo que não gosta de mim como sou agora? — Ela

perguntou olhando por cima do ombro para ele com uma sobrancelha levantada.

Creon fez uma pausa e inclinou a cabeça para trás para olhar para ela com cuidado

antes de responder.

— Essa é uma das perguntas sobre as quais ouvi meus irmãos falando. — Disse ele,

parecendo um pouco nervoso. — Eles me avisaram que havia certas perguntas que uma

mulher humana fazia que nunca deveriam ser respondidas.

— Tipo...? — Ela perguntou, lutando contra a necessidade de cair na gargalhada

enquanto ele lutava para descobrir uma maneira de sair da bagunça que tinha feito ao

comentar sobre seu peso.

— Tipo... isso faz minha bunda parecer grande? — Ele disse irritado. — Por que isso

a incomodaria? Eu adoraria se você tivesse uma bunda grande! Eu não seria capaz de

tirar minhas mãos dela. Já estou tendo bastante dificuldades, mas se fosse maior... — Um

rosnado baixo escapou dele quando seu dragão concordou.


Carmen se retorceu em seus braços e envolveu os dela em seu pescoço, pressionando

os seios em seu peito musculoso.

— Bem, nesse caso, eu acho que você precisa me mostrar o quanto você gosta. — Ela

sussurrou.

Um longo gemido escapou quando ele a pegou e entrou no chuveiro.

— Eu sempre quis tentar isso. — Ele gemeu quando uma névoa quente e pesada de

umidade os envolveu. — Coloque os braços acima da cabeça. — Ele rosnou enquanto a

colocava no chão. — Eu quero tocar cada centímetro de você.

Carmen acenou com a cabeça, sem fôlego com a fome em sua voz. Ela podia sentir

sua vagina pulsando de necessidade. Virou-se de forma que suas costas estivessem

contra a parede da unidade de banho. Uma longa barra de metal corria ao redor do topo,

provavelmente para os machos se agarrarem caso algo acontecesse à nave enquanto eles

estavam ali. Ela teve que ficar na ponta dos pés para alcançá-la. Isso esticou seu corpo.

Ela envolveu os dedos em torno dela com força e se segurou quando ele começou a

ensaboá-la. Um leve gemido escapou dela quando ele começou com seu cabelo,

massageando o sabão em seu couro cabeludo.

— Está crescendo mais. — Ele murmurou, apreciando como seus olhos se fechavam

e seu corpo tremia quando ele a tocava. — Eu gostaria que você o deixasse ficar mais

longo. Quero ser capaz de enrolar minhas mãos nele enquanto te pego por trás.

Os olhos de Carmen se abriram. Seus olhos se voltaram para o castanho escuro com

chamas douradas enquanto ouviam seus companheiros de duas e quatro patas


expressarem seus desejos. Ela se arqueou em direção a ele, impaciente para que suas

mãos a tocassem em outros lugares.

— Mais. — Ela suspirou.

— Minha gatinha impaciente. — Ele sussurrou enquanto suas mãos ásperas se

moviam sobre seus ombros e braços. — Eu gostei quando você miou para Ha'ven, Cree

e Calo. Eu quero que você faça isso para mim.

Seus olhos brilharam quando as mãos dele se moveram sobre seus dedos e

começaram o lento caminho em direção aos seios.

— Eu vou ronronar se você me tocar como eu quero. — Afirmou ela, inclinando-se

para beliscar sua mandíbula.

Ele empurrou para frente, moendo seu pênis contra ela. O comprimento duro e

grosso estava preso entre seus corpos e ela podia o sentir latejando. Suas mãos se

estenderam e seguraram seus seios, seus dedos agarrando seus mamilos entre eles. Ele

os beliscou com força, apreciando seu suspiro alto com sua aspereza. Ele sempre foi terno

e cuidadoso ao fazer amor com ela. Esta noite ele queria tomá-la duro e com força.

— Sim. — Ela respondeu às suas palavras suavemente faladas. — Eu não vou

quebrar. Preciso que você me tome, me reivindique… possua-me. Não se contenha.

— Se você ficar com medo ou não quiser que eu faça algo, você vai me dizer? — Ele

perguntou lutando contra o desejo primitivo de acreditar em sua palavra.


— Só se você fizer o mesmo quando for a minha vez. — Ela disse com um sorriso

atrevido. — Porque deixe-me dizer uma coisa. — Ela acrescentou em um tom rouco. —

Eu pretendo levar você de todas as maneiras que eu puder.

O desafio e a promessa em suas palavras fizeram seu sangue ferver. Seu dragão

estava saltando dentro dele, ofegante. Ele podia sentir a inquietação do macho enquanto

o cheiro de sua companheira no calor enchia o ar, apesar da névoa pesada.

— Oh, bolas de dragão. — Creon gemeu quando seu corpo estremeceu

dolorosamente.

Suas mãos ficaram mais ásperas conforme seu desejo crescia. Ele se agarrou a um de

seus mamilos, sugando e beliscando até que ficasse inchado e rosa antes de atacar o

outro. Seus gritos altos o incitaram enquanto ele se movia por seu corpo para a doce

umidade de seu clitóris. Ele deslizou dois dedos grossos em sua boceta inchada,

apreciando como ela se abria como uma flor para ele. Ele puxou o cabelo loiro macio e

encaracolado que a protegia. Quando ela gemeu, ele puxou novamente com um pouco

mais de força. Ela ergueu as duas pernas e as colocou sobre os ombros dele.

— Coma-me. — Ela exigiu, olhando para ele de joelhos entre suas pernas.

Os olhos de Creon se arregalaram com sua demanda aquecida. Ele gostava de uma

mulher que dizia a ele o que queria. Ele a sentiu cruzar os tornozelos atrás de suas costas.

Espalhou seus lábios inchados enquanto ela se inclinava para frente, expondo seu canal

vaginal inchado para ele.

— Foda-me! — Ela gritou desesperadamente. — Agora!


Ele se inclinou para frente e beliscou sua protuberância ingurgitada com os dentes.

— Você vai ser fodida quando eu disser que pode ser fodida. — Ele respondeu com

uma voz profunda. — Você precisa saber quem está no comando.

A cabeça de Carmen se curvou para que pudesse observá-lo enquanto ele começava

a chupar seu clitóris. Estava tão inchado que doeu no começo, mas ela gostou. Seus

braços tremiam de segurar seu corpo, mas ela não conseguia se soltar. O desconforto

aumentava o prazer enquanto ele a trabalhava com a língua e os dentes. As mordidas

afiadas seguidas pela lavagem de sua língua repetidamente puxavam os gritos dela

implorando para que ele lhe desse alívio das ondas de desejo que cresciam dentro dela.

— Oh! — Ela gritou, sua cabeça caindo para trás quando sentiu a língua dele

deslizando dentro dela junto com os dedos. — Estou gozando! — Ela ofegou assim que

seu corpo estremeceu e um gemido longo e agudo saiu dela.

Creon ordenhou seu orgasmo, sugando até que ela derreteu. Ele colocou as mãos

em volta da cintura dela e a ajudou a mover as pernas ao redor de seus ombros. Mesmo

com as pernas dela no chão, ele teve que sustentá-la enquanto os braços dela caíam

inutilmente ao lado do corpo.

— Eu acho que você me matou. — Ela sussurrou encostada em seu peito. — Não

consigo me mover.

Sua risada ecoou pela unidade de banho.

— Não, minha gatinha. Eu não matei você... ainda. Isto é apenas o começo.
Carmen se encostou na parede, esperando não se envergonhar ao se tornar uma

poça no chão.

— O começo? — Ela perguntou em descrença.

— Oh, sim. — Disse ele, inclinando a cabeça para o lado. — Meu dragão precisa

liberar um pouco do fogo do dragão queimando por dentro. Confie em mim, este é

apenas o começo. — Ele murmurou antes de morder e respirar o fogo queimando em

suas veias dentro dela.

O corpo de Carmen sacudiu e estremeceu quando as chamas correram por ela. Ela

sentiu o aperto imediato de sua vagina e a necessidade latejante antes de começar a bater

fortemente dentro dela. Ela se inclinou para frente quando seus dentes começaram a se

alongar.

— Companheiro quer ficar com tesão? — Seu dragão respondeu com determinação. —

Mostramos a ele o que é tesão! Dois podem respirar este fogo.

— Oh, merda. — Carmen pensou enquanto mordia o ombro de Creon e começava a

soprar seu próprio fogo de dragão nele. — Você e seu companheiro vão nos matar!

— Talvez, mas é uma maneira divertida de morrer. — Seu dragão riu ao sentir as ondas

quentes crescendo no corpo de seu companheiro. — Sim, uma maneira muito divertida de

morrer.

A maldição alta de Creon encheu o chuveiro quando ele se afastou passando a

língua sobre a marca em sua companheira. Ele desligou o chuveiro. Carmen ainda estava

ligada a ele, respirando o fogo do dragão quente o suficiente para queimar as bolas de
uma dúzia de guerreiros Sarafin. Seu corpo já estava sobrecarregado de antes. Agora,

estava queimando-o de dentro para fora.

— Deuses, Carmen. — Ele gemeu em desespero. — Você tem que parar!

Infelizmente para ela, ou para ele, dependendo de como você olhava para as coisas,

ela não podia. Seu dragão estava determinado a expelir até a última gota de fogo do

dragão em seu companheiro. Ela sentiu seu corpo sendo levantado e batido contra a

parede do chuveiro, suas pernas agarradas e separadas, mas ela ainda não conseguia se

afastar. O pau duro e grosso de Creon estava inchado até quase o dobro do tamanho

normal pela sensação enquanto ele o empurrava dentro dela o máximo que podia. Ainda

assim, não foi longe o suficiente. Ele puxou e bateu nela uma e outra vez, indo mais e

mais fundo até que ela o soltou com um suspiro.

— Minha! — Ele rosnou, suas pupilas estreitas fendas de chamas douradas ardentes.

— Minha companheira!

Carmen se agarrou a seus ombros enquanto ele batia nela sem parar. Ela observou

com fascinação como escamas negras ondulavam sobre seu peito nu, seu pescoço e suas

bochechas. Seus próprios braços estavam ondulando com escamas brancas, vermelhas,

rosa e roxas em resposta a seu companheiro.

Os olhos de Creon se fixaram em seus seios enquanto eles saltavam para cima e para

baixo com a força de sua posse. Seus dentes se alongaram um pouco antes de ele se

inclinar e afundá-los em seu seio direito. Um grito irrompeu dela enquanto ele respirava,

marcando-a como sua novamente. Ele nunca diminuiu a velocidade. Seu pênis
empurrou através de seu canal liso até que ela pudesse sentir a ponta de seu pênis contra

seu útero. Cada golpe parecia estar dizendo que ela era dele, ela era dele, ela era dele.

Seu corpo reagiu violentamente, apertando em torno dele tornando quase

impossível para ele se retirar. Enquanto ela se esforçava para se afastar, seu corpo

estremeceu e um gemido alto encheu o ar quando ele gozou forte e profundamente

dentro dela. Ondas quentes de sua semente a lavaram enquanto ele a enchia com cada

pedacinho de sua essência. Só quando seu corpo liberou a última gota ele soltou seu seio,

passando sua língua áspera sobre a carne tenra.

Ambos estavam ofegantes e fracos. Seus braços se apertaram protetoramente ao

redor dela quando a sentiu estremecer quando o ar mais fresco do quarto lavou sua pele

ainda úmida. Ele não se incomodou em sair dela. Ele ainda estava muito inchado. Em

vez disso, forçou seus membros trêmulos a sair do chuveiro. Pegando um par de toalhas,

ele a carregou ainda montada em sua cintura para a cama, enquanto tentava

desajeitadamente passar uma toalha em suas costas.

— Está tudo bem. — Ela murmurou sonolenta, esfregando o nariz contra o pescoço

dele enquanto seus braços pendiam frouxamente sobre seus ombros.

Creon deu uma risadinha. Ela não percebeu que estava fazendo um ruído suave e

retumbante em seu peito. Sua gatinha estava ronronando. Ele se sentou na cama antes

de se esticar com ela em cima dele. Ele iria sair dela daqui a pouco.

— A sensação dela é muito boa para já acabar. — Ele pensou cansado enquanto

puxava as cobertas sobre os dois. — Eu vou sair em alguns minutos. — Esse foi o último

pensamento que ele teve antes que o sono o reclamasse.


O estremecimento da nave de guerra acordou os dois. Os braços de Creon ainda

estavam em volta dela e ela ainda estava esparramada sobre ele. Ela ergueu a cabeça em

confusão antes de sua cabeça clarear. Olhou-o por um momento antes de rolar e pular

para fora da cama.

— O que está acontecendo? — Ela perguntou enquanto começava a vestir as roupas.

— Parece que a Horizon está sob ataque. — Ele mordeu rapidamente enquanto

colocava suas próprias roupas.

— Ha'ven, o que diabos está acontecendo? — Creon rosnou para o comunicador.

— Bem, se você pudesse levar sua bunda até a ponte, saberia. — Ha'ven respondeu

sarcasticamente. — Duas malditas naves piratas Marastin Dows estão atacando um

cargueiro de suprimentos a curta distância. Um dos bastardos achou que eles poderiam

nos enfrentar também. Acho que o dispositivo de camuflagem está funcionando muito

bem. Estou pronto para desliga-lo apenas para poder assistir aqueles pedaços de merda

sedentos de sangue... — Ele estava dizendo.

— Por que você simplesmente não explode o inferno fora deles? — Creon disse,

amarrando sua espada em volta da cintura e agarrando a mão de Carmen para puxá-la

com ele enquanto ele saía de seus aposentos.


— Um deles está ancorado no cargueiro e o outro está muito perto. — Respondeu

Ha'ven com um bufo. — Se você estivesse aqui, poderia ver por si mesmo.

— Estou aqui. — Disse Creon enquanto ele e Carmen pisavam na ponte. — Desarme

o dispositivo de camuflagem. Deixe-os ver com quem diabos estão lidando. Se isso não

os assustar, envie um esquadrão de caças e desative as duas naves. Vamos matá-los um

por um, se necessário.

Carmen observou as duas espaçonaves de aparência estranha travadas em uma

outra. As duas naves menores eram longas e estreitas, com uma popa mais larga que a

proa. O cargueiro tinha quase o dobro do tamanho, mas foi construído com um design

mais quadrado para espaço, não para velocidade. As luzes estavam piscando e apagando

no cargueiro. Foi quase cômico observar as duas naves piratas uma vez que a Horizon

desarmou seu dispositivo de camuflagem, revelando que era uma nave de guerra

Curizan de primeira classe. As naves piratas realmente se chocaram enquanto a que

estava ancorada tentava se afastar do cargueiro.

— Escória de Marastin. — Ha'ven rosnou, antes de olhar para a carranca no rosto de

Carmen. — Excluindo as duas na área médica, é claro. — Acrescentou ele

apressadamente. — Eles podem ser bastardos malvados, mas a maioria é covarde. Eles

só atacam os mais fracos do que eles ou aqueles em menor número. — Disse ele com

desgosto. — Abra as comunicações com o cargueiro e veja se eles precisam de ajuda.

Imagino que tão rápido quanto aqueles covardes esterco de Pactor saíram, eles não

trouxeram toda a sua tripulação de volta a bordo.


— Aqui é a Horizon, você precisa de ajuda? — Ha'ven perguntou assim que um link

de comunicação foi estabelecido.

— Lamento não poder atender agora, mas se quiser deixar seu nome e número após

o bipe, teremos prazer em retornar sua ligação o mais rápido possível. BIP... — Uma voz

feminina rouca disse antes de ser seguida por uma longa série de xingamentos. — Como

diabos eu vou saber quem diabos é Horizon? Você acabou de me mandar sentar aqui e

não me mexer, droga! — Havia uma voz abafada ao fundo antes que a voz da mulher

gritasse de volta. — Bem, se você não quer que eu aperte a porra dos botões, então não

me coloque onde eu possa alcançá-los!

Ha'ven olhou divertido para Creon, que lutava para não rir.

— Repito que aqui é.... — Ha’ven começou a dizer.

— Eu sei quem diabos você é. — A voz disse em frustração. — Eu o ouvi da primeira

vez. Estamos apenas um pouco ocupados no momento e há um grande bichano me

irritando agora. Você pode apenas deixar uma maldita mensagem e eu farei com que ele

ligue para você depois que eu arrancar as garras de sua bunda mal-humorada? — A voz

rouca respondeu antes de começar a gritar. — Vox, eu juro que você precisa ser castrado!

Se manchar minha bolsa com sangue, farei isso com a primeira faca cega que encontrar.

Você tem alguma ideia de quanto eu paguei por essa maldita coisa?

O som de um rugido alto ecoou duramente através do canal de comunicação.

— Bob! Cuidado atrás de você, doçura. Há outro cara roxo feio surgindo pela

escotilha. Fred, seja um amor e dê uma ajuda a Bob. Lodar, querido, acho que Fred pode
ter um pequeno corte na cabeça. Há sangue por todo o lado. Quando você tiver uma

chance, pode dar uma olhada nele? Tor, querido, por que você não pode simplesmente

atirar seus traseiros para o espaço? Achei que você soubesse fazer coisas assim. O que

você disse, Lodar? Não pude ouvir você porque uma certa bola de pelo estava fazendo

muito barulho quando você falou. Ah, sim, querido, direi a Fred que você o verá assim

que terminar de lutar. Fred, querido, Lodar está ocupado, mas ele verá você assim que

terminar de matar os bandidos. Vox, droga, você está totalmente na minha lista de

merda! Você tem sangue na minha saia, seu idiota! Vá matar alguém do outro lado da

sala. Eu posso atirar nos bastardos perto de mim! Não preciso da sua ajuda!

