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Crimson Rivers

Livro Dois: Memorial Quarternário

ZEPPAZARIEL
TRADUÇÃO: ADARA MARQUES
CRIMSON RIVERS

Porque Regulus é a espada que Sirius pega.


E a espada pela qual Sirius cai.

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ZEPPAZARIEL

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TRÊS MESES DEPOIS

Lily cai no tapete com um grunhido, toda a respiração sendo empurrada de


seus pulmões de uma só vez com o impacto. Kingsley está sobre ela,
sobrancelhas levantadas.

"Você não luta limpo," Lily reclama.

"Sim, bem, a guerra também não é limpa," lembra Kingsley.

Lily franze os lábios. "Só perguntei onde você conseguiu o brinco. Você
poderia ter dito que não queria me contar."

"De pé, Red," Kingsley diz, segurando sua mão em direção a ela. O brinco
que ela está se referindo brilha em sua orelha direita, dourado e brilhando sob
as luzes do teto. Ele não tinha ele ontem. Lily tem suas suspeitas sobre como
ele conseguiu.

"Sabe, Sybill vai gostar," Lily aponta levemente enquanto ela pega a mão
dele, deixando-o puxá-la de pé.

Kingsley apenas cantarola, expressão neutra.

"Ela já viu?" Lily tenta novamente, pulando nas pontas dos pés enquanto
eles se afastam. Kingsley não responde a ela; ele apenas sacode os braços. "Ela
vai achar sexy."

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"Lily," Kingsley diz, sua voz baixa e suave, mas há um pequeno sorriso se
contorcendo no canto de sua boca.

Lily ri. "O quê? Ela vai."

"Você está de bom humor hoje," observa Kingsley, levantando as mãos


frouxamente na frente dele.

"Mm, bem, seu brinco acabou de me dar uma boa notícia," diz Lily,
abrindo um sorriso enquanto levanta as mãos também. Kingsley suspira e ela
o apressa.

Apesar de todo o treinamento que Lily fez nos últimos três meses, ela
ainda não pode vencer Kingsley, embora não por falta de tentativa. Lily leva o
treinamento muito a sério, raramente—ou nunca—brincando e sempre
focando rigorosamente. Isso não é um jogo; isso é uma preparação para o que
está por vir, e ela não vai levar isso com ânimo leve. Kingsley é seu principal
treinador, mas ela trabalhou muito com Poppy, especialmente com o lado
médico das coisas em mente. É difícil e cansativo, mas satisfatório também.

Isso dá a ela um propósito.

No entanto, toda vez que suas costas batem no tapete, Lily se pega se
perguntando o que diabos ela está fazendo. Às vezes ela se pergunta isso só
para lembrar sua resposta, sempre a mesma.

Por Remus.

Pela família dela.

Pela guerra, para que um dia—algum dia—todos conheçam a paz e todos


sejam livres.

Isso é amor, à sua maneira, ela pensa. Amor por coisas que ela não tem de
verdade, então não pode ser tirado dela. Tudo pelo que ela luta é uma força,
não uma fraqueza.

Exatamente como Dumbledore gosta.

"Melhor," Kingsley elogia quando Lily, depois de cair no chão,


imediatamente rola para seus pés sem pausa, ainda pronta.

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"Eu sei," Lily diz, mantendo-se quieta enquanto ele se aproxima, esperando
a abertura. Kinglsey nunca lhe dá uma; sua forma é perfeita, e não há dúvida
em sua mente de que ele é o melhor lutador comparado a literalmente
qualquer outro dentro da Fênix. Ele também mantém a cabeça fria, mesmo
em uma briga, o que provavelmente o torna inestimável para Dumbledore
também. Há uma razão para Kingsley ter uma posição tão alta na Ordem.

"Você está pensando demais," murmura Kingsley. Isso é a coisa dele. Ele
está sempre calmo, sempre focado em qualquer tarefa que lhe foi dada,
orientado pelo dever e orientado para os objetivos. Nada o atinge, não
importa a situação. Nada.

"Eu não posso evitar que meu cérebro esteja sempre funcionando, King,"
Lily responde, exasperada. "Mas eu estou melhorando, certo?"

Kingsley assente. "Você está. Ainda hoje, você mostrou sinais de melhora.
Você quer parar e ir para o campo?"

"Sim!" Lily deixa escapar imediatamente, animando-se.

"Eu pensei que sim," diz Kingsley, um sorriso carinhoso brilhando em seu
rosto quando ele deixa cair as mãos.

"Então, o brinco," Lily reflete, levantando as sobrancelhas para ele


enquanto eles saem da sala de treinamento.

"Deixe pra lá," Kingsley murmura.

Lily olha para ele. "Absolutamente não."

Kingsley não responde, sua mão subindo para puxar o lóbulo de sua orelha
enquanto eles caminham pelo complexo, descendo para os níveis mais baixos.
Seus dedos se enrolam ao redor do brinco, bloqueando-o de vista, mas Lily
percebe com crescente interesse que ele deixa cair a mão assim que Sybill
aparece. Ela tem suas suspeitas sobre como ele conseguiu, mas agora tem suas
suspeitas sobre por que ele conseguiu. Ela estava brincando antes, sobre Sybill,
mas talvez...

"King!" Sybill suspira de prazer assim que percebe. Seus olhos brilham
imediatamente quando ela se afasta de Wren—com quem ela estava andando
pelo corredor—para balançar para frente e olhar boquiaberta para a orelha de

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Kingsley. Ela recua, olhando para ele incrédula, como se nunca o tivesse visto
antes. "Isso é um—"

"Shh," Lily sibila rapidamente, lançando-lhe um olhar e olhando ao redor.


Eles vão tirar isso dele se descobrirem sobre isso, e Sybill não é exatamente
quieta.

"Você está tão sexy," Sybill informa a Kingsley, assim como Lily sabia que
ela faria. "Eu quero um. Você fez isso sozinho? Você vai fazer para mim?"

"Oh, eu tenho certeza que ele adoraria fazer para você," Lily diz com uma
ironia divertida, porque ela conhece aquele olhar nos olhos de Kingsley, e sim,
suas suspeitas estão corretas. Ela se pergunta quanto tempo... Seu coração dá
uma pequena pontada. Ela espera que não há muito tempo, pelo menos não
antes de seu treinamento começar, porque isso significaria que ele teve que ver
Lily e Sybill juntas.

"Lily e eu temos que ir," Kingsley anuncia suavemente, lançando um olhar


para Lily que diz a ela para manter a boca fechada. Ela mantém. Kingsley é
um homem adulto; ele pode lidar com isso sozinho. Ele abre um sorriso para
Sybill, do tipo que faz os joelhos vacilarem. "Eu posso ir ao seu quarto depois,
se você quiser."

Sybill sorri para ele. "Isso seria adorável."

"E você, Evans?" Wren chama, dando-lhe um olhar lento para cima e para
baixo ao longo de seu corpo, suas intenções muito claras. "Você precisa de
um quarto para vir depois?"

Lily ri. "Não desta vez, Wren, desculpe."

"Mas nós sentimos sua falta," Wren reclama, rindo com um gemido
enquanto finge bater os pés.

"É verdade, nós sentimos," confirma Sybill, estendendo a mão curiosa para
cutucar a orelha de Kingsley, ainda encantada com o brinco. Kingsley fica
muito quieto e a deixa fazer o que ela gosta. "Miranda e Ember estão prestes a
começar a escalar as paredes."

"Ah, desculpe, você sabe o quão ocupada eu estive," Lily diz com uma
careta de desculpas. Não foi uma piada quando ela disse que as mulheres com
quem ela dorme—ou costumava dormir—ficariam desapontadas se ela
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parasse. Eles ficariam. Lily não teve tempo para nenhuma delas nos últimos
três meses. "Aqui está uma ideia, apenas um pensamento, mas alguma de
vocês já considerou, sabe, foder uma com a outra?"

"Ninguém faz isso como você, Lily," Sybill diz alegremente.

Lily estremece um pouco, lançando um olhar para Kinglsey, que


permanece notavelmente neutro ao ouvir isso. Possivelmente não é um golpe
tão grande simplesmente porque Sybill parece querer morder a orelha dele no
momento, embora isso seja certamente por causa do brinco. Ela é tão estranha.
Lily a acha encantadora.

"Certo, bem uh, nós temos que ir." Lily tosse e solta sons desanimados
enquanto Sybill e Wren os chamam para se livrar de seus deveres e ficar um
pouco mais. Apesar da tentação, Lily e Kingsley permanecem fortes e
continuam.

Eles ficam em silêncio por um tempo, e assim que Lily abre a boca,
Kingsley diz, "Nem uma palavra, Red," então Lily a fecha novamente e faz o
possível para abafar a risada.

Lily se concentra novamente quando eles entram no campo de tiro, porque


é aqui que ela se destaca. Este é o seu pão com manteiga, por assim dizer.
Com a prática, ela se tornou muito eficiente com armas, o que pode ter algo a
ver com o fato de ela usar seu próprio tempo livre para se aprimorar com elas.
Às vezes, quando ela sai da enfermaria depois do plantão, ela vem aqui. Ela
desmonta as armas e as monta de novo, de novo e de novo e de novo. Ela
puxa o alvo e atira até nunca errar, não importa a arma que esteja segurando.

Ela temia ter medo de armas, porque ela já foi baleada antes, mas não tem.
Ou talvez ela tenha, e a forma obsessiva que ela tem com as armas é como ela
controla esse medo.

Kingsley não fala com ela enquanto ele coloca o papel com a silhueta vaga
de uma pessoa nele para ambos, puxando cada um de volta até que os
números quase não sejam visíveis. Ele escolhe a arma com a qual ela
trabalhará primeiro, e eles se separam para ir para suas próprias baias, uma
divisória os mantém separados.

"Mão direita, ombro esquerdo, cabeça—nessa ordem," Kingsley chama.

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"Entendi," Lily diz, então levanta sua arma, nem mesmo hesitando em
puxar o gatilho. É rápido, três tiros consecutivos antes que Kingsley possa
passar por ele, mesmo que eles tenham começado ao mesmo tempo. Ele
termina apenas alguns segundos depois dela, mas esses segundos importam
quando é vida ou morte.

Lily não erra um tiro.

Continua assim por um tempo, Kingsley fazendo ordens e Lily as


completando mais rápido do que ele. Eles alternam entre várias armas,
Kingsley substitui o papel alvo várias vezes e, no final, Lily é levada para uma
mesa e cronometrada para recarregar cada arma.

"Tudo bem, você terminou o dia, pelo menos até o seu turno na
enfermaria," diz Kingsley.

"Sim, tudo bem." Lily fica por perto para ajudá-lo a trancar as armas de
volta de qualquer maneira, então meio que o bloqueia antes que ele possa
escapar rapidamente. "Então..."

Kingsley suspira. "Não faça disso uma grande coisa."

"Você gosta dela," Lily diz, sorrindo. "King, você realmente—quero dizer,
você realmente gosta dela. Você tem um brinco para ela!"

"Eu—" O rosto de Kingsley se contorce, e então ele suspira enquanto


levanta a mão para proteger os olhos, como se estivesse envergonhado. "Oh,
isso é tão estúpido. Isso foi tão estúpido. Eu sou tão estúpido."

"Não, não, não," Lily corre para corrigir. "Não foi estúpido. Foi fofo. É—é
realmente fofo. Você não é estúpido, Kingsley."

"Eu nem sei se ela gosta de homens," Kingsley diz cansado, soltando sua
mão.

Lily assente rapidamente. "Ela gosta. Você absolutamente tem uma chance,
ok?" Ela estende a mão e bate o cotovelo no dele, pegando seu olhar. "Há
quanto tempo você...?"

"Lily," Kingsley diz, tenso.

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"Oh, porra, você gostava dela mesmo enquanto eu estava dormindo com
ela?" Lily deixa escapar, angustiada. Ela o encara com os olhos arregalados,
mas ele apenas desvia o olhar. "Pelo amor de Deus, King, por que você
não disse alguma coisa? Eu teria—"

Kingsley faz uma careta e murmura, "Olha, não estou orgulhoso disso, mas
foi assim que eu descobri, certo?"

"O que?" Lily pergunta, confusa.

"Eu, uh, não sabia," explica Kingsley, suspirando. Ele dá de ombros para
ela um pouco impotente. "Quero dizer, Sybill e eu somos amigos há anos, e
claro, eu sempre achei ela brilhante, mas eu também costumava pensar que ela
era esquisita pra caralho."

"Ela é esquisita," Lily aponta.

"Sim, eu não sabia que gostava de coisas esquisitas até..." Kingsley franze a
testa e gesticula para ela. "Demorou um pouco, honestamente, porque eu não
conseguia descobrir o que me incomodava tanto."

Homens, Lily pensa em desespero. Ela balança a cabeça, lutando contra um


sorriso no olhar perplexo no rosto dele, como se ainda o deixasse um pouco
perplexo. "Tudo bem, mas por que você não disse nada? Isso estava
incomodando você, sim? Se eu soubesse..."

"Eu não posso dizer com quem Sybill deve estar ou não, só porque eu
gosto dela. Eu não descobri até que fosse tarde demais, e isso era comigo, não
com você ou ela," diz Kingsley .

"Sim, mas eu ainda..." Lily suspira. "Bem, se isso faz você se sentir melhor,
não significa nada."

"Sim, Red, isso nunca acontece com você, não é?" Kingsley murmura,
sobrancelhas franzidas.

"O que isso deveria significar?" Lily pergunta com uma carranca,
reconhecidamente um pouco traída pelo fato de Kingsley parecer estar
virando a conversa para os seus... problemas, ou qualquer outra coisa.

Kingsley arqueia uma sobrancelha para ela. "Você sabe o que eu estou
dizendo. Nada significa nada para você, nem ninguém. E eu não me refiro

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apenas a romance ou sexo, porque essa é sua prerrogativa de navegar como


quiser; estou falando sobre como você não se deixa aproximar de qualquer
um. Você não—se importa. Não de verdade."

Lily franze os lábios, desviando o olhar. Ela sabe que Kingsley está
preocupado com ela, por causa de quão distante ela é, mas ela realmente não
se importa. É melhor ela não se importar. Ela gosta de Kingsley, claro, mas
eles não são amigos. Não é isso.

Na verdade, Lily gosta de muitas pessoas na Fênix, ou afiliadas a elas, mas


não o suficiente para ser um golpe duro perdê-las. Se Kingsley estivesse
correndo com ela, perseguido, coberto de sangue, e ele a empurrasse para
longe para dizer a ela para continuar correndo, ela o faria. Ela não hesitaria.
Ela não olharia para trás. Ela não iria quebrar e se deixar levar um tiro.

Não como ela fez com Remus.

Como se pudesse ler a mente dela, Kingsley diz baixinho, "Eu sei que o
que aconteceu com Remus foi—"

"Não fale sobre ele," Lily corta bruscamente, tão afiada que Kingsley
instantaneamente para. Seus olhos estão tristes, e ela odeia isso.

Ele estava lá naquele dia, cinco anos atrás. Ele atirou em Aurores para
pegá-la do chão, para salvá-la, e suas lágrimas não eram pelo ferimento de bala
em seu ombro, mas por Remus. Ela estava gritando o nome dele, implorando
a Kingsley que fosse salvá-lo, e ele prometeu que tentaria assim que a
colocasse em segurança. E ele o fez. Assim que ela estava segura, ele saiu para
tentar, enquanto ela era levada para a Fênix pela equipe com quem ele estava
trabalhando.

Kingsley nunca encontrou Remus.

Dumbledore disse a ela naquele dia na enfermaria. Quando ela exigiu saber
se ele havia sido capturado—recusando-se a ficar na Fênix se ele tivesse sido,
com a intenção de abrir caminho até a Relíquia sozinha para salvá-lo, se
precisasse—Dumbledore lamentavelmente a informou que Remus havia sido
executado, assim como sua família.

Kingsley, que estava na outra cama com um ferimento de bala na perna, a


viu chorar em silêncio. Ele disse a ela que havia tentado, e que sentia muito, e

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ela agradeceu. Foram as últimas palavras que ela falou por muito, muito
tempo; quando ela falou de novo, foi para pedir ajuda a Kingsley para sair,
porque ela não aguentava mais, não aguentava mais se sentir sufocada no
subsolo, e Kingsley deu um rádio para ela e disse para ela fazer o que tinha
que fazer.

Lily e Kingsley têm muita história. Ele foi a primeira pessoa com quem ela
ficou realmente confortável na Fênix, e talvez fosse porque ele a salvou,
porque ele realmente se esforçou para pelo menos tentar salvar Remus. Ele é
um bom homem, e embora ela não se permita se aproximar muito dele, ou de
qualquer pessoa, ela tem um respeito inabalável por ele.

"Você não fala sobre isso," Kingsley diz calmamente. "Você nunca fala
sobre isso, o que aconteceu naquele dia. Às vezes eu acho que você nunca
superou isso, Lily."

Eu não superei. Como eu posso? Lily pensa, seu estômago torcendo como
raízes retorcidas na base de uma árvore derrubada. Ela não sabe como ela
poderia passar por isso, quando terminou do jeito que terminou. Foi culpa
deles—dela e de Remus. Ele nunca poderia ficar fora de problemas, e ela
nunca poderia escapar bem o suficiente sozinha.

Eles foram uma receita para o desastre desde o início, ela e Remus.
Gêmeos do caos, mas da pior maneira possível; silenciosamente. Ninguém os
viu chegando, até que eles o fizeram.

"Dorcas está aqui, não está?" Lily pergunta abruptamente, segurando seu
olhar enquanto ela muda de assunto descaradamente e descuidadamente. Ele
estreita os olhos, e ela cantarola. "Ela te deu o brinco, então?"

Kingsley a encara por um longo momento, mas ela não desvia o olhar,
deixando bem claro que—como sempre—ela não vai escapar bem o
suficiente sozinha. Ele suspira. "Sim, ela está aqui."

Lily sorri.

~•~

Dorcas rastreia Slughorn por toda a sala enquanto ele bate em retirada
apressada, finalmente liberado por Dumbledore. Ele tem sido incapaz de
encontrar seus olhos, constantemente se remexendo toda vez que ela fala,

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congelando de medo quando ela se dirige a ele. Ela o fez se contorcer durante
toda a reunião. Ela gostou disso.

"Eu devo perguntar," Dumbledore diz suavemente, atraindo o olhar dela


para ele enquanto a porta se fecha, "O que você fez para assustá-lo tanto?"

"Ele não disse?" Dorcas pergunta.

Dumbledore balança a cabeça. "Imagino que ele estava com muito medo."

"Bem, isso é satisfatório," admite Dorcas, levemente divertida. "Eu disse a


ele que ele tinha duas opções; ou vir para cá, ou ter seus miolos estourados.
Eu posso ter insinuado que eu ficaria desapontada por ele escolher a primeira
opção. Ou, eu preferi dizer a ele que eu faria, porque eu não senti a
necessidade de mentir para ele sobre isso."

"O recrutamento deve ser uma escolha, Sra. Meadowes. Não ameaçamos a
vida de nossos aliados."

"Ele não era exatamente um aliado na época, era? Além disso, não finja
que você nunca opera sob a regra de que os fins justificam os meios. Não foi
você que me disse que o risco do recrutamento era necessário para vencer a
guerra, independentemente das perdas que enfrentaríamos ao longo do
caminho?"

"Talvez, mas coerção não é um fardo que eu já pedi para você carregar,"
Dumbledore murmura.

Dorcas revira os ombros preguiçosamente. "Não é muito pesado, eu


garanto. Bastante leve, na verdade."

"Você o culpa," Dumbledore observa.

"Eu culpo todos eles," corrige Dorcas.

Dumbledore cantarola. "O ressentimento confunde a mente mais do que


você imagina, Sra. Meadowes. Mantenha a cabeça limpa."

"Não questione meus métodos, contanto que eu faça as coisas. Se você não
gosta, encontre outra pessoa," Dorcas o informa bruscamente, e ele não
responde. "Ah, mas você não pode, pode? Ninguém faz o que eu faço tão
efetivamente quanto eu."

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"Você se tornou bastante útil," Dumbledore concorda, quase soando


carinhoso.

Dorcas ignora isso. "Como está Molly?"

"Se ajustando bem," Dumbledore diz. "Ela é um trunfo para a enfermaria e


parece se dar muito bem com Arthur, embora ela insista em se juntar aos
esforços de guerra mais... adiante. Ela gostaria de estar em campo."

"Você vai deixá-la estar?"

"Não."

"Você mencionou uma nova médica de campo. Não é ela, então?"

"Lily Evans."

"Ah," Dorcas murmura, trabalhando para manter sua expressão neutra. Ela
inclina a cabeça. "Sábia escolha, senhor."

Dumbledore sorri. "Sim, eu pensei assim também."

"Eu quero saber o que aconteceu com eles," Dorcas exige, inclinando-se
sobre os cotovelos enquanto mantém o olhar sobre a mesa. "Gideon e Fabian.
Onde foi que deu errado?"

"Você está assumindo que eu sei?" Dumbledore pergunta.

Dorcas zomba. "Claro que você sabe. Você sempre sabe, e honestamente,
metade do tempo eu não me importo em saber tudo o que você sabe. Eu só
me importo em saber o que eu preciso. Mas isso? Eu tenho que saber disso, e
você vai me contar."

"Temo que este conhecimento seja grande demais para você suportar."

"Eu não me importo. Me diga."

"Eu não posso arriscar o progresso que sua posição proporciona para esta
guerra," Dumbledore diz simplesmente. "Eu não vou."

"Eu estou nisso há anos," Dorcas sussurra, batendo a mão na mesa. Ele não
vacila. "Eu dei tudo de mim desde que Alastor Moody me recrutou, e eu

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nunca, nem uma vez, questionei você ou minhas ordens. Minha posição não
está em risco, a menos que você continue me recusando isso agora."

"Sra. Meadowes—"

"Me responda, ou eu vou embora."

Dumbledore a observa por um longo momento, seus olhos claros e


calmos. "Você está muito fundo para ir embora agora."

"Você me subestima," Dorcas responde friamente. "Eu não vou ser


manipulada. Mantenha suas ameaças veladas; nós dois sabemos o que está em
jogo aqui. Você precisa de mim. Se eu for embora, eu não vou muito longe.
Não cometa o erro de pensar que isso vai me parar. Eu não estou acima da
coerção, mas me recuso a ser vítima dela."

"Você considerou que eu não desejo lhe contar para o seu próprio bem?"
Dumbledore pergunta, quase gentil sobre isso, mas ela não suaviza nem um
pouco. Ele suspira. "Se você insiste."

Dorcas se inclina para trás. "Vá em frente, então."

"Os Prewetts foram encarregados de reunir informações muito


importantes de um dos meus informantes. A informação nos permitiu
interceptar e obter um carregamento de guerra biológico que só a Relíquia
teve acesso," explica Dumbledore. "Incluía a história e a fórmula, que era algo
que não podíamos deixar passar. Ao fazer isso, notificou Tom Riddle que a
informação havia vazado de alguma forma. Ele sabia que era uma Relíquia,
visto que apenas Relíquias têm acesso à cidade, até onde ele sabe.
Infelizmente, a lealdade da Relíquia é tão grande que é bastante perceptível
quando há deslealdade, especificamente quando é deslealdade ousada."

"Não," Dorcas sussurra.

Dumbledore segura o olhar dela. "Você é muito ousada, Sra. Meadowes."

"Não," Dorcas engasga, seu corpo todo parecendo entorpecido, como se


ela estivesse flutuando em algum lugar além dele. Seus olhos estão formigando
com o calor e formando lágrimas.

"Você era uma suspeita," murmura Dumbledore, "Mas, como eu lhe disse,
não posso arriscar o progresso que sua posição proporciona para esta guerra."

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Dorcas o encara através das lágrimas. "Você—você os fez levar a culpa por
mim, porque eu valho mais para você do que eles. Você—você os matou.
Você—"

"Fabian e Gideon Prewett conheciam os riscos, assim como você,"


Dumbledore diz suavemente. "Eles estavam dispostos a lutar e morrer nesta
guerra, assim como você está. Você e tudo o que você fornece a esta causa
estavam em risco, assim como meu informante, e então eu fiz o que tinha que
ser feito para manter vocês dois vivos. Perder qualquer um de vocês dois seria
um golpe em nossos esforços que desesperadamente não precisávamos
naquela época, agora ou no futuro."

"Você corre um sério risco de me perder agora," Dorcas resmunga,


fechando as mãos em punhos.

Dumbledore balança a cabeça. "Eu não acho. Embora você esteja ferida e
sofrendo, é como você disse; você não é vítima da coerção, e isso significa que
você está aqui porque acredita nisso. Você não é culpada."

"Não, você é," rosna Dorcas.

"Infelizmente, o bem maior se constrói sobre a base do sacrifício,"


Dumbledore diz baixinho. "Você não pode ver isso agora, e eu não preciso
que você veja. Tudo que eu preciso é que você faça o que você sempre fez.
Realize suas tarefas."

"E se eu não fizer?" Dorcas raspa.

"Você vai," Dumbledore diz a ela.

Dorcas engole e pisca com força, respirando fundo antes de estremecer ao


sair. Ela o olha bem nos olhos e diz: "Vai se foder."

"Você está dispensada," Dumbledore murmura, virando a cabeça para


olhar para a pintura na parede, aquela que está lá desde que Dorcas esteve por
perto para vê-la toda vez que ela pisou em seu escritório. Um retrato de uma
jovem, seus olhos de um azul cintilante que combina com os de Dumbledore.
Dorcas se levanta e se dirige para a porta sem olhar para trás, apenas parando
com a mão na maçaneta quando ele a chama. "Ah, e Sra. Meadowes?"

