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ALL THE YOUNG

DUDES
VOLUME 111

MSKINGBEAN89
Tradução de Bruna Mello e
Marcela Machado
Edição de Gabrielly Gonçalves

A tradução da obra pode ser encontrada no site Archive of our own no perfil @wolfuckingstar e no wattpad no perfil
@wolfuckingstar.
Capítulo 151: A guerra: Julho de 1978

All our times have come

Here but now they're gone

Seasons don't fear the reaper

Nor do the wind, the sun or the rain,

(We can be like they are)

Come on baby, (don't fear the reaper)

Baby take my hand, (don't fear the reaper)

We'll be able to fly, (don't fear the reaper)

Baby I'm your man.

Don't Fear the Reaper, Blue Oyster Cult.

Domingo, 2 de julho de 1978

"Vamos logo, Potter!" Remus bateu no vidro da porta da cabine telefônica. "Outras
pessoas precisam fazer ligações, sabe!"

James virou as costas rudemente, encolhendo os ombros e falando furtivamente no


telefone.

"Deixe-o em paz, Moony," Sirius murmurou, apoiando-se pesadamente na cerca. Ele


estava usando óculos escuros e parecia mais pálido do que o normal. "E pare de bater,
sim?!"

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"Tome outra poção para a dor," Remus resmungou, "Você está de ressaca, é sua culpa
ter bebido tanto."

"Eu era a vida e a alma da festa, só para você saber." Sirius respondeu, cruzando os
braços quando Remus veio se sentar ao lado dele.

Os Potters haviam cedido a casa para a festa de encerramento da escola na noite


anterior, para todos os que estavam deixando Hogwarts e seus amigos. Yaz e Chris
tinham vindo, embora ambos tivessem mais um ano pela frente. Alguns membros da
Ordem da Fênix também estiveram lá - não Dumbledore, mas Ferox, Moody, Frank
Longbottom e sua linda namorada loira (agora noiva, aparentemente). Moody chamou
Remus algumas vezes, apenas para ser interceptado pela Sra. Potter.

"É a festa de encerramento da escola, Alastor!" Ela sibilou depois da quarta vez.
"Deixe-o se divertir por cinco minutos antes de formar um conselho de guerra,
caramba!"

Ela havia dito isso tão bruscamente que eles desistiram - Remus havia ficado um
pouco chocado também. Isso foi o mais perto que a Sra. Potter já havia chegado de
xingar.

O resto da festa parecia exatamente como a sala comunal da Grifinória - enquanto, ao


mesmo tempo, não parecia nada com a sala comunal da Grifinória. Remus tentou não
ficar tão triste. Tentou imaginar que um dia iria encontrar outro lugar que se parecesse
tanto com o seu lar quanto Hogwarts.

Lily, Mary e Marlene tiveram que ir embora à meia-noite - elas prometeram aos pais
que passariam a noite na casa de Lily. Aparentemente, suas famílias achavam que,
após sete anos de internato, ir para casa à meia noite já era o suficiente.

O que trouxe Remus de volta ao presente, observando James através da porta da


cabine telefônica, conversando com sua namorada. A quem ele havia literalmente se
despedido oito horas antes.

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"Tão injusto, ele nos fazer correr até aqui, como se eu pudesse vencer James sem-
ressaca-desde-1973 Potter" Remus resmungou. " Isso é antidesportivo. Ele sabe que
tenho uma desvantagem. "

"Achei que seu quadril estava melhor desde que você pegou aquele troço com Marls?"
Sirius franziu a testa, fazendo seus óculos escuros escorregarem pelo nariz.

"E melhorou." Remus respondeu. "Eu quis dizer o fumo."

Houve um estrondo baixo em algum lugar à distância. Sirius sentou-se


repentinamente, arrancando os óculos.

"Aquele é...?!"

Remus suspirou.

"Parece que sim..."

Em alguns momentos, a motocicleta do vizinho veio correndo pela aldeia, rosnando


durante todo o tempo. Sirius a encarava, admirado. Assim que ela se tornou nada além
de um ponto cromado brilhante à distância, ele se inclinou para trás, sorrindo para si
mesmo.

"Ah, eu senti falta dela."

"Então é 'ela'." Remus murmurou, cruzando os braços.

"Potter!" Sirius agora se levantou para bater na porta da cabine telefônica, "Saia daqui
agora!" Ele se virou para Remus, "Você vai se animar depois de receber sua
ligação?!"

"Sim." Remus disse petulantemente, olhando para seus pés.

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Passaram-se mais cinco minutos de 'tchau' e 'nos falamos em breve' antes que Remus
tivesse sua chance. Ele discou o número ansiosamente e enrolou o cordão de plástico
do telefone em volta dos dedos enquanto o ouvia tocar.

"E aí?"

"É assim que você atende o telefone?!"

"Remus?"

"Oi!"

"Caramba! Não estava esperando por você, nós combinamos algo? "

"Não," Remus balançou a cabeça, sorrindo loucamente, "Eu terminei a escola, posso
ligar quando quiser agora!"

"Brilhante!"

Ele ouviu algum farfalhar do outro lado da linha e presumiu que Grant estava se
acomodando. Isso era bom. Sirius e James poderiam esperar muito tempo. "Então,
quando você vem me ver, hein?" Grant estava perguntando agora.

"Em breve!" Remus disse automaticamente. Ele poderia aparatar para Brighton em
questão de segundos, agora que o pensamento o atingiu. Porém, isso seria difícil de
explicar. "Semana que vem?"

Semana que vem seria o ponto ideal entre as luas cheias, pelo menos.

"Vou estar trabalhando no sábado", respondeu Grant. "Peguei o turno noturno no bar..
Estou economizando para um feriado ... er... agosto? "

"Ah. Hum. Bem, ok," respondeu Remus, um pouco desapontado.

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"Desculpe, estou esperando por umas férias de verão apropriadas a anos, vou até andar
em um avião e tudo mais..."

"Não, não, agosto está bom!"

"Bom, vou me lembrar de comprar um pouco de leite. Então, onde você está morando
agora?"

"Na casa do meu amigo James. Os pais dele são muito legais. "

"Não foi morar com o namoradinho, então?"

"Ele também está aqui." Remus explicou, sabendo que parecia um pouco estranho.
"Vamos começar a procurar um lugar para morar em breve, no entanto. Londres,
espero."

"Ele é rico, então?" Grant bufou ''Devia ter adivinhado. Ele parece bem abastado, não
é?"

"Suponho que sim."

"Ele parece. Tem aquela boa postura. Ei, deixa eu te contar sobre esse cara que fiquei
por aí na outra noite... "disse Grant, e começou uma história muito longa e quase
inacreditável sobre um encontro que teve com um pescador (" um pescador genuíno e
devoto à jesus, por pelo amor de Deus. ") que havia feito algo muito estranho na
banheira de Grant antes de sair apressado nas primeiras horas da manhã. Ao final,
Remus estava curvado na cabine telefônica, ofegante de tanto rir, lágrimas escorrendo
pelo rosto.

"O que é tão engraçado?!" James e Sirius estavam ansiosos para saber, quando ele
finalmente saiu.

"Não conseguiria contar para vocês," Remus respondeu, soluçando, "Humor trouxa."

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"Acha que devemos ver como Pete está?" James perguntou enquanto eles voltavam
para a casa.

"Nah, você sabe como ele é com ressacas," Sirius respondeu, os óculos escuros ainda
firmemente colocados.

"Tudo bem, mas precisamos nos assegurar que não vamos deixá-lo de fora'", disse
James, abrindo o portão do jardim, "acho que ele está preocupado com isso..."

"Sim, sim." Sirius bocejou. "Ei, quadribol?"

"Sim!" James sorriu, "Apenas me deixe trocar de roupa..."

"Vou pegar um livro, então ..." Remus revirou os olhos, embora não se importasse
muito. Eles iriam considerar o fim de semana como um feriado, estava decidido. A
vida real poderia começar na segunda-feira.

Os três garotos subiram as escadas trovejando, James batendo a porta do quarto


enquanto saía em busca de um de seus muitos kits de quadribol.

Remus e Sirius estavam um pouco mais lentos.

"Brighton em agosto?" Remus perguntou baixinho, agora que estavam sozinhos. O


rosto de Sirius se iluminou e ele tirou os óculos.

"Você quer que eu vá, então? Isso! Legal!"

"Claro." Acenou com a cabeça, alcançando o topo da escada.

"Olá, meninos," disse a Sra. Potter, saindo do quarto de Remus. Ele ficou surpreso
com isso - não estava acostumado com adultos entrando em seu quarto sem serem
convidados, mesmo que não fosse realmente seu quarto, apenas um quarto de
hóspedes.

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"Olá, Sra. Potter", respondeu ele educadamente, na esperança de mascarar sua
inquietação.

Ela carregava uma pilha de roupas que o pertenciam, o que era terrivelmente
embaraçoso - em St. Edmund's, ele lavava sua própria roupa desde os dez anos.

"Vejo que Sirius estava tão bêbado que acabou na sua cama, Remus," a Sra. Potter riu,
dobrando a calça jeans de Sirius sobre o braço. "Honestamente, querido, você deveria
apenas tê-lo empurrado para fora."

"Oh!" Remus sentiu suas orelhas ficarem vermelhas enquanto ele olhava boquiaberto
para ela do corredor.

"Na verdade," Sirius subiu as escadas atrás dele, "Remus e eu preferimos


compartilhar. Se estiver... er. Bem, nós apenas preferimos, ok? "

A Sra. Potter o olhou, depois para Remus, que ainda estava corando, mas conseguiu
balbuciar.

"É!"

"Bem, se preferem assim" ela balançou a cabeça lentamente. "Suponho que a cama
seja grande o suficiente para dois. O que quer que façam vocês felizes, queridos." Ao
passar por eles para descer as escadas, ela deu um tapinha gentil no ombro de Remus e
beijou a bochecha de Sirius.

E foi basicamente isso.

***

Quarta-feira, 5 de julho de 1978

Eles se permitiram ter férias mais longas do que o esperado - dois dias a mais, na
verdade. Os convites chegaram na noite de terça-feira; uma nota de Dumbledore para
cada um, solicitando a presença deles em um local secreto conhecido apenas pelo pai

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de James, acessível apenas por chave de portal. As notas desapareceram assim que
foram lidas, simplesmente dissolveram em suas mãos.

Todos estavam esperando algo assim, mas Remus ficou surpreso com o quão nervoso
ele ficou repentinamente. E não foi o único. Ele e Sirius trocaram-se para dormir em
silêncio, e assim que se colocaram sob as cobertas, o moreno se agarrou a ele, o rosto
enterrado sob o seu braço.

"Me conte algo." Ele murmurou roucamente, "Qualquer coisa."

"Estou com muito medo de amanhã." Remus sussurrou. "Parece tão real agora, mas
acho que é normal ficar com medo. Acho que qualquer um ficaria. "

Sirius apenas soltou uma espécie de grunhido descontente. Remus o apertou e tentou
uma abordagem diferente. "Mas você sabe o que mais me assusta?"

"Hm?"

"O fato de que estamos planejando morar juntos e nenhum de nós dois sabe cozinhar."

Sirius começou a rir e, eventualmente, os dois devem ter adormecido. Quando


acordaram, ainda estavam enrolados um no outro, o suor havia se acumulado onde
suas peles nuas se comprimiam, e Remus estava grandes manchas vermelhas por todo
o corpo até tomar banho.

Foi uma pequena caminhada até a chave do portal, que acabou por ser um pato de
borracha amarelo brilhante, deixado no meio de um terreno de grama alta no final de
um dos campos ao redor da aldeia. Remus não se importava, ele gostava de esticar as
pernas agora que elas não doíam tanto.

"Não posso acreditar que estamos a apenas alguns quilômetros de Londres", ele se
maravilhou, olhando para o céu de verão sem nuvens, as colinas verdes ondulantes.

"Jardim da Inglaterra", James sorriu.

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Fleamont solenemente estendeu o pato para que todos colocassem as mãos.

"Todos têm suas varinhas?" Ele perguntou bruscamente e cada um deles assentiu,
engolindo em seco. Peter estava suando e parecia um pouco doente - Remus esperava
que ele não vomitasse até que chegassem aonde quer que estivessem indo.

Todos eles tocaram o pato e de repente se viram girando através do espaço tempo a
uma velocidade incrível. Era pior do que aparatar, mas melhor do que pó de flu,
Remus decidiu.

Momentos depois, todos os cinco homens pousaram em uma sala de estar muito
pequena e elegante. O tapete era grosso, rosa suave, os sofás feios de couro sintético
eram cor de creme amarelado, e o papel de parede um desenho floral horrível com
listras metálicas que refletiam a luz.

"Fleamont?" Um homem alto, magro e de cabelos vermelhos entrou no momento em


que se levantavam.

Remus por pouco não caiu na mesa de centro de vidro, que estava adornada com uma
tigela de potpourri com cheiro de sabão.

"Arthur!" O pai de James respondeu alegremente, estendendo a mão para apertar a do


homem.

"Desculpe, Monty," Arthur levantou um dedo, "Mas Moody nunca me perdoaria se eu


não seguisse o protocolo. Agora, deixe-me ver... sobre o que foi a última coruja que
enviei a você? "

"Foi um cartão de agradecimento", o Sr. Potter respondeu prontamente, "Effie enviou


a Molly algumas das coisas antigas de James para Bill e Charlie."

"Perfeito." Arthur sorriu e finalmente retornou com o aperto de mão do Sr. Potter.

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"Garotos, vocês se lembram de Arthur Weasley", disse Fleamont, conduzindo todos
para frente para apertar a mão do homem também. "Este é meu filho, James, Sirius,
Peter Pettigrew e Remus Lupin."

"Olá, o que é isso?" Arthur estava olhando para a chave de portal em formato de pato
que Remus ainda estava segurando.

"Er. Um pato de borracha. " Remus respondeu, olhando para baixo.

"Entendo, entendo, e para que serve?" Arthur avançou em sua direção, olhando para o
brinquedo de plástico amarelo com grande curiosidade.

"Er ... é apenas um pato de borracha," Remus deu de ombros. "Você quer?" Ele o
estendeu. Arthur sorriu, pegando-o.

"Melhor não contar a Molly! Ela acha que eu já estou louco."

Remus sorriu educadamente, pensando para si que Molly deveria estar certa.

"Como está Molly?" Fleamont perguntou "E os meninos? Gêmeos, eu ouvi falar? "

"Sim, agora com três meses," Arthur acenou alegremente, "Eu me perguntei se
deveríamos parar aos cinco filhos, mas Molly está focada em tentar ter uma menina, a
pequena claramente estará em menor número do jeito que as coisas estão. "

Enquanto falava, ele os conduziu para fora da sala hiperfeminina por um corredor
estreito em direção a uma pequena cozinha, que possuía uma estufa construída na
parte de trás. Frank e Alice estavam na cozinha, alinhando uma fila de canecas no
balcão.

"Olá!" Alice sorriu, "Chá?"

Ela anotou os pedidos de todos, enquanto Frank distribuía folhas de chá em vários
bules, e todos foram instruídos a irem à estufa para a reunião.

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"De quem é essa casa, pai?" Perguntou James.

"É melhor não sabermos muito", respondeu o Sr. Potter, "Vamos agora, todos eles
estarão esperando."

Depois da escuridão sombria da estreita cozinha dos anos 1930, a estufa estava
incrivelmente clara e extremamente quente. Tinha um piso de ladrilhos de terracota
limpo, coberto com um tapete de pano feito em casa. As janelas ao redor eram de
vidro e exibiam um jardim imaculadamente cuidado que possuía um balanço duplo e
um escorregador; o telhado era de acrílico transparente e salpicado de velhas folhas
mortas que sobraram do inverno. Havia um forte cheiro de fertilizante e gerânio, vasos
de plantas espalhados pelo local nas prateleiras e mesinhas de canto.

Remus não percebeu nenhuma dessas coisas no início, porque a sala estava lotada de
pessoas. Deveria haver vinte ou trinta bruxas e bruxos, reunidos solenemente em torno
de uma grande mesa de madeira, ou então de pé, ou amontoados na mobília de vime
do jardim no canto. Hagrid era o maior - Remus nunca tinha visto Hagrid em lugar
nenhum além de Hogwarts, que era tão grande que meio que compensava as
proporções gigantescas do guarda-caça. Nesta pequena sala de sol quente, ele mal
parecia real.

Haviam outros rostos reconhecíveis; os gêmeos Prewett, Olho-Tonto Moody,


Professor Ferox, Ted Tonks, Emmeline Vance e Dorcas Meadowes - não Dumbledore,
mas para o deleite de Remus, Lily, Mary e Marlene estavam amontoadas em um
canto, parecendo terrivelmente jovens e tímidas nesta multidão. Elas cumprimentaram
os meninos com uma espécie de alívio ansioso. Mary se agarrou ao pescoço de Remus
com muita força.

"Você está aqui!" Ele disse surpreso.

"Eu nunca fui muito esperta" ela sorriu tristemente.

"Remus!" Marlene estendeu a mão para ele, "Este é Danny!"

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Um homem alto estava logo atrás dela. Ele tinha o sorriso de Marlene; suas bochechas
rosadas e cabelos cor de palha.

"Oh, olá," Remus acenou com a cabeça, repentinamente tímido. Sirius deu um passo
para o lado, ficando mais perto, de modo que eles estavam ombro a ombro,

"Oi!" Danny disse sorrindo. Ele tinha uma cicatriz recente surgindo sob a gola de suas
vestes, mas nada no rosto; ainda não. Danny estendeu a mão para Remus, "Estive
ansioso para conhecê-lo, devo tanto a você..."

"Danny McKinnon!" James explodiu de repente. Tendo finalmente cumprimentado


Lily o suficiente, havia acabado de perceber este estranho encontro. Potter avançou,
"Posso apenas dizer que você é absolutamente, sem dúvida, o melhor Batedor que os
Cannons já tiveram?!"

Danny riu amigavelmente,

"Obrigado. Ouvi dizer que você é um artilheiro muito bom - James Potter, não é? "

"Sim, e adoraria--"

"Odeio acabar com o clube social, senhores", Moody vociferou, "Mas temos alguns
negócios para resolver."

Isso calou a boca de todos, e eles se reuniram ao redor da mesa parecendo muito
sérios. Começaram com algumas apresentações, embora de uma forma ou de outra a
maioria das pessoas se conhecessem. Quando o nome de Sirius foi falado, houve
alguns murmúrios abafados, mas ele apenas olhou desafiadoramente para todos eles.
Remus estava orgulhoso dele - deixe todos verem que você nunca poderia julgar um
livro pela capa, ou um homem pelo nome.

Depois disso, alguém leu a ata da última reunião - Remus não entendeu nada. Todos
pareciam falar em um código estranho e adulto, e ninguém parava para explicar as
coisas como faziam na escola. Muitos nomes foram mencionados; pessoas em

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diferentes cantos do país que eram aliadas - ou que passaram para o outro lado. Várias
políticas sendo empurradas através do Wizengamot, maneiras de influenciar votos;
como convencer as pessoas a aceitarem a maneira de pensar da Ordem.

Remus ousou olhar para Sirius, James e Peter, e ficou aliviado ao ver que estavam tão
confusos quanto ele. Em seguida, a lista de desaparecidos foi lida e todos seguiram
tranquilos. Alice propôs um minuto de silêncio que foi observado pelos jovens..

Houveram mais algumas atualizações - todos queriam saber o que Dumbledore estava
fazendo, que progresso ele havia feito. Progresso com o que exatamente Remus não
fazia ideia. Tarefas também foram distribuídas - Frank e Alice precisavam estar em
Anglesey todas as noites da próxima semana, exatamente às 18h. Um homem
chamado Shacklebolt teve que se encontrar com 'nosso amigo em comum' em 'você
sabe onde' na sexta-feira. Os gêmeos Prewett estavam na rota para guardar este ou
aquele local. Todos acenaram com a cabeça enquanto Moody os selecionava.

Finalmente, Moody encerrou a discussão.

"Aqueles que têm de ir, vão", disse ele, rispidamente, "Mandarei recado pelos canais
habituais em nossa próxima reunião. Se alguém precisar falar comigo agora, terá que
esperar um pouco. " Ele se levantou com dificuldade, as mãos sobre a mesa.

De repente, a pequena estufa não estava mais silenciosa e solene, pois todos
começaram a conversar com a pessoa ao lado, concordando furtivamente, ou então
apenas colocando os assuntos em dia. Remus piscou. Era só isso?! Ele franziu a testa e
olhou para o Sr. Potter, que estava abrindo caminho ao redor da sala até eles,

"Venha comigo e Hagrid", disse ele ao grupo, "Vocês também, senhoritas, vamos
colocar todas a par, hein?"

Remus relaxou, finalmente. Graças a Deus por isso. Havia sido profundamente
desagradável se sentir tão por fora sobre tudo. Ele se sentia incrivelmente jovem e
ingênuo.

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"Você não, rapaz," Alastor Moody os alcançou também, e colocou a mão calejada e
rachada no ombro de Remus. "Ferox e eu precisamos dar uma palavra com você. E
você, McKinnon - Daniel, quero dizer. " Ele acrescentou, para responder à expressão
surpresa de Marlene.

Os olhos de Remus se arregalaram e ele silenciosamente implorou a Sirius por ajuda,


apenas para Ferox se juntar a eles, rindo.

"Não fique tão nervoso, Lupin, eu prometo que não vamos torturar você."

Remus riu fracamente, aceitando seu destino. Ele e Danny seguiram Moody e Ferox
para fora da estufa de volta para a casa; através da pequena cozinha e ao longo do
corredor, subindo a escada com carpete marrom, que rangeu fortemente sob os pés.

Eles entraram em um pequeno quarto, evidentemente o quarto de uma criança. Havia


uma pequena cama no canto com um padrão de estrelas e naves espaciais no edredom.
A mobília era pequena e pintada de azul claro, e havia brilho nas estrelas escuras no
teto.

"Sentem-se, rapazes", Ferox acenou com a cabeça para a pequena cama. Danny e
Remus obedeceram. Moody permaneceu de pé, elevando-se sobre os dois, seu globo
ocular azul elétrico zumbindo em sua órbita.

"Não há prêmios por adivinhar sobre o que queremos conversar." Ele disse.

Remus não disse nada, porque não achou que uma resposta fosse necessária, mas
Danny sim.

"Lobisomens."

"Certo." Ferox disse, sentando em uma cadeira pequena, inclinando-se sobre os


joelhos.

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Ele estava mais bonito do que nunca na opinião de Remus. Ainda era um 'homem em
ação' grande e amigável. Sua juba de cabelo loiro dourado era tão lustrosa como
quando Remus tinha quatorze anos, apenas talvez com algumas mechas cinzas agora.
Um calor antigo e confortável borbulhou na boca de seu estômago - uma sensação que
ele nunca havia reconhecido na época, que parecia tão inocente agora. Ele sorriu,
finalmente, sentindo-se um pouco mais à vontade.

"Não tenho certeza de como posso ajudar", Danny estava dizendo, "nunca conheci um
até aquela noite". Ele estremeceu ligeiramente.

"Mas Lupin aqui sim" Moody disse, fixando os dois olhos em Remus.

"Você conheceu?" Os olhos de Danny se voltaram para ele, pegando-o de surpresa.

Remus sabia o que Danny via, obviamente; era o que todo mundo via, um garoto
magro e desajeitado de dezoito anos com um pescoço muito longo e cachos loiros
desgrenhados, joelhos nodosos e muitas cicatrizes. Ele engoliu em seco, sentindo-se
como um garoto estúpido em uma sala cheia de homens.

"Sim, conheci." Disse, olhando para as próprias mãos. "Dois membros da matilha de
Greyback, Lívia e Castor."

"Greyback?!" Danny disse em admiração silenciosa. "Puta merda."

"Remus não é novo nesse tipo de operação." Ferox disse. Ele parecia orgulhoso, mas
Remus o olhou, implorando, porque sim ele era , ele era absolutamente novo em tudo
isso - espionagem, reuniões secretas e guerras. Ele não gostou dessa sensação. Todo
mundo estava esperando muito dele.

"Só conversei com eles" Disse. "Eles não me machucam porque Greyback disse a eles
para não machucar, eu acho. Eles fazem tudo o que ele diz, são leais. "

"Como um exército." Ferox disse balançando a cabeça, como se entendesse. Remus


deu a ele um longo olhar.

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"Não." Respondeu "Como uma família".

"Eles são um culto perigoso." Moody disse bruscamente. "Eu não me importo com o
que chamamos. Precisamos ficar de olho neles. Entendido?"

"Então, o que você quer que façamos?" Remus perguntou, endireitando as costas. Ele
se sentia mais ele mesmo. Ferox ainda estava olhando-o, mas com verdadeiro respeito
agora.

"Sim, o que podemos fazer?" Danny perguntou.

O rosto abatido e marcado de Moody se curvou em um sorriso malicioso.

"Já ouviram falar da Travessa do Tranco?"

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Capítulo 152: A guerra: Infiltração

Whatever happened to

All of the heroes?

All the Shakespeare-os?

They watched their Rome burn.

Whatever happened to the heroes?

Whatever happened to the heroes?

No more heroes any more

No more heroes any more

'No More Heroes', The Stranglers.

Segunda-feira, 17 de julho de 1978

Pela primeira vez, Remus viajou para o Beco Diagonal sozinho em um transporte
trouxa. Bem, na realidade, ele havia aparatado grande parte do caminho e pegado o
metrô duas paradas antes apenas para parecer convincente. Moody o proibiu de usar a
rede de flu dos Potters caso ele fosse seguido, e Remus concordou.

Ele entrou no beco pela parede de tijolos do Caldeirão Furado e foi direto para o pub.
Danny estava lá esperando por ele, segurando um copo de whisky de fogo. Ele sorriu
timidamente para Remus.

"Precisava de um pouco de coragem holandesa."

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"Conheça o sentimento." Remus acenou com a cabeça severamente. Ele pediu o
mesmo ao estalajadeiro corcunda.

Eles se afastaram do bar e encontraram um canto tranquilo. Remus lançou muffliato


por precaução. Fizeram conversa fiada brevemente - Marlene havia começado a
treinar no St. Mungus e estava gostando, Danny não estava fazendo muita coisa.

"Tenho minhas economias, obviamente. Eu não estou exatamente duro, "ele suspirou,"
Os Cannons pagavam muito bem, eu poderia me aposentar se quisesse. Só não
esperava isso tão cedo. "

Remus não sabia o que dizer, porque a ideia de ter um emprego ainda parecia muito
distante para ele. Danny continuava lançando olhares para suas cicatrizes também.
"Desculpe," ele disse, quando foi pego olhando, "Eu só ... você sabe. Nunca vi..."

"Eu sei." Remus respondeu, tentando relaxar um pouco. Ele engoliu o resto do uísque
e puxou a cigarreira. "Tudo bem. Você tem...?"

"Apenas uma ou duas." Danny respondeu. "Acho que vou ter mais com o tempo. Ah,
e a mordida, obviamente. " Seus olhos correram ao redor quando disse isso, caso
alguém estivesse ouvindo.

"Claro." Remus acenou com a cabeça, acendendo seu cigarro e inalando


desesperadamente. "Você sabe quem fez?"

"E isso importa?"

"Pode ser que importe" Remus deu de ombros, "Eu acho que é importante para eles,
de qualquer maneira. Eu acho que aquele que te transforma ...têm uma conexão com
você, depois. Você pode reconhecer seu cheiro. Eles podem reconhecer o seu."

Danny torceu o nariz em desgosto.

"Como você aprendeu tudo isso?"

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"Parte disso é apenas experiência. Algumas delas de livros. Você já leu alguma coisa
sobre? "

"Não." Danny desviou o olhar "Nunca gostei de ler. No St. Mungus eles disseram para
não me incomodar, de qualquer maneira. Não é como se houvesse uma cura."

"Não," Remus franziu a testa, de alguma forma incomodado com essa linha de
raciocínio, "Não, não há uma cura, mas ... bem, ainda há coisas para aprender. Não é
apenas uma doença, você sabe, é quem nós somos. "

"Não é quem eu sou." Danny disse ferozmente, seu punho cerrado na mesa.

Remus desviou o olhar, envergonhado. Danny não estava pronto para isso, percebeu.
Ele ainda estava em negação. McKinnon ergueu um braço, sinalizando para Tom, no
bar, trazer outra bebida. Remus se perguntou quantos copos ele já tinha bebido.
Parecia rude perguntar; Danny era mais velho do que ele, estava na Ordem há mais
tempo.

"Então." Danny disse, como se fosse falar de negócios "Qual é o plano? Entrar, fazer
perguntas?"

"Acho que não ..." Remus respondeu com cuidado. Deus, Danny definitivamente não
estava pronto. "Acho que precisamos ser mais... hm... sutis."

"Queremos que eles saibam quem somos."

"Eles saberão no segundo em que entrarmos. Nosso cheiro."

"Ugh." Danny torceu o nariz novamente e engoliu sua próxima bebida.

"Olha, por que você não fica aqui?" Remus tentou, "Honestamente, eu já fiz esse tipo
de coisa antes, vou ficar bem. Posso enviar-lhe um sinal, se tiver problemas. "

Danny balançou a cabeça.

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"Prometi a Ferox e Moody que eu faria isso."

"Eles não saberão, eu não direi a eles." Remus pressionou, "Sério, está tudo bem, se
você não está confortável, eles não deveriam te obrigar ---"

"Eu disse que posso fazer isso!" Danny bateu com o punho na mesa.

Remus teve um desejo estranho de começar a rosnar. Seria muito mais fácil resolver
isso como lobos; ele poderia apenas se afirmar como o líder, e Danny teria que se
submeter ou levar uma patada na orelha. Ele se contentou em apenas encontrar seus
olhos e encará-lo com firmeza, o que teve o efeito desejado.

"Desculpe." O jogador de quadribol disse, suspirando, os ombros, antes tensos, agora


caindo cansados. "Estou acabado, com a lua chegando na quinta-feira."

"Eu entendo." Remus afirmou sério. "Mas você tem que se manter firme, ok?"

"Sim. Ok." Danny acenou com a cabeça. Ele fez uma pausa, dando a Remus um olhar
avaliador, "Marls disse que você era o garoto mais inteligente do ano."

Remus sentiu suas orelhas ficarem vermelhas.

"Dificilmente".

"Ela confia em você. Acho que seria melhor eu confiar também. " Danny havia se
submetido. Remus endireitou as costas, uma onda de orgulho animal passando por ele.

"Obrigado", ele acenou com a cabeça. "Ok, então eles vão nos reconhecer quando
entrarmos. O cheiro - eu sei que você não gosta, mas eu juro, é uma das habilidades
mais úteis que você tem agora, então não ignore, tudo bem? "

"Mas é tão confuso." Danny disse, parecendo frustrado "Metade das vezes não sei o
que é que consigo... cheirar."

"E eu?" Remus perguntou "Você poderia me identificar?"

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Danny o olhou calmamente, concentrando-se. Suas narinas se contraíram
ligeiramente. Ele assentiu.

"Bom!" Remus disse, um pouco animado agora - ele nunca teve ninguém com quem
conversar sobre isso antes, "É como... como algo familiar, não é? Algo que você
conhece muito bem. Você conseguirá distinguir melhor os diferentes cheiros, contanto
que pare de tentar ignorá-los. Quando eu relaxo é muito mais fácil - quase não preciso
fazer nenhum esforço, na verdade, vem naturalmente depois de um tempo. " Então ele
se lembrou de outra coisa que Danny deveria saber, embora não tivesse certeza de
como explicar. "Uhm ... Você pode notar que hum... as mulheres têm um cheiro
diferente também. Er. Mais atrativo."

"Certo." Danny acenou com a cabeça novamente, empalidecendo um pouco.

Remus olhou para baixo, pigarreou e retomou.

"E os que eu conheci, os da matilha de Greyback, eles são fortes. Eles têm uma magia
muito poderosa, eles nem precisam de varinhas na maior parte do tempo. Portanto, é
melhor não fazer nenhum movimento, porque não será como duelar - eles são difíceis
de prever."

"Merlin." Danny respirou.

"Não se preocupe." Remus disse rapidamente, "Eles não vão tentar lutar contra nós.
Eu não acho que iriam, de qualquer maneira. Não faria sentido se querem nos recrutar.
"

Danny bufou zombeteiramente.

"Pouco provável."

"Mas tente ser compreensivo." Remus disse "Ouça-os - queremos que pensem que
estamos interessados, certo?"

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"Certo. Claro. Exceto que não estamos. " Danny o estava olhando estranho
novamente.

"Claro que não." Remus explodiu. "Mas, ainda sim, estamos lá para fazer amigos.
Estamos lá para conversar, o que significa que primeiro temos que ouvir. "

"Não foi essa a impressão que tive de Moody." Danny disse "Isso é reconhecimento,
não uma missão de paz".

"Bem, Moody não sabe nada sobre isso." Remus disse, "Danny, me escute. Pare de
pensar que eles são seus inimigos, porque não são. Aquele que te mordeu - ele estava
errado, ok? Ele deve ser preso, deve ser punido, mas alguém o mordeu também . E por
causa disso, toda a sua vida mudou, e ninguém o olhou como se ele fosse a mesma
pessoa. Você entende isso, não é? "

Danny estava olhando para o fundo de seu copo vazio. Ele não respondeu, mas Remus
sabia que estava prestando atenção.

"Eles são como nós." Remus afirmou com firmeza. "Exceto que eles não tiveram tanta
sorte. Você e eu, temos pessoas que se preocupam conosco, que querem nos manter
seguros, que sabem que somos mais do que apenas ... apenas monstros. Aqueles que
estamos prestes a conhecer, talvez eles nunca tenham tido isso. Talvez Greyback tenha
sido a primeira pessoa que se importou. "

"Pessoa." Danny cuspiu "Como você pode falar assim? Como você pode dar a mínima
para o que acontece com eles? Como você pode estar tão calmo?!"

"Senti raiva por muito tempo." Remus respondeu friamente. "Agora estou pronto para
fazer algo a respeito".

Eles pediram mais uma bebida e depois foram embora.

Danny disse que nunca tinha estado na Travessa do Tranco antes e, claro, Remus
podia ver apenas olhando para ele - e sentindo seu cheiro. O odor de magia negra

24
ainda estava lá; fumaça acre, leite azedo. Era uma rua sombria de paralelepípedos com
vielas tortuosas que serpenteavam em diferentes direções. As vitrines das lojas
estavam sujas e exibiam uma variedade diabólica de artefatos perigosos de magia
negra.

Foi fácil encontrar o pub. O Cabeça de Manticora possuía uma horrível placa oscilante
pendurada em um suporte externo que exibia a imagem da cabeça decepada e
ensanguentada de uma mantícora em uma bandeja. A criatura tinha cabeça de homem,
mas uma espessa juba de leão. Seus olhos rolaram para cima e sua boca se abriu em
um gemido silencioso de miséria. Isso fez Remus estremecer. Parecia Ferox.

Ele entrou primeiro, Danny mais feliz em seguir do que liderar. Ele empurrou a porta
e no momento em que cruzou a soleira sentiu o cheiro. O atingiu como uma parede,
acendendo seus sentidos, deixando todos os cabelos deliciosamente arrepiados.

Cinco lobisomens. Ele conheceu cada um antes mesmo de colocar os olhos neles. Três
se reuniam em torno de uma mesa no canto mais distante. Dois no bar. Havia outros lá
também; criaturas das quais Remus tinha ouvido falar, mas nunca havia visto. Um
vampiro. Duas banshees. Uma gangue inteira de goblins.

Danny estava tenso atrás dele, Remus desejou que ele se acalmasse; era tão óbvio.
Porém, não havia nada que eles pudessem fazer a não ser entrar. Remus ouviu a porta
bater atrás deles.

Estava bastante escuro lá dentro; as janelas cobertas com cortinas de veludo puído. O
painel de mogno da parede e as bancadas estavam encardidos, cobertos por uma
estranha poeira pegajosa que brilhava em alguns lugares como purpurina. Atrás do bar
havia enormes espelhos cobertos com prateleiras e prateleiras de garrafas, cada uma
de um tamanho, forma e cor diferentes, brilhando à luz do fogo como uma parede de
jóias. O fogo rugiu, mas estava estranhamente frio.

25
Remus se aproximou do bar, o mais casualmente que conseguiu. A figura atrás dele
estava vestida com uma túnica pesada, capuz puxado para baixo, para que Remus não
pudesse ver seu rosto.

"Dois whiskies de fogo, por favor." Ele disse, se arrependendo instantaneamente da


sua educação. Havia passado muito tempo na maldita casa dos Potter.

O barman se virou e pegou uma garrafa. Remus procurou um troco em suas vestes.
Danny se juntou a ele, parando perto, olhando ao redor furtivamente.

Os dois lobisomens parados próximos ao bar estavam observando os dois. Isso era de
se esperar, é claro; era isso que eles queriam. Tudo parte do plano de Moody - Remus
e Danny eram inestimáveis para a Ordem, ele havia dito. Um menino que havia sido
transformado pelo próprio Greyback; em quem Greyback estava interessado e um
homem que havia se transformado recentemente, que os outros considerariam
vulnerável.

Remus acenou com a cabeça para eles cuidadosamente. Danny não moveu um
músculo, mas tudo bem - estava claro que Remus era o líder. Os outros dois acenaram
em retorno. Remus sentiu curiosidade, mas não perigo. Ele se endireitou, mais
confiante.

Eles eram machos, ambos quase da mesma altura, apenas alguns centímetros mais
baixos do que Remus. Um era atarracado, com cabelo loiro sujo, queixo quadrado,
bastante bonito em quaisquer outras circunstâncias. O outro era um de Greyback. Seu
cabelo estava raspado perto do crânio, ele tinha uma cicatriz grossa em uma bochecha
e, claro, as tatuagens cobrindo seus braços e garganta, fases da lua em espiral.

Olhando por cima dos ombros desses dois homens, Remus tentou fazer uma leitura
dos três no canto. Dois deles eram mulheres, um homem, todos de Greyback. Nada de
Livia ou Castor, o que foi um alívio.

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Os uísques chegaram e Remus tomou em um só gole, mantendo contato visual com os
dois lobisomens no bar - ou pelo menos aquele que pertencia a Greyback. Danny fez o
mesmo. O homem de Greyback inclinou levemente a cabeça, pensando, e então
estendeu a mão. Ele tinha unhas compridas e grossas, pretas de sujeira. Remus
apertou.

"Bem-vindos, irmãos." O homem disse, apertando a mão de Danny também. Danny


ficou visivelmente horrorizado com isso, mas Remus pensou que, por fora,
provavelmente só parecia estar nervoso. E quem poderia culpá-lo. "Eu sou Gaius.
Venha e sente-se conosco. "

Remus olhou para Danny, que assentiu, e os dois seguiram Gaius até a mesa no canto.
Os assentos pareciam bancos de igreja antigos e eram igualmente desconfortáveis para
se sentar. Remus tentou sutilmente se colocar ao lado de Danny, mas Gaius deslizou
entre eles, separando-os. Não havia nada a ser feito; Remus só esperava que Danny
soubesse quando aparatar.

O cheiro de todos eles reunidos era avassalador e excitante. Remus se sentia alerta,
cheio de energia - mas também muito seguro, quase confortável. Não era de se
admirar que os lobisomens fossem tão fáceis de recrutar, ele pensou. As pessoas
passavam a vida inteira em busca de um sentimento como esse; era uma sensação que
ele conhecia bem. Ele a tinha desde que os Marotos se tornaram animagos. Matilha.
Família. Casa.

"Irmão, irmãs", Gaius estava dizendo, "Este é Jeremy", ele gesticulou para o homem
bonito e louro com quem ele estava conversando no bar. "E esses dois são..."

"Daniel." Danny respondeu rigidamente. Ele bebeu de seu copo, os olhos correndo ao
redor. McKinnon continuava olhando para as mulheres, e Remus sabia por quê. Gaius
acenou com a cabeça agradavelmente, então olhou para Remus com expectativa.

"Remus Lupin." Ele respondeu com firmeza.

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A atmosfera mudou, as duas mulheres se inclinaram mais perto, os olhos brilhando, os
dentes arreganhados no que poderia ter passado por um sorriso.

"Remus Lupin." Disse Gaius. "O filhote que atacou nosso irmão Castor e nossa irmã
Livia."

"Eu me defendi." Remus disse, erguendo o queixo. Qualquer sinal de fraqueza seria
explorado.

"Ficamos com a impressão de que Remus Lupin havia feito sua escolha." Uma das
mulheres disse, sua voz baixa e rouca.

"Queria terminar meus estudos. Eu terminei a escola agora, "Remus disse,


razoavelmente," Estou explorando minhas opções. "

As duas mulheres continuaram a olhar, claramente não acreditando em uma palavra


que ele disse. Mas Gaius ergueu a mão.

"Nosso pai é misericordioso e generoso", disse ele, sorrindo, "Ele dá as boas-vindas a


todos os seus filhos".

"Irmão", disse uma das mulheres, "não se pode confiar nele! Ele é o cachorrinho de
Dumbledore! "

"Ele foi elevado pelo próprio Greyback ." Gaius estalou bruscamente, virando a
cabeça e contraindo a mão esquerda, girando o pulso. A mulher que havia falado ficou
rígida de repente, os olhos arregalados, como se tivesse sido dominada por uma dor
enorme. "Então cale. sua. boca." Disse Gaius, virando o pulso novamente.

A mulher relaxou, respirando com dificuldade. Todos podiam ouvir seu coração
batendo forte. Remus se sentiu enjoado.

Gaius sorriu ao redor da mesa.

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"Irmãos", ele disse aos três novos recrutas, "Nosso pai, Fenrir Greyback, lhes dá as
boas-vindas em seu bando. Fomos excluídos, como vocês, nos foi negado abrigo,
amizade, proteção. Nosso pai devolveria essas coisas para você - e muito mais. "

"Como?" Remus perguntou, esperando que sua voz soasse agradável e curiosa.

Gaius lhe lançou um olhar. Remus devolveu. Foi estranho. Ele sabia que a coisa a
fazer - a coisa certa a fazer pela missão, por sua segurança e pelos outros lobisomens,
era abaixar a cabeça, parecer subserviente, ficar quieto. Ele tinha que fazer com que
eles confiassem nele.

Mas não conseguiu. Talvez fosse o nervosismo, ou a força daqueles cheiros e poderes
tão perto dele, ou talvez fosse apenas aquela velha beligerância de Lyall Lupin, mas
Remus se viu fazendo exatamente o oposto. Ele levantou o queixo um pouco mais,
aproveitando o quão mais alto ele era do que os outros, mesmo sentado. Fez contato
visual claro e disse.

"Eu só queria saber como Greyback planeja nos fornecer abrigo, amizade e proteção."

"Você verá, com o tempo."

"Certo, bem, isso não é muito convincente." Remus deu de ombros, "Me parece um
monte de promessas, mas não um plano, o que vocês dois acham?" Ele olhou para
Danny e Jeremy, o homem loiro.

Danny apenas olhou para Remus, parecendo chocado. Jeremy, sem saber o que estava
acontecendo, encolheu os ombros.

"Eu não me importo como ele fará isso, contanto que faça. Não tenho para onde ir,
meus pais me expulsaram. "

"E se você tivesse um lugar para ir?" Remus perguntou rapidamente, "E se houvesse
um lugar seguro e você não tivesse que escolher nenhum lado na guerra...?"

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"Remus Lupin, você está confuso." Disse Gaius, erguendo a voz. "Tal lugar não existe
para nós. Os humanos deixaram isso perfeitamente claro. "

"Os ... os humanos," Remus disse cuidadosamente, pensando rápido, "Eles estão
errados, eu concordo com você - O Ministério da Magia precisa ser reformado - mas a
mudança só pode acontecer se ..."

"Eles não estão interessados. Eles estão apenas preocupados em assassinar nossos
irmãos e irmãs, nos trancando, suprimindo o lobo. "

"E o que exatamente Greyback vai fazer sobre isso?" Remus persistiu.

Ele sabia por que o pulso de Danny estava acelerado; por que ele ficava erguendo as
sobrancelhas para Remus desesperadamente por cima do ombro de Gaius, mas Remus
não conseguia pensar nisso agora. Parecia loucura pressionar Gaius daquele jeito
quando ele estava claramente emitindo sinais de perigo, mas era quase como se
Remus não conseguisse se conter.

"Quando você conhecer meu pai." Gaius rosnou: "Você vai entender."

"Eu gostaria de conhecê-lo." Remus respondeu intensamente.

Os lábios de Gaius se curvaram,

"Haverá tempo para isso. Quando você tiver se provado. " Ele olhou para os outros
"Quando todos vocês provarem a si mesmos, ganharão o direito de chamá-lo de pai."

"E como nós fazemos isso?" Remus perguntou, inclinando-se para frente, ansioso para
manter a atenção de Gaius nele. Ele sabia que Danny nunca se juntaria aos
lobisomens, mas esse garoto Jeremy - ele estava em perigo real.

Toda a postura de Gaius havia mudado; ele parecia maior, seus ombros mais largos,
ele franziu a testa para Remus.

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"Três luas cheias passadas com a alcateia" ele disse, os olhos brilhando com
intensidade.

"Ótimo," Remus assentiu, "Sim, ok, eu adoraria conhecê-lo, podemos fazer isso? Você
pode me dizer onde--"

A dor o atingiu, excruciante, queimando; seus ossos estavam derretendo, sua pele
borbulhava, ele queria gritar, mas sua mandíbula travou. Os olhos de Gaius
perfuraram os de Remus, furioso, e de repente Remus pôde ouvir a voz de Gaius
dentro de sua cabeça.

Remus Lupin você é um idiota.

Ronronou.

Meu pai deseja que você viva, mas só você. Você será obediente ou matarei todos
neste lugar. Eu vou matar...

Remus sentiu uma sensação estranha e penetrante em sua mente e sabia o que Gaius
estava fazendo. Tentou resistir, mas a dor era uma distração tão grande que ele não
tinha forças. Gaius pousou em algo que havia encontrado, seus olhos brilharam
maliciosamente.

Eu vou matar ... James Potter e Lily Evans ... e Peter, e Marlene e Mary e ... eu
vou matar Sirius Black ...

Uma onda de fúria cresceu em Remus e foi o suficiente - apenas o suficiente, apenas
por pouco - para se livrar do aperto feroz de Gaius em sua mente e corpo. Ele rugiu,
atacando com os braços e as pernas, porque seus pensamentos estavam confusos
demais para fazer qualquer outra coisa. Balançando a cabeça, como se para se livrar
da voz perversa de Gaius, ele se lançou sobre o outro lobisomem, forçando-o a recuar
contra o banco, meio em cima dele, envolvendo as mãos em volta da garganta e
apertando.

31
Os outros três lobisomens - os lobisomens de Greyback - todos tentaram se mover,
mas Remus estava tão cheio de raiva e emoção violenta que mal precisava pensar e
eles estavam presos no lugar.

"É isso que você quer dizer com me provar, Gaius?" Ele sibilou, apertando com mais
força, de modo que o rosto do outro homem ficou vermelho, as veias salientes em suas
têmporas. "Eu ganhei a porra do seu respeito agora?!"

Gaius o agarrou desesperadamente, mas apenas quando ele estava começando a


afrouxar e desmaiar que Remus o soltou. Ele recuou rapidamente.

"Danny!" Ele chamou com urgência: "Temos que ir."

Tinham que sair primeiro; não poderiam ser expulsos, pareceria que eles estavam
fugindo. Ah merda, ele pensou, merda, por que eu fiz isso?! O que ele iria dizer a
Ferox? Moody cortaria suas bolas!

A última coisa que Remus viu antes que ele e Danny aparataram foi o rosto
horrorizado de Jeremy.

***

"Merlin!" Danny gritou, assim que eles estavam fora dali. "Que porra?!"

Eles estavam em um campo, milhas e milhas fora de Londres. Eles deveriam caminhar
de lá até um ponto de ônibus, onde Moody estaria esperando para um interrogatório.

"Sinto muito," Remus ofegou, balançando a cabeça, "Eu tenho - perdi a paciência."

"Eu vi né, porra!" Danny vociferou "Não teria deixado você tomar todo aquele whisky
de fogo se eu soubesse que você iria virar a cara e tentar enfrentar todo o exército de
Greyback sozinho!"

"Aquele não era seu exército inteiro." Remus respondeu amargamente, enxugando o
suor da testa. Ele ainda estava zumbindo com a agonia que Gaius o fizera passar.

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"E aquela não era a porra da missão, era?!" Danny respondeu "Sutil, você disse! Basta
ouvi-los, você disse! "

"Percebi que não ia funcionar," Remus tentou explicar, "Eles são uma alcateia; você
tem que dominar o líder, você precisa mostrar a eles - "

"Você soa como eles!" Danny disse de repente.

"O que?"

"Você! Todas as suas porcarias de 'habilidades especiais'. Você quer ser assim, não é?
Não melhor do que um animal de carga? A porra de um besta?!"

Remus o encarou. Ele não sabia o que dizer, se sentia muito tonto, seus pensamentos
estavam uma bagunça.

"Olha." Ele disse, tremendo "Vamos apenas encontrar o Moody."

"Certo." Danny concordou, ainda com o rosto vermelho "Quanto mais rápido o
acharmos, mais cedo poderei ficar longe de você ."

Remus não respondeu, apenas começou a andar. Sua cabeça doía muito, uma
enxaqueca crescia atrás de seus olhos, o sol forte do verão era como adagas após a
escuridão do Cabeça de Mantícora. Sua mente estava correndo a mil por hora. Como
ele explicaria isso? Como alguém poderia ouvir o que houve e confiar nele
novamente? O que mais o preocupou foi que seu primeiro instinto era mentir.

Danny estava andando mais rápido, mas ele não tinha tido sua mente dilacerada por
um... oh porra. Danny estava certo? Remus era exatamente como eles, no fundo?

Os dois chegaram ao ponto de ônibus há muito abandonado, coberto de pólen e


rabiscado de graffiti. Moody os estava esperando, pontual como sempre. Ele os olhou,
seus olhos azuis os rodeando selvagemente.

"O que deu errado?" Ele perguntou de uma vez.

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Remus olhou para Danny. Danny olhou para Remus e então para seus próprios
sapatos. Remus engoliu em seco e resolveu puxar o curativo de uma vez.

"Eu errei." Disse. "Deixei meu temperamento levar a melhor."

Moody o olhou por um longo tempo. Ele era completamente impenetrável e, mesmo
que Remus soubesse que o auror não estava lendo sua mente - agora que sabia qual
era a sensação, sentia como se estivesse sendo perfurado da mesma forma.

"Conte-me tudo, rapaz." Moody disse, finalmente.

Remus fez o seu melhor. Ele não mencionou os uísques. Não mencionou a perda de
controle que sentiu, mesmo antes de Gaius tê-lo machucado. Definitivamente não
repetiu nada que Gaius havia sussurrado em seu cérebro. Ele contou apenas a história
que Danny poderia ter contado. E funcionou.

"Parece que você agiu em legítima defesa." Moody respondeu com ar profissional,
como se acontecesse esse tipo de coisa o tempo todo.

"Eu fui longe demais." Disse Remus. Era fácil ser submisso agora, ser educado e
respeitoso com outra pessoa. "Eu agi... me comportei mal. Coloquei Danny em
perigo."

"Não seja tão duro consigo mesmo, Lupin." Moody disse, soando quase gentil. "Você
estava em uma situação difícil. Vocês dois saíram disso. Você precisa ver um
curandeiro? Você sabe que maldição foi? "

"Foi magia sem palavras," Remus balançou a cabeça, "E eu estou bem. Não foi tão
ruim quanto a lua cheia. "

Isso era mentira. Ele ainda podia sentir os restos daquilo, sua cabeça latejava e seus
nervos estavam vibrando. Mas estava indo embora. A dor frequentemente o fazia, ou
então você apenas aprendia a superá-la.

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Moody riu rispidamente.

"Bom camarada. Certo, McKinnon, mais alguma coisa? "

Danny balançou a cabeça. Ele não tinha falado muito enquanto Remus estava se
explicando, apenas interrompeu uma ou duas vezes para confirmar que era verdade.
Ele ainda não o olhava, e Remus não o culpou. Moody, se percebeu, não comentou
sobre essa atmosfera estranha. Ele bateu palmas. "Bem, então, devo dizer que estamos
bem para aparatar agora. Lupin, vou com você, tenho outra reunião. McKinnon, você
ficará bem para voltar para algum lugar seguro?"

"Sim. Sem problemas." Danny respondeu com a voz vazia. "Te vejo por aí." E
começou a se afastar, de volta ao campo aberto.

Remus olhou para Moody.

"Ele está com raiva de mim. Não acho que devemos formar duplas assim novamente."

"Você não vai." Moody respondeu rapidamente.

O coração de Remus afundou. Então era isso. Moody não confiava mais nele. O auror
começou a andar na direção oposta à de Danny, atravessando a tranquila estrada rural.
Remus se apressou para acompanhar. O chão parecia estranho sob seus pés, como
uma esponja.

Moody parou abruptamente, tendo aparentemente julgado o bosque sombrio de


árvores onde eles estavam agora em um lugar adequado para aparatar. Ele olhou para
Remus.

"McKinnon não consegue aguentar, isso está claro. Vamos tê-lo nas comunicações ou
guardando uma casa segura. Você estará preparado para ir sozinho da próxima vez? "

"Eu...o quê?!"

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"Hoje você mostrou a eles quem é." Moody disse, ambos os olhos focados em Remus.
"Isso é bom. Vão ouvir sobre você na alcateia. Vai movimenta-los. Queremos
Greyback distraído. "

"Eu não tenho certeza se entendi." Remus franziu a testa.

"Não?" Moody ergueu uma sobrancelha espessa. "Acho que você é mais astuto do que
deixa transparecer, Lupin. Certo, vamos, tenho um encontro com Fleamont. "

E só. Sem mais perguntas. Em questão de segundos, eles estavam na porta dos fundos
dos Potter, respondendo às perguntas de identificação de Euphemia, e então tudo
voltou ao normal. Eles estavam de volta à realidade, rodeados pela familiaridade
gentil e calorosa da cozinha. Era como ser sacudido por um pesadelo, você só tinha
que ficar se lembrando de que tudo estava bem agora.

Moody desapareceu em direção ao escritório do Sr. Potter, e James e Sirius vieram


correndo pelo corredor para encontrar Remus. Sirius parecia meio louco, e eles
ficaram um em frente ao outro por um momento, os olhos arregalados cheios de
palavras. Finalmente Sirius veio em sua direção, envolvendo-o em um abraço e
enterrando a cabeça em seu pescoço.

"Você está bem." Ele sussurrou.

"Estou bem." Remus respondeu ferozmente, apertando-o de volta com força. E ele
queria dizer aquilo, ah Deus, ele realmente queria. Porém, não tinha mais energia,
então ele apenas o beijou, e James estava bem ali, e a Sra. Potter também, mas era a
única coisa que Remus conhecia que poderia dizer a Sirius o que ele precisava dizer.

Ele colocou a raiva, o terror, a culpa e a necessidade feroz de vingança de lado.


Haveria tempo para isso. Mas ainda não.

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Capítulo 153: A guerra: Home Front

Final do verão de 1978

Ele rolou pela centésima vez, os lençóis grudando em sua pele quente. Não se sentia
bem desde a lua cheia. Talvez até antes disso. Dormia apenas algumas horas por noite
e agora eram quase quatro da manhã e ele ainda não havia adormecido.

"Não consegue dormir?" Sirius também se movimentou.

"Não." Remus suspirou, sentando-se. "Desculpe. Eu deveria ir para o outro quarto."

"Por favor, não." Sirius pediu, esfregando os olhos, "Está tudo bem, eu já estou
acordado, vou te fazer companhia."

"Não estou com vontade de conversar."

"Tudo bem. Eu posso falar, estou sempre com vontade de conversar. "

Remus sorriu, embora não quisesse. Maldito Black.

"Vá em frente, então." Murmurou, deitando-se lentamente. Suas costas doíam da


última lua cheia, e ele havia passado um pouco da pomada de Marlene antes de
dormir, mas o efeito já estava passando. Sirius rolou para o lado, esticando um braço
sobre o corpo de Remus e falando sonolento em seu ouvido.

"Mal posso esperar por amanhã", murmurou ele, "Mal posso esperar que você
finalmente veja o apartamento. Eu nunca tive um lugar que fosse só meu antes."

"Nem eu." Remus respondeu, fechando os olhos.

Sirius havia comprado o apartamento na semana anterior, enquanto Remus se


recuperava da lua cheia. Havia sido - é claro - uma compra por impulso, mas Remus

37
achou que estava tudo bem, de verdade - ele tinha muito em sua mente para ajudar, e
era o dinheiro de Sirius, afinal.

Era em Londres, em um bairro trouxa. Após a surpresa inicial dos Potters com a
decisão dos meninos, Fleamont insistiu em garantir que todos os feitiços e alarmes de
segurança padrão estivessem no lugar antes que eles pudessem se mudar, então Remus
ainda não o tinha visto ainda.

"Me diga como é." Remus disse, virando-se na direção de Sirius, o abraçando. Ele não
se deixava tornar-se pequeno com frequência - afinal, ele era maior do que Sirius, e
parecia bobo. Porém, agora, privado de sono e cheio de ansiedade, era bom enterrar o
rosto no pijama de Black.

"É pequeno," Sirius disse, apoiando o queixo no topo da cabeça de Remus, "Apenas
um quarto, um banheiro, uma cozinha."

"Parece gigante." Remus respondeu. Estava sendo completamente verdadeiro. Nunca


havia imaginado que fosse viver em algum lugar assim, nem em um milhão de anos.

"Podemos ter o que quisermos, móveis, papel de parede, qualquer coisa. "

"Vou deixar o design interior para você."

"Tudo bem. Você pode construir as estantes de livros. "

"Estantes de livros?" Remus ergueu a cabeça. Ele não tinha pensado nisso.

"Sim, estantes," Sirius respondeu com um sorriso em sua voz, "Um espaço para a
coleção de discos também, obviamente. E há algumas garagens nas proximidades que
posso alugar... "

"Vamos ter um carro?!" Remus ficou um pouco alarmado com isso; ele tinha acabado
de concordar em ficar com a velha vassoura de James para viagens a negócios
relacionados à Ordem, ele realmente não gostaria de aprender a dirigir também.

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"Não um carro..." Sirius respondeu evasivamente, "Mas eu só estava pensando...
Quero dizer, seria muito útil ter outro meio de transporte."

"Tem o metrô." Remus disse, "Ônibus. Londres é realmente famosa por eles, sabe. "

"Sim..."

"Você já comprou?" Remus se afastou para ver o rosto de Sirius.

"Er..."

"Sirius!"

"O que?!" O moreno estava sorrindo maliciosamente, "É um presente de aniversário


antecipado para mim."

"Seu aniversário é apenas daqui a meses!"

"Um presente por ter comprado o apartamento, então. Vou comprar algo para você
também! "

"Honestamente," Remus riu, envolvendo os braços em volta de Sirius novamente,


"Você é uma perda de tempo. Idiota mimado."

"Babaca caseiro." Sirius respondeu rindo, sua voz abafada pelo ombro de Remus.

Eles ficaram imóveis e quietos por um tempo, simplesmente existindo. Remus relaxou
um pouco, mas ainda não ia dormir. Logo estaria amanhecendo, com certeza. De vez
em quando, ele pensava estar ouvindo um pássaro cantando no jardim. Não ouviria
isso em Londres. Seria apenas a van que entregava o leite chacoalhando, caminhões
de lixo e ônibus buzinando, e talvez um ruído de algum pombo estranho. Ele não
podia esperar.

Remus segurou Sirius com um pouco mais de força. Ultimamente, eles estavam se
abraçando muito. O contato parecia vital, lembrava a Remus que ele era humano.

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"Tudo bem?" Sirius perguntou baixinho.

"Sim. Simplesmente não consigo dormir. "

"Ainda não está com vontade de falar sobre isso?"

"Não."

"Ok." O moreno suspirou um pouco. Então ele moveu sua cabeça contra o ombro de
Remus, virando-se para beijar a parte mais macia de seu pescoço. A mão de Sirius
deslizou lentamente para o seu quadril. "Está com vontade de fazer alguma outra
coisa?"

***

Remus meio que esperou ver seu novo apartamento pela primeira vez sozinho com
Sirius. Um pensamento tolo; ele havia esquecido que, mesmo fora de Hogwarts, Sirius
e James vinham como um par. E onde quer que James fosse, Peter e Lily normalmente
iam. Então, acabaram sendo os cinco pegando o trem para Londres na manhã seguinte.

Sirius estava zumbindo de excitação, incapaz de ficar parado durante toda a viagem.
Ele andava pelo veículo, descia correndo as escadas rolantes em Waterloo e pulava de
um pé para o outro na plataforma subterrânea. Eles estavam todos com roupas trouxas,
e o moreno vestia sua jaqueta de couro, jeans preto e botas de combate. Remus
gostava de se concentrar nesses detalhes, porque se eles eram trouxas, não estavam em
guerra hoje.

O apartamento ficava perto da Leicester Square, em Chinatown. Era em uma parte


decadente da cidade, mas isso não importava para Remus, nem parecia preocupar
Sirius. Estava lotado e barulhento, o cheiro de comida chinesa, cigarros e ralos abertos
permeando o ar. As cabines telefônicas estavam repletas de anúncios de
acompanhantes e eles passaram por, pelo menos, dois cinemas peep show.

40
"Eu amo Londres." Remus sorriu para si e Sirius fez o mesmo olhando em sua
direção.

Eles entraram no prédio por uma porta no beco de uma rua não licenciada, entrando
um por um, com Peter comentando em voz alta como tudo parecia pequeno e como os
trouxas eram estranhos. Em seguida, após um pequeno lance de escadas, chegaram a
um patamar de concreto com uma porta de entrada amarela brilhante. Número 9.

"Lar!" Sirius disse enquanto colocava a chave na fechadura, sorrindo para todos eles.

Era pequeno. Era mundano, quase sem nenhuma mobília. Era básico. Era
absolutamente perfeito.

Eles entraram diretamente na sala de estar, que era muito moderna, sem hall de
entrada. Havia uma porta à esquerda que dava para a cozinha, que era ensolarada e
clara, uma janelinha sobre a pia de metal reluzente. Lily foi direto para a geladeira e,
muito docemente, trouxe uma garrafa de vinho branco espumante para comemorar.

Remus voltou para a sala de estar e por um corredor onde havia duas portas - uma era
o banheiro - azulejos verdes dos anos sessenta com acessórios de porcelana rosa - a
outra era um quarto. Duas malas - as roupas que haviam empacotado e mandado
anteriormente - estavam lado a lado ao lado próximo ao guarda-roupa. A cama já
estava lá, cuidadosamente arrumada com um cobertor marrom e uma manta. Não é um
dossel; nada de cortinas escuras secretas. Apenas uma cama perfeitamente normal
para dois.

"Bem?" Sirius perguntou ansioso, entrando no quarto atrás dele. "Eu sei que é
realmente trouxa, mas eu não queria exagerar no dinheiro... e assim é muito mais fácil
de proteger, Monty até chamou Moody para ajudar em alguns dos feitiços de
escudo..."

"É... ótimo." Remus acenou com a cabeça. Ele estava tão feliz. Apenas sorria, olhando
ao redor. "É ..." não havia palavras.

41
Felizmente, Sirius estava sorrindo também enquanto o olhava.

"Eu sempre sei que é bom quando você não tem algo sarcástico a dizer", ele piscou,
"Vem, você mal viu a sala de estar!"

Remus o seguiu. Lily estava servindo copos de vinho branco ("Devíamos ter dado a
você taças de vinho adequadas de presente!"), e todos brindaram, aplaudindo
ruidosamente.

"Cara, você tem que me mostrar como funciona aquela coisa de forno eclético", disse
James com os olhos arregalados, "E o rádio a dor."

"Radiador ." Lily revirou os olhos, "Honestamente, como você conseguiu um


Aceitável em Estudos Trouxas?!"

Peter estava olhando para a pequena lareira de tijolos, que estava muito deslocada na
sala de estar contemporânea com seu carpete creme e venezianas de plástico.

"Vocês estão conectados a rede de flu, então?" ele perguntou.

"Sim," Sirius assentiu. "Para as coisas da Ordem, obviamente. E para vocês também.
Moody tornou impossível rastreá-la. Todo o apartamento também é impossível de
localizar. "

Remus não pôde deixar de se sentir um pouco desconcertado pela lareira. Mesmo que
fosse essencial, ele não gostava da ideia de que os membros da ordem tivessem acesso
ao seu apartamento a qualquer hora do dia ou da noite. O pensamento da cabeça de
Alastor Moody aparecendo em sua sala de estar o fez estremecer. Sirius, ainda
observando o rosto de Remus com cuidado, deu-lhe uma cotovelada.

"Também coloquei outra coisa," ele apontou para o sofá.

Todos eles se viraram para olhar.

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"Você tem um telly fone!" James gritou de repente, quase derramando sua bebida de
empolgação enquanto apontava para o dispositivo em uma mesinha ao lado do sofá.

"Se acalme!" Lily brigou.

"Um telefone!" Remus olhou para o moreno espantado. "Está conectado?"

"Sim," Black acenou com a cabeça, orgulhoso, "Basta pegar e discar - para que eu não
tenha mais que ficar do lado de fora das cabines telefônicas -"

Ele foi interrompido, porque Remus praticamente o derrubou, jogando seus braços em
volta de Sirius, e então - porque, afinal, eles estavam em sua própria casa agora, pegou
sua cabeça em suas mãos e o beijou longa e fortemente.

Lily e James aplaudiram novamente, Peter engoliu sua bebida e foi se servir mais.

***

"Estou bonito?" Sirius estava se olhando no espelho do banheiro. Ele abotoava e


desabotoava a camisa repetidas vezes. "Devo usar uma gravata?"

"Não," Remus riu, ficando atrás dele, vestindo uma camiseta cinza lisa sobre o cabelo
úmido. "Pare de se preocupar, você está ok."

"Só ok?!"

"Desculpe." Remus respondeu impassível, "Você está incrível."

"Obrigado." Sirius sorriu presunçosamente para ele através do espelho. "Só não quero
decepcionar você, nunca conheci a mãe de ninguém antes."

"E a Sra. Potter?"

"Os Potter's não contam, eles são como meus próprios pais, não preciso impressioná-
los."

43
"Você estará ao meu lado," Remus deu de ombros, colocando um cardigã para cobrir
os braços, "Ela vai ficar impressionada."

"Não faça isso," Sirius resmungou, "Aposto que ela pensa que o sol brilha da sua
bunda."

"Você está pronto?"

"Como sempre estarei."

Eles saíram do banheiro, fazendo o seu caminho para fora do apartamento. Haviam se
mudado há apenas uma semana e meia e ainda haviam caixas por toda parte, mas já
parecia um lar para Remus. Ele adorava o barulho de chaves em seu bolso; a sensação
de fechar a porta da frente para o mundo; ter um lugar para ser ele mesmo
completamente. O apartamento apertado em SoHo não era tão grandioso quanto
Hogwarts, mas Remus já gostava mais dele do que qualquer outro lugar que já viveu.

(Grant tinha colocado da melhor forma - Remus ligou para ele assim que teve a
chance - "Um endereço fixo, hein? Caralho, subimos mesmo de vida.")

Eles aparataram do patamar do lado de fora, o que havia se tornado um hábito; era
isolado o suficiente para que ninguém os visse. Em poucos instantes, eles se
encontraram em uma rua residencial tranquila em Cardiff, onde - é claro - estava
começando a chover.

"Desculpe, deveria ter te avisado," Remus riu enquanto Sirius gritava e lutava para
puxar sua camisa para proteger seu cabelo, "Os verões galeses não são muito melhores
do que os escoceses."

Eles fizeram uma curta caminhada até o hospital rapidamente, e Remus guiou Sirius
para a enfermaria Pardal com muito mais confiança do que na primeira vez que
conheceu Hope. Ele sorriu e deu um pequeno aceno para a enfermeira de plantão,
antes de caminhar até o final da enfermaria para ver sua mãe.

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A cortina estava fechada na metade, então ele espiou ao redor primeiro, para verificar
se ela estava dormindo. Mas não, ela estava sentada na cama, folheando uma revista
de moda. Ele limpou a garganta e a mulher olhou para cima. Um enorme sorriso se
espalhou por seu rosto magro, mostrando cada dente perolado.

"Remus!"

"Oi", disse ele, abaixando a cabeça timidamente e caminhando para cumprimentá-la.

Ele a beijou de leve na bochecha. Havia feito isso três vezes agora, tendo avançado de
beijar apenas sua mão. O progresso era lento, mas cada marco parecia enorme.

"Eu esperava que você viesse hoje!" Ela sorriu, segurando a mão dele e o olhando
enquanto ele se acomodava na cadeira de plástico laranja ao lado da cama dela.

"Desculpe, faz tanto tempo," ele se desculpou, "eu terminei a escola, e então me
mudei ... hum. Trouxe alguém para conhecê-la"ele olhou para Sirius, ainda parado
atrás da cortina, olhando para Hope nervosamente. "Mãe," (segunda vez que havia
dito isso para ela), "Este é Sirius Black."

Sirius deu a volta e parou no final da cama, as mãos na frente dele. Ele parecia estar se
esforçando muito para não ficar inquieto.

"Prazer em conhecê-la, Srta. Lupin," ele disse educadamente.

Ela não o corrigiu sobre o nome, apenas sorriu benignamente de volta.

"Olá, Sirius. Você é amigo do Remus da escola? "

"Isso mesmo", ele acenou com a cabeça.

"Sirius e eu moramos juntos, em Londres." Remus disse, testando. Ele observou o


rosto dela, mas ela era inescrutável. Ela poderia ser uma auror sem problema.

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"Isso parece divertido", ela respondeu com os olhos vidrados, "Seu pai costumava me
levar para viagens a Londres, eu adorava andar nos ônibus de dois andares."

Ah. Ela estava no humor de falar sobre Lyall. Essas estavam longe de serem suas
visitas favoritas, mas ele a deixou falar, porque parecia deixá-la feliz. Hope começou
com uma longa e desconexa história sobre todas as vezes em que Lyall a levou a
Londres, onde viram todos os pontos turísticos, e depois vários outros lugares -
Edimburgo, Blackpool e Aberystwyth. Remus tentou não ouvir muito. Ele não queria
começar a se perguntar se Lyall os teria levado a esses lugares se as coisas tivessem
sido diferentes.

Eventualmente, com Hope não mostrando nenhum sinal de parar, Remus gesticulou
para Sirius se sentar, e ele arrastou uma cadeira da cama ao lado, que estava vazia.
Enquanto se acomodava, Remus notou a mala ao pé da cama. Normalmente não
estava lá. Ela finalmente tinha permissão para ir para casa?

"... e eu comi meu primeiro curry em um pequeno restaurante em Wembley ..." ela
estava dizendo agora.

"Estamos em Chinatown," disse Remus.

"Amável." Ela sorriu, embora ela claramente não tivesse ideia de onde era. Hope
estava ficando cada vez mais infantil, ele pensou, devia ser o remédio que estava
tomando. Deve ter sido irritante, mas na verdade o ajudou a ter empatia por ela. "E
você terá os resultados do seu exame em breve, certo?"

"Nós já sabemos" Remus respondeu, "Passei em tudo."

"Ele foi o melhor da escola em três matérias," Sirius disse do nada. "História, Trato
das criaturas mágicas e aritmancia - e as melhores notas em tudo o mais!"

Remus corou. Isso não era estritamente verdade. Ok, ele havia marcado um 'Excelente'
na maioria das disciplinas, mas só obteve um 'Excede as expectativas' em
Transfiguração.

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"Esse é o meu menino inteligente", ela sorriu sonolentamente, "Assim como o pai
dele."

"Você está indo para algum lugar, mãe?" Remus perguntou, ainda incomodado com a
mala.

"Oh, sim", ela acenou, descansando a cabeça contra a pilha de travesseiros que a
sustentavam, "Sim, estou indo para o hospício amanhã."

As entranhas de Remus ficaram geladas. Sua garganta ficou seca. Não, ele pensou,
não, preciso de mais tempo .

"Amanhã?" Ele engasgou. Ela apertou sua mão novamente, seus olhos se aguçaram,

"Estou pronta, amor. Está na hora."

"Mas..." ele não sabia o que dizer. Ele pensou que fosse chorar, mas não queria deixá-
la triste.

Sirius parecia confuso. Ele não sabia o que significava.

"Estou me certificando de que tudo está em ordem", disse Hope com naturalidade, de
repente parecendo muito mais madura do que o normal. "Se você me deixar seu
endereço, vou garantir que tudo chegue aonde deve. E, claro, o funeral - eu disse a
Gethin que você deveria ser notificado o mais rápido possível e que você se sentaria
na frente. Não deixe que eles o coloquem atrás como um parente qualquer. Você é
meu filho e não tenho nenhuma vergonha, entendeu? "

"Mãe, por favor ..." Remus desviou o olhar, chocado com o quanto se sentia
perturbado. "Eu não estou... só não ainda, ok?"

Seu rosto se suavizou. Ela suspirou.

"Tudo bem, meu querido. Eu sinto muito."

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Quem diabos é Gethin?! Ele queria gritar. Quantas surpresas estão esperando por mim
depois que você for embora? Ele sabia que isso estava por vir, mas ainda era a pior
notícia de sua vida. Não conseguia se livrar da sensação de traição. Eles tinham
acabado de se encontrar.

Sirius ficou desconfortável com o silêncio que se seguiu. Ele não entendia a
incapacidade compartilhada de Hope e Remus em dizer coisas importantes; Sirius
nunca conseguiria entender porque alguém simplesmente não dizia o que sentia assim
que sentiam. Mas ele respeitou a privacidade deles e se levantou,

"Eu vou pegar uma xícara de chá, Remus," ele disse gentilmente, "Você gostaria de
uma?"

Remus acenou com a cabeça,

"A cantina fica no final do corredor," ele explicou, olhando para o chão, ainda
segurando a mão de Hope. "Eu te encontro lá, em um minuto."

"Posso pegar alguma coisa, Srta. Lupin?"

Ela balançou a cabeça,

"Não, obrigado, querido. Foi um prazer conhecê-lo. "

Ele inclinou a cabeça galante, sorrindo educadamente - deus, ele podia ser charmoso
até nas situações mais desesperadoras - então saiu rapidamente.

Remus largou a mão de Hope e enterrou o rosto em suas palmas. Porra. Ele não
poderia simplesmente desfrutar de algo por cinco minutos sem uma tragédia?

"Ele é um jovem muito bom." Hope comentou com felicidade.

"Sim," Remus respondeu, bufando uma risada triste, esfregando a nuca nervosamente.

"Eu posso ver por que você gosta dele." Ela solicitou.

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Ela queria que o desagrado acabasse, claramente. Talvez ela quisesse voltar a falar
sobre Lyall. Bem, ele não iria deixar. Hope não era a única que poderia lançar
bombas.

Remus a olhou, tentando encontrar seus olhos.

"Olha, há algo que eu realmente sinto que devo explicar, er. Sobre Sirius. Sobre Sirius
e eu."

Hope fechou os olhos com um sorriso suave e balançou a cabeça gentilmente.

"Está tudo bem, cariad." ela pegou sua mão e deu um tapinha, "Eu soube no momento
em que vi vocês dois."

"Você... sério?" Remus a encarou. Nunca havia falado sobre isso com ninguém mais
velho do que ele antes.

"Eu tive um pressentimento por um tempo. Não vou fingir que não faz nenhuma
diferença ", respondeu ela, escolhendo as palavras com cuidado," Mas isso não muda
quem você é, meu querido menino".

Ela pegou sua mão novamente e ele a segurou. Hope gentilmente acariciou os nós dos
seus dedos com o polegar.

"Você o ama, não é?"

"Eu..." Remus sentiu o pânico familiar crescendo ao som daquela palavra, mas como
eram apenas os dois, ele sentiu que devia isso a ela, ser honesto, então concordou.
"Sim."

"E ele te ama."

"Eu acho que sim. Sim, ele ama."

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"Isso é tudo que eu preciso saber, então." Ela sorriu novamente e soltou um grande
suspiro, "Amor. É a única coisa que você pode levar com você, sabe. "

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Capítulo 154: A guerra: Outono 1978

Stop your messing around (ah-ah-ah)

Better think of your future (ah-ah-ah)

Time you straighten right out (ah-ah-ah)

Creating problems in town (ah-ah-ah)

'A message to you Rudy', The Specials

Remus espiou por cima do livro pela janela do café para ver se havia ocorrido alguma
mudança na rua à sua frente. Ele olhou para o relógio na parede gordurosa ao lado.
Faltavam cinco minutos, se Pete não se atrasasse.

Remus olhou para seu livro novamente. Ele não estava realmente lendo, estava muito
distraído. Hoje em dia, raramente se via com vontade de estudar entre as reuniões da
Ordem, missões estranhas e mal explicadas e visitar Hope no hospício - o que ele
tentava fazer praticamente todos os dias agora.

Além disso, Remus e Sirius estavam aprendendo a cuidar de si mesmos pela primeira
vez. Depois de uma semana consumindo apenas delivery, Remus admitiu a derrota e
pediu emprestado um livro de receitas da Sra. Potter. Os resultados foram mistos, até
agora. Sirius, entretanto, parecia ter atingido o limite sobre o estado do banheiro, e
dedicou várias noites para finalmente aprender alguns feitiços de limpeza.

Eles tiveram uma briga sobre se deveriam ou não comprar uma televisão (Sirius era
estranhamente desconfiado dessa tecnologia trouxa, ele não conseguia ver o motivo),
e então outra sobre a motocicleta (Remus odiava tudo sobre ela, mas, principalmente,
a parte dos feitiços voadores altamente perigosos que Sirius estava experimentando.)

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Fora isso, as coisas estavam indo muito bem. Bem. Tão bem quanto qualquer um
poderia esperar.

O relógio continuava correndo. Remus levou a caneca lascada contendo chá aos
lábios, bebeu e fez uma careta. Gelado. Ele estava lá há, pelo menos, uma hora, mas
não era como se tivesse que estar em qualquer outro lugar.

Desde a missão mal sucedida na Travessa do Tranco em julho, Remus notou uma
clara mudança na natureza de suas missões. Agora, costumava ser colocado com Peter
e, geralmente, era enviado apenas em atribuições "fáceis" - repassar mensagens,
coletar chaves de portal mortas - uma ou duas vezes havia ficado preso fazendo
sanduíches para visitantes nos Potter.

Enquanto isso, a sorte de Sirius e James os havia levado em uma direção


completamente diferente. Ambos passavam muito tempo com Frank e Alice, ou com
os gêmeos Prewett, fazendo todos os tipos de coisas interessantes, como defesa
avançada, deveres de guarda e até mesmo um ou dois ataques noturnos.

Sirius estava se divertindo muito. Remus estava infeliz, mas não disse isso. Em outras
palavras, eram apenas negócios, como sempre.

Finalmente, Remus olhou para cima e viu movimento. Era o fim da jornada de
trabalho do dia, e homens em ternos elegantes e chapéus começaram a encher as
calçadas. Se olhasse bem de perto, veria que alguns desses homens e mulheres
estavam vestidos de forma um pouco menos conservadora do que os outros. Era o fim
do trabalho no Ministério da Magia também.

Remus se levantou rapidamente, batendo as canelas na cadeira de plástico laranja ao


lado dele. Sibilando entre os dentes, ele mancou ligeiramente ao sair. Lá fora estava
abafado - não ensolarado, mas quente e pegajoso; tempo de dor de cabeça. Nuvens de
tempestade espessas e enjoativas pairavam acima dos prédios cinzentos, e um fedor
forte subia das latas de lixo, comida velha apodrecendo no calor não usual de
setembro.

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Remus ficou para trás por um momento, esperando e observando, não querendo ser
visto. Um jovem alto e bonito passou, vestindo túnicas pretas e um colete verde
garrafa. Ele tinha maçãs do rosto salientes e cabelo platinado, embora fosse muito
jovem - Remus o reconheceu imediatamente como Lucius Malfoy, o homem com
quem Narcissa havia arriscado a vida para se casar. Remus o observou caminhar pela
rua enquanto, mentalmente, elogiava a prima de Sirius por seu gosto excelente.

"Oh, olá Moony,"

Remus deu um pulo. De alguma forma, Peter ainda possuía a capacidade de pegá-lo
de surpresa - você quase nunca o via chegando.

"Cristo, Pete, você me assustou."

"Bem, se você não estivesse secando a bunda do Malfoy -"

"Cale a boca." Remus já estava de mau humor e muito sensível para ser provocado por
Peter Pettigrew, de todas as pessoas.

"Não esperava ver você", disse Peter, olhando para o relógio de bolso e enfiando-o de
volta no bolso da calça.

Ele estava vestindo uma jaqueta de tweed e um pequeno chapeu-coco idiota de cor de
mostarda. Ele parecia um duende genérico.

Remus se repreendeu internamente, envergonhado de si mesmo por ter inveja de seu


amigo - que, apesar de ter reprovado um punhado de NIEMs, conseguiu entrar em
uma posição de nível básico no ministério sem problemas.

"O que você quer dizer?" Remus franziu a testa, "Cheguei na hora, não cheguei?"

"Você não recebeu a mensagem de Arthur?" Peter o olhou inocentemente, "Foi


cancelado. Eles enviaram Caradoc. "

"Oh." Remus franziu os lábios.

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"Então podemos ir para casa!" Peter disse alegremente "Graças a Godric também,
estou exausto. O trabalho foi um caos hoje, estou perdido. "

"Certo, é claro." Remus acenou com a cabeça, seus ombros caindo.

Ele não tinha saído da cama até o meio-dia. Então tudo que havia feito foi ler os
jornais, fumar e comer metade de um pão - que Sirius havia comprado na manhã
anterior. Esta havia sido sua conversa mais longa com outro ser humano durante todo
o dia.

"Tem certeza de que eles não precisam de nós?" Perguntou esperançoso "Talvez se
fôssemos de qualquer maneira -"

"Melhor não," Peter balançou a cabeça, "Você sabe como o Moody é sobre o
protocolo. De qualquer forma, estou morrendo de fome, mal tive tempo de almoçar. "

"Mesmo? Quer ir comer algo no Caldeirão Furado? "

"Desculpe, prometi à mamãe que estaria em casa. Ela está preocupada, você sabe."

"Ah. É claro."

"Padfoot está no seu apartamento, não está?"

"Sim, ele já deve estar de volta."

"Vejo você na próxima reunião, Moony!"

"Sim, até mais."

Eles se separaram e caminharam em direções opostas, Peter indo para a rede de flu
mais próxima (ele ainda não havia aprendido como aparatar) e Remus para um beco
silencioso no qual poderia se esgueirar e desaparecer em paz.

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Tentou se animar um pouco enquanto estava do lado de fora da porta de seu
apartamento. Ele se sacudiu, tentou limpar sua mente, forçou um sorriso e abriu a
porta.

"Você voltou mais cedo!" A voz de Sirius comemorou da cozinha, e isso foi o
suficiente para jogar Remus de volta em seu mau humor. Parecia uma acusação.

"Hm." Ele grunhiu, fechando a porta e tirando o cardigã, os pelos dos seus braços
coçavam e formigavam com o calor. Isso fazia com que suas cicatrizes também se
levantassem, como arame farpado.

"E aí?" Sirius apareceu. Ele havia tomado banho recentemente, seu cabelo ainda
brilhava. "Algo aconteceu?"

Remus bufou, chutando os sapatos e jogando-os sob a mesa de centro.

"Nada aconteceu. Foi cancelado. Ou outra pessoa o fez. De qualquer forma, não
importa, era apenas uma tarefa para me deixar ocupado. "

"Não, não era." Sirius resmungou. "Por que Dumbledore te daria uma missão só para
te deixar ocupado?"

"Porque eles não podem mais confiar em mim para nada, mas eles ainda querem me
manter do lado deles para que eu não vire do mal de repente."

"Moony..." Sirius estava com as mãos na cintura agora.

Remus suspirou e acenou com a mão.

"Esqueça isso. Como foi seu dia?"

"Foi ...ocupado. E longo." Sirius respondeu com cuidado, obviamente não querendo
provocá-lo mais. "As coisas normais, você sabe."

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"Não sei." Remus murmurou. "Você pode ficar na companhia dos aurores o dia todo.
O melhor que consigo é Wormtail. "

"Não seja assim." O moreno se sentou ao seu lado no sofá, "Você ainda está fazendo
muitas coisas úteis. E eles enviaram você naquela missão no início do verão, aquilo
foi importante!"

Remus não disse nada. Ele tinha contado a Sirius o que aconteceu, como havia
perdido o controle de novo , e como Moody claramente não confiava mais nele, e
Danny provavelmente o odiava.

Na pausa que se seguiu, Sirius se aborreceu.

"Olha, se você está de mau humor, prefiro sair do seu caminho. Também não tive um
dia brilhante. "

"Está bem." Remus respondeu bruscamente.

Não estava bem. Parte dele queria agarrar Sirius para um beijo, puxá-lo para o quarto
e se desculpar por ser um idiota. A outra parte queria uma briga completa, com muitos
gritos e palavrões. De qualquer forma, ele não queria que Sirius fosse a lugar nenhum.

O moreno suspirou e se levantou.

"Tudo bem então." Ele pegou as chaves ao sair. "Vou trabalhar na motocicleta", disse.
"Vou comprar pão na volta, já que acabou de novo ."

Remus grunhiu em resposta, olhando para um buraco em sua meia ao invés de


encontrar os olhos de Sirius. Eles se acertariam mais tarde, eles sempre se acertavam.

***

O problema em não estar mais em Hogwarts era que Remus nunca tinha ideia de onde
alguém estava. Ele sentiu muita falta do mapa do maroto e ficava ansioso sempre que
imaginava Sirius, James e Peter soltos no mundo, enfrentando sabe-se lá o quê.

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Isso tipificava a maneira como se sentia sobre quase tudo, agora que as aulas haviam
acabado. Em Hogwarts, ele estava no controle; ele tinha um lugar, um certo status. No
mundo real, ele não era nada, não era ninguém; de volta ao fundo do poço.

Como um jovem maduro e educado, ele sabia que deveria enfrentar esses novos
desafios com firmeza; provar seu valor, como James e Sirius - e até mesmo Pete. Mas
Remus não o fez. Ele se amuou.

Após o cancelamento da missão com Peter, houve outra longa e confusa reunião com
a Ordem, e quase ninguém olhou em sua direção. Moody não estava lá, nem Ferox,
então Remus não podia nem ir perguntar a eles se havia algum acontecimento no que
dizia respeito a Greyback.

Foi bom ver as meninas - Lily estava trabalhando como aprendiz no departamento de
pesquisa de poções no St. Mungos, e ela e Marlene haviam feito uma gangue inteira
de novas amigas no hospital. Mary estava na faculdade de secretariado trouxa e -
como Remus - não havia impressionado a Ordem em nenhuma das suas missões até
agora.

"Suponho que eles não querem meu sangue sujo furando o disfarce de todos," ela
revirou os olhos. Ele deu uma risadinha. A boa e velha Mary.

Desde aquela reunião, Remus passou grande parte de seu tempo sozinho. Ele dormiu,
ouviu o rádio, desceu para a loja da esquina para comprar cigarros e fingiu ler. Disse a
Sirius que estava pesquisando magia defensiva, mas não conseguia ver sentido em
estudar sem nenhum motivo.

Remus estava esparramado no sofá um dia fazendo palavras cruzadas em um jornal


gratuito que havia pego em algum lugar. Bem. Ele não estava realmente "fazendo
palavras cruzadas", mas sim tentando escrever os palavrões mais criativos que
pudesse pensar nos espaços. Estava preso no número 12, '_ _ _ E _ _ _ _ F', quando o
telefone tocou.

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O que o fez pular; o telefone nunca tocava.

"O-olá?" Disse rouco, percebendo que já passava de uma hora da tarde e era a
primeira vez que falava.

"E aí, querido."

"Grant?"

"Alguém mais anda te ligando, querido? Seu mulherengo. "

Remus riu, sorrindo de orelha a orelha.

"Babaca cínico. Onde você esteve?"

"Aqui e ali. Desculpe, eu tive um verão um pouco agitado ... er... você está em casa,
então? "

"Sim."

"Brilhante, estou a cinco minutos daí."

"O que?!"

"Vejo você em breve!" A linha ficou muda.

Não sabendo o que deveria fazer - e ligeiramente atordoado - Remus foi ao banheiro
rapidamente para se olhar no espelho. Ele estava vestindo uma camiseta amassada e
colocou um suéter, que estava no chão, para cobrir seus antebraços com cicatrizes.
Seu cabelo nunca parecia mudar, não importava o que fizesse, então ele correu os
dedos pelos cachos e os observou voltar ao lugar. Desejou ter tomado banho quando
acordou naquela manhã, mas era tarde demais agora.

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Houve uma batida na porta e Remus correu para atender, apontando sua varinha para a
chaleira ao passar pela cozinha, ligando-a. Seu pulso acelerou e ele percebeu o quão
animado estava por ver alguém que não estivesse envolvido na guerra.

Ele abriu a porta com mais força do que o necessário, fazendo com que ela quase
batesse na parede.

"E aí" Grant estava parado na entrada, olhos arregalados, mas sorrindo, seu rosto
redondo e ensolarado estava como tinha sido aos quinze anos, dente lascado, roupas
claras e tudo o mais que fosse certo no mundo.

"Oi!" Remus respirou, recuando para permitir a entrada de Grant, "Estou tão feliz em
ver você!"

"Caramba," Grant o cutucou com seu tênis quando entrou, "Se eu soubesse que seria
bem-vindo desse jeito, teria aparecido semanas atrás."

Ele ficou parado no meio da sala com as mãos nos quadris, olhando ao redor com
admiração. Então soltou um assobio baixo "Até que você 'ta indo bem, hein? Muito
legal."

"Suponho que sim" Remus esfregou a nuca. Estava um pouco bagunçado, jornais
velhos e canecas de chá meio vazias por todo o lugar, sem falar nos cinzeiros
transbordando. De repente, ele ficou muito envergonhado.

"Por que você tem uma lareira?" Grant riu "Pensei que todos esses apartamentos
modernos tivessem aquecimento central?"

"Hm." Remus murmurou, "Xícara de chá?"

"Você é um campeão."

Remus foi até a cozinha e usou um pouco de magia silenciosa para se apressar, antes
de levar as canecas para a sala de estar, onde Grant estava inspecionando a estante de

59
livros. Ele parecia tão bem. Suas roupas eram limpas e elegantes - usava até uma
camisa social, que tinha uma gola larga e punhos florais.

Remus lhe serviu chá e arrumou um pouco rapidamente antes de se sentar.

"Eu não posso acreditar que você está aqui." Ele disse. Grant riu.

"Nem eu, para ser honesto. Faz muito tempo, hein? "

"Como foram suas férias?"

"Ah, er ..." Grant parecia estar corando. Suas orelhas ficaram vermelho-cereja. "Isso
foi uma mentira ... Eu só não queria azarar nada."

"Azarar o quê? O que você tem feito?"

"Eu hum. Olha, não ria de mim, certo? Tenho feito aulas noturnas. Sabe, para
conseguir meu O-levels". Ele olhou para baixo.

"Isso é brilhante!" Disse Remus. Grant ergueu os olhos para ele com cautela, como se
esperasse a piada.

"Antes tarde do que nunca, suponho. Fiz meu exame de matemática CSE hoje, na
Russell Square. Difícil para cacete, mas acho que fiz o suficiente para passar. O porra
do Pitágoras era mesmo um idiota, hein?"

Remus riu.

"Muito bem! O que te fez querer fazer tudo isso? "

"Querer trabalhar em outro lugar que não seja um pub um dia." Grant deu de ombros,
"Transar com aqueles alunos da faculdade abriu um pouco os meus olhos. Não quero
ser um ignorante por toda a minha vida. "

"Você não é ignorante." Remus afirmou, lhe dando um olhar severo.

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"Bem, veremos," Grant acenou com a mão, tímido novamente. "Se eu me classificar
em matemática e inglês - e eu acho que fui bem em inglês também - você deveria ver
minha ortografia, está muito melhor - então estou optando por começar os A-Levels
em janeiro. Eu quero cursar psicologia, eu acho."

"Psicologia." Remus repetiu maravilhado.

"Sim," Grant riu, "Ricky - esse é um dos alunos que eu estava saindo - ele achou que
eu me daria melhor em Política, mas para ser honesto, estou cansado de Trotsky. Ele
era comunista."

"Trotsky?"

"Ricky."

"Certo." Remus deu um gole em seu chá, pensativo. Todo mundo estava fazendo
coisas. Todo mundo tinha uma direção. E aqui estava ele, apenas sentado e
observando, como de costume. O ódio por si mesmo cresceu dentro dele.

"Então... como está Sirius?" Grant perguntou educadamente.

"Está bem. Ele está fora agora. Hum ... palestra da universidade. "

"Legal. E ... sua mãe? Como ela está? "

"Morrendo." Remus grunhiu.

"Merda."

Remus praticamente cuspiu seu chá, rindo. Grant sorriu.

"Ei, você ouviu sobre o St Eddy's?"

"O que aconteceu?" Remus franziu a testa.

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"Fechou. Aparentemente, foi a última escola aprovada na Grã-Bretanha - agora são
todos 'Lares da Comunidade'. "

"O que aconteceu com todos os meninos?"

"Alguns deles foram enviados para Borstal. O resto foi realocado. Eles estão
derrubando o prédio, construindo apartamentos em vez disso. "

"Bom." Remus disse sombriamente.

"Eu beberei à isso", Grant bufou, erguendo sua caneca de chá. Eles conversaram um
pouco mais. Grant não estava saindo com ninguém sério e não sabia quanto tempo
mais ficaria em Brighton. Ele sentia falta de Londres, mas sabia que precisava
economizar mais dinheiro se quisesse voltar de forma definitiva. Estava tão diferente
da última vez que Remus o vira.

"'Chega de falar sobre mim, e você? Também está na universidade? "

"Na verdade, não estou fazendo nada." Remus suspirou. "É difícil conseguir um
emprego agora. Só estou ficando aqui. "

"Sorte a sua ter isso aqui, hein?" Grant gesticulou ao redor, pegando a caixa de
cigarros sobre a mesinha de centro e sacudindo-a. Remus acenou com a cabeça e
pegou um para si também.

"Sim, sorte." Respondeu taciturno, enquanto o acendia.

"Você precisa sair mais, querido." Grant disse, parecendo sério.

"O que?"

Grant resmungou, soltando fumaça e olhando Remus de cima a baixo.

"Olhe para você, seu idiota miserável. Eu não sou cego, sabe. Enfiado aqui sentindo
pena de si mesmo, não é? "

62
"Não, eu -"

"Remus," Grant suspirou, balançando a cabeça, "Eu não estou sendo horrível, só estou
dizendo. Sabe quando saí de St. Edmund's e morei naquela ocupação? "

"Sim...?" Remus gostaria de poder esquecer aquilo, mas estava gravado em sua
memória. Os colchões sujos, as tábuas nuas do chão, a umidade.

"Eu achei ótimo no início - sem escola, sem a Diretora me dizendo o que fazer, apenas
eu cuidando de mim mesmo." Ele balançou a cabeça, franzindo os lábios, "Eu gostava
de fugir. Eu fazia isso o tempo todo quando era criança. Fuji da minha mãe, do meu
avô - aquele idiota - de qualquer lugar que as pessoas tentavam me prender. E a
questão é que eles sempre me deixavam ir. A Diretora nunca chamou a polícia,
mamãe nunca tentou me encontrar. Na verdade, você foi a única pessoa que tentou e
conseguiu. "

"Eu ..." Remus não sabia disso.

"Eu não sei como você fez isso," Grant riu, coçando o queixo, "Talvez você tenha uma
varinha mágica ou algo do tipo. Mas você me encontrou. Duas vezes. Pensei muito
nisso ao longo do ano passado. "

"Eu só queria ter certeza de que você estava bem."

"Eu sei que queria" Grant sorriu suavemente, "Isso é o que me deixa maravilhado.
Aqui está esse rapaz - um rapaz inteligente, engraçado e elegante - que se importa
comigo, quando ninguém mais se importava. Me fez sentir como alguém que valia a
pena. Então achei melhor fazer algo que valesse a pena. "

Remus não sabia o que dizer. Ele colocou o chá na mesa.

"É por isso que eu queria esperar até que meus exames terminassem antes de te ver,"
Grant continuou, "Mesmo se eu reprovar, eu queria te dizer que fiz, que estou
tentando ser melhor. "

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"Você nunca precisou provar nada para mim," Remus respondeu seriamente.

"Eu sei," Grant acenou "Eu fiz isso por mim, realmente. Eu fiz isso porque, no final,
fugir e evitar todas as coisas que me faziam sentir como uma merda era inútil. Se você
quer que as pessoas pensem que você vale a pena, você precisa começar a agir como
se quisesse algo. "

Remus riu sem humor.

"Parece que você já está estudando psicologia."

"Tenho lido muito", Grant piscou, "Você entende o que estou te dizendo, então?"

"Sim." Remus suspirou. Faça algo que valha a pena. Pare de se lamentar.

"Bom." Grant disse brilhantemente, "Porque se você não está feliz aqui, eu vou querer
trocar de lugar com você. Belo apartamento, muitos livros, um namorado lindo... "

Remus riu de novo e chutou a canela de Grant de brincadeira.

"Cala boca."

"Nunca. De qualquer forma, é melhor ir embora, tenho um trem para pegar - mas
estarei de volta em mais ou menos um mês, quando tiver os resultados de que
preciso."

"Você vai conseguir." Remus afirmou com segurança, "Eu sei que você vai."

"Obrigada. Me ligue logo, hein? "

Eles se abraçaram na porta, e Remus o observou ir, descendo os degraus de dois em


dois, assobiando uma música pop.

Remus se sentiu mais leve; suas bochechas doíam de tanto sorrir. Ele fechou a porta e
olhou para a sala bagunçada. Teve vontade de lavar a louça. Então, poderia ir à loja e

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comprar algo para o jantar. Sirius ficou fora o dia todo; ele gostaria de voltar para casa
e ter uma refeição adequada o esperando.

Amanhã, Remus poderia recomeçar sua vida de forma adequada. Havia muito o que
fazer.

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Capítulo 155: A guerra: Inverno 1978-1979

Rows and flows of angel hair

And ice cream castles in the air

And feather canyons everywhere

I've looked at clouds that way

But now they only block the sun

They rain and snow on everyone

So many things I would have done

But clouds got in my way

'Both sides now', Joni Mitchell.

Sábado, 23 de dezembro de 1978

"Jesus Cristo." Remus resmungou, abrindo seus olhos pegajosos.

Ele tateou ao lado da cama em busca de seu copo d'água e o encontrou vazio.
"Aguamenti", murmurou, a mão da varinha tremendo.

O copo se encheu de água e ele a engoliu com avidez. Então rolou e deitou de costas,
pressionando a palma das mãos nos olhos, na esperança de mitigar a dor de cabeça
que ameaçava começar a roer seu cérebro. Se virou suavemente e se dirigiu ao relevo
sob o edredom,

"Está acordado?"

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Houve uma espécie de estremecimento e um grunhido. Remus resmungou. Estava
muito quente no quarto, até mesmo para dezembro. Ele se levantou e foi até a janela
para abri-la, e então pressionou a testa contra o vidro frio e deixou o ar lavar sua pele
quente.

Eles tinham estado no Caldeirão Furado na noite anterior para tomar umas bebidas
antes do Natal. Os Marotos e Lily passariam a data nos Potter, mas todos os que
estavam trabalhando já estavam de férias, e Mary sugeriu liberar um pouco da pressão
dos membros mais velhos da Ordem da Fênix, pelo menos uma vez.

Como a maioria das ideias de Mary eram, foi extremamente divertido. Marlene
apareceu e trouxe Yaz, que estava visitando os McKinnon, porque sua família não
comemorava o Natal de qualquer maneira. Frank e Alice apareceram para dizer olá, e
Sirius e James insistiram em pagar mais umas rodadas.

Após os últimos pedidos, aqueles que ainda estavam de pé se amontoaram em um táxi


de volta ao apartamento de Remus e Sirius, o qual poderia não ter nenhum pão ou
leite, mas o bar estava sempre totalmente abastecido.

Depois disso, tudo ficou um pouco confuso. Remus teve uma sensação horrível de que
ele e Lily começaram a cantar canções de natal trouxas em algum momento.

Ele gemeu alto, "Por que você me deixou beber tanto?!"

"Ei, não me culpe!" Lily saiu debaixo do edredom, seu cabelo ruivo fofo despenteado
como um dente-de-leão.

Remus saltou, olhando ao redor enquanto passava os braços protetoramente em torno


de si.

"Puta que pariu, Evans, o que você está fazendo aqui?!"

"Não consegui fazer James ir embora", ela bocejou, "E eu não ia dormir no sofá, eles
começaram a construir um forte."

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"Esta é a segunda vez que você surge no meu quarto sem avisar, Evans, as pessoas
vão comentar." Remus procurou por uma camiseta.

"É a segunda vez que eu te pego sem calças também", ela riu, "Ah, volte para cá, you
big jessy, ainda é cedo."

Ele voltou, mas apenas porque o quarto estava frio agora, e ele não gostaria de
descobrir o que James e Sirius haviam feito na sala de estar. Com a camiseta colocada
e debaixo do edredom, Lily colocou os braços em volta de sua cintura, o cabelo
comprido dela fazendo cócegas sob seu queixo, como o de Sirius. Ele acariciou seu
ombro. Ela era tão agradável e pequena.

"Você acha que se eu tivesse concordado em sair com você no quarto ano, nossa vida
seria assim?" Ele perguntou em tom de conversa.

"Ah Deus," ela gemeu, cobrindo os olhos com os dedos, "Você tem que me lembrar
disso?!"

Ele riu.

"Eu não sei por que você está envergonhada, era eu quem estava alheio."

"Eu tinha uma queda por você!"

"Shh", ele riu, "James levou semanas para me perdoar, eu tive que jurar enquanto
estava sob efeito do soro da verdade e dizer não tinha intenções nefastas em relação a
você."

"Aquele idiota. Eu amo ele."

"Hm."

"Estou tão feliz que é Natal", ela suspirou, "Todos nós precisamos de um descanso,
não é?"

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"Sim."

"Eu deveria estar fazendo as malas hoje, para então ir para a casa dos pais de James
esta noite - você estará lá?"

"Sirius provavelmente sim" Remus respondeu, "Vou visitar a minha mãe. Você sabe
que ela é... hum. Ela está no hospício, agora. "

"Ah, claro!" Lily lhe deu um aperto. "Desculpa, amor. Como ela está?"

"Eu não acho que eles esperavam que ela fosse durar até o Natal. Mas ela está
aguentando. "

"Ah Remus." Lily suspirou tristemente.

"Está bem." Remus se afastou, decidindo que poderia muito bem se levantar depois de
tudo. "Certo. Preciso de uma xícara de chá e um cigarro." Disse enquanto saía da
cama e vestia uma calça jeans.

"Ugh, vocês dois realmente precisam parar de fumar", Lily falou, sentando-se, "Este
edredom fede."

"Não me diga que você nunca fumou um cigarro pós-coito clichê, Evans?" Remus
piscou, indo para a porta.

"Pós c-? ... ah meu Deus, Remus !"

Ele ainda estava sorrindo para si quando entrou na sala de estar, que parecia ter sido
atingida por uma bomba. O sofá havia sido movido para o meio da sala por algum
motivo, com as almofadas removidas. James estava esparramado no que parecia ser
um colchão de cor creme gigante no chão e dormia profundamente. Sirius estava caído
aos pés de James com um dos casacos de Remus enrolado sob sua cabeça.

Remus caminhou até a cozinha, ligando a chaleira. Cada superfície estava pegajosa
com algo doce e alcoólico; haviam canecas e copos meio cheios, alguns com cigarros

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meio fumados flutuando neles. Remus fez uma careta e sentiu seu estômago se
contrair, então ele abriu uma janela para respirar. Realmente não queria vomitar.

Mary havia escrito 'Feliz Natal, traidores do sangue!' na porta da geladeira em batom
rosa alegre, com três grandes beijos abaixo. Ela passaria o resto do Natal na Jamaica -
a primeira vez que visitava o país de origem dos avós. Remus estava feliz com isso. O
Natal nunca tinha sido uma boa época no que dizia respeito à guerra, e ter Mary o
mais longe possível do perigo o fazia se sentir um pouco melhor.

Ele não estava feliz pelo Natal ser nos Potter - embora se sentisse culpado só de
pensar nisso. Sirius nunca consideraria passar o feriado em outro lugar, então é claro
que Remus concordaria - não tinha nada a ver com o Sr. e a Sra. Potter, que tinham
sido tão bons com ele quanto qualquer família que ele tinha. Era a guerra, a Ordem e o
maldito Moody, que com certeza estaria lá também.

"Essa é a chaleira?" Sirius perguntou, como um lamento, da sala de estar.

"Sim." Remus gritou de volta "Coloquei dois sachês de chá."

"Você é um herói entre os homens, Moony," disse James quando Remus chegou na
sala com uma bandeja com xícaras de chá com leite.

"Ah, eu sei," Remus acenou com a cabeça, bebericando de sua xícara. Ele se sentou no
braço do sofá, "O que diabos vocês fizeram com a minha mobília?"

"Brilhante, não é?" Sirius, de pernas cruzadas em cima da almofada gigante, sorriu
para ele: "Ideia do Prongs - fizemos um feitiço de ingurgitamento."

"Podemos ajudar vocês dois a limpar?" Lily perguntou, saindo do quarto. Ela pegou
uma xícara de chá e se sentou ao lado de James, encostando-se em seu ombro,
sonolenta.

"Café da manhã primeiro." Remus respondeu rapidamente. "Comer fora?"

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Todos concordaram em uníssono.

Eles foram para a lanchonete gordurosa mais próxima e pediram um Full Englishes
para todos, só então todos se sentiram muito mais preparados para enfrentar o dia.
Depois do café da manhã, Sirius, Lily e James começaram a arrumar o apartamento,
enquanto Remus (por insistência de Sirius) se arrumava para ir visitar Hope.

Ele não colocou um terno; isso teria sido um exagero até mesmo para o Natal, mas fez
um esforço passando a camisa 'de avô' mais limpa que tinha e vestindo uma jaqueta de
veludo cotelê marrom que comprara no mercado de Portobello. Até mesmo engraxou
os sapatos.

Sirius se ofereceu para acompanhá-lo, mas Remus preferiu ir sozinho. Seria mais fácil
se ele tivesse tempo para processar suas interações com Hope em particular, o que ele
esperava que Sirius entendesse. De qualquer forma. Ninguém queria ficar preso em
um prédio cheio de pessoas em estado terminal dois dias antes do Natal.

O próprio hospício ficava do outro lado de Cardiff. Não parecia muito diferente do
hospital, exceto que os quartos eram privados e decorados com um pouco mais de
cuidado. Haviam flores frescas ao lado dela todos os dias agora, o que era bom.
Remus trouxe uma poinsétia, porque Lily lhe disse que eram flores natalinas, e Hope
não estava mais comendo comidas sólidas, então chocolates estavam fora de questão.

Alguém havia enrolado enfeites de ouro e prata em volta da estrutura da cama e, com
tachinhas azuis, colado cartões de Natal nas paredes. Eram tantos que parecia que
havia um papel de parede festivo especial.

"Ela disse que se você viesse enquanto ela dormia, eu deveria acordá-la
imediatamente", disse a alegre enfermeira de plantão.

"Obrigado, vou acordá-la", ele sorriu.

Sua mãe estava cochilando suavemente em sua grande cama de hospital. Ele se
perguntou o quão alta ela era quando estava de pé. Muito pequena, imaginou - com

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base nas fotos que tinha dela com Lyall, e em como as mãos dela eram minúsculas.
Ele só a tinha visto deitada, e agora percebeu que nunca poderia vê-la de outra
maneira.

Ele tocou sua mão gentilmente, apertando-a com os dedos. Suas pálpebras tremeram e
ela franziu a testa, a dor evidente em seu rosto. A mulher virou a cabeça e o viu, e sua
sobrancelha suavizou de uma vez.

"Olá, meu querido", disse Hope com voz rouca, como se sua boca estivesse cheia de
algodão.

"Feliz Natal, mãe." Ele disse, sentando-se.

" Nadolig llawen ", disse ela, em um galês elegante e terroso.

"Como você está?"

"Melhor por te ver," ela sorriu. "Estou tão feliz por você ter vindo."

"É claro que viria." Respondeu sinceramente. "É Natal."

Antes, os dois não haviam conversado sobre Remus visitá-la no dia do Natal. Os dois
evitaram o assunto e Remus presumiu que ela iria querer passar o tempo com sua
família de verdade.

Ela perguntou agora, no entanto.

"Onde você estará amanhã? Em casa com o Sirius? " Era estranho ouvi-la dizer o
nome dele com seus suaves R's.

"Nos pais do nosso amigo", respondeu, "Os Potter's - você conheceu a Sra. Potter uma
vez, ela me contou. Euphemia. "

"Eu não me lembraria," ela balançou a cabeça. "Eu convidaria você para ficar aqui,
mas não será muito divertido, infelizmente."

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"O que você quiser, mãe." Respondeu, esperando não parecer desapontado.

"Você ficará mais feliz com seus amigos." Ela disse, como se fosse para si mesma.

"O Sr. Potter conhecia o Lyall," Remus cutucou um pouco mais forte, querendo falar
sobre algo mais substancial. "Eles trabalharam juntos no ministério e iam ao pub às
vezes, e James - o filho deles - nasceu em março, assim como eu -"

"Eu não me lembro", disse Hope, desta vez com mais força. "Sinto muito, Remus, eu
não lembro. Lyall mantinha essas coisas separadas. Muitas vezes é melhor assim, você
aprenderá. "

Ele pensou sobre isso. Pensou no quão pouco soube sobre seus pais durante a maior
parte de sua vida, e quão pouco soube sobre si mesmo como resultado. Ele pensou em
Sirius, e como eles sempre brigavam porque Remus não era aberto o suficiente. O
quanto doía nas outras pessoas esconder segredos, mesmo quando você estava
tentando protegê-los.

"Eu não concordo." Falou simplesmente. "Não acho bom esconder as coisas o tempo
todo."

"Bem." Hope respondeu. Ela desviou o olhar e retirou a mão da sua.

Remus percebeu que ela estava irritada com ele. Era uma sensação estranha e nova no
relacionamento deles. Ele não tinha certeza de como reagir. Se ele a tivesse conhecido
por toda a vida, saberia o que fazer; seria aquela coisa cotidiana, brigar com sua mãe.
Sua paciência se encurtava quanto mais ele pensava sobre isso - tudo isso era culpa
dela, suas emoções atrofiadas estúpidas, sua completa incapacidade de estar
confortável com outras pessoas, e aqui estava ela, evitando-o.

Ele queria sua atenção e só conhecia uma maneira de obtê-la.

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"Sra. Potter - a mãe de James - ela é ótima." Disse "Ela faz as melhores tortas de carne
moída de todos os tempos, e um jantar de Natal completo, e sempre me dá um
presente, embora eu não seja filho dela".

Hope franziu os lábios, mas ainda não ergueu os olhos.

"Isso parece bom." Ela respondeu em uma voz baixa e firme.

Remus continuou.

"Sim, James é realmente sortudo. Eu nunca tive um Natal de verdade até ir para os
Potter. "

"Sim, você teve!"

Hope o olhou de repente, e ele viu sua própria raiva refletida em seus olhos.

"Você teve!" Ela repetiu "Tínhamos Natais adoráveis quando você era pequeno!" Ela
o olhava como se ele estivesse louco, como se fosse ele quem estivesse doente, não
ela.

"Você não se lembra da árvore com o anjo dourado e do presépio? Achei que você
tivesse engolido o menino Jesus quando tinha um ano, mas você o tinha colocado
debaixo do travesseiro, porque eu lhe contei sobre o velho malvado rei Herodes e você
queria mantê-lo seguro - você foi tão doce. E nós compramos para você aquele
cavalinho de pau, e o conjunto de fazenda - você amava o conjunto de fazenda, os
pequenos leitões cor-de-rosa, eu estava sempre os encontrando no jardim. E os
fantoches de mão e o tanque do exército - lembra do seu tanque? Eu disse a Lyall que
você era muito jovem, que você era um menino sensível, eu não gostava que você
brincasse de guerra, mas você adorava, e seu pai costumava fazê-lo se mover com sua
magia, e vocês conversavam por horas... "

Ela parou, claramente chateada. Remus ficou boquiaberto.

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"Não me lembro de nada disso, mãe." Ele disse, procurou pela mão dela novamente e
a apertou. "Eu gostaria de lembrar, no entanto. Parece bom."

"Eu penso em você todos os anos." Hope respondeu chorosa, com a voz trêmula:
"Todas as noites eu costumava acender a vela da igreja e pensar em você, Remus, e
falava sobre você ... Eu contava a Siân sobre você também."

Isso chamou sua atenção. Ela o olhava com cautela, como se temesse que ele pudesse
atacar. Ciente disso, Remus manteve sua voz calma.

"Você poderia me falar um pouco sobre Siân?"

Hope mordeu o lábio. Ela parecia tão exausta devido a dor, as drogas e a porra do
câncer, que ele estava começando a se sentir culpado. Mas eles estavam quase sem
tempo.

"Ela tem oito anos", A mulher respondeu finalmente. "Ela vai fazer nove em
fevereiro."

"E ela é sua filha com... com Gethin?" Remus perguntou, sentindo como se todo o ar
tivesse saído do quarto.

Hope assentiu, fechando os olhos. As lágrimas caíram de seus cílios, escorrendo por
suas bochechas.

"Eu nunca me casei novamente - não depois de Lyall. Mas eu me apaixonei. Eu tive
minha Siân. "

"Apenas Siân?"

Ela acenou com a cabeça novamente. Remus franziu a testa.

"Quando vim ver você pela primeira vez, a enfermeira disse que você sempre falava
de seus filhos - pensei que você tivesse mais de um."

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"Sim", Ela o olhou perplexa, piscando em meio às lágrimas, "Você e Siân."

"Oh." Ele se sentia péssimo. Todo esse tempo ele pensou que era um dos terríveis
segredos de Hope.

"Eu nunca tive vergonha." Ela disse, uma nota de desafio em sua voz. "Não do meu
adorável menino. Nunca."

"Mãe..." Remus sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. De repente, ele
também estava chorando e apertando a mão dela desesperadamente.

"Venha aqui", ela lhe estendeu a mão, e ele se levantou para se sentar com cuidado na
beira da cama, inclinando-se para que ela pudesse envolver os braços ao redor dele.
Ele descansou a cabeça em seu ombro, tentando não colocar muito peso em seu corpo
frágil, mas Hope era mais forte do que ele acreditava, e o segurou com força.

"Desculpe, mãe," ele disse, suas palavras abafadas pela camisola macia dela. Ela
cheirava a talco, lavanda e família. Hope acariciou seus cabelos.

"Você não tem nada para se desculpar, querido. Eu amo você."

"Eu também te amo," ele chorou.

