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Sinopse

O que acontece quando uma dona de café curvilínea cai de


amores por um pai solteiro, shifter de lobo... Literalmente?
Kelly McDermott sempre quis ter uma loja de livros e bolos. O
sonho dela tornou-se realidade, exceto que o negócio do outro lado
da rua está dizimando a sua base de clientes. Se não fosse a renda
do generoso pagamento mensal do seu novo inquilino bonito e seu
adorável menininho, ela poderia estar em apuros. Mas Kelly está
determinada a mudar as coisas.
Bane acabou de reinventar toda a sua vida na encantadora
cidade de Tarker's Hollow. Entre viagens de ida e volta para a pré-
escola com o seu doce filho, Ollie, e sua carreira de escritor
freelancer, Bane deveria estar muito ocupado. Mas é muito fácil se
distrair com a sua deliciosa senhoria por perto.
Quando Kelly sofre uma queda azarada, Bane e o pequeno Ollie
entram para ajudar no café. Mas enquanto Kelly está se
recuperando, ela começa a suspeitar de alguma atividade duvidosa
do outro lado da rua. Ela pode resistir ao chamado do magnetismo
animal de Bane tempo suficiente para resolver o mistério ou é
apenas a sua imaginação a enganando?

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Capítulo 01
Kelly

Kelly McDermott olhou pela janela para a cliente que se


aproximava.
Minna Randolf estava praticamente trotando em direção à loja.
A mulher mais velha usava uma camisa com gatinhos hoje. Seus
amplos seios faziam os felinos amigáveis parecerem acenar
enfaticamente a cada passo.
Kelly olhou para suas mercadorias uma última vez.
Tudo estava em ordem. Os muffins nos cestos estavam
alinhados como soldados, mirtilos suculentos e coberturas de bolo
de café orgulhosamente em exposição. Os bagels se apoiavam uns
nos outros em longas filas, exibindo-se, redemoinhos de centeio,
mares de sementes de sésamo e pedaços de cebola crocante. Galões
de aço inoxidável de café com aroma perfumado alinhavam-se na
bancada.
E sob a caixa de vidro, no centro de um círculo de garras de
urso estava a pièce de résistance1 - uma montanha de bolos de
canela perfumados, seu verniz brilhando à luz da manhã.
Kelly suspirou com satisfação.
Tinha que acordar antes das cinco todos os dias para que isso
acontecesse, mas o Mornings at McDermott's estava pronto para
negócio.

1 Expressão em francês que se refere à parte mais significativa ou valorizada de algo.

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Kelly sempre sonhou em ter uma loja de livros e bolos. Quando
abriu este espaço logo após a avó ter lhe deixado uma boa quantia
em dinheiro de herança, ela achou que era para ser.
Por enquanto, os livros nas prateleiras embutidas que Jack
Harkness tinha instalado para ela eram todos dela, grátis para
qualquer cliente pedir emprestado.
Mas um dia ela esperava fazer do lugar uma verdadeira
livraria, onde autores locais pudessem vir fazer leituras e vender o
seu trabalho.
Lá fora, Minna quase chegou à loja.
Kelly não podia deixar de notar o olhar preocupado no rosto da
sua cliente favorita. Minna estava olhando para o relógio, quase
como se estivesse atrasada.
Kelly não sabia como alguém podia se atrasar para ir buscar
um pão de canela e enrolar-se com um bom livro, mas era a única
maneira de explicar a expressão de Minna.
Depois aconteceu.
Minna virou-se e foi para o prédio do outro lado da rua.
A boca de Kelly abriu-se com horror.
Et tu, Minna?2
Mas tinha visto com os próprios olhos.
Minna estava indo direto para a porta do Yoga Valhalla.
Kelly suspirou e olhou ao redor do café.
Estava vazio.
E parecia que ficaria assim um pouco mais.

A personagem faz um trocadilho com a expressão original “Et tu, Brute?”, usada para quando a traição
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vem de uma pessoa inesperada.

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Desde que Whitney Ogden abriu o Yoga Valhalla do outro lado
da rua, ninguém parecia querer comprar mais produtos artesanais
e chocolates.
E fazia um certo sentido.
As janelas gigantescas do estúdio de yoga tinham uma visão
direta para o café. Kelly imaginou que seus clientes deviam sentir-
se culpados por aproveitar carboidratos e literatura à moda antiga
na frente dos seus amigos preocupados com a boa forma.
Kelly não tinha nada contra um bom exercício, ela gostava de
uma longa caminhada todas as noites. Mas não podia negar que
este estúdio em particular, neste local em particular, estava
dificultando as coisas para ela.
O outono era tipicamente a época agitada do seu negócio. Mães
fora da rotina que apressavam os filhos para a escola paravam para
um estímulo pago e, se gostassem da experiência, adotavam um
novo hábito que envolvia livros e produtos assados. Mais fundo na
temporada, os compradores paravam para um lanche rápido e um
cartão presente.
O seu tempo mais parado era normalmente em janeiro, quando
muitas pessoas ainda tentavam manter as suas promessas de Ano
Novo.
Mas se as coisas continuassem assim, ela poderia não
sobreviver até janeiro.
Pelo menos ainda tinha um cliente regular com quem podia
contar. Bem, dois...
Ela sorriu para si mesma enquanto voltava para a cozinha,
pensando em Bane Wilson e seu filho Ollie.
Quando Kelly comprou o edifício, estava entusiasmada com os
dois apartamentos acima da loja. Ela teria um para si e o outro

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daria uma fantástica suíte de hóspedes para os autores visitantes
um dia.
Mas os últimos seis meses após a abertura do estúdio de yoga
foram ruins, e ela decidiu alugar o outro apartamento para ajudar
o seu negócio a manter-se à tona.
Dulcie Blanco, do Tarker's Hollow Realty Group, encontrou um
inquilino perfeito em um aluguel tão alto que Kelly receava que não
fosse ético.
— Não há muitos lugares em Tarker's Hollow, por isso é
simples oferta e procura — explicou Dulcie — E Bane tem muito
dinheiro. Ele só precisa de um lugar para si e para Oliver enquanto
esperam que a casa grande venda.
Bane Wilson era uma espécie de lenda em Tarker's Hollow, pelo
menos entre os nerds de livros como Kelly e seus amigos. Popular
e atlético no ensino médio, mas sempre educado e amigável, Bane
tinha uma carreira de destaque como agente literário em Glacier
City.
Mas quando a irmã e seu marido morreram num acidente de
carro, ele desistiu de tudo para voltar para Tarker's Hollow e criar
o sobrinho, Oliver, em sua comunidade natal.
Bane nem sequer mantinha a casa, um requintadamente
renovado casarão de pedra colonial na Avenida Elm. Rumores
diziam que o plano dele era encontrar uma casinha no centro da
cidade e colocar os lucros da venda da casa grande e velha numa
conta universitária para Ollie.
Kelly McDermott foi tudo, menos popular no ensino médio. As
curvas que ela tinha aprendido a amar na idade adulta tinham
acabado de surgir naquela época. Sua baixa estatura a fazia

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parecer ainda mais corpulenta. E o chamativo aparelho dental a
fazia esconder seu sorriso tímido.
Ela sabia que Bane Wilson era um cara legal, mas não
frequentava exatamente os mesmos círculos.
Agora que o via todos os dias tinha que admitir que todos
tinham razão sobre ele, ele era mesmo perfeito.
Mas não tão perfeito quanto Ollie.
Com três anos e cheio de maravilhas, Oliver Wilson era a
personificação do próprio espírito de Kelly. Adorava assar, adorava
livros e não escondia seus sentimentos.
Ela adorava-o e temia o dia em que os dois iriam
inevitavelmente passar para coisas um pouco maiores e muito
melhores.
Mas até lá, estava determinada a tornar a vida o mais alegre
possível para Ollie.
Agarrou a caixa que tinha chegado ontem à tarde no seu
pequeno escritório e voltou para o café para se instalar. Se fosse
rápida, podia fazer tudo antes de Ollie descer.

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Capítulo 02
Bane

Bane Wilson tentou não sorrir enquanto enfrentava o seu


adversário.
— Não — falou Ollie, a palavra um pouco abafada pela sua
máscara de dinossauro favorita.
— Agora, Ollie — exigiu Bane razoavelmente — Já falamos
sobre isto antes. Não pode usar uma fantasia na pré-escola.
— Por que não? — questionou o pequeno dinossauro, batendo
o pé poderoso.
— Bem, para começar, a sua professora pode ficar confusa —
explicou Bane. — Onde está o Ollie? Está perdido? — a sua imitação
da Professora Helen era muito boa, ele tinha muita prática. Fingiu
olhar por todo o quarto — Oh nossa, oh nossa, nossa, nossa... —
farejou um pouco para o efeito. Ollie adorava a Professora Helen.
— Estou aqui! — Ollie gritou, arrancando a máscara.
— Oh, graças aos céus — continuou Bane na voz da professora
Helen.
Ollie enrolou os braços em volta da cintura de Bane.
Bane sentiu a angústia familiar de orgulho e perda.
Ollie era a cara de sua mãe e irmã de Bane, Risa, em momentos
como este. Sentia muita falta da sua exuberância e estava muito
grato por ter essa pequena pessoa para lembrá-lo dela.
— Isso não acontecerá realmente — falou Ollie, parecendo um
pouco incerto — Ainda posso usar a minha fantasia.
— Que tal um compromisso? — Bane sugeriu.
— Ok — concordou Ollie, olhando para ele.
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— Lembra-se do que é um compromisso? — Bane perguntou.
— Sim — confirmou Ollie seriamente — Consigo o que quero,
mas só mais ou menos.
— Uau, amigo, muito bom — exclamou Bane, acenando. —
Que tal este compromisso? E se você não usar a fantasia de
dinossauro, mas usar seus tênis de luzinha de dinossauro e a
mochila de dinossauros?
Ollie considerou-o por um momento.
— Sim, está bem — concordou finalmente, tirando a fantasia
e deixando-a no chão numa pilha.
Bane achou que podiam concentrar-se na limpeza mais tarde.
Por enquanto, a calma negociação foi uma vitória.
— Ótimo — disse Bane. — E olha, até embalei este palito de
queijo de dinossauro para o seu lanche.
Mostrou ao Ollie o palito de queijo.
— Isso não é um palito de queijo de dinossauro — falou Ollie.
— É só um palito de queijo normal.
— Não se comer assim: Rawwwrrrrrr— disse Bane.
Fingiu devorar o palito de queijo enquanto o segurava com as
minúsculas mãos do T-Rex.
O riso de Ollie era como uma cascata.
— Está pronto para ir para a pré-escola? — Bane perguntou.
— Sim — respondeu Ollie.
— Tênis nos pés?
— Sim.
— Mochila nas costas?
— Sim.
— Certo — disse Bane. — Vamos lá.
Saíram juntos do apartamento e desceram a estreita escadaria.

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Ollie andou à frente, obrigatoriamente segurando o corrimão,
mesmo que fosse alto para ele. Outro compromisso, porque não
queria ter que segurar sempre a mão de Bane.
— Bom dia, Ollie. — A voz de Kelly cantou quando chegaram
ao café abaixo.
Estava dobrada sobre algo no canto perto da caixa de vidro,
mas levantou-se e acenou para Ollie.
— Olá, Kelly, estou com fome — diz Ollie, procurando um
petisco de sua simpática senhoria.
— Eu esperava que você dissesse isso — disse Kelly. — Fiz algo
novo esta manhã e preciso de alguém para experimentar.
— Eu! — gritou Ollie, encantado. — Eu experimento!
— Obrigada, Ollie — agradeceu Kelly.
Bane observou enquanto ela corria para trás do balcão.
Kelly McDermott foi o tipo quieta na escola. Bane se lembrava
dela sempre quieta , escondendo-se atrás daquela sedosa cascata
de cabelo.
O cabelo macio estava preso em um rabo de cavalo hoje, então
ele podia ver seu rosto em formato de coração. Ela se transformou
em uma bela mulher que se sentia em casa em sua própria pele.
E ela ficava especialmente bonita quando falava com Ollie.
— Está bem — fala ela, carregando um pequeno saco — Você
sabe quando, às vezes, quer experimentar um muffin, mas é muito
grande?
Ollie sabia. Acenou com entusiasmo.
— Estes são mini-muffins — fala Kelly. — Desta forma você
pode experimentar três muffins diferentes e eles têm o tamanho
certo.

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— Oh! — Exclama Ollie, com os olhos brilhando enquanto
examinava o saco de pequenos muffins.
— Experimente-os e quando você chegar da escola pode me
dizer se gostou deles, ok? — Kelly pediu. — Coloquei-os num saco,
caso você queira guardar um pouco para o seu lanche.
— Juro que o alimento — fala Bane calmamente.
Ela sorriu para ele, olhos brilhantes, e sentiu algo mudando
no peito, um sussurro de excitação.
O lobo dentro dele levantou as orelhas e provou o seu cheiro.
Era requintada.
—Minha.
— Você é um ótimo pai —ela fala alegremente. desconhecendo
o efeito que tinha no lobo dele. — Eu só gosto de dar-lhe um
pequeno mimo. Espero que esteja tudo bem.
— Está mais do que tudo bem — disse Bane, forçando-se a
olhar para longe dela.
Olhou para Ollie, que já estava provando um mini muffin e
fazendo sons de zumbidos felizes enquanto mastigava, as
bochechas cheias como um esquilo.
— É melhor ir — aponta Kelly. — Não quero que se atrasem.
— Claro — concordo relutantemente. — Até mais tarde.
Eles acenaram um adeus a ela e então saíram.
Bane respirou fundo o ar frio do outono para se concentrar.
Estava nublado, o ar úmido saturando as cores da pequena
cidade: calçadas cinza ardósia enfeitadas com folhas caídas em
chamas, placas de lojas brilhantes e as folhas amarelas e
escarlates brilhantes que ainda sussurravam ao vento através dos
galhos das árvores.

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O cheiro de chuva estava no ar e Bane podia praticamente
sentir o chiar do relâmpago.
Ou talvez fossem apenas os efeitos colaterais da sua interação
com Kelly.
— Acho que choverá hoje, amigo — falou Bane a Ollie, voltando
a entrar em modo pai. — Ainda tem o casaco na mochila, certo?
— Certo — respondeu Ollie com a boca cheia de muffin.
— Bom trabalho — elogiou Bane. — Como está o muffin?
— Ótimo. — Ollie guinchou.
— Kelly é uma boa padeira — disse Bane.
— Mm — Ollie concordou com a sua próxima mordida.
Eles caminharam, atravessaram Yale e passaram pelo centro
comunitário.
— Playgroup3 — Ollie apontou casualmente para o edifício no
seu caminho.
— Aham — concordou Bane.
A pré-escola estava do outro lado do estacionamento.
Normalmente havia um emaranhado de carros na entrada e os
gritos de crianças em triciclos e brincando na caixa de areia.
Porém, o lugar estava vazio, sem carros, sem crianças, sem
barricadas.
— De novo não — lamentou Bane, puxando o telefone.
A pré-escola era a melhor da área, mas fechavam para todos
os feriados imagináveis conhecidos pelo homem.
— Não tem ninguém aqui — falou Ollie tristemente.
— Deve ser o Dia do Pirata ou algo assim — disse Bane,
percorrendo o seu telefone para ver se tinha um e-mail sobre isso.

3Um grupo organizado que fornece cuidado e socialização para crianças menores que 5 anos, menos
formal que a pré-escola.

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— É? — Ollie perguntou animadamente.
— Oh, eu estava brincando, amigo — cortou Bane. — No
entanto, pode falar como um pirata, se quiser.
— Falarei como um dinossauro — decidiu Ollie. — Rawrrrr!
Bane sorriu e rugiu de volta.
Sim, havia um e-mail. A pré-escola estava fechada hoje para
revigoração de pessoal, o que quer que fosse. Até estava no
calendário dele.
Bane suspirou.
Embora soubesse que estava dando o melhor no seu novo
papel de pai, e tentando habituar-se ao seu novo estilo de vida,
esta era a prova positiva de que ainda estava sobrecarregado e
tendo dificuldades em manter-se organizado.
— Vamos para casa — chamou a Ollie. — Acho que começará
a chover em breve.
— Podemos ir à biblioteca? — Ollie pediu.
— Claro — disse-lhe Bane. — Mas faremos isso depois que eu
tomar o meu café.
— É um bom compromisso — anunciou Ollie e dirigiu-se para
a loja, olhando para os seus pezinhos a cada poucos passos para
admirar as luzes dos seus tênis.
Bane pensou no plano dele para o dia. O BuzzLine estava
procurando pela lista dos dez melhores e tinha uma em mente para
fazer hoje enquanto Ollie estava na escola. Perguntou-se se
conseguiria fazê-la durante a soneca.
A escrita freelancer foi o seu primeiro trabalho fora da
faculdade, colocou comida na sua mesa enquanto fazia um estágio
não remunerado na Glacier City Press que o levou a entrar na
equipe de aquisições. A partir daí, ele fez as conexões que o levaram

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a atuar como agente literário com uma estrela em ascensão e
depois com outra.
Foi um pouco estranho voltar a escrever posts de blog. Porém,
a beleza disso era que qualquer um podia fazê-lo por dinheiro
rápido.
Escreveu-os com um pseudônimo, por isso ninguém tinha de
saber que Bane Wilson estava completamente fora do jogo editorial.
Embora soubesse que enquanto vivesse em Tarker's Hollow era
improvável que voltasse a trabalhar na publicação.
Ele tinha muitas economias, as dele e de Risa, que ela havia
lhe deixado.
Entretanto, não parecia certo gastá-las. Para ele, esse dinheiro
realmente pertencia a Ollie.
Gastar dinheiro no aluguel do apartamento enquanto
esperavam a venda da casa era uma coisa. O psicólogo infantil
disse a ele que seria ideal se Ollie pudesse começar do zero e não
tivesse que pensar em novas pessoas entrando em sua casa. O
apartamento seria um ótimo lugar para fazerem a transição para
suas novas vidas juntos.
Além disso, Bane gostava de trabalhar e queria aumentar as
suas fortunas, não diminuir.
— Você está de volta! — Exclamou Kelly enquanto Ollie abria
a porta do café, fazendo os sinos tilintarem.
— A pré-escola está fechada — falou Ollie. — É o Dia de Falar-
como-Dinossauro! Rawwrrr!
— Isso é espetacular — disse Kelly — porque tenho uma
surpresa para você.
— Tem? — Ollie parecia ter ganho na loteria.

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— Bem, não é só para você, é para qualquer criança que venha
ao café com os seus adultos — corrigiu Kelly.
Bane estava agradecido pela maneira fácil como ela disse, com
os adultos e não, com os pais. Ollie era seu filho adotivo agora,
porém, ainda se lembrava do pai, e não queria que isso mudasse.
Ollie seguiu Kelly até ao canto onde uma pequena mesa de
madeira com três cadeiras estava montada.
Na mesa estava um conjunto de lápis de luxo numa caixa
enorme e, ao lado dela, uma pilha de livros de colorir e atividades.
O de cima tinha uma foto de um T-rex rugindo.
— Uau — Ollie gritou, puxando uma cadeira e indo direto ao
ponto.
Kelly sorriu-lhe com carinho e Bane sentiu as chamas
lambendo o seu coração.
— Minha — o lobo rosnou.
— Obrigado — agradece Bane, ignorando o lobo. — É muito
legal da sua parte.
— Acho que assim você pode tomar um café e relaxar por um
minuto. —conclui Kelly.
— Um café parece ótimo — disse ele. — E talvez eu possa
trabalhar por alguns minutos.
— Vá buscar o seu notebook — disse-lhe Kelly. — Ficarei de
olho em Ollie.
— Obrigado — agradece, dirigindo-se para as escadas antes
que pudessem fazer contato visual e mandar o lobo para um frenesi
novamente.
Ele não sabia por que é que o seu lobo interior andava tão louco
com ela ultimamente, mas se a besta tinha de perder o controle,
pelo menos era por alguém simpático como Kelly McDermott.