Dorcas não responde, permanecendo no lugar com os ombros tensos,


rangendo os dentes.
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"Entrarei em contato em breve," diz Dumbledore, e Dorcas fecha os olhos


com força antes de virar a cabeça e dar-lhe um aceno de cabeça espasmódico,
então sai da sala e bate a porta atrás dela ao sair.

Por um longo momento, Dorcas só pode ficar lá e respirar, e existir com


esse conhecimento, e lutar com a realidade de que ela não pode fazer nada a
respeito.

Não há pessoas boas na guerra, Dorcas sabe disso. Ela nunca se atreveu a
afirmar que ela é uma boa pessoa, especialmente no meio desta guerra em que
ela se plantou firmemente no meio. Há muitas coisas que pesam em seu
coração, coisas das quais ela nunca se livrará do peso, mas Gideon e Fabian...
Eles eram bons homens. Eles eram seus amigos.

Dumbledore não é um bom homem, e Dorcas nunca caiu na ilusão de que


ele é. Riddle é pior. Essa é a horrível realidade disso; o menor de dois males.
Pelo menos, independentemente do que for preciso para chegar lá,
Dumbledore quer que o mundo seja um lugar melhor. Isso é o que o
diferencia de Riddle, que quer que o mundo permaneça como está, na pior das
hipóteses.

Quando Dorcas se juntou à Ordem da Fênix, ela o fez sabendo que


Dumbledore faria o que fosse necessário para conseguir o que ele queria—o
que todos eles querem—e ela quer a mesma coisa, então ela apreciou isso
nele. Isso nunca a afetou tão duramente até este momento, até Fabian e
Gideon, e agora deixa um gosto amargo em sua boca.

Riddle é descuidado com vidas. Dumbledore as pesa. Dorcas é breve e


visceralmente grata por eles estarem um contra o outro, em vez de
trabalharem juntos. Ela está agradecida agora mais do que nunca por
Dumbledore não ter nascido como uma Relíquia.

Às vezes, Dorcas se pergunta se ser um Vitorioso em seus próprios jogos


há muito, muito tempo o moldou na pessoa que é hoje, a pessoa que pode e
vai escolher quem vive ou morre, se surgir uma situação em que a escolha
precisa ser feita. Ela não conhece sua história completa, apenas o que ela
aprendeu nos últimos anos, mas ela sabe que ele ganhou seus jogos, e ela sabe
que ele matou Gellert Grindelwald, o Mestre da Relíquia na época.

Ela sabe, agora, que ele é o responsável pela morte de Fabian e Gideon.
Ela deseja, ansiosa e desesperadamente, que fosse o suficiente para fazê-la ir
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embora, mas não é. Fazer isso seria viver na ignorância, escolhendo não fazer
nada quando ela pode realmente fazer a diferença. Afastar-se dele e de tudo o
que ele representa seria caminhar direto para o lado de Riddle, e ela nunca,
nunca fará isso. Ela não pode.

Não que Dumbledore a deixasse ir longe se ela tentasse, honestamente.


Dorcas é mais inteligente do que isso. Se ela não está com eles, ela é uma
ameaça. Afinal, ela sabe demais, e colocar a causa em risco não é algo que
Dumbledore defende. Ela poderia chegar até o trem para embarcar, mas não
tem dúvidas de que não conseguiria chegar em casa. Talvez isso devesse
assustá-la, mas não assusta.

Suspirando pesadamente, Dorcas endireita os ombros, esfrega o rosto e


começa a atravessar o complexo.

As pessoas na Fênix já estão acostumadas com ela. Não há muitas


Relíquias na Ordem. Chocante. Dorcas é uma das poucas; a maioria de todos
os outros escapou de seus distritos, ou nasceu na Fênix e viveu aqui a vida
toda. A última Relíquia a se juntar—mesmo por coerção—é Slughorn. Ela o
vê no Salão Principal enquanto passa, conversando alegremente com algumas
pessoas sentadas com ele à mesa, rindo e bebendo.

A visão faz seu sangue ferver, honestamente, mas ela não se envolve ou
interrompe. Slughorn claramente se ajustou ao seu lugar na Fênix, embora
algumas pessoas tenham insinuado que não era um processo simples.
Aparentemente, ele foi evitado um pouco por algumas das merdas estúpidas
que saíram de sua boca, todas vindas de um lugar de privilégio e direito—a
Relíquia especial, se você preferir. Dorcas conhece essas pessoas, e ela
conhece bem muitas delas agora. Ela não duvida que Slughorn foi colocado
em seu lugar e teve um despertar muito, muito rude esperando por ele.

Dorcas passa na enfermaria para pelo menos ver Molly—e Arthur,


tecnicamente, já que ele também está aqui. Felizmente, está quieto quando ela
entra. Há uma criança em uma das camas, tossindo lamentavelmente durante
o sono enquanto sua mãe—Dorcas assume, pelo menos—acaricia suavemente
seu cabelo, parecendo preocupada.

"Dorcas!" Molly diz alegremente quando a vê, e então ela está se


apressando para puxar Dorcas assustada para um abraço.

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Timidamente, Dorcas retribui o gesto, com o coração apertado ao perceber


que ela não merece. Dumbledore pode ter escolhido jogar Fabian e Gideon
debaixo do ônibus, mas ele fez isso para que ela não fosse atropelada; ela e seu
informante secreto. Dorcas não fez a ligação, mas ela é pelo menos
parcialmente responsável, embora sempre tenha sido. Afinal, foi ela quem os
recrutou em primeiro lugar.

Molly parece melhor do que da última vez que Dorcas a viu. Francamente,
Dorcas está um pouco surpresa que Molly parece tão feliz em vê-la,
considerando que Molly uma vez ameaçou matá-la e pretendia cumprir essa
ameaça. Dorcas não a culpa por isso. Veio de um lugar de dor e puro
desespero. Ela até se desculpou depois, o que foi legal.

Dorcas também tem certeza de que Molly extrai conforto dela porque ela a
lembra de casa como outra Relíquia. Molly nunca mais poderá voltar para
casa, pelo menos não antes que a guerra termine; ela sabe demais agora e, por
mais próxima que fosse de Gideon e Fabian, estaria em risco.

"Oi, Molly," Dorcas murmura enquanto elas se separam. "Eu só queria vir
ver como você está e ver como você está se adaptando."

"Muito bem, considerando todas as coisas," Molly diz a ela, respirando


fundo. "Não gosto muito de estar no subsolo, para ser honesta, mas eu
estou... me acostumando com isso. Arthur tem sido uma jóia."

Dorcas olha para o homem em questão, que sorri e acena assim que ela
chama sua atenção. Ele está preenchendo algum tipo de papelada, então ela
apenas acena de volta e se concentra em Molly novamente, que olha para ele
com carinho. "Isso é bom. Eu só—eu queria dizer que sinto muito por ter
perdido o funeral realizado para Fab e Gid."

"Sinto muito também," murmura Molly. "Foi adorável. Dumbledore foi


tão gentil; ele fez um discurso, sabe, e todos foram tão—tão respeitosos com
eles."

"Não é nada menos do que eles mereciam," Dorcas resmunga, engolindo o


nó em sua garganta. Apenas o pensamento de Dumbledore falando sobre
eles... Isso a deixa fodidamente doente do estômago. "Molly, eu quero que
você saiba que se eu tivesse a escolha—se eu tivesse a escolha—eles ainda
estariam vivos. Eu sinto muito. Eu sinto muito."

18
ZEPPAZARIEL

Molly pisca rapidamente, seus olhos enevoados, e ela aperta as mãos de


Dorcas com um sorriso vacilante. "Eu sei, Dorcas. Você significou muito para
eles, por favor, nunca se esqueça disso."

"Certo," Dorcas sussurra, dando um sorriso de dor. "Ah, por mais adorável
que seja ver você, eu também estava esperando falar com Poppy. Ela está aqui
dentro, por acaso?"

"Ela está em seu escritório," diz Molly, acenando para ele. "Vá em frente,
vá vê-la. Eu tenho que voltar ao trabalho de qualquer maneira."

Dorcas deixa Molly apertar suas mãos mais uma vez, então se afasta para ir
em direção ao escritório de Poppy. Ela bate, esperando a chamada para deixá-
la entrar, e então ela desliza pela porta. Poppy parece levemente assustada ao
vê-la, mas satisfeita.

"Ah, Dorcas, quando você chegou?" Poppy pergunta.

"Cedo. Eu estive em uma reunião com Dumbledore," Dorcas explica,


sentando na cadeira em frente a sua mesa.

Poppy acena com a cabeça. "E Minerva?"

"Ela está aqui. Esperando por você em seu quarto, eu imagino.


Provavelmente dormindo, honestamente, porque ela estava morta em pé
quando chegamos," Dorcas diz com uma careta.

"Ah," Poppy diz com um suspiro, balançando a cabeça em clara


desaprovação. "Ela nunca descansa direito, aquela mulher. Ela é uma coisa tão
teimosa, sabe. Um pouco estúpida, na verdade."

Os lábios de Dorcas se contraem. Apenas Poppy se atreveria a insultar


Minerva de alguma forma, porque a maioria das pessoas sabe que não deve.
Poppy é a única que pode se safar. "Bem, sem ofensa, Poppy, mas você
dificilmente é alguém para falar, não é? Há quanto tempo você está no
escritório desta vez?"

"De qualquer forma," diz Poppy, franzindo os lábios, "Em que posso
ajudá-la, Dorcas?"

"Uhum." Dorcas abafa uma risada, balançando a cabeça com carinho


quando Poppy estreita os olhos para ela de brincadeira. "Estou feliz que você

19
CRIMSON RIVERS

perguntou. Como eu disse, eu tive uma reunião com Dumbledore. Ele trouxe
carregamentos de guerra biológica que a Ordem roubou de Riddle. Estou
assumindo que você estava lá."

Poppy se endireita, séria em segundos. "Eu estava."

"Carregamentos biológicos," Dorcas diz lentamente. "Isso implica um


vírus, não é? Mas armado. É isso que é?"

"É um pouco mais amplo do que isso. Basicamente, é o uso de toxinas


biológicas ou agentes infecciosos, como bactérias, vírus, insetos e coisas
assim—geralmente para matar massas de pessoas em grande escala," esclarece
Poppy. "Neste caso, está especificamente envolvido com insetos,
particularmente feitos pela Relíquia. Eu nunca vi nada parecido antes. Não
pior do que isso."

"O que é?" Dorcas pergunta.

"Um segundo." Poppy rola a cadeira para trás e se inclina sobre o cofre
atrás dela, colocando a mão em concha ao redor para girar. Há uma longa
sequência de bipes—muito longa—enquanto ela digita o código, então o cofre
abre com um silvo e um clique. Ela pega algo e fecha o cofre novamente antes
de rolar de volta para a mesa e aparecer com um frasco de—

Dorcas pisca, seus lábios se inclinam para baixo enquanto ela olha para o
frasco, sentindo um puxão em sua mente que insiste que ela já sabe o que é.
Ela leva um momento olhando para o líquido cintilante no frasco, grosso e
verde, e então clica. Seus olhos disparam em alarme. "Veneno de Besouro
Horcrux?"

"Isso mesmo," confirma Poppy com um suspiro. "Nós o encontramos em


várias formas; tanto dentro dos besouros quanto extraídos deles, e coletamos
uma fórmula indicando que Riddle tem planos de transformá-lo em um gás
com os mesmos agentes infecciosos e mortais. É a forma mais rápida e
violenta de guerra biológica que o mundo já viu."

"Eu não—mas por quê?" Dorcas deixa escapar em choque, apenas na


descrença automática de que alguém faria isso de bom grado. Quem diabos
iria querer fazer isso? Bem, Riddle, obviamente. Ela não sabe por que está tão
surpresa.

20
ZEPPAZARIEL

"Isso nos deixa perplexos," Poppy declara ironicamente, seus lábios


torcendo em desgosto. "Slughorn nos informou que Riddle tem um fascínio
por eles—os Besouros Horcrux, e seu veneno. Aparentemente, Riddle é
imune a eles, porque ele não sente medo, e eles só respondem ao medo."

Dorcas faz uma careta. "Mas ele está usando o veneno como arma fora
disso. Isso é um risco, não é?"

"Não se cria simplesmente uma guerra biológica a esse extremo sem criar
uma proteção contra falhas, se for inteligente. Encontramos anotações que
implicam isso, mas algo tão importante—está sendo tratado na Relíquia. O
Distrito Um foi encarregado do armamento dos Besouros Horcrux, mas a
cura, ou qualquer imunidade que ele pretenda criar, ele não arriscaria cair em
mãos erradas. Sabemos que está acontecendo, mas não o que é, ou como é
feito, então não podemos fazer réplicas. Não ainda, de qualquer maneira.
Estou trabalhando nisso agora, ou tentando. Até agora, não tenho... nada."

"Certo, mas qual é o propósito de ter algo assim como uma arma para
começar?"

Poppy suspira. "Bem, na forma líquida, ele poderia facilmente usar as


toxinas biológicas do veneno para infectar o abastecimento de água de um
distrito, por exemplo. Seria a praga mais rápida e eficiente da história. Na
forma de gás, ele poderia simplesmente liberar em um distrito, ou deixar ser
usado em jogos futuros, especialmente se ele descobrir como conter e
controlar. Ele pode matar massas fácil e rapidamente com isso, se sentir a
necessidade."

"Adorável," Dorcas resmunga enquanto uma onda de medo percorre sua


espinha. "E—e não sabemos nada sobre a cura? Ou imunidade? Ou...
ambos?"

"Nada ainda," Poppy murmura cansada. "Estou fazendo o meu melhor."

"Não, claro que você está," Dorcas diz rapidamente, engolindo enquanto
ela olha para o frasco, arrepios eclodindo ao longo de sua pele. "Eu não
duvido. Obrigado por me dizer."

"Se você souber de alguma coisa—"

"Não se preocupe, eu vou te dizer se eu souber."

21
CRIMSON RIVERS

"Obrigada." Poppy acena com a cabeça e pega o frasco, observando


Dorcas se levantar. "Saindo?"

"Não posso ficar muito tempo," murmura Dorcas. "Eu tenho algumas
coisas para resolver na Relíquia de qualquer maneira. Minerva vai ficar um
pouco, então não se preocupe com isso."

"Quem vai levar você de volta?" Poppy pergunta.

Dorcas dá de ombros. "Edgar, eu acho. Não se preocupe de qualquer


maneira. Minerva precisa descansar do jeito que ela está."

"Você está muito certa," Poppy concorda severamente, então continua a


resmungar baixinho sobre a aparente falta de consideração de Minvera por sua
saúde, fazendo barulho mesmo quando elas se despedem e Dorcas vai
embora.

A informação que ela acabou de saber pesa sobre ela durante todo o
caminho para fora da enfermaria e em direção ao seu quarto, a última parada
que ela fará para pegar suas malas antes de ir. É uma coisa assustadora, saber
que tipo de poder Riddle tem, saber quais são seus planos. Ele não se importa
com riscos; ele nunca se importou. Isso a assusta, mas ela acha que ele está se
preparando para a guerra. O que mais a assusta é o quão longe ele vai na
tentativa de vencer.

Dorcas está cansada e emocionalmente esgotada e tensa, então ela não


pode ser culpada pelo grito que sai dela quando ela entra em seu quarto e é
imediatamente arrastada para um par de braços. Ela tem um segundo para ver
os olhos verdes brilhantes de Lily—não tão diferente do veneno de Besouro
Horcrux, na verdade—e seu largo sorriso antes de ser beijada.

Instintivamente, Dorcas a beija de volta, porque ela sempre beijou Lily de


volta. Ela até afunda com uma comporta de alívio atravessando-a, porque isso
deixa sua mente esvaziar-se de todas as coisas complicadas e dolorosas que a
preenchem. Lily sempre foi boa nisso, tirando-a de sua própria cabeça.

Embora, na verdade, Dorcas saiba que é uma troca entre elas, ambas se
perdendo uma na outra para não precisarem se perder nas coisas que as
atormentam, pelo menos por um tempo.

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ZEPPAZARIEL

Então, é fácil ficar presa nisso. Fácil deslizar as mãos no cabelo de Lily,
puxando-a para mais perto enquanto o beijo se aprofunda. Fácil de fazer
quando Lily a coloca contra a parede. Fácil de gemer, de arquear mais perto,
enquanto Lily morde seu lábio inferior e desliza as mãos frias por baixo da sua
camisa, os dedos flertando com os ossos do quadril.

"Me diga que você trouxe cigarros," Lily diz sem fôlego assim que elas se
separam.

Dorcas solta uma risada fraca. "Sabe, estou começando a ter a ideia de que
você só tem alguma coisa comigo porque eu forneço o seu vício."

"Nosso vício," Lily brinca, "E não, essa não é a única razão. Você também
está cheia de informações divertidas que eu quero."

"Oh, eu não tenho nada para você desta vez, então nem tente. Eu não
posso ficar muito tempo de qualquer maneira," murmura Dorcas.

Lily estala a língua. "Pena. Suponha que teremos que fazer isso rápido,
então."

Com isso, Lily se abaixa para pegar Dorcas sob suas coxas e puxá-la em
seus braços, virando-se para levá-la para a cama. Dorcas, reconhecidamente,
se envolve em beijá-la novamente, porque já faz um tempo agora, e é bom.

Não é até que Lily a deita na cama e se acomoda entre suas coxas abertas
que Dorcas tem um pensamento passageiro. Um que é como um tapa na cara.
Apenas um flash rápido de uma memória, cabelos loiros em vez de ruivos, a
última pessoa com quem Dorcas estava antes disso. Marlene.

Dorcas faz o possível para abafar o pensamento, o lembrete, porque não


deveria importar. Não importa. Ela não está fazendo nada de errado,
obviamente, e ainda assim o mero pensamento de Marlene faz seu peito
apertar e a tira completamente do momento.

Isso pode ter algo a ver com o fato de Dorcas nunca ter se despedido. Ela
ia e voltava sobre se despedir de Marlene antes de partir, após o fim dos jogos,
uma batalha interna que ela não conseguia descobrir como vencer. Significaria
alguma coisa, ela pensou, e elas concordaram em ser amigas, apenas amigas,
nada mais; elas nunca poderiam ser mais, porque isso colocaria Marlene em

23
CRIMSON RIVERS

risco. Gideon e Fabian são a prova disso. Talvez depois da guerra, se algum
dia acabar, talvez então...

Mas não, Dorcas não conseguiu se despedir. Ela decidiu que era uma má
ideia, e ainda acabou correndo para a estação de trem, apenas para chegar
tarde demais. Marlene já tinha ido.

Isso foi provavelmente o melhor.

"O que?" Lily murmura, recuando para olhar para ela com as sobrancelhas
franzidas. "O que foi?"

"Nada." Dorcas limpa a garganta. "Nada, estou bem."

"Seu entusiasmo simplesmente evaporou, então claramente você não está


bem. Se você não quiser, Dorcas, tudo bem. É—"

"Não, não, não é—isso. Não é você. Eu só..."

"Você..." Lily levanta ambas as sobrancelhas e procura seu rosto, e então


suas sobrancelhas se erguem ainda mais. "Tem mais alguém? Você conheceu
alguém? Oh, porra, Dorcas, me conte tudo."

Dorcas dá um suspiro enquanto Lily se levanta e sorri para ela com


excitação dançando em seus olhos, parecendo encantada. "Oh, pare com isso.
Eu não—sim, eu conheci alguém, mas não estamos juntas nem nada,
obviamente."

"Obviamente," Lily permite, assentindo. "Uma Relíquia?"

"Uma Vitoriosa," diz Dorcas. "Marlene McKinnon. Você estava aqui


quando ela estava em seus jogos. Você... assistiu?"

Lily aperta os olhos pensativamente, então acena com a cabeça. "Sim, acho
que vi um pouco disso, talvez. Garota loira? Atirou alguém no fogo?"

"Essa mesma."

"Ela é gostosa."

Dorcas morde o lábio. "Você não tem ideia."

"Ooh," Lily diz com uma risada, sorrindo, "Vocês duas...?"

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ZEPPAZARIEL

"Sim. Foi incrível. Nós—" Dorcas suspira e olha para seus dedos. "Nós
ficamos próximas, eu suponho. Ela é—ela é realmente brilhante, Lily. Quero
dizer, realmente."

"Pegou sentimentos, não é?" Lily pergunta baixinho.

"Muitos sentimentos. Todos os sentimentos." Dorcas geme e arrasta as


mãos para cima e para baixo no rosto, depois as deixa cair miseravelmente,
nem mesmo se importando se ela borrou alguma maquiagem. Ela olha para
cima para ver Lily observando-a com simpatia, porque ela já entende. Claro
que ela entende. "Nós concordamos em ser apenas amigas. Ou, bem, ela meio
que deixou isso em aberto, como se a opção de ser mais estivesse lá, mas eu—
eu recusei. Eu tive que recusar. Nós só podemos ser amigas. Eu não posso
arrastá-la para tudo isso, Lily. Eu não vou."

Os lábios de Lily se curvam em uma carranca, e seus olhos visivelmente se


apagam enquanto ela suspira. "Porra, Dorcas, sinto muito. Isso é—uma
merda."

"Sim," Dorcas concorda, triste, e elas não dizem mais nada por um tempo.
Elas realmente não precisam.

Essa é a coisa. É fácil com Lily, porque isso nunca foi um problema para
elas. A verdade é que uma parte de Dorcas ama Lily, e sempre amará Lily, mas
ela sabia desde o início, quando elas caíram na cama juntas, que era um amor
que só poderia crescer até certo ponto e não ir mais longe. As duas têm a
mesma opinião sobre isso, muito conscientes dos riscos de se aproximar
demais de outra pessoa.

É triste, na verdade. Lily é muito pior do que Dorcas, honestamente. Ela


nem se importa—ou ela não vai admitir para si mesma que se importa.
Dorcas sabe que sim. Para alguém tentando tanto ser removido da compaixão
e conexão básicas, Lily ama muito alto. Isso sangra dela e cobre todos ao seu
redor, e ela nem vê. Lily faz tudo ao seu alcance para não se importar, não
amar, como se se ela o fizesse, isso a faria quebrar. Mas ela não pode impedir.
Ela só pode reprimir, e Dorcas sabe que isso só vai machucá-la a longo prazo,
se ela continuar a encontrar segurança nisso.

Mas Dorcas não é muito melhor. Ela não se engana pensando que não se
importa, ou que não está se permitindo amar, mas está muito consciente de
que não pode deixar que isso importe. Não pode ser mais importante do que
25
CRIMSON RIVERS

suas responsabilidades. Ela pode amar e se importar o quanto quiser, mas não
pode permitir que isso vá a lugar algum. Não vai salvar ninguém. Apenas os
coloca em perigo.

"Bem, se isso te anima," Lily reflete, "Eu tenho boas notícias."

"Você quer dizer que você está treinando para ser uma médica de campo?"

"Sim. Não é brilhante?"

Dorcas franze a testa. "É perigoso, Lily. Perigoso pra caralho."

"O mundo inteiro é perigoso, não importa o que estejamos fazendo,


Dorcas," Lily retruca. "Pelo menos dessa forma, o que estou fazendo
realmente importa."

"Eu só—" não quero que você se machuque, Dorcas não termina. Não consegue
terminar. Mesmo só de pensar isso a assusta, como se estivesse aumentando a
possibilidade. Lily pode não admitir que se importa, mas Dorcas não tem
esses problemas. Claro que ela se preocupa com Lily. Elas podem não estar
apaixonados, mas têm um vínculo. Foi construído na troca de cigarros e troca
de informações que nenhuma das duas deveria saber, assim como beijos
roubados e esgueirar-se para a superfície para soprar fumaça e esperar por um
mundo melhor. "Apenas tenha cuidado, Lily. Quem mais vai fumar comigo na
Fênix quando eu vir se você não estiver por perto?"

"Eu poderia dizer o mesmo para você," murmura Lily. "Sua posição não é
menos perigosa, Dorcas."

"Não," Dorcas diz suavemente. "Não, não é."

Um silêncio longo e tenso se estende entre elas.

"Então..." Lily tosse e coça sua sobrancelha, um sorriso tímido curvando


sua boca. "Sobre aqueles cigarros..."

Dorcas começa a rir, quase contra sua vontade, e o sorriso de Lily se


transforma em um sorriso cheio. Ela é tão bonita. Verdadeiramente,
verdadeiramente linda. Olhos esmeralda e bochechas coradas, coxas grossas e
quadris largos, ombros largos com uma tatuagem de uma flor entre as
clavículas—uma petúnia rosa, especificamente. Dorcas perguntou por que
uma vez, mas Lily não respondeu, e Dorcas só teve que perguntar uma vez

26
ZEPPAZARIEL

para saber que nunca deveria perguntar novamente. Segredos e histórias


arrepiantes vivem nos olhos de Lily às vezes, e Dorcas muitas vezes quer
convencê-los a sair dela, apenas para saber, apenas para se aproximar.

Lily parece satisfeita, e ela se anima quando Dorcas rola para fora de sua
cama e tropeça em sua bolsa, procurando por dois maços de cigarros. Vinte
pacotes. Deve mantê-la abastecida por um tempo e, na verdade, é o mínimo
que Dorcas poderia fazer.

"Me adore, Evans," declara Dorcas.

Lily pega as caixas como se fossem feitas de ouro, então levanta o olhar
para Dorcas, sua boca se abrindo um pouco quando ela toca a ponta da língua
no lábio superior. "Tire essa roupa bonita, e eu vou fazer exatamente isso."

"Eu realmente não posso ficar muito tempo, Lily."