I've looked at clouds from both sides now

Eu olhei para as nuvens de ambos os lados agora

From up and down, and still somehow

De cima para baixo, e ainda de alguma forma

It's cloud illusions I recall

São ilusões de nuvem que me lembro

I really don't know clouds at all

76
Eu realmente não conheço nuvens

***

Moons and Junes and Ferris wheels

Luas e junes e rodas-gigantes

The dizzy dancing way you feel

A maneira tonta de dançar que você sente

As every fairy tale comes real

Como cada conto de fadas se torna real

I've looked at love that way

Eu olhei para o amor dessa maneira

But now it's just another show

Mas agora é apenas mais um show

You leave 'em laughing when you go

Você os deixa rindo quando você vai

And if you care, don't let them know

E se você se importa, não deixe que eles saibam

Don't give yourself away

Não se entregue

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Remus ficou no hospício por mais tempo do que o normal e, quando aparatou no
portão da frente do Potter, estava exausto. Se sentia como uma roupa suja que havia
sido espremida e espalhada em um varal, fraco, nu e vazio.

James teve de interrogá-lo na porta - o que era normal agora.

"Qual filme vimos no verão de 1974?"

"O Grande Gatsby." Ele respondeu severamente.

James viu a expressão em seu rosto e deu um passo para o lado imediatamente.

"Tudo bem, Moony?" ele perguntou, colocando a mão no ombro de Remus.

"Sim," Remus acenou com a cabeça, esperando que apenas parecesse cansado, "Eu
não quero ser rude, mas estaria tudo bem se eu apenas fosse para a cama? Hum. Diga
a seus pais que eu realmente sinto muito, eu só ... "

"Sim, claro, cara!" James respondeu ansiosamente: "Apenas suba, vou dizer a eles que
você está exausto."

"Obrigado." Remus sorriu. Ele subiu as escadas familiares para a cama. Realmente
esperava que a Sra. Potter não se importasse - estaria bem pela manhã, mas agora ele
não tinha certeza se aguentaria vê-la. Ela sempre o abraçava também, e ser abraçado
por apenas uma mãe hoje era o máximo que podia suportar.

Claro, não demorou muito para que Sirius enfiasse a cabeça pela porta do quarto.

"Vou deixar você em paz, se quiser", disse ele, carregando uma bandeja com queijo,
picles, presunto, biscoitos e, claro, as famosas tortas de carne moída da Sra. Potter.
"Eu só pensei que talvez você poderia estar com fome?"

"Estou morrendo de fome," Remus sorriu para ele, "Obrigado."

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Parecendo muito satisfeito consigo mesmo, Sirius cruzou o quarto com mais confiança
e colocou a bandeja na cama entre eles. Os dois ficaram sentados em silêncio por um
tempo, de pernas cruzadas em cima do edredom, Remus comendo, Sirius fingindo não
estar olhando para ele. Quando terminou, o moreno tirou a bandeja e Remus se deitou,
esticando os membros doloridos.

"Devo ir?" Sirius perguntou.

"Não." Remus respondeu. "Só... não espere muito, ok?"

"Ok." Ele se deitou ao lado de Remus, de costas.

"Como está a ressaca?" Remus perguntou, lembrando-se do estado em que todos


estavam naquela manhã.

"Bem" Sirius bufou, "Evans e suas poções."

"Ótimo."

Remus fechou os olhos, deixando os eventos do dia se estabelecerem em sua mente.


Era bom ter Sirius ali, decidiu. Ficar sozinho poderia ter sido horrível. Se ao menos
houvesse uma maneira de expressar isso sem que soasse errado.

"Eu tenho uma irmã." Ele disse finalmente. "Ela tem oito anos."

"Uau."

"Hm." Ele pegou a mão de Sirius e a segurou. "Ela levou meses para me dizer. Deus
sabe o que mais eu não sei. Eu gostaria que tivéssemos mais tempo juntos. "

Sirius apertou sua mão com simpatia. Remus lambeu os lábios, preparando-se para o
que falaria em seguida. "Eu gostaria que tivéssemos mais tempo, mas eu também... Eu
também gostaria que ela fosse mais aberta. Realmente dói saber que há partes dela que
ela mantém privadas. "

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"Oh?" Sirius estava fazendo um excelente trabalho em manter a calma. Se Remus não
estivesse tão triste, seria cômico.

"Sim." Respondeu e se virou para olhá-lo, assim como o moreno o fez. "Então, eu
sinto muito," Remus disse, nervoso, "Se eu alguma vez fiz você se sentir assim."

"Moony--"

"- É só que eu fico preocupado," Remus continuou rapidamente, "Que você não vai...
se você soubesse de algumas coisas ..."

"Não há nada que você possa me dizer que mudaria o que sinto." Sirius disse.

Remus ficou sem palavras ao ouvir isso. Mas foi uma sensação boa. Uma sensação de
felicidade, até mesmo considerando as circunstâncias. Ele não conseguia mais olhar
para Sirius, então rolou para o lado. Felizmente, o moreno pareceu entender e fez o
mesmo, passando o braço pelo corpo de Remus, que respirou lentamente.

"Aquela missão que eu fui, no verão? Foi muito ruim. " Ele disse, já sentindo o peso
começar a diminuir.

"Eu pensei que algo tinha acontecido." Sirius respondeu. "Continue."

"Eu ... você se lembra de como eu fiquei, da última vez que haviam lobisomens por
perto? Tipo... muito agressivo e meio que não pensando? Isso aconteceu de novo.
Ninguém se machucou, mas tenho quase certeza de que Danny acha que estou
perigosamente louco agora."

"Não aconteceu com ele?"

"Eu acho que ele deve ter sentido isso. Mas reagimos de maneira diferente. Eu meio
que - assumi o comando. Não de propósito, parecia natural na hora. "

"Isso faz sentido," Sirius disse, "Isso é o que você faz em luas cheias, temos que
deixar você ser o líder."

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"Sim, eu não tinha pensado nisso dessa forma."

"Então... se ninguém se machucou, o que aconteceu?"

"Um dos lobisomens tentou me atacar, mas eu o dominei." Remus disse, "Era para eu
conseguir informações, mas tudo o que fiz foi irritá-los."

"O que Moody disse sobre isso?"

"Ele foi... enigmático. Eu não acho que ele estava com raiva. Ele me perguntou se eu
me importaria de ir sozinho da próxima vez - sem Danny. Mas ele não me enviou em
nenhuma outra missão, não em missões de verdade, e já faz meses... "

"Eles têm que estar te guardando para alguma coisa." Sirius respondeu. "Eu sei que
sim - James continua dizendo a Frank e Alice como você é bom em magia defensiva,
e eles apenas dizem que não podem fazer nada sem uma ordem de alguém acima
deles."

"Pode ser." Remus suspirou.

"Ele realmente disse que você tinha que ir sozinho da próxima vez?"

"Ele não disse que eu tinha que ... apenas perguntou se eu me importava. E eu não
acho que haja outra maneira - Danny não vai trabalhar comigo de novo, ele estava
com muito medo. Então eu suponho ... sim, serei só eu da próxima vez."

Os braços de Sirius se apertaram ao redor de Remus.

"Eu odeio isso."

Remus não respondeu, e Sirius não parecia estar procurando por uma resposta, então
eles ficaram quietos assim por um tempo, até Remus adormecer.

***

81
Boxing Day 1978

Como Lily havia previsto, o Natal de 1978 foi uma pausa bem-vinda para os
problemas de todos. Na verdade - talvez porque tenha sido um ano particularmente
difícil - Remus sempre se lembrou daquele Natal como um dos mais agradáveis e
felizes que tiveram juntos.

O Sr. e a Sra. Potter estavam diminuindo um pouco a velocidade - Euphemia disse que
não estava com vontade de dar uma grande festa como costumava fazer e, de qualquer
forma, o Ministério havia alertado contra grandes reuniões sociais. O Sr. Potter teve
que ser trancado fora de seu escritório - James e Sirius roubaram a chave - mas ele viu
o lado engraçado da situação e se juntou às festividades de todo o coração.

Remus percebeu que neste ano os anfitriões foram realmente James e Lily. Ela
coordenou a maior parte da cozinha, decoração e escrita dos cartões; enquanto James
se certificava de que todos sempre tinham seus copos cheios, que todos os jogos
habituais de natal fossem feitos e de que a casa estava cheia de alegria o tempo todo.

Quanto aos presentes, fora tudo normal - doces, nozes e frutas cristalizadas, meias e
cuecas novas, um pijama de Lily de brincadeira ("pare que eu pare de pegar você de
cueca!"). E um novo par brilhante de Doc Martens de Sirius.

Surpreendentemente, naquele ano, Remus também recebeu um presente de Grant e se


sentiu culpado por não lhe dar um em troca. Ele riu quando abriu - um organizador de
filofax. Grant havia escrito seu próprio endereço e número de telefone na primeira
página e, no verso, onde as notas tinham o título: "Resoluções de Ano Novo: 1. Pare e
cheire as rosas."

Terminado o dia de Natal, James e Lily iriam para a casa dos Evans para o Boxing
Day (James estava absolutamente aterrorizado devido ao fato de ter encontrado a irmã
de Lily duas vezes e não tê-la impressionado em nenhuma). Então Sirius e Remus
voltaram para sua própria casa para descansarem e se prepararem para o ano novo.

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Sirius gostou da ideia de ser o anfitrião de sua própria festa, e Remus estava preparado
para ceder, contanto que eles convidassem apenas pessoas que conheciam.

"Quantos você acha que podemos caber neste apartamento de qualquer maneira?"
Remus perguntou quando eles abriram a porta. "Não é como se tivéssemos um salão
de baile, só há um sofá!"

"Deveríamos quebrar a parede da cozinha, deixar tudo aberto," Sirius respondeu


enquanto entravam. O telefone estava tocando e ele foi atender. "Alô?" Ele franziu a
testa e estendeu o telefone para Remus, "Para você, eu acho?"

Remus pegou o telefone. É claro que era para ele - Sirius não conhecia ninguém que
soubesse usar o aparelho.

"Alô?"

"Alô? É Remus Lupin? " Era um homem com uma voz profunda e um amplo sotaque
galês. As entranhas de Remus gelaram e ele se sentou no braço do sofá, firmando-se.

"Sim, sou eu..."

"Ah, bom. Ah. Meu nome é Gethin Rees. "

Remus engoliu em seco e sentiu a garganta seca.

"Ela... ela se foi, não é?"

Houve um longo silêncio do outro lado da linha e Remus começou a chorar.


Finalmente, Gethin falou, sua própria voz soando muito áspera.

"Sinto muito, rapaz. O funeral é na próxima quarta-feira. "

I've looked at love from both sides now

Eu olhei para o amor de ambos os lados agora

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From give and take, and still somehow

De dar e receber, e ainda de alguma forma

It's love's illusions I recall

São as ilusões do amor que me lembro

I really don't know love at all

Eu realmente não conheço o amor de jeito nenhum

***

Tears and fears and feeling proud

Lágrimas e medos e sentindo-se orgulhoso

To say "I love you" right out loud

Para dizer "eu te amo" em voz alta

Dreams and schemes and circus crowds

Sonhos e esquemas e multidões de circo

I've looked at life that way

Eu olhei para a vida dessa maneira

But now old friends are acting strange

Mas agora velhos amigos estão agindo de forma estranha

They shake their heads, they say I've changed

Eles balançam a cabeça, eles dizem que eu mudei

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Well something's lost, but something's gained

Bem, algo se perdeu, mas algo se ganhou

In living every day.

Em viver todos os dias.

Quarta-feira, 3 de Janeiro de 1979

Remus suspirou, olhando pela janela do quarto e observando as gotas de chuva


escorrendo pelo vidro. Quando era pequeno e chovia, ele se sentava no maior
parapeito da janela que conseguia encontrar em St. Edmunds, escolhia duas gotas e
fingia que elas estavam competindo até o fim do vidro. Uma ideia que ele tirou de um
poema; talvez um poema que Hope tivesse lido, um que ele havia esquecido.

Em filmes, os funerais sempre aconteciam em dias chuvosos, o que era chamado de


'falácia patética', Remus havia lido sobre isso em um antigo livro de inglês A-level.
Claro, se você tivesse um funeral no País de Gales em janeiro, as chances de chuva
também eram extremamente altas. Era uma coisa estranha para se alegrar, mas parecia
adequado. Um dia ensolarado teria sido intolerável.

"Pronto?" Sirius perguntou muito gentilmente, entrando no quarto.

Remus o olhou, sentindo-se entorpecido, e acenou com a cabeça. Sirius estava lindo
em um terno preto, seu cabelo amarrado para trás. Remus se sentia amarrotado,
embora estivessem vestidos de forma idêntica, Sirius sempre parecia mais elegante.
Remus queria cortar o cabelo curto, na intenção de parecer mais arrumado, mas foi
convencido do contrário no final. Ainda assim, o desejo de fazer algo drástico estava
lá.

"Não tenha pressa," disse Sirius, "Temos mais ou menos uma hora."

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Remus acenou novamente. O serviço deveria começar às onze, mas Gethin disse que
se quisesse vir mais cedo e cumprimentar os enlutados, ele seria bem-vindo. Remus
ainda não tinha certeza.

Sirius fechou a porta do quarto e veio se sentar ao lado dele. Ele segurou sua mão e
olhou pela janela também.

"Você já foi a um funeral antes?" Remus perguntou, finalmente.

"Do tio Alphard," Sirius respondeu, "Eu era pequeno, no entanto. Nove ou dez. Não
me lembro. Eu nunca... perdi ninguém próximo. "

"Hm." Remus inclinou a cabeça, ainda observando as gotas de chuva contra o céu
cinza, "Não sei se conhecia Hope tão bem. Eu nem a conheci por um ano inteiro. "

"Eu não acho que isso importe."

"Nem eu." Remus abaixou a cabeça.

Ele não iria chorar de novo, não achava que conseguia. A princípio, foi uma sensação
boa, uma grande onda de emoção. Porém, desde então, nada. Apenas um vácuo e uma
sensação de vazio que ele nunca havia sentido antes.

Sirius agarrou sua mão novamente.

"Eu estarei com você o tempo todo."

Remus o olhou e sorriu fracamente.

"Obrigado. Ok, acho que estou pronto. " Ele se levantou, finalmente entrando em
ação. "Ah, merda!" Ele disse, batendo na testa "As flores! Padfoot, esqueci de pegar as
malditas flores! "

Sirius colocou a mão em seu ombro.

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"Eu pedi a Wormtail para fazer isso, ele está com elas. E Lily tem o endereço da
igreja, para que a gente não se perca - Prongs está com a comida para o velório, a Sra.
Potter mandou algumas tortas de porco e rolinhos de salsicha, e eu já separei os
guarda-chuvas. Tudo que você precisa fazer é aparatar, todo o resto está resolvido,
certo? "

Repleto de emoção, Remus o pegou e o abraçou com força.

"Obrigado", disse.

Sirius o abraçou de volta.

"Qualquer coisa pelo nosso Moony, hein?"

Remus sorriu, respirando o cabelo de Sirius, seu cheiro, deixando-se ser ancorado. As
palavras surgiram em sua cabeça quase do nada e, finalmente, finalmente , foi fácil
dizer.

"Sirius?" Ele sussurrou, ainda o segurando.

"Sim?"

"Eu amo você."

Sirius beijou sua bochecha, soltando uma risada suave, que soou como alívio.

"Eu amo você também."

Eles entraram na sala de mãos dadas. James e Peter também usavam ternos, e Lily
estava em um vestido preto simples, seu cabelo vibrante amarrado em um coque com
capricho. Ela carregava um enorme buquê de flores. Todos deram a Remus sorrisos
cautelosos e simpáticos, aos quais ele estava se acostumando agora. Ele acenou de
volta para todos, agradecido.

"Certo." Sirius disse, assumindo o controle, "Vamos fazer isso."

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Era uma pequena igreja de aldeia, perto da cidade natal de Hope - era onde ela havia
sido batizada, e se ela tivesse se casado com um trouxa, seria onde o casamento teria
acontecido. Remus sabia por suas breves conversas que Hope não era particularmente
religiosa, mas que sua família pertencia à Igreja no País de Gales, então ela a seguia
pelo bem da tradição.

Era um espaço muito bonito - ou pelo menos teria sido, se não estivesse chovendo
tanto. Granito cinza suave, com campanário pontiagudo, vitrais simples, mas bonitos.
Como uma igreja em um livro ilustrado. O cemitério estava cheio de lápides antigas e
cruzes de pedra, mas Hope seria cremada, de acordo com seus desejos.

Os Marotos e Lily se aproximaram lentamente, subindo o caminho encharcado para se


juntar ao grupo de enlutados reunidos na porta. Remus avistou Gethin imediatamente,
parado do lado de dentro da varanda, apertando as mãos de cada convidado que
entrava. Ele era um homem alto, como Lyall, mas não tão esguio. Tinha cabelo
escuro, sobrancelhas grossas e pretas e um queixo bastante fraco. Ele parecia
completamente quebrado, e Remus ficou instantaneamente menos nervoso por
conhecê-lo.

Lily, James e Peter ficaram para trás, procurando um lugar para colocar toda a comida
que trouxeram para o velório, que deveria ser no corredor da igreja nos fundos. Remus
e Sirius esperavam silenciosamente a vez de entrar.

"Olá," Gethin disse, mal erguendo os olhos quando Remus se aproximou, "Obrigado
por ter vindo..."

"Eu sou Remus." Disse, apertando a mão estendida. Gethin ergueu os olhos
imediatamente, piscando. Eles eram da mesma altura.

"Remus." Gethin apertou sua mão fracamente, seus olhos escuros o examinando.
"Hope falava de você o tempo todo. É uma pena que estejamos nos encontrando
assim. "

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"Sim." Remus acenou com a cabeça.

Eles ficaram parados sem jeito por um tempo, apenas olhando um para o outro, antes
de Gethin recobrar o juízo "Entre", disse ele gesticulando: "Sua mãe estava ansiosa
por você se sentar na primeira fila, mas depende de você..."

"Obrigado," Remus acenou com a cabeça novamente.

"Vejo você depois, hein?" Gethin deu um tapinha em seu ombro.

"Sim. Bom. "Remus disse, ciente de que estava respondendo monossílabo.

No final, Sirius teve de empurrá-lo para dentro da igreja, pois ele parecia ter se
esquecido de como se mover. Eles caminharam lentamente para a frente e se
sentaram. Remus podia ouvir as pessoas sussurrando sobre ele; alguns deles sabiam
quem ele era, e a reação foi mista. Os ignorou. Estava lá por Hope e mais ninguém.

O serviço em si foi um borrão, e ele mal ouviu. Apenas olhou para o púlpito em forma
de águia e tentou evocar uma memória decente de sua mãe.

Eles não cantaram nenhum hino religioso, mas tocaram uma música de Joni Mitchell.
Hope nunca mencionou Joni Mitchell para Remus, mas ele supôs que deveria ter
significado algo para ela. Esse foi um pensamento doloroso. Eles tiveram tão pouco
tempo. Não era justo.

Siân estava lá, é claro. Remus a reconheceu imediatamente - ela era a única criança
presente. Ela estava vestida com um vestido creme com uma faixa de cetim preto, e
mantinha a cabeça enterrada no colo de uma velha que Remus não conhecia - ele
presumiu que fosse a mãe de Gethin, avó de Siân. Ela chorou o tempo todo e, por
algum motivo, isso foi reconfortante para Remus. Hope deve ter sido uma mãe
maravilhosa.

Depois disso, as pernas de Remus pareciam chumbo. Ele estava enraizado no lugar.
Não se levantou com o resto da família para sair (não havia caixão para seguir - o

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corpo dela já estava no crematório, aparentemente), mas esperou até que a igreja se
esvaziasse. Sirius esperou com ele.

Quando a igreja estava quase vazia, Sirius sussurrou.

"Você está bem?"

Remus acenou com a cabeça.

O moreno tocou seu joelho levemente, mas não mais do que isso. "Foi muito triste.
Tudo bem se você estiver cansado e quiser ir para casa."

"Não, está bem." Remus balançou a cabeça, "Eu devo ir. Eu disse a Gethin que iria.
Só. Mais cinco minutos?"

Eles tiveram que sair eventualmente, o zelador queria arrumar as coisas..

O salão da igreja era muito pequeno e lotado de pessoas e de emoções de pessoas.


Alguns deles estavam rindo, relembrando. Outros ainda estavam sombrios e com os
narizes vermelhos. Era um espaço sem graça que precisava ser reformado; as tábuas
do assoalho se estilhaçavam em alguns lugares, haviam quadros de avisos dedicados
aos desenhos das crianças que frequentavam a escola dominical ali, e outro para o
grupo de escoteiros local.

Três mesas de cavalete rangiam sob o peso da comida que as pessoas trouxeram -
pilhas de sanduíches, tortas de carne, batatas fritas, queijo e espetos de abacaxi, bolo
de frutas, sobras de curry de peru, fatias de presunto e outros frios. Era um funeral
seco, e uma senhora idosa no canto estava servindo xícaras fracas de chá com leite.
Pela primeira vez na vida, Remus não estava com fome.

Pior de tudo, havia uma mesa coberta de fotografias e álbuns emoldurados. A maioria
deles era de Hope, e além de uma ou duas fotos dela quando criança, nenhuma delas
tinha sido tirada antes de 1965. Remus olhou para todas elas, tentou fixar a imagem

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em sua mente - uma mulher feliz e saudável que sempre tentou fazer o melhor, mesmo
quando outras pessoas a decepcionavam.

"Ela ficaria tão feliz por você ter vindo." Gethin apareceu ao lado dele, estendeu a
mão e acariciou o vidro em uma das molduras. O rosto preto e branco de Hope sorria
para ele, estático e sem vida.

"Eu tinha que vir." Remus respondeu baixinho. Sirius estava ao lado do seu ombro,
pronto para qualquer coisa. Remus olhou para Gethin, "Eu gostaria de ter estado lá.
Para... bem, para dizer adeus. "

"Foi muito quieto, como ela era." O homem mais velho disse. "Ela acordou na manhã
de Natal e foi dormir depois do almoço. Não houve dor. "

Remus não havia pensado em Hope sentindo dor. Ele desejou que Gethin não tivesse
colocado isso em sua cabeça.

"Eu sei o que você está pensando", Gethin continuou, acenando com a cabeça para a
exibição de fotos, "Nenhuma foto sua. Não foi a intenção - ela colocou todas em uma
caixa para eu enviar para você, só que perdi o seu endereço de e-mail... "

"Eu não as quero." Remus balançou a cabeça.

"Remus," Sirius disse suavemente, "Não tome nenhuma decisão ainda."

Remus apenas deu de ombros.

"Existem algumas outras coisas," Gethin disse, olhando para Sirius com alguma
confusão, então olhando para Remus novamente, "Eu vou guarda-las pelo tempo que
você quiser."

"Coisas?" Remus olhou para ele sem expressão.

"Coisas que ela queria que você tivesse", O homem respondeu. "Não é dinheiro, nem
nada -"

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"Não estou interessado em dinheiro!" Remus disse bruscamente.

Gethin franziu a testa, ele parecia magoado. Seus olhos estavam orlados de vermelho,
com anéis escuros sob eles, como manchas de pó de carvão. Remus franziu os lábios e
deu um passo para trás, balançando a cabeça.

"Eu sinto muito. Eu não posso continuar aqui. Eu sinto muito." E, com isso, se virou e
saiu direto do salão.

Já tinha parado de chover, mas a grama ainda estava molhada e o cheiro delicioso de
terra subia por toda parte. Havia um grupo de velhos sentados em alguns bancos do
lado de fora. Eles haviam afrouxado as gravatas e sentavam-se preguiçosos, fumando
e passando um frasco ilícito com algo de cheiro muito forte. Remus resmungou,
enojado, e continuou andando, querendo ficar longe de tudo.

"Remus!" Sirius veio correndo pelo caminho para alcançá-lo, Lily, James e Peter não
estavam muito atrás.

"Eu quero ir embora." Ele respondeu.

"Você pode voltar para a casa da minha mãe e do meu pai se quiser?" James sugeriu
"Mamãe disse que vai fazer o jantar para todos nós."

"Não," Remus balançou a cabeça, ele agarrou o braço de Sirius e o olhou, implorando,
"Por favor, podemos apenas voltar para o apartamento? Só você e eu? "

"Claro que podemos," Sirius colocou sua própria mão calma sobre a desesperada de
Remus, e Remus sentiu seu coração começar a se acalmar.

Então foi isso que fizeram, com Remus prometendo a si mesmo que se desculparia
com os Potter e seus amigos em outra ocasião.

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Mas se ele estava esperando por uma trégua do resto do mundo, para se trancar com
Sirius e fingir que, por apenas um momento, nada mais importava, ele ficaria
desapontado.

Quando eles entraram em casa, havia uma coruja pousada em cima da lareira, com um
bilhete amarrado na perna escamosa.

Remus.

Minhas condolências.

Por favor, me encontre no escritório dos aurores às 9h na segunda-feira.

A. Moody.

***

I've looked at life from both sides now

Eu olhei para a vida de ambos os lados agora

From win and lose and still somehow

De ganhar e perder e ainda de alguma forma

It's life's illusions I recall

São as ilusões da vida que me lembro

I really don't know life at all

Eu realmente não conheço a vida de jeito nenhum

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Capítulo 156: A guerra: Quartel General
dos Aurores

Segunda-feira, 8 de janeiro de 1979

"Por favor, me deixe ir com você?" Foi a última coisa que Sirius disse enquanto
Remus saía do apartamento na manhã de segunda-feira.

"Eu vou ficar bem." Remus balançou a cabeça, tentando dar a Sirius um sorriso
tranquilizador. Ele não disse o que estava pensando, que era 'o que isso pareceria?!'. Já
era ruim o suficiente ele ter sido convocado para o escritório oficial de Moody no
ministério; o que ele pensaria se Remus trouxesse seu namorado junto para apoio
moral?

Ainda assim, Remus teve que admitir que teve dificuldade em deixar seu apartamento
pequeno e aconchegante naquela manhã. Ele mal havia saído do quarto desde que
voltaram do funeral, muito menos se vestido ou saído de casa. Para ir para o
ministério, teve de usar vestes completas pela primeira vez desde a escola, o que
ajudou um pouco - pelo menos ele seria capaz de se misturar.

A entrada de visitantes para o Ministério da Magia ficava a cerca de vinte minutos a


pé do Soho, e Remus achou o passeio matinal mais agradável do que esperava. Era um
dia nítido e frio de janeiro, e sua respiração ficava branca com o ar de inverno. Peter
estava lá para encontrá-lo.

"Oi, Moony," Wormtail sorriu para ele, dando-lhe um tapinha estranho no braço,
"Como você está?"

"Ah, você sabe." Remus encolheu os ombros. Luto era uma coisa engraçada. Ele
nunca sabia se estava fazendo certo.

"Estou ansioso pelo sábado!"

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"Sim, eu também."

A lua cheia estava prevista para o dia treze. Até agora, desde Hogwarts, os marotos
tinham conseguido se juntar, aparatando (Peter acompanhando um deles) para os
lugares mais remotos possíveis e se transformando lá. Já tinham estado em Brecon
Beacons, Outer Hebrides, Dartmoor e Forest of Dean. Ninguém na Ordem havia
tocado no assunto ainda, embora Remus supusesse que todos presumiam que ele fosse
registrado.

Peter e Remus entraram no ministério por meio de uma cabine telefônica. Peter
precisava estar lá, porque depois que Remus declarou o que queria, um pequeno
crachá de visitante de prata caiu da abertura de depósito do telefone. Wormtail o
pegou rapidamente e murmurou o encantamento para transformá-lo em lata antes de
dá-lo a Remus.

Eles desceram para o átrio do ministério, que fervilhava de atividade. Era um salão
enorme, maior do que Gringotes, com fileiras de lareiras revestindo as paredes. Luzes
verdes piscavam intermitentemente em cada uma delas enquanto bruxos e bruxas
chegavam para trabalhar.

Peter conduziu Remus através do posto de segurança, onde sua varinha foi pesada por
um bruxo de barba longa com cara malvada. Remus estava incrivelmente grato por ter
um amigo com ele, e secretamente muito feliz por ser o calmo e genial Peter, ao invés
de Sirius, que tinha uma tendência a ser um pouco superprotetor consigo quando se
tratava da comunidade bruxa.

Em seguida, os dois foram para outro corredor com um conjunto de elevadores e


entraram no mais próximo.

"Estamos no nível dois," Peter explicou alegremente, "Eu trabalho no escritório de


Autoridade da Rede de Flu no nível quatro. Você precisa que eu mostre onde fica o
escritório dos Aurores? "

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Remus achou que gostaria da ajuda de Peter, se pelo menos ele não estivesse gostando
tanto de ser aquele que estivesse no controle da situação.

"Não," ele sorriu, "Eu consigo. Obrigado, cara. "

Peter deu-lhe um sorriso amável ao sair do elevador. Remus acenou de volta, e a porta
se fechou.

Logo o alto-falante anunciou "Nível dois, Departamento de Execução das Leis da


Magia; incluindo o Escritório do uso impróprio de magia, Escritório dos Aurores e
Serviços administrativos do Wizengamot."

Remus arrastou-se para fora do elevador e para o corredor. As portas do elevador se


fecharam atrás dele com um 'ping' e ele ficou lá por alguns momentos, pego de
surpresa. Era um corredor muito movimentado, bruxos e bruxas andando para cima e
para baixo, alguns conversando profundamente, outros rabiscando rapidamente notas
em pedaços de pergaminho - e alguns deles murmurando para si mesmos. Sobre sua
cabeça, aviões de papel roxo voavam para frente e para trás, batendo nas portas do
escritório que se alinhavam no corredor.

Agora, desejou não ter sido tão orgulhoso e pedido a Pete que o acompanhasse até o
escritório certo. Deveria haver uma placa em algum lugar...

"Lupin!" Uma voz alta e familiar explodiu. Remus se virou com algum alívio e sorriu,
vendo Ferox correndo em sua direção, a mão levantada em saudação.

"Oi," ele disse.

"Perdido? Venha comigo!"

Remus seguiu Ferox ao longo do corredor, passando por escritório após escritório até
chegarem a uma porta elaborada com moldura de madeira entalhada. Quartel General
dos Aurores .

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"Nervoso?" Ferox o olhou de lado. Remus olhou para trás.

"É tão óbvio?"

Ferox riu e deu um tapinha no ombro dele.

"Eu ficaria preocupado se não estivesse. Vamos, é apenas o Moody. " E ele empurrou
a porta com uma de suas grande mãos, a outra ainda no ombro de Remus, como se
para impedi-lo de fugir.

Quando criança, Remus teve alguma experiência com a aplicação da lei trouxa.
Sempre apenas para coisas tolas como fugir do Lar ou ser pego 'causando uma
perturbação' - o que geralmente significava que ele estava apenas em algum lugar
público e outras pessoas prefeririam que ele não estivesse. A polícia era extremamente
agressiva com você, uma vez que percebiam que era um garoto de St. Edmund, te
chamavam de coisas, te enfiavam no carro deles, ou então faziam ameaças veladas de
violência física se você não agisse como mandavam. Como resultado, Remus nunca se
sentiu tão confortável perto de figuras de autoridade, mesmo sendo um mauricinho
atualmente.

Ele não tinha certeza do quão parecidos os aurores eram em relação a polícia trouxa.
Só havia conhecido Moody, Frank e Alice até agora. Moody era completamente
aterrorizante, mas Remus o conhecia há bastante tempo agora que estava acostumado.
Alice e Frank eram muito legais, pessoas muito sinceras - mas eles não sabiam o que
ele realmente era.

O interior do escritório estava muito movimentado, com fileiras de escrivaninhas


divididas em cubículos. Haviam pôsteres de criminosos, mapas magicamente
encantados e listas impressas em quadros de avisos em todas as paredes, e
memorandos zunindo de um lado para outro. Porém, a coisa mais impressionante para
Remus foi o cheiro incrivelmente concentrado de magia forte - e magia negra também.

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Ferox, com a mão ainda no ombro de Remus, o conduziu em direção a uma mesa
perto do canto de trás, que tinha a melhor vista sobre o resto do escritório caótico.

A mesa de Moody e as prateleiras ao redor estavam entulhadas de dispositivos


mágicos estranhos e maravilhosos; telescópios que zumbiam, cristais brilhantes, orbes
murmurantes. O próprio Moody estava curvado sobre um mapa. Esquecendo seu
nervosismo, Remus olhou por cima do ombro para bisbilhotar - nunca havia superado
seu interesse por cartografia - e Moody praticamente latiu.

"Nunca se meta nos assuntos de um Auror, Lupin."

Remus saltou para trás alarmado, e Moody se virou para encará-lo, sorrindo. Seu olho
louco girou doentiamente em sua órbita.

"Leo," Moody estendeu a mão e apertou a de Ferox, depois a de Remus. "Fico feliz
em ver que você é pontual. Sente-se."

Ele gesticulou para um longo assento coberto de veludo contra a parede de seu
cubículo que não estava lá um momento atrás. Remus e Ferox se sentaram enquanto
Moody lançava um feitiço que abafava o barulho ao redor deles, criando uma bolha de
paz ao redor de sua mesa, não era diferente dos feitiços silenciadores de James e
Sirius.

Remus ficou aliviado com o silêncio, mas o feitiço de Moody não fez nada para
mitigar o cheiro avassalador de poder que enchia suas narinas, descia por sua garganta
e preenchia seu peito com uma gloriosa e rica infusão mágica. Ele tentou relaxar,
deixar-se encontrar seu lugar nela em vez de lutar, mas se sentia ligeiramente bêbado
mesmo assim.

"Mais uma vez, Lupin," Moody disse rispidamente, sentando-se em sua cadeira de
escritório que parecia uma poltrona de couro com pêlos verde que girava em uma
haste. "Lamento saber da sua perda. Eu não conhecia Hope, mas ... "

"Está ok." Remus respondeu rapidamente, "Eu mal a conhecia também."

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Ele faria questão de manter sua mãe fora de qualquer conversa que tivesse hoje. Não
tinha forças para duas coisas ao mesmo tempo, e se Moody tinha uma missão para ele,
então essa teria que ser sua principal preocupação.

Moody - que ou era um excelente em legilimens ou simplesmente extremamente


astuto e empático - balançou a cabeça virilmente e continuou.

"Direto ao trabalho, então." Ele disse "Bom garoto." Ele girou ligeiramente em sua
cadeira para pegar o mapa que estava olhando e entregou a Remus.

Remus o pegou ansiosamente e olhou. Era um mapa da Grã-Bretanha e da Irlanda,


mas não como os que tinha visto antes - não havia estradas marcadas, nem vilas ou
cidades, apenas as áreas de floresta, representadas em manchas verdes musgosas de
tinta. Algumas dessas manchas pareciam tremeluzir e piscar, como se houvesse
estrelas se escondendo sob os galhos das árvores.

"Consegui isso do escritório de Controle de Criaturas Mágicas," Moody explicou,


"Graças a Ferox aqui. Sabe o que é, rapaz? "

"É ..." Remus arriscou, "São todas as florestas com magia? Ou criaturas mágicas?"

"Exatamente." Moody acenou com a cabeça, parecendo muito satisfeito com ele, "Nós
notamos que a maioria dos avistamentos de lobisomem nos últimos anos foi em uma
floresta encantada, florestas com uma população mais densa de criaturas mágicas.
Agora, isso pode significar apenas que estão mantendo seus ouvidos atentos por você-
sabe-quem, ou que existem outras criaturas trabalhando com eles... "

Ou porque o cheiro de toda aquela magia natural é bom demais para resistir, Remus
pensou, seu próprio sangue borbulhando como champanhe apenas por causa das
poucas dezenas de bruxos poderosos próximos. Ele não disse isso, claro, para seu
próprio bem.

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"... e nas últimas duas luas cheias tem havido muita atividade aqui," Moody apontou
um dedo atarracado e cheio de cicatrizes em um ponto do mapa, em algum lugar do
interior.

"Por que você está me dizendo agora?" Remus perguntou "Se você os segue há
meses?"

"Está na hora." Moody disse, fixando-o com um olhar duro, um olho azul, outro
castanho. "Greyback está no país pela primeira vez desde os anos 60, foi confirmado.
"

"Oh." Remus franziu os lábios para reprimir a raiva dentro dele, erguendo-se como
uma cobra, mostrando os dentes. Onde ele está?! Leve-me até ele agora mesmo!
"Certo."

"Da última vez que fez contato, você voltou com algumas boas informações," Moody
continuou, "Aqueles que querem se juntar a Greyback precisam se transformar com o
bando três vezes, certo?"

"Hm." Remus acenou com a cabeça. Ele queria se levantar e andar, se movimentar de
algum jeito, mas não podia permitir que Ferox ou Moody soubessem que havia algo
errado.

"E a próxima lua cheia é no sábado?"

Remus acenou com a cabeça. Ele olhou para Ferox, então para Moody novamente.

"Você quer que eu vá já? Para começar ... para ... "

"Só para as luas", disse Ferox, com a voz calma, "Só até que eles confiem em você."

"Mas assim que eles confiarem em mim," Remus disse, olhando para suas mãos,
"Então ... eu preciso conhecê-lo, certo?"

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"Vamos ver como as coisas vão ficar." Moody respondeu, escolhendo suas palavras
com cuidado. "Temos três meses para planejar isso."

"Ok."

Remus não sabia mais o que dizer. Sua cabeça estava cheia e seus nervos em carne
viva, se sentia quase pronto para explodir, mas por alguma razão estranha ele apenas
ficou sentado lá como um aluno educado, ouvindo Moody traçar o plano.

Recebeu muitas regras. Ele teria que ir sozinho. Ele poderia levar sua varinha, mas
nada mais. Não podia contar a ninguém, nem mesmo aos outros membros da ordem,
nem mesmo aos seus melhores amigos. Ferox começou a sugerir coisas que Remus
poderia dizer ou fazer para que o bando confiasse nele, mas Remus o ignorou. Ele
sabia o que fazer.

"Vou acompanhá-lo até a saída, Lupin." Ferox disse finalmente, com uma nota de
gentileza paterna.

"Obrigado," Remus respondeu, levantando-se rapidamente.

"Você é um homem de poucas palavras, Lupin," Moody disse, levantando-se também,


estendendo a mão mais uma vez para Remus apertar, "Mas eu tenho muita fé em você.
Enviarei as coordenadas antes de sábado. Certifique-se de estar em casa para recebê-
las. "

Remus acenou com a cabeça inexpressivamente, apertando a mão estendida. Assim


como o guiou para dentro, Ferox levou Remus de volta para fora do Quartel General
dos Aurores.

"Tudo bem aí, garoto?" Ferox perguntou, uma vez que eles estavam longe das portas.
O corredor estava um pouco mais silencioso do que às nove horas.

"Sim. Tudo bem.

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"Se houver alguma coisa que você acha que precisa, se quiser que eu peça ao Moody
algo que vai ajudar, você pode simplesmente..."

"Como isso vai ajudar?" Remus perguntou de repente, parando no meio do corredor.
Ele contraiu o polegar e lançou um muffliato, sem nenhum esforço. Ferox piscou,
surpreso.

"Como o que vai ajudar?"

"Eu, encontrando Greyback? Eu conheci três membros de sua matilha até agora, e isso
só piorou as coisas toda vez. "

"Isso não é verdade. Você nos deu algumas informações extremamente valiosas. "

"Se eu estou fazendo isso", disse Remus, "então eu quero saber para o que vocês estão
usando isso."

"Para ganhar a guerra, Remus." Ferox balançou a cabeça.

"Quando eu conheci Castor no ano passado," Remus continuou com sua voz muito
baixa, mas mais por raiva do que por um desejo de ser discreto, "Ele me disse em
termos inequívocos que eles estavam planejando um ataque. Eu disse a Dumbledore, e
o que aconteceu? Nada. O ataque aconteceu. Então vou perguntar de novo. Se estou
coletando informações para a Ordem, se estou arriscando minha vida para fazer isso,
então quero saber para quê. Obviamente, não é para salvar vidas. "

"Remus, essa foi uma situação extremamente complicada -"

"Explique."

"Não podíamos interferir, não podíamos deixar os lobisomens saberem que você
estava contando alguma coisa para Dumbledore, tínhamos que preservar sua conexão
com eles..."

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"O que?!" Remus o encarou, "Pessoas morreram! Pessoas tiveram suas vidas
arruinadas! Por minha causa?!"

"Você não pode pensar dessa maneira."

"De que maneira você pensaria?! Eu confiei nele! Achei que estava fazendo a coisa
certa! "

"Remus, acalme-se !"

Remus percebeu que não conseguia. Gostaria de poder aparatar ali mesmo, mas nada
aconteceu quando tentou, então ele marchou em direção ao elevador.

"Não me siga." Ele praticamente rosnou para Ferox, que segurava as portas abertas,
impedindo-o de sair.

"Você precisa colocar sua cabeça no lugar, garoto." Ferox respondeu muito sério.
"Isso é uma guerra. Não é nobre e nem sempre se trata de salvar vidas individuais.
Você precisa se acostumar com isso antes do próximo sábado. "

"Não se preocupe." Remus virou a cabeça, olhando para o painel de botões. As portas
começaram a se fechar, rangendo ruidosamente enquanto testava sua força mágica
contra os músculos físicos de Ferox. "Eu estarei pronto."

As portas se fecharam, Ferox tirou os dedos no último segundo, e Remus começou a


se mover para cima, de volta ao mundo real.

***

Remus mal havia saído da caixa telefônica da entrada para visitantes e já estava
parado diante de sua própria porta - ele havia armazenado toda aquela magia restante
como uma bateria, e só precisava do menor desejo para que a magia fizesse o resto.
Ele se lembrou da maldição que Snape jogou em James, a qual ele desviou no último
dia de aula. Seria uma habilidade útil, se ao menos pudesse contar com isso.

103
Não apenas ele estava cheio de magia, mas seu temperamento havia atingido o ponto
de ebulição agora que estava em casa. Era uma sensação peculiar - semelhante aos
momentos antes da transformação, logo antes da dor entorpecente começar. Um
desejo animal uivante e avassalador. Deus, ele precisava de... ele precisava...

"Sirius?!" Ele irrompeu pela porta, gritando. Sem sorte, o apartamento estava vazio.
Remus rosnou frustrado e chutou a parede, abrindo um buraco na placa de gesso.
"Porra." Murmurou. Sirius venha aqui.

Ele pressionou a palma da mão contra o topo da parede e forçou um pouco de magia
para fora. O buraco na base da parede se fechou imediatamente, graças a Deus. Não
foi o suficiente. Ainda tinha mais; ele precisava liberá-la, precisava de uma válvula de
escape. Ele tirou as vestes e depois o suéter, jogando-os no sofá, andando pela sala em
sua camiseta fina e calças. Poderia sair para correr. Poderia aparatar no Lake District
por algumas horas e simplesmente correr como um louco. Poderia transformar a
parede em esponja e começar a socar até ficar sem energia. Poderia beber até se
esquecer de tudo. Contanto que ele fizesse algo .

"Moony?!"

A porta da frente se abriu e lá estava Sirius.

"Você está aqui!"

"Sim, aconteceu uma coisa super estranha," Sirius fechou a porta atrás dele. Ele
cheirava a gasolina, óleo de motor e couro, e Remus sentiu-se enrijecer
instantaneamente. Ah. Isso funcionaria . "Eu estava trabalhando na moto na estrada, e
então ... eu não sei, eu poderia jurar que ouvi sua voz. Mas se você acabou de voltar,
então não pode ter sido... "

Remus não aguentava mais, ele cruzou a sala em dois passos e empurrou Sirius contra
a porta, beijando-o com força. Sirius o beijou de volta, ansioso para agradá-lo como
sempre. Remus o pressionou com mais força, pegando os adoráveis pulsos brancos de

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Sirius, untados com óleo, segurando-os e empurrando um joelho entre suas pernas. Ele
começou a beijar o pescoço do moreno em seguida, mordendo a carne macia, e Sirius
engasgou.

"Puta merda, você está bem?"

"Mmm." Remus gemeu, "Só quero..."

Sirius moveu o quadril levemente, pressionando o pau rígido de Remus - parecia


eletricidade, e Remus quase perdeu o controle completamente, apertando os pulsos
dele, fechando os olhos com força enquanto lutava para se segurar. Ele não foi o único
que sentiu isso,

"Caralho" Sirius ofegou, impotente nas garras de Remus, "Foi você? Você sentiu... o
que... o que foi... "

"Magia," Remus conseguiu gaguejar, os olhos ainda fechados, rolando sua testa contra
o ombro de Sirius vertiginosamente, "Havia tanta... eu só... hum..."

E de repente era Sirius quem estava no controle, ele virou o jogo e agora estava
empurrando Remus para o quarto, e graças a Deus o apartamento era pequeno, e
graças a Deus não havia mais necessidade de feitiços de silenciamento ou segredos,
porque esse simplesmente não era o momento.

"Preciso de você," Sirius estava dizendo incoerentemente, tirando sua camisa e


puxando as de Remus, suas impressões digitais gordurosas do óleo sujando todos os
lugares, "Preciso sentir você em todos os lugares..."

"Sim," Remus respondeu embriagado, "Sim, sim, sim ..."

O que quer que estivesse sentindo, ele sabia que Sirius podia sentir também, enquanto
empurrava a magia para fora, enchendo o quarto com ela, acendendo cada toque.

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Remus gemeu quando a pele nua deles finalmente se encontrou e Sirius fechou os
olhos e estremeceu. Dedos agarrados e dentes cerrados. Qualquer sentimento de
preocupação ou vergonha foi obliterado pelo calor que irrompeu entre eles. Remus
cedeu e não pensou em mais nada enquanto se arqueava egoisticamente e se
empurrava contra Sirius, que ficava sussurrando febrilmente, "Oh, Moony, Moony..."
sem parar. Seu ritmo feroz aumentou quando eles começaram a ficar tensos e a se
contrair. Ofegantes enquanto o mundo explodia, por alguns segundos milagrosos tudo
ficou branco.

Não foi suficiente. Eles tiveram que fazer mais duas vezes antes que Sirius ficasse
satisfeito, e Remus ainda sentia que poderia correr uma maratona.

"Se você está planejando visitar o Escritório dos Aurores novamente," Sirius respirou
roucamente, "Vou precisar de algum aviso."

"Des-" Remus começou, mas Sirius colocou a mão sobre sua boca, sorrindo.

"Não ouse se desculpar. Quero dizer, puta que pariu. "

Remus riu, tirando sua mão. Ele acenou com a mão para a janela preguiçosamente, e
ela se abriu, deixando entrar o ar frio do inverno.

"Uau," Sirius ergueu as sobrancelhas, "Quanto tempo isso vai durar?"

"Está indo embora," Remus respondeu, fechando os olhos. Sim, estava; ele podia
sentir seu coração desacelerando, seus músculos relaxando. "Da última vez, a
maldição de Snape a drenou, então suponho que qualquer tipo de contra-magia
funcione."

"Bem, eu prefiro isso do que amaldiçoar você..." Sirius rolou e acariciou o quadril nu
de Remus.

"Hm." Remus murmurou em concordância, os olhos ainda fechados.

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"Então..." Sirius disse, sua mão parada agora, sua voz mais solene, "Ou foi muito bem
ou muito mal no ministério...?"

"Ambos." Remus jogou os braços sobre o rosto. "Precisamos conversar sobre isso?"

"Sim, acho que sim."

Remus suspirou pesadamente. Ele se sentou, pegando seus cigarros.

"Greyback está na Inglaterra." Começou.

Sirius sentou-se imediatamente, franzindo a testa. Ele pegou um cigarro da caixa que
Remus estendeu, colocou-o entre os lábios, acendeu-o e olhou para Remus muito
sério.

"Me conte tudo."

E Remus o fez.

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Capítulo 157: A Guerra: O Bando

Once upon a sunshine,

Before the final bell,

I told my story to big boy,

With connections straight from Hell.

His fiddle was his sweetheart,

He was her favourite beau,

And hear me saying was all he playing

Them songs from long ago.

And then I told my story to the cannibal king

He said baby, baby, shake that thing.

'Shake that Thing', The Sensational Alexander Harvey Band

Sábado, 13 de janeiro de 1979

Primeira lua

"Eu odeio isso." Sirius disse, fumando um cigarro atrás do outro.

"Eu sei." Remus respondeu e esfregou as têmporas. Ele estava ficando com dor de
cabeça, o que não era incomum na lua cheia.

"Quero dizer, eu realmente odeio isso." Sirius bufou, olhando pela janela. Ele ficou lá,
um braço cruzado na cintura estreita, o outro dobrado no cotovelo para que pudesse

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levar o cigarro aos lábios. Tinha que ficar se esticando na ponta dos pés para soprar a
fumaça pela abertura na janela - estava frio demais para abri-la completamente. Cada
vez que se esticava, sua camiseta subia quase até o umbigo, exibindo a pele macia e
uma linha fina de pêlos escuros.

Remus estava deitado no sofá, uma flanela fria na testa, observando Sirius tragar,
esticar-se, soprar. Adorável, adorável criatura. Como Remus teve tanta sorte?

"É uma puta loucura mandar você por conta própria. Por que não posso ir? Eu poderia
ir como Padfoot. "

"Não." Remus suspirou, "Você ainda cheira como um humano. Eles iriam te rasgar ao
meio."

"E se eles te rasgarem ao meio?" Sirius se virou bruscamente. Ele parecia perturbado,
suas bochechas estavam rosadas, o que era incrível para sua pele de porcelana.

"Eu?" Remus bufou, tentando parecer descuidado, "O filho pródigo de Greyback?
Improvável."

"O que é um filho pródigo?"

"Ah, certo, er ... só significa que vou receber uma recepção calorosa. Gaius disse para
não me machucar. Lívia me chamou de irmão. "

"Posso ir com você e ficar apenas um pouco? Antes que mais alguém apareça? "

"Não é seguro, Padfoot." Remus respondeu gentilmente.

Sirius apagou o cigarro com raiva no parapeito da janela. Remus desejou que ele
parasse de fazer isso - eles precisariam repintar logo se ele continuasse - mas agora
não era a hora de repreendê-lo. "Por que você não vai para a casa dos Potter?" Sugeriu
"Não passe a noite aqui sozinho".

"Não me importo onde vou passar a noite." Sirius se jogou na poltrona.

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"Bem, eu me importo," Remus resmungou, "Eu preciso saber para onde ir depois que
a lua se pôr."

"Merda, verdade," Sirius sentou-se, jogando o cabelo para trás, "Ok, eu irei para os
Potter - então se você precisar de qualquer ajuda, Euphemia estará disponível. Porra, e
se você não puder aparatar? E se você--"

"Então eu envio um patrono."

"Mas se não estiver forte o suficiente..."

"Eu vou estar." Remus respondeu simplesmente. Com base nas coordenadas que
Moody havia enviado, estaria indo para uma floresta encantada. Se houvesse metade
da magia que havia na Floresta Proibida, então Remus não teria nenhum problema
para ir embora. A menos que alguém com igual força tentasse impedi-lo, mas ele
estava tentando não pensar nisso.

Um leve som de campainha ecoou pelas paredes. Eles não tinham conhecido seus
vizinhos de maneira adequada - apenas acenaram com um tímido 'olá' no corredor -
mas sabiam que tinham um relógio de pêndulo, porque tocava a cada hora e era tão
alto que podiam ouvi-lo em sua sala de estar. Eram quatro horas da tarde e estavam no
rigor do inverno, o que significava que o pôr-do-sol era iminente.

Remus se sentou lentamente, jogando de lado a flanela. Suas costas doíam, as


primeiras pontadas que lhe diziam que a lua estava a caminho.

"É melhor eu ir andando", disse.

Sirius o encarou, chocado. Remus resmungou, levantando-se. Ele se aproximou e


beijou a testa de Sirius. "Vá para a casa dos Potters. Eu vou ficar bem. Honestamente,
você sai em missão o tempo todo. "

"Assim não! Coisas defensivas, serviço de guarda, transporte de mensagens, não... "

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"Alguém tem que fazer isso," Remus deu de ombros. "Prefiro que seja eu."

Ele pensou em Danny novamente e se encolheu, balançando a cabeça para se livrar da


memória negativa. Ela continua ressurgindo desde que Remus descobrira a verdade
sobre por que Danny fora transformado. Deus, os McKinnon 's tinham todos os
motivos para odiar Remus.

Ele calçou os sapatos, amarrando os cadarços com cuidado, embora soubesse que teria
que tirá-los novamente em breve. Usava roupas trouxas - o que havia sido a sugestão
de Ferox. Os lobisomens não faziam ideia de onde Remus estava morando, ou como
ele estava vivendo. Se Remus pudesse convencê-los de que estava sendo evitado pelo
mundo bruxo, melhor ainda.

Eles se abraçaram na porta, a pele de Remus já queimando, Sirius se agarrando a ele


com tanta força que Remus achou que teria que levá-lo afinal.

"Eu amo você." Sirius disse em seu ombro. Eles não tinham dito isso desde o funeral
de Hope, mas Remus não teve nenhum problema em responder instantaneamente.

"Eu também te amo. Eu vou ficar bem. Vejo você em breve, eu prometo. "

E então ele saiu, aparatou, e quando abriu os olhos, estava completamente sozinho

***

Ele estava em algum lugar em Derbyshire. Pelo menos pensava que sim. Escurecia
rapidamente, e a densa copa da floresta a tornava ainda mais escuro. O ar da noite
estava muito frio e limpo, mas Remus já estava quente demais e começou a se despir
imediatamente. Ele estava sozinho, afinal, não havia necessidade de ser tímido.
Exceto que ele não estava sozinho; não completamente. Esta era definitivamente uma
floresta mágica, ele podia sentir o gosto na brisa, ouvi-la no farfalhar dos galhos das
árvores no inverno.

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A lua começou a subir e Remus sentiu seu corpo começar a mudar. Ele se apoiou em
um carvalho, arranhando a casca com as unhas, os dedos dos pés se curvando sob a
folhagem mofada.

As árvores pareciam ter empatia. A terra se ergueu para encontrá-lo, o solo úmido
esfriando sua pele febril, corujas e raposas e morcegos e todas as criaturas noturnas da
floresta gritando enquanto ele gritava e sua pele se abriu e seus ossos racharam e seus
dentes afiaram, até que ele não era mais Remus, e ele uivou junto com eles.

O lobo rosnou, abanando o rabo. Não sabia onde estava, ou por que estava sozinho.
Onde estavam os outros? Onde estava o preto? Farejou o ar, sentindo algo próximo.
Ele jogou a cabeça para trás e uivou mais uma vez, cantando para a lua.

Pela primeira vez em sua vida, o lobo não cantou sozinho. Uma cacofonia de belas
vozes se juntou, respondendo, e ele correu em direção a eles a toda velocidade. A
cada batida de seu coração de lobo, ele ofegava; casa, casa, casa. Eu estou em casa.

***

Domingo, 14 de janeiro de 1979

Tossindo e cuspindo, Remus voltou a si. Ele voltou pouco a pouco, confuso, dolorido
e exausto. Abriu os olhos e os semicerrou para o sol frio e amarelo da manhã
brilhando para ele através dos galhos nus. Ao seu redor, os sons de outras pessoas
acordando, alguns soluços quebrados, suspiros ásperos e risos femininos. O cheiro era
tão delicioso, tão seguro e tão reconfortante.

Remus se apoiou nos cotovelos, folhas mortas grudando em sua pele úmida. Ele tinha
uma longa marca de garra ao longo de sua coxa direita, três listras escorrendo sangue.
Em torno dele, seis ou sete outros estavam nus no chão da floresta, lentamente
acordando.

"Irmão!" Uma gargalhada familiar soou.

112
Remus se virou para ver Livia rastejando até ele de quatro, os quadris balançando, um
sorriso louco no rosto. À luz do dia, suas tatuagens pareciam marcas de animais; elas
cobriam cada centímetro de seu corpo esquelético em grandes espirais, "Eu sabia que
você viria!"

Ela se ajoelhou aos seus pés, e ele tentou puxar os joelhos para longe dela, mas ela
estendeu a mão e agarrou seu tornozelo. "Você estava lindo, Remus Lupin, lindo," ela
ronronou, inclinando-se para frente, sua mão subindo pela perna dele.

"Saia de cima de mim, Livia," ele rosnou, tentando chutá-la - mas ela o segurou
rápido.

"Shhh", disse ela brincando, inclinando-se ainda mais, sua mão se movendo cada vez
mais perto, "Apenas relaxe meu amor, meu querido irmão..."

Ela estendeu a mão e passou três dedos abertos pelos cortes na perna dele. Parecia
estranho. Todo o seu corpo pareceu formigar e estremecer, se sentia quente e -
preocupantemente - à beira da excitação. Ele se afastou então, correndo para trás de
quatro como um caranguejo. Livia riu dele, erguendo as três pontas dos dedos
ensanguentados, depois os sugando em sua boca um por um, sorrindo e murmurando
de prazer.

Perturbado, ele se levantou rapidamente, descobrindo que o que quer que Livia tenha
feito, havia curado a ferida. Estava apenas com uma cicatriz prateada.

Os outros também estavam de pé se aproximando dele, caminhando em direção a


Remus por entre as árvores, os olhos ardendo de curiosidade, farejando o ar. Alguns
deles estavam cortados ou arranhados, mas cada um curou o outro, apenas tocando e
canalizando a magia natural que os rodeava. Muitos deles tinham a cabeça raspada e o
início das mesmas tatuagens de Lívia. Outros talvez fossem iniciantes mais recentes e
tinham cabelos mais longos e pele limpa.

113
Remus queria invocar suas roupas, e idealmente sua varinha também, mas parecia um
pouco rude quando todos os outros estavam pelados também. Além disso, ele não
estava com frio, pelo menos não ainda. Também não estava com medo, o que parecia
estranho. Ele olhou para os outros rostos. Aquela voz dentro dele ainda dizia: alcateia,
alcateia, casa.

"Gaius," Livia disse, de repente, levantando-se. Gaius estava ao seu lado em um


instante. Ele sorriu para Remus, lambendo os lábios.

"Bem-vindo, irmão."

"Bem-vindo, irmão!" Os outros ecoaram, um após o outro, como uma cascata de


sinos. Remus sentiu uma onda de adrenalina, de uma conexão forte e inegável.

"Estamos muito felizes por você ter se juntado a nós", disse Gaius. Lívia se voltou
para ele e começou a lamber suas feridas, como se fosse a coisa mais natural do
mundo.

Castor também estava lá, mas hesitou. Desde a última vez que Remus o conheceu,
Castor havia recebido um ferimento que cortou seu rosto, uma longa rachadura por
cima de seu nariz. Foi curado, mas arruinou seu rosto outrora belo.

Remus se lembrou de si mesmo e encontrou sua voz.

"Eu já tive o suficiente", disse ele, erguendo o queixo. "Já estou farto dos humanos,
quero ver o que mais existe."

O sorriso de Gaius se alargou e Livia ergueu os olhos também, sangue nos lábios e
dentes.

"Nosso pai ficará muito satisfeito", disseram eles em uníssono.

"Tão satisfeito!" Repetiu o grupo.

"Eu quero conhecê-lo," Remus disse, "Você dirá isso a ele?"

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"No tempo certo, Remus Lupin." Livia e Gaius disseram.

"No tempo certo..."

Porém, algo estava acontecendo, o bando estava recuando. Eles se afastavam,


voltando para as árvores e arbustos, desaparecendo na paisagem como os predadores
que eram. Remus sentiu um puxão no peito. Ele queria segui-los; não queria perder
sua companhia ainda.

"Onde vocês estão indo?" Perguntou a Livia, quando ela também começou a se
afastar.

"Nos veremos no próximo mês, Remus Lupin," ela disse, seu rosto suavizando um
pouco - ela parecia quase gentil, se você ignorasse o sangue secando nos cantos de sua
boca, "Não é muito tempo a se esperar."

"Mas eu..."

Os dois se viraram e não olharam para trás.

Agora Remus começou a sentir frio. O frio pareceu começar de dentro para fora. Ele
sentiu uma terrível solidão vazia que não existia em si antes. Aquele cheiro se fora, a
familiaridade, a segurança que representavam. Jesus Cristo, Moony , ele sibilou para
si mesmo, resolva-se, você não é realmente um deles!

Ele convocou suas roupas rapidamente e segurou sua varinha com força. Parecia algo
estranho, algo vestigial. Era muito mais fácil simplesmente invocar a força de seu
próprio corpo, da ponta dos dedos, sem necessidade de um graveto estúpido. Ele
franziu a testa. Não se sentia como ele mesmo. Seria melhor aparatar de volta para os
Potter rapidamente, antes que se tornasse completamente selvagem.

Ele aparatou para a porta dos fundos e bateu fracamente no vidro das janelas
francesas. Se sentia muito mais cansado agora; talvez pelo esforço da aparatação, ou

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apenas por estar longe da floresta e de volta à mundanidade. A Sra. Potter já estava na
cozinha e veio imediatamente, abrindo as portas.

Ela sorriu para ele com olhos vincados e enrugados.

"Remus, querido," ela disse com sua voz muito baixa - os outros ainda deveriam estar
dormindo. "É melhor eu te perguntar algo... deixe-me ver... oh, eu não sou boa nisso...
ah, onde você e os meninos foram nas férias antes do seu sétimo ano?"

"Cornwall," Remus respondeu prontamente, grato por ser lembrado daquele verão
maravilhoso, "Perto de Truro."

"Adorável," ela abriu a porta. "Agora, você está bem? Sente alguma dor? "

"Não, estou bem", disse enquanto entrava na cozinha, estendendo os braços como se
para provar sua boa saúde para ela. Oh Deus, agora que estava dentro da casa, podia
sentir o cheiro de Sirius, e tudo nele queria alcançá-lo de uma vez.

"Adorável," a Sra. Potter sorriu, cansada. "Bem, então acho que vou voltar para a
cama, faltam horas para o café da manhã. Os meninos estão dormindo, Sirius está em
seu quarto, mas se você quiser um pouco de paz e sossego, arrumei a cama extra
também."

"Obrigado, Sra. Potter" Remus respondeu, praticamente subindo correndo as escadas


para o quarto em que Sirius estava. Ele voltou a si pouco antes de apenas escancarar a
porta e, em vez disso, empurrou-a gentilmente, espiando para dentro.

Estava bastante escuro com as cortinas pesadas fechadas para o amanhecer. "Você
está acordado?" Sussurrou redundantemente, porque sabia que ele estava.

"Moony!" Sirius se sentou imediatamente.

Remus correu para a cama, recuando no último momento, porque não, ele não era um
lobo agora; ele era humano e tinha que agir de acordo.

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"Você está bem?!"

"Sim," ele acenou enfaticamente, "Foi bom, não foi nada demais. Nós apenas
caçamos."

"Caçaram?!" Os olhos de Sirius se arregalaram.

"Coelhos." Remus esclareceu. Ele ainda podia sentir o gosto da carne da caça entre os
dentes. Seu estômago se embrulhou e ele ficou quente mais uma vez, "Honestamente,
foi bom. Fácil."

"Eu estava tão preocupado com você que nem dormi... você não quer entrar aqui?" Ele
puxou as cobertas.

"Er..." Remus se mexeu, ainda de pé, "Estou um pouco... no limite."

Sirius franziu a testa, confuso. Remus pigarreou.

"Você sabe. Como no outro dia? "

"Oh!" Sirius estendeu a mão e tocou o braço de Remus levemente. Ele mordeu o lábio,
estremecendo deliciosamente, sentindo o gosto da mesma sensação. "Então você..
hum... "

Ele estendeu a mão e as colocou nos quadris de Remus, enrolando os dedos sob o cós
da calça jeans, Sirius puxou-o em sua direção, "Tudo bem, posso dormir até mais
tarde..."

Os dois realmente dormiram até mais tarde e, felizmente, James, Lily e os Potter os
deixaram imperturbáveis. Quando acordaram às cinco da tarde, Remus se sentia como
o pior convidado do mundo, embora, claro, Sirius estivesse perfeitamente em casa.

Remus tentou explicar os eventos da noite para Sirius, mas havia coisas que ele não
conseguia deixar de encobrir. Livia curando-o daquela maneira íntima. O desejo que

117
ele teve de ficar, de segui-los. Não estava mentindo, estava sendo tão honesto quanto
pensava que era seguro.

Mais tarde, ele contou a Moody e Ferox uma versão ainda mais censurada. Para ser
justo, eles não pediam muitos detalhes e Remus não via porque deveria entregar tudo
a eles. Estava ansioso para manter a identidade dos outros lobisomens em sigilo pelo
tempo máximo que pudesse realisticamente e, por enquanto, eles só estavam
interessados em Greyback.

Quanto a Remus, ele estava o mais próximo que já tinha estado do que sempre quis,
desde que era criança. Ele iria encontrar o homem que destruiu sua vida. E ele iria
matá-lo.

***

Domingo, 11 de fevereiro de 1979

Segunda lua

No mês seguinte, Remus tentou manter uma aparência de normalidade. Ele


comparecia às reuniões e encontrava seus amigos - frequentemente ia ver as meninas
no intervalo do almoço; Lily e Marlene em St Mungo's, Mary a apenas uma curta
viagem de ônibus de Kensington. Quando Sirius não estava e se sentia sozinho, ele
ligava para Grant. Ouvia discos e lia livros.

Mas não podia ignorar o quão diferente se sentia. Às vezes, isso o pegava
desprevenido; uma memória ou um cheiro vinham a ele, e seus dedos do pé se
enrolavam e ele lambia os dentes. Seus sonhos se tornaram quase exclusivamente
sobre florestas, uivos e o luar suave e frio.

Ele estava mais bem preparado da segunda vez, mas ainda igualmente nervoso. Remus
aparatou no mesmo local de antes, caso viessem encontrá-lo - mas eles não o fizeram
e ele se transformou sozinho.

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O lobo encontrou sua alcateia ainda mais rápido desta vez. Eles uivaram e latiram
em saudação, a cadela alfa mordiscou sua orelha e se esfregou contra ele, os lobos
mais jovens abaixaram suas cabeças em submissão. Então a caça começou. O lobo
não conseguia se lembrar de alguma vez já ter sentido uma alegria tão
descomplicada antes, mesmo com seu outro grupo. A raiva, o medo e a fome foram
embora com o vento em seu pêlo, o cheiro das presas que eles perseguiam.

Quando finalmente alcançaram o veado, Remus, Gaius, Livia e Castor foram os


primeiros a atacar; eles derrubaram o cervo. Os outros seguiram o exemplo,
aproximando-se da fera que lutava. O lobo saltou e cravou suas garras, saboreando o
batimento cardíaco em pânico de sua presa. Ele afundou seus dentes e arrancou a
carne, e o sangue rico e quente desceu por sua garganta.

Quando Remus acordou, ele não estava com fome.

Ele permitiu que Livia lambesse suas feridas desta vez, muito tonto e satisfeito para
pensar muito sobre qualquer uma das implicações.

"Encontrarei Greyback no próximo mês?" Ele perguntou antes que Castor e Livia
pudessem voltar às sombras.

"Nosso pai está ansioso para conhecê-lo Remus Lupin," Livia disse, "Você deve ser
um pouco mais paciente, meu irmão."

"Eu já me provei a vocês?"

"Não cabe a nós decidir."

Ele ficou na floresta mais tempo do que o normal - talvez apenas por preguiça. Mesmo
sozinho, ele se sentia melhor lá do que em qualquer outro lugar. Gostaria de se enrolar
e dormir sob as árvores. Quando Remus finalmente apareceu do lado de fora da porta
dos fundos dos Potter, eles estavam no meio do café da manhã.

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Lily, James e Sirius estavam lá, rostos ansiosos e tensos, segurando grandes xícaras de
chá com leite. A Sra. Potter estava parada na janela olhando para fora e pulou quando
Remus chegou. Ela abriu a porta.

"Aí está você!"

"Desculpe," ele murmurou, um pouco vacilante em seus pés.

"Ah meu Deus, Moony, você está bem?!" Lily estava na porta agora também e ela
apontou para ele, horrorizada. Ele olhou para baixo e viu o sangue - havia escorrido
pelo queixo e pescoço, acumulando-se na depressão acima da clavícula e secando ali
sem que ele percebesse.

"Merda", ele esfregou a boca, constrangido, "Não é meu, não é..."

James veio até a porta em seguida, e Remus de repente se sentiu muito enjoado,
coberto de sangue de veado, tendo se banqueteado com um deles apenas algumas
horas antes. Ele estendeu o braço para se apoiar na parede, vertiginosamente.

"Vamos, Moony," Sirius se abaixou entre James e Lily e tocou a mão de Remus
levemente, "Vamos limpar você..."

Felizmente, Remus se permitiu ser levado escada acima para o banheiro. Sirius
preparou um banho quente e ficou encostado na pia enquanto Remus se ensopava,
piscando atordoado para os redemoinhos cor de ferrugem na água quente.

"Não é humano," ele disse, trêmulo.

"Eu sei," Sirius respondeu, "É um cervo, posso sentir o cheiro."

"Você pode?" Remus o olhou. Sirius torceu o nariz.

"Eu tenho que me concentrar, mas sim. Eu estava conversando com Prongs sobre isso,
quanto mais tempo somos animagos, mais coisas estranhas notamos. Espero não me
tornar daltônico, hein? "

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Remus tentou rir dessa tentativa de aliviar a tensão, mas ele estava muito abalado.

"Foi ruim?" Sirius perguntou gentilmente, baixando a voz como se Remus fosse um
inválido.

Não, Remus pensou consigo mesmo. Foi maravilhoso. Eu estava feliz; Eu era normal.
Ele estava enojado de si mesmo. O que está acontecendo comigo?

Ele olhou para Sirius e acenou com a cabeça. "Sim. Foi ruim."

***

Terça-feira, 13 de março de 1979

Terceira lua

"Não quero voltar para a casa dos Potter desta vez." Remus disse, antes que tivesse
que partir para a terceira lua com o bando.

"O que?" Sirius saiu da cozinha, onde estava lavando a louça. Ele estava ficando cada
vez mais cuidadoso com o apartamento - ou talvez fosse apenas energia nervosa; a
guerra estava pesando para todos, não apenas para Remus.

Sirius estava usando um par de luvas amarelas reluzentes, que Remus havia comprado
para ele de brincadeira, mas ele amava tanto que usava todas as vezes. Elas estavam
molhadas e brilhantes, pingando espuma no tapete.

"Eu disse que não quero voltar para a casa dos Potter." Remus repetiu, "De manhã.
Você pode ficar lá, obviamente, mas eu... eu simplesmente não vou, ok? Não sei o
quão seguro é, não quero que ninguém me siga. "

"Nós temos estado bem até agora..."

Sirius tem feito muito isso ultimamente; dizendo 'nós' quando na verdade era apenas
sobre Remus.

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"Acho que estamos sendo descuidados." Remus encolheu os ombros. "Não vou
colocá-los em perigo novamente."

"Ok." Sirius acenou com a cabeça. Ele tirou as luvas lentamente, "Para onde você quer
ir, então?"

"Não sei. Eu pensei que talvez Cornwall? Aquelas ruínas do castelo que visitamos,
você se lembra? "

"É claro que eu me lembro. Devo encontrar você lá? "

"Espere pelo meu sinal. Eu quero que seja seguro. " Remus mudou de um pé para o
outro. Ele queria andar; suas costas doíam de novo e ele precisava ir embora logo, mas
ficou quieto, caso isso preocupasse Sirius.

"Moony, se não for seguro, prefiro estar lá para poder ajudar. Eu sei que Prongs,
Wormtail e Evans também-- "

"Não." Remus ergueu a voz. "Não, por favor."

"Mas Moony---"

"Olha, eu tenho que ir." Ele praticamente voou para fora da porta, sem nem mesmo
colocar o casaco.

Ele não disse um adeus apropriado, nem mesmo disse 'eu te amo', o que estavam
fazendo toda vez que se separavam agora, só para garantir. Mas é claro que Remus
pensou que voltaria. Ele não poderia saber o que o bando havia planejado.

***

Desta vez foi um alívio abandonar sua forma humana e abrir mão da
responsabilidade por algumas horas. Eles correram e brincaram e lutaram e uivaram
durante a noite, espantando fadas da vegetação rasteira, seguindo os cheiros que
sentiam.

122
Quando a lua começou a desaparecer, o lobo diminuiu a velocidade, começou a
choramingar ao sentir seu corpo encolher de volta à patética forma humana. Os
outros também pararam e se aproximaram.

Livia foi a primeira a atacar, e Remus, meio lobo, meio homem a essa altura, tentou
lutar, mas ela o segurou com força, suas patas se tornando mãos como garras. Castor e
Gaius o pegaram também, prendendo-o enquanto Remus gemia e cerrava os dentes
com as dores da transformação.

E então ele era humano mais uma vez, pressionado no chão pelo bando, apoiado em
seu emaranhado de membros fortes e quentes. Ele levantou a cabeça, gritando.

"O que você está fazendo?! Me deixe ir!"

Livia riu, montada nele, jogando a cabeça para trás, e então aconteceu. Aquela
sensação estranha de sucção e aperto enquanto todos os quatro aparataram, com
Remus incapaz de fazer qualquer coisa além de se agarrar e rezar para que ele não se
estrunchasse.

De repente, o chão embaixo dele era de pedra dura e fria, a rocha penetrando em suas
costas nuas. Os outros finalmente sairam de cima dele e ele se levantou com
dificuldade, olhando ao redor com ar selvagem. Eles estavam dentro de casa, em uma
câmara de teto alto, como uma - seria uma igreja?! Estava frio e cheirava a bando e
magia antiga. Os outros ficaram em volta dele, sorrindo loucamente.

"Aonde eu estou, porr-" Remus começou, mas parou quando Livia deu um passo para
o lado e uma figura alta e escura se aproximou. Remus conhecia aquele cheiro,
conhecia aqueles olhos amarelos ardentes. Ele congelou, paralisado de terror.
Greyback deu um passo em sua direção, os dentes à mostra em um sorriso cruel.

"Bem-vindo ao lar, filhote."

123
Capítulo 158: A guerra: Cativo

As they pulled you out of the oxygen tent

You asked for the latest party.

With your silicone hump and your ten-inch stump

Dressed like a priest you was; Todd Browning freak you was.

Crawling down the alley on your hands and knees

I'm sure you're not protected for it's plain to see,

The diamond dogs are poachers and they hide behind trees.

Hunt you to the ground, they will,

Mannequins with kill appeal.

'Diamond Dogs', David Bowie

Quarta-feira, 14 de março de 1979

"Bem-vindo ao lar, filhote."

Remus não disse nada. Por enquanto, ele não tinha nada a dizer. Ele só queria dar uma
boa olhada.

Fenrir Greyback. Remus esperava que fosse mais alto. Ele não era baixo de jeito
algum, mas quando ficou de pé e se endireitou, eles estavam no mesmo nível. Isso era
bom. Isso lhe deu um ar de coragem.

124
Ele poderia não ser mais alto do que Remus, mas Greyback certamente era maior em
todos os outros aspectos; ombros largos e fortes, pescoço grosso e atarracado, braços
musculosos. Ele tinha unhas compridas, grossas e amareladas, pelos escuros e crespos
cobrindo seus antebraços e surgindo sobre a gola de sua capa, encontrando uma barba
escura que parecia mais pelo animal do que cabelo. Seus olhos eram perigosos,
desumanos.

A magia que irradiava dele não era como a de um bruxo; pelo menos nenhum que
Remus havia encontrado. Como uma lua cheia, ela irradiava. O cheiro, embora
doentiamente familiar, não era convidativo.

Remus havia se sentido em casa com o bando, sentiu que pertencia. Mas não com este
homem. Ele era o inimigo e sempre seria.

"Gosta do que vê?" O sorriso de Greyback se alargou, mostrando dentes afiados e


predadores, longos caninos amarelos.

Remus o encarou de volta impassível, a boca fechada.

Ele percebeu que Greyback não gostou disso. Greyback esperava que ele falasse -
implorasse, se enfurecesse ou até entrasse em pânico. E Remus sabia exatamente o
que fazer com valentões que queriam uma reação.

Ele inclinou a cabeça, fez uma careta indiferente e encolheu os ombros.

"É ok, eu suponho. Ei, posso pegar minhas roupas de volta?"

As pupilas de Greyback pareceram dilatar, ou talvez Remus apenas tenha imaginado.


De qualquer forma, ele se recuperou rapidamente, ainda sorrindo rigidamente.

"Onde estão minhas maneiras? Castor!" Ele estalou seus dedos parecidos com garras.

Castor apareceu ao lado de Greyback em um momento, com as costas retas e envolto


em uma capa de pele, carregando um pacote de roupas. Livia também estava lá,

125
olhando com adoração para seu pai. A velha igreja em que eles estavam não tinha teto,
e na luz rosada do amanhecer, Remus pôde ver claramente o rosto de Castor pela
primeira vez. Haviam três longas cicatrizes rosadas de um lado; marcas de garras,
rosas e macias como pele queimada.

Greyback o viu encarando.

"É uma pena", disse ele, estendendo a mão e acariciando a bochecha de Castor com
uma unha suja. Castor não se moveu. "Odiava estragar algo tão agradável de se olhar,
mas ele aprendeu a lição, não é, filhote?"

Castor acenou com a cabeça, olhando para a frente como um soldado.

"Bom menino." Greyback acariciou sua bochecha marcada. "Mesmo assim ainda é
lindo, hein Remus?"

Remus não disse nada e desviou o olhar, enojado.

"E eu pensei que você fosse um conhecedor de beleza." Greyback resmungou fingindo
decepção. "É por isso que enviei a você meus filhos mais adoráveis."

Livia estremeceu de prazer com isso, sacudindo a cabeça com orgulho.

Castor estendeu as roupas de Remus, e ele as pegou, vestindo-se com cuidado. Ele
procurou sua varinha no bolso da calça jeans, mas ela não estava lá.

"Ah," Greyback rosnou, "Procurando por isso?"

Ele retirou a vara longa e fina de suas próprias vestes sujas de lama. Remus sentiu
uma onda horrível de desejo por ela. "Receio que não permitamos esses brinquedos
humanos tolos." Greyback sorriu de lado. Ele pegou a varinha de Remus com as duas
mãos e a partiu em duas.

126
Remus teve que lutar para não gritar. Essa tinha sido a varinha de Lyall. Na verdade,
foi a única coisa que Lyall deu a Remus que não era completamente inútil. Ele mordeu
o interior da bochecha com força.

Greyback entregou os fragmentos da varinha para Livia, que os girou alegremente


entre os dedos como bastões. Remus ergueu o queixo em desafio.

"O que você quer de mim?"

"Eu quero o que sempre quis, filhote," Greyback se aproximou, para que Remus
pudesse sentir seu hálito azedo, seus narizes a apenas alguns centímetros de distância,
"Eu quero cuidar de você."

Ele estendeu a mão para colocá-la em seu ombro, e Remus precisou de cada grama de
vontade para não recuar ou se esquivar. Os longos dedos de Greyback o apertaram de
maneira paternal - mas um pouco perto demais de sua garganta para ser confortável.

"Eu vim me juntar a você," Remus respirou, lutando para conter os nervos.

Greyback inclinou a cabeça para trás e riu. Foi uma risada rouca e ofegante do fundo
de seu peito.

"Isso é o que meus filhos me dizem. Remus Lupin se juntou a nós, dizem, ele
abandonou o mundo humano... Mas eu me pergunto..." Ele lambeu os lábios, olhando
Remus de cima a baixo lascivamente," Eu me pergunto se Remus Lupin realmente
mudou seus hábitos... "

"Estou aqui, não estou?" Remus protestou, "Passei três luas com... "

"E onde você estava entre as luas?" Greyback desafiou. Ele cheirou o ar entre eles.
"Você cheira a humanidade."

Com isso, ele soltou o ombro de Remus, empurrando-o para trás com força. Remus
atingiu o chão de pedra com um baque, e um suspiro de surpresa e dor deixou sua

127
boca quando suas costas bateram. Greyback andou para longe, seu bando se dividindo
para deixá-lo passar.

"Castor, Livia," ele rosnou, "Cuide de nosso convidado. Veja se não podemos arrancar
um pouco dessa humanidade dele. "

Remus ficou de pé rigidamente e foi atrás de Greyback, mas Livia e Gaius o


bloquearam com seus corpos. Por cima dos ombros deles, ele observou Greyback
deixar a igreja por um arco aberto e desaparecer na folhagem verde brilhante.

Sozinho e sem varinha, Remus se afastou dos outros com cautela. Ele se perguntou se
poderia aparatar, mas não ousou - e afinal de contas, essa não era a missão? Ele havia
alcançado o que pretendia; estava no bando de Greyback. Deixando de lado qualquer
pensamento sobre sua casa ou seus amigos, Remus encarou seus captores. Agora era a
hora de ser corajoso.

Livia se aproximou dele primeiro, jogando as partes estilhaçadas da varinha para


longe e agarrando seus braços, torcendo-os com força atrás das costas. Castor veio em
seguida, a mesma expressão estóica em seu rosto. Ele estava desenrolando um pedaço
de corda, segurando-o.

"Ei!" Remus lutou contra Livia, "Cai fora, você não vai me amarrar!"

"Não é por muito tempo, irmão," Livia sibilou em seu ouvido. "É necessário." Então
ela o lambeu - ela correu sua longa língua da nuca dele quase até a linha do cabelo.
Ele estremeceu de desgosto, lutando com mais força, mas ela apenas riu - ela era tão
forte.

Eles o amarraram com força, então o forçaram para frente, Castor liderando, puxando
a corda em volta dos braços e do corpo de Remus; Lívia empurrando por trás.

Ele cambaleou desajeitadamente pela igreja, ainda instável em seus pés, tendo
acabado de se transformar.

128
Foi empurrado para o que deveria ter sido o altar. Atrás dele havia um antigo
ambulatório em arco e, sob as sombras, um conjunto de degraus que conduziam a um
porão que parecia um túnel de sepulturas. Eles começaram a descer, o forte cheiro de
terra úmida subindo.

"Onde estamos?" Remus tentou perguntar.

"Estamos em casa." Castor respondeu sem olhar para trás.

Livia deu-lhe um soco forte nas costas e ele não fez mais perguntas.

Eles chegaram ao final da escada, que se abriu em uma cripta, o teto abobadado
apenas alto o suficiente para Remus ficar em pé.

Não havia muito lá. Uma luz estranha e leitosa encheu a sala, mas parecia não ter uma
fonte natural. Haviam câmaras fechadas com grades de cada lado das paredes,
antigamente deveriam servir como tumbas, Remus presumiu, mas agora haviam sido
esvaziadas. Elas foram substituídas por cobertores, travesseiros velhos e manchados e
peles de animais.

Remus piscou com força, seus olhos se ajustando à luz e, antes que pudesse se
orientar, foi jogado para dentro de uma das celas. Livia resmungou algum
encantamento e as barras de ferro forjado se fecharam, as pesadas correntes negras
enrolando-se firmemente na fechadura.

"Ei!" Remus se jogou descontroladamente contra as barras, "Que porra é essa?!"

"Sente." Livia mandou. As pernas de Remus se dobraram sob ele e ele caiu. Ela sorriu
em sua direção. "Descanse, irmão. Paciência."

"Eu vim aqui para me juntar a você, não pode me tratar como -"

"Não me faça silenciá-lo." Ela sibilou.

129
Ele fechou a boca - voluntariamente. Talvez fosse melhor esperar para ver, por
enquanto. Livia lambeu os lábios. "Tente descansar."

Ela se afastou. Castor foi deixado para trás, olhando para Remus, o rosto inescrutável,
o corpo ainda rígido. Remus olhou de volta. Seu pobre rosto. Isso tinha sido por causa
de Remus? Ele havia sido punido pela última vez na Floresta Proibida? Seus olhos
escuros fixaram-se em Remus por um longo tempo, sem vacilar, até que Remus fez
uma careta para ele;

"O que?!"

"Remus Lupin está realmente aqui para se juntar ao bando? Para se submeter ao nosso
pai? "

"O que você acha?!" Remus projetou o queixo, embora soubesse que dificilmente
parecia digno, sentado no chão imundo com os braços amarrados ao corpo.

"Eu acho..." Castor inclinou a cabeça ligeiramente, como se ninguém nunca tivesse
perguntado a ele sobre seus próprios pensamentos antes. "... Acho que Remus Lupin
ainda não sabe o que vai fazer."

Remus não tinha uma resposta para isso. Obviamente, ele gostaria de pensar que isso
não era verdade, que sua vontade era de ferro, inquebrável. Mas agora, preso,
desarmado e exausto, ele não conseguia reunir muito orgulho.

Castor não pareceu se importar. Ele apenas acenou com a cabeça levemente e, em
seguida, recuou para a sala. "Descanse, Remus Lupin." Ele disse, antes de virar as
costas.

A cripta estava enchendo agora, outros lobisomens estavam chegando, saturando a


sala com seu cheiro e sua energia. Remus recuou para um canto, joelhos contra o
peito, e os observou das sombras. As idades deles só variavam ligeiramente - Remus
não achava que nenhum deles tinha mais de trinta anos. Em vários estados de nudez,

130
ele podia ver que todos eles eram magros e marcados, e alguns tatuados. Nenhum
deles estava particularmente limpo.

Ainda assim, quando todos se acomodaram, aparentemente para descansar dos eventos
da lua cheia, Remus não pôde evitar sentir um pouco de segurança e calor. Ele ainda
estava se acostumando a estar cercado por sua própria espécie, e o desejo de se
acalmar e ficar confortável como todos estavam fazendo era forte. Como se seus
corações estivessem todos batendo como um; todos faziam parte do mesmo corpo e
agora era a hora de dormir.

Livia não estava em lugar nenhum, nem Greyback, e Remus se consolou com isso. A
câmara escura ficou quente, e enquanto o bando se acomodava silenciosamente,
murmurando e sussurrando entre si enquanto se deitavam, as pálpebras de Remus
ficaram pesadas e seus membros moles, e eventualmente a exaustão o atingiu e ele
dormiu.

***

"Onde você está, sua besta imunda?!" A voz anasalada da Diretora gritou enquanto
ela caminhava para cima e para baixo nos corredores cheios de ecos, saltos altos
estalando como um predador. "Quando eu colocar minhas mãos em você, vou te bater
até a próxima semana!"

Remus se encolheu ainda mais em seu esconderijo, cobrindo os ouvidos com as mãos
e fechando os olhos com força. Ela nunca o encontraria; ele era muito bom em se
esconder e muito pequeno.

Ele estava debaixo de uma das camas dos meninos grandes. Sabia que não deveria
estar em naquele dormitório, seria espancado se um deles o encontrasse; mas ele
sabia como ficar quieto. Aprendera isso nos primeiros dias em St. Edmund's, e agora
já estava lá há algum tempo, dificilmente era incomodado, a menos que realmente
atrapalhasse alguém.

131
Remus não se sentia muito bem. Seu corpo estava começando a doer e sua pele estava
quente e coçando.

Ele queria sua mamãe, mas não sabia mais onde ela estava. Talvez ela tivesse ido a
algum lugar com o papai, e eles viessem buscá-lo em breve. Talvez eles estivessem
caçando o homem mau que o machucou.

Remus se beliscou com força. Ele não queria pensar no homem assustador. Ele não
conseguia se lembrar muito disso, exceto quando estava realmente assustado.
Beliscar ajudava, exceto que agora a dor por toda parte estava ficando ainda pior. Os
ossos de suas pernas doíam e ele queria desesperadamente esticá-los, mas então
alguém poderia vê-lo.

Finalmente foi demais, e outra onda de dor o forçou a se desenrolar, soltando um


grito.

"Owww...."

"Ah ha!"

Ah não. Diretora. De repente, havia uma mão em torno de seu tornozelo, e ela o
puxou com força, tirando-o de debaixo da cama.

"Aí está você, seu monstrinho! Venha comigo, você sabe que tem que ir para o seu
quarto. "

"Não ..." ele gemeu, enquanto ela o içava e o carregava sob um braço. Não o quarto.
Ele odiava seu quarto; era tão assustador. "Me solte!" Ele bateu os punhos contra
ela, mas ela mal reagiu, marchando pelo corredor, descendo as escadas e indo em
direção a sua cela.

"Me solte!" Ele gritou, chorando agora, catarro e lágrimas escorrendo pelo rosto,
"Eu quero minha mamãe! Eu quero minha mamãe! "

132
"Ela não está aqui." A diretora estalou. Ela abriu a porta e o colocou lá dentro,
batendo-a com força na cara dele. Ele ouviu os ferrolhos dispararem e começou a
chorar ainda mais.

Estava tão escuro.

Ele tinha medo do escuro desde o homem mau, e mamãe sempre deixava que ele
acendesse a luz do corredor, mas a Diretora não era como a mamãe; ela nunca fazia
coisas boas, apenas coisas horríveis, porque ele tinha sido muito mau. Ele estava aqui
porque era mau? Era por isso que a mamãe não o queria e papai foi embora?

Ele soluçou e gritou, mas ninguém apareceu. Era muito assustador e muito escuro, e
doeu, doeu, doeu ... Um rosnado horrível encheu sua cabeça, e de repente Remus se
lembrou por que não se sentia bem e por que tinha que ser trancado em seu quarto.

Remus acordou assustado. Seu rosto estava molhado de lágrimas e ele estava
completamente molhado com suor. Levou longos segundos para lembrar que tinha
dezenove anos, não seis, e não estava trancado em sua cela em St. Edmund's.

Ele não pensava no Abrigo há muito tempo - e ele tentava nunca relembrar essas
memórias. Seu coração batia forte em seus ouvidos, a adrenalina corria por ele e ele
lutou para manter suas emoções sob controle.

Ele estava sendo vigiado. Era Jeremy - o jovem que Gaius estava recrutando no
Cabeça do Manticore. Ele estava encostado nas barras, olhando para Remus.

"Pesadelo?" Ele perguntou, sua voz rouca, como se estivesse se curando de um forte
resfriado. Ele estava mais magro do que Remus se lembrava.

Remus se endireitou rapidamente, estendendo a mão para limpar o rosto com a parte
de trás das mangas, descobrindo que as cordas haviam desaparecido misteriosamente.
Alguém entrou e o desamarrou? Livia havia feito isso de alguma forma?

A cela ao lado de Jeremy estava vazia, agora eram apenas os dois.

133
"Está tudo bem", disse Jeremy em tom de conversa, "Eu também tive pesadelos
quando cheguei aqui. Todos nós tivemos. Eles nos dizem que são todas as coisas
antigas vindo à tona; as memórias de que não precisamos. Assim que elas forem
embora, podemos começar nossas novas vidas com o bando. "

"Vocês todos ficaram trancados assim?" Remus perguntou, sua garganta doendo. Ele
estava com sede, mas não queria parecer fraco.

"Não." Jeremy encolheu os ombros. "Só você. Eles estão preocupados com você
depois do que fez no bar. E existem outras histórias. Eles falam sobre você às vezes. "

"Quem fala? Livia? Castor? Greyback?? "

Jeremy deu de ombros novamente, apático.

"Sim. Muito. Eles estão no comando. Livia primeiro, porque ela foi transformada por
Greyback. Você consegue coisas melhores, se for um descendente direto."

Remus bufou. Ele se perguntou se Jeremy sabia que havia sido transformado por
Greyback também, e se ser amarrado e jogado em uma cela contava como 'coisa
melhor' ou não.

Jeremy começou a tossir, um estalo profundo e forte, que sacudiu seu corpo e o
dobrou. Ele puxou sua capa de pele mais apertada em torno de seu corpo magro, e
Remus finalmente sentiu algo além do medo ou da raiva. Sentiu simpatia.

"Vocês todos moram aqui, neste lugar?" Ele perguntou baixinho, olhando para o porão
úmido. "Entre as luas?"

Jeremy acenou com a cabeça.

"Melhor do que onde eu estava antes." Ele disse. Então, como se entediado com a
conversa, ele simplesmente se afastou. "Estou com fome." falou suavemente. "Vou
dizer a alguém que você está acordado.Te vejo por aí."

134
E Remus estava sozinho novamente. Com cuidado, ele ficou de pé, verificando se
nada estava quebrado, torcido ou dolorido. Não, na verdade ele se sentia melhor do
que normalmente depois da lua - mesmo com os cuidados da Madame Pomfrey. Se ao
menos não estivesse preso. Se eles não tivessem destruído sua varinha. Ele enfiou a
mão na calça jeans e descobriu que eles o deixaram com seu relógio de bolso, pelo
menos.

Remus segurou o objeto de metal pesado em sua mão, deixando-o aquecer contra sua
pele. Ele pensou em Sirius - embora soubesse que não deveria; não sabia quem estava
ouvindo seus pensamentos, e mesmo se ninguém estivesse, Sirius era uma fraqueza.

Estaria ele preocupado? Provável que sim, Remus disse a si mesmo. Isso é o que o
amor era, com certeza.

Ele havia ido para as ruínas do castelo em Cornwall, onde eles concordaram em se
encontrar? Ele esperou e esperou, se perguntando onde Remus estava, o que tinha
acontecido com ele? Talvez ele tenha sido o primeiro a dar o alarme, dito aos Potter's,
depois a Moody, ou até mesmo a Dumbledore. Remus não achava que qualquer um
dos dois ajudaria muito. Para eles, Remus estaria em uma das três situações:

Morto.

Completando sua missão de se infiltrar nos lobisomens.

Tornou-se agente duplo e realmente se juntou aos lobisomens.

E da perspectiva de Moody, qualquer que fosse, era melhor que Remus ficasse onde
estava. Ele esperava que ninguém tivesse dito isso a Sirius.

Já sentindo sua determinação começando a ir embora. Remus forçou Sirius a voltar


para o fundo de sua mente. Não havia nada que ele pudesse fazer a não ser tentar ao
máximo cumprir a missão, permanecer vivo e voltar para ele. Esse tinha que ser o seu
foco.

135
Ele caminhou pela cela algumas vezes. Não era grande; talvez cinco passos de
diâmetro, três de profundidade. As peles de animais com as quais havia sido forrado
eram de veado e urso, e outra coisa que Remus não reconheceu. Não era lobo. Nada
nativo da Grã-Bretanha. Ele tocou as barras, elas pareciam estranhamente quentes e
zumbiam contra sua pele. Magia.

Tendo uma súbita onda cerebral, Remus deu um passo para trás e fechou os olhos. Ele
estava um pouco rígido e ainda nebuloso de sono, mas a magia estava lá, por toda a
sala. Sobras do bando e dos feitiços de amarração de Livia. Ele tentou reunir um
pouco para si mesmo. Era muito difícil sem uma varinha e com os nervos tão
abalados.

Ele puxava e puxava a atmosfera ao seu redor, mas era como tentar fumar um cigarro
apagado. Nada entrava e ele ficou sem fôlego. A magia parecia além de seu alcance.

"Esforços admiráveis, querido."

Remus abriu os olhos e deu um pulo, vendo Livia agora parada no meio da sala. Ela
sorriu com o desconforto dele e gesticulou para Jeremy, que descia as escadas atrás
dela, segurando uma grande jarra de estanho e um prato com um pouco de comida.
Pão e carne - cheirava a coelho, e Remus esperava que fosse. Ele começou a salivar
quase imediatamente.

Livia estalou os dedos, e a jarra e o prato deixaram as mãos de Jeremy e apareceram


no chão da cela de Remus com um * pop *. Então, ele pensou. Você pode transportar
coisas através das barras. Isso significava que ele poderia sair delas se ele tentasse o
suficiente.

"Coma, meu querido," Livia ronronou. "Pai deseja que sejamos fortes."

"Obrigada." Disse Remus. Ele fez contato visual com ela e tentou segurá-lo. Isso
funcionou com Gaius - e acidentalmente com Danny. Eles se submeteram a ele,
eventualmente.

136
Livia retribuiu seu olhar e sorriu, parecendo muito satisfeita.

"Esse é o meu garoto."

"Onde está Greyback?"

"Mostre algum respeito." Os olhos dela brilharam e Remus sentiu uma pontada no
crânio. Ele engasgou, pressionando a palma da mão na testa, "Ele é nosso pai." Livia
sibilou.

"Tudo bem!" Ele gritou "Onde está nosso... nosso pai?" Dizer isso o fez ter vontade de
vomitar.

"Isso não é da sua conta."

"Eu quero falar com ele!"

"Em seu tempo. Depois de provar seu valor. "

"Como vou provar alguma coisa trancado aqui?!" Remus ficou furioso, frustrado.
Livia apenas sorriu de volta.

"Remus Lupin encontrará um jeito. Adeus, irmão. Lembre-se de comer alguma coisa."

Ela se virou e saiu, estalando os dedos para Jeremy ao fazer isso. Ele correu para
segui-la escada acima, olhando para trás para Remus enquanto o fazia, e murmurando,
'Desculpe.'

Remus observou seus pés desaparecerem quando chegaram ao final da escada, e então
ouviu um barulho alto de algo rangendo quando uma coisa pesada se fechou sobre a
escotilha. A estranha luz que iluminou a sala por todo esse tempo se apagou, como um
interruptor de luz, e Remus foi deixado sozinho, trancado no escuro.

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Capítulo 159: A guerra: Submissão

Oh! You silly thing

You've really gone and done it now

Oh! You silly thing

You really gone and done it now

'Silly Thing', The Sex Pistols.

Domingo, 25 de março de 1979

Remus estava ficando louco.

Essa era a única explicação.

O tempo passava lentamente, cada segundo se esgotando ao longo de semanas - e


então as horas voavam de uma só vez, como mísseis, deixando-o sem fôlego.

Eles traziam comida, e essa era a única maneira de Remus medir seus dias. Ninguém
falou com ele; talvez eles tivessem sido avisados para não fazer isso. Talvez fosse
parte de sua prova. No entanto, eles o olhavam. Eles o encaravam.

O bando voltava todas as noites para dormir - às vezes Livia, Gaius e Castor estavam
lá. Outras vezes, não. Nunca Greyback, embora às vezes Remus pensasse que podia
sentir o cheiro dele - mas isso pode ter sido a loucura. Depois de dois dias no escuro,
ele não confiava em seus sentidos.

Depois de uma semana, ele não confiava em nada.

Ele nunca estava confortável, sempre inquieto e exausto; andando até seus pés ficarem
machucados. Dormia pouco, mas muito ao mesmo tempo; preso entre surtos

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espasmódicos de inconsciência e insônia. Remus tinha sonhos terríveis. Cada memória
ruim subia até a superfície de sua mente. Principalmente as de St. Edmund's, mas
também daquele verão após o quinto ano, quando ele nunca esteve tão solitário e
quando odiava Sirius.

Ele ficou paranóico, convencido de que eram os outros que estavam controlando sua
mente de alguma forma, forçando-o a ver coisas que não queria; coisas que não
estavam lá.

Às vezes, ele sonhava que Sirius estava morto. Então, quando aquilo arrancava todo o
terror dele, ele sonhava com cada um de seus amigos morrendo, um por um. Seus
fantasmas o visitavam, chorando ou furiosos. Quando acordava, nunca sentia que eles
tivessem realmente ido embora.

Outras vezes Remus se perguntava se de fato ele estava morto, e este era um inferno
projetado de forma extremamente específica.

No final da primeira semana, ele havia perdido todo o senso de vergonha. Ele chorava,
uivava, gemia, ria loucamente, ou então se aninhava no canto e sussurrava para si
mesmo. Tentou ter conversas em sua cabeça, mas não funcionou da mesma maneira
que antes. A voz calma de Grant se transformou na de Lívia, Sirius em Castor e
Remus ficou sem nenhuma saída.

Em momentos de lucidez, ele tentava invocar mais magia, mas era muito difícil, e
estava muito fraco.

Às vezes ele pensava que poderia conseguir. Um dos outros usava um feitiço (sempre
sem varinha; nenhum deles jamais fazia magia do jeito dos bruxos) para invocar algo,
ou iluminar a sala - e Remus sentia aquela velha agitação de poder. Mas nunca durava
o suficiente.

Finalmente, os pais de Remus apareceram para ele - em sua cabeça, mas também na
cela. Hope estava chorando - doente, mesmo na morte, seu rosto magro e abatido. Ela

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usava uma mortalha branca e havia terra em seu cabelo louro - embora Remus
soubesse que ela havia sido cremada.

Lyall foi o pior; talvez porque Remus não tivesse uma base sólida para ele, além de
algumas fotos espontâneas. O Lyall que sua imaginação febril sonhou era cruelmente
sem coração, com um sotaque requintado de classe alta e olhos azuis frios.

"Deixou aquele animal destruir minha varinha, não é?" O fantasma magro sussurrou
em seu ouvido "Eu deveria ter tirado você de sua miséria, todos aqueles anos atrás."

Enquanto os outros fantasmas o envergonhavam, o faziam se sentir pequeno e triste,


Lyall só deixava Remus com raiva. Ele berrou com seu pai como um louco e se atirou
contra as paredes de sua jaula.

"Paz, irmão." Castor apareceu nas barras, depois que Remus já fazia isso há algum
tempo. "Este não é o caminho."

"Foda-se!" Remus rosnou, segurando a cabeça entre as mãos enquanto tentava se


firmar na realidade.

Castor retirou-se. Remus continuou sofrendo. Ele se enrolou no chão e cobriu a


cabeça como um cachorro ferido. Isso o fez pensar em Sirius.

Pensamentos estúpidos ocorreram a ele, como - onde Sirius estava ficando? Na casa
dos Potter? No apartamento deles? Remus não gostou da ideia de Sirius sozinho. Ele
estava comendo direito? Ele estava fumando muito? Ele já tinha caído daquela
motocicleta idiota e quebrado o pescoço?!

Alguém estava ao menos procurando por Remus?

Ele fechou os olhos e tentou fingir que estava em outro lugar. Em casa, em seu
minúsculo apartamento em Londres, lendo jornal. Ou em sua velha cama em
Hogwarts, com as cortinas fechadas.

140
À noite, na cripta, Remus podia ouvir o resto do bando respirando, roncando, rolando.
Alguns choravam, talvez quando pensavam que ninguém mais estava acordado. A
maior parte tossia, resultado das condições de umidade. Depois de uma semana,
Remus também pegou a tosse e se sentiu mais fraco do que nunca.

Ele nunca tinha sido exatamente corpulento- sempre foi decididamente magro, mesmo
depois de sete anos comendo em Hogwarts. Mas agora Remus mal reconhecia seu
próprio corpo - os ossos de seus quadris ficaram afiados, sua calça jeans escorregava
pela cintura, suas costelas se projetaram como galhos de uma árvore de inverno e sua
pele ficou seca e em carne viva, rachando em alguns lugares.

Essa fraqueza física só aumentou o desespero de Remus - quem ele pensava que era,
juntando-se a um exército rebelde idiota logo depois da escola? Nenhuma das
centenas de livros que ele leu o havia imbuído de bom senso?!

É claro que ele não poderia enfrentar Greyback - a ideia cômica. O que era engraçado,
na verdade, era que Greyback nem mesmo iria matá-lo. Remus não valia o esforço.
Ele simplesmente iria perder tudo nesta cela, e ninguém jamais saberia.

"Você não está tentando." Castor disse, voltando para vê-lo.

Talvez tenham se passado apenas algumas horas desde a primeira vez que ele tentou
falar com Remus. Talvez já tivesse se passado dias.

Devia ser de dia, porque não havia mais ninguém na cripta.

"Me deixe sair!" Remus balbuciou, agarrando-se às barras de sua jaula. "Por favor!"

"Deixe-se sair." Castor respondeu friamente.

"Eu não tenho minha varinha!"

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Castor resmungou. Ele estendeu a palma da mão vazia e uma chama vermelha-sangue
apareceu nela. Isso emprestou um brilho suave e atraente às feições de Castor,
borrando as bordas irregulares de sua cicatriz e tornando-o bonito novamente.

"Não precisamos de varinhas, Remus, não pegamos magia emprestada como humanos
comuns."

"Eu não tenho o suficiente." Remus gemeu, caindo para trás.

"Idiota." Castor disse, fechando a mão sobre a chama, queimando-a em um punho.


"Você está transbordando dela. Você ainda está pensando como um humano. Por que
acha que ele o colocou aqui? "

"Para me ver morrer."

"Idiota." Castor repetiu, balançando a cabeça com desdém.

"Por que , então?!" Remus rosnou.

Castor olhou em volta disfarçadamente para confirmar que estavam sozinhos. Ele se
aproximou. Seu cheiro ficou mais forte quando ele se posicionou contra as barras da
cela, e Remus sentiu uma atração involuntária por ele. Castor baixou a voz.

"Você está sendo testado, seu tolo. Você é apenas o quarto filho de Greyback a
retornar para ele - você sabe que posição isso lhe dá?! Que tipo de pode?! Você viu
Lívia e Gaius, você sabe do que é capaz. "

"Mas por que--"

"Você atacou Gaius. Verão passado. Greyback está preocupado com você agora - ele
não vai dizer isso, mas está. Ninguém desafia aqueles dois, ninguém. "

"Eu não queria desafiar ninguém, ele me atacou primeiro, e eu ..."

142
"Você agiu como um lobo." Castor disse triunfante, seus lábios macios se curvando
nos cantos "E é isso que você deve fazer agora."

"Por que você está me contando isso?" Remus o olhou com desconfiança. Porque
fazia um estranho tipo de sentido agora, como se Castor o tivesse sacudido para
acordá-lo.

"Porque você não é bom para mim nesta gaiola." Castor respondeu, olhos escuros
queimando com intensidade. "Um ano atrás, Remus Lupin falou comigo sobre
mudança. Sobre uma vida melhor. Eu não esqueci."

"Parece que me lembro de você rindo na minha cara." Remus respondeu


amargamente, "'O bando é tudo', não foi isso que você disse?"

"O bando é tudo." Castor afirmou ferozmente. "Isso não mudou. Outras coisas sim.
Você não está sem aliados aqui. "

"Se você quer tanto minha ajuda, então me tire daqui." Disse Remus.

Castor ergueu uma sobrancelha, lhe dando um longo e duro olhar avaliativo.

"Será melhor para você se fizer isso sozinho. Os outros devem ver você tendo
sucesso."

Remus estava prestes a fazer outra pergunta, quando a atmosfera mudou - Livia estava
chegando. Castor recuou rapidamente e não disse mais nada. Remus o observou à
distância, sua mente finalmente começando a funcionar.

***

Ele precisava de magia. Precisava de poder e de uma emoção forte e boa para fazer
tudo funcionar. Felizmente, Remus sempre teve emoções fortes em abundância. Isso e
paciência.

143
Estimulado pela proposição intrigante de Castor, Remus achou muito mais fácil se
concentrar e ficar calmo. Agora que sabia que não estava totalmente sozinho, as
aparições fantasmagóricas tornaram-se mais fáceis de ignorar.

E ele começou a notar coisas. Como como os outros lobisomens não eram tão
homogêneos quanto pareciam à primeira vista. Eles eram todos bastante jovens -
claramente Greyback tinha um tipo preferido; nenhum deles parecia ter mais de 25
anos. Eles estavam todos magros e com cicatrizes.

Porém, quanto mais Remus os observava, mais ele via suas diferenças. Amizades e
alianças; rancores e rixas, gostos e desgostos.

Quando ele prestava muita atenção, Remus podia até dizer há quanto tempo cada um
deles era lobisomem - isso ficava claro pela hierarquia. O conjunto mais jovem se
separava em dois campos; fanáticos que idolatravam Lívia e Gaius, e aqueles que não
tinham tanta certeza, menos confortáveis com esse estranho estilo de vida subterrâneo.
Eles tendiam a ficar ao lado de Castor; dormindo em um lado da cripta, conversando
entre si.

Gaius em particular parecia incomodado com este grupo. Ele revistava o chão da
cripta todas as noites, exigindo silêncio, ordenando que eles se deitassem mais
separados. Remus sabia, desde o primeiro encontro na Cabeça do Manticore, que
Gaius tinha um pavio curto, e assim que Remus se agarrou a essa ideia, ele soube que
tinha que encontrar uma maneira de explorá-la.

A ajuda finalmente veio de um lugar inesperado. Jeremy, um dos membros mais


jovens do bando, e até agora o único que tinha falado com Remus além de Castor e
Lívia, ficava entediado facilmente. Ele tinha um lado travesso que lembrava Remus de
James e Sirius - ele sempre contava piadas para fazer os outros rirem, e era um dos
mais queixosos quando se tratava de condições de vida.

Gaius o odiava, é claro, e nunca perdia a oportunidade de colocá-lo de volta em seu


lugar.

144
Uma noite, quando todos estavam se preparando para dormir, Jeremy teve um ataque
de tosse particularmente violento. Na opinião de Remus, ele estava definitivamente
exagerando, demorou muito mais do que seria provavelmente necessário.

"Controle-se, irmão." Gaius sibilou, imediatamente de pé, cruzando a cripta para ficar
ao lado de Jeremy, os dentes à mostra.

"Des-culpa," Jeremy gaguejou, ficando carrancudo de maneira sarcástica "Eu não


posso impedir, é a umidade!"

"Seus irmãos e irmãs parecem se virar bem o suficiente." Gaius respondeu entediado.

Jeremy bufou. Gaius ergueu a mão, como se fosse lançar um feitiço.

"Talvez você precise ser lembrado de como se comportar."

Jeremy lambeu os lábios, nervoso e ficou quieto. Castor, que estava sentado nas
proximidades, levantou-se. Ele colocou a mão no ombro de Gaius.

"Eu vou falar com ele, irmão. Não se preocupe. "

"Nosso pai exige obediência." Gaius sibilou. Os olhos de Castor brilharam.

"Estou bem ciente das exigências de nosso pai."

Gaius claramente queria retrucar, mas vendo o fogo na expressão de Castor, pensou
melhor e se retirou, se esquivando, empurrando com raiva três jovens mulheres
amontoadas que estavam assistindo a tudo.

Castor se agachou e sussurrou para Jeremy.

"Não o provoque."

"Ele é um idiota! Ele não é Greyback, ele não pode nos dar ordens! "

145
"Você não pode provocá-lo." Castor repetiu, uma nota de advertência em sua voz. Não
foi atendido.

"Eu estava tossindo! Não pude evitar! Não é como se eu estivesse assobiando uma
melodia alegre! "

As mulheres mais próximas riram.

"Paz." Castor disse.

Todos pareceram se acalmar depois disso; a ordem e a quietude foram restauradas.


Remus sentou-se encostado na parede de trás de sua cela, os braços abraçando seus
joelhos. Em uma das mãos, ele segurava o relógio de bolso, que estava quente e
escorregadio de tanto ficar em sua mão o tempo todo.

De repente, houve um assobio longo e baixo. Os olhos de Remus se abriram, seu


estômago se revirando. Esse maníaco.

As garotas perto de Jeremy estavam rindo de novo quando ele começou a assobiar
uma musiquinha - Remus achou que soava como 'Mary had a Little Lamb', mas ele
não era bom com rimas infantis.

Durou apenas alguns compassos - Gaius estava sobre ele em segundos, rosnando, as
mãos em volta da garganta de Jeremy. O corpo do jovem ficou rígido como uma
tábua, e Remus pôde instantaneamente sentir o cheiro de carvão da magia negra que
Gaius estava usando para subjugá-lo.

Foi como uma sensação de leve formigamento; todos os cabelos de seu braço se
arrepiaram. Remus fechou os olhos e inalou, bebendo a energia mágica como se
estivesse sedento por ela. A delícia foi intensificada pela terrível fúria de Gaius; por
seu desejo flamejante de machucar.

Era isso. Era só isso! Remus estava tonto de empolgação quando as peças se
encaixaram no lugar.

146
"Irmão," a voz de Lívia agora. Ela se esgueirou pelo chão na direção de Gaius,
lânguida como um gato. "Deixe o filhote. Ele está inquieto e animado, isso é tudo. "

Gaius soltou Jeremy, que caiu para trás, tossindo mais forte do que antes. Remus
podia sentir o cheiro de sal de suas lágrimas. Castor se ajoelhou ao lado do jovem,
uma mão gentil em seu ombro.

Remus começou a pensar rapidamente. Ele era péssimo em assobiar - sabia apenas
fazer o assobio de lobo (e Sirius amava a ironia disso), mas não conseguia manter o
tom por muito tempo. O que mais seria irritante? Ele precisava da atenção de Gaius -
precisava de sua raiva .

Ele pigarreou, limpando sua garganta seca.

"Still dunno what I was waiting for..." Remus tentou, sua voz um pouco rouca e
esganiçada por falta de uso.

Houve uma vibração de movimento, uma sensação de orelhas em pé, como se


estivessem esperando para ver o que ele estava fazendo. Estava muito desafinado
também, mas era a única música da qual ele conseguia se lembrar de todas as
palavras.

Remus engoliu em seco e ergueu a voz mais alto, levantando-se e se aproximando das
barras.

"And my time was running wild, a million dead end streets, and..." Um pouco mais de
movimento agora, alguns dos mais jovens estavam sentados, o olhando " Every time I
thought I'd got it made, it seemed the taste was not so sweet... "

Algumas risadinhas. Alguém sussurrou: "Ele finalmente enlouqueceu."

"So I turned myself to face me..." Remus fechou os olhos e berrou, revirando a testa
contra as barras frias, " Though I'd never caught a glimpse, of how the others must see
the faker-- "

147
"Silêncio!" A voz aguda de Gaius soou.

"I'm much too fast to take that test..."

"SILÊNCIO!"

Remus inclinou a cabeça para trás e respirou fundo.

"CH CH CHANGES! TURN AND FACE THE STRANGE CH CH CHA-ANGES!"

"Remus Lupin!" Gaius estava de pé, caminhando em sua direção, uma mão levantada.
"Pare com isso UMA VEZ!"

"DON'T WANNA BE A RICHER MAN..." Remus continuou, sentindo a feroz energia


mágica de Gaius preenchendo o espaço entre eles, como uma onda de ar quente
correndo sobre si, encharcando-o. Ele apertou o relógio de bolso com mais força e
extraiu a magia dele também, sugando-a até os ossos, até a medula.

Remus abriu os olhos e as barras de sua cela desapareceram como fumaça. Sorrindo,
ele deu um passo à frente, cruzando a soleira da cripta. Estava livre.

"Time may change me..." ele meio cantou, meio riu de Gaius, que estava diante dele,
boquiaberto.

"Volte! Livia! Castor! Me ajudem--"

"Cale a boca, Gaius." Remus ergueu a mão, mal pensando sobre isso, apenas deixando
a magia fazer o trabalho. Gaius foi silenciado. Sua boca abriu e fechou algumas vezes,
os olhos arregalados de terror. Remus sentiu uma onda de prazer com isso. Sim! Me
tema. "Bom menino", ele sorriu. "Agora, você..."

Ele se afastou e empurrou Gaius com força para dentro da cela, antes de estalar os
dedos para que as barras reaparecessem imediatamente. Gaius encontrou sua voz e
rugiu, furioso.

148
"Me deixe sair!"

Remus riu. Ele estava prestes a se virar para se dirigir ao resto do bando - todos
estavam murmurando agora, vários graus de nervosismo e excitação. Ele sentiu uma
mão em seu ombro. Livia apareceu à sua esquerda, Castor à sua direita. Os dois
sorriam, o orgulho brilhando em seus olhos.

"Meu irmão," Livia sussurrou, "Finalmente! O Pai vai ficar muito orgulhoso. "

149
Capítulo 160: A guerra: Soldados da
Infantaria

I count the corpses on my left,

I find I'm not so tidy.