Ha'ven desistiu de tentar não rir.

— Acho que encontramos nossa bola de pelo perdida. — Disse ele quando

conseguiu recuperar o fôlego. — Só não tenho certeza de quem ele precisa ser resgatado,

dos Marastin Dow ou da mulher que está operando o console de comunicação.

— Eu ouvi isso, querido. — A voz rouca respondeu com um sotaque do meio-Oeste.

— Eu colocaria todas as apostas naquele mandão, arrogante, exigente... — Um rugido

alto interrompeu a descrição da mulher. — Bem, se você não gosta do que tenho a dizer

sobre você, pode simplesmente largar minha bunda grande de volta no meu planeta!

— Oh-oh. — Creon murmurou. — Ele não disse a coisa certa quando foi perguntado.

Carmen deu uma cotovelada no estômago de Creon para silenciá-lo.

— Olá, meu nome é Carmen. Eu sou do Wyoming! — Ela gritou dando um palpite

de que ela havia descoberto outra terráquea desaparecida.


— Oh, ei, querida. — A voz da mulher mudou para empolgação. — Meu nome é

Riley St. Claire. Eu sou de Denver. O que está fazendo aqui? Você não sabe como é bom

ouvir outra amiga saindo da Twilight Zone! Espero que você tenha se divertido mais do

que eu. — Houve alguns murmúrios muito baixos para Carmen entender antes de ouvir

a resposta da mulher. — Não, Bob. Eu não quis dizer você, sua linda banheira de gelatina.

Eu estava me referindo àquela pilha irritante de gato... — Desta vez, quando sua voz

sumiu, foi porque uma voz masculina muito irritada estava respondendo.

— Pelas bolas de Guall, Riley, eu vou bater em sua bunda até que fique vermelho

sangrento se você não parar de me atormentar. — A voz profunda rosnou.

— Você não quer dizer minha bunda grande, seu idiota? — Riley respondeu

sarcasticamente.

— Mulher, eu vou... — A voz morreu quando uma maldição alta encheu o ar acima

do som do tiro do laser. — Você atirou em mim! — A voz profunda rugiu de espanto.

— Mas não onde eu estava mirando. — Riley retrucou. — Eu juro, Vox, é melhor

você ficar longe de mim até que meu temperamento esfrie ou eu não vou errar a mira na

próxima vez que eu atirar em você.

— Vox, você precisa de ajuda? — Creon gritou.

— Sim! Eu preciso que você venha e.... — Vox rosnou antes de gemer. — Vamos,

Riley. Eu não quis dizer nada quando disse que você tinha uma bunda grande. Eu gosto

de bundas grandes. Eu... merda. Você vai parar de atirar em mim!


Carmen colocou a mão sobre a boca para tentar abafar as risadas que escapavam

dela. Os homens na ponte, incluindo Creon e Ha'ven, não se incomodaram em tentar

esconder sua diversão. Era óbvio quando ouviram a longa linha de maldições de Vox

seguida por ameaças do que ele faria a todos eles.

— Venha nos tirar desse pedaço de merda Trillian sem valor. — Rosnou Vox. — Há

dez de nós a bordo. Você pode matar qualquer número acima disso.

— Uma nave será enviada imediatamente. — Disse Creon com uma risada. — É bom

ouvir sua voz, meu velho amigo.

— Sim, bem, seu tio não vai gostar de ouvir isso. Esse pedaço da bunda real Valdier

é meu! Ele vai desejar nunca ter mexido com esse príncipe Sarafin. — Vox mordeu

asperamente.

— Yewww, o grande bichano está assobiando novamente. — A voz sarcástica de

Riley soou atrás dele. — Cuidado, a próxima coisa que você sabe é que vai atirar bolas

de cabelo.

— Riley, eu juro, vou torcer seu pescoço quando eu pegar você! — Vox rosnou.

— Tor! — Riley disse em uma voz cantada. — Vox está sendo mal comigo de novo.

— Não dê ouvidos ao que ela diz. Eu não estou sendo mal com ela! O que eu fiz para

merecer uma companheira como esta? — Vox gemeu antes que o link de comunicação

fosse cortado.
Carmen se virou para olhar para Ha'ven, que tinha um olhar perplexo no rosto como

se nunca tivesse ouvido seu amigo falar assim antes. Ele olhou para Carmen com uma

sobrancelha levantada. Tudo o que ela pôde fazer foi encolher os ombros e sorrir

inocentemente.

— Deve ser uma coisa humana. — Ela respondeu, sem se preocupar em esconder o

sorriso em seu rosto.

***

Carmen sentou-se relaxando com Cal e Riley na baía de reparos, bebendo café e

rindo enquanto Riley explicava como ela acabou no espaço e com cinco amigos, quatro

dos quais não foram permitidos em qualquer lugar perto dela por um dito, cabeça-

quente-teimoso-frustrantemente real gato metido. Uma risadinha suave escapou de trás

de algumas das caixas de carga onde Mel, que ainda se recusava a sair sempre que

alguém estava lá, se escondia.

— Então, quem é o espantalho? — Riley perguntou olhando por cima da borda de

sua xícara para Cal.

O rosto de Cal se enrugou em confusão.

— Espantalho?

Riley sacudiu a cabeça em direção às caixas de carga.


— Sim, a pequena senhorita Metida. Ela acha que eu tenho piolhos ou algo assim?

Carmen franziu a testa por um momento antes de compreender. Ela se sentiu tão

estúpida. Claro! Mel não era neto de Cal. Mel era sua...

— Neta. — Respondeu ela, olhando suavemente com compaixão para Cal. — É por

isso que ela fica escondida e não fala.

Cal soltou um suspiro profundo antes de assentir com relutância. Ele olhou para a

porta para se certificar de que Cree ou Calo não estavam na área de reparos. Ele olhou

para as duas mulheres sentadas em frente a ele por mais alguns segundos antes de gritar.

— Melina, venha aqui. — Ele disse rispidamente. — Está tudo bem, querida. Elas

não vão contar a ninguém.

A figura esguia emergiu lentamente de trás das caixas. O enorme chapéu que ela

normalmente usava estava em uma mão esguia. Ela estava vestindo as roupas grandes

que preferia e estava torcendo uma das pontas irregulares nervosamente entre os dedos.

Caminhou em direção a seu avô com passos lentos e cautelosos antes de se ajoelhar no

chão ao lado dele.

Ela tinha os maiores e mais verdes olhos que Carmen já tinha visto. Ela sorriu

timidamente para ela antes de se virar para olhar para Riley com os olhos arregalados.

Carmen observou Cal escovando ternamente a mão sobre o cabelo castanho escuro de

Melina.
— Você pode falar, garota. Elas não vão nos denunciar. — Assegurou-lhe ele,

olhando severamente para Carmen e Riley para que soubessem que não aceitaria que

ninguém mais soubesse sobre sua neta.

— Ei. — Melina disse com um sotaque suave. — É bom finalmente conseguir falar

com você.

Carmen se inclinou para frente, olhando para Melina com preocupação.

— Olá, Melina. Se você não se importa que eu pergunte, quantos anos você tem?

— Eu fiz 21 anos na semana passada. — Disse Melina com um sorriso triste. — Vovô

e eu contamos os dias desde que fomos levados para que pudéssemos controlar quanto

tempo se passou.

Carmen olhou para Cal e fez a pergunta que a estava incomodando.

— Por quê?

Cal olhou tristemente para sua neta.

— Os Antrox usam as mulheres como forma de controlar os homens. Eles não lhes

dão muita escolha. Se soubessem que minha neta era uma mulher, não há como dizer o

que teria acontecido com ela. Era mais fácil fazê-la passar por um menino. O comerciante

que nos vendeu para o Antrox não percebeu a diferença e aquelas criaturas insetos

aceitaram Mel como um menino, não com idade suficiente para o trabalho pesado nas

minas, mas com idade suficiente para manter outras tarefas. — Explicou ele.
— Eu vi algumas das outras mulheres sendo vendidas para comerciantes que

vinham para deixar as coisas nas minas. — Mel disse calmamente. — Tínhamos medo

de que me vendessem, especialmente se soubessem que eu era mulher. Trabalhei com

cavalos em uma fazenda perto de nossa casa e sempre fui boa com animais, então

trabalhei com os Pactors. Eles não são muito diferentes das mulas na maneira como

agem. Vovô pensou que seria bom se eu agisse como se não pudesse falar e não estivesse

bem da cabeça. — Ela continuou tocando sua têmpora com as pontas dos dedos.

— Quando as minas se esgotaram, o Antrox decidiu que eu estava muito velho para

fazer muito. Mel os ouviu e se escondeu nos túneis onde não puderam encontrá-la. Ela

conhecia os túneis de trás para frente por causa dos anos que passou lá. Eles não

conseguiram encontrá-la, então nos deixaram para trás. — Disse Cal. — Quando os

homens a bordo da Horizon apareceram, eu tive que arriscar. Estávamos reduzidos a

menos de uma semana de comida e água. Mel e eu decidimos que seria melhor

continuarmos fingindo que ela era meu neto com deficiência. Isso evitou que os homens

a bordo a olhassem para ela. — Acrescentou.

— Eu não quero que eles olhem para mim. — Disse Mel vigorosamente. — Vi o que

os homens fizeram com algumas daquelas mulheres. — Disse ela, corando quando olhou

para Riley. — Sem ofensa, senhora.

Riley riu e balançou sua pesada juba loira e encaracolada.

— Querida, aqueles insetos não sabiam o que fazer comigo! Eu tinha aqueles

bastardos tremendo em suas cuecas compridas! — Ela disse com uma piscadela. — Não
acho que eles ficaram muito felizes com o comerciante que me deixou em sua porta.

Assim que chegarmos em casa, as coisas vão melhorar.

Carmen olhou assustada para Riley.

— Casa? Eu pensei que você tinha cinco companheiros, com quatro deles que não

contam? — Ela perguntou com um sorriso divertido.

Riley bufou de uma maneira muito pouco feminina.

— Eu só disse que pegaria as cinco hemorroidas para que não acabassem no prato

de alguém no café da manhã, almoço ou jantar. Mas como todas as boas hemorroidas,

elas continuaram a ser uma dor na minha bunda e é hora de passarem e serem

descarregadas no banheiro mais próximo, como diria minha querida vovó Pearl. — Disse

ela com um suspiro exagerado e um mão cerrada sobre o coração como se ela estivesse

fazendo o sacrifício final.

Mel deu uma risadinha e olhou para o avô.

— Isso soa como algo que você diria, vovô.

— Sua frangote depreciativa. — Disse Cal afetuosamente.

A porta da área de reparos se abriu de repente e Cree entrou. Mel imediatamente

bateu o chapéu na cabeça e saltou de pé, indo para as caixas novamente. Carmen

observou o rosto de Cree escurecer enquanto seu olhar seguia Melina. Um olhar de

tensão apertou sua boca em uma linha reta antes que ele desviasse o olhar para Carmen.
— Minha senhora, seu companheiro deseja vê-la. — Cree disse cuidadosamente. Ele

limpou a garganta antes de olhar para Riley. — Seu companheiro também, Lady Riley.

Lorde Vox disse e eu cito, diga a ela para levar sua bela bunda para nossos aposentos

agora.

Riley bufou e balançou a cabeça em rejeição.

— Diga a ele: minha bela bunda está bastante confortável onde está e ele pode

empurrar seu.... — Cree engasgou com uma tosse enquanto Riley continuava a dizer a

ele o que ele poderia repetir para Vox. — Oh, não importa. Diga a ele que estarei lá

quando estiver malditamente pronta.

Cree se curvou rigidamente antes de olhar para as caixas onde Mel estava escondida.

— Sim, Lady Riley. Carmen? — Ele perguntou.

— Eu irei com você. Vejo vocês mais tarde, Riley, Cal. — Carmen disse com um

sorriso. — Tchau, Mel. — Ela gritou enquanto se levantava.

Os olhos de Cree procuraram na escuridão antes de se virar e escoltar Carmen para

fora da área de reparos. Carmen colocou a mão gentilmente em seu braço para detê-lo.

Cree estava surpreso com a compaixão que viu na fêmea humana que havia mudado

tanto desde seu primeiro encontro com ela.

— Nós, terráqueos, nem sempre somos o que aparentamos ser. — Disse ela olhando

para as chamas douradas dos olhos de Cree com preocupação. — Não perdemos a

esperança de voltar para casa facilmente. Cal e Mel querem voltar para a Terra.
Cree ficou rígido antes de encolher os ombros.

— Por que eu ou Calo deveríamos nos importar se o velho e o menino querem

voltar? Seria melhor para todos se o fizessem.

Carmen abriu a boca para repetir o comentário sobre tudo não ser o que parecia,

mas pensou melhor. Pelo olhar fechado no rosto de Cree, era óbvio que ele não queria

mais discutir isso. Ela olhou para a porta da área de reparos com uma carranca. As coisas

poderiam ficar muito complicadas se ele ou Calo descobrissem que Mel era na verdade

Melina.
Vários dias depois, Carmen olhou pela janela de visualização na área do lounge a

bordo da Horizon, perdida em pensamentos. Sua vida mudou muito em tão pouco

tempo. Ela escovou suavemente os dedos ao longo da cabeça lisa de Harvey. A simbiose

dourada podia sentir sua angústia emocional e ficou perto dela o dia todo. Ela deixou

seus dedos acariciarem sua cabeça, precisando do toque para ajudar a acalmá-la.

Ela não estava mais nervosa por estar no espaço, o que era uma coisa boa,

considerando que eles ficariam longe de Valdier por mais alguns meses. Isso não

significava que estava pronta para pular em um dos pequenos ônibus em breve, ela

estava apenas mais confortável na nave de guerra maior. Havia muito o que fazer a

bordo para mantê-la ocupada. Ela e Creon treinavam todos os dias em horários

diferentes devido ao seu horário de trabalho. Às vezes, quando não podiam se encontrar,

ela induzia Cree ou Calo a uma luta. Na maior parte do tempo, quando ele estava

trabalhando, ela estudava a história de Valdier e se esforçava para aprender a língua

deles. Ela também conversou com a irmã algumas vezes. O relacionamento delas estava

melhorando lentamente. Não era bem o que era antes da morte de Scott, mas estava

melhor do que nos últimos três anos.

Creon parou durante uma breve pausa em seu trabalho para dizer a ela que Kelan

havia encontrado Trisha. Ela foi levada para uma lua hostil conhecida por seus

habitantes perigosos. Ele assegurou que Trisha estava ilesa e segura a bordo da V’ager.
Ela não sabia de todos os fatos sobre o que aconteceu, apenas que Trisha e Kelan estavam

a salvo e se dirigiam para a Terra.

Ele e Ha'ven também conversaram com Mandra e Adalard, o irmão mais novo de

Ha'ven. Eles se encontraram com um informante e estavam indo para uma lua isolada

nos arredores do sistema estelar de Curizan. A Horizon estava a caminho para se

encontrar com eles. Levaria alguns dias em velocidade máxima.

Ela tristemente disse adeus a Riley ontem. Uma das naves de guerra Sarafin se

encontrou com a Horizon e Vox, Riley, e o resto da tripulação do cargueiro, menos Bob

e Fred, foram transferidos para ele. A nave de guerra de Vox estava viajando ao lado da

Horizon para a base oculta de Raffvin. O Rei Sarafin não estava disposto a deixar uma

chance de retaliação escapar por entre seus dedos. Riley ia ficar a bordo da Horizon, mas

Vox se recusou a deixá-la. Ela não foi calmamente. Na verdade, Carmen tinha certeza de

que todos dentro de três sistemas estelares poderiam tê-la ouvido. Do lado de Vox, houve

muitos xingamentos, seguidos por uma grande variedade de ameaças que Riley

descartou. Riley, por outro lado, gostava mais de lançar alguns golpes selvagens e

qualquer outra coisa que pudesse colocar as mãos. Carmen decidiu que precisava

desesperadamente de algumas dicas depois de acertar Fred em uma de suas cabeças e

seu punho ficar preso no corpo de gelatina de Bob. Ela suspeitou que essa era uma das

razões pelas quais aqueles dois alienígenas incomuns decidiram que era mais seguro

ficar a bordo da Horizon do que se transferir com os outros. Vox finalmente teve que

amarrar Riley e jogá-la por cima do ombro antes que todos partissem com pressa. Ela

tentou ajudar sua nova amiga, mas Creon a pegou e a imobilizou quando ela foi atrás do

enorme shifter gato.


Carmen ergueu a mão e colocou-a contra o vidro claro e frio, olhando com olhos

cegos para a escuridão do outro lado. Isso refletia a maneira como ela se sentia por

dentro. Fechou os olhos contra a depressão que ameaçava levá-la por seu caminho escuro

e frio novamente. Ela tinha passado por isso tantas vezes nos últimos três anos. Esperava

ser finalmente capaz de resistir, mas a escuridão da dor e da tristeza parecia não ter

acabado com ela ainda.