"Oh, você sabe que eu posso ser rápida e ainda assim ser bom. Você pode
me contar sobre Marlene, se quiser."

Dorcas começa um pouco surpresa, piscando. "Enquanto você...?"

"Claro, por que não? Não poupe detalhes." Lily coloca as caixas de lado e
estende a mão para agarrar o pulso de Dorcas para puxá-la lentamente, sua
voz se suavizando e caindo para um tom mais baixo e sensual que,
reconhecidamente, causa calor entre os quadris de Dorcas. "Me conte tudo
sobre ela."

"Ela—ela me disse que eu era impecável, sabe. Disse que eu sou linda,
sempre," Dorcas sussurra, sua boca seca enquanto Lily a puxa entre suas
pernas abertas.

Os lábios de Lily se contorcem e ela leva a mão de Dorcas à boca, dando


um beijo suave em sua palma. Há um sorriso provocando nos cantos de seus
lábios. "Oh, ela não estava jogando limpo."

"Não, ela realmente não estava," Dorcas concorda, uma tensão em sua
voz, suas pernas se sentindo um pouco fracas e trêmulas apenas pela memória
da boca de Marlene, e agora Lily está fazendo algo tão irrevogavelmente
perturbador e pecaminoso, segurando seu olhar e envolvendo os lábios em
torno do dedo indicador de Dorcas para raspar os dentes provocativamente

27
CRIMSON RIVERS

sobre a pele macia deles. Dorcas sente isso entre suas malditas pernas, e seu
corpo inteiro se contorce.

Ela pode ver os olhos de Lily se iluminarem, pode praticamente ouvir Lily
pensando em peguei você, a merdinha sedutora. Dorcas nem está chateada, na
verdade. Ela gostaria de ficar perdida por um tempo de qualquer maneira.

Afinal, há muito do que fugir, não é?

"Venha aqui," Lily sussurra, beijando seu dedo e indo direto para a cama, e
Dorcas vai de boa vontade, feliz, porque ela não é imune às artimanhas de Lily
Evans e ela está completamente excitada só de pensar em Marlene McKinnon.

E longe, longe, elas vão. Perdidas uma na outra.

Perdidas juntas.

~•~

"—um dos pobres bastardos, e não importa qual deles, em qualquer caso.
Não suspeite que eles vão sobreviver de qualquer maneira."

"Nossas ordens não foram específicas?"

"Não. Qualquer um serve."

"Tudo bem. Esse, então. Ele está me dando olhares engraçados há anos.
Eu juro que ele está me encarando às vezes, e se eu não soubesse, eu pensaria
que ele estava me xingando em sua cabeça."

Isso é exatamente o que eu estou fazendo, seu filho da puta, Remus pensa enquanto
levanta o olhar para ver dois guardas parados do lado de fora de sua cela,
olhando para ele através das grades. Ele olha. Propositalmente.

"Oh, ele está absolutamente te xingando na cabeça dele," um deles diz,


parecendo divertido.

"Bem, ele vai desejar não ter feito isso." O outro estende a mão com seu
bastão de choque e bate nas barras. "De pé."

Ainda olhando, Remus relutantemente se levanta, um arrepio percorrendo-


o enquanto o frio parece penetrar em seus ossos ainda mais fundo com o
movimento. Ele se sente rangendo, dolorido por toda parte, fraco e levemente

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ZEPPAZARIEL

prestes a desmaiar. A porta da cela se abre com um estrondo, e os guardas


entram imediatamente para algemar suas mãos, agarrando-o por um braço
cada um para empurrá-lo para fora.

Remus tropeça, olhando para frente enquanto ele é levado cada vez mais
para baixo pela prisão, passando cela após cela no caminho. Seus passos
ecoam pelo silêncio sinistro, ecoando em seus ouvidos. Seu coração está
afundando à medida que descem, porque ele sabe o que é isso. Ele sabe para
onde está indo.

Os gritos sempre vêm de baixo. Ele geralmente tenta ignorá-los, mas tem a
sensação de que será incapaz de ignorar os seus.

Eles o levam para uma sala com uma cadeira de metal pregada no chão no
meio dela. Um homem já está lá, sentado em um banquinho ao lado dele, um
suporte ao lado dele também. Remus pode ver uma seringa e outra coisa que
parece uma máscara de oxigênio sobre ela; ele olha para ela enquanto é levado
até a cadeira.

"Retire a máscara dele, por favor," o homem no banco ordena. Ele pode
ser um médico, ou um cientista, ou ambos, pela aparência dele.

Remus tenta não ficar muito tenso enquanto os guardas o forçam a sentar
na cadeira, prendendo seus braços para baixo e algemando cada pulso. Eles
algemam cada tornozelo também, depois empurram sua cabeça para trás
contra o encosto de cabeça e o prendem com a alça acolchoada que já está
embutida. Só então eles removem a máscara em seu rosto, e ele
imediatamente lambe os lábios secos, enrolando a mandíbula e respirando
uma lufada de ar.

"Preparou a carruagem?" O possível médico pergunta. Quando os guardas


apenas olham para ele, ele bufa. "Para o corpo dele, se ele não sobreviver.
Perdemos quatro ontem, e os guardas em rotação atrasaram todo o processo
por não ter a carruagem pronta."

"Er," diz o primeiro guarda.

O possível médico faz uma careta e aponta para a porta. "Vão preparar a
porra da carruagem. Bastardos inúteis." Os guardas fazem uma careta, mas
eles fazem o que ele manda, saindo da sala enquanto murmuram baixinho. O
possível médico olha para Remus exasperado. "Realmente, você acha que eu

29
CRIMSON RIVERS

teria melhores condições de trabalho, considerando o que eu estou


trabalhando. Genuinamente, eles não me pagam o suficiente para essa merda."

Remus não responde, é claro. Ele está tentado. Ele não ouve sua própria
voz há... meses, ele está assumindo. Não está claro, porque não é como se eles
tivessem malditos relógios ou calendários em Azkaban. Mas já faz um tempo,
ele tem certeza.

O possível médico apenas suspira e balança a cabeça enquanto estende a


mão para pegar a seringa. Dentro dela, há um líquido laranja escuro—quase
vermelho-sangue, na verdade—que parece fino e espiralado, mais ou menos
da consistência da água, embora se assemelhe ao fogo. Remus
automaticamente fica tenso quando o homem descuidadamente puxa sua
manga para cima para revelar a curva de seu cotovelo.

"Melhor não lutar muito," ele murmura cansado. "Nunca pareceu ajudar os
outros, de qualquer maneira. Fique quieto."

Remus não tem escolha, já que ele está amarrado na porra da cadeira. Cada
parte dele grita em protesto, querendo lutar, mas ele só pode assistir com o
coração acelerado enquanto a agulha desliza em sua veia.

Assim que o êmbolo começa a empurrar para baixo, é uma agonia.

É puro fogo lambendo suas terminações nervosas, corroendo sob sua pele,
ácido queimando através de seu corpo. Remus grita. Ele não pode evitar. Ele
nunca sentiu nada parecido em sua vida, uma dor lancinante tão forte que é
tudo o que ele conhece.

"Porra, porra, não, não—"

Remus está se jogando contra suas amarras na tentativa de libertar suas


mãos e arrancar a porra da sua pele, mas não são suas mãos que saem. A alça
em sua cabeça não estava preparada para ele colocar tanta pressão sobre ela e
arrancá-la, então ele se joga para frente enquanto convulsiona na cadeira.

Sem pensar em desespero e dor, Remus literalmente bate para o lado,


inclinando-se sobre o braço da cadeira. Ele bate no suporte ao lado dele—ou,
bem, seu rosto, na verdade—mas ele realmente não pode sentir isso através da
dor de todo o resto. Tudo o que ele sabe é que suas entranhas estão
derretendo e algo está escorrendo por seu rosto, e talvez seja apenas a pele

30
ZEPPAZARIEL

escorregando de seu crânio, porque ele está fervendo, ele está pegando fogo,
ele está—

"Só. Fique. Parado," Alguém diz, e Remus não sabe de nada, não consegue
entender nada além das chamas comendo seus músculos, tendões e ossos.
Certamente ele está desmoronando em cinzas. Como ele é sólido? Como—

Remus é jogado para trás na cadeira, mantido no lugar enquanto se debate,


e então ele não pode se mover novamente. O mundo inteiro está fora de foco,
e há sangue em seus olhos, em sua boca.

Ele acha que é dele.

"Vamos ver. Respire fundo agora." As palavras não fazem sentido para
Remus, e ele mal consegue ouvi-las, mas há uma máscara clara descendo para
emoldurar seu nariz e boca. É uma cúpula fechada, como uma máscara de
oxigênio, e há uma vasilha preta presa ao fundo com o símbolo de perigo bem
ao lado do emblema da Relíquia.

Se Remus estivesse no estado de espírito certo, ele acharia isso apropriado.


A Relíquia é um perigo, não é?

Do jeito que está, Remus não consegue pensar em nada. É apenas dor.
Pura tortura. A máscara se acomoda ao redor de sua boca e nariz,
pressionando com tanta força que seus gritos são abafados. Ele pode saboreá-
los; eles são picantes e azedos com medo e angústia.

Há um clique, então um estranho ruído de sopro, e os olhos de Remus


focalizam o suficiente para ver uma pequena nuvem de verde brilhante
preencher a máscara. Ele não quer inalar, ele realmente não quer, porque ele
tem certeza que é uma má ideia fazer isso, mas tudo dói e é tão difícil respirar,
e ele está ofegante. Ele está ofegante.

Remus inala.

A dor fica pior. Muito pior. Atinge um pico que parte seu cérebro ao meio,
e ele está morrendo, ele tem tanta certeza de que está morrendo. Ele só pode
estar morrendo, e ele não quer, ele luta tanto para não morrer, rebelando-se
contra o mero pensamento porque—porque—

31
CRIMSON RIVERS

De alguma forma, através de tudo, através da dor e do que deve ser a


morte, Remus consegue se agarrar a um último pensamento lúcido antes que
tudo desapareça.

Sirius, Sirius, Sirius, SiriusSiriusSirius—

32
ZEPPAZARIEL

32
PRESENTES

Evan, no meio de uma palestra sobre os benefícios da escalada, para


abruptamente para dizer, em vez disso, "Hora de acordar, Regulus."

"O que?" Regulus pergunta, piscando para ele.

"Porra," Evan resmunga, carrancudo. "Ele me interrompe toda vez. Ele é


muito irritante, sabe."

Regulus o encara confuso. "Quem?"

"Vamos, acorde," Evan insiste, revirando os olhos, e Regulus abre a boca


para perguntar o que diabos tem de errado com ele quando o galho da árvore
se quebra, fazendo-o sacudir, e então seus olhos se abrem enquanto o mundo
inteiro volta em foco.

Há um corpo ao lado dele, quente e sólido. Desorientado, a primeira coisa


que Regulus diz é, "James?"

"Não, ainda não é ele," Barty diz, aparecendo enquanto ele se levanta e se
inclina para olhar para ele, as sobrancelhas levantadas. Ele parece levemente

33
CRIMSON RIVERS

divertido. "Depois de todos esses meses, você pensaria que pararia de


perguntar agora."

"Porra," Regulus murmura, alcançando os dedos em seus olhos enquanto


ele estremece através de um bocejo.

"Você estava tagarelando sobre Evan de novo," Barty o informa.

"Ele te acha muito irritante, sabe," Regulus diz enquanto abaixa as mãos,
os lábios se contraindo levemente. "Eu acho que irrita ele que você nos
interrompe."

"Adorável. Sinceramente, nada me agrada mais do que ser um incômodo


para o fantasma gostoso que vive nos seus sonhos."

"Bem, ele morre, normalmente, mas você continua interrompendo."

Barty cantarola. "Nesse caso, ele deveria estar me agradecendo. De


qualquer forma, você fica particularmente tagarela antes de começar a gritar,
então eu sei que devo te acordar antes disso."

"Certo," Regulus suspira, apoiando-se nos cotovelos e se movendo para se


sentar ao lado de sua cama, rolando os ombros. "Hora de me levantar,
suponho. Você também."

"Sem banho?" Barty pergunta baixinho.

Regulus balança a cabeça um pouco rigidamente. "Agora não. Mais tarde


hoje, depois que eu sair."

"Dia ruim?" Barty murmura.

"Está tudo bem," é tudo o que Regulus diz. "Eu vou escovar meus dentes.
Você pode sair."

"Ah, Regulus, seu cavalheirismo não tem limites," Barty responde


secamente, mas ele ainda se diverte. "Eu amo tanto quando você exige que eu
deite do seu lado durante a noite, me confunde com outro homem na manhã
seguinte, e me expulsa logo depois. Verdadeiramente, você sabe como fazer
um homem se sentir especial."

34
ZEPPAZARIEL

"Fico feliz em ser útil," Regulus brinca de volta enquanto se levanta.


"Agora saia."

"Imbecil," Barty chama atrás dele.

"Idiota," Regulus responde, então atravessa o corredor para entrar em seu


banheiro e fechar a porta.

Por um longo momento, Regulus apenas fica parado e respira, flexionando


os dedos, e então, com um suspiro, ele abre a torneira e pega sua escova de
dentes.

Seus olhos rastejam até a banheira, fazendo uma careta automaticamente


assim que ele olha para ela. Por mais extravagante que seja, ele odeia pra
caralho. Mesmo depois de meses, o banho ainda é a ruína de sua existência.
Ele ainda faz isso; o que é um processo longo e cansativo que sempre deixa
uma poça de água no chão e faz com que ele sinta que está falhando como ser
humano, mas ele faz isso. Ele fica limpo, no final, e isso é tudo que importa.

Ele nem sempre toma banho sozinho, o que ajuda nos dias muito ruins.
Bem, não, ele sempre toma banho sozinho. Ele nunca poderá tomar banho
com outra pessoa na banheira com ele, onde ela possa tocá-lo, onde ele possa
sentir seus dedos em sua pele. Mas alguém está lá quando ele precisa. Barty
geralmente se senta no banheiro e conversa, não incomodado com sua nudez
e totalmente sem medo de fazer comentários lascivos e provocadores, mesmo
quando Regulus está chorando, o que Regulus honestamente aprecia. Sirius,
por razões óbvias, não entra no banheiro quando Regulus está tomando
banho, mas ele fica sentado do lado de fora da porta—assim como Remus
fazia—e fala com ele o tempo todo, sem fazer perguntas.

Há muito mais dias em que ele faz isso sozinho, onde ele pode entrar em
contato com a água sem voltar imediatamente para o rio. Esses são os bons
dias. Quando Barty fica, ele sempre tenta pegar os dias ruins de antemão, ao
invés de deixar Regulus lutar para descobrir como pedir ajuda. De qualquer
forma, Regulus percorreu um longo caminho. Progresso é progresso, como
dizem.

Regulus nunca toma banho no chuveiro. Ele nunca mais vai tomar banho
no chuveiro de novo.

35
CRIMSON RIVERS

Quando Regulus ressurge do banheiro, sua boca fresca e mudada para o


dia, Barty ainda está descansando em sua cama, o idiota. Regulus suspira.

"Você não tem um lugar para estar?" Regulus pergunta categoricamente.

"Sim, mas estou ignorando," Barty diz simplesmente.

"Vá trabalhar, Barty."

"Mas eu odeio lá."

Regulus balança a cabeça e vai até sua mesa para acender sua lâmpada e
abrir seu diário. Ela se abre automaticamente na última página em que ele
escreveu, a última flor não se ajustando exatamente à encadernação,
pressionando o caule. Regulus corre os dedos sobre as pétalas, absorvendo,
depois vira para a próxima página e pega sua caneta.

"Rosas são vermelhas, meu pai é um idiota, não me faça ir trabalhar, eu


prefiro morrer," lamenta Barty.

"Isso nem rima," Regulus murmura.

Barty grunhiu. "A poesia não tem que rimar. Você me ensinou isso. De
qualquer forma, é melhor do que qualquer coisa que você esteja escrevendo,
sem dúvida. Tome nota disso, ok? Eu sou um gênio."

"Rosas são vermelhas, saia da minha cama e me deixe em paz na minha


mesa, faça o que eu disse, ou eu arranco a porra da sua cabeça," Regulus
retruca, mesmo enquanto torce o pulso e escreve o poema estúpido de Barty
na margem, assinando-o com um idiota que, infelizmente, pensa que ele é um gênio.

"Mas eu odeio isso, só para você saber," Barty resmunga enquanto rola
para fora da cama. "Ele só vai me dar um sermão assim que eu passar pela
porta, como se eu me importasse em fazer dobradiças estúpidas o dia todo. E
está tão quente. E meus braços doem no final. E eu nem quero ser um ferreiro,
mas ele se importa com isso? Nãooo, claro que não. Ele está apenas—ei, você
está me ouvindo, Regulus?"

"Mhm," diz Regulus, que não está.

36
ZEPPAZARIEL

Para ser justo, não é como se Regulus nunca tivesse ouvido nada disso
antes. Ele sabe tudo sobre o desgosto de Barty por seu pai, e o desgosto de
Barty por trabalhar como ferreiro com seu pai, e também apenas o desgosto
geral de Barty por praticamente tudo. Regulus não pode culpá-lo; ele conhece
melhor do que a maioria os sentimentos complexos que se tem por pais de
merda.

No caso de Barty, sua mãe é aquela por quem ele tolera tudo. Se não fosse
por ela, Regulus tem certeza de que Barty teria cuspido na cara de seu pai e
nunca mais pisaria na forja. O pai de Barty pode ser uma merda, mas a mãe
dele é adorável.

Enquanto Barty anda por aí, ele continua a tagarelar e reclamar, enquanto
Regulus o ignora, desinteressado. Ele não oferece mais dinheiro a Barty,
porque Barty parou de aceitar quando seu pai começou a exigir saber onde ele
conseguiu e o que ele fez para obtê-lo, levando a uma discussão maciça que
perturbou sua mãe. Regulus sabe que não deve oferecer agora, mesmo que ele
tenha muito e não se importe em dar a Barty o suficiente para manter sua
família alimentada, até mesmo sua desculpa de pai.

"Tudo bem, tudo bem, estou saindo agora," anuncia Barty.

Regulus gira em sua cadeira para encará-lo. "Você vem de novo?"

"Não esta noite. Eu vou para casa de Casey."

"Oh, você está nessa agora?"

Barty sorri e mexe as sobrancelhas. "Ela quer relaxar um pouco, e eu estou


mais do que disposto a fornecer isso. Você pode vir, se quiser. Ela disse que
eu poderia levar um amigo."

"Eu acho que vou passar. Você vai divertir, no entanto," Regulus
murmura.

"Você precisa sair mais," diz Barty com um suspiro. "Não estou dizendo
que sexo resolveria todos os seus problemas, mas pelo menos tiraria sua
mente deles, e você merece orgasmos."

Regulus solta uma risada fraca porque Barty diz isso com tanta seriedade
que é literalmente engraçado. Vindo de Barty, isso é genuinamente um elogio
37
CRIMSON RIVERS

e também basicamente uma admissão do quanto ele se preocupa com


Regulus. Desejar orgasmos às pessoas é como Barty mostra seu amor—oh,
e dando orgasmos, geralmente, mas eles não fazem mais isso.

Não, eles apenas... dormem um ao lado do outro às vezes. É meio


humilhante, honestamente. Eles costumavam fazer todo tipo de coisas sujas
quando estavam de bom humor, e agora a coisa deles é deitar um ao lado do outro
sem se tocar, porque isso ajuda Regulus a dormir. Ele luta para fazer isso
sozinho depois da arena, mas também não suporta ser tocado, na maioria das
vezes, pelo menos até que esteja realmente cansado, perto de dormir, mas ter
um corpo ao lado dele ajuda. Barty aprendeu da maneira mais difícil a não
tocá-lo, especialmente sem aviso prévio.

Quatro meses e meio se passaram, e Regulus ainda está muito paranóico


para arriscar dormir se não tiver um corpo ao lado dele, só para enganar seu
cérebro e pensar que está seguro. Seu cérebro também acredita, e é por isso
que toda vez que ele acorda, é James que ele acha que está lá.

"Acredite ou não, estou indo muito bem sem orgasmos, Barty," Regulus o
assegura. "Você pode ir e ter quantos você quiser, no entanto. Não me deixe
impedir você."

Barty franze a testa, hesitando na porta. "Você vai ficar bem esta noite,
certo? Porque eu posso cancelar—"

"Absolutamente não," Regulus interrompe. "Eu vou ficar bem, e se não,


Sirius estará por perto para me incomodar. Ele deveria passar por aqui hoje.
Não deixe Casey desapontada. Ela me dá um diário grátis todo mês, então é
melhor você fazer bem para ela. Faça aquela coisa com a boca que você faz."

"Você vai ter que ser mais específico." Barty abre um sorriso e pisca. "Eu
faço muitas coisas com a minha boca."

"Exceto calar a boca, infelizmente," diz Regulus, e Barty olha para ele antes
de bater na porta e reclamar por ter que ir trabalhar. Eles trocam despedidas, e
então Barty leva todo barulho com ele quando vai embora, deixando para trás
o silêncio.

Regulus volta para o seu diário e pega sua caneta.

38
ZEPPAZARIEL

Há uma fera raivosa em mim


Eu sou uma contusão — a podridão mole de um pêssego
Pequeno e aberto
A costura de mim grita
Eu já fui uma estrela — mas nunca brilhante
A noite aveludada me engoliu
Sempre engoliu
Eu ainda deixo
Melhor ser engolido
Do que engolir
Sangue

A visão do movimento do lado de fora de sua janela chama a atenção de


Regulus, fazendo-o erguer o olhar, um puxão suave em seu peito que lhe
permite saber o que vai ver antes mesmo de olhar. É assim que acontece,
todos os dias; ele sabe disso com a mesma certeza inabalável que sabe que o
sol vai se pôr e vai nascer de novo. Há algo nele que está ciente, sempre muito
atento, de James, especialmente quando ele está por perto.

Regulus se inclina um pouco para frente, apoiado nos cotovelos ao lado de


seu diário, prendendo a respiração quando avista a cabeça bagunçada de James
lá embaixo, onde ele está na varanda de Regulus. Ele demora, como sempre
faz, todos os dias, e então ele volta à vista quando começa a se afastar.
Regulus rapidamente se recosta em sua cadeira, pegando sua caneta e fingindo
escrever, embora não esteja. Ele já aprendeu a lição; James sempre olha para
cima, incapaz de resistir a dar uma espiada pela janela. Hoje não é um dia em
que Regulus se sente forte o suficiente para encontrar seu olhar.

Cuidadosamente, Regulus espia por seus cílios muito rapidamente,


permitindo-se levantar a cabeça novamente quando vê que James está quase
em sua casa—do outro lado da rua. James ainda mora com seus pais, ao invés
de se mudar para a casa que lhe foi providenciada após os jogos, como
Regulus fez. Estão todos ainda na Aldeia dos Vitoriosos, quatro das casas
atribuídas, apenas três usadas. Os pais de Regulus na casa que Sirius ganhou
depois que ele ganhou seus jogos; James e Sirius na casa que Effie ganhou
depois que ela ganhou a dela; Regulus por conta própria depois que ele
ganhou o dele.

39
CRIMSON RIVERS

Assim que James volta para sua casa, Regulus bate a caneta no chão e sai
correndo da cadeira, descendo as escadas a uma velocidade, francamente,
ridícula. Ele está sem fôlego quando chega à porta, e é rápido ao abri-la um
pouco e esticar a mão para se abaixar e pegar o que James deixou para trás, o
que ele deixa para trás todas as manhãs, sem falta.

A flor é azul hoje.

Regulus se inclina contra a porta e olha para ela, seu coração martelando
em seu peito—da corrida, obviamente, e nada mais. Ele arrasta o polegar
suavemente sobre as pétalas macias e finas em plena floração do azul do
pássaro canoro, seu coração inchado no peito como se tivesse sido picado. Ele
pulsa.

Depois de quatro—quase cinco—meses de James constantemente


deixando uma flor na porta de Regulus literalmente todos os dias, você
pensaria que isso pararia de afetá-lo tanto. Não parou. Todas as manhãs,
rouba o fôlego dele. Todas as manhãs, isso o faz doer. Todas as manhãs,
mantém seu coração refém.

Como sempre, Regulus entra na cozinha com o nariz enterrado na flor,


inalando o cheiro dela, o cheiro da terra e algo doce; inalando como se ele
pudesse encontrar um rastro de James por baixo de tudo, mesmo que ele
nunca o faça. Ele a gira contra o nariz até espirrar, o que é de alguma forma
satisfatório, e então ele joga a flor no vaso no peitoril da janela de frente para
o quintal, empurrando-a para o fundo do jarro. Assim como todos os outros
dias, Regulus colhe duas flores da frente que James deixou para ele dias e dias
atrás, e então dispara de volta para o andar de cima.

É praticamente uma rotina, neste momento. Regulus usa uma das flores
para substituir uma que está morrendo em seus diários anteriores que ele já
preencheu, e a segunda flor vai entre a página que ele está escrevendo hoje. A
flor—é rosa—está sobre a mesa enquanto ele pega sua caneta novamente.

Outra flor desabrochando


Ela fala por você — suave
Mais suave do que você já falou
Há força em sua voz
Alta e sem vergonha — brilhante
Tão brilhante, como o sol, mesmo agora
40
ZEPPAZARIEL

As flores crescem em sua direção


Eu ouço você — e eu
Ouço, ouvindo, eu estou ouvindo
Eu não posso te afogar
Eu não quero mais tentar
Como as flores desabrochando
Eu cresço em direção a você
Eu cresço — se não posso escalar

~•~

James para na cozinha para beijar sua mãe na bochecha dela, apertando seu
ombro enquanto faz isso. Effie se inclina para ele com um sorriso, mas não se
afasta do fogão.