So I'd better get away, better make it today

I've cut twenty-three down since friday.

But I can't control it.

My face is drawn, my instinct still emotes it.

'Running Gun Blues', David Bowie.

A onda quente de poder no corpo de Remus não se dissipou tão rapidamente quanto
antes - talvez simplesmente porque sempre esteve lá - só que agora ele sabia como se
sintoniza-lá. Ou talvez fosse um mecanismo de defesa devido ao que o instinto lhe
dizia que estava por vir.

Todos na cripta podiam sentir também. Alguns deles se levantaram, ansiosos. Livia
fechou os olhos e suspirou de prazer.

Passos pesados e rápidos ecoaram da igreja acima. A adrenalina inundou o corpo de


Remus quando a laje de concreto que cobria a entrada da cripta foi empurrada para o
lado.

Greyback desceu. Ele parecia diferente de antes. Não estava na defensiva agora.
Estava sorrindo, sua postura e cheiro acolhedores. Amigável.

O coração de Remus deu um salto.

150
Greyback sorriu, seus olhos escuros e secretos como a floresta.

"Remus Lupin," ele disse. "Acho que é hora de conversarmos."

Remus concordou com um aceno de cabeça, pasmo.

Greyback também acenou, ainda sorrindo, depois se virou e começou a subir as


escadas novamente. Remus o seguiu sem nem olhar para trás. Finalmente, finalmente,
esta era sua chance. Para fazer o quê, ele ainda não sabia. Tudo o que Remus sabia
naquele momento era que seu pai tinha vindo até ele, e ele estava exultante.

O ar ficou mais fresco e mais limpo enquanto eles emergiam da igreja em ruínas, e
Remus respirou fundo, fechando os olhos. Era quase noite; estava fresco e silencioso.
Sob as nuvens mal iluminadas, a floresta ao redor deles estava se transformando do
dia para a noite, as criaturas noturnas bocejando, se espreguiçando e saindo de seus
buracos e túneis.

Greyback conduziu Remus pelo corredor da igreja, até a saída em arco, e eles
caminharam - não por muito tempo - através das árvores jovens de faia, passando por
robustos carvalhos ingleses, por um estreito caminho escondido que levava a uma
espécie de caverna na base de uma colina. Uma toca.

Sem olhar para trás, Greyback entrou, abaixando-se ligeiramente na entrada antes de
se endireitar quando a entrada se abriu mais e mais alto do que Remus poderia ter
previsto de fora. Ele o seguiu, porque não havia mais nada a fazer.

Lá dentro cheirava a casa. Terra, floresta, carne e lobo.

Embora não houvesse nenhuma fonte de luz natural, assim que Greyback entrou, uma
série de tochas ao longo das paredes da toca se acenderam, criando um espaço
aconchegante e acolhedor. Havia até uma fogueira com um caldeirão de estanho
pendurado, transbordando com algo que cheirava espesso e saboroso. Uma mesa de
madeira ao lado da lareira estava cheia de alimentos de todos os tipos - caça recém-
morta e esfolada, tigelas de nozes e frutas vermelhas, cogumelos, urtigas e pão.

151
As paredes da caverna haviam sido esculpidas em prateleiras e buracos cheios de
livros e pergaminhos. Haviam alguns banquinhos de madeira espalhados e Greyback
gesticulou para que Remus se sentasse.

Remus se sentou, olhando ao redor. Mais para trás, escondido nas sombras, ele podia
sentir o cheiro de uma cama - ou pelo menos do lugar onde Greyback dormia.

Mais perturbador, porém, era o cheiro do ensopado. A maior parte de suas refeições
na última semana eram geladas e Remus as comia na penumbra. O cheiro delicioso de
uma refeição quente ameaçou dominá-lo.

Ele observou seu captor pegar uma tigela de porcelana de uma prateleira e colocar
uma pequena porção de guisado do caldeirão, depois pegar uma colher e levar para
ele. Greyback entregou-lhe a tigela e Remus a pegou, ainda incapaz de tirar os olhos
de Greyback.

Sua forma preenchia a entrada, dura, musculosa e imóvel. Seu cabelo escuro e grosso
estava preso em um nó e seus olhos amarelos se voltaram para Remus, curiosos e
desafiadores ao mesmo tempo.

Apesar de seu comportamento ser maior do que a vida, também havia uma quietude
sobre ele que Remus só tinha visto em animais selvagens. Um silêncio que prometia
algo mais sinistro, como uma armadilha pronta para ação.

Greyback se sentou em frente a Remus, com as mãos nos joelhos, e acenou com a
cabeça para a tigela de ensopado que aquecia suas mãos.

"Coma." Disse.

Sem hesitar - Remus ainda não sabia se estava cumprindo ordens porque precisava, ou
porque queria - pegou um pouco de ensopado e colocou a colher na boca. Ele poderia
ter chorado. Foi a coisa mais deliciosa que ele já tinha provado, quente e cheia de
sabor - algum tipo de carne escura e cebola saborosa. Ele mastigou, conforme
instruído, antes de engolir em seco.

152
Greyback lambeu os dentes pontiagudos, "Bom filhote."

Remus o ignorou e continuou a comer, de repente percebendo que estava morrendo de


fome. Um poema que ele leu uma vez surgiu em sua cabeça, como um aviso.

Though the goblins cuffed and caught her,

(Embora os goblins a algemaram e a capturaram,)

Coaxed and fought her,

(Persuadiram e brigaram,)

Bullied and besought her,

(Intimidaram e importunaram)

Scratched her, pinched her black as ink,

(Arranharam, beliscaram, deixando-a com marcas pretas como tinta,)

Kicked and knocked her,

(Chutaram e bateram,)

Mauled and mocked her,

(Maltrataram e zombaram,)

Lizzie uttered not a word;

(Lizzie não disse uma palavra;)

Would not open lip from lip

(Não abria lábio de lábio)

153
Lest they should cram a mouthful in.

(Para que não forçassem a colher em sua boca.)

Christina Rossetti - Goblin Market

Claro, eram goblins. Você não deveria aceitar comida dada por fadas ou goblins - não
havia nada que tivesse lido em relação a lobisomens. Mas então, o que ele havia
realmente aprendido sobre lobisomens?

Greyback o observou mais um pouco, como se estivessem sentados para jantar juntos;
velhos amigos. Ele esperou até Remus quase terminar de comer para falar.

"Acabou pegando no pé de Gaius, hein? Interessante isso. Eu pensei que fosse ser
Castor. "

"Ele estava sendo cruel." Remus respondeu.

"Ele é um bom filhote. Um lobo lindo; poderoso. Mas ele tem algumas coisas a
aprender sobre liderança, então te parabenizo. O que você acha dos meus outros
filhos, hein?"

Remus terminou de comer. Ele engoliu em seco e chupou a colher pensativamente,


antes de colocá-la de volta na tigela vazia, então olhou Greyback nos olhos.

"Sinto muito por eles."

"Sente muito?"

"Pela maneira como vivem. Não há dignidade nela."

Os olhos de Greyback brilharam.

154
"Dignidade. Que criatura adorável você é, Remus Lupin. Sim, dignidade. Essa é
exatamente a palavra. Exatamente." Greyback estava acariciando sua barba, pensativo.
"É uma situação temporária, claro. Quando esta guerra for vencida -"

"Quando esta guerra for vencida," Remus disse, firmemente, "Os lobisomens serão
mais odiados e temidos do que nunca. Por causa do que você fez. Por causa de seus
crimes. "

Greyback jogou a cabeça para trás e riu, mostrando longos dentes amarelos.

"Verdadeiramente adorável, filhote. Eu me preocupei que tanto tempo naquela cela


pudesse ter suavizado você, mas ... "

Greyback ergueu uma de suas grossas sobrancelhas e Remus sentiu uma agitação
desagradável dentro de seu cérebro, como se alguém estivesse acariciando seus
pensamentos com os dedos. Ele contorceu o rosto e Greyback deu uma risada baixa no
fundo da garganta, "Não. Ainda intacto. Meu filhote, bom e forte. "

Remus o encarou. A sensação de contorção parou.

"Você quer dizer", ele respirou, "Você não queria me quebrar?"

"Claro que não." Greyback cuspiu com desdém "É isso que você pensa? Essas são as
mentiras vis espalhadas sobre mim? Por que um pai desejaria mal a seus filhos?"

Remus inclinou a cabeça.

"Me diz você. Por que você atacaria uma criança de cinco anos? Por que me trancou?"

"Jogos de perguntas," Greyback movimentou sua mão de longas unhas, descartando as


questões "Essas não são as perguntas para as quais você quer uma resposta, não finja."

"Como você sabe o que eu quero?!" Remus sentiu seu temperamento esquentar e lutou
para mantê-lo sob controle. Ele tentou agarrar-se à sensação de poder que tirou de
Gaius, para absorver a magia que podia sentir nas paredes de terra da toca.

155
"Eu sei tudo sobre você, Remus Lupin." Ele o olhou com olhos afiados como navalhas
mais uma vez, e Remus sentiu aquela agitação desagradável em seus pensamentos.

"Não, isso não é justo." Remus balançou a cabeça, tentando construir uma parede
contra Greyback. "Você está usando legilimência!"

"Ah. Um truque bruxo. Lobos não leem mentes. Lobos veem almas."

Parecia a mesma coisa para Remus. Os lábios de Greyback se curvaram em um sorriso


malicioso mais uma vez.

"Não, Remus Lupin. Não é a mesma coisa. Afinal, pode-se mudar de ideia. Remus
Lupin pode simpatizar com seus companheiros do bando em um dia e insultá-los no
dia seguinte. Essa é a mente. Mas a alma de Remus Lupin... "

Greyback fechou os olhos e inalou, como se Remus tivesse um cheiro particularmente


delicioso.

"Pare com isso!"

"Me faça parar."

Remus tentou. Ele tentou muito, muito, forçando a magia dentro dele para fora,
através de seus olhos, através de seus pensamentos. Pareceu funcionar. Sua mente se
acalmou e Greyback se recostou, parecendo satisfeito. Remus estava tão confuso
agora - ele não queria agradar Greyback, nunca.

"É perfeitamente normal me odiar, você sabe." Greyback disse, esticando os braços,
girando os ombros como se estivesse se preparando para dormir - ou brigar "É natural
ficar ressentido com o pai."

Você não é meu pai. Remus pensou, na parte de seu cérebro onde ainda se sentia ele
mesmo, eu nunca tive um pai e nunca precisei de um.

156
"Responda às minhas perguntas." Remus disse o mais vigorosamente que conseguiu,
"Se você se preocupa tanto comigo... como um... como um pai, então por que me
transformar?! Por que me caçar por anos e me enfiar em uma jaula assim que eu
apareço?! "

Greyback estava rindo dele de novo, fileiras e mais fileiras de dentes, língua comprida
e vermelha.

"Você pode agradecer a Lyall Lupin por sua transformação."

"Certo." Remus fez uma careta, "Terrivelmente humano, não é?! Vingança?"

"Autopreservação." Greyback respondeu, coçando atrás da orelha divertidamente.


"Lyall tinha ideias sobre como minha família deveria ser tratada. Ideias ignorantes.
Ele precisava aprender. "

"Então por que não atacar a ele -"

"Porque ele era fraco ." Greyback sibilou. " Pude sentir o cheiro nele. Sem coragem,
um hipócrita. E eu estava certo. Um homem melhor não teria abandonado seu filhote e
sua cadela. Embora talvez eu deva agradecê-lo. Ele se destruiu antes que qualquer
uma de suas fraquezas pudesse se infiltrar em você. " Ele lambeu os lábios, "Tornou-
se meu objetivo. Pegue-os jovens, os faça crescer fortes."

Remus sentiu vontade de vomitar. Ele odiava Greyback tão ferozmente que era como
se suas entranhas tivessem se transformado em bile.

"Se você acredita nisso", ele continuou estoicamente, a boca cheia de saliva tornando
suas palavras grossas e desleixadas, "então por que esperar tanto para me encontrar?
Você poderia ter me arrancado do Lar a qualquer momento."

"Eu considerei isso," Greyback acenou, inclinando a cabeça pensativamente, "Eu


peguei Lívia quando ela mal falava. Castor e Gaius quando eram pequenos. Mas você
era um caso diferente. Dumbledore colocou as patas em cima de você antes mesmo de

157
Lyall cair no chão. Eu sabia o que o velho idiota estava pensando - seu próprio
lobisomem de estimação; sua própria besta domesticada, toda treinada e com uma
cabeça cheia de truques e mentiras dos bruxos. Um monstro educado. " Ele lambeu os
lábios lascivamente, "Eu sabia de tudo isso, e pensei... por que não? Deixe o filhote
vir até mim quando for a hora certa, deixe-o aprender tudo o que puder sobre o mundo
mágico, e veremos, então, qual lado vence. "

"Lado? Você quer dizer... você ou Dumbledore? "

"Natureza ou criação." Greyback deu uma risadinha. Remus recuou, enojado.

"Então eu sou um experimento?"

"De certa forma."

Remus finalmente desviou os olhos, incapaz de encará-lo por mais tempo. Seus olhos
se fixaram na estante de livros à sua direita. Eram todos clássicos. O Estranho Caso
do Dr. Jekyll e Sr. Hyde, A Ilha do Doutor Moreau, O Conde de Monte Cristo.

"E a jaula?" Ele perguntou, trêmulo, olhando para as letras douradas em cada livro
com capa de couro. "Isso foi parte do experimento?"

"Estava claro que você tinha se tornado muito dependente dos truques que
Dumbledore lhe ensinou." Greyback disse, como se tudo fosse perfeitamente razoável.
" Você foi confinado apenas pelo tempo necessário, para garantir que seus verdadeiros
dons fossem fortes o suficiente para se manifestarem. E eles são, filhote. Olhe para
você agora, brilhando com poder. "

Remus finalmente o olhou, encontrando aqueles olhos amarelos de lobo mais uma
vez. Tudo bem então. Se ele era tão poderoso, poderia usá-lo. Queimando com ódio
amargo e ácido, Remus se esforçou mais uma vez, focando o mais nitidamente que
podia no corpo de Greyback.

Faça-o fraco, faça-o sentir doer.

158
Greyback endireitou as costas no banco e fechou os olhos, sorrindo como se Remus o
estivesse acariciando, como se ele não estivesse usando toda sua força. Então o
lobisomem levantou a mão - e Remus viu que ela estava tremendo, muito levemente.
Ainda assim, Greyback era incrivelmente poderoso, e Remus podia sentir sua própria
magia ser contrariada e bloqueada. Pelo menos havia tentado.

"Muito bom, Remus Lupin," Greyback disse depois de um longo tempo, sua voz um
pouco mais rouca do que antes. "Muito bem, filhote ..." Ele suspirou. "O suficiente,
por esta noite, talvez. Voltaremos a nos falar. "

Remus se levantou rapidamente, sentindo como se todo esse tempo tivesse sido
aprisionado na cadeira por uma força invisível; e agora o peso se foi.

"Um momento..." Greyback também se levantou e passou por Remus em direção ao


quarto de dormir sombrio atrás. Ele voltou segundos depois com um grande pelo cinza
e entregou a Remus. "Um presente, filhote. Bem-vindo ao bando."

Remus o pegou e segurou-o sobre um braço com cautela. Era bonito; a pele macia,
prateada e preta sob seus dedos.

"Eu posso ir?" Ele perguntou, olhando para a boca da toca, agora desprotegida e
aberta. Ficou nervoso de repente.

"É claro. Você conhece o caminho de volta. Você não está no mundo dos bruxos
agora; você é livre. Vá para onde quiser. Volte para o bando. Ou então... se preferir
dormir aqui? " Seu rosto ficou faminto novamente, seu sorriso zombeteiro, enquanto
ele se afastava e gesticulava em direção à sua própria cama.

O estômago de Remus se revirou novamente e ele saiu da toca o mais rápido que
pôde.

Ficou do lado de fora sozinho por um longo tempo. O pensamento de aparatar - de sair
de lá o mais rápido que pudesse, voltar para casa, para Sirius, Londres e seus amigos -
ocorreu apenas rapidamente.

159
A noite havia caído na floresta. Remus respirou o ar adorável e olhou para os pontos
de luz no céu. Corujas voavam acima em busca de presas. Raposas pulavam pela
vegetação rasteira, toupeiras cavavam o solo abaixo de seus pés. Se sentia tão parte
deste lugar quanto eles. Uma criatura da natureza ganhando vida.

Uma brisa fresca agitou as folhas acima dele e ele estremeceu. Sem pensar, Remus
puxou a capa de pele sobre os ombros, envolvendo-a com força. Era bom, como uma
segunda pele. Ele respirou e exalou mais uma vez, para saborear a paz e a
tranquilidade de estar sozinho. Então, se afastou da toca e voltou para seu bando.

***

As coisas mudaram depois daquilo, é claro. Quando Remus voltou para o bando
naquela noite, ele já tinha um novo lugar na hierarquia. Gaius havia sido libertado de
sua prisão e não encontrou os olhos de Remus; não o desafiou, apenas fugiu para o seu
próprio canto. Livia deixou claro que agora Remus estava acima de Gaius ao se
aproximar primeiro e acariciar sua nova pele, ronronando de alegria.

"Lindo", disse ela, "lindo".

E quando chegou a hora de se acomodar e dormir, Remus poderia escolher qualquer


lugar da cripta que quisesse. O que teve que ser uma decisão cuidadosamente pensada;
dormir ao lado de Lívia, a cadela alfa, e o que isso estaria insinuando? Certamente
diria a Gaius exatamente onde ele estava. Seria o que Moody sugeriria, se Moody
tivesse alguma ideia de como se comportar em tal situação.

Ele também possuía reservas quanto à Castor. Por um lado, o instinto disse-lhe para
ficar do lado do belo jovem - e ele sabia que não era inteiramente a ver com o fato de
que Castor o tinha ajudado. Remus estava acostumado com o cheiro agora, mas isso
não o deixava menos atraído. Por outro lado, Castor era claramente um dissidente.
Ficar ao lado dele poderia levantar suspeitas de outros membros do bando.

160
Porém, ele estava cansado e com sono, e já havia tomado muitas decisões que
alterariam sua vida. Então escolheu Castor, que parecia seguro, pelo menos. Remus
teria que implorar por perdão mais tarde.

Nos dias que se seguiram, Remus conheceu o bando não apenas pelo cheiro e como
outros párias - mas como pessoas individualmente. Muitos deles, como Jeremy, eram
recentes. Adolescentes fugitivos, filhos rejeitados de famílias bruxas envergonhadas.
Todos eles tinham histórias difíceis de fome, sofrimento e abusos terríveis.

Pela primeira vez na vida, Remus sentiu que teve uma infância privilegiada. E daí que
a Diretora era uma vaca velha de coração de pedra que odiava crianças? Pelo menos
ele tinha tido um teto sobre sua cabeça.

Alguns deles eram gentis e engraçados, alguns eram bobos e imaturos. Alguns
estavam tristes e tímidos. A cada dia Remus ficava mais desesperado para ajudá-los a
encontrar um lugar e uma vida melhor para todos e cada um.

Mas é claro que nem todos tinham a mesma história. Alguns deles não estavam com
Greyback para proteção ou abrigo - alguns deles realmente estavam lá para se vingar.
Eles acreditavam na filosofia do pai de todo o coração; assassinato para eles não era
um crime, apenas a natureza de um predador. O mundo lhes devia sangue e eles iriam
tomá-lo.

"Eu também acreditei." Castor disse na manhã seguinte. Ele havia se oferecido para
mostrar a Remus suas trilhas de caça na floresta. Os dois pegaram coelhos e outros
animais usando o instinto e a magia. "Eu acreditei em tudo o que ele falava por muito
tempo. Ele é o único professor que já tive."

"Mas você mudou de ideia?" Remus perguntou meio esperançoso, porque ele ainda
não tinha certeza sobre as motivações de Castor.

"Sim." Castor respondeu, não percebendo a apreensão de Remus. "Foi um processo


lento."

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"O que o desencadeou?" Remus estava arfando um pouco para acompanhar Castor,
que era ágil e musculoso, a epítome da boa saúde apesar de suas cicatrizes.

"Nada em particular" Respondeu enquanto parava, olhando em volta, como se tivesse


sentido um cheiro. Ele pareceu pensar melhor e continuou andando, cabeça erguida e
olhos penetrantes. Ele era tão natural e relaxado consigo mesmo. Remus achava que
nunca poderia ser assim. Vagamente, isso o fez pensar em Sirius - exceto que, claro,
Castor falava muito menos. Você realmente tinha que arrancar respostas dele.

"Nada em particular?" Remus ofegou, "Algo deve ter-"

"Livros." Castor disse, avançando, a caminho de alguma coisa.

"Livros?!"

"O Pai encoraja que nos eduquemos. Para desenvolver pensamentos independentes. E
eu fiz. É o jeito da natureza se rebelar contra o pai. "

Isso soou assustadoramente como Greyback. Castor costumava fazer isso - todos
faziam. Eles falavam com uma só voz, e era sempre a dele.

"Mas se ele encoraja isso, então por que mais dos outros não ..."

"Eu disse que somos encorajados, não forçados." Castor disse, um pequeno sorriso
irônico brincando em seus lábios.

"Oh." Remus respondeu. Ele se lembrou de Lívia citando Platão para ele. Ser
educados não significava que todos chegariam às mesmas conclusões.

"Eu também ouvi o que você disse." Castor disse finalmente. "Quando fui preso pela
dríade, na Escócia. Eu sabia que você era meu inimigo, mas não queria machucá-lo. E
então percebi que não queria prejudicar ninguém. Acho que podemos viver em paz,
longe da humanidade, como outras criaturas aprenderam. "

"É isso mesmo que você quer--?"

162
Castor estendeu a mão rapidamente e se agachou. Havia um coelho a menos de um
metro de distância. Remus prendeu a respiração e observou Castor rastejar para frente
lentamente, sussurrando um encantamento calmante. Quando ele alcançou a criatura,
ela pulou sonolenta em seu colo. Ele o acariciou suavemente por um momento, ainda
sussurrando. Então quebrou seu pescoço.

Remus queria ficar enojado, sentir pena do coelho, mas já podia sentir o cheiro de
sangue e seu estômago roncou. Castor sorriu para ele, olhos acinzentados brilhando.
Ele estendeu o coelho, o sangue escorrendo pelo pulso.

"Para você, Remus Lupin."

Remus ficou lisonjeado.

Jeremy mostrou a Remus algumas das técnicas de 'coleta' do bando, que basicamente
equivaliam a roubo. Haviam cidades nos arredores da floresta, e tudo que eles
precisavam fazer era aparatar lá e encontrar uma casa vazia, o que poderia ser feito
usando o olfato.

Eles estavam no quarto de uma dessas casas quando Jeremy contou toda a verdade
sobre o papel do bando na guerra.

Se Remus não tivesse se incomodado com um coelho sendo abatido sem cerimônia
em sua frente, então roubar uma casa não seria nada demais. Na verdade, trouxe de
volta algumas boas lembranças de sua juventude criminosa. Ainda assim, ele não
participou realmente. Apenas fuçou as roupas do guarda-roupa enquanto Jeremy
procurava por joias na cômoda.

"Do jeito que eu vejo" Jeremy disse alegremente "Greyback pode ser um pouco cheio
de si, um pouco alto e poderoso. Mas ele fez muito por mim e por muitos outros. Ele
se preocupa mais do que qualquer outra pessoa desde que recebi essa maldita
mordida."

163
"Você já fez alguma dessas coisas de se educar e estudar?" Remus perguntou,
casualmente.

"Não para mim." Jeremy disse "Nunca gostei muito de ler. Prefiro quadribol."

"Hm."

"Ugh, pérolas." Jeremy resmungou, tirando um nó deles de uma caixa de veludo


verde. "Odeio a maneira como eles se sentem nas mãos. Minha mãe sempre os usava -
herança de família sangue puro. "

"Você é um puro-sangue?" Renus se virou, ligeiramente surpreso.

"Nah, mamãe é. Papai é mestiço. Não importa mais. Eu sou pior para eles do que um
sangue-ruim agora. Bastardos. " Ele fechou a gaveta com raiva. "Essa é uma das
coisas sobre as quais Greyback está certo. Eles merecem o que estão recebendo. "

"Quem merece?"

"Os puro-sangue."

"O que você quer dizer?" Remus sabia que parecia estúpido, mas estava genuinamente
confuso. Sempre foi dito a ele que alguns dos maiores aliados de Voldemort eram as
famílias puro-sangue - que eram os mestiços e os nascidos trouxas que ele tinha como
alvo.

Ele disse isso a Jeremy.

"Oh, sim," Jeremy concordou alegremente, "Nós fizemos isso uma ou duas vezes,
mas, na maioria das vezes, somos realmente uma tática assustadora para manter as
famílias antigas na linha. "

Remus pressionou por mais informações e Jeremy - que estava ansioso para fazer
qualquer coisa por Remus desde o incidente com Gaius - ficou muito feliz em
explicar. Voldemort estava usando os lobisomens como pouco mais do que força

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tática. Se algum de seus influentes apoiadores ricos começasse a questioná-lo um
pouco demais, se começassem a ter dúvidas, então bastava uma visita de Fenrir
Greyback e alguns de seus acólitos loucos e ferozes para colocar todos de volta na
mesma página.

"Tenho visitado um monte de mansões ultimamente," Jeremy gargalhou. Ele percebeu


o olhar que Remus estava lhe dando. "Ah o que?! Eu te disse, eles merecem. Eles não
deveriam ter ido para o lado dele em primeiro lugar. "

"Espere, então você nem apoia Voldemort?!" Remus ficou boquiaberto.

"Claro que não, ele é um estranho. Me assusta pra caralho para ser honesto. Mas, você
sabe. Não escolhi este lado, é apenas a mão que recebi. "

"Mas se você tivesse escolha, se você..."

"Não há escolha, Remus Lupin!" Jeremy disse ferozmente, aquela voz saindo de sua
boca que não era a dele. "Lá está o bando. Não podemos confiar em mais ninguém.
Você deve se acostumar com isso se quiser ser um de nós. "

E isso foi o mais longe que ele conseguiu com qualquer um deles. Depois de um certo
ponto, todos eles voltavam ao mesmo velho script. Greyback era o líder e, mesmo que
não concordassem com ele em tudo, a maioria se sentia em dívida e confiava nele
antes de qualquer coisa.

À luz do dia, Remus nunca tinha certeza se podia realmente confiar em Castor ou
Jeremy - ou qualquer um dos outros. Até mesmo Castor, que era quem estava
interessado em ouvir o que Remus tinha a dizer, e que estava determinado a convencer
os outros a se retirarem da guerra.

"Não é uma coisa fácil." Castor tentou explicar "Perceber que nosso pai está errado,
que não devemos tomar parte nos assuntos dos bruxos, e muito menos na guerra. Isso
significaria dividir o bando. "

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"Você pode fazer isso?" Remus perguntou, impressionado. Castor encolheu
ligeiramente os ombros.

"Talvez."

Útil.

Remus esperava ver Greyback novamente, agora ele tinha sido totalmente iniciado,
mas o pai do bando permanecia estranhamente remoto. Ele ocasionalmente convocava
Lívia, que Remus soube que estava com ele há mais tempo - quase durante todos os
seus trinta anos. (Remus ficou chocado ao saber a idade dela - ela parecia ao mesmo
tempo muito jovem e muito velha.) Do contrário, Remus foi deixado por sua própria
conta.

Ele poderia sair quando quisesse, isso havia ficado claro, mas ele disse aos outros do
bando que não tinha nenhum outro lugar para ir, assim como eles. Ele precisava da
confiança deles e, para isso, eles precisavam ser capazes de se relacionar com ele.
Então, Remus nunca tentou escapar para enviar uma mensagem para a Ordem - nem
tinha certeza se isso era possível, mas ele não tentou. Sabia que talvez nunca mais
tivesse essa chance - e afinal, foi para isso que Dumbledore o havia criado.

No que diz respeito a Dumbledore, Moody, Ferox e todos os outros adultos que
gostavam de empurrar Remus pelo tabuleiro de xadrez, ele estava exatamente onde
deveria estar. E ele não estava infeliz. Estava sozinho, é claro; ansiava por Sirius
como se um membro estivesse faltando, e ele teria feito qualquer coisa por um banho,
um cigarro e uma barra de chocolate. Porém, a floresta começou a parecer um lugar ao
qual ele pertencia - os outros lobos pareciam uma família. Sua missão ficava mais
clara a cada dia e ele sabia que não poderia partir. Então, ficou à vista o tempo todo e
não disse uma palavra sobre suas amizades e conexões em casa.

A amizade era diferente entre os lobisomens. A solidariedade do bando era tudo, e


Remus também sentia isso - às vezes ele pensava que morreria para protegê-los, até
mesmo Gaius. A única sensação que chegou perto disso foi quando os Marotos

166
estavam em suas formas animais em Hogwarts - e Remus supôs que fazia algum
sentido.

Sexo era diferente entre eles também. No meio do mês, Remus notou alguns membros
formando pares, desaparecendo na floresta por uma hora ou mais, um de cada vez,
retornando com aquele cheiro familiar. Era óbvio o que estavam fazendo, mas
ninguém parecia se importar ou prestar muita atenção, era apenas mais um instinto
que todos aceitavam e seguiam sem questionar.

"O desejo fica mais forte à medida que a lua se aproxima", explicou Castor, enquanto
estavam deitados na cripta uma noite tentando ignorar os gemidos ofegantes e as
movimentações ao redor deles.

"Eu nunca tinha notado antes." Remus mentiu, olhando para o teto.

"Se você escolher acasalar," Castor sussurrou, "Escolha sabiamente. Eles admiram
você, eles notarão favoritismo. "

"Não." Disse Remus. "Eu não... Eu já tenho alguém."

"Um humano?"

"Sim."

"Então você planeja voltar." Castor constatou. Ele parecia tão triste com isso. Remus
queria virar e se desculpar, confortá-lo de alguma forma, mas aquele era um território
perigoso e ele sabia disso. O ar já estava espesso com luxúria, e ele não sabia o que
faria.

"Eu tenho que, eventualmente." Disse Remus. "Mas eu quero ter certeza de que vocês
estarão todos seguros primeiro."

"Nós vamos sobreviver sem você, Remus Lupin." Castor respondeu, sua voz não era
mais o timbre calmo e estável de costume. "Você ainda não é nosso líder."

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Capítulo 161: A guerra: Lua de Sangue

Remus passou quase um mês inteiro no bando de Greyback antes de realmente receber
um motivo para partir. Certa manhã, acordou tarde e se viu quase sozinho. Confuso,
ele se sentou e olhando ao redor - se acostumou a ter Castor e Jeremy por perto, e se
sentiu terrivelmente exposto sem o calor do corpo deles.

"O Pai os convocou." Uma voz saiu da escuridão.

Remus ergueu a palma da mão para criar uma chama livre de calor para a luz, como
Castor o ensinou. Era mais fácil do que Lumos, embora não tão brilhante. Gaius saiu
das sombras de uma das câmaras. Ele olhou para Remus. "O Pai veio esta manhã.
Convocou Castor e Livia. Só eles. Suponho que Castor está perdoado, agora. "

"Eles estarão de volta em breve?" Remus perguntou cautelosamente, puxando sua


capa ao redor de seus ombros protetoramente.

"Eu acho que não." Gaius pensou. Ele estava mexendo em algo brilhante, ficava
olhando para baixo, "Eles foram ao encontro do Lorde das Trevas."

"O que?!"

"É quase lua. Ele terá planos para o bando. "

"... planos?" A realidade desceu com estrépito na cabeça de Remus, como vidro se
espatifando, como um acidente de carro.

"Sabe," Gaius disse, aparentemente desinteressado na crise de consciência de Remus,


"Eu sempre me perguntei por que meu pai transformou três homens. Achei que talvez
ele desejasse que aprendêssemos a liderar juntos, para compartilhar o fardo da
responsabilidade. Mas agora eu percebo. Ele quer que possamos competir. "

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"O que você quer, Gaius?" Remus se levantou, endireitando os ombros para lembrar a
Gaius que ele era maior e mais forte quando queria. "Quer que eu cante outra música
para você?"

Gaius sorriu desdenhosamente para ele, as bochechas vermelhas. Ele recuou.

"Você não vai triunfar." Ele disse e jogou o objeto brilhante aos pés de Remus antes
de se virar para sair, e fez um som forte de metal. Era o relógio de bolso de Remus.

"Ei!" Remus gritou, abaixando-se para pegá-lo. Mas Gaius havia partido.

Remus caiu contra a parede, passando os dedos pelos cabelos sujos. Seu coração
disparou, sua respiração acelerou e ele começou a entrar em pânico. Merda. Merda,
merda, merda.

Claro que eles ainda estavam trabalhando com Voldemort - a guerra não havia
simplesmente parado porque Remus estava lá. Ele se sentiu estúpido, ingênuo e, pior
de tudo, se sentiu culpado. Deveria estar em missão, porra! Mas ele não estava
pensando na Ordem, não realmente - esteve mais preocupado em proteger o bando do
que em voltar para seus amigos; sua verdadeira família. Todo esse tempo, Remus
pensou em si mesmo como uma vítima quando, na verdade, ele era o pior tipo de
traidor.

Ele tirou a capa de pele. Não queria se parecer com eles.

Queria muito ver Sirius - depois de semanas reprimindo-o, seu desejo explodiu como
um gêiser, de modo que ele não conseguiu segurá-lo e guardá-lo de volta. Sirius
saberia o que fazer ou, ao menos, faria Remus se sentir melhor sobre tudo.

Remus olhou para o relógio, a única conexão que ele ainda tinha com seus amigos. O
ouro havia perdido o brilho e ele o esfregou na perna suja da calça para ver se isso
ajudava. Em seguida, o abriu e fechou algumas vezes, passando as pontas dos
polegares ao longo da gravura de folha de videira lisa. Havia parado de funcionar no

169
dia em que ele o usou para escapar de sua cela; havia absorvido toda a magia dele
como uma esponja. Outra traição.

Depois que finalmente acalmou sua respiração (Jesus Cristo, o que eu não faria por
um cigarro), Remus tentou pensar racionalmente. Seu primeiro instinto era ir embora
imediatamente, apenas entrar na floresta e desaparatar.

Mas e então? Explicar para Moody e Ferox que, embora ele tivesse passado algumas
semanas maravilhosas longe, as coisas ficaram um pouco assustadoras, então ele havia
perdido o controle na primeira oportunidade? Não. Se Greyback estava se encontrando
com Voldemort, isso significava que um ataque estava por vir. Remus não podia
deixar isso acontecer.

Ele esperaria, pelo menos, para descobrir se Castor lhe contaria alguma coisa. Nesse
ínterim, Remus faria o possível para evocar uma memória feliz. Precisaria enviar um
patrono o mais rápido possível.

***

Irmãos! Irmãs! Aproximem-se.

A voz de Livia dentro de sua cabeça fora uma das experiências menos agradáveis que
Remus teve desde que se juntou ao bando. Funcionou, porém. Ele subiu as escadas da
cripta até a igreja em ruínas, onde os outros estavam se reunindo. Greyback estava no
púlpito, Castor e Livia de cada lado dele, costas retas e cabeça erguida.

"Meus filhos", Greyback se dirigiu a todos eles, erguendo os braços como um


pregador evangelista, "A lua se aproxima, nosso tempo está próximo."

Houve um murmúrio de excitação com isso. Para muitos, a lua cheia representava
uma chance de ser livre, de ser seu verdadeiro eu.

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Greyback ergueu um dedo para silenciá-los. Ele sorriu paternalmente "Falei com
nosso benfeitor. Nesta lua, vamos nos alimentar de nossos inimigos. Foi nos dado uma
presa como presente. "

Alguns dos membros do bando aplaudiram e gritaram, tagarelando com mais


entusiasmo ainda.

Ah não, o estômago de Remus embrulhou, ah não, ah não...

"Livia e Castor irão guiá-lo." Greyback disse "Vocês irão trazer a menina para mim,
porém podem ficar com os pais para vocês".

Mais aplausos. Nem todos - Remus viu alguns dos mais jovens se olhando
astutamente, e os olhos arregalados de Jeremy estavam praticamente queimando as
costas de Castor. Nem todos eles , Remus pensou, eles podem ser salvos, eles podem,
eles podem...

Remus Lupin. Uma voz surgiu em sua cabeça. Ele piscou, atordoado - era Castor. Não
é seguro falar disso aqui. Você vai se juntar a mim na floresta.

Remus olhou para Castor, que estava olhando fixamente para a frente, como sempre,
inescrutável. Ele não tinha tentado se comunicar assim antes, mas o bando estava
perto o suficiente e a magia da floresta aflorava, então ele se concentrou bastante.

Sim. Eu entendo.

Castor não deu nenhum sinal de que havia ouvido, então Remus só teve de esperar que
sim. Greyback saiu logo depois, dando a Remus uma piscadela cruel ao passar.

"Sua hora de brilhar, filhote." Ele disse. Remus sabia que deveria acenar com a
cabeça, ou algo assim, mas ele estava muito tenso e apenas o encarou de volta
rigidamente.

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Castor anunciou que iria caçar, e Remus concordou rapidamente em se juntar a ele.
Livia deu a ambos um olhar avaliativo.

"Não se cansem, irmãos. Temos uma diversão planejada. "

Eles caminharam pela floresta em silêncio. Era fim de tarde e o clima estava bastante
ameno para abril, com o sol se pondo, mas ainda brilhante. Haviam tido muito pouca
chuva até agora este ano, mas isso não impediu que as árvores e plantas ao redor deles
explodissem em vida. Tudo era exuberante, verde e abundante, e quando se
aproximaram de uma pequena clareira, Remus viu que as bluebells tinham começado
a desabrochar, e o chão da floresta à frente deles estava coberto por uma gloriosa
névoa de lilás suave.

"Você não vai sentir falta disso?" Castor perguntou com a voz baixa. Ele obviamente
os julgou longe o suficiente de Greyback.

"Sim." Remus respondeu. Estava dizendo a verdade. Havia odiado a natureza durante
toda a sua vida - até mesmo a floresta proibida. Ele amava Londres; o concreto e a
poluição e o barulho. Porém, o mês anterior o havia mudado e ele sabia o quanto
sentiria falta da paz, sossego e de se sentir tão perto da terra.

"Mas o seu tempo conosco está ficando curto." Castor disse. "Acho que talvez todo
nosso tempo seja curto agora." Ele suspirou pesadamente e olhou para Remus com
olhos completamente humanos; cinza e penitente, "Estou pronto para desafiar meu
pai."

"Você quer dizer - você vai me ajudar?"

"Devemos ajudar uns aos outros. Para o bem do bando. Eu tenho um plano, mas
Remus Lupin, você deve me ouvir, e você deve me obedecer. Preciso saber que fará o
que precisa ser feito. "

"Eu nunca vou matar por ele." Remus disse ferozmente.

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"Mas você pode ter que matar." Castor respondeu levantando uma sobrancelha.

Não foi uma pergunta; foi uma declaração. E Remus não negou.

***

Quinta-feira, 12 de abril de 1979

Não houve despedidas, é claro. Remus nem sabia quem estava do lado deles - o dele e
o de Castor. Nenhum nome foi falado, apenas teve que ter fé.

Na manhã da lua cheia, Remus caminhou para o mais longe possível do bando para
lançar seu patrono. Ele esperava que os outros não percebessem o feitiço, que era
poderoso e certamente atrairia a atenção.

Nunca havia enviado uma mensagem via patrono antes, e mais uma vez se arrependeu
do tamanho e aspecto assustador da criatura. Com sorte, não seria muito assustador
para Sirius ouvir a voz de Remus vindo das mandíbulas do lobo prateado gigante. Ele
só conseguiu pronunciar três palavras. Castelo. Amanhã. Amanhecer.

Sua rota de fuga já havia sido resolvida, se ele sobrevivesse à noite. Castor prometeu -
Remus o fez jurar pelo sangue deles - que se Remus não vivesse, então ele enviaria
uma mensagem para Sirius e os Potter. Não havia outra maneira, havia decidido. Ele
tinha que estar lá para o ataque; da última vez que advertiu a Ordem sobre os
lobisomens, nada havia sido feito. Então ele teria que fazer isso sozinho, e danem-se
as consequências.

Porém, obviamente, ele preferiria não morrer.

Mais ou menos uma hora antes do nascer da lua, o bando aparatou junto. Fora bom
que Remus não tivesse fugido para contar a Moody na primeira oportunidade - porque
ele não tinha absolutamente nenhuma ideia para onde eles estavam indo. Havia sido
forçado a ficar do lado de Livia, e eles pousaram juntos em um pedaço de grama
macio e musgoso.

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Remus puxou seu braço para longe dela e olhou ao redor em seu novo ambiente. Era
um lugar tão estranho - apenas uma planície de grama, algumas árvores, uma cerca -
ah. Estupidamente, percebeu que estavam em um parque. Algo feito pelo homem.
Todo o lugar cheirava a humanos e a trouxas. O resto do bando estava chegando ao
redor deles, um por um com um * crack * e um baque.

"Esse é o lugar", disse Castor, dirigindo-se a todos. Ele apontou por cima da cerca
para uma fileira de casas do outro lado da estrada. O parque ficava em uma pacata rua
sem saída trouxa. "Com a porta verde."

Remus caminhou para o mais perto da cerca que pôde e olhou para a casa. Seus pais já
moraram em uma casa semelhante alguma vez? Parecia o tipo de lugar que Hope
pertencia.

Era uma casa pequena e independente. A porta da frente era de um tom alegre de
verde, e a luz da varanda brilhava em âmbar suave no crepúsculo. Remus pôde ver a
silhueta de alguém se movendo em uma das janelas do andar de cima - a persiana rosa
claro estava abaixada, então ele só podia ver sombras. Deveria ser o quarto da criança,
pensou com uma terrível onda de náusea.

Não podia deixar isso acontecer. Ele não iria deixar isso acontecer. Mesmo se tivesse
que matar Livia. Mesmo se ele mesmo tivesse que morrer, ele não iria deixar - espere
um minuto.

Uma rajada de vento soprou um perfume em sua direção. Um que ele reconheceu. Ele
cheirou o ar novamente. O que era isso? Alguém que conhecia? Cheirava quase a
Sirius, quase, mas não exatamente. Sangue antigo; magia antiga. Um parente? Não
Regulus, ele nunca apareceria em uma rua tão trouxa. Nem nenhum de seus pais. Era
feminino também, era mais parecido com Narcissa, ou... certamente não
Andrômeda??

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Ele não tinha certeza, só a conheceu uma vez, quando tinha treze anos. Mas ela tinha
uma filha. Uma filha que teria cerca de cinco ou seis anos agora. Com o coração
batendo forte, Remus queria desesperadamente se aproximar, descobrir mais.

Então, em um incrível golpe de sorte, a porta verde se abriu, deixando a luz sair para a
rua. Um homem saiu, carregando um saco de lixo preto brilhante. Ele caminhou até o
fim do jardim, abriu a tampa da lata de lixo, jogou o saco dentro e voltou para casa.

Era Ted Tonks.

Não, não não, Remus pensou consigo mesmo - se algo acontecesse com Andrômeda,
com sua filhinha... Sirius nunca o perdoaria. Remus não sabia se ele mesmo se
perdoaria.

"Remus!" Castor sussurrou dos arbustos atrás dele "Está quase na hora."

Remus se virou e acenou com a cabeça. Ele esperava que isso funcionasse. Nunca
esteve tão perto de orar em sua vida. Uma pontada de dor percorreu suas costas. A lua
estava nascendo.

Ele voltou para o parque, onde alguns dos outros haviam se enrolado no chão,
preparando-se para a agonia da transformação.

Remus olhou para Castor parado ao seu lado. Foi uma sensação peculiar - ele havia se
transformado na frente dos marotos antes, mas nunca com outros que estavam
experimentando a mesma coisa. Castor chamou sua atenção e, parecendo entender
imediatamente, estendeu a mão.

Remus a pegou, agradecido, e apertou com força, cerrando os dentes enquanto a dor o
varria. Castor agarrou de volta, compartilhando seu sofrimento, mas também
emprestando força. Os dois caíram de joelhos ao mesmo tempo, e Remus não se
lembrou de mais nada.

O lobo esticou seus membros e farejou o ar noturno. Bando. Presa. Magia.

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Ele rolou na grama, satisfeito por estar livre, livre de preocupações humanas.

Seu companheiro do bando o cutucou, bufando suavemente, e ele se lembrou - ele


tinha algo para fazer. Esta não era uma noite para brincar ou caçar.

Tanto a loba quanto aquele que o odiava rosnaram para os outros, e os mais jovens
abaixaram a cabeça e as orelhas.

Mas ele não - ele não era um filhote; ele estava totalmente crescido. Ele era forte
como eles.

O companheiro do bando que tinha o nariz cheio de cicatrizes cheirava bem, ele era
forte também. Ele rosnou para os outros, então o lobo também; estufando o corpo e
mostrando todos os dentes para que soubessem.

O com cicatrizes deu um latido então, e se virou, correndo para as árvores. Alguns
dos outros o seguiram, confusos.

O lobo escuro, o lobo que o odiava, rosnou e saltou sobre o com cicatrizes, em suas
costas. Eles lutaram, virando na grama, rosnando e mordendo.

A loba observou. Ela se sentou e bocejou. Ela não precisava se envolver.

O resto do bando assistia avidamente, ofegando e latindo enquanto o sangue era


retirado.

Ele queria ajudar, pular e começar a morder - mas o com cicatrizes precisava vencer
sozinho. Era sua luta.

O cheiro do ar mudou, e a loba se levantou, orelhas levantadas, rabo balançando.

Um humano.

Eles foram ouvidos. Ela começou a caminhar em direção à cerca, caçando, enquanto
o estúpido humano gritava em sua estúpida linguagem humana.

176
Sem saber bem porquê, ele uivou, o mais longo e alto que pôde.

A loba se virou, rosnando ferozmente para ele, liderando a corrida, mas ele uivou
novamente.

O humano recuou rápido. Eles sabiam agora. Eles trariam a ajuda de outros. Ele
havia colocado o bando em perigo.

A loba latiu para o escuro, mas ele já estava preso ao chão pelo da cicatriz. Vitória.
Os jovens lobos olharam para o da cicatriz agora, farejando-o e abaixando a cabeça.

O com cicatrizes latiu, depois saiu de cima do escuro. Ele se virou e começou a se
afastar. Alguns o seguiram. O bando se dividiu.

A loba correu atrás do com cicatrizes, para trazê-lo de volta, para restaurar a ordem.
Mas ela não os pegaria. Eles eram um novo bando agora; a menos que ela matasse
ele, eles não seguiriam mais ninguém.

Ele queria ir também. Ele queria correr com eles para sempre, ser seu líder e
perseguir veados nas noites escuras...

Mas não. Ele tinha que fazer isso primeiro. Ele tinha que proteger ... proteger ... o
que? Era tão difícil pensar quando o delicioso cheiro de carne humana estava tão
perto, vindo de todos os lados.

O escuro mancou de pé. Remus rosnou. O outro rosnou de volta para ele, mandíbulas
espumando, olhos malignos.

Ele se lembrou agora. Proteger o bando. Ele atacou, mandíbulas abertas e garras
expostas.

***

Tudo o que ele sabia era dor, dor e sangue, enquanto o corpo de Remus voltava à sua
forma humana. Ele gritou, e o sangue de Gaius escorreu pela sua garganta, rico e

177
quente. Estava em seus dentes, sob sua língua, estava em toda parte, e o corpo de
Gaius estava lá, mole e pálido, a garganta escura e brilhante.

Não houve tempo para choque. A lua estava se pondo e as pessoas estavam chegando,
e Remus ainda não era totalmente humano, mas não havia tempo! Ele fechou os olhos
com força, cerrou os dentes e aparatou.

*CRACK*

Ele caiu de cara no chão com um grunhido duro. Seu tornozelo estalou de forma
nauseante contra uma rocha. Ele engasgou, se enrolando em uma bola, lágrimas
brotando em seus olhos enquanto ele jurava nunca aparatar logo após uma
transformação novamente.

Todo o seu pé latejava, a dor subindo pela canela, fazendo-o se sentir tonto. Ele ainda
estava pegajoso de sangue, sem roupas e tudo o que podia fazer era se enrolar de dor
na grama. Estava mesmo em Cornwall?! Não sabia. Onde estava o castelo?!

"Porra!" Ele soluçou, exausto e derrotado.

"Moony?!" Um grito veio da encosta da colina.

Remus rolou de costas e fechou os olhos, tão aliviado que pensou que fosse desmaiar.

"Sirius!" Ele gritou de volta, enquanto os passos pesados batiam mais perto.

E então ele estava lá, e ah Deus, Remus quase desmoronou. Sirius jogou sua capa
sobre ele, puxou-o para perto e passou os braços em volta dele. Remus o agarrou de
volta, tremendo, a dor em sua perna agora ameaçando dominá-lo.

"Você voltou!" Sirius engasgou com a voz estridente, "Você voltou!"

"Claro que eu voltei..." disse Remus, meio tonto.

"Você está sangrando?!"

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"Não é meu sangue..." e então tudo ficou escuro nas bordas de sua visão, e ele estava
tão exausto que fechou os olhos. E nada mais.

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Capítulo 162: A guerra: A história de
Moony

Ele acordou em um pequeno quarto branco com um teto baixo listrado com vigas
pretas. Havia uma pequena janela quadrada, mas as cortinas estavam fechadas.
Alguém havia lavado o sangue dele, graças a Deus, mas ele ainda podia sentir o cheiro
fracamente, e o gosto também. Estava deitado em uma cama de solteiro e, além de
uma mesinha de cabeceira com um abajur velho, não havia muito mais no quarto.

A porta estava entreaberta e Remus podia ouvir vozes no corredor do lado de fora.

"Marlene está aqui," a voz de James veio claramente, "Devo deixá-la subir? Você fez
alguma pergunta a ele?! "

"Sim, mande-a subir. Ele não está acordado... "Sirius disse, sua voz soando estranha.
"Mas é definitivamente ele. Tem que ser. "

"Você tem certeza?!"

"A primeira coisa que ele disse quando pousou foi 'porra', tenho certeza." Sirius
disparou.

"Justo." James respondeu sem humor e então abaixou a voz para um sussurro,
"Padfoot... todo aquele sangue. E com o ataque da noite passada - "

"Vamos apenas ver o que ele tem a dizer antes de tirarmos qualquer conclusão, certo?!
Mande Marlene subir. "

"Mas se não for seguro."

"Então eu vou ficar na porra do quarto. Podemos, por favor, pedir a alguém que o
olhe, pelo amor de Deus?! Ele nem mesmo tem uma varinha!"

180
"Ok, ok ..." James cedeu.

Deus, Remus pensou quando a vergonha caiu sobre ele como pó. Eles acham que não
sou eu. Eles pensam que sou um espião. O quão ruim a guerra havia se tornado no
mês em que esteve fora? Ele quebrou a cabeça rapidamente em busca de uma maneira
de provar sua identidade. A ideia de Sirius não confiar nele era muito dolorosa de
suportar.

Houve uma confusão de passos no corredor do lado de fora e, finalmente, a porta se


abriu. Remus tentou se sentar imediatamente, apoiando seus braços quando Sirius
entrou no quarto.

"Padfoot, eu juro que sou eu, sou o Moony! Eu ajudei você a fazer o mapa do maroto
e colocamos roseira brava na cama de Snivellus, e fomos patinar no lago no Natal e eu
odiei, mas você era muito bom, e ... e ... "

"Shh, Moony," Sirius o acalmou, sentando-se na cama com cuidado e colocando as


mãos gentis em seu ombro, "Deite-se, pelo amor de Deus, Godric sabe o que você
quebrou aparatando assim, seu idiota ..."

"Você sabe que sou eu?!" Remus agarrou os braços de Sirius, mas se permitiu ser
colocado de volta na cama.

"Claro que sei." Sirius se inclinou e beijou sua testa, "Eu te reconheceria em qualquer
lugar. Olha, desculpe pelo Prongs, ele só está no limite. As coisas estão um pouco... "

"Tudo bem, tudo bem, dê-lhe algum espaço!"

Sirius se virou enquanto Marlene entrava furiosamente na sala, as vestes verdes de


curandeira se esvoaçando e uma bolsa de couro nas mãos.

Ela empurrou Sirius para fora da cama e se inclinou sobre Remus, colocando uma
mão fria em sua testa e olhando em seus olhos, seu rosto sardento cheio de doce
preocupação. Ela sorriu.

181
"Olá, querido," disse suavemente, "Onde esteve, hein? Você deixou todos nós muito
preocupados. "

"Oi Marlene," Remus sorriu de volta com ternura. "Você se qualificou como uma
curandeira enquanto eu estava fora?!"

"Dificilmente," ela riu, "Ainda sou novata. Mas eu sou o melhor que a Ordem pode
fazer em curto prazo, então... "Ela se endireitou, as mãos nos quadris, "Certo. Qual é o
problema? "

"Machuquei meu tornozelo," Remus se abaixou para puxar o cobertor sobre o pé


dolorido. Parecia horrível à luz do dia, todo inchado e preto com hematomas. Sirius
cobriu a boca, mas Marlene apenas resmungou.

"É fácil." Ela o tocou com sua varinha e Remus sentiu uma sensação estranha de
cócegas antes de * pop * - e estava em perfeito estado. "Você ainda precisa
descansar," advertiu Marlene.

"Você é uma lenda, Marls," Remus respondeu agradecido, e então começou a tossir,
aquela tosse áspera e rouca com a qual ele quase havia se acostumado agora.
"Desculpe", balbuciou, os olhos lacrimejando, "Estou com um pouco de tosse."

Sirius estava estremecendo e parecia mais angustiado do que nunca, a mão ainda
cobrindo a boca. Marlene puxou os lençóis para baixo e deitou a cabeça diretamente
no peito nu de Remus, ouvindo.

"'Um pouco de tosse' minha bunda." Ela resmungou, voltando. "Você tem uma
infecção torácica estonteante, isso sim."

Marlene começou a esvaziar a bolsa, retirando pomadas e frascos de poções, "Eu terei
que perguntar a alguém no St. Mungus o que seria melhor para isso, eu não fiz a aula
de infecções ainda... agora ... Madame Pomfrey me pediu para ter certeza de que você
tivesse isso, o remédio para dormir que ela mesma preparou. Estou trabalhando em
um por conta própria, mas o dela será mais forte... "

182
"Não dê a ele ainda!" De repente, James estava na sala, começando a avançar com o
braço estendido. Todos se viraram para olhá-lo, e ele esfregou a nuca timidamente,
"Er ... desculpe. É que finalmente consegui falar com Olho-Tonto e ele está a
caminho..."

"Está tudo bem," disse Remus para todos no quarto.

Marlene resmungou novamente. Ela colocou o frasco com a poção na mesa de


cabeceira.

"Um de vocês certifique-se de que ele beba tudo o mais rápido possível, ok?" Ela deu
a James e Sirius um olhar severo, e ambos concordaram seriamente. "Eu tenho que ir
trabalhar antes que sintam falta". Marlene continuou, endireitando-se mais uma vez.

Ela apertou a mão de Remus. "Estou tão feliz por ter você de volta, querido."

Remus apertou de volta, sentindo-se um pouco melhor com tudo. Todos se


preocupavam com ele. Estava seguro com eles. Ele se recostou no travesseiro e tentou
se concentrar nessa sensação.

James e Sirius ficaram sem jeito.

"Oi, Prongs," Remus tentou, um pouco cauteloso.

"E aí, Moony," James sorriu, seus olhos cansados e sombrios, "Você está bem?"

"Já estive pior."

James fez um som que não era bem uma risada.

"Onde estamos, afinal?" Remus perguntou, olhando em volta para o quartinho


pequeno.

183
"Cornualha." Sirius disse. "Lembra-se do pub perto do castelo? Aluguei um quarto.
Você estava... quando chegou aqui, eu não queria movê-lo. Parecia o melhor lugar.
Fora do caminho."

"Alguém mais sabe..."

"Não." Disse James. "Só nós, Marlene e Moody. Tem sido... as coisas estão difíceis, e
com o ataque da noite passada, pensamos ... "

"Ataque?!" Remus sentou-se novamente, enquanto os eventos da noite anterior


voltavam em uma profusão de sangue, dentes e cabelo. "Merda, o que aconteceu?!
Alguém... foi alguém ... "

"Não do nosso lado." Sirius respondeu.

Isso não fez Remus se sentir melhor, mas tentou parecer feliz com isso. Não podia
deixar seus amigos saberem o quão borradas as linhas entre 'nosso lado' e 'lado deles'
haviam se tornado para ele.

"Moony," James começou. "Ontem à noite, você estava lá...?"

A porta se abriu mais uma vez, rangendo ruidosamente, e Alastor Moody entrou
mancando na sala, com uma expressão de determinação implacável no rosto. James e
Sirius recuaram, enquanto Olho-Tonto se aproximava da cama de Remus. O primeiro
instinto de Remus foi se abaixar sob seus cobertores e se esconder como uma criança.

"Lupin." Moody acenou com a cabeça, seu olho mágico azul elétrico zumbindo na
órbita, dando-lhe um olhar muito completo. "Você conseguiu voltar, então."

"É." Remus resmungou.

Moody ergueu sua varinha, apontando-a para o rosto de Remus.

"Ei!" Sirius começou, mas James estendeu o braço para detê-lo.

184
Moody encarou Remus com um olhar muito sério.

"Nome de solteira da sua mãe?"

"J-Jenkins!" Remus gaguejou, apavorado. Moody acenou com a cabeça e abaixou sua
varinha.

"Sem ofensa," disse ele, olhando para Sirius, "Protocolo."

"Certo." Remus engoliu em seco, o coração batendo forte.

"Como você está? Já foi visto? "

"Marlene esteve aqui um minuto atrás", disse James. "Ela estará de volta mais tarde."

"Ninguém mais, está ouvindo?" Moody disse "Não até eu mandar. Precisamos limitar
sua exposição por enquanto, até que o furor diminua. " Ele acenou com a varinha e
uma cadeira apareceu do nada. Moody se sentou e olhou para Remus mais uma vez.
"Potter, Black, vocês podem ir."

"Não." Sirius pontuou, erguendo o queixo. Seu olhar desafiador não havia mudado
desde que ele tinha onze anos. "Eu não vou a lugar algum."

Moody deu-lhe outro olhar, sua língua brincando no canto da boca.

"Tudo bem." Ele grunhiu. "Mas mantenha sua boca fechada. Eu não quero ouvir um
pio, entendeu? "

"Eu... hum. É melhor eu ir." James falou, esfregando a nuca novamente, "Desculpe,
Moony, eu preciso ir para casa..."

"É claro." Remus disse, embora realmente não entendesse. James não confiava mais
nele?

185
James disse algo a Sirius antes de sair, mas Remus não entendeu e não tentou escutar.
Ele estava muito ocupado reunindo sua coragem para encarar Moody.

Remus não estava pronto para uma discussão, não depois das últimas semanas. Agora
que ele sabia que o prédio em que estavam era trouxa, sentia a ausência de magia mais
intensamente. Ele estava acostumado com a floresta encantada, com sua piscina
infinita de poder compartilhado. De volta ao mundo real, tudo parecia tão mundano.
Se sentia mais fraco do que nunca e começou a tossir novamente.

James saiu e Sirius entregou a Remus um copo d'água.

"Isso não pode demorar muito." Sirius disse a Moody, "Ele deveria descansar, depois
da lua cheia, Marlene disse..."

"Nem um pio, Black." Moody retrucou, seu olho azul fixando em Sirius de forma
dura, e o castanho ainda observando Remus.

Sirius ficou quieto, apesar de claramente não estar feliz com isso. Ele cruzou os braços
com petulância e desviou o olhar. Remus sentiu uma onda de amor por ele, idiota
mimado.

"Eu estava lá ontem à noite." Remus disse rapidamente, para fazer as coisas andarem.
Ele pensou que provavelmente era melhor ser o mais honesto possível desde o início.
"Eu estava na casa de Tonks, eu sei o que aconteceu - bem, a maior parte - alguém
foi... alguém...?"

"Um corpo recuperado." Moody disse. "Um dos de Greyback."

"Gaius." Disse Remus. Ele não tinha certeza de como se sentia. Havia matado alguém.

"Não vamos começar por aí." Moody disse, observando seu rosto "Quero começar do
início. Onde você esteve no último mês? Não deixe nada de fora. "

186
Remus estava fraco, exausto e dolorido, mas não era idiota. Ele deixou muita coisa de
fora, mas também disse muito mais do que provavelmente era seguro. Não olhou para
Sirius o tempo todo; sabia que isso tornaria as coisas impossíveis.

Ele explicou como o bando o sequestrou e o trancou por uma semana e meia. Como
ele finalmente se encontrou com Greyback - ouviu Sirius respirar fundo com isso, mas
a expressão de Moody não se alterou nenhum pouco. Contou a maioria das coisas que
Greyback havia dito, embora soubesse que nada daquilo seria útil para ninguém,
exceto para ele. Confirmou que o bando estava trabalhando com Voldemort,
mantendo as antigas famílias com medo o suficiente para permanecerem leais.

"Você estava preso o tempo todo?" Moody perguntou.

"Eu... não." Remus torceu a boca, nervosamente. "Eles quebraram minha varinha,
mas... eu poderia ter saído a qualquer momento. Não o fiz porque pensei... bem, eu
sabia que era apenas uma questão de tempo antes que eles planejassem um ataque e
queria aprender o máximo que pudesse. "

Ele manteve a voz firme o tempo todo e esperava que ainda fosse um mentiroso
convincente. Moody não fez comentários.

"E o ataque?"

"Certo, sim." Remus acenou com a cabeça. "Eu tive que ir com eles, porque Cas-- um
dos outros lobisomens, ele estava planejando se separar do bando. Ele queria ficar em
paz, ficar longe de Greyback. Ele era meu aliado. " Remus sentiu os olhos de Sirius
nele e torceu para que estivesse tudo em sua cabeça. "Então eu o ajudei e ele me
ajudou. Ele levou os outros embora e eu fiquei para trás para impedir que alguém
tentasse atacar a casa. "

"Enquanto você era um lobo?"

"Sim. Consigo pensar melhor quando há outros lobos por perto. Tentei avisar o Sr. e a
Sra. Tonks, uivei para que soubessem que estavam em perigo."

187
"Ah. Então era você. " Moody acenou com a cabeça, "Ted disse algo sobre isso."

"Você os viu? Eles estão bem?!"

"Abalados, mas nenhum dano causado." Moody deu um breve aceno de cabeça.
"Quantos membros do bando de Greyback desertaram?"

"Não sei. Pelo menos metade? Talvez haja apenas quatro ou cinco que são leais".

"Bom saber. Você pode me dar nomes? "

"Eles não usaram nenhum nome." Outra mentira, mas ele simplesmente não
conseguiria.

"Certo." Moody acenou com a cabeça. Ele observou Remus um pouco mais, então
tossiu e se levantou. "Fique quieto um pouco, hein? Entrarei em contato." Ele se virou
para sair.

"Espere!" Remus estendeu a mão. Moody se virou com uma expressão curiosa no
rosto. Remus mordeu o lábio. "O corpo." Ele disse. "Gaius. Fui eu. Eu o matei."

Dizer em voz alta tornava o fato perturbadoramente real. Ele se sentiu enjoado e não
achou que seria capaz de olhar nos olhos de Sirius nunca mais. Moody continuou
olhando-o, então inclinou a cabeça.

"Enquanto você era um lobo?"

"Sim."

"E ele era um lobo? Tentando atacar uma jovem família? "

"Sim, mas--"

"Isso é uma guerra, Lupin. Descanse um pouco. Não pense nisso. "

188
E ele saiu, e foi isso. Tudo o que Remus passou por quase trinta dias resumiu-se a
alguns pontos táticos chave. Ele mexeu no cobertor. Era velho e mofado, e o lembrava
dos cobertores rústicos de estilo militar com os quais ele havia crescido. Sirius ainda
estava parado, observando-o, mas Remus não conseguia olhar para cima,
simplesmente não conseguia.

Felizmente, Sirius quebrou o silêncio primeiro.

"Recebi seu patrono. Puta merda, onde você aprendeu a fazer aquilo?"

"Ah," Remus assentiu, ainda olhando para baixo, "É, não sei, eu já vi Ferox fazendo
uma vez."

"Sem sua varinha?"

"Eu não preciso dela, nem sempre..."

"Oh."

Mais silêncio. E então - "Eu senti a sua falta para caralho!" Sirius explodiu com tanta
força e paixão que Remus finalmente o olhou. Seus olhos estavam arregalados e
brilhando com lágrimas. Ele parecia tão exausto quanto Remus se sentia, e Remus
percebeu que ele também devia ter ficado acordado a noite toda.

"Também senti sua falta!"

Sirius correu em direção a Remus, os braços abertos, mas deu um passo para trás no
último momento.

"Posso ... está tudo bem?"

Remus acenou com a cabeça, estendendo a mão para ele, Sirius se aproximou e o
envolveu em um abraço que durou longos e maravilhosos minutos. Remus sentiu
como se finalmente tivesse recebido permissão para expirar, fechou os olhos e sentiu o
peso quente e reconfortante de Sirius contra ele.

189
"Me desculpe," Remus sussurrou no cabelo de Sirius, "Me desculpe por ter demorado
tanto."

Sirius finalmente se afastou, enxugando os olhos rapidamente.

"É melhor você tomar a poção." Ele pegou a garrafa e desarrolhou-a.

"Obrigado," disse Remus, cansado demais para discutir. Ele pegou a poção e a engoliu
em alguns segundos.

"Devo deixar você descansar?" Sirius perguntou ansioso. Remus balançou a cabeça
com veemência.

"Não, por favor, fique? Deite aqui comigo um pouco? "

"Não há muito espaço..."

"Me chamando de gordo?" Remus colocou a língua para fora, arrastando os pés para o
lado para abrir espaço. Sirius sorriu para ele e se deitou.

Ele colocou um braço gentilmente no ombro de Remus, e os dois deitaram de lado,


um de frente para o outro.

"James me odeia?" Remus perguntou finalmente.

"O que?" Sirius franziu a testa. Oh Deus, ele era tão lindo de perto, como Remus tinha
esquecido? "Não, claro que não. Ele só está com muita coisa na cabeça. Os pais dele
não estão bem. "

"Ah não, o que há de errado?!"

"Eu acho que estão apenas velhos." Sirius respondeu tristemente. "A guerra... tem sido
muito mais difícil, ultimamente."

"Por favor, me conte."

190
"Você deveria dormir."

"Por favor?"

Sirius suspirou. Ele olhou para baixo, depois para cima, e seus olhos brilharam mais
uma vez.

"Perdemos os Prewetts. Gid e Fab."

"Não!"

"Foi terrível. Cinco comensais da morte. Cinco. "

"Não posso acreditar. Molly está bem? "

"Eu não acho que nenhum de nós esteja."

"Ah Sirius." Remus o abraçou novamente. "Eu gostaria de ter estado com você..."

"Eu pensei ..." Sirius fechou os olhos, então balançou a cabeça, o cabelo farfalhando
contra o travesseiro. "Não, não importa, acabou agora. Você está aqui. Você está
seguro."

"Estou aqui." Remus repetiu, sentindo a poção para dormir começar a fazer efeito.
Sirius acariciou seu cabelo gentilmente.

"Remus..."

"Mm," Remus se moveu, ficando mais confortável, "Por favor, me chame de Moony?
Ninguém fez isso por tanto tempo. "

"Moony." Sirius se inclinou e beijou sua bochecha muito gentilmente. "Eu amo você."

"Eu também te amo." Remus sorriu, entrando em um sonho caloroso e feliz.

191
Capítulo 163: A guerra: Fim da Primavera
de 1979

I would say I'm sorry

If I thought that it would change your mind

But I know that this time

I have said too much

Been too unkind

I try to laugh about it

Cover it all up with lies

I try and laugh about it

Hiding the tears in my eyes

Because boys don't cry

Boys don't cry

'Boys Don't Cry', The Cure

Eles permaneceram no quarto acima do pub por mais duas noites. Marlene voltou na
primeira noite, cumprindo sua palavra, e trouxe uma poção para a infecção no peito de
Remus. Ela prescreveu descanso, mas no dia seguinte Remus já estava enlouquecendo
por estar preso, então ele e Sirius pegaram o ônibus para a praia.

192
Estava frio demais para nadar, sendo abril, então eles apenas caminharam. Era muito
calmo fora da temporada turística, então não havia problema em ficar um pouco de
mãos dadas.

Remus fechou os olhos e respirou o ar do mar, sorrindo. O céu estava cinza,


ameaçando chuva, mas o vento soprava fresco em seu rosto e ele se sentia melhor.

"Quando chegarmos em casa," Sirius disse alegremente, "Iremos ao Olivaras para


comprar uma nova varinha para você."

"Ótimo." Remus acenou com a cabeça. Ele não tinha feito nenhuma magia desde que
voltou. Não confiava em si mesmo.

"Isso se Mary adiar sua festa de boas-vindas," Sirius riu, "Ela estava ficando louca de
preocupação. Acho que ela ainda deve ter uma queda por você. "

"Há." Remus respondeu.

"E Lily, obviamente. Ela realmente quer contar algo a você, mas disse para esperar até
que estejamos todos reunidos. "

"Mm."

"Mal posso esperar para que tudo volte ao normal. De volta a sermos os Marotos,
hein? "

"É."

"Você se lembra que tipo de varinha Lyall tinha? Talvez você possa pegar a mesmo
novamente. "

"Não."

"Moony?"

193
"Mm?"

"Você está bem?"

"Sim."

Sirius ficou quieto depois disso, e Remus se sentiu culpado. Depois de sua conversa
brusca com Moody, Remus não estava com um humor muito falante. Estava muito
ansioso para falar muito - não sabia o que Sirius poderia pensar dele. E, além disso,
Remus estava tendo mais problemas em estar longe do bando do que pensava que
teria. Ele estava radiante por estar junto de Sirius, é claro. Mas, ao mesmo tempo,
sentia que estava faltando alguma coisa.

Ele não queria que Sirius se preocupasse, então fez o possível para ser normal.

"Tão bom estar do lado de fora." Ele comentou enquanto caminhavam.

"Tem certeza que você é o Moony?!" Sirius brincou, fingindo estar ofendido, "Meu
Moony odeia sair de casa..."

"Bem, passe uma semana trancado em uma masmorra e me diga como você se sente
sobre o ar fresco." Remus murmurou.

Sirius parou e o olhou, sua boca ligeiramente aberta, a expressão magoada.


"Desculpa." Remus disse, culpado. Ele pegou a mão de Sirius novamente. "Eu não
quis dizer isso."

Remus estava fazendo muito isso desde que voltou. Dando respostas grosseiras. A
menor coisa poderia irritá-lo, e Sirius estava suportando o impacto.

"Tudo bem." Sirius respondeu, trêmulo. "Eu não deveria fazer gracinhas com você.
Depois de tudo. "

"Não, eu não quero... você não deveria ter que me tratar como se eu fosse frágil, ou
algo assim. Eu só preciso superar isso, é minha culpa. "

194
Sirius não disse nada por um longo tempo. Remus lutou contra a vontade de tentar
sondar sua mente, como os lobisomens o ensinaram a fazer. Ele não sabia se
funcionaria com não-lobisomens, mas ele sabia que Sirius tinha sentimentos
extremamente fortes sobre ter seus pensamentos privados invadidos.

"Você não tem que 'superar'." Sirius continuou, finalmente. "Mas conversar pode
ajudar."

"Sobre o que?"

"O que aconteceu, no bando."

"Já falei sobre isso, já contei tudo ao Moody. Você estava lá."

"Remus." Sirius ergueu a voz ligeiramente. "Vamos lá. Você não contou tudo a ele.
Eu conheço você."

"Contei tudo que seria importante para ajudar na guerra." Remus disse com firmeza.

"Então nada mais aconteceu?!" Sirius largou a mão de Remus, passando a


gesticulando descontroladamente no ar. "Eles simplesmente o trancaram, então
deixaram você ir e estava tudo bem??"

"Obviamente não." Remus cruzou os braços, de repente sentindo o frio. "Mas


ninguém quer ouvir sobre coisas assim."

"Talvez eu queira ouvir."

"Aqui vamos nós." Remus revirou os olhos, "Bem, então? O que você quer ouvir?!"

"Por que você foi em primeiro lugar? Por que você não voltou para mim?"

"Eu sabia." Remus disse, apertando os braços ao redor do corpo, "Você está com raiva
de mim!"

195
"Eu não estou, estou apenas ..."

"Foi isso que você quis dizer, não foi?! Na noite em que voltei! "

"O que você está falando?!"

"Você sabe! ' Você voltou' foi o que você disse! Você pensou que eu não ia voltar!
Você pensou que eu tinha ido embora para sempre! " Remus estava gritando de
repente, e ele não tinha certeza de como ficou tão bravo, mas agora o sentimento
queimava-o.

"Claro que não!" Sirius gritou de volta, "Eu só... eu só não sabia o que pensar! Você
sabe como foi para mim?? Você simplesmente desapareceu e ninguém me deixava
procurar por você, e a porra do Ferox não me dizia nada, e James estava uma bagunça
com seus pais ficando doentes, e a porra dos Prewett... "

Sirius não gritava com frequência, pelo menos não tanto quanto Remus, e sua voz
ficou muito alta muito rapidamente, de repente soando incrivelmente metida e
arrogante. Isso irritou Remus ainda mais.

"Oh pobre Sirius Black! Jesus, achei que você já tivesse superado essa rotina de
pirralho mimado! Não temos mais doze anos, Black! "

O queixo de Sirius caiu , totalmente afrontado. Remus se sentia mais vivo do que há
dias, mas ele nunca iria admitir isso. Apenas continuou gritando, quebrando a paz da
praia vazia, a voz ecoando pela areia escura e úmida.

"Me desculpe se eu não sou como você, eu não quero reclamar de cada coisinha
desagradável que acontece comigo!"

"Como o que?!" Sirius gritou, com as bochechas vermelhas e os olhos brilhantes, de


modo que por um momento Remus questionou se Sirius estava gostando disso tanto
quanto ele, "Vá em frente, se eu sou tão egoísta e terrível, por favor, me ilumine sobre

196
a verdadeira natureza do sofrimento nobre, Remus, eu sei que essa é a sua
especialidade! "

"Oh, vai se foder!"

"Bem? Por que você não voltou?!"

"Porque eles estavam fodendo com a minha cabeça!" Remus praticamente gritou isso,
as ondas pareciam quebrar mais alto e as gaivotas gritaram em resposta.

Ele estava em chamas, cheio de palavras que saíram dele assim que as pensou.

"Porque nunca me senti assim antes - eles eram minha família e éramos todos iguais,
estávamos todos em casa lá e era ... parecia o único lugar no mundo que eu deveria
estar! Tudo isso, era tudo, exceto ... " E agora as lágrimas estavam vindo, escaldantes,
" Exceto que ele estava lá, aquele...porra... aquele monstro. Ele era tão mau, tão ... e eu
estava com medo, e queria voltar para casa, para você, eu queria, mas não podia
simplesmente deixá-los com um homem assim. E eles conseguiam... eles conseguiam
fazer coisas que eu não sabia que podia fazer, eles me ensinaram ... E eu simplesmente
não sabia mais quem eu era."

Ele enxugou o rosto, as lágrimas escorrendo de seu queixo. Ele olhou Sirius nos olhos.
"Eu não sei quem eu sou."

Eles se encararam enquanto os ecos diminuíram. Remus estava respirando


pesadamente, suas bochechas quentes, mas ele se sentia bem. Aliviado.

Finalmente, Sirius falou. Ele colocou as mãos nos bolsos, apertou os olhos ao redor,
para longe e sorriu.

"Por que é sempre esta praia, hein?"

"O que?" Remus piscou, pego de surpresa. Sirius o encarou, seus olhos brilhando.

"Por que esta é a praia onde temos todas as nossas grandes revelações?"

197
"Talvez sejamos apenas dramáticos."

"Como você se atreve!" Sirius estava sorrindo, e Remus riu, apesar de si mesmo.
"Bem?" Sirius disse "Se sente melhor?"

"Sim. Ei, espere um minuto, você apenas deliberadamente me irritou? "

"Não..." Sirius desviou o olhar de novo, piedosamente, "Não no começo..."

"Idiota."

"Funcionou."

Remus não respondeu, porque ele realmente se sentia melhor e não queria brigar
novamente. Eles continuaram andando e finalmente alcançaram o local onde todos
haviam acampado há dois anos. O vento estava forte, varrendo as dunas de areia
gramadas, e o local de acampamento estava vazio. Não parecia o mesmo lugar.

"Acha que algum dia voltaremos aqui?" Remus perguntou, com as mãos enfiadas nos
bolsos para impedir que seu casaco balançasse com a brisa.

"Espero que sim." Sirius respondeu. "É o pensamento do meu patrono, este lugar."

"É sério?" Remus o olhou, surpreso.

"Ainda não tive verões melhores."

"Um bom ponto."

"Ei, olha!" Sirius vagueou em direção a um grupo de pedras, curvou-se e pegou uma
grande vara longa. Ele a balançou para Remus, sorrindo, "Quer brincar de de
'buscar'?"

Remus riu.

"Vá em frente, então."

198
Sirius olhou ao redor disfarçadamente para confirmar que eles estavam sozinhos,
então se transformou em Padfoot. Remus estava grato - ele já tinha falado o suficiente
agora, e foi um alívio apenas brincar com o Sirius canino por algumas horas. O grande
cachorro preto corria para cima e para baixo na praia, perseguia ondas, brincava de
buscar e geralmente se divertia muito, e no ônibus de volta ao pub os dois
adormeceram.

Foi só muito mais tarde naquela noite, depois do jantar ( oh, como Remus tinha
sentido falta de comida de verdade! Purê de batata! Salsichas! Molho! ), quando eles
estavam se preparando para dormir, que Sirius tocou no assunto novamente.

Remus estava bocejando enquanto se enfiava sob as cobertas, e Sirius se deitou ao


lado dele silenciosamente, desligando a luminária de cabeceira. A cama era tão
estreita que Remus teve que se deitar de costas para a parede, um braço em volta da
cintura de Sirius e um rosto cheio de cabelos negros e sedosos, o que ele realmente
não se importou.

"Eu sei quem você é." Sirius sussurrou no silêncio vazio do quarto escuro.

"Hm?" Remus perguntou, sonolento e confuso. Sirius puxou a mão de Remus até sua
boca e beijou seus dedos.

"Você disse que não sabe mais quem você é. Mas eu sim. Você é meu Moony. Sempre
será. Ok?"

"Ok, Padfoot."

Por enquanto, era suficiente.

***

Moody avisou que eles poderiam voltar para o apartamento, desde que Remus ficasse
discreto por um tempo - ele não especificou por quanto tempo. Isso significava que
não haveria reuniões da Ordem ou missões - nem mesmo tinha permissão para visitar

199
a casa dos Potter. Para todos os efeitos, Remus Lupin havia desaparecido da face da
terra um mês atrás e nunca mais voltou.

"Aposto que ele só quer esperar a próxima lua cheia para ficar de olho em tudo."
Sirius sugeriu. "De qualquer forma, você merece uma pausa."

Remus apenas deu de ombros.

"Servi ao meu propósito agora, suponho. Eles não sabem o que fazer comigo. "

"Não fale assim sobre você." Sirius retrucou irritado. Haviam ficado presos no mesmo
quarto minúsculo por muito tempo.

Eles aparataram de volta, e Remus começou a se sentir um pouco mais ele mesmo
quando realmente estava em casa. O apartamento estava imaculadamente arrumado -
aparentemente Sirius teve muita energia nervosa enquanto Remus esteve fora - mas,
fora isso, tudo estava como deveria ser.

Ninguém deveria saber que Remus havia voltado, mas é claro que James contou a Lily
e Peter, e Marlene disse a Mary, então, na primeira noite em que haviam voltado,
todos vieram juntos. Felizmente, Lily teve a presença de espírito de trazer comida,
porque Sirius não tinha nada em casa.

"Tenho comido no Potter's." Ele murmurou timidamente.

Remus e Lily foram para a cozinha para aprontar os rolos de salsicha, queijo, palitos
de abacaxi e sanduíches nos pratos. Lily colocou suas sacolas no balcão e se jogou
sobre ele, os braços em volta de sua cintura, a cabeça em seu ombro. Remus deu um
tapinha gentil nela ao perceber que ela estava chorando.

"Argh, Lily, por favor, não ..."

"Me desculpe!" Ela soluçou, sua voz grossa e abafada contra seu melhor suéter de lã,
"Eu só... eu pensei que não veria você de novo!"

200
"Deus, você está fazendo um alarde maior do que Padfoot."

"Improvável" ela riu, dando um passo para trás e enxugando o rosto, "Ele estava um
completo desastre enquanto você estava fora - você não o teria reconhecido. Acho que
ele nem mesmo penteava o cabelo. "

Remus sentiu uma terrível pontada de culpa. Ele não queria ficar triste na frente de
Lily, então apenas deu um sorriso alegre e disse:

"Então você tem algo para me contar?"

"Oh! Er ... quando todos estiverem aqui... "Lily estava corando e, de repente, se
concentrou muito em cortar cenouras para os molhos que havia trazido.

Não demorou muito para que Marlene e Peter chegassem, vindos direto do trabalho.
Peter até tinha uma maleta com suas iniciais agora. Aparentemente, ele estava indo
bem no Ministério, e Remus tentou não ficar muito amargo sobre isso.

Marlene insistiu em dar outra olhada em Remus no quarto, checando seu tornozelo,
que estava como novo, e seu peito, que estava muito melhor.

"Honestamente, não acredito que você ainda está fumando." Ela resmungou quando
ele acendeu um cigarro, abotoando sua camisa. "Você sabe que isso mata trouxas."

"Morra jovem e deixe um lindo cadáver," ele piscou para ela, tentando não pensar
sobre o câncer de pulmão de Hope. O fato é que fumar e beber eram as únicas coisas
que ele tinha vontade de fazer atualmente.

Mary começou a chorar assim que chegou e pulou nos braços de Remus.

"Seu completo bastardo!" Ela sussurrou em seu pescoço "Eu poderia te matar!"

"Senti sua falta também." Remus disse, apertando suas costas.

201
Uma vez que estavam todos juntos, James e Sirius assumiram seus papéis como
anfitriões, o que foi um alívio. Remus repentinamente se sentiu muito cansado e
sentou-se no sofá como um fantasma, observando seus amigos conversando, rindo e
agindo como garotos de dezenove anos. Ele apenas sorriu para todos. Sorriu e bebeu.

Eventualmente, a comida não era nada além de migalhas, e a bebida também estava
acabando. James, Sirius e Peter tiveram a ideia de invocar cervejas de apartamentos
vizinhos pela janela, e as garotas estavam tentando convencê-los a não fazer isso,
quando Remus se lembrou do que Lily havia dito na cozinha.

"Quais são as suas novidades?"

"Ah!" A cabeça de Lily se virou bruscamente para ele. Ela estava parada perto da
janela, os braços em volta dos ombros de James, tentando afastá-lo de suas tentativas
como ladrão. James se virou também e eles trocaram um olhar envergonhado.

"Todos," James pigarreou, "Hum. Lily e eu temos algo para... "

"Oh, Cristo!" Mary disse de repente, de onde ela estava recostada na poltrona em
frente a Remus, as pernas jogadas sobre o braço da cadeira. "Lily, eu pensei que você
estava tomando pílula!"

"Mary!" Lily ficou ainda mais vermelha, "Isso não!"

"Ufa!" Mary riu, fechando os olhos "Porque ainda não temos vinte anos , somos muito
jovens para pensar em..."

"Nós vamos nos casar!" Lily gritou rapidamente, antes que Mary pudesse fazer
qualquer comentário adicional.

Você poderia ter ouvido uma pena cair.

Remus piscou algumas vezes, observando o rosto de James para verificar se não era
tudo uma grande piada. Porém, ele estava sorrindo para Lily com tanto amor e orgulho

202
naqueles olhos castanhos sentimentais dele, que Remus simplesmente sorriu para si
mesmo. Sim, ele pensou. Claro . O segundo pensamento de Remus foi Sirius, que
estava meio inclinado para fora da janela quando o anúncio foi feito. O moreno girou
tão rápido que bateu com a cabeça na moldura.

"Você o que?!" Ele encarou James, uma estranha mistura de surpresa e desprazer em
seu rosto.

"Sim," James sorriu, alheio, envolvendo os braços em volta de Lily. "Ela pediu - e
quem sou eu para recusar?"

"Você pediu?" Marlene cutucou Lily, "Puta heroina feminista, Evans."

"Foi um pouco mais mútuo do que isso," Lily riu, "Estávamos apenas conversando
e..."

"Mas acabamos de sair da escola." Sirius disse, sua voz apática.

"Há um ano atrás," Peter o lembrou, endireitando as lapelas de seu blazer xadrez
verde.

"Vocês nem moram juntos." Sirius cruzou os braços. Remus se sentiu preso - esses
eram todos os sinais de alerta de que Black estava se preparando para uma briga -
exceto que, pela primeira vez, não era com Remus.

"Eu vou morar com a família de James por um tempo" disse Lily, seu sorriso
vacilando ao perceber que Sirius não estava compartilhando sua alegria.

"Sim, você sabe o quanto eles amam tê-la por perto", disse James. A voz dele
endureceu, e ele manteve os braços ao redor de Lily como se a protegesse. "Ela tem
sido incrível enquanto eles não estão bem."

"Você realmente pensou sobre isso?!"

203
"Tenho certeza que sim, Black, relaxe." Mary disse, tentando aliviar o clima. Ela se
levantou, "Devo dar uma olhada e ver se podemos conseguir um pouco de espumante
barato? Isso merece um brinde! "

"Sim!" Marlene se levantou também. Ela abraçou Lily e beijou James na bochecha,
"Parabéns, vocês dois!"

"Parabéns!" Peter ergueu sua lata de cerveja bêbado.

"Vocês todos ficaram loucos?!" Sirius quase gritou. Remus percebeu a expressão de
consternação no rosto de Lily e decidiu que era o suficiente. Ele levantou-se.

"Padfoot." Disse com firmeza, usando aquela voz "Não."

Sirius o olhou agora. Sua boca se fechou abruptamente, e ele sacudiu a cabeça como
um adolescente mal-humorado, antes de passar por todos eles e marchar para fora da
sala. A porta do quarto bateu.

"Imbecil." Mary falou despreocupadamente. "Vou dar um pulo na loja - vem Marls?"

"É melhor eu..." Remus sacudiu a cabeça na direção do quarto e seguiu atrás de Sirius.

Ele não bateu, apenas entrou. Afinal, era seu apartamento também. Sirius estava
pronto para recebê-lo e começou assim que Remus fechou a porta atrás de si.

"Você não pode me dizer que acha que isso é uma boa ideia!" Ele vociferou, andando
pelo quarto. "Prongs está sendo ridículo! Somos muito jovens, há a porra de uma
guerra acontecendo, a mãe e o pai dele estão doentes, e ele quer fazer a porra de um
casamento?! "

"Acho que todos esses parecem motivos bons o suficiente para ter uma porra de um
casamento, na verdade." Remus suspirou, sentando-se na cama.

"Você está brincando! Somos crianças! "

204
"Eles estão apaixonados." Remus tentou raciocinar. Sirius riu, uma risada maldosa e
cruel.

"Ah, e você vai começar a falar liricamente sobre amor, não é Moony?!"

"Cuidado." Remus se levantou bruscamente, usando sua altura para se elevar sobre
Sirius. "Eu não sei por que você está sendo tão idiota com James e Lily, mas não vou
sentar aqui e ouvir você lançar pequenos comentários maldosos em mim."

Sirius estava prestes a responder, quando a porta se abriu novamente, e desta vez
James entrou, mais furioso do que Remus jamais o vira.

"Seu idiota!" Ele gritou. "Que porra você está fazendo?! Moony, não o defenda!"

"Eu não estou!" Remus disse, se afastando e cruzando os braços, "Eu estava dizendo o
mesmo!"

"Bem?!" James se virou para Sirius novamente, "Quer se explicar?!"

"Não, eu quero que você se explique!" Sirius retrucou, "Que porra é essa?! Você vai
se casar, simples assim? Eu sei que você tem essa coisa louca por Evans desde os doze
anos, mas que inferno! Qual é a pressa?! "

"Não é uma 'coisa louca'!" James gritou. "Eu a amo! Estou apaixonado por ela desde
sempre, como você bem sabe! "

"E aí você tem que se casar de repente?!"

"Eu quero me casar, e não é de repente! Temos conversado sobre isso há muito
tempo."

"Foi a primeira vez que ouvi!"

"Sim, bem, eu não tenho que te contar tudo! Eu não queria dizer nada até que Moony
voltasse."

205
"E seus pais?! O que eles acham?? " Sirius estava perdendo o fôlego, mas obviamente
não estava disposto a parar de ficar com raiva ainda.

"Eles estão extasiados, na verdade! Eles amam Lily! E eu pensei que você também!
Você é meu melhor amigo, pensei que me apoiaria! "

"Oh!" Os olhos de Sirius brilharam, "Porque você sempre apoiou meus


relacionamentos!"

Os olhos de James piscaram em direção a Remus, depois voltaram - foi apenas uma
fração de segundo, mas Remus definitivamente sentiu. Que diabos foi isso?

"Você sabe que não é..." disse James ferozmente, com a mandíbula cerrada.

Remus interpretou isso como sua deixa para sair. O que quer que estivesse
acontecendo entre os dois, não queria fazer parte disso. Ele foi direto para a cozinha e
olhou embaixo da pia. Havia uma garrafa de firewhisky que ele havia colocado lá
depois da última festa para mantê-la segura. Remus a destampou e tomou um longo
gole.

"Remus?"

Ele quase engasgou quando Lily entrou na cozinha. Ela riu e estendeu a mão.

"Me dê um pouco, então? Mamãe sempre me disse para nunca beber sozinha. "

Ele riu, enxugando a boca com as costas da manga e entregando-lhe a garrafa. Ela
bebeu profundamente, e não estremeceu - Remus a observou com admiração e pensou
que se tivesse que se casar com uma garota, então seria melhor que ela fosse
exatamente como Lily Evans.

"Desculpe, eu arruinei sua festa de boas-vindas." Ela falou desamparada.

"Você não arruinou," Remus balançou a cabeça, "Desculpe pelo Sirius."

206
"Ah, não seja bobo - você não é o guardião dele."

"Ele está sendo um idiota."

"Ele está com ciúme, eu sabia que ele ficaria." Ela riu percebendo o olhar de Remus,
"Não desse jeito, Moony, é óbvio que ele está loucamente apaixonado por você, quero
dizer que ele está preocupado em perder seu melhor amigo."

"Você provavelmente está certa."

"Normalmente estou." Ela ergueu uma sobrancelha para ele e ele riu novamente.

"Parabéns," ele disse sinceramente. "Eu acho que é brilhante."

"Obrigada, amor," ela sorriu suavemente. "É um pouco apressado, eu sei, meus pais
falaram muito; Pet se casou no ano passado e é três anos mais velha que eu. Mas...
você sabe que Euphemia e Monty não estão bem? "

"Sim, eu gostaria de poder ir vê-los, mas ... Ordens do Moody, sabe."

"Eles entendem." Ela tocou seu braço gentilmente, "De qualquer forma, eles são
realmente... quero dizer, eles não estão sofrendo nem nada, mas estão muito velhos.
Eu sabia o quanto significava para James - tê-los vendo ele comigo. Eles querem saber
que ele ficará bem quando partirem."

Talvez ele tenha bebido muito, mas as lágrimas surgiram nos olhos de Remus
inesperadamente. Ele cobriu o rosto e gemeu.

"Jesus Cristo, Evans, posso ficar cinco minutos sem um colapso emocional?!"

Ela riu e o abraçou novamente.

"Garoto adorável."

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"Nós voooltaaamos!" Mary e Marlene cantaram ao entrarem cambaleando no
apartamento mais uma vez, rindo alegremente.

"Esconda isso, rápido!" Lily devolveu a garrafa a Remus, e ele a guardou debaixo da
pia atrás de uma caixa de sabão em pó.

No momento em que Mary serviu a todos um copo (ou uma caneca) de babycham ("a
coisa mais próxima de champanhe que você pode conseguir em Soho depois da meia-
noite"), James e Sirius ressurgiram do quarto, ambos ainda com o rosto vermelho, mas
aparentemente em melhores condições. Sirius se juntou ao brinde pelo menos, e até
deu um beijo educado na bochecha de Lily.

Mesmo assim, a atmosfera havia mudado e todos partiram na hora seguinte ou mais -
Marlene estava hospedada na casa de Mary em Croydon, Peter voltou com James e
Lily. Quando a porta se fechou pela última vez à uma da manhã, Remus teve vontade
de se enrolar no sofá, cobrir a cabeça e ficar lá por uma semana.

Sirius não disse muito, apenas fez uma arrumação superficial e foi para o banheiro.
Remus ouviu o clique da fechadura e aproveitou a oportunidade para tomar um último
copo de uísque e acender um cigarro antes de dormir. Ele se sentia sujo; seus dentes
pareciam emborrachados, sua garganta queimava e seus olhos coçavam, mas tudo
aquilo combinava com seu humor.

Ele não tinha mais vontade de falar, especialmente se isso fosse levar a outra briga.
Até considerou apenas adormecer no sofá, mas então isso apenas poderia significar
uma briga pela manhã, e ele já sabia que estaria de ressaca.

Sirius abriu a porta e Remus o ouviu caminhando para o quarto. Talvez se Remus
escovasse os dentes com calma, Sirius dormiria antes de chegar lá - os dois haviam
bebido muito. Ele se levantou do sofá e foi para o banheiro.

Remus lavou o rosto e a nuca com água fria e se olhou no espelho do armário de
remédios acima da pia. Esteve evitando seu reflexo desde que voltou. Estava uma

208
merda, ainda muito oco nas bochechas, olhos mais escuros e mais largos de alguma
forma, pálido de tanto beber e suas cicatrizes se destacavam como fios de prata sob
sua pele.

Ele tinha aquela mesma aparência assombrada que eles tinham; o bando? Havia
absorvido aquele brilho feroz, aquele sorriso esguio de lobo? Ou estava apenas vendo
o garoto zangado e assustado que sempre esteve lá?

Ele suspirou derrotado e apagou a luz, indo finalmente para a cama.

As luzes ainda estavam acesas e Sirius estava sob as cobertas, apenas seu cabelo preto
sedoso visível, jogado sobre o travesseiro. Ele sempre dormia assim, escondido. Com
um lampejo de clareza, Remus se lembrou da criança que Sirius havia sido; sozinho
em uma grande casa repleta com família que não conseguia entendê-lo, o peso da
expectativa lhe pressionando de todos os lados.

Remus trancou sua solidão dentro de si, como sempre. Porém, Sirius - ele empurrava
sua solidão para fora, e deixava que outras pessoas tirassem isso dele.
Consequentemente, ficava um pouco possessivo às vezes, um pouco em pânico - e
daí? Ninguém era perfeito. Suavizando, Remus se sentou ao lado dele e muito
gentilmente acariciou seus cabelos..

"Tudo bem?" Ele sussurrou.

A cabeça de Sirius balançou em uma espécie de aceno sob o edredom, e ele estendeu
os braços para envolver a cintura de Remus. Remus suspirou, aliviado. Era tão bom
estar de volta na sua própria cama. Eles sempre poderiam simplesmente não brigar,
ele pensou consigo mesmo. "Amo você," murmurou, beijando o topo da cabeça de
Sirius.

Os braços de Sirius ficaram mais apertados ao redor dele, e logo os dois adormeceram.

209
Capítulo 164: A guerra: Verão de 1979

Ride the blue wind, high and free

She'll lead you down through misery

Leave you low, come time to go

Alone and low, as low can be.

O casamento de Lily e James foi marcado para o final de setembro. Seria um evento
relativamente pequeno - convidaram apenas membros da ordem e amigos da escola - e
seria realizado na propriedade dos Potters. Eles esperavam que o tempo estivesse bom
o suficiente para fazer nos jardins, mas, mesmo que chovesse, havia espaço de sobra
dentro de casa.

Depois de ter feito uma confusão na noite da festa de boas vindas de Remus, Sirius
estava claramente muito envergonhado por como havia agido, e compensou fazendo
praticamente qualquer coisa que James e Lily pediram dele. Ele encomendou as vestes
para os meninos da loja Madame Malkin, buscou os anéis no joalheiro e ofereceu toda
a sua coleção de discos para uso na recepção.

Remus, que nunca tinha ido a um casamento, tentou ficar bem para trás. Pelo que ele
sabia, seu dever como padrinho era aparecer, evitar que a cabeça de Sirius explodisse
e garantir que nenhum membro da família trouxa de Lily visse algo muito assustador.

O ato de penitência mais maluco de Sirius foi escrever à mão todos os convites. Seu
talento para a caligrafia ainda era um de seus segredos mais sombrios (e a coisa
favorita de Remus para provocá-lo), mas ele estava determinado a ser o padrinho
perfeito, então ele se sentou curvado sobre a mesa de jantar uma tarde e trabalhou
nisso por quatro horas seguidas.

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"Cinquenta e oito!" Sirius disse triunfante, terminando o último convite com um
floreio de sua pena.

"Muito bem," disse Remus, olhando por cima do jornal, "Ahh, olhe a sua linda
caligrafia! Tão delicada "

"Melhor do que o seu garrancho!" Sirius colocou a língua para fora.

"Só não conte a ninguém que você fez isso," Remus aconselhou, "Ou você vai
começar a receber pedidos."

"Você realmente acha que os convites estão tão bons?" Sirius perguntou, segurando
um contra a luz para inspecionar os delicados espirais de tinta preta.

"Estão lindos. Mesmo." Remus respondeu carinhosamente.

"Bem, esta é a única vez que farei isso." Sirius fungou, arrumando a pilha, "Este é o
único casamento que eu irei apoiar."

"E se Mary se casasse? Ou Pete?"

"Eu apareceria e ficaria bêbado, mas secretamente odiaria cada minuto."

"Bem razoável," Remus assentiu.

"Outra coisa pela qual você pode culpar a nobre e mais antiga casa de merda." Sirius
disse, "Você sabe quantos jantares de noivado e casamentos eu já estive? Ugh." Ele
estremeceu visivelmente. "Sinto muito, Moony, mas você nunca irá me tornar um
homem comprometido."

"Oh, e eu estava prestes a propor," Remus respondeu secamente, levantando-se,


"Chá?"

"Por favor." Sirius acenou com a cabeça, esfregando os nós dos dedos doloridos.

211
Remus entrou na cozinha, batendo na chaleira com sua varinha - eles a compraram no
mesmo dia que foram buscar as vestes sociais. Fazia Remus se lembrar um pouco de
quando ia buscar os sapatos da escola quando era menino; Olivaras o mediu, então
cantarolou e murmurou para si mesmo. Ele vasculhou o estoque e trouxe caixas e mais
caixas de varinhas para Remus testar. Eventualmente, eles se estabeleceram em uma
de cipreste flexível, com um núcleo de pelo de unicórnio.

Estava tentando se acostumar com ela. Não era como a varinha de Lyall, (que havia
descoberto que era feita de abrunheiro, com núcleo de pelo de kelpie) - parecia menos
rígida, mais inclinada a fazer o que Remus mandava. O que significava que Remus
tinha que se lembrar de não colocar muita força em sua magia, como havia se
acostumado a fazer.

Ele observou o vapor subindo da chaleira pensativamente.

"Isso realmente os irritaria," Remus falou através da parede fina.

"O que? Quem?"

"Sua família." Remus disse, colocando dois saquinhos de chá em duas canecas, "Se
você se casar com um cara. Um meio-sangue, lobisomem, um cara. "

"Não se esqueça do 'pobre'!" Sirius riu. "Merlin, imagine mandar um convite para
minha mãe!"

"Imagine enviar a qualquer um um convite para isso," Remus bufou, "Cristo, eu já


posso ouvir James fazendo trocadilhos terríveis sobre a lua de mel. "Ele carregou as
canecas de chá de volta para a sala, colocando-as na mesinha de centro.

"Já estive noivo uma vez, realmente não quero fazer isso de novo." Sirius disse, com
um ar de finalidade.

"Ah sim, você está certo." Remus piscou.

212
***

Well, if I had a nickel, I'd find a game

Bem, se eu tivesse um níquel, encontraria um jogo

If I won a dollar, I'd make it rain

Se eu ganhasse um dólar, faria chover

If it rained an ocean, I'd drink it dry

Se chovesse um oceano, eu beberia até secar

And lay me down dissatisfied.

E deite-me insatisfeito.

It's legs to walk and thoughts to fly

São pernas para andar e pensamentos para voar

Eyes to laugh and lips to cry

Olhos para rir e lábios para chorar

A restless tongue to classify

Uma língua inquieta para classificar

All born to grow and grown to die

Todos nasceram para crescer e cresceram para morrer

O planejamento do casamento foi na verdade uma distração muito bem-vinda já que o


verão se abria diante deles. Sirius, James, Peter e Lily eram frequentemente chamados

213
com urgência para missões da Ordem, e a lista de desaparecidos lida no início de cada
reunião estava crescendo.

Benjy Fenwick, que trabalhava com Moody há anos, fora terrivelmente assassinado -
não puderam nem mesmo ter um caixão em seu funeral; não havia sobrado o
suficiente dele. Darius Barebones - de quem Remus nunca gostou, mas que mesmo
assim era um agente dedicado - foi encontrado esfolado vivo em seu próprio escritório
no Ministério. Eram tempos miseráveis.

Remus finalmente foi autorizado a retornar oficialmente à Ordem depois que duas luas
cheias passaram sem incidentes. Ferox acreditava que a divisão que Castor havia
instigado significava que o bando de Greyback estava muito fraco para ser muito útil
para Voldemort - e, de alguma forma, todos pareciam ter entendido que Remus era o
responsável por isso.

Dumbledore realmente apertou sua mão enquanto dizia, "Você nos deixou muito
orgulhosos, Sr. Lupin."

Danny McKinnon até se desculpou com ele - Remus pensou que, provavelmente, era
obra de Marlene.

Em julho, os números da Ordem haviam diminuído tanto que, até mesmo Remus,
estava sendo enviado em missões - frequentemente fazia par com Mary, o que tornava
as coisas suportáveis. Suas missões normalmente consistiam em apoiar os Aurores
montando guarda, ou administrar a vigilância de alguns dos Comensais da Morte mais
conhecidos. Remus e Mary passavam muito tempo sentados juntos em cafés ou se
escondendo atrás de arbustos.

Uma dessas missões envolvia seguir um Comensal chamado Travers, que era
conhecido por beber em um pub de bruxos perto de Stoke Mandeville. Deveriam
apenas ver para onde ele ia, como passava um dia normal. Caradoc Dearborn, um
herói da Ordem da Fênix, foi visto pela última vez entrando no pub, mas ninguém
ouviu falar dele desde então.

214
"Você voltou," sussurrou Mary, enquanto esperavam no banco de trás de um antigo
Ford Cortina estacionado do outro lado da estrada. "Então, talvez Caradoc também
vá."

"Espero que sim." Remus respondeu.

"Eu simplesmente não suporto não saber." A perna de Mary tremia nervosamente, "Eu
fico imaginando... e o que eles fizeram com os Prewett!"

"Não pense nisso." Ele colocou a mão em seu joelho para mantê-la quieta e procurou
por uma distração, "Ei, Lily decidiu pôr flores no final?"

"Qualquer coisa, exceto lírios ou petúnias", disse Mary, com um sorriso agradecido,
"Eu e Marls usaremos lavanda, então as outras flores combinarão com isso."

"Parece bom." Remus assentiu, embora ele não conseguisse imaginar a cor lavanda -
era roxo? Ou azul?

"Estou tão feliz por você estar aqui comigo, Remus," disse Mary, "Eu só conseguia
acertar meus feitiços defensivos em seus grupos de estudo."

"Estamos aqui apenas para observar. Tudo ficará bem."

Eles esperaram por horas, e quando Travers finalmente saiu, cambaleando e cheirando
a álcool, ele não estava sozinho. Remus teve que cutucar Mary, que havia cochilado,
recostada em seu ombro.

"Ah merda!" Ela sussurrou, sua voz rouca de terror, "Seis deles, Remus!"

Remus levou um dedo aos lábios, sinalizando para ela ficar quieta. Ele observou os
Comensais da Morte saírem do pub para a tranquila estrada rural. Reconheceu alguns
deles das fotos que Moody havia mostrado - Karkaroff, Dolohov e Alecto Carrow.
Dois deles ele reconheceu pelo cheiro.

"Porra." Ele disse baixinho. "Mulciber e Snape."

215
"Não!" Mary agarrou seu braço, se esticando para olhar. "Oh meu Deus! Precisamos
sair daqui! "

O problema era que o carro era apenas para exibição e, de qualquer forma, nenhum
dos dois sabia dirigir.

"Fique calma," disse Remus, "Vamos apenas esperar eles irem - aposto que vão apara-
"

"Oooh, trouxas!" Alecto Carrow, uma jovem atarracada de rosto de cavalo apontou
alegremente para o Cortina, "Vamos brincar!"

"Porra." Remus disse novamente. Os seis bruxos de mantos escuros deslizaram em


direção a eles, sacando suas varinhas. Remus puxou a sua também, Mary seguindo o
exemplo. "Rápido", disse ele, "vamos sair, talvez possamos ..."

"APERIO! " Travers chicoteou sua varinha em direção ao carro, e as portas foram
arrancadas de suas dobradiças com um horrível som de metal sendo esmagado.

Mary gritou, mas manteve a varinha erguida. Remus a empurrou para trás,
protegendo-a com seu corpo e esperando que eles pudessem sair pelo outro lado. Ele
se sentiria muito melhor com um carro entre eles e os seis perigosos assassinos.

"Eles não são trouxas!" Um dos Comensais da Morte disse alegremente - era
Mulciber? "São sangue-ruins!"

"Ahh, ainda melhor!" Alecto gargalhou.

"Impedimenta!" Remus gritou, enquanto ele e Mary saíam do carro.

"Loony Lupin, é você?!" Snape quem falava agora, "Que sorte! Sectumsc -"

"LANGLOCK! " Mary gritou com tanta emoção que Remus ouviu o clique quando os
dentes de Snape se fecharam, e ele segurou o queixo com as duas mãos, incapaz de
falar.

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"Crucio!" Mulciber gritou, mirando em Mary, mas Remus saltou rapidamente com um
feitiço de escudo.

"Estupefaça!" Mary pegou Mulciber, mas os outros ainda estavam avançando, até
Snape, embora ele ainda estivesse incapacitado.

"Rápido, Mary!" Remus agarrou a mão dela e eles desaparataram, caindo de pé no


meio do centro da cidade de Cardiff. Felizmente era tão tarde que não haviam trouxas
por perto - exceto por um mendigo que parecia muito bêbado, e esfregou os olhos ao
vê-los.

"Onde estamos?" Mary perguntou, trêmula, com os olhos arregalados.

"Não importa," Remus ofegou, "Precisamos aparatar de novo - seis vezes para
estarmos seguros, lembra?"

"Certo, sim, ok," ela acenou com a cabeça, claramente em estado de choque. Remus
percebeu que teria que ser ele a fazer novamente. Ele apertou a mão dela mais uma
vez, e eles estavam em Essex, a apenas um quilômetro e meio de St. Edmund's. A
aterrissagem foi ainda mais difícil dessa vez, e Remus teve que se inclinar para frente
para fazer sua cabeça parar de girar.

"De novo." Ele grunhiu.

"Eu faço." Mary pegou sua mão e o arrastou, girando pelo espaço mais uma vez. Em
seguida, eles chegaram a uma propriedade industrial em algum lugar, caminhões e
vans estacionadas do lado de fora de grandes armazéns, brilhando sob as fracas
lâmpadas amarelas das ruas. "Ugh," Mary pressionou a mão na testa, estremecendo,
"Ok, de novo."

Na quarta vez, eles tiveram que se agarrar um ao outro para não cair. Na quinta, eles
caíram de costas - felizmente em um gramado macio em algum lugar em Lake
District. Remus se ergueu, suas pernas praticamente gelatinosas, sua cabeça girando.
Ele puxou Mary também, e ela tropeçou nele, tonta.

217
"Eu vou vomitar." Ela disse, então prontamente se virou e o fez. Remus esfregou as
costas dela suavemente, piscando o suor dos olhos.

"Você está indo tão bem", ele engasgou, "Só mais uma vez ..."

Já era quase madrugada quando voltaram para Londres, exaustos e nauseados, com as
cabeças latejando. Mary ficou no apartamento deles, dizendo que não poderia ir para a
casa de sua mãe com uma aparência tão ruim. Sirius convocou Moody através da
lareira, e ele chegou imediatamente, interrogando Remus e Mary, que estavam
tremendo, sentados no sofá, enrolados em cobertores e tomando um chá fraco.

"Excelente trabalho, vocês dois", ele acenou com a cabeça para eles antes de sair,
"Continuem assim, e vocês dois sobreviverão."

Mary começou a chorar.

***

Tudo estava ruim. A fuga de Remus e Mary naquela noite não foi a última, nem foram
os únicos a se encontrarem em uma situação difícil. Remus frequentemente tinha que
sair da sala enquanto James e Sirius contavam suas próprias desventuras, e Peter havia
desenvolvido um pouco de gagueira sempre que alguém mencionava Comensais da
Morte.

Ao todo, o casamento parecia o único ponto brilhante em um futuro cada vez mais
curto. Eles certamente já estavam fartos de funerais.

Então, no final de agosto, quando Remus e Sirius receberam uma visita inesperada de
Lily, que estava em estado de pânico, eles imediatamente presumiram o pior.

"Oh, graças a Deus você está aqui!" Ela disse, irrompendo em sua sala de estar. Seu
cabelo estava preso em um rabo de cavalo bagunçado, e ela parecia cansada e
sobrecarregada.

218
"Qual é o problema?!" Remus se levantou rapidamente.

"Não você," ela o afasta com desdém, e então se vira para Sirius, "Eu preciso de
você!"

"O que foi?" Sirius parecia tão confuso quanto Remus. Lily nunca precisou da ajuda
dele. "É o Prongs?"

"Sim, o bastardo."

A preocupação deixou o rosto de Sirius e ele sorriu.

"Olha, se isso é sobre a despedida de solteiro..."

"Oh, eu não me importo com o que vocês vão fazer", ela resmungou impacientemente,
"Isso é muito, muito mais importante."

"Vou colocar a chaleira no fogo, então..." Remus disse, desaparecendo na cozinha. Ele
ainda podia ouvi-los através da parede.

"O que é, então?" Sirius estava perguntando.

"Eu não sei dançar."

"O que?!" Ele zombou, "Eu vi você dançar."

"Sim, eu posso agitar meus quadris ao som de música pop, mas estou falando sobre
uma dança adequada. Com passos, e James liderando, e contando 'um, dois, três', a
coisa toda! "

Sirius estava rindo agora.

"Vai ser esse tipo de casamento? Prongs praticamente me prometeu que haveria
música moderna! "

219
"E vai ter!" Lily respondeu defensivamente, "Mas... bem, é tradição ter uma primeira
dança, e eu acho que a mãe dele gostaria de ver. Eu concordei em fazer isso há muito
tempo. Pensei 'tudo bem, vamos apenas tocar algo romântico e nos segurar um no
outro por alguns minutos', mas aquele idiota apenas mencionou casualmente o fato de
que ele sabe dança de salão desde que aprendeu andar! "

Sirius bufou.

"Sim, parece certo. Olha, Evans, você é a única maluca o suficiente para se casar com
um sangue puro, está colhendo o que plantou. "

"Mas você tem que me ajudar!"

"Ahhhh não..."

Remus voltou a entrar na sala com uma bandeja, equilibrando três canecas de chá.

"Vá em frente", disse maliciosamente, "Eu adoraria ver isso."

"Absolutamente não." Sirius cruzou os braços decisivamente. "Faça Pete fazer isso!
Ele também é um puro-sangue! "

"Ele é muito baixo," Lily balançou a cabeça, "E... bem, eu não quero ser má, mas ele é
muito desajeitado, e não quero que pise nos meus pés enquanto estou quebrando os
sapatos do meu casamento. Eles são de cetim branco. Por favor, Sirius? Eu aprendo
rápido, eu juro, você só precisa me fazer passar por uma dança. "

"Moony!" Sirius implorou, enquanto Remus se sentava ao lado dele, "Salve-me!"

"Eu acho que você deveria ajudar," Remus respondeu, tomando um gole de chá, "Por
James."

"Sim!" Lily assentiu com entusiasmo, "Por James!"

220
"Ele não me merece." Sirius resmungou. "Tudo bem. Uma aula. Valsa é bem fácil.
Moony, vá embora. "

"Absolutamente não." Remus sentou-se no sofá, preparando-se para o show, "Eu


nunca vi você dançar valsa antes, e não vou perder isso."

Sirius ergueu o dedo médio, então balançou a cabeça e se virou para Lily.

"Certo", disse ele com altivez, "Me de suas mãos ..."

Por mais divertido que tenha parecido, aos quinze minutos de aula Remus estava
completamente extasiado.

Sirius trabalhava duro para esconder seu porte puro-sangue na maior parte do tempo.
Desde que eram crianças, Remus sabia que Sirius imitava seu sotaque, e às vezes até
seus maneirismos em um esforço para parecer menos privilegiado. Ele se curvava,
xingava, usava jeans rasgados e jaquetas de couro. Mas aqui estava a prova de que
Sirius Orion Black, herdeiro da família bruxa mais prestigiada e implacável da Grã-
Bretanha, não havia esquecido completamente suas raízes.

Na época, Remus achava isso charmoso - assim como achava quase tudo em Sirius
charmoso. Ele manteve a cabeça erguida, mostrando seu pescoço longo e branco, o
queixo rígido. O moreno pegou Lily nos braços como um verdadeiro cavalheiro -
como um príncipe cortês. Quando se moveu, deslizou; nem um passo fora do lugar.
Ele era a imagem da nobreza incorruptível. Isso deixou Remus louco.

"Muito obrigada!" Lily disse, com as bochechas rosadas depois de duas horas de
dança, "Eu tenho que voltar, ou ele vai se perguntar onde estou, mas eu te devo uma,
sério, Black."

"Oh, apenas o seu primeiro filho vai servir." Sirius acenou galantemente com a mão,
sorrindo. Ele parecia ter se divertido também.

221
Lily agarrou sua bolsa, beijou os dois na bochecha e saiu pela lareira. Sirius se virou
para Remus, que ainda o observava no sofá. Ele fez uma careta.

"Vá em frente, pode me zoar."

"Nunca," Remus sorriu, levantando-se e caminhando até ele, "Eu amo o quão
sofisticado você é."

Ele passou os braços sobre os ombros de Sirius e se inclinou para um beijo, que durou
muito tempo; Sirius pressionando contra ele, afetuosamente no início, mas depois com
mais ansiedade conforme o beijo se aprofundava. Desde que Remus voltou do bando,
as coisas estavam um pouco secas naquele departamento - não que eles estivessem se
comportando como monges, exatamente, mas nas raras ocasiões em que nenhum deles
estava exausto, o sexo tinha se tornado bastante funcional.

