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All the Young

Dudes
Volume 1: Anos 1-4

MsKingBean89
Arte por Swifty_Fox
Tradução por Paula Perez e Bruna Mello
Formatação por Paula Perez.

Fandom: Harry Potter


Ship: Remus Lupin + Sirius Black
Classificação: Maduro
Capítulos 1-72

Publicado em 2 de março de 2017


Completo em 12 de novembro de 2018
Palavras: 173 296

Sinopse: Essa fanfic é sobre a trajetória dos Marotos em Hogwarts e a Primeira


Guerra Bruxa (1971-1995). Narrada pelo ponto de vista de Remus Lupin, em
uma versão onde Lyall Lupin se suicidou após o filho ter sido mordido e ele
cresceu em um abrigo infantil para meninos.

Playlist oficial com todas as músicas citadas:


https://open.spotify.com/playlist/3z2NbLq2IVGG0NICBqsN2D?si=MpNmZP
XPQMuFd9bpSOuzoQ

Playlist da Paula inspirada na fic:


https://open.spotify.com/playlist/4E2O5PAydvDg6czthf46yM?si=TcpSDgA_
RQenY2bWGz0vSA

“All the Young Dudes ” de MsKingBean89 no ao3:


https://archiveofourown.org/works/10057010/chapters/22409387

Acompanhe a tradução no ao3:


https://archiveofourown.org/works/27582395/chapters/67472828

Acompanhe a tradução no wattpad:


https://www.wattpad.com/story/245637772?utm_source=ios&utm_medium=li
nk&utm_content=share_reading&wp_page=library&wp_uname=paulak165&
wp_originator=3aa%2Baamoj8od4x8cuc7zAszvGFTOScyw%2BZLV6N2J3F
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Prólogo
Hope, 1965

While I’m far away from you, my baby.


I know it’s hard for you, my baby.
Because it’s hard for me my baby.
And the darkest hour is just before dawn.
- ‘Dedicated to the one I love’, The Mamas and the Papas.

"Você nunca foi uma garota muito inteligente, Hope."

"Não, mãe." Hope olhou para sua xícara de chá. Sem leite, apenas uma fatia de
limão, servido em uma xícara de chá adequada com um pires que tinha um
design de folha de rosa combinando. Ela deveria ter recebido um conjunto de
porcelana semelhante quando se casou, mas Lyall não queria trouxas na
recepção.

Sua mãe resmungou alto.

“Eu sempre disse que ele não era bom. Homem assim - sem família, sem
igreja. E você nunca explicou exatamente com o que ele trabalhava.”

“Ele trabalhava no governo local.” Hope respondeu. Ela colocou a xícara de


chá na mesinha de canto da sala de estar de sua mãe.

"Gabinete?" Sua mãe perguntou, animando-se um pouco, "Bem, isso é alguma


coisa. Ele não deixou nem uma pensão? Nada mesmo?"

"Só um pouquinho. Mas eu quero guardar para Remus. "

Sua mãe resmungou novamente. Ela achou que era um nome bobo. Hope havia
tentado se comprometer, e deu ao filho o nome de seu pai também - mas
Remus John soava ainda pior, de acordo com sua mãe.

A Sra. Jenkins preferia fingir que o filho de Hope não existia, mesmo quando
ele estava dormindo no quarto do andar de cima. Hope queria ir ver como ele
estava - dar-lhe um abraço - mas não se atreveu a levantar-se; sua mãe diria
que estava o mimando demais e Hope não queria discutir. Ele estava dormindo
muito – o que provavelmente era normal para crianças de cinco anos.

Mas Remus não era um menino normal de cinco anos, não mais.

Uma dor atingiu Hope no fundo de seu peito; seu coração parecia estar sendo
partido. Ela baixou a cabeça, deixando o cabelo cair para a frente, fechou os
olhos e deixou as lágrimas correrem por seus cílios. Fungou. Eu preciso de
você, Lyall. Como você pode fazer isto comigo?

“E o que você planeja fazer em relação a dinheiro? Eu não posso te bancar, não
na minha idade.”

“Achei que poderia voltar para a Central.” Hope disse, quase um


sussurro. “Gethin disse quando eu saí que eu poderia voltar se quisesse. Eles
sempre precisam de operadores.”

"Ele sempre teve um fraco por você, se me bem lembro." Disse sua mãe. Ela
parecia pensativa; não estava realmente falando com Hope agora, estava
planejando. Hope estava bastante familiarizada com o modo como a mente de
sua mãe funcionava, sempre maquinando, organizando e suavizando as
coisas. Fazendo correções. Os últimos seis anos foram um erro - que logo seria
corrigido.

Isso não era nada novo para Hope; outras pessoas tomaram decisões por ela
durante toda a sua vida. Primeiro sua mãe, que a aconselhou a deixar a escola
mais cedo e conseguir um emprego na Central Telefônica. Depois, Lyall, cujo
ela seguira para dentro de um mundo completamente diferente. Agora ele se
foi, e estava de volta à mãe. Você nunca foi uma garota muito inteligente.

Ela nem mesmo foi questionada sobre o funeral. Tudo foi resolvido por seu
povo - homenzinhos estranhos em mantos que podiam arrumar qualquer coisa
com um aceno de suas varinhas. Eles foram muito gentis com Hope, mas a
trataram como uma criança - uma particularmente estúpida. Um deles pegou
todas as coisas de Lyall - seus livros e sua varinha. Ela foi autorizada a ficar
com a casa, mas lhe aconselharam a pôr à venda.

“É realmente a casa de um bruxo, Sra. Lupin,” eles sorriram levemente, “Não é


adequada para habitação trouxa. Claro, você pode tentar ...”
Mas não. Os feitiços que Lyall colocara não a deixavam mais entrar e, de
qualquer maneira, ela precisava do dinheiro. Os bruxos tinham um vago
interesse em Remus, embora ela tivesse feito o possível para mantê-lo
escondido - Lyall colocara nela o medo de Deus em relação a isso. Se alguém
suspeitasse do que tinha acontecido com seu filho, eles o levariam embora e o
trancariam.

"Ele mostrou alguma habilidade mágica?" Um homem alto e quieto


perguntou. Ele tinha uma longa barba branca e olhos azuis penetrantes, e Hope
tinha pavor dele.

Ela acenou com a cabeça,

"Ele faz todos os pratos do jantar flutuarem, às vezes." Ela confirmou.

(Ela não mencionou mais nada que Remus tinha feito. Que a primeira vez que
a transformação ocorreu; a primeira vez que o pobre bebê dela foi virado do
avesso por aquela maldição terrível, ele ficou tão apavorado que fez a porta
desaparecer, e Lyall teve de barricá-lo com a cristaleira da sala de jantar no
final. Talvez essa tenha sido a gota d'água, para Lyall.)

"Isso é muito bom," o velho sorriu, "Ele receberá sua carta de Hogwarts após
seu décimo primeiro aniversário."

Ela não sabia o que dizer sobre isso, mas tentou parecer satisfeita. Hope
esperava que Remus fosse como seu pai - melhor do que ser como ela, de
qualquer maneira - mas não conseguia ver como ele entraria em uma escola
exclusiva como aquela, não mais.

"Hope, você está me ouvindo?" Sua mãe explodiu. Hope piscou e ergueu os
olhos.

"Desculpe, mãe."

“Eu estava perguntando sobre o menino. Você disse que tinha feito arranjos? "

“Oh. Sim."

O velho que perguntou sobre Remus a ajudou com isso também. Ele foi gentil
a respeito. Disse que dependia inteiramente dela, mas que conhecia alguém, se
ela precisasse de ajuda. Alguém que seria discreto. Ele a colocou em contato
com uma mulher chamada Sra. Orwell, que dirigia uma casa para meninos. Era
em Essex, mas talvez Remus se saísse melhor se crescesse na Inglaterra - não
era como se houvesse mais oportunidades no País de Gales. Hope sabia como
era difícil se sentir como um forasteiro, e Remus já teria o suficiente disso.

"Vou levar ele amanhã." Hope disse a sua mãe. "Vamos pegar o trem."

"Quer que eu vá com você, meu bem?" Sua mãe amoleceu. Ela sempre fazia
isso, quando Hope estava sendo obediente.

Hope abanou a cabeça. As lágrimas escorreram por suas bochechas, mas ela
mal percebeu. Era difícil acreditar que ainda não tinha murchado como uma
passa, com todas as lágrimas derramadas ultimamente. A mãe dela se levantou
e veio se sentar no braço do sofá. Ela colocou um braço em volta de Hope e
apertou-a suavemente.

“Tudo bem, meu amor. É a coisa certa. A melhor coisa. Você ainda é jovem,
vai se recuperar. Espere um ano ou mais e será como se nada disso tivesse
acontecido, eu prometo a você. "

Hope enxugou os olhos e se levantou, afastando-se da mãe.

"Vou ver como ele está."

“Não sei se isso é uma boa ideia ...”

“Vou dar uma olhada no meu filho, mãe.”

Ela subiu as escadas estreitas lentamente. Tapete marrom, papel de parede


marrom. Tudo parecia tão mundano, depois de Lyall. Ela se sentia como Judy
Garland no final do Mágico de Oz - o furacão havia passado e o mundo voltou
a ser preto e branco. Hope nunca tinha entendido por que Dorothy estava tão
feliz por estar em casa. Quem não escolheria a cor?

No topo do pequeno patamar escuro, Hope foi presenteada com três portas
fechadas. O quarto dos pais, o banheiro e seu quarto de infância. Seu quarto
atual, na verdade, até que economizasse o suficiente para se mudar. Ela pensou
no dinheiro de Lyall novamente. Não. Isso não era dela.

Ela abriu a porta lentamente. Não rangeu, mas o carpete sempre ficava preso e
fazia um barulho desagradável quando você o empurrava. Lá dentro, as finas
cortinas amarelas estavam fechadas, mergulhando tudo em um brilho
amanteigado caloroso.
Seu vestido preto do funeral estava pendurado na porta do guarda-roupa. Ela o
comprou especialmente para a ocasião, porque nunca teve nada preto antes,
custou uma fortuna. Todos eles usavam túnicas, os amigos de Lyall, e ela se
sentia estranha.

Era tão estranho estar de volta a este quarto; tudo parecia tão pequeno e antigo,
embora na verdade só tivesse se passado seis anos desde a última vez que ela
dormiu aqui. Tudo ainda estava no lugar. Sua pequena penteadeira de vime
pintada de branco, que provavelmente ainda tinha um maço de cigarros
escondido em uma das gavetas de baixo, junto com os batons e sombras pelos
quais ela e o pai haviam brigado quando ela tinha quinze anos. Um pôster dos
Monkees na parede acima da cama, ao lado de uma impressão de Arthur
Rackham.

O mais estranho de tudo era o menino aninhado na colcha lilás. Ainda


dormindo, ele era todos cachos dourados e bochechas rechonchudas e
pequenos bracinhos gordos. Seu coração deu um salto, como acontecia desde o
primeiro momento em que ela o segurou em seus braços. Seu filho.

Ela sentou-se cuidadosamente na cama e deitou-se ao lado dele. Ele se mexeu


um pouco, bocejou e se espreguiçou. Ela roçou os dedos levemente contra sua
bochecha; ela amava aquela pele de bebê perfeita, tão macia e sem
manchas. Exceto que estava manchada, agora. Um pequeno arranhão logo
abaixo da mandíbula – que poderia ser considerado apenas um arranhão
casual. Crianças estavam sempre esbarrando nas coisas, caindo. Mas não seu
Remus. Ele era um menino tão cuidadoso; observava a tudo.

Ela enrolou o corpo ao redor dele, virando as costas para o resto do


quarto. Quando Remus nasceu, ela não conseguiu sair da cama por dias, mas
ele era um bebezinho tão pacífico, os dois ficaram deitados assim, fazendo
companhia um ao outro. Lyall chegaria do trabalho e viria se juntar a eles. Ele
envolveria seus próprios longos membros em torno de Hope, e ela envolveria
Remus, e fecharia os olhos e se sentiria tão segura e tão feliz.

Se ao menos Lyall estivesse aqui agora. Era o toque dele que ela mais sentia
falta. Ele era tão alto, mesmo quando Hope usava seus saltos mais compridos,
ele conseguia descansar o queixo no topo de sua cabeça. As lágrimas arderam
em seus olhos e ela colocou a mão suavemente no peito de Remus, sentindo o
constante subir e descer.

Às vezes, nas tardes em que a pequena família ficava deitada na cama, Lyall
cantava uma velha canção de ninar para Remus. Hope nunca a tinha ouvido
antes, mas adorava a maneira como ele a cantava; era a única vez que você
podia ouvir o sotaque escocês suave em sua voz. Ela cantarolou alguns versos
agora, perguntando se Remus lembraria que seu pai cantava para ele, e apenas
para ele.

Baloo, meu menino, fique quieto e durma


Dói-me muito ouvir-te chorar
Se ficar calado ficarei feliz
Teu gemido deixa meu coração totalmente triste.
Baloo, meu menino, alegria de tua mãe
Seu pai me gerou um grande aborrecimento
Baloo, baloo, baloo, baloo
Baloo, baloo, lu-li-li-lu.
- Lady Anne Bothwell’s Lament ou Baloo my boy

Oh, Lyall Lupin, seu bastardo. Era um fardo impossível odiar alguém que você
não conseguia deixar de amar. Como ele poderia colocá-la nesta posição? Ele
deve ter sabido que ela não poderia fazer isso sozinha. Ela não era mágica,
como ele. Ela não era forte. E ela nunca foi uma garota muito inteligente.

Ela estava chorando de novo, mas Hope aprendera a chorar sem fazer
barulho. Talvez isso fosse ser mãe, embora não se achasse merecedora desse
título. Ela puxou o corpinho quente de seu filho para perto do dela, sem se
importar caso o acordasse. Ela podia sentir seu pequeno coração batendo
contra o dela.

Lembre-se disso, ela implorou silenciosamente. Eu te amo, eu te amo, eu te


amo.
1.Verão,1971
St. Edmund’s

Sábado 7 de agosto, 1971

Ele acordou no escuro. Estava muito quente no quartinho que o colocaram,


sendo começo de agosto. Embora, supôs que pudesse ser a febre. Ele sempre
ficava com a temperatura alta na manhã seguinte. Costumavam o deixar em um
quarto com uma janela, mas há uns meses ele quebrara uma delas, e se não
fossem as barras de ferro, teria escapado. Havia os escutado falar sobre o
conter quando ele ficasse mais velho. Estava tentando não pensar sobre isso.

Se lembrou da sensação de fome, tão intensa que se tornava fúria. Lembrou


uivar e lamentar por horas, circulando a cela de novo e de novo. Talvez o
deixassem de fora das aulas hoje e, então, poderia dormir. Era férias de verão
de qualquer jeito, e não era justo que tivesse aulas enquanto os outros meninos
ficavam o dia todo descansando, jogando futebol ou assistindo televisão.
Sentando, se espreguiçou com cuidado, prestando atenção a cada dor e estalo
de suas juntas. Havia um corte fresco, feito por uma garra afiada, atrás de sua
orelha esquerda, e uma mordida profunda na sua coxa direita.

Esfregou a mão na cabeça, onde seu cabelo estava raspado bem perto do couro
cabeludo e era espetado sobre seus dedos. Ele odiava, mas todo os meninos do
abrigo tinham a mesma careca espetada. O que significava que, quando podiam
ir à cidade nos fins de semana, todos sabiam que eram rapazes de St. Edmund
– o que muito provavelmente era a intenção. Os donos das lojas sabiam em
quem ficar de olho. Não que os garotos tentassem subverter as expectativas.
Tinham lhe falados tantas vezes que eram a escória da sociedade; tinham sido
deixados para trás e ignorados - então porque não causar um pouco de
problema?

Remus ouviu passos no fim do corredor. Era a Matrona; podia sentir seu
cheiro, escutar as batidas de seu coração. Seus sentidos sempre estavam mais
aguçados após um de seus episódios. Ele se levantou, puxando o cobertor ao
seu redor de si apesar do calor, e foi em direção a porta para escutar melhor.
Ela não estava sozinha, havia um homem em sua companhia. O cheiro dele era
antigo e, de alguma forma, diferente. Um odor forte de ferro que vagamente
lembrava Remus de seu pai. Era magia.
"Você tem certeza que não está perdendo seu tempo?" Ela perguntou ao
estranho. “Ele é um de nossos piores casos."

"Ah, sim." O homem respondeu. Sua voz era rica e calorosa como chocolate
quente. "Nós temos certeza. É aqui que vocês o mantêm durante...?"

"Os episódios." A Matrona completou em sua voz esganiçada e nasalada. "Para


sua própria proteção. Ele começou a morder, depois de seu último aniversário."

"Entendo." O homem soava pensativo, ao invés de preocupado. "Se me


permite perguntar, senhora, o que é que você sabe da condição do jovem
garoto?"

"Tudo que eu preciso saber." Respondeu friamente. "Ele está aqui desde os
cinco anos. E sempre nos deu trabalho - não só porque é um do seu tipo."

"Meu tipo?" O homem respondeu, calmo e impassível. A voz da Matrona ficou


quase tão baixa quanto um sussurro, mas Remus ainda era capaz de escutar.

"Meu irmão era um. Não o vejo há anos é claro, mas ocasionalmente ele ainda
me pede favores. St. Edmund’s é uma instituição muito especial. Somos
equipados para casos problemáticos. " Remus escutou o chacoalhar de chaves.
"Agora, eu preciso vê-lo primeiro, geralmente tenho de fazer curativos. Eu não
entendo porque você decidiu visitá-lo após a lua cheia em primeiro lugar, se já
sabia o que ele era."

O senhor não respondeu, e a Matrona se dirigiu ao quarto de Remus, seus


saltos de couro envernizado estalando no piso de pedra. Ela bateu na porta três
vezes.

"Lupin? Está acordado?"

"Tô." Ele respondeu, puxando a coberta para mais perto de seu corpo. Suas
roupas eram retiradas para evitar que voltassem em pedaços.

"Estou, Matrona." Ela o corrigiu, através da porta.

"Estou, Matrona." Remus murmurou, enquanto a chave girava na fechadura. A


porta abriu com um rangido – antes era de madeira simples, e ele sabia que
podia esmagá-la facilmente durante um episódio, mas após o incidente da
janela, tinha sido reforçada com uma chapa de prata. Só o cheiro já o deixava
nauseado e com dor de cabeça. A luz invadiu o quarto como uma onda e ele
piscou, desconfortável. Deu um passo para trás, automaticamente, quando a
mulher entrou no quarto.
Ela era uma mulher pontuda, semelhante a um pássaro, com um nariz fino e
alongado e lustrosos olhos escuros.

"Precisa de alguma atadura, dessa vez?"

Ele lhe mostrou as feridas. Não estavam mais sangrando. Havia percebido que
os ferimentos infligidos por si, apesar de profundos, se curavam mais rápido
que qualquer outro corte ou arranhão; nunca nem precisava de curativos.
Contudo, as cicatrizes nunca desapareciam, elas desbotavam e deixavam
marcas esbranquiçadas por todo seu corpo. A Matrona ajoelhou, passando
antisséptico e o envolvendo com uma gaze pinicante. Isto feito, o entregou
suas roupas e ele se vestiu rapidamente na frente dela.

"Você tem visita." Ela disse, finalmente, enquanto Remus passava a camiseta
sobre a cabeça. Era cinza, como a de todos os outros.

"Quem?" Ele perguntou, olhando-a nos olhos, pois sabia que ela não gostava.

"Um professor. Está aqui para conversar sobre uma escola."

"Não to afim." Respondeu, ele odiava a escola. "Fala pra ele dá o fora."

A Matrona lhe deu um puxão de orelha. Ele já esperava, então nem se


encolheu.

"Controle a língua." Brigou. “Vai fazer como foi mandado ou vou te deixar
aqui pelo resto do dia. Agora vamos." A mulher agarrou seu braço e o puxou
para frente.

Ele franziu a sobrancelha, pensou em se livrar dela, mas não tinha motivo.
Poderia ser trancafiado novamente, e agora estava curioso sobre o estranho.
Principalmente porque o cheiro de magia ficava cada vez mais forte à medida
que avançavam pelo corredor sombrio.

O homem que os esperava era bem alto e estava vestido no terno mais estranho
que Remus já tinha visto. Era de um marrom profundo, e as mangas e lapela
possuíam um bordado dourado caprichoso. Sua gravata era azul meia noite. Ele
deveria ser bem velho de fato — seu cabelo era branco como a neve, e possuía
uma barba incrivelmente longa que devia chegar no umbigo. Estranho como
era, Remus não se sentiu intimidado como sentia com a maioria dos adultos. O
homem tinha olhos gentis que sorriam para ele por trás do óculos meia-lua
conforme eles se aproximavam.

"Sr. Lupin." O senhor disse, calorosamente. "É um prazer conhece-lo."


Remus encarou, em transe. Ninguém nunca havia se dirigido a ele com tanto
respeito antes. Ele se sentiu quase envergonhado. Apertou a mão do homem,
sentindo um choque ao fazê-lo. Como tocar uma cerca elétrica.

"Oi." Respondeu, ainda o fitando.

"Eu sou o Professor Dumbledore. Gostaria de me acompanhar num passeio


pela área? O dia está tão bonito."

Remus olhou para a Matrona, que acenou com a cabeça. O que fez valer a pena
ter que conversar sobre escola com um desconhecido vestido de forma tão
peculiar - já que ela nunca o deixava sair nas luas cheias, nem mesmo com
supervisão.

Eles passaram por mais alguns corredores, apenas os dois. Remus tinha certeza
que nunca vira Dumbledore em St. Edumund’s antes, mas ele certamente
parecia saber o caminho. Quando finalmente chegaram ao lado de fora, o
garoto inspirou profundamente, os raios de sol quentes o encobrindo. A “área”,
como o homem havia dito, não era muito grande. Um pedaço de grama
amarelada na qual os meninos jogavam futebol e um pequeno pátio com ervas
daninhas crescendo nas rachaduras do concreto.

"Como está se sentindo, Sr. Lupin?" O senhor perguntou. Remus deu de


ombros. Se sentia igual a todas as outras vezes. Machucado e cansado.
Dumbledore não o repreendeu por sua insolência, apenas continuou a sorrir
enquanto eles rodeavam lentamente a cerca que demarcava o perímetro do
terreno.

"O que você quer?" Remus finalmente perguntou, chutando uma pedrinha de
seu caminho.

"Eu suspeito que você tenha alguma noção." Dumbledore respondeu. Ele
alcançou o bolso, de onde tirou um saco de papel marrom. Remus sentiu o
cheiro de balinha de limão, e como esperado, Dumbledore o ofereceu uma. Ele
aceitou e a chupou.

"Você é mágico." Disse seco. "Como meu pai."

"Você se lembra de seu pai, Remus?"

Ele deu de ombros novamente. Não se lembrava muito bem. Tudo que sua
memória era capaz de recordar era a figura alta e magra de um homem que
vestia uma capa longa, enquanto se debruçava sobre o corpo do menino,
chorando. Assumiu que tinha sido a noite que foi mordido, se lembrava disso
bem o suficiente.

"Ele era mágico." Remus disse. "Fazia coisas acontecerem. Minha mãe era
normal."

Dumbledore sorriu gentilmente a ele.

"Foi isso que sua Matrona te contou?"

"Algumas coisas, outras eu já sabia. Ele está morto, de qualquer forma, se


matou."

Dumbledore parecia ter sido pego de surpresa com isso, o que agradou Remus.
Era algo a se orgulhar, ter uma história trágica e poder chocar as pessoas. Ele
não pensava no pai com frequência, a não ser para considerar caso teria se
matado se ele não tivesse sido mordido. Remus continuou;

"Mas minha mãe não morreu, ela só não me quis. Então to aqui." Olhou ao
redor. Dumbledore tinha parado de andar. Estavam na parte mais afastada do
terreno agora, perto das cercas altas. Uma delas tinha uma tábua solta que
ninguém sabia sobre. Remus conseguia passar por ela se quisesse e ir em
direção a cidade pela estrada principal. Nunca fazia nada em particular, só
vagava por aí esperando a polícia o encontrar e o levar de volta. Era melhor
que não fazer nada.

"Você gosta daqui?" Dumbledore estava perguntando. Remus bufou.

"Claro que não, cacete." Observou Dumbledore pelo canto do olho, mas não
ficou em problemas por falar um palavrão.

"Não, não imaginei." O senhor reconheceu. "Me contaram que você é um


pouco encrenqueiro, está correto?"

"Não sou pior que os outros." Remus retrucou. "Somos todos garotos
problemáticos."

"Sim, eu vejo." Dumbledore esfregou sua barba como se Remus tivesse dito
algo extremamente significativo.

"Tem mais uma bala?" Remus estendeu a mão com expectativa. Dumbledore
entregou a ele o saco e ele quase não acreditou em sua sorte. O velhote era
fácil de manipular. Ele mastigou o quadradinho dessa vez, sentindo-o quebrar
como vidro entre seus dentes. O gostinho de limão explodindo em sua língua
como fogos de artifício.

"Eu sou diretor de uma escola, você sabia. A mesma que seu pai frequentou."

Isso desnorteou Remus. Ele engoliu o docinho e coçou a cabeça. Dumbledore


continuou;

"É uma escola especial. Para bruxos, como eu. E como você. Você gostaria de
aprender magia Remus?"

Remus balançou a cabeça fervorosamente.

"Eu sou muito burro." Disse firme. "Não vou conseguir entrar."

"Tenho certeza que isso não é verdade."

"Pode perguntar pra ela." Remus virou a cabeça em direção ao grande edifício
cinzento na qual a Matrona os esperava. "Eu mal consigo ler. Não sou nada
inteligente."

Dumbledore o olhou por um longo tempo.

"Você não teve uma vida muito fácil, Sr. Lupin, e eu sinto muito por isso. Eu
conheci seu pai – apenas um pouco – e tenho certeza que ele não iria querer
que... De qualquer forma, estou aqui para te oferecer algo diferente. Um lugar
com pessoas como você. Talvez até alguma forma de canalizar toda essa raiva
que há dentro de você."

Remus o encarou. Que diferença faria, se estivesse numa casa ou outra? A


Matrona nunca lhe dava doces, e não cheirava à magia. As crianças da escola
de Dumbledore não poderiam ser piores que os meninos de St. Edmund’s, e se
fossem, ele pelo menos conseguia se virar em uma briga. Porém, sempre tinha
um, porém.

"E meus episódios?" Ele perguntou, cruzando os braços. "Eu sou perigoso,
sabia?"

"Sim, Remus, eu sei." Respondeu soando triste. Pousou uma mão sobre o
ombro de Remus, bem gentilmente. "Vamos ver o que podemos fazer a
respeito. Mas deixe isso comigo."

Remus o afastou e comeu outra balinha de limão. Eles voltaram ao prédio em


silêncio, ambos satisfeitos que agora se compreendiam.
2. Primeiro Ano
O Expresso de Hogwarts

Remus coçou sua cabeça, depois o nariz, que ainda estava escorrendo. Isso
estava o incomodando desde o jantar na noite passada, quando um outro
menino o socou. Na verdade, Remus o tinha chutado primeiro, mas o menino –
Malcolm White – tinha quatorze anos e duas vezes o tamanho de um Remus de
onze. Malcolm tinha feito alguma piada sobre Remus estar indo para uma
escola especial para crianças atrasadas, e ele não podia deixar barato. Agora
ele tinha um olho roxo, do qual se arrependia. Todos na escola nova iriam
achar que ele era um valentão, mas então, talvez ele realmente fosse um.

A Matrona afastou com um tapa a mão de Remus da cabeça e ele fez uma
careta para ela. Estavam parados na enorme plataforma de King's Cross,
encarando os números das duas plataformas. Havia uma de número nove, e
então o número dez. A Matrona olhou para a carta em sua mão de novo.

"Pelo amor de deus." Ela resmungou.

"Nós temos que correr em direção a parede." Remus diz, "Eu te disse."

"Não seja ridículo. Eu não vou correr em direção a nada."

"Eu vou, então. Me deixe aqui."

Remus não tinha acreditado muito em Dumbledore quando explicou-lhe como


acessar a plataforma 9 ³/4. Mas então, pacotes começaram a ser entregues por
corujas, contendo livros estranhos, roupas esquisitas e todo tipo de bugigangas
como penas e pergaminhos. Dumbledore foi extremamente generoso ao longo
do mês anterior, presenteando Remus com uma lista de itens que precisaria em
sua nova escola, e prometendo enviar o máximo que pudesse dos suprimentos
de segunda mão de Hogwarts. A essa altura, Remus estava disposto a acreditar
em qualquer coisa que o velho falasse.

Ele nunca havia tido tantos pertences, e, na verdade, ficou até feliz quando a
Matrona trancou tudo em seu escritório para que nada fosse pego por outros
meninos. Agora, todas suas coisas estavam amontoado em uma velha mala
surrada que fora doada. Remus tinha que segurá-la de um jeito bem específico
para que não desmontasse.

"Eu não vou te deixar em lugar nenhum, Lupin. Só espere aqui enquanto eu
tento achar um guarda." A Matrona saiu andando na direção da bilheteria, seu
grande traseiro balançando enquanto ela avançava. Remus olhou ao redor
furtivamente, então lambeu seus lábios. Aquela poderia ser sua única chance.

Ele correu na direção a parede em velocidade máxima, fechando seus olhos


com força quando começou a se aproximar. Mas ele não bateu em nada. A
atmosfera havia mudado, e ele abriu os olhos, se vendo de pé em uma estação
completamente diferente, cercado de pessoas. Não pessoas. Bruxos.

O trem em si era enorme, lindo e antiquado. 'O expresso de Hogwarts.' Ele


agarrou a sua mala com ambas mãos, mordendo seu lábio. Haviam várias
crianças, da sua idade e mais velhas, mas todas estavam com as suas famílias, e
algumas choravam enquanto eram abraçadas e beijadas por mães protetoras.
Remus se sentiu muito pequeno e muito sozinho, e pensou que seria melhor se
ele só se apressasse e subisse no trem.

Lá dentro, ele não conseguia alcançar o bagageiro para guardar suas coisas,
então entrou em um compartimento vazio e colocou a mala ao seu lado no
banco. Observou as pessoas na plataforma pela janela, pressionando sua testa
contra o vidro frio. Se perguntou se todas aquelas crianças vinham de famílias
bruxas, se alguma delas tinham episódios como ele tinha. Provavelmente não,
já que nenhuma delas pareciam ter cicatrizes. Muitas crianças estavam
vestindo roupas normais, como ele (embora com menos buracos e manchas),
mas algumas usavam longos mantos escuras e chapéus pontudos. Muitas delas
tinham corujas, ou carregavam gatos em cestas. Ele até viu uma menina com
um pequeno lagarto pendurado no ombro.

Remus estava começando a se sentir ainda mais nervoso, o estômago revirando


ao realizar que, mesmo com Dumbledore dizendo tudo aquilo sobre 'estar entre
pessoas como ele', Remus estaria tão fora do lugar em Hogwarts como em
qualquer outro colégio ou instituição.

Só então que ele percebeu que alguém o encarava da estação. Outro menino, da
sua idade. Ele era alto e esguio, mas não magrelo como Remus. Tinha cabelos
pretos, mais longos que o de qualquer menino que ele já tinha visto, que se
enrolavam graciosamente em seus ombros. As maçãs de seu rosto eram
salientes, os lábios grossos e olhos surpreendentemente azuis. Quando o
menino percebeu que Remus o encarava, arqueou uma sobrancelha perfeita em
um gesto que claramente significava 'o que você está olhando?'

Remus colocou sua língua por debaixo de seu lábio inferior, fazendo seu
queixo inchar em uma careta feia. O outro menino sorriu levemente,
levantando os dois dedos para ele. Remus quase gargalhou.

"Sirius, o que você pensa que está fazendo? Venha para cá de uma vez." Uma
mulher severa, com as mesmas sobrancelhas angulares que o garoto, apareceu
em sua visão, arrancando seu filho de frente da janela. O menino rolou os
olhos, mas obedeceu, desaparecendo plataforma a dentro.

Remus jogou suas costas sobre o estofado de couro batido e suspirou. Estava
ficando com fome. Esperava que a viagem não fosse ser tão longa. A Matrona
havia empacotado dois sanduíches de queijo e picles e uma maçã, mas Remus
não achava que estavam com uma cara muito boa.

Depois de alguns minutos, a porta do compartimento foi aberta, e uma menina


entrou apressada. Ela ignorou Remus, correndo para a janela, pressionando as
mãos contra o vidro e acenando freneticamente para sua família em pé na
plataforma. Ela era bem pequena e pálida, seu cabelo ruivo e brilhoso estava
amarrado para trás em uma trança apertada. Seu rosto estava inchado de tanto
chorar.

Ela continuou acenando enquanto o trem andava, e seus pais faziam o mesmo,
mandando beijos. Uma garota de cara azeda estava parada ao lado deles, seus
braços cruzados. Quando o trem já havia deixado a estação completamente, a
menina ruiva se sentou de frente para Remus, suspirando profundamente. Ela o
olhou com grandes olhos verdes, molhados de lágrimas.

"É tão horrível dizer adeus, não é?" Ela possuía um sotaque de classe média.

"Hm, sim, eu acho." Remus concordou, se sentindo constrangido. Ele não


gostava muito de meninas. St Eddy era uma instituição apenas para meninos, e
o único contato que tinham com mulheres era a Matrona e a enfermeira da
escola – ambas vadias velhas e malvadas. A menina o olhava curiosamente.

"Você também veio de uma família trouxa? Meu nome é Lily."


"Remus," ele respondeu, embaraçado, "Meu pai era bruxo, mas eu não o
conheci... bem, eu cresci com trouxas."

"Eu não consegui acreditar quando recebi a minha carta," ela sorriu
calorosamente, se animando, "mas eu mal posso esperar para ver como a
escola é, você também está ansioso?"

Remus não conseguia pensar em como responder ela – mas ele não precisou. A
porta se abriu mais uma vez e um garoto colocou a cabeça para dentro. Ele
tinha cabelos longos e pretos, como o menino para quem tinha feito careta, mas
estes eram incrivelmente lisos. Tinha um longo nariz e uma expressão
carrancuda.

"Aí está você, Lily, estou te procurando faz tempo." Disse enquanto lançava a
Remus um olhar enojado, o tipo de olhar que ele já estava acostumado a
receber.

"Sev!" Lily pulou de seu assento e jogou seus braços em torno do menino,
"Estou tão feliz em te ver!"

Ele lhe deu tapinhas no ombro timidamente, suas bochechas ficando rosa.

"Venha se sentar no meu vagão comigo, há bastante espaço."

"Ah..." Lily olhou para trás, "Remus pode vir? Ele está sozinho."

"Eu não tenho certeza," O outro menino, Sev, olhou para Remus de cima a
baixo, o investigando pedaço por pedaço. O corte de cabelo raspado, seu jeans
desgastado, a camiseta surrada, a mala de segunda mão. "Talvez não
haja tanto espaço assim."

Remus se ajeitou desleixadamente no banco, jogando seus pés no assento


oposto.

"Sai daqui, então. Eu não quero ir para o seu vagão idiota mesmo." Então,
olhou para fora da janela de propósito.

Lily e o outro menino saíram. Remus deixou seus pés escorregarem de volta
para o chão. Ele suspirou. Estava barulhento do lado de fora, e ouvir gritos,
risos, corujas piando e alguns estudantes mais jovens ainda chorando. Mais
uma vez, ele se viu trancado longe de todos os outros. Estava começando a
pensar que talvez esse seria o fardo da sua vida. Talvez, quando chegassem a
Hogwarts, eles o forçariam a dormir em uma cela sozinho também.

Houve uma batida repentina na porta – um som curto e animado – e então ela
se abriu mais uma vez. Remus afundou ainda mais em seu assento, enquanto
um menino de rosto amigável com cabelos escuros bagunçados e óculos
redondos entrou, sorrindo.

"Olá!" Ele estendeu sua mão para Remus, "Primeiro ano? Eu também sou, meu
nome é James." Ele acenou sua cabeça para trás na direção de um menino
baixinho que o seguia. "Este é Peter."

Remus apertou a mão de James. Fora fácil e confortável. Pela primeira vez, o
forte nó de seu estômago começou a se desatar.

"Remus."

"Podemos sentar aqui? Todos os outros vagões estão cheios e Peter está
ficando enjoado por causa da viagem de trem."

"Não estou não." Peter murmurou, se sentando do lado oposto a Remus, o


olhando com cautela. Mas ele parecia um pouco verde enquanto esfregava as
mãos em seu colo e encarava o chão.

"Sabe em qual casa você vai ficar?" James perguntou a diretamente a Remus.
Ele balançou a cabeça. Não sabia nada sobre casas. Será que eram o lugar onde
eles dormiriam? "Seus pais eram de qual casa?" James insistiu. "Eles
estudaram em Hogwarts?"

Remus acenou, vagarosamente.

"Meu pai estudou sim, mas eu não sei de qual casa ele era. Minha mãe não. Ela
era norm—trouxa."

Peter olhou para ele de repente.

"Você é mestiço?"

Remus encolheu os ombros, impotente.


"Cala a boca, Pettigrew." James brigou com o menino ao seu lado, "Como se
isso fosse importante."

Remus ia perguntar o que era um mestiço, quando a porta se abriu de novo. Era
o menino bonito que havia lhe mostrado o dedo na estação. Ele encarou todos
furtivamente.

"Nenhum de vocês é meu parente, certo?" Perguntou pausadamente. Ele tinha


o mesmo sotaque de classe alta que Peter e James tinham. Remus odiou todos
eles na hora, sabendo que o achariam comum – e um mestiço, o que quer que
isso fosse.

"Acho que não." James respondeu, sorrindo, "James Potter." Ele estendeu sua
mão novamente. O outro a apertou.

"Ah ótimo, um Potter. Meu pai me disse para não falar com você." Se sentou
ao lado de Remus, rindo, "Sirius Black."
3. Primeiro Ano
A Seleção

Remus tinha quase certeza de que estava sonhando. Ou tinha se afogado ao


atravessar aquele lago terrível, e tudo isso era apenas seu cérebro inventando
coisas antes de morrer. Ele estava de pé em um enorme salão de pedra, do
tamanho de uma catedral, que estava cheio de alunos, todos vestindo mantos
pretos idênticos - exceto suas gravatas - e iluminados por velas. Não apenas
velas quaisquer - essas estavam realmente flutuando. Remus pensou que até
poderia aceitar isso; talvez fosse um truque inteligente de óptica, algo a ver
com fios, mas quando ergueu os olhos, quase gritou. Não havia teto - apenas o
vasto céu noturno pairando acima deles, nuvens cinzentas pendentes e estrelas
cintilantes.

Ninguém mais parecia interessado, exceto pela garota ruiva - Lily - e algumas
outras crianças cujos pais também deveriam ser trouxas. Remus estava com
seu uniforme agora e se sentia um pouco melhor por estar vestido como todo
mundo. Os outros alunos se sentavam em longas mesas de banquete, sob as
bandeiras de suas casas. James explicou com entusiasmo as diferenças entre
cada casa, para grande desgosto de Sirius e Peter, que estavam convencidos de
que acabariam no lugar errado. Remus não sabia se deveria ficar nervoso, não
conseguia ver como isso importaria para ele; provavelmente seria expulso após
sua primeira aula de qualquer maneira. Quanto mais tempo Remus passava
entre bruxos, mais ele se convencia de que não poderia realmente ser um.

Professora McGonagall, uma bruxa magra de rosto severo que liderou todos os
primeiros anos no corredor estava agora de pé ao lado de um banquinho,
segurando um velho e esfarrapado chapéu marrom. Este era o teste sobre o
qual James falou. Eles tinham que colocar o chapéu, então de alguma forma
cada um seria classificado em uma das casas. Remus olhou para cada uma das
bandeiras. Já sabia que não iria acabar na Corvinal; não se você tivesse que ser
inteligente. Aquela com o texugo não lhe despertou muito interesse – eram
animais meio desanimadores, especialmente em comparação as cobras. E se
fosse para escolher uma gravata, gostava da cor verde também. Mas então,
James e Peter eram entusiastas da Grifinória, e visto que foram as únicas
pessoas a serem amigáveis até agora, não se importaria de ficar com eles.

Um menino chamado Simon Arnold foi o primeiro a ser chamado. O chapéu


foi colocado em sua cabeça, cobrindo a metade superior de seu rosto. Remus se
perguntou se o cheiro era tão ruim quanto parecia. A Matrona sempre fora
maníaca sobre piolhos, e ele esperava que nenhuma das crianças que viessem
antes dele os tivesse. Simon foi prontamente selecionado para a Lufa-Lufa, a
casa dos texugos, sob aplausos tumultuosos.

Sirius Black foi o primeiro do grupo a ir, e ele parecia positivamente nauseado
a se aproximar do banquinho. Houve alguns assobios da mesa da Sonserina -
algumas alunas mais velhas estavam chamando por ele, duas jovens com
cachos escuros e as mesmas maçãs do rosto salientes e lábios carnudos que
Sirius, que agora estava tremendo no banquinho. O salão ficou em silêncio por
alguns momentos quando o chapéu pousou na cabeça de Black.

Então o chapéu guinchou,

"Grifinória!"

Houve um momento de silêncio atordoante antes que as palmas viessem desta


vez. McGonagall gentilmente tirou o chapéu da cabeça de Sirius e deu a ele um
pequeno e raro sorriso. Ele parecia completamente horrorizado, lançando um
olhar desesperado para a mesa da Sonserina, onde as duas garotas que antes
assobiaram agora cochichavam, os olhos estreitos. Ele se levantou e caminhou
lentamente até os Grifinórios, onde foi o primeiro aluno novo a ocupar um
lugar sob os estandartes vermelhos e dourados.

A classificação continuou. Lily também foi colocada na Grifinória, e se sentou


sorrindo ao lado de um Sirius de aparência muito miserável. Quando
finalmente chegou a sua vez, Remus ainda não conseguia ver o motivo de tanta
agitação. Ele não gostava muito de ter todos os olhos em si enquanto avançava
para a frente, mas fez o possível para ignorar.

Em uma situação assim ele normalmente teria enfiado as mãos no bolso do


jeans e encurvado a postura, mas em seu novo uniforme estranho o efeito não
teria sido o mesmo. Sentou-se no banquinho, com McGonagall olhando-o por
cima do nariz. Ela o lembrava um pouco da Matrona, e nojo subiu em sua
garganta. Ela baixou o chapéu sobre os olhos dele. Tudo escureceu. Não
cheirava nada, e a paz e o silêncio foram, na verdade, aliviantes.

"Hmmm," uma voz suave soou em seu ouvido. Era o chapéu. Remus tentou
não se envergonhar enquanto ele ronronou baixinho, "Você é diferente, não é?
O que devemos fazer com você ... talvez Corvinal? Há um bom cérebro aqui. "

Remus se encolheu, sentindo como se alguém estivesse brincando com ele.


Não era muito provável.
"Mas então," o chapéu considerou, "Você pode ir longe ... muito mais longe, se
colocarmos você em ... GRIFFINÓRIA!"

Remus arrancou o chapéu da cabeça assim que ele o classificou, sem esperar
que McGonagall o removesse. Correu para a mesa da Grifinória, mal
registrando os aplausos e comemorações ao passar. Se sentou em frente a Lily
e Sirius. Lily lhe direcionou um sorriso contente, mas ele apenas olhou para o
prato vazio.

No momento em que os 'P's' começaram a ser chamados, Remus tinha se


recuperado um pouco e fora capaz de observar com algum interesse enquanto
Peter, um menino pequeno e rechonchudo, corria para o chapéu seletor. Peter
era o tipo de garoto que não duraria cinco minutos em St. Eddy's. Ele tinha um
jeito perpetuamente nervoso e inquieto – que os outros meninos
definitivamente tirariam sarro. Remus ficou surpreso que James - que era o
oposto de Peter; relaxado e seguro de si, transbordando confiança - estava
sendo tão gentil com alguém tão obviamente inferior.

O chapéu demorou muito tempo em Peter. E até os professores pareceram ficar


nervosos com o passar dos minutos. Finalmente, ele foi classificado na
Grifinória, e muito mais rápido também foi James, que caminhou até a mesa
com um grande sorriso no rosto.

"Isso é ótimo!" Ele se dirigiu aos três outros meninos: "Todos nós
conseguimos!"

Sirius gemeu, sua cabeça entre os braços sobre a mesa.

"Fale por si mesmo", respondeu ele, a voz ligeiramente abafada, "Meu pai vai
me matar."

"Não consigo acreditar." Peter continuou dizendo, os olhos arregalados.

Embora ele claramente tivesse conseguido o que queria, continuava torcendo


as mãos e lançando olhares por cima do ombro, como se alguém pudesse vir a
qualquer momento e pedir-lhe para tentar novamente.

McGonagall veio, mas colocou a mão ossuda no ombro de Remus.

"Sr. Lupin," ela disse baixinho, mas não tão baixo que os outros meninos não
pudessem ouvir, "Você poderia vir ao meu escritório depois do jantar? É ao
lado da sala comunal da Grifinória, um dos monitores pode mostrar a você. "
Remus acenou com a cabeça, mudo, e ela saiu.

"Sobre o que foi aquilo?" James perguntou: "McGonagall já quer ver você?"

Até Sirius ergueu os olhos agora, curioso. Remus deu de ombros, como se ele
não se importasse de qualquer maneira. Ele sabia o que eles estavam pensando
- o garoto rude já estava em problemas. Sirius estava olhando para seu olho
roxo novamente. Felizmente, a comida apareceu, distraindo a todos. E
realmente tinha "aparecido" - os lugares anteriormente vazios foram
repentinamente preenchidos com um banquete real. Frangos assados dourados,
pilhas de batatas gratinadas crocantes, pratos de cenouras fumegantes, ervilhas
nadando em manteiga e uma enorme jarra de um rico molho escuro. Se a
comida fosse assim o tempo todo, Remus achava que conseguiria ignorar
chapéus falantes e colegas de casa esnobes.

Ele prestou muita atenção quando um dos monitores da Grifinória, que se


apresentou como Frank Longbottom, conduziu os primeiros anos à sala
comunal em uma das torres. Remus odiava se perder, e se esforçou para fixar a
jornada em sua mente enquanto eles avançavam. Fez uma anotação mental do
tamanho e forma de cada porta que entraram, cada retrato que passaram e quais
escadas se moviam. Ele estava tão cansado e cheio de comida boa que os
retratos em movimento e as escadas não pareciam mais fora do lugar.

Assim que chegaram ao corredor certo, Remus viu o escritório de McGonagall,


marcado com uma placa de latão bem cuidada, e decidiu ir logo à reunião,
acabar com isso o mais rápido possível. Ele parou do lado de fora da porta e
estava prestes a bater quando James apareceu,

"Quer que esperemos por você, cara?"

"Por quê?" Remus perguntou, olhando o garoto de cabelo escuro com


desconfiança. James encolheu os ombros,

"Para que você não fique sozinho."

Remus o encarou por um momento, antes de balançar a cabeça lentamente,

"Não precisa. Estou bem." Ele bateu.

"Entre." Uma voz veio de dentro. Remus abriu a porta. O escritório era
pequeno, com uma pequena lareira bem organizada e fileiras de livros contra
uma parede. McGonagall estava sentada atrás de uma mesa imaculadamente
arrumada. Ela sorriu levemente e gesticulou para Remus se sentar na cadeira
em frente. Ele o fez, fungando e esfregando o nariz.

"É um prazer conhecê-lo, Sr. Lupin." A professora disse com um sotaque


escocês agudo. Seu cabelo era escuro, puxado para trás em um coque apertado,
e ela usava uma túnica verde escura presa por um fecho dourado em forma de
cabeça de leão. "Estou ainda mais contente por ter você na casa da Grifinória -
da qual eu sou a Diretora."

Remus não disse nada.

"Seu pai era da Corvinal, você sabe."

Remus deu de ombros. McGonagall franziu os lábios.

"Achei melhor falar com você o mais rápido possível sobre sua ... condição."
Ela disse, calmamente,

"Dumbledore explicou que você teve uma interação mínima com o mundo
mágico até agora, e eu sinto que é meu dever informá-lo de que as pessoas com
seu problema específico enfrentam uma grande quantidade de estigma. Você
sabe o que significa 'estigma'? "

Remus concordou. Ele não sabia soletrar, mas conhecia a palavra bem o
suficiente.

"Eu quero que você saiba que enquanto estiver em minha casa, eu não vou
tolerar ninguém te tratando de forma diferente ou rude. Isso se aplica a todos
os alunos sob meus cuidados. No entanto, " ela limpou a garganta, " é prudente
que você tenha cautela ".

"Eu não vou contar a ninguém." Remus respondeu, "Como se eu quisesse que
alguém soubesse."

"Bem, certamente." McGonagall acenou com a cabeça, olhando para ele com
curiosidade. "Isso me leva ao meu próximo ponto. Arranjos foram feitos para a
lua cheia - que ocorrerá neste domingo, eu acredito. Se você puder se reportar
a mim depois do jantar, vou lhe mostrar aonde ir. Talvez você pudesse dizer a
seus amigos que vai visitar alguém em casa? "

Remus bufou. Ele esfregou a nuca,

"Posso ir agora?"
A professora acenou com a cabeça, franzindo ligeiramente a testa.

Lá fora, Remus encontrou James ainda parado, sozinho, esperando por ele.

"Eu disse que ficaria bem." Remus disse, irritado. James apenas sorriu,

"Sim, mas você perdeu Longbottom nos dando a senha. Não queria que você
ficasse aqui a noite toda. Vamos lá."

James o conduziu até o final do corredor, onde estava pendurada uma grande
pintura de uma mulher voluptuosa vestindo rosa.

"Widdershins." James disse, e o retrato se afastou, abrindo como uma porta.


Eles entraram na sala comum. Havia uma sala de recreação no Reformatório St
Edmund's para meninos, mas não era nada como esse. Aquela sala tinha uma
decoração esparsa, contendo uma TV em preto e branco muito pequena e
alguns jogos de tabuleiro. Os baralhos de cartas estavam sempre incompletos e
a maioria das cadeiras quebradas ou danificadas.

A sala comunal da Grifinória era quente, confortável e aconchegante. Havia


enormes sofás e poltronas de aspecto fofo, um tapete grosso marrom em frente
ao fogo ardente e ainda mais pinturas adornando as paredes.

"Estamos lá em cima," disse James, levando Remus a uma escada em caracol


em um canto. No topo, havia outra porta que dava para um quarto. Mais uma
vez, não se parecia em nada com as instalações de St Edmunds. Havia quatro
camas, todas enormes, com grossas cortinas vermelhas de penduradas por
franjas douradas. Havia outra lareira, e cada menino tinha um pesado baú de
mogno e um conjunto de prateleiras ao lado da cama. Remus viu sua pequena
mala triste encostada em um dos baús. Ele se moveu, assumindo que aquela era
sua cama.

Peter estava vasculhando suas próprias coisas, tirando roupas, revistas e livros,
fazendo uma bagunça terrível.

"Não consigo encontrar minha varinha," ele lamentou. "Mamãe me fez guardá-
la para que eu não perdesse no trem, mas não está aqui!"

"Pete", James sorriu, "sua mãe me pediu para cuidar dela, lembra?"

James e Peter, Remus aprendera no trem, cresceram como vizinhos e se


conheciam muito bem. Embora os dois meninos não pudessem ser mais
diferentes, e Remus não entendia como James ainda não socara Peter.
Sirius estava sentado em sua cama, suas coisas ainda guardadas
impecavelmente no baú.

"Se anima, cara", disse James, sentando-se ao lado dele, "Você não queria ir
para a Sonserina de qualquer forma, queria?"

"Quinhentos anos." Sirius respondeu, friamente, "Todos os Black's em


Hogwarts foram da Sonserina por quinhentos anos."

"Bem, já era hora de alguém tentar ser diferente, hein?" James deu um tapa nas
costas dele jovialmente.

Remus abriu seu baú. Dentro havia um grande caldeirão de estanho - outro
item que Dumbledore pegou dos suprimentos de segunda mão, ele imaginou.
Havia também uma caixa longa e fina no fundo, com uma nota no topo.

Ele desdobrou o bilhete e ficou olhando para a caligrafia elaborada por um


longo tempo, tentando entendê-la. Reconheceu apenas a palavra 'pai' e
adivinhou que também era de Dumbledore, mas pertencera a seu pai. Abrindo-
a ansiosamente, encontrou uma vara longa e polida - uma varinha na verdade.
Não tinha pensado nelas antes, mas a pegou em sua mão e apertou a madeira
com firmeza. Era quente ao toque - familiar como sua própria carne - e parecia
flexível quando ele a girou nas mãos. Uma sensação boa o inundou.

Sirius finalmente começou a desempacotar, puxando livro após livro de seu


baú.

"Sabe," James disse a Sirius, ainda empilhando livros, "Há uma biblioteca
aqui."

Sirius sorriu,

"Eu sei, mas a maioria desses são livros trouxas. Meu tio Alphard os deixou
para mim, e minha mãe colocaria fogo em todos eles se eu os deixasse em
casa. "

As orelhas de Remus se aguçaram com isso. O que havia de errado com os


livros trouxas? Não que tivesse trazido algum, odiava ler mais do que qualquer
coisa no mundo. Ele não pensou nisso por muito tempo, porém, porque agora
Sirius estava tirando um toca-discos de verdade de seu baú, seguido por uma
caixa de discos novos em capas reluzentes. Ele foi olhar imediatamente,

"Isso é Abbey Road ?!" Ele perguntou, olhando para a caixa de vinil.
"Sim," Sirius sorriu, entregando-o a ele. Remus limpou as mãos em suas vestes
antes de pegá-lo, manuseando-o com cuidado. "Você deve ser nascido trouxa."
Sirius disse, "Nunca encontrei um bruxo que conhecesse os Beatles - exceto
minha prima, Andrômeda. Ela que comprou para mim."

Remus assentiu, esquecendo-se por um momento,

"Eu amo os Beatles, um dos meninos do meu quarto lá em casa tem pelo
menos umas dez músicas, mas nunca me deixa tocar nenhuma."

"Meninos em casa?" Sirius arqueou uma sobrancelha. Remus achou que ele
parecia muito adulto, "Você quer dizer seu irmão?"

"Não," Remus balançou a cabeça, devolvendo o disco e se encolhendo, "Eu


moro em um lar infantil."

"Como um orfanato?" Peter perguntou, com os olhos arregalados. Remus


sentiu a raiva crescendo, suas orelhas ficando quentes.

"Não." Falou rápido e grosseiramente. Sentiu os olhares dos meninos


deslizarem para seu hematoma novamente, e se virou para desempacotar o
resto de suas coisas em silêncio.

Eventualmente, Potter e Black começaram uma conversa sobre algo


chamado quadribol, que logo se tornou uma discussão acalorada. Remus subiu
em sua cama e puxou as cortinas, saboreando a privacidade. Estava escuro,
mas estava acostumado com a escuridão.

"Sabe, eu pensei que ele se esforçaria mais para fazer amigos", sussurrou Peter
em voz alta para os outros dois meninos. "Especialmente se ele é nascido
trouxa."

"Tem certeza de que o chapéu não deveria ter colocado você na Sonserina?"
Sirius falou lentamente. Peter ficou quieto depois disso.
4. Primeiro Ano
Lua Cheia

Domingo, 5 de setembro de 1971

Remus passou o resto da semana ignorando os outros meninos tanto quanto


podia. Essa era uma técnica que havia aprendido em St. Edmund's - era melhor
se você não fosse notado e que ninguém soubesse nada sobre você. (De vez em
quando ele levava um soco no braço ou tinha a cabeça enfiada na privada, mas
no geral ninguém fazia nenhum esforço para incomodá-lo.) James, Sirius e
Peter não eram nada parecidos com os meninos de St. Eddy, é claro. Eles eram
o que a Matrona chamaria de "bem-criados".

Sirius e James, principalmente, pareciam ter vindo de dinheiro. Ele podia


perceber pelo jeito que descreviam as casas onde cresceram, bem como pelo
jeito que falavam - cada vogal e consoante claramente pronunciada. Remus
ouviu com atenção e resolveu parar de arrastar seus 'R'.

Não eram apenas seus sotaques que indicavam isso, mas também o que diziam.
Remus crescera com adultos constantemente gritando 'fique quieto!', e garotos
que enchiam o saco se você dissesse mais palavras que necessário e desse uma
de espertinho. James e Sirius falavam como personagens de um romance; o
vocabulário cheio de metáforas descritivas e sarcasmo mordaz. A inteligência e
perspicácia deles era muito mais intimidante do que um soco no rosto, Remus
pensou – pelo menos um soco era rápido.

Até agora ele evitara os outros garotos fazendo caminhadas pelo castelo. Em St
Edmund's, tinha pouca liberdade pessoal e passava a maior parte do tempo
trancado em quartos. Em Hogwarts, parecia que não havia um lugar que você
não pudesse ir, e Remus estava determinado a descobrir cada centímetro do
bizarro terreno.

Os alunos receberam mapas para ajudá-los a encontrar suas salas de aula, mas
Remus achou que o dele estava faltando muitas coisas e fora excessivamente
simplificado. Não mostrava, por exemplo, uma passagem secreta que ele tinha
encontrado, cuja levava das masmorras ao banheiro feminino do primeiro
andar. Não fazia ideia por que diabos alguém precisaria de uma conexão entre
os dois lugares, e a primeira vez que a usou foi abordado por um fantasma
particularmente irritante que esguichou sabonete nele. Também teria sido útil,
raciocinou Remus, animar o mapa da mesma forma que as pinturas - então,
pelo menos, você poderia acompanhar as ridículas escadas móveis. Tinha
quase certeza de que uma das salas também se movia, pois nunca parecia estar
exatamente no mesmo lugar.

Quando a tarde de domingo chegou, Remus estava temendo segunda-feira,


além de ser o primeiro dia após a lua cheia, era também o primeiro dia de
aulas. Depois do jantar - que Remus passou sozinho, alguns lugares afastados
de Sirius, James e Peter – ele se dirigiu rapidamente ao escritório de
McGonagall. Ela estava esperando-o, junto com a enfermeira da escola, a
quem já havia sido apresentado. Era uma mulher bondosa e amável; porém um
pouco exigente.

"Boa noite, Sr. Lupin," McGonagall sorriu, "Obrigado por ser tão pontual.
Venha comigo."

Para a surpresa de Remus, as duas mulheres o levaram não para as masmorras,


como ele imaginou, mas sim para fora do castelo, em direção a uma grande
árvore retorcida. O salgueiro lutador foi uma adição recente ao terreno -
Dumbledore havia explicado em seu discurso no início do ano que fora doado
por um ex-aluno. Remus pensou, quem quer que o doou deve ter odiado muito
a escola, porque a árvore não tinha só a aparência aterrorizante, mas era
também irracionalmente violenta.

Enquanto eles se aproximavam, a Professora McGonagall fez algo tão incrível


que Remus quase gritou de choque. Ela pareceu desaparecer - encolhendo-se
de repente, até que não estivesse mais ali. Em seu lugar estava um gato
malhado de olhos amarelos. Madame Pomfrey não deu nenhum sinal de
surpresa, enquanto o gato corria em direção à árvore, que estava balançando os
galhos como uma criança dando chilique. O gato conseguiu correr direto para a
árvore, escapando de ferimentos, e pressionou a pata contra um dos nós do
tronco. A árvore ficou instantaneamente imóvel. Remus e Madame Pomfrey
seguiram em frente, entrando pôr em um buraco embaixo da árvore que Remus
nunca havia notado antes. Lá dentro, McGonagall estava esperando por eles,
como uma bruxa novamente.

A passagem estava mal iluminada por tochas de um brilho esverdeado, e no


final havia uma porta. Esta se abriu em uma pequena cabana, que parecia
abandonada há muito tempo. As janelas foram fechadas com tábuas e as portas
aparafusadas.

"Aqui estamos." McGonagall tentou parecer agradável, embora fosse um lugar


muito sombrio. "Agora eu espero que você entenda que não podemos ficar
com você, mas você gostaria que Madame Pomfrey esperasse do lado de fora
até que a ... transformação fosse concluída?"
Remus deu de ombros.

"Eu vou ficar bem. Como faço para voltar de manhã? "

"Eu vou passar assim que o sol nascer," Madame Pomfrey o assegurou. "Fazer
seus curativos e te mandar para as aulas antes que alguém perceba que você
partiu." Ela sorriu, mas seus olhos pareciam tristes. Isso deixou Remus
desconfortável. Mas então, estava chegando aquele ponto da noite em que tudo
o deixava desconfortável, seu cabelo coçava, sua pele parecia muito apertada,
sua temperatura subia.

"É melhor vocês irem." Ele disse, rapidamente, retirando-se para a sala vazia.
Havia uma pequena cama contra uma parede com lençóis limpos. Parecia que
tinham sido colocados lá para ele.

As duas mulheres saíram, trancando a porta reforçadamente atrás dele. Ele


ouviu McGonagall murmurando e se perguntou que tipo de feitiço ela estava
colocando na casa. O que quer que fossem, era melhor do que aquela terrível
porta de prata.

Ele sentou na cama por um momento, depois se levantou novamente, inquieto.


Andou pela sala. Às vezes parecia que o lobo penetrava sua mente antes de se
apoderar de seu corpo. Conforme a escuridão caía do lado de fora, seus
sentidos foram se tornando mais nítidos e a onda quente de fome começou a
espalhar em sua barriga. Remus tirou suas roupas rapidamente, não querendo
rasgá-las. Uma pulsação começou em suas juntas e se deitou na cama. Essa era
a pior parte. Seu batimento cardíaco latejava em seus ouvidos, e ele podia jurar
que ouviu seus tendões estalando enquanto se esticavam, seus ossos e dentes
rangendo uns contra os outros conforme se alongavam, seu crânio sendo
dividido e remodelado.

Ele gemeu e chiou até que a dor fosse demais, então gritou. Só podia confiar
que estivesse longe o suficiente da escola para que ninguém pudesse ouvi-lo.
Ao todo, demorou cerca de vinte minutos - embora nunca tivesse realmente
cronometrado. As coisas ficaram nebulosas depois, nem sempre conseguia se
lembrar do que acontecia depois que se tornava o lobo. Aquela primeira noite
em Hogwarts foi um borrão, e ele acordou com menos ferimentos do que o
normal. Suspeitou que o animal havia farejado o território desconhecido,
testando seus limites, e tentado se jogar contra as portas ou janelas em algum
momento, porque o lado esquerdo de seu corpo ficou com uma fila de
hematomas por vários dias.
A transformação de volta foi tão desagradável quanto - uma sensação
esmagadora de aperto que o deixou sem fôlego e dolorido. Ele enxugou as
lágrimas dos olhos e rastejou para a cama, grato por uma hora tranquila de
sono antes de o sol nascer completamente.

Madame Pomfrey voltou, como prometido. Falando em tons suaves, ela


colocou as mãos frias na testa febril de Remus.

"Eu não gosto da sua aparência", disse ela, quando ele abriu os olhos
sonolentos, "É uma loucura, pensar que você pode começar um dia escolar
inteiro assim. Você está exausto! "

Ninguém nunca havia expressado tal preocupação por ele antes, e isso o deixou
inquieto. Ele a empurrou, e se vestiu.

"Estou bem. Eu quero ir."

Ela o fez beber algo antes de deixá-lo se levantar - tinha um gosto frio e
metálico, mas ele se sentiu melhor depois. Correu até a torre da Grifinória para
colocar seu uniforme o mais rápido possível - não queria perder o café da
manhã, estava faminto.

"Onde você estava?!" James o abordou assim que ele entrou no quarto. Os
outros três meninos estavam todos acordados e vestidos, de aparência
impecável - exceto o cabelo de James, que sempre espetava na parte de trás.

"Lugar nenhum." Remus passou por ele para pegar suas coisas.

"Você está bem?" Sirius perguntou, olhando para longe do espelho onde estava
arrumando seu próprio cabelo.

"Éh," James acrescentou, observando Remus cuidadosamente, "Você parece


um pouco estranho."

Remus fez uma careta para eles,

"Caiam fora."

"Estamos apenas sendo legais." Peter disse, com as mãos na cintura. Os três
olharam para Remus, que estava prestes a tirar a camiseta quando se lembrou
dos hematomas.
"O que?!" Rosnou para eles, "Vocês todos vão ver eu me vestir? Vocês garotos
riquinhos são um bando de viados.” Ele marchou para o banheiro com suas
roupas e bateu à porta. Depois de alguns momentos, ouviu Peter reclamar que
estava com fome e todos foram embora.
5. Primeiro Ano
Poções

Sexta-feira, 10 de setembro de 1971

Ao final da primeira semana de aulas, Remus perdeu dez pontos, aprendeu um


feitiço e ganhou outro hematoma, desta vez em seu queixo.

As primeiras aulas foram boas - foram introdutórias, e enquanto Lily Evans


passava cada minuto rabiscando furiosamente páginas e páginas de anotações,
ninguém mais parecia muito incomodado. Foram dadas algumas tarefas de
casa simples, mas Remus planejou fingir ter se esquecido caso alguém
perguntasse. A aula de Feitiços foi a mais emocionante - o pequeno professor
encantou uma pilha de pinhas para zunir pela sala, para o deleite de todos.
Depois de algumas tentativas com o feitiço, Lily levitou sua pinha a pelo
menos um metro no ar, e Sirius fez a dele girar como um pião - até que saiu do
controle e quebrou uma janela. James, Peter e Remus tiveram menos sorte, mas
Remus tinha certeza que a dele havia pulado uma ou duas vezes.

Transfiguração foi tão interessante quanto, mas muito mais séria, já que foi
liderada pela Professora McGonagall. Não haveria nenhum trabalho prático
durante a primeira semana, ela explicou, mas passaria muitos deveres de casa a
fim de avaliar os níveis de habilidade de todos.

História da Magia foi absolutamente terrível, e quanto menos se disser a


respeito, melhor. Remus lutou para não adormecer enquanto o fantasmagórico
Professor Binns flutuava para cima e para baixo entre as carteiras, desfiando
datas e nomes de batalhas. Ele também deu o dever de casa – leitura de dois
capítulos do livro oficial. Sirius revirou os olhos e murmurou para James.

"Certamente todo mundo já terminou 'História da Magia', não? É coisa de


criança." James acenou com a cabeça, bocejando. Remus se sentiu mal. Ele
ainda não tinha aberto nenhum dos livros em seu baú, exceto para rasgar a
primeira página de 'Poções de Nível Um' e cuspir o chiclete.

Ele estava realmente ansioso por Poções, esperando pelo menos ver algo
explodir, como em química, mas a aula acabou envolvendo uma grande
quantidade de leitura também, e pior ainda, eles tiveram que dividir a aula com
os outros alunos do primeiro ano da Sonserina. O professor de Poções estava
irritantemente alegre e levou quase meia hora apenas para ler a lista de
presença.
"Black, Sirius - aha, aí está você! Fiquei bem surpreso com você durante a
cerimônia de seleção, meu menino, bem surpreso! Eu tive cada um dos Black's
na minha casa desde que comecei a ensinar! Não leve para o lado pessoal,
jovem Sirius, mas estarei esperando grandes coisas! "

Sirius parecia querer que o chão o engolisse. Slughorn continuou chamando


nomes.

"Um Potter e um Pettigrew, hein? Bem, bem, junto com o Sr. Black aqui, essa
classe tem um pedigree e tanto, não? Deixe-me ver ... Lupin! Eu conheci seu
pai; não um dos meus, mas um dualista muito bom. Uma pena o que
aconteceu..."

Remus piscou. Ele se perguntou se Slughorn sabia que ele era um lobisomem.
A turma inteira estava o encarando - sabiam que fora criado em um lar infantil
e que seu pai era um bruxo (Remus suspeitava que Peter havia contado a eles),
mas ninguém ousou perguntar muito mais. Parecia haver outro boato de que
ele era violento e possivelmente fazia parte de uma gangue. Tinha certeza de
que James e Sirius estavam encorajando isso também, e ele não se colocou
contra.

Felizmente, Slughorn queria que eles começassem o trabalho prático o mais


rápido possível.

"A melhor coisa é já se concentrar e começar!" Ele sorriu, "Agora, se todos nós
trabalharmos quatro por um caldeirão, vocês poderão se revezar para seguir os
passos ..."

Um burburinho começou enquanto todos se agrupavam para formar pares -


James, Sirius e Peter imediatamente pegaram o caldeirão no fundo da sala, e se
juntaram a Nathaniel Quince, um garoto sonserino que conhecia Potter e
Pettigrew de casa.

Remus decidiu que esperar até que todos estivessem agrupados para ver se ele
conseguiria se safar apenas se escondendo no fundo pelo resto da aula.

Não teve sorte.

"Remus! Você pode se juntar a nós!" Lily agarrou seu pulso e puxou-o para o
caldeirão que ela estava dividindo com Severus Snape - seu amigo de nariz
comprido cujo Remus conheceu no trem - e Garrick Mulciber, um menino
bruto de nariz arrebitado de quem Remus tinha um pouco de medo.
Lily já estava tagarelando, colocando todos os ingredientes e esquentando o
caldeirão com cuidado. Ela estava olhando para o livro de Severus, que já tinha
anotações rabiscadas nas margens.

"Aqui estão os olhos desidratados de caracol." Lily balançou um pequeno


frasco. "Acho que precisamos só de algumas gramas..."

"Você pode ser bastante liberal com eles, Lily, não acrescentam muito no
geral." Severus falou lentamente, parecendo entediado. Lily os mediu de
qualquer maneira e os despejou na mistura borbulhante. Mulciber então pegou
o livro e mexeu por cinco minutos, recebendo instruções de Severus sobre a
velocidade de ir e em que direção. Então foi a vez de Remus. Lily entregou-lhe
o livro.

Encarou a página. Podia ver que eram instruções, conseguia entender talvez
metade das palavras, mas cada vez que pensava ter entendido, as letras
pareciam mudar na página e ele se perdia de novo. Suas bochechas ficaram
quentes e se sentiu um pouco enjoado. Encolheu os ombros, olhando para
longe.

"Ah, vai logo," Severus retrucou, "Não é como se fosse difícil."

““Deixe-o em paz, Sev," Lily repreendeu. "O livro está coberto por suas
anotações, não é à toa que ele não consegue entender. Aqui, Remus," ela abriu
seu novo livro de poções. Mas não adiantou. Remus encolheu os ombros.

"Por que você mesmo não faz, se é tão inteligente." Ele retrucou para Severus.

"Oh Merlin," os lábios de Severus se curvaram, "Você sabe ler, não é? Quero
dizer, até mesmo as escolas trouxas ensinam isso, certo? "

"Severus!" Lily engasgou, mas o garoto presunçoso não teve a chance de dizer
mais nada - Remus se jogou por cima da mesa em direção a Severus, os
punhos voando. Ele só tinha o elemento da surpresa a seu favor - Mulciber
agarrou seu colarinho e o puxou para trás, dando um soco bem no seu rosto,
tudo em questão de três segundos.

"Parem!" Slughorn explodiu. Todo mundo congelou. O corpulento mestre de


poções gritou. "Levantem-se, vocês dois!" Ele gritou com os dois meninos no
chão. Snape e Remus ficaram de pé, o peito arfando. Snape parecia muito pior,
seu cabelo estava despenteado e sangue escorria de seu nariz. Remus tinha o
queixo machucado onde Mulciber o socou, mas tirando o uniforme
amarrotado, estava bem.
"Expliquem-se agora!" Slughorn gritou. Os dois olharam para os pés. Mulciber
estava sorrindo. Lily estava chorando. "Muito bem", disse o professor, irritado,
"detenção para vocês dois, duas semanas. Dez pontos da Grifinória e dez da
Sonserina. "

"Isso não é justo!" James disse, repentinamente do fundo da sala "Devia ser o
dobro da Sonserina, foram dois contra um!"

"De onde eu estava, foi o Sr. Lupin quem começou," Slughorn respondeu, mas
balançou a cabeça mesmo assim, "Ainda assim, você está certo - Mulciber,
cinco pontos por socar Remus. Violência não resolve violência, você sabe,
como eu disse ao seu irmão mais velho em várias ocasiões. Srta. Evans, por
favor, leve o Sr. Snape para a ala hospitalar. Lupin, você pode limpar a
bagunça que fez. "

Remus não conhecia nenhum feitiço de limpeza, então teve que limpar à mão.
Slughorn até o fez limpar o sangue de Snape do chão. Infelizmente, sendo logo
após a lua cheia, o cheiro forte de ferro fez seu estômago roncar. James, Sirius
e Peter estavam esperando Remus do lado de fora após o término da aula.

"Aquilo foi brilhante, cara," James deu um soco de leve no braço de Remus,
"O jeito que você só foi atrás dele!"

"Mulciber estava aqui se gabando depois, contou a todos o que Snape disse."
Sirius acrescentou, "Você estava certo em fazer isso - que idiota."

"Disse ... a todos?" Remus gemeu.

"Não se preocupe, todos ficaram do seu lado." James disse: "Bem, exceto os
sonserinos."

"É, e quem se importa com os sonserinos?" Sirius sorriu, "Vamos, o jantar é


daqui a pouco – está com fome?"

"Morrendo de fome," Remus sorriu de volta.


6. Primeiro Ano
Vingança

"Então." James disse na noite de domingo: "Como vamos nos vingar deles?"

"Se vingar de quem?" Peter perguntou sem erguer os olhos, procurando algo
em suas anotações.

Eles estavam na sala comunal da Grifinória, tentando fazer o dever de casa da


McGonagall. Trinta e cinco centímetros de pergaminho sobre as leis básicas da
transfiguração. Sirius e James já terminaram, Peter tinha feito cerca de 15
centímetros e Remus não havia começado.

"Os sonserinos." James sibilou. "Preste atenção, Pete."

"Nem todos os sonserinos," Peter perguntou, soando preocupado, "Apenas


Snape e Mulciber, certo?"

"Todos eles." Sirius confirmou. Tinha acabado de aparecer debaixo da mesa


que estavam compartilhando expondo um pedaço de pergaminho, "É isso que
você estava procurando?"

"Obrigado!" Peter agarrou, aliviado, "Estou quase terminando ..."

"Ei, você já fez, Lupin?" Sirius olhou para cima. Remus tinha aberto seu livro,
mas sequer o olhara.

"Nah," ele deu de ombros em resposta a Sirius. "Não to afim."

"Nos avise se precisar de ajuda."

"Você pode copiar o meu se quiser." James deslizou sua redação sobre a mesa.
Remus empurrou de volta, cerrando os dentes.

"Estou bem. Eu não sou burro."

"Ninguém disse que você era." James respondeu, casualmente. Sirius estava o
observando, no entanto. Remus queria bater nele, mas estava tentando se
controlar melhor - James e Sirius às vezes brincavam de luta, mas nunca
tentaram se machucar de verdade, como ele fizera com Snape. Forçando-se a
engolir seu temperamento, Remus optou por mudar de assunto.

"Poderíamos colocar pó para coceira em suas camas." Ele ofereceu. Alguém


tinha feito isso com ele uma vez. Ficou com assaduras e bolhas na pele por
uma semana inteira, e na noite de lua cheia se arranhou mais do que o normal.
"Ou em suas roupas ... se desse para descobrir quem as lava, de qualquer
maneira."

Isso tinha sido uma questão de grande confusão para Remus - a roupa suja
simplesmente desaparecia e ressurgia - limpas e dobradas em seus baús. Ele
nunca vira alguém nos quartos e não conseguia entender como acontecia.

"Eu gosto da ideia." James respondeu, mastigando sua pena: "Mas algum de
vocês tem pó para coceira?"

Os três meninos balançaram a cabeça.

"Podíamos encomendar da Zonko's." Sirius interveio. "Se você me emprestar


sua coruja, James, mamãe confiscou a minha depois da minha seleção."

"Pode ser", respondeu James. "Porém queria que a gente o fizesse o mais cedo
possível. Sabe, atacar enquanto o ferro ainda está quente. "

"Não precisamos comprar pó para coceira", disse Remus, tendo uma ideia, de
repente, "Vocês acham que eles têm rosa mosqueta na estufa?"

"Uhum," Peter falou, a cabeça ainda inclinada sobre o dever de casa, "Para
poções de cura de artrite, eu acho."

"Os pelos de dentro dão muita coceira." Remus explicou, animado, "A
Matrona - a mulher que cuida do abrigo infantil - os cultiva, e se você desse
trabalho, era obrigado a plantar eles sem luvas." As pontas de seus dedos se
irritaram só de pensar nisso.

"Isso é horrível." Disse James.

"Boa ideia, no entanto!" Sirius sorriu. "No próximo intervalo, vamos dar uma
olhada. Então, podemos plantar eles - com luvas - e depois colocá-los nos
lençóis dos Sonserinos. Excelente!"
"Como vamos entrar nos dormitórios da Sonserina?" Peter perguntou,
finalmente terminando seu trabalho.

"Deixe isso comigo," James sorriu, a expressão selvagem.

***

Obter a rosa-mosqueta foi fácil. Eles enviaram Peter, o único deles que ainda
não tinha recebido uma detenção e, portanto, estava sendo menos observado.
Peter era pequeno e bom em não ser visto; ele se esgueirou para a estufa
durante o intervalo da manhã e voltou com o rosto vermelho e alegre - um jarro
cheio sob a capa do uniforme.

Então, se trancaram no banheiro compartilhado para plantar todos os botões.


Sob as instruções de Remus, todos eles usaram luvas pesadas de couro de
dragão, tomando cuidado extra para não tocar nas sementes ou nos pequenos
pelinhos.

"Mal posso esperar para ver a cara deles." Sirius estava sorrindo, sentado de
pernas cruzadas no chão ao lado de James. Remus observou, sentado na beira
da banheira, as duas cabeças escuras de James e Sirius curvadas sobre o
trabalho. Estava com um pouco de inveja da amizade. Eles tinham muito em
comum – ambos cresceram com magia, em famílias ricas e eram
completamente loucos por quadribol. Além disso, era claro que depois de
apenas três semanas, James e Sirius garantiram uma reputação de reis do
primeiro ano. Todos prestavam atenção quando eles falavam, riam quando
faziam piadas. Ninguém nem se aborrecia quando eles perdiam pontos da casa.

"Eu ainda não sei como vamos entrar nos dormitórios da Sonserina – nem
Peter é tão sorrateiro." Sirius olhou para James. Estava tentando convencer o
menino de óculos a revelar seu plano desde que tinha o mencionado.

"Deixe que eu cuido disso.", foi tudo o que James disse.

As sementes e os pelos foram então decantados para outro pote, e os meninos


acabaram comendo as sobras da rosa mosqueta ao longo da semana.

Era terça-feira à noite quando finalmente tiveram uma chance. James decidiu
que fariam isso antes que todos fossem para a cama. Também determinou que
deveriam ir para os dormitórios da Sonserina separadamente, para evitar serem
vistos juntos e descobertos. Remus pessoalmente achou que isso era um
exagero, mas concordou, não querendo estragar a diversão do outro garoto.
Eles jantaram muito mais rápido do que o normal naquela noite, antes de se
levantarem da mesa um de cada vez e deixarem o salão. Peter parecia muito
nervoso - Remus pensou que ele entraria em pânico no último minuto e os
entregaria. Então fez questão de ficar perto do garoto menor, caso precisasse
tapar a boca dele ou puxá-lo para trás em algum momento.

Sirius e James foram primeiro, é claro, em direção ao banheiro feminino do


segundo andar, cujo de acordo com Remus os levaria às masmorras.

Tinha pensado em manter essa passagem específica para si, mas como já havia
encontrado alguns outros bons esconderijos, pensou que não doeria
compartilhar esse com os meninos. Afinal, com que frequência precisaria ir até
as masmorras?

O fantasma que morava nos banheiros, felizmente, estava com um humor


silencioso, embora Remus pudesse ouvi-la soluçando baixinho na última
cabine.

"Mostre o caminho então, Lupin," James gesticulou grandiosamente, assim que


Remus e Peter chegaram. Sirius agarrou o braço dele,

"Espere, primeiro nos mostre o que você está planejando."

James riu, aquele sorriso irritante que ele vinha exibindo desde domingo.

"Ah ... ok então, aqui, segure isto," ele empurrou o pote de sementes de rosa
mosqueta nas mãos de Sirius, abrindo o uniforme.

Ele retirou uma capa muito longa e volumosa, tecida com o material de
aparência mais estranha que Remus já vira - cinza prateado e cintilante.

"Não!" Sirius ficou boquiaberto, "Você não, Potter, você não tem ..."

James sorria de orelha a orelha - Remus pensou que seu rosto se dividiria em
dois.

O garoto desengonçado piscou para todos eles e então, com um floreio, passou
a capa pela cabeça, de modo que o encobria da cabeça aos pés. Ele
desapareceu.

"Seu sortudo desgraçado!" Sirius gritou, "Como é que você nunca me


contou?!"
James puxou o capuz da capa para baixo, de forma que sua cabeça parecia
flutuar no ar. Isso fez Remus se sentir um pouco enjoado.

"Está na família há anos." Ele disse, triunfante: "Papai me deixou trazer, desde
que minha mãe não descobrisse.

"Sortudo desgraçado." Sirius repetiu, pegando um pouco do material invisível


e esfregando-o entre os dedos, "Meus pais fariam qualquer coisa por uma capa
de invisibilidade."

"Acho que todos nós cabemos aqui dentro", James demonstrou, esticando os
braços como um morcego, "Venham, bem juntinhos e confortável..."

Todos eles se acomodaram debaixo da capa, então andaram para frente e para
trás algumas vezes, até que pudessem caminhar juntos sem problemas.
Finalmente, tentando não rir ou sussurrar muito, os quatro garotos invisíveis
seguiram para as masmorras. Remus mostrou quais ladrilhos bater para que o
chão da terceira cabine se abrisse.

"Como você encontrou isso, Remus?" James sussurrou: "É genial."

"A gente vai sair por trás de um daqueles tapetes que eles penduram nas
paredes, nas masmorras" Remus respondeu, "Eu só olhei atrás dele."

"Você quer dizer uma tapeçaria?" Peter perguntou.

"Hum ... acho que sim?" Remus estava feliz que nenhum deles pudesse ver seu
rosto.

"Cale a boca, Pettigrew." Sirius disparou. Remus sentiu um chute forte atingir
a parte de trás de seu tornozelo.

"Ei!", ele sibilou, chutando para trás com o dobro de força "Cai fora."

"Desculpa!" Sirius gritou: "Era para pegar Pete, não você."

"Fiquem quietos, todos vocês," James retrucou, "Estamos quase chegando."

Esperaram silenciosamente, no lado deles - atrás da tapeçaria, ouvindo passos


no corredor do lado de fora. Assim que James ficou satisfeito com o silêncio
do corredor, eles saíram da passagem. As masmorras eram geladas, escuras e
cavernosas. Havia um estranho som de algo pingando vindo de algum lugar -
talvez do encanamento.
"Onde fica a entrada?" Sirius murmurou.

"Atrás daquela parede," Remus apontou, esperando que eles pudessem ver
onde ele estava mirando. Era uma parede de tijolos simples.

"Como você sabe?"

"Eu já os vi entrar antes," disse Remus, apressadamente. Não iria dizer a eles o
motivo de saber que havia duzentos sonserinos do outro lado porque o cheiro
de sangue e magia eram tão fortes que ele quase podia sentir o gosto.

"Você sabe a senha?"

"Não."

"Droga."

"Ainda não é toque de recolher, vamos apenas esperar."

Assim fizeram, de forma bastante desconfortável. Embora o corredor fosse


úmido, estava desnecessariamente quente debaixo da capa, especialmente com
os quatro tão próximos. Felizmente, duas alunas do sétimo ano passaram
correndo nos minutos seguintes. Infelizmente, Sirius as conhecia.

"Mostre o anel de novo, Bella!" Narcissa Black implorou à irmã mais velha.
Remus sentiu Sirius enrijecer, pressionando-se contra a parede. Bellatrix se
exibiu, estendendo um longo braço de marfim. Em seu dedo ossudo estava um
anel de noivado enorme e feio, prata e esmeralda, que estava exibindo desde o
início do semestre. Todos na escola sabiam que ela se casaria com Rodolphus
Lestrange, algum bruxo político, assim que concluísse seus NIEMs. Sirius
precisaria ir ao casamento.

Narcissa deu um gritinho quando viu, embora provavelmente já o tivesse visto


mais do que qualquer outra pessoa.

"Lindo!" Ela chiou: "Oh, mal posso esperar para me casar ..."

"Espere sua vez," Bellatrix respondeu, sua voz era como unhas arranhando
uma lousa. "Assim que Lucius tiver uma posição melhor no ministério, tenho
certeza de que mamãe e papai concordarão com o casamento."

As duas jovens estavam de pé diante da parede de tijolos agora. Bellatrix era a


mais alta das duas, mas elas eram muito parecidas. Ambas tinham longos
cabelos pretos encaracolados - como o próprio Sirius, e a mesma estrutura
óssea perfeita da família Black.

"Mundus sanguine," Bellatrix anunciou. A parede deslizou para o lado para


deixá-las entrar, e os quatro meninos correram atrás, o mais rápido possível
antes de fechar.

Pela primeira vez desde que chegara em Hogwarts, Remus estava realmente
grato por ter sido colocado na Grifinória. As diferenças entre a sala comum
aconchegante e confortável deles e a dos sonserinos eram gritantes. Está fora
construída como um salão de banquetes, em vez de uma sala de estar. As
paredes eram ricamente decoradas com tapeçarias ainda mais elegantes, a
lareira era enorme e ornamentada com esculturas e uma palidez verde macabra
pairava sobre tudo. Acima de tudo, o lugar parecia de alguma forma perverso.
Remus tentou não estremecer.

Os outros meninos pareciam tão desconfortáveis quanto ele, e todos


congelaram até que James os empurrou para frente, subindo um lance de
escadas que todos esperavam que levasse aos dormitórios dos meninos.

No caminho, eles passaram por Severus, sentado sozinho em um canto,


curvado sobre seu livro de poções. Ao topo da escada, eles entraram na
primeira porta aberta que era, felizmente, um quarto.

James tirou a capa.

"Fique de olho, hein Petey?" Ele disse, correndo para dentro do quarto, "Será
que alguma dessas é a cama de Snape?"

"Está aqui pode ser," Sirius apontou, "Os lençóis parecem gordurosos o
suficiente." Todos os quatro meninos abafaram uma risadinha.

"Rápido então, rapazes, de luvas,” sussurrou James, desatarraxando o frasco.

Remus e Sirius colocaram uma luva de pele de dragão cada, pegaram um


punhado de sementes e começaram a espalhá-las de baixo das roupas de cama.

"Eles vão conseguir ver!" James disse, parecendo desapontado. Era verdade, as
pequenas sementes vermelhas brilhantes destacavam-se claramente contra os
lençóis brancos, mesmo no escuro.

"Bem ... se eles tentarem empurrar para fora da cama ainda vão entrar em
contato," Sirius ofereceu.
"Espere aí ..." Remus teve uma ideia repentina. Não sabia como tinha ocorrido
a ele, ou por que, mas de alguma forma tinha certeza de que iria funcionar.
Puxou sua varinha, mordeu o lábio e a balançou cautelosamente sobre a cama
que acabara de espalhar com as sementes. "Obfuscate." Ele sussurrou.

E assim, as sementes se foram. Bem, ele sabia que eles ainda estavam lá; mas
ninguém seria capaz de vê-las agora.

"Brilhante!" James encarou, "Como você fez isso? Flitwick ainda não nos
ensinou esse charme, não é? Estava na leitura?"

"Não," Remus deu de ombros, "Eu vi alguns alunos do quinto ano fazendo isso
com os doces que compraram do vilarejo, não é difícil de copiar."

Sirius e James imediatamente tentaram, sobre as sementes que haviam acabado


de espalhar. Não funcionou na primeira vez - ou na segunda, mas depois da
terceira, James conseguiu desaparecer a maior parte das suas sementes.

"É melhor você fazer isso, Lupin, ou ficaremos aqui a noite toda." Ele decidiu.

"Sim, por favor, se apresse!" Peter sibilou da porta, branco de medo.

Sirius tentou mais algumas vezes antes de desistir e deixar Remus assumir o
controle.

"Você vai me mostrar exatamente como fazer isso assim que estivermos de
volta em território neutro." Ele disse. Remus assentiu, embora não tivesse
certeza de como explicar. Ele só tinha feito isso por que acreditou que
provavelmente conseguiria.

"Próximo quarto," James anunciou, puxando-os de volta para o corredor.

"A gente realmente tem que fazer mais?" Peter perguntou, pulando de um pé
para o outro, "Isso não é o suficiente?"

"Nem de perto!" Sirius respondeu com uma risada, sacudindo a cabeça, "E se
ainda não tivermos nem chegado à cama do Snape? Temos que
pegar todos eles, Pete. Você está conosco ou não?"

“Todos os meninos, pelo menos”, disseram James, quando eles entraram no


quarto ao lado, "Não acho que conseguiremos chegar no das meninas - lembra
o que aconteceu com Dirk Creswell semana passada?"
Eles trabalharam rapidamente e conseguiram alcançar todos os quartos dos
meninos. Até o último, que tinha três alunos adormecidos - sexto ano. Sirius
implorou para ir, mas Remus estava transbordando de animação com a
pegadinha agora, e vestiu a capa de invisibilidade para entrar. Ele até espalhou
as rosas nos travesseiros dos meninos adormecidos.

Quando finalmente terminaram, já era tarde e mais e mais sonserinos estavam


subindo para ir dormir. Mal conseguindo conter a alegria, os quatro grifinórios
se esconderam sob a capa e lentamente desceram as escadas, grudando na
parede sempre que alguém estava passando, depois através da enorme sala
comunal e saindo pela parede em que entraram.

Como James instruiu, todos eles ficaram o mais quieto possível até que
estivessem perto da torre da Grifinória, onde era seguro retirar a capa
novamente.

"Widdershins!" Todos eles cantaram para a mulher gorda, que se abriu para
eles.

Foi uma bênção estar de volta à sala comunal da Grifinória, quente e


iluminada, e todos eles se jogaram no sofá disponível mais próximo, sorrindo
estupidamente um para o outro. Frank Longbottom chamou-os de uma mesa,
onde estava arrumando as notas para revisão,

"E aí, rapazes, estiveram em algum lugar interessante?"

Peter parecia incerto, mas James apenas acenou com a mão.

"Biblioteca, obviamente."

Frank balançou a cabeça, embora estivesse sorrindo,

"Tenho certeza de que ouvirei sobre isso em breve."

"Eu gostaria de poder estar lá quando tudo começasse!" Sirius sussurrou, seus
olhos brilhando de alegria, "E eu queria ainda mais que pudéssemos ter
alcançado minhas primas."

"É apenas o começo, Sirius, parceiro" James respondeu, batendo no joelho do


outro garoto, "Entre nós quatro, tenho certeza que poderíamos ir ainda mais
além da próxima vez. Excelente primeira missão, rapazes!"

Peter choramingou,
"Primeira missão?!"
7. Primeiro Ano
Marotos

Quarta-feira, 15 de setembro de 1971

Na manhã seguinte, James e Sirius mal conseguiram conter sua empolgação e


apressaram seus companheiros de dormitório para o café da manhã antes de
qualquer outro grifinório. Foram os primeiros alunos a chegar ao grande salão,
com exceção de alguns corvinos que estavam curvados sobre seus livros de
revisão de NIEM com enormes canecas de café preto.

"Perfeito," Sirius sorriu para os bancos vazios, "Lugares na primeira fileira!"

"Aposto que ninguém vai aparecer por horas." Peter gemeu, dormente, apoiado
nos cotovelos.

"Ah se anime um pouco", James serviu-lhes grandes canecas de chá, "Vocês


não querem ver os frutos do nosso trabalho?"

"Não às seis da manhã." Peter respondeu, sorvendo seu chá. Sirius estremeceu
com o som e empurrou um prato para ele.

"Coma uma torrada e pare de choramingar."

Remus pegou uma torrada também e cortou em quatro pedaços. Ele espalhou
marmelada em um quarto, geleia no segundo, manteiga no terceiro e coalhada
de limão no último. Ignorou o olhar curioso que Sirius estava direcionando a
ele. Remus nunca teve tantas opções antes, e estava determinado a aproveitar
ao máximo cada refeição.

Felizmente, eles não tiveram que esperar muito antes que os outros alunos
começassem a chegar para o café da manhã. Os primeiros sonserinos chegaram
bem quando Remus estava terminando sua torrada. Três meninos e duas
meninas; terceiro ano. Eles foram até a mesa, sem perceber os quatro
grifinórios ansiosos os observando atentamente. Por alguns momentos, foi
como se nada estivesse diferente. Sirius suspirou desapontado. Mas então. O
garoto mais alto se mexeu ligeiramente na cadeira, esfregando o braço. Outro
parecia estar procurando por algo em seu bolso, mas do ponto de vista de
Remus, ele estava claramente coçando a perna furiosamente. O terceiro
continuou usava a varinha para esfregar atrás da orelha.
"Funcionou!" James sussurrou, sem fôlego de excitação. Até Peter parecia
alegre agora.

Conforme mais e mais sonserinos chegavam, o problema se tornava mais


óbvio - e mais hilário.

Por volta das sete horas, a mesa da Sonserina estava cheia de meninos se
contorcendo e se arranhando, e garotas de aparência horrorizada. Amycus
Carrow, um garoto corpulento do sexto ano, eventualmente arrancou seus
robes, o suéter da escola e até mesmo a gravata para agarrar o peito que Remus
podia ver que já estava em carne viva. Ele quase sentiu pena deles.

Mas então Snape entrou. Fosse por carma ou por pura sorte, Severus parecia
ter reagido particularmente mal às sementes de rosa mosqueta. Ele entrou com
a cabeça baixa, o cabelo caindo sobre o rosto, mas seu nariz ainda estava
visível e claramente vermelho.

"Oh Merlin!" Sirius ofegou, rindo tanto que estava segurando o estômago. "Me
diga que pegamos o rosto dele!"

"Ei, Snivellus!" James gritou, de repente, para chamar a atenção do outro


garoto.

Snape se virou, olhando para cima; seu cabelo repartido. O lado esquerdo de
seu rosto estava coberto por uma erupção vermelha de alergia, das têmporas
até o pescoço, desaparecendo sob o uniforme. Seu olho esquerdo também
estava vermelho, a pálpebra inchada e irritada.

"Tá bonitão!" Sirius cantou, e todos os quatro garotos caíram na risada


enquanto Snape saía furioso da sala.

Quando o café da manhã acabou, todo o castelo já fervilhava de rumores sobre


o que exatamente acontecera com os meninos da Sonserina.

Sirius e James exibiam uma alegria de como se todos o natal tivessem chegado
mais cedo, e até mesmo Peter tinha se animado de uma forma extraordinária -
lembrando a todos que ele tinha ficado de guarda, afinal, tornando toda a
aventura possível.

"Foi tudo ideia de Lupin, no entanto," Sirius respondeu, dando um tapa nas
costas de Remus, "O que devemos fazer para comemorar, hein? Bombinhas
explosivas? Invadir as cozinhas?"
Remus afastou Sirius, sorrindo educadamente.

"Bem, o que quer que vocês façam, será sem mim", respondeu ele, "tenho
detenção dupla."

"Do Slughorn?"

"Sim, e McGonagall. E Flitwick, mas isso é amanhã. E, minha detenção de


Herbologia é no fim de semana. "

"Caramba, cara!" James franziu a testa, "Você tá tentando bater um recorde ou


algo assim?"

Remus deu de ombros. Ele estava sempre sendo punido em St. Edmund's -
todos os meninos eram. A detenção não o incomodava. Embora as bombinhas
explosivas parecessem muito divertidas.

"Talvez seja melhor você começar a fazer sua lição de casa?" Sirius disse,
gentilmente. Remus revirou os olhos, levantando-se da mesa.

"Vamos lá", disse ele, "Primeiro é Defesa Contra as Artes das Trevas, pensei
que vocês dois adoravam essa aula."

***

Mais tarde naquele dia, Remus estava a caminho de sua detenção com
Slughorn, quando encontrou Lily Evans. Ficaria perfeitamente feliz em seguir
andando, mas ela sorriu e acertou o passo com ele.

"Oii Remus"

"Oi."

"Você está indo para as masmorras?"

Ele assentiu.

"Eu também. Eu tenho que dizer a Slughorn que Severus não pode atender a
detenção. "

"Ah, certo."

"Você ouviu o que aconteceu com os sonserinos?"


"Aham." Todo mundo tinha ouvido - era tudo o que se conversava o dia todo,
mesmo durante as aulas. Felizmente, ninguém tinha a menor ideia de quem
seriam os culpados. Foi uma boa ideia atacar a casa inteira de uma vez. Como
poderiam saber quem era o alvo?

"Louco, não é?" Lily continuou, "Pobre Sev, era alérgico ao que eles usaram.
Madame Pomfrey deu-lhe uma poção para dormir enquanto o inchaço diminuí.

Remus deu uma risadinha, sem pensar. Ele olhou para Lily, que estava olhando
para ele com reprovadores olhos verdes. Ela balançou a cabeça.

"Olha, eu sei que ele não foi muito legal com você. Outro dia em Poções ou no
trem. Ele é ... bem, ele é um pouco esnobe, ok? "

Remus bufou.

"Mas eu queria pedir desculpas." Lily continuou, "Eu preciso enfrentá-lo mais.
Não deveria deixar ele se livrar fácil. Ele é realmente uma pessoa muito legal
quando você o conhece. "

"Se você diz." Remus parou de andar. Eles estavam fora do escritório de
Slughorn agora. A porta estava fechada, e as vozes estavam altas do outro lado.

"Horace, seja quem for, deve ter sido um Sonserino!" Era a professora
McGonagall, "Quem mais teria a senha?"

"Por que um sonserino atacaria sua própria casa, Minerva?!" O mestre de


Poções parecia muito frustrado.

"Você disse que apenas os dormitórios dos meninos foram afetados. Talvez
fosse uma das meninas."

"É mesmo!"

"Bem, quem mais? Pirraça? Ele nunca entra nas salas comunais - não entra nas
masmorras também, por falar nisso - tem muito medo do barão sangrento. "

"Temos que banir todos os produtos Zonko."

"Pelo que Poppy disse, não era um produto da Zonko. Rosa Mosqueta, das
estufas."
Lupin sentiu um fio de medo correr por sua espinha. Se eles sabiam tudo isso,
seriam capazes de descobrir quem fez a pegadinha?

"Rosa Mosqueta, é? Bem esperto." Slughorn realmente parecia impressionado.


McGonagall suspirou.

"Suponho que você gostaria de culpar os corvinais agora?"

"Eu só queria saber quem fez isso!" Ele suspirou pesadamente. "Talvez a
verdade venha à tona. Acho que parece mais provável que fosse uma das
garotas da Sonserina do que ... "

"Do que um grupo de marotos rastejando para as masmorras sob o manto da


noite com más intenções?"

Remus podia ouvir a risada de Slughorn com isso.

"Bem, sim."

"Agora, preciso ir." McGonagall estava dizendo, seus passos se aproximando


da porta. "Você me avisa se pegar o culpado?" A porta se abriu. Remus e Lily
recuaram, culpados. McGonagall olhou para eles através de seus óculos, "O
que dois Grifinórios estão fazendo tão longe de sua torre?"

"Por favor, Professora, Remus e eu estávamos apenas-"

"Ah!" Slughorn interrompeu a divagação nervosa de Lily, "Lupin, meu garoto -


e Srta. Evans! Vieram pedir desculpas por Snape, hein?

"Não há necessidade, querida menina, não há necessidade. Com tudo o que


está acontecendo hoje, acho que podemos cancelar as detenções dos meninos,
por enquanto." Ele veio até a porta e olhou severamente para Remus, "Se ficar
claro que não haverá mais brigas nas minhas aulas? Ou qualquer aula, por falar
nisso, hein? "

"Sim, professor." Remus acenou com a cabeça, solenemente, tentando não


parecer muito satisfeito.

"Excelente." Slughorn sorriu, trancando a porta de seu escritório, "Então, se me


der licença, tenho alguns interrogatórios a fazer."

Remus e Lily quase chegaram ao fim do corredor quando McGonagall de


repente chamou,
"Sr. Lupin?"

O coração de Remus afundou.

"Sim, Professora McGonagall?"

"Isso não quer dizer que sua detenção comigo foi cancelada. Venha agora,
vamos começar cedo."

***

McGonagall o fez escrever as linhas por uma hora - nada mal, considerando
que estava acostumado à palmatória em St. Edmund's. Não se importava de
copiar e repetir; era reconfortante. Vou completar todas as tarefas definidas.
Talvez engolisse o orgulho da próxima vez e copiasse a lição de casa de James.
Ou de Peter, se não quisesse parecer muito suspeito. Mas sabia que James iria
perguntar por que Remus nunca lia o texto dado. E se contasse, tinha certeza
que James e Sirius o fariam explicar a situação à McGonagall - os dois garotos
possuíam uma fé inabalável nos professores de Hogwarts. Remus, no entanto,
nunca conheceu um adulto em quem confiasse. Ela o mandaria de volta para
St. Edmund's imediatamente. De que adiantava para alguém um bruxo
analfabeto?

Assim que sua detenção acabou, ele passou pelo buraco do retrato e entrou na
sala comunal para encontrar seus três companheiros de quarto o esperando.
Peter e James estavam envolvidos em um jogo de xadrez muito sério (é claro
que as peças estão se movendo. Remus pensou consigo mesmo, tudo tem que
se mover neste maldito castelo) enquanto Sirius escutava um de seus discos
através de fones de aparência nova e muito chique. Remus estava morrendo de
vontade de ouvir, mas ainda não tinha criado coragem de pedir emprestado.

Ele se sentou ao lado de Sirius silenciosamente. O garoto de cabelos compridos


tirou os fones de ouvido de uma vez,

"Você foi rápido!"

"Só tive que fazer uma no final," Remus explicou, "Slughorn me liberou, muito
ocupado tentando resolver a coisa do pó de coceira."

Sirius sorriu amplamente, recostando-se no sofá com os braços cruzados sob a


cabeça,

"Essa pegadinha é um presente que continua nos beneficiando."


"Snape era alérgico e tudo," Remus disse, sorrindo, "Aquela garota ruiva disse
que ele passou o dia todo na ala hospitalar."

Sirius riu ainda mais alto. Seus olhos brilhavam. Remus nunca tinha visto
alguém exibir tanta alegria. Isso o fez querer socá-lo e virar seu amigo, tudo ao
mesmo tempo.

"Qual garota ruiva?" James olhou para cima de repente,

"Cheque MATE!" Peter gritou.

"Você sabe, a irritante. Evans."

"Eu não acho que ela é irritante."

"Ok." Remus encolheu os ombros.

"Não vamos falar sobre meninas." Sirius revirou os olhos, "Este pode ser o dia
mais importante de nossas vidas! Este é o dia em que nos tornamos lendas; o
dia em que nossa amizade foi forjada no fogo do pó de coceira!"

"Eles não sabem que fomos nós, sabem?" Peter perguntou, nervoso, arrumando
seu tabuleiro de xadrez. Remus balançou a cabeça.

"Slughorn acha que foi uma garota Sonserina. Ou uma gangue de marotos."

"Marotos!" Sirius se sentou repentinamente, "É isso! Levantem seus copos,


rapazes! "

"Não temos copos." James respondeu, entretido.

"Bem, apenas finja." Sirius balançou a cabeça, irritado, "Deste dia em diante,
nós somos os Marotos!"

Ele disse isso com um esplendor tão dramático que apenas um silêncio
atordoado preencheu os próximos segundos. James estava sorrindo, Peter o
encarava em busca de uma explicação, sem entender o que estava acontecendo.
Remus explodiu uma risada.

"Que nome pretencioso de gangue é esse ?!"


8. Primeiro Ano
Segredos

Terça-feira, 5 de outubro de 1971

A lua cheia seguinte foi tão ruim quanto a última. Desta vez, o lobo estava
claramente inquieto, porque Remus acordou com uma série de cortes
profundos.

"Eles se curam mais rápido com um pouco de antisséptico." Aconselhou à


Madame Pomfrey, que cuidava dele sobre a luz da manhã gelada.

"E mais rápido ainda com magia," ela sorriu, com um floreio de sua varinha.
Os cortes fecharam quase instantaneamente. Remus encarou, pasmo.

"Você pode se livrar das cicatrizes também?" Ele perguntou, ansioso. Ela
balançou a cabeça tristemente.

"Não, Remus, essas não, me desculpe."

"Tudo bem." Ele suspirou, vestindo-se para a escola. Desta vez, trouxe uma
muda de roupa e as deixou no túnel do lado de fora da cabana para evitar voltar
ao dormitório.

Ele encontraria os outros meninos durante a primeira aula, e deixaria que


tentassem adivinhar onde ele teria estado.

"Você não precisar ir às aulas hoje," Madame Pomfrey estava dizendo, "Não se
estiver muito cansado. Posso escrever um bilhete."

"Eu quero ir." Ele respondeu: "Não é tão ruim, honestamente."

Pomfrey o observou com olhos sérios.

"Não é tão ruim por enquanto. Temo que as transformações comessem a cobrar
seu preço conforme você cresce."
"Você cuidou de outras crianças como eu, então?" Ele queria perguntar há
muito tempo, mas não tinha certeza como.

"Não, querido, você é o primeiro aluno de Hogwarts que eu conheço que foi..."

"Mordido?"

"Que foi mordido." Ela aceitou, agradecida: "Mas eu prometo que sei o que
estou fazendo. Já li muitas coisas sobre o assunto."

"Quer dizer que há livros? Sobre pessoas como eu?"

"Bem, sim." Soou surpresa. Ela se sentou na cama enquanto ele terminava de
se vestir. "Você pode pegar um deles emprestado, se quiser?"

Pensou sobre isso, então balançou a cabeça negativamente.

***

Eles tinham Transfiguração primeiro, mas McGonagall não lhe deu detenção
por ter esquecido a lição de casa - ela obviamente decidiu ser mais tolerante
perto da lua cheia. Ela o fez prometer trazê-lo na próxima aula, e ele
concordou, esperando ter soado sincero. James, Sirius e Peter passaram metade
da aula tentando chamar sua atenção, mas ele firmemente os ignorou até que
McGonagall ameaçou separar os quatro.

Nos corredores indo em direção a Feitiços, Remus sabia que não havia como
escapar. Era uma boa caminhada de cinco minutos.

"Então? Onde você estava?!" Sirius deixou escapar, caminhando a sua


esquerda.

"Lugar algum." Ele respondeu, tentando se apressar.

"Ah, qual é," James implorou, surgindo a sua direita, "Fala pra gente! Era o
mesmo lugar que você foi mês passado?"

"Talvez."

"Você estava na detenção de novo?" Peter perguntou, se esforçando para


acompanhar. Remus se amaldiçoou por não ter pensado nisso - detenção teria
sido o disfarce perfeito.
"Não."

"Então onde-"

"Presta atenção, mestiço!"

Remus estava muito ocupado evitando as perguntas para olhar onde estava
indo, e deu de cara com Snape, que estava virando a esquina. Já irritado,
Remus endireitou os ombros e tentou passar por ele, bruscamente.

"Presta você, Snivellus."

Snape não se mexeu, e o empurrou em vez disso, Mulciber aparecendo em seu


ombro esquerdo, pairando ameaçadoramente sobre os meninos menores.

"Eu sei que foi você que invadiu nossos dormitórios na outra noite." Sibilou:
"Todos vocês."

"Ah é, então prove." James sorriu, cruzando os braços.

Os lábios de Snape se curvaram.

"Eu não posso, ainda. Mas eu vou. Vou me vingar também, eu prometo. "

"Estamos tremendo em nossas calças," Sirius respondeu, encostando-se na


parede como se estivesse entediado. "Agora, poderia gentilmente sair do
caminho?"

"Foi sua ideia, Black?" Snape falou lentamente, "Ou sua, Potter? Deve ter sido
um de vocês. Pettigrew não tem coragem e o querido Lupin aqui claramente
não tem o cérebro para ... "

Remus cerrou os punhos. Podia ver a varinha na mão de Snape - Severus


provavelmente conhecia todos os tipos de maldições e feitiços. James ensinou
a Remus um ou dois, mas estava muito cego de raiva para se lembrar de
qualquer um agora.

"Se movendo agora, cavalheiros." Uma voz aguda de repente soou no corredor.

Era o professor Flitwick, saindo de sua sala de aula para ver o que estava
acontecendo. "Severus, você está atrapalhando os corredores, e vocês quatro
deveriam estar na minha classe. Venham comigo."
Remus se sentiu febril e agitado pelo resto da aula de Feitiços, que geralmente
era sua aula favorita. Dependia mais do trabalho prático com sua varinha do
que de ler ou escrever, e muitas vezes ele se saía melhor do que James e Sirius.
Achando difícil se acalmar, ele continuou atirando suas almofadas pela sala
como mísseis, em vez de guiá-los com cuidado pelos aros que Flitwick
pendurara do teto.

Eles estavam trabalhando em feitiços de levitação por algumas semanas, e


Peter era o único que ainda tinha dificuldades. Na opinião de Remus, o
problema de Peter era falta de imaginação. James e Sirius eram
excruciantemente confiantes; e ele descobriu que confiança era tudo que você
precisava para realizar a maioria dos feitiços básicos. Remus mesmo se sentia
capaz de completar qualquer tarefa se parecesse simples o suficiente. Peter, por
outro lado, se preocupava com tudo. Ele leu e releu seus livros, tentando copiar
os complicados diagramas ao invés de apenas seguir o que Flitwick mostrou a
eles.

"Espero que todos vocês consigam levitar este livro até o fim desta semana",
disse Flitwick no término da aula. O livro era enorme, cerca da metade do
tamanho do minúsculo professor, e parecia que até um homem adulto teria
problemas carregando esse livro muito longe. "Então venham preparados para
um teste rápido de suas habilidades."

Peter resmungou enquanto eles pegavam suas coisas para partir.

Remus tinha conseguido se acalmar por volta da hora do almoço, mas ao final
da tarde ainda estava com problemas controlando sua magia, e estava grato
pelas ultimas aulas serem Herbologia e História da Magia. Não sabia se era seu
temperamento – cujo sempre foi forte – ou a lua cheia. Sempre teve muita
energia depois das transformações, antes mesmo de saber que podia fazer
magia. Agora sua varinha zumbia em sua mão como a estática de uma TV de
antena. Ele tentou um rápido "Lumos", escondido no box do banheiro entre as
aulas, e quase queimou as retinas.

Talvez o livro que Madame Pomfrey mencionou pudesse lhe contar mais sobre
o que estava acontecendo, mas não tinha como saber agora. Também poderia
haver livros na biblioteca, mas ainda não tinha checado. Ele conhecia a
palavra, bem o suficiente, e poderia soletrá-la caso concentrasse bastante. Mas
ele não ousou. Remus vivia com o medo de que se escrevesse no papel, ou
dissesse em voz alta de alguma forma, todos descobririam seu segredo. E era
melhor deixar esse tipo de coisa na sua cabeça.

***
Quinta-feira, 7 de outubro de 1971

Era especialmente importante manter seus segredos para si mesmo agora,


porque Remus estava sendo vigiado. Por McGonagall, que ainda erguia a
sobrancelha ao ver que ele não estava tomando notas, por Madame Pomfrey,
que sempre estava tentando o parar na ala hospitalar para uma verificação
rápida, e por Snape, ainda estava furioso por não conseguir descobrir como o
incidente com o pó de coceira tinha acontecido. Remus até podia suportar
todas essas interferências, se não fosse por uma quarta pessoa observando-o.

Este perseguidor era muito mais sutil, menos óbvio em sua vigilância, mas
ainda era perceptível. Sirius. No começo, Remus achou que o outro garoto só
era intrometido - parte do privilégio que ele e James compartilhavam. Eles
tinham que saber tudo sobre todos. Estavam constantemente contando a Remus
e Peter sobre a vida dos outros - o pai de fulano foi recusado para uma
promoção no ministério anos atrás, por isso ele é meio rancoroso. A tia-avó de
Miranda Thrup já esteve sob investigação pelo uso ilegal de uma poção do
amor, e agora ninguém bebia chá na casa dos Thrup; O Professor Slughorn
sabia mais sobre as artes das trevas do que deixava transparecer, e o Clube do
Slug era famoso por transformar bruxos das trevas influentes.

Claro, nenhum deles sabia absolutamente nada sobre Remus, e no começo, ele
presumiu que era por isso que Sirius estava tão observador. Mas ele nunca fez
nenhuma pergunta direta, e se estava curioso sobre a família de Lupin ou sobre
sua criação, então era um interesse particular que James não compartilhava.
James raramente observava outras pessoas, Remus notou - ele preferia que
outras pessoas o observassem.

Ninguém mais pareceu notar, felizmente. Sirius foi cauteloso a esse respeito.
Só de vez em quando, Remus conseguia pegá-lo desprevenido, o olhando
fixamente com aqueles olhos azuis profundos. Ele nem tinha a decência de
desviar o olhar quando era pego - apenas suavizou sua expressão em um
sorriso amigável, que Remus era obrigado a devolver.

Naquela quinta-feira, eles estavam terminando o dever de casa na sala comunal


da Grifinória - bem, James estava terminando o dever de Remus, já tendo feito
o próprio. Ele se ofereceu para fazer isso em troca de Remus ensiná-lo o feitiço
'Obfuscate' e, apesar de seu orgulho, Remus concordou. Ele realmente não
queria outra detenção com McGonagall, e James era bom em imitar a caligrafia
de outras pessoas.

Sirius estava finalizando sua redação e já havia escrito dez centímetros a mais
sobre o uso de crisopas em elixires transformativos – além de diagramas.
Havia livros espalhados por toda a mesa que eles reivindicaram para si, junto
com tinteiros e rolos amassados de pergaminho. Peter estava tentando levitar
uma maçã e colocá-la em um cesto de lixo a um metro de distância. Até agora
conseguia levantá-la no ar, mas então ela balançava e caia novamente.

Exausto, Peter passou os dedos pelo cabelo novamente e consultou seu livro.

"Você vai conseguir, Pete, não se preocupe." James murmurou, sem tirar os
olhos do papel de Remus. "Continue tentando."

"Estou tentando", lamentou Peter, "Tenho certeza de que estou errando o


movimento ... o livro diz para usar uma 'ação suave e serpentina', mas não
tenho certeza ..." ele girou sua varinha o ar. Remus resmungou.

"Não é assim." Ele disse, sem rodeios. "É como um S de lado. Veja." Ele
executou o feitiço, sem esforço, levantando a maçã e jogando a no cesto com
precisão.

"Como um S, tem certeza?" Peter franziu a testa. Ele apontou sua própria
varinha para uma bola de papel amassada da mesa, "Wingardium Leviosa!" Ele
cantou, acenando sua varinha da mesma forma que Lupin havia feito. O papel
voou tremulamente para cima, em seguida, voou com um pouco menos de
elegância para dentro da lixeira, quicando pelas laterais enquanto caía no fundo
e pousava ao lado da maçã. Peter olhou com os olhos arregalados: "Eu
consegui!" Ele engasgou, "Uma forma de 'S', por que simplesmente não dizia
isso no livro?!"

"Muito bem, Pete." James disse, olhando para cima e sorrindo. Ele tirou os
óculos e esfregou os olhos, "Você deveria ser professor, Remus.”

Lupin bufou, desviando o olhar timidamente. James continuou,

"Estou quase terminando aqui, só preciso verificar uma coisa - você pode me
passar a Teoria da Magia? O livro do Waffling?"

Remus sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Tentando não entrar em


pânico, ele olhou para a pilha de livros que James estava apontando. Um deles
era definitivamente sobre poções - tinha um caldeirão na capa. Os outros; só a
sorte lhe diria. As letras douradas e prateadas em cada capa pareciam mudar e
girar diante de seus olhos. Seria melhor apenas escolher um, mesmo que fosse
o errado? Ele olhou para James, desesperadamente, que estava relendo o papel.
Peter estava muito ocupado levitando mais bolas de papel para notar a agitação
de Remus. Ele olhou para baixo novamente, mordendo o lábio.
Sirius pigarreou silenciosamente e se inclinou sobre a mesa. Deu uma
batidinha em um dos livros com o dedo indicador, sem olhar para Remus. Era
um grande livro de couro preto que Remus reconheceu vagamente. Grato, ele o
pegou e entregou a James.

"Valeu, cara." Disse James, distraidamente, voltando ao trabalho. Sirius


continuou como se nada tivesse acontecido. Remus sentiu suas bochechas
queimarem.
9. Primeiro Ano
Cicatrizes

Sexta-feira, 15 de outubro de 1971

Remus teve que passar os próximos dias evitando Sirius – ou ao menos


evitando ficar sozinho com ele. Isso não foi fácil, os meninos estavam juntos o
tempo todo, especialmente nos finais de semana. Todos eles passaram pela
aula de feitiços na sexta sem nenhum problema; inclusive Peter. Flitwick ficou
tão impressionado que a sala inteira dominara levitação tão cedo no ano que
ele os liberou mais cedo para o almoço.

Sirius se fez inevitável na semana seguinte, durante a aula de voo. Se Remus


não odiasse História da Magia tanto, voo seria definitivamente sua matéria
menos preferida. Cerca de 20 minutos já na primeira aula de Madame Hooch,
ele aprendeu que tinha medo de altura, e as outras aulas foram miseráveis para
ele.

James era a estrela da classe, obviamente, e até mesmo os outros Marotos o


acharam insuportável enquanto ele zarpava pelo campo de quadribol,
rodopiando e se exibindo como se tivesse nascido numa vassoura. Sirius era
ótimo também, e a maioria da turma cresceu brincando em vassoura, até Peter
era decente.

Chovera na noite anterior, e o solo estava macio e lamacento. Eles trocaram


seus sapatos usuais de amarrar por botas grossas e o conjunto de voo escarlate
antes de entrarem em campo. Pegaram suas vassouras e aguardaram instruções.
As vassouras foram fornecidas pela escola.

Os alunos dos primeiros anos não tinham permissão de trazer suas próprios,
mas James dizia, a qualquer um que parasse por tempo suficiente para ouvir,
que possuía um modelo top de linha em casa.

"Certo, montem suas vassouras, por favor, senhoras e senhores," Hooch berrou
para o grupo, "O vento hoje está bom e forte, então quero que todos vocês
tomem cuidado. Potter, sem se exibir!"

Remus subiu em sua vassoura, engolindo em seco. Se não vomitasse, já seria


uma vitória.
"Eu gostaria de cinco voltas completas ao redor do campo, depois, uma boa
aterrissagem aqui de cada um de vocês. Cuidado com as poças e lembrem de se
inclinar contra o vento sempre que possível. Use-o a seu favor. Cinco pontos
para quem voltar primeiro." E com quase nenhum aviso, a bruxa de cabelo
prateado soprou seu apito com força.

Remus e Lily, os dois únicos nascidos trouxas da classe, foram os últimos a


sair do chão. Uma vez que a ruiva estava no ar, entretanto, disparou adiante
com facilidade.

"Um pouco mais alto, Lupin! Vamos lá!" Hooch ribombou de baixo, gritando
através de um megafone. Ele queria ignorá-la, mas não havia como escapar -
pelo menos em St. Edmund's, quando era obrigado a fazer corridas de trilha,
dava pra se esconder em um canto e fugir para cidade pela tarde.

Ele se empurrou mais alto, tentando olhar para frente e não para baixo;
tentando pensar em outra coisa senão no espaço vazio entre ele e o solo. Ele
podia ver a trança vermelha brilhante de Lily à frente como o rabo de uma
raposa, o cabelo loiro de Peter em algum lugar no meio do grupo. Embora ele
não pudesse ver muito à frente, ele sabia que James e Sirius estavam quase
pescoço a pescoço. Remus apenas avançou sem animação, não querendo ir
mais rápido. Quem se importava se ele fosse o último, pelo menos não
quebraria o pescoço ao chegar lá. Ao dobrar uma curva no final do campo, o
vento realmente o atingiu e ele tentou não desacelerar muito, inclinando-se
para a frente. Estava muito frio e o ar cinzento da manhã batia em seu rosto. A
segunda volta foi tão ruim quanto a primeira. No terceiro, ele notou que James
circulava cada uma das torres das arquibancadas vazias, apesar das
advertências de Madame Hooch. Na quarta volta, Remus teve companhia.

"Se divertindo?" Sirius sorriu, voando junto dele. Ele parecia tão confortável,
como se pudesse levantar as duas mãos sobre a cabeça, girar de cabeça para
baixo e voar para trás sem nenhum problema.

"O que você está fazendo?" Remus franziu a testa, tentando ignorá-lo.
"Tentando perder?"

"James vai ganhar," Sirius deu de ombros, "É melhor deixar ele ter seu
momento. Pensei em te fazer companhia."

"Por quê?!" Remus respondeu, com os dentes cerrados.


"Achei que você gostaria," Remus não precisava olhar para ele para saber que
ele estava sorrindo; aquele sorriso irritante de Sirius Black. "Além disso,
estamos prestes a pousar e eu sei que você odeia pousar."

"Se manda daqui."

"Não."

"Eu estou te avisando, Black..."

"Você não pode me socar aqui, Lupin, a menos que queira soltar sua vassoura."

"Deus, você é irritante."

"Sou." Sirius voou a frente dele, então ao seu redor, fazendo um círculo
perfeito.

"Se manda." Remus tentou se esquivar dele, oscilando perigosamente.

"Hora de pousar ... lembre-se de esticar as pernas e inclinar-se para trás ...
depois, dobre os joelhos ao bater no ... ei!"

Remus agarrou a cauda da vassoura de Sirius e deu um puxão forte. Rindo,


Sirius se endireitou, e voou de volta para o lado de Remus e deu-lhe um forte
empurrão. Remus tremeu, mas segurou firme, fazendo sua descida. Muito mais
suave que a anterior, ele se inclinou para trás, então se virou rapidamente para
empurrar Sirius novamente.

"Fora do meu caminho!" Ele gritou, indo mais rápido, "Você vai ser o último a
chegar ao menos uma vez!"

"Ah não, não vou mesmo!" Sirius agarrou a cauda da vassoura de Remus,
rindo e deu puxão para trás. Agora talvez tinham ido longe demais, já que
estavam ambos muito perto do chão. Os dois garotos trombaram um com o
outro, as vassouras voando longe por de baixo deles enquanto caíam numa
grande poça lamacenta, derrapando e rolando, encharcando suas vestes no
processo.

"Black! Lupin!" Madame Hooch marchou até os dois meninos esparramados


na lama.

Os outros grifinórios se reuniram, rindo e apontando. Sirius saltou de pé com


toda a graça que sua nobreza o abençoou, e puxou Lupin bruscamente pela
mão. Ambos olharam para a professora, piscando as gotas de água de seus
olhos.

"O que eu disse sobre tomar cuidado com a poça?" Madame Hooch ergueu
uma sobrancelha, entretida. Ela geralmente via a diversão nas coisas. "Um
ponto de cada um da Grifinória. É melhor você irem se lavar no chuveiro.
Podem ir."

Os dois cambalearam em direção aos vestiários de quadribol, segurando suas


vestes pesadas e encharcadas.

"Malditas vestes ridículas." Remus resmungou quando eles entraram no


pequeno prédio de pedra. "Como é que vamos secar elas?"

"Os elfos domésticos vão cuidar delas." Sirius respondeu, sacudindo as suas e
jogando as em uma pilha no canto.

Remus não se incomodou em perguntar o que diabos eram os elfos domésticos.


Tirou suas próprias vestes e chutou suas botas, e entrou em um chuveiro para
continuar a se despir. Já havia toalhas dispostas, e a água estava deliciosamente
quente. Se inclinou para a frente na ducha, deixando-a aquecer seu sangue,
observando a lama e as folhas de grama caindo pelo ralo. Pelo menos se livrara
de mais quarenta minutos voando.

Ele esfregou a cabeça com força. Sem os cortes mensais da Matrona, seu
cabelo estava ficando macio e mais comprido, espetado para cima na maior
parte do tempo, tão bagunçado quanto o de James. Ele finalmente conseguiu
ver a cor, mas ficou desapontado - parecia ser um marrom claro sem graça.

Remus terminou o banho antes de Sirius e saiu, procurando seu uniforme


rapidamente. Ele estava meio vestido quando Sirius finalmente apareceu, seu
cabelo comprido penteado para trás, molhado e brilhando como óleo. Já estava
vestido e parecia impossivelmente descolado e crescido. Remus percebeu que
esquecera um botão da sua camisa e começou tudo de novo.

"O que é isso?!" Sirius disse, de repente. Remus olhou para cima e depois para
baixo. Sirius estava apontando para uma longa faixa prateada que se estendia
da sua clavícula esquerda a seu mamilo direito. Ele se atrapalhou com os
botões, tentando fechar a camisa mais rápido.

"Uma cicatriz." Murmurou. Não adiantava dizer mais nada agora. Ele mal as
notava. Simplesmente estavam lá, tão parte dele quanto suas sardas ou os pelos
finos de seus braços.
"É ... isso aconteceu com você em casa? Onde você cresceu?"

Havia algo estranho na voz de Sirius. Remus descobriu que não conseguia
falar, então ele apenas balançou a cabeça. Sirius acenou com a cabeça também.
"Eu tenho cicatrizes." Ele disse, tão baixinho que Remus achou ter escutado
errado a princípio.

Sirius se abaixou e puxou a perna da calça, virando o tornozelo para mostrar a


Remus as marcas ali. Suas cicatrizes não eram como as de Remus - que eram
grandes, ásperas e denteadas, cheias de raiva e fome. As listras prateadas na
panturrilha de Sirius eram finas e retas; uniforme em sua crueldade. Remus
olhou por alguns segundos, antes de Sirius soltar a borda do tecido e se
endireitar.

Eles se encararam por um minuto inteiro. Remus se sentindo muito quente, os


olhos de Sirius frios e calmos. Então se quebrou.

"Vamos assistir James fazendo papel de idiota?" Sirius perguntou.

Remus acenou com a cabeça novamente, e os dois voltaram para o ar frio do


outono. Eles se sentaram nos bancos duros das arquibancadas de espectadores
e assistiram o resto da turma voar para frente e para trás pelo campo, as vestes
vermelhas esvoaçando. Lily, embora não tivesse a técnica formal de James,
estava fazendo com que ele comesse poeira quando se tratava de velocidade, e
o venceu em duas de três corridas entre os postes do gol.

"Remus?" Sirius disse, de repente, ao passo que os colegas voltavam para o


pouso final.

"Sim?"

"Você não sabe ler, não é?"

Remus suspirou. Ele já tinha segredos suficientes para esconder. E Sirius


compartilhara um dos seus.

"Nah."

"Não vou contar a ninguém."

"Valeu."

Aquele sorriso típico de Sirius Black.


10. Primeiro Ano
História

Sábado, 23 de outubro de 1971

"Nunca te ensinaram?"

Remus deu de ombros, cansado e frustrado. Era uma semana depois da aula de
voo, e Sirius o encurralou sozinho novamente. Estava sentado em sua cama,
bem feliz, folheando uma das revistas de quadribol de James - gostava das
imagens em movimento, mesmo que ainda não entendesse as regras do jogo, e
eram a coisa mais próxima de televisão que tinham em Hogwarts.

"Me ensinaram." Respondeu, virando a página, na esperança que Sirius


pegasse a dica e se mandasse. Ele não pegou. "Tentaram me ensinar." Repetiu.
"Eu só não consegui aprender direito. Quando eu olho para as palavras, acho
que não vejo o que todo mundo vê. Nada faz sentido, as letras ficam pulando e
mudando. Os professores falavam que eu simplesmente era estúpido."

Ninguém fazia muito rebuliço sobre seus problemas escolares em St


Edumund's. Os meninos mal recebiam dever de casa, sabiam que eles não
iriam fazê-los de qualquer jeito. Muitos outros também tinham problemas; não
podiam ou não queriam ser ensinados. Mas não era como se alguém esperasse
muito deles de qualquer maneira.

"Mas como você tem feito?" Sirius era como um cachorro perseguindo o
próprio rabo.

"Feito o que?!"

"Bem... tudo! Todo o seu trabalho, aqui, em Hogwarts."

Remus o olhou como se ele fosse o estúpido entre os dois.

"Sirius, eu não tenho feito nada. Caso você não tenha notado, estou na
detenção todas as noites."

"Bem, sim, obviamente," Sirius acenou com a mão, "Mas outro dia, em
Poções, eu vi você - você não fez nenhuma anotação, nem mesmo olhou para o
livro, ou a lousa, e ainda preparou todos os ingredientes para a cura de
furúnculos perfeitamente - Slughorn deu a você cinco pontos!"

Remus sentiu-se corar com a memória. Ele não estava acostumado a receber
elogios dos professores.

"Ah, aquilo foi fácil", ele balançou a cabeça, "Sluggy nos explicou como fazer
na aula anterior, eu só lembrei."

"Maldição, você deve ter uma memória brilhante então."

Remus encolheu os ombros. Ele supôs que era verdade. Seus professores em
St. Edmund's haviam observado mais de uma vez que ele sabia uma
quantidade de palavras muito grande para alguém de tão pouca educação.

Sirius estava olhando para o nada agora, claramente imerso em pensamentos -


Remus podia praticamente ver as engrenagens em sua mente trabalhando. Às
vezes Sirius era um livro totalmente fechado. Outras vezes, ele era tão fácil de
ler que era quase engraçado.

"Se você pudesse ler, seria tão bom quanto eu e James. Melhor,
provavelmente."

Remus bufou.

"Tão modesto, Black."

"Bem, você seria!" O sarcasmo passou despercebido por Sirius, ainda


parecendo pensativo, "Seu jeito com a varinha é muito mais natural, e se sua
memória for tão boa quanto você diz que é ..." Ele mordeu o lábio, "Aposto
que há um feitiço para isso."

Remus riu.

"Você vai me curar com um feitiço?"

"Por que não?"


Remus já havia pensado sobre; claro que havia. Mas ele estava mais ciente das
limitações da magia do que qualquer um. Afinal, ele tinha cicatrizes que não
curavam e um pesadelo mensal que ninguém conseguia evitar.

"Magia não pode consertar coisas desse tipo." Ele respondeu sem rodeios. "Por
que mais James usa óculos?"

"Acho que existem feitiços para a visão." Sirius disse: "Talvez eles
simplesmente não valham o esforço, ou sejam muito perigosos, ou
complicados ou algo assim."

"Não é apenas a leitura," Remus rebateu, "Minha escrita é uma porcaria


também; sou muito lento e fica tudo bagunçado."

"Definitivamente existem feitiços para isso." Sirius disse, confiante, "Você


pode enfeitiçar sua pena, eu vi meu pai fazer isso em documentos oficiais. A
caligrafia dele é bem garranchosa, normalmente. "

Remus estava perdido. Sirius claramente não iria desistir. Ele mordeu o lábio.

"Por que você está tão interessado, afinal?"

"Você é meu companheiro Maroto! Não podemos ter você na detenção todos
os dias, e se os sonserinos contra-atacarem? Precisamos da sua mente maligna
para as pegadinhas. " Seus olhos brilharam. "Falando nisso, estou assumindo
que você ainda não fez sua lição de casa de história?"

"Não."

"Ok então, vamos começar." Sirius pulou da cama e começou a revirar seu baú.

"Não. Você não vai fazer minha lição de casa para mim. " Remus protestou,
levantando-se e cruzando os braços.

"Mas é óbvio que eu não vou." Sirius respondeu, puxando um livro pesado.
Era A História da Magia; Remus reconheceu o tamanho e a forma. "Eu só
queria refrescar minha memória, só isso. Então, vou sentar aqui e ler em voz
alta - porque isso me ajuda a estudar - e se acontecer de você reter um pouco
do que eu falar no seu cérebro enorme, então não há muito que eu possa fazer a
respeito. "

Remus bufou.
"Você não tem nada melhor para fazer? Onde está James, afinal?"

"Assistindo ao treino de quadribol da Grifinória," Sirius se acomodou em sua


cama, abrindo o livro. "Ele quer entrar na equipe ano que vem, então está
tentando pegar algumas dicas. Peter o seguiu, obviamente. Agora, fique quieto,
por favor, estou tentando estudar." Ele pigarreou. "Uma história da magia, de
Bathilda Bagshot. Capítulo um, Egito Antigo; os direitos e rituais de Imhotep
..."

E ele continuou. E falou, e falou. Remus ficou em pé por um tempo, tentando


decidir se deveria ou não simplesmente sair da sala e bater à porta. Mas ele
descobriu que realmente não estava tão bravo - era difícil ficar bravo com
Sirius, não importa o quão irritante ele fosse. Então Remus se sentou e ouviu.
Acontece que história não era tão chato, afinal, não quando você entendia o
básico. Além disso, Sirius era consideravelmente mais animado do que o
Professor Binns.

Sua voz era clara e firme, nunca tropeçando nas palavras ou frases mais
complicadas, como se ele tivesse lido o livro uma centena de vezes. Remus
uma vez o ouviu dizendo a James que era fluente em latim e grego - a família
Black aparentemente se orgulhava desse tipo de coisa.

Assim ele prosseguiu, capítulo após capítulo, dos sangrentos feitiços de


ressurreição egípcios aos crípticos oráculos gregos e às mágicas sacerdotisas
mesopotâmicas. O mundo antigo se abriu na mente de Remus, e ele se viu
deitado na cama, com os braços atrás da cabeça e os olhos fechados, deixando
Sirius guiá-lo no tempo.

Eventualmente, a voz do outro garoto estava quase rouca, e ele falava quase
sussurrando. A noite começara a cair em torno deles, e a sala comum fora
banhada num laranja dourado quando o sol se pôs. Na metade do 'capítulo
cinco; Tibério e os avanços da magia de batalha romana' Sirius soltou uma
tosse baixa e largou o livro.

"Eu não acho que consigo estudar mais hoje," ele resmungou.

Os olhos de Remus se abriram. Ele se sentou, piscando.

"Tudo bem", disse ele, baixinho. "É hora do jantar, estou morrendo de fome."

Ambos se levantaram, espreguiçaram-se e desceram as escadas.


James e Peter estavam esperando por eles na mesa da Grifinória em seus
lugares habituais.

"Como foi o treino? “Sirius perguntou, depois de beber um copo inteiro de


suco de abóbora. Sua voz tinha voltado quase ao normal, soando só um pouco
rouca.

"Incrível" James respondeu alegremente, espetando uma salsicha com a ponta


do garfo e mergulhando em purê de batata. "Por que você não veio?"

"Lição de casa. “Sirius respondeu, derramando molho sobre seu próprio purê.

Ao terminarem o jantar, James os bombardeou com cada detalhe do jogo de


quadribol, listando todos os jogadores do time, suas forças e fraquezas,
técnicas e como ele faria para aperfeiçoá-los. Peter intervia com suas próprias
opiniões de tempos em tempos, que não diferiam muito das de James.

A sobremesa era shortcake de caramelo, que nem James Sirius nem gostavam.
Remus achou que eles eram malucos, e interpretou o desgosto deles como pura
evidência de seus esnobismos. Teria os comido se Peter não fosse tão rápido e
tivesse pegado tudo.

"Eu tenho alguns doces", o menino menor ofereceu, remexendo nos bolsos do
robe e retirando um saco marrom volumoso, "Mamãe os mandou, podem
pegar."

"Valeu, Pete!" Eles caíram dentro, mastigando seu caminho através de


varinhas de alcaçuz, sapos de chocolate e feijõezinhos que mudam o sabor
alegremente. Remus se serviu de alguns também, até que todos se sentiram um
pouco enjoados.

"Qual lição você estava fazendo?" James perguntou, coçando o queixo,


distraído, "Achei que já tínhamos terminado tudo dessa semana."

"Ah, hum, eu estava meio atrasado em história. Tive que voltar e revisar um
negócio."

Sirius estava se coçando também, perto da clavícula.

Ver eles começaram a dar coceira em Remus também. A parte de trás da sua
mão fazia cócegas como se um inseto estivesse rastejando por ela. Ele de
repente pensou no pó de coceira e olhou para baixo.

Ele quase gritou. Nas costas de sua mão crescia uma pelagem escura, em ritmo
alarmante. Ele estava se transformando! Não era nem perto da lua cheia - como
isso podia estar acontecendo. Ele se levantou tão rápido que quase caiu para
trás. Tinha que sair dali - rápido!

"O que foi, Lupin? “James olhou para ele, assustado.

Remus o olhou de volta e então para Sirius. Ambos estavam crescendo cabelo
também - tufos escuros brotando de seus rostos, mãos e braços - cada
pedacinho de pele exposta. Ele ficou boquiaberto, sem palavras. Passou a
língua pelos dentes - não estavam crescendo.

"Ah, maldição..." James disse, olhando para si mesmo, depois para os outros
dois meninos, "O que está acontecendo?!"

"Peter," Sirius rosnou, seu rosto agora quase coberto de pelos, “Tem certeza
que sua mãe mandou aqueles doces?"

Peter, que ainda não tinha comido nenhum doce, olhou para os dois e ficou
vermelho, gaguejando.

"Bem, quero dizer ... pensei que fossem dela ... chegaram esta manhã ..."

"Pete!" James rugiu. As pessoas estavam olhando para eles, agora, virando-se
e cutucando umas às outras. Logo, todo o refeitório estava sussurrando e
apontando para os três garotos incrivelmente peludos na mesa da Grifinória.

Muitas pessoas estavam dando risadinhas também, mas é claro que ninguém
estava rindo mais alto do que Severus Snape, nos bancos da Sonserina.

"Vamos," Sirius se levantou, erguendo o nariz peludo com um ar de dignidade


aristocrática nada menos que hilário, "Vamos para a ala hospitalar. Podemos
planejar nossa vingança mais tarde. "

Enquanto eles partiam às gargalhadas do resto do grande salão, Remus se


encolheu de vergonha, cobrindo o rosto com as mãos. Cada centímetro dele
agora estava coberto com o mesmo pelo preto brilhante. Ele não achou tão
engraçado quanto James e Sirius acharam.

"Eu disse que eles iam contra atacar," Sirius murmurou.


11. Primeiro Ano
Aniversários, Livros e os Beatles

Felizmente, Madame Pomfrey foi capaz de desfazer o feitiço com alguns


movimentos de sua varinha. Mais ainda lhes deu um sermão sobre o uso
indevido de magia perigosa.

"Como se quiséssemos ficar parecidos com o pé-grande!" James reclamou


enquanto eles saíam da ala hospitalar, a pele ainda latejando por causa do
crescimento do pelos.

"Deve ter sido o Severus. Ele jogou uma de suas poções nos doces, eu tenho
certeza" Sirius ferveu.

"Sim, todos nós sabemos disso, cara." James respondeu: "Não se preocupe,
vamos pega-lo."

"Eu sinto muito!" Peter gemeu, pela centésima vez. "Eu realmente pensei que
eles vieram da minha mãe!"