— O que incomoda você, mi elila? — A voz suave e preocupada de Creon veio atrás

dela.

Carmen enxugou o rosto, sem graça, tentando se certificar de que não estava

chorando.

— Nada. — Disse ela, olhando rapidamente por cima do ombro para ele com um

sorriso forçado antes de se virar para enfrentar o manto escuro do espaço.

Sua carranca escura mostrou que ela não foi muito convincente. Ele caminhou em

sua direção. Uma vez que estava de pé atrás dela, passou os braços ao seu redor,

puxando-a para mais perto de seu calor. Eles ficaram assim por vários minutos antes que

ele roçasse um leve beijo em sua orelha.

— Talvez você tenha exagerado ultimamente? — Ele sugeriu. — Entre seus estudos,

suas visitas a Cal e treinar, você não descansou muito. — Disse ele.

Ela balançou a cabeça.

— Estou bem. — Disse ela, distante.


— Você esquece que também está carregando nossos filhotes. — Ele insistiu. — Isso

vai exigir muito de você também.

Carmen se recostou em seus braços e colocou as mãos sobre as dele.

— Como você saberia disso? — Ela perguntou com um pequeno sorriso triste

enquanto sua cabeça descansava contra o peito dele.

— Eu perguntei a Dola. — Confessou ele timidamente. — Queria saber tudo o que

havia para saber sobre uma mulher que estava grávida. Ela me disse que era diferente

para cada fêmea, e até mesmo para cada filhote, mas que há algumas coisas que

acontecem com frequência a todas as fêmeas durante o período de procriação.

— Como o quê? — Ela perguntou curiosamente.

Ele moveu as mãos para baixo para cobrir o ligeiro arredondamento que estava

aparecendo sob sua camisa solta.

— Como você se cansando mais facilmente. Você pode se tornar emotiva às vezes.

Se o fizer, ela disse que devo sempre concordar com você. — Ele adicionou provocando

antes de continuar. — Você vai passar por um período em que pode ficar enjoada de

repente. — Disse ele apoiando o queixo no topo de seu cabelo sedoso. — Ela também

avisou que pode ser pior para você porque nossa espécie não carrega tanto tempo quanto

a sua.

— Bem, isso explica por que eu estava vomitando minhas tripas antes. — Ela

meditou antes de seus ombros caírem. — Eu quero ir para casa, Creon. — Ela sussurrou.
Os braços de Creon se apertaram.

— Voltaremos a Valdier assim que matarmos Raffvin. Estaremos nos juntando a

Mandra e Adalard em alguns dias. Com a força combinada das naves de guerra Curizan,

Valdier e Sarafin, não há como ele nos derrotar. — Garantiu ele.

Carmen mordeu o lábio e balançou a cabeça.

— Eu quero ir para casa. Não para Valdier, mas para a Terra.

O corpo de Creon enrijeceu e seus braços se apertaram ao redor dela.

— Sua casa agora é em Valdier, Carmen. Você nunca pode voltar para a Terra. —

Ele disse com uma voz suave.

Carmen abaixou a cabeça para que ele não pudesse ver as lágrimas se formando em

seus olhos no reflexo do vidro que cobria a janela de visualização. Ela fez menção de se

afastar dele, mas seus braços se apertaram, recusando-se a deixá-la ir. Ele se abaixou e

inclinou a cabeça para trás o suficiente para olhar em seus olhos brilhantes.

— Por que é tão importante que você volte? Sua vida lá não existe mais. — Ele disse

com uma frustração silenciosa.

Ela fechou os olhos brevemente antes de abri-los para olhar para ele com tristeza.

— Sempre será uma parte da minha vida. — Ela sussurrou antes de se afastar para

caminhar em direção à porta que dava para a área de estar.


Harvey roçou nele enquanto seguia Carmen, deixando fios de ouro que enrolaram

seus braços. Imagens de Carmen e outro homem surgiram em sua mente. As cenas

brilharam rapidamente. Ele a viu rindo com o homem que deve ter sido seu primeiro

companheiro. Ela era muito jovem e o menino estava segurando um sorvete para ela. Ele

era pequeno e tinha um olho roxo e um dente faltando. A cena mudou para anos depois,

quando o menino estava sorrindo para ela com flores na mão desta vez. A próxima

mostrava os dois dançando lentamente com luzes multicoloridas girando ao redor deles.

Ele podia ver a expressão nos olhos do homem mais jovem. O amor brilhava

intensamente enquanto ele balançava desajeitadamente para frente e para trás. A cena

mudou para o homem segurando Carmen. Ela chorava baixinho perto do que parecia

ser sepulturas recentes. Ele a segurava protetoramente perto de seu corpo enquanto

outros conversavam. Foi a última cena que finalmente rompeu sua resistência. A cena do

homem ligeiramente mais velho deitado no chão sangrando. Seus olhos estavam cheios

de tristeza enquanto olhava para Carmen com amor, pesar e aceitação. Seus lábios se

moveram e Creon soube o que ele estava dizendo sem ouvi-los. Ele disse a ela que a

amava e sentia muito. A imagem mudou para um homem parado sobre seu corpo e

puxando o gatilho enquanto os gritos angustiados de Carmen enchiam o ar úmido da

noite.

***
Creon murmurou uma maldição antes de caminhar rapidamente atrás dela. Ele

estava nervoso em contar a ela sobre Kelan levando Trisha de volta para a Terra. Até

tinha debatido sobre contar a ela, mas decidiu que não queria segredos entre eles. Ele

tinha falado com Ariel um pouco na noite passada depois que ele e seu irmão

conversaram. Ela perguntou como sua irmã estava. Ela estava preocupada, pois estava

chegando o aniversário em que seu primeiro companheiro e seu filho ainda não nascido

morreram.

— Observe-a com cuidado. — Ariel o advertiu. — Ela fica muito deprimida à

medida que se aproxima. Ela... — A voz de Ariel morreu quando ela mordeu o lábio e

olhou para baixo.

Creon percebeu que ela estava tentando controlar suas emoções.

— Ela... — Ele incitou.

Ariel olhou para cima e ele podia ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

— Ela quase tirou a própria vida no primeiro ano. Ela teve uma overdose de

analgésicos e sedativos que os médicos lhe deram. Fiquei preocupada quando não

consegui falar com ela. Algo me disse que eu precisava encontrá-la imediatamente.

Quando a encontramos, ela... — Ariel respirou fundo antes de continuar. — …ela estava

deitada no banco de pedra em frente aos túmulos com um sorriso sereno no rosto, como

se soubesse que não demoraria muito para que estivesse com eles. Estava muito frio lá

fora e ela não estava de casaco. Ela engoliu quase um frasco cheio de comprimidos. Paul,

o pai de Trisha, estava comigo quando finalmente a encontramos. Ele a carregou de volta

para o carro e nós a levamos às pressas para o hospital. Ela passou um pouco mais de
um mês na ala psiquiátrica. Quando os médicos a liberaram, ela deixou o país. Ela mal

falou comigo no próximo ano e meio. Mesmo agora, ela está distante. Não confia mais

em mim. — Disse ela, chorando baixinho. — Eu a amo muito, Creon. Ela é toda a família

que me resta e eu não queria perdê-la também.

Ele tinha agradecido por ter ajudado Carmen naquele momento difícil de sua vida.

Assegurou-lhe que cuidaria de sua irmã e não deixaria nada acontecer com ela. Ele

também compartilhou que Carmen estava esperando seus filhos.

— Talvez isso a ajude. — Ele acrescentou. — Estou pensando em encher sua vida de

felicidade.

— Espero que você faça. — Ariel disse com uma fungada. — Ela merece isso. Estou

feliz que ela tenha você como seu companheiro, Creon.

— Não tanto quanto estou feliz por ela ter você como irmã. — Ele respondeu com

sentimento. — Cuide de meu irmão cabeça-dura, irmãzinha. Você realmente abençoou

nossa família com sua gentileza e amor.

Ariel riu.

— Mandra pode não concordar com você na parte da gentileza, mas tenho certeza

que tenho a parte do amor coberta. Tome cuidado, Creon, até nos encontrarmos

novamente.

***
Creon decidiu, enquanto seguia Carmen para fora do salão, que fazia muito tempo

que seus dragões não saíam para brincar. Talvez um pouco de distração ajudasse. Ele

faria qualquer coisa para ajudá-la a passar por esse momento difícil. Sabia que quanto

mais tempo estivessem juntos, sua dor e tristeza acabariam por diminuir para um nível

mais suportável. Ele não esperava que isso fosse embora completamente, assim como

sua própria dor, mas sabia que poderia se curar enquanto ela estivesse ao seu lado.

Ele correu atrás dela, varrendo-a do chão. Ignorou seu grito assustado enquanto

continuava pelo corredor em um ritmo acelerado. Ele conhecia um grande

compartimento de armazenamento que era relativamente aberto. Haveria muito espaço

para seus dragões se moverem sem medo de danificar nada.

— O que você está fazendo? — Ela perguntou sem fôlego olhando para ele com

aqueles lindos olhos castanhos dela.

— Eu quero me divertir. — Disse ele com um sorriso malicioso.

— Creon, eu realmente não estou com vontade de brincar agora. — Ela murmurou,

colocando a cabeça em seu ombro. — Prefiro ficar sozinha um pouco, se você não se

importa.

Ele deu uma risadinha.

— Você não sabe que, como companheira de um príncipe Valdier, você nunca estará

sozinha novamente? Se Harvey não estiver com você, ou uma parte dele não estiver com

você, sempre terá seu dragão. E logo, você terá dois pequeninos muito teimosos que vão
exigir sua atenção. Quero me divertir antes que eles apareçam para tirar sua atenção de

mim! — Ele exclamou com um beicinho exagerado do lábio inferior.

— Você está sendo um pouco infantil, não é? — Ela perguntou com um suspiro. —

Esse beicinho vem direto de um manual de instruções para crianças de dois anos de

idade para fazer o que quer.

Creon ergueu uma das sobrancelhas para ela em indignação.

— Eu sou um Príncipe Dragão Valdier! Nunca sou infantil. Eu sou lindo, sexy,

amoroso, adorável, encantador, bonito, sexy...

— Cheio de merda? — Carmen riu quando ele declarou apaixonadamente todos os

seus atributos.

Ele balançou as sobrancelhas para cima e para baixo enquanto caminhava pelas

portas do compartimento de armazenamento.

— Totalmente! E eu mencionei sexy? — Ele perguntou com um sorriso enquanto

gentilmente a colocava no chão.

— Eu acredito que você fez... algumas vezes. — Ela respondeu olhando para ele com

um suspiro sombrio.

Ele sorriu para ela e agarrou suas mãos com força, levando-as aos lábios.

— Brinque comigo... por favor. — Ele pediu baixinho.


Carmen olhou em seus olhos sérios. De repente, ela soube que ele estava ciente do

que a estava incomodando. As lágrimas encheram seus olhos e transbordaram. Seu

soluço silencioso cresceu até que seu corpo estremeceu com a força deles. Ele a puxou

para seus braços e a segurou com força.

— Deixe sair. — Ele murmurou suavemente. — Você segurou isso por muito tempo.

Deixe que as lágrimas lavem a dor e aliviem a sua tristeza. Ele era um companheiro muito

afortunado por ter alguém como você em sua vida. Estou feliz por estar recebendo esse

presente agora. — Ele disse baixinho acariciando suas costas para cima e para baixo. —

Em breve, nossos filhotes encherão seus braços. Eles nunca irão substituir o que você

perdeu, mas espero que você deixe eu e eles enchermos seu coração para que isso possa

ajudá-la a curar como você ajudou a me curar.

Carmen ouviu suas palavras suavemente faladas enquanto ela soluçava pelas vidas

perdidas em uma idade muito jovem. Ela sabia que a vida não era justa, mas, droga,

tinha que doer tanto? Fechou os olhos e respirou o perfume masculino inebriante de

Creon. Isso a puxou, acalmando-a até que ela se deitou em seus braços.

Ele envolveu um braço com força em volta da cintura dela e o outro em volta da

cabeça, balançando-a para frente e para trás lentamente.

— Feche os olhos por um momento. — Disse ele. — Eu quero te mostrar algo.

Carmen respirou fundo, estremecendo, mas fez o que ele pediu.

— E agora?
— Olhe bem dentro de você para onde está o seu dragão. — Ele disse em voz baixa.

— Deixe-a mostrar o que ela está protegendo para nós.

Ela respirou fundo novamente e se concentrou. Foi difícil no início, pois sua mente

parecia estar espancada e machucada. Ela se forçou a relaxar enquanto Creon continuava

a sussurrar baixinho para ela, pedindo-lhe que olhasse profundamente. Ela

gradualmente percebeu a forma de seu dragão enrolada profundamente dentro dela. O

dragão pequeno e delicadamente construído ergueu a cabeça esguia e olhou para

Carmen com olhos castanhos dourados flamejantes. Suas escamas brilhavam e pareciam

brilhar enquanto ela ficava mais clara na mente de Carmen. Sua asa estava ligeiramente

afastada de seu corpo, como se ela estivesse tendo problemas para fechá-la

completamente. A respiração de Carmen saiu quando seu dragão levantou sua asa para

revelar por que ela não conseguia puxá-la para mais perto de seu corpo. As duas

pequenas faíscas estavam mais definidas agora. Quando ela estendeu a mão para tocá-

los, o calor a inundou. As faíscas ficaram mais brilhantes e se moveram de excitação.

— Agora, você pode observá-los enquanto eu pego meu companheiro por um tempo. — Seu

dragão bufou. — Eles têm tanta energia como você! Sempre se movendo e brincando! Eu não

consigo dormir.

Antes que Carmen pudesse reagir à declaração de seu dragão, ela sentiu um

formigamento em seu corpo quando a mudança veio sobre ela. Percebeu vagamente que

Creon se afastou dela enquanto ela se transformava. Seu corpo se torceu e girou,

formigando antes que o calor a inundasse e seu dragão tomasse o controle.


Creon observou amorosamente enquanto o corpo de Carmen se transformava em

seu dragão. Lindas escamas brancas, vermelhas, rosa e roxas ondulavam e fluíam sobre

sua pele em uma exibição brilhante. Suas longas asas estouraram para fora, expandindo-

se até que suas membranas brancas transparentes se estendessem acima e atrás dela.

Garras delicadas formadas com unhas rosadas de formas elegantes aparecendo debaixo

dela. Sua cabeça se alongou até que as belas curvas de sua mandíbula, focinho e testa se

formaram. Suas pequenas orelhas se mexeram para frente e para trás enquanto ela

olhava ao redor do compartimento de armazenamento.

— Você é tão bonita, mi elila. — Disse Creon caminhando em direção a sua

companheira.

Ele estendeu a mão para correr os dedos sobre sua orelha delicada antes de deslizar

ao longo de sua mandíbula. Esfregou os dedos ao longo de seu lábio inferior, usando a

pressão para virar a cabeça em sua direção. Ele sorriu quando ela abaixou a cabeça e a

esfregou afetuosamente em seu peito. Ele continuou acariciando-a e murmurando

palavras doces de amor e necessidade para ela.

— Você ajudou a me curar, Carmen. — Ele disse baixinho enquanto seus dedos

acariciavam suas escamas suaves. — Você me curou quando pensei que estava além da

redenção.

Carmen olhou para ele confusa. Ela gentilmente o cutucou com a cabeça, querendo

que ele continuasse. Creon olhou nos olhos castanhos dourados de sua companheira e

suspirou. Seu rosto se suavizou com amor enquanto a olhava nos olhos.
— A Grande Guerra me mudou, me deixando mais duro e.... mais sombrio. Eu

mudei muito do jovem dragão despreocupado antes de começar. Mais tarde soube-se

que a guerra foi iniciada por um pequeno grupo de membros da realeza Sarafin, Curizan

e Valdier que queriam assumir o controle. Eles começaram pequenos, aumentando a

distensão e a inquietação dentro de seus próprios clãs. Eles pediram mudanças radicais.

Queriam impedir que certos clãs tivessem voz no governo de seus mundos. Começaram

a fazer e mudar as leis para se adequar a eles. A classe não guerreira foi pressionada a

produzir mais e receber menos. Restrições foram colocadas sobre aqueles que pensavam

de forma diferente deles. À medida que a inquietação em casa crescia, cresciam também

as tensões entre nossos sistemas estelares com Sarafin e Curizan. — Ele fez uma pausa

enquanto ela pressionava a cabeça em seu ombro e suspirava pesadamente. — Acho que

você entende do que estou falando. — Ele respondeu rispidamente antes de continuar.

— Os Valdier sempre foram mais reclusos por causa de nossa relação simbiótica. Não

tínhamos certeza de como ela reagiria a outras espécies ou o que aconteceria se um fosse

capturado e levado. Esses temores foram concretizados quando um clã acusou um grupo

de guerreiros Sarafin de atacar sua aldeia e capturar os guerreiros e suas simbioses. Só

depois de quatro anos de guerra é que descobri que não foi assim. Ha'ven e eu estávamos

em uma batalha feroz em uma das luas que usamos para minerar os cristais. Cada um

de nós se separou do resto de nossos guerreiros durante a batalha. O túnel em que

estávamos desabou, prendendo-nos. Ha'ven ficou preso sob alguns dos destroços.