"Muito rápido hoje," observa Effie.

"Sim, bem, eu não gastei vinte minutos discutindo se eu deveria bater ou


não desta vez," James diz timidamente. Ele dá um suspiro. "Eu tenho que sair,
então não havia tempo para isso, na verdade. Vou encontrar Mary na escola."

"Levando Sirius com você?" Effie pergunta.

"Se ele quiser ir," James diz a ela, dando de ombros. "Ele provavelmente
vai, se não tiver planos de incomodar Regulus hoje."

Effie cantarola. "Vocês dois estarão em casa a tempo do jantar, sim?"

"Nós não perderíamos," James brinca, inclinando-se para esfregar a cabeça


por todo o ombro dela, rindo quando ela bufa em ofensa fingida e bagunça
seu cabelo.

Alguns minutos depois, James anda pela casa e encontra seu pai na sala
principal, jogando lenha cortada na lareira. A visão disso faz o coração de
James apertar, como sempre acontece. James nunca corta lenha mais para seus
pais; Monty lida com isso agora, mesmo que deva ser brutal para suas costas e
joelhos. Ele faz isso sem reclamar, porém, e guarda o machado em algum
lugar que James não precisa ver quando está cuidando de suas flores.

41
CRIMSON RIVERS

"Oh, eu consigo," Monty murmura quando James se move para se agachar


ao lado dele com uma careta, ajudando-o a jogar as últimas lenhas na lareira.
"James—"

"Ah, está tudo bem, pai," James interrompe rapidamente, ignorando a


pontada em sua perna e o estalo verdadeiramente grotesco que seu joelho deu
quando ele se abaixou. Ele tem vinte e seis anos, e às vezes seu corpo faz
barulhos que parecem que ele é muito, muito mais velho. É ao mesmo tempo
terrivelmente engraçado—para ele, pelo menos—e meio deprimente (para
basicamente todo mundo, exceto Mary, que ri junto com ele e diz que eles
podem começar uma banda, porque ela tem um cotovelo ruim que estala toda
vez que ela o dobra.)

"Obrigado," Monty diz graciosamente quando o último tronco entra, e


então ele estende a mão para passar a mão pelo cabelo de James, esfregando a
cabeça carinhosamente. Seus pais estão cheios de pequenos toques como esse,
estendendo a mão aleatoriamente para tocá-lo como se quisessem ter certeza
de que ele realmente está aqui, até hoje. James absorve toda a porra de cada
vez.

"Vamos, meu velho, deixe-me ajudar você a levantar," James provoca,


então se vira e precisa que seu pai ajude ele, o que o faz rir quando Monty
parece presunçoso.

"Eu estou no meu auge, só para você saber," declara Monty. "Diga-
me, meu jovem, qual é a sua desculpa?"

"Mãe!" James chama. "Papai está tirando sarro da minha perna de novo!"

"Flea," Effie chama bruscamente, e James sorri enquanto Monty levanta as


duas mãos, seus olhos brilhando de diversão apesar do jeito que ele finge
resmungar.

James abafa uma risada enquanto se dirige para as escadas e Monty entra
na cozinha para apaziguar sua esposa, declarando que seu filho é um
mentiroso sujo e podre que só pretende separá-los. As escadas, como sempre,
não são a invenção favorita de James no mundo, mas ele pula o assento
dobrável que Sirius construiu e instalou para ele, que funciona em um
mecanismo ao longo do corrimão para ele montar quando sua perna está

42
ZEPPAZARIEL

dando muito problema. Hoje não está tão ruim, e ele conhece seus limites
agora, depois de quase cinco meses aprendendo-os.

James está mancando levemente quando chega ao topo, mas já parou


quando chega ao quarto de Sirius. Ele não se incomoda em bater, porque eles
nunca bateram de verdade, honestamente. Sirius está acordado, puxando uma
camisa sobre a cabeça.

James assobia.

"Fique com as calças, Potter," Sirius murmura enquanto tira o cabelo do


rosto.

"Temo que eu não seja capaz. Você é uma visão," James diz sem fôlego,
abanando o rosto.

Os lábios de Sirius se contraem. "Claro que eu sou. A cadela mais gostosa


do quarteirão, e não se esqueça disso."

"Eh, bem..." James carrega os dentes em uma careta e inclina a cabeça de


um lado para o outro. "Quero dizer, Regulus fica do outro lado da rua,
então..."

"Você é tendencioso, Romeu," Sirius diz, revirando os olhos.

James bufa. "Sim, sim. Falando em Regulus, você está planejando vê-lo
hoje?"

"Sim," Sirius responde, estreitando os olhos. "Por que?"

"Calma, eu não vou tentar ir junto," James murmura, exasperado. Sirius é


ferozmente territorial em todo e qualquer tempo que passa com Regulus, e
apenas—territorial em geral, embora ele nunca fique no caminho deles se
verem se é isso que eles quiserem fazer, exceto que eles... nunca fazem. "Eu só
estava perguntando porque vou me encontrar com Mary de novo hoje, e
pensei que talvez você gostaria de vir comigo."

Os olhos de Sirius se iluminam. "Oh, eu adoraria, se eu tiver tempo.


Quanto tempo você vai ficar, você acha?"

43
CRIMSON RIVERS

"Por algumas horas, no máximo. Eu estava pensando em parar e ajudar no


mercado de novo depois, a menos que Mary tenha outros planos," admite
James.

"Vou ver como vai meu dia, sim?" Sirius diz.

James assente. "Sim, só pensei em oferecer. À propósito, mamãe está


fazendo o café da manhã."

"Deveria ter começado com isso," Sirius deixa escapar, então praticamente
empurra James para fora do caminho para sair correndo do quarto, cantando
saudações e pedidos de comida enquanto ele desce as escadas e sem dúvida
irrompe na cozinha. Há uma pausa de silêncio, então, "James, eles estão se
beijando de novo!"

"Euphemia e Fleamont Potter!" James grita enquanto marcha para fora do


quarto, pulando no corrimão da escada e deslizando para baixo com um
sorriso, certificando-se de descer com facilidade ao invés de pular quando
chegar embaixo. Ele faz uma careta antes de entrar na cozinha, braços
cruzados em desaprovação enquanto lança um olhar de repreensão para seus
pais, que estão olhando entre ele e Sirius com dois olhares de diversão. "Nós
não aceitamos tanta obscenidade nesta casa. Todas as demonstrações de afeto
são proibidas e impostas com a ameaça de despejo."

"Flea, seja um amor e coloque a língua na minha boca," diz Effie.

"Qualquer coisa por você, meu amor," Monty responde imediatamente,


inclinando-se com um sorriso enquanto Sirius e James começam a protestar
alto e correm para separá-los.

"Rebeldes," Sirius sussurra, se contorcendo entre eles e balançando a cabeça.


"Selvagens absolutos, vocês dois."

"Você não pode disputar nossa paixão," diz Monty.

"Nem pode imitar. Você só pode ter a sorte de ter o que temos,"
acrescenta Effie, lutando contra um sorriso.

James tosse para cobrir uma risada. "Sirius, eu não sei como podemos
continuar vivendo nessas condições."

44
ZEPPAZARIEL

"É uma tortura," Sirius concorda dramaticamente. Effie estende um prato


cheio para ele, e ele se ilumina instantaneamente. "Bem, olhe para isso? De
repente, estou tão feliz por estar aqui."

"Síndrome de Estocolmo," James sussurra.

"Eu nunca vou embora," Sirius anuncia, o que só prova o ponto de vista
de James. Eles compartilham um olhar, então têm que desviar o olhar para
que não se dissolvam em risadas.

Há esse calor, riso e amor guardados na cozinha como a familiaridade da


prateleira de temperos, e James pode sentir isso se moldando em sua mente,
uma memória em formação, à qual ele se agarrará quando precisar se lembrar,
quando precisa do lembrete.

A única coisa que James não pode ignorar é o vazio ao seu lado, apenas um
pouco mais frio do que qualquer outra parte dele, um espaço esculpido
implorando para ser preenchido. Regulus caberia ali, encostado nele, enfiado
debaixo de seu braço e sussurrando comentários maldosos no ouvido de
James para deixá-lo em pedaços. Regulus caberia aqui, com James, com essa
família. Regulus se encaixaria tão bem que sua ausência é sentida; James sente
ela, sempre.

Depois de todo esse tempo, você pensaria que ele já estaria acostumado
com isso.

~•~

Sirius e James reivindicaram partes do quintal para si, e embora isso não
seja dito, é bastante conhecido que o que é deles é deles, e só deles.

Sirius, Effie e Monty não mexem com as flores de James de forma alguma,
e não derrubam colméias ou ninhos de vespas, e não deixam ferramentas que
podem ser pegas e usadas como armas para James ver ou pegar—tudo isso foi
aprendido por meio tentativas e erros. James, Effie e Monty não entram no
galpão de Sirius, não movem suas ferramentas e não fazem pedidos para que
ele construa algo específico, apenas agradecem o que ele lhes der—isso
também foi aprendido por meio de tentativa e erro.

Essa é a vida, no entanto. Um monte de tentativas e erros.

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CRIMSON RIVERS

A última vez que Sirius esteve na casa de Regulus, ele viu as canetas e lápis
espalhados por toda a mesa em seu quarto—aquela que Sirius construiu para
ele—e fez a nota mental de construir algo para prendê-los. Não é nada
extravagante, não é a coisa mais intrincada que ele já construiu, mas vai
funcionar. Apenas um recipiente de madeira grande o suficiente para que as
canetas e lápis pudessem tinir com facilidade, pendurado para facilitar o
acesso no topo, o lado de fora esculpido em padrões sem sentido porque
Sirius ficou entediado. O verniz deixa tudo brilhante e liso.

Sirius constrói coisas de novo. Cria coisas. Qualquer coisa, mesmo.


Começou com ele fazendo uma bengala para James, para que ele pudesse se
livrar da que a Relíquia lhe deu. A primeira foi boa, mas Sirius achou que
poderia fazer melhor, então ele fez uma segunda, depois uma terceira, e uma
quarta, bem como uma quinta, que James está usando agora quando precisa
de sua bengala. Sirius está atualmente trabalhando na sexta, melhorando a
cada vez que o faz, um pouco apegado à rotina do mesmo. James guarda
todos elas.

De qualquer forma, fazer a primeira bengala meio que quebrou alguma


coisa em Sirius, e então de repente foi como se ele não pudesse parar de fazer
coisas. Roupas, bugigangas, móveis—não importa, ele faz tudo. Ele tricota,
esculpe, trabalha com vidro e plástico e argila e madeira. Ele apenas... brinca,
basicamente o tempo todo. A maioria das coisas, ele não termina. Algumas
coisas, ele ainda quebra. Algumas coisas, ele termina com perfeição, depois
destrói antes que alguém possa ver, em um acesso de raiva e emoção que o
domina. Mas ele nunca para; ele sempre volta a construir de novo, e algo nisso
o acalma.

Não foi fácil, recuperar isso depois de dez anos. Aquela primeira bengala
que ele fez foi honestamente uma merda, mesmo que James a usasse sem
problemas. Talvez Sirius seja apenas dramático, mas para ele, a visão dela o
fez querer arrancar seus globos oculares, então ele insistiu em fazer melhor na
segunda vez. Foi assim que ele ficou bom de novo, velhos hábitos e sua
determinação implacável de esperar mais de si mesmo. O som de desprezo em
sua cabeça que zomba de seus fracassos ainda toma a forma da voz de sua
mãe, até hoje.

Ao sair pela porta do galpão, com o porta-canetas na mão, Sirius bate em


seu maior projeto no canto, embaixo do lençol. Ele ainda encontra coisas

46
ZEPPAZARIEL

novas para fazer com ele, e provavelmente o fará até que finalmente seja
colocado em uso. A estante de James e Regulus está lá—aquela mencionada
apenas uma vez, de alguma outra vida, e ele a fez nesta para eles terem quando
estiverem prontos. Sirius acredita que eles estarão, algum dia. Ele ousa esperar
que sim, pelo menos.

Não é uma viagem muito longa para chegar à casa de Regulus, já que ele
está do outro lado da rua. Não tão longe de seus pais quanto Sirius gostaria,
mas perto dele, então ele lida com isso. Ele queria jogar Walburga e Orion
para fora e deixá-los desabrigados, mas Regulus havia pedido a ele para não
fazer isso—implorou para que ele não o fizesse, na verdade, que é a única
razão pela qual Sirius não o fez.

Eles foram duros com Regulus depois que ele voltou, muito duros, então
não foi surpresa que ele finalmente tenha se irritado. Demorou menos de uma
semana, apenas alguns dias de Walburga mandando ele tomar banho, se
recusando a ter um filho que não tivesse higiene adequada, que não se
apresentasse direito; então, quando Orion se atreveu a tentar arrastar Regulus
para um banho, totalmente vestido e gritando tão alto que Sirius ouviu tudo
na rua e imediatamente veio correndo, tudo meio que—foi para a merda,
honestamente. Sirius irrompeu e viu Regulus literalmente sufocando Orion até
a morte, e ele admitiu considerar apenas... deixá-lo fazer isso.

No final, ele não deixou, porque ele sabia que Regulus só ficaria mais
fodido com isso, e honestamente, lidar com os Aurores e as repercussões seria
uma tarefa do caralho. Então, Sirius o puxou—o único que conseguiu, porque
ele era o único forte o suficiente, embora Walburga estivesse tentando, sem
sucesso. Regulus estava atacando e bastante selvagem na época, então Sirius
teve que genuinamente arrastá-lo para longe. Naquele mesmo dia, ele ajudou
Regulus a se mudar, e seus pais não tiveram nada a ver com eles desde então.

Eles estão com medo, Sirius sabe disso. Com medo de seus próprios filhos,
no qual Sirius encontra algum tipo de justiça poética e fodida. Afinal, seus
filhos já tiveram medo deles; agora eles sabem como é estar do outro lado.
Seus filhos são assassinos, e eles nunca parecem compreender todo o horror
de tal coisa até que suas vidas estejam em risco.

De qualquer forma, Regulus está melhor e pior por ser essencialmente


deserdado, o mesmo que Sirius. Dói nele, mas é o melhor, porque Walburga e

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CRIMSON RIVERS

Orion não se importam com o trauma que ambos têm após os jogos; eles
nunca se importam, e por que eles se importariam? Não é como se eles se
importassem com o trauma que Sirius e Regulus carregam depois de sua
infância, o trauma que eles causaram.

Melhorou, no entanto. Dois meses atrás, Sirius persuadiu Regulus a ir até


Andrômeda para visitá-la e conhecer Ted e Ninfadora. Andy—apesar de
todos os anos que se passaram em que Regulus nunca a visitou ou a
reconheceu, devido à proibição de Walburga e Orion—recebeu Regulus sem
pestanejar, sem comentar sobre seu cabelo flácido e oleoso ou sua estrutura
frágil que mal se mantém unida da exaustão. Foi uma época ruim, dois meses
atrás, mas com o tempo, as coisas foram melhorando lentamente.

Sirius conhece o ciclo. Ele viveu isso. As coisas estão muito ruins, então
elas melhoram um pouco, e então elas ficam muito piores, e então elas ficam
bem, e então é insuportável, e então de alguma forma, inexplicavelmente, é
muito bom. De novo e de novo, assim vai. Regulus e James—e Sirius—estão
bem agora, ao mesmo tempo, o que é muito raro, mas não vai durar para
sempre. Isso só fica cada vez mais distante, deixando-os aprender a viver com
isso.

"Reggie!" Sirius chama, batendo na porta da frente e enfiando a cabeça


para dentro para esperar a habitual permissão de entrada. Regulus nunca, nem
uma vez, se recusou a deixá-lo entrar.

Desta vez, há silêncio.

Sirius não entra em pânico, não como na primeira vez que recebeu essa
resposta. Regulus nunca o recusa se ele está por perto, mas ele nem sempre está
por perto. Às vezes, ele simplesmente—sai. Ninguém sabe para onde ele vai, e
ninguém consegue encontrá-lo. Sirius talvez tenha tido um colapso legítimo
na primeira vez que isso ocorreu, então agora Regulus tende a deixar um
bilhete, só para garantir.

E sim, aí está. Um bilhete na cozinha, onde sempre está, onde se lê:

Não tenha um colapso, eu volto


— R.A.B

48
ZEPPAZARIEL

Sirius se vira e imediatamente volta para subir as escadas, entrando no


quarto de Regulus. É uma invasão de privacidade, tecnicamente, mas também
não porque Regulus gosta. Sirius sabe que sim, sabe que ele gosta de voltar
para casa e encontrar Sirius invadindo seu espaço como se não houvesse nada
o impedindo de fazer isso, um sinal claro de que eles estão bem. Ele senta o
porta-caneta na mesa, seus lábios se contraindo brevemente quando ele vê o
diário fechado com uma flor rosa saindo do topo como um marcador, ainda
não pressionado entre as páginas, o que significa que ele provavelmente
escreverá mais depois.

Sirius não lê os diários de Regulus. Ele respeita esse limite, apesar de sua
curiosidade, e está ciente de que Regulus perderia a cabeça se Sirius o fizesse.
Regulus é da mesma forma sobre sua escrita que James é sobre cuidar de suas
flores e Sirius é sobre construção.

Com um suspiro, Sirius abre a janela de Regulus e se empoleira na beirada


de sua cama, pegando seu maço de cigarros para acender um, olhando para o
céu enquanto espera Regulus voltar, olhando para as nuvens e sentindo falta
da lua.

~•~

Há uma árvore na beira da propriedade do prefeito, vizinha do necrotério


no distrito seis. Uma árvore alta com galhos grossos e curvados e um tronco
robusto, raízes retorcidas praticamente cimentadas no chão na base, como
assentos para Regulus se empoleirar. É uma árvore velha, provavelmente com
cinquenta anos, quieta e solitária, com vista para o rescaldo da morte.

Tecnicamente, a árvore está na propriedade do prefeito, embora Regulus


duvide que o prefeito o veja aqui, porque ele nunca veio reclamar. O
necrotério por perto pode ter algo a ver com isso.

Ninguém vem ao necrotério, exceto o agente funerário, mas mesmo ele só


aparece quando é necessário, quando alguém morreu e há um corpo para
cuidar, um funeral para planejar. Regulus geralmente está sozinho aqui, ele e a
árvore.

A maioria das pessoas não gosta da lembrança da morte. É uma coisa


mórbida, não é? Algo que dá um arrepio na espinha, olhar para o prédio onde
a dor e a perda sangram pelas janelas, onde a morte se agarra às paredes.

49
CRIMSON RIVERS

Regulus sabe mais do que isso. A morte está em toda parte, então não há
como evitá-la.

De qualquer forma, Regulus gosta dessa árvore. Ele acha que Evan gostaria
de escalá-la. Regulus nunca o fez, embora diga a si mesmo cada vez que vier
que o fará, ele finalmente o fará, ele se agarrará e seguirá em frente até chegar
ao topo.

Regulus nunca sai do chão.

A árvore tem entalhes na casca de onde ele jogou adagas repetidamente,


porque ele passa muito tempo fazendo isso. Talvez não devesse acalmá-lo,
mas acalma. Ele acha que sempre acalmará.

Está quente agora que o verão chegou. Regulus não é fã disso,


francamente. Ele soa mais no calor, naturalmente, o que significa que há mais
necessidade de banho. Mas, ao mesmo tempo, ele nunca sente frio à noite, o
que ele realmente gosta. Ele associa noites frias com a arena.

Com um grunhido, Regulus pega sua adaga da árvore e dá um passo para


trás, seu peito arfando com a força com que a jogou, seu corpo deliciosamente
dolorido. Ele sempre toma cuidado para não se cortar, porque na primeira e
única vez que o fez, ele acabou vomitando violentamente, o ele que achou
incrivelmente ridículo, visto que era apenas um pedacinho no dedo. Como um
idiota, ele enfiou o dedo na boca para acalmar instintivamente o pequeno
corte; assim que o gosto de ferro atingiu sua língua, acabou para ele. Ele não
cometeu esse erro novamente.

Regulus pensa em jogar sua adaga de novo, mas para e olha para o céu
contra o forte estrondo do sol batendo em sua pele pegajosa. Ele está aqui há
horas, então se Sirius decidiu vir, sem dúvida está esperando por ele. Regulus
é cauteloso em mantê-lo esperando por muito tempo, a memória de quão
ruim isso foi na primeira vez que aconteceu nunca está muito longe de sua
mente. Sirius não tinha lidado bem com isso.

Então, com uma leve relutância, Regulus solta um suspiro profundo e puxa
o cabelo para trás de onde ele está encharcado e úmido sobre sua testa,
tentando se agarrar à sua pele suada. Sim, ele vai ter que tomar banho esta
noite. O pensamento faz seu estômago revirar, então ele o ignora por um
pouco mais.

50
ZEPPAZARIEL

É um pouco de caminhada para voltar a Vila dos Vitoriosos. Regulus passa


por onde Barty está, mas ele não para, não querendo ser um catalisador para
outra briga explosiva entre ele e seu pai. Ele ignora o mercado, sem vontade
de interagir com as pessoas.

Depois do mercado, ele passa pela escola, para a qual ele olha
furtivamente, dizendo a si mesmo que não está tentando ver James, embora
esteja. Ele sabe através de Sirius que James passa muito tempo lá com Mary, e
Sirius também vai quando tem chance. Sirius o convidou várias vezes, jurando
que Mary não se importaria, prometendo que seria bom para ele.

Regulus nunca vai, mas estaria mentindo se dissesse que não pensou nisso,
nem que fosse para ver James. O único problema são as crianças. Regulus mal
consegue funcionar em torno de adultos, então ele sabe que seria uma causa
perdida em torno de crianças. Ninfadora está se tornando uma exceção, mas
ele não quer testar a teoria com outras crianças.

Finalmente, Regulus volta para a Vila dos Vitoriosos, percorrendo o


mesmo caminho sob as luzes da rua, mesmo que não estejam iluminadas, o
mesmo caminho que ele percorreu por anos. Ele tem que passar por sua
antiga casa—onde seus pais estão—e ele se atreve a dar uma olhada. Ele não
vê nada, é claro. Às vezes, ele vê. Às vezes, sua mãe está saindo, ou seu pai
pode ser visto passando por uma janela. Às vezes, ele sente falta deles. Às
vezes, ele se pergunta do que ele está sentindo falta.

Assim que Regulus abre a porta e entra, Sirius está lá, puxando-o para um
abraço apertado que deixa todo o corpo de Regulus tenso enquanto um raio
de confusão o atravessa. Sirius nunca o toca sem pedir, ou sem um sinal claro
de aviso para que Regulus possa se afastar se precisar, e nos dias realmente
ruins, ele sabe que não deve tocar de jeito nenhum. O fato de Sirius estar
abraçando ele antes de qualquer outra coisa o deixa em alerta máximo
imediatamente, assim como o pânico nos olhos de Sirius quando ele o solta.

"Ei, Regulus. Só para avisar, James saiu depois de você, mas ele deve estar
em casa logo," Sirius diz, segurando seu olhar, claramente tentando transmitir
algo que Regulus está honestamente apenas—não entendendo. Do que diabos
ele está falando?

"O que?" Regulus pergunta, perplexo. Esse é, tipo, um dia ruim de algum
tipo para Sirius? "James não—"
51
CRIMSON RIVERS

"Na verdade, por que eu não vou buscá-lo?" Sirius interrompe


apressadamente. "Ele gostaria de saber que vocês dois têm uma visita, tenho
certeza."

Regulus de alguma forma fica mais rígido, e ele prende a respiração por um
instante enquanto Sirius olha para ele, praticamente implorando para ele
concordar com isso com os olhos. Então, Regulus exala e balança a cabeça
lentamente. "Sim, tenho certeza que sim. Quem é a visita?"

"O próprio Mestre das Relíquias," declara Sirius, de alguma forma


conseguindo soar encantado com isso, apesar do fato de que não há sorriso
em seu rosto. "Ele está na sua cozinha."

"Ah," Regulus diz, esperando como o inferno que não soe como se ele
tivesse levado um soco do jeito que ele sente. Ele engole em seco, pigarreia
baixinho, então endireita os ombros. "Bem, suponho que não deveria deixá-lo
esperando, então. Vou fazer companhia para ele enquanto você traz James
para casa."

"Tudo bem, claro," Sirius responde levemente, como se não fosse grande
coisa, mas ele arrasta Regulus de volta para um abraço, e desta vez, Regulus
reflexivamente o abraça de volta, segurando firme. Sirius abaixa a cabeça para
sussurrar em seu ouvido. "Eu vou ser rápido. James mora aqui e você o ama
muito, fui claro?"

"Entendido," Regulus suspira, e Sirius lhe dá um aperto antes de se afastar,


indo para a porta.

Por um segundo, Regulus apenas respira, e então começa a se mover em


direção à cozinha. Ele não está... com medo, exatamente, apenas cauteloso.
Isso o confunde, por que Riddle apareceria aqui, mas talvez não devesse.
Afinal, o que ele e James fizeram sem dúvida irritou o homem, mas já faz
meses. Acabou agora, praticamente. Claro, há a turnê da vitória chegando em
um mês e meio, mas essa é a última vez que Riddle terá que ver ou ouvir
sobre James e Regulus, porque não é como se eles fossem ser mentores. Sirius
é muito amado pelas Relíquias para ser substituído, e ele não os deixaria tomar
seu lugar de qualquer maneira.