"Está tudo bem, Peter," James deu um tapinha em seu ombro, "Só queria que
você tivesse nos dado segunda-feira de manhã, então poderíamos ter pelo
menos faltado a aula de Transfiguração."

"Eu exijo vingança!" Sirius gritou, erguendo sua varinha dramaticamente.


Remus riu, James também.

"E você a terá!" Ele respondeu, empurrando os óculos mais para cima,
"Paciência é uma virtude, Black. Uma vingança como essa leva tempo. Não
acho que você tenha outras ideias brilhantes, não é Remus?"

"Desculpe," Remus balançou a cabeça. Seu coração ainda batendo forte com o
terror. Se tivesse visto Snape naquele momento, teria o estrangulado; não
simplesmente pensado em pregar uma peça nele.

"Eu vou te ajudar, James," Peter saltou, "Eu farei qualquer coisa, eu não terei
medo desta vez, eu vou ..."
Eles estavam quase virando a esquina que levava à torre da Grifinória quando
alguém atrás deles chamou.

"Sirius."

Todos os quatro meninos se viraram. Sirius fez um pequeno ruído chocado.


Era Bellatrix Black.

"O que você quer?" Ele perguntou, olhando para baixo e arrastando os sapatos
no chão de pedra. Era a postura mais não-Sirius imaginável, Remus pensou.
Ele também notou que James deu um passo à frente, ficando ombro a ombro
com seu amigo.

"Venha aqui e fale comigo de maneira adequada.'' A bruxa do sétimo ano


rebateu em resposta.

Sirius não se moveu. Bellatrix retirou sua varinha - Remus ficou chocado e,
pela primeira vez desde que estivera em Hogwarts, ele se sentiu assustado.

"Venha aqui", disse ela em voz baixa, "ou eu farei você vir. E não será com um
feitiço infantil de crescimento de cabelo, eu juro. "

Sirius avançou, balançando a cabeça para James, que tentou segui-lo. Todos
eles observaram os primos falando em voz baixa no final do corredor por
longos e desconfortáveis minutos. Sirius mal ergueu os olhos do chão durante
todo o tempo. Finalmente, ela afagou a cabeça dele, depois girou e saiu. Todos
eles respiraram, aliviados enquanto Sirius voltava, trêmulo.

Em silêncio, todos entraram pelo buraco do retrato e se sentaram no sofá de


sempre.

"Tudo bem, Sirius?" James perguntou primeiro.

"Sim." Ele acenou com a cabeça, parecendo mais pálido do que o normal, "Ela
hmm ... ela queria me convidar para um chá. No meu aniversário. Acho que
minha mãe deve ter obrigado ela, provavelmente fez uma reunião de família
para tentar me colocar no eixo de novo. "

"Só porque você está em uma casa diferente?"

"E pelos amigos que eu tenho", ele sorriu para todos eles.

"Então, quando é o seu aniversário?"


"Daqui duas semanas. No dia três. Eu tenho que ir para este chá, sabe, Bella
não está brincando sobre saber algumas maldições realmente ruins. "

"Faremos algo depois, então. Algo bom, certo? "

Peter e Remus assentiram com entusiasmo, mas no fundo da mente de Remus


ele se lembrou que dia três era a noite de lua cheia.

***

Sirius fez doze anos e Remus não estava lá para comemorar, embora ele
achasse que ninguém se importava. Afinal de contas, James era o melhor
amigo de Sirius, e Peter ainda gostava de pensar que James também pertencia
um pouco a ele. Então Remus seria o único de fora, mesmo se ele não estivesse
trancado em uma cabana enquanto tenta se matar. Madame Pompfrey o fez
experimentar uma poção para dormir desta vez, antes que a lua estivesse
nascendo, mas aparentemente não surtiu nenhum efeito. O que foi pior desta
vez, foi ele ter conseguido fazer sua maior cicatriz até agora - bem nas costas.

Pomfrey o fez ficar na ala hospitalar o dia seguinte de manhã a noite, o que foi
realmente conveniente - significava que ele poderia simplesmente dizer aos
seus amigos que havia ficado doente repentinamente. Eles ainda ficaram um
pouco confusos sobre o porquê de ele não ter contado nada sobre estar se
sentindo mal antes, mas aceitaram a explicação. Provavelmente já achavam
Remus bem estranho, e agora aceitavam praticamente qualquer coisa que ele
dizia.

Ele não teria gostado do aniversário. James conversou com Madame Hooch e
organizou uma sessão de voo na hora do almoço para os três. Depois do jantar,
antes que Sirius tivesse que ir se trocar para o chá com seus primos, James e
Peter lideraram a mesa da Grifinória em uma rodada de 'Parabéns para você',
seguida por 'Sirius é um bom companheiro'. De acordo o que Remus ouviu dos
alunos depois, eles continuavam voltando para o início da música
repetidamente, ficando mais alto a cada minuto, até que a Professora
McGonagall teve que ameaçá-los com detenção se eles não parassem.

À medida que novembro avançava, os dias ficavam mais curtos e o castelo


mais escuro. Eles passavam menos tempo fora, e mais tempo amontoados perto
do fogo na sala comunal, jogando cartas e planejando vingança contra Snape.
O primeiro semestre estava chegando ao fim e os professores pareciam estar
passando mais lição de casa do que nunca.
Sempre que Sirius e Remus estavam longe de Peter e James (geralmente
quando os outros dois estavam na biblioteca), o outro menino lia para ele. Eles
terminaram A História da Magia em pouco menos de duas semanas e, em
seguida, alternaram entre o Guia do Iniciante para
Transfiguração e Rascunhos de Poções Mágicas pelo resto do semestre.
Quando os marotos faziam sua lição de casa em grupo, Sirius até começou a
ler em voz alta, como se para si mesmo, alegando que o ajudava a pensar. O
que causava o aborrecimento de James, que preferia o silêncio.

Embora eles não pudessem cobrir toda a matéria em tão pouco tempo, para o
espanto de todos (incluindo os dele mesmo), as notas de Remus estavam
melhorando em um ritmo surpreendente. Sirius aparentemente teve a ideia
certa; A capacidade de Remus de reter e lembrar informações era notável, e ele
se viu levantando a mão nas aulas pela primeira vez na vida.

As notas de Sirius, por outro lado, começaram a cair. Ele passou tanto tempo
tentando secretamente ajudar Remus, que aparentemente não fez mais
nenhuma das leituras extras que tanto havia se vangloriado. Desta forma, seu
próprio dever de casa tornou-se mediano, aceitável e ficou para trás de James
pela primeira vez. James estava alheio, é claro, e apenas presumiu que era ele
quem estava melhorando.

"Mas você passa tanto tempo na biblioteca!" Remus sussurrou para ele uma
vez, depois que Sirius recebeu uma nota 'Aceitável' em sua redação de Feitiços.
"Achei que você estava estudando." O próprio Remus ainda não tivera
coragem de visitar a biblioteca. A ideia de todos aqueles livros o horrorizava.

"Estou estudando", Sirius respondeu alegremente, "Só não essas coisas", ele
dobrou a redação, "Estou procurando feitiços de interpretação cognitiva - você
sabe, para que possa ler sozinho. É realmente complicado, nível N.O.M.s, na
verdade, mas acho que quase consegui. Não se preocupe, Lupin, não é como se
eu estivesse falhando. Isso é muito mais interessante, de qualquer maneira. "

Remus se sentia terrivelmente culpado, é claro, bem como um pouco


envergonhado por Sirius estar se dedicando tanto tempo para ajudá-lo. Ele
honestamente não conseguia se lembrar de uma época em sua vida em que
alguém tivesse se esforçado tanto por ele. Isso o fez desejar poder fazer algo -
qualquer coisa em troca. Mas, além de ter uma família difícil, Sirius Black
parecia não querer absolutamente nada.

Na verdade, havia uma coisa que Remus poderia dar a Sirius que nem mesmo
James poderia - mas dificilmente valeria a pena mencionar. Algo que Sirius
chamou de "percepção trouxa". Tudo começou quando Remus finalmente criou
coragem para perguntar sobre sua coleção de discos. Sirius estava muito feliz
em compartilhar; além de sua vassoura de corrida, que ainda estava em casa,
seus álbuns eram seus bens mais queridos.

Remus podia ver facilmente o porquê - ele tinha Introducing The Beatles, A
Hard Day's Night e Help!, bem como Abbey Road; Beggars Banquet e Sticky
Fingers ("Mick Jagger deve ser o trouxa mais legal que eu já vi", disse Sirius),
dois álbuns do Led Zeppelin - Remus não os tinha ouvido antes, mas os
meninos mais velhos em St. Edmund's eram todos obcecados - e um LP de
Simon e Garfunkle, escondido atrás.

Bruxos, no fim das contas, geralmente não escutavam muito música trouxa.
Todos os discos de Sirius foram dados a ele por sua prima, Andrômeda, que
aparentemente foi a primeira "ovelha negra" da família Black, tendo terminado
a escola alguns anos antes e se casado com uma trouxa.

"Eu quase nunca a vejo," Sirius explicou, "Não desde o casamento, mas ela os
manda para mim de vez em quando. Ela os envia pelo correio trouxa, para que
mamãe não descubra - ela não entende como funciona o correio. "

Portanto, embora ele tivesse uma coleção impressionante para os padrões de


qualquer criança de onze anos, as paixões musicais de Sirius existiam quase
inteiramente em uma bolha. Ele não conhecia nenhuma outra música dos
Beatles além das que já tinha ouvido, gravadas em vinil. Nunca havia ouvido a
rádio, ou assistido Top of the Pops, ou mesmo aberto uma cópia da NME antes.
Dessa forma, ele achava Remus infinitamente fascinante quando o assunto era
música e cultura trouxa.

"Mas você realmente os viu!" Ele disse, maravilhado: "Você os viu se


apresentando."

"Não na vida real, nem nada," Remus respondeu, desconfortável.

"Não, eu sei, no telefone," Sirius assentiu sabiamente. Remus sufocou uma


risada.

"Na televisão." Ele corrigiu. "É mais parecido com aquelas pinturas em
movimento que vocês têm. Apenas preto e branco. E só os Beatles - os Stones
tocaram uma vez e a Matrona nos fez desligar, por causa do cabelo deles. "

"O que tem o cabelo deles?"


"São muito compridos" Remus deu de ombros, "Ela disse que eles pareciam
sujos."

"Meu cabelo está muito comprido", disse Sirius, franzindo a testa.

"Sim é. Mas garotos trouxas não têm cabelo comprido, normalmente não. "

"Não diga isso a ele!" Peter brincou: "Ele vai raspar a cabeça." Ele jogou uma
pedra no tabuleiro no chão - eles estavam jogando um jogo chato nos últimos
dias, tentando ensinar as regras a Remus. Ele rolou em uma das pedrinhas e
acertou a de Sirius, que caiu para fora do ringue, imediatamente esguichando
um líquido de cheiro nojento, que Sirius mal desviou a tempo. Peter sorriu,
"Ha, toma isso, fã de trouxas!"

Sirius xingou alto e saiu para trocar de roupa.


12. Primeiro Ano
Natal de 1971

"Lupin, talvez você possa me dizer - quais são as propriedades transfigurativas


do lapis philosophorum?" McGonagall o chamou, no final da aula um dia.
Direcionou lhe um olhar muito penetrante - a última vez que ela o fez uma
pergunta na frente da classe, Remus deu de ombros e desviou o olhar.

"Hm ..." Remus vasculhou seu cérebro, "Bem, acho que é aquele que
transforma as coisas em ouro? Se você usar direito ... e Cleópatra, a
Alquimista, usou para transformar chumbo em prata, eu acho.''

"Correto." McGonagall parecia estar tentando mascarar sua surpresa. "Cinco


pontos para a Grifinória. E mais cinco por fazer a conexão com Cleópatra, a
Alquimista - ela não é mencionada em Transfiguração para Iniciantes, você
leu isso em seu livro de história?"

Remus assentiu, ciente de que todos estavam olhando para ele.

"Bem, excelente. Alguns dos meus alunos do terceiro ano são incapazes de
fazer referência cruzada de seus estudos assim, estou feliz em ver você se
interessando." Ela disse à classe. "E começaremos a discutir alquimia depois
do Natal. O que me lembra - com o feriado se aproximando, eu gostaria de
pedir a todos os alunos que planejam permanecer em Hogwarts que me avisem
até o final da próxima semana. Obrigado, vocês estão dispensados. "

A classe se levantou para sair. Algumas pessoas deram tapinhas nas costas de
Remus ao passarem.

"Sr. Lupin, você tem um minuto?" McGonagall disse, assim que ele estava
passando por sua mesa. Seu estômago se contorceu. Ficara duas semanas sem
uma detenção dela; deveria saber que algo estava por vir. Ele ficou parado,
enfiando as mãos nos bolsos e olhando para os pés enquanto o resto da classe
ia embora.

Finalmente, a sala de aula vazia, ela caminhou e fechou a porta (bem na cara
de James) e voltou para a sala.
"Muito bem hoje, Remus," McGonagall disse gentilmente, "Você realmente
tem se saído muito bem ultimamente."

Ele olhou para cima, surpreso. Ela riu,

"Não fique tão surpreso! Estou muito impressionada. O Professor Slughorn e o


Professor Flitwick disseram o mesmo. Queria uma palavra rápida com você
sobre o Natal. Eu falei com a Sra. Orwell - "

"Quem?!"

"A senhora que dirige St Edmund's."

"Oh, certo, a Matrona."

"Isso. Como você sabe, a lua cheia ocorrerá duas vezes em dezembro – dia
dois," (que era na próxima semana) "e trinta e um. Véspera de Ano Novo. A
Sra. Orwell tem a opinião que seria melhor você permanecer em Hogwarts
durante o Natal por esse motivo. Espero que você não esteja muito
desapontado. "

Remus deu de ombros.

"Por mim tanto faz."

A Professora McGonagall assentiu, muito séria.

"Vou adicionar o seu nome à lista, então. Vejo você na próxima semana,
Remus. "

***

James convidou Sirius e Remus para visitá-lo durante o feriado, sabendo que
nenhum dos dois teria um Natal particularmente feliz. Remus foi forçado a
recusar - mesmo se não fosse incrivelmente tímido e envergonhado de visitar a
casa de James e conhecer seus pais, ele ainda estava legalmente sob os
cuidados da autoridade local de St. Edmund e precisava da permissão por
escrito da Matrona para deixar Hogwarts.

Sirius, que teria adorado a oportunidade de passar duas semanas brincando


com James, voando com suas vassouras e comendo chocolate, também teve
que recusar. Sua família deixou bem claro que não aprovava que ele visitasse a
família Potter sob nenhuma circunstância.
"Bellatrix, aquela vadia, tem passado informações para meus pais." Ele
explicou, sombriamente: "Aparentemente, eu já os desgraciei o suficiente. Se
eu for para sua casa, só vai piorar. Desculpe cara."

Remus foi até a fim do terreno com os marotos para se despedir deles no
último dia do semestre.

"Vamos enviar corujas para vocês!" James prometeu: "Tentem bolar nosso
próximo plano de ataque a Snape!"

Remus sorriu e prometeu que tentaria. Ele esperava que as cartas que James
fosse enviar não fossem muito longas. Era o único Grifinório do primeiro ano
que ficou para trás no feriado, e voltou caminhando solitário de volta ao
castelo.

No dia seguinte, ele dormiu até tarde - algo que eles nunca tiveram permissão
de fazer em St. Edmund's. Acordou só as dez horas, quando Frank Longbottom
enfiou a cabeça pela porta.

"Vamos, Lupin, você vai perder o café da manhã assim!"

Remus gostava de Frank - ele tinha um rosto largo e amigável, e um jeito


descontraído. Ele parecia totalmente sólido e confiável, como um irmão mais
velho. Ele compreendia que Remus estava acostumado a ser um excluído e
tentou introduzi-lo sempre que possível, sem forçar muito a barra.

Depois do café da manhã, Frank desapareceu para o corujal e Remus sentou-se


carrancudo na sala comunal, sentindo as próximas duas semanas se esticarem
diante de si, vazias e solitárias. Ele considerou uma caminhada ao redor do
terreno, mas começara a chover forte. Ele tocou alguns discos de Sirius e
folheou uma pilha de revistas que alguns alunos do quarto ano haviam deixado
para trás, apenas olhando as fotos. Eram principalmente bruxas bonitas e
glamorosas e bruxos atraentes - ele supôs que fosse uma revista de moda.

Os próximos dias passaram da mesma maneira. Frank o levantaria de manhã,


ele comeria todas as suas refeições com os grifinórios restantes no Salão
Principal, mas fora isso ele ficava na dele.

Em um momento, ele ficou tão entediado que até pensou em fazer parte do
dever de casa. Estava tentando melhorar sua caligrafia, mas era quase
impossível com as penas ridículas que eram requisitadas. Ninguém o respondia
direito quando ele perguntou por que não podiam simplesmente usar canetas
esferográficas. Até os lápis seriam mais fáceis. Eventualmente ele tentou ler
um pouco, mas depois de um parágrafo do livro de herbologia, ele desistiu em
frustação. Ao invés disso, copiou alguns diagramas – Remus não se importava
em desenhar; gostava da liberdade.

Todos os dias ele caminhava ao redor do castelo por algumas horas, com seu
mapa. Os outros meninos já haviam descartado os seus, tendo aprendido todos
os locais das salas de aula depois da primeira semana mais ou menos, mas
Remus se agarrou ao dele, ainda incomodado por estar incompleto. Começou a
marcá-lo, adicionando pontos de interesse, esconderijos e as passagens secretas
que encontrou.

Passava o resto do tempo evitando professores que estavam preocupados por


ele estar sozinho. Ele não foi o único aluno que sobrou na escola, mas a
maioria dos outros estavam no sexto e no sétimo ano, e geralmente ficavam na
biblioteca revisando para os exames ou trabalhando em suas lições. Slughorn
estava dando aulas extras de Poções nas masmorras, mas Remus não havia sido
convidado e provavelmente não teria ido de qualquer maneira.

Ele praticou alguns feitiços e se divertiu por algumas horas tentando ver
quantos objetos em seu dormitório poderia levitar de uma vez. Ele fez disso
um jogo, jogando vários objetos - livros, bolinhas de gude, baralhos de cartas -
no ar, e tentando detê-los antes que caíssem no chão. Ele teve que parar com
isso, eventualmente, quando Frank bateu na porta e lhe disse irritado para
diminuir o barulho.

***

Sábado, 24 de dezembro de 1971

Na véspera de Natal, Remus acordou mais cedo do que de costume - ainda


estava bem escuro. A chuva forte batia nas grossas vidraças das janelas, o som
alto o suficiente para ecoar pelo dormitório vazio. Mas não foi isso que o
perturbou. A porta se abriu com um rangido e alguém entrou.

Sentando-se e olhando através da escuridão, Remus esperava ver Longbottom


dizendo a ele para se levantar para o café da manhã. Mas não era Frank. Era
um menino de aparência muito encharcada e desgrenhada, com cabelos longos
e rosto orgulhoso.

"Sirius!" Remus saltou da cama, muito feliz por ver seu amigo.

Sirius tirou o cabelo molhado dos olhos - ele claramente tinha estado na chuva,
tirou sua pesada capa de viagem, deixando-a cair em uma pilha no chão.
"Tudo bem, Lupin?" Ele sorriu. "Está congelando, não?" Ele apontou sua
varinha para a lareira, "Incendio."

"O que você está fazendo aqui?!"

"Já fiquei lá o bastante", disse ele simplesmente, tirando as botas, que estavam
empastadas de lama. "Discuti com papai, depois toda a família se meteu. O de
sempre. Me chamaram de traidor do sangue, a vergonha da família, et cetera, et
cetera ..." Ele desabou na cama. "Então eu fui embora."

"Uau." Remus esfregou os olhos, pasmo. "Como você chegou aqui?"

"Pó de Flu." Sirius deu de ombros, "No bar do vilarejo. Então simplesmente
andei até aqui."

"Uau." Remus repetiu.

"Estou morrendo de fome, eles me mandaram para a cama ontem à noite sem
jantar. Vamos, se vista! Café da manhã!"

McGonagall não ficou tão feliz em ver Sirius quanto Remus. Os dois garotos
tentaram sentar-se à mesa como se nada estivesse fora do normal, mas ela
apareceu ao lado deles quase imediatamente.

"Sr. Black." Ela disse, uma nota de advertência em sua voz que Remus
reconheceu de suas detenções. "Qual o significado disso?"

"Eu também senti sua falta, professora." Ele sorriu para ela.

O canto da boca da bruxa se contraiu, mas ela manteve a compostura.

"Você foi visto entrando no terreno de Hogsmeade às seis horas desta manhã.
Você se importa em se explicar melhor?"

Sirius balançou a cabeça.

"Na verdade, não, professora. Isso é praticamente tudo que há para lhe contar."

McGonagall suspirou, balançando a cabeça levemente. Ela tinha o mesmo


olhar de pena que normalmente reservava para Remus.

"Muito bem, Sr. Black. Terei que entrar em contato com seus pais, é claro,
para que eles saibam onde você está."
"Não há necessidade." Sirius respondeu, acenando com a cabeça para o bando
de corujas que acabara de entrar na sala. A maior dessas aves, uma enorme
coruja-águia imponente, deixou cair um grosso envelope vermelho no prato de
Sirius. Ele olhou para baixo e depois para McGonagall com um sorriso irônico,
"Acho que eles sabem exatamente onde estou."

Ele pegou o envelope sinistro e, sem quebrar o contato visual com


McGonagall, rasgou-o. Quase imediatamente, a carta começou a gritar. A voz
estava tão alta que encheu todo o salão, fazendo com que cabeças se virassem.
McGonagall estremeceu com o tom ensurdecedor disso. Era a voz da mãe de
Sirius.

"SIRIUS ORION BLACK", gritava, "COMO VOCÊ OUSA DESAFIAR SEU


PAI DESTA MANEIRA!" Remus tapou os ouvidos. Sirius permaneceu
perfeitamente imóvel, olhando para McGonagall, "CONSORTANDO COM
MESTIÇOS E TRAIDORES DE SANGUE! DANDO AS COSTAS À SUA
FAMÍLIA! SE SEU AVÔ ESTIVESSE VIVO, ELE TE DESERDARIA NO
MOMENTO EM QUE FOI SELECIONADO PARA ESTA CASA! VOCÊ
PERMANECERÁ NA ESCOLA ATÉ O FINAL DO ANO E PENSARÁ NA
VERGONHA E DESONRA QUE LEVOU AO SEU TÍTULO NOBRE! NÃO
ACHE QUE NÃO O DESERDARÍAMOS! VOCÊ NÃO É NOSSO ÚNICO
FILHO!"

Com isso, a carta explodiu em chamas, enrolando-se e murchando em uma


pilha de cinzas brancas como giz. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Todo mundo estava olhando.

Sirius pegou uma torrada, colocou em seu prato, então começou a colocar ovo
mexido nela, indiferente. Ele olhou para McGonagall novamente.

"Você pode mandar uma coruja para a mãe, se quiser, professora, mas duvido
que ela vá ler."

"Muito bem, Sirius," McGonagall acenou com a cabeça, "Apenas ... tente ficar
longe de problemas, está bem?" Com isso, ela caminhou rigidamente de volta
para a mesa dos professores no final do corredor.

Sirius comeu seu café da manhã em silêncio. Anos depois Remus se lembraria,
naquele momento, pensou que Sirius era o garoto mais corajoso do mundo.

***
O dia de Natal em St Edmund's costumava ser extremamente barulhento.
Alguns meninos recebiam presentes - aqueles com parentes distantes que se
importaram o suficiente para enviar um novo suéter talvez, mas não o
suficiente para visitar - outros se contentavam com a seleção usual de doações,
que a Matrona embrulhava para eles. A obtenção de presentes era rapidamente
seguida pela troca de presentes, e muitas vezes eles passavam a manhã
trocando os itens modestos que receberam. Depois, eram mandados para se
arrumarem na medida do possível e então, conduzidos em uma longa fila até a
igreja, onde se sentariam durante o serviço de Natal, entediados e indiferentes.

A manhã de Natal em Hogwarts era bem mais agradável. Remus quase ficou
comovido ao descobrir que a Matrona não o havia esquecido - o correio havia
chegado durante a noite e no final de sua cama ele encontrou um cartão dela
junto a um pacote irregular que continha um saco de nozes, uma laranja e um
lata de biscoitos. Para sua surpresa, James também mandou um presente - seu
próprio conjunto de gobstones. Peter tinha até enviado uma caixa de sapos de
chocolate.

"Feliz Natal," Sirius bocejou, abrindo seus próprios presentes. Ele não havia
recebido nada de seus pais, pelo que Remus percebeu, mas não mencionou
isso. James havia enviado a ele um anuário de seu time de quadribol favorito, o
South End Scorchers, e a caixa de sapos de chocolate de Peter.

"Feliz Natal," Remus respondeu, "Eu não comprei presentes para ninguém,"
ele admitiu culpado. "Eu não sabia que eles iriam..."

"Não se preocupe com isso," Sirius respondeu, a caminho do banheiro,


"Ninguém esperava que você comprasse nada."

Isso perturbou Remus, mas ele tentou não pensar muito a respeito. Enquanto
Sirius estava no banheiro, outra coruja voou pela janela e deixou cair um
pacote grande, plano e quadrado em sua cama. Quando Sirius saiu e viu, seus
olhos brilharam e ele o abriu, ansioso.

Era outro álbum trouxa. A capa era preta, impressa com a imagem da silhueta
de um homem parado em frente a um grande amplificador tocando guitarra.
Ele tinha cabelo comprido e encaracolado, com as pernas separadas em uma
postura poderosa, delineado em ouro. Electric Warrior, o título berrava, T-Rex.

"Ahh, T-Rex, acho que já ouvi falar deles," disse Remus, enquanto Sirius o
virava para ler a lista de faixas.
"Coloca para tocar!" Remus encorajou, impaciente. Quem se importava com o
que a capa dizia?

Sirius o fez, deslizando o disco preto liso e colocando-o em sua vitrola. O


disco começou a girar e a sala se encheu de música - um latejar suave e
deslizante.

'Beneath the bebop moon/I wanna croon/With you-ooo...'

Eles se sentaram e ouviram em transe, parando apenas para virar para o lado B.
Assim que acabou, Sirius silenciosamente o virou e começou do início
novamente. Eles alternavam entre sentar na cama, balançando levemente com
a melodia, ou balançando a cabeça enquanto as batidas aumentavam. Eles
trocaram sorrisos entre si com os riffs mais cativantes, e se deitaram para olhar
para o teto nas faixas mais lentas e sonhadoras.

Eventualmente, na metade da segunda escuta, Frank entrou.

"Feliz Natal, rapazes - vamos, café da manhã!"

Eles se vestiram rapidamente e desceram para o refeitório. O Grande Salão


havia sido decorado de forma espalhafatosa pelos professores - cordas
brilhantes de enfeites em vermelho, verde e ouro cintilavam de cada viga,
penduradas como vinhas da selva festiva. Doze árvores enormes cintilavam
com luzes em todas as cores imagináveis e continham bugigangas do tamanho
de bolas de futebol penduradas em cada galho.

Depois do café da manhã, os meninos correram escada acima para ouvir o


álbum novamente.

A música favorita de Sirius era Jeepster - ele adorava os acordes vibrantes e


agressivos. Remus gosta mais do Monolith; era espacial e suave, as palavras
sem sentido e significativas ao mesmo tempo. O fez sentir como se estivesse
flutuando.

Pelo resto do dia eles colocaram música na sala comunal, comeram sapos de
chocolate, nozes, biscoitos e jogaram jogos barulhentos de snap explosivo. As
refeições em Hogwarts sempre foram espetaculares, e o jantar de Natal não foi
diferente. Quando a noite caiu, Remus tinha comido tanto que pensou que
nunca mais sentiria fome.

Embora ele não tenha dito isso a Sirius (que, afinal, foi forçado a fugir de casa
pela primeira - senão a última - vez), foi o melhor Natal que Remus já teve.
13. Primeiro Ano
Lectiuncula Magna

Terça-feira, 27 de dezembro de 1971

Com o fim do Boxing Day, Remus e Sirius se viram presos e perdidos


naqueles dias estranhos entre o Natal e Ano Novo, enquanto aguardavam o
retorno de seus amigos. Sirius estava ansioso para planejar sua vingança contra
Snape – agora, ele não estava mais interessado em atacar todos os sonserinos,
querendo concentrar suas energias em um único inimigo.

Remus estava inclinado a concordar. Estava furioso demais com Snape para
pensar com clareza sobre isso nas últimas semanas. Não conseguia se livrar da
sensação de que Severus tinha de alguma forma acertado o feitiço exato que
deixaria Remus mais perturbado. Não sabia exatamente como o menino
sonserino tinha conseguido - provavelmente fora apenas um palpite inteligente
- mas ele não se importou.

"Devíamos apenas pegar a capa de James, segui-lo até que ele fique sozinho e,
em seguida, dar uma surra nele." Remus rosnou, enquanto eles se sentavam na
sala comunal vazia uma noite. Ele agarrou o braço do sofá ao dizer isso,
sentindo o couro ranger sob suas mãos. A lua cheia estava se aproximando e
seu temperamento estava cada vez pior.

"Ora, ora, Lupin," Sirius repreendeu suavemente, carregando uma pilha de


livros que trouxera da biblioteca. "Você está pensando como um trouxa. Se
vamos pegá-lo, vamos pegá-lo com magia. "

"Ah não, mais livros?" Remus choramingou, enquanto Sirius se sentava ao


lado dele, um livro enorme em seus braços. Ele o abriu, e era tão grande que a
capa cobriu ambas as pernas magras.

"Sim, mais livros." Sirius respondeu, despreocupado. "Você vai amar todos
eles assim que os conhecer melhor, eu prometo."

Remus não tinha tanta certeza disso. Era verdade, ele começou a gostar
bastante de suas sessões de estudo secretas e ficou surpreso com o quanto
aprendera, mas ouvir Sirius era uma coisa - sentar-se sozinho e olhar para um
bloco de texto era outra coisa. Ainda assim, Sirius continuou prometendo a ele
que estava se aproximando de uma solução.

"Então, esse aqui é sobre o que?" Remus perguntou, conformado com seu
destino. Se Sirius estava determinado a fazer algo, havia muito pouco que
alguém pudesse fazer para impedi-lo. Você apenas tinha que segurar firme até
que tudo acabasse.

"Feitiços e azarações. Muitos deles são realmente complexos. Quer dizer,


somos bons - você, eu e James, de qualquer maneira - mas ainda acho que
devemos nos ater ao básico. Simplicidade é a chave."

"Está bem." Remus respondeu, estupidamente. Ele ainda preferia a ideia de


uma surra surpresa.

"Então, pensei que poderíamos falar qualquer ideia que passar pela nossa
cabeça, e ver se isso nos leva a alguma maldição boa." Sirius continuou, sem
se deixar abater pela relutância de Remus, "Então, eu sou muito bom em
transfiguração - tirei as melhores notas mesmo depois que você começou a
recuperar o atraso."

"Certo." Remus concordou,

"E James é um pouco melhor do que eu em Defesa Contra as Artes das Trevas
– que talvez seria útil ao lidar com um verme viscoso como o Snivellus, mas
ainda não aprendemos nenhum feitiço bom, exceto coisas para desarmar, e isso
não adianta de nada."

Ele mastigou a ponta da pena, considerando. Não era uma pena nova e deixou
uma mancha escura no lábio inferior de Sirius. Remus não disse nada. Sirius
continuou, "James é bom em voar também, obviamente, mas eu não sei como
isso vai ajudar. E há Pete ... é bom em se esgueirar e trabalho pesado, eu
suponho... "

Remus achou isso injusto. Peter nunca foi o melhor da classe como Sirius e
James, mas era perfeitamente competente, geralmente se contentando com uma
nota satisfatória. Ele não tinha a vantagem competitiva que James e Sirius
tinham, o desejo de se provar. Remus entendia isso muito bem - às vezes ser
amigo de pessoas mais inteligentes e confiantes bastava. Você conseguia um
pouco do brilho deles sem a parte da pressão.

"Pete é bom em Herbologia," Remus apontou, "E Poções."


"Ambos inúteis." Sirius encolheu os ombros, "Foi você quem surgiu com a
coisa da rosa mosqueta, e nós nunca vamos vencer Snape em Poções - odeio
admitir, mas o bastardo é bom demais. Enfim, então temos você; você
provavelmente é o melhor em Feitiços."

"Não o melhor," Remus disse, apressado, "Eu sou bom em levitação, eu acho,
mas é isso."

"Oh cale a boca, não é hora para modéstia, Lupin," Sirius acenou com a mão
impaciente, "Você aprende feitiços mais rápido do que qualquer um. Se
encontrarmos um feitiço suficientemente hediondo aqui, então conto com você
para descobrir como fazê-lo. "

Remus se contorceu. Ele odiava quando Sirius falava assim - como se Remus
fosse tão inteligente, ou tão talentoso quanto ele e James eram. Ele sabia que
não era verdade e isso o envergonhava. Ele lutou contra uma vontade repentina
de empurrar o livro grande e pesado de seus colos e ir embora.

Era apenas lua cheia, disse a si mesmo. Ele se sentia inquieto e com calor
muito perto do fogo, muito perto de Sirius, de quem ele podia sentir o cheiro
de sangue, misturado com o cheiro único de magia. Ele esperava vagamente
que o jantar fosse carne vermelha - algo em que ele pudesse sentir o gosto do
ferro.

"Tem que ser algo grande," Sirius murmurou, virando todas as páginas até o
final do livro - Remus soltou uma exclamação quando todo o peso dele bateu
em suas coxas. Sirius ignorou, passando um dedo pelo índice. "Algo muito
pior do que a coisa dos pelos."

Remus estremeceu ao pensar na brincadeira de Snape. A raiva cresceu dentro


dele novamente. Ou era fome? Ele balançou a cabeça, afastando o livro e se
levantando, fingindo que precisava se esticar. Suas juntas já doíam enquanto
seu corpo se preparava para a transformação que se aproximava.

"Não sei por que você acha que eu vou servir para alguma coisa." Remus
suspirou, bocejando agora.

"Você tem um ponto de vista trouxa." Sirius sorriu. "Como o pó de coceira.


Você pode pensar coisas que Snape nem imaginaria. "

Remus coçou a cabeça, vasculhando o cérebro.


"Não consigo pensar em nada ruim o suficiente", disse ele, "uma vez, pegamos
um balde de água e o colocamos sobre uma porta - tem que ficar um pouco
entreaberta, sabe, então a Matrona deveria passar por ela e ficar encharcada.
Exceto que não foi a Matrona quem entrou, e sim a cozinheira, e nos serviram
comida de merda por um mês. " Seu estômago roncou com a menção de
comida. "Essa é uma brincadeira bem boba, para ser honesto. Está com fome?
Já podemos descer para jantar? "

"Sim, acho que sim." Sirius fechou o livro. "Poderíamos obter um balde
facilmente, mas parece que há muita chance para erros. E eu não sei se isso iria
realmente causar medo nele do jeito que nós queremos. Somos marotos,
devemos estabelecer certos padrões."

Remus riu enquanto eles passavam pelo buraco do retrato,

"Sim, eu disse a você que era uma porcaria de ideia. Uma pena, porque o
Snivellus bem que precisa de um banho."

Sirius riu de volta. Então ele congelou e agarrou o ombro de Remus,

"Oh, um gênio! Você é um gênio de merda! "

"O que?!" Remus respondeu, chocado e um pouco irritado por ter sido
sacudido daquele jeito.

"Um bom banho! Isso é o que vamos fazer! É fácil, aposto, deve estar em um
daqueles livros ... espere aqui!" Ele desapareceu através do retrato. Remus
suspirou, faminto e esperou.

***

"Então, espere, explica de novo?" Remus sussurrou, enquanto terminavam seus


pratos. Ele usou os restos de sua batata assada para enxugar o que restava do
molho. Poderia até repetir - comia como um cavalo nas noites antes da lua
cheia. "Parece complicado."

"Não é," Sirius balançou a cabeça, "Acho que é fácil. Feitiços climáticos são
difíceis em grande escala, mas este só precisa ser uma nuvem do tamanho
deste prato." Ele tocou a porcelana à sua frente.

"Seria como o teto?" Remus perguntou, erguendo a cabeça para as vigas


encantadas. Estava chovendo, como em todo o Natal, mas o aguaceiro
desaparecia antes de chegar até eles.
"Um pouco," Sirius respondeu, "Mas menor. E sem quaisquer encantos que
estão impedindo de nos molhar."

"Mas ... ele não poderia simplesmente sair de baixo da nuvem?"

"Não se combinarmos com um feitiço de ligação!"

"Mas ... não sabemos misturar feitiços ainda. Bem, eu não sei. Você sabe?" Ele
olhou para Sirius, que estava balançando a cabeça vigorosamente,

"Sim, eu tenho praticado, para sua coisa de leitura. Não é muito difícil na
verdade; só precisa se concentrar."

"Isso é o que dizem sobre ler," Remus suspirou.

"Vamos praticar." Sirius disse, com firmeza, "Vamos praticar bastante, antes
que James e Pete voltem. Eles ficarão super impressionados. "

Não houve tempo para repetir o prato depois disso, então Remus teve que se
satisfazer com o resto de seus biscoitos de Natal enquanto Sirius procurava
feitiços de clima. Depois que ele encontrou o que queria, os dois se revezaram
para tentar, Sirius lendo as instruções várias vezes até que entendessem.

Foi a primeira vez que Remus tentou um feitiço sem que fosse demonstrado
para ele primeiro. Intimidante no começo, mas ele logo entendeu como o
movimento da varinha deveria fluir e girar, enquanto Sirius era o melhor na
pronúncia. Exigiu muita concentração, e era quase meia-noite quando qualquer
um dos dois produziu alguma coisa. Finalmente, Remus conseguiu lançar uma
pequena nuvem cinza. Saiu de sua varinha como fumaça, então pairou entre
eles por alguns momentos antes de estourar como uma bolha, deixando apenas
um leve traço de condensação.

Sirius sorriu amplamente,

"Isso vai dar certo!"

***

Sábado, 31 de dezembro de 1971

Foi difícil se livrar de Sirius na noite de lua cheia. Remus até disse que ele
estava se sentindo doente, mas o outro garoto quis acompanhá-lo até a ala
hospitalar. Por fim, conseguiu convencê-lo de que deveria ficar para trás e
continuar praticando o feitiço da nuvem de chuva.

"A gente praticamente já sabe fazer." Sirius reclamou. Era verdade, os dois
conseguiram produzir satisfatórias tempestades em miniatura - o banheiro
quase inundou no processo. Era apenas uma questão de manter a concentração
e aperfeiçoar o feitiço de ligação agora.

"Encontre outra coisa para fazer, então." Remus disparou, na metade do


caminho para fora da porta, pele arrepiada, estômago roncando. "Vejo você
amanhã."

"Como você sabe que ela vai te manter durante a noi- ?!"

Remus escapou antes de ter que responder a mais perguntas. Ele estava ficando
descuidado, pensou consigo mesmo enquanto batia na porta do escritório de
McGonagall. Eventualmente, teria que pensar em desculpas decentes para
todas as suas ausências. Eles poderiam conectar as noites em que ele
desapareceu à lua cheia - todos estudavam astronomia juntos.

A cabana estava fria, as paredes úmidas da chuva implacável lá fora. Remus


desejou ter trazido sua varinha; havia aprendido a lançar um bom feitiço de
fogo. Mas supôs que não seria bom se houvesse um fogo aceso quando
transformasse. Ele poderia queimar todo o lugar.

A transformação aconteceu mais repentinamente do que o normal. Desde que a


Madame Pomfrey disse que elas piorariam, Remus parecia perceber melhor.
Lutou para não gritar, preocupado que McGonagall ou Pomfrey pudessem
ouvi-lo no caminho para fora do túnel. Ele não precisava de mais pena.

***

Domingo, 1 de janeiro de 1972

No dia seguinte, Remus mal conseguia se levantar depois que se transformou


de volta. Ele se enrolou em um cobertor e se deitou no chão esperando
Madame Pomfrey. Cada centímetro dele doía, mais do que nunca. Sua cabeça
latejava como se um troll tivesse pisado nela. Cada dente em sua mandíbula
doía, os tendões em seus ombros pareciam ter sido esticados tanto que haviam
rompido. Ele quebrou quase todas as unhas. Haviam marcas de garras enormes
no papel de parede.
"Remus?" A voz suave da mulher veio através da porta, "Estou entrando agora,
querido."

Ele fechou os olhos, incapaz até de gemer.

"Oh", disse ela, ao entrar na sala e encontrá-lo no chão, "Uma noite ruim, não?
Talvez seja o solstício, terei que consultar meus livros. Você consegue se
levantar, Remus? " Ela tocou sua testa com as costas da mão.

Ele abriu os olhos e balançou a cabeça fracamente, pegando o braço dela e se


erguendo. Isso foi um erro. Assim que se levantou, sua cabeça girou e seu
estômago embrulhou. Ele se curvou para a frente e vomitou no chão.

"Não importa," Madame Pomfrey disse gentilmente, um braço em volta de seu


ombro trêmulo. Ela apontou a varinha para a sujeira e ela desapareceu em um
instante, "Nenhum prejuízo. Vamos levar você para algum lugar quente agora,
certo? "

Ela queria usar uma maca mágica para carregá-lo de volta para o castelo, mas
ele não suportava a vergonha disso, não importava o quão cedo fosse. Eles
voltaram, muito lentamente, até a ala hospitalar, onde ele finalmente desabou
em uma cama limpa e macia. A enfermeira continuou a mover em torno dele,
mas ele já estava caindo no sono.

Acordou sentindo-se um pouco melhor. Sua dor de cabeça havia passado, de


qualquer maneira. Ele piscou com os olhos turvos, pegando o copo d'água ao
lado dele. Alguém o pegou e o entregou. Ele bebeu avidamente, então o
abaixou, olhando para cima esperando ver Madame Pomfrey. Deu um pulo.

"Sirius!" Ele murmurou, sua garganta ainda dolorida. Deus, ele realmente tinha
uivado? Que vergonha.

"Feliz ano novo," disse Sirius, alegremente. Ele estava sentado no banquinho
de madeira colocado ali para visitantes, segurando um livro contra o peito.
"Pensei em vir te procurar quando você não estava no café da manhã. Você
está bem?"

"Sim," Remus disse, sentando-se, apressadamente, esfregando a cabeça, "Eu


hum ... eu tenho enxaquecas às vezes. Eu estou me sentindo melhor."

"Ótimo." Sirius acenou com a cabeça, "Porque eu tenho seu presente de Natal."
"Meu ... o quê?" Remus olhou para Sirius com cautela. Seus olhos azuis
estavam brilhantes e cheios de travessura.

"Desculpe pelo atraso", ele estava dizendo, "eu tive alguns ajustes de última
hora a fazer. Aqui." Ele entregou o livro. Era a cópia de Remus de A História
da Magia.

"O que...?" Remus não tinha certeza se estava apenas tendo um sonho muito
estranho. Por que Sirius estava dando a ele seu próprio livro de história?

"Abra!"

Remus fez. Ele mal tinha aberto o livro durante todo o ano, e as páginas ainda
estavam rígidas e imaculadas, exceto pela primeira página. Abaixo do título,
Sirius havia escrito algo em sua própria letra cursiva. Remus semicerrou os
olhos tentando ler, sua boca torcendo com esforço. Já estava exausto, não tinha
energia para charadas.

"Sirius," ele suspirou, "Você sabe que eu não sei-"

"Ponha a mão nele!" Sirius disse, ansioso, dando um passo à frente, "Palma
aberta contra a página - sim, assim. Agora, me dê um minuto..."

Ele retirou a varinha do bolso e passou a ponta levemente contra a têmpora de


Remus.

"Sirius, o que você está fazendo?!" Remus estava alarmado - nunca teve uma
varinha apontada para ele antes, e tinha visto Sirius explodir coisas maiores do
que sua cabeça.

"Confie em mim!" Sirius o silenciou. Uma expressão de concentração apareceu


em seu rosto. Ele respirou fundo. Remus fechou os olhos com força,
preparando-se para o pior. Pelo menos ele já estava na ala hospitalar.
“Lectiuncula magna!" Sirius disse, com força.

Remus sentiu um choque estranho, como se tivesse perdido o último degrau de


uma escada. Não doeu exatamente, e pelo menos sua cabeça ainda estava
intacta. Ele abriu os olhos e olhou para Sirius,

"O que é que foi isso?"

"Olhe para o livro!" Sirius apontou, praticamente dançando no local de


entusiasmo, "Diga-me o que está aí!"
Remus suspirou e olhou para o livro em seu colo. Era exatamente o mesmo;
uma página em branco com a caligrafia preta e grossa de Sirius ligeiramente
inclinada. Ele olhou para ele, sem saber o que deveria estar fazendo.

"Leia-o!" Sirius perguntou.

"Eu ..." Remus olhou para baixo e olhou para a primeira palavra.

'Feliz'

Uma voz em sua cabeça disse. Remus piscou em choque - ele nunca tinha
ouvido a voz antes, embora soasse como ele. Era quase como o chapéu seletor,
só que mais familiar, menos invasiva. Ele olhou novamente.

'Feliz Natal,'

A voz dizia.

'Agora você pode fazer seu próprio dever de casa. Do seu companheiro maroto
e amigo, Sirius Black.'

Remus riu. Ele olhou para Sirius, então de volta para a página. Ele abriu o livro
em uma página do meio, olhando para as palavras impressas lá:

'Durante o final do século XVI, Cornelius Agrippa fez seus maiores avanços
no campo da magia natural ...'

"Ah meu Deus!" Remus exclamou. Virou uma página novamente e leu mais. A
voz continuou, confiante. Ele sabia ler. "Meu DEUS!"

''Funcionou, então?!" Sirius perguntou, radiante.

"Sirius! Isto é ... você! ... Eu não posso ... Como?!"

"Ah, não," Sirius riu, "Não me diga que baguncei tanto seu cérebro que você
nem consegue formar uma frase coerente?"

"Obrigado." Foi tudo que Remus conseguiu dizer. Ele podia sentir seus olhos
ardendo de lágrimas, e imediatamente os esfregou com força com os punhos.
Sirius desviou o olhar, educadamente.

"Não há de que", respondeu ele, "agora você pode me ajudar a pesquisar nossa
próxima grande pegadinha."
"Nem conseguimos fazer esta ainda," Remus respondeu, fungando forte, se
recompondo. "Você tem que me mostrar como fez isso ... é ... quer dizer, deve
ser magia muito avançada."

"Mais ou menos," Sirius deu de ombros, "Tive a ideia depois do berrador da


mamãe, na verdade. Pensei que se você consegue fazer uma carta gritar com
alguém, então consegue fazer um livro ler para alguém. Manter a voz na sua
cabeça foi a parte mais difícil - eu não sabia se estava funcionando em mim ou
se eu estava apenas lendo normalmente. Funciona em qualquer livro, no
entanto. Eu acho. Não tenho certeza sobre outras coisas ainda, como rótulos ou
placas de poções, mas podemos continuar trabalhando nele..."

Remus não conseguia parar de olhar para o livro, lendo linhas aleatórias e
sorrindo para si mesmo. Ele nunca tinha estado tão feliz em sua vida.
14. Primeiro Ano
A Pegadinha

Domingo, 2 de janeiro de 1972

"Brilhante!" James exclamou, batendo a mão no balcão do banheiro,


"Completamente brilhante!"

"Você é tão inteligente!" Peter jorrou.

Os quatro estavam amontoados no pequeno banheiro compartilhado. Sirius


estava em pé na banheira, completamente vestido, segurando um guarda-chuva
sobre a cabeça, enquanto Remus apontava sua varinha para uma nuvem cinza
de tempestade pairando logo acima dele. Era uma chuva torrencial. Sirius se
arrastou para cima e para baixo na banheira, mas a nuvem permaneceu firme
acima de sua cabeça, acompanhando cada movimento seu.

James e Peter haviam voltado das férias de Natal apenas duas horas atrás, e
assim que o jantar acabou, Remus e Sirius os arrastaram escada acima para
uma demonstração.

"Lupin me deu a ideia, mas eu pesquisei os feitiços para fazer isso," Sirius
sorriu, orgulhoso, "Snape não vai ter ideia do que o atingiu!"

"Quando vamos fazer?!" James estava pulando para cima e para baixo agora,
pronto para explodir de animação. "Primeira coisa amanhã? Café da manhã?
Poções?"

"Jantar," Sirius balançou a cabeça, "Uma audiência maior."

"Sim, jantar," James acenou com a cabeça, sabiamente, como se a ideia fosse
sua. "Sério, vocês dois, estou tão orgulhoso."

"Valeu," Sirius ergueu uma sobrancelha irônica. Então ele olhou para Remus,
"Hum ... Lupin? Você provavelmente pode parar agora. Meus pés estão
ficando molhados."
"Ah!" Remus sacudiu o feitiço, vendo que ele havia produzido mais chuva do
que o tampão do ralo era capaz de suportar, e Sirius estava agora com água fria
até os tornozelos, a barra de suas vestes encharcada. "Desculpa."

"Está tudo bem," Sirius riu, saindo da banheira e puxando suas vestes, "Apenas
certifique-se de fazer o mesmo com Snape."

"Então, Lupin vai fazer este?" Perguntou James. Sirius encolheu os ombros.

"Ele é melhor nisso. Eu posso fazer também, se houver alguma interferência."

***

Segunda-feira, 3 de janeiro de 1972

O primeiro dia de aula depois do Natal foi muito estranho. James, Sirius e
Peter estavam cheios de energia nervosa, antecipando a pegadinha. Remus
estava ansioso por isso também - embora um pouco nervoso, pois era ele quem
tinha que fazê-la. Mas ele tinha outro motivo para estar animado. Seria o
primeiro dia de aula em toda a sua carreira acadêmica que ele seria capaz de
ler.

Sirius tinha mostrado a ele como executar o feitiço, e era muito difícil - no
final Remus apenas fez o outro garoto executá-lo, decidindo se dedicar a
aprender como fazê-lo sozinho mais tarde. Sua magia ainda estava um pouco
instável após a lua cheia, sujeita a se estender e 'explodir' se ele se concentrasse
muito. Não parecia uma boa ideia usar a varinha até que a lua diminuísse o
suficiente e ele tivesse mais controle.

A primeira metade do dia foi como ele esperava que fosse. Não conseguia ler a
lousa, mas Feitiços era principalmente baseado na prática, e Remus ficou
surpreso ao ver como tudo se tornava mais fácil quando ele podia apenas
consultar seu texto sem ter que se lembrar de tudo que Flitwick havia dito
sobre amuletos suavizantes. Ele foi o primeiro da classe a fazer seu tijolo
quicar - para grande consternação de Lily Evans, que geralmente era a melhor
aluna de Feitiços.

Foi à tarde, durante a aula de Poções, que as coisas começaram a dar errado.
Tudo começou com Slughorn retornando as redações sobre os doze usos do
sangue de dragão. Remus finalizara a dele antes do Natal com a ajuda de
Sirius, e os Marotos como um todo se saíram muito bem. Como de costume,
Snape obteve a nota mais alta e ganhou cinco pontos para a Sonserina. Lily foi
a segunda e ganhou um ponto para a Grifinória. Ela havia vencido Sirius
apenas por pouco.

Nada disso estava fora do comum - mas, aparentemente, a tensão da


antecipação havia sido demais para Sirius, e ele não resistiu um comentário.

"Gostaria de saber se vale a pena flertar com o Snivellus apenas por um mero
ponto para a casa." Ele resmungou alto o suficiente para que Lily e Snape
ouvissem. Lily se virou, duas manchas rosa brilhantes em suas bochechas,

"Cale a boca, Black", ela sibilou, "Ninguém gosta de um perdedor com dor de
cotovelo."

"Não estou perdendo se seu namorado deixa você copiar o trabalho dele."
Sirius sussurrou de volta, venenosamente.

"Eu não copio dele, e Severus não é meu namorado!" O rosto de Lily estava
ficando mais vermelho.

"Você está corando, Evans," Sirius sorriu, satisfeito consigo mesmo. Ele
cutucou James, "Isso não é fofo?" James riu, balançando a cabeça junto.

"Ignore eles, Lily," Snape sussurrou, sem virar a cabeça, "Eles estão apenas
com inveja."

"Inveja de quê, Snivellus?" James interveio, ainda tentando manter a voz baixa,
"Inveja de um idiota gosmento e seboso como você? Continue sonhando."

Sirius riu, satisfeito por ter atraído James. Peter riu também, para não ficar de
fora. Slughorn ainda estava alheio, agora de costas para a classe enquanto
rabiscava instruções no quadro negro.

Severus finalmente se virou em sua cadeira. Ele voltou seus olhos negros
redondos para Sirius.

"Ouvi dizer que você teve um Natal muito tranquilo, Black", disse ele, com a
voz baixa e cheia de perigo, "Sua família não suportou ficar com você por mais
do que alguns dias antes de despachá-lo de volta para a escola, estou correto?"
Seus lábios se curvaram, cruelmente, "Todas as famílias puro-sangue estão
falando sobre isso - a ovelha negra dos Black's."

Sirius cerrou os punhos, Remus viu os nós dos dedos ficando brancos.
"Cala. Sua. Boca." Sirius rosnou, sobre dentes cerrados.

"É, toma cuidado, Snape," James tinha uma carranca, "É melhor você tomar
cuidado com o que diz. Nunca se sabe o que pode acontecer."

"Isso é uma ameaça, Potter?" Snape respondeu, parecendo entediado, "Perdão


se eu não estou tremendo nas minhas botas. Vai soltar o seu Loony Lupin em
cima de mim de novo? "

Remus, que estava meio ouvindo a discussão e meio ouvindo as instruções de


Slughorn, se encolheu involuntariamente. Ele já tinha recebido esse apelido
antes. Na verdade, era impressionante que ninguém em Hogwarts tivesse o dito
ainda, especialmente quando ele sabia que tinha a reputação de ser um pouco
estranho. Todo mundo o chamava assim pelas costas?

Por reflexo, ele pegou sua varinha. Snape viu, e seu sorriso ficou ainda mais
cruel.

"Oh meu Deus, você realmente aprendeu alguma magia, Lupin? Estou
impressionado. Veja bem, ouvi dizer que eles podem treinar alguns macacos
para realizar truques básicos, então suponho que não seja uma grande
conquista."

Remus ergueu sua varinha, mas Sirius agarrou seu pulso e o empurrou para
baixo na mesa.

"Ainda não," ele murmurou.

Remus apertou a mandíbula e olhou de volta para o quadro-negro, fervendo


internamente. Snape riu e se afastou também. Remus ouviu Lily sussurrar com
raiva.

"Não há necessidade de ser tão horrível com ele!"

Remus mal conseguia se concentrar no resto da aula. Ele sabia que não deveria
se importar com o que Snape pensava dele, ou qualquer pessoa, por falar nisso.
Mas as farpas do garoto sonserino cravaram fundo e não podiam ser soltas.
Sirius não ajudou; ele continuou murmurando 'vamos mostrar a ele!' baixinho,
lançando olhares sombrios na direção de Snape.

Quando o jantar chegou, Remus estava quente de raiva e desejo de provar a si


mesmo. Não comeu nada, e era Shepherd's Pie, uma de suas favoritas. Ele
encarou Snape do outro lado do salão. Isso não passou despercebido, e Severus
cutucou os meninos ao seu redor, apontando para os marotos e rindo. Remus
achou que conseguia entender as palavras 'Loony Lupin'. James e Sirius
fizeram uma careta para eles. Lily percebeu também.

"Vocês só deixem o Sev em paz, ok?" Ela guinchou: "Esta briga estúpida vai
durar para sempre se nenhum de vocês for maduro o suficiente para-"

"Dá um tempo, Evans," James revirou os olhos, "Já é ruim você ter que ser
amigo do idiota, agora está tentando defendê-lo? Onde está sua lealdade à casa,
hein? "

"Isso não tem nada a ver com casas", ela retrucou, "É uma briga ridícula por
nada."

"Ele insultou Remus!"

"Vocês todos importunam ele o tempo todo!"

"Ele que começou!"

"Ah é, então você tem que terminar, certo, Potter?!" Ela se levantou, de
repente, pegando sua bolsa, "Deus, você é tão cheio de si!" Ela se afastou, seus
sapatos de verniz batendo com raiva no chão.

"Adora uma discussão, essa menina", James sorriu.

Houve uma gargalhada da mesa da Sonserina e Remus decidiu que já estava


farto. Ele se levantou também, puxou sua varinha e apontou para Severus.

"Ligare Pluviam!"

Foi instantâneo e perfeitamente glorioso. A nuvem de chuva disparou da


varinha de Remus com a velocidade de uma bala, de modo que ninguém pode
ver de onde ela tinha vindo. Ela descansou sobre a cabeça de Snape, grossa,
cinza e pesada. Ouviu-se um trovão baixo e o aguaceiro começou.

Ele não sabia o que estava acontecendo no início, cobrindo a cabeça com as
mãos e olhando para cima. Os alunos sentados de cada lado de Snape se
levantaram e recuaram, não querendo se molhar. Então Snape se levantou,
tentando se esquivar da nuvem, mas ela o seguiu, pairando persistentemente, a
chuva caindo.
As pessoas estavam rindo agora e apontando. Todos estavam olhando ao redor,
tentando ver quem tinha feito, mas ninguém tinha visto Remus lançar o feitiço,
exceto seus amigos. Ele se sentou, mas manteve sua varinha apontada para
Severus, sorrindo enquanto observava o garoto ainda tentando fugir da mini
tempestade.

"Sim!" Sirius sibilou em seu ouvido, "Assim mesmo, sim, Lupin, seu lindo!"

A imensa satisfação que Remus sentiu foi agravada pela risada ecoando ao seu
redor. Snape era um menino tão desagradável e rancoroso que até alguns
sonserinos pareciam satisfeitos em vê-lo receber o que merecia. Quanto mais
Remus pensava sobre isso, mais ele queria puni-lo e mais forte chovia. Na
verdade, a nuvem pareceu escurecer e aumentar.

Snape estava completamente encharcado agora, seu cabelo grudado na cabeça,


atingindo seus olhos. Sua pele estava pálida e suas vestes brilhando com água,
uma poça se formando abaixo dele. Remus sorriu enquanto observava Severus
tentar desesperadamente escapar, parecendo cada vez mais com um rato
afogado.

"Pare!" Lily estava gritando com James, "Eu sei que é você! Pare com isso
agora!"

James continuou rindo e ergueu as mãos para mostrar que não estava fazendo
nada. Lily parecia à beira das lágrimas.

Severus fez menção de correr, os braços sobre a cabeça para impedir que a
chuva o atingisse, mas suas vestes estavam tão pesadas e tão encharcadas que
ele meio tropeçou, meio escorregou e caiu no chão. Remus teria rido, mas sua
concentração se aprofundou. A chuva caiu com mais força ainda, até que ficou
difícil até mesmo ver Severus através dos lençóis cinza. A nuvem também
estava maior e estalando com trovões e relâmpagos - isso nunca tinha
acontecido quando ele praticou em Sirius. Mas então, ele não estava tão
zangado com Sirius.

"Pare! Por favor!" Lily estava chorando agora. James parou de rir. Ele tocou o
braço de Remus,

"Er ... Remus? Ele teve o suficiente, cara ... "

Snape não estava se levantando. Remus percebeu que ninguém estava mais
rindo, e algumas pessoas estavam gritando.
"FINITE." Uma voz ecoou na sala de jantar.

Imediatamente, a chuva parou. Todo mundo ficou em silêncio. Dumbledore


parou na entrada - Remus não o via desde o Halloween. Ele parecia
perfeitamente calmo, apesar do caos que acabara de acontecer. O diretor entrou
na sala, fazendo toda a água desaparecer com um aceno de sua varinha e se
curvando sobre Severus.

Remus guardou sua varinha e se encolheu em sua cadeira, observando


Dumbledore sussurrar sobre o corpo caído de Snape. Lily ainda estava
chorando e correu para ficar ao lado de Dumbledore, tremendo e assustada.

"Todos para seus dormitórios, por favor," Dumbledore falou baixinho, mas de
alguma forma foi ouvido por todos no enorme corredor, "Srta. Evans, por
favor, traga Madame Pomfrey."

Lily saiu correndo da sala e os outros alunos começaram a sair,


obedientemente. James, Sirius e Remus lançaram olhares nervosos um para o
outro antes de correrem para se juntar ao resto da casa.
15. Primeiro Ano
Consequências

A maioria dos Grifinórios estavam na sala comunal, fofocando e tagarelando,


todos se perguntando quem poderia ter feito isso. Os Marotos, geralmente
ansiosos para estar no centro de qualquer debate, se arrastaram escada acima,
pálidos de culpa.

Remus se sentou em sua cama, olhando para o chão. Ele tinha ido longe
demais; ele sabia disso. Foi bom, por um tempo, e nada poderia convencê-lo de
que Severus não merecia. Mas agora James o olhava de forma estranha, e ele
sabia que Dumbledore iria descobrir de alguma forma - se Lily não contasse a
todos assim que ela voltasse para a sala comunal.

"O que aconteceu?" James perguntou, cuidadosamente: "Você perdeu o


controle? Aquilo foi magia muito forte."

"Foi fantástico!" Sirius disse, de repente, "Ele vai pensar duas vezes antes de
cruzar nosso caminho de novo!"

"Mas ... quero dizer, não queríamos machucá-lo, não é?" James franziu a testa.

"Ele está bem, ele estava apenas fingindo, para a gente ficar encrencado."

"Será que vamos ficar encrencados?" Peter perguntou, torcendo as mãos: "Não
fomos todos nós que fizemos o feitiço, não é? Foi apenas..."

Sirius deu um tapa na nuca dele.

"Seu rato. Nós somos marotos. Um por todos e todos por um."

"O que quer que isso signifique," Peter murmurou, esfregando a cabeça e indo
se sentar em sua própria cama, amuado.

"Foi eu quem fez, vocês não deveriam se meter em problemas." Remus disse
baixinho, sem olhar para cima.
"Foi metade ideia minha!" Sirius disse, "Eu fiz a pesquisa! Não se preocupe,
Lupin, aposto qualquer coisa que ele está bem. "

"Se ele estiver," Remus disse pesadamente, "então não é graças a mim." Ele
finalmente encontrou os olhos de James. Eram de um marrom profundo e
estavam muito mais sérios do que o normal. "Eu queria machucá-lo."

James sustentou seu olhar e assentiu levemente.

Houve uma batida na porta, dissipando a tensão. Era Frank Longbottom.

"Vocês quatro devem vir ao escritório de McGonagall, agora." Ele disse,


gravemente.

Eles seguiram Frank escada abaixo e pela sala comunal, onde todos os
encaravam. Remus olhou para os pés o tempo todo, mas ouviu o burburinho se
calar enquanto eles caminhavam. Não importava o que acontecesse a seguir -
todos saberiam que eles eram os responsáveis.

McGonagall não estava sozinha. Dumbledore estava ao lado da mesa dela, as


mãos cruzadas na frente dele. Ele sorriu agradavelmente para os quatro
meninos que estavam em uma fila diante dele.

"Boa noite, senhores." Ele disse.

"Boa noite, Diretor", todos entoaram de volta.

"Acredito ser do interesse de vocês que o jovem Sr. Snape está bem – embora
seu orgulho esteja um tanto ferido."

Eles não disseram nada. Remus não olhou para cima.

"Ele parece pensar que vocês quatro tenham algo a ver com o infortúnio dele."
Dumbledore continuou, agradavelmente, como se estivesse apenas passando o
tempo. "Você em particular, Sr. Potter."

James olhou para cima, abriu a boca, então fechou novamente e olhou para
baixo. Remus não aguentou. Só tinha três amigos em todo o mundo e não iria
perdê-los agora. Ele deu um passo à frente.

"Fui eu, senhor, eu que fiz o feitiço. Ele disse algumas coisas para mim mais
cedo, e eu estava com muita raiva. Eu queria ensinar uma lição a ele". Remus
se forçou a olhar para cima, para os olhos azuis pálidos de Dumbledore. O
velho acenou com a cabeça, satisfeito. "Entendo. Você agiu sozinho?"

"Sim," Remus puxou sua varinha, "Olha, eu posso provar –"

"Não há necessidade." Dumbledore disse, apressadamente, "Eu acredito em


você, Sr. Lupin."

"Não foi só ele, senhor!" Sirius explodiu, "Eu pesquisei o feitiço, aprendi como
fazê-lo também, é igualmente minha culpa."

"Quer dizer que você planejou isso, Black?" McGonagall disse, bruscamente,
"Você planejou um ataque a outro aluno? Dez pontos da Grifinória. Cada."

Sirius olhou para baixo novamente.

"E detenção para todos vocês, por um mês." Ela continuou, "Acho muito difícil
acreditar que o Sr. Lupin aqui agiu sozinho."

Todos os quatro baixaram a cabeça.

"Podem ir, senhores." Dumbledore disse, calmamente. "Não tenho dúvidas de


que todos vão ter tempo para se desculpar com o Sr. Snape, claro."

Sirius fez um barulho indignado, e James o acotovelou com força. Eles se


viraram para sair.

"Sr. Lupin, só um momento,"

Remus congelou. Ele deveria saber que não iria se safar tão facilmente. Ficou
parado enquanto os outros saíam da sala, McGonagall os seguindo para se
certificar de que não ficassem esperando do lado de fora.

Assim que a porta se fechou, um silêncio sólido se estabeleceu. Dumbledore


não falou imediatamente e, finalmente, Remus ergueu a cabeça para encontrar
os olhos do diretor. Ele não parecia zangado ou desapontado. Tinha a
expressão agradável de sempre - tingida de curiosidade, talvez.

"O que você tem achado de Hogwarts, Remus?"

Essa não era a pergunta que ele esperava.

"Er... ok, eu acho?"


"Você parece não ter tido dificuldades em fazer amigos."

Isso não era uma pergunta de forma alguma, então ele não respondeu. Olhou
para os pés, depois para cima novamente.

"Eu vou ser expulso?" Ele perguntou. Dumbledore sorriu.

"Não, Remus, ninguém está sendo expulso. Posso ver que você lamenta o que
fez. O que me preocupa é como você fez isso. Esse foi um feitiço muito forte,
não esperava que um aluno do primeiro ano... você deve ter estado muito
zangado."

Remus concordou. Não queria dizer a Dumbledore o porquê - sobre os nomes


que Snape o chamou, ou como ele o fez se sentir estúpido, inútil e pequeno.

"Paixão é uma qualidade importante em um bruxo, Remus." Dumbledore


estava dizendo, "Direciona nossa magia, a fortalece, mas, como você aprendeu
hoje, se não tivermos controle, colocamos em risco todos ao nosso redor." Ele
parecia muito sério, seus olhos haviam perdido o brilho. "Eu não o desejo
assustar, Remus. Quando nos conhecemos, eu disse que simpatizava com você
– o fardo que você carrega é um que eu não desejaria a ninguém, mas
você deve ter mais cuidado. Você é um bruxo com talento, não o desperdice."

Remus assentiu, querendo mais do que tudo que a conversa acabasse. Ele
preferiria uma palmatória do que uma palestra. A pior parte é que Dumbledore
estava certo. Deixou que sua raiva contra Severus influenciasse o feitiço - ele
simplesmente não estava acostumado a ter esse tipo de força.

"Sinto muito, professor." Ele disse: "Sniv - quero dizer, Severus está bem?"

"Sim, ele está perfeitamente bem. Acho que ele pensou que, se simplesmente
parasse de lutar, quem quer que estivesse lançando o feitiço pararia. Ele está
seco e não vai sofrer nenhum efeito a longo prazo."

"Ah ..." Remus assentiu, "Que bom."

"Agora," Dumbledore sorriu, "Pode ir. Eu já segurei você por tempo suficiente
e tenho a sensação de que o Sr. Potter está esperando do lado de fora para que
você conte tudo a ele."

***
Dumbledore o deu muito em que pensar. E ele tinha muito tempo para isso -
McGonagall estava bem séria sobre as detenções deles, e chegou a separar os
quatro. Sirius foi encarregado de limpar caldeirões nas masmorras, Peter de
polir os troféus na sala de premiação e James de reconfigurar todos os
telescópios astronômicos da torre. Remus recebeu a pior tarefa de todas; limpar
o corujal. Claro, nenhum deles tinha permissão para usar suas varinhas e todas
as noites eles tinham que começar tudo de novo.

"Cruel e incomum, é o que é", reclamou Peter no final da primeira semana,


quando eles caíram na cama, imundos e exaustos.

"Não sei do que você está reclamando," Sirius resmungou, "Eu adoraria polir
troféus. Vai saber o que eu achei raspando poções nojentas do fundo daqueles
malditos caldeirões. "

James apenas gemeu, tirando os óculos e esfregando os olhos.

Remus não reclamou, porque achava que merecia. Ele se sentiu péssimo por
colocar todos os seus amigos em problemas, mas ainda mais terrível pelo que
havia feito. Isso só foi deixado de lado pela quantidade de leituras que ele
vinha fazendo. O feitiço de Sirius era difícil, menos intuitivo do que a magia
que estava acostumado. Sirius foi o primeiro a admitir que não era perfeito -
desvaneceu cerca de uma hora depois e teve que ser repetido. Remus dominara
o suficiente para fazê-lo sozinho, embora as vezes levasse algumas tentativas
antes de acertar.

A primeira coisa que ele fez foi visitar a biblioteca e pegar um livro
emprestado das prateleiras das criaturas mágicas.

Todas as noites, depois de fazerem o dever de casa e cumprirem as detenções,


Remus fechava as cortinas em volta da cama, acendia sua varinha e lia o
mesmo capítulo sem parar. Havia livros inteiros escritos sobre seu problema
particular, descobriu, mas estava com medo de alguém suspeitar caso ele
começasse a retirar todos eles. Além disso, não tinha certeza se queria saber
mais. As coisas que tinha lido até agora eram ruins o suficiente.

Pensava no livro quase constantemente - nas aulas, na hora das refeições,


durante a detenção. Palavras como "monstruoso", "assassino" e "a mais
sombria das criaturas" lampejavam em sua mente como letreiros em néon. Ele
sabia que era perigoso, é claro. Sabia que era diferente. Não sabia que era
odiado. Até mesmo caçado. Aparentemente, seus dentes valiam milhares em
certas partes da Europa Oriental. Sua pele valia ainda mais.
Haviam detalhes legislativos também - coisas que ele não entendia totalmente,
mas que pareciam horríveis. Leis trabalhistas, registros e restrições a viagens.
Parecia que mesmo se soubesse ler, suas perspectivas de emprego não seriam
melhores no mundo mágico do que no trouxa. Também entendeu porque
Dumbledore o disse para ter cuidado. Estava claro agora que se alguém em
Hogwarts descobrisse o que Remus era, ele poderia estar em sérios problemas -
e a expulsão seria a menor de suas preocupações.

Frustrantemente, nada do que leu foi realmente relevante para suas


experiências. Não havia nenhum relato de um bruxo realmente vivendo com a
condição; como eles conseguiram; o que esperar; se conseguiram manter um
emprego, ou até mesmo apenas evitar ferir outras pessoas. Ele presumiu que
era normal sentir o cheiro de sangue e ouvir os batimentos cardíacos - mas
como poderia ter certeza? Era normal que sua magia fosse mais forte quando a
lua estava aumentando? Às vezes pensava poder sentir o poder absoluto disso,
efervescendo em suas veias como uma poção; enchendo-o e transbordando,
estourando na ponta dos dedos. E então havia seu temperamento. Quanto disso
era ele, e quanto era o monstro?

Ele ficava acordado quase todas as noites, depois que o feitiço da leitura tinha
passado e ele estava cansado demais para lançá-lo novamente, mas inquieto
demais para dormir. Sua mente zumbia de preocupação e medo. Como tudo
parecia simples em St Edmund's. Sem mágica, sem lição de casa, sem dilemas
morais agonizantes. E, claro, sem amigos. Se alguma coisa impedia Remus de
desistir, era isso.

James, que tinha um ego do tamanho do lago, mas um coração tão grande
quanto. Peter - que, claro, era singular e um pouco alheio – mas na verdade
tinha um senso de humor perverso e podia ser infalivelmente generoso. E,
claro, Sirius. Sirius sabia guardar segredos, tinha um lado mesquinho, mas
nunca o dirigia aos amigos, era o aluno mais talentoso do ano, mas passava o
tempo todo inventando pegadinhas.

Remus não desistiria de nada disso, não se pudesse evitar. Mesmo se ele
tivesse que ser o aluno mais dedicado da escola; se tivesse que se forçar a ler
todos os livros, completar todas as tarefas, seguir todas as regras. Ele seria tão
bom que eles não saberiam o que os atingiu. Tão bom que eles teriam que
torná-lo um monitor - ele faria tudo, se isso significasse ficar em Hogwarts e
manter seus amigos.

Não havia ninguém com quem conversar sobre nenhuma dessas coisas.
Ninguém que iria entender, de qualquer maneira. Até onde Remus sabia,
apenas Dumbledore, McGonagall e Madame Pomfrey sabiam sobre sua
condição. McGonagall era muito severa para fazer perguntas como essa.
Remus ainda não tinha certeza se Dumbledore era totalmente são e, de
qualquer forma, ele não tinha ideia de como marcar um encontro com o diretor.
Então tinha que ser Madame Pomfrey, no final.

Ele esperou até a próxima lua cheia, cuja era final de janeiro. Era um domingo,
então depois do jantar ele se separou dos marotos e foi para a ala hospitalar
mais cedo do que de costume.

"Remus!" A enfermeira sorriu para ele, surpresa, "Eu não esperava você até o
anoitecer."

"Eu queria te perguntar algumas coisas", disse ele, timidamente, os olhos


correndo ao redor da sala. Havia alguns alunos deitados nas camas, a maioria
dormindo. Felizmente, Madame Pomfrey foi muito discreta.

"Certamente, devemos dar uma passada no meu escritório?"

Era muito melhor do que os outros escritórios dos professores cujo Remus
tinha visitado. As paredes estavam alinhadas com centenas de garrafas
organizadas de poções e tônicos, era claro e arejado, ela não tinha uma mesa e,
em vez de bancos de madeira, havia poltronas confortáveis de cada lado de
uma lareira.

"Como posso ajudar, querido?" Ela perguntou, sentando-se, gesticulando para


que ele fizesse o mesmo.

"Bem," ele engoliu em seco, sem saber como começar, "Eu só ... eu tinha
algumas perguntas sobre meu ... meu problema."

Ela sorriu para ele, gentilmente,

"Claro que tem, Remus, isso é perfeitamente natural. Há algo específico que
você gostaria de saber?"

"Sim. Li um pouco, sei que não tem cura nem nada."

"Ainda não", disse ela, rapidamente, "avanços estão sendo feitos o tempo
todo."

"Ah, ok. Mas, por enquanto, acho que só quero saber ... mais sobre. Não me
lembro de nada quando acordo, só que fico com muita fome."
"Você gostaria de saber mais sobre a transformação?"

"Não, não só isso. Coisas como ... isso muda quem eu sou, o resto do tempo?
Isso me faz..." Ele olhou para suas mãos, perdido. Ele não tinha certeza do que
queria dizer e havia um nó em sua garganta.

"Remus," Madame Pomfrey disse, "Esta é uma condição que você tem, não
quem você é."

"Eu fico com raiva, às vezes", disse ele, olhando para o fogo em vez de olhar
no rosto dela, "Eu fico muito, muito bravo."

"Todo mundo tem emoções, elas são perfeitamente naturais. Nós apenas
aprendemos a controlá-las, ao longo do tempo."

Ele acenou com a cabeça, absorvendo o que foi dito. Não podia contar a ela o
resto - "Quando eu transformo, está piorando. Ficando mais difícil."

"Sim", respondeu ela, solenemente, "li que pode piorar com o início da
puberdade."

"Ah ok." Remus concordou. Houve uma longa pausa. "Quão pior?"

"Eu... eu não saberia dizer. Você realmente é o primeiro que eu tratei. "

Outro silêncio. Remus não se sentia melhor do que antes; nem menos confuso.

"Você gostaria de pegar emprestado aquele livro que mencionei?"

Ele acenou com a cabeça, finalmente se forçando a olhar para ela.

***

O livro da Madame Pomfrey, Pelos à Presas: Cuidando de Meio-Humanos


Mágicos fora relativamente mais útil do que alguns dos outros que Remus
tinha lido até agora. Ainda havia muita coisa que não conseguia entender -
magia de cura avançada e receitas de poções complicadas, mais detalhes sobre
legislação - e ainda mais assustador; julgamento e perseguição legal. Por outro
lado, havia muito que já sabia; fora sido mordido e não podia morder ninguém
durante a lua cheia; prata o machucava; não havia cura.

O livro realmente dizia que, com o início da puberdade, suas transformações


aumentariam de intensidade e que ele se tornaria mais perigoso depois disso.
Não mencionou mudanças nas habilidades, mágicas ou não, e não havia nada
sólido se referindo a mudanças no humor ou temperamento.

Ele não considerou particularmente interessante ou importante saber que tinha


um focinho mais curto do que o dos lobos reais ou que sua cauda era tufada
(ele preferia não pensar em ter nenhum dos dois), mas estava contente ao
descobrir que era apenas uma ameaça para humanos - particularmente bruxos.
Aparentemente, outros animais não corriam perigo com ele – Madame Nora
estava segura, pelo menos.

Não passou despercebido que Remus se afastou dos Marotos desde o ataque a
Snape.

"Onde você esteve?" Eles perguntavam todas as noites enquanto se vestiam


para dormir.

"Dever de casa", ele dava de ombros, ou às vezes "Detenção", - embora ele não
tivesse tido outra detenção desde a pegadinha.

A verdade era que ele estava sempre o mais longe possível de outras pessoas.
Tentava deliberadamente ficar fora do quarto até a hora de dormir, e até
evitava a sala comunal. Sentia que até que fosse capaz de controlar sua magia,
seria melhor não se envolver mais nas tramas de James e Sirius. E
eles estavam tramando, sabia com certeza. Às vezes, à noite, Remus podia
ouvi-los se esgueirando para a cama um do outro, e então sussurrando
furtivamente antes de lançar um feitiço silenciador. Outras vezes, eles saíam
sorrateiramente com Peter, por baixo da capa. Sempre tentavam acordar
Remus, mas ele os ignorou.

Durante o dia, se escondia no fundo da biblioteca, ou então em um de seus


lugares secretos. Ele encontrou lugares por todo o castelo que eram pequenos o
suficiente para entrar e ficar sem ser descoberto por horas a fio. Janelas que
haviam sido fechadas com tijolos, mas ainda altas, o parapeito largo o
suficiente; câmaras pequenas e vazias como buracos de sacerdotes escondidos
atrás de tapeçarias; o banheiro feminino do quinto andar. Lá ele poderia se
sentar e ler por horas - às vezes realmente fazia dever de casa, outras vezes se
forçava a pesquisar sua condição.

Ele tinha outro motivo para se esconder. Desde o incidente, o ódio de Snape
pelos marotos havia se intensificado, e ele ia a todos os lugares com Mulciber,
usando-o como proteção pessoal. Se eles se cruzassem nos corredores, Remus
sempre tinha que estar pronto com um feitiço de proteção - Mulciber conhecia
mais azarações do que Sirius e James juntos.
Uma tarde, Remus estava mergulhado em um livro sobre magia em batalhas
antigas - havia um capítulo nele sobre os Úlfhéðnar, guerreiros-lobos
germânicos que lutaram contra os romanos. Ele estava sentado no parapeito de
uma janela bem alta e não podia ser visto do chão, a menos que alguém
estivesse realmente olhando. Escalara usando um feitiço de corda que
aprenderam algumas semanas atrás. Estava prestes a descer e ir jantar quando
fez um movimento errado e derrubou o livro pesado da borda, estremecendo
quando caiu no chão de pedra dura com um baque ensurdecedor.

"Quem está aí?!" Uma voz veio, mais adiante no corredor. Ele ouviu passos, e
com um sentimento de desespero Remus percebeu que sabia quem era.

"É só um livro." Mulciber disse, soando mal-humorado.

"Sim, mas de onde veio?" Snape respondeu, desconfiado. Mulciber bufou,

"Da biblioteca?"

Snape murmurou baixinho, parecendo exasperado. Remus pressionou o


máximo que pôde contra a parede de pedra.

"Quem está aí?" Snape chamou com sua voz anasalada e rancorosa. Silêncio.
"Homenum Revelio."

Remus sentiu uma estranha aperto no estômago e, antes que percebesse, estava
sendo puxado da borda por uma força invisível. Ele gritou, lutando por algo
para se segurar, e acabou pendurado no parapeito pelas pontas dos dedos.

Snape e Mulciber estavam rindo lá embaixo.

"Ora, ora," Snape ronronou, "Se não é Loony Lupin ... onde estão seus
amiguinhos, hein? Colocaram você aí em cima e se esqueceram? "

"Cai fora, Snape." Remus sibilou, perdendo o apoio na pedra, esperando não
quebrar os tornozelos quando finalmente caísse.

"Igniscopum!" Snape sorriu, apontando sua varinha. Uma corda fina de fogo
disparou em direção a Remus, forçando-o a chutar a parede, caindo de costas
no chão, com força.

Ele piscou, perdeu o fôlego, mas rapidamente se levantou, retirando sua


própria varinha,
"Ok," ele disse, com as costas doloridas por causa da queda, "Você me pegou.
Agora vai embora."

"Por que diabos faríamos isso?" Severus respondeu, enfrentando-o, levantando


sua varinha,

"Expeli- "

"EXPELLIARMUS" Snape rugiu, vencendo dele. Ele agarrou a varinha de


Remus, alegremente, e acrescentou, "Gelesco."

Remus sentiu seus pés se fundirem com o chão, prendendo-o no lugar. Ele
gemeu – agora estava preso. Poderia até valer a pena pedir ajuda, mas o
corredor estava silencioso e não queria parecer um covarde. Ele olhou para os
dois, desafiadoramente, apertando o queixo.

"Mulciber," Snape se virou para seu companheiro parecido com um troll, "Não
estávamos dizendo outro dia que você precisa praticar mais algumas
azarações? Acho que esta pode ser a oportunidade perfeita."

Mulciber sorriu, lambendo os lábios. Ele ergueu sua própria varinha, não tão
elegantemente quanto Severus, mas com a mesma intenção maliciosa.

"Lapidosus!"

Nada aconteceu por um momento, e Remus sentiu uma onda de alívio - antes
de repentinamente, vindo do nada, uma nuvem de pequenas pedras - como
cascalho - apareceu flutuando no ar. Pairou entre Remus e Mulciber por alguns
momentos, antes de começar a voar para o rosto de Remus, como um nado de
abelhas furiosas. Ele imediatamente ergueu os braços para se proteger, mas
Severus foi rápido demais:

"Incarcerous," disse, bocejando como se entediado. Imediatamente Remus se


viu amarrado com força por uma corda, agora quase incapaz de se mover. As
pedras não paravam de atirar-se contra ele e tudo que pôde fazer foi fechar os
olhos. Ele lutou, sabendo que não ajudaria, mas precisava fazer algo. Não
queria chorar, mesmo quando sentiu um fio de sangue quente escorrer por sua
têmpora.

"O que está acontecendo - Severus?" A voz de uma garota veio do final do
corredor.
"Finite Incantatum," Snape sussurrou, apressadamente. As pedras pararam
imediatamente, a corda desapareceu e as pernas de Remus se desprenderam,
todas de uma vez. Ele cambaleou e tropeçou para trás, encostado na parede.

Ele olhou para cima a tempo de ver Lily, sua salvadora, correndo em direção a
eles. Parou ao ver Remus, que rapidamente tentava limpar o sangue do rosto.
Ela olhou para Snape e franziu a testa,

"O que você está fazendo, Sev?"

"Nada", ele olhou para o chão, arranhando a ponta do sapato nas lajes. "Só
conversando com Lupin, não estávamos, Mulciber?"

Mulciber encolheu os ombros, de forma não convincente. Lily encarou Remus,


que desviou o olhar, envergonhado. Foi ruim o suficiente ter sido pego por
Severus, e não precisava que ela sentisse pena dele também. Pegou sua varinha
de Snape rapidamente, virou e começou a se afastar o mais rápido que podia.

"Espere! Remus!" Lily correu atrás dele. Ele não parou, mas a garota logo o
alcançou. Segurava seu livro de magia de batalha em um braço e agarrou-o
com o outro, "Por favor!" Bufou. Ele parou, suspirando pesadamente - queria
seu livro de volta.

"O que é?" Ele franziu as sobrancelhas.

"O que eles estavam fazendo com você? Sev não me contou, e eu sei que foi
ruim. "

"Está tudo bem," Remus deu de ombros, pegando seu livro.

"Você está sangrando!"

"Deixa quieto, Evans," Remus a empurrou, tentando sair novamente. Ela


continuou correndo ao lado dele.

"Eu disse a ele para parar de importunar você, eu não sei por que ele faz isso -
quero dizer, você nem sai mais com Potter e Black, eu disse a ele que-"

"Por que isso importa ?!"

"São eles que ele realmente quer incomodar - se ele souber que você também
se cansou deles, então-"
"Espere." Remus parou, Lily quase colidiu com ele. "Você está dizendo que
estaria bem com isso se Mulciber e Snape estivessem amaldiçoando James e
Sirius em vez de mim?!"

"Bem," Lily corou, "quero dizer, seria uma luta justa, pelo menos. E, você
sabe, eles trazem isso sobre si mesmos, agindo da maneira que agem."

Remus se sentiu ainda mais desconfortável agora. Ela achava que James e
Sirius haviam atacado Severus nas duas vezes - ela não tinha ideia de que era
ele. Isso confirmou um de seus piores medos - Lily achava que Remus só
andava com James e Sirius porque ele era estranho e porque eles permitiam.
Todos no castelo achavam que ele era tão patético quanto Peter?

"Você está errada." Remus franziu a testa. "Agora me deixe em paz, ok?"
16. Primeiro Ano
Astronomia

"Ótimo ter você de volta, Lupin." Sirius sorriu, puxando a capa da


invisibilidade quando eles entraram na (anteriormente fechada) sala de aula de
Defesa Contra as Artes das Trevas.

"Como assim?" Remus respondeu, observando James subir a escada no canto


da sala para chegar à prateleira mais alta, onde estava uma gaiola de diabretes
adormecidos. "Eu não estive em lugar nenhum."

"Qual é, cara", disse Peter, segurando a escada para James, "Não passou
despercebido que você tem nos evitado como se fôssemos a praga."

"Eu não tenho." Remus torceu a boca. "Eu só ando ocupado sabe, estudando e
outras coisas."

"Bem, espero que você tenha superado essa fase agora", James riu, descendo
lentamente, segurando a enorme gaiola com as duas mãos, "Eu realmente
apreciaria se você parasse de trabalhar tão duro - me faz ter que trabalhar duro,
sabe, e eu não estou acostumado com competição."

"Ah, não enche, Potter." Sirius falou rispidamente, vasculhando pelas gavetas e
mesas.

Remus decidiu que essa pegadinha não seria tão ruim – ele não precisaria usar
nenhuma magia, de qualquer maneira. Se fosse completamente honesto
consigo mesmo, sentia falta das travessuras. Ser um cdf era muito bom e tudo
mais, mas era entediante. Fazia sentido Evans estar carrancuda o tempo todo.

"Como vamos colocar elas no refeitório?" Perguntou, curvando-se para olhar


para as minúsculas criaturas azuis, ainda dormindo, enroladas no fundo da
gaiola. Devia haver cerca de cinquenta delas, o que Remus achou bastante
cruel. Muito melhor libertá-las.
"Debaixo da capa," James respondeu, espalhando-a agora para que todos
pudessem entrar, "Vamos Sirius," ele revirou os olhos para o garoto de cabelo
comprido que agora estava de joelhos sob a mesa do professor.

"O que você está procurando?" Peter perguntou, abafado sob a capa.

"Um Corvino me disse que havia um alçapão aqui embaixo." Sirius suspirou,
levantando-se e limpando os joelhos. "Mentiroso."

"Esta é a mais nova obsessão de Black," James explicou a Remus enquanto


fechava a capa sobre eles e se dirigiam para a porta, "Encontrar portas
secretas."

"Hogwarts: Uma História diz que existem muitas passagens não descobertas!"
Sirius disse, defensivamente. "Como aquela que você encontrou, Lupin.
Definitivamente há mais, quero encontrar pelo menos uma antes de partirmos."

"Também há rumores de um monstro escondido em algum lugar do castelo."


James sussurrou de volta, enquanto eles caminhavam pelos corredores em
direção à torre da Grifinória. Peter estremeceu.

"Um risco que estou disposto a aceitar," Sirius respondeu, e Remus pôde ouvir
o sorriso em sua voz, "Meu legado é muito mais importante."

"Típico", James riu.

***

No jantar da noite seguinte, James estava sorrindo como um maníaco, tentando


parecer que não estava escondendo cinquenta diabretes adormecidos debaixo
da mesa e falhando miseravelmente. Peter, que era bom em astronomia, estava
ocupado verificando o dever de casa dos outros marotos, que era rotular cada
estrela em seus respectivos mapas.

"Honestamente," Peter gemeu, rabiscando algo no dele, "Você pensa que ele
acertaria a própria maldita estrela ..."

Sirius riu.

"O que posso dizer, eu sou incorrigível."


"Você tem sua própria estrela?" Remus franziu a testa, mais uma vez se
sentindo de fora. Ele nunca prestou atenção em Astronomia - conhecia as fases
da lua e isso era suficiente.

"'Sirius." Peter respondeu, "Qual é, Lupin, nós fizemos isso. É a estrela mais
brilhante do céu? A estrela do cão?" Ele suspirou, olhando para o trabalho de
Remus agora, "É, você também não prestou atenção." Grunhiu.

Remus encolheu os ombros.

"Eu só pensei que era o nome dele."

"A Mais Antiga e Nobre Casa dos Black sempre foi um pouco exagerada no
departamento de nomenclatura," Sirius ponderou, "Metade de nós tem nomes
astronômicos - há Bellatrix, é claro; Orion do meu pai, Regulus do meu irmão
... Mamãe não é uma estrela, acho que ela é um asteroide - bem apropriado, se
você já a viu de mau humor. Depois, há o bom e velho tio Alphard, tio Cygnus
... Andrômeda recebeu o nome de uma galáxia inteira. "

"Bruxos são tão estranhos." Remus suspirou.

"Remus," James riu, "Você sabe que Lupin também é uma constelação, não é?
O lobo."

"O quê?!" Remus sentiu seu coração pular e quase engasgou com o jantar.
Sirius deu um tapa forte nas costas dele, habilmente mudando de assunto;

"Se você já terminou de nos dizer o quão estúpidos somos, Pete, podemos
prosseguir com a libertação de você-sabe-o-quê? Minhas adoráveis primas
acabaram de começar a comer, eu diria que é o momento perfeito... "

Era realmente o momento ideal. James deu um chute forte na gaiola para
acordar os diabretes antes de puxar a capa e sussurrar rapidamente um feitiço
de desbloqueio. Houve uma explosão de ruído, cor e caos.

Remus realmente não sabia o que esperar dos diabretes - eles pareciam
perfeitamente inofensivos durante toda a noite e o dia enquanto estavam
trancados dormindo embaixo da cama de James.

Mas agora podia ver exatamente porque Sirius e James estavam tão animados.
Ao saírem debaixo da mesa, as minúsculas criaturas se espalharam em todas as
direções, tagarelando coisas sem noção num tom agudo e zunindo de um lado
para outro do grande salão. Pulavam em pratos de purê de batata, gritando de
alegria, agarravam pratos e talheres das mãos dos alunos e os jogavam pelo
salão; puxavam rabos de cavalo e rasgavam pergaminhos.

"Rápido!" James se abaixou para passar por baixo da mesa, onde todos se
agacharam sob a capa da invisibilidade, observando a confusão se desenrolar
ao redor deles.

"Brilhante!" Sirius continuou dizendo: "Brilhante, brilhante, brilhante!"

"Vamos," disse Remus, empurrando os outros meninos para frente. O plano


deles era observar por um tempo, então fugir o mais rápido possível sem serem
pegos.

Todos os quatro desajeitadamente navegaram para sair de debaixo da mesa - o


que foi especialmente difícil - vários outros alunos abaixavam tentando se
proteger. Felizmente, os diabretes não podiam ver através das capas de
invisibilidade e os meninos foram deixados em paz.

No tumulto, ninguém mais os notou. Garotas e garotos gritavam, todo mundo


estava tentando cobrir a cabeça para se proteger ou então lutando para pegar de
volta seus itens roubados.

"AI SIM!" Sirius de repente engasgou, explodindo em uma gargalhada


intermitente.

Remus se virou e viu Bellatrix gritando a plenos pulmões, seu cabelo rebelde
sendo puxado de um lado para o outro por uma minúscula praga azul. Outra
que voava acima dela tinha roubado sua varinha e estava acenando-a, lançando
raios azuis na direção de Bella.

"Me larga! Sua coisa imunda - nojenta- você - Aaargh! " Ela lamentou.
Narcissa estava encolhida sob a mesa, segurando sua própria varinha com
força.

As coisas pioraram ainda mais quando Pirraça, o Poltergeist, entrou na sala,


correndo alegremente e causando tantos estragos quanto. Ele parecia estar
direcionando os diabretes, levantando toalhas de mesa e gritando,

"Aqui embaixo, diabretinhos! Muitos bobinhos do primeiro ano aqui!"

Sufocando risadas, os marotos fugiram da sala quando ouviram a voz


estridente de McGonagall ecoando,
"Petrificus Totallus!"

"Ela definitivamente vai saber que fomos nós." Peter ofegou, enquanto eles
voltavam para a torre, ainda sob a capa.

"Nah," James respondeu, casualmente, "Aposto que ela vai culpar os Prewett,
eles sempre fazem grandes coisas assim. Algo a se inspirar."

***

"Por favor." Sirius disse.

"Não." Remus respondeu.

"Por favooooor!"

"Não!"

"Por que não?"

"É só que seria... estranho! Eu não quero que você faça. "

"Mas vai ser divertido! Eu prometo que você vai gostar."

"Ha."

A conversa continuou quase da mesma maneira por cerca de três corredores


agora. Remus apressou o passo e ouviu James dar uma bronca Sirius atrás dele.

"Deixe Lupin em paz, ok?"

"Eu não vou! Isso é muito importante!" Sirius estava com um humor inquieto,
o que o deixava ainda mais irritante - geralmente James era o único que o
aguentava.

Eles tiveram uma longa tarde na biblioteca, completando tabelas do zodíaco


para a revisão de Astronomia. Ainda faltavam meses para os exames, mas
James insistiu em começar. Naturalmente, Sirius tinha que competir, e Peter
tinha que ir a qualquer lugar que James fosse. Remus não queria ficar de fora.
Eles estavam pesquisando sobre seus signos, quando descobriram que Remus
era um pisciano. Sirius deduziu rapidamente que isso significava que seu
aniversário estava chegando. E assim começou a súplica.
"Obviamente não é tão importante para Remus," James sibilou para Sirius,
"Faça alguma coisa no meu aniversário, se você quer tanto, não é muito
depois."

"Você terá sua vez," Sirius o dispensou. "Mas primeiro - Lupin."

"Eu realmente não me importo, Sirius," Remus suspirou, quando chegaram ao


retrato da senhora gorda. "Não é nada demais, não precisa se preocupar."

"Mas é seu aniversário!" Sirius respondeu, sinceramente, "Devíamos nos


preocupar."

Remus não via por quê. Ninguém nunca havia se importado antes. Havia bolo,
é claro, mas não sobrava muito quando se tinha que dividir um bolo com
cinquenta outros meninos. Além disso, todas as crianças pequenas insistiam
em ter a oportunidade de soprar as velas também, então demorava uma
eternidade. A Matrona embrulhava alguns presentes, mas geralmente eram
práticos - roupas novas, meias, cuecas, canetas e cadernos. Além disso, não
havia nada de especial no dia. Na verdade, ele estava ansioso para ficar longe
de St. Edmund's, porque achava que Sirius, James e Peter eram provavelmente
muito bem educados para saber sobre os 'murros de aniversário' - um soco no
braço para cada ano de idade (e um para sorte - geralmente o mais forte).

"Por que isso importa tanto?!" Remus bufou, passando pelo buraco do retrato.
Ele não suportava quando Sirius ficava assim - teimoso e persistente.

Mas quando ele se virou, ficou surpreso ao ver que Sirius estava esfregando
seu braço, parecendo atipicamente magoado.

"Todos vocês fizeram coisas para o meu aniversário e ... bem, foi muito legal.
Eu nunca ficava muito ansioso para o meu, mas ... bem, foi divertido, não foi?
"

Remus de repente se sentiu culpado. Percebeu que Sirius não queria apenas ser
o centro das atenções novamente - ele estava tentando fazer Remus feliz.
Como se isso também pudesse deixá-lo feliz. Remus nunca teve muitas
oportunidades de dar a alguém o que realmente queriam. Então cedeu.

"Ahh ... ok, tudo bem. Mas não uma grande comemoração nem nada, apenas
marotos, beleza? "

"Beleza." Sirius sorriu, imediatamente seu rosto se transformou, os olhos


brilhando como estrelas.
17. Primeiro Ano
Doze

Segunda, 10 de março de 1972

O décimo segundo aniversário de Remus caiu em uma sexta-feira naquele ano.


Normalmente, nas sextas-feiras, depois das aulas, James os obrigava a ir
assistir ao treino de quadribol da Grifinória, e Remus ficava lendo em silêncio
para si mesmo. Sirius, no entanto, conseguiu convencer James de que poderia
perder apenas um treino - especialmente porque ainda nem estava no time - e
que Remus poderia realmente querer fazer algo diferente em seu aniversário.

Ele foi acordado de manhã cedo por seus três companheiros de dormitório
amontoados em sua cama, todos gritando: "Feliz aniversário, Lupin!" Eles não
tentaram dar um soco nele, o que significava que o dia já havia começado
como seu melhor aniversário de todos os tempos.

No café da manhã, James e Sirius marcharam à frente, empurrando outros


alunos para fora do caminho enquanto se aproximavam de seus assentos
habituais, anunciando em voz alta,

"Saia do caminho, por favor!"

"Aniversariante passando!"

"Siga em frente, nada para ver aqui!"

Remus quis se esconder embaixo da mesa quando eles a alcançaram. Seus três
amigos fizeram um grande show servindo-lhe o café da manhã, ao invés de
deixar que ele se servisse. Peter serviu seu chá, James encheu seu prato
enquanto Sirius passou manteiga em sua torrada.

"Vocês têm que fazer isso?" Remus gemeu, terrivelmente envergonhado.

"Com certeza", disse James.

"Sem dúvidas," Peter assentiu,

"Inquestionavelmente." Terminou Sirius.


Remus balançou a cabeça, corando muito e olhando para sua comida. Quando
ele terminou - o que demorou um pouco, porque lhe serviram porções duplas
de quase tudo - todos se levantaram, ainda sorrindo amplamente para ele.

"O que?!" Ele perguntou, se contorcendo nervosamente. Se eles iam fazer o


murro de aniversário, então ele esperava que acabasse logo. Talvez houvesse
uma versão bruxa? Afinal, ele havia perdido o aniversário de Sirius, não sabia
o que esperar. Peter e James colocaram a mão em seu ombro, forçando-o a se
sentar novamente. Sirius puxou um diapasão de sopro do bolso e soprou uma
nota longa. Remus fechou os olhos com força. Ah não...

"Paraaaaabéns pra voceeeeeê!" Os três meninos berraram no topo de suas


vozes, "Nessa data queridaaaa! Muitaas felicidadees! Muitos anooos de vida!"

Agora o resto do salão se juntou a ele, e Remus cobriu a cabeça com as mãos,

"E PARA O REMUS NADA! TUDO!"

"É pique, é pique! É hora, é hora, hora!" James gritou, de pé em sua cadeira,

"'RATIMBUM! REMUS, REMUS!" Os grifinórios responderam em coro.

"Pelo menos isso acabou," Remus murmurou, seu rosto queimando quando
eles terminaram de aplaudir. Peter olhou para ele com pena.

"Desculpe, cara, mas eles estão planejando fazer o mesmo no almoço e no


jantar."

***

Eles ainda tinham que aguentar a aula de Poções já que era a última da semana
- Remus descobriu que mesmo fazendo os deveres de casa e entendendo todos
os textos, ainda não tinha nenhum talento natural para poções. Além disso, era
um assunto chato, e Slughorn começou a tagarelar sobre os cinco componentes
principais dos remédios para dormir, e Remus lutou contra a vontade de
cochilar.

Snape não o incomodou - na verdade, Snape nem mesmo olhou na direção de


Remus desde o incidente no corredor. Lily sorriu para ele e lhe desejou feliz
aniversário, antes de revirar seus enormes olhos esmeralda quando James e
Sirius tentaram convencer Slughorn a não lhes passar nenhum dever de casa
em respeito à 'ocasião'.
No jantar, Remus suportou o que esperava ser sua rodada final de "feliz
aniversário", que foi a mais barulhenta do dia, principalmente porque
Dumbledore estava presente e começou a conduzir a escola inteira, gritando
com toda a sua própria voz. Ele também recebeu alguns cartões - um de toda a
casa da Grifinória, outro da Matrona junto com um novo par de meias.

Depois do jantar, eles se sentaram na sala comunal e Sirius puxou seu toca-
discos pesado e colocou o Electric Warrior pela centésima vez desde o Natal.

"I was dancing when I was twelve..."

Em algum momento, um bolo foi feito, com glacê vermelho e dourado – cores
da Grifinória, e doze velas rosa. Quando Remus o cortou (o tempo todo
encorajado a fazer um pedido, mas sem conseguir pensar em uma única coisa
que queria), ele ficou surpreso ao descobrir que era feito de quatro sabores
diferentes - um quarto de chocolate, um quarto de limão siciliano, um quarto
de pão de ló e um quarto de café e nozes.

"Como sua torrada." Sirius sorriu, parecendo entusiasmado com a expressão de


surpresa no rosto de Remus, "Pensei que você ficaria enjoado se fosse tudo do
mesmo sabor."

"Uau...obrigado!"

"Então, o que você quer fazer pelo resto do dia?" James perguntou: "Ainda está
claro se você quiser ir e assistir o -"

"Ele não quer, James! Que diabos, você vai ter que começar a desenvolver
alguns outros interesses, cara, você está ficando chato. "

"Eu não me importo se você quiser ir assistir ao treino de quadribol." Remus


disse, apressado, "Você já fez muito, honestamente. Três músicas em um dia, o
que mais um menino de 12 anos pode pedir? "

"Não," James balançou a cabeça heroicamente, "Sirius está certo, é seu


aniversário, vamos fazer algo que você gosta de fazer."

Eles ficaram todos quietos por um tempo, antes de James limpar a garganta,
"Err, Lupin? O que você gosta de fazer?"

Remus pensou. Ele poderia facilmente dar uma lista de coisas que não gostava;
futebol, dever de casa, voar, poções. Mas ninguém nunca lhe perguntou antes
de que tipo de coisas ele gostava. Ele gostava de assistir televisão, mas até
agora não havia descoberto uma TV em Hogwarts. Gostava de poder escolher
o que comer no café da manhã e no jantar. Ele gostava de ouvir Marc Bolan
cantando na vitrola de Sirius. Mas nenhuma dessas coisas eram realmente
hobbies.

"Ler?" Peter disse, tentando ser útil: "Você lê muito."

"Eu ?!" Remus ergueu as sobrancelhas. Ele não tinha pensado nisso, mas era
verdade. Desde o Natal, de qualquer maneira, terminou todos os seus textos
fixos para o ano e até mesmo alguns livros retirados da biblioteca.

"Ah sim, ótimo," James revirou os olhos, "Feliz aniversário, Lupin, vamos
começar um clube do livro."

Sirius deu uma risadinha. Pete parecia irritado;

"Bem, eu não sei! Além de ler, você parece realmente gostar de detenção,
Remus. "

Remus riu disso, levantando as mãos se desculpando,

"Desculpe, rapazes, acho que devo ser muito chato."

"E quando você desaparece?" Sirius perguntou de repente. Remus hesitou.

"O que você quer dizer?! Eu te disse, estive doente, eu vou para a ala
hospitalar. " Disse apressadamente.

Sirius acenou com a mão,

"Não, não nesses dias - às vezes você sai depois das aulas ou enquanto
assistimos ao quadribol. O que você fica fazendo?"

Remus sentiu-se ficar vermelho. Estivera vagando sozinho cada vez menos,
mas claramente seus amigos ainda notavam. Todos olharam-no com
expectativa. Ele mordeu o lábio,

"Eu só meio que ... ando por aí." Ele disse, sem jeito.

"Por onde?" Pedro perguntou: "Pelo castelo?"

"Por todo lugar," Remus deu de ombros, "Eu só olho ao redor. Aí eu sei onde
as coisas ficam." Ele puxou o mapa do bolso de trás, "É estúpido, comecei a
adicionar coisas ao mapa que eles nos deram no início do ano e sempre que
vejo algo interessante, eu coloco."

James pegou o mapa e o desdobrou. Os três meninos se inclinaram para ver.


Eles ficaram em silêncio por um tempo. Sirius parecia maravilhado,

"Você adicionou todos os retratos ... e os nomeou e tudo."

"Minha letra é um lixo," Remus corou ainda mais, querendo pegá-lo de volta.

O rosto de James estava enrugado.

"O que é isso?" Ele apontou para uma marca que Remus havia feito em uma
das escadas.

"Um dos degraus falsos," Remus respondeu, "É nele que você pode afundar.
Aquele", ele apontou para uma marca em um degrau diferente, "é aquele que
desaparece. As escadas com setas são as que se movem. Eu marquei de
colorido onde elas dão."

"Merlin!" Peter exalou: "Você tem ideia de quanto tempo isso me salvaria?! Eu
juro que fico preso no corredor errado duas vezes por semana por causa
daquelas escadas giratórias."

"Eu também", disse James.

"Quem liga pra chegar às aulas na hora certa!" Sirius explodiu, "Por favor,
tentem reconhecer a importância extrema da existência desse mapa! As
oportunidades agora são ilimitadas para novas pegadinhas."

Um sorriso apareceu no rosto de James, depois no de Peter. Remus pegou o


mapa de volta, dobrando-o,

"Ainda não está pronto. Tem um monte de coisa que eu quero fazer. Eu queria
por alguns feitiços nele, assim que descobrir como."

"Que tipo de feitiços?" Sirius perguntou ansiosamente.

Remus hesitou. Não que ele não apreciasse o interesse de Sirius, ou sua
empolgação - mas Remus realmente queria trabalhar no mapa sozinho, por
mais bobo que parecesse. Afinal, Sirius tinha inventado o feitiço de leitura e o
encantamento da chuva. Por razões que ele não conseguia explicar, Remus
tinha um forte desejo de provar que ele era tão inteligente - ou tão capaz - de
fazer o trabalho desta vez.

"Apenas algumas melhorias", disse ele, com cautela. "Vocês vão achar que é
bobo."

"Não, não vamos", respondeu Peter, sinceramente, "Podemos ajudar!"

"Pode ser então ..., mas é meu mapa."

"Claro que é seu," James sorriu, de modo assegurador, "Assim como a capa é
minha, certo? Mas para o bem da travessura..."

"É dos Marotos!" Sirius terminou, os olhos cintilando de animação.

"O Mapa do Maroto." Remus repetiu, ainda não totalmente confortável em


entregar seu projeto pessoal.

"Ainda é seu, Lupin," Black continuou, "Vamos colocar seu nome em primeiro
lugar e tudo!"

"Não tenho certeza se queremos nossos nomes nele ..." Peter disse, nervoso.

"Nossos apelidos então." Sirius encolheu os ombros.

"Não temos apelidos." Remus respondeu, "Bem, até tenho um, mas eu
realmente não quero 'Loony Lupin 'escrito nele."

Os outros três começaram a rir. Depois disso, Remus decidiu que não era tão
ruim, deixá-los fazerem parte de seu segredo. Ele estava aliviado na verdade;
estava começando a se perguntar se era loucura dele – registrar tudo do castelo,
escrever num papel e depois tentar trazer algum sentido às anotações. James,
Sirius e Peter pareciam menos interessados na parte técnica da tarefa e mais em
planejar a próxima pegadinha com ela.

O resto da noite foi passado sob a capa, vagando pelos corredores. A capa, na
opinião de Remus, era desnecessária, pois planejavam voltar antes do toque de
recolher. Mas James e Sirius nunca perdiam a oportunidade de transformar até
mesmo o menor passeio em uma missão de grande escala, e Peter
simplesmente gostava de se esgueirar sem ser visto. Tudo ficou claro,
entretanto, quando Sirius apareceu com cinco bombas de estrume, com as
quais eles se divertiram no percurso; esgueirando-se por trás de casais
desavisados que se agarravam ou jogando-os nos bolsos de alunos mais velhos
que corriam para a biblioteca.

Remus mostrou a eles no que tinha trabalhado até agora, as passagens e atalhos
que havia descoberto e até mesmo alguns de seus cantinhos escondidos (nem
todos, é claro, por precaução). Ele até contou a eles seu plano de lançar algum
tipo de feitiço de rastreamento na Madame Nora, a gata de Filch, para que ele
pudesse vê-la chegando. Eles adoraram essa ideia.

"Por que parar aí?" Sirius sussurrou, enquanto eles viravam uma esquina de
volta para a sala comunal no final da noite, "Por que não rastrear todo mundo?"

"Todo mundo?"

"Sim, aí saberíamos se tivesse alguém vindo, poderíamos nos safar de qualquer


coisa."

"Não sei." Remus respondeu, desconfortável com a ideia. O que aconteceria


quando seus amigos o vissem viajando para o Salgueiro Lutador todos os
meses? Quanto tempo até que decidissem segui-lo, e fossem mortos? Pela
primeira vez, Remus percebeu que o mapa não era tão inofensivo quanto
inicialmente pensara.

Mas James e Peter estavam ocupados concordando com Sirius, dizendo que era
uma excelente ideia; já imaginando serem capaz de ver o que Dumbledore
estava fazendo, ou onde Snape estava espreitando. Remus acreditava
firmemente que em questão de tempo, Sirius Black e James Potter seriam
capazes de fazer qualquer coisa que quisessem - era só quem eles eram. Ele
apenas esperava que isto demorasse muito.
18. Primeiro Ano
Revisão

O tempo pareceu acelerar após o aniversário de Remus. Os dias se alongaram e


a primavera invadiu o castelo, inundando-o com luz do sol e ar fresco após o
longo período de inverno. Os exames se aproximavam e Remus finalmente
superou sua ansiedade em relação a ler em público, passando cada vez mais
tempo na biblioteca. Em vez de planejar novas brincadeiras e pegadinhas, os
marotos passaram a dedicar suas noites a praticar feitiços e questionar uns aos
outros sobre ingredientes de poções.

Sirius e James levavam os exames muito a sério; era uma competição para eles
- embora os dois negassem veemente caso perguntasse. Remus suspeitava que
ambos tinham o desejo de defender sua honra de sangue puro - era uma atitude
enraizada em toda a escola, até mesmo entre os professores. Isso não
incomodava Remus - mesmo que não estivesse obtendo as melhores notas em
tudo, ainda estava se saindo melhor do que antes. Estava, na verdade, grato por
não ter família para pressioná-lo.

A pressão sobre Peter era muito evidente. Ele não era um mau aluno de forma
alguma - em Herbologia e Astronomia ele até se superava, muitas vezes
vencendo James. Mas ele ficava nervoso, e isso tendia a afetar seu trabalho
com a varinha, tornando seus encantamentos desleixados. Peter não falava
muito sobre sua família, mas recebia muitas cartas deles, e Remus notou que
James era cuidadoso com o assunto.

"De quanto precisamos para passar de ano?" O garoto de rosto redondo


perguntava desesperadamente, pelo menos quatro vezes por dia.

"Peter, fique tranquilo", James o acalmava, "Você vai ficar bem; você conhece
toda a teoria de trás para frente agora, é apenas colocá-la em prática. "

"Eu não o culpo por ficar um pouco agitado," Sirius sussurrou para Remus
quando os outros dois estavam fora do alcance da voz, "Houve pelo menos
doze abortos na família Pettigrew - e isso apenas neste século."

"Abortos?"
"Bruxos não mágicos." Sirius explicou, pacientemente, "Você sabe como
famílias trouxas às vezes têm filhos mágicos? Funciona ao contrário também -
ninguém gosta de falar muito sobre isso. Meu bisavô, na verdade, tinha essa
teoria maluca de que os trouxas estavam trocando seus filhos pelos nossos para
que pudessem se infiltrar no mundo mágico. Maluquice completa,
obviamente."

"Certo." Remus respondeu, esperando soar como se entendesse tudo que Sirius
acabara de dizer. "Então é por isso que a magia de Peter é um pouco... fraca?"

"Não sei," Sirius deu de ombros, "Talvez. Eu não sei se eles podem
realmente provar que 'abortismo' corre nas famílias, mas é a razão pela qual os
Pettigrew’s não estão entre os Sagrados Vinte e Oito. "

Remus suspirou pesadamente, fixando em Sirius seu olhar mais fulminante,

"Você sabe que eu não tenho ideia o que isso significa."

Sirius sorriu.

"Bem, eu não sei, Lupin, com toda a leitura que você faz hoje em dia. É bom
saber que ainda há coisas nas quais eu sou melhor que você."

Remus bufou em resposta, olhando para sua lição. Sirius continuou


rapidamente, como se não quisesse perder a atenção do outro garoto.

"Os Sagrados Vinte e Oito são os mais puros dos puros-sangues. As últimas
famílias 'não contaminadas' remanescentes."

Remus deu a Sirius outro olhar maldoso. O menino de cabelos escuros ergueu
as mãos, correndo para se explicar,

"Palavras deles, não minhas! Você sabe que eu não acredito em nada desse lixo
de pureza de sangue. "

"Sei," Remus ergueu uma sobrancelha. "Mas aposto que os Black's estão no
topo da lista."

"Na verdade," Sirius respondeu, os olhos brilhando com humor, "Os Abbot's
são os primeiros. É em ordem alfabética."

Remus resmungou e voltou para seu dever de Poções.


***

Os exames não estavam no topo da lista de 'coisas com que se preocupar' de


Remus. Estava relativamente confiante de que se sairia bem - ele até verificou
as regras do exame (que era um pergaminho de pelo menos quatro metros) e
confirmou que o uso do feitiço Scriboclara para arrumar a caligrafia era
permitido, desde que o aluno fosse capaz de executar o feitiço sozinho. Remus
estava usando-o desde novembro, e não teve problema algum.

Havia duas coisas que estavam preocupando Remus muito mais que passar de
ano. Primeiramente, o triste e inevitável fato que retornaria a St Edmund's em
junho. Mesmo estando fora de lá por apenas alguns meses, as diferenças da
antiga instituição e Hogwarts eram gritantes. Enquanto os outros alunos
ansiavam por longas e quentes férias de verão, cheias de viagens, descanso e
cochilos, Remus sentia-se como se estivesse enfrentando um exílio.

Eles não tinham permissão para fazer nenhuma mágica fora de Hogwarts até os
dezessete anos, o que significava que, além de perder o contato com seus
amigos, Remus não seria mais capaz de ler. Para ele, o verão se estendia, vazio
e isolado, pontuado por longas noites trancado em sua cela.

E havia o segundo problema, pronto estragar a vida de Remus com seu focinho
feio e peludo. Como Madame Pomfrey imaginava, desde que Remus
completara 12 anos, suas transformações se tornaram muito, muito piores. Não
havia explicação para isso em nenhum dos livros que leu, a não ser algumas
palavras aqui e ali sobre adolescência e a puberdade.

Enquanto que antes, ele acordava na manhã seguinte com algumas marcas de
dentes e garras – como algo feito por um filhote brincalhão, sem intenção
alguma de machucar - ele agora se via com arranhões profundos que
sangraram copiosamente até Pomfrey chegar para estancá-los. A própria
agonia da transformação também chegava a níveis quase intoleráveis, e ele
frequentemente se sentia enjoado horas antes da lua nascer.

Para piorar a situação, Remus estava passando cada vez mais tempo na ala
hospitalar e estava cada vez mais difícil de explicar aos marotos. Seus amigos
começaram a se perguntar em voz alta, como se Remus nem estivesse ali, qual
seria a razão de seus sumiços - às vezes sugeriam que ele estava fingindo para
fugir das aulas, outras vezes provocavam-no dizendo que era contagioso.

Pelo menos em St. Edmund ele não tinha amigos que se importavam com onde
ele ia todos os meses.
Sirius claramente não estava ansioso pelo verão também. Ele ficava
estranhamente quieto sempre que as férias que se aproximavam eram
mencionadas, seus olhos tornavam-se turvos e a cor deixava seu rosto. James
os convidou para ficarem com ele o tempo que quisessem - mas Sirius
permaneceu pessimista.

"Você sabe que eles nunca vão deixar." Ele suspirou.

"Tenta se animar, talvez eles deixem, cara," James jogou um braço ao redor de
seu amigo. Eles estavam sentados juntos no grande sofá da sala comunal, Peter
na poltrona concentrado em transformar uma banana numa pantufa. Não estava
dando certo. Remus estava deitado no tapete em frente à lareira, de barriga
para baixo. Ele tinha um corte nas costas que não estava cicatrizando direito,
mesmo depois dos cuidados da Madame Pomfrey, e essa era a única posição
confortável.

Sirius simplesmente não queria se animar.

"Mas eles não vão. O maldito casamento de Bellatrix é em junho, pode apostar
que eles vão me querer presente pra todas as chatices."

"A gente recebeu um convite para ir." Peter falou de repente, erguendo os
olhos da pantufa, que ainda estava amarelo brilhante e parecia estranhamente
macia. "Quem sabe eu não te vejo lá."

"Ah sei, ótimo." Sirius bufou, suspirando tão forte que seu longo cabelo caiu
sobre sua testa. "Se até lá eu não for transformado em uma salamandra. Ou
amaldiçoado a ficar preso num retrato durante o verão todo - eles realmente
fizeram isso com Andrômeda uma vez. Ela nunca mais foi a mesma, odeia
pinturas de bruxos agora. "

"Depois do casamento", disse James, tentando desviar o assunto da conversa


da família Black, "Depois a gente pensa em alguma coisa. Vou tirar você de lá,
se for preciso, eu juro. "

Sirius sorriu para James e este sorriu de volta. A linguagem corporal deles era
igualzinha e Remus sentiu uma pontada de solidão. Ele sabia que os problemas
na família de Sirius eram muito maiores que o fato dele ser a ovelha negra da
família – haviam as cicatrizes que Sirius havia mostrado em setembro,
obviamente, mas para Remus isso era completamente normal. A Matrona o
batia se ele causasse problemas, e seus professores trouxas frequentemente
usavam a palmatória – não havia motivo para ele suspeitar que a vida
doméstica de Sirius era fora do comum.
James obviamente sabia muito mais sobre. Remus percebera, porque era a
única coisa sobre a qual Potter nunca zombava de Sirius - família. Eles
conversaram muito à noite, os dois - Remus tinha ouvido Sirius chorar mais de
uma vez. Isso o fez querer lançar seu próprio feitiço silenciador; ele odiava o
som das lágrimas e raramente chorava.

"Você também, Lupin," James estava dizendo,

"Hm?" Remus saiu de seus pensamentos. Ele arqueou as costas com cuidado e
tentou não fazer uma careta quando a dor o invadiu como um raio.

"Você deveria vir e ficar durante o verão. Temos muito espaço e mamãe não se
importa."

"Não posso," Remus balançou a cabeça, olhando de volta para seu livro. Suas
costas estavam pegando fogo. "A Matrona não me deixa. Coisas de guardião
legal, lei trouxa."

"Deve haver uma maneira de contornar isso", respondeu James, com


confiança. "Vocês dois vão vir, ok? Eu vou dar um jeito."

Remus sorriu, mas sabia que não havia nada que James pudesse fazer. As luas
cheias aconteciam no final de cada mês, como sempre, e não sobrava tempo
nem mesmo para passar uma semana lá ao fim das férias. Além disso, a
Matrona realmente não o deixaria.

"Acho que consegui!" Peter engasgou, de repente, segurando seu chinelo


amarelo brilhante no alto.

"Muito bem, Pete," disse Sirius, sem interesse. "Experimente para ver se cabe."

Remus se sentou, suas costas agora muito doloridas. Enquanto se endireitava,


ele sentiu um fio de sangue quente escorrer por sua espinha e encharcar o cós
da calça. Alarmado, se levantou rapidamente.

"Ecaaaa!" Peter gritou, retirando o pé descalço do chinelo, coberto com gosma


pegajosa de banana. James começou a rir, seus óculos caindo tortos,

"Ele estava brincando, Pete! Você tem que parar de fazer as coisas só porque
mandamos."
"Você está bem, Lupin?" Sirius ergueu os olhos de repente. Remus estava
tremendo no tapete. Ele tinha que ir para a ala hospitalar imediatamente, mas
não tinha ideia de como se explicar.

"Sim, eu só ... acho que vou andar um pouco."

"Onde? É quase toque de recolher," o rosto de Sirius se iluminou, "O que você
está planejando?"

"Não, não, nada ... Eu só estava afim..."

"A gente vai também!" James também se levantou, "Vou pegar a capa."

"Não!" Remus gritou.

Todos congelaram, até mesmo Peter, que estava tirando pedaços de banana dos
dedos dos pés.

"Eu ..." Remus gaguejou, "Não me sinto bem. Eu só quero ver Madame
Pomfrey, só isso. "

"Tudo bem, cara," James ergueu as mãos gentilmente, "Fica tranquilo. Quer
que a gente vá com você mesmo assim? "

"Eu vou." Sirius disse, rapidamente. Ele se levantou e pegou Remus pelo
cotovelo, conduzindo-o até o buraco do retrato antes que os outros dois
pudessem dizer alguma coisa.

"Sirius..." Remus começou, uma vez que eles estavam no corredor vazio.

"Tá tudo bem Lupin, eu só vou te acompanhar até lá. Não vou entrar com você
nem nada."

Remus olhou para ele confuso, então acenou com a cabeça e começou a andar,
tão rápido quanto suas costas doloridas permitiram. A essa altura ele conhecia
Sirius bem o suficiente para saber que não tinha como fazer ele mudar de ideia.
Peter deixaria seu nervosismo levar a melhor e voltaria correndo. James
respeitaria as vontades de Remus. Mas Sirius, Sirius era teimoso, tinha que
empurrar até o limite.

"Você está bem?" Sirius perguntou, olhando para ele, "Você está andando
meio esquisito."
"Não me sinto bem." Remus repetiu, com os dentes cerrados. Esperava que
Sirius apenas pensasse que ele estava bravo com, e não percebesse que na
verdade estava reprimindo um grunhido de dor.

"Ok." Sirius respondeu suavemente. Eles continuaram caminhando em


silêncio. Quando finalmente chegaram à ala hospitalar, eles ficaram do lado de
fora por alguns minutos, os olhos âmbar e quentes de Remus encarando o olhar
azul e frio de Sirius como se o desafiando a fazer a pergunta.

"Espero que você melhore." Foi tudo o que Sirius disse. "Podemos vir te visitar
amanhã, se você não tiver saído?"

"Acho que sim." Remus disse, cautelosamente. Ele tentou encolher os ombros,
mas estremeceu. A expressão de Sirius não mudou.

"Se cuida, Lupin." Ele disse, baixinho, antes de se virar e voltar correndo pelo
caminho de onde vieram.

Remus o observou ir, até ele dobrar a esquina. Tinha a estranha sensação de
que Sirius olharia para trás antes de desaparecer. Quando não o fez, Remus não
pôde deixar de se sentir estranhamente desapontado, embora devesse saber
melhor - Sirius Black nunca fora previsível.

Ele estremeceu ligeiramente - em parte por causa da dor crescente e em parte


por outra coisa - então empurrou a porta da ala hospitalar.
19. Primeiro Ano
Fim de Ano

Remus nunca contaria a ninguém, mas ele realmente gostava do período de


exames em Hogwarts. Não havia aulas por duas semanas inteiras e enquanto
todos os outros corriam como galinhas sem cabeça, Remus se sentia muito
relaxado em relação a coisa toda.

O mesmo não poderia ser dito sobre o resto de seus colegas de classe. Lily
Evans estava emboscando alunos na biblioteca e na sala comunal, exigindo que
a questionassem sobre as Revoltas dos Goblins do século 18. Peter estava
constantemente murmurando em voz baixa, torcendo as mãos. Marlene
McKinnon e Mary McDonald, duas grifinórias do primeiro ano, a quem Remus
tentava evitar, não paravam de explodir em gargalhadas histéricas por causa do
nervosismo. James e Sirius pareciam estar agindo com mais bravura do que
nunca; disparavam fogos de artifício nos corredores e realizavam feitiços de
desaparecimento em mochilas de alunos desavisados na biblioteca. Remus não
sabia dizer se os dois estavam apenas respondendo à atmosfera geral de
ansiedade ou se eles estavam gastando sua própria energia nervosa.

Os alunos mais velhos não tinham simpatia com seus colegas mais jovens.
Frank Longbottom deu mais detenções na última semana do semestre do que
durante o ano todo, e até ameaçou tirar cinquenta pontos da Grifinória se
James e Sirius não parassem de levitar tinteiros na sala comunal. Remus achou
que eles tinham sorte - Bellatrix Black amaldiçoou de verdade metade dos
sonserinos numa noite por falar muito alto enquanto ela estudava para os
NIEMs. Eles ficaram sem falar por três dias - Madame Pomfrey teve que fazer
crescer suas línguas de volta.

A primeira prova deles foi Feitiços, o que fez Remus já ter um bom começo.
Tudo o que precisavam fazer era enfeitiçar um coco para dançar à moda
irlandesa, o que ele achou bem fácil. Ele, James e Sirius conseguiram sem
problemas. Já Peter teve dificuldades, a princípio o coco dele recusou-se a
dançar, e quando ele finalmente conseguiu com que se mexesse, ele perdeu o
controle e o coco saiu rodopiando da mesa e espatifou-se no chão.
Transfiguração correu quase bem, embora fosse uma matéria mais complicada.
A tarefa deles era transformar um besouro em um saleiro - Sirius finalizou o
dele em minutos, mal escondendo seu orgulho quando McGonagall comentou
que era o melhor exemplo de transfiguração em pequena escala que ela já tinha
visto de um aluno do primeiro ano. O saleiro de Remus não ficou tão ruim,
embora ainda fosse brilhante e preto, enquanto Sirius de alguma forma
conseguira transformar o dele em vidro. James tentou transformar em
porcelana, e parecia ter se saído bem até que McGonagall tentou sacudir um
pouco de sal e ele abriu asas e voou para fora da janela, fazendo Marlene e
Mary gritarem. O de Peter ainda tinha perninhas e antenas, mesmo depois de
uma hora.

Herbologia e História da Magia foram provas discursivas. Remus se


surpreendeu ao escrever a redação de história mais longa da classe - teve que
pedir a Peter, sentado ao lado dele, um pergaminho extra. Aparentemente,
havia muito a ser dito sobre as revoltas dos goblins, afinal. Poções fora mais
fácil do que ele imaginava - tiveram que lembrar como preparar uma cura para
verrugas. Tendo uma memória muito boa pelos anos de prática, Remus sabia
que tinha todos os ingredientes e quantidades certas, mesmo que suas
habilidades de preparação não fossem precisas.

Entre os exames, Remus aproveitou suas últimas semanas de liberdade


vagando pelos corredores e fazendo acréscimos em seu mapa (quando estava
sozinho) ou tomando sorvete na beira do lago (quando os outros estavam com
ele). Recentemente havia encontrado um corredor que cheirava vagamente a
chocolate, mas não conseguia entender o que era - não ficava perto das
cozinhas.

Os dias estavam muito mais quentes agora, e ao passo em que os testes


chegavam ao fim e junho se aproximava, as mentes dos marotos se voltaram
para a travessura.

"Tem que ser grande." James disse, decisivamente. Estava sempre fazendo
declarações desnecessárias como essa, esperando que alguém tivesse uma ideia
para ele aprovar. "Nossa última marca."

"Não é a última," Sirius respondeu, mexendo na grama. "Estaremos de volta


em dois meses."

"Só vocês vão voltar", preocupou-se Peter, "Eu tenho certeza que falhei em
tudo."
James acenou com a mão, dispersando os medos de Peter. O dia estava muito
quente e preguiçoso para ficar o tranquilizando o tempo todo. Estavam
descansando no novo lugar favorito, perto de uma árvore à beira do lago. Peter
sentava-se sob a sombra dos galhos porque era pálido e se queimava
facilmente. James e Sirius haviam tirado os robes do uniforme e arregaçado as
mangas de suas camisas para combater o calor. Remus simplesmente ficou
deitado ao sol, ainda com os robes para cobrir seus ferimentos mais recentes,
apreciando o calor que aquecia suas juntas doloridas. Gostara do novo local
porque o Salgueiro Lutador estava atrás deles, então não tinham que olha-lo.

"A gente ainda tem alguma bomba de bosta sobrando?" Remus perguntou,
encarando o céu azul, então fechando os olhos para observar os padrões
projetados em sua retina pelo sol.

"Sim, algumas. Não o suficiente para uma grande despedida, no entanto."

"Quão grande você está pensando, exatamente?"

"Maior do que bombas de bosta." James respondeu, limpando os óculos, como


sempre fazia quando estava pensando. "Grande o suficiente para que todos
saibam que fomos nós."

"Eles saberão que fomos nós. McGonagall sempre sabe," Sirius acrescentou,
levantando-se e atirando uma pedra pelo lago. Ela quicou cinco vezes - Sirius
era incrível em atirar pedras. Ele tinha essa graça fluída que era mais animal do
que humano. Isso irritava Remus - afinal, ele quem era parcialmente não
humano, e tinha toda a graça natural de um verme-cego.

"Eles podem pensar que foram os Prewetts." James respondeu: "Eles têm nos
superado o ano todo."

"Nada supera os diabretes!" Sirius disse, defensivamente. Ele jogou outra


pedra. Desta vez, no quarto salto, um longo tentáculo prateado se ergueu da
água e o golpeou preguiçosamente de volta em sua direção. Sirius sorriu.

"E o pó de coceira foi muito bom, vocês têm que admitir." Remus murmurou,
jogando um braço sobre o rosto.

"Exatamente," Sirius continuou, com entusiasmo, "Você precisa nos dar pontos
pela engenhosidade."
"E a nuvem de chuva!" Peter saltou, ansioso para se envolver. Todos ficaram
quietos. Remus se sentou. Eles não tinham conversado sobre esse incidente
desde janeiro. Peter mordeu o lábio, percebendo o que tinha feito.

Sirius balançou a cabeça, mudando de assunto.

"De qualquer forma, o que quero dizer é que nós quatro tivemos mais
detenções do que todo o resto da Grifinória combinado só este ano. O que mais
você quer que façamos, James? Assinemos nossos nomes?"

Ele ergueu um braço, pronto para jogar a pedra de volta no lago, mas James
saltou na hora e agarrou seu ombro, fazendo com que ela caísse.

"Oi!" Sirius franziu a testa, irritado, "Qual é a sua?"

"É isso aí!" James pulou, animado, "Vamos assinar nossos nomes!"

"A gente o que?" Remus semicerrou os olhos para os dois. Ele desejou não ter
olhado para o sol por tanto tempo, agora sua visão estava embaçada e ele
estava começando a ter uma dor de cabeça.

"ASSINAR O NOSSO TRABALHO." James repetiu, como se estivesse


fazendo todo o sentido e eles fossem muito estúpidos para entender. Ele
suspirou, impaciente, "Colocamos nossa marca em Hogwarts, literalmente."

"Você está falando sobre desfigurar propriedade da escola, Potter?" Sirius


arqueou uma sobrancelha escura, alegria estampada em seu rosto.

"Eu posso estar, Black." James mexeu as próprias sobrancelhas de volta - ele
não conseguia levantar apenas uma, como Sirius.

"Bem, eu lhe digo, velho amigo." Sirius sorriu, adotando um sotaque ainda
mais refinado e aristocrático do que o normal.

"O que você me diz, meu camarada?"

"Eu digo que é uma ideia simplesmente formidável."

"Oh, que esplêndido!"

"Estonteante!"

"Magnificente!"
Os dois se desmancharam em risadas, caindo no chão e brincando de lutinha.
Remus e Peter trocaram um olhar. Esse tipo de coisa estava acontecendo cada
vez mais; James e Sirius se envolveriam em uma de suas piadas internas e
deixariam os outros sem entender nada. Remus se levantou e foi se sentar com
Peter.

"Alguma ideia do que eles estão falando?" Perguntou ao menino menor. Peter
estava com o rosto vermelho, a testa franzida. Estava claramente tendo
pensamentos profundos.

"Eles querem que a gente escreva nossos nomes em algum lugar. Talvez nas
paredes?'' Respondeu, devagar.

"O que?" Remus perguntou, "Tipo... entalhar na pedra ou coisa assim? Isso é
um pouco permanente, não é?"

Sirius e James continuavam a rolar na grama. James era maior e geralmente


tinha a vantagem, mas Sirius lutava sujo.

"É tudo que eu consigo pensar.", Peter deu de ombros. "James diz que quer que
seja grande ... as paredes são as maiores ... ah ... AH!" Levantou num salto,
"Rapazes!" Ele gritou. "Tive uma ideia!"

"Caramba!" James e Sirius pararam imediatamente. James prendera Sirius em


um mata-leão, e o tornozelo de Sirius estava apenas enrolado em torno do de
James, pronto para dar um puxão e derrubar os dois. "Você está se sentindo
bem, Pettigrew?"

"O gramado!" Peter continuou andando enquanto pensava em voz alta: "É a
maior tela e não teria que ser permanente, poderia ser ... se usássemos uma
poção cresce-rápido..."

Remus suspirou profundamente. Por que ninguém estava fazendo sentido hoje?

***

E assim foi, devido ao desejo de James por prestígio, e ao desespero de Peter


para provar a si mesmo, que os quatro se encontraram de volta ao terreno após
o anoitecer no último dia do semestre. Eles tiveram duas semanas de
planejamento - acumulando suprimentos da estufa e aprendendo vários
encantamentos de mudança de cor. Nesse tempo, descobriram que todos
haviam passado nos exames; até mesmo Peter. Remus foi o primeiro em
História da Magia e o segundo em Feitiços (perdendo para Lily Evans, o que
tentou não deixar incomodá-lo).

"Ai! Esse é o meu pé! "

"Desculpa!"

"Não consigo ver nada."

"Está escuro, idiota."

"Ai! Esse era o meu pé! "

"Podemos tirar a capa agora?"

"Sim, acho que sim..."

Eles haviam arrastado um pesado saco de sementes de hortênsia por todo o


caminho desde a torre. Bem, Remus e Peter tinham. Sirius e James decidiram
que iriam liderar o caminho.

"Certo." James disse, como um profissional, com as mãos nos quadris, "Nós
concordamos em escrever 'com amor' ou 'de'?"

"De." Disse Peter.

"Eu prefiro 'amor'." Sirius disse.

"Aww, claro que você prefere, Black," James bagunçou o cabelo dele
brincadeira, fazendo Sirius se esquivar e fazer uma careta. " 'Amor', então.
Vamos, senhores, para o trabalho!"

Uma hora depois, o saco de sementes estava vazio, e Remus estava seguindo a
trilha que os outros haviam deixado, derramando a poção 'cresce-rápido' no
chão.

"Temos certeza de que soletramos tudo certo?" James coçou a cabeça,


bagunçando ainda mais o cabelo.

"Tarde demais agora," Sirius respondeu, enxugando o suor da testa. "Olha, é


melhor irmos, o sol está nascendo." Ele apontou para o céu, que estava
começando a ficar rosado.
"O feitiço de mudança de cor, rápido!"

"Eu já fiz," disse Remus, terminando o resto da poção. "Enquanto eles ainda
estavam no saco."

"Bem pensando, Lupin!" Sirius deu um tapa no ombro dele, "Sempre soube
que você era o inteligente."

Desde quando?! Remus pensou consigo mesmo.

"Não vamos volta ainda", disse James, "Olha, podemos ver o sol nascer."

"Merlin," Sirius riu, "Sua grande bixinha."

Eles assistiram, no entanto, maravilhados, enquanto o sol brilhante subia


lentamente no horizonte, inundando o grande lago com faíscas douradas, então
empalidecendo enquanto subia mais alto no céu alaranjado.

"O próximo ano será ainda melhor, rapazes," James sorriu, seus óculos
refletindo o sol enquanto ele jogava um braço em torno de Peter e Sirius.
Remus ficou um pouco afastado para o lado, contente apenas em estar na
presença deles.

Voltaram para o castelo com um humor estranho e quase se esqueceram de


colocar a capa de volta. Retornaram para a torre da Grifinória, e James e Peter
tentaram dormir, mas Remus não conseguia. Finalmente, Sirius começou a
fazer as malas - estava adiando fazer isso há uma semana e começou a jogar
suas coisas de forma descuidada e barulhenta em seu baú de mogno. Estava
engravado com uma serpente, como muitas das coisas de Sirius.

Além disso, Remus não queria dormir. Suas últimas horas em Hogwarts
estavam se esgotando muito rapidamente, e ele não queria perder nenhuma
delas. Se sentou no parapeito da janela e observou a pegadinha deles se
desenvolvendo na grama abaixo. As sementes já estavam criando raízes e
crescendo muito rapidamente, contorcendo como algo saído de um filme de
ficção científica.

"Parece bom!" Sirius disse, vindo olhar. Aparentemente tinha terminado de


empacotar, embora seu baú parecesse que não fecharia corretamente.

"Ainda acho que deveria ter sido 'tavam' não 'estiveram'." Disse Remus.
"Erro de gramática, Lupin," Sirius bocejou, "Eu não poderia ter vivido comigo
mesmo se tivesse errado." Ele se espreguiçou sonolento e deitou na cama de
Remus, que por acaso era a mais próxima, se enrolando para dormir.

Remus olhou para ele por um tempo do parapeito da janela. Com os olhos
fechados, na suave luz do amanhecer, Sirius parecia mais delicado, mais
jovem. Remus passou o ano inteiro admirando a ele e James; como eram
invencíveis, como eram ousados. Mas ambos eram apenas crianças, na
verdade. E não importa o quão grande a pegadinha final fosse, isso não
impediria o trem de vir buscá-los amanhã, para levar Remus de volta para St.
Edmund e Sirius de volta da onde quer que ele viesse - uma casa onde os
retratos gritavam com ele, e a família não se importava se ele fosse o primeiro
da turma em Transfiguração.

Ele olhou pela janela novamente, pressionando a testa contra o vidro frio e
suspirando profundamente. Fora uma brincadeira muito boa; todos eles
deveriam estar orgulhosos. McGonagall teria um ataque. Dumbledore
provavelmente iria gostaria. Não havia necessidade de se sentir tão triste, eram
apenas dois meses.