Quando me transformei para matá-lo, ele disse para eu ir em frente, mas os Curizans

nunca cederiam aos covardes que matavam mulheres e crianças inocentes. — Ele parou

enquanto olhava para o vazio do compartimento de armazenamento.


Carmen levantou a cabeça e rolou para o lado. Ela puxou uma de suas asas para

agarrá-lo e puxá-lo para mais perto de sua barriga. Ela bufou para deixá-lo saber que

queria que ele acariciasse sua barriga enquanto continuava sua história. O ato de tão

inocente carinho arrancou um sorriso dele.

— Você gosta de mim acariciando você, não é? — Ele perguntou com uma risada

enquanto se movia para se sentar no chão ao lado dela e começou a correr a mão para

cima e para baixo em sua barriga macia. Ele suspirou e continuou sua história. — Eu não

sabia do que ele estava falando. Eu o desenterrei com a exigência de que queria saber o

que ele queria dizer. Uma coisa levou à outra e, pela primeira vez, dois membros das

famílias reais de cada sistema estelar sentaram-se e conversaram. Levamos quatro anos

sangrentos com inúmeras perdas de vidas para que enfrentássemos um ao outro e só

então porque estávamos tentando nos matar. — Ele balançou a cabeça em pesar. —

Tantos guerreiros excelentes perderam suas vidas pela ganância de alguns.

Desnecessário dizer que em vez de matar Ha'ven, ele se tornou meu melhor amigo.

Trabalhamos juntos depois disso e começamos a juntar os fatos até que ficou claro quem

estava por trás de tudo. A única coisa que não tínhamos certeza era qual papel Sarafin

desempenhou na guerra. Precisávamos nos encontrar com um membro da família real

de Sarafin. Isso não é uma tarefa fácil quando você é amigo deles, muito menos inimigos.

Acontece que encontramos Vox ao mesmo tempo que um assassino. Acabei salvando sua

bunda peluda. Ele foi atingido por um dardo envenenado. O assassino queria que

parecesse que os Curizans o haviam matado. Ha'ven capturou o assassino. Uma vez que

ficou evidente que a guerra era apenas um disfarce para o que realmente estava

acontecendo em cada um de nossos planetas, fizemos planos para derrubar os traidores.

— Ele parou de acaricia-la e ficou imóvel até que ela o cutucou com a cabeça novamente.
— Achamos que tínhamos tido sucesso até... até que a mulher que eu pensei que amava

traiu tudo em que eu acreditava.

Ele olhou angustiado para Carmen.

— Aria era linda por fora, mas fria como gelo por dentro. Ela era membro de uma

família real em Curizan. Eu a conheci não muito depois de Ha'ven e eu nos tornarmos

amigos. Tornamo-nos amantes e fiz planos para ligar minha vida à dela, embora

soubesse que ela não era minha verdadeira companheira. Meu dragão a tolerava, mas

minha simbiose não a suportava. Ela ia embora sempre que estávamos juntos. Por mais

de um ano, ela me fez acreditar que me amava tanto quanto eu a amava. Foi só quando

Ha'ven foi sequestrado e torturado... — Ele soltou um longo suspiro. — Ela planejou

tudo usando as informações que recebeu de mim depois que fizemos amor. Vox

suspeitou dela imediatamente, mas me recusei a acreditar que alguém tão bonita e

apaixonada pudesse me trair assim. Foi só quando ele pegou um de seus guerreiros

voltando de sua cama e torturou a verdade dele que eu finalmente comecei a acreditar

nele. Ela veio para minha cama naquela noite vestida com nada além de luar. — Ele

explicou em voz baixa. — Ela era linda, mas pela primeira vez eu a vi como realmente

era, uma vadia de sangue frio. Eu a forcei a me dizer para onde Ha'ven foi levado antes

de matá-la. — Disse ele em uma voz sem emoção.

Carmen levantou a cabeça e olhou para ele com firmeza. Ela soltou um grunhido

profundo e uma bufada antes de empurrar seu ombro com um pouco mais de força do

que antes. Ele olhou nos olhos dela esperando para ver o horror pelo que ele tinha feito.

Em vez disso, ela soltou uma pequena lufada de ar quente e levantou uma sobrancelha

curva antes de balançar a cabeça.


Ele sorriu.

— Eu deveria saber que você não ficaria chateada, minha companheira sanguinária.

— Ele riu secamente. — Nós o resgatamos, é claro. Mas não antes dele ter sido espancado

e torturado gravemente. Ele levou vários meses para se recuperar. Ele me perdoou muito

antes de eu me perdoar. — Disse ele com um suspiro.

Carmen percebeu que demorou muito para o orgulhoso Príncipe Dragão Valdier

admitir esse momento sombrio de sua vida para ela. Ela o amava ainda mais por ter a

coragem de ouvir quando ele poderia facilmente ter ignorado suas dúvidas. Ela o amava

por lutar não só para salvar a vida de seu povo, mas por fazer amizade com aqueles que

já foram seus inimigos. E, ela o amava por compartilhar com ela sua vida, para o bem ou

para o mal, e amá-la por quem ela era... o pesar, a dor e o sonho de uma nova vida.

Ela rolou, envolvendo suas asas em torno dele e levantando-o até que ele deitasse

em sua barriga arredondada. Ela o embalou contra seu corpo enquanto esfregava sua

cabeça contra a dele. Ele riu enquanto ela balançava para frente e para trás.

— Que tal eu deixar seu companheiro passar algum tempo com você? — Ele

sussurrou em seu ouvido pontudo. — Ele também não se importaria de rolar por aí com

você.

Ela lentamente abriu suas asas para que ele pudesse deslizar para fora dela. Em

segundos, seu grande corpo negro estava se elevando sobre ela. Seus olhos dourados

escuros flamejando enquanto observavam sua barriga exposta. Um estrondo baixo

encheu a área de armazenamento enquanto ele se movia sobre ela. Ele envolveu sua

longa cauda ao redor dela, puxando sua região inferior para cima nitidamente enquanto
a montava lentamente. Seu gemido alto sacudiu as paredes enquanto ele deslizava

profundamente dentro dela.

— Agora, ele definitivamente estava se divertindo. — Ele pensou enquanto

começava a balançar mais rápido.


Dois dias depois, Creon estava furioso. Eles haviam chegado à borda externa do

cinturão de asteroides que protegia a base lunar que Raffvin havia construído. Relatórios

estavam chegando sobre o que havia acontecido no início do dia. Seu irmão e as forças

de Adalard lideraram um ataque à base. Raffvin estava presente, mas pelos relatórios,

ele havia feito planos de partir para outra base desconhecida. Isso forçou seu irmão a

tomar a decisão de prosseguir na esperança de que a Horizon com suas forças adicionais

e a nave de Vox, a Shifter, pudesse apoiá-los caso precisassem. Ele entendeu a

necessidade, mas também ficou preocupado quando recebeu a notícia de que Mandra

havia se ferido gravemente.

— Maldito cabeça-dura teimoso! Ele deveria ter esperado por nós! Estávamos a um

dia de viagem. — Creon rosnou ao entrar na sala de conferências da ponte onde Ha'ven

estava conversando com Adalard. — Ele poderia ter sido morto e teríamos perdido tanto

ele quanto a irmã da minha companheira!

— Acalme-se, Creon. — Disse Adalard calmamente sobre o holovid. — Não

tínhamos muita escolha. Bahadur interceptou uma transmissão que estava movendo-se

para outra base. Nós o mantivemos encurralado e sem energia. Todos nós concordamos

em tirá-lo.

— Vamos discutir sua decisão mais tarde, irmãozinho. — Disse Ha'ven severamente.
— Eu não sou mais aquele pequeno, Ha’ven. — Adalard rosnou de volta. — Você

não pode mandar em mim como costumava fazer, irmão mais velho.

Os olhos de Ha'ven brilharam, mas ele segurou a língua. Ele sabia que estava fora

da linha montando a bunda de seu irmão mais novo, mas o preocupava o quão perto

esteve de perdê-lo recentemente. Entre os assassinos que Raffvin enviou para matar seus

irmãos mais novos e esta batalha, ele estava perdendo o juízo. Ficou surpreso que sua

mãe não tivesse amarrado Adalard e o colocado nas masmorras sob o palácio para

mantê-lo seguro.

— Como ele está? — Creon perguntou mais baixinho.

— Ele vai ficar bem. O curandeiro o sedou agora. Ele tinha um buraco no peito, mas

será preciso mais do que isso para matá-lo. Sua companheira é inacreditável! — Adalard

disse com um sorriso. — Bahadur tem tentado convencê-la a se afastar dele, mas ela não

cede. Seu tio mudou sua simbiose para pura energia negativa. — Ele continuou mais

sobriamente. — Essa foi a arma que ele aperfeiçoou. De alguma forma, sua essência

bastava para contaminá-la. Ariel recebeu uma pedra de uma espécie incomum na lua,

onde nos encontramos com Bahadur. Essa é uma história para outro dia. A pedra absorve

energia negativa. Ela foi capaz de usar isso e sua maneira incomum com as simbioses

para segurar sua simbiose tempo suficiente para puxar o suficiente da energia negativa

para que parte da simbiose de Mandra fosse capaz de derrotá-la. O que sobrou de sua

simbiose é muito fraca. Ariel tem passado muito tempo com ela, pois está muito

angustiada.
— E Raffvin? — Ha'ven perguntou olhando atentamente para seu irmão mais novo,

notando a nova cicatriz em seu rosto. — Você foi capaz de matá-lo?

Zebulon falou assim que apareceu.

— Não, ele escapou. Pegou um caça Curizan. Estamos rastreando-o no momento,

mas o sinal está muito fraco. Ele estava ferido. Sem sua simbiose para curá-lo e ajudar a

proteger seu dragão, ele ficará muito enfraquecido. Acreditamos que está indo atrás de

Vox.

— Bem, diga a ele para virar o traseiro! — Vox disse enquanto participava da

conferência holovid. — Se ele não fosse tão covarde, eu o teria poupado de uma viagem

para a lua.

— O que diabos está acontecendo, Vox? — Adalard disse enquanto se afastava da

tela. — Você está torturando um de seus homens de novo?

Vox suspirou e esfregou a cabeça dolorida.

— Não, minha companheira está brava comigo novamente. Ela está cantando algo

sobre garrafas de bebidas em um muro. Ela está nisso há dois dias inteiros agora! — Ele

rosnou lançando um olhar por cima do ombro. — Riley, como eu poderia saber que você

gostava tanto daquele pedaço de pano? Achei que estava vivo quando vi o pelo dele!

Como eu poderia saber que era falso?

— Você poderia ter perguntado antes de destruí-lo, seu idiota peludo! Minha santa

irmã me deu aquela jaqueta de aniversário! Até que você me leve de volta à Terra, vou
tornar sua vida um inferno! — Ela gritou de volta antes de começar a cantar

desafinadamente novamente.

As risadas de Zebulon e Adalard ecoaram no holovid.

— Achei que Ariel fosse ruim! Como Vox teve tanta sorte de encontrar uma mulher

assim?

— Obviamente, você não está sentado onde estou! — Vox rosnou em voz baixa.

Ele estremeceu quando algo voou pelo ar e o atingiu na nuca.

— É isso, estou dizendo a Lodar e Tor que você está sendo mal de novo!

— Oh, Deus! Agora eles vão ficar com raiva de mim também. — Vox gemeu. — Eu

preciso acalmar minha companheira antes que ela comece outro motim a bordo. Achei

que minha equipe fosse me colocar em uma cela de detenção por matar sua jaqueta.

Achei que a coisa estava atacando-a! Como eu poderia saber que a pele era para

decoração? Mantenha-me informado sobre o que está acontecendo. — Ele murmurou

defensivamente antes de se desconectar rapidamente.

Creon balançou a cabeça em descrença antes de voltar para a tarefa em mãos.

— Precisamos nos reagrupar. A menos que seu rastreamento seja bem-sucedido,

meu palpite é que Raffvin encontrará um lugar para se esconder até que ele possa se

recuperar. Acho que seria melhor se planejássemos nesse tempo. — Creon disse cansado.

— Mandra precisa se recuperar. Sugiro que ele volte para Valdier, onde ele e sua

simbiose podem se curar mais rápido. Também tenho um favor a pedir à talentosa
companheira do meu irmão. Tenho um jovem Pactor manco e que precisa de cuidados.

Um homem idoso e seu neto foram encontrados nas minas Antrox quando estávamos

procurando por Vox. Eu apreciaria se o animal fosse transferido para o D’stroyer, onde

pode ser levado de volta para casa e cuidado. O menino passou a gostar muito dele e

ficaria de coração partido se fosse eliminado. — Disse Creon antes de olhar para Ha’ven.

— Eu planejo levar minha companheira para a Terra antes de retornarmos para Valdier.

Há um problema lá que eu preciso cuidar pessoalmente e ela tem família e precisa se

despedir pela última vez.

— E o velho e o menino? — Ha'ven perguntou. — Você planeja deixá-los retornar

ao seu mundo? Pelo que ouvi, pode não ser uma boa ideia.

Creon acenou com a cabeça.

— O velho jurou que não diria uma palavra e o menino é mudo. Ninguém iria

acreditar neles de qualquer maneira. É importante que eu viaje para lá. — Disse ele com

uma determinação tranquila.

— Eu vou continuar rastreando Raffvin. Posso sair assim que tivermos uma

definição de para onde ele está indo. — Disse Bahadur.

Ha'ven acenou com a cabeça.

— Adalard, quero que venha a bordo da Horizon. Seria melhor se você viajasse com

Creon. — Disse ele.

— Não. — Adalard mordeu. — Eu sei o que você está tentando fazer, Ha'ven. Estou

me encontrando com Jazar. Ele acha que descobriu onde duas bases adicionais estão
escondidas. Precisamos atacar antes que as forças de Raffvin descubram que temos suas

localizações.

— Quando você descobriu isso? — Ha'ven exigiu. — Por que não fui informado

imediatamente?

— Jazar tem estado muito ocupado. Digamos que ele se aproveitou do seu desejo de

enviá-lo ao mais distante espaço porto do sistema estelar. — Disse Adalard com um

sorriso torto.

Ha'ven amaldiçoou sob sua respiração. Ele havia enviado seus dois irmãos em

missões diferentes na esperança de mantê-los seguros. Em vez disso, eles estavam

mergulhados até o pescoço no meio do problema que Raffvin e Ben'qumain haviam

iniciado.

— Eu preciso voltar para minha casa. — Disse Ha'ven com um pedido de desculpas.

— Meus irmãos e eu continuaremos procurando por Raffvin. Vou coordenar tudo com

seus irmãos e Vox e os irmãos dele. — Disse ele se desculpando.

— É muito apreciado. — Murmurou Creon. — Se isso não fosse tão importante, eu

esperaria, mas minha companheira precisa disso para finalmente se curar e aceitar sua

vida comigo.

Ha'ven estendeu a mão e apertou o ombro de Creon.

— Você merece essa felicidade, meu amigo. Nunca duvide disso.

Creon sorriu para o homem que se tornara como um irmão para ele.
— Obrigado.

— Se esta é a parte em que vocês dois começam a se abraçar e se beijar, estou fora

daqui. — Disse Bahadur sarcasticamente.

Creon apontou o dedo médio para o holovid.

— Aprendi este gesto com minha companheira. Significa foda-se, Bahadur. — Creon

riu.

— Apenas em seus sonhos, Príncipe Dragão, apenas em seus sonhos. — Bahadur riu

de volta antes de se despedir deles para ir verificar vários dos guerreiros que foram

feridos durante a batalha.

— Vou me juntar ao meu irmão e ao seu no D’stroyer antes de voltar para casa. —

Disse Ha’ven, levantando-se. — Boa viagem, Creon. Cuide bem da sua gatinha guerreira.

Creon sorriu quando Ha'ven saiu pela porta.

— Oh, eu planejo, meu amigo, eu planejo.

***

Creon silenciosamente entrou nos aposentos dele e de Carmen tarde da noite.

Ha'ven, Adalard, Bahadur, Zebulon e ele haviam discutido os planos para destruir o

resto das bases Curizan que o meio-irmão de Ha'ven e Adalard havia criado antes de
Zoran matá-lo. Eles queriam eliminar todas as defesas de Raffvin em um esforço para

encurralá-lo.

Ele suspirou cansado. Os curandeiros trabalharam em Mandra durante a maior

parte da tarde, até tarde da noite. Eles garantiram que ele iria se curar. Levaria um pouco

mais de tempo devido à sua simbiose não ser capaz de ajudá-lo. A criatura dourada se

dividiu ao meio para que uma parte dela pudesse permanecer com sua companheira.

Creon soube que Ariel havia escapado da cela de detenção em que seu irmão a confinou

com a ajuda da simbiose. Ele estava grato por ela ter escapado, caso contrário, ele

provavelmente estaria de luto pela perda de ambos. A simbiose de Raffvin era um

inimigo formidável. Ele tinha o poder do sangue real por trás disso. Com a simbiose de

Mandra sendo dividia ao meio, era mais forte do que a maioria, mas não teria sido uma

defesa contra a mais poderosa de seu tio. Ele teria que se lembrar de questionar Ariel

mais sobre a pedra que ela recebeu. Pode ser necessário ver se eles poderiam encontrar

mais ou pelo menos descobrir quais propriedades ela possuía que lhe permitia absorver

a energia negativa. Ele tinha certeza de que seu irmão Trelon e sua companheira, Cara,

ficariam fascinados por isso.