Na cozinha, há dois Aurores armados de cada lado da porta enquanto


Regulus entra, o que honestamente o coloca em alfinetes e agulhas

52
ZEPPAZARIEL

imediatamente. Ele pensa na adaga amarrada ao seu lado, sob a camisa, e se


força a nem mesmo pensar que poderia usá-la.

Riddle está de fato em sua cozinha, apenas casualmente sentado à mesa


com uma maleta fechada bem na frente dele. Ele não sorri quando Regulus
entra, mas levanta a mão e agita os dedos, o que faz os Aurores saírem.

"Regulus, obrigado por se juntar a mim," Riddle diz, sua voz suave e clara.

"Peço desculpas por fazer você esperar," Regulus murmura enquanto se


move para se sentar na frente dele assim que Riddle gesticula para ele fazer
isso, comandando o espaço ao seu redor como se ele fosse o dono de tudo.
"Eu não estava esperando uma visita hoje, ou não teria feito."

"Tudo bem. Sirius foi um bom anfitrião enquanto eu esperava," Riddle


responde. Ele lança seu olhar sobre Regulus, crítico e afiado. "Você parece...
superaquecido."

"Sim, bem, isso tende a acontecer no verão."

"Talvez ajudasse se você estivesse vestido adequadamente para o clima."

"Que tolice minha, senhor, eu nunca pensei nisso," Regulus diz sem
rodeios, olhando para Riddle sem expressão, porque ele não se importa com
qualquer discussão verbal para qual Riddle está tentando arrastá-lo. Ambos
sabem que ele está coberto de cicatrizes; ambos sabem exatamente por que ele
ainda está em uma camisa de manga comprida, mesmo agora.

Os lábios de Riddle se curvam nos cantos, mas parece mais um espasmo


muscular do que um sinal de diversão. Ele estende a mão e descansa a mão
em sua pasta, batendo levemente com um dedo. "Devo admitir, fiquei um
pouco desapontado quando cheguei e descobri que você e James não estavam
aqui para me receber, ou mesmo nenhum de vocês. Talvez tenha sido tolice,
mas eu pelo menos esperava que vocês saíssem juntos."

"Eu sou seu amante, não seu guardião," responde Regulus. "Nós temos
outras coisas para fazer durante o dia além de ficar debaixo do outro o tempo
todo, assim como qualquer outro casal."

53
CRIMSON RIVERS

"Ah, você vai ter que perdoar minha confusão. Eu tinha a impressão de
que seu amor um pelo outro era diferente de todos os outros," Riddle
anuncia, inclinando a cabeça.

A boca de Regulus fica seca.

"Problemas no paraíso?" Riddle pergunta, observando-o de perto.

"Não," Regulus diz suavemente. "Tudo está bem."

"Bem? Só bem?" Riddle continua.

Regulus luta para não ranger os dentes enquanto corrige, "Perfeito, na


verdade."

Riddle o observa por um longo, longo tempo em completo silêncio, seu


dedo firmemente, batendo ritmicamente na maleta. Seus olhos são de um
castanho profundo, objetivamente marcantes, mas o eco vazio deles os faz
parecer poços sem fundo. Eles são tão frios e afiados, como fragmentos de
gelo manchados de ferrugem ou sangue. A visão faz Regulus sentir náuseas.

"Sabe, Regulus, quando eu te vi pela primeira vez no desfile de


apresentação, você me intrigou," Riddle admite.

"Eu?"

"Sim, porque eu pensei que me vi em você. A determinação em seus olhos


falava de forças ocultas. A maioria dos tributos mostra medo, mas eu não
encontrei nenhum em você naquele dia. Você me surpreendeu ao se mostrar
mais fraco do que todos eles."

"Desculpe decepcionar," Regulus diz rigidamente.

Riddle apenas cantarola. "Você não é o primeiro, você não será o último.
Do jeito que está, nós não somos parecidos, mas acho que nós dois
compartilhamos uma apreciação por falar sem rodeios, sem ilusões do que
está sendo discutido. Vamos falar livremente agora, Regulus."

"Claro," Regulus concorda.

54
ZEPPAZARIEL

"Eu não concordo com a noção tola de que o amor—" Os lábios de Riddle
se curvam em desgosto em torno da palavra, "—pode ser comparável de
pessoa para pessoa. Que pode ser maior entre um par de amantes do que o
outro. Todo mundo acredita que eles inventam o amor, apenas a partir da
profundidade que eles sentem, mas não é o caso. O seu amor e o de James,
por exemplo, não precisa ser mais estimado do que o de qualquer outro. Assim
como qualquer outro casal, você disse. Sim, apenas isso. Nós concordamos com
isso."

"Eu nunca afirmei que era maior," Regulus diz a ele.

"Talvez não em tantas palavras, mas esse é, no entanto, o escudo que você
usou quando estava sob fogo." Riddle dedilha na maleta. "Quer eu ou não, as
pessoas na Relíquia acreditam nessa noção boba, Regulus, e isso é a única
coisa que mantém você e James vivos."

Regulus não reage a isso, forçando-se a não fazê-lo, porque ele já sabia
disso. Eles estão falando livremente, certo? Claramente eles estão, porque
Riddle com certeza está. "As pessoas da Relíquia são o motivo pelo qual essa
noção boba existe para começar."

"Isso pode ser verdade," Riddle permite, "Mas agora é sua


responsabilidade, e de James, manter essa noção tola viva. Sua vontade de
morrer um pelo outro no final de seus jogos só pode ser originada de um ato
de amor que cria obsessão dentro de todos os outros, porque eles sentem
como se nunca pudessem experimentar o mesmo grande amor. Então eles o
idolatram. Eles o estimam. Eles iriam a extremos para vê-lo florescer. Você
mostrará a eles que floresce."

"Estou ciente do que se espera de mim," resmunga Regulus, porque ele


está, porque ele não é estúpido.

Riddle balança a cabeça lentamente e dedilha, dedilha, dedilha. "Eu não


tenho tanta certeza de que você está, porque não pode haver dúvida, Regulus.
Não pode haver pessoa que olhe para você e James e tenha sequer um
lampejo disso, mesmo um momento para pensar que, talvez, o que você e
James fizeram—o que James fez, especificamente—nasceu não de um amor
maior que na verdade não existe, mas do desafio. Porque, se foi um desafio,
então isso significa que a oposição obtém resultados—e isso também é uma

55
CRIMSON RIVERS

noção tola, e esta é uma que eu me recuso a permitir que as pessoas


acreditem."

"O que você quer que eu faça?" Regulus sussurra.

"Convença-os," diz Riddle simplesmente. Ele faz uma pausa, então abre
sua maleta com dois cliques, levantando a tampa, mas sem chegar lá dentro.
Ele segura o olhar de Regulus sobre ela. "Convença todos eles, e faça isso sem
permitir que nem mesmo uma pessoa pense que vem de um lugar de medo.
Melhor ainda, me convença."

"Você disse que não acredita na noção boba."

"Então eu insisto a importância de mudar de ideia para você, Regulus.


Mesmo que eu não acredite nisso, eu quero ver que você acredita. James—eu
não tenho dúvidas de que ele acredita. Mas você... bem, eu acho que nós
temos isso em comum também. Prove que eu estou errado novamente."

"Ok," Regulus murmura.

"Você está com medo?" Riddle pergunta.

Regulus mantém seu olhar. "Não."

"Eu espero que, quando chegar a hora, você aprenda a mentir melhor,"
Riddle murmura, a mão mergulhando em sua maleta antes de puxar um pote e
colocá-lo entre eles.

Dentro dele, há um Besouro Horcrux sentado preguiçosamente no fundo,


sua bolsa verde brilhante lançando um brilho doentio e cintilante no interior
do vidro. O Besouro Horcrux ainda está parado apenas por um segundo antes
de as asas baterem e voarem direto para o vidro em direção a Regulus,
respondendo ao medo que crava garras em sua pele e deixa o gosto de sangue
em sua boca.

Riddle fecha sua maleta.

~•~

James observa com carinho enquanto a classe de Mary grita e corre para a
porta assim que a campainha sinaliza que o dia acabou, saindo da escola

56
ZEPPAZARIEL

correndo para casa, ou correndo direto para seus pais que estão esperando por
eles do lado de fora.

James nunca foi para esta escola, mas Sirius e Regulus foram antes que
Sirius terminasse seus jogos e eles entrassem na Vila dos Vitoriosos e tivessem
acesso a tutores pessoais da mesma forma que James.

Mary também estudou nessa escola, depois acabou se tornando professora,


além de ingressar na administração. Ela ensina arte durante a manhã para
crianças de cinco a dez anos, depois muda para as crianças de onze a dezesseis
anos.

James geralmente vem e essencialmente trabalha como assistente dela


quando tem tempo e é um bom dia para ele. Ela sempre pode encontrar algo
para ele fazer, seja limpar as coisas das crianças ou apenas distribuir papéis
quando ela prefere não sair da cadeira. Embora não seja dito, ambos sabem
por que ele aparece—não apenas porque ele adora Mary e gosta de passar o
horário de almoço com ela (que foi onde tudo começou), mas porque as
crianças acalmam algo nele.

Veja, começou por acidente. Nos primeiros dois meses, James realmente
não viu... ninguém, exceto seus pais e Sirius. Ele só saía de casa para levar uma
flor para Regulus todas as manhãs. Sirius, é claro, nunca o pressionou, mas ele
também nunca deixou de tentar ajudar, e um dia ele convenceu James a vir
almoçar com ele e Mary.

Então, James foi, e ele se sentiu melhor por isso. Ele continuou voltando,
mesmo quando Sirius não tinha tempo ou estava ocupado com outra coisa;
contanto que Mary o deixasse aparecer, ele ia. Eventualmente, um dia, ela
pareceu perceber o fato de que ele realmente não queria ir embora, mesmo
quando o almoço acabou, então ela o convidou para a sala de aula. Ele estava
cauteloso, mas foi, e instantaneamente se iluminou ao redor das crianças.

Os mais novos geralmente não assistem aos jogos—seus pais tendem a não
deixá-los, se puderem evitar—então a maioria deles nem sabia sobre o que ele
havia feito na arena, e eles o tratavam como se fossem qualquer outro adulto
que fosse gentil com eles e trabalhasse duro para fazê-los rir. Os mais velhos
assistem aos jogos—seus pais geralmente não podem impedi-los, quando
atingem uma certa idade e entendem completamente o que diabos eles são—
então eles sabem sobre o tempo dele na arena. Mas há uma cautela instintiva
57
CRIMSON RIVERS

que até as crianças têm sobre esse assunto, principalmente quando correm o
risco de um dia entrarem na arena. Claro, nem sempre, no entanto.

James tem sido questionado—perguntas difíceis, perguntas invasivas, até


mesmo perguntas rudes porque crianças são crianças e é isso que elas fazem—
mas Mary geralmente lidou com isso para ele e manteve suas crianças
respeitosas. Se não, ele descobria a resposta mais educada, que era que ele
simplesmente não queria falar sobre isso e precisava que eles respeitassem
isso, e eles o fizeram. Crianças não são irracionais, na verdade. Elas são apenas
curiosas. Até certo ponto, elas estão até com medo de seus próprios destinos.
James entende.

De qualquer forma, passar tempo com Mary e as crianças fez maravilhas


para o estado de sua vida. Claro que isso não pode consertar tudo, e ele ainda
tem mais dias ruins do que bons, mas ele é muito grato por ter isso de
qualquer maneira. O som da risada de uma criança, sua inocência, o conforto
que podem trazer apenas dando um abraço ou dizendo que estão felizes em
vê-lo; isso o faz se sentir mais vivo, de alguma forma.

Ele vê Vanity neles, às vezes. Pega a visão dela com o canto do olho
quando ouve um suspiro de prazer. Procura por ela quando um besouro
rasteja sobre seu sapato. Vê ela no sorriso de uma jovem e nas lágrimas de
outra.

Ele tenta não ver Hodge, mas ele está lá também. Meninos fingindo ser
príncipes. Meninos tentando encontrar seu caminho no mundo. Meninos
comemorando seu décimo quinto aniversário, porque eles têm a chance.
Alguns deles o lembram de Regulus, e é aí que ele descobre que Hodge o
lembra de Regulus—um Regulus que nunca aconteceu, um garoto na arena
apenas tentando sobreviver, perdido e nunca voltando para casa. Regulus
poderia ter sido Hodge, se Sirius não se voluntariasse para ele.

"James?"

Sacudindo, James dá uma piscadela áspera e vira a cabeça para olhar para
Mary com surpresa. Por um segundo, ele não sabe quando é. Antes da arena,
durante ou depois? Quem está vivo e quem está morto e onde está seu
machado? Onde está Regulus?

58
ZEPPAZARIEL

Isso ainda acontece com ele, com frequência. O fluxo do tempo parece
desordenado e desconexo, e às vezes ele precisa encontrar seu lugar nele,
porque a corrente pode arrebatá-lo quando ele menos espera. As coisas o
desencadeiam, é claro, como uma noite fria ou um machado no chão ou muita
dor na perna, mas também pode acontecer aleatoriamente. Ele conversou
com Sirius sobre isso, que confessou que é semelhante aos seus problemas
com sua memória.

"Desculpe, o que, você disse alguma coisa?" James murmura, voltando ao


presente, na sala de aula, no verão.

"Acabei de perguntar se você quer que Bingley e eu te levemos para casa,


ou se você vai ao mercado hoje?" Mary murmura.

James sorri reflexivamente e olha para Bingley, que está pegando sua bolsa
do cubículo no fundo da sala de aula. Bingley é o irmão mais novo de Mary,
literalmente com metade de sua idade aos treze. É o primeiro ano em que ele
estará na colheita, e Mary tem se preocupado com isso, já que ela está
envelhecendo. Assim como Sirius, James não tem dúvidas de que ela se
ofereceria como voluntária para seu irmãozinho, se fosse o caso, mas ela não
pode.

Bingley é um garoto engraçado, sempre contando piadas e reclamando de


brincadeira sobre ter sua irmã como professora, mesmo que seja claro que ele
realmente ama isso, e ela.

"Não, uh, eu acho que vou ao mercado," James reflete, acenando para ela.
Mary e Bingley costumam levá-lo para casa—ou quase para casa—quando ele
ainda está por perto no final do dia, porque eles vão em sua direção de
qualquer maneira. Na verdade, tecnicamente James leva eles para casa, mas ele
sabe tão bem quanto eles que na verdade é para seu benefício. Ele gosta de
não ficar sozinho.

"Bem, se você tem certeza, vamos para que eu possa trancar," Mary instrui,
balançando a cabeça para fazer James se mexer. "Eu não posso esperar por
você o dia todo, Potter. Ei, vamos lá, Bing Bing."

"Vamos, vamos," Bingley resmunga enquanto corre para seguir James para
o corredor. James espera com ele enquanto Mary tranca a sala de aula,
balançando sua bengala preguiçosamente, fazendo truques com ela para fazer

59
CRIMSON RIVERS

Bingley sorrir. James a leva para onde quer que ele vá na maioria das vezes, se
sair de casa, mesmo que nem sempre precise se apoiar nela e saiba que sua
perna ficará bem. É uma sensação de segurança, caso a necessidade surja.

Mary sopra alguns cachos do rosto enquanto se junta a eles andando pelo
corredor, e o calor é tão forte que James não pode culpá-la por puxá-lo para
trás de seu rosto e amarrá-lo em cima de sua cabeça em um bela massa de
cachos apertados.

Ele perguntou uma vez se ela pensava em cortá-lo, porque ela ficava
reclamando do calor que fazia durante o verão, e ela explicou que não cortava
o cabelo desde os nove anos e disse à mãe que ela era uma menina e que
queria o cabelo mais comprido. James, por outro lado, cedeu e pediu
timidamente a sua mãe para cortar um pouco o cabelo dele, mas está
começando a crescer novamente. Enquanto isso, Sirius gritou e correu na
direção oposta quando Effie se ofereceu para fazer o mesmo por ele. Monty
riu tanto que estalou algo nas costas, porque ele é realmente um homem
velho.

Sirius e Mary adoram se reunir e reclamar do efeito do calor no cabelo e na


maquiagem e até nas opções de roupas. James pensa em Regulus, que sempre
pode ser encontrado em uma camisa de manga comprida e calça, não importa
a temperatura. Isso faz seu coração apertar, porque ele pensou em perguntar
por que um dia, e Sirius não respondeu, mas o olhar em seu rosto era
explicação suficiente. As cicatrizes no pescoço de Regulus ainda são visíveis,
sempre visíveis, e James se sentiu um tolo por não perceber que Regulus tinha
cicatrizes como elas em outros lugares também. Ele nunca as viu, mas nunca
esquecerá a visão de Regulus saindo daquele rio, rasgado e ensanguentado.

"James! James!"

Ao som de Sirius chamando seu nome freneticamente, a cabeça de James


se ergue quando ele agarra sua bengala e automaticamente fica na frente de
Mary e Bingley, em guarda instantaneamente. Mas é apenas Sirius correndo
em sua direção, pânico em seus olhos.

"O quê? O que foi?" James deixa escapar.

60
ZEPPAZARIEL

"Você—você precisa vir comigo agora," Sirius engasga, nem mesmo


dizendo olá para Mary e Bingley como ele normalmente faria, o que significa
que isso não é uma piada.

"Está tudo bem?" Mary pergunta bruscamente, de pé na frente de Bingley


com o braço em volta dele.

"Desculpe, Mary, não há tempo para explicar. James, vamos lá," Sirius
insiste, já recuando.

James não precisa ouvir mais nada. Ele não hesita em começar a correr, a
adrenalina o empurrando para acompanhá-lo enquanto Sirius corre de volta
para a Vila dos Vitoriosos com James em seus calcanhares. Ele quer saber o
que está acontecendo, mas ambos estão correndo demais e rápido demais para
realmente conversar. A perna de James sem dúvida ficará chateada com ele
por isso mais tarde, mas no momento, ele não se importa particularmente.

Eles não diminuem a velocidade até chegarem à Vila dos Vitoriosos, e


então Sirius está apressadamente puxando James para um ritmo mais calmo
enquanto ele o conduz pela rua. Eles estão andando agora, mas rapidamente, e
Sirius está segurando o braço de James com força.

"Sirius, o que está acontecendo?" James bufa.

"Riddle está aqui. Ele está na casa de Regulus, com ele, agora," Sirius
explica, seu tom curto e cortante. Seu rosto está alarmantemente neutro, mas
ele não parece satisfeito. James sente seu coração cair enquanto seu medo
aumenta. "Ele pode ter insinuado que não gostou da ideia de você e Regulus
não serem um casal de verdade, então eu posso ter insinuado que vocês dois
moram juntos e são um casal muito real e muito feliz, então você vai entrar lá
e agir de acordo para o bem de—todos."

Os olhos de James se arregalam enquanto ele sussurra, "Você fez o


quê? Sirius, eu não falo com seu irmão há quase cinco meses!"

"Bem, se Riddle ainda não sabe disso, eu gostaria de impedi-lo de


descobrir, então apenas—vá em frente," Sirius sussurra de volta, lançando-lhe
um olhar afiado que deixa James saber que ele absolutamente não está
brincando.

61
CRIMSON RIVERS

E sim, tudo bem, isso é justo. É uma situação muito intensa, e James não
quer ninguém em perigo mais do que Sirius. Isso não impede seu coração de
acelerar quando Sirius o arrasta até a porta e os deixa entrar sem gaguejar.
James diz a si mesmo que é da corrida.

James nunca esteve na casa de Regulus, por razões óbvias. Ele esteve do
lado de fora da casa de Regulus, ou pelo menos na porta da frente, mas isso é
tudo, então esta é sua primeira olhada. Ele não sabe o que estava esperando,
mas é mais vazio do que ele pensava que seria. Parece vazio e ecoante, como
se estivesse eviscerado, como se não houvesse sinais de vida dentro das
paredes.

Como se fosse oco.

A primeira coisa que James nota são os dois Aurores parados do lado de
fora de uma porta depois das escadas. Eles não reagem quando Sirius gesticula
para a porta, e não protestam quando Sirius a abre e os leva para dentro.

Riddle está sentado à mesa, imediatamente visível, enquanto Regulus está


de costas para a porta. Há uma maleta fechada na frente de Riddle e uma jarra
entre ele e Regulus. James para bruscamente assim que vê o que está dentro.

Vespa.

Não, não Vespa. Vanity não manteria Vespa em uma jarra. Onde Vanity
conseguiu uma jarra? Onde está Vanity? Por que Vespa está tentando voar?
Quem está com medo?

James está. James está com medo. Ele leva um momento para perceber
isso, porque o medo não é útil na arena. Mas é claro que ele está com medo;
ele está na porra da arena. Ele não está? Ele está?

Onde ele está?

Quando ele está?

O fluxo do tempo o puxa para frente e para trás, e ele exala, tentando
firmar os pés. Ajuda que ele esteja em um lugar que nunca esteve antes. Não
antes da arena, nem durante, então só pode ser depois. Está quente,
absurdamente quente, então só pode ser verão. A turnê da vitória ainda não

62
ZEPPAZARIEL

aconteceu. Riddle está aqui. O Besouro Horcrux na jarra não é Vespa, e


Vanity está morta.

Regulus não se virou, mas seus ombros estão tensos. Ele certamente os
ouviu entrar, mas ele ainda está encarando Riddle, que está observando James
e Sirius com olhos críticos. Parece um teste, e James lembra que, de certa
forma, é. Ele precisa passar, então sorri e caminha para frente sem olhar para
o frasco novamente, ignorando o abafado bater de asas finas e o baque surdo
quando o Besouro Horcrux atinge o vidro repetidamente.

Os cachos na nuca de Regulus estão pesados, úmidos de suor. James foca


neles enquanto se aproxima, e então ele coloca sua mão sobre o ombro de
Regulus delicadamente enquanto ele se inclina para beijar o topo de sua
cabeça como ele faz todos os dias.

Ele não faz. Obviamente.

"Desculpe o atraso," diz James, levantando a cabeça para olhar para Riddle
com um sorriso. "Não estávamos esperando visitas hoje."

"Oh, está tudo bem, James," Riddle diz, inclinando a cabeça enquanto se
levanta. "Regulus foi o anfitrião perfeito, e tivemos uma conversa adorável.
Receio não poder ficar mais tempo."

"Uma pena," murmura James, apertando suavemente o ombro de Regulus,


que está tão duro quanto uma tábua sob sua mão. "Por que eu não
acompanho você?"

"Sim, eu gostaria disso." Riddle estende a mão e bate no topo da jarra.


"Vou deixar vocês dois com este presente. Faz uma luz noturna maravilhosa."

Para isso, James não consegue descobrir como responder, mas ele se afasta
de Regulus lentamente, não tentando se mover muito rápido. James leva
Riddle para fora da cozinha, tentando agir como se estivesse confortável aqui,
como se conhecesse esse lugar enquanto dormia.

Os Aurores seguem atrás deles, armas na mão, e James se força a não


reagir ao perigo. É difícil, seus instintos gritando em protesto por deixar suas
costas abertas para uma ameaça.

63
CRIMSON RIVERS

"Tenha uma boa viagem de volta para a Relíquia, senhor," James diz
cordialmente, balançando a cabeça educadamente enquanto abre a porta da
frente.

"Eu vou," Riddle diz a ele. Ele para em frente a James e o observa por um
momento, então inclina a cabeça. "Pergunta rápida, James, em qual armário
Regulus guarda seu café? Eu teria gostado de um pouco, mas me esqueci de
pedir."

É uma pegadinha, pensa James antes de responder prontamente, com


confiança fácil, "Regulus não bebe café. Ele não guarda em lugar nenhum, ou
tenho certeza que teria oferecido."

"Hum." Riddle lhe dá um sorriso fino. "Você é mais inteligente do que


imaginam, sabe."

"Sim," James concorda, segurando seu olhar. "Eu sei."

"E, no entanto, você ainda é tolo," Riddle diz suavemente, estalando


levemente a língua, e então ele sai com os Aurores seguindo logo atrás.

James rapidamente fecha a porta, soltando um suspiro profundo antes de


pressionar a testa na madeira e fechar os olhos. Por um longo momento, ele
apenas fica lá e respira, seu coração ainda batendo forte em seu peito, seu
corpo inteiro tremendo enquanto ele se acalma lentamente da adrenalina e do
medo.

Eventualmente, James se convence a se virar e voltar para a cozinha,


entrando cautelosamente, muito inseguro sobre suas boas-vindas. Ele sempre
pensou—ou esperou—que a primeira vez que pisasse na casa de Regulus, em
seu espaço, seria porque Regulus o convidou para entrar. E agora, depois de
tudo, isso foi tirado deles também.

Sirius está agachado ao lado da cadeira de Regulus, murmurando baixo e


fervorosamente em seu ouvido, sem tocar, mas claramente verificando como
ele está. Regulus está deixando, balançando a cabeça lentamente, sua cabeça
abaixada para frente. James não pode ouvi-los, mas Sirius olha para cima
quando percebe que ele está voltando, e Regulus levanta a cabeça e se vira
para olhar para James também.

64
ZEPPAZARIEL

É a primeira vez que eles se olham adequadamente desde que desceram


daquele trem e seguiram direções separadas há quase cinco meses. James o viu
pela janela muitas vezes enquanto deixava uma flor cair todas as manhãs, mas
é só isso. Regulus raramente olha de volta.

A primeira vez que o fez, James sabe que foi um acidente. Ele se lembra
com carinho. Ele se virou para roubar um vislumbre rápido de Regulus,
apenas um, e ao mesmo tempo, Regulus levantou a cabeça e parou de escrever
para olhar pela janela. James tinha visto quando Regulus o avistou, então
imediatamente caiu da cadeira, apenas para aparecer segundos depois, ver
James ainda lá, e lentamente sentar novamente.