Sirius sorriu contra os lábios de Remus, inclinando a cabeça para trás. As mãos de
Remus estavam na cintura do moreno, e seus polegares encontraram o caminho sob o
cós da calça jeans, fazendo círculos nos ossos do quadril que faziam Sirius se
contorcer.

Remus sorriu também, se afastando.

"Quer dançar?"

***

So tell my baby, I said so long.

Então diga ao meu bebê, eu disse até logo.

Tell my mother, I did no wrong -

Diga a minha mãe, eu não fiz nada errado -

Tell my brother to watch his own

222
Diga ao meu irmão para cuidar do seu próprio

And tell my friends to mourn me none

E diga aos meus amigos para não chorarem por mim

Três dias depois da aula de dança, Sirius e Remus se encontraram com um domingo
milagrosamente livre. Não houve missões; não houve reuniões; não havia catástrofes
de casamento para resolver. E, pelo que Remus sabia, nenhum deles corria perigo
mortal. Então, eles passaram da melhor maneira que podiam imaginar - dormindo.

Fora a primeira vez que ficaram deitados por tanto tempo desde que saíram de
Hogwarts, e deveria ser quase meio-dia quando Sirius se levantou para deixar a coruja
entrar com o correio - ela estava bicando furiosamente a janela do quarto a quinze
minutos.

A coruja piou indignada, circulou o quarto e largou o Profeta Diário nas pernas de
Remus, enquanto Sirius vasculhava a mesinha de cabeceira em busca de um nuque
para dar. Remus rolou, gemendo. Considerou cobrir a cabeça com o edredom e
simplesmente voltar a dormir.

"Devo fazer o café da manhã?" Sirius perguntou, pegando o papel. "Café da manhã na
cama?"

"Eu já te disse o quanto eu te amo?" Remus sorriu, os olhos semicerrados. Ele se


espreguiçou um pouco, bocejando, "Acho que acabaram os ovos, então..."

"Remus!" Sirius agarrou seu braço com tanta força que teria hematomas no dia
seguinte. Ele empurrou o jornal na cara dele, e Remus - assustado e meio acordado -
piscou com a manchete.

223
HERDEIRO BLACK CONFIRMADO MORTO

"Eh?" Remus coçou a cabeça, confuso, "Isso é loucura, você não..."

Então ele percebeu. Ah. Se sentiu tão estúpido. Ele olhou para Sirius, que estava
branco como um lençol, olhos arregalados e doloridos.

"Ah" Remus disse, estendendo a mão impotente, "Ah não, Sirius ..."

I'm chained upon the face of time

Estou acorrentado na face do tempo

Feeling full of foolish rhyme

Sentindo-se cheio de rima tola

There ain't no dark till something shines

Não há escuridão até que algo brilhe

I'm bound to leave the dark behind

Estou fadado a deixar o escuro para trás

224
Capítulo 165: A guerra: Dulce et Decorum est

Sirius não falou de novo. No começo, Remus tentou ser compreensivo e fez tudo o
que pôde pensar. Ele se levantou, fez chá e ofereceu uísque, mas Sirius balançou a
cabeça.

Ele tentou falar com ele, mas Sirius apenas encarava o artigo.

"Há algo que você precisa? Eu pego qualquer coisa para você, basta dizer...?"

Nada. Sirius apenas piscou e começou a reler do início. Havia uma fotografia de uma
casa alta com terraço em uma parte chique de Londres, mas Remus não conseguia ver
muito mais, e Sirius estava segurando o jornal com tanta força que seus nós dos dedos
ficaram brancos.

Foi assustador. Remus ficou ao lado dele, estendeu a mão e tocou seu ombro, que
estava rígido como o de uma estátua. Sirius mal reagiu. Remus saiu do quarto.

Ele foi até a porta da frente, onde suas duas jaquetas estavam penduradas, uma macia
e marrom, a outra de couro preto cravejado de prata. Ele enfiou a mão no bolso da
jaqueta de couro e puxou o espelho compacto de prata de dentro. Ele abriu.

"Prongs?! Prongs! "

O rosto de James apareceu, olhos escuros e preocupados.

"Moony?"

"É Sirius - algo acon--"

"Eu sei", James o interrompeu, "Acabei de ver o jornal. Chego aí em dois minutos. "

225
Ele desapareceu, e o espelho apenas mostrou o rosto angustiado de Remus. Ainda sim,
isso era um alívio. James saberia exatamente o que fazer.

Remus se odiava por pensar isso, mas uma coisa continuava retumbando em sua
mente como uma buzina; foram lobisomens? Foi Greyback? Ele precisava ler o artigo,
precisava descobrir o máximo possível.

A lareira de repente brilhou em verde, e James entrou, olhando ao redor. Ele olhou
para Remus.

"Quarto." Disse Remus. James acenou com a cabeça e entrou no cômodo sem dizer
uma palavra.

Remus fechou os olhos, respirando profundamente. Ele poderia fazer mais chá.
Realmente queria uma bebida adequada, mas ainda era de manhã cedo, e se Sirius não
queria, ficaria muito feio se Remus começasse a beber gim sozinho. Merda. Sirius fora
tão bom quando Hope morreu - como?! Na época, Remus não deu o devido valor, e
agora ele não conseguia pensar em uma única coisa útil para falar ou fazer.

Regulus estava morto. O irmão de Sirius estava morto.

Remus voltou para o quarto. James estava sentado na cama, um braço em volta de
Sirius, falando em seu ouvido muito baixo. Sirius parecia estar apenas ouvindo metade
enquanto olhava para o nada. Por fim, o papel havia caído e estava no chão, meio
embaixo da cama.

"Ele fez sua escolha há muito tempo", James estava dizendo, "Você não deve se
culpar, não deve deixar isso..."

"Não diz o que aconteceu." Sirius disse, finalmente falando, sua voz mais grave do
que o normal, "Alguém sabe? Seu pai ou Moody? Houve um ataque ontem à noite,
ou...? "

James balançou a cabeça, o braço ainda em volta de Sirius.

226
"Não, nada que sugira... mas é claro, podemos ter perdido alguma coisa. Há
evidências de que ele - que Voldemort está matando Comensais da Morte. Para hm.
Para mantê-los na linha. Alguns deles estão com dúvidas, você sabe. "

Remus se lembrou do sinistro dever dos lobisomens. Talvez Greyback não tenha sido
uma ameaça o suficiente para algumas das antigas famílias. Voldemort teve que dar
um exemplo. Isso fazia algum sentido. Aparentemente, para Sirius também. Seus
olhos focalizaram, estreitando-se. Ele fungou, embora não tivesse derramado uma
lágrima, e endireitou as costas, se soltando do braço de James.

"Bem então." Ele disse bruscamente "Ele teve o que merecia, não é."

James olhou de volta para Remus, e eles trocaram um olhar preocupado.

"Cara", disse James, "ele era seu irmão, está tudo bem se..."

"Não." Sirius se levantou bruscamente, forçando James a se levantar também,


cambaleando contra o guarda-roupa, "Ele não era meu irmão. Eles não são minha
família. Isso sempre foi deixado muito claro. "

"Mas você--"

"Ele era meu inimigo. Ele teria matado cada um de nós sem pensar duas vezes. Estou
feliz por ele ter partido. Menos um Comensal da Morte. Bom. Brilhante." Ele olhou
para James e Remus, como se os desafiasse. Nenhum deles ousou. "Estou indo tomar
um banho." Ele disse e saiu do quarto.

Remus mordeu o lábio. James soltou um suspiro pesado.

"Pelo menos ele está de pé, eu suponho. Ugh, Regulus, seu merdinha. É como se fosse
um ato final para bagunçar com a cabeça de Sirius. "

"Eu sei o que você quer dizer." Remus disse, tentando ver o lado engraçado. "Parece
que sempre que as coisas começam a voltar ao normal, outra catástrofe acontece".

227
"Moody diria 'isso é guerra, rapazes'." James respondeu, igualmente sem humor.

Eles ficaram em silêncio por um tempo e ouviram o barulho do registro no banheiro


rangendo enquanto Sirius ligava a água quente. James correu os dedos pelo cabelo,
"Vai acabar de vez, um dia. Eu sei que vai, Moony. Só temos que fazer o nosso
melhor até lá. "

Remus acenou com a cabeça e se sentiu um pouco melhor. James tinha esse poder; ele
poderia trazer otimismo até mesmo para os momentos mais sombrios.

"Como estão seus pais?" Remus perguntou, ciente de que James havia deixado seus
pais doentes muito repentinamente.

"Eles estão bem. Mamãe está em pânico com os arranjos de flores. Pete e sua mãe
estão visitando, e Lily está lá, então eles não estão sozinhos. Não contei a eles sobre
isso... não havia tempo, e não quero colocar um fardo a mais. Se soubessem, iriam
querer de vir e verificar como ele está. "

"Se ele decidiu ficar assim sobre isso," disse Remus, "então acho melhor não fazer um
estardalhaço sobre."

"Você tem razão." James acenou com a cabeça, cansado. Ele deu a Remus um sorriso
suave, "Você sempre teve razão quando se tratava dele, hein?"

Remus deu de ombros, porque achava que James estava sendo extremamente gentil -
geralmente Remus achava que estava fazendo um péssimo trabalho cuidando de
Sirius.

"Eu tentei entrar em contato com o Moody," James continuou, voltando ao assunto,
"Para ver se ele sabe de alguma coisa - mas ele não está respondendo. Para ser honesto
-" James abaixou a voz, inclinando-se para confidenciar a Remus," Eu não acho que
Regulus estivesse sendo uma prioridade para alguém. É só porque ele é um Black que
acabou no jornal."

228
"Mas você acha que foi Voldemort? Que o matou? "

"Parece provável. Ele está ficando desesperado, papai diz. Ninguém pensou que a
guerra duraria tanto - não é apenas o nosso lado que está enfraquecendo".

Eles foram para a sala de estar e Remus fez mais chá. Eles estavam quase sem chá, e
ele rabiscou uma nota para prender no quadro de avisos de cortiça que estava
pendurado ao lado da geladeira. Assim que eles se sentaram, Remus finalmente leu o
artigo no jornal.

***

HERDEIRO BLACK CONFIRMADO MORTO

Regulus Arcturus Black II, filho único de Orion e Walburga Black, foi confirmado
morto hoje em um comunicado emitido pela casa da família Black em Islington.
Nascido em 1961, o herdeiro da casa e da fortuna Black tinha dezoito anos. Ele havia
recentemente completado sua educação na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts,
onde se destacou como um aluno impecável e um talentoso jogador de quadribol.

Regulus deixa seus pais e seus primos, que comparecerão a um serviço memorial
privado no final da semana. A família solicitou privacidade.

***

Isso era tudo. Não havia muito mais a dizer sobre uma vida tão curta, Remus supôs, e
o que foi dito não era verdade, ou pelo menos uma versão borrada da verdade. Não
havia nenhuma menção de como ele havia morrido - mas Remus achou que
provavelmente era uma coisa boa; pelo menos, definitivamente não fora Greyback. O
Profeta Diário não perderia a chance de entrar em ação contra um lobisomem.

Sirius entrou na sala de estar, o cabelo pingando e a toalha na cintura.

229
"Acho que vou trabalhar na moto hoje." Ele disse para a sala, sem realmente olhar
para James e Remus, "Vá para casa, Potter, estou bem." E saiu de novo,
provavelmente para se vestir.

James e Remus se entreolharam novamente.

"Você vai ficar bem?" James perguntou, "Se eu for?"

"Sim, claro."

"Ok." James levantou-se da poltrona e foi até a lareira. "Você tem o espelho, se
precisar de mim. Voltarei esta noite. "

"Nós ficaremos bem." Remus disse, levantando-se para se despedir. "Ele só precisa de
um pouco de espaço."

"Não dê a ele." James disse de repente, olhando Remus nos olhos, "Moony, preciso
que você fique de olho nele, ok? Não o deixe ir a lugar nenhum. Não o deixe... não o
deixe tentar entrar em contato com alguém da sua família. Exceto Andrômeda,
suponho. "

Remus acenou com a cabeça. Isso não seria muito difícil - Sirius nunca falava com
seus parentes.

"Sem problemas."

"Estou falando sério. Ele pode fazer algo estúpido e não podemos arriscar. Muitas
pessoas ainda pensam que Sirius é... você sabe, indigno de confiança, por causa de seu
nome, e algo assim vai... " James pressionou a ponte de seu nariz, como se estivesse
com dor de cabeça. "Maldito Regulus." Ele murmurou novamente.

"Eu vou cuidar dele." Remus respondeu com firmeza. "Não se preocupe."

230
"Obrigado, Moony," James agarrou seu braço, e era como se eles tivessem treze anos
de novo, fazendo malabarismos com a responsabilidade por seu melhor amigo
rebelde.

James saiu e Sirius reapareceu imediatamente, como se estivesse esperando.

"Vocês estavam falando sobre mim?"

"Claro que estávamos," Remus ergueu o queixo, "Estamos preocupados com você."

"O que Prongs disse?"

"Que eu não devo deixá-lo fora da minha vista."

Sirius bufou, "Você terá que ir para a garagem, então."

"Tudo bem," Remus sorriu, despreocupado, "Mostre o caminho." Ele estava


determinado a fazer o que James havia instruído - apenas porque não tinha ideia de
como ser útil de outra forma.

Remus só tinha estado na garagem compartilhada uma vez. Havia algumas coisas
armazenadas lá - principalmente o kit de quadribol de Sirius e várias coisas de
infância que não cabiam no apartamento. E a moto, é claro. Era uma Triumph
Bonneville T120, a mesma por quem Sirius se apaixonou anos atrás na casa dos
Potter. Ele havia pintado um leão no tanque e fez algum tipo de feitiço de ampliação
no corpo.

Sirius puxou um pano e a poliu, embora já estivesse brilhando. Remus ficou parado
em silêncio, observando. Sirius cutucou com sua varinha em alguns lugares, passou
óleo em outros.

"Quando você acha que vai acabar?" Remus perguntou finalmente. "Quando vai estar
pronta para andar?"

"Semana passada," Sirius respondeu, sem olhar para cima.

231
"O que?"

"Está pronta. O motor funciona, a função de voo funciona. Eu terminei. Acho que sim,
de qualquer maneira, ainda não a tirei daqui. "

"Por que não?"

Sirius apenas deu de ombros e retomou o polimento. Remus o observou um pouco


mais. Obviamente Sirius não queria conversar, e isso era justo - Remus entendia isso
melhor do que a maioria das pessoas. Porém, ele também entendia a necessidade de
fazer algo quando você não conseguia se expressar adequadamente.

"Vamos, então." Ele disse. Sirius, agachado na frente da moto, balançou nos
calcanhares e olhou para Remus.

"Que? Ir aonde?"

"Onde você quiser," Remus deu de ombros, "Vamos dar uma volta."

Sirius piscou.

"Mesmo? Você vem comigo? "

"Bem, dificilmente vou deixar você voar nessa armadilha mortal sozinho, não é?"
Remus riu, "Que tipo de namorado eu seria se não te seguisse para as mandíbulas de
uma condenação certa?"

O fantasma de um sorriso cintilou no rosto de Sirius, e ele se levantou.

"Ok, então", ele acenou com a cabeça, "Vamos fazer isso."

Remus nunca gostou de voar. Atualmente, ele era competente em uma vassoura, mas
nunca seria seu meio de transporte escolhido. Simplesmente não gostava muito de
alturas.

232
Ainda assim, ele faria quase qualquer coisa por Sirius, então subiu no banco de trás,
passou os braços em volta da cintura do moreno e respirou profundamente. Sirius
realmente riu dele, o que era um progresso.

"Moony, tem certeza que quer fazer isso? Eu posso sentir seu coração batendo!"

"Absolutamente." Remus acenou com a cabeça, fechando os olhos com força


enquanto Sirius segurava o guidão, "Tenho certeza que já enfrentei coisa pior do que
você dirigindo."

"Bem, se tem certeza..." Sirius acelerou o motor e Remus se agarrou ainda mais forte
quando o assento começou a tremer.

No início, eles foram devagar, Sirius navegou cuidadosamente para fora da garagem,
apontando sua varinha para a porta de forma que ficasse fechada e trancada atrás
deles, então rodou lentamente ao longo da rua tranquila. Então, ele apertou um botão e
pressionou o pé, e eles saíram em disparada, Remus ainda tentando não olhar, seu
estômago revirando.

"Aqui vamos nós!" Sirius gritou, e Remus enterrou a cabeça no ombro dele enquanto
eles se erguiam do chão, o motor rugindo conforme ganhavam altura. Remus sentiu-se
deslizar para trás e gritou quando seu cóccix bateu no encosto de metal de seu assento.

"Cristo..." ele choramingou. Ele realmente iria morrer. Sirius riu de novo.

"Conseguimos, Moony!" Ele gritou, "Abra os olhos, seu grande covarde!"

Remus o fez, e imediatamente se arrependeu. Já estavam algumas centenas de metros


acima do horizonte de Londres; ele podia ver os amplos telhados de concreto e as ruas
bege abaixo. A população parecia ser formada por girinos, os carros eram como
besouros e era um longo caminho até o chão.

"Oh meu Deus..." ele gemeu.

233
Sirius comemorou, feliz.

"Não é incrível!?" - ele estava voltado para a frente com os olhos no horizonte. O céu
era azul até onde a vista alcançava. O vento passou por seus ouvidos, frio e fresco, e
Remus teve que apertar os olhos contra o sol.

"Incrível", ele gritou de volta, sentindo-se bastante enjoado, mas satisfeito por Sirius
estar feliz.

Eles voaram por toda Londres por quase uma hora - indo tão baixo quanto Sirius
ousava ao longo do sinuoso Tâmisa, fazendo curvas fechadas em torno de arranha-
céus e quase batendo direto na cúpula de St Paul. Finalmente, o motor começou a
desacelerar e Remus percebeu que eles estavam perdendo altura. Ele olhou para baixo
bravamente e semicerrou os olhos para as ruas desconhecidas abaixo.

"Onde estamos?"

"Islington."

"O que?! Sirius!"

Merda! Ele deveria mantê-lo longe dos Black's, e agora eles estavam indo direto para
eles!

"Acalme-se," Sirius respondeu enquanto desciam ainda mais. Eles pareciam estar
mirando em um enorme espaço verde - um parque público com árvores, um lago e
caminhos de cascalho em torno de canteiros de flores coloridas.

A aterrissagem foi menos que perfeita. Eles atingiram a grama com tanta força que
abriram grandes trilhas lamacentas, e Remus foi finalmente lançado do banco (embora
ele estivesse tão aliviado por estar de volta em solo firme que poderia ter beijado a
grama).

234
"Droga," Sirius disse, desligando o motor e saltando graciosamente, "Vou melhorar
nessa parte. Você está bem?" Ele estendeu a mão para ajudar Remus a se levantar.

"Tudo bem, eu acho," Remus bateu a mão em suas calças e nos braços. "Onde
estamos?"

"Highbury Fields." Sirius lançou obfuscate na moto e então fez o seu melhor para
consertar o gramado em ruínas. "Eu costumava vir muito aqui antes de sair de casa."

"Oh, certo," Remus respondeu suavemente, "Com Reg?"

"Às vezes," Sirius fungou, "Nossa governanta nos trazia."

Remus decidiu guardar essa nova revelação de que Sirius havia tido uma governanta
para depois.

"É legal", disse ele, olhando ao redor para o exuberante parque verde, "Bonito. Quer
me mostrar ao redor?"

Sirius sorriu para ele com gratidão, e eles deram uma caminhada tranquila durante a
tarde de domingo. Aqui e ali, Sirius parava e apontava algo - uma árvore que havia
escalado uma vez ou uma ponte sob a qual havia se escondido. Remus gostava de
ouvir. Ele raramente ouvia memórias felizes da infância de Sirius e, por um tempo, ele
até se esqueceu do por que estavam ali.

Eles pararam em frente a um memorial de guerra. Era particularmente chique - Remus


supôs que isso se devia ao fato de que Islington era um bairro rico. No topo do
pedestal branco estava a estátua em tons verdes de uma jovem em vestes antigas,
segurando uma coroa de louro. Uma alegoria para vitória.

"Eu fiz minha primeira magia aqui." Sirius disse com um sorriso, "Quando eu tinha
quatro anos."

"Mesmo? O que você fez?"

235
"Ateei fogo na cabeça dela", ele acenou com a cabeça para a estátua. "Sempre fui um
rebelde."

"Incrível," Remus riu.

"Sim, Douceline - nossa governanta - enlouqueceu tentando apagar. Mas continuamos


rindo, eu e Reggie, e toda vez que ela apagava, eu simplesmente fazia de novo, porque
isso o deixava muito feliz. "

Sirius olhou para baixo. Ele ficou quieto por um tempo, e Remus apenas colocou a
mão em seu ombro, para mostrar que ele não precisava falar, se não quisesse.

Eles olharam para a placa no memorial. Como dormem os bravos que afundam para
descansar, Todo o país lhe dá suas bênçãos. Remus não pôde deixar de se perguntar
sobre os nomes dos homens listados abaixo. Quantos anos eles tinham? Robert Fenn,
Peter Cross, Arthur Hill... Será que todos eles pensaram que estavam fazendo a coisa
certa? Todos eles foram corajosos em seus últimos momentos? Teriam pensado em
sua família, seus irmãos?

E quando essa guerra acabasse, haveria uma placa como esta no Beco Diagonal?
Quais nomes estariam gravados? Não o de Regulus.

"Vamos." Sirius disse finalmente. "Estou pronto para ir para casa agora."

236
Capítulo 166: A guerra: Outono 1979

Well I take whatever I want

And baby I want you

You give me something I need

Now tell me I got something for you

Come on come on come on and do it

Come on and do what you do

I can't get enough of your love

I can't get enough of your love

I can't get enough of your love

Can't Get Enough, Bad Company.

Sexta-feira, 7 de setembro de 1979

"Uuurrgh, droga!" Remus gemeu, segurando seu ombro e mordendo o lábio.

Padfoot veio pulando, latiu, então se transformou de volta em Sirius.

"O que foi?"

"Deslocado." Remus fez uma careta, ainda segurando seu braço. "Você está com
minha varinha?"

"Sim, espere..."

237
"Tudo bem, Moony?" James e Peter saíram vagarosamente do matagal. "Isso foi
ótimo!"

"Sim, ótimo..." Remus aceitou sua varinha de Sirius e a apontou para seu braço
dolorido. Ele pensou em Lívia e Castor, como fazia em cada lua cheia desde que
conheceu o bando. Esperava que ambos estivessem seguros e meio que desejava tê-los
por perto apenas pelos benefícios de cura.

Braço consertado - ou o mais perto disso que conseguiu, ele lutou para se levantar e
vestiu suas roupas, escondido sob um arbusto próximo.

"Ok?" Sirius perguntou, observando-o com cautela, "Você parece um pouco abalado."

"Só dói um pouco," Remus disse, tendo que se controlar para não dar de ombros,
"Posso aparatar junto com você?"

"Claro. Ei, Prongs," Sirius cutucou James com o cotovelo, sorrindo,"Despedida de


solteiro muito boa, hein? Eh?? Despedida de solteiro?!"

"Sim, Padfoot, muito engraçado," James bufou, "Tão engraçado quanto nas últimas
cem vezes."

"Estou perdido com vocês," Sirius suspirou.

"Faltam menos de vinte e quatro horas!" Peter disse "Como você está se sentindo?"

"Cansado." James respondeu com um bocejo, "Vamos?"

Eles aparataram de volta à casa dos Potter, que já estava cheia de atividade. Haviam
contratado quatro elfos domésticos extras em preparação para o casamento no dia
seguinte, e as criaturinhas corriam para frente e para trás pela cozinha preparando um
banquete.

Lily e a Sra. Potter estavam sentadas à mesa da cozinha - a Sra. Potter em seu roupão
e chinelos, que ela nunca tirava ultimamente. Lily saltou para beijar James.

238
"Bom dia, querido - eu só fiquei o tempo suficiente para ver você, mas vou embora
agora. Como você está, Remus?"

Remus acenou com a cabeça, sem expressão e exausto.

Lily inclinou a cabeça e resmungou, "Vão para a cama, todos vocês, todos precisam
de um sono de beleza. James, deixei uma lista de coisas que você precisa resolver esta
tarde - me ligue quando terminar ou nunca vou conseguir dormir. Sirius, ele te deu os
anéis? Ah, não, boba, eu que estou com eles, aqui estão... Remus, você vai se
certificar de que ele não os perca? Pete, sua mãe apareceu e eu disse que você tinha
saído com os meninos e estava dormindo devido a uma ressaca, então é melhor não ir
para casa. Pedi a Mary que viesse esta noite e trouxesse as flores de lapela para todos
vocês, e as gravatas, se Madame Malkin se apressar e terminar todas... oooh, todos
vocês têm sapatos?!"

"Merlin, Evans," Sirius bocejou, "Qualquer um pensaria que você vai se casar
amanhã."

Ela mostrou a língua para ele, beijou James, abraçou Remus e saiu correndo porta
afora.

"Vão para a cama, meninos!" Ela gritou ao sair. "Vejo você no altar, Potter!"

Remus olhou para a lista que Lily deixou para James - havia, pelo menos, quinze
centímetros de pergaminho, e Lily tinha uma caligrafia pequena. James ignorou.

"Tudo bem, mãe?" Ele perguntou, indo até a Sra. Potter. Ela tinha duas manchas
escuras sob os olhos e o cabelo estava pálido e pegajoso. Remus estava achando difícil
olhar nos olhos dela atualmente - Euphemia o fazia lembrar muito de sua última visita
a Hope.

"Tudo bem, tudo bem", ela sorriu para ele, "Há muito o que fazer!"

239
"Deixe isso por enquanto", disse ele, um braço em volta dela, "Vamos todos para a
cama..."

"Aquela Lily," a Sra. Potter disse enquanto todos eles subiam lentamente as escadas,
"Ela é uma força a ser reconhecida."

"Muito." Todos os meninos concordaram.

Remus desabou na cama sem nem mesmo tirar a roupa e poderia ter adormecido ali
mesmo.

"Moony," Sirius bocejou novamente, tirando as botas, "Não desmaie até que você
tenha tomado sua poção, ordens de McKinnon."

"Mmmph." Remus gemeu, rolando e pegando o vidro na mesinha de cabeceira. Sirius


caiu ao lado dele quando terminou.

"De quem foi a ideia de fazer um casamento logo após a lua cheia?!" Ele reclamou,
outro bocejo o invadindo.

"Eu disse a todos para não se preocuparem com isso," Remus respondeu, fechando os
olhos e colocando o braço sob o rosto.

"E perder a chance de fazer trocadilhos 'despedida de solteiro' pelo resto da semana?
Sem chance. "

Remus riu e adormeceu rapidamente.

***

Por nunca ter comparecido a um casamento na vida, Remus estava muito grato a Lily
por ter deixado uma lista. Isso significava que ele sempre saberia o que fazer. No
entanto, aprendeu rapidamente que muito pouco sobre casamentos fazia algum
sentido. Por exemplo, depois que todos eles acordaram por volta do meio-dia, sua
primeira tarefa foi decorar os aros de quadribol no jardim dos fundos.

240
"Por que estamos fazendo isso?" Remus perguntou, franzindo a testa para os gols,
quando Peter chegou levitando um caixote de flores brancas.

"Para que fiquem bonitos", respondeu James com a vassoura na mão. "É a única
maneira de fazer Lily se casar embaixo deles."

Remus o olhou.

"Você vai se casar embaixo dos seus aros velhos de quadribol?!"

"Eu sei!" Ele sorriu, "Brilhante, não é?!"

"Err..."

"Moony," Sirius disse rapidamente, "Você e Pete, trabalhem no feitiço de crescimento


aqui, Prongs e eu vamos voar para cima e fazer nos aros."

Assim que terminaram, os três aros de quadribol pareciam ter sido dominados por uma
roseira esguia e bizarra. Em seguida, eles tiveram que decorar as árvores próximas
com as mesmas flores e convocar todas as cadeiras do amplo sótão dos Potter e, em
seguida, fazer com que se alinhassem ordenadamente em fileiras de oito. Depois
disso, a Sra. Potter pediu a Peter e Sirius para ajudá-la com toda a louça da recepção e
deu instruções a James e Sirius para 'arrumar o salão de baile'.

"Salão de baile?!" Remus olhou para James, confuso. Ele visitava os Potter há anos e
sentia que conhecia a casa muito bem - mas nunca havia visto um salão de baile.

"Sim, nós não o usamos muito", James respondeu casualmente, "Mantemos o no


armazenamento."

"No... armazenamento?" Como diabos se 'armazenava' uma sala inteira, Remus não
sabia.

"Sim, só preciso lembrar onde estão as instruções..."

241
Eles entraram no escritório do senhor Potter, e James localizou um mapa dentro de
uma das gavetas da mesa. Então, Remus ficou bastante interessado - sempre gostou
muito de mapas. Este era um projeto da mansão dos Potter, o que o tornava ainda mais
fascinante. Havia todos os tipos de pequenos feitiços e encantamentos especiais
rotulados nele, mas eles tinham trabalho a fazer, então ele não podia dar uma boa
olhada.

O salão de baile estava escondido atrás do sofá da sala. James e Remus tiveram que se
concentrar muito e murmurar alguns encantamentos antigos para fazer as portas
aparecerem. Então, é claro, o sofá teve que ser movido e a porta destrancada, o que foi
irritantemente complicado.

Quando James finalmente abriu as portas duplas com painéis de carvalho, o queixo de
Remus caiu. Era uma das salas mais bonitas que já vira; pilares de mármore art déco
até onde a vista alcançava, e um glorioso teto de vitral que projetava manchas de luz
do sol coloridas como jóias no piso de madeira escura.

"Puta merda." Ele engoliu em seco, sentindo-se muito pequeno. Se lembrava de ter
visto Sirius e Lily ensaiando passos de dança em sua minúscula sala de estar e, pela
primeira vez em muito tempo, Remus se sentia muito pobre e sujo ao lado de seus
ricos amigos puro-sangue.

"Eu sei," James riu, "Estúpido, não é? Mas, sabe, pelo menos vamos ter espaço para
todos. Acho que já temos trinta e três Weasleys chegando. "

Sentindo-se um pouco melhor, Remus começou a ajudar James a verificar o salão, e


então eles conjuraram alguns esfregões para começar a limpar o chão. James fechou as
portas enquanto faziam isso, para que não fossem perturbados.

"Eu sei que não estamos realmente fazendo nada", disse ele com culpa, encostando-se
em uma coluna de mármore, "Mas eu só quero cinco minutos sem ninguém me dar
uma ordem. Eu não me importaria, mas Moody só está nos dando dois dias de folga
para o casamento - ele espera que nos apresentemos para o serviço no domingo. "

242
"Cristo," Remus balançou a cabeça, resmungando. Eles ficaram em silêncio por um
tempo, observando os esfregões deslizarem para frente e para trás como dançarinos de
salão magros engraçados. Remus também estava grato por uma pausa. O fim de
semana havia começado com a lua cheia e só ia ficar mais agitado à medida que
avançava.

"Como está o Sirius?" James perguntou do nada.

"Ah? Bem. Por que?" Remus franziu a testa.

"Apenas checando."

"Você o vê quase tanto quanto eu." Remus o provocou. Era verdade - James gostava
muito mais da motocicleta voadora do que Remus, e eles saíam para passear juntos
quase todas as noites.

"Eu sei," James assentiu, "mas ele não disse nada sobre Regulus desde... bem, desde
que ele morreu."

"É." Remus suspirou, "Não disse."

Não era como se Remus tivesse pressionado Sirius a falar sobre isso também - mas ele
não achava que James entenderia a política deles de nunca discutir coisas de família.

"Eu não gosto que ele engarrafe tudo dentro de si", disse James, "Eu sei que ele tinha
um relacionamento complicado com Reg, mas não pode ser normal apenas fingir que
ele nunca existiu."

"Quem pode dizer o que é normal?" Remus rebateu, "Todo mundo passa pelo luto de
maneira diferente."

"Mas ele está de luto?" James estava dando a Remus um olhar muito intenso, e isso o
deixou desconfortável. Não gostava que outras pessoas lhe perguntassem sobre as
coisas pessoais de Sirius - isso era entre eles.

243
"Sim, claro." Ele mentiu. Isso pareceu funcionar.

"Bem. Tenho me preocupado com ele, tem sido um ano de merda, hein? "

"Poderia dizer isso," Remus bufou. "No entanto, está prestes a ficar muito melhor.
Algum nervosismo pré-jogo? "

"Nah," James sorriu, a preocupação deixando seu rosto, "Sinto que já ganhei a taça."

"Oh meu Deus, Prongs, seu idiota sentimental. Isso é o que você ganha por ter amigas
mulheres."

James caiu na gargalhada e, quando recuperou a compostura, os esfregões terminaram


a tarefa e o chão brilhava como se fosse novo.

***

Sábado, 8 de setembro de 1979

O primeiro casamento que Remus compareceu foi o mais lindo e o mais feliz - e não
havia como você convencê-lo do contrário. Tudo correu sem problemas (bem, ele teve
que convencer um Sirius superexcitado a não se transformar em Padfoot para entregar
os anéis, mas felizmente foi apenas uma ideia maníaca passageira), e haviam sorrisos
por toda parte.

Os pais de James pareciam que iam explodir de orgulho, ambos parecendo mais
saudáveis do que Remus os via em anos, vestidos com vestes sociais vermelhas e
douradas - as cores da Grifinória. Marlene e Mary eram lindas damas de honra em
vestidos simples cor de malva com aros de gipsófila no cabelo e, claro, a própria Lily
era uma visão em renda branca.

Pareceu a Remus que o dia voou em um borrão de tons pastéis. Sempre deveria estar
em algum lugar, ou fazendo algo; mal houve um momento para relaxar e pensar. Ele

244
estava muito feliz por nunca precisar se casar, porque ser apenas um padrinho já era
exaustivo.

Assim que a cerimônia acabou e eles tiveram que começar a se misturar, Remus se
sentiu muito tímido. Ele não tinha estado perto de tantos bruxos e bruxas desde
Hogwarts - a magia no ar era palpável; abafada. Isso o incomodava menos agora. Seu
tempo com o bando de Greyback o ensinou a lidar com isso, e enquanto ele não
precisasse fazer mágica, estava bem.

Ele conhecia muitas pessoas, é claro. Avistou os Weasley sem se esforçar muito;
Arthur e Molly estavam correndo por todo o lugar atrás de seus cinco filhos ruivos
indisciplinados; os dois mais velhos decidiram que queriam jogar quadribol com os
aros decorados, agora que a parte chata do dia havia acabado.

Então, é claro, Moody, Hagrid e Dumbledore, e muitas outras pessoas da Ordem. Foi
bom vê-los todos em um evento feliz, pela primeira vez; isso fez com que todos
parecessem mais jovens. Frank e Alice tinham acabado de voltar de sua lua de mel - o
que Alice confidenciou a Remus que, na verdade, havia envolvido muito trabalho; eles
foram para a Eslovênia em uma missão de transferência de conhecimento com os
aurores locais.

E é claro que Ferox estava lá. Ele se aproximou para apertar a mão de Remus de
forma muito máscula.

"Parece muito inteligente, Lupin," ele acenou e Remus sentiu-se corar da cabeça aos
pés - embora soubesse que Sirius parecia um milhão de vezes melhor exatamente com
as mesmas vestes. "E Sra. McDonald," Ferox beijou sua mão, o que a fez corar
também, "Muito bonita mesmo. Os sinos do casamento tocarão para vocês dois
agora?"

Remus piscou - ele não tinha saído do armário para muitas pessoas, justo, mas ele
meio que achava que a maioria delas já tivesse percebido a essa altura.

245
Mary riu.

"Como se Remus fosse se casar comigo! Eu o enlouqueceria!"

"Ah, bem" Ferox deu um tapinha no ombro dele. "Você ainda é jovem, ainda tem
muito o que viver. "

"Eu moro com Sirius," Remus disse, erguendo as sobrancelhas um pouco para ver se
seu antigo professor entenderia a dica. Mas aparentemente não. Por que os adultos são
sempre tão densos?

"Solteiros livres e convictos, hein?" Ferox riu roucamente.

Mary parecia prestes a dizer algo, mas Remus chamou sua atenção e deu um leve
aceno. Não valia a pena.

"Isso mesmo", ele acenou com entusiasmo para Ferox.

Depois do jantar (a melhor parte do dia, na opinião de Remus), Lily e James cortaram
o bolo - uma enorme torre com treze camadas cobertas de creme de manteiga e rosas
vermelhas - e então a dança começou.

Lily deixou Sirius orgulhoso - Remus podia ouvi-lo contar baixinho enquanto os
observava; "Um, dois, três, um, dois, três... endireite as costas, Evans! Boa garota... "

Terminada a valsa, alguém lançou um feitiço amplificador no velho toca-discos dos


Potter e a música Bad Company começou a tocar, o que fez todos os jovens dançarem
- incluindo Sirius. Remus ficou grato ao entregá-lo a Andrômeda . Remus Lupin não
dançava.

Estava feliz em se sentar com uma taça de champanhe apenas assistindo, como de
costume. Procurou Peter, que gostava de dançar, mas muitas vezes perdia o fôlego
depois de algumas canções, mas não conseguia vê-lo em lugar nenhum. Ele
provavelmente encontrou alguns amigos do trabalho e foi conversar. Yaz e Marlene

246
estavam na pista de dança - as duas sendo horríveis em dançar, Marene não estava
acostumada com saltos altos - mas era muito fofo mesmo assim. Yaz havia cortado o
cabelo desde que deixou Hogwarts em junho, e a aparência de pixie realmente
combinava com ela.

Mary veio resgatar Remus, no final, como sempre. Ela mancou com uma expressão de
dor no rosto e se sentou ao lado dele.

"Caramba, essas calcinhas francesas em que ela nos colocou entram direto na sua
bunda."

"Encantadora como sempre, MacDonald," Remus sorriu.

James e Lily passaram por eles, sorrindo um para o outro como maníacos.

"Olhe para eles", suspirou Mary. "Por que não consigo encontrar um cara que me ame
tanto, hein? Não é como se eu não estivesse procurando. "

"Você o encontrará," Remus respondeu ainda tão feliz.

"Eu saberei quando o vir, é o que minha mãe diz."

"Se você tiver sorte," Remus bufou. Ele estava um pouco mais bêbado do que pensara
inicialmente e sua língua estava solta. Mas era apenas Mary. "Eles dizem que 'o amor
é cego' por uma razão."

"Para ser honesta, nunca tive dificuldade em reconhecê-lo." Mary confidenciou.


"Deixar entrar, essa é a parte difícil."

Remus concordou com a cabeça, embora não tivesse certeza se havia entendido. Ela
continuou, bebendo seu champanhe. "Como você fez, com Sirius."

"Ah sim, meu amigo solteirão convicto." Remus colocou a língua para fora, fazendo
Mary rir. Remus sorriu, feliz por fazê-la feliz. Ele apertou o joelho dela, "Você vai se
apaixonar um dia, como não poderia? Qualquer um teria sorte de ter você. "

247
"Talvez quando a guerra acabar." Ela disse abaixando a voz, ainda observando a
dança. "Não tenho certeza se conseguiria sobreviver ao me apaixonar agora, não com
todo o resto como prioridade."

"Mm." Remus desviou o olhar.

"Oi," Marlene apareceu, bebida na mão, "Remus, seu namorado roubou minha
parceira." Ela acenou com a cabeça na pista de dança para Sirius e Yaz, que estavam
rodando um ao outro descontroladamente, aparentemente incapazes de decidir quem
deveria liderar.

Remus riu e Mary franziu a testa, movendo-se desconfortavelmente na cadeira.


Marlene deu a ela um olhar simpático.

"Calcinhas francesas?"

Mary acenou com a cabeça, cansada. Marlene se inclinou e sussurrou: "Eu tirei a
minha no banheiro após a cerimônia."

"Oh meu Deus McKinnon, sua gênia." Mary sentou-se abruptamente e caminhou pelo
salão em direção às portas. Marlene riu, sentando-se.

Um dos garotos Weasley passou derrapando, deslizando de joelhos pelo piso polido
do salão de baile. Molly veio correndo atrás dele, ofegante.

"WILLIAM ARTHUR WEASLEY VOCÊ ARRUINARÁ ESSAS CALÇAS!"

Marlene deu uma risadinha, cobrindo a boca com a mão educadamente. Ela se
inclinou e sussurrou para Remus.

"Eu a ouvi dizer a Hattie Bones que ela está grávida de novo - e ela acabou de ter
gêmeos no ano passado!"

"Caramba." Disse Remus, desenvolvendo um respeito totalmente novo pelo quieto e


reservado Arthur Weasley.

248
"Acho que esses dois vão ter filhos o mais rápido possível." Marlene acenou com a
cabeça para James e Lily, "Não ficaria muito surpresa se não recebermos um anúncio
antes do Natal."

"Urgh, sério?" Remus torceu o nariz. Casamentos eram uma coisa - duravam apenas
um dia. Mas bebês?! Eles tinham que fazer bebês agora?!

"Não seja um idiota mal-humorado." Marlene deu-lhe uma cotovelada afiada nele,
"Mudança faz parte da vida. Vamos, dance comigo. Seria legal ter um parceiro que é
mais alto do que eu." Ela se levantou e puxou seu pulso.

"Oh..." Remus suspirou. "Ok, mas só porque eles ainda não serviram o bolo."

249
Capítulo 167: A guerra: Inverno de 1979

I wanna be straight! I wanna be straight!

I'm sick and tired of taking drugs and staying up late.

I wanna confirm. I wanna conform.

I wanna be snug and I wanna be safe and I wanna be warm.

I wanna be straight! I wanna be straight,

I wanna create a place of my own in the welfare state.

I'm gonna be good; I'm gonna be kind.

It might be a wrench but think of the stench I'm leaving behind...

I wanna be straight! I wanna be straight,

Come out of the cold and do what I'm told and don't deviate.

I wanna give, I wanna give, I wanna give my consent -

I'm learning to hate all the things that were great when I used to be... bent!

I Wanna Be Straight, Ian Drury & The Blockheads

Sexta-feira, 23 de novembro de 1979

Depois de toda a emoção do outono, o início do inverno parecia notavelmente normal.


Remus tentou ficar grato por isso. Pela primeira vez em sua vida, as coisas estavam
quietas. Ele não foi sequestrado por lobisomens e não havia funerais de pais ou irmãos
mortos.

250
Tentou se tornar útil para a Ordem. Às vezes, eles queriam que algo fosse pesquisado
para ajudar a identificar as maldições que os Comensais da Morte estavam usando ou
para criar novos feitiços que poderiam ser usados contra eles. Ele ocasionalmente
trabalhava com Alice nisso e isso fez com que passasse a conhecer muito bem. Ela era
incrivelmente inteligente, uma das duelistas mais habilidosas que Remus já conhecera.
Ele mesmo havia se tornado muito bom em feitiços defensivos e passava muito tempo
visitando vários esconderijos, criando barreiras e sistemas de alerta precoce.

Remus trabalhou duro. Ele se jogou de cabeça nisso. Possuía um desejo muito forte de
se envolver, de se empenhar por algo bom. Talvez estivesse crescendo. Talvez
estivesse cansado de não ter controle sobre sua própria vida.

Marlene vinha algumas noites por semana depois do trabalho. Ela e Remus se
sentariam à mesa da cozinha, e ele a contaria tudo que pudesse sobre o que era ser um
lobisomem - seu olfato, seu metabolismo acelerado e como ele cuidava de si mesmo
durante e depois da lua cheia. Tentou ser o mais honesto que pôde sem colocar
ninguém em apuros, e ela tomou notas dedicadamente, fez perguntas e sugeriu
melhorias.

Foi difícil para Remus, mas também necessário. A natureza sincera de Marlene e sua
determinação feroz em melhorar os padrões de vida dos lobisomens o fizeram se
sentir um pouco melhor - como se ele pudesse estar fazendo algo de bom afinal.

"Precisamos afastar o ministério dessa ideia de que celas e barras são o único
remédio", ela dizia, "Pelo que você me disse, a floresta é muito melhor para a saúde
do indivíduo - e dificilmente estamos em falta no que diz respeito à florestas, não é?
Alguns feitiços de barreira de proteção dariam conta... tudo o que precisamos é um
pouco de pensamento criativo, um pouco de compaixão ..."

Remus sorriu para ela. Marlene o fez sentir como se a mudança realmente fosse
acontecer um dia. E era bom passar um tempo com um amigo - Sirius costumava sair
à noite em missões ou reuniões.

251
"O que está achando, de viver com Sirius?" Marlene perguntou uma noite enquanto
guardava suas coisas. Ela olhou em volta para o apartamento escuro e vazio, "Mais
silencioso que minha casa."

Marlene ainda estava morando com a mãe e o padrasto, e com Danny desde que ele
foi mordido. Mais recentemente, Yaz também havia se mudado. Remus não sabia de
todos os detalhes, mas parecia que os pais de Yaz não ficaram muito felizes quando
descobriram sobre Marlene.

"É bom," Remus assentiu, a ajudando a juntar suas anotações. "Diferente da escola,
obviamente."

"Aposto que é bom ter seu próprio espaço."

"Pode ser."

"Vocês... vocês dois brigam muito? Você sabe, com todo o estresse e as missões..."
Marlene estava mordendo o lábio agora, brincando com uma mecha de cabelo solta.

"Não." Remus respondeu reflexivamente, se fechando, como sempre fazia quando se


tratava de sua vida privada com Sirius.

"Oh," Marlene suspirou, baixando os olhos. "Talvez sejamos só nós então. Talvez
porque minha família esteja por perto o tempo todo."

Remus sentiu uma onda de simpatia por ela. Ele tocou seu braço, "Aposto que é
normal com todas as coisas que todos tem passado ultimamente. Emoções intensas e
tudo isso. "

"Talvez." Marlene ainda parecia desamparada.

"Olha," disse Remus, abaixando a voz, embora eles estivessem sozinhos, "A única
razão pela qual Sirius e eu não discutimos é que quase nunca estamos no mesmo

252
cômodo ultimamente, e quando estamos, fazemos tudo o que pudermos para evitar
falar sobre a guerra, apesar de ser a única coisa que pensamos sobre."

Ele sentiu uma onda de adrenalina ao dizer isso - raramente falava tão abertamente
sobre seus sentimentos com alguém além de Sirius.

Marlene piscou, os olhos se enchendo de lágrimas.

"Mesmo? Vocês não falam sobre isso? "

"Não desde que Regulus morreu."

"Oh, claro," ela acenou com a cabeça suavemente, em seguida, enxugou os olhos com
os pulsos, "Às vezes eu sinto que é só sobre isso que conversamos, é exaustivo. Deus,
eu não aguento todas essas mortes, toda essa miséria . Você sabe o que Mary me disse
outro dia? Ela está pensando em desistir, desistir . "

"Da guerra?!" Remus a olhou, alarmado.

"Não," Marlene balançou a cabeça, " De tudo , do mundo bruxo. Ela disse que preferia
apenas se arriscar como uma trouxa sem diploma. Claro que sei que ela não quis dizer
isso, mas entendo o porquê. Temos lutado e lutado, fazemos tudo o que podemos e
não é o suficiente, é? Eles estão ganhando."

"Você não pode pensar assim." Disse Remus. Ele realmente não queria ouvir isso - era
horrível ouvir alguém que ele admirava sendo tão pessimista. Ela estava dizendo
exatamente as coisas que o mantinham acordado à noite.

"Eu sei, eu sei, temos que continuar tentando não importa o que aconteça." Marlene
disse, ainda chorando silenciosamente, "Mas está levando tudo o que tenho, Remus.
Tudo o que eu faço, tudo o que qualquer um de nós faz é trabalhar e lutar. E se... e se
a guerra acabar e não sobrar nada em mim? E se eu não conseguir me lembrar como
ser feliz?"

253
"Isso é besteira," Remus balançou a cabeça veementemente, "Claro que vai saber
como ser feliz!"

Ele se aproximou para dar um abraço nela. Marlene era quase tão alta quanto ele, e
seus cabelos louros faziam cócegas em sua bochecha.

"Estou sendo boba," ela fungou, por cima de seu ombro, "Só estou muito cansada.
Não consigo dormir à noite e isso me deixa melancólica. "

"Eu não acho que você está sendo boba," Remus disse enquanto se separavam, "E
você sabe que tem muitos amigos para conversar quando se sentir melancólica."

"Eu sei," ela sorriu com seu rosto inchado. "Obrigada, Remus."

"Quer uma xícara de chá?"

"Não, eu preciso ir para casa, Yaz ficará presa ouvindo histórias dos dias de glória de
Danny com os Cannons, caso contrário."

"Ha, vá resgatá-la então," Remus sorriu. Ele queria perguntar como Danny estava,
mas não ousou. Eles não se falavam direito havia um ano - outra coisa que teria que
esperar até o fim da guerra.

Marlene se despediu e saiu pela lareira em um rompante de chamas verdes. Remus se


arrumou um pouco, então foi lavar a tinta de suas mãos, ela havia entrado por debaixo
de suas unhas e as tornado pretas, o que o fez pensar em Lívia novamente. Havia se
tornado extremamente higiênico desde que voltou do bando.

Ele olhou pela janela da sala, que estava embaçada com o frio do início do inverno. As
lâmpadas da rua estavam piscando, brilhando em amarelo no crepúsculo azul - exceto
a da varanda deles, que estava com defeito e permanecia vermelho-rosada a noite
toda. Com a partida de Marlene, Remus foi dominado por uma terrível e dolorosa
solidão. Ele pegou seu cachecol e jaqueta e saiu pela porta.

254
A porta da garagem estava aberta quando ele se aproximou do beco escuro, a luz se
derramando no pavimento irregular e rachado. Ao se aproximar, ele podia ouvir o
rádio tocando suavemente uma música do The Strangler; " And it sounds like an empty
house, standing still..."

Sirius estava cantando junto baixinho, como se estivesse extremamente concentrado.


Quando Remus finalmente chegou à soleira, ele o encontrou de pernas cruzadas no
chão na frente de sua moto, varinha atrás da orelha, chave inglesa na mão. A garagem
estava visivelmente quente para o inverno, mas Remus não conseguia ver onde ele
havia lançado o feitiço de calor. Talvez no próprio chão.

"Olá", disse. Sirius ergueu os olhos, surpreso.

"Olá, o que você está fazendo aqui?"

"Marlene foi embora," Remus deu de ombros, "Pensei em apenas descer e ver o que
você está fazendo."

"O mesmo de sempre. Apenas mexendo. " Sirius disse.

"Ah, ok."

"...sente-se um pouco, se quiser. Estou quase terminando. " Sirius gesticulou para um
banquinho no canto da garagem.

"Só se eu não estiver atrapalhando."

"Não seja bobo," Sirius sorriu para ele e Remus se sentou.

Ele observou o moreno trabalhar por um tempo, fascinado. Remus não sabia nada
sobre mecânica - trouxa ou mágica - e isso o fez se sentir estranhamente orgulhoso
sobre o fato de Sirius ser claramente tão habilidoso. Ele gostou dessa sensação.

"Como você está?" Ele perguntou, pensando na conversa com Marlene.

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"Ah? Bem." Sirius não ergueu os olhos, a varinha entre os dentes agora, enquanto
brincava com o motor.

"Não, quero dizer realmente." Remus pressionou, "Você está bem? No geral? Não
sinto que estou perguntando muito isso ultimamente. "

Sirius o olhou e abaixou sua varinha.

"Estou bem, Remus," ele respondeu, "Não se preocupe."

"Mas eu amo me preocupar," Remus colocou a língua para fora.

Sirius gargalhou e voltou ao trabalho, "Como você está?" Ele perguntou.

"Bem." Remus acenou com a cabeça, antes de repensar, "Bem, você sabe. Tão bem
quanto é possível agora. "

"Hm. Você quer pedir algo para jantar? Eu não quero cozinhar hoje. "

"Sim, ok." Remus concordou. Ele esperou em silêncio. Havia uma pilha de caixas à
sua esquerda. Todas as coisas de Sirius estavam embaladas em grandes baús de
mogno com marcas de queimadura onde ele havia queimado o brasão da família
Black. Porém, as caixas ao lado de Remus eram de papelão e presas com fita marrom
trouxa.

"O que é isso?" Ele perguntou, mexendo na fita. Sirius olhou para cima, limpando as
mãos em um pano de prato velho.

"Oh... essas são as caixas de Gethin."

"O que?" Remus se levantou para ver melhor. Sirius mordeu o lábio, parecendo
nervoso.

"Eu sei que você disse para me livrar das coisas que sua mãe deixou para você, mas...
bem, você não estava em condições de falar sobre isso depois do funeral, e eu não

256
poderia suportar a ideia de você se arrepender. Então, James e eu fomos buscá-las, e
eu acabei de colocar tudo aqui. "

"Eu não posso acreditar em você," Remus disse, atordoado. Sirius se levantou
rapidamente.

"Moony, me desculpe, não era para ser segredo nem nada, eu juro! É que depois que
sua mãe faleceu foi um desastre após o outro, então meio que me esqueci... e você
ainda pode se livrar delas, se quiser, eu não olhei! "

"Sirius," Remus balançou a cabeça, sorrindo, "Quer dizer, eu não posso acreditar
nisso . Você é incrível. Obrigado."

"Oh." Sirius sorriu também, coçando atrás da orelha timidamente, "Isso é bom. Você
passou tão pouco tempo com ela, pensei que gostaria de algo para se lembrar dela.
Você quer dar uma olhada agora? "

Remus pensou sobre isso, então balançou a cabeça.

"Ainda não. Talvez em um dia chuvoso. "

Ele ajudou Sirius a arrumar tudo, e eles andaram juntos de volta para o apartamento,
parando em um restaurante no caminho. Sirius gostava de frango com cogumelo,
Remus preferia bife com cebola. Ele carregou a sacola de papel para ser cavalheiro.

"Sério", disse enquanto subiam as escadas. "Muito obrigado pelas caixas. Eu teria me
esquecido completamente delas. "

"Tudo bem," Sirius deu de ombros, "Eu sei se eu tivesse alguma coisa de Reg..." ele
parou abruptamente.

Remus não sabia o que dizer, então ficou quieto enquanto Sirius destrancava a porta e
entrava no apartamento, acendendo as luzes e reclamando, "Caramba, Moony, está
congelando aqui!"

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"Desculpa!" Ele tendia a sentir muito calor, até mesmo no inverno, e não ligava o
aquecimento se fosse o único no apartamento. Se sentiu muito estúpido agora,
lembrando que Marlene manteve suas luvas durante todo o tempo em que esteve lá e
nem mesmo lhe ocorreu perguntar o porquê.

Sirius acendeu a lareira e Remus foi buscar os pratos para o jantar. Eles se sentaram
no sofá, ombro a ombro e ouvindo o novo álbum do The Police, que Andrômeda
mandara no aniversário de Sirius.

Quando terminaram de comer, Sirius apoiou a cabeça no ombro de Remus e fechou os


olhos, acomodando-se. Remus mandou os pratos para a cozinha e ergueu o braço para
o moreno se fazer caber embaixo deles. Aquecido, bem alimentado e relaxado,
poderia ter adormecido ali mesmo.

"Como está Marls?" Sirius murmurou depois de um tempo.

"Bem, ela está bem. Um pouco para baixo."

"Para baixo?"

"Ela está apenas tendo dificuldades com a guerra." Remus sentiu um friozinho na
barriga, mas continuou bravamente, "Acho que todos nós estamos, não é?"

Sirius ficou quieto por um tempo, e Remus não conseguia ver seu rosto, apenas o topo
de sua cabeça, mas sabia que ele estava pensando. Finalmente, Black sussurrou.

"Sim, estamos."

***

Sexta-feira, 21 de dezembro de 1979

Não foi exatamente um avanço - eles ainda não conversavam sobre a guerra mais do
que realmente precisavam - mas pareceu bom o suficiente na época. E embora
parecesse catártico admitir que os dois estavam passando por dificuldades, não havia

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nada que pudesse ser feito para melhorar as coisas. Pessoas ainda estavam morrendo,
Comensais da Morte ainda estavam ganhando poder, Sirius e James ainda eram super-
heróis.

À medida que o Natal se aproximava, ninguém se sentia muito feliz. Eles não iriam
passar o dia na casa dos Potter este ano - no início de dezembro, os pais de James
foram admitidos no St. Mungos. Haviam contraído varíola de dragão, o que era tão
contagioso que significava que apenas visitá-los já era uma missão em si.

Quando Sirius ouviu o diagnóstico, ele se trancou no banheiro por duas horas. Remus
pesquisou um pouco e descobriu o porquê - idosos raramente sobreviviam à doença.
Então isso se tornou outra coisa sobre a qual eles não conversavam.

James praticamente morava no hospital quando não estava se encontrando com


Moody ou cumprindo uma missão em algum lugar. Lily disse a Remus que ele teve
que se responsabilizar por muitos dos trabalhos de Fleamont, e que James ficava
acordado até a madrugada todas as noites trabalhando no escritório de seu pai.

"Eu gostaria de poder ajudá-lo", disse ela tristemente, "Ele não está pronto para perdê-
los ainda, é muito cruel."

Remus concordou. Em que tipo de mundo pessoas como Voldemort e Greyback


viveriam enquanto o Sr. e a Sra. Potter morriam?

Remus não percebeu como as coisas estavam sombrias até o final de dezembro,
quando recebeu um telefonema inesperado.

Sirius estava fora - ele e James foram enviados para West Cork para acompanhar
alguns relatos de um ritual de magia negra acontecendo. Remus havia ficado sozinho
o dia todo, tentando se distrair a cada minuto que passava sem notícias. Sirius havia
deixado seu espelho compacto para ele, caso algo acontecesse, e Remus passou a
última hora o encarando.

Quando o telefone tocou, ele praticamente deu um salto, então saltou para atender.

259
"Alô?!" Logicamente, ele sabia que não poderiam ser más notícias - os bruxos nunca
usavam telefones se pudessem evitar -, mas sua voz tremeu do mesmo jeito.

" 'lô!" Uma voz explodiu - era tão alegre que não poderia ser ninguém que Remus
conhecesse. Deveria ser um número errado.

"Alô?" Remus franziu a testa, "Sinto muito, acho que você ..."

"--Reeeeemus!" Grant cantou ao telefone. Ele parecia bêbado e havia muito barulho
atrás dele, "Venha para Sawyer's Arms!"

"Onde é isso?"

"Bloomsbury! Venha! Estamos todos comemorando! "

"Comemorando? O quê? Com quem?"

"Com meus amigos!"

Remus sentiu que estava afundando.

"...ok, me dê uma hora."

"Yeeeeeey!" Grant desligou abruptamente.

Remus se levantou para trocar de roupa.

Ele não queria ir. Não onde havia trouxas. Não onde havia pessoas, mas Grant estava
definitivamente bêbado, e da última vez que Remus o vira bêbado, ele precisava de
ajuda. Ele parecia animado o suficiente ao telefone, mas Remus queria ter certeza.
Além do mais, precisava de uma distração, não podia ficar sentado no apartamento a
noite toda.

Ele enfiou o espelho no bolso da calça jeans, vestiu um suéter, depois o casaco e o
cachecol e saiu para as ruas geladas de Londres. Conseguiu pegar o metrô para

260
Holborn; as ruas estavam muito ocupadas com os foliões de Natal para aparatar com
segurança, e ele queria levar um tempo convincente para chegar.

O Sawyer's Arms era um pub adequado para velhos; carpete vermelho e amarelo
espesso, janelas de vidro jateado, lustres de latão encardidos. Estava nublado por
dentro com fumaça de cigarro, mas Remus conseguiu rastrear Grant sem muito
incômodo - ele estava sentado em uma grande mesa de canto, cercado por um grupo
de jovens que pareciam ter sua idade. Ah, Remus percebeu - eles eram estudantes.

"Reeee-musssss!" Grant aplaudiu, erguendo os braços em saudação quando Remus


entrou no pub. "Você veeeeeeeeio!"

"Desculpe, estou atrasado." Remus respondeu timidamente. As pessoas sentadas à


mesa de Grant pareciam amigáveis o suficiente, mais ainda sim eram estranhos.

"Rapazes," Grant falou em voz alta, dirigindo-se ao grupo de homens e mulheres,


"Este é Remusss, meu amigo mais antigo. Ele foi para uma escola particular chique e
tudo mais. Muito inteligente. "

Remus acenou sem jeito para todos, então se virou para Grant, "Vejo que você está
comemorando."

"Acertou pra caralho! Ei, tenho uma cerveja para você. " Ele empurrou um copo sobre
a mesa que deslizou um pouco rápido demais devido a mesa escorregadia com cerveja
derramada. Remus correu para frente para pegar a bebida antes que ela voasse pela
beirada.

"Obrigado," ele levantou o copo ligeiramente, então bebeu. Ah. Fazia um tempo que
ele não ia em um pub. A cerveja desceu muito suavemente.

"Estamos celebrando!" Grant disse, sorrindo para ele. "Fim das provas!"

"Oh, parabéns," Remus sorriu, puxando um banquinho e se sentando na ponta da


mesa. "O que vocês todos estudam?"

261
Todos começaram a se apresentar - Remus nunca iria se lembrar do nome de todo
mundo - Suzie estava fazendo contabilidade - ela era uma menina pequena e tímida
com enormes óculos redondos e uma espinha na ponta do nariz. Rajesh queria estudar
Engenharia na Kings, mas primeiro precisava conseguir um resultado melhor em
Matemática. Tim - um homem alto e moreno com uma camisa de rúgbi - estava
fazendo estudos sociais. Martine era namorada de Tim, estudava para se formar em
enfermagem. Eles estavam todos muito embriagados, mas Grant era o mais bêbado de
todos.

Remus se apresentou o melhor que pôde - disse a eles que estava estudando línguas
antigas, porque ele era muito bom em Runas e raramente tinha a oportunidade de se
exibir sobre isso. Não precisava se preocupar com Grant - esses novos amigos
estavam muito longe de se parecerem com os antigos.

As bebidas continuavam chegando também. Remus tentou ser educado e recusar cada
rodada, mas não adiantou - todos estavam em clima de Natal. Após três cervejas,
Remus também. A música do pub alternava entre Slade, Wizard, Cliff Richards e
Shakin 'Stevens, havia enfeites pendurados nas arandelas nas paredes e até os barmans
usavam chapéus de festa. Remus tinha se esquecido da data, não havia mais tempo
para esse tipo de diversão.

Por volta das oito e meia ele ouviu uma voz em seu bolso e correu para o banheiro
para verificar o espelho. Era Sirius.

"Está tudo bem", disse ele, parecendo muito sujo, manchas pretas riscando seu rosto,
"Mas ambos acabamos cobertos de cinzas, não pergunte sobre, estamos indo nos lavar
na casa do Prongs e depois vamos comer alguma coisa, ainda vou demorar um pouco"

"Contanto que vocês estejam bem!" Remus respondeu carinhosamente..

"Sim, estamos bem," Sirius assentiu gravemente, então franziu a testa, olhando para
Remus pelo espelho. "Onde você está? Em casa?"

262
"Bar." Remus disse, culpado.

"Com Mary?"

"Não, com... hum. Com Grant. Ele está comemorando o fim de suas provas. "

"Oh, comemorando." O rosto de Sirius ficou sério.

"Ele me chamou para sair, só isso." Remus respondeu. "Eu estava ficando louco
sozinho no apartamento."

"Ok, Moony," Sirius deu a ele um olhar estranho, "Divirta-se."

"Eu posso ir para a casa de Prongs se você quiser-" Remus começou, mas o rosto dele
já havia sumido.

Remus saiu do banheiro e pediu mais uma rodada para todos. Ele não tinha nenhum
dinheiro, então lançou um feitiço em um pedaço de papel que encontrou em seu bolso,
e o barman achou que era uma nota de vinte libras - até lhe deu o troco.

Se Sirius tinha permissão para ficar na casa de James, ter um ótimo jantar e levar um
bom tempo para chegar em casa, então Remus não viu porque não poderia ficar
bêbado no pub com um bando de trouxas.

Eles ficaram por mais algumas horas, falando sobre TV, música, roupas e filmes, e
outras coisas trouxas gloriosamente mundanas. Eventualmente, um por um, os outros
se despediram e foram embora.

Suzie foi a última a se levantar. Ela sussurrou para Remus, "Você fará com que ele
chegue em casa bem?" Acenando para Grant, que havia caído debaixo da mesa
procurando seu passe de ônibus e agora estava sentado no chão rindo sozinho.

"Sim, não se preocupe," Remus acenou com a cabeça, sentindo-se um pouco risonho
também.

263
"Feliz Natal, Remus, foi um prazer conhecê-lo," ela sorriu, vestindo o casaco.

"Sim, pra você também."

Assim que ela saiu, Remus bebeu o resto de sua cerveja e decidiu que seria isso. "Ei",
ele deu um chute suave em Grant por baixo da mesa, "Vamos, é hora de ir."

"Nah, vamos ficar!"

"O quanto você bebeu?" Remus perguntou com as mãos nos quadris. Ele estava se
sentindo muito tonto, mesmo que sua tolerância à bebida fosse maior do que a
maioria.

"Um pouco", disse Grant, puxando-se para cima, sacudindo a mesa inteira. Remus
colocou uma mão sob seu cotovelo para firmá-lo e começou a guiá-lo em direção às
portas.

"Onde você está morando atualmente?"

"Você sabe onde," Grant soluçou, "Brighton."

"Brighton?!"

"É, está tudo bem, apenas me coloque no último trem."

"Não," Remus respondeu, "Você será preso ou algo assim. Vamos, você pode dormir
no meu sofá. "

"Awww," Grant sorriu.

Eles cambalearam juntos no metrô e, em Leicester Square, a escada rolante estava


desligada, então tiveram que subir e estavam sem fôlego quando alcançaram o nível
do solo.

"Eu preciso de um cigarro," Remus suspirou, procurando sua cigarreira nos bolsos.

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Seus dedos roçaram no espelho compacto, e ele sentiu uma pontada de pavor enquanto
se perguntava se Sirius estaria em casa. Não que qualquer coisa desagradável estivesse
acontecendo, ele simplesmente não queria começar uma briga que nem havia sido
propriamente formada ainda.

Desistindo do cigarro, ele conduziu Grant em direção a Chinatown. As ruas ainda


estavam muito movimentadas, luz e risos transbordando dos bares e cinemas sujos de
Soho.

"O que você achou do Tim?" Grant balbuciou, apoiando-se pesadamente em Remus,
"Acha que tenho uma chance?"

"Eu pensei que ele estava saindo com Martine?"

"Pffft."

"Ele é... muito alto?"

"E forte," Grant constatou decisivamente, "Gosto de caras fortes. Por isso sabia que
você e eu nunca daríamos certo."

"Ei!" Remus se ofendeu, "Eu sou mais forte do que pareço!"

Grant zombou dele, rindo, e Remus estava bêbado o suficiente para considerar isso
um desafio à sua masculinidade. Ele não costumava exibir bravatas masculinas, mas
talvez a cerveja estivesse tendo alguma influência. Agindo rapidamente, e mal
pensando, ele se abaixou e agarrou Grant pelas pernas, levantando-o e puxando-o por
cima do ombro.

Grant gritava e gaguejava de tanto rir enquanto Remus corria com ele por alguns
metros.

"Me coloca no chão!" Ele gritou. "Você provou seu ponto, você é muito forte!"

265
"Isso é tudo que eu precisava ouvir," Remus sorriu, parando para colocar Grant no
chão com cuidado. Ainda instável em seus pés, Grant agarrou o ombro de Remus para
se apoiar, sufocando uma risada e sorrindo loucamente.

"Ooo-ooooh, o que é isso aqui?" Uma voz desagradável e sarcástica veio de trás deles.

Grant enrijeceu, endireitou as costas, olhou para frente e abaixou a cabeça, tentando
ignorar o perigo se formando, mas Remus estava um pouco puto e não pôde deixar de
olhar para trás.

Três homens se aproximavam, seus rostos escondidos nas sombras devido aos postes
de luz pouco confiáveis e edifícios altos, mas sua linguagem corporal não podia ser
mal interpretada; os ombros arredondados, os punhos cerrados e o andar largo.
Orgulho masculina.

"Ignore-os," Grant respirou, seus lábios mal se movendo, "Vamos, rápido."

Mas Remus nunca foi muito bom em fugir de uma ameaça.

"Posso ajudar?"

Os homens riram maliciosamente, ainda avançando. Um falava com o outro, como se


Grant e Remus fossem surdos - ou como se simplesmente não valessem a pena.

"Me parece um casal de viadinhos, de bichas sujas em busca de encrenca."

"Se eles estão procurando encrenca", disse outro, "eu sei onde eles podem conseguir".
Ele bateu com o punho na mão aberta, como se para demonstrar.

"Remus..." Grant assobiou, puxando seu casaco, "Vem!"

Remus o ignorou. Ele encarou os três homens e ergueu o queixo. Usando sua voz mais
educada de garoto-de-escola-chique-particular, disse:

"Continuem andando, cavalheiros, antes que eu faça algo de que se arrependam."

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Os homens gargalharam e não continuaram andando. Remus ficou feliz. Seus lábios se
curvaram, ele mudou de posição, separou as pernas e olhou para baixo. Com um leve
giro de seu pulso, eles congelaram no local. Levaram um segundo para perceber o que
havia acontecido, seus rostos imbecis agora visíveis na luz vermelha de um letreiro de
néon 'SEXXX' piscando na vitrine ao lado deles.

Os homens se entreolharam, tentaram mover as pernas, mas permaneceram fixos no


lugar, como se tivessem pisado em concreto de secagem rápida.

"Que porra é essa?!" Um deles grunhiu com raiva.

"Não tenham medo, meninos," Remus sorriu, se divertindo, "Eu não mordo. Na
maioria das vezes."

"Eu vou acabar com você, seu viadinho de merda!" Um dos homens gritou. "Vou
fazer você se mijar de tanta porrada!"

Isso deu a Remus uma excelente ideia. Ele estalou os dedos rapidamente e observou
os rostos dos homens. Um por um, um olhar de horror cruzou cada um deles, e Remus
sentiu o cheiro momentos antes de seus jeans começarem a escurecer visivelmente.

"Pobrezinhos," Remus riu. Até Grant parou de puxar sua manga e os encarou,
incrédulo.

" Vocês se mijaram ?!"

Os três homens humilhados começaram a gritar insultos, cada um pior que o anterior,
mas não importava. Remus e Grant estavam praticamente histéricos de tanto rir.

"Vamos," Remus disse, passando um braço em volta do ombro de Grant.

Ele não o soltou até que estivessem a duas ruas de distância, trancados dentro do
apartamento.

267
Era extremamente arriscado fazer magia em uma rua movimentada no centro de
Londres na frente de trouxas. Porém, Remus não conseguia se sentir culpado por isso,
ele estava exultante. Não parecia que Grant havia entendido o que tinha acontecido -
ele estava muito bêbado, e incrivelmente aliviado por estar seguro, então Remus
pensou que havia escapado impune. De volta ao apartamento, ele abriu o uísque para
brindar seu próprio sucesso, o que foi recebido com a aprovação estrondosa de Grant.

Sirius ainda não tinha voltado, e Remus decidiu não se importar com isso. O mais
provável é que ele tenha decidido passar a noite na casa dos Potter. Remus pegou
alguns cobertores e travesseiros para fazer uma cama no sofá para Grant, e então eles
se acomodaram para mais algumas horas bebendo, fumando e rindo. O tempo
começou a se distorcer, esticando e se contraindo quanto mais embriagado Remus
ficava.

Deviam ser quase duas da manhã quando chegaram ao fundo da garrafa. Remus
correu o dedo pelo fundo do copo de vidro e o chupou.

"Ungh." Grant choramingou do sofá, "Tenho que desistir da bebida. Resolução de


Ano Novo."

"Ha." Remus riu, curvando-se na poltrona, bolando um cigarro.

"Remusss?" Grant chamou, entorpecido, sua cabeça pendurada no braço do sofá,


cachos loiros caindo de seu rosto de cabeça para baixo.

"Sim?" Remus balbuciou em resposta.

"Posso te perguntar algo?"

"Sim."

"Você tem um plano?"

"Um plano?" Remus franziu a testa, confuso e turvo.

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"Para o que você vai fazer com a sua vida, sabe."

"Oh." Remus coçou a cabeça, os braços lentos e pesados. "Eu não sei. Você?"

"Não sei." Grant suspirou. "Estive pensando. Talvez eu queira apenas encontrar uma
garota ou algo assim. Me casar."

"Se casar?!" Remus engasgou. "Cristo, você mesmo bêbado."

"Pode não ser tão horrível!" Grant se defendeu. "Não me importo em passar o tempo
com garotas. Elas podem ser divertidas. "

"Sim, mas... sabe, se você se casar, é esperado que..." Remus gesticulou


delicadamente. Grant bufou.

"Ela pode não querer fazer muito isso. Enfim, posso não odiar. Nunca tentei, né?"

Remus colocou o cigarro entre os dentes, pensativo. "Eu sim, uma vez."

"Ah, é?" Grant sentou-se interessado, "E?"

"Foi ok." Ele encolheu os ombros, acendendo o cigarro. "Não há muito a dizer sobre
realmente. Foi principalmente embaraçoso. Mas ainda somos amigos e tal."

"Não pode ser tão ruim então." Grant suspirou, recostando-se mais uma vez. Ele
parecia triste e Remus desejou saber como animá-lo. Grant estendeu a mão para
Remus, que suspirou e entregou-lhe o cigarro recém-aceso. Ele começou a bolar
outro.

Grant suspirou, rolando a cabeça para trás e soprando nuvens de fumaça para o teto.
"Eles sempre me decepcionam, só isso. Homens."

"Nem sempre," disse Remus, não gostando da virada melancólica que as coisas
estavam tomando.

269
"Não," Grant respondeu melancolicamente, olhando para cima, encontrando os olhos
de Remus, "Não, acho que você nunca fez isso."

Remus sentiu uma onda de prazer caloroso com isso - embora talvez fosse porque ele
estava tão bêbado. Grant ainda o encarava intensamente e sorria um pouco agora.
Algo se passou entre eles. Uma coisa muito pequena, mas alguma coisa.

A porta se abriu e Sirius entrou, trazendo o frio do inverno com ele. Ele parou no meio
do caminho quando viu Grant, que lutou para se sentar direito.

"...Olá." Sirius disse, os olhos indo e voltando com cautela. Remus nunca recebia
convidados, muito menos trouxas.

"E aí, cara!" Grant se levantou rapidamente, estendendo a mão sobre a mesa de centro,
a garrafa de uísque vazia em cima. Sirius apertou, educadamente.

"Grant está comemorando o fim dos exames," Remus explicou, sentindo-se culpado,
mas sem saber o porquê.

"Oh, parabéns," Sirius acenou com a cabeça, sua expressão cautelosa.

"Obrigada!" Grant sorriu, "Quer beber alguma coisa? Oh caramba, nós já bebemos
tudo... "

"Está bem." Sirius cruzou os braços sobre o peito e ergueu uma sobrancelha,
assumindo sua aura entediada de aristocrata. "Estou indo para a cama."

Ele não deu a Remus nem mesmo uma segunda olhada, apenas andou pela sala de
estar até o corredor e para o quarto.

"Eu te coloquei em apuros?" Grant sussurrou. Remus balançou a cabeça.

"Ele está apenas cansado. É melhor eu..."

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"Oh sim, claro. Estou exausto, de qualquer forma, obrigado novamente por me deixar
ficar. "

"Quando precisar." Remus sorriu, falando sério, "Obrigado por me convidar para sair.
Eu realmente precisava disso. " Ele deu um tapinha no ombro de Grant ao sair.

Sirius estava se despindo. Ele ignorou Remus, que fechou a porta silenciosamente
atrás de si e se sentou na ponta da cama.

"Como foi a missão?" Ele perguntou gentilmente, "James--"

"Um trouxa no apartamento, Remus?!" Sirius retrucou, "Você ao menos pensou no


perigo?!"

"Que perigo?" Remus franziu a testa, confuso.

"Há uma guerra acontecendo! Este lugar deveria ser uma casa segura, deveria ser mais
seguro do que Gringotes! "

"Engraçado." Remus respondeu sem rodeios, "Eu pensei que era para ser a nossa
casa."

Sirius não respondeu, apenas o olhou carrancudo, amarrando o cordão na calça do


pijama. Remus esfregou a nuca, suspirando, "Olha, ele mora em Brighton. Eu não
poderia simplesmente tê-lo abandonado em uma estação de trem, ele estava bêbado."
Remus tentou explicar.

"Então a solução foi beber ainda mais?" Sirius atirou de volta.

" Sonoro Quiescis ." Remus lançou um feitiço silenciador no quarto - a primeira vez
que eles precisaram desde Hogwarts. "Se você quiser uma briga", disse ele, esticando
os braços de forma convidativa, "Vamos, estou mais do que feliz em obedecer."

"Eu não quero brigar, eu quero dormir." Sirius disse.

271
"Ok, tudo bem." Remus encolheu os ombros. Ele tirou o suéter, a camiseta, e começou
a se trocar para dormir também. Sirius entrou embaixo do edredom e o observou,
ainda carrancudo. Ele definitivamente queria brigar.

"Não posso acreditar que você saiu para ficar bêbado."

"É Natal." Remus murmurou, "Desculpe se eu queria ter um pouquinho da alegria da


ocasião."

"Você mal podia esperar, não é? No segundo em que saí de casa, você tinha que..."

"Você está sempre saindo! Devo ficar sentado me preocupando como um louco a
noite toda?! Eu ainda existo quando você não está aqui, sabe, ainda preciso falar com
pessoas às vezes. "

"Ha!" Sirius zombou, "Você quer alguém para abrir seu coração de repente? Isso é
novo."

"Vá se foder!" Remus gritou com toda a força.

"Vá e foda o seu trouxa! É obviamente para isso que ele está aqui!" Sirius atirou de
volta. Remus cambaleou como se tivesse sido atingido. Ele olhou para Sirius e viu a
dor em seus olhos. Isso tudo era apenas um velho ciúme bobo e chato?

Remus se forçou a relaxar, abaixar os ombros e abrir a mandíbula. Ele fechou os


olhos, inspirando.

"Grant está no sofá porque ele é meu amigo e eu não queria que nenhum mal
acontecesse com ele." Ele disse, muito firmemente. "E eu estou aqui com você, porque
não há mais ninguém com quem eu preferisse estar em um quarto. Mesmo quando
você está sendo um idiota. "

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Os lábios de Sirius franziram, então relaxaram. Ele parecia estar com muita vontade
de continuar discutindo, mas não tinha mais nada a dizer. No final, apenas caiu de
volta na cama, os braços cruzados, e disse para o teto.

"Você é um idiota."

Remus riu, terminou de se trocar e subiu na cama, rastejando em direção a Sirius.

"Eu sou seu idiota." Ele estendeu a mão para a ponta do edredom e puxou-o para
baixo, retirando-o do corpo de Sirius. O moreno permitiu, observando Remus, que
começou a desemaranhar o nó da calça do pijama de Sirius. Em seguida, ele puxou
para baixo e lambeu os lábios. "Posso me desculpar com você?"

Sirius mordeu o lábio, acenou com a cabeça, então arqueou as costas, e eles não
falaram novamente por horas.

De manhã, Grant havia partido.

273
Capítulo 168: Primavera & Verão 1980

You know I'm born to lose,

and gambling's for fools.

But that's the way I like it baby

I don't wanna live forever

Ace of Spades, Motorhead

Em janeiro daquele ano, pouco mais de um ano após o funeral de sua mãe, Remus
compareceu a outro funeral, desta vez para Fleamont e Euphemia Potter.

Eles faleceram com poucas horas de diferença nos últimos dias sombrios de
dezembro. Sua perda foi sentida imensamente, e não apenas pelos membros da
Ordem. A mansão Potter ficou cheia de visitantes por semanas, pessoas em luto e
velhos amigos, e cada um deles tinha uma história de alguma bondade que os pais de
James haviam feito.

"Euphemia sempre disse que eu poderia pedir qualquer coisa a ela quando a visse no
St. Mungos." Marlene soluçou, "Ela era uma curandeira tão brilhante, eu gostaria de
tê-la conhecido por mais tempo."

"Eles foram tão gentis conosco depois que fugimos", disse Andromeda, segurando a
mão de Ted e balançando a filha no quadril, "Sempre entrando em contato para saber
se estávamos bem, garantindo que nunca tivéssemos problema com nada... Eu
simplesmente não posso acreditar que eles se foram... "

"Se a nossa casa for tão acolhedora quanto a deles, ficarei orgulhoso." Arthur Weasley
acrescentou enquanto limpava seus óculos que estavam embaçados.

274
"Os melhores que tínhamos no mundo mágico," Dumbledore entoou no discurso que
fez na cerimônia. "Eram um farol de compreensão, tolerância, bom humor e senso de
comunidade - todos os valores que mais prezamos."

"É quase adequado para eles irem no Natal", disse uma velha enrugada no velório,
"Sempre adorei ir à festa de boxing day dos Potter".

"Vou sentir falta das tortas de carne da Effie!" Um velho acrescentou.

Remus manteve suas próprias memórias dos Potter para si, porque sentia que tinha
menos direitos sobre elas. Ainda assim, nunca esqueceria que foram eles que o
acolheram quando ele se viu sem-teto aos dezessete anos, e eles que o ajudaram a
localizar sua mãe.

De certa forma, era diferente das mortes anteriores na Ordem, porque os Potter
morreram em idade avançada e não foram assassinados - então havia mais espaço para
memórias felizes.

Ainda sim não parecia muito justo. O tempo era irrelevante quando se tratava das
pessoas que se ama, Remus refletiu. Onze meses não foram suficientes para Hope - e
vinte anos provavelmente não foram suficientes para James.

Sirius, Peter e Remus silenciosamente tomaram a decisão de se recomporem por


James. Ele havia sido a fonte da força dos marotos desde que eram crianças, havia os
defendido abnegadamente, apoiado generosamente cada um deles em um momento ou
outro, e não havia dúvida de que eles iriam retribuir o favor agora nesse momento tão
sombrio.

Eles assumiram a tarefa de saudar o maior número possível de pessoas, mantendo-as


longe de James, que já tinha o suficiente para lidar. Por duas semanas inteiras, os três
passaram os dias aceitando buquês de flores e potes de comida caseira (o que foi útil,
porque Gully, o elfo doméstico, estava inconsolável e passava o tempo enrolado em
sua própria roupa, soluçando e bebendo cerveja amanteigada). Lily cuidava de tudo

275
relativo ao financeiro - Remus não podia deixar de admirar a rapidez com que ela
entendeu a lei de propriedade dos bruxos - enquanto Alice e Molly a ajudavam a
administrar a casa e empacotar as coisas que precisavam ser embaladas.

Fora totalmente apropriado que 1980 começasse com morte. Anos depois, isso seria
como uma marca na guerra para Remus, como se a perda dos Potter's tivesse abalado
os próprios alicerces da realidade. Depois do funeral, menos e menos coisas
começaram a fazer sentido. As coisas das quais ele tinha certeza se tornaram incertas,
e o - já pequeno - círculo de pessoas em quem ele confiava e amava começou a
encolher ainda mais.

Pelo resto de janeiro, Sirius e Remus se cruzaram como navios à noite - um


permaneceria acordado até tarde, o outro levantaria junto com o amanhecer para uma
missão ou outra. Ambos estavam determinados a compensar a ausência James, e isso
os mantinha mais ocupados do que nunca. Algum dos dois dormiria nos Potter uma
noite, ou então ficaria com outra pessoa da ordem por segurança.

Além de tudo, o luto por Fleamont e Euphemia significava que as curtas horas que
passaram juntos eram preenchidas com silêncio.

Sirius havia chorado no dia em que descobriu. Ambos tinham, mas a dor era mais crua
para Sirius.

"Não é justo! Não é justo!" Ele repetiu várias vezes, os olhos selvagens e
desesperados.

Remus cuidadosamente colocou sua própria dor de lado para ser o mais forte, e
descobriu que as coisas eram mais fáceis quando focava sua atenção em ajudar Sirius.

Foi um trabalho muito árduo e, por um tempo, parecia que não haveria nada pelo que
se sentir feliz novamente. A única boa notícia veio completamente do nada (como as
boas notícias geralmente acontecem) em um domingo no início de fevereiro.

276
Sirius estava fora com James - pela primeira vez, sem ser em uma missão. Quando
meninos, James e Sirius se enfiavam nas camas um do outro sempre que um deles
estava infeliz. Como homens, eles passavam longas tardes viajando pelo campo na
motocicleta de Sirius. Remus não estava com ciúmes, no mínimo, era um alívio que
ele não precisasse ir.

Ele estava passando a tarde estudando contra-ataques para maldições, o que pelo
menos o fazia sentir que estava fazendo algo útil. Havia acabado de decidir fazer uma
pausa rápida e preparar um chá quando uma coruja bicou a janela da cozinha. Trazia
uma nota de Lily. 'Você pode aparecer antes das cinco? Vou fazer o jantar.' E é claro
que ele se preparou para partir imediatamente. Era uma coisa boa também, seus
próprios planos para o jantar eram feijão com torrada, que ele já tinha comido três
vezes naquela semana.

Ainda estava muito frio, a geada durou semanas naquele fevereiro, e a primavera
demorou uma vida inteira para chegar. Remus estava grato por simplesmente poder
entrar na lareira do apartamento e aparecer instantaneamente na sala dos Potter sem
ter que sair. Esperava que Sirius estivesse bem agasalhado, o frio do vento não era
brincadeira com a velocidade que ele dirigia.

"Estou aqui!" Remus chamou, limpando a fuligem e o pó de flu de suas vestes


surradas.

Hieronymus, o gato, miou furiosamente para ele por tê-lo perturbado no ponto quente
no tapete.

"Cozinha!" Lily gritou de volta.

Remus vagou. A casa parecia vazia há semanas, mas a cozinha estava tão quente e
reconfortante como antes. Lily estava sentada à ampla mesa de carvalho, lendo um
livro de receitas, sua varinha segurando seu cabelo em um coque bagunçado. Havia
uma panela que se mexia no fogão e algo com um cheiro delicioso no forno.

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"Olá, lindo", ela sorriu quando o viu.

"Oi," ele acenou, "Posso ajudar em alguma coisa?"

"Facas e garfos seriam ótimos", ela acenou com a cabeça para a cômoda contra a
parede. "Vamos comer aqui, eu acho, é mais aconchegante."

"Apenas nós dois?" Ele perguntou indo pegar os talheres.

"Nós cinco," ela balançou a cabeça, "Peter chegará em um minuto, e os meninos não
devem demorar muito... bem, dependendo de Sirius."

"Eh?" Remus franziu a testa, a nota não mencionava Sirius. Lily estava corando.

"Er... então, eu te chamei aqui porque tenho algo para te dizer..."

As mãos de Remus começaram a tremer e ele largou a faca de manteiga que estava
segurando. Nenhuma notícia era boa ultimamente, e ele desenvolveu um pouco de
paranóia quando se tratava de anúncios.

"É uma boa notícia!" Lily disse rapidamente, vendo a expressão em seu rosto, "Eu
prometo! É só que, er... pensamos que seria melhor, James achou que seria melhor, se
ele contasse a Sirius por conta própria, você sabe, individualmente... depois do que
aconteceu da última vez... "

"Última vez?" Remus franziu a testa. Eles não poderiam estar se casando novamente,
com certeza. "Vocês estão se separando?!"

"Remus, eu disse que seria uma coisa boa!" Lily riu levemente. "Honestamente, você
sempre pensa o pior..."

Ela se levantou, tirando os livros da mesa. Remus deu uma boa olhada nela. Ela estava
um pouco mais gorda nos quadris - não que fosse dizer tal coisa para um de seus
melhores e mais antigos amigos. E de qualquer maneira, combinava com ela, ela ainda

278
era incomumente bonita, em sua opinião. Porém, ela cheirava um pouco diferente
também.

Ele piscou e balançou a cabeça, batendo a gaveta de talheres com tanta força que fez
barulho, Lily deu um pulo.

"Você está grávida!"

Ela corou ainda mais e acenou com a cabeça, o rosto esticado no sorriso mais amplo
que Remus já vira em alguém em meses. Sem palavras, ele correu ao redor da mesa
para abraçá-la, "Incrível!" Ele engasgou, de repente muito emocionado, "Brilhante!
Ah meu Deus, Lily! "

"Eu sei!" Ela gritou. "É para julho! Você não tem ideia de como foi difícil guardar
segredo!"

Remus deu um passo para trás para lhe dar espaço e enxugou os olhos.

"Por causa de Sirius?"

"Não apenas isso..." ela contou, "Queríamos um período de luto adequado... Euphemia
e Fleamont sabiam, é claro. Foi de partir o coração contar a eles, mas eu tenho que
admitir, estou um pouco preocupado sobre como Sirius vai reagir... "

"Se ele disser qualquer coisa que não seja parabéns, vou socar suas orelhas!" Remus
disse ferozmente. Lily riu,

"Você terá que entrar na fila atrás de mim e James."

Remus riu, ainda enxugando os olhos, e foi colocar a mesa. Assim que pousou o
último prato, um rugido estrondoso pôde ser ouvido à distância, se aproximando. Lily
o olhou e mordeu o lábio. Ele apenas sorriu para ela,

"Vai ficar tudo bem."

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Sirius estava estacionando sua moto no pátio dos fundos. Remus sempre se perguntou
o que Euphemia pensaria disso, mas é claro que ela nunca negaria nada ao seu garoto
de olhos azuis, e teria perdoado as marcas de pneus enlameados em seu gramado com
uma indulgência maternal.

As portas se abriram com estrépito e Sirius entrou, o cabelo ainda varrido pelo vento
por ter voado, nariz e bochechas rosadas de frio. Ele estava sorrindo, sorrindo tanto
que o coração de Remus deu um pulo, e ele sentiu aquela velha paixão de colegial
ressurgir dentro dele.

"Sra. Prongs!" Sirius foi de braços abertos direto para Lily, e a envolveu, beijando o
topo de sua cabeça, "Incrivelmente brilhante!"

Remus suspirou de alívio e foi apertar a mão de James, que tinha entrado atrás de
Sirius, cabelo e cachecol esvoaçantes, rosto queimado pelo vento brilhando como um
farol de alegria.

"Uma criança!" Foi tudo o que Remus conseguiu pensar para dizer, "Você vai ter a
porra de uma criança!"

James riu, segurando sua mão.

"Exatamente, Moony."

"Senta!" Sirius puxou uma cadeira para Lily, conduzindo-a até ela, "Merlin, Moony,
que tipo de cavalheiro você é, deixando Lily fazer todo o trabalho em sua condição?!"

"Ei," Remus fez uma careta, "Eu coloquei a mesa..."

"Honestamente, estou bem," Lily riu, "Mas se vocês meninos quiserem servir o jantar,
fiquem à vontade. O cordeiro está no forno, James, já deve estar pronto."

Então os três se movimentaram pela cozinha, fazendo um pouco mais de barulho e


bagunça do que provavelmente seria necessário. Sirius começou a assobiar 'Kooks',

280
James abriu uma garrafa de champanhe para brindar (cerveja amanteigada para Lily) e
Remus apenas sorriu até suas bochechas doerem, vendo seus amigos serem felizes
juntos.

Então, Peter chegou e tudo começou de novo, a felicidade deles se multiplicou quando
se sentaram para um jantar perfeito em família. Era exatamente o que todos
precisavam.

"Como isso aconteceu?!" Peter exclamou, limpando o resto do molho com seu último
pudim de yorkshire.

"Bem, Wormtail," Sirius sorriu, "Quando uma bruxa e um bruxo se amam muito..."

"Cala boca," Peter riu, chutando-o por baixo da mesa, "Você sabe o que eu quis
dizer..."

"Apenas aconteceu", James deu de ombros, "Podíamos ter sido um pouco mais
cuidadosos no Halloween..."

"James!" Lily deu um tapa de leve no braço dele com as costas da mão, "Não há
necessidade de detalhes, tenho certeza que Moony não quer ouvir tudo isso."

"Por que eu?" Remus franziu a testa,

"Oh, bem... você sabe, eu só sei que você prefere ser discreto sobre... hum..." Lily se
atrapalhou com as palavras. Remus cruzou os braços, olhando para todos com
indignação fingida.

"Vocês todos pensam que sou um puritano!"

Todos começaram a rir, e Sirius deu um tapinha afetuoso em seu ombro.

"Não se preocupe, Moony, eles simplesmente não te conhecem como eu te conheço."

281
"O que isso quer dizer -" Peter começou, mas Remus, vendo para onde a conversa
estava indo, rapidamente interveio.

"Vocês já tem alguma ideia para um nome?"

"Não, não realmente", disse Lily, ainda rindo, "Um nome de família seria bom, mas..."

"Façam o que fizer," Sirius respondeu, "Mas chamem o pobre garoto de algo normal.
Sem constelações, pelo amor de Godric. "

"Vou brindar a isso," Remus ergueu sua taça de vidro e a esvaziou. Era a terceira, mas
ele achava que ninguém havia notado e, além disso, eles estavam comemorando.

"Quando você saberá o que é?" Peter perguntou.

"Não vamos nos referir ao bebê como 'o que', Peter," James brincou.

"Eu vou ser o padrinho!" Sirius gritou.

"Você não pode se nomear padrinho, idiota!" Peter disse, indignado.

"Acabei de fazer," Sirius colocou a língua para fora.

***

E então, como de costume, foram James e Lily que conseguiram tirar todo mundo
daquela tristeza do inverno bem a tempo para a primavera. Os Marotos e seus amigos
enfrentaram o resto do ano com olhos e propósito renovados. Porque lutar em uma
guerra era uma coisa, mas lutar pelo futuro filho dos Potter fazia cada desafio parecer
mais valioso.

Além do mais, eles não eram os únicos a festejar as boas novas. Arthur e Molly deram
à luz a mais um filho ruivo naquele mês de março, e Alice anunciou que ela e Frank
também esperavam no verão.

282
"Imagine isso!" Mary disse, tirando as xícaras de chá e canecas de café deixadas para
trás após uma reunião da Ordem, "Seus filhos vão crescer juntos e vão para Hogwarts
juntos... é legal, não é?"

Remus concordou. Ele teria dado qualquer coisa para ser criado por qualquer uma
dessas pessoas, para ter uma infância rodeada de magia, amor e risos.

Ele nunca havia pensado muito em crianças antes, sua própria infância tinha sido um
desastre tão grande que ele não achava que estava apto para ser pai. Porém, assistir
James e Lily fazerem isso, realmente soava muito bom.

Claro, o entusiasmo de Remus pelo 'bebê prongs' empalideceu em comparação com a


empolgante excitação de Sirius.

"Vai ser muito divertido, Moony!" Ele balbuciou, vindo em uma tarde de maio de
outra viagem impulsiva de compras, "Imagine todos eles em vassouras! O time de
Quadribol da Ordem da Fênix! "

"Er... quantos anos você precisa ter para andar em uma vassoura?" Remus perguntou,
olhando os pacotes nervosamente. Nenhum deles parecia ter a forma de vassoura, mas
você nunca sabia quando se tratava Sirius.

"A maioria são livros e roupas," Sirius o tranquilizou, rindo levemente, "E alguns
brinquedos, apenas pequenas coisas..."

"Essa criança vai ser tão mimada..." Remus resmungou.

"Bom," Sirius colocou a língua para fora. "Não faz bem a ninguém ser criado sem
alegria, não é, Moony?" Ele ergueu uma sobrancelha e Remus abaixou a cabeça
envergonhado, e nunca mais o criticou por isso novamente.

***

283
Em junho, depois da lua cheia, Remus foi convidado para outra reunião com Moody e
Ferox. Um ano mais velho e mais sábio, ele pediu para não encontrá-los no escritório
do auror dessa vez. Já que não tinham muita escolha, eles concordaram. Remus havia
se tornado muito despreocupado em seu papel não oficial como responsável pela
conexão lobisomem, e isso provavelmente transparecia. Pelo menos Moody não mais
agia de forma tão autoritária com ele.

Eles se encontrariam em um pequeno bar de trabalhadores nos arredores de Derby.


Remus chegou primeiro e pediu uma cerveja, então sentou-se com um jornal que
pegou na estação de trem. Ele tirou a página com as palavras cruzadas e dobrou-a
cuidadosamente no bolso do paletó. Sirius gostava de fazer palavras cruzadas.

Escolheu uma mesa na parte de trás do pub, porque era silencioso, mas também
porque o assento era um banco de madeira com espaldar alto, o que era bom para suas
costas. Ele ainda estava com dores depois da última lua, ainda sim, tentou sentar-se
ereto.

Ferox chegou alguns minutos depois.

"Tudo bem aí, Kev?" Ele acenou com a cabeça, sentando-se no banquinho de três
pernas em frente a Remus.

Todos receberam instruções para começar a usar nomes falsos quando estivessem em
negócios da Ordem, caso alguém estivesse os ouvindo. Remus não gostava muito de
'Kevin', mas tinha que admitir que provavelmente era melhor do que seu próprio nome
ridículo. Quando os marotos ouviram falar dos codinomes, haviam querido usar Paul,
John, George e Ringo, mas Moody disse que era óbvio demais.

"Olá, Norman." Remus acenou com a cabeça para Ferox.

"Sr. Thompson não vai demorar."

"Bom. Quer uma bebida? "

284
"Nah, estou de plantão."

Remus deu de ombros e deu um gole em sua própria cerveja. Ferox o observou com
uma expressão neutra. "Então", perguntou seu antigo professor, "Como estão?"

"Ah, você sabe," Remus deu de ombros novamente, "Estamos todos apenas fazendo o
possível."

"Ouvi dizer que você tem estado ocupado, tem um talento especial para segurança,
hein?"

"Sim, eu tenho ajudado Alice, er... Steffi. Desculpa."

Ferox riu roucamente do erro de Remus,

"Não se preocupe com isso. É tudo besteira de qualquer maneira. Ainda assim,
segurança é um bom talento para se ter, hein? Algo que você gostaria de fazer para o
ministério talvez? Depois que tudo isso acabar? "

"Alarmes de segurança?" Remus franziu a testa. Ele realmente não tinha pensado
nisso antes. "Não sei, na verdade não... quero dizer, quero ajudar as pessoas
obviamente, mas não tenho certeza se... as pessoas querem alguém como eu em suas
casas."

"Queixo para cima, rapaz", disse Ferox gentilmente, "Nem tudo é desgraça e tristeza."

Remus bebeu novamente. Ele estava quase terminando e se perguntou se teria tempo
para uma segunda cerveja. Provavelmente não. Não seria muito profissional. Porém,
era tecnicamente medicinal - suas costas doíam muito.

Moody - 'Sr. Thompson' - chegou alguns momentos depois e parecia mais abatido do
que nunca. A guerra parecia afetá-lo fisicamente, ele havia acumulado mais cicatrizes
do que qualquer pessoa que Remus conhecia (exceto ele mesmo talvez) e perdido

285
mais partes do corpo. Se Moody não fosse mais cuidadoso, Remus pensou, ele
acabaria como o velho professor Kettleburn.

"Kevin, Norman," Moody acenou com a cabeça para os dois.

Ele estava vestindo roupas trouxas, ou pelo menos algo próximo disso. Uma camisa
havaiana vistosa combinada com uma calça boca de sino amarelo mostarda de
aparência antiga. Remus teve que se concentrar para manter o rosto sério.

"Vou direto ao assunto", disse ele, sentando-se no terceiro banquinho ao redor da


mesa. "Ele foi visto novamente. Nosso conhecimento mútuo. "

Isso significava Greyback. Remus engoliu em seco, balançando a cabeça,

"Onde?"

"Fora de Dublin. Achamos que ele está se mantendo discreto, lambendo suas feridas,
mas ele ainda está metido com você-sabe-quem. "

Remus acenou com a cabeça novamente. Ele sabia que Greyback não seria vencido
tão facilmente; ele sempre soube que eles se encontrariam novamente, eventualmente.

"A boa notícia é", disse Ferox, se inclinando, "ele não tem recrutado, todas as fontes
parecem dizer que a maior parte de seu bando o deixou."

"Fontes?" Remus o olhou severamente.

"Bem", Ferox sorriu, "eu fiz uma pequena viagem para a Ilha Esmeralda na semana
passada."

"Você o que?!" Remus ficou abalado com a notícia. "Você poderia ter morrido!"

"Acalme-se, rapaz", disse Moody, colocando a palma da mão na mesa. "Norman aqui
está neste caso desde que você era um bebê. Ele sabe o que está fazendo".

286
"Ah, ele só está preocupado, hein Kev?" Ferox o cutucou.

Remus não respondeu. Como ele poderia dizer a esses dois homens - que eram mais
velhos, mais experientes, mais sábios e provavelmente mais poderosos do que ele -
que eles estavam sendo idiotas? Era completamente ridículo que, mesmo quinze anos
após a morte de Lyall Lupin, o ministério continuasse subestimando Greyback,
recusando-se a aprender qualquer coisa com seus erros.

"Você deveria ter me contado." Ele disse finalmente. "Eu poderia ter ajudado.
Aconselhar você, pelo menos. "

"Eu não fui sozinho, não se preocupe", Ferox sorriu, "Levei o jovem Daniel comigo,
quero dizer, er... não, droga, esqueci ..."

"Danny?!" Remus hesitou, ainda mais alarmado, "Mas..."

"Não foi nada pessoal," Moody disse, "Você sabe mais sobre eles do que ninguém,
mas depois do ano passado, você estava muito perto, muito reconhecível para o bando.
Não podíamos arriscar. "

"Eu gostaria que tivesse me contado." Remus repetiu, embora soubesse que não estava
levando a lugar nenhum.

"Estamos lhe contando agora."

Remus franziu os lábios. Danny McKinnon! Greyback deveria estar rindo deles; eles
simplesmente não faziam ideia.

"Então, o quê agora?" Ele perguntou, sabendo que estava visivelmente irritado agora.
"O que você precisa de mim?"

"Bem, sabemos que ele está em movimento. Ele deixou Dublin após a última lua cheia
sem deixar vestígios. Ele e uma jovem."

"Livia," disse Remus.

287
"Você sabe quem ela é?"

"É muito provável que seja ela," Remus acenou com a cabeça, "Ela é a sua seguidora
mais leal, ela nunca vai deixá-lo."

"Você poderia nos dar uma descrição? Daniel sentiu um cheiro, mas não a vimos".
Ferox pediu, ansioso.

Remus acenou com a cabeça.

"Ok. Mas você precisa me contar da próxima vez ... "

"Tudo bem, tudo bem," Moody balançou a cabeça impacientemente, "Vamos mantê-lo
informado, sempre que possível e dentro do razoável. Agora, o que você pode nos
dizer sobre essa vadia da Livia? "

Remus disse a eles tudo que sabia. Ele sentiu que estava trilhando um antigo território,
mas ninguém nunca o escutava de qualquer maneira. Explicou como era a aparência
de Lívia - isso era fácil, ela dificilmente era uma bruxa de aparência comum.

"Vamos pegá-los, rapaz, não se preocupe," Ferox disse enquanto apertava a mão de
Remus antes de sair. Ele tinha perdido completamente o ponto.

Eles não haviam rastreado o bando de Castor - se é que ainda eram um bando. Moody
achava que eles tinham deixado o país, e Remus esperava que sim. Ele esperava que
ninguém os encontrasse novamente. No momento em que todos estavam prontos para
ir, Remus precisava de um shot, não mais outra cerveja - suas costas doíam a cada
passo, ameaçando ter um espasmo total. E ele estava de péssimo humor.

Aparatou de volta a Londres e empurrou a porta da frente com tanta força que a
maçaneta bateu na placa de gesso.

"Puta que pariu!" Sirius saltou de seu assento no sofá.

Remus piscou em sua direção, envergonhado.

288
"Desculpa. Não sabia que você estava aí. "

"O que aconteceu?"

"Maldito Moody! Maldito Ferox! " Remus estremeceu ao tirar a jaqueta.

"Suas costas ainda doem?" Sirius inclinou a cabeça compreensivamente. "Venha


aqui." Ele se arrastou de volta para o sofá, puxando os joelhos para que Remus
pudesse sentar na frente dele.

Remus obedeceu e fechou os olhos, suspirando agradecido quando Sirius começou a


esfregar seus ombros com firmeza, torcendo a dor com seus dedos espertos.

"O que aconteceu?" Ele perguntou. "Eles não ... você não precisa ir de novo, não é?"

"Não," Remus disse, "Não, só... sei lá, você já sentiu que todo mundo esteja pensando
que você é apenas um garoto idiota que não sabe de nada?"

"Ninguém pensa isso." Sirius o acalmou.

"Eu sei que vocês não, mas ... ugh. Eles simplesmente não me ouvem. Eu sei mais
sobre os lobisomens do que qualquer pessoa na Ordem. Eu sou o filho pródigo de
Greyback, pelo amor de Deus! "

"Não diga isso." Sirius de repente envolveu seus braços em volta da cintura de Remus,
puxando-o para perto e com força, como se ele estivesse prestes a fugir. "Se Moody e
Ferox te mantiverem longe daquele monstro, então ótimo."

Remus se inclinou para Sirius e não disse mais nada.

***

Will you stay in our lovers' story?

Você vai ficar na história de nossos amantes?

289
If you stay, you won't be sorry,

Se você ficar, você não vai se arrepender,

'cuz we believe in you.

porque nós acreditamos em você.

Soon you'll grow, so take a chance

Logo você vai crescer, então dê uma chance

On a couple of kooks, hung up on romancing.

Em alguns malucos, desligou o romance.

Kooks, David Bowie

31 de julho de 1980

"Remus, acorda!" Sirius o sacudiu com força.

"Não enche." Remus grunhiu, cobrindo a cabeça com o edredom, "Está no meio da
noite."

"Quem se importa?! Vamos, está na hora! Bebê Prongs está a caminho, ele está a
caminho, ou ela... o bebê está a caminho! "

"O que?!" Remus sentou-se ereto na cama, "Caralho!"

"Esse é o espírito!" Sirius aplaudiu, "Se troque!"

Remus pulou da cama e se vestiu tão rápido que tropeçou nas pernas da calça duas
vezes, batendo a cabeça na cômoda.

"Ai." Ele resmungou, esfregando a testa enquanto se juntava a Sirius na sala de estar.

290
"Seu idiota," Sirius disse carinhosamente, "Sorte que Marlene estará lá, hein?"

"Tenho a sensação de que ela estará ocupada..."

Sirius caminhou até a lareira, pegando um pouco de pó de flu. Quando estava prestes a
jogá-lo no chão, ele deu a Remus um olhar engraçado, inclinando a cabeça, "Moony,
sua camisa está do avesso. Mansão Potter. "

E com um clarão de chama verde, ele se foi. Remus olhou para sua camisa. Os botões
estavam do lado de dentro. Droga. Bem, ele estava com muito sono e muito nervoso
para resolver isso agora, então pegou um punhado de pó de flu e foi até a lareira em
seguida.

Ele saiu para a sala de estar dos Potters, que atualmente parecia uma sala de espera de
uma estação de trem. Gully entrou correndo, com os braços carregados de cobertores,
e Mary, Peter, Sirius e Arthur Weasley estavam em pé, conversando.

"Remus!" Mary deu-lhe um abraço rápido. "Sua camisa está do avesso", disse ela,
alisando a mão sobre o peito.

"Alguma notícia?" Ele perguntou.

"James enviou um patrono para Marlene cerca de duas horas atrás, ela estava ficando
na minha casa para ficar mais perto de St. Mungus, então eu vim também. Eles estão
lá em cima desde então, perguntei se havia algo que eu pudesse fazer, mas você sabe
como Marls é quando tem um trabalho a fazer..."

"James está lá também?" Remus olhou para o teto nervosamente. Ele nunca diria isso,
mas tinha um horror absoluto de parto. Ele não tinha cem por cento de certeza do que
envolvia, além de muitos gritos e provavelmente sangue também.

"Você acha que eles precisam de alguma coisa?" Sirius perguntou, vagando em
direção às escadas.

291
"A Sra. McKinnon terá tudo sob controle," Arthur disse alegremente, "James não fará
nada mais útil do que segurar a mão de Lily, eu prometo a você. Sentem-se, rapazes,
infelizmente teremos uma longa espera."

Todos eles se sentaram silenciosamente. Havia uma atmosfera engraçada - ninguém,


exceto Arthur, havia experimentado esse tipo de preocupação antes, e Remus estava
muito feliz por ele estar ali. Mary se levantou e fechou as cortinas. Era o pico do
verão, e o sol já estava alto no céu, pássaros cantando e o leiteiro trouxa assobiando
enquanto fazia sua ronda.

"Chá, alguém?" Remus perguntou, sentindo a necessidade de fazer algo útil. Ele olhou
para Peter, que estava apoiado em seu cotovelo, a cabeça tombando, "Ou café,
talvez?"

"Perfeito, Moony," Sirius acenou com a cabeça, "Eu vou ajudar."

Na cozinha, eles descobriram que Gully já havia aprontado as coisas para o chá e
colocado um pouco de água para ferver na grande chaleira de cobre no fogão, então
Remus e Sirius só precisaram se preocupar com o café. Eles o fizeram
silenciosamente, embora Remus tenha chamado a atenção de Sirius uma ou duas
vezes e não pudesse deixar de sorrir com a empolgação infantil que viu nele.

Quando estavam prestes a levar as bandejas para a sala de estar, uma porta do andar
de cima se abriu e passos puderam ser ouvidos no patamar.

"Padfoot?!" A voz de James.

"Prongs?!" Siris correu para o corredor, inclinando-se sobre o corrimão da escada e


olhando para cima. Remus correu para se juntar a ele, e Peter não estava muito atrás.

James olhou para eles, rosto vermelho, olhos enevoados e radiantes.

"É um menino!"

292
Harry. Esse foi o nome que eles escolheram de acordo com Marlene, que desceu para
aceitar com gratidão uma xícara de chá e afundou lentamente no sofá. Ela tinha
olheiras, mas sorria para todos mesmo assim.

"Nasceu rápido como um relâmpago", ela murmurou, tomando um gole da bebida


com leite lentamente, "Vinte minutos de trabalho de parto ativo!"

"Talvez ele vá ser um artilheiro, como James!" Peter disse ansioso.

"Lily está bem?" Mary perguntou.

Marlene acenou com a cabeça, "Claro que ela está. Nada segura Evans. "

"Eu vou embora, então," Arthur disse, levantando-se e fechando sua capa puída, "Já
estive longe de Molly e dos meninos por muito tempo, vou deixar Dumbledore saber
das boas notícias, é claro."

Todos eles se despediram. Depois que ele saiu, Sirius foi para as escadas novamente
para olhar para cima.

"Sirius, amor," Marlene chamou bruscamente, "Dê a eles um pouco de tempo a sós,
hein? Tempo para a família."

"Ah, ok." O moreno assentiu, voltando para a sala e encostando-se no batente da


porta. Ele olhou para o nada por um tempo, e pela primeira vez Remus não conseguiu
adivinhar o que ele estava pensando. Sirius balançou a cabeça lentamente e sussurrou,
"Harry Potter".

"É um nome bonito, eu acho." Mary comentou alegremente. Ela olhou para Marlene e
abafou uma risadinha, "Melhor do que Neville, hein?"

Marlene também riu, culpada, "Ah, não, eu mal consegui manter uma cara séria
quando Frank me contou."

Remus se levantou e foi ficar com Sirius. Ele entrelaçou seus dedos aos dele.

293
"Você é um padrinho," ele sussurrou. Sirius virou a cabeça para Remus, sorrindo.

"Sim," ele acenou com a cabeça, "... caramba, eu realmente espero não arruinar tudo."

294
Capítulo 169: A guerra: Outono & Inverno
1980

You done too much, much too young

You're married with a kid when you could be having fun with me

You done too much, much too young

Now you're married with a son when you should be having fun with me

Don't wanna be rich, don't wanna be famous

Ain't he cute? No he ain't.

He's just another burden on the welfare state.

Too Much Too Young, The Specials

Quarta-feira, 3 de setembro de 1980

Whooosh - splash.

Remus caiu de pé - quase - bem em uma poça lamacenta no meio da rua.

"Droga." Ele murmurou, puxando sua capa para fora do caminho, suas botas não
poderiam mais ser salvas, as meias já estavam encharcadas. Não havia percebido que
os buracos nela estavam tão ruins, definitivamente era hora de um novo par, precisava
checar suas economias.

Parecia que ia chover mais tarde também. Perfeito.

Remus estava de muito mau humor, e pés molhados eram o que menos importava.
Ainda assim, ele estava em Hogsmeade por um motivo, e sabia que só teria que ficar

295
quieto e seguir em frente. Gostaria de não estar sozinho, mas mesmo se alguém
estivesse disponível para ir com ele (James estava com o bebê, Lily e Sirius estavam
em Broadstairs em uma missão de reconhecimento, Marlene, Peter e Mary estavam
todos trabalhando), ele foi avisado para ir sozinho. Como sempre.

Ele caminhou em direção ao Três Vassouras, pensando que pelo menos haveria uma
boa e quente lareira e talvez um gole de uísque esperando por ele. Precisava disso.
Sempre que era convocado para encontrar alguém sozinho, geralmente era assunto de
lobisomem, e isso sempre exigia uma bebida forte. Ele esperava que fossem notícias
de Greyback em vez de Castor.

A chuva começou a cair quando ele avistou o pub, então correu um pouco para
proteger o resto de suas roupas da umidade. Era uma tarde tranquila na pequena vila
escocesa - os alunos de Hogwarts estariam em suas aulas, os bruxos que moravam na
cidade estariam em suas ocupações. E pouquíssimas pessoas saíam de casa hoje em
dia se não fosse necessário.

O pub estava agradável e vazio. Remus sentiu uma pontada de nostalgia ao entrar,
lembrando-se de como há apenas dois anos ele e seus amigos haviam se sentado em
uma das mesas, com olhos brilhantes e ingênuos, ansiosos pelo futuro. Quem poderia
imaginar que salvar o mundo seria um trabalho árduo e monótono?

"Remus Lupin, quem é vivo sempre aparece!" Rosmerta gorjeou do bar, uma mão em
seu quadril redondo, seios transbordando como sempre. Ela olhou esperançosa por
cima do ombro, "Black não vai se juntar a você?"

Remus balançou a cabeça e foi se sentar perto da lareira para, pelo menos, tentar secar
os sapatos.

"Hoje não, Rosmerta", disse ele, tentando aparentar bom humor, "Posso pedir um
copo de..."

296
"Dois copos -- de cerveja amanteigada, por favor," uma voz familiar entoou. Remus se
virou, encontrando-se cara a cara com Dumbledore.

"Oh, o-olá, professor." Remus falou envergonhado.

"Remus," Dumbledore acenou com a cabeça educadamente. Ele nunca o chamou de


'Sr. Lupin', não desde que Remus havia pedido que não o fizesse anos atrás. "Por
favor, sente-se", ele gesticulou grandiosamente, como um vigário prestes a dar um
sermão.

Remus se sentou. Dumbledore sempre o fazia se sentir como se tivesse onze anos.