Um sorriso curvou seus lábios ao pensar nas mulheres extraordinárias que seu

irmão Zoran havia descoberto. Cada uma era forte e poderosa à sua maneira. A força

gentil, proteção e carinho de Abby a tornavam a rainha perfeita para seu povo. A energia

de Cara combinava com sua natureza curiosa. As coisas que ela havia inventado já

estavam ajudando a melhorar suas naves de guerra. A habilidade de Trisha com o que

ela chamava de táticas de guerrilha era inacreditável. Ele havia conversado com Palto e

Jaguin sobre ela. Todos os quatro de seus melhores rastreadores ficaram surpresos com
as habilidades dela. Ele também conversou com Kelan sobre o que aconteceu na lua

orbitando Quitax. Sua habilidade de sobreviver em uma lua tão hostil enquanto era

caçada era digna de qualquer guerreiro. O fato de que ela estava grávida quando isso

aconteceu era nada menos que incrível. Agora, ouvir o que a irmã de sua companheira,

Ariel, fez no meio da batalha o deixou pasmo. Essas mulheres podiam ser menores, mais

delicadas, mais frágeis do que muitas das mulheres que habitavam os dez sistemas

estelares conhecidos para os quais ele havia viajado, mas elas possuíam uma força

silenciosa e dignidade que as tornava mais ferozes do que qualquer guerreiro. Elas

tinham uma paixão pela vida e uma abundância de compaixão e lealdade que faria

qualquer parceiro ter orgulho de chamá-las de suas.

Seus pensamentos se voltaram para o tempo dele com Carmen na baía de

armazenamento. Ela lutou para proteger os mais fracos e isso lhe custou muito. Ele havia

decidido naquele momento que eles viajariam para a Terra. Quando ela desabou e

chorou, como se cada lágrima fosse arrancada da própria essência de seu ser, isso rasgou

seu coração. A dor e a tristeza presas por tanto tempo em seu corpo esguio o sacudiram

profundamente. Ele tinha visto muitas, muitas coisas, mas o que ela testemunhou

quebrou até mesmo sua crença firme sobre a que um guerreiro poderia sobreviver.

Assistir impotente enquanto a vida de sua companheira era tirada na sua frente o teria

deixado louco de tristeza e dor. As imagens enviadas por sua simbiose de suas memórias

queimaram em sua alma com uma necessidade furiosa de vingança sobre o homem que

tinha tirado tanto dela.

Ele caminhou em silêncio até o balcão onde havia uma variedade de refrescos e

serviu uma bebida. Deixou seu olhar vagar pelo interior espaçoso de seus aposentos
antes de caminhar até a janela de exibição. Não era nem de perto tão grande quanto seus

aposentos em Valdier, mas era maior do que os outros aposentos a bordo da Horizon.

Ele sabia que havia uma excelente possibilidade de Carmen dar à luz antes de seu retorno

a Valdier. Pelo que ele aprendeu com sua mãe, as fêmeas humanas carregavam seus

filhotes por nove meses, enquanto uma fêmea Valdier carregava por cinco. Ele sabia que

a companheira de Zoran, Abby, iria parir a qualquer momento e a companheira de

Trelon não demoraria muito depois disso.

Ficou olhando para a riqueza do espaço. Ele havia passado grande parte de sua vida

adulta no espaço, mas agora descobriu que queria mais. Queria um lugar onde pudesse

ver seus filhotes crescerem, correr e brincar. Ele queria um lugar onde ele e Carmen

pudessem voar em suas formas de dragão sempre que quisessem ou deitar em um prado

de grama roxa e ouvir os sons do rio e das criaturas da floresta ao redor deles. Ele queria

um lar.

Braços delgados envolveram sua cintura por trás e ele podia sentir sua bochecha

quando ela a encostou em suas costas. Ele ergueu um dos braços para abraçá-la. Eles

ficaram assim por vários longos minutos antes que ele a puxasse para que pudesse

envolve-la com o braço, colocando a palma da mão sobre seu estômago enquanto a

puxava de volta contra seu peito.

— Sobre o que você está pensando? — Ela perguntou a ele em voz baixa, olhando

para seu reflexo no vidro.

Creon ergueu sua bebida e deu um gole antes de responder.


— Eu estava pensando que nossos filhotes mais do que provavelmente nascerão no

espaço ou talvez até mesmo em seu mundo. — Ele disse suavemente.

Carmen estremeceu de surpresa.

— Você quer dizer... na Terra? — Ela sussurrou surpresa.

Ele colocou sua bebida na pequena mesa redonda perto da janela de exibição e

passou os braços ao redor dela, puxando-a para mais perto enquanto descansava a

cabeça na dela.

— Você ficaria chateada? — Ele perguntou. — Era o que você queria, não é? Voltar

ao seu mundo pelo menos mais uma vez.

Carmen se virou para ficar de frente para ele.

— Por quê? — Ela perguntou desconfiada. — Por que você me levaria agora quando

estava tão inflexível antes?

— Eu vou matar o homem que machucou você e seu primeiro companheiro. — Ele

disse com uma convicção silenciosa. — Eu vi o que ele fez. Nunca saberei como você

sobreviveu a tal perda e se estiver ao meu alcance, você nunca mais terá que enfrentá-lo.

Mas saiba disso, serei eu quem o matarei. É meu direito como seu companheiro buscar

justiça.

Carmen balançou a cabeça.

— E se algo acontecer com você? — Ela perguntou com um tom de voz embargado.

— Eu não poderia passar por isso de novo, Creon. Perder você... — Sua voz enfraqueceu
quando o medo por ele anulou seu desejo de vingança. — Matá-lo nunca trará Scott ou

nosso bebê de volta. — Disse ela olhando para ele com lágrimas nos olhos. — Mas amar

você e ter você em minha vida me dá algo que eu nunca esperei ter novamente. Não

posso correr o risco de perder você.

Creon deu uma risadinha.

— Carmen, eu não sou humano. Não sou fácil de matar. Ele machucou mais do que

apenas você. Ele será levado à justiça por te machucar, seu primeiro companheiro e seu

filho ainda não nascido. Mas, também vou impedi-lo de machucar outras pessoas. Além

disso, quero que você tenha a chance de dizer adeus. Você merece esse encerramento

antes de poder se erguer completamente das cinzas para renascer novamente, minha bela

fênix.

Carmen não disse nada. Em vez disso, ela se inclinou para o corpo quente de Creon

e o abraçou com força. Ela se aconchegou mais perto, desejando que pudesse permanecer

sempre tão perto dele. Uma leve vibração em seu estômago a fez estremecer em choque.

Suas mãos voaram para o estômago enquanto a vibração continuava.

— O que houve? — Creon perguntou preocupado.

— Os bebês. — Ela sussurrou com admiração, olhando para as mãos pressionadas

com força contra o estômago. — Eles estão se mexendo.

O rosto de Creon se abriu em um sorriso ansioso quando ele pressionou sua mão

sobre a dela. Carmen moveu a mão para que pudesse pressioná-la contra seu abdômen
ligeiramente arredondado. Um momento depois, seu rosto se iluminou com um sorriso

enorme quando sentiu o leve movimento sob a palma da mão.

— Eles serão guerreiros fortes como seu pai! — Ele exclamou com orgulho.

— É melhor você dizer ao companheiro que elas são guerreiras fortes como a mãe. Elas têm o

seu temperamento. — Murmurou seu dragão, cansado. — Elas chutam como você também.

Os olhos de Carmen se arregalaram. Ela mordeu o lábio inferior tentando esconder

a risada que ameaçava escapar. Seus olhos brilharam com malícia quando ela olhou para

o rosto de Creon.

— Bem, de acordo com meu dragão... — Ela riu. — ...é melhor você começar a pensar

em tons de rosa em vez de azul. Ela diz que elas serão exatamente como eu. O que você

acha de ter duas garotinhas rudes e bagunceiras?

O sorriso no rosto de Creon desapareceu junto com todas as cores nele. Ele balançou

vertiginosamente quando o fato de que ela estava tendo garotinhas afundou nele. Gemeu

e puxou-a para mais perto dele.

— Eu nunca... faz tanto tempo desde que uma mulher... — Ele estava tendo

problemas para respirar enquanto pensava que teria duas lindas filhas. — Bolas de

dragão! — Ele rugiu de repente. — Eu vou matar qualquer guerreiro que apenas olhe

para elas. — Ele rosnou. — Terei que pegar Cree e Calo... não, eles são muito jovens, terei

que encontrar alguns guerreiros mais velhos que estão acasalados... Vou construir uma

casa para nós rodeada pelos muros mais altos... Talvez eu possa...

— Creon... — Carmen disse gentilmente. — Creon...


— O que? — Ele perguntou, olhando para ela com um olhar selvagem e atordoado.

— Elas nem nasceram ainda. Acho que temos tempo antes que os guerreiros

comecem a vir convidá-las para um encontro. — Ela disse enquanto sorria pacientemente

para ele. — Até anos.

— Anos? — Ele perguntou inexpressivamente.

— Anos. — Ela respondeu dando um beijo nos lábios dele. — Faça amor comigo. —

Ela sussurrou.

— Anos? — Ele perguntou novamente em dúvida.

Carmen deu uma risadinha e agarrou sua mão para puxá-lo em direção aos seus

aposentos.

— Anos. — Ela o assegurou enquanto o arrastava para a cama.


Fazia quatro semanas desde que eles deixaram a D’stroyer e a nave de guerra de

Vox, a Shifter. Ela estava começando a mostrar sua gravidez mais e mais a cada dia. Teve

que reduzir alguns de seus treinos. Passava mais tempo se alongando e apenas andando

na nave de guerra do que chutando a bunda de Cree e Calo agora. Eles foram orientados

a ficar perto o tempo todo quando ela começasse a florescer, como Creon chamou. Ele

estava constantemente tentando fazer com que ela se deitasse e descansasse. Cree e Calo

eram tão ruins quanto. Ela sabia que os dois guerreiros deviam estar cansados de ser sua

babá, porque ela estava completamente cansada de tê-los como sombras gêmeas.

— Acho que você deveria ir com calma hoje. — Disse Creon ao terminar de se

arrumar para se apresentar para o serviço. — Seus tornozelos estavam inchando um

pouco.

— Eles deveriam inchar um pouco! Estou grávida. Estou farta de estar aqui. Quero

ir visitar Cal e Meli... Mel. — Ela corrigiu rapidamente. — Ambos estão entusiasmados

com o retorno à Terra em breve. Acho que eles estão tão cansados de ficar presos na baía

de reparos quanto eu de estar aqui.

— Não há razão para eles permanecerem lá o tempo todo. — Disse ele, olhando para

ela com o cenho franzido. — Estaremos perto da Terra no final da semana.


— Acho que eles ficam mais confortáveis sozinhos. — Disse ela, esfregando a barriga

distraidamente quando as gêmeas decidiram chutar ao mesmo tempo.

— Eu gostaria que tivéssemos sido capazes de ver Kelan e Trisha antes de partirem.

— Ele disse enquanto colocava uma mão calmante sobre a dela. — Parece que eles

estavam tendo problemas para tirar alguns dos guerreiros do planeta. Vários guerreiros

encontraram suas verdadeiras companheiras, porém, eles parecem estar tendo algumas

pequenas dificuldades com elas.

Carmen ergueu a sobrancelha.

— Deixe-me adivinhar. — Ela disse secamente. — Os caras esqueceram de

perguntar antes de decidirem reivindicar.

Creon mudou de posição, inquieto, de um pé para o outro.

— Nem sempre temos muita escolha. Quando nosso dragão e nossa simbiose

encontram nossa companheira, é um pouco opressor. Perguntamos mais tarde. —

Acrescentou defensivamente.

— Não, você começa a dizer, pedir, exigir mais tarde. — Ela acrescentou,

desafiando-o a dizer algo diferente.

— Sim. — Acrescentou ele enquanto suas mãos se moviam para seus seios mais

cheios. — Mas você adora quando eu sou assim. Agora, antes de ir, lembre-se de ter seu

comunicador e que Cree ou Calo estão com você. Apenas no caso…. — Ele acrescentou

antes de esmagar seus lábios nos dela para conter os protestos que podia ver se formando

em seus lábios.
***

Ela teria Cree e Calo derrubados na primeira oportunidade que tivesse depois que

os bebês nascessem. Cree estava rindo e zombando de sua caminhada enquanto ela se

movia pelo corredor. Ele seria torrado. Ela podia até ter que pensar em algumas coisas

para fazer antes de ter os bebês. Talvez devesse conversar com Cara sobre como

modificar sua unidade de limpeza ou algo assim.

Outra coisa que notou foi que quanto maior ela ficava, mais Creon se tornava

protetor e irritante. Ela mal conseguia fazer xixi sem ele querer que alguém estivesse com

ela. Se ela ouvisse mais um apenas no caso.... Iria gritar. Finalmente chegou ao ponto em

que ela passava a maior parte do dia na baía de reparos com Cal e Melina. Desde que o

Pactor foi enviado para uma nova casa no D’stroyer com Ariel, Melina estava se sentindo

deprimida.

— Cal? — Carmen gritou ao entrar na área de reparos.

— Estou aqui, Carmen. — Disse Cal, saindo dos aposentos dele e de Melina.

— Você está bem? Parece um pouco pálido. — Carmen perguntou com preocupação.

— Estou bem. A sopa que tomei no almoço não está combinando comigo, só isso. —

Cal disse com uma risada rouca. — Só Deus sabe o que havia nela. Eu parei de tentar

descobrir isso anos atrás. Descobri que se eu soubesse o que havia na comida,
provavelmente morreria de fome. Eu me preocupo com Melina, no entanto. Ela é muito

exigente com o que come.

Carmen riu.

— Ela não é a única. Você deveria ter visto os guerreiros tentando descobrir com o

que alimentar minha irmã. Ela é vegetariana. Eles nunca tinham ouvido falar de tal coisa

antes. A única coisa que podiam pensar para alimentá-la eram frutas. Ela estava tão

cansada disso quando chegamos em Valdier que eu não tinha certeza se ela comeria

novamente. — Carmen respondeu enquanto se movia para as cadeiras que haviam

colocado.

— Oi, Carmen. — Melina disse baixinho depois de se certificar de que ninguém a

havia seguido até a área de reparos. — Como vai você? Já conversou com as garotas que

a levaram no espaço porto?

— Sim, parei no caminho para cá. — Respondeu ela. — Evetta e Hanine estão

ajudando os engenheiros e programadores a bordo da Horizon em algumas coisas.

Hanine compartilhou como ela foi capaz de contornar os escudos no espaço porto e

Evetta está trabalhando na identificação de parte da programação que o Marastin Dow

usa para ultrapassar os cargueiros. Aaron está quase como novo e ele e Ben estão

treinando com alguns dos guerreiros. Acho que eles vão se estabelecer em Curizan

quando voltarmos. Ha'ven mencionou uma aldeia que iria recebê-los todos.

— Isso é maravilhoso. — Disse Melina, empurrando uma mecha de cabelo castanho

escuro para trás da orelha. — Pude ouvir algumas de suas conversas. Ben e Aaron eram

do Kansas. Eles trabalharam em uma das grandes fazendas lá fora.


Melina se virou para o avô, que estava sentado em silêncio.

— Vovô, por que você não vai se deitar um pouco? Acho que você deveria chamar

o médico para vir te olhar. Você não estava se sentindo bem na noite passada também.

— Disse ela com leve preocupação.

— Eu não preciso de nenhum médico, mas acho que vou deitar um pouco. — Disse

Cal, levantando-se lentamente. — Carmen, você fica e cuida da minha neta. Ela precisa

de um tempo de menina.

— Eu vou, Cal. — Carmen disse sorrindo para Cal. — Espero que você se sinta

melhor.

— Obrigado. — Cal disse com um sorriso genuíno. Ele se virou para olhar para

Melina. — Eu te amo, garota. Nunca se esqueça disso.

— Eu não vou, vovô. — Disse Melina levantando-se para ajudar seu avô.

Ela deu um passo em direção a ele quando de repente endureceu e agarrou seu peito.

Ela mal teve tempo de agarrá-lo antes que ele desabasse no chão. Seu grito de medo

ecoou alto na área de reparos.

— Vovô! — Melina gritou enquanto o rolava freneticamente de costas. — Carmen,

ele não está respirando! Vovô!

Carmen gritou por Cree o mais alto que pôde enquanto se movia para onde Cal

estava deitado no chão. Ela se curvou sobre ele, procurando o batimento cardíaco e

sentindo a respiração. Ela não sentiu ou ouviu nenhum dos dois. Passou por cima dele e
começou a fazer RCP. Melina moveu-se para sua cabeça e inclinou-a para trás, esperando

o sinal de Carmen para respirar por ele. As portas da área de reparos se abriram e Cree

entrou correndo. Viu a figura deitada de Cal e imediatamente pediu assistência médica.

Ele se ajoelhou ao lado do homem idoso e avaliou rapidamente sua condição. Não havia

pulso e sua pele estava ficando de um tom claro de azul. Ele olhou para o neto e congelou.

Cachos escuros caíram sobre os ombros de Melina e pelas costas. Ela estava

sussurrando freneticamente para que seu avô ficasse bem, implorando que ele, por favor,

não a deixasse sozinha. Ela passou as pequenas mãos pelas bochechas dele.