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Capítulo 03
Kelly

Kelly serviu uma xícara de café a Bane e colocou uma garra de


urso em um prato para ele enquanto Ollie se dedicava ao livro de
atividades dos dinossauros.
Sabia que não seria para sempre. No entanto, era divertido
passar um tempo com os dois rapazes, como se fossem uma
família.
Os sinos da porta tilintaram e ela olhou para cima,
esperançosa. Entretanto, seu coração afundou quando viu a
mulher magra como um trilho com o cabelo preto escuro entrar.
— Olá, Kelly. Namastê — Whitney Ogden disse
despreocupadamente. — Vejo que está cheio como sempre.
Whitney riu. Foi um som esvoaçante, tão agudo quanto falso.
Kelly sentiu suas costas se endireitarem defensivamente.
— O que posso fazer por você, Whitney? — perguntou,
esperando que a sua voz fosse calma e firme.
— Tomarei um chá pequeno — pediu Whitney. — Tem alguma
coisa orgânica?
— Os chás de ervas estão no balcão, sinta-se à vontade para
dar uma olhada — ofereceu Kelly, indicando os frascos de vidro
contendo saquinhos de chá com etiquetas afixadas no exterior.
Passaram por esta conversa exata da última vez em que
Whitney a visitou.
— Este hortelã é de origem responsável? — Whitney
perguntou.
— Duvido — respondeu Kelly o mais educadamente possível.
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— Temos de estar atentos às coisas que deixamos entrar nas
nossas vidas — disse Whitney, virando-se dos frascos de chá.
Sim, e as pessoas que deixamos entrar nas nossas lojas, Kelly
pensou para si mesma.
— Já pensou na minha proposta? — Whitney perguntou.
Kelly ouviu os passos de Bane nas escadas.
Ótimo, seria testemunha de sua humilhação nas mãos de
Whitney.
— Não realmente — respondeu Kelly.
— Bem, acho que seria do seu interesse vender — disse
Whitney, enquanto Bane aparecia com o seu notebook e se sentava
em sua mesa preferida. — Obviamente você não está indo bem. E
estou oferecendo mais do que o valor de mercado para a
propriedade.
— Estou indo bem — retrucou Kelly.
— Digamos apenas que estava indo bem — disse Whitney, com
um olhar amargo na cara. — Não preferiria ver este edifício ser
usado da melhor forma? Se eu pudesse abrir uma loja de sucos
detox aqui, meus alunos teriam uma opção saudável do outro lado
da rua. O lugar estaria ocupado dia e noite. E você já tem o local
para servir comida.
— Não estou interessada, Whitney — disse Kelly — mas
obrigada.
Whitney começou a girar nos calcanhares, porém, parou no
meio.
— Bane Wilson? — perguntou.
Bane olhou para cima.

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Kelly tentou não assistir enquanto Whitney se arrastava até a
mesa de Bane e se curvava sobre ele com um sorriso largo e
sedutor.
— Whitney — Cumprimentou.
— Ouvi dizer que você estava de volta à cidade — disse ela. —
Que emocionante.
Kelly percebeu o que estava por vir e se preparou. Bane e
Whitney se destacavam no meio da multidão popular no colégio.
Logo Whitney estaria sussurrando para ele, cobrindo sua boca
enquanto ria e olhando para trás na direção de Kelly. Era o ensino
médio de novo.
Ela se concentrou em limpar a bancada.
— É bom estar em casa — disse Bane sem compromisso.
— Então, eu sei que você trabalhava com editorial —
prosseguiu Whitney — O que significa que tem conhecimento de
marketing.
— Eu trabalhava — ele concordou.
Whitney deslizou para a cabine em frente a ele e mexeu o seu
cabelo perfeitamente modelado num movimento tão gracioso que
parecia estudado.
— Estava pensando se talvez você estivesse interessado em
fazer um trabalho de anúncio freelancer para mim — sugeriu. —
Ao contrário deste café ultrapassado, o meu estúdio de yoga está
pronto para ir para o próximo nível.
Um clarão de algo brilhante iluminou as características dele e
depois desapareceu antes que Kelly pudesse ter certeza de que
tinha visto. Parecia raiva, mas talvez estivesse reparando no quão
apertada era a roupa de Whitney.

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— Estou um pouco fora do seu nível, Whitney — ele disse com
frieza — Quem sabe você pudesse pensar em se colocar em um
banco de praça ou em um carrinho de compras?
Kelly teve que morder o interior da bochecha para evitar rir.
Whitney vacilou por um momento e depois colocou o seu
sorriso brilhante de volta.
— Você não é muito doce? — ela ronronou — Querendo ver a
minha cara por toda a cidade.
Ela deslizou para fora da cabine.
— Tenho de correr, tenho aulas daqui a dez minutos e juro que
até o ar aqui está cheio de carboidratos. Namaste.

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Capítulo 04
Bane

Bane fingiu ver Whitney partir.


Na realidade, estava estudando Kelly com o canto do olho,
apreciando o olhar satisfeito em seu rosto.
A ideia de que a fez sorrir era gratificante em muitos níveis.
— Minha. — O lobo disse novamente.
Mas Bane sabia melhor.
Havia inúmeras razões pelas quais seria uma má ideia se
apaixonar pela sua senhoria. A maioria delas girava em torno de
Oliver e sua determinação em oferecer ao seu filho um ambiente
estável e previsível.
No momento, sua moradia, suas comidas favoritas e seu tempo
de inatividade giravam em torno de Kelly de uma forma ou de
outra.
Bane não correria o risco de bagunçar isso. Não podia.
E isso nem sequer tocou no fato de que ele era um shifter.
Se Kelly soubesse que ele se transformava em um lobo enorme
e corria pela floresta de Tarker’s Hollow College toda lua cheia,
quem sabe o que ela faria?
Manter o status de shifter em segredo era o objetivo principal
de cada lobo em Tarker’s Hollow, ensinado a eles desde a
adolescência, quando o presente chegava pela primeira vez para a
maioria dos lobos.
Se houvesse alguma chance do seu lobo realmente pensar que
Kelly McDermott era sua companheira, ele não tinha certeza se
poderia esconder o segredo dela.
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— Só para que você saiba, foi épico — Kelly disse, tirando-o do
seu devaneio. — Quero dizer, carrinhos de compras e bancos? Pode
imaginar?
Ele sorriu para ela.
Ela colocou um prato com uma garra de urso à sua frente e
colocou uma caneca de café quente ao lado.
— Por conta da casa.
— Nem pensar — disse. — É uma experiência pela qual vale a
pena pagar. E as suas garras de urso são algo mais.
Além disso, Whitney não estava exatamente errada sobre a
falta de negócios no café. Bane secretamente preocupava-se com o
fato de Kelly não estar ganhando dinheiro suficiente para manter
as portas abertas. Esperava que o seu aluguel ajudasse. Dulcie
Blanco disse-lhe que o proprietário estava aberto a negociações,
porém, ele não se sentia bem em negociar sobre o preço quando
este era o único apartamento adequado na cidade.
Agora estava feliz por ter deixado isso para lá. Kelly merecia
um bom preço por um lindo apartamento em uma localização tão
boa.
E ela merecia não se preocupar com dinheiro.
— Quer sentar-se? — perguntou.
Ela examinou o café vazio.
— Claro, acho que posso relaxar por um minuto.
— Então ela está tentando comprar o edifício? — Bane
perguntou.
Kelly acenou com a cabeça.
— Não se preocupe, não o perderei. Comprei-o com uma
herança da minha avó, por isso não devo uma hipoteca.

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— Então você não tem um problema de tesouraria? — Bane
perguntou.
— Bem, a loja nunca foi uma grande fazedora de dinheiro —
declarou Kelly com um encolher de ombros — e tem diminuído um
pouco ultimamente. Mas estou pensando no que fazer a respeito.
Só então os sinos sobre a porta tilintaram.
Kelly saltou para cima, deixando um eco suave do seu cheiro
sedutor ali para enlouquecê-lo.
— Como posso ajudá-la? — perguntou.
Bane viu que era a companheira do seu amigo Axel, Delilah,
com o bebê Noah na cintura.
— Cheira tão bem aqui — suspirou Delilah feliz.
— Obrigada — respondeu Kelly.
— Ainda tem bolos de canela? — Delilah perguntou.
— Claro que sim.
Bane ouviu Kelly empacotar uma caixa de guloseimas para
Delilah levar de volta à loja para desfrutar com Axel e o seu
aprendiz.
Fez uma nota mental para agradecer a Axel por patrocinar o
café da próxima vez que o visse.
Ollie ainda estava pintando feliz em sua mesinha, então Bane
pegou seu laptop e se conectou.
Foi agradável trabalhar neste canto do café, assistindo o
burburinho diário de Tarker's Hollow passar pela janela.
O tamborilar de vozes femininas ao fundo lembrava-o da sua
infância quando suas tias estavam na cozinha, bebendo vinho e
cozinhando com sua mãe. Era um som familiar e reconfortante e
ele estava feliz por Ollie tê-lo em sua vida, mesmo que eles
estivessem apenas no café.

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Ele estava quase terminando seu artigo Dez Melhores Destinos
para Fim de Semana na Pensilvânia quando Ollie veio trotando,
carregando seu livro de atividades e o seu dinossauro favorito, um
T-Rex de plástico com rodas chamado Tyrone, que ele deveria ter
tirado da mochila.
— Olha — disse Ollie. — Fui eu que fiz. Tyrone ajudou.
Bane se moveu rapidamente e abriu espaço para o corpo
pequeno e quente se mexer ao lado dele.
Eles examinaram a página para colorir que Ollie tinha acabado
de preencher.
As cores eram brilhantes e alegres e principalmente dentro das
linhas. Ollie tinha colorido cada parte do grande dinossauro.
Bane estava orgulhoso que seu menininho tivesse tanto foco
em uma idade tão jovem. Era um bom presságio para qualquer
coisa que ele quisesse fazer no futuro.
— Podemos ir à biblioteca agora? — Ollie perguntou,
espreitando sobre a borda da caneca de café vazia de Bane.
— Nós absolutamente podemos — respondeu Bane. — Vamos
apenas correr para cima para uma pausa no penico e um guarda-
chuva, ok?
— Ok — concordou Ollie.
— Ponha o livro de atividades de volta na mesa e o dinossauro
na sua mochila — Bane pediu.
Ollie saiu da cabine e apressou-se a obdecer. Adorava a
biblioteca.
Bane tirou uma nota de dez da carteira e colocou-a debaixo da
caneca de café. Dessa forma, não teria que discutir com Kelly sobre
sua refeição ser por conta da casa.
— Vamos para a biblioteca, Kelly — avisou Ollie.

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— Divirta-se, Ollie — disse ela.
Mas Ollie voltou a interessar-se pelo livro de atividades.
Infelizmente, ele estava fazendo a dança que dizia que tinha de
fazer xixi.
— Hora de subir as escadas, Ollie — pediu Bane gentilmente.
— Mais um minuto — respondeu Ollie, balançando.
— Não, acho que temos de ir agora — disse-lhe Bane.
— Não, não, mais um minuto — lamentou Ollie.
— Subirei agora, adeus — disse Bane, dirigindo-se para as
escadas. Sabia que Ollie o seguiria.
Ele só tinha chegado a meio caminho na escada quando ouviu
pequenos passos subindo.
— Aqui vou eu — anunciou Ollie.
Ele quase alcançou Bane quando houve uma pequena batida.
— O que foi aquilo? — Bane perguntou.
— Tenho de ir ao banheiro — lamentou Ollie em seu volume
máximo.
— Ok, vamos lá — disse Bane — Pegarei o que quer que seja
quando você chegar ao banheiro.
Chegaram ao apartamento e ao banheiro bem a tempo.

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Capítulo 05
Kelly

Kelly sorriu quando viu o seu ajudante chegar. Jeb Harkness


parecia alegre e bem descansado.
— Pronta para uma pausa, Kelly? — perguntou, pendurando o
guarda-chuva no cabideiro perto da porta da frente.
Após os primeiros meses acordando antes das cinco e ficando
na loja até fechar à noite, Kelly estava exausta. Ela se deu ao luxo
de contratar um ajudante de meio período para que pudesse ter
algumas horas para tirar uma soneca ou relaxar no meio do dia.
Jeb estava em licença sabática de um cargo de professor e feliz
por ter uma pequena renda com algumas horas de trabalho por
dia. Foi um arranjo perfeito.
— Muito pronta — ela concordou. — Está tudo silencioso,
então já fiz a maior parte da arrumação, entretanto, fique à vontade
para limpar o vidro novamente se quiser.
— Sim — concordou Jeb, dirigindo-se para o balcão.
Kelly acenou-lhe e dirigiu-se para a escadaria que levava ao
seu apartamento.
Ollie chorava no topo dos degraus.
— Não se preocupe, amigo, encontrarei Tyrone — disse Bane.
Ela não teve tempo para registrar as palavras antes de seu pé
bater em algo duro no próximo passo.
Ouviu-se um pequeno rugido metálico de dinossauro lá
embaixo quando seu pé escorregou e então, ela estava caindo,
caindo.

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Uma lufada de ar levantou as mechas soltas que haviam
escapado do seu rabo de cavalo e, em seguida, braços fortes
envolveram sua cintura.
— Kelly — murmurou Bane —Você está bem?
Ele a rodeou, enchendo seus sentidos com sua grande e
calorosa presença. O cheiro dele a envolveu, como uma floresta de
pinheiros no crepúsculo.
— Caí — ela falou estupidamente.
— Eu sei, sinto muito — ele lamentou.
A dor floresceu no seu tornozelo direito, tão intensa que a fez
sentir náuseas.
— O meu tornozelo — falou suavemente.
— Kelly, você caiu? — Ollie perguntou de cima, a sua voz
assustada.
— Estou bem — ela disse-lhe.
— Já está inchado — avisou Bane, olhando para o tornozelo.
— Temos que levá-la ao hospital. Sinto muito.
— Ficarei bem — insistiu. — Colocarei um pouco de gelo nele.
Tyrone ainda estava na escada acima. Ela se abaixou para
pegá-lo, esperando não ter quebrado o T-Rex.
A dor explodiu novamente em seu tornozelo e ela gritou.
— Ponha o braço em volta do meu ombro — pediu Bane. —
Ollie, desça com cuidado, segure o corrimão. Tyrone está aqui.
Vamos para o hospital com Kelly.
— Para que possam consertar sua perna? — Ollie perguntou.
— Sim, exatamente — disse Bane.
— Não preciso do hospital — argumentou Kelly, mas a sua voz
ainda estava tremida de dor.
— Vamos de qualquer maneira — insistiu Bane firmemente.

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Kelly esperou até Ollie chegar a eles e recuperar o seu
brinquedo. Depois pôs um braço sobre o ombro largo de Bane e
permitiu-lhe ajudá-la a descer as escadas e passar pelo seu
assistente confuso.
— O que aconteceu? — Jeb perguntou. —Você saiu há um
minuto.
— Caí nas escadas — admitiu Kelly, sentindo-se muito
envergonhada.
— Você deveria segurar no corrimão, Kelly — falou Ollie
solenemente — Então, se começar a cair, pode se segurar.
— Isso é tão inteligente, Ollie — disse-lhe ela, incapaz de conter
um sorriso, apesar da dor. — Me lembrarei disso a partir de agora.
Foram para o beco de trás.
Bane abriu a porta do carro e ajudou-a a entrar.
— Espera aí, Ollie — ele gritou.
— Estou bem — disse-lhe ela, deslizando o cinto de segurança.
Alguns minutos depois, todos estavam seguros e iam para o
Hospital Springton.
— Temos muita sorte em ter uma instalação médica, nos
subúrbios, como esta — disse Bane.
— Shopping — Ollie chorou ao passar pelo grande centro
comercial.
— Sim, amigo, vamos para lá outra hora — disse Bane.
— A perna da Kelly — falou Ollie tristemente.
— Ficarei bem, Ollie — tranquilizou o Kelly, puxando a viseira
para que pudesse vê-lo no espelho.
Ele sorriu para ela.
— Não se preocupe Kelly. O médico lhe dará um pirulito por
ser corajosa. Mesmo se você chorar.

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Bane parou na placa da Sala de Emergência.
Quando ele a ajudou a sair do carro, ela sentiu a dor disparar
outra vez sem sequer pôr peso no pé. Era definitivamente pior do
que ela estava disposta a admitir.
— Dói, não é? — Bane perguntou com simpatia.
— Tenho certeza que é só uma contusão — ela mentiu.
Ele tirou Ollie e entraram, Kelly apoiando-se em Bane.
— Bane? — uma voz masculina chamou do lobby.
— Oi, Dr. Stevenson — cumprimentou Bane.
Um homem de cabelo escuro e uniforme se aproximou.
— O que aconteceu? — ele perguntou.
— Sou uma idiota — falou Kelly. — Caí das escadas.
— Vamos levá-la lá para trás e eu darei uma olhada em você
— explicou o Dr. Stevenson, acenando a uma enfermeira que já
estava trazendo uma cadeira de rodas. — Vocês podem relaxar aqui
e eu os chamo depois.
— Quero ir com Kellyyyyyyyyyyyyyy — lamentou Ollie.
— Devemos dar-lhe privacidade, amigo — disse Bane
pacientemente.
— Não preciso de privacidade — disse Kelly. — Se vocês forem
permitidos lá, podem vir. Ou podem voltar para casa. Pegarei um
táxi quando acabar.
— Você só pode estar de brincadeira — reclamou Bane. — Um
táxi?
— Vocês estão vindo ou não, meninos? — perguntou a
enfermeira.
— Vamos — disse Bane.
Ollie sorriu.

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Kelly sorriu para ele enquanto a rolavam para longe. O que
quer que estivesse errado, pelo menos ela tinha duas das suas
pessoas favoritas ao seu lado.
E estava feliz com a companhia. Eles esperaram muito tempo
por um raio-X e, depois de cerca de uma hora, ainda esperavam
que o Dr. Stevenson voltasse para lhe dar algumas notícias. Kelly
estava começando a se sentir mal por Ollie e Bane terem que
esperar tanto, porém, também um pouco otimista por si mesma.
Certamente eles não a fariam esperar tanto tempo se algo
realmente estivesse errado com o seu tornozelo.
Os seus pensamentos foram interrompidos pelo regresso do
Dr. Stevenson.
— Ok, Kelly — disse com um sorriso suave. — Parece que tem
um tornozelo muito torcido.
— Só uma torção — ela suspirou em alívio.
— Torções podem ser mais dolorosas do que as quebras e
demoram o mesmo tempo para sarar — avisou o Dr. Stevenson. —
Colocarei uma bota nessa perna e você terá que ir com calma e
manter o peso fora dela por duas semanas.
— Duas semanas? — Kelly gemeu.
— Você quer que se cure corretamente — falou o Dr. Stevenson
severamente. — Se não descansar o suficiente, pode ter rigidez
nessa articulação para o resto da sua vida. Uma torção como esta
levará pelo menos seis semanas para sarar completamente; no
entanto, depois de duas semanas, acho que a deixarei apoiar o pé
outra vez, se prometer ter calma.
— Trabalho em pé — ela se preocupou em voz alta. — Não
posso fazer nada se não puder ficar de pé e andar.

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— Eu ajudo — se prontificou Bane imediatamente. — Não se
preocupe.
— Eu também, Kelly — disse Ollie, dando batidinhas em seu
braço.
— Bem, aí está — sorriu o Dr. Stevenson. —Receitarei um
analgésico. Precisará, pelo menos por uns dias. Entre isso, a bota
e alguns bons amigos, parece que estará nova num instante. Mas
tenha calma.
Kelly suspirou e acenou com a cabeça.
Seguiria as ordens do médico.
Não tinha muita escolha.