"Como você tem estado?" Seu antigo diretor perguntou gentilmente, acomodando-se
graciosamente na poltrona em frente. Ele colocou uma maleta de couro de aparência
pesada no tapete entre eles. Remus olhou com cautela, mas respondeu,

"Bem, obrigado. Você sabe."

"Esses são tempos difíceis" Dumbledore disse, Remus não respondeu a isso, porque
ele não tinha certeza se deveria.

Rosmerta se apressou com as cervejas amanteigadas, colocando-as na mesinha lateral


redonda. Quando ela saiu, Remus ergueu sua caneca e bebeu, apenas para se distrair.
Ele poderia fingir que era álcool, talvez isso ajudasse a estabilizá-lo. Queria
desesperadamente um cigarro, mas por algum motivo isso parecia errado na frente de
Dumbledore, então apenas deu um gole na cerveja amanteigada, sentindo a mistura
enjoativa de xarope repousar em sua língua e deslizar para dentro por sua garganta.

"Você deve estar se perguntando por que eu chamei você aqui", disse Dumbledore,
observando-o.

"É ... é ... Greyback?" Remus sussurrou. Dumbledore sorriu,

297
"Você não precisa se preocupar com bisbilhoteiros, Remus, estamos bem seguros para
falar livremente aqui. Não, infelizmente não houve mais notícias de Greyback ou da
jovem com quem ele está viajando. "

"Oh." Remus piscou. Bem, então o quê?

"Este é um assunto mais urgente ou, pelo menos, será, se eu estiver correto."

"Certo..." Remus se mexeu desconfortavelmente. Ele geralmente não era o agente de


referência quando se tratava de 'assuntos urgentes'. Dumbledore pareceu ler sua
mente.

"Preciso de alguém com um bom olho para os detalhes e muita paciência." Ele se
inclinou para frente e abriu uma fresta da maleta. Remus olhou para dentro.

"Livros!" Disse surpreso. Deveria haver uma centena deles dentro, algum tipo de
feitiço de extensão, talvez.

"De fato" Dumbledore sorriu, fechando-a novamente.

"Então... você precisa que eu faça alguma pesquisa?"

"Eu preciso, de fato. Diga-me, Remus, o quanto você sabe sobre profecias? "

"Er... bem, eu nunca fiz Adivinhação," ele coçou a cabeça. Estava intrigado agora.
"Mas obviamente isso surgiu um pouco em Runas... Eu li um pouco."

"Você vai precisar ler muito mais," Dumbledore respondeu gravemente, "E devo
reafirmar a você sobre a importância e sensibilidade desta tarefa. Tudo o que você
aprender deve ser mantido em total sigilo, entendeu? "

"Eu... é claro," Remus acenou com a cabeça, ligeiramente alarmado. "Mas o que você
quer que eu procure?"

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"Por enquanto, estamos simplesmente buscando uma compreensão mais completa da
natureza das profecias. Muitos desses livros contém transcrições secretas, algumas das
quais podem precisar de tradução, declarações proféticas e oraculares conhecidas. Eu
gostaria de saber se há alguma que pareça estar relacionada a Voldemort, ou a este
momento particular da história. "

"Então... você acha que alguém pode já ter feito uma profecia? Sobre como a guerra
termina? "

"Pode ser." O professor respondeu simplesmente. "Mas não podemos nos dar ao luxo
de tomar decisões precipitadas. Enquanto ainda há tempo, eu gostaria de saber o
máximo que pudermos. "

Dumbledore alternava entre 'eu' e 'nós' regularmente quando falava sobre a guerra,
Remus notou. Ainda assim, pensou que havia entendido muito bem.

"Ok." Ele disse: "Como posso entrar em contato se eu encontrar alguma coisa?"

"Eu irei até você." Dumbledore respondeu enigmaticamente. "Mais uma vez, Remus,
não posso exagerar a importância desta tarefa. Você não deve contar a ninguém,
entendeu? "

"Entendido."

Isso significava não contar a Sirius, ou James, ou qualquer um de seus amigos. Às


vezes Remus se perguntava se segredos eram simplesmente o seu destino na vida. Ele
pensou por um momento, "Professor?"

"Sim?"

"Devo ficar de olho nas profecias que foram evitadas - ou -" ele reformulou, porque
sabia que era impossível, "contornadas? Quer dizer, não sei muito sobre isso, mas
sempre há brechas, não é? "

299
Os olhos de Dumbledore brilharam e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.

"Muito bom, Remus."

***

Sexta-feira, 24 de outubro de 1980

E foi assim que Remus passou grande parte do outono. Ele estudou até outubro. Não
foi nada ruim, na verdade, havia gostado. Sempre gostou de pesquisa, e embora
sentisse falta das câmaras arejadas e pacíficas da biblioteca de Hogwarts, estava muito
contente escondido no pequeno apartamento em Londres, com infindáveis bules de
chá e um cinzeiro fumegante à mão.

Se Sirius entrasse, ele lançaria obfuscate sobre seus livros e anotações, e o moreno
parecia feliz com esse arranjo. Ele entendia o que precisava ser feito a serviço da
guerra.

De qualquer forma, eles mal paravam no apartamento - Remus só o usava para


trabalhar. Eles passavam muito mais tempo na mansão dos Potter, onde o antigo
quarto de James havia sido transformado em um berçário, mas o antigo quarto de
Sirius era o mesmo de sempre , apenas com metade das coisas de Remus lá dentro
também. Juntos, os Marotos e Lily haviam se tornado uma pequena família engraçada,
com o bebê Harry no centro.

Demorou mais ou menos um mês para Remus superar seu medo de bebês, apesar de
ainda ficar um pouco ansioso para realmente segurar Harry, mas Sirius tinha sido uma
grande ajuda.

Sirius estava totalmente apaixonado por seu afilhado. A criança quase nunca saía de
seus braços quando eles estavam visitando (um alívio para Lily e James, que estavam
no limite da pressão da paternidade combinada com seus deveres para a Ordem).

300
"Diga Padfoot, Harry, vá em frente! Pah-d-foo-t ... "Sirius tentou em uma noite,
enquanto balançava a pequenina criatura de olhos verdes em seu colo.

"Eles não falam até que tenham pelo menos um ano," Remus sorriu, sentando-se
cautelosamente no braço do sofá, "Eu pesquisei."

"Crianças normais não," Sirius jogou o cabelo para trás, gentilmente segurando os
pulsos gordinhos de Harry, "Mas Harry Potter não é um bebê comum, ele é
claramente muito avançado para sua idade. Vamos, Harry, diga Pad-foot..."

"Não fique muito esperançoso," Lily riu, "a mãe de James me disse que ele não falou
até dezoito meses."

"Ei", gritou James do escritório do pai, "fui uma criança extremamente pensativa, só
isso."

"Ah sim, o que mudou?" Sirius gritou de volta, sorrindo.

"Você está monopolizando ele, Padfoot!" Peter choramingou, estendendo os braços,


"Vamos, eu não dei um abraço ainda."

"Não é minha culpa que ele goste mais de mim," Sirius respondeu, mostrando a língua
para Peter, e depois para Harry, estufando as bochechas e arregalando os olhos para
que o bebê risse e babasse, extremamente contente.

"Eu te dou um abraço, Pete," Remus brincou.

"Lily, diga a ele!" Peter resmungou, cruzando os braços.

"Honestamente! Eu tenho um filho e isso é o bastante." Lily riu, levantando-se, "Sem


brigas enquanto mamãe e papai estão fora, ok meninos?" Ela deu a todos eles um
olhar muito severo.

"Você tem passado muito tempo com Molly." Sirius disse.

301
"Certo, estou pronto", James voltou para a sala com sua capa de viagem. Lily já estava
com a dela e lhe deu um sorriso estoico,

"Vamos então."

Um silêncio frio entrou na sala, e Remus olhou para o chão, porque ele não conseguia
olhar para nenhum de seus amigos, especialmente o bebê.

Lily quebrou,

"Ah, parem de ser tão melodramáticos, meninos. É uma missão padrão, já fizemos
centenas dessas. " Ela foi até Sirius e se inclinou para beijar a cabeça de Harry, que já
despontava uma mecha de cabelo preto fino. "Tchau, Harry, mamãe e papai te amam
muito. Nos vemos em breve. "

James não disse adeus, ele possuía uma expressão dura e muda que Remus estava
vendo mais e mais desde o funeral de seus pais.

"Tem certeza de que não pode nos dizer onde..." Pete começou.

"Desculpe, Wormy," James ergueu as mãos, "Ordens de Moody. Você sabe como é."

Peter acenou com a cabeça, os ombros caindo. Remus sabia como ele se sentia - era
difícil o suficiente saber que seus amigos estavam caminhando para o perigo, mas era
ainda mais difícil não saber exatamente o que eles enfrentariam, como se estivessem
desaparecendo fora de alcance.

"Vamos," Lily apressou o marido, puxando-o da sala, "Voltaremos antes do


amanhecer, espero!" Ela gritou do corredor. E então a porta bateu e Harry começou a
chorar.

"Oh merda," Sirius disse, acima dos gritos, "Er... pegue-o agora, se quiser, Pete?"

Levou horas para Harry finalmente acalmar. Ele gritava como se seu coração estivesse
partido, e não se acalmou até que fosse quase meia-noite.

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"Definitivamente não conseguiria fazer isso em tempo integral," Sirius disse, a cabeça
entre as mãos enquanto desabava no chão do berçário.

"Jesus, eu juro que o garoto estava possuído." Remus sussurrou, esfregando as


têmporas. Ele estava com uma dor de cabeça terrível.

"Merda, você deveria ir para a cama," Sirius respondeu olhando para ele. Seu cabelo
preto sedoso, geralmente imaculado, estava em nós e, definitivamente, ainda havia
algum vômito de leite preso nele. Sem um traço de ironia, ele franziu a testa para
Remus, "Você deve estar exausto,"

"Ah, estou bem," Remus deu de ombros - tentou não estremecer ao sentir cada tendão
em suas costas puxar. Ontem foi lua cheia. "Na verdade, eu não ia ficar... sabe, tenho
aquele trabalho a fazer."

"Ah, aquilo." Sirius acenou com a cabeça. Sua boca era uma linha reta. Ele ficou de
pé, olhando para o berço vermelho e dourado uma última vez. Harry estava dormindo,
graças a Deus. Os dois saíram silenciosamente do quarto, deixando apenas uma fresta
da porta aberta.

No patamar, onde as luzes ainda estavam acesas, Sirius parecia ainda pior - ele tinha
olheiras avermelhadas abaixo dos olhos. Remus tocou seu braço suavemente.

"Você devia ir para a cama."

Sirius agarrou seu braço de repente, os olhos arregalados.

"Moony, não vá."

"Eh? Eu só vou para o apartamento... "

"Por favor?" Sirius agarrou-se a ele, meio louco de cansaço, "Só tire a noite de folga,
fique aqui comigo?"

303
"Pete está aqui..." Remus virou a cabeça ligeiramente. Ele podia ouvir Peter roncando
no sofá lá embaixo. Não era algo muito reconfortante, ele supôs.

"Mas eu quero você," Sirius respondeu desesperadamente.

Isso atingiu Remus de uma forma incomum. Para qualquer outra pessoa, poderia ter
soado um choramingo infantil, já que Sirius era um homem adulto e Remus tinha um
trabalho importante a fazer. Porém, de alguma forma, isso desalojou um sentimento
que Remus não sentia por Sirius há muito tempo - o desejo de protegê-lo, de segurá-lo
perto e dizer-lhe que tudo ia ficar bem, e ser forte e confiável para o homem que ele
amava.

Espantado com a revelação, Remus fez exatamente isso, abraçou Sirius com força e
beijou seu cabelo imundo.

"Ok, então", ele sussurrou, "Eu vou ficar."

Afinal, ele pensou, enquanto Sirius se afastava para tomar um banho, alívio evidente
em sua postura; Sirius não faria o mesmo por ele?

***

Sexta-feira, 21 de novembro de 1980

Dessa vez, Lily e James voltaram, como sempre; cansados, um pouco mais duros, um
pouco menos brilhantes, mas por outro lado perfeitamente bem. Remus sempre sentia
um enorme alívio quando algum de seus amigos voltava são e salvo, e a cada vez
jurava para si mesmo que daria valor a isso. Mas o que isso significa quando se é
jovem?

Houve mortes, mortes na Ordem, mortes de pessoas que ele conhecia, mas ninguém
realmente próximo. Ninguém que ele realmente amasse. Gostava dos Prewetts, havia
conversado com Benjy Fenwick uma ou duas vezes, mas eles não eram próximos, e

304
suas perdas não o afetaram severamente. Comparado com os outros, Remus estava
sendo extremamente sortudo.

Claro, no momento, você nunca se sente com sorte. Muitas vezes, a sorte é algo que só
pode ser reconhecido em retrospecto.

Sirius fez vinte e um anos em novembro. Eles não deram uma festa, mas Hagrid fez
um bolo um tanto irregular - embora muito grande e muito delicioso - que todos
comeram no esconderijo da Ordem após a reunião. Alguém tirou algumas fotos, mas
Remus se esqueceu de tentar ir atrás delas.

"É um grande negócio para trouxas, fazer vinte e um anos." Ele comentou enquanto
deitavam na cama naquela noite. "É quando eles atingem a maioridade."

"Por que? Trouxas não conseguem fazer magia." Sirius franziu a testa, bocejando.

"Não, eu sei, é apenas uma coisa antiquada," Remus tentou explicar. "Você pega a
chave da porta da frente ou algo assim."

"Trouxas malucos." Sirius resmungou, seus olhos já estavam fechando. "Eu me sinto
velho."

"Bem, você não está," Remus se acomodou ao lado dele, "Eu é que estou ficando
grisalho. Vinte e um é jovem. Muito muito jovem. "

Sirius suspirou cansado.

"Não sinto isso."

Remus sabia exatamente o que ele queria dizer, mas não gostou. Eles estavam todos
presos em um lugar confuso entre a adolescência e a idade adulta - o bebê Harry só
havia exacerbado isso. Havia uma sensação de que o tempo estava se esgotando, de
precisar realizar o máximo o mais rápido possível. Peter estava engatinhando em seu

305
trabalho ministerial, sempre buscando uma posição melhor, James e Lily brincando de
casinha e soldados ao mesmo tempo e Remus e sua bebida estúpida.

Pelo menos ele tinha uma pesquisa a fazer. Isso parecia estar indo bem, de vez em
quando Dumbledore aparecia para ver como ele estava e Remus descarregaria o
máximo de informações que pudesse - com detalhes, porque ele sabia que
Dumbledore gostava de detalhes. O velho acenava com a cabeça sabiamente,
acariciava a barba e ficava sentado quieto, ruminando. Se ele chegava a alguma
conclusão, não dizia.

Se sentia bem, no entanto. Remus até sentiu-se afetuoso para com Dumbledore pela
primeira vez. Gostava de ser útil. E então, pouco antes da lua cheia de novembro,
Remus teve a chance de ser realmente útil.

Como sempre, havia uma mensagem de Moody. Ele aparataria para algumas
coordenadas muito específicas na sexta-feira, 21 de novembro, e encontraria Ferox lá.

"Diga não a ele," Sirius disse irritado, "Maldito Moody, ele sabe que é a noite antes da
lua cheia! Você não deveria estar fora fazendo as missões dele quando não está bem. "

"Jesus, você me faz parecer um inválido," Remus revirou os olhos. "Tenho certeza de
que há um bom motivo para isso. Vou ficar bem, não se preocupe. "

"Vai me enviar um patrono se alguma coisa acontecer?" Sirius perguntou,


solenemente. "Eu não me importo com o protocolo, apenas diga que você vai me
avisar?"

"Vai ficar tudo bem." Remus repetiu.

Ele realmente se sentia bem com tudo isso. Quando a lua estava nascendo, ele
frequentemente se sentia mais forte do que o normal e geralmente não tinha acessos de
náusea até algumas horas antes do pôr do sol.

306
Foi bom sair de Londres, longe do tráfego, do barulho e das multidões. Era bom ficar
longe da casa dos Potter, das fraldas, das conversas de bebê, do choro e do creme de
espinafre. No horário combinado, Remus aparatou seguindo as instruções que
recebera e se viu no topo de um penhasco com muito vento, em algum lugar muito
frio e desolado.

O mar estalava e se enfurecia quilômetros abaixo, e a grama alta chicoteava em torno


de seus tornozelos. Remus respirou fundo, inalando o sal, a terra, o cheiro forte e frio
das nuvens. O lobo dentro dele lambeu os lábios, as orelhas em pé. Sim. Greyback
esteve aqui.

"Olá!" Ferox estava bem longe, uma figura em forma de palito acenando para ele.
Remus ergueu a palma da mão em saudação, curvou-se contra o vento e caminhou
para encontrá-lo.

"Oi", disse sem fôlego ao se aproximar, as mãos frias enfiadas nos bolsos, o nariz
congelado. "Onde estamos?"

"Galloway", respondeu Ferox alegremente. Ele usava uma capa de couro grossa com
um capuz, mas seu rosto ainda estava vermelho por causa do clima severo e uma
névoa branca escapou de seus lábios enquanto falava. "Bonito, hein?"

Remus não tinha certeza se estava sendo sarcástico ou não, então apenas deu um
sorriso neutro. Em particular, ele pensava que sim, a paisagem era linda, embora
proibitiva.

"Greyback esteve aqui." Ele disse, querendo ir direto ao assunto.

"Você tem certeza?"

"Cem por cento." Remus acenou com a cabeça. Ferox acenou com a cabeça também.

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"Excelente, estávamos certos, então. Houve um relatório para a polícia trouxa sobre
um par de vagabundos, um homem e uma mulher, parecendo esquivos. Acha que eles
estiveram aqui, então? "

Remus considerou, respirando novamente.

"Sim, mas o cheiro é antigo... talvez um dia ou mais."

"Certo. Vamos dar um passeio, então? Vê se fica um pouco mais forte? "

"Ok..." Remus não tinha certeza de como se sentia, sendo o cão de caça da Ordem.
Porém, ele queria encontrar Greyback tanto quanto qualquer pessoa, então fez o que
lhe foi dito.

Eles caminharam, subindo e descendo o topo do penhasco por um tempo, até que
Remus pudesse ter certeza de qual caminho a trilha levava. Enquanto desciam a colina
para longe do mar e descendo em direção a uma pequena estrada rural, ele ficou
confiante de que Livia e Greyback tinham estado lá muito recentemente e começou a
andar mais rápido. Ferox não teve problemas em acompanhar, é claro, ele estava tão
em forma e saudável como nunca.

"O que faremos se o encontrarmos?" Remus perguntou enquanto eles caminhavam.


Ele teve o cuidado de não envolver Livia nisso, porque - ok, embora ela fosse
definitivamente uma assassina, ele não podia deixar de sentir um pouco mais de
simpatia por ela. Afinal, ela era sua irmã, de uma forma meio distorcida.

"Moody acha que eles estão escondidos em algum lugar para a lua cheia", Ferox
respondeu, "Com base na minha pesquisa, os lobisomens são mais fracos logo após a
lua, então vamos esperar até lá."

"Sua pesquisa?" Remus deu a ele um olhar engraçado.

"Poucos livros que peguei, não há muito para ler, além de conteúdo nível NIEM."

308
"Você falou com a Madame Pomfrey? Ela cuidou de mim por sete anos, ela sabe
muito, "disse Remus, tentando não soar muito impaciente. "Ou Marlene McKinnon?
Ela está construindo seus próprios estudos de caso para ver se algum avanço pode ser
feito no tratamento de licantropia. Ou, você sabe. Você poderia me perguntar. Eu
posso saber um pouco. "

Ferox riu bem humorado.

"Tudo bem rapaz, tudo bem, eu entendo o que você está dizendo. Só que nem sempre
há tempo para seguir inúmeras pistas sobre um idiota como Greyback. Tenho que me
mover rápido. "

Remus não disse nada, porque teria saído errado. Ele realmente odiava criticar Ferox,
era tão estranho e constrangedor. Ele o considerou uma visão ideal da masculinidade,
um dia, e ele não gostaria de mudar muito com essa ilusão. Porém, honestamente, do
jeito que ele falava, você pensaria que Greyback era apenas um criminoso mesquinho,
não uma criatura assassina e um líder carismático de um culto.

O cheiro tinha ficado muito forte agora, e quando eles chegaram ao topo da próxima
colina, Remus pôde ver uma grande estrutura cinza-escura à distância. As ruínas de
um antigo castelo - a Escócia estava repleta delas, é claro. Esta era uma casa-torre e
parecia uma grande prisão quadrada agachada ameaçadoramente sobre os restos de
um fosso pantanoso.

"Lá." Remus disse, parando bruscamente. "É onde ele estará."

Ferox deu um tapinha em seu ombro.

"Bom trabalho, rapaz."

***

Sábado, 22 de novembro

309
Ferox não queria Remus presente para o confronto com Greyback. Remus não deu a
mínima. Ele sabia para onde ir e quando, e nada mudaria sua mente.

"Eu também vou, então." Sirius disse com firmeza, depois de arrancar informações
suficientes de Remus.

"Não, você não vai, porra." Disse Remus.

"Vou sim. Desculpe, Moony, mas de jeito nenhum vou te perder para aquele monstro
pela segunda vez. "

"Você não me perdeu da última vez, sua grande rainha do drama, foi uma missão,"
Remus rebateu, "De qualquer forma, não posso colocá-lo nesse tipo de perigo."

"Estou em perigo todos os dias," Sirius deu de ombros, "Se for logo depois da lua
cheia, você vai precisar da minha ajuda para aparatar."

"Eu já fiz isso antes," Remus dispensou, "É difícil, mas vou dar um jeito. De qualquer
forma, esta não é uma missão normal, você não seria apenas backup, você seria uma
fraqueza minha. Ele sabe quem você é. Ele sabe o que você significa para mim. "

"Ele forçou você a contar?!"

"Quase isso. Eu disse que eles podem ler mentes. "

"Aquele bastardo. Definitivamente vou com você. "

Remus havia esquecido os sentimentos fortes que Sirius possuía sobre a legilimência.
Walburga usara como punição e ele associaria leitura mental com magia negra para
sempre. Remus não mencionou o fato de que isso parecia ser uma característica de
lobisomem e que, quando pressionado, ele também poderia fazer. Provavelmente não
era uma boa ideia mencionar isso ainda, decidiu.

Então Sirius conseguiu o que queria, é claro, e Remus só esperava que ele fosse capaz
de protegê-lo.

310
Eles foram para Lake District para a lua cheia, um lugar que os Marotos já haviam se
divertido antes, um lugar com lembranças felizes. James e Peter não foram. James não
se juntou a eles na lua cheia desde que Harry nasceu, e Remus entendia que ele não
queria ficar longe de sua família com muita frequência. Peter disse algo vago sobre
trabalhar até tarde e, honestamente, Remus estava muito ocupado se preocupando com
a próxima batalha com Greyback para questionar.

O lobo provavelmente se divertiu naquela noite, mas Remus não se lembrava muito
dessa parte. Tudo se perdeu na névoa vermelho-sangue da transformação, o
sufocamento, as garras e os gemidos enquanto voltava à sua forma humana.

"Urrrgh!"

"Estou aqui, Moony," Sirius o segurou pelos ombros, puxando uma capa sobre seu
corpo. Remus forçou os olhos a abrirem, sabendo que o tempo era curto.

"Varinha," murmurou, levantando-se. Sirius entregou a ele. "Temos que ir agora,"


disse Remus, apoiando-se em Sirius enquanto colocava suas roupas, as mãos
tremendo e desajeitadas com os botões de sua camisa e calça.

"Estamos indo, apenas respire," Sirius disse, sua voz calma e firme. "Segure-se em
mim, eu vou nos aparatar..."

Sirius cumpriu sua palavra, ele não tentou dissuadir Remus de ir, ou tentou dizer a ele
o que fazer, simplesmente os levou onde precisavam estar.

Ferox já estava lá.

"Tudo bem, rapazes", ele balançou a cabeça, mantendo a voz baixa. Ainda estava
bastante escuro sob o céu cinza de Galloway, e as pastagens estavam envoltas em
faixas de névoa transparente, as ruínas do castelo erguendo-se pretas e agourentas.
Estava quieto, sem canto de pássaros, nenhum ruído. Como um lugar fora do tempo.

311
"Você viu alguma coisa?" Remus perguntou, desesperado. Ele podia senti-los, o
cheiro era muito forte.

"Ouvi um pouco de barulho, deve ter sido eles se transformando. " Ferox respondeu.
Ele olhou para Remus, "Você está bem, criança? Parece um pouco verde."

"Tudo bem," Remus engoliu em seco, "Tudo bem. Devemos ir agora. "

"Você está certo. Varinhas em mão." Ferox se endireitou e começou a avançar. "Pena
que não conseguimos pegá-los quando lobos, hein?" Ele disse, com um sorriso
malicioso. "Essas peles valem muito no mercado negro."

Remus se sentiu enjoado, o suor em suas costas esfriou. Sirius pegou sua mão no
escuro e apertou, então balançou a cabeça e respondeu bruscamente.

"Não diga merdas assim, é nojento."

Ferox o olhou chocado, depois para Remus, então franziu a testa.

"Desculpe, rapaz, não quis dizer nada com isso."

Eles não disseram outra palavra enquanto se aproximavam do castelo. Sirius e Ferox
estavam tentando ser silenciosos, mas Remus sabia que eles pareciam uma manada de
elefantes se aproximando de Livia e Greyback, cujos sentidos eram tão aguçados
quanto os dele, mesmo depois da lua cheia. Ainda assim, eles podem estar mais lentos,
mais fracos.

Quando estavam contra a parede do castelo, Remus sentiu. Greyback estava


esperando. O cheiro mudou, e sua cabeça foi preenchida com aquela terrível voz
rosnando.

Olá, filhote... trouxe o café da manhã, não foi?

"Ele sabe que estamos aqui." Remus sussurrou freneticamente, "Tenham cuidado!"

312
Ferox tocou a testa em uma espécie de saudação, para mostrar que entendia. Então ele
dobrou a esquina e entrou, Remus correndo atrás, e Sirius também. Ferox estava com
a varinha erguida e, ao passar por baixo da arcada quebrada das sombras da ruína,
abriu a boca. Ele havia planejado usar o feitiço de corrente de prata para amarrar os
lobisomens e contê-los por tempo suficiente para os Aurores chegarem, mas era tarde
demais.

Remus estava apenas uma fração de segundo atrás de Ferox e viu a pedra cair. Ele
enrijeceu, então desabou no chão, sangue escorrendo de um corte no topo de sua
cabeça.

"Não!" Remus gritou, acima da risada de Greyback quando a besta em forma de


homem sobrepôs a luz do amanhecer, seu rosto cheio de alegria. Livia saltou em
seguida e se lançou contra Sirius, agarrando sua varinha e jogando-o no chão.

"Oooooh, quem é este então, irmão? Lindo, lindo menino... "ela gritou, sentando-se
montada nele, segurando os dois pulsos de Sirius sobre sua cabeça enquanto ele se
esforçava para se soltar. Ela parecia mais magra, mas estava obviamente tão forte
como sempre.

"Deixe ele ir!" Remus rosnou, erguendo sua varinha furioso. Então ele gritou de
agonia. Greyback agarrou o braço da varinha e torceu com tanta força que sentiu o
osso estalar.

"Remus!" Sirius gritou.

Remus estava quase cego de dor e Greyback riu de novo, soltando-o.

"Bem-vindo de volta, filhote," ele ronronou. "Como senti sua falta..."

"Vai se foder." Remus gemeu, olhando ao redor em busca de sua varinha, que ele
havia deixado cair em algum lugar.

313
"Agora," Greyback riu, enquanto Remus se endireitava para encará-lo, segurando o
braço quebrado contra o peito. "Você deveria estar de joelhos depois do que fez
comigo."

"Mate-o, pai!" Livia gargalhou, "Mate o traidor Remus Lupin, assim como ele matou
meu irmão Gaius! Então eu posso ficar com o bonito! "

Greyback sorriu carinhosamente para ela.

"Ela está cheia de ideias brilhantes, minha linda garota."

Remus aproveitou a oportunidade para olhar por cima do ombro de Greyback - Ferox
estava se movendo. Muito devagar; ele estava obviamente ferido, mas Remus viu seu
punho apertar sua varinha.

"Vá em frente então!" Remus disse a Greyback, cerrando os dentes por causa da dor,
"Mate-me. E depois?"

"Depois o que?!" Greyback zombou. "Então eu rasgo seu pequeno animal de


estimação humano, é isso o que acontece. Então eu o rasgo, membro por membro, mas
não sem me divertir com ele antes... "

"Você é nojento!" Remus atirou de volta, ganhando tempo quando os olhos de Ferox
se abriram. Poderia muito bem dizer a Greyback o que pensava dele, enquanto tinha a
chance, "Você é um lixo! Você não é nada! Você fala sobre liberdade, mas não tem a
menor ideia do que seja! Você não passa de um valentão! Cachorro de colo de
Voldemort! "

"Mate ele!" Livia gritou.

O rosto de Greyback se tornou demoníaco com a raiva, olhos amarelos brilhando, e


Remus realmente pensou que seria o fim. Ele cerrou os olhos e se preparou.

"O que?! Argh! " Livia gritou novamente e Remus ouviu um cachorro latir.

314
Ele abriu os olhos para ver Livia sendo jogada para trás por Padfoot, que estava
rosnando - Remus nunca o vira rosnar antes - os dentes arreganhados, espumando pela
boca.

"Pai!" Livia gritou. "Me ajude ---"

E com um flash de luz roxa, Livia ficou em silêncio. Seus olhos se arregalaram, um
grande corte preto em sua garganta. Ela agarrou o pescoço para conter o sangue
jorrando, mas não adiantou, era tarde demais.

Greyback deu um grande rugido de angústia, mas Ferox já estava de pé, varinha
erguida, pronto para lançar a mesma maldição novamente. Greyback foi encurralado.

"Você é um homem morto." Ele sibilou para Ferox, e então, com um grunhido final,
ele aparatou.

"Droga!" Ferox grunhiu, cambaleando para frente, ainda forte o suficiente ara xingar.

Sirius era Sirius novamente, e ficou ao lado de Livia, olhando para ela. Remus
também se aproximou, sentindo uma mistura desconfortável de alívio e tristeza
genuína. Sua capa de pele cinza estava manchada de sangue, que parecia um roxo
profundo na luz fraca. Era terrível, mas sua primeira preocupação foi com Sirius.

"Ok?" Ele perguntou baixinho.

Sirius acenou com a cabeça, ainda olhando para baixo. "Você?"

"Acho que sim." Seu braço latejava, enviando uma dor aguda para o ombro, mas ele
sabia que isso poderia ser consertado. Lívia não poderia ser consertada. Ferox se
juntou a eles, uma mão pressionada na cabeça onde a pedra o havia atingido.

"Merlin, que bagunça." Ele murmurou. "Pelo menos pegamos a cadela."

"O nome dela é Livia." Remus disse com raiva.

315
De repente, ele viu a cena como um transeunte. Três homens de pé sobre seu pequeno
corpo.

Ela poderia ter rasgado cada uma de suas gargantas na noite anterior sem parar para
respirar. Ela era uma força da natureza, uma rainha da Noite, ela era uma das pessoas
mais fortes que ele já havia conhecido. Ela era uma das únicas pessoas no mundo que
realmente entendia o que significava ser um lobo.

Seus olhos ainda estavam abertos, olhando cegamente para o amplo céu cinza. Remus
se ajoelhou ao lado dela e os fechou suavemente.

316
Capítulo 170: A Guerra: Inverno de 1980 e
Primavera de 1981

Well I love you baby,

I'm telling you right here.

But please don't make me decide baby

Between you and a bottle of beer!

Baby come on over;

Come on over to my side.

Well I may not live past twenty-one

But WOO!

What a way to die!

What a Way to Die, The Pleasure Seekers.

Sirius fez Remus ir direto para a cama após o episódio em Galloway. Ferox chamou
Moody para a cena e os liberou. Remus queria perguntar sobre o corpo de Lívia - eles
estavam planejando enterrá-la pelo menos? Ele não sabia se Lívia possuía algum
desejo em relação ao seu lugar de descanso final, mas assumiu que ela preferiria estar
em algum lugar na natureza, em algum lugar onde o luar poderia alcançá-la.

Marlene apareceu no apartamento a caminho do trabalho para consertar seu braço


quebrado.

"Obrigado, Marls", ele sorriu fracamente, "Eu posso consertar deslocamentos sem
problema, mas ossos quebrados..."

317
"Você realmente não deveria fazer feitiços em si mesmo, Remus," ela repreendeu,
"Você sabe que sempre pode entrar em contato comigo, se precisar."

"Eu sei."

Ela deixou um sonífero e um pouco mais de sua própria pomada para o alívio da dor e
ordenou que ele ficasse na cama e não fizesse nada de útil ou importante por pelo
menos 48 horas.

Foi apenas no dia seguinte, quando Remus acordou depois das duas da tarde, que foi
subitamente tomado de terror ao lembrar das últimas palavras de Greyback.

"Ele vai matar Ferox!" Gritou, sentando-se na cama.

Sirius veio da sala de estar, os olhos arregalados de preocupação.

"O que?"

"Precisamos encontrar Greyback!" Remus disse enquanto saía da cama, seus membros
rangendo, "Ele disse que mataria Ferox!"

"Moony, está tudo resolvido," Sirius respondeu, colocando as mãos frias nos ombros
de Remus, alisando seus braços em um gesto reconfortante, "Ferox vai se mudar para
um esconderijo, ele irá aumentar sua segurança e ser extremamente vigilante, não se
preocupe. "

"Não será o suficiente," Remus balançou a cabeça, afastando as tentativas de Sirius de


acalmá-lo, "Moody e Ferox, eles não tratam Greyback como uma real ameaça, veja o
que aconteceu! Ele é mais perigoso do que pensam, e agora está com raiva... "

"Tenho certeza de que Moody sabe, mesmo que Ferox seja um pouco arrogante sobre
isso." Sirius disse. Ele estava sendo tão diplomático, tão razoável, era enfurecedor.
"Como você está se sentindo? Vou colocar a chaleira no fogo, por que você não toma
banho? Você se sentirá melhor..."

318
Remus tomou banho, porque seus músculos ainda doíam. Depois, ele passou um
pouco da pomada, o que pelo menos significava que poderia se manter de pé
completamente. Ele se recusou a descansar. Tudo o que queria fazer era entrar em
contato com Ferox para certificar-se de que ele estava com toda segurança necessária.
Afinal, não era Remus quem fazia todo o trabalho pesado com feitiços de proteção?
Era parte de seus afazeres, com certeza.

No final, Sirius cedeu e convocou Moody através da lareira. A cabeça grisalha do


auror pairou nas chamas como um ovo de páscoa horrível.

"Tudo sob controle, Lupin," ele gritou, "Você pode ficar tranquilo."

"Mas Moody," Remus implorou, de joelhos em frente à lareira, "Greyback vai


encontrá-lo, eu sei que vai, ele será capaz de seguir o cheiro - se você me disser onde
ele está, então eu posso--"

"Informação sigilosa." Moody explodiu. "Todas as precauções foram tomadas. Você


pode confiar que o escritório dos aurores pode lidar com um lobisomem solitário."

A paciência de Remus se esgotou e ele estava prestes a responder, mas Moody


começou a se despedir. "Não há tempo para isso, Lupin, foi uma semana ocupada.
Descanse um pouco."

Remus gemeu furiosamente, batendo o punho no tapete.

"Viu?" Sirius disse, em pé atrás dele, "Moody já resolveu tudo."

"Mas eu preciso ter certeza," Remus respondeu enquanto se levantava, "Eles não
entendem, não realmente, não como..."

"Não é como você?"

"Exatamente!"

319
"Remus," a voz de Sirius endureceu de repente. "Você precisa ter cuidado com esse
tipo de conversa. Eu acho... eu acho que você deveria colocar um basta nas coisas de
lobisomem, por um tempo. "

"O que?" Remus se virou para olhá-lo, pego de surpresa. " 'Coisa de lobisomem'!? O
que isso deveria significar? Eu sou um lobisomem. "

"Eu sei," Sirius mordeu o lábio, "Mas você é um bruxo também, e está do nosso lado.
Pode ser uma boa ideia se concentrar em outra coisa, você não quer que ninguém na
ordem fique pensando... "

Remus olhou boquiaberto para Sirius como se ele fosse um completo estranho.

"Fiquem pensando..?"

"Não estou tentando te aborrecer," Sirius respondeu, escolhendo as palavras com


cuidado, "Só estou te avisando, as coisas já estão ruins o suficiente, ninguém confia
em ninguém. Frank me disse que Dumbledore acha que há um espião na Ordem, e se
você continuar falando sobre como você é íntimo de criaturas das trevas, então... "

"Eu não sou 'íntimo' de criaturas das trevas!" Remus gritou. "Como você pode... a
menos que você esteja dizendo que eu sou uma criatura das trevas também?!"

"Claro que não!" Sirius respondeu, claramente ofendido, "É só que... você sabe quanto
preconceito existe, e não vai fazer nenhum favor a você divulgar essa ligação estranha
que você tem com eles. Eu vi Livia, eu vi Greyback, você não é nada como eles. Não
deixe as pessoas pensarem que você é."

"Alguém disse alguma coisa?" Remus perguntou, imaginando de onde isso estava
vindo, "Foi Danny, ou-"

"Não, não é... é ... bem, depois que você passou todo esse tempo com eles, as pessoas
levantaram questões, só isso. Você consegue entender isso, não?"

320
"Não, eu não consigo! Eu só estava com o bando porque Dumbledore ordenou! Assim
como eu sempre fiz tudo o que Dumbledore me mandou fazer!"

"Eu sei disso..." Sirius desviou o olhar como se estivesse envergonhado.

Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. Remus conhecia aquele gesto.
Sirius estava nervoso. Ele apertou a mandíbula.

"Você confia em mim?" Perguntou, sabendo que sua linguagem corporal era agressiva,
mas não estava disposto a moderá-la.

Sirius o olhou com seus olhos azuis cheios de alarme.

"Claro que eu confio! É só que..." Seus olhos caíram de novo, outro movimento de
cabelo, " Você sempre foi bom em guardar segredos, Moony..."

O queixo de Remus caiu. Ele cerrou os punhos e depois os abriu.

"Tudo bem." Respondeu friamente. "Se é assim que você se sente."

Ele se virou e saiu do apartamento. Sirius não tentou impedi-lo.

Remus foi primeiro à loja da esquina mais próxima e comprou uma garrafa de gim
extremamente barata. Então o problema era onde beber. Ele não queria parecer um
alcoólatra, bebendo álcool na rua em plena luz do dia, mas realmente não tinha
nenhum outro lugar para ir.

Ele considerou procurar Grant, mas não sabia se ele estaria trabalhando naquele dia.
Grant havia se mudado de volta para Londres no início da primavera, depois de ter
perdido o último trem de volta a Brighton vezes demais. Ele estava morando em uma
quitinete em algum lugar ao norte - mas, com base nas conversas telefônicas que
tiveram, raramente dormia lá. Grant tinha uma série de amantes, e se não estivesse
assistindo uma aula, ele geralmente poderia ser encontrado pulando de cama em cama
- ou no trabalho, no pub Sawyer Arms.

321
"Variedade é o tempero da vida," ele provocou Remus, "E eu sou uma merda quando
estou sozinho. Não consigo ficar quieto. "

Remus sabia como era isso. Muitas vezes esse era o motivo pelo qual ele bebia. No
final, decidiu que estava irritado demais para ficar perto de outras pessoas e foi se
esconder no parque como um velho vagabundo de verdade. Ele deveria ir para a casa
de Grant, pensou, uma vez que estivesse devidamente bêbado; isso serviria bem a
Sirius.

Remus estava em luto por Lívia também; e fez um brinde silencioso. Ela tinha sido
cruel, sim, era uma assassina. Mas nada disso tinha sido culpa dela realmente, não se
você retrocedesse o suficiente. Ela foi levada por Greyback antes de ter idade
suficiente para falar, quando ela tinha a idade de Harry, talvez. Lívia não teve escolha
se não se tornar uma assassina, assim como Remus não tinha escolha quanto à bebida.

Ele foi para casa eventualmente, quando ficou muito frio. Não tinha pensado em trazer
um casaco quando saiu furioso. Sirius estava sentado no sofá, esperando por ele, as
mãos torcendo ansiosamente em seu colo. Quando Remus entrou, Sirius deu uma
olhada nele e - sem dúvida sentindo o cheiro de gim - balançou a cabeça desapontado
e se levantou para fazer um bule de chá forte.

Eles não conversaram muito e nunca mais falaram sobre 'coisas de lobisomem' de
novo.

***

Remus não celebrou o Natal de 1980.

Na verdade, ele não viu nenhum de seus amigos, ou Sirius, desde a lua cheia, que caiu
em 21 de dezembro, até janeiro. Ele o passou escondido no porão de Moody, com
Danny McKinnon.

Ferox estava morto.

322
Não apenas morto, destruído, eviscerado. Rasgado em pedaços. De acordo com O
Profeta Diário, todas as paredes da casa de Ferox estavam salpicadas de sangue.
Moody disse que o tapete estava tão encharcado que ressoou sob seus pés - os Aurores
que haviam entrado em cena.

Greyback cumpriu sua promessa, assim como Remus tentou avisá-los. Mas ele não
conseguiu se forçar a dizer 'eu avisei'. Ele estava com muita raiva. E ficou com mais
raiva ainda quando Moody lhe disse que precisava se esconder do Ministério.

O assassinato de Ferox estimulou o público bruxo a exigir uma repressão aos


lobisomens. Haviam muitos nomes não registrados; as leis precisavam ser mais
severas; o registro deveria ser publicado. Não era mais seguro - dois dias após a morte
de Ferox chegar às manchetes, uma lobisomem conhecida, Theodora Lupa, foi atacada
em sua casa. Ela estava totalmente registrada e passava as luas cheias trancada nas
celas do Ministério, mas sua inocência não significava nada para o povo em busca de
vingança.

Além do mais, os Comensais da Morte pareciam estar usando a desculpa para incitar
mais preconceitos contra criaturas mágicas - ficou claro que o próprio Voldemort
estava oferecendo uma recompensa por informações sobre a localização de quaisquer
'mestiços'.

Então Remus foi forçado a se esconder.

"Vou perder o primeiro Natal de Harry." Ele disse estupidamente enquanto fazia a
mala.

"James e Lily vão entender." Sirius respondeu. Ele estava observando Remus da cama,
pálido de terror. "Todos nós só queremos você seguro."

"Eu sei." Remus acenou com a cabeça. Não havia mais nada a dizer.

323
Eles deram um beijo casto de despedida. As coisas não eram as mesmas desde que
Livia morreu, e a notícia da morte infernal de Ferox deixou Remus completamente
entorpecido.

Moody não era um bom anfitrião. Ele vendou Remus e avisou que iriam aparatar,
então não tinha ideia de onde estava. Não viu nada da casa - se ao menos era uma casa
- mas todo o lugar cheirava a magia negra, tão pesada e espessa que Remus achou que
fosse sufocar.

No porão, sua venda foi removida e era uma visão lamentável. Danny estava sentado
em uma cama dobrável e havia outra encostada na parede oposta. Não havia janelas e
as paredes eram puramente de tijolos. Moody havia colocado de lado algumas
provisões - ele explicou que haviam tantos feitiços de proteção e camuflagem na porta
do porão que levava horas para entrar ou sair, então era melhor eles apenas ficarem
esperando até que ele dissesse que tudo estava seguro.

Remus concordou, apenas porque sabia que poderia quebrar os encantos se quisesse.

Havia um pequeno banheiro nos fundos com uma pia e sem chuveiro, então eles
teriam que fazer o melhor com uma flanela e uma barra de sabão. A comida era seca e
não precisava de muito preparo e, além disso, não havia mais nada. Remus estava feliz
por ter sido precavido a ponto de trazer alguns livros. Sem mencionar a garrafa de
firewhisky, apenas caso fosse necessário.

"Oi." Danny disse estupidamente.

"Olá." Remus acenou com a cabeça, enquanto Moody trancava a porta no topo da
escada.

"Isso é uma merda, não é?"

"É." Remus se aproximou e colocou sua mala ao lado da cama, então sentou-se nela,
que cedeu fortemente e rangeu. Um leve cheiro de mofo subiu dela, o que o fez se
lembrar da Casa dos Gritos.

324
"Nunca passei um Natal longe da minha família." Danny disse. "Mesmo quando eu
estava em turnê."

Remus acenou com a cabeça, taciturno. Ele não tinha passado um Natal sem Sirius em
quase dez anos.

"Não pude acreditar quando ouvi sobre Leo Ferox. Ele era tão... sei lá, realmente
pensei que ele fosse sobreviver à guerra. Você er... o conhecia bem?"

"Ele foi meu professor de Trato das Criaturas Mágicas," Remus ofereceu. Ele não
tinha certeza se a ficha já tinha caído. Realmente não estava sentindo muitas coisas
quando pensava em Ferox; apenas um tipo embaçado de melancolia.

"Oh, uau", disse Danny, "Aposto que ele era bom nisso."

"Sim, ele era," Remus deu um pequeno sorriso, "Tinha um monte de boas histórias."
De repente, ele se lembrou de Aquiles, o kneazle de Ferox - o que havia acontecido
com ele? Ele pensou em Greyback, em plena forma de lobo, encontrando o animal
prateado e lustroso, e pela primeira vez, seus olhos se encheram de lágrimas.

Droga. Por que isso teve que acontecer agora? Ele pensou enquanto seus ombros
começaram a tremer, tentando se controlar. Por que eu não poderia ter ficado
sentimental no apartamento, quando era apenas Sirius? Sirius não se importaria se
chorasse. Isso não era bom. Ele cobriu o rosto com as mãos e apenas esperou que
parasse.

"Desculpe, Remus," Danny disse sem jeito. "Eu não percebi... ele deve ter significado
muito para você."

Isso fez Remus chorar ainda mais, porque é claro que Ferox significava muito. Ele foi
a primeira paixão de Remus (sem contar David Bowie, talvez), mesmo que não tenha
entendido muito bem na época. Ele foi um dos primeiros adultos em que Remus
confiou, o que o fez se sentir como uma pessoa com valor. Talvez tenham entrado um
pouco em conflito, pois Remus cresceu, mas ninguém era perfeito.

325
"Sinto muito", ele tossiu, enxugando os olhos com a manga da camisa, "Tem sido um
ano ruim."

"É, com certeza." Danny disse. "Ah, Marls disse oi. Você deveria ter visto ela quando
Moody veio atrás de mim, ela estava pronta para vir também. "

"Mesmo?" Remus sorriu, fungando, "Isso soa como algo que ela faria."

"Sim, ela disse para te dar um abraço e um beijo, então diga a ela que eu dei, ok?"

"Ok," Remus riu, se sentindo um pouco mais normal.

Eles vasculharam um pouco em seu pequeno espaço de convivência. Remus tentou


não pensar na cela em St. Edmund, ou na Casa dos Gritos, ou na cripta na floresta -
cada jaula em que havia sido trancado. Ele desempacotou suas roupas, então, sem
encontrar onde colocá-las, colocou-as de volta na mala e a deslizou para debaixo da
cama, deixando apenas o pijama do lado de fora.

Eles tinham pouco para comer - apenas pedaços de pão e queijo. Remus não comia
carne desde que ouviu sobre Ferox.

"O que você ia fazer no Natal, se não estivesse preso aqui?" Danny perguntou durante
o jantar.

"Ia ficar na casa dos Potter's." Remus respondeu, "Com o novo bebê."

"Ah sim, claro, vocês são todos muito amigos, não são?" Danny acenou com a cabeça.
"Marlene fala de todos vocês como se fossem celebridades."

"Ha." Remus grunhiu. "Talvez James e Lily. E Sirius. "

Danny pigarreou sem jeito.

"Marls disse que você e ele eram..."

326
Remus apenas o encarou, segurando seu olhar e permitindo que ele se sentisse
desconfortável. Danny finalmente desviou. "Tudo bem quanto a isso, obviamente.
Estou bem com Marlene e Yaz, não estou?"

Remus apenas deu de ombros.

"É um pouco como ser um lobisomem", disse ele, puxando a casca do pão, "Todo
mundo está perfeitamente 'bem' com isso, contanto que você nunca toque no assunto."

Remus tinha alguns cigarros que sobraram e teria gostado de um depois que terminou
de comer, mas, por um lado, ele não queria compartilhar e, por outro lado, não haviam
janelas e parecia um pouco rude preencher o quarto com fumaça. Deus, ele pensou,
isso vai ser uma agonia.

As coisas ficaram ainda mais estranhas quando chegou a hora de dormir. Os dois
estavam bocejando e concordaram que já era tarde e que estavam cansados. Remus
começou a tirar as meias e se levantou para desabotoar a calça, quando percebeu que
Danny não havia se mexido. Não conseguiu entender por que ele era tão tímido, os
jogadores de quadribol não se despiam na frente um do outro o tempo todo? James
fora um exibicionista doentio pelo tempo em que dividiram o dormitório de Hogwarts.
E certamente Danny não poderia ter vergonha de cicatrizes, Remus tinha muito mais
do que ele.

"Não vou olhar, cara" Remus comentou, esperando deixar Danny mais à vontade.

Danny torceu a boca, os olhos rapidamente escaneando Remus de cima a baixo

"Er... Só para você saber, não é como se eu tivesse um problema com isso... com você.
Mas eu não sou assim. " Danny o olhou com cautela.

Remus revirou os olhos.

"Oh, coitado de mim, o que vou fazer?" Ele falou lentamente, então deu as costas e
vestiu o pijama.

327
Remus subiu na cama e rolou de lado, ficando de frente para a parede para provar que
não estava nem aí para o que Danny era ou deixava de ser. Você já viu meu
namorado?! Ele queria dizer. Como se eu fosse ter interesse em você, seu grande
pedaço de merda.

Por fim, Danny se despiu, foi para a cama também e depois apagou a luz. Remus
podia ouvir seu coração batendo e percebeu que Danny provavelmente podia ouvir o
seu também. Eles tinham ainda menos privacidade do que pensavam.

"Desculpe, Remus." Danny sussurrou eventualmente. "Eu não quis dizer nada com
isso."

Aquilo ecoou algo que Ferox havia dito e Remus sentiu a tristeza retornar. Ele rolou
de costas e falou para o teto.

"Tudo bem. Esquecido. "

Tudo ficou quieto por um tempo. Remus esperou, ouvindo a ansiedade de Danny que
parecia prestes a fazer uma pergunta.

"Ele sempre soube?" Danny sussurrou. "Sirius?"

"Hmm?" Remus semicerrou os olhos para ele.

"Você sabe. Ele sempre soube que você era um lobisomem? "

"Ah. Sim, ele sabe há muito tempo. Ele descobriu quando tínhamos doze anos ou algo
assim. "

"E ele ainda ... quero dizer, vocês ainda estão juntos."

"É."

"Isso é bom." Danny disse, parecendo muito sério. "É bom pensar... pensar que
alguém pode ser capaz de deixar isso de lado, um dia, sabe?"

328
"Não deveria ser algo a ser deixado de lado para que possam te amar. " Remus
respondeu ferozmente, "É parte de quem você é."

Danny não respondeu.

As coisas ficaram um pouco mais fáceis entre eles depois da primeira noite, mas eles
se mantiveram à distância de qualquer maneira. Remus leu muito. Danny às vezes se
exercitava, fazendo flexões ou correndo sem sair do lugar. Era irritante, mas Remus
não podia culpá-lo.

No dia de Natal, Remus não aguentou mais e pegou a garrafa de whisky de fogo. Os
dois ficaram extremamente bêbados e passaram todo o boxing day de ressaca. O
quarto fedia.

No dia 27, eles já estavam escalando as paredes. Remus havia terminado seus livros -
Danny até tinha lido um deles, e eles tentaram ter uma conversa sobre isso, mas
Danny sabia tão pouco sobre trouxas que não tinha realmente entendido o enredo.

"Quanto tempo mais pode demorar?!" Danny perguntou exasperado. Era dia 31,
último dia do ano. "E se ainda estivermos aqui para a lua cheia?!"

"Ainda falta uma semana para isso." Remus respondeu. Ele estava deitado de costas
na cama com um braço pendurado sobre o rosto. Danny roncava, o que o manteve
acordado a noite toda. "De qualquer forma, estaríamos bem, seria o melhor lugar para
nós."

"E se nós atacarmos um ao outro?"

"Bem, eu não vou te atacar se você não me atacar."

"Quer dizer que você consegue se controlar?!"

Remus suspirou.

329
"Sim. Você também consegue. Não perto de humanos, mas sim perto de outros
animais. Com outros lobos também não tem problema. Por que você acha que eles
vivem em bandos? "

"Eu nunca pensei realmente sobre isso." Danny disse. "Como foi? Com o bando?"

Remus mordeu o lábio. Ele deveria mentir? Ou Danny merecia saber?

"Não foi tão ruim quanto pensei que seria." Respondeu. Essa era a primeira vez que
havia admitido. "Obviamente Greyback era... mas o resto deles. Aqueles que se
separaram - eles eram ok. Eram como uma família. "

"Bem." Danny disse. "Eu já tenho uma família."

Era assim que as coisas funcionavam com Danny. Ele queria saber, queria aprender
com Remus, mas se ouvisse algo que o deixasse desconfortável, tudo se voltava para
sua auto-aversão.

Remus sentia tanto a falta de Sirius que jurou que podia sentir em seu estômago
roncar como uma fome. Ele queria tão desesperadamente ter alguém com quem
realmente pudesse conversar, que alívio seria passar um tempo com seu melhor
amigo, apenas relaxando. Vou me desculpar, prometeu a si mesmo, nunca mais vou
ficar com raiva dele. Vou beijar seus pés, rastejar sobre brasas e vidros quebrados se
isso fizer com que as coisas voltem a ser como eram.

Ele não queria acabar como Danny.

Já havia se passado uma semana desde o ano novo quando Moody finalmente
apareceu para buscá-los. Ambos sentiram o cheiro dele imediatamente e se sentaram,
olhando fixamente para a porta. Estavam quase sem comida, e Remus rezou para que
não fosse apenas uma entrega de supermercado. Ele sentiu os feitiços sendo
lentamente desfeitos, cada camada descascando. Finalmente, a porta se abriu e
puderam ouvir o barulho da perna de madeira de Moody no primeiro degrau.

330
"Tudo bem, meninos?" Ele chamou. "Prontos para voltar ao trabalho?"

***

Sair daquele porão foi como respirar novamente. Remus sentiu como se todos os seus
sentidos tivessem sido silenciados por semanas, e agora tudo era uma profusão de
cores, ruídos e cheiros.

Moody não estava brincando sobre voltar ao trabalho. Ele os levou direto para um
novo esconderijo, onde o restante da ordem estaria se reunindo. Remus podia sentir o
cheiro de Sirius assim que entrou pela porta, e isso o deixou tão tonto de empolgação
que se tivesse um rabo, ele estaria abanando. Ele passou os dedos rapidamente pelo
cabelo oleoso e pensou em como devia estar horrível.

Moody os conduziu por um corredor e, ao invés de ir direto para a cozinha, onde eles
podiam ouvir todos conversando, desviou para uma pequena despensa que tinha uma
máquina de lavar trouxa dentro e uma grande pilha de toalhas sujas em uma cesta.

"Vou levá-los em um minuto", explicou ele, "A senhorita McKinnon tem me


assediado todos os dias nas últimas duas semanas para tê-lo de volta, e Black me
ameaçou com todas as maldições que eu já ouvi", ele sorriu indulgentemente. "Então
vocês estão livres agora, mas eu preciso que vocês dois ouçam, certo?"

"Certo." Ambos assentiram, piscando.

"O perigo não passou. Vocês ainda estão sob ameaça. Não posso permitir que nenhum
de vocês saia de casa sem disfarce. Preferia que tivessem ficado aonde estavam. "

"Mas como podemos ajudar a Ordem se..."

"Há muita coisa que você pode fazer," Olho-Tonto ergueu a mão em advertência,
fixando Remus com um olhar severo, "Pesquisa, comunicações, feitiços de
rastreamento, o que for. A menos que queiram voltar a aproveitar suas pequenas férias
no meu porão? "

331
Ambos balançaram a cabeça ferozmente. Não, nunca.

"Certo." Moody balançou a cabeça, voltado para os negócios. "Vamos lá, então," ele
empurrou a porta e eles saíram, seguindo-o até a cozinha. Estava lotado de pessoas, a
maioria das quais Remus conhecia, e todos se viraram assim que a porta se abriu,
cinquenta pares de olhos, todos arregalados em desconfiança e preocupação.

"DANNY!" Um borrão loiro passou por Moody e Remus e atingiu Danny com o
corpo, deixando-o sem fôlego. Ele riu e abraçou Marlene de volta.

"Tudo bem, mana?"

"Remus?" Sirius havia se levantado e estava atravessando a sala ansiosamente,


subindo nas cadeiras, se espremendo pelas pessoas que tinham que se curvar e se
retorcer para sair do caminho e protegerem suas canecas de chá quente. O moreno
teve que olhar para baixo ao se aproximar, para que não tropeçasse, e seu cabelo caiu
na frente de seu rosto como faixas de seda preta.

Quando ele alcançou Remus, que ainda estava parado na metade do corredor, Sirius
teve que levantar o braço e puxar o cabelo para trás, e Remus jurou que a sala ficou
completamente silenciosa por um momento, e o único som era o batimento frenético
de seu próprio coração . Ele se esqueceu de respirar e engasgou.

"Oi."

Sirius sorriu um pouco e deu um passo à frente, uma mão no ombro de Remus para
empurrá-lo para fora da sala em direção ao corredor escuro. Longe de todos os outros,
Sirius deslizou sua mão pelo seu pescoço, para dentro de seu cabelo, e beijou-o nos
lábios - tão lindamente.

***

Primavera de 1981

332
O período de lua de mel após a volta de Remus durou até fevereiro. Os dois se
desculparam e estavam muito gratos por estarem juntos novamente e por um tempo
tudo foi maravilhoso - eles pareciam adolescentes de novo. Especialmente porque
Remus não deveria deixar o apartamento, o que significava que não havia muito mais
o que fazer.

Sirius saía para checar James, Lily e o bebê de vez em quando, e ele ainda tinha
missões para cumprir, mas sempre corria de volta para Remus assim que podia. Os
dois passaram dias e noites relaxando na cama, comendo feijão com torradas,
fumando e ouvindo discos. Era como viver em uma ilha particular já que até tiveram
que cortar a conexão de flu por segurança.

Felizmente, Remus teve permissão para ficar com o telefone, seu bote salva-vidas, e
os outros visitavam quando podiam. Mary aparecia após o trabalho pelo menos duas
vezes por semana, para evitar sua família barulhenta.

"É uma benção aqui," ela sorriu, afundando no sofá e fechando os olhos. "Se você
tivesse uma televisão, eu nunca iria embora."

"Ha, estou trabalhando nisso, confie em mim." Remus respondeu. "É realmente ruim
na sua casa? Você quer ficar mais algumas noites? "

"Nah," ela abriu os olhos, "eu quero estar com minha família. Eles fazem eu me sentir
normal. É que... você sabe, eles não sabem nada sobre a guerra e eu não quero que
eles saibam, mas... é tão difícil."

"Desculpe, amor." Remus respondeu melancolicamente. "Quer uma bebida?"

Mary deu a ele um de seus olhares longos e gentis, inclinando a cabeça.

"Não, Remus," ela tocou seu joelho, "Nunca é uma boa ideia beber quando se sente
assim. Isso não torna as coisas melhores, não é? "

333
Remus apenas deu de ombros. Ele não via qual era o problema. Mary apenas sorriu de
novo, tomou um gole de chá e continuou como se nada tivesse acontecido.

"De qualquer forma, sempre posso ir ao Darren se precisar de uma folga das crianças."

"Darren? Aquele garoto com quem você estava saindo no quarto ano? "

"Bem lembrado," ela riu, "Sim, ele ainda mora do outro lado do corredor. Eu vou lá às
vezes, somos amigos. "

"Apenas amigos?" Remus ergueu uma sobrancelha. Mary olhou para baixo,
repentinamente triste.

"Sim. Isso é tudo que pode ser agora. Ele é um trouxa e eu estou na Ordem... Já estou
colocando minha família em tanto risco, não poderia suportar se... "

Ela balançou a cabeça, o rosto decidido. "Desculpa! Eu deveria estar aqui fazendo
companhia a você, não te colocando para baixo! "

Mary ainda não queria beber depois disso, mas eles tiveram uma longa conversa de
qualquer maneira. Em retrospecto, Remus ficou feliz por Mary estar lá naquela noite e
por ela impedi-lo de ficar bêbado. Porque essa foi a noite em que James foi ferido.

334
Capítulo 171: A Guerra: Triage

Police and thieves in the streets (oh yeah)

Scaring the nation with their guns and ammunition,

Police and thieves in the street (oh yeah)

Fighting the nation with their guns and ammunition.

From genesis to revelation,

The next generation will be, hear me

From genesis to revelation,

The next generation will be, hear me,

And all the crowd come in, day by day

And no one stops it in anyway

All the peacemaker, turn war officer

Hear what I say.

Police & Thieves, The Clash.

Enquanto Mary e Remus estavam sentados no sofá aconchegante do pequeno


apartamento do Soho, as cortinas fechadas em frente às janelas escuras e com a lareira
crepitando, Sirius, Lily e James corriam perigo mortal.

335
Naqueles dias, parecia uma noite normal de sexta-feira. A essa altura, todos haviam
desenvolvido uma atitude fatalista em relação à vida e uma espécie de humor negro.
"Até mais tarde", Sirius dizia enquanto saía de casa, "Se eu conseguir voltar."

"Te encontro em casa", James dizia a Lily, "Se ainda estiver lá!"

Na época, esse comportamento ajudou todos a seguir em frente - afinal, se você


dissesse a pior coisa em voz alta, não poderia doer tanto quando acontecesse, não é?
Esse pensamento torturou Remus por um longo tempo depois que a guerra acabou.

Eles deveriam estar apenas em uma patrulha de rotina no Beco Diagonal, o que havia
feito Remus se sentir melhor porque era bem perto dali. Haviam três deles, e eles se
encontrariam com um membro sênior da Ordem no início e no fim, então deveria ser
os negócios de sempre. Na verdade, Mary estava prestes a deixar Remus e ir para casa
passar a noite quando houve uma colisão contra a porta.

Os dois pularam e Mary soltou um estranho grito de terror. Então a porta começou a
se abrir, e os dois se levantaram, varinhas erguidas, Remus cobrindo o máximo de
Mary que podia.

"Ajuda!" Uma voz abafada veio, e Sirius e Lily abriram caminho para dentro do
apartamento, a forma inerte do corpo de James pendurada entre eles, um braço sobre
cada um dos ombros.

"Cristo!" Remus avançou para ajudar a colocarem ele no sofá. "O que aconteceu?!"

"Remus," Mary engasgou, sua varinha ainda erguida na mão trêmula, "As
perguntas..."

"Certo, porra, ok, hum..." Sua mente estava correndo, ele não conseguia parar de olhar
para o rosto pálido e estático de James, brilhando de suor. Ele olhou para Lily, "O
que... hum.. Quem...?"

"Lily, quem foi seu primeiro beijo?" Mary interviu rapidamente.

336
"Dirk Cresswell." Lily respondeu prontamente. Sirius e Remus olharam para ela de
forma engraçada, mas não havia tempo para perguntas.

"Sirius," disse Mary, redirecionando sua varinha, "Mesma pergunta."

"Eu não sei!" Sirius disse exasperado, puxando as vestes de James - não havia sangue,
mas os olhos de James estavam fechados, as pálpebras em um roxo profundas, "Um
de vocês vá buscar McKinnon!"

"O que você quer dizer 'com não sei'?!" Mary se virou para ele. "Responda a maldita
pergunta, Black!"

"Eu não posso, eu realmente não sei! Foi uma garota trouxa em um cinema! Moony,
diga a ela! "

"Ele está falando a verdade," Remus disse, sua garganta seca, "É verdade, nós
brigamos por isso. Eu dei um soco nele. "

"Eu soquei você de volta," Sirius murmurou, examinando James com sua varinha.
"Alguém chame Marlene?! Por favor!"

"Vou chama-la", disse Mary, saindo da sala rapidamente. A porta bateu e eles ouviram
um * CRACK * quando ela aparatou no corredor.

Lily veio correndo do banheiro, segurando uma flanela úmida. Ela se ajoelhou ao lado
de James e pressionou contra sua testa.

"Não se atreva, Potter," ela sussurrou febrilmente em seu ouvido, "Merda, não se
atreva..."

"O que aconteceu?" Remus agarrou o ombro de Sirius, "Um ataque?"

"Sim," Sirius acenou com a cabeça, suando e tremendo. Remus gostaria que ele se
sentasse, mas sabia que não adiantaria pedir, "Uma emboscada, seis Comensais da
Morte. Alguém sabia que estaríamos lá, alguém deve ter dito... "

337
"Sirius!" Lily gritou. "Olha!"

Ela havia afrouxado a camisa de James, e revelou longas listras verdes, como galhos
de árvores se estendendo sob sua pele. Sua respiração estava superficial.

"Ah porra," Sirius desmoronou, caindo de joelhos ao lado de Lily, "Você ouviu qual
foi a maldição?"

Lily balançou a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo rosto. A respiração de James


ficava cada vez mais fatigante, áspera em sua garganta, e ele estava mole como uma
boneca de pano.

O coração de Remus começou a bater forte em seu peito, sua visão turvou e seus
joelhos ficaram fracos. Não James! Ele era o melhor deles. Ele era o único que
precisava sobreviver, não importava o que acontecesse. Como poderia haver um
mundo sem James Potter? Um mundo sem James era um mundo sem bondade, risos
ou travessuras.

"Whisky de fogo." Remus disse, de repente, "Eu tenho uma garrafa em algum lugar."

"Agora não , Moony!" Sirius retrucou, seu rosto raivoso como o de um demônio.
Remus recuou, machucado.

"Eu quis dizer para Prongs! Pode ajudar no choque. "

"Tente!" Lily chorou, levantando a flanela fria da testa de James para sentir sua pele.
A um metro de distância, Remus podia perceber que ele estava com febre. "Tente
qualquer coisa!"

Remus correu, e enquanto ele estava na cozinha procurando por uma colher de pau
(ele ouviu dizer que metal fazia mal para alguém em choque - ela poderia machucar os
dentes. James não estava tendo uma convulsão, mas era melhor ser precavido), Mary
voltou com Marlene. Toda a atmosfera mudou.

338
"Saiam do meu caminho, por favor!" A voz cristalina de Marlene soou, sua autoridade
e bom senso inerente restaurando a ordem de uma só vez.

Aliviado, Remus apareceu segurando o whisky. Lily estava chorando mais agora,
recuando para deixar Marlene trabalhar. Sirius estava com os braços ao redor dela, os
olhos nunca deixando o rosto de James, que estava começando a ficar em um tom
mortal de cinza.

"Marls," Sirius pediu com urgência, "Por favor... por favor..."

"Estou fazendo o meu melhor, Black!" Marlene retrucou, virando-se para abrir sua
bolsa. Remus percebeu o rápido olhar de terror em seu rosto, o brilho de lágrimas em
seus olhos. Isso era ruim.

Era como se todos estivessem prendendo a respiração. Mary ainda estava de casaco,
pressionada contra a porta.

"Há mais alguém que eu possa chamar?" Ela perguntou, sua voz rouca. "Diga-me, eu
irei a qualquer lugar."

"Eu não sei," Marlene disse tremendo. "Não há ninguém seguro em St. Mungus, e não
sei se mais alguém na Ordem está... Emmeline, talvez, mas ela está na Hungria ou em
algum lugar..."

"Você consegue fazer isso, Marls?" Lily perguntou desesperadamente. "Você pode
curá-lo?"

"Eu não sei, eu... Qual foi a maldição?"

"Não sabemos," disse Sirius, "Não pronunciaram palavras."

"Que tal um bezoar?" Mary perguntou.

"Isso é para veneno." Sirius atirou de volta. "Ele foi amaldiçoado."

339
"Sim, mas ainda assim, não vale a pena tentar?"

"Eu não tenho bezoar de qualquer maneira!" Marlene deixou escapar um soluço. Ela
estava realmente chorando agora, suas mãos pairando sobre o corpo de James
tremiam.

A respiração de Potter estava ficando cada vez mais lenta, Remus ainda podia ouvir
seu coração batendo, mas ficando mais fraco, um longo 'thwump' úmido. Eles tinham
que fazer algo.

"Você pode descrever a maldição?" Ele perguntou, o cérebro funcionando.

"Não haviam palavras!" Sirius repetiu impaciente.

"Não, mas você poderia descrever?" Remus persistiu com firmeza. "A luz? Cor? Um
cheiro?"

"Eu não sou como você, Remus, eu não sou..." Sirius correu os dedos pelos cabelos,
franzindo a testa.

"Azul." Lily disse em meio a um soluço. "Havia uma luz azul, não era Sirius?"

"Sim!" Ele acenou com a cabeça, iluminando-se, "Era azul e meio... irregular? Curta,
como um dardo. "

"Sim," Lily enxugou os olhos, olhando para Remus como se ele fosse seu salvador,
"Foi como flechas sendo disparadas contra nós, flechas azuis. "

"Ok," Remus acenou com a cabeça, como se soubesse exatamente o que estava
fazendo. Ele nunca tinha ouvido falar de uma maldição que fizesse isso. "Ok, então...
azul... er..."

"Remus!" Mary gritou. "Azul, isso não é aquele feitiço explosivo?"

340
"Sim," ele pulou ansioso, então franziu a testa, "Mas ele não..." Ele olhou para James.
Ele estava completamente intacto - incrivelmente fraco.

"Talvez eles tenham combinado com alguma coisa?" Lily supôs, se endireitando,
cruzando os braços sobre o corpo e vestindo sua armadura de guerra. "Alquimia
mágica, vocês meninos fazem isso o tempo todo."

"Ou pode ter sido um erro," Sirius disse, inclinando-se, seus olhos finalmente
focalizando corretamente, "Isso acontece o tempo todo também."

"Sim!" Remus concordou, "O Comensal da Morte pode realmente ter tido a intenção
de usar muita força, e pode ter saído de forma explosiva às vezes... oh! Vocês estavam
usando o feitiço de proteção em escudo? "

"Sim," Lily assentiu, as linhas em sua testa se aprofundando, "Mas James, a dele tinha
acabado de cair, apenas por uma fração de segundo, ele estava tentando..." ela olhou
para baixo.

"Ele estava tentando me proteger." Sirius respondeu em um sussurro. "A última coisa
que ele fez foi desarmar aquele filho da puta do Crouch, ele estava prestes a me pegar
com uma imperdoável."

Remus piscou em choque, e então empurrou aquele sentimento para o fundo, para o
mais longe que podia, porque ele precisava lidar com James agora.

"Ok", ele engoliu em seco. "Ok, e se quem acertou James foi um pouco lento?
Tentando passar pelo feitiço do escudo no segundo em que ele caiu. "

"Isso faz sentido", disse Lily, com o rosto brilhando de lágrimas, suor e esperança,
"Isso explica as curtas rajadas!"

"Ok, ótimo!" Remus olhou para Marlene, que o encarava com olhos grandes como
pires.

341
"O que eu faço, Remus?" Ela perguntou, sua voz muito baixa - como se eles
estivessem de volta à biblioteca de Hogwarts e ela não entendesse o princípio da
transfiguração.

"Eu... como isso o afetaria?" Remus perguntou, agitado - ele não sabia o que fazer!
Ela era quem possuía dois anos de treinamento como curandeira! "O que isso faria?!
Pense!"

"Estou tentando!" Marlene respondeu, ainda trêmula.

Remus queria segurá-la pelos ombros e realmente sacudi-la - ela tinha que se
recompor! Este era James! Ele tinha uma família e um bebê, e Sirius precisava dele, e
Remus precisava dele, todos eles precisavam dele! Marlene apenas continuou olhando
para todos, congelada.

"Marls," Mary se aproximou rapidamente, agachando-se ao lado de sua amiga. Ela


segurou Marlene pelos ombros, mas não a sacudiu. Ela a abraçou e acariciou seus
cabelos. "Querida," ela sussurrou na sala silenciosa, "Você pode fazer isso. Você é a
pessoa mais inteligente que conheço. Se alguém sabe o que fazer, é você. Ok?"

Marlene fechou os olhos por um momento e respirou fundo. Ela os abriu e acenou
com a cabeça.

"Certo." Ela disse, voltando-se para James. "Teria sido difícil, bem no peito... teria
sido... sim! Sim, faz sentido! "

Ela começou a murmurar para si mesma, então moveu sua varinha fazendo um brilho
lilás suave e quente emanar da ponta, acumulando-se sobre o corpo mole de James,
afundando lentamente, como espuma.

Todos prenderam a respiração mais uma vez, enquanto Marlene trabalhava. Sirius
estava segurando a mão de Lily, e Remus podia ver os nós dos dedos dela ficarem
brancos quando ela o agarrou de volta. Mary ficou ao lado de Marlene, ajoelhada no
tapete ao lado do sofá, com a cabeça baixa como se estivesse rezando.

342
Remus apenas agarrou sua garrafa de uísque e sentiu como se o mundo estivesse
despencando em baixo de seus pés. Não havia nada a fazer a não ser observar e
esperar, ouvir os murmúrios constantes de Marlene e tentar manter a calma.

A magia que ela estava usando tinha um cheiro doce e fresco, como grama cortada ou
folhas brotando. O cheiro da primavera, da regeneração. Esse era um bom sinal,
Remus pensou. Ele gostaria de ter aprendido mais com os lobisomens - suas técnicas
de cura eram perfeitas. Mas talvez isso só funcionasse com outros lobisomens?

A respiração de James estava ficando mais estável, sua frequência cardíaca um pouco
mais forte. Woosh - woosh - woosh - Remus já podia ouvir seu sangue sendo
bombeado mais rápido.

"Está funcionando!" Ele disse enquanto chegava um pouco mais perto para ouvir
melhor. "Você está conseguindo, Marlene!"

"Oh, obrigada", disse Lily, cobrindo os olhos com as mãos, "Obrigada, obrigada..."

Marlene parou de murmurar e sentiu a pulsação de James. Ela suspirou de alívio e


acenou com a cabeça.

"Estável." Ela disse. Então, olhando para cima, "É melhor dar a ele um pouco daquele
uísque, Remus."

Depois que eles conseguiram fazê-lo engolir um pouco, Marlene deu a James uma
poção fortalecedora. Ele estava ficando um pouco corado e seu peito estava subindo e
descendo uniformemente. Estava fora de perigo. Ainda assim, Marlene não queria que
ele se movesse, não até que recuperasse a consciência.

"Ele pode ficar aqui," Remus disse, "Claro que pode. É seguro, não é, Padfoot? "

Sirius estava observando Remus do outro lado da sala. Remus percebeu que ele estava
pensando pela sua expressão. Por alguma razão, isso fez Remus ficar gelado.
"Padfoot?"

343
"Sim..." Sirius respondeu lentamente, "Mas pensamos que o Beco Diagonal fosse
seguro o suficiente."

"Bem, ele está aqui agora", disse Lily, levantando-se do lado de James. "Ele vai ficar.
Tenho que ir para casa, Peter está cuidando de Harry, ele deve estar tão preocupado!
Eu volto já..."

"Alguém deveria ir buscar Dumbledore." Sirius disse abruptamente.

"Para que?" Mary perguntou.

"Só... ele deveria saber que fomos atacados. Ele tem que saber que alguém disse aos
Comensais da Morte onde estaríamos."

"Sírius!" Mary o olhou com a boca aberta. "Você está dizendo... alguém da Ordem?!"

Sirius acenou com a cabeça. Ele não olhou para Remus novamente.

"Eu vou!" Remus ofereceu.

"Não!" Sirius disse. "Você não pode, você... você precisa ficar aqui. Não é seguro para
lobisomens. "

"Não parece ser seguro para ninguém!" Marlene retrucou, levantando-se e enxugando
a testa. "Vá você, Sirius, já que é tão importante. Remus, Mary e eu podemos ficar e
cuidar de James. "

Sirius olhou para James, e então para Remus - não para seu rosto, porém, apenas em
sua direção.

"Ok," ele disse. "Irei muito rápido." E saiu pela porta.

As três mulheres olharam para Remus sem jeito. Lily se aproximou para apertar seu
ombro e disse gentilmente.

344
"Ele só está chateado, amor. Ele se culpa pelo que aconteceu, James estava tentando
salvá-lo quando foi atingido. Não leve para o lado pessoal, hein? "

"Eu sei," Remus ergueu o queixo virilmente, esmagando todas as emoções amargas e
podres, "Está tudo bem. Estamos todos em choque. Está bem."

"Eu tenho que ir", disse Lily novamente, "Harry."

"Irei com você", disse Mary, "devemos ir a todos os lugares em pares. Isso é o que
Moody diria."

As duas saíram e Remus tentou não pensar no fato de que Sirius havia desaparecido
na noite completamente sozinho.

A essa altura, Marlene já havia se recomposto, e estava empenhada em deixar James


confortável.

"Eu deveria ter dito a Lily para trazer um pijama para ele... talvez ela traga de
qualquer maneira," ela disse, "Pode pegar um travesseiro e cobertores para ele,
Remus?"

"Sim, claro." Remus acenou com a cabeça, correndo para o quarto, voltando com
cinco cobertores e dois travesseiros (na verdade, estes eram os únicos travesseiros que
tinham, havia os tirado da cama).

Marlene estava checando o pulso de James novamente quando ele voltou.

"Ele esta ok?!"

"Sim," Marlene acenou com a cabeça, "Ainda firme. Eu só estava verificando... "

Eles fizeram uma cama no sofá ao redor dele. Remus tirou os sapatos, mas eles
decidiram esperar até que Lily voltasse para despi-lo. Ele parecia estar apenas
dormindo. Remus sorriu.

345
"Eu nunca vi James ficar tão quieto por tanto tempo," ele comentou, esperando aliviar
um pouco o clima.

"Ha." Marlene disse, então começou a chorar novamente.

"Ei ei ei!" Remus a puxou para si, "Já acabou! Por favor, não chore ... "

"Eu - desculpe - estou - apenas - tão - com medo -" Marlene soluçou, engasgando com
cada respiração, "Eu estou - desapontando - todos!"

"Não, você não fez isso!" Remus se sentiu terrivelmente culpado por gritar com ela.
"Você fez um trabalho incrível!"

"Só - porque - vocês - ajudaram ..."

"Bem, obviamente", ele beijou o topo de sua cabeça, "É para isso que servem os
amigos."

***

Lily e Mary voltaram primeiro. Lily embalando Harry em seus braços - que estava
dormindo, felizmente. Ela foi direto para o lado de James mais uma vez.

"Eu trouxe algumas das poções da Effie," ela disse, apressada, "Dê uma olhada,
Marlene, pode haver algo útil..."

"Eu não quero fazê-lo tomar muita coisa," Marlene respondeu cuidadosamente.
"Descansar e observar é o melhor a se fazer agora, eu prometo." Ela lavou o rosto,
tomou um gole de uísque e estava consideravelmente mais calma agora.

"Você viu o Wormtail?" Perguntou Remus.

"Sim", disse Mary, tirando Harry de Lily, para que ela pudesse se concentrar em
James. "Ele estava muito chateado, queria ir para casa e checar sua mãe. Não posso
culpá-lo. "

346
"Claro que não." Remus concordou. Ele iria querer sua mãe também, se ele tivesse
uma.

Ele aqueceu um bule de chá forte e todos pegaram uma xícara, mas ninguém bebeu.
Marlene e Lily ficavam pairando ao redor de James, despindo-o, colocando-o na cama
e afofando seu travesseiro, enquanto Mary gentilmente embalava Harry em seus
braços. Remus observou as três - como donzelas santas em um retábulo de igreja - e se
sentiu completamente inútil.

"Podemos movê-lo para a cama?" Ele disse, irritado por ter pensado nisso só agora,
"Então você pode dormir ao lado dele, Lily."

"Melhor não por enquanto," aconselhou Marlene.

"Certo, então vou fazer uma cama para você aqui..." ele tentou se lembrar de alguns
feitiços de transfiguração - embora conjurar móveis fosse algo em que Sirius fosse
melhor.

"Não se preocupe, Remus, eu não vou dormir." Lily sorriu cansada.

"Eu não acho que nenhum de nós vai." Mary disse. "Liguei para a mamãe. Tudo bem
se eu ficar aqui também, amor? "

"Claro." Ele assentiu. E é claro que Marlene não iria a lugar nenhum até ter certeza de
que James se recuperaria totalmente.

No final, eles concordaram que dormiriam em turnos e ficariam na cama de dois em


dois. Nenhum deles queria ir primeiro, é claro, e todos se acomodaram para uma longa
noite. Remus se encostou na varanda, ouvindo o coração de James batendo do outro
lado da sala. Ele não parava de imaginar seu amigo sentando-se repentinamente,
sorrindo para todos eles; Tudo bem com vocês? Puta merda, quem morreu?!

Finalmente, Sirius voltou com Dumbledore, e qualquer paz que eles conseguiram
recuperar foi destruída.

347
"Eu preciso saber tudo." O velho diretor disse, seu rosto severo, olhos queimando
como o centro azul de uma chama.

Sirius e Lily começaram a falar. Eles explicaram como tudo era para ser um
procedimento de rotina, padrão, chato, se alguma coisa. Eles fizeram uma varredura
no Beco Diagonal, até mesmo na Travessa do Tranco, e encontraram tudo
perfeitamente seguro e protegido.

Em seguida, eles saíram, pela saída do Caldeirão Furado, e decidiram caminhar até o
ponto de encontro, pois era uma noite agradável e não muito longe. Eles deveriam
encontrar Dorcas Meadowes em um café trouxa na Tottenham Court Road, mas eles
foram emboscados antes de chegarem lá.

"Vocês não poderiam ter sido seguidos?" Dumbledore perguntou, olhando para os
dois. Eles balançaram a cabeça.

"Nós nos certificamos", disse Lily. "Eles não estavam atrás de nós, estavam à frente,
eles estavam esperando por nós".

"Merda, alguém deveria contar a Dorcas..." Sirius falou de repente, "Depois que
James... nós tivemos que sair rápido, não havia tempo."

"Não teria importância", Dumbledore acenou com a mão, "Dorcas Meadowes está
morta."

A sala ficou em silêncio. Harry acordou e começou a chorar. Lily o tirou de Mary
imediatamente, segurando o filho contra o peito.

Sirius falou primeiro.

"Estou certo, não estou?" Ele olhou Dumbledore diretamente no rosto, "Há um espião
na Ordem."

348
Capítulo 172: A Guerra: Verão 1981

Once I had a love and it was a gas,

Soon turned out; had a heart of glass.

Seemed like the real thing, only to find,

Much of mistrust, love's gone behind.

Once I had a love and it was divine,

Soon found out I was losin' my mind

It seemed like the real thing but I was so blind,

Much of mistrust, love's gone behind.

Heart of Glass, Blondie.

James se recuperou lentamente. Ele foi levado de volta para a casa dos Potter no dia
seguinte (quando acordou ainda grogue, incapaz de dizer muito e caindo rapidamente
no sono), mas Dumbledore declarou que esta era uma solução temporária. O professor
disse a Lily para se preparar para deixar a antiga casa de Euphemia e Fleamont a
qualquer momento.

Depois de meses sendo considerados os membros mais jovens da Ordem, os marotos e


seus amigos de repente tinham todos os olhos sobre eles.

Na próxima reunião, que James insistiu em comparecer apesar de seu estado


enfraquecido, definitivamente houveram murmúrios.

Sete crianças - três deles herdeiros ricos de famílias de sangue puro, dois nascidos
trouxas, um lobisomem, uma curandeira novata - o que os tornava tão especiais? Eles

349
eram confiáveis? Eles haviam sobrevivido à guerra até agora contra todas as
probabilidades. Tiveram apenas sorte ou houve algo mais nisso? Quem eram essas
crianças que escaparam de seis Comensais da Morte e, de alguma forma, reverteram
uma maldição quase incompreensível?

Eles se reuniram em um pequeno chalé em algum lugar de Peak District. Era uma sala
de estar com pouco espaço, mas, a essa altura da guerra, não haviam muitos
integrantes na Ordem.

No final da reunião habitual - que realmente se tornou um memorial para as pessoas


que foram perdidas desde a última vez que haviam se encontrado - Dumbledore pediu
a Lily e James para ficarem enquanto todos os outros voltavam para casa. Por sua vez,
James pediu a Remus, Sirius e Peter para ficarem também.

"Tem certeza?" Sirius sussurrou com urgência, "Depois de tudo o que aconteceu...?"

"--Depois de tudo o que aconteceu quero meus melhores amigos por perto." James
respondeu. Remus sentiu uma onda de orgulho com isso. Para James, o bom espírito
esportivo se estendia a todos os elementos de sua vida, e desconfiar das pessoas que
ama seria altamente desonroso.

Sirius cruzou os braços, mas não discutiu.

James estava sentado em uma poltrona de chintz, suas costas retas e o rosto sério. Ele
parecia perfeitamente saudável, a menos que você realmente o conhecesse. Suas
bochechas estavam mais encovadas, sua pele mais pálida e - embora todos fingissem
não ter notado - seu cabelo preto azeviche agora possuía alguns fios grisalhos. Lily
trouxera um cobertor para colocar em seu colo, mas ele continuou empurrando-o,
irritado.

"Estou bem", ele murmurou baixinho. "Me deixe em paz!"

350
"Não precisa agir assim!" Lily rebateu. Ela estava muito mais pálida também, seu
rosto cansado vincado de preocupação. Remus nunca tinha visto Lily e James
brigarem antes. Era horrível.

Harry estava agitado, balançando os braços e fazendo uma careta. Lily não estava se
arriscando agora - eles iam a todos os lugares como uma família, ou a lugar nenhum.

"Shh", ela balançou-o no quadril, "Quieto agora, mamãe e papai estão ocupados..."

"Dá aqui," Sirius estendeu os braços, "Vamos brincar um pouco, não vamos Harry?"
Ele levantou o menino e Harry se contorceu e deu uma risadinha alegre.

Ele não estava dizendo muitas palavras ainda - 'Da-da', 'Ma-ma', 'Não!' e, por algum
motivo, 'moto!' era até onde ia. Mas ele conhecia seu padrinho. Remus se perguntou se
era o cheiro de couro velho. Suas próprias experiências com Harry eram complicadas.
Eles se davam bem até o garoto começar a chorar, e Remus não era bom em
brincadeiras de faz de conta como Sirius.

Os dois se acomodaram no chão da sala, Sirius com as pernas abertas, Harry entre
elas. Sirius puxou um pequeno trem de brinquedo de um dos bolsos da jaqueta e Harry
começou a empurrá-la pelo tapete esburacado, babando e feliz consigo si mesmo.
Sirius sorriu para ele. Ele era tão bom com crianças. Remus sentiu uma estranha
sensação de dissonância. Sirius queria ter filhos algum dia? Eles nunca discutiram
isso, e Remus nunca teve o menor interesse. Não se sentia qualificado para ser pai e
não tinha certeza se seria algum dia.

Talvez fosse isso, então. Talvez fosse por isso que Sirius estava agindo de forma tão
estranha?

As preocupações particulares de Remus foram interrompidas por Dumbledore, que


pigarreou, chamando a atenção de todos.

"Temos motivos para acreditar", disse ele bastante calmamente, "que o foco de
Voldemort mudou."

351
Todos ergueram os olhos, até mesmo Sirius.

"Recebemos algumas informações de que o Lord das Trevas tomou conhecimento de


uma profecia feita no início do ano passado que parece se referir diretamente a ele."

"Uma profecia?" Peter se inclinou para frente, "Que profecia? O que diz? "

"É melhor compartilharmos apenas os detalhes mais pertinentes", disse Dumbledore


asperamente, "Já que estamos em companhias diversas."

Todos olharam ao redor da sala. Remus se sentiu um pouco enjoado - ele não
considerava as pessoas reunidas como uma 'companhia diversa'. Aqueles eram seus
amigos, seus companheiros, as pessoas em a quem confiaria sua vida. Ele tentou
chamar a atenção de Sirius, esperando por algum conforto, mas o moreno rapidamente
desviou o olhar.

"Então ele mudou de foco", disse James, quebrando o silêncio desconfortável, "O que
ele quer agora?"

"Resumindo, Sr. Potter," Dumbledore respondeu diretamente, "Ele quer você. Ou


melhor, seu filho. "

Lily soltou um suspiro horrível, sua mão voando para a boca. James agarrou os braços
de sua cadeira. Peter teve um estranho tipo de espasmo nervoso. Sirius pegou Harry e
se levantou imediatamente, " O quê?! "

"Sinto muito", disse Dumbledore com firmeza, "Mas eu tenho um bom informante..."

"Quem?" Lily perguntou, parecendo estar sendo estrangulada.

"Isso eu não posso dizer. Não vou colocar ninguém em perigo. "

"Há um espião, então", disse Peter, torcendo as mãos ansiosamente, "Do lado deles,
quero dizer?"

352
"Eu não posso dizer." Dumbledore repetiu.

"Bem, é melhor você dizer algo útil!" James rebateu, quase gritando. "O que você quis
dizer sobre o meu filho?! Como pode Voldemort saber sobre Harry?! "

"Não podemos confiar em ninguém". Sirius disse baixinho.

James se virou para olha-lo em pura descrença. Interiormente Remus estava aliviado.
James confiava em seus amigos - é claro que confiava. Sirius estava sendo paranóico.

"Mas por que Harry?!" Lily perguntou estridente.

"Voldemort acredita que Harry um dia crescerá e irá derrotá-lo."

"É isso que a profecia diz?"

Dumbledore inclinou levemente a cabeça, como se estivesse considerando isso.

"É o que Voldemort acredita." Ele respondeu eventualmente. "E isso é a mesma
coisa."

"Vocês terão que se esconder," Sirius disse, falando diretamente para James agora,
"Vocês três. Tem que haver mais feitiços, magia mais forte que ainda não
experimentamos, vamos mandá-los para o maldito Timbuktu se for preciso! "

"Padfoot", James levantou a mão, "Acalme-se."

"Não!" Sirius gritou, seu rosto vermelho. Por uma estranha fração de segundo, Remus
não o reconheceu.

Harry começou a chorar, estendendo a mão para sua mãe. Lily o pegou e o aninhou
perto, beijando seu cabelo preto e fino e sussurrando coisas sem sentido.

"Sirius está certo," Dumbledore disse, ainda irritantemente calmo, "Vocês terão que se
esconder. Os planos já estão em andamento ".

353
"Quando podemos ir?" Perguntou James. "Hoje?"

"Em breve." Disse Dumbledore. "Eu irei até vocês quando for a hora."

"Ok." James acenou com a cabeça. "Ok. Certo. Bom."

"Vocês todos permanecerão vigilantes, eu acredito," Dumbledore continuou,


começando seu discurso de encerramento. Ele olhou para cada um deles, como se
quisesse impressionar a gravidade da situação. Quando encontrou os olhos de Remus,
Remus fez questão de encará-lo de volta e tentou transmitir uma aura de
confiabilidade e força. Dumbledore deu um breve aceno de cabeça, antes de passar
para Peter.

"E nenhum de vocês vai compartilhar essa informação com ninguém fora desta sala."

Todos eles concordaram. A mente de Remus estava girando - se Lily e James se


escondessem o que isso significaria? Eles ficariam presos no porão de Moody como
havia ficado? Esperava sinceramente que não, ele não desejaria isso a ninguém, muito
menos a seus melhores amigos e seu bebê.

Assim que Dumbledore saiu, eles deixaram o chalé para a densa luz do sol âmbar do
entardecer, e se entreolharam novamente. Harry havia adormecido agora, aninhado às
vestes de Lily, uma mão gordinha segurando sua longa trança vermelha.

"É melhor todos virem jantar", disse James com um sorriso tenso. "Apenas caso não
tenhamos outra chance."

Um nó se formou na garganta de Remus e se alojou lá pelo resto da noite.

Ainda assim, eles se divertiram. Gully, o elfo doméstico, preparou um banquete


completo em pouco tempo, um glorioso rosbife, batatas assadas douradas e pudim de
yorkshire, dois tipos de recheio, molho escuro de dar água na boca, cenouras,
pastinacas, ervilhas, brócolis... Remus não tinha comido nessa escala desde Hogwarts.

354
Antes de começarem, James ergueu o copo para brindar.

"Aos nossos amigos", disse ele, lançando um olhar ligeiramente aguçado para Sirius,
"que sempre estiveram aqui para nós apesar de tudo. Lily, Harry e eu amamos muito
todos vocês."

Remus teve que se desculpar depois de esvaziar seu copo em um gole. Ele passou
alguns minutos se recompondo no banheiro do andar de baixo. Quando saiu e voltou
para a mesa, Sirius o estava observando novamente, seus olhos estreitos e sua boca
uma linha reta inescrutável.

***

Quarta-feira, 10 de junho de 1981

Dois dias depois, Sirius desapareceu no meio da noite. Ele deve ter se esgueirado
deliberadamente, porque Remus não percebeu até ter acordado na manhã seguinte e
rolado para o travesseiro vazio e frio. Ele se sentou, confuso.

"Sirius?" Ele chamou para o resto do apartamento. Estava vazio.

Remus se levantou e foi até a sala de estar, checou a cozinha - às vezes eles deixavam
bilhetes um para o outro. Não havia nada. Mas os sapatos de Sirius haviam sumido
junto com as chaves da moto, então ele deve ter saído por vontade própria, pelo
menos.

Remus sentou-se à mesa da cozinha e esperou, fumando um cigarro atrás do outro. Ele
queria entrar em contato com alguém, mas não havia ninguém em quem ele pudesse
confiar - a teorização conspiratória de Sirius estava começando a afetá-lo.

Finalmente, a porta da frente se abriu e os passos familiares de Sirius puderam ser


ouvidos entrando no apartamento. Remus quase se levantou e correu para encontrá-lo,
mas ele vinha tratando Sirius com extremo cuidado desde o ataque de James.

355
"Moony?"

"Aqui."

"Oh, olá," Sirius parou na porta da cozinha. Ele parecia corado, provavelmente devido
a moto. "Tudo bem?"

"Onde você esteve? Eu estava preocupado!"

"Desculpa." Ele fez uma careta e veio se sentar à mesa também. Remus o observou. O
moreno parecia feliz. Seu cabelo cheirava a campo, e ele estava suando um pouco pela
camiseta preta - o tempo estava mudando para o que seria um verão muito quente. Ele
pegou o maço de cigarros, tirou um com os dentes e estalou os dedos para acendê-lo.

Remus esperou pacientemente.

"Aconteceu," disse Sirius finalmente, seu rosto brilhando de uma forma estranha,
perolado na luz fraca da manhã. "Eles estão escondidos."

"Lily e James?" Remus semicerrou os olhos, coçando a cabeça, "Como?"

"Dumbledore resolveu tudo."

Por que você não me levou com você? Remus quis perguntar antes de se repreender
por ter um pensamento tão egoísta. Essa não era a parte importante. "É seguro? Eu dei
a James um pergaminho inteiro de feitiços de segurança para usar, ele... "

"Eles não vão precisar de nada disso," Sirius acenou com a mão. Ele parecia
estranhamente triunfante, como se tivesse acabado de derrotar Remus em uma partida
de xadrez. "Dumbledore pensou em algo melhor."

"O que?"

"O feitiço fidelius."

356
"O.." Remus franziu a testa. Ele se lembrava vagamente de ter lido sobre isso... algo a
ver com implantar um segredo em outra pessoa. Era uma coisa poderosa, sabia disso.
Ninguém seria capaz de quebrá-lo, exceto o próprio guardião do segredo. "Bem, isso
vai bastar, eu suponho." Ele disse. "Mas eles não precisariam de alguém para guardar
o segredo? ...foi Dumbledore?"

"Ele se ofereceu", disse Sirius. "Mas, no final, pensamos que seria melhor se fosse um
de nós."

"Um de nós..?" Ocorreu a Remus de repente, como se Sirius tivesse jogado um balde
de gelo em sua cabeça. "Não." Disse, balançando a cabeça.

Sirius o olhava intensamente, seus olhos azuis escuros mais sérios do que nunca.
Remus queria bater nele. Sacudi-lo. Torcer seu pescoço. Qualquer coisa para ter fazer
algum sentido entrar sua cabeça dura estúpida. "Não." Repetiu. "É muito perigoso!"

"Moony..." Sirius começou.

"Não me venha 'Moony'!" Remus disse bruscamente, levantando-se. Precisava andar,


e se mover, apenas para acompanhar seus pensamentos. "É estúpido! É a ideia mais
estúpida que você já teve! "

"Não foi minha ideia -"

"Não me diga que você não se ofereceu!" Remus se virou para ele, furioso, "Não me
diga que você não aproveitou a chance!"

"A chance de ajudar meus melhores amigos?! De ajudar Harry?! Claro que sim!"
Sirius estava gritando também, e era horrível.

"Encontre outra pessoa!" Remus implorou, "Qualquer um! Eu farei! "

"Você não pode." Sirius balançou a cabeça, "Tem que ser eu, você sabe que sim."

"Não!"

357
"Você não pode simplesmente continuar dizendo 'não'. Está feito. Está resolvido. "

Remus realmente pensou que iria bater em Sirius por um momento. Bater nele ou
desatar a chorar como uma criança. Ele não fez nenhum dos dois. Ele se sentou com
força e cobriu o rosto com as mãos.

"Seu desgraçado." Ele murmurou.

"Vai ficar tudo bem. Eu tenho certeza. " Sirius disse, estendendo a mão para ele.
Remus bateu em sua mão.

"Você simplesmente fez isso?! Sem nem me dizer? "

"Estou te dizendo agora!"

Remus o encarou. Ele ia dizer algo do qual se arrependeria em um minuto. Se não


fosse embora, ele diria algo que nunca poderia retirar. Então, engoliu a raiva,
levantou-se e saiu do apartamento.

***

Sexta-feira, 24 de julho de 1981

Então foi feito. Depois dessa discussão, tudo aconteceu muito rápido. Não houve
despedidas, Lily, James e Harry simplesmente desapareceram sem deixar vestígios.
Remus sabia que era melhor não perguntar onde eles estavam - ele queria que eles
ficassem seguros, afinal. E queria que Sirius ficasse seguro.

A Ordem foi informada de que os Potters haviam se escondido; que Voldemort estava
atrás deles por causa do status de sangue de Lily e seu casamento com James.

"É horrível não confiar em ninguém, não é?" Peter disse quando saíram daquela
reunião.

"Sim." Remus concordou taciturnamente.

358
"É necessário." Sirius disse. "E se eu soubesse quem é o espião, eu mesmo o mataria,
nem precisaria de magia. "

Peter e Remus o encararam, chocados.

"Sirius," Remus disse, colocando a mão em seu ombro, "Não podemos começar a agir
como Comensais da Morte, James não iria querer..."

"James não quer que seu filho seja assassinado por um lunático em uma alucinação de
poder!" Sirius vociferou, afastando-se do toque de Remus, "Você ficou mole,
Moony."

Se eu fiquei mole, Remus pensou para si mesmo, foi por sua causa. Ninguém se
apaixonava com um coração duro, havia aprendido essa lição mais de uma vez.

Ainda assim, por mais terrível que Sirius estivesse agindo, Remus estava inclinado a
fazer algumas concessões. Foi uma época muito difícil - o ponto mais sombrio da
guerra - e todos estavam lidando com a pressão de forma diferente. Peter e Marlene se
afundaram em trabalho, raramente eram vistos sem estarem correndo para um lugar ou
outro. Mary pareceu se retrair mais para o mundo trouxa. Ela sempre estava por perto
quando você precisava dela, mas sua mente freqüentemente parecia estar em dois
lugares. Remus tinha a bebida e sua autopiedade. Então, se Sirius quisesse ficar com
raiva por um tempo, tudo bem.

Mas ainda sim era uma guerra - a guerra não fazia concessões ou dá a ninguém tempo
para recuperar o fôlego. É implacável, imperdoável e inimaginavelmente cruel.

Faltava apenas uma semana para o primeiro aniversário de Harry. Sirius tinha acabado
de chegar do Beco Diagonal - ele havia saído em busca de algo apropriado para uma
criança de um ano e, em vez disso, voltou com uma vassoura de verdade.

"Sirius!"

"Ah, vamos, Moony!"

359
"Ele é um bebê!"

"Temos que treiná-lo jovem se ele um dia irá jogar pela Inglaterra!"

Remus riu indulgentemente e tomou um gole de chá enquanto observava Sirius


embrulhar o brinquedo. Ele não o via tão feliz há algum tempo, e era tão bom. Então
aconteceu.

Primeiro, houve um cheiro estranho que apenas Remus sentiu. Familiar, amigável e
mágico. Então, em um flash de luz brilhante, um enorme patrono de prata irrompeu
pela parede. Era uma leoa, e rondava a sala, rosnando.

"Puta que pariu!" Sirius saltou, recuando.

O enorme gato olhou para os dois com olhos queixosos e abriu a boca. O grito que
emanava dele era de gelar os ossos e era familiar demais. Era Mary.

"Ajuda!" Ele lamentou, "Hollyhock House!"

E então desapareceu.

"Esse é o endereço do McKinnon." Remus disse, levantando-se para calçar os sapatos.

"Onde você está indo?" Sirius perguntou.

"Ajudar Mary!" Remus respondeu impaciente, amarrando os cadarços, "Vamos!"

"Moony, não", disse Sirius, "Não podemos, temos que seguir o protocolo, entrar em
contato com Moody, ou Arthur, ou Frank, ou..."

"Foda-se o protocolo!" Remus gritou, "É Mary! Ela pediu ajuda e eu vou. Fique aqui
se quiser."

Claro que Sirius não ficou.

360
Eles chegaram do lado de fora da Hollyhock House talvez dez minutos depois de
receber o patrono de Mary. Nenhum deles havia estado na casa de Marlene antes,
embora ela tivesse descrito como era algumas vezes. Era uma adorável casa de campo
em estilo tudor, localizada a alguns quilômetros de um vilarejo em Sussex. Havia um
longo caminho de jardim, com uma borda de amores-perfeitos brilhantes e gerânios
vermelhos, roxos, amarelos e rosa. A porta da frente era pintada de um verde escuro e
suave, e se você esticasse o pescoço, poderia ver o topo de três aros de quadribol no
jardim dos fundos.

Pode ter sido bonito em qualquer outro momento. Mas não hoje.

Mary estava parada no topo do caminho à beira da estrada, congelada, olhando


fixamente para o céu azul. A marca negra pairava sobre o telhado de palha amarela;
uma enorme nuvem negra, as formas inconfundíveis de crânio e cobra.

"Não!" Remus engasgou. Mary se virou para ele com lágrimas nos olhos.

"Eles estão todos mortos." Ela disse.

"Tem certeza?" Sirius perguntou enquanto dava alguns passos no caminho, varinha
erguida.

"Sim." Ela disse. "Sim, eles estão todos alinhados um ao lado do outro".

"O que?" Ele a olhou, confuso.

"Alinhados... em uma fila..." ela repetiu. Mary cambaleou por um momento, e Remus
colocou os braços em volta dela, caso desmaiasse. Ela se apoiou nele, chorando
silenciosamente.

"Fique com ela." Sirius disse, continuando pelo caminho do jardim. Remus começou a
tremer. Era como um pesadelo, como um filme de terror. Ele observou Sirius se
aproximar da porta, empurrá-la e chamar para dentro.

361
"Nós deveríamos ter nos encontrado para almoçar hoje, mas ela nunca apareceu,"
Mary sussurrou contra o ombro de Remus, ainda agarrada a ele, "Eu pensei que ela
estava apenas ocupada no hospital... Eu tentei encontrá-la depois do trabalho, mas eles
disseram que ela não tinha aparecido... então eu vim aqui e eu... "

"Está tudo bem," disse Remus, porque o que mais você diria?

"A marca estava lá, e a porta estava aberta, e ... oh Deus, Remus! Todos eles! Sua mãe
e seu padrasto, e Yaz e Danny... apenas deitados lá! Ah meu Deus, seus olhos! " Ela
começou a soluçar de verdade, e Remus a abraçou com mais força, sentindo suas
entranhas se transformarem em água.

Sirius saiu da casa. Mesmo à distância, Remus podia ver a expressão de horror em seu
rosto. Ele caminhou rapidamente em direção a eles.

"Vou trazer Moody", disse ele. "Volto o mais rápido possível, ok?... Não entre lá."

E com isso, ele desapareceu com um *CRACK* alto.

"É isso." Mary chorou, histérica. "Já chega, eu não posso mais fazer isso!"

362
Capítulo 173: A Guerra: Outono 1981

I loved the words you wrote to me

But that was bloody yesterday.

I can't survive on what you send

Every time you need a friend.

I saw two shooting stars last night

I wished on them - but they were only satellites

Is it wrong to wish on space hardware?

I wish, I wish, I wish you'd care.

I don't want to change the world

I'm not looking for a new England

I'm just looking for another girl.

A New England, Billy Bragg.

Ninguém sabia quem ou porque haviam matado os McKinnons. Claro que existiam
teorias; a mais lógica é que com Danny e Marlene na Ordem, eles eram simplesmente
um alvo óbvio. Algumas pessoas se perguntaram se era por causa da conexão de
Marlene com James e Lily, porque ela havia curado James. Outros achavam que ela
tinha feito muito barulho sobre os direitos dos lobisomens no trabalho.

No final, nada disso importava, não para Remus. Por que tentar dar sentido a algo tão
sem sentido?

363
Devido ao antigo status de celebridade de Danny, os assassinatos foram notícia de
primeira página. Havia uma grande foto dele no Profeta Diário, dos dias nos Cannons
- rosto largo e ensolarado, mantos esvoaçantes. Sem cicatrizes. Uma foto menor de
Marlene que deve ter sido tirada no trabalho, porque ela estava de uniforme. Jovem e
promissora curandeira, Mylene McKinnon, de acordo com a legenda escrita
incorretamente.

Yasmin não foi mencionada de forma alguma, embora Sirius tenha dito a Remus que
elas foram encontradas deitadas uma ao lado do outra, e seus dedos ainda estavam se
tocando.

"Lembra no terceiro ano," Sirius disse, nos dias que se seguiram, "Todos nós
pensamos que vocês dois gostavam um do outro."

"É." Remus respondeu monótono.

"Ela era uma batedora melhor do que eu. Gostaria de ter contado a ela."

"Ela sabia." Remus disse com um sorriso triste.

Mary não foi vista por um longo tempo. A morte de Marlene a atingiu com mais força
do que qualquer um, elas eram praticamente inseparáveis desde os onze anos. Remus
se lembrava de como costumava achar que elas eram irritantes antes de descobrir que
garotas também eram pessoas.

Ele se lembrava de sua paciência silenciosa, suas explosões de paixão ardente. A


petição para remover o Salgueiro Lutador quando ela tinha apenas treze anos, porque
alguém havia se ferido, e Marlene nunca suportaria ver alguém ferido, não se
houvesse algo que ela pudesse fazer a respeito. Se algum deles tinha chance de mudar
o mundo, era ela. Mas não mais.

***

364
Outro setembro chegou e, como sempre, Remus se lembrou de sua infância e de
Hogwarts. O cheiro de pergaminho, tinta nova, bolsas de couro e lacre. Uma sensação
de novos começos, de mudança. Como pode ter se passado uma década inteira desde
que ele chegou pela primeira vez a King's Cross, esquelético, zangado e
negligenciado?

Muita coisa mudou desde então. Ele se tornou um homem. Ele aprendeu mais do que
jamais imaginou ser possível, conquistou coisas com as quais nunca sonhou - seus
horizontes foram expandidos continuamente, pela educação, pela magia, pela amizade
e pelo amor. Ele não estava completamente diferente, é claro. Remus não mentia para
si mesmo, seu temperamento realmente não tinha ido a lugar nenhum, nem sua
tendência a reprimir sentimentos ruins ou a atacar quando as coisas ficavam demais.

Mas ele achava que estava se saindo melhor, pelo menos com as pessoas que amava.
Pelo menos com Sirius. Ele se abriu e revelou mais de si mesmo para Sirius do que
para qualquer outra pessoa. Havia compartilhado sentimentos que todos os instintos
lhe diziam para manter ocultos. Nem sempre foi fácil - eles brigaram, gritaram,
choraram. Mas valeu a pena.

Pelo menos, Remus pensava que sim.

Ele não tinha tanta certeza sobre Sirius. Talvez tenha sido o preço da guerra - muitas
mortes, muitos quase acidentes. Talvez tenha sido a separação de James. Talvez
Remus tenha apenas testado sua paciência muitas vezes. Não conseguia definir o que
era. Tudo que Remus sabia era que algo estava muito, muito errado.

Foi em meados de setembro que ele realmente percebeu que tinha acontecido. Sirius
havia escapulido dele. Eles ficavam separados com certa frequência - Remus passara a
ver isso como um fato da vida; suas habilidades eram tão diferentes, eles tinham
trabalhos distintos a fazer. A serviço da guerra, isso não era nada. Ambos estavam
satisfeitos e orgulhosos em fazer isso.

365
Mas depois de algumas semanas, Remus percebeu que essa distância era outra coisa,
mais do que apenas o estresse normal. Sirius havia recuado.

"Estou com saudades." Remus disse uma noite. Levou o dia todo para criar coragem
para pronunciar essas três palavras estúpidas.

"Eu estou bem aqui." Sirius sorriu cansado, sentado do outro lado da mesa, mexendo
no jantar com o garfo.

Então, depois de um tempo, ele falou novamente. "Tudo vai acabar logo. Temos que
confiar em Dumbledore, só isso."

Remus poderia ter chorado.

"Mas você é o único em quem confio."

Sirius apenas o olhou tristemente. Remus não suportou aquele olhar, o fez se sentir
estúpido por estar apaixonado. Estúpido por se preocupar com qualquer outra coisa
senão vencer a guerra.

Finalmente Sirius se levantou. Ele pegou seu prato e jogou o conteúdo na lixeira.

"Tenho que ir." Ele disse. "Moody quer que eu faça guarda. Volto tarde, não fique
acordado esperando."

Ele não lhe deu um beijo de despedida..

Remus estava perdido. Mais uma vez, ele se encontrou com um problema que era
quase um segredo. Ele não podia perguntar a James ou Lily - mesmo se soubesse
como entrar em contato com eles, ambos tinham muito com que se preocupar
sozinhos. Peter nunca gostou muito de ouvir sobre qualquer coisa relacionada ao
relacionamento de Remus e Sirius, e embora ele fosse um bom amigo - um dos
melhores amigos de Remus - eles realmente não confidenciavam um com o outro

366
dessa forma. Marlene poderia ter ajudado, mas Remus não queria pensar nisso. E,
claro, o luto de Mary não deixava muito espaço para conselhos românticos.

No fundo, Remus sabia que deveria perguntar a Sirius abertamente. Exceto.

Exceto que ele estava apavorado com a resposta. Estava com medo de que não fosse
sobre a guerra, ou sobre James, ou sobre crescer. Estava com medo de que o problema
fosse ele. E se Sirius apenas tivesse se desapaixonado?

Essa ansiedade preocupava Remus conforme as noites caíam e os dias ficavam mais
frios. Tudo parecia fazer sentido de uma forma horrível; a distância, a falta de vontade
de conversar, a falta de afeto, a vida sexual inexistente. E esse olhar. O olhar que
Sirius continuava lhe lançando - como se Remus fosse um estranho.

Era insuportável. Remus não sabia se conseguiria lidar com outra perda.

Então, no início de outubro, quando Moody lhe deu uma missão, Remus ficou
esperançoso. Olho-tonto o chamou de lado no final de uma reunião da Ordem,

"Estamos de olho no bando." ele grunhiu.

"Greyback?"

"Acho que não. Os insurgentes, acreditamos. Eles estão se escondendo em uma


floresta na Alemanha. "

"Oh," disse Remus surpreso. Era Castor? "Eles atacaram alguém?"

"Não, tem mantido a cabeça baixa, pelo que parece."

"Isso é bom, não é?" Remus respondeu. "Devíamos simplesmente deixá-los quietos."

"Acredite em mim, rapaz, eu preferia isso.", Moody respondeu com um sorriso


irônico, "Mas tempos de desespero exigem medidas desesperadas. Enviaremos você. "

367
"Para fazer o que? Eles deixaram Greyback, eles deixaram Voldemort. Não era esse o
plano? "

"Era. Dois anos atrás. Perdemos muitas pessoas boas desde então. Percebeu como
essas reuniões estão ficando aconchegantes?"

Era verdade. A primeira reunião da Ordem que Remus compareceu ele havia se sentiu
completamente sobrecarregado - a sala estava cheia de bruxas e bruxos prontos para
lutar e enfrentar os Comensais da Morte. Agora, haviam muitos rostos faltando - os
McKinnons e os Potters, os Prewetts, o velho Darius Barebones, Dorcas, Caradoc
Dearborn, Benjy Fenwick, Ferox...

"Então..." Remus pensou bastante, "Agora você quer recrutar os lobisomens?"

"Bingo."

"Depois de anos legislando contra eles? Depois de forçá-los a perder seus empregos?
Suas casas?! " Remus sabia que estava sendo rude - ninguém falava com Alastor
Moody assim - mas ele estava muito, muito cansado da batalha para se importar.

Moody não pareceu perturbado. Remus supôs que sofreu abusos muito piores de
bruxos muito mais assustadores.

"Nós sabemos que é um muito a se pedir, mas, como eu disse, tempos


desesperadores."

"E há algo que eu possa oferecer a eles em troca, sabe, por suas vidas?!"

"Voldemort é pior." Moody respondeu. "Quaisquer que sejam suas vidas agora,
Voldemort só vai piorá-las."

Remus suspirou pesadamente. "Tá bom."

Ele estava pronto para ir de qualquer maneira. Estava pronto para uma mudança,
pronto para sair de Londres, sair de sua vida miserável e voltar a ser útil. Ele até

368
acalentou a ideia de que uma longa ausência poderia ajudar na situação com Sirius. A
ausência não tornava o coração mais afetuoso?

Poderia ser um alívio, um espaço para respirar, algum tempo para pensar. Ele testou
essa teoria em sua última conversa com Sirius.

"Você ficará feliz em ter algumas semanas de folga, não é?" Precisou de toda sua
força para o fazer, mas ele sorriu.

"Hm?" Sirius franziu a testa, erguendo os olhos de um planta arquitetônica que estava
analisando. Ele parecia irritado com a interrupção, e Remus sentiu um rasgo horrível
dentro do peito. "O que você disse?"

"Eu disse que você ficará feliz em se livrar de mim por um tempo." Remus repetiu
bravamente. "Me ter fora do caminho."

"Por que você diria isso assim?" Sirius o encarou sem expressão.

"Assim como? Eu só quis dizer... você sabe, você pode usar esse tempo para pensar. "

"Não há tempo para pensar, não até o fim da guerra." Sirius retrucou e voltou às suas
plantas, "Vai ser o mesmo você estando aqui ou não."