— Por favor, vovô, não me deixe. — Ela chorou baixinho. — Por favor, não me deixe

aqui sozinha. Estaremos em casa em breve. Vamos voltar para a fazenda. Vou cozinhar

e limpar e poderemos visitar os túmulos da mamãe, do papai e da vovó aos domingos

depois da missa. Será como antes. Aposto que aquele velho cão de caça ainda anda à

procura de restos de comida. Por favor, por favor, não me deixe.

Melina olhou nos olhos atordoados de Cree.

— Por favor, me ajude. — Ela sussurrou. — Por favor, deixe-o melhor.

Cree olhou fixamente os impressionantes olhos verdes cheios de medo desesperado

e súplica e soube que estava totalmente perdido. Ele teria movido todas as estrelas da

galáxia para fazer o que ela implorou, se tivesse o poder para fazer isso; mas sabia que

não havia nada a ser feito pelo velho humano. Sua essência já havia deixado seu corpo.

— Eu... Não há nada que possa ser feito para salvá-lo. — Disse ele, gentilmente

estendendo a mão para tocar a bochecha de Melina em conforto. — Ele se foi.


Melina recuou antes que ele pudesse tocá-la. Ódio, dor, tristeza e desespero

queimaram em seus olhos verdes vívidos. Ela ficou de pé quando ele se levantou para

ficar sobre o corpo de seu avô. Carmen se sentou no chão ao lado de Cal, segurando sua

mão e curvando a cabeça.

— Não! Você não quer ajudá-lo! — Ela gritou olhando para o avô enquanto as

lágrimas escorriam por seu rosto. — Eu vi o que suas criaturas douradas podem fazer.

Eles poderiam salvá-lo se você dissesse.

Cree agitou sua cabeça, dando um passo em direção a ela.

— Não, Mel... — Disse ele em resignação. — Mesmo nossas simbioses não podem

curar o que a idade fez.

O grito de dor de Melina encheu a sala de reparos. Quando Cree deu outro passo

em sua direção, ela se virou e fugiu para as caixas, lutando entre as fendas estreitas onde

ele não podia tocá-la. As portas se abriram novamente para admitir Tandor e vários

outros médicos. Creon os seguia de perto.

— Carmen! — Ele gritou desesperadamente.

Carmen ergueu os olhos quando ele chamou seu nome. Lágrimas silenciosas caíram

suavemente por seu rosto. Nos recessos mais distantes das caixas, os soluços irregulares

de Melina encheram o ar. Ela colocou cuidadosamente a mão enrugada de Cal em seu

peito.

— Adeus, meu querido, querido amigo. — Disse ela baixinho antes de deixar Creon

ajudá-la a se levantar. — Foi um ataque cardíaco, eu acho.


Ela se virou para os braços de Creon e soluçou quando Tandor acenou com a cabeça

brevemente para confirmar o que ela suspeitava.

— Ele foi morto instantaneamente. Não haveria nada que pudéssemos ter feito para

salvá-lo. Simplesmente deu errado. — Ele confirmou.

Carmen enterrou a cabeça no ombro de Creon e soluçou baixinho enquanto os

médicos colocavam o corpo de Cal na cama portátil de enfermaria. Tandor olhou para as

caixas de onde os soluços de Melina podiam ser ouvidos. Ele balançou a cabeça

tristemente.

— Eu vou cuidar do menino. — Disse ele.

— Mulher. — Cree disse baixinho, seus olhos grudados nas caixas antes de se virar

para olhar para Creon e Tandor. — O menino é uma mulher. Qual é o nome dela? — Ele

perguntou, olhando para Carmen agora.

Carmen levantou a cabeça e olhou com os olhos cheios de lágrimas para as caixas

onde os soluços de Melina estavam diminuindo.

— Melina. — Ela respondeu suavemente. — Eu vou ficar com ela. Ela não deve ser

deixada sozinha.

— Melina. — Repetiu Cree suavemente enquanto a porta se abria e seu irmão

entrava. Ele o olhou com determinação silenciosa. — O nome dela é Melina.

Os passos de Calo diminuíram quando o que seu irmão estava dizendo foi

absorvido. Seus olhos imediatamente foram para as caixas, onde apenas um gemido
ocasional podia ser ouvido. Seu rosto se contraiu de preocupação e resolução. Ele olhou

para o irmão e acenou com a cabeça uma vez. Eles estavam de acordo.

***

Fazia pouco mais de uma semana desde que Cal faleceu. Melina se recusou a deixar

a baía de reparos. Levou dias para finalmente fazê-la sair das caixas onde havia criado

uma toca escondida. Ela empilhou silenciosamente roupas de cama e as poucas coisas

que pertenciam a seu avô na abertura estreita. Ela só saía quando Carmen estava sozinha.

Várias vezes Cree e Calo tentaram ficar, mas ela nem mesmo respondia a Carmen se

sentisse que eles estavam em qualquer lugar por perto. As duas simbioses se dividiram

e escorregaram para a estreita fenda entre os caixotes. Os homens ficaram frustrados

porque não conseguiam nem mesmo separar as caixas por medo de esmagá-la sob eles

se o fizessem. Seu único contato foi com sua simbiose que se tornou sua companheira

constante. Os homens iam várias vezes ao dia para deixar comida e bebida para ela, bem

como roupa de cama e roupas limpas.

Carmen estava esperando que ela terminasse o banho. Tinha jurado a Melina não

deixar ninguém, especialmente aqueles dois guerreiros que não a deixavam em paz,

entrar na sala de reparos. Carmen se virou quando a porta se abriu e os dois homens

entraram com um olhar desafiador e determinado em seus rostos.


— Não. — Ela disse, balançando a cabeça e cruzando os braços. — Não me façam

chutar seus traseiros!

— Lady Carmen, por favor. — Calo disse em uma voz tensa. — Você não entende.

Ela é nossa companheira.

— Você não acha que ela tem o suficiente para lidar? — Carmen perguntou

enquanto deixava suas mãos deslizarem para os quadris. — Ela acabou de perder seu

último membro da família, está prestes a voltar para casa depois de ter ficado fora nos

últimos quatro anos, e você acha que ter não um, mas dois companheiros devem ajudá-

la a se sentir melhor?

O rosto de Cree se contraiu.

— Não temos escolha. — Ele rosnou. Seus punhos cerrados com força ao seu lado.

— Ela nos tem agora. Nós cuidaremos dela.

— Não. — Disse uma voz da porta. — Eu quero que vocês me deixem em paz. Vou

levar vovô de volta para que ele possa ficar com a vovó e meus pais. — Melina disse em

uma voz desafiadora. — Estou indo para casa.

— Melina. — Cree sufocou duramente. — Você é nossa companheira. Nós

reivindicamos você. — Ele disse enquanto seus olhos se moviam para as duas faixas de

ouro enroladas em seus pulsos e pescoço.

— Nossos dragões e nossas simbioses reivindicaram você, também. Você é nossa

verdadeira companheira. — Disse Calo, dando um passo à frente.


Melina balançou a cabeça com determinação.

— Não. — Ela disse suavemente olhando para os homens com olhos tristes. — Estou

indo para casa e vou esquecer que isso já aconteceu comigo. Vou viver minha vida em

casa, na Geórgia. Eu não posso ser uma companheira. — Ela disse, inclinando a cabeça

até que seu cabelo escondeu seu rosto.

— Melina. — Cree e Calo disseram ao mesmo tempo.

Melina apenas balançou a cabeça e disparou para as caixas novamente antes que

pudessem impedi-la. Seus rugidos altos de frustração ecoaram pela área de reparos.

Quando o som parou, Carmen pôde ouvir as fungadas suaves de Melina enquanto ela

chorava.

— Dê um tempo a ela. — Carmen encorajou os dois homens em silêncio. — Ela

precisa enterrar seu avô. Dê isso a ela antes de fazer qualquer coisa. Dê a ela um tempo

para dizer adeus.

— E se…. — Calo perguntou com a voz rouca olhando para as caixas.

Carmen colocou a mão no braço de cada homem. Esperou até que eles se virassem

para olhar para ela antes de dizer qualquer coisa. Ela precisava que eles entendessem o

que estava tentando dizer a eles.

— Ela precisa ter um encerramento. — Ela sussurrou tristemente enquanto as

lágrimas queimavam em seus próprios olhos. — Temos que nos despedir e aceitar que

não há como voltar, apenas seguir frente. Acredite em mim, estou falando por

experiência própria.
Ambos os homens olharam fixamente para ela antes de seus olhos voltarem para as

caixas e os gemidos suaves. A dor passou pelos olhos de ambos os homens antes de

compreender e resignar. Ambos acenaram com a cabeça em aceitação relutante.

— Apenas saiba disso. — Cree falou em uma voz cheia de resolução. — Ela não

permanecerá em seu mundo quando partirmos. — Ele disse antes de acenar para seu

irmão.

Carmen observou enquanto os dois homens se viravam e saíam. Seu coração estava

com Melina, mas ela também entendia que os homens não tinham escolha. Deixá-la para

trás seria uma sentença de morte não apenas para os homens, seus dragões e suas

simbioses, mas também para Melina que, sem o seu conhecimento, já havia aceitado a

reivindicação dos homens, se a maneira como esfregava suavemente as pulseiras de ouro

enroladas em seus pulsos fosse uma indicação de como ela se sentia.


— Foi bom ver Trisha e Paul novamente. — Disse Carmen enquanto se sentava na

sala de estar da casa da fazenda de Paul. — Mesmo que fosse apenas em uma tela

holovid.

— Eles estão ocupados. — Respondeu Creon. — Pelo menos dois dos guerreiros

ficaram para trás apenas porque Kelan sabia que estávamos chegando. — Ele disse,

aproximando-se para que pudesse dar um beijo em seus lábios. — Foi muito gentil da

parte de Paul ter estabelecido esta casa como uma base para nós. — Ele continuou

enquanto se sentava ao lado dela, puxando-a para seu colo.

— Ainda teremos que ter cuidado. — Ela sussurrou. — Se o governo descobrir sobre

alienígenas pousando no meio do Wyoming, não acho que ficarão muito felizes com

você.

— Teremos muito cuidado. — Prometeu. — Não podemos negar aos nossos

guerreiros a chance de encontrar suas verdadeiras companheiras. Esta é uma chance rara.

Eles terão muito cuidado para não arruinar isso para os outros.

Carmen se recostou no braço dele, puxando a outra mão para cobrir a barriga. Ela

estava definitivamente mostrando agora. Não havia como negar ou esconder que estava

grávida. Ela brincou com os dedos dele enquanto pensava sobre o que ainda precisava

ser feito.
— Quem ficou no planeta? — Ela perguntou roucamente enquanto corria os dedos

levemente sobre a mão dele, que estava fazendo círculos muito excitantes em sua barriga.

— Jaguin e Gunner ainda estão aqui. — Ele respondeu distraidamente. — Eles são

alguns dos melhores rastreadores de Valdier e sabem como desaparecer quando

precisam.

— Trisha disse que havia várias outras mulheres a bordo que não estavam sendo

muito cooperativas. — Disse ela enquanto agarrava a mão dele e a movia para mais perto

de seu seio.

— Kor e Palto estão voltando para Valdier com suas companheiras. Dois homens

que estavam com Trisha também encontraram companheiras, assim como vários outros

guerreiros. Kelan deu a cada guerreiro tempo para pesquisar antes de ser forçado a

retornar. Jaguin ainda não encontrou sua companheira, mas Gunner encontrou a dele.

— Ele murmurou antes de empurrá-la de costas nas almofadas do sofá. — Eu prefiro

falar sobre minha companheira. Você tem ideia de quanto tempo se passou desde que

fizemos amor?

Carmen riu e agiu como se tivesse que pensar muito por um minuto.

— Deixe-me ver, oh sim! — Ela disse, estalando os dedos. — Eu acho que foi esta

manhã. — Ela riu enquanto colocava os braços em volta do pescoço dele.

Carmen estendeu a mão para dar um beijo em seus lábios quando seu celular tocou

com o toque que ela havia definido para seu contato. Ela se afastou e olhou para Creon
em silêncio por outro toque antes de empurrar seu ombro, forçando-o a recuar enquanto

tentava alcançar o telefone celular no final da mesa.

— Alô. — Ela disse laconicamente.

— Ele estará neste local em dois dias. — Disse a voz do outro lado da linha. — Tome

cuidado. Fiz upload de informações adicionais sobre o complexo. Esta é a última vez que

posso ajudá-la. — A voz rosnou do outro lado da linha. — Acho que ele está atrás de

mim. — A voz disse antes que a linha ficasse em silêncio.

Carmen se virou para olhar Creon com olhos frios e claros.

— Nós o pegamos. — Ela disse friamente.

Creon acenou com a cabeça severamente.

— Você vai fazer exatamente o que eu disser, Carmen, ou vou amarrar sua bunda

até eu voltar. — Ele respondeu severamente.

Os olhos de Carmen se suavizaram e ela os deixou cair para o seu meio inchado.

— Eu não vou deixar ele tirar isso de mim de novo. — Disse ela calmamente. —

Quando isso acabar...

— Quando isso acabar, — Ele disse suavemente, passando os nós dos dedos por sua

bochecha antes de continuar. — então este mundo será um pouco mais seguro para

outras pessoas como você.

— Me ame. — Ela sussurrou.


— Sempre. — Ele respondeu enquanto a empurrava de volta para as almofadas mais

uma vez.

***

Gunner e Jaguin olharam em silêncio enquanto o transporte simbiose deslizava

sobre o terreno. Eles haviam retornado tarde da noite passada para o rancho de Paul.

Ambos tinham expressões severas quando questionados sobre suas companheiras.

— A minha está segura a bordo da Horizon. — Afirmou Gunner. — Eu espero. —

Acrescentou ele em voz baixa.

Enquanto Jaguin acrescentava baixinho em um murmúrio:

— Não tive sucesso em encontrar uma companheira.

Creon os recrutou para ajudar a proteger Carmen na missão de encontrar e eliminar

Javier Cuello. Cree e Calo ainda não haviam retornado com Melina. Eles viajaram com

ela para enterrar seu avô no terreno da família na pequena fazenda que possuíam nos

arredores de Clayton, Geórgia.

— Carmen é sua primeira prioridade. — Creon estava dizendo aos dois homens.

Eles estavam viajando em Harvey, que se transformou em um jato elegante. A simbiose

de Jaguin e uma seção menor da simbiose de Gunner viajariam com eles. Metade da

simbiose de Gunner permaneceu a bordo da Horizon para proteger sua nova


companheira. Carmen suspeitou que era mais para ficar de olho nela, já que ele parecia

um pouco estressado no momento.

Creon sorriu brevemente para Carmen por cima do ombro.

— Você causou a mesma dor de cabeça para mim, caso não se lembre. — Ele a

lembrou baixinho.

— Quem? Eu? — Ela brincou de volta com um sorriso nervoso.

Ele levou uma das mãos dela à boca.

— Sim, e eu faria tudo de novo para ter você ao meu lado. — Acrescentou ele

suavemente.

Os olhos de Carmen brilharam por um momento antes de ela piscar rapidamente.

— Você me transformou em uma molenga! Eu costumava nunca chorar. — Ela

murmurou, puxando sua mão livre e esfregando os olhos.

— São os hormônios, de acordo com Dola. — Ele brincou. — Você voltará a chutar

a bunda de todos, incluindo a minha, depois que as meninas nascerem.

— Você pode apostar sua bunda nisso. — Ela grunhiu.

— Quanto falta? — Gunner perguntou olhando para a imagem do holovid do

complexo em que Javier estava se escondendo.

— Devemos chegar lá em mais trinta minutos. — Disse Creon.


JD, o informante de Carmen que ela deveria ter encontrado meses atrás, não a

decepcionou. Ele era um agente secreto da DEA. Tinha sido amigo íntimo de seu ex-

chefe, Kevin. Ele ficou preocupado quando ela não apareceu meses atrás, que Javier

tivesse descoberto que ela estava atrás dele e tivesse atirado nela, especialmente quando

Kevin não podia dizer a ele onde ela estava. Carmen contou a ele uma história sobre

como foi ferida em um sequestro. Ela ficou o mais perto possível da verdade, sem

mencionar seu encontro inesperado com alienígenas e estar em outro planeta.

JD havia enviado a ela um mapa completo do complexo na Colômbia onde Javier

estava atualmente escondido. Ele só podia dizer a ela que Javier estaria no complexo em

dois dias. Ele não sabia quanto tempo iria ficar enquanto o governo estava reprimindo o

cartel. O governador que ele tentou matar era agora o presidente do país e não era um

homem que perdoava quando se tratava de alguém que tentou matar sua família,

especialmente seu filho.

— Depois que pousarmos no complexo, quero que vocês dois cubram Carmen. Eles

têm armas que podem atirar em longo alcance. Eu dei a você alguns dos brinquedos de

Ha'ven. Os escudos nos protegerão de suas armas. Mate qualquer um que atirar em

vocês. — Creon disse severamente. — Carmen, você vai ficar atrás de mim. Eles não

verão Harvey até que ele mude para uma forma diferente. As simbioses de Jaguin e

Gunner vão tirar a maioria dos guardas. Com sorte, entraremos antes de Cuello saber

que estamos lá.