Às vezes, Regulus olha de volta de propósito. Ele faz questão de olhar para
James, ou James pensa que faz, pelo menos. Nesses dias, James fica no lugar e
não se move até Regulus desviar o olhar novamente. Nesses dias, James sente
que seu coração vai saltar direto da porra do seu peito.

Na maioria dos dias, porém, Regulus não olha. Tudo bem. Ele sempre
deixa as cortinas abertas para que James possa olhar, e isso significa alguma
coisa. Tem que significar, não é? James espera que sim.

"Desculpe por—invadir," James deixa escapar, sua boca seca enquanto ele
observa cada detalhe dos olhos de Regulus, mais perto deles do que ele esteve
em meses. "Eu não—Sirius disse—"

"Não, está tudo bem. Você nãoaanós realmente não tivemos escolha,"
Regulus murmura, bufando uma risada fraca e desviando o olhar com uma
careta enquanto seus olhos se fecham.

E quão fodidamente horrível é isso? Eles nunca têm escolha, não é? Tudo
entre eles é circunstancial, mas talvez sempre seja assim quando eles nunca
fizerem escolhas por si mesmos. Talvez seja sempre assim, ponto final. Talvez
isso seja tudo o que eles podem ter.

"Ele já foi? Riddle?" Sirius pergunta, levantando-se.

James assente. "Sim, ele já foi."

"Ele disse alguma coisa para você?" Regulus murmura, olhando para ele
com um olhar afiado. Já faz um tempo desde que James esteve sob a

65
CRIMSON RIVERS

intensidade disso assim. Talvez seja ridículo, mas perturba James. Faz com
que ele se sinta nervoso e agitado.

"Ele só perguntou em qual armário você guarda seu café e—"

"Eu não—"

"E eu disse a ele que você não toma café," James termina baixinho, o que
faz Regulus olhar para ele, visivelmente assustado. James limpa a garganta.
"Então ele me disse que eu era mais inteligente do que as pessoas imaginam,
mas ainda assim um tolo. Muito charmoso, não é?"

"Algo assim," Regulus diz categoricamente.

Sirius cruza os braços. "E o que ele disse para você?"

"Nada que eu já não soubesse, na verdade." Regulus dá um suspiro e


estende a mão para beliscar a ponta do nariz, parecendo muito, muito
cansado. Quando ele abaixa a mão, ele se recosta na cadeira e afasta o cabelo
do rosto. Porra, mas ele é tão insuportavelmente lindo. "Basicamente, ele está
esperando que James e eu continuemos tocando nossa história de amor na
turnê da vitória. Ele disse que nós—principalmente eu—temos que convencer
a todos e a ele, e que eu tenho que tornar isso convincente. Ele não quer que
ninguém tenha a ideia de que o desafio os levará a qualquer lugar. Havia...
uma ameaça por trás disso, então é—bem. Não podemos estragar tudo."

"Ok," Sirius diz cuidadosamente. "Bem, você está certo, nós já sabíamos
disso. Ele só queria lembrar você pessoalmente?"

"Acho que ele queria que eu percebesse o quão crucial é que eu não
estrague tudo," diz Regulus. "Eu também acho que ele queria deixar claro que
ele não acredita que não foi um ato de desafio, e se as coisas estão funcionando
para nós, eu preciso mudar a ideia dele."

"Você não acha que conseguimos?" James pergunta cansado, porque


Regulus parece muito preocupado no momento.

Com uma risada rouca, Regulus inclina a cabeça para trás e olha para o teto
enquanto diz, "Eu acho que ele já decidiu a própria ideia."

66
ZEPPAZARIEL

"Nós vamos resolver, Reggie," Sirius murmura. "Quando chegar a hora,


você e James vão fazer o que precisa ser feito. Vai ficar tudo bem, eu
prometo."

"Quanto tempo?" Regulus exige sem rodeios. "Me diga, Sirius, quanto
tempo vai ser assim? Até onde vamos ter que levar isso? Ele vai ter que se
mudar? Vamos ter que ficar noivos, casar, adotar crianças?"

Sirius desvia o olhar, engolindo em seco.

James tenta não deixar doer ouvir Regulus falar de todas essas coisas como
se ele não as quisesse. James as quer, mas não assim. Não desta forma. Ele
acha que é com isso que Regulus está chateado, não com o que ele está
realmente se referindo. Ou ele espera.

"Nenhum de vocês nunca terá que ser um mentor," Sirius murmura, suas
sobrancelhas franzidas. "Infelizmente, você sempre estará sob o controle da
Relíquia."

"Então, basicamente, estamos presos juntos para sempre?" Regulus


pergunta, uma pontada em sua voz.

"Obrigado por fazer isso soar como tortura, Regulus. Eu realmente aprecio
isso," James retruca, incapaz de evitar.

Regulus lhe lança um olhar penetrante. "Não comece. Isso não é sobre
nós. É sobre o fato de que não temos escolha. É a nossa vida, James. É nossa, e
eles estão controlando. Como diabos você pode esperar que eu esteja bem
com isso?"

"Eu não espero. Eu só—" James suspira e balança a cabeça, seus ombros
cedendo. "Esquece. Você está certo, desculpe."

"Reggie, pare de ser um idiota," Sirius murmura com uma carranca. "Não é
culpa dele, e na verdade, você poderia não tornar isso pior."

"Mas eu não—eu nem mesmo—foda-se, você não entende," Regulus insiste,


claramente frustrado.

"Eu entendo. Confie em mim, eu entendo," Sirius diz suavemente. "Olha,


eu sei que é uma merda, certo? Mas nós não sabemos o futuro, ou como tudo
67
CRIMSON RIVERS

isso vai acontecer. Pode levar vinte anos, ou a Relíquia pode ficar obcecada
por algo novo e brilhante nos próximo jogos, e vocês dois ficarão em segundo
plano. Eu não sei. Nós não sabemos. O que nós sabemos é que estamos todos em
perigo se não trabalharmos duro na turnê da vitória, então é nisso que
precisamos nos concentrar primeiro. Certo?"

"Sim," Regulus murmura, esvaziando um pouco.

"Sim," James concorda, subjugado.

Sirius suspira novamente, cansado e triste. "Dorcas deve chegar com


Pandora em um mês para deixar vocês dois prontos para a entrevista na tela
para iniciar a turnê da vitória. Até lá, vamos manter nossas cabeças baixas e
ficar longe de problemas."

"Tudo bem," Regulus retruca, soando amargo, e então ele se levanta e pega
o pote da mesa com o Besouro Horcrux nele em um movimento rápido.
"Agora, se vocês dois me dão licença, eu vou enterrar isso no meu quintal."

James está com a bengala na mão e a levanta em segundos, pressionando o


comprimento dela no peito de Regulus para detê-lo. Regulus para, enrijecendo
enquanto vira a cabeça para encarar James, que o encara de volta.

"Não, você não vai," James declara bruscamente. "Se você não quiser, eu
entendo, mas eu fico."

"Você não vai ficar com isso. É perigoso pra caralho," Regulus rosna, olhando
para ele. "Vou embrulhar isso, colocar em uma caixa e enterrar tão fundo que
ninguém jamais vai encontrar."

"Apenas tente," James avisa, segurando seu olhar, sem recuar um


centímetro. "Eu não vou deixar você sair desta sala com ele."

"Me deixar?" Regulus retruca. "Você não pode me parar, porra."

"Ei, já chega," Sirius avisa, parecendo cauteloso.

James flexiona os dedos em torno de sua bengala. "Dê para mim, Regulus.
Eu não estou brincando."

"Não é seguro, James. Se isso sair—"

68
ZEPPAZARIEL

"Eu não vou deixar isso sair, mas eu não vou deixar você enterrar também.
Só—pelo amor de Deus, pare de ser teimoso e dê para mim. Eu cuido disso
para que você não precise se preocupar."

"Você acha que eu vou me preocupar menos com isso quando estiver perto
de você?" Regulus pergunta com uma zombaria incrédula. Ele balança a
cabeça e descuidadamente empurra a bengala de James para baixo.

"Por favor," James sussurra, engolindo em seco enquanto olha para


Regulus, encontrando seus olhos. Regulus visivelmente oscila, seu rosto
suavizando imediatamente.

"Não é seguro," murmura Regulus, os lábios se inclinando para baixo.

"Por favor, Regulus," James implora, implorando genuinamente neste


momento, um nó se formando em sua garganta. "Vanity não—ela não iria
querer que enterrássemos. Por favor, só—eu preciso disso, certo? Eu
preciso."

James vê Regulus ceder. Algo nele se eleva, porque o olhar de Regulus é


gentil com a construção de compaixão, e James acha que Regulus não pode
recusar o que ele precisa. Há algo sobre isso. Algo especial.

"Ok." Regulus respira fundo e segura o pote, mas não o solta quando
James o agarra. "Não abra, James. Apenas tome cuidado, certo? Estou falando
sério. Me prometa."

"Eu prometo," James responde instantaneamente. Regulus hesita, mas


depois solta a jarra e dá um passo para trás. James a segura contra o peito com
um braço. "Obrigado. Eu estou indo agora. Desculpe por..."

Regulus bufa fracamente quando James gesticula desajeitadamente para sua


bengala, que ele meio que usou contra Regulus. "Não se preocupe com isso.
Se vale de alguma coisa, foi... bom, ah, ver você de novo."

James luta contra um sorriso, mas perde, e fica mais do que feliz,
especialmente quando as bochechas de Regulus ficam vermelhas. Regulus
pigarreia alto, então se vira e vai para a cozinha, murmurando baixinho
enquanto anda. James o observa ir com um sorriso bobo, apenas para dobrar

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CRIMSON RIVERS

os lábios assim que vê Sirius olhando para ele de uma maneira nada
impressionada.

"Vá para casa, James," Sirius diz.

"Certo, sim, vou fazer isso," James responde rapidamente, acenando


obedientemente com a cabeça e recuando. "Você vem?"

"Eu estarei lá a tempo do jantar," Sirius diz a ele, e James acena com a
cabeça antes de sair.

Ao sair, ele tenta dar mais uma olhada em Regulus antes de ir, mas a única
coisa que ele vê é um buquê de flores familiares no peitoril da janela.

~•~

Assim como todas as noites, Sirius rasteja para fora de sua janela para se
empoleirar no telhado antes de dormir. Ele se recosta contra os azulejos e
solta uma respiração profunda, tentando se livrar da tensão crescente do dia
inteiro.

Oh, que dia foi.

"Remus," Sirius murmura, "Você não vai acreditar no dia que eu tive.
Honestamente, eu nem sei por onde começar..."

Sirius se esparrama e compartilha seus pensamentos com a lua, olhando


para ela com um profundo e crescente rosnado de desejo e estalando suas
mandíbulas em seu peito. A lua é linda, uma cúpula brilhante no escuro que
cobre a terra, e ainda é uma pobre substituta para Remus. Mas é tudo o que
ele tem.

Por enquanto, é tudo o que ele tem.

70
ZEPPAZARIEL

33
O SEGREDO DA LUA

A turnê da vitória está programada assim:

Começa na última parte da última semana do quinto mês após os jogos


vorazes anteriores, começando com a entrevista na tela ambientada no distrito
do Vitorioso anterior—ou neste caso, Vitoriosos. No dia seguinte, os
Viroriosos e seu mentor partem para o distrito doze, onde começarão a turnê.
Eles voltam do distrito doze, parando em todos os outros no caminho de
volta para a Relíquia ao longo de três dias, pulando os seus ao longo do
caminho.

Quando eles chegarem na Relíquia, eles terão uma entrevista lá com Rita,
então se estabelecerão para a noite. No dia seguinte, eles viajarão para uma
grande festa no castelo de Riddle, passarão a noite e voltarão para casa no dia
seguinte.

Então, por uma semana, seis meses após os jogos vorazes, Regulus vai
fingir estar loucamente apaixonado por James, exceto que ele está loucamente
apaixonado por James, então isso realmente não deveria ser tão difícil para ele
conseguir fazer.

71
CRIMSON RIVERS

Mas é.

Nenhum deles gosta disso, que eles sejam forçados a isso, que eles não
tenham a chance de fazer do seu jeito. Regulus está amargo, porque ele não
gostaria de dar nada disso para a Relíquia se fosse verdade de qualquer
maneira. Isso deveria ser deles: seja o que for, seja o que poderia ser, deve
pertencer apenas a eles.

Regulus não quer que seja uma necessidade. Ou uma performance. Ele
quer quando estiver pronto, quando ambos estiverem, e agora não é o
momento. Seis meses não é tempo suficiente.

Não quando Regulus ainda dorme com uma adaga debaixo do travesseiro,
apertada na mão. Não quando Regulus ainda fala com seu melhor amigo
morto durante o sono na maioria das noites, nunca conseguindo salvá-lo
quando ele cai. Não quando Regulus ainda chora quando toma banho, e se
esquiva do toque, e não consegue dar a James tudo o que ele merece.

Mas, bem, aqui estão eles de qualquer maneira.

Pandora e Dorcas são um turbilhão quando chegam juntas, e Regulus fica


surpreso ao perceber que ele está realmente feliz em vê-las. Eles estão todos
fazendo isso na casa dos Potter, o que é particularmente estranho para
Regulus, puramente porque ele tem que passar um tempo com Effie e Monty,
que o conhecem desde que ele era criança e ainda têm a habilidade de fazê-lo
se sentir como uma com algo tão simples como um sorriso. Eles são gentis
com ele, calorosos e acolhedores, tratando-o como sempre fizeram, como se
ele não tivesse passado dez anos evitando-os a todo custo, depois uma semana
em uma arena assassina com seu filho, alternativamente ameaçando sua vida e
flertando com ele em rotação.

Regulus cora toda vez que eles falam com ele.

Dorcas e Pandora encantam Effie e Monty com facilidade. Dorcas flerta


com Effie, para grande desgosto de James e Sirius, e Pandora esvoaça ao
redor de Monty com basicamente um milhão de perguntas sobre o livro que
ele estava lendo quando elas apareceram, para seu deleite. Regulus fica perto
de Sirius, com quem ele se sente mais confortável, o que o teria feito zombar
de descrença apenas um ano atrás.

72
ZEPPAZARIEL

As coisas mudam, até as coisas que você menos espera. Regulus nunca
poderia imaginar em um milhão de anos que ele e Sirius estariam próximos
novamente, como eles já foram, e eles... não estão, não realmente. É diferente,
depois de todo esse tempo, depois de tudo que eles passaram. Mas é... É
muito bom, apesar de tudo. Honestamente, é a melhor parte da vida de
Regulus agora.

Regulus admitiu que se preocupou que ele e Sirius se afastassem quando


voltassem para casa, mas nenhum deles permitiu que isso acontecesse. Talvez
seja devido à influência de Remus sobre os dois, Regulus não pode ter certeza,
mas eles passaram a se importar um com o outro com aquela marca especial
de teimosia Black que costumavam manter distância. Sirius está lá quando
Regulus precisa dele, sempre. Regulus está lá quando Sirius vem até ele para
um lembrete de que Remus era real; ele nunca esquece, ele diz, nunca esquece
um segundo do tempo que eles passaram juntos, mas ele gosta do lembrete de
qualquer maneira. Regulus fica feliz em dar a ele.

Sirius diz a ele às vezes, de improviso, que ele o ama. Casual, leve,
geralmente saindo pela porta. Apenas uma chamada rápida de "Te amo,
Reggie!" enquanto ele continua, como se fosse algo que ele sente a
necessidade de lembrar a Regulus, de vez em quando.

Depois de todo esse tempo, Regulus ainda não conseguiu responder.

De qualquer forma, Regulus não consegue ficar perto de seu irmão por
muito tempo antes de Dorcas terminar com James e arrastá-lo para prepará-
lo. Dorcas faz tudo, até mesmo fazendo a maquiagem dele, o que ela não fez
muito da última vez, e Regulus não tem um rosto cheio de maquiagem desde
que ele tinha treze anos e Sirius fez isso por ele uma noite quando eles
estavam entediados.

Ela apara um pouco o cabelo dele, com a permissão dele, afofando seus
cachos e deixando-os soltos e brilhantes. Ela passa rímel sem cutucá-lo no
olho, e habilmente aplica delineador com o mesmo cuidado, depois desenha
estrelinhas no canto dos olhos dele pelas asas, parecendo satisfeita com seu
trabalho.

"Você não fez tudo isso com James," Regulus murmura, olhando para ela
com desconfiança.

73
CRIMSON RIVERS

"Sim, eu fiz, meu amor. Você simplesmente se recusou a olhar para ele,"
Dorcas informa, arqueando uma sobrancelha. Regulus... não pode discutir
com isso, então ele fica em silêncio. "O que é isso, hm?"

"O que?" Regulus pergunta.

Dorcas suspira. "Você e James. Vocês parecem estar distantes, o que não é
muito útil para o que está por vir, sabe."

"Nós não... É apenas complicado," diz Regulus. Ela o encara com ousadia,
e ele geme de frustração, começando a levantar as mãos e esfregá-las no rosto,
mas ela pega seus pulsos rapidamente e o encara. Ele os solta rapidamente,
limpando a garganta. "Olha, é só... difícil, certo? Talvez eu esteja—eu estou
com medo, eu não sei. Não, eu sei, eu estou com medo, mas eu só—" Ele
respira fundo e olha para ela impotente. "Você já teve medo de olhar para
alguém, porque você sabe que nunca vai querer desviar o olhar assim que o
fizer?"

"Sim," Dorcas diz suavemente. "Deve confortar você saber que ele está
sempre olhando de volta."

"Eu não quero que ele me veja," Regulus sussurra.

"Acho que é um pouco tarde para isso," murmura Dorcas, suavemente.

Regulus engole em seco e desvia o olhar.

James quase quebra a porra do pescoço para dar uma segunda olhada assim
que Regulus é levado para fora novamente. Se ele fosse um cachorro, suas
orelhas estariam erguidas em intenso interesse. Sirius bate na nuca dele no que
parece ser um reflexo, provavelmente porque James não está fazendo
absolutamente nada para esconder o fato de que ele está despindo Regulus
com os olhos. James leva o tapinha suave na cabeça como se ele merecesse,
porque, para ser justo, ele meio que mereceu. Seus pais estão na sala, pelo
amor de Deus. Para o seu crédito, James parece levemente envergonhado
enquanto tira o olhar de Regulus, apenas para acabar encarando-o novamente
apenas cinco segundos depois.

Pandora estala os dedos na frente do rosto dele e diz, "Sim, ele está bonito,
nós entendemos, mas eu preciso do seu foco."

74
ZEPPAZARIEL

"Vocês podem só—me deixar em paz?" James resmunga, franzindo a testa


para seus dedos. "Vocês são todos muito malvados. Parem de me intimidar.
Isso é intimidação. Eu estou sendo intimidado. Mamãe—"

"Tudo bem, já chega," Effie declara, andando atrás da cadeira de James


para esfregar seus ombros. "Ninguém vai entrar na minha casa e intimidar o
meu bebê. Deixem ele em paz."

James inclina a cabeça sobre o braço de sua mãe e parece muito


presunçoso, olhando para ela com adoração inegável. Ela sorri para ele e
pisca, enquanto Sirius troca um olhar com Monty, ambos sufocando uma
risada. Regulus olha para os seus sapatos e tenta não se sentir tão sozinho em
uma sala cheia de pessoas.

Todos param de provocar James depois disso, e mesmo Sirius não faz
barulho quando James continua lançando olhares furtivos para Regulus, como
se não pudesse evitar. Regulus acha que não pode, porque ele está na mesma
situação, apenas muito mais dissimulado sobre isso.

Dorcas realmente embelezou James. Seu rosto está bem barbeado, o que
torna seu maxilar muito mais potente e faz com que o estômago de Regulus
fique todo trêmulo. Ela não cortou o cabelo dele, provavelmente porque foi
cortado meses atrás e não precisava. Ela pegou os óculos dele também, o que
faz Regulus querer rasgar o céu, porque isso o lembra da arena, e também faz
a força total dos olhos de James parecer tão intensa que Regulus
genuinamente não consegue parar de se mexer. Ela fez os olhos dele também.
Oh, por que ela fez isso?

Ele tem sóis dourados e brilhantes em cada pálpebra, apenas o arco de um


como um horizonte que mergulha a cada piscar. É fascinante, absolutamente
fascinante, bem como ridiculamente bonito combinado com seus cílios. Oh,
seus cílios...

James sempre teve cílios cheios, grossos, longos e escuros, mas eles estão
tão bonitos agora que Regulus está meio irritado com isso. Ele não quer que a
Relíquia veja isso. Eles não merecem ver James, não agora quando ele está
usando maquiagem, e não em qualquer outro momento quando ele não está.
Regulus quer mantê-lo fora de vista, para que ninguém possa olhar para ele,
nunca.

75
CRIMSON RIVERS

Ainda assim, Regulus rouba olhares disfarçados enquanto Pandora tagarela


sobre o que eles devem fazer e dizer, blá, blá, blá, e ele assume que está sendo
sorrateiro o suficiente para que ninguém o perceba, apenas para acabar sendo
pego. Há um momento em que Regulus desvia o olhar e encontra Monty
olhando diretamente para ele, claramente o pegando no ato de babar
internamente por seu filho, e a parte triste é que nem é a primeira vez.

Regulus sabe com certeza que Effie e Monty sabiam de sua paixão por
James quando ele era criança. Olhando para trás, ele agora sabe que eles
achavam fofo, mas naquela época, eles nunca chamaram atenção para isso.
Eles foram até gentis com ele sobre isso, especialmente porque ele era muito
tímido. James, é claro, nunca provocou Regulus na frente deles, ou então
Regulus suspeita que Effie e Monty teriam uma conversa com ele sobre não
ser um merdinha sobre a coisa toda.

De qualquer forma, Regulus é mais uma vez pego, todos esses anos depois,
como se algumas coisas nunca fossem mudar. Os lábios de Monty se
contorcem, e todo o rosto de Regulus parece estar pegando fogo. Ele desvia o
olhar e tenta o seu melhor para não olhar para James novamente, mas ele é um
homem fraco e falha em menos de cinco segundos.

Por um momento, tudo que Regulus quer fazer é cair aos pés de James e
dizer a ele como ele é adorável. Apenas isso, isso é tudo o que ele quer fazer,
isso seria suficiente. Seria suficiente cair no altar de James Potter e adorá-lo.

"Está tudo bem, Regulus?" Pergunta Pandora.

"O que?" Regulus deixa escapar, sua cabeça girando para encontrar
literalmente todo mundo olhando para ele.

Pandora lentamente levanta as sobrancelhas. "Eu perguntei se você estava


bem com isso?"

"Com..." Regulus pode sentir seu rosto queimando de novo, e ele não
consegue parar de se mexer, porque o peso do olhar de James sobre ele é como
uma carícia real. "Desculpe, hum, com o quê?"

"Estamos distraídos, não estamos?" Pandora provoca, seus olhos


enrugando enquanto ela sorri. "Eu sei que James está bonito, mas eu preciso
do seu foco também."

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ZEPPAZARIEL

Regulus faz uma careta. "Você sabe o que—"

"Não, não, está tudo bem! Isso é bom. Muito bom," Pandora insiste
alegremente. "Canalize essa energia na entrevista, e vai ficar tudo bem.
Dorcas, você é maravilhosa."

"Obrigada," responde Dorcas, parecendo satisfeita.

"Eu gostaria que ficasse registrado que eu estaria assim,


independentemente de Dorcas ter feito isso com ele ou não," anuncia James,
como se fosse importante para ele que todos estejam cientes de que ele está
distraído por Regulus, não importa seu estado.

"Nós sabemos, James," Pandora e Dorcas respondem ao mesmo tempo,


com o mesmo nível de exasperação.

"Eu estou no inferno," Sirius murmura tristemente. Effie faz um barulho


suave e arrulha e dá um tapinha no ombro dele gentilmente, e ele se inclina
para ela exatamente como James fez antes.

Pandora mais uma vez lança um discurso inteiro sobre como esta
entrevista deve ser, e Regulus se sai melhor ouvindo desta vez. Antes, ela
estava perguntando se ele estava bem com James dando-lhe um beijo na tela,
porque esse é o tipo de conversa que eles têm em voz alta, aparentemente.
Regulus olha para ela até que ela se mova com sabedoria e rapidez, nunca
obtendo sua resposta de qualquer maneira, o que provavelmente é bastante
irritante para ela, porque ela parece determinada a planejar tudo até o último
detalhe.

Não demora muito para a equipe de filmagem chegar, então James e


Regulus são conduzidos para fora e deixados em frente à casa de Regulus para
melhor dar a impressão de que eles moram juntos, enquanto Sirius fica com
Dorcas e Pandora atrás da equipe de filmagem, e Effie e Monty ficam em sua
casa. Enquanto as câmeras e telas estão sendo configuradas, Regulus e James
são meio que... deixados sozinhos enquanto todos os outros se agitam como
galinhas com suas cabeças cortadas.

"Então..." James tosse. "Você está bonito."

Regulus não olha para ele. Ele não pode.

77
CRIMSON RIVERS

"Obrigado, James, você também está bonito," James diz, então faz um
barulho de pfft e acena com a mão casualmente. "Oh, não é nada, na verdade.
Eu acordei assim."

O rosto inteiro de Regulus se contorce, e ele luta contra o sorriso que puxa
implacavelmente seus lábios. Ele realmente não consegue responder por
medo de abrir a boca e soltar uma risada impotente, ou um sorriso se abrindo
em seu rosto.

"Ótimo clima estamos tendo, não é, James? Bom e ensolarado, mas


também um pouco de vento." James cantarola e acena com a cabeça
obedientemente, como se concordasse. "Simplesmente maravilhoso,
realmente, Regulus. Você está absolutamente certo em apontar isso. O
vento é bom."