Quinze metros abaixo, as hortênsias finalmente floresceram e o coração de


Remus deu um pulo. As flores berrantes brilhavam abaixo nas cores da
Grifinória, carmesim brilhante e ouro cintilante, berrando a mensagem com
letras tortas.

OS MAROTOS ESTIVERAM AQUI!


20. Verão, 1972

Caro Remus,

Como está seu verão até agora? O meu está um lixo.

Semana passada foi o casamento de Bellatrix - pelo menos ela não estará em
Hogwarts no ano que vem. Regulus e eu fomos padrinhos e tivemos que usar
vestes verdes. Definitivamente não é a minha cor. Minha família inteira estava
lá, foi horrível. Você deveria ter visto o que Bella fez com cabelo, ela parecia
completamente louca. Cissy tingiu o dela também – de loiro, pra ela poder
ficar parecida com seu namorado metido, Malfoy. Não consigo nem acreditar
que minha tia deixou, duvido que minha mãe deixaria eu pintar meu cabelo.

Eu gostaria que pudéssemos fazer mágica fora da escola, estive pesquisando


maldições na biblioteca do papai – vou achar algumas coisas excelentes para o
Snivellus no próximo ano.

James diz que seus pais estão me deixando ficar com eles neste verão. Meus
pais não me deixariam ir para os Potters, mas talvez eles me deixem ficar com
os Pettigrew’s, então vou pedir a Pete que me convide. James disse que iria
convidar você também, espero que você possa ir. Vai ser ótimo, assim como a
escola.

Te vejo em breve,

Sirius O. Black

***

Caro Remus,

Espero que você esteja tendo um bom verão e os trouxas não estejam te
abatendo.

Mamãe e papai dizem que você é mais que bem-vindo para uma visita. Sirius
está tentando vir para ficar o verão inteiro, o que seria brilhante. Se você puder
vir, responda a esta coruja o mais rápido possível. Mamãe disse que ela mesma
escreverá uma carta se sua Matrona precisar que ela o faça.
Sinceramente,

James.

***

Caro Remus,

James e Sirius disseram que tentaram entrar em contato com você, mas você
não respondeu. Eu disse a eles que talvez você não soubesse como as corujas
funcionam. Você só precisa amarrar a carta no pé deles, como fizemos, e
depois soltar. Elas normalmente acertam para onde deveriam ir.

Espero que você possa vir nos visitar.

Peter.

***

Caro Remus,

Você está bem? Não ouvimos nada de você, espero que não tenha tentado usar
o correio trouxa. Estou com os Potters agora, é ótimo. Os pais de James pais
são muito legais, nada como os meus.

James está sendo um pouco chato. Ele acha que nós dois vamos entrar no time
de quadribol este ano e continua me levantando às seis da manhã para praticar
voo. Completamente maluco. Mas é um pouco divertido, e se Grifinória
precisa de um batedor, então eu posso tentar. Mal posso esperar para mostrar
minha vassoura, você pode experimentar se quiser - talvez você goste de voar
se estiver usando um equipamento decente.

James acha que sua Matrona não vai deixar você vir - você acha que se
escrevêssemos para Dumbledore ou McGonagall, eles poderiam obter
permissão? Você é um bruxo, afinal, você não deveria ficar preso a trouxas
durante todo o verão.

Se você realmente não pode vir, você vai ir para o Beco Diagonal por causa
das coisas da escola? Talvez possamos nos encontrar lá em agosto?

Espero que você esteja bem.

Sirius O. Black.
***

Caro Remus,

Não somos os Marotos sem você, por favor, venha! Temos muito espaço e
mamãe não se importa. Tenho treinado Sirius e Pete para o quadribol no ano
que vem - acho que, se resolvermos seu problema com alturas, você poderia se
tornar um batedor decente.

Você gosta de bater nas coisas, não é? E você é provavelmente o mais forte de
nós quatro, então acho que faz sentido. Sirius quer ser um batedor também, ele
pode te mostrar como faz. Vou até ver se minha velha vassoura ainda está
guardada no galpão, e você pode ficar com ela!

James.

***

Caro Remus,

Por favor, venha e nos salve do reinado de terror de James. Eu nem quero estar
no time de quadribol.

Peter.

***

Caro Remus,

Espero que você esteja recebendo essas cartas. Estamos começando a ficar
preocupados com você.

Fomos todos ao Beco Diagonal juntos, foi ótimo. A mãe de James comprou
sorvete para nós e nos deixou ir aonde queríamos. Provavelmente passamos
cerca de três horas em Suprimentos de Qualidade para Quadribol. Eu
realmente queria sair para a Londres trouxa e encontrar uma loja de discos,
mas não tínhamos permissão para sair do beco.

Andromeda me enviou este novo álbum - Merlin, você realmente tem que
ouvir, Lupin! É melhor do que Electric Warrior. Melhor do que QUALQUER
COISA. Tenho certeza de que o cantor é na verdade um bruxo - você já ouviu
falar de David Bowie?
Você está tendo um bom verão? Como é estar de volta?

Escreva logo!

Sirius O. Black.

***

Caru Sirius,

Por faver não manda mas cartas. Não da pra ler e a Matrona tá irritada com
as corujas.

Te veju no trem.

Remus.
21. Segundo Ano
Regulus Black

Metal Guru, could it be?

You're gonna bring my baby to me

She'll be wild, y'know a rock n roll child...

-Metal Guru, T. Rex

Remus agarrou as alças de sua velha mala surrada, com os nós dos dedos
brancos. Seu estômago dava cambalhotas animadas enquanto ele observava a
multidão agitada. A Matrona o deixou correr para a barreira desta vez, embora
tivesse desviado o olhar no último minuto, apavorada. Agora ela estava bem
atrás dele, no lado trouxa da estação, e ele não teria que vê-la novamente por
mais dez meses.

Ele teve um pesadelo terrível na noite anterior, no qual eles chegariam a King's
Cross e seriam incapazes de chegar à plataforma 9 ¾ - e nada daquilo teria sido
real; magia, varinhas, bruxos, seus amigos. Mas Remus tentou afastar esses
pensamentos de sua mente enquanto olhava ansiosamente ao redor, procurando
por um rosto familiar.

"Deixaram você voltar, não é?" Uma voz fria interrompeu sua busca. "Os
padrões devem estar caindo."

Remus sentiu seus ombros ficarem tensos. Por que a primeira pessoa com
quem ele iria falar tinha que ser Snape?!

"Cai fora, Snivellus." Retrucou. Ele se endireitou, virando-se para encarar o


garoto sonserino com seu olhar mais cruel.

"Ugh, o que diabos é esse cheiro?" Snape falou lentamente, franzindo o nariz
grande demais. Remus corou - ele fedia a antisséptico, sabia disso; A Matrona
tinha sido liberal demais naquela manhã.

"Eu disse pra cair fora!" Remus murmurou, apertando o maxilar e cerrando os
punhos.
Viu Severus recuar, ligeiramente. Remus sabia como deveria estava parecendo
- havia passado dois meses sem magia, cercado por garotos maiores e mais
durões do que Snape. Ele estava com muita raiva acumulada e pronto para dar
um soco na menor provocação.

"Ei, careca!" Outra voz soou sobre a multidão. Um garoto com óculos e cabelo
preto espetado em todos os ângulos estava inclinado para fora de uma das
janelas da carruagem, acenando loucamente para Remus.

Remus sorriu, esquecendo que estava tentando assustar Severus, e acenou de


volta. Ele esfregou a cabeça, constrangido. Seu cabelo crescera enquanto ele
estava em Hogwarts, mas a Matrona raspou novamente assim que ele voltou
para St. Edmund's, fazendo-o parecer com um bandido novamente.

Lançando um olhar sujo para Snape, Remus agarrou sua mala e correu para o
trem, passando por outros alunos a fim de chegar ao vagão onde seus amigos
estavam esperando.

"Lupin!" Peter deu um pulo, animado. Ele não sabia bem o que fazer consigo
mesmo uma vez que estava de pé - eles certamente não iriam se abraçar como
garotas e, aparentemente, apertos de mão não eram adequados. Pettigrew deu
um tapinha desajeitado no braço dele, e Remus apertou o dele em troca.

"E aí rapazes," Remus sorriu, suas bochechas doendo de felicidade quando ele
se sentou. "Como tem estado?"

"Devíamos estar perguntando isto a você!" James riu, dando um soco no braço
dele. "Nenhuma coruja durante todo o verão!"

Remus olhou para Sirius, furtivamente. Ele não havia mencionado a carta que
Remus havia enviado, então.

"Você sabe que eu sou praticamente um trouxa nas férias", ele respondeu,
"Nem consegui pegar meu baú para fazer o dever de casa, deixaram ele
trancado."

Isso não era estritamente verdade - Remus pediu à Matrona para trancar suas
coisas de Hogwarts, com medo de que os outros meninos as pegassem. O dever
de casa que ele não fez porque não conseguia. Ouviu-se um ruído silencioso de
nojo no canto. Remus olhou, confuso.

Sentado no assento ao lado de Sirius estava outro garoto mais novo, com os
mesmos olhos azuis profundos e longos cabelos escuros; os mesmos traços
inconfundíveis dos Black's - lábios carnudos e maçãs do rosto tão afiadas que
poderiam cortar vidro.

"Este é o Reg." Sirius acenou com a cabeça, casualmente, "Diga olá, Reggie."

"É Regulus." O menino respondeu, irritado, sua voz alta e aristocrática soando
indignada.

"Meu irmãozinho querido," Sirius ergueu a sobrancelha para os outros três.

"Oi Regulus," James sorriu, oferecendo uma mão amigável, "Eu sou James."

"Potter." Regulus olhou para sua mão como se fosse imunda.

Sirius deu um tapa na cabeça dele,

"Pare de ser um idiota." Ele retrucou: "Estes são meus amigos".

"Eu não queria sentar aqui." Regulus respondeu. "Você que me fez entrar."

"Ah, vá em frente, dê o fora, então. Não sei por que me incomodei."

Regulus se levantou, com o rosto impassível, e saiu do vagão, batendo a porta


atrás de si.

"Uau, ele realmente tem o charme da família Black," James sorriu. Sirius
balançou a cabeça, desesperado, apoiando um pé no banco oposto e o cotovelo
no vidro da janela. O apito soou e o trem começou a sair da estação.

"Não devia ter esperado nada diferente," Sirius murmurou, "Ele sofreu uma
lavagem cerebral total. E tá irritado comigo. Eu não deveria ter ficado longe o
verão todo. "

"Acha que ele ficará na Sonserina, então?" James simpatizou.

"Provavelmente." Sirius franziu o cenho, "Ele sabe que eu não vou falar com
ele, se ele ficar. Preferia que ele ficasse na Lufa-Lufa."

Remus achou isso um pouco cruel. Certamente, ele não gostava de Snape e
Mulciber - e sim, eles pregaram algumas peças na Sonserina, mas Remus
nunca odiou a Sonserina como Sirius parecia odiar. Certamente ele não
renegaria o próprio irmão só porque eles tinham um uniforme ligeiramente
diferente? A única coisa que Remus podia ver de errado com os Sonserinos era
que a maioria deles eram esnobes - e Sirius, James e Peter eram esnobes
também, embora não percebessem.

Os pensamentos o deixaram quando o trem começou a ganhar velocidade para


fora de Londres, e Remus finalmente pôde relaxar com a ideia de que estava
realmente voltando para Hogwarts - e que a magia agora era oficialmente
permitida. Abriu sua mala e agarrou sua varinha pela primeira vez em meses.
Remus não ousou tocar em nada mágico desde o final do semestre, mas agora
puxava um de seus livros de segunda mão (eles haviam chegado na semana
anterior enviados por Dumbledore) abriu-o e rapidamente executou o
feitiço Letiuncula Magna.

Fingiu que estava coçando atrás da orelha com a varinha e murmurou as


palavras sob sua respiração. Sirius deve ter percebido o que ele estava fazendo,
porque logo pulou para puxar sua vassoura do bagageiro, distraindo James e
Peter. Remus olhou para o livro, o coração disparado. As palavras encheram
sua mente como música e, finalmente, ele pôde ler novamente.

O verão tinha sido incrivelmente tedioso. Tentou ler alguns dos livros
espalhados por St. Edmund's, mas sem magia era muito frustrante. Ele leu
muito lentamente cada uma das cartas de seus amigos, mas estava muito
envergonhado para tentar escrever de volta para qualquer um que não fosse
Sirius. Ele também teve que se esconder muito. Remus se sentia como se às
vezes tivesse passado dias inteiros sem falar com ninguém; os outros meninos
foram informados de que ele estava em um internato particular, pago pelo
testamento de seu pai. Isso, é claro, o tornava mais um alvo do que nunca e,
combinado com suas luas cheias cada vez mais difíceis, Remus passara grande
parte do verão coberto de hematomas.

Luas cheias eram outra razão pela qual ele ficou aliviado por estar voltando
para Hogwarts, onde Madame Pomfrey, a medi bruxa da escola, não era apenas
mais simpática do que a Matrona, mas muito melhor qualificada para lidar com
as peculiaridades de sua condição. A Matrona ficou horrorizada ao ver os
novos ferimentos que Remus infligia a si mesmo a cada mês, e o tratou como
se tivesse feito eles de propósito, apenas para irritá-la. Tinha sido muito pior do
que no verão anterior, quando escapava com alguns arranhões e hematomas
todas as noites. Agora, por baixo de suas roupas trouxas, Remus estava coberto
por bandagens e curativos que puxavam e pinicavam sempre que ele se movia.
Esperava que pudesse escapar para a ala hospitalar assim que chegassem.

Sirius e James estavam ocupados contando a Remus sobre seu próprio verão,
com Peter participando aqui e ali, ansioso para deixar claro que na maioria das
vezes eram eles três. Parecia que todos eles haviam se divertido muito, mesmo
havendo muito quadribol. Os pais de James tinham um chalé à beira-mar, bem
como o que James chamava de "casa de veraneio" perto de Londres. Os três
meninos acamparam na praia, pescaram, soltaram pipas e planejaram suas
pegadinhas para o ano seguinte. Eles conversaram sobre isso animadamente
por tanto tempo que Remus teve vontade de mandar todos calarem a boca.

Ele se sentiu um pouco melhor quando o carrinho de doces chegou - James e


Sirius juntaram suas mesadas e compraram o suficiente para alimentar metade
da casa da Grifinória. Remus não reclamou - como sempre, ele estava com
muita fome.

***

Remus estava imensamente feliz por ter enchido o estômago no trem, porque
ele havia esquecido quão demorado era a cerimônia de seleção, especialmente
quando você não estava participando dela. Regulus foi de fato selecionado para
a Sonserina, o que foi uma surpresa apenas para Sirius, que Remus ouviu
exalar fortemente em descrença. O irmão Black mais jovem correu para se
juntar a seus colegas e a Narcissa, que agora usava um distintivo de monitora
prateado, bem como um novo penteado platinado elegante.

Severus deu um tapinha nas costas de Regulus, zombando da mesa da


Grifinória.

"Qual é o problema dele?!" Peter suspirou quando a comida finalmente


apareceu, "Você pensaria que ele iria superar algumas pegadinhas estúpidas."

"Parece que ele precisa superar Evans," James disse, soando estranhamente
pensativo. Todos olharam para ele confusos. "Ah, é óbvio!" Ele sorriu,
"'Snivellus está claramente apaixonado por uma certa grifinória ruivinha", ele
piscou para Lily, que retribuiu com um olhar de nojo e evidentemente deu-lhe
as costas para continuar a conversa com Marlene.

"Então só porque temos o broto que ele gosta, ele vai ser um pé no saco pelos
próximos seis anos?" Sirius respondeu, desacreditado.

Remus piscou. Broto?! Sirius não era o tipo de pessoa que chamava garotas de
'broto', o vocabulário dele era muito rebuscado. Onde diabos ele tinha ouvido
isso?

"Exatamente." James confirmou, parecendo muito orgulhoso de si mesmo.


"Nah," Sirius balançou a cabeça, "Ninguém poderia se importar tanto
assim com uma garota."

Remus silenciosamente concordou com ele. Ainda assim, Potter não parecia se
importar em ter suas teorias contestadas. Ele deu de ombros, comendo suas
batatas assadas.

"Se você diz. Ainda deve estar irritado com aquela vez que Remus deu um
soco nele, então."

Sirius riu com a lembrança disso, finalmente se animando.


22. Segundo Ano
The Rise and Fall of Ziggy Stardust

Madame Pomfrey ficou horrorizada com o estado do corpo magro e maltratado


de Remus quando ele finalmente foi vê-la.

"O que aquela mulher tem feito com você ?!" Ela engasgou, com raiva.

"Ah não, eu mesmo fiz isso," Remus gesticulou secamente para seu peito nu. A
enfermeira resmungou, tirando outra bandagem.

"Sim, mas ela mal fez nada para tratar você ... Eu não fazia ideia que a
medicina trouxa era tão primitiva! Estas são feridas mágicas, elas precisam de
cuidados mágicos! "

Remus acenou com a cabeça, cansado. Havia se acostumado com a carnificina


a essa altura, a dor havia se acomodado sobre seus ombros como um fardo
pesado - um que ele pensou que simplesmente teria de suportar. A vida era
cheia de limitações, ele apenas tinha mais do que os outros. Talvez seja por
isso que ele se sentia tão atraído por James e Sirius.

Madame Pomfrey queria observá-lo durante a noite, mas ele recusou, mal-
humorado. Faltavam duas semanas para a lua cheia e ele queria dormir em sua
própria cama o máximo possível.

Ele voltou para a sala comunal lentamente, embora estivesse se sentindo


melhor do que há meses - Madame Pomfrey lhe deu uma poção que o deixou
relaxado e confortável, e agradavelmente tonto. Porém não haveria chance de
uma tarde tranquila, quando Remus chegou ao dormitório, ele encontrou Sirius
sentado na cama, com o toca-discos e álbuns novos espalhados ao seu redor.

"Lupin!" Ele sorriu, animado, "Você tem que ouvir isso!"

"Graças a Merlin você está aqui," James gemeu de sua própria cama, onde
estava folheando uma revista de quadribol. "Ele está falando daquele cantor
trouxa o verão todo."

"Ele não é trouxa!" Sirius retrucou, com as mãos nos quadris, "Ele tem que ser
um bruxo. Tem que ser! Você deveria ver as roupas que ele usa ..."
Remus cruzou o quarto e pegou a capa do disco. Ele sorriu, ligeiramente
surpreso,

"Oh, Bowie! Eu gosto dele. Mas eu não acho que ele seja bruxo,"

Sirius parecia um pouco desapontado por Remus ter ouvido falar dele, e
Remus explicou rapidamente: "Eu ouvi muito Starman no rádio, mas ninguém
em St Eddy's tem o álbum!"

Satisfeito, Sirius colocou o disco preto que estava segurando no prato e fixou a
agulha no lugar. James suspirou profundamente e se levantou, saindo da sala
com a revista debaixo do braço. Sirius o ignorou, observando o rosto de Remus
ansiosamente quando a lenta batida da bateria começou. Remus se sentou na
beira da cama e fechou os olhos para ouvir.

Pushing the market square

So many mothers sighing

News just arrived

We had five more years of crying ...

Não era o mesmo que Electric Warrior; era mais sombrio, mais
temperamental. Remus gostou muito. Havia uma história nele, embora não
tivesse certeza que tinha entendido todas as partes ainda. Enquanto as notas
finais de Rock n Roll Suicide reverberavam, Sirius ergueu a agulha e a moveu
de volta,

"Ouça Suffragette City de novo, é a minha favorita!"

Remus sorriu – imaginava que fosse. Era alta e rude, e dava para dançar. This
mellow thigh'd chick's just put my spine outta place ...

Em sua opinião, ele achava que gostou mais de Moonage Daydream, porque
era estranho e espacial. Ou Lady Stardust, porque, por algum motivo, isso o
lembrava de Sirius. - his long black hair, his animal grace; the boy in the
bright blue jeans... Remus rapidamente descartou esse pensamento, certo de
que Sirius acharia histericamente engraçado.

Depois de terem tocado o álbum inteiro novamente e, em seguida, reouvido


suas favoritas, era quase hora do jantar. Eles se sentaram de pernas cruzadas
juntos na cama, examinando as notas do álbum.
"Talvez ele seja um bruxo," Remus concedeu, sonhador, "Ele não é um trouxa
normal."

"Te disse!" Sirius sorriu triunfante, "Eu vou conseguir mais, também, todos os
álbuns."

"T.Rex tem um novo," Remus disse, "Slider."

"Legal! Eu gostaria que a Sra. Potter nos tivesse deixado sair do Beco
Diagonal, eu até consegui algum dinheiro trouxa de Gringotes. "

"O que é o Beco Diagonal?" Remus perguntou, embora achasse que tinha
alguma ideia pelas cartas das férias.

Os olhos de Sirius se arregalaram, como sempre acontecia quando Remus


demonstrava sua chocante falta de conhecimento do mundo mágico.

"Maldição, Lupin," ele estalou a língua, "É uma rua mágica, em Londres. Os
trouxas não podem entrar - como em Hogsmeade."

"Oh, certo." Não parecia tão emocionante para Remus; fazer compras era
chato.

"Onde você consegue todas as suas coisas ?!"

"Que coisas?"

"Coisas da escola - seus livros, seu uniforme ..." Seus olhos dispararam para as
mangas desgastadas das vestes pretas de Remus. Os de Sirius eram novos, com
acabamento imaculado e o corte ligeiramente melhor do que de todo mundo.

"É segunda mão, eu acho," Remus respondeu, "Dumbledore que manda pra
mim. Não sei como eu entraria numa rua mágica; não tenho permissão para ir a
Londres sozinho."

"Próximo verão." Sirius disse, com firmeza, "Você tem que vir ficar na casa de
James, podemos te levar ao Beco Diagonal, você vai adorar."

"Você sabe que não posso," Remus disse baixinho, sem fazer contato visual.

"Nós vamos dar um jeito." Sirius disse, com confiança, "A gente fala com
Dumbledore, McGonagall - o Ministro da Magia, se for preciso!"
Remus forçou um sorriso, fingindo que acreditava em Sirius.

"Ah, ótimo. Obrigado, Black."

***

The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars tornou-se a
trilha sonora do dormitório masculino da Grifinória na semana seguinte, e até
mesmo James – que era desafinado para qualquer coisa relacionado a música -
começou a cantarolar junto.

Remus nunca se sentiu tão contente e à vontade em toda a sua vida. Ele estava
longe de St. Edmund's, longe de camisas cinza, da Matrona, quartos trancados
e meninos problemáticos que queriam bater nele. Não estava coberto de
bandagens (pelo menos por enquanto), e até o início das aulas na segunda-
feira, ele tinha todo o tempo que quisesse para ler, ouvir música e aprontar com
os marotos.

Passou a maior parte do tempo atualizando sua leitura e completando o dever


de casa de verão que havia sido passado. Como um homem faminto, ele
devorou todas as informações apresentadas e até foi buscar mais livros na
biblioteca para investigar além.

Também teve que ter uma série de conversas com James antes que pudesse
convencê-lo de que não tinha nenhum desejo de entrar no time de quadribol da
Grifinória. Remus se contentou em sentar nas arquibancadas com seu livro,
ocasionalmente erguendo os olhos para observar os outros três garotos voando
para frente e para trás em suas vassouras. Eles eram todos muito bons, mas era
óbvio até mesmo para Remus que James era o melhor dos três. Ele nem parecia
que precisava da vassoura; o garoto de cabelo preto voava como um falcão,
suas curvas eram suaves, seus mergulhos nauseantemente afiados. Remus não
assistira a muitas partidas de quadribol em seu primeiro ano, mas tinha certeza
de que James ganharia uma vaga no time.

Sirius era muito mais ostentoso em sua técnica de vôo - ele não carecia tanto
da habilidade de James quanto de sua disciplina. Black parecia ficar entediado
facilmente, podia ser bem rápido quando queria, mas se interessava mais em
dar loopings e desviar perigosamente do que em pegar goles ou repelir balaços.
Precisava que James gritasse com ele a cada poucos minutos para manter o
foco no jogo. Peter era muito competente depois de um verão de treinos, mas
era muito lento em longas distâncias - James decidiu que ele seria melhor
como goleiro.
"Você está agindo como se pudesse escolher a dedo todo o time." Sirius bufou
enquanto voltavam para o castelo após um treino.

"Eles deveriam me deixar." James deu de ombros, como se fosse óbvio, "Eu
sou melhor do que pelo menos metade do time atual, e você é melhor do que os
dois batedores. E eu sei táticas."

"Apenas tente não ficar muito chocado quando eles não o tornarem capitão,"
Sirius revirou os olhos, "Você ainda está no segundo ano. Não houve nenhum
segundo ano na equipe no ano passado."

"Tenha um pouco de fé, Black," James piscou, jogando o braço sobre o ombro
do amigo. Eles avançaram juntos, vassouras nas mãos. O sol estava se pondo
atrás deles, delineando os dois meninos de cabelos escuros em ouro heroico.
Remus os observou, alguns passos para trás sendo atrasado por seus livros,
pensando que provavelmente todos ficariam um pouco surpresos se James não
conseguisse exatamente o que queria.
23. Segundo Ano
Fraternidade

Remus não tinha um irmão - pelo menos não um que conhecesse. Ele supôs
que sua mãe poderia muito bem ter se casado novamente e gerado alguns filhos
legais, não mágicos e não monstros. Mas não sentia que isso era dá conta dele;
já tinha aceitado sua situação de vida a muito tempo.

James também era filho único, e isso explicava por que ele era tão presunçoso
e exigente. Sirius falava sobre os pais de Potter como se eles fossem perfeitos
santos, mas eles claramente haviam mimado seu filho. Peter tinha uma irmã
bem mais velha que ele que já havia deixado Hogwarts. Fora da Lufa-Lufa,
mas Peter não falava muito sobre ela. Agora estava estudando em uma
universidade trouxa, o que, aparentemente, era uma tragédia.

Então, nenhum deles realmente entendia o que estava acontecendo entre os


dois irmãos Black, e pode ser por isso que eles não levaram muito a sério.
Tudo começou na manhã seguinte à seleção. Durante o café da manhã,
Regulus recebeu um presente de seus pais; uma coruja-águia novinha em folha.
Essa fora sua recompensa por entrar na casa certa – o que eles descobriram
porque Severus alegremente leu a carta em voz alta, ao alcance dos ouvidos
dos grifinórios. Sirius encarou seu mingau, sem se deixar provocar, mas
Remus olhou para Regulus e viu que ele estava corando muito, tentando
arrancar a carta de Snape.

"Seus pais não confiscaram sua coruja de novo?" Peter perguntou, sem rodeios.
Sirius deu um confirmou intensamente, com um aceno.

"Disseram que só poderia ter de volta quando me lembrasse do meu dever à


família e começasse a agir como um 'Um verdadeiro Black'. Eu não me
importo de qualquer forma, eu não preciso de uma coruja."

"Qual é exatamente o seu dever com a família, de novo?" James devaneou, em


voz alta, para que os sonserinos cacarejantes pudessem ouvi-los, "Andar com
idiotas como Snivellus e Mulciber? Casar com seus primos? "
Sirius finalmente olhou para James, sua expressão meio agradecida, meio
travessa.

"Ah sim", ele respondeu, coloquialmente, tão alto quanto James. Snape,
Regulus e a maioria dos outros sonserinos que estavam rindo agora estavam
quietos, estreitando os olhos para os dois garotos da Grifinória. Peter se afastou
ligeiramente. "Incesto e esquisitices são aspectos essenciais da minha nobre
herança. E implicar com crianças menores, é claro; trapacear, mentir e
amaldiçoar meu caminho em direção ao poder..."

"Bem, cara, detesto ter que te dizer isto", James respondeu jovialmente, "mas
não parece que você seja um Black de forma alguma."

"Meu Deus," a mão de Sirius voou para seu rosto em falsa surpresa, "O que
diabos eu sou?"

"Mas não está óbvio?" James deu de ombros, "Você é um Maroto."

Sirius riu, assim como a maioria dos Grifinórios sentados por perto.

Remus viu a mão de Severus alcançar sua varinha e rapidamente agarrou a sua
própria em preparação, repassando uma lista de feitiços em sua cabeça,
tentando inventar um que o parasse mais rápido. Mas Regulus cutucou Snape
com o cotovelo, murmurando; tá tudo bem. Remus tinha certeza que fora o
único grifinório a escutar.

"Vamos," Snape zombou, "É melhor nos afastarmos de toda essa sujeira se
quisermos manter nosso café da manhã no estômago."

Isso só fez Sirius e James rirem ainda mais, e Snape saiu da sala, seguido por
Mulciber e um novo primeiro ano chamado Barty Crouch. Regulus se conteve,
olhando nervoso entre seus novos amigos e seu irmão. A nova coruja pousou
em seu cotovelo torto, examinando a cena com um olhar imperioso e
condescendente. Ele se aproximou de Sirius.

"Você pode pegar ela emprestado, se quiser." Regulus disse baixinho: "Eu
nunca pedi a ela que me enviasse nada, você sabe como ela é."

"Sim," bufou Sirius, "Eu sei."

Ambos se olharam por um tempo, e Remus não sabia se eles estavam se


encarando ou tentando encontrar as palavras para dizer algo muito difícil.
"Olha, me desculpe, ok - você sabe que eu acabaria na Sonse –" Regulus
começou, mas foi rapidamente interrompido por Sirius se levantando
rapidamente.

"Eu não quero sua coruja." Ele disse, tenso, olhando através de seu irmão: "Se
eu precisar enviar uma carta, vou pegar a de James emprestado."

Com isso, ele passou por Regulus e foi embora. James, Remus e Peter
levantaram-se apressadamente e o seguiram. Remus olhou de volta para
Regulus, que tinha o rosto muito pálido e frio.

Remus não pensou muito em Regulus depois disso - o limite da barreira havia
sido traçado, e era o dever deles, como marotos, apoiar Sirius. Além disso, eles
estavam muito ocupados assim que as aulas começaram.

Remus mergulhou nos estudos desta vez, oposto ao comportamento do


setembro anterior. Ele lia avidamente, respondia às perguntas em sala de aula e
fazia o dever de casa assim que era pedido. Em tudo, exceto em poções, era um
aluno exemplar. Não se esquecera do que havia lido no ano anterior, sobre
pessoas com seu problema. Elas não se saíram bem depois que deixavam a
escola. Aquelas estúpidas o suficiente para se registrar no ministério eram
excluídas de quase todos os trabalhos para bruxos qualificados. Ele teria que
ser o melhor dos melhores, e mesmo isso poderia não ser suficiente, mas tinha
mais seis anos para tentar.

Havia outro elemento à suas aspirações acadêmicas - Sirius. Bem, Sirius e


James, mas mais importante, Sirius. Remus não duvidava que Sirius fosse seu
amigo - mas ele duvidava que Sirius realmente o visse como um igual. Ele
lutava contra as crenças da família Black sobre pureza de sangue, mas ao
mesmo tempo, fazia comentários sarcásticos sobre o abortismo na família de
Peter. E isso era sempre pelas costas do outro menino. Remus temia pensar no
que Sirius estava dizendo sobre ele.

Remus havia aprendido durante seu primeiro semestre em Hogwarts que ser
um 'mestiço' significava que ele era um pouco menos confiável do que outros
bruxos. Os sonserinos, em particular, tinham como alvo alunos com qualquer
tipo de herança trouxa - Marlene McKinnon, cujo pai era trouxa, havia se
aperfeiçoado azarações antes de qualquer outra pessoa do ano, como um meio
de defesa. Lily Evans era protegida do tormento sempre que Snape estava por
perto, mas estava claro que muitos dos alunos pensavam que ela era bastante
cheia de si, considerando as circunstâncias de seu nascimento.
Sirius nunca expressou nada em voz alta, mas Remus tinha a sensação de que
ser melhor do que todos os outros na escola era considerado uma prova de que
sua magia era melhor de alguma forma. E Remus tinha um desejo
extremamente forte de provar que ele estava errado, o que foi uma leve
surpresa; nunca fora competitivo antes - mas também, nunca tinha recebido as
ferramentas para poder competir.

Claro, sempre haveria um obstáculo insuperável para Remus, e em setembro de


1972 ele aconteceria no final do mês. Remus estava com medo, como sempre,
e ao longo dos dias anteriores lembrou-se de mencionar que não estava se
sentindo bem, a fim de preparar seus colegas para sua ausência eminente. Na
verdade, ele nunca havia se sentido melhor. Apesar das transformações terem
piorado e os dias necessários para a recuperação tenham se alongado, Remus
descobriu que, conforme a lua começava a crescer e ganhar força, ele também
o fazia.

Sua fome era voraz e constante, seus sentidos se aguçavam, sua magia crescia
pesada e espessa em sua língua como xarope e ele mal dormia direito, em vez
disso, passava metade da noite lendo, tentando ignorar os sussurros furtivos de
Sirius e James na cama ao lado.

Ele chegou à ala hospitalar prontamente, e Madame Pomfrey e McGonagall


mais uma vez o escoltaram até o salgueiro. Elas ficaram muito quietas
enquanto caminhavam pelo terreno, mas assim que Remus foi trancado na
cabana para passar a noite, ele ouviu as duas mulheres pararem e começarem a
conversar enquanto viajavam de volta pelo longo corredor. Elas não devem ter
percebido que ele podia ouvi-las - que sua audição era melhor do que a da
maioria das pessoas, especialmente em uma noite de lua cheia.

Madame Pomfrey estava reclamando do tratamento de Remus durante o verão.

"Coberto de ferimentos! Não posso, em sã consciência, permitir que ele volte


lá, Minerva! Isso vai contra tudo que eu acredito como curandeira."

"Eu entendo, Poppy," McGonagall respondeu bruscamente enquanto elas


seguiam o caminho, "É uma questão difícil - quando a mãe de Remus o
entregou às autoridades trouxas, ela tornou as coisas muito difíceis ... temos
que agir com cuidado, muito cuidado. Vou falar com Dumbledore. "

"Ele é uma coisinha tão quieta, nunca reclama, mesmo quando deve estar com
tanta dor..."
Remus não ouviu mais nada, elas estavam muito longe na passagem e seus
próprios gritos as abafaram.

***

De manhã, Remus voltou para seu corpo ofegante como se tivesse acabado de
nascer. Não havia um centímetro dele que não doesse – seu sangue latejava
dentro da cabeça, pareciam ter agulhas pressionadas atrás de seus olhos; seu
pescoço e ombros pareciam elásticos, quebrados; doía respirar. Cada arfada de
seu peito fazia com que a dor percorresse seu corpo; e ele estava coberto de
suor, mesmo o ar estando frio.

Havia um corte profundo em sua barriga que o fez querer vomitar. Já perdera
muito sangue, mas a ferida continuava a borbulhar, como espesso vinho
escarlate. Ele meio que engatinhou, meio se arrastou pela sala até uma caixa de
suprimentos médicos de emergência mantida sob o assoalho. Puxou um pouco
de gaze, usando toda sua energia restante, e pressionou o mais forte que pôde
contra a ferida escura. Deu um grito de dor, mas continuou pressionando. Sua
respiração ficou mais fraca, embora até isso doesse. Se sentiu tonto, só queria
se enrolar e dormir. Fique acordado, ele pediu a si mesmo, furiosamente, fique
acordado ou você vai morrer, seu idiota.

Morra, então. Uma vozinha apareceu no fundo de sua cabeça, vindo do


nada. Certamente tornaria as coisas mais fáceis. Para você. Para
todos. Remus balançou a cabeça, confuso. A voz era muito gentil e suave -
como uma mãe.

Ele pressionou com mais força, grunhindo com o esforço. Em sua miséria, se
perguntou se a voz estava certa. Estava se agarrando a uma vida que nunca
realmente o quis; uma que talvez nunca valha a pena ser vivida? E se ele
morresse? E se apenas fechasse os olhos? Poderia simplesmente ser uma
questão de mais cedo, ou ao invés de mais tarde.

Ele fechou os olhos, exalando suavemente.

"Remus?" A batida educada da Madame Pomfrey chegou na hora certa, como


sempre. Ele a ignorou; estava muito cansado agora. Descansou a cabeça nas
tábuas escuras do piso e largou a gaze. Tão cansado. "Remus!" A porta se abriu
e de repente ela estava lá, ajoelhada ao lado dele, puxando sua cabeça em seu
colo.

"Vá embora", ele murmurou, sem abrir os olhos, "Me deixe ir."
"Ah não mesmo, rapazinho." Madame Pomfrey disse - tão ferozmente que,
apesar de seu estado de confusão, Remus riu. Então ele estremeceu,
instintivamente segurando o peito. A medi bruxa apontou a varinha para sua
ferida aberta e costurou-a em questão de segundos, então ela sentiu seu peito,
onde ele havia tocado. "Costela quebrada," ela murmurou, "Pobrezinho", ela
balançou a varinha mais uma vez e Remus sentiu um estranho 'estalo' em seu
torso - e de repente, não doía tanto respirar.

Ele abriu os olhos e olhou para ela. Ela estava ocupada puxando um cobertor
sobre seus ombros para mantê-lo aquecido. "Aqui, pronto," ela sussurrou
suavemente, embora eles estivessem sozinhos, "O que você acha que está
fazendo, me dando um susto desses, hein?" Sua voz era tão calorosa e seus
dedos tão suaves. Com muito cuidado, ela o puxou para um abraço, "Não
podemos perder você, Remus, não enquanto eu ainda estiver em Hogwarts."

"Dói," Remus sussurrou.

Ela o segurou com mais força e isso foi o suficiente. Pela primeira vez em
muito tempo, Remus começou a chorar. Não apenas algumas fungadas;
enquanto a doce e gentil enfermeira o segurava, ele envolveu seus próprios
braços ao redor dela e chorou como um bebê.

***

Ele teve que passar dois dias inteiros na ala hospitalar. O ferimento em seu
estômago não foi o único que ele infligiu naquela noite, embora tenha sido o
pior. O feitiço da Madame Pomfrey parou o sangramento por tempo suficiente
para tirá-lo da cabana, mas ele precisava descansar e ficar quieto. Ela lhe dava
poções para dormir regularmente, e ele bebia sem reclamar, preferindo não
estar acordado. Os marotos vieram para tentar vê-lo, mas a pedido de Remus,
Madame Pomfrey não os deixou.

Já era tarde na manhã de sexta-feira quando ela finalmente o deixou ir.

"Vou enviar uma nota aos seus professores, avisar que não devem esperar por
você. Você deve ir direto para o seu dormitório e se deitar, entendeu? "

Ele caminhou lentamente, tomando um caminho diferente do normal, pensando


no mapa - ele deveria começar a trabalhar nisso novamente, ele havia lido algo
muito interessante sobre um feitiço homunculus. Assim que chegou ao
dormitório, Remus subiu em sua cama, fechou as cortinas e se deitou. Feixes
de luz atravessavam o tecido da cortina, formando uma galáxia de partículas de
poeira.
Ainda estava quente para setembro, e alguém havia deixado as janelas abertas,
enchendo o quarto com ar fresco. A brisa moveu as cortinas da cama de Remus
e depois as empurrou para fora. Ele assistiu encantado por um tempo – para
dentro e para fora, era como estar dentro de um pulmão.

"Lupin!" Uma voz aguda quebrou sua calma. Sirius abriu as cortinas,
inundando o pequeno espaço com luz, queimando as retinas de Remus.

"Ugh, o quê?" Ele gemeu, protegendo os olhos.

"Desculpe," Sirius esfregou o braço nervosamente.

"O que é?"

"Remus, eu tenho que te contar uma coisa."

Eles ficaram em silêncio por alguns longos momentos. Remus se empurrou


para trás, cansado demais para se sentar. Ele suspirou,

"Então?"

"É o James!" Sirius disse, desesperadamente, "Ele ... ele quer falar com você."

"... O que?"

"É ... caramba, isso é difícil de dizer, Lupin ..."

"Do que você está falando?"

"Ele sabe! James sabe! E ele quer conversar com você."

Remus se sentou abruptamente, seu estômago revirando.

"Ele ... ele o quê? Sabe o quê? "

"Sobre o seu... você sabe. Aonde você vai. Toda lua cheia."

Remus olhou para Sirius. Ele não sabia o que fazer.

"...Você sabia."

"Eu sabia." Sirius confirmou.


"Há quanto tempo?"

"Desde o último Natal. Eu ... eu não queria dizer nada. Não queria tornar isso
mais difícil para você. "

Remus estava sem palavras. Sirius balançou a cabeça, impaciente, "Mas James
descobriu também, o idiota maldito, e agora ele decidiu que todos nós
precisamos confrontar você sobre isso. Eu realmente sinto muito, eu tentei o
convencer que não, mas você sabe como ele é cabeça dura. "

"Sim." Remus resmungou, inclinando-se para frente repentinamente. Segurou a


cabeça com as mãos. Era isso. Estava prestes a perder tudo; tudo que
significava alguma coisa para ele.

"Tá tudo bem ... acho que vai ficar tudo bem." Sirius disse.

"Como?" Remus ergueu a cabeça, quente de terror. "Poderia muito bem


começar a fazer as malas agora."

"Não! Não faz isso. Olha, ele quer falar com você sobre isso, ele não está indo
direto para Dumbledore ou algo do tipo, isso já não significa alguma coisa? "

Mas Remus já havia se levantado, aberto seu baú e começado a esvaziar as


coisas nele. Ele poderia ter que sair imediatamente; talvez nem mesmo lhe
dessem tempo para fazer as malas. O deixariam manter sua varinha? Ele
gostava muito dela, e pertencera a seu pai, então era dele por direito. Talvez se
prometesse apenas fazer o feitiço de leitura com ela?

"Remus!" Sirius agarrou seus ombros. Ele se encolheu, mas apenas porque
esperava que fosse doer. Os olhos azuis escuros de Sirius se fixaram nele e ele
tentou desviar o olhar. "Me escute," disse Black, muito suavemente, "Espere
um pouco, ok? Apenas espere e veja o que James tem a dizer - ele é seu amigo.
Somos marotos, todos nós! "

"Isso é besteira," Remus o empurrou, "Isso é besteira. Vocês dois são os


marotos, você e ele. Eu e Peter somos apenas seus casos de caridade." Ele
pegou o pijama da ponta da cama e jogou-o no baú. "Eu não tão idiota assim,
Black. É melhor eu voltar para onde eu pertenço."

Foi a primeira vez que Sirius ficou sem palavras. Mas de qualquer forma, essa
havia sido a primeira vez que Remus disse tanto para ele. Sua boca se contraiu
uma ou duas vezes, como se ele quisesse falar, mas não conseguisse. Remus
continuou fazendo as malas.
"Apenas espere," Sirius disse, rouco, saindo do quarto, "Apenas espere e veja o
que ele diz."
24. Segundo Ano
Poções, novamente

Apesar de tudo que falou, Remus acabou esperando. Ele não tinha muitas
outras opções de qualquer forma, a não ser ir diretamente a Dumbledore e
pedir para ser enviado de volta para St Edmund's – e não fazia ideia de onde
ficava o escritório de Dumbledore. Infelizmente não tinha ido tão longe com o
mapa. O mapa - seria melhor ele deixar isso para trás. Sirius e James poderiam
terminar.

Pelo menos não estava mais cansado. Se sentou em seu malão, remexendo-se
pelo que pareceram horas. Pensou em descer para almoçar - mas e se eles
quisessem conversar ali mesmo, na frente de todos? Decidiu ficar aonde
estava. Não estava com fome de qualquer maneira. Até tentou ler, mas não
conseguiu se concentrar por tempo suficiente.

De vez em quando a mente de Remus vagava de volta para sua conversa -


discussão - com Sirius. Não tinha certeza de como estava se sentindo sobre
isso. Por um lado, depois que o terror inicial passou, ele pode ver que Sirius
estava tentando ser gentil. Se realmente sabia desde o Natal passado, então
provavelmente não tinha intenção de contar a ninguém. E ele deu a Remus um
aviso com antecedência, pelo menos. Mas por outro lado, o que Remus disse
era verdade. Só porque James era o melhor amigo de Sirius, não significava
que teria qualquer sentimento de proteção em relação a Remus. Eles eram
amigos, certamente, mas apenas porque dividiam o dormitório. Remus não
sabia jogar quadribol, não vinha de uma boa família e não tinha dinheiro. Além
de tudo isso, a reputação perfeita de Potter permitiria que ele se associasse a
uma criatura das trevas?

Quanto a Sirius - ele nem ao menos conseguia perdoar seu próprio irmão por
estar em uma casa diferente. Se família não importava para ele, então por que a
amizade importaria?

Logo depois que o sino das quatro horas tocou, Remus ouviu três pares de
passos subindo as escadas. Ele levantou, preparando-se. James entrou primeiro,
parecendo muito sério e, de alguma forma, mais velho do que todos eles. Sirius
veio atrás, sua expressão inescrutável, nenhum traço da emoção de antes. Peter
foi o último, parecendo - como sempre - muito desconfortável e perdido.

"E aí, Remus," disse James, imediatamente. Todos ficaram um de frente para o
outro, o quarto parecia muito pequeno, mesmo com a janela aberta.

"Oi." Remus respondeu, tentando manter os olhos nos três ao mesmo tempo.

"Como você está se sentindo?"

"Bem."

"Olha cara, vou direto ao assunto, ok?" James correu os dedos pelo cabelo,
engolindo em seco, nervoso - Remus podia ver seu pomo de adão funcionando,
"Nós notamos ... bem, não podíamos não notar que você some muito, na ala
hospitalar. Quase todo mês."

Peter estava balançando a cabeça, de forma bajuladora atrás dele e Remus


sentiu uma onda de raiva surgir do nada. Ele a reprimiu, concentrando-se em
encarar os olhos de James. Eles já pensavam que ele era um animal selvagem.
Melhor não dar mais motivos.

"Ok." Ele disse, mal-humorado.

"É" James acenou com a cabeça, como se eles estivessem tendo uma conversa
perfeitamente normal. "Todo mês ... perto da lua cheia."

Ele deixou pairar no ar. E Remus ficou impaciente para acabar logo com isso.

"Fala logo, James."

"Você-é-um-lobisomem?" Despejou com pressa, e o olhar de James finalmente


caiu, como se ele estivesse com vergonha em ter perguntado.

Remus olhou para Sirius, que ainda o encarava com uma expressão
determinada. Peter estava mordendo o lábio inferior, seus olhos passando
rapidamente entre Remus e James. Então ele endireitou os ombros.

"Sim." Ele projetou o queixo para frente, como se desafiando James. Seja o
que fosse; ele estava pronto para isso.

James exalou.
"Certo."

"É isso?"

"Sim, quero dizer, não, quero dizer ... que inferno ..." James passou as mãos
pelos cabelos novamente, virando-se para os outros em busca de apoio,
parecendo impotente.

"Tá tudo bem." Remus disse, sua voz dura, "Estou indo. Apenas me deixe ir e
falar com a McGonagall."

"Indo?! Indo para onde?!"

"De volta para St. Edmund's, eu acho." Como se houvesse outro lugar!

"Você não pode deixar Hogwarts!" James parecia ainda mais preocupado
agora, seus óculos escorregaram pelo nariz e ele nem percebeu.

"Não posso ficar se todo mundo souber." Remus explicou, o mais calmamente
que pôde.

"Não vamos contar a ninguém!" Peter guinchou de repente. Remus olhou para
ele surpreso, então para Sirius, então para James. James estava assentindo
agora.

"Não vamos." Ele confirmou.

Remus balançou a cabeça, não se permitindo alimentar tal ideia – nem mesmo
criar esperança. Esperança nunca o levou a lugar nenhum; se sabia de qualquer
coisa, era isso. Era algo que estava gravado em sua pele em grossas linhas
prateadas.

"Isto não é um jogo. 'Guarde o segredo', ou o que for. Se outras pessoas


descobrirem, terei que ir embora. Poderia ser até pior, eles podem..." Remus
achou melhor não dizer.

"Não vamos deixar isso acontecer." Sirius finalmente falou, dando um passo
hesitante para frente. "Não é?" Ele se virou para Peter e James, um de cada
lado dele. Os dois pareciam muito sérios e muito assustados, mas ambos
balançaram a cabeça com firmeza.

"Confie em nós." Disse James. "Por favor?"


***

Concordou em dar-lhes um mês. Ou eles concordaram em dar a ele um mês -


não tinha certeza. Não estava claro quem pensava quem era mais perigoso. O
início foi agonizante, cada momento cheio de constrangimento e um novo tipo
de timidez que não existia antes. Eles pensam que eu sou um monstro, uma voz
na cabeça de Remus entoava, repetidamente, eles pensam que eu vou matá-los
enquanto dormem, eles pensam que eu sou mau.

E realmente, quando pensava sobre isso, percebeu que nada ainda provava o
contrário. Estava claro há algum tempo que sua aflição estava sujeita a
mudanças à medida que ele chegava à adolescência. Remus não tinha ideia do
quão longe isso iria. Talvez um dia ele cruzasse essa linha; talvez fosse
simplesmente como as coisas eram.

Durante uma semana inteira, eles não falaram sobre isso. Nem uma palavra,
nem mesmo um sussurro. Remus tinha certeza de que todos iriam bombardeá-
lo com perguntas; Sirius especialmente, mas ele tinha sido tão severo com os
outros quando o confronto aconteceu que ninguém quis tocar no assunto
novamente. Na frente de todos os outros, eles agiam da mesma forma - James
falava alto e era confiante, Sirius era sarcástico e arrogante, Peter os adorando
enquanto era inseguro. Mas quando estavam sozinhos, os quatro se calavam,
perdidos em pensamentos e agindo com uma educação distante. As reuniões
noturnas de Sirius e James tornaram-se ainda mais frequentes.

Inesperadamente, mas talvez sem surpresa alguma, foi Severus Snape quem
acabou reunindo os Marotos.

Aconteceu, claro, durante uma aula de Poções. Neste semestre, eles estavam
aprendendo a fazer poções de "sonho agradável", que levariam algumas
semanas para serem preparadas.

"Vocês precisarão voltar regularmente à tarde para verificar o progresso da sua


poção – eu darei nota por persistência e atenção. Portanto, acho que é melhor
que todos vocês formem pares para que possam se revezar. " Slughorn
anunciou.

Houve uma agitação geral e conversas quando os alunos começaram a escolher


seus parceiros. Remus se resignou a fazer o trabalho com Peter, como de
costume. Mas acima da comoção, Slughorn levantou a voz novamente.
"Não, não, eu aprendi minha lição", ele deu aos marotos um olhar severo,
"Vocês não podem escolher os mesmos parceiros que escolheram no ano
passado."

Sirius e James olharam um para o outro, depois para Peter e Remus, medindo-
os. Remus se encolheu.

"Na verdade," Slughorn continuou, "Acho que eu vou escolher os pares..."

Felizmente Slughorn teve tato suficiente para não colocar nenhum deles com
Snape, embora Peter tenha acabado com Mulciber, que se elevava sobre ele,
com o dobro de seu tamanho. O professor separou Mary e Marlene, que eram
tão grudadas quanto James e Sirius, colocando-as com os meninos.

"Eu quero Sirius!" Mary gritou. Marlene a cutucou e elas se desfizeram em


risadas. Sirius parecia horrorizado, e James desconcertado - ele passou as mãos
pelos cabelos e endireitou ligeiramente as costas.

Remus fez par com Lily Evans, para seu desgosto. Ele realmente não gostava
de nenhuma das garotas, mas Lily era a última pessoa com quem ele gostaria
de trabalhar. Ela era intrometida e se esforçava demais para ser legal. Além
disso, ela era a melhor amiga de Snape, que agora o encarava do outro lado da
sala.

Ela pareceu reconhecer sua antipatia e sorriu para ele nervosamente.

"Oi Remus, você está se sentindo melhor?" Ela falou, a voz muito fina. Ele
grunhiu em resposta, de cabeça baixa.

"É melhor ficar bem longe, Lily," Snape sibilou da mesa que estava dividindo
com uma garota Sonserina, "Loony Lupin pode ser contagioso."

"Cala a boca, Snivellus," Remus murmurou em resposta, tentando não deixar


Slughorn ouvir.

"Sim, por favor, fique quieto, Sev," disse Lily, afetadamente, dando a ele um
olhar duro.

"Só estava tentando ajudar," o garoto de cabelo seboso respondeu, os lábios se


curvando, "Nós não queremos mais ninguém com a doença misteriosa de
Lupin, queremos? Me avise se precisar de alguma coisa, Lily."
"Remus e eu somos perfeitamente capazes de completar a tarefa sozinhos,
obrigado." Ela retrucou, jogando os cachos vermelhos para trás e abrindo seu
livro com um floreio elaborado. Ela olhou para Remus, "Precisamos de oito
caudas de rato, cortadas bem finas. Você quer fazer isso, ou eu que eu faça? "

"Erm. Eu faço," Remus respondeu, surpreso.

"Ótimo. Vou começar a pesar as folhas de alecrim, então. "

Eles trabalharam em silêncio por um tempo, e poderia ter ficado tudo bem se
estivessem em outra mesa, mas Snape estava logo atrás deles, lançando olhares
maldosos para Remus e falando um pouco mais alto que em um murmúrio.

"Claro que, 'Loony Lupin' é bastante adequado", disse ele para a garota com
quem estava trabalhando, "Porque ele, de fato, é totalmente louco - eu o vi
vagando pelo castelo sozinho, espreitando em cantos escuros. Você deve se
lembrar que ele realmente me atacou no ano passado. Ele é claramente
perigoso, não sei por que Dumbledore o permite aqui. "

Remus sentiu suas orelhas ficando vermelhas. Ele se virou, segurando sua
varinha.

"Diga mais uma palavra." Ele rosnou. Snape o olhou de cima a baixo, sorrindo
maliciosamente. Lilly agarrou o braço de Remus e o puxou de volta.

"Apenas ignore ele", ela sussurrou, embora parecesse muito irritada, "Ele está
passando por dificuldades em casa e culpa todos os outros, só isso."

"Está bem." Remus disse, voltando para sua cauda de rato. O sangue
manchando seus dedos.

Depois de preparar os ingredientes, chegou a hora de mexer. Remus estava


começando a se dar bem com Lily agora. Ela era paciente e não agia como se
soubesse de tudo, como James e Sirius. Ela era meio certinha demais, mas ele
se lembrou de que estava tentando ser também, então era bom que aprendesse.

"Eu mexo", disse ele, heroicamente - ele nunca tinha se oferecido para fazer
algo para uma garota antes; nunca tinha sequer mantido uma porta aberta, seu
contato com o sexo oposto tinha sido extremamente limitado. Parecia algo
muito adulto de se fazer, algo que James faria. Ele arregaçou as mangas e
agarrou a grande colher de pau.
"Eurgh! Olhe para ele!" A voz desagradável e enjoativa de Snape soou alto o
suficiente para metade da classe ouvir agora. Remus olhou para cima e
descobriu que todos o olhavam. Seus braços estavam descobertos. Ele
rapidamente puxou suas vestes para baixo para cobrir as marcas, mas todos já
haviam visto. "Que tipo de doença faz isso?!"

"Cale a boca Severus!" Lily gritou: "Por que você tem que ser tão horrível?!"

"Lily, apenas olhe!"

"Cuide da sua vida!"

A mente de Remus estava zunindo. Queria que o chão o engolisse; queria se


esconder de baixo da mesa, queria saber aparatar, mais que tudo queria poder
dar outro soco em Snape. Os marotos também ouviram, Sirius e James
levantaram as cabeças dos caldeirões.

"Ei, Snivellus, o que você está dizendo sobre o nosso amigo?"

"Oh, fique fora disso, Potter!" Lily grunhiu, "Você só vai piorar as coisas!"

"Silêncio por favor!" Slughorn explodiu, "Vocês não são mais do primeiro ano,
acho que são capazes de se concentrar na tarefa em suas mãos."

Todos ficaram quietos. Remus estava segurando a colher com todas as suas
forças.

"Sinto muito, Remus," sussurrou Lily, parecendo genuinamente chateada, "Ele


é tão ... ah, eu não sei! Olha, eu tenho isso. " Estendeu a mão, disfarçadamente.
Remus olhou para baixo. Ela segurava duas coisas redondas acinzentadas que
pareciam balas ou comprimidos.

"O que?" Ele perguntou, sem palavras.

"Ele estava me irritando na semana passada, exibindo como ele é bom em


poções ... Eu sei que é mesquinho da minha parte, mas eu queria lhe dar uma
lição, então fiz isso. Mas aí ele teve um problema com a mãe e eu senti pena,
então não usei. Mas agora..."

"Evans," Remus disse, exasperado, "O que é isso?!"


"É algo com que tenho brincado no clube do Slug", Lily sorriu
enigmaticamente. Remus percebeu que ela incrivelmente vingativa. "Vão
reagir com a poção dele. Vai ser muito bom."

Ele olhou para ela, pasmo.

"Mas você é ..."

"A queridinha dos professores? Uma cdf? Certinha? " Ela sorriu mais
amplamente, mostrando todos os seus dentes brancos e bonitos, "Alguns de
nós sabem como não ser pegos, Sr. Maroto."

"Aqui," ela empurrou as pílulas em sua mão, "Você faz isso. Jogue quando ele
não estiver olhando. Ei, Potter!" Ela gritou para outro lado da sala. A cabeça de
James se ergueu, seus óculos embaçados com o vapor que emanava de seu
caldeirão.

"Hã?"

Snape também olhou para cima e agora estava encarando James. Remus se
moveu rapidamente, fingindo bocejar e esticando os braços, sua mão direita
alcançando o topo do caldeirão de Snape. Ele jogou os comprimidos, como
Lily disse.

A admiração dele cresceu ainda mais quando ela agarrou o braço de Remus,
puxando-o para trás bem na hora que o caldeirão de Snape explodiu atrás
deles, uma massa magnífica de bolhas roxas espumantes derramando-se sobre
as roupas de Severus e de seu parceiro.

A classe inteira começou a rir, e Snape ficou branco de raiva, suas narinas
dilatadas.

"Oh céus!" Slughorn se apressou, "Exagerou um pouco com as cascas de


besouro, hein Severus?"

"Não fui eu!" Snape fumegou, bolhas roxas se instalando em seu cabelo, "Ele
fez alguma coisa!" Ele apontou para Remus, que estremeceu, "Deve ter feito!"

"Você viu o Sr. Lupin mexer na sua poção?"

"Não, mas..."
"Vamos, garoto," Slughorn riu, jogando-lhe um pano de prato verde, "Todos
nós cometemos erros - até você!"

Severus gaguejou incoerentemente, e Lily estava claramente lutando para


manter uma cara séria, eventualmente tendo que se virar, seus ombros
tremendo em uma risada silenciosa.

Após a aula, os Marotos se jogaram em cima de Remus no corredor, gritando e


aplaudindo.

"Foi você que fez, não foi?"

"Brilhante!"

"Como você fez isso? Você é péssimo em poções! "

Remus sorriu de volta para eles, sem confirmar nem negar. Por cima do ombro
de James, ele viu Lily lançar lhe um sorriso rápido, antes de subir correndo as
escadas.

"Eu não disse?!" Sirius proclamou brilhantemente, jogando um braço ao redor


de James e outro ao redor de Remus, "Ele ainda é um maroto!"
25. Segundo Ano
As Horas Depois

Sexta-feira, 6 de setembro de 1972

Depois que o gelo inicial foi quebrado, as perguntas vieram como uma
enxurrada. Naquela noite, depois do jantar, todos os quatro meninos se
sentaram na cama de Remus,

"Quando isso aconteceu?"

"O Dumbledore sabe?!"

"Você já, sabe, atacou alguém?"

"Como que é?"

"Para onde você vai, quando acontece?!"

Remus mordeu o lábio inferior. Ele nunca tinha falado sobre sua condição
antes, para ninguém - exceto por sua conversa com Madame Pomfrey no ano
passado. Nenhum dos trouxas com os quais ele cresceu teria acreditado nele, e
ele sempre fora levado a acreditar que os bruxos fugiriam dele.

"Er ..." ele tentou descobrir por onde começar, "Eu tinha cinco anos, quando
aconteceu. Eu realmente não me lembro muito antes disso. Sim, Dumbledore
sabe. Acho que nunca machuquei ninguém. Eu acho que provavelmente
saberia, se eu tivesse. "

"Então, quando você transforma, consegue se lembrar como é?" Sirius


perguntou, ansioso, "Ser um lobo?"

"Hum ... não realmente?" Remus pensou muito, "Eu me lembro de sentir
coisas, mas não acho que tenho um cérebro humano enquanto sou assim. É
mais como um sonho muito ruim."

"Eu sempre pensei que os lobisomens fossem mais ..." Peter olhou para ele
pensativamente, "Não sei, assustadores?"

Remus encolheu os ombros.


"Então foi isso que aconteceu com seu pai?" Sirius perguntou abruptamente,
"Ele foi morto pelo lobisomem que mordeu você?"

Remus se encolheu. Não por causa de seu pai, mas porque ele não estava
acostumado a ouvir tanto aquela palavra com 'l'. Ele mesmo nunca a havia dito.

"Não," ele respondeu, "Meu pai, ele ... uh ... bem, ele se matou. Depois que fui
mordido, acho que foi por minha causa. Minha mãe - você sabe, ela é uma
trouxa, eu acho que provavelmente foi um pouco demais para ela, então ela me
mandou para St. Edmund's. "

Houve uma espécie de silêncio desconfortável.

"Você já conheceu-" Sirius começou, mas James deu a ele um olhar penetrante,

"Chega, Black, deixe ele em paz."

Eles finalmente se separaram para começar o dever de casa, e James saiu para
uma corrida ao redor do terreno antes de escurecer. As audições de quadribol
estavam chegando e ele estava se tornando mais obcecado com sua preparação
física e resistência a cada dia. Tentou fazer Peter e Sirius irem junto, mas eles
recusaram.

"Aquele maldito tá tentando escravizar a gente," Peter murmurou, ao sair. "Eu


disse a ele que nem mesmo estou tentando entrar no time."

"Acho que vou tentar", disse Sirius, casualmente, "Eles precisam de um


batedor, de qualquer maneira."

A lição de casa acabou sendo posta de lado para um jogo particularmente


agressivo de snap explosivo entre os três, com um disco girando no tocador de
Sirius - The Beatles, porque Peter implorou por uma pausa de Bowie.

Mais tarde, depois que as luzes se apagaram, Remus se sentou para ler um
livro que Sirius havia lhe emprestado. Era um trouxa - ficção científica. Ele
tinha visto alguns filmes desse tipo no cinema local em St Edmund's, mas não
sabia que havia livros também. Estava finalmente ficando emocionante quando
ele ouviu o ranger revelador das tábuas do chão, o que significava que Sirius
estava fazendo uma visita a James. Ele ouviu o farfalhar das cortinas e
sussurros baixos, antes de um súbito vazio de som não natural, o que
significava que alguém havia lançado um feitiço silenciador.
Remus ignorou, se aconchegando em seu edredom e focando em seu livro.
Passaram-se talvez vinte minutos, quando ele ouviu o feitiço silenciador sendo
retirado - era como se ele fosse surdo de um ouvido e pudesse ouvir de repente
novamente. Ele ouviu o farfalhar da cortina novamente, enquanto Sirius descia
e caminhava suavemente de volta para o outro lado do quarto.

Desta vez, no entanto, seus passos se aproximaram, e para a surpresa de


Remus, as cortinas de sua cama se abriram. O rosto longo e pálido de Sirius
olhou para ele.

"E aí" ele sussurrou,

"Oi ..." Remus respondeu, "E aí?"

"Vi a luz da sua varinha", ele assentiu, "Posso entrar?"

"Erm ... ok?"

Sirius sorriu e deslizou para dentro facilmente, ajoelhando-se na cama em


frente a Remus, que puxou as pernas até o peito, colocando o livro de lado.

"Sonoro Quiescis," Sirius sussurrou, lançando o feitiço à prova de som para


que eles não incomodassem os outros. "Como está o livro?" Ele olhou para o
livro descansando no travesseiro ao lado de Remus.

"Bom," Remus respondeu, evasivamente. "E aí?" Ele repetiu.

"Eu estava conversando com James." Ele disse, sentando-se de pernas


cruzadas, "Ele acha que eu te chateei, fazendo perguntas sobre o seu pai."

"Oh," Remus inclinou a cabeça, surpreso, "Não, estou bem. Isso não me
chateia; estou acostumado."

"Isso é o que eu disse a James."

"Certo."

Sirius não saiu, ele apenas continuou olhando para Remus. Isso o estava
deixando desconfortável, ele usava apenas uma regata fina para dormir, que
exibia uma série de marcas vermelhas e prateadas cruzando seus braços e
ombros nus. Sirius encarou, abertamente.
"Como você conseguiu suas cicatrizes?" Ele perguntou baixinho. Remus
franziu a testa, puxando os lençóis até o pescoço.

"Como você conseguiu as suas?!" Retrucou. Ele imediatamente se arrependeu;


Sirius parou de olhar para sua pele e recuou, os olhos cheios de dor e surpresa.

"Eu... dos meus pais. A maldição lacero, é como eles nos disciplinam. " Ele
disse, sua voz um pouco robótica.

"Desculpe," Remus largou o edredom. Ele suspirou, estendendo os braços para


que Sirius pudesse ver melhor, "Eu faço isso comigo mesmo, quando estou ...
quando eu me transformo, vê?" Ele puxou para baixo um ombro de sua blusa e
torceu ligeiramente para mostrar a ele quatro longas marcas de garras brancas.

"Uau," Sirius respirou, de joelhos novamente, inclinando-se para frente com


sua varinha acesa para ver melhor. "Por que você faz isso?"

"Não sei, não sou exatamente eu mesmo. Madame Pomfrey acha que é
frustração - porque é da minha natureza atacar as pessoas e eu não tenho
ninguém para atacar. "

"Onde eles colocam você?"

"Há uma casa velha ... McGonagall e Pomfrey me levam lá todo mês, há uma
passagem sob o Salgueiro Lutador."

"McGonagall assiste você ?!"

"Não! É muito perigoso. Acho que eles usam feitiços para me manter
trancado."

"Parece horrível."

Remus encolheu os ombros,

"Nah, não é tão ruim quanto em St. Eddy's, eles têm uma cela para mim lá,
com uma porta de prata. Quando cheguei lá - a Matrona acha que eu era muito
pequeno para lembrar, mas me colocaram em uma jaula."

Sirius olhou para ele bruscamente.

"Isso é nojento!"
"Eu não sei," Remus ficou surpreso com sua reação, "Era para manter todos os
outros seguros. E eu só podia ser do tamanho de um cachorrinho."

"Filhote." Sirius disse, prontamente.

"Hã?"

"Um lobo bebê é um filhote. Cachorros são cachorrinhos."

"Oh."

"Então, onde você foi mordido?" Sirius havia trocado preocupação por
curiosidade mais uma vez.

"Oh, hum, aqui." Remus deu um tapinha em seu lado esquerdo, logo acima do
quadril. Sirius olhou para ele com expectativa. Remus suspirou novamente,
"Você quer ver?"

Sirius acenou com a cabeça, ansioso, inclinando-se para frente novamente


enquanto Remus levantava a barra da camisa. Ele mal notava a marca de
mordida, embora ela se destacasse tanto quanto sempre. Era uma cicatriz
enorme, evidência de uma mandíbula incrivelmente grande. Você poderia
contar cada dente, se quisesse; as covas profundas estragando a pele macia de
Remus. Sirius chegou muito perto agora, de modo que Remus teve que se
inclinar totalmente para trás a fim de impedir que suas cabeças batessem.

"Oh uau ..." ele respirou, perdido em sua observação como alguém que
desenterrou um grande tesouro arqueológico.

Remus sentiu os longos cabelos de Sirius roçarem sua pele, e o calor de sua
respiração, e o empurrou rapidamente.

"Deus, Black, você é tão estranho."

Sirius apenas sorriu aquele sorriso ladino de Sirius Black.

***

Sexta-feira, 13 de outubro de 1972

"Então, o que exatamente estamos fazendo aqui?" James sussurrou, soando


entretido.
"E por que tivemos que trazer a capa estúpida?" Sirius disse, ligeiramente
abafado sob o tecido, "Faltam horas para o toque de recolher."

"Estou com calor", reclamou Peter.

"Cale a boca, todos vocês." Remus comandou: "Estou tentando me


concentrar."

"Concentrar no q – ai!"

Remus chutou Sirius na canela.

"Eu falei pra ficar quieto."

"Chato do caramba," Sirius murmurou - mas ele ficou quieto depois disso.

Remus fungou. Definitivamente cheirava a chocolate. Todo o corredor -


apenas um leve sopro, conforme dobrava a esquina, e mais forte e doce quanto
mais você caminha em direção a uma estátua perto do meio. O cheiro estava
deixando Remus louco por semanas - desde que ele o notou no final do
semestre passado. Tinha que ter algo a ver com a estátua - uma bruxa com as
costas arqueadas e um tapa-olho. Era um retrato horrível, ele esperava que o
artista tivesse sido particularmente cruel, e a pobre mulher não
fosse realmente assim.

"Você nos trouxe aqui para conhecer sua nova namorada, Lupin?" James
perguntou, sorrindo maliciosamente enquanto Remus continuava a encarar a
bruxa de um olho só.

"Por que você continua fungando assim?" Sirius lamentou, "Eu não quero estar
tão perto se você estiver pegando um resfriado."

"Nenhum de vocês tão sentindo esse cheiro?"

"Cheiro do quê?"

"...chocolate. Com certeza chocolate."

"Chocolate? Onde?" Peter de repente se animou.

"Não sinto o cheiro de nada." Sirius disse.

"Nem eu", disse James.


"Está vindo da estátua," Remus continuou, imperturbável pelas provocações de
seu amigo. Ele estendeu a mão e tocou a pedra cuidadosamente através da
capa.

"O que? Acha que a velha corcunda está cheia de doces ou algo assim? " Sirius
estava começando a soar entediado e irritado. Isso incomodava Remus um
pouco, às vezes. Ele e Peter eram arrastados em todos os tipos de "missões"
estúpidas pelos outros dois, mas se ele e James não estivessem no comando,
Sirius ficava emburrado.

"Não." Remus disse: "Acho que é uma das passagens secretas daquele seu
livro."

"Sério?!" Agora Sirius estava prestando atenção. "Você realmente pode sentir
o cheiro de chocolate? Isso é alguma coisa ... especial que você pode fazer? "

"Sim."

"Essa não leva às cozinhas", disse Peter, com conhecimento, "Ela fica no andar
térreo, um lufano me disse."

"Como podemos entrar?"

"Senha?" James sugeriu: "Como a sala comunal."

"Scallywag!" Peter gritou para a bruxa, ansioso. Nada aconteceu.

"Não quis dizer que seria exatamente a mesma senha, Peter." Disse James. Ele
estava sendo gentil, mas Sirius e Remus já estavam tendo ataques de riso.

"E Alohomora?" Sirius sugeriu, se recuperando. Remus tentou, mas nada


aconteceu.

"Isso é para fechaduras, de qualquer maneira", disse James, "não há outra coisa
para revelar entradas invisíveis?"

"Oh sim!" Sirius acenou com a cabeça, ficando animado, "Sim, há ... umm
... Dissendium!" Ele bateu com a varinha na corcunda da bruxa.

Imediatamente, a corcunda se abriu, deslizando para longe, deixando um


espaço grande o suficiente para eles entrarem, um de cada vez. O cheiro de
chocolate ficou ainda mais forte, e agora Remus também podia sentir o cheiro
de terra, ar fresco e outras pessoas.
Assim que todos entraram, a corcunda se fechou atrás deles.

"Lumos!" todos disseram em uníssono, saindo de debaixo da capa. James a


dobrou debaixo do braço e imediatamente assumiu a liderança.

"Vamos então," ele disse, segurando sua varinha à frente deles, iluminando a
passagem escura, "Vamos lá!"

Todos o seguiram. Remus não se importou - ele havia feito sua parte.

Foi uma longa caminhada, descendo um lance de escadas de pedra fria, através
de um túnel que era terroso e úmido. Mas o cheiro ficou mais forte, e quando
eles finalmente chegaram ao fim, havia outra escada, levando a um alçapão de
madeira. Eles se entreolharam e silenciosamente concordaram que James
deveria ir primeiro. Eles o viram subir, abrir a porta e enfiar a cabeça. Remus
sentiu que todos estavam prendendo a respiração, observando o torso de James
desaparecer no desconhecido.

"Eu não acredito!" Ele riu acima deles, “Vocês têm que ver!" Ele se ergueu,
desaparecendo por completo. Sirius correu atrás dele, não querendo perder
nada. Remus foi o próximo, mas Peter hesitou atrás deles.

"Onde estamos?" Sirius estava perguntando, olhando para o quartinho escuro.


Eles estavam cercados por caixas e cestos cuidadosamente empilhados. O
cheiro de confeitaria agora era insuportável.

"Acho que estamos em Hogsmeade!" James disse, animado: "Este é o depósito


da Dedos de mel!"

"A loja de doces?" Remus perguntou, achando que estava sendo bastante
redundante a este ponto. Sirius havia rasgado uma caixa que parecia conter
pelo menos quinhentas caixas de sapos de chocolate.

Remus tinha ouvido tudo sobre Hogsmeade pelos outros garotos - todos eles já
tinham visitado em férias em família antes; era um dos únicos vilarejos
inteiramente mágicos da Grã-Bretanha. Os alunos mais velhos podiam ir nos
fins de semana e muitas vezes traziam sacos de papel cheios de doces da
Dedos de mel. Parado no porão naquele momento, Remus não poderia ter
ficado mais feliz com o resultado dessa missão.

Eles finalmente persuadiram Peter e passaram uma boa hora explorando a loja,
maravilhados com sua própria sorte. Eles escolheram um pouco de tudo, com
Remus os dirigindo, como o único com algum tipo de experiência em furto.
James pensou que Remus não o vira tirar um saco de sicles e galeões de suas
vestes e deixá-lo no balcão quando eles estavam saindo.

Os marotos voltaram para a sala comunal da Grifinória com os bolsos pesados


e sorrisos enormes no rosto. Um monitor tirou pontos de todos eles por terem
perdido o toque de recolher, mas eles não se importaram. Quando todos se
deitaram na cama horas depois, fingindo não ter dores de estômago, Sirius
bradou.

"Isso definitivamente vai para o mapa."


26. Segundo Ano
Quadribol

"Eu já tive o suficiente." Peter disse, severamente. Remus suspirou, ao lado


dele. Ele conhecia a sensação, mas não havia muito sentido reclamar disso
agora. "Realmente tive!" Peter reiterou, sua voz ligeiramente alta enquanto
olhava para Remus para validação.

"Eu sei que sim." Remus respondeu, esperando acalmá-lo.

"Eles nos arrastam para todo tipo de coisa, nos colocam em detenções - e eu
nunca reclamei."

"Bem. Você reclama às vezes." Remus ergueu uma sobrancelha. Peter acenou
com a cabeça,

"Ok, às vezes, mas eu sempre faço o que James diz. E Sirius, mesmo ele sendo
horrível comigo."

"Sirius é horrível com todos." Remus disse, ficando entediado agora.

"Bem, desta vez eu definitivamente tive o suficiente." Peter continuou. "Eles


foram longe demais."

"Estamos apenas apoiando eles" Remus bocejou, inclinando-se para a frente


nas arquibancadas de madeira, "Achei que você gostava de dar apoio."

"Não-" Peter fez uma careta, "Às cinco horas da manhã."

Remus estava inclinado a concordar, embora ele não fosse choramingar sobre.
Pelo menos Peter realmente gostava de quadribol. Eles olharam para o campo
silencioso, a grama espessa e verde sob um véu transparente de névoa matinal.
James e Sirius provavelmente ainda estavam nos vestiários com o resto dos
candidatos ao time de quadribol da Grifinória. Remus e Peter estavam
amontoados nas arquibancadas, enrolados em cachecóis e gorros, esperando o
início dos testes.

Eles já estavam lá há pelo menos uma hora - muito cedo até para o café da
manhã, porque James queria praticar antes. Eles poderiam ter dito não e, em
vez disso, dormido, deixando os outros dois irem mais cedo se quisessem. Mas
Peter estava certo; eles sempre faziam o que James dizia, ele era muito bom em
convencê-los. Remus bocejou novamente.

"Oh, olá, Remus," Lily Evans subiu as escadas, sorrindo para eles, cansada,
"Oi Peter."

"Bom dia." Remus acenou de volta.

"Bom dia, Lily," Peter bocejou.

"Frio, não está? Estão aqui para assistir aos testes de quadribol?"

"Uhum."

"Deveria saber que James iria tentar." Lily disse. O fanatismo de James pelo
quadribol não se restringia ao dormitório dos marotos; todos que o conheceram
sabiam como ele era obcecado.

"Sirius também." Disse Remus.

"Bem, nunca um sem o outro." Lily respondeu com pompa.

"Quem você está assistindo?" Peter perguntou.

"Marlene," Lily apontou para o outro lado do campo, onde o time de quadribol
da Grifinória e os novos candidatos estavam se reunindo perto das traves.
Remus conseguiu distinguir o rabo de cavalo louro claro de Marlene
McKinnon. "Ela está tentando para batedora."

"Essa é a posição que Siri-" Peter começou, mas Remus o chutou rapidamente
na perna.

Lily olhou para eles, confusa, e optou por mudar de assunto.

"Remus, você pode verificar a poção de 'sonho agradável' esta noite? Estou
muito atrasado em astrologia e queria falar com o Professor Aster."

"Não posso," Remus respondeu, inclinando-se sobre os cotovelos, "Temos


detenção."

"Oh. Pelo que?"


"Levitar todas as mesas e cadeiras na sala de aula de Defesa Contra as Artes
das Trevas." Peter respondeu.

"Mesmo?" Lily pareceu surpresa, "Eu não ouvi sobre isso."

"Ainda não o fizemos", disse Remus, "vamos fazer isso mais tarde, enquanto
todos estiverem almoçando. Mas imagino que eles saibam que fomos nós e nos
deem detenção de qualquer maneira. "

Lily estalou a língua.

"O que eu disse sobre ser pego, Lupin?" Ela sorriu travessamente.

Remus deu de ombros, dando a ela um pequeno sorriso de volta. Lily


realmente não era tão ruim. Ela tinha o dom, assim como todas as garotas, de
fazer você parecer estúpido, mas pelo menos tinha senso de humor a respeito
disso. Era particularmente agradável vê-la sem Snape, que geralmente a
assombrava por perto como um morcego vampiro, exalando tristeza e
desaprovação.

Finalmente houve movimento no campo de quadribol quando todos os


aspirantes foram colocados à prova. James não poderia deixar de impressionar;
ele estava em sua melhor forma naquele dia. Ele mergulhou, rodou e girou no
ar como se não fosse nada demais - como se estivesse nadando, não voando.
Remus ouviu Lily inspirar profundamente enquanto James tentava uma curva
particularmente fechada.

"Ele tem que se exibir assim?" Ela disse, nervosa: "Ele vai se matar."

"Ele não vai", disse Peter, "Eu o conheço desde que tínhamos cinco anos e ele
nunca caiu da vassoura. Nem uma vez."

"Não é à toa que ele pensa que é intocável." Lily murmurou.

O resto dos aspirantes a artilheiros se revezaram, mas era óbvio que James era
a melhor escolha. Em seguida, foram os batedores - Sirius, Marlene e um
corpulento do quinto ano se equiparam de seus bastões e voaram para o céu
junto com seis balaços. Foi horrível de assistir; os nervos de Remus estavam à
flor da pele quando as brutais balas de canhão dispararam em direção à cabeça
e ao corpo de seu amigo. Sirius habilmente evitou os balaços e jogou alguns
para fora do caminho, mas Marlene era extraordinária. Ela voou em círculos ao
redor de seus adversários, balançando seu bastão com a precisão de uma
máquina e enviando os balaços para o outro lado do campo todas as vezes.
"Caramba!" Peter exclamou: "Não sabia que McKinnon era tão boa assim."

"O irmão dela joga pelos Cannons," explicou Lily, parecendo presunçosa em
nome de Marlene. "Ela tem treinado com ele durante todo o verão."

"Sirius tem treinado também," Peter disse, defendendo seu amigo e se


esquecendo de todos os desprezos anteriores, "Ele e James treinavam
constantemente, não é, Remus?"

Remus não respondeu, nem mesmo para lembrar Peter que ele não havia
passado o verão com eles. Ele estava muito ocupado se envergonhando por
Sirius, e desejando que Marlene McKinnon não fosse tão boa em golpear
balaços - ou pelo menos desejando que houvesse duas posições abertas para
batedor. Ele não tinha certeza do por que se importava tanto - ele odiava
quadribol, e se Sirius e James estivessem no time, isso significava que ele teria
que passar muito mais tempo tremendo de frio nas arquibancadas. E ele estava
secretamente esperando que Sirius falhasse em algo por anos, esperando por
uma prova de que Sirius Black não era totalmente perfeito em todos os
sentidos.

Mas agora que o momento havia chegado, Remus se sentia culpado por pensar
isso. Sirius com certeza ficaria arrasado.

"Lá vem eles!" Lily saltou e desceu correndo as escadas para encontrar sua
amiga. Remus e Peter a seguiram lentamente.

"Eu entrei!" Marlene estava sorrindo, seu rosto corado. Ela e Lily se
abraçaram.

James parecia incrivelmente satisfeito consigo mesmo, seu cabelo


selvagemente despenteado pelo vento, seus óculos levemente tortos. Ainda
assim, ele não estava sorrindo tanto quanto Marlene, obviamente tentando
diminuir sua animação pelo bem de Sirius. Sirius tinha o rosto contorcido em
pura raiva - e Peter realmente deu um passo para trás apenas ao vê-lo.

"Éh, parabéns, McKinnon." Sirius disse, rispidamente, olhando para o chão.

"Obrigada ... er ... você foi muito bom também, Sirius." Ela disse, nervosa. Ele
grunhiu, ainda sem olhar para cima.

James olhou para ele de lado e fez uma cara de desculpas para as meninas. Ele
estendeu a mão para Marlene,
"Vejo você na próxima semana para o primeiro treino?"

"Sim, ótimo!" Ela sorriu brilhantemente para ele, "Até lá, Potter!"

As duas garotas voltaram para o castelo, de braços dados, conversando


animadamente.

"Sirius, cara, não é o fim do mundo." James se virou para o amigo, parecendo
preocupado.

"Eu sei." Sirius chutou um tufo de grama.

"Você poderia estar no time reserva se quisesse, Singh ofereceu."

"Eu sei. Eu não quero ficar no banco."

"Vamos tomar o café da manhã?" James finalmente suspirou, olhando para os


outros dois em busca de apoio. Peter assentiu com entusiasmo.

Remus não pôde deixar de se sentir um pouco irritado. Isso era tudo que Potter
falava desde que entraram em Hogwarts, e Sirius nem mesmo teve a decência
de ficar feliz por seu melhor amigo.

"Muito bem, James," Remus disse, bastante incisivamente, olhando para Sirius
enquanto dizia isso, "Você foi incrível, parabéns."

"Valeu, Lupin," James sorriu. Seus olhos enrugaram ligeiramente quando ele
sorriu e seu rosto se iluminou - como se esse fosse o estado natural de seu
rosto.

"É!", disse Peter, dando um soco no braço dele, "Boa, Potter."

"Obrigado!"

Eles voltaram para o castelo juntos em silêncio. Sirius ainda não estava
falando, e andava alguns passos à frente do resto deles. James correu para
acompanhar,

"Você pode tentar de novo no ano que vem, Ardal já terá ido embora, ele me
disse que estava desistindo para se concentrar nos NIEMs."
"Eu não me importo, tá tudo bem." Sirius respondeu, encolhendo os ombros.
Ele caminhou ainda mais rápido, afastando-se rapidamente deles, a vassoura
ainda debaixo do braço. James foi alcançá-lo, mas Remus agarrou seu braço,

"Deixa ele." Ele disse, com raiva: "Se ele quer ser um idiota mal humorado a
respeito é problema dele."

Sirius não se juntou a eles para o café da manhã, nem estava na sala comunal
depois. James foi emboscado pela maioria dos outros grifinórios, que agora
tinham ouvido do time que ele era o novo artilheiro. Uma gangue de meninos
do quarto ano o puxou para falar sobre estratégia, e Peter foi também,
desfrutando da glória de seu amigo. Isso nunca importou para James; ele
sempre teve muito brilho para compartilhar.

Remus não era fã de holofotes e aproveitou a oportunidade para procurar por


Sirius. Ele não estava no dormitório, mas isso era esperado - claramente Black
queria ficar deprimido em algum lugar privado. Mas Remus sabia tudo sobre
esconderijos, e não demorou muito para o encontrar, enrolado em um enclave
escondido atrás de uma tapeçaria retratando uma caça a unicórnios.

"Vá embora, Lupin." Sirius fez uma careta, virando-se, os braços em volta dos
joelhos. Sua voz estava grossa, como se ele tivesse chorado, embora seu rosto
estivesse seco. "Você não pode me animar, ok."

Remus revirou os olhos, escalando o enclave com ele, forçando-o a se mover.

"Se levanta", disse ele com firmeza, "não estou aqui para te animar, seu
idiota."

"O que?"

"Por que você está sentado aqui se lamentando? Seu melhor amigo acabou de
realizar todos os sonhos dele de uma vez, vai lá e seja legal com ele."

Sirius fez um barulho indignado, ainda tentando se afastar de Remus, embora


não houvesse muito espaço agora.

"Você não entenderia." Ele fungou.

"Imagino que não," Remus confirmou, calmamente, "Mas eu entendo que


James realmente, realmente queria ser um artilheiro, e ele trabalhou muito para
isso, e ele conseguiu. E Marlene realmente queria ser uma batedora, e ela
trabalhou muito também - Evans nos contou. Então ela entrou. Ela era
simplesmente melhor do que você. "

"Vai se ferrar!" Sirius deu um empurrão nele, mas Remus estava acostumado a
ser empurrado, e quer Sirius gostasse ou não, Remus era mais forte.

"Você nem se importava tanto de qualquer maneira!" Ele continuou,


empurrando de volta, "Não tanto quanto Potter. Você só fez o teste porque ele
fez, mas você nem sempre precisa fazer o mesmo. Você ainda o venceu em
Transfiguração. Você ainda tem as melhores notas do ano. Todo
mundo gosta de você. Bem, exceto os Sonserinos e hum ... talvez sua família,
mas quem se importa. A família de Peter também não gosta dele. "

Sirius soltou uma risada fraca, apesar de si mesmo.

"Então pare de agir como uma criança e vá dizer parabéns."

"Tá bom."

"Ótimo."

Os dois pularam da saliência, empurrando a tapeçaria para fora do caminho. Os


minúsculos cavaleiros bordados sacudiram os punhos para os meninos por
atrapalhar sua perseguição ao unicórnio de prata, que relinchou e galopou em
um denso bosque de árvores entrelaçadas.

Eles voltaram para a sala comunal. Sirius enfiou as mãos nos bolsos.

"Vocês todos tomaram café da manhã?" Ele perguntou, amuado.

"Sim." Remus respondeu. "James guardou torrada para você."

"Ele é um bom amigo." Sirius sorriu.

"Sim," Remus retrucou, "Ele é."

Eles ficaram em silêncio por mais um tempo. Pouco antes de chegarem ao


retrato da mulher gorda, Sirius olhou para Remus. Seus olhos ainda estavam
ligeiramente rosados, mas fora isso ele parecia ele mesmo novamente.

"Eu não tento copiar James."

"Não foi isso que eu disse." Disse Remus. "Você compete, no entanto."
Sirius parecia reconhecer isso. Ele ergueu os olhos novamente.

"E eu não me importo com o que minha família pensa." Ele disse isso com
tanta veemência que seus olhos brilharam, reluzindo ligeiramente, e Remus
ficou preocupado dele começar a chorar de novo. Ele estendeu a mão e tocou o
ombro de Sirius, cautelosamente, como se tentasse acalmar um cachorro
rosnando.

"Eu sei, cara." Ele disse suavemente. "Eu sei disso."


27. Segundo Ano
Um Noivado de Aniversário

Sexta-feira, 3 de novembro de 1972

O décimo terceiro aniversário de Sirius não caiu na lua cheia, como seu
décimo segundo. Ele nunca contou aos outros sobre a conversa que teve de
Remus – pelo que Remus podia perceber, de qualquer maneira - mas ele
começou a agir de forma um pouco diferente com seus amigos. Considerando
que antes, ele às vezes tratava Remus como um projeto de estimação; se
espantando sempre que Lupin exibia pensamento independente; Sirius pelo
menos pareceu desenvolver alguma sensibilidade em relação aos dois marotos
secundários.

O assunto a respeito do quadribol ainda era algo delicado, então, na manhã de


seu segundo aniversário em Hogwarts, James teve tato o suficiente para não
sugerir uma sessão de voo na hora do almoço.

O café da manhã começou com uma rodada de "feliz aniversário" com o


volume de suas vozes nas alturas, como já era tradição para os marotos. Os
Potter enviaram a Sirius uma enorme cesta de chocolates, enquanto James
encomendou metade do catálogo de Zonko's como presente de aniversário.
Remus ficou um pouco envergonhado de entregar seus próprios presentes -
algumas cópias antigas da revista Melody Maker e NME que ele pegou durante
o verão - mas Sirius ficou impressionado; uma delas tinha uma entrevista com
Marc Bolan. Eles passaram a maior parte do café da manhã virando as páginas;
os três bruxos puro-sangue rindo das fotos estáticas de trouxas.

Remus ficou lançando olhares furtivos para Sirius, tentando ver se ele parecia
diferente agora que era um adolescente. Remus sempre quis ter treze anos;
parecia-lhe uma idade muito madura e grandiosa. Ele sabia que era bobagem
pensar que você poderia se tornar imbuído de algum tipo de nova sabedoria da
noite para o dia, mas certamente era um marco importante. Sirius estava
definitivamente se comportando de uma maneira ligeiramente diferente;
Remus tinha certeza.

Infelizmente, a manhã despreocupada acabou aí. Quando eles terminaram a


refeição e se preparavam para se levantar para a primeira aula (História da
Magia), sua passagem para fora do salão foi bloqueada.
"Sirius." Uma voz severa disse.

Narcissa Black estava diante deles. Aos quinze anos, ela era mais alta do que
todos os quatro marotos. Ela era uma garota até que bonita, Remus pensou;
tirando a careta do rosto. Ela não tinha a aparência maluca de sua irmã mais
velha, e tinha tingido e alisado seu cabelo comprido para que ficasse
pendurado em um lindo lençol platinado, que brilhava na luz.

Ela parou diante deles com os braços cruzados, Regulus se escondendo ao lado
dela.

"Cissy." Sirius acenou com a cabeça em saudação. Ela se encolheu, mas não o
castigou.

"É seu aniversário." Ela disse.

"Bem, eu percebi."

Ela revirou os olhos. Parecia que ela não tinha o temperamento da irmã
também, o que fazia Remus se sentir agradecido.

"Você vai comer conosco esta noite."

"Venha e sente à mesa da Grifinória se for absolutamente necessário."

"Não." Ela estreitou os olhos cinzentos, "Sua mãe deu instruções estritas.
Vamos comer em particular, na sala comunal da Sonserina, como no ano
passado. "

"Não!" Sirius perdeu sua maturidade recém-adquirida e de repente parecia uma


criança, praticamente batendo o pé, "Eu quero comer com meus amigos."

"Você pode comer com eles quando quiser." Narcissa retrucou, as mãos nos
quadris agora. "Aniversários são ocasiões de família."

Regulus olhou para seus pés, ainda parado atrás de sua prima. Sirius ainda
estava irritado, mas finalmente acenou com a cabeça. James colocou a mão em
seu ombro; um gesto inofensivo, mas Regulus olhou para cima e olhou
fixamente, como se eles estivessem fazendo algo sujo.

Assim que foi definido um horário para o jantar, os dois sonserinos da família
Black partiram e os Marotos ficaram olhando para eles. James desviou os olhos
para Sirius,
"Que droga", ele lamentou, "Quer cabular as aulas?"

"Nah," Sirius balançou a cabeça, "Vou só levar algumas bombas de bosta para
o jantar."

"Podemos ver se o feitiço da bomba-relógio funciona!"

"Perfeito."

***

Sirius ficou fora por um longo tempo depois do jantar. James caminhou pelo
dormitório, checando o relógio a cada poucos minutos e se perguntando em
voz alta se deveria ir até masmorras e gritar.

"Precisamos começar a trabalhar em seu mapa novamente, Lupin," ele disse,


passando as mãos pelo (já catastrófico) cabelo. "Catalogar todo mundo, para
que saibamos onde eles estão o tempo todo."

"Estamos muito longe disso," Remus respondeu de sua cama, onde estava
lendo um livro. "Ainda não mapeei nenhuma parte da ala leste. Posso fazer um
pouco no Natal."

"Não," James parou ainda no meio da sala, "Você e Black vem para a minha
casa no Natal."

Remus olhou para ele e engoliu, sem jeito.

"James, eu não posso, você sabe que não posso."

James acenou com a mão, retomando seu ritmo.

"Vou resolver tudo com o pai, não se preocupe. A lua cheia é no dia vinte, eu
verifiquei. Todos nós podemos ficar aqui até lá e partir no dia vinte e um."

Remus estava sem palavras, mas não importava. James decidiu rapidamente
colocar sua capa e sair à procura de Sirius. Peter, previsivelmente, o seguiu,
mas Remus estava gostando de seu livro e os deixou ir. Ele se recostou na
cama e pensou em colocar um disco. James e Peter colocaram uma proibição
de Bowie até o final do ano, mas se eles não estivessem na sala...

No início do ano, Remus ficou tão impressionado com a empolgação de Sirius


que não contou a ele que sabia tudo sobre Ziggy Stardust - na verdade, todo
mundo no mundo trouxa, praticamente, falava sobre o disco durante todo o
verão.

Em algum momento em meados de julho, Remus sentou-se na sala de


recreação depois do chá com alguns dos meninos mais velhos para assistir
o Top of the Pops. A TV deles ainda era em preto e branco, mas Remus sentiu
como se tivesse visto a performance em cores. David Bowie era como ninguém
que ele já tinha visto antes. Todos eles ficaram sentados olhando com as bocas
bem abertas enquanto o homem esguio e de aparência estranha passeava pelo
palco com uma malha de patchwork. Ele era pálido como a neve, seu cabelo
era comprido na parte de trás, e espetado descontroladamente no topo, seus
olhos eram impressionantes; uma pupila maior que a outra - e ele
usava maquiagem. Remus queria imediatamente conhecer ele e ser ele.
Quando David passou o braço em volta do guitarrista alto e louro, o estômago
de Remus deu uma cambalhota estranha e, enquanto os dois homens cantavam
no mesmo microfone, com as bochechas coladas uma na outra, um dos
assistentes de St Edmund's tinha marchado e desligado a televisão. Viados
nojentos, dissera ele, absurdo colocar esse tipo de coisa na televisão onde as
crianças podem ver.

Remus pensava na performance mais do que gostaria.

Quando os outros dois garotos voltaram, foi com um Sirius de rosto


extremamente pálido. Ele parecia pior do que o normal depois de um encontro
com sua família; fechado e totalmente sem alegria. Até seus olhos pareciam
um pouco menos brilhantes, mudando para o cinza.

"E aí?" Remus se levantou, preocupado.

"É terrível." Sirius disse. "Realmente, realmente terrível. Vil. O pior, mais
impensável ... Horrível." Ele se jogou na cama, de bruços.

"Ele está assim desde que o encontramos nas masmorras", explicou James,
"Nada além de adjetivos."

"Adjetivos superlativos." Sirius corrigiu, ligeiramente abafado pelo travesseiro.

"Tá, tá, você está sendo dramático", suspirou James. Ele correu os dedos pelo
cabelo novamente. Ficaria careca antes de chegar aos trinta, Remus pensou.
"Quer nos dizer por quê?!"

Sirius rolou de costas, olhando para o dossel de sua cama.


"Eu vou me casar."

"O que?!" James e Peter pareciam tão chocados quanto Remus, então pelo
menos ele sabia que não era uma coisa normal para bruxos.

"Narcissa me contou." Ele acenou com a cabeça, ainda olhando fixamente para
cima, "Normalmente, eles não fariam um arranjo até eu atingir a maior idade,
como com Bellatrix, mas Cissy disse que eles decidiram apertar as rédeas no
meu caso."

"Fazer um arranjo?!" James parecia pasmo, "Os Black’s ainda não têm
casamentos arranjados, têm?"

"Claro que temos." Sirius soltou um suspiro, "A mais nobre e antiga, et cetera,
et cetera ... Eles querem realizar a cerimônia de noivado no próximo verão. Eu
devo 'me animar em relação a isso' a tempo para a ocasião. Então o casamento
vai acontecer assim que eu terminar Hogwarts. Duvido que vocês sejam
convidados. "

"Isso é loucura! Isso é medieval! Isso é..."

"Minha mãe." Sirius terminou.

"Hum," Remus se sentiu rude interrompendo, mas sua curiosidade estava


levando a melhor sobre ele, "Com quem você vai se casar?"

Sirius se sentou.

"Essa é a torção na cauda do dragão, não é", disse ele, com raiva, "Essa é
a pièce de résistance da minha mãe", ele pronunciou o francês lindamente,
com um sotaque perfeito. Mesmo em sua fúria mais sombria, Sirius Black
podia anunciar.

"Quem?!"

"Cissy."

"O que?!"

"Narcissa ?!"

"Sua prima?!"
"Narcissa Black ?!"

Sirius concordou. Seu ombro caiu. O olhar fechado voltou ao seu rosto e ele se
deitou.

"Aparentemente, eles estão tentando controlá-la também. Andromeda - sua


irmã sabem, a única normal - ela está grávida, de acordo com Cissy. Eles estão
fechando as aberturas, tentando evitar que mais sangue sujo entre. "

"Mas deve haver outras garotas de sangue puro por aí," James raciocinou, "E
eu pensei que ela e aquele maluco Malfoy estavam namorando?"

"Eles estão," Sirius acenou com a cabeça, "Ela está tão irritada com isso quanto
eu, acredite em mim."

"E quanto a Regulus?" James estava perguntando. Sua mente parecia estar
trabalhando a mil por hora.

"O que tem ele?" Sirius disse, amargamente, "Acha que ele gosta dela?"

"Ela é bem bonita", disse Peter, humildemente. Sirius deu a ele um olhar que
poderia cortar vidro.

"Ela é minha prima, seu idiota."

"Tudo bem", James ergueu uma mão autoritária, "Não há necessidade de


xingamentos, estamos apenas tentando ajudar." Remus não conseguia ver
exatamente como Peter estava ajudando, mas ele mordeu a língua e deixou
James continuar. "Eu quis dizer, Regulus disse alguma coisa? Ele estava lá,
não estava? "

"Nem. Uma. Palavra." Sirius franziu o cenho e ninguém mencionou seu irmão
novamente.

"Bem, então." James empurrou os óculos para cima do nariz, "Temos até o
próximo verão. E temos Narcissa do nosso lado, acredite ou não. Então, eu
diria que não é impossível."

"Você não sabe o que é impossível até conhecer minha mãe." Sirius disse.

"E ela não sabe o que é um maroto." James disse com firmeza. "Senhores", ele
olhou para cada um, por sua vez. Remus podia ver exatamente o que estava por
vir. "Temos uma nova missão."
28. Segundo Ano
Suposições

Como diabos você poderia se livrar de um noivado? Remus se perguntou,


enquanto descia para as masmorras na noite de domingo. Ele estava sozinho;
Lily pediu a ele para verificar a poção em que estavam trabalhando mais uma
vez antes de entregá-la no dia seguinte. Ele pessoalmente achou que era um
exagero, mas também estava culpadamente ciente de que Evans havia feito a
maior - e mais exaustiva - parte do trabalho até agora.

O problema de Sirius havia se alojado no fundo de sua mente o dia inteiro.


James os encarregou de encontrar uma solução até o Natal, mas Remus não
conseguia ver o que poderia ser feito. Ele nunca havia pensado em noivado,
casamento ou honra familiar antes. Estas eram todas coisas de adulto. Garotos
de treze anos certamente não deveriam se preocupar com esse tipo de coisa.
Mas então, ele supôs, virando a curva final da escada, nem os meninos de doze
deveriam se preocupar em se transformar em monstros uma vez por mês.

Ele suspirou pesadamente, empurrando a porta da sala de aula de Poções. Para


seu desgosto, Severus Snape já estava lá, mexendo sua própria poção. Seus
olhos se encontraram e Remus congelou por um momento, antes de endireitar
os ombros, levantar o queixo e caminhar direto para seu próprio caldeirão,
optando por ignorar o outro garoto.

Mas ele não pôde deixar de notar que sua poção era de uma cor ligeiramente
diferente da de Snape, o que não poderia ser um bom sinal. A deles era de um
negrito, azul marinho, muito mais escuro do que deveria ser. Snape
obviamente notou também.

"Você precisa adicionar mais lavanda." Ele disse, nasalmente, sem tirar os
olhos de sua agitação. "Pelo menos outra colher de chá."

"Uhum, sei." Remus franziu a testa, "Como se eu fosse aceitar seu conselho."

"Eu dificilmente vou estragar a poção de Lily, vou?!" Snape retrucou de volta.
Remus considerou isso. Era verdade que, apesar do comportamento geralmente
desagradável de Severus, a única outra coisa que os Marotos sabiam sobre ele
era que ele faria quase qualquer coisa por Lily Evans. Era estranho, mas quem
era Remus para julgar.

Ele colocou um pouco mais de lavanda na colher e mexeu. Imediatamente, a


poção assumiu uma tonalidade azul-celeste mais pálida, e um adorável aroma
sonhador subiu dela. Snape estalou a língua de forma presunçosa e fechou a
tampa de seu caldeirão, se preparando para sair.

"E aí Sev!" uma voz veio da porta, "Oh, Remus ..."

Era Lily. Ela parecia um pouco envergonhada. Remus franziu a testa.

"Achei que tínhamos combinado que eu verificaria hoje à noite?"

"Hum, sim, nós combinamos ... Eu só estava ... dando mais uma olhada." As
bochechas de Lily, geralmente pálidas, estavam vermelhas.

"Não pensou que eu viria?"

Snape bufou ironicamente, ao sair. Remus lutou contra a vontade de jogar uma
colher na parte de trás de sua cabeça gordurosa. Lily não percebeu, ela já havia
atravessado a sala e estava olhando para o caldeirão.

"Bem, você recebe muitas detenções", disse ela, diplomaticamente. Severus


saiu da sala. "Oh, uau, parece muito melhor do que esta manhã. Você fez
alguma coisa?"

"Adicionei mais lavanda."

"Mesmo? Boa ideia, agora parece certo."

"Bem ..." ele esfregou a nuca, olhando para a porta. Snape estava fora do
alcance da voz. "Sim, eu só pensei que precisava de um pouco, suponho."

"Nada mais a fazer, então. Você está voltando para a sala comunal? "

"Sim."

Eles caminharam juntos. Lily estava de bom humor,


"Trabalhamos muito bem juntos, não é?" Ela sorriu para ele. "É uma boa
mudança de Sev, de qualquer maneira, você é muito mais tranquilo."

Remus nunca se considerou tranquilo. Foi uma coisa legal dela dizer, mas
então, comparado a Snape, qualquer um pode parecer relaxado.

"Por que você anda com ele de qualquer maneira?" Ele perguntou.

"Ele é meu melhor amigo." Lily respondeu prontamente, como se ela tivesse
que justificar isso o tempo todo. "Nós nos conhecemos desde sempre."

"Oh, certo."

"Ele não é tão ruim quanto você pensa ", disse ela, olhando para ele de lado,
"Ele pode ser muito gentil. E engraçado."

"Por que ele anda por aí com Mulciber e a panelinha puro-sangue, então?"

"Bem, se vamos julgar as pessoas com base em seus amigos," Lily olhou para
ele de forma incisiva.

"O que há de errado com meus amigos?!" Remus ficou chocado. Todos
amavam James e Sirius. Lily revirou os olhos.

"Eles são todos herdeiros de casas de sangue puro, não são?" Ela jogou seus
cachos ruivos para trás, "Além disso, eles são tão exibidos. Potter pensa que é
um presente de Deus e Black é ... bem, ele é um Black, não é? Até eu sei sobre
eles, e sou nascida trouxa. Suponho que Peter é ok, mas é triste como ele os
segue por toda parte. "

"Eu também os sigo."

"Sim, você segue." Ela olhou para ele novamente, de forma descarada.

"Você está errada sobre eles." Remus disse: "Quero dizer ... ok, você está certa
sobre eles se exibirem, mas eles não são só ... há mais sobre eles que isso."

"Bem, então você apenas terá que aceitar que há mais coisas em Severus
também, não?"

Era bem mais difícil discutir com ela do que com Sirius. Remus encolheu os
ombros, evasivamente. Ocorreu a ele que Lily poderia ser capaz de ajudar com
o enigma atual. Afinal, casamentos e noivados eram coisas de garotas, não
eram? Pelo menos ela poderia oferecer outra perspectiva.

"Evans?" ele disse, pensativo: "Você até que é bem esperta ..."

"Oh, uau muito obrigada."

"Desculpa. Quero dizer - você é mais inteligente do que eu. "

"Ahh muito melhor."

Ele riu, esfregando a nuca.

"O que você faria se sua família estivesse te forçando a casar com alguém que
você não queria?"

Ela franziu a testa, como se isso não fosse o que ela esperava.

"Como um casamento arranjado? Achei que você morasse em um lar adotivo?"

"Um lar para crianças", corrigiu. "Eles são diferentes. De qualquer forma, não
sou eu, é ... outra pessoa."

"Hum ..." Ela parecia perplexa, o que não dava a Remus muita esperança.
"Puxa, quero dizer, não é algo que meus pais fariam. Mas se eles fizessem ...
eu ficaria muito brava, obviamente. E magoada."

"Magoada?" Ele perguntou, confuso.

"Mas é claro. Seus pais tem que te amar e querer o que é melhor para você ...
tomar uma decisão como essa sem a pessoa ter escolha, é o completo oposto. "

"Certo", ele acenou com a cabeça, embora ele realmente não entendesse,
"Bem, essa pessoa er ... realmente não se dá bem com os pais de qualquer
maneira."

"Mesmo assim," Lily deu de ombros, "Isso não significa que ela não fica
magoada por isso. Você deve ser capaz de confiar nas pessoas que o criaram."

"Ah, ok." Remus não sabia o que dizer sobre isso. Ele teve uma sensação
horrível de seu estômago estar se revirando - a mesma sensação que costumava
sentir quando era chamado para ler em voz alta. Lily não tinha notado. Eles
estavam quase na sala comunal agora.
"Eu ainda não sei o que faria", ela suspirou, "É como se a única opção fosse
desafiar eles – os pais. Mas isso vai causar todos os tipos de problemas ... De
quem se trata? Vamos lá, me conta!"

Remus balançou a cabeça,

"Não posso. Desculpa."

Lily assentiu, compreensiva. Remus sorriu para ela. Ela tinha uma presença
extremamente reconfortante.

"Flibbertigibbet", disse Lily para o retrato, que se abriu para eles entrarem.

James havia retornado há pouco tempo do treino de quadribol e ainda estava


com suas vestes vermelhas de voo. Ele estava sentado em um dos sofás
jogando feijões explosivos do Zonko's na lareira, onde explodiram em uma
profusão de cores como fogos de artifício em miniatura. Sirius estava deitado
no tapete abaixo dele lendo um livro sobre azarações que trouxe de casa.

"Tudo bem, Lupin?" James sorriu. Remus acenou com a cabeça para Lily e foi
até seus amigos. A ruiva subiu direto as escadas para o dormitório feminino.
"Nos trocou por Evans, foi?" James perguntou, sorrindo.

"Poções." Remus respondeu.

"Certo. Você é amigo dela agora? "

"Mais ou menos," Remus deu de ombros, "Ela é legal. Odeia vocês dois."

"Mas todo mundo gosta da gente!" Sirius disse: "Somos patifes amáveis!"

"Ela acha que vocês são exibidos."

James arfou, dramaticamente.

"Como ela ousa! Teremos que conquistá-la. "

"Por que se preocupar," Sirius se virou, voltando ao livro, "Ela é amiga de


Snivellus, ela claramente não tem bom gosto."

"Ela realmente disse isso?" James estava perguntando a Remus. Ele assentiu.

"Ela disse que você acha que é um presente de Deus."


"O que isso signi-"

"É uma expressão trouxa," Remus explicou, "Significa que ela pensa que você
é cheio de si."

"Ela acha isso?"

"Bem," Remus olhou para ele, "Você meio que é, para ser honesto."

James riu. Remus se sentou ao lado dele, pegando um punhado de feijões


Zonko para si mesmo e os jogando no fogo, um por um. Ele e James logo
fizeram um jogo, vendo quem poderia criar as maiores explosões acertando as
brasas da maneira certa.

"Esqueci de dizer", disse James, uma vez que o saco de feijão estava vazio,
"Recebi uma coruja do meu pai hoje - ele falou com McGonagall e a gente tem
permissão para te trazer no Natal."

"O que? Sério?!" Remus estava fascinado. Por que um adulto que nunca o
conheceu antes iria querer intervir a seu respeito? Ele fez uma nota mental para
nunca subestimar o poder da força de vontade de James novamente.

"Sim, mas não acho que podemos te receber no verão. Desculpa."

Remus balançou a cabeça, sem palavras. Ele queria agradecer, mas mal sabia
como.

"Só estou esperando por você agora, cara," James cutucou Sirius com o pé,
"Você já resolveu isso com sua mãe? Diga que você vai ao Pettigrew de novo."

"Não vou me incomodar," Sirius respondeu, ainda lendo, "Só vou com você
sem dizer nada."

"Minha mãe não vai gostar," James mordeu o lábio.

"Não diga a ela, então." Sirius virou sua página.

James e Remus trocaram um olhar. Eles tinham que fazer algo sobre o noivado
em breve; a ideia de Sirius ficar com esse humor por mais cinco anos era uma
incrivelmente sombria.
29. Segundo Ano
Lua de Dezembro

O Expresso de Hogwarts deixava a estação de Hogsmeade para o Natal no


sábado, 16 de dezembro daquele ano, o que significa que assim que a lua cheia
passasse, James, Sirius e Remus teriam que encontrar outros meios de chegar à
casa dos Potter.

McGonagall, depois de dar um sermão em Remus sobre não deixar nenhum


outro aluno saber de seu segredo, foi compreensiva com os desejos dos
marotos e permitiu que eles usassem a conexão de flu em seu escritório "só
desta vez". Remus não se importou tanto com o sermão, mas ele estava com
medo de usar a rede de flu pela primeira vez. Ele tinha ouvido todos os tipos de
histórias de terror de outros estudantes, e o fato de que ele geralmente ficava
nauseado por alguns dias após a lua cheia não ajudava de qualquer maneira.

Sirius recebeu um berrador todas as manhãs após o dia dezesseis exigindo que
ele voltasse para casa imediatamente, mas ele simplesmente jogara os
envelopes vermelhos na lareira, onde os gritos de Walburga Black ecoaram nas
chaminés. James estava claramente aborrecido com esse comportamento, mas
não disse nada. Sirius sempre estava pronto para uma briga ultimamente, e era
melhor se manter distante. Infelizmente, conforme a lua cheia se aproximava,
Remus também ficava com um pavio curto. Os dois garotos discutiam sobre
tudo e qualquer coisa, e o pobre James teve que se colocar entre os dois mais
de uma vez.

"Só escreva para ela de volta, pelo amor de Deus." Remus gemeu na manhã do
dia vinte, jogando um travesseiro em Sirius de sua cama. Ele foi acordado cedo
pela terceira manhã seguida por um berrador.

"SE VOCÊ ACHA QUE PODE ESCAPAR DO SEU DEVER DE


NASCENÇA DESTA MANEIRA COVARDE VOCÊ ESTÁ MUITO
ENGANADO!" Berrava, ecoando pela torre da Grifinória como uma banshee.

"Fique fora disso, Lupin," Sirius jogou o travesseiro de volta nele.

"Como vou ficar fora disso quando está no nosso maldito quarto todas as
manhãs?!" Remus rosnou, levantando-se agora.
"Eu sinto tanto por te incomodar!" Sirius respondeu, escorrendo sarcasmo. Sua
aparência era terrível, como se não tivesse dormido direito, mas Remus estava
de muito mau humor para se importar, e sua transformação estava a apenas
algumas horas de distância.

"Que tal não agir como uma criança mimada por cinco minutos ?!" Ele
retrucou: "Você é tão egoísta."

"Não estou pedindo que ela os envie! Pelo menos eu realmente recebo correio,
pelo menos as pessoas se importam o suficiente comigo para ..."

Remus se jogou em cima de Sirius e começou a bater nele o mais forte que
podia, fervendo em raiva.

"CALA A BOCA." Ele grunhiu, acertando um soco decente bem na bochecha


esquerda de Sirius. Sirius, embora extremamente adepto a insultos verbais, não
era muito bom de luta. Ele engasgou e tentou empurrar Remus para longe,
eventualmente agarrando sua varinha,

"Mordeo!" Ele sibilou, mirando no rosto de Remus. Imediatamente, Remus o


soltou, caindo de costas na cama, segurando a testa. Uma sensação horrível de
ardência irradiou do local que Sirius amaldiçoou,

"Filho da mãe!" Ele gritou, sentindo seu rosto se contrair e inchar.

"Você mereceu isso!"

"Sirius!" James saiu da cama tarde demais. "Você o amaldiçoou?!''

Sirius parecia menos seguro de si agora,

"Ele começou!"

"Ele nem mesmo estava com a varinha nele!"

Remus havia descido da cama e estava se olhando no espelho do guarda-roupa.


Ele parecia ter rolado em um arbusto de urtiga. Sua pele estava vermelha e
brilhante, esticada e inchando em um ritmo preocupante.

"Está doendo?" James perguntou, hesitante.

Remus balançou a cabeça, embora estivesse - muito.


"Estou indo para a ala hospitalar." Ele disse. "Não venha comigo." Ele
retrucou, ao ver James colocando seu robe. Enquanto marchava para fora da
sala ainda de pijama, ouviu James murmurar.

"Atacar alguém que está desarmado é baixo para caralho, Black."

***

Madame Pomfrey o curou rapidamente usando o contra-feitiço, mas ela estava


muito irritada com o acontecimento.

"Quem fez isso?" Ela perguntou a ele, "Se foi Potter ou Black, então eu quero
saber - eu disse a Minerva que era uma má ideia deixá-lo ir no Natal."

"Por que eu não deveria ir?" Remus perguntou, escandalizado, "Sirius está
indo!"

"O Sr. Black não tem suas limitações."

"Mas não vamos até amanhã, é logo depois da lua cheia, que é o mais seguro-"

"Estou pensando na sua saúde, Remus! Você é muito frágil— "

"Eu não sou frágil!" Remus ferveu.

"Claro que não, querido", disse ela, sem realmente ouvi-lo. "Agora sente-se um
pouco em silêncio, ok? Você já tomou café da manhã?"

Madame Pomfrey o fez ficar na ala hospitalar o dia todo de pijama. A medi
bruxa estava trabalhando em uma nova poção que esperava poder tornar sua
transformação mais suaves. Ela o deixou pegar emprestado alguns de seus
livros, então não foi tão ruim, mas ele se sentia como um inválido do mesmo
jeito. Seu rosto ainda estava formigando um pouco por causa da maldição de
Sirius, embora o inchaço tivesse diminuído substancialmente. Ele fez uma nota
mental para se lembrar de perguntar a Sirius exatamente como ele fez isso, era
um bom feitiço para usar em Severus.

Por volta da uma hora, logo após o almoço, James e Sirius vieram vê-lo.
Madame Pomfrey deu a eles um sermão de repreensão primeiro.

"Amaldiçoando seu companheiro de casa! Amaldiçoando seu colega de


dormitório, pelo amor de Deus! Na minha época, você teria sido açoitado! E a
Professora McGonagall me informou que você sabe sobre as circunstâncias
especiais dele! Deveria ter mais bom senso!"

James pediu muitas desculpas, e Sirius, que mal se encolhia com os


xingamentos obscenos de sua mãe, abaixou a cabeça parecendo totalmente
envergonhado. Eventualmente, Remus adivinhou que isso deve ter sido o
suficiente para satisfazer a enfermeira da escola, que permitiu que eles o
vissem. Eles ficaram parados na beira da cama como pessoas em luto, mal
encontrando seus olhos.

"Sentimos muito, Remus," começou James. Remus estalou a língua.

"Você nunca fez nada."

James chutou Sirius, que olhou para cima também,

"Eu realmente sinto muito, Remus." Ele tinha um hematoma escuro e pesado
no alto da bochecha esquerda e seus olhos pareciam um pouco mais brilhantes,
Remus se perguntou se Sirius havia chorado por causa do que aconteceu. O
pensamento o fez se sentir engraçado. Ele balançou a cabeça, a raiva
diminuindo.

"Eu comecei. Desculpa ter batido em você."

"Desculpa pelo berrador."

"Desculpa que sua mãe é um pesadelo."

"Desculpa que você é um lobisomem."

Os dois riram e tudo foi perdoado.

"Ela vai deixar você sair agora?" James perguntou: "Algumas horas ainda até a
lua."

Remus balançou a cabeça,

"Nah, ela quer experimentar uma poção nova."

"Eu não sabia que havia cura!"

"Não há," Remus disse, rapidamente, "Isso é apenas ... acho que é para tornar a
transformação, sabe ... mais fácil."
Os dois olharam para ele, perplexos. Ele se mexeu desconfortavelmente,

"Como um analgésico, eu acho. Os trouxas não funcionam. "

"Dói, então?" Sirius perguntou, inclinando a cabeça. Agora que a tempestade


havia passado, ele estava de volta a ver Remus como um espécime
interessante.

"Bem, sim." Remus franziu a testa. Ele tinha assumido que eles sabiam muito
mais do que ele, tendo crescido no mundo bruxo, então ficou surpreso que eles
não sabiam sobre a dor. Por muito tempo, a dor foi a única coisa que ele
conheceu.

Para sua surpresa e deleite, James e Sirius optaram por ficar na ala hospitalar
com Remus pelo resto da tarde. Eles jogaram alguns jogos tumultuados de
snap explosivo, antes que Madame Pomfrey dissesse severamente para eles
abaixarem o volume, então eles mudaram para gobstones. À medida que a
noite avançava, eles não desceram para jantar, mas comeram a mesma comida
de hospital que Remus.

Isso não era grande coisa para eles - James e Sirius trataram isso como
qualquer outra tarde; a cama do hospital como apenas uma extensão do
dormitório. Mas para Remus, era tudo - era um tempo que, de outra forma,
seria gasto estando ansioso e sozinho. Era a coisa mais próxima de uma família
que ele poderia imaginar.

McGonagall veio e os expulsou, eventualmente, pronta para levar Remus para


a cabana. Ele foi pacificamente, com um sorriso suave nos lábios e risadas
ainda ecoando em seus ouvidos. A poção analgésica da Madame Pomfrey não
teve efeito - mas Remus achou a transformação um pouco mais tolerável
mesmo assim.

***

James e Sirius chegaram logo na manhã seguinte. Remus estava cochilando em


sua cama, tendo sido trazido de volta ao castelo ao amanhecer. Seu rosto doía,
e ele sabia que não era mais por causa da maldição. Madame Pomfrey havia
deixado um espelho de mão na mesinha de cabeceira, com o vidro virado para
baixo, mas ele estava cansado demais para olhar ainda. Ele foi acordado por
um arquejo ofegante que veio de James ou Sirius, ele não tinha certeza de
quem. Quando ele abriu os olhos, os dois reorganizaram suas expressões em
uma alegria estoica.
"Tudo bem cara?" James disse, com um meio sorriso, como você faria ao se
referir a uma criança.

"Tudo bem." Remus resmungou, se erguendo. Devia ser ruim. Ele ergueu o
espelho pesado e o virou na direção de seu rosto. Ah.

O corte já parecia meio curado, graças aos cuidados de Pomfrey, mas ainda era
um choque. A casca era dura e negra, com bordas de pele vermelha e macia.
Estendia-se do canto interno de um olho, passando pela ponte do nariz
diagonalmente para baixo em direção ao centro da bochecha oposta. Ele não
conseguia se lembrar de muito, mas parecia que ele quase havia partido seu
rosto em dois.

"Meu lindo rosto", disse ele, fracamente, numa tentativa de sarcasmo, mas se
sentindo terrível. Agora todos saberiam. Até agora, ele tinha sido capaz de
esconder as piores cicatrizes sob suas vestes, mas sabia que era apenas uma
questão de tempo até que sua sorte se esgotasse a esse respeito.

"Não é tão ruim", disse James, rapidamente, "Vai curar muito rápido, aposto
..."

"Como ..." Sirius começou, mas foi interrompido pela Madame Pomfrey, que
veio brigando.

"Vocês dois novamente!" Eles recuaram, bruscamente, como se tivessem medo


dela, mostrando o respeito que nunca tiveram por McGonagall. A enfermeira
puxou a cortina ao redor da cama de Remus, fechando-a na cara deles. "Ah,
você deu uma olhada, não é?" Ela se dirigiu a Remus agora, em um tom muito
mais suave, "Eu sei que parece ruim, mas ficará pálida como as outras. Deve
ficar quase imperceptível no ano novo."

Remus de alguma forma não acreditou nela - até mesmo suas cicatrizes mais
desbotadas ainda eram muito visíveis. Ela deu uma olhada mais de perto,
depois passou uma pomada transparente sobre o corte,

"Leve isso com você", ela instruiu, entregando-lhe o frasco, "Aplique todas as
manhãs e noites. Ainda dói? "

Ele balançou sua cabeça. Ela estalou a língua com ceticismo, "Bem, mesmo
assim. Pode coçar um pouco durante a cura. Talvez possamos tentar cortar suas
unhas no próximo mês? Embora eu suponho que as garras cresçam de qualquer
maneira. " Ela suspirou, parecendo frustrada, "Seu rosto ainda deve ter ficado
irritado, mesmo depois de diminuir o inchaço."
"Tá tudo bem," Remus deu de ombros. Ele estava bem ciente de seus amigos
do outro lado da cortina e queria que ela fosse embora. "Posso ir agora? Eu me
sinto bem."

"Você não prefere dormir um pouco mais?"

"Não." Ele balançou a cabeça com veemência, "Estou com fome - quero descer
para o café da manhã." Ele sabia que isso funcionaria; ela estava sempre
tentando fazer com que ele comesse mais.

"Bem ... ok. Se vista e pode ir."

Sirius ficou muito quieto durante o café da manhã, deixando a conversa para
James e Remus - algo que nenhum dos dois tinha muita prática por conta
própria. Depois de alimentados, eles subiram para fazer as malas porque Sirius
e Remus haviam deixado para o último minuto. James, frustrado com a falta de
preparação deles, marchou até o escritório de McGonagall para ver se tudo
estava pronto para sua jornada.

Remus guardou algumas coisas - ele não tinha nenhum presente para os outros,
e fez todos eles prometerem não lhe dar nada também. Não era justo. A
Matrona havia enviado um pequeno pacote, e era isso. Ele jogou algumas
roupas - os outros provavelmente usavam robes em casa, mas os únicos robes
que Remus possuía eram o uniforme escolar (e ele não tinha certeza se
realmente o possuía, ou se era apenas emprestado), então ele apenas pegou
roupas trouxas.

Empacotado, Remus se virou para encontrar Sirius parado bem atrás dele,
parecendo ainda pior do que no dia anterior.

"O que foi?" Remus perguntou, assustado.

"É minha culpa." Sirius respondeu, sua voz estranhamente monótona, "Eu ouvi
Pomfrey dizer."

"Ãhn?"

"Seu rosto ... eu amaldiçoei, então quando você se transformou você o


arranhou ..."

"Oh." Remus levou os dedos ao rosto, constrangido. Sirius desviou o olhar.


"Não é realmente sua culpa", disse Remus, sem jeito, "Quer dizer, eu arranho
todos os outros lugares também. Estava prestes a acontecer eventualmente."
"Por que você faz isso?"

Sirius tinha perguntado isso antes, ao olhar para suas velhas cicatrizes. Desta
vez, Remus percebeu que ele realmente entendia o que estava perguntando.
Mas Remus ainda não tinha uma resposta.

"Não sei. Não me lembro."

"Você não se lembra de nada?"

"Na verdade, não. Eu sei que estou sempre com fome – como se estivesse
faminto a vida toda. E com raiva."

"Do que?"

Remus balançou a cabeça,

"De tudo, não sei, é só raiva."

"Eu sinto muito, Remus." Sirius parecia triste novamente. Remus não
aguentou,

"Oh, cale a boca." Ele disse, meio brincando: "Você não pensaria duas vezes
antes de amaldiçoar James ou Peter."

"Sim, mas você é ..."

"Não diga isso." Ele temia que isso fosse acontecer, "Por favor, não me trate
como se eu fosse doente, ou diferente, ou o que seja. É uma noite por mês. Se
eu te socar, você tem todo o direito de me amaldiçoar, ok? "

Sirius parecia querer rir.

"Você está dizendo que está planeja me socar de novo?"

Remus jogou uma meia nele.

"Se você não resolver esses malditos berradores, talvez."

***

Viajar de pó de flu não era nada comparado a sentir sua própria coluna esticar
a cada mês, e Remus não entendia o motivo de tanta preocupação. Ele foi o
segundo a sair da lareira na sala dos Potter, depois de James. Limpando a
fuligem de seus ombros, ele rapidamente pulou do tapete da lareira para dar
lugar a Sirius, e observou James ser puxado para um abraço caloroso por seus
pais.

O Sr. e a Sra. Potter eram um pouco mais velhos do que Remus havia
imaginado, mas ambos tinham rostos gentis e alegres que compartilhavam
características familiares com o filho. O cabelo do Sr. Potter era branco como a
neve, mas espetado em todos os ângulos exatamente como o de James. A Sra.
Potter tinha seu sorriso cativante e olhos castanhos calorosos. Os dois
abraçaram Sirius também, enquanto Remus se encolheu, sentindo-se
terrivelmente deslocado.

Finalmente, a Sra. Potter voltou seu sorriso ensolarado para ele. Felizmente ela
não fez menção de abraçá-lo também, talvez percebendo que ele estava
desconfortável. Ela simplesmente acenou com a cabeça para ele suavemente,

"Olá, Remus, nós ouvimos muito sobre você, estou tão feliz que você está
passando o Natal com a gente."

Remus sorriu timidamente, mas não conseguiu falar. Não importava; por que
James e Sirius estavam falando por seis pessoas com Sr. Potter, que também
parecia um colega da escola, com os olhos brilhando de diversão e travessura.

A sala de estar - Remus supôs que fosse uma sala de estar, já que haviam três
sofás nela - era a maior em que ele já havia estado, com janelas largas e altas
que deixavam entrar a suave luz do sol de inverno que se acumulava no piso de
madeira polida. Uma gigantesca árvore de Natal estava em um canto, brilhando
com pó de prata e rodeada por uma montanha de presentes embrulhados em
cores vivas.

Correntes de papel e serpentinas estavam penduradas no teto, e até mesmo os


retratos mágicos estavam decorado com molduras com pisca-piscas. Enquanto
eles eram conduzidos pela casa ("Pelo amor de Deus, Fleamont, deixe os
meninos guardarem suas coisas antes de começar a planejar seja lá o que for
que eu sei que você está planejando"), Remus descobriu que todos os cômodos,
até mesmo os corredores, eram decorados com luzes, serpentinas, ouropel e
centenas e centenas de cartões festivos. Os Potter devem ser bruxos muito
populares, de fato. Eles certamente eram ricos - a ampla escadaria de mogno
continuava por mais três lances de escada.

O quarto de James era grande o suficiente para todos os três - maior do que o
dormitório em Hogwarts, com uma cama king-size com dossel, mas Remus
ficou surpreso ao descobrir que havia quatro quartos igualmente grandes que
estavam desocupados. Sirius já havia reivindicado o que estava ao lado de
James, então Remus colocou sua mala no terceiro cômodo, imaginando como
seria dormir sozinho pela primeira vez.

"Vamos, rapazes!" O Sr. Potter gritou escada acima com uma voz estrondosa:
"Nevou a tarde toda e eu os trenos estão prontos!"
30. Segundo Ano
Natal com os Potter’s

Remus achava que nada poderia ser melhor do que o Natal em Hogwarts, o que
era (bem literalmente) mágico. O Natal na casa dos Potter, no entanto, foi uma
experiência totalmente diferente que parecia ficar cada vez ficar melhor.

Primeiro, desceram de treno pelas encostas nevadas do jardim dos fundos -


embora com mais de quinhentos acres, ninguém pudesse realmente chamar
aquilo de jardim. Peter, que morava mais abaixo na aldeia principal, veio se
juntar a eles assim que soube que haviam chegado, e eles tiveram uma tarde
extremamente barulhenta e violenta descendo pelas encostas e tendo guerras
complexas com bola de neve como munição. Até o Sr. Potter se juntou; jovial
para sua idade e com a vantagem considerável de poder usar magia.

A Sra. Potter chamou todos para o almoço e fez com que trocassem as roupas
gélidas e molhadas. Eles se sentaram perto da lareira, comendo bolos quentes e
pão tostados com uma manteiga amarela abastada. À tarde, eles queriam sair
novamente, mas o Sr. Potter tinha ido se deitar e a Sra. Potter não queria que
eles saíssem tão perto do anoitecer. Em vez disso, eles a ajudaram a decorar
um enorme bolo de Natal com glacê branco e pequenas estatuetas mágicas,
depois embrulharam presentes para os vizinhos e os elfos domésticos.

"Nós nunca damos nada para o elfo doméstico," Sirius disse com naturalidade,
seus dedos irremediavelmente presos em algum feitiço-fita, "Veja bem,
Kreacher é um mal humorado; duvido que ele queira alguma coisa."

"Eles aceitam presentes, desde que seja algo comestível, eu acho," a Sra. Potter
respondeu, sorrindo, "Nade de roupas, é claro, isso só os chateia."

"Diga à mamãe o que sua família faz com os elfos domésticos, Sirius," James
sorriu, prendendo ainda mais as mãos do amigo. Sirius riu, levemente,

"Empalha suas cabeças." Ele disse: "Assim que eles estiverem mortos. Pelo
menos, eu acho que esperamos até que eles morram ... Kreacher é o único elfo
doméstico de que me lembro. "

"Meu Deus", disse a Sra. Potter, "eu pensei que a essa tradição havia morrido."
"Não com os Black’s," Sirius suspirou. Remus percebeu que ele estava
pensando no noivado novamente.

"Você está fazendo um ótimo trabalho, Remus," observou a Sra. Potter,


olhando para o livro que ele estava embrulhando para a Sra. Pettigrew. "Ao
contrário de alguns meninos travessos que eu poderia mencionar ..." ela lançou
um olhar severo para seu filho e seu melhor amigo, agora tentando prender
suas mãos no tampo da mesa.

Remus sorriu para ela, educadamente, sentindo o corte recente em seu rosto
puxar sua pele. Ele ainda não tinha realmente dito nada para nenhum dos pais
de James. Sempre foi dito para ser visto e não ouvido perto de pessoas mais
velhas - e ele nunca tinha estado na casa de um amigo antes. Sirius, ao
contrário, estava completamente à vontade, Remus nunca o tinha visto tão
feliz. Ele adorava a Sra. Potter como se ela fosse sua própria mãe - se ele
gostasse de sua própria mãe, é claro.

Remus bocejou, mais amplamente do que pretendia, tentando esconder a boca


atrás das mãos, abaixando a cabeça envergonhado. Ele havia dormido apenas
algumas horas naquela manhã após a lua, e uma tarde de manobras de bola de
neve o deixou exausto.

"É melhor você ir para a cama, querido", disse a Sra. Potter, ignorando o fato
de que eram apenas três horas da tarde. Remus se perguntou se James havia
contado a seus pais sobre ele - eles deveriam saber, McGonagall não teria o
deixado vir de outra forma.

"Oh, você está bem, não é, Lupin?" Sirius persuadiu: "Peter vai voltar daqui a
pouco, podemos sair de novo."

Remus piscou para ele, então olhou para James pedindo ajuda.

"Deixe ele, Sirius," a Sra. Potter repreendeu, "O pobre garoto não está se
aguentando em pé. Vamos, querido, pode ir. "

Grato, Remus se levantou da mesa da cozinha e foi para a cama. Enquanto ele
vestia seu pijama, não pode deixar de dar mais uma olhada no espelho, agora
que ele estava devidamente sozinho. Talvez fosse por causa do frio, mas a
cicatriz parecia pior do que naquela manhã, o contraste mais forte com sua pele
pálida. Seu rosto sempre o surpreenderia, agora? Sempre que tivesse um
vislumbre de si mesmo em algum espelho ou superfície brilhante, pularia? As
outras pessoas teriam medo dele?
Houve uma leve batida na porta, assim que Remus estava prestes a colocar a
pomada que Madame Pomfrey havia dado a ele. Era Sirius, Remus sentiu seu
cheiro antes mesmo dele bater.

"Tudo bem?" O garoto moreno se esgueirou para dentro, falando baixinho. Ele
segurava uma taça de estanho na mão. "A mãe de James enviou isso para você.
É uma poção curativa, eu acho."

"Oh, obrigado." Remus acenou com a cabeça cansado. Sirius a colocou na


mesa de cabeceira.

"Você está bem?"

"Sim. Só cansado, cara. "

"Nós fomos ... sabe, muito intensos ou algo assim?"

"Não!" Remus disse, com muita firmeza, provavelmente soando mais irritado
do que pretendia. "Não tem nada a ver com vocês dois, é apenas o fato de que
eu fiquei acordado a noite toda uivando para a maldita lua e tentando arrancar
meu próprio rosto. Estou cansado."

Remus teve que se sentar, o esforço da explosão o deixou tonto.

"Desculpa." Sirius disse, ainda mais baixinho. Foi a segunda vez que ele se
desculpou naquele dia, e Remus odiava ouvir isso. "Vou te deixar sozinho."
Ele fechou a porta.

Remus não podia se dar ao luxo de se preocupar com ferir os sentimentos de


Sirius no momento. Ele espalhou um pouco da pomada e cheirou a taça que a
Sra. Potter havia lhe dado. Ele reconheceu como algo que já tomara em
Hogwarts, que provocaria um sono instantâneo. Indo para a cama, ele o bebeu
rapidamente e fechou os olhos.

***

Os dias restantes antes do Natal passaram rapidamente, e Remus experienciou


uma vida em família pela primeira vez. O Sr. e a Sra. Potter tinham que ser os
pais perfeitos - eles eram gentis e seguros, sempre sorridentes e divertidos.
Remus não sabia que os adultos podiam ser assim. Ele não sabia que as
pessoas podiam crescer assim. Estava mais claro do que nunca porque James
era do jeito que era - tão cheio de amor e uma confiança inquestionável,
enquanto Remus era cheio de raiva. Era óbvio também porque Sirius se sentia
tão atraído pela família. Ele tinha uma sede insaciável de amor e os Potter
tinham um suprimento infinito.

Os quatro garotos vagaram na neve por todo o campo ao redor da propriedade,


embrulhados em seus cachecóis, gorros e luvas da Grifinória. À noite, eles
jogavam cartas, ajudavam a Sra. Potter a preparar o jantar e ouviam o Sr.
Potter contar histórias de fantasmas ao redor da lareira. Eles fizeram tortas de
carne picada e correntes de papel, construíram bruxos de neve e iglus, e
dormiam tão profundamente em suas camas à noite que nem mesmo um
berrador poderia tê-los acordado.

Infelizmente, não durou muito. Embora os Black tenham parado de enviar


berradores, eles não haviam esquecido seu filho rebelde e tentaram uma nova
tática na véspera de Natal, com consequências devastadoras para os marotos.

Eles estavam bebendo cerveja amanteigada quente e sentados no tapete da


lareira. James e Sirius estavam jogando gobstones, muito alto, e o Sr. Potter
estava ensinando Remus a jogar xadrez. O senhor ficou horrorizado ao
descobrir que o menino não sabia como, e Remus ficou surpreso ao descobrir
que estava realmente gostando do jogo. A sala inteira estava confortável e
segura, as cortinas pesadas bloqueando o frio e a escuridão da rua, as luzes das
árvores cintilando suavemente e o fogo estalando e crepitando ao lado. O
relógio tinha acabado de bater nove horas, e a Sra. Potter fez questão de
mandá-los todos para a cama, quando houve um * CRACK * alto do lado de
fora da janela.

O Sr. e a Sra. Potter trocaram um olhar rápido e as orelhas de Remus se


eriçaram como as de um cachorro. O cheiro de magia gasta permeava o ar,
como torrada queimada. Era algo sombrio e desagradável. Escutou-se uma
batida firme e oca na porta.

"Não estávamos esperando ninguém, estávamos Effie?" O Sr. Potter franziu a


testa ligeiramente para sua esposa. Ela sacudiu a cabeça, e os dois ouviram.

O elfo doméstico dos Potter's, Gully, saiu correndo em direção à porta da


frente para atender. Vozes empoladas soaram do corredor, e Gully entrou
apressado.

"Oh, Sr. Potter, Sr. Potter, ela veio buscar o jovem mestre Black, ela está me
dizendo que é a mãe dele! Eu lhe disse para esperar lá por você." O elfo estava
torcendo as mãos ansiosamente, claramente muito confuso com a virada dos
acontecimentos.
Sirius e James se entreolharam. O rosto de Sirius estava branco - parecia que
ele iria vomitar.

"Ela não iria ..." Ele sussurrou.

O Sr. Potter já estava de pé e fora da porta. Havia vozes altas no corredor agora
- Remus reconheceu dos berradores o tom cortante da Sra. Black.

"Sirius," a Sra. Potter disse gentilmente, "Seus pais lhe deram permissão para
nos visitar, querido?" Ele olhou para o chão. Ela estalou a língua. "Oh,
querido." Ela disse, soando muito triste.

"Não o faça ir, mãe!" James se levantou, "Ele os odeia!"

"Eles são os pais dele, James."

"Sirius!" O Sr. Potter chamou do corredor.

Sirius se levantou, James também. Remus não queria, ele queria ficar perto do
fogo, onde todos estavam tão felizes momentos antes. Mas a Sra. Potter
também se levantou, e esta foi uma das vezes em que os marotos deveriam se
apresentar como uma frente unida, não importava o quão assustadora a mãe de
Sirius fosse.

Todos eles saíram para o corredor. Remus tinha visto a Sra. Black uma vez
antes, a primeira vez que ele embarcou no Expresso de Hogwarts. Naquela
época, ele simplesmente pensou que ela parecia muito severa e que se parecia
com o Sirius. Ela ainda parecia severa - seu cabelo estava penteado para trás e
puxado para cima em um coque alto que se enrolava como uma serpente no
topo de sua cabeça, preso com um alfinete de esmeralda. Seus olhos eram
escuros, não tão azuis quanto os de Sirius, mas ela tinha a mesma estrutura
óssea da família Black e aparência superior. Ela era mais baixa do que o Sr.
Potter, mas ainda conseguia encará-lo como se ele fosse sujeira em sua bota.
Seu olhar se aguçou quando James e Remus aparecerem.