— Por que simplesmente não sorrimos? — Ela perguntou baixinho, esfregando o

estômago, que estava cheio de nervosismo.


— Você não gosta de sorrir. — Seu dragão rosnou, irritado por ela estar fazendo isso.

— Você me deixa sair se ficar presa. Eu deixo os bandidos crocantes.

— Você é tão má. — Carmen respondeu suavemente. — Depois que isso acabar, que

tal eu convencer Creon a voar quando voltarmos para casa. Paul me mostrou alguns

lugares agradáveis e isolados onde poderíamos nos divertir um pouco.

— Você promete? — Seu dragão rugiu de prazer. — Eu terei meu companheiro? Todo

meu?

— Todo seu! Eu prometo. — Carmen jurou com uma risadinha.

— Ainda quero queimar os bandidos. — Resmungou seu dragão.

— Não. — A voz de Creon era mais profunda do que normalmente era quando seu

dragão respondeu a sua companheira. — Eu sei o que ela quer. É muito perigoso. Não a

deixe sair. — Ele disse ferozmente.

— Não vou. — Respondeu Carmen. — Pelo menos, não aqui.

Os olhos de Creon se voltaram para ela ao som de um leve ronronar em sua voz.

Escamas negras ondularam em seus braços em resposta à sugestão de sua companheira.

Ele estava prestes a responder quando sentiu um tapa na nuca.

— O que? — Ele rosnou para Gunner, que estava sentado em sua cadeira.

— Você me puxou para longe daquela bunda teimosa... minha companheira, então

o mínimo que pode fazer é ter um pouco de simpatia por mim. — Ele resmungou em um
beicinho. — Eu estava quase no ponto de pensar que ela iria falar comigo em vez de

tentar me matar.

— Sim, bem, você ainda está à minha frente. Pelo menos você encontrou sua

companheira. — Jaguin mordeu enquanto se virava para olhar o complexo bem

iluminado entrando em vista. — Você acha que ele tem luzes suficientes acesas? Este

lugar podia ser visto da Horizon. — Reclamou.

Assim que as palavras escaparam de sua boca, as luzes piscaram e se apagaram.

Jaguin e Gunner sorriram. Suas simbioses chegaram antes deles e prepararam um grupo

de desembarque. Harvey flutuou sem ser visto acima do solo. Uma porta se dissolveu e

Jaguin e Gunner se levantaram. Eles acenaram com a cabeça e pularam para fora da

porta, mudando enquanto caíam em seus dragões. Eles se moveram em silêncio pelo

complexo, ajudando a tirar qualquer guarda armado. Gunner soprou um anel de fogo

azul brilhante que desapareceu rapidamente para mostrar que era seguro pousar.

Harvey pousou no centro do anel queimado. A porta apareceu novamente e Creon

ajudou Carmen a descer. Jaguin e Gunner estavam esperando por ela e rapidamente

assumiram uma posição de cada lado dela enquanto Creon liderava o caminho. Harvey

mudou para um enorme Werecat. Um escudo invisível protegia o pequeno grupo

enquanto eles se moviam em direção à casa situada no meio do complexo. Creon acenou

com a mão e a porta se desintegrou. Ele rapidamente embolsou o dispositivo que Ha'ven

havia lhe dado.

— Brinquedo legal. — Gunner murmurou. — Espero que essa maldita coisa não

funcione conosco.
Creon sorriu e balançou a cabeça.

— Não, apenas madeira. — Ele disse, apontando para as peças de metal penduradas

na porta e as peças no chão.

Uma jovem esguia saiu de uma sala ao lado. Seus olhos se arregalaram e sua boca

se abriu para gritar, mas nenhum som saiu. Ela olhou para a porta mais adiante no

corredor, em seguida, de volta para o pequeno grupo de seres estranhos entrando por

uma porta que não estava mais lá. Seus olhos escuros pareciam esperançosos quando ela

olhou de volta para a porta.

Carmen travou os olhos com a jovem cujos olhos se moveram para a cintura

arredondada de Carmen antes de se levantarem para olhar para ela em compreensão

silenciosa. A garota apontou para a porta e ergueu quatro dedos, depois mais dois e a

forma de uma mulher. A garota apontou para os quatro dedos e acenou com a cabeça.

Em seguida, apontou para os dois e balançou a cabeça vigorosamente em negação.

Carmen levou o dedo aos lábios e acenou com a compreensão. A garota se afastou

enquanto o grupo caminhava silenciosamente pelo corredor.

Creon pegou o dispositivo antes de perceber que não funcionaria, pois a porta era

de metal sólido. Ele olhou para Harvey, que bufou e avançou rapidamente. Em

segundos, a porta estava deitada no chão e tentáculos de ouro teciam ao redor da sala

segurando três homens no lugar onde eles estavam sentados e o quarto pelos tornozelos

no ar. Creon se moveu para impedir que Carmen entrasse na sala quando viu o que os

homens estavam fazendo, mas ela passou por ele. Seus olhos escureceram de aflição

quando viu uma jovem com a idade de Melina esticada em uma prateleira em forma de
T. Sua camisa estava puxada para baixo em volta da cintura. Listras ensanguentadas

cruzavam suas costas onde o homem de pé a estava chicoteando. Sua cabeça pendurada,

uma longa trança pálida de cabelo loiro estava pendurada na frente dela.

— Solte-a. — Carmen exigiu imediatamente enquanto seus olhos foram para a outra

garota.

Ela olhou para a outra garota que estava amarrada e ajoelhada. Ela tinha cabelos

loiros também. Seu cabelo era mais curto, mas não muito. Ela tinha hematomas em um

lado do rosto e seus olhos estavam atordoados como se ela pudesse ter uma concussão.

— Quem são vocês? — Javier exigiu em espanhol de onde ele estava preso em seu

assento.

Carmen saiu do lado esquerdo de Creon para que pudesse ser vista por Javier. Ela

soube que ele a reconheceu no minuto em que a viu. Ela virou-se para encará-lo. Sentiu-

se congelada por dentro até o momento em que seus olhos se fixaram nos dele. O fogo

da raiva começou a queimar incontrolavelmente dentro dela enquanto o ódio, a dor e a

tristeza aumentavam. Memórias de Scott olhando para ela antes de Javier atirar nele, os

meses de dor por se recuperar de suas próprias feridas e lidar com a perda de seu marido

e filho.

— Você! — Ele rosnou lutando para se libertar. — Eu tenho procurado por você nos

últimos quatro anos!

— Você deveria ter procurado mais porque eu queria que você me encontrasse. —

Carmen disse em uma voz desprovida de qualquer emoção.


Ela olhou para as duas mulheres. Jaguin estava segurando gentilmente o corpo da

garota que havia sido chicoteada. Sua simbiose estava circulando em angústia, tentando

envolvê-la. Jaguin embalou seu corpo ensanguentado, tentando ter cuidado com suas

costas devastadas.

— Por quê? — Ela perguntou enquanto Gunner gentilmente levantava a outra

garota quando ela não conseguiu ficar de pé.

— Ela se parecia o suficiente com você para que eu pudesse fazê-la pagar pelo que

você fez comigo! — Ele mordeu de raiva. Ele olhou para os fios de ouro que o prendiam.

— O que é isso? Que tipo de arma é essa? Nunca tinha visto nada parecido antes. —

Disse ele, percebendo de repente que estava em uma posição perigosa.

— Você a machucou porque ela se parecia comigo? — Carmen perguntou

balançando levemente. — Você machucou uma garota inocente porque ela te lembrava

de mim?

Creon passou o braço em volta da cintura de Carmen.

— Gunner, leve Carmen com você e volte para a Horizon.

— Não! — Carmen disse bruscamente. Ela se afastou de Creon e olhou para Javier.

— O que eu fiz pra você? — Ela exigiu asperamente, dando um passo em direção a Javier.

— O que eu fiz pra você?

— Solte-me e eu vou te mostrar. — Javier exigiu friamente.


Carmen acenou com a mão. Creon reprimiu uma maldição e disse a Harvey para

libertar o homem, mas para ser cauteloso. Javier puxou uma bengala que estava

encostada na mesa em sua direção. Ele ficou sem jeito e se moveu lentamente ao redor

da mesa. Uma vez que estava do outro lado, ele puxou a perna da calça para cima o

suficiente para Carmen ver que ele estava usando uma perna protética.

— Você pegou minha perna quando me esfaqueou. — Ele declarou asperamente. —

Você me desfigurou para o resto da vida!

Carmen olhou para ele com olhos frios.

— Você matou meu marido e meu bebê. Você me deixou para morrer. Realmente

acha que eu dou a mínima que você perdeu uma perna? Você tirou de mim tudo que me

importava neste mundo!

— Você parece ter encontrado algo neste mundo para substituir o homem e a criança

que declara que foram tirados de você. — Javier rosnou balançando a cabeça em direção

a sua barriga arredondada.

Carmen sorriu friamente.

— Sim, mas há uma grande diferença. — Ela disse calmamente.

— E o que é isso? — Javier perguntou com um sorriso de escárnio.

— Eles não são deste mundo. — Ela disse enquanto deixava a onda de mudança

tomar conta dela. Tons brilhantes de branco, vermelho, rosa e escamas roxas ondularam

sobre ela enquanto ela deixava seu dragão seguir seu caminho.
— Crocantes? — Seu dragão perguntou esperançosamente.

— Extra crocantes! — Carmen disse com firmeza.

O xingamento murmurado de Creon seguiu suas ordens para que Jaguin, Gunner e

suas simbioses voltassem com as duas mulheres feridas para a Horizon, enquanto ele

cuidava dos homens e de sua companheira. Creon mudou, cuspindo fogo ao mesmo

tempo que Carmen. O fogo combinado deles engolfou Javier, congelando o olhar de

horror e terror em seu rosto por um breve momento antes que as cinzas caíssem onde ele

estivera. Creon se virou para os outros homens enquanto Harvey os soltava, um de cada

vez. Pequenos montes de cinzas eram a única prova de sua existência.

Ele se virou para sua companheira, que levantou a cabeça e rugiu quando o resto de

sua dor derramou dela. Gentilmente, ele moveu seu corpo negro mais perto do dela. Ele

rosnou para Harvey para criar uma abertura grande o suficiente para que voassem. Em

segundos, um enorme buraco abriu a parede de trás para a escuridão. Creon empurrou

sua companheira com suas asas e cauda, beliscando-a para força-la a segui-lo. Ele sabia

que ela estava presa no passado. Ele precisava trazê-la para longe deste lugar e levá-la

para seu novo futuro. Lentamente ela respondeu, movendo-se em direção à abertura.

Quanto mais perto chegava, mais rápido ela ia, como se estivesse pronta para enfrentar

o novo começo que a esperava fora das paredes do complexo. Suas asas varreram as

cinzas dos homens para cima e para longe até que nada restasse de sua existência. Logo

os dois estavam no ar, seguidos de perto por Harvey. Ele a deixaria voar tão longe e tão

rápido quanto ela quisesse. Quando ela se cansasse, ele a seguraria e a guiaria. Ele nunca

a deixaria cair ou tropeçar novamente.


Nenhum deles viu a jovem de pé sozinha nos restos do complexo. Uma expressão

de admiração e um pequeno sorriso de alívio no rosto. Milagres realmente existiam, ela

pensou enquanto se benzia. Ela estava livre!


Carmen voou noite adentro, suas asas esticadas enquanto voava. Ela correu os

ventos, tocou as nuvens, beijou a lua enquanto voava o mais alto que podia antes que a

exaustão começasse a se instalar. Ela havia alcançado a Península de Yucatán antes de

começar a desacelerar. Enquanto flutuava ao longo da costa, praias arenosas a

chamavam. Ela mudou-se das cidades iluminadas para uma pequena enseada escura. As

águas estavam calmas enquanto ela deslizava centímetros acima delas. As estrelas e o

luar refletindo como diamantes na superfície. Podia distinguir os tons multicoloridos

brilhantes de suas escamas contra a luz branca e brilhante da lua cheia. Deixou as pontas

de uma de suas garras dianteiras tocarem a superfície, fazendo ondulações atrás dela

enquanto voava.

— Você é linda, mi elila. — Disse Creon enquanto se abaixava protetoramente ao

lado dela.

— Ele machucou aquelas mulheres por minha causa. — Carmen lamentou baixinho.

— Quantas ele machucou nos últimos quatro anos?

— Calma, minha gatinha guerreira. — Creon disse enquanto a seguia até a praia de

cetim branco abaixo.

Carmen pousou primeiro, dobrando as asas contra o lado do corpo enquanto se

virava para olhar para a lua cheia. Parecia perto o suficiente para ser tocada. Ela ergueu
a cabeça e soltou um grito pesaroso ao pensar que outras pessoas foram prejudicadas

por causa dela. A forma negra da meia-noite de Creon pousou. Na escuridão da noite,

era impossível vê-lo, exceto pelo brilho de seus olhos dourados.

— Não se culpe, Carmen. Você não tem controle sobre o que aquele homem fez. Ele

era mau. Não tome as ações dele como suas. Você é a luz da escuridão. — Ele disse

enquanto sua forma maior se aproximava dela. — Olhe. — Ele sussurrou. — Veja como

seu brilho reluz, iluminando as trevas da minha alma.

Carmen olhou para baixo quando ele gentilmente tocou sua garra dianteira na dela.

Suas escamas brilharam por um momento antes de a cor escurecer e começar a refletir as

estrelas do céu. Ela olhou para seus olhos dourados flamejantes.

— Juntos somos um. — Ele sussurrou. — É hora de minha fênix se erguer das cinzas

e abraçar nossa vida juntos. Você vai fazer isso comigo? Você vai fazer isso por nossas

filhas que carrega?

Carmen deitou sua cabeça esguia contra o peito enorme de Creon brevemente antes

de se afastar o suficiente para olhar em seus olhos novamente. Era hora de finalmente

dizer adeus. Ela nunca esqueceria sua antiga vida, sempre seria uma parte dela, mas era

hora de aceitar sua nova vida. Ela havia mudado assim como a fênix, até que apenas as

cinzas de sua antiga vida permaneceram. Fora dessas cinzas, ela tinha uma escolha de

como queria viver sua nova vida. Ela queria uma sem arrependimentos.

— Quero ir para casa. — Carmen disse baixinho.

— Para Wyoming? — Creon perguntou hesitante.


Carmen olhou para a lua e as estrelas novamente.

— Não. — Ela disse suavemente contra o vento. — Para Valdier. — Ela olhou para

ele com olhos castanhos dourados flamejantes. — Para minha nova vida com você e

nossas filhas.

— Você é minha, Carmen, para sempre. — Sussurrou Creon.

O enorme macho se moveu para trás da fêmea menor. Ele a tomaria novamente esta

noite. Ele a reivindicaria sob as estrelas e a lua de seu planeta, em uma praia arenosa. Ele

rugiria para todos ouvirem que um Príncipe Dragão Valdier encontrou sua companheira

no lugar mais improvável com a mulher mais bonita que já tinha visto. Ela era delicada,

frágil, forte e corajosa. Ela era teimosa, leal e compassiva. Ela era a luz de sua escuridão.

Era a sua companheira perfeita e ele a amava mais do que a própria vida.

A esguia dragão fêmea abaixou a cabeça em submissão até que o macho maior a

cutucou com a cabeça.

— Olhe para as estrelas enquanto eu a tomo, minha linda fênix. Olhe para as estrelas

e para casa. — Ele murmurou enquanto a montava lentamente por trás.

Quando ela ergueu a cabeça para as estrelas, Creon se curvou sobre ela, mordendo

e soprando o fogo do dragão de seu macho nela. Ele abraçou o fogo que queimava os

dois. Ele deu as boas-vindas ao fogo que se acendeu em ambos quando eles se uniram

novamente e novamente.

O grito rouco de Carmen quebrou o silêncio enquanto o enorme macho a prendia

dentro de suas asas, segurando-a e levando-a com golpes longos e fortes. Ela balançou
para trás contra ele enquanto ele agarrava suas asas nos ombros com as garras dianteiras,

levantando-se nas patas traseiras e envolvendo a cauda firmemente ao redor dela para

manter o equilíbrio enquanto empurrava profundamente dentro dela repetidamente. Ele

soltou seu pescoço enquanto sua tosse irregular quebrou junto com as ondas na

superfície. O corpo dela ordenhou o dele uma e outra vez, puxando-o mais para dentro

dela e segurando-o preso enquanto ela crescia ao redor dele.

O rugido alto do macho ao chegar ao clímax sacudiu as árvores, assustando os

pássaros e animais nativos que viviam ao longo da costa isolada. Seu rugido pôde ser

ouvido por quilômetros e muitos residentes ao longo da costa jurariam que viram e

ouviram o antigo deus, Quetzalcoatl, enquanto ele rugia sua reivindicação para que

todos ouvissem naquela noite.

***

Carmen caiu em um sono exausto envolta nas asas fortes de seu companheiro; os

sons das ondas sua canção de ninar, a brisa quente seu leque e um céu infinito de estrelas

sua luz noturna. Ela finalmente estava em paz. Ela vagamente se lembrava de Creon

persuadindo-a a se transformar de volta em sua forma de duas pernas antes do

amanhecer. Ela rapidamente caiu em um sono profundo, devido à gravidez e muitos

anos de estresse. Creon a carregou envolta com a mesma força em seus braços enquanto

a segurava em suas asas para Harvey, que esperava pacientemente por eles mais adiante

na praia.
— Obrigado, meu amigo. — Disse Creon calmamente enquanto colocava Carmen

na cama contornada que se formou debaixo dela. — Leve-nos de volta para a casa de

Paul. Temos uma coisa a fazer antes de voltarmos para casa.