Isso foi tudo que Remus conseguiu aguentar. Ele pegou sua varinha, um maço de
cigarros e partiu para a Alemanha com apenas um breve adeus - como se fosse apenas
dar um pulo no shopping. Ele praticamente fumegou enquanto caminhava para o local
da chave de portal. Esse idiota! Dê a ele duas semanas sozinho, então ele perceberá o
quão idiota estava sendo.

Remus voltaria novo e selvagem das florestas, e Sirius estaria tão arrependido, e tão
afetuoso, e haveria tempo para conversar e consertar, e se apaixonar novamente.

Isso era tudo que eles precisavam, um pouco mais de tempo.

***

369
Terça-feira, 13 de outubro de 1981

Remus estava certo. Pelo menos no que dizia respeito a si mesmo. Ele se sentiu muito
melhor depois de deixar o país. Era muito mais fácil não pensar em Sirius - ou em
qualquer coisa do mundo bruxo - enquanto estava escondido nas profundezas
aveludadas da Floresta Negra.

Escolheu chegar na tarde antes da lua cheia, seria melhor abordar o bando como um
lobo.

A transformação foi rápida - a floresta ao redor dele exalava vida e magia antiga,
amplificando o poder afiado da lua cheia. A noite em si era tão familiar e aterrorizante
quanto sua pele de lobo. O bando o encontrou perto do amanhecer. Eles o receberam
em casa com alegria e se reuniram em volta dele enquanto jogavam o pescoço para
trás e uivavam lindamente para o céu noturno até que as estrelas ressoassem com seu
canto.

Quando todos voltaram à forma humana, Remus se contorceu de volta à vida entre
uma confusão de outros corpos, e as mãos de Castor sobre ele, já curando suas feridas.

"É bom ver você, Remus Lupin."

Todos eles caminharam lentamente por entre as árvores enquanto a luz amarela de
outubro se filtrava sobre a serapilheira.

Durante o tempo em que o bando morou lá, eles construíram uma pequena vila de
cabanas de vime. Todos se enrolavam para dormir em musgo seco e macio com o
canto dos pássaros cantando no alto.

Remus acordou sem nós nos ombros e sem a mandíbula cerrada. Ele estava relaxado
pela primeira vez em meses. Castor estava deitado ao lado dele, tão quente e tão
pacífico, sua pele morena macia pressionando contra a de Remus em alguns lugares.
Lembrando-se de sua humanidade, Remus se afastou ligeiramente. Os olhos de Castor
se abriram e o encararam.

370
"Você está bem, Remus Lupin?"

"Sim, muito bem, obrigado." Ele esfregou os olhos. Castor continuou o olhando.

"Você está sofrendo." Ele disse. Uma declaração, não uma pergunta.

"Eu perdi algumas pessoas." Remus disse. "Estamos perdendo a guerra."

"Sim," Castor concordou. "E você veio pedir nossa ajuda, não é, Remus Lupin?"

"Eu sei que não é uma coisa pequena..."

"Nós vamos ficar aqui. Esta é a nossa casa."

"Você entende que eu não perguntaria a menos que a situação fosse desesperadora.
Você entende... Voldemort também não poupará lobisomens?"

"Nós entendemos." Castor respondeu simplesmente. "E nós estamos de acordo. Nós
ficaremos aqui. Vamos nos esconder, somos bons nisso. "

"Eu encontrei você."

"Sim, Remus Lupin. Você sempre será bem-vindo. "

Remus se sentou e alcançou a capa de pele de lobo a seus pés, cobrindo-se com ela.

"Bem, é isso então." Ele disse. "É melhor eu voltar."

Castor estendeu a mão e a colocou em seu braço.

"Fique um pouco, Remus Lupin. Temos muito para mostrar a você. Talvez então você
verá. "

Então Remus ficou. Ele pensou que se passasse um pouco de tempo com eles, como
antes, poderia conversar, mudar a opinião de alguém. A maioria deles possuía família
bruxa no Reino Unido, ele tinha que ser capaz de apelar para eles, com certeza.

371
Não podia voltar para a Ordem sem tentar - todos os outros estavam se entregando
totalmente à luta, e esse era, afinal, seu propósito. Se ele não podia ser um emissário
decente para os lobisomens, então de que adiantava?

Ainda assim, não foi uma decisão difícil de tomar. Não foi um grande sacrifício. Ele
não tinha nada para voltar, exceto uma conversa muito difícil com Sirius.

E Remus conversou com eles. Durante as três semanas que passou com os lobisomens
em outubro de 1981, falou com cada um deles. Ele argumentou, fez sermões e
discursou. Mas não adiantou nada; todos estavam felizes. Não da maneira louca,
iludida e pensando que tudo é perfeito, como alguns dos seguidores de Greyback
haviam sido, mas de uma forma prática e poderosa - eles viam um futuro para si
mesmos, viam uma maneira de viver uma vida livre de crueldade ou intervenção. Não
era para todos - definitivamente não era para Remus - mas ele não podia negar que
eles estavam fazendo funcionar.

Na verdade, com o passar do tempo, Remus perdeu a noção de quem estava


persuadindo. Todos estavam ansiosos para levá-lo para caçar, para mostrar a ele como
tecer madeira ou lançar feitiços de proteção que os tornavam quase invisíveis para os
humanos. Ele nunca sentiu fome, frio ou medo.

"Você vê agora?" Castor perguntou uma noite, quando o Halloween se aproximava.

"Sim, eu entendo." Remus respondeu olhando para o teto de palha. "Vocês todos
preferem se esconder, como covardes."

"Você não acredita nisso, Remus Lupin." Castor sorriu, se acomodando para dormir.
Ele ocasionalmente demonstrava emoções reais, agora que ele e Remus estavam tão
próximos.

Remus decidiu continuar compartilhando uma cabana com ele. Ele não gostava de
dormir sozinho e não era como se algo estivesse acontecendo, apenas fazia sentido.
Ele tinha que ficar perto do líder, era o que qualquer um faria. E sim, era um

372
relacionamento intenso, mas isso não significava que tivesse algo a ver com sexo. Era
assim que as coisas eram com os lobisomens, tudo era motivado pelo cheiro, instinto e
as fases da lua.

Ainda assim, Remus sabia como pareceria. Ele não se enganou achando que Sirius
mudaria repentinamente de idéia e correria desesperadamente para a Alemanha para
encontrá-lo, mas Remus sabia que era muito errado, mesmo sem a chance de ser pego.
Era patético também. Se repreendeu por isso durante as longas noites escuras; você
não pode se considerar nem ao menos um homem. Algumas semanas se sentindo
ignorado e você está se aproximando do próximo cara bonito que mostra algum
interesse em você. E nem mesmo tem coragem de fazer nada a respeito.

No final, foi seu desejo por Castor que lhe disse que precisava ir embora. E seu amor
por Sirius. Remus havia feito algumas coisas muito drásticas e estúpidas em sua vida,
mas ele não iria fugir para viver em uma floresta apenas para escapar de conversar
com o amor de sua vida. Ele iria para casa e se obrigaria a enfrentá-lo. Ele faria tudo o
que pudesse para manter Sirius, porque no fundo, ele sabia que era a única coisa que
realmente importava.

***

2 de novembro de 1981

A chave de portal havia se fechado e Remus não conseguiu entrar em contato com
ninguém. Precisou que voltar sozinho para a Grã-Bretanha, aparatando parte do
caminho, pegando carona no resto.

No momento em que Remus alcançou Londres, ele não tinha nem energia para
aparatar. Em vez disso, pegou um ônibus e adormeceu no meio do caminho para a
Leicester Square. Desceu e parou na loja de esquina de costume para comprar tabaco.
Ele comprou duas barras Mars também - se Sirius estivesse em casa, ele poderia
querer uma. Se não, então azar, Remus comeria ambas.

373
Enquanto destrancava a porta da frente podia ouvir o telefone tocando. Demorou
alguns instantes para entrar, a moldura de madeira do batente da porta havia inchado
com toda a chuva e a porta às vezes ficava emperrada - mas, quando entrou, ainda
estava tocando. Deve ser urgente, ele pensou distraidamente.

Ele gritou "Padfoot? Está em casa? " ao cruzar a sala, ergueu o fone, "Alô?"

"Olá? Olá, Remus, é você? "

"Mary? Oi! Acabei de voltar, merda, onde estão todos?!"

Houve um estranho silêncio no outro lado da linha e um formigamento horrível de


estática percorreu sua espinha. "Mary?!"

"Você não soube..."

"Jesus Cristo, Mary, o quê?!"

"Remus... algo terrível aconteceu."

Ela começou a explicar, e Remus caiu de joelhos quando o mundo inteiro começou a
desmoronar.

374
Capítulo 174: A Guerra: Armistício

He who endured my hardships with me

He now has gone to the fate that awaits mankind

Day and night, I have wept for him

I would not give him over for burial

For what if he had risen at my cries?

Six days and seven nights I waited

Until a worm crawled out of his nose

Since he has gone

There is no life left for me.

Juntos enfrentamos todos os tipos de dificuldade.

Por causa dele eu vim, pois caíu vítima do destino que assola os homens.

Chorei por ele noite e dia e me recusava a entregar seu corpo para o funeral.

Pensei que meu pranto fosse trazê-lo de volta.

Por seis dias e sete noites eu esperei.

Até um verme se arrastar para fora de seu nariz.

Desde sua partida minha vida deixou de ter sentido;

Livro A Epopéia de Gilgamesh

375
***

James morreu primeiro. Remus deveria ter esperado isso. Ele estaria esperando na
porta da frente, nunca passaria por sua mente se esconder ou fugir.

Então Lily, parada na frente de seu filho. Remus imaginou o rosto desafiador dela, as
mãos agarrando a lateral do berço e os olhos verdes brilhando. Ela teria encontrado a
morte com os olhos bem abertos, isso era certo.

E então Peter, o próximo. Ah Peter, o idiota - o idiota corajoso e ridículo. Ele deveria
ter ouvido falar do que aconteceu a James e Lily, deve ter sabido imediatamente quem
era o culpado. Depois de todos aqueles anos na sombra de James e Sirius, o primeiro
instinto de Peter foi enfrentar Black por conta própria.

Ele inadvertidamente levou os aurores direto para Sirius, então sua morte brutal não
foi completamente em vão.

Direto para Sirius.

E aí estava o bloqueio. Como uma cortina caindo sobre a cena, a mente de Remus não
tocaria em Sirius. Ele não conseguia chegar lá, não conseguia imaginar nada disso.
Supôs que essa era a maneira de seu cérebro protegê-lo. Doía o suficiente saber
apenas os fatos básicos.

Mary apareceu assim que desligou o telefone. Ela era a única pessoa que ele poderia
tolerar, de qualquer maneira, e Deus; ela era tão forte. Ele deitou a cabeça no colo dela
e ela acariciou seus cabelos como uma mãe.

"Sirius," ele gritou repetidamente, agarrando-se à saia dela, "Sirius!"

"Eu sei", ela sussurrou de volta, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, pingando em
seu cabelo. "Eu sei, eu sei..."

376
Ela trouxe uma poção de dormir com ela, e Remus bebeu tudo avidamente, ansioso
para escapar. Enquanto dormia, Mary empacotou todas as coisas de Sirius. Todas as
suas roupas, seus discos, seus livros. Quando Remus se levantou, o apartamento
parecia quase vazio.

“Pedi a Darren que os levasse para a garagem”, explicou ela. “Você não precisa tocar
em nada até estar pronto. A moto sumiu, não sei para onde.”

"Ele deve ter pego." Remus respondeu, sentindo-se entorpecido. Ele já estava se
perguntando quanto álcool havia no apartamento e se deveria ou não esperar que Mary
saísse antes de começar a trabalhar para resolver o problema.

"Remus... eu tenho que ir agora." Ela disse gentilmente, levantando-se e se abraçando.


Ela parecia pequena. Mary sempre foi um tipo de garota maior do que a própria vida,
mas Remus percebeu que ela mal podia ter 1,65.

"Sim, claro." Ele murmurou. Definitivamente havia um pouco de gim debaixo da pia
da cozinha.

“Vou ficar fora por um tempo”, disse ela. “Eu vou.. Darren está me levando para a
Jamaica, para ficar com a família. Preciso de um tempo longe, não sei quando voltarei.

"Oh." Ele a olhou nos olhos corretamente. Ela não usava maquiagem - ele não via
Mary sem delineador e batom desde que ela tinha 12 anos.

“Há... alguém que possa vir aqui para ver você? Não me importo de fazer uma ligação
para você. "

"Está tudo bem." Ele disse. “Não se preocupe comigo”.

"Mas eu vou." Ela respondeu sorrindo, mas sem entusiasmo. "Tem certeza que não
posso entrar em contato com ninguém?"

377
"Não há ninguém." Ele disse. Eu não tenho ninguém.

“Tente conversar com Moody? Ou Arthur? "

"Sim, boa ideia." Remus acenou com a cabeça. Ele não queria falar com ninguém,
mas não queria que ela se preocupasse. "Você sabe... O que devemos fazer agora?"

"Eu não sei."

"Você falou com Dumbledore?"

"Ha." Mary bufou. “Boa sorte em tentar encontrá-lo. Ele está muito ocupado sendo
parabenizado pelo ministério. Ele provavelmente estará no... funeral. "

Remus sentiu como se uma lâmina gelada estivesse se retorcendo dentro de si. Isso
não podia ser real.

"Por que nós." Ele disse enquanto a olhava, desesperado por respostas. “De todos. Por
que eu e você sobrevivemos, e não Lily e James? Quem decidiu isso?! É besteira! ”

"Eu sei, querido." Ela respondeu suavemente. "Eu sei."

Ele não podia esperar mais, foi até a cozinha e pegou a garrafa aberta mais próxima do
armário. Gin, sobras de uma festa ou outra. Ele não colocou no copo, apenas bebeu.

"Remus," disse Mary, mordendo o lábio, observando-o da sala de estar, "Eu realmente
preciso ir... você promete que entrará em contato com Arthur?"

"Sim." Ele assentiu. Só queria que ela fosse embora. Agora. "Até mais."

"Tchau, amor. Eu voltarei, eu prometo. ”

E ela foi embora. E Remus estava sozinho.

378
Capítulo 175: 1982

Times at a distance, times without touch,

Greed forms the habit of asking to much,

Followed at bedtime by builders and bells,

Wait 'til the doldrums which nothing dispels.

Idly, mentally, doubtful and dread -

Who runs with the beans shall go stale with the bread.

Let me lie fallow in dormant dismay

Tell me tomorrow, don't bother today.

Fucking ada! Fucking ada!

Fucking ada! Fucking ada!

Tried like a good 'un, did it all wrong

Thought that the hard way was taking to long

To late for regret or chemical change;

Yesterday's targets have gone out of range.

Failure enfolds me with clammy green arms,

Damn the excursions and blast the alarms,

For the rest of what's natural I'll lay on the ground;

379
Tell me tomorrow if I'm still around.

FUCKING ADA, FUCKING ADA!

Fucking Ada, Ian Dury and the Blockheads

Dia do ano novo de 1982

THUD-THUD-THUD-THUD-THUD-THUD

Alguém estava batendo na porta.

Já faziam isso há um certo tempo e não davam sinais de parar. Na verdade, estava
piorando.

Remus abriu os olhos. Sua garganta estava seca e sua cabeça doía. Na verdade, tudo
doía; ele estava dormindo no sofá há semanas. Ou meses? Quem se importava. Era
desconfortável, mas ele não conseguia se forçar a entrar no quarto. De qualquer forma,
na maioria das noites, ele estava bêbado demais para se mover. Na verdade, ele estava
bêbado demais na maioria dos dias. Remus não tinha mais ressaca, apenas intervalos
entre as garrafas. O garoto da porta ao lado não se importava em correr até a loja de
conveniência dia sim dia não, provavelmente estava ganhando uma fortuna com os
trocos.

As batidas continuaram.

"Remus?!" O som abafado veio pela porta, e quem estava do outro lado continuou
martelando.

"Vai se foder," ele gritou, sua garganta áspera como uma lixa.

Ele pegou a garrafa mais próxima no chão abaixo dele e deu um gole. Quase engasgou
com a queimação do whisky, mas conseguiu engolir a maior parte, graças a Deus. Ele
não podia se dar ao luxo de perder uma gota de esquecimento.

380
"Remus? Me deixe entrar!"

Era Grant. Ele reconheceu a voz agora - talvez o cheiro também, mas seus sentidos
estavam uma bagunça desde... não, não, não...

Ele se enrolou, enterrando a cabeça nas almofadas do sofá. Não conseguia falar com
ninguém. Não conseguia ver ninguém. Ele só precisava ser abandonado, para beber e
esquecer. Por favor.

"Vai se foder!" Ele soluçou, gritando para a porta. "Me deixe em paz!"

"Não!" Grant gritou de volta, e as batidas ficaram ainda mais altas, baques
implacáveis e retumbantes. Ele estava realmente tentando arrombar a porta, aquele
idiota estúpido.

Remus meio que considerou lançar um feitiço silenciador, mas ele não tinha certeza
de onde estava sua varinha. Rolou novamente e se levantou.

Haviam garrafas e latas espalhadas pelo chão, tilintando e farfalhando enquanto


vagava. Seus braços e pernas pareciam chumbo. Que dia era? Estava frio. Ele esfregou
os braços ao se aproximar da porta, estremecendo com o frio. Havia deixado uma
janela aberta em algum lugar do apartamento e se esquecido de fechá-la. Bem.

As batidas na porta continuavam enquanto se aproximava, a madeira iria estilhaçar se


ele não tomasse cuidado.

"O que é?!" Ele a abriu.

Grant o encarou, o punho ainda erguido, os olhos arregalados. Suas bochechas


estavam rosadas de tanto gritar e ele respirava pesadamente. Ele olhou Remus de cima
a baixo.

"Jesus Cristo." Disse, abrindo caminho e entrando rudemente. "O que aconteceu?
Estou te ligando há dias, o que há de errado com o telefone? "

381
"Fora do gancho." Remus respondeu, voltando lentamente para seu ninho no sofá,
onde, pelo menos, estava quente. Ele enrolou os pés frios sob o corpo e pegou a
garrafa novamente.

"Que porra tá acontecendo aqui?" Grant olhou para a bagunça ao redor, e então para
Remus novamente, "...Deus, ele não deixou você, deixou?"

Remus o encarou e não conseguiu evitar. Ele começou a chorar. Se inclinou para a
frente, ficando de joelhos, deixando cair a cabeça entre as mãos e berrou como uma
criança.

"Merda," Grant se apressou para se sentar ao lado dele, sem se importar com as latas
vazias, as almofadas e cobertores fedorentos, "Eu e minha boca grande! Eu sinto
muito! Eu não quis dizer..." Ele puxou Remus para perto de si sem pensar, e deve ter
sido horrível, porque Remus sabia que não tomava banho a séculos, tudo que fazia era
beber e chorar por dias e dias, mas Grant o segurou com força.

"Todos se foram." Remus disse quando conseguiu falar. "Estou sozinho."

"Besteira." Grant respondeu. "Você não está sozinho."

Remus chorou ainda mais.

***

Nem um único dia se passou - e, por muitos anos, nenhum dia se passaria - que ele
não pensasse em Sirius e sofresse. Era uma tortura abstrata e cruel, e Remus se
resignou a uma vida de miséria absoluta.

Para onde quer que olhasse, ele era assombrado por pensamentos e lembranças de seus
amigos, das coisas que eles nunca poderiam fazer e das coisas que não fizeram a
tempo. Ele compareceu ao funeral - um para Lily e James, seguido por um memorial
para Peter. Remus sentou-se no fundo e saiu antes de terminar, caso alguém tentasse
falar com ele.

382
Morria de medo de que alguém pudesse lhe perguntar sobre Sirius, perguntar o que ele
sabia. Ou que lhe dissessem algo que não queria saber. Então Remus não ficou para
relembrar, ou 'celebrar' a vida de seus amigos (honestamente, que ideia desprezível).
Ele foi para casa sozinho e ficou bêbado. Ele ficou bêbado todos os dias durante
semanas.

Ficou no apartamento em Soho - não tinha escolha, nem dinheiro, nem família. Nem
amigos.

A Ordem se desfez e aqueles que ainda tinham vidas que valiam a pena serem vividas
não queriam conhecê-lo. Não conseguiu encontrar nenhum trabalho no mundo bruxo
e, nunca tendo se sentido pertencente de qualquer maneira, decidiu se isolar.

Depois de ler sobre o destino dos Longbottom's no Profeta Diário, ele parou de ler os
jornais. Não se reconectou à rede de flu, e não usava magia a menos que realmente
precisasse. Nunca voltou ao Beco Diagonal e, para todos os efeitos, viveu como um
trouxa.

Mary mandava cartões postais da Jamaica, de Trinidad, de Santa Lúcia - parecia ter
família em todo o Caribe. Ela ficava pedindo desculpas. Remus não sabia porque;
ambos perderam as mesmas coisas. Pelo menos ela se importava o suficiente para
entrar em contato.

Dumbledore realmente tentou contatá-lo algumas vezes, mas Remus deliberadamente


tornou-se difícil de alcançar. Ele estava furioso com o velho que, no que dizia respeito
a Remus, nunca havia levantado um dedo para ajudar; que os havia empurrado para a
guerra por mais jovens e estúpidos que fossem, que os viu morrer um por um, sem
nem piscar. Até o bebê, Harry, foi rapidamente escondido em algum canto anônimo de
Surrey. Os marotos poderiam nunca ter existido. Seria melhor se não tivessem.

Por um tempo, Remus se perguntou quando isso iria acabar.

383
Depois de um longo tempo, percebeu que nunca acabaria, então apenas tentou
amenizar a dor. Pode ter sido egoísta, mas o que mais restava senão ser egoísta? Ele
havia sacrificado muito.

Quando a primeira lua cheia chegou em novembro após aquele terrível Halloween,
Remus foi forçado a deixar o apartamento. Ele aparatou de volta para a floresta em
que tinha ficado com a matilha de Greyback em 79. Era melhor do que uma cela. Não
se permitiria ser preso. Então partiu, ele se transformou e vagou pela floresta sozinho,
uivando, caçando e rosnando. A primeira vez foi um alívio, mas o lobo estava
sozinho. Na segunda vez, ele foi para a Floresta Negra.

Não pretendia viver entre os lobisomens, apenas os usou como uma rota de fuga.

Eles sabiam pouco sobre a guerra, apenas que ela havia acabado. Na primeira vez,
Castor sentiu a dor de Remus imediatamente. Eles não falaram sobre isso - porque não
havia necessidade. Simplesmente se transformaram e lidaram com isso como lobos.
Remus decidiu que o que quer que acontecesse quando eles não eram humanos não
contava, contanto que não machucassem ninguém. Era libertador, e foi o único alívio
que Remus conheceu naqueles meses mais sombrios após sua perda.

Nas manhãs depois da lua, Remus ficava um pouco mais a cada vez, apenas para ficar
perto deles. Sem mais nada a perder, ele desistiu de qualquer pretensão de
superioridade quando se tratava do bando e, com o tempo, Castor finalmente
conseguiu o que queria.

Remus não podia negar sua atração por Castor por muito mais tempo e, depois de
tudo, a quem ele devia sua lealdade? Deveria viver celibatário pelo resto de sua vida
simplesmente porque seu primeiro amor partiu seu coração? E não havia amor entre
ele e Castor. Apenas a necessidade animal, o acasalamento bestial. Era bom, mas era
apenas outra maneira de se fazer esquecer. E Remus sempre voltava para Londres,
dolorido e ainda insatisfeito.

384
No mundo humano, Grant ainda voltava para visitas regulares depois daquela primeira
vez. Ele pegou a chave reserva e aparecia para checar Remus entre suas aulas e turnos
no pub, o que era tanto uma ajuda quanto um obstáculo, trazendo garrafas trouxas e
outras substâncias - o que quer que Remus pedisse.

Ele havia sido expulso de seu dormitório por insinuar que trocava favores por sexo (o
que não era verdade, ele insistiu - a senhora simplesmente queria que fosse) e agora
Grant alternava entre camas de namorados e sofás de amigos. Às vezes, ele até ficava
com Remus por uma noite ou duas, e estava tudo bem, Remus não se importava. Ele
não se importava com muita coisa contanto que tivesse muito para beber. Ele
precisava estar bêbado. Antes do fim da guerra, era apenas uma maneira de amenizar a
situação, de mudar seu humor. Agora era o seu humor, o único que ele poderia
suportar.

Era Grant quem discutia com ele, o incomodava, o arrastava para fora da cama e o
empurrava para o chuveiro quando precisava. Ele até lavava a roupa e comprava
comida com o fundo monetário restante de Remus.

Remus, por sua vez, se comportava de forma abismal. Fazia comentários maldosos e
lançava insultos, mas Grant não prestava atenção e continuava voltando mesmo assim.

"Você só volta porque é basicamente um sem-teto." Remus atirou uma noite quando
estava no sofá enquanto Grant recolhia o lixo espalhado ao redor dele. Remus não
aguentava o barulho que as garrafas vazias faziam.

"Yep," Grant respondeu alegremente, continuando o que fazia, "É exatamente isso,
Remus, meu velho amigo. Não tem nada a ver com o fato de que eu amo sua bunda
preguiçosa. "

Remus bufou com desdém. Grant não sabia do que estava falando. Amar! Remus
sabia a verdade agora. Ele sabia que amor era apenas algo que as pessoas diziam para
enfraquecê-lo, para mantê-lo flexível. Nunca mais. Nunca, nunca, nunca .

385
Milagrosamente, Grant nunca perguntou o que havia acontecido. Mesmo quando
Remus começou a dar sinais de melhora, quando começou a se levantar e se vestir
sem horas de protestos, mesmo quando começou a sair de casa. Grant nunca
perguntou por quê .

Remus sabia que havia murmurado em seu estupor de bêbado, despejando miséria e
raiva sobre Sirius e James e Lily e o pobre, pobre Peter, e Sirius e Sirius e Sirius...

Se Grant entendeu metade do que disse ou se Remus falou demais, ele nunca soube.
Mas, de qualquer maneira, Grant continuou voltando.

"Eu continuarei vindo enquanto você precisar de mim." Ele dizia alegremente
enquanto esvoaçava de um lado para o outro. "Nós, garotos de abrigo, temos que ficar
juntos."

Remus não acreditou nele. Grant estava sendo legal, mas isso não poderia durar muito
tempo. Ninguém ficava por perto para sempre.

386
Capítulo 176: 1983

These people 'round here

Wear beat down eyes sunk in smoke dried faces

They're resigned to what their fate is.

But not us, (no never) no not us (no never)

We are far too young and clever.

Come on Eileen, Dexys Midnight Runners.

6 de junho de 1983

"Às vezes me pergunto se você está me usando." Grant disse em uma tarde no verão
de 1983.

"Todos nós usamos uns aos outros." Remus respondeu secamente. "Isso é o que
pensamos que é o amor."

"Cristo. Não consigo conversar com você quando você está assim. " Grant suspirou
pesadamente, pegando um maço de cigarros na mesa de cabeceira.

"Assim como?"

"Como um idiota sombrio."

Grant puxou um longo cilindro branco da caixa com os dentes, e Remus o acendeu
com a ponta da varinha. Grant sugou prazerosamente, acomodando-se contra o corpo
de Remus, na curvatura de seu braço. Remus acariciou preguiçosamente a clavícula de
Grant até que chegou a sua vez de tragar. Eles quase haviam desistido; compartilhar
um fumo rápido pós-sexo era uma recompensa.

387
"Desculpa." Remus disse. "Não queria soar sombrio."

"Pfft." Grant respondeu alegremente. "Fique sombrio se quiser, estou apenas


brincando com você. "

Grant tornava tudo tão fácil. Remus mal conseguia se lembrar de quando o
relacionamento deles havia se tornado o que era agora.

...

Começou com as visitas regulares, após aquela primeira intervenção. Elas ficaram
mais frequentes e, eventualmente, Grant estava lá o tempo todo - primeiro, ele dormia
no sofá, e então não mais, e nunca conversaram sobre isso.

No meio do verão de 1982 ele trouxe todos os seus poucos pertences.

"Eu viajo com pouca bagagem", ele piscou, sacudindo uma mochila que continha
alguns pares de roupas íntimas limpas e algumas camisetas. E uma meia. Pelo amor
de Deus.

"Vou te dar algum dinheiro." Remus disse monotonamente. "Você pode ir fazer
compras." Ele ainda tinha algumas centenas que Sirius havia convertido em dinheiro
trouxa em caso de emergência. Remus não se sentia culpado em gastá-lo, já que aquilo
ficaria lá parado sem uso.

"Não estou aqui para roubar de você." Grant insistiu.

"Eu sei. Mas você precisa de roupas. "

"Sim, mãe. Vou pegar emprestado umas suas até eu me ajeitar financeiramente. "

"Tudo bem."

Então Remus foi sozinho para Debenhams uma tarde e comprou o máximo que pôde
de roupas do tamanho de Grant. Jeans, camisetas, roupas íntimas, meias, pulôveres,

388
pijamas e até mesmo um par de tênis baratos que estavam em oferta. Tudo em cores
brilhantes, porque Grant era uma pessoa brilhante, e Remus já tinha visto preto o
suficiente por uma vida inteira. Ele dobrou e colocou tudo na cômoda. A sensação de
enchê-las era boa; elas haviam permanecido vazias por mais de um ano.

Grant usava as roupas, mas eles nunca falaram sobre isso.

No entanto, havia algumas coisas sobre as quais eles não podiam evitar falar.

Remus não tinha feito mágica nos primeiros meses - na verdade, ele descobriu que, na
maior parte do tempo, não conseguia mesmo quando tentava. Talvez fosse por causa
do luto. Todos aqueles funerais. Poderia ter a ver com a bebida, embora ele não
pudesse ter certeza. Havia um bloqueio ali, como se uma parede tivesse subido. Ele
podia aparatar em luas cheias, mas apenas isso. Então, um dia, simplesmente voltou,
como se nunca o tivesse deixado.

Eles se esqueceram de pagar a conta e as luzes foram cortadas. Sem pensar, Remus
acendeu sua varinha.

"Lumos ."

"Que merda é essa, porra?!" Grant saltou para longe como se Remus tivesse se
incendiado.

"Er..." Remus engoliu em seco, então se resignou a isso. "É uma varinha mágica."

"Você está chapado?"

Remus riu, um som rouco e estranho.

"Acho melhor explicar algumas coisas para você. A escola que frequentei era um
pouco... diferente... "

389
Ele começou a explicar. Ele sabia o quão estranho tudo devia soar, e teve que deixar
um monte de coisas de fora. Quase vinte minutos depois, Grant permanecia sentado o
encarando, o rosto pálido sob a luz fraca da varinha.

"Você está me pregando uma peça." Ele riu nervoso, "Que brincadeira é essa de
inventar um monte de besteiras?!"

"Grant... olhe..." Remus fez faíscas com sua varinha. Ele levitou a mesinha de centro e
então - se exibindo, porque fazia tanto tempo que não conseguia - transformou sua
caneca em um sapo.

"Tudo bem!" Grant recuou, enquanto o sapo pulava no tapete, "Ok, eu acredito em
você! Jesus Cristo!"

"Oh, apenas 'Remus Lupin' basta." Remus mostrou a língua.

Então ele parou, percebendo o que estava fazendo.

Havia parado de sofrer por um momento e se castigou violentamente por isso. Seus
amigos estão mortos e você está fazendo truques de mágica para algum trouxa?
Patético.

Foi procurar uma bebida nos armários.

"Ah não, não..." Grant disse, parecendo desapontado.

Remus voltou para o sofá com uma garrafa de vodka e dois copos. Ele gostava mais
de vodca, descia fácil.

"Eu não quero." Grant falou, ignorando o segundo copo. "Eu vou parar de comprar
para você."

Remus deu de ombros e engoliu tudo que estava no copo.

390
Grant suspirou. "Então você é um bruxo, não é? Isso significa que... Sirius era um
bruxo também? "

Remus quase engasgou com seu segundo gole, mas conseguiu engolir. Seus olhos
lacrimejaram e ele acenou com a cabeça.

"Sim. Todos eles são. Eram."

Ele bebeu mais e contou a Grant sobre a guerra. Deixou de fora alguns dos detalhes
mais dolorosos, mas Grant era astuto e adivinhou o resto.

"É para lá que você desaparece todo mês?" Grant perguntou. "Alguma coisa mágica?"

"Ah não. Há algo mais. "

"Puta merda, Remus, eu sei alguma coisa sobre você?!"

"Desculpa." Disse Remus. "Honestamente, eu realmente não valho o esforço... depois


de saber tudo, você vai entender."

"Tente." Grant disse.

Então eles tiveram a conversa sobre lobisomem. Remus explicou o que acontecia com
ele nas luas cheias, como ele era perigoso e para onde ia.

"Desde que você tinha cinco anos?!" Grant exclamou horrorizado.

"Sim." Remus acenou com a cabeça nervosamente.

"Coitadinho," Grant balançou a cabeça e acariciou sua mão. "Você teve uma vida
difícil, não foi?"

Remus aceitou a simpatia e não falou muito sobre Castor, porque tinha vergonha de si
mesmo.

391
Não que Grant fosse ter ciúme. Não como Sirius, não como... oh, oh não, não não
não...

...

"Ei!"

De volta ao presente, Grant estalou os dedos. Ele ergueu o cigarro, fumado pela
metade. "Sua vez, lindo."

"Desculpa." Remus pegou e inalou profundamente. Ah. Eles ainda estavam na cama.
Tudo estava bem. Está tudo bem.

"Sua mente vagou daqui, de mim." Grant comentou, sem acusação.

"Desculpe," Remus pediu novamente.

"O que foi?"

"Ah nada. Só pensando." Ele apagou o cigarro. Puta que pariu, ele sentia falta de
fumar.

"Bem." Grant rolou, meio deitado em cima de Remus, o rosto a centímetros de


distância, "Isso não é bom, não é? Eu estava tentando fazer você parar de pensar. "

"Você faz." Remus sorriu. Eles se beijaram, amigáveis no início, depois mais
profundamente. Remus deslizou as mãos pelo longo corpo de Grant. "Quer tentar de
novo?"

Grant sorriu contra seus lábios, murmurando,

"Você só quer outro cigarro, não é?"

"Eu também quero você..."

392
"Bem, azar," Grant se afastou, empurrando-se de Remus, para fora da cama. "O último
turno no pub começa em quarenta minutos, já vou ter que correr."

"Você tem que ir?" Remus caiu de costas na cama, petulante.

"Oh, não reclame, princesa, é só mais uma noite. Ei, seja bonzinho e fique longe da
bebida e eu farei uma coisa bem legal quando voltar. "

"Eu estarei dormindo."

"Eu vou te acordar."

Remus sorriu. "Ok então."

Grant tornava tudo tão fácil.

Remus tentou evitar a bebida naquela noite, realmente tentou, mas ele precisava de
algo, ou então como iria dormir? E ele definitivamente não fumou, então isso já era
muito bom. Ele queria ficar bem para a última noite de Grant no pub.

Depois de obter três níveis A em Política Social, Política e Educação, e então estudar
por meses para os exames adicionais, Grant se qualificou como assistente social. Ele
começaria um emprego em um centro de detenção para menores infratores na semana
seguinte. Remus não sabia de onde Grant tirava coragem para isso.

"Será como estar em St Edmunds de novo!"

"Não, não vai", Grant sorriu, "vai ser diferente, porque vou fazer ser diferente."

***

Eles eram muito felizes juntos. De qualquer maneira, eles tinham seus momentos, mas
sempre eram amigos antes de amantes e nenhum deles era fiel.

393
Grant teve muitos outros namorados em sua busca incessante por variedade. Poderiam
ser do tipo artístico, com cabelo comprido e afetações, ou do tipo sério e político, em
fardas cáqui folgadas e macacões de malha grossos, fazendo campanha pelo
desarmamento nuclear ou pelos direitos dos gays e lésbicas, ou os mineiros ou algo
assim. Remus os observou ir e vir com um interesse distante. Ele não invejava Grant -
sabia que dificilmente seria uma boa companhia para dar algumas risadas.

O próprio Remus havia se tornado excelente em dividir sua vida em segmentos


organizados de arestas afiadas. Castor era um péssimo hábito e Grant era todo o resto.
Então havia o espectro de Sirius, pairando sobre a coisa toda, certificando-se de que
ele nunca seria realmente feliz com nenhum deles.

"Você poderia ficar, irmão", Castor dizia todas as vezes.

"Você pode não me chamar de 'irmão' logo depois de me foder?" Remus explodiu. Ele
costumava ser rude com Castor, e Castor era rude com ele de volta. Remus não tinha
certeza se era uma coisa de lobo ou uma coisa autopunitiva, mas tentava não analisar
muito o arranjo.

"Remus Lupin, então." Castor respondeu.

"É apenas Remus." Ele grunhiu, levantando-se para se vestir. "E você sabe que eu não
posso ficar. Eu tenho uma vida na Inglaterra. "

"Você diz isso" Castor ergueu uma sobrancelha "Mas não vejo nenhuma evidência.
Nós cuidaríamos de você aqui."

"Eu não confio em nenhum de vocês." Remus respondeu categoricamente, abotoando


sua calça jeans.

"E ainda assim você retorna todo mês..."

"Sim, bem, apenas para isso," Remus gesticulou para o corpo nu de Castor, reclinado
em peles cinza - ele era absolutamente perfeito em todos os sentidos, uma estátua

394
grega, ágil, musculoso e delicioso. "Não vamos começar a fingir que gostamos um do
outro."

"Mas nós somos seu bando!" Castor protestou.

"Olha, eu vou parar de vir, se você não parar." Remus cerrou os dentes. Ele parou de ir
por dois meses depois disso, apenas para fazer Castor sofrer.

Remus não precisava de um bando e certamente não precisava de amigos.

Às vezes Mary tentava entrar em contato, às vezes ele deixava, mas era difícil, muito
difícil. Ele preferia Grant e sua modesta vida trouxa juntos.

E realmente, embora a vida deles fosse aquela que Remus jamais imaginou viver,
dificilmente era vazia. Remus estava em vários trabalhos ocasionais, de limpeza,
principalmente; ou serviço de correio, porque recebia dinheiro em mãos e ninguém se
importava se ele parasse de aparecer.

Grant estudava para tirar sua licença e sempre tinha alunos por perto, debatendo na
sala de estar, preparando-se para outro protesto contra o Poll Tax ou pelo
desarmamento nuclear. Eles bagunçavam a sala de estar pintando faixas e fazendo
cartazes, mas Remus não se importava com o caos.

Ele gostava das meninas que Grant convidava mais do que dos meninos - todas eram
tão vibrantes, tão apaixonadas, com cabelos verdes punk e atitudes infantis e
travessas. Ele não ligava muito para as causas, mas a conversa era sempre animada.
Às vezes, sentia que estava falando com Mary, ou Marlene, ou Lily. Então ele
desaceleraria, precisaria de uma bebida e ficaria quieto na cozinha até que todos
saíssem.

"Oh, Remus. Você não pode simplesmente vagar para longe e ficar chateado toda vez
que estiver triste. " Grant suspirou uma noite, quando encontrou Remus caído sobre a
mesa da cozinha, horas depois de todos terem saído.

395
"Eu sou triste." Remus soluçou.

"Eu sei que você é." Grant se abaixou e puxou o braço de Remus por cima do ombro,
içando-o para a cama. "E você tem direito de ficar triste. É com a bebida que temos
um problema, hein? "

"Ninguém deve uma vida feliz a você." Remus repetiu tristemente o velho ditado da
Diretora enquanto eles tropeçavam juntos pelo corredor.

"Não," Grant bufou, colocando-o na cama. Ele olhou para Remus com pena, "Mas
você se deve uma, amor."

396
Capítulo 177: 1985

I've been loving you a long time;

Down all the years, down all the days.

And I've cried for all your troubles,

Smiled at your funny little ways.

We watched our friends grow up together

And we saw them as they fell.

Some of them fell into heaven,

Some of them fell into hell.

A Rainy Night in Soho, The Pogues.

Remus gostava de muitas coisas em Grant. Seu sorriso, seus cachos loiros impetuosos,
seu senso de humor impetuoso e sem remorso. Grant era uma pessoa fácil de se
gostar. Mas havia uma coisa que Remus se recusava a tolerar.

Grant adorava futebol. Ele não era um fanático, mas definitivamente tinha mais
interesse do que Remus realmente achava necessário. Ele torcia para o Queens Park
Rangers - e até havia comprado para si uma camiseta original e um lenço listrado azul
e branco. Nunca limitando-se a apenas observar, Grant também jogava e, aos sábados,
se juntava a um time de homens gays no sul de Londres.

Foi assim que conheceu Neil Newman - um jogador de futebol alto e bonito, com
cabelos espetados e coxas capazes de quebrar nozes - e como Remus conheceu Anthea
Luong, a namorada de meio período de Neil.

397
"Meio período?!" Remus ergueu uma sobrancelha quando Grant explicou. Ele estava
amarrando o cadarço das chuteiras, pronto para o treino de sábado e Neil estava vindo
buscá-lo.

"Não é tão incomum," Grant piscou para ele, Remus entendeu.

"Mas se Neil é queer--" Remus tentou. Grant levantou um dedo,

"Se atualize, raio de sol - queer é um termo ultrapassado. Somos homens gays e temos
orgulho".

Remus revirou os olhos, "Tanto faz. Se Neil é um homem gay, como Anthea se
encaixa nisso tudo?"

"Acho que ele deve ser bicentenário."

"Você quer dizer bissexual." Remus o corrigiu.

"Não, ele tem duzentos anos," Grant mostrou a língua. "Sim, Sr. Literal, bissexual."

Remus realmente não podia culpar Neil por isso, já a havia conhecido. Anthea era
uma garota muito atraente. Ela era pequena e energética, com longos cabelos negros
acetinados e olhos brilhantes. Sua boca parecia um botão de rosa, tinha a pele mais
linda que Remus já vira e se vestia como Cindy Lauper, cheia de babados e dayglo.

"Muito prazer em conhecê-lo", ela sorriu, esticando-se na ponta dos pés para beijar o
rosto de Remus em saudação. Neil apenas acenou com a cabeça ligeiramente
cauteloso - Remus estava acostumado com isso vindo dos amantes de Grant.

"Chá, todo mundo?" Grant ofereceu.

"Nah, é melhor irmos." Neil disse bastante incisivamente, Remus percebeu. "Quero
chegar cedo, você não? Para aquecer."

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"É assim que você chama?" Anthea mostrou a língua para ele. "Remus, posso ficar
aqui com você? Eu tenho muito o que falar com você. "

"Você tem?!" Ele a olhou alarmado. Ele nem sabia que Neil tinha uma namorada até
dez minutos atrás.

"Ah, sim, eu disse a Anth como você é bom em astrologia." Grant disse alegremente,
vestindo sua jaqueta jeans. Parecia bobo vestir shorts e meias longas, mas tudo
relacionado ao futebol era ridículo para Remus.

"Astronomia." Remus o corrigiu, "Coisas muito diferentes..."

"Tudo sobre as estrelas, não é?"

"Bem..." ele realmente não tinha um argumento.

"Vejo vocês mais tarde, rapazes! Divirtam-se!" Anthea acenou para os dois,
empurrando-os para fora da porta. De repente, Remus estava sozinho com uma jovem
estranha, sem saber o por quê. Ele realmente queria uma bebida.

"Você não tem uma TV." Ela disse sem rodeios.

"Não." Remus concordou.

"Ótimo apartamento, no entanto!" Ela dizia enquanto andava pela sala, olhando pela
janela, puxando livros da prateleira e examinando as capas. "Tão legal que você mora
em Chinatown, você fala chinês?"

"Er...não...?"

"Eu falo, três línguas, na verdade, chinês, vietnamita e inglês. Inglês é minha língua
materna, vietnamita é a língua materna da minha mãe, se você me entende." Ela
piscou para ele, "E Neil sempre diz que devo dizer que sei falar quatro línguas, porque
falo muito merda." Ela riu uma risada meio feia e estridente, como moedas caindo

399
sobre uma folha de metal, mas ela riu com tanta convicção que foi cativante de
qualquer maneira.

"Certo." Remus acenou com a cabeça. "Er... desculpe, você queria saber algo sobre
astronomia?"

"Talvez. Eu sou virginiana, e você?"

"Uhh... Peixes, eu acho?"

"Nossos signos se dão bem juntos?" Ela perguntou. Remus piscou.

"Não. Quer dizer, não sei. Quero dizer... como eu disse, isso na verdade é astrologia,
não - "

"Neil é de capricórnio e eles não combinam com virgens, eu verifiquei. Eu sempre


verifico, mas, você sabe, o coração quer o que quer. Você sabe que eles estão
transando? " ela perguntou do nada, "Ele e Grant?"

"Imaginei..."

"Você se importa? Você está vivendo com Grant, não é? "

Remus acenou com a cabeça, embora a tenha corrigido internamente - Grant era quem
vivia com ele, não o contrário. "Somos bastante casuais, no entanto."

"Oh, isso é bom," ela acenou com a cabeça seriamente.

"Olha, hum... quanto tempo você vai ficar?" Remus coçou a cabeça sem jeito.

"Só até os meninos voltarem do futebol," ela sorriu, "Tudo bem, não é? Grant disse
que gostaria de ter companhia. Ooh, vou te dizer uma coisa, eu adoraria uma xícara de
chá. "

400
"Hum. Ok ... "Ele foi colocar a chaleira no fogo, ainda confuso. O que Grant estava
fazendo, deixando-o como babá da namorada de seu ficante?! Como se Remus não
tivesse nada melhor para fazer em um sábado. Havia planejado ler o jornal. Talvez
ouvir The Archers pelo rádio.

"Sem açúcar, sem leite!" Anthea gritou. "Oooh, posso colocar um disco?"

"Se quiser..."

Ela colocou um álbum do Queen. Remus suspirou para si mesmo. Ele realmente não
era um fã, ao contrário de Grant, que ouvia sem parar.

Quando ele trouxe o chá, Anthea estava sentada no sofá, inclinando-se sobre a mesa
de centro e bolando um baseado. Ela sorriu para ele, "Gosta?"

"Vá em frente," Remus concordou. Bem, isso era melhor do que nada.

Eles fumaram, beberam chá e ouviram Queen, e Anthea continuou perguntando sobre
todos os tipos de coisa.

"Grant diz que você é muito inteligente, com escola particular e tudo."

"É." Remus encolheu os ombros.

"E você sabe tudo sobre constelações e coisas assim. Ei, posso ler suas cartas no tarô
se quiser?"

"Não, obrigado."

"Como é que você tem todas essas cicatrizes?"

Ele piscou, pego de surpresa. Ela ainda estava sorrindo lindamente e parecia
genuinamente curiosa sobre ele.

401
"Só tenho muitas cicatrizes." Respondeu, engolindo em seco. "Você gosta de um gim
com tônica?" Na verdade, ele não tinha tônica, mas podia fingir que tinha esquecido e
apenas tomar gim puro.

"Sim, por que não", ela balançou a cabeça alegremente. Ele se levantou e Anthea o
seguiu até a cozinha, ainda falando. "Você não está doente nem nada, então?"

"Não." Disse Remus. "Eu ganhei essas cicatrizes lutando. Algumas delas eu mesmo
fiz. "

"Oh, coitadinho." Ela disse, sua simpatia genuína. Ela se inclinou para frente e apertou
seu braço gentilmente. "Desculpe perguntar, amor, mas é que hoje em dia todo
cuidado é pouco, sabe o que quero dizer?"

"Hm." Ele derramou o gim em dois copos. Sabia exatamente o que ela queria dizer e
não queria falar sobre isso. Ou pensar nisso.

Ela não reclamou quando ele lhe entregou um copo de gim puro, apenas bateram os
copos e sorriu, "Saúde!" então tomou um bom gole.

Eles voltaram para o sofá. Remus pegou a garrafa.

"Você é muito alto, Remus. Quanto você tem, 1,91?"

"1,88."

"Eu amo homens altos." Ela ronronou.

"Eu também."

Anthea riu de novo com isso, seus brincos de plástico batendo uns nos outros e
fazendo barulho. Ela começou a falar ainda mais, contando-lhe coisas bobas e sem
sentido sobre si mesma; onde ela estudou, suas canções favoritas da rádio, todos os
filmes que ela já tinha visto no cinema. "E eu adoro dançar também, foi assim que

402
conheci Neil, dançando em Vauxhall. Devo mostrar a você? Ok, você tem que me
imaginar neste vestido roxo brilhante, certo? E meu cabelo estava mais curto. "

Ela se levantou e começou a dançar ao som da música do disco.

Ooh love,

Ooh loverboy

What're you doin' tonight, hey boy

Set my alarm, turn on my charm

That's because I'm a good old-fashioned lover boy

Remus não precisava imaginar o vestido brilhante; ela era uma dançarina muito boa.
Ela balançou e se contorceu com energia sensual, lançando olhares de flerte para ele e
sacudindo os quadris. Perplexo e relaxado, Remus descansou no sofá, observando-a.
Ela parecia um sonho, bonita e graciosa, mas também avassaladora e indignamente
real. Remus se perguntou por que ele sempre acabava preso a tagarelas e por que
diabos ele gostava tanto disso.

A música terminou e ela ergueu os braços como uma ginasta que acabava de
completar uma rotina perfeita. Remus sorriu, apesar de si mesmo, e aplaudiu.

"Quer dançar?" Ela agitou os cílios de forma sedutora. Remus não conseguiu evitar, o
que quer que ela tivesse colocado naquele baseado era mais forte do que o que estava
acostumado, e ele estava encantado por ela.

"Vá em frente, então."

Ele não dançou de verdade, mas segurou as mãos dela enquanto ela fazia, girando-a
nos lugares certos e deixando-a cair em seus braços, rindo. Ela tinha os pulsos mais
delicados, os ossos finos como os de um pássaro.

403
Quando eles finalmente desabaram no sofá para fumar outro baseado, ela tirou os
sapatos e colocou as pernas sobre o colo dele. Grant fazia isso às vezes; eles só tinham
um sofá, então era a única maneira de se esticar.

"Você é muito bonito, Remus." Ela disse através da fumaça.

"Ha." Ele respondeu, bebendo o resto de seu gim. Não conseguiria se servir mais sem
empurrar as pernas dela, e ele não queria fazer isso, então se contentou com o
baseado.

"Você é. Você é muito sexy. "

"Shh." Ele deu uma risadinha. "Quem você pensa que é? Aparecendo no meu
apartamento sem avisar e me interrogando. "

"Estou interrogando você?" Ela arregalou os olhos, "Você está sucumbindo às minhas
técnicas?"

Remus riu, se dobrando, as mãos nas pernas dela - elas eram tão suaves e macias. Ela
estava rindo também, o olhando. Seus olhos eram tão escuros e tão cheios de vida. Ele
a queria. Remus percebeu isso de repente, como uma luz sendo acesa - a sala ficou
mais clara, o rosto dela mais claro. Puta merda.

Ele terminou o baseado. Ela se contorceu no sofá e fechou os olhos satisfeita. Ele
deixou as mãos nas pernas dela - apenas descansando ali, não queria agarrá-la ou
qualquer coisa horrível do tipo. Ele só queria... o quê? O que se fazia com uma garota?
Mary foi há quase uma década, e não era como se Remus realmente tivesse
desempenhado um papel importante na época. Apenas havia se sentido surpreso por
ela tê-lo escolhido.

Remus se sentia assim agora também, quando Anthea abriu os olhos e sorriu para ele
novamente.

"Desculpe, você queria deitar também?"

404
"O que?" As costas de Remus se arrepiaram, alarmadas. Eles realmente iriam...?!
"Não! Quero dizer... er..."

"Você é tão adorável", ela sorriu, mudando-se de lado e puxando-o para se deitar ao
lado dela, "Vamos apenas deitar juntos um pouco, é bom, não é?"

"Hm..."

Ela colocou o braço sobre ele. Seu cabelo preto macio fez cócegas sob seu nariz, e ele
não pôde evitar inalar seu perfume. Era quente e meio picante, como cravo ou canela.
Ele gostou. Eles continuaram deitados dessa forma por um tempo. O disco havia
terminado e estava girando na agulha, estalando.

"O que você acha que Neil e Grant estão fazendo agora?" Anthea sussurrou, sua mão
de repente em seu cinto, a palma espalmada contra sua virilha. "Provavelmente nos
chuveiros, não acha?"

"Hum." Remus respondeu, sem palavras.

"Você devia ver Neil sem o equipamento, ele é um Adônis. Quer dizer, ele é um
idiota, mas você pode esquecer isso quando ele começar a... aposto que os dois estão
suados e enlameados do campo. "

Remus tentou regular sua respiração, mas ela continuou movendo a mão, e ele estava
achando difícil se concentrar em qualquer outra coisa. Por fim, ela ergueu os olhos
para ele e beijou-lhe os lábios com ternura. "Você gosta disso?"

"Sim," Remus respirou, "Vá em frente."

Duas horas depois, quando Anthea estava no banho, Grant e Neil entraram pela porta.
Remus ainda estava esparramado no sofá de cueca, corado e completamente
atordoado.

405
Grant olhou duas vezes e depois caiu na gargalhada. Neil parecia chocado. Ele
marchou para o banheiro e exigiu que Anthea saísse imediatamente.

"Seu mulherengo!" Grant zombou Remus, dobrando-se de tanto rir.

"Tchau Grant, tchau Remus!" Anthea disse enquanto ela e Neil saíam correndo. Ele
estava com a cara fechada em uma carranca e a porta bateu com força atrás deles.

"Bem, então." Grant disse, se recompondo. "Espero que sua namorada não tenha
usado toda a água quente."

"Eu realmente não sei por que isso aconteceu." Remus falou, vestindo sua camiseta.
"Estávamos apenas ouvindo discos e ela estava falando e então..."

"E então foi a única maneira de calá-la?"

Remus o olhou timidamente, "Acredite ou não, isso não a calou."

Grant levou quase dez minutos inteiros para se recompor.

***

Eles compraram uma TV algumas semanas depois disso - Grant brincou que, se
Remus estava tão entediado que recorreu a transar com garotas, então seria melhor
eles arranjarem algum entretenimento para ele. Ele não viu Anthea de novo, o que foi
uma pena porque, sendo honesto, Remus não se importaria de fazer daquilo algo
recorrente. Depois que você se acostumava com toda a conversa, ela se tornava muito
sexy. Ele não pensou muito sobre o que isso significava, e Grant não insistiu.

A TV era de segunda mão - nenhum deles tinha renda suficiente para comprar uma
nova. Haviam conseguido de um amigo de Grant, com a condição de que eles mesmos
a buscassem. A casa dele ficava a apenas duas ruas, mas ainda assim representava um
problema.

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"Você não pode... levitar ela ou algo assim?" Grant perguntou, as mãos nos quadris
enquanto eles olhavam para a caixa grande e volumosa em cima da calçada. "Faça um
feitiço."

"É contra a lei." Remus explicou. "Em público, de qualquer maneira. Ou na frente de
um trou -- você. "

"Pfft." Grant ergueu a mão para tirar o cabelo do rosto suado. "Droga. Sabia que
deveria ter aprendido a dirigir. "

A porta do prédio se abriu e um homem saiu, parecendo corado e evasivo. Esse fora o
terceiro homem que Remus havia visto saindo dali com exatamente o mesmo olhar
furtivo.

"Que lugar é esse, afinal?!" Ele perguntou enquanto olhava para o prédio. Parecia com
todos os outros - talvez um pouco gasto. Não havia sinalização externa.

"Sauna", disse Grant, agachando-se para ver se conseguia colocar os braços em volta
da caixa. Ele conseguia, mas não havia como erguer a coisa.

"Sauna?" Remus coçou a cabeça.

"Você sabe, uma casa de banho. Onde os homens podem ficar juntos sozinhos e
suados. "

"Oh!" Remus ficou boquiaberto, envergonhado.

"Cristo Remus, nós moramos no Soho."

"Eu sei! Eu só... de qualquer maneira, não levante a TV desse jeito, você vai ficar com
dor nas costas. Vamos, pegue essa ponta, eu vou pegar essa... um, dois, três,
levanta..."

407
Eles voltaram para o apartamento em cerca de trinta minutos, com apenas uma pausa.
Remus foi quem realmente esteve carregando a TV, mas não se importou já que
haviam escolhido um dia entre as luas e ele estava se sentindo muito saudável.

Felizmente, Grant era bom com coisas elétricas e conseguiu conectar tudo quando a
TV chegou a sala de estar. Parecia estranho; um grande cubo de plástico preto
ocupando todo o espaço. Eles acabaram colocando-a em cima de uma caixa em frente
à lareira - que nunca usavam mesmo. A antena não era adequada e precisava de um
pouco de fita isolante para mantê-la em pé, mas assim que ligaram e a imagem difusa
apareceu, os dois ficaram presos a ela.

Remus, que não assistia televisão há anos, se tornou um viciado completo naquele
verão. Ficou obcecado nas novelas - EastEnders, Brookside e Coronation Street, mas
ele assistia a qualquer coisa; debates na câmara dos comuns, campeonatos de sinuca,
comédia, documentários, top of the tops e até uma série terrivelmente perturbadora
chamada Threads sobre a ameaça de uma guerra nuclear.

A TV era ligada de manhã bem cedo, enquanto ele vagava pelo apartamento se
vestindo ou escovando os dentes e, na maioria das vezes, ele adormecia na frente dela
à noite. Grant começou a chamar o aparelho de "o outro homem".

"Eu simplesmente gosto do barulho," Remus disse, "Me faz companhia."

"Você poderia tentar fazer alguns amigos de verdade..." Grant sugeriu. Remus
dispensou isso. Ele não precisava de amigos, tinha tudo que precisava.

Numa tarde de domingo, os dois estavam na sala de estar. Remus teve que sair para
um trabalho de limpeza que começou às 3 da manhã, então havia dormido a maior
parte do dia. Grant estava lendo o jornal e as pernas de Remus estavam em seu colo.
Com a mão livre, Grant estava distraidamente esfregando o arco do pé esquerdo de
Remus, o que estava deixando Remus sonolento e tonto novamente.

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As notícias tinham acabado de terminar e eles aguardavam para saber a previsão do
tempo quando, de repente, uma música sinistra começou a tocar.

"Existe agora um perigo que se tornou uma ameaça para todos nós ", disse a televisão
de forma ameaçadora. "É uma doença mortal e não há cura conhecida..."

Grant e Remus ergueram os olhos para assistir ao anúncio assustador. Uma palavra
gravada em uma lápide enegrecida - AIDS.

"Não morra de ignorância!" A narração entoava.

Uma sensação familiar de vergonha e ansiedade percorreu Remus, uma mistura


doentia de emoção que não sentia desde a escola. Ele puxou os pés de Grant, puxando
os joelhos até o peito. Se sentia sujo, intocável.

"Cristo." Grant disse, sua voz vazia, sinalizando para Remus que ele estava se
sentindo exatamente da mesma maneira. "É o suficiente para nos fazer desistir de
transar de vez, não é." Ele balançou sua cabeça.

Remus mordeu o lábio.

"Você está se protegendo, não está?" Ele perguntou timidamente.

"Sim, obviamente." Grant assentiu bruscamente.

Remus o olhou, torcendo a boca. Ele odiava mencionar outros ficantes de Grant, e
Grant sempre era muito discreto sobre isso. Não culpado ou às escondidas, apenas
discreto. Ainda assim, Remus queria ter certeza.

"Bom. Quero dizer, você está usando..."

Grant se levantou, as mãos nos quadris, claramente irritado.

"Sim, Remus, quando eu fodo com outros homens, certifico-me de que há


preservativos à mão."

409
"Desculpa." Remus corou, olhando para suas mãos. "Não é da minha conta."

"Certo. Não é." Grant respondeu agitado, e foi para a cozinha.

Remus o ouviu encher a chaleira e ligá-la, então sentiu o cheiro de fumaça de cigarro.
Ele correu os dedos pelos cabelos, perturbado, e gritou através da parede.

"Eu só... você sabe que eu não aguentaria, se eu não tivesse você."

Silêncio. Passos.

"E você?" Grant perguntou, reaparecendo.

"Eu?!" Remus piscou.

Grant cruzou os braços, inclinando-se no batente da porta.

"Não me trate como uma idiota, eu sei que não sou sua única pessoa. E não foi apenas
Anth também. Quem quer que seja que você vê quando sai todo mês. Quando você é...
quando você não é você mesmo. "

Remus o encarou com a boca seca. Ele piscou novamente e acenou com a cabeça.

"Eu vou me proteger."

"Não poderia ficar sem você também." Grant disse, despenteando o cabelo de Remus.
"Idiota insensível. Quer uma xícara de chá?"

Remus acenou com a cabeça, feliz por eles não estarem brigando, mas preocupado do
mesmo jeito. Grant estava certo, é claro. Remus nunca pensou duas vezes sobre
proteção com Castor. Bruxos poderiam se infectar? Se pudessem, então haveria uma
cura mágica? Remus tinha visto fotos de pessoas com AIDS na América, homens
esqueléticos em camas de hospital. Ele estremeceu.

410
Grant voltou com duas xícaras de chá. Ele entregou uma a Remus, sentou-se ao lado
dele, cruzou as pernas e levou a caneca aos lábios, soprando nela. Ele deu um gole e
ergueu os olhos, pensativo. "Eu poderia parar."

"Que?" Remus piscou, perdido em seus próprios pensamentos.

"Eu poderia parar de ver outras pessoas." Grant repetiu pacientemente. "Se você
quisesse, eu quero dizer. Tudo que você precisa fazer é pedir. "

"Não quero dizer o que você pode e não pode..."

"Remus." Grant ergueu uma sobrancelha, "Eu moro aqui há quatro anos. Você é um
idiota às vezes, mas você me faz feliz. "

Remus estava encarando o tapete agora, tentando não entrar em pânico.

Grant largou seu chá e estendeu a mão para tocar a sua, "Eu não preciso de ninguém
além de você." Ele disse sinceramente.

"Grant, eu..."

"Eu sei, eu sei," Grant levantou a mão, "Eu não estou esperando que você diga nada
de volta, está tudo bem. Eu sei como você se sente, e isso é o suficiente. "

Remus respirou fundo e fechou os olhos. Ele exalou lentamente e desejou que seu
coração se acalmasse. Foi uma coisa adorável de se ouvir. Ele nunca, nem por um
momento, pensou que fosse se sentir assim de novo - ou que fosse ser tão diferente da
última vez.

"Ok." Ele respirou.

"Ok?" Grant inclinou a cabeça.

"Ok," Remus acenou com a cabeça, "Prefiro que você não veja mais ninguém."

411
"Combinado."

412
Capítulo 178: 1986

Time up and time out for all the liberties you've taken

Time up and time out for all the friends that you've forsaken

And if you choose to waste away like death is back in fashion

You're an accident waiting to happen

My sins are so unoriginal.

I have all the self loathing of a wolf in sheep's clothing

In this carnival of carnivores, heaven help me.

Goodbye and good luck to all the promises you've broken

Goodbye and good luck to all the rubbish that you've spoken

Your life has lost its dignity, its beauty and its passion

You're an accident waiting to happen

'Accident Waiting to Happen' by Billy Bragg.

As coisas ficaram diferentes, é claro, depois que Remus e Grant concordaram em


permanecer monogâmicos. Eles ainda eram melhores amigos, ainda faziam um ao
outro rir e se irritavam de maneira inacreditável, mas um novo tipo de proximidade
havia se desenvolvido também. Por um tempo, Remus passou a beber menos - ele não
parou completamente, e alguns dias eram muito difíceis. Nesses dias, ele nem ao
menos tomava banho, ou saía da cama, ou comia. Porém, os dias difíceis não eram
todos, e isso era progresso.

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Castor não aceitou bem. Na verdade, ele ficou furioso. Remus até tentou explicar
sobre o HIV, mas não adiantou. Castor havia se afastado tanto da humanidade que
estava até começando a parecer um lobo. Seu cabelo estava mais espesso, mais escuro
de alguma forma, e se estendia além da nuca, rastejando ao longo de sua espinha. Seus
dentes estavam se alongando, seus olhos mais aguçados, as íris ficando amarelas.

"Você está dando as costas para sua família, Remus Lupin." Ele rosnou. "Até a sua
magia está mais fraca."

“Não estou dando as costas para nada.” Remus insistiu. "Estou tentando ter uma vida
de verdade."

Claro que ele não entendeu; Remus manteve Castor e Grant tão separados que eles
nem sabiam o nome um do outro. Talvez sempre soube que teria que escolher um
deles no final. E Castor nunca pareceu algo certo.

Por fim, Remus foi banido do bando. Ele foi avisado que, se algum dia voltasse, seria
tratado como uma ameaça. Isso era extremo, mas ele supôs que era exatamente o que
merecia por partir o coração de um lobisomem.

Agora Remus tinha de passar as luas cheias na Grã-Bretanha. Ele voltou para alguns
de seus antigos refúgios, como o Lake District e Brecon Beacons. Tentou não ir a
lugares nos quais houvesse muitas memórias de Prongs e Wormtail. Ou o do outro.
Para piorar, sem o bando para ajudá-lo a se curar todo mês, Remus tinha de aparatar
de volta para Londres e cuidar de seus ferimentos da melhor maneira que conseguia.

"Cristo!" Grant exclamou. Na primeira vez fora muito ruim. Ele havia encontrado
Remus no banheiro, desinfetando seus cortes, sua varinha tremendo enquanto tentava
segurá-la com os dedos quebrados.

"Desculpe," Remus murmurou, apoiando-se contra a pia quando um feitiço que o


deixou tonto ameaçou dominá-lo. Não se sentia tão mal depois de uma transformação

414
desde... desde... sua visão turvou e ele se sentou na tampa do vaso sanitário, colocando
a cabeça entre os joelhos para não desmaiar.

"Cristo!" Grant disse novamente, entrando no banheiro e se ajoelhando na frente dele.


Ele pegou a bola de algodão ensanguentada que Remus estava usando e jogou no lixo,
então se apoiou na banheira e pegou a garrafa de antiséptico. "Venha aqui," Grant
chamou suavemente, pegando a mão de Remus com gentileza e limpando-a levemente
com o desinfetante.

Remus ficou sentado lá, mudo, deixando-se ser cuidado, cansado demais para fazer
qualquer outra coisa.

"Pelo amor de Deus," Grant balançou a cabeça visivelmente chateado, "Não podemos
ter você nesse estado todos os meses, podemos, querido?"

"Está tudo bem." Remus murmurou, "Não está tão ruim."

"Minha bunda!" Grant respondeu, levantando-se para procurar os curativos no armário


de remédios. Ele os encontrou e se ajoelhou novamente, retomando seu trabalho nos
arranhões de Remus. "Vou te dizer uma coisa, se for uma escolha entre você voltar
assim todo mês ou mamar o filho da puta daquele lobisomem assanhado, então eu
mesmo farei isso por você."

Remus riu, o que fez suas costelas doerem. “Não tenho certeza se funciona assim.”

"Bem, temos que fazer algo." Grant resmungou, enfaixando firmemente os dedos
quebrados de Remus com os curativos.

"Você é bom nisso," disse Remus surpreso, olhando para o trabalho bem feito que
Grant havia feito.

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"Sim, bem, quando se é espancado tanto quanto eu fui, você aprende alguns truques",
Grant ergueu os olhos e piscou. “E não se esqueça que fiz aquele curso de primeiros
socorros para o trabalho. Venha, vamos te levar para a cama. Está com fome?"

"Mais ou menos." Ele estava morrendo de fome, mas sabia que não havia o que
comer. Ambos estavam à espera do dia do pagamento para irem às compras.

"Verei o que posso fazer." Grant disse, ajudando-o a ir para o quarto.

"Você não precisa, provavelmente vou apenas dormir."

"Deus, você está tão pálido," Grant sentiu a testa de Remus com as costas da mão.
"Acho que você precisa comer alguma coisa."

"Honestamente, eu pareço pior do que me sinto." Remus subiu na cama e seus ossos
choraram de alívio.

"Não acredito em você." Grant subiu na cama com ele e se sentou, acariciando o
cabelo de Remus. Era muito reconfortante. “Ele costumava... Sirius costumava cuidar
de você? Depois das luas cheias?”

Remus apertou os olhos e balançou a cabeça, "Por favor, não. Eu não consigo.”

"Oh, amor." Grant suspirou, retomando suas carícias gentis. "Sabe, minha amiga que é
terapeuta diz que pode marcar uma consulta para você. Basta você querer. Me ajudou
muito, você não sabe o quanto. ”

"Eu não consigo." Remus respondeu. Ele sempre repetia a mesma coisa. “Eu teria que
contar muitas mentiras.”

"Nah, estive pensando, não tem que ser sobre a guerra, ou mesmo sobre a coisa do
lobo. Basta falar com ela sobre James, Lily e Peter. Diga que foi um acidente de carro
ou... ”

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"Não."

"Remus, eu só quero que você fale..."

“Sabe, eu realmente não me sinto bem. Você pode me deixar em paz, por favor? "

"Está bem." Grant se levantou. Remus manteve os olhos fechados, mas podia ouvir
cada movimento. Pouco antes de sair do quarto, Grant voltou. “A propósito, encontrei
aquela garrafa de gim na sua gaveta de meias. Derramei tudo na pia.”

Ele bateu a porta.

***

* Ring ring * * Ring ring *

"Alô?"

"Mary?"

"Remus?" Houve um breve silêncio do outro lado da linha enquanto Mary se


recompunha. Remus conhecia esse sentimento. Às vezes, ele se lembraria de algo dos
velhos tempos, e isso o deixaria sem fôlego. "Oi!" Ela disse, sua voz carregando um
sorriso largo. "Como você está, amor?"

"Ah, você sabe. Eu não estou incomodando você?" Ele sempre tentava dar a ela uma
saída fácil se ela quisesse.

"Claro que não... Acabei de tomar chá."

"Ah, legal, o que você comeu?"

"Frango e arroz. O favorito de Darren. ”

"Parece bom."

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“Você deveria vir jantar qualquer noite. Ainda está em Londres, não é?”

"Sim... no mesmo apartamento."

"Ah, claro. Como…? Hum. Como é?"

"É ok." Remus respondeu enquanto olhava ao redor por sua sala de estar mal tratada.
"Estou aqui há tanto tempo que acho que parece que sempre foi só meu."

"Está se encontrando com alguém?"

"Quase isso."

"Trabalhando?"

"Com limpeza. Freelance. Quando consigo. Estive empilhando mantimentos em


prateleiras por um tempo, lá em Epping, mas dormi no meio do trabalho e eles me
despediram. ”

"Seja gentil consigo mesmo, amor.”

"É." Ele deu um gole em sua garrafa de cerveja. "Como é seu trabalho?"

"Bom! Acontece que posso ter sido péssima em transfiguração, mas contabilidade não
é grande coisa. ”

Darren havia aberto uma garagem no final de 1985, e Mary também trabalhava lá,
cuidando de todas as reservas e faturas. Eles estavam economizando para se mudar de
seu pequeno apartamento e comprar uma casinha com um jardim. Mary só usava
magia muito ocasionalmente, havia dito a Remus, embora seu relacionamento com
sua varinha nunca tivesse sido o mesmo desde que encontrou os McKinnons.

“Remus? Você ainda está aí?"

“Desculpe, sim. Me distraí."

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“Eu também faço isso...” Uma pausa. Remus teve aquela sensação de enjôo e aperto
no estômago. Ele poderia adivinhar o que viria a seguir. Mary levantou a voz
levemente. “Você tem alguém com quem conversar? Quem quer que você esteja
'meio' que se encontrando, a pessoa sabe o que aconteceu?"

"Hm." Remus fez um barulho evasivo. “Algumas coisas aqui e lá.”

“Você precisa conversar sobre isso, Remus. Você não deveria ter que carregar tudo
isso... Eu não consigo imaginar como deve ser, a traição- "

"Não." Remus esbravejou, "Você não pode!" e ele bateu o telefone o mais forte que
pôde, fazendo com que ele caísse da mesa. Ele terminou sua cerveja antes de se mover
para pegá-lo de volta.

Foda-se ela, então.

Todos queriam que ele conversasse, mas nenhum deles realmente sabia. Nenhum
deles poderia saber o quão estúpido ele se sentia, o quão usado. Lily, James, Peter e
Marlene - perdê-los era uma coisa. Sozinho, Remus havia aprendido a se concentrar
nas melhores memórias, nos momentos mais felizes.

Mas Sirius. Não houve um momento de seu tempo juntos que não foi contaminado,
envenenado pelas mentiras que Black esteve contando. Remus havia se feito aberto,
vulnerável e amoroso, e cada momento fora falso.

Ele tinha sido feito de bobo pela única pessoa que amou. Ele era patético , muito cego
pela emoção para ver a verdade, e agora não havia mais nada de si. Nunca seria capaz
desse tipo de suavidade novamente. O ódio de Remus por Sirius era tão opressor e
massivo que às vezes o assustava.

Então, como ele deveria falar sobre isso? Como deveria dizer a Grant, ou a algum
terapeuta, que não estava apenas com raiva, não apenas em luto, mas sim que estava
paralisado de raiva? Que, às vezes, sonhava em ir à Azkaban de alguma forma e
matá-lo com suas próprias mãos. Que, uma ou duas vezes, nos primeiros meses após a

419
guerra, havia ido tão longe a ponto de realmente se levantar durante a noite, bêbado e
furioso, agarrar sua varinha e planejar exatamente isso. A única coisa que o impediu
foi a ideia de estrunchar, ou ter que enfrentar todos aqueles dementadores.

Ele chutou a mesinha de centro furiosamente, batendo o dedão do pé.

“Droga!”

Grant enfiou a cabeça pelo canto da porta da sala de estar. "Não foi bem, então?"

“Não adianta tentar.” Remus bufou, esfregando o pé e pulando pela sala para ligar a
TV. "Ela está feliz. Ela tem a vida sob controle. Eu deveria apenas deixá-la em paz. "
Ele desabou de volta no sofá.

"Foi isso que ela disse?" Grant perguntou em tom de censura.

"Não. Mas é o que é justo. ” Remus manteve os olhos fixos na tela, se curvando ainda
mais. Talvez Grant entendesse a mensagem: eu não quero conversar!

"Por que você não a convida para vir aqui em um sábado?" Grant se sentou no braço
do sofá. "Eu gostaria de conhecê-la."

“Não adianta. Ela não viria. Aqui tem muitas memórias.”

"Podemos sair então, almoçar em algum lugar legal."

“Não podemos pagar por isso.”

Grant esfregou as têmporas, estremecendo como se estivesse com dor de cabeça,


"Você está sendo infantil." Ele disse.

"Vai à merda."

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“Brilhante refutação, essa,” Grant bufou, “Qual é, o que aconteceu com o cara
inteligente que eu costumava ter uma queda tão grande que eu só pensava em tirar
suas calças? Use suas palavras complicadas.”

“Olha, você queria que eu ligasse para Mary e eu liguei. Terminou mal, como eu sabia
que terminaria e ponto final. Apenas me deixe em paz, ok?!”

"É, eu posso imaginar exatamente por que acabou mal, e eu não preciso ser um
maldito mágico para descobrir."

"Bruxo."

“Imbecil. Pelo que você me disse, ela é uma garota legal. E ela conhece você. Eu só
pensei que ela seria alguém com quem você poderia conversar - "

"Sim, bem, ela não quer falar sobre isso mais do que eu." Remus cuspiu. "Ela me disse
para conversar com você ."

"Ela disse?" Grant piscou. Remus se sentiu especialmente cruel.

"Bem. Obviamente ela não conhece você pelo nome. Apenas sabe que é alguém que
eu estou transando agora. "

"Certo." Grant fez um esforço óbvio para ignorar esse desprezo. "Bem, vamos lá
então."

"O que?"

“É domingo, não tenho nada para fazer. Vamos conversar."

"Não."

“Remus. Eu não posso continuar assim. ” Grant disse. “Eu te amo, de verdade, mas
isso é demais ---”

421
Porra . Alarmes começaram a soar na cabeça de Remus.

Era como se alguém tivesse começado a acender e apagar as luzes, as paredes se


fechavam, todo o ar saía da sala e ele ficou tonto, se afogando, cego. Havia um gosto
estranho em sua boca, e ele pensou que poderia vomitar, exceto que não conseguia
respirar o suficiente para tal, apenas continuou ofegando, caindo para frente.

"Ei, ei ei!" A voz de Grant penetrou na névoa, ecoante e distante. “Remus? Remus,
você pode respirar fundo? Inspira em um, expire em dois, ok? Um…"

Remus sentiu o suor escorrer pelas costas, seu coração batendo forte, mas ele expirou
o máximo que pôde. “Dois...” Grant disse. Ele estava esfregando suas costas muito
lentamente. Remus soltou um longo suspiro trêmulo. "Isso, bom," Grant lhe
encorajava, sua voz mais alta agora, "Está indo bem, Remus, muito bem. De novo,
um... dois... ”

Eles devem ter ficado sentados ali por quase dois minutos inteiros, apenas respirando
juntos. Eventualmente, Remus se sentiu meio normal novamente. Exceto que ele
realmente, realmente queria uma bebida.

“Olha,” Grant disse, usando a voz que Remus tinha certeza de que ele reservava para
as crianças problemáticas do lugar onde trabalhava, “É por isso que preciso que você
converse comigo. Não podemos ter isso acontecendo, não é?"

Remus balançou a cabeça, mas não confiava em si mesmo para falar.

“Desculpa ter dito o que disse”, continuou Grant, “não quis dizer aquilo. Não há 'mas',
ok? Eu te amo, e você está preso comigo."

Remus concordou novamente, a cabeça ainda nas mãos, os olhos bem fechados. Ele
devia estar pegando uma gripe ou algo assim, as pessoas não ficavam tontas por não
falar, com certeza. Só que… só que Grant dizendo ‘eu não posso continuar assim…’
havia acendido um pavor dentro dele, um terror tão grande, talvez houvesse algo
nisso.

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"E se você me disser apenas uma coisa?" Grant tentou. "Só uma coisa para me ajudar
a entender?"

"Como o que?" Remus engasgou.

"Bem..." Ele praticamente podia ouvir a mente de Grant zumbindo. Ele possuía uma
lista de coisas que queria arrancar de Remus, tudo guardado apenas para esta ocasião?
Isso era alguma besteira estúpida de psicanálise que Grant aprendeu em um curso de
treinamento?

"Você nunca me contou o que aconteceu com Sirius. Eu sei que ele não está morto.
Ele… ele foi embora?"

"Sim, mais ou menos isso." Remus grunhiu. Deus, ouvir outra pessoa dizer aquele
nome doía muito. Ele se sentiu tonto de novo.

"O que você quer dizer?"

"Ele está na prisão." Disse Remus. Então ele inspirou novamente e forçou o resto.
"Ele está na prisão porque os assassinou e eu não estava aqui para impedir nada
disso."

"Puta que pariu."

"Hm." Remus se preparou para mais perguntas. Mas nenhuma veio. Grant apenas
deslizou o braço por cima de seu ombro e deu-lhe um aperto.

"Não foi sua culpa."

"Você não sabe disso." Remus respondeu, olhando para baixo. "Você não sabe o quão
estúpido eu fui. Eu não vi nenhum dos sinais. Eu sabia que algo estava errado, mas
pensei... pensei que era só eu. Eu pensei que ele queria terminar. Eu fui tão egoísta,
nunca pensei por um segundo que ele iria... que ele poderia ...” Ele estava chorando
agora. Grant estúpido .

423
"É culpa dele mesmo ele ter desapontado você, não sua culpa por confiar nele." Grant
continuou o abraçando. Remus permitiu com o intuito de fazê-lo se sentir melhor, para
fazer isso parecer um avanço.

Mas Grant poderia dizer tudo o que quisesse - Mary havia dito algo semelhante, uma
ou duas vezes ao longo dos anos. Simplesmente não parecia verdadeiro. Os mortos
ainda estavam mortos, e Remus não esteve lá para evitar isso. E mesmo se ele
estivesse lá, naquela noite de Halloween, do jeito que ele era naquela época,
provavelmente teria deixado Sirius matá-lo também, ao invés de tentar lutar contra
ele.

Naquela época, morrer por amor parecia a única causa digna. Mas ele estava mais
velho agora, e sabia a verdade. Nunca mais. Nunca, nunca.

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Capítulo 179: 1987

When I look back upon my life

It's always with a sense of shame

I've always been the one to blame

For everything I long to do

No matter when or where or who

Has one thing in common, too;

It's a, it's a, it's a, it's a sin

It's a sin

'It's a Sin' by The Petshop Boys

Na primavera de 1987, Remus teve um pouco de sorte. Um dos antigos amigos


estudantes de Grant agora trabalhava no Departamento Jurídico da UCL
(Universidade College London) e conseguiu um emprego como freelancer para Remus
no qual ele faria algumas edições. O que foi uma revelação; ele poderia fazer a maior
parte de seu trabalho em casa, e então apenas levar para Holborn assim que tivesse
terminado. Realmente precisava arranjar um cartão de seguro nacional e criar uma
conta no banco trouxa, mas isso seria fácil com alguns feitiços de táticos nos
atendentes.

Remus trapaceava apenas um pouco, usando magia para ajudá-lo a ler e corrigir a
ortografia, mas havia achado o trabalho surpreendentemente agradável, e até começou
um pequeno negócio corrigindo provas para algumas das escolas trouxas locais.

425
"Não sei como você consegue se concentrar por tanto tempo." Grant balançou a
cabeça para a pilha de papéis que Remus juntou em uma noite. "Eu enlouqueceria."

“É interessante,” Remus deu de ombros, “Eu nunca tive a chance de aprender nada
disso. Você já ouviu falar sobre equações quadráticas? ”

Grant riu dele com ternura e bagunçou seu cabelo, "Seu nerd."

O próprio Grant estava crescendo cada vez mais no trabalho. Ele amava o que fazia e
dedicava tempo extra nos fins de semana e à noite sempre que podia. Os meninos com
quem Grant trabalhava eram tão problemáticos quanto os meninos de St. Edmund,
mas isso só parecia estimular Grant ainda mais. Ele estava sempre contando a Remus
sobre uma criança ou outra que teve uma pequena vitória - uma nota boa o suficiente
para passar de ano na escola, uma semana sem briga ou alguma redução na sentença.
De alguma forma, Grant sabia tudo sobre todos com sua memória ilimitada e sua
inacreditável capacidade de encorajar e se orgulhar.

“Tenho que cortar aquele artigo do Observer”, ele dizia em alguma noite , “Parece
bem na rua de Alfie”. Ou, "Vou ficar até tarde amanhã, prometi aos rapazes mais
velhos que jogaríamos futebol se nenhum deles fosse suspenso."

Às vezes, quando se sentia inseguro, Remus se perguntava se Grant só estava com ele
porque ele também era um menino problemático. Se perguntava se Grant estava
apenas tentando salvá-lo da mesma forma que tentava salvar a todos. Ele vivia por
uma boa causa.

"Cale a boca", Grant sorria em sua direção quando ele levantava essas questões. "Eu
queria entrar em suas calças desde que éramos adolescentes, não tem nada a ver com
seu passado tenebroso."

E então Remus se lembraria disso, afinal, Grant também havia sido um garoto
institucionalizado. Algo que era fácil de esquecer, porque ao contrário de Remus, ele
suportava tudo levianamente, dando de ombros de forma casual em aceitação.

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Pobreza, falta de estudos, maus-tratos - nada disso pesava sobre Grant da mesma
maneira. Pelo menos, não na superfície. Porém, Remus já havia se enganado sobre
pessoas antes.

Como resultado da dedicação de Grant ao seu trabalho e do próprio emprego de


salário mínimo de Remus, ele se viu em uma posição que nunca havia ocupado antes:
tendo tempo livre e um pouco de renda disponível.

Ele não precisava de muito - o apartamento estava pago, a mobília estava em


condições razoáveis e eles geralmente conseguiam pagar para manterem a eletricidade
e água quente ligadas. Remus comprava roupas de vez em quando, mas dificilmente
fazia compras na Harrods. Havia a bebida, mas ele havia raciocinado que, como não
fumava mais, poderia investir o dinheiro do tabaco na bebida.

O que Remus realmente gostava de fazer era sair para andar. Não passeios por áreas
rurais - ele já fazia muito isso durante as luas cheias -, mas sim vagar por Londres
sozinho, curtindo as ruas, as pessoas. Ele visitou todos os museus gratuitos de
Londres, a National Gallery, a Portrait Gallery, o V&A (Museu de Arte e Design), o
British Museum. Para falar a verdade, havia se tornado bastante culto. E se seu quadril
doesse (o que frequentemente acontecia agora que estava quase deixando para trás
seus vinte anos), ele poderia facilmente entrar em um ônibus e voltar para casa.

Então, em um dia de verão, ele havia concluído todas as correções e não havia nada na
TV. Ainda demoraria horas para Grant chegar em casa, então ele vagou pelo Museu
de Ciência por mais ou menos uma hora. Curiosamente, isso o fez pensar em Arthur
Weasley pela primeira vez em anos. O velho idiota iria adorar todas as máquinas, os
pistões e as lâmpadas. Conseguia imaginar o rosto de Arthur observando a máquina de
movimento perpétuo, o que fez Remus sorrir para si mesmo de repente . Como Arthur
estava? E sua esposa, a irmã dos Prewett, e sua ninhada de crianças ruivas? A essa
altura, muito tempo havia se passado para que entrasse em contato, Remus sabia, e
mesmo que o fizesse, não saberia o que dizer.

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Ainda assim, pensar nos Weasleys não havia lhe causado dor, o que era o principal.
Talvez pensar sobre eles o tenha colocado em uma estrutura mental diferente durante
aquela tarde, mais alerta talvez, ou nostálgico. Não poderia ser uma coincidência que
ele esbarrou em um velho amigo apenas duas horas depois.

Remus estava quase em casa, apenas a uma rua ou mais de distância, arrastando-se
anonimamente pelos becos movimentados de Chinatown. Na verdade, estava prestes a
passar pelo lugar onde haviam conseguido a tv, a sauna da rua Old Compton. Remus
sempre corava um pouco quando passava por lá, e então se punia por ser tão puritano.
Ele abaixou a cabeça ligeiramente ao se aproximar e - horror dos horrores - assim que
passou pela porta, alguém saiu por ela.

Remus teve que parar para não esbarrar na pessoa, que se virou e o encarou, nervoso.

Remus engasgou. "Christopher!"

O homem piscou, horrorizado. Ele tinha o rosto vermelho e seus olhos castanhos
escuros estavam pequenos e lacrimejantes. Estava um pouco mais gordinho do que na
escola, e a linha de seu cabelo estava recuando ligeiramente nas têmporas. Mas era
definitivamente ele.

"Remus?"

"Oi! Não nos vemos desde…"

"Desde…"

"É. Como você está?" Remus estremeceu ao fazer essa pergunta. Christopher estava
claramente desconfortável - e por que não estaria? Ele não via Remus há quase dez
anos e aqui estava ele, pairando do lado de fora de uma sauna gay.

"Ah… você sabe." Christopher olhou para seus pés.

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Ele estava usando roupas trouxas - uma camisa jeans com os botões desiguais, calça
social e um colete laranja queimado com bordado verde. Resumindo, ele parecia tão
terrível quanto qualquer bruxo puro-sangue que tentava se passar por trouxa. Como
sempre, o ar geral de desesperança de Christopher fazia dele alguém querido por
Remus.

"Er..." Remus esfregou a nuca. “Você quer... hum. Tem tempo para um café? Ou uma
bebida? Para conversarmos um pouco? ”

"Ok, então ..." Christopher o olhou cautelosamente.

Remus assumiu o comando a partir daquele momento, porque estava claro que não
havia outro jeito. Ele conduziu Christopher rua acima, de volta à Tottenham Court
Road. Havia um café na Denmark Street que era barato e anônimo e, por algum
motivo, Remus queria ficar o mais longe possível de sua casa.

“Aqui estamos”, ele sorriu gentilmente, segurando a porta aberta e apontando para
uma mesa disponível. Christopher não disse nada e se sentou, um pouco inquieto.
Remus se perguntou se tudo isso era uma ideia terrível - talvez Chris não quisesse
conversar com ele. Porém, ele havia concordado e até mesmo se ofereceu para pagar
quando Remus pediu os cafés.

"Você mora nas proximidades?" Christopher finalmente perguntou, ainda sem fazer
contato visual completo.

“Sim,” Remus acenou com a cabeça, “Não muito longe. Você?"

"Ah, não. Moro em Hampshire. Vim para a cidade a trabalho e... bem. ”

"Onde você trabalha agora?" Remus perguntou, desesperado para poupá-lo de mais
constrangimento.

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“Gringotes.” Chris disse, olhando para a garçonete quando seus cafés chegaram. Ele
colocou três cubos de açúcar no seu, e o máximo de leite que pôde - Remus percebeu
que nem mesmo havia perguntado se Chris gostava de café.

"Impressionante," Remus sorriu, "Sempre soube que você se daria bem."

"Acho que sim."

"Ainda lê muito?"

“Quando há tempo ... o trabalho me mantém ocupado. E outras responsabilidades,


você sabe como é. Achei que éramos sobrecarregados durante os NIEM, mas
Hogwarts era como férias em comparação com a vida real.”

Remus mordeu a parte interna da bochecha, porque era verdade, e ele não queria ficar
chateado com isso.

"E você?" Christopher perguntou, claramente tentando não fazer uma careta enquanto
bebia seu café. "O que você faz agora?"

"Isso e aquilo," Remus deu de ombros. “Não tenho exatamente uma carreira.”

"Oh, que vergonha."

Remus deu de ombros, "Está tudo bem, eu me viro."

Houve um silêncio constrangedor. Remus queria perguntar sobre a sauna, mas sabia
que era melhor ficar quieto. Grant provavelmente perguntaria, mas Grant possuía um
jeito de deixar as pessoas à vontade que Remus não tinha. Ele apenas bebeu seu café
em silêncio e desejou ter sugerido um pub em vez disso.

"Achei que você tivesse morrido." Christopher disse de repente. Remus quase
engasgou. Ele largou o café.

"Você…"

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“Haviam tantos rumores naquela época - você se lembra como era. E havia todos
esses nomes, e quando eu vi o que tinha acontecido com Lily e seu amigo James, eu
pensei... especialmente depois que foi descoberto que Sirius Black foi o culpado, eu
simplesmente presumi... ”

Remus inspirou profundamente e esperou que a dor diminuísse. Quando isso


aconteceu, ele exalou lentamente e disse, muito uniformemente.

"Não. Eu não estava lá naquela noite. Eu não fazia ideia do que Black estava
tramando. Ninguém sabia.”

"Ele estava sempre tramando alguma coisa", disse Christopher sombriamente. "E com
sua família... eu suponho que não tenha sido realmente uma grande surpresa."

"É." Remus respondeu sem saber mais o que estava dizendo, apenas tentando ignorar
o rugido em sua cabeça, "Suponho que não."

“Eu fiquei tão chateado sobre o que houve com Lily, no entanto. Ela era gentil. Você
sabe onde Harry está agora? O menino que sobreviveu?"

Remus apenas balançou a cabeça. Ele bebeu mais café - provavelmente não era uma
ideia brilhante adicionar cafeína ao seu ritmo cardíaco já acelerado, mas ele estava
tentando parecer o mais normal possível.

"Se você não estivesse morto", continuou Christopher, "pensei que talvez você
simplesmente não quisesse falar comigo."

"Por que?"

“Eu sei que você e seus amigos estiveram todos envolvidos na guerra, ajudando
Dumbledore e tudo mais. Eu não... meus pais me mandaram para a Suécia depois que
terminei meus NIEM. Eles estavam preocupados comigo, eles me queriam fora do
caminho. Você se lembra de como as coisas estavam naquela época.”

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Sim , Remus queria dizer, sim, eu me lembro. Às vezes eu acordo e parece que ainda
está acontecendo.

"E por sermos puro-sangue... acho que eles estavam preocupados que eu tivesse que
escolher um lado. Então eles me mandaram embora, nós temos família em
Gotemburgo, e eu obtive minha qualificação em Finanças Mágicas. ”

"Certo." Remus acenou com a cabeça. Ele realmente precisava falar sobre outra coisa.
“Bom para você, Chris. Então, hum... você vem a Soho com frequência? "

Christopher ficou vermelho de novo e olhou para sua caneca de café. “Só... só às
vezes. Honestamente, acabei de ouvir sobre aquele lugar e pensei em dar uma olhada,
eu não... eu não quero que você pense... "

"Você sabe que deve ter cuidado", disse Remus, baixando a voz para o caso de algum
dos clientes do café estar ouvindo, "Há uma doença que os trouxas estão pegando, não
tenho certeza de quanto vocês sabem sobre isso, mas é muito sério. ”

“Como eu disse,” Christopher respondeu, “eu quase não vou lá, realmente. Apenas
curiosidade estúpida. ”

Remus sentiu uma pontada de culpa por fazer Christopher se sentir mal. Se Grant
havia lhe ensinado alguma coisa, era que você nunca deveria aumentar a vergonha
pessoal de ninguém. De qualquer maneira, era um sentimento desperdiçado, não havia
necessidade de torná-lo pior.

"Não há nada de errado em ser curioso," Remus disse gentilmente, "Muitas pessoas
vão a esses lugares."

"Você vai?" Christopher ergueu os olhos para ele.

"Não." Remus respondeu um pouco rápido demais. "Er... quero dizer, você sabe que
nunca fui muito sociável."

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"Ah, claro. Posso imaginar, depois de tudo o que aconteceu... ”

Remus não queria entrar nisso, então mudou de assunto, "Está saindo com alguém?"
Perguntou. "Tem namorado?"

Christopher balançou a cabeça. "Não. É difícil, você sabe. O trabalho que tenho,
minha família. As coisas têm sido... bem, houve um bom número de tentativas e erros
a esse respeito.”

Remus queria apertar sua mão sobre a mesa, mas não era realmente o lugar ideal. Ele
inclinou a cabeça simpaticamente.

“Vai melhorar, Chris.”

Christopher o olhou com um sorriso resignado. “Mm, sim, eu lembro de você dizer
algo assim antes, na escola. Você disse que havia alguém para todos. ”

"Bem, existe." Remus acenou com a cabeça de forma encorajadora. “Mais de uma
pessoa até.”

"Eu não sei." Chris suspirou. "Não sei se é saudável pensar assim. Existem tantos
fatores a serem considerados, e eu não... Eu não acho que funcione como nos livros.
Não acho que todo mundo tenha essa mesma experiência. ”

Isso foi uma coisa difícil de ouvir. Remus não sabia o que dizer, de verdade, e se
sentia estranhamente constrangido e ingênuo. Certamente, Remus não glamourizava
mais o romance, se é que alguma vez o fez. O amor havia lhe espancado em mais de
uma ocasião. Mas também havia sido a única coisa pela qual valia a pena viver. O
amor o ergueu, o protegeu e o manteve humano. De repente, teve o desejo de ver
Grant e se perguntou se ele já estaria em casa.

"Não sinta pena de mim", disse Christopher rapidamente, verificando seu relógio de
bolso, "Eu já me diverti o suficiente. Gosto do meu trabalho, ganho muito dinheiro e,
quando tenho uma noite livre, ainda... sabe, posso me divertir de vez em quando. Eu

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apenas vejo isso como uma recompensa ao invés de um estilo de vida. Na verdade,”
Ele se inclinou um pouco, “Eu tenho um apartamento em Kensington para quando eu
trabalho até tarde e não quero aparatar todo o caminho de volta para casa. É bom lá, se
você quiser conhecer. ” Ele ergueu uma sobrancelha sugestivamente.

A boca de Remus ficou seca e ele engoliu em seco, confuso.

“Hum. Legal da sua parte oferecer, realmente, mas é melhor eu ir para casa. Eu tenho
alguém me esperando. ”

"Oh." Christopher se endireitou. Seu rosto pareceu se fechar. "Você tem alguém."

"Sim, há alguns anos." Quase seis, percebeu. Por mais tempo do que ele teve Sirius -
se ele realmente tivesse tido Sirius.

"Bem. Bom para você, então. Olha, é melhor eu ir, Remus, foi muito bom vê-lo
novamente. " Christopher se levantou e estendeu a mão formalmente para Remus
apertar. "Devemos marcar um jantar apropriado algum um dia desses, me avise se
aparecer no Beco Diagonal, talvez eu providencie um almoço."

“Ok,” Remus acenou com a cabeça, apertando sua mão.

Ele sabia que nunca iria no Beco Diagonal, e como Christopher não deu a ele
quaisquer detalhes de contato, Remus presumiu que o convite era apenas por
educação. Não sentia falta da hipocrisia puro-sangue.

Remus voltou para casa rapidamente, ignorando a dor em seu quadril, e ficou mais
aliviado do que achou ser possível ao encontrar Grant na cozinha.

"E aí, nerd", ele sorriu, "como foi o museu?"

“Bom, obrigado. Interessante."

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"Acho que devo levar alguns dos meninos lá, para um passeio, se conseguir passar por
cima das ordens do diretor." Ele ergueu duas latas, "Quer feijão ou argolas de
espaguete na torrada?"

“O que você preferir,” Remus respondeu, observando-o. Grant olhou para as duas
opções alegremente.

“Espaguete então. Com muito molho worcestershire, hein? "

"Soa perfeito." Remus respirou.

"Perfeito", Grant riu, "Você deve estar com fome."

"Não, eu só... senti sua falta, só isso."

“Eu só fui no trabalho.”

"Eu sei…"

"Idiota." Grant balançou a cabeça, ainda sorrindo, virando as costas para abrir a gaveta
de talheres e encontrar o abridor de latas.

Remus cruzou o cômodo rapidamente e o abraçou, envolvendo os braços em volta da


cintura de Grant, puxando-o e inalando seu cheiro. Grant largou o abridor de lata com
cuidado e abraçou Remus de volta, esfregando seus braços. "Você está bem, querido?"

"Mmmhm." Remus respondeu em seu pescoço. "Só estou feliz que você está aqui."

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Capítulo 180: 1989

Got on a lucky one

Came in eighteen to one

I've got a feeling

This year's for me and you

So happy Christmas

I love you baby!

I can see a better time

When all our dreams come true.

Fairytale of New York, The Pogues

Em 1989, Remus realmente foi para Oxford Street para fazer suas compras de Natal,
por insistência de Grant.

"Você nunca foi lá?!" Ele engasgou, seus olhos arregalados, "Você nem viu as
luzes?!"

"Não achei que londrinos de verdade se envolvessem nesse grande absurdo." Remus
respondeu defensivamente.

"Londrinos de verdade saem de casa." Grant disse. "E compram presentes para seus
amigos."

"Eu não tenho nenhum amigo." Remus disse, então se sentiu péssimo. Porque, claro,
ele tinha Grant.

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"E aquela menina, Mary? Ela envia cartas para você o tempo todo."

"Ah sim. Eu poderia comprar algo para ela, talvez. "

"Esse é o espírito, Ebenezer."

Remus ignorou a provocação, porque sabia que Grant amava o Natal - ou qualquer
oportunidade de comemorar na verdade - e Grant teve um ano muito difícil.

Tendo trabalhado tão duro para obter seu certificado de conclusão da escola, se
esforçando em cada etapa do caminho para obter o A-Levels e várias outras
qualificações, tudo para que pudesse ter o emprego dos seus sonhos, para que pudesse
ajudar outras pessoas, Grant finalmente encontrou um oponente intransponível. O
governo ou, mais especificamente, o Ato Governamental Local.

Em 1988, a Seção 28 foi aprovada e Grant não estava mais seguro em sua posição no
trabalho. A princípio, Remus não havia realmente entendido ou, pelo menos, não
conseguia ver por que Grant deveria se preocupar.

"Mas você não trabalha para o conselho," ele franziu a testa, folheando os folhetos que
Grant e seus amigos estavam imprimindo para aumentar a conscientização sobre o que
estava acontecendo.

"Sim, eu trabalho," Grant respondeu, "A autoridade local inclui escolas e instituições
para menores infratores, e é disso que se trata. Eles não querem que nós
transformemos as crianças em pervertidos. "

"Isso é ridículo." Disse Remus.

"Eu sei."

Remus releu o texto.

Uma autoridade local não deve promover intencionalmente a homossexualidade,


publicar material com a intenção de promover a homossexualidade ou promover o

437
ensino sobre aceitabilidade da homossexualidade sob o preceito de uma falsa família
em qualquer escola.

"Falsa?!" Remus balançou a cabeça.

"Eu sei." Grant suspirou.

"Mas o que isso significa? 'Promover' a homossexualidade? Como você a promove?"

"Bem, é aí que os filhos da puta têm sido espertos, não é." Grant bufou. "Não significa
nada, não realmente. Significa apenas que se alguém quiser argumentar contra isso, os
malditos conservadores podem acusá-los de querer 'promover' a existência queer ou
alguma besteira. "

"Mas isso é..."

"Completamente doentio? Cruel? Imoral. Sim. Meu amigo, Gay Bob, ele já teve que
fechar o grupo de Apoio a Jovens Gays que havia sido inaugurado no ano passado. E
o mesmo pode acontecer comigo, o governador já está pedindo uma lista dos livros
que usamos para verificar se nenhum deles é queer demais."

"Mas eles não podem... eles despediriam você?"

"Eu não sei, amor. Já estou tentando manter minha cabeça baixa sobre essa coisa de
AIDs. "

Remus se sentiu ainda pior com isso. Certo dia, todos os funcionários do centro em
que Grant trabalhava haviam sido convocados para uma reunião e comunicados que,
sem nenhuma exceção, se qualquer um deles contraísse o HIV, seriam demitidos sem
aviso prévio - e a polícia seria notificada. Isso já era aterrorizante o suficiente.

Nos últimos dezoito meses, Grant havia trabalhado incansavelmente com seus amigos
e vários grupos para apelar à Seção 28, e não estava indo nada bem. Ele quase foi

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preso em um protesto e ficou com um olho roxo por causa de um homem conservador
em outro.

"É uma guerra." Grant disse ferozmente quando voltou, e Remus o fez sentar e ficar
quieto para que pudesse cura-lo, "Somos nós e eles, é assim que eles querem, e é isso
que eles vão ter."

Remus não sabia o que dizer. Ele não queria guerra, ele só queria ser deixado sozinho.
Porém, ele nunca disse isso, porque, no fundo, estava muito orgulhoso da recusa
descarada de Grant em desistir ou ceder ao menos um pouco. Remus sempre admirou
sua bravura acima de tudo.

Então, no final de dezembro, Remus e Grant se agasalharam em gorros de lã, luvas e


cachecóis, e caminharam pela cidade cinzenta de inverno até Oxford Circus. Grant
estava certo - o idiota - as luzes eram lindas. Espalhadas pela rua larga como videiras
na selva, grandes lâmpadas douradas reluzentes iluminavam os alegres decks
vermelhos, os táxis pretos reluzentes, as gloriosas vitrines prateadas e verdes.

Era verdade, Remus esteve evitando o Natal e todas as suas armadilhas, assim como
evitava seus aniversários. Ele estava preocupado que essas datas fossem fazê-lo voltar
- para Hogwarts, para a mansão dos Potters, para todas as suas memórias mais
agridoces. Era muito difícil ficar sem seus amigos naquela época do ano.

Mas havia algo muito purificador no caos das compras na Oxford Street. O barulho, a
agitação e os cheiros garantiram que ele não pudesse ficar de mau humor por muito
tempo, e o entusiasmo de Grant fez todo o resto.

"Certo, vamos dar uma olhada e procurar o presente de Mary primeiro, vamos?" Ele
sorriu para Remus, pulando na ponta dos pés. "Casa de Fraser? Ou ela é uma garota de
Selfridges? "

"O que estiver mais em alta, suponho," disse Remus. "O que você tinha em mente?"

"Deus, não tenho ideia."Coisas de banho?"

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"Sim," Remus acenou com a cabeça, "Coisas de banho. Ou perfume? "

"Ooh, perfume, hein?" Grant o cutucou com o cotovelo, "Isso é íntimo. Eu deveria
estar preocupado?"

"Sobre Mary?" Remus bufou, "Chegou tarde demais."

Eles vagaram pelos departamentos de perfumes de três ou quatro grandes lojas.


Remus lamentou um pouco sua escolha, seu olfato hipersensível fez com que ele
ficasse rapidamente com uma dor de cabeça após a primeira parada.

Ele acabou optando por algo floral, em um frasco rosa e dourado, porque era bonito e
estiloso, e Mary era bonita e estilosa. Ele até o embrulhou para presente em papel
dourado com um laço de cetim vermelho. Cores da Grifinória, e sorriu para si mesmo.

"Certo, você pode comprar meu presente agora", Grant sorriu, puxando sua manga,
"Eu quero meias novas, todas as minhas têm buracos."

Remus tomou um grande golpe de ar frio e fresco quando eles saíram, o que o fez se
sentir aliviado. "Tenho que comprar algo melhor do que meias ", disse ele.

"Gostaria de ganhar algumas cuecas também". Grant piscou e Remus corou, olhando
para baixo. Mais tarde, quando Grant não estivesse por perto, ele compraria algo
realmente bom. Não tinha certeza do que ainda, e ele não tinha muito dinheiro - mas
talvez um novo casaco que não fosse tão caro. Grant precisava desesperadamente de
um, sua jaqueta de segunda mão mal mantinha o frio longe.

"O que você quer?" Grant perguntou, olhando para uma vitrine projetada para se
parecer com o pólo norte, com grandes almofadas empilhadas se assemelhando à iglus
e pinguins de pelúcia gigantescos.

"Chocolate." Remus encolheu os ombros.

"Isso é o que eu sempre te dou..."

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"Isso é tudo que eu quero, agora que eu não fumo mais."

Grant balançou a cabeça, resmungando pela falta de senso de Remus.

De repente, Remus sentiu um sopro de magia. Por um momento, se perguntou se seus


sentidos apenas foram destruídos por todo o perfume, mas não, era muito claro. Ele
olhou para cima e para baixo na rua, curioso. Então ele o viu, parado do lado de fora
da vitrine da Marks & Spencer.

"Christopher? É você?" Remus se aproximou lentamente.

"Remus!" Christopher se virou surpreso.

"Temos que parar de nos encontrar assim," Remus riu. Ele estava de bom humor e,
pelo menos, não tinha pego Chris em uma situação comprometedora desta vez.

"Sim, verdade," Christopher riu também, um pouco nervoso, pigarreando no final. Ele
carregava várias sacolas de compras volumosas com as duas mãos. "Como você está?
Desculpe não ter entrado em contato, estou muito ocupado no trabalho. "

"Tudo bem. Estou bem, "Remus concordou. Os olhos de Christopher se voltaram para
Grant. Remus se lembrou de ser educado, "Desculpe, er, este é Grant, ele é..."

"Sua alma gêmea." Grant terminou com um sorriso atrevido, estendendo a mão
enluvada. Christopher parecia não saber se ria também, mas mudou suas sacolas de
compras para apertar a mão de Grant.

"Christopher Barley", disse ele.

"Chris e eu estudamos juntos," explicou Remus.

"Oh, entendo," Grant acenou com a cabeça ansiosamente, seus olhos esbugalhados.
Ele nunca havia dito nada sobre isso, mas Remus sabia que Grant estava secretamente
morrendo de vontade de conhecer outro bruxo, só para comparar. "Mora em Londres,
certo?"

441
"Er... não. Estou aqui apenas para fazer compras, você sabe. Natal."

"Nós também," disse Remus.

"Que bom." Chris disse muito formalmente. Estava começando a ficar um pouco
estranho. Remus se sentia como se eles estivessem em um coquetel de classe média ou
algo assim, trocando falsas gentilezas.

"Chris querido? Aí está você!" Uma mulher loira baixa veio trotando rua acima em
saltos altos pretos e um lindo casaco de arminho. Ela estava puxando um garotinho
pela mão, ele parecia ter cinco anos e tinha os olhos de Christopher. "Podemos ir
logo? Há muitos trouxas por aí, é sufocante. "

Christopher evitou o olhar de Remus e cumprimentou a mulher.

"Desculpe, querida, eu só estava... encontrei um velho amigo de Hogwarts." Ele


gesticulou vagamente.

"Que adorável!" Ela voltou seu sorriso de lábios vermelhos para Remus, então
estendeu sua pequena mão e ele a apertou sem jeito, sem saber se deveria beijá-la.

"Querida, este é Remus, e seu amigo Grant. Remus... esta é Åsa, "Christopher
murmurou, "Minha esposa. E Henrik, meu filho. "

"Prazer em conhecê-la," Remus assentiu. Grant acenou com a cabeça também, mas
Remus percebeu que ele estava desconfortável.

"É um prazer!" Åsa jorrou. "Devo dizer que não conheço tantos colegas de escola de
Christopher. Você tem que vir jantar uma noite e me contar tudo sobre as travessuras
dele! "

"Ha, sim, definitivamente," Remus riu constrangido, esfregando a nuca. Ele nem sabia
o que estava dizendo. Christopher era casado?! Ele tinha um filho?!

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"Bem, é melhor irmos." Christopher disse, seu rosto estranhamente branco. "Feliz
Natal, Remus."

"Feliz Natal..." Remus deu um aceno estranho, enquanto a família se virava para ir
embora em direção ao Beco Diagonal.

"Sou só eu", disse Grant, enquanto eles saíam, "Ou isso foi estranho?"

"Muito." Remus respondeu. "Ele deve tê-la conhecido na Suécia... Ele disse que sua
família o mandou para lá..."

"Não foi ela que foi estranha." Grant disse.

"Não, quero dizer..." Remus mordeu o lábio, "Er... então, eu conheço Chris da escola,
mas eu o encontrei a pouco tempo, há um ano e meio, saindo daquela sauna no Soho."

"Oh!" Grant disse. "Certo, eu entendo. Pobre rapaz. "

"Ele nunca disse nada então... ele... quantos anos a criança parecia, para você?"

"Mais de um ano e meio." Grant encolheu os ombros.

"Sim..."

Logo começou a chover aquela chuva gelada de dezembro, então eles correram para o
próximo ônibus e foram para casa. Depois disso, Remus passou a pensar em
Christopher com frequência e isso o perturbava. Não havia muito que ele pensasse que
pudesse fazer a respeito, e realmente não era da sua conta, mas ele não entendia.
Christopher havia sido convencido ou coagido? Ele a amava, ele estava feliz?

Quando ele e Grant conseguiram escapar da chuva, eles estavam congelados e


encharcados, então tomaram um banho quente para se aquecer e Remus acendeu o
fogo na velha conexão de flu para aquecer o apartamento.

"Como isso funciona se não temos uma chaminé?" Grant perguntou, trazendo o chá.

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"Magia." Remus bocejou, enquanto Grant se acomodava ao lado dele.

"Eu sou como aquele cara em Bewitched casado com a loira sexy."

"Eu não mexo meu nariz, no entanto."

"Aww, agora eu vou te perturbar até que faça isso," Grant sorriu.

Remus deu a ele um olhar arrogante e apontou sua varinha para o rádio. Eles estavam
tão aconchegantes que parecia errado ligar a televisão.

"Obrigado por vir comigo hoje." Grant disse, envolvendo as mãos em torno de sua
caneca de chá para aquecê-las. "Eu sei que você odeia multidões."

"Eu não me importo, sério. Obrigado por me tirar de casa. E me mostrar as luzes."

"A qualquer hora," Grant bufou. "Sempre me alegra fazer as compras de Natal. Sabe,
ninguém está pensando em si mesmo, todos só querem fazer outras pessoas felizes, é
bom."

"Achei que você fosse contra a comercialização do Natal." Remus comentou


ironicamente. Grant deu uma cotovelada nele.

"Eu sou, mas um pouco disso ainda é bom. De qualquer forma, achei que você
gostaria de uma pausa da política neste fim de semana."

Remus não respondeu, apenas beijou a bochecha de Grant e se acomodou para ouvir o
rádio. Era o final de uma música de Suzanne Vega que estava tocando. "Amo esta
música," Grant murmurou, encostando-se em seu ombro, "Amo a voz dela, toda clara
e estranha, sabe?"

"É um mito grego," Remus respondeu sonolento, "Odisseu."

"Nah, é algo que começa com um C", respondeu Grant, tomando um gole de chá.

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"Sim, Calipso, ela é uma siren, mas Odisseu é o personagem principal."

"Siren? Não é como uma sereia? "

"Um tipo. Elas atraem os homens com seu canto. "

"Elas são reais?" Grant perguntou. Ele sempre quis saber.

"Sim, sereias são. Não sei se Calypso era. "

"Então, o que ela fez? Eles se apaixonaram, ou o quê? "

"A história de Odisseu é chamada de Odisséia. É tudo sobre sua jornada de volta para
casa após a guerra de Tróia. " Remus franziu a testa, tentando se lembrar. Era
Homero. Havia lido sobre isso em seu segundo ano, antes ou depois da Epopéia de
Gilgamesh, não conseguia se lembrar. Antes, realmente não havia gostado da
Odisséia, preferiu A Ilíada, porque tinha todas as coisas boas sobre a guerra nela.
Talvez hoje, fosse se sentir diferente sobre isso agora que era um adulto.

"Os troianos... são eles que tinham o cavalo de madeira?" Grant perguntou, ainda
tentando seguir o tópico.

"Sim, é isso. Odisseu se mete em todos os tipos de problemas ao tentar voltar para a
casa, para sua esposa, Penélope, mas o deus do mar fica zangado com ele por causa de
alguma coisa - não me lembro o quê, então ele destrói o navio de Odisseu e ele vira
náufrago na ilha onde Calipso mora. Ela se apaixona por ele e o mantém como refém
por sete anos. "

"O que ela faz com ele?"

"Ah, eu não sei. Alimenta ele, cura suas feridas e outras coisas. Eu acho que ela dança
muito também. "

"Ela não parece tão ruim. Parece gentil. "

445
"Pode ser. Mas ela quer torná-lo imortal e Odisseu quer voltar para Penélope. Calypso
não é seu verdadeiro amor. "

"Meio triste." Grant bufou, parecendo chateado.

"É apenas uma história." Remus deu de ombros.

446
Capítulo 181: 1990

And then she turns to me with her hand extended

Her palm is split with a flower with a flame

And she says "I've come to set a twisted thing straight."

And she says "l've come to lighten this dark heart."

And she takes my wrist, I feel her imprint of fear

And I say "I've never thought of finding you here."

Solitude Standing, Suzanne Vega.

Mary teve seu primeiro filho naquele ano - uma garotinha que ela chamou de Rachel,
em homenagem a sua mãe. Rachel Marlene.

"Não vou mentir," ela disse a Remus pelo telefone, "Estou rezando para que ela seja
um aborto. Não vou conseguir viver com toda essa bobagem. "

Ela o convidou para o batismo, e ele foi por obrigação. Passaram-se décadas desde
que ele pôs os pés em uma igreja, e esta era uma enorme igreja católica em Croydon.
Grant não veio, disse que tinha muito medo de explodir em chamas quando cruzasse a
soleira.

"Isso é ridículo," Remus suspirou, cansado e sem humor, "Mary é literalmente uma
bruxa. Se ela está segura em uma igreja... "

"Meu avô era um entusiasta da Bíblia", Grant estremeceu, "Todos eles podem fazer
um, pelo que eu sei."