Regulus estende a mão para passar a mão sobre a boca, tentando esconder
o sorriso crescente, lutando sinceramente para não cair na gargalhada. James
faz um barulho mhm-mhm como se eles ainda estivessem conversando.

"E como você está hoje, James?" James continua, e então ele dá de ombros
e estala a língua. "Oh, não posso reclamar, suponho, já que estou aqui com
você." Ele engasga e pressiona a mão no peito. "Ora, James, você é tão doce,
simplesmente o mais doce; oh, como você me faz desmaiar—"

Regulus racha. Ele não pode evitar. Sua cabeça se inclina para frente
quando ele a perde, seus ombros tremendo enquanto sua risada aumenta e
borbulha, leve e arejada em seu peito. Por mais que Regulus tente sufocá-la,
ele literalmente não consegue.

"Você está rindo. Por que você está rindo?" James pergunta fingindo
ofensa, colocando as mãos nos quadris. "O quê? Você tem algo que quer
dizer?"

"Não, nada. Você disse tudo por mim," Regulus diz, balançando a cabeça
enquanto ele olha furtivamente para James pelo canto do olho, ainda incapaz
de olhá-lo completamente.

James está sorrindo em triunfo, o que torna ainda mais difícil. "Eu só
pensei em tirar toda a tensão estranha do caminho de um jeito rápido.
Funcionou?"

78
ZEPPAZARIEL

"Bem, chamar a atenção para isso traz de volta à tona, sabe," diz Regulus
ironicamente.

"Eu acho que reconhecer isso torna mais fácil de lidar, na verdade," James
rebate, se virando e fica bem na frente de Regulus, olhando para ele
suavemente. "Sério, como você tem estado?"

Por um longo momento, Regulus nem sabe por onde começar. Eles se
viam, é claro, pelo menos uma vez por dia porque James ainda traz uma flor
todas as manhãs, sem falta. Mas, no mês passado, foi como todos os
anteriores, especialmente após a visita de Riddle. Uma distância muito
necessária—para Regulus, pelo menos—porque a realidade de que eles não
têm controle sobre sua própria... história de amor, ou o que quer que seja,
ficou ainda mais pesada desde que Riddle deixou isso claro para eles.

Regulus está emaranhado sobre esta entrevista, sobre a semana que eles
estão prestes a suportar, mas agora que ele está aqui e agora que James está
aqui, na frente dele e fazendo-o rir, Regulus percebe que sentiu falta dele.

Então, Regulus apenas—admite, apenas encontra os olhos ridiculamente


adoráveis de James, e sussurra, "Eu senti sua falta."

"Oh," James diz, uma respiração saindo dele enquanto ele pisca
rapidamente e parece muito assustado, como se essa possibilidade nunca
tivesse passado pela sua cabeça. "Sim, eu—eu conheço o sentimento. Eu
também senti sua falta. Eu só—quero dizer, eu estou só do outro lado da rua.
Não—eu não quero dizer que você tinha que me ver, só que você poderia ter,
se quisesse, a qualquer momento. Se eu fiz alguma coisa para fazer você
pensar que você não poderia, ou que isso tinha que significar algo para você
ser capaz, então eu—"

"Não, você não fez," Regulus interrompe rapidamente. "Não é nada que
você fez, James, ou não fez. Sou eu. Ainda sou apenas... eu."

"Oh," James repete pensativo, e ele procura o olhar de Regulus por um


longo momento antes de seu rosto suavizar. "Bem, tudo bem, Reg. Eu não
espero nada de você, você sabe disso."

"Talvez você devesse," Regulus murmura.

79
CRIMSON RIVERS

James franze os lábios. "Tudo o que eu espero de você é que você faça o
que é melhor para si mesmo."

"Sim, uh, sobre isso..." Regulus solta uma risada fraca e levanta a mão para
esfregar a têmpora. "Eu realmente não sei o que é isso, sabe, e eu tenho
tentado descobrir, mas está levando muito tempo—e eu não quero dizer
apenas com nós dois; quero dizer com tudo, porque é—é tudo realmente—"

"Difícil," James completa calmamente, acenando para ele em visível


compreensão, como se ele realmente entendesse—e por que não entenderia?
Afinal, ele também estava na arena. "É difícil pra caralho."

"Sirius ajuda, mas..." Regulus olha para onde Sirius parece estar tentando
acalmar uma Pandora exausta e engole enquanto seu peito fica apertado.

"Eu, uh—eu tenho dificuldade também, então eu—eu entendo," James


murmura.

Regulus exala lentamente e mantém seu olhar. "Mas você ainda me traz
uma flor todos os dias. Todos os malditos dias, James, não importa o que
mais esteja acontecendo ou como você se sente."

"Eu não... deveria?" James pergunta, quase cauteloso. "É—quero dizer, se


você quiser que eu não faça isso, você sabe que eu vou parar."

"Alguns dias, eu acordo e não quero me mexer. Eu não quero falar. Eu


nem quero pensar. Tudo que eu quero fazer é—deitar lá, apenas deitar lá e
nunca mais me levantar novamente, então eu realmente não entendo como
você faz isso," diz Regulus.

"Engraçado você dizer isso," James responde gentilmente, seus lábios se


curvando. "Eu fiquei tentado a perguntar a mesma coisa, porque todos os
dias, sem falta, você está naquela janela. O que faz você acordar quando você
não quer?"

"Eu—porque eu—" Regulus gagueja até parar, piscando para James, que
espera curioso. A questão é que há muitas respostas para essa pergunta. Às
vezes, apenas saber que ele vai ver Sirius pode tirá-lo da cama nos dias em que
é a última coisa que ele quer fazer; às vezes, é o pensamento da promessa que
ele fez de visitar Andrômeda, Ted e Ninfadora novamente; outras vezes, é

80
ZEPPAZARIEL

porque Barty está lá para acordá-lo e convencê-lo a sair da cama. Mas essas
coisas já falharam antes. Houve momentos em que nem mesmo essas coisas
foram suficientes para combater o peso esmagador que o mantinha preso à
cama, e tudo o que restava era uma flor.

Uma flor solitária não deveria ter tanto poder, e ainda assim tem. No início
do dia, quando parece o fim de sua vida e ele está tão exausto com tudo,
quando tudo mais falha, é aquela flor que James traz para ele todas as manhãs
que o tira da cama. Porque Regulus tem que se certificar de que está lá, todos
os dias, desesperado para encontrá-la em sua porta uma e outra vez,
aterrorizado que, um dia, não estará lá.

"Há dias em que eu acordo e instantaneamente quero voltar a dormir, ou


apenas enfio a cabeça debaixo do travesseiro e nunca mais volto à superfície,
mas me levanto de qualquer maneira, porque eu sei que você estará naquela
janela," James explica. "Você está sempre lá, não importa o que aconteça,
então eu me arrasto e trago uma flor para você. Se isso é tudo que eu vou
fazer em um dia, pelo menos eu fiz isso. Talvez seja uma coisa estranha de se
ter como uma fonte consistente de motivação—"

"Não," Regulus interrompe com força, e James pisca, parecendo levemente


assustado. "Não, James, não é. É—bem, na verdade, isso é um pouco irônico,
suponho, mas é por essa flor que eu me levanto, mesmo nos dias em que é
mais difícil fazer isso."

"Oh," James diz suavemente.

Regulus franze a testa ligeiramente. "Não entenda isso como se você tivesse
que fazer isso, certo? Não é um padrão que você tem que seguir, e se você não
fizer isso, ou simplesmente... não puder, tudo bem. Eu só—eu quero que você
saiba que eu aprecio que você faça isso."

"Obrigado por manter as cortinas abertas," James deixa escapar, mexendo


na lapela de seu paletó. "Você não tem que fazer isso, e tenho certeza que há
dias em que você prefere fechá-las, mas você os mantém abertas, e talvez seja
tolice minha pensar que é para o meu benefício, mas—"

"É," Regulus confirma.

81
CRIMSON RIVERS

James pisca duramente, a coluna de sua garganta subindo e descendo


enquanto ele procura o olhar de Regulus. Sua voz é muito suave quando ele
sussurra, "Você realmente sente minha falta?"

"Sim," Regulus admite sem rodeios, apesar do jeito que a verdade faz seu
coração bater forte em seu peito. Que terror é se abrir e se deixar ver. Ele
também engole e suspira um pouco melancólico. "E agora eu sinto falta da
porra dos seus óculos. Por que eles tiram de você todas as vezes?"

"Eu—" James pisca, então solta uma risada fraca. "Bem, Dorcas me deixou
ficar com eles contanto que eu concordasse em não usá-los na câmera ou na
festa quando chegarmos à Relíquia. Eu—eu ainda tenho eles. Eles estão aqui,
no meu bolso."

Regulus observa James bater suavemente na lateral de seu paletó com uma
carranca. "Tudo bem, claro, mas por que você não pode usá-los? Acho que
fez um pouco de sentido na—na arena, mas—"

"Eu acho que é apenas como eu me apresentei a Relíquia antes, ou como


eu fui apresentado," explica James. "É o que eles já estão acostumados, e é
mais... digerível desse jeito? Eu acho? Talvez seja uma coisa mental também.
Para mim, quero dizer. Quando eu os tiro e estou usando lentes de contato,
eu não estou totalmente confortável, e eu não deveria estar enquanto... tudo
isso está acontecendo."

"Você prefere assim?" Regulus pergunta.

James assente com cuidado. "Acho que sim. É um lembrete físico, talvez,
que isso é—separado, você sabe o que eu quero dizer? Eu usei meus óculos
em todas as outras partes da minha vida, exceto quando estou me
apresentando a Relíquia, então isso ajuda a evitar que tudo se misture... E,
hum, meio que me ajuda a descobrir a linha do tempo, se isso faz sentido?
Tipo, eu não estou usando meus óculos, então não pode ser antes da arena,
mas eu também tenho minha bengala, então tem que ser depois da arena."

"Oh," Regulus murmura, sobrancelhas franzidas. "Isso—isso é algo que


você tem dificuldade? Saber... quando você está?"

"Sim," responde James. "Frequentemente. O tempo é—estúpido."

82
ZEPPAZARIEL

Regulus sente seus lábios se contorcerem com o quão petulante James soa
sobre isso. Isso o faz querer estender a mão e acalmar o beicinho no rosto de
James até que ele esteja sorrindo novamente. "Sim, eu diria que sim. Existe—
quero dizer, eu posso... fazer alguma coisa?"

"Não. É meio que... uma dessas coisas," James diz com um suspiro
cansado, resignado. "Eu geralmente consigo descobrir a partir de pistas de
contexto, e bastante rápido também. Às vezes Sirius tem que me dizer, então
suponho que se eu perguntar, você também pode."

"Ok," Regulus concorda.

"Cinco minutos!" Pandora chama em advertência.

James solta um suspiro profundo, desviando o olhar, então de volta para


Regulus novamente. "Certo. Momento de casal feliz. Hum, devemos falar
sobre... limites, eu suponho? Existe alguma coisa—"

"Permissão geral," Regulus interrompe com firmeza, apoiando os ombros e


segurando o olhar de James. "Você tem permissão geral para fazer qualquer
coisa, James. Não podemos nos dar ao luxo de estragar tudo, então... vá em
frente, eu suponho."

"Vá em frente," James repete, as sobrancelhas se levantando.

A ideia de James indo em frente, por assim dizer, faz Regulus querer se
enrolar em uma bola apertada e encolher em si mesmo. Ele não—mesmo
agora, tocar é... É difícil. Ele tem seus momentos, seus dias bons, mas na
maioria das vezes ele não suporta ser tocado. É o mesmo que fugir de coisas
mortas, repelidas pela podridão; ele é um cadáver que esquece que está morto
até que alguém o toque e o lembre de que ele não está vivo. Ele não quer que
James repare nisso.

Ele também não tem escolha, porque o perigo está respirando em seus
pescoços, e eles não podem fugir dele. Eles só podem seguir em frente e
nunca se virar para enfrentá-lo. Fazer isso seria um desafio. Regulus não sente
mais vontade de ser desafiador. A conformidade é segura. Conformidade é
tristeza silenciosa e tragédias não ditas. Ele não quer levantar a voz. Ele não
quer falar nada.

83
CRIMSON RIVERS

Regulus limpa a garganta. "Pela próxima semana, quando for necessário,


você pode ser tão sentimental e romântico e afetuoso quanto quiser. Não se
contenha. Eu quero que eles fiquem cansados de nós até o final."

"Tudo bem, mas ainda assim, há alguma coisa que você não quer que eu
faça, nem mesmo para fazer um show?" James insiste.

E, claro, aqui está James, parando no lugar e plantando os pés apesar da


respiração pesada ecoando em seus ouvidos, sussurrando promessas de mais
danos. Ele dá opções a Regulus. Ele dá a Regulus o espaço para escolher,
sempre. Regulus nunca será capaz de expressar o que isso significa para ele.

"Oh. Hum." Regulus engole. "Só—quero dizer, eu estou bem com... Mãos.
Nós podemos—dar as mãos. Isso é... Sim, deve estar tudo bem." Ele faz uma
pausa, então faz uma careta ligeiramente porque ele já sabe que isso não será
suficiente. Claro que não. "É—James, não tem problema em me tocar na
próxima semana. Na câmera, pelo menos. Isso é... separado para mim
também. Apenas—talvez sem beijos? Não—não muito, de qualquer maneira.
Na bochecha está tudo bem. Talvez apenas me deixe iniciar a maioria das
coisas. Tudo bem?"

"Tudo bem," James o assegura baixinho, e Regulus realmente espera que


James não leve isso para o lado pessoal. Não é ele. É Regulus. Claro que é.

Regulus assente. "E—e é importante lembrar que isso não é real. Eu não
estou dizendo—eu sei que você sabe disso, e eu sinto muito, mas vou fazer o
que precisa ser feito quando essas câmeras estiverem ligadas, quando as
pessoas estiverem assistindo, mas quando não estiverem..."

"Não se preocupe, Regulus," murmura James, desviando o olhar para o


lado, "Eu não vou ter uma ideia errada."

"James," Regulus diz fracamente, porque a distinção é importante para ele.


Tudo isso com James na próxima semana, não é... Não pode ser nada. Ainda
não. Assim não. Eles não estão prontos.

Balançando a cabeça, James lhe dá um sorriso tenso. "Eu não estou


chateado com você. Eu estou apenas realmente irritado com isso—que não
tenhamos escolha no assunto. Você não deveria ser forçado a isso, e eu—eu

84
ZEPPAZARIEL

também não deveria. Confie em mim, não há chance de eu ter uma ideia
errada sobre isso. Eu sei o que nós somos."

"Uma grande, grande tragédia," Regulus murmura, e James apenas balança


a cabeça em concordância silenciosa. O estômago de Regulus se revira como
se estivesse descendo uma colina, seu coração apertando violentamente em
seu peito. "Nós poderíamos ser—quero dizer, você ainda acha que, algum dia,
nós poderíamos...?"

"Regulus," James diz gentilmente, seu olhar tão suave.

"Me ignore. Isso foi—estúpido. Desculpe." Regulus se encolhe um pouco


e desvia o olhar. Cinco minutos com James, e ele é um idiota apaixonado de
novo. Alguém salve ele.

James ri, quieto e sem fôlego, e seus olhos brilham quando Regulus o espia
novamente. "Amor, eu não ignoro você desde o seu aniversário de quinze
anos. Confie em mim, eu não vou começar agora."

Regulus sabia disso. Ele sabia. E, no entanto, seu rosto ainda queima. Oh,
ele é tão patético. James. Maldito James. Regulus o odeia, mas oh, como ele o
ama.

"Isso—isso vai ser difícil para mim," James anuncia, limpando a garganta.
"Eu—eu vou ter dificuldade, eu acho, e eu não quero descontar isso em você.
Eu realmente não quero. Então, apenas, se você quiser, não me ignore
também, por favor? Podemos apenas passar por isso juntos?"

O coração de Regulus afunda, porque ele não sabe se vai conseguir fazer
isso, ou acertar. Ele não sabe se pode. Tudo o que ele pode dizer é, "Eu vou
tentar," e ele espera que James saiba que ele realmente vai tentar.

O problema é que ele vai falhar. Ele sabe que vai.

Ele sempre falha.

~•~

Sirius não se lembra da sua turnê da vitória. Nem um segundo dela.

85
CRIMSON RIVERS

Ele conversou com Effie sobre isso em preparação para essa, porque ele
genuinamente não tem nenhuma lembrança além de pequenos fragmentos de
memórias que ele não tem certeza de que são reais. Ele sabe que aconteceu, e
ele sabe que Effie estava lá com ele o tempo todo, mas é só isso.

Então, Sirius está visitando todos os distritos pela primeira vez também,
embora tecnicamente já tenha feito isso uma vez. Effie fez isso quatro
vezes—uma vez quando ela era uma Vitoriosa, uma vez como mentora de
Bellatrix, uma vez com Narcissa, e uma vez com Sirius. Ela deu a ele um
resumo básico do que esperar, deslizando de volta para um papel de mentora
como se ela nunca tivesse saído, pelo qual Sirius estava grato, porque ele
realmente precisava de sua orientação sobre isso.

De qualquer forma, ele se sente mais preparado quando eles partem para o
distrito doze, sua primeira parada na turnê. É o dia seguinte à entrevista, que
correu bem. James e Regulus foram repugnantemente amorosos o tempo
todo, mas assim que as câmeras foram desligadas, eles seguiram caminhos
separados novamente.

Pandora e Dorcas estarão com eles durante todo o caminho de volta para a
Relíquia, e Pandora sentou James e Regulus para treiná-los tão
cuidadosamente que eles provavelmente poderiam fazer seus discursos
enquanto dormiam.

Não vai ser um bom momento, independentemente, porque eles terão que
enfrentar fortes lembretes de pessoas que mataram e pessoas que perderam.
Pandora tem a lista completa, então ela conhece cada tributo de cada distrito.
Aqueles com os quais Sirius está preocupado são aqueles que ele sabe esse
tempo todo.

O distrito onze é de onde Vanity e Hodge foram colhidos, onde Marlene


está. O distrito nove é o lar de Emmeline, que teve Evan e Juniper como
tributos. O distrito cinco tinha Irene e Mathias, que é onde Frank está. O
distrito três também pode ser difícil, porque é de lá que Peter era.

O dois provavelmente não será difícil, porque eram Axus e Willa. O um, é
claro, era Mulciber e Avery, mas Sirius suspeita que será particularmente difícil
para ele e Regulus por razões que não têm nada a ver com os tributos caídos e
tudo a ver com o fato de que será um pouco como uma reunião familiar se

86
ZEPPAZARIEL

Lucius levar Narcissa e Bellatrix. Quatro, sete, oito, dez e doze devem ser os
mais simples.

O distrito seis é onde eles moram, que eles não verão novamente até que a
semana acabe. Apenas uma semana. Eles podem lidar com uma semana.

O distrito doze, Sirius assume, não será um problema. Os tributos que


morreram de lá nunca falaram com James e Regulus, na verdade. Então,
quando eles chegam, é principalmente apenas nervosismo por fazer algo pela
primeira vez. De nenhuma maneira, nenhuma forma, o distrito doze deve ser
impactante.

Não demora muito para Sirius perceber que esse não será o caso.

Antes que James e Regulus tenham que se levantar e fazer seus discursos,
há um almoço com o prefeito e o mentor dos tributos caídos, e é realizado no
gabinete do prefeito. Sirius não é muito próximo do mentor deste distrito, um
homem chamado Figgins, que bebe mais do que fala e é um mentor há pelo
menos trinta anos; Sirius acha que ele e Effie se davam bem, na época deles,
mas isso é tudo que ele sabe.

É quando todos estão se movendo pelo saguão da frente do gabinete do


prefeito que as coisas dão errado. Sirius não gosta muito do prefeito, para ser
honesto. Um homem que se preocupa mais com a reputação de seu distrito
do que com as pessoas nele, preocupado demais em se encaixar no que se
espera dele, tagarelando sobre uma nova ordem desde que recebeu o cargo.
Ele é relativamente novo nisso, ou mais novo do que a maioria, porque ele é
jovem, apenas um pouco mais velho do que eles, pelo que Sirius pode dizer,
mas ele age como se fosse de grande importância e muito mais distinto do que
eles.

Sirius está obviamente o ignorando, e ao fazer isso, ele está olhando


rapidamente para as fotos na parede, e uma delas chama sua atenção e o faz
dar uma olhada duas vezes tão forte que ele genuinamente para de repente. O
grupo continua andando, mas Sirius está congelado no lugar, olhando para
uma foto de Remus com os olhos arregalados, seu coração acelerado.

O homem—o prefeito Vernon—continua falando, mas Sirius se aproxima


da foto. É quando ele se aproxima que ele percebe, não, aquele não é Remus.
É um homem muito parecido com ele—ou melhor, o homem com

87
CRIMSON RIVERS

quem Remus se parece muito. A placa abaixo da foto diz Lyall Lupin e agradece
a ele por mais de trinta anos de serviço como Auror.

"Sirius?"

Sacudindo, Sirius exala bruscamente e vira a cabeça para encontrar Regulus


parado bem ao lado dele. Sirius limpa a garganta e olha para ver os outros
ainda andando na frente, mas aqui está Regulus, esperando. "Desculpe. Eu...
Hum. Eu..."

"Oh," Regulus murmura, olhando para a foto e aparentemente lendo o


nome na placa. Ele pisca, então olha para Sirius novamente. "Sim, tudo bem."

"O que?" Sirius murmura fracamente.

Regulus arqueia uma sobrancelha para ele. "Quer saber. Apenas vá, Sirius.
Eu cuido dos outros."

"Obrigado," Sirius suspira, já recuando.

"Não se apresse. Nós ficaremos bem," é a única resposta de Regulus, e


Sirius acena agradecido antes de sair.

Vendo que Sirius não tem a menor ideia de onde Lyall mora, ou qualquer
coisa sobre o distrito doze em geral, ele está um pouco perdido desde o início.
Felizmente, Sirius sabe como encantar as pessoas e conseguir exatamente o
que quer, então ele fala com todas as pessoas que encontra e reúne
informações suficientes para, esperançosamente, apontar na direção certa.

Eventualmente, Sirius está subindo lentamente uma série de degraus


precários, sua respiração presa quando ele se aproxima de uma porta verde-
espumante com uma aldrava de latão que ele apenas—olha por alguns
momentos em crescente angústia. Ele nunca usou uma maldita aldrava antes.
Isso é uma coisa? As pessoas realmente usam isso? As pessoas geralmente
apenas batem diretamente na porta, certo? Mas ela está lá apenas para
decoração, ou ele deve realmente usá-la? Isso importa?

Sirius fica lá por uns sólidos cinco minutos, provavelmente, apenas


debatendo se seu estilo de bater ou não daria uma má impressão a Lyall, então
percebe que ele está sendo um pouco idiota, porque o homem provavelmente

88
ZEPPAZARIEL

não vai dar a mínima para como Sirius bate quando Sirius começa a falar sobre
seu filho.

Então, Sirius respira fundo, junta sua coragem, e estende a mão para bater,
então fica parado e internamente entra em pânico, porque e se ele bater muito
forte? Muitas vezes? Realmente, a aldrava está bem ali, e não é muito chato tê-
la, só para ninguém usar? Ele pode fazer os dois? Talvez ele devesse fazer as
duas coisas. Talvez—

A porta se abre antes que Sirius possa decidir o que conta como etiqueta
apropriada ao bater na porta do homem por quem você está apaixonado.

Lyall, como Remus, é um homem alto. Ele é mais velho do que na foto,
seu cabelo grisalho e seus olhos emoldurados por rugas. Ele parece severo, e
Sirius pode ver de onde Remus tirou aquela expressão cautelosa dele. Lyall,
também como Remus, é incrivelmente bonito—envelheceu como um bom
vinho, como diz o ditado.

"Olá," Sirius cumprimenta, lutando para não se encolher por causa do


quão formal ele soa. "Hum, oi, eu sei que você não me conhece, mas meu
nome é Sirius Black. Eu sou—"

"O mentor dos Vitoriosos deste ano," Lyall completa, quando Sirius para
sem jeito. O pobre Lyall parece que não tem a menor ideia do que traria Sirius
à sua porta, o que é justo, porque se não fosse por Remus, Sirius não teria
nenhuma razão para estar aqui. "Existe algo em que eu possa... ajudá-lo, Sr.
Black?"

"Sirius, por favor," Sirius diz rapidamente, enfiando as mãos nos bolsos e
limpando a garganta. "Eu—eu estava esperando poder entrar, se isso não for
muito incômodo. Eu só gostaria de falar com você sobre algo importante. Eu
estou ciente de que é confuso, senhor, e eu entendo se você preferir não, mas
eu realmente acho que você ficará grato por ter feito isso."

Lyall o observa por um longo momento em completo silêncio,


visivelmente confuso, depois dá um passo para trás e murmura, "Você me
pegou em uma boa hora. Entre."

"Obrigado," Sirius responde, seguindo Lyall para dentro.

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CRIMSON RIVERS

Passando pelo pequeno corredor da porta da frente, onde há um cabideiro,


a sala de estar principal espera. Sirius pode ver a cozinha ao lado, pitoresca e
desordenada, e dois corredores separados que ele supõe que levam aos
quartos. A sala de estar tem duas cadeiras com uma mesa lateral entre elas, um
abajur em cima dela, e uma foto emoldurada de um Remus muito mais jovem
sendo abraçado por trás por uma mulher radiante que Sirius tem certeza que é
Hope Lupin. A respiração de Sirius fica presa quando ele olha para ela, porque
apenas um olhar lhe diz que Remus conseguiu suas sardas e cabelos de sua
mãe, e ambos parecem tão felizes na foto que o deixa sem fôlego.