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Capítulo 06
Kelly

Kelly acordou na manhã seguinte com o sol quente brilhando


no rosto.
Por um momento, flutuou na memória de Bane e Ollie fazendo
companhia a ela ontem, dando-lhe sopa e a aconchegando na
cama.
Ollie até leu uma história para ela.
Então seus olhos se abriram e soltou um pequeno grito de
alarme.
Ela nunca acordou com o sol.
Dormira demais. O café não abriria na hora certa.
Sabia que não deveria ter tomado aquele analgésico.
Entretanto o médico insistiu que ela precisava e seu tornozelo
estava latejando quando chegou em casa.
Em pânico, conseguiu se levantar e engatinhar até o banheiro
para cuidar das suas necessidades básicas.
Decidiu que se vestir sozinha demoraria muito. Teria que se
sair bem com as calças de ioga e a camiseta que estava usando
ontem. Eram quase sete horas. Deveria abrir às oito.
Ela ainda poderia fazer o café. Talvez pudesse até juntar algo
no fogão que passasse por café da manhã. Os fornos não
esquentariam a tempo de assar.
Desceu as escadas lentamente, traseiro no chão, grata por
ninguém estar por perto para testemunhar a sua descida indigna.
Quando chegou ao último degrau, olhou em volta do café com
espanto.
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As cadeiras estavam de volta ao chão, as luzes estavam acesas
e ela podia sentir o calor sutil dos fornos da cozinha.
— Olá? — Bane gritou.
— É Kelly — ela gritou de volta para ele.
— O que faz aqui? — perguntou. — Eu ia buscá-la às sete e
carregá-la para baixo.
— Ia? — ela perguntou.
— Eu disse que ajudaria — lembrou ele.
— Pensei que se referia a ficar atrás do balcão.
O alívio caiu sobre ela, doce como chocolate quente.
— Nem pensar — falou ele. — Eu coloquei uma poltrona para
você na cozinha. Assim você pode me dizer o que fazer. Os fornos
estão pré-aquecidos, porém, preciso de suas receitas.
— Oh não, são segredos de família inestimáveis — disse Kelly.
— São? — Bane parecia castigado.
— Brincadeira — riu. — Ficaria feliz em lhe mostrar. Tem
certeza de que não se importa de passar o dia aqui?
— Odeio admitir, mas literalmente não tenho mais nada para
fazer — informou Bane.
Era tão bonito. Quase doía olhar para ele.
— Pensei ter visto você trabalhando numa coisa ontem — disse
Kelly.
— Sim, era apenas uma lista de top 10 para a BuzzLine —
contou. — Não é grande coisa.
— Proponho uma coisa — falou ela. — Se me trouxer o seu
notebook, trabalharei nisso enquanto assa para mim.
— É um bom negócio — ele disse. — No entanto, não precisa
fazer. Eu sou a razão pela qual está machucada em primeiro lugar.
— Gosto das listas de top 10 — admitiu.

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— Está bem então, quando o Ollie acordar, buscarei o
Notebook — aceitou ele.
— Meu Deus, o Ollie está lá em cima sozinho — gritou.
Bane apalpou o quadril onde estava o monitor.
— Ele sempre acorda gritando Está na hora do Ollie se levantar
agora — disse Bane com um sorriso. — Estarei lá em cima antes
que ele perceba que saí.
— Não está preocupado com ele? — Kelly perguntou.
— Não mais do que se esta fosse uma casa normal de dois
andares e ele estivesse lá em cima dormindo enquanto eu
preparava o café da manhã dele.
Ponto justo.
— Ok, então — disse Kelly. — Comecemos o nosso dia de troca.
Fico feliz que tenha pré-aquecido os fornos. Você pegou alguma
manteiga para amolecer?
— Não — admitiu ele, o seu rosto bonito de repente ferido.
— Não se preocupe — tranquilizou — podemos amolecê-la no
micro-ondas. Há uma caixa na gaveta de baixo do frigorífico.
Ele se abaixou para pegá-la e ela não pôde deixar de notar seu
jeans agarrado à sua bunda fabulosa.
Nem sequer olhe, Kelly, ela se repreendeu. Está fora dos limites
por TANTAS razões.
Bane estava fora do seu alcance e ela sabia disso, não havia
por que fazer papel de boba.
Além disso, ele estava hospedado na casa dela e o dinheiro do
aluguel ajudava muito.
E então havia o doce Ollie.
Não gostaria de fazer ou mesmo pensar em nada que pudesse
prejudicar seu relacionamento com ele. O rapazinho já tinha

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passado por bastante coisa. Ele precisava de tantos adultos
estáveis em sua vida quanto pudesse.
E se fosse honesta consigo mesma, Kelly meio que precisava
dele também.
A manhã passou voando. Bane era um aprendiz rápido e os
clientes de Kelly adoraram que ele os atendesse. Se notaram que
as garras de urso estavam um pouco deformadas ou que o café não
era refeito com a mesma frequência que em um dia normal, eles
não deixaram transparecer.
Fiel à previsão de Bane, Ollie acordou cantando Está na hora
do Ollie se levantar agora, por volta das oito. Ele ficou encantado
com a ideia de que Bane estava fazendo assados e quando o
pequeno Michael Connor e a mãe vieram acompanhá-lo até à pré-
escola para que Bane pudesse continuar trabalhando, saiu pela
porta com eles, gritando adeus aos dois.
Quando Jeb Harkness chegou para assumir o comando, Kelly
estava cansada, mas surpresa com a facilidade com que tudo
correra. Ela reprimiu um pequeno bocejo.
— Agora que sei o que estou fazendo, você pode dormir amanhã
— disse Bane à Kelly.
— Nem pensar — ela riu. — Entretanto, se está se oferecendo
para ajudar outra vez, a resposta é um sim descarado, por favor.
— Não seja tola — falou Bane rispidamente. — Farei isto até
você sair dessa bota e conseguir trabalhar sozinha.
Ela sorriu-lhe, tão agradecida que as lágrimas caíram dos
olhos.
— Você está bem? — ele perguntou, inclinando-se.
Ela acenou com a cabeça.

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— Só estou cansada, acho — admitiu ela. — Costumo
descansar enquanto Jeb está aqui, e foi uma longa manhã.
— Vamos levá-la de volta para cima então — disse Bane. —
Levante os braços.
Meu Deus, ele queria carregá-la.
— Oh, não, eu sou muito pesada — falou ela, acenando para
ele.
— Você não é muito pesada — disse ele.
— Já me viu?
Ele flexionou os músculos de uma forma boba.
Mas ele estava genuinamente tão esculpido que Kelly ficou
quase sem fôlego com a forma como seus braços esticaram as
costuras da sua camiseta.
— Além disso — ele continuou — se quer melhorar, não pode
ir para cima e para baixo daquelas escadas sozinha. Assustou-me
até à morte esta manhã.
Ele estava falando sério.
Ela sentiu o sangue correr para as bochechas.
— Levante os braços — ele repetiu.
Desta vez ela cumpriu e ele levantou-a nos braços, embalando-
a como um bebê.
Manterei isto profissional, ela disse a si mesma.
Porém, foi difícil não perder o controle dos seus pensamentos
quando os músculos dele estavam flexionando contra o seu peito e
a sua boca roçando o topo da cabeça dela, seu hálito quente
enviando pequenos arrepios de consciência através dela.
A jornada até lá em cima acabou cedo demais e então ele estava
de pé na sala de estar dela, nem mesmo sem fôlego por causa do

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esforço. Embora Kelly tivesse certeza de que sabia de uma maneira
de fazê-lo respirar pesadamente.
Ela empurrou esses pensamentos de lado.
— Precisa de alguma coisa? — ele perguntou. A sua voz era
profunda e áspera, como se estivesse tendo os mesmos
pensamentos que ela.
— Estou bem — ela gaguejou.
— Ligue quando estiver pronta para ir para baixo — pediu ele.
— Ou se precisar de alguma coisa.
Estou pronta para ir para baixo. E definitivamente preciso de
algo.
Kelly recompôs-se, sem saber exatamente o que tinha
acontecido com ela. Estava agindo como uma adolescente.
Bem, pensando como uma de qualquer maneira.
— Farei isso — assegurou-lhe.
Ele depositou-a na cadeira preferida dela e ela sentiu frio com
a perda dos seus braços quentes.
Deixou-a sozinha, fechando a porta atrás dele em silêncio.
Kelly não podia deixar de pensar como aguentaria mais duas
semanas deste tipo de tentação.

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Capítulo 07
Bane

Bane preparou o jantar para Ollie naquela noite, meio de olho


no macarrão com queijo e salsicha e meio de olho no seu pequenino
brincando com os brinquedos no chão da cozinha.
— Não se preocupe, Kelly, farei os pãezinhos de canela — disse
o triceratops de plástico de Ollie ao seu segundo melhor T-rex.
— Obrigada — agradeceu o T-rex educadamente. — Minha
perna estava doendo, mas não está mais. Eu tenho uma bota.
— Você tropeçou no brinquedo do Ollie — lembrou o
triceratops.
— Sim, entretanto não foi culpa do Ollie — T-rex disse
firmemente.
Bane sorriu e acenou para si mesmo.
Ele ainda tinha muito que aprender sobre a paternidade, no
entanto, estava feliz por ter conseguido garantir que Ollie não teria
um complexo sobre a queda de Kelly.
— Você está pronto para o jantar, amigo? — ele perguntou.
Os dinossauros bateram no chão.
— Estou com fome — concordou Ollie feliz.
Eles comeram na mesa da cozinha. Ollie balançou as pernas
de forma alegre e pegou todas as salsichas cortadas do seu
macarrão com queijo para comê-las primeiro.
Depois de um banho e uma história para dormir, ele estava
praticamente dormindo antes da sua cabeça bater no travesseiro.
De repente, o apartamento parecia muito silencioso.
Bane ficou sozinho com os seus pensamentos.
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E os seus pensamentos continuavam voltando para Kelly.
Não vá lá, ele disse a si mesmo. Nem pense nisso.
Mas ele se perguntou se ela tinha jantado. Como ela teria
preparado?
Ollie estava certo sobre a culpa não ser dele. Era culpa de
Bane. Ele ouviu o brinquedo cair, porém, não o recuperou a tempo.
E Kelly pagou o preço. Não deveria pelo menos se certificar de que
ela não estava perdendo refeições por causa disso?
Enfiou a cabeça no quarto de Ollie novamente, se perguntando
se ele poderia precisar de outra história para dormir.
Mas Ollie já estava dormindo.
Bane voltou para a cozinha para preparar um prato para Kelly.
Não era exatamente uma refeição cinco estrelas, mas esperava que
ela gostasse da comida caseira.
Ele prendeu o monitor de Ollie no cinto e atravessou o corredor
antes que pudesse mudar de ideia.
— Kelly — chamou ele, batendo suavemente.
— Bane? — perguntou.
— Sim. Eu trouxe um pouco de jantar para você — falou ele.
— Posso entrar?
— Claro — ela respondeu. — A porta está aberta.
Ele abriu e entrou.
Ela estava sentada no sofá, enrolada em um roupão branco
fofo, secando o cabelo com uma toalha azul claro.
Seu lobo gemeu com o cheiro dela, fresco, limpo, quente.
— Você tomou banho? — perguntou estupidamente.
— Bem, não foi fácil, mas sim — ela respondeu. — Você não
pode me ajudar com tudo.
— O inferno que não posso — ele retorquiu.

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Ela corou, ficando rosa até o topo do peito.
— Desculpa — ele murmurou. — Eu só me preocupo com você.
— O que é isso? — ela perguntou, parecendo ansiosa para
mudar de assunto. Estava olhando para o prato embrulhado em
papel alumínio nas mãos dele.
— Não fique muito entusiasmada — avisou. — É macarrão com
queijo com salsichas cortadas. E eu coloquei ervilhas também para
Ollie ter vegetais.
— Parece-me espetacular — ela respondeu; — Comida de
conforto. Obrigada. Estava pensando no que faria para o jantar.
— Quer companhia enquanto come? — ele perguntou,
lançando a cautela ao vento.
— Sim, claro — ela concordou. — Seria ótimo.
Ela deu palmadinhas no sofá ao lado dela.
Ele sentou, de costas para o braço do sofá, e tirou a cobertura
do prato.
— Obrigada, mais uma vez — agradeceu ela, pegando-o. —
Você é tão legal.
— Por que não seria legal? — perguntou.
Ela tinha um olhar estranho no rosto.
— O quê? — ele perguntou.
Ela encolheu os ombros e mordeu o jantar.
— Espero não ter feito nada para ofendê-la — ele disse
suavemente, relembrando todas as interações com ela desde que
se mudou para lá. Sempre tentou ser um inquilino atencioso.
— Só estava pensando no colégio — ela disse, parecendo um
pouco envergonhada.

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— Fui ruim para você no colégio? — Bane ficou horrorizado.
Tinha sido jovem, estúpido e sem noção. Mas não se lembrava de
tê-la perturbado.
— Não, não — ela disse imediatamente. — Claro que não. É
que o pessoal com quem você corria, eram todos tão... distantes.
Oh.
Bane tinha corrido com a matilha no colégio, literalmente.
Aquelas crianças, um grupo aparentemente aleatório,
abandonaram subitamente os seus vários grupos para se
juntarem.
Porque eram shifters.
Um a um, enquanto a adolescência trazia as suas bestas, as
crianças largavam os seus outros interesses por um tempo,
atraídos um para o outro enquanto exploravam o novo
conhecimento de que nunca mais seriam como as outras crianças.
Saber que era um shifter, que a sua família tinha de alguma
forma mantido este segredo dele toda a sua vida, foi esmagador e
estimulante. Havia tantas perguntas e emoções.
Bane sabia que era estranho ele e os outros terem abandonado
os seus velhos amigos para sair juntos.
E claro que não acolheram mais ninguém, haviam segredos de
vida e morte para serem guardados.
Mas não tinha pensado nisso de uma perspetiva externa, o que
deve ter parecido.
— Você nunca foi mau, mas houve alguns... — continuou Kelly
— como Whitney...
Cristo. Whitney Ogden tinha sido uma cadela fria muito antes
de descobrir que era uma shifter. Bane tinha visto seu

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ressentimento por ser diferente florescer em crueldade total
durante aqueles longos anos de colégio.
— Sei que não parece assim — falou Bane cuidadosamente —
mas ela é realmente uma pessoa muito problemática.
Kelly acenou e deu outra mordida no seu jantar, mastigando
pensativamente.
— Você não acredita em mim — disse ele. — Mas é verdade.
— Não é que não acredite em você — ela disse rapidamente. —
É que, bem, mulheres como Whitney parecem ter muito mais folga
por seus problemas do que o resto de nós.
— O que quer dizer com mulheres como Whitney? —
perguntou, genuinamente curioso.
— Oh — disse ela, parecendo surpresa — sabe, rica, magra,
bonita…
Merda.
Bane tinha a intenção de apenas vir aqui e certificar-se que
Kelly tivesse seu jantar e depois sairia antes de se fazer passar por
idiota.
Mas o lobo no seu peito não levaria esta última declaração de
ânimo leve. O lobo irritou-se com a implicação.
— Sabe o que é bonito? — Bane perguntou, sem se preocupar
em esperar por uma resposta. — O seu sorriso quando tem uma
surpresa para o meu filho é bonito. A sua paciência com os clientes
mais velhos é bonito. A maneira como você esgueira uma tigela de
leite para aquele maldito gato no beco quando pensa que ninguém
está olhando é a coisa mais adorável que já vi. Você é linda, Kelly
McDermott, e as outras coisas que mencionou não têm nada a ver
com isso.

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Ela olhou para ele, extasiada, os olhos castanhos arregalados
de surpresa, os lábios rosados ligeiramente abertos como se não
acreditasse.
— Não estava esperando um elogio — Kelly gaguejou,
arrancando o olhar dele enquanto tentava se recuperar. — Não me
importo com dinheiro e não tenho um complexo sobre o meu peso.
Estou feliz, sério. Não preciso que sinta pena de mim.
Dizer-lhe não foi suficiente.
O lobo uivava no seu peito.
Pegou o prato dela e colocou-o na mesa de café e ajoelhou-se
no chão à sua frente.
O instinto havia assumido agora e não importa o quanto a
parte mais inteligente dele sacudiu a gaiola para lembrá-lo de como
era estúpido se arriscar a arruinar uma coisa muito boa, ele não
conseguia se conter.
Ele afastou suas coxas para que pudesse se ajoelhar entre elas,
tonto com o calor perfumado dela.
—Minha. — O lobo rosnou de satisfação.
Era a sua companheira. Todo o resto era apenas um detalhe a
ser pensado mais tarde.
— Você não é apenas bonita, Kelly — disse-lhe enquanto se
inclinava para mais perto, tão perto que quase a tocava.
— Bane — ela murmurou.
Mas seus olhos estavam fixos nos dele e ela não protestou
quando ele fechou a distância entre eles para beijá-la.
Ela tinha um gosto requintado.
Seu coração disparou como se o seu sangue estivesse em
chamas. O lobo gemeu para reclamá-la.
Kelly o beijou de volta, suavemente, delicadamente.

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Bane colocou as mãos em volta dos ombros dela, implorando
ao lobo para deixá-lo manter o controle.
Ela se aproximou dele e quase viu estrelas.
Deslizou uma das mãos para passar os dedos pelo seu cabelo
dourado. Era tão macio e sedoso como sempre tinha imaginado.
Ela choramingou contra a sua boca.
Deslizou a outra mão pelo seu ombro, puxando o roupão de
banho pelo braço, expondo mais da sua pele radiante.
Afastou-se para olhar para ela.
Os lábios de Kelly estavam inchados, seus olhos brilhando de
luxúria.
Bane absorveu cada detalhe e, quando não aguentou mais,
caiu em seu pescoço, beijando e sugando suavemente o lugar onde
sua marca a tornaria sua.
Ela engasgou, enviando uma centelha de luxúria frenética por
suas veias.
Ele se afastou para olhar nos olhos dela enquanto abria
totalmente o seu roupão de banho.
A respiração de Kelly era superficial, os lábios separados.
Inclinou-se para beijá-la novamente, ardentemente.
Garota corajosa.
Ela beijou-o de volta com vontade, sua língua inteligente
acariciando a dele.
Ele abandonou seus lábios para beijar o oco da sua garganta,
sua clavícula.
Kelly esperou, as mãos cerradas ao lado do corpo, enquanto
ele caminhava para os seus seios.
Bane se perguntou como ela seria nua desde o dia em que se
mudou e o lobo sentiu o cheiro dela. A curiosidade o deixou louco.

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Agora seus lindos seios estavam expostos a ele, dois globos de
alabastro perfeitos, seus mamilos rosados implorando por sua
atenção.
Ele segurou um, acariciando suavemente o mamilo com a
ponta do polegar.
Kelly gemeu e ele perdeu toda a resolução, caindo sobre seus
seios e lambendo e chupando seus mamilos delicados até que ela
gritou, arqueando as costas.