"Sirius." Ela disse, friamente, estreitando os olhos para o filho mais velho.
"Você virá comigo imediatamente. Kreacher!" Ela estalou os dedos e um velho
elfo doméstico de aparência enrugada emergiu de trás de suas vestes. "Suba e
busque as coisas do mestre Black." O elfo doméstico curvou-se
profundamente, beijando as pontas prateadas das botas pontudas da Sra. Black
e correndo escada acima.
"Boa noite, Walburga", disse a Sra. Potter, agradavelmente, como se não
houvesse tensão alguma, "Posso te oferecer uma bebida? Estávamos prestes a
comer as tortas de carne moída, não é, meninos?"

A Sra. Black a ignorou, olhando diretamente para Sirius,

"Coloque sua capa. Estamos saindo agora."

"Mas mãe, eu-"

"Não se atreva a falar comigo." Ela sibilou, os olhos brilhando.

Remus queria fugir; ela era mil vezes pior do que a Matrona. Ela era pior do
que Bellatrix e Snape e todas as pessoas desagradáveis que ele conheceu. A
ideia de deixar Sirius ir com ela fez seu estômago se revirar. O Sr. e a Sra.
Potter pareciam estar sofrendo da mesma coisa,

"Walburga, por que não o deixar ficar?" A Sra. Potter tentou, "Eu sei que ele
tem sido um pouco levado, mas não houve mal nenhum. Podemos ficar com
ele para o almoço e mandá-lo de volta antes do jantar amanhã. Todos estão se
divertindo muito juntos."

A Sra. Black soltou uma risada curta e crepitante, como se a diversão do filho
fosse a menor de suas preocupações. Ela virou-se para James, seu olhar
passando por sua bagunça de cabelo, então para Remus, olhando fixamente sua
nova cicatriz. Remus olhou para seus pés, apavorado. Ela saberia. Ela saberia
imediatamente.

Kreacher desceu correndo as escadas, seguido por Gully que parecia muito
ofendida. O malão de Sirius pairou atrás de ambos, aparentemente embalado e
pronto para ir. Walburga virou,

"Venha, Sirius."

"Não." Ele disse baixinho, mas com muita firmeza. Remus queria lhe mandar
para calar a boca, ele não conseguia ver em quantos problemas estava?! Mas
Sirius estava cerrando os punhos, olhando para sua mãe, "Eu quero ficar aqui,
com os Potter. Você não pode me obri-"

"SILENCIO!" Walburga se virou, apontando sua varinha para Sirius. Ele parou
de falar imediatamente - embora não voluntariamente. Abriu e fechou a boca
algumas vezes, e nada saiu. Ela havia roubado sua voz.
"Walburga, sinceramente!" O Sr. Potter engasgou, enquanto a Sra. Potter
soltou um pequeno grito e se ajoelhou ao lado de Sirius, envolvendo os braços
em volta dele protetoramente. "Ele é apenas um menino!"

"Ele é meu filho." Walburga ronronou, olhando ferozmente para a Sra. Potter,
"E ele é o herdeiro da mais nobre família da Grã-Bretanha. Ele aprenderá seu
lugar. Venha, Sirius."

Sirius parecia completamente derrotado, sua boca uma linha reta de


resignação. Ele abraçou a Sra. Potter de volta, então se afastou. Ele deu a
James e Remus um pequeno aceno, antes de seguir sua mãe para fora da porta.

Os quatro ficaram em silêncio depois que a porta da frente bateu. Remus se


perguntou se James se sentia tão envergonhado quanto ele - deveriam ter
defendido o amigo de alguma forma? O que aconteceria com ele agora? O Sr.
Potter parecia furioso.

"Usando um feitiço silenciador em seu próprio filho! Em um bruxo menor de


idade! É moralmente repreensível!"

"Ela faz pior do que isso." James disse baixinho. Remus acenou com a cabeça,
concordando, sentindo como se alguém tivesse tomado seu próprio poder de
fala.

"Teremos que tornar a casa impossível de localizar, Fleamont", disse a Sra.


Potter, de repente, "Fazer com que não possamos ser encontrados - você disse
que estava considerando isso, após a última eleição. Eu não quero aquela
mulher na minha casa nunca mais. "

O Sr. Potter assentiu sombriamente.

"Vou cuidar disso no ano novo. Alastor Moody me deve um favor."

"Hora de dormir, meninos." Sra. Potter disse, sua voz trêmula. "Tentem não se
preocupar muito." Ela abraçou James com força, beijando-o em cada
bochecha. Remus tentou se esquivar dela, mas ela o agarrou também, puxando-
o para um abraço apertado. Ela cheirava a laranja e cravo.

***

"Psst. Remus."
Remus tinha acabado de escovar os dentes e estava caminhando pelo corredor
para seu quarto, quando James colocou a cabeça para fora e o conduziu para
seu próprio quarto. Eles se ajoelharam na cama juntos. James retirou uma nota
do bolso do pijama, "Regulus enviou isto,"

"O que está dizendo?" Remus perguntou rapidamente, antes que James pudesse
dar a ele para ler.

"Oh, um, diz 'Sirius está em casa, não tente entrar em contato.'"

"Isso é tudo?"

"Isso é tudo." James acenou com a cabeça, severamente.

"Legal da parte de Regulus," Remus comentou, olhando para a nota que foi
obviamente rabiscada com muita pressa. "Achei que eles se odiavam."

"Sim, bem, mas eles ainda são irmãos, não são?" James respondeu, encolhendo
os ombros, "Laços de família e tudo mais."

"Você acha que ele vai ficar bem?"

"Eu não sei." James mordeu o lábio. "Eu nem cheguei a dar meu presente. Ele
me disse que nunca ganha nada de natal dos pais, apenas relíquias de família e
essas coisas."

"Eu fui grosso com ele esses dias." Remus suspirou tristemente, "Sobre ...
sabe, meu probleminha peludo."

James riu,

"Não se preocupe com isso. Vocês dois estão sempre discutindo sobre alguma
coisa. É apenas algo da personalidade de vocês."

"Oh. Você acha?" Remus ficou um pouco irritado com aquela observação -
Sirius se irritava com Peter com muito mais frequência, definitivamente. James
sorriu,

"Eu te disse, não se preocupe com isso. Black adora uma discussão."

A manhã de Natal foi contida, embora os Potter estivessem ansiosos para


torná-la alegre, mesmo que apenas para Remus. Ele ficou constrangido ao
encontrar uma meia protuberante ao pé da cama quando acordou e resolveu
corrigir isso no próximo ano de alguma forma.

Havia as meias e cuecas habituais da Matrona, além de uma lata de biscoitos


amanteigados. Alguns sapos de chocolate de Peter e um grande livro de
encantos avançados de Sirius. James também comprou um livro para ele
- Cartografia de Conjuradores: um guia para a cartografia mágica. O Sr. e a
Sra. Potter, entretanto, foram ao infinito e além. Debaixo da árvore ele
encontrou mais doces, logros, um lindo conjunto de penas - que ele tentou
devolver ("nós demos o mesmo para James e Sirius, querido, não seja bobo") e
pijamas novos em folha.

A família estendida dos Potter começou a chegar para o almoço de Natal por
volta do meio-dia, assim como os Pettigrew, que trouxeram com eles a irmã
mais velha de Peter, Philomena, e seu namorado trouxa que ela conhecera na
universidade. Remus foi apresentado a todos como um amigo de James, e
geralmente ignorado, exceto por um bruxo baixo e ancião que já estava alegre
e com o nariz vermelho de todas as bebidas que Gully estava oferecendo.

"Lupin, você disse? Não é o filho de Lyall Lupin?"

Remus ficou boquiaberto, incapaz de responder. Ele só tinha ouvido o nome de


seu pai em voz alta uma ou duas vezes.

"Hum ... sim." Ele disse, finalmente, corando muito.

"Ele está aqui?!" O bruxo sorriu, olhando em volta, "Excelente homem, não o
vejo há anos."

"Er ... ele está morto." Remus respondeu, com um encolher de ombros
apologético.

"Que pena!" O bruxo gritou, derramando um pouco de sua bebida, "Ótimo


duelista; me ensinou tudo que sei sobre demônios. Seu temperamento tendia a
colocá-lo em apuros - eu disse a ele para não mexer com aquele sujeito
Greyback - lobisomens malditos, deveriam exterminar o tipo deles! "

Remus piscou. James olhou para ele com curiosidade. Felizmente, o Sr. Potter
interveio,

"Darius? Tome aqui outra bebida, deixe os jovens com seus jogos, hein?"
Remus engoliu em seco e voltou para o torneio de gobstones como se nada
tivesse acontecido.

31. Segundo Ano


Sirius Retorna

Sábado, 6 de janeiro de 1973

Peter, James e Remus chegaram prontamente a King's Cross para retornar a


Hogwarts no sábado antes do início do período letivo. Todos eles olharam ao
redor em busca do quarto maroto, mas Sirius não estava lá - e nem Regulus.
Quando o trem saiu da plataforma, James foi em busca de alguém para
perguntar. Ele voltou com as mãos sobre o nariz, onde um grande furúnculo
estava começando a se formar.

"Narcissa disse que não é da minha conta." Ele explicou, sentando-se


dramaticamente.

"Talvez eles estejam usando a rede de flu", supôs Peter, "talvez a mãe dele não
confiasse nele para pegar o trem conosco."

"Talvez." James olhou pela janela, esfregando o nariz dolorido. Remus nunca o
tinha visto tão infeliz. James sentia a falta de Sirius mais do que qualquer um
deles, e estava muito animado com a perspectiva de vê-lo assim que chegassem
a Londres. Remus e Peter tentaram ao máximo animá-lo, mas era como se ele
tivesse perdido o braço direito.

Antes de partir, o Sr. e a Sra. Potter disseram que veriam o que poderiam fazer
para que Remus ficasse com eles durante o verão também, e ele os agradeceu
profundamente. Mas sabia que não era provável, então não alimentou muitas
esperanças. Em vez disso, ele apenas tentou ser grato por voltar à escola por
mais alguns meses com seus amigos. Com a maioria deles, pelo menos.

Sirius não estava no jantar naquela noite, nem apareceu quando eles estavam se
preparando para dormir. James e Remus trouxeram seus presentes de Natal
para ele, e os empilharam em cima de seu travesseiro, ainda embrulhados em
papel brilhante e fita. Três dos pacotes eram de Andromeda, e Remus sabia que
eram álbuns. Sirius pediu tudo e qualquer coisa de David Bowie.

Domingo, 7 de janeiro de 1973

Na manhã de domingo, a cama ainda estava vazia e os três marotos sentaram-


se tentando se distrair com o dever de casa. Remus havia terminado o seu e
aproveitou a oportunidade para começar os seus livros de Natal, agora que ele
poderia invocar seu feitiço de leitura mais uma vez. James começou a andar
pela sala, e foi perguntar a McGonagall onde Sirius estava (ela não sabia) e até
tentou Narcissa uma segunda vez (ela o amaldiçoou novamente). Finalmente,
ele saiu para dar algumas voltas no campo de quadribol com sua vassoura.

Peter foi também, com uma caixa de biscoitos para mordiscar enquanto
observava. Remus ficou dentro da torre onde estava quente; lendo, ou pelo
menos fingindo. Agora que estava finalmente sozinho, começou a pensar sobre
as coisas que o amigo do Sr. Potter, Darius, disse sobre seu pai, revirando a
nova informação em sua mente como uma moeda. Seu pai era bom em duelar -
ele já tinha ouvido isso antes. Lyall Lupin obviamente tinha um temperamento
também - essa era uma nova descoberta, e uma coisa estranha de se saber,
depois de tanto tempo sem realmente saber de nada. Pela primeira vez, Remus
considerou que seus ataques de raiva podem não ter nada a ver com sua
condição. E quem era Greyback? O nome sozinho o fez se sentir quente e
desconfortável. Ele desejava mais do que tudo que James e Peter não
estivessem estado lá para ouvir tudo.

"O que diabos ele está fazendo?!" Uma voz guinchou por cima do ombro de
Remus. Era Lily Evans. Ela estava bebendo uma xícara de chá, assistindo da
janela James em sua vassoura.

"Liberando energia nervosa," Remus deu de ombros, sem se virar para olhar
para ela. A luz do dia deixaria seu rosto em nítido e sua cicatriz - embora não
mais vermelha e aparente - ainda era muito perceptível.

"James Potter, nervoso?!" Lily zombou: "Eu não tinha ideia que ele era capaz
de emoções tão complexas."

"Ei" Remus objetou, ainda olhando pela janela, "Não foi um natal bom para
ele, ok?"

"Ok, ok, desculpe, eu sei que ele é seu amigo." Ela sempre dizia isso logo
depois de insultar um dos marotos. "Como foi seu natal?"
"Ótimo, obrigado. E o seu?"

"Brilhante", ele podia ouvir o sorriso em sua voz, "mamãe e papai finalmente
me deixaram ter uma coruja."

"Ah legal!"

"E você?"

"Ganhei alguns livros."

"Do seu ... hum, das pessoas com quem você vive?"

Ele finalmente olhou para ela, ainda mais irritado. Por que ela simplesmente
não se perdia por aí?

"Não, dos meus amigos."

"Oh ... claro, sim." Lily estava conscientemente olhando para longe, para o
espaço logo à esquerda da cabeça de Remus. Ele suspirou pesadamente, todos
iriam ver de qualquer maneira. Pelo menos Lily era educada o suficiente para
não fazer perguntas rudes.

Remus subiu as escadas de volta para o dormitório, fechou as cortinas da cama


e se acomodou com Cartografia do Conjurador. Os outros eventualmente
subiram também, falando baixo, pensando que ele estava dormindo. O
exercício não fez nada para acalmar James, Remus podia ouvir seu batimento
cardíaco acelerado e sentir o cheiro enjoativo de ansiedade.

Cerca de uma hora após as luzes terem se apagado a porta se abriu novamente.

Sirius havia retornado - não havia como confundir seus passos familiares.
Remus sentiu uma onda de alívio passar por ele, um nó em seu estômago que
ele não percebeu que estava lá havia começado a se desenrolar. James e Peter
continuaram dormindo enquanto Sirius tentava manter seus movimentos
quietos, entrando no quarto e indo até sua cama, subindo rapidamente e
fechando as cortinas. Remus ficou parado, ouvindo Sirius deitado imóvel
também. Havia algo diferente em sua respiração. Eventualmente, a curiosidade
levou a melhor sobre ele e ele saiu da cama.

Não querendo se intrometer, Remus caminhou tão perto das cortinas de Sirius
quanto ousou e sussurrou,
"Sirius?"

"James?" Ele respondeu, ansiosamente.

"Remus."

"Ah ..." houve um momento de silêncio constrangedor. "... Eu só quero dormir,


Lupin. A gente fala amanhã, ok?"

"Ok." Remus voltou para sua cama e fechou os olhos, não se sentindo menos
preocupado.

***

Segunda-feira, 8 de janeiro de 1973

Na manhã seguinte, Sirius já havia partido antes que qualquer um deles


acordasse. Seus presentes, ainda fechados, foram empurrados para o final da
cama. Seu baú havia chegado em algum momento e sua vassoura estava de
volta na prateleira. James reservou um lugar para ele no café da manhã, mas
ele nunca apareceu, e eles não o viram até a primeira aula.

"Ele não perderia McGonagall", disse James com confiança, enquanto se


dirigiam para a sala de aula, "Ele adora Transfiguração."

Quando eles entraram na sala, no entanto, todos ficaram em choque. Havia


outro garoto sentado no lugar de Sirius. Ele era pequeno e curvado, pálido,
com traços afiados e grandes olhos azuis. Seu cabelo estava cortado perto do
couro cabeludo da mesma forma que a Matrona raspava a cabeça de Remus
todo verão. Mas parecia mais escuro que o de Remus.

"Quem é aquele?!" Peter sussurrou, um pouco alto demais. O menino se virou


para olhar para eles.

"Sirius!" James ficou boquiaberto.

Sirius corou ligeiramente e olhou para frente como se nunca os tivesse visto.
James deslizou para o assento ao lado dele,

"O que aconteceu? Onde você esteve? O que ela fez com você?!"

Sirius balançou a cabeça,


"Mais tarde," ele murmurou.

A sala de aula estava cheia agora, e todos pareciam estar cochichando nas
costas deles. Remus não podia culpá-los - ele também não conseguia parar de
olhar. Não era apenas a falta de cabelo - embora isso fosse incrivelmente
desconcertante; Sirius simplesmente não era Sirius sem o cabelo - ele também
tinha sombras escuras sob os olhos e não havia um traço de humor em seus
lábios.

"Tudo bem, acalme-se, por favor!" McGonagall entrou na sala. Ela olhou para
Sirius. Seus olhos se arregalaram por um milissegundo quando ela o
reconheceu, mas ela não disse nada, se dirigindo à classe; "Seus exames de fim
de ano começam em três meses, vamos ver quem está prestando atenção..."

McGonagall não chamou Sirius nenhuma vez para responder a uma pergunta,
embora geralmente essa fosse a única maneira de fazê-lo prestar atenção. Nem
incomodou nenhum dos outros marotos, que passaram a aula inteira lançando
olhares preocupados para o amigo. Quando a aula de Transfiguração terminou,
eles empacotaram suas coisas e seguiram Sirius apressadamente para fora da
porta.

"O que aconteceu?!" James perguntou, tentando acompanhar o passo rápido de


Black.

"Eu disse mais tarde," Sirius respondeu, "Espere até o intervalo, ok?"

"Mas você - o que ela ...?"

"Estou bem."

A próxima lição, História da Magia, foi uma agonia. James estava fora de si e
até recorreu a passar bilhetes para Sirius - que os ignorou firmemente. Ele
sentou-se rígido, as costas eretas, os olhos na lousa. Pela primeira vez em dois
anos, Remus o viu realmente lendo seu texto de história na aula. Algo estava
muito errado, de fato.

Eles não conseguiam sair da aula de História rápido o suficiente - James


agarrou o braço de Sirius e praticamente marchou com ele para fora em direção
do pátio mais próximo, onde eles expulsaram um grupo de garotas do primeiro
ano que estavam fazendo bananeiras contra a parede, saias enfiadas em suas
calcinhas. Estava muito frio, embora ainda não houvesse nevado, o céu estava
branco como o papel e uma tempestade se aproximava. Uma vez que a barra
estava limpa, James olhou para Sirius, olhos cheios de sentimento, rugas
profundas em sua testa.

"O que aconteceu?!"

Sirius suspirou pesadamente.

"O que parece?" Ele gesticulou para sua cabeça. Remus teve a sensação
peculiar de que nenhum deles se importava que ele e Peter estivessem ali - que
isso era entre os dois, como suas conversas noturnas.

"Sua mãe fez isso?"

"Bem, eu não fiz isso sozinho, fiz ?!" Ele retrucou, com raiva. James não
reagiu, apenas continuou olhando para o amigo. Esse era o segredo de James,
Remus percebeu, de repente, ele sempre era paciente e nunca levava nada para
o lado pessoal. De que outra forma você poderia ser o melhor amigo de alguém
como Sirius Black? Sirius agora estava remexendo em sua bolsa e tirou seu
chapéu vermelho da Grifinória, que até então nunca tinha sido usado. Ele
apertou sobre a cabeça raspada, "Frio maldito." Ele murmurou: "Não sei como
você lida com isso, Lupin."

Remus deu de ombros e sorriu, satisfeito por ser reconhecido. Sirius se apoiou
pesadamente na parede, olhando para os pés.

"Eles me deixaram voltar", disse ele, baixinho, "Quase não deixaram - um


movimento errado e eles prometeram me mandar para Durmstrang."

James e Peter engasgaram, Remus fez uma nota mental para perguntar sobre
isso mais tarde. Sirius continuou.

"Não recuperei minha voz até a ceia de Natal. Tive que fazer meu papel de
herdeiro; todos estavam lá, todos os vinte e oito sagrados - exceto os Weasley,
obviamente. Lucius Malfoy realmente me odeia agora, mas ele teve que ser
muito legal comigo e com Reg - panaca nojento. Acabei usando minha gravata
da Grifinória até que mamãe percebeu e sumiu com ela. Então eu ... eu hum ...
posso ter detonado algumas bombas de bosta durante o quarto prato..."

Peter, Remus e James estremeceram, todos juntos.

"É por isso ... o cabelo ...?" James perguntou novamente, hesitante. Sirius
olhou para cima.
"Ela disse que vendo que as punições usuais não estavam surtindo efeito, ela
tentaria algo diferente ... Tentei fazer com que Pomfrey crescesse de volta para
mim, mas a velha cadela disse que ali não era um salão de beleza. Pensou que
eu mesmo tivesse feito isso por acidente ou algo assim. "

"Você poderia dizer a ela –"Remus começou, sentindo a necessidade de


defender a enfermeira. Sirius balançou a cabeça,

"Não vale a pena."

"Regulus?" James perguntou de repente: "Ele também voltou? Ele nos enviou
uma mensagem para avisar que você chegou em casa, mas depois não ouvimos
mais nada."

Sirius acenou com a cabeça,

"Éh, ele está de volta. Ainda com seu cabelo, obviamente. Papai montou uma
chave de portal para Hogsmeade. Ele ainda é ... sabe, um chato e tudo, mas ...
ele também não escolheu ser um Black. Ele simplesmente joga o jogo deles
melhor do que eu." Ele olhou para além de todos eles, seus olhos arregalados e
desesperados. Remus sentiu uma dor terrível no peito. "Eu só queria..." disse
Sirius. Mas não deu tempo. O sinal tocou e eles tiveram que voltar às suas
aulas.
32. Segundo Ano
Grifinória vs. Sonserina

Todos na escola sabiam sobre o novo visual dramático de Sirius ao final do


primeiro dia. James e Peter começaram a andar um de cada lado dele pelos
corredores, como guarda-costas, lançando olhares para qualquer um que
ousasse rir ou sussurrar enquanto passavam.

"Não tá tão ruim," James o assegurou, observando Sirius se encarar no espelho.


Eles estavam se escondendo no banheiro feminino vazio do segundo andar
durante o almoço para evitar mais olhares.

James estava mentindo, Remus pensou consigo mesmo, e Sirius provavelmente


sabia disso. Estava bem ruim - ele parecia muito menor. Sem o cabelo escuro
emoldurando seu rosto, seus olhos se destacavam mais do que nunca, fazendo-
o parecer mais jovem e ansioso. As maçãs do rosto salientes e as sobrancelhas
pontiagudas se destacavam demais, dando a ele uma aparência meio
esquelética. Não era de se admirar que todos estivessem olhando - na verdade,
quase ninguém olhou para o rosto recém-cicatrizado de Remus por causa da
distração. Mesmo assim, Remus pensou, taciturno – cabelo cresce.

Sirius esfregou a cabeça, ainda observando seu reflexo. Peter riu


nervosamente,

"Você se parece com o Lupin."

James acenou com a cabeça, os olhos disparando entre os dois.

"É, você parece um pouco."

Sirius olhou para Remus e, pela primeira vez desde a véspera de Natal, Remus
o viu sorrir. Aquele sorriso típico de Sirius Black - nada poderia estragar isso.

"Ah sim, acho que estou vendo," disse Sirius, ainda esfregando a cabeça. Ele
estendeu a mão e puxou Remus para a moldura do espelho, de modo que eles
ficassem lado a lado, olhando um para o outro. "Nós poderíamos ser irmãos."

Remus riu também, apesar de tudo.


O verdadeiro irmão de Sirius estava esperando do lado de fora da sala comunal
da Grifinória mais tarde naquela noite. Ele estava sentado no chão com os
joelhos dobrados, olhando para o nada. Seu cabelo ainda era longo o suficiente
para tocar seus ombros. Seu amigo, Barty Crouch, estava encostado na parede
oposta, parecendo entediado. Ele havia feito um avião de papel e o levitava
preguiçosamente para cima e para baixo no corredor com sua varinha. Crouch
e Regulus eram tão inseparáveis quanto James e Sirius; Barty tinha cabelos
louros e era magricela, mais maldoso que Snape - Remus já o reconhecia
apenas por sua risada cruel.

Regulus levantou-se suavemente enquanto os marotos se aproximavam. Remus


procurou sua varinha dentro do bolso, apenas para garantir.

"Aí está você." O menino mais novo disse, um tremor de nervosismo em seu
tom geralmente arrogante. Seus olhos continuavam se voltando para James. O
avião de papel de Barty começou a circundar todos eles.

"O que você quer?" Sirius perguntou.

"Só quis ver se você... como você está."

"Igual a noite passada." Sirius encolheu os ombros.

"Eu não te vi no jantar."

"Eu não estava no jantar." Sirius respondeu, sem ajuda-lo. Eles haviam enviado
Peter à cozinha para pegar alguns sanduíches e sentaram em uma das alcovas
escondidas de Remus para comer. Remus estava gostando bastante deste jogo -
evitar o resto dos alunos, até mesmo os da Grifinória. Normalmente James e
Sirius fariam tudo em seu alcance para serem notados, já Remus preferia ficar
nas sombras.

"Posso falar com você?" Regulus se dirigiu a seu irmão mais velho.

Sirius abriu os braços, como se estivesse dando a palavra a Regulus. Regulus


revirou os olhos, irritado. Ele não tinha exatamente a mesma boca de Sirius,
Remus notou. Ele tinha uma mandíbula mais fraca, lábios menores. "Quero
dizer, sozinho," ele disse, lançando olhares para James, Peter e Remus.

"Não." Sirius disse simplesmente. Regulus suspirou. Ele claramente conhecia


Sirius muito bem para tentar argumentar.
O avião de papel de Barty Crouch começou a girar mais rápido sobre suas
cabeças. Peter estava observando o progresso nervosamente.

"Certo." Regulus disse, cruzando os braços. "Eu só queria que você soubesse
que a mãe e o pai pediram a mim e a Narcissa para te observar. E informar a
eles."

Sirius fez um barulho de nojo. Regulus continuou, sem desviar o olhar, "E não
vamos. Nós dois vamos ficar fora disso, ok?"

"Muito nobre da sua parte." Sirius respondeu. James sorriu. Regulus revirou os
olhos novamente.

"O que eu quero dizer é que não sou seu inimigo, idiota. Nem Narcissa. Você
pode fazer o que quiser, isso é entre você e nossos pais."

"Ótimo."

"Ótimo."

Os dois irmãos continuaram se encarando. Se fosse James, ele teria aberto um


sorriso, dado um tapa no ombro de Sirius e tudo seria esquecido. Mas Regulus
era claramente tão teimoso e cabeça dura quanto Sirius, e não sabia quando
terminar uma briga.

"Ow!" Peter soltou um grito como um cachorrinho machucado, agachando-se


de repente. Barty Crouch obviamente ficou entediado com o drama familiar e
decidiu atacar o menor dos marotos com seu avião de papel. Crouch ria
maldosamente enquanto o avião recuava e se preparava para seu segundo
ataque. James puxou sua própria varinha,

"Incendio." Ele disse preguiçosamente, sacudindo o pulso na direção de


Crouch. O avião, com as asas agora acesas com o fogo, voou na direção do
garoto do primeiro ano com uma velocidade assustadora. Crouch soltou um
grito de angústia, cobrindo o rosto com os braços enquanto o projétil em
chamas voava direto para ele - apenas para sumir no ar, desintegrando-se em
uma pilha de cinzas a centímetros do nariz de Crouch.

"Vamos embora." Regulus murmurou para seu amigo, que estava pálido e
olhava para James com cautela. Os dois se dirigiram às masmorras. "Narcissa
disse para te desejar boa sorte no sábado, Potter." Regulus falou por cima do
ombro quando eles dobraram uma esquina.
James o ignorou, seguindo Sirius pelo buraco do retrato. Uma vez que todos
estavam na sala comunal Remus perguntou,

"O que há sábado?"

"Jogo de quadribol. Grifinória versus Sonserina." James respondeu


prontamente.

Ah. Remus não era bom em acompanhar o calendário de quadribol - ele só ia


aos jogos da Grifinória, e o último caíra no dia seguinte à lua cheia, então ele
tinha perdido este de qualquer maneira. Ele tendia a se desligar quando os
outros começavam a falar sobre táticas e tabelas de classificação, enterrando o
nariz mais fundo em seu livro.

"Espero que você acabe com eles, cara." Sirius rosnou, jogando-se na poltrona
mais próxima.

"Esse é o plano." James disse, jovialmente, sentando-se no braço da cadeira.


"Desde que Narcissa não pegue o pomo muito cedo - e Marlene é a melhor
batedora que já tivemos em anos, então--"

James parou, percebendo o que disse. Ele olhou para Sirius. Sirius gemeu e se
levantou.

"Estou indo para a cama." Ele disse.

***

Sábado, 13 de janeiro de 1973

Tinha nevado a noite toda. Se Hogwarts fosse uma escola normal, Remus
pensou consigo mesmo, mal-humorado, eles teriam cancelado a partida idiota.
Mas não; em vez disso, a sala comunal da Grifinória zumbia em excitação,
com conversas sobre como essas eram 'condições perfeitas de voo'. Peter e
Remus passaram metade da manhã tentando lançar feitiços de aquecimento
duradouros no uniforme de James. Sirius havia realizado um de seus atos de
desaparecimento matinal e não estava em lugar algum.

Adil Deshmakh, o capitão do time da Grifinória, fez o time comer junto no


café da manhã, ao invés de com seus amigos. Todos ficaram sentados lá,
pálidos e cansados, comendo tigelas de mingau e frutas (por ordem de
Deshmakh). James era o único de bom humor - embora eles não tivessem feito
o feitiço de aquecimento funcionar.
"Onde está Sirius?" Lily bocejou, enquanto se sentava ao lado de Remus,
mordendo uma fatia de torrada com muita manteiga.

"Não sei," Remus bocejou de volta, segurando sua xícara de chá quente como
se sua vida dependesse disso.

"Emburrado em algum lugar, provavelmente." Peter disse, amargamente.


Remus deu a ele um olhar penetrante. "O que?!" O garoto loiro franziu a testa,
indignado. "Ele me chama de chorão o tempo todo."

"Ele vai vir." Remus disse, ignorando Peter. "Ele quer ver a gente destruir os
Sonserinos."

Até Lily sorriu com isso - apesar de seus apelos habituais para a união entre as
casas, hoje ela estava vestida de vermelho e dourado da cabeça aos pés, assim
como todo mundo. Depois do café da manhã, eles saíram juntos para o campo
de quadribol. A parte da Grifinória no campo estava enfeitada com bandeiras e
fitas vermelhas e douradas, além de quatro grandes faixas exibindo o leão
dourado da casa. Felizmente, alguém havia limpado a neve dos bancos.

Lily e Peter queriam os melhores lugares no topo das arquibancadas, e Remus


já estava tremendo, apesar de usar dois suéteres sob a capa.

"Com frio, Remus?" Lily olhou para ele, enquanto ele tentava soprar ar quente
nas mãos enluvadas.

"Só um pouco." Ele respondeu, sarcasticamente, muito mal-humorado para


pensar em ser educado.

"Aqui," Lily puxou a varinha e agarrou os pulsos dele, apontando para as


palmas das mãos; "Calidum Vestimenta."

Imediatamente, um calor delicioso se espalhou por suas mãos, até as pontas


dos dedos congelados.

"Como você fez isso?!" Ele perguntou: "Temos tentado a manhã toda!"

"Acho a chave está na anunciação." Lily encolheu os ombros. Ela rapidamente


aplicou o mesmo feitiço na capa de Remus e depois na de Peter.

Após isso ter sido feito, as duas equipes de quadribol já estavam se reunindo
no campo, que fora limpo o suficiente para que eles pudessem fazer o caminho
de seus vestiários, pelo menos. Eles estavam em duas fileiras organizadas -
uma escarlate, uma esmeralda. Remus conseguiu distinguir claramente alguns
dos jogadores - o inconfundível cabelo preto de James, o rabo de cavalo louro-
claro de Marlene. Ele também viu Narcissa Black, no time adversário; alta e
esguia, seu cabelo platinado entrelaçado em duas tranças elegantes que
desciam por suas costas.

Ainda nada de Sirius.

"Obviamente," Peter estava tagarelando para Lily, "Não precisamos vencer


este jogo na verdade, só precisamos manter nossos pontos altos - contanto que
terminemos com pelo menos seis gols, então permaneceremos no topo da liga.
Black é uma apanhadora brilhante, mas os Sonserinos em geral são bem ruins.
Especialmente quando você olha para James, ele é como ter três artilheiros em
um. "

Lily estava balançando a cabeça educadamente - as pessoas raramente ouviam


Peter quando se tratava de esportes. Remus certamente não ouvia. Ele havia
tentado ler o exemplar amarrotado de Quadribol através dos Séculos de Sirius,
mas nada nele poderia ajudá-lo a entender o ridículo sistema de pontos.

Madame Hooch soprou seu apito abaixo deles, e os jogadores montaram em


suas vassouras, agachando-se prontos para o pontapé inicial.

Ainda nada de Sirius.

Remus esticou o pescoço, olhando ao redor das arquibancadas - mas mesmo


com sua excelente visão, ele não conseguiu localizar seu amigo em lugar
nenhum. Certamente Peter não estava certo - ele não poderia estar emburrado
em algum canto? Pensara que ele havia superado sua rejeição do time de
quadribol - ele esteve em todas as partidas daquele ano para torcer por James.
Só porque essa partida em particular era contra a Sonserina ...

Madame Hooch soprou seu apito novamente e soltou o pomo. Os jogadores


dispararam para o alto como balas de canhão vermelhas e verdes.

Ainda sem Sirius.

Peter e Lily estavam de pé torcendo com todos os outros, então Remus se


levantou também e tentou parecer envolvido no jogo. James tomou posse da
goles segundos após estar no ar, e conseguiu atravessa-la no aro em menos de
um minuto. A multidão vermelha explodiu em triunfo, mas foram rapidamente
ofuscadas por um barulho ensurdecedor, como um trovão.
"Rrrrrroooooaaaaar!"

"O que é que foi isso?!" Lily olhou em volta com os olhos arregalados, junto
com todos os outros. Até os jogadores em campo pareciam assustados. Remus
olhou para cima e viu que os leões nos estandartes da Grifinória acima deles
pareciam ter ganhado vida, e agora estavam rondando para frente e para trás
pelo material vermelho, rosnando e balançando a cabeça inquietamente.

"Isso é normal?" Ele perguntou, apontando. Lily e Peter balançaram a cabeça,


sem palavras, enquanto os enormes leões rugiam acima deles.

Remus sorriu de repente. Ele reconhecia aquela magia; brincalhona e um


pouco assustadora. "Veja!" Ele apontou novamente.

Na parte inferior das arquibancadas, mais próximo do solo, um jovem


grifinório em vestes vermelhas brilhantes também estava andando para frente e
para trás, acenando sua varinha como a batuta de um condutor. Sem dúvida,
era Sirius - quem mais tinha aquele andar confiante até demais? - mas ele não
estava mais careca e, em vez disso, usava uma enorme peruca dourada, como a
juba de um leão. Remus achou que podia até ver um rabo de ouro arrastando-se
atrás de suas vestes.

Assim que todos o viram, a multidão riu - até mesmo a Corvinal e a Lufa-Lufa.
Mas Sonserina não o fez - a porção verde da multidão meramente observou a
demonstração extravagante do orgulho da casa.

James claramente não estava distraído pelos novos mascotes, mas sim
encorajado por eles - o que deve ter sido a intenção de Sirius. Ele marcou pelo
menos mais três gols - resultando em mais três rugidos ensurdecedores -
enquanto os sonserinos lutavam para se recuperar da surpresa.

"Nós somos Grifinória!" Sirius estava cantando, sua voz magicamente


amplificada,

"Poderosa, Poderosa Grifinória!" A multidão gritou de volta.

Depois que se acostumou com todo o barulho, Remus começou a se divertir


com um jogo de quadribol pela primeira vez. James era como um borrão
vermelho no campo, disparando de um lado para o outro; os outros artilheiros
também eram muito bons, acompanhando suas formações e passes
complicados. Marlene, com o bastão na mão, estava fazendo um trabalho
incrível não apenas protegendo os artilheiros e o apanhador, mas mirando os
balaços no outro time - em Narcissa, particularmente.
Narcissa Black, no entanto, estava em sua própria liga. Ela tinha um estilo de
voo elegante e suave que Remus reconheceu das tentativas de Sirius ensiná-lo
a voar formalmente. Ela era rápida e estava em constante movimento, como a
água. O apanhador da Grifinória estava seguindo seus movimentos, esperando
que ela o levasse até o pomo, mas ela continuou se esquivando e fazendo
curvas falsas para confundi-lo; duas vezes o enviando diretamente para o
caminho de um balaço. Ela não era vistosa como James - era eficiente e
implacável.

A Grifinória tinha cem pontos de vantagem quando Narcissa finalmente viu o


pomo - Remus percebeu o momento em que ela o avistou. Sua postura mudou;
ela não desviou o olhar nem uma vez. Ela pairou por alguns momentos,
olhando para trás para ver onde o apanhador da Grifinória estava. Ele hesitou,
sem saber o que ela estava planejando.

Naquele exato momento, Maisy Jackson, um dos artilheiros da Grifinória,


marcou outro gol, elevando o placar da Grifinória para 130 contra 20 da
Sonserina. Os Grifinórios enlouqueceram, e Sirius acenou com sua varinha
ainda mais entusiasmado. Os leões não apenas rugiram desta vez,
mas saltaram através dos estandartes, para o ar do inverno, onde se tornaram
estranhas sombras douradas caminhando através do campo. O apanhador da
Grifinória mergulhou para se esquivar deles, claramente apavorado, embora
eles tenham desaparecido logo acima de sua cabeça.

"Não, seu idiota!" A voz de Sirius ecoou sobre os aplausos.

Era tarde demais - Narcissa aproveitou a distração de seu oponente e pegou o


pomo. Ela voou acima da multidão, segurando-o no ar triunfantemente. A
multidão da Sonserina finalmente explodiu em aplausos, enviando faíscas
verdes e prateadas, comemorando;

"Black, Black, Black!"

Claro, isso foi muito confuso, já que os grifinórios também cantavam.

"Black, Black, Black!" Enquanto Sirius fazia suas reverências diante da


multidão. James desceu para posar ao lado dele e bagunçou a juba ridícula de
seu amigo, enquanto a multidão agora gritava, "Pot-ter! Pot-ter! Pot-ter!"

"Ah, bem," Peter sorriu para Remus, "Nós perdemos, mas ainda estamos
empatados com a Corvinal na tabela de classificação - ainda estamos indo para
a final!"
Remus não poderia se importar menos.

Em seguida, eles entraram em campo para parabenizar sua equipe - Remus e


Peter deram um soco em Sirius de brincadeira.

"Você nunca nos contou!"

"Nós poderíamos ter ajudado!"

Sirius apenas sorriu e jogou seu glorioso cabelo dourado.

"Sirius!" Uma voz fina e fria rompeu a multidão. Todos eles se viraram.
Narcissa estava caminhando em direção a eles, ainda em suas vestes
esmeraldas esvoaçantes, uma medalha de prata brilhante pendurada em seu
pescoço que fez Remus se encolher atrás de Peter. Sirius se levantou para
encará-la. Ela deu a ele um sorriso inesperado, "Tire essa peruca obscena." Ela
disse bruscamente.

Ele obedeceu, esfregando a cabeça nua, constrangido. Narcissa puxou sua


varinha com um movimento rápido e bateu em sua cabeça, "Crescere."

Os marotos e a multidão da Grifinória ao redor deles engasgaram. O cabelo de


Sirius começou a crescer, como água negra caindo de sua cabeça, até que
estava de volta ao comprimento normal.

"Mas que-?!" Sirius agarrou sua cabeça. Narcissa sorriu, mostrando fileiras de
dentes perolados,

"Isso é por sua ajuda em garantir a vitória da Sonserina." Com isso, ela se
virou, as tranças prateadas girando e disparou em direção ao seu próprio time.

James puxou as madeixas recém-restauradas de Sirius.

"Eu nunca vou entender sua família maluca, cara."


33. Segundo Ano
Descobertas

Após do jogo Grifinória x Sonserina, parecia que o tempo estava se acelerando


para Remus. Parte disso foi devido ao equilíbrio ter sido restaurado no
dormitório. James era mais uma vez o herói, a rebeldia de Sirius estava de
volta em plena forma, Peter não estava mais pisando em ovos em torno de
nenhum deles e Remus não tinha paz ou silêncio - embora dificilmente pudesse
reclamar disso.

Como se estivessem tentando recuperar o tempo perdido, James e Sirius


passaram as últimas semanas de inverno com um entusiasmo renovado para
travessuras e brincadeiras. Ficavam metade do tempo sob a capa da
invisibilidade, lançando feitiços em alunos desavisados nos corredores,
invadindo a cozinha e causando transtornos no Salão Principal. Pelo menos
três ou quatro noites por semana, eles saíram com o mapa de Remus para
mapear o castelo - embora na maioria das vezes eles apenas voltavam com os
braços cheios de doces da Dedos de mel. Peter sempre tentava ir junto, mas
Remus precisava de todo o sono que pudesse conseguir.

As luas cheias de janeiro e fevereiro não foram boas. Não foram tão ruins
quanto a lua de dezembro, que o deixara obviamente assustado, mas também
não seriam nada agradáveis. Madame Pomfrey foi implacável em sua busca
para encontrar uma solução - em janeiro ela tentou remover as unhas
dele ('apenas temporariamente, você entende, você as terá de volta pela
manhã'), mas isso não impediu que suas garras crescessem uma vez que a
transformação tomou conta dele. Remus ficou um pouco aliviado com isso, já
que ela tinha planos de remover seus dentes em seguida.

Em fevereiro, ela tentou prender seus braços e pernas com algemas mágicas
para impedi-lo de se machucar. Ela se desculpou intensamente por essas
medidas – pedindo perdão ainda mais quando voltou pela manhã e descobriu
que ele havia deslocado os dois ombros, se libertando das algemas. Ele estava
cansado demais para se importar muito.

Apesar de se envolver em menos pegadinhas do que no ano anterior, Remus


escolheu se lançar aos estudos. Secretamente, Remus esperava tirar vantagem
da determinação de Sirius e James de não se concentrar nos trabalhos
escolares. Ele queria chegar em primeiro em História da Magia novamente e
sabia que tinha uma boa chance - não apenas isso; suas notas estavam ficando
cada vez melhores em Transfiguração, Herbologia e Astrologia também, e ele
pelo menos tinha a chance de estar entre os três primeiros.

Feitiços e Poções ainda pertenciam a Lily Evans, mas ele queria diminuir a
distância entre eles o máximo possível. Como tal, ele finalmente superou seu
medo da biblioteca e passou quase todas as horas livres que tinha lá,
completando tarefas e revisando a matéria. Sua leitura havia melhorado um
pouco - ele ainda era lento se não usasse o feitiço, mas descobriu que sua
prática constante o ajudava a reconhecer as letras muito mais rápido do que
antes.

Lily também estava frequentemente na biblioteca, e depois de alguns dias


acenando educadamente um para o outro das mesas, Lily juntou suas coisas e
veio se sentar ao lado dele. Eles se davam muito bem juntos, lendo baixinho ou
questionando-se sobre vários assuntos.

Inevitavelmente, Lily foi a segunda pessoa depois de Sirius a descobrir o


segredo de Remus.

"Porque você faz isso?" Ela perguntou, olhando para ele com curiosidade.

"Fazer o que?"

"Cada vez que você abre um novo livro, você coloca a mão nele e coça a
cabeça com a varinha."

"Não, não faço isso." Remus abaixou sua varinha, culpado.

"Sim, você faz." Lily disse, calmamente, um pequeno sorriso brincando em


seus lábios, "Você murmurou algo também. Foi um feitiço? "

"Hum."

"Ah, vá em frente, me diga - tem algo a ver com os livros? É assim que você
descobre tudo mais rápido do que eu?!"

Remus ficou tão satisfeito com o elogio que baixou a guarda pela primeira vez.

"Promete que não vai contar a ninguém?"

"Prometo."
"É para me ajudar a ler. Eu não sei ... eu não posso ... hum ... bem, eu acho
mais difícil do que todo mundo. Ler da maneira normal."

"Uau! Como funciona?!" Seus olhos se arregalaram, como sempre acontecia


quando ela estava animada com alguma coisa. Remus ficou surpreso - ela não
parecia nem um pouco interessada em saber que ele não conseguia ler
normalmente.

"Assim," ele mostrou a ela. Ela o copiou, mas parecia desapontada.

"Não funcionou."

"É muito difícil de fazer." Ele explicou: "Levei séculos para acertar".

"Onde você descobriu sobre isso? Isso é muito, muito avançado!"

"Não fui eu – foi Sirius. Eu não acho que tem escrito em qualquer lugar, é
como se ele tivesse misturado alguns feitiços diferentes. Provavelmente esse é
o motivo dele ainda ser um pouco imperfeito. "

"Mesmo?!" Se os olhos de Lily se arregalassem mais, eles correm o risco de


cair da cabeça dela. "Eu sabia que ele era mais esperto do que finge ser nas
aulas! Ah, aquele idiota! Mostre-me de novo!"

Assim como com Lily, Remus acabou se juntando as amigas dela também,
Mary e Marlene. No começo ele não tinha certeza sobre esse arranjo -
geralmente tentava evitar as outras garotas em seu ano puramente por instinto.
Além disso, Mary e Marlene geralmente eram encontrados rindo no fundo da
classe ou suspirando sobre alguma celebridade bruxa na sala comunal. No
entanto, ele ficou agradavelmente surpreso ao descobrir que as duas garotas
levavam seus estudos tão a sério quanto ele - e, na verdade, seu interesse por
estrelas pop bruxos não era muito diferente da obsessão de Sirius e James por
seus times favoritos de quadribol.

Mary era particularmente alguém agradável de se conversar - ela era nascida


trouxa e morava no sul de Londres; o sotaque dela fez Remus se sentir
estranhamente em casa. Ela era despretensiosa, tinha um sorriso largo e uma
risada alta e contagiante. Marlene era um pouco mais quieta, mas
histericamente engraçada e capaz de imitar quase qualquer pessoa na escola -
incluindo os professores. Sua imitação de McGonagall era espetacular; Remus
realmente chorou de tanto rir.
As três garotas foram excepcionalmente gentis com Remus, e ele sabia que
isso era principalmente porque pensavam que ele estava doente. Ele não se
importou, porque estava aprendendo muitas coisas interessantes com elas. Por
exemplo o fato que, Mary sabia um feitiço capaz de encobrir manchas na pele -
o que não fazia suas cicatrizes desaparecerem completamente, mas as reduzia
visivelmente. Ele nunca tinha pensado em procurar uma solução em uma
revista de beleza.

Elas o apresentaram a várias outras coisas femininas - Mary tinha uma queda
por Sirius e Marlene por James. Remus achou que elas estavam completamente
loucas e se perguntou se continuariam se sentindo da mesma maneira se
tivessem que dividir o banheiro com Potter e Black.

Em troca, Remus as ajudou com História da Magia, já que ele era


aparentemente o único aluno em toda a escola que realmente achava o
Professor Binns interessante. Marlene era excelente em Astronomia e mostrou
a ele como traçar suas constelações usando alguns inteligentes dispositivos
mnemônicos.

"Você é tão legal, Remus," Mary disse uma noite, em seu jeito brusco de
sempre, enquanto voltavam para a sala comunal juntos, "Marlene e Lily tinham
medo de você no primeiro ano."

"O que?!" Remus quase deixou seus livros caírem de surpresa.

"Mary, não seja tão rude!" Marlene sibilou.

"Você era muito agressivo", explicou Lily, "E James começou a dizer a todos
que você era realmente forte e que fazia parte de uma gangue."

Remus quase roncou de tanto rir.

Quando eles entraram na sala comunal, ele rapidamente avistou Sirius, James e
Peter amontoados em um canto, esparramados sobre um livro muito grande e
grosso. Marlene e Mary explodiram em gargalhadas quando eles as viram e
correram escada acima. Lily compartilhou um olhar de cumplicidade com
Remus antes de segui-las.

Os marotos ergueram os olhos quando o amigo se aproximou, e Peter cobriu -


de maneira nada sutil - o livro que estavam lendo com algumas folhas de
pergaminho.
"Tudo bem, rapazes?" Remus disse, esticando o pescoço, "O que estão
fazendo?"

"Nada!" James disse, com entusiasmo "Onde você esteve?"

"Na biblioteca," Sirius afirmou, antes que Remus pudesse abrir a boca, "Com
seu fã-clube."

Remus sorriu.

"Cai fora, Black, eu sei que você está com inveja." Ele optou por não contar
aos amigos que Marlene e Mary gostavam deles. Seus egos podiam não ser
capazes de lidar com muito mais inflação. De qualquer forma, ele não queria
mudar de assunto, "Sério, o que vocês estão escondendo aí?"

Todos os três se entreolharam com culpa e Remus sentiu uma pontada de dor.
Todos eles estavam tramando algo sem ele - ele deveria saber. Ele supôs que
era justo - ele se recusou a participar de qualquer pegadinha por tanto tempo,
que agora eles não iriam querer incluí-lo em mais nada.

"Seu aniversário!" Peter explodiu de repente. "Está chegando."

"Sim," Remus coçou a cabeça e disse: "Na próxima semana."

"Estamos planejando uma surpresa!" Peter disse, sorrindo amplamente,


claramente muito satisfeito consigo mesmo. Remus não perdeu o olhar de
aborrecimento de James e soube imediatamente que Peter estava mentindo.
Tudo bem. Se eles não quisessem contar a ele, não precisavam.

"Ah, certo", ele engoliu em seco, forçando um sorriso, "Bem, é melhor vocês
não estarem planejando me envergonhar como no ano passado."

"Ah não, nunca!" Sirius sorriu, levantando-se, juntando o livro contra o peito,
título ainda escondido, "Somos o tipo de amigos que gostariam de envergonhar
você, Lupin?"

"Sim, vocês são." Remus acenou com a cabeça, lentamente, estreitando os


olhos, "Sem cantar. Sem grandes festas. Nada que vá— "

"Te colocar em problemas, nós sabemos", concluiu James, levantando-se


também. "Ei, por que não convidamos suas novas amigas, hein? É bom nos
misturarmos com o sexo oposto, você não acha?"
"Certo," Sirius sacudiu o cabelo dele, "É mais como se você quisesse uma
chance de ficar a sós com Evans."

"Como você ousa." James respondeu, as bochechas ligeiramente mais rosadas


do que o normal.

***

"Então, se você não faz parte de uma gangue", refletiu Mary, alguns dias
depois. Eles estavam verificando os deveres de Herbologia um do outro e Mary
era a leitora mais rápida, então ela já havia terminado. "Onde você conseguiu
todos os cortes e hematomas?"

"Coelho de estimação," Remus respondeu, ainda lendo a redação de Marlene,


"ele tem um temperamento horrível."

Lily sorriu para ele.

"Ah é? Achei que você morasse em um abrigo?"

"Eu moro." Ele disse, friamente: "Somos permitidos animais de estimação."


Isso até que era verdade - tiveram peixes dourados por um tempo, até que o
tanque foi derrubado por um dos meninos mais velhos em um ataque de fúria.

"Ah, em uma casa de crianças?" Mary olhou para cima, "Você também é
nascido trouxa?"

"Não", disse Marlene prontamente, "'Lupin' é um nome bruxo - seu pai?" Ela
olhou para ele esperando sua confirmação. Ele acenou com a cabeça, inquieto.

"Sim, como você sabia?"

"Eu vi o nome em um troféu."

"Um ... troféu?"

"Sim. Não consigo me lembrar do que era, acho que foi fora da sala comunal
da Corvinal. "

"Ah, certo." Ele nunca tinha sequer olhado para qualquer um dos troféus,
exceto para os da Copa de Quadribol, que James parava para deslumbrar pelo
menos uma vez por semana. Ele foi repentinamente tomado por uma vontade
irreprimível de correr até o corredor da Corvinal e largar a redação que estava
lendo.

Lily estava olhando para ele.

"Vá, Remus," ela disse suavemente, pegando o pergaminho dele. As outras


duas garotas também estavam olhando para ele, com certa pena. Elas
concordaram. Ele praticamente saltou.

Ele não tinha certeza o que exatamente esperava. Ele mal conseguiu ler por
alguns momentos; estava tão sem fôlego por subir correndo três lances de
escada. A prateleira era de mogno e vidro, regularmente polida por Filch - ou
pelos elfos domésticos, ele supôs. Estava repleta de troféus e prêmios por uma
centena de realizações diferentes. Feiticeiro Campeão de Xadrez, Vencedor do
Torneio Tri bruxo, Finalista do Jogo de Fazer a Melhor Bola Chiclete de
Droobles.

E ali estava. Uma enorme estatueta dourada retratando um mago levantando


sua varinha em uma postura de aparência meio boba, como se estivesse
sacando uma bola de tênis. Lyall Lupin, campeão de duelos de Hogwarts,
1946.

Ele ficou olhando para por um longo tempo, lendo e relendo. Ele tentou pensar
logicamente. Isso apenas confirmou coisas que ele já sabia. Seu pai era da
Corvinal - McGonagall havia dito isso a ele em seu primeiro ano. Ele era bom
em duelos - excepcionalmente bom, aparentemente. Tanto Slughorn quanto o
bêbado Darius haviam lhe contado isso. Realmente, tudo o que isso fez foi
confirmar que seu pai tinha estudado em Hogwarts - ele havia pertencido a
Hogwarts. Provavelmente tocou naquele mesmo troféu. Remus pressionou os
dedos contra o vidro como se pudesse quebrá-lo e agarrá-lo.
34. Segundo Ano
Treze

Sábado, 10 de março de 1973

Os marotos não poderiam ter ficado mais felizes ao descobrir que o aniversário
de Remus cairia em um sábado naquele ano. Isso, de acordo com a opinião
deles, aumentaria as possibilidades para todo tipo de emoção que simplesmente
não seria possível em um dia de semana.

À medida que o dia se aproximava, Remus tentou ignorar as provocações e


dicas descaradas sobre o que o esperava. Ele não se preocupava com o que eles
fariam, confiava neles o suficiente - os meninos podiam ser considerados
idiotas, mas até agora nunca haviam feito dele o alvo da piada. James tinha
recebido pacotes estranhos e amassados, embalados em papel pardo na semana
passada e Remus apenas esperava que eles não fossem presentes - ele nunca
seria capaz de retribuir o favor.

Remus pensava muito sobre ter treze anos - especificamente sobre ser um
bruxo de treze anos com um probleminha peludo como o dele. A descoberta do
armário de troféus da Corvinal havia causado coisas muito estranhas no
diálogo interno de Remus. Ele sempre achou que tinha uma boa ideia de quem
era - um garoto criado em uma casa de apoio, pobre, um pouco magricela,
irritado, cheio de cicatrizes, burro quando se tratava de coisas escolares, mas
inteligente o suficiente quando importava. A vinda para Hogwarts trouxe
algumas mudanças, é claro - talvez ele não fosse tão burro, mesmo que ainda
tivesse certeza de todo o resto.

Seu pai era muito inteligente. Afinal, ele fora da Corvinal. O chapéu seletor
também havia considerado colocar Remus lá, mas mudou de ideia. Isso não
significou muito para ele na época, mas agora ele se perguntava e pensava
sobre isso a todo momento. E se ele tivesse sido selecionado para a Corvinal?
Ele saberia mais sobre seu pai a essa altura? Saberia mais sobre quem ele era?

E se seu pai não tivesse se matado? E se ele nunca tivesse sido mordido? 'E se'
era um jogo perigoso.

Ao adormecer na noite anterior ao seu aniversário, Remus se viu em um sonho


que não tinha há muito tempo.
Ele está deitado em uma cama em um pequeno quarto azul claro. É verão e a
janela está aberta; as cortinas ondulando. A janela é enorme - grande o
suficiente para um homem adulto passar. Remus é muito pequeno e está muito
assustado.

Há alguém no quarto e ele vai machucá-lo. É um monstro - sua mãe prometeu


que eles não eram reais, mas ah! Ah, ela é uma mentirosa, uma mentirosa
horrível, porque há um monstro, e ele está cruzando a sala agora; está vindo
em sua direção e vai comê-lo!

"Quem tem medo do lobo mau?"

Ele fecha os olhos e se esconde sob as cobertas e treme e soluça.

Então ... então não há nada - nada sólido, nada real. Ele está com dor, há tanto
sangue e tantas lágrimas e muito barulho. Ele só quer dormir. Outro homem
paira sobre ele, alto, magro e preocupado.

"Papai."

"LUMOS MAXIMA!"

Remus acordou com um sobressalto, quase gritando. O quarto do dormitório se


encheu de luz brilhante e não natural, que ultrapassava as cortinas de sua cama,
fazendo-o apertar os olhos. Ele só teve tempo de enxugar as lágrimas do rosto
antes de Sirius e James abrirem as cortinas pesadas, entoando.

"Feliz aniversário, Lupin!"

"Ainda está escuro, seus idiotas." Ele apertou os olhos, os esfregou e sentou-se.
Tentou fazer seu coração parar de bater tão forte.

"É precisamente meia-noite e um" disse Sirius, "e, portanto, oficialmente seu
décimo terceiro aniversário."

"Onde está o Pete?" Remus saiu da cama, colocando os pés no chão no quarto.
Os meninos o haviam decorado aleatoriamente com fitas - que ele tinha certeza
que geralmente enfeitavam o campo de quadribol nos dias de jogos - e cortinas
de luzes que sobraram do Natal.

"Em uma missão." James disse, os olhos brilhando. "Vamos, levanta e se


veste."
"Onde estamos indo?"

"Lugar nenhum," Sirius respondeu, despreocupado, "Mas você vai querer estar
adequadamente vestido para quando seus convidados chegarem."

"Meus convidados?!"

"Claro," Sirius sorriu, "Nós tentamos manter a comemoração apenas para os


marotos, mas muitas pessoas queriam celebrar com você, sabe."

Remus não sabia dizer se Sirius estava sendo sarcástico, então ele optou por
não responder. Em vez disso, vestiu uma calça jeans e uma camiseta de manga
comprida que parecia limpa o suficiente. Quando terminou, houve uma batida
forte na porta.

"Entre!" James gritou, alegremente. Sirius viu o choque de Remus e explicou.

"Está tudo bem, colocamos um feitiço silenciador no quarto."

Remus franziu a testa.

"Então ... quem está do outro lado da porta não pode exatamente nos ouvir?"

James colocou a mão na testa.

Peter estava do lado de fora, parecendo muito satisfeito e muito rosado,


rodeado por Lily, Marlene e Mary. Remus ficou boquiaberto quando eles
entraram no quarto, todas sorrindo avidamente e claramente animadas por
terem o surpreendido. Elas estavam todas segurando cartas e pequenos pacotes
também.

"Eu não pensei que garotas fossem permitidas aqui."

"A adorável Mary testou para nós na semana passada - nada de ruim parece
acontecer", explicou James.

"Um dia vocês lerão Hogwarts: Uma História e eu vou poder finalmente
descansar." Sirius suspirou, balançando a cabeça tragicamente.

James começou a puxar pacotes de debaixo da cama, rasgando-os. Parecia que


eles tinham invadido a Dedos de mel novamente - montanhas de doces foram
abertos; Feijões de todos os sabores da Bertie Bott, sapos de chocolate, Fizzing
Whizzbees, Droobles Best Blowing Chiclete, sorvete de limão, bolos de
caldeirão - sem mencionar os produtos que Peter trouxe da cozinha; sanduíches
de presunto, maionese, ovo, frango, queijo e picles, pacotes de batatas fritas
com os sabores favoritos de Remus - sal e vinagre - ovos escoceses, rolos de
salsicha, tortas de porco, queijo e palitos de abacaxi, além de algumas frutas.

Sirius, enquanto isso, estava colocando cobertores sobre o chão de madeira e


espalhando algumas almofadas de veludo felpudo.

"Lupin", disse ele com um sorriso largo, "Bem-vindo ao seu banquete da meia-
noite!"

"Feliz aniversário, Remus!" As meninas entonaram, juntas.

Todos eles se sentaram juntos, e Sirius colocou um disco em seu tocador - ele
finalmente havia aberto os seus presentes de Andromeda - conforme solicitado,
ele ganhara dois álbuns de Bowie: Hunky Dory e The Man Who Sold the
World.

"Sente-se perto de mim, Sirius," disse Mary, rapidamente, ganhando um olhar


de reprovação de Marlene. Sirius deu de ombros e se inclinou para entregar um
pacote a Remus.

"Abra este primeiro!"

Era longo e cilíndrico, muito leve e mal embrulhado.

"Você não precisava me dar nada." Remus murmurou, destorcendo as pontas.

"Um poster?" Lily franziu a testa, observando enquanto Remus desenrolava o


grosso papel brilhante. Era uma imensa impressão A2 de David Bowie em
preto e branco, vestindo um traje prateado brilhante e dando um chute alto
ligeiramente espasmódico.

"Pedi a Andrômeda que me enviasse no Natal," Sirius sorriu, incapaz de se


conter, "Mas eu mesmo o encantei para se mover!"

"Uau!" Remus sorriu de volta, sincero, "Obrigado! É incrível."

Todas as meninas deram a ele pacotes de doces e bolos - e Lily deu a ele um
livro sobre Poções. Ele olhou para ela com ceticismo, a fazendo sorrir.

"Não pode continuar dando a Severus uma razão para se vangloriar para você."
"Por favor, não mencione o nome de Snivellus nesta ocasião sagrada." James
disse com horror fingido. Lily revirou os olhos e voltou para sua torta de
geleia, visivelmente o ignorando. James mal pareceu notar, apenas pigarreou e
olhou para Remus, seus olhos escuros cheios de travessura, "Meu presente está
chegando mais tarde ... assim que todos nós nos empanturrarmos."

"Por Merlin, Potter," Marlene deu uma risadinha, "O que você planejou?"

Ele não diria.

Remus teve que admitir que estava se divertindo - ele esperava que James e
Sirius respeitassem seus desejos e guardassem as comemorações apenas para
os marotos, mas convidar as garotas não fora ruim. Ele as conhecia muito bem
agora, e na verdade gostava muito da companhia delas. Mary fazia Sirius
comer poeira quando o assunto era ser cara de pau e, como Remus previra, as
imitações de Marlene dos professores fizeram os marotos chorar de rir - Peter
até teve que ir e trocar de camisa depois de cuspir suco de abóbora nele
mesmo.

"Estou começando a ver por que Remus está nos abandonando por causa de
vocês." James disse por volta de uma e meia da manhã, enxugando as lágrimas
de riso do canto dos olhos.

"Sim, vocês não são tão ruins, para as meninas," Sirius piscou para Mary, que
zombou e lhe deu um empurrão brincalhão.

"Sim, não tem nada a ver com o fato de eu querer fazer meu dever de casa."
Remus respondeu secamente, imaginando se conseguiria comer outro sapo de
chocolate.

"Ah, como os tempos mudaram," disse Sirius, com altivez.

"Vocês todos vão se arrepender quando Remus se sair melhor que vocês nas
provas." Lily brincou.

"Há!" James se levantou, alongando-se elaboradamente como se estivesse


prestes a realizar uma grande façanha, "Exames! Nós, marotos, temos
preocupações maiores. Meu caro Sr. Black, Sr. Pettigrew ", ele fez um gesto
amplo em direção à janela do dormitório," Vamos? "

"Por George!" Sirius se levantou abruptamente, "Está na hora ?!"

James fechou os olhos solenemente e acenou com a cabeça,


"Sim, de fato."

"Então se apresse!" Peter gritou, levantando-se também.

As garotas lançaram olhares nervosos umas para as outras e depois para


Remus, que só deu de ombros para mostrar que não fazia ideia. Sirius, Peter e
James foram até a janela, abrindo-a. Eles estavam inquietos de excitação, falta
de sono e muito açúcar, e continuavam rindo como crianças travessas.

"Venham!" Peter acenou para os outros, apressadamente: "Vocês vão querer


ver!"

James havia produzido uma coleção de objetos vermelhos brilhantes que


pareciam um cruzamento entre foguetes espaciais e dinamite. Seus braços
estavam cheios, assim como os de Sirius.

"Esses são ..." Marlene torceu o nariz, "Isso não é Dr. Filibust?!"

James apenas deu um sorriso maníaco.

"Ah não!" Lily disse: "Não podemos! Você vai acordar o castelo inteiro! "

"Cai fora se você não tá afim, Evans," Sirius retrucou, entregando alguns
foguetes para Peter, "Você prometeu não estragar nada."

"Remus," Lily se virou para ele, "Diga a eles, eles vão ouvir você!"

"Não, eles não vão," Remus respondeu, "De qualquer forma, eu quero ver!
Nunca vi fogos de artifício mágicos antes. "

"Você vai gostar!" Sirius piscou.

"Quantos você precisa?!" Mary ficou olhando, parecendo impressionada.

"Treze, obviamente."

"Vocês todos vão se meter em encrenca ..."

"Ah, pare de ser tão certinha, Lil!" Marlene jogou o braço em volta da ruiva.

"Não vamos deixar nenhuma de vocês se meter em problemas." James disse,


sincero, seus óculos escorregando pelo nariz enquanto ele lutava para manter o
controle de sua carga. "Não se preocupe."
"Eu não estou preocupada." Lily cruzou os braços em desafio. "Eu só acho que
vocês estão sendo ..."

"Opa!"

* BANG *

"Peter!"

Todos eles se inclinaram para fora da janela para ver o foguete que Peter havia
jogado caindo em direção ao solo em uma torrente de fagulhas verdes e
douradas.

"Desculpe ..." Peter parecia envergonhado. Sirius riu.

"Não não, ótimo trabalho - agora que começamos, devemos continuar, né?" e
ele começou a lançar seus próprios fogos de artifício pela janela, claros no ar
noturno. James e Peter rapidamente seguiram o exemplo, e logo, até mesmo
Lily esqueceu de ficar irritada, pois todos eles olhavam maravilhados para a
exibição espetacular iluminando o céu estrelado.

Os fogos de artifício duravam muito mais que os trouxas, alguns explodindo


dez ou doze vezes antes de se extinguirem. As cores mudavam do vermelho
para o verde, do o roxo para o laranja, torcendo-se e enrolando-se em várias
formas, eventualmente soletrando 'FELIZ TERCEIRO ANIVERSÁRIO
REMU'.

Sirius suspirou, irritado com aquilo.

"Sabia que eram letras demais."

Além da exibição de luz deslumbrante, os fogos de artifício eram


satisfatoriamente barulhentos, tanto que Remus já podia ouvir os outros
Grifinórios na torre abrindo suas janelas para ver se o castelo estava sendo
atacado. Ele tinha certeza de ter ouvido quem estava no quarto acima deles
murmurar.

"Aqueles malditos marotos estão aprontando de novo."

Inevitavelmente, alguém começou a bater em sua porta, e a voz estridente de


McGonagall pôde ser ouvida do outro lado.
"Potter! Black! Não pensem que eu não sei que vocês estão por trás disso,
ABRA ESTA PORTA!"

"Ah merda!" James fez uma careta, "Melhor ir para debaixo da cama,
senhoritas ..."

Depois que todos foram completamente repreendidos, dois meses de detenção


prometidos e cartas para todos os seus pais, McGonagall (que era um
espetáculo em sua camisola tartan vermelha) os deixou e Marlene, Lily e Mary
relutantemente voltaram para seu dormitório. Já eram duas horas da manhã e
os meninos decidiram que finalmente era hora de dormir.

"Feliz aniversário, Remus," Peter disse, seguido por um bocejo alto.

Remus sorriu para si mesmo no escuro, suas bochechas quase doendo.

"Éh" Sirius bocejou de volta, "Feliz aniversário, Remu."


35. Segundo Ano
O que há em um Nome?

Segunda-feira, 19 de março de 1973

"Eu tenho boas notícias," Madame Pomfrey sorriu calorosamente, "Eu não
queria mencionar isso caso não conseguisse resolver as coisas a tempo - mas
você me verá no verão."

Por um momento, Remus ousou ter esperanças de que isso significasse que ele
não voltaria para St. Edmund's, mas a medi bruxa continuou: "Sra. Orwell, sua
Matrona do orfanato, gentilmente me permitiu aparatar no terreno ao
amanhecer após as duas luas cheias neste verão. " Ela sorriu amplamente.

Ah, bem. Era melhor do que nada. Ele sorriu de volta fracamente.

"Ótimo!" Disse. Seus braços e pernas pareciam pesados como chumbo, ele mal
conseguia levantar a cabeça para beber a poção que ela estava lhe oferecendo.

Era cerca de quatro horas da tarde e Remus havia perdido as aulas - ele havia
dormido a maior parte do dia. O sono ainda era o único remédio que parecia
realmente funcionar.

"Eu disse a Dumbledore que faria isso com ou sem a permissão dele - eu não
poderia viver comigo mesma se você chegasse aqui em setembro no mesmo
estado que chegou no ano passado."

"Eu poderia ficar na casa de um bruxo neste verão, seria ainda mais seguro,"
Remus tentou, "Meu amigo James-"

"Me desculpe, querido," Madame Pomfrey balançou a cabeça, "Não é seguro o


suficiente. Os Potter entraram em contato, mas precisamos preservar seu
anonimato o máximo que pudermos - eu sei que não é muito divertido para
você, mas é melhor você ficar com os trouxas. "

Remus fechou os olhos e respirou fundo. Seriam apenas dois meses, e o verão
ainda estava muito longe. Fique positivo, continue positivo.
Um barulho repentino no final da enfermaria tirou Remus de seu estado
meditativo. Madame Pomfrey franziu a testa e se virou para olhar ao redor da
cortina da cama de Remus.

"Sr. Pettigrew!" Ela gritou: "O que você pensa que está fazendo?!"

"D-desculpe Madame Pomfrey - nós estávamos apenas ..."

"Pegue esses penicos agora mesmo e coloque-as de volta no armário! E você


pode tirar esse sorrisinho do rosto, Sr. Black, ajude ele."

"Ei, Remu," James espiou pela cortina, "Desculpe por todo o barulho."

Remus sorriu, tentando se sentar.

"Tudo bem."

"Deite-se!" Madame Pomfey repreendeu: "Você teve três ossos quebrados, seu
arteiro."

"Estou me sentindo muito melhor!"

*CRASH*

"SR. PETTIGREW, O QUE EU DISSE?!" Madame Pomfrey desapareceu,


parecendo muito zangada.

James afundou na cadeira ao lado da cama de Remus.

"Pronto para ir?" Ele perguntou, casualmente. Remus sempre poderia contar
com James para não o tratar como um inválido.

"Se ela deixar," Remus acenou com a cabeça para a cortina que Pomfrey havia
desaparecido atrás. "Como foi a partida?"

"Acabei com eles" James assentiu com entusiasmo, jogando o pomo no colo de
Remus. Ele passou os dedos pelos cabelos como se quisesse recuperar a
sensação de ter acabado de marcar um gol. "Fiz um dos batedores da Corvinal
chorar."

"Que bom."

"Como foi ... sabe, sua noite?"


"Bem." Remus respondeu secamente, torcendo a boca. Eles raramente falavam
sobre as luas cheias - e ele estava muito feliz com isso. Não gostava da ideia
deles sabendo muito. Dor era algo pessoal.

"Três ossos quebrados, ela disse?"

"Sim. Tudo consertado agora com apenas um feitiço, ela é incrível. Os trouxas
precisam usar moldes de gesso por várias semanas."

"Que esquisito!"

"REMU!" Sirius puxou a cortina, "Você está VIVO!" Ele caiu dramaticamente
ao pé da cama, "Eu estava convencido que ela estava tentando encobrir algo, a
velha morcega não nos deixou vir."

"Não a chame assim," Remus respondeu, irritado, "E não me chame assim!"

"Mas você queria um apelido," Sirius disse, parecendo ofendido enquanto se


levantava. Peter apareceu, carrancudo e com as mãos nos bolsos.

"Não, não queria." Remus franziu a testa, "Quando foi que eu disse que-"

"Ano passado." Sirius disse rapidamente, "Quase exatamente um ano atrás,


você disse que não se importaria de ser chamado de qualquer coisa, desde que
não fosse Loony Lupin."

"Deus, você tem uma memória de elefante." Remus revirou os olhos. "De
qualquer forma," ele abaixou a voz, no caso de Madame Pomfrey estar
espreitando por perto, "O objetivo de ter um apelido era para que ninguém
soubesse quem escreveu o mapa. Eu acho que 'Remu' não vai enganar
ninguém."

"Hum, você tem um bom ponto." James disse, sabiamente: "Por mais divertido
que tenha sido."

"Ok, até que faz sentido," Sirius suspirou, "mas podemos te chamar Remu até
pensarmos em um apelido melhor?

"Não."

"Chato." Sirius procurou algo mais para dizer, visivelmente evitando olhar para
as bandagens de Remus. "Então, vamos sair daqui ou devo me acomodar para
um jogo estimulante de snap?"
"Ele não vai a lugar nenhum," Madame Pomfrey entrou apressada, "Estou
mantendo o Sr. Lupin em observação durante a noite."

"Não!" Remus protestou, "Estou me sentindo muito melhor!" Ele sempre dizia
isso - geralmente não era verdade, mas ele sabia que iria se sentir melhor
eventualmente, e não importava muito se ele estivesse na ala hospitalar ou não.

"Não estou sendo deliberadamente rude, Remus," a enfermeira suspirou, "Isso


é pela sua saúde."

"Vou direto para a cama!"

"Vamos cuidar dele!" James disse, sinceramente, levantando-se. Remus


esperou para ver se funcionava. James era bom com adultos, especialmente
bruxas. Ele até era conhecido por ter suavizado McGonagall uma ou duas
vezes (embora isso pudesse ter mais a ver com suas habilidades de quadribol).

Madame Pomfrey não se comoveu.

"Sinto muito, Sr. Potter, mas não."

"Bem." Peter disse, com uma firmeza incomum. "Vamos ficar aqui então."

"Sim." Sirius e James disseram, juntos.

"Mas vocês vão perder o jantar!" Disse Remus.

"Tenho certeza de que podemos arranjar algo só desta vez." Madame Pomfrey
disse, tentando não sorrir. "Tudo bem, meninos - mas vocês devem ficar
quietos. E façam sua lição de casa, não vou permitir que usem o Sr. Lupin aqui
como uma desculpa para não entregar nada. "

Com um aceno de sua varinha, mais três cadeiras apareceram do nada, junto
com uma longa mesa de pinho, com tinteiros para suas penas. Remus abriu a
boca para falar, mas Madame Pomfrey era aparentemente vidente - "E não,
Remus, sem lição de casa para você. Apenas descanse."

Remus fechou a boca e se deitou. Como ele se manteria à frente de Sirius e


James se a mulher não o deixasse estudar?

"Posso ler meu livro?" Ele perguntou, humildemente.

"Contanto que não force sua vista."


Ela saiu, e os outros três meninos obedientemente puxaram o dever de casa e
começaram a rabiscar. Remus esticou o pescoço para tentar ver no que eles
estavam trabalhando - ele estava em dia com o dele, mas estava fazendo
algumas leituras extras em Feitiços na tentativa de se sair melhor que Lily em
seus próximos exames.

"Ah ah ah," James cobriu seu trabalho com a manga, "Sem olhar, Remu,
apenas descanse."

"Ugh, me chame de Loony!" Remus gemeu, "Qualquer coisa, menos Remu!"

"Mas combina com você!" Sirius disse, por cima da pena, "Reeeeemuuuuuu."

"Pare com isso ou vou morder você."

"Reeeeemuuuu."

"Reeeemuuu!" Peter se juntou a eles, todos os três garotos rindo


histericamente, mas tentando não serem ouvidos.

"Eu odeio meu nome." Remus cobriu o rosto com o livro que estava lendo.
Não era justo - James Potter era tão tranquilizadoramente comum; Peter
Pettigrew era perfeitamente respeitável e, maldito Sirius Black era o nome
mais legal de todos os tempos, de qualquer maneira que visse. "Vocês podem
muito bem me chamar de qualquer, não sei o que poderia ser pior."

"Loony Remu?" James sugeriu, prestativamente. "Remoony?"

Sirius mal conseguia respirar de tanto rir agora.

"REMOONY!" Ele bufou, desabando sobre a mesa, os ombros tremendo.

"Moony é na verdade muito bom." Peter disse de repente, sobriamente.

"Hã?"

"Moony. Como um apelido."

Remus o encarou, não acostumado a prestar muita atenção em qualquer coisa


que Peter dissesse. Ele pensou sobre isso, rolando o nome em sua cabeça.
Parecia maluco, mas não era nem de perto tão horrível.

"Eu não odeio." Ele disse, finalmente.


"Eu amei." James disse: "Moony. Combina com você."

"As pessoas não vão ... sabe, entender?" Ele se preocupou, mordendo o lábio.

"Nah," Sirius acenou com a mão, "Vamos dizer a eles que é por causa daquele
trouxa no The Who."

"Eles são todos trouxas em The Who." Remus respondeu: "Mas eu não toco
bateria."

"Você gosta de bater nas coisas." Sirius encolheu os ombros.

"Obrigado."

"Sem problemas, Remoony."

***

Algumas horas depois, depois que Madame Pomfrey trouxe o jantar para
todos, James saiu para o treino de quadribol e Peter para uma detenção. Sirius
havia desistido de sua lição de casa há muito tempo e estava tentando
aperfeiçoar uma azaração de braços de tentáculos em si mesmo.

Remus estava totalmente ignorando esse comportamento - ele sabia que Sirius
estava pronunciando o encantamento totalmente errado, com a ênfase no lugar
errado - mas ele não iria dizer a ele, porque ele não tinha certeza exatamente
por que Sirius queria tanto um braço de tentáculo, e não poderia ser por um
bom motivo.

Eventualmente, entediado, Sirius recostou-se na cadeira, os pés apoiados na


cama de Remus.

"O que você está lendo, afinal?"

"Epopeia de Gilgamesh." Remus respondeu, virando a página. Ele estava quase


no fim, e seu feitiço de leitura estava diminuindo - se Sirius o deixasse sozinho
por mais cinco minutos ...

"É sobre o que?"

"É seu!" Ele disse, surpreso: "Tirei da sua prateleira!"


"Ah, um dos trouxas? Não li muitos deles, para ser honesto. Eles eram do meu
tio Alphard. "

"Entendi."

"Então?"

"Então o que, Black?!"

"É sobre o que?"

"Um homem chamado Gilgamesh."

"Ok, você tem que concordar que esse é um nome pior do que Remus Lupin."

Remus riu.

"Sim, tudo bem. Sempre poderia ser pior."

"Então me fale sobre esse cara Goulash."

"Gilgamesh. Ele era um rei. A muito tempo atrás."

"Olha, agora você tem minha atenção, é assim que todas as boas histórias
começam." Sirius apoiou a cabeça em ambas as mãos, olhando para Remus
como se ele fosse um professor ensinando a matéria favorita dele.

"Não, você está apenas adiando sua redação de Astrologia."

"Pfft, vou copiar a do James." Sirius acenou com a mão casualmente, "Conte-
me mais, oh guardião do conhecimento. Eu li para você várias vezes."

Remus suspirou, colocando o livro de lado. Não havia como escapar quando
Sirius estava com esse humor.

"Gilgamesh era um rei."

"Sim, há muito tempo, você já disse isso."

"Olha, cala a boca ou dá o fora."

"Ok, ok!" Sirius ergueu as mãos em sinal de rendição, "Continue."


"Então ele era um rei, mas não um bom rei. Ele não era totalmente humano -
ele era dois terços Deus, então ele era mais forte do que todos e seu povo
estava com medo dele. Ele era perigoso. Então, seu povo rezou - hum ... é
quando você pede ajuda aos deuses - e os deuses enviaram outro homem para
ajudar a controlar Gilgamesh. "

"Ele era ainda mais forte?"

"Não, mas ele era parte animal",

"Então este homem-fera matou Gilgamesh?"

"Não. Eles lutaram por muito tempo, mas Gilgamesh ainda venceu. Mas ele
não matou Enkidu, - ele ... ele meio que reconheceu que eles eram iguais. E
eles se tornam amigos - melhores amigos. Eles vivem todas essas aventuras
juntos, lutando contra outros monstros e outras coisas. É legal."

"Eu quero saber mais sobre o homem-fera."

"Enkidu. Ele era o mestre dos animais e era feliz vivendo na selva, mas depois
de ser enviado para controlar Gilgamesh, ele nunca mais poderia voltar para a
natureza. Então realmente, ele nunca pertence a nenhum lugar."

"Mas ele tinha um amigo, certo?"

"Sim, mas ... bem, não quero estragar o final para você."

"Tudo bem, eu quase nunca leio coisas trouxas."

"Você está perdendo tanto!" Remus exclamou, "Bem, ok então. Enkidu


morre."

"O que?!"

"Sim, é meio triste, ele era meu personagem favorito também."

"Mas por que?"

"Para ensinar Gilgamesh sobre a morte, eu acho. Antes de Enkidu, ele era
arrogante demais para acreditar que algo poderia machucá-lo. Mas depois que
ele o perde, ele percebe que não é o mestre de tudo. Ninguém pode controlar a
morte."
"Esse é um pensamento muito deprimente, Moony."

Remus encolheu os ombros. Tudo parecia muito simples para ele.


36. Segundo Ano
Amor e Casamento
Sexta, 20 de abril de 1972

Still don't know what I was waiting for


And my time was running wild
A million dead end streets - and
Every time I thought I'd got it made
It seemed the taste was not so sweet
So I turned myself to face me
But I've never caught a glimpse
Of how the others must see the faker
I'm much too fast to take that test.

-'Changes', David Bowie

Remus amava Hunky Dory mais do que tudo. Era brilhante e feliz - depois
escuro e introspectivo. Ele sentia que David Bowie devia ter algum
conhecimento sobre-humano da sua alma. Mesmo que ele nem sempre
entendesse totalmente as letras, sentia que de alguma forma elas faziam
sentido.

Estava cantarolando a melodia de Changes baixinho enquanto caminhava em


frente as prateleiras escuras da biblioteca, sua varinha acesa para ver melhor.
Ele realmente deveria estar estudando poções - mas Lily se ofereceu para
ajudá-lo no fim de semana e ele já havia revisado transfiguração o dia todo.
Tinha demorado o dia todo para transformar uma cartola velha em um coelho e
vice-versa.

Remus finalmente encontrou a prateleira que procurava – Leis nupciais dos


bruxos ingleses 1700 - 1950. Ele esperava que fosse recente o suficiente. Era
enorme, e ele teve que subir em uma escada para alcançá-lo. Se espreguiçando,
Remus estava quase acertando a capa de couro velha e empoeirada, e estava
prestes a puxá-la para baixo em sua direção, quando outra mão agarrou seu
pulso.

Com um barulho assustado, Remus puxou sua mão para trás e quase caiu do
banco, ficando cara a cara com Narcissa Black.
"Ugh, é você." Ela disse, com desagrado. Ela era uma cabeça mais alta do que
ele, então eles ficavam nivelados desde que ele mantivesse o equilíbrio. Ela
não soltou sua mão, "Me dê isso."

"Não, eu peguei primeiro." Ele respondeu, ainda tentando se afastar. A menina


tinha um punho de ferro.

"Vá embora, garotinho. Para que você poderia querer isso? " Narcissa deu-lhe
um forte empurrão e ele tombou para trás, caindo dolorosamente de costas.

Narcissa sorriu para ele, vitoriosa, segurando o pesado livro. Ele fez uma
careta.

"Para que você quer isso?"

"Isso não é da sua conta," ela disse, tirando o cabelo claro dos olhos de uma
maneira estranhamente parecida com a de Sirius. Ela se virou e começou a se
afastar, entre as pilhas sombrias. Remus ficou de pé.

"Espere", disse ele, tentando manter a voz baixa para que Madame Pince não o
expulsasse de novo, "Ei, Narcissa, espere!" Ele puxou suas vestes.

Ela se virou com olhos furiosos, sua varinha erguida. Remus instintivamente
agarrou sua própria varinha bem na hora. Os dois ficaram parados como
estátuas por alguns momentos. Ele sabia que ela havia amaldiçoado James e
Sirius em várias ocasiões, e que toda a família Black conhecia todos os tipos de
magia negra. Mas, ao mesmo tempo, Remus nunca havia amaldiçoado uma
garota antes, e parecia errado.

"Eu só queria saber," ele disse, cuidadosamente, escolhendo as palavras, "Se


tinha alguma coisa a ver com você e Sirius ... o noivado."

Ela abaixou a varinha, lentamente, olhando para ele com interesse suspeito.

"Então ele lhe contou tudo sobre isso, não é?" Ela levantou uma sobrancelha -
que ainda era tão preta quanto a cor natural de seu cabelo. "Sim, garotinho, é
exatamente para isso que preciso. Você não acha que eu quero me casar com
aquele pequeno traidor de sangue chorão, acha? "

Remus apenas deu de ombros. A verdade era que não havia realmente ocorrido
a ele como Narcissa se sentia sobre nada disso. Ele estava tão focado em ajudar
Sirius que não havia considerado se mais alguém poderia estar trabalhando
exatamente no mesmo problema. Narcissa suspirou impaciente.
"Bem, eu não quero. E não espero que meu primo pirralho venha a encontrar
uma solução tão cedo, então aqui estou. "

Ela não parecia mais com raiva, apenas amarga. Agora que ele estava mais
perto dela, Remus podia ver que ela tinha olheiras.

"Quero encontrar uma solução." Ele disse, erguendo o queixo para encontrar o
olhar dela, desejando não ser mais baixo do que ela. "Estou tentando, de
qualquer maneira."

"Ha." Narcissa riu sem humor, "Uma criança do segundo ano?! E o que você
descobriu, hm?" Ela bateu seu salto preto envernizado nas tábuas escuras do
assoalho.

"Bem ..." Remus engoliu em seco, "Nada ainda - nada bom o suficiente ainda.
A não ser que ... bem, a não ser que você já fosse casada."

"Já pensei nisso." Narcissa retrucou: "Eu ainda não sou maior de idade, não
posso. Eu teria fugido com Lucius no momento em que eles propuseram esse
noivado ridículo, mas não tenho dezessete até outubro."

"Certo," Remus acenou com a cabeça, surpreso ao ouvir isso, "E ... não pode
esperar, por causa da cerimônia de noivado neste verão, certo?"

"Correto." Ela estava olhando para ele com um pouco menos de veneno agora,
como se achasse a conversa divertida ao invés de irritante.

"Mas, eu estava pensando - o que realmente é a cerimônia?" Ele perguntou,


sentindo-se mais corajoso, "O que você e Sirius têm que fazer?"

"Ah, a besteira de sempre da família Black," ela respondeu, "Um banquete,


mapas astrológicos, provavelmente um retrato comemorativo de nós dois.
Mamãe ainda está com o da Bella pendurado na sala de jantar."

A ideia de um retrato retratando o Sirius de treze anos com sua prima de


dezesseis era repulsiva para Remus. Narcissa também não parecia estar
gostando da ideia. "Isso é tudo culpa dele, você sabe." Ela disse: "Agindo
como se fosse um caso especial. Se ele simplesmente tivesse seguido a tradição
como o resto de nós, ficado na linha até ter idade suficiente para sair..." Ela
parou, seus olhos brilhando com lágrimas de raiva, que ela limpou rapidamente
"De qualquer forma, não importa. Vou me casar com Lucius e isso é tudo.
Graças a deus ele me apoiou em tudo isso, qualquer outra pessoa teria ido
embora."
Remus não comentou. O que ele sabia sobre relacionamentos? Ele nunca tinha
visto um de perto. Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, enquanto
Narcissa se recompunha. Assim que o fez, ela fungou e olhou para Remus
novamente, "Eu não vou te amaldiçoar." Ela disse, magnânima: "Mas estou
avisando - já estou farta de pessoas se intrometendo no meu futuro. Portanto,
mantenha o nariz fora de agora em diante."

Com isso, ela se virou e saiu, deixando Remus com muito a se pensar.

***

Segunda-feira, 30 de abril de 1973

"Moony, para que servem todos esses livros?" James perguntou, enquanto
tropeçava em uma pilha que Remus tinha cuidadosamente empilhado perto da
entrada do dormitório - eles eram inúteis e ele estava planejando levá-los de
volta naquela tarde.

"Apenas algumas pesquisas." Ele respondeu, sem tirar os olhos de seu livro
atual, "Onde você esteve?"

"Maroteando." Sirius o seguiu, passando por cima dos livros espalhados que
seu amigo estava tentando limpar. Remus ergueu uma sobrancelha.

"Maroteando? Mapa ou brincadeira?"

"Um pouco dos dois," Sirius sorriu, jogando-se na cama de Remus. Ele pegou
um livro.

"Rituais de casamento de bruxos?!" Ele riu, "Com quem você vai se casar,
Moony? Não com a Evans, James terá que desafiá-lo para um duelo."

"Eu NÃO gosto da Evans." James respondeu, de onde ele se agachou no chão.
"Casamentos mágicos." Ele leu, pegando o último livro e colocando-o no topo
da pilha, "Sério, Remus, sobre o que se trata tudo isso?"

Remus suspirou, largando o livro e esfregando os olhos.

"Estou tentando te ajudar," ele chutou Sirius gentilmente com o pé. "Alguém
tem que tirar você deste noivado estúpido."

"Ei!" Sirius fez uma careta, "Estou fazendo tudo que posso."
"O que você está fazendo?"

"Não tive mais detenções do que qualquer outra pessoa este ano? Devo estar
recebendo um berrador por semana. E os meus leões, não se esqueça dos meus
leões na partida de quadribol."

Remus olhou para ele, pasmo.

"Como isso pode ajudar?"

"Estou provando que não sou do tipo que é para casar."

"Sem ofensa, cara," James interrompeu, vindo se sentar na cama com eles,
"Mas eu não acho que sua família realmente se importe que você não seja do
tipo para casar."

"Exatamente," Remus assentiu, "Você é o herdeiro. Você tem que se casar com
outro puro-sangue. E a família Black tem uma longa história de casamentos
entre si, até seus pais são primos."

"Er ... como você sabe?" Sirius parecia desconfortável.

"Estive lendo." Remus gesticulou para todos os livros. "Há um monte de coisas
na biblioteca sobre sua família. Uma das casas bruxas mais antigas da Grã-
Bretanha, voltando à Idade Média, onde a residência da família era em
Inverness, na Escócia..."

"Eu sei de tudo isso." Sirius acenou com a mão.

"Sim, mas você sabia que não é o primeiro Black a querer sair de um
casamento?"

"Bem, obviamente Andrômeda - embora fosse mais porque ela queria se casar,
só que Ted era do tipo errado..."

"Não apenas ela - Lyra Black desafiou os desejos da família em 1901 de se


casar com alguém da família Crabbe, e Delphinus Black deveria se casar com
sua sobrinha em 1750, mas a deixou no altar e se casou com Fidelia Bulstrode.
E seu tio Alphard também nunca se casou, embora não haja nenhuma
explicação - "

"Éh, não devemos falar sobre ele," Sirius respondeu, irritado, "Eu ouvi minha
mãe reclamando dele e tenho quase certeza de que ele era uma bicha."
Houve um silêncio constrangedor.

"Meu pai conhecia Alphard," James disse, "Disse que ele era um cara legal."

"Ele sempre foi legal comigo," Sirius deu de ombros, "Me deixou seu dinheiro
e tudo, certificou-se de que ninguém mais pudesse tocá-lo até que eu fosse
maior de idade. Isso deixou meus pais furiosos, sabe, por ele não ter devolvido
todo o dinheiro para o cofre da família, então eu tenho que dar crédito a ele por
isso, mesmo que ele fosse ... bem, tanto faz. "

A garganta de Remus estava muito seca e ele pigarreou, querendo seguir


adiante.

"De qualquer forma, isso só mostra que você pode sair desse tipo de coisa. O
único problema é que não consigo encontrar nenhum detalhe bom sobre como
todos eles escaparam."

"Não se preocupe," Sirius disse, sombrio, "Mesmo que você descobrisse -


nenhum deles tinha minha mãe como inimigo. Você sabe como ela é. Ela
provavelmente vai nos obrigar a fazer o voto perpétuo."

"Ela não faria isso!" James disse, horrorizado.

"Ela faria qualquer coisa." Sirius concordou.

Remus mordeu o lábio, pensativo. Ele não sabia o que era o voto perpétuo -
parecia magia negra. Pelo que já havia lido sobre a Casa dos Black, ele sabia
que a seção restrita da biblioteca provavelmente teria que ser sua próxima
parada. Ele teria que pegar emprestada a capa de James para isso, e sair à noite.
Não importa. Ele se recusava a desistir. Ele devia isso a Sirius.

Remus uma vez não havia dito a Sirius que seu próprio problema era
impossível, inevitável? E Sirius não havia trabalhado incansavelmente,
aprendido a fazer uma mágica complicada de padrão NIEM, apenas para
ajudá-lo? Isso não era diferente. Ele só tinha que se esforçar mais. Saber que
Narcissa também estava trabalhando no problema era estranhamente
reconfortante. Remus sabia pelas maldições dela que ela devia ser uma bruxa
muito talentosa e inteligente, e não havia dúvida em sua mente que ela
geralmente conseguia o que queria.

Vou me casar com Lucius e isso é tudo. Tinha de haver alguma solução. Ele se
lembrou de Flitwick dizendo a eles que o amor - amor natural, cotidiano,
humano - era um dos tipos mais poderosos de magia. Embora Remus
pessoalmente não sentisse que nada sobre o namoro de Lucius e Narcissa fosse
natural, exatamente, ele sabia que era muito mais poderoso do que a honra à
família. Tinha de ser.
37.Segundo Ano
Exames

Maio de 1973

A semana de provas começou no pior momento possível para Remus, por volta
de meados de maio, próximo a lua cheia. Esta, cairia em uma sexta-feira, o que
significava que ele poderia comparecer à prova de Poções naquela manhã -
mas perderia o fim de semana inteiro dormindo, enquanto, o que realmente
queria, era revisar a matéria. Mais do que isso, a lua havia desestabilizado sua
magia completamente.

Ele achava que isso estava acontecendo menos durante o segundo ano, mas
conforme os exames se aproximavam – fosse o nervosismo ou o alongamento
dos dias - Remus percebera que sua magia estava ficando mais forte, mais
selvagem e mais difícil de controlar. O menor movimento da varinha causava
os resultados mais fantásticos, e às vezes, ele mal terminava de pronunciar o
encantamento antes que luz explodisse da ponta, fazendo seus dedos
formigarem com o choque.

James começou a dizer 'se acalme, Moony!' pelo menos três ou quatro vezes
por dia, enquanto Remus tentava praticar vários feitiços e transfigurações
básicas que, inevitavelmente, iam longe demais. Ele pensou que fazer apenas
encantamentos simples poderia ajudá-lo a ganhar algum controle, mas
aparentemente esse não era o caso, pois ele quebrou a janela do quarto pela
terceira vez tentando levitar seu conjunto de gobstones.

"Reparo." Sirius murmurou, tirando os olhos de seu resumo de Astronomia. A


janela se consertou imediatamente. Remus suspirou.

"Você realmente precisa relaxar, cara," James sorriu, "Não temos exames
práticos até a semana que vem, de qualquer maneira."

"Mas eu estou tão atrasado!" Remus resmungou, recolhendo suas gobstones e


colocando-as de volta na caixa.

"Se você está para atrás, aonde eu estou?!" Peter gemeu do chão, cinco
pergaminhos se espalhavam à sua frente, cada um sobre um assunto diferentes.
"Eu sei que vou ser reprovado em Transfiguração, meu coelho não mudou
nada este ano, e eu sei que ela vai nos obrigar a fazer algo realmente difícil."

"Pelo menos você é bom em Poções." Remus atirou de volta. "E Herbologia,
não consigo me lembrar quais folhas significam o que ..."

"Você me venceu em nosso último teste de Herbologia," James o lembrou, "E


você tem ganha de todos nós quando se trata de História da Magia, eu tenho
copiado seu dever de casa o ano inteiro."

"Mas você é o melhor em Transfigur-" Remus começou, mas foi interrompido


por um baque alto quando Sirius jogou seu livro de Astronomia no chão.

"Vocês podem calar a boca?! Estou tentando revisar!" Ele gritou, levantando-
se. "Parecem um bando de velhas fofocando. Estou indo para a biblioteca." Ele
puxou sua bolsa para cima do ombro e saiu furioso do quarto.

Eles ficaram sentados em silêncio por um tempo. Peter, mordendo o lábio,


parecia à beira das lágrimas. James suspirou.

"Ignorem ele, só está de mau humor porque tem que ir para casa logo. Não que
eu o culpe." Ele acrescentou, rapidamente. "Com pais daqueles, e tudo mais."

"Verdade," Remus deu de ombros, embora realmente não achasse que fosse
uma desculpa boa o suficiente. Não era como se ele mesmo estivesse ansioso
pelas férias de verão. Tudo bem que ele não precisaria se casar com sua prima
ou comparecer a banquetes estranhos e exagerados - mas Sirius também não
precisaria ser trancado em uma cela uma vez por mês, ou se esconder de
garotos muito mais velhos e fortes, cujo maior prazer era empurrar sua cabeça
na lama.

"Ele não vai ficar com você de novo, James?" Peter perguntou, nervoso -
provavelmente ansioso por um verão livre de Sirius, pois isso significava que
teria James só para ele.

"Nah," James respondeu, parecendo muito menos animado com a perspectiva,


"Ele está convidado, obviamente - todos vocês estão," ele olhou para Remus,
"Mas não achamos que isso vai acontecer depois do fiasco do Natal. Ele acha
que ficará completamente trancado até a cerimônia de noivado."

Remus sentiu uma pontada de culpa em seu peito. Ainda não tinha descoberto
uma solução para isso, e entre as revisões e a lua cheia, não havia pensado
direito sobre o problema durante duas semanas. A julgar pelo comportamento
de Narcissa nos corredores - azarando qualquer um que sequer lhe olhasse pelo
canto dos olhos - ela não estava se saindo muito melhor.

"Bem, se ele continuar agindo dessa maneira, vai perder mais do que o cabelo
da próxima vez", disse Peter, afetadamente, remexendo em suas anotações.

"O que você quer dizer?" James franziu a testa, sentando-se, "Está dizendo que
é tudo culpa dele?!"

"Não!" Peter pareceu alarmado com o tom de James, "Não, eu só quero dizer ...
bem, você sabe, outro dia ele guardou todas aquelas faixas da grifinória na
mala. Ele quer pendurar elas em seu quarto para irritar os pais. Esse tipo de
coisa é exatamente o que o coloca em apuros. "

"Não há nada de errado com um pouco de orgulho grifinório." James


respondeu defensivamente, embora tenha lançado um olhar nervoso para o
malão de Sirius.

Remus não se envolveu. Pessoalmente, ele concordava com Peter e Narcissa -


Sirius era seu pior inimigo, na maior parte do tempo. Para alguém tão
inteligente e magicamente talentoso, ele carecia de sutileza, ou até mesmo de
premeditação. Se ele não tivesse que retrucar em todas as oportunidades, talvez
não tivesse ficado noivo aos treze anos. Remus sabia melhor do que ninguém a
importância de se manter discreto, especialmente quando você era diferente de
todos ao seu redor.

James, que era mais parecido com Sirius do que Peter ou Remus, discordava
com todo o coração. Em sua mente, o mais importante era sempre revidar. Mas
se tudo era uma batalha, então inevitavelmente alguém tinha que perder. E até
a maioridade, este seria Sirius. O tempo todo.

***

"Excelente, Sr. Potter!" McGonagall comemorou de forma incomum, enquanto


James transformava seus coelhos em um par perfeito de pantufas de veludo
vermelho com acabamento em pele.

Remus respirou fundo, se concentrando para sua própria tentativa. Fazia uma
semana e meia desde a lua cheia e ele finalmente estava de volta ao controle,
embora seus nervos ainda ganhassem dele às vezes. O menino observou Sirius
acenar sua varinha preguiçosamente sobre seus próprios coelhos, que também
se transfiguraram em um lindo par de botinhas de lã preta.
As pantufas de Peter ainda tinham orelhas e cauda mesmo depois de três
tentativas, e deixaram fezes na mesa. Quando chegou a vez de Remus, ele
fechou os olhos primeiro, sentindo-se calmo e concentrado, antes de
finalmente pronunciar o encantamento.

As pantufas não eram tão bonitas quanto as de James e Sirius, mas podiam ser
usadas, e pelo menos não tinham mais nenhuma característica leporina, mesmo
que continuassem com uma cor marrom opaca. Pelo menos ele sabia que tinha
feito o seu melhor no trabalho teórico - na verdade, em todos os seus trabalhos
teóricos. Estava satisfeito por ter se lembrado de tudo que precisava lembrar
quando se tratava de suas melhores matérias, e por não ter sido horrível em
Poções, Herbologia ou Astronomia.

No final do exame de Transfiguração, McGonagall transformou todos os


chinelos em coelhos novamente e os mandou de volta para sua gaiola no fundo
da sala, para esperarem o próximo exame. Ela então começou a distribuir
folhas de pergaminho que pareciam tabelas de horários em branco.

"Vocês devem estar cientes", disse ela, muito formalmente, "que no terceiro
ano, podem escolher um mínimo de duas disciplinas adicionais para
acrescentar em seus NOMs. Aqui estão suas fichas de inscrição. Por favor,
pensem com muito cuidado, revisando os méritos de cada assunto, preencha o
formulário e devolva-o ao meu escritório, no máximo até último dia do
semestre. "

A classe começou a murmurar animadamente, e Remus olhou para seu


formulário e para as matérias listadas ali, com grande apreensão.

Enquanto todos eles saíam da sala, Peter imediatamente começou a atormentar


James para descobrir quais assuntos ele estaria cursando - para que ele pudesse
selecionar exatamente os mesmos.

"Estudos dos trouxas." Sirius disse, enquanto saíam para o sol de verão,
"Definitivamente vou fazer Estudos dos Trouxas."

Remus revirou os olhos. Não havia surpresa nisso - se alguma matéria ganharia
a desaprovação geral da família Black, então este seria o que Sirius faria.

"Você acha que Evans vai escolher essa?" James coçou o queixo. Sirius sorriu,

"Duvido, cara, ela é nascida trouxa. Você poderia impressioná-la com seu
conhecimento, no entanto."
"Sim ... sim, talvez ..." James olhou para baixo, pensativo.

"Você vai se inscrever nessa, então, James?" Peter perguntou, ansioso, "Você
acha que vai ser difícil? Acho que podemos pedir ajuda a Remus ... você vai se
inscrever nessa Moony?"

"Nah," Remus balançou a cabeça, "Qual é o objetivo? Façam vocês, então


talvez possam parar de me perguntar coisas."

Ele secretamente desejava que houvesse uma matéria de 'Estudos Bruxos' que
pudesse cursar, então não precisava se sentir tão perdido o tempo todo. Mas,
ele supôs, isso fazia parte da arrogância dos bruxos.

"Adivinhação ... isso é como descobrir o futuro, certo?" James se sentou na


grama, tirando a capa pesada e a jogando no chão. Sirius o seguiu, arregaçando
as mangas da camisa.

"Acho que sim. Bolas de cristal e folhas de chá."

"Boa pra dormir. Vamos fazer essa."

Todos os três rabiscaram em seus papéis. Remus não. Ele não gostava da ideia
de saber o futuro - o que quer que fosse, ele tinha certeza de que não poderia
ser bom. Ele bateu em sua têmpora com a varinha rapidamente e sussurrou,

"Lectiuncula Magna", começando a ler suas opções. "Aritmancia", ele


murmurou, "Isso é como aritmética?"

"Números, de qualquer maneira," Sirius respondeu, "É para ser muito difícil."

"Trato das Criaturas Mágicas ... não sei sobre isso," James bufou, "Você viu o
professor? Ele tem mais cicatrizes do que Moony."

"Ei" Remus chutou seu tornozelo. Trato das Criaturas Mágicas tinha realmente
soado muito interessante para ele. Afinal, ele próprio era uma espécie de
criatura mágica.

"Acho que vou fazer Aritmancia, se você for," Sirius disse, ainda lendo o
formulário.

"Será realmente difícil?" Peter estava preocupado.


"Nós vamos ajudá-lo, Pete, não se preocupe." James se acalmou. "De qualquer
forma, há coisas melhores no terceiro ano do que dever de casa extra -
Hogsmeade!"

"Você já vai à Dedos de mel três vezes por semana." Remus respondeu,
refletindo sobre a possibilidade de Runas Antigas.

"Sim, mas Zonko's!"

Remus sorriu para ele. Estava realmente muito animado com os passeios para
Hogsmeade - nunca tinha estado em nenhuma das áreas bruxas protegidas além
de Hogwarts, e estava cansado de ouvir sobre como o Beco Diagonal era
incrível. Ele suspirou e se recostou, olhando para as nuvens. Pensaria sobre
seus assuntos do terceiro ano mais tarde, não havia pressa. Por enquanto, ele
queria aproveitar o final dos exames e se deleitar com a ideia de que ainda
tinham quase um mês inteiro antes do fim das aulas.

"Oi oi, Evans!" James sentou-se repentinamente.

Remus suspirou internamente. James estava agindo cada vez mais como um
idiota no que diz respeito a Lily.

"Eu não sou um cachorro, Potter," sua voz ecoou pelo terreno, "Não grite
comigo como se fosse um."

"Olá Sirius," era a voz de Mary agora. Remus se sentou, piscando.

Marlene deu um aceno tímido, que ele devolveu.

"E aí, MacDonald," Sirius acenou com a cabeça, casualmente colocando o


cabelo atrás da orelha. Ele começou a fazer isso sempre que havia garotas por
perto. Remus odiava.

Todas as três garotas tomavam sorvete, o que parecia uma excelente ideia
considerando o tempo excepcionalmente quente. Lily tinha até encantado um
leque chinês para segui-la, criando uma brisa fresca onde quer que as três
meninas fossem.

"Me dá uma lambida, então," James piscou para ela, obscenamente. Marlene
ficou vermelha como uma beterraba e se desfez em risadas, mas Lily
permaneceu calma, arqueando uma sobrancelha vermelha.

"Você realmente parece que precisa de um refresco. Aguamente!"


Com isso, ela apontou sua varinha para os marotos e encharcou todos eles com
água gelada. Remus saltou para fora do caminho, mas ela não estava tentando
acerta-lo de qualquer maneira. James e Sirius levaram a pior e gritaram
consternados quando seus cabelos e camisas ficaram encharcadas. Mary,
Marlene e Lily gargalharam de alegria.

"Por que você fez isso?" Sirius rosnou, empurrando seu cabelo ensopado para
olhar para elas, parecendo um rato afogado.

"Pensei que você gostasse de pegadinhas?" Lily piscou para ele, antes de se
virar e caminhar em direção ao lago.

"É um pesadelo completo, aquela menina." Sirius gemeu, tentando um feitiço


de ar quente em seu cabelo.

"Você está falando da minha futura esposa," James respondeu, sonhador,


observando-a ir embora. Seus óculos se embaçaram comicamente. "Ah, pare
de ser tão dramático, você vai estar seco em meia hora com este calor."

"Onde você acha que elas conseguiram o sorvete?" Peter perguntou, alheio.

Remus sorriu, recostando-se novamente. Não se importando com idas para


casa, ou noivados ou novas matérias. Por enquanto, tudo estava como deveria
ser.
38. Segundo Ano
Exames

Sexta-feira, 29 de junho de 1973

Remus estava atrasado e ainda havia muito a se fazer. Como de costume, ele
havia dormido até mais tarde do que o resto dos marotos e, quando acordou,
Peter era o único que restava, correndo porta afora com um rápido, "Bom dia
Lupin! Boa sorte!"

Verificando o relógio, Remus saltou da cama e correu para o chuveiro em


estado de pânico. Enquanto penteava o cabelo no espelho - pensando
sombriamente que esta poderia ser a última vez, já que a Matrona certamente o
deixaria careca assim que ele voltasse ao St. Edmund's amanhã - ele repassou a
lista em sua cabeça.

Café da manhã primeiro, é claro - não podia faltar. Se ele se apressasse,


poderia alcançar James e Peter antes que partissem em suas próprias missões.
Provavelmente seria sua única chance de vê-los, porque hoje, no último dia do
semestre, os marotos - geralmente unidos - estariam visivelmente separados até
o jantar.

Depois do café da manhã, ele teria que correr de volta o dormitório para fazer
as malas - Remus tinha certeza de que eles ganhariam uma detenção naquela
noite, e ele poderia não ter tempo suficiente na manhã seguinte antes de
pegarem o trem. Depois de fazer as malas, ele precisava devolver os livros da
biblioteca. Isso o encheu de um sentimento de culpa - ainda não tinha
encontrado nada para ajudar Sirius, apesar de semanas de pesquisa. Sua única
esperança agora era que Narcissa Black fosse capazes de encontrar uma
maneira de escapar do noivado, mesmo que fosse depois que a cerimônia de
noivado acontecesse.

Em seu caminho para a biblioteca, poderia deixar seu formulário de inscrição


de disciplinas no escritório de McGonagall - ele já havia adiado isso por muito
tempo. Então, com os livros devolvidos e o formulário entregue, Remus
achava que teria tempo de sobra até as onze horas, horário em que deveria
encontrar Peter em frente as estufas, onde ele pegaria a capa da invisibilidade.
Contanto que tudo funcionasse de forma cronometrada, Remus deveria ser
capaz de pegar os guarda-chuvas que precisava no galpão do guarda-caça e
trazê-los de volta ao dormitório. Então, seria quase hora do almoço - ele
esperava ter um momento para terminar de ler seu livro em paz – havia pego
emprestado de Sirius e só faltava um capítulo, e ele realmente queria terminar
antes que precisassem ir para casa. Especialmente porque duvidava que
McGonagall permitiria que lesse durante sua inevitável detenção naquela noite.

Logo após o almoço, então, entraria em vigor a primeira etapa do plano de fim
de ano dos marotos. Ele evitaria o caos e verificaria se ele empacotou tudo -
possivelmente arrumando algumas das coisas de Sirius também, porque o outro
garoto ainda não tinha feito às malas e Remus suspeitava que estava deixando
para o último minuto. Então, os preparativos para o banquete começariam -
tudo o que ele precisava fazer era aparecer cedo o suficiente para ajudar James
e Sirius com os encantamentos finais. Isso, é claro, se nenhum deles fosse pego
antes disso.

Houve uma batida repentina na porta do banheiro, assim que Remus estava
puxando sua calça jeans.

"Trouxe torradas para você, Moony" a voz de Sirius continuou, "Pensei em


trazer para que não perdesse tempo descendo."

"Ah, ótimo, obrigado!" Remus gritou de volta, colocando sua camisa


rapidamente, como se Sirius pudesse vê-lo através da madeira.

"Boa sorte! Vejo você à tarde!"

"Éh - você também!"

Remus ouviu os passos de Sirius recuarem e desaparecerem escada abaixo.


Bem. Pelo menos o café da manhã havia sido resolvido. Ele saiu do banheiro
cheio de vapor e viu o prato de torradas em cima de seu malão. Quatro fatias -
Sirius não fora mesquinho - e cada uma generosamente revestida com um
ingrediente diferente. Remus sorriu e renovou sua promessa de ajudar Sirius a
fazer as malas mais tarde.

Ele passou uma hora apenas mastigando as torradas e recolhendo vários


pertences que se espalhavam por toda parte, desde sua cama até as prateleiras
de seus amigos e a sala comunal. Aproveitou a oportunidade para ouvir Hunky
Dory uma última vez, despedindo-se afetuosamente da vitrola por alguns
meses.
O poster de David Bowie que Sirius lhe dera de aniversário não se movia mais
- o que Remus ficou um pouco feliz, porque pelo menos isso significava que
ele poderia levá-lo de volta para St. Edmund sem levantar suspeitas. Sua mala
não parecia se fechar tão facilmente como no final do verão passado, quando
ele estava a caminho de Hogwarts, e ele teve que reorganizar os itens várias
vezes antes que tudo se esmagasse lá dentro e ele conseguisse fecha-la.

Remus escovou os dentes e foi juntar seus livros da biblioteca, colocando-os


em sua bolsa puída. Ele se perguntou se a Matrona o deixaria ter uma nova
mochila escolar - veja bem, da última vez que ele pediu uma, ela aproveitou a
oportunidade para ensiná-lo a costurar. 'Uma habilidade para a vida', ela disse.
O garoto não se incomodou em dizer a ela que o feitiço reparador era muito
melhor – mas, nem mesmo ele estava sendo muito útil com a bolsa neste
estado.

Com sua lista de matérias escolhidas em mãos, ele desceu para a sala comunal,
onde todos os outros grifinórios pareciam estar fazendo suas malas de última
hora também. O espaço geralmente aconchegante estava um caos, com gritos
implorando pela devolução de livros e jogos sumidos, alunos rastejando sob as
mesas e levantando sofás a procura de itens perdidos, grupos de meninas do
sétimo ano choravam, abraçando-se em despedida, corujas voavam de um lado
para o outro.

"Remus!" Mary o interrompeu quando estava saindo, "Você está sozinho?"

"Sim." Ele acenou com a cabeça, com um sorriso travesso. Ela sorriu de volta.

"Oooh, o que vocês estão planejando? Eu e Marlene estávamos conversando


como vocês estavam quietos nas últimas semanas ... "

"Não me faça perguntas e eu não te contarei mentiras." Ele respondeu.


"Desculpe, mas tenho que devolver meus livros—"

"Lily está procurando por você", ela disse rapidamente.

"Ah, um ... estarei no Salão Principal para o almoço. Vou estar pouco ocupado
até lá, peça desculpas a ela!"

Com isso, ele correu pela porta do retrato e saiu para o corredor, que estava
igualmente cheio com os alunos correndo de um lado para o outro, se
despedindo de última hora. Pirraça, levado pela empolgação, obviamente
descobriu onde Filch guardava o papel higiênico e estava jogando chumaços de
papel molhado em qualquer um que chegasse perto o suficiente.
Com os braços acima da cabeça, Remus alcançou o escritório de McGonagall
no momento em que Pirraça arremessou papel na porta. Remus se abaixou bem
a tempo, e Pirraça começou a rir loucamente quando McGonagall - tendo
ouvido o "SPLAT" muito alto - abriu a porta do escritório. Ela olhou para
Remus, ainda agachado e cobrindo a cabeça.

"Sr. Lupin."

"Foi Pirraça!" Ele se levantou, rapidamente, "De verdade, professora!"

"Eu acredito em você." Ela deu um pequeno sorriso, "Os espíritos estão sempre
bem ativos no último dia do semestre. Você tem algo para mim? " A velha
professora olhou para o pergaminho que estava segurando.

"Ah sim!" Ele estendeu a mão.

"Excelente, entre, Lupin."

"Er ..."

Mas você dificilmente poderia dizer 'não' para McGonagall, ou perguntar a ela
se isso poderia esperar até mais tarde. Ele se perguntou o que diabos ela queria
- certamente Sirius e James já não haviam sido pegos, ou haviam? Seria
bastante óbvio assim que a fase um do plano fosse iniciada, mas ele não tinha
ouvido nada...

"Sente-se, Sr. Lupin. Chá?"

"Hum ... sim, ok." Ele se sentou, inquieto. McGonagall acenou com sua
varinha, e o pequeno bule de tartan em sua mesa começou a derramar seu
conteúdo em duas xícaras iguais.

"Sirva-se de leite", disse a professora distraidamente, enquanto examinava o


pedaço de pergaminho que ele lhe dera. "Adivinhação", disse ela, "Estudos dos
trouxas e Aritmancia."

Ele não disse nada. Ela ergueu os olhos finalmente, examinando-o por cima
dos óculos quadrados. "Essas são as mesmas matérias que o Sr. Potter e o Sr.
Black escolheram, se não me engano? Sr. Pettigrew também, hm? "

Remus apenas assentiu. Na verdade, Peter estava apenas fazendo Adivinhação


e Estudos dos Trouxas - ele descobriu que você só precisava selecionar um
mínimo de duas novas disciplinas e decidiu não se esforçar mais do que o
necessário. E Remus preferia morrer do que ter uma matéria a menos que
James ou Sirius.

"Estou interessado em saber o que o levou a selecionar Estudos dos trouxas,


em particular? Considerando um futuro no escritório de comunicação trouxa,
talvez? "

"Er ..." Remus gaguejou. Ele não tinha ideia do que era o escritório de
comunicação trouxa, mas não parecia muito interessante.

"Achei que você tivesse conhecimento suficiente sobre o mundo trouxa, depois
de passar tanto tempo de sua vida nele."

"Sim, mas ... bem ..."

"Não há necessidade de você estudar disciplinas simplesmente porque seus


amigos o fazem, Sr. Lupin." A professora McGonagall disse, mais gentilmente
do que esperava. "Vocês ainda terão as mesmas matérias básicas, afinal."

Remus encolheu os ombros. Ele não sabia mais o que fazer. Sério, todas as
matérias o interessavam - ok, talvez não Estudos dos Trouxas, ela estava certa -
mas no final, ele não gostava muito da ideia de não fazer aulas com os outros
marotos.

"Uma das coisas mais maravilhosas sobre a escola, Sr. Lupin," McGonagall
começou, com muito tato, "São os amigos que fazemos - conexões e
relacionamentos que duram a vida toda. Eu sei que você fez alguns amigos
muito queridos em Hogwarts."

Remus lutou contra uma careta. Ela tinha que fazer isso soar tão feminino?!
Ela limpou a garganta, claramente divertida com a reação dele, "Alguns
amigos muito queridos. Mas a escola também é o lugar para nos desafiarmos,
para testar nossa capacidade. Você entende?"

Ele acenou com a cabeça, inexpressivamente. Ela suspirou, bebendo seu chá.

"Seus resultados nos exames foram excelentes este ano, Remus."

O menino se endireitou um pouco na cadeira ao ouvir isso. Ele próprio ficou


muito satisfeito com os resultados. Não tinha vencido James em
Transfiguração, ou Snape e Lily em Poções, mas teve algumas das notas mais
altas do ano em todo o resto.
"Como tal," McGonagall continuou, "Não tenho nenhuma preocupação em
permitir que você estude Aritmancia - que, devo dizer a você, é um dos cursos
mais desafiadores que oferecemos em Hogwarts. Mas eu questionaria se os
Estudos dos Trouxas são um uso adequado do seu tempo no futuro. Você pode
achar muito tedioso, infelizmente. Você considerou, por exemplo, Runas
Antigas?"

Remus torceu as mãos no colo. Tinha soado bastante interessante. Mas ele
passou tanto tempo lutando para ler em inglês, e lutando para alcançar o resto
dos alunos, que a ideia de aprender outro idioma era petrificante. McGonagall
parecia entender suas preocupações - pelo menos em parte.

"Você não acharia tão difícil quanto pensa, sabe. Você é um aluno
imensamente talentoso, e extremamente esforçado. E também, suas colegas de
casa senhoritas MacDonald e McKinnon estarão na mesma aula."

Isso não parecia tão ruim, na verdade. Ele gostava muito das M's agora, e seria
divertido passar um pouco mais de tempo com elas. Seria bom ter uma aula em
que não houvesse Sirius se exibindo, nenhum Peter tentando copiar suas
anotações e nenhum James agindo como um idiota para chamar a atenção de
Lily.

"Ok." Ele disse. "Vou tentar."

"Excelente." McGonagall sorriu amplamente, parecendo genuinamente


satisfeita. Ela acenou com a varinha sobre o formulário dele para alterá-lo.

"Hum ... Professora?" Ele perguntou, de repente, ligeiramente nervoso


novamente.

"Sim, Lupin?"

"Eu ... bem, eu estava pensando em outro matéria também. Talvez ... talvez em
vez de Adivinhação?"

O sorriso de McGonagall se tornou irônico.

"Bem, não posso fingir que vejo muita utilidade em Adivinhação ... a menos
que a bruxa ou mago em questão seja genuinamente dotado com a visão."

Remus assentiu, presumindo que isso significava que ele não era tão talentoso.
"Eu pensei, talvez ... quer dizer, provavelmente é bobo ..." James disse que era
bobo. Uma matéria de menina. "Hum ... Trato das Criaturas Mágicas." Ele
disse, tudo com pressa.

McGonagall parecia genuinamente surpresa.

"Isso é algo que te interessa?"

"Hum ... sim, acho que sim. Não apenas porque eu sou ... você sabe. Mas. Sim,
suponho que seja principalmente por causa disso. "

"Bem, é um assunto muito interessante," McGonagall tomou um gole de chá


novamente. "Devo dizer que se você está mais interessado nisso do que em
Adivinhação, então deveria fazê-lo."

"Ótimo, ok, pode mudar." Ele acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco
envergonhado, mas também bastante satisfeito consigo mesmo. McGonagall
acenou sua varinha mais uma vez.

"Seu pai era bastante talentoso quando se tratava de criaturas mágicas, você
sabe." Ela disse. Remus ergueu as sobrancelhas.

"Eu não sabia."

"Oh sim," ela acenou com a cabeça, como se ela estivesse apenas passando o
tempo. "Um especialista em sua área."

"Sua... área?"

"Aparições espirituais não humanas. Bichos-papões e fantasmas, você sabe -


dementadores também. Todas criaturas das Trevas, receio. Trato de Criaturas
Mágicas se concentra principalmente em criaturas corpóreas - ou seja,
criaturas mortais, mas você pode muito bem compartilhar seus talentos."

"Ah, certo. Obrigado, professora." Remus se levantou rapidamente. Ele não


tinha tempo para pensar em seu pai agora. Tinha muito que fazer. "Eu tenho
que ir para a biblioteca." Ele indicou sua bolsa pesada, rasgando-se nas
costuras.

"Sim, sim, certamente." McGonagall assentiu. "Obrigado, Remus. Vejo você


no banquete esta noite."

"Sim, tchau!"
Quando ele finalmente saiu do escritório de McGonagall, Remus olhou para o
relógio. Eram dez para as onze. Droga. Não havia tempo para a biblioteca
agora, ele tinha que encontrar Peter lá fora, e normalmente levava pelo menos
quinze minutos para sair do castelo, desde que nenhuma das escadas o
obrigasse a se desviar. Levantando sua mochila excessivamente pesada, Remus
suspirou e partiu.

Quando chegou às estufas, suando e com muito calor sob o sol forte, Peter
obviamente estava esperando há algum tempo e estava torcendo as mãos.

"Aí está você!" Ele engasgou, "Eu pensei que algo tinha acontecido."

"Desculpe," Remus ofegou, enxugando a testa com a manga, "McGonagall


queria bater um papo. Está tudo bem?"

"Sim," Peter acenou com a cabeça, os olhos correndo ao redor, "Assim como
James disse. Você os viu?"

"Não."

"Tudo deve estar bem, então. Aqui." Peter entregou a Remus a capa da
invisibilidade.

"Ótimo. Ei, você vai voltar para o dormitório?"

"Sim, eu ainda preciso fazer as malas ..."

"Ótimo, se importa em levar meus livros de volta? Eu queria devolvê-los à


biblioteca, mas McGonagall..."

"Ok," Peter pegou a sacola. "Puta merda, Moony!" Ele gemeu, cedendo ao
peso da bolsa.

"Te vejo na hora do almoço?"

"Provavelmente. Boa sorte!" Peter saiu correndo de volta para o castelo,


deixando Remus sozinho novamente.

Olhando ao redor para se certificar de que a área estava vazia, Remus não
perdeu tempo em se aproximar do galpão de equipamentos. Ele já havia estado
ali uma vez para uma detenção em seu primeiro ano - era muito maior por
dentro do que parecia, e cheio de ferramentas para manter os cuidados nos
amplos terrenos de Hogwarts. A fechadura não respondeu ao
feitiço Alohomora, mas absolutamente respondeu a algumas torções rápidas
com um dos grampos de cabelo de Lily Evans. Ela o havia dado o objeto na
noite anterior, com um olhar interrogativo, mas não perguntou por que ele
precisava.

Uma vez lá dentro, Remus agiu rapidamente, encontrando o grande baú preto
de guarda-chuvas. Ele não tinha certeza de por que os bruxos ainda usavam
guarda-chuvas - certamente haviam feitiços para se proteger da chuva? Mas,
mesmo assim, eles não queriam que ninguém os convocasse e arruinasse a
diversão. Remus cobriu o baú com a capa da invisibilidade e lançou um feitiço
de leveza sobre ele, antes de levitar tudo para fora do galpão.

Ele caminhou de volta para a escola de uma maneira vagarosa, tentando não
parecer que estava tramando alguma coisa, escondendo sua varinha sob as
vestes para que ninguém pudesse ver que estava guiando o baú invisível.
Demorou uma boa meia hora para andar sozinho pelo castelo com o baú sem
ser notado e sem esbarrar em nenhum outro aluno. Várias vezes ele teve que
levitar a coisa sobre sua própria cabeça, o que exigiu muito esforço e
concentração.

Ainda assim, ele o fez, chegando ao seu destino com um enorme sentimento de
realização. Remus deixou o baú no dormitório e fez um feitiço para colar a
fechadura. Se alguém tentasse invocá-lo, não seriam capazes de abri-lo a
tempo de se salvar. Ele dobrou a capa cuidadosamente e a deixou no
travesseiro de James.

Peter havia deixado a mochila de Remus ao pé de sua cama, e o menino


suspirou para si mesmo, percebendo que teria que devolver os livros antes de
poder ir almoçar. Colocando-o nas costas, ele desceu mais uma vez a escada
para a sala comunal da Grifinória.

Mais uma vez, ele foi surpreendido, desta vez por Lily, que parecia
extremamente nervosa e extremamente satisfeita em vê-lo

"Aí está você!" Ela gritou, agarrando seus ombros, "Estive procurando por
você em todos os lugares!"

"Oi, Lily," ele sorriu, educadamente, "Desculpe, isso pode esperar? Eu tenho
que ir a ..."

"Absolutamente não!" Ela balançou a cabeça com veemência, "Podemos subir


para o seu quarto? Os outros não estão lá, estão? "
"Não," ele suspirou. Poderia ir para a biblioteca mais tarde, se deixasse de
tentar terminar seu livro, ou se sua visita a Madame Pomfrey não demorasse
muito. Ele seguiu Lily de volta escada acima.

"Eu iria querer saber o que é isso?" Ela disse, olhando para o grande baú preto.

"É um baú cheio de guarda-chuvas." Ele disse, prontamente. Ela ergueu uma
sobrancelha, mas não o questionou mais.

"Eu tenho uma coisa para você." Ela colocou sua bolsa em cima do baú,
vasculhando-a. Ela retirou um item muito estranho. Parecia uma folha de
plástico transparente. Remus franziu a testa, quando ela entregou a ele. Ele o
virou.

"Erm ... Lily ...?"

"Lamento ter demorado tanto - tive que esperar séculos pelo acetato. Minha
mãe comprou de uma amiga dela que é professora. Eles os usam como
retroprojetores em escolas trouxas. Bem, você sabe disso, obviamente."

Remus acenou com a cabeça, inexpressivamente. Havia um projetor em St


Edmund's, mas sua lâmpada precisava ser substituída há cerca de três anos e,
pelo que ele sabia, ninguém ainda havia feito isso.

"Tem um livro?" Lily acenou com a cabeça para a bolsa dele. "Pegue um, vou
te mostrar."

Ele obedeceu, curioso para ver onde isso estava indo. Ela abriu em uma página
aleatória, colocou-o em cima do baú e colocou a folha de acetato sobre ele.
"Veja." Ela disse.

Remus olhou, prestes a retirar sua varinha, caso ela quisesse que ele lesse algo.
Ela balançou a cabeça, afastando a mão dele. "Apenas olhe." Ela disse.

Ele olhou novamente, esfregando o pescoço.

'Existem três elementos-chave para cumprir um voto inquebrável de sucesso.


Na primeira instância...'

"O que?!" Remus exclamou, pegando o livro e olhando.

"Funcionou?!" Lily olhou para ele, ansiosa, "Você conseguiu ler isso?"
"Eu ... sim ... eu ... caramba, Evans!" Ele virou a página novamente, movendo
o acetato. Funcionou. Era muito menos complicado do que o feitiço de Sirius.

"Deve funcionar fora de Hogwarts também." Ela disse, com os olhos verdes
brilhando, "Eu mexi um pouco no encantamento e houve um trabalho de poção
envolvido, mas deve durar um bom tempo."

"Você é incrível!" Remus disse, ainda lendo. "Muito obrigado!"

Do nada, Lily saltou sobre Remus, jogando os braços em volta do pescoço dele
e abraçando-o. Pego de surpresa, Remus se sentiu corar. Ele nunca tinha sido
abraçado com frequência antes - muito menos por uma garota. Ela era macia e
seu cabelo era cheiroso, como maçãs.

"Eu queria fazer isso a tempo para o seu aniversário," ela disse, dando um
passo para trás, ainda sorrindo, "Mas eu continuei estragando tudo. Graças a
Deus funcionou! Você teria pensado que eu era louca se não tivesse! "

"Sim", ele riu, nervoso, ainda se recuperando do abraço surpresa. "Obrigado,


Lily, isso é ... é uma coisa incrível."

"Você merece, Remus," ela disse, séria, "Honestamente, você trabalha tão duro
e está sempre ultrapassando Potter e Black."

Remus encolheu os ombros. Houve um silêncio um pouco constrangedor.

"Olha, vou deixar você continuar o seu dia." Lily disse, finalmente: "Desculpe
por ter te emboscado desse jeito. Vejo você no banquete? "

"Sim ... sim, claro." Remus olhou de volta para o livro. "Ah merda, espere -
Evans, você tem um guarda-chuva?"

"Er ... eu acho? Ele já deve estar guardado."

"Pegue ele de volta", disse com firmeza. "E leve para o jantar, ok?"

"... Ok?"

Assim que ela saiu, Remus se permitiu um momento para se sentar. Ele não
conseguia acreditar que ela tinha feito isso. Ele não conseguia acreditar que
não tinha pensado nisso! Era tão simples, tão elegante. Seria capaz de ler
durante todo o verão! Virou a página.
'É importante notar que o voto perpétuo, uma vez feito, não pode ser
substituído por qualquer outro tipo de voto, juramento ou promessa feita
posteriormente, independentemente de quaisquer preocupações legais ou
morais em torno de manter tal voto. Portanto, é fundamental que— '

"Oh!" Remus engasgou, de repente. Foi como se houvesse um 'clique' em seu


cérebro e tudo tivesse se encaixado. "OH!" Ele saltou.

A biblioteca teria que ser adiada mais uma vez.

***

Eram em momentos assim, Remus pensou, enquanto andava para cima e para
baixo no corredor escuro, que ele realmente apreciaria ter o mapa do maroto
pronto em suas mãos. Infelizmente, eles só conseguiram mapear três quartos
do castelo e ainda estavam muito longe de rotular todos os alunos.

Remus estava esperando do lado de fora da sala comunal da Sonserina por


vinte minutos agora, sem sorte alguma. Os alunos de uniforme verde que
passavam por ele ignoraram seus pedidos de ajuda, e até mesmo o Barão
Sangrento continuou seu caminho depois de uma fungada desdenhosa. Estava
ficando sem esperança. Perderia o almoço nesse ritmo. Ele olhou para o
relógio mais próximo. Era meio-dia e meia. A primeira fase do plano iria
começar.

Quando a parede da sala comunal se abriu mais uma vez, seu coração afundou
ainda mais.

"Ora, ora, ora." Snape sorriu, "Eles disseram que havia um Grifinório louco à
solta, mas não achei que fosse você, Loony Lupin."

Remus suspirou.

"Cai fora, Snivellus."

"Não seja tão rude," Snape ergueu a varinha, "Eu deveria lavar sua boca com
sabão."

"Achei que você não sabia como lavar." Remus respondeu secamente.

"Por que, você-"


"Podemos deixar isso para depois?" Remus disse, irritado, "É o último dia do
semestre, e há muitas coisas que eu preferiria estar fazendo. Você pode apenas
... sei lá, me deixar entrar ou algo do tipo?"

"Deixar você entrar?!" Os olhos negros de Snape brilharam com diversão, "Por
que diabos eu deixaria você entrar?!"

"Eu preciso falar com—"

"Saia do caminho, Snape, seu idiota nojento." Uma voz veio da parede atrás de
Severus. Barty Crouch Jr. saiu, seguido por Regulus. Remus sentiu um
pequeno alívio.

"Regulus! Você pode chamar Narcissa para m—"

"Mordeo!" Sem aviso, Crouch lançou uma maldição para Remus, que se
esquivou bem a tempo, puxando sua própria varinha.

"Expelli-" Ele começou, mas era tarde demais, Crouch o amaldiçoou uma
segunda vez e a dor disparou pelo crânio de Remus, sua cabeça zumbindo. Foi
horrível, mas ele não vacilou. Só doeu por um tempo, mas a dor já era uma
velha amiga. Se eles pensavam que algo tão comum quanto isso iria impedi-lo,
eles tinham outra coisa em mente.

"O que você quer, mestiço?" Crouch perguntou, sorrindo loucamente, "Ou
você é apenas burro, andando por aqui sozinho?"

"Ele é burro", Severus disse, "como uma porta."

"Cale a boca, Snape," Crouch diz, virando sua varinha para Severus, agora.
Remus estreitou os olhos, prestando atenção. Aparentemente, Snape era ruim
em fazer amigos onde quer que fosse.

"Calem a boca vocês dois," Regulus finalmente falou, parecendo entediado.


Ele estava observando o rosto de Remus o tempo todo, "O que você quer,
Lupin? Melhor me dizer antes que Barty comece a praticar uma das
imperdoáveis em você. "

"Eu preciso falar com Narcissa." Remus disse, muito claramente e tão
calmamente quanto pôde. "É urgente. É sobre ... você sabe, coisas da família
Black. "
Regulus o observou por mais alguns momentos, sem falar. Ele era tão parecido
com Sirius - só que sem nenhuma alegria ou humor. Se Remus não soubesse,
teria dito que Regulus era o irmão mais velho.

"Snape, vá buscar minha prima." Ele disse bruscamente, sem nem mesmo
mover a cabeça.

Snape parecia furioso, mas obedeceu. Todo mundo fazia o que os Black’s
mandavam? James costumava provocar Sirius por agir como se fosse da
realeza, mas talvez ele só estivesse desempenhando o papel para o qual foi
criado.

Crouch logo ficou entediado e foi embora, deixando Regulus e Remus ainda se
encarando em um silêncio sólido. Remus estava realmente feliz em ver o rosto
azedo de Narcissa, quando ela finalmente atravessou a parede.

"Ah Merlin," ela suspirou, olhando para Remus, "O que é agora?"

"Eu descobri!" Ele disse rapidamente: "O ... o problema. Eu tenho uma
solução."

"Ah tem?" Ela cruzou os braços, parecendo não estar convencida.

"Um voto perpétuo", ele se apressou, ansioso para resolver tudo e ir. "Não
pode ser quebrado, nunca."

Ela bufou.

"Sim, isso certamente está implícito."

Remus revirou os olhos impacientemente.

"Quero dizer," ele disse, mais lentamente, sua bravura crescendo, "que se você
fez um voto perpétuo, então você não pode fazer nenhuma outra promessa que
vá contra ele. Você não pode nem mesmo ser forçado a fazer outras promessas.
Ou votos." Ele enfatizou a última palavra, significativamente.

A luz se acendeu nos olhos de Narcissa quase imediatamente. Por um segundo,


seus lindos lábios rosados formaram o mesmo 'oh' que Remus havia feito
apenas uma hora antes, quando percebeu isso. Ela não teve tempo de falar,
porém, porque no mesmo momento, um grito de algum lugar foi ouvido,
fazendo com que todos se virassem. Uma garota da Sonserina saiu correndo do
banheiro no final do corredor e chorando.
"Todos eles simplesmente ... explodiram!" Ela disse, parecendo completamente
perturbada. Com certeza, eles podiam ver, pela porta de vaivém do banheiro
atrás dela, que ondas de espuma rosa estavam saindo das pias e vasos
sanitários. Era realmente magnífico - grandes e lindas gotas de bolhas de sabão
caíam de cada torneira e ralo.

"Eu... hm ... eu tenho que ir!" Remus sorriu, piscando para Narcissa, então
começou a correr.
39 Segundo Ano
O Longo Último Dia (Parte 1)

O resto da tarde foi nada menos que caótico - e Remus sabia que Sirius e
James, onde quer que estivessem, deveriam estar se divertindo muito. Todos os
banheiros do castelo foram misteriosamente afetados pela enchente de espuma,
e ninguém parecia ser capaz de impedi-los por muito tempo. Enormes montes
de bolhas obstruíam os corredores como neve rosa, e os alunos que não
queriam brincar com ela, não pareciam se importar em serem forçados a sair
para descansar na grama e passar seu último dia ao sol.

Remus, que já havia sacrificado sua hora do almoço, ainda precisava ir à


biblioteca e devolver seus livros, ajudar Sirius a empacotar (embora, na
verdade, ele disse a si mesmo, enquanto subia as escadas para a torre da
Grifinória, ele tinha feito o suficiente para ajudar Sirius por um dia) e ver
Madame Pomfrey para um check-up de final de ano. Ele também precisava
chegar ao Salão Principal cedo para ajudar James e Sirius com a fase final do
plano. Não era uma magia complexa, mas era forte e, idealmente, precisava do
máximo de varinhas possível.

Biblioteca primeiro, ele pensou consigo mesmo, propositalmente enquanto


entrava na - agora vazia - sala comunal. Pelo menos, não havia ninguém para
impedi-lo agora. Um dos outros obviamente estivera no dormitório desde a
última vez que Remus o deixou, porque estava ainda mais bagunçado do que
antes e a capa da invisibilidade agora tinha sumido.

James, que provavelmente era o mais arrumado de todos os quatro, havia


embalado todas as suas coisas na noite anterior e feito a cama com cuidado. O
espaço de Remus estava arrumado apenas porque estava totalmente vazio
agora, exceto por seu pijama e o livro ao lado da mesa de cabeceira. Peter
aparentemente tentou fazer as malas em algum momento, mas foi chamado no
meio do processo - seu malão estava aberto, várias peças de roupa penduradas
para fora, uma pilha de livros em sua cama e sua gravata vermelha pendurada
na cabeceira. A cama de Sirius era de longe a pior. Ele deve ter procurado
alguma coisa em algum momento, porque cada gaveta de sua cômoda estava
aberta, seus lençóis estavam abarrotados e seu baú, completamente vazio.

Remus agarrou sua mochila e saiu imediatamente - ele pensaria nisso mais
tarde. Gostaria de ainda ter a capa da invisibilidade enquanto se esquivava de
Pirraça mais uma vez. O poltergeist estava se divertindo, mergulhando nas
pilhas de espuma e então explodindo para fora delas, assustando alunos e
professores desavisados. Remus se lembrou brevemente do que McGonagall
havia dito naquela manhã sobre seu pai 'bicho-papão, poltergeists ...' ele se
perguntou o que seu pai - seu campeão de duelo, pai da Corvinal que tinha um
temperamento forte – devia pensar de Pirraça.