447
Grant raramente era tão teimoso, então Remus foi sozinho e tentou não pensar em
funerais.

Após a cerimônia, houve uma pequena festa no salão ao lado, e Mary exibiu sua bebê.
Ela era linda, gordinha, com grandes olhos castanhos, enormes cachos morenos e um
sorriso pegajoso que certamente se tornaria tão deslumbrante quanto o de sua mãe um
dia. Remus acenou nervosamente para o querubim que ria, e acariciou a mão macia de
bebê dela.

"Estou completamente obcecado por ela." Mary emocionou-se, segurando-a, "Quer


abraçá-la?" Mary sorriu, então deu aquela gargalhada de menina que o fez retroceder
anos, "Estou brincando, querido Remus. Aqui, vou entregá-la à mãe de Darren um
pouco, vamos conversar um pouco, só eu e você... "

Eles se sentaram em cadeiras vermelhas de plástico em um canto silencioso do salão


da igreja, segurando copos de papel com suco de laranja aguado. Era um espaço
pequeno, cheio de barulho da festa, de famílias e crianças brincando. A família de
Mary era enorme, tão impetuosa e adorável quanto ela. Remus se sentia muito
deslocado, mas o sentimento não era novo.

"Você não vai se casar, então?" Remus perguntou, "Você e Darren?"

"Shh, mamãe vai ouvir", Mary deu uma risadinha. "Ela está furiosa, é claro, ela está
fingindo que tivemos uma pequena cerimônia na Jamaica antes de Rachel ser
concebida. Nah, eu não gosto disso, e nós mal temos tempo com a garagem e a nova
casa... "

Remus acenou com a cabeça, sorrindo. Era tão bom estar sentado ao lado de Mary
novamente, tê-la tagarelando cheia de energia e alegria.

"E você, ainda mora em Soho?" Mary perguntou, dando a ele um olhar avaliador.
Remus havia vestido um terno que comprou no dia anterior em um brechó. Era ok.

448
Um pouco anos setenta e grande demais para ele, mas esse era o estilo hoje em dia, de
qualquer maneira.

"Sim." Ele acenou com a cabeça. "Acho que nunca vou me mudar para ser honesto, o
apartamento está pago."

"Conseguiu um namorado?"

"Hm, mais ou menos..."

"Eu sei que você tem um, por que você está sendo tão misterioso? Ele é um trouxa? "

"Sim."

"Ah, eu gostaria que você viesse me ver com mais frequência, Remus. Me preocupo
com você."

Ele sorriu para ela, "Você age como uma mãe."

Isso a fez rir. "Eu sou uma mãe!"

Ela ainda era bonita e, na mente de Remus, Mary parecia a mesma aos trinta do que
aos dezoito. Ela usava um terninho rosa choque com ombros de navalha afiados e um
fascinador de ouro brilhante empoleirado no topo de sua cabeça. Seu cabelo estava
curto, o que fazia seu rosto parecer mais angular, como um busto de Nefertiti.

"Mamãe continua me chamando de 'Grace Jones'," Mary tocou seu pescoço nu,
constrangida, "Mas eu gosto. Não posso perder tempo me arrumando em frente ao
espelho quando tenho uma macaquinha para me preocupar. Você está trabalhando em
algum lugar? "

"Ah... aqui e ali," Remus deu de ombros evasivamente. "Você sabe como é."

"Você sabe que Dumbledore deu um emprego a Snape," Mary se inclinou e sussurrou.
Remus não sabia por que, já que ele era a única pessoa ali que sabia quem eram

449
Dumbledore e Snape. "Ele é um professor de Hogwarts agora. Você pode acreditar
nisso?!"

Remus deu de ombros. Mary continuou, furiosa. Isso obviamente estava em sua mente
há algum tempo. "Quando penso em todo o sofrimento que aquele covarde causou!
Quando penso em todos os amigos que perdi... Lily e James, Peter... Marlene. "

"Snape não foi responsável por suas mortes."

"Como vamos saber? E daí, ele virou espião por duas semanas no final, porra, e isso
lhe garante um emprego confortável para o resto da vida, não é? O que ele estava
fazendo enquanto estávamos escondidos em porões como ratos? Onde ele estava
quando estávamos desaparecendo na luz do dia?!"

"Mary..."

"Eu simplesmente não consigo acreditar em Dumbledore. Ele te ofereceu alguma


ajuda? Não ofereceu a mim. Talvez não valemos o tempo dele, suponho. Todos eles
permaneceram juntos no final, as velhas famílias. "

"Eu não quero nada dele." Remus disse, "Estar em dívida com Dumbledore é muito
perigoso. De qualquer forma, Snape tem que viver com o que fez, assim como todos
nós."

Então, ela abaixou os olhos, e Remus sabia que os dois estavam pensando em Sirius.

"Vou te dizer uma coisa, Remus, meu amor," ela disse, finalmente, "Eu não me
importo se ela tem magia ou não, minha garotinha não será bucha de canhão para
aquele velho bastardo. Da próxima vez que todos quiserem uma guerra, você e eu
seremos inteligentes o suficiente para ficarmos bem fora dela, hein? "

"Exatamente." Remus respondeu. Pelo menos, poderiam concordar com isso. Preferia
se juntar aos lobisomens novamente do que se juntar à Ordem.

450
"Sabe, ter Rachel me faz pensar em Harry." Mary disse melancolicamente. "Agora
que eu tenho um filho, não sei como Lily e James fizeram isso. Lembra? Éramos
todos apenas crianças, brincando de mamãe e papai, não é?"

"Suponho que sim."

"Ele vai começar Hogwarts no próximo ano, Harry."

"O que?! Não, isso não está certo, ele só deve estar com... " Remus lutou para fazer as
contas em sua cabeça. "Merda." Ele disse. "Eu nem pensei nisso."

"Pobre amorzinho, indo para a escola sem pais para vê-lo partir."

"Hm..."

"Ah Deus, desculpe Remus! Eu não estava pensando... "

"Está tudo bem", ele riu, "Já superei o fato de ser órfão."

Ele ficou por cerca de mais uma hora antes de sair para pegar seu ônibus na escuridão
fria de uma noite de inverno. Se agarrava a duas fatias de bolo embrulhadas em
guardanapos de papel rosa - uma para você, uma para o seu 'mais ou menos'
namorado, Mary piscou quando os entregou.

Ele beijou sua bochecha, e ela ficou na ponta dos pés para abraçá-lo. Mary tinha o
mesmo cheiro, e isso o fez querer chorar.

"Amo você, querido", ela sussurrou, "Estou tão feliz em ver você voltando a ser você
mesmo."

Ele deu a ela um meio sorriso, felicitou-a novamente e saiu.

Mary estava certa. Ele estava voltando para si mesmo, ou se não, tornando-se outra
pessoa, alguém que estava conseguindo lidar com a vida. Ele recusava cigarros e
bebidas, raramente passava as tardes olhando para o teto do quarto sem conseguir se

451
vestir. Às vezes, coisas estranhas o deixavam ansioso, como o cheiro de óleo de motor
ou quando tocavam velhas canções de Bowie no rádio. Uma vez ele viu uma
adolescente com cabelo ruivo descer de um ônibus em Finsbury Park e quase a seguiu
para casa. Mas ele estava melhor.

Às vezes, Remus até conseguia pensar em Sirius. Às vezes, ele podia falar sobre ele -
apenas para Grant, e apenas se ele perguntasse. Coisas engraçadas, como travessuras
que eles fizeram na escola ou piadas internas idiotas. Ele não pensava sobre eles
juntos - sua mente havia transformado Sirius em uma pessoa completamente diferente,
apenas mais um personagem de seus tempos de escola. Isso tornou as coisas muito
mais fáceis.

Após o batismo, a caminho de casa, Remus pensou em Harry. Ele esperava que o
garoto estivesse feliz ou que, pelo menos, não estivesse com raiva. Remus tentou se
imaginar aos 11 anos, atravessando a barreira de King's Cross pela primeira vez.
Havia sido estressante e estimulante, e ele não sabia como agir ou como se relacionar
com mais ninguém. E então ele conheceu James, o primeiro rosto amigável no trem
naquele dia. Era muito cruel que Harry nunca fosse conhecê-lo.

Remus corria o risco de ficar nostálgico e choroso, então ele desceu do ônibus para
andar o resto do caminho para casa. Ele estava cansado quando entrou e seu quadril
doía, mas tudo bem, se sentia bem por ter saído de casa.

"Tudo bem, raio de sol?" Grant perguntou da cozinha enquanto Remus fechava a porta
da frente.

"Oi,"

"Como foi?"

"A parte da igreja foi entediante. Ver Mary foi bom. "

"Que bom," Grant veio se encostar no batente da porta. Ele estava secando um prato
que usaram na noite anterior.

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"Deixe isso, eu faço." Remus disse, desabando no sofá.

"Nah, já terminei."

"Mary nos convidou para jantar, mas eles vivem em Hounslow, meio distante, mas se
você quiser ir..."

"Oh, ela sabe quem eu sou agora?" Grant sorriu.

"Mais ou menos." Remus corou. "Ela sabe que estou saindo com alguém, só..."

"Por quase nove anos, Remus..."

"Desculpe, é estranho porque... Mary me conhecia naquela época, você sabe."

"Ela te conheceu quando você estava com Sirius." Grant disse categoricamente,
voltando-se para a cozinha para guardar o prato.

"Não seja assim!" Remus disse, levantando-se rigidamente.

"Não estou sendo nada." O rosto de Grant estava escondido pela porta do armário.

"Eu te convidei para o batismo, você que não quis ir."

"Você sabe muito bem por quê."

"Você odeia igrejas, eu sei."

"Bem, então."

"Por que estamos brigando?!" Remus franziu a testa, confuso.

"Isso não é uma briga." Grant fechou a porta do armário, suspirando.

"Então o que é?"

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"Foi há dez anos, só isso. Você ainda está agindo como se eu não importasse tanto
quanto ele. "

"O que?! Não, isso é loucura, isso é - "

"Isso é tudo que eu queria dizer." Grant levantou a mão para detê-lo. "Como eu disse,
isso não é uma briga."

"Mas Grant, eu não... você está errado, eu juro! Eu quero que você conheça Mary, eu
quero! "

"Vou dar uma volta, ok? Eu preciso de um pouco de ar." Grant passou por ele e foi até
a porta. Ele tirou o casaco do cabideiro, o casaco que Remus comprou para ele no
Natal passado. "Estarei de volta em uma hora ou algo assim. Tome um paracetamol
para o seu quadril, está bem? Você está mancando de novo."

454
Capítulo 182:1991

I'm sure that everybody knows

How much my body hates me.

It lets me down most every time

And makes me rash and hasty.

I feel a total jerk before your naked body of work...

Sexuality!

Young and warm and wild and free!

Sexuality

Your laws do not apply to me!

Sexuality

Don't threaten me with misery!

Sexuality

I demand equality!

Sexuality, Billy Bragg.

Sábado, 9 de março de 1991

"Você viu minha varinha?!"

"Nop."

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"Droga!"

"Onde a viu pela última vez?"

"Se eu soubesse eu não estaria procurando, estaria?!"

"Tudo bem, tudo bem, não precisa se descabelar," Grant saiu do banheiro cheirando a
pasta de dente e pantene. Remus praticamente havia virado a sala de estar de cabeça
para baixo em sua busca. Ele estava parado no meio da bagunça, passando os dedos
ansiosamente pelos cabelos.

"Eu tenho um milhão de folhas de exames para corrigir hoje, eu realmente preciso
dela..."

"Basta fazer isso sem magia, como o resto de nós mortais," Grant deu de ombros,
levantando as almofadas do sofá para ajudá-lo a olhar.

"Eu não consigo, eu realmente preciso da minha varinha..." Remus bufou, olhando
embaixo da mesa da TV.

"É uma pena que não haja um feitiço para encontrá-la, hein," Grant riu. Então ele viu
o rosto de Remus e ficou sério, levantando a mão, "Ok, não se preocupe, vamos
encontrar... certo, da última vez que você usou... er... quando as luzes foram cortadas
na noite passada, lembra?"

"Ah, sim!" Remus correu para o quarto. Há pelo menos um mês, duas vezes por
semana, a energia estava sendo cortada - Remus achava que isso pararia de acontecer
agora que os mineiros estavam de volta ao trabalho, mas aparentemente não.

Sua varinha havia rolado para debaixo da cama. Ele a agarrou, aliviado, e a segurou
com força em seu punho. "Graças a Merlin." Ele sussurrou para si mesmo.

"Achou?" Grant perguntou enquanto Remus voltava para a sala. Grant estava
arrumando a bagunça que Remus havia deixado. Remus sacudiu sua varinha

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triunfantemente, e a sala se reordenou. Grant fez um barulho de surpresa e deleite.
"Seu nerd." Ele sorriu.

Remus colocou a língua para fora e foi organizar sua pilha de papéis.

"Ainda não vejo por que você precisa da sua varinha, isso acelera as coisas ou algo
assim?"

"Não, eu preciso para conseguir ler," Remus respondeu, sentando-se à pequena mesa
de jantar para trabalhar.

"Que?"

"Eu tenho um feitiço que me ajuda a ler," disse Remus, "Eu nunca aprendi como ler
corretamente em St. Edmund's."

"Você não consegue ler?!" Grant colocou as mãos nos quadris, olhando para Remus
sem acreditar.

"Bem, eu consigo um pouco..." Remus disse, se sentindo na defensiva, "Só não muito
bem, as palavras ficam todas confusas, não sei por quê."

"Oh!" Grant disse, sentando ao lado dele. "Você é disléxico."

"Eu sou o que?" Remus franziu a testa para ele. Ele nunca tinha ouvido aquela palavra
antes, parecia um feitiço.

"Disléxico. Costumavam chamar de 'cego de palavras'. Não há nada de errado com o


seu QI, é a conexão entre seus olhos e seu cérebro ou algo assim... Eu li um pouco
sobre isso quando estava estudando Educação. Tentei fazer com que reconhecessem
isso no trabalho, acho que alguns dos meninos precisam de ajuda extra, mas o
governador apenas acha que eles são estúpidos."

"Sim, foi o que me disseram." Remus franziu a testa. "... espere, então isso é uma
coisa real?!"

457
"Claro que é," Grant deu de ombros. "Incrível que você tenha um feitiço para isso, me
mostre!"

Remus mostrou, mas é claro que não havia muito para ver, e ele não poderia fazê-lo
em Grant. Ele fez uma nota mental para pesquisar sobre dislexia quando tivesse algum
tempo livre - se pudesse descobrir como soletrar essa palavra estúpida.

"Vou deixá-lo terminar então", disse Grant, "Lembre-se de nossos planos esta noite!"

"Oh... sim..." Remus suspirou. "Bem, se eu terminar a tempo, talvez..."

"Não," Grant balançou a cabeça com firmeza, "Nós vamos, Remus Lupin. Vou
arrastar você para os anos 90 mesmo que comece a chutar e gritar. "

Remus riu sem entusiasmo, tentando ignorar o medo que corria na boca do estômago.

Amanhã era seu trigésimo primeiro aniversário e Grant havia decidido que este seria o
ano em que Remus finalmente iria para seu primeiro bar gay. Conforme março se
aproximava, Remus só queria se esconder até o dia acabar, como sempre.
Aniversários sempre o faziam lembrar dos marotos.

"Você precisa sair um pouco", Grant dizia, "Conhecer algumas pessoas".

"Eu odeio pessoas." Remus respondia acidamente, "As pessoas votaram em Thatcher
e continuam comprando os discos de Morrissey. Pessoas são idiotas."

Grant riu,

"As pessoas são ótimas. Arte, sexo, café, conversas, não dá para ter nada disso sem
pessoas. As pessoas são o que fazem tudo valer a pena e você sabe disso."

Ele estava certo. Grant geralmente estava certo sobre a humanidade.

E o mundo certamente havia mudado. Remus tinha sido deixado de lado, como
sempre, seja por ter estado imerso na guerra, ou trancado em sua própria dor. Grant

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voltava do mundo exterior como um explorador com histórias fantásticas para lhe
contar.

As coisas estavam diferentes agora para pessoas como eles - queers, ou, como se
chamavam hoje em dia, 'homens gays'. Há pouco mais de duas décadas, havia sido
crime viver como eles viviam, e houve muitos obstáculos no caminho desde então,
mas ninguém conseguiria parar o progresso.

À medida que os anos oitenta chegavam ao fim, parecia que haviam gays por toda
parte; Grant fazia Londres soar como uma grande parada homoafetiva. Ele contou a
Remus sobre uma vez ter visto Freddie Mercury no Heaven, sobre The Pet Shop Boys
tocando no rádio, Frankie Goes to Hollywood era o número um de novo, sobre
maquiagem de Boy George e, até mesmo, Elton John era gay agora.

Então, Remus pensou, provavelmente era hora de ele, pelo menos, tentar se envolver.

Eles foram a um pequeno bar logo virando a esquina, "Eu não acho que você está
pronto para o Heaven ainda," Grant o provocou.

Remus desejou que ele não fizesse gracinhas. Estava mais nervoso do que esperava.

"Eu não vou me enturmar..." Ele disse, olhando seu rosto no pequeno espelho ao lado
da porta da frente. Parecia velho. Trinta e um. Jesus Cristo, ontem mesmo ele tinha
dezessete anos.

"É um bar gay." Grant resmungou, parado atrás dele com uma expressão divertida.
"Você é gay. Você vai se enturmar. "

"Não sei se eu sou esse tipo de gay..." Remus respondeu, despenteando o cabelo
grisalho para ver se isso melhorava alguma coisa. Na verdade não, apenas o fazia
parecer um pouco mais desleixado. "Não serão todos... sei lá, mais jovens, mais
divertidos?"

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"Você é muito divertido." Grant disse. Remus encontrou seus olhos no espelho e
ergueu uma sobrancelha. Grant riu. "Bem, eu acho você divertido. Não vou fazer você
dançar, não se preocupe. "

"Vamos ficar em casa e comprar comida chinesa!" Remus implorou uma última vez.

"Não," Grant balançou a cabeça sorrindo, "Você me prometeu. Pelo menos por uma
hora, vamos lá. "

Então ele foi. Talvez a velhice estivesse amolecendo-o.

Remus estava certo - a multidão no pequeno bar era mais jovem e mais divertida. No
entanto, havia algumas pessoas mais velhas do que ele, o que o fez se sentir um pouco
menos deslocado e, pelo menos, todas aquelas luzes coloridas escondiam seu cabelo
grisalho.

Quando Remus era um garotinho em St. Edmund's, o único programa de TV que


todos concordavam em assistir era o Top of the Pops nas noites de sexta-feira. Eles se
reuniam em torno da pequena tela difusa em preto e branco e, em meio à nevasca de
estática, observavam os jovens do momento dançando suas canções pop favoritas. Os
rapazes do St Edmund's eram fãs particulares de Babs Lord, a dançarina principal loira
e saltitante do Pan's People, grupo de dança do Top of the Pops.

Aquele estúdio parecia o lugar mais legal do mundo para o Remus de oito anos, e ele
imediatamente lembrou disso enquanto seguia Grant para dentro do 'Boyz'. Exceto
que os devotos da Babs peituda ficariam muito desapontados, porque a clientela aqui
era decididamente masculina.

Ai meu Deus, Remus pensou consigo mesmo, enquanto caminhava pela movimentada
pista de dança até o bar, eles são todos gays?! Todos eles sabem que sou gay?! Meu
Deus...

"Você quer se acalmar, raio de sol?" Grant o olhou enquanto eles se sentavam em dois
bancos perto da pista de dança iluminada.

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"Estou bem!" Remus disse, sua voz talvez um pouco alta demais.

"Pare de encarar, seu esquisito! Vou pegar uma bebida para você. "

Mas Remus não conseguia parar de olhar. Todo mundo era tão descarado, jeans
apertados, camisas justas - ou nenhuma camisa, em alguns casos. Eles estavam
dançando juntos, rindo e se beijando, e estava tudo bem - ninguém estava falando
sobre isso. A cabeça de Remus estava girando.

Grant entregou a Remus uma bebida - uma coca de cereja, porque ele ainda não
deveria beber nada alcoólico. Remus deu um gole e tentou não parecer tão deslocado
quanto se sentia. Ele também não sabia nada sobre música, era tudo muito moderno
para ele. Deus, ele estava velho.

"Não sei por que você disse que eu não precisava dançar", disse ele a Grant, "Parece
que essa é a única coisa a fazer."

"Você não tem que fazer nada que não queira," Grant sorriu, "Relaxe! Esse é o
objetivo de estar aqui! "

Remus tentou. Ele estava feliz por não ser uma noite agitada, ele não achava que seria
capaz de lidar com uma multidão. Ele sentou em seu banquinho, tomou um gole de
sua coca, olhou em volta sem encarar e, eventualmente, tudo pareceu um pouco menos
assustador. Se sentiu um pouco nervoso quando uma drag queen se aproximou dele -
um metro e noventa com botas de plataforma de PVC rosa e uma peruca Dolly Parton,
mas ela balançou seus enormes cílios para ele e estendeu um cigarro.

"Tem um isqueiro, lindo?"

Remus sentiu suas bochechas queimarem e balançou a cabeça timidamente,


"Desculpe," ele murmurou, "Não fumo."

"Ei, mas faça o seu truque," Grant deu uma cotovelada nele e então se dirigiu à drag
queen, "Remus sabe fazer esse truque de mágica maravilhoso".

461
"Bem, eu amo um pouco de magia," o estranho glamouroso ronronou. Remus mordeu
o lábio, mas acenou com a cabeça.

"Ok, hum..." ele pegou o cigarro e colocou-o entre os lábios, então estalou os dedos. A
ponta acendeu imediatamente, e Remus deu uma tragada rápida antes de devolvê-lo.

"Caramba!" A drag queen piscou, olhando para o cigarro aceso, "Realmente


maravilhoso! Melhor tomar cuidado com você, hein, mágico?"

Remus corou novamente, olhando para sua coca, "É apenas um truque bobo com as
mãos."

"Vem aqui sempre, então?" Ela se encostou no bar, fumando, seu batom vermelho
sangue manchando o cigarro.

"Ah não!" Remus disse, talvez um pouco rápido demais.

Grant riu e colocou a mão em seu ombro, "É a primeira vez dele. Trouxe ele para
comemorar seu aniversário. "

"Oh, feliz aniversário!" Ela sorriu amplamente, "Teremos que tocar uma música para
você mais tarde, apenas vá e peça ao DJ, ok, querido?"

"Er, ok." Remus acenou com a cabeça, planejando não fazer tal coisa.

"Vejo vocês mais tarde, meninos", a drag queen piscou e saiu voando pela pista de
dança.

"Não foi tão ruim, foi?" Grant disse. "Você estará pronto para marchar comigo na
parada do orgulho em julho."

"Eu não tenho certeza sobre isso..." Remus riu.

Ele olhou para a pista de dança um pouco mais. A drag queen o tratou como se ele
pertencesse. Na verdade, em vez de se sentir mais constrangido, ele se sentia um

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pouco mais feliz - todos eram legais o suficiente, ninguém estava sendo desagradável
ou rude. Remus observou um casal se beijando no meio da pista de dança - eles
estavam realmente se beijando, pegando na bunda um do outro - e as pessoas estavam
realmente torcendo.

Ele se lembrou de seus amigos aplaudindo quando Mary e Sirius se beijaram na sala
comunal da Grifinória tantos anos atrás - aquele foi o aniversário de Remus também, e
a data do primeiro beijo de Remus e Sirius, do beijo que aconteceu nas sombras.
Quase todos os seus beijos haviam sido enquanto estavam escondidos, porque no
fundo ambos sabiam que ninguém queria ver aquilo. Não nos anos setenta, não em
Hogwarts.

Remus teve uma súbita necessidade de fazer algo semelhante, aqui, à vista, onde todos
pudessem ver e ninguém franziria a testa ou zombaria.

Só que ele ainda não era corajoso o suficiente para se agarrar em público, mesmo na
grande velhice de (quase) 31 anos. Então ele simplesmente estendeu a mão e segurou
a de Grant no topo do bar. Grant piscou surpreso, mas então seu rosto se iluminou tão
lindamente que qualquer último vestígio de nervosismo deixou o corpo de Remus
completamente. Às vezes, ele se esquecia que Grant também tinha sentimentos, o que
parecia cruel, mas era apenas porque Grant raramente reclamava. A felicidade parecia
tão boa nele que Remus decidiu trabalhar mais para vê-la mais vezes.

Eles ficaram no bar um pouco mais, até Remus terminar sua bebida. Ele não tinha
vontade de dançar (embora mais de uma pessoa tivesse se aproximado, convidando-
o), mas a experiência não tinha sido terrível. Ele disse isso a Grant, que riu.

"Eu te disse! Obrigado por ter vindo, querido, eu sei que não é fácil. "

"Você torna isso mais fácil," Remus disse suavemente, surpreendendo a si mesmo.
Grant pareceu surpreso e apertou a mão de Remus novamente.

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"Você é um encantador maldito", disse ele timidamente. "Vamos, eu tenho um bolo de
chocolate esperando na geladeira de casa, você pode soprar as velas e nós nos
beijaremos no escuro."

Remus sorriu de volta, "Parece perfeito."

Ele foi ao banheiro antes de sair. Poderia ter esperado até chegar em casa, eles
estavam apenas a uma esquina do apartamento, mas ele sentiu que aquele era seu
último teste de bravura.

Os banheiros eram unissex, o que Remus supôs ser justo, embora um pouco
embaraçoso - pelo menos não haviam garotas por perto. Ele entrou e usou o mictório o
mais rápido possível, tentando ignorar o som e o cheiro de sexo que emanava dos
cubículos. Estava lavando as mãos quando a porta se abriu e alguém se aproximou
atrás dele. Remus se virou, surpreso, e encarou o estranho.

"O que--"

O homem sorriu largamente, mostrando os dentes. Ele lambeu os lábios e cheirou o ar,
e então Remus percebeu o cheiro familiar, a conexão instantânea, a falta de respeito
pelo espaço pessoal. Um lobisomem.

"Eu senti o cheiro da sua magia," o homem disse, sua voz baixa, " Deliciosa. Nunca vi
você antes..."

Ele não era tão alto quanto Remus, era bem magro, usava uma camisa branca justa,
tinha longos cabelos lisos ruivos flamejantes e olhos azuis glaciais. O cheiro da magia
natural da terra irradiava dele em ondas que deixaram Remus tonto, o sangue correndo
por suas veias e artérias como um elixir.

"Oi..."

O estranho fungou novamente, "De qual bando é você? Você cheira a Greyback... "

464
Remus hesitou um pouco com a ideia de que tinha algo de Greyback nele, mas
balançou a cabeça, "Não tenho bando."

"Corajoso da sua parte... Não está preocupado em ser preso pelo Ministério?"

"E você? Com quem você está?" Por um momento, Remus esperou que fosse um dos
de Castor, queria desesperadamente saber como eles estavam, mas o estranho apenas
deu de ombros.

"Ah, nós vagamos aqui e ali. Você não deve ter ouvido falar de nós. "

"Mas você conhece Greyback."

"Ah sim." Ele puxou a gola da camisa, revelando uma enorme marca de mordida que
era muito familiar para Remus, "Nós nos conhecemos há muito tempo, ele e eu..."

"A guerra, você estava -"

"Ha, eu era apenas um filhote naquela época," O lobisomem ergueu uma sobrancelha.
Sua pele era tão clara que suas cicatrizes eram como listras de prata, peroladas como
os raios da lua. "Mas na próxima guerra... na próxima guerra, estaremos prontos."

"Não haverá outra guerra." Disse Remus. O lobisomem colocou uma mão de cada
lado dele na pia de porcelana. Ele estava preso, mas não fez nenhum movimento para
escapar, ainda não. "Voldemort está morto."

"Mmm, alguns dizem..." o lobisomem sorriu. Ele se inclinou e lambeu atrás do lóbulo
da orelha de Remus. Isso o fez estremecer todo, ele teve que segurar um ganido. O
outro homem pressionou-o e sussurrou, "Mas ouvi dizer que parte dele ainda vive. As
florestas falam de magia ancestral, de sangue amaldiçoado... o Lorde das Trevas reúne
suas forças... "

"Não..." Remus balançou a cabeça. Ele tentou empurrá-lo, mas só conseguiu


friccionar seus corpos. Ele sabia que era tudo mentira e sabia que aquele homem era

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um problema, mas, Deus, o cheiro era tão inebriante que seu corpo não o ouvia; ele só
queria uma coisa.

"Venha," o lobisomem continuou sussurrando, seu hálito quente no pescoço de


Remus, "Chega de falar de guerra, não é da nossa conta ainda... Eu quero desfrutar de
você. Você mora nas proximidades? Podemos ir a qualquer lugar que você queira, isso
vai ser tão bom, a lua está chegando... "

Remus balançou a cabeça novamente, como se pudesse se livrar da névoa de


feromônios que inundava seu sistema, "Estou aqui com alguém." Ele murmurou.

"Traga-o, se quiser..." o lobo riu, "Sou totalmente a favor de compartilhar."

"N-não, eu tenho que ir..." Remus usou seu último resquício de força de vontade para
se livrar do estranho e voltar correndo para o bar, sentindo os olhos do lobo em suas
costas.

Ele encontrou Grant e agarrou a manga de sua camisa, sibilando: "Temos que ir para
casa."

"Eh? Você está bem, algo aconteceu?"

"Não... hum... eu só quero ir para casa. Eu quero te levar para casa." Ele encontrou os
olhos de Grant, ainda segurando seu braço, e se perguntou se Grant conseguia sentir
aquilo também, sentir a queimação, a necessidade. Sirius sempre conseguia, mas
talvez você tivesse que ser sensível à magia? Remus focou a intensidade, projetando-a
para fora. Os olhos de Grant piscaram e suas pupilas dilataram, um rubor quente
subindo por seu pescoço.

"Tudo bem, então." Ele bebeu o último gole de sua bebida e os dois saíram juntos,
correndo para a rua movimentada, de mãos dadas.

466
Capítulo 183: Verão de 1993

I stumbled out of bed

I got ready for the struggle.

I smoked a cigarette

And I tightened up my gut

I said this can't be me; must be my double

And I can't forget (I can't forget)

I can't forget but I don't remember what.

I Can't Forget, Leonard Cohen.

7 de agosto de 1993

Uma coruja chegou naquela manhã, e foi como se Remus estivesse esperando por ela
a muito tempo. Estava escovando os dentes quando o pássaro marrom e fulvo pousou
no parapeito da janela do banheiro. Ele a reconheceu imediatamente - reconheceria
uma coruja de Hogwarts em qualquer lugar. O animal um assobio oficial e esticou a
perna escamosa. Remus desamarrou a carta, a escova presa entre os dentes, a boca
cheia de espuma. Ele cuspiu e abriu o envelope enquanto o pássaro decolava
novamente, navegando pelos estreitos edifícios de tijolos com a perfeita facilidade de
um predador.

Sr. RJ Lupin,

467
O Professor Dumbledore deseja lhe visitar hoje na hora do chá. Ele se desculpa pelo
curto prazo dado e espera ser bem-vindo. Não há necessidade de lhe fornecer
bebidas.

Esperamos que você esteja bem.

Não estava assinado e provavelmente viera diretamente do escritório do diretor.


Remus havia esperado que suas entranhas fossem ficar geladas, que suas mãos fossem
tremer, que lágrimas fossem brotar de seus olhos. Mas nada veio. Ele não sentiu
nenhuma reação além de cansaço extremo. Suspirando, Remus terminou de escovar os
dentes e se vestiu.

Em algum momento, Grant havia saído para o treino de futebol - ele havia convidado
Remus, ele sempre convidava, e Remus sempre negava. Já havia passado uma parte
suficiente de sua vida observando pessoas que eram mais esportivas do que ele
fazendo coisas esportivas.

Era um sábado e não havia muito o que fazer, então Remus leu o jornal, o The
Guardian - ele não tocava em um exemplar do Profeta há anos - e se acomodou para
esperar.

Ele esperava que a 'hora do chá' fosse cerca de cinco da tarde, embora você nunca
pudesse realmente saber quando se tratava de Dumbledore. Ele tentou imaginar seu
antigo diretor, se perguntando se esses doze anos haviam causado muitas mudanças,
tentando entender se ainda estava com raiva. Mas não, Remus achava que não tinha
mais energia para sentir raiva. Talvez ele a tivesse esgotado.

Inquieto, Remus ligou a televisão e desligou-a em seguida quando percebeu que não
havia nada para assistir além de Grandstand. Percebeu que estava ficando cada vez
mais agitado. Que tipo de pessoa simplesmente anunciava sua visita na manhã em que
ela aconteceria? Que tipo de pessoa simplesmente se convidava sem cerimônias?
Ninguém, exceto Dumbledore. Era extremamente rude - e se Remus tivesse planos?

468
Por um breve momento, quis ensinar uma lição ao velho, poderia sair para assistir um
filme, deixar Dumbledore encontrar um apartamento vazio. O serviria bem. Mas. Mas.

Remus queria saber. Tinha que ser algo importante, já que ninguém de Hogwarts ou
da Ordem tentou contatá-lo desde o início dos anos oitenta. Poderia ser qualquer
coisa.

Finalmente aquele velho * CRACK * familiar soou do lado de fora, e houve uma
batida suave, mas decidida, na porta. Ele a abriu rapidamente e encontrou Dumbledore
quase exatamente como se lembrava. Cabelo um pouco mais branco, se isso fosse
possível, mas era o mesmo homem. Uma sensação de enjôo subiu pela garganta de
Remus, e ele se sentiu com onze anos novamente.

"Professor." Disse secamente, afastando-se para permitir a entrada de Dumbledore.

"Remus," o velho sorriu, "Como está?"

"Bem," Remus esfregou a nuca, "É, bem."

"Adorável." Os olhos azuis brilhantes de Dumbledore percorreram a sala, observando


cada centímetro da casa que, um dia, Remus havia compartilhado com Sirius.

"Sente-se, se quiser." Remus ofereceu.

"Obrigada."

"Chá?"

"Certamente, muito gentil."

Remus aproveitou a oportunidade para fugir para a cozinha. Ele fez o chá do jeito
trouxa, com a chaleira elétrica, apenas para ficar longe por mais tempo.

"Açúcar?" Ele perguntou.

469
"Três colheres, por favor."

O velho ainda gostava de doce, então. Remus se lembrou das balas de limão com um
carinho relutante. Feito o chá, ele voltou para a sala de estar e colocou as canecas na
velha mesa de centro, usando uma cópia antiga do Private Eye como descanso como
apoio para os copos.

"Já faz muito tempo." Remus disse, sentando na poltrona.

"Doze anos."

"Eu sei." Remus se encolheu, irritado. Dumbledore realmente achava que ele não
contava cada ano que se passava? Cada mês?

"Você está aguentando bem?"

"Bem o suficiente."

"Você sabe por que estou aqui?" O bruxo perguntou. Remus deu de ombros,

"Não tenho a menor ideia."

Dumbledore suspirou muito suavemente e pousou sua xícara de chá. "Eu estava com
um pouco de medo disso. Você não tem lido as notícias, então?"

"Não as suas notícias, não. Por que?"

"Oh, querido, eu esperava que você já... veja, Remus-"

"Ele está morto, não está?" Remus disse de repente, bruscamente. "Black. Ele está
morto?"

Dumbledore o encarou com um olhar muito intenso.

"Não," ele disse gentilmente, "Ele não está morto. Sirius escapou. "

470
Por um momento, Remus achou que tinha ouvido errado. Escapou. Teria sido melhor
se estivesse morto? Pelo menos, se Sirius estivesse morto, tudo estaria acabado,
finalmente. Ele não conseguia entender o que 'escapou' significava.

"Cristo." Ele deixou sua cabeça cair entre as mãos.

"De fato." Dumbledore deu um gole em seu chá. Remus não confiava em si mesmo
para levantar sua caneca, então simplesmente ficou lá, olhando para o tapete.
Precisava muito de um cigarro. "Eu entendo, então," Dumbledore disse
uniformemente, "Que o Sr. Black não entrou em contato?"

Senhor Black. Ele falava como se ainda fôssemos seus alunos. Remus apenas
balançou a cabeça silenciosamente, olhando para cima. Dumbledore acenou e Remus
sabia que o diretor acreditava nele.

"Ele está... eu não sabia que alguém poderia escapar de Azkaban."

"Sirius seria o primeiro." Disse Dumbledore. "Ele sempre foi um bruxo muito
talentoso."

"Mm." Remus não conseguia pensar direito, sentia como se um cofre de memórias há
muito esquecidas estivesse se abrindo em sua mente, suas dobradiças enferrujadas e
doloridas. Um cachorro poderia escapar dos dementadores? Um cachorro poderia
nadar até a costa? O mar do Norte era tão gelado que ele estremeceu ao pensar nisso.
Doze anos.

"Querido, chegueeei!" Grant, em seus shorts de futebol amarelo fluorescentes, entrou


ruidosamente pela porta, imitando um terrível sotaque americano com um sorriso
extravagante. Quando viu Dumbledore, ele congelou. "Oh, desculpe... uma festa do
chá, é?"

Remus se levantou ansioso, esfregando o braço, "Grant, eu... hum... este é meu antigo
professor. Você poderia nos dar um minuto?"

471
"Se você quiser", Grant franziu a testa, os olhos indo e vindo, "Devo sair?"

"Não, não vá, apenas..."

"Vou esperar no outro cômodo." Grant disse, entendendo rapidamente.

Remus corou levemente, Dumbledore com certeza saberia que o 'outro cômodo' era o
quarto.

Grant cruzou a sala sem jeito. Assim que chegou à porta do quarto, ele deu um tapinha
nos bolsos, "Err... Remus, tem cigarro?"

"Accio Marlboro's ," disse Remus acompanhando o movimento de sua varinha. O


pacote voou para sua mão e ele retirou um, acendendo-o com sua varinha, e então
jogou a caixa para Grant, que a pegou habilmente.

"Valeu," Grant acenou com a cabeça, retirando-se para o quarto.

Remus deu uma longa tragada, olhando para o nada. Sua cabeça girou; atualmente, ele
raramente fumava. Ele escondia uma caixa para emergências. E esta era uma
emergência enorme.

"Você faz magia na frente desse jovem?" Dumbledore perguntou.

Remus deu a ele um olhar irritado. Que coisa estúpida para se preocupar, "Sim, sim, o
estatuto de sigilo", respondeu ele, resmungando, jogando as cinzas sobre a mesa de
centro, "Me dê uma detenção por isso, se quiser." Ele deu outra tragada.

"Felizmente, o estatuto de sigilo não se aplica a parceiros, cônjuges ou familiares."


Dumbledore respondeu calmamente, "E eu presumo que ele seja seu..."

Remus exalou fumaça, esfregando a cabeça novamente, "Bem, ele não é a porra do
meu irmão, professor."

Dumbledore não vacilou.

472
"Sinto muito, Remus." Ele disse. "Você sofreu um choque. Não tinha percebido que
você havia se fechado tanto, pensei... "

"Não há ninguém para com quem eu me fechar," Remus bufou, "Todo mundo foi
embora de qualquer maneira."

"Eu gostaria de poder dar a você algum tempo para se ajustar a esta notícia, mas temo
que haja outra razão para eu estar aqui hoje."

"Claro que há," Remus suspirou profundamente. Ele só queria que Dumbledore fosse
embora. Pela primeira vez em anos, precisava de uma bebida. Precisava beber até o
estupor, afogar cada pensamento em sua cabeça.

"Você está trabalhando neste momento?"

"Aqui e ali," Remus deu de ombros, "O que aparece."

"Há uma vaga em Hogwarts."

"Ah, é?" Remus bufou, "Filch foi embora, não foi? Não estou interessado."

"É uma posição de professor." Dumbledore respondeu, mais uma vez demonstrando
sua incrível habilidade de permanecer calmo quando confrontado com raiva. Remus
riu rudemente,

"Você finalmente enlouqueceu, Dumbledore?! Agora você quer contratar um


lobisomem para cuidar de suas crianças? "

"Existem medidas que podemos tomar..."

"Ah, não," Remus balançou a cabeça com veemência, "Você não vai me colocar de
volta naquele maldito barraco."

"Avanços foram feitos, Remus," Dumbledore respondeu asperamente, "Se você


tivesse mantido contato com o mundo bruxo, você saberia disso. A descoberta da

473
poção de wolfsbane tem sido de grande ajuda para muitos com sua condição. Isso o
tornaria quase totalmente inofensivo durante suas transformações. Eu faria disso uma
condição para o seu emprego. "

"Por que você me quer?" Remus o olhou com suspeita renovada. Qual era seu
objetivo? Cargos de professor em Hogwarts eram altamente cobiçados, ele sabia
disso.

"Acho que você seria um excelente professor, antes de mais nada." Dumbledore disse,
"Eu também pensei que você apreciaria a oportunidade. E com a notícia da fuga de
Black, eu... "

"Ah," Remus concordou, "Você me quer por perto. Caso algo aconteça."

"Para sua própria proteção, é claro."

"Ele não virá atrás de mim." Remus disse friamente. "Ele pode estar louco, mas não é
estúpido. Ele nunca foi estúpido. "

"Não estúpido, talvez, mas imprudente." Dumbledore ergueu uma sobrancelha de


neve.

Remus concedeu. Era verdade.

"O que eu ensinaria? História? Cuidado de criaturas mágicas?"

"Defesa Contra as Artes das Trevas," Dumbledore sorriu agradavelmente, agora que
Remus parecia estar ponderando à ideia, "Como um ex-membro da Ordem da Fênix,
achei que seria o ideal."

"Mm hm."

"Tem mais uma coisa", disse Dumbledore, parecendo inseguro pela primeira vez,
como se não tivesse certeza de qual seria a reação de Remus. Remus não disse nada,
apenas o olhou nos olhos e esperou. Dumbledore pousou sua caneca. "Harry."

474
A dor cresceu em algum lugar bem no fundo de Remus, como uma reabertura de um
antigo ferimento. Sua boca ficou seca de novo e ele tomou um gole do chá morno.

"Eu não tinha pensado." Respondeu baixinho. "Eu não me esqueci, mas eu... ele está
com... doze anos?"

"Treze agora."

"Treze." Ele balançou a cabeça lentamente. "Ele é... como ele é?"

"Ele se parece com James." Dumbledore disse tristemente, "Mas há muito de Lily nele
também."

Remus ficou quieto por quase um minuto inteiro, mantendo sua respiração sob
controle. Finalmente, ele levantou a cabeça.

"Ok." Ele disse.

***

1 de setembro de 1993

"Você está indo, então." Grant disse.

Esta era uma declaração redundante. Remus estava literalmente fazendo as malas. Ele
estava tendo uma estranha sensação de dejá vu. Quanto tempo se passou desde a
última vez que ele arrumou seu malão para Hogwarts? Ele teve que desenterrar todas
as suas vestes velhas, suas roupas estranhas de bruxo. Estavam surradas e mofadas,
mas ele não estava disposto a pagar por coisas novas, então fez o melhor que pôde
com alguns feitiços de conserto. Grant havia pintado 'Professor R J Lupin' em sua
velha maleta como uma piada, mas não parecia muito engraçado naquele momento.

"Estou indo." Ele confirmou, enrolando um par de meias.

475
Grant se sentou na cama, olhando para ele com o rosto impassível. Remus não o
culpava. Ele estava sendo indescritivelmente cruel, sabia disso. E Grant estava
aguentando, mais uma vez. Remus o olhou. "É um trabalho. Apenas por um ano."

"Na sua antiga escola."

"Sim, eu disse a você."

"Estou preocupado com você."

"Eu sei que está."

"Se Sirius escapou e sabe que você está lá, ele vai--"

"Podemos não falar sobre isso? Eu vou, e é isso. " Remus retrucou, fechando a mala
com força. Não queria pensar sobre isso. Ele só precisava passar por esse dia.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Grant levantou e fez chá, então trouxe para
ele. Remus parou para se sentar e beber com ele. Havia desistido de fumar - para
sempre desta vez, ou era o que havia dito a si mesmo. O chá teria que servir.

"Você ainda pode ficar aqui, eu não estou te expulsando." Disse Remus. "Este lugar é
tanto seu quanto meu, e há feitiços de proteção, eu fiz questão de checar que estavam
funcionando."

"Nah," Grant deu de ombros, dando um sorriso derrotado. "Eu sou um lixo quando
estou sozinho. Provavelmente vou dar umas voltas ou ficar em Borstal. Já faz um
tempo que não vejo o pessoal de Brighton, talvez eu apareça por lá."

"Entre em contato, ok?"

"Não vou carregar uma coruja comigo."

"Ah... suponho que não. Vou tentar conseguir um telefone, se puder. "

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"Deus, você faz parecer que está indo para a guerra."

Remus engoliu em seco, e descobriu que não conseguia falar. Felizmente, naquele
momento, Grant não estava pensando em falar. Ele tirou a xícara da mão de Remus,
colocou-a na mesa de cabeceira, então se virou para empurrá-lo na direção do colchão.

"Vou sentir sua falta," ele sorriu contra seus lábios, trabalhando em desabotoar o botão
de sua calça. Remus o beijou de volta, tão forte quanto fazia quando eram
adolescentes.

Depois, Remus decidiu que era melhor sair rapidamente. Queria lembrar de Grant
deitado, feliz e corado sob o edredom, uma memória duradoura de juventude e beleza.
Ele se vestiu e pegou suas malas.

Quando estava prestes a se despedir de novo, Grant agarrou seu pulso. "Ei. Eu te amo,
seu idiota. "

"Grant..."

"Vá em frente", Grant o olhou diretamente. Seu rosto era tão honesto e ensolarado
como aos dezesseis anos. "Diga de volta."

"Você sabe o que eu sinto por você..."

"Sim," Grant sorriu, sem um traço de amargura, "Eu sei, mas seria bom ouvir. Vá em
frente, eu sei que você consegue. "

O terror se apoderou do coração de Remus, mas ele o engoliu. Precisava ser corajoso,
Grant merecia. E ele não mentiu, não mentiu, não mentiu. "...Eu amo você."

"Valeu." Grant soltou seu pulso e foi isso.

"Nós nos veremos de novo," Remus disse vigorosamente, prometendo a si mesmo em


primeiro lugar. Grant se espreguiçou sonolento e acenou com a cabeça.

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"Sim, eu sei." Ele suspirou, "Como ímãs, você e eu. Sempre voltando um para o
outro."

Remus saiu correndo porta afora, não querendo ficar muito chateado. Ele tinha um
trem para pegar.

478
Capítulo 184: Verão de 1994

If you, if you could return

Don't let it burn

Don't let it fade

I'm sure I'm not being rude,

But it's just your attitude

It's tearing me apart

It's ruining every day

I swore I would be true

And fellow, so did you...

Were you lying all the time?

Was it just a game to you?

Linger, The Cranberries

Agosto de 1994

Durante a primeira semana depois que Remus voltou de Hogwarts, ele não sabia como
se sentir. Pela primeira vez em muito tempo, Remus estava perdido, sem amarras, à
deriva. Ele vagava pelo apartamento como um fantasma, vivendo a vida, mas não
sentindo nada.

Não era depressão. Ele sabia como a depressão era.

479
"É choque", disse Grant.

"Oh." disse Remus, olhando fixamente para a TV.

Obviamente ele esperava que Hogwarts fosse reviver suas velhas memórias. Desde o
início, sabia que visitar novamente o lugar poderia facilmente arruiná-lo, mas ele o fez
de qualquer maneira. Talvez fosse masoquista. Talvez apenas estúpido.

O castelo estava cheio de fantasmas do passado de Remus, o que foi uma experiência
profundamente perturbadora depois de passar a maior parte da década tentando
esquecer tudo aquilo. No momento em que ele chegou a King's Cross, tudo veio à tona
- os pequenos vagões de trem com o estofamento gasto, a bruxa que vendia doces, os
sapos de chocolate, a agitação e o barulho dos alunos embarcando para um novo
semestre. Com a proximidade da lua cheia, ele se escondeu em um compartimento e
prontamente adormeceu.

Até que a carruagem esfriou, e os dementadores...

Não. De qualquer forma, fantasmas. McGonagall foi talvez a mais estranha. Ela devia
saber que ele viria, mas o primeiro encontro deles atingiu Remus mais forte do que o
esperado, e ela parecia tão surpresa quanto ele. Nenhum dos dois tinham certeza de
como deveriam se relacionar agora.

"Sr. Lupin! Oh, me desculpe, Professor Lupin. "

"Olá, professora, quero dizer...er ..."

"Minerva, por favor," ela sorriu graciosamente.

Ela estendeu a mão e apertou seu braço. Ela era tão formidável quanto há vinte anos
atrás, apenas um pouco mais grisalha nas têmporas, mas ele mesmo também estava.
"É maravilhoso ver você, Remus." Ela disse seriamente.

"É bom estar de volta", ele mentiu.

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Seus olhos eram suaves e amáveis, como se ela pudesse ver através dele.

"Meu escritório está sempre aberto, se você precisar de alguma coisa. Como sempre."

Ele apreciou o gesto, mas não deu o braço a torcer, principalmente porque queria ser
reservado. Principalmente porque queria ficar longe da torre da Grifinória, se pudesse.

O resto da escola lhe era familiar, o terreno exuberante e expansivo, a floresta


proibida, a comida, os retratos, as escadas que havia mapeado com tanto cuidado.
Porém, a Torre da Grifinória - o espaço mais íntimo e feliz de sua adolescência, isso
seria quase demais para se recuperar. Ele foi lembrado de Homero, mais uma vez, a
palavra 'nostalgia', que significava um doloroso retorno ao lar. Foi exatamente assim
que se sentiu.

Ele não socializava muito com seus colegas. Em geral, os outros sabiam sobre sua
licantropia, mas ele ainda preferia evitar qualquer conversa desagradável se pudesse.
Estariam eles fofocando por suas costas? Estariam duvidando dele? Ninguém o vê há
anos, ele era o amigo mais próximo de Black e Potter, o que ele sabe? O que ele fez?

Curiosamente, o professor Binns havia esquecido Remus, mas, pelo menos, Flitwick
não. Ele foi muito gentil, convidando Remus a vir na sala de Feitiços para tomar chá e
comer torradas. Remus o fez, para ser educado, mas achou difícil esquecer todas as
vezes que ele e Sirius haviam se trancado dentro da sala do professor. Geralmente,
achava muito difícil reconciliar seu eu adulto - responsável com seus planos de aula,
corrigindo redações, preocupado com o bem-estar dos alunos - com seu eu
adolescente imprudente, selvagem, arrogante e loucamente apaixonado.

Haviam alas inteiras do castelo que ele evitava avidamente, exatamente por esse
motivo. Mal deixou sua sala de aula e seus aposentos, exceto para as refeições no
Salão Principal. Nunca foi a Hogsmeade, exceto das vezes que passou rapidamente
para chegar à velha cabine telefônica fora da vila. E graças a Deus ela ainda estava lá.

"Como é?" Grant perguntou na primeira vez que Remus ligou.

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"Horrível. Suportável. Acho que gosto de ensinar, as crianças são ok. Na verdade, as
crianças são ótimas."

"Bem. Apenas se concentre nisso. A primeira vez que fui para uma prisão preventiva
depois de St. Edmund's, pensei que teria que desistir. Juro que todos aqueles lugares
têm o mesmo cheiro. De qualquer forma, você pode superar isso, se lembrar que é
sobre as crianças, não sobre você. Seja o professor que você gostaria de ter tido. "

Este foi um bom conselho, e Remus deu o seu melhor. Ele não tinha muita experiência
com jovens, mas lembrava muito claramente de ser jovem. Ele tentou organizar aulas
de acordo com o que teria achado interessante, trazendo criaturas mágicas sempre que
podia, como Ferox havia feito, dando dicas e sugestões extras onde quer que os alunos
estivessem tendo problemas. Realmente não era muito diferente das sessões de estudo
que ele organizava quando estava na escola.

Remus tentou prestar atenção a todos os seus alunos igualmente, aprendendo sobre
suas personalidades, suas necessidades individuais. Isso foi incrivelmente estranho no
início - ele descobriu que dava aula para, não mais que, cinco Weasleys, praticamente
um em cada ano. Então, havia o pobrezinho do Neville Longbottom, desajeitado,
nervoso e inquieto. O filho de Narcissa estava em outra classe, a cara de Lucius, e
então, é claro, havia...

De qualquer forma. Além de Flitwick e McGonagall, o resto da equipe eram


praticamente estranhos para Remus, exceto, é claro, o mestre de Poções.

Remus realmente queria ficar fora do caminho de Snape, mas, desde o primeiro dia,
ficou claro que não seria fácil. Era lua cheia e, claro, Snape era o único que sabia
preparar a poção Wolfsbane, o idiota. Ele provavelmente aprendeu a fazer isso apenas
para atormentar Remus. Já era ruim o suficiente eles terem que dividir um castelo
novamente, mas Snape estava decidido a se certificar de que Remus se sentisse
desconfortável com o arranjo.

482
"Lupin." Ele disse com altivez, em seu primeiro encontro, pouco antes do banquete de
boas-vindas. "Fiquei surpreso ao saber que você sobreviveu à guerra." Seus lábios se
curvaram, "Já que parece que muitos de seus amigos não o fizeram."

Por mais asqueroso que Snape fosse, isto trouxe à tona algo que Remus não sentia há
anos. Malícia.

"Severus," ele sorriu calorosamente, "E eu fiquei surpreso em saber que você
sobreviveu aos julgamentos. Quando tantos de seus amigos não o fizeram."

Snape rosnou, e isso foi uma prévia de como o resto do ano seria.

Severus claramente não tinha se esquecido dos eventos de seu quinto ano. Ele era tão
desprezível quanto Remus se lembrava, e não tinha envelhecido bem. Seu cabelo
ainda era escorrido e oleoso, talvez um pouco mais para trás do que antes, seus olhos
negros estavam mais fundos e seu nariz mais parecido com o bico de um pássaro. Ele
fazia a pele de Remus se arrepiar, mas não havia nada a ser feito sobre isso, os dois
tinham que se encontrar a cada mês para a poção.

A poção em si era totalmente horrenda, e Remus se ressentiu amargamente. O gosto


era horrível, mas, pior do que isso era o efeito.

Ele ainda se transformava, ainda sofria as agonias enquanto seu crânio se alongava e
suas costas se abriam e seus tendões rangiam, mas, depois, sua mente humana
permanecia. O que era pior do que poderia imaginar. Remus havia passado a ver suas
transformações como uma espécie de catarse. Porém, ter um corpo animal e
pensamentos humanos acabou sendo extremamente desagradável, ele não se sentia
nem aqui nem ali, preso na forma errada e incapaz de escapar. Ele se enrolava para
dormir trancado dentro de seu escritório todo mês, cheio de ódio por si mesmo.

De manhã, ele ia mancando para o escritório da Madame Pomfrey para pedir essência
para dor. De todos da infância de Remus, Madame Pomfrey parecia a mais feliz em

483
vê-lo. Ela envelheceu, como todo mundo, mas manteve seu toque gentil, seu rosto
doce e sua atitude objetiva para com o bem-estar de Remus.

"Remus!" Ela estendeu a mão para abraçá-lo no primeiro momento em que o viu.
"Olhe só para você, um gigante em forma de homem!"

"Olá, senhora-- er... Poppy."

"Tão educado como sempre", ela sorriu, "Vamos, venha e me diga o que você tem
feito."

Eles tiveram algumas conversas muito agradáveis em seu escritório, junto à lareira.
Ela queria saber tudo sobre as transformações dele desde Hogwarts, e ele contou o
máximo que pôde. Pomfrey estava muito interessada em ouvir sobre o bando, e como
eles eram capazes de se curar compartilhando magia de grupo.

"Eu tentei entrar em contato com você, depois que os Potter morreram." Ela disse com
tristeza. "Mas ninguém conseguia me dizer onde você estava morando, e eu não ousei
perguntar muito com medo de que..."

Remus desviou o olhar, envergonhado. "Eu sinto muito." Ele disse. "Eu queria ser
deixado sozinho".

"Sim, bem, você era o mesmo quando menino, teimoso!" ela sorriu com ternura. Ele
sorriu de volta, percebendo o quanto tinha sentido falta dela.

Durante o primeiro mês ou mais, os nervos de Remus estavam à flor da pele, ele
hesitava cada vez que virava em algum corredor, preocupado que pudesse ver algo
doloroso. Porém, como a dor costuma fazer, ela diminuiu com o tempo.

Ele assumiu um novo personagem - não o Remus adolescente que corria riscos sem
pensar, desesperado para provar a si mesmo, não o homem meio-quebrado meio-
trouxa que fora em Londres. Em algum lugar entre essas metades conflituosas, ele se

484
tornou o Professor Lupin, contido e sério, oferecendo encorajamento sempre que
podia.

E tudo estava bem, porque era exatamente isso que ele precisava ser, para Harry.

Deus, Harry.

Harry Potter era James e Lily perfeitamente combinados; todo charme e bochechas e
força e bondade. Remus ficou preocupado ao saber que a infância do garoto tinha sido
longe do ideal, pensando que Harry seria difícil. Remus lembrava-se bem de seu
próprio temperamento afiado aos treze anos. Adultos cruéis criavam crianças amargas.
Mas não. Harry era tão bondoso e mente aberta quanto seus pais, cheio de amor e
muita, muita generosidade. Conhecê-lo foi doloroso e prazeroso ao mesmo tempo.

A primeira vez que se encontraram, Remus pensou que ainda estava sonhando. Ele
acordou no trem, dando de cara com os dementadores - aquelas malditas abominações.
Ele eliminou a ameaça e, olhando para os rostos das crianças assustadas, encontrou
Harry desmaiado no chão. Até abrir os olhos, ele era James; nada poderia convencer
Remus do contrário. Um pouco mais magro, talvez menor do que Prongs tinha sido
aos treze, mas, fora isso, eram idênticos.

Claro, Harry não tinha ideia de quem Remus era e, pelo maior tempo possível,
continuou assim. Como ele explicaria? Mesmo depois de algumas conversas com o
garoto, Remus estava completamente perdido. Então, deixou Harry liderar o caminho
e respondeu às perguntas que tinham respostas adequadas. Quando Harry veio até ele
pedindo aulas de patrono para que pudesse continuar jogando quadribol, Remus não
conseguiu dizer não. Era exatamente o que James faria.

E quando Sirius apareceu, ele se esquivou. Harry já sabia que Black e James eram
amigos, e Remus não tinha certeza do que mais poderia dizer sem perder a confiança
do garoto. "Sim, Harry, seu pai era meu melhor amigo, mas Sirius Black era meu
tudo..."

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Não, não serviria. Além do mais, Remus não tinha certeza se o mundo mágico tinha
sua própria versão da Seção 28 - se ele começasse a confessar coisas assim, ele
poderia ter problemas por corromper mentes jovens? Já era ruim o suficiente ele ser
um lobisomem.

A essa altura, já estava claro que Sirius estava por perto. Quando ele invadiu o castelo
na noite de Halloween, Remus quase saiu do terreno e aparatou de volta para Londres.
Talvez ele tivesse feito isso se o perímetro não estivesse fervilhando de dementadores,
isso somado ao fato de que Black estava definitivamente atrás de Harry.

Isso deixou Remus furioso; Sirius já não havia causado danos o suficiente? Ele deve
ter realmente enlouquecido, deve ter se afastado tanto do jovem que embalou o bebê
Harry em seus braços com ternura e admiração. Remus usou isso como um lembrete
para se fortalecer, não adiantava ficar de luto por Sirius. Seu Sirius havia morrido há
muitos anos.

E então aquela noite aconteceu. Em questão de horas tudo mudou...

Porra.

Talvez Grant estivesse certo, talvez fosse o choque. Depois de receber sua demissão
de Hogwarts (graças a Deus, outro ano poderia tê-lo matado), Remus pegou o
Nôitibus de volta para Londres com sua mente remexendo em tudo que havia
aprendido.

Os eventos continuavam mudando e se reordenando. Algumas coisas ficaram mais


claras, outras turvas por várias versões da verdade. As coisas que Sirius havia dito, as
desculpas que Wormtail choramingou, e tudo que Remus pensava que sabia, nenhuma
dessas contas estava alinhada da maneira certa.

A única coisa da qual Remus tinha certeza era que, por doze anos, ele havia odiado a
pessoa errada.

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"Por favor, volte", ele implorou ao telefone para Grant quando chegou em casa. "Por
favor, por favor..."

"Estou a caminho." Grant disse e desligou imediatamente.

Ainda sim, demorou horas. Remus colocou suas roupas trouxas, jogando as vestes
surradas do Professor Lupin em um canto do banheiro, caminhou pelo apartamento
enquanto esperava, amaldiçoando a lentidão do transporte trouxa. Ele não bebeu.
Queria ficar consciente; queria entender.

"Remus?!" Grant irrompeu na sala de estar, cansado e desgrenhado. Ele havia cortado
o cabelo, agora estava tão curto que mal se enrolava. Remus odiou, mas não disse
nada, apenas correu para abraçá-lo. "O que aconteceu?" Grant perguntou, arquejando
quando Remus tirou o ar dele, mas apertando-o de volta de forma tranquilizadora.

Ele não parecia o mesmo, mas tinha o mesmo cheiro , e isso ajudou; era como pisar
em terra firme.

"Ele era inocente!" Remus balbuciou, ainda agarrado a ele, "Era Peter o tempo todo!
Nunca foi ele! Eu fui um idiota! "

"Remus, eu não sei do que você está falando, por favor... vamos sentar, vamos?
Cristo, você está magro, eles não te alimentam direito naquela escola?! "

Remus permitiu que Grant assumisse o controle. Ele sentou-se obedientemente no


sofá, aceitou um copo d'água e um cigarro, porque aparentemente Grant estava
fumando de novo e a tentação era demais. O apartamento parecia vazio e abafado
depois de ter ficado vazio durante a maior parte do ano, e Grant abriu a janela da sala,
deixando entrar os sons cotidianos do tráfego de pedestres e dos pombos.

"Ok," Grant disse, sentando-se em frente a Remus, juntando as mãos de forma muito
didática, "Vamos começar do início, certo?"

487
Remus acenou com a cabeça. Ele estava determinado a falar. Se alguém poderia
resolver tudo isso, era Grant. Ele tinha certeza disso. "Sirius." Ele disse. "Eu vi Sirius.
E Peter. "

"Espere," Grant franziu a testa, "Peter? Eu pensei que ele... "

"Não." Remus disse sombriamente, suas entranhas esquentando de raiva, "Ele está
vivo. Ele se escondeu por todos esses anos. "

"De Sirius?"

"De todos. Ele fez aquilo. Ele traiu James e Lily, nunca foi Sirius. "

"Como..." Grant balançou a cabeça, claramente confuso, "Então ele estava na prisão
todo esse tempo por algo que Peter fez? Jesus. Ok. Você tem certeza? Foi ele quem te
contou? "

"Sim, mas eu... eu tenho certeza. Eu vi Peter e eu... "Remus hesitou. "Eu acredito em
Sirius, ok?"

O fato é que ele havia lido a mente de Sirius e ainda estava tentando entender tudo que
havia visto. Tentou organizar os acontecimentos da noite tanto para fazer Grant
entender, quanto para processar tudo. "Harry fez tudo, o filho de James. Ele saiu da
escola uma noite, e eu sabia o porquê, então o segui, estava preocupada que Sirius
tentasse... mas, então, Peter estava lá, eu vi Peter e não sabia o que pensar. "

Algo bem dentro dele soube imediatamente, no segundo em que viu o nome de
Wormtail aparecer no mapa. Porém, ele tinha que descobrir, tinha que saber com
certeza. Então, Remus chegou na Casa dos Gritos, e lá estava Sirius, pele e ossos e
trapos e loucura, cacarejando no chão, Harry de pé sobre ele, apontando sua varinha.

A parte lobo de Remus assumiu, reconhecendo que Padfoot estava em perigo, e


desarmou todos de uma vez. "Onde ele está, Sirius?!"

488
Então ele viu o rato e tudo se encaixou. Sua mente voltou correndo para 1981; todo o
sigilo, a desconfiança, as mentiras. Ele olhou para Sirius apropriadamente, arregalou
os olhos e, quase sem tentar, entrou nos pensamentos de Black. Mostre-me ele
comandou, usando a mesma magia que os lobisomens usavam. Àquele ponto, o
cérebro de Sirius estava meio canino, e talvez seja por isso que funcionou. Black
resistiu por um momento, sem dúvida se lembrando das intrusões forçadas de
Walburga, mas, então, ele acenou com a cabeça e deixou Remus entrar.

"Mas Padfoot," a voz de James, ecoando de um passado distante, "Eu pensei que
estávamos de acordo?"

"Eu sei, mas assim é melhor, não percebe?! Ninguém jamais suspeitará do
Wormy!"

"Como um blefe duplo!" Lily entrou na conversa. "É brilhante!"

Remus não precisava ouvir mais nada. Ele abaixou as varinhas, ajudou Sirius a se
levantar e o abraçou com força. Sinto muito, ele se comunicou sem palavras, me
desculpe, me desculpe, me desculpe...

De volta ao apartamento, as lágrimas surgiram nos olhos de Remus, e Grant puxou um


lenço, entregando-o a ele. "Então ele está livre, agora? Sirius?"

"Não," Remus balançou a cabeça, se recompondo, "Tudo ficou tão complicado, e eu...
era lua cheia. Só o vi por vinte minutos talvez, e então me virei e... tanta coisa
aconteceu sem mim. Peter fugiu, eles não o pegaram. Eu deveria tê-lo matado quando
tive a chance! Eu queria, eu ia, mas Harry me impediu. "

Grant empalideceu, sua boca uma linha sombria. Ele não disse nada, no entanto.

"Quando amanheceu, Sirius também havia escapado." Remus continuou. "Ele está
escondido e eu não sei..." Eu não sei se eu o verei novamente.

489
Ele enxugou os olhos e passou os dedos pelos cabelos. "Porra! Todo esse tempo! Todo
esse tempo e eu acreditei! Como eu pude ser tão estupido?!"

"Ei, pare com isso." Grant franziu a testa, estendendo a mão. Remus se levantou
abruptamente, ignorando Grant e andando pela sala mais uma vez, murmurando para
si mesmo.

"Eu deveria saber que ele nunca machucaria James! Eu não deveria ter sido tão
crédulo! Tão fraco! Eu deveria ter tentado vê-lo, eu poderia ter tirado ele de lá, eu
poderia ter rastreado Peter, eu poderia... "

"Remus!" Grant levantou a voz: "Pare com isso."

Remus o olhou. "Eu não sei o que fazer." Ele disse.

Grant suspirou. "Nem eu, cara." Ele esfregou a mão no rosto e Remus viu os anéis sob
seus olhos. Grant se levantou. "Mas não há nada que você possa fazer neste segundo.
Eu vou tomar banho, certo? Então vamos jantar. Então conversaremos um pouco
mais."

Remus acenou com a cabeça, ansioso. Sim, era disso que ele precisava, um plano.
Etapas claras e definidas. Grant saiu da sala, cansado. Remus esperou, ouvindo a água
correndo, tentando mais uma vez colocar seus pensamentos em ordem. Ele fez algo
que não fazia desde que era adolescente. Ele fez uma lista.

Então, Moony, ele disse a si mesmo, quais são os fatos?

Sirius Black não matou James e Lily Potter.

Peter Pettigrew estava vivo.

Peter Pettigrew era um espião.

Peter Pettigrew assassinou James e Lily Potter.

490
Sirius Black esteve na prisão por 12 anos por um crime do qual era inocente.

Uma onda de raiva o invadiu mais uma vez. Ele tinha acreditado! Ele era tão culpado
quanto Dumbledore, tão culpado quanto qualquer outra pessoa que simplesmente
presumiu que Sirius fora o espião, simplesmente porque Sirius era um Black. Na
verdade, Remus era ainda mais culpado, porque ele deveria saber! Ninguém esteve
mais perto de Sirius do que ele.

Aqueles últimos meses da guerra foram um borrão. Não havia algo errado? Sirius não
tinha estado distante, frio com ele? Nos anos seguintes, Remus considerou isso como
prova da traição de Padfoot, mas agora... agora, com uma sensação de mal estar, ele
viu o que realmente era.

"Ele pensou que eu fosse o espião!" Ele disse a Grant, no segundo em que saiu do
banheiro.

"Eh?" Grant franziu a testa, tentando passar por Remus, enrolado em uma toalha.
"Espião? Que? Oi, deixa eu me vestir, vamos lá... "

Remus o seguiu até o quarto e se sentou na cama, falando rápido enquanto Grant se
enxugava e colocava roupas limpas.

"Durante a guerra, sabíamos que havia um espião, sabíamos que alguém estava
passando informações para o outro lado, mas ninguém sabia quem era. Depois,
pensamos que fora Sirius, tudo fazia sentido, ele foi pego explodindo uma rua cheia de
trouxas, e - "

"Você tem que chamar as pessoas normais desse jeito?"

"Desculpe. De qualquer forma, Sirius era o fiel do segredo de James e Lily - err... isso
significa que ele tinha esse feitiço nele, então só ele sabia onde eles estavam. Para
mantê-los seguros. Porém, ele trocou de lugar com Peter, no último minuto, e agora
sabemos que Peter era o espião. E eles não me falaram sobre a troca, Sirius não me
contou, porque ele deve ter pensado..."

491
"Ele não confiou em você." Grant disse, sem rodeios. Vestido, ele se sentou na cama
também, distante de Remus.

"Acho que não posso culpá-lo..."

"Você havia dado motivos para ele não confiar em você?" Grant ergueu uma
sobrancelha.

"...Não."

"Em algum momento, você achou que ele fosse o espião? Antes de James e Lily
morrerem?"

"Não, nunca!"

"Bem, então." Grant se levantou. "Vou dar um pulinho no supermercado, precisamos


de leite e pão... pasta de dente..."

"Espere, não, o que você quer dizer com 'bem, então' ?!"

"Não quero dizer nada. Olha, vamos, venha comigo. Então, eu prometo que podemos
conversar sobre isso. Vou ouvir você a noite toda se quiser, juro. Eu só quero que
você coma um pouco primeiro. "

Remus concordou. Ele observou Grant cozinhar e, depois, raspou o prato, e então,
falou e falou e falou. Mas não adiantou. No final das contas, não deu em nada.

"Se Sirius está escondido e Peter está foragido..." Grant disse, bocejando.

"Ele irá direto para Voldemort, o rato." Remus rosnou.

"Certo, ok," Grant acenou com a mão, "Se Sirius está se escondendo, então você não
pode fazer nada. Parece que não está nas suas mãos. "

"Talvez eu pudesse enviar uma coruja... só que isso poderia revelar sua localização..."

492
"E então você será preso e enviado para Alcatraz, ou seja lá o que for, por conspirar
com um criminoso." Grant disse, com um ar de finalidade.

"Eu só quero ajudá-lo." Disse Remus.

"Claro que você quer. Mas não vejo como."

Eles ficaram sentados em silêncio por um tempo, pensando. Estava escuro lá fora,
Remus não sabia que horas eram, mas devia ser muito tarde. Grant parecia exausto e
Remus sentiu uma pequena pontada de culpa, além de todo o resto.

"Desculpe por fazer você passar por isso." Ele disse baixinho, pegando a mão de
Grant. "Não é realmente justo da minha parte."

"Está tudo bem," Grant deu a ele um pequeno sorriso, acariciando os nós dos dedos de
Remus com o polegar, "Eu entendo. É só... é muito. "

"Eu sei."

"Como... como foi vê-lo? Quero dizer, como você se sentiu? "

Remus se mexeu, sem jeito. Lá estava. O pensamento que ele estava evitando. Porque
se Sirius era inocente, se ele nunca traiu James, então ele nunca traiu Remus também.
E Remus não sabia o que isso significava para ele depois de tanto tempo.

"Nós dois somos tão diferentes agora." Ele disse, ciente de que Grant estava
prendendo a respiração enquanto esperava pela resposta. "Eu mal o reconheci, juro, eu
só senti pena dele." A vibração em seu estômago disse que ele estava mentindo.

Grant se inclinou e o beijou. "Vai dar tudo certo, no final das contas." Ele disse.

493
Capítulo 185: Início do verão de 1995

We passed upon the stair

We spoke of was and when

Although I wasn't there

He said I was his friend

Which came as some surprise

I spoke into his eyes;

I thought you died alone

A long long time ago.

The Man Who Sold The World, David Bowie.

Sábado, 24 de junho de 1995

A porra da fênix chegou primeiro, e Remus soube imediatamente.

"O que diabos é isso?!" Grant saltou, assustado com o pássaro prateado que irrompeu
em sua sala de estar. Eles estavam assistindo à televisão, todas as janelas abertas para
neutralizar o calor do verão. Remus estava prestes a colocar a chaleira no fogo.

O pássaro sentou em cima de sua pequena TV quadrada e abriu o bico, falando na voz
de Dumbledore:

"Padfoot está a caminho."

Remus quase deixou as canecas vazias que estava segurando caírem.

494
"Porra."

"O que?" Grant disse, observando o pássaro desaparecer no ar. "Quem é Padfoot?"

"Porra." Remus repetiu, largando as canecas. Ele começou a tremer


incontrolavelmente, sentindo frio por toda parte. "Eu não acho que consigo. Eu não
acho que consigo... "ele murmurou para si mesmo, cobrindo a boca.

"Remus?" Grant se levantou e tocou seu ombro. "Você está me assustando."

"Sirius." Ele gaguejou. "Sirius é Padfoot."

"Puta merda. O assassino? "

"Não é um assassino, eu disse a você."

"Certo, certo, desculpe. Ele está vindo para cá?! "

"O apartamento é dele no final das contas."

"Oh, eu esqueci." Grant disse categoricamente. Ele mordeu o lábio, "Devo ...ir?"

"Não!" Remus se agarrou a Grant de repente, "Não, por favor, por favor, não. Eu não
posso ficar sozinho, não me deixe sozinho com... "

"Ok, ok!" Grant o acalmou, abraçando-o de volta, "Acalme-se, certo? Não irei a lugar
nenhum se você não quiser. Apenas... apenas tente se recompor. "

"Sinto muito." Remus respirou fundo.

Ele sabia que estava agindo de forma infantil. Não era hora de desmoronar, havia
passado anos fazendo apenas isso. Se Dumbledore estava enviando Sirius para ele,
então algo aconteceu. Alguma coisa importante. Agora era a hora de ser forte e agir.
Ele olhou ao redor, cegamente procurando algo para fazer.

"Este lugar é uma bagunça! Vou começar a limpar. Ele não vai demorar. "

495
Grant estava impotente para fazer qualquer coisa, exceto assistir Remus correr pelo
apartamento como uma galinha sem cabeça, usando todos os feitiços de limpeza que
ele conseguia se lembrar, combinado com um ocasional trabalho manual quando seus
feitiços davam errado. Ele não conseguia parar de se mover, não conseguia ficar
parado por um momento, porque, se parasse, talvez começasse a pensar.

Em uma hora, ouviu-se um barulho de algo arranhando a porta e um latido baixo e


áspero. Remus congelou. Um cheiro que ele não sentia há muitos anos fez algo
ressurgir em seu subconsciente.

"Isso foi um cachorro?" Grant perguntou nervoso da cozinha. "Você sabe que eu
odeio cachorros..."

"É ele." Remus respirou. Ele caminhou trêmulo até a porta e a abriu. Lá estava
Padfoot - esquelético, debilitado, seu pêlo ligeiramente grisalho em alguns lugares.
Mas era ele.

"Entre," disse Remus roucamente.

O cachorro bufou, balançando a cabeça e entrou. Remus fechou a porta e se encostou


nela, observando enquanto Sirius se transformava em si mesmo.

Esquelético, debilitado, cabelos grisalhos. Seus olhos, aqueles olhos azuis escuros que
haviam quebrado o coração de Remus mil vezes quando eram adolescentes, haviam se
tornado um cinza fosco. Ele era um saco de ossos, totalmente perturbado. Era de se
esperar.

"Eu vim direto de Hogwarts." Ele disse. Como no verão passado, sua voz estava dura
e áspera.

"Sim," Remus respondeu, esfregando a nuca. "Dumbledore mandou uma mensagem


antes de você chegar."

496
Sirius estremeceu ligeiramente e acenou com a cabeça. "Aconteceu alguma coisa no
torneio. Harry foi sequestrado. "

"O que?! É ele--"

"Ele voltou, ele está bem, tão bem quanto se pode esperar. Voldemort voltou."

"O que?!"

"É verdade. Harry o enfrentou."

"Não." Remus se sentia enjoado.

"A Ordem está se juntando. Dumbledore me disse para vir para cá, para me esconder."

"Certo." Remus acenou com a cabeça, ainda absorvendo o choque.

"Se você não..." o rosto de Sirius suavizou, ele pareceu mais jovem, mais como o
verdadeiro Sirius, "Se você não se importar. Eu apenas segui as ordens sem pensar,
mas poderia ir para outro lugar se... "

"Não!" Remus disse com muita firmeza, saindo da confusão que o dominou desde que
o patrono de Dumbledore apareceu. Ele colocou a mão no ombro de Sirius. Oh, ele
estava tão magro. "Claro que você deve ficar aqui, é a sua casa. "

Sirius parecia tão aliviado que Remus quis puxá-lo para perto e envolvê-lo em seus
braços. Mas ele não fez isso. Ele olhou para Grant, que observava com cautela da
porta da cozinha.

Sirius seguiu a linha de seus olhos e se assustou. "Você está aqui."

Não foi uma pergunta, fora apenas uma declaração de um fato.

497
Grant, como um santo, deu seu sorriso mais alegre, "Tudo bem aí, cara? Deixa eu te
falar uma coisa, parece que você está precisando de uma comida chinesa. Eu vou sair,
está bem, Remus? "

"Você não precisa-"

"Eu acho que preciso." Grant sorriu.

Ele pegou sua carteira da mesa de centro ao sair. Não beijou Remus na bochecha,
como costumava fazer, apenas deu-lhe um tapinha em seu ombro e disse: "Volto em
meia hora." Então, fechou a porta suavemente atrás de si.

Sirius e Remus ficaram em silêncio pelo que pareceram minutos.

Sirius franziu a testa, fazendo linhas profundas aparecerem em seu rosto.

"Isso foi rude da minha parte. Eu não tive a intenção de ser rude. " Ele começou a
coçar as costas da mão ansiosamente, as unhas compridas e pretas de fuligem. Remus
sentiu um puxão doloroso no fundo do estômago e estendeu a mão para fazê-lo parar.

"Que tal um banho? Depois você descansa. Está tudo bem. "

Sirius o olhou. Remus havia se esquecido do quão menor ele era.

"Parece bom." Sirius acenou com a cabeça fracamente.

Remus o levou até o banheiro, o que era bobo, porque obviamente ele sabia onde
ficava o banheiro, nada ali havia mudado em treze anos. Enquanto Sirius estava se
lavando, Remus foi até o quarto para encontrar algumas roupas limpas.

Ele pegou algumas camisas da cômoda, queria dar a Sirius coisas suas para vestir, não
as de Grant, mas, depois de todo esse tempo, Remus honestamente não sabia quais
pertenciam a quem. Ele escolheu um suéter de tricô grande demais que
definitivamente era dele. Ficaria enorme em Sirius, mas seria confortável. Pegou uma
calça de pijama xadrez para acompanhar e colocou as peças com cuidado na cama.

498
Havia apenas uma cama no apartamento - sempre houve apenas uma cama, nunca
haviam precisado de mais. O problema de onde colocar Sirius era incontornável.
Remus ainda estava olhando para as roupas quando ouviu a água desligar (a caldeira
gaguejou e estalou algumas vezes, queria ter dado uma olhada naquilo há muito
tempo) e a porta do banheiro foi destrancada.

"Remus ?!" Sirius gritou, uma nota de pânico em sua voz.

"No quarto." Remus respondeu.

Sirius entrou, seu cabelo pingando no carpete. A toalha de banho estava enrolada em
torno de si como um lençol, cobrindo todo o corpo do pescoço aos tornozelos magros.
Remus desviou o olhar envergonhado, e gesticulou para as roupas estendidas.

"Aqui." Ele disse. "Vou deixar você se trocar".

Se movimentou para sair, mas a mão de Sirius disparou e agarrou seu braço. Ele tinha
aquele olhar selvagem de novo.

"Não saia." Ele disse. "Você poderia ficar no quarto?"

"Ok..." Remus acenou com a cabeça, dando um tapinha na mão em forma de garra de
Sirius. Ele estivera coçando de novo, a parte de cima estava vermelha e em carne viva.

Remus se virou e olhou para as cortinas enquanto Sirius se vestia. Seus movimentos
pareciam lentos, como um velho ou um inválido, não como o elegante e enérgico
Sirius Black. A fúria começou a queimar Remus por dentro. Tiraram tudo dele,
pensou ferozmente, tudo que o tornava quem ele era.

Quando ele se virou, Sirius estava olhando para a cama. Remus olhou também,
tentando ver através de seus olhos. A colcha bem feita, as mesinhas de cabeceira
combinando, uma com um livro em cima, a outra com um maço de cigarros.

499
"Vou dormir no sofá." Sirius disse. "Eu não quero estragar nada entre você e... e...
desculpe, não me lembro o nome dele."

"Grant."

"Grant." Sirius desviou o olhar novamente. Seus olhos nunca permaneciam focados
por muito tempo, como se sempre estivesse procurando algo nos cantos dos cômodos.
"Eu esqueci de muita coisa, eu acho."

"Tudo bem."

Remus nunca sentiu uma dor assim. E Remus sentiu dor a maior parte de sua vida.
"Venha e sente-se. Quer uma xícara de chá?"

"Xícara de chá." Sirius repetiu de volta.

Remus movimentou a cabeça lentamente, então o levou para a cozinha.

"Obrigado." Sirius disse depois de um tempo, "Desculpe, eu... Eu continuo


esquecendo as coisas."

Remus tocou seu braço gentilmente,

"Está tudo bem. Vá e sente-se. Vou fazer tudo em um minuto, você pode me ouvir da
sala."

Sirius saiu silenciosamente. Remus deu um suspiro de alívio, a atmosfera ainda estava
carregada de memórias, da dor e de Azkaban, mas, pelo menos, era suportável quando
Sirius não estava bem ali.

No ano passado, na Casa dos Gritos, Remus não teve tempo de sentir nada além de
terror e alegria. E, normalmente, ele passava o resto de seu tempo tentando fingir que
nada disso tinha acontecido. Não porque ele quisesse, mas porque era a única coisa
que ele poderia fazer. Ele deveria ter sido mais esperto, deveria saber que Sirius o
faria confrontar seus sentimentos.

500
Ele demorou muito para fazer o chá, preparando-o em um bule, ao invés da chaleira
elétrica. Como Sirius gostava de seu chá? Ele não conseguia se lembrar. Talvez ele
nunca tenha sabido, já que Sirius geralmente era quem fazia isso naquela época. No
final, Remus simplesmente colocou tudo para fora, arrumando uma bandeja com
atenção e cuidado imaculados, como se estivesse servindo à rainha. Fatia de limão.
Pequeno jarro de leite. Tigela de torrões de açúcar mascavo. Não havia nenhum
biscoito, Grant havia comido os últimos.

Quando tudo ficou pronto, ele ainda não teve coragem de sair da cozinha. Ele entrou
em pânico por um momento antes de ouvir o clique da porta abrindo. Já fazia meia
hora?

"'Tudo bem?!" O ousado sotaque cockney de Grant encheu o apartamento, aquecendo-


o instantaneamente. Ele agia como se não houvesse nada fora do comum ao entrar
apressado na sala de estar, carregado de comida.

Remus podia ouvi-lo colocando tudo na mesa de centro, desembrulhando caixas de


arroz frito com ovo, frango agridoce, chow mein, bolinho de porco, costela chinesa,
rolinho primavera, enquanto conversava com Sirius durante todo o tempo.

"Caramba, você fica bem melhor depois de se lavar, hein? Ainda tem aquele cabelo
bonito e grosso, tenho inveja disso, quando eu chegar aos quarenta anos vou estar
careca, acho. Viu como o Remus está grisalho? Está diferente, mas um diferente bom,
eu digo a ele, mas ele não escuta... "

Fortificado, Remus ergueu a bandeja e levou-a para a sala. Sirius estava sentado
recatadamente na ponta do sofá, olhando para Grant da mesma forma que um animal
encara um predador em potencial.

"Vou pegar os pratos..." Grant disse, passando por Remus no caminho de volta para a
cozinha. Ele não fez contato visual. Remus não o culpou. A situação não era justa para
ninguém, muito menos a Grant.

501
Remus tentou sorrir para Sirius, oferecendo a bandeja de chá. "Aqui está." Ele
murmurou.

Sirius olhou para o chá, para o limão, o açúcar e então para suas mãos.

"Está com fome?" Remus perguntou. "Isso está bom?"

Sirius acenou com a cabeça. "Adorável, obrigado. Você não deveria ter tido todo esse
trabalho. "

"Não se preocupe."

Grant trouxe os pratos. Eles se sentaram em volta da mesa de centro, Sirius no sofá,
Remus na poltrona e Grant no chão. Sirius colocou comida em seu prato e a beliscou
como um pássaro. Ele não usou os garfos que eles haviam colocado na mesa, nem os
palitos que vieram com a refeição, ele usou as mãos para comer, rasgando tudo em
pedacinhos e colocando-os na boca. Remus e Grant educadamente ignoraram,
mantendo uma conversa leve.

"Vou ter que fazer compras do mês no meu caminho de volta do trabalho amanhã."
Grant disse. "Comprar uma escova de dentes, algumas coisas assim."

"Eu posso fazer isso." Disse Remus. Ele estava ansioso para cuidar de Sirius ele
mesmo, como se tivesse trazido para casa um mendigo pelo qual deveria ser
responsável. Ele olhou para Sirius, "Suas roupas e livros estão encaixotados na
garagem. Vou dar uma olhada amanhã. "

"Você as guardou?" Sirius ergueu os olhos, quase esperançoso, "Você guardou minhas
coisas?"

"Er. Bem, depois de tudo, Mary apareceu e fez isso por mim. Eu não estava... eu não
estive muito bem por um tempo. Não tenho muita certeza sobre o estado das suas
coisas, não estive lá desde então. "

502
"Eu não esperava que você fosse guardar nada."

Remus não sabia o que dizer, então deu de ombros. Ele não havia guardado as coisas
de Sirius de propósito, apenas as escondeu para não ter que pensar sobre nada daquilo.
Estava feliz por isso agora obviamente, mas não queria mais crédito do que merecia.

Eles terminaram de comer, e Sirius limpou as mãos gordurosas nas pernas da calça do
pijama, Remus tentou não estremecer. Black costumava ser tão meticuloso com
limpeza, a desorganização de Remus sempre o irritou. Outra mudança.

Grant se levantou para recolher os pratos e talheres para lavar. Sirius se sentou, "Eu
posso fazer isso, deixe aí", ele retirou uma varinha de sua manga larga.

"Onde você conseguiu isso?" Remus perguntou.

"Roubei," Sirius olhou para baixo, virando-a na mão, "Demorou um pouco para me
acostumar, mas agora consigo manusear. Aqui, deixe aí... "

"Não precisa." Grant disse. Ele estava sorrindo, mas não era possível ouvir o sorriso
em sua voz. "Prefiro fazer normalmente." Ele se virou, carregando a pilha de pratos
para a cozinha.

"Muffliato." Sirius murmurou. Remus piscou surpreso. Ele não ouvia aquele feitiço há
muito tempo, e ele nunca, nunca tinha usado algo assim com Grant presente. Parecia
desleal, sorrateiro. "A conexão de flu está funcionando?" Sirius perguntou com
urgência.

"Não." Disse Remus. "Eu nunca reconectei. Na verdade, eu não faço muita magia em
casa, porque- "

"Sim, por causa do trouxa," Sirius concluiu, e Remus poderia jurar que ele revirou os
olhos. "Ele fez muitas mudanças aqui pelo que eu vejo." O moreno lançou à TV um
olhar muito penetrante.

503
"É a casa dele também," Remus respondeu defensivamente.

"Tanto faz, eu não me importo. Certo, vamos precisar reconectá-la. Se eu ficar aqui,
claro. Precisamos ser capazes de nos comunicar com o resto da Ordem. "

"O resto da--"

"- você tem uma coruja?" Sirius olhou ao redor.

"Não," disse Remus. Ele mordeu o lábio, "Eu tenho um telefone." Ofereceu, tentando
aliviar o clima.

"Pelo amor de Merlin, Moony!" Sirius retrucou, sua voz áspera estalando com
urgência, "O que você tem feito todos esses anos, ficou se lamentando?!"

Remus se encolheu - tanto por ter sido chamado de Moony, o que ninguém nunca fez,
quanto pela acusação cruel.

"Tenho sobrevivido." Ele disse, tentando manter a calma. "Você acha que é fácil para
mim manter um emprego? E não é como se eu tivesse alguém com quem preciso
manter contato. "

Sirius não disse nada, mas franziu os lábios e fez uma careta, olhando para o tapete.
Remus suspirou, fechando os olhos. "Olhe", disse gentilmente, "posso imaginar como
você deve se sentir. Eu sei que você quer fazer tudo de uma vez agora está livre, mas
vamos devagar esta noite, ok? Tenha uma boa noite de sono e nós trabalharemos em
um plano amanhã. "

Sirius acenou com a cabeça, apaziguado. Remus se sentiu orgulhoso de si mesmo. Ele
não tinha chorado, ou gritado, e isso era um progresso muito bom, pelo menos no que
dizia respeito a Sirius Black. Grant voltou para a sala, e Remus desfez rapidamente o
feitiço muffliato.

504
"Devo ligar a televisão?" Ele perguntou na sala silenciosa. Remus acenou com a
cabeça. Sirius voltou a ficar carrancudo.

O noticiário começou e depois a previsão do tempo. Em seguida, algum drama


hospitalar americano, que fez Grant reclamar e mudar de canal. Havia um
documentário sobre Fleetwood Mac, que todos assistiram vagamente. Ninguém
realmente falava, exceto Grant de vez em quando.

Remus estava em um turbilhão, seu cérebro zumbindo acelerado enquanto muitos


pensamentos e sentimentos conflitantes passavam. Já fazia muito tempo que não
ficava na mesma sala que Sirius, e agora eles não podiam nem falar um com o outro
sem atingir alguma barreira incomensurável, fosse a guerra, ou amigos perdidos, ou a
traição mútua. Agora, a ordem estava se reconstruindo, e parecia que todos esperavam
que Remus se juntasse mais uma vez, sem hesitação. Porém, ele não se parecia com o
menino que um dia fora. Estava velho e cansado. Tinha outras responsabilidades - ele
tinha Grant.

Por volta das dez horas, Sirius bocejou.

"Sim, eu também." Grant comentou, bocejando de volta. "Tenho trabalho pela manhã,
talvez seja hora de dormir." Ele olhou para Remus, obviamente esperando por algum
tipo de direção.

"Sim," disse Remus, incerto. Ele colocou as mãos nos braços da cadeira para se
levantar, e se sentiu rígido por ter ficado sentado a noite toda, tenso. "Hum. Sirius,
você ficará bem aqui? Vou buscar uma almofada e um edredom."

"Não há necessidade." Sirius respondeu. Ele se espreguiçou novamente e se


transformou em Padfoot. Grant respirou fundo com a surpresa, mas não disse nada. O
grande cachorro preto se aninhou no sofá e fechou os olhos.

"Você pode fazer aquilo?" Grant sussurrou meia hora depois, quando ele e Remus
estavam na cama. "Transformar-se em lobo sempre que quiser?"

505
"Não." Respondeu. "Ele é um animago. Ele aprendeu como fazer isso. Eu sou um
lobisomem, fui mordido, não tenho escolha. "

"Má sorte." Grant disse. "Sabe, não acho que eu gostaria muito, se você pudesse fazer
isso."

"Ele não vai te machucar, ele ainda tem a mente normal quando é um cachorro."
Embora Remus não tivesse mais certeza de como era a 'mente normal' de Sirius agora.
Todo o resto sobre ele estava amarrotado e danificado de alguma forma.

"Você está bem?" Grant perguntou, virando a cabeça para observar o rosto de Remus.

"Eu acho que sim." Remus disse honestamente, "Mas é estranho. Vai ser difícil, eu
acho. "

"Quanto tempo ele vai ficar aqui?"

"Ah. Eu não sei. Por um tempo, talvez. Ele está falando sobre... sobre outra guerra.
Talvez eu precise ajudar. "

"Remus..."

"Eu sei, eu sei," Remus franziu o rosto. "Sinto muito, toda a situação é... é a porra de
um pesadelo, de verdade. Preciso de um tempo para pensar. "

"Eu gostaria de poder ajudar." Grant disse. "Eu gostaria de entender."

"Você é tão bom com Sirius." Remus ofereceu, "Eu não sei o que dizer a ele, ele é
tão... sei lá, arredio. Estou com medo de dizer algo errado e ele arrancar minha
cabeça."

"Hmm, bem, tenho um pouco de experiência com esse tipo." Grant respondeu, seus
lábios se curvando, "De qualquer forma, ele obviamente tem passado por um processo
difícil. Só tem que ser paciente. Gentil. Você não pode forçá-lo a melhorar,
infelizmente. "

506
***

Sirius dormiu por muito tempo. Dormiu até muito depois de Grant ter saído para o
trabalho e Remus ter tomado o café da manhã e corrigido algumas provas. Ele ficou
na cozinha, mas podia ver o sofá da sala através da porta, só para garantir.

Eram quase onze e meia quando Padfoot acordou de repente e começou a latir alto,
pulando do sofá.

"Shh!" Remus correu para a sala ansiosamente, "Sirius, sou eu! Você está aqui, você
está comigo! "

O cachorro parou, inclinou a cabeça e se transformou novamente em Sirius. Seus


olhos estavam arregalados e sua mandíbula sombreada com a barba por fazer. Ele
parecia um louco. Remus tentou ser paciente e gentil, como Grant havia dito.
"Desculpe", disse tentando deixar o tremor longe de sua voz, "É que não é permitido
animais de estimação aqui, e se os vizinhos ouvirem você..."

"Desculpe." Sirius olhou para baixo envergonhado. "Depois de todo esse tempo eu já
deveria ter me acostumado. Já faz um ano que fugi. "

"Está tudo bem." Remus balançou a cabeça, "Desculpe por ter gritado."

As coisas permaneceram estranhas durante a maior parte do dia. Eles foram para a
garagem depois que Sirius tomou o café da manhã.

A porta demorou um pouco para abrir, e Sirius precisava ficar em forma de cachorro
enquanto eles estavam fora do apartamento, então coube a Remus desemperra-la.
Ainda assim, eventualmente, os dois conseguiram entrar e tudo estava exatamente
como eles se lembravam. Sem a motocicleta é claro, embora todas as ferramentas
ainda estivessem lá. As roupas e os livros de Sirius estavam cuidadosamente
empilhados em caixas etiquetadas, sem nenhuma camada de poeira sobre eles.

"Mary deve ter feito algum tipo de feitiço de preservação," Remus comentou.

507
Sirius acenou com a cabeça vagamente, caminhando através das pilhas de relíquias
como um monge antigo. Ele selecionou algumas coisas para levar para o apartamento
- ou melhor, para Remus levar para o apartamento. Escolheu vestes e roupas de bruxo,
nada de suas coisas trouxas, nem mesmo sua velha jaqueta de couro, que Remus
encontrou enfiada dentro de uma caixa sob alguns discos. Ele teve que resistir ao
desejo de enterrar o rosto nela e inalar aquele perfume lindo; como se a jaqueta tivesse
mais de Sirius do que o homem parado ao lado dele.

De volta ao apartamento, Sirius trocou de roupa imediatamente. Remus podia ver o


porquê - ele parecia muito melhor usando suas próprias roupas, tendo feito algumas
boas refeições e tomado banho adequadamente. Seu cabelo estava um pouco
desgrenhado e ainda tinha nós, apesar do fato dele claramente ter usado meio frasco
de shampoo.

Ele dormiu de novo depois do almoço. Remus não sabia como, já que ele só estivera
acordado por algumas horas. Ainda assim, apesar da incapacidade de Sirius de ficar
parado, ele se cansava facilmente. O cachorro se deitou no sofá novamente, no ninho
de cobertores que ele havia criado, e Remus sentou ao lado dele, a TV em um volume
muito baixo. Pelo menos, quando Sirius dormia, ele era um cachorro e, portanto, se
tornava mais fácil dividir o apartamento com ele.

Quando acordou, estava de mau humor. Ele olhou para a TV e depois para Remus.

"Você não lê mais?"

"Claro que leio." Remus gesticulou para as estantes de livros - que estavam cedendo
com o peso - de cada lado da lareira. "A TV é apenas o ruído de fundo."

Sirius resmungou, sentando-se e endireitando suas roupas. Ele passou os dedos pelos
cabelos, que ficaram presos entre os nós. Black estremeceu.

"Quer tentar lavá-lo de novo?" Remus perguntou, "Pode ser mais fácil se você colocar
muito condicionador e depois pentear, não acha?"

508
Ele se lembrou de Grant lhe contando sobre dois irmãos que vieram para o centro de
detenção preventiva. Eles haviam sido negligenciados e nunca tiveram seus cabelos
cortados ou escovados, e os meninos tinham medo do barbeador. Grant havia se
lembrado dos cortes que a Diretora fazia com máquina um e, imediatamente,
prometeu a eles que não cortaria seus cabelos. Em vez disso, passou horas penteando-
os suavemente, suas mãos ficaram úmidas e frias por tanto tempo que seu eczema
ressurgiu, fazendo suas palmas ficarem ásperas e machucadas por semanas.

Sirius pareceu apreciar a sugestão, então Remus foi preparar o banho. O moreno o
seguiu. Ele não parecia querer ficar sozinho, mesmo que não quisesse conversar.

Remus fez uma confusão na gaveta de remédios em busca de um pente forte e uma
tesoura, só para garantir. Ele os colocou na borda da banheira e deu um passo para
trás. "Er... te deixo aqui?" Ele perguntou, enquanto a água do banho fumegava
suavemente. Sirius esfregou o braço, olhando ao redor.

"Não, acho que prefiro... se você não se importar?"

"Como quiser," disse Remus. Deixe-o liderar, Grant havia sugerido. Vá com o fluxo.
Ele pensou em se virar enquanto Sirius se despia, mas isso parecia redundante já que
ele ficaria no banheiro e, de qualquer forma, Sirius não tinha escrúpulos no que dizia
respeito a se despir na frente dele. Não havia nada de sensual nisso, ele o fazia da
mesma maneira que comia com as mãos, ou limpava a boca com a manga, ou se
aninhava intensamente no sofá; ele fazia isso porque havia se esquecido de como agir
perto de outras pessoas.

Ele estava tão magro, tão frágil, seus cotovelos se projetavam como facas e suas
costelas ocas se moviam sob a pele branca como papel. Seus pulsos, antes quentes e
graciosos, aqueles pulsos que Remus um dia adorou, agora estavam tão estreitos que
parecia que se quebrariam enquanto ele se apoiava na borda da banheira.

Remus fingiu estar ocupado, começou a dobrar a flanela pendurada na lateral da pia,
endireitou as toalhas penduradas no radiador. Estava envergonhado, não queria

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encara-lo. Embora, para ser honesto, Sirius provavelmente não fosse notar de qualquer
maneira.

Eventualmente, Remus se sentou na tampa do vaso sanitário, cruzando as pernas em


um esforço para parecer indiferente - e porque o banheiro era muito pequeno para seu
corpo irritantemente desengonçado. Sirius recostou-se na água quente, fazendo
pequenas ondas lentas baterem suavemente nas laterais de plástico da banheira. Ele
fechou os olhos e inclinou a cabeça para trás na água, expondo sua garganta, seu
pomo de adão saliente.

Remus teve que se lembrar de fechar a boca quando Sirius levantou, abrindo os olhos
e jogando o cabelo para trás. Agora estava molhado, o cinza havia desaparecido e ele
de repente ficou mais jovem, mais reconhecível.

Remus começou a ensaboar o cabelo com o shampoo, sentando e inclinando-se para


frente. Remus observava enquanto aqueles dedos ossudos e brancos brincavam com a
espuma, e se lembrou de como Sirius era gracioso quando jovem, como cada
movimento era perfeitamente ponderado, de como ele costumava tratar seu próprio
corpo com tanta ternura. O vapor da água quente fez os olhos de Remus arderem, e ele
teve que piscar para conter as lágrimas.

Sirius tirou o shampoo, então começou a passar o condicionador, despejando muito


em suas mãos. Remus teria que comprar mais.

"Devíamos fazer uma lista." Sirius disse abruptamente.

"O que?" Remus franziu a testa.

"Uma lista." Sirius repetiu, pegando o pente. "Devíamos fazer uma. Pessoas com
quem entrar em contato, para Dumbledore. "

"Para Dumbledore." Remus repetiu. De repente, se sentiu muito cansado.

510
"Sim, ele disse para entrar em contato com o pessoal antigo. Minha memória se foi,
então você terá que ajudar. Os nomes, você sabe. " Ele enterrou o pente por entre os
nós do cabelo com força.

"Você realmente quer voltar para a guerra, não é?" Disse Remus.

Sirius se virou e deu a ele um olhar de descrença. Com um sentimento horrível de


estar se afogando, Remus percebeu que, na mente de Sirius, a guerra nunca tinha
acabado.

"Olha," Remus tentou explicar, "Não é que eu não acredite na causa, é só... eu me
lembro como foi da última vez."

"Como se eu não me lembrasse!" Sirius sibilou, arrancando o pente de seu cabelo,


"Não estive de férias por doze anos!"

"Não, eu sei, mas..." Remus desejou que ele parasse de dizer isso. Doze anos. Que
perdão poderia haver para isso?

"É tudo o que podemos fazer." Sirius respondeu ferozmente, "É a única coisa que
importa." Ele ergueu o pente novamente, parecendo que ia se esfaquear em vez de
tirar os nós. Remus não aguentou.

"Pare com isso", disse ele, levantando-se. "Você vai arrancar toda a porra do seu
cabelo, vamos. Me deixe fazer isso."

Ele enrolou uma toalha e colocou no chão para se ajoelhar, pegando o pente da mão
de Sirius. O moreno o olhou com cautela por um momento, e Remus percebeu que
eles não tinham estado tão perto ainda - eles haviam se abraçado na Casa dos Gritos
há um ano atrás, mas aquilo tinha sido pura adrenalina. Não tinha sido íntimo. Isso
era.

"Posso?" Remus perguntou, suavizando sua voz.

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Sirius concordou lentamente, então virou a cabeça, para que Remus pudesse pentear
seus cabelos. Inclinando-se, não muito, Remus começou a trabalhar, deslizando os
dedos cuidadosamente pelas mechas pretas e lisas, gentilmente separando as mechas,
passando o pente de baixo para cima. Lentamente, lentamente, os nós começaram a
afrouxar, dando lugar a aquela textura de seda velha e familiar.

Era um trabalho difícil e exigia muita paciência, assim como o resto do frasco de
condicionador, mas Remus finalmente sentiu que estava ajudando. Estava no controle
e fazia algo positivo. Sirius permaneceu quieto e parado durante todo o tempo; tenso
no início, mas gradualmente relaxando, pouco a pouco - Remus podia praticamente
ver seus tendões se afrouxando.

Assim que terminou, Remus se recostou para examinar seu trabalho, os músculos de
suas costas doíam como se estivessem em chamas, mas valeu a pena. Ele se levantou,
trêmulo, usando a pia de apoio. Sirius ergueu as mãos, movendo-as cuidadosamente
sobre a cabeça, os dedos tocando a superfície lisa.

"Obrigado."

"Tudo bem." Remus sorriu, sentando-se no banco do banheiro.

Sirius enxaguou o cabelo mais algumas vezes, então saiu, se enxugou e se vestiu
novamente. Remus esperava que ele fosse se olhar no espelho, mas o moreno não o
fez, propositalmente evitando-o, mantendo os olhos baixos.

De volta à sala, Remus fez chá e torradas com queijo, porque queria que Sirius
comesse com mais frequência. Pensou que Black fosse adormecer de novo, mas ele
não o fez. Ele pegou um papel da pilha de exames de Remus e o virou, pegando uma
caneta também.

"Ok," ele disse, "Moody, obviamente, no topo da lista, depois que ele se recuperar, é
claro, espere até ouvir o que aconteceu com ele em Hogwarts! Então os Weasley e
Mary... "

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"Não, Mary não." Disse Remus. "Ela não vai... ela está bem, tem filhos. E os Weasley,
eles têm sete filhos, Sirius, você não pode pedir isso às pessoas..."

"Eu não preciso pedir." Sirius respondeu bruscamente. "Eles farão o que é certo."

"Não consigo ver dessa maneira." Remus disse, "Tudo o que posso ver são as
consequências de outra guerra..."

"Não temos escolha!"

"Eu sei, eu sei, eu só quero que pensemos antes de..."

"O que aconteceu com você, Remus?! Você não era assim. Você deveria ser um
grifinório!"

Isso atingiu um nervo. Como ele ousa!?

"Muita coisa aconteceu comigo, na verdade." Remus disse acidamente. "Eu perdi
todos que amava na última guerra, então me perdoe se eu não estou feliz em marchar
direto para a batalha novamente. Não tenho mais vinte e um anos."

Sirius balançou a cabeça, ainda incapaz de compreender. "Nós devemos isso a eles!
Devemos isso a Lily e James! "

"Eu não devo nada a eles!" Remus gritou, seu rosto queimando de raiva, "Talvez você
sinta que sim, 'fiel do segredo', mas se você se lembra, eu não fui consultado sobre
isso!"

Ele não sabia por que disse aquilo, tudo desmoronou antes que pudesse se conter. Não
havia percebido o quão bravo realmente estava até aquele momento. Claramente,
Sirius também não.

"Moony--"

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"Não se atreva a me chamar de 'moony'! Não aja como se ainda estivéssemos... como
se nada tivesse mudado! Como se tudo estivesse bem e eu fosse fazer tudo o que você
disser! "

Ele se levantou, precisava sair, precisava de uma pausa. Remus dirigiu-se para a porta.

"Não, Remus, por favor!" Sirius gritou, sua voz tão tensa e estrangulada que o
assustou. Ele voltou. Sirius olhou para ele do sofá, tão pequeno, seus olhos tão
arregalados. "Por favor, não me deixe sozinho." Disse.

Remus cedeu, sua raiva se dissipando. Ele voltou para sua poltrona e sentou-se
novamente. Franziu os lábios. Esfregou os olhos. "Eu não vou," ele disse cansado. "Eu
não vou a lugar algum."

514
Capítulo 186: Verão de 1995: Grant

A long time ago

I watched him struggle with the sea.

I knew that he was drowning,

And I brought him into me

Now today

Come morning light

He sails away

After one last night

I let him go.

Calypso, Suzanne Vega.

Sr. Chapman,

É com muita satisfação que lhe oferecemos a seguinte oferta de emprego em nome da
Câmara Municipal de Brighton & Hove:

Assistente Social - Bem-Estar Infantil e Juvenil

Consulte a brochura em anexo para obter detalhes sobre o seu salário e horário de
trabalho. Você tem trinta dias úteis para responder a esta oferta, por correio ou
telefone.

Estamos aguardando sua resposta.

515
AP Green .

Chefe do setor de Serviços Sociais, Brighton & Hove.

Grant leu a carta três vezes apenas para ter certeza.

Bem. Ele realmente deveria estar feliz. Extasiado. Esta era uma notícia incrível.
Notícias que deveriam ser comemoradas. De qualquer maneira, era uma passagem de
ida para longe dessa bagunça que ele havia se metido.

Ele balançou a cabeça, sentindo-se péssimo por pensar na vida de Remus como uma
'bagunça'. Mesmo que isso fosse um pouco verdade.

Ele tinha ido para a entrevista algumas semanas atrás após dizer a Remus que
trabalharia até mais tarde. Não que quisesse esconder algo de Remus, ele só não
queria azarar as coisas. Em geral, Grant não era uma pessoa de muita sorte; coisas
assim nunca, nunca aconteceram com ele.

Grant não acreditava em deus, ou anjos da guarda, ou Buda ou Brahman - ou qualquer


coisa que não fosse sua própria força de vontade, mas algo sobre essa oferta de
emprego parecia intervenção divina. Afinal, aquele era o emprego dos seus sonhos.
Talvez esse fosse o sinal que estivera esperando, como se antigos ex-namorados
voltando da prisão não fossem um sinal grande o suficiente.

Ele vinha sonhando com a ideia de se mudar há anos. Grant amava Londres, a cidade
sempre estaria em seu sangue, mas os dois estavam na casa dos trinta anos agora, e
talvez fosse hora de uma mudança. Ele queria levar Remus para o campo, para o ar
fresco, o mar e o campo aberto. Um recomeço, longe daquele pequeno apartamento
miserável. Então, quando surgiu a vaga e o diretor de Grant mencionou isso a ele, ele
aproveitou a chance.

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Claro, isso tudo tinha acontecido antes de Sirius voltar.

Grant releu a carta do início novamente. Ele olhou para seu nome escrito em letras
oficiais impressas em preto e branco. Uma carta com o meu nome, e nem é uma
intimação do tribunal, ele brincou consigo mesmo. Gostaria de poder mostrar a seu
avô idiota. Mostrar a ele o que delinquentes afeminados poderiam conseguir quando
se esforçavam.

Ele estava orgulhoso de si mesmo, e não importava qual fosse a situação agora, ele
sabia que Remus ficaria orgulhoso dele também. Gostaria de poder contar
imediatamente, mas Remus havia saído, e Grant estava no quarto se escondendo de
Sirius.

Grant prometeu que ficaria de olho nele, mas assim que Remus saiu pela porta, Sirius
disse algo desagradável sobre não precisar de uma 'governanta' (puta que pariu, o quão
rico ele era para usar aquele tipo de palavra?!) e se transformou em um cachorro
novamente.

Era dolorosamente óbvio que Black odiava Grant, então, se esconder no quarto
parecia a melhor solução.

Ele teria que esperar Remus chegar em casa para dar a notícia. Esperava que ele não
demorasse muito, mas ele não fazia ideia. Remus tinha ido a algum tipo de reunião e
não tinha dado detalhes a Grant.

Entretanto, ele havia conversado com Sirius sobre isso durante um longo tempo. Eles
murmuraram juntos na sala de estar, pensando que Grant não notaria. O tom de seus
sussurros oscilava descontroladamente em volume - hora sibilos altos e raivosos, hora
desculpas suaves e baixas. A linguagem corporal deles era a mesma. Grant entendeu
rapidamente que as coisas importantes entre Sirius e Remus eram as coisas que
nenhum dos dois falava em voz alta. Tudo era feito em olhares, gestos, cabeças
inclinadas e sobrancelhas levantadas. Era impossível para um estranho acompanhar - e

517
Grant se sentia um estranho. Nunca achou possível que duas pessoas pudessem sentir
tanta raiva e tanto amor uma pela outra.

E aquilo era amor. Sem dúvida.

Grant sentia um enjôo doloroso em seu estômago e estava ignorando essa sensação há
dias.

Há um tempo, Remus estivera agindo diferente, mas até aquela porra daquele cachorro
preto aparecer, Grant pensou que havia esperança de que tudo voltasse ao normal.
Com um pouco mais de tempo, um pouco de espaço, alguma distância de toda aquela
escuridão, Grant tiraria Remus daquilo; ele já tinha feito isso antes, poderia fazer de
novo.

Mas agora parecia impossível, Remus não queria que as coisas voltassem a ser como
eram. Ele não tinha dito isso, talvez nem ele mesmo soubesse, mas era muito óbvio
para Grant.

Olha, ok, Grant sabia que ele não era o último biscoito do pacote. Ele não era tão
inteligente quanto Remus, de qualquer maneira. Provavelmente, também não era tão
inteligente quanto Sirius. Isso nunca o incomodou muito, porque, afinal, ele não
poderia ser ninguém além de si mesmo, e ele tinha outras coisas a seu favor. Ele se
esforçava muito e se preocupava com as pessoas, e as pessoas se preocupavam com
ele, e essas coisas eram ingredientes para uma vida muito feliz na opinião de Grant.

Então, ele não era um gênio, mas ele sabia algumas coisas. Ele gostava de pensar que,
no mínimo, sabia quando era a hora de fazer uma saída elegante.

Grant amava muito Remus. Provavelmente o amou desde aquele primeiro dia, vinte
anos atrás, quando aquele adolescente magro, exausto e arisco entrou no dormitório de
St. Edmund's.

Ele era tão quieto e tão fechado, embora, claramente, houvesse um universo dentro
dele. Remus nunca foi a mesma pessoa duas vezes; ele era cansado e cínico em um

518
momento, ingênuo e envergonhado no seguinte. Ele borbulhava de raiva e amor ao
mesmo tempo, e, na maioria das vezes, ele deixava o amor vencer.

Grant gostava de pensar que tinha ajudado um pouco nisso. Especialmente nos
últimos anos, Grant havia trabalhado duro para manter as partes mais sensíveis de
Remus seguras. E ele tinha conseguido, tinha feito um bom trabalho. Havia cuidado
dele até que Remus realmente não precisasse mais de cuidados. Talvez fosse hora de
deixar ir.

Ainda sim, ele não queria apenas devolvê-lo como um livro emprestado.

Grant havia se despedido de muitas pessoas ao longo de sua curta e colorida vida, e
nenhuma delas significou nada, até Remus. Grant sabia o quão patético isso soava.
Com quase trinta e seis anos e apenas um relacionamento real, apenas uma amizade
verdadeira.

O que quer que acontecesse, eles continuariam amigos - não havia dúvida sobre isso.
Porém, Grant sabia que precisava ser prático e cuidar de si mesmo pelo menos uma
vez. Remus sempre pertencera a outro mundo, isso era, em parte, o que o tornava tão
atraente.

Chegou a hora de Remus voltar para onde pertencia, e, embora Grant soubesse que,
por um tempo, a ausência doeria, era completamente necessário.

Isso o lembrava daquela música de Suzanne Vega. Grant nunca foi de ler muito as
letras, ele não tinha uma alma poética, não como Remus. Porém, quando o álbum
Solitude Standing foi lançado, as músicas tocavam em todas as rádios e Grant gostou
bastante - ele sempre quis comprar o álbum, mas nunca o fez. Suzanne tinha uma voz
que te perseguia, e essa música em particular era fantasmagórica e estranha.

Então, Remus disse a ele do que se tratava, e ele odiou.

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Ele normalmente não gostava de contos de fadas. Tendo entendido sua sexualidade
aos seis anos, a ideia de bravos cavaleiros resgatando donzelas em perigo nunca o
inspirou muito. Porém, algo sobre Calypso realmente atingiu um nervo.

Ele sabia que não era uma sereia, sentado nas rochas balançando os seios para os
marinheiros que passavam, mas ele conhecia Remus. Ele conhecia Remus de dentro
para fora. Tinha visto a mudança nele desde que Sirius voltou.

No início, Remus se apegou a Grant como seu protetor, o que fazia sentido, um pouco
de regressão era esperado, e Grant sempre fez o seu melhor para ser um porto seguro
para Remus. Porém, depois que o estresse dos primeiros dias passou, Remus e Sirius
relaxaram um pouco e tudo se tornou diferente. Tão diferente que era chocante.