48
Capítulo 08
Kelly

Kelly estava perdida na sensação, a boca quente de Bane em


seus mamilos, a aspereza da sua mandíbula áspera esfolando sua
pele sensível.
Ela fechou os olhos e deixou cair a cabeça para trás enquanto
Bane a beijava fazendo um caminho para baixo.
Kelly prendeu a respiração quando ele pressionou beijos em
sua barriga macia.
Ela lhe disse que não estava preocupada com o seu peso. E
amar seu corpo não era tão difícil nos dias de hoje como era no
colégio. Na maioria das vezes, conseguia se amar do jeito que era.
Mas, no final das contas, nunca se sentiu confortável com
ninguém amando seu corpo como era. Essa ideia era demais para
engolir. Há muito tempo estava enraizado nela que o desejo era
reservado para as magras.
Mas quando Bane envolveu as mãos ao redor dos seus
generosos quadris e acariciou suas coxas com desejo
inconfundível, ela se descobriu relaxando e acreditando nele.
Ela era desejável e ele a queria - assim como ela era. Estava
claro como o dia, tão real quanto a pulsação faminta em seu núcleo
enquanto esperava para ver o que ele faria a seguir.
Ele pressionou mais beijos ao longo da parte interna da sua
coxa, mais perto, mais perto.
Ela fechou os olhos.
O primeiro golpe da sua língua no seu sexo foi tão intenso que
ela gritou.
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Ele gemeu na sua abertura e se alimentou dela
desesperadamente.
Kelly perdeu a noção dos seus próprios sons, correndo os
dedos pelos cabelos dele, levantando os quadris para encontrar a
língua cruel que a provocava e atormentava, parando cada vez que
quase alcançava a satisfação.
Finalmente, ele deslizou um dedo para dentro e lambeu seu
clitóris mais uma vez.
— Por favor — Kelly gritou, sua voz entrecortada — por favor...
E então ele a estava sugando, seu dedo massageando-a com
um ritmo que a enviou para o limite e para as estrelas.
Kelly gemeu com o êxtase que parecia continuar e continuar,
a compreensão de que este era Bane - cujas mãos e boca lhe
estavam dando prazer, causando outra onda de tremores quando
ela pensou que tinha acabado.
— Boa menina — ele rosnou contra sua coxa enquanto ela
prendia a respiração.
Ela estendeu os braços para ele.
Em vez de rastejar para beijá-la, ele se levantou e a ergueu nos
braços.
— Seu quarto é na frente? — ele perguntou.
Ela assentiu, paralisada com a visão dos seus lábios
brilhantes.
Ele a carregou para o quarto e a deitou suavemente na cama,
como se ela fosse feita de vidro.
Ela estendeu os braços para ele novamente e ele rastejou ao
lado dela, segurando-a perto.
— Obrigado — murmurou, com a voz baixa e rouca.

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Ela estendeu a mão, acariciando o peito dele, depois mais
baixo, passando pelos abdominais cinzelados que podia sentir
através da sua camiseta.
Ele apanhou-lhe o pulso.
— De jeito nenhum — ele negou. — Você está ferida e precisa
descansar. Desculpe ter perdido o controle. Apenas me deixe
abraçá-la.
— Não estou cansada — ela protestou. Mas teve de sufocar um
bocejo.
Ele riu.
— Aposto que não.
Ela sorriu e encostou a cabeça em seu peito.
— Falaremos sobre o que acabou de acontecer?
— Ainda não — disse ele; — Por enquanto, só quero que saiba
o quanto estou feliz, e o quanto quero que descanse. Ok?
Queria protestar, mas ele estava deslizando a mão pelo seu
cabelo outra vez, hipnotizando-a, fazendo suas pálpebras ficarem
suficientemente pesadas para que ela decidisse fechá-las, só por
um momento.

51
Capítulo 09
Kelly

Kelly acordou algumas horas depois, inundada de felicidade,


embora não conseguisse se lembrar porquê.
Bane se mexeu e aninhou-a durante o sono.
Ela abriu um largo sorriso.
Sobre o que você está sorrindo? Você acabou de dormir com ele
do nada!
Mas mesmo seu crítico interior não conseguiria saltar sobre
ela esta noite. Os braços de Bane estavam ao redor dela, suas
pernas entrelaçadas, cada centímetro dele quente e delicioso.
Infelizmente, ela realmente precisava fazer xixi.
Ela escorregou dos seus braços o mais lenta e cuidadosamente
que pôde.
Ele gemeu uma vez, mas se acomodou novamente.
Ela deslizou para fora da cama com cuidado e pulou para o
banheiro o mais silenciosamente possível, sorrindo o tempo todo.
No caminho de volta para a cama, pensou ter visto uma luz
acesa no Yoga Valhalla.
Procurou a cadeira do escritório, sentou-se e rolou até a janela
para ver mais de perto.
Whitney Ogden também tinha um apartamento acima de sua
loja, embora fosse um loft aberto glamuroso, pelo o que ouviu; não
dois apartamentos maltrapilhos.
Mas agora que estava mais perto, podia ver que a luz não
estava acesa no apartamento de cima.
Vinha das janelas no porão.
52
Percebeu que Whitney deveria ter se esquecido de desligar as
luzes do porão quando ela foi lá embaixo durante o dia.
Embora, até onde ela pudesse imaginar, o porão deveria ser
tão inutilizável no Yoga Valhalla quanto era no McDermott's. A área
de Filadélfia era famosa pelos porões de pedra com vazamentos e
tetos baixos. E os edifícios do pequeno centro de Tarker’s Hollow
foram construídos no final de 1800.
Kelly não guardava nem mesmo uma lata de lixo no porão e
administrava um restaurante, o que significava que o espaço era
escasso.
Parecia estranho que Whitney tivesse necessidade de usar seu
porão.
Então jurou que ouviu algo - um grito agudo.
Ela abriu a janela um pouco.
O ar fresco e doce entrou, junto com os sons de uma discussão.
Não conseguia ouvir as palavras, mas podia ouvir o ritmo
staccato e o tom característico da voz de Whitney Ogden gritando
com alguém.
Kelly fechou a janela quase totalmente. Para quem Whitney
estava levantando sua voz, não era da sua conta. Mas ela apreciou
o ar fresco.
Girou a cadeira para ficar de frente para a cama.
Bane estava deitado de costas, um braço sob a cabeça, o outro
estendido, como se esperasse que ela rastejasse de volta para o seu
abraço.
O luar acentuava a linha da sua mandíbula e a maneira sexy
como sua camiseta se agarrava aos seus músculos.
Kelly teve vontade de se beliscar.

53
Puxou sua cadeira para a cama e se transferiu tão
delicadamente quanto pôde.
Ele a puxou para perto sem acordar.
Ela descansou a cabeça contra o plano quente do seu peito,
inalando seu perfume.
Seu corpo relaxou instantaneamente, como se alguém tivesse
girado um botão e ela se sentiu à deriva.
Pouco antes de afundar na escuridão, jurou que ouviu um grito
sobrenatural.
O som era agudo e terrível e vinha da janela aberta.
Abriu um pouco os olhos e esperou, ouvindo.
Bane não se mexeu.
Tudo estava quieto.
Fechou os olhos novamente, se perguntando se imaginara o
grito, como um daqueles sonhos assustadores que às vezes tinha
sobre cair enquanto pegava no sono.
A batida rítmica do coração de Bane levou-a rapidamente para
um sono profundo.

54
Capítulo 10
Kelly

Kelly acordou de manhã e percebeu a luz do sol entrando pelas


janelas pelo segundo dia consecutivo.
Desta vez, não estava preocupada com isso. Sabia que Bane
estava cobrindo-a.
Mas isso não a impediu de se sentir um pouco culpada. Ele
deveria tê-la acordado para ajudá-lo.
Mas ele não a deixaria ajudá-lo em nada. Mesmo quando
ansiava por isso.
Pensou sobre a noite passada e sentiu o sangue correndo para
as suas bochechas.
— Levante-se, Kelly —falou a si mesma — Hora de fazer os
donuts.
Conseguiu ir ao banheiro inteira.
Depois de tomar banho e vestir-se meticulosamente, estava
pronta para descer.
No caminho, reparou no bilhete na porta:
Kelly,
NÃO tente descer sozinha.
Bane
O número de telefone dele estava escrito embaixo.
Sorriu e tirou o telefone do bolso.
Ele atendeu ao primeiro toque.
— Olá dorminhoca — saudou ele.
A voz dele era tão sexy que quase se esqueceu do porquê tinha
ligado.
55
— Ei, Bane — respondeu, sentindo-se um pouco tímida.
— Não se mexa — disse. — Estou indo.
Com certeza, ouviu passos nas escadas um momento depois e
abriu a porta assim que ele chegou.
— Sentiu a minha falta? — perguntou.
Ela riu e ele levantou-a nos braços sem esperar por uma
resposta.
— Mm — ele murmurou, acariciando seu cabelo. — Vamos sair
daqui antes que eu te leve de volta para a cama.
A viagem para baixo foi rápida e quando ele a colocou na
poltrona que instalou na cozinha, ela pôde ver que já tinha muffins
no forno.
— Ei, você pegou o jeito disto muito rapidamente — disse,
surpreendida.
— Tomei notas ontem — ele admitiu. — Além disso, eu ajudava
a minha mãe durante as férias. Gosto de assar.
— Gosta? — ela perguntou.
— Claro — ele exclamou. — É satisfatório. Fazer algo do nada
em poucas horas. E isso deixa as pessoas felizes.
Kelly não podia deixar de sorrir.
— Do que você está sorrindo? — perguntou ele.
— Você acabou de descrever porque adoro assar — disse-lhe
ela.
Ele trabalhou em silêncio por mais alguns minutos, colocando
uma bandeja com garras de urso no forno e depois saindo para a
frente do café.
Kelly olhou em volta.
Ele não foi capaz de limpar tão rapidamente enquanto
trabalhava como ela normalmente fazia. E não haveria bagels ou

56
bolos de café hoje. Mas conseguiu fazer um trabalho sólido com
seus campeões de vendas e podia sentir o cheiro de que havia café
sendo preparado no restaurante.
O café sobreviveria à sua lesão.
Talvez até prosperasse, se Bane trabalhasse um pouco na
frente. Um gostoso como ele poderia até chamar as mulheres do
ioga para uma xícara de chá.
Pensar no estúdio de ioga a fez lembrar do grito da noite
anterior. À luz de um novo dia, parecia ainda mais provável que
apenas tivesse sonhado.
Bane voltou, carregando uma caneca de café fumegante.
— Creme extra, sem açúcar, certo? — perguntou.
— Sim, obrigada — agradeceu ainda um pouco distraída.
— Algo de errado? — ele deve ter reparado que estava um
pouco perdida na sua própria cabeça.
— Não — respondeu. — Bem, espero que não.
Ela debateu-se por um momento sobre contar-lhe.
Provavelmente não era nada.
Mas e se não fosse?
— Levantei à noite e vi luzes acesas do outro lado da rua —
disse. — E depois pensei ter ouvido um grito enquanto me afastava,
mas talvez fosse um sonho.
— Não ouvi nada — ele falou, encolhendo os ombros — Talvez
Whitney tenha percebido que acidentalmente comeu um
carboidrato.
Kelly riu apesar de si mesma.
Sua imaginação a tinha claramente enganado.
Nada assustador acontecia na doce e sonolenta Tarker's
Hollow.

57
— Acho que devíamos ir para frente — disse Bane. — São
quase oito.
Permitiu que ele a carregasse até a caixa registradora e a
ajudasse a subir no banquinho.
A sensação dos braços dele ao seu redor era quase eufórica.
Não tinham realmente conversado sobre isso ainda, mas
esperava que a noite passada significasse algo para ele.
Certamente significava para ela.
Ele se espreguiçou e sorriu para ela.
Bem, não havia momento como o presente.
— Então, falaremos sobre o que aconteceu? — perguntou.
Por um instante, houve um olhar de alarme no rosto dele.
Em seguida, o som de estática saiu do monitor do bebê em seu
cinto, seguido pelo som de uma vozinha.
— É hora de o Ollie acordar agora — Oliver cantou.
— Mantenha este pensamento — disse Bane enquanto ia para
cima.
Kelly olhou para ele, na esperança de ter interpretado mal a
sua expressão e retirada precipitada.
Os sinos da porta tilintaram e Minna Randolf entrou,
carregando uma bolsa do tamanho certo para um tapete de ioga.
Kelly percebeu que Minna devia ter abandonado a ioga e
decidiu fazer um lanche e ler um livro no último momento.
— Olá, Minna — cumprimentou Kelly — Como está hoje?
— Estou bem — respondeu Minna. — Um pouco confusa, mas
tenho certeza que ela tem as suas razões.
— Quem tem as suas razões? — Kelly perguntou.
— Fui lá esta manhã, pronta para fazer a minha aula de ioga
e ela está fechada — disse Minna.

58
Kelly olhou para o outro lado da rua.
Com certeza, a caligrafia de assinatura de Whitney no quadro-
negro dizia:
FECHADO para o Dia
— Quero dizer, ela podia ter colocado no Insta antes de eu me
vestir para um treino — repreendeu Minna.
Kelly olhou para o traje da sua cliente.
Verdade seja dita, o moletom deslumbrante de Minna e as
calças de malha não pareciam nada diferentes do que ela
normalmente usava, mas Kelly queria ser compreensiva.
— Lamento o que aconteceu — ela falou. — Mas estou feliz que
esteja aqui. Senti falta de ver você e tenho uma cópia do novo
lançamento da Elsinore Bly.
— Oh, que adorável — Minna aprovou. — Posso pedir um bagel
de mirtilo e uma xícara de café?
— Infelizmente, hoje não tenho bagels — falou Kelly. — Torci o
tornozelo e o meu ajudante não deu conta de tudo. Mas tenho
muffins e bolos de canela e o café é por conta da casa hoje.
Minna parecia desapontada. Abriu a boca, mas antes que
pudesse dizer uma palavra, Ollie desceu das escadas.
— Olá Kelly, você machucou o tornozelo, mas melhorará — ele
disse. — Meu pai fez muffins e bolos de canela!
Bane apareceu na porta com um sorriso torto.
— Desculpe, Sra. Randolf — falou ele. — Aprenderei a fazer
bagels esta semana, para não desapontá-la outra vez.
A expressão de Minna mudou completamente.
— Oh, não seja tolo — ela disse. — Acho absolutamente amável
que você esteja ajudando no café. Um muffin de mirtilo seria
adorável, Kelly.

59
— Meu pai fez os muffins — falou Ollie ansiosamente.
— Então sei que adorarei — assegurou Minna.
O sino voltou a tocar e Ainsley Connor e a sua amiga, Grace
Kwan-Cortez apareceram, ambas com tapetes de yoga debaixo dos
braços.
— Ei, senhoras — chamou Kelly, percebendo que poderia estar
prestes a ter uma manhã muito ocupada.
Em pouco tempo, o sol estava alto no céu e o café estava cheio
de clientes tagarelas. Muito café grátis foi apreciado e muitos livros
fizeram o seu caminho para fora das prateleiras.
Os muffins de Bane estavam quase esgotados e as garras de
urso haviam sumido. Bane até mesmo preparou os assentos
temporários para o clima quente na frente do café para os seus
convidados em excesso.
Seria um dia perfeito se Kelly não começasse a se preocupar
com Whitney.
Por que está se preocupando com Whitney Ogden? Ela não se
preocuparia com você.
Mas ela não conseguia se livrar da sensação de que algo estava
errado. Whitney não era o tipo de pessoa que tirava um dia de folga
e certamente não era o tipo que não avisava à sua classe matinal
que não abriria. Whitney não era calorosa e amável, mas era
organizada.
Bane estava de volta à cozinha preparando outro lote de garras
de urso. Quando ele saiu, ela o chamou.
— Ei, está correndo tudo bem — declarou.
Ela sorriu-lhe.
Ele era tão bonito e parecia realmente feliz.

60
— Quer falar sobre ontem à noite? — perguntou ele, a sua voz
baixa e sexy.
Ela devia deixar a coisa sobre Whitney ir e falar com ele sobre
ontem à noite.
Mas o som de todos os clientes de Whitney na sua loja tornou
muito difícil esquecer o que estava acontecendo.
— Sim, mas não agora — explicou. — Estou preocupada com
a Whitney.
— Ela está tirando um dia de folga — disse, encolhendo os
ombros.
— Mas ela não avisou os seus alunos — ela lembrou. — Acho
que há algo errado.
— Ela pôs o cartaz — apontou Bane.
— Sim, mas ela é tão ativa online — disse Kelly. — Você não
acha que ela teria postado alguma coisa?
— Não sei — ele encolheu os ombros. — Já viu Whitney se
preocupar excessivamente sobre o incômodo das outras pessoas?
Ele tinha razão.
— Acho que não — admitiu.
— Está tudo bem — ele tranquilizou. — Ela está tirando um
dia de folga, algo que você provavelmente deveria fazer de vez em
quando, Kelly. Por enquanto, aproveitaremos o trabalho extra e ter
certeza de que todos queiram voltar.
Ela sorriu-lhe.
— Acho que você tem razão.
Os sinos sobre a porta voltaram a bater e Bane voltou para a
cozinha enquanto Kelly virou-se para cumprimentar o seu último
cliente.

61
Capítulo 11
Bane

Bane passou o dia ocupado, feliz e talvez um pouco


preocupado com Kelly.
Estava tentando chamar a atenção dela durante toda a manhã,
esperando que pudessem conversar sobre o seu relacionamento.
Entrara em pânico apenas um pouco esta manhã quando ela
perguntou o que a noite passada significava.
Sabia o que a noite passada significava para ele. Significava
que ela era a sua companheira. Significava que não importava o
que mais acontecesse entre eles, estava destinado a reclamá-la,
amá-la e protegê-la para o resto da vida.
A pergunta dela dizia-lhe que não tinha a mesma certeza.
E isto era inaceitável.
Mas agora estava preocupado que talvez ela tivesse
interpretado sua pausa momentânea como um sinal de que não
estava falando sério. Ollie acordou no momento errado. E agora ele
não conseguia reacender a conversa. Cada vez que tentava, ela
estava olhando pela janela para a casa de Whitney, sua
sobrancelha ligeiramente franzida.
Bane esperava que Kelly tivesse um dia maravilhoso com o seu
negócio em expansão e o seu companheiro prestativo. Em vez
disso, ela estava fixada na janela.
A culpa é sua, Bane, ele repreendeu a si próprio. Devia ter-lhe
dito que ela era sua companheira ontem à noite.
Mas a verdade é que não queria assustá-la. Não queria agir de
acordo com os seus sentimentos ainda. Dada a sua situação de
62
vida, as finanças dela e Ollie no meio, havia muitos motivos para
não fazer. O equilíbrio de poder e as vulnerabilidades eram muito
precários em ambas as extremidades.
Mas não conseguia se desculpar.
A noite passada foi tão especial.
Encontraria uma maneira de consertar as coisas.
Um pouco antes do meio-dia, a companheira de Axel, Delilah,
entrou com o bebê Noah em um carrinho. Ela concordou em ajudar
no café enquanto Bane buscaria Ollie e o levaria para seu check-
up odontológico pediátrico.
— Tudo bem, Bane? — Delilah perguntou quando entrou na
cozinha.
— Claro — ele respondeu. — Tem sido um dia muito ocupado.
— As coisas estão bem com Kelly? — ela perguntou.
— Como é que...?
— Eu apenas percebi — falou. — Ela é muito simpática e é tão
boa com Oliver. Espero que dê certo.
Ele sabia que devia explicar ou racionalizar. Mas a expressão
simpática de Delilah disse-lhe que não precisava.
— Eu também — diz Bane simplesmente. — Obrigado por
ajudar.
— Sem problemas — responde Delilah — Não sou boa em
cozinhar, mas posso fazer café e lavar pratos como os melhores.
— É exatamente isso que Kelly precisa neste momento —
assegurou Bane a Delilah. — Devo-lhe uma.
— É para isso que os amigos servem — disse Delilah,
acenando-lhe.

63
Tentou se despedir de Kelly ao sair, mas ela estava
conversando com um cliente, então se contentou com um aceno
amigável.
Ela acenou de volta distraidamente.
Saiu e foi surpreendido pela lufada de ar frio. O outono havia
realmente começado.
Dirigiu-se para a pré-escola, o ruído de folhas quebradiças
pontuando cada passo.
Uma boa caminhada ao ar livre deveria clarear sua cabeça. Ele
tinha certeza de que, no momento em que voltasse, tudo teria se
encaixado e teria um plano para falar com Kelly.
Ollie fez uma viagem magnífica ao consultório do Dr. Rudyard.
O jovem dentista ofereceu-lhe dois prêmios da arca do tesouro no
saguão em sua saída porque ele se comportou muito bem.
Ollie escolheu uma borracha em forma de carro e um anel de
plástico com uma grande joia de vidro rosa no seu centro.
— Grandes escolhas — Dr. Rudyard felicitou-o.
— Obrigado — disse Ollie, enfiando os tesouros no bolso do
seu pequeno macacão.
Bane fez uma nota mental para se certificar de que estivessem
fora do seu bolso na hora de dormir para que não acabassem na
lavagem.
Caminharam para casa e Ollie ajudou a fazer o jantar,
espaguete com almôndegas, seu prato favorito.
O coração de Bane estava leve novamente, sua mente cheia
com o menino maravilhoso.
A noite passou rapidamente e Ollie adormeceu com o pijama
de dinossauro antes mesmo que Bane pudesse encontrar o livro
que estavam lendo.