"Boa tarde, Madame Pince," disse Remus, quieto e respeitosamente, enquanto


entrava na biblioteca. Estava quase totalmente vazia, e a velha bibliotecária de
rosto cansado estava separando uma pilha enorme de livros devolvidos
recentemente com sua varinha, colocando-os de volta às estantes com grande
prazer.

"Lupin." Ela disse, nem mesmo virando a cabeça para cumprimentá-lo.

Ele colocou seus livros cuidadosamente no balcão mais distante dela.

Embora a biblioteca não o assustasse mais – não exatamente - Remus ainda


ficava muito nervoso perto de Madame Pince, que claramente preferia que
nenhum aluno pudesse tocar em seus preciosos livros. "Estes são todos?" Ela
disse bruscamente: "Eu saberei, se estiverem faltando algum."

"Definitivamente todos estão aqui." Ele disse, se afastando lentamente.

"O Sr. Pettigrew não devolveu o Plantas venenosas das Ilhas Britânicas, e o
Sr. Black mais velho tem três livros de transfiguração vencidos."

"Oh, ok ... hum ... vou avisar quando os vir."

"Estarei escrevendo para os pais deles, se não os receber às cinco horas."

"Eu direi a eles." Ele repetiu, quase fora da porta. Suspirando de alívio, ele
caminhou até a ala hospitalar em um ritmo vagaroso, lutando contra o desejo
de se jogar em uma luta de bolas de neve que os lufanos estavam travando
contra os sonserinos com a espuma.

Parecia que o feitiço ainda estava forte - ainda mais bolhas emanavam dos
banheiros pelos quais ele passou, e se ele não estivesse muito enganado, elas
estavam ficando maiores. Ele não tinha ideia de onde Sirius, James e Peter
estavam naquele momento, mas sabia que eles deveriam estar se divertindo
muito.
"Remus, querido!" Madame Pomfrey sorriu quando ele entrou na ala
hospitalar. "Obrigado por passar aqui - eu sei que você preferiria se divertir
com seus amigos hoje."

Ele encolheu os ombros com um pequeno sorriso.

"Eu não me importo."

"Apenas algumas coisas antes do início do verão, podemos ir ao meu


escritório?"

Ele a seguiu e aceitou com gratidão o prato de biscoitos que ela lhe ofereceu -
seu estômago roncava por ter perdido o almoço.

"Agora," Madame Pomfrey se sentou, evocando suas anotações do nada, "Eu


tentei entrar em contato com a Matrona do St. Edmund's algumas vezes ...
parece que ela não sabe como as corujas funcionam. Fica tentando me fazer
falar com ela em alguma engenhoca trouxa. Eu disse a ela que não temos um
terebone em Hogwarts, mas não acho que ela acredita em mim ... "

"Não," Remus sufocou uma risada, "ela não acreditaria."

"De qualquer forma, entre nós, conseguimos organizar que estarei presente
antes e depois do seu confinamento nas duas luas cheias. Eu expliquei a ela
que sua condição se tornou... mais difícil durante o ano passado, mas que não
deve haver perigo para ninguém na escola."

"Certo." Remus concordou. Agora que ele estava acostumado com a ideia,
estava muito feliz por Pomfrey estar lá, mesmo que brevemente, durante as
férias. Isso tornaria as luas cheias um pouco menos sombrias, de qualquer
maneira.

"Eu quero ter certeza que você vai cuidar de si enquanto isso. Faça refeições
completas e tenha um bom equilíbrio entre descanso e exercícios."

Remus não teve coragem de dizer a Madame Pomfrey que ele tinha muito
pouco controle sobre as permissões para descansos; e que não conseguia se
lembrar se em algum momento havia se exercitado enquanto morava em St.
Edmund’s. Ninguém em Hogwarts parecia entender que tipo de instituição era.

Depois disso, ela verificou alguns de seus ferimentos da lua anterior para se
certificar de que estavam curando corretamente, então realizou alguns feitiços
de diagnóstico. Eram quase quatro da tarde quando voltou para a torre da
Grifinória, pelo que parecia ser a centésima vez naquele dia.

Filch ainda não tinha tido sucesso em acabar com a espuma, mas pelo menos
ela parou de jorrar de cada torneira e ralo do castelo. Os outros devem ter
ficado entediados e ido fazer outra coisa. Enquanto Remus subia a torre, ele
viu alguns alunos voando pelas janelas em suas vassouras. Estava um dia lindo
lá fora, os outros marotos provavelmente também estavam aproveitando ao
máximo.

Ele levou um choque ao chegar ao dormitório.

"Oie, Moony," James sorriu para ele. O menino estava sozinho, em pé do lado
do quarto que pertencia a Sirius. Ele estava fazendo as malas dele. "Bom
trabalho conseguindo os guarda-chuvas."

"Obrigada, vocês também com a espuma. Filch está furioso." Ele esfregou a
nuca, sentindo-se constrangido, "Onde está Sirius?"

"Fazendo algo maluco em sua vassoura, eu acho. Pensei em resolver isso para
ele. "

"Você quer ajuda?"

"Nah, não se preocupe. Você não queria ler um livro ou algo assim?"

Remus encolheu os ombros. Ele se sentiu um pouco envergonhado agora.


Afinal, parecia certo que James fizesse isso - James era o melhor melhor amigo
de Sirius.

"Tudo bem, eu vou te ajudar." Ele disse, casualmente, como se isso não
importasse muito de qualquer maneira. "Você sabe que eu odeio voar."

"Legal da sua parte," James sorriu facilmente, juntando um pouco da bagunça


de Sirius e arrumando-a rapidamente. Remus começou a arrumar os discos,
empilhando-os em ordem alfabética, porque Sirius gostava desse jeito.
"Coloque isso no meu baú," disse James, apontando para a caixa de discos, "Os
livros trouxas também. Disse que cuidaria deles para ele. Você sabe como as
coisas são com a mãe e o pai dele. "

Remus acenou com a cabeça, levando-os para a cama de James.


"Vai ser um verão horrível, sem vocês dois", comentou James, parecendo
genuinamente triste.

"Sim." Remus respondeu, sem saber o que mais dizer.

"Sirius acha ... ele acha que pode não voltar em setembro."

"O que?!" Remus ergueu os olhos, de repente, alarmado. James franziu a testa.

"Sim, ele acha que com essa coisa de noivado ... eles podem mandá-lo para
Durmstrang. Para mantenha-lo longe de problemas até que possam casá-lo.
Muito drástico, eu acho, mas não impossível. "

"A cerimônia de noivado pode não acontecer, sabe," Remus disse,


rapidamente, "Tenho um pressentimento ... Só sinto que Narcissa não vai
deixar isso acontecer." Ele não queria contar nada a James ainda - porque
James contaria a Sirius, e Sirius poderia ficar irritado por Remus falar pelas
suas costas com sua família. E se não funcionasse? Ele não queria criar
esperanças em ninguém.

"Narcissa?" James olhou para ele com curiosidade, "Do que você está
falando?"

"Só sei que ela não quer se casar com Sirius mais do que ele quer se casar com
ela, só isso." Remus balançou a cabeça. "Devo colocar as revistas trouxas dele
no seu porta-malas também?"

***

"Que ano maravilhoso tem sido", Dumbledore sorriu para o Salão Principal
enquanto os restos finais do banquete de fim de ano desapareciam de seus
pratos. Remus sentiria falta da comida mais do que tudo, e comeu três porções
de sobremesa. A corvinal havia ganhado a taça da casa naquele ano, e o salão
estava decorado com estandartes de seda azul royal e bronze. Cada vez que a
mesa da corvinal festejava durante a refeição, Remus sentia um puxão atrás do
umbigo e pensava em seu pai.

O discurso de Dumbledore continuou, "Estou imensamente orgulhoso de todos


vocês, é claro. Agora que estamos todos bem alimentados, tenho algumas
palavras que gostaria de dizer..."

"Prontos, rapazes," Sirius sussurrou baixinho, tão baixo que apenas os marotos
podiam ouvir. Dumbledore continuou
"... Parabéns mais uma vez a Corvinal ..."

"Agora!"

"... por ter ganhado a taça das casas deste ano ---"

Houve um grito vindo do outro lado do corredor, e todos se viraram para


observar cada taça na mesa da Corvinal de repente jorrar bolhas vermelhas e
douradas. Elas dispararam para cima em grandes gêiseres, atingindo o teto e
explodindo em uma chuva de gotas brilhantes, que caíram como chuva sobre
os alunos abaixo, manchando suas vestes com listras vermelhas da grifinória.

"Continue!" Sirius sussurrou, sua voz alta de excitação, enquanto os marotos


agitavam suas varinhas usando cada grama de concentração. Imediatamente, os
cálices em todas as outras mesas explodiram também, causando o mesmo
efeito quando os alunos gritaram e começaram a se abaixar para proteger seus
cabelos, pele e roupas que se manchavam de vermelho e dourado vibrantes.

Nem mesmo a mesa da grifinória havia escapado - não querendo perder a


diversão, James havia insistido nisso. Lily Evans trouxera seu guarda-chuva, e
sorriu maliciosamente para Remus enquanto Mary e Marlene lutavam para se
enfiar debaixo dele. No canto mais distante do corredor, Remus avistou uma
Narcissa furiosa escondida debaixo da mesa, seu longo cabelo branco tingido
com mechas vermelhas e douradas, que contrastavam terrivelmente com sua
pele de porcelana.

Ela estava encarando seu primo rebelde com tanto ódio que Remus se
perguntou como Sirius não caiu morto ali mesmo. Mas ele se consolou com o
pensamento de que esse incidente só pode ter cimentado ainda mais a ideia em
sua mente de que ela deveria escapar do casamento com Sirius a todo custo.

"Omnistratum!" Dumbledore disse, calmamente, apontando sua varinha para o


teto.

Imediatamente, as bolhas estouraram e evaporaram, se transformando em nada,


como se um grande campo de força tivesse aparecido repentinamente sobre
suas cabeças. "Scourgify!" O diretor sorriu agradavelmente, agora acenando
com a varinha por todo o salão. Instantaneamente, a tinta vermelha e dourada
havia desaparecido das mesas, do chão e dos alunos. A ordem foi restaurada.

"Aw." James suspirou, parecendo desapontado.


"Uma excelente maneira de comemorar a vitória da grifinória no campo de
quadribol este ano", Dumbledore pigarreou, enquanto os alunos subiam de
volta em seus assentos, olhando seus cálices nervosamente. "E embora eu
admire e incentive as demonstrações de orgulho das casas, gostaria que todos
se lembrassem de que o verdadeiro espírito esportivo reside na capacidade de
ceder a vitória com elegância. Junte-se a mim para levantar suas taças para a
Corvinal, ganhadora da taça das casas de Hogwarts em 1973."

Remus teve a sensação desconfortável de que, embora Dumbledore não


olhasse na direção dos marotos, eles eram absolutamente o público-alvo para
essa advertência. Ele se sentiu um pouco envergonhado - mas apenas um
pouco. Era difícil sentir arrependido quando nenhum mal havia sido feito e
enquanto ele estava tão cheio de uma comida excelente.

James e Sirius já estavam planejando o final do próximo ano, Peter sorrindo e


balançando a cabeça como um simplório. Lily piscou para Remus enquanto
eles erguiam suas taças, e ele esperou que nada nunca mudasse.

40. Verão, 1973


O Último Dia (Parte 2)

Sábado, 30 de junho de 1973

Caro Remus,

Só voltei para a casa dos meus pais faz meia hora e já me disseram que estou
envergonhando minha família cinco vezes. Cinco. Três dessas vezes nem
foram de pessoas vivas - os retratos de nossos ancestrais decidiram gritar
também.

Acho que vou começar a pendurar minhas coisas da Grifinória na parede


agora.

Espero que você tenha chegado bem em casa.

Sirius O. Black

***
Caro Sirius,

Sua coruja chegou antes mesmo de eu voltar - tivemos que pegar dois metros e
um ônibus, demorou muito.

Sinto muito pelas coisas sobre sua família. Tome cuidado. Queria que todos
nós estivéssemos de volta à escola.

Remus.

***

Sexta-feira, 13 de julho de 1973

Caro Moony,

Venha nos visitar em breve, eu e Peter vamos morrer de tédio!

Não mande nenhuma coruja para Sirius - a mãe dele interceptou a minha e
devolveu todas as cartas com maldições anexadas! Felizmente, papai percebeu
antes que tivéssemos qualquer problema, mas que inferno! Posso tentar entrar
em contato com a prima dele, Andrômeda, para ver como ela manda o correio.
Eu acho que é do jeito trouxa, mas - por Godrick! - como devemos entender
isso? - eu nem abri meus livros de estudos trouxas ainda.

Me avise se você puder vir e visitar. Lembre-se de que mamãe disse que pode
vir a qualquer hora. Podemos falar com sua Matrona e Madame Pomfrey - ou
Ministro da Magia, se for preciso!

James.

***

Caro James,

Eu sei como o correio funciona, mas eu teria que roubar alguns selos. E eu não
sei qual é o endereço de Sirius.

Eu perguntei a Pomfrey depois da última lua - ela disse que não. Ela disse que
o mundo mágico é muito perigoso para mim. Eu não sei se ela quis dizer que
eu sou o perigo.

Desculpe cara.
Moony.

***

Domingo, 5 de agosto de 1973

Caro Moony,

Então. Você não vai acreditar no que aconteceu. Sério. A cerimônia estava
pronta para começar - eu estava com meus horríveis robes verdes (com punhos
de renda preta - RENDA, Moony. Tenta imaginar isso. Você teria pensado que
eu estava parecendo um completo idiota). Regulus estava lá, minha mãe, meu
pai e metade da família.

Então entra Narcissa, vestindo algo que parecia pertencer à minha avó. E ela
não parecia feliz, então pensei - bem, é justo, não estou exatamente
emocionado. Mas então ela se levanta, na frente de todo mundo e diz "Temos
que parar imediatamente".

Então, todo mundo para, e minha mãe parece que está prestes a começar a
cuspir maldições, e meu tio está perguntando a Narcissa "o que você acha que
isso é uma brincadeira?!" e Regulus está sorrindo para mim e Bellatrix está
sorrindo também, só que ela parece um pouco mais louca do que Reg. Então
Narcissa sussurra algo para seus pais e minha tia LITERALMENTE
DESMAIOU. Sem zoeira. E todo mundo está murmurando e sussurrando, e a
minha mãe não aguenta mais e exige saber o que está acontecendo, então
Narcissa se levanta, OLHA NOS OLHOS DA MINHA MÃE e fala.

Ela fez um voto perpétuo de se casar com Lucius Malfoy assim que terminasse
seu NIEM.

Não me lembro se disse a você o que é um voto perpétuo, mas basicamente ela
não pode não se casar com Malfoy agora - ou os dois caem mortos. Não sei se
deveria ficar um pouco ofendido sobre isso, para ser honesto. Quero dizer, o
que pensar quando uma garota prefere morrer a se casar com você, mesmo que
ela seja sua prima?

De qualquer forma, como você provavelmente pode imaginar, toda a família


Black está em guerra, ninguém está se falando porque algumas maldições
acabaram sendo lançadas entre meu pai e meu tio. Eu não posso acreditar em
Narcissa. Sério, eu cheguei perto de gostar dela por um segundo antes de me
lembrar que ela ainda é uma Black, e uma sonserina, e ela quer se casar com o
Lucius nojento Malfoy, de todas as pessoas.
Mas parece que me safei dessa. Não sobrou nenhum outro primo para casar
comigo agora. Todo mundo está furioso, obviamente, mas pela primeira vez
ninguém está furioso comigo. Acho que provavelmente voltarei para Hogwarts
em setembro - em vez disso, ouvi minha mãe falar sobre fazer de Reg o
herdeiro. Eu não poderia me importar menos em herdar esta casa estúpida ou
aquela fortuna estúpida. Quem sabe eles não me deixam em paz e me ignorem
para sempre.

Espero que suas férias estejam indo tão bem quanto as minhas (embora eu não
consiga ver como isso poderia acontecer, porque - honestamente, que resultado
do caramba, hein Moony??)

Te vejo em algumas semanas,

Sirius O. Black

***

Segunda-feira, 6 de agosto de 1973

Caro Moony,

Aposto que Sirius já te contou a novidade, mas caso ele não tenha – O
NOIVADO FOI CANCELADO! Você estava certo, no final das contas tudo se
resumia a Narcissa. Que habilidade misteriosa que você tem aí, Remu velho
amigo, não tá afim de me dar umas dicas no próximo bolão na copa mundial de
quadribol no ano que vem, não?

Meu verão aqui completamente sozinho está sendo bem chato. A família de
Peter foi pra França visitar alguns parentes, então não tem ninguém para me
ajudar a praticar meus lances. Espero que o seu não esteja tão ruim. Eu pensei
que talvez você pudesse pedir a Madame Pomfrey te trazer ao Beco Diagonal
em agosto. Ou talvez a gente te busque e depois te leve de volta? Mamãe fica
perguntando por você, ela adoraria te ver de novo.

Entre em contato se você puder.

Seu amigo em tédio eterno,

James.

***
Segunda-feira, 13 de agosto de 1973

[Cartão postal com a Torre Eiffel na primavera]

Caro Remus,

Bonjour e tudo mais de Paris!

Espero que suas férias sejam boas. Queria que vocês estivessem aqui.

Peter.

***

Remus respondeu a cada uma dessas cartas com vigor, muito mais do que no
ano anterior. Os marotos tinham visto o suficiente de sua caligrafia para saber
como era garranchosa, e ele não achou que se importariam com alguns erros de
escrita. Disse a James que sentia muito, mas que não poderia ir ao Beco
Diagonal (Madame Pomfrey disse que também não era seguro, mas não o
explicou por quê) e parabenizou Sirius por sua solteirice conquistada, mas não
contou que ele, Remus, tinha algo a ver com isso. Seria como se gabar, e não
queria que Sirius sentisse que lhe devia alguma coisa.

O verão de Remus foi talvez tão chato quanto o de James e Sirius, mas com
mais propósitos do que qualquer verão anterior. Madame Pomfrey foi fiel à sua
palavra e chegou na noite anterior e na manhã após cada lua cheia. Dessa
forma, ele passou menos tempo coberto de bandagens e teve mais tempo para
ler e planejar o ano que viria.

Quando seus livros e os itens de segunda mão de Hogwarts chegaram, cortesia


de Dumbledore, Remus ficou ansioso em poder começar sua leitura.
Aritmancia era muito difícil, mas o desafio era empolgante - e Trato das
Criaturas Mágicas era totalmente cativante, mesmo que só por causa das
fantásticas ilustrações coloridas.

Até mesmo a Matrona comentou – com certa desconfiança - que Remus havia
mudado muito depois de dois anos na escola.

"É bom ver que você está se mantendo fora de problemas." Ela disse uma
manhã, quando o encontrou sentado no fundo do jardim lendo um livro pesado
usando sua folha mágica de acetato. Na hora, Remus simplesmente olhou para
ela e sorriu benignamente. É claro que ela não tinha ideia de que antes do fim
do verão ele cometeria seu primeiro crime grave.
Desde seu Natal com os Potter’s, Remus tinha sido atormentado por um
problema em particular e não tinha certeza da melhor forma de superá-lo.
Dinheiro. Ele não tinha nenhum - trouxa ou bruxo, Remus era tão pobre quanto
se poderia ser. Isso nunca importou muito - afinal, St. Edmund's supria suas
necessidades básicas e Hogwarts dava a ele todo o resto.

Mas. Mas. Ele gostaria, no mínimo, de retribuir a generosidade que seus


amigos lhe mostraram. Eles o compraram incontáveis doces e presentes; Sirius
deu a ele a habilidade de ler, pelo amor de Deus, e Lily sozinha salvou seu
verão. Há algum tempo, Remus havia resolvido ir atrás da oportunidade mais
rápida que pudesse resultar em algum pagamento.

Felizmente para Remus, esta oportunidade se apresentou em uma tarde quente


de junho. Ele estava lendo novamente, é claro, sentado em um banco sob a
sombra de um velho guarda-sol de bar que deve ter sido doado em algum
momento desde seu primeiro ano. Agora ele tinha treze anos, e embora Remus
não estivesse entre os meninos mais velhos de St. Edmund's, ele não estava
mais na base da pirâmide e geralmente podia escapar de ser perturbado.

Uma sombra caiu sobre seu livro e ele olhou para cima. Craig Newman, um
skinhead de dezesseis anos, olhou para ele. A gangue de Craig estava no topo
da hierarquia no St Eddy's. Todos ouviam reggae, usavam coturnos de combate
e jeans colados presos por suspensórios. Alguns deles tinham tatuagens e todos
tinham hematomas.

"E aí, Lupin." Craig grunhiu para ele. Remus piscou, fechando lentamente seu
livro e pensou se este seria útil como uma arma. Era pesado, de qualquer
maneira.

"E aí, Newman." Ele acenou com a cabeça, tentando não parecer pequeno e
assustado. Ele deslizou naturalmente de volta a seu antigo sotaque durante o
verão, arrastando as palavras e comendo consoantes. Era o mais seguro.

"Que se tá lendo?" Craig semicerrou os olhos para o livro, parecendo


desconfiado. Remus se perguntou se Craig sabia ler. Ele deu de ombros,
indiferente,

"Só uma coisa pr'escola."

"Éh," Craig assentiu. Remus não moveu um músculo. Ele não conseguia
entender o que estava acontecendo - Craig realmente queria só bater um papo?
"Tu é espertinho, né?" O menino mais velho disse, de repente.
Remus não sabia qual resposta faria com que ele apanhasse, então não
respondeu nada. De qualquer forma, Craig não parecia se importar. Ele apenas
coçou o queixo e puxou um maço de cigarros da manga da camisa. "Éh, tu é
inteligente. Sempre lendo e tudo mais. " Ele acendeu o cigarro com um fósforo
de sua bota e ofereceu o maço a Remus.

Remus estendeu a mão e pegou um. Ele nunca tinha fumado antes, mas a
maioria dos meninos em St Edmund's sim. Craig acendeu para ele e Remus
inalou. Seus olhos se encheram de lágrimas imediatamente, e ele tentou
desesperadamente não tossir e engasgar. Foi nojento.

Craig olhou para ele divertido e continuou. "É pequeno também, magrelo."

"Acho que sim." Remus respondeu, tossindo, observando Craig inalar e então
tentando imitá-lo.

"Quer ajudar num trampo?"

"Trampo?"

Craig acenou com a cabeça, seus pequenos olhos fixos em Remus.

"Éh, tu vai ser bom. Vai ser num mercadinho lá na cidade. Amanhã de noite.
Sem segurança. Não tem nada, só um cachorro. Vamo pegar dinheiro e bebida.
A gente divide. 'Se só precisa passar pela janela no fundo."

"Certo," Remus assentiu, como se a perspectiva não o assustasse totalmente.


Tragou o cigarro novamente, desta vez por hábito. Já conseguia ver o atrativo,
uma vez que superasse o gosto. Considerou a sugestão de Craig.

Por um lado, era muito perigoso. A gangue de Newman não era conhecida por
sua delicadeza e alguns deles estavam em liberdade condicional. Por outro
lado, não parecia ter muita escolha. Quando Craig Newman queria que você
fizesse algo, você meio que simplesmente tinha que fazer. Além disso, ele
definitivamente poderia se beneficiar. O dinheiro trouxa era quase inútil para
ele, é claro, mas poderia haver uma maneira ...

Remus olhou Craig Newman com seus olhinhos de porco.

"Eu só quero cigarros."

Craig sorriu e acenou com a cabeça. E assim, Remus começou sua curta
carreira como delinquente.
41. Terceiro Ano
Em Casa Novamente
In the corner of the morning in the past
I would sit and blame the master first and last
All the roads were straight and narrow
And the prayers were small and yellow
And the rumour spread that I was aging fast
Then I ran across a monster who was sleeping
By a tree
And I looked and frowned and the monster was me

-The Width of a Circle, David Bowie

Sábado, 1 de setembro de 1973

Depois do primeiro trabalho, Craig e sua gangue ficaram tão satisfeitos com
Remus que o levaram junto em mais quatro, em casas e pequenos negócios nas
cidades vizinhas. Mesmo sem uma capa de invisibilidade, Remus descobriu
que tinha um dom natural para entrar em lugares que não deveria. Isso é o que
Craig dizia de qualquer maneira; "Porra, esse garoto nasceu pra isso."

A natureza era uma coisa engraçada, Remus se pegou pensando, a caminho de


King's Cross. Ele se lembrou de James deixando um saco de moedas para trás
sempre que eles invadiam a Dedos de mel. Não era da natureza de James
roubar, aparentemente. Mas Remus não achava que essa fosse uma avaliação
particularmente justa, já que James nunca precisou roubar. Ele era o herdeiro
de uma enorme fortuna, assim como Sirius. E a verdade é que você nunca sabe
do que é capaz até tentar. Deve ser muito fácil ser bom quando você não tem
razões para não ser.

Ainda assim, Remus decidiu nunca contar aos outros marotos o que ele fez
naquele verão, e passou o resto do verão sonhando acordado com todos os
presentes de Natal e aniversário que ele finalmente poderia comprar para seus
amigos.

O malão de Remus deste ano estava cheio de maços de cigarros e saquinhos de


tabaco. O suficiente para colocar um pequeno negócio em funcionamento - se
ele fosse esperto o suficiente, poderia se livrar da maior parte antes do Natal.
Eles tinham autorização para ir a Hogsmeade este ano, e a Matrona assinou sua
permissão sem problemas - até mesmo Madame Pomfrey pensava que
provavelmente era seguro o suficiente para ele ir.

A Matrona, ao que parecia, havia aprendido a lição. Ela acompanhou Remus


até King's Cross e o deixou lá, com um breve adeus. Com o coração batendo
tão forte quanto há dois anos, Remus atravessou a barreira e exalou apenas
quando chegou em segurança do outro lado. Ele estava em casa novamente.

Não demorou muito localizar para Sirius, que estava encostado em uma coluna
da estação ao lado de sua família. A Sra. Black estava arrumando Regulus, que
parecia mais pálido que o normal e com as costas muito eretas, enquanto
Walburga penteava seu cabelo e sibilava em seu ouvido. Ela estava
obviamente ignorando seu filho mais velho, cujo cabelo parecia
deliberadamente bagunçado e cujas vestes estavam artisticamente amarrotadas
e fora do lugar. Remus achou melhor não se aproximar.

"Ei, Moony," ele recebeu um tapinha nas costas e se virou para ver James e
Peter sorrindo para ele. James havia crescido alguns centímetros e seu rosto
parecia um pouco mais fino, mas ele tinha os mesmos olhos castanhos
brilhantes e a mesma cabeleira negra. Peter estava igual, embora parecesse
estar se recuperando de uma queimadura de sol bastante dolorosa.

"Oi," Remus sorriu de volta para eles, seu coração pulando de excitação. Tudo
estava exatamente como deveria ser.

O apito soou e eles subiram no trem para encontrar um compartimento vazio e


esperar por Sirius. Ele finalmente teve permissão para se juntar a eles no que
parecia ser o último minuto, e entrou no vagão murmurando sombriamente
para si mesmo.

"Manter as aparências uma ova."

"Nenhuma mudança sobre isso, então," James piscou para Remus. Sirius olhou
para todos eles e seu rosto se abriu em um sorriso. Aquele sorriso Sirius Black.

"Achei que nunca mais veria vocês de novo!"

"Por Godrick, você sempre tem que ser tão dramático." James deu um soco no
ombro dele, quando todos se levantaram para cumprimentá-lo.

"Você não sabe como ela é," Sirius lamentou, segurando a mão de James em
um caloroso aperto fraternal. Então ele viu Remus e sorriu endiabrado, "É
você, Moony?!" Ele deliberadamente esticou o pescoço, levantando a mão
como se para proteger os olhos e olhando para cima, "Consegue me ouvir
daí??"

"Ha ha." Remus respondeu, se mexendo desconfortavelmente. "Tenho a


mesma altura que James."

"Não, não mais" James rebateu, ficando ao lado de Remus para que pudesse
ver que ele era, de fato, uns bons centímetros mais altos que o garoto de
cabelos escuros.

"Viu, como é que acabei amigo de dois postes, hein?" Sirius sorriu, dando um
tapa nas costas de Remus de brincadeira, "Sorte que tenho você, hein Petey?"

"Hm?" Peter ergueu os olhos de sua empanada, confuso. Peter Pettigrew não
parecia mais alto do que quando todos tinham onze anos, embora parecesse
consideravelmente mais largo.

Sirius parecia estar crescendo graciosamente e em perfeita proporção, o que


era típico. Ele estava um pouco mais alto, mas não comprido como James,
esguio, mas não magrelo como Remus. Sua mandíbula se alargou durante o
verão também, a sombra da masculinidade surgindo em suas feições.

"Certo", James esfregou as mãos enquanto todos se sentavam, "Agora que tudo
isso está fora do caminho - eu digo para seguirmos com os negócios. Planos
para o ano?"

"Temos que terminar o mapa," disse Remus, rapidamente. Isso estava em sua
mente há algum tempo. "Não falta muito, e aposto que podemos descobrir o
feitiço homunculus se realmente nos esforçarmos".

"Definitivamente", disse James, "o mapa é basicamente nosso legado, certo?


Vamos trabalhar nisso, eu prometo."

"E aquela outra coisa," Sirius disse de repente, muito bruscamente. James e
Peter trocaram olhares e Remus sentiu um nó apertar seu estômago.

"Que 'outra' coisa?" Ele perguntou, franzindo a testa.

James o olhou nos olhos, parecendo muito sério.

"Apenas algo sobre o qual estávamos conversando no ano passado. Vamos


hum ... vamos deixar você saber se decidirmos ir em frente."
"Não queremos te causar problemas, Moony," Peter riu, nervoso, "Quanto
menos você souber melhor, hum?"

Remus se ofendeu com isso. Ele não tinha participado de quase todas as
pegadinhas ano passado e foi o que menos teve detenções? E não foi ele o
único que tentou falar com Narcissa sobre os problemas familiares de Sirius?
Claro, os outros não sabiam disso - se eles tinham um segredo, ele também
poderia ter. Ele olhou pela janela, irritado, ignorando o resto da conversa.

Finalmente, Peter suspirou profundamente,

"Onde está a bruxa do carrinho? Eu estou com fome."

"Acabei de ver você terminar um salgado." James respondeu, levemente


irritado porque estava no meio da explicação do seu plano para enfeitiçar todas
as vassouras do time de quadribol da Sonserina durante o próximo treino.

"Sim, mas quero algo doce." Peter fez um beicinho, esvaziando os bolsos e
vendo que haviam apenas embalagens vazias.

Remus viu sua chance e finalmente se animou um pouco.

"Eu tenho a solução para isso, Pete", ele enfiou a mão em sua bolsa e tirou um
punhado de barras de chocolate, jogando-as no assento vazio ao lado dele. Os
outros três meninos olharam para a pilha.

"O que é isso?" Sirius pegou uma barra de chocolate Mars, parecendo
desconfiado.

"Chocolate trouxa," Remus disse, "Eles são bons! Vá em frente, eles não
mordem."

Peter já havia desembrulhado e mordido um Milky Way e estava sorrindo


encorajadoramente para os outros. Remus escolheu um pacote
de Maltesers para si, recostando-se com satisfação ao perceber que, pela
primeira vez, fora ele quem havia trago os lanches para o trem.

***

Remus percebeu que eles estavam sentados mais longe da mesa dos
professores quando tomaram seus lugares para o banquete. Com os alunos do
primeiro e segundo anos agora a frente deles, os marotos não se encontravam
mais entre os alunos mais jovens, o que lhes dava um sentimento desnecessário
de orgulho e realização.

"Você está fazendo Runas, não é Remus?" Lily perguntou, sentando-se ao lado
dele. Ela havia cortado o cabelo durante o verão e tinha uma franjinha fina que
a fazia se parecer um pouco com Jane Asher.

"Uhum", ele acenou com a cabeça.

"Moony está nos abandonando!" Sirius lamentou, comicamente, fingindo cair


no ombro de James, soluçando inconsolavelmente.

"Calma, calma," James deu um tapinha nas costas do amigo, solenemente,


"Espero que você esteja feliz, Remus," ele repreendeu, "Tudo bem, você está
indo na direção de coisas maiores e melhores, mas pense em nós, pessoas
inferiores, que você está deixando para trás."

"Eu não vou deixar ninguém para trás," Remus murmurou, suas orelhas
ficando vermelhas, "Só não estava a fim de fazer adivinhação."

"Ignore eles," disse Lily, certeira, lançando um olhar de desaprovação para


Sirius e James, que agora estavam abraçados, ainda fingindo chorar
histericamente como se seus corações estivessem irreparavelmente partidos.
Lily resmungou, vendo que não teve efeito, e se virou para Remus, "Vocês não
precisam estar presos um ao outro o tempo todo. De qualquer forma, estou
fazendo Runas também, você fez a pré-leitura? "

Remus assentiu com entusiasmo,

"Sim, parece muito interessante."

"Aha!" Sirius olhou para cima, astutamente, "Agora eu entendi."

"O que?" Remus perguntou, nervoso. Sirius tinha aquele olhar perverso e
imprevisível.

"Eu não acho que tenha nada a ver com o avanço de sua carreira acadêmica",
ele coçou o queixo, sabiamente, "Eu acho que nosso querido Remoony foi
atraído para longe da nossa aula favorita pelo sexo oposto!"

"Cala a boca," Remus corou ainda mais, tentando não olhar para Lily. Sirius
sempre sabia exatamente a coisa mais embaraçosa a dizer.
"Sim, cale a boca, Black," Lily suspirou, "Honestamente, vocês não
conseguem nem mesmo ser legais um com o outro. Só porque nenhuma garota
chegaria perto de vocês nem pintados de ou –"

"Pois você devia saber que estive noivo recentemente," Sirius respondeu, com
um movimento de seu cabelo escuro. James abafou uma risada, seus ombros
tremendo.

"O que mais você está fazendo, Remus?" Lily perguntou, intencionalmente
ignorando os outros marotos.

"Trato das Criaturas Mágicas," Remus suspirou. Ele já tinha ouvido piadas o
suficiente sobre isso de James e Sirius.

"Oooh!" Marlene se virou de repente, "Eu e Mary estamos fazendo também!"

"A-HA!" Sirius disse novamente, ainda mais alto, e James desmoronou


completamente.

Felizmente, a seleção começou e o salão ficou em silêncio. A cerimônia era


extremamente monótona, a menos que você estivesse envolvido nela, Remus
percebeu, e ele lutou para conter um bocejo enquanto a fila de primeiros anos
assustados gradualmente diminuía e os espaços no topo da mesa da Grifinória
se enchiam de novos alunos. Sua atenção vagou e ele olhou para a mesa da
Sonserina, onde Narcissa estava sentada na outra extremidade, régia como uma
rainha e parecendo muito mais alegre do que quando a vira pela última vez.

Regulus, agora no segundo ano, sentava-se do outro lado de sua prima,


parecendo tão entediado quanto Remus se sentia. Então havia Snape, entre os
Sonserinos do terceiro ano, encarando Lily, como sempre. Ele encontrou o
olhar da menina uma ou duas vezes e Remus a viu sorrir em seu jeito amigável
de sempre, mas isso não pareceu melhorar o humor de Severus nem um pouco.
Apenas Lily poderia permanecer amiga de alguém tão miserável, Remus
pensou consigo mesmo.

O banquete, quando apareceu, foi delicioso como sempre. Remus teve suas
duas porções habituais de tudo, incluindo sobremesa e assim que a refeição
terminou, Dumbledore fez seu discurso habitual. Nos últimos dois anos,
Remus havia se desligado nesta parte da noite - estando muito cheio de boa
comida e muito sonolento por causa do longo dia para prestar muita atenção.
Mas algo sobre o tom sério da voz, geralmente brincalhona, do diretor o fez
ouvir.
Ele viu que não era o único. Houve um murmúrio baixo e agourento da mesa
da Sonserina, particularmente daqueles nos anos superiores. Os grifinórios ao
redor de Remus pareceram se endireitar um pouco mais também.

"Sobre o que era tudo aquilo?" Remus perguntou, enquanto eles deixavam o
corredor para seus dormitórios, os avisos confusos de Dumbledore soando em
seus ouvidos, "'Unidade em face da escuridão' e tudo mais?"

"Ah, certo, você não sabe ..." disse James, baixinho. Ele olhou para Sirius, que
estava arrastando os pés, as mãos nos bolsos. "Te conto quando estivermos
sozinhos, ok?"

Eles esperaram para obter a senha daquele ano ('Codswallop') e subiram as


escadas para o seu familiar dormitório. Todas as camas estavam feitas, as
malas colocadas ao lado, e Remus sentiu uma onda de felicidade ao entrar.
Sirius começou a desempacotar imediatamente, puxando seus amados vinis e
livros trouxas do baú de James. James apenas desempacotou sua vassoura e
começou a lustrá-la com cuidado, sentando-se de pernas cruzadas em sua
cama.

"Então?" Remus perguntou, impaciente, "O discurso estranho?"

"Ah, sim," James engoliu em seco. Ele olhou para Sirius novamente, que
parecia estar os ignorando. James suspirou, passando as mãos pelos cabelos. "É
tudo política, na verdade."

"Política?" Remus gemeu por dentro. Ele não sabia muito sobre política trouxa,
muito menos o que acontecia no mundo mágico - além do estatuto do sigilo,
que eles haviam aprendido no primeiro ano de História. Estava acontecendo
um referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à Comunidade Europeia - mas
isso não aconteceria em alguns anos, se Remus tivesse entendido os discursos
do primeiro-ministro corretamente, e não via como isso podia afetar os bruxos.

"Bem, você sabe que existem ... hum ... bem, bruxos das trevas?"

"Sim ..." Remus tentou parecer conhecedor. Ele se lembrou de ter lido algo
brevemente sobre Grindelwald, mas eles não estariam o estudando até seus
NOMs.

"Tem havido uma onda de magia negra ultimamente, só isso. E meu pai me
disse ... há algumas coisas acontecendo no ministério. Chefes de departamento
pressionando reformas mais rígidas contra bruxos nascidos trouxas e ... pessoas
que são diferentes. Papai disse que não havia nada com que se preocupar,
apenas o velho preconceito de sempre. Mas suponho que Dumbledore pense
que precisamos ficar de olho. "

"Mãe e Pai convocaram uma reunião." Sirius disse, de repente. Ambos se


viraram para olha-lo. Ele parecia atormentado, envergonhado e desviava o
olhar. "Eles não me deixaram entrar, obviamente, mas Reg foi. Eles continuam
falando sobre esse Lorde das Trevas - não sei, talvez um político que eles
queiram apoiar na próxima eleição. Tudo o que sei é que se os Black's estão
apoiando, então ele não pode ser bom."

Até mesmo James não tinha nada de positivo a dizer sobre este anúncio. Todos
ficaram quietos, até que Peter falou.

"Estamos em Hogwarts." Ele disse: "Minha mãe sempre diz que Hogwarts é o
lugar mais seguro da Grã-Bretanha. E nós temos Dumbledore. " Ele disse com
firmeza, resolvendo o assunto. "Vamos lá, Black, aposto que você tem outro
disco trouxa horrível que você está doido para assaltar nossos ouvidos com."

Todos olharam para Peter com uma leve surpresa. Sirius sorriu,

"Na verdade", disse ele, tirando a poeira de seu toca-discos, "eu tenho."
42. Terceiro Ano
Animais Fantásticos

Sexta-feira, 7 de setembro de 1973

Ao final de sua primeira semana do terceiro ano, Remus sentiu que precisava
de mais dois meses apenas para se recuperar - e nem havia passado por uma
lua cheia ainda. Ele se sentiu um tolo por não considerar que adicionar três
matérias extras ao seu horário também aumentaria sua carga de estudos. Mas é
claro que aumentaria, e quando a sexta-feira chegou, já estava se sentindo
sobrecarregado com a quantidade de dever de casa a ser feito no fim de
semana.

"Não é justo," Peter lamentou, "Este ano era para ser divertido, com
Hogsmeade e tudo."

"Ainda vamos para Hogsmeade, Peter," James murmurou sobre um mapa


estelar de aparência complicada.

"Estou com Pete," Sirius resmungou, bagunçando seu diário de sonhos para
Adivinhação, "Vamos largar isso e usar o campo de quadribol enquanto ainda
está claro."

James olhou para cima, ansioso,

"Sim, vamos lá, então."

Todos os três se levantaram.

"Não, obrigado," disse Remus, distraidamente. Na verdade, ele estava gostando


muito do dever de Transfiguração – uma redação sobre transformações
corporais. Ele era muito bom em modificações básicas agora, para encobrir as
cicatrizes, e era capaz de responder às perguntas longamente.

"Não tá afim de revisar meu dever de estudos trouxas, não é, Moony?" Sirius
perguntou amistosamente. Remus ergueu as sobrancelhas.

"Se eu tiver tempo. James, Pete, querem que eu olhe a de vocês também? "

"Obrigado, Remus!" Peter sorriu, amarrando os cadarços.


"Nah," James recusou, "Pensei em pedir a Evans um pouco de ajuda nisso mais
tarde."

"Batalha perdida, cara," Sirius aconselhou. "Não sei por que você está tão
obcecado com ela."

James apenas deu de ombros, não parecendo nem um pouco desanimado.

Remus passou uma ou duas horas satisfatórias sozinho completando o resto de


suas lições da semana. Ele começou a estudar Poções, mas achou melhor
deixar para mais tarde - Peter poderia ajudá-lo em troca do dever de estudos
trouxas. Eles tinham dobradinha de Poções às segundas-feiras agora, a
primeira do dia - mas, felizmente, não mais com os Sonserinos. Na verdade, a
única aula que eles dividiam com a Sonserina agora era Aritmancia, e essa não
era uma matéria prática, então havia muito menos espaço para a guerra entre
casas.

Aritmancia foi uma verdadeira surpresa para Remus - ele esperava ficar atrás
de Sirius e James, pelo menos no início. Mas parecia que o assunto era lógica,
ao invés de habilidade mágica, e Remus achou que sua primeira aula havia
sido surpreendentemente direta. O dever de casa, que ele sabia que Sirius e
James ainda não haviam tentado, era calcular seus próprios corações e números
de batimentos usando o método de Agripa. Isso ele realmente achou muito
reconfortante, embora soubesse que nunca iria admitir isso para ninguém.

Herbologia avançou em seu ritmo normal - Remus não podia fingir estar
interessado, mas pelo menos não era difícil. Astronomia também não era seu
assunto mais forte, mas, felizmente, Peter geralmente ficava tão animado por
ser o único que sabia de algo que dava a Remus a maioria das respostas de
graça.

Depois, havia sua nova matéria favorita; Trato das Criaturas Mágicas, às
quartas e quintas-feiras. Ele não iria contar aos outros sobre isso também - eles
já o provocavam por gostar tanto de História e por fazer Runas. Todas
brincadeiras bobas, é claro - ele zombava deles por fazerem Adivinhação, que
parecia ser bastante entediante.

Ele havia lido seu exemplar de Animais Fantásticos e Onde Habitam duas
vezes no verão - era sua leitura favorita na hora de dormir. As fotos e
descrições eram tão vivas que enchiam seus sonhos com as mais espetaculares
imagens. Não havia nada no texto sobre lobisomens - Remus fez questão
verificar isso. Felizmente, eles não estavam na mesma categoria de 'criaturas
mágicas', e parecia que não estudariam 'meio-humanos' até o próximo ano em
Defesa Contra as Artes das Trevas.

"Espero que a gente aprenda sobre unicórnios", suspirou Marlene, encostando-


se na parede enquanto faziam fila do lado de fora da sala de aula para a
primeira aula. "Algo bem legal."

Mary levantou uma sobrancelha.

"Eu prefiro dragões. Algo emocionante!"

"Estou feliz por não termos aula com o Kettleburn." Marlene respondeu. Isso
fez Remus prestar atenção.

"Não é? Quem temos, então? "

"Você não prestou atenção em Dumbledore no banquete?" Marlene olhou para


ele com desaprovação. "Kettleburn está na Romênia ou na Bulgária ou algo
assim, fazendo algum trabalho para o ministério. Eu não sei o quão útil ele é,
no entanto, ele não está exatamente inteiro ..."

"Então, quem nós temos?"

"Quem quer que seja, não estava no jantar", Marlene deu de ombros, "mas meu
calendário diz 'Professor L. Ferox'."

Quando ela disse isso, a porta da sala de aula se abriu e os alunos do quinto
ano à frente deles saíram, conversando animadamente. O terceiro ano da
Grifinória entrou e Remus ocupou uma mesa perto da janela, ao lado de
Marlene. Quando o professor saiu de seu escritório, Mary e Marlene - e, na
verdade, todas as outras garotas da classe - sentaram-se um pouco mais eretas.

Ele era bem mais jovem do que Kettleburn, que era um pouco grisalho mesmo
na meia-idade. Remus teria adivinhado que esse professor estava com trinta e
poucos anos. Ele ainda tinha todos os seus membros, o que era definitivamente
uma vantagem. Seu cabelo era espesso e da cor da areia, longo o suficiente
para alcançar o meio das suas costas. Ele não estava vestindo túnicas como a
maioria dos outros professores, mas sim com roupas práticas de ar livre e
pesadas botas de couro marrom. Seu rosto era ligeiramente castigado pelo
tempo, o que servia para dar às suas feições fortes uma espécie de apelo
áspero. Seus olhos eram de um azul cintilante e brilhavam enquanto ele sorria
calorosamente para a classe.
"Boa tarde!" Ele trovejou, em um sotaque de Liverpool. Ele bateu palmas com
suas grandes mãos calejadas, "Sejam bem-vindos ao seu primeiro ano de Trato
das Criaturas Mágicas. Eu sou o Professor Ferox. Todos vocês têm o livro do
Scamander, espero?"

A classe imediatamente puxou seus exemplares de Animais Fantásticos, junto


com pergaminhos e penas, então olhou para ele com atenção. O professor
Ferox continuou a sorrir para todos eles.

"Excelente!" Ele continuou: "Uma leitura incrível, como tenho certeza de que
alguns de vocês já descobriram. Fornece um guia bom e abrangente para
identificar e encontrar a maioria das criaturas mágicas conhecidas - mas o que
ele não pode lhe dar - e o que vocês precisam para se destacar nesta aula é
pensamento rápido, cabeça fria e autocontrole."

Algumas das garotas riram disso, e Remus sentiu uma onda de animação. Veja
James, ele pensou, não é uma matéria de garotas. Não tinha certeza sobre as
especificações, no entanto. Sabia que tinha autocontrole, talvez - tinha que ter,
depois do último verão - mas cabeça fria dificilmente era um de seus traços
marcantes.

O professor agora estava levantando uma grande cesta de vime, colocando-a


suavemente em sua mesa. Ele a abriu e uma criatura grande e peluda saiu. Era
o maior gato que Remus já vira - com pelo prateado espesso com manchas
escuras, orelhas pontudas e uma estranha cauda de leão. Miou, bastante mal-
humorado, depois pulou para se sentar em cima da cesta de modo que ficou
quase na altura de Ferox. Ele olhou imperiosamente para a classe, sacudindo o
rabo para frente e para trás.

O professor Ferox acariciou as costas do animal com um longo dedo, o que ele
pareceu tolerar, piscando lentamente.

"Alguém pode me dizer que tipo de criatura Aquiles é?"

"É um gato." Mary disse, abruptamente, sem levantar a mão.

Ferox riu alegremente,

"Um erro comum, senhorita ...?"

"Macdonald. Mary Macdonald."


"Senhorita Macdonald. Não, Aquiles não é um gato - embora eles sejam
frequentemente cruzados."

"Ooh!" Um menino da Corvinal no fundo da sala levantou a mão.

"Sim, senhor ...?"

"Stan Brooks, senhor. É um kneazle, senhor? "

"Cinco pontos para a Corvinal!" Ferox assentiu com entusiasmo, "Aquiles é


um kneazle."

Remus suspirou internamente. Ele sabia disso - ele deveria saber, de qualquer
maneira, ele se lembrava de ter lido sobre a cauda. Mentalmente, ele eliminou
o "pensamento rápido" da lista de requisitos de Ferox. Na esperança de mostrar
ao professor que ele estava pelo menos ansioso para aprender, Remus começou
a fazer anotações enquanto Ferox falava, ainda acariciando Aquiles
distraidamente.

"Você sempre pode identificar um kneazle por sua aparência de gato, alto nível
de inteligência, pelo salpicado e cauda emplumada", disse o professor,
indicando essas características com amor, "Eles são classificados como XXX
pelo ministério da magia - alguém pode me dizer o que isso significa?"

A mão de Remus disparou, desta vez, mas a de Marlene também. Ferox a


escolheu, perguntando seu nome enquanto o fazia.

"Marlene McKinnon," ela sorriu para ele, "Senhor. Criaturas classificadas


XXX não são recomendadas para domesticação, mas não devem ser difíceis
para um bruxo qualificado lidar."

"Excelente. Cinco pontos para a Grifinória." Ferox inclinou a cabeça.

Remus fumegou, silenciosamente. Ela leu isso direto do livro. Ferox


continuou, "Estaremos nos concentrando em criaturas classificadas XXX pelo
resto do ano. Agora, embora seja verdade que kneazles não são recomendados
como animais de estimação - não é porque eles sejam perigosos. Na verdade,
qualquer pessoa que diga que eles são perigosos provavelmente se encontra do
lado errado e não deve ser confiável. Alguém pode me dizer o porquê?"

A mão de Remus voou novamente - tudo estava voltando para ele agora. Mas
Ferox escolheu outro Corvino, desta vez.
"Porque eles podem detectar pessoas suspeitas." Davy Kirk saltou, ganhando
outros cinco pontos para Corvinal.

"Absolutamente." O professor sorriu, "Kneazles são excelentes juízes de


caráter e irão reagir ferozmente a qualquer um que não seja confiável. Como
tal, o ministério exige que os proprietários de kneazle possuam a licença
adequada e tenham passado por certos testes de proficiência. Mas, como você
pode ver," ele acariciou Aquiles mais uma vez. O gato prateado mal moveu um
músculo, exceto para examinar a classe: "Eles são animais de estimação
maravilhosos, desde que lhes seja demonstrado o devido respeito e cuidado".

"Ele é seu então, professor?" Mary perguntou, batendo os cílios sedutoramente,


"Ele é adorável."

"Ele é mesmo", Ferox respondeu, "Se todos vocês forem cuidadosos e não o
pressionarem, Aquiles provavelmente deixará você acariciá-lo. Façam uma
fila, classe."

Houve um murmúrio geral e o arrastar de cadeiras enquanto todos se


levantavam e formavam uma fila. Remus certificou-se de que estava bem atrás,
para que talvez a aula acabasse antes que ele chegasse à frente. Aquiles com
certeza o odiaria - lobisomens eram a própria definição de indignos de
confiança.

"Aproxime-se dele devagar e não evite o contato visual. Se ele tentar ir atrás de
você, ele usará suas garras, então fique alerta ... lá vamos nós, ele vai deixar
você acariciá-lo agora, gentil e suavemente ... "

À medida que a fila diminuía, o professor continuava falando, encorajando-os


e dando curiosidades, entrelaçadas com suas próprias anedotas. Remus não
sabia o que Ferox tinha feito antes de se tornar um professor, mas ele
certamente teve algumas aventuras - viajou para todos os lugares, pelo que
parecia.

Finalmente, Remus estava na frente da fila. Ele se sentiu congelado no local,


olhando nervosamente para o animal de olhos amarelos,

"Pode ir em frente – Qual é o seu nome?" O professor Ferox acenou para que
ele avançasse. Remus não se moveu.

"Remus Lupin. Eu não sou ... hum ... gatos tendem a não gostar de mim. " Ele
murmurou.
"Aquiles não é um gato." O professor disse, ainda sorrindo. "Vamos, Lupin,
pode vir."

Remus suspirou pesadamente e se aproximou. Ele não queria que alguém tão
legal quanto Ferox pensasse que ele era um covarde. Aquiles observou-o
avançar. Parecia muito inteligente, havia algo sobre seus olhos, embora tivesse
um nariz arrebitado muito feio. Ele estendeu a mão, permitindo que o kneazle
o cheirasse. Suas garras não estavam fora, mas Remus estava disposto a
apostar que eram muito longas e afiadas. Ele já tinha sido arranhado por gatos
antes e nunca gostou deles. "Muito bem", o professor Ferox estava dizendo,
"Agora, um pouco mais perto e dê um afago, vá em frente."

Engolindo em seco, Remus obedeceu, pronto para pular para trás se fosse
preciso. Mas Aquiles não parecia se importar que era um lobisomem. Em vez
disso, ele começou a ronronar enquanto Remus o esfregava timidamente atrás
da orelha, fechando os olhos e parecendo completamente dócil. "Aí está!"
Professor Ferox aplaudiu, encantado, "Excelentes juízes de caráter, kneazles.
Agora, não temos muito tempo de sobra, então se vocês apenas tomarem nota
da lição de casa ... "

Remus acariciou Aquiles um pouco mais. A criatura parecia estar gostando


tanto que ele se sentiu mal por parar.

"A aula foi boa, não foi?" Marlene conversou, ao saírem da primeira aula:
"Espero que ele sempre traga coisas para vermos".

"Não vai ser muito prático quando chegarmos às criaturas XXXXX." Disse
Remus.

"Talvez ele traga Aquiles de novo," respondeu Marlene, esperançosa.

"Quem se importa com o gato dele!" Mary a cutucou: "Ele é lindo pra
caramba."

"Sim," Marlene deu uma risadinha, "Será que ele é solteiro?"

Remus suspirou e começou a andar atrás das meninas. Elas viravam um


pesadelo quando começavam a falar sobre garotos, e era melhor ficar fora do
caminho antes de começarem a cantar liricamente sobre James e Sirius. Ele
começou a sonhar acordado enquanto serpenteavam na direção do grande salão
para o almoço.
Fora uma aula melhor do que ele esperava, e mesmo que Ferox não tenha lhe
dado nenhum ponto, ele basicamente disse que Remus era confiável e tinha
caráter. Ninguém nunca tinha dito nada parecido antes, e isso o fez se sentir
estranhamente satisfeito consigo mesmo, uma sensação de paz que permaneceu
durante o almoço, em sua aula de Poções mais tarde naquele dia, e ainda estava
forte naquela noite quando ele adormeceu. Remus sonhou com leões.
43. Terceiro Ano
O Mercado Negro de Hogwarts

Quarta-feira, 12 de setembro de 1973

"Ugh, volte para a cama, Lupin!" Sirius jogou um sapato nele de sua cama.

"Desculpa!" Remus se encolheu, culpado, enquanto fechava rapidamente as


cortinas, retornando o quarto de volta a escuridão. Era 5 da manhã e ele
estava acordado. Mais acordado do que ele já estivera em sua vida.

Ele desceu as escadas, sem querer incomodar ninguém, segurando uma caixa
de sapatos debaixo do braço. Com um livro novo para ler, Remus montou
acampamento na poltrona mais confortável da deserta sala comunal. Ele
costumava descer cedo, em manhãs como esta, quando seu corpo
simplesmente se recusava a dormir e ele tinha tanta energia que pensava que
poderia correr ao redor do castelo sem nem ao menos suar. Remus nunca havia
realmente tentado isso, mas ele tentou empurrar o estranho desejo para longe,
trancá-lo e se concentrar.

Ainda assim, ele lutou para focar em seu livro. Pensou em caminhar, mas eles
não eram realmente permitidos fora do castelo até o café da manhã começar às
seis. Ugh, ele tinha que tentar não pensar no café da manhã, ou seu estômago
começaria a roncar. Não importava que ele tenha comido três porções de purê
de batata com ensopado de carne na noite anterior. Até Peter pareceu
impressionado.

Mesmo que fosse hora do café da manhã, ele havia dito que ficaria na sala
comunal por uma hora a partir das seis e meia. Esta era a hora ideal, ele
decidiu - ninguém esperava que você fosse fazer algo nefasto tão cedo pela
manhã, e os outros marotos normalmente não se levantavam antes das sete e
meia, mesmo nos dias de semana. Sirius ficaria na cama pelo máximo de
tempo possível. James às vezes se levantava para praticar voo de manhã cedo,
mas geralmente não antes das sete.

Remus olhou para a caixa de sapatos em seu colo. Ele poderia lançar um
feitiço de realocação rápido se James descesse mais cedo do que o esperado,
isso não seria muito difícil. Porém, no estado que sua magia se encontrava no
momento, era melhor ele não fazer isso enquanto a caixa estava em seu colo -
ou ele corria o risco de sumir com algo muito mais vital. Já havia estado na
Madame Pomfrey uma vez neste semestre, ao tentar fazer seu cabelo crescer
em Transfiguração. Ele precisou que Peter e James ajudassem a carregar seus
cachos - que cresciam rapidamente - para a ala hospitalar - Sirius estivera rindo
demais para ser útil.

Remus experimentou levitar seu livro, mas este disparou até o teto, batendo
com força antes de cair no chão. Ele suspirou. Não podia fazer nada a não ser
ficar parado e esperar, parecia. Ele gostaria de poder ligar o toca-discos- Sirius
o havia deixado na sala comunal junto com seus mais novos álbuns
presenteados por de Andromeda - Aladdin Sane e Led Zeppelin IV. E ele
estivera ouvindo 'Black Dog' repetidamente há semanas.

Remus abriu a caixa de sapatos e fez um inventário rápido, embora fosse


desnecessário; esta seria sua primeira venda. Isso se alguém viesse. Ele
conversou com alguns alunos do quinto ano que vira fumando no ano anterior,
e os deixou interessados. Eles pareciam ter a impressão de que 'cigarros
trouxas' eram de alguma forma mais potentes, ou talvez apenas mais exóticos
do que os bruxos. Ele não fez nada para desencorajar a ideia e disse-lhes para
espalhar a notícia.

Sirius certa vez obteve uma lista exaustiva de todas as regras de Hogwarts,
sugerindo que eles tentariam quebrar todas antes de chegar ao sétimo ano.
Remus leu e não encontrou nada que mencionasse tráfico de tabaco. Não se
você interpretasse a linguagem literalmente, de qualquer maneira. Além disso,
não seria para sempre - só tinha o que trouxera com ele.

Remus havia planejado pensar um pouco mais sobre isso, esperar até depois da
lua cheia, mas então ele descobriu que seu primeiro fim de semana em
Hogsmeade estava chegando no dia 15 e ele decidiu que precisava seguir em
frente.

Sirius e James já haviam planejado a viagem por completo, sem consultar Peter
ou Remus, que estavam felizes em segui-los, como de costume. Dedos de mel,
obviamente, e depois Zonko para estocar bombas de bosta. Em seguida, a Casa
dos Gritos, porque o pai de James não acreditava que fosse assombrada, o que
significa que James também não, e Sirius queria provar que os dois estavam
errados. E eles estavam muito ansiosos para que Remus experimentasse algo
chamado cerveja amanteigada.

Remus tinha seus próprios planos. Ele ia contar a eles que uma tia distante
havia morrido e deixara para ele uma pequena quantia em dinheiro.
Esperançosamente, isso seria uma explicação suficiente para satisfazer James,
que certamente perguntaria onde Remus havia adquirido sua nova fortuna.
Remus tinha certeza de que pequenos crimes, mesmo no mundo trouxa, não
seriam algo que James entenderia tranquilamente. Sirius poderia dar de
ombros, tendo pouca consideração pelas regras de qualquer forma - mas ele
provavelmente também tentaria emprestar a Remus um pouco de seu próprio
dinheiro, o que ia contra toda a intenção original.

"Lupin? É você?"

Um aluno do sexto ano desceu as escadas do dormitório masculino, ainda com


os olhos turvos, segurando um livro preparatório para o NIEM.

"Sim," Remus se endireitou na poltrona, acordado de seu devaneio.

"Ótimo, hum ... você disse cinco sicles por um pacote de vinte?"

"Isso mesmo." Remus abriu sua caixa, rapidamente, mostrando para o menino.

Eles fizeram a troca e o garoto saiu pelo do buraco do retrato, provavelmente


para fumar um cigarro matinal antes de ir para a biblioteca. As pequenas
moedas de prata chacoalharam pesadamente na mão de Remus e ele sorriu para
si mesmo. Ele estava vendendo tudo pelo dobro da taxa de mercado, mas se as
pessoas estivessem dispostas a pagar...

Ele fez mais duas vendas para alguns do quinto ano e para uma garota do
sétimo ano que comprou um pacote de tabaco e perguntou se ele tinha algo
"mais divertido" para vender. Remus ficou um pouco confuso com o que ela
quis dizer. E apenas repetiu que ele só tinha pré-bolado e solto. Ela encolheu
os ombros.

"Vou perguntar a Martha Ebhurst na Lufa-Lufa, ela geralmente tem coisas


boas."

Remus assentiu, ainda sem ter certeza do que ela queria dizer. De qualquer
forma, parecia que ele não era o único aluno na escola com uma mente
empreendedora.

Às sete e quinze, a caixa de sapatos de Remus estava meio vazia e seus bolsos
tilintando. Profundamente satisfeito, ele guardou tudo enquanto a sala comunal
se enchia de alunos começando seus dias.

"E aí Remu," James desceu as escadas, vassoura na mão, assim que Remus
estava subindo, "Você acordou cedo."
"Éh, não conseguia dormir." Remus respondeu evasivamente. Felizmente,
James estava ansioso para ir para o campo de quadribol e não prestou atenção à
caixa de sapatos ou ao estranho som de tilintar das vestes de Remus.

"Vejo você no almoço?" Ele chamou, já no corredor do outro lado da sala,

"Sim." Remus acenou com a cabeça, apressando-se em seu caminho de volta


para cima.

No dormitório, Peter estava no banho e Sirius ainda estava dormindo, com as


cobertas jogadas sobre a cabeça, a única parte visível dele era seu cabelo preto
esparramado no travesseiro branco. Remus rastejou silenciosamente até sua
cama e guardou seu dinheiro e seus bens, antes de juntar seus livros para o dia.

James obviamente abriu as cortinas antes de sair, e - Remus pensou com certo
aborrecimento - não havia recebido a mesma repreensão de Sirius que ele.
Havia luz suficiente para ele separar ordenadamente seu dever de casa e
guardá-lo cuidadosamente em sua bolsa. Ele fez toda a lição que deveria ser
feita para os próximos dias, sem saber quanto tempo Madame Pomfrey o faria
ficar longe das aulas. Ele esperava que não fosse muito tempo - pediu a James
para anotar a lição de casa nas aulas que compartilhavam, mas ele perderia
matérias em Trato das Criaturas Mágicas e Runas também. Não poderia muito
bem pedir a qualquer uma das garotas que pegasse as anotações para ele, não
sem que elas perguntassem onde ele estaria.

Seu estômago roncou novamente. Ele se perguntou se James estava tomando


café da manhã agora. Potter costumava comer em qualquer lugar, sempre
correndo para um lugar ou outro. A porta do banheiro se abriu e Peter olhou ao
redor, o cabelo ainda molhado e as bochechas rosadas do banho. Ele acenou e
murmurou 'bom dia, Moony'. Remus levantou a mão em resposta.

Peter olhou para Sirius - que ainda era apenas um releve sob o edredom -
ansiosamente, antes de ir na ponta dos pés com cuidado até sua própria cama
para pegar a gravata. Remus observou divertido enquanto Peter tentava juntar
suas coisas sem fazer nenhum som. Havia uma linha tênue, Remus pensou,
entre mostrar respeito pelos hábitos de sono de seus companheiros de
dormitório e apenas ser um completo e absoluto covarde.

Foi maldade da parte dele, mas Remus estava se sentindo particularmente


malvado naquela manhã. Culpe a lua. Ele puxou devagar a varinha do bolso e
acenou levemente, sussurrando baixinho.
Em um instante, a mochila de Peter deslizou para fora de sua cama, caindo
com um baque pesado que reverberou nas paredes de pedra do quarto,
sacudindo os vidros da janela. Com os olhos arregalados, Peter congelou,
ficando pálido. Ele lançou um olhar para Sirius, que estava se mexendo, e
praticamente fugiu da sala, deixando a gravata para trás.

Remus ofegou de tanto rir, tendo que se sentar em sua própria cama, segurando
o estômago. Quando ele abriu os olhos, ainda recuperando o fôlego, Sirius
estava acordado, ainda deitado na cama, apoiado em um cotovelo, olhando
para Remus como se ele estivesse louco.

"Você fez isso de propósito, não foi?"

Remus deu de ombros e acenou com a cabeça, levantando-se novamente e


voltando para sua pilha de dever de casa. Sirius jogou um travesseiro nele.

"Idiota."

"O que? Pete parecia um tolo andando na ponta dos pés perto de você, não
pude evitar. "

"Não é muito elegante de sua parte, perturbar os fracos, Moony," Sirius


bocejou e se espreguiçou.

"Ele está bem," Remus acenou com a mão indiferente, "Vou levar a gravata
dele. Enfim, alguém tinha que te acordar, vamos lá, é café da manhã. "

Sirius bocejou novamente.

"Traz algo pra mim."

"Não."

"James traria," Sirius lamentou.

"James não está aqui."

"Peter traria."

"Como estabelecemos," disse Remus, colocando sua mochila no ombro, "Peter


é um covarde."

Sirius gemeu e se recostou.


"Tudo bem, eu vou levantar. Espere por mim?"

"Eu estou com fome." Remus reclamou.

"Não vou demorar! Apenas trate como penitência por ter me acordado."

"Você jogou um sapato em mim esta manhã."

"Eu acertei você?"

"Não."

"Bem, então." Sirius saiu da cama, pegando seu uniforme. "Bem feito para
você de qualquer maneira, levantando em uma hora ridícula da manhã."

"Não consegui dormir." Remus disse: "Acho que é a lua."

Sirius parou do lado de fora da porta do banheiro. Ele olhou para Remus com
algo parecido com pena - se Sirius Black ainda pudesse sentir pena de alguém
além de si mesmo. Remus se arrependeu de ter dito qualquer coisa - ele não
queria piedade, ele raramente mencionava a lua cheia exatamente por esse
motivo.

"Desculpe, Lupin." Sirius disse, "É ... quero dizer, você fica preocupado com
isso?"

"Não, não é assim", disse Remus, apressadamente, "Eu só fico agitado. Com
fome também, então se apresse." Ele riu, levemente, para mostrar que estava
tudo bem. Sirius sorriu, desaparecendo no banheiro.

"Você deveria estar grato, Moony," ele gritou de dentro, ligando o chuveiro,
"Poucos Grifinórios seriam capazes de se deitar quando sabem que estão
dividindo o quarto com um lobisomem agitado."

"Vai se ferrar." Remus retrucou de volta.

***

Quinta-feira 13 de setembro de 1973

Ele acordou no andar de cima, o que era incomum. Havia ratos na casa, ele
sabia disso porque os via com frequência antes de se transformar. Talvez
quando estava, ele os perseguia, mas achava que nunca chegou a pegar um.
Três de seus dedos estavam quebrados, mas pelo menos seus ombros não
haviam se deslocado - isso já havia acontecido duas vezes este ano.

Antes de se mover, Remus fez uma série de check-ups mentais da cabeça aos
pés. O que estava machucado? Quanto doía? Ele estava dormente em algum
lugar? Todos os seus membros se moviam quando ele queria? Não, tudo
parecia certo. Alguns arranhões, nenhum muito profundo. Ele havia saído
dessa facilmente. Talvez o lobo também estivesse feliz por estar de volta a
Hogwarts.

Ele se levantou do chão e foi mancando até a janela. Às vezes, seus joelhos
ficavam um pouco desarticulados, mas esta manhã eles estavam apenas
doloridos. Ele tentou apertar os olhos pelas fendas das tábuas, mas não
adiantou. A casa fora totalmente lacrada.

"Remus, querido?" A voz da Madame Pomfrey subiu as escadas,

"Estou indo", ele resmungou de volta, roucamente. Suas roupas estavam lá


embaixo, então ele arrancou um cobertor velho da cama com a mão boa e se
enrolou nele. Cheirava a mofo e coisas mortas.

***

"O que eu disse a vocês, meninos? Ele não pode receber visitas no primeiro
dia!" A repreensão da Madame Pomfrey interrompeu seus sonhos. Remus
piscou, bocejando. O hospital estava mal iluminado, as cortinas fechadas. Já
devia ser noite. Seu estômago roncou. Ele se perguntou se já tinha comido
alguma coisa ou se a enfermeira o tinha deixado dormir em vez disso. Ele
perdia tanto tempo, depois de uma transformação - como seus ossos, nada
parecia se encaixar perfeitamente.

"Já faz quase um dia", era a voz de Peter agora. "Trouxemos chocolate para
ele."

"Bem, isso é muito legal da sua parte, querido," a voz da Madame Pomfrey
suavizou um pouco. Ela não era uma disciplinadora natural. "Mas o Sr. Lupin
está dormindo –"

"Eu adoraria um pouco de chocolate", ele falou, esperando que eles pudessem
ouvi-lo. Sua garganta parecia em carne viva.

A cortina se abriu para revelar Peter, James e Sirius parados ali, parecendo
triunfantes.
"Ei, Moony!" James e Sirius falaram em coro, jogando-se na ponta da cama,
um de cada lado de seus tornozelos.

"Aqui está," Peter deixou cair três sapos de chocolate em seu colo.

"Valeu!"

"Bem, se você está acordado de qualquer maneira," Madame Pomfrey


suspirou, "Eu irei buscar uma comida adequada para você. Meia hora,
rapazes, só isso. "

"Aqui está sua lição de casa, seu esquisito." James puxou um pergaminho de
sua bolsa, entregando-o,

"Obrigado James, você é um salva-vidas." Remus colocou em sua mesa de


cabeceira para mais tarde.

"E aqui está o resto," Sirius entregou-lhe mais alguns. "Eu tive que esperar fora
da sua aula de Trato das Criaturas Mágicas pela metade do almoço, então é
melhor você tirar as melhores notas nisso."

"Você esperou?!" Remus olhou para Sirius, surpreso. Sirius acenou com a
cabeça, imperiosamente,

"Sim. Tenho que admitir também, estou com um pouco de inveja de você.
Parece uma matéria muito interessante, gostaria de não estar preso a
Adivinhação. "

"Mas e eu?!" James disse, ofegando dramaticamente.

"Eu vejo muito de você." Sirius respondeu, dando-lhe um empurrão.

"Um coração tão inconstante." James suspirou, fazendo um rosto apaixonado


para Sirius, de modo que Peter começou a rir incontrolavelmente. Sirius
empurrou James de novo, e James saltou sobre ele, puxando-o para uma chave
de braço e bagunçando o cabelo de Sirius.

"Ei, Moony", disse Peter, de repente, "Arbella Fenchurch me deu isso para
você", ele largou um punhado de sicles. "Ela disse que você sabia para que
era?"
"Er... sim, valeu Pete." Remus rapidamente tentou juntar as moedas e escondê-
las debaixo do travesseiro. "Eu, hum ... eu tinha um cartão de sapo de
chocolate que ela realmente queria. Aglaonike da Tessália."

"Oh, eu queria aquele!" Peter parecia magoado. Remus encolheu os ombros,

"Desculpe, cara. O dinheiro fala mais alto."


44. Terceiro Ano
Hogsmead

Sábado, 15 de setembro de 1972

"Leva sua capa, James."

"Por quê?"

"Nunca se sabe, não é?"

"Tudo bem, mas eu duvido que vamos precisar."

"Não se esqueça que você me deve um galeão naquela aposta que fizemos."

"Não esqueci," James respondeu, pacientemente, "Apenas relaxe por um


minuto, ok?"

"Nunca." Sirius sorriu de volta, "Você percebe que esta é a maior emoção que
tive em meses? Eu nem mesmo tive permissão para ir ao Beco Diagonal neste
verão."

"Você tinha mais coisas acontecendo do que eu," James respondeu, ressentido,
"Você pelo menos teve todo aquele drama de noivado. Minha família é tão
chata."

"Cale a boca, Potter, sua família é incrível e você sabe disso. Eu


definitivamente tive o pior verão."

"Eu me diverti muito na França." Peter ressaltou, mas ninguém prestou muita
atenção nele.

"E você, Moony?" James perguntou, enquanto desciam as escadas para a sala
comunal. Um grupo de terceiranistas empolgados esperava, pronta para sua
primeira visita à aldeia. Eles eram vigiados com uma espécie de nostalgia
afetuosa pelos alunos mais velhos.

"O que tem eu?" Remus perguntou, afastando flashbacks do verão, a memória
de se esgueirar por uma janela minúscula do banheiro e cair de joelhos no
ladrilho abaixo.
"Como foi seu verão? Você não nos contou nada. "

"Nada a dizer." Disse Remus. "Mais chato do que o de vocês - sem mágica. Eu
só li."

"Bem, vocês todos estão vindo para a minha casa no Natal." James disse,
alegremente. Eles começaram a sair da sala comunal e seguir em direção à
entrada principal. "Igual ao ano passado, certo? A lua é no dia 10 de dezembro,
então nem precisamos nos preocupar com isso."

Remus ficou boquiaberto,

"Como você sabe quando é?" Ele nem tinha olhado tão longe ainda.

"Eu te disse, estávamos entediados no verão," Sirius deu uma cotovelada nele,
"Nós pesquisamos, pelos próximos anos."

"Mas ... por que?!" Remus estava dividido entre se sentir muito tocado e um
tanto violado. Não era para eles se preocuparem. Era seu problema particular, e
sempre fora.

"É como quadribol." James disse - sempre que algo era importante para ele, ele
comparava com o quadribol - "Você tem que conhecer os pontos fracos do seu
time para trabalhar seus pontos fortes."

"Se você diz." Remus respondeu, taciturno, não querendo falar muito mais
sobre isso. Ele esperava que, uma vez que soubessem sobre sua condição, não
haveria mais pesquisas sobre isso pelas costas. Que todos continuariam com as
coisas da maneira que ele preferisse - que era ignorar o problema
completamente.

O problema era que nada era privado quando se tratava de James e Sirius - sua
vida inteira estava à disposição. Remus ainda não estava acostumado com isso
- por mais que tentasse acompanhar, haveriam algumas coisas que ele nunca
iria querer compartilhar. Era tudo mais fácil se você fosse James e tivesse pais
abertos que falassem com você e o ouvissem em troca. Ou Sirius, que era tão
extrovertido e quase totalmente sem vergonha.

"Olha quem é," Sirius cutucou James, apontando para uma figura escura
esperando na entrada em arco. Lily passou pelos Marotos e foi ao seu encontro.
Snape.
"Por que eles são amigos?!" James passou as mãos pelos cabelos
distraidamente.

"Eles cresceram na mesma cidade," disse Remus, enquanto continuavam,


observando o casal à frente, conversando animadamente; uma cabeça ruiva e
uma preta.

"Como você sabe?" James se virou para ele, parecendo afrontado.

"Ela me disse."

"Você gosta dela, então?" James perguntou, claramente lutando para saber
como reagir. Remus revirou os olhos.

"Não. Nós apenas conversamos." disse ele, com firmeza. "E se você gosta dela,
então talvez devesse tentar."

Ele tinha notado esse assunto se infiltrando em suas conversas recentemente.


Às vezes, ele tinha que verificar se estava falando com os marotos e não com
Marlene e Mary - "ele tem uma queda por ela", "ela gosta de fulano de tal" - e
assim por diante. Para piorar as coisas, Avni Chaudhry, uma grifinória do
terceiro ano, estava saindo com Matthew Studt, um corvino do quarto ano, e
ninguém falava de outra coisa por dias; todos pareciam ter uma opinião sobre
isso. Era uma coisa extremamente entediante para Remus, para quem (a parte
de algumas exceções) as garotas ainda eram incompreensíveis.

"Mas ela gosta de você." Disse James. "Vocês fizeram todas as suas revisões
juntos no semestre passado."

"Só porque vocês não se incomodavam em estudar," Remus respondeu


defensivamente. Eles estavam se aproximando da cidade agora, um
aglomerado de belos edifícios de pedra estava logo abaixo deles. "E não é
como se estivéssemos sozinhos, Mary e Marlene estavam lá também."

"Todos nós precisamos nos inspirar em Moony," Sirius brincou, "Brotos te


seguem para todos os lugares. Como você faz isso, Lupin? São esses seus
grandes olhos castanhos? "

James e Peter deram risadinhas, mas Remus os ignorou, andando um pouco à


frente, as mãos nos bolsos, ainda mancando um pouco por causa de sua última
transformação. Essa fora uma sugestão totalmente ridícula, especialmente
quando era óbvio para qualquer pessoa com olhos que Sirius era o garoto mais
bonito do ano.
Estava mais claro do que nunca, agora que todos estavam crescendo, passando
da infância para a adolescência. James tinha um certo charme; isso vinha com
a riqueza e a habilidade no campo de quadribol, mas Sirius sempre estaria em
outra categoria. Remus não tinha decidido se ficaria com inveja ou não, e
tentava não pensar muito sobre isso.

Quando eles finalmente chegaram a Hogsmeade, Remus não poderia estar mais
aliviado. A vila parecia o tipo de lugar que Remus pensava que só existia nos
livros infantis. As ruas de paralelepípedos cintilavam ao sol amarelo de
meados de setembro, e as fileiras desordenadas de chalés estilo Tudor com
vigas pretas, pareciam ser feitas de pão de mel e açúcar de confeiteiro.

"Dedos de mel?"

"Dedos de mel."

Remus nunca tinha entrado na loja de doces pela porta da frente antes, nem
tinha estado no piso da loja. Estava cheio até as vigas com caixas, potes e sacos
de todo tipo de doces imaginável. Grandes árvores de pirulitos de cores vivas,
grandes como cata-ventos, barras de chocolate do tamanho de pedras de
pavimentação; pilhas e mais pilhas de ratinhos de açúcar.

A loja também estava lotada de alunos de Hogwarts, e os marotos tinham que


empurrar e se apertar para chegar perto das mercadorias. Eles encheram sua
cesta com doces suficientes para durar pelo menos até o Natal, antes de
fazerem fila para o caixa, na qual um bruxo de aparência muito atormentada
com cabelos brancos, estava. Remus percebeu que provavelmente era o Sr.
Dedos de mel e se perguntou se o lojista sabia que havia um túnel secreto em
seu porão.

Depois disso, a próxima parada foi a Zonko's, a loja de brincadeiras, que estava
tão movimentada quanto a Honeyduke, e fora um dos lugares mais barulhentos
que Remus já estivera. A cada poucos segundos, alguma coisa parecia
explodir, estalar ou começar a assobiar em algum lugar da loja, acompanhada
pelas risadas encantadas ou gritos horrorizados dos alunos. James e Sirius eram
claramente experientes em compras e fizeram uma varredura eficiente nas
instalações, avaliando os benefícios e as desvantagens de cada engenhoca
como um par de banqueiros na bolsa de valores. Meia hora depois, eles
finalmente estavam saindo, carregados de sacos cheios de bombas de bosta,
varinhas artificiais, tinteiros explosíveis, balas de soluço e barras de sabão de
rã.
Remus pensou que eles talvez tivessem sido um pouco precipitados de fazer
todas as compras primeiro, porque em seguida James e Sirius queriam visitar a
Casa dos Gritos, o que significava deixar a rua principal e enfrentar uma
subida íngreme, carregando todas as mercadorias.

"Então, que lugar é esse, de novo?" Remus bufou enquanto lutava para subir a
colina, seu joelho e quadril ainda o incomodando.

"Casa mal assombrada," James respondeu, pegando duas das sacolas de


compras mais pesadas de Remus sem dizer uma palavra. "O lugar mais
assombrado da Grã-Bretanha, papai diz."

"Não é assombrado!" Sirius gritou lá de cima, "Vocês, Potters, são


supersticiosos."

"Eu ouvi dizer que os fantasmas de lá são realmente horríveis," Peter disse,
ansioso, lutando quase tanto quanto Remus estava com a inclinação íngreme.
"Piores que Pirraça."

"Eles são poltergeists, então?" Remus perguntou, curioso - ele estava


planejando fazer algumas leituras sobre aparições espirituais quando tivesse a
chance, depois de saber que essa tinha sido a principal área de estudo de seu
pai.

"Acho que sim", disse James, "os moradores locais dizem que ouvem gritos
vindos da casa algumas noites."

"Só por alguns anos, no entanto," Sirius rebateu, "Poltergeists não se mudam a
qualquer momento. Teria que haver décadas e décadas de perturbação e
acumulação de energia negativa para ..."

"Ah meu Deus."

Lupin parou e quase deixou cair as sacolas que ainda segurava. Ele olhou para
a casa pela primeira vez, e um calafrio atingiu seu estômago.

"O que foi, Moony? Quer que eu leve suas outras sacolas?" James estava
perguntando.

Remus balançou a cabeça, sem palavras, ele não conseguia desviar os olhos.
Ele nunca tinha visto pelo lado de fora antes; eles sempre vinham pelo túnel.
Mas ele reconhecia o tom da madeira, sabia como eram as janelas com tábuas.
"Caramba, se for assombrado, então eu acho que Moony está possuído." Sirius
disse, soando como se ele estivesse meio brincando. "ei, Lupin. Você está
estranho, pare com isso."

"Essa é..." Remus lutou para encontrar as palavras. Ele fechou os olhos e
tentou respirar algumas vezes. "Essa é a casa. Onde eles me colocam."

James pareceu entender imediatamente, e colocou a mão no ombro de Remus


de uma forma fraternal.

"Ok, vamos, é hora de ir." Ele disse.

Ninguém disse nada enquanto eles desciam a colina, em direção à cidade.


Remus olhou para o chão à frente o tempo todo, concentrando-se em colocar
um pé na frente do outro e ficar o mais longe possível da cabana. A Casa dos
Gritos. Gritos. Ele sentiu vontade de vomitar. James os conduziu na direção de
um pub de aparência pitoresca. Lá dentro havia muitas mesas e cadeiras
confortáveis, não muito diferente da sala comunal da Grifinória. Eles
encontraram assentos em um canto silencioso, e Remus sentou-se, agradecido,
suas juntas muito doloridas agora. James foi para o bar, e Sirius e Peter
sentaram-se em silêncio, um de cada lado de Remus.

"Então ... na lua cheia, é para lá que você vai?" Peter perguntou. Remus acenou
com a cabeça, brincando com um porta-copos úmido na mesa. "Não é
assombrado, então?" Peter continuou.

"Não. Apenas eu."

"Então, espere, os gritos são ..."

"Eu."

"Mas por que-"

"Cale a boca, Pettigrew." Sirius rosnou, de repente. Remus olhou para ele,
surpreso.

James voltou com quatro garrafas de líquido âmbar e as colocou na mesa,


tomando seu próprio assento.

"Cerveja amanteigada!" Ele disse, brilhantemente, empurrando um para


Remus, "Experimente, Moony, você vai adorar."
Remus levou o copo aos lábios. Ele ainda estava se sentindo um pouco
enjoado, e a mistura na garrafa cheirava a xarope - mas ele descobriu que
coisas doces geralmente ajudavam se ele tivesse um choque. Ele tomou um
gole e se sentiu instantaneamente aquecido pelo delicioso líquido. Ele sorriu
para James, esperando que eles não fizessem mais perguntas.

Eles não fizeram. Em vez disso, passaram uma tarde muito agradável bebendo
cerveja amanteigada e planejando a melhor forma de utilizar seu novo arsenal
de brincadeiras práticas. Peter teve a ideia extraordinariamente brilhante de
lançar um feitiço temporizador remoto nas bombas de bosta, para que
pudessem ser acionadas a qualquer momento de qualquer lugar do castelo.

"Excelente tática de distração", James exclamou, animado, "Pense no que


poderíamos fazer se Filch estivesse perseguindo bombas de bosta no lado
oposto do prédio!"

"Também nos dá tempo para trabalhar um pouco mais no mapa." Remus


acrescentou.

"Você não está vendo todas as possibilidades." Sirius cruzou os braços,


recostando-se na cadeira. "Nós poderíamos definir todos eles para dispararem
ao mesmo tempo. Imagine! Provavelmente temos o suficiente aqui para
esconder um em cada sala de aula - caos total!" Sirius parecia tão extasiado
quando disse isso, que os outros três foram completamente absorvidos,
assentindo furiosamente.

"Ah, não vamos sentar aqui, Lily, não parece muito limpo." Uma voz
desagradável e amarga os interrompeu: "Eles permitem todos os tipos,
claramente."

Sirius saltou para frente em sua cadeira, olhando para Snape, que estava
pairando ao lado de uma mesa próxima.

"Não seja bobo, Sev, está tudo bem." Lily balançou a cabeça, puxando uma
cadeira.

"Tudo bem, Evans?" James acenou para ela, compulsivamente, ficando com
aquele olhar estúpido no rosto.

"Nos deixe em paz, Potter?" Lily jogou o cabelo, "Oi, Remus."

"Oi," ele acenou para ela, sorrindo. Ele não podia deixar de gostar da maneira
como ela tratava os marotos, ela era a única que não os bajulava.
"Eurgh," Sirius disse, segurando o nariz, olhando para Snape, "Que cheiro é
esse? Potter, você pisou em alguma coisa no caminho? "

James deu uma risadinha,

"Cheira mais como uma bomba de bosta que explodiu."

"Nojento," Sirius sorriu, "Talvez devêssemos abrir uma janela."

Snape ficou branco de raiva. Lily colocou a mão em seu braço,

"Apenas ignore-os, Sev, eles são idiotas."

Mas Severus não permitiria que Sirius tivesse a última palavra.

"Como está a família, Black?" Ele perguntou, sua voz lisonjeira, insidiosa. A
boca de Sirius formou uma linha dura. Snape continuou, "Regulus estava
dizendo a todos que você teve um verão bastante
emocionante. Tão empolgante, na verdade, que você não é mais bem-vindo de
volta, hein?"

"Você não sabe do que está falando, Snivellus." Sirius cuspiu. Remus sabia
que agora era tarde demais - Sirius havia se envolvido e não haveria mais
volta.

"Não sei?" Snape ergueu uma sobrancelha, claramente emocionado com a


reação que ele provocou. "Recebeu algum correio da mamãe esse ano, Black?
Ouviu alguma coisa de algum de seus parentes?"

Sirius tinha uma expressão muito estranha no rosto. Remus teve a impressão de
que estava percebendo algo pela primeira vez e tentando não deixar Severus
perceber. James parecia preocupado, não mais rindo.

"Ignora ele, cara", disse ele, baixo, "Ele é um idiota, só ignora."

"Estou certo, então," os lábios finos de Severus se curvaram em um sorriso


desagradável, "Não é à toa que você segue Potter por aí como uma garota
apaixonada, quando sua própria família não quer nada com você. Quando você
é renegado dessa forma, suponho que tudo o que resta é se associar com a
escória da sociedade ..." Ele lançou seus olhos negros sobre Peter e Remus.

Sirius se levantou, jogando sua cadeira para trás. Sua varinha estava em sua
mão; ele deve ter estendido a mão para pegá-la enquanto Snape falava. Remus
se levantou também, seus ossos doloridos esquecidos quando ele cerrou os
punhos, pronto para bater Severus até deixá-lo sem sentido, se Sirius desse a
ordem.

"Sirius, não!" James foi tirar sua varinha - eles não tinham permissão para
fazer mágica em Hogsmeade.

"Vamos, Severus, vamos," Lily também se levantou e puxou a manga do


amigo. Ela parecia furiosa com ele, o que foi um pequeno conforto para
Remus.

"Não." Sirius disse, sua voz irritantemente firme e autoritária. "Estamos indo
embora. Vamos, rapazes, não aguento mais esse fedor. "

Eles obedeceram às ordens, até mesmo James, que lançou apenas um olhar
ansioso para Lily ao sair.

"Isso foi ... muito maduro", disse Potter, coçando a cabeça enquanto saíam do
pub para a luz quente da noite. Sirius bufou, voltando para Hogwarts.

"Não acabou." Ele disse, ferozmente, os outros correndo para alcançá-lo com
seus passos decididos. "Vou mostrar a ele. Eu vou destruir ele! "

Os marotos estavam em guerra.


45. Terceiro Ano
Nobre e Mais Antiga

Cold fire, you've got everything but cold fire


You will be my rest and peace, child
I moved up to take a place
Near you

So tired, it's the sky that makes you feel tried


It's a trick to make you see wide
It can all but break your heart.

-'Prettiest Star', David Bowie

Sábado, 15 de setembro de 1973

*Toc Toc*

"Sirius."

Nada.

*TOC TOC TOC*

"Sirius?"

"Oh, pelo amor de ... Sirius Orion Black Terceiro, eu sei que você está aí!"
James bateu na porta.

"Cai fora, Potter."

James se afastou da porta do banheiro e sentou-se na cama, parecendo abatido.


Sirius não tinha se juntado a eles para jantar, e estava trancado no banheiro por
duas horas, sem fazer barulho.

"Deixa ele em paz," disse Remus, virando a página de seu livro. Ele deitou de
barriga para baixo em sua própria cama, fingindo que não estava nada
preocupado. "Ele vai sair quando estiver pronto."
Isso era algo que ele sempre ouvia a Matrona dizer. Pelo menos uma vez por
semana, um dos meninos de St Edmund - geralmente um garoto novo - tinha
um acesso de raiva e se trancava em um quartinho ou se arrastava para algum
espaço pequeno onde ninguém pudesse alcançá-lo. A resposta dos funcionários
era sempre a mesma; ignore até que ele perceba que ninguém se importa; até
que perceba que nada que ele fizer fará diferença. Sempre funcionava, Remus
sabia disso em primeira mão.

"Não é típico dele," disse James, obviamente desconsiderando a tática rigorosa


de Remus. "Eu poderia matar Snape, sabe. Por dizer essas coisas."

Remus encolheu os ombros.

"Black já odeia sua família, no entanto. Não sei por que ele deixa Snivellus
incomodá-lo com isso. "

James olhou para Remus, pasmo, como se tivesse acabado de dizer algo
inimaginavelmente cruel.

"Eles ainda são sua família, Moony."

"Eles são horríveis com ele."

"Não significa que ele não se importe com o que eles pensam." James suspirou.
"Olha, Lupin, talvez seja melhor você ir antes que ele saia. Vá e encontre Pete
na biblioteca ou algo assim. "

"Eu também sou amigo de Sirius!" Remus se sentou, indignado.

"Sim, sim, claro que você é", James acenou com a mão, "Mas bem ... se ele
estiver chorando, acho que prefere que ninguém mais veja."

"Eu não me importo se ele estiver chorando. Eu quero ajudar."

Isso era em parte mentira. Remus sempre se sentia desconfortável perto de


pessoas chorando - ele nunca sabia o que fazer consigo mesmo. Mas ele
realmente queria ajudar também. Ele não sempre tentava ajudar?

Mais do que nunca, Remus queria confessar sobre ter dado a Narcissa a ideia
do voto perpétuo, só para ver o rosto de James. Mas ele se acalmou. Não era
uma competição e, mesmo que fosse, não era uma que ele ganharia.
"Ok," disse James, "mas você tem que ser compreensivo sobre isso. Você não
pode começar uma briga."

"Do que você está falando?" Remus ficou mortalmente ofendido. Ele nunca
começava brigas.

"Vocês dois! Vocês estão sempre discutindo, eu juro. "

"Nós não discutimos." Remus explodiu. James apenas ergueu as sobrancelhas,


o que era irritante.

O garoto de cabelos escuros pulou da cama mais uma vez e voltou para a porta
do banheiro.

"Sirius?" Ele bateu: "Por favor, saia e fale com a gente?"

"Cai fora, Potter, me deixe em paz."

James suspirou novamente. Remus, irritado com James agora tanto quanto
estava irritado com Sirius, levantou-se também e foi até a porta. Indicando para
James se mover, ele próprio bateu forte na madeira.

"Eu disse cai f-"

"Sirius, sou eu." Remus disse, sua voz dura e fria, como a da Matrona. "Olha,
se você vai ficar chorando como uma garotinha, pelo menos nos deixe entrar
para que possamos começar a planejar nossa vingança?"

Silêncio.

Remus resmungou, "Tudo bem, se deprima aí. Mas você está sendo um idiota
egoísta. Você sabe, você não é o único que tem uma família te odeia. "

"Remus!" James exclamou, escandalizado. Remus encolheu os ombros. Valeu


a tentativa.

Houve um barulho abafado dentro do banheiro. Remus pressionou o ouvido


contra a porta, então recuou quando ela abriu. O rosto sombrio de Sirius
apareceu.

"Finalmente," disse James, aliviado, "Olhe, saia e ..."


"Moony pode entrar." Sirius disse, abrindo a porta apenas o suficiente para
Remus se espremer para dentro, então a bateu de volta e trancou a fechadura.

Estava escuro lá dentro.

"Lumos," Remus murmurou. A ponta da varinha dele se iluminou, lançando


um brilho pálido sobre o pequeno ambiente branco e o rosto pálido de Sirius.
Ele estava chorando, seus olhos estavam escuros e vermelhos. Remus desviou
o olhar rapidamente, olhando para as luminárias. As lâmpadas foram
quebradas. Ele resmungou: "Você e seu temperamento, hein?" Ele
disse: "Reparo".

As luzes se consertaram e piscaram novamente. Remus apagou a luz de sua


varinha.

"Não fiz de propósito," Sirius fungou, limpando o nariz com as costas da mão.
Foi um gesto taciturno e infantil, de alguma forma impróprio para Sirius que
era, mesmo aos treze anos, geralmente o epítome de graça e equilíbrio. "Eu
ainda destruo coisas às vezes, quando estou com raiva. Minha magia sai do
controle."

"Ah, certo," Remus assentiu, embora nunca tivesse ouvido falar disso antes.

"Então, vingança?" Sirius perguntou, sentando-se na tampa do vaso sanitário e


olhando para Remus com expectativa.

"Vingança." Remus concordou: "O que você quer fazer com ele?"

"Não apenas ele." Sirius franziu o cenho, "Todos eles. Todos os Sonserinos da
escola."

Remus assentiu com entusiasmo - isso soava um pouco maluco, mas era um
começo. Haveria tempo para acalmá-lo mais tarde, quando ele estivesse agindo
menos estranhamente e não corresse o risco de explodir mais lâmpadas.

"Sim, vamos pegar todos eles, Black. Agora vamos lá, vamos lá e—"

"Eu não vou sair ainda." Sirius disse, amuado, cruzando os braços. Remus
suspirou. Ele se sentou no chão, encostado na porta.

"Ok, tudo bem. Gostaria de falar sobre isso? Porque James é provavelmente a
melhor pessoa para –"
"Você realmente quis dizer o que acabou de falar?" Sirius o interrompeu
novamente, "Você acha que minha família me odeia?"

"Ah Deus, eu não sei, não é? Não sou exatamente uma autoridade em
famílias." Remus esfregou a nuca. "Eu só estava tentando fazer você abrir a
porta, para ser honesto."

Ele quis dizer isso como uma piada, mas Sirius não sorriu. Ele olhou para
Remus através de uma cortina de cabelo escuro.

"Você disse que sua família te odeia."

"Bem, eu acho que sim," explicou Remus. "Caso contrário, eles não ... bem, eu
não teria sido enviado para St Edmund's, teria?"

"Não significa que eles odiavam você."

"Não." Remus refletiu, "Mas eu não acho que eles possam ter gostado muito de
mim, mesmo assim."

"Você não fica ... quero dizer, isso não te incomoda?"

Remus encolheu os ombros,

"Às vezes, obviamente. Mas, você sabe. Ninguém nasce merecendo uma vida
feliz." A Matrona havia dito isso muitas vezes. Pela primeira vez, falando isso
em voz alta, Remus se perguntou se ela estava totalmente certa.

"Caramba, Lupin, você é deprimente, sabia disso?"

"Você me deixou entrar." Remus chutou Sirius levemente na canela com a


ponta do seu tênis. "Se você quiser se animar, então vou buscar o Potter."

"Nah," Sirius deu de ombros, sorrindo fracamente. "Você é ok."

Remus riu,

"James não queria que eu entrasse. Disse que a gente só briga."

"Ele o quê?!" Sirius balançou a cabeça. "Nós não brigamos."

"Foi o que eu disse." Remus o assegurou.


"Minha família ..." Sirius disse, de repente, "Eu não acho que eles me odeiam.
Acho que eles querem gostar de mim, de verdade. Mas eu continuo
decepcionando todo mundo. É engraçado na maioria das vezes, mas ... bem,
não é hoje."

Remus não sabia o que dizer sobre isso, então ele ficou quieto. Ele pensou em
Narcissa, jurando enfrentar a morte se não pudesse se casar com Lucius. Ele
pensou em Regulus, que muitas vezes olhava para o irmão mais velho do outro
lado do salão, olhos verdes de ciúme. Famílias eram um negócio complicado.
Talvez ele devesse ser grato a Lyall Lupin por terminar tudo de uma só vez,
para que Remus nunca tivesse que saber se ele deixaria seu pai orgulhoso ou
não, ou se ele teria sido uma decepção afinal.

***

Sexta-feira, 5 de outubro de 1973

"Eu consegui. Eu realmente consegui desta vez. "

"Isso é bom, Pete." Remus respondeu alegremente, lendo seu livro de


Aritmancia.

"Devíamos tingir seus robes de rosa."

"Eles apenas tingiriam de volta, é muito simples. E de onde conseguiríamos os


robes? " Remus virou a página e retomou sua leitura.

"Ai! Que diabos, há algo errado com aquele balaço! " Sirius gritou,
levantando-se. "Vamos, McKinnon, mova sua maldita bunda!"

"Você se importa em deixar a bunda dela fora disso?" Mary retrucou, de


algumas fileiras acima.

Eles estavam assistindo ao treino de quadribol da Grifinória. Bem, Sirius, Peter


e Mary estavam. Remus só queria continuar com sua leitura.

"Com ciúmes, MacDonald?" Sirius respondeu, atrevidamente.

"Pinte o cabelo de rosa, então," Peter persistiu, sacudindo o braço de Remus


para chamar a atenção, "Eu aprendi feitiços de mudança de cor agora, eu posso
fazer isso."
"Eles também podem." Remus disse, puxando o braço para trás e procurando
por seu lugar na página.

"Sabe, Moony, você poderia mostrar um pouco mais de interesse." Sirius disse.

"No quadribol? Ou em derrubar seu arqui-inimigo? "

"Ambos. Qualquer um."

"Estou aqui, não estou?" Remus virou outra página.

"Quem é seu arqui-inimigo?" Mary perguntou, se levantando e se sentando ao


lado de Sirius.

"Se eu te contasse, teria que te matar." Sirius disse, secamente. Mary revirou os
olhos,

"É o Snape?"

Todos os três meninos olharam para Mary com surpresa. Ela riu: "Qual é, não
é exatamente um segredo – vocês têm algo desde o primeiro ano. Além disso,
Lily é uma das minhas melhores amigas."

"Não fale comigo sobre Evans." Sirius resmungou, "Já ouço o suficiente."

"Eu acho que ela é uma idiota, andando por aí com aquele esquisito." Mary
disse, esfregando os braços como se apenas o pensamento de Severus fizesse
sua pele arrepiar. "Você sabe que ele fez Marlene chorar outro dia? Chamou o
pai dela de algo realmente desagradável. Não faz sentido também, porque Lily
diz que ele é mestiço, Severus ... de qualquer maneira, alguém precisa lhe dar
uma lição. "

"Ha!" Sirius latiu, "Ele é mestiço?! Brilhante."

"Sim." Mary disse friamente. "O Remus também. E eu sou nascida trouxa. E
daí?"

Remus finalmente ergueu os olhos de seu livro para sorrir maliciosamente para
Sirius, levantando uma sobrancelha para ele. Sirius olhou para baixo e de volta
para o quadribol.

"Nada", ele murmurou, "eu não sou assim."


"Ótimo." Mary disse, afetadamente. "Eu já escuto o suficiente dessa merda dos
Sonserinos."

Remus estava inclinado a concordar com Mary, que tinha mais coragem do que
ele, colocando Sirius em seu lugar daquele jeito. Os insultos dos Sonserinos
definitivamente aumentaram neste período, embora só pudessem ser
perceptíveis para estudantes de sangue não puro. Remus começou a se
preocupar em andar sozinho entre as aulas, embora raramente precisasse. Ele
teve alguns quase acidentes de qualquer maneira, e foi chamado de sangue-
ruim duas vezes. Ele não disse isso a James ou Sirius, parecia um pouco como
um choramingo. Além disso, no que diz respeito aos insultos, já havia sido
chamado de coisas piores que 'sangue-ruim'.

Ele não gostou da ideia de que isso fez Marlene chorar, no entanto. Estava tudo
bem que Remus fosse incomodado por Snape e Mulciber, ou mesmo pelo
pequeno e sádico Bartô Crouch, mas fazer garotas chorar era outra coisa.
Remus sentiu uma onda de proteção e cavalheirismo em relação a amiga. Ele
cerrou os punhos e depois os abriu.

O problema era que Snape não era o tipo de atacar com feitiços e grandes
pegadinhas. Ele podia fazer ambas as coisas, ele era tão capaz quanto os
marotos. Mas Snape usava palavras para ferir as pessoas - e elas eram muito
mais difíceis de rebater.

A menos que você mudasse as palavras.

"Oh." Remus largou o livro de repente. Ele agarrou o braço de Sirius, "Oh!"

"O que?" Sirius franziu a testa para ele. Ele estava absorto em assistir o
treinamento enquanto a mente de Remus vagava. Houve outra oportunidade
para Sirius se juntar ao time de quadribol este ano, mas ele recusou. Talvez
porque ele mudou de ideia. Talvez porque estava com vergonha de tentar
novamente.

"Nós mudamos as palavras!" Remus balbuciou: "Mudamos o que ele diz."

"O que você está falando?" Sirius estalou a língua. "Snivellus?"

"Sim! Existem feitiços que você pode fazer para impedir alguém de falar,
certo?"

Sirius corou ligeiramente, olhando para Remus.


"Sim ..." ele disse, cautelosamente.

"Ok, então quão mais difícil pode ser para ... tipo, distorcer suas palavras?
Poderíamos definir uma palavra-gatilho – ou algumas – sangue-
ruim, ou traidor do sangue, ou mestiço, ralé, baba ovo de trouxa ou ... qualquer
coisa. E, em vez disso, fazemos com que ele diga algo realmente bom. Ou algo
estúpido. O que quisermos."

"Moony, onde você ouviu tudo isso-"

James marcou um gol e Peter saltou, batendo palmas freneticamente. Potter


deu algumas voltas em sua vassoura, se exibindo. Sirius sorriu para seu amigo.
O joelho de Mary estava tocando o de Sirius, Remus notou. Eles estavam
sentados muito perto, na verdade.

"Então?" Remus agarrou o ombro de Sirius novamente, tentando fazê-lo se


concentrar. "O que você acha?"

"Eu adorei." Sirius disse simplesmente. "Devíamos fazê-lo dizer algo


realmente ridículo, como ... sei lá, 'coelhinhos fofinhos' ou algo assim. Vamos
para a biblioteca depois disso, certo? "

"Eu posso ir?" Mary perguntou. Sirius encolheu os ombros,

"Se você quiser, acho que sim. É um negócio sério de maroto."

Mary deu uma risadinha. Remus se perguntou se Sirius achou isso tão irritante
quanto ele. Ele pegou seu livro e voltou para a Aritmancia.

Vinte minutos depois, a sessão de treinamento acabou e os marotos estavam


caminhando em direção ao castelo, Mary e Marlene a reboque, Sirius e Remus
balbuciando animadamente para James sobre o plano brilhante deles (de
alguma forma se tornou o plano 'deles', na mente de Sirius).

"Você deveria estar fora do campo às cinco horas." Alguém grunhiu na frente
deles.

Remus ergueu os olhos para ver o time de quadribol da Sonserina caminhando


em direção a eles, vassouras nas mãos e kits pendurados nos ombros.

"Estamos saindo agora, Bulstrode, que inferno." James disse, irritado.


O capitão da Sonserina com cara de pug apenas fez uma careta e passou por
ele, deliberadamente batendo em James com o ombro enquanto o fazia.

"Ei!" Sirius puxou sua varinha. James o segurou.

"O que é, Black?" Bulstrode zombou: "Se esse ainda é o seu nome." Todos os
sonserinos riram. Incluindo seu menor e mais novo membro, que estava atrás
dos outros.

Regulus Black.

Foi preciso James e Remus para puxar Sirius, enquanto os sonserinos riam e
sussurravam.

"Lembre-se do plano," sussurrou Remus. Sirius relaxou, então assentiu.

"Prometa que vamos pegar todos eles." Ele rosnou.


46. Terceiro Ano
O Clube do Slug

Segunda-feira, 8 de outubro de 1973

"Sirius, é melhor você pensar sobre as palavras que a gente vai substituir, você
é o mais ... er ..."

"Eloquente?" Sirius forneceu, bocejando. "Verboso? Magníloquo?"

"Exatamente," Remus sorriu. "Vou procurar qual feitiço precisamos, e James,


você pode descobrir como realmente conseguiremos lançá-lo em toda a casa ...
isso vai ser muito difícil, eu acho - Peter, é melhor você ajudar com esta parte."

"Olha o Moony!" James riu, passando manteiga em sua torrada, "Dando as


ordens agora."

"Os marotos são uma utopia socialista", Sirius bocejou novamente, "Não temos
líderes".

"Gostando de estudos dos trouxas, não é?" Remus ergueu uma sobrancelha.
Sirius deitou a cabeça na mesa de jantar, fechando os olhos e mostrando dois
dedos para Remus.

Uma coruja pousou na mesa do café da manhã - era a de James. A coruja de


Sirius foi confiscada por seus pais tantas vezes que ele podia muito bem não
ter nenhuma. Peter normalmente usava as corujas da escola e Remus nunca
recebia correspondência de qualquer maneira.

"Que diabos?" James abriu a carta oferecida pelo pássaro com uma carranca.
"O ... Club do Slug?!"

"Ah sim," Sirius abriu um olho sonolento, "Eu também recebi uma.
Aparentemente, o velho preguiçoso gosta de alunos que têm uma certa
qualidade de estrela. Então, eu, obviamente. E suponho que você também. "

Nem Peter nem Remus receberam um convite; mas isso não foi uma grande
surpresa. Peter era muito bom em Poções, mas quase não tinha aptidão para
qualquer outra coisa. Quanto a Remus, ele tentava voar sob o radar do
Professor Slughorn.

"Nós não iremos então." James disse, dobrando sua carta com decisão. "Nós
marotos somos um por todos e todos por um."

"Eu não me importo," Remus deu de ombros, "Vá se quiser. Aposto que a Lily
vai. "

"Você acha!? Verdade, ela é realmente boa em Poções, não é? " James disse,
ficando com aquele olhar engraçado no rosto novamente, "Ela é muito boa em
tudo, provavelmente a mais inteligente do ano-"

"Ei!" Remus e Sirius disseram, em uníssono. James ergueu uma sobrancelha,

"Garota mais inteligente, então."

Sirius fechou os olhos mais uma vez, satisfeito e tentou cochilar durante o
resto do café da manhã.

***

Quinta-feira, 11 de outubro de 1973

A festa foi realizada no final da semana. James, ainda preocupado com a


exclusão dos dois outros marotos, tentou convencer Peter e Remus a vestirem a
capa da invisibilidade e vir assim mesmo. Sirius achou que isso seria bem
engraçado, mas Remus não tinha vontade nenhuma. Ele não desejava estar
entre os poucos escolhidos. No final, Peter recusou também, embora estivesse
claramente a ponto de concordar com o plano ridículo.

De qualquer forma, as quintas-feiras eram o dia favorito de Remus na semana.


Especificamente, às quintas-feiras, das 14h às 16h - esse intervalo em seu
cronograma era ocupado por Trato das Criaturas Mágicas. As aulas de quarta-
feira eram sempre baseadas em teoria, e Remus gostava delas também; ele
nunca tinha ouvido ninguém falar sobre biologia como o professor Ferox. Mas
as quintas eram dedicadas às aulas práticas, e a classe saía para o terreno
aberto, ou então chegavam à sala de aula para encontrar uma nova criatura
esperando por eles e um Ferox radiante de entusiasmo para mostrá-los.

Depois dos kneazles, eles viram fadas mordentes e crupes. Esta semana foi
murtiscos. Mary e Marlene gritaram para as criaturas que Ferox apresentou em
uma grande gaiola no fundo da sala de aula. Remus não podia culpá-las -
murstiscos eram extremamente desagradáveis. Eles eram criaturas parecidas
com ratos, com massas de tentáculos brotando de suas costas como vermes.

"Não podemos ver crupes e kneazles todas as semanas", Ferox sorriu,


gesticulando para que todos se reunissem ao redor, "Nem todas as criaturas
mágicas sobre as quais aprendemos serão fofas. Mas a diversidade é o que
torna a vida especial, não?"

"Espero que não tenhamos que tocá-los", sussurrou Marlene, estremecendo.

Remus não se importava - eles eram nojentos, mas ele não se importava com
coisas nojentas. Ele tinha um estômago bem forte; Professor Ferox já havia
dito isso a ele na semana passada, quando eles estavam assistindo a eclosão
dos ovos de fada mordente. Remus sorriu com orgulho o dia todo.

Ferox estava olhando para Remus agora.

"Sr. Lupin, tenho certeza de que posso contar com você para me dizer as
propriedades benéficas dos tentáculos de murtiscos."

Remus tentou não sorrir muito abertamente, ou parecer muito nerd.

"Eles são realmente bons para curar cortes e machucados superficiais", disse
ele, prontamente, "E se você os comer, eles o tornam imune à maioria das
maldições comuns."

"Excelente, cinco pontos para a Grifinória."

Remus não pôde deixar de sorrir um pouco. Quem se importava com o


estúpido Clube do Slug. Slughorn estava longe de ser tão legal quanto Ferox;
Ferox era inteligente, despretensioso e engraçado, e fazia coisas perigosas.
Remus nunca havia pensado muito em ter uma carreira, mas por algumas
semanas ele vinha acalentando a ideia de que o que quer que fizesse ao crescer,
gostaria de ser igual ao Professor Ferox.

Veja bem, ele teria que começar a comer mais, ou a fazer musculação ou algo
assim, porque se Ferox era alguma coisa, era grande. E Remus, embora fosse
centímetros mais alto que os outros marotos, permanecia eternamente
esquelético.

"É o seu metabolismo." Madame Pomfrey disse a ele, quando ele perguntou
uma manhã depois da lua. "Você poderia comer mais ou descansar mais, mas
pode ser apenas uma dessas coisas sem jeito, eu temo. Mas não se preocupe
querido, você é tão saudável quanto se poderia esperar. "

Isso não parecia muito reconfortante, mas ele aceitou. Seu pai também era
magro, ele tinha certeza. Pelo menos ele não era rechonchudo, como Peter, que
ainda parecia um garotinho em comparação com o resto deles.

Esse fato ficou ainda mais claro naquela noite, quando Sirius e James estavam
totalmente vestidos em seus robes formais, parecendo em cada centímetro
como jovens lordes donos de mansões, e Peter sentou-se olhando para eles com
inveja de sua cama, já de pijama.

"Você acha que vai ter dança?" Sirius perguntou, ansioso, endireitando a
gravata.

"Nah," James respondeu, tentando desesperadamente pentear o cabelo, "Eles


teriam nos avisado para trazer um par ou coisa do tipo."

Sirius se jogou na cama.

"Eu odeio esse tipo de coisa. Moony, vá por mim, aposto que o Sluggy nem vai
notar. "

"Até parece," Remus bufou atrás de sua cópia de Ataque Verbal: Trava-
Línguas Defensivos "Slughorn nem consegue lembrar meu nome na maior
parte do tempo. E acho que ele não vai gostar muito quando estiver esperando
um puro-sangue Black e conseguir o garoto mestiço que ele vive chamando
de Linchpin. "

"Ugh. Ele é um velho palerma nojento. Como uma lesma de verdade." Sirius
sorriu para si mesmo e cutucou Remus com o cotovelo, "Heh, uma lesma de
verdade, Moony."

Remus sorriu de volta, erguendo os olhos de seu livro.

"Você está pronto, então?" James suspirou, jogando fora seu pente,
aparentemente aceitando que sua tentativa era inútil.

"Suponho que sim." Sirius resmungou, levantando-se laboriosamente.

"Eu vou descer com vocês," Remus disse, "Aproveito e já passo na biblioteca.
Quer vir, Pete? "
Peter olhou para ele como se ele fosse louco e balançou a cabeça.

James, Sirius e Remus desceram para a sala comunal, onde - para a alegria de
James - Lily estava esperando por eles em um vestido turquesa muito bonito.
Infelizmente para James, no entanto, conforme os três marotos se
aproximavam, ficava claro que não era ele que ela estava esperando.

"Remus!" Ela disse, levantando-se.

"Você está bonita, Evans," disse James, esperançoso. Sirius suspirou alto.

"Eu queria falar com Remus," disse Lily, ignorando James. "Você me
acompanha até a festa?"

"Não estou indo," Remus deu de ombros, "Não fui convidado."

"Oh ..." Lily corou um pouco, parecendo envergonhada, "Desculpe, eu só achei


..."

"Sobre o que você quer falar?" Remus perguntou, impaciente. Seu livro estava
pesado, e a lua cheia era sexta-feira, deixando-o mais agitado do que de
costume.

Lily olhou para James e Sirius, claramente não querendo dizer nada na frente
deles. Remus suspirou, "Estou indo para a biblioteca. Se você quiser andar
assim comigo, tudo bem. " Isso tiraria Lily do caminho, mas Remus decidiu
que não se importava. Ele empurrou o buraco do retrato e a ouviu correr atrás
dele, seus sapatos de festa pretos estalando nas lajes.

"Para que é esse livro?" Lily ofegou, lutando para acompanhar os passos
compridos de Remus.

"Nada." Ele disse, deliberadamente cobrindo o título com o braço: "Apenas


algumas pesquisas".

"Não é algo ruim, é?" Lily perguntou, desaprovando, "Não é outra coisa
horrível para fazer com Severus?"

"Eu sabia que era sobre isso que você queria falar," Remus revirou os olhos,
ainda andando.

"Bem, você tem que admitir, Sirius começou naquela vez em Hogsmeade,
quero dizer, ele chamou Sev-"
"Eu não me importo, Lily." Remus retrucou, virando uma esquina, "Ele não
precisava ser tão baixo, Sirius e James estavam apenas rindo, e Snape teve que
ir e tornar pessoal."

"Oh!" Lily bateu o pé, "Vocês todos são tão ruins!"

"Você sabe que ele odeia pessoas como você também, não é?" Remus rebateu,
parando agora que eles estavam fora da biblioteca. Ele se virou para ela: "Você
sabe que o tipo dele odeia o nosso."

"'Nosso tipo'," Lily resmungou, "Honestamente, essa coisa de pureza de sangue


inteira está ficando ridícula, e isso não desculpa-"

"Ele fez Marlene chorar," Remus persistiu, "Mary nos contou. O que você acha
que ele diz pelas suas costas? "

As bochechas de Lily estavam rosadas novamente,

"Sev nunca diria algo assim sobre mim! Ele é meu melhor amigo!"

"Ah ótimo para você, mas o resto de nós não tem tanta sorte." Remus rebateu.
Lily olhou para ele, piscando por alguns momentos, atordoada em silêncio. Ela
parecia prestes a chorar, e Remus sentiu uma pontada de culpa. Quando ela
falou novamente, sua voz era mansa e baixa.

"O que você vai fazer com ele?"

Remus suspirou. Ela podia muito bem saber também.

"Não só ele. Todos eles." Ele disse, baixando a voz e curvando-se um pouco
para o caso de serem ouvidos: "E não é nada ruim. Se ele parar de xingar as
pessoas, então nada vai ser feito."

Ela olhou para ele com ceticismo. Ele se endireitou. "É tudo que direi. Você
vai se atrasar para a sua festa. "

***

Mais tarde naquela noite, Remus pensou que tinha quase decifrado. Ele estava
sentado na sala comunal e havia feito suas anotações finais. Agora tudo que ele
precisava era a lista de palavras de substituição de Sirius e eles poderiam
começar a trabalhar na pegadinha. Eram quase onze horas quando o buraco do
retrato se abriu e Lily Evans entrou com uma expressão de raiva pura. Havia
estranhas marcas prateadas em seu vestido que refletiram a luz quando ela
entrou.

"E aí, Evans?" Remus perguntou, hesitante, ainda sentindo um pouco de pena
por ser tão rude com ela fora da biblioteca.

"Pergunte a eles." Ela sibilou, furiosa, "Eu vou tomar um banho."

Ele não se perguntou a quem ela estava se referindo, mas se tivesse, teria sido
respondido em instantes, quando Sirius e James entraram pelo buraco do
retrato em seguida, rindo histericamente. Remus não pode deixar de sorrir
também - a alegria deles era contagiante.

"O que vocês fizeram?"

"Foi tudo Sirius, cara," James deu um tapinha nas costas do amigo, então se
curvou para ele elaboradamente, agitando sua mão. Sirius fez o mesmo de
volta,

"Não poderia ter feito isso sem você, meu caro."

"Feito o que?" Remus perguntou, tentando conter sua irritação que surgiu do
nada.

"Lesmas." James disse, "Lesmas, malditas lesmas por toda parte. Comecei com
esses pequenos doces de lesma de geleia que foram colocados para comer,"

"Feitiço de transfiguração bastante simples," Sirius deu de ombros com falsa


modéstia, jogando-se em uma poltrona e colocando a perna sobre o apoio de
braço.

"Mas então," James sentou ao lado de Remus, com os olhos brilhantes, "Então
elas começaram a se multiplicar ..."

"E é por isso que Evans está chateada com você?"

"Bem ... você viu os pedaços pegajosos no vestido dela? E um ... um pouco no
cabelo também, eu acho. As lesmas se moviam muito rápido, elas meio que se
espalharam em todo lugar ..."

"Aquela lá não tem senso de humor." Sirius bocejou. "Ela deveria estar nos
agradecendo por animar um pouco as coisas."
"A ousadia de algumas pessoas," disse Remus, secamente.

"Viu, você entende, Moony," Sirius sorriu, "Você nos deixaria te sujar com
lesmas, não é?"

Remus achou melhor ignorar isso, e se dirigiu a James em vez disso,

"Então Slughorn descobriu que foi vocês, não é?"

"Sim, estava bastante óbvio. Éramos os únicos que não estavam gritando."

"Detenção?"

"Três semanas. Esfregar caldeirões. Tudo bem, ajuda a fortalecer meus


músculos." James flexionou os braços, que, tinha que ser dito, não pareciam
particularmente musculosos.

"Boas notícias, no entanto," Sirius disse, "Chega de festas para nós - estamos
fora do Clube do Slug."

"E entramos para os livros de história!" James gritou, fazendo com que os três
se dissolvessem em ataques de riso.
47. Terceiro Ano
James Potter e o Estrume Colossal de Elefante

Terça-feira, 30 de outubro de 1973

Com o Halloween e o banquete tradicional de Hogwarts se aproximando,


Remus estava ansioso aperfeiçoar o feitiço de troca de palavras a tempo e ter
alcance máximo.

"Está tudo bem, Moony, todos nós sabemos o que estamos fazendo." James
disse, voltando do treino de quadribol encharcado e coberto de lama. As noites
estavam ficando cada vez mais escuras e Remus raramente ia assistir ao treino
do time, embora Sirius e Peter geralmente o fizessem. Mary sempre ia também,
para assistir Marlene. Ela vinha os seguindo em todos os lugares nos últimos
dias.

"Eu só acho que deveríamos testar," Remus mordeu o lábio, observando Sirius
lançar um feitiço de secagem em James.

"Ah não." Peter disse, cruzando os braços: "Não serei sua cobaia desta vez. Da
última vez, não consegui me livrar daquele pedaço de cabelo roxo por
semanas!"

"Eu tinha esquecido disso", disse Sirius, sonhador, "Funcionou muito bem,
uma vez que descobrimos como lança-lo."

"Teste nele." Peter apontou para Sirius, "É a vez dele."

"Não reclame, Pete," Sirius gemeu. Ele se jogou na cama. "Faça em mim,
Moony, não sou um covarde."

"Ok, tudo bem," Remus retirou sua varinha. Sirius saltou.

"Espere, você quer fazer agora?!"

"Bem, quanto mais cedo melhor ..."

"E quanto ao contra feitiço?!"


"Eu tenho quase certeza que ele funciona," Remus deixou um sorriso surgir em
seu rosto. Ele tinha certeza que o contra feitiço funcionava, mas era muito
divertido assistir Sirius se contorcer em medo.

"Ah, pelo amor de Deus." James suspirou, tirando sua roupa de quadribol,
"Faça em mim, Lupin, eu não me importo. Só não quero dizer nenhuma
palavra dessa sua lista horrível. Você pode fazer com outra?"

"Se você quiser," Remus respondeu.

"Hm, sobre esta lista, Moony ..." Sirius disse, pegando-a da mesa de cabeceira,

"O que?"

"Bem ... é muito longa."

"Sim," Remus ergueu uma sobrancelha, "Qual é o seu ponto? São todos
insultos contra não-puro-sangue, não são? "

"Sim," Sirius disse, coçando o queixo, "Sim, eles são, mas, hum ... bem, eu só
não sabia que houvesse tantos. Nunca os vi escritos assim. E de qualquer
maneira, onde você ouviu tudo isso?!"

"Onde você acha?" Remus encontrou os olhos de Sirius, deliberadamente. Ele


estava esperando por algo assim. "Não haja como uma menininha sobre isso,
Black, eu não ligo para essas coisas. Certo, James, que palavra você quer
trocar? "

"Evans." Sirius disse, de repente, "Estou cansado de ouvir isso sair da boca
dele."

"Ok," Remus sorriu, "Então mudo para o quê?"

"Não me digam!" James disse: "Faremos um teste cego para sabermos que
definitivamente funciona. Escolha algo que Black ainda não inventou."

Remus acenou com a cabeça, rabiscou algo em um pedaço de pergaminho,


então ergueu sua varinha, se concentrando. Ele a movimentou bruscamente na
direção de James e pronunciou o encantamento.

Todos os quatro ficaram em silêncio, observando.

"Er ..." Remus disse, "Você sentiu alguma coisa?"


"Não." James olhou para si mesmo, como se esperasse ver algo diferente.

"Bem, diga então!" Sirius pediu.

"O nome completo dela," Remus acrescentou.

James pigarreou teatralmente, endireitando os ombros. Ele estendeu um braço


e colocou a mão no peito como se estivesse prestes a fazer um grande anúncio,

"ESTRUME COLOSSAL DE ELEFANTE." Ele proclamou.

Peter teve um ataque de riso tão forte que quase caiu da cama. Sirius deu uma
gargalhada, e James ficou vermelho,

"Eu não sabia que você escolheria algo assim!" Ele disse: "Ela é minha futura
esposa!"

"Quem é sua futura esposa?" Sirius perguntou, rapidamente,

"Estrume de elefante." James respondeu, então levou as mãos à boca. "Lupin!"

"Você disse que não se importava," Remus respondeu, como um profissional,


"Agora, tente dizer 'Evans' novamente, mas realmente tente quebrar meu
feitiço, ok?"

"Estrume de elefante." James disse, prontamente. Então, com mais força,


"Estrume de elefante". Ele apertou os olhos, "Es-tru-me ... de ...ele-. Estrume
de elefante colossal." Ele baixou a cabeça, cabisbaixo.

Peter mal conseguia respirar de tanto rir agora, e Sirius teve que se apoiar na
cabeceira da cama.

"Excelente." Remus sorriu. Ele baixou sua lista. "Ei, são seis horas. Vamos
jantar?"

"Sim, apenas faça o contra feitiço primeiro." Disse James.

"Oh, não," Remus balançou a cabeça solenemente, "Desculpe Potter, mas eu


quero testar o feitiço por completo - precisamos ter certeza de que não vai
passar muito rápido. Vou desfaze-lo amanhã de manhã. "

"O que?!" James rugiu,


"Ai sim!" Sirius engasgou, enxugando as lágrimas de seus olhos.

"Desculpe," Remus disse de novo, nem um pouco culpado, "Fique feliz por
não termos escolhido uma palavra comum."

"M-mas, e se eu topar com estrume de elefante?"

"Oh, eu não acho que você vai," Remus deu um pequeno sorriso, "Quase não
há elefantes na Escócia."

James fez uma careta,

"Você sabe o que eu quero dizer! Colossal! Estrume colossal de elefante?! "

Remus encolheu os ombros,

"Não grite o nome dela? Vamos, estou morrendo de fome! "

***

"James! Olha quem é!"

"Cale. a. Boca." James cerrou os dentes e olhou duramente para seu prato.
Sirius balançou a cabeça em desaprovação, o rosto contorcido em piedade.

"Isso não é maneira de cumprimentar ... qual é o nome dela?"

"Eu não vou cair nessa, você sabe. Eu sou mais forte do que isso." Disse
James, cortando seu bife e sua torta com força.

"Ela está bem ali, cara," Sirius disse, tentando controlar seu sorriso, "Como ela
vai notar você se você não chamar ela?"

"Ei, Evans," Remus disse, de repente, acenando para a ruiva, "Quer se sentar
com a gente?"

Ela parou e olhou para eles, com cautela,

"Por quê?"

"Você é uma Grifinória, nós somos Grifinórios ..." Sirius disse, levantando-se
para dar a ela seu lugar ao lado de James, "Nós devemos sentar juntos. Além
disso, vai realmente irritar Potter. "
"Bem, nesse caso." Lily se sentou. Sirius empurrou Remus para abrir espaço ao
lado dele. Lily olhou para James com curiosidade, que tinha ficado vermelho
como uma beterraba. "Por que eu te irrito, Potter?"

"Você não me irrita!" Ele disse, rapidamente: "Eles estão apenas sendo
babacas."

"Olhe a boca, Potter!" Sirius disse, severamente, derramando molho sobre seu
purê de batata e ervilhas. "Isso não é jeito de falar na frente de uma senhorita."

"O que está acontecendo?" Lily olhou para Remus com desconfiança, "Vocês
estão tirando sarro de mim?"

"Estamos tirando sarro de James." Peter guinchou, soando como se estivesse


tendo dificuldade em conter sua empolgação. Pela primeira vez, ele não era o
alvo da piada, e era claramente uma ideia estonteante para si.

"Estou testando um feitiço nele." Remus disse simplesmente. Os olhos de Lily


brilharam enquanto ela analisava a situação.

"E qual é o feitiço?"

"Mutatio Verbi."

Suas sobrancelhas se ergueram,

"Essa é ... oh meu Deus, Remus, qual palavra?!"

"Hum ..."

"Estrume colossal de elefante." James disse, taciturno. Peter cuspiu seu suco de
abóbora e deixou seu garfo cair da mesa. Lily deu uma risadinha, nervosa.

"O que você disse, Potter?"

"E... Estrume" James se esforçou para lutar contra o feitiço, "Estrume de


elefante... colossal... estrume colossal de elefante"

"Colossal...?! Oh, pelo amor de Deus! " Lily olhou feio para Sirius, "É meu
nome, não é?"

"Não olhe para mim!" Sirius sorriu, erguendo as mãos, "Foi ideia do Moony!"
Lily se virou para Remus, sua carranca desaparecendo.

"Sério, Remus?"

"Err ... sim, mas não era para ser ofensivo ou qualquer coisa-"

"Isso é incrível!" Ela disse: "Magia muito inteligente!"

"Espere até amanhã!" Peter disse, se recuperando de sua histeria. Sirius o


chutou por baixo da mesa.

"Sinto muito, estrume de elefante." James disse, parecendo genuinamente


desamparado. Desta vez, até Lily riu.

***

Quarta-feira 31 de outubro de 1973

"Nada está acontecendo."

"Bem, eles não vão começar a se insultar, vão?"

"Temos que força-los a isso. Pete, vá e— "

"Ei, eu sou sangue puro!"

"Ah sim, faz sentido. Hum ... Moony, vá e tropeça em um deles ou algo assim.
Faça isso com o Snivellus. Ou minha prima, sim, vá em Cissy! "

"Não." Remus disse, baixinho. Ignorando o fato de que ele realmente não tinha
nenhum problema com Narcissa, ele não queria ser tão óbvio. "Vamos apenas
esperar. Paciência, Black, paciência. "

"Mas pode levar dias."

"Não vai." Mary disse, friamente. "Vocês três devem ser cegos se não viram o
que está acontecendo por aqui." Isso os calou.

Mary estava sentada ao lado de Sirius pela segunda vez naquela semana.
Remus não se importava - ele gostava de Mary, ela era engraçada, descarada e
teimosa, mas infalivelmente gentil e cheia de compaixão. Ela era sua amiga.
Mas. Bem, ela não era um maroto, era?! Sua presença parecia intrusiva, de
alguma forma; não combinava bem com o vai e vem de costume. E
ela sempre se sentava ao lado de Sirius, o que significava que ninguém podia
falar com ele sem que ela ouvisse e lhe piscasse os cílios. Claro, Remus sabia
que ela gostava dele e tudo mais, mas ele não tinha certeza se Sirius sabia disso
ainda - ou talvez fosse assim que você deveria agir quando alguém gostava de
você.

"O que está acontecendo, então?" James perguntou, muito sério. "Você anda
sendo xingada, MacDonald?"

Ela deu de ombros, tomando seu suco de abóbora.

"Tem sido pior este ano. Você deve saber, Remus? "

Remus assentiu vagamente, desviando o olhar, como se estivesse mais


interessado em assistir os sonserinos. Era a festa de Halloween e todos estavam
animados. O professor Flitwick tinha encantado morcegos pretos brilhantes
para voar sobre suas cabeças, finas teias de aranha prateadas brilhavam nas
vigas, e o Grande Salão cheirava a outono, abóbora assada, fumaça de lenha e
maçãs assadas.

"Então ..." James continuou, lentamente, "Todos os nascidos trouxas estão


sofrendo esse tipo de coisa, então? Até ... até mesmo estrume de elefante - oh,
pelo amor de Deus, Remus! Por favor, conserte isso! "

"Se você fizer meu dever de Poções." Remus respondeu, rápido como um
dardo.

"Está bem! Qualquer coisa! Eu vou te dar minha maldita vassoura se você..."

"Finite." Remus apontou sua varinha para James. James olhou para ele,
parecendo atordoado. Ele limpou a garganta.

"Lily Evans." Ele disse, muito claramente, então sorriu.

"O que é agora, Potter?!" Lily se virou, sua conversa com Marlene
interrompida.

"Quer sair comigo?"

"Não." Ela se virou novamente.

"Obrigada, Moony."
"Estou à disposição."

"Espera" Sirius disse, "Espere só um minuto. O contra feitiço é Finite


Incantatum ?!"

"Sim."

"Mas esse é apenas o contra feitiço padrão!"

Remus encolheu os ombros.

"Eu nunca disse que era difícil. Vocês, puros sangues, não têm um pingo de
senso comum entre vocês."

Mary guinchou de tanto rir, James engasgou com sua batata assada e Sirius deu
um tapa nas costas de Remus.

"Eu juro, Moony. Quando se trata de esquemas malignos, nenhum de nós


ganha de você.''

Remus enrubesceu de orgulho e o dispensou, voltando para seu jantar.

"Veja!" Peter gritou, de repente, apontando um dedo gordinho na direção da


mesa da Sonserina. Um lufano do segundo ano havia se aproximado demais de
Mulciber, que se levantou e estava rondando-o.

"Sim," Sirius sussurrou, "Vá em frente, seu grande troll ..."

O lufano estava tremendo tanto que derramou sua bebida, derramando a maior
parte em suas próprias vestes, mas também borrifando levemente as pontas dos
enormes sapatos pretos de Mulciber. O sonserino de nariz arrebitado agarrou o
outro pela gravata - o resto da mesa da Sonserina se virou para assistir,
ansiosos.

"Limpe isso, seu docinho angelical."

Silêncio mortal. O lufano parecia confuso e soltou uma risada nervosa.


Mulciber parecia mais estúpido do que o normal.

"O que você disse, Mulciber?" Snape perguntou, olhando para ele.

"Docinho angelical!" Mulciber rugiu, com o rosto vermelho. "Não! Eu quis


dizer – tortinha de maçã! Não! Fofura maravilhosa!"
O salão inteiro explodiu em gargalhadas.

"Puta merda" Sirius disse, baixinho, "Mulciber realmente sabe xingar, hein?
Não achei que eles usariam metade da minha lista. "

"Sente-se, seu idiota." Snape disse ao valentão, que havia soltado a gravata do
lufano e continuava dizendo várias palavras fofas.

"Isso foi brilhante, Sirius!" Mary o abraçou. Remus de repente perdeu o


apetite. Sirius apenas jogou o cabelo galantemente.

"Apenas espere", disse ele, "esse foi apenas o começo."


48. Terceiro Ano
Sirius Faz Catorze Anos

Sexta-feira, 2 de novembro de 1973

Remus espiou pela porta do dormitório silenciosamente e - encontrando tudo


certo - entrou sorrateiramente. Ele cuidadosamente abriu seu malão e empurrou
o pacote dentro, cobrindo-o com um velho par de jeans.

"Oie, Moony," uma voz atrás dele o assustou tanto que ele deixou cair a tampa
do porta-malas com um * THUNK * pesado e se virou. James estava saindo do
banheiro, seu cabelo escuro molhado e seus óculos embaçados.

"Oi." Ele disse, esperando que não parecesse estar tramando algo.

"Você está tramando alguma coisa?" James semicerrou os olhos para ele.

"Não."

"O que você está fazendo?"

"Nada!"

"É o presente de aniversário do Sirius?"

Os ombros de Remus cederam, ele suspirou.

"Sim."

"Você não precisa esconder isso de mim, Moony," James riu, facilmente,
jogando a toalha na cama e começando a se vestir. "Eu não vou contar a ele."

Remus apenas deu de ombros sem jeito. Ele realmente só queria esconder o
fato de que tinha passado as últimas duas horas no banheiro feminino do quarto
andar tentando embrulhar o estúpido presente, com a Murta Que Geme
cacarejando no alto, sem dar nenhum conselho útil.

Ele também estava tentando evitar perguntas embaraçosas sobre onde ele havia
conseguido o dinheiro. Seu estoque de cigarros roubados estava quase
totalmente esgotado agora, e ele tinha dinheiro suficiente para comprar
presentes de Natal para seus amigos e - se ele fosse prudente - algo para si
mesmo. Ele não queria nada, mas Remus gostava da ideia de que ele poderia
simplesmente ir e comprar algo se quisesse.

"Sorte que caiu em um sábado este ano", disse ele a James, relaxando um
pouco, "Você sabe o que vamos fazer?"

"Bem, obviamente, teremos que cantar 'feliz aniversário' no café da manhã",


disse James, muito sério.

"Obviamente." Remus concordou.

"E almoço e jantar. Tenho treino de quadribol pela manhã, mas pedi a Hooch
que me deixasse ficar meia hora extra no campo antes que os corvinos entrem,
para que possamos voar um pouco. "

"Ah, legal," disse Remus, com um pouco menos de entusiasmo. Sua ideia de
diversão não era sentar-se na arquibancada de quadribol sozinho em uma fria
manhã de novembro - mas era o aniversário de Sirius, afinal. Talvez ele
pudesse levar um livro.

"Então eu suponho que ele terá que fazer aquele chá da tarde com Regulus e
Narcissa. Então, teremos que descobrir quando isso acaba antes de podermos
organizar uma festa adequada. Você acha que os outros se importarão se
usarmos a sala comunal? "

"Nah," Remus balançou a cabeça, com confiança. Ninguém poderia negar nada
a James e Sirius - especialmente uma festa de aniversário muito barulhenta.
Isso era verdade em qualquer época do ano, mas especialmente nesta semana,
quando a popularidade dos marotos parecia estar no auge.

Desde quarta-feira, Remus mal conseguia andar por um corredor sem ouvir
comemorações ou receber um tapinha nas costas de outros grifinórios, corvinos
ou lufanos. Os sonserinos, ainda carrancudos, lhe fuzilavam com olhares se
passasse por eles - mas não podiam dizer nada. Alguns tentaram, é claro.
Durante os primeiros dois dias após o Halloween, os ocasionais "docinho
angelical" ou "meu pãozinho de mel" podiam ser ouvidos - e recebidos com
risos estridentes. Snape até perdeu completamente a paciência durante a aula
de Feitiços de Sexta-feira e chamou James de "gatinho fofuxo", o que quase
matou Sirius de tanto rir e deixou Lily mortificada.

A melhor parte dessa brincadeira, que Remus nem havia considerado ao


planejar, era que nenhum dos sonserinos poderia reclamar com os professores
sobre o feitiço - porque isso significaria explicar quais palavras foram
substituídas. Então, foi um processo lento e imensamente agradável de assistir
enquanto os alunos da Sonserina tentavam descobrir o contra feitiço por si
mesmos.

"Bem feito para eles", Marlene deu uma risadinha, no início da manhã, "Se
eles fossem da Lufa-Lufa, já teriam se livrado do feitiço."

Da noite para o dia, os marotos deixaram de ser os palhaços de classe –


queridos, mas tolerados - a heróis da guerra entre casas que vinha fermentando
durante todo o ano. Remus tentou não pensar sobre os efeitos a longo prazo
que isso poderia ter, e se concentrou no aniversário de Sirius. De alguma
forma, quatorze parecia ainda mais maduro do que treze -
você definitivamente era um adolescente aos quatorze.

Mary sentou-se com eles no jantar naquela noite, mais uma vez. Uma ou duas
vezes, Remus pensou em perguntar a James como ele se sentia sobre esse novo
arranjo, mas se conteve. Afinal, James parecia não se importar nem um pouco
e continuou como de costume. E Mary não estava fazendo nada de errado ao
sentar-se na mesa de sua própria casa.

Sinceramente, Remus ainda não tinha conseguido entender por que a presença
dela o incomodava tanto, exceto que ela sempre se sentava ao lado de Sirius, o
que ele achava que era uma exibição um tanto óbvia. O contínuo silencio de
Sirius sobre todo o assunto era igualmente irritante. Remus não gostava que
outras pessoas guardassem segredos.

"A que horas você estará livre amanhã, Black?" James perguntou, enquanto
comiam bacalhau empanado crocante e batatas assadas.

"O que você quer dizer?" Sirius perguntou, colocando vinagre generosamente
sobre seu prato, antes de passar a garrafa para Remus. Mary, que estava
tentando alcançar o vinagre, lançou a Remus um olhar engraçado.

"Sabe, que horas você acha que o chá da família Black vai terminar? Para o seu
aniversário?"