Grant nunca realmente soube como havia sido o relacionamento deles quando eram
jovens, mas pôde ter um vislumbre disso agora. A maneira como Remus olhava para
Sirius, como se ele fosse a criatura mais linda da terra. O calor em seus olhos, a
maneira como sua língua brincava no canto da boca como se ele estivesse sonhando
acordado com algo totalmente indecente. Remus nunca olhou para Grant daquele
jeito, não realmente.

E Sirius se iluminava quando Remus falava com ele.

Sim, eles obviamente ainda estavam apaixonados, e não era o mesmo tipo de amor
que Grant e Remus tinham. Não sabia se era melhor ou não, mas ele praticamente
podia sentir o conflito destruindo Remus. Ele não queria destruir Remus, nunca quis.
Ele ainda queria mantê-lo seguro.

E lá estava Sirius, afetado e venenoso, espreitando como uma aranha o tempo todo,
lhe perfurando com os olhos sempre que Grant entrava na sala. Sirius deixava seus
sentimentos perfeitamente claros, e isso deixou Grant indignado, fez com que ele
quisesse lutar para manter Remus.

520
Mas isso não dependia mais de Grant. Remus estava indo para um lugar que Grant não
poderia segui-lo. Eles haviam chegado a uma encruzilhada e estava tudo muito claro.
Talvez a carta realmente fosse um sinal.

Ele evocou a imagem com a qual esteve sonhando - ele e Remus em uma casa à beira-
mar lendo livros, tomando café da manhã na cama, indo passear pela cidade,
envelhecendo e fazendo novos amigos. Se eles tivessem uma casa grande o suficiente
poderiam adotar alguma criança - Grant tinha interesse em fazer isso há anos; gostaria
de cuidar de crianças que ninguém mais queria e, sendo um assistente social, seria um
candidato perfeito.

Ele deixou a fantasia preenchê-lo uma última vez e então começou a destruí-la. No
fundo, Grant sabia que Remus nunca deixaria Londres, Remus nunca iria querer ter
filhos adotivos - ele tinha muito medo de machucá-los na lua cheia. Esse futuro
sempre foi apenas um desejo, sempre fora mais sobre Grant do que Remus.

Era hora de parar de se preocupar com Remus, de parar de pensar no que Remus
precisava. Isso não era mais sua responsabilidade. Talvez houvesse outra pessoa para
Grant, ele esperava que sim, nunca pararia de procurar. Um dia, talvez alguém iria
querer mantê-lo seguro para variar. Coisas estranhas estavam sempre acontecendo.

A decisão estava tomada. Grant escreveu uma resposta formal, aceitando a oferta de
trabalho. Ele a enviaria quando fosse embora.

Começou a empacotar tudo silenciosamente, esperando que Remus não voltasse para
casa até que ele terminasse. Havia muito o que guardar, mas, ao mesmo tempo, não o
suficiente. Grant se surpreendeu com a facilidade com que o plano se concretizou. Ele
tinha sua própria conta bancária e seu nome não estava no apartamento, poderia ficar
no pub de sua tia em Hove até encontrar seu próprio lugar para morar. Até tinha
amigos em Brighton, amigos da época que havia morado lá quando criança. Tudo
estava sendo tão incrível e surpreendentemente fácil.

521
Então, quando terminou de fazer as malas, só precisava dizer adeus. Ele esperava
poder dizer isso da maneira certa, sem soar amargo ou como se fosse digno de pena.
Esperava que Remus entendesse que Grant sempre estaria lá e que, se precisasse, ele
apareceria em um piscar de olhos.

Ao mesmo tempo, ele esperava que Remus não precisasse dele. Esperava que o
estivesse deixando em boas mãos.

Após fechar as malas, Grant se sentou na cama. Ele podia ouvir a TV na sala, um
pouco alta demais. Sirius a deixava ligada durante toda a noite, o que fazia Grant
acordar. Porém, se levantasse para desligá-la, aquele cachorro preto horrível acordaria
e começaria a rosnar para ele no escuro. Provavelmente era uma resposta ao trauma,
Grant não culpava Sirius, mas desejava que ele não se comportasse daquela forma.

Ele poderia realmente confiar em um homem como aquele para cuidar de alguém? O
coração de Grant doeu ao imaginar Remus - o doce, sério e sensível Remus - sendo
tratado como um saco de pancadas. Ele simplesmente toleraria isso, Grant sabia.
Remus se sentia tão culpado pela prisão de Sirius que estava disposto a aceitar todos
os tipos de abuso. Mas isso não estava certo.

Grant se levantou. Havia mais uma coisa a ser feita antes de ir embora.

Precisava conversar com Sirius.

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Capítulo 187: Verão de 1995: Sirius

Well, my friends are gone and my hair is grey

I ache in the places where I used to play

And I'm crazy for love.

But I'm not coming on.

I'm just paying my rent every day in the Tower of Song.

Tower of Song, Leonard Cohen.

Sirius sentou no sofá com os joelhos para cima, os braços em volta das pernas. Ele
estava assistindo televisão. Era uma invenção trouxa bizarra, um pouco como os
cinemas que ele tinha ido na juventude, só que menor... ah não, ah não... aquele
pensamento trouxe de volta uma memória de James. Naquele verão em que eles foram
ver o mesmo filme todos os dias, quando conheceram aquelas garotas trouxas. Foi no
verão? Ou Natal? Talvez estivesse chovendo e alguém o socou. James ou Remus?
Certamente Remus. James nunca foi violento, mesmo quando Sirius realmente
merecia.

Sirius fechou os olhos para abafar as vozes frias e cruéis em sua cabeça que queriam
arrastá-lo de volta no tempo, de volta aos piores momentos. Ele achou que podia sentir
o gosto de sangue, mas, quando abriu os olhos novamente, tudo que viu foi a sala de
estar e a caixa trouxa falante idiota.

Era sua sala de estar. Ou tinha sido, uma vez. Parecia diferente, e Sirius teve
dificuldade em descobrir se realmente estava diferente ou se ele estava apenas se
lembrando errado. As paredes não tinham sido repintadas, a lareira estava lá. Não
cheirava mais a cinza de cigarro, mas ainda havia uma marca de queimadura no

523
carpete sob o parapeito da janela - isso já estava lá antes? Ou teria acontecido nos anos
que esteve fora?

A TV era a pior mudança, a mais perceptível. Sirius possuía uma forte memória de
argumentar contra comprarem uma há muito tempo atrás. Caixa de luzes trouxa
barulhenta . Ele ainda achava que era horrível, mas, de alguma forma, não conseguia
parar de assistir. Ela o distraía. Pausava seus pensamentos, o impedia de se lembrar.

Ele havia passado muito tempo se lembrando. Revirando eventos, erros e conversas
pouco compreendidas. Peneirando tudo de novo e de novo, até que tudo em sua
cabeça se soltou e se transformou em pequenos fragmentos sem estrutura ou narrativa.
Ele não queria mais sentar e pensar. Ele queria ir para a ação. Queria fazer coisas. E
ninguém permitia.

Ele bufou, mudando de posição, apertando o braço do sofá com mais força. Remus
havia sido convidado para uma reunião, e Sirius foi instruído a ficar em casa com o
trouxa. Não causaria nenhum problema se ele tivesse ido como Padfoot, sabia que
ficaria tudo bem, mas ninguém o ouvia. Eles o estavam tratando como uma bomba
prestes a explodir, como alguém que precisava ser contido. Como se não tivesse
passado um ano sozinho cuidando de si mesmo sem a ajuda de ninguém.

Ele não seria tratado como uma criança. Não iria deixar que o tratassem daquela
forma. Não merecia mais?

Mas Moony - Remus - lhe lançou aquele olhar dolorido e suplicante, e isso o calou.
Ele odiava deixar Remus desconfortável, pois isso o deixava preocupado com a
possibilidade de Sirius nunca melhorar. Ele sabia que não estava certo da cabeça,
sabia que estava se comportando de forma errada e que não estava sendo ele mesmo.
Sirius havia esperado que um ano fosse ser o suficiente. Agora estava fora, estava
livre, todos que importavam finalmente sabiam a verdade. Isso devia ter feito a
diferença. A essa altura, ele já deveria ter voltado ao normal.

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Remus não estava ajudando, Sirius pensou sombriamente. Como conseguiria fazer sua
cabeça agir da maneira certa se tudo estava tão estranho? Quando Remus, seu único
amigo restante, mal conseguia olhar para ele sem estremecer, mal conseguia falar com
ele sem desviar os olhos para longe. E o namorado. Sirius se perguntou o quão rápido
isso tinha acontecido, o quão rápido o trouxa havia se infiltrado como um verme,
infectando Remus com sua mundanidade, transformando seu Moony em alguém
quieto e cauteloso, em alguém nada melhor do que o próprio trouxa.

Era como se uma luz em Remus tivesse diminuído. Sirius procurava por sinais do
velho Moony, mas não havia nada daquela energia perversa e travessa, nada da força
devastadora de Remus Lupin quando ele pensava em um plano emocionante.

Sirius havia demorado séculos para convencer Remus a ir para a reunião. No final, ele
teve a impressão que Remus estava apenas fazendo um favor para ele, para mantê-lo
calmo. Contanto que ele fosse, Sirius não se importava. E quando ele voltasse, ele
contaria tudo, Sirius o obrigaria. Era o mínimo que Remus podia fazer.

Remus mudaria de ideia. Ele veria que não havia outra maneira. Ele iria querer fazer
isso por Harry.

Sirius não pôde deixar de sorrir para si mesmo ao pensar em Harry. Aquele garoto
incrível, brilhante e corajoso. James ficaria tão orgulhoso...

James, James, sinto muito, muito...

Ele estremeceu, fechou os olhos novamente, se abraçando para se proteger do frio. Ele
queria tanto Remus. Não queria ficar sozinho, não de novo, por favor...

"E aí?" Grant adentrou a sala como se para lembrar Sirius que ele não estava sozinho.
Grant sorria alegremente para ele. Sirius o observou com cautela. Sempre sorrindo.
Cara esquisito.

"Boa tarde," Sirius respondeu, deliberadamente acentuando a anunciação em seu


sotaque para se afastar do terrível inglês horrendo de Grant.

525
Sirius nunca havia passado tempo com trouxas, mesmo antes de Azkaban, e os achava
confusos na melhor das hipóteses, como uma espécie alienígena. E ele odiava a
alegria de Grant com cada centímetro de seu ser.

"Tá melhor?"

Sirius grunhiu evasivamente. Ele não devia qualquer tipo de explicação a este homem.
Ele o tolerava pelo bem de Remus, mas apenas isso.

"Bom saber," Grant assentiu, as covinhas em suas bochechas aparecendo.

Sirius achava que ele deveria ser incrivelmente estúpido.

Limpe esse sorriso fútil de seu rosto! O espectro de Walburga Black latiu em sua
mente.

Sirius se lembrava de Grant quando era adolescente. Nem mesmo quando jovem ele
havia sido bonito. Quinze anos não haviam ajudado no aspecto de seu cabelo ou de
sua pele. Sirius não fazia ideia do porque Remus ainda estava com Grant, e se ele era
tão estúpido quanto era desprovido de beleza, então estava ainda mais perplexo sobre
por que Moony o queria por perto.

O Remus que ele conhecia - seu Remus nunca toleraria um tolo.

"Quando ele voltar", Grant continuou dizendo, ainda alegre, ainda sorrindo,
mostrando os dentes tortos e uma cicatriz branca no canto da boca, "Eu vou."

"Oh, ok." Sirius deu de ombros, procurando algo para dizer. "...Precisamos de leite".

"Não", Grant riu, balançando a cabeça levemente. Ele se sentou na mesa de centro,
bem em frente a Sirius, tão perto que seus joelhos quase se tocaram e olhou-o nos
olhos, "Não vou sair para fazer compras, eu vou embora."

"O que?" Sirius franziu a testa, "Por quê? Remus disse para você ir? Porque isso não
foi ideia minha. "

526
"A ideia é minha", disse Grant, sem sorrir. Seus olhos estavam cansados e Sirius
percebeu que, embora Grant estivesse sorrindo, ele não estava feliz. Ele estava muito,
muito triste. Sirius não sabia o que fazer sobre isso, ele tinha seus próprios problemas.

Grant continuou falando. "Eu percebi isso há um tempo. Quando ele voltou da escola
em choque por ter te visto novamente. Acho que eu deveria ter percebido ali. Deveria
ter pedido um tempo, mas eu não poderia simplesmente deixá-lo sozinho... "

"Olha, eu não sei o que você pensa -"

"Eu só estava cuidando dele para você," Grant disse, levantando a mão para manter
Sirius quieto, "Eu nunca pertenci a ele. Tem sido você, todos esses anos."

"E, ainda sim, aqui está você." Sirius murmurou. Ele puxou os joelhos para cima, se
protegendo. Queria que Grant simplesmente fosse embora, queria que ele sumisse.
Queria poder se transformar em Padfoot, mas sabia que não ajudaria em nada e havia
prometido a Remus que não o faria.

"Olha, agora é sobre isso que eu queria falar." Grant disse, franzindo as sobrancelhas.
"Se eu for embora, você tem que cuidar dele, ok? Não o culpe por tudo o que
aconteceu com você nos últimos dez anos. "

"Doze anos." Sirius o corrigiu.

"Não ligo," Grant deu de ombros, "Não tem sido uma vida fácil para nenhum de nós,
raio de sol, você não é especial. Remus é. "

A voz de Grant ficou repentinamente dura e perigosa, quase agressiva "Ele é especial
para mim, e se você não é homem o suficiente para ser gentil com ele, então você não
o merece. Ele esteve esperando por você. Ele nunca parou de esperar. Ele não vai
dizer isso, porque Remus não diz coisas assim. Mas ele sente. Ele sente tudo, você
deve saber disso. "

Sirius não respondeu.

527
"Ele te ama." Grant disse firmemente. "Você tem que amá-lo de volta."

"Eu amo el--"

"-Não," Grant estava balançando a cabeça novamente, "Não, não assim. Você tem que
estar aqui, tem que ser uma pessoa real, de carne e osso. Não é um cachorro. Não um
fantasma. "

Sirius não conseguia mais olhar nos olhos de Grant, ele abaixou a cabeça e concordou.

"Eu vou."

"Isso é bom," Grant sorriu novamente, seu rosto gentil mais uma vez. "Agora, quando
ele estiver mal-humorado, e ele vai ficar mal-humorado, não o deixe ficar deprimido e
não o deixe beber. Ele vai querer fazer isso depois da lua cheia, mas se ele fizer, só vai
levar mais tempo para se recuperar. "

"Eu sei do que ele precisa depois da lua cheia!" Sirius rosnou, afrontado. "Eu o
conheço desde que tínhamos onze anos, quem você pensa que é, me dizendo..."

"Fui eu que estive aqui." Grant o cortou, breve. "Eu não acho que você entenda o quão
difícil tem sido. Eu não acho que você... olhe, você o teve em seu melhor, ok? Eu o
tive em seu pior. " Ele sorriu um pouco, "E eu fui feliz em estar aqui. Eu tenho uma
parte dele. Você tem a outra. Podemos concordar com isso? "

Sirius o encarou um pouco mais. Grant estendeu a mão para que apertasse, e Sirius a
pegou.

"Ok." ele disse.

"Perfeito." Grant soltou sua mão e se levantou. Ele entrou no quarto e voltou com uma
grande mala, a qual ele colocou propositalmente ao lado da porta. "Vou ter que deixar
alguns livros e umas coisas aqui por pouco tempo." Ele disse: "Mas voltarei para

528
buscá-los quando estiver acomodado. Acho que você não precisa da chave, né? Você
pode entrar do jeito mágico?"

Sirius acenou com a cabeça, mudo. Ele não podia acreditar que isso estava
acontecendo. Queria que seu coração disparasse, queria se sentir finalmente satisfeito,
mas não conseguia deixar de se preocupar. Grant tinha sido um estorvo, mas também
um amortecedor. Remus o culparia por isso? Será que ele convenceria Grant a ficar
ou, pior ainda, será que ele deixaria Sirius aqui, sozinho com o apartamento e a guerra
e...

Houve um barulho baixo de alguém arrastando os pés do lado de fora da porta da


frente, e os ouvidos de Sirius se aguçaram. Remus estava de volta! Seu coração
começou a bater forte contra sua caixa torácica, ele lambeu os lábios e se endireitou,
seu foco na porta, esperando-a se abrir.

Remus entrou com a cabeça baixa, franzindo um pouco a testa. Sirius não conseguia
acreditar o quão pouco Remus havia mudado quando tudo no mundo estava tão
diferente. Ele estava mais grisalho, mas ainda era Moony, ainda era devastadoramente
bonito e completamente alheio a isso.

Ele deu um sorriso para Sirius ao entrar, um sorriso tão parecido com o do Remus
adolescente que o levou direto de volta para Hogwarts - chegar à mesa do café da
manhã e encontrar Remus já lá, comendo sua terceira porção de bacon e ovos,
sorrindo para algo estúpido Sirius tinha acabado de dizer. Olhe, ele disse a si mesmo,
ainda existem algumas boas lembranças.

"Olá," Remus disse para a sala.

"E aí." Grant respondeu. "Quer um chá?"

"Ooh, sim, por favor," Remus acenou com a cabeça, agora dando a Grant um sorriso
amigável. O trouxa foi para a cozinha.

"Como foi?" Sirius perguntou, já agitado, "Você viu Dumbledore? O que ele disse?"

529
"Ah, nada demais. Nada que eu não tenha ouvido antes. A Ordem precisa de um novo
local, todos nós devemos pensar em algo. Olha, podemos conversar sobre isso mais
tarde? " Remus lançou um olhar para a cozinha, onde Grant estava fazendo o chá.

"Ele disse algo sobre mim? Dumbledore? Como está o Harry?

"Harry está perfeitamente bem, de volta à casa de seus tios para o verão. O que essa
mala está fazendo aqui? "

Remus estava olhando para a mala marrom cheia de coisas de Grant. Ele olhou para
Sirius. Sirius deu de ombros, encolhendo-se no sofá. Remus franziu a testa e
perguntou em voz alta, "Grant? O que esta mala está fazendo aqui?"

Grant colocou a cabeça para fora pela porta da cozinha, parecendo envergonhado.

"Ah. Podemos conversar um pouco?"

Remus empalideceu visivelmente e foi para a cozinha.

530
Capítulo 188: 'Até o fim'

I just want to see you

When you're all alone

I just want to catch you if I can

I just want to be there

When the morning light explodes

On your face it radiates

I can't escape

I love you 'till the end

I just want to tell you nothing

You don't want to hear

All I want is for you to say

Why don't you just take me

Where I've never been before

I know you want to hear me catch my breath

I love you 'till the end

I just want to be there

When we're caught in the rain

531
I just want to see you laugh not cry

I just want to feel you

When the night puts on it's cloak

I'm lost for words - don't tell me

All I can say

I love you 'till the end.

Till the End, The Pogues.

"Onde você está indo!?" Remus sibilou enquanto marchava para a cozinha. Ele não
queria que Sirius os ouvisse brigando, mas as coisas não pareciam nada boas pelo jeito
que Grant estava calmamente mexendo em seu chá, evitando fazer contato visual.

"Brighton." Grant disse. "Recebi uma oferta de emprego, uma muito boa. Melhor
remuneração e vou poder ajudar mais pessoas, vou poder realmente fazer a diferença."

"Mas nós moramos em Londres."

"Remus..."

"Você vai me deixar por um emprego?!" Remus estava se preparando para começar a
gritar, para envergonhar Grant até fazê-lo ficar. Grant apenas sorriu com simpatia e
balançou a cabeça.

"Não seja bobo. Você sabe que é mais do que isso."

O coração de Remus estava batendo forte, ele se sentia enjoado, tonto, como se o chão
estivesse balançando para frente e para trás. "Você não pode fazer isso!"

"Estou apenas facilitando as coisas para você", disse Grant. Se qualquer outra pessoa
tivesse dito isso, teria soado amargo. "Eu não sempre tentei fazer isso?"

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"Mas eu te amo!"

"Eu também te amo, meu querido, mas não tenho certeza se isso é tudo."

"Então você está apenas tomando a decisão por mim?!"

"Estou tomando uma decisão por mim." Grant disse com muita firmeza. Então, ele
olhou para dentro dos olhos de Remus, e Remus pôde ver que não haveria mais
discussão. "Sirius precisa de você agora, e você irá para a guerra, porque isso é quem
você é, você é louco e corajoso e incrível. Não há lugar para mim nisso tudo, então
preciso que você me deixe ir. Sempre seremos amigos, não é? Meninos de abrigo
precisam cuidar uns dos outros?"

Remus queria chorar. Ele queria cair de joelhos e agarrar Grant pela cintura e mantê-
lo ali para sempre, implorar e implorar. Ele sabia que isso era egoísta. Grant estava
certo, Remus já havia decidido voltar para a Ordem, ele havia decidido no momento
em que Sirius retornou. Não era justo manter Grant por perto para isso, era
absolutamente perigoso. Mas ele precisava de Grant, oh, ele realmente, realmente
precisava de Grant. Remus não tinha certeza se conseguiria fazer tudo sozinho, não
com Sirius daquele jeito.

"Você vai partir meu coração se for agora." Remus disse, ciente de que soava mal-
humorado e petulante.

Grant balançou a cabeça levemente, mantendo-se firme. "Eu sinto muito amor, mas
está partindo meu coração ficar aqui."

E em um instante, Remus entendeu. Pela primeira vez, ele viu Grant corretamente,
não como seu protetor, seu campeão, mas como uma pessoa que não era muito
diferente dele, uma pessoa que era igualmente vulnerável ao sofrimento.

"Não é um adeus de verdade, hein?" Grant disse, suavemente. "Você ainda não vai se
livrar de mim."

533
"Eu nem sempre fui justo com você." disse Remus. Ele queria dizer isso há muito
tempo. Ele queria algum tipo de perdão.

"Está tudo bem," Grant sorriu, sem nenhum traço de culpa. "Você tem sido meu
pequeno pedaço de magia."

Remus fez um barulho estrangulado e tentou não chorar. Grant o abraçou, e eles se
seguraram um no outro pela última vez.

Grant deixou Remus na cozinha com duas xícaras de chá - uma para Remus, outra
para Sirius. Remus ficou em silêncio e esperou que a porta fosse aberta. Quando a
ouviu se fechar, cobriu a boca com a mão e fechou os olhos. Ele inspirou e expirou
por alguns momentos, então voltou para sala de estar. Sirius ainda estava no sofá. Ele
parecia ansioso e esfregava as mãos.

"Remus, eu--"

"Não." Remus levantou a mão, balançando a cabeça, "Não, eu preciso de um minuto."

Ele entrou no quarto e fechou a porta. Sentou-se na cama e chorou e chorou. Feito
isso, ele lavou o rosto e voltou para Sirius.

Havia muito trabalho a fazer.

***

Segunda-feira, 10 de julho de 1995

As coisas ficaram mais difíceis depois que Grant foi embora. Remus sentia como se
tivesse perdido sua rocha, a pessoa que o manteve seguro por treze anos. O homem
com quem Remus ficou era praticamente um estranho, um buraco aberto de miséria e
medo e raiva vingativa. Remus estava pisando em cascas de ovos, e a guerra se
estendia à frente deles - seria sempre assim?

534
Eles mantiveram o foco na guerra, principalmente porque Remus se recusou a falar
sobre Grant, ou sobre seus sentimentos. Naqueles primeiros dias, aquilo seria demais.
Eles passavam o tempo trabalhando com listas, entrando em contato com o pessoal
antigo, desenterrando informações da última guerra. Sirius os conectou de volta à rede
de Flu, usando uma conexão secreta acessível apenas às pessoas certas, e várias e
várias vezes os dois se ajoelhavam no tapete da lareira, falando com as chamas, Sirius
explicando sua história para cada membro. Poucos deles precisaram de muito
convencimento. Todos acreditavam que Voldemort estava de volta e queriam fazer
algo a respeito.

Quando não estavam trabalhando para Dumbledore, Remus ligava a TV e, na maioria


das vezes, Sirius se transformava em Padfoot e cochilava. Remus cozinhava sempre,
Sirius havia se oferecido, mas Remus não permitiu. Ele disse que queria que Sirius
descansasse, se recuperasse, mas, na maioria das vezes, na verdade, ele só queria ficar
sozinho em um cômodo diferente. Sirius ainda dormia no sofá, porque nenhum dos
dois conseguia tocar no assunto.

"É lua cheia na quarta-feira," Remus disse uma tarde. Eles tinham acabado de assinar
algo com Kingsley, um auror aparentemente bastante capaz que Moody havia trazido.
Remus não tinha certeza de quanto isso valia, ele tinha visto muitos bruxos capazes
morrerem.

"Eu sei." Sirius respondeu bruscamente.

Estavam sentados lado a lado no sofá, assistindo a TV sem realmente prestar atenção.
Era apenas o noticiário trouxa, mas poderia muito bem ser estática, eles não se
importariam. Era apenas uma razão para não olharem um para o outro.

"Eu geralmente saio uma hora antes do pôr do sol," Remus continuou. "Me dá tempo
para averiguar a área, se for preciso."

"Me lembro de como funciona." Sirius disse.

535
"Ok, desculpe." Remus murmurou irritado. "Apenas pensei que você gostaria de
saber. Mas se você tem outros planos, então fique aqui."

Sirius o olhou. "Oh. Você quer que eu vá?"

"Só se você quiser," Remus disse apressadamente, "eu não me importo de qualquer
maneira."

"Dumbledore disse que eu preciso ficar aqui o tempo todo..."

"Tudo bem. Fique aqui, então." Remus cruzou os braços com força sobre o peito,
sentindo-se magoado.

"Não, eu vou com você." Sirius respondeu.

"Excelente." Remus falou lentamente, cheio de sarcasmo.

Todas as conversas eram assim. Um deles deliberadamente entenderia mal algo que
havia sido dito, ou se tornaria irracionalmente defensivo sobre um assunto pequeno.
Então, o outro se irritaria, e a briga começaria, até que ambos parassem de falar e
ignorassem um ao outro. Porém, se Remus se levantasse, ou saísse da sala, Sirius lhe
daria aquele olhar aterrorizado e diria "Onde você está indo??" e Remus se sentaria
novamente, e toda a cena era reiniciada.

Ele pensou que trazer a lua cheia à tona poderia animar Sirius um pouco. Sirius
sempre amou luas cheias, e isso significava que ele poderia deixar o apartamento pela
primeira vez. Você não pode simplesmente ser normal?! Remus se pegou pensando
com raiva, não quero viver com um estranho, quero meu melhor amigo de volta. Eu
preciso de ajuda.

Então ele se sentia culpado. Porque obviamente Sirius não podia evitar, e se ele
realmente pensasse sobre isso, eles sempre foram um casal rebelde, afinal, ambos
eram grifinórios impetuosos.

536
Mesmo assim. Sirius poderia não ser um completo estranho, mas ele, certamente, agia
estranho. Ele sempre fora tão vigilante, tão rápido a se enfurecer? Ou Azkaban havia
feito isso com ele? Ou - o pior de tudo - seria tudo culpa de Remus?

Sem Grant ali, Remus começou a se perguntar se ele próprio parecia diferente. Talvez
anos vivendo como um trouxa o tivessem tornado menos interessante. Ele estava mais
lento do que quando adolescente, mais cauteloso. Raramente ria.

Era estúpido, mas Remus estava ainda mais preocupado com sua aparência. Ele nunca
foi uma pessoa vaidosa, sempre teve uma aparência muito comum, cheio de cicatrizes
e um pouco desengonçado, mesmo na época da escola. Porém, pelo menos, naquela
época Remus era jovem. Agora, seu cabelo estava todo grisalho, restando apenas
alguns fios de sua cor original. Ele tinha mais cicatrizes do que nunca, e às vezes
ainda fumava, o que o fazia tossir como um velho trabalhador das minas de carvão.

Ele era muito menos do que um dia tinha sido.

"Isso não vai funcionar, não é?" Sirius perguntou abruptamente, interrompendo os
pensamentos de Remus.

Sem tato. Há tempos atrás, ele tinha sido tão malicioso, sua lábia conseguia convencer
qualquer um a fazer qualquer coisa; podia contar piadas sujas como se fossem poesia
romântica. Porém, agora tudo que Sirius dizia era repentino, direto e cheio de urgência
crua.

"O que?" Remus perguntou, abalado. Ele manteve os olhos fixos na TV.

"Isto. Você e eu. No mesmo cômodo. Tentando agir como... tentando ficar bem um
com o outro. Depois de tudo o que aconteceu, e quatorze anos... vai ser demais."

Remus finalmente se virou para olhá-lo, pronto para ficar irritado novamente, mas
descobriu que Sirius estava olhando para suas mãos, torcendo-as com força em seu
colo, fazendo com que a pele repuxasse e seus dedos ficassem brancos. Agora, ele
também tinha cicatrizes.

537
Então, Remus percebeu que não parecia tão velho e estranho, ele apenas se parecia
com Sirius. E ele estava com medo.

"Ah, eu não sei," Remus disse suavemente. Ele estendeu a mão e acalmou as mãos de
Sirius com as suas, entrelaçando seus dedos ossudos e cheios de cicatrizes. Ele olhou
em seus olhos e sorriu encorajadoramente. "Você sempre foi muita areia para o meu
caminhão. Eu nunca me importei."

O olhar de alívio que inundou o rosto de Sirius valeu cada momento perdido. Era um
olhar que valia uma vida inteira. Ele levou a mão de Remus aos lábios e beijou
gentilmente o interior de sua palma.

Eles voltaram a olhar para a TV depois disso, mas continuaram de mãos dadas.

***

Quinta-feira, 14 de julho.

Felizmente, a lua cheia foi uma mudança de ritmo bem-vinda. Eles aparataram juntos
para os Brecon Beacons, e ambos se transformaram na encosta de uma montanha. O
lobo ficou extasiado ao se reunir com seu antigo companheiro, e eles passaram o
tempo perseguindo raposas pelas pastagens, correndo juntos por quilômetros e
quilômetros. Ambos eram melhores juntos em suas formas caninas; agiam
naturalmente, ficavam mais à vontade. Talvez a falta de inibição, ou talvez o vínculo
forjado entre eles como cão e lobo não fosse tão facilmente quebrado.

Ao amanhecer, quando Remus se transformou de volta, Padfoot lambeu seu rosto


alegremente, aninhando-se nele, e Remus riu pela primeira vez desde que Sirius
voltou para Londres.

Eles ainda estavam sorrindo quando voltaram para o apartamento, que parecia maior
do que antes, menos como uma gaiola.

538
"Eu tinha me esquecido do quão forte você era," Sirius sorriu, cheio de energia,
"Esqueci que você era mais rápido que eu."

"Claro que esqueceu," Remus sorriu, "seu idiota arrogante. Eu sempre vou te vencer."

Ele pegou a correspondência que estava no tapete da entrada e folheou enquanto


Sirius se jogava no sofá, esparramando-se. Era a primeira vez que Remus o via
realmente relaxado no apartamento deles, e isso o fez se sentir aquecido por dentro.

Folheando as contas e folhetos, Remus parou quando viu um cartão postal. Tinha o
novo endereço de Grant nele. Nada mais, apenas o endereço cuidadosamente
impresso. A pontada aguda de arrependimento o atingiu e ele suspirou pesadamente.
Não havia número de telefone. Ou Grant ainda não tinha um (o que parecia muito
improvável, já que ele normalmente o usava bastante e precisava de um para o
trabalho), ou ele estava dizendo a Remus para não entrar em contato.

"E aí?" Sirius disse do sofá, sempre atento.

"Nada. O novo endereço de Grant, só isso." Remus o colocou acima da lareira. "Eu
realmente preciso deitar, acho que vou para a cama."

Ele engoliu alguns analgésicos - apenas pílulas normais, nada excitante - e foi dormir.
Felizmente, dormir era algo fácil depois de uma lua cheia. Quando acordou, o quarto
parecia frio e vazio. Já passava muito do meio-dia, e ele podia sentir o cheiro de bacon
sendo frito, um cheiro salgado e saboroso que flutuava pelo apartamento.

Ele se levantou e seguiu o cheiro até a cozinha, onde Sirius estava de pé sobre o
fogão, agitando uma frigideira quente de bacon e ovos. Ele se virou e sorriu quando
viu Remus.

"Pensei que você estaria com fome. Você está sempre com fome."

"Sim," Remus assentiu, bocejando e coçando a cabeça. "Obrigada."

539
Remus fez uma torrada rapidamente usando sua varinha - ele estava voltando ao
hábito de usar magia novamente agora que seus últimos laços com o mundo trouxa
haviam sido cortados.

Os dois sentaram-se na mesa da sala, e Sirius até fez um esforço para usar garfo e
faca. Remus sorriu ao ver isso, lembrando-se das etiquetas impecáveis de James e
Sirius à mesa. Ele vai voltar para mim, Remus disse a si mesmo enquanto Sirius
passava manteiga em sua torrada delicadamente, pouco a pouco.

O cartão-postal de Grant ainda estava em cima da lareira. A imagem na frente era do


Brighton Pavillion. "É melhor eu começar a empacotar o resto das coisas dele,"
Remus disse, pensando em voz alta. "Encontrar uma maneira de levá-las a ele."

"Ele disse que voltaria quando tivesse arranjado um lugar para ficar." Sirius respondeu
inesperadamente.

"Oh." Remus piscou, "Vocês conversaram, então?"

"Um pouco," Sirius deu de ombros, fingindo indiferença, "Só para dizer adeus. Ele me
disse para cuidar de você."

"Ah, entendo." Remus disse baixinho. "Bem, desculpe por isso. Não é algo que ele
deveria dizer."

Ele queria muito manter essas duas metades de sua vida separadas.

"Não, tudo bem," disse Sirius. Então, por pouco tempo, eles ficaram quietos, apenas
comendo. E então... "Quando aconteceu?" Sirius perguntou de volta à sua rispidez.

"Quando aconteceu o que?"

"Você e ele. Quanto tempo depois... depois que eu fui para a prisão?"

Remus largou o garfo. "Porque você está me perguntando isso?"

540
"Estou apenas tentando preencher as lacunas, as coisas que perdi."

Algo dentro de Remus cresceu, quente e feroz.

"Não vejo o que Grant tem a ver com isso. Você quer uma lista de todos que eu transei
desde que você se foi?"

Sirius respirou fundo ao ouvir isso. "Não, claro que não."

"Bem, então deixe-o fora disso. Ele já foi embora, é isso."

"Eu não deveria ter perguntado. Eu apenas pensei... "

"Eu nunca te traí." Remus disse, endurecendo a voz, "Então você pode parar de se
perguntar isso. Eu nunca, nunca traí sua confiança. Mesmo que você pense que sim."

Sirius franziu a testa e olhou para sua comida. "Você ainda está bravo com isso,
então."

"Eu não quero estar." disse Remus. "Eu não quero estar, mas estou. Você pensou que
eu era um espião, Sirius! Você pensou que eu tentaria machucar Lily e James, você
pensou que eu tentaria machucar você."

"Eu estava confuso," Sirius disse, sua voz baixa, "Tudo estava uma bagunça, tudo
estava tão difícil, e ninguém sabia de nada, ninguém confiava em ninguém-"

"Eu me lembro." Remus retrucou. "Eu estava lá. E, ainda sim, eu confiei nos meus
amigos."

Sirius continuou encarando sua comida, mas Remus não tinha terminado.
Eventualmente, aquilo teria que sair de dentro dele, ele sabia as consequências de
deixar as coisas não ditas.

"Você sabe o quão estúpido eu fui? Você quer saber como eu fiquei completamente
perdido naqueles últimos meses? Achei que você queria terminar comigo! Eu ia voltar

541
do bando e ver se podíamos fazer as pazes, nunca passou pela minha cabeça que você
pensasse que eu fosse um... quero dizer, porra, Sirius. Eu te amava!"

"Remus..."

"Eu te amava, e você me deixou sem nada, você entende? Eu não tinha nada além de
muitas cicatrizes e o alcoolismo. Então, não comece a me interrogar sobre os pedaços
da minha vida que consegui consertar"

Remus se levantou e andou de um lado para o outro, a última lua cheia ainda estava
quente em suas veias. Ele parou próximo à janela. Queria fumar, mas já tinha
aprendido a não ceder a esse tipo de desejo, o tipo de impulso que o fazia se sentir
bem, mas que provavelmente o mataria no final. O tipo de desejo que ele tinha quando
Sirius estava por perto.

"Eu sinto muito." A voz de Sirius ainda estava muito baixa. Ele estava curvado para
frente, seu cabelo em seu rosto. Digno de pena.

Remus se sentiu péssimo, mesmo sabendo que merecia um pedido de desculpas. Ele
não tinha tido a intenção de machucar. Pelo amor de deus, Remus repreendeu a si
mesmo, por que nunca conseguimos fazer isso direito?

"Não, me desculpe." Ele disse, firmando a voz, lembrando-se de ser compreensivo.


"Eu não queria ser tão..."

"Eu entendo. Eu juro, Moon – Remus, desculpe – eu juro, eu pensava em você todos
os dias. O que você estava pensando de mim, o que você devia estar ouvindo... eu fui
o estúpido, não você. Eu deveria ter confiado em você, deveria ter contado sobre
Wormtail ser o fiel do segredo - quero dizer, porra, nós deveríamos ter feito você o
fiel do segredo. Merlin, quando eu fui para Godric's Hollow naquela noite... eu
simplesmente perdi a cabeça. "

"Eu teria feito o mesmo." Remus suspirou. "Eu teria matado Wormtail. Sirius, eu
também sinto muito. Eu gostaria de não ter acreditado neles, eu gostaria de ter tentado

542
investigar, feito algo para ajudá-lo. Mas eu estava em péssimo estado, mal saía, nunca
estava sóbrio. Essas coisas são culpa minha... E é por isso que eu precisava de Grant."

Sirius assentiu, desamparado, ainda sentado à mesa. Aquilo era demais, o ar estava
muito espesso.

"Aqui, você já terminou?" Remus perguntou, precisando mudar de assunto, "Eu vou
lavar a louça. Obrigado pela comida, estava perfeita."

Ele limpou os pratos e os levou para a cozinha. Ele dobrou o último ovo frito de Sirius
em um pedaço de torrada e enfiou tudo na boca, sem desperdícios. Sirius entrou no
momento em que estava mastigando.

"O mesmo velho Remus," ele bufou, "terminando a comida de todo mundo."

"Eu sei," Remus riu, um pouco envergonhado, abrindo as torneiras. "Grant costumava
me chamar de lixão humano. Uma vez, ele pediu uma refeição para quatro pessoas no
takeaway no andar de baixo, mas ficou preso em uma ligação de trabalho e, quando
voltou, eu tinha comido tudo."

Sirius pareceu aceitar a história muito bem. Ele veio para ficar ao lado de Remus e
pegou um pano de prato para que pudesse secar enquanto Remus lavava. Eles fizeram
isso em um silêncio amigável por um tempo, mas Remus sabia que Sirius estava
construindo algo em sua cabeça. Seu corpo estava emitindo aquela energia agitada que
Remus reconhecia de muito tempo atrás - eles brigariam de novo? Ele esperava que
não.

"Há quanto tempo ele estava aqui?" Sirius perguntou suavemente "Quanto tempo
vocês estiveram..."

"Muito tempo." Remus respondeu, concentrando-se nos pratos.

"É bom que você tenha tido alguém." Sirius disse com notável humildade. "Estou feliz
que você não tenha ficado sozinho."

543
"Grant sempre foi muito mais do que eu merecia." Remus concordou, olhando para
Sirius para verificar se estava tudo bem em continuar. "Eu nunca pensei que eu... eu
não acho que eu poderia amar alguém que não fosse você. Mas eu consegui. Eu o
amei."

Sirius abriu a boca, mas pareceu pensar melhor, e a fechou novamente. Ele assentiu,
uma sombra de decepção cruzando seu rosto. Ele estava se esforçando tanto. Remus
largou o último prato com cuidado, e enxugou as mãos no jeans.

Ele se virou para encarar Sirius, que o observava como um falcão.

"Eu o amei." disse Remus. "Mas ele não era você."

Os olhos de Sirius se arregalaram esperançosamente. Remus deu a ele um pequeno e


tímido sorriso, e encolheu seus ombros suavemente. Sirius se inclinou e, de repente,
eles estavam a centímetros de distância, e então eles estavam se beijando, agarrados
um ao outro com força, como aquele fosse seu primeiro e seu último beijo.

Por incrível que pareça, eles não perderam o jeito. Como um feitiço ininterrupto,
Remus sentiu cada momento voltando para ele tão vividamente como se tivessem
acontecido ontem; não as brigas, ou a guerra, ou o vazio, mas a alegria, a emoção da
amizade e o amor - tanto, tanto amor; Remus sentiu como se estivesse sendo
preenchido com ele, estava transbordando.

Assim como da primeira vez, o cérebro de Remus parecia estar gritando sim, sim, sim!
e ele segurou Sirius com as duas mãos, você é meu, você é meu, você é meu.

Quando eles se separaram, ambos estavam sorrindo, pressionando suas testas juntas,
segurando os ombros um do outro como se estivessem lutando - ou caindo.

"Eu te amo," Sirius sussurrou, "eu te amo tanto." Ele fechou os olhos com força. "Não
se preocupe, você não tem que dizer de volta."

544
"Claro que eu te amo, seu idiota," Remus engasgou, sem ter certeza se ele estava rindo
ou chorando, "Eu nunca parei de te amar."

Sirius riu também, embora suas bochechas estivessem molhadas, e o beijou


novamente. E de novo, e de novo, e de novo.

Eles não eram mais adolescentes. Ambos terminaram de lavar a louça e voltaram para
o sofá. Sirius sugeriu que ouvissem um disco, ao invés da TV, e Remus concordou,
disposto a dar a ele qualquer coisa que ele quisesse. Ele escolheu Diamond Dogs
primeiro, mas Remus achou que a letra de 'We are The Dead' poderia ser muito difícil
de ouvir. No final, foi Hunky Dory, que tinha músicas mais alegres.

Sirius se esticou, sua cabeça no colo de Remus, e Remus acariciou seu cabelo e se
inclinou para beijá-lo sempre que quisesse, porque ele podia, finalmente, ele podia.

"Senti a sua falta." Ele sussurrou.

Sirius apertou sua mão e virou a cabeça levemente, obviamente não querendo que
Remus visse a emoção em seu rosto. Ele limpou a garganta, "Vou te dizer do que eu
senti falta," ele disse, um sorriso brincando em seus lábios - aquele sorriso de Sirius
Black - "Fumar. Não tem um cigarro aí, tem?"

"Eles fazem mal a você." Remus retrucou. "Eles matam."

"Estamos todos morrendo," Sirius respondeu.

"Talvez." Remus concordou, entrelaçando os dedos, "Mas se a vida pode ser assim,
ela não deveria durar mais?"

***

Eles adormeceram no sofá, provavelmente porque ambos eram muito tímidos para
sugerir que fossem para o quarto. Remus acordou com o canto dos pássaros nas
primeiras horas da manhã, ainda tenso, rígido, com os quadris doloridos, o peso

545
quente de Padfoot em seu colo. Ele coçou sonolentamente atrás da orelha do cachorro,
empurrando-o para se levantar e usar o banheiro.

Quando voltou, Sirius estava de volta a si mesmo. "Desculpe," ele disse, "eu continuo
me transformando enquanto durmo. Acho que passei muito tempo como cachorro em
Azkaban."

"Está tudo bem," Remus sorriu, "Eu não me importo." Ele se esticou. "O que
precisamos fazer hoje, ainda há alguém na lista que precisamos conversar?"

"Não, nós fizemos tudo", disse Sirius. "Exceto encontrar uma nova sede. Ei, eu pensei
sobre isso, e aquela velha igreja em que você ficou com os lobisomens?"

"Ah, a igreja... não, provavelmente é uma má ideia. Greyback sabe onde é."

"Ele ainda está por aí, então."

"Hum hum. Chá?"

"Por favor."

Remus foi até a cozinha e Sirius o seguiu, ainda falando, "Eu só achei que seria bom,
porque é no meio do nada, então eu posso ficar lá também. Odeio a ideia de você ir a
reuniões e eu ficar para trás."

"Você não gosta daqui?" Remus ergueu uma sobrancelha. Ele amava seu pequeno
apartamento, "Além de Hogwarts, é o único lugar que eu realmente me senti em casa."

"Ah Remus." Sirius apertou seu braço, "Você amoleceu bastante com a velhice."

"Não enche." Remus bufou, dando-lhe uma leve cutucada com o cotovelo. "Nem todo
mundo cresceu em mansões."

"Não, mas-- ei! Ei, Remus, é isso!" Sirius estava balançando seu ombro agora,
empurrando-o enquanto Remus tentava despejar o leite.

546
"Ei, cuidado! O que?"

"Minha mansão! Ela é minha agora, de qualquer maneira, meus pais estão mortos, eu
sou o herdeiro dos Black! A casa vai responder a mim!"

"Ah, entendo," Remus franziu a testa, virando-se para olhar para Sirius corretamente.
"Você tem certeza? Quero dizer... você realmente quer voltar lá?"

"Bem, não, obviamente eu não quero. Mas é provavelmente uma das casas mais
protegidas da Grã-Bretanha, os Black levavam segurança muito a sério. Há quartos
suficientes para todos os Weasleys e mais alguns, oh merlin, imagine a cara da minha
mãe se ela soubesse que eu convidei os Weasleys para ficar lá! É algo que posso fazer
para ajudar, não é?"

"Mas Sirius, pense bem, você estará na casa em que seus pais moravam, todas as
coisas deles estarão lá..."

"Vamos jogar tudo fora," Sirius acenou com a mão, "E é muito seguro, um lugar
seguro para Harry, Remus."

"Sim, realmente..." Remus pensou, aceitando a ideia. "Se você tem certeza?"

"Claro que sim! E, de qualquer forma, não será tão horrendo se você estiver lá
comigo, não é?

"Ha," Remus o cutucou, "Agora quem que amoleceu?"

Eles entraram em contato com Dumbledore pela lareira, e ele até pareceu
impressionado com a ideia. Ele queria saber como entrar, queria saber que tipo de
feitiços e maldições Sirius sabia que havia lá, e quando ele poderia alertar a Ordem.

"Precisamos fazer uma boa limpeza no lugar," Sirius disse ansioso, "Vai estar cheio de
lixo, mas eu posso ajudar já que vou ficar lá o tempo todo, e ninguém é melhor com
pragas mágicas do que Remus!"

547
"Uma excelente ideia, senhores," os olhos de Dumbledore brilharam através das
chamas, "E bem debaixo do nariz de Voldemort, na casa de seus mais leais
apoiadores! Em quanto tempo vocês dois podem ir para lá?"

"Amanhã." Remus respondeu rapidamente, porque sabia que Sirius estava prestes a
dizer 'agora!' "Vamos depois de escurecer, assim será menos suspeito."

"Inteligente, Lupin," Dumbledore disse, "Nesse caso eu vou esperar notícias suas."

Seu rosto desapareceu em uma nuvem de fumaça.

"Sim, Moony! Desculpe, Remus..." Sirius comemorou. "Isso é maravilhoso! Vamos


embalar tudo!"

Claro, Sirius mal tinha algo para embalar, e ele estava muito excitado para ser sensato
de qualquer maneira. O que fez Remus entrar em ação. Ele começou a fazer uma lista
de todas as coisas que eles precisariam - livros, é claro, todas as anotações sobre a
primeira guerra. Roupas, comida, lençóis - Remus não sabia há quanto tempo
Grimmauld Place estava vazia, ele não tinha certeza se alguma coisa seria recuperável.

"Finalmente vou poder te mostrar meu quarto!" Sirius se maravilhou, "Ooh, o meu eu
adolescente ficaria com tanta inveja, eu levando Remus Lupin no meu quarto!"

"Ha," Remus riu, dobrando as vestes e enfiando-as em seu malão.

"E espere até que Harry chegue! Podemos arranjar um quarto para ele e, quando a
guerra acabar, será dele..."

Remus sorriu, o beijou e concordou que tudo seria lindo, que seria uma aventura,
porque era isso que Sirius precisava dele naquele momento. E ele estava determinado
a fazer tudo que Sirius precisasse pelo tempo que pudesse.

548
"Mal posso esperar para ver Andrômeda e sua filha! Deve estar no sétimo ano agora,
certo? Ei, imagine se ela e Harry se apaixonarem, o quão louco isso seria? Então ele
seria... o quê, meu primo em segundo grau?"

"Seria seu primo de segundo grau separado por uma geração, ou algo assim," Remus
reconheceu, "Mas o que você está falando, eles têm uma diferença de idade de quase
uma década. Tínhamos treze anos quando Andrômeda teve aquela filha."

"E Moody, o velho excêntrico, e Arthur, e Gideon e..."

"Sirius, não," Remus disse gentilmente, "Lembre-se, Gid e Fab morreram."

"Ah... ah sim..." O rosto de Sirius caiu, e Remus se sentiu terrível. Talvez ele não
pudesse simplesmente concordar com tudo. Ele tocou a mão de Sirius,

"Tudo bem, você já está se lembrando das coisas muito melhor do que há algumas
semanas atrás."

"Talvez." Sirius respondeu incerto. Ele esfregou seu braço. "Acho que vou descansar,
se estiver tudo bem?"

"Claro."

Remus terminou de fazer as malas e, quando voltou para a sala, Padfoot estava
encolhido no sofá novamente.

Eles comeram uma refeição leve no jantar, e Remus estava com a TV ligada porque
era sua última noite com todos os seus confortos trouxas. Eles haviam decidido levar
todos os seus discos antigos, embora muitos tenham se deformado com o tempo,
emitindo um som sibilante desagradável sobre a música. Com tudo embalado em baús
e caixas, para Remus, a sensação era de fim. Mas talvez isso fosse apenas nervosismo.

Ele tentou manter a calma, observando o céu lá fora ficar em um tom mais profundo
de azul, as luzes da rua mudando de rosa pálido para âmbar espesso, e as estrelas

549
começando a aparecer. A poluição luminosa em Londres significava que ver estrelas
era algo raro, você só conseguia distinguir as mais brilhantes.

A cabeça de Sirius já estava pendendo, encostando contra seu ombro, enquanto a TV


anunciava o noticiário das nove horas. Remus bocejou e apontou sua varinha para a
tela, desligando-a pela última vez. "Ei," ele sussurrou para Sirius, "Vamos, vamos
para a cama."

"Mmph."

Remus teve que sacudi-lo um pouco, mas finalmente Sirius cambaleou e vagou como
um zumbi pelo corredor. Remus escovou os dentes e lavou o rosto, então o seguiu.

Sirius estava parado ao lado da cama, mordendo o lábio.

"Vem," Remus bocejou, entrando sob as cobertas, "Há algo de errado?"

"Hm. Nada." Sirius deitou devagar.

Remus o puxou para perto, incrivelmente feliz por tê-lo perto de novo. Ele passou os
braços ao redor do corpo de Sirius, inalou o cheiro dele e enterrou o rosto naquele
cabelo lindo. Ele se sentia tão bem. Se sentia completo. Ele beijou a bochecha de
Sirius, procurando por sua boca, "Te amo."

"Também te amo." Sirius respondeu, embora estivesse muito tenso, e virou a cabeça.

"O que há de errado?" Remus perguntou, afastando-se, "Estou sendo muito...?"

"Não, eu só..." Sirius se afastou também. "Desculpe, eu só não acho que eu não
consigo... você sabe, não consigo mais..."

"Oh." Remus piscou, "Oh, Jesus, desculpe, eu não queria... claro que não, se você não
quiser."

550
"Não, eu quero," Sirius se contorceu, "só não tenho certeza se consigo. Desde
Azkaban... hum. Não é como se muita coisa estivesse 'acontecendo' nesse sentido, se
você me entende. Eu posso não conseguir... er. Só não quero que pense que o
problema é você. "

" Ah!" Remus piscou novamente. Ele realmente não sabia o que dizer, ou o que fazer.
Nunca tinha enfrentado um problema como esse antes. Ele queria ser gentil. "Estou
feliz por você estar aqui", disse com sinceridade. "Não preciso de mais nada."

"Mesmo?"

"Mesmo."

Sirius se virou, pegou o rosto de Remus com suas mãos e o beijou longa e
profundamente. Isso teria sido suficiente; verdadeira e honestamente. Remus teria
ficado feliz com os lábios de Sirius, o gosto e cheiro de Sirius. Mas depois de um
tempo, Sirius se afastou e sorriu.

"Não significa que eu não quero que você tente..."

E Remus quase se dissolveu.

Demorou muito tempo. Tiveram que haver muito mais beijos, muito mais dedicação,
carícias gentis e sussurros acalorados; levou horas e horas. Mas como Remus poderia
reclamar, quando ele finalmente tinha Sirius suspirando em seus braços novamente?
Tão terno e tão, tão bonito.

Depois, deitaram exaustos, com calor e felizes. Remus sentiu como se todos os pelos
de seu corpo estivessem cantando; cada terminação nervosa zumbindo. Sirius se
enrolou em seu corpo e acariciou suas cicatrizes, como costumava fazer.

"Hmmm."

"Hmmm."

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"Remus?"

"Sim?"

"Posso te fazer uma pergunta?"

"Oh," Remus sorriu, "Se você realmente quer."

"O que você tem feito todos esses anos, Moon - desculpe."

"Não, está bem. Me chame de Moony."

"Moony." ele suspirou feliz, "O que você tem feito? Quando ligamos para todo
mundo, eles ficaram tão surpresos em saber de você quanto de mim. Todos disseram
que não o viam há muito tempo."

"Desde a guerra." Remus confirmou. "Desde Lily e James."

"Por que?" Sirius perguntou, franzindo a testa.

"Eu não aguentaria." Remus respondeu simplesmente. "Estar perto de alguém que
sabia o que tinha acontecido. Eu vi Mary uma ou duas vezes, mas ninguém mais. Eu
queria ficar sozinho."

Sirius balançou a cabeça, parecendo frustrado. "Eu não entendo você, Moony."

"Não," Remus sorriu suavemente, "Não, você nunca me entendeu completamente."

"Justo." Sirius aceitou.

Ele se deitou sobre Remus com todo o seu peso - embora não fosse muito. Era
realmente patético. Dois homens grandes e cheios de ossos, agarrados um ao outro,
ambos envelhecidos antes de seu tempo, e ambos tão perdidos.

Eles nunca se realmente tinham se entendido, não realmente.

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"Você sempre tentou, no entanto." Remus disse, sua boca encostada no cabelo de
Sirius. Ele passou um braço em volta dele e beijou sua cabeça. "Ainda sim, você me
entendia mais do que qualquer outra pessoa. Sempre será assim."

"Mesmo que eu tenha pensado que você fosse o-"

"Não precisamos falar sobre isso."

Sirius deu um meio suspiro, e Remus sabia que ele desaprovava, mas eles já tinham
falado o suficiente, por enquanto. Eles ficaram quietos por um longo tempo, e Remus
fechou os olhos.

Finalmente, Sirius falou.

"Mesmo que não falemos sobre isso, você não acha que devemos tentar perdoar um ao
outro?"

"Você soa como Dumbledore." Remus bufou.

"Ha." Sirius disse. "Sim, você está certo. Você acredita que voltamos a seguir as
ordens daquele velho idiota? Acho que não sei muito sobre perdão."

"Eu também não." Remus suspirou.

"Eu não sei se vale alguma coisa realmente, com vidas tão curtas quanto a nossa."
Sirius disse tristemente, "Eu acho que, neste momento, há apenas amor e ódio."

"Isso é muito fatalista da sua parte." Remus comentou. "Achei que eu deveria ser o
pessimista".

Sirius estremeceu levemente, o que Remus tomou por uma risada. Ele o apertou com
mais força e beijou seu ombro. "Amor e ódio." Ele murmurou, pensativo.

"Amor ou ódio, eu acho." Sirius esclareceu. "Você faz uma escolha."

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"É tão simples, então?"

"Sim. Eu acho que é." Sirius pegou sua mão sob o edredom. Ele olhou para Remus, os
olhos cinza gelado, mas tão penetrantes como sempre. Ele estava fazendo uma
pergunta.

Remus apertou sua mão em resposta,

"Amor." Disse.

E então ele o beijou.

554
OUT OF THE
BLUE
GRANT CHAPMAN
21 ANOS DEPOIS

MSKINGBEAN89
Capítulo 1 : Grant, 2016

Abril de 2016, Brighton.

"Ai meu Deus, meu herói! Você tem ideia do quanto eu te amo?” Marcus sorriu para
Grant como se ele fosse um oásis no deserto. O que ele meio que era, naquele
momento.

"Leite desnatado, sem açúcar", Grant sorriu, espremendo-se no meio da multidão e


colocando a xícara de café no balcão. "Como está indo?"

"Ocupado!" Marcus assentiu, levando o café aos lábios e tomando alguns goles,
agradecido, "Eu sei que tenho alguns funcionários aqui em algum lugar, mas só vejo
clientes há horas."

"Jamie deve chegar daqui a pouco, eu o fiz prometer."

“Ah, bom, Atif e Jon estão nos fundos contando o estoque se você quiser dar um oi.
Como foi sua manhã?"

“Tudo bem. Só papelada. Prefiro estar aqui.” Grant olhou em volta para a loja lotada.

O dia da loja de discos ainda parecia algo muito novo para Grant, mas ele era a favor
se isso significasse que a loja ficaria tão cheia. Pelo menos, sua conta não estaria no
vermelho esse mês, já que a loja estava dando lucro; Grant achava que nunca viveria
para ver o dia em que as lojas de discos parassem de fazer dinheiro, mas esse era o
século XXI.

Muitas lojas de discos estavam fechando, mas isso não estava no plano deles. O lugar
era muito especial para Marcus - ele o abriu com seu parceiro, John, no final dos anos
oitenta. Depois que John morreu, anos antes de Grant estar em cena, Marcus jurou que

557
a manteria aberta como um memorial. Essa era uma das coisas que Grant amava em
Marcus. Ele cumpria as promessas, mesmo que fossem sentimentais.

Ele e Grant se conheceram em 1999, em um encontro às cegas extremamente


embaraçoso. Eles tinham um amigo em comum que, aparentemente, estava tentando
juntá-los há séculos. No início, Grant ficou apreensivo. A essa altura, ele estava
solteiro há anos, havia se acostumado - mas ele deu uma chance, e graças a deus que o
fez, porque Marcus era, resumidamente, perfeito. Aparência italiana (por parte de
mãe) e olhos azuis islandêses. Mãos grandes. Ele era um pouco mais novo que Grant,
mas a idade não tinha sido um problema. No primeiro encontro eles falaram sobre
música e sobre os anos oitenta, e sobre perder alguém que você amava tanto. Então,
eles foram para casa e se agarraram no sofá como um par de crianças. Resumindo, foi
amor à primeira vista. E Grant não costumava acreditar nesse tipo de bobagem.

Ele deu um beijinho na bochecha de Marcus, em seguida, se levantou para colocar a


cabeça no pequeno almoxarifado, "Tudo bem aí, rapazes?"

Dois adolescentes estavam sentados no chão, um remexendo uma pilha de recibos,


coçando a cabeça, o outro carimbando 'Compre 1 e leve 1 grátis!' etiquetas em capas
de vinis.

“E aí, pai!” Atif olhou para cima, sorrindo para ele.

O coração de Grant inchou - isso acontecia sempre que um de seus meninos o


chamava de 'pai'. Eles não precisavam, ele nunca havia pedido. Ele e Marcus
cuidavam de Atif há dois anos, desde que ele tinha quatorze anos, e ele deu tantos
problemas no começo que Grant realmente sentia como se tivesse conquistado o
título. Jon estava com eles há apenas um mês e era um pouco mais novo que Atif,
então ele apenas olhou para cima e acenou com a cabeça. Grant sorriu para ele. Jon
era tímido e muito doce, até perder a paciência.

"Se divertindo?"

558
“Ah, sim, está uma verdadeira batalha de risadas aqui atrás.” Atif disse
descaradamente. Grant riu; ele adorava adolescentes, eles nunca mentiam para você.

“Mantenham o bom trabalho, vocês podem parar para almoçar à uma, venham para a
frente e eu vou dar algum dinheiro para vocês.”

Ele os deixou com seu trabalho. Eles gostavam disso; serem deixados sozinho
significava que eram dignos de confiança para supervisionar a si mesmos. Grant
geralmente achava que eles trabalhavam muito mais dessa maneira.

Quando voltou para a loja, Jamie havia aparecido e assumido o caixa. Marcus estava
atrás dele, ao telefone, uma mão sobre a outra orelha para cobrir o barulho. Grant deu
um tapinha nas costas de Jamie e recebeu uma carranca em troca. Jamie tinha
dezessete anos e era quase velho demais para ser adotado. Ele morava com eles
algumas semanas por ano desde os doze anos e, a cada vez, aparecia com um novo
conjunto de problemas. Porém, ele os respeitava, geralmente, e normalmente fazia o
que lhe era pedido.

Grant ajudou Jamie, assumindo os registros de ensacamento à medida que eram


cobrados, oferecendo um sorriso amigável enquanto entregava cada bolsa.

Marcus terminou seu telefonema e deu um tapinha no ombro de Grant, "Amor, era
Janine, do escritório."

“Deus,” Grant suspirou, “Outro caso de emergência?”

“'Receio que sim, seis anos de idade. O encontraram sozinho em casa, não conseguem
contactar os pais. Pode ser por algumas noites.”

"Seis é um pouco jovem", Grant franziu a testa, ainda ensacando discos. “Eles sabem
que já temos três.”

“Ele pode dormir no sofá-cama em seu escritório. Ou colocamos Jamie com…”

559
“Não vou mudar de quarto.” Jamie grunhiu, nem mesmo erguendo os olhos do caixa.
Marcus e Grant trocaram um olhar. Grant deu de ombros,

“Será o sofá-cama, então. Você quer que eu vá?”

“Eu vou, estou com as chaves do carro. Você consegue segurar a barra por aqui?”

“Com Jamie aqui? Com certeza,” Grant sorriu, dando tapinhas nas costas de Jamie
novamente. O adolescente deu de ombros, mas Grant o viu sorrir também.

Eles continuaram trabalhando por um tempo, a máquina de cartão não funcionava


bem, mas Jamie era o único que sabia como resolver isso de qualquer maneira. (Ele
também havia configurado o Wi-Fi deles no ano passado, e Grant ainda não fazia
ideia de onde ficava o roteador.) Era uma maneira muito agradável de passar um
sábado, ele pensou alegremente. Passando o tempo com os meninos, curtindo a
loucura de ter duzentos hipsters de Londres enchendo a loja. Era como a rua Carnaby
costumava ser - barulhenta, colorida e cheia de jovens. Então, do nada...

“ Muito engraçado, Lupin!" Ouviu a risada de uma garota perto dos fundos da loja.

Grant congelou, todos os pelos de seu braço se eriçando. Jesus Cristo, era como se
alguém tivesse andado sobre seu túmulo. Ele se sacudiu, não queria pensar em
túmulos. Mas aquele nome! Dificilmente era um nome comum... ele espiou através da
loja, mas estava muito cheia para que fosse possível distinguir alguém. Havia deixado
seus óculos em casa - Marcus estava sempre lhe perturbando para que marcasse logo a
cirurgia a laser, mas quando Grant teria tempo? Era horrível envelhecer.

“Ei,” Jamie estava cutucando-o com o dedo do pé de seu tênis, “Ei! Você está me
ouvindo?!"

“Desculpe cara, o quê foi?” Grant balançou a cabeça,

“Eu perguntei se você pode assumir? Eu preciso mijar.”

560
“Sim, vá em frente.” Grant assentiu, ainda um pouco distraído. O adolescente revirou
os olhos e se arrastou para a sala dos fundos, murmurando algo sobre Grant estar
ficando senil.

Grant limpou seus pensamentos e sorriu para o próximo cliente, "Fique à vontade,
tudo bem?"

A loja estava muito cheia para Grant começar a revirar seu passado, o que era bom,
porque ele tentava evitar olhar para trás se pudesse. Era melhor seguir em frente, era o
que dizia a seus meninos.

Ele atendeu os próximos cinco ou seis clientes com facilidade, mantendo-se atento a
qualquer agitação no almoxarifado enquanto repassava mentalmente uma lista das
coisas que a criança precisaria. Eles definitivamente tinham roupas de cama limpas - o
que era necessário quando se oferecia abrigo a crianças, qualquer um poderia aparecer
a qualquer minuto. Era com as roupas que ele estava preocupado - dependendo do
tamanho do garoto, poderia ser um problema encontrar um jeans limpo que servisse
nele.

Ele decidiu mandar Atif e Jon para o grande Tesco na hora do almoço, para ver se eles
poderiam comprar alguns lá. Porém, se fizesse isso, teria que fazer uma lista muito
clara e pedir para trazerem o recibo. Grant não se importava que eles pegassem parte
do troco para coisas como doces ou salgadinhos, mas Atif tinha um histórico de
embolsar dinheiro para coisas um pouco menos legais. Fazia um tempo desde que o
garoto havia começado a agir de acordo com a lei, mas Grant era sempre cauteloso,
porque ---

“Só isso, por favor.” A próxima pessoa na fila deslizou três discos pelo balcão, e o
coração de Grant deu um pulo. Aqueles dedos longos, nodosos nas articulações. O
corpo alto e esguio, como se ele tivesse crescido 25 centímetros uma noite e não
tivesse se acostumado com isso, o pomo de adão, os olhos verde-acinzentados. Grant
sabia que estava sendo completamente louco, mas não pôde evitar,

561
“Remus!”

Mas este não era Remus - como poderia ser? Por um lado, Remus Lupin estava morto
há quase duas décadas. Por outro, este homem era muito jovem, um recém adulto. E
ele tinha cabelo azul brilhante, e Remus Lupin nunca, nem em um milhão de anos,
tingiria seu cabelo - isso chamaria muita atenção para ele.

"Do que você me chamou?" O jovem deu-lhe um olhar estranho. A boca de Grant
abriu e fechou algumas vezes, antes que ele voltasse a si.

"Desculpe!" Ele disse, “Pensei que você fosse outra pessoa, foi um longo dia! Vamos
embrulhar isso, vamos...” ele pegou os discos, sentindo-se quente e frio por toda parte.

Felizmente, o garoto de cabelo azul não o questionou novamente, sua linda namorada
loira estava puxando seu braço, então eles saíram rapidamente. Grant não conseguiu
olhar para o menino novamente, era extremamente assombroso.

Jamie reapareceu ao seu lado, junto com os outros dois.

“Podemos ir almoçar agora?” Atif estava perguntando.

Grant só o ouviu pela metade, era como se tudo em seu cérebro de repente tivesse
desacelerado, e tudo o que ele podia ouvir era 'Do que você me chamou?' , e tudo o
que ele podia ver era aquele rosto cético e reservado que Grant conhecia tão bem que
quase doía.

“Pai? Ei! Pai?" Atif acenou com a mão na frente do rosto de Grant.

"O que? Pare, seu malandrinho”. Ele riu carinhosamente.

"Você está bem?" Os três garotos estavam olhando para ele estranhamente, “Você
ficou todo pálido e esquisito.”

"Eu fiquei?" Grant levantou a mão, passando-a por seu cabelo, só que ele estava
praticamente careca agora, e tudo o que sentiu foi sua própria pele pegajosa.

562
"Provavelmente o calor", disse Atif, "você quer um pouco de água?"

"Por favor", Grant assentiu, agradecido.

"Eu fico no caixa", disse Jamie de repente, empurrando-o para fora do caminho, "Vá e
sente-se um pouco."

***

"Você está bem?" Marcus perguntou bocejando, quando eles foram para a cama
naquela noite.

Eram quase onze horas, pois Marcus havia ficado preso na delegacia de polícia por
séculos enquanto tentavam resolver o novo garoto, Kieron. Os dois perderam o jantar,
o que perturbou toda a casa, e quando voltaram, Grant estava no meio de terminar
com a terceira guerra mundial - Atif e Jamie estavam constantemente discutindo sobre
de quem era a vez no playstation.

"Me sinto esgotado, como sempre", respondeu Grant. Ele estava sentado com seus
óculos, revisando as anotações sobre Kieron. “Eles não colocaram a maldita escola
dele aqui, como vamos pegá-lo na segunda-feira?!”

“Vou ligar para Janine pela manhã,” Marcus bocejou novamente. Ele se deitou e
fechou os olhos.

“Ele conseguiu dormir?”

"Sim, mas ele tem medo do escuro, eu acho." Marcus comentou, “Deixei a lâmpada
acesa e disse que era para o caso de ele querer ler. De qualquer forma, você está
bem?”

“Sim, eu disse que estava bem,” Grant murmurou, ainda folheando os pedaços de
papel que compunham o arquivo do caso de Kieron. Ele sempre os examinava de cabo
a rabo e, na maioria das vezes, eles eram assim: grampeados e com clipes para juntar

563
os papéis, caligrafia rabiscada, assinaturas faltando. Isso enlouquecia Grant, não era
de admirar que tantas crianças tenham caído no esquecimento.

“Atif disse que você ficou estranho, na loja.”

“O que? Não, eu só… ah, não é nada.”

"Você precisa de uma pausa?" Marcus rolou de lado, apoiado no cotovelo.

“Não, eu amo a minha vida.”

"Amor, mas você assume muitas responsabilidades, você sabe, eu sei que isso te deixa
feliz, mas na sua..."

"Diga 'na sua idade' e eu vou te esfaquear com esta caneta." Grant ameaçou, tirando os
óculos e colocando os papéis na mesa de cabeceira, “Eu me sinto tão em forma quanto
aos vinte. Na verdade, me sinto ainda melhor, eu era alcoólatra aos vinte anos.”

"Mmm, e agora você é apenas um viciado em trabalho." disse Marcus. Grant deu-lhe
um olhar, e Marcus levantou as mãos, “Eu sei, eu sei, os meninos não contam como
trabalho, mas ainda assim, se você estiver desmaiando no meio do dia..."

"Foi isso que ele disse?" Grant riu, “Ele é uma rainha do drama! Caramba, eu só
pensei que tinha visto alguém, só isso, fiquei surpreso. De qualquer forma, eu estava
errado, não estava de óculos.”

"Quem?"

"Hm?"

"Grant. Quem você achou que viu?”

Grant suspirou. Ele deslizou na cama e esfregou os olhos cansados. “Remus.”

564
Marcus não disse nada. Grant abriu os olhos e se virou para olhar. Ele tinha aquela
expressão no rosto, como se estivesse tentando pensar na coisa mais compreensiva e
responsável para dizer.

“Viu, eu disse que não era nada. Apenas um erro estúpido. Lembra daquela vez que
você me disse que viu Stephen Fry em Asda, e acabou que era apenas uma lésbica
muito alta?”

Marcus riu. “Ok, justo. Ainda assim, deve ter sido um pouco estranho?”

"Sim, foi. Mas foi apenas um erro.”

“O que o fez achar que era ele? A pessoa que você confundiu, quero dizer?”

Marcus não sabia como era a aparência de Remus. Isso não tinha sido culpa de Grant,
eles não tinham fotos de seu tempo juntos, elas ainda estavam naquele apartamento,
até onde ele sabia. E nada convenceria Grant a voltar para lá. Além disso, Grant era
péssimo em descrever pessoas, então tudo que Marcus sabia era 'não sei, mais alto que
eu, cabelo cacheado.'

"Ah, apenas algo sobre ele." Grant disse inutilmente.

"E isso realmente te chocou tanto assim?"

“Acho que sim.”

Houve uma batida forte contra a parede oposta. Marcus suspirou, "Jon e Atif estão
brigando de novo."

“Eles apenas brincando de luta livre.”

“Sim, mas eles não são mais criancinhas, eles vão atravessar a parede se continuarem
assim.”

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"Vou lá falar com eles, preciso de um copo d'água de qualquer maneira." Grant disse,
saindo da cama. Ele calçou seus chinelos e vestiu um de seus roupões.

"Vai voltar para a cama antes da meia-noite?" Marcus perguntou.

"Vou tentar."

Ele saiu do quarto, fechando a porta silenciosamente atrás de si. A luz do corredor
ainda estava acesa, e a luz do banheiro, que estava com a porta aberta, também. Ele
suspirou e desligou os dois, antes de olhar para o segundo quarto duplo.

Atif e Jon estavam deitados de lado, ainda completamente vestidos, chutando um ao


outro na interseção entre as suas camas.

“Ei!” Grant assobiou, “Se comportem, vocês dois! Vão acabar derrubando a casa.”

"Desculpe", Atif deu-lhe um sorriso vitorioso, "estamos apenas nos cansando."

“Se vocês estão com tanta energia, eu tenho cinco cestos de roupa para lavar.” Grant
retorquiu. “Agora coloquem o pijama e vão dormir!”

“Boa noite, pai.” Atif disse, tirando seus tênis.

“Boa noite, Sr. Chapman,” Jon sorriu timidamente, seguindo o exemplo.

"Boa noite meninos. Amo vocês dois."

Ele fechou a porta e desceu para a cozinha. Grant abriu a torneira e esperou que
esfriasse, então encheu um copo. Ele não voltou direto para o andar de cima, ainda
não estava cansado o suficiente, se sentia inquieto. Ele precisava pensar direito sobre
aquele garoto na loja mais cedo, mas também queria fingir que nunca tinha
acontecido. O que era uma marca registrada de Remus Lupin.

Grant encostou-se no balcão da cozinha e percebeu que não pensava em Remus há


muito tempo. Talvez até um mês inteiro. Ele podia ver a lua pela janela da cozinha,

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além da macieira no jardim dos fundos. Um crescente prateado brilhante - ela não
teria incomodado Remus.

Grant não tinha certeza se a lua estava aumentando ou diminuindo, havia parado de
rastrear isso há anos atrás. No entanto, ainda havia algumas memórias bastante vivas
ligadas a ela. Poucas pessoas tiveram a sorte de transar com um lobisomem na noite
anterior à lua cheia, ele ainda estaria pensando naquelas noites quando o mandassem
para o asilo de idosos.

O gato entrou e se esfregou nas pernas dele. Ele se abaixou para coçar atrás da orelha
dela, e ela ronronou apreciativamente.

Grant arrumou um pouco a cozinha. Esse deveria ser o trabalho de Jamie, mas ele
claramente não iria fazer isso. Ele só ficaria com eles mais uma semana de qualquer
maneira, e isso acontecia todas as vezes. O comportamento de Jamie sempre saia dos
trilhos quanto mais perto ele estava de ir para casa. Grant tentou conversar com ele
sobre isso, descobrir o que o estava incomodando, mas ele simplesmente se fechava.

Então Grant fez a limpeza, só para se manter ocupado. Ele pegou os pratos do jantar e
os empilhou na pia, amarrou o saco de lixo cheio demais e o substituiu, guardou as
canecas no escorredor.

Kieron poderia ficar com o quarto de Jamie quando ele fosse embora, Grant pensou
consigo mesmo - dependendo de quanto tempo Kieron fosse ficar com eles. Eles
geralmente não recebiam crianças pequenas, normalmente eram apenas adolescentes
problemáticos. Marcus disse que quando a polícia o trouxe ele estava sem sapatos, e
eles tiveram que incinerar o resto de suas roupas. Negligência. Se havia algo que
realmente deixava Grant furioso…

Mas você tinha que deixar esses sentimentos de lado e se concentrar na criança.
Porque as crianças não vêem as coisas dessa forma, elas aceitam qualquer coisa se
estiverem acostumadas àquilo. O truque era reinventar sua ideia de normalidade. Se
Grant e Marcus pudessem, pelo menos, dar um quarto a Kieron, então era um começo.

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Ao fechar a geladeira, um cartão-postal que estava preso com um ímã caiu, e ele teve
que se curvar e enfiar a mão embaixo do aparelho para pegá-lo de volta. Era de Nick -
um de seus filhos de muito tempo atrás, ele estava crescido agora, viajando pela
Austrália. Haviam outros cartões-postais, cartas e fotos grudados na geladeira -
crianças que se lembravam deles com carinho, que queriam manter contato. Marcus as
lia para Grant quando ele estava se sentindo mal. “Olhe todo o bem que você faz!” ele
diria.

Na maioria das vezes, funcionava, mas às vezes ele ainda se sentia inútil. Esse tinha
sido o seu normal há tempos atrás, e precisava fazer um esforço constante para livrar-
se desse sentimento.

As cartas de Remus não estavam na geladeira, é claro. Elas eram preciosas demais.

Grant esfregou os olhos e suspirou, exasperado. Ele não estava chegando a lugar
nenhum, estava apenas andando em círculos. Era hora de dormir, então. Encheu um
copo de água, apagou a luz e começou a subir as escadas.

Ele notou com satisfação que não havia luz - ou barulho - vindo de debaixo da porta
do quarto de Jon e Atif. Eles realmente eram bons meninos. No entanto, quando ele
passou pelo escritório, ele ouviu algo. Um som soluçante, úmido e ofegante. Ele
empurrou a porta entreaberta para olhar para dentro.

Kieron estava sentado na cama, braços em volta dos joelhos, olhos bem abertos. A
pequena lâmpada de leitura estava acesa, iluminando a mesa de Grant, o antigo
computador de mesa, as pilhas de papéis e o gabinete de arquivos. Não era um quarto
muito bom para um menino, mas seria apenas temporário.

“Tudo bem aí, rapaz?” Grant perguntou suavemente.

Kieron o olhou, suas bochechas molhadas. Ele parecia ter menos de seis anos, Grant
queria pegá-lo e embalá-lo como um bebê, mas era melhor adiar o afeto físico, pelo
menos até que tivessem se acostumado um com o outro.

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Grant entrou, deixando a porta um pouco aberta, certificando-se de que Kieron
pudesse ver a saída, se quisesse sair. “Assustador aqui, não é? Desculpe por você ter
ficado com o menor quarto."

Kieron não disse nada, apenas o observou. Grant levantou o copo de água,

"Quer que eu pegue uma bebida para você?"

Kieron balançou a cabeça, apertando o edredom com força contra seu corpo. Ele
estava vestindo uma camiseta velha de Marcus, que era enorme nele, mas era boa para
dormir. Eles arranjariam algumas roupas apropriadas pela manhã, se Janine dissesse
que podiam.

"Está quente o suficiente?"

Kieron assentiu.

"Só não consegue dormir, então?"

Outro aceno.

“Nem eu”, disse Grant, conspiratório. “Vou te dizer uma coisa, você se incomoda se
eu ficar aqui um pouco? Marcus gosta da luz apagada quando está dormindo, mas eu
odeio o escuro.”

"Ok." Kieron consentiu, soltando um pouco os lençóis. Seu cabelo havia sido cortado
bem curto, coitadinho. Eles não faziam mais isso, a menos que realmente precisassem.

Grant sentou-se na poltrona que havia pertencido a John, parceiro de Marcus. Ele era
um pouco mais velho que Marcus, baseado nas fotos que Grant tinha visto. Parecia um
daqueles velhos intelectuais que gostavam de grandes livros encadernados em couro e
usavam lenços de seda e um pouco de cosméticos para não parecerem tão velhos.

“Vou ter que viver aqui para sempre?” Kieron perguntou, sua voz muito baixa e fina.

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“Ainda não sabemos, mas você vai ficar aqui um pouco.” Grant odiava não poder dar
às crianças as respostas que elas mereciam. Ele sempre tentava ser muito honesto.

“Eles vão me mandar para a cadeia?”

“Não, rapaz, você não está com problemas.”

“Quem são os garotos grandões? Você é o pai deles?”

“Não, eu e Marcus apenas cuidamos deles, porque suas mamães e papais não podem.
Como você." Ele sorriu.

"Por que você faz isso?"

“Porque quando eu era muito pequeno, minha mãe também não era muito boa em
cuidar de mim. E eu me metia em muitos problemas o tempo todo, e não foi muito
legal. Então eu quero ajudar outros garotos agora.”

“Não gosto daqui.”

“Eu sei, não é sua casa. Como eu disse, você pode não ficar aqui por muito tempo.”

"Não, eu gosto desta casa", disse Kieron, "mas eu não gosto deste quarto."

"Ah, eu entendo!" Grant riu. “Por que isso, então?”

"Ali." Kieron apontou para debaixo da mesa. Não havia nada lá além de escuridão e
sombras. “Pode haver um cachorro e ele pode me morder.”

“Ah, claro,” Grant acenou com a cabeça como se isso fosse uma suposição muito
razoável (o que era, para uma criança de seis anos), “Vamos ver…” ele se levantou e
foi até a pilha de gavetas no canto. Elas estavam em rodas e giraram facilmente,
cabendo perfeitamente embaixo da mesa, preenchendo o espaço vazio. "Assim está
melhor?"

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Kieron assentiu. Ele se deitou, cautelosamente. Grant sentou-se na poltrona
novamente, bocejando.

“Eu também costumava ter medo de cachorros.”

"Você ainda tem?"

“Não. Eu vivi com um lobisomem e ele me curou.”

"Mesmo?!" Os olhos de Kieron se arregalaram novamente, sem medo. Grant sentiu


uma onda de afeto pelo rostinho doce. Ele adorava crianças.

“Realmente,” ele confirmou, “E deixe-me dizer, ele era uma das pessoas mais legais
que você poderia conhecer, e não era nada assustador. Ele gostava de chocolate e ovos
no café da manhã, e de ler livros e assistir televisão, e ele nunca mordeu ninguém.”

"Uau."

"Acha que consegue dormir agora?"

"Vou tentar." Kieron disse, resolutamente.

"Bom garoto."

"Estou encrencado?"

“Claro que não.”

“Às vezes eu sou muito travesso...” Kieron se espreguiçou e bocejou, fechando os


olhos.

“Eu não acho que você seja travesso. Acho que você é um menino muito bom que
passou por um momento muito difícil." Grant disse, seu coração doendo. Kieron
pareceu sorrir um pouco.

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Pouco tempo depois, o menino adormeceu. Grant ficou um pouco, para o caso de ele
acordar novamente. Eles o mudariam para um quarto adequado amanhã, havia
decidido. Jamie teria que se acostumar com isso.

Remus apareceu novamente. Pela centésima vez naquele dia, pelo que parecia. Puta
merda, Grant pensou consigo mesmo, e stamos em um clima nostálgico, não estamos?
Como ele não estava dormindo, pensou que poderia ceder. Ele se inclinou para o
fundo da estante, muito lentamente, para não perturbar Kieron, e tirou uma caixa de
sapatos da prateleira mais baixa. Abrindo-a em seu colo, ele mordeu o lábio. Todas as
suas coisas de Remus.

Não era muito, apenas algumas cartas, alguns rabiscos, endereços e números de
telefone, o menu para viagem do restaurante chinês favorito deles e uma cartela de
fósforos do primeiro bar gay de Remus.

Ele tirou a primeira carta do envelope. A caligrafia fina era tão familiar e, ao mesmo
tempo, tão estranha. Esta era de não muito tempo depois que eles se separaram.

Grant,

Espero que você esteja bem. Parece bobo escrever isso, mas é verdade. Eu realmente,
realmente espero que você esteja bem. Melhor do que bem.

As coisas estão caóticas aqui. Não posso dizer muito, como você sabe, mas estou bem,
e Sirius também. Passamos mais tempo com Harry, o que tem sido ótimo. Tivemos
que nos mudar temporariamente, então se você quiser visitar o apartamento, fique à
vontade, eu sei que você tem a chave. Só para você saber, coloquei seu nome na
escritura. Chame de seguro, ou um presente, se quiser.

Você tem um bom apartamento? Como está o trabalho? Tenho saudades de


conversar.

Amor,

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Remus.

Sim, Grant se lembrava agora. Sempre foi amor, naquelas cartas. Nos últimos dois
anos, Remus escreveu para ele todos os meses com amor. No início de 1998, as cartas
pararam e Grant soube. Às vezes, ele achava que havia sentido, lá no fundo, como um
fio sendo cortado. Remus estava morto.

Àquela altura, Sirius já havia morrido. Remus disse a ele. Depois de toda aquela
espera, eles não tiveram muito tempo no final. Ele não conseguia nem escrever as
palavras. Estavam abarrotadas no final da página, como um posfácio: Sirius não está
mais conosco. Se foi.

As cartas de Remus ficaram esporádicas depois disso, mas ele ainda mandava notas
breves, até o fio ser cortado.

Na época, Grant sofria seu luto de forma escrita. Ele reconheceu suas emoções, tomou
posse de sua tristeza. Quando queria beber, participava de reuniões anônimas de
alcoólatras e, quando precisava conversar, marcava aconselhamento. Ele teve tempo
para cuidar de si mesmo, mas teve o cuidado de não se retirar completamente.

Mas doeu, doeu por muito tempo. Ele se jogou no trabalho, e isso foi o suficiente por
um bom tempo. E então ele conheceu Marcus, e o sol finalmente apareceu.

O fato de Marcus ter perdido alguém também ajudou muito. Significava que os longos
silêncios não eram vazios e que as coisas mais difíceis não precisavam de explicação.
Quando Grant contou a Marcus sobre seu desejo de começar a dar abrigo a
adolescentes com vidas domésticas difíceis, Marcus foi completamente a favor, e foi
assim que Grant soube que era ele.

Eles já tinham a casa grande que havia sido deixada com John, havia um jardim ideal
para jogar futebol, e era perto do mar. Grant era capaz de fazer a maior parte de seu
trabalho em casa até então (pelo computador, como um maldito cientista!) e, no início

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dos anos 2000, ninguém olhava duas vezes para um casal de homens gays criando
crianças.

Bem, quase ninguém. As pessoas ainda eram idiotas a maior parte do tempo, e às
vezes havia comentários. Quero ver vocês mexerem comigo , Grant sentia vontade de
dizer a eles, eu sobrevivi aos anos setenta, não há nada que você tenha que possa
superar o que eu aguentei.

Nada nunca havia sido perfeito, nada que valesse a pena ter. E sua vida era, Grant
dizia a si mesmo, todos os dias - sua vida valia tudo, e ele a merecia. Ele raramente
pensava em outro tipo de vida, uma com magia, uma com...

Ele fechou a caixa de sapatos. Estava ficando com dor por estar sentado por tanto
tempo, e Kieron já estava dormindo. Grant levantou-se para sair e levou a caixa com
ele. Ele gostaria de ter uma foto. Assim ele saberia se aquele garoto na loja realmente
se parecia com Remus, ou se ele estava ficando velho e bobo.

Marcus estava roncando. Grant colocou a caixa de sapatos na mesa de cabeceira e


subiu na cama, dando um empurrão brincalhão na sua alma gêmea, "Ei", ele
sussurrou, "Vai pro lado, você parece a porra de um uroso."

“Grrr.” Marcus sorriu, sonolento, rolando para envolver Grant em seus braços,
enterrando o rosto em seu pescoço. Grant suspirou, relaxando. "Tudo bem, amor?"
Marcus murmurou.

“Ah sim,” Grant o apertou, “Perfeito.”

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Capítulo 2 : Grant e Teddy Lupin, 2016

"E aí," Grant entrou na loja silenciosa. Estava quase na hora de fechar, era o sábado
seguinte ao Dia da Loja de Discos, e dava para ver a diferença. Haviam um ou dois
clientes vagando, folheando as pilhas de '50% de desconto', mas nada como a
aglomeração da semana passada.

"Tudo bem?" Marcus sorriu para ele por trás do caixa. “Não esperava ver você aqui.”

“Tive que realizar uma inspeção, estava praticamente aqui na esquina, então pensei
em aparecer,” Grant deu a volta para beijá-lo na bochecha. "Não temos nada para
jantar, vim ver se você queria que eu comprasse alguma coisa da Tesco."

“Sendo sincero, eu ficaria feliz com peixe empanado e batatas fritas, estou muito
cansado para cozinhar esta noite.”

"Justo, onde está Kieron?"

“Nos fundos, com Mimi,” Marcus apontou o polegar para os fundos da loja.

"Eu só vou dizer um olá rápido..." Grant voltou para a pequena cozinha na parte de
trás. Havia um sofá velho lá, e Mimi - a garota que trabalhava na loja aos sábado -
estava sentada em uma ponta, o dedo deslizando pela tela de seu celular, enquanto
Kieron estava dormindo na outra ponta. "Como ele está?" Grant sussurrou.

Mimi olhou para cima e sorriu, “Está bem, sem problemas. Ele chorou um pouco
quando Marcus voltou para a loja depois do almoço, mas acho que ele só é um pouco
grudento. Eu o distraí.”

"Não há nada de errado em chorar", Grant se aproximou e afastou o cabelo do menino


de seu rosto, "Ele só precisa de carinho e um pouco de segurança, só isso."

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Kieron chorava com frequência, e era verdade, ele havia se tornado bastante grudento
na última semana. A professora da escola na qual o haviam matriculado enviou uma
nota para casa após o primeiro dia - Kieron está um pouco choroso, isso é algo para
ficar de olho. Logo ele irá amadurecer. Marcus teve que impedir Grant de marchar
direto para a escola com o objetivo de falar poucas e boas para a mulher. 'Um pouco
choroso' - como se isso fosse alguma surpresa depois do que o garoto passou! Quando
eles iriam parar de fingir que crianças não tinham sentimentos?

“Apenas chame Marcus se você precisar de alguma coisa, amor,” ele disse para Mimi,
“Muito obrigado, eu sei que não faz parte do seu trabalho ser babá.”

“Ele dá muito menos trabalho do que os clientes.” Mimi sorriu. “E é bem mais fofo. Já
recebeu alguma notícia do advogado?”

“Não, ainda é cedo demais para isso.” Grant balançou a cabeça.

A mãe de Kieron foi encontrada dois dias depois que ele foi colocado no sistema de
adoção. Ela mal tinha idade para ser considerada uma adulta e, pelo que parecia, não
estava em condições de cuidar dele. Ela havia sido trazida para o pronto-socorro
depois de ter tido uma overdose e, embora estivesse se recuperando, aparentemente
havia mencionado que gostaria de abrir mão dele.

Foi Marcus quem sugeriu dar seguimento ao pedido de adoção. Eles já haviam
pensado nisso mais de uma vez ao longo dos anos, mas era um processo difícil e
demorado, então Grant não gostava de criar esperanças. Ainda assim, eles estavam
tomando as medidas necessárias, e se a mãe realmente tivesse sido sincera, as chances
de dar certo eram bem altas.

Ele deixou Kieron dormindo e voltou pela frente. “Estou indo, então,” ele disse para
Marcus enquanto saía.

"Ah, sim, antes de você ir, eu tenho uma coisa para perguntar", Marcus disse sorrindo,
"Você tem um admirador secreto ou algo assim?"

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"Oi?" Grant apertou os olhos, confuso.

Marcus riu. “Tinha um garoto procurando por você. Não sabia seu nome, mas ele
sabia como você era. Ele era alto, cabelo azul.”

As entranhas de Grant se contorceram. “Não, não acho que conheça ele. Talvez seja
um dos amigos de Atif?

"Deus sabe", Marcus deu de ombros. "Vejo você em casa, então?"

“Sim, não vou demorar.”

Ele saiu da loja e começou a caminhar na direção do Tesco mais próximo. Não se
sentia bem, se sentia no limite. Por que o garoto de cabelo azul estava procurando por
ele? Não que não houvesse muitos jovens de cabelo azul em Brighton, poderia ser
uma coincidência...

Ele inclinou a cabeça e se forçou a continuar andando. Ele tinha acabado de decidir ir
para o Chippy em vez do Tesco quando percebeu alguém gritando do outro lado da
rua.

"Com licença? Senhor?!"

Ele parou e se virou.

"Senhor! Com licença?" O jovem estava correndo para alcançá-lo. Era ele.

Grant parou e endireitou sua postura enquanto o garoto se aproximava. Era


desconcertante; ele até tinha o mesmo andar esguio que Remus tinha, e quando eles
ficaram cara a cara, ele tinha o mesmo sorriso tímido. "Desculpe, não queria persegui-
lo desse jeito", disse o menino de cabelo azul. “Só que eu estive sentado naquele café
por cinco horas esperando você voltar.”

Ele falava dez vezes melhor do que o Remus com quem Grant crescera, que tinha um
sotaque puro de Essex mesmo depois de anos na escola particular.

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"Posso ajudar?" Grant perguntou cautelosamente.

"Er... você me chamou de uma coisa, semana passada, na loja."

Grant não sabia o que dizer.

"Você me chamou de Remus, não foi?" O menino pressionou.

"Desculpe", disse Grant, querendo recuar, "Eu não sei o que eu estava pensando-"

“Ele era meu pai.”

Jesus Cristo . Ele meio que deveria ter sabido, mas não quis acreditar. Ele não sabia o
que dizer.

O garoto coçou a cabeça (oh, Remus) e pareceu relutantemente tímido, “Você o


conhecia, certo? Você deve tê-lo conhecido, quero dizer, quantos Remus existem? E...
me disseram que eu pareço um pouco com ele."

"Você parece", disse Grant, sua boca seca, "Você é idêntico a ele."

O rosto do menino se iluminou. No entanto, Grant notou, seu nariz era diferente, um
pouco mais curto, mais arrebitado. Isso fazia com que fosse mais fácil olhar para ele.

"Você também conhecia minha mãe?"

Aquilo doeu como uma punhalada, ele não esperava por isso. Obviamente o garoto
tinha vindo de algum lugar , mas ainda assim.

"Não", Grant balançou a cabeça. Ele tentou sorrir, "Ela deve ter vindo depois do meu
tempo."

"Olha, podemos tomar um café ou algo assim?" O garoto perguntou sério, com as
mãos nos bolsos, balançando para a frente na ponta dos pés. “Eu sei que isso é
estranho, mas se você puder me contar algumas coisas sobre meu pai…”

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"Eu não sei", disse Grant, "foi há muito tempo."

“Isso é ainda melhor”, disse o menino, “a maioria das pessoas só o conheceu por
pouco tempo. Er... eu não sei se você sabia, mas muitos dos amigos da escola dele
morreram...”

"Eu sei." Grant respondeu sombriamente. "E ele... Quando foi?"

"Oh. Hum, 1998. No dia dois de maio."

Grant assentiu. Parecia certo. Isso foi mais ou menos quando começou a doer.
Inesperadamente, seus olhos se encheram de lágrimas depois de todos esses anos. O
garoto pareceu preocupado,

"Desculpe! Desculpe, eu não sabia que você não sabia…”

"Eu sabia", disse Grant enquanto enxugava os olhos rapidamente, "Eu sabia, eu só...
Nós não nos víamos há algum tempo."

“Podemos ir a algum lugar e conversar? Por favor?"

Como Grant poderia dizer não? No final, eles foram para a praia. Era bastante
anônimo, e era um dia frio então não haveria ninguém para espiar. Eles compraram
um chá cinza em uma van no calçadão que era servido em uma xícara de isopor, então
se sentaram em um grande banco vitoriano de ferro forjado com vista para o mar.
Grant fez uma ligação rápida para Marcus em seu celular,

“Oi querido, fui chamado no trabalho... Não vou chegar muito tarde, você vai ficar
bem com os meninos? Ok. Não. Sim. Tudo bem, vejo você mais tarde, também te
amo.”

O garoto esperou pacientemente. Grant guardou o telefone, sentindo-se mal por mentir
para Marcus. "Desculpe, só queria saber se estava tudo bem."

“Quantos filhos você tem?”

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“Três, no momento. Nós adotamos.”

"Isso é legal."

"Desculpe por não ter perguntado, qual é o seu nome?"

"Teddy, Edward, mas todo mundo me chama de Teddy."

"Grant", eles apertaram as mãos.

Ele estava vestindo skinny jeans preto, rasgado nos joelhos, suas pernas eram
incrivelmente longas. Seu cabelo azul brilhante estava empilhado em cachos soltos no
topo de sua cabeça, os lados haviam sido cortados com máquina e ele usava uma
camisa xadrez vermelha, abotoada com cuidado. Ele era muito mais moderno do que
Remus, que havia começado a se dedicar ao veludo cotelê desde bem novo.

"Quantos anos você tem, quero dizer, quando você nasceu?"

“1998. Eu era apenas um bebê quando mamãe e papai…”

“Deus, sua mãe também? Sinto muito."

“Tenho orgulho deles.” Teddy disse, levantando o queixo ligeiramente.

"Eu não sabia que Remus tinha se casado..."

“Foi um casamento pequeno, só há uma foto,” Teddy enfiou a mão no bolso e tirou
uma carteira. Ele abriu e ofereceu a Grant.

Grant sabia que ia doer, mas se forçou a olhar. Era uma daquelas imagens mágicas, ela
se moveu. Lá estava Remus, quase como Grant se lembrava dele, só que mais cansado
e mais magro. O sorriso era genuíno, no entanto. Ele estava radiante e isso
transparecia para fora da fotografia, os olhos se enrugando do jeito que faziam quando
ele estava feliz. A jovem - muito jovem, na verdade - tinha um rosto bonito e travesso,

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e o mesmo nariz curto e arrebitado de Teddy. Como isso aconteceu, querido? Grant
pensou consigo mesmo. Ela deve ter sido uma em milhão.

Então, ele viu a data no verso. 1997.

"Eles se casaram depois que Sirius morreu." Grant disse, meio para si mesmo. Então,
tudo fez um pouco mais de sentido.

"Sirius Black?" Teddy parecia surpreso, "Sim, suponho que sim, acho que ele foi
morto em 1996... Você o conhecia também?"

"Só um pouco."

“Na verdade, sou meio que parente dele, pelo lado da família da minha mãe.”

Grant assentiu, como se achasse isso interessante, mas simplesmente não sabia o que
dizer. “Então,” ele disse, um pouco trêmulo, “O que você quer saber?”

“Ah, qualquer coisa!” Teddy disse, os olhos brilhantes e afiados. Eles pareciam
marrom-esverdeados na semana passada, mas Grant ficou surpreso ao ver que hoje
eles pareciam muito mais azuis, quase tão brilhantes quanto seu cabelo. Um truque da
luz, talvez. “Eu quase não sei nada sobre meu pai, só quero saber como ele era. As
pessoas dizem que ele era quieto?”

"Ele poderia ser." Grant sorriu, com carinho, “Mas às vezes ele era tão barulhento.
Mesmo quando não estava falando. E ele gostava de falar, ele era engraçado, Jesus
Cristo, ele era tão engraçado. E muito inteligente. Um nerd idiota, na verdade.”

"Mesmo?"

“Sim, idiota arrogante. Ele sempre estava certo também, me deixava louco.”

Seu telefone tocou novamente, e ele o verificou rapidamente. Não era nada muito
importante, uma mensagem de Marcus dizendo que ele estava em casa.

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“Desculpe”, disse Teddy, “sua esposa quer você em casa?”

"Marido." Grant disse sem pensar, enquanto colocava o telefone de volta no bolso.

“Ah, merda, desculpe,” Teddy piscou, “eu não deveria ter presumido nada.”

"Tudo bem", Grant deu de ombros, ele passou metade de sua vida fazendo essa
correção, "E ele não precisa de mim em casa ainda, está tudo bem."

“Então... onde você conheceu meu pai? Na escola trouxa?”

Caramba, ele não ouvia a palavra com T há algum tempo. “St Edmund's”, disse ele,
“Foi onde seu pai cresceu, antes de ir para aquela escola. Era um lugar para meninos
que tinham problemas. Coisas comportamentais, você sabia sobre isso?”

“Não,” disse Teddy, parecendo confuso. “Ele também não tinha pais?”

Grant se sentiu terrível - por que isso havia se tornado problema seu? Por que ele tinha
que ser a pessoa que deveria explicar esse pedaço da vida de Remus? Típico, ele
sempre tinha que limpar a bagunça no final.

“O pai dele morreu... se matou, quando Remus era pequeno. A mãe dele não
aguentou, então ele foi despachado para... não havia nada de errado com ele,
entenda,” Grant explicou rapidamente, “eu acho que ele só estava lá por que... você
sabe o que mais ele era?”

“Ele era um lobisomem, eu sei disso.” Teddy assentiu, sério.

“Certo,” Grant assentiu, aliviado, “Certo, bem, é claro que ele precisava estar em
algum lugar seguro. De qualquer forma, foi lá que nos conhecemos. Eu estava lá no
verão quando ele voltou da escola. Er... acho que isso foi em 1975.”

"Ok, então você não o conheceu por muito tempo então...?"

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“Nós também moramos juntos.” Grant disse, rapidamente. “Nós dividimos um
apartamento em Londres. Nos anos oitenta."

Ali, pronto, ele havia dito. O garoto poderia entender o que quisesse a partir disso.

Teddy olhou para ele por um tempo. “Eu não sabia que ele havia morado em Londres.
Antes de conhecer minha mãe, quero dizer.”

"Sim. Por doze anos."

“Oh...” Teddy olhou para o mar cinza concreto. “Desculpe, é estranho, eu esqueço...
sabe, meu pai era bem mais velho que minha mãe. Eu esqueço que ele teve todo esse
tempo antes de conhecê-la.”

"Claro." disse Grant. Ele entendia. Para uma criança da idade de Teddy, o mundo
havia começado a partir do momento em que ele nasceu; pais não tinham vidas
pessoais.

Teddy ficou quieto por um tempo, pensando muito. Ele parecia mais jovem do que
Remus naquela idade, mas havia uma infinidade de razões para isso. Remus começou
a ficar grisalho aos quinze anos, e mesmo sem a besta mensal lhe destruindo, ele teve
uma vida difícil. O rosto macio e levemente sardento de Teddy não possuía nenhuma
linha de preocupação. Grant se confortou ao notar, esperando que isso significasse que
ele teve uma infância tranquila. O tipo de infância que as crianças mereciam.

“Ele tinha um emprego?” Teddy perguntou finalmente.

“Foi difícil para ele, por causa do problema dele.” Grant disse, “Mas ele trabalhou por
pouco tempo, corrigindo provas, coisas assim. E ele foi professor por um ano em sua
antiga escola.”

“Hogwarts.” Teddy disse carinhosamente.

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"Certo." Grant assentiu. “Mas não posso dizer muito sobre isso. Ele manteve esse lado
de sua vida separado, ele poderia ser muito reservado.”

“É, isso eu sei,” Teddy bufou, balançando a cabeça, “eu fui criado pela minha avó,
mãe da minha mãe, então eu sei muito sobre ela. Os únicos que realmente conheciam
meu pai são meu padrinho e outras pessoas que lutaram na guerra. Quero dizer, eu
nem ao menos sabia sobre o lugar em que ele havia crescido?! Ele é um mistério…”

“Não o culpe,” Grant disse, esperando que ele não soasse muito condescendente, “Ele
teve uma vida muito difícil, depois que ele perdeu James e Lily, e Sirius foi para a
prisão. Ele nem gostava de sair do apartamento, eu costumava falar para ele dar uma
volta e se esticar, mas como eu disse, ele podia ser tão teimoso. Se Remus se decidisse
sobre alguma coisa, não havia muito que você pudesse fazer a respeito.”

Ele olhou para baixo rapidamente, as lágrimas se formando novamente. Apesar de


tudo, era bom falar sobre isso, se sentia grato.

“Você tem alguma foto, talvez?” Teddy perguntou esperançoso.

"Não, desculpe", Grant balançou a cabeça, enxugando os olhos e fungando. “Todas


elas estão no apartamento, havia uma garagem para a moto de Sirius, acho que ainda
está tudo embalado lá.”

“Oh,” Teddy disse, “Entendo, então você morava com Sirius e meu pai?”

"Na verdade, não," Grant balançou a cabeça, sabendo que ele estava em gelo fino,
"Primeiro, o apartamento era de Sirius e Remus. Eu fiquei lá enquanto Sirius estava na
prisão, e então... eu fui embora e vim para cá em 1995."

“Sirius e papai eram próximos, então? Se eles moraram juntos, quero dizer. Eu sabia
que eles eram amigos, Harry me contou tudo sobre os marotos.”

“Eles eram próximos.” Grant falou com cuidado, “Eles se amavam muito”.

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Teddy deu-lhe um olhar engraçado. Porra, isso era difícil. Grant se sentia dividido.
Isso realmente importava de qualquer maneira? Esse menino não sabia quase nada
sobre seu pai, mas isso significava que ele deveria saber sobre tudo? Talvez Remus
não fosse querer que ele soubesse. Embora, Grant supôs, Remus não tinha mais
nenhum poder sobre isso. Você não deveria ter ido embora e morrido, seu idiota
imbecil. Grant pensou amargamente. Ficou surpreso ao perceber que talvez ainda
estivesse com raiva sobre o acontecido.

“Você sabe mais do que está me dizendo.” Teddy constatou, sem rodeios.

Grant não respondeu, porque sabia que tinha sido pego. Esse era seu problema, ele
nunca sabia quando calar a boca sobre coisas que não eram da sua conta.

“Sinto muito,” Teddy franziu a testa, “Pode me dizer novamente como exatamente
você o conheceu?”

"Nós moramos juntos", disse Grant com firmeza.

“Sim, você disse isso, mas... olhe, o que estou perdendo aqui? Você morou com ele
por doze anos, só vocês dois?”

"Sim, nós moramos, mas..."

“--e não havia mais ninguém, ele não tinha outros amigos, ou... ou namoradas?”

Aí está , pensou Grant, com uma sensação de estar afundando. Ele entendeu.

"Não." Grant respondeu. Ele encontrou os olhos de Teddy corretamente, “Ele não
precisava de ninguém além de mim. E eu não precisava de ninguém além dele.
Entendeu?"

“Eu...” Teddy desviou o olhar, seus olhos correndo pela paisagem, perseguindo
pensamentos.

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“Olha, garoto, realmente não é o meu lugar, eu não conhecia seu pai no final, eu não
sei como as coisas mudaram para ele, ou como ele conheceu sua mãe, ou qualquer
coisa assim. Quem sabe o que aconteceu depois que ele perdeu Sirius, quero dizer…”

“Espere, Sirius ?! Sirius e meu pai?”

Merda . “Sim,” Grant disse, se desculpando, “Isso. Desde que eram crianças."

“Merlin.” Teddy esfregou a nuca. "Isso é... quero dizer, Harry nunca me contou nada
disso, ele é meu padrinho."

"Provavelmente não sabia," Grant deu de ombros, "Como eu disse, Remus era muito
reservado."

Não havia desculpa para isso. Esse sempre foi o problema com Remus, muitos rostos
diferentes em um único homem. Se você pedisse a cem pessoas que o conheciam para
descrevê-lo, provavelmente sairia pensando que estavam falando de cem pessoas
diferentes. Sirius provavelmente teve um namorado completamente diferente de
Grant. E o homem que se casou com a mãe de Teddy... bem, quem sabe? Grant
realmente se sentia mal pelo garoto. Ele desejou que houvesse algo que pudesse fazer.
Algo para ajudá-lo a se sentir mais perto de seu pai. Remus merecia ser conhecido.

“O apartamento em Londres,” Grant disse de repente, “é melhor você ficar com ele. A
garagem também. Eu não preciso de nada disso, eu vou te dar o endereço. Está no
meu nome, mas... você deve ficar com as chaves.”

"Você não tem que-"

“Você pode vender ou ficar com ele, o que quiser.” Grant continuou, entusiasmado
com a ideia. Ele estava se agarrando ao apartamento por motivos sentimentais, mas
nunca planejou voltar lá. O filho de Remus deveria tê-lo, isso era certo, adequado.

Ele enfiou a mão no bolso, pegou as chaves e rabiscou seu nome e dois endereços no
verso de um recibo antigo. “Aqui, esse é o apartamento, pode haver alguma mágica

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nele, não faço ideia, talvez seria melhor você levar alguém com você … e esse sou eu,
Grant Chapman-Scott, caso você precise de mim para acertar alguma papelada.
Embora eu suponha que isso não vai acontecer, ahn, vocês têm seu próprio sistema.”

"É... Olha, você tem certeza?"

“Ele iria gostar que você o tivesse,” Grant insistiu, “Honestamente. Nunca foi meu. E
ele teve muitas lembranças felizes lá. De verdade.”

Eles se levantaram para ir embora pouco depois disso. Teddy apertou sua mão
novamente. Ele era tão educado e polido, Grant pensou que Remus riria muito disso.

"Posso... er... posso manter contato?" Ele perguntou timidamente.

“Sim,” Grant respondeu surpreso, “Se você quiser. Mas nada de corujas.”

Teddy riu, “Eu tenho um telefone, não se preocupe. Obrigado por conversar comigo."

“Desculpe pela surpresa desagradável.”

"Ah não! Quero dizer… É uma surpresa, mas não desagradável. Na verdade, é legal.
Ele parece um pouco mais real agora. Eu tinha essa ideia na minha cabeça de que ele
foi um herói de guerra martirizado…”

"Oh, ele era isso também", Grant riu.

Ambos sorriram um para o outro, e os olhos de Teddy se enrugaram nos cantos. Eles
pareciam marrom-esverdeados novamente.

"Ele teria gostado do cabelo", Grant falou de repente. “Ele teria te amado
inteiramente, mas teria pensado que o cabelo é muito legal.”

Os olhos de Teddy brilharam um pouco, e ele olhou para baixo, esfregando a nuca.
“Obrigado, Grant. Foi bom conhecê-lo."

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Ele se afastou. Grant o observou e, por um momento, ele se permitiu fingir. Oh meu
querido. Ele pensou, eu não sinto sua falta nem um pouco.

***

Um mês depois…

"Pai! Pai! Olha o que eu desenhei!”

"Grant? Onde deixei minhas chaves?”

“Ei, pai, eu e Jon podemos ir até a praia?”

"Meu Deus, vocês podem me dar um minuto..." Grant fechou a porta da frente atrás de
si. Apesar de tudo, ele não estava irritado. Estava em casa, era barulhento e
bagunçado, e era uma loucura, mas era sua.

Ele pegou o desenho de Kieron primeiro. Era um grande animal peludo com dentes
afiados que estava sorrindo e lendo um livro. "Uau!" Ele disse, beijando o topo da
cabeça do menino, “Mais uma obra de gênio! Vai direto para a geladeira, eu acho... eu
estou com suas chaves, amor, desculpe, deixei as minhas no trabalho.”

Ele jogou as chaves do carro para Marcus enquanto entrava na cozinha, então se
dirigiu a Atif. “Você pode ir à praia, mas volte antes que escureça, e não se meta em
problemas , me ouviu?” Ele deu aos dois adolescentes um olhar severo. Eles
prometeram e correram escada acima para se trocar.

"Quer um pouco de chá?" Marcus perguntou.

"Meu heroi!" Grant caiu no sofá, exausto.

"Há uma encomenda para você, está na mesa de café."

Grant se sentou e se inclinou para pegar a caixa de papelão que repousava em cima de
todas as obras-primas de Kieron, dos deveres de casa de geografia de Jon e dos jornais

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dos últimos seis meses. O nome e o endereço estavam escritos à mão, mas Grant não
os reconheceu. Talvez fosse o capacete de bicicleta que havia comprado para Kieron,
mas a caixa era muito pesada para isso.

Ele começou a abri-la ao acaso, e então engasgou quando viu o que havia dentro.
Fotografias. Fotos que ele não via há anos e anos, algumas das quais ele havia se
esquecido completamente.

Estavam todas meio bagunçadas - grandes e pequenas, pretas e brancas e colorido,


algumas ainda no envelope de fotos de Boots. Um pequeno bilhete estava
cuidadosamente dobrado em cima, escrito em tinta verde escura.

Grant,

Encontrei-as no apartamento e pensei que poderia gostar de algumas. Há discos


também - meu pai tinha bom gosto!

Você estava certo, ele teve muitas lembranças felizes aqui. Parece que você também, e
parecia injusto manter tudo só para mim.

Muitas felicidades,

Teddy Remus Lupin.

Os olhos de Grant se encheram de lágrimas enquanto ele vasculhava todas as fotos.


Eram como um tesouro. Lá estava ele em seu uniforme de futebol, quando ele jogou
naquele time de Londres - Remus havia tirado a foto principalmente para tirar sarro
dele. Grant estava apontando dois dedos para a câmera, rindo. Outra foto era de sua
sala de estar logo antes de um protesto, todos seus antigos amigos socialista
debruçados sobre cartazes com pinturas e posters, e Remus, vindo da cozinha com
uma bandeja de chá, dando aquele sorriso irônico, sua cabeça baixa. Grant lembrava-
se de estar do lado de fora do apartamento e de ter tirado a foto apenas para usar a
última do rolo da câmera antes de revelar todas. Ele havia chamado Remus, que estava

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sentado meio fora do parapeito da janela, fumando um cigarro. Na foto, Remus estava
olhando para ele, cigarro entre os lábios, a sobrancelha erguida. Puro sarcasmo.

Havia árvores de natal e bolos de aniversário e passeios pelo Regents Park, a


formatura de Grant na universidade e até uma manhã preguiçosa de domingo na cama.
E todos os rostos que Remus já teve. A gravidade e a leveza dele.

Grant balançou a cabeça, enxugou o rosto na manga e gritou.

“Marcus?”

"Sim?"

"Amor, venha aqui, eu quero te mostrar uma coisa."

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Família Black
Sirius Black Fineas Nigellus Black Ursula Elladora Black
1845-1853 1847-1925 Flint 1850-1931

Sirius Black ll Hesper Cygnus Black Violetta Belvina Black Herbert ArcturusBlack Lysandra
1887-1952 Gamp 1889-1943 Bulstrode 1886-1962 Burke 1884-1959 Yasley
2 Filhos
1 Filha
Arcturus Black Melania Lycoris Black Regulus Black Pollux Black Irma Cassiopeia Black Dorea Black Charlus Callidora Black Harfang Charis Black Caspar
1901-1991 Macmillian 1904-1965 1906-1959 1912-1990 Crabbe 1915-1992 1920-1977 Potter 1905- Longbottom 1919-1973 Crouch
1 Filho 1 Filho 2 Filhos
1 Filha 1 Filha
Lucresia Black Ignatius Orion Black Walburga Black Cygnus Black Druella
1915-1982 Prewett 1929-1979 1925-1985 1938-1992 Rosier

Bellatrix Black Rodouphus Narcissa Black Lucius Removidos da Família Black


Regulus Black
1951-1998 Lestrange 1955- Malfoy 1- Isla Black casou com um nascido trouxa Bob Hitchens
1961-1979
1959-1996
Draco Malfoy Astória 2- Phineus Black casou com uma "amante do direito dos trouxas"
1980- Greengrass 3- Marius Black era um aborto
Scorpius Malfoy 4- Cedrella Black casou com Septimus Weasley
2006-
5- Alphard Black deu ouro a Sirius Black lll quando o mesmo fugiu
6- Andrômeda Black casou com um nascido trouxa Edward Tonks
7- Sirius Black lll fugiu de casa e era um traidor do sangue
Família Tonks Família Lupin
Andromedra Black Ted Tonks Lyall Lupin Hope Howell
Nymphadora Tonks Remus Lupin Família Weasley Família Potter
1973-1998 1960-1998

Teddy Lupin Fleamont Potter Euphemia Potter


1998-
Cedrella Black Septimus Weasley
1920-1978 1921-1981

Arthur Weasley Molly Prewett James Potter Lily Evans


1950- 1949- 1960-1980 1960-1980

Willian Weasley Charles Weasley Percy Weasley Fred e George Weasley Ronald Weasley Ginervra Weasley Harry Potter
1970- 1972- 1976- 1978- 1980- 1981- 1980-

James Potter Albus Potter Lily Potter


2004- 2006- 2007-

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