64
Determinado a não pensar demasiado nas coisas, pôs o
monitor no seu cinto e arrumou um prato para Kelly.

65
Capítulo 12
Kelly

Kelly estava sentada na cadeira, junto à janela da frente,


quando ouviu uma batida à porta.
— Entre — ela gritou, certa de que era Bane.
Ela ouviu a porta abrir.
— Onde você está? — Bane perguntou.
— No meu quarto — ela respondeu.
Ela sentiu um frisson de antecipação enquanto ouvia os seus
passos a caminho.
Girou a cadeira para ficar de frente para a porta.
— Oi — falou ele.
Ele estava segurando outro prato embrulhado em papel
alumínio.
— Isso cheira tão bem — disse Kelly.
— Espaguete e almôndegas — ele respondeu. — Ollie ajudou.
— Vocês me estragarão — disse ela.
— Se for do nosso jeito, então sim — ele respondeu.
Sua voz era profunda e sombria, mortalmente séria.
Ela corou e se voltou para a janela.
— Pensei em ficar de olho na casa da Whitney — falou,
mudando de assunto. — Não tenho muito que fazer.
— Isso é simpático da sua parte — disse Bane, parecendo
incerto. — Por que não faz uma pausa e janta?
— Posso comer aqui, é mais fácil com a mesa — disse-lhe. —
Quer puxar uma cadeira? Quem sabe o que podemos ver? É melhor
que a televisão.
66
— Sério? — ele perguntou. — Tem alguma coisa acontecendo
ali?
— Bem, não especificamente na casa da Whitney — ela
admitiu. — Mas pode ver o mundo inteiro passar daqui. Nunca
tinha reparado nisso antes.
— Pegou qualquer fofoca suculenta?
— Vi aquela empregada do Barry White Diner beijando o Javier
da loja de ferragens — contou ela, balançando as sobrancelhas.
— Você quer dizer Cressida Crow? — Bane perguntou.
— Sim — disse Kelly.
— Detesto dizer isso, mas todos sabem que eles são amigos
coloridos — falou Bane com um sorriso.
— Ela beijou-lhe os dedos — contou Kelly. — Estavam de mãos
dadas.
— Uau — disse Bane — é um grande negócio.
— Então, talvez mais do que amigos coloridos? — Kelly disse.
— Parece que sim — ele respondeu com apreço. — Bom
trabalho aí, 007.
Ela riu e comeu um pouco de espaguete.
Foi celestial.
— Isto é incrível — elogia ela. — Você é um cozinheiro
fantástico.
— Eu gosto de cozinhar — falou ele. — É bom ter tempo para
isto.
— Estava muito ocupado em Glacier City? — perguntou.
— Sim, dediquei muitas horas no trabalho — ele concordou. —
E não tinha ninguém para cozinhar. Há algo de deprimente em
fazer todas as comidas para um. Mas com Ollie, e agora você, me
faz feliz preparar uma refeição.

67
Isso soou como uma transição não tão sutil para falar sobre o
que estava acontecendo entre eles.
Kelly prendeu a respiração, de repente incrivelmente nervosa.
Mas antes que qualquer um deles pudesse dizer outra palavra,
havia movimento em frente ao Yoga Valhalla.
— Uau — exclamou ela quando uma van branca sem
identificação parou na calçada em frente ao estúdio. — O que é
aquilo?
— Quem sabe? — perguntou de ânimo leve, claramente não
querendo falar sobre isso.
— Não há nenhuma janela — ela observou, incapaz de conter
a sua curiosidade.
— Nem sabemos se está lá para o Yoga Valhalla — ele apontou,
razoavelmente. — Está apenas entacionando na rua.
Viram em silêncio quando um homem enorme com um boné
azul de basebol saiu da van e depois puxou um gigantesco saco
nas costas.
— Para que é aquilo? — Kelly perguntou, horrorizada.
— Pode ser para qualquer coisa, certo? — Bane disse. Mas
agora estava inclinado para a frente para ver melhor.
Eles assistiram enquanto o homem se dirigia para a escada de
incêndio que levava ao apartamento acima do Yoga Valhalla.
A porta abriu-se e ele desapareceu lá dentro.
Kelly virou-se para Bane.
— O que fazemos? — perguntou.
— Kelly, provavelmente é apenas um empreiteiro — Bane
respondeu.
— É muito tarde da noite — falou ela.

68
— Talvez ele esteja apenas fazendo uma estimativa depois do
trabalho em que estava hoje — sugeriu Bane.
— Whitney usou Jack Harkness para o estúdio de yoga —
lembrou Kelly. — Todos usam Jack Harkness.
— Talvez ela o tenha irritado — falou Bane. — Ela não parece
ser fácil para os empreiteiros.
— Aquela van nem tem logomarca — apontou Kelly. — Não há
razão para ter este tipo de van a não ser que se queira raptar
alguém.
— Eu acho que você pode estar exagerando — ofereceu Bane.
— Sério, Bane, quem tem uma van assim? — ela perguntou.
— Provavelmente veio com um saco de doces e um mapa de todos
os parques infantis locais.
Uma luz acendeu-se no apartamento sobre o estúdio de yoga.
Kelly apertou os olhos, mas não conseguiu ver nada.
Ela pegou o telefone e tentou usar o zoom.
Ela percebeu um pequeno movimento perto da porta de saída
de incêndio, mas foi difícil acompanhá-lo com a câmera do telefone
em close-up.
— Olha, não me sinto bem com isto — confessou Bane. —
Estamos invadindo a privacidade dela.
Mas Kelly conseguiu pegar o azul do chapéu novamente.
— Não se sinta mal — disse-lhe ela. — Tenho um mau
pressentimento sobre isto.
— Acho mesmo que é sua imaginação — disse. — E eu
esperava que pudéssemos conversar esta noite. Se você está
esgotada demais para falar, talvez possamos... relaxar?

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— Claro — falou ela. — Só preciso de um minuto. Preciso ter
certeza que ela está bem ali. Você não acha que eu deveria chamar
a polícia, acha?
— E dizer-lhes o que? — Bane perguntou.
Tinha razão. Não era ilegal fechar a loja por um dia. Nem ter
uma van em frente à sua casa.
Mas algo não estava certo. Tinha certeza.
Houve outro clarão de movimento na janela.
— Acho que falaremos pela manhã — disse Bane.
— Claro — ela concordou, tentando focar a câmara do telefone
novamente. Era difícil trabalhar com ela, desejava ter binóculos.
— Você tem binóculos? — perguntou.
Ele não respondeu.
Tentou novamente encontrar o chapéu azul, mas não teve
sorte.
Afastou-se para descansar os olhos por um momento e viu as
luzes acesas no porão novamente.
— Merda, ele está no porão — guinchou. — Bane.
Mas só houve silêncio.
Tardiamente, pensou no que ele tinha acabado de dizer.
Falaremos pela manhã.
Ele deve ter ido embora.
Ele queria falar com ela – queria fazer uma conexão.
E ela simplesmente o empurrou.
Pior, nem mesmo prestou atenção o suficiente para empurrá-
lo para qualquer lugar. Que idiota. O que estava pensando?
Ela só estava preocupada com a vizinha. Isso não era uma
coisa ruim, era? Olhou novamente para fora da janela. Não havia
movimento no porão que ela pudesse ver.

70
Ela suspirou, então se levantou da cadeira e saltou para a sala
de estar.
Estava parada na porta da frente, pronta para atravessar o
corredor quando ouviu.
Um grito terrível saiu pela janela aberta do seu quarto,
estranho e alto o suficiente para que pudesse ouvir de onde estava.
— Caramba — murmurou.
Ela devia saber que algo terrível aconteceria no momento em
que baixasse a guarda.
A curta distância da porta de volta para a janela parecia
estender-se por quilometros.
Quando chegou à cadeira, as luzes estavam apagadas no porão
e a van em frente ao Yoga Valhalla tinha desaparecido.
Kelly mordeu o lábio e tentou pensar.
Não valia a pena ir até Bane. Ela tinha acabado de magoar seus
sentimentos.
Além disso, não acreditou nela.
Ele tinha razão sobre não poder chamar a polícia, Whitney
tinha colocado uma placa dizendo que ela estava fechada. E Kelly
não era exatamente uma amiga íntima. Pareceria tola.
Precisava de algo mais sólido.
Ela tirou o telefone e tentou ver se havia algum sinal de
movimento do outro lado da rua.
Seria uma noite muito longa.

71
Capítulo 13
Bane

Bane levantou-se horrivelmente cedo pelo terceiro dia


consecutivo.
De alguma forma, esta manhã parecia ainda mais cedo, uma
vez que teve dificuldade em dormir na noite anterior.
Ele tropeçou na cozinha do café, preparando-se para a
multidão do café da manhã.
Uma vez que a manteiga estava amolecendo e os fornos
estavam pré-aquecidos, ele moveu-se para a área de estar para
baixar as cadeiras e acender as luzes.
Olhou para o outro lado da rua quando chegou às mesas à
frente.
O quadro-negro em frente ao Yoga Valhalla foi retirado e havia
um bilhete pendurado na janela agora.
Ele saiu e apertou os olhos para ler.
FECHADO ATÉ NOVO AVISO.
Deveriam ser reformas. Tinha razão. E se as placas foram
trocadas, significava que Whitney estava por perto, afinal.
Esperava que Kelly se sentisse melhor quando o visse. Nunca
a tinha visto tão determinada antes.
Honestamente, foi um pouco assustador, mas também muito
heroico. Estava feliz que a sua companheira tivesse coragem e
paixão, mesmo que fosse infundada neste caso particular.
Sorriu ao pensar nela e voltou ao trabalho.
Duas horas depois, estava tirando o último dos muffins dos
fornos quando os sinos da porta começaram a tilintar.
72
Kelly nunca tinha dormido além da abertura antes. Ela deve
ter ficado acordada até tarde olhando aquelas janelas.
Ele saiu para cumprimentar os primeiros clientes.
A manhã começou bem. Meia dúzia de estudantes de ioga
juntaram duas das mesas do café. Estavam fofocando sobre onde
Whitney poderia estar enquanto afogavam suas mágoas em
muffins de farelo e café de avelã.
As palavras de Kelly sobre Whitney ser ativa nas redes sociais
e não querer isolar seus clientes ecoaram em sua cabeça.
Mas ele não teve tempo de se preocupar com isso porque
alguns clientes habituais vieram querendo conversar e fazer um
pedido.
Quando foram para as poltronas perto das estantes com o café
da manhã, Bane teve um momento para respirar e, apesar de tudo,
começou a pensar em Whitney Ogden novamente.
Ele decidiu manter-se ocupado preparando mais café e
assando outro lote de garras de urso.
Estava apenas começando a se perguntar o que faria quando
Ollie acordasse e Kelly não estivesse lá para assumir, quando os
sinos voltaram a tocar.
Jack Harkness entrou, assobiando. Ele se serviu de um café e
dirigiu-se à caixa registadora para pagar.
Odiando-se pelo que estava prestes a fazer, mas incapaz de
evitar, Bane decidiu ir em frente.
— Ei, Jack — saudou ele. — Só o café?
— Ponha uma garra de urso num saco para mim — pediu Jack
com uma piscada de olhos. — Tenho uma longa manhã.

73
— Você está fazendo um trabalho no Yoga Valhalla? — Bane
perguntou, surpreso com a facilidade com que as palavras saíam
da sua boca.
— Não, não, isso já foi feito há muito tempo — negou Jack.
— Ela é uma mão cheia, não é? — Bane perguntou.
— Acho — disse Jack com uma carranca. — Mas ela sabe
exatamente o que quer. Torna-se mais fácil assim, às vezes.
— Entendo — concordou Bane, entregando o troco de Jack.
Estática saiu do monitor e ele voltou para as escadas a tempo
de ouvir a saudação matinal de Ollie.
Também viu que Kelly havia descido quase todo o caminho
escada abaixo. Tinha certeza de que o pegara questionando Jack.
Ela estava observando-o de uma forma satisfeita.
— Bom dia — cumprimentou. — Eu gostaria que você me
deixasse ir buscá-la quando acordasse.
— Estou bem — disse ela, se afastando para que ele pudesse
passar por ela para ir buscar Ollie.
Mas ele ajudou-a a chegar primeiro ao banco.
— Outra manhã movimentada — avisou-a.
— Estou vendo — falou ela, fazendo uma vistoria ao café
lotado.
Correu escada acima antes que Ollie tivesse tempo de se
perguntar onde ele estava.
Kelly
Kelly examinou o café e não pôde deixar de sorrir.
Todas as mesas estavam ocupadas. Os clientes comiam,
bebiam e folheavam as estantes. As conversas tranquilas deram ao
lugar um pano de fundo amigável, mas não superaram a vibração
pacífica que Kelly cultivou.

74
Em parte, ela atribuiu às estantes de livros a criação de uma
atmosfera semelhante à de uma biblioteca.
Mas não podia deixar de se perguntar se talvez os alunos de
ioga fossem, na verdade, clientes ideais. No final das contas, o
estudo do estado de espírito calmo parecia estar de acordo com a
mentalidade do seu estabelecimento.
Olhando em volta para os rostos familiares, ela sabia com
certeza que algumas dessas mulheres frequentavam o Mornings at
McDermott's antes de o Yoga Valhalla acabar com a sua paixão por
comida reconfortante. Ela definitivamente se lembrava deste lugar
ser mais barulhento naquela época.
O pensamento sobre o estúdio de ioga a fez procurar a placa
do outro lado da rua.
Mas do seu ângulo, o quadro-negro tinha sumido.
Olhou para a escada, mas Bane provavelmente estava
preparando Ollie para a escola.
Ela levantou de seu banquinho e saltou para a porta da frente
do café, ignorando os olhares preocupados dos seus clientes.
Quando saiu para a calçada, pode ver que estava certa, o
quadro-negro tinha sumido.
Uma placa manuscrita estava agora colada à porta da frente.
O coração caiu-lhe no estômago e sentiu um suor frio se
formando na testa.
— Kelly, o que faz aqui fora? — A voz de Bane estava furiosa.
— O quadro-negro desapareceu — apontou ela — E aquele
bilhete...
— Sim, parece que ela está remodelando afinal — falou Bane.
Mas parecia um pouco incerto. — De qualquer forma, a placa diz
claramente que está fechada de propósito.

75
— Não importa o que a placa diz — disse Kelly lentamente. —
Olhe para a caligrafia.
Juntos estudaram o rabisco apressado no papel.
— Primeiramente, acho que você conhece a bela caligrafia de
Whitney — disse Kelly. — Ela nunca deixaria uma placa como
aquela.
— Hm — disse Bane, acenando.
— Em segundo lugar, olhe para aquele pedaço de papel —
apontou Kelly novamente. — Está borrado com sujeira no canto,
vê? Ela nunca deixaria este bilhete naquele pedaço de papel. Algo
está errado, Bane.
Ela o observou com atenção.
Ele franziu a testa, seus olhos examinando a placa novamente,
uma nota encardida e desleixada colada no vidro imaculado do
estúdio.
— Você tem razão — ele concordou finalmente. — Whitney não
deixou o bilhete.
— Então, o que fazemos? — Kelly perguntou-lhe.
— Não tenho certeza — respondeu ele. — Mas Ollie está lá
dentro falando na orelha da Minna Randolf e preciso alimentá-lo
antes que o Ainsley e o pequeno Michael venham buscá-lo. Então
podemos pensar sobre isso.
— Oh meu Deus, Ollie — falou, sentindo-se péssima por Bane
tê-lo deixado no café enquanto ele saía para buscá-la.
— Não se preocupe com ele — tranquilizou a Bane com um
sorriso. — Ele tem um fã-clube inteiro lá dentro.
Permitiu que Bane a ajudasse a ir para dentro.
Os sons e cheiros do café ocupado deram-lhe as boas-vindas e
por um momento realmente se permitiu absorver tudo e aproveitar.

76
Se ao menos as pessoas pudessem desfrutar de yoga e café da
manhã. Parecia à Kelly que a manhã devia ser grande o suficiente
para ambas as coisas.
— Kelly — Ollie gritou e se mexeu para abraçá-la.
Ela se preparou para não cair e então mergulhou na sensação
daquele corpinho quente envolvendo-a.
— Bom dia, Ollie — disse ela, abraçando-o de volta — O que
gostaria de tomar no café da manhã?
— Mini muffins — ele cantou.
Oh céus. Ela não tinha feito nada e tinha certeza de que Bane
não teria tempo.
— Aqui está, amigo — falou Bane, entregando ao filho um saco
de papel de mini muffins perfumados.
— Você está ficando muito bom nisto — falou Kelly a Bane.
Ele sorriu.
— Não tão bom como você — disse ele. — Preciso aprender a
fazer bagels.
— No devido tempo — ela provocou. — Por enquanto, só estou
grata por ter mantido as minhas portas abertas.
Ele abriu a boca, olhou para Ollie e fechou novamente.
Claramente estava prestes a dizer que era culpa deles ela ter
se machucado.
Ela olhou para Ollie e pensou consigo mesma como era bom
que o seu pai fosse tão sensível ao que poderia perturbá-lo.
Os sinos da porta tilintaram.
Ainsley Connor entrou com Michael e acenou para Ollie.
— Tenho de ir, Kelly, está na hora da escola — anunciou Ollie.
— Comerei os meus muffins no caminho.
— Tenha o melhor dia de sempre, amigo — desejou Bane.

77
— Divirta-se — disse Kelly.
Eles viram-no correr para cumprimentar Michael e os três
foram para a luz do sol.
— É um garoto de sorte — ela disse sem pensar nisso.
Bane ficou em silêncio por um momento, tempo suficiente para
ela querer se chutar por essas palavras.
Provavelmente estava pensando consigo mesmo que Ollie era
um menino muito azarado. Sua mãe e seu pai morreram em um
acidente de carro quando era muito pequeno para ter boas
lembranças deles. Ele morava em uma mansão e agora morava em
um apartamento.
— Estou tentando trazer sua sorte de volta — expressou Bane
de ânimo leve. — Eu o amo demais.
— Mantenho o que disse — Kelly respondeu calmamente. — É
terrível sobre a sua irmã e o marido dela. Mas ele tem tanta sorte
em ter você. Vocês são bons juntos.
Puxou-a para um abraço e ela o abraçou de volta, com força.
Quando a soltou, ela tinha lágrimas nos olhos.
E percebeu que eles estavam no meio de um café cheio.
Felizmente, a maioria de seus clientes parecia estar desviando
o olhar educadamente.
A campainha sobre a porta tocou novamente e o policial Dale
Evans entrou e acenou amigavelmente para Kelly.
— Ei, agente Evans — proferiu ela, de repente lembrando de
Whitney. — O que posso arranjar para você?
— Só um café hoje, querida — praticamente gritou.
Dale era um cavalheiro mais velho. À medida que sua audição
diminuía, ele erguia a voz para compensar. Hoje em dia, Kelly

78
estimou que ele falava quase tão alto quanto o liquidificador da sua
loja.
Serviu seu café e colocou um pãozinho de canela em um saco
para ele. Sabia que a esposa do policial Evans o mantinha em uma
dieta rígida, mas de vez em quando ele merecia viver um pouco.
— Posso acompanhá-lo até lá fora? — perguntou-lhe com uma
voz clara.
— Claro — ele berrou, sorrindo para o saco de papel que
continha sua guloseima.
Kelly o levou até a porta, com Bane atrás.
— Dia bonito — gritou o agente Evans quando os três
chegaram à calçada.
— Ouça, agente Evans — declarou Kelly. — Tenho de ser
honesta contigo. Esperava conseguir sua ajuda com uma coisa.
— Não existe pão grátis, huh? — ele respondeu, levantando o
saco de papel.
— Acho que não — respondeu Kelly com um sorriso
embaraçado. — De qualquer forma, estou muito preocupada com
um vizinho.
— Ele está logo ali, não está? — o agente Evans gritou,
indicando Bane.
— Oh — disse Kelly. — Não, referia-me a Whitney, do outro
lado da rua. Ela está desaparecida, e eu ouvi barulhos estranhos
lá.
— Desaparecida? — ele perguntou — Desde quando?
— Bem, na noite anterior, a ouvi discutir com alguém ali —
contou Kelly. — E houve um grito.
— Então, menos de 48 horas? — o agente Evans perguntou. —
O que mais viu?