"Oooh, é seu aniversário, Sirius?" Mary sorriu: "Você nunca disse! Eu teria
comprado algo para você! "

"Você teria?" Sirius olhou para ela, ligeiramente confuso. Ele se virou para
James, "Eu não acho que o chá vai acontecer este ano. Não me mandaram
nada.''
"Sério?" James ergueu as sobrancelhas, o que sempre dava a ele uma expressão
como a de uma coruja, "Você ... quero dizer, está tudo bem?"

Sirius bufou, olhando para sua comida.

"Por que não estaria? Como se eu me importasse. "

"Bem ... ótimo, então." James sorriu, lançando um olhar para Peter e Remus
que só eles entenderiam, "Podemos começar a planejar a festa mais maneira
que a torre da Grifinória já teve."

"Sim!" Peter acrescentou, para completar.

"Estou convidada?" Mary perguntou, endireitando-se.

"Obviamente." Remus disse, sua voz mais sarcástica do que ele pretendia,
"Todos estão convidados."

"Olha, talvez seja melhor não fazer nada grande." Sirius disse, brincando com
suas ervilhas, "Não estou muito animado."

"Ah por que não?" Mary guinchou "Vai ser divertido! Vai ser tão bom quanto
o aniversário de Remus no ano passado - ainda melhor! "

Sirius não disse nada, e James lançou outro olhar para Peter e Remus. Eles
comeram o resto da refeição em um silêncio quase total.

***

Sábado, 3 de novembro de 1973

Remus acordou sozinho na manhã do aniversário de Sirius, encontrando um


bilhete pregado na porta do banheiro, escrito em uma bela letra.

Fomos para o treino de quadribol - sabia que não gostaria de vir, então o
deixei dormir. Vejo você mais tarde. S.

Remus tomou banho e decidiu que era melhor ir para a biblioteca. Ele havia
terminado sua redação sobre as criaturas mágicas da classe XXX e queria obter
uma vantagem inicial nas criaturas da classe XXXX. (Ele soube recentemente
que ele, o Remus Lupin esquelético de treze anos, era classificado como
XXXXX, junto com mantícoras e dragões.)
Eles estavam indo adiante com a festa com ou sem o consentimento de Sirius -
uma decisão tomada por James e apoiada por Remus. Mesmo quando estava
para baixo, Sirius não resistia em ser o centro das atenções e fazer o máximo
de barulho possível. Peter foi encarregado da decoração e - com a ajuda de
Mary e Marlene tudo deu certo –com um baú cheio de serpentinas e balões
escondido no dormitório feminino do terceiro ano. James lidou com os
convites - que, pelo que Remus tinha percebido, envolvia gritar para vários
alunos dizendo a eles que seria melhor eles estarem lá. Remus era responsável
pela comida - algo que era bastante simples quando você tinha acesso ao mapa
e à capa da invisibilidade.

Ele tomou um café da manhã tranquilo sozinho com seu livro. A hora das
refeições estavam muito mais pacíficas, já que os sonserinos haviam sido
temporariamente amordaçados. Mesmo aqueles que conseguiram quebrar o
feitiço ficaram de boca fechada, pelo menos por um tempo.

O livro que Remus estava lendo era tão interessante que ele não conseguia
largá-lo e, em vez disso, continuou a ler enquanto vagava lentamente em
direção à biblioteca, ocasionalmente esticando a mão para evitar bater em
qualquer pilar ou porta. Então, foi completamente culpa sua quando ele bateu
de cabeça em Regulus Black, jogando o garoto mais novo no chão.

"Oh, desculpe!" Remus disse, largando seu livro e automaticamente


oferecendo uma mão para ajudá-lo a se levantar. Regulus olhou para ele e
estreitou os olhos para as cicatrizes que cruzavam os pulsos de Remus. Ele
ficou de pé sem ajuda, limpando-se, olhando Remus de cima a baixo com sua
compostura herdada dos Black.

"Olhe para onde você anda." Ele disse, friamente.

"Eu pedi desculpas." Remus respondeu, um pouco irritado. Ele não queria
começar nada, só queria chegar à biblioteca em paz.

"O que você está fazendo vagando sozinho, afinal," Regulus perguntou,
desconfiado, "Planejando algum outro ataque hilário à nossa liberdade de
expressão?"

Remus zombou.

"Eu poderia te perguntar a mesma coisa. Onde está aquele esquisito do


Crouch? De qualquer forma, você não pode provar que fizemos nada."
"Não," os lábios de Regulus se curvaram, "Mas eu sei que meu irmão estava
envolvido."

"Ah, é?"

"Sim. Eu não recebi as mesmas palavras que todo mundo."

"Hmm?" Remus tentou parecer despreocupado com isso - mas ele não tinha
ideia de que Sirius havia amaldiçoado seu irmão de forma diferente.

"Toda vez que tento dizer o nome da minha casa, sai ..." Regulus olhou
furtivamente ao redor, como se estivesse com medo de ser ouvido, "Vai,
Grifinória, vai!"

Remus começou a rir, sob o olhar imperioso de Regulus.

"Desculpe," Remus disse, pela terceira vez, "É ... bem, é muito engraçado."

"Claro que você acha isso engraçado." O menino mais novo fungou. Ele era
mais baixo do que Remus, mas de alguma forma ainda conseguiu olhar para
ele de cima, "Você ... seu tipo não consegue entender o que meu irmão está
colocando em jogo. Eu fiz o meu melhor para esconder o pior de nossos pais,
mas ele tem que continuar pressionando ... "

"Então é por isso que ele não foi convidado para o seu chá estúpido de
garotinhas?" Remus perguntou, irritado em nome de seu amigo.

"Narcissa não achou que valia a pena este ano", o olhar frio de Regulus vacilou
e ele desviou. Remus teve a impressão de que Regulus gostaria muito de uma
chance de ver seu irmão. "E esta última brincadeira dele acaba de provar isso.
Ele nunca vai ... voltar. "

Regulus se livrou desses pensamentos e se virou na direção das masmorras.


Remus sentiu uma onda de simpatia e, contra sua vontade, o chamou de volta,

"Reg, espere!"

Regulus se virou, parecendo horrorizado com a familiaridade de Remus.


Mas Regulus era um nome tão feio. Muito pior do que Remus. "Olha," ele se
apressou, "vamos dar uma festa para Sirius na sala comunal esta noite, você
pode vir se ..."
"Não faça isso." Regulus disse, bruscamente, parecendo ansioso, "Não me
convide, ok? Apenas ... deixe pra lá. Diga a ele feliz aniversário por mim." E
então saiu correndo.

***

Com ou sem Regulus, a festa foi um sucesso estrondoso. Literalmente, todos


os leões da sala comunal (e haviam muitos) foram encantados para rugir cada
vez que alguém dizia as palavras 'aniversário' ou 'Sirius'.

Toda a casa da Grifinória se envolveu, e Remus tinha certeza de que alguns


dos alunos mais velhos estavam distribuindo frascos com algo um pouco mais
forte do que a cerveja amanteigada que todos os outros estavam bebendo. A
vitrola de Sirius estava girando loucamente em tempo integral e muitas garotas
se levantaram para dançar. Mary tentou puxar Sirius para dançar quando John,
I'm Only Dancing tocou, mas ele balançou a cabeça com fervor e ficou no sofá
com Remus e Peter.

"Eu só sei dançar valsa", ele confidenciou a eles em um sussurro, "E vai ser um
inferno se eu tiver que dançar aquela merda de novo."

James se levantou e tentou sacudir o quadril o mais próximo possível de Lily,


mas rapidamente tropeçou em uma fenda no tapete e quase caiu de cabeça na
lareira. Sirius riu muito disso e Remus ficou satisfeito em ver que, pelo menos
hoje, ele não havia deixado os problemas de sua família lhe encherem a
cabeça. Decidiu não contar a Sirius sobre seu encontro com Regulus ainda -
isso não o deixaria mais feliz, então qual era o ponto?

"Você é Lupin, não é?" Uma garota se inclinou sobre o encosto do sofá, seu
longo cabelo preto roçando o ombro de Remus. Ele a tinha visto antes; ela era
do sexto ano.

"Hum, sim," ele acenou com a cabeça, pulando.

"Minha amiga, Fariahah, diz que você está vendendo ..."

"Err, venha aqui!" Ele saltou sacudindo a cabeça freneticamente. Ele até agora
conseguiu conduzir seus negócios de forma privada e sem que os outros
marotos soubessem. "O que você quer?" Ele perguntou, uma vez que eles
estavam no canto mais distante de Sirius e Peter.

"Dois pacotes de tudo o que você tiver." Ela disse.


"Um galeão."

"O que?!" Ela exclamou: "Mas Fariahah disse que eram cinco sicles por
maço!"

"Meu estoque está acabando", disse Remus, desinteressado, "oferta e


demanda."

"Ugh, tudo bem." Ela cruzou os braços e balançou a cabeça: "Um galeão."

"Não posso pegar eles agora. Encontre-me aqui às sete amanhã. Sete da
manhã."

"Em um domingo?!"

"Tenho muitos clientes, sabe."

"Tudo bem, tudo bem..."

"O que está acontecendo aí, Moony?" Sirius olhou para ele enquanto Remus
voltava para o sofá. Seu olhar suspeito era idêntico ao de seu irmão. "Não
é outra namorada?"

"Cale a boca" Remus o chutou.

"Quem é sua namorada, Remus?" Mary se sentou, parecendo


interessada. Deus, Remus pensou, de onde ela veio?

"Eu não tenho namorada, Black está apenas sendo um idiota."

"Bom," Mary se acalmou, sorrindo presunçosamente, "Porque se você tivesse,"


Ela enrolou o cabelo em espiral em um dedo, "Eu conheço alguém que ficaria
muito desapontada ..."

"Ah. Está bem." Ele respondeu, tentando não mostrar a ela o quão irritado
estava.

"Quem gosta de Moony?" Sirius perguntou, cutucando Mary.

"Eu não poderia dizer a você." Mary respondeu, fazendo a mímica de um zíper
passando por seus lábios. Remus queria que ela fizesse isso de verdade, para
sempre.
"Garotas." Sirius disse, exasperado, "São um pesadelo, todas vocês."

Mary fez beicinho, mas não disse mais nada. Sirius balançou a cabeça para ela,
mas estava sorrindo. Finalmente, ele voltou para Remus, "Então o que você
está vendendo? Aquela garota disse que você estava vendendo alguma coisa."

"Não é nada." Remus disse, inocentemente. "Ela perguntou a pessoa errada."

"Eu vou descobrir, você sabe." Sirius disse, um olhar de alegria em seus
profundos olhos azuis. "Não que eu não esteja grato pelo presente de
aniversário verdadeiramente excelente", ele acenou com a cabeça para o chão
onde seu kit de brincadeiras práticas deluxe da Zonko recentemente
desembrulhado estava aberto com orgulho; 'Para completar a coleção de
qualquer mestre piadista'. "Mas eu vou descobrir como você pagou por isso,
eventualmente. Eu não acredito nessas coisas sobre uma tia morta deixando
dinheiro para você. "

"Seu tio morto deixou dinheiro para você," Remus rebateu.

"Mas não posso tocar até atingir a maioridade, posso?" Sirius disse,
astutamente, "Não, você está tramando alguma coisa, Lupin, eu te conheço -
você não é Moony se não tiver um segredo."

"Me deixe ter o meu segredo, então" Remus virou a cabeça misteriosamente.
49. Terceiro Ano
Conhece-te a ti Mesmo

Domingo, 11 de novembro de 1973

Remus acordou, gaguejando e tremendo. A sala estava escura e sua respiração


explodia em plumas brancas acima de sua cabeça. Tudo doía. Ele ergueu as
mãos na frente do rosto e encontrou as pontas dos dedos azuis e
ensanguentadas. Havia lascas sob suas unhas e mais sangue em outro lugar -
ele podia sentir o cheiro, mas não conseguia ver muito bem no escuro e não
tinha energia para levantar a cabeça. Seus ossos pareciam feitos de giz. Ele
estava tão cansado.

Ainda assim, se havia tanto sangue quanto ele pensava, provavelmente não era
uma boa ideia dormir. Ele deveria ficar acordado pelo menos até que Madame
Pomfrey pudesse chegar - o que não deveria demorar muito. Remus ficou
imóvel e concentrado em sua respiração. Havia um jogo da Grifinória hoje
também, outra coisa que perderia. Não só isso, mas seus amigos estariam
ocupados demais para visitá-lo.

Ele virou a cabeça e levantou. Ele esperava não vomitar, era tão constrangedor
vomitar. Ele não tinha sua varinha com ele, então não poderia limpar.

"Bom dia, Remus," Madame Pomfrey finalmente entrou na sala. "Oh querido,
um pouco de bagunça, hein?"

Ele levantou a cabeça e prontamente vomitou.

***

"Não tenho certeza se gosto de toda essa leitura que você faz." Madame
Pomfrey resmungou enquanto trazia uma poção curativa para ele. "Eu sei que
seus estudos são importantes para você, mas você precisa descansar."

"Eu dormi a manhã toda." Ele respondeu: "E eu fico tão entediado, se não ler.
Você sabe como foi a partida de quadribol? "

"Receio que não", sorriu a medi bruxa. "Tenho certeza que o Sr. Potter estará
aqui para lhe dizer assim que puder."
Isso não era muito provável, se eles tivessem vencido - haveria uma festa para
comemorar a vitória, e Remus tinha feito James prometer não a perder por sua
causa. Ele aceitou a poção que lhe foi dada e engoliu tudo sem reclamar. Era
amarga, mas ele já havia se acostumado a essa altura.

Ele precisava ler, porque se não o fizesse, não teria nada para fazer, exceto
pensar em suas cicatrizes recentes. Este mês, o lobo havia rasgado seu torso, o
que era melhor do que seus braços ou rosto - pelo menos ele poderia esconder
as marcas mais facilmente.

Remus raramente se despia na frente de alguém; mesmo depois que os marotos


descobriram sobre seu pequeno problema peludo. Ninguém, exceto Madame
Pomfrey, tinha visto a verdadeira extensão do dano (bem, Sirius tinha, uma
vez, no início do segundo ano, mas nenhum deles havia reconhecido aquele
estranho encontro desde então). Ainda assim, Remus não era ingênuo, e ele
sabia que um dia, por mais longe que estivesse, alguém esperaria que ele
tirasse a blusa - no mínimo. Ele não aguentava pensar sobre isso. Talvez ele
apenas tivesse que evitar as meninas para sempre.

"Sr. Lupin!" Uma voz alegre ecoou pelo chão do hospital, fazendo Remus
pular. Era o Professor Ferox, segurando dois grandes potes de um líquido claro
em seus braços.

"Oh, olá," Remus deu um pequeno aceno.

''Essência de murtisco, como prometido, Poppy'' o professor largou os


potes. Não venha aqui, não venha aqui, Remus pensou freneticamente
enquanto o Professor Ferox caminhava pela enfermaria em direção a sua cama.
"Lutou numas guerras, filho?" Ele perguntou, gentilmente.

"Hum ..." Remus queria se encolher e se esconder debaixo dos lençóis. Ele
odiava a ideia do forte e enérgico Ferox vê-lo em seu estado de fraqueza.
"Estou bem."

Ferox se sentou ao lado da cama de Remus. Ele se resignou ao seu destino.

"É a segunda vez aqui neste ano, hein?" O professor disse, parecendo
preocupado. Remus assentiu, embora fosse sua terceira lua neste semestre. Se
Ferox não tivesse notado uma ausência, então talvez ele não ligasse os pontos.
"Sabe, se precisar de mais tempo para fazer o dever de casa, é só pedir."

"Eu nunca entreguei nada atrasado!" Remus protestou.


"Não", os olhos de Ferox brilharam, "Certamente que não." Seus olhos se
moveram para as bandagens saindo do colete do pijama de Remus, cobrindo
um novo corte que serpenteava por sua clavícula. Algo foi registrado nos olhos
do homem mais velho, e Remus soube quase instintivamente que Ferox sabia.

"Eu consigo fazer tanto quanto qualquer outra pessoa." Remus disse, olhando
seu professor nos olhos.

"Eu posso ver isso." Ferox agora olhou para a pilha de livros na mesinha de
cabeceira. "Isso é tudo para a escola?"

"Alguns." Remus respondeu, "Outros são por diversão. Gosto de descobrir


coisas novas. Gosto de saber coisas."

"Sim, posso perceber isso dos seus deveres" Ferox estava sorrindo de novo, o
que fez Remus relaxar um pouco. "Você gostaria de uma carreira cuidando de
criaturas mágicas? Ou talvez algo mais parecido com seu pai? "

"Er ... eu não tinha pensado nisso." Mentiu.

Ferox riu. Ele bateu no livro no topo da pilha. Fora emprestado de Sirius - um
livro de filosofia trouxa.

"Conhece-te a ti mesmo, Remus." Ferox disse.

"Platão." Remus disse rapidamente.

Ferox riu de novo, levantando-se.

"Exatamente." Ele bagunçou seu cabelo antes de se virar para sair, "Espero que
você se sinta melhor logo, Lupin. Te vejo na quarta-feira."

Era tudo muito enigmático, Remus pensou, percebendo que estava prendendo a
respiração por quase um minuto quando Ferox saiu da sala. Ele ainda não tinha
começado Platão, apenas o folheou - não era o tipo de coisa que ele era
normalmente se interessaria, mas estava disposto a tentar um pouco de tudo.

Secretamente, ele queria ser capaz de mostrar a Sirius que havia lido mais
livros. Sirius dificilmente gastava mais tempo lendo - sua missão obstinada de
cumprir o papel de ovelha negra da família Black significava que ele tinha
pouco tempo para outra coisa senão causar problemas. Ele se arrependeria, um
dia, na opinião de Remus. Tinha visto muitos garotos em St. Edmund's
tentando forçar seus limites assim - o problema era que alguns limites não
eram cercas. Às vezes eles eram precipícios; sem nada do outro lado.

***

Ele se curou muito bem, apesar da cicatriz brutal, e Madame Pomfrey o


mandou de volta para a torre da Grifinória naquela noite, contando que não
fizesse nada além de descansar. Ele caminhou devagar, como prometido.
Quando finalmente alcançou a sala comunal, ele não encontrou a festa da
vitória que esperava, mas uma atmosfera bastante moderada, e os marotos não
estavam em lugar nenhum.

Remus franziu a testa e subiu as escadas para encontrar o quarto também


vazio. Perplexo, ele desceu as escadas. Marlene e Mary estavam jogando snap
junto à lareira.

"Oie," ele disse e foi até elas.

"Tudo bem, Remus? Onde você esteve?" Mary perguntou, sem tirar os olhos
de suas cartas.

"Estava doente. Ruim do estômago. Como foi o jogo?"

"Nós perdemos," Marlene suspirou, "James foi brilhante como sempre, e eu


devo ter bloqueado pelo menos vinte balaços, mas Ramsay pegou o pomo
exatamente na hora errada."

"Ah, desculpe McKinnon." Remus esfregou a nuca. Isso era estranho - se eles
haviam perdido e não houve festa, então por que os outros não vieram vê-lo?
Ele tentou ignorar a pontada em seu estômago. "Você viu James desde então?
Ou Sirius ou qualquer um? "

"Não." As meninas disseram em uníssono. Marlene bateu com uma carta e


estremeceu quando ela explodiu. Ela olhou para cima.

"Quer jogar?"

"Er ... não. Ainda me sinto um pouco mal. Vou deitar. Mas, obrigado."

Ele voltou a subir as escadas, sentindo uma mistura desconfortável de


ansiedade e raiva. Ele disse que não deveriam adiar a comemoração só para
ele, mas isso não significava que ele não queria vê-los. Eles não precisavam
deixá-lo sozinho assim, sem ao menos verificar se ele estava bem. Pelo que
eles sabiam, ele poderia estar na enfermaria ainda, às portas da morte e sem
ninguém além da Madame Pomfrey como companhia. Eles estavam entediados
com a coisa toda? Estava mais chato agora? Ele era mais chato?

Remus deitou em sua cama em cima das cobertas. Ele se sentia como se
estivesse tirado o pijama há apenas uma hora, ele vestir de novo, não
importava o quão cansado ele estivesse. Pensou em ler, mas não tinha energia.
Poderia ouvir um disco, mas isso significaria se levantar. No final, ele ficou
parado, deitado no escuro com as cortinas fechadas.

Em St Edmund's, antes que pudesse ler, antes de ter magia ou amigos, Remus
se acostumou ao tédio. Ele inventava histórias em sua cabeça, repassava as
letras das músicas que havia memorizado ou tentava pensar nas palavras mais
longas que já tinha ouvido. Agora, enquanto esperava o sono chegar, Remus
ponderou sobre o que Ferox havia dito a ele antes.

Conhece-te a ti mesmo. Ele não conseguia se lembrar do contexto para Platão


ter dito isso - tinha que significar "saber quem você é".

Remus sabia tudo sobre seus amigos. Ele sabia que James era um líder natural,
um deus do quadribol e que faria qualquer coisa por qualquer um. Remus sabia
que, embora todos eles zombassem de James por estar apaixonado por Lily,
James tinha uma compreensão mais clara do amor do que qualquer pessoa, e se
ele dissesse que se casaria com ela um dia, provavelmente o faria. Remus sabia
que Peter tinha vergonha de sua família, especialmente de sua irmã mais velha,
cuja ele uma vez admirou, e que se encaixar significava mais para ele do que
qualquer outra coisa no mundo. Remus sabia que os pais de Mary nasceram na
Jamaica e que ela era a única bruxa em uma família de sete, e que ela nunca,
nunca chorava, mesmo quando estava furiosa. Ele sabia que Lily chorava toda
vez que recebia uma carta de casa, e que ela escrevia para a irmã todas as
semanas e nunca havia recebido uma resposta. Ele sabia que Marlene não se
dava muito bem com o pai, que era trouxa e bebia muito às vezes.

Então havia Sirius - mas não era preciso nada de especial para conhecer Sirius.
Ele se achava todo indiferente e misterioso, mas a verdade é que Black vestia
seu coração na manga e não guardava nada. Ele sentia tudo tão fortemente, e
sua felicidade era tão caótica quanto sua miséria. Às vezes você tinha que dar
um passo para trás, para não ser arrastado em sua confusão.

Quem era Remus, então? Órfão - mas não exatamente. Bruxo, mas apenas um
mestiço. Um monstro, mas não todos os dias. O que mais havia? Não havia
necessidade de desenvolver muito os personagens secundários.
*CREAK*

"Moony?" O sussurro encheu o quarto tão alto quanto uma buzina. Remus não
respondeu. Ele estava muito mal-humorado.

A porta se abriu e três pares de passos entraram. Mesmo com as cortinas da


cama fechadas, Remus sabia que foi James quem se aproximou primeiro.
"Psiu, Moony? Você está dormindo, cara? "

Ele suspirou, rolando.

"Não."

As cortinas foram abertas. Remus se sentou para abrir espaço para James,
então Sirius, então Peter se arrastou para dentro para se sentar com ele.

"Fomos para a ala hospitalar, mas ela disse que você já tinha ido." James
explicou.

"Vim depois do jantar. Onde vocês estavam?"

"Biblioteca."

"Como foi?" Sirius perguntou, "A lua cheia e tudo?"

"Ok." Ele deu a mesma resposta de todos os meses.

"Não foi ... quero dizer, você não se machucou demais?" Peter perguntou,
torcendo as mãos.

"Um pouco." Remus acenou com a cabeça, "Nada muito ruim. O que estavam
fazendo na biblioteca?"

"É sobre isso que queríamos falar com você!" Sirius explodiu. Obviamente, ele
estava morrendo de vontade de dizer algo, e Remus sentiu o resto de sua
irritação derreter quando sua curiosidade atingiu o pico.

"Sirius." James disse, na voz que ele usava para acalmar seus amigos. Ele
olhou para Remus, "Estávamos fazendo algumas pesquisas e é mais ou menos
sobre você."

"Mais ou menos!" Sirius zombou, "É tudo sobre você, Moony, eu queria te
contar desde o semestre passado, mas James não ..."
"Eu só queria ter certeza de que poderíamos fazer isso." James deu uma
cotovelada em Sirius, "Pare de me interromper, inferno. Remus. A questão é
que, desde que descobrimos sobre ... hum ... seu pequeno problema peludo,
queríamos fazer algo para ajudar. "

"Não há cura." Remus respondeu rapidamente. Ele não gostou de como isso
estava soando. Se sentiu terrivelmente constrangido enquanto todos o
encaravam com o mesmo olhar louco.

"Não, não, nós sabemos disso", James acenou com a mão, "mas pensamos que
deveria haver algo que poderíamos fazer - para fazer você parar de se
machucar, você sabe."

"Nós descobrimos que lobisomens normais não fazem isso", disse Peter,
ansioso para ter sua própria opinião, "Então, lo--"

"Normais?!" Remus disse, alarmado.

"Não normais," Sirius chutou Peter, "Outros. Outros como você. Que não
ficam presos durante a lua."

"Okay..."

"Então você provavelmente está fazendo isso a si mesmo porque está preso e
frustrado."

"Bem ... sim, eu sabia disso." Remus puxou os joelhos até o peito e recuou um
pouco. Ele desejou que eles não estivessem em sua cama, estavam todos muito
perto. Podia sentir o cheiro de seu sangue; podia ouvi-lo correndo em suas
veias.

"Mas pensamos que se você tivesse companhia ..."

"Obviamente, não uma companhia humana", explicou James, apressadamente,


"Tudo o que lemos diz que se você chegar perto de um humano, seria um caso
perdido",

"Mas animais!" Sirius explodiu, "Outros animais provavelmente ficariam


bem!" Seus olhos brilharam de excitação, e Remus desejou poder retribuir,
mas ele estava muito distraído para conseguir acompanhar o que eles estavam
dizendo.

"E daí? Eu preciso de um animal de estimação?"


James riu,

"Mais ou menos. Mas pensamos ... nós poderíamos ser os animais."

Remus olhou para ele. Ele olhou para cada um de seus amigos por vez.
Estavam todos loucos.

"Vocês vão ser animais." Ele disse, sem rodeios.

"Como McGonagall!" Peter guinchou.

"Como... mas ela é um animagus! Você tem que estudar, treinar e se registrar,
e não podem nem começar antes dos dezessete anos— "

"Moony, Moony, Moony," Sirius balançou a cabeça, irritantemente, "Nós


somos marotos. Não precisamos nos preocupar com tudo isso. "

"Mesmo se quisessem infringir a lei," Remus olhou nos olhos de James ao


dizer, para confirmar que era definitivamente sobre isso que eles estavam
falando, "Isso não é uma brincadeira. É mágica séria - uma das coisas mais
difíceis de se fazer!"

"É por isso que estamos te falando sobre isso", disse Sirius, "Eu queria que
tudo fosse uma surpresa, mas James nos lembrou que ... bem, é realmente
muito difícil, então quanto mais ajuda conseguirmos, melhor."

"Vocês realmente acham que podem fazer isso, não é?" Remus franziu a testa.

"Se você nos ajudar." James acenou com a cabeça, "Nós somos os melhores
alunos do ano, exceto por Evans. Não vejo por que não devemos tentar."

"E se der errado ?!" Remus mordeu o lábio, "E se eu ainda ... depois de me
transformar, e se eu puder sentir que vocês não são realmente animais? E se eu
for atrás de vocês mesmo assim?"

"Vamos testar. Vamos testar várias vezes até sabermos que é seguro." Sirius
disse.

"É tão arriscado ..."

"Eu sei!" Os olhos de Black estavam praticamente brilhando em seu rosto


agora, e Remus sabia que não adiantava tentar ser razoável. Ele respirou fundo.
"Me deixem pensar sobre isso, por favor?" Ele apelou para James. "Não faça
nada ainda. Apenas ... me dê alguns dias."

"Está bem." James acenou com a cabeça, "Isso é justo."

"Apenas pense, Moony!" Sirius sorriu, como se não os tivesse ouvido, "Depois
de fazer isso, não há nada que não possamos fazer. Seremos imparáveis! "

50. Terceiro Ano


Philomena Pettigrew

Sexta-feira, 21 de dezembro de 1973

Depois que ele finalmente teve espaço para pensar sobre isso, Remus se
perguntou por que ele havia pedido mais tempo. Claro que diria sim. Ele
achava que nunca diria não para seus amigos, mesmo que o deixasse nervoso.
E isso definitivamente o deixou nervoso.

Talvez fosse a empolgação que o preocupava - ou o excesso de confiança


deles. Ele sabia que parte de sua ansiedade tinha a ver com o plano ser
incrivelmente ilegal, perigoso e imprudente. Mas eles também estavam
fazendo isso por ele. Ele não tinha certeza de como se sentir sobre isso ainda.
Seria melhor não pensar nisso.

Ele chamou James em particular um dia, não muito depois de terem proposto a
ideia, e pediu todas as pesquisas que tinham feito até agora. Prontamente, foi
apresentado a ele como um enorme pergaminho; parágrafos e parágrafos de
notas e diagramas escritos em uma escrita cursiva bem familiar. Dizer que
tinham sido meticulosos seria um eufemismo. Se Sirius prestasse tanta atenção
em escrever suas redações dessa forma, Remus nunca teria a esperança de
vencê-lo e ser o melhor da classe.

Eles não deixaram nada passar. Os garotos mapearam as luas cheias até
próxima década, no mínimo. Praticamente reescreveram por completo a
história da licantropia na Europa, junto com hábitos alimentares, padrões de
migração, comportamento da matilha e sinais de comunicação canina. Eles
listaram todos os ingredientes de que precisariam, seu custo e disponibilidade.
Cada ritual foi cuidadosamente transcrito, passo a passo e os encantamentos
soletrados foneticamente. Haviam cronogramas, locais sugeridos para certos
aspectos do extenso processo - tudo minuciosamente detalhado.

"Cristo." Remus disse, quando terminou de ler. "Vocês fizeram tudo isso ..."

"Principalmente Sirius." James sorriu, "Na verdade, basicamente tudo isso foi
Sirius. Ele fez a maior parte durante as férias de verão, enquanto estava
entediado. Um verdadeiro trabalho de amor."

O estômago de Remus deu uma volta. Ele não sabia o que dizer - como poderia
recusar depois de tudo isso? De repente, vender cigarros roubados para bruxos
menores de idade parecia algo muito inofensivo.

Ficou combinado que o trabalho começaria para valer nas férias de Natal,
quando todos estariam longe de Hogwarts. Remus havia conseguido a
permissão da Matrona, McGonagall e Madame Pomfrey para passar o recesso
com os Potters e, como sempre, Peter estaria na vizinhança. Sirius começou a
ficar de mau humor à medida que o fim do ano se aproximava - até que ele
recebeu uma nota extremamente curta durante o café da manhã:

Para Mestre S. O. Black III,

Você não será solicitado a permanecer na casa da família neste feriado de


inverno. Faça o que quiser.

Assinado,

Orion Black.

"Sim!" James aplaudiu, quase derrubando seu mingau, "Podemos até passar o
verão juntos, nesse ritmo!"

"E quanto a Regulus?" Remus perguntou, hesitante, baixinho, caso Sirius


quisesse fingir que não tinha ouvido.

"Ah, o pequeno Príncipe Reg vai passar o Natal em casa," Sirius respondeu,
colocando o bilhete no bolso. "Só eu que eles desconvidaram. Bom. Perfeito.
Excelente. Eles não se importam; eu não me importo. "

Ele não se animou adequadamente até que estivessem fazendo as malas. Sirius
secretamente mostrou a Remus os presentes que ele comprou para o Sr. e a
Sra. Potter - uma linda corrente de relógio de ouro e um broche brilhante.
"Você acha que eles são bons?" Ele perguntou, nervoso, "Minha família é uma
merda em dar presentes, então eu nunca sei realmente ..."

"Black ... Sirius, eles são ... quero dizer, eles são perfeitos. Não se preocupe."
Remus sentiu uma sensação de desânimo ao pensar na caixa um pouco surrada
de biscoitos medianos que comprou para seus anfitriões. Não havia jeito agora,
mas ele havia feito o seu melhor.

Na verdade, Remus estava ansioso pelo Natal deste ano, pelo que pode ter sido
a primeira vez. Ele ainda estava um pouco tímido em passar o recesso na casa
de outra pessoa, mas agora que sabia como os Potter eram, relaxou com a
ideia. Havia vendido o último de seus cigarros ilícitos a um preço absurdo e
comprou presentes para todos - até mesmo Lily, Mary e Marlene. Era
verdadeiramente um prazer dar presentes às pessoas, percebeu. Talvez até
melhor do que ganhar.

Além disso, apesar de algumas preocupações, Remus estava animado com o


início do processo de transformação em animagus. Seria uma das magias mais
complexas que já haviam feito – ele havia perguntado a McGonagall sobre
isso, o mais sutilmente possível. Ela o elogiou por se interessar, mas disse que
estava bem acima do padrão do terceiro ano, e até mesmo do sétimo ano.
Remus se saboreou com a ideia de provar que ela estava errada.

Havia outra coisa que ele esperava ganhar durante o recesso. Algo que ele não
mencionou aos outros, porque era particular. Ano passado, na festa de Natal do
Potter, Remus foi abordado por um velho que sabia muito sobre Lyall Lupin.
Na época, Remus ficou mudo com a revelação e o choque disso - mas agora,
um ano mais velho e sentindo-se bastante maduro na grande velhice dos treze
anos, Remus esperava poder aprender um pouco mais.

***

Sábado, 22 de dezembro de 1973

A lua cheia havia caído no início do mês deste ano, então todos os quatro
marotos puderam ir para casa no sábado, a bordo do Expresso de Hogwarts,
como de costume. Porém, havia uma mudança em sua viagem habitual de
trem, Marlene e Mary se juntaram aos meninos no compartimento. Remus
suspeitava que Lily estava em algum lugar sozinha com Severus,
provavelmente ouvindo ele reclamar sobre como ninguém gostava dele.

"Você pegou o resultado da sua redação com Ferox?" Marlene perguntou a


Remus, um vinco de preocupação na testa, "Eu mal consegui receber um
'Aceitável', e minha mãe vai ficar louca se eu não conseguir melhores
resultados este ano."

"Sim, eu fui bem ..." Remus respondeu, envergonhado por seu terceiro
'Excelente' naquele semestre.

"Vamos voltar com o grupo de estudos depois do Natal, certo?" Mary


acrescentou: "Lily vai participar. Não se preocupe, Marls, você ficará bem. "

"Parece bom." Remus concordou.

"Moony se juntou a um clube sem nós!" Sirius lamentou, fingindo chorar no


ombro de James.

"Ele é um menino crescido, agora", James deu um tapinha no amigo,


solenemente, "Eles crescem tão rápido."

"Vai a merda." Remus sorriu, "Hogwarts têm clube do Slughorn para gente
esnobe como você."

"Você pode estudar conosco se quiser, Sirius," Mary praticamente ronronou.

Sirius parecia alarmado - ele usava a biblioteca exclusivamente como um


recurso para pesquisar azarações e brincadeiras, não para fazer algo tão
mundano como dever de casa. Mary não conhecia Sirius. Não de verdade.

Quando eles pararam em King's Cross, Remus sentiu uma certa emoção ao ver
que o Sr. e a Sra. Potter estavam lá para pegar todos eles. Normalmente ele
tinha que cruzar a barreira e ir procurar a Matrona no café ou na banca de
jornal. No entanto, ele ficou em choque quando soube que estava prestes a
aparatar pela primeira vez.

"Segure meu braço, querido," a Sra. Potter sorriu gentilmente para ele, "Feche
os olhos, tudo vai acabar em um momento."

Remus obedeceu, fechando os olhos com força.

Era muito pior do que pó de flu. Pior do que voar. Ele quase arrastou a Sra.
Potter com ele quando pousaram, no momento em que perdeu o equilíbrio e
caiu com força na calçada em frente à casa dos Potter.
"Ops ops, querido!" A Sra. Potter riu gentilmente, levantando-o. "Você está
bem agora." Ela limpou seus joelhos e ombros. "Agora, vou voltar para pegar o
Sirius, Monty vai chegar com James em dois segundos."

E com um CRACK, ela desapareceu. Remus mal teve tempo de se apoiar na


cerca da frente e recuperar o fôlego antes que houvesse outro CRACK, e o Sr.
Potter apareceu com James, que não parecia, nem de longe, tão mal quanto
Remus se sentia.

Quando todos estavam lá, a Sra. Potter conduziu todos para dentro, fazendo
com que seus malões voassem escada acima para seus respectivos quartos,
colocando uma chaleira para ferver e cortando um bolo caseiro no que
pareceram alguns segundos. Enquanto Remus estava sentado à grande mesa de
madeira da cozinha dos Potter, comendo bolo e tomando uma enorme caneca
de chá, ouvindo James e Sirius falando pelos cotovelos, não resistiu a suspirar
contente para si. Seriam duas semanas inteiras disso.

Infelizmente, ao contrário do ano anterior, ainda não havia neve neste inverno,
apenas chuva. Na verdade, com o cair da noite, o aguaceiro foi ficando cada
vez mais forte, até que um trovão estalou no céu lá fora e granizo começou a
atingir os vidros das janelas. Em vez de sair, os meninos se sentaram na sala de
estar sob a árvore de Natal, jogando e comendo bolo de frente para a lareira.
Remus começou a ler um livro sobre transfiguração humana, e a Sra. Potter
revisava suas listas para as próximas celebrações.

"Temos mais algumas pessoas vindo este ano", explicou ela, enquanto as
longas tiras finas de pergaminho pairavam diante de seu rosto, uma pena azul
royal trabalhando rapidamente na superfície, marcando vários itens. "Alguns
amigos de velhos tempos e alguns que conhecemos recentemente", enquanto
dizia isso, ela olhou furtivamente para Sirius, que não estava prestando
atenção, imerso no jogo. "Mas saibam que sempre terá espaço suficiente para
todos vocês!" Ela continuou, com aquele sorriso feliz que era igual ao de seu
filho.

Só então, houve uma batida na porta. Sirius sentou-se ereto, como se tivesse
sido acertado por um raio. Ele se virou para a Sra. Potter com os olhos
arregalados. Não era a mãe dele, Remus sabia disso - mas não disse, porque
como diabos isso soaria? Não se preocupe, Sirius, eu conheço o cheiro da sua
mãe. - Assustador para caralho.

A Sra. Potter se levantou, deixando as listas pairando no ar, e foi atender a


porta. Uma brisa fria soprou e os três meninos ouviram atentamente. Era uma
mulher, mas sua voz era mais alta e mais jovem do que a de Walburga Black.
Ela parecia estar chorando, e a Sra. Potter falou em tons suaves.

"Rapazes!" Ela chamou do corredor. Eles se levantaram e foram ao seu


encontro. Euphemia estava parada perto da porta da cozinha. Atrás dela, uma
jovem com longos cabelos loiros estava sentada à mesa, a cabeça entre as
mãos.

"O que houve, mãe?" James perguntou, esticando o pescoço.

"Está ficando tarde - é melhor vocês todos irem para a cama. Philly vai passar
a noite aqui, e acho que não temos quartos sobrando - Sirius, você se
importaria de dividir com James esta noite, querido? "

"Todos nós podemos compartilhar", disse James, generosamente, "Todo


mundo vai chegar amanhã de qualquer maneira, podemos muito bem dormir
juntos."

A Sra. Potter acenou com a cabeça e chamou o elfo doméstico.

O quarto de James era absolutamente perfeito em todos os sentidos. Enorme e


espaçoso, as paredes estavam cobertas com faixas da Grifinória e pôsteres de
quadribol. Cada vassoura que ele já teve estavam penduradas na parede, e suas
prateleiras estavam cheias de livros infantis bruxos e brinquedos antigos que
ele claramente não estava pronto para dar ainda. O principal deles era uma
pequena estatueta de cavaleiro, aparentemente o próprio Godric Gryffindor,
marchando para frente e para trás ao longo da borda da estante.

A cama era enorme, com cortinas de veludo vermelho penduradas, igual ao


quarto do dormitório, e embora fosse grande o suficiente para os três, o elfo
doméstico havia preparado duas camas de solteiro que ficavam ao pé dela.

"Quem era aquela?" Remus perguntou, enquanto todos se sentavam na grande


cama, já com seus pijamas.

"Philomena", disse James, "irmã de Pete."

"O que ela está fazendo aqui?"

"Acho que ela brigou com os pais de Pete - eles não gostam que ela frequente a
universidade trouxa, e," ele abaixou a voz, "papai disse que ela tem um
namorado trouxa."
"Mesmo?!" Os olhos de Sirius se arregalaram de admiração. Remus não disse
nada - ele não sabia que sair com trouxas era particularmente um tabu.

"Sim, e você sabe como é a mamãe," James cutucou Sirius, "Adora acolher um
vira-lata."

***

Véspera de Natal de 1973

Philomena estava presente no café da manhã na manhã seguinte e permaneceu


lá durante todo o Natal. No início, ela não falava muito, mas encarava o vazio
com seu rosto pálido e olhos vermelhos. Pelo que Remus descobriu, sair com
um trouxa não era apenas um tabu, mas uma ofensa digna de renegar seu
próprio filho. Além dos Potters, Remus não podia deixar de pensar que bruxos
não eram pais muito bons, com base em sua experiência.

A irmã de Peter era cerca de sete anos mais velha do que ele, e você poderia
não saber que eles eram parentes, a não ser pelo cabelo cor de palha. Enquanto
Pete era atarracado e rechonchudo, Philomena era esguia e de feições
delicadas. Ela tinha olhos castanhos chocolate e um punhado delicado de
sardas castanhas claras sobre seu pequeno nariz. Seu cabelo estava penteado no
mesmo estilo de muitas garotas trouxas que Remus tinha visto; longo e reto
com uma franja espessa repartida, como Marianne Faithfull.

James, que a conhecia melhor, não poderia fazer o suficiente pela bela
visitante. Ele ofereceu chá a ela, afastava a cadeira para ela se sentar e
basicamente se tornou seu servo, até mesmo Sirius se cansar dele.

"Caramba, Potter, ela é apenas uma garota."

"Estou sendo legal." James franziu a testa. "Nada de errado em ser legal com a
irmã do meu amigo."

Eles não tinham visto Peter. Assim que a Sra. Pettigrew soube onde sua filha
estava hospedada, ele foi confinado em casa. Enviavam corujas, que iam e
viam cruzando a rua, o que provavelmente era mais divertido para James e
Sirius do que para Peter.

"O que a Evans diria?" Sirius provocou James, que ficou excessivamente
vermelho.
"Ela ficaria feliz por alguém ter tirado ela da sua cabeça," Remus sugeriu de
onde estava descansando em sua cama.

"Quem é você para falar, Black." James empurrou seu amigo, "O que está
acontecendo entre você e Mary?"

"Macdonald?" Sirius perguntou, inocentemente, "Não sei do que você está


falando."

"Ah, qual é," James gemeu, "Diga! Você beijou ela ou o quê? "

Remus largou seu livro. Beijou?! Desde quando beijos estava na mesa?! Sirius
deu um olhar tímido.

"Não. Mas beijei a bochecha dela. "

"Ahhh, que escandaloso, Black!" James jogou um travesseiro nele. Sirius


jogou de volta e de repente eles estavam lutando.

Remus normalmente apenas revirava os olhos e deixava que eles


continuassem. Mas agora ele usava a distração para organizar seus
pensamentos - ele se sentia muito infantil e bobo, não tendo percebido que
Sirius gostava de Mary. Que haviam beijos envolvidos agora, mesmo que fosse
apenas um beijinho na bochecha. Remus vasculhou seu cérebro, tentando se
colocar na posição de Sirius. Se uma garota gostava de você, você tinha que
beijá-la, não era? Era horrível se nenhuma garota gostasse de você? Se Sirius
agora gostava de Mary e James gostava de Lily, ele deveria escolher uma
garota também? Marlene era ok. Um pouco tímida, como ele. Talvez Marlene,
então.

O pensamento o manteve acordado naquela noite, muito depois de James e


Sirius terem adormecido. Os dois dormiram na cama de James - Sirius
simplesmente subiu no início da noite e James não disse uma palavra. Remus
ficou sozinho em seu colchão. Ele tentou mudar a linha de seus pensamentos,
pensar no Natal e nas meias e biscoitos - mas foi tudo em vão. Tudo o que ele
conseguia pensar era em Sirius beijando a bochecha de Mary. Onde eles
fizeram isso? Quando aconteceu? Qual foi a sensação?

Por fim, inquieto e exausto, ele se levantou para pegar um pouco de água. Saiu
da sala para o banheiro do outro lado do corredor e abriu a torneira, bebendo
um pouco da água morna e se olhou no espelho. Na penumbra, ele não
conseguia ver suas cicatrizes. Será que uma garota gostaria dele, se ele fosse
do jeito que era? Ele nunca seria tão bonito quanto Sirius, ou James, mas talvez
ele fosse um pouco mais que Peter? Como diabos ele saberia?

De repente, as luzes se acenderam, queimando suas retinas, de modo que ele


quase deixou o copo cair.

"Oh, desculpe!" Philomena estava parada na porta com uma longa camisola cor
de pêssego. Ela parecia chocada, "O que você está fazendo vagando no
escuro?!"

"Hum ... eu tenho uma visão muito boa." Ele murmurou, afastando-se da pia.
"Eu não conseguia dormir."

"Nem eu," ela suspirou. Assim que a surpresa desapareceu de seu rosto, ela
parecia triste novamente. Remus esperava que ela não chorasse. Ele era inútil
quando alguém chorava - ah Deus, se ele tivesse uma namorada, ele teria que
lidar com o choro?! Ele não teve tempo de engolir o pânico, antes de
Philomena começar a falar novamente: "É horrível ficar longe da família no
Natal, não é?"

"Er ... eu cresci em um lar infantil, na verdade."

"Sério?" Ela pareceu interessada por um momento, "Você é um dos


amiguinhos de Peter, não é? Eu não sabia que ele conhecia nenhum nascido
trouxa. Aparentemente ele manteu isso em segredo da mamãe. "

"Meu pai era um bruxo," disse Remus, com alguma confiança, "Mas ele
morreu."

"Mestiço." Ela murmurou. "Mas mesmo assim ..." Ela parou, desanimada.
Remus se mexeu desconfortavelmente; seus pés descalços estavam começando
a ficar frios no piso do banheiro, e ele só estava de cueca e blusa para dormir, o
que era bastante constrangedor. Ela não parecia se importar, "Você tem sorte",
disse ela, "não ter que crescer com toda essa merda."

"Você quer dizer magia?" Remus franziu a testa. Ele nunca tinha ouvido uma
bruxa ou feiticeiro - sangue puro ou nascido trouxa - falar assim.

"Sim, magia", ela fungou, "O que há de tão bom na magia, hein? O que nos faz
tão especiais? Quer saber um segredo? "

Ele não queria, mas achou melhor não dizer isso. Ela continuou de qualquer
maneira, sussurrando agora, "Eu gostaria de ser uma trouxa, às vezes," ela
disse, um vislumbre de loucura em seus olhos, "Se eu pudesse fazer isso, eu
fugiria para sempre e nunca seria encontrada. E eu teria um bom trabalho
normal, e uma boa vida normal, e me apaixonaria por quem eu quisesse. " Com
esta última afirmação, ela começou a chorar.

"Você poderia fazer isso de qualquer maneira, se quisesse." Remus disse,


rapidamente, sem saber exatamente por que estava dizendo o que estava
dizendo. Ela olhou para ele com desconfiança,

"O que você quer dizer?"

"Bem, o que está impedindo você?" Ele perguntou. "Você é maior de idade.
Você pode fazer o que quiser. Vá e seja uma garçonete, ou fuja para a América
e seja uma estrela de cinema. Case com o Príncipe Charles, se quiser. Quer
dizer ... você pode precisar usar um pouco de magia para começar, mas poderia
simplesmente não usar mais magia. Ninguém diz que você é obrigada a usar."

Ela olhou para ele de cima a baixo.

"Ninguém nunca me disse isso antes."

Remus encolheu os ombros.

"Qual é o seu nome mesmo?"

"Remus. Remus Lupin. "

"Oh!" Ela começou a rir: "Coitadinho, é quase tão ruim quanto Philomena!"
51. Terceiro Ano
O Menino que gritou “Lobo”

Dia de natal de 1973

A estranha conversa de Remus tarde da noite com Philomena o fez reavaliar


suas ansiedades sobre namoradas. Sua capacidade de confortá-la não havia
despertado nenhum sentimento particular de cavalheirismo ou afeto - apenas
uma leve sensação de alívio por ele tê-la feito parar de chorar. Ele
definitivamente não tinha nenhum desejo de chegar tão perto de qualquer outra
garota.

Remus pensou em Narcissa pela primeira vez em muito tempo. Ele tinha
pensado secretamente que Narcissa era a garota mais bonita que ele conhecia -
até ela pintar o cabelo pelo menos. A menina possuía uma postura régia que o
atraía minimamente. Mas, até ela, se tornou tola por causa do amor - até
mesmo, arriscando sua própria vida.

A visão de Philomena soluçando em sua camisola apenas cimentou na mente


de Remus a revelação de que o amor e os relacionamentos não valiam a pena.
Ele já tinha dor suficiente em sua vida. Deixe Sirius e James sozinhos com
isso, mas por agora, Remus apenas se sentiu muito inteligente por ter chegado
a essa conclusão tão cedo na vida. Ele provavelmente se salvou de muito
estresse desnecessário.

A manhã de Natal foi tão maravilhosa quanto no ano anterior - até mesmo
Philomena se animou ao ver os presentes debaixo da árvore com seu nome
neles. Remus foi capaz de desfrutar da imensa satisfação de distribuir seus
próprios presentes, e Sirius e os Potters ficaram devidamente satisfeitos e o
agradeceram profundamente. Ele próprio ganhou um jogo de xadrez dos
Potters, que talvez fosse a coisa mais cara que Remus já teve – algo comprado
especialmente para ele, não de segunda mão. Junto com os doces de sempre e
os kits de pegadinhas dos marotos.

Sirius parecia um pouco aéreo no café da manhã, enquanto todos os outros


devoravam seu salmão defumado e ovos mexidos.

"Que há com'cê?" James perguntou, a boca cheia. Sirius encolheu os ombros.


"Nada de Andromeda", disse ele, baixinho, "Eu não pensei que ganharia
presentes ou qualquer coisa, agora ela tem um bebê, mas pensei que talvez um
cartão ... Enviei um para ela."

James engoliu em seco e deu um tapinha no ombro do amigo.

"A coruja pode estar atrasada - você sabe como elas ficam atarefadas nesta
época do ano."

James tinha ganhado uma vassoura nova em folha no Natal, e assim que o café
da manhã terminou, os três garotos foram direto para fora para testá-la. Sirius
estava com sua própria vassoura, e o Sr. Potter sugeriu, com uma sobrancelha
arqueada, que Remus pegasse a velha de James.

"Sim, fique com ela se quiser, Moony!" James assentiu com entusiasmo, "Para
sempre!"

"Obrigado ..." Remus aceitou, incapaz de dizer não na frente dos pais de
James. O que ele deveria fazer com uma vassoura durante o verão em St.
Edmunds? Como explicar um presente desses para a Matrona?

James e Sirius passaram o resto da manhã se exibindo, e Remus o passou


pairando; apenas tocando o chão com os dedos dos pés, tentando ler seu livro e
parecer que estava gostando da vassoura. Ele esperava que Peter tivesse
recebido seus presentes e não estivesse tendo um tempo muito difícil com sua
própria família.

Os meninos foram chamados pelo elfo doméstico do Potter, Gully, que estava
vestido com uma toalha de chá festiva e tinha um ramo de azevinho enfiado
atrás da orelha. Era quase hora do almoço e a casa cheirava deliciosamente a
rosbife com todos os acompanhamentos.

"Vão lá para cima, tomem banho e se arrumem, todos vocês." A Sra. Potter
balançou a colher de pau para eles " Gully já arrumou suas coisas."

Eles se lavaram e se vestiram rapidamente, estômagos roncando enquanto os


cheiros maravilhosos da cozinha subiam as escadas. Assim que eles
começaram a descer, ouviu-se o CRACK da aparatação do lado de fora da
porta da frente. Sirius ficou tenso novamente, e Remus, um passo atrás dele na
escada, segurou em seu ombro de uma forma que esperou ser reconfortante.
Ele se virou e olhou Remus nos olhos, dando a ele um sorriso gentil de
agradecimento. Não era nada parecido com os sorrisos de Sirius, mas foi uma
sensação boa.

A campainha tocou e os dois continuaram descendo, James correndo para abrir


a porta. Um casal jovem estava parado na entrada – um homem e uma mulher
segurando um cobertor nos braços. Ele possuía um punhado de cabelo louro e
encaracolado, e era um pouco atarracado, ela era mais alta e esguia. Quando
eles pisaram na luz do corredor, Remus prendeu a respiração - ela era a cara da
prima de Sirius, Bellatrix.

"Não!" Sirius engasgou, começando a correr, um sorriso explodindo em seu


rosto.

"Sirius!" A jovem sorriu de volta, e Remus relaxou, vendo que não era
Bellatrix. Essa mulher tinha o mesmo cabelo encaracolado selvagem de sua
irmã, embora fosse de um tom de castanho muito mais claro - tinha que ser
Andrômeda.

Ela passou o bebê em seus braços para o homem ao lado dela -


presumivelmente seu marido, Ted - e estendeu os braços para puxar Sirius para
um grande abraço. Remus assistiu com uma inveja feroz, e nem um pouco de
culpa - ele nunca tinha visto Sirius ser abraçado por ninguém, muito menos por
um membro de sua família. Remus desceu lentamente as escadas, enquanto a
Sra. Potter entrava no corredor agora, sorrindo amplamente, parecendo muito
satisfeita consigo mesma.

"Uma boa surpresa, então?" Ela perguntou, enquanto Sirius apertava a mão de
Ted e dava um tapinha hesitante na cabeça do bebê.

"Você fez isso?!" Sirius olhou para a mãe de James, maravilhado.

"Effie teve a gentileza de nos convidar," Ted sorriu, seus olhos brilhando.
"Prazer em conhecê-lo, Sirius. É bom conhecer alguém da família de Dromeda.
"

"Entrem, entrem!" A Sra. Potter conduziu a multidão para o corredor. Todos


eles a seguiram em direção à sala de jantar, Remus por último.

***

Andromeda era o oposto do resto da família Black - ou pelo menos aqueles que
Remus conheceu até agora. Embora ela fosse tão incrivelmente bela quanto o
resto deles, com os mesmos olhos penetrantes e sagacidade mordaz, ela era
cheia de risos e alegria. Ted claramente a adorava também e dificilmente
parecia se importar que ela o deixasse com a bebê a maior parte do tempo.

'Dora' era a criança mais estranha que Remus já tinha visto - embora, ele
admitisse, não tivesse conhecido muitos bebês. Ela era tão alegre quanto sua
mãe, com um sorriso cheio de gengivas. Seus fios de cabelo mudavam de roxo
para verde para azul a cada momento, o que todos os outros pareciam achar
fofo, ao invés de bizarro.

Antes de se sentar para comer, eles se juntaram a vários outros convidados -


velhos amigos da família dos Potters, incluindo, para a empolgação de Remus,
o velho Darius Barebones.

"Um brinde", o Sr. Potter ergueu a taça, parecendo meio embriagado, ao final
da refeição, "Aos amigos, antigos e novos!"

"Aos Potters!" Andromeda ergueu seu próprio copo, "Protetores dos excluídos
e defensores das ovelhas negras de todos os lugares."

Todos riram e tilintaram os copos.

"Acho que devo ser o mais excluído", disse Sirius, feliz, "afinal, sou da
grifinória."

"Para a Grifinória!" O Sr. Potter declarou outro brinde, do outro lado da mesa.
Apenas os Grifinórios brindaram, Andrômeda estreitou os olhos para Sirius.

"Se acha o mais excluído, priminho? Tente se casar com alguém que não seja
seu parente.''

"Eu terei que casar com alguém de fora" Sirius respondeu, enquanto Gully
tirava os pratos e a Sra. Potter pegava a sobremesa de Natal, "Depois do
casamento de Cissy, não sobrou nenhuma mulher da família Black."

"Tem a Dora."

"Com licença", disse Ted, cobrindo protetoramente as orelhas de sua filha.


"Podemos, por favor, levá-la ao primeiro Natal antes de arranjar um noivado?"

"Estou brincando", Andromeda se inclinou para beijar os dois, "Dora pode se


casar com quem ela quiser quando tiver idade suficiente, e posso dizer com
absoluta certeza que não será ninguém nesta mesa."
Todos riram novamente. Remus olhou para Darius, furtivamente - ele estava
tão feliz quanto o Sr. Potter, seu rosto brilhando vermelho por causa do uísque
de fogo que ele estava bebendo.

Depois que a sobremesa foi devorada, servida e comida, os biscoitos foram


pegos e as piadas terríveis lidas, a festa se moveu para a sala de estar. A Sra.
Potter, Philomena e Andromeda subiram para colocar seus vestidos de festa, o
Sr. Potter fumou seu cachimbo e Ted acomodou Dora para tirar uma soneca.
Os meninos começaram um jogo de azar, antes de Darius e o Sr. Potter
envolverem todos em uma rodada de charadas. Remus nunca havia jogado
charadas antes, muito menos charadas mágicas, que envolviam um monte de
faíscas vermelhas e douradas - embora isso parecesse apenas ser um detalhe
para torna-lo mais divertido.

À noite, mais convidados começaram a chegar e a casa logo se encheu de


música, risos e conversas agradáveis. Andromeda e Sirius se nomearam DJs,
vasculhando suas coleções de discos combinando e alternando as melodias
de Merry Xmas Everybody de Slade e I Wish It Could be Christmas Everyday
de Wizzard.

When the snowman brings the snow


Well he just might like to know
He's put a great big smile on somebody's face...

"Eles são realmente chamados de Wizzard," Sirius continuou dizendo a todos,


sinceramente, "Apenas ouçam..."

Até Philomena esqueceu sua melancolia por algumas horas, levantando-se e


movendo-se com a música junto com James, que era quase da mesma altura
que ela e não tinha ideia de como dançar, mas ficou muito feliz quando ela
pegou sua mão e mostrou-lhe como.

Com a certeza de que não sentiriam sua falta, Remus deslizou entre a multidão
de pessoas em busca de Darius. Devia haver uma centena de bruxas e bruxas
presentes - alguns deles professores de Hogwarts, que Remus fez de tudo para
evitar. Ele ouviu pelo menos três pessoas murmurando que Dumbledore estava
lá, em algum lugar.

"Ambos são Black, você sabe," ele ouviu uma bruxa sussurrando para sua
amiga, enquanto observavam Andrômeda e Sirius rindo histericamente perto
do toca-discos, "Ela fugiu e teve um bebê com aquele tal de Tonks, e o menino
- bem, ele era o herdeiro, mas ouvi que Orion está planejando deserda-lo assim
que seu filho mais novo atingir a maioridade. Ele é bastante rebelde, pelo que
ouvi. "

"Ele não pode ser pior do que Orion, fui para a escola com ele. Garoto
desagradável e cruel. Sirius é um raio de sol comparado a Orion - e não me fale
sobre aquela vadia da Walburga. "

"Shh." A primeira bruxa disse, nervosa: "Você nunca sabe quem está ouvindo
hoje em dia, mesmo nos Potter."

"Bem, o que ele está fazendo aqui, gostaria de saber."

"Ele é amigo do menino Potter. Você sabe como Effie e Monty são - eles
acolheram a mais velha dos Pettigrew também, ela está aí. "

"Sim, ouvi falar disso."

"Bem, não é nenhum segredo por que ela está aqui - os Pettigrew’s e os Potters
são sangue puro, afinal, apesar dos rumores. Veja bem, Effie pode querer agir
rapidamente - se Philomena vê sua chance de se aliar ao herdeiro Black, então
o pobre James não vai ter chance de manter o sangue puro na família, vai?
Quero dizer, todo mundo sabe o que está acontecendo; todos nós precisamos
escolher um lado. Os Potter escolheram o deles há muito tempo, infelizmente."

Remus sentiu seu sangue ferver. Era horrível ouvir alguém falando sobre seus
amigos falando dessa forma - e os Potter’s, os quais Remus tinha certeza
absoluta que não tinham segundas intenções quando se tratava de seu
filho, ou da companhia que ele mantinha. Afinal, eles deixaram James ser
amigo dele, sabendo exatamente o que ele era.

Ele cerrou os punhos, desejando que ele pudesse fazer algo - fazer qualquer
coisa para calar aquelas vadias velhas. Sirius e Andrômeda estavam gritando a
plenos pulmões, acompanhados por James e Philomena.

Weeeell I wish it could be Christmas every daaaa-aaay!


When the kids start singing and the band begins to plaa-aay
Oooooh I wish it could be Christmas everyday
So let the BELLS ring OUT for CHRISTmaaaas!"

Remus sorriu e, no mesmo momento, finalmente avistou Darius. O velho


estava bêbado demais agora, apoiando-se pesadamente no corrimão do
corredor e conversando com uma velha que parecia que gostaria muito de ficar
longe dele.
Remus endireitou as costas e conscientemente alisou suas feições. Ele havia
pego emprestado um conjunto de robes elegantes de James para a ocasião, e
Philomena gentilmente fez um feitiço cosmético em suas cicatrizes. Assim, ele
esperava conseguir, pelo menos, parecer ser filho de um bruxo famoso, ao
invés de um pirralho trouxa de um lar infantil.

"Boa noite, Sr. Barebones", disse ele, imitando o sotaque pomposo aprendido
depois três anos ouvindo a pronúncia de James e Sirius. Ele estendeu a mão
para o velho, que a apertou, olhando para ele, intrigado, "Remus Lupin - você
se lembra que nos conhecemos no ano passado?"

"Ah sim! O menino Lupin! "

"Isso mesmo," Remus assentiu, sorrindo serenamente, mantendo a expressão


controlada. Ele entregou a Darius outro uísque, enquanto a bruxa com quem o
velho estava conversando escapuliu. "Eu acredito que você conheceu meu
pai?"

"Lyall Lupin! Melhor duelista que já conheci! Casou-se com uma trouxa em
algum lugar do País de Gales, não foi? "

"Isso mesmo," Remus disse, firmemente, "Minha mãe." Ele respirou


cuidadosamente enquanto Darius bebia mais uísque, então pigarreou. "Você
conhecia Lyall bem?" Ele descobriu que 'Lyall' era muito mais fácil de dizer do
que 'meu pai'.

"Ah, muito bem, muito bem," Darius assentiu com entusiasmo, emocionado
por ter alguém com quem conversar, "Trabalhei com ele no ministério, antes
de todo o problema começar. Nunca conheci ninguém melhor com bichos
papão - ou dementadores, por falar nisso. O escritório administrativo de
Azkaban sentiu sua falta, posso te dizer isso. "

"O problema?" Remus perguntou, pegando outro copo de uísque de Gully, que
passou correndo com uma bandeja, e entregou ao velho.

"Obrigado, menino. Sim, o problema. Negócio desagradável. Desagradável."

"Você está falando sobre ... os eventos que levaram ao suicídio de Lyall?" Ele
não conseguia dizer. Darius teria que falar por ele.

"Estou falando sobre os malditos lobisomens!" Darius bateu seu copo de


uísque vazio em um aparador próximo. "Perdão," ele murmurou.
"Nem um pouco," Remus respondeu, sem piscar. "Vá em frente. Eu conheço a
história, é claro. Mas eu gostaria de ... ouvir sobre isso de alguém que o
conheceu. "

Darius o observou, cuidadosamente, através de sua névoa confusa de uísque.


Ele pareceu vacilar, ligeiramente, antes de começar sua história.

"Não poderíamos saber, você entende, nenhum de nós ... bem ... Lyall era um
grande bruxo - um grande bruxo, está me ouvindo?" Ele perguntou. Remus
concordou. "Mas ..." o velho olhou para cima, com os olhos vidrados, "Bem,
ele tinha uma tendência a ficar obcecado com as coisas. E aquele
temperamento! Ficava furioso no trabalho - até mesmo durante as audiências
do comitê".

"Audiências do Comitê?" Remus quase quebrou o personagem.

"Sua mãe não te contou?" Darius olhou para ele, surpreso, "Malditos trouxas,
não servem para criar nossos filhos, eu digo isso há anos ..." Ele suspirou, "Seu
pai estava em vários comitês no ministério para a regulamentação e controle de
criaturas mágicas."

Remus estava feliz por estar fazendo a aula de Trato das criaturas mágicas,
caso contrário, ele poderia não saber nada sobre isso. Como estava, ele foi
capaz de acenar com a cabeça, conscientemente. Darius continuou.

"Só a área dele, é claro, ele era um gigante no campo. Mas ele gostava das
coisas do seu próprio jeito e era visto como um pouco extremista naquela
época. Queria uma reformulação do Registro de Lobisomens, uma melhor
identificação e medidas de rastreamento. Simplesmente não tínhamos mão de
obra para isso, e os recursos eram mais bem gastos em outro lugar. E Lupin ...
ele tem trabalhado com criaturas das trevas por tantos anos, ele achava que via
lobisomens em todos os lugares - sempre via perigo onde claramente não havia
nenhum. Honestamente, todos nós pensamos que ele era um excêntrico, não
poderíamos saber ... quando eles trouxeram Greyback, eu estava lá. Eu o vi, e
não me importo de dizer a você, nenhum de nós pensou que ele era uma
ameaça. Estava claramente bêbado. Confuso. Um vagabundo, foi o que
pensamos. E então Lupin começou a dar um de seus discursos sobre
lobisomens, bem.... nós não pensamos duas vezes.''

"Vocês deixaram Greyback ir." Remus disse, friamente. Darius parecia muito
triste agora, quase chorando. Ele assentiu.
"Nós o deixamos ir. Claro agora, agora sabemos ... se apenas tivéssemos
ouvido. Lyall se matou logo depois disso, nem quis ouvir o pedido de
desculpas do comitê. " Ele suspirou e olhou para Remus novamente, "Eu
sempre me perguntei o que o levou a isso, você sabe. Alguns dizem que foi a
culpa - não ser capaz de impedir Greyback. Eu não teria pensado que ele era do
tipo ... e abandonar sua família assim, quero dizer, você não poderia ter sido
muito mais que um bebê? "

"Cinco." Remus disse: "Eu tinha cinco anos."

"Sim, bem." Darius se mexeu, desconfortável, olhando taciturnamente para seu


copo vazio, "Eu tenho minha própria pequena teoria sobre o que aconteceu ... e
se Greyback tivesse ido atrás dele, hein? Nós sabemos o quão perigoso ele é,
agora. Sabemos que ele odeia bruxos mais do que qualquer outra coisa, e seu
pai havia dito algumas coisas muito desagradáveis. Então, o que me pergunto é
... Greyback voltou para buscá-lo? Ele o mordeu? Se foi isso que aconteceu,
então ... devo dizer, não culpo Lyall de forma alguma. Uma besta boa, é uma
besta morta. "

"Hm." Remus respondeu, sentindo muito calor e um pouco tonto. "E


Greyback?"

"Pela última vez que ouvi, ele está aliado a você-sabe-quem." Darius balançou
a cabeça, "E a maldita ironia de tudo isso é que precisamos do seu pai mais do
que nunca. Ainda assim," ele sorriu para Remus, gentilmente, "Não pense que
ele morreu em vão, garoto. Acabamos implementando muitas de suas
reformas, particularmente no que diz respeito aos transformados. Não é
possível escapar do registro agora, não senhor! " Ele bateu com o punho velho
e enrugado.

"Com licença." Remus se virou rapidamente. Ele tinha ouvido o suficiente.


"Ouvi a Sra. Potter chamar."

Ele deslizou de volta para a multidão animada, a música ainda tocando


enquanto Sirius e Andrômeda lideravam todos em coro:

"So here it iiiiiiiis, Merry Christmas,


Everybody's having fuuuuun!
Loo-ook to the future now,
It's only just begun!"
52. Terceiro Ano
Confiança

Sábado, 5 de janeiro de 1974

Gotas de chuva batiam contra o Expresso de Hogwarts como uma rajada de


flechas inimigas, cobrindo as encostas geralmente verdes em um véu
transparente de névoa e garoa, escurecendo o céu.

"É uma pena voltar para a escola, não é?" Sirius disse amuado, olhando para
fora da janela.

Remus olhou para Peter, que estava encarando Sirius incrédulo. Sirius não
percebeu. Remus suspirou,

"Como foi seu Natal, Pete?" Ele perguntou educadamente.

"Foi bem." Peter respondeu sem interesse: "Obrigado pelos doces."

"Viu minha vassoura?" James perguntou, puxando de baixo do bagageiro.


Peter se levantou para olhar, animando-se um pouco. Remus revirou os olhos e
voltou ao livro.

Ele não estava realmente lendo. Não tinha sido capaz de se concentrar
adequadamente em um livro desde a festa de Natal dos Potter's. Na verdade,
ele não fora capaz de se concentrar em nada. Seja voar, jogar, conversar, ou o
planejamento animago de James e Sirius. Então, ele fingiu ler, esperando que o
deixassem sozinho. Em St Edmund's, ele poderia ter apenas escapulido sozinho
para a cidade, mas essa não parecia uma boa maneira de mostrar gratidão aos
pais de James, que com certeza se preocupariam.

Era como se houvesse uma lista de perguntas em sua cabeça que ele não tinha
como obter as respostas, então elas apenas se repetiam, sem parar. Onde estava
Greyback agora? Quem era 'você sabe quem'? Lyall Lupin odiava tanto assim
seu filho?

Remus já sabia que seu pai se matara porque ele havia sido mordido. Sempre
presumiu que Lyall fora motivado pela culpa. Mas agora ... bem, e se Remus
estivesse errado? E se o verdadeiro motivo fosse ódio - ou pior ainda -
vergonha?

Nos últimos três anos, Remus tinha trabalhado duro na escola, usando a
varinha de seu pai e estudando as matérias que seu pai poderia ter estudado.
Ele não pensava em Lyall o tempo todo, mas no fundo de sua mente, isso ainda
significava algo. Desde a festa de Natal, ele não tinha mais tanta certeza. Ferox
disse 'conhece a ti mesmo', mas Remus estava falhando em ver a sabedoria
disso agora. Ele estivera muito mais feliz quando não sabia sobre nada.

Esses pensamentos sombrios foram interrompidos por uma batida suave na


porta da carruagem. A cabeça de Marlene apareceu.

"E aí, McKinnon," James sorriu, "Evans está com você?"

"Hum ... não." Ela respondeu, mexendo nervosamente no cabelo, "Sirius, posso
falar com você?"

"Eu?" Sirius se sentou, parecendo confuso, "Er ... o que é?"

"Mary, hum ... Mary me pediu para dizer uma coisa."

"Dizer o quê?"

"Ela ... eu acho melhor não dizer na frente de todo mundo."

"Er ... ok ..." Sirius se levantou e a seguiu para fora do corredor. Os outros três
trocaram olhares divertidos enquanto esperavam. Ugh, Remus pensou, ele se
enganou sobre a coisa da Mary e do Sirius?! Era Sirius e Marlene agora?

Momentos depois, um Sirius atordoado voltou sozinho ao compartimento.

"Tudo bem?" Perguntou James.

"Mary tem um namorado, aparentemente." Sirius disse, confuso.

"Você quer dizer ... você levou um pé na bunda?"

"Não sei." Ele se sentou, coçando a cabeça, "Eu estava saindo com ela?"

"Bem, aparentemente ela pensou que você estivesse."


"Por que as meninas simplesmente não dizem o que querem dizer?!" Sirius
passou a mão pelo cabelo em uma boa imitação de James, que acenou com a
cabeça de forma simpática.

"Meninas são um pesadelo." Ele concordou.

Remus comemorou internamente. Graças a Deus, tudo isso havia ficado para
trás.

***

Domingo, 6 de janeiro de 1974

Mais tarde, ele soube que Mary começou a sair com um garoto trouxa que ela
conhecia de casa.

"Nós crescemos no mesmo prédio", ela confidenciou a ele, animada, "O


apartamento dele fica em frente ao meu. Eu realmente gostava de Sirius, e ele é
legal e tudo, mas ... bem, ele é um pouco esnobe. Acho que ele nem sabe o que
é um apartamento municipal. "

Remus teve que concordar com isso.

Quanto a si mesmo, ele não estava mais irritado com Mary, e nem mesmo se
importou dela falando sem parar sobre seu novo namorado, e como ele a levou
ao salão de dança local, e as fotos, e como sua mãe o amava, e seu pai achava
que ele era um 'bom rapaz'. Marlene, no entanto, parecia mortalmente
entediada enquanto eles se sentavam perto da lareira, fazendo as últimas lições
de casa juntos.

Isso não escapou da atenção de Mary.

"Não fique com inveja, Marls."

"Eu não estou." Marlene franziu a testa. "Só acho que você está sendo horrível
com Sirius."

"O que?!"

"Terminando com ele assim! Você ... você feriu os sentimentos dele! " As
bochechas de Marlene ficaram com um tom incomum de rosa.

"Não, ela não feriu" Remus bufou.


As duas garotas olharam para ele, como se ele tivesse entendido
completamente errado.

"Oh meu Deus!" Mary olhou para sua amiga, "Marlene, você gosta de Sirius
?!"

"Não!" Marlene se levantou, ainda mais vermelha agora, "Ah, você é uma
vadia, Mary!" Ela correu para o dormitório feminino. Lily suspirou, olhando
para cima,

"Isso não foi muito legal." Ela disse, em tom de censura.

"Problema dela, não meu." Mary encolheu os ombros. "Ela gosta do Sirius?!"

"Isso importa?"

"Eu vou subir." Remus se levantou, tentando não suspirar.

"Ah não, não vá, Remus!" Mary disse: "Vamos parar de falar sobre meninos,
eu prometo."

"Estou cansado", ele mentiu, "E terminei a minha lição já. Vejo vocês
amanhã."

Enquanto ele se afastava, ele ouviu Mary sussurrar, muito alto,

"Ah meu Deus, talvez ele goste de Marls!"

Remus lembrou a si mesmo que estava tentando gostar de Mary de novo e não
reagiu. Ele subiu as escadas e foi sentar-se sozinho no dormitório. James, Peter
e Sirius estavam todos na detenção por uma pegadinha que pregaram antes do
Natal.

Remus não estava nem um pouco cansado. Faltavam duas noites para a lua
cheia e ele estava começando a sentir a habitual inquietação em seus membros,
a familiar aceleração de seus batimentos cardíacos. Deixado por conta própria,
Remus voltou aos pensamentos perturbadores que o incomodavam há semanas.
Novamente, eles pareciam apenas girar em seu cérebro em uma grande espiral
confusa, sem começo ou fim.

Todos os bruxos se sentiam da mesma forma que Darius? Que Lyall Lupin? As
ações de seu pai foram realmente justificáveis? Remus não podia ignorar o fato
de que sua mãe também o havia abandonado - o que tinha que significar
alguma coisa. Seus amigos certamente não o trataram diferente depois de
descobrir ..., mas então como alguém poderia realmente saber o que seus
amigos pensavam dele? Os marotos gostavam de tudo que fosse perigoso;
talvez dividir um quarto com Remus fosse simplesmente outro risco
emocionante.

O que ele realmente precisava, era falar com alguém imparcial. James tinha
muita sorte, tendo dois pais sempre dispostos a ouvir. Sirius tinha sorte de ter
James. Remus não tinha certeza se Peter tinha problemas ou não.
Provavelmente sim. Provavelmente contava para James também.

Havia McGonagall, Remus sabia que eles deveriam ir até ela com seus
problemas. Mas ela era tão severa e difícil, e gostava mais de James de
qualquer maneira. Madame Pomfrey, é claro; ela tinha o apoiado antes. Mas
ela não deixaria você sentir pena de si mesmo; apenas tentaria chegar a uma
solução com bom senso ou então diria a ele para não se preocupar tanto. Então
Dumbledore - mas Remus não tinha ideia de como falar com ele, e nem tinha
certeza se queria.

No que diz respeito às pessoas que conheciam as complexidades do problema


de Remus, havia também o Professor Ferox - Remus tinha noventa e cinco por
cento de certeza que ele sabia, de qualquer maneira. Ponderou isso como uma
opção.

Remus sentiu uma espécie de parentesco não identificável com seu professor
de Trato das Criaturas Mágicas. Ele tinha uma presença muito reconfortante, e
Remus achou que se sentiria melhor se pudesse falar com ele, de alguma
forma, certo de que Ferox o ouviria com simpatia. Seu estômago deu uma volta
engraçada, como ansiedade, e Remus achou que era um bom sinal. Ele olhou
para o relógio no canto. Eram apenas cinco horas, os outros meninos não
estariam fora da detenção antes das seis e o toque de recolher não seria até as
oito.

Remus puxou o mapa do Maroto de debaixo do travesseiro. O esboço básico


do castelo estava completo, agora; eles só precisavam finalizar o terreno,
animar as escadas e adicionar os lugares secretos que só eles conheciam.
Então, a ideia de marcação de Sirius poderia vir a seguir, embora não tivessem
muita certeza de como fazer isso. Remus descobriu um feitiço que localizaria
uma única pessoa, mas nada com magnitude necessária.

Ainda assim, ele lançou seu feitiço localizador agora, e descobriu que o
Professor Ferox estava caminhando do Salão Principal para a sala dos
professores. Remus se levantou, apressado - se ele fosse rápido, poderia fazer
com que parecesse um encontro casual. Ele agarrou a capa de James antes de
sair, apenas no caso de Mary e Lily ainda estarem na sala comunal.

Estava alcançando a maçaneta da porta quando teve um súbito lampejo de bom


senso.

O que diabos ele estava fazendo? Indo ver o professor Ferox - e depois o quê?
Choramingar para ele sobre seu pai morto? Reclamar para ele sobre como
ninguém jamais iria entendê-lo, porque ele era uma criatura assassina das
trevas com um sotaque de classe média? Sobre como seus amigos estavam
ficando loucos por garotas, e ele se sentia deixado para trás?

Remus voltou para o quarto.

O que diabos Ferox pensaria dele? Que ele era um grande covarde, só isso.
Você não podia simplesmente ir chorando para os professores sempre que algo
o incomodava; você não podia simplesmente esperar que todos sentissem pena
de você. Ninguém lhe deve uma vida feliz, a Matrona sempre dizia.

Ele se deitou na cama e olhou para o dossel. Se sentia pior agora. Não sabia o
que tinha acontecido - normalmente nunca foi do tipo que agia por impulso -
não mais, desde seu primeiro ano. Ele tinha uma forte sensação de que deveria
ver seu professor. Ah! Lá estava ela novamente, aquela cambalhota em sua
barriga. Não era emoção de forma alguma - era ... bem, ele ainda não tinha
certeza do que era. Ele se sentia quente, corado e estranhamente pinicante. Era
algo ... animal.

Ah Deus. Remus soltou um gemido. Deve ser a transformação. O lobo estava


acordando mais cedo do que o normal, talvez. Provavelmente gostou do cheiro
de Ferox, ou sentiu o cheiro de seu kneazle. Os lobos comiam gatos?

Uma besta boa é uma besta morta. Isso é o que Darius disse a ele. Na época,
Remus achou que era um pouco injusto ... afinal, ele nunca machucou
ninguém. Dumbledore não deixaria isso acontecer. Ele definitivamente não
queria machucar ninguém, exceto ocasionalmente Snape, e isso era normal,
não era?

Talvez Remus fosse mais perigoso do que ele pensava. Ele aprendeu a
controlar seu temperamento na maior parte do tempo agora, aprendeu a
controlar sua magia. Ele apenas tinha que aprender a controlar o que quer que
isso fosse também.

Quando James, Sirius e Peter voltaram, Remus havia se decidido.


"Eu estava pensando," ele começou,

"Não é à toa que você precisou se deitar," Sirius sorriu. Remus jogou um
travesseiro nele.

"Vai se ferrar, estou sendo sério."

"Não, eu sou Siri-"

James deu um tapa na cabeça dele,

"Cale a boca, Black."

"Obrigado." Remus sorriu. "Er ... toda a coisa de animago."

"Sim?" Sirius parecia ansioso agora, ainda esfregando a cabeça, "Teve uma
ideia? Eu amo as ideias do Moony!"

"Hum ... não exatamente," Remus se sentiu estranho agora. Ainda assim, tinha
que ser feito. Ele tomou uma decisão. "Eu ... eu não quero que vocês façam
isso."

"Fazer o que?" Peter parecia confuso.

"Ele não quer que nos tornemos animagos." James disse, olhando para Remus
com aqueles olhos claros e honestos. "Está certo disso?"

Remus assentiu, sentindo-se terrivelmente culpado.

"Estou muito grato, estou. Eu só ... eu não acho que nenhum de vocês
realmente entende o quão perigoso seria. Eu poderia machucar vocês. Eu
poderia ... eu poderia matar vocês. Eu não tenho controle sobre isso."

"Mas vai funcionar!" Sirius protestou, "Eu fiz toda a pesquisa, James, você
mostrou a ele?"

"Deixa isso, cara," James disse, "A decisão é do Lupin."

"Obrigado." Remus sorriu para James. Ele se sentiu péssimo por tê-los
decepcionado - mas era para o bem deles, e ele tinha que ser maduro.

Sirius parecia querer dizer outra coisa, mas James deu a ele um olhar severo
que era tão parecido com a Sra. Potter que silenciou o garoto mais baixo de
uma vez. Eles não falaram muito pelo resto da noite, e Remus teve que fingir
que estava lendo seu livro novamente.

Mais tarde naquela noite, depois que as luzes se apagaram, Remus ouviu Sirius
se arrastar até a cama de James e lançar o feitiço silenciador pela primeira vez
em muito tempo. Ele gostaria que o convidassem, apenas uma vez. Ele gostaria
de não ser sempre o único deixado de fora, gostaria de saber como é ter um
amigo tão próximo quanto James. Mais do que nunca, ele queria alguém com
quem conversar.

Subitamente sobrecarregado, Remus rapidamente lançou seu próprio feitiço,


para que os outros não o ouvissem chorar.
53. Terceiro Ano
Davey Gudgeon

O inverno se tornou primavera e, como de costume, o aniversário de Remus foi


celebrado com o vigor criativo dos marotos - a cantoria habitual em todas as
refeições, o bolo, os presentes. Infelizmente, McGonagall foi sábia este ano e
colocou um monitor vigiando os dormitórios dos meninos para evitar mais
fogos de artifício à meia-noite.

Felizmente, o décimo quarto aniversário de Remus caiu em um fim de semana


de Hogsmeade, e ele se sentiu muito crescido passando a tarde no Três
Vassouras com seus amigos. Logo ficou claro que James e Sirius tinham de
alguma forma subornado todos os seus colegas de classe para irem no pub
também, enquanto um fluxo constante de alunos se aproximava de sua mesa
querendo comprar uma cerveja amanteigada para Remus ou brindar sua saúde.
Quando a tarde acabou, todos no bar sabiam o nome de Remus, e ele foi
ovacionado ruidosamente ao sair. Completamente vergonhoso, é claro.

Com seu aniversário fora do caminho, Remus se lançou em uma revisão em


preparação para os próximos exames - ele tinha um desejo particular de se sair
bem em suas novas disciplinas, principalmente em Trato de Criaturas Mágicas.
Voltando seu foco para os estudos e trabalhos escolares, Remus lentamente
começou a deixar as palavras cruéis de Darius Barebones para trás. Sim, ele
era perigoso, e sim, uma vez que todos descobrissem o que Remus era, ele
provavelmente seria evitado. Mas até então, ele tinha uma oportunidade de
aprender - e ele não iria desperdiçá-la.

***

Domingo, 7 de abril de 1974

Remus nunca conheceu Davey Gudgeon antes - pelo que ele sabia, nem
qualquer um dos outros. Ele nunca descobriu como o garoto era. Mas ele se
lembraria desse nome até o dia em que morresse.

O salgueiro lutador havia sido transformado em um jogo durante o verão de


1973 por um grupo de alunos do primeiro ano entediados, e embora fosse
odiado por Filch e desaprovado pelos chefes das casas, ninguém realmente fez
nada a respeito. Tente ver o quão perto você consegue chegar do tronco antes
que os galhos o acertem. Remus certamente não tinha nenhuma vontade de
jogar. Ele odiava aquela árvore.

Dessa forma, Remus nem estava lá quando aconteceu. Era um dia após a lua
cheia e ele estava na ala hospitalar, como de costume. Peter estava sentado no
chão, separando seus cartões de sapo de chocolate, murmurando para si mesmo
feliz. James estava marcando o dever de adivinhação de Sirius, e Sirius estava
secretamente sacudindo sua varinha para James nas costas, mudando as cores
de seu cabelo para a diversão de Remus. Azul, rosa, verde, amarelo - estava
funcionando também; Remus achou isso histericamente engraçado, porque
James parecia tão sério, e quando ele estava se concentrando, sua língua
aparecia entre os dentes como um gato.

Foi uma tarde perfeitamente agradável, e Remus quase podia ignorar o quanto
seus ossos e dentes doíam enquanto estes voltavam ao lugar para mais um
ciclo.

Mas então, aconteceu. A porta do hospital se abriu com estrondo e um aluno


entrou gritando;

"Madame Pomfrey! Madame Pomfrey! Socorro!"

Curiosos como eram, Sirius e James pularam da cama para espiar pelas
cortinas verdes claras. Remus suspirou, recostando-se no travesseiro. Ele
estava acostumado agora com o vai e vem da ala hospitalar; vozes elevadas
como aquela geralmente significavam que um feitiço deu errado. Ele tentou
ignorar - ele se ressentia de qualquer coisa que o lembrasse que ele estava em
um hospital, e não apenas aproveitando uma tarde preguiçosa com seus
amigos.

Mas James e Sirius permaneceram fora de vista, observando qualquer que


fosse a cena se desenrolando, e quando voltaram para a cama, seus rostos
estavam pálidos e sérios. A comoção tinha ficado mais alta, Remus estava
vagamente ciente de alguém chorando.

"O que aconteceu?" Ele perguntou, mais irritado do que pretendia.

A boca de Sirius se torceu e James balançou a cabeça, mudo, empurrando os


óculos no nariz. Peter finalmente ergueu os olhos de suas cartas,

"O que?"

"Um acidente ... algum garoto." James murmurou.


"Todo mundo fora!" A voz da Madame Pomfrey ecoou pela câmara,
estranhamente alta e clara. A cortina em volta da cama de Remus se abriu e ela
enfiou a cabeça por dentro, parecendo distraída, "Remus, querido, se você está
se sentindo bem o suficiente, é melhor você passar o resto da tarde em sua
própria cama. Potter, você poderia ir buscar a Professora Sprout? Diga a ela
que um de seus alunos foi ferido."

James acenou com a cabeça e saiu imediatamente, sem ao menos olhar para
seus amigos ou seu dever de casa. Você sempre podia contar com James.

Os olhos de Sirius encontraram o de Remus, que assentiu com a cabeça, saindo


da cama. Ele ainda estava de pijama, e Sirius ergueu Peter pelo cotovelo para
lhe dar um pouco de privacidade. Remus se vestiu o mais rápido que pôde,
enfiou os livros na bolsa, pegou o trabalho de James e se juntou a seus amigos
do outro lado da cortina. Ele podia sentir o cheiro de sangue.

As cortinas foram fechadas em volta da cama mais próxima da porta, e os três


meninos passaram correndo por ela, querendo nada mais do que escapar da
atmosfera desagradável e ir o mais longe possível. Eles foram direto para a sala
comunal, Remus mancando um pouco, Sirius e Peter diminuindo a velocidade
para acompanhar seu ritmo.

"O que era?" Remus sussurrou, "Havia sangue."

"Sim," Sirius respondeu, parecendo abalado, "Não sei o que aconteceu, mas ...
era o rosto dele."

Peter parecia ligeiramente doente.

Eles chegaram à sala comunal e Remus desabou em uma poltrona, exausto.

"Você está bem?" Sirius perguntou, ansiosamente, colocando a mão no ombro


de Remus. Remus acenou com a cabeça, fechando os olhos e respirando
profundamente,

"Sim, sim, estou." Ele deu de ombros para Sirius, envergonhado, desejando
que ele pudesse ser normal pelo menos uma vez.

"Tudo bem, rapazes," Mary entrou na sala, Marlene a reboque, "Ouviram o que
aconteceu com aquele garoto Gudgeon?"

"Não," Sirius respondeu, astutamente, "O quê?"


"Atingido na cara por aquela árvore maluca." Ela disse, sacudindo a capa,
"Eles estavam tentando tocar no tronco."

"O salgueiro lutador?"

"Sim," Marlene saltou, "Não deveria ser permitido! É tão perigoso!"

"Você viu o que aconteceu ?!" Remus perguntou, tentando manter o pânico
longe de sua voz.

"Não," Mary deu de ombros, jogando-se no sofá ao lado de Sirius, "Ouvi de


uma das garotas do segundo ano."

"Eles terão que se livrar dele!" Marlene disse, estridente. "Dumbledore não
pode deixar isso aí agora. Alguém pode ser morto."

"Ele deveria ter ficado longe." Sirius disse, franzindo a testa, "É um jogo
estúpido. Todo mundo sabe como é aquela árvore."

"Estou ficando louca?" Mary riu, "Sirius Black, a voz da razão?!"

"Cai fora, MacDonald," Sirius fez uma careta.

Remus estava começando a ficar com dor de cabeça. Ele esfregou a têmpora e
fechou os olhos novamente, encolhendo-se na poltrona. A culpa rastejou por
sua espinha, pontadas de calor e frio. A árvore o acertou na cara?! Esse
menino Gudgeon ficaria bem? Certamente Madame Pomfrey seria capaz de
consertar, fosse o que fosse. Ela poderia consertar qualquer coisa.

***

Fofocas sobre Davey Gudgeon inundaram a escola em questão de horas, até


que ninguém pudesse escapar. Sarah Saunders, da Corvinal, disse a todos que
vira os pais do menino chegarem e depois marcharem direto para o escritório
de Dumbledore, parecendo furiosos. Os amigos de Gudgeon da lufa-lufa
contaram a história repetidamente para qualquer um que quisesse ouvir -
parecia que Davey realmente alcançou o tronco desta vez, mas então o
salgueiro atacou no último minuto. Eles ouviram vários relatos sobre os danos
- que a árvore havia rachado seu crânio em dois, que ele havia perdido os dois
olhos, ou mesmo que ele realmente havia morrido e a escola estava encobrindo
isso.
Marlene, que parecia mais angustiada do que qualquer outra pessoa com a
coisa toda, pediu a ajuda de Lily e Mary para redigir uma petição para que o
salgueiro lutador fosse removido das instalações da escola. Remus assinou -
ele não conseguia pensar em uma razão boa o suficiente para não fazer.

Sirius recusou.

"Essa árvore tem tanto direito de estar aqui quanto qualquer um." Ele disse,
com firmeza, enquanto Marlene o perseguia com uma pena.

"Mas Sirius," ela implorou, "é perigoso."

"Balaços também!" Ele voltou, esquivando-se dela, "Você vai deixar o time de
Quadribol?"

"Isso dificilmente é a mesma coisa!"

"Ugh, apenas assine, Black," Lily gemeu, tentando terminar seu dever de
Runas, "O que tem com você?"

"Princípios!" Ele cruzou os braços com firmeza. Lily revirou seus enormes
olhos verdes.

"Idiota." Ela murmurou baixinho, "Ele não consegue ver o quão chateada
Marls está?"

"Por que ela está tão chateada?" Remus perguntou, em um sussurro, quando
Marlene estava fora do alcance da voz. "Ela conhecia Davey?"

"Acho que não", Lily suspirou, "acho que ela só quer um projeto para tirar sua
mente das coisas em casa. Família, sabe."

Remus pensou sobre isso. Ele não conhecia Marlene tão bem quanto conhecia
Lily e Mary. Mary era tão extrovertida e conversava com qualquer pessoa. (Na
verdade, ela compartilhava até demais. Remus sabia mais do que gostaria sobre
suas preferências de amassos, para o gosto dele.) Marlene sempre foi a mais
quieta, mais tímida - menos segura de si mesma, mesmo nas áreas em que se
destacava. Ele não sabia muito sobre a família dela simplesmente porque
nunca lhe ocorreu de perguntar sobre as famílias das pessoas.

Remus não achava que a petição iria realmente a lugar algum. Dumbledore
havia feito um discurso proibindo qualquer um de se aproximar do salgueiro
novamente, e isso foi tudo que foi dito sobre o assunto. Os funcionários
estavam claramente inquietos e Remus estava apenas tentando manter a cabeça
baixa.

Os outros marotos não haviam dito nada a ele sobre isso e mudavam de
assunto sempre que surgia. Normalmente Remus preferia não discutir nada
relacionado ao seu 'probleminha peludo', mas agora ele estava começando a se
perguntar se eles secretamente o culpavam por tudo. James nunca diria isso em
voz alta, é claro - Peter talvez diria. Sirius poderia dizer e então retirar
imediatamente. De qualquer forma, nenhum deles disse uma palavra, deixando
a imaginação de Remus correr solta.

Uma semana após o incidente, a Professora Sprout confirmou o boato; Davey


Gudgeon agora estava cego e não voltaria para Hogwarts por um bom tempo.
Remus estava tentando evitar Sprout desde que isso aconteceu - como
professora de Herbologia, ele tinha certeza de que ela sabia exatamente o que o
salgueiro estava fazendo no terreno em primeiro lugar.

"Seus pais o estão levando para a América, onde estão sendo feitos avanços
nas poções de cura ocular." A professora atarracada explicou no café da
manhã. "Tenho certeza de que Davy e sua família são muito gratos por todas
seus desejos de boa sorte."

Remus sentiu uma sensação horrível na boca do estômago. Quando Marlene,


Lily, Mary e alguns outros alunos se levantaram para apresentar sua petição -
que tinha mais de quatrocentas assinaturas, agora - Remus foi com eles.

A Professora Sprout aceitou a petição e prometeu discutir o assunto com


Dumbledore. Ela até deu a Marlene dez pontos da casa por seus esforços.

"Eles não vão se livrar dele, no entanto", disse Sirius, mais tarde naquela noite,
quando os marotos estavam sozinhos em seu quarto.

"Não, eu duvido," Remus chutou uma meia perdida debaixo da cama, as mãos
nos bolsos.

"Então, por que você foi junto?"

Remus encolheu os ombros,

"Parecia a coisa certa a fazer. Quero dizer. Marlene está certa - a árvore é
perigosa. Não deveria estar em uma escola."

"Mas ..." Peter começou.


"Eu sei." Remus explodiu. "Eu sei, ok?"

"Você não deveria se sentir culpado, cara", disse James, gentilmente,


"Gudgeon não deveria ter brincado com aquilo ... não é sua culpa-"

"Se for culpa de alguém," Remus disse sombriamente, "Então é minha."

"Isso é estúpido." Sirius disse, sem rodeios, balançando a cabeça, "Você não
plantou aquilo, não é? Não sei se escapou da atenção de todos, mas esta escola
não é exatamente preocupada com a segurança. É construída ao lado de uma
maldita floresta cheia de criaturas mais perigosas do que uma bendita árvore, e
supostamente há um monstro literalmente adormecido em algum lugar abaixo
de nós e – sem ser engraçado - mas você já viu Hagrid?!"

"Qual é o seu ponto, Black?" Remus suspirou pesadamente, sentando-se. Seu


quadril doía se ele ficasse em pé por muito tempo. Estava parecendo uma
idosa.

"Não sei," Sirius deu de ombros, "Merdas acontecem? Não se culpe? Parede se
lamentar? "

"Lamentar ?!" Remus rosnou, sua temperatura subindo, "Vai se foder. Tem
uma criança que não consegue enxergar porque sou muito perigoso para estar
na escola! Tente dizer a Marlene o que eu sou, aposto que ela conseguiria
muito mais assinaturas NAQUELA petição."

"Você não é perigoso!"

"Você não sabe o que eu sou." Remus sibilou.

"Você é nosso amigo." James disse, de repente. Remus olhou para ele. Foi uma
coisa estúpida, piegas e dramática de se dizer. Mas isso era metade do
problema com James - ele personificava tanto os valores irreais de lealdade,
justiça e honra, que obrigava você a acreditar neles também. Ele se sentou ao
lado de Remus na cama. "Você é nosso amigo, e isso é o mais importante, ok?"

Ele encontrou o olhar de Remus e olhou de volta, sorrindo. "Ok?" Ele disse.

Remus continuou a olhar feio, e James se aproximou mais, de modo que seus
joelhos bateram juntos, "Ok?!" Ele disse, inclinando-se para frente agora, seu
nariz a centímetros do de Remus. Remus conhecia essa tática - James fazia a
mesma coisa às vezes para animar Sirius. Ele nunca piscava - era altamente
enervante e, finalmente, Remus riu, se afastando,
"Ok! Ok!"

James riu também e jogou os braços em volta de Remus,

"Graças a Deus! Não podíamos perder você, Moony! " Ele falou. De repente,
Sirius e Peter seguiram o exemplo, se empilhado em Remus, que se viu no
fundo de uma confusão muito risonha.

Rindo, apesar de si mesmo, Remus tentou sair debaixo deles,

"Sai de cima de mim, seus bixas!"

"Ahh, você realmente nos ama" Sirius deu um tapinha em sua cabeça.
54. Terceiro Ano
Marlene

"Então, sobre o verão?" James perguntou, tomando cerveja amanteigada no


Três Vassouras no último fim de semana de Hogsmeade antes dos exames.

Sirius e Remus grunhiram em uníssono.

"Você sabe que eu não posso –" Remus começou,

"Eles nunca vão me deixar." Sirius terminou.

"Eu não vejo por que, no entanto," James respondeu, inocentemente. "Vocês
dois vieram para o Natal."

"Sim, mas há alguma regra sobre eu ficar em St. Edmund's durante todo o
verão," Remus deu de ombros. "Enquanto estou lá, tenho que seguir a lei
trouxa. Você não pode visitar ninguém quando está sob o cuidado deles, a
menos que sejam parentes."

"E você sabe como minha família é." Sirius suspirou pesadamente. "Mesmo
depois do Natal - e acho que foi apenas para me manter fora do caminho, para
ser honesto. Reg já me disse que sou esperado."

"Quando você falou com Regulus?" James ergueu os olhos, surpreso. Sirius se
mexeu ligeiramente em seu banquinho, parecendo constrangido,

"Er ... outro dia. Não valeu a pena mencionar, só o vi por um minuto. "

"Eu estarei lá durante todo o verão, James", disse Peter em voz alta.

Sirius revirou os olhos obviamente, mas James sorriu e deu um tapinha no


joelho de Peter,

"Sim, ótimo, cara - pelo menos eu terei você, não é?"

"Talvez eu consiga fazer uma viagem ao Beco Diagonal", disse Sirius,


animando-se um pouco, "Já pensei sobre isso, e se você levar a capa da
invisibilidade, talvez possamos pensar algo ..."
Os três começaram a conversar animadamente sobre o plano - Remus os
deixou. Desde que ele colocou um fim ao plano dos animagus, os marotos
estavam um pouco perdidos. Eles precisavam de algo para usar sua energia
criativa, e geralmente tinha que ser pelo menos um pouco ilegal.

"Moony," James disse de repente, "Onde fica St. Edmund's, exatamente?"

"Bosque de Epping," Remus forneceu, prontamente, "Por quê?"

"A gente poderia ir te visitar ..."

"Não." Remus disse isso com tanta força que as cabeças de Sirius e Peter se
ergueram, alarmadas. Remus engoliu em seco, "Não faça isso, ok? É uma má
ideia."

Suas entranhas se agitaram - a humilhação que sentiria se seus amigos vissem


como ele vivia; de onde ele veio. Seria demais para suportar. O que eles diriam
quando vissem suas roupas trouxas cinza sem graça, ou os rostos ásperos e os
nós dos dedos roxos dos outros meninos? Os blocos de concreto e as
construções portáteis da vizinhança e o pedaço grama amarelada na frente.
Eles teriam pena dele.

"Vou escrever", disse ele, apressadamente, na esperança de acalmá-los, "E


vocês podem me dizer tudo o que fizerem. Espero poder ir a sua casa no Natal,
Potter. "

"Talvez você não vá," Sirius disse, de repente, "Lua cheia é no dia 29 de
dezembro."

Remus olhou para ele estranhamente. Ele se orgulhava de ter uma excelente
memória, mas Sirius levava a melhor quando se tratava dos ciclos lunares.

James riu,

"Como é que você memorizou cada maldita lua cheia dos próximos cinquenta
anos, mas você não consegue receber mais que um 'Aceitável 'em
Astronomia?!"

"Algumas coisas são importantes a lembrar, outras não," Sirius deu de ombros,
esvaziando sua caneca, "E não saber as constelações é algo que realmente irrita
meus pais. Então."

***
Meados de maio de 1974

Remus bocejou e fechou seu livro. Ele havia estudado muito. Mais do que
suficiente. Estudado demais, se você perguntar a Sirius. Mas então, tudo era
muito mais fácil se você tivesse a sorte de ter a fortuna de parentes ricos e
mortos. Alguém com as perspectivas de Remus não podia se dar ao luxo de
relaxar.

A biblioteca ficava aberta por horas estendidas durante o período de exames,


mas mesmo assim, estava quase fechando, com apenas alguns alunos muito
mais velhos deixados para trás, piscando sonolentos para seus textos. Lily,
Mary e Marlene foram para a cama há pelo menos uma hora - ou Remus
achava que sim, pelo menos. Os dias se tornavam muito repetitivos no início
do período letivo, e o tempo não parecia mais verdadeiramente linear - havia
dias que ele não ia do lado de fora.

Exausto, se levantou, esfregou os olhos e carregou uma pilha de livros de volta


para as estantes de Estudo das Criaturas Mágicas. Descobriu que poderia
deixar madame Pince de bom humor se ele próprio arrumasse os livros, e não
precisava de muito esforço.

Ele gostava de ficar na biblioteca até tarde - era quieto e tranquilo. Crescer
num lar de crianças e dividir um quarto com os marotos deu a Remus poucas e
preciosas oportunidades de paz e sossego.

Ao chegar na última fileira de prateleiras, ele avistou uma pequena figura


curvada, profundamente adormecida sobre uma pequena mesa. Levantando nas
ponta dos pés, ele reconheceu o cabelo loiro espalhado sobre as páginas de um
livro aberto.

"Marlene," ele sussurrou, enquanto se aproximava. "Marlene!" Ele tocou em


seu ombro suavemente.

Ela saltou violentamente, rápida o suficiente para dar um susto em Remus,


então olhou ao redor com olhos confusos e turvos.

"Remus?"

"Você dormiu", explicou ele, mantendo a voz baixa, "A biblioteca está
fechando em breve."
"Ah não!" Ela parecia perturbada, olhando para seu pergaminho, que estava em
branco. Ela espalhou um pouco de tinta na parte superior, mas nada mais. "Ah
não." Ela disse novamente, desamparada.

"Está tudo bem," Remus tentou animá-la, "Você obviamente precisava de um


descanso, hum? Ainda tem algum tempo antes do início dos exames."

"Tenho tantas revisões para fazer! Não consigo me lembrar de nada sobre
crupes, e você? "

"Vamos," Remus se esquivou da pergunta, "É melhor irmos, ou a Pince vai


brigar com a gente."

Marlene acenou com a cabeça atordoada e se levantou, deixando que ele a


conduzisse através do labirinto de estantes. Quando saíram, ela começou a
murmurar para si mesma,

"Crupes têm caudas bifurcadas, são cautelosos com trouxas e se parecem um


pouco com cocker spaniels."

"Jack Russell's." Remus corrigiu, sem pensar.

"O que? Mesmo?! Você tem certeza??" A garota agarrou seu braço, em pânico
irracional com essa informação.

"Er ... sim," disse Remus, recuando, incapaz de se livrar do aperto de Marlene.

"Claro que você tem certeza!" Ela disse, tristemente, finalmente o deixando ir,
"Você é o melhor da classe."

"Você também é muito boa ..." Remus começou, mas parou. O rosto de
Marlene se contraiu e ela começou a chorar.

"Eu não consigo! Vou reprovar em tudo!" Ela lamentou alto.

Um grupo de sonserinos que passava riu dela, antes que Remus apontasse sua
varinha ameaçadoramente para eles. Marlene, ainda chorando, se jogou em
Remus, os braços em volta do pescoço dele enquanto soluçava em seu ombro.
Pego de surpresa, Remus tentou acariciá-la, gentilmente, enquanto o corpo
minúsculo dela tremia contra o dele. Ele nunca tinha sido abraçado por uma
garota antes - exceto a mãe de James, e isso dificilmente era a mesma coisa.
Ele não gostou. Seu ombro estava ficando molhado.
Marlene estava completamente alheia à sua estranheza, no entanto, "Eu sou
uma porcaria!" Ela fungou: "Eu estraguei tudo, nunca vou ser tão boa quanto
Danny, ou mamãe, ou você, ou Lily ..."

"Er ... você é melhor do que Mary em-"

"Mas Mary tem um namorado e todo mundo gosta dela e ninguém gosta de
mim!" Ela chorou ainda mais.

Neste ponto, Remus decidiu que ele estava definitivamente perdido. Deu um
tapinha nas costas dela, sem jeito mais uma vez, e disse:

"Eu vou hum ... ir buscar Lily, okay?"

"Não, não está tudo bem ..." Marlene se afastou, ainda fungando. Seu rosto
normalmente pálido agora estava vermelho e manchado, seus olhos cinzas
ainda brilhantes. "Vou apenas lavar meu rosto", ela gesticulou em direção ao
banheiro feminino mais próximo, "Você espera por mim?"

"Hum ... ok."

Ela desapareceu e Remus caiu pesadamente contra a parede. Ele agora estava
carregando ambas as bolsas de livros e seus ombros doíam com o peso. O que
os outros fariam, nesta situação? James seria cavalheiresco, obviamente. Ele
provavelmente saberia exatamente o que dizer para impedi-la de chorar. Peter
nunca se colocaria nessa situação em primeiro lugar. Sirius ... bem, Remus
achava que Sirius provavelmente seria tão ruim quanto ele, na verdade. Ele
também não era bom com emoções; mal conseguia lidar com as próprias.

Ainda assim, Remus sabia que a coisa certa era esperar e levá-la de volta para
a sala comunal, então o fez. Não que Remus não sentisse simpatia por Marlene
- a pressão sobre todos era enorme, era difícil de ignorar. Era mais sua aversão
geral por choros. E é claro que ele nunca gostou de estar perto de pessoas
chorando; o deixava nervoso.

Marlene parecia muito melhor quando saiu do banheiro. Um pouco corada,


mas pelo menos ela estava calma.

"Desculpa", ela sorriu para ele, timidamente, "Eu me sinto boba."

"Tá tudo bem." Remus encolheu os ombros. Se perguntou se poderia devolver


a bolsa dela agora. Seus braços doíam muito e seu joelho ruim estava dolorido
– além de seu quadril. Não, provavelmente não. Não era uma coisa muito
James a se fazer, deixar uma garota carregar suas próprias coisas. Ela também
não se ofereceu para pegar de volta sua bolsa. Felizmente, eles não estavam
muito longe da torre da Grifinória.

"Estou sendo boba", disse ela, enquanto caminhavam, "eu sei que estou - meu
padrasto odeia quando eu fico desse jeito. Diz que isso o deixa louco. Então
mamãe fica com o pior. Danny diz que preciso ficar mais forte e parar de agir
como um bebê, mas ..."

"Quem é Danny?" Remus perguntou, um pouco perdido.

"Meu irmão", ela parecia surpresa, "tenho certeza de que o mencionei. Ele é
um batedor para os Canhões de Chudley. "

"Ah, certo, sim, eu sabia disso." Remus acenou com a cabeça, "Deve ser por
isso que você é tão boa."

"Eu não sou tão boa quanto Danny."

"Bem." Remus tentou encolher os ombros sob o peso dos livros, "Você tem
apenas quatorze anos. Aposto que seu irmão não era tão bom aos quatorze
anos. Você venceu Sirius, e ele é muito bom. "

"Você acha mesmo?"

"Sim," Remus respondeu, casualmente. "Obviamente. A Grifinória ganhou a


copa novamente este ano, não foi? "

"Por causa de James."

"É, bem, mas James é louco, você não quer ser como James."

"Você não vai contar a Mary o que eu disse, vai?"

"Não." Ele já havia esquecido o que ela disse sobre Mary, para ser honesto.

"Ela é minha melhor amiga," Marlene fungou, "E eu não tenho inveja dela nem
nada, ela só ... bem, ela gosta de se exibir, sabe. Ela é tão engraçada e tagarela
e tudo mais, às vezes eu me sinto um pouco ... quero dizer, ela já saiu com
Sirius e agora ela tem aquele namorado trouxa, e eu acho que o Professor
Ferox gosta dela mais do que de mim. "
"Ele é um professor." Remus disse, "Ele gosta de todos igualmente. Enfim,
você é engraçada. James está sempre falando sobre como você faz todo mundo
rir nos treinos de quadribol. "

"Mesmo?!" Ela pareceu corar novamente com a notícia. "E quanto a ... hum ...
e quanto a Sirius, ele acha que eu sou engraçada?"

"Sim, óbvio," Remus acenou com a cabeça, satisfeito por ela finalmente estar
sorrindo de novo, "Todos nós achamos. Sua imitação da McGonagall é a
melhor."

Isso pareceu satisfazê-la, e quando eles chegaram à sala comunal, Marlene


parecia positivamente alegre. "Eu vou te ajudar com crupes, se quiser." Remus
disse, enquanto eles subiam pelo buraco do retrato. "Podemos fazer isso
amanhã na hora do almoço."

"Obrigado Remus." Marlene colocou os braços em volta dele novamente em


um abraço rápido. Ela pegou seus livros e subiu as escadas para seu
dormitório. Remus deixou escapar outro suspiro, cedendo levemente de alívio.
Por que isso sempre acontecia com ele? Talvez ele precisasse começar a ser
mais malvado.

Atrás dele, alguém assobiou, alto. Ele nem precisou se virar para saber quem
fora.

"Lá vem ele! Cuidado, senhoras, o galã número um da Grifinória, passando! "
Sirius gritou quando Remus foi se juntar a seus amigos perto da lareira. James
estava imerso em um livro, mas olhou para cima e deu uma piscadela para
Remus. "Você vai ter que nos contar seu segredo, Moony," Sirius continuou,
"Você parece conseguir todas as garotas."

"Ela é apenas uma amiga e você sabe disso. Onde está Pete?"

"No banho", respondeu James, "Pirraça o atacou com uma jarra de creme de
leite do jantar de ontem."

"Eurgh."

"Sim, foi esse mesmo som que ele fez", James sorriu, voltando ao livro.

"Graças a Merlin, você voltou," Sirius se dirigiu a Remus, "James está tão
chato hoje."
"Estou revisando." James disse, calmamente, virando uma página: "Você
também deveria estar."

"Pfft."

"Eu cansei de revisar por hoje," Remus sorriu, "Quer um jogo de snap?"

"Eu já te disse recentemente o quanto eu te amo?"

"Cale a boca e pegue as cartas."


55. Terceiro Ano
Greyback

You're too old to lose it, too young to choose it


And the clock waits so patiently on your song
You walk past a café, but you don't eat when you've lived too long
Oh, no, no, no, you're a rock 'n' roll suicide.

Sexta-feira, 28 de junho de 1974

Sem surpresa, Sirius atingiu notas obscenamente altas em tudo, exceto em


Astronomia, sem nem mesmo levantar um dedo para estudar. Nesse ponto,
Remus não tinha certeza se Sirius realmente tinha algum estranho dom puro-
sangue, ou se ele era apenas um gênio não reconhecido. Remus não se
importava de nenhuma maneira - ele próprio ficou em primeiro lugar em Trato
das Criaturas Mágicas, Runas e História da Magia – e em segundo lugar em
Aritmancia, depois de Sirius.

"Muito bem, garoto!" Ferox deu um tapa nas costas dele no café da manhã, na
manhã seguinte a que os resultados saíram. "Meu melhor aluno."

"Obrigado, professor," Remus sorriu, sentindo-se tonto de prazer.

"Eu tenho alguns livros se quiser emprestado durante o verão - apareça no meu
escritório antes de ir, hein?"

"Olha quem é o favorito do professor!" Sirius brincou, enquanto o homem alto


e jovial se afastava, assobiando uma melodia alegre. Remus não respondeu -
ele estava muito satisfeito consigo mesmo.

"Não posso acreditar que é 'até o quarto ano agora." James disse, limpando os
óculos em suas vestes.

"Você tem que continuar me lembrando?" Sirius gemeu, largando o garfo e a


faca.

"Tenho muito o que fazer durante o verão", James respondeu, "Vai passar
voando."
"O que vocês vão fazer no verão?" Remus perguntou, desconfiado.

"Planejar as pegadinhas do próximo ano, obviamente," Sirius disse, um pouco


rápido demais. "Temos que ficar à frente, Remu, meu rapaz, temos uma
reputação a manter."

Era o último dia oficial do semestre, então Remus decidiu ignorar o fato de que
isso era claramente uma mentira. Ele teria todo o verão para ficar paranoico
sobre os outros três o deixando de fora; não havia necessidade de se preocupar
com isso ainda.

Depois do café da manhã, ele queria ir direto ver o Professor Ferox, mas achou
que isso poderia parecer um pouco ansioso demais - além disso, os outros três
certamente iriam querer ir com ele, e Remus não suportava a ideia de Ferox
conhecer Sirius e James. Ele, sem dúvida, ficaria encantado com o carisma
natural deles e se perguntaria por que achava que Remus era especial.

O quarteto subiu as escadas e fez as malas - isto é, James, Remus e Peter


fizeram as malas. Sirius andava pelo quarto tentando distraí-los, jogando livros
e roupas pelos ares, ligando e desligando seu toca-discos.

"Vai ter que ser feito, quer você goste ou não", James repreendeu, com as mãos
nos quadris em uma imitação muito boa de sua mãe.

"Você faz pra mim, como no ano passado," Sirius respondeu, de pé em sua
cama e tentando fazer flexões penduradas na estrutura da cama. As vigas de
madeira antigas rangeram.

Remus fechou seu próprio malão. Seu canto da sala parecia muito vazio, sem o
caos usual de livros, papéis, penas e roupas espalhadas sobre ele. Ele foi até a
vitrola para dar uma última carícia afetuosa nas capas de seus álbuns favoritos.
Os verões eram tão quietos, sem a música de Sirius. A Matrona só ligava o
rádio uma vez por semana - no Radio 3 Choral Evensong.

"Moony," James disse, de repente, "Você não tem que ir ver a Madame
Pomfrey?"

"Er ... sim, mas não agora ..." Remus ergueu os olhos, surpreso.

"Bem, quero dizer, se você terminou de fazer as malas, pode ir, certo? Quando
eu terminar as coisas de Sirius, iria sugerir que todos nós saíssemos para dar
uma volta em nossas vassouras, e você odeia voar, então ... "
"Ah sério? Ok então." Remus assentiu, sentindo-se inexplicavelmente
magoado. Não era típico de James expulsar você do quarto.

"Veremos você no jantar, certo Moony?" Sirius perguntou, balançando para


frente e caindo de pé com a agilidade de um ginasta.

"É, acho que sim ..." Remus saiu da sala, sentindo-se como se estivesse sendo
escoltado de uma festa para a qual não foi convidado. É justo, ele não gostava
muito de voar. Mas isso geralmente não importava - muitas vezes ele se
sentava nas arquibancadas e lia seu livro enquanto os outros se divertiam no ar.
Ele não teria se importado em fazer isso desta vez.

Ele tinha que ver a Madame Pomfrey, de qualquer maneira, então ele foi para a
ala hospitalar, lutando para se livrar da sensação desagradável de exílio.

***

"Você está muito quieto, querido," a medi bruxa comentou enquanto


completava suas verificações de fim de ano. "Não está ansioso para suas
férias?"

"Não, não muito", respondeu ele.

"Você vai sentir falta dos seus amigos", ela estalou a língua com simpatia. "É
uma pena, eu sei. Ainda assim, imagino que você tenha muitos amigos trouxas
com quem brincar. "

Remus não se incomodou em responder. Madame Pomfrey era muito gentil e


não tinha um único traço ruim em si, mas ela - como a maioria dos adultos -
podia ser incrivelmente densa. Em particular, Remus esperava que o verão que
se aproximava fosse tão lucrativo quanto o anterior - se Craig ainda estivesse
por perto, talvez pudesse ganhar algum dinheiro. Ele provou ser capaz, poderia
até pedir mais do que apenas cigarros.

Ela lhe deu as mesmas instruções do ano anterior - coma bem, faça exercícios e
descanse.

"Vejo você no início de julho", ela sorriu serenamente, e ele se sentiu


consolado com a ideia de que pelo menos não estaria completamente isolado
da comunidade bruxa.

Tendo resolvido isso, Remus considerou voltar para o dormitório. Talvez todos
eles tivessem acabado de falar sobre ele, ou seja, lá o que for que eles
precisavam fazer quando ele estava fora do caminho. Talvez eles já tenham
voado. Ele não os invejava por isso; James achava que, se Sirius estivesse
irritado ou muito nervoso, uma boa hora de exercício era a melhor coisa (e
geralmente era). Além disso, era uma das poucas vezes que Peter não ficava de
fora. Apesar de sua falta de jeito em terra, Pettigrew era surpreendentemente
bom com a vassoura. Sem dúvida, um resultado do treinamento implacável de
James.

Era realmente o momento perfeito para ir ver o Professor Ferox, é claro, mas
Remus demorou. Se sentiu repentinamente muito tímido, nunca tendo ido ver
um professor sozinho antes - a menos se tivesse tomando bronca, é claro.
Caminhando lentamente, eventualmente teve que fazer uma escolha direcional
em um determinado corredor e decidiu que era melhor acabar logo com isso.

Remus bateu timidamente na porta do escritório de Ferox, embora estivesse


ligeiramente entreaberta. Seu coração batia forte no peito e ele se viu meio que
torcendo para que seu professor não estivesse lá, afinal. Remus não pôde
deixar de se lembrar, com certo embaraço, de como apenas algumas semanas
atrás ele quase veio correndo para Ferox em um momento de pânico, apenas
para reconhecer que era uma ideia terrível no último minuto.

"Entre!" A voz alegre de Ferox ecoou de dentro da sala. Remus endireitou os


ombros e entrou. "Sr. Lupin!"

Ele não estava sentado em sua mesa - Remus achava que nunca tinha visto
Ferox sentado, exceto na hora das refeições, ele estava sempre se movendo.
Agora mesmo, o homem estava embalando um pequeno baú, enquanto
Aquiles, o kneazle, observava em silêncio do parapeito da janela. Mesmo
depois de um ano de aulas com Ferox, Remus ainda estava um tanto surpreso
com seu professor. Sua presença gigantesca não havia diminuído, sua juba de
cachos cor de areia ainda era gloriosa, seu rosto, ainda heroico, com os traços
decididamente esculpidos.

"Olá, senhor," Remus sorriu ao entrar, fechando a porta atrás de si. "Você
pediu para me ver?"

"De fato, eu pedi", Ferox sorriu amplamente, acenando para uma pilha de
cinco livros em sua mesa, "Esses são para você, se você tiver espaço em seu
baú. O livro definido para o próximo ano e algumas outras coisas que achei
que poderiam interessar a você."

Remus se aproximou da mesa e dedilhou os tomos encadernados em couro


com cuidado,
"Obrigado, professor", disse ele, calmamente. Ele nunca tinha recebido um
presente tão grande antes. Ferox acenou com a cabeça, sentando-se,
finalmente, gesticulando para que Remus fizesse o mesmo.

"Cerveja amanteigada?" Ele retirou algumas garrafas da gaveta inferior de sua


mesa.

"Obrigado, professor," Remus repetiu, aceitando a garrafa e sentando-se.

Aquiles, no parapeito da janela, espreguiçou-se, bocejou e depois se enrolou


para dormir pacificamente. Remus sentiu que deveria dizer mais alguma coisa.
"Dumbledore normalmente me envia meus livros e outras coisas." Ele
ofereceu: "Você não precisava."

"Bem, eu sei que você fica um pouco fora de alcance durante as férias, então
achei que você gostaria de começar." Ferox continuou a sorrir seu grande
sorriso fácil.

Remus sentiu um estranho tipo de calor percorrendo seu abdômen. O que era
estranho, porque ele ainda não tinha bebido sua cerveja amanteigada.

"Gentil da sua parte." Ele disse, olhando para os livros novamente,


desconfortável com muito contato visual.

"Não é caridade, Remus, eu prometo," Ferox disse, tranquilizador, "Eu sei


como é, veja bem. Vim para Hogwarts com quase tão pouco quanto você.
Nascido trouxa - criado pela minha Vó. Claro, ela nunca entendeu nada do que
eu fiz aqui. Abençoe seu coração. "

Remus piscou. Era uma notícia interessante - ele presumira que a maioria dos
professores de Hogwarts - na verdade, a maioria dos adultos que ele respeitava
- fossem todos puro-sangue. Foi um imenso alívio saber que não era esse o
caso.

"Nós, crianças perdidas, temos que ficar juntas, não?" Ferox piscou para ele.

"Sim," Remus continuou a concordar, enfaticamente. "Então, você nunca teve


problemas em conseguir um emprego ou coisas assim? Depois da escola?"

"Bem, sempre haverá pessoas que não conseguirão ver além do seu status
sanguíneo, não importa quem você seja", disse Ferox, com um sorriso irônico
em sua voz, "Mas você aprende muito rápido como provar que estão errados.
Bem, eu não preciso te dizer como. "
"Não." Remus concordou. Ele tomou um gole de sua cerveja amanteigada.
"Então ... você também é órfão, professor?"

"Eu sou. Criado na sarjeta, também, você não acreditaria o quanto eu fui zoado
pelo meu sotaque naquela época. "

"Mary e Marlene acham que você soa como Paul McCartney." Disse Remus.
Ferox riu, uma risada grande, alegre e ofegante.

"Terei que me lembrar disso na próxima vez que estiver na ativa."

Remus se sentiu corar ao ouvir Ferox falar assim.

"Só serve para mostrar", disse Ferox, "você nunca sabe o que as outras pessoas
vão pensar de você. Portanto, nunca assuma nada, hein? "

Remus olhou para ele, curiosamente, mas deu um pequeno aceno de


compreensão. A expressão do professor se suavizou. "Remus," Ferox disse, tão
gentilmente que era enervante, "Eu ... há outra coisa que eu gostaria de falar
com você."

Remus estremeceu - ele pensou que sabia o que estava por vir. Estava
esperando por isso desde antes do Natal. "Tudo bem se você não quiser falar
sobre isso", disse o professor.

"É sobre ... meu problema?"

"É uma maneira de falar," Ferox disse, em um tom medido. "Não sei se você
sabe disso, mas conheci seu pai, Lyall, muito bem."

Remus quase engasgou com sua cerveja amanteigada. Ele não esperava por
isso. Ferox continuou: "Nosso trabalho muitas vezes se sobrepunha, você vê -
eu era jovem, havia começado no departamento de Controle de Criaturas
Mágicas. Eu o conhecia de reputação, é claro, então tentei aprender o que
pude, embora nunca tenha dominado bichos-papão como ele."

"Ok." Remus não sabia mais o que dizer.

"Você sabe muito sobre ele?"

"Eu ..." Remus desviou o olhar, para fora da janela. Ele não achava que poderia
falar e olhar para Ferox ao mesmo tempo. "Ele era da Corvinal", ele começou,
como se estivesse marcando itens em uma lista, "Ele era bom em duelar. Ele
era bom com bichos-papões, dementadores e poltergeists, e odiava lobisomens,
queria todos eles mortos e ele..." - Remus engasgou, querendo se levantar e
sair da sala.

"Onde você ouviu tudo isso?" Ferox parecia chocado. Remus olhou para ele,
embora tudo estivesse borrado em lágrimas agora. Parecia que todos os
pensamentos desagradáveis e rancorosos que ele vinha tendo desde dezembro,
haviam vazado como veneno.

"Darius Barebones." Ele disse, esfregando os olhos com força nas mangas de
suas vestes, forçando-se a se controlar. "Conheci ele na festa de Natal do
Potter."

"Aquele velho bêbado." Ferox retrucou, rispidamente. Ele parecia irritado, mas
não com Remus. "Eu sinto muito, Lupin, que coisa a se ouvir. Não é verdade,
você sabe. "

"Ele não odiava ... eles?"

"Bem," Ferox inclinou a cabeça, como se estivesse tentando ser diplomático,


"Ele estava preocupado com o perigo que os lobisomens representam para a
sociedade. Mas ele era um homem sensato, muito sensato para o ódio. Você é
muito parecido com ele. "

Remus bufou amargamente com isso.

"É verdade." Ferox disse, com firmeza. "Ele era um bom homem. Ele faria
qualquer coisa por qualquer pessoa. "

"Darius disse que achava que Lyall foi mordido por Greyback, é por isso que
ele se matou."

"Você sabe sobre Greyback, então?"

Remus concordou. Ferox parecia muito sério. "Eu ouvi esse boato. Não ficaria
surpreso se Dumbledore começou isso para proteger você, para ser honesto.
Pessoalmente, nunca acreditei. Então eu conheci você, é claro, e tudo ficou
claro."

"É tão óbvio?" Remus perguntou, levantando os dedos até a cicatriz em seu
rosto, com mais de um ano agora, mas ainda dura e vermelha.
"Não," Ferox balançou a cabeça, "A maioria dos bruxos não reconheceria um
lobisomem se ..."

"Saltasse e mordesse eles?"

Ferox riu, abafando o mau humor que se instalara no pequeno escritório


iluminado.

"O senso de humor do seu pai também."

Remus sorriu, fracamente.

"Professor?"

"Sim?"

"O que aconteceu com Greyback?"

Ferox instantaneamente ficou sério novamente.

"Receio que não tenhamos certeza. Ele ainda está vivo, e no que diz respeito ao
ministério, ainda é procurado por seus crimes. Não sei se eles vão pegá-lo, para
ser honesto, o homem é um maníaco, pelo que sei. "

"Ele poderia ... me encontrar?"

"Talvez."

Remus ficou surpreso com a honestidade de Ferox. Ele não parecia tão
preocupado quanto a maioria dos adultos em protegê-lo das verdades mais
duras. "Isso te assusta?" O professor perguntou.

Remus encolheu os ombros.

"Eu acho ... que sempre soube. Que vou encontrá-lo novamente. "

"Você não deve sair procurando ..."

"Eu não vou." Remus sabia que era mentira, mas também sabia que não havia
nada que Ferox pudesse fazer para detê-lo.

"Se você tiver mais perguntas, quero que se sinta confortável para me
perguntar." Ferox disse, "Há alguns recortes de jornal antigos dentro do livro
de cima," ele acenou com a cabeça para a pilha que ele presenteou Remus, "Eu
pensei que você deveria ficar com eles. Coisas assim não devem ser escondidas
das pessoas, e você já tem idade suficiente."

"Obrigado professor."

"Eu não te chateei?"

"Não, professor."

"Bom rapaz." Ferox se levantou, se inclinou sobre a mesa e apertou o ombro de


Remus de uma forma amigável. "Tente ter um bom verão, hein? Vejo você em
setembro."

Remus acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco tonto com os eventos da


última meia hora. Mesmo assim, ele ficou muito grato por ser dispensado, e
silenciosamente foi embora, carregando a pesada pilha de livros de volta para a
sala comunal.

Estava muito quieto na torre da Grifinória agora. A maioria dos alunos havia
terminado de fazer as malas e, sem dúvida, estava lá fora aproveitando o ar
livro. Os pensamentos de Remus se voltaram para Davy Gudgeon, e ele os
reprimiu. Uma crise emocional de cada vez.

Os marotos também se foram, as coisas de Sirius agora cuidadosamente


guardadas em seu baú de serpente. O quarto estava abafado e quente, Remus
sacudiu sua varinha para abrir as janelas, então foi se sentar em sua cama e
abrir o primeiro livro.

Certamente, pressionados como folhas mortas entre a capa interna e a primeira


página, três recortes de jornal amarelados:

O Profeta Diário, abril de 1964

ATAQUES DE LOBISOMEN CRESCEM - seus filhos poderiam ser os


próximos?

O Ministério da Magia confirmou hoje que a recente onda de assassinatos nas


comunidades trouxa e bruxa é obra de criaturas das trevas - nomeadas
lobisomens. Os funcionários do ministério estão particularmente preocupados
com o fato de, em muitos casos, as vítimas dos ataques serem crianças com
menos de dez anos.

Um oficial, o respeitado especialista em criaturas das trevas Lyall Lupin, falou


e criticou o ministério por "medidas de segurança relaxadas e deliberadamente
negligentes". Lupin afirma que o atual registro de lobisomem do ministério é
mal administrado e mantido, permitindo que certas facções anti-ministério
usem essas brechas em seu benefício.

O número atual de vítimas é suspeito de ser dezessete, mas deve aumentar à


medida que a investigação continua e os perpetradores continuam a aludir à
captura. Uma declaração do escritório dos Aurores é esperada ainda hoje.

O Profeta Diário, obituários, janeiro de 1965

Lyall Lupin, que morreu aos 36 anos, será lembrado como um especialista de
renome mundial em aparições espirituais não humanas, por seu extenso
trabalho com bichos-papões e poltergeists, dementadores e, mais recentemente,
seus esforços para reformar o registro nacional de lobisomens.

Lupin deixa sua esposa, a trouxa Hope Lupin, com quem se casou em Cardiff
em 1959. O casal tem um filho pequeno, Remus John Lupin, nascido em 1960.
A família pediu privacidade durante o período de luto.

O Profeta Diário, fevereiro de 1965

AURORES À PROCURA DE GREYBACK

O Gabinete Auror está apelando para o público mágico por qualquer


informação relativa ao paradeiro de Fenrir Greyback, lobisomem e suspeito de
assassinato de crianças.

Greyback é descrito como um homem de 1,90 metros de altura, muito forte e


sujo, com a aparência de um mendigo. Bruxos e bruxas são avisados para não
se aproximarem dele e considerarem Greyback extremamente perigoso, mesmo
na forma humana. O Auror Alastor Moody hoje fez uma declaração indicando
que o ministério acredita que Greyback está viajando com uma matilha de
lobisomens, tornando-o ainda mais perigoso. Greyback é conhecido por ter
uma preferência por crianças pequenas, mas Moody se recusou a comentar
sobre as especulações de que os lobisomens planejam formar um exército.

O ministério também se recusou a responder às alegações de que eles tinham


Greyback sob sua custódia na primavera passada, e falharam em reconhecer a
ameaça.

Desde a morte de Lyall Lupin, um defensor de sanções mais severas aos


lobisomens, tem havido numerosos esforços para melhorar o reconhecimento e
registro de criaturas das trevas.

A primeira vez que os leu, Remus nem mesmo usou seu auxilio de leitura. Na
segunda, terceira e quarta vezes, ele o usou. Repetidamente, como se houvesse
algo mais neles, como se pudesse sugar a verdade para fora. Não tinha mais
respostas do que antes, e uma bola de fúria quente e raivosa começou a crescer
dentro de seu peito, queimando mais fortemente cada vez que ele relia e relia.

As horas se passaram, a sala escureceu e, no fim, ele nunca desceu para o


banquete.
56. Verão, 1974

Moony,

Espero que esteja tudo bem com você neste verão.

As coisas estão estranhas aqui - meus pais nem estão mais interessados em me
disciplinar, eles simplesmente continuam participando de todas essas reuniões.
Às vezes elas são na nossa casa, às vezes eles saem - eu acho que eles vão para
a casa de Bellatrix, talvez. Ou dos Malfoy. Regulus não quer me dizer o que
está acontecendo - eu acho que eles provavelmente colocaram um feitiço
de lábios travados nele ou algo assim, porque normalmente ele não conseguia
resistir se vangloriar de algo assim para mim.

Eu sinto que algo ruim vai acontecer. Eu sei que parece estúpido, mas algo
definitivamente não está certo nesta casa. Às vezes, fico feliz que você, James
e Peter estejam tão longe.

Vou tentar pedir para ficar com James novamente. Eu sei que é maluquice, mas
honestamente, se eles vão me ignorar de qualquer maneira, qual é o ponto?
Nem mesmo fui convidado para ser o padrinho no casamento de Cissy (melhor
ainda, para ser honesto), então sempre há a possibilidade de que eles tenham
me deserdado e simplesmente esquecido de mencionar isso.

Mal posso esperar até que tenhamos dezessete anos, então podemos
simplesmente morar juntos o tempo todo, como em Hogwarts. Eu quero morar
na Carnaby Street, como no Melody Maker. Você vai ter que me mostrar a
cidade - eu sei como o dinheiro trouxa funciona agora, graças aos estudos dos
trouxas.

Desejo o melhor,

Sirius O. Black.

***

Sirius,

Está tudo bem aqui, não se preocupe comigo.


Eu realmente não sei o que você quer dizer com "algo ruim". Você acha que
eles vão tentar machucar você de novo? Se sim, então definitivamente tente ir
para os Potters. Talvez eles possam contar a Dumbledore ou a alguém.

Desculpe desapontá-lo, mas nunca fui à Carnaby Street. St Edmund's fica em


Essex e só vamos a Londres uma vez por ano, geralmente para os museus.
Você provavelmente gostaria do Museu da Ciência, cheio de invenções
trouxas.

Tome cuidado, ok?

Remus.

***

Caro Moony,

Só para você saber, Sirius está vindo para ficar conosco neste verão. Ele deve
chegar esta tarde, então envie seu correio aqui. Espero que seu verão esteja
indo bem? Você parecia um pouco estranho no final do semestre.

Eu sei que você vai dizer não, mas mamãe e papai ainda dizem que você está
convidado para ficar quando quiser. E poderíamos sempre ir até você, apenas
para visitar. Não quero que você fique sozinho aí, cara, especialmente hoje em
dia.

James.

***

James,

O que você quer dizer com 'hoje em dia'? Era disso que Sirius estava falando
sobre as reuniões de família? Você sabe como os Black's são, eles adoram
segredos. Provavelmente não é nada. Eles provavelmente estão planejando o
noivado de Regulus ou algo parecido e querem Sirius fora do caminho.

Enfim, como eu disse a Sirius, não se preocupe comigo. Dumbledore e


Madame Pomfrey acham que é aqui que estou mais seguro, e eles são os
responsáveis por mim, certo? Obviamente, eu preferia passar o verão na sua
casa, mas não vai acontecer, então, por favor, deixe isso de lado?

Não venha aqui também, apenas confie em mim.


R.

***

Caro Remus,

Desculpe se eu chateei você, cara, eu não queria. Vou parar de perguntar sobre
isso, se quiser.

Espero que você esteja tendo um bom verão de qualquer maneira, todos nós
gostaríamos que você estivesse aqui. Você está certo, se Dumbledore diz que
você está seguro aí, você está seguro aí. Papai disse que Dumbledore pode ser
o único em quem podemos confiar, em breve.

Se cuida,

James.

***

Oi Moony,

Quatro marotos são definitivamente melhores do que três. É ótimo ter Sirius
aqui e tudo, mas é como se sempre tivéssemos que fazer o que ele quer

Tenho muita sorte que mamãe me ainda me deixe vê-los depois que Phil saiu
de casa. Recebi um cartão-postal dela outro dia, ela está na América, você
pode acreditar nisso? Ela disse para te dizer olá, então 'olá' de Phil.

Peter.

***

Moony,

Por que você se chateou James? Ele acha que não foi sua intenção de soar
assim, mas eu sei como você é, seu velhote rabugento. E aí?

Sirius O. Black

P.S. Como é que Philomena disse 'olá' para você, e não para qualquer um de
nós? Você é um maldito mulherengo.
***

Remus,

Eu sei que você recebeu minha última carta, a coruja voltou e as corujas dos
Potter são ainda mais confiáveis do que as da minha família.

Por que você não está respondendo?

Sirius O. Black

***

Remus? Por favor, só nos diga se você está bem?

James.

***

Moony?

***

Craig foi preso em algum momento durante o ano letivo e Remus voltou para
descobrir que o companheiro de Craig, Ste, agora estava encarregado das
atividades criminosas de St. Edmund's. Ste era muito mais feio e estúpido do
que Craig.

"Agora 'cê ta meio alto p'roubar, não ta não?" Ste apertou os olhos para Remus.

"Ainda sou magro." Remus respondeu, tentando acalmar seu temperamento.

"Onde é que 'cê arranjô essas cicatriz aí?"

"Brigando."

Ste riu maldosamente.

"É, sei. Um mimado magrelo que nem 'cê. "

"Vai se foder," Remus deu um passo mais perto, "Eu não sou nenhum mimado
não." Ele era tão alto quanto o garoto de dezesseis anos - talvez até alguns
centímetros a mais. Sim, ele era magricela, mas estava mantendo seu
temperamento e Ste estava começando a parecer muito menos seguro de si.

"Ok, ok." O garoto mais velho disse, inclinando a cabeça para trás, longe de
Remus. "Se acalma aí maluco, 'cê tá dentro."

Remus sorriu cruelmente, se virou e foi embora, satisfeito.

Até agora, nada havia lhe dado satisfação alguma. Se sentia mais isolado do
que nunca - e com mais raiva do que jamais sentiu.

Remus quase odiou Ferox por dar a ele aquelas informações no último dia do
semestre - ele não conseguia entender, ou fazer qualquer coisa a respeito. Não
havia ninguém para conversar; ele era proibido de mencionar Hogwarts para
qualquer pessoa em St Edmund's, e ele nem sabia por onde começar com os
outros marotos.

As cartas deles o enfureciam, e ele amassou cada uma delas com seus punhos e
então as jogou fora. Não conseguia ler ou assistir TV, ou mesmo encostar em
sua lição de casa. Se sentia como se tivesse energia infinita acumulada, como
um animal espreitando por toda a extensão de sua jaula. Isso crescia dentro
dele, fervendo até que estivesse quase explodindo com o desejo de atacar e
espancar a próxima pessoa que cruzasse seu caminho.

Felizmente, a maioria dos meninos de St Edmund parecia perceber isso.


Embora Remus mal falasse uma palavra com ninguém, os outros garotos o
evitavam como uma praga.

Então, ele procurou Ste.

Seu primeiro trabalho foi fácil; ele nem precisava ser pequeno para isso. Eles
roubaram um carro e tudo o que ele precisou fazer foi entrar com o resto deles.
Eles dirigiram por aí na maior parte da noite, fumando e bebendo de uma
garrafa de vodka que surrupiaram de uma loja de esquina.

Remus decidiu que gostava de fumar. O fazia parecer mais durão e mantinha
suas mãos ocupadas; ele gostava de bolar cigarros e de como eles queimavam,
a centímetros de seus lábios. Ele gostava de respirar nuvens de fumaça e
pensava em Ferox perseguindo dragões na Romênia.

Os outros meninos começaram a gostar dele, depois que se acostumaram com


sua quietude e seu jeito estranho. Ele ainda era o mais jovem do grupo, e eles
começaram a tratá-lo como um irmão mais novo, enchendo-o de cigarros e
bebida. Remus ficou devidamente bêbado pela primeira vez naquele verão, e
todos eles riram enquanto ele cambaleava pelo parque, e se solidarizaram
quando ele vomitou suas tripas na manhã seguinte.