Harvey brilhou, mudando de cor para combinar com a luz da manhã. Um pescador,

contornando a enseada, contaria mais tarde sobre a magnífica criatura que havia

desaparecido bem diante de seus olhos, mas não antes de vê-la surgir da praia. Mais

tarde, ele traria vários de seus amigos e um cientista para mostrar a eles as pegadas que

os deuses deixaram na areia antes que as ondas e o vento os levassem embora.

***

Mais tarde naquele dia, Carmen e Creon estavam no pequeno cemitério fora da

cidade de Casper Mountain, Wyoming. O túmulo de Scott estava perto de sua mãe e dos

pais dela. Carmen avançou e colocou várias rosas vermelhas sobre o túmulo e um

pequeno ursinho de pelúcia. Ela deixou seus dedos acariciarem as palavras:

Mais que um marido, mais que um amigo, o amor da minha vida. Ele repousa aqui

protegendo nosso filho por nascer para sempre em seus braços. Você estará para sempre em meu

coração.
Carmen sorriu agradecida enquanto Creon a ajudava a se levantar. Ele a abraçou

com ternura, dando-lhe tempo para dizer adeus. Ela apertou a mão dele antes de se virar

e respirar fundo enquanto olhava para o céu azul brilhante.

— Estou pronta para ir para casa. — Disse ela calmamente. — Estou pronta para

viver novamente.

Creon não disse uma palavra. Ele não precisava. Podia ver a sensação de paz nela

enquanto ela deixava seu passado. Ele passou o braço em volta dela e se virou para

Harvey, que estava esperando por eles. Partiriam esta tarde para Valdier. Carmen queria

que suas filhas nascessem em sua casa lá, se possível. Estaria perto se voltassem a tempo,

mas ela estava determinada a que suas meninas conhecessem seu mundo natal.

Creon tinha falado com Trelon. Ele disse sobre como usar as simbioses com os

cristais mais as ondas sonoras que Cara havia aperfeiçoado. Ele advertiu que isso tinha

que ser feito na ordem certa e na frequência certa, caso contrário, faria as simbioses

agirem como um bando de guerreiros Valdier em uma competição de bebida. Ele havia

dado a tarefa às mulheres Marastin Dow de todas as pessoas para estabelecerem. Ambas

eram incríveis no departamento de engenharia. Seu chefe de engenharia as

supervisionaria. Ele tinha recebido a notícia quando estavam vindo para cá que Cree e

Calo haviam retornado à nave de guerra. Nada foi dito sobre se Melina estava com eles

ou não. Ele imaginou que descobriria logo. Não conseguia imaginá-los partindo sem ela,

mas se ela se recusasse terminantemente, eles poderiam não ter tido escolha, já que ele

havia ordenado que partissem hoje.


Ainda havia muito que fazer. Seu tio ainda estava escondido, mas ele não tinha

dúvidas de que iria reaparecer. Ha'ven disse que mais três bases rebeldes foram

encontradas. Jazar e Adalard estavam cuidando delas. Vox estava passando por seu

próprio sistema estelar. Uma das bases tinha vários guerreiros Sarafin que se recusaram

a nomear quem apoiavam. Com o poder das três casas reais trabalhando juntas em vez

de em guerra entre si, era apenas uma questão de tempo até que eles descobrissem quem

mais estava por trás do aumento da rebelião.

Creon ajudou Carmen a entrar em Harvey, certificando-se de que ela estava

confortável antes de ordenar a Harvey que os levasse para a Horizon, que estava

orbitando do outro lado da lua. Carmen não olhou para trás quando eles se ergueram no

ar. Ela olhou para o céu com um sorriso e estendeu a mão para ele.

— Leve-nos para casa, Creon. — Disse ela.


Carmen gemeu quando finalmente rolou para fora da cama. Nas últimas quase oito

semanas, ela floresceu até parecer que havia engolido algumas melancias, alguns melões

e talvez algumas maçãs. Eles haviam chegado em Valdier tarde, ou deveria dizer de

manhã cedo. Ela se sentiu como se tivesse acabado de ir para a cama quando acordou

cheia de energia.

Oh, inferno, ela pensou enquanto cambaleava até a cômoda no quarto principal de

seus aposentos no palácio. Vamos apenas adicionar algumas abóboras também.

— Você acha que está mal. — Seu dragão reclamou. — Não há espaço para mim aqui!

Estou pressionada em uma pequena bola.

— Eu sei. — Carmen disse enquanto esfregava as costas. Bem contra os meus rins

com aquelas duas diabinhas que pensam que era o seu saco de pancadas pessoal!

— Onde você vai? — Creon perguntou ansiosamente enquanto saía do banheiro.

Carmen deixou seus olhos vagarem para cima e para baixo em sua forma alta e

musculosa com um suspiro de inveja.

— Eu gostaria de estar tão bem quanto você. — Ela gemeu.

Ele correu até ela e passou os braços em volta dela.


— Você é a coisa mais linda em todos os sistemas estelares. — Disse ele com voz

rouca. — Quanto mais redonda você fica, mais sua beleza brilha. Não existe um guerreiro

em toda Valdier que não me inveje.

Carmen bufou.

— Você obviamente não tem ouvido o que eles estão dizendo! — Ela retrucou.

Seu rosto escureceu perigosamente.

— Quem te insultou? Vou estripá-los e assar seus cadáveres em uma cova aberta. —

Ele exigiu.

— Oh, não, você não precisa! — Ela retrucou com uma risada enquanto imaginava

Cree e Calo lentamente girando em um espeto. Não que ela tivesse visto os dois ao

mesmo tempo ultimamente. — Eu tenho esse privilégio quando não tiver o tamanho de

um carro compacto. — Disse ela com um brilho de malícia em seus olhos.

— Quem te insultou? — Ele perguntou com uma voz enganosamente persuasiva.

— Eu estou no controle. Os gêmeos Bobbsey sabem que a única maneira de me

derrotar agora é porque estou grande demais para jogar suas bundas por aí. Até agora,

eles nos devem duas semanas de babá! — Ela deu uma risadinha rouca. — Acredite em

mim, isso é mais do que uma vingança quando eles tiverem que trocar algumas fraldas!

Ele a pegou suavemente e voltou para a cama, determinado a fazê-la deitar e

descansar mais, mas ela apertou os braços em volta do pescoço dele.


— Não! Já tenho dificuldade em me levantar da posição sentada, de jeito nenhum

quero lutar para não me deitar de novo. — Disse desesperadamente, olhando para a

cama com horror.

— Precisa descansar. Você só teve algumas horas. — Disse teimosamente e ele

precisava ir chutar a bunda de dois de seus guerreiros.

— Você também. — Ela apontou. — Estou bem. Você termina de se vestir, então vou

tomar um banho rápido. Eu quero ir ver o filho de Abby, os gêmeos de Cara e Trelon e

o bebê de Trisha também. Oh meu Deus, você pode acreditar que todos nós vamos ter

filhos ao mesmo tempo? Bem, exceto por Ariel. — Carmen disse com um sorriso triste.

— Não tenha tanta certeza disso. — Disse Creon enquanto gentilmente a colocava

de pé. — Mandra tinha um sorriso enorme no rosto e não era por bater em qualquer um

dos traseiros dos guerreiros.

— Mesmo? — Carmen disse animadamente. — Você tem certeza?

— Sim. — Creon riu. — Ele revelou que estão esperando um menino. Mas não diga

nada ainda. Ele disse que Ariel o fez jurar segredo até ter certeza. Ela se recusou a

acreditar nele quando ele disse que havia plantado sua semente nela.

Carmen revirou os olhos e começou a dizer algo sarcástico quando seu rosto se

contorceu de dor. Ela agarrou a barriga e respirou fundo quando sentiu um chute forte

seguido de um estalo. A água quente começou a fluir por suas pernas e se agrupar ao

redor dela.
— Você está bem? — Creon perguntou, olhando para ela com cuidado quando ela

respirou fundo. — Talvez eu deva chamar Tandor para vir dar uma olhada em você.

Carmen acenou com a cabeça.

— Sim, eu acho que pode ser uma boa ideia. — Ela ofegou quando ondas de dor

começaram a percorrê-la.

Creon engoliu em seco e empalideceu enquanto seguia as mãos de Carmen, que

estavam enroladas em seu estômago.

— Carmen, você está vazando. — Disse ele com voz rouca. — Você deveria vazar?

Carmen olhou feio para ele, mas não conseguiu dizer nada quando outra contração

a atingiu. Ela deixou escapar um longo gemido de dor e se curvou. Creon estendeu a

mão para ela, envolvendo os braços em volta dela novamente.

— O que é isso? — Ele perguntou freneticamente. — O que está acontecendo?

— Bebês. — Ela gemeu enquanto lutava para se virar e voltar para a cama. — Agora!

— Outra contração, mais forte do que a anterior varreu por ela.

— Ai! — Creon gritou quando ela apertou sua mão. — Isso dói!

— Sim. — Ela ofegou. — Sim.

Creon achou que era do seu interesse não corrigi-la sobre o que ele queria dizer. Ele

a ajudou a ir para a cama antes de se virar para sair correndo do quarto. Parou apenas

por causa de seu grito desesperado.


— Creon! — Carmen gritou com voz rouca.

— O que? — Ele perguntou em pânico, seus olhos indo e vindo entre a porta e

Carmen, que estava ofegante em sua cama.

— Coloque algumas calças antes de trazer todos aqui. — Ela instruiu antes de gemer

muito e alto. — Eu preciso de você! Agora, os bebês, agora.

— O que? — Ele perguntou de novo, caindo de cara quando se enroscou tentando

puxar as calças. Ele agarrou seu comunicador e se atrapalhou com ele, tentando ativá-lo.

— Socorro! Carmen, bebês, agora, ajudem! — Ele gritou roucamente enquanto se

levantava, pulando para cima e para baixo para levantar as calças o resto do caminho.

Ele mal as prendeu parcialmente antes de Carmen soltar um grito gutural de dor.

Ele estendeu a mão para ela, puxando sua camisola úmida para ver se havia algo que

pudesse fazer. Ele viu a cabeça de uma de suas filhas crescendo pouco antes de seus

olhos rolarem para trás e ele cair no chão. Carmen olhou para o chão e soltou um grito

alto quando sua primeira filha empurrou. Dentro de instantes, Morian estava ao lado

dela, assim como Tandor e vários dos outros curandeiros. Três deles e Morian cuidaram

de Carmen enquanto ela dava à luz, primeiro uma, depois a segunda filha, com cinco

minutos de diferença. O outro curandeiro ordenou a dois guerreiros que pareciam muito

pálidos que o ajudassem a levar Creon para os aposentos, onde rapidamente

depositaram seu corpo inconsciente no sofá antes de desaparecerem pela porta

novamente.

— O que? Onde? Carmen? — Creon murmurou enquanto lentamente acordava

vários minutos depois. Ele ficou deitado no sofá por alguns segundos antes de se
lembrar. Rolando, ele grunhiu quando bateu no chão novamente antes de xingar quando

bateu com a cabeça na mesa baixa em frente a ela. — CARMEN! — Ele gritou em pânico

tentando se levantar.

O curandeiro estendeu a mão e agarrou seu braço.

— CARMEN! — Ele gritou de novo enquanto se afastava cambaleante. —CARMEN!

— Ele chamou freneticamente quando não obteve uma resposta.

Correu de volta para o quarto. Carmen estava encostada na cabeceira da cama.

Havia uma pequena figura embrulhada em seus braços aninhada contra um seio. Ele

avançou apenas para parar quando sua mãe se levantou e se virou com outro pequeno

pacote nos braços. Ele deu um passo à frente, hipnotizado pelos pequenos sons

gorgolejantes. Sua mãe estendeu o pequeno pacote que segurava. Instintivamente, suas

mãos se estenderam e ele cuidadosamente o puxou em sua direção. Seus olhos se

arregalaram quando ele viu o cabelo preto espesso cobrindo a pequena cabeça. Olhos

castanhos brilhantes o encararam e um pequeno punho acenou no ar como se procurasse

por algo. Ele ergueu a mão e estendeu o dedo mindinho. A mãozinha o agarrou

ansiosamente, puxando-o para dentro de sua pequena boca e chupando-o.

— Ela é linda. — Ele sussurrou com espanto.

Seus olhos se ergueram para Carmen. Lágrimas brilharam em seus olhos enquanto

ele olhava para sua bela companheira. Ele caminhou lentamente até ela e sentou-se ao

seu lado. Ela gentilmente puxou a pequena boca de seu seio e a fez arrotar antes de

estendê-la para Creon. Ele puxou o dedo da boca minúscula de sua filha, franzindo a

testa com preocupação quando ela choramingou.


— Deixe-me alimentá-la também. — Carmen disse suavemente, segurando o

pequeno embrulho agora cheio e dormindo.

Creon cuidadosamente colocou sua filha agitada contra Carmen antes de erguer

com cuidado o bebê adormecido. Ela tinha cabelo tão branco quanto o de Carmen. Ela

abriu os olhos dourados brevemente para olhar para ele. Ela abriu a boca e bocejou,

estalando a boca minúscula várias vezes antes de fechar os olhos novamente em

contentamento.

Ele ergueu os olhos quando sentiu a mão de sua companheira acariciando sua

bochecha. Ele sentiu a fria umidade de suas lágrimas. Ele tinha muito pelo que viver.

Faria tudo em seu poder para proteger sua companheira e suas filhas do mal.

— Eu sei. — Carmen sussurrou cansada. — Juntos. Vamos protegê-las juntos.

— Como você gostaria de chamá-las? — Ele perguntou baixinho.

— Spring e Fênix. — Disse Carmen olhando para as filhas. — Ambos significam

novos começos, renascimento, esperança, vida.

Ele olhou para a figura pálida em seus braços.

— Spring. — Ele murmurou suavemente. — Eu gosto disso. Phoenix parece estar

gostando de sua refeição.

Carmen corou enquanto seus olhos se moviam para Morian, que estava limpando o

quarto. Morian riu enquanto olhava para Creon e Carmen com suas novas filhas. Ela

tomou a decisão certa quando decidiu que não era sua hora de deixar este mundo. Seus
filhos precisariam de ajuda e suas filhas precisariam se unir quando os homens se

tornassem muito protetores. Ela sentiu um rubor crescer ao pensar nos olhos escuros de

um certo humano que havia retornado com Kelan e Trisha. Seu olhar tinha sido... Morian

balançou a cabeça. Ela estava velha demais para pensamentos tão fantasiosos. Devia ter

entendido mal. Ela só o encontrou brevemente. Mas ainda assim, ele... Ela soltou um

suspiro suave.

— Estarei por perto se você precisar de mim. — Disse Morian enquanto colocava

silenciosamente a última das roupas de cama limpas no pequeno berço perto da cama.

— Obrigada, Morian. — Disse Carmen, cansada, enquanto os efeitos de dormir

pouco se combinavam com os bebês puxados por ela.

Morian se aproximou e tirou Phoenix de seus braços.

— Durma criança. — Ela disse suavemente. — Elas vão te acordar quando estiverem

com fome novamente.

Creon segurou Spring contra ele com força por um momento antes de se levantar e

deitá-la suavemente ao lado de sua irmã. Elas se viraram quase imediatamente uma para

a outra, tocando-se apenas um pouco antes de se estabelecerem novamente. Creon ficou

parado olhando para elas com admiração. Tudo sobre elas era perfeito. Ele olhou de volta

para Carmen, que estava dormindo ainda sentada.

— Vá para sua companheira, Creon. Ela precisa de você agora mais do que suas

filhas. — Morian encorajou.


Creon baixou os olhos para a mãe. Ele se abaixou e deu um beijo em sua testa. Sua

garganta estava apertada, mas ele sentiu que precisava dizer a ela o quanto a ajuda dela

significava para ele.

— Obrigado, Dola, por tudo. — Disse ele calmamente. — Você viu a dor e a tristeza

dentro da minha companheira antes de mim. Sem a sua orientação, não sei se teria

percebido a tempo. Sua orientação e amor me tornaram um guerreiro melhor e mais

forte. — Disse ele com uma convicção silenciosa. — O amor dela enche minha vida a

ponto de transbordar.

Morian deu um beijo na bochecha de seu filho mais novo.

— Assim como seu pai e você e seus irmãos encheram a minha.

O suspiro suave de Carmen acariciou o ar.

— Vá até ela. — Morian encorajou novamente.

Creon não precisava de mais incentivo. Ele gentilmente levantou sua companheira

e a deitou de volta até que ela estivesse deitada confortavelmente antes que ele se

arrastasse ao lado dela. Ele passou os braços em volta dela com força e deu um beijo em

seu cabelo sedoso.

— Você não é a única a se erguer das cinzas, minha linda Fênix. — Creon sussurrou

com ternura. — Eu subi ao seu lado. Juntos, com nossas filhas, começaremos uma nova

vida.
Para você que chegou até aqui, o nosso muiiiito obrigado. Esperamos
que tenha gostado pois foi feito especialmente para você!

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