79
— Bem, um homem entrou no apartamento dela ontem à noite
— relatou Kelly. — Ele estava dirigindo uma van sem identificação
e tinha uma enorme mala.
O agente Evans acenou e esperou, como se pensasse que
haveria mais.
— Eu disse que ouvi um grito, certo? — Kelly perguntou.
— Ouça — disse o oficial com uma expressão simpática. —
Acho que é muito amável da sua parte preocupar-se assim com a
sua amiga.
— Ela não é minha amiga.
— Independentemente disso — ele esfregou a barriga e
suspirou. — Tecnicamente falando, ela não está fora de contato o
suficiente para permitir qualquer ação real da minha parte.
— Mas e se entrasse ali e verificasse? — perguntou.
— Não consigo um mandado sem causa provável de que tenha
acontecido um crime — ele explicou.
— Precisa mesmo de um mandado? — Kelly pediu — Não
podemos abrir a porta?
— Se por nós se refere a si, isso seria arrombamento — ele
respondeu. — E se por nós se refere a mim, não acontecerá.
— Tem algo errado ali — insistiu Kelly. — Não é o seu trabalho
servir e proteger?
— Olha, Kelly, odeio dizê-lo, mas esta cidade é um pouco...
estranha às vezes — ele revelou. — Pela minha experiência, ruídos
inexplicáveis e acontecimentos em Tarker's Hollow tendem a se
resolver sozinhos.
— Se puder entrar e ver se há sinais de luta...
— Aquela mulher teria o meu distintivo se eu entrasse lá sem
um mandado — ele disse firmemente.

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— Como é que sabe? — Kelly perguntou.
— Bem — disse ele grunhindo, puxando o cinto e olhando para
o chão de uma forma embaraçosa. — Antes dela abrir o lugar, eu
estava fazendo as minhas rondas e senti um cheiro estranho de
fumaça saindo de lá. Sabia que houvera uma tonelada de
construção e estava preocupado com um incêndio elétrico. Meio
que arrombei a porta da frente para entrar.
— E? — Kelly perguntou.
— E ela estava queimando sálvia lá dentro — explicou ele. —
Disse que queria limpar a aura ou algo assim, não sei. Tudo o que
sei é que ela estava pronta para fazer queixa porque estraguei sua
porta. Se eu invadir novamente, posso me encontrar atrás das
grades.
— Então é isto? — Kelly perguntou.
Virou-se para Bane, na esperança que ele a apoiasse.
Mas ele encolheu os ombros e deu-lhe um olhar simpático.
— Anotarei que você está à procura dela quando eu voltar para
a delegacia — falou gentilmente o agente Evans. — E me certificarei
de passar por aqui nas minhas rondas. Se você vir algo que possa
me dar um motivo provável para entrar, me avise.
— Obrigado, Dale — disse Bane educadamente.
Kelly estava demasiado furiosa para falar.
Ela deu meia-volta e voltou para o café, no gingado mais digno
que conseguiu.

81
Capítulo 14
Bane

Naquela tarde, Bane caminhava ao lado do seu amigo, Chase.


— Tem certeza sobre isso, cara? — perguntou.
Chase se ofereceu para cuidar de Ollie no parque por mais ou
menos uma hora. Bane estava relutante, mas Chase continuou
insistindo.
— Sim, claro — assegurou Chase novamente. — Vamos ao
parque de qualquer maneira. E parece mesmo que você precisa de
um pouco de descanso.
Era verdade. Bane precisava de um pouco de descanso.
O dia parecia arrastar-se, com Kelly zangada com ele, o café
cheio e uma sensação de que talvez ela estivesse pensando em algo
sobre Whitney. Algo em que ele não podia ajudar.
Quando Jeb Harkness chegou, Ollie já tinha voltado da pré-
escola, então Bane decidiu que deviam ir ao parque tomar um
pouco de ar fresco.
Bane sabia que ele realmente precisava mudar para a sua
forma de lobo e fazer uma longa corrida para limpar sua mente.
Mas com Ollie por perto, ele não tinha muito tempo para saciar sua
natureza animal.
Esbarrar em Chase e no pequeno Jacob deu-lhe a chance
perfeita de esticar as pernas e gastar um pouco de energia.
— Obrigado, agradeço muito — ele disse fervorosamente à
Chase.
— A qualquer hora — falou Chase quando chegaram à entrada
do parque.
82
— Ollie, Jakie — a pequena Katie Chambers gritou do
parquinho onde fingia conduzir um trepa-trepa em forma de carro
de bombeiros.
— Acho que é a nossa deixa — disse Chase.
Bane os observou se afastar. Ollie correu para o portão sem
nem mesmo se despedir.
Bane se virou e foi em direção ao campus.
Era arriscado correr durante o dia. Mas o tempo estava frio e
havia uma umidade desagradável no ar. Muitas pessoas não
escolheriam dar um passeio na floresta.
Duvidava que até mesmo qualquer um dos alunos da
faculdade estaria na floresta fumando maconha hoje. E se
estivessem, esperava que não fossem observadores o suficiente
para notar um enorme lobo prateado galopando por entre as
árvores.
Tentou limpar sua mente enquanto caminhava pelo campus,
passando pelo campo de futebol e atrás do alojamento.
Uma leve brisa sacudiu as folhas secas no caminho e enviou
chuvas das suas irmãs mais brilhantes para se juntar a elas no
chão. O campus normalmente verdejante era todo escarlate e
dourado agora com um tapete sépia.
A mudança estava aqui, a cada momento que passava, o
inverno se aproximava.
Imagens flutuaram em sua mente. Ollie com uma fantasia de
dinossauro no Halloween. Ele envolvendo Ollie em um novo casaco
de inverno que teriam de comprar juntos. Os dois indo atrás de
luvas, lenços e calças de neve.
Imaginou uma mesa de Ação de Graças, gemendo sob o peso
de um delicioso banquete de peru com vegetais e tortas.

83
E antes que pudesse se conter, viu Kelly sentada em frente a
ele, seus cabelos e olhos brilhando à luz das velas.
Chegou aos monumentos de granito que significavam a
entrada do anfiteatro do colégio. Correu até o palco e entrou na
floresta.
Enquanto as árvores se fechavam em torno de Bane,
bloqueando a luz do sol, o lobo ergueu o focinho em antecipação.
Tirou as roupas, enrolou-as e enfiou-as dentro de uma árvore
oca que costumava usar para esse fim.
Dentro dele, o lobo estremeceu de excitação.
Bane fechou os olhos e soltou-o.
O mundo correu em sua direção.
Ele podia sentir o cheiro das agulhas de pinheiro, a terra com
folhas caídas em decomposição, até mesmo o leve cheiro de café do
restaurante.
O som de cada criatura nas árvores, cada pássaro que agitava
as asas contra o frio, cada carro cruzando a rotatória na aldeia,
tudo fluía em seus ouvidos, se entrelaçando e suavizando
novamente.
Sentiu a terra úmida bater em suas patas enquanto caía no
seu outro eu.
De repente, um mundo complicado era muito mais simples. As
profundezas da floresta o convidaram e ele atendeu ao chamado.
Ele saltou para a mata, os músculos queimando
agradavelmente enquanto se esticavam e contraíam novamente.
Suas patas atingiram o solo com força, mas quase
silenciosamente, o solo macio absorvendo o seu peso, absorvendo-
o. Fazia parte desta floresta, um cidadão legítimo. Era sua casa

84
tanto quanto o pequeno apartamento acima do café onde o seu
humano morava.
Já fazia muito tempo que não sentia essa liberdade.
O pequeno coração úmido de algo delicioso batia
freneticamente bem à frente e ele navegou sobre um tronco caído
para persegui-lo.
Um pequeno coelho saltou da vegetação rasteira e ele o
perseguiu com alegria, despencando entre as árvores.
Mas quando cheirou a água cristalina do riacho à frente,
permitiu que o coelho escapasse e, em vez disso, correu em direção
à água, a língua pendurada em sua boca ofegante.
Entrou com cuidado no riacho, baixando o focinho para beber
longa e profundamente.
Quando se levantou novamente, pegou o gêmeo cintilante do
seu reflexo na água, gotas de diamante chovendo do seu rosto
orgulhoso.
Neste lugar, ele sabia quem era.
Mas o sol estava se pondo no horizonte e era hora de voltar
para a sua vida humana.
Permitiu que seus pensamentos fossem para a sua
companheira, embora por razões que não conseguia entender, isso
causou uma onda de emoções misturadas do seu lado humano.
Mas o lobo não compartilhava dessa confusão.
Sua companheira estava preocupada.
Era seu dever protegê-la.
Saboreou esse pensamento até que fosse tudo o que importava,
e o humano parou de bater em sua gaiola para ouvir.

85
Então ele comprimiu os músculos como uma espiral e saiu do
riacho, espirrando uma nuvem de água doce por toda parte
enquanto voltava para o anfiteatro.
Era hora de soltar novamente.

86
Capítulo 15
Bane

Bane sentia-se melhor quando se juntou a Chase e aos


pequenos no parque das crianças.
Ollie correu de imediato e embrulhou os braços em volta das
suas pernas.
— Senti a sua falta — disse-lhe Ollie. — Trouxe um lanche?
— Não, mas é quase hora do jantar — negou Bane. — Devemos
fazer uma boa refeição?
— Sim — disse Ollie. — Adeus, Jake! Adeus, Katie!
— Sente-se melhor? — Chase perguntou a Bane enquanto
viam Ollie correr para o portão.
Chase era um shifter também. Sabia quão importante era se
reconectar com seu lado animal quando já fazia muito tempo.
— Muito melhor — disse Bane. — Obrigado mais uma vez.
Devo-lhe uma.
— A qualquer hora cara — falou Chase, dando-lhe uma grande
pancada nas costas.
Ollie esperou por ele no portão em vez de correr para a rua.
— Bom trabalho esperando por mim — elogiou Bane.
Ollie sorriu-lhe e sentiu um choque de emoção ao ver aquelas
covinhas doces que lhe lembravam tanto da sua irmã.
Foram para casa pacificamente, Ollie parando para pegar uma
coleção de folhas brilhantes enquanto iam.
Quando chegaram à esquina da Park Avenue, Bane agarrou a
mão de Ollie para atravessar a rua em vez de ir para casa.
— Para onde vamos? — Ollie perguntou.
87
— Eu só quero olhar a placa no estúdio de yoga — explicou
Bane.
— Por que? — Ollie perguntou.
— Só estou curioso — respondeu Bane. — Vamos para casa
assim que a ler. Parece bom?
— Claro — disse Ollie agradavelmente, inclinando-se para
pegar uma folha.
Chegaram à frente do edifício.
Bane estendeu os sentidos para fora, chamando o lobo para
ajudá-lo.
Um bufê de cheiros e sons o agrediu de uma só vez.
Bane não estava habituado a deixar o lobo tão perto da
superfície no meio da vila.
—Calma —pediu ao lobo — Leve o seu tempo.
Tentou concentrar os sentidos na porta do estúdio.
Uma série de cheiros familiares atropelaram sua atenção.
Havia vestígios de suor de dezenas de pessoas que Bane conhecia
durante toda a vida. Havia o cheiro acre de bebidas esportivas.
E outra coisa, algo mais terreno...
Outro shifter?
O lobo não parecia responder a isso dessa maneira e o cheiro
não era de lobo.
Um animal de estimação?
O lobo não tinha certeza. Isso era algo mais selvagem, maior...
— Papai? — Ollie choramingou.
Bane de repente viu o seu próprio reflexo na porta de vidro.
Seus olhos brilhavam âmbar.
O pequeno reflexo do rosto de Ollie parecia assustado.
Pestanejou para o lobo e ele desceu instantaneamente.

88
— Desculpe, amigo — respondeu Bane, odiando a si mesmo.
— Pronto para ir para casa?
— Sim — disse Ollie. — Seus olhos pareciam engraçados.
— Foi um reflexo do pôr-do-sol, eu acho — disse Bane.
Um dia teria de falar com Ollie sobre ser um shifter, já que era
muito provável que o próprio Ollie herdasse o presente da família.
Essa foi uma das principais razões por que decidiu que seria
melhor criar o pequeno entre os outros metamorfos de Tarker's
Hollow. Um jovem lobo prosperava na presença da sua alcateia.
Mas era demais por enquanto.
Eles atravessaram a rua em silêncio.
Ollie abanou as folhas na mão, as preocupações,
esperançosamente, esquecidas.
Bane se amaldiçoou internamente por permitir que sua
curiosidade levasse a melhor com Ollie por perto.
— O que há para o jantar? — Ollie perguntou.
— Não sei — respondeu Bane. — Qual é o seu favorito?
— Pizza — gritou Ollie.
Bem, ele entrou direto nisso.
— Claro, amigo, pediremos uma pizza — falou ele. — Faz algum
tempo que não pedimos. Mas só se me ajudar a fazer uma salada
para acompanhar.
— Sim — concordou Ollie contente.
Bane sorriu-lhe e eles entraram.
Apesar de ter deixado as coisas em desacordo com Kelly, o
tempo que passou com o lobo tinha-lhe feito bem.
Sentiu-se relaxado e concentrado agora, pronto para ter uma
boa noite com Ollie.
E pronto para acertar as coisas com a sua companheira.

89
Capítulo 16
Kelly

Kelly secou o cabelo depois de outra ducha demorada e


perguntou-se o que ia fazer em relação ao jantar.
Ela duvidava que Bane viesse esta noite, depois que ela o
dispensou acidentalmente na noite anterior e passou a tarde
obviamente frustrada com ele.
O problema é que ele estava certo. Não havia nada que ela
pudesse fazer e, se a polícia não ajudasse, suas mãos estavam
atadas.
Ela checou os feeds de mídia social de Whitney e não havia
nada novo. Algo estava errado.
Mas não podia simplesmente invadir.
Houve uma batida suave na porta.
— Sou eu — disse Bane.
— Entre — respondeu ela, tentando sentar-se direito. Ainda
parecia um gato afogado, mas pelo menos tinha uma boa postura.
— Oi — saudou ele.
Ele levava outro prato embrulhado em papel alumínio.
Ficou tão feliz em vê-lo que queria chorar. Mas se esforçou para
se controlar.
— Sinto muito pelo dia de hoje — falou. — Eu sei que não há
muito que possamos fazer, mas eu poderia tê-la apoiado mais.
— Obrigada — ela respondeu. — Desculpa por ter me zangado
com você. A culpa não é sua.
— Quer levar isso para o seu quarto e vigiarmos juntos? —
ofereceu.
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— Claro — disse ela.
Ele colocou o prato na mesa de centro e foi até ela.
Ergueu os braços e quase suspirou de contentamento quando
ele a levantou.
A jornada até sua cadeira foi rápida demais. Ele a colocou para
baixo e a deixou sozinha para olhar pela janela enquanto foi buscar
o seu jantar.
O ângulo da luz da rua contra as fachadas das lojas fazia a
pequena rua parecer solitária.
Ela ergueu a persiana alguns centímetros para que pudesse
ouvir qualquer coisa acontecendo lá fora. O ar frio entrou,
causando-lhe um pequeno arrepio. Enfiou as mãos nas mangas do
pijama felpudo.
— Pizza esta noite — contou Bane. — Ollie me enganou.
— Garoto esperto — respondeu Kelly. — Eu gosto de pizza
também.
Bane descobriu o prato para revelar uma salada bem
temperada ao lado de uma fatia gigantesca de pizza de pepperoni.
— Mmm — emitiu ela agradecidamente.
— Ollie ajudou com a salada — disse ele.
— Vocês são tão bons juntos — exclamou ela, mordendo a
pizza. Estava quente e deliciosa.
Ele sorriu-lhe, e ela quase se esqueceu do que estavam
falando. A mente dela voltou às coisas que ele tinha feito ao seu
corpo, a sensação do seu calor contra ela. Estava pensando como
recriar alguma dessa magia outra vez, mas não sabia como falar
nisso.
— Pronta para alguma ação esta noite? — perguntou e ela
quase se engasgou com a pizza.

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— Umm… — Foi tudo o que conseguiu responder.
— Alguma coisa acontecendo lá fora? — perguntou, indicando
a janela.
Oh. A janela. Claro.
— Não que eu tenha visto — ela disse, abanando a cabeça e
recuperando a compostura. — Até fiz algumas ligações hoje.
— Alguma sorte?
— A mãe dela diz que ela nunca liga. Tive de ouvir tudo sobre
isso durante quase quinze minutos — contou Kelly. — E liguei para
aquela amiga cabeleireira, mas ela estava mais curiosa sobre o
porquê de eu querer saber. Ela concordou em mandar-lhe uma
mensagem e verificar. Mas não sei se irá.
— Então, sem pistas? — perguntou.
— Sem pistas — concordou.
— Bem, coma — mandou ele. — Esse jantar não se terminará
sozinho.
Ela sorriu e voltou para a refeição.
— Ollie ficou com Chace e seu sobrinho hoje para eu poder ir
correr — revelou. — Foi bom limpar a minha cabeça. Se não se
importar, estarei de vigia esta noite. Você devia dormir um pouco.
— Sério? — ela perguntou — Nem sei se haverá algo para ver.
— Não me parece certo não fazer nada — disse. — E se aquele
cara voltar, eu posso tentar pegar o número da placa dele. Já seria
alguma coisa.
Ela acenou com a cabeça.
— Oh droga — falou ela — Esqueci-me de pegar o meu
analgésico para tomar com o meu jantar. Embora realmente não
tenha certeza se eu ainda preciso.

92
— Eu estava lá, Kelly — lembrou Bane, agarrando a garrafa da
mesa de cabeceira e entregando-a .— Ele disse que devia pelo
menos tomá-lo à noite durante os primeiros dias, para que possa
dormir.
— Você estava mesmo ouvindo, não estava?
— Quero ter certeza de que não está com dor — afirmou ele. —
Eu me preocupo com você, Kelly.
Ela quase engasgou pela segunda vez em poucos minutos.
Eu me preocupo com você…
— Desculpe, eu não tive a intenção de chocar você nem nada
— ele provocou.
— Também me preocupo com você, Bane — confessou séria.
Ele olhou para ela por um longo momento, tanto que começou
a sentir que estava ouvindo seus pensamentos.
Ele queria beijá-la. Queria levá-la para a cama.
Sim, sim, sim...
— Eu acho que devemos tentar manter uma vigilância — disse,
afastando o olhar dela.
— Sim — ela concordou.
Mas ele colocou o braço em volta dela enquanto olhavam para
a pequena rua tranquila. Conversaram sobre nada em particular
enquanto observavam os pedestres carregando suas pastas para
casa, os adolescentes correndo entre si até o supermercado
cooperativo4, os passeadores de cachorros e os corredores.
Mas não houve movimento no Yoga Valhalla.
Depois de cerca de meia hora, Bane fez um som de ronco.

4 Em inglês: Co-op grocery store. É uma empresa pertencente e controlada por membros que opera
para o benefício de seus membros. Os membros da cooperativa possuem, controlam e usam os produtos
e serviços. O objetivo é fornecer aos membros e clientes o melhor produto ou serviço possível com o
melhor preço.