Quando ficavam bêbados, gostavam de brigar também, o que convinha a


Remus. No escuro, eles se jogavam por aí, berrando canções do The Who,
ou The Jam, ou mesmo cantigas de futebol se estivessem se sentindo
particularmente estúpidos. Nenhum deles parecia se importar que Remus era
muito jovem ou muito magro, e nenhum deles o tratava como se ele fosse um
inválido por causa de suas cicatrizes. Às vezes, você só precisava levar uma
surra e, no final da noite, todos eles cambaleavam de volta para o abrigo como
amigos.

As semanas quentes de verão passaram em um borrão caótico - Remus passava


a maior parte de suas noites com Ste e sua gangue, e seus dias dormindo após
ressacas, tentando ficar fora do caminho da Matrona. Ele não pensava em
Hogwarts. Ele não pensava em nada para ser exato.

"Precisa botar umas roupa direita, Lupin," Ste gaguejou, uma noite, "Não
posso deixar 'cê parecendo um cafetão o verão todo."

Remus olhou para seu jeans padrão de St Edmund's e sua camiseta cinza.
Havia vômito em seu tênis. Ele tinha feito isso? Não conseguia se lembrar.

"Num tenho dinheiro, tenho?" Ele respondeu, procurando o cigarro que enfiara
atrás da orelha apenas alguns minutos atrás - ou pelo menos pensava que tinha.

"E?" Aggie, um menino baixo e rechonchudo que lembrava Remus de Peter,


deu de ombros, "Tenho um amigo que trabalha lá num depósito em Southend,
a gente te arranja uns bagulho daora."

E eles realmente arranjaram. Pela primeira vez, Remus parecia com todos os
outros garotos de sua idade - não em roupas de segunda mão, mas novas em
folha. Calça jeans azul brilhante, uma camisa de botão (imitação de Ben
Sherman, mas tão boa quanto a verdadeira), suspensórios brancos e botas
pretas de couro. Eles rasparam seu cabelo, ainda mais curto do que a Matrona
fazia.

" 'Cê tá a cara do trabalho." Ste o segurou pelo braço, esfregando sua cabeça
com os nós dos dedos ásperos.

Quando a lua apareceu e Madame Pomfrey o viu, ela franziu os lábios.


"Não direi nada sobre a roupa", disse ela, afetadamente, "mas não gosto da
aparência de todos esses hematomas - você deve me dizer se os outros meninos
estiverem machucando você."

Ele apenas balançou a cabeça e esperou que ela fechasse a porta - já podia
sentir seu sangue fervendo enquanto a mudança começava.

No dia seguinte, ele estava fraco demais para se mover. Madame Pomfrey
insistiu em ficar o dia todo para vigiá-lo, até mesmo providenciou para que
uma cama fosse colocada em sua pequena cela. A ressaca não era nada
comparado as transformações, Remus pensou consigo mesmo. Ele teria matado
por um cigarro, no entanto.

Entediado e cansado demais para ficar com raiva, ele finalmente pegou um
livro. Os três pedaços de jornal caíram novamente e ele rapidamente fechou a
capa antes que Madame Pomfrey pudesse ver.

Greyback.

Era por isso que ele estava com tanta raiva, percebeu, no primeiro momento de
clareza que teve durante todo o verão. Na verdade, Greyback era basicamente a
razão por trás de tudo que havia dado errado na vida de Remus. Onde ele
poderia estar? Era possível caçar um lobisomem? Havia muitos livros sobre
isso na biblioteca de Hogwarts, mas Remus sempre os evitou antes, com medo
do que poderiam dizer.

Bem, difícil. Ele teria que parar de ser sensível com coisas assim. Teria que
parar de se esconder de si mesmo; parar de deixar todo mundo pisar nele, se
ele algum dia ainda fosse ... sim.

Ele iria matar Greyback. Caçá-lo e depois acabar com ele, exatamente como
seu pai queria. Lyall Lupin não teria morrido em vão. Uma onda de adrenalina
percorreu Remus enquanto ele pensava nisso. Era muito melhor do que raiva.

Poderia levar anos antes que ele estivesse pronto, ele sabia disso. E ele
precisaria de dinheiro. Assim que Remus se recuperou, ele se aproximou de
Ste mais uma vez.

"E aí Lupin, meu parça?" O menino mais velho sorriu com dentes amarelos
através de uma névoa de fumaça doce e cheirosa. "Puta que pariu, que é que te
aconteceu?" Ele franziu a testa para os cortes recentes de Remus.
"Esqueça isso." Remus rosnou, não enfatizando mais seu antigo sotaque, "No
verão passado, Craig roubou tantos pubs e mercadinhos que eu tinha um baú
cheio de de cigarros. Este ano não tenho porra nenhuma. Você não é tão bom
quanto Craig, ou coisa assim?"

"Ei", Ste sentou-se, enganchando os polegares atrás do suspensório,


"Cuidado."

"Não, você toma cuidado." Remus rosnou, mostrando os dentes, "Eu só tenho
mais duas semanas e preciso estocar. Você tá dentro ou não?"
57. Quarto Ano
Uma Tempestade Se Formando

Domingo, 1 de setembro de 1974

Enquanto Remus se aproximava da estação King's Cross pela quarta vez desde
sua infância, ele se sentia totalmente invencível. Ele havia crescido ainda mais
durante o verão, e seu rosto também mudara - não mais infantil e redondo; sua
mandíbula estava rígida e seus olhos maldosos. Com suas pesadas botas pretas
(polidas até brilhar naquela manhã) e suas roupas novas e elegantes, Remus
sentiu um senso de identidade mais forte do que nunca. Ste queria muito fazer
uma tatuagem nele antes de voltar para a escola, mas Remus se recusou a fazer
isso - ele já tinha marcas suficientes.

"Todos vão pensar que você se juntou a uma gangue", resmungou a Matrona,
mal escondendo seu desdém quando o deixou do lado de fora da estação,
"Você parece um delinquente."

"Cai fora", ele murmurou, "Porque você se importa?"

Ela deu-lhe um golpe certeiro atrás de sua orelha e ele estremeceu. Hoje em
dia, ela tinha que estender a mão para fazer isso, mas ela ainda sabia
exatamente onde doía mais.

"Você estará na escola antes de escurecer, não é?" Ela disse, como um negócio.
Ele acenou com a cabeça, taciturno. Era lua cheia naquela noite. "Ótimo." Ela
assentiu. "Até o próximo verão, então."

Ele entrou na estação sozinho e caminhou por entre a multidão com um andar
masculino treinado - pernas abertas, mãos fechadas em punhos. As pessoas
saíram rapidamente de seu caminho quando ele se aproximava, e um guarda da
estação o olhou com desconfiança. Remus ignorou todos eles e avançou,
propositalmente, diretamente através da barreira de tickets, entrando na
Plataforma 9 ¾ sem nem mesmo pestanejar.

Ele estava atrasado, e a plataforma já estava quase vazia, com apenas os


últimos pais lacrimosos dos alunos do primeiro ano demorando-se para acenar
adeus. Um olhar superficial disse a Remus que os outros três marotos já
estavam no trem, então ele subiu a bordo e foi direto para o compartimento de
costume, empurrando rudemente os outros alunos - muitos dos quais pareciam
muito pequenos para ele agora - enquanto ele atravessava com esforço com sua
maltratada mala velha.

Estavam lá; todos os três sentados espremidos no mesmo lado do


compartimento, amontoados atrás da edição matinal do Profeta Diário.

"Tudo bem?" Remus disse ao entrar.

James, que estava sentado no meio, segurando o papel, abaixou-o e três pares
de olhos olharam para Remus. Peter parecia pálido e nervoso, o que era
bastante normal, e começou a mastigar o lábio inferior, olhando para James em
busca de uma resposta apropriada.

James sorriu, tentando ser amigável, mas seus olhos castanhos vagaram por
Remus, desde suas botas de combate com solado de aço até sua cabeça
raspada. Sirius era o mais difícil de ler; seus olhos se arregalaram ligeiramente,
mas sua expressão permaneceu neutra. Remus se jogou no assento oposto
como se não tivesse notado. "Bom verão?"

"Nada mal", disse James, com cautela, "O de sempre, você sabe ... como foi o
seu?"

"É, foi bom." Remus retirou uma pequena caixa de lata do bolso de trás e abriu
para revelar cinco cigarros pré-enrolados. Ele colocou um entre os lábios e
acendeu-o com um fósforo quando o trem começou a se afastar da estação.

Peter agora estava olhando para Remus com a boca ligeiramente aberta, como
se não o reconhecesse. James parecia preocupado, uma pequena ruga se
formou entre suas sobrancelhas,

"Ficamos preocupados quando não ouvimos de você."

"Desculpa. Ocupado." Remus deu de ombros, exalando fumaça.

"Fazendo o que?" Sirius perguntou, sem rodeios. James se levantou para abrir a
janela e expulsar a fumaça, mas não disse nada sobre isso.

"Apenas ocupado." Disse Remus. Afinal, eles mantinham segredos dele. Não
precisava contar tudo a eles.

"Você está bem, Remus?" James perguntou finalmente. "Aconteceu alguma


coisa?"
"Não."

"Você parece diferente."

"Suas roupas!" Peter guinchou de repente.

"Já vi trouxas vestidos assim," Sirius finalmente falou, "É legal, certo,
Remus?"

Remus deu de ombros novamente, sentindo-se satisfeito, mas esperando que


ele parecesse indiferente.

"Meus amigos conseguiram para mim, só isso." Ele disse.

"Ah, bem, se for uma coisa trouxa ..." disse James, incerto. "Tem certeza que
está bem?"

"Não enche, Potter," Remus suspirou, revirando os olhos. Ele não queria mais
falar sobre isso. Embora ele esperasse - até quisesse - uma reação, ele não
gostou da maneira como todos estavam olhando para ele. Típicos puro-sangue,
eles podiam andar por aí em túnicas centenárias e chapéus pontiagudos
estúpidos e ninguém dizia uma palavra - mas jeans e doc martens
aparentemente eram longe demais.

"O que você está lendo, então?" Ele perguntou, apontando para o jornal, na
esperança de distraí-los.

James olhou gravemente para o jornal em seu colo.

"A guerra." Ele disse, entregando o Profeta a Remus.

"Guerra?!" Isso o fez sentar-se direito. "Que guerra?" Ele olhou para a
manchete, que dizia 'Jenkins crítica ao passo que as medidas de segurança no
ministério se tornam mais rígidas'.

"Você não sabia?" James parecia incrédulo, "O mundo mágico está
oficialmente em guerra desde 1970."

Sirius e Peter assentiram, solenemente.

"Nós nem estávamos em Hogwarts em 1970," Remus disse, defensivamente,


"Eu mal sabia nada sobre bruxos naquela época. O que ... quero dizer, contra
quem estamos lutando? "
"Esse é o problema", disse James, bruscamente, "É muito difícil saber, mas
este 'Lorde das Trevas' tem reunido muitos aliados - quase todos puro-sangue."

"Acho que essas são as reuniões a que minha família vai," disse Sirius, em voz
baixa, embora estivessem sozinhos. "O pai de James concorda comigo."

"É por isso que foi um prazer estar por perto dos sonserinos no ano passado?"
Remus perguntou, ligando os pontos agora.

"Sim," disse Sirius. "E será pior este ano, pode apostar."

"Houve alguns ... ataques neste verão." James disse, nervoso. "À trouxas e
algumas famílias de sangue misto."

"Eles acham que o Lorde das Trevas está usando criaturas perigosas", disse
Peter, com a voz trêmula de medo, "Vampiros e gigantes e ... e ..."

Remus olhou para ele e apertou a mandíbula,

"E lobisomens?"

"Moony ..." James começou.

"Eu preciso ir ao banheiro." Remus se levantou, rapidamente, saindo do


compartimento.

Ele andou pelo trem como um furacão, os alunos mais jovens saltando para
fora de seu caminho quando ele passou por eles, apavorados. Não precisava do
banheiro, obviamente, mas não havia exatamente outro lugar para ir, então ele
se trancou dentro de um cubículo na extremidade do vagão. Era muito mais
elegante do que os banheiros em trens trouxas - com cortinas de veludo
vermelho de verdade nas janelas e luminárias douradas cintilantes. O espelho
tinha até uma moldura dourada. Ele se encarou por alguns minutos, encarando
seus próprios olhos, cerrando os punhos nos lados da pia até que os nós dos
dedos ficassem brancos.

Ele pensou que seria mais forte depois deste verão - pensou que nada poderia
tocá-lo agora. Mas tudo já estava desmoronando, mais rápido do que esperava,
e ele havia perdido a cabeça na primeira menção de lobisomens. Como faria o
que precisava ser feito se não pudesse ficar calmo? Greyback o comeria no
café da manhã.
Incapaz de olhar para si mesmo por mais tempo, Remus sentou no assento do
vaso sanitário e considerou socar o apoiador de sabonete. Isso provavelmente
não proporcionaria a satisfação de que ele precisava, e apenas acabaria coberto
de limo rosa com perfume floral. Em vez disso, ele chutou a pia com a bota,
deixando uma longa mancha de borracha preta na porcelana branca.

"Porra." Ele murmurou. Isso foi bom. "PORRA." Ele gritou, chutando a bacia
novamente.

"Quem está aí?" Uma batida forte veio na porta.

"Cai fora, está ocupado." Ele gritou ferozmente.

"Este é um vagão da Sonserina, você sabe." A voz disse friamente.

"Ah vai se fuder, intrometido estúpido." Remus respondeu, batendo a porta


com o cotovelo.

Se ele estivesse em um estado mais razoável, poderia ter explicado


calmamente que os vagões não eram divididos em casas e, na verdade,
qualquer um poderia sentar-se onde quisesse, mesmo que fosse em um
cubículo fechado em cima de um vaso sanitário.

"Vou chamar um monitor!"

"Ah meu Deus," Remus se levantou, retirando sua varinha, "Você


está procurando uma briga ou algo assim?!" Ele abriu a porta, encontrando-se
cara a cara com um Severus Snape muito chocado.

Severus pode tê-lo assustado quando os dois tinham onze anos, mas aos
quatorze Remus se elevava sobre Snape agora, e com sua varinha apontada e
seu rosto contorcido em irritação, ele deve ter sido uma visão assustadora.

"Você." Ambos assobiaram. Snape jogou seu cabelo preto oleoso e zombou,

"O que você estava fazendo aí?"

"Não é da sua conta. Sai do meu caminho."

"O que você está vestindo?" Snape fez uma careta, olhando-o de cima a baixo
com nojo. "Essas são roupas trouxas?"
"E daí se eles forem?" Remus deu um passo à frente, agora tão perto do garoto
Sonserino que estava praticamente respirando nele. "Tem algo a dizer? Você
não é tão durão sem seus amiguinhos assustadores por perto, não é, Snivellus?
" Ele lhe deu um empurrão forte, jogando Snape no chão.

Snape olhou para ele, levantando-se rapidamente e tirando a poeira de seus


robes pretos surrados. Ele estreitou os olhos,

"Você vai descobrir tudo sobre meus 'amigos' este ano, Loony Lupin, eu
prometo." Ele disse, muito friamente.

"Não está exatamente em posição de fazer ameaças, está?" Remus respondeu,


quase coloquialmente. "Eu ouvi dizer que aquele tipo prefere os sangue-puro
... e Lily me contou tudo sobre você, Snape ..."

Os olhos de Snape brilharam e um olhar de puro ódio cruzou seu rosto. Ele
pegou sua varinha, mas - seja graças à proximidade da lua cheia, ou apenas
pura adrenalina - Remus foi mais rápido. Ele agarrou o pulso de Severus e o
jogou contra a parede da carruagem, fazendo o sonserino gritar e largar sua
varinha. Então, pensando em nada além de causar o máximo de dor possível,
Remus jogou a cabeça para frente e deu uma cabeçada em Severus,
derrubando-o uma segunda vez.

Snape estava olhando para ele, seus olhos negros brilhando de medo e raiva,
ele agarrou o manto contra o nariz, que agora jorrava sangue. Remus, não se
sentindo melhor com nada disso, cuspiu no chão e passou por cima de Snape.

"Este é o seu aviso para o resto do ano", ele rosnou, "Fique fora do meu
caminho."

Snape não disse nada, mas não tentou se levantar. Remus se afastou, confiante
de que o outro garoto não tentaria nada agora. Ele retrocedeu pelo caminho de
onde veio, tentando fugir do cheiro forte e inebriante de sangue, e se trancou
no primeiro compartimento vazio que encontrou.

Lá ele se sentou, respirando profundamente por alguns minutos, tentando


trazer o batimento cardíaco de volta sob controle, e ignorar o desejo que estava
ecoando em algum lugar dentro dele, onde a razão humana não podia tocá-lo.
Por fim, com as mãos trêmulas, ele puxou outro cigarro e fumou-o
taciturnamente, olhando pela janela.

Ele não ficou sozinho por muito tempo.


"Moony?" A porta se abriu e a cabeça de Sirius apareceu na porta. Remus
olhou feio para ele, mas Sirius entrou mesmo assim e sentou-se do lado oposto.
"E aí, o que tá acontecendo?"

"Nada." Remus cruzou os braços e deslizou para baixo no assento, olhando


para suas botas. Os cadarços não combinavam, vermelho à esquerda, amarelo à
direita. Ele achou que parecia muito legal em julho, mas agora parecia um
pouco bobo.

"Tem alguma coisa. Você tá diferente. "

"Como você saberia." Remus cuspiu em resposta. "Talvez seja quem eu


realmente sou."

"Eu só sei," Sirius respondeu, estranhamente calmo. Aparentemente, passar


tanto tempo no Potter's fez maravilhas com sua paciência. "É normal ficar com
raiva às vezes, Remus. Não significa nada, exceto que você é normal."

Remus olhou para ele, surpreso. Sirius sorriu, compreensivo, então um lado de
sua boca se repuxou para cima, "E se quiser saber, eu realmente acho que você
tá foda pra caralho."

"Sério?"

"É. Meio perigoso."

Remus bufou com a ironia.

"Obrigado."

"Então ... verão ruim, foi?"

Remus encolheu os ombros,

"Foi ok. Eu estava ... fiz muitas coisas. Eu não quero que James saiba sobre
isso."

"Está bem." Sirius concordou, então inclinou a cabeça alegremente, "Posso


experimentar um cigarro?"

Ele pronunciou a palavra como se fosse nova para ele, com um sotaque
ligeiramente francês, o que era estranhamente cativante. Remus sentiu uma
onda de afeto por seu amigo, o que fez seu coração disparar novamente. Ele
pescou um cigarro de sua caixa e jogou-o junto com os fósforos. Observou
Sirius franzir os lábios cuidadosamente ao redor do cilindro de papel branco,
riscando um fósforo e colocando as mãos perto do rosto. Ele não tossiu, o que
era bastante impressionante por si só, mas apenas respirou fundo antes de
expirar e fez uma careta.

"Você se acostuma." Remus sorriu.

"Ok." Sirius tentou novamente, inalando mais desta vez.

Foi estranhamente hipnótico observar Sirius fumar. A névoa cinza azulada fez
a carruagem parecer mais íntima e privada. Remus começou a relaxar pela
primeira vez em meses, como se algo dentro dele estivesse se desenrolando,
lentamente. Ele olhou para Sirius e pensou - por que não?

"Eu descobri algumas coisas, final do semestre passado." Ele disse baixinho,
olhando para as botas novamente.

Ele enfiou a mão no bolso da camisa e retirou os três recortes de jornal que
Ferox lhe dera no ano anterior. Os entregou a Sirius, que estendeu a mão
através da fumaça com longos dedos brancos para recebê-los. "Não quero falar
sobre isso ainda." Remus disse, rapidamente, "Mas leia se quiser."

"Ok," Sirius acenou com a cabeça, gentilmente, "Obrigado, Remus."


58. Quarto Ano
Competição

O começo - já ruim - do ano de Remus não melhorou quando o trem chegou à


estação. Eles chegaram a Hogsmeade faltando apenas vinte minutos até o pôr
do sol, e Remus encontrou Madame Pomfrey esperando-lhe, parecendo
ansiosa.

"Boa sorte, Moony," Sirius disse baixinho enquanto eles se separavam em


meio à multidão de alunos animados vestidos com robes pretos. Remus acenou
com a cabeça severamente, e Sirius esbarrou gentilmente em seu ombro com o
dele; uma demonstração de solidariedade adolescente.

Remus só teve tempo de olhar melancolicamente para trás enquanto os três


marotos subiam em uma das carruagens sem cavalos, uma cabeça loira, duas
morenas - antes de Madame Pomfrey agarrar Remus pelo cotovelo e, sem
aviso, aparatar para a cabana.

Havia um prato azul e branco sobre a lareira empoeirada com um grosso


sanduíche de frango por cima.

"Caso você esteja com fome", explicou a enfermeira, "você ainda tem um
pouco de tempo".

Ele estava morrendo de fome, mas não conseguia comer. Em vez disso, ele
apenas se sentou em sua cama e esperou ser trancado, desejando que houvesse
pelo menos um pouco de luz no quarto sombrio. Remus pensou sobre o
banquete - sem dúvida sua parte favorita da primeira noite, além de dormir em
sua cama grande e confortável. Nenhum dos dois estaria acontecendo esta
noite.

Ele podia sentir o cheiro de um coelho lá fora, farejando a grama, e seu


estômago roncou ferozmente. Ele olhou para o sanduíche novamente e
considerou-o, mas quando dor explodiu em seus ombros, ele percebeu que
tinha esperado muito; o lobo estava a caminho.

***

Segunda-feira, 2 de setembro de 1974


Pode-se presumir que um lobisomem faminto gostaria muito de um sanduíche
de frango, mas aparentemente apenas carne crua servia, e Remus acordou para
descobrir que a pequena refeição permanecia intacta, enquanto seus braços e
pernas estavam em pedaços. Ele suspirou profundamente, pôs-se de pé e foi
sentar-se novamente na cama. Seu quadril estava estranho pela terceira vez, e
ele mancava ainda mais enquanto ele cambaleava pela sala. Seu ombro
esquerdo parecia deslocado - graças a Deus não era o direito, porque ele tinha
muito dever de casa para pôr em dia.

Fechando os olhos, Remus encostou-se na parede para esperar Madame


Pomfrey. Era madrugada e os marotos provavelmente não acordariam por mais
algumas horas, a menos que James decidisse que precisava fazer um pouco de
voo antes das aulas. Remus sabia que era o último ano de Harpreet Singh em
Hogwarts, o que significava que a posição de capitão de quadribol seria aberta
no próximo ano, e James não estava para brincadeira.

" Accio sanduíche," Remus murmurou, encontrando sua varinha embaixo da


cama. O prato inteiro veio voando em sua direção com tanta velocidade que
atingiu a parede e se estilhaçou a apenas alguns centímetros de seu rosto.
Gemendo, Remus limpou os cacos de porcelana e começou a morder
avidamente o pão velho.

Madame Pomfrey logo chegou e começou a consertá-lo antes de acompanhá-lo


de volta ao castelo. Ele insistiu em andar, em vez de fazer com que ela
conjurasse uma maca.

"Eu realmente não estou tão mal.", ele persuadiu, "Você fez um ótimo trabalho
no meu ombro ... Acho que estou bem para ir às aulas."

"Não gosto do jeito que você está mancando", respondeu ela, "primeiro a ala
hospitalar, vamos ver como você estará na hora do almoço."

"Mas é meu primeiro dia ..." ele sabia que estava choramingando, mas tinha
que tentar.

"Sinto muito, Remus. De qualquer forma, olhe para você, você está caindo de
sono. Algumas horas dormindo e você se sentirá muito melhor."

Para o desespero da Madame Pomfrey, James, Peter e Sirius estavam


esperando do lado de fora das portas do hospital por Remus - o que significa
que o sono teria que ser adiado um pouco mais.

"Como James conseguiu acordar vocês dois tão cedo?" Remus sorriu para eles.
"Não foi fácil," James sorriu de volta, Sirius abafando um bocejo atrás dele.
"Tive de recorrer a ameaças de violência".

"E violência real", disse Peter, esfregando o braço, que parecia muito
vermelho.

"Você está bem, Moony?" Sirius perguntou, piscando muito para tentar se
manter alerta.

"Sim, valeu," Remus assentiu, enquanto Pomfrey o conduzia para dentro da


sala.

Os marotos esperaram pacientemente enquanto Remus se despia atrás de uma


tela e subia em sua cama habitual no outro lado da enfermaria.

"Cinco minutos!" Madame Pomfrey retrucou, carregando uma poção para


dormir, "Ele precisa descansar, meninos."

"Não podemos ficar muito tempo de qualquer maneira", disse James, "Aulas e
tudo mais. Trouxemos para você seu novo horário, Moony." Ele entregou a
folha.

Remus o estudou cuidadosamente. As aulas de Ferox eram no final da semana,


então pelo menos ele não as perderia. Mas ele tinha McGonagall e
Runas, e História hoje,

"Vocês podem-" ele começou,

"Vamos pegar sua lição de casa, Moony, não se preocupe," disse Sirius,
entretido. "É bom ver você de volta ao normal."

"É," Remus ergueu uma sobrancelha, esticando um braço nu para exibir suas
novas marcas de garras, "Não dá pra ficar mais normal que isso."

***

Ele se sentiu muito melhor depois de dormir pela manhã inteira. A raiva que o
havia dilacerado nos últimos meses ainda estava muito presente - mas de
alguma forma ela havia mudado e ele era capaz de pensar em outras coisas. Em
Hogwarts, ele se sentia melhor equipado para controlar seu temperamento, se
sentia mais equilibrado e mais são. Por mais que não gostasse de admitir para
si mesmo, Remus estava começando a se sentir mais em casa no mundo bruxo
do que no mundo trouxa.
Além disso, ele se sentia surpreendentemente bem por ter dado a Sirius os
recortes de jornal. Eles estavam queimando um buraco em seu bolso durante
todo o verão, e estava feliz por se livrar deles; por deixar outra pessoa saber o
segredo.

Pomfrey permitiu que ele saísse para jantar, e ele tentou entrar no Salão
Principal sem muito barulho. Este plano foi frustrado, no entanto, quando ele
foi abordado por três garotas muito emotivas,

"Reeee-mus!" Todas elas gritaram, capturando-o em um abraço apertado.

"Oi!" Ele engasgou, tentando não estremecer quando Marlene apertou suas
costelas recém-remendadas.

"Não vimos você no trem!" Mary disse,

"E você não estava em Runas!" Lily adicionou,

"Você teve um bom verão?" Marlene perguntou, sua voz ligeiramente abafada
sob o braço de Mary.

"Sim, foi ótimo, obrigado!" Remus endireitou suas roupas quando eles
finalmente o soltaram, recuando e sorrindo para ele. "Eu não estava me
sentindo bem, mas estou bem agora. Como foram seus verões?"

"Ótimo!" Mary o puxou para a mesa da Grifinória, onde os marotos estavam


assistindo com uma mistura de diversão e inveja. Ele deu de ombros para eles,
impotente, enquanto era empurrado para uma cadeira. "Espere até ouvir o que
eu e Darren fizemos-"

"Não no jantar!" Lily disse, parecendo exasperada, "Remus não quer ouvir o
que você fez com seu namorado!"

Os olhos de Remus se arregalaram - ele certamente não queria ouvir - e lançou


um olhar agradecido para Lily, que sorriu de volta.

Todas as garotas pareciam um pouco diferentes. Remus estava tão alto agora
que mal notou as outras pessoas crescendo também, mas Mary, Marlene e Lily
definitivamente tinham. Elas se pareciam menos com as crianças de que se
lembrava do primeiro ano, e agora o lembravam das garotas para as quais Ste e
sua gangue assobiavam quando estavam na cidade. Mary, particularmente,
havia desenvolvido curvas perceptíveis em algum momento, e Remus não
podia ignorar o fato de que metade dos garotos na mesa da Grifinória estavam
olhando para a maneira como sua camisa escolar branca repuxava sobre seu
peito.

"Oi, garotas," Sirius chamou de mais longe na mesa, "Podemos ter Moony de
volta, por favor?"

"Não." Mary respondeu, mostrando a língua. Ela se virou para Remus, "Eu
realmente gosto do seu cabelo! Avni disse que viu você no trem e você estava
vestido como um skinhead - você não se juntou a uma gangue agora, não é? "

Remus encolheu os ombros. Felizmente, a comida apareceu naquele momento,


proporcionando uma distração decente o suficiente. Infelizmente, as meninas
não eram como os meninos quando se tratava de comer - enquanto os marotos
simplesmente teriam se alimentado, de cabeça baixa até que terminassem, Lily
e Marlene beliscaram a comida lentamente, conversando sobre a escola e quem
estava saindo com quem, e seus novos atores favoritos.

"Marlene gosta de um sonserino", disse Mary maliciosamente.

"Eu não gosto." Marlene ficou vermelha.

"Temos Poções com os sonserinos de novo, então?" Remus perguntou, seu


estômago afundando.

"Sim", disse Lily, brilhantemente. "Acho que é melhor, não é? Slughorn


sempre dá muito mais detalhes quando sua própria casa está na sala de aula."

"Ah é, eu me esqueci," Mary ergueu uma sobrancelha, "Lily tem uma queda
por um sonserino há anos."

"Severus é meu amigo." Lily respondeu, fulminante. "Você que é louca por
garotos."

"Eu não posso evitar se eu sou mais experiente do que vocês," Mary ergueu o
queixo de uma forma muito digna e madura. Marlene tapou os ouvidos
dramaticamente,

"Se você vai começar a falar sobre Darren fazendo ... aquilo de novo, então eu
vou embora!"

"Tudo bem, tudo bem," Mary riu levemente. "Eu vou calar a boca."
Ela não o fez, no entanto. Ela e Marlene entraram em um debate muito intenso
sobre quem era mais atraente - David Essex ou Donny Osmond. Remus
aproveitou a oportunidade para sussurrar para Lily.

"Você viu Sniv-Severus hoje, então?"

"Sim, por quê?"

"Erm ... ele disse alguma coisa sobre ... me ver no trem?"

"Não," Lily parecia surpresa, "Por quê? O que aconteceu?"

"Nada!" Remus disse rapidamente, "Apenas o de costume, você sabe. Ele


sendo um idiota. "

"Mhm." Lily respondeu, olhando para sua comida e brincando com o garfo.
Ela parecia estranhamente nervosa. "Ele pode ser um pouco idiota às vezes."
Ela olhou para cima novamente, para Remus, e baixou a voz ainda mais, de
modo que ele teve que se aproximar para ouvi-la em meio ao barulho do Salão
Principal,

"Foi apenas uma aula de teoria hoje, em Poções," ela sussurrou, "Nós não
tínhamos que formar uma dupla. Então ... se você quiser trabalhar juntos
novamente este ano?"

"Oh, você não quer fazer com Snape?"

Lily parecia muito rosa e balançou a cabeça,

"Não, eu acho ... bem, você é muito menos mandão e nós estudamos muito
juntos de qualquer maneira, eu apenas pensei."

"Sim, parece bom para mim," Remus deu de ombros, voltando para sua
comida. Ele realmente estava morrendo de fome. Isso também o agradou -
James e Sirius sempre formavam pares, assim como Marlene e Mary.

Havia Peter, é claro, mas ele tinha muitos amigos na Sonserina e costumava
cometer erros quando estava ansioso, o que irritava Remus, que era um
perfeccionista. Lily era um tipo de garota legal e sensata, com senso de humor,
e ela sempre poderia explicar as coisas para ele para que parecessem fáceis.
Além disso, James ficaria maluco.
O incidente com Snape ainda o incomodava um pouco. Ele meio que esperava
que McGonagall estivesse esperando para lhe dar uma bronca assim que ele
tivesse alta da ala hospitalar - Severus quase sempre corria para um professor,
se conseguisse escapar impune. E Remus estava absolutamente, 100% errado
desta vez, ele sabia disso - Snape não havia sequer colocado a mão nele,
Remus apenas o humilhara porque queria.

E Snape não gostava de ser humilhado. Remus não sabia muito sobre o garoto
problemático da Sonserina além de detalhes aqui e ali que Lily tinha
confidenciado, mas ele sabia que Severus Snape guardava rancor como
ninguém. Ele teria sua vingança, e se não fosse colocando Remus em
problemas com os professores, então seria algo muito mais desagradável.

***

"Então, do que as meninas estavam falando?" James perguntou, uma vez que
todos estavam em seu dormitório à noite. Ele estava tentando soar casual, mas
Remus percebeu.

"Ah, nada de interessante", respondeu ele, desempacotando seu malão,


"Meninos, principalmente e amassos."

"Amasso?!" Sirius se sentou em sua cama.

"É, eu sei," Remus franziu o rosto para mostrar seu desgosto pelo assunto, "É
tudo que elas estão interessadas, atualmente. Mary e seu namorado trouxa
fizeram algo durante o verão."

"O que eles fizeram??" Sirius parecia muito interessado agora - nem um pouco
enojado, Remus percebeu.

"Er ..." ele hesitou, "Bem, eu realmente não sei. Lily não deixou ela falar sobre
isso enquanto estávamos comendo. "

"Ah," James acenou com a cabeça, com orgulho, "Ela é muito inteligente para
todo esse absurdo, a Lily."

"Como você saberia que isso é um absurdo?" Sirius perguntou. "Não é como se
você beijasse."

"Ah, e você beija por acaso?!" James franziu a testa.


"Poderia se eu quisesse," Sirius disse, deitando-se novamente, os braços atrás
da cabeça, "Muitas garotas gostam de mim."

"Se você quisesse," James sorriu, "Então, o quê, você tem garotas fazendo fila
para te dar uns amassos e você simplesmente ... não está interessado?"

Um olhar quase imperceptível de pânico cruzou o rosto de Sirius, apenas por


um breve momento, antes de retornar à sua face travessa de sempre.

"Com inveja, Potter?"

"Eugh, de você?!" James brincou de volta,

"Aposto que Lily gosta de mim ..." disse Sirius.

"Retire isso!" James rugiu, lançando-se sobre seu amigo, lutando contra uma
chave de braço.

Peter suspirou pesadamente e olhou para Remus,

"Eles estavam assim durante todo o verão." Ele disse, taciturno: "Tudo é uma
competição".

***

Algumas horas depois, Remus estava quase adormecendo quando seus ouvidos
aguçaram, e ele ouviu aqueles passos familiares cruzando o quarto. Em pouco
tempo, a cortina de sua cama se abriu e Sirius sussurrou,

"Moony? Tá acordado?"

"Sim..."

Sirius engatinhou para dentro. Remus se sentou, nervoso. Sirius só o visitou


uma vez antes - normalmente ele procurava James se queria falar sobre ... bem,
Remus não sabia sobre o que eles conversavam, mas ele presumia que era
sobre os dramas da família Black. A única vez que Sirius procurou Remus foi
no início do segundo ano, logo depois que os marotos descobriram que ele era
um lobisomem. Remus pensava naquela noite, ocasionalmente, e a memória
estava guardada em uma parte segura e calma de sua mente. Ele se lembra de
ter levantado sua camisa para que Sirius pudesse inspecionar suas cicatrizes -
longos cabelos escuros roçando sua pele.
"Muffliato," Sirius sussurrou, lançando o feitiço silenciador.

"E aí?" Remus perguntou, esfregando os olhos enquanto Sirius acendia sua
varinha.

"Os artigos," disse Sirius, puxando os recortes do bolso do pijama. "Eu li eles."

"Ah." Remus sentiu uma onda de vergonha correr por sua espinha. "Certo."

"Eu sei que você disse que não queria falar sobre isso." Sirius disse,
rapidamente, "Mas eu só ... bem, eu queria que você soubesse que eu li eles,
acho."

"Ok, obrigado." Remus concordou.

"E ... eu entendo por que você está com raiva."

"Mm?"

"Qualquer um ficaria," Sirius disse, fervorosamente, seus olhos enormes na


escuridão, chamas gêmeas azuis, "É ... é ... é uma muita merda de se lidar,
Moony."

Remus não sabia o que dizer sobre isso. Ele dificilmente poderia discordar.

"Eu não vou contar para James ou Pete," Sirius disse, "Não, a menos que você
queira."

"Não, por favor, não." Remus disse: "Eu não estou ... não estou envergonhado,
é apenas ... particular, sabe?"

Sirius assentiu, franzindo os lábios.

"Está seguro comigo."

Remus, ainda se sentindo um pouco trêmulo, deu um sorriso fraco,

"Deus, você é tão dramático."

Sirius riu também,


"A mãe de James diz que eu ando com meu coração nas mãos." Ele cutucou
Remus com o dedo do pé, "Nem todos podemos ser mestres guardiões de
segredos como você, Moony."

"Eu pensei que eu não era 'eu' sem segredos?"

"Sim, mas se você tem que ter eles, eu preferiria saber."

Remus bufou e disse, cínico.

"Porque você é tão especial, Black."

"Porque, se você não me contar, eu vou descobrir de qualquer maneira. Como


a sua pequena empresa de cigarros."

A boca de Remus caiu aberta,

"Você olhou no meu baú! Filho da mãe! "

"Como você ousa!" Sirius respondeu, com altivez, "Eu nunca iria tão baixo.
Um dos rapazes do sexto ano veio 'perguntar por você, queria saber se você
ainda estava vendendo este ano."

Remus gemeu, batendo na testa,

"Foi Dirk Creswell? Aquele idiota. "

"O quanto você ganhou?"

"O suficiente. Por favor, não diga a James, você sabe como ele em relação a
roubo ..."

"Você roubou eles?!"

"Merda." Remus gemeu novamente com sua própria estupidez.

"Eu não sei como você faz isso, Moony," Sirius disse, maravilhado, "Mas você
me surpreende todas as vezes."
59. Quarto Ano
Setembro
Remus nunca descobriu exatamente o que Mary fez, ou o que fizeram a ela nas
férias de verão. Seja o que fosse, tinha dado a ela uma certa quantidade de
status entre as outras garotas de seu grupo anual que era difícil de ignorar.

Na quinta-feira, a primeira aula do novo semestre com o Professor Ferox,


Remus chegou à sala de aula e encontrou um grupo de garotas sussurrando
perto de sua mesa. Ele abriu caminho com os cotovelos, mal-humorado,
reivindicando seu espaço ao lado de Mary. As meninas riram e voltaram a
sussurrar. Mary, é claro, estava no centro do grupo, uma rainha entre suas aias
e - pelo que parecia - se divertindo totalmente. Marlene, sentada ao lado,
observava com um olhar de inveja e respeito.

"E não doeu ...?" Uma garota da Corvinal perguntou, em tom baixo,

"Nah, está tudo bem se você relaxar," Mary respondeu, com uma bravata que
lembrou Remus de James.

"Você acha que vai ... você sabe ... com Darren ...?" Outra garota perguntou,
sua voz praticamente trêmula de emoção,

"Bem, eu ..." Mary começou, mas naquele momento o Professor Ferox saiu de
seu escritório, anunciando sua presença com uma saudação alegre,

"Bem-vinda de volta, classe! Em seus lugares, por favor!"

Todas as garotas correram para seus lugares, algumas parecendo muito


vermelhas e outras incapazes de parar de rir. Remus franziu a testa, tentando
ignorá-las, e sentou-se voltado para a frente, com as costas retas. Ferox deu a
ele um sorriso amigável e acenou com a cabeça, e Remus acenou de volta,
sorrindo incontrolavelmente.

Ferox claramente teve um verão fantástico - seu cabelo louro estava um pouco
mais claro, sem dúvida descolorido pelo sol. Estava mais comprido e agora ele
o usava torcido para trás em uma cauda longa e cheia de nós. Seu rosto estava
ainda mais castigado pelo tempo, e seu nariz um tanto vermelho e ligeiramente
descascado pela queimadura de sol. Ele arregaçou as mangas, como de
costume, revelando braços bronzeados e uma estranha marca de queimadura.
"Bom verão?" Ele perguntou à classe, que assentiu e murmurou
afirmativamente. Ele sorriu e bateu palmas, "Excelente! Espero que todos
tenham tido um bom descanso e que estejam prontos para começar a trabalhar
em criaturas com classificação XXXX neste semestre! Primeiro, vamos fazer
uma rápida recapitulação do trabalho do último semestre, depois ver quem fez
a leitura de verão ..."

O próprio Remus tinha acabado de terminar a leitura naquela manhã - e nem


tinha começado os textos extras que Ferox lhe emprestara. Ele lamentou
profundamente ter perdido todo o verão sendo imprudente agora, e já tivera
que implorar à professora McGonagall uma semana extra para entregar suas
anotações de Transfiguração. Ele suspeitou que ela só cedeu depois de uma
conversa com Madame Pomfrey, o que o fez se sentir ainda mais culpado, já
que ele sabia que era capaz de vencer a maior parte da classe mesmo depois de
suas piores transformações.

"Você está sendo muito duro consigo mesmo," Sirius disse a ele, enquanto eles
eram expulsos da sala comunal na noite anterior por monitores que os
mandavam ir para a cama. "É o início do ano - se você vai fuder tudo, é muito
melhor se você fuder tudo agora."

Remus tinha acabado de olhar para ele,

"Fácil para você falar! Alguns de nós realmente tem que estudar para tirar
notas boas! Além disso, são os NOMs no próximo ano! Não posso abaixar meu
nível agora."

"Argh, por favor, não mencione os NOMs", disse James, colocando-se entre
eles rapidamente em uma tentativa nada sutil de evitar uma discussão,
"McGonagall e Flitwick já colocaram medo em mim. E por que decidimos
fazer Adivinhação?!"

"Eu gosto bastante de Adivinhação," Peter disse, pensativo, jogando sua pilha
de livros, "Profecias e coisas assim. É emocionante."

"É tudo besteira." Sirius deu ao menor maroto um olhar fulminante. "Você só
gosta porque é bom em Astronomia."

"Não é só isso", disse James, astutamente, colocando o pijama, "Notou que


Pete tem uma dupla nova este ano?"

"Ohhh sim!" Sirius sorriu, "A divina Desdemona Lewis, da Corvinal!"


Remus ergueu os olhos para Peter com surpresa e o observou ficar em um tom
chocante de escarlate da gola do pijama azul até a raiz do cabelo amarelo.

"Cala a boca." Ele murmurou, subindo na cama, "Ela é só uma amiga."

"James," Sirius disse, em uma voz muito solene, "O que diabos vamos fazer se
o pequeno Petey aqui der um amasso adequado antes de qualquer um de nós?"

"Bem, sua reputação estaria em frangalhos, para começar." James respondeu,


da mesma maneira séria.

"O que eu tenho, senão minha reputação?" Sirius sorriu de volta, indo para a
cama.

Remus bufou em desaprovação e puxou com força as cortinas da cama,


voltando ao livro e esperando que todos entendessem a mensagem. Se
entenderam, não importou.

"Claro, que se eu beijar antes de você, não doeria." James disse: "Eu estou no
time de quadribol."

"Você não tem meu magnetismo animal." Sirius respondeu.

Houve um *tump* alto e um 'ei!', E Remus presumiu que o travesseiro de


James havia cruzado a sala e feito contato com a cabeça de Sirius.

"Eu aposto que -" James começou,

"Oh não ..." Peter gemeu, "Por favor, não ..."

"... aposto com vocês DEZ GALEÕES que posso conseguir uma garota para
me beijar dentro de um mês."

"Dez?!" Peter engasgou.

"Feito!" Sirius respondeu. "Você vai ver, Potter."

Remus, que havia perdido toda a capacidade de se concentrar em seu livro,


bufou alto novamente e decidiu dormir. Patético. Não eram mais apenas as
meninas, agora até mesmo os marotos estavam obcecados por beijos.
Provavelmente seria Sirius quem ganharia a aposta - embora James tivesse um
bom argumento sobre o time de quadribol.
Ele sentiu pena de Peter, que tinha ficado muito quieto. Remus tentou não
pensar no fato de que nenhum de seus amigos fez qualquer comentário
sobre sua probabilidade de dar um beijo. Ele deveria estar em uma
classificação ainda mais baixa do que pensava.

Remus ficou incomodado com isso a semana toda, até sua aula de Trato das
Criaturas Mágicas, com a qual ele agora estava sonhando acordado.

Quando a palestra de Ferox chegou ao fim, Remus percebeu que não havia
feito nenhuma anotação. Ele olhou para baixo, em pânico, e viu um pedaço de
pergaminho dobrado com cuidado. Quem colocou isso lá? Ele olhou ao redor,
furtivamente, e então abriu.

Por favor, diga a Sirius que acho ele lindo. Effie Scunthorpe x

Calor subiu por seu pescoço quando Remus enrolou a nota em uma bola e a
enfiou no bolso. Era exatamente isso. Todo mundo tinha perdido a cabeça.

***

Além de lutar contra os hormônios em fúria que agora pareciam infectar cada
um dos círculos sociais de Remus, houve outra mudança notável na atmosfera
de Hogwarts. Mesmo que James não tivesse explicado a ele que o mundo
bruxo estava em guerra, Remus achava que teria percebido por si mesmo este
ano.

Os sonserinos - que sempre se consideraram um nível acima das outras casas e,


portanto, mantinham uma certa distância - tinham se retraído ainda mais para
dentro de si mesmos agora. Eles se reuniam em grupos nas salas de aula,
permaneciam em sua sala comunal e se moviam pelos corredores em bandos
ameaçadores. Estudantes nascidos trouxas também estavam andando juntos,
Remus havia notado, e os professores pareciam estar mais presentes que nos
anos anteriores.

Isso não impediu que certos incidentes ocorressem, no entanto. Qualquer um


que não fosse um puro-sangue rapidamente se tornou adepto de feitiços
defensivos, e até mesmo os marotos trocaram travessuras por proteção.

"Onde estão os malditos monitores quando você precisa deles?!" James


reclamou, tendo acabado de lançar alguns feitiços de engorgio bem
posicionados em um grupo de Sonserinos do sexto ano que estavam
atormentando um lufano do primeiro. Os adolescentes de manto verde estavam
fugindo, agora, segurando suas várias extremidades que inchavam
rapidamente.

"Acho que até os monitores estão com medo," Sirius respondeu, encostando-se
na parede, parecendo entediado enquanto James ajudava o lufano a se levantar.
"Covardes."

"Tudo o que eles podem fazer é distribuir detenções e tirar pontos da casa,"
Remus acrescentou, "E eu não acho que os sonserinos se importam mais com
isso. Eu ouvi Mulciber na semana passada dizendo que todos eles deveriam
tolerar 'punições triviais pela promessa de uma recompensa maior'".

"Mulciber disse isso?" Sirius arqueou uma sobrancelha, "Caramba, ele é mais
eloquente do que eu pensava."

"É, ou ele está repetindo o que disseram a ele", James rebateu, observando o
menino menor correr em direção à cozinha.

"Qual vocês acham que é a recompensa?" Pete perguntou, arranhando o dedo


do pé nas lajes.

"Dinheiro? Poder? Vida eterna? " Sirius suspirou, rolando para longe da parede
e cambaleando pelo corredor. "Godric sabe. Eles não vão conseguir, no
entanto. "

"Por que não?"

"Porque, Petey, nós vamos vencer."

***

No final de setembro, Snape ainda não havia feito seu ataque. O que deixou
Remus um pouco nervoso - e ele se perguntou se essa era a intenção. Suas
únicas matérias compartilhadas neste ano eram Poções e Aritmancia.
Felizmente, Aritmancia era uma aula relativamente tranquila, que envolvia
principalmente tomar notas e descobrir equações. Poções, sendo mais práticas,
davam a Snape (e aos sonserinos como um todo) espaço para uma interferência
muito maior.

Como haviam combinado no primeiro dia do semestre, Lily e Remus se


tornaram parceiros, compartilhando um caldeirão e dividindo notas e
instruções. Isso claramente enfureceu Snape, que mal tirou os olhos deles o
tempo todo. No entanto, Remus teve que admitir que isso parecia ter muito
menos a ver com ele do que com a própria Lily.

"Vocês se afastaram ou algo assim?" Remus perguntou, uma tarde enquanto


Severus abria caminho para deixar as masmorras. Lily suspirou, cansada,

"Não, não exatamente." Ela disse. "Ele ficou irritado quando a Mary e Marlene
vieram me visitar no verão, só isso. Acha que eles não são do 'tipo' certo. Eu
tenho que lembrar a ele que também sou nascida trouxa. "

"Por que você aguenta isso?"

"Eu não aguento, de verdade", respondeu ela, parecendo triste, "Eu sempre
brigo com ele quando ele fala esses absurdos puro-sangue, e às vezes acho que
ele me escuta. Mas ... bem, não é fácil para ele, sabe. "

James não estava tornando as coisas mais fáceis; qualquer um poderia ver isso.
Ele e Sirius convenientemente montaram seu próprio caldeirão ao lado do de
Remus e Lily, e desde que fizeram sua aposta, a perseguição de James por Lily
havia aumentado.

Bem, James Potter era uma verdadeira estrela no campo de quadribol - isso não
podia ser negado. Ele era elegante e gracioso; ele pensava taticamente e se
movia com sutileza simples.

Quando se tratava de Lily, ele não era nenhuma dessas coisas.

"Me dê um beijo, Evans!" Ele tentou, durante a primeira aula.

Lily ficou tão chocada que balançou a varinha ferozmente no ar, virando o
conteúdo do caldeirão de James. Ele e Sirius ficaram manchados de azul
brilhante por uma semana inteira.

Na semana seguinte, destemido, James tentou novamente. Desta vez, ele


consultou seu pai, que sugeriu que ele tentasse elogiar o alvo de seus afetos.

"Eu gosto muito do seu cabelo", disse ele, confiante, assim que ela se
aproximou da bancada de trabalho.

"Mm." Ela respondeu, sem olhar para cima.

"Sim, é tão ... hum ... ruivo."


Remus viu a mandíbula de Lily trincar. Ela odiava ser chamada de ruiva - ela
disse a ele uma vez que tinha sido provocada por seu cabelo na escola
primária. Remus deu um passo para trás, vendo Lily pegar sua varinha
enquanto se virava para James com um sorriso falso.

"Gosta tanto assim, não é?" Ela perguntou. Sirius, que estava observando
Remus, deu um passo para trás também. O pobre James estava muito animado
por finalmente ter a atenção dela e acenou com a cabeça vigorosamente.

"Ah sim, eu acho que é-"

"Rufusio!" Lily sussurrou, apontando a varinha para ele.

Sirius gargalhou tão alto que metade da classe se virou para olhar, e Remus
teve que cobrir a boca para esconder sua própria risada. A confusão de James
tornou tudo ainda mais engraçado, até que Marlene entregou a ele seu espelho
compacto para que ele pudesse ver seu cabelo ruivo recém-brilhante.

Demorou 48 horas para passar, mas não adiantou de nada. Mesmo depois de
dois dias inteiros sendo chamado de 'raposinha' e 'cabeça de cenoura' (entre
alguns apelidos um pouco mais rudes) onde quer que fosse, James permaneceu
completamente inabalável em sua adoração.

"Só tenho que ser paciente", disse ele, sonhador, passando a mão pelos cabelos
castanhos avermelhados bagunçados, "Tudo que vale a pena, exige esforço."

"É impressionante." Sirius sussurrou em voz alta para os outros, "Eu meio que
não quero ganhar a aposta, porque ele facilitou muito."

"Ah sim," James bufou. "É por isso."

"Ah, cala a boca, botão de cobre."


60. Quarto Ano
Outubro

Quando os beijos de Lily não aconteceram, James exigiu que eles estendessem
a aposta para o ano inteiro. Sirius, por sua vez, disse que nesse caso deveria
valer o dobro dos galeões, o que deixou Peter pálido. Remus mais uma vez
registrou sua desaprovação de tudo, e exigiu que o excluíssem da aposta.

Ele tinha coisas muito melhores para gastar seu tempo - e não gastaria mais
dinheiro do que o necessário. Os outros teriam que ficar felizes com um sapo
de chocolate cada no Natal, porque ele simplesmente não tinha dinheiro
suficiente. Remus sabia que precisaria guardar até o último nuque até o
momento em que fizesse dezessete anos, para começar sua missão de encontrar
Greyback.

Sua investigação até agora havia sido infrutífera. Ele havia reuniu o maior
número possível de edições antigas do Profeta Diário, na biblioteca e largadas
na sala comunal. Algumas das edições mais recentes tinham artigos que
mencionavam bandos de lobisomem - mas quase não havia nenhum detalhe ou
nenhum nome mencionado. No final, Remus foi forçado a concluir que
ninguém realmente sabia nada de sólido. Ele imaginou que lobisomens eram
difíceis de encontrar, especialmente se fossem bruxos comuns na maior parte
do tempo.

Perguntar a Ferox parecia o próximo passo mais sensato. O professor de Trato


das Criaturas Mágicas sugeriu que sabia mais do que inicialmente revelara a
Remus no semestre passado – mas Remus ainda não havia conjurado a força de
vontade para ir perguntar, ainda estava se recuperando da notícia de que Ferox
havia trabalhado com Lyall. No entanto, ele precisava criar coragem antes de
voltar, e planejar suas perguntas com cuidado o suficiente para que Ferox não
suspeitasse de nada.

Outubro começou e terminou com lua cheia naquele ano, o que parecia muito
injusto, especialmente porque significava que Remus perderia o banquete de
Halloween. Ainda assim, o clima estava excepcionalmente quente, e os
marotos passavam a maior parte de seu tempo livre aproveitando o lado de fora
sob um céu azul claro, cercado pelos vermelhos e marrons dourados do outono
mais lindo que Remus conseguia se lembrar.
Nos fins de semana, ele se acomodava nas arquibancadas de quadribol com
vários livros, pergaminho e uma pena, e completava seu dever de casa e
leituras antecipadas, ocasionalmente levantando os olhos para assistir a um dos
truques de James, ou torcer para o pobre Peter, que muitas vezes ficava preso
como o goleiro. Às vezes, Marlene praticava com eles, o que tornava as tardes
ainda mais agradáveis, pois Lily e Mary inevitavelmente apareciam por lá.

Sirius não conseguia ficar parado durante esses treinos. Ele alternava entre
tentar se concentrar em seu dever de casa, pular em sua vassoura para voar
com James e rabiscar táticas complexas que achava que o time da Grifinória
deveria usar em seu primeiro jogo, marcado para novembro.

"Temos que vencer a Sonserina este ano." Ele continuou resmungando. "Tenho
que mostrar para eles."

A Sonserina havia ganhado a taça de Quadribol no ano anterior, e era um ponto


extremamente doloroso para os Grifinórios - particularmente Sirius, já que
Narcissa e Regulus estavam no time vencedor. Este ano foi era apenas
Regulus, que substituiu sua prima mais velha como apanhador. Remus só
soube disso por James; Sirius não mencionou nada.

"Você precisa se inclinar mais na vassoura, quando dá um golpe," Sirius estava


dizendo a Marlene, que acabara de se sentar para descansar. Ela estava com o
rosto vermelho, cabelo loiro colado nas têmporas úmidas e não estava com
humor para os comentários de Sirius.

"Eu acertei nove de dez balaços." Ela respondeu, ofegante: "Acerto dez nos
meus melhores jogos. Nem mesmo Mulciber não consegue fazer isso."

"Não tente ser melhor do que a concorrência," Sirius lhe censurou,


piedosamente, "Você só tem a si mesmo para vencer."

"Olha, Black, se você acha que pode fazer melhor, tem testes para batedores na
terça-feira."

"Nah." Ele acenou com a mão, desviando o olhar. "Você me venceu, de forma
justa."

"Dois anos atrás."

Ele não respondeu, e Marlene apenas deu de ombros, então se levantou


cambaleando e voltou para o campo, onde James estava chamando por ela.
Remus estava lendo seu livro durante essa conversa e não queria interferir. Ele
lançou um olhar para Sirius, que estava inclinado para frente na arquibancada,
o queixo apoiado nos braços enquanto observava o treino. Peter fez uma defesa
decente e os olhos de Sirius brilharam. Remus mordeu o lábio e pensou
bastante, antes de dizer baixinho,

"Tem dois batedores em um time de quadribol, sabe."

"Caramba, Moony," Sirius respondeu sarcasticamente, sem tirar os olhos do


campo, "Quatro anos e você finalmente aprendeu algo sobre o jogo."

Remus ignorou isso, e só murmurou um resmungo.

"Sabe qual é o seu problema?"

"Me diga."

"Você é orgulhoso."

Sirius riu.

"E você, não é?"

"Talvez. Mas eu daria um batedor de merda, não é? "

Sirius ficou quieto novamente. Remus suspirou pesadamente, fechando seu


livro, guardando-o em sua bolsa, "Olha, você vai se odiar mais tarde se não se
der a chance. Você vai ficar aqui sentado torcendo por James por mais três
anos? " Ele se levantou, "Estou congelando, vou indo para a biblioteca. Vejo
você no jantar? "

"Aham, até lá, Moony."

Naquela terça-feira, Remus foi assistir aos testes do time da Grifinória e não
disse nada quando viu Sirius chegar, vassoura na mão. Ele nem mesmo sorriu
presunçosamente, embora quisesse muito. Duas horas depois, Grifinória tinha
seu novo batedor, e Remus percebeu que agora tinha que dividir seu dormitório
com dois James.

- Exceto por uma diferença muito importante - enquanto Sirius era sem dúvida
cheio de paixão pelo esporte, ele parecia não ter a disciplina de James.
Particularmente nas manhãs.
"Acorda-acorda!" James gritou, animadamente, ao sair do banheiro, o cabelo
brilhando e molhado - a única vez que ele ficava controlado em sua cabeça. Ele
colocou os óculos e balançou a varinha na direção da cama de Sirius, abrindo
as cortinas.

Passou-se uma semana após os testes, e essa cena estava se tornando comum.
Remus já estava acordado, quase vestido para o café da manhã, planejando ler
uma hora antes das aulas começarem. Ele estava amarrando os cadarços
enquanto observava James e Sirius começarem sua nova rotina matinal.

Sirius, que era pouco mais do que um pedaço disforme sob o edredom, gemeu
como um troll descontente.

"Cai fora, Potter," ele sibilou, enterrando a cabeça sob o travesseiro.

"Você queria estar no time, Sirius, meu velho amigo. Vamos lá, levanta
... Leviocorpus! "

Com isso, o corpo de Sirius voou no ar, aparentemente puxado por alguma
força invisível, deixando-o pendurado de cabeça para baixo no ar enquanto
James ria histericamente.

"Não acredito que funcionou! Estou tentado fazer isso desde o Natal passado."

"Me solta seu idiota!"

"Seja educado!"

"Me solta!"

"Finite."

Sirius caiu no chão com um baque, e saltou imediatamente, esfregando o braço


em que pousou.

"Puta merda!" Ele sorriu para James, "Isso foi incrível! Agora, me deixe
tentar."

"Ok!"

***
A levitação corporal não se tornou uma característica regular do dormitório
masculino do quarto ano, mas tentar arrastar Sirius para fora da cama, sim.

"Só um dia de folga por semana, Potter, estou te implorando!" Ele gemeu na
mesa do café, numa manhã de domingo. Ele mal abria os olhos, a cabeça
pendurada apoiada no cotovelo.

"É você quem quer destruir a Sonserina." James respondeu, alegremente,


passando manteiga em algumas torradas e passando-as para o amigo. Sirius
olhou para a oferta com desdém e desviou o olhar, fechando os olhos
novamente. James suspirou, "Não só você também. A escola inteira quer ver
eles acabados. Pense nisso como fazer a sua parte pelo esforço de guerra."

"Achei que você estivesse fazendo a sua parte azarando eles nos corredores."
Disse Remus, comendo uma fatia da torrada de Sirius.

"Exatamente." Sirius grunhiu, os olhos ainda fechados. "E isso pode ser feito
em uma hora razoável."

"Este é o único momento em que podemos encaixado os treinos", disse James,


começando a soar um pouco irritado agora, "Não adianta ir depois de
escurecer, o campo fica lotado à noite e as aulas começam às nove."

"Mesmo se eles começassem meio-dia, você teria problemas para levantar


Sirius." Peter disse, a boca cheia de mingau.

"Podíamos arranjar um vira-tempo." Sirius bocejou, sem um traço de humor,


"Os alunos que precisam de seu sono de beleza deveriam receber eles."

"O que é um vira-tempo?" Remus perguntou, pegando a segunda fatia de


torrada de Sirius.

"Volta no tempo, obviamente," Sirius disse, mordaz.

"Eles são ilegais." James disse rapidamente: "Sem a permissão do ministério. E


muito, muito perigosos."

"Eu sou perigoso se não dormir o suficiente," Sirius resmungou.

"A Matrona costumava fazer todos nós levantarmos às seis nos fins de
semana," disse Remus, pensativo, engolindo o resto de sua torrada. "Ela achou
que era saudável, ou coisa do tipo. Um dos meninos mais velhos entrou em seu
quarto uma vez e mexeu com o despertador, e nós escapamos com duas horas
extras na cama todos os dias durante uma semana até ela perceber."

"Os trouxas são engenhosos." James riu. "Mas fique longe do meu
despertador."

"Mmm." Remus murmurou, perdido em pensamentos. Ele podia sentir o início


de uma ideia surgindo.

"Oh não, nós o perdemos." Sirius disse, observando Remus. "Provavelmente


sonhando acordado com rabicurtos e pelúcios de novo - eu juro que Trato das
Criaturas Mágicas é o único assunto que ele se preocupa esses dias."

"Deixe Moony em paz e coma o seu café da manhã." James castigou. "Quero
você no campo em cinco minutos."

"Tudo bem ..." Sirius suspirou pesadamente, e olhou para seu prato, "Ei! Onde
está meu café da manhã??"

"Tenho que ir," Remus disse, levantando-se de repente, "Biblioteca. Vejo


vocês em poções."

As madrugadas eram os momentos favoritos de Remus na biblioteca - tudo era


tão limpo e arrumado, e ele geralmente tinha o lugar só para ele. Poucos alunos
estavam com vontade de estudar de primeira, mas Remus descobrira que
durante certas fases da lua ele mal dormia cinco horas por noite, então ele era
um visitante regular.

A ideia demorou um pouco para se formar adequadamente, mas ele queria que
fosse clara e completa antes de apresentá-la aos outros marotos. Então, pelo
menos, seria totalmente sua pegadinha. Remus sentiu a necessidade de deixar
sua marca em algo este ano. Todo mundo parecia estar focado em outras coisas
- a guerra, ou quadribol, ou "a grande corrida de amassos", como Sirius tão
eloquentemente apelidou. Eles nem mesmo tentaram se esgueirar para a
Dedosdemel nenhuma vez. Remus sentia intensamente que os marotos
precisavam de uma pegadinha - e uma grande.

Ele perdeu meia hora pesquisando feitiços de tempo complexos e complicados;


encantamentos para parar o tempo, acelerá-lo, desacelerá-lo ou até mesmo
dobrá-lo. (Ele não tinha certeza de como o dobra de tempo funcionava, mas
não parecia agradável, ou dentro do seu escopo de habilidade). Eventualmente,
ele chegou à conclusão de que estava pensando demais, como sempre. Este não
era um problema mágico - era mecânico.
Quando o dia letivo estava prestes a começar, Remus localizou a passagem de
que precisava em Hogwarts: Uma História, e estava satisfeito por ter um plano
para o final da semana. Ele saiu para Poções de muito bom humor - um que foi
rapidamente destruído quando ele percebeu que estava sendo seguido.

A sensação de estar sendo observado o incomodou enquanto ele estava na


biblioteca, mas como geralmente era um lugar quieto e solitário, ele atribuiu
isso a uma imaginação hiperativa. E sempre havia a possibilidade de que
Madame Pince estivesse espreitando atrás dele, montando guarda sobre seus
preciosos livros. Por volta das 8h45, os corredores estavam lotados de alunos
correndo para suas aulas, conversando e rindo, tomando café da manhã às
pressas em qualquer lugar ou rabiscando dever de casa de última hora. Embora
a política deste ano de Remus tenha sido de nunca viajar sozinho, o corredor
estava bem lotado e havia grifinórios o suficiente ao redor caso algo
acontecesse.

No entanto, quando ele começou a descer o primeiro lance de escadas que


conduzia à masmorra, a sensação de formigamento voltou mais uma vez.
Como regra, Remus tentava ignorar instintos como esse - eles pertenciam ao
lobo, e ele se ressentia da intrusão. Mas não conseguiu se livrar e pegou sua
varinha, segurando-a com força.

Finalmente, a apenas um corredor de distância da sala de aula de Poções, ele


fez uma curva errada deliberadamente e correu para trás de uma tapeçaria. Ele
esperou. Com certeza, apenas alguns segundos depois, Severus Snape espiou
pela esquina, parecendo confuso. Irritação ferveu na garganta de Remus, e
antes que ele pudesse pensar sobre isso razoavelmente, ele apontou sua varinha
para o sonserino e ecoou,

"Petrificus Totalus!"

Snape ficou rígido, um olhar de surpresa em seu rosto que teria sido cômico, se
Remus não estivesse tão zangado. O garoto de cabelos pretos caiu no chão,
braços e pernas retos como uma tábua, completamente paralisado. Seus olhos
pretos redondos olharam ao redor, freneticamente, enquanto Remus saía de seu
esconderijo. Ele deu um chute - não muito forte, apenas na canela - e sorriu
para Severus.

"Pare de me seguir, seu esquisito." Ele disse. "Não te avisei?"

Snape olhou impotente para ele, e Remus riu antes de ir para Poções com um
passo rápido.
61. Quarto Ano
Novembro (Parte 1)

"Não se esqueçam, preciso daquela redação de três páginas sobre as


semelhanças e diferenças entre os thunderbird e fênix até sexta-feira, no
máximo." Professor Ferox gritou. "Sem desculpas."

Mary e Marlene gemeram enquanto guardavam suas coisas.

"Eu me esqueci completamente disso", sussurrou Marlene, "E eu tenho treinos


quase todas as noites esta semana - temos a partida contra a Corvinal no
domingo."

"Vou te emprestar minhas anotações." Remus respondeu, guardando


cuidadosamente o papel. "É bem fácil."

"Domingo é o aniversário do Sirius também, não é?" Mary perguntou,


pensativa.

"Sim, como você sabia?"

"Bem, nós meio que saímos ano passado." Mary disse, arrogantemente,
resmungando para Remus. "E vocês sempre fazem tantas comemorações nos
aniversários que é muito difícil se esquecer. Deus, espero que Grifinória vença
para que ele esteja de bom humor. "

"Sim." Remus concordou. Ele não tinha pensado nisso. Havia planejado
revelar seu grande plano para uma pegadinha no aniversário de Sirius, em vez
de um presente adequado. Agora ele se perguntava se deveria comprar algo -
embora eles não fossem para Hogsmeade por mais algumas semanas. Ele
sempre poderia dar a Sirius um maço de cigarros, mas parecia um pouco
barato, especialmente porque Sirius sabia que eles eram roubados.

Andromeda já havia enviado alguns presentes antecipadamente, por meio dos


Potters, e James os tinha escondido embaixo da cama. Mais discos, é claro -
Remus esperava muito que um deles fosse o novo LP do Bowie, Diamond
Dogs.
"Estou indo para o corujal, preciso enviar algo para Darren", disse Mary,
quando eles deixaram a sala de aula. "Você vem, Marls?"

Marlene parecia um pouco chateada, então Remus disse rapidamente,

"Vou para a biblioteca, se você quiser pegar essas anotações?"

"Sim, obrigada Remus!"

Eles se despediram de Mary e começaram a caminhar juntos na direção oposta.


Remus gostava muito de Marlene - ela era bem alta para uma menina e ele não
precisava torcer o pescoço para falar com ela o tempo todo. A não ser pela sua
explosão emocional no final do terceiro ano, ela era uma pessoa muito
objetiva, o que Remus achava muito tranquilizante em comparação a Mary,
que sempre fora uma pessoa muito divertida, mas às vezes, era um pouco
demais.

"Obrigada", Marlene sorriu para ele, "Sabe, eu amo ela, mas há um limite para
a quantidade de vezes que eu posso revisar suas cartas indecentes para
Darren."

"Cartas indecentes?!" Remus ficou boquiaberto. Marlene riu,

"Sim, é horrível. Ei, Remus, posso te perguntar uma coisa? "

"O que?"

"Hum ... Sirius gosta de mim?"

Remus lutou contra sua reação inicial, que foi de desespero. Parecia que ele
ainda não havia passado uma semana do novo ano sem ter que ouvir os
problemas românticos de alguém. Por que todos achavam que ele era a melhor
pessoa para conversar? Quando ele deu a impressão de estar interessado no
assunto, mesmo que remotamente?

"Não sei." Ele disse, esperando não soar muito irritado. "Você teria que
perguntar a ele."

"Eu não acho que ele me daria uma resposta direta," Marlene riu. "Desculpe, é
só que ele está agindo muito estranho perto de mim durante o treino de
quadribol."

"Esquisito?"
"Sim, apenas comentários e outras coisas. É um pouco chato, para falar a
verdade, eu realmente não gosto dele tanto quanto antes - você sabe, ele está
sempre querendo chamar atenção, ele sempre foi mais o tipo de Mary. "

"Que comentários?"

"Coisas sobre eu dar um beijo nele para dar sorte, ou algo ... Talvez seja a ideia
dele de flertar, ou talvez seja uma piada - você nunca sabe com James e Sirius,
não é?"

De repente, Remus percebeu o que estava acontecendo, e ficou meio zangado e


envergonhado por Sirius.

"O que?" Marlene disse, parando do lado de fora da biblioteca, "Que cara é
essa?"

"Ugh, Marlene, olha, eu realmente sinto muito por isso, mas ..." e ele explicou
a ela tudo sobre a aposta.

Ok, sim, ela provavelmente contaria a Mary, e Mary provavelmente contaria a


todo mundo do ano - mas os meninos mereciam isso, na opinião de Remus.
Havia um prazer distinto em arruinar as chances de Sirius de ganhar a aposta
estúpida. Felizmente, Marlene era uma garota muito sensata e, no final da
explicação de Remus, ela estava rindo.

"Faz muito sentido!" Ela disse, ofegante, "James ficava tentando impedir Sirius
de falar comigo e tudo mais. Aqueles meninos! Eles são completamente
ridículos. "

"Sim." Remus sorriu, aliviado por mais alguém compartilhar essa opinião.

"Ah, ótimo, agora eu posso me divertir um pouco com isso," Marlene sorriu,
quando entraram na biblioteca, abaixando suas vozes. Ela então acrescentou,
um pouco melancólica: "É uma pena que James não tenha tentado. Ele poderia
ter uma chance."

Remus ergueu as sobrancelhas.

"Bem, ele só tem olhos para a Lily, então..."

Marlene suspirou,

"Essa é uma batalha perdida. Ainda assim, não importa."


Eles se acomodaram em sua mesa favorita, que ficava perto da maior janela e
fornecia uma boa luz natural. Remus puxou suas anotações e mostrou a
Marlene como ele havia listado todas as qualidades dos thunderbird, depois as
fênix, e começou a comparar as duas. Grata por sua ajuda, Marlene ofereceu
suas anotações de Astronomia, e os dois passaram horas consideráveis
escrevendo. Até que, eventualmente, perceberam que era a hora do jantar.

"Remus," Marlene disse, baixinho, enquanto eles terminavam, "Todos os


marotos estão nessa aposta, ou só James e Sirius?''

"Er ... eu acho que Peter está também. Ele pode estar um pouco arrependido
agora, no entanto."

"Então você, não?"

"Não!" Ele respondeu, um pouco mais alto do que pretendia.

"Que pena", respondeu ela, com os olhos brilhando, "porque aposto que você
poderia vencer."

Ele bufou,

"Até parece."

"As garotas gostam de você! Você é muito legal, gentil e inteligente."

"Claro que não."

"Eu ficaria com você."

"Ah meu Deus, Marlene ..." Remus começou a andar um pouco mais rápido,
sentindo as orelhas muito quentes, "Você é minha amiga!"

"Sim, mas só para você ganhar a aposta." Ela sorriu, acompanhando seu ritmo.
Ele havia se esquecido de como ela era atlética, ao contrário dele, que ainda
tinha um quadril ruim. "Não há ninguém que você goste?"

"Não. Vamos, estou com fome."

Não era uma mentira, Remus pensou consigo mesmo. No entanto, parecia uma.

***
"VAI VAI GRIFINÓRIA VAI VAI!" Remus cantou junto com todos os
outros. Ter Peter girando freneticamente o cachecol de lã sobre a cabeça como
um lunático, ajudava a mitigar qualquer constrangimento que Remus pudesse
sentir por si mesmo.

Ele estava nervoso, no entanto; mais nervoso do que estivera no primeiro jogo
de James e Marlene; porque Sirius - embora fosse muito bom em voar - nem
sempre tomava as melhores decisões sob pressão. E quadribol era um esporte
perigoso, se você fosse imprudente.

Metade da multidão estava vestida de azul, a outra metade de escarlate, e uma


cacofonia ensurdecedora de vaias e gritos explodiu quando os dois times
entraram em campo. James estava visível como sempre com seu cabelo
bagunçado, e de longe os dois batedores da Grifinória eram da mesma altura,
distinguíveis apenas por seus rabos de cavalo de cores diferentes aparecendo
sob seus capacetes - um loiro, um preto.

Remus sentiu seu coração na boca quando os jogadores montaram em suas


vassouras, agacharam-se ligeiramente e se lançaram no ar com o apito. Era
difícil saber quem seguir, já que James subia e descia o campo como um
relâmpago em busca da goles, enquanto Marlene e Sirius se separavam,
cobrindo diferentes lados do campo, com os bastões girando no ar.

Os dois batedores tinham estilos muito diferentes - Marlene era focada e tendia
a seguir os jogadores em vez dos balaços para proteger melhor seus
companheiros de equipe. Sirius preferia uma tática diferente - ir diretamente
atrás das bolas agressoras, não importando onde elas estivessem, e jogando-as
o mais longe possível do jogo.

"Este é o primeiro jogo de Black e ele está obviamente dando tudo de si", a voz
do comentarista ecoou na multidão, "Sem dúvida, ele recebeu bastante
treinamento de Potter - que acabou de marcar o primeiro gol! Essa é a
Grifinória na liderança com dez pontos!"

Remus estava muito nervoso para poder comemorar junto com todos os outros,
estando tonto após tentar seguir seus três amigos no ar.

"Como eu estava dizendo", o comentarista, uma lufana do sétimo ano,


continuou, "Temos muito talento do lado da Grifinória este ano - Potter, é
claro, e McKinnon, que é uma das melhores batedoras que os grifinórios já
tiveram em anos, e agora Sirius Black, a ovelha negra de uma genuína dinastia
de quadribol - você se lembrará de sua prima, Narcissa Black da Sonserina,
uma das melhores apanhadoras que Hogwarts já teve, e é claro, o irmão Black
mais novo, Regulus, que assumiu o lugar de Narcissa depois de uma
temporada como artilheiro. Há rumores de que há brigas entre os Black, então
você pode apostar que a partida Grifinória vs Sonserina no próximo semestre
será ..."

"Se concentre no jogo em andamento, Srta. Darcy!" McGonagall disparou no


megafone.

"Desculpe, professora! Então é Dunelm da Corvinal com a posse da goles, ela


atira, ela --- oooh, e ela erra... "

O jogo continuou, e Remus esperava que Sirius não tivesse ouvido os


comentários - trazer à tona a família Black era uma maneira infalível de
quebrar sua concentração. Mas não, tudo parecia bem - ele estava batendo nos
balaços com um pouco mais de vigor, mas isso poderia facilmente ser por
culpa da adrenalina.

No final do jogo, tornou-se evidente que as preocupações de Remus foram


desnecessárias. Sirius poderia agir como se não levasse o quadribol a sério fora
do campo, mas claramente ter uma plateia aplaudindo fazia maravilhas com
sua concentração.

Assim que o apanhador da Grifinória pegou o pomo - terminando a partida em


300-110 em favor da Grifinória, os dois batedores voaram para o chão. Remus
viu Sirius lançar um braço galante em volta dos ombros de Marlene e se
inclinar - apenas para ser desviado habilmente quando ela ofereceu sua
bochecha para ele beijar.

***

A Sala Comunal estava uma confusão de vermelho, dourado e rock naquela


noite. Toda a casa veio para comemorar a vitória da Grifinória e o aniversário
de Sirius. Remus, pelo menos, havia vendido mais cigarros do que durante
todo o ano até agora - ele tinha vindo preparado, presumindo corretamente que
os alunos mais velhos estariam bebendo, tornando-os mais inclinados a pagar
por uma dose de nicotina. Ele mesmo evitou qualquer bebida que parecesse
suspeita, lembrando-se de suas ressacas infernais do verão.

Sirius e James estavam em seus melhores humores, é claro, gargalhando e se


deleitando com os parabéns de seus colegas. Peter ficava perto o suficiente
para aproveitar os holofotes, mas não tão perto a ponto de atrapalhar.
Remus ficou feliz em assistir à distância, conversando com Lily e Mary e
saboreando os lanches trazidos da cozinha. Ele sabia que não teria a chance de
divulgar seu plano até muito mais tarde, mas estava tudo bem. Melhor todos se
divertirem, ainda havia muito tempo.

Em algum ponto, Sirius finalmente conseguiu abrir seus presentes - um kit de


conserto de vassouras de James, muito chocolate de Peter e de Andromeda
nada menos que três novos álbuns; Dark Side of the Moon, Country Life (que
tinha uma capa tão incrivelmente explícita que todos os garotos quiseram
segurar enquanto riam, o que fez Remus querer morrer de vergonha)
e Diamond Dogs.

"Ohh!" Remus disse, incapaz de conter sua empolgação enquanto segurava o


tão esperado disco em suas mãos, acariciando a bizarra e assustadora obra de
arte. "Coloca este primeiro? Por favor?"

Sirius sorriu de lado,

"Qualquer coisa por você, Moony!" E colocou o disco no lugar na plataforma


giratória que era o toca-disco.

Owww ooooooohhhhh ...

O toca-discos uivou, enviando um arrepio de choque pela espinha de Remus -


o grito de um lobo. Ele olhou para James e Sirius em alarme. Eles pareciam tão
surpresos quanto ele, embora Sirius abriu um sorriso quando a voz de David
Bowie encheu a sala, como se estivesse recitando um feitiço.

And in the death...

As the last few corpses lay rotting on the slimy thoroughfare,

The shutters lifted in inches in Temperance Building,

High on Poacher's Hill,

And red, mutant eyes gaze down on Hunger City...

Toda a sala comunal estava desconfortavelmente quieta enquanto esse poema


horrível e sombrio era recitado, sem saber ao certo para onde olhar enquanto os
cães uivavam e ganiam ao fundo. Isso fez Remus se sentir escuro e sujo - mas
ele achou que tinha gostado; como se Bowie estivesse falando diretamente com
ele. Especialmente quando as linhas finais foram gritadas:
"This ain't Rock'n'Roll!

This is genocide!"

***

"Um mês inteiro?!" Sirius sussurrou alto.

"Trinta dias, sim." James respondeu, no mesmo sussurro estrondoso, "Se


fizermos isso durante o verão ..."

"Vocês se esqueceram do feitiço silenciador, idiotas." Remus gritou.

"Droga." Mais farfalhar.

Já passava da meia-noite do dia do aniversário de Sirius, e a festa há muito


havia sido interrompida pelos monitores. Os marotos subiram as escadas para
dormir sonolentos e cansados, mas aparentemente James e Sirius tinham mais
energia sobrando e agora estavam em uma conferência privada na cama de
James. Remus tinha uma boa ideia do que eles estavam falando, mas decidiu
deixá-los assim por enquanto. Ver até onde eles iriam. Ainda assim, ele sabia
que eles perceberiam que haviam esquecido o feitiço eventualmente, e decidiu
que era melhor ser honesto.

Remus e Sirius colocaram suas cabeças para fora de suas respectivas cortinas
ao mesmo tempo.

"Desculpe, Moony." Sirius sorriu, "Nós acordamos você?"

"Nah," Remus deu de ombros, "Eu estava ... na verdade, eu estava pensando
numa pegadinha..."

"Pegadinha?!" A cabeça de James juntou-se à de Sirius no espaço entre as


cortinas, "Quem disse pegadinha?!"

Remus sorriu, timidamente. Ele pensou que teria que esperar até o próximo fim
de semana para contar a eles, mas James magnanimamente abriu as cortinas da
cama ainda mais, "Por favor, Sr. Moony", disse ele, "Entre em nosso escritório
..."

Ansiosamente, Remus saiu de seu emaranhado de lençóis e caminhou descalço


pelo chão frio do quarto até a cama de James. Sentiu como se tivesse esperado
quatro anos por um convite.
"Bem?" James perguntou, sério, apontando a luz de sua varinha para Remus
como um microfone. "Nos diga!"

"Só um segundo," Remus revirou os olhos, retirando sua própria


varinha, "Muffliato!"

"Ele é muito inteligente para nós." Sirius disse, secamente.

"De fato." James concordou.

Remus os ignorou; eles estavam agitados e tolos pela falta de sono, ele teria
que pelo menos dar a eles a essência de seu plano antes que eles finalmente
caíssem no sono.

"Lembra quando eu estava contando sobre o despertador da Matrona?" Ele


perguntou a eles, rapidamente. Os meninos assentiram obedientemente como
Cocker Spaniels. "E como costumávamos mexer nele para não ter que acordar
mais cedo?" Mais concordâncias, "Bem, eu estava pensando sobre como isso
poderia ser aplicado a Hogwarts. Eu fiz algumas pesquisas e - você sabia que
todos os relógios desta escola são controlados por um relógio mestre? O
grande que fica fora do Salão Principal."

"Oh, MOONY!" Sirius gritou, de repente se jogando em Remus, jogando os


braços em volta dele com tanta força que os dois tombaram para trás na cama.
Assustado, Remus tentou afastá-lo, mas Sirius segurou firme, fingindo soluçar
em seu ombro de alegria, "Você LEU Hogwarts: Uma História! Um de
vocês finalmente leu! Você agora é meu maroto favorito! "

"Sai de cima, idiota!" Remus falou, finalmente forçando-o a se afastar e se


esquivando ainda mais longe na cama, James rindo dos dois.

"Ninguém jamais imaginaria que você é o mais velho, Black", James sorriu.
"Moony, por favor, continue. O grande relógio ...?"

"Certo, sim," Remus ajeitou sua camisa de dormir, sentindo-se muito quente e
corado com o ataque repentinamente, "Err ... então ... hum ... eu tive essa ideia
... eu ..." Isso não era bom, ele havia perdido completamente a linha de
raciocínio, agora tudo o que ele conseguia pensar era o quão idiota e irritante
Sirius era.

"O grande relógio controla todos os outros," Sirius completou, rapidamente,


notavelmente lúcido agora, "É um feitiço que garante que todos os relógios do
castelo estejam perfeitamente sincronizados. Mesmo os que trazemos de casa
são reassentados - até mesmo relógios trouxas. É uma boa dose de magia. "

"Sim," Remus acenou com a cabeça, voltando ao plano, "Sim, exatamente.


Então, estou pensando; se o relógio estiver errado ou se mover cinco minutos,
o mesmo ocorre com todos os outros. E isso afetaria os horários das aulas,
refeições e ... bem, praticamente todo o funcionamento do castelo. E se
começássemos bem devagar - digamos, avançando cinco minutos por noite -
ninguém notaria por anos, não é? Quero dizer, como alguém poderia notar, se
todos os relógios são iguais? "

Ele terminou, recostando-se e olhando para James, porque ele ainda estava
irritado com Sirius por perturbá-lo e quase estragar tudo. O cérebro de James
estava trabalhando em alta velocidade - Remus sabia disso porque ele
empurrou os óculos para trás no nariz. Finalmente, ele olhou para Sirius e
sorriu.

"Nosso Moony conseguiu de novo!"


62. Quarto Ano
Novembro (Parte 2)

Segunda-feira, 4 de novembro de 1974

"Não sei não." Peter disse, torcendo as mãos novamente. "A professora
McGonagall diz que não devemos mexer com o tempo."

"Não vamos" Sirius resmungou, já tendo explicado o plano duas vezes. "Esta é
uma brincadeira trouxa, Peter, enfie isso na sua cabeça dura!"

"Não." Remus franziu a testa, sentindo pena de Peter, que ficou de mau humor
o dia todo porque havia sido deixado de fora do planejamento noturno. "Não
estamos mexendo com o tempo, Pete," Remus explicou gentilmente, "Estamos
apenas mexendo com os relógios."

Peter olhou para Remus, então para James buscando confirmação.

"Está bem." Ele disse, devagar. "Acho que entendi."

Eles concordaram em fazer isso o mais rápido possível e lutaram para terminar
as aulas naquele dia com a crescente expectativa para seu plano diabólico.
Remus teve que calar James e Sirius mais de uma vez quando a empolgação
deles levou a melhor - eles não eram muito sutis na maior parte do tempo.

"Não vai funcionar se alguém mais souber disso." Remus sibilou na hora do
almoço quando Mary perguntou sobre o que eles estavam cochichando. "Então
calem a boca! Eu sei que vocês sabem manter um segredo se realmente
tentarem."

Eles mal podiam esperar que a noite caísse e o castelo ficasse vazio e quieto. Já
fazia muito tempo que não ficavam juntos depois de escurecer e, embora fosse
uma tarefa muito simples, todos queriam ir.

Havia um problema. Agora, era muito mais difícil colocar os quatro sob a capa
do que há três anos.

"Peter, você fica aqui." Sirius disse, após a terceira tentativa.

"Por que eu?" Pedro protestou: "Por que sou sempre o único deixado de fora?!"
"Não estamos deixando você de fora, idiota, isso é puramente uma
preocupação logística." Sirius revirou os olhos.

"James!"

"Eu vou ficar," Remus ofereceu. "Eu sou o mais alto, é minha culpa."

"Mas foi ideia sua," Sirius lamentou, "Você não pode perder!"

Remus encolheu os ombros,

"Iremos muitas vezes. Vamos fazer isso mais de uma vez."

"Mesmo com três é um aperto." Disse James. "Black, Pettigrew, fiquem de


fora."

"Por que eu?!" Sirius e Peter reclamaram ao mesmo tempo.

"Porque." James disse, os lábios se curvando, "A ideia é do Moony e a capa é


minha capa."

Foi preciso um pouco mais de discussões, massagens no ego e muitas


promessas de que todas as noites eles se revezariam, só para ser justo, antes
que os dois marotos rejeitados concordassem. Logo depois, Remus e James
estavam se esgueirando pela sala comunal da Grifinória sob a capa, andando na
ponta dos pés ao passarem por alguns alunos do sétimo ano dormindo
inconscientes em cima de seus livros para os NIEM.

"Espero que os dois parem de brigar se dermos a eles uma hora a sós." James
sussurrou, quando eles deixaram o buraco do retrato e entraram no corredor
escuro e vazio.

"Por que Sirius está sendo um idiota com Peter, afinal?" Remus perguntou o
mais baixo possível. Eles não queriam incomodar Pirraça - ou pior ainda, Sra.
Norris.

"Todas as garotas sabem sobre a Grande Competição do Amasso," James


respondeu, movendo-se lentamente para que Remus pudesse acompanhar,
"Sirius acha que Pete contou a elas."

"Por que ele pensaria isso?"


"Você conhece Black," James disse com um sorriso na voz, "Adora tirar
conclusões precipitadas. Normalmente conclusões erradas."

"Você não acha que foi Peter, então?" Remus perguntou, inocentemente.

"Moony." James bufou: "Eu sei que foi você."

"Ah."

"Não me incomodou", James riu baixinho, "No mínimo, melhorou minhas


chances de ganhar a aposta."

"Marlene se ofereceu para me beijar," disse Remus, de repente, "Mas eu disse


a ela que não estava na aposta."

Ele não tinha certeza do por que resolveu contar a James - ou por que escolheu
um momento tão inoportuno para fazê-lo. Supôs que só queria que alguém
soubesse. Talvez fosse uma coisa de ostentação - foram eles que não o
incluíram na competição em primeiro lugar.

"Ha," James riu, "Não diga a Sirius, ele nunca vai superar isso."

"Ela te beijaria." Remus acrescentou, caridosamente, "Ela me disse que faria."

"Infelizmente, não é para ser", respondeu James, casualmente. Remus ficou


pensativo por um tempo, mas eles haviam chegado ao relógio agora, na parte
inferior da grande escadaria.

Era muito grande e muito bonito, com uma vasta moldura de mogno entalhada
com várias criaturas - com os rostos e mãos moldados em ouro cintilante - e
plantas mágicas.

Remus puxou sua varinha e se concentrou cuidadosamente em desarmar os


feitiços de proteção colocados ali por um grande mago há muito tempo. Levou
um longo tempo; eram complexos e intrincados, entrelaçados como renda fina.
Mas lento e cuidadosamente, um por um, ele sentiu a magia se soltar com um
leve estalo em algum lugar na sua barriga. Ele sorriu para James.

"Aqui vamos nós."

James acenou com sua própria varinha para o relógio, e o ponteiro mais longo
rolou cinco minutos para trás. Ele olhou para seu próprio relógio e ambos
viram a sincronização acontecer. James riu baixinho.
"Olha Moony, eu sabia que tinha que ser você. Vamos, é melhor voltar. "

Eles voltaram a subir as escadas, mais rápido agora, tontos de triunfo. No topo,
Remus teve que parar para respirar por um momento. Ele apoiou a mão no
ombro de James para se equilibrar, e o outro garoto esperou pacientemente.

"Ei, James?"

"Sim?"

"Você realmente vai perder a aposta para o Sirius só pela Lily?"

As costas de James enrijeceram um pouco, mas ele não parecia irritado.

"Talvez eu não perca."

"Mas Lily nunca vai ..."

"Sou eu quem estou fazendo as aulas de Adivinhação, Lupin, não você."

"Sim, mas ela te odeia."

"Ela não me odeia." James riu. "Lily Evans não tem um pingo de ódio em seu
corpo."

Remus não disse nada sobre isso, sabendo que era verdade. James continuou:
"Só não é hora ainda, isso é tudo. Mas eu não me importo. "

"Ah." Disse Remus. Pela primeira vez, ele percebeu que James não
simplesmente gostava de Lily. Era algo completamente diferente. Remus
queria fazer mais perguntas, mas ele não sabia como - ele não era Sirius, não
poderia ser tão descarado.

Quando eles voltaram para o quarto, Sirius estava andando de um lado para o
outro, e as cortinas estavam fechadas ao redor da cama de Peter. Pode-se
presumir que eles não usaram o tempo para resolver suas diferenças.

"E?" Sirius praticamente latiu, ansioso, enquanto James e Remus tiravam o


relógio.

"Feito." James disse, simplesmente, bocejando e se dirigindo para sua própria


cama. Ele deu um tapinha no ombro de Sirius ao passar por ele, "Aproveite
seus cinco minutos a mais de sono"
***

E assim a pegadinha continuou. Todas as noites naquela semana, dois marotos


desciam as escadas sob a capa da invisibilidade e executavam o feitiço para
mover o ponteiro dos minutos cinco graus para trás, de modo que no sábado de
manhã, todos os relógios de Hogwarts estavam atrasados vinte e cinco
minutos. Até agora, ninguém parecia ter notado, e James e Sirius estavam
ficando inquietos.

"A questão é," Sirius bocejou durante o café da manhã, em seu uniforme de
quadribol amarrotado com os olhos sonolentos. "Não estamos realmente
dormindo meia hora extra, não é? Não estamos indo para a cama mais cedo. "

"Não, bem, essa não era realmente a intenção ..." disse Remus, tentando fazer
um sanduíche com torrada, marmelada, geleia de morango e outra torrada.

"Ainda assim, acho que deveríamos ter algum benefício disso tudo."

"A satisfação de um trabalho bem feito?" Remus respondeu, secamente, antes


de morder sua criação. Geleia de fruta doce caiu por entre as torradas,
escorrendo por seus dedos. Sirius fez uma careta - ele tinha aversão a coisas
pegajosas.

O brilho de uma genialidade anônima aparentemente não era suficiente para


Sirius. Na manhã seguinte, Remus acordou muito antes de seu despertador
tocar, e quando ele checou seu relógio de cabeceira, viu que aparentemente
ainda eram 7h. Ele se aproximou e sacudiu Sirius.

"O que você fez ontem à noite?" Remus perguntou, assim que Sirius
finalmente acordou, "Você e James voltaram o relógio, não é?"

"Só queria dormir mais, só isso ..."

"O quanto você voltou?"

"Não sei, uma hora ou duas?"

"O que?!"

"O que??" Sirius parecia genuinamente surpreso. "Não é esse o objetivo da


pegadinha?"
"Bem ..." Remus suspirou. Qual era o objetivo? Não poderia durar para
sempre, de qualquer maneira. "Isso ainda sim é demais. Vou ver se consigo
adiantar um pouco esta noite. "

Sirius deu de ombros, rolou e voltou a dormir.

Algumas pessoas comentaram como era estranho acordar em plena luz do dia
no inverno às sete horas da manhã, mas como era domingo de qualquer
maneira, Remus achou que eles tinham se safado. Naquela noite, Remus e
Peter desceram as escadas como de costume, e Remus tentou corrigir a
imprudência de Sirius.

"Podemos colocar para que acordemos mais cedo no próximo sábado?" Peter
perguntou, incerto - Remus ainda não tinha certeza se Peter havia entendido
completamente o que eles estavam fazendo.

"Não vejo por que não," Remus deu de ombros. "Por que você quer acordar
cedo?"

"É um fim de semana em Hogsmeade e eu ia me encontrar ... hum ... não,


nada."

"Quem??"

"Por favor, não diga a James ou Sirius!"

"Quem, Pete?"

"Desdemona Lewis."

"Oh ... Não, não vou contar a ninguém."

Remus foi para a cama com o coração pesado naquela noite. Ele sentia que
havia perdido todos os seus amigos agora - o único que não queria falar
constantemente sobre suas relações com o sexo oposto era Lily. E ele se sentia
um pouco culpado perto de Lily, por ter arruinado indiretamente o projeto de
Poções deles.

Para ser justo, todos na classe foram arruinados;

"Minha nossa," Professor Slughorn coçou a cabeça, completamente confuso


com as poções inúteis que todos haviam produzido. "Todos deixaram
fermentar pelo tempo correto? Deve ser exatamente vinte e quatro horas..."
Todo mundo tinha, é claro. Ou pensaram que sim. Foi realmente culpa de
Sirius, Remus disse a si mesmo.

Sirius, é claro, achou todo o episódio imensamente divertido, e isso apenas o


inspirou a correr riscos ainda maiores. O problema era que Remus não
conseguiria impedi-lo. Cada vez que Sirius tinha que descer e mudar o relógio,
ele se certificava de que iria com Peter ou James. E sempre que Remus se
oferecia para ir, Sirius desistia.

"Eu sei o que você está fazendo." Remus disse a ele, quando eles acordaram
em uma 'manhã' com o sol já em seu ponto mais alto no céu.

"E eu sei o que você está fazendo," Sirius respondeu com um sorriso,
"Senhor certinho."

Era verdade - Remus estava descendo a cada duas noites e tentando consertar
qualquer destruição que Sirius havia causado, de modo que na terceira semana
de novembro os relógios estavam todos girando descontroladamente para um
lado e para outro, às vezes alterados em até quatro horas. O principal problema
era que Sirius não dizia a ele o quanto ele estava mudando, então Remus estava
tendo que adivinhar suas correções.

"O que diabos está acontecendo?!" Mary disse, certa manhã no café da manhã,
depois de talvez apenas quatro horas de sono - Remus se arrependia disso, mas
foi a única maneira de recuperar terreno no ridículo cabo de guerra com Sirius.

O café da manhã havia se tornado um evento muito estranho - parecia que os


elfos domésticos na cozinha estavam mais confusos do que qualquer outra
pessoa sobre as horas do dia, e estavam em desacordo sobre qual refeição
deveriam servir. Como tal, ovos mexidos estavam sendo servidos junto com
purê de batata e molho; pernas de cordeiro acompanhadas de flocos de milho, e
uma ou duas vezes todos haviam chegado para jantar e nada havia aparecido.
Sirius e James estavam adorando cada minuto disso, é claro.

"O que você quer dizer?" James perguntou, indiferente. Sirius não estava
falando naquela manhã, apenas bocejando e ocasionalmente lançando olhares
raivosos para Remus.

"Alguém mais está dormindo muito mal?" Mary perguntou, desesperadamente.


Ela estava começando a parecer muito cansada - seu cabelo escuro estava
saindo de suas tranças em espirais grossas, e seus olhos estavam ligeiramente
vermelhos. "E o que está acontecendo com o tempo?"
"Sim, estava muito escuro ontem", Marlene bocejou, "Mas hoje começou a
clarear às seis ou algo assim."

"Hogwarts é um lugar muito misterioso e mágico." Disse James. "Quem somos


nós para questionar seu funcionamento interno?"

Enquanto isso, Remus estava muito preocupado com a lua cheia que se
aproximava. Ele achava que era em breve, mas de qualquer maneira, não havia
como ter certeza. Se Sirius não diminuísse as mudanças, ele poderia perder
completamente o controle do tempo e apenas se trancaria na Casa dos Gritos
por uma semana. Não sabia como explicar isso para Madame Pomfrey - mas se
ele não fizesse algo a respeito, então correria o risco de se transformar em
algum lugar do castelo.

***

Quarta-feira, 27 de novembro de 1974

Na quarta semana, Remus achava que nenhum dos marotos tinha a mais vaga
ideia de que horas deveria ser. Ele desistiu de tentar corrigir Sirius e, em vez
disso, achou melhor deixar as coisas acontecerem. Tudo finalmente chegou a
um ponto crítico quando, enquanto bocejava durante uma aula de
Transfiguração, Peter de repente olhou pela janela e arfou.

"O que foi, Pettigrew?" McGonagall retrucou - ela estava muito mais irritada
do que o normal. Na verdade, todo mundo estava, e Remus resolveu nunca
mais bagunçar o padrão de sono de ninguém novamente.

"N-nada, professora." Peter baixou os olhos apressadamente.

Mas era tarde demais; toda a classe, incluindo McGonagall, agora estava
olhando pela janela também - e assistindo ao nascer do sol às onze horas da
manhã.

"Oh, pelo amor de Deus!" McGonagall disse. "Classe, eu quero todos vocês no
Salão Principal de uma vez. Estou chamando o Diretor. "

Menos de uma hora depois, Remus estava se sentindo extremamente nervoso


cercado pelo resto da escola enquanto esperavam que Dumbledore falasse com
eles. Ele não tinha visto muito o diretor naquele ano; o velho costumava faltar
às refeições agora, e McGonagall disse que ele estava simplesmente viajando a
negócios para o ministério. Ainda assim, ele estava aqui agora, e Remus não
conseguiu evitar a sensação de enjoo na boca do estômago, quando o bruxo de
cabelo branco se aproximou do púlpito.

"O que você acha que está acontecendo?" Lily perguntou a Remus. Mary
estava cochilando em seu ombro.

"Não faço ideia", respondeu ele, esperando que soasse convincente.

"Parece," Dumbledore começou. Ele falava muito suavemente para um


professor, Remus sempre pensara - mas de alguma forma todos ficaram
quietos. "Que temos alguns piadistas entre nós."

Imediatamente, todos no salão se viraram para olhar para Remus, Sirius, James
e Peter. Remus continuou olhando para frente, ignorando-os; Peter começou a
sacudir o joelho ansiosamente, olhando para James, que sorriu de volta para o
público de maneira afável. Remus não conseguia ver o que Sirius estava
fazendo, mas com certeza seria algo ridículo e altamente desrespeitoso. Ainda
assim, Dumbledore não fez acusações, apenas sorriu agradavelmente e
continuou, "Fiquem tranquilos, pois os relógios estão sendo corrigidos e as
medidas tomadas para garantir que isso não aconteça novamente. Nesse
ínterim, acho que todos nós poderíamos descansar um pouco - estou
cancelando o resto das aulas de hoje, para serem retomadas em nosso horário
normal - e correto - amanhã de manhã."

Houve um murmúrio coletivo de apreciação por esta notícia.

"Sim!" Sirius sibilou, "Benefícios!"

"Agora," Dumbledore ergueu os braços, "Podem ir, usem este tempo com
sabedoria!"

Todos no Salão se levantaram e começaram a caminhar cansados em direção


às portas. Os marotos estavam prestes a fazer o mesmo, quando McGonagall
apareceu atrás deles, colocando a mão nos ombros de Sirius e James.

"Esperem." Ela disse. "Vocês quatro."

Remus engoliu em seco, enquanto o resto da escola desocupava a salão, até


que fossem apenas os quatro deles, Dumbledore e McGonagall.

"Então," Dumbledore sorriu gentilmente, "Qual de vocês teve a ideia, hein? Ou


foi um esforço coletivo?"
Os quatro meninos se entreolharam, depois encararam o chão. Dumbledore riu,
"Admirável." Ele disse com aprovação: "Então teremos que tratá-los todos
igualmente, hein? Acho que dez pontos serão tirados de cada um, você
concorda, Professora McGonagall?"

"No mínimo!" Ela acenou com a cabeça, "E detenções!"

"Vou deixar isso em suas capazes mãos, então. Só uma coisa, rapazes."

Todos olharam para cima, estremecendo enquanto se preparavam para a


repreensão.

"Todos vocês são claramente bruxos muito talentosos," Dumbledore continuou


a sorrir. Peter fez um barulho estranho. "Isso é muito claro. Era um feitiço
simples, sim, mas altamente eficaz. Esse tipo de pensamento os levará longe.
Mas talvez um pouco mais de premeditação e planejamento da próxima vez?
Assim poderiam não ter sido descobertos tão rapidamente."

"Três semanas não é nada ruim!" Sirius deixou escapar. James o chutou, mas
Dumbledore riu. McGonagall ficou vermelha de raiva.

"Então, serão três semanas de detenção, Black!"

Sirius baixou rapidamente a cabeça e James murmurou baixinho,

"Idiota."
63. Quarto Ano
Dezembro
I'm torn between the light and dark

Where others see their targets, divine symmetry

Should I kiss the viper's fang?

Or herald loud the death of man

I'm sinking in the quicksand of my thoughts

And I ain't got the power anymore

- Quicksand, David Bowie

Quarta-feira, 4 de dezembro de 1974

Todos receberam três semanas de detenção com McGonagall - o que


significava escrever a mesma frase repetidas vezes em um papel e lição de casa
extra - e foram banidos de Hogsmeade até o ano novo, para horror de Peter. A
pobre Srta. Lewis teria que esperar.

Isso também significava que Remus não poderia comprar nenhum presente de
Natal para seus amigos, mas ele estava grato por essa desculpa. Até agora,
Lupin possuía uma pequena fortuna (aos seus olhos, pelo menos) de dez
galeões e doze sicles. Não estava nem perto da herança de James, é claro, ou
mesmo da de Sirius, herdada de seu tio - mas era mais do que Remus jamais
tivera, mesmo em dinheiro trouxa.

Ele já havia começado a fazer planos para o momento em que completasse


dezessete anos. Aprender como aparatar era o principal - ele tinha que ter
certeza que conseguiria. Então, compraria suprimentos suficientes e começaria
sua busca. E ele achava que sabia por onde começar.

Nesse semestre, desde que voltou para Hogwarts, Remus estava lendo O
Profeta Diário do início ao fim. Pegava emprestado a cópia de James e fazia
anotações em particular - geralmente na biblioteca, onde os outros marotos não
o incomodariam. Estava procurando por qualquer coisa; ataques, avistamentos,
rumores. Qualquer coisa relacionada a lobisomens ou "criaturas das trevas não
identificadas". Havia muito pouco ali - James afirmou que isso acontecia
porque o ministério não queria assustar ninguém.

Mas ainda havia pistas. Às vezes, havia histórias sobre aurores interrompendo
'reuniões ilegais' - sempre em lugares distantes; nas Hébridas exteriores, ou em
Brecon Beacons. E sempre aconteciam na noite anterior à lua cheia. Isso era
uma evidência sólida, no que dizia respeito a Remus - Greyback estava
reunindo seguidores, e ninguém mais parecia se importar; até mesmo os
aurores estavam sendo casuais sobre isso. Exatamente como aconteceu com
Lyall.

No início de dezembro, Remus estava preocupado o suficiente para consultar


Ferox.

O curso de estudos de Trato das Criaturas Mágicas deste ano provou ser tão
fascinante quanto do ano anterior, e a dedicação de Ferox ao ensino não
diminuiu. Ele até insinuou trazer um seminviso real como um presente de
Natal, embora Remus não tivesse ideia de onde conseguiria uma.

O professor levou todos eles até o lago para uma aula, onde Ferox teve uma
longa e aguda conversa com um dos sereianos que moravam lá. Ninguém tinha
a menor ideia do que eles estavam falando, mas tinha sido interessante mesmo
assim, e Remus tinha feito alguns diagramas muito úteis.

Foi segurando esses diagramas, e a redação, que Remus se aproximou do


escritório de Ferox em uma tarde sombria de dezembro. Já que Sirius e James
estavam agora no time de quadribol, era muito mais fácil para Remus fugir e
conduzir seus próprios negócios pessoais - ultimamente sendo caçador de
lobisomens ou o principal fornecedor de tabaco de Hogwarts. Lily perguntou
se ele queria ir à biblioteca - ele achava que ela devia estar se sentindo um
pouco solitária neste semestre, já que ela costumava perguntar se ele queria ir
para lá ou para cá com ela. Ele não havia notado se ela estava passando menos
tempo com Mary e Marlene, mas quem sabia com as meninas?

De qualquer forma, tendo se livrado de todas as outras responsabilidades,


Remus bateu na porta do escritório de Ferox.

"Entre," a familiar voz cantante com sotaque de Liverpool chamou. Remus


sorriu e entrou.

"Oi, professor", disse ele, segurando seus papéis.


"Lupin! Sente-se, sente-se," - Ferox sorriu para ele por trás de sua mesa. Ele
parecia estar fazendo reparos em uma gaiola dourada muito grande; sua mesa
coberta com ferramentas, fios e outras bugigangas que não pareciam pertencer
ao escritório de um professor.

"Eu estou com minha redação sobre os sereianos aqui", ele a colocou no único
pedaço livre da superfície.

"Caramba, Remus, você é ansioso!" O professor Ferox sorriu, guardando suas


ferramentas em uma bolsa de couro. "Isso não era para ser entregue até o
último dia do semestre."

Remus deu de ombros, secretamente emocionado.

"Eu já tinha terminado, então achei melhor entregar agora."

"Muito bom. Quer um chá? "

"Sim por favor."

Ferox empurrou a grande gaiola para o lado e acenou com a varinha,


casualmente. A varinha de Ferox era mais curta do que a de Remus e mais
grossa, feita de algum tipo de madeira nodosa, como se tivesse sido arrancada
diretamente de um galho de árvore. Um bule apareceu do nada, seguido por
duas xícaras e pires que caíram ruidosamente sobre a mesa. Eram muito velhos
e lascados em alguns lugares.

"Opa," Ferox sorriu, envergonhado, "Nunca tive muita sutileza com


encantamentos. Esse é o antigo conjunto da minha vozinha."

Remus sorriu educadamente e usou sua própria varinha para servir o chá. Ele
achava levitação muito fácil e Ferox parecia impressionado. "Minha avó
costumava beber no pires e tudo," ele murmurou, nostalgicamente, levando a
xícara aos lábios, "Achava que era elegante, bendita seja."

Remus nunca sabia o que dizer quando as pessoas começavam a falar sobre
seus parentes. Levou quatro anos para aprender que as pessoas que tinham
famílias, não queriam realmente ouvir sobre as experiências de pessoas que
não tinham. Isso as deixava desconfortáveis. Ferox pareceu notar a reticente
educação de Remus e mudou de assunto "A este ponto, ela ofereceria um
biscoito e um cigarro, mas acho que os dois acabaram."

Remus ergueu a sobrancelha e procurou dentro do bolso.


"Aqui, senhor", disse ele, oferecendo uma caixa de Marlboro.

"Ah, então os rumores são verdadeiros, hein? Nosso contrabandista residente."

Remus deu de ombros novamente, cuidadosamente tentando mascarar sua


empolgação enquanto Ferox realmente aceitava um cigarro e o acendia
cuidadosamente com a ponta da varinha.

"Como você fez isso?!" Ele perguntou, tentando com sua própria varinha, sem
sucesso. Ferox riu,

"Vem cá", e Remus se inclinou sobre a mesa para permitir que Ferox
acendesse seu cigarro. "É melhor eu não te ensinar", o professor deu uma
piscadela, "É um hábito terrível."

Remus sorriu através da nuvem de fumaça, dando uma longa tragada.

"Então," Ferox disse, recostando-se na cadeira, "presumo que essa seja mais do
que apenas uma visita social, jovem Lupin?"

"Erm ... sim, mais ou menos," Remus acenou com a cabeça, limpando a
garganta, "Eu só tinha mais algumas perguntas sobre ... bem, eu não sabia a
quem perguntar, e você disse ano passado que eu sempre poderia vir até você."

"Claro. É sobre o seu pai? "

"Ah não," Remus balançou a cabeça veementemente, "Ele não."

Ele pode ter soado um pouco mais enérgico do que pretendia - mas
estava farto de Lyall Lupin e do sentimento terrível, vazio e de culpa que sentia
quando pensava no homem. Ele não queria saber mais sobre o passado - isto
era sobre o futuro.

Remus deu outra tragada, deixando seus nervos se acalmarem. "É sobre
Greyback."

"Remus ..."

"Eu mereço saber." Ele disse sombriamente, perdendo o sorriso. "Essa é a


minha vida."

Ferox olhou para ele por um longo tempo, antes de suspirar.


"Igualzinho a seu pai. Ok, o que você quer saber? Não que haja muito que eu
possa te dizer. Pelo que todos sabem, ele ainda é um fugitivo procurado. "

"Pelos artigos que você me deu, um deles disse que o ministério pensava que
ele estava tentando formar um exército, é por isso que ele gosta de ... crianças."

"Isso é apenas um boato." Ferox disse, as sobrancelhas franzidas, "Não há


evidências."

"Eu sou evidência." Remus disse, inconscientemente pressionando a mão ao


lado do corpo, onde a pior cicatriz de todas estava escondida sob seu uniforme.

"Ainda não quer dizer ... bem, se ele tivesse tentado fazer isso nos anos 60, nós
já teríamos escutado sobre isso nessa altura, hein?"

Essa era uma linha de raciocínio errada, na opinião de Remus, ele acenou com
a mão,

"Houve ataques, se você for ler os jornais com atenção. O Lorde das Trevas,
ele é a pessoa perfeita para encorajar Greyback, pelo que ouvi. Algo precisa ser
feito para impedir que as pessoas se juntem a eles. Para impedir ... que pessoas
como eu se juntem a ele."

"Eu não sei o que você sabe sobre esse tal 'Lorde das Trevas'," Ferox
respondeu, rigidamente, "Mas ele só está interessado em pureza do sangue. Ele
consideraria alguém como Greyback um mestiço. Abaixo dele."

Remus pensou em Snape e nos outros sonserinos, e imediatamente descartou


essa teoria também.

"Ele pode não o respeitar, mas contanto que Greyback faça o trabalho - e se ele
conseguir seguidores suficientes -"

"Você está superestimando o poder deles dois. O Lorde das Trevas é apenas
um arrivista político, alimentando-se de alguma opressão percebida; ninguém o
leva a sério. Ninguém que importa. E Greyback - bem, ele é praticamente um
abandonado, um lunático delirante. Nenhum deles tem nada substancial a
oferecer aos seus seguidores."

Remus bufou,

"Sim, bem, o ministério não tem exatamente muito a me oferecer também,


exceto por uma coleira e uma jaula."
"Remus, isso não é verdade," Ferox parecia angustiado. Remus não se
importou.

"É sim! Tenho quase quinze anos, não sou mais um menino. Minhas
oportunidades de emprego são um pouco menos merda como trouxa do que
como bruxo. Não posso deixar de notar que eu sou o único em Hogwarts, que
não posso contar a ninguém - ah, espere, até eu ter dezessete anos, então eu
tenho que contar a TODOS, certo? Então todo mundo sabe que deve me evitar,
caso eu fique com um pouco de fome. Greyback pode não ter muito oferecer a
nós, mestiços, mas quando você não tem nada mais a seu favor ... "

"Remus, você tem ..."

"Não! Eu LI as leis, os estatutos e a porra do registro de merda!"

Ele apagou o cigarro na borra da xícara de chá, furiosamente. A lua cheia


estava a semanas de distância, mas sua temperatura estava subindo, seu
coração batia forte enquanto olhava para Ferox, desafiando-o a responder. O
próprio Ferox parecia bastante abalado, mudo. Isso por si só esfriou o
temperamento de Remus - ele pretendia ter uma discussão racional, queria
aprender coisas; não gritar com seu professor favorito. Pegou outro cigarro e
acendeu-o com a caixa de fósforos que carregava, depois empurrou a caixa
sobre a mesa para Ferox.

"Fique." Ele disse baixinho, inalando: "Sinto muito. Eu não queria gritar."

"Não há problema em gritar, Remus," Ferox sorriu fracamente, "Especialmente


quando alguém não está ouvindo e você precisa ser ouvido."

Remus olhou para ele com curiosidade. Ferox relaxou um pouco, "Eu acho que
você vê a raiva como uma fraqueza, mas não é. É bom ficar com raiva - e você
tem uma boa razão para estar. Você está certo. Todos nós precisamos nos
preocupar com Voldemort, Greyback e o resto da multidão de sangues puro. Se
o ministério está tratando bruxos bons, inteligentes e perspicazes como você
desse jeito, então pessoas como o Lorde das Trevas sempre terão seguidores.''

Remus o encarou, atordoado.

"Mas." Ferox disse: "Sempre haverá pessoas trabalhando contra eles também.
E enquanto nós continuarmos com raiva, eles não vão ganhar."
"Eles não vão ganhar." Remus repetiu. Ele normalmente se sentia
envergonhado depois de uma explosão como aquela, mas agora ele realmente
se sentia mais calmo - até aliviado.

"E não pense por um minuto que tem você tem oportunidades de merda."
Ferox ergueu uma sobrancelha, "Se você pensa que Dumbledore moveu céus e
terras para te dar uma educação só para ver você acabar menos pior do que um
aborto, então você não conhece Dumbledore, meu garoto."

***

Sexta-feira, 20 de dezembro de 1974

Conforme dezembro avançava e as noites ficavam mais longas, o castelo foi


ficando repleto de luzes e de um pesado manto de neve. Todos pareciam mais
animados do que o normal e mais ansiosos que nunca para comemorar o Natal.
Corujas voavam pelos corredores na velocidade da luz, entregando pacotes e
cartões com envelopes coloridos; a professora de Herbologia tinha encantado
azevinho e hera para se entrelaçar em cada lustre e corrimão; O Professor
Flitwick podia ser visto quase todas as noites ensinando os retratos a cantar
canções de natal, e Sirius Black terminou o semestre vestido da cabeça aos pés
em ouropel.

Isso não tinha sido realmente ideia de Sirius - James tinha começado usando
um feitiço de cola permanente para fixar as decorações nos colarinhos e
punhos dos robes de Sirius enquanto ele dormia. Se ele pensou que isso
poderia deixar Sirius com vergonha, ele estava redondamente enganado -
Black adorava seu novo visual e o exibia com orgulho. Na verdade, no último
dia do semestre, pelo menos quinze outros garotos o haviam copiado, assim
como um grupo de garotas que recentemente começaram a seguir Sirius.

Parecia que todas as garotas da escola descobriram sobre a Grande Competição


do Amasso - e o efeito não foi o que Remus esperava. Embora Marlene tenha
agido sensatamente ao rejeitar os avanços de Black, haviam muitas garotas em
seu ano - e até mesmo no ano acima - que esperavam ajudar Sirius a ganhar a
aposta. Ele achou isso muito divertido no início, mas depois de quase um mês
sendo seguido por um bando de adolescentes rindo, recebendo bilhetes de
amor cheirosos e sendo encurralado em quase todas as esquinas, ele convocou
Mary como guarda-costas.

Mary era perfeita para isso – temperamento curto, sempre pronta para falar o
que pensava, e nem um pouco interessada em Sirius.
"Você é um covarde", ela suspirou, na última noite do semestre, enquanto
todos se sentavam ao redor da lareira juntos. James estava brincando com um
pomo de ouro que roubou do depósito de jogos, tentando impressionar Lily,
que estava de cabeça baixa e terminava freneticamente seus cartões de Natal.

Peter não estava em lugar nenhum, Marlene estava jogando xadrez com Remus
e Sirius acabara de chamar Mary para se sentar mais perto dele, observando
com cautela um grupo de garotas que o observava de um canto.

"Eu não sou um covarde", respondeu ele, secamente, afrouxando a gravata,


"Eu só gosto da minha privacidade."

"Você sempre poderia beijar uma delas," Mary respondeu, se espreguiçando no


sofá e colocando as pernas no colo de Sirius. Ele deixou. "Não era esse o
objetivo da aposta?"

"Bem, sim," Sirius respondeu, em um tom medido, "Mas elas não deveriam
saber disso, eu deveria conquistá-las com meu charme e beleza malandra."

"Você não está com medo, está?" Mary ronronou.

"Eu seria um louco se não tivesse medo de meninas." Sirius riu, "Vocês são
todas malucas."

"Mary, qual é o sobrenome de Darren?" Lily perguntou, olhando por cima de


sua pilha de cartas.

"Harvey." Mary disse: "Deus, você não está enviando um cartão para ele, está?
Você só o encontrou uma vez! "

"É bom receber cartões no Natal." Lily sorriu, voltando a escrever.

"Tudo bem, mas não mande por coruja, ele é trouxa."

"Como você tem escrito para ele o ano todo?" Remus perguntou, genuinamente
interessado.

"Eu mando as cartas para minha mãe, e ela as enfia na caixa de correio dele.
Ele mora só do outro lado do corredor. E há uma cabine telefônica perto de
Hogsmeade, então já nos falamos uma ou duas vezes."

"Eu não sabia que havia uma cabine telefônica!"


"Sim, é um pouco antiga - um dos corvinos me disse que foi uma chave de
portal uma vez durante a guerra, mas ainda funciona." Ela se espreguiçou
novamente, "Eu mal posso esperar para ver ele", ela suspirou. Sirius afastou as
pernas dela, fingindo se inclinar e assistir ao jogo de xadrez.

"Onde você passará o Natal, Remus?" Lily perguntou, lambendo seu último
envelope. "Não vai ficar aqui, imagino?"

"Lupin e Black vão para minha casa de novo", disse James, ansiosamente. Lily
deu a ele um olhar fulminante.

"Ah, claro."

Remus estava realmente ansioso pelos Potters este ano. Ficaria apenas uma
semana, pois a lua cheia caía no dia vinte e nove, mas era mais que perfeito
para ele - mal podia esperar pelos presentes, a decoração e a comida da Sra.
Potter.

"Estou morrendo de fome." Sirius bocejou preguiçosamente, "Onde está Pete?


Podemos mandá-lo para a cozinha para nós? "

"Não faço ideia de onde ele está." James disse: "Não o vejo desde o jantar."

"Ele está fazendo as malas?" Sugeriu Lily.

"Eu vou verificar," Remus se levantou, se espreguiçando. "Também estou com


fome, acho que há alguns bolos de caldeirão no meu baú..."

"Você não diz ..." Sirius se levantou também, seguindo-o. Remus suspirou.
Sirius passava metade do tempo implorando por doces para o resto deles. Não
que ele não fosse generoso com os seus - ele apenas muito raramente parecia
ter algum.

Peter não estava no dormitório, mas os bolos de caldeirão estavam.

"Queria saber o que aconteceu com ele." Remus esfregou a nuca.

"Verifique o mapa," Sirius disse, espalhando migalhas por toda parte, a boca
cheia de bolo. Remus ergueu uma sobrancelha, mas não disse nada, e pegou o
mapa de sua mesinha de cabeceira.
Ele lançou o feitiço localizador, e o mapa rapidamente destacou uma pequena
bandeira com o nome 'Peter Pettigrew'. Parecia que ele estava em um armário
de vassouras perto da sala de Feitiços.

"O que 'cê tá vend?" Sirius balbuciou, enfiando outro bolo na boca. Remus
resmungou dessa vez, dobrando o mapa.

"Não sei. Você não acha que os sonserinos o pegaram? "

"Talvez?" Sirius engoliu em seco, "Se eles colocassem um feitiço de


amarração nele, ele poderia ficar preso lá a noite toda. Vamos buscar ele,
então. "

"Devo chamar James?"

"Err ..." Sirius olhou para a porta, e Remus soube na hora que ele estava com
medo de passar pelo grupo de garotas esperando lá embaixo. "Nah, vamos
pegar a capa e nos esgueirar - não vai demorar muito, e apenas dois de nós
cabem, de qualquer maneira."

Remus deu de ombros, concordando. Se não demorassem muito para resgatar


Peter, então talvez eles pudessem ir para a cozinha depois. Sirius havia
terminado com seus bolos. Eles se amontoaram sob a capa juntos e correram
silenciosamente escada abaixo, passando por James e as garotas, saindo pelo
buraco do retrato.

"Típico de Peter," Sirius bufou, baixinho, "Quatro anos como um maroto e


ainda é uma merda em feitiços defensivos."

"Talvez eles tenham atacado por trás," Remus sugeriu, "Ou talvez houvesse
muitos deles."

Ele não sabia por quê, mas adorava contradizer Sirius. James chamava de
discussão, mas Sirius nunca deu nenhum sinal de que isso o incomodava. Eles
seguiram, através dos corredores de pedra sombrios, em direção ao corredor de
Feitiços.

"Aqui, é esse?" Sirius sussurrou, quando chegaram a uma porta.

"Sim," Remus respondeu, "Ele está aí." Ele podia sentir o cheiro dele.

"Ok, varinha pronta? ... Um, dois, TRÊS!"


Sirius abriu a porta rapidamente, para grande surpresa de Peter - que não corria
perigo - e Desdemona Lewis, que gritou.

"Quem está aí?!" Ela olhou em volta, pálida e com os olhos arregalados, o
cabelo despenteado e os lábios muito rosados e molhados. Pete também olhou
em volta, um pouco mais desconfiado, mas igualmente amarrotado.

"Provavelmente apenas Pirraça."

Sirius começou a estremecer de tanto rir, e Remus rapidamente tapou a boca


dele com a mão, tentando puxá-lo para longe do armário. Pobre Peter.

"Vou voltar para a minha sala comunal, vou ter muitos problemas se for pega
fora dos limites de novo", Desdemona estava dizendo, endireitando a blusa.
Ela beijou Peter delicadamente no nariz, "Vejo você amanhã, Petey? No
trem?"

"Sim ... ok ..." Peter respondeu, muito distraído, ainda olhando em volta,
procurando por seu agressor invisível. Remus agradeceu a qualquer deus que
existisse por sua força superior, enquanto Sirius lutava loucamente para se
libertar e causar ainda mais danos.

Remus não o libertou até que Desdemona tivesse desaparecido na esquina.


Peter já sabia da situação, de qualquer maneira.

"Tudo bem, apareçam!" Ele puxou sua varinha assim que Remus soltou Sirius
e os dois saíram de baixo da capa da invisibilidade.

"EU SABIA!" Peter gritou,

"SEU SAFADO!" Sirius gritou, rindo tanto que estava segurando o estômago,
"Há quanto tempo isso está acontecendo?!"

"Uma semana", respondeu Peter, ficando vermelho, "Como vocês me


encontraram?"

"UMA SEMANA?! Merlin, Pettigrew! O que você está pensando mentindo


para nós por uma semana inteira?!"

"Você teria zombado de mim!"

"Nós zombamos de você de qualquer maneira."


"Podemos, por favor, ir para a cozinha agora?" Remus suspirou.

"Espere até James ficar sabendo disso!" Sirius disse, soando pasmo, "Eu não
consigo acreditar. Realmente não consigo. Peter Pettigrew: Um garanhão."

"Oh, cale a boca." Peter ficou amuado, enfiando as mãos nos bolsos. "Vou para
a sala comunal, não estou com fome."

"Bem, a maneira como você estava comendo a cara da Lewis ..."

"Cala a boca!" Peter desapareceu no próximo corredor.

Sirius riu todo o caminho até a cozinha, e ainda estava um pouco histérico no
caminho de volta, mesmo carregado com guloseimas dos elfos domésticos.

"Pelo menos isso significa que a competição estúpida de beijos acabou."


Remus disse, contente, enquanto eles se aproximavam do retrato da mulher
gorda. Sirius parou no meio do caminho, fazendo com que Remus trombasse
com ele, quase derrubando sua garrafa de cerveja amanteigada.

"Ugh, eu não pensei nisso!"

"Bem, você não precisa mais pensar sobre isso agora," Remus retrucou,
esfregando o cotovelo onde havia batido, "Pete ganhou."

"Você está certo, Moony. Ugggh! Isso significa que se eu não conseguir um
beijo até o final deste ano, serei mais perdedor do que Pettigrew!"

Remus suspirou pesadamente.


64. Quarto Ano
Natal

Segunda-feira, 23 de dezembro de 1974

Embora Hogwarts fosse tão fascinante quanto um cartão de Natal, sob seu
manto de neve, os marotos desceram do trem em Londres e encontraram uma
garoa cinzenta vinda do sul. O clima continuou da mesma maneira durante a
maior parte do feriado de Natal, o que significava que andar de trenó estava
fora de questão este ano, para grande decepção de Remus.

Os primeiros dias antes do Natal foram muito chatos, e eles compensaram


fazendo idas regulares para a vila, debaixo do enorme guarda-chuva preto do
Sr. Potter, e passaram longas tardes no cinema trouxa de lá.

Remus os convenceu a ir - ele não tinha ido assistir um filme desde que
começou em Hogwarts, e a gangue de Ste tinha falado sobre Desejo de
Matar durante todo o verão, então ele estava morrendo de vontade de ir
assistir. Foi tão emocionante quanto ele esperava; cheio de vingança e sangue -
e Charles Bronson o lembrava um pouco do Professor Ferox. James e Sirius
estavam mais interessados em descobrir como o projetor funcionava - o que
estava tudo bem para Remus, porque significava que eles concordaram em ir
com ele duas vezes.

No entanto, o tédio logo levou a melhor e, na terceira visita ao cinema, uma


distração se apresentou na forma de um grupo de garotas na fila da bilheteria.
Imediatamente, James e Sirius pararam de discutir os meandros da percepção
visual versus taxas de frames por segundo e começaram a agir de forma muito
estranha. James fez mais esforço para alisar o cabelo do que nunca, enquanto
Sirius começou a se encostar casualmente na parede como se fosse James
Dean.

As garotas obviamente perceberam e ficaram olhando para trás e dando


risadinhas. Elas devem estar congelando, usando minissaias em dezembro,
Remus pensou consigo mesmo. Finalmente, as meninas terminaram de
comprar seus ingressos e foram para a segunda sala.

"Moony," Sirius disse, sem tirar os olhos do grupo de pernas compridas que
acabara de passar, "Que tal vermos algo diferente hoje?"
"Sim," James assentiu, sem expressão.

Remus olhou para o pôster acima da porta. O Grande Gatsby. Ele torceu o
rosto,

"Ugh, é um romance, porque vocês querem ver isso?" Ele protestou. Mas era
tarde demais, eles já estavam entrando na sala.

Remus se acomodou na primeira fila e se resignou ao seu destino. Talvez não


fosse tão ruim - ele gostava de Robert Redford em Dois Homens e um
Destino - ele não era tão legal quanto Charles Bronson, mas talvez ele atirasse
em alguém, no mínimo.

Meia hora depois e - por mais que ele não quisesse admitir - Remus estava
completamente imerso no filme, com todos os tons pastéis e fantasias bobas.
Não tinha havido nenhum tiroteio até agora, mas ele ainda tinha esperanças e,
nesse meio tempo, torcia para que Daisy criasse bom senso e largasse seu
marido horrível.

Em algum momento, Remus olhou para a esquerda, para ver se Sirius e James
estavam gostando do filme também - e descobriu que havia sido abandonado.
Virando-se em seu assento, ele olhou para a escuridão atrás dele e quase
conseguiu distinguir as formas escuras de seus dois amigos sentados na última
fileira - ambos envolvidos em algum tipo de luta adolescente horrenda com
duas das garotas de mais cedo.

Mortificado, Remus se virou imediatamente, se abaixando no assento de


veludo vermelho. Não conseguiria se concentrar no filme agora - e ele estava
certo, de qualquer maneira; era um romance estúpido, chato e feminino, e
Robert Redford claramente não atiraria em ninguém tão cedo. Em uma fração
de segundo, tomou uma decisão e saiu rapidamente do cinema.

Era tarde demais para conseguir um ingresso para Desejo de Matar, e o


atendente atrás da bilheteria estava lhe dando um olhar muito penetrante, então
ele enfiou as mãos no fundo dos bolsos e saiu, sentindo-se amargo e péssimo.
A cidade em que os pais de James viviam era muito mais luxuosa do que a que
Remus havia crescido - era toda chalés de tijolos vermelhos bonitos e árvores
carvalho. Havia um grande parque no centro, e Remus podia imaginar o jogo
de críquete que acontecia lá no verão. Mas estava chovendo agora, e James
estava com o guarda-chuva, então Remus não teve escolha a não ser se
esconder embaixo da cobertura da parada de ônibus mais próxima.
Havia uma lojinha bem em frente, e ele a observou por um tempo, verificando
os pontos de entrada mais simples. Não que ele fosse invadir. Ele
definitivamente poderia; parecia muito fácil - mas e se o Sr. e a Sra. Potter
descobrissem? Eles nunca o receberiam no Natal novamente. Pensou em voltar
para a casa, mas não queria explicar por que havia deixado Sirius e James na
sala de cinema daquele jeito. Idiotas. Ele chutou a lateral da parada com suas
botas pesadas. Uma mulher idosa, passando com seu cachorrinho escocês, fez
uma careta em sua direção e, como resposta, ele xingou em voz alta, erguendo
o dedo médio.

Até James havia o decepcionado agora. James! Cuja adoração pura e honesta
por Lily Evans foi a única coisa que convenceu Remus de que beijar pode não
ser tão nojento, afinal. Ele esperava algo assim de Sirius, que nunca teve
qualquer tipo de controle sobre seus impulsos de qualquer maneira,
mas James?!

"Ei, Moony!" Como por mágica, James e Sirius apareceram do outro lado da
rua, sob o grande guarda-chuva preto. Ele tentou ignorá-los, mas era um pouco
estúpido, visto que eram as únicas três pessoas ali.

"Para onde você vai?" Sirius sorriu, enquanto eles cruzavam a rua para se
juntar a ele sob o abrigo de ônibus.

"Só estou sentado aqui." Remus encolheu os ombros.

"Por que você saiu?"

"Poderia te perguntar a mesma coisa!"

"Nós só escapamos por um minuto ..."

"Ugh, não quero ouvir sobre isso." Remus tapou os ouvidos. Ele olhou para
James, "E quanto a Lily? E toda aquela história de 'ainda não está na hora, mas
não me importo'?" Remus repetiu as palavras que James havia falado em
novembro.

James pareceu chocado por um momento, mas Sirius riu com vontade e deu
um tapa no ombro de Remus,

"Ah, pare com isso. Evans não vai se importar se Potter tiver ficado com
alguma garota trouxa quando tinha quatorze anos. Se acalma, Moony."
Isso foi o suficiente. Se havia algo capaz de deixá-lo mais furioso, era alguém
pedindo para que 'se acalmasse'.

"Não!" Ele rosnou, "Você me fez assistir aquele filme estúpido de garotas só
para poder passar a mão em uns brotos trouxas na última fileira!"

Sirius jogou seu cabelo escuro e revirou os olhos.

"Merlin, Lupin - podemos ir ver seu amado Charles Bronson amanhã, se você
quer tanto. Quer dizer, me desculpe se queremos agir como
adolescentes normais por cinco minutos."

Algo sobre esse insulto atingiu Remus tão fortemente, que se ele tivesse sua
varinha, teria amaldiçoado Sirius ali mesmo. Do jeito que estava, ele só tinha
os punhos - felizmente ele era muito bom com eles, e socar costumava ser
muito mais satisfatório do que amaldiçoar. No momento em que James os
separou e se colocou entre eles, o nariz de Sirius estava extremamente
sangrento e Remus podia sentir o início de um olho roxo se formando.

"Qual é o problema de vocês dois?!" James bufou, arrastando os dois pela


chuva de volta para a casa de seus pais.

"Ele é um babaca!" Remus cuspiu, tentando manter a garoa longe de seu olho
dolorido.

"Ele é um idiota!" Sirius retrucou, com a voz abafada, segurando seu suéter
molhado contra o nariz.

"Vocês são dois imbecis", disse James, com firmeza, quando chegaram ao
portão da frente.

***

A Sra. Potter consertou os dois muito rapidamente - ela era tão rápida em
feitiços de cura quanto Madame Pomfrey - então lhes deu uma boa repreensão,
com o Sr. Potter parado atrás dela, tentando não sorrir e dizendo "Meninos
serão meninos, Effie querida..."

Depois, Remus foi direto para o quarto de hóspedes e sentou-se na cama pelo
resto do dia fazendo o dever de casa passado para o recesso. Ele sabia que era
bobo e infantil ficar de mau humor, mas se tivesse que ver Sirius novamente,
não tinha certeza de que não voaria para cima dele. Pensou em Ferox dizendo
'É bom ficar com raiva' - mas de alguma forma não achou que era isso que o
professor queria dizer.

Ele estava com inveja? Com inveja porque todos os seus amigos tinham ficado
com garotas e ele não? Talvez fosse isso. Remus não podia realmente ignorar o
fato de que era o único de seus amigos que não era completamente guiado por
seus hormônios - como um adolescente normal, como Sirius tão gentilmente
disse. Ouch; ali estava aquela dor novamente. Remus encolheu os joelhos sob
o queixo, encolhendo se o máximo possível. Se ele ganhasse um galeão por
cada aspecto em que ele não era normal...

Remus desceu para jantar, mas não falou com James ou Sirius, limitando-se
apenas a conversas educadas com o Sr. e a Sra. Potter. Depois que foram
dispensados da mesa, ele voltou direto para cima e se enrolou sob o edredom
com um livro até adormecer.

Sonhou que estava de volta ao cinema, tentando assistir a uma estranha


combinação de O Grande Gatsby e Desejo de Matar - em que o professor
Ferox realmente era Charles Bronson, bigode preto e tudo, apontando sua
pistola para as reluzentes socialites de West Egg. Algo continuava cutucando o
cotovelo de Remus, distraindo-o do filme - ele se virou e viu que eram Peter e
Desdêmona, se contorcendo no assento ao lado dele, lábios colados.

Irritado, Remus se levantou e se sentou na fileira atrás, voltando ao filme.


Logo, outra coisa o incomodou - eram Mary e Darren. É claro que Remus
nunca conheceu Darren, e o garoto no sonho parecia com Mulciber, por algum
motivo. Eles estavam se agarrando também. Enojado, Remus tentou se levantar
mais uma vez, mas tropeçou em Lily e James, que estavam deitados no
corredor.

"Pelo amor de Deus!" Ele gritou. Lily ergueu os olhos para ele e riu - Mary
também, e agora Peter e James as imitaram.

Sirius apareceu bem no fundo do teatro, sua silhueta recortada pelo projetor
atrás de si,

"Ignorem ele", ele riu junto com os outros, "Ele não é normal como nós."

Remus se virou bem a tempo de ver Ferox atirar em Robert Redford, então
acordou com um pulo.

Ele estava quente e suado sob o edredom pesado e teve que lutar para se
libertar. Sentindo-se muito bobo por ter tido um pesadelo na sua idade, ele
saltou da grande cama de dossel e se dirigiu ao banheiro mais próximo. O
relógio marcava meia-noite, então ele não acendeu nenhuma luz, e pôde ver
um leve brilho amarelado saindo de debaixo da porta de James.

Remus usou o banheiro, então lavou as mãos e o rosto, tomando alguns goles
da torneira fria antes de se enxugar nas mangas do seu pijama. Sentindo-se
muito melhor, ele voltou para seu quarto, assim que a porta de James se abriu.

"Caramba, é você, Moony!" James sussurrou, parecendo aliviado, "O que você
está fazendo andando no escuro?!"

Remus encolheu os ombros e sussurrou de volta,

"Eu consigo ver no escuro. Não queria acordar ninguém."

James acenou com a cabeça e abriu a porta um pouco mais,

''Achei que você fosse Gully, nos espionando para mamãe ou algo assim. Quer
entrar? Vamos todos ser amigos de novo."

Não demorou muito para que Remus concordasse. Brigar consumia muita
energia, especialmente quando todos viviam juntos. Ele ainda não queria falar
com Sirius, mas entrou pelo bem de James.

Sirius estava sentado de pernas cruzadas na cama de James e franziu a testa


quando viu Remus. James suspirou,

"Vamos lá, somos todos amigos, ok? É Natal."

Sirius acenou com a cabeça, solenemente. Remus acenou de volta. Se juntou a


eles na cama, onde ficou surpreso ao ver que haviam livros de feitiços
esparramados.

"Dever de casa?" Ele perguntou.

"Pegadinha." James respondeu. "Mas ainda não resolvi os detalhes."

"Ah ok." Remus concordou. E então, porque ele não queria que fosse mais
estranho, perguntou; "Como está seu nariz, Black?"

"Tá ok," Sirius sorriu para ele, relaxando e mudando de humor, "Você está
perdendo o jeito."
Remus sorriu,

"Ah é? Pergunte a Snape. Dei uma cabeçada nele no trem em setembro."

"Você está brincando!"

"Não."

"Caramba," James riu, "E ele não se vingou desde então?"

"Ainda não." Remus disse, tentando não soar muito nervoso com isso,
"Provavelmente está planejando algo. Qual é a pegadinha?"

"Vamos hm ... te contar quando soubermos como fazer. Pode não dar certo."
James disse, rapidamente, fechando o livro mais próximo dele. Remus ergueu
uma sobrancelha e não disse nada - isso apenas confirmou uma suspeita que
tinha há algum tempo. Ele não queria entrar em nada disso agora, esperaria
para ver se algo aconteceria.

"Desculpe, eu mencionei Lily." Ele disse a James: "Eu não quis dizer isso,
Sirius está certo, ela não vai se importar - se ela for estúpida o suficiente para
sair com você, claro."

James o empurrou de brincadeira,

"Vai a merda."

"Pelo menos essa competição estúpida acabou agora, certo?" Remus


perguntou, esperançoso, olhando para Sirius.

"Sim, eu acho," Sirius deu de ombros, "Pagamos as dívidas com Pete, de


qualquer maneira. Mas que decepção - beijos, quero dizer. Não sei por que
tanta comoção sobre isso."

Remus não disse nada, embora estivesse secretamente satisfeito.


Aparentemente, ele não estava perdendo nada, afinal.

"Foi bom", disse James, diplomaticamente. "Provavelmente requer prática.