93
Tinha adormecido.
Kelly sorriu para o grandalhão e deslizou para fora do seu
braço.
Ele tinha se levantado cedo e trabalhado tanto no café nos
últimos dias.
Ela não tinha ideia do que o havia compelido a usar seu único
tempo livre para correr, mas claramente entre isso e um grande
jantar, aquilo o deixou desmaiado.
A rua estava mais tranquila agora. Estava ficando tarde.
Kelly estava pensando em desistir e ir para a cama sozinha
quando um grito agudo cortou o silêncio.
— Bane — ela murmurou.
— Huh? — ele perguntou, despertando.
— Voltei a ouvir o grito — contou ela.
— Tem certeza? — perguntou, esfregando o sono dos seus
olhos.
— Foi horrível — exclamou.
— Você adormeceu também? — Bane perguntou.
— Não, definitivamente não — negou.
— Só pensei que eu também teria ouvido — disse. — Tenho
um sono leve e uma audição sensível.
— Bem, você não ouviu, mas aconteceu — retrucou. — Temos
que ir até lá.
— Viu alguma luz acesa? — perguntou — Alguém entrou ou
saiu?
— Não — disse ela.
Ele fez uma pausa.
— Kelly, não sei como perguntar isto, mas sinto que tenho que
fazer — disse. — Você continua ouvindo gritos que eu não ouço.

94
Você acha que há alguma possibilidade de que esses analgésicos
possam estar fazendo você... ouvir coisas?
Estava usando o mesmo tom que ela o ouviu usar quando Ollie
estava sendo difícil.
Ela jurou que seria paciente com ele.
Mas isso foi demais.
— Está na hora de voltar para a sua casa, Bane — falou ela,
firmemente.
— Não queria ofendê-la — ele disse. — Essas drogas podem ser
muito fortes. E você está tão preocupada com ela...
— Você teve um dia longo — interrompeu. — E agora é hora de
ir para casa.
— Desculpa, Kelly — falou ele. — Eu nem devia ter feito esta
pergunta.
Sua expressão era tão triste que ela quase se quebrou.
Mas ele acusou-a de estar alucinando. Não acreditou nela. E a
estava tratando como uma espécie de garotinha histérica.
Desviou o olhar de Bane, com raiva demais para responder.
Por fim, ele se levantou e saiu silenciosamente.
Ela tentou não deixar as lágrimas quentes escaparem dos seus
olhos quando a porta se fechou atrás dele.

95
Capítulo 17
Bane

Bane estava pronto para bater a própria cabeça na parede.


Tinha acabado de jurar para si mesmo que apoiaria a sua
companheira.
E agora conseguiu insultá-la e ser expulso.
O lobo rosnou para ele por dentro.
Sim, sim, eu sei que estraguei tudo.
Estava obviamente cansado o suficiente para adormecer
sentado antes, mas estava bem acordado agora.
E estava determinado a ficar de guarda, agora mais do que
nunca.
Voltou para o seu próprio apartamento, puxou o monitor do
bebê do cinto e o colocou na mesa de cabeceira, então se sentou
na poltrona do seu próprio quarto, a imagem espelhada de Kelly.
Estava exausto e infeliz.
Como é que ser pai solteiro era tão fácil e apaixonar-se tão
difícil?
A maioria dos pais passou noites sem dormir com os filhos. Ele
tinha perdido tudo isso com Ollie.
Quem teria pensado que seria a sua companheira a mantê-lo
acordado à noite e acordando antes do amanhecer todos os dias?
—Ela vale a pena — o lobo rosnou.
—Claro que ela vale a pena — ele rosnou de volta. Isso nem foi
uma questão.
Ele apenas continuava bagunçando as coisas.

96
Bane Wilson fora bom em tudo durante toda a vida. Ele era
bom nos esportes, bom como editor e agente, bom em atrair as
mulheres...
Por que era tão ruim em amar Kelly McDermott?
O poste lançou uma pirâmide de luz na rua abaixo.
Tarker’s Hollow sempre parecia tão solitária para ele a esta
hora da noite. Os pedestres há muito tinham ido para casa e as
lojas estavam fechadas. Todas as vezes que a viu na madrugada,
ele sentiu que parecia uma cidade fantasma, pálida e abandonada
ao luar.
Bane passava a maior parte das suas noites na floresta, onde
sempre era rico em vida selvagem e ocupado com o cheiro do
movimento e coisas novas crescendo ou apodrecendo.
A fadiga começou a cair sobre ele novamente, então se inclinou
para frente e levantou a janela para deixar entrar o ar frio,
esperando que isso o mantivesse acordado.
Ouviu atentamente procurando por qualquer som. Talvez não
fosse um grito que ela ouviu, talvez houvesse outro som, algo que
parecia um grito, mas não era.
Mas além das cigarras e dos grilos e da brisa tremendo nas
árvores, Bane não ouviu nada. Nem mesmo com o seu sentido de
audição.
Agora que teve um momento de silêncio, deixou-se questionar
sobre o cheiro no estúdio de yoga esta tarde. Não teve tempo de
tentar juntar as peças durante a sua noite ocupada com Ollie.
O cheiro era quase familiar.
Não era um animal de estimação, não era humano e não era a
própria Whitney.
Pensou em Whitney novamente e tentou não se preocupar.

97
Ela era uma shifter, afinal. Seria necessário algo
verdadeiramente forte para dominá-la. Mesmo com seu estilo de
vida de suco e ioga, sabia que era o lobo dentro dela que a tornava
resistente.
Mas não se podia exatamente incluir isso em seus materiais de
marketing.
Apesar do apoio do bando, o estilo de vida de um shifter
poderia ser solitário às vezes. Os segredos sempre foram um
assunto solitário.
Pensou em Kelly e se perguntou como ela reagiria quando lhe
contasse.
Provavelmente não acreditaria nele.
O que era irônico, depois que ele acabou de fazer dela aquela
que lutava para ser acreditada.
Claro, se transformar em um lobo gigante na frente dela seria
uma maneira rápida de tirar suas dúvidas. Depois disso, ele com
certeza esperava que ela achasse legal.
Tinha certeza de que se lembrava de um boton “Team Jacob”
em sua mochila no segundo ano.
Ele sorriu de si mesmo.
Um grito horrível veio da janela.
Era agudo, mas áspero e desesperado, e quase
indescritivelmente horripilante.
Por um momento, Bane ficou paralisado de horror.
Então saltou do seu assento.
Não havia tempo para chamar a polícia, não havia tempo para
implorar por reforços.
Ele tinha que ir e salvar Whitney Ogden.

98
Para o bem ou para o mal, ela fazia parte da matilha. Tinha o
dever de protegê-la.
Desceu correndo as escadas de dois em dois.
Só tinha que atravessar a rua e quebrar a porta de vidro. Rezou
para não chegar tarde demais.

99
Capítulo 18
Kelly

Kelly prendeu a respiração e inclinou-se sobre a mesa tentando


ter uma melhor visão do estúdio de ioga.
Os gritos eram terríveis, era como se os portões do inferno se
abrissem e ela ouvisse a agonia dos seus habitantes.
Percebeu um movimento do lado de fora do estúdio.
Para seu horror, viu que era Bane, correndo pela porta.
Ele bateu contra o vidro uma, duas vezes.
Kelly estava congelada no lugar.
A porta quebrou no último empurrão e ele entrou,
desaparecendo na escuridão.
O silêncio na Park Avenue era ensurdecedor.
Kelly rolou sua cadeira até a mesa de cabeceira para procurar
o telefone, mas não estava lá. Deveria tê-lo deixado na bolsa.
O ruído do motor retumbou pela janela aberta.
Rolou a cadeira para trás rapidamente, bem a tempo de ver a
van branca sem janelas parar na frente do Yoga Valhalla.
O cara corpulento saiu, olhou ao redor da rua e depois foi para
a escada de incêndio do beco, como da última vez.
— Não — Kelly gemeu.
Não achou que ele tivesse notado a porta da frente quebrada.
Mas Bane estava lá e não sabia que o homem estava vindo.
Freneticamente, pesou suas opções.
Poderia tentar encontrar o telefone na bolsa, chamar a polícia,
mas demoraria muito para eles chegarem.
Não.
100
O pequeno Ollie Wilson já havia perdido dois pais.
Não o deixaria perder um terceiro.
Kelly arrastou-se para fora da cadeira, saltou pela sala e
dirigiu-se para o corredor. Assim que alcançou as escadas, se jogou
no chão e escorregou até o café, seu tornozelo gemendo em protesto
contra os empurrões violentos.
Não podia acender as luzes e alertar o intruso de que havia
atividade do outro lado da rua.
Mas precisava de uma arma.
Ela se apoiou no balcão e foi tateando até a cozinha.
A gaveta de facas se abriu silenciosamente.
Agarrou a primeira coisa que encontrou pelo cabo e pulou em
direção à porta da frente.
O ar extremamente frio da noite despenteava o seu cabelo.
No círculo do poste de luz, pôde ver que o que estava segurando
era na verdade uma espátula para bolo.
Mas não tinha tempo e Bane estava em apuros.
Mesmo que tudo o que pudesse fazer fosse distrair o bandido,
ela estava a bordo.
E tinha a sensação de que com a adrenalina correndo em suas
veias, ela provavelmente poderia causar danos significativos com
sua arma improvisada, se fosse necessário.
Saltou vigorosamente para o meio-fio e depois se abaixou no
chão, com medo de pular.
Com a espátula entre os dentes, Kelly rastejou pela Park
Avenue.
Ela puxou as mangas felpudas do pijama sobre as mãos para
protegê-las, respirou fundo e rastejou pela moldura da porta
quebrada.

101
A mordida do vidro contra seus joelhos não doeu muito,
apenas aumentou o zumbido dos calafrios que desciam pelas suas
costas e a fervura do seu sangue enquanto pensava em Bane, sem
saber se ele estava em grave perigo.
Tinha acabado de fazer seu caminho para o saguão e se puxou
para cima usando uma das máquinas de exercícios de Whitney,
quando ouviu passos descendo as escadas.
Rezou para que Bane estivesse apenas verificando o porão e
que tivesse chegado a tempo.
O feixe de uma lanterna balançou descontroladamente pelos
degraus e então uma enorme figura sombria apareceu atrás dela.
— Coloque suas mãos para cima — rugiu na sua voz mais
profunda e, com sorte, mais intimidante.
A figura se assustou e largou a lanterna, que rolou
parcialmente para dentro do estúdio e parou entre eles.
Com o brilho fraco podia ver seu oponente.
Era o homem corpulento, usando o mesmo boné azul e um
sorriso de escárnio horrível.
— Ha — ele ladrou — Você é como um gatinho com uma pata
quebrada.
Ele enfiou a mão na bolsa antes que ela pudesse dizer a ele
para não fazer isso.
Sua arma brilhou na luz estranha.
Kelly sentiu movimento na escuridão atrás dele, então a
silhueta de Bane apareceu.
— Não — Kelly gemeu, abanando a cabeça.
Mas Bane avançava rapidamente, atirando-se para baixo.
E então todo o seu mundo mudou em seu eixo.
Balançou a cabeça, tentando entender o que estava vendo.

102
Capítulo 19
Bane

As roupas de Bane se rasgaram enquanto saltava pelo ar,


mudando enquanto atacava.
Só podia esperar que Kelly não o tivesse visto em forma
humana.
Não queria arriscar revelar seu segredo ainda, mas ver o medo
em seus olhos não lhe deu escolha.
O lobo deu um passo à frente para assumir o controle e fazer
o que fazia de melhor. E Bane não resistiu.
Pousou com força nos ombros do agressor, derrubando-o com
precisão no chão.
O boné de beisebol azul caiu da sua cabeça e a respiração saiu
dos seus pulmões em um ruído alto.
Bane manteve as patas dianteiras no lugar nas omoplatas do
vilão, mesmo enquanto ele tossia e se mexia.
— Jesus, senhora — o homem suspirou — chame o seu cão.
— N-n-não é o meu cão — gaguejou Kelly.
Bane ansiava ir para ela, mas o seu primeiro dever era protegê-
la do cretino que tinha prendido.
Um perfume floral tão forte que quase queimou seu focinho
desceu as escadas para o estúdio e então ele ouviu passos leves.
Bane não teve que olhar para saber que era Whitney.
— O que se passa aí em baixo? — a voz de Whitney Ogden era
aguda e anasalada, como se tivesse medo.
— Você está bem — cantou Kelly com gratidão.

103
— Kelly McDermott? — Whitney perguntou, descendo a
escada.
— Oh meu Deus — gritou Kelly — O que é que ele fez com
você?
Bane virou-se para ver que o rosto de Whitney estava inchado
como uma abóbora.
Um rosnado baixo retumbou em sua garganta.
— Jesus — o homem gemeu, balançando de novo.
— O que quer dizer com o que ele me fez? — Whitney
perguntou — Ele é meu empreiteiro. O que você está fazendo com
ele? Oh, olá, Bane.
O empreiteiro?
Bem, a piada estava pronta.
Bane largou o homem e deslizou de volta para a sua forma
humana.
Kelly observou-o, com a boca aberta.
— Cubra-se, idiota — disse Whitney, atirando-lhe o roupão.
Ele apanhou-o automaticamente, mas não o vestiu de
imediato. Estava demasiado ocupado olhando para Kelly, tentando
avaliar a reação dela.
— Então, se este é o seu empreiteiro — Kelly perguntou. — O
que aconteceu com a sua cara?
— Se quer saber, eu lhe digo — disse Whitney — Mas você tem
que deixá-lo se levantar e voltar ao trabalho primeiro.
Com isso, o empreiteiro ficou em pé, agarrando o boné com as
mãos à sua frente.
— De jeito nenhum, dona — exclamou ele, sacudindo a poeira
de cima dele. — Eu acabei por aqui.
Whitney franziu a testa.

104
— E a propósito, desculpe-me por ameaçá-la com a minha
pistola de pregos — ele falou, voltando para Kelly com uma
dignidade silenciosa. — Pensei que era um drogado tentando me
roubar. Acontece às vezes em trabalhos noturnos.
— Oh, er, sem problemas — respondeu Kelly. — Pensei que
você... não deveria estar aqui.
— Se isso a faz sentir-se melhor, tem que ser carregado e ligado
no compressor para disparar — acrescentou, dando palmadinhas
na pistola de pregos.
— A minha arma era uma espátula de bolo — ela respondeu
de uma forma atordoada.
— Tempos desesperados, acho — ele encolheu os ombros. —
Boa sorte com o seu trabalho estranho. Cobrarei tempo e materiais
até agora, Wheatley.
— Whitney.
— O que quer que seja — o homem murmurou. — Malditos
suburbanos loucos.
Whitney fez um barulho estranho.
Bane virou-se para ela.
Era uma gargalhada.
Whitney Ogden estava rindo.
Bane puxou o roupão cor-de-rosa. Mal fechou à sua volta.
Quando olhou para cima outra vez, Kelly estava sorrindo para
Whitney.
— Quer um lanche da meia-noite? — Kelly perguntou. —
Preciso mesmo ouvir esta história.
— Claro — disse Whitney — Sim, acho que gostaria disso. Mas
vamos limpá-la primeiro. Bane, vista umas calças. Encontramos
com você lá.

105
Bane assistiu com espanto enquanto Whitney ajudava Kelly a
levantar-se e as duas mulheres se dirigiam para o banheiro, de
braços dados - Whitney com sua graça sinuosa usual e Kelly,
pulando como uma criança em um pula-pula, o cabelo balançando
em uma bela corrida dourada.
Talvez a noite não fosse um desastre total, afinal de contas.

106
Capítulo 20
Kelly

Meia hora depois, confortavelmente de volta ao seu próprio


café, Kelly olhou para o outro lado da mesa para Whitney.
Embora seu rosto estivesse terrivelmente inchado, estava
sorrindo e relaxada, e de alguma forma mais bonita do que nunca.
— Então, o que aconteceu? — Kelly perguntou, tirando um dos
pãezinhos de canela de ontem do prato de guloseimas que Bane
tinha trazido da cozinha.
Whitney olhou para baixo para a caneca de café quente.
— Uau, eu quase não sei por onde começar.
— Não temos literalmente outro lugar para estar — disse Kelly.
— Não vale a pena ir para a cama quando temos que começar a
assar em algumas horas.
Ollie fez um pequeno barulho no monitor e depois voltou a
dormir, como se estivesse de acordo.
Whitney respirou fundo, e então começou.
— Sei que fiz muito barulho sobre o meu estúdio ser um
sucesso — contou.
— Claro — concordou Kelly. — Está sempre cheio.
— O que se passa é o seguinte — revelou Whitney. — Dei
muitos passes livres aos influenciadores locais. E vendi muito mais
passes num aplicativo de cupon de grupo. Entre isso e o primeiro
mês ser um teste gratuito para cada cliente... bem... digamos que
tenho muitos rabos em tapetes, mas isso nem sempre se traduz em
números no banco.

107
Kelly acenou com a cabeça. Ela compreendia a necessidade de
um negócio levar as pessoas à sua porta.
— De qualquer forma — continuou Whitney — eu estava
ficando desesperada e Carol Lotus compartilhou aquele vídeo no
Insta daquelas pessoas fazendo ioga para cabras e todos estavam
adorando. Achei que a ioga com cabras poderia atrair as pessoas.
— Oh, uau — disse Kelly. Viu imediatamente uma centena de
coisas erradas nesse ideia.
— Bem, acho que fui ingênua — declarou Whitney. — Não
cresci com muitos animais. Mas de qualquer forma, comprei-as de
um cara em Chester County. E estas cabras, bem, não há uma boa
maneira de dizê-lo. São apenas umas idiotas.
Bane engasgou-se um pouco com o café e Kelly bateu-lhe nas
costas enquanto sufocava o seu próprio riso.
— Além disso — Whitney continuou — ao que parece, sou
alérgica a cabras. Tipo, muito, muito alérgica.
— Seu rosto — Kelly disse, percebendo a causa do inchaço.
— Sim — assentiu Whitney — E as cabras fazem este barulho
alto e desagradável, e cagam por todo o lado. É tudo.
Como se sublinhasse o seu ponto de vista, outro grito
sobrenatural ecoou do estúdio do outro lado da rua.
— É assim que uma cabra soa? — Kelly perguntou.
— Não admira que você pensasse que alguém estava sendo
assassinado ali — acrescentou Bane.
Whitney acenou de acordo.
— As cabras não são normalmente um animal de dentro de
casa — observou Kelly.
— Bem, eu sei disso, agora — declarou Whitney — Tive de
fechar no primeiro dia porque as cabras estavam fora de controle.

108
E no segundo dia, eu estava assim, e claramente não podia
aparecer na frente de ninguém.
— Claramente — concordou Bane.
Kelly cotovelou-o levemente nas costelas.
— Para que era o empreiteiro? — perguntou.
— Ele está construindo um curral para mim — contou
Whitney. — Pelo menos estava.
— Por que não ligou para Jack Harkness? — Kelly perguntou
.— Ele não renovou aquele lugar para você?
— Fiquei envergonhada — disse Whitney. — Foi por isso que
trouxe o outro cara à noite. Não queria que ninguém soubesse. Mas
acho que terei de ligar para Jack agora, só para tratar dos estragos.
Nem sei o que fazer com as cabras. O lugar tem uma política
rigorosa de não-reembolso.
— Há sempre aquele novo restaurante de comida indiana em
Springton — ofereceu Bane. — Eles fazem um ótimo curry.
Kelly deu-lhe outra cotovelada, esta um pouco mais forte que
a última.
— Tenho certeza que o Jack gostará de saber disso — afirmou
Kelly. — Ele disse que gosta de trabalhar para você porque sabe
sempre exatamente o que quer.
Whitney sorriu e as bochechas inchadas quase esconderam os
seus olhos.
— Isso é bom — disse ela.
— Além disso, ele cresceu numa fazenda — acrescentou Kelly.
— Saberá o que fazer com as cabras.
— Acho que sim — respondeu Whitney duvidosamente.
— Então... eu tenho uma ideia — ouviu-se dizer. — Não sei o
que você pensará disso, mas espero que diga que sim.

109
Whitney olhou para ela e Kelly percebeu como os olhos de
Whitney eram adoráveis, apesar do seu inchaço. Sempre se sentiu
muito intimidada por ela para prestar muita atenção.
Agora que as paredes de Whitney estavam baixas, podia ver
que Bane estava certo sobre ela. Whitney não era uma pessoa ruim.
Seu esnobismo era claramente uma espécie de defesa. Mas, na
realidade, ela era forte e engenhosa, o tipo de pessoa que Kelly teria
orgulho de chamar de amiga.
— Estava pensando que talvez tivesse espaço aqui para uma
estação de smoothie — disse Kelly. — Nada de especial, mas não
há razão para não ter opções mais saudáveis. Ficaria feliz em
oferecer aos membros do Yoga Valhalla um desconto em smoothies
e exibir os seus folhetos junto ao stand.
— Você faria isso? — Whitney perguntou.
— Claro — concordou Kelly. — Não diria que meu negócio está
exatamente crescendo. Mas estou feliz em ajudar e acho que temos
mais clientes em potencial em comum do que qualquer uma de nós
poderia alcançar sozinha.
— Não estaria interessada em comprar leite de cabra, não é?
— Whitney perguntou — É muito fresco.
— Não abuse da sorte — disse Kelly.
— Foi o que pensei — riu Whitney.
— Sabe ao menos se são machos ou fêmeas? — Bane
perguntou.
— Isso realmente não é o meu negócio — falou Whitney,
enrugando o nariz.
—Mande uma mensagem para Jack Harkness pela manhã —
sugeriu Kelly. — Ele cuidará de tudo.

110
— Farei isso — concordou Whitney com a boca cheia de rolo
de canela. — Meu Deus, isso é bom.
— Alguns carboidratos não machucam de vez em quando —
sugeriu Kelly
— Preciso correr e trancar minha porta — disse Whitney. —
Posso levar um para viagem?
— Pegue o prato — respondeu Kelly, sorrindo.
— Kelly — chamou Whitney.
— Sim?
— O que você fez foi muito corajoso — falou Whitney. — É um
boa pessoa. Desculpa não ter percebido isso no colégio.
— Estou feliz por sermos amigas, Whitney — respondeu
simplesmente Kelly.
— Eu também — concordou Whitney. — Até amanhã.
Eles viram-na partir.
— Isso foi muito legal da sua parte, Kelly — disse Bane.
— Oh, não, não, não — exclamou ela. — Nem pense que me
distrairá. Acabei de assistir você se transformar em um lobo
gigante. Você tem algumas explicações a dar.
— Não há nenhuma chance de você acreditar que estava tendo
alucinações, certo? — ele perguntou.
Ela atirou-lhe um pão de canela.
Ele o pegou e deu uma mordida, seus olhos brilhando com
malícia.
— Eu queria te dizer — falou depois de um minuto. — Mas
você pode entender que não é o tipo de segredo que se pode
partilhar.
— Ninguém acreditaria em você — ela disse, acenando.

111
— E se o fizessem, quereriam contar aos outros — concordou
Bane. — Não sou o único. Eu tenho que proteger a matilha.
— Mas Whitney sabe — apontou Kelly.
Bane ficou em silêncio.
— Ela também é um lobo? — Kelly sussurrou, escandalizada.
— Você não ouviu nada de mim — disse ele.
— Ollie sabe? — perguntou, de repente pensando no menino
lá em cima.
— Ainda não — disse Bane — Mas quando chegar a hora,
contarei a ele.
— É hereditário? — perguntou.
Bane acenou com a cabeça.
— É uma grande razão pela qual é tão importante para mim
criar o Ollie aqui em Tarker's Hollow, onde há uma matilha.
— Você está falando comigo sobre isto tão abertamente — disse
ela.
— Você não está pirando — respondeu ele.
Ela pensou por um momento.
— Sabe o que o agente Evans disse sobre coisas estranhas em
Tarker's Hollow se endireitarem? — perguntou.
— Claro — ele disse.
— Vivi nesta cidade toda a minha vida. Sempre tive a sensação
de que havia algo de especial acontecendo aqui — contou. — Um
segredo do qual não fazia parte. Um mistério.
Ela mordeu o pão de canela antes de continuar.
— Sei que devia estar assustada. Mas em vez disso, parece que
alguém acabou de ligar um interruptor e agora tudo faz muito mais
sentido.

112
— Bem, você tinha razão em sentir assim — disse-lhe Bane. —
A mudança vem na adolescência. Na época, comecei a sair com
Whitney e aqueles caras. É nesse ponto que algumas crianças
sabem e outras não, onde tudo fica estranho. Pelo menos foi assim
para mim. Somos tão poucos, mas é uma grande responsabilidade,
proteger uma cidade.
— E ninguém pode saber a menos que faça parte da alcateia?
— perguntou.
— Um companheiro pode ser informado — ele respondeu.
— Um companheiro? — ecoou.
Ele olhou para ela por um longo momento. Havia um brilho
âmbar em seus olhos que ela nunca tinha visto antes.
— Quando um lobo escolhe um parceiro, é para toda a vida —
contou — E estou usando a palavra “escolhe” vagamente. Ter um
companheiro não é uma escolha. É mais como o destino –
dominador e irresistível.
O coração de Kelly bateu e escolheu as suas próximas palavras
com muito cuidado.
— Então, um dia conhecerá uma mulher e não poderá amar
ninguém a não ser ela?
— Já conheci essa mulher, Kelly McDermott — falou com
firmeza. — Não banque a tímida comigo.
— Eu não estava — murmurou, incrédula.
— Você está machucada? — perguntou. — Lesionou o
tornozelo de novo?
— Eu... acho que não — ela disse, tentando acompanhar o seu
pensamento.
— Bom — disse ele.

113
De repente, ele se levantou da cadeira, erguendo-a,
carregando-a escada acima como se ela não fosse mais pesada do
que um pensamento.

114
Capítulo 21
Bane

Bane colocou Kelly o mais gentilmente possível na cama dela.


A viagem até as escadas foi traiçoeira, a necessidade por ela
superando a sua capacidade de se mover lenta e cuidadosamente
com sua companheira ferida.
Ela se deitou no travesseiro, olhando para ele, seus lindos
olhos castanhos cheios de necessidade.
Bane tirou a camiseta, a calça jeans e a boxer que vestia.
Quando se endireitou, apreciou a fome em seus olhos. Ele
sempre foi abençoado com um corpo forte. Tinha servido-o bem e
estava feliz por levar prazer a ela.
— Bane — murmurou. Os braços estendidos como se também
sentisse a urgência primitiva. Como se o coração estivesse em uma
agonia irregular como o dele, ansiando por sua outra metade.
Rastejou em cima dela, pressionando beijos contra a sua testa,
seus olhos, suas bochechas.
Ela o segurou com tanta força que seus dedos cravaram na
sua carne.
— Kelly, deixe-me te amar — ele murmurou, afastando-se
ligeiramente.
Soltou-o com relutância e ele trabalhou o mais rápido que pôde
- puxando a blusa do pijama pela cabeça, a calça para baixo e sobre
as pernas, com a bota e tudo.
Bane ficou de joelhos, alimentando-se da visão, pele macia e
cabelo dourado, quente e perfumado e esperando pelo seu toque.

115
Choramingou o seu nome novamente quando ele afundou
entre as suas pernas, descansando contra suas coxas até que
permitiu que se abrissem e o deixasse entrar.
Ele pressionou os lábios contra ela, traçando sua abertura com
a língua - suavemente, tão suavemente.
Ela gritou, uma sinfonia em seus ouvidos.
O lobo uivou em simpatia.
Deus, como a queria.
Provou-a novamente, provocando-a, sacudindo e lambendo,
empurrando-a cada vez mais perto.
Kelly estremeceu sob sua língua, os músculos tensos. Ansiava
por satisfação, mas ele a conteve, girando a língua suavemente
apenas o suficiente para mantê-la no limite, o prazer pairando,
todo o seu mundo uma tempestade de antecipação.
— Por favor — ela gemeu.
Ele a lambeu mais uma vez, longo e generoso, então,
relutantemente, beijou-a subindo até sua barriga trêmula.
Os olhos de Kelly estavam turvos de necessidade.
— Você é minha — afirmou.
— Sim — ela sussurrou.
— Diga — ele rosnou.
— Eu sou sua — disse ela.
Estava falando sério. Dava para ver.
Queria olhar para aqueles olhos emotivos pelo resto da vida,
queria beijar o nariz dela.
Mas o pulso em sua garganta estava batendo como um tambor,
chamando-o para casa.

116
Capítulo 22
Kelly

Kelly esperou, o seu corpo tremendo de necessidade, sua alma


clamando por conclusão.
Viu o momento em que os olhos dele foram para seu pescoço e
fechou os próprios olhos, preparando-se para a dor.
Em vez disso, sentiu seu beijo gentil em seus lábios, ainda
escorregadio com a maneira cruel como ele a torturou.
Beijou-o de volta. Sempre o beijaria de volta, mesmo quando
estivesse louca de necessidade, mesmo triste e um dia quando os
dois fossem velhos. O beijo dela era dele para pegar.
Ele finalmente se afastou.
— Está pronta? — Bane sussurrou em seu cabelo.
— Sim — ela sussurrou.
Então seu pênis cutucou contra a sua abertura, quente e duro
e tão enorme que parecia impossível que fosse capaz de entrar.
— Olhe para mim — sussurrou.
Ela abriu os olhos para olhar para os dele.
— Amo você, Kelly McDermott — ele falou.— Sempre amarei.
— Eu também amo você — disse-lhe, com lágrimas caindo dos
seus olhos.
Quando ele se pressionou dentro dela não houve dor, apenas
uma plenitude.
Seus olhos ficaram nebulosos com a necessidade.
— Por favor — ela choramingava, levantando os quadris.
— Oh Deus, Kelly — ele gemeu, empurrando novamente.
O prazer era tão intenso que ela mal conseguia suportá-lo.
117
Afundou as unhas nos seus ombros, tentando se ancorar.
Bane empurrou mais e mais forte até que todo o seu ser estava
focado no próximo impulso.
Ele acariciou seu pescoço.
Parou por um momento, então virou a cabeça para o lado,
permitindo-lhe o acesso.
Ele deslizou a mão entre eles, massageando seu clitóris rígido
enquanto mordia seu pescoço.
Prazer e dor a atravessaram, elevando-a cada vez mais alto até
que perdeu a noção dos seus próprios sons.
— Kelly — murmurou. Sua voz um comando.
O prazer desabou sobre ela como uma tempestade selvagem.
Kelly deu-lhe as boas-vindas, o êxtase banhando-a de felicidade
enquanto sentia corpo e alma desmoronarem de alegria.
Bane rugiu de prazer, enchendo-a enquanto as ondas do seu
clímax continuavam e continuavam.
Abaixou-se sobre o peito dela, ofegante.
Lentamente, o mundo voltou a entrar, o som da chuva fresca
lá fora, o cheiro do chá de hortelã que ela abandonou em sua mesa,
o ar frio entrando pela janela.
As perguntas também entraram. Isto era realmente para a vida
toda? O que Ollie pensaria? O que diriam às pessoas?
Mas Bane manteve esses pensamentos sob controle,
acariciando seus cabelos com uma das mãos grande e quente,
puxando-a para cima dele para abraçá-la contra o peito.
Ela fechou os olhos e ouviu a batida do coração dele, batendo
em conjunto com o dela.

118
Capítulo 23
Bane

Uma semana depois, Bane sentou-se numa das cabines do


Mornings at McDermott' s, rodeado pelos seus amigos e seu amor.
Tinha um braço ao redor de Kelly, que estava rindo e
conversando com Delilah, que estava sentada em frente a eles ao
lado do companheiro e seu amigo próximo, Axel.
Axel estava alimentando o bebê Noah com sua mamadeira e a
si mesmo com um enorme smoothie verde.
Chase e Dax empurraram outra mesa até a cabine. Cada um
estava cortando panquecas para os gêmeos o mais rápido que
podiam para satisfazer os pequenos famintos.
— Ainda bem que o Jacob está hoje com os pais — comentou
Chase. — Temos apenas mãos suficientes.
— Eu ajudarei — ofereceu Ollie, arrojado. — Quero alimentar
os bebês.
— Você pode me alimentar? — Chase perguntou-lhe — Quero
uma mordida no meu bagel, mas as minhas mãos estão cheias de
alimentar os bebês do Dax.
— Claro — disse Ollie emocionado.
Todos viram enquanto levantava o bagel para a boca de Chase.
— Mmm — Chase resmungou dando uma mordida.
— Agora você é o meu bebê — apontou Ollie.
— Por enquanto — disse Chase, rindo.
— Talvez um dia destes haja outro bebê na sua casa — falou
Dax a Ollie. — Aposto que você seria um irmão mais velho
fantástico.
119
Ollie vibrou e Bane olhou para Kelly, que ficou cor-de-rosa e
tomou um gole do seu chá.
Mas também parecia contente.
Esperava que estivesse tão feliz quanto ele.
Era bom estarem juntos - bom saber que, independentemente
do que pudesse acontecer, sua família era um negócio fechado.
Bane, Kelly e Ollie para sempre.
Para completar, hoje era o aniversário de Kelly, então Jeb
Harkness estava atrás do balcão, cuidando de tudo para que eles
pudessem apenas relaxar com os amigos.
Os sinos tilintaram e Whitney Ogden entrou.
— Whitney — Kelly disse.
Bane se divertiu com o sorriso relaxado de Whitney e a maneira
ansiosa como ela veio dizer olá à sua companheira.
Kelly tinha um dom de bondade e bravura que lhe permitiu
penetrar nas defesas de um dos lobos mais fechados da matilha de
Tarker's Hollow.
Estava muito orgulhoso dela e feliz por Whitney ter uma amiga
como Kelly.
— Tudo bem se eu servir o meu próprio? — Whitney
perguntou, indicando a estação de smoothies.
— Claro — Kelly acenou. — Como está indo a renovação pós-
apocalipse das cabras? Jack está trabalhando nisso?
— Está quase pronto — disse Whitney, com um olhar de
imenso alívio. — Ainda não consigo acreditar que ele estava
disposto a aceitar aquelas feras terríveis como pagamento.
— Iremos visitá-los em Harkness Farms no próximo fim de
semana, quando levarmos Ollie para o passeio de feno — disse
Kelly. — Você é bem-vinda para vir conosco.

120
— Meu Deus não, você está brincando? — Whitney falou. —
Além disso, farei uma grande reabertura no próximo fim de
semana. Espera, isso me lembra, trouxe uma coisa — disse
Whitney, tirando um pequeno saco da bolsa.
— O que é isto? — Kelly perguntou, com um sorriso.
— Só uma coisinha para a aniversariante — disse Whitney. —
Estou pensando em alguma propaganda. Estava procurando
opções e tive de agarrar esta para você.
Kelly tirou um objeto verde-musgo do saco.
— É para o seu cabelo — falou Whitney. — Supostamente é
ótimo para o yoga, mas honestamente, você usa sempre um rabo-
de-cavalo no trabalho. Pode dobrá-lo e fazer um coque ou um rabo
de cavalo ou o que quiser. E é da mesma cor que os seus olhos.
— Muito obrigada, Whitney — agradeceu Kelly. — É muito
simpático da sua parte.
— Também temos um presente para você, Kelly — exclamou
Ollie de repente.
— Oh, amigo, nós faríamos isso mais tarde — disse Bane.
— Quero dar-lhe o meu agora — disse Ollie. — É o aniversário
da Kelly.
Ele não esperou a resposta de Kelly. Ele se aproximou dela,
agarrou algo do bolso do macacão e se ajoelhou enquanto o
segurava.
— Kelly, eu prometo sempre ajudar você — ele falou a ela
solenemente — Quer ser minha mamãe?
Kelly engasgou.
Lágrimas pareciam voar dos seus olhos.
Todo o café estava perfeitamente silencioso.

121
— Claro — ela conseguiu dizer a ele em voz baixa. — Eu
adoraria ser sua mamãe.
Bane tirou o braço do seu ombro para que ela pudesse se
levantar.
Kelly envolveu Ollie em um abraço gigante, levantou-o e girou-
o uma vez.
— Não chore — pediu Ollie ternamente. — É bom ser a mamãe
de alguém.
— Estou muito feliz — Kelly disse a ele, enxugando as lágrimas
dos olhos — Você provavelmente nunca viu alguém chorar de
felicidade, mas é exatamente isso que estou fazendo.
— O anel é rosa. Você viu isso? — Ollie perguntou. — Eu o
ganhei por ser corajoso no dentista. Mas agora estou dando a você.
O coração de Bane ameaçou quebrar quando viu sua
companheira deixar Ollie deslizar o anel de plástico em seu dedo.
Só esperava que ela aceitasse o seu tão prontamente.
Embora tivesse certeza de que sabia a resposta dela.
Estava planejando fazer isso quando tivessem um pouco mais
de privacidade. Mas percebeu que alguns momentos eram ainda
mais agradáveis na companhia de amigos.
Tirou o próprio anel do bolso e ajoelhou-se à frente dos dois.
— Kelly — chamou ele.
Ela viu o que ele estava fazendo e seu rosto brilhou de
felicidade. Ele pensou que ela parecia incrivelmente feliz antes,
mas agora era como se uma luz tivesse se acendido dentro dela.
Teve que engolir suas próprias lágrimas de alegria antes que
pudesse continuar.
— Kelly McDermott, eu amo você — falou simplesmente. —
Quer ser a minha esposa?

122
Ela, claramente deixou cair mais lágrimas.
— Você deveria dizer que sim — sugeriu Ollie num sussurro
alto.
— Sim — ela riu. — Sim, sim, sim, sim, sim.
Deslizou o anel no seu dedo e se levantou para pegar os dois
nos braços.
Uma das mãozinhas de Ollie envolveu seu pescoço e Kelly se
encostou no peito de Bane.
Podia sentir as lágrimas dela encharcando sua camiseta, a
prova do seu amor por eles.
— Então, qual é o plano, pessoal? — Chase gozou. — Você se
mudará para o apartamento dele ou ele está se mudando para o
seu?
— Talvez nós apenas derrubemos uma parede — respondeu
Kelly, voltando-se para os seus amigos.
— Eu tenho um grande empreiteiro que trabalha à noite —
Whitney brincou. — Apenas tente não confundi-lo com um ladrão.
Kelly riu e Bane riu com ela.
Se seria em uma grande casa velha ou um apartamento sobre
o café, não importava. Tudo o que Bane sabia era que os três
definitivamente viveriam felizes para sempre.

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Próximo Lançamento

Chase

Chase é louco pela garota da porta ao lado, mas a irmã mais


nova do seu melhor amigo devia estar completamente fora dos
limites...
Izzy Pearson está de volta à sua antiga cidade natal depois de
uma série de azares. Com a sua relação e o seu negócio em ruínas,
ela não tem muito com que se entusiasmar, até que a sua paixão
de infância entra pela porta... com um bebê.
Chase Bowman é o garoto americano da casa ao lado, exceto
na parte em que ele se transforma em um lobo gigante toda vez que
a lua está cheia. Ele trabalha na faculdade local e cuida do seu
adorável sobrinho alguns dias por semana. E está de cabeça virada
pela sua vizinha, a mulher linda e corajosa por quem é apaixonado
desde que eram crianças. Há apenas um problema - ela
simplesmente é a irmã mais nova do seu melhor amigo, e ele fez
uma promessa de nunca se envolver com ela.
Com Izzy de volta à cidade e Chase ajudando-a a iniciar um
novo empreendimento comercial, os dois acabam passando muito
tempo juntos e faíscas inevitavelmente começam a voar. No
entanto, depois do seu rompimento recente, Izzy está preocupada
em deixar alguém chegar perto demais. E Chase não tem ideia de
como ela reagirá quando descobrir o seu segredo, ou como o seu
irmão reagirá se descobrir sobre os dois. Chase pode manter sua
promessa de ficar longe de Izzy ou a atração primitiva será demais
para ele superar?
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Se você gosta de mulheres fortes, homens shifter sensuais e
bebês incrivelmente adoráveis, você vai adorar a série Single Daddy
Shifters, ambientada no delicioso mundo shifter de Tarker’s
Hollow!

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