Deve melhorar com o tempo."

"É bom que melhore." Sirius disse, muito sério.

James e Remus começaram a rir.


***

Dia de natal de 1974

A manhã de Natal estava tão escura e sombria quanto a semana anterior, e


Remus foi acordado pelo barulho da chuva batendo contra a janela de seu
quarto. Ainda assim, a casa dos Potter estava tão festiva como sempre, e os
cinco se acomodaram para um farto café da manhã com sorrisos nos rostos.

O café da manhã foi rapidamente seguido de presentes - a costumeira feira de


doces, chocolates, penas novas dos Potter, livros e meias. Remus ficou muito
surpreso ao receber uma echarpe tricotada à mão de Lily, em vermelho da
Grifinória com franjas douradas. Ele se sentiu um pouco mal - não tinha
comprado nada para nenhum dos marotos este ano, muito menos para as
meninas. Ela nunca tinha dado a ele um presente antes, exceto o auxiliar de
leitura - que, ele tinha que admitir, tinha sido um bom presente. Ele resolveu
comprar algo para ela na próxima vez que fossem a Hogsmeade.

Estavam terminando com os presentes, a Sra. Potter juntando os papéis de


embrulho amassados com um movimento de sua varinha - quando uma música
alta e triste soou no corredor. Era uma melodia aguda e assustadora -
completamente antinatural e linda. Todos se viraram ao mesmo tempo, o Sr. e
a Sra. Potter retirando suas varinhas em uma postura de duelo, e um estranho
pássaro prateado e etéreo voou para dentro da sala, circulando suas cabeças.
Remus o reconheceu imediatamente, uma fênix - ou algo parecido com o
fantasma de uma.

"Dumbledore", disse o Sr. Potter, baixinho, enquanto a fênix prateada se


acomodava magistralmente na lareira. Para a surpresa de Remus, o pássaro
abriu o bico e falou com a voz do diretor.

"Houve um ataque. Estarei com vocês em breve - não permita a entrada de


mais ninguém."

E com isso, a fênix desapareceu no ar. Todos ficaram em silêncio por um


tempo, antes que a Sra. Potter falasse, colocando a mão no ombro de James,
como se ela só precisasse tocar seu filho.

"Ah Monty, um ataque!"

"Não vamos entrar em pânico," o Sr. Potter disse calmamente, "Albus estará
aqui em breve. Rapazes, terminem de limpar aqui, hein? Eu estarei em meu
escritório."
Eles organizaram em silêncio, todos esperando para ver o que aconteceria a
seguir. Um ataque - o que isso poderia significar? A mente de Remus foi direto
para Greyback - mas não era lua cheia, então improvável que fossem
lobisomens. Poderia ser Voldemort? Ou haviam outros bruxos das trevas lá
fora? Culpadamente, ele olhou para Sirius, que estava olhando pela janela para
a chuva, parecendo pálido e chocado. Sua família era majoritariamente
formada por bruxos das trevas. Ele sabia alguma coisa sobre isso? Certamente
não, Remus rapidamente descartou a ideia, sentindo-se ainda pior; Sirius não
tinha voltado para casa desde o verão, e era de conhecimento geral que sua
família o odiava.

Finalmente, depois do que pareceu uma década, mas poderiam ter sido apenas
vinte minutos, houve um estalo de aparatação do lado de fora, e o Sr. Potter foi
até a porta da frente. A Sra. Potter se juntou a ele, e James, Sirius e Remus
ficaram no corredor, assistindo.

A porta se abriu e Dumbledore ficou parado parecendo muito sério,


completamente seco, apesar da chuva caindo aos montes.

"Fleamont, Euphemia", ele assentiu educadamente.

O Sr. Potter ergueu sua varinha,

"Qual foi a última coisa que conversamos?"

"Seu filho quebrou o recorde de número de detenções neste período."


Dumbledore sorriu, olhando para James, que ficou vermelho. Isso
aparentemente satisfez o Sr. Potter, que recuou para permitir a entrada de
Dumbledore.

"Entre, Dumbledore, gostaria de um pouco de chá?" A Sra. Potter perguntou,


pegando sua capa de viagem e conduzindo-o para a sala de estar.

"Lá em cima, meninos." Sr. Potter disse, severamente. James parecia prestes a
discutir, mas Dumbledore interveio em seu lugar.

"Se você não se importasse, Fleamont, acho melhor que os meninos ouçam
isso. Estará em todos os jornais amanhã de qualquer maneira."

O Sr. Potter olhou para a esposa e assentiu. O pequeno grupo sentou-se na


grande sala de estar, esperando Gully entrar com o chá. Foi uma cena muito
estranha; Cartões de Natal ainda nas paredes, ouropel brilhando ao longo das
molduras dos quadros, presentes abertos empilhados debaixo da árvore - e
Dumbledore, ainda parecendo estranhamente sério em robes de veludo azul.
Sirius, James e Remus sentaram-se espremidos em um sofá, enquanto o Sr.
Potter permaneceu de pé, andando pela sala.

"Um ataque, então?" Ele finalmente disse, impaciente.

"Temo que sim. A família Fraser, em Newcastle."

"Fraser? Nunca ouvi falar deles."

"Não. O Sr. e a Sra. Fraser eram nascidos trouxas. Eles tinham dois filhos que
ainda não tinham idade suficiente para Hogwarts, mas até onde sabemos,
mostravam sinais de habilidade mágica."

Remus estremeceu com a sentença dita no passado. O Sr. Potter também havia
notado isso claramente, pois parecia muito pálido e cansado de repente.

"Todos os quatro?"

"Sim."

A Sra. Potter parecia prestes a chorar,

"Crianças!" Ela engasgou. "Crianças!"

"E nós sabemos com certeza?" O Sr. Potter continuou, ansioso, "Nós sabemos
que foi ... ele?"

"Voldemort, sim. Ele deixou uma marca."

"Uma marca?"

"Vai sair nos jornais amanhã, eu imagino. O Profeta Diário estava lá antes de
eu ser alertado."

"Mas o que isso significa? Quem eram os Frasers?"

"O Sr. Fraser trabalhava para o St Mungus," Dumbledore explicou, "Ele


recentemente levantou uma petição com o ministério sugerindo que
curandeiros recebessem treinamento em técnicas de cura trouxa - primeiros
socorros, creio que ele havia chamado assim. Isso não foi visto com bons olhos
por certas facções, tenho certeza que você pode imaginar. "
"Eu acho que me lembro de Darius dizendo algo," Sr. Potter acenou com a
cabeça, inclinando a mão sobre a lareira pensativamente, "Mas matar!"

"Não foi a primeira vez," Dumbledore disse, sombriamente, "Mas é a primeira


vez que eles assinaram. Esta marca que ficou para trás - foi vista em outro
lugar. Algumas das antigas famílias a adotaram; uma espécie de sinal secreto
de sua lealdade a Voldemort. Só que não é mais tão secreto."

"Quais famílias?" Sirius disse, de repente, olhando para Dumbledore. Ele


estava todo tenso, Remus podia sentir. Dumbledore olhou para ele com
gentileza.

"Não há até agora nada que ligue os Black a este ataque."

"Até agora." Sirius repetiu. "Mas você sabe que eles ... eles são ..."

"Não adianta ninguém tirar conclusões precipitadas", Dumbledore ergueu a


mão, "A situação é grave, sim, mas não devemos perder a cabeça ou permitir
que a emoção atrapalhe nosso julgamento. Tempos difíceis estão por vir, e
todos precisaremos estar vigilantes."

Ele disse isso diretamente para Sirius, e parecia estar falando com James e
Remus também. Remus sentiu uma torção desconfortável em seu abdômen -
ele não havia entendido tudo, mas sabia que uma grande responsabilidade
havia pousado em seus ombros. Uma que ele não tinha certeza se poderia
cumprir.

"Eu não estou tentando assustar ninguém," Dumbledore continuou, como se


tivesse lido a mente de Remus, "Mas também não quero desvalorizar a
seriedade dos eventos de hoje. Estou trabalhando rapidamente para reunir
apoio, uma linha de defesa contra Voldemort. Já falei com vários associados de
confiança dentro do ministério - Fleamont, posso contar com você?"

"Claro." O Sr. Potter disse imediatamente, "Você falou com os Weasleys? Os


Prewetts? Os Bones's?"

Dumbledore acenou com a cabeça, sorrindo,

"Todos na minha lista, é claro."

"Nós podemos ajudar!" James falou. A Sra. Potter prendeu a respiração, os


olhos ainda muito rosados.
"Sim!" Sirius disse, ansioso para se mostrar igual a James. "Você pode contar
conosco, senhor."

Remus não disse nada, mas acenou com a cabeça, esperando que Dumbledore
soubesse que ele também havia escolhido seu lado.

"Espero que não chegue a esse ponto." Dumbledore estava sorrindo, seus olhos
azuis cintilando de emoção. "Mas obrigado, meninos."

"Não!" A Sra. Potter disse: "Eles são crianças, Dumbledore."

"Eu vou me tornar maior de idade em dois anos!" Sirius disse, endireitando-se,
afirmando sua posição como o maroto mais velho. "E nós somos os melhores
do ano em feitiços defensivos!"

"E azarações", James acrescentou, depois calou-se rapidamente, vendo o olhar


que sua mãe lhe lançou.

Dumbledore riu suavemente.

"De fato." Ele disse: "Sua mãe está certa, entretanto. Tudo o que peço é que
vocês estejam em guarda e cuidem uns dos outros. Agora, devo ir, tenho outras
visitas a fazer. Fleamont," Dumbledore se levantou e apertou a mão do Sr.
Potter, "Entrarei em contato. Eufêmia," ele se virou para a Sra. Potter se
desculpando, "Feliz Natal. Receio não comparecer à sua festa, esta noite. "

"Devemos cancelar", Sra. Potter esfregou os braços, como se a sala tivesse


esfriado, "Parece desrespeitoso."

"Aproveitem as férias, meninos - Remus, Madame Pomfrey vai encontrar


vocês na rede de flu do Três Vassouras no domingo de manhã."

Remus acenou com a cabeça, obedientemente, e com isso, Dumbledore


desapareceu com um alto *CRACK *.
65. Quarto Ano
Janeiro

Quarta-feira, 8 de janeiro de 1975

Dumbledore estava certo - o assassinato da família Fraser foi notícia de


primeira página no boxing day, seguido por uma série de reportagens e artigos
sobre a crescente guerra, o que dominou o resto do feriado de Natal.

Foi a primeira vez que Remus - ou qualquer um deles - viu a marca negra, e
eles não tinham ideia de que era um símbolo que temeriam pelo resto de suas
vidas. Uma grande caveira negra com a boca aberta e uma longa serpente
dobrada se contorcendo. Era nitidamente uma marca Sonserina, e assim que
eles voltaram para Hogwarts, Sirius queimou todos as marcas de cobras de
suas coisas, incluindo seu malão.

"Cuidado, cara," James disse, enquanto a fumaça do feitiço de Sirius enchia a


sala, "Você pode estar arruinando uma herança de família aí."

"Eu não dou a mínima." Sirius respondeu, disparando sua varinha contra a
madeira enegrecida mais uma vez, para garantir, "É meu, e não quero que nada
meu tenha essa marca maldita."

Era inútil tentar argumentar com ele. Desde a visita de Dumbledore aos Potter,
o ódio de Sirius por qualquer coisa remotamente Sonserina havia aumentado
dez vezes mais. Ele vinha usando feitiços para defender os alunos mais jovens
da Sonserina o ano todo, mas agora parecia estar ativamente procurando por
confrontos.

"A guerra não está acontecendo aqui." Remus tentou dizer a ele uma vez, após
sua terceira detenção em alguns dias, "Dumbledore nos disse para ficarmos
vigilantes, não começar brigas."

"A guerra está em toda parte." Sirius respondeu, e James concordou com a
cabeça. "De qualquer forma, quem é você para falar, e você e Snape?"

"Aquilo," Remus respondeu, piamente, "Foi pessoal."

Era verdade; ele não odiava Snape porque ele era um bruxo das trevas, ou um
sonserino, ou qualquer coisa assim. Remus não gostava Snape, porque ele era
um filho da puta intrometido - isso, e ninguém realmente gostava de Snape,
exceto Lily.

Na verdade, Remus pensou consigo mesmo, enquanto olhava para Lily do


outro lado da sala comunal, sentada ao lado de Marlene trabalhando em algum
tipo de feitiço de transfiguração em um par de sapatos, até mesmo Lily não
estava andando muito com Severus ultimamente. Talvez eles tenham se
desentendido. A ruiva olhou para cima e encontrou seus olhos, sorrindo
brilhantemente. Ele sorriu de volta. James, sentado ao lado dele, acenou, e Lily
revirou os olhos e voltou ao feitiço em que estava trabalhando.

"Ela não sabe o quanto eu amadureci?" James suspirou pesadamente,


folheando as páginas de seu livro com força.

"Não sei se beijar uma trouxa no fundo do cinema realmente conta como
amadurecimento." Remus respondeu, resgatando o livro maltratado e alisando
os cantos que James havia dobrado.

"Eu não quis dizer isso," James sorriu, "Quis dizer ... em geral. Eu não
entendo, eu me dou bem com a Marlene."

"Você está no time de quadribol com a Marlene", disse Peter, "Você tem coisas
em comum com ela."

(Peter ficou muito sábio, desde que começou a namorar.)

"Então, o quê," James disse, lentamente, "Você acha que eu deveria tentar
colocar Lily no time de Quadribol?"

Peter resmungou, lamentavelmente,

"Por que você não descobre algo que vocês dois têm em comum? Tipo, como
eu e Desdêmona gostamos de xadrez e sanduíches de queijo e..."

"Não temos nada em comum", respondeu James, sonhador, "É por isso que
gosto dela."

"Nunca vai acontecer, então." Peter fungou, com ar de finalidade. James


parecia desanimado.

"Não dê ouvidos a ele," disse Remus, com pena, "As pessoas não saem com
outras pessoas porque são iguais, isso seria chato. Os opostos se atraem e tudo
mais."
"Sim, você está certo, Moony!" James se animou. "Talvez eu deva descobrir de
que tipo de coisas ela gosta ..."

"Er ... sim, pode ser um começo." Remus balançou a cabeça, voltando ao seu
dever de Feitiços. Ele tinha feito as pazes com aquela obsessão por garotas
agora; era mais fácil apenas acenar com a cabeça e fingir ser solidário.

Felizmente, a maior parte da atenção de James e Sirius estava voltada para o


treinamento para a partida de quadribol contra a Sonserina, marcada para o
início de fevereiro. Com a guerra pairando sobre todos, a competição entre as
duas casas assumiu um novo e importante significado, e Sirius e James
trataram suas posições no time como ocupações em tempo integral.

Como consequência, Remus viu muito pouco deles no início do semestre - ele
passava muito do seu tempo na biblioteca, como sempre, e quando os outros
dois não estavam em campo praticando (com Peter assistindo, é claro), eles
estavam em detenção por uma coisa ou outra. Mal havia tempo para trabalhar
no mapa ou mesmo planejar uma nova pegadinha; os marotos se cruzavam
ocasionalmente na hora de ir dormir.

A situação ficou tão extrema que quando o primeiro fim de semana de


Hogsmeade chegou na metade de janeiro, Remus se viu sem ninguém com
quem ir. Ele quase considerou não ir, até que Lily tocou no assunto depois de
Poções, uma tarde, sugerindo que ele fosse com ela e (ele presumiu) Mary e
Marlene. Parecia uma maneira legal de passar o sábado, e ele se lembrou de
que ainda devia um presente de Natal a Lily.

Conforme combinado, Remus a encontrou na sala comunal na manhã de


sábado, e eles começaram a descer em direção à entrada principal de
Hogwarts.

"O que aconteceu com a Mary e Marlene?" Remus perguntou, surpreso ao


descobrir que eles estavam sozinhos. Lily corou, mas pode ter sido apenas o ar
frio.

"Achei que poderíamos ser apenas nós dois, desta vez."

"Justo." Ele sorriu. Ele gostava muito da companhia de Lily - quase tanto
quanto dos marotos.

"Então, por que todos eles estão na detenção?" Ela perguntou, enquanto
caminhavam pela neve até o vilarejo.
"Várias coisas," Remus acenou com a mão, "Peter foi pego fora dos limites
depois de escurecer, James foi culpado por mudar as palavras nos troféus da
Sonserina ... e acho que Sirius azarou um aluno segundo ano."

"Típico," Lily resmungou.

"Sim," Remus sorriu, enquanto caminhavam pela neve, seguindo a trilha de


alunos de mantos escuros à frente deles. "A coisa do troféu foi brilhante,
porém, você tem que admitir. O feitiço durou sete dias!"

"Não foi uma coisa muito legal de se fazer." Lily franziu a testa. Remus
suspirou. Por que as meninas sempre querem ser boazinhas?!

Assim que chegaram à aldeia, pararam na papelaria, porque os dois precisavam


de penas novas. Remus comprou uma para Sirius e outra para Peter também,
porque eles pediram, contando a Lily como Peter pressionava muito em seu
pergaminho e quebrava duas penas por semana, deixando manchas em todos os
lugares - e como Sirius só usava a marca mais cara, porque ele era vaidoso
quanto à sua caligrafia.

Depois disso, foram para o correio, onde Remus mandou um pacote para os
Potter em nome de James - era o aniversário da Sra. Potter, ele explicou a Lily;
e James odiava perder qualquer ocasião para dar um presente. A essa altura, já
muito frio, eles decidiram que a próxima parada seria uma cerveja amanteigada
e optaram pelo Três Vassouras.

Ambos encontraram uma pequena mesa perto da lareira e sentaram-se,


conversando sobre suas aulas e seus natais. Lily teve uma grande briga com
sua irmã, da qual ela falou longamente. Remus contou a ela sobre ir ver Desejo
de Matar, mas não mencionou a visita de Dumbledore.

"Você vai ao Potter's todo ano, então?" Perguntou Lily.

"Sim," Remus acenou com a cabeça, fervorosamente, "Eles são incríveis. Eu e


Sirius sempre vamos. E a casa de Pete é apenas à frente de James, então isso é
legal."

"Vocês quatro estão sempre juntos?" Lily parecia entretida. Isso incomodou
Remus da maneira errada.

"Eles são meus amigos. Meus melhores amigos."


"Eu sei disso", respondeu ela, soando um pouco ríspida, "Mas você falou sobre
eles a tarde toda."

"Não falei." Remus grunhiu, defensivamente, olhando para sua cerveja


amanteigada, envergonhado. "... E daí se eu tiver?"

"Bem, eu meio que queria conhecer você um pouco melhor, não seus amigos."
Lily tinha duas manchas vermelhas em suas bochechas agora, como uma
boneca holandesa. Remus não conseguia entender por que ela estava tão
irritada.

"Você me conhece, no entanto. Você me conhece há quatro anos!"

Lily olhou para ele, sem acreditar. Então sua expressão mudou. Ela passou a
mão pelo cabelo e riu, sem humor.

"Ah, Remus." Ela suspirou.

"O quê?"

Ela balançou a cabeça,

"Eu sou uma idiota. Você realmente não tem ideia do por que eu queria passar
o fim de semana com você, não é? "

Ele encolheu os ombros. Ela sorriu, dando a ele aquele olhar de pena que as
garotas eram tão boas em fazer. "Não importa", disse ela, "Não se preocupe
com isso."

Depois disso, o tom da tarde pareceu mudar. Lily pareceu relaxar em seu eu de
sempre e começou a brincar com ele. Ela até reclamou um pouco sobre Snape,
que disse algo extremamente rude para Mary recentemente. Remus nunca
entendeu por que ela ficou tão mal-humorada em primeiro lugar, mas ele achou
que poderia ter sido apenas por mencionar seus amigos - ela sempre foi clara
sobre os achar irritantes. E, como presente, ela só aceitaria dele o preço de uma
cerveja amanteigada e garantiu-lhe que não precisava sentir que lhe devia algo.

Foi só no dia seguinte, quando Remus, James, Sirius e Peter estavam sentados
no café da manhã, que tudo ficou claro. James e Sirius estavam com suas
vestes de quadribol prontos para o treino, discutindo táticas furtivamente,
enquanto Peter ouvia com profundo interesse, balançando a cabeça e
murmurando, "Sim, exatamente" de vez em quando. Remus estava checando
sua lista de livros - ele tinha vários para devolver e alguns mais que ele ainda
precisava usar para completar sua redação de Transfiguração.

Marlene se acomodou ao lado deles, em suas próprias vestes vermelhas, e


pegou o chá.

"Então," ela se dirigiu a Remus, "como foi ontem?"

"Hm?" ele perguntou, levantando os olhos do pergaminho, "Ontem?"

"Você e Lily, em Hogsmeade!" Ela estava dando a ele um sorriso muito


conhecedor. "Ela não quer nos contar o que aconteceu, então deve ter sido
bom."

"Do que você está falando?!"

"É," Sirius olhou para cima, curioso, "Do que você está falando, McKinnon?"

"Ele não te contou?" Ela mexeu com açúcar no chá, inocentemente, "Remus e
Lily tiveram um encontro ontem."

"O que?!" James, Sirius e Remus exclamaram ao mesmo tempo. Sirius


começou a rir,

"Moony em um encontro?!"

"Com a Evans ?!" James parecia horrorizado.

"Puta merda!" Disse Peter.

"Não foi um encontro!" Remus disse, batendo sua pena. Ao dizer essas
palavras, ele sentiu uma sensação horrível no estômago - teria sido um
encontro? Como ele deveria saber, se as pessoas simplesmente te emboscavam
assim?! Ele olhou para James, desesperadamente, "Mas eu não gosto de Lily,
ela é apenas uma amiga!"

"Sim ... eu sei, cara." James disse, embora Remus não achasse que ele parecia
muito convencido. "Está bem. Eu ... te vejo depois do treino. "

Com isso, James se levantou e saiu da mesa. Sirius ficou olhando para ele por
um momento, então olhou para Remus, depois de volta para James, antes de
encolher os ombros impotente e se levantar para seguir seu amigo para fora do
corredor. Peter o seguiu logo depois, e Remus deitou a cabeça na mesa,
gemendo.

"Uau, desculpe Remus," Marlene disse, muito baixinho, "Eu não tinha ideia.
Hum ... James realmente gosta dela, então? "

Remus gemeu novamente, antes de se levantar e pegar seus livros.

"Estou indo para a biblioteca." Ele disse, sem olhar para ela.

***

Ele não foi à biblioteca, no entanto, no caso de Marlene ir procurá-lo lá ou -


pior ainda - contar a Lily e Mary onde ele estava. Pela primeira vez desde seu
segundo ano, Remus se escondeu.

O problema com isso, é claro, era o quanto ele havia crescido desde seu
segundo ano. Muitos de seus cantos habituais eram simplesmente pequenos
demais agora. No final, ele se acomodou atrás da estátua da bruxa corcunda,
bem dentro da passagem para a Dedos de mel. Estava escuro, mas ele acendeu
sua varinha para iluminar, e o leve cheiro de chocolate era muito reconfortante.

Ele tentou ler, mas seu cérebro não o deixou se concentrar - parecia querer
apenas continuar repetindo sua visita a Hogsmeade outra vez. Lily disse algo
que ele perdeu? Teria sido sua linguagem corporal, talvez; ela deu dicas?
James as teria entendido? Sirius teria? Era muito injusto, Remus pensou
consigo mesmo, lamentavelmente. Lily era uma ótima amiga, por que ela iria
querer bagunçar tudo com sentimentos e dar as mãos e beijar?!

Ele realmente esperava não ter que falar com ela sobre isso agora. Talvez ela
estivesse tão envergonhada quanto ele. Pior de tudo, e se James nunca mais
falasse com ele? Ele não sabia como explicar que não via Lily dessa maneira -
não quando todos os outros grifinórios em seu ano pareciam decididos a
formar pares.

Talvez ele devesse ter beijado Marlene quando ela ofereceu, em novembro. Ele
se perguntou se todos eles o deixariam em paz quando ele acabasse com
isso. Você tem que começar a beijar garotas algum dia, ele disse a si
mesmo. Todo mundo beija - é normal. Mas não Lily - ele não poderia fazer
isso com James. Na verdade, Remus decidiu, essa era provavelmente a razão
pela qual ele não estava interessado nela - porque ela era extremamente bonita,
engraçada, gentil, inteligente - e melhor do que ele em Feitiços. Lily
era exatamente o tipo de garota que ele gostaria, Remus sabia com certeza, mas
a amizade dele com James era muito mais importante.

Sentindo-se muito iluminado e abnegado, Remus saiu de seu esconderijo. Ele


desceu a escada mais próxima, planejando ir para o campo de quadribol e
pegar os últimos minutos de prática. Depois disso, ele faria algo bom para
James - oferecer-se para ler sua redação de História ou algo assim. Sim, então
tudo ficaria bem novamente.

Mas, como Remus tinha ouvido uma vez; os melhores planos geralmente dão
errado. Ele estava quase chegando ao fim da grande escadaria - subindo três
degraus de cada vez só porque podia, e sem realmente olhar para onde estava
indo - ele bateu de cabeça em outro aluno subindo.

"Cuidado, sangue-ruim." Severus Snape rosnou, levantando-se com


dificuldade, encarando Remus. Remus resmungou,

"Cai fora, Snivellus, eu sou tão mestiço quanto você."

"Você e eu não temos nada em comum, eu garanto." Snape respondeu com


altivez, limpando suas vestes.

"Suponho que quando se trata de higiene -"

"Cuidado, Loony Lupin," Snape estreitou seus olhos redondos, "Não diga algo
que você vai se arrepender."

"Ah, vai embora," Remus respondeu, impaciente, dando um passo à frente,


"Não tenho tempo para isso, me azare agora ou saia do meu caminho."

Snape deu um passo para o lado imediatamente, dando um floreio com a mão
para mostrar a Remus que ele estava livre para ir. Era inquietante, mas Remus
não podia se preocupar com isso agora, e continuou seu caminho.
66. Quarto Ano
Fevereiro

James Potter era uma pessoa muito mais complexa do que parecia à primeira
vista.

Externamente, ele era feliz, confiante, gentil (embora às vezes fosse um pouco
arrogante) e geralmente popular com todos. Recebia muitas detenções? Sim,
mas no final sempre acabava tirando notas boas, e a maioria dos professores
ainda gostavam muito dele. Ele aproveitava ao máximo o fato de estar no time
de quadribol - bagunçando o cabelo deliberadamente, fazendo parecer que
tinha acabado de voar e usando seu uniforme vermelho em todas as
oportunidades. Mas ninguém poderia dizer que ele não merecia o direito de
agir assim - bastava vê-lo jogar para saber o porquê de seu ego gigante.

Acima de tudo, James Potter era amado. Seus pais o mimaram e lhe incutiram
a noção de que não havia nada que ele não pudesse fazer; que nenhuma porta
jamais estaria fechada para ele. Sirius, Peter e Remus o admiravam,
nomeando-o líder em quase todas as aventuras, e no geral, ele era admirado na
escola pelas pessoas que importavam, e invejado por todo o resto.

Exceto por Lily Evans, é claro. Ela era o fio fora do lugar que parecia desandar
tudo na vida de James. Tendo crescido cercado de amor – entregue livremente
e aceito imprudentemente – James ficara muito perturbado com a ideia de que
alguém que ele gostasse poderia não gostar dele. Essa era a razão pela qual ele
agia como um idiota sempre que Lily estava presente, e a razão pela qual ele
parou de falar com Remus por uma semana inteira durante o início da
primavera de 1975.

Ele não estava sendo maldoso, ou fazendo isso de propósito - Remus conhecia
James bem o suficiente para compreender isso. Só aconteceu de seus
sentimentos terem sido feridos – e como alguém que raramente experienciou
ter seus sentimentos feridos – ele não sabia como lidar com a dor. Pelo menos
Sirius explodia com você se o irritasse, para que pudesse ser resolvido
rapidamente. Peter ficaria emburrado. Remus provavelmente tentaria dar um
soco. Mas James apenas ficava quieto.
"Ele não está bravo com você," explicou Sirius, quando James foi para a cama
uma noite assim que Remus chegou na sala comunal. "Ele está apenas sentindo
pena de si mesmo."

"Ele acredita em mim, não acredita?" Remus perguntou, ansioso, "Eu


realmente não sabia que era um encontro, eu não gosto da Lily desse jeito!"

"Bem ... não acho que ele pense que você está mentindo, exatamente, mas ...
você é muito próximo da Evans, não é? Sempre andando juntos."

"Ela é minha amiga." Remus disse, exasperado, "Eu também ando com a
Marlene e a Mary, ninguém pensa que vou sair com elas!"

"Na verdade," Sirius sorriu, "Tinha um boato no semestre passado ..."

"Ah, pelo amor de Deus!"

Era impossível.

Quanto a Lily, ela estava sendo muito madura sobre a coisa toda. Remus
presumiu que Marlene a tivesse informado sobre a situação, mas ela não
pressionou, e eles puderam continuar como parceiros de Poções normalmente.
James e Sirius, no entanto, mudaram sua mesa de trabalho para o fundo da
sala.

Na sexta-feira, hora do jantar, Remus estava realmente infeliz. Ao contrário de


James, ele não cresceu cercado de amor e descobriu que sua amizade com os
marotos havia se tornado tão importante que sentia que, caso a perdesse,
sofreria profundamente. Remus ainda se sentava com eles nas refeições, mas
havia um silêncio desconfortável em vez de suas brincadeiras barulhentas de
costume. Sirius continuou tentando mudar a conversa para a próxima partida
Grifinória x Sonserina, mas isso só parecia piorar o clima.

Para piorar as coisas mais ainda, Lily, Mary e Marlene sentaram-se perto de
Remus - elas estavam com pena dele e, sendo meninas, estavam tentando
animá-lo fazendo exatamente a coisa errada.

"Estou ansiosa para a partida," Mary sorriu, animada, "Todos os lufanos e


corvinos com quem conversei estão apoiando a Grifinória também."

Lily suspirou pesadamente,


"Por que sempre tem que ser tão preto e branco? Ninguém é todo bom ou ruim,
nem mesmo os sonserinos. "

"Você não pode nos culpar, Lily," Marlene respondeu, "Mesmo que não sejam
todos eles, a maioria dos Sonserinos foram totalmente baixos este ano."

"Falando no diabo ..." Mary abaixou a voz, de repente, lançando um olhar sujo
por cima do ombro de Lily.

Lily e Remus se viraram para ver Severus Snape parado ali, com um sorriso
estranho no rosto que era tudo menos alegre.

"Olá, Lily," ele disse suavemente.

"Oi Sev," Lily respondeu, com um tipo de educação forçada, "O que foi?"

"Só passei para ver se você precisava de alguma ajuda extra com a tarefa de
Poções. É muito complicada,"

"Eu sei." Ela respondeu, irritada: "Mas tenho certeza de que vou conseguir ..."

* BANG *

Todos na mesa pularam e se viraram para olhar para o final do corredor, onde
Mulciber havia acabado de soltar um foguete no final da mesa da Sonserina.
Ele estava rindo muito enquanto a escola inteira observava, apavorada.

"Cinco pontos da Sonserina!" McGonagall gritou, marchando pelo corredor


entre as mesas, "E você vai limpar essa bagunça de uma vez ..."

O jantar voltou ao normal. Snape ainda estava parado ali. Lily olhou para ele,

"Como eu disse, Remus e eu vamos dar um jeito." Ela disse: "Eu não sou
burra, você sabe, Severus."

"Eu nunca disse que você era ..." Snape parecia genuinamente chateado com
isso, "Eu só ... ah, deixa pra lá." Com isso, ele lançou um olhar desagradável
para Remus, então foi embora, de volta para sua própria mesa.

"Esquisito." Mary murmurou.

"Deixa ele em paz." Lily retrucou. Ela parecia tão feroz que Mary nem mesmo
teve uma resposta.
"Er ... algum de vocês teve alguma sorte com aquela redação sobre
hinkypunk?" Marlene perguntou rapidamente, tentando manter a paz. "A
minha tá uma merda."

"Eu posso te emprestar minhas anotações, se quiser," Remus ofereceu,


tomando um gole de suco de abóbora. "Assim que Sirius devolver ..."

Sirius olhou para cima, na menção de seu nome,

"Ah sim, desculpe, Moony, pera aí, elas estão na minha bolsa ..." Ele começou
a vasculhar o ferro-velho que era sua mochila, retirando bolas de pergaminho
amassadas, bombas de bosta, doces e penas quebradas.

"Como você consegue encontrar alguma coisa aí?" Remus suspirou, bebendo
mais um pouco de suco de abóbora, "Você é a pessoa mais bagunceira que eu
já vi."

Sirius deu de ombros e piscou para ele, retirando as notas e entregando-as a


Marlene.

"Oooh, Remus," disse Mary, "Eu te contei que recebi outra carta de Darren
esta semana?"

Remus grunhiu,

"Sim." Ele choramingou: "E foi tão entediante quanto as últimas quinhentas
cartas que você me fez ler."

Sirius arquejou. Marlene largou o garfo. Mary parecia horrorizada e abriu e


fechou a boca algumas vezes. Remus franziu a testa - por que diabos ele disse
isso? Claro, era verdade, mas fora terrivelmente impensado e cruel.

"Desculpe," ele disse, olhando para baixo. Ele se sentiu estranho. Talvez a
coisa do James o estivesse afetando ainda mais do que ele pensava.

"Não, eu que peço desculpas." Mary disse, levantando-se, seu lábio inferior
tremendo: "Não vou mais te entediar, então!" Ela se virou rapidamente e saiu
do salão, seu prato comido pela metade.

"Mary!" Marlene se levantou, correndo para segui-la. Lily olhou para Remus,

"Você quis dizer isso?"


"Sim." Ele disse prontamente: "Na verdade, acho todas essas coisas de
namorado e namorada muito chatas, queria que todos vocês todos me
deixassem em paz." Assim que parou de falar, ele piscou, surpreso consigo
mesmo. Por que ele estava dizendo essas coisas?!

"Remus!" Lily disse, parecendo chocada – embora, mais forte que Mary, ela
não foi embora, "Não há nada de errado em Mary querer falar sobre seu
namorado ou ... hum ... ou adolescentes tendo paixões, é normal, não é?"

"Eu não me importo se é normal." Ele encolheu os ombros, "Eu acho que
vocês estão agindo como idiotas. Até você - por que diabos você iria querer
sair comigo, se o garoto mais popular da escola está perdidamente apaixonado
por você? Ele é dez vezes mais legal do que eu também, você que é muito
arrogante para ver isso."

"Remus!" Lily disse novamente, ficando vermelha.

"Bem, é verdade!" Ele disse, impotente.

"Moony," Sirius disse finalmente, "Você está bem?"

"Estou bem, mas ainda estou com um pouco de fome. Acha que Mary se
importará se eu terminar suas batatas?"

"Sério, Remus," James saltou, inesperadamente, "Isso não é nada típico de


você."

"Só estou sendo honesto."

"Sim, brutalmente hone- oh Merlin!" Sirius deu um tapa na testa, "Evans,


Snape colocou alguma coisa na bebida dele? Quando os fogos de artifício
explodiram, talvez? "

"Ele nunca faria algo assim, é ilegal!"

"Pffft." Remus bufou, a boca cheia de purê de batata, "Como se Snivellus


ligasse para isso! Ele está tentando se vingar de mim desde que eu acabei com
ele no trem."

"Você o que?!" Lily olhou para ele,


"É," Remus engoliu em seco, "Dei uma cabeçada nele, foi ótimo." Ele sabia
que definitivamente havia algo errado agora, mas não conseguia evitar. A
verdade simplesmente saiu dele.

"Hum certo," Sirius se levantou, "Para de falar, Moony, antes de dizer algo que
você vai se arrepender."

Essas palavras desbloquearam uma memória na mente de Remus,

"Sabe," ele sorriu, "Isso é exatamente o que Snape disse na escada outro dia ..."

"SEVERUS!" Lily gritou, no topo de sua voz. Ela se levantou e foi até a mesa
da Sonserina, com Sirius, James, Remus e Peter a reboque. "O que você fez
com Remus?!" Ela exigiu, batendo o pé com raiva no chão de pedra.

"Por que a pergunta?" Severus sorriu, cruelmente,

"Me diga agora como consertar isso!"

"Não há nada de errado com ele," Severus respondeu calmamente, "Há,


Remus?"

"Acho que não," Remus deu de ombros, "Se bem que eu continuo dizendo
coisas que não deveria, tipo ..."

"CALA A BOCA." Sirius o chutou com força na canela, distraindo Remus de


derramar todos os seus segredos em Snape. Sirius agora se virou para o garoto
Sonserino, "Seu bastardo, é veritaserum, não é?! Poção da verdade! "

"Só tem uma maneira de descobrir," o sorriso de Severus se alargou, "Qual é o


seu segredo mais profundo e sombrio, Lupin?"

Oh Deus, por onde começar? Remus pensou consigo mesmo. Ele sabia que não
deveria dizer nada. Não devo dizer nada. Ele estaria em um perigo terrível se
alguém descobrisse ..., mas ele queria, ele queria muito - ele tinha tantos
segredos, e todos eles estavam nadando para a superfície de sua mente, como
boias salva-vidas.

Eu sou um lobisomem. Estou planejando caçar e matar Fenrir Greyback.


Passei o verão inteiro roubando, bebendo e lutando. Não consigo ler direito
sem ajuda. Eu secretamente administro um comércio ilegal de cigarros
trouxas. Eu não gosto de garotas de jeito nenhum, nenhuma delas. Eu acho
que nunca vou. Ele abriu a boca,
"Bem, eu sou ---"

"SILENCIO!" Sirius gritou, de repente, apontando sua varinha para Remus,


enquanto James o derrubou no chão, tapando sua boca com a mão.

Todos na mesa da Sonserina começaram a rir enquanto James e Remus


lutavam juntos no chão, Lily observava, completamente perplexa. A boca de
Remus continuou se movendo, desesperado para compartilhar cada um de seus
segredos, até que ele estivesse completamente livre deles - mas nenhum som
escapou de seus lábios. Sirius era excelente em feitiços silenciadores.

Juntos, Peter, Sirius e James colocaram Remus de pé e o arrastaram do


refeitório, em meio a uma enxurrada de risos e zombarias dos Sonserinos.
Apenas quando eles estavam lá em cima e fechados dentro do dormitório,
Sirius retirou o feitiço, permitindo que Remus falasse. A essa altura,
felizmente, a vontade de contar tudo a todos havia passado.

"Desculpe, Remus," Sirius disse, "Mas eu tinha que fazer isso, você ia ..."

"Eu sei." Remus baixou a cabeça, sentado em sua cama, ''Snape, aquele
canalha! Quanto tempo leva para passar?"

"Depende de quanto você tomou, eu acho." James disse, folheando seu livro de
poções, "Godric, como ele fez isso?! Isso é coisa de nível NEWT, soro da
verdade!"

"Ele é o melhor do ano em Poções," Remus disse, a contragosto, "Lily disse


que ele já está fazendo as redações do sétimo ano, apenas por diversão."

"Que velho chato." Sirius bufou, juntando-se a James na busca pelo livro,
"Tente não dizer nada, Moony, ok?"

"Não consigo evitar." Remus disse, sem querer.

"Ok, certo, diz aqui que você deve estar limpo em vinte e quatro horas, então
... na hora do jantar amanhã, no máximo."

"E as aulas?!"

"A gente diz que você está doente. Você não pode arriscar, Moony! Eu
poderia matar Snape, aquele imundo, sujo, dissimulado ... "
"Não vou perder nenhuma aula por causa dele." Remus cruzou os braços,
"Deve haver um antídoto."

"Podemos ir e perguntar ao Slughorn?" James disse, finalmente.

"Sim, boa ideia, acho que ele ainda está no Salão Principal," Sirius assentiu.
Ele se virou para Remus e falou muito claro e lentamente, como se estivesse
falando com uma criança, "Remus. Fique. Aqui."

"Cai fora," Remus se virou, fazendo beicinho como um garotinho.

"Eu vou ficar com ele." Disse James. "Vocês dois vão."

Sirius não precisou de mais que isso, e logo estava descendo as escadas,
gritando de lá,

"Aguente firme, Moony! Se eu vir algum sonserino descendo, eu vou ..."

Mas eles não puderam ouvir o resto; Sirius tinha ido, e Peter com ele. Houve
um silêncio longo e constrangedor. Remus não confiava em si mesmo para
falar. Finalmente, James o fez.

"Desculpa por ter sido um idiota, ultimamente."

Remus ficou surpreso e balançou a cabeça ferozmente,

"Você não foi! Eu só queria poder provar a você que eu ... espere! Me
pergunte!"

"Ahn?"

"Pode me perguntar agora, enquanto estou sob o soro da verdade; pergunte o


que sinto por Lily. Você saberá que é a verdade."

"Remus, eu não quero," James franziu a testa. Isso não combinava com sua
ideia de bom espírito esportivo.

"Pode ir," Remus encorajou, "Eu realmente não me importo - é entre eu e você,
certo?" Ele se levantou e agarrou James pelos ombros, encontrando seus olhos
com confiança, "Me pergunte."

"Er ... ok então. Remus, você gosta de Lily Evans? "


"Não. Absolutamente não." Remus nem mesmo piscou.

"Ok, bom ... E a Marlene?"

"Não. Nunca, nunca irei. Elas são minhas amigas, como vocês."

James olhou para ele muito intensamente, então seu rosto se abriu em um
sorriso genuíno. Ele deu um tapa nas costas de Remus.

"Obrigado, Moony, você é um amigo de verdade."

Remus riu,

"Sempre que você precisar."

***

Felizmente para Remus, Slughorn foi capaz de fornecer um antídoto quase


imediatamente - embora o código de honra dos marotos os tenha impedido de
dizer quem havia colocado a poção na bebida de Remus em primeiro lugar.

"É melhor assim," Remus assegurou-lhes, "Ele vai ficar muito nervoso se ele
não entrar em apuros imediatamente - vai ficar se perguntando como vamos
nós vingar."

"Como é que vamos nos vingar?" Sirius perguntou, ansioso, durante o café da
manhã no jogo Sonserina x Grifinória, "Ele quase te dedurou, Moony, a gente
tem que ensinar uma lição a ele!"

"Deixe que eu penso nisso." Remus respondeu. "Apenas derrote a Sonserina no


quadribol por mim, em primeiro lugar."

"Fácil," Sirius deu uma piscadela. Remus sorriu em retorno. Era difícil não
sorrir para Sirius quando ele estava de tão bom humor - resplandecente em
suas vestes de quadribol douradas e vermelhas, cabelo puxado para fora do
rosto, olhos afiados e cheios de determinação. Era a melhor versão de Sirius, e
o coração de Remus bateu forte com orgulho e adrenalina.

A tensão era palpável nas arquibancadas de quadribol antes mesmo que os


jogadores aparecessem em campo. Dois quartos do estádio estavam cobertos
de vermelho, zombando e vaiando da seção verde. O Quadribol havia se
tornado uma forma dos alunos de Hogwarts mostrarem suas verdadeiras
emoções sobre a guerra - e era extremamente feio.
"As tensões estão altas na semifinal deste ano", a comentarista, Tracey Darcy,
falou por meio de seu megafone mágico, "Esta partida irá, é claro, determinar
qual time vai para a final contra a Corvinal, e pela aparência dos jogadores, vai
ser acirrado ... Na Grifinória temos Potter, é claro, uma lenda por si só, com
mais de duzentos gols já em seu currículo ... Marlene McKinnon, uma batedora
formidável - e deveria ser, seu irmão Danny McKinnon, é claro, joga
profissionalmente pelos Chudley Cannons ... e há Sirius Black, o segundo
batedor da Grifinória, em seu segundo jogo do ano ... Black já se mostrou tão
competente quanto McKinnon, e tenho certeza que todas as senhoritas
concordarão, ele não fica nada mal em seu uniforme ... "

"Aham." A tosse de desaprovação de McGonagall podia ser ouvida no


megafone. Remus percebeu que quase todas as garotas na multidão estavam
rindo ou gritando o nome de Sirius.

"Desculpe, professora ..." Tracey continuou, "... e aí vem a Sonserina," (vaias


ensurdecedoras da multidão com a apresentação), "Eles têm seu próprio Black
no time, é claro, o irmão mais novo de Sirius, Regulus - apanhador ... e
Mulciber, como batedor nesse semestre ..."

As vaias ficaram tão altas agora que Remus mal conseguia ouvir Darcy por
causa do barulho. Peter não estava ajudando e não parava de pular na cadeira.
Remus se manteu sentado o máximo que pôde - seu quadril estava causando
dores de novo, e ele não queria piorar a situação. 'Limpy Lupin' era pior do que
'Loony Lupin', de alguma forma.

Finalmente o jogo começou e as duas equipes se lançaram para o ar com uma


força incrível. Se a multidão fora má, os jogadores foram ainda piores - com o
peso de suas casas nos ombros, parecia uma questão de vida ou morte. Remus
nunca tinha visto James jogar tão ferozmente; disparando para cima e para
baixo no campo como uma bala vermelha, pegando e jogando a goles mais
rápido do que o goleiro da Sonserina conseguia acompanhar.

Sirius e Marlene eram igualmente temíveis, ambos trabalhando como uma


equipe muito mais do que da última vez, comunicando-se claramente e dando
cobertura a seus companheiros de equipe. E eles realmente precisavam -
Sonserina estava jogando sujo. Duas vezes Sirius teve que se defender de um
balaço que havia 'acidentalmente' voado direto para o caminho de James,
enquanto Marlene se tornava a sombra do apanhador da Grifinória,
protegendo-o de alguns quase-acidentes muito desagradáveis.

Remus estava tão ocupado observando seus três amigos - estremecendo


quando eles chegaram perto do perigo; aplaudindo suas vitórias - que ele havia
esquecido completamente o objetivo do jogo. Assim como todo mundo pelo
que parecia, exceto Regulus Black, que voava bem acima do campo e pelos
arredores, exibindo aquela infame astúcia sonserina enquanto procurava o
pomo.

Ninguém estava prestando atenção enquanto Regulus Black, o menor membro


do time da Sonserina, avistou a pequena bola dourada e começou a voar em
direção a ela de sua incrível altura. Ninguém estava vendo Regulus Black,
porque todos eles estavam vendo Sirius balançar seu bastão em direção a um
balaço que o teria derrubado facilmente de sua vassoura. Ele rebateu com tanta
força que foi direto para o rosto de Mulciber. Mulciber, embora estúpido, não
foi lento e mergulhou imediatamente, esquivando-se do caminho – na mesma
hora que Regulus passou atrás dele.

Agora Remus o viu - agora todo mundo viu, os gritos se elevaram quando o
balaço acertou a cabeça de Regulus e o derrubou de sua vassoura.

Eles assistiram com tal horror que todos os preconceitos da casa foram
esquecidos, enquanto o corpo inerte de Regulus Black despencava no chão.
67. Quarto Ano
Fevereiro (Parte 2)

Remus quase perdeu o que aconteceu, porque todos na multidão imediatamente


se levantaram, atropelando-se para ver o desastre se desenrolar - felizmente,
quando Remus se levantou, percebeu que era bem mais alto que a maioria ao
seu redor.

Sirius tentou - ninguém poderia negar isso. No momento em que viu o balaço
acertar Regulus, ele se abaixou na vassoura e disparou para frente como se o
diabo estivesse em seus calcanhares, mais rápido do que Remus jamais vira
alguém - até mesmo James - voar. Na verdade, Sirius ganhou tamanha
velocidade, e em um ângulo vertical tão assustador, que Remus teve certeza de
que iria cair no chão também, e seu estômago embrulhou de medo. Sirius
chegou tarde demais, mas Madame Hooch não.

Ela ficou na grama, com a varinha erguida, e conseguiu desacelerar a descida


de Regulus, de modo que seu corpo parecia estar caindo na água, não no ar. No
momento em que Sirius atingiu o chão, largando sua vassoura e se lançando
em direção a seu irmão, Regulus estava deitado tão pacificamente que poderia
estar dormindo.

Sirius estava de joelhos, o resto do time estava pousando ao redor dele,


McGonagall gritava algo no megafone e uma multidão rapidamente cercou os
dois irmãos Black, para que ninguém pudesse ver nada. Remus começou a
mancar descendo os degraus de madeira tão rápido quanto seu quadril
vacilante permitia. Peter correu atrás dele,

"Onde você vai?" Ele ofegou,

"Sirius." Foi tudo o que Remus conseguiu pensar em dizer.

Mas assim que alcançaram o nível do solo, não puderam entrar em campo; os
chefes das casas estavam conduzindo os alunos de volta ao castelo e não os
deixavam passar.

"Eles devem ter levado Regulus para a ala hospitalar," Peter disse, "Talvez
Sirius esteja nos vestiários?"
"Não," Remus balançou a cabeça, "Não, ele gostaria de ir com Reg ... ele
provavelmente pensa que é tudo culpa dele."

"Bem," Peter olhou para ele, "Ele acertou o balaço, não foi?"

Remus cerrou os punhos e lutou contra a vontade de bater em Peter.

"Vou para a ala hospitalar, então." Ele se virou e começou a caminhar


desajeitadamente em direção ao castelo, tentando ficar à frente de todos os
outros.

"E quanto a James?" Peter teve que correr para acompanhar.

"Ele estará lá também." Remus respondeu.

E é claro que ele estava. Quando Peter e Remus chegaram do lado de fora da
ala hospitalar, tendo lutado para abrir caminho através da multidão de alunos
fofoqueiros, eles encontraram James sentado no chão do lado de fora, os
cotovelos apoiados nos joelhos, olhando para o nada. Ele ainda estava com
suas vestes de quadribol, suas bochechas ainda estavam coradas de voar e seu
cabelo estava uma bagunça.

"Ele está bem?!" Remus perguntou imediatamente – e não tinha certeza a quem
estava se referindo.

"Sim, acho que sim," James olhou para eles com uma surpresa atordoada, "Mas
ele tá apagado. Pomfrey não me deixa entrar."

"Sirius?"

"Sim, ele está lá. Achei melhor esperar ... Slughorn está contatando os pais
deles, então..." Ele encolheu os ombros. "Achei melhor eu estar aqui."

"Estamos todos aqui." Remus disse, com firmeza, sentando-se ao lado de


James com alguma dificuldade. Seu quadril estava realmente dolorido agora; a
dor descia da pélvis até o tornozelo. Peter finalmente se agachou também e
eles esperaram.

"Você viu o que aconteceu?" James perguntou, finalmente. "Eu estava do outro
lado do campo, não ..."

"Um balaço," Remus disse, "Mulciber acertou um direto em Sirius, deve ter
sido uma falta. Sirius bateu de volta nele, mas Mulciber saiu do caminho, e
Regulus estava bem atrás dele. Sirius não poderia ter visto ele, foi um acidente.
Foi ... foi horrível."

"Merda." Disse James.

Eles ficaram em silêncio por mais um tempo. Estava começando a escurecer e


as velas nas arandelas ao longo da parede oposta começaram a se acender.
Remus se perguntou o que James e Peter estavam pensando. Eles estavam mais
preocupados com Sirius do que Regulus, como ele estava? Ele se sentiu um
pouco culpado - mas Madame Pomfrey cuidava dele desde que tinha onze
anos, e ele não achava que um balaço na cabeça estava além de suas
habilidades. O que mais o preocupava era o estado em que Sirius estaria. Ele
havia lançado feitiços em Regulus uma centena de vezes, mas nunca, jamais,
machucou seu irmão mais novo intencionalmente. Isso também não tinha sido
intencional, mas Remus sabia que, no fundo, Sirius não veria dessa forma.

Eles foram perturbados de seus pensamentos pelo barulho rápido de saltos alto
batendo no chão de pedra, e a voz preocupada da Professora McGonagall
virando a esquina,

"Por favor, Walburga, ele não poderia estar em mãos mais seguras que com
Madame Pomfrey - é realmente melhor que ele não seja movido -"

"Acho que eu vou tomar as decisões aqui, Minerva." Aquela voz baixa e fria
respondeu.

James e Peter pularam, nervosos, e James se abaixou para ajudar Remus a se


levantar. Nenhum deles tinha visto a mãe de Sirius desde aquele terrível Natal,
dois anos atrás, e o terror que sentiam dela ainda era recente. McGonagall e a
Sra. Black vieram marchando na esquina; Walburga com sua grossa capa de
viagem preta e botas de salto alto. Ela tinha aquele mesmo olhar de
superioridade cruel de que Remus se lembrava, mas sua testa estava enrugada
também, e seu cabelo não estava tão arrumado como de costume.

Ela estava acompanhada por um pequeno bruxo idoso com uma longa barba,
carregando uma pesada maleta de pele de dragão. Walburga olhou para os três
meninos esperando do lado de fora da ala hospitalar e Remus prendeu a
respiração - mas ela não pareceu pensar que valia a pena, e passou,
empurrando as portas de madeira com as duas mãos e marchando para dentro.

Remus, James e Peter espiaram do corredor para ver a cena se desenrolar.


McGonagall e o bruxo barbudo correram atrás da Sra. Black.
Regulus estava deitado em uma cama e, pelo que eles podiam ver, ainda estava
inconsciente - ou talvez apenas dormindo. Com os olhos fechados e à
distância, ele se parecia muito com Sirius, o que fez o estômago de Remus
revirar novamente. Mas Sirius estava sentado ao lado dele, bem acordado em
suas vestes vermelhas da Grifinória, um pé apoiado em um banquinho. Ele
parecia muito pálido e muito menor do que o normal; seus olhos estavam
vermelhos. Ele pareceu se encolher ainda mais quando sua mãe se aproximou,
movendo-se rapidamente sobre seus filhos como um terrível morcego vampiro.

Madame Pomfrey interveio a tempo,

"Ele está bem, foi apenas uma batida forte", disse ela, de modo tranquilizador,
"eu já lhe dei uma poção curativa e consertei as fraturas."

"Fraturas?" Walburga disse, bruscamente. Ela parou ao pé da cama de Regulus,


olhando para ele. Ela não tentou alcançá-lo, ou Sirius, mas ficou parada como
uma estátua.

"Bem menores, e completamente curadas agora." Madame Pomfrey disse, "Ele


estará de pé amanhã de manhã. Agora, Sirius tem -"

"Este é o nosso médico de família", Walburga interrompeu, estendendo a mão


para apresentar o velho enrugado ao lado dela. "Ele estará assumindo os
cuidados do meu filho. Vou levá-lo para casa assim que for examinado
minuciosamente."

"Estou lhe dizendo, tudo o que poderia ser feito já foi feito." Madame Pomfrey
disse, parecendo bastante zangada agora.

Walburga olhou para ela imperiosamente,

"Dentro de sua competência, tenho certeza. Mas ele é meu filho e eu cuidarei
dele como achar melhor."

Madame Pomfrey ficou com o rosto vermelho e parecia estar sem palavras,
então McGonagall teve que se inclinar e sussurrar algo em seu ouvido para
acalmá-la. O velho mago barbudo colocou sua maleta na mesa de cabeceira e a
abriu, antes de se curvar silenciosamente sobre Regulus.

Enquanto isso, Walburga voltou sua atenção para seu filho mais velho. Ela não
se moveu do final da cama, mas seu olhar feroz foi o suficiente para segurar
Sirius no lugar.
"Você." Ela disse. "E o que você está fazendo aqui?"

Sirius disse algo, mas saiu pouco mais que um sussurro. Walburga franziu a
testa,

"O que?" Ela gritou: "Fale alto, garoto!"

"Ele é meu irmão." Sirius disse, mais alto agora, embora sua voz estivesse
rouca e ligeiramente falha. A Sra. Black estalou a língua.

"Pelo amor de Deus, você andou chorando?! Tente mostrar pelo menos um
pouco de decoro. Toujours Pur, Sirius! Tente se lembrar de seu dever."

Sirius não respondeu, mas abaixou a cabeça, o cabelo caindo na frente de seu
rosto. Remus esperava que ele não ter começasse a chorar de novo. Walburga
continuou, "Você pode ir, Sirius. Seu pai e eu lhe veremos junho."

Com isso, ela se voltou para Regulus e ignorou Sirius novamente. James
começou a avançar, incapaz de assistir por mais tempo, mas Remus se conteve
junto a Peter. Não parecia seu lugar, de alguma forma; ele não tinha o direito.
E embora Remus desejasse mais do que qualquer coisa saber o que fazer,
James sempre foi muito melhor com Sirius.

McGonagall aparentemente viu James e agiu rapidamente, colocando a mão no


ombro de Sirius e gentilmente o guiando para fora de sua cadeira e em direção
à porta. Ele estava mancando um pouco. Madame Pomfrey juntou-se a eles no
meio do caminho e entregou a Sirius um frasco também.

"Vá direto para a cama e beba cada gota, está me ouvindo? A dor
provavelmente já terá passado, mas vai ser desconfortável esta noite. "

Sirius acenou com a cabeça, cansado, sem falar. James deu um tapinha em seu
ombro e o apertou, então acenou com a cabeça para McGonagall. Ela parecia
querer muito dizer algo, mas segurou a língua, apenas olhando para Regulus e
a Sra. Black. Ela ficaria de olho na situação, Remus tinha certeza. Ela deixaria
Sirius saber se algo acontecesse.

Os quatro marotos caminharam a maior parte do caminho para a torre da


Grifinória juntos em um silêncio mortal até que chegaram a uma escada dupla,
e Peter de repente disse:

"Nós perdemos o jantar."


James e Remus olharam para ele, e de repente o menor parecia muito
magoado. "O que eu quis dizer", ele guinchou com raiva, "foi que vou descer
até a cozinha agora e pegar algo para nós. Se estiver tudo bem para vocês
dois?!"

"Boa, Pete." James disse, se desculpando.

Remus apenas abaixou a cabeça, desviando o olhar. Peter deu meia-volta e


desceu as escadas, enquanto os outros três continuaram subindo. Foi um
progresso lento, considerando que dois deles mancavam acentuadamente.

"Que bela cena devemos estar." Sirius murmurou, sem humor, enquanto eles
pararam em uma das escadas para respirar.

"O que há de errado com você, afinal?" Remus finalmente perguntou,


esfregando seu quadril dolorido.

"Quebrei meu tornozelo," Sirius disse, "Cai com força demais."

James estremeceu. Sirius encolheu os ombros, "Não consigo sentir, só tá meio


vacilante."

Quando eles finalmente chegaram ao quarto, Sirius se trancou dentro do


banheiro para tomar banho e se trocar. Peter reapareceu brevemente, carregado
de sanduíches, frutas, chocolate, bolos e tudo o mais que pudesse carregar.

"Um monte de garotas lá embaixo quer ver Sirius," ele bufou, jogando tudo em
sua cama, "Há uma gangue de segundos anos fazendo cartões de melhoras –
mandei elas caírem fora."

"Obrigado, Pete", disse James, "você é um bom amigo."

Peter sorriu, finalmente. Ele acenou com a cabeça para a porta fechada do
banheiro.

"Ele está bem?"

"Ele vai ficar." James suspirou, tirando suas vestes de quadribol, deixando-as
em uma pilha no chão. Apenas com sua regata e cueca, ele pegou um
sanduíche de frango da cama de Peter e o mordeu faminto. Remus e Peter
interpretaram isso como permissão e seguiram o exemplo.
Sirius ficou no banheiro por um longo tempo, e eles acharam melhor deixá-lo
sozinho. James trocou de roupa e começou a arrumar a cama eternamente
bagunçada de Sirius. Remus ajudou, recolhendo os livros espalhados e as
redações pela metade. Ele iria terminá-las, Remus decidiu, ele faria todo o
dever de casa de Sirius durante a semana inteira, se isso ajudasse alguma coisa.

"Eu odeio a porra da família dele." James disse, de repente, enquanto sacudia
um dos travesseiros de Sirius.

"A mãe dele é ainda pior do que a minha," Peter fungou. Remus começou a
examinar as anotações de Sirius, alisando os pergaminhos e tentando entender
o que era para quando.

A porta do banheiro clicou e Sirius apareceu de pijama, o cabelo molhado e


penteado para trás.

"Você está com fome, cara?" Peter perguntou, nervoso, oferecendo um prato
de sanduíches. Sirius balançou a cabeça e caminhou em direção a sua cama.

"Só vou dormir." Ele murmurou, puxando as cortinas.

"Sirius!" Remus explodiu, antes dele desaparecer completamente de vista.


Sirius parou, olhando para ele pela abertura da cortina. Remus mordeu o lábio,
"Não foi sua culpa." Ele disse. "Eu estava vendo; foi um acidente. Vocês dois
estavam focados no jogo, só isso."

Sirius olhou para ele, seu rosto suave após o banho, seus olhos cansados e
sombrios. Ele sorriu gentilmente e encolheu os ombros.

"Ainda sim, fui eu que fiz." Então fechou bem as cortinas.

***

O jogo de quadribol foi declarado incompleto, e os dois times concordaram em


uma nova partida assim que os Sonserinos encontrassem outro apanhador. Na
manhã seguinte, no café da manhã, o capitão da Sonserina recebeu um
berrador de Walburga Black, acusando-o de colocar seu filho em perigo.
Regulus não estava presente, e rumores corriam soltos, mas McGonagall disse
em particular a Sirius que tudo estava bem - a Sra. Black simplesmente
desejava manter Regulus em casa por mais uma semana como precaução.

Sirius continuou com seu dia, mas a luz nele havia diminuído. Ele não azarou
ninguém, fez piadas, ou mesmo falou fora de hora em suas aulas. Ele
simplesmente empurrava seus dias, como se estivesse sonâmbulo. Remus
estava começando a se perguntar se ainda era o choque do acidente ou a
ansiedade de ter que enfrentar sua mãe dentro de Hogwarts.

Aquela noite era lua cheia, então Remus seria de pouca ajuda a Sirius. Na
verdade, ele estava um pouco feliz por ter uma desculpa para sair do
dormitório, que havia se tornado um lugar sombrio e silencioso enquanto
Sirius estava naquele humor. Remus não foi o único - Peter continuava
escapulindo para visitar Desdêmona.

Talvez fosse todo o silêncio, todas as coisas não ditas e a tensão não resolvida,
mas a lua de fevereiro fora ruim. Remus acordou com a garganta em carne viva
de tanto uivar, farpas de madeira sob as unhas e hematomas por toda parte.

Ultimamente, ele notou que quanto mais velho ficava, mais era capaz de se
lembrar depois das transformações. Ainda não estava totalmente claro; era
como lembrar de um sonho; imagens e sentimentos entrando e saindo de vista,
mas desta vez Remus pensou que talvez o lobo quisesse algo - talvez quisesse
sair mais do que o normal.

Ele estava deitado na cama do hospital tentando se lembrar, febril e com dor de
cabeça, muito desconfortável para dormir, os lençóis enrolados em seus
tornozelos como algemas.

"Bom dia, Moony," Uma voz suave e triste falou com ele. Ele teve que
esfregar os olhos e piscar algumas vezes antes mesmo de perceber que era
Sirius.

"Bo-bom dia," ele balbuciou, grogue de qualquer analgésico que tinha tomado.
Que sempre fazia seu sotaque escorregar, o que ele odiava. "Que 'cê tá
fazendo'qui?"

Sirius sentou na ponta da cama e esticou o pé,

"Vim checar meu tornozelo. Está tudo bem agora."

"Ah, que bom." Remus assentiu, tentando se sentar e falhando miseravelmente.

"Como foi?" Sirius perguntou, gesticulando amplamente para o corpo de


Remus.

"Bem," Remus respondeu, "Normal. James tá aqui também? "


"Nah," Sirius olhou para seus sapatos, "estou dando a ele uma folga de mim."

"Eu não acho que ele se importa ..."

"Mas eu sim."

Remus concordou. Ele também não gostava de incomodar os outros também.

"Moony?"

"Sim?"

"Sabe como você disse que não foi minha culpa?"

"Não foi sua culpa." Remus disse, com firmeza. Com um pouco de firmeza
demais, ele sentiu os músculos da garganta se tensionarem e se contraírem e
começou a tossir. Sirius pulou da cama e pegou o copo d'água da mesinha de
cabeceira, entregando-o a Remus. Remus engoliu, envergonhado, derramando
um pouco.

"Eu não atingi ele de propósito, você tem razão," Sirius disse, olhando pela
janela sobre a cabeça de Remus, semicerrando os olhos levemente como se
estivesse procurando por algo lá fora. "Mas ... quando o vi cair daquele jeito,
pensei ... pensei - não o deixe morrer."

"Bem, é claro," Remus franziu a testa. Ele gostaria que Sirius encontrasse seus
olhos. "Ele é seu irmão, é claro que você não queria que ele ..."

"Mas eu não estava pensando nele." Sirius disse, "Eu estava pensando em mim.
Eu estava pensando ... se ele morrer, eu serei o único que resta, e meus pais ...
eu não teria nenhuma saída. Eu preciso de Regulus para permanecer vivo. Eu
preciso que ele seja o filho perfeito, então não vai importar se eu for o pior
filho. Era isso o que eu estava pensando. Eu sou um covarde."

Remus não sabia o que dizer, mas ele tinha que dizer algo.

"Você ainda teria ficado triste se ele morresse, porém. E não só por causa
disso."

"Sim, mas meu primeiro pensamento -"

"As pessoas não pensam direito quando estão com medo. Acredite em mim."
Remus disse, esperando que soasse autoritário. "Eu vi você, você arriscou sua
vida para tentar salvar ele - isso não é covardia. Você quebrou seu tornozelo
estúpido como o grifinório teimoso e idiota que você é. "

Sirius exalou, uma risadinha tensa. Ele olhou para seus pés novamente, então
para Remus. Remus sorriu para ele, encorajando-o, embora sua mandíbula
doesse.

"Reg vai ficar bem?"

"Sim, tá tudo bem. Ele me mandou uma coruja esta manhã - sendo servido
tudo na cama, pelo que parece. Minha mãe também tentou me expulsar do
time, mas ele a impediu.

"Aí está, então." Remus sorriu, "Você ainda é o pior filho."

Sirius riu.
68. Quarto Ano
Março

Didn't know what time it was


the lights were low-oh-oh
I leaned back on my radio-oh-oh
Some cat was laying down some rock n roll, lotta soul he said
Then the loud sound did seem to fade (ah ade),
Came back like a slow voice on a wave of phase (ah aze);
That weren't no DJ, that was hazy cosmic jive...

-'Starman', David Bowie

Sábado, 8 de março de 1975

Considerando os eventos do semestre da primavera, Remus não esperava


muitas comemorações em seu décimo quinto aniversário, que se aproximava.
Claro, os marotos ficaram tão satisfeitos como nunca em provar que ele estava
errado.

Como de costume, tudo foi planejado com extremo sigilo, e Remus ficou
completamente de fora até o último momento. Era sábado antes de seu
aniversário, e ele estava descansando em sua cama lendo, com um dos discos
de Sirius tocando baixo ao fundo. Ele tinha o costume de pegar emprestado o
toca-discos e deixa-lo em sua cama ultimamente - Sirius nunca parecia se
importar.

Era apenas cerca de nove horas, mas ele estava sozinho e pensando em dormir
cedo. Assim que ele decidiu colocar o pijama, Sirius irrompeu no quarto com
um sorriso malicioso no rosto que só poderia significar uma coisa - seria uma
longa noite.

"Pronto?!" Ele disse, saltando pelo chão, trazendo o cheiro de lenha da lareira
da sala comunal.

"Para quê?" Remus perguntou calmamente, marcando a página e colocando


seu livro de lado.
"Para sua surpresa de aniversário, obviamente," Sirius suspirou, como se
Remus estivesse sendo muito lento. "Vamos, levanta, sapatos, por favor - use
aquelas botas trouxas malucas que você tem, com os cadarços malucos."

"Er ... para onde estamos indo?"

"Para fora." Sirius começou a vasculhar seu baú. Ele retirou uma calça jeans
trouxa e uma camiseta preta lisa.

"Ah, você quer dizer para fora, fora?" Remus ergueu uma sobrancelha quando
Sirius começou a se despir.

"Sim, pegue sua capa."

Sirius ficava bem em roupas trouxas, Remus pensou consigo mesmo.


Realmente, a maioria das pessoas ficava bem melhor em uma camiseta e jeans
do que no uniforme escolar ou em robes do século dezessete - mas Sirius
ficava bem em tudo. Remus não fez mais perguntas enquanto amarrava suas
botas. Estava claro que Sirius estava gostando da surpresa, e ele não via motivo
para estragá-la.

Remus foi conduzido escada abaixo, sentindo-se muito estranho em jeans e


uma capa de viagem, mas ainda sem reclamar - Sirius provavelmente estava
pensando que eles pareciam o auge da moda trouxa. Na sala comunal, eles
foram recebidos por James e Peter, também sorrindo cheios de travessura.

"Você sabe que meu aniversário ainda é daqui a dois dias." Remus disse, um
pequeno sorriso dele brincando em seus lábios.

"Os eventos desta noite são insensíveis ao tempo." Sirius respondeu,


rapidamente. Ele estava tentando manter um ar indiferente de mistério, mas
estava claramente quase explodindo para contar tudo a Remus.

"E não se preocupe", disse James, os olhos brilhando enquanto segurava a


porta do retrato para sair da sala comunal; "Não vamos esquecer de cantar
parabéns na segunda-feira no café da manhã."

"E o almoço", acrescentou Peter,

"E o jantar." Sirius terminou, agora eles estavam descendo as escadas da Torre
da Grifinória.
"Aqui vamos nós, rapazes." James disse, jogando a pesada capa de
invisibilidade sobre os quatro. Contanto que todos eles ficassem muito
próximos, e Remus encurvado, eles quase cabiam. Mas a capa não aguentaria
outro estirão de crescimento de qualquer um deles.

Felizmente, eles não tiveram que andar muito - como Remus esperava, eles se
dirigiram para a estátua da bruxa corcunda e deslizaram atrás dela, para dentro
do túnel que levava à Dedos de mel.

"Então, quinze anos!" Sirius disse alegremente enquanto eles caminhavam,


batendo no ombro de Remus de uma maneira que ele deve ter considerado
muito viril. "Animado?"

Remus deu de ombros,

"Eu realmente nunca pensei a respeito. Você me diz, você é o mais velho."

"Bem, obviamente sou muito mais sábio e maduro do que o resto de vocês ..."

James bufou, caminhando à frente com sua varinha acesa. Sirius o ignorou,
"Eu preferiria ter dezessete anos. Então poderíamos aparatar, pelo menos. "

"Ah, não comece," Peter bufou, ficando atrás, "Ele realmente queria tentar
aprender a aparatar, Remus, apenas para o seu aniversário, para que
pudéssemos entrar em Hogsmeade mais facilmente."

"Não se pode aparatar dentro de Hogwarts." Disse Remus.

"Dez pontos para Moony." Sirius sorriu, "Nós poderíamos ter aparatado para
fora do porão, no entanto. Nos poupar de tentar passar pela velha Dedos de
mel."

"Aparatar é muito difícil, não é?" Perguntou Remus. Ele secretamente não
tinha certeza se seria capaz de fazer isso - até mesmo pegar carona com o Sr.
Potter aquela vez havia sido exaustivo e o deixara enjoado.

"Sim, mas nós seriamos capaz de fazer." Sirius respondeu, confiante.

"Seria pouca coisa comparado a tudo que tivemos que fazer neste semestre,",
disse Peter.

Sirius deu ao menino menor um olhar muito irritado, e o queixo de Peter caiu,
como se ele tivesse dito algo muito errado.
"Você quer dizer com os exames chegando?" Remus perguntou,
inocentemente, para salvar Peter. Ele estava surpreso que Pettigrew tivesse
conseguido ficar quieto por tanto tempo - embora não fosse como se James e
Sirius fossem tão discretos quanto pensavam que eram.

"Sim, exatamente." Peter parecia aliviado, "Exames. Definitivamente vou


reprovar em História da Magia este ano. Definitivamente. Eu nunca vou
conseguir um NOMs nisso."

Eles conversaram sobre os NOMs do próximo ano um pouco mais, lamentando


seu próprio despreparo neste ou naquele assunto - embora Remus estivesse
realmente ansioso por eles, especialmente os exames práticos. Finalmente, eles
alcançaram o porão da Dedos de mel. E foi aí que o plano desmoronou.

"Droga." James disse, enquanto tentava abrir a porta trancada. "O velho
geralmente ainda está fazendo as contas ou algo assim. Deve ter ido para a
cama cedo."

"Ou ele pode estar fora," Remus sugeriu. "É uma noite de sábado."

"O que nós vamos fazer??" Peter perguntou: "Alohomora? Ah, mas não
podemos fazer mágica ..."

"Deixa eu ver," Remus deu um passo à frente, remexendo em seu bolso de trás
o grampo que ele usava desde o verão. "Fácil", disse ele, inspecionando a
fechadura. Ele se abaixou e inseriu o grampo, acariciando-o lentamente para
cima e ouvindo com atenção. O clique satisfatório lhe disse que tinha
funcionado e ele deu um passo para trás, abrindo a porta com um floreio. "Ta-
da!"

"Seu lindo!" James aplaudiu: "Vamos, vamos!"

Uma vez dentro da loja, foi ainda mais fácil, pois a fechadura funcionava por
dentro. Então, de repente, eles estavam lá fora, na rua principal de Hogsmeade,
no ar frio da noite. Era deliciosamente emocionante estar em um lugar onde
eles não deveriam - Remus nem se importava se eles fossem pegos ou não. Ele
seguiu Sirius e James pela rua de paralelepípedos, passando pelo Três
Vassouras, as lojas fechadas e os correios.

Os dois garotos animados pararam abruptamente em frente a outro pub; um


Remus não tinha estado nesse antes. A placa pendurada acima da entrada
dizia The Hogs Head, com uma imagem apropriadamente sangrenta embaixo.
Havia um quadro negro na calçada do lado de fora que dizia: Música ao vivo
hoje à noite! Microfone aberto, atos de tributo aos trouxas!

"Ah meu Deus!!" Remus exclamou - essa era absolutamente a última coisa que
ele esperava. Agora ele sabia por que Sirius estava sorrindo tão abertamente
que suas bochechas deviam estar doendo.

"O que você acha??" O garoto moreno perguntou, ansioso.

"Sirius nos prometeu que você amaria," James disse, parecendo menos seguro.
Remus apenas olhou para o quadro-negro, depois para Sirius,

"Eu amei." Ele confirmou.

Lá dentro, não estava nem muito movimentado nem muito silencioso, e parecia
que a primeira apresentação estava apenas começando. Não era tão arrumado
quanto o Três Vassouras; o chão era de feno ao invés de um tapete, e cheirava
levemente a um curral, mas Remus podia ver que eles definitivamente não
iriam esbarrar em ninguém que conhecessem - e ninguém iria jogá-los de volta
na escola.

"Vou pegar a primeira rodada," disse Sirius, alegre, a travessura ainda


brilhando em seus olhos.

"Sirius ..." James disse, severamente, "Cervejas amanteigadas, certo?"

"Mmm..."

"Então," Remus disse, enquanto eles se acomodavam em torno de uma mesa


pequena e frágil que estava perto o suficiente da banda, mas também em um
canto escuro, apenas por precaução, "Atos de tributo trouxa? Isso é uma coisa
normal para os bruxos ouvirem?"

"Nah," James balançou a cabeça, parecendo tão perplexo quanto. "Tem havido
uma tendência a isso ultimamente. Desafiar o Lorde das Trevas e toda sua
merda de sangue puro, esse tipo de coisa. "

"Eles vão tocar David Bowie?" Peter perguntou. O pobre Peter teve a
impressão de que a música trouxa começava e terminava com David Bowie,
graças a Sirius e Remus.

A banda se anunciou como Banshee Blues assim que Sirius voltou com uma
bandeja de bebidas. Cerca de quinze delas.
"Sirius!" James ergueu as sobrancelhas,

"O que?!" Sirius piscou para ele, "Eu trouxe sua cerveja amanteigada!"

"Eu quis dizer apenas cerveja amanteigada, para todos nós. Como é que você
foi servido? Isso é Whisky de fogo?"

"E hidromel." Sirius concordou. "Não beba se você não quiser. Aqui," ele
pegou um copo com cerca de cinco centímetros de um líquido de cor marrom
dourado nele, erguendo-o, " Para nosso amado Moony - inventor do mapa dos
marotos, arquiteto de nossas maiores pegadinhas, fazedor do nosso dever de
casa atrasado ... "

"Para Moony," os outros dois sorriram. Remus olhou para a banda,


envergonhado demais para responder.

Ele nunca tinha visto música ao vivo antes, muito menos música ao vivo
executada por bruxos. Suas roupas eram previsivelmente estranhas - uma
mistura de robes tradicionais e vestimentas trouxas variadas - o vocalista usava
um chapéu de caubói branco, por algum motivo, combinado com um boá de
penas rosa. Os instrumentos pareciam trouxas o suficiente, mas não tinham
amplificadores - aparentemente a magia cuidava do volume.

Eles tocaram algumas músicas dos Beatles, depois alguns Rolling Stones e
Remus achou que eram muito bons. Até mesmo James estava batendo o pé no
final, embora isso pudesse ser devido ao fato de Sirius ter colocado um pouco
de Whisky de fogo em sua cerveja amanteigada. Whisky de fogo era muito
ruim, Remus pensou, mas não era pior do que a vodka barata que bebeu no
verão passado. Ele orgulhosamente engoliu seu primeiro copo de uma vez, sem
estremecer, e Sirius olhou para ele com admiração.

Peter insistiu no hidromel e continuou perguntando: "Já estou bêbado? Estou


bêbado?" após cada gole. Depois de duas canecas, ele provavelmente estava.

"Talvez devêssemos ficar só na cerveja amanteigada agora ..." Remus disse,


olhando para Peter com preocupação. Ele estava balançando ligeiramente em
seu banquinho, com as bochechas rosadas e sorrindo. As Banshee
Blues estavam guardando seus instrumentos, e uma jovem de rosto pálido com
uma franja pingando se aproximou do pedestal do microfone.

"É você, Lupin?" Um jovem bruxo se aproximou deles do bar. Remus o


reconheceu vagamente, mas não tinha certeza de onde.
"Er ... oi." Ele disse, nervoso.

"Arnold Doyle! Eu estive em Hogwarts ano passado, lembra? " Ele era alto e
magro, mas metade dos meninos da escola também. "Seus cigarros me
ajudaram a aguentar meus NIEM!"

"Oh! Certo, sim, Oi Arnold, desculpa." Ele ainda não tinha certeza se lembrava
dele, mas o uísque o fez se sentir amigável e caloroso com todos. "O que você
está fazendo aqui?"

"Minha namorada está tocando," ele acenou com a cabeça para o palco, onde a
garota de aparência suada estava afinando seu violão. "E você? Pensei que
ainda estava na escola?"

"É meu aniversário," Remus sorriu, "Saí escondido."

Arnold riu,

"Entendi. Bem, eu não vou te dedurar. Posso te pagar uma bebida? Agradecer
pelos cigarros?"

"Você é o nosso tipo de homem, Arnold," Sirius gritou, mais alto do que o
necessário em um pub tão pequeno, mas ele tinha bebido tanto quando Remus.

Arnold apenas riu e voltou para o bar. A namorada dele começou a tocar - uma
música de Bob Dylan, parecia, mas Remus não estava familiarizado com folk.
Ele ainda não conseguia se lembrar de alguma vez ter vendido algo a Arnold,
mas Arnold claramente sentia que havia uma dívida, porque ele comprou para
Remus uma garrafa inteira de Whisky de fogo e a colocou na mesa.

"Feliz Aniversário! Você já é maior de idade, não é? "

"Na verdade-" Peter começou, então parou quando Sirius o chutou com força
por baixo da mesa.

"Sim," Remus respondeu suavemente, "Valeu!"

Depois disso, as coisas ficaram um pouco trêmulas, mas ele definitivamente


decidiu que fumar era uma boa ideia - e Sirius, ansioso para não ficar para trás,
concordou.

"Essas coisas fedem, Moony." James reclamou, fazendo uma careta. "E o que
ele quis dizer com 'seus cigarros' o ajudaram nos NIEMs?"
"Ele deve ter me confundido com alguém," Remus deu de ombros. Sirius
explodiu em risadinhas histéricas.

A próxima banda, na opinião de Remus, era a melhor - eles se


chamavam Dragonhide e tocavam muito Slade, Status Quo e Black Sabbath.
Isso fez Remus querer se levantar e dançar, mas ele não estava tão bêbado
quanto Sirius ou Peter, e não tinha perdido completamente suas inibições. Ele
não pôde deixar de cantar junto no final, entretanto - como quase todo mundo
no pub estava, a essa altura. De alguma forma, parecia uma ideia tão boa subir
em sua cadeira, e balançar o copo acima da cabeça enquanto todo o pub rugia;

"So cum on feel the noize!

Girls grab ya boys!

We get wild, wild, wild!

We get wild, wild, wild!"

Sirius, é claro, achou que isso tudo era muito divertido, e depois de duas
tentativas de subir em seu próprio banquinho (rapidamente capturado por
James, que estava com melhor controle de seus sentidos), acabou com os
braços em volta de Peter e James, balançando para lá e para cá, cantando no
topo de sua voz;

"So you think we have a lazy time, well you should know better...

And I don't know whyyyyy

I just don't know whyyyyy

And you say I got a dirty mind, well I'm a mean go getter!

And I don't know whyyyy

And I don't know whyyyyyyy

Anymore! Oh no--ooooh!"

Na verdade, os marotos estavam todos tão absortos nesse clima que ainda
estavam cantando o mais alto que podiam enquanto cambaleavam de volta por
Hogsmeade para a rua principal, de braços dados, tropeçando e rindo enquanto
caminhavam. Lá fora, no ar frio, Remus se sentiu um pouco mais sóbrio e um
pouco culpado ao perceber o estado em que Sirius e Peter estavam.

Quando chegaram à Dedos de mel, já devia ter passado da meia-noite. Eles


entraram o mais silenciosamente possível e se dirigiram para o porão - James e
Remus tentando desesperadamente afastar Sirius e Peter de todos os doces em
exibição. A caminhada de volta através do túnel para Hogwarts foi bem
terrível. Peter mal conseguia manter os olhos abertos e cambaleava contra
James, reclamando que estava com dor de cabeça. Sirius saltava de parede a
parede, aparentemente se mantendo em pé apenas por seu próprio impulso para
a frente, ocasionalmente lembrando fragmentos da música.

No final do túnel, James e Remus estavam muito sóbrios, Peter mal estava
consciente e Sirius parecia preocupantemente verde.

"Merlin, como vamos levá-los de volta para a cama sem acordar todo o
castelo?!" James bufou, ainda apoiando Peter. Sirius prontamente se inclinou e
vomitou.

"Cristo," Remus agarrou seus ombros, pois estava em perigo de cair na piscina
de náuseas. Ele puxou o cabelo de Sirius para trás, rapidamente, e deu um
tapinha nas costas do amigo. "Errr..." ele olhou para James, "Por que você não
leva Peter com a capa, será mais fácil. Vou esperar um pouco mais com ele,"
ele sacudiu a cabeça para Sirius, "Aí eu convoco a capa em meia hora mais ou
menos? Mais fácil com dois, de qualquer maneira."

"Bom plano." James disse, agradecido. "Tem certeza que não quer que eu
cuide dele?"

Sirius sentou-se no chão, de repente, a cabeça entre as mãos e gemendo.

"Nah, eu já cuidei de bêbados antes," Remus sorriu. "Você vai. Valeu pelo
aniversário, James, foi brilhante pra cacete."

James sorriu para ele antes de desaparecer sob a capa da invisibilidade com
Peter ainda se agarrando a ele como se sua vida dependesse disso. Remus
suspirou e se sentou ao lado de Sirius. Ele apontou a varinha para a bagunça
oposta,

"Scourgify." E estava limpo.

Sirius gemeu de novo e apoiou a cabeça no ombro de Remus. Remus riu


baixinho, "Tudo bem aí, cara?"
"Urgh."

"É, parece que está tudo bem. Ei, não vomite em mim, ok? "

"Mmmph."

"Com sede?"

"Uhum."

Remus bebeu o resto de sua garrafa de Whisky de fogo, então tocou a varinha
na abertura,

"Aguamente!" e se encheu de água fria cristalina. Ele entregou a Sirius, "Não


beba muito rápido, ou você vai vomitar."

"Mmm." Sirius bebeu um pouco, os olhos ainda fechados. Seu rosto estava um
pouco pálido e úmido, mas ele parecia dez vezes melhor do que Remus
provavelmente estava. "Você é tão bom nas coisas, Moony." Ele balbuciou,
apoiando-se pesadamente no ombro de Remus.

"Sim," Remus grunhiu, "Arrombar fechaduras e segurar minha bebida."

"E mágico." Sirius murmurou, sonolento.

"Sim, somos bruxos, idiota."

"Eu sou bom em magia," Sirius suspirou, "Mas você, tipo ... é magia, sabe?"

"Você está bêbado e falando besteira." Remus riu. "Ei, não durma, tenho que te
levar de volta."

"Cal'oca." Sirius respondeu, cochilando.

Remus suspirou e se perguntou se alguém notaria se eles simplesmente


ficassem parados por lá.
69. Quarto Ano
Abril

Sábado, 26 de abril de 1975

"Remus Lupin, abaixe esse livro imediatamente!" A voz estridente e cansada


da Madame Pomfrey ecoou pela enfermaria. Remus largou o livro pesado,
olhando para cima, assustado.

"Você consegue ver através da tela?!" Ele falou de volta. Tinha pensado que
estava praticamente sozinho.

"Não", respondeu ela, "eu só te conheço muito bem." Ela apareceu, abrindo as
telas verdes claras de hospital. O dia estava mais claro, além deles - Pomfrey
lançou um feitiço que criava uma cápsula de escuridão ao redor da cama de
Remus. Para que ele pudesse dormir um pouco, disse ela.

Ela agarrou o livro, agora, dando a ele um olhar severo. "Eu esperava que você
estivesse descansando os olhos, não forçando-os."

"Eu consigo ver no escuro," ele encolheu os ombros. Era verdade - não
importava quanta punição seu corpo recebesse, seus olhos permaneciam
perfeitos, mais que perfeitos, até.

"Sem desculpas." Madame Pomfrey resmungou. "Agora que você está


acordado, suponho que esteja pronto para receber visitas?"

"Sim, claro!" Ele se sentou ansioso, endireitando sua camisa de noite.

"Podem entrar, então," ela chamou James, Sirius e Peter, que apareceram em
fila única atrás da tela. "Sem muito barulho e sem livros!"

"Por que você não pode ter livros?" James perguntou, inclinando-se sobre a
cabeceira da cama.

"Porque é o Moony," disse Sirius, atirando-se na pequena cama de solteiro,


bem sobre as pernas de Remus. "Ele não entende de moderação."
"Eu só quero revisar," Remus suspirou, esfregando a parte de trás de sua
cabeça, "Quer dizer, eu estou na escola, é o que eu tenho que fazer." Ele
aceitou um sapo de chocolate de Peter, que os estava distribuindo.

"Mas você não quer ter um colapso," Sirius disse, com a boca cheia de
chocolate, "Você está quilômetros à frente do resto da classe, e os exames não
são daqui um bom tempo."

"Eles são daqui duas semanas", disse James, mordiscando seu próprio pedaço
de chocolate, surpreendentemente delicado. "Acho que você deveria se
preparar mais, Black."

"Ah, me desculpe," Sirius revirou os olhos azuis dramaticamente, e deitou-se


de costas. Remus estremeceu. "Eu esqueci que você se juntou ao clube
dos nerds também."

"Uma tarde na biblioteca não me torna um nerd!" James franziu a testa,


claramente ofendido.

"Não dê ouvidos a ele, James," Remus sorriu, "Eu estou orgulhoso de você.
Obrigado pelos sapos, Pete."

"Oh, eles não são de mim", disse Peter, acomodando-se na poltrona ao lado da
cama, "Dezzie diz que espera que você fique bom logo."

Remus, Peter e James viraram suas cabeças ao mesmo tempo.

"Dezzie." Sirius disse, sentando-se. "Você quer dizer Desdêmona?"

"Er ... sim?" Peter parou de mastigar seu chocolate e começou a parecer
nervoso. "Ela me perguntou por que eu não poderia ver ela hoje, então eu disse
que tinha que ver o Moony. O que?!" Ele olhou de James para Sirius, "Eu não
falei nada do por que ele estava doente, só falei-"

"Seu idiota!" Sirius saltou da cama.

"Sirius!" Remus sibilou - se eles falassem muito alto, Madame Pomfrey os


expulsaria, "Tá tudo bem. Mesmo."

"Não está bem!" Sirius ferveu, ele estava em pé perto de Peter agora, "Você
não pode contar a qualquer um que Remus está na ala hospitalar! Nem todo
mundo é tão lerdo quanto você! A palavra 'segredo' não significa nada para
você?!"
"Você sabe que significa", disse Peter, projetando o queixo, o lábio inferior
tremendo, "Eu guardei todos os tipos de ..." ele olhou furtivamente para
Remus, então mudou de assunto, "De qualquer forma, Dezzie não é qualquer
um, ela é minha namorada."

"E daí?!" Sirius se enfureceu, "Você vai contar para qualquer puta que deixa
você enfiar sua língua gosmenta na garganta dela?!"

Os olhos de Peter se encheram de lágrimas de raiva. Ele fungou forte e


esfregou o nariz, levantando-se.

"Só porque eu tenho uma namorada! Só porque ... porque alguns de nós
realmente gostam de passar tempo com garotas!"

O rosto de Sirius pareceu se transformar em um tipo novo e terrível tipo de


raiva que Remus nunca tinha visto antes. Seu coração estava batendo a mil por
hora, Remus podia ouvir claramente como um trovão.

"O que você está tentando dizer, Pettigrew?"

"Que eu prefiro estar com Dezzie do que com vocês, agora. Desculpe, Remus.
" Peter disse, muito rapidamente, antes de partir, saindo da enfermaria com um
novo passo confiante.

Houve um silêncio acerado, e Remus descobriu que não conseguia olhar para
Sirius - qualquer emoção que ele estivesse lidando no momento parecia ser
algo completamente privado. Ele olhou para James, ainda de pé ao fim da
cama, mordendo o lábio. Ele encontrou os olhos de Remus e deu-lhe um
sorriso tranquilizador.

"Uns velhos rabugentos esses dois, hein?" Ele quebrou a tensão, "De qualquer
forma, como você está se sentindo? A lua foi boa? "

"Sim, nenhuma cicatriz," Remus acenou com a cabeça, lentamente, ciente do


coração de Sirius ainda batendo forte dentro de seu peito. "Não quebrei nada,
também. Talvez eu esteja finalmente ficando bom em ser um lobisomem. "

"O que ele quis dizer?" Sirius disse, de repente, virando-se para olhar para
James.

"Não sei, cara," Potter deu de ombros, "Não dê ouvidos a ele, ele só terminou o
que você começou; você tá irritado porque ele finalmente se defendeu. "
"Ele quis dizer alguma coisa." Sirius murmurou.

"Como vai o quadribol?" Remus perguntou, rapidamente, "Pronto para a


final?"

A sobrancelha de James se suavizou instantaneamente e ele se endireitou,


ansioso para contar a Remus tudo sobre seus grandes planos para o próximo
jogo da Corvinal. A revanche Sonserina versus Grifinória ocorreu no final de
março e, para a surpresa de todos, Regulus Black havia retomado seu papel de
apanhador. James disse baixinho a Remus depois, que Regulus havia
ameaçado metade dos sonserinos com feitiços de desfiguração dolorosos se
Walburga soubesse que ele estava de volta ao time.

A Grifinória havia ganhado por apenas cinco pontos, o que era uma sorte,
porque Remus não conseguia imaginar Sirius com um humor pior do que já
estava. As coisas não estiveram boas.

Na sua parte, Remus estava tentando ser o mais gentil possível com Sirius
desde fevereiro. Embora Remus sempre soubesse que os Black’s estavam
longe de ser uma unidade familiar ideal e protetora, ele sempre achou que não
poderia ser tão ruim. Afinal, em sua experiência, os adultos estavam lá para
manter a ordem, instruir e punir. James já estava acostumado com esse tipo de
situação, pelo que Remus sabia, então fazia sentido que ele fosse simpático a
Sirius.

Talvez fosse a maturidade, ou talvez fosse ter visto o brilhante e vivaz Sirius
ser derrubado por sua própria mãe, mas Remus estava finalmente começando a
entender que os acontecimentos da Nobre e Antiga Casa Black não eram
normais. Na verdade, eram totalmente inaceitáveis. O fato de Sirius ter
sobrevivido sob tal opressão por tanto tempo sem se transformar em Snape ou
apenas ter quebrado sob o peso de tudo isso era admirável. Remus sabia como
era difícil ir contra as expectativas das outras pessoas - contra sua própria
natureza, às vezes.

Mas agora, isso estava começando a aparecer. Talvez desde o aniversário de


Remus – quando Sirius se embebedou tão terrivelmente e ambos terem se
escondido naquele túnel frio. Porém, isso pode ter sido apenas quando Remus
notou pela primeira vez - pode muito bem ter começado depois da queda de
Regulus. Mas houve definitivamente uma mudança. Sirius estava cansado -
esgotado, como Remus se sentia depois da lua. Parte da luta havia o
abandonado; isso estava claro. Ele ainda ficava com raiva, mas ela vinha em
rajadas curtas, e ele rapidamente mergulhava novamente em um humor
sombrio e silencioso.
As conversas noturnas com James também foram retomadas. Remus não fora
convidado. Ele não esperava exatamente ser, mas tinha pensado que estavam
um pouco mais próximos naquele ano, e que talvez Sirius escolheria confiar
em ambos. Mas a única coisa que Sirius parecia querer de Remus esses dias
eram cigarros - se Remus tivesse coragem de cobrar dele, ele poderia ter feito
uma fortuna; Sirius raramente ficava sem um cigarro atrás da orelha ou entre
os lábios.

"Mudanças de humor da adolescência." Lily disse, decisivamente, quando


Marlene mencionou que Sirius parecia fora de si, "Honestamente," a ruiva
suspirou, jogando o cabelo, "Ele age como se tudo o que acontece com ele
fosse um grande drama, mas ele não é diferente do resto do nos. Hormônios."

"Bem," Mary franziu a testa, "a família dele é um pesadelo ... bruxos das trevas
e tal. Não pode ser fácil, com tudo o que está acontecendo nos jornais."

"Sirius não é um bruxo das trevas." Remus disse, imediatamente,

"Eu sei disso." Mary retrucou: "Só quis dizer que ele pode estar se sentindo um
pouco divido, só isso." Ela tinha se irritado muito com Remus, desde a
'pegadinha' de Veritaserum de Snape. Mesmo que Remus tenha se desculpado
profusamente, muitas vezes, ele não podia negar que as coisas que dissera
eram verdade.

"Desculpa," ele disse novamente, abaixando a cabeça. "Você está certa. Não
tem sido fácil."

"Você, entre todas as pessoas, não deveria ter pena dele, Remus." Lily bufou,
colocando uma pilha inteiramente nova de livros para revisão.

"O que isso quer dizer?!"

"Ele teve todas as vantagens sobre você e ainda não consegue ser uma pessoa
legal", disse ela, dividindo os livros entre os quatro. "Ele é ridiculamente rico,
puro-sangue, vem de magia antiga, recebeu educação particular, tem ambos os
pais - ugh, ele e Potter são tão--"

"James e Sirius não são assim tão parecidos." Foi a única resposta que Remus
teve.

Parecia que todos estavam de mau humor.


Na ala hospitalar, James finalmente ficou sem mais o que dizer sobre a partida
da Corvinal, marcada para o início de maio, pouco antes do início dos exames.
Ele parecia ter notado que Remus havia se dispersado e ficado em silêncio.
Sirius também estava entediado e começou a tentar transfigurar vários itens ao
redor da cama - um abajur, uma comadre não usada, o vaso na mesinha de
cabeceira.

"Desculpa," Remus disse, "É um pouco chato para vocês dois aqui. Vocês não
têm que ficar."

"Bobagem," James acenou com a mão, descuidadamente, "Nada mais para


fazer por aqui - a Corvinal reservou o campo para o resto do dia. E Sirius não
quer vir à biblioteca comigo, então ..."

Potter começou a colocar um esforço extra em seus estudos naquele ano pela
primeira vez, para a decepção de Sirius. No início, Remus pensou que era outra
manobra para se aproximar de Lily, mas James nunca pediu para se envolver
no grupo de estudo deles, e na verdade parecia preferir trabalhar sozinho. Ele
lhes disse que seus pais haviam ameaçado tirar sua vassoura no verão se seus
resultados não fossem melhores do que no ano passado - mas Sirius sussurrou
para Remus depois que, na verdade, McGonagall o avisou que se ele não
tomasse jeito ele não teria a chance de ser capitão de quadribol.

"Você pode me fazer perguntas, se quiser." Remus disse, animando-se um


pouco. "Me pergunte coisas sobre Poções, aí eu te pergunto a matéria que você
quiser."

"História," James suspirou, "Eu sou um péssimo em História ..."

"Ugh, bem, se vocês vão fazer isso, eu vou embora." Sirius disse, se
levantando. "Eu sou uma merda em tudo isso."

"Não, você não é, não seja estúpido-"

"Nah, estou indo," Sirius balançou a cabeça, distraído. "Talvez eu vá e


encontrar algumas garotas para passar o tempo, já que isso é tão importante
para todo mundo."

"Desde quando você se importa com que o Peter fala ?!" Remus franziu a testa.
Mas era tarde demais, Sirius já estava indo embora.

Remus olhou para James. James passou a mão pelo cabelo.


"Desculpe, Moony, apenas ignore. Não é você - ou Peter, inclusive, é ... ele
recebeu uma coruja de casa esta manhã."

"Ah, certo ..." Remus olhou para baixo. Ele deveria ter percebido.

"Éh, eles disseram que ele tem que ir para casa durante todo o verão este ano -
aprender seus deveres familiares de uma vez por todas, ou alguma besteira
assim. Ele diz que vai ficar muito entediado, mas ... sei lá, acho que ele está
com medo, para ser honesto. Todo mundo fala que eles estão bem próximos
de você sabe quem"

"Ele vai ficar bem, não vai?" Remus brincou com a ponta do lençol
ansiosamente, "Eles não podem forçar ele a se casar com ninguém de novo, e
ele ainda não é maior de idade, então não pode se juntar a eles, ou algo assim."

James encolheu os ombros. Ele também parecia muito cansado.

"Não sei, cara," ele disse suavemente. "Eu não sei o que eles querem. De
qualquer forma, não vou a lugar nenhum. Vamos começar com Poções?"
70. Quarto Ano
Despedidas

Quinta-feira, 29 de maio de 1975

A época de exames pareceu voar naquele ano. Remus realmente se sentiu


como se tivesse entrado no ritmo das coisas pela primeira vez e - embora ele
não gostasse de se gabar - estava relativamente confiante de ter alcançado
notas decentes em todas as matérias. Até Poções havia sido menos estressante
do que o normal, graças à orientação cuidadosa de Lily e ao seu treinamento
paciente ao longo do ano.

Na verdade, na terceira semana de maio, Remus se viu meio perdido. Ele havia
completado todos os seus exames, mas nenhum de seus amigos tinha - entre os
Estudos dos Trouxas e Adivinhação, os marotos e as meninas ainda estavam
enclausurados estudando ou na sala de provas. Mas ele estava longe de estar
solitário. Remus passava seu tempo livre dando passeios vagarosos pelo
terreno, lendo o que queria e quando queria, e dando os toques finais em sua
maior realização; o mapa do maroto.

Foram quase quatro anos inteiros fazendo, mas o mapa originalmente


rudimentar de Remus, se expandiu e se desenvolveu até apresentar uma visão
abrangente de todo o castelo - entradas secretas, túneis e câmaras ocultas
incluídas. Com a ajuda dos marotos, ele agora se movia e mudava em tempo
integral no ritmo da própria construção, localizava e identificava todos os seres
presentes no castelo, e funcionava perfeitamente. Remus nunca sentiu tanto
orgulho de nada em sua vida - na verdade, ele nunca havia criado nada de que
valesse a pena se orgulhar.

Ainda precisava de algum tipo de feitiço de bloqueio - no momento ele era


capaz de fazer a tinta desaparecer e reaparecer com um rápido feitiço de
desilusão, mas isso não era suficiente, não se fosse para deixar o dormitório.
Isso seria algo para pesquisar durante o verão; ele já havia falado com Madame
Pince sobre o empréstimo de alguns livros, com o entendimento de que a
reembolsaria por qualquer dano, caso ocorresse.

Remus estava pouco ansioso pelo verão, talvez ainda menos do que o normal.
Agora que ele estava totalmente ciente do clima político no mundo mágico,
achava a ideia de sair dele por dois meses muito desconcertante. Quem sabia o
que poderia acontecer nesse meio tempo – sem dizer no perigo em que seus
amigos poderiam se encontrar. No primeiro verão desde 1972, os marotos
estariam completamente separados. Sirius havia sido proibido de ver os Potter,
Remus estaria em St. Edmund's como de costume 'para sua própria segurança'
e os Pettigrew’s estariam indo para a América para visitar Philomena - Peter
suspeitava que era para tentar trazê-la para casa.

A situação de Sirius era a mais preocupante. James tentou de tudo; até mesmo
escrever para Dumbledore, mas ninguém estava disposto ou era capaz de
ignorar os desejos da família Black. Até mesmo Sirius havia se resignado um
pouco com seu destino.

"Eu vou ficar com Reg," ele suspirou pesadamente, "Talvez se ele não estiver
cercado por sonserinos o tempo todo, ele vai ouvir um pouco de razão - ele tem
idade suficiente, agora."

Remus prometeu escrever; todos os dias se Sirius quisesse. Até Mary se


ofereceu para tentar uma visita, visto que ela também morava em Londres.
Claro, ela era nascida trouxa e isso estava totalmente fora de questão.

James realmente tinha um plano de fuga pronto para executar no momento em


que Sirius desse a palavra - envolvia uma complexa cadeia de comunicação,
sua vassoura, e quebrar pelo menos dez leis bruxas, mas todos eles estavam
prontos para fazê-lo. Até mesmo Peter, que perdoou Sirius por sua explosão
em abril e fora perdoado em retorno.

Remus havia pensado em como passar seu próprio verão e já havia decidido
que não repetiria os eventos do ano anterior. Não que ele recusasse a chance de
'ganhar' um pouco de dinheiro caso ela aparecesse em seu caminho - seus
planos para caçar Greyback não haviam mudado e ainda precisaria de
financiamento - mas ele também precisava manter o foco. Ficar fora a noite
toda bebendo e brigando não era produtivo, nem resolveria nenhum de seus
problemas. Ele também sabia que precisava se manter discreto o máximo
possível, e ser preso por pequenos crimes não era uma jogada inteligente.

Tendo passado umas boas horas do lado de dentro completando o mapa, e o


tempo não sendo nem muito quente nem muito frio para maio, Remus decidiu
se aventurar no terreno para ler. Ele finalmente havia lido todos os livros
trouxas que Sirius trouxera para Hogwarts no primeiro ano, e agora estava
pegando emprestado de Lily. Ela era uma grande fã de Jane Austen - o que era
uma pena, porque Remus não era, mas ele estava se contentando
com Emma do mesmo jeito.
Ele se sentou sob a sombra manchada de uma grande faia, à beira do lago, de
costas para o salgueiro. Como ele temia, Remus logo ficou entediado com a
tagarelice terrível da Srta. Woodhouse - acabou que o livro idiota era sobre
namoro e ele já tinha tido muito disso esse ano, obrigado. Ele largou o livro e
encostou-se no tronco, olhando para as folhas verdes brilhantes, as pálpebras
fechando-se lentamente.

Ele teve um sonho muito estranho. (Embora, Remus pensara consigo mesmo
muito mais tarde, todos os sonhos eram bem estranhos, não eram?) Ele não
conseguia se lembrar exatamente o que estava acontecendo no sonho, ou onde
ele estava ou quem estava com ele. Mas parecia haver outra pessoa - outro
corpo, pelo menos, muito próximo ao seu. Foi uma sensação intensamente
física, semelhante às suas lembranças de ser o lobo, mas sem dúvida mais
agradável. A maneira como este outro corpo se ajustava ao seu era
profundamente calmante, quente e satisfatório de uma forma que ele nunca
havia sentido antes.

Remus não tinha certeza de quanto tempo ele dormiu, mas quando ele acordou
havia conversas ao seu redor. Um dos exames obviamente tinha terminado e os
alunos estavam se espalhando pelo terreno, exaltados em sua liberdade
conquistada com dificuldade. Remus piscou contra a forte luz do sol de verão e
se endireitou, um pouco envergonhado por ter cochilado - sem mencionar a
reação física que o sonho estranho havia causado. Ele rapidamente reorganizou
suas vestes, procurando verificar se ninguém havia notado.

Suas costas estavam rígidas e doloridas agora, de tanto encostar no tronco. Sua
boca estava seca e seu pé esquerdo estava dormente. Ele se espreguiçou e
sacudiu, estremecendo quando formigamento espalhou pela sua perna.

"Bom dia, Remus!" Um áspero sotaque liverpudiano veio de trás dele, "Não
estava dormindo, estava?"

"Não!" Ele disse imediatamente, assim que Ferox apareceu.

Remus agarrou Emma e tentou fingir que só o havia largado por um momento.
Ferox sorriu para ele com reconhecimento, mas não fez graça. Ele largou um
balde pesado com algo viscoso que cheirava mal.

"Vim dizer adeus à lula." Ele acenou com a cabeça para o lago, que estava
parado como um lago de moinho.

"Você vai passar o verão fora, professor?" Remus perguntou, levemente


interessado enquanto esfregava a perna para fazer o sangue fluir novamente.
"Mhmm." Ferox acenou com a cabeça, semicerrando os olhos para o lago, "O
verão e ... talvez mais. Eu temo que não vou te ver em setembro. "

"O que?!" Remus piscou, assustado, "Mas ... quem vai nos ensinar Trato das
Criaturas Mágicas?"

"O professor Kettleburn estará de volta. Eu estava apenas substituindo para


ele."

"Oh." Remus sabia disso o tempo todo, mas mesmo assim foi um choque. Ele
se sentiu terrivelmente triste, ele nunca teve que dizer adeus a ninguém que ele
sabia que sentiria falta antes. Ele teve um forte desejo de contar isso a Ferox;
para dizer o quanto ele gostaria de ficar, mas as palavras não saíram. "Que
pena." Foi tudo o que ele conseguiu reunir.

Ele se levantou, trêmulo, as pernas ainda doloridas. Ferox mergulhou a mão no


balde de coisas prateadas e viscosas e retirou algo longo e torto. Ele o jogou no
lago e dois tentáculos romperam a superfície da água para pegá-lo. Ferox
sorriu.

"Eu não vou mentir, vou sentir falta deste lugar." Ele disse, pegando
outro. Squelch. Ele olhou para Remus, "E minha melhor turma, é claro."

"É ... é minha aula favorita!" Remus disse, com pressa.

"Eu imaginei que sim!" Ferox sorriu, jogando outra coisa escorregadia. Splash.
"Eu não deveria te contar seus resultados até agosto, mas ... bem, estou muito
orgulhoso de você, Lupin. Só notas altas, as melhores do ano. Melhor do que
muitos dos meus alunos de NOM."

"Você é um bom professor," disse Remus, tristemente.

"Kettleburn também." Ferox o tranquilizou, ainda alimentando as


lulas. Squelch. Splash.

"Para onde você vai? De volta ao ministério?"

"Ah não." A expressão de Ferox mudou. Ele não franziu a testa, exatamente,
mas seus traços escureceram, o sorriso desapareceu. "Eu tenho alguns negócios
para Dumbledore. Não tenho certeza se o ministério iria ... de qualquer
maneira, não é para você se preocupar." Ele balançou a cabeça e sorriu
novamente, olhando para Remus. "Estarei no exterior por um tempo."
Squelch. Splash.

Remus se perguntou se algum dia veria o Professor Ferox novamente. Ele


ainda não tinha certeza de quão grande a comunidade bruxa realmente era, mas
ele não achava que poderia ser muito grande, não se houvesse apenas uma
escola na Grã-Bretanha. Poderia escrever para Ferox? Ou isso seria
inapropriado? Ele não escreveria para alguém como McGonagall, por exemplo,
ou Professor Slughorn.

"Vou pedir atualizações a Kettleburn, sabe." Ferox disse, lendo sua mente:
"Então não pense que você pode começar a relaxar. Nós, crianças perdidas,
temos que mostrar ao resto dos mauricinhos esnobes como se faz, hein? Agora
mais do que nunca."

"Eu não vou relaxar," Remus disse, ferozmente, "Eu prometo."

Ferox riu e cutucou Remus com o cotovelo,

"Bom rapaz. Seu pai ficaria orgulhoso."

***

Sexta-feira, 27 de junho de 1975

Era a última sexta-feira do semestre, todos os exames e aulas terminados por


mais um ano, e Remus tinha feito uma lista mental de tudo que precisava
arrumar na mala. Este ano, ele e James conspiraram juntos para garantir que
tudo de Sirius fosse arrumado a tempo - James estava gradualmente se
acostumando com a ideia de deixar Remus ajudar quando se tratava do bem-
estar de Sirius. Eles planejaram que no sábado de manhã James e Peter o
levariam para um voo de algumas horas, enquanto Remus arrumasse tudo. Ele
prometeu que não se importava; faria qualquer coisa para ajudar.

Estavam todos sentados no jantar - nada de especial, só torta de peixe, o


banquete só seria no domingo à noite - quando as corujas começaram a voar
com o último correio.

"Ugh." Sirius gemeu quando uma grande coruja-águia marrom pousou na


frente dele. Uma das corujas da família Black.

"Eu faço isso." James saltou rapidamente, puxando o pequeno pergaminho


enrolado na perna escamosa do pássaro. Ele empurrou os óculos redondos para
trás no nariz, e seus olhos dispararam rapidamente pelo papel. Então ele
encolheu os ombros e o amassou, jogando-o por cima do ombro. "Era apenas
para confirmar que você tem que encontrar eles em King's Cross, estão
esperando que você e Regulus estejam juntos."

"Estão preocupados que eu vou fazer outro ato de desaparecimento." Sirius


sorriu.

"Er ... você vai?" Peter perguntou, nervoso.

"Não vale a pena." Sirius suspirou, "Aposto que eles vão chegar cedo só para
encher meu saco. Vou ter que pensar em outras formas de irritar eles."

"Ou você poderia apenas tentar manter a cabeça baixa e sobreviver ao verão."
Remus sugeriu, levemente, terminando seu sorvete.

Sirius apenas ergueu uma sobrancelha para ele. Remus colocou a língua para
fora. Ambos sabiam que isso era praticamente impossível, mesmo que Sirius
tentasse o seu melhor.

Eles não tiveram muito tempo para sentir pena de Sirius, entretanto - Mary,
que também havia recebido alguma postagem, soltou um grito e depois caiu
em prantos. A coruja na frente dela pulou para trás, alarmada, então deu um
'pio' ofendido e voou para longe para o corujal.

"Mary!" Lily e Marlene disseram ao mesmo tempo: "O que aconteceu?"

Mary balançou a cabeça, aparentemente sem fala, depois cobriu a boca e fugiu
do refeitório. Lily e Marlene se entreolharam e pularam imediatamente para
segui-la.

"O que você acha vocês acham que foi?" Peter perguntou.

Remus encolheu os ombros.

"Coisas de garotas."

Eles só descobriram mais tarde naquela noite. Mary não estava na sala
comunal, mas Lily desceu procurando um cardigã perdido que ela havia
deixado em algum lugar.

"Darren terminou com ela," ela disse gravemente para Remus, "Ela está um
desastre completo, pobrezinha."
"Bem antes das férias?" Remus disse, chocado, "Que babaca!"

"Sim," Lily respondeu, tristemente, "Disse que não queria ficar esperando por
ela o ano todo enquanto ela estava na escola - quer uma namorada mais perto
de casa. Acho que está bem melhor assim, ele parece ser horrível."

"Mas aposto que Marlene está feliz," Remus sorriu, "Não vai precisar ouvir
mais nada sobre isso."

"Não aposte nisso," o rosto de Lily estava sombrio, "Ela ainda não calou a
boca sobre o quanto o amava ..."

"Coitada." Remus vasculhou o bolso e retirou seu último doce, "Dê isso a ela,
diga que eu espero que ela se sinta melhor, hein?"

"Ahh, você é tão fofo, Remus," Lily o beijou na bochecha, então subiu as
escadas novamente.

"Ela não ficou tão chateada quando terminou comigo," Sirius murmurou
indignado, movendo uma peça de xadrez.

"Bem," Remus deu de ombros, voltando ao jogo, "Ela deu um fora em você,
não foi? Imagino que seja diferente quando é você que leva o fora."

"Eu não estava tão chateado."

"Eu não achei que você e Mary fossem tão sérios," James bocejou, jogando
snap explosivo no tapete com Peter. "Vocês tinham apenas treze anos."

"Quatorze." Sirius corrigiu. "Mas eu aceito seu ponto. Não demos uma chance
de verdade, não é? "

"Você não foi muito maduro a respeito", murmurou Peter, folheando suas
cartas.

"Não, bem, mas ninguém nunca nos pegou se agarrando em armários de


vassouras, você está certo," Sirius retrucou.

"Inveja não combina com você, Black", respondeu Peter, secamente.

'' Ei, todos vocês me prometeram que o negócio de amassos tinha acabado."
Remus disse, incisivamente, dando a todos eles um olhar sombrio.
"Não critique antes de tentar, Moony," Peter sorriu.
71. Quarto Ano
Junho

Sábado, 28 de junho de 1975

"Oi, Remus!" Lily o assustou quando ele estava saindo da ala hospitalar. Ele
tinha acabado de fazer sua verificação final com Madame Pomfrey antes do
fim das aulas.

"Olá." Ele disse, nervoso: "O que você está fazendo aqui?"

"Vim deixar isso para o Professor Slughorn," ela levantou um grande frasco de
algo que parecia uma prole de rã roxa, "Nós temos feito poções de cura no
Clube do Slug neste semestre. Espere aqui, eu vou voltar com você."

Ela desapareceu dentro da enfermaria e ele esperou, tentando não parecer


muito desconfiado. Ele odiava ser visto perto do hospital. Lily finalmente saiu
com um sorriso alegre,

"Obrigada! O que você estava fazendo lá? "

"Oh, nada, eu hum ... um feitiço que deu errado."

"Oh Deus, o que aconteceu?"

"Er ... prefiro não dizer." Ele ergueu uma sobrancelha sugestivamente,
esperando que ela entendesse. Felizmente, sua mente foi para outro lugar,

"Foi o Potter de novo? Ugh, ele azarou Sev semana passada com algo que fez
seu pescoço inchar um monte!"

"Huh, sim, James é bom em feitiços de engorgitamento," Remus sorriu.

"Bem, eu não teria pensado que ele azararia as pessoas que supostamente são
seus amigos," Lily respondeu, afetadamente.

"Não foi ele!" Remus respondeu, irritado. Ele fazia questão de não falar mal de
James na frente de Lily, depois da confusão em janeiro.
"Black, então." Lily encolheu os ombros, "Ele é tão mau. Não tenho ideia por
que todo mundo gosta dele."

"Mm."

"Então ... Grandes planos para o verão?" Lily mudou de assunto, talvez
percebendo que Remus não gostava particularmente de suas tiradas sobre os
outros Marotos.

"Nah," Remus balançou a cabeça, "Coisas normais, provavelmente. Dever de


casa. E você?"

"Vou visitar Marlene em julho, estamos tentando fazer com que Mary venha."

"Como ela está?"

Mary tinha faltado a todas as refeições desde o grande termino, e mal tinha
saído do dormitório feminino, pelo que Remus sabia.

"Melhor," Lily concordou, tristemente, "Ela consegue passar algumas horas


sem chorar, de qualquer maneira. Mas continua tocando álbuns deprimentes do
Dusty Springfield."

Eles alcançaram o retrato da mulher gorda e esbarraram em Peter - e


Desdemona Lewis, é claro. Eles estavam em um abraço apertado, os braços em
volta um do outro, murmurando entre beijos;

"Vou sentir sua falta!" Ela suspirou,

"Vou sentir mais ainda!" Disse Peter.

"Você vai escrever?"

"Todo dia!"

Remus fez barulhos de vômito, o que fez Lily rir, mas ganhou uma carranca
furiosa de Peter. Eles rapidamente escalaram o retrato e deixaram os
pombinhos em paz.

A torre da Grifinória estava em completo caos quando eles a alcançaram -


como era normal no último dia do semestre. Os alunos se arrastavam para
baixo das mesas em busca de coisas perdidas, corriam por aí recolhendo cartas
e peças do jogo, gritando 'accio tênis direito!' ou 'accio relógio de pulso!’,
enquanto todos lutavam para fazer as malas no último minuto. Remus não pôde
deixar de se perguntar se todas as salas comunais estavam passando pelo
mesmo pandemônio - certamente os corvinos estavam em um estado muito
melhor.

Sirius e James não estavam fazendo muito para ajudar no processo - eles
estavam secretamente levitando vários itens para trás de uma das grandes
poltronas, rindo um para o outro alegremente. Remus sorriu, pensando
novamente no quanto sentiria falta de tudo isso.

"Vocês dois!" Lily os repreendeu, marchando, segurando sua própria varinha.

Sirius riu e se escondeu atrás de James,

"Qual é, Evans, só um pouco de bom humor no último dia!"

"Por que você não pode simplesmente deixar as pessoas em paz, Black ?!"

"Por que você não pode nos deixar em paz", ele retrucou, disparando faíscas
verdes no teto por trás das costas de James, "Você ainda não é monitora, sabe!"

"Oooh, espere até eu ser!" Ela disse, tentando lançar um feitiço em Sirius. Em
vez disso, atingiu James, e nabos imediatamente saltaram de suas orelhas, a
expressão de choque em seu rosto foi tão cômica que Remus caiu na risada.

"Bem, isso não foi muito certinho," Sirius riu, transfigurando uma lâmpada
próxima em um bando de pássaros que voaram gritando pela sala, aumentando
o caos.

O próximo movimento de Lily foi lançar um feitiço de pernas de gelatina em


James, fazendo-o cair no chão, ainda segurando as orelhas de nabo. Com ele
fora do caminho e Sirius exposto, Lily o desabilitou com um feitiço de
amarração, então se virou para Remus.

"Me ajuda a resolver tudo isso, sim?"

"Ahh ... ok, tudo bem," Remus suspirou, ainda enxugando as lágrimas de riso
de seus olhos. Juntos, eles conseguiram restaurar a ordem na sala comunal, re-
transfigurar a lâmpada, consertar as marcas de queimado no teto e acalmar um
primeiranista chorando que havia perdido seu gato. Lily deixou que Remus
cuidasse de James e Sirius, que estavam em um verdadeiro estado agora.
"Ela não é maravilhosa," James sorriu estupidamente, enquanto Remus tentava
ajudá-lo a se sentar em uma cadeira próxima, com as pernas ainda instáveis,
dobrando-se embaixo dele.

"Sim, um verdadeiro encanto," Sirius resmungou, lutando para se livrar de seu


corpo amarrado.

"Vocês dois têm sorte que ela só usa seu poder para o bem," Remus os
repreendeu, "Vocês não seriam páreo para ela se ela decidisse começar a
realmente quebrar as regras. Finite." Ele apontou sua varinha para Sirius, que
finalmente foi solto. Ele esfregou os braços com força,

"Não acredito que você ajudou ela, Moony!"

"Claro que eu ajudei," Remus deu de ombros, "Morro de medo dela."

***

Domingo, 29 de junho de 1975

"Ei vocês dois! Vamos perder o trem!" Remus bufou, subindo as escadas para
o dormitório pelo que parecia ser a centésima vez naquela manhã.

Seus malões já haviam sido transportados para a estação de Hogsmeade por


algum mecanismo mágico, e McGonagall deu o aviso de dez minutos, mas
James e Sirius desapareceram novamente.

Ele os encontrou sentados na cama de James, que estava vazia, cabeças


inclinadas sobre algo pequeno que Sirius estava segurando cuidadosamente em
suas mãos. A sala parecia terrivelmente oca sem todas as coisas dos marotos
nela. Os dois garotos de cabelo preto se viraram para ele quando ele entrou, e
Remus sentiu que havia interrompido algo muito particular. Ele ficou para trás
um momento, sem jeito.

"Desculpe, Moony," James sorriu, saindo da cama, "Estamos prontos, vamos


Black?"

"Sim, claro," Sirius se levantou também. Ele tinha uma expressão confusa e
distraída que fez Remus doer por dentro. "Olha o que James me deu," Sirius
disse, enquanto cruzava a sala. Ele estendeu algo redondo e prateado. Remus
pegou. Estava quente das mãos de Sirius. Era um espelho compacto,
lindamente gravado com um design ornamentado em estilo filigrana.
"Er ..." Remus o virou, abrindo-o, "Muito hum ... bonito?"

James riu,

"É mágico - pertenceu ao meu avô. Olha," ele abriu seu próprio espelho
idêntico e olhou para ele. Remus olhou para o espelho de Sirius e ficou
surpreso ao ver o rosto de óculos de James sorrindo para ele. "Para que
possamos manter contato durante o verão."

"Meu Deus!" Remus exclamou: "Isso é incrível!"

"Eu sei", James acenou com a cabeça, fechando o seu e deslizando-o no bolso
de trás. "Gostaria de ter comprado para todos nós, mas eles são heranças de
família antigas e só há dois ..."

"Oh, claro," Remus devolveu a caixa correspondente para Sirius. Houve um


silêncio constrangedor de alguns segundos, antes de Remus limpar a garganta,
"Vamos, McGonagall vai nos azarar até a próxima semana se perdermos as
carruagens."

Eles chegaram a tempo nas carruagens e no trem, e se amontoaram em seu


vagão de sempre.

Remus ficou mais desconcertado ao descobrir que este ano o pequeno espaço
da carruagem deles estava lotado de pessoas. Não apenas os quatro marotos,
mas é claro que Desdêmona foi convidada a se juntar a eles - Remus ainda não
a ouvira dizer mais do que duas palavras, possivelmente porque seus lábios
estavam sempre ocupados.

Mary se juntou a eles também, a pedido de Sirius. Ele tinha estado prestando
muita atenção a ela nos últimos dias, e era óbvio que ela estava gostando,
tendo recentemente levado uma forte pancada em sua autoestima. Com Mary,
como sempre, estava Marlene e, finalmente, Lily, que teria sido forçada a se
sentar sozinha, caso contrário.

Como tal, foi uma viagem incrivelmente barulhenta de volta a Londres. Entre
Sirius tentando impressionar Mary cantando todas as músicas dos Beatles que
conhecia, James alternando entre tentar atrair a atenção de Lily e conversar
sobre táticas de quadribol com Marlene e os desajeitados e febris beijos de
Peter e Desdemona, Remus simplesmente se recostou na janela e aproveitou a
companhia de seus amigos pelo que poderia ser a última vez em muito tempo.
Ele tentou não pensar na guerra ou em quem poderia desaparecer durante o
verão. Ele tentou não pensar em Sirius, sozinho e sofrendo em uma mansão
fria de Londres. Ele tentou não pensar em Ferox, fora em missões perigosas
para Dumbledore. Ele apenas observou seus amigos, seus rostos brilhantes e
animados, cheios de entusiasmo e emoção.

Ele esfregou a nuca, sonolento. Seu corte skinhead crescera e agora ele tinha
uma pilha de cachos castanhos claro. Talvez ele não cortasse novamente. Ele
não deixaria a Matrona fazer isso, decidiu; ele gostava mais dele longo e
macio. Ele não queria mais parecer duro e malvado, ele não sentia que
precisava. Sorrindo para si mesmo, Remus caiu no sono.

***

Quarto ano, epílogo: algumas horas depois ...

Remus arrastou seu malão do ônibus e desceu a longa estrada até St. Edmund's
sozinho. Era o primeiro ano em que a Matrona não o encontrou em King's
Cross - ela havia enviado a passagem de ônibus com antecedência e disse que
ele já tinha idade suficiente para fazer a viagem sozinho. Talvez ela esperasse
que ele não voltasse. Mas para onde mais ele iria?

Ele entrou no prédio cinzento com um sentimento de resignação, registrou-se


na recepção e foi para seu dormitório. O dia estava claro e quente, e ele podia
ouvir a maioria dos outros meninos gritando do lado de fora. Remus estava
suado e com calor, e esperava poder tomar um banho e ter algumas horas de
silêncio para que pudesse desfazer a mala e começar a leitura de verão. Mas,
ao entrar no dormitório, descobriu que não estava totalmente sozinho.

Havia um menino sentado na cama ao lado da dele. Ele devia ser novo; Remus
não o reconheceu do ano passado. Parecia ter quinze ou dezesseis anos e usava
uma regata azul clara com acabamentos em laranja e jeans boca de sino. Suas
meias não combinavam. Seu cabelo era loiro e encaracolado, seu rosto
ensolarado e o nariz arrebitado. Ele tinha um ar casual e amigável.

"Oh, olá." Remus disse baixinho, arrastando seu malão até a cama.

"E aí?" O outro garoto o cumprimentou. Ele tinha um dente da frente lascado e
um sorriso torto que fez Remus querer sorrir de volta para ele. Seu cabelo era
meio comprido e caía em seus olhos. "'Cê que é o riquin' que vai pr'escola
chique o ano todo, é? Sou Grant."

Remus acenou com a cabeça, educadamente,


"Remus. Prazer em conhecê-lo."

"Caramba," Grant deu um sorriso ainda maior, "Não é que falaram que 'cê era
chique! Devo me curvar pro 'cê, milorde?"

Remus devolveu um sorriso suave, incapaz de se conter. O outro garoto não


estava sendo rude ou desagradável. Ele esqueceu o quanto seu sotaque havia
mudado, após quatro anos em Hogwarts.

"Gosta de ler, é?" Grant acenou com a cabeça para os livros que Remus estava
desempacotando.

"Eu tenho muito dever de casa." Respondeu. Então ele decidiu relaxar um
pouco, "E sim, eu gosto de ler."

"Legal." Grant respondeu. Ele deitou-se na cama, os braços atrás da cabeça,


seu longo corpo esticado, a camisa subindo o suficiente para mostrar a faixa de
pele logo acima de seu quadril. Remus olhou para ele de lado enquanto
desfazia as malas, tentando fazer parecer que não estava encarando muito.
"Então," Grant estava dizendo, "Que tipo de música 'cê curte?"
72. Verão, 1975

Cartas entre os marotos selecionadas:

Caro Moony,

Tenho quase certeza que agora posso me safar escrevendo algumas cartas por
enquanto. Eu imagino que elas estão sendo lidas, mas EU ESTOU POUCO
ME FUDENDO, TÁ ME ENTENDENDO REGULUS?

O verão está sendo terrível até agora. Parece que minha mãe tentou tirar
minhas coisas da Grifinória enquanto eu estava fora, mas eu usei feitiços de
cola permanentes. Vou ver se há mais alguma coisa que eu possa colocar para
irritar ela.

Haverá uma grande reunião familiar na próxima semana, jantar chique, roupas
elegantes, melhor comportamento, etc. etc. James acha que eu devo manter
minha cabeça baixa e apenas anotar quem comparece e o que é dito, caso seja
útil mais tarde. Mas eu não sei. Estava pensando em detonar algumas bombas
de bosta em vez disso. O que você faria?

Sirius.

***

Sirius,

Se dando bem com o Reg, então? Pegue leve com ele, você não tem mais
ninguém do seu lado.

Por favor tome cuidado. Não sei o que eu faria, nunca fui a um jantar chique.
Provavelmente faria papel de idiota. Não faça nada estúpido, ok? James
geralmente está certo.

Remus.

***

Caro Remus,
Não acredito que tenho que passar o verão inteiro sem nenhum de vocês. Às
vezes eu realmente odeio ser filho único. Aposto que você nunca está sozinho,
em St Edmund's.

Sirius parece estar ok, ele me chama com frequência, acho que está entediado.
Se tédio for o pior de tudo, é uma coisa boa, certo? Eu continuo tentando
convencê-lo a não fazer nenhuma merda - não sabemos em que tipo de coisa os
Black’s estão envolvidos. Pode não ser nada.

Espero que o seu verão tenha começado bem. Você já deu uma olhada na lição
de casa? Aquela redação de Feitiços parece ser um pé no saco.

James.

***

James,

Ele ficaria bem se pudesse se controlar, mas eu duvido. Continue falando com
ele, lembre-o de que precisa voltar para Hogwarts inteiro.

O verão está sendo bom. Você está certo, eu nunca fico sozinho. Eu gostaria de
um pouco de privacidade na maioria das vezes, mas este verão tem sido bom.
Não se preocupe comigo.

Aquela redação de Feitiços é moleza e você sabe disso. Você simplesmente


não gosta de trabalho duro, Potter.

Remus.

***

Moony,

Saudações de São Francisco! Achei que ia estar calor aqui, mas está muito frio
e chove na maior parte do tempo. Merlin sabe por que Philomena iria querer
morar aqui, não é nada diferente da boa e velha Inglaterra.

Pete.

***

Caro Moony,
Causei um certo tumultuo, foi brilhante. Encontrei um monte de pôsteres
antigos de trouxas numa beira de estrada - fotos de garotas, você sabe o tipo.
Elas nem se movem, é hilário. De qualquer forma, pendurei nas paredes com
meu feitiço colante patenteado, e mamãe ESTÁ FURIOSA.

Eu acho que ela provavelmente só está irritada porque são garotas trouxas, ela
não dá a mínima que elas estão com os peitos de fora. De qualquer forma,
agora não posso sair sem supervisão. Mas valeu a pena.

Sirius.

***

Sirius,

Você é um idiota e sabe disso. Posters??? Você não se sente estranho com
todos eles olhando para você?

Remus.

***

Caro Remus,

Estou realmente preocupado com Sirius. Eu não sei se você ficou sabendo da
proeza dos pôsteres, mas ele é um idiota por fazer isso. Não acredite se ele diz
que está bem, ele definitivamente estava chorando quando nos falamos pela
última vez com o espelho (não diga a ele que eu te disse isso, obviamente).

Esteja pronto caso precisemos acionar a missão de resgate.

James.

***

James,

Pronto quando você estiver.

Remus.

***
Moony,

Não dê ouvidos a Potter, ele é uma senhora velha. Está tudo bem, nada que eu
não seja capaz de lidar. Espero que você esteja tendo um bom verão. Mal
posso esperar por setembro.

Sirius.

***

Sexta-feira, 22 de agosto de 1975

Remus cambaleou fracamente para dentro do dormitório. Tinha sido um dos


ruins. Madame Pomfrey achava que era por causa da mudança de cenário.
Agora ele tinha uma longa e espessa cicatriz no peito. – Fazia muito tempo que
não recebia outra cicatriz.

Grant se sentou abruptamente, parecendo magoado.

"Onde 'cê tava?" Ele perguntou: "Tava achando que 'cê foi preso ou vai lá
saber".

"Tava doente," Remus respondeu.

"Doente de que?"

Remus suspirou, jogando-se na cama. Foi uma noite difícil e ele só queria
dormir. Ele fechou os olhos. Não estava afim de dar desculpas hoje.

"Bem, era lua cheia na noite passada, sabe." Ele disse, calmamente: "Quando
eu tinha cinco anos, fui mordido por um lobisomem e agora sou um. Eu me
transformo todo mês, e a Matrona me tranca para que eu não machuque
ninguém."

"Ah há há." Grant respondeu, subindo na cama de Remus, montando nele. Os


dois eram tão magros que se encaixavam facilmente no beliche estreito. "Muito
bom, seu engraçadinho. Tudo bem, não precisa me contar. "

Ele se inclinou e beijou Remus.

Remus abriu os olhos, congelando por um momento. "Tá tudo bem", garantiu
Grant, acariciando sua bochecha, "Tá todo mundo lá fora, eu chequei."
Remus o beijou de volta.

Foi um verão estranho, mas um dos mais agradáveis que Remus já tivera. Ele
não tinha se sentido sozinho, pela primeira vez; não tinha contado os dias até
primeiro de setembro.

No início, ele e Grant conversavam sobre David Bowie, T-Rex e Neil Young -
até Deep Purple, por quem Grant era louco por eles e Remus achou que Sirius
provavelmente gostaria. Os dois odiavam futebol - e os outros meninos - então
eles andavam juntos pela cidade ou se sentavam atrás prédios abandonados
fumando maços roubados de cigarros.

Eles estavam sentados lá no chão quente um dia em meados de julho, jogando


pedrinhas e debatendo as melhores partes de Eletric Warrior, quando de
repente a mão de Grant estava no joelho de Remus, depois em sua cintura,
puxando-o para mais perto.

"O que você -!?"

"Tá tudo bem," Grant sussurrou, desespero tomando sua voz, pressionando sua
testa contra a bochecha quente de Remus, "Ninguém vai descobrir." Ele tinha
gosto de cigarro e queimadura de sol.

Depois disso, sempre que estavam sozinhos, estavam se beijando.

Foi uma surpresa, mas na maior parte não. Remus rapidamente percebeu que
ele sempre quis isso - isso ou algo parecido. Era como se uma névoa se
dissipasse. Considerando todas as coisas, ele estava grato a Grant por ter
tomado a iniciativa.

Não era o que você poderia chamar de romântico ou afetuoso. Era mais como
uma coisa necessária. Algo que Remus sabia que precisava empurrar o
máximo que pudesse, para que pudesse identificar todos os cantos e limites.
Estava mapeando seus próprios desejos e usando Grant como uma bússola.

Seu nome completo era Grant Chapman. Ele tinha acabado de fazer dezesseis
anos e estava em St. Edmund's desde maio, embora não fosse de forma alguma
seu primeiro lar. Ambos os pais de Grant estavam vivos, e ele até tinha alguns
parentes - avós, tias, tios e primos adultos. Mas nenhum deles parecia querer
mantê-lo por muito tempo,

"Eu dou muito trabalho.", Grant disse sorrindo, descaradamente. "Todo mundo
fica enjoado de mim no final."
Como a maioria dos meninos de St. Edmund's, ele não se dava bem na escola e
teve problemas com a polícia algumas vezes por delitos menores, embora
nunca tivesse sido oficialmente preso. Ele não era violento, mas tinha uma
boca suja e tendência a retrucar. Não havia um osso ameaçador em seu corpo,
ele era claramente bom da cabeça aos pés.

Ele tinha um sorriso espetacular; que enrugava todo seu rosto e te fazia gostar
dele de uma vez. Um de seus caninos era meio torto e isso lhe dava um charme
diferente. Remus não conseguia ver por que ninguém o queria por perto. Ele
era um pouco bobo às vezes; um pouco imaturo, mas isso não importava -
Remus sabia que ele próprio podia ser muito sério na maior parte do tempo.
Algo sobre a natureza alegre e relaxada de Grant deixava Remus mais
confiante - confortável. E Grant simplesmente gostava de Remus. Realmente
gostava dele.

"'Cê é o cara mais engraçado que já conheci." Grant riu, quando Remus nem
havia dito nada tão engraçado. "Sabe, nunca fiquei com ninguém de
escola particular antes."

"Eu não sou muito diferente de você," Remus respondeu, "Um pirralho de
orfanato."

"Até parece," Grant empurrou-o, brincando, "'Cê tem futuro, qualquer um pode
ver isso."

Remus não tinha uma resposta para isso, mas deu um sorriso. Grant sempre o
fazia sorrir.

Além de todas essas coisas, Grant beijava muito, muito bem. Pelo menos,
Remus presumiu isso, considerando que Grant era a única pessoa que ele já
tinha beijado. Na primeira vez, ele sentiu um arrepio selvagem percorrer seu
corpo ao pensar consigo mesmo; então é por isso o fuzuê todo!!

Ele poderia beijar Grant o dia todo, sem precisar parar para recuperar o folego.
Às vezes, ele se pegava franzindo os lábios compulsivamente durante a noite,
quente com dores de abstinência. Remus achava que beijar seria assustador e
estranho, mas - como com tantas outras coisas - Grant apenas o deixou à
vontade. Ele tornava tudo divertido, desde o início; sem confusão, sem
perguntas.

"Se tá aqui só pro verão, então a gente pode muito bem aproveitar, não?" Ele
dizia, alegremente: "Fica tranquilo, não é como se eu fosse te pedir em
casamento, não importa o quão fofo 'cê é."
"Fofo!" Remus zombou.

"Fofo," Grant piscou, "E bom demais para mim."

Remus odiava esse tipo de conversa, e o calou com outro beijo.

Eles tinham que se esconder na maior parte do tempo, é claro. Dos outros
meninos e dos funcionários. Remus não conseguia imaginar o que aconteceria
se fossem descobertos - eles seriam separados, definitivamente, isso se não
recebessem uma surra. A Matrona contaria a Dumbledore? Eles poderiam
expulsar você, por ser um ... bem, por beijar outros meninos? Felizmente,
Grant tinha alguma experiência em operações secretas e eles nunca nem
chegaram perto de serem perturbados.

"Quantas vezes você já fez esse tipo de coisa?" Remus teve coragem de
perguntar, um dia. Eles estavam atrás de alguns galpões de bicicletas
abandonados na escola secundária local.

"Umas vezes," Grant deu de ombros, "Não o suficiente. E 'cê?"

"Nunca!" Remus respondeu, chocado. "Eu nem mesmo ..."

"Oh, Deus te abençoe," Grant riu levemente, puxando um dos cachos de


Remus, "'Cê não sabia."

Remus balançou a cabeça, suas orelhas ficando quentes. Grant resmungou:


"'Cê num lembra de nunca ter olhado pra outro garoto por muito tempo? Nunca
sentiu uma borboletinha olhando um professo' ou um ator?"

"...Ah meu Deus!" Remus engasgou, imagens de Ferox caindo sobre ele. Grant
riu novamente.

"E eu pensei que 'cês eram assim, garotos de internato."

Remus apenas balançou a cabeça novamente em descrença, se perguntando se


havia mais alguma coisa que ele não sabia sobre si mesmo.

Conforme setembro se aproximava, Remus se viu tentando ignorar isso. Ele se


sentia culpado por não ter passado o verão se preocupando com a guerra, por
ter se distraído com seus próprios impulsos egoístas, principalmente em um
momento como este. Mas, ao mesmo tempo, sentiu que nunca poderia ter essa
oportunidade novamente.
Os outros marotos mandavam cartas, como faziam todo verão - Remus
respondia diligentemente, não querendo que eles se preocupassem. Ele não
disse nada sobre Grant. Ele não sabia o que dizer, certo de que se colocasse a
caneta no papel, iria acabar contando tudo, e os outros meninos nunca mais
falariam com ele. Ou pior; tentariam entender, sem ao menos olhar nos olhos
dele.

Esse era um dos motivos. O outro era que Remus gostou da ideia de guardar
para si mesmo. Os marotos não precisavam saber tudo sobre ele, e ele tinha
permissão para ter outros amigos, não tinha?

***

Fim do Volume 1.

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