É o tipo de foto que você encontraria em lares felizes e amorosos com


famílias inteiras que não estão presas juntas por todas as suas partes
quebradas, nada parecido com a que Sirius vem. É o tipo de foto que Effie e
Monty têm por toda a casa. É o tipo de foto que não faria você pensar que
alguma coisa deu errado, que essa família já conheceu tragédia ou perda.

"Eu não quero ser rude," Lyall diz cuidadosamente, chamando sua atenção,
"Mas eu gostaria de saber para que você está aqui."

Sirius abre a boca, fecha, então faz tudo de novo repetidamente enquanto
tenta descobrir como começar. Suas pernas estão pulando para cima e para
baixo inquietas. "Certo. Então, eu—bem, honestamente, eu não sei como
explicar. Eu acho que eu deveria... ir direto ao ponto e dizer."

"Isso geralmente é um bom lugar para começar, sim," concorda Lyall.

"Eu conheço seu filho," Sirius deixa escapar, e então os dois meio que
param e se encaram. Lyall não está se movendo, nem parece estar respirando,
e nem Sirius. Há uma emoção tremeluzindo nos olhos de Lyall, mas Sirius não
consegue dar um nome ao que é. O silêncio se estende, e Sirius finalmente
não aguenta mais, sua expiração explodindo enquanto ele prontamente
começa a divagar. "Quero dizer, eu o conheci. Seu filho, quero dizer.
Recentemente, quando eu estava na Relíquia. Nós nos conhecemos, para ser
mais preciso, o que foi—"

"Espere," Lyall levanta a mão, e Sirius fecha a boca. Os dedos de Lyall


estão levemente trêmulos, mesmo enquanto ele olha fixamente para Sirius.
"Meu filho. Você... o conhece."

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ZEPPAZARIEL

Sirius engole e assente. "Sim. Remus. Nós nos conhecemos, como eu disse.
Ele foi designado para nossa suíte como servo, mas eu o fiz tirar a máscara.
Espere, não, eu—é—isso saiu errado. Eu—eu tentei, a princípio, com boas
intenções, mas no final, ele escolheu tirá-la sozinho e—e ele estava livre para
fazer o que quisesse na suíte, então ele fez, e nós passamos muito tempo
juntos. Nós conversamos muito, e é assim que eu sei sobre você, e ele—ele é
simplesmente brilhante, Sr. Lupin, de verdade."

"Ele está..." Lyall para por um longo momento, parecendo precisar de um


momento para processar, e ele estende a mão para passar a mão trêmula pela
boca. Qualquer que seja a emoção que exista em seus olhos, ela fica cada vez
mais brilhante. "Ele está—bem? Remus está bem? Só, eu preciso saber se—se
meu filho está..."

"Bem, er, ser um servo não é a coisa mais... glamourosa, por razões óbvias,
mas ele—apesar de tudo, ele está tão bem quanto pode, senhor," Sirius diz
suavemente. "Ele é gentil e apaixonado, e não deixou que os últimos cinco
anos o fizessem esquecer seu valor. Quando eu estava com ele, eu vi muitos
sorrisos e ouvi muitas risadas, se isso conforta você."

Os olhos de Lyall se fecham. "Conforta. Você não pode nem começar a


imaginar o quanto conforta."

"Ele falou sobre você e a mãe dele com—tanto amor, Sr. Lupin," Sirius
murmura, seu coração aperta quando os olhos de Lyall se abrem, brilhando
um pouco, molhados de lágrimas não derramadas. "Eu acho que ele gostaria
que você soubesse que ele te ama e sente sua falta, e ele espera que você
esteja... indo bem também. Eu sei que as circunstâncias são injustas, mas se eu
pudesse lhe dar isso—dar a ele—então eu tinha que pelo menos tentar.
Desculpe se eu exagerei, mas—"

"Você não exagerou. Você—obrigado." Lyall estende a mão e passa a mão


sobre onde Sirius está com o braço apoiado na cadeira, e depois de uma batida
de silêncio, ele descansa a mão no braço de Sirius e o aperta suavemente.
"Obrigado, muito obrigado."

Sirius respira fundo. "Eu pretendo vê-lo novamente quando eu voltar para
a Relíquia para os próximos jogos vorazes. Ainda faltam seis meses, mas eu
estaria mais do que disposto a levar uma carta para ele, se você quiser escrever
uma. Ou se você apenas quiser que eu diga algo a ele, eu diria."
91
CRIMSON RIVERS

"Você planeja vê-lo novamente?" Lyall pergunta enquanto afasta a mão,


sobrancelhas franzidas em confusão.

"Eu—bem, sim, senhor," Sirius admite. "Eu pretendo fazer isso acontecer,
custe o que custar. Suborno, se necessário. Eu, hum, tenho um jeito com as
Relíquias, de qualquer maneira. Eu sou meio... bom em manipulá-los para
fazer o que eu quero, e por Remus, eu vou."

Lyall pisca, encarando-o, depois assente lentamente. "Bem, isso é... Ah, eu
dificilmente vou te impedir. Pelo que eu entendi, Remus tem um pouco mais
de liberdade enquanto está com você, certo?"

"Sim, senhor," Sirius diz. "Eu realmente não... gosto de servos." Ele faz
uma pausa, então seus olhos se arregalam. "Espere, eu não quis dizer isso. Eu
quis dizer que não gosto de como os servos são tratados, e eu—eu não
permito isso em nossa suíte designada, onde é seguro para eles serem tratados
como deveriam. É—Remus não é o primeiro que eu insisti em ter direitos
humanos básicos, mas ele é o primeiro que realmente se permitiu concordar
totalmente. Normalmente, o perigo que isso representa impede a maioria das
pessoas, e eu não posso culpá-los por isso, mas Remus era... diferente."

"Eu sempre temi que ele se metesse em encrencas das quais não pudesse
sair, e agora que ele se meteu, eu temia que tudo o que fazia dele quem ele era
seria... tirado dele," Lyall confessa baixinho. "Saber que esse não é o caso,
saber que ele ainda está..." Lyall exala e olha para cima para segurar o olhar de
Sirius, os lábios se curvando nos cantos. "Você me deu um presente que
nunca poderei retribuir, Sirius, e eu—eu não posso nem começar a expressar
o que isso significa para mim. Eu gostaria de escrever uma carta para ele, se
você estava falando sério quando se ofereceu para levá-la para ele."

"Eu estava," Sirius confirma imediatamente. "Eu vou entregar para ele,
senhor, eu prometo. Eu acho que seria muito bom para ele."

Lyall engole. "É um risco. Tenho certeza de que você sabe disso, mas sinto
a necessidade de apontar, mesmo porque sinceramente duvido que meu filho
queira que você se coloque em perigo, mesmo por isso. Se você for
descoberto dando a carta para ele, vocês dois seriam punidos, ou
possivelmente mortos."

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ZEPPAZARIEL

"Eu sei," Sirius diz, sua voz firme e inabalável. "Eu vou ter cuidado, é
claro, mas o risco vale a pena por ele, e só posso esperar que você concorde.
Se—se for descoberto, você também estará em perigo, Sr. Lupin. Eu não
posso forçar você, e eu entenderia se você não quisesse; tenho certeza que
Remus também."

"Não," murmura Lyall. "Se você estiver disposto, então eu quero. Meu
filho sempre foi tão corajoso, mesmo para seu próprio prejuízo, e eu posso
ser corajoso por ele agora. Há coisas que eu nunca tive a chance de dizer a ele,
coisas ele merece ouvir, então se você tem certeza absoluta de fazer isso..."

"Eu tenho," Sirius o assegura.

"Muito bem." Lyall se inclina para a frente e se levanta da cadeira, soltando


um suspiro profundo. Ele se move até uma estante no canto e embaralha as
coisas para pegar alguma coisa, trazendo para Sirius. "Este é um álbum de
fotos, se você quiser folheá-lo enquanto escrevo a carta. Apenas me dê um
momento."

Sirius pega o álbum de fotos e acena para Lyall. "Claro. Leve o seu tempo."

Lyall lhe dá um leve sorriso e vagueia pelo corredor à esquerda,


presumivelmente para escrever a carta para Remus na privacidade de seu
próprio quarto, o que Sirius não pode não entender.

Para passar o tempo, Sirius realmente folheia o álbum de fotos, agradecido


por estar sozinho, porque ele está praticamente apaixonado desde a primeira
página. São fotos e mais fotos de Remus crescendo, desde bebê até adulto.
Lyall, Hope e outras pessoas aparecem nas fotos também—uma garota
aparece muito que Sirius acredita ser Lily, com base em seus cabelos ruivos e
olhos verdes e quão próximos ela e Remus parecem estar.

Na maioria das fotos, Remus está sorrindo. Nenhuma de suas fotos de


bebê, no entanto, porque ele aparentemente era um bebê que nunca sorria,
sempre carrancudo ou chorando, o que Sirius acha ridiculamente adorável.
Mas, à medida que ele cresce através das fotos, ele começa a sorrir cada vez
mais, parecendo tão jovem e encantado com a vida. Há muitas risadas
capturadas no momento, e Sirius sorri reflexivamente toda vez que vê.

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CRIMSON RIVERS

Sirius encontra uma favorita rápido. Uma foto de Remus e Lily, ele tem
certeza. É claramente uma foto que eles mesmos tiraram, apenas pelo ângulo.
Eles parecem jovens, provavelmente em torno de dezesseis ou dezessete anos,
se Sirius tivesse que adivinhar. Nela, Lily está segurando Remus pela
mandíbula e enfiando a língua na orelha dele, como se pretendesse lambê-la, e
o rosto de Remus se contorce em um sorriso que, por algum motivo, traz
lágrimas aos olhos de Sirius. Ele solta uma risada molhada, acariciando a
borda da foto com reverência, seu coração se sentindo inchado e dolorido da
melhor e pior maneira.

É que—bem, isso pode ter sido na época em que Sirius estava na arena, ou
depois, quando as coisas estavam tão difíceis para ele. Dói, de certa forma, ver
as pessoas vivendo com tanta facilidade, como se o mundo não estivesse
desmoronando, porque naquela época era assim que ele sentia. Ao mesmo
tempo, algo sobre isso acalma Sirius também, só de saber que Remus tinha
isso, saber que ele era feliz e amado.

Remus, sem surpresa, foi incrivelmente bonito durante toda a sua


juventude, e não há absolutamente nenhuma dúvida na mente de Sirius que
ele tinha pessoas se apaixonando por ele. Sirius se apaixonou por Remus,
então realmente, ele entende. Isso não significa que ele está muito feliz em
encontrar uma foto de Remus e algum garoto que ele devia estar namorando
na época, porque eles estão se beijando nela. Sirius franze os lábios e olha para
a foto, então passa para a próxima página com um bufo.

No final, as fotos ficam mais espaçadas e, eventualmente, Hope para de


aparecer nelas. Os sorrisos calorosos de Remus começam a ganhar arestas,
algo um pouco afiado em seu sorriso, como se ele estivesse sempre pronto
para uma briga, não importa o que esteja acontecendo. Há uma foto de Lily e
Remus ambos fumando, tocando as pontas de seus cigarros acesos juntos
enquanto seguram a câmera, então Sirius assume que outra pessoa tirou. E,
finalmente, há a última foto.

Nela, Remus parece mais velho do que nunca em qualquer uma das fotos,
não além dos vinte, já que ele foi capturado nessa idade. Ele está dormindo na
foto, com Lily bem ao lado dele, ambos esparramados com a boca aberta e
seus membros jogados um sobre o outro descuidadamente.

94
ZEPPAZARIEL

Sirius o encara por um longo tempo. Ele nunca viu Remus dormindo,
nunca teve a chance, e ele nunca vai ver isso pessoalmente. É uma pena,
porque Remus é adorável enquanto dorme, pelo menos quando está
descansando confortavelmente. Ele parece gentil, como o tipo de pessoa que
sorriria assim que você fizesse contato visual com ela.

Sirius sente tanta falta de Remus que é lamentável. Ele sente falta de
Remus o tempo todo, não importa o que ele esteja fazendo, e ele só precisa
ficar sozinho e ficar quieto por alguns minutos antes de sua mente se voltar
para cada lembrança deles que ele tem. Ele não esqueceu nada delas, nem por
um segundo, e ele acha que poderia esquecer todo o resto e ainda se lembrar
de Remus.

O som de Lyall se arrastando de volta para a sala faz Sirius fechar o álbum
de fotos gentilmente e colocá-lo de lado, endireitando-se enquanto Lyall volta
para sua cadeira. Os olhos de Lyall estão avermelhados e um pouco inchados
como se ele estivesse chorando, o que aperta as cordas do coração de Sirius de
uma forma horrível, mas ele não chama a atenção para isso, porque acha que
Lyall preferiria se ele não o fizesse.

"Remus não confia muito facilmente," Lyall murmura, "Mas eu sei que ele
deve confiar em você para ter contado sobre sua mãe. Não é algo que ele
tenha falado muito. Perder Hope foi difícil para ele, difícil para nós dois, e
saber que ele lhe contou sobre ela me permite saber que ele confia em você,
então eu vou fazer o mesmo."

"Obrigado," Sirius responde baixinho. "Eu nunca faria nada para machucar
Remus. Você pode confiar nisso, Sr. Lupin."

"É tudo o que um pai quer, apenas saber que seu filho tem pessoas que se
importem com ele," Lyall resmunga enquanto estende o envelope, sem marca
e lacrado. Nem todos os pais, pensa Sirius, mas ele não diz isso. "Eu aprecio você
mais do que você jamais saberá."

"Você é um bom pai, senhor." Sirius estende a mão para pegar a carta com
cuidado, oferecendo a Lyall um pequeno sorriso. "Para ser justo, é muito fácil
se importar com Remus. Ele é... algo especial."

"Eu concordo plenamente," declara Lyall, mas seus lábios se apertam em


uma linha fina. "Infelizmente, poucas pessoas seriam capazes de olhar além do

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CRIMSON RIVERS

que ele fez para ver isso. Não posso agradecer a você o suficiente por fazer
isso, apesar das pessoas que ele matou."

Sirius deixa cair a carta, seus dedos se atrapalhando e ficando frouxos


enquanto ele recua, os olhos se arregalando. A carta cai no chão na frente de
suas botas, e Lyall congela.

"Oh," Lyall diz baixinho, parecendo aflito, "Você não sabia... Eu pensei—
bem, ele te contou tanto que nunca tinha contado a ninguém, e você disse que
vocês dois conversavam muito, então eu apenas presumi que isso era algo que
ele confiou em você também."

"Não," Sirius murmura, "Ele—ele não mencionou essa parte."

O silêncio cai sobre eles como uma guilhotina, e o cérebro de Sirius mal
consegue entender isso. Remus matou pessoas? Que porra? Isso não—isso não
faz nenhum sentido. Remus nunca esteve nos jogos. Por que ele—por qual
razão ele nunca—

É por isso que ele é um servo? Assassinato foi seu crime? Bem, porra, Sirius
genuinamente não esperava por isso. Como ele poderia esperar por isso?
Remus nunca deu nem a entender—

"Sirius," Lyall começa, com muito cuidado, "Eu—eu sei que isso parece
ruim e o coloca sob uma luz negativa, mas você tem que entender que não é o
que você pensa. Por favor, permita-me explicar a história completa antes de
você—"

"Ah, não," Sirius interrompe rapidamente, soltando uma respiração


profunda enquanto balança a cabeça. "Sem ofensa, senhor, mas eu não acho
que seria uma boa ideia. Eu acho que ele deveria ter a chance de explicar,
apesar do quanto eu gostaria de saber."

Lyall o olha com cautela. "Você ainda vai visitá-lo?"

"O quê? É claro," Sirius diz, perplexo. "Por que eu não iria?"

"Você acabou de descobrir que meu filho é um assassino," Lyall o informa,


levantando as sobrancelhas lentamente.

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ZEPPAZARIEL

Sirius pisca. "Sr. Lupin, eu também sou um assassino. Eu matei doze


pessoas."

Por uma batida de silêncio, eles apenas se encaram em silêncio enquanto


isso se estabelece entre eles, porque este é o mundo em que eles vivem, onde
dizer algo assim pode ser verdade sem que seja absolutamente insano.
Bem, é insano, mas também é muito normalizado. É apenas... a maneira como
o mundo funciona.

E, na verdade, Sirius não tem espaço para julgar, tem? Essa é a verdade.
Ele matou doze pessoas, com a tenra idade de dezesseis anos. É um fato do
qual ele nunca pode se livrar. Claro, ele estava em uma situação em que não
tinha escolha, onde era isso, ou morrer, e ele não tem ideia das circunstâncias
em que Remus estava quando se tornou um assassino.

Ele não conhece os detalhes; as razões por trás disso; quantas pessoas, ou
mesmo como ele fez isso. Talvez seja tolice, mas Sirius não se importa
particularmente. Ele não esperava por isso, mas não é como se isso mudasse
alguma coisa. Sirius ainda sente falta de Remus a cada respiração, ainda o ama
com todas as células de seu corpo, e ainda tem todos os planos de vê-lo
novamente assim que puder.

"Bem, você parecia... bastante chateado," Lyall diz sem jeito.

"Não por causa da coisa do assassinato," Sirius murmura, acenando com a


mão descuidadamente. Ele faz uma pausa. "Isso me faz parecer meio louco,
não é? Eu só quero dizer, eu sei que o que quer que seja, ou como aconteceu,
não foi algo imperdoável. Não, eu fiquei apenas surpreso, honestamente, e eu
sinto que talvez ele deveria ter mencionado isso. Não que eu tenha direito a
qualquer informação que ele não se sinta confortável em compartilhar, mas eu
acho que é algo que você diz a alguém antes de fazer sexo com eles, no
mínimo."

Leva um segundo para as palavras alcançarem Sirius, e então seus olhos se


arregalam enquanto o calor sobe em seu rosto. As sobrancelhas de Lyall estão
erguidas muito, muito alto.

"Oh, porra—quero dizer, merda—espere, desculpe, desculpe a minha


linguagem, senhor," Sirius engasga, sua voz subindo de seu pânico crescente
enquanto seu coração dispara em seu peito. "Eu não—eu não deveria ter dito

97
CRIMSON RIVERS

isso. Eu não sei porque eu disse isso. Por favor, não pense que eu tirei
vantagem de Remus. Eu juro que não. Foi muito mútuo, e na verdade eu
estava super nervoso e não tinha muita certeza sobre a coisa toda—er, sexo,
quero dizer, porque eu nunca tinha feito isso, mas eu confiava em Remus, e
ele foi tão adorável—"

"Sirius—"

"Eu—eu não o forcei, eu nunca faria isso, e ele tinha total liberdade para
fazer o que quisesse, ou não quisesse. Ele poderia simplesmente—me bater, se
necessário. Tenho certeza de que eu disse isso a ele uma vez, na verdade, e ei,
agora eu sei que ele poderia ter fodidamente me matado, então é isso. Merda,
desculpe, a linguagem de novo. Eu só—eu não quero ser desrespeitoso na sua
casa, senhor, Eu juro. Eu estou apenas um pouco em pânico, no momento,
e—e tentando explicar que eu não coagi seu filho a fazer sexo com—"

"Sirius," Lyall interrompe mais uma vez, desta vez mais alto.

"Eu estou apaixonado por ele," Sirius deixa escapar, então inala
profundamente e emaranha os dedos em seu colo, encarando Lyall com os
olhos arregalados. Seu rosto parece que está prestes a derreter.

"Minha nossa," Lyall diz baixinho, e então uma risada baixa escapa dele,
mas continua crescendo até que ele está rindo tanto que ele se recosta na
cadeira e embala seu estômago. É uma risada de barriga cheia, ecoando por
toda a casa vazia que não deveria estar vazia. Demora um pouco para Lyall se
acalmar, e uma vez que ele o faz, ele realmente tem que esfregar as lágrimas
dos olhos enquanto balança a cabeça. "Oh. Oh, diabos, eu precisava disso."

"Sr. Lupin?" Sirius pergunta cautelosamente.

"Por favor, me chame de Lyall, Sirius. Você com certeza merece isso,"
Lyall declara, olhando para ele com um carinho para o qual Sirius não está
preparado. Ele parece... caloroso. Satisfeito, até. "Aposto que Remus fica
infinitamente entretido por você."

"Eu—bem, sim, praticamente," Sirius admite timidamente. "Ele acha que


eu sou uma bagunça. Eu acho que ele está certo."

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ZEPPAZARIEL

Lyall cantarola, balançando a cabeça novamente, divertido. "Eu deveria te


dizer, eu descobri que havia algo acontecendo entre vocês dois, só de como
você falou sobre ele. Seu amor pelo meu filho não é sutil."

"Eu estava tentando não fazer isso ser sobre mim," Sirius murmura.

"Você está bem, Sirius," Lyall responde gentilmente. "É reconfortante, na


verdade, saber que ele é amado. Também não me surpreende nem um pouco,
não sendo meu filho em mente. Ele certamente está ciente de que é algo que
ele não deveria fazer, mas..." O rosto de Lyall suaviza num misto de dor e
orgulho. "Bem, Remus nunca foi bom em fazer o que deveria. Por mais
preocupante que seja, eu sou grato por saber que isso não mudou nele."

Sirius limpa a garganta e se inclina para pegar a carta de volta com cuidado.
"Certo, bem, desculpe por... hum, você sabe."

"Não se preocupe com isso," diz Lyall ironicamente. "Ele é Remus. Eu não
espero nada menos dele, honestamente." Suspirando, Lyall olha para o
relógio, então se concentra em Sirius novamente. "Se você quiser voltar antes
que seus tributos subam ao palco, o que eu recomendo para evitar qualquer
suspeita, então você deve sair agora. Vou estar assistindo de onde é
televisionado daqui—um quadril ruim me mantém em casa, na maioria dos
dias, então isso foi bom. Estou muito grato por ter conhecido você, Sirius, e
obrigado por amar meu filho como você ama."

"Certo, sim, tudo bem," Sirius concorda, ficando de pé. Ele guarda o
envelope e avança para apertar a mão de Lyall assim que ele a oferece.
"Obrigado, Sr. Lup—hum, Lyall."

"Duvido que nos veremos de novo," Lyall murmura enquanto solta a mão
de Sirius, "Mas eu não me importaria de estar errado sobre isso. Se você
estiver na área, você é bem-vindo aqui."

Sirius sorri, incapaz de evitar a onda de triunfo que lhe dá, só porque
conseguiu a aprovação de Lyall. "Se eu estiver aqui, com certeza passarei por
aqui."

"Tudo bem, vá agora," diz Lyall com uma risada.

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CRIMSON RIVERS

Com uma respiração profunda, Sirius acena para ele, diz adeus, então se
vira para ir embora. Ele sente o peso da carta no bolso durante todo o
caminho até a porta.

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ZEPPAZARIEL

34
UM DIA RUIM

A respiração de Dorcas fica presa no momento em que ela põe os olhos


em Marlene, que imediatamente encontra Sirius em um abraço apertado.

Ela parece—bem, francamente, ela parece o oposto de uma Relíquia em


shorts jeans rasgados e uma camiseta preta solta com os lados cortados até a
bainha, mostrando seus lados nus e o sutiã escuro por baixo. Ele revela os
músculos em seus braços, em suas pernas, e seu cabelo dourado está
empilhado em um coque torto e bagunçado no topo de sua cabeça. Há sujeira
sob suas unhas e hematomas aleatórios e amarelados em vários pontos em
suas pernas e braços, como se ela fosse ativa, como se ela fosse vivaz, como se
estivesse fazendo as coisas um pouco demais e não planejasse parar.

Na Relíquia, as pessoas a veriam assim e zombariam. Eles a chamariam de


'pobre', apesar de ela não ser; ela não pode ser, como um Vitoriosa. Eles a
chamariam de 'bagunçada', ou 'desarrumada', ou algo igualmente insultante.

Enquanto isso, Dorcas quase engasga quando inala seu próprio cuspe,
porque ela será amaldiçoada se essa não for a mulher mais atraente que ela já
viu em sua vida. Puta merda, isso nem é justo. Oh, isso não parece bom para
Dorcas, de jeito nenhum. Ela não vê Marlene há seis meses, basicamente, e ela
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CRIMSON RIVERS

disse a si mesma que ia manter a calma e ser normal quando a encontrasse


novamente, mas um olhar para Marlene parecendo que acabou de sair da
cama e fez algum trabalho manual deixa Dorcas saber que ela vai falhar
miseravelmente.

Sirius e Marlene murmuram um para o outro enquanto Pandora, Regulus e


James encontram o prefeito, e Dorcas fica para trás, seu coração disparado
enquanto ela espera que Marlene a note enquanto debate se ela deve correr e
se esconder no trem antes que isso aconteça. Há um ponto em que Pandora
está claramente entretendo mais o prefeito, o que libera James e Regulus para
irem até Sirius e Marlene quando Sirius levanta a mão e acena para eles.

"Hum. Olá," James diz suavemente, mais manso do que Dorcas já o viu.
Seus ombros estão curvados para frente, e ele não parece ser capaz de olhar
Marlene diretamente nos olhos.

Não pela primeira vez, a mente de Dorcas se volta para Vanity e Hodge, e
o envolvimento doloroso de James em seus respectivos últimos momentos.
Isso é claramente difícil para ele, apenas estar perto de Marlene, a mentora
deles, e a culpa praticamente escorre dele de todos os lados. Claramente não é
muito fácil para Marlene também, porque algo passa por seus olhos quando ela
olha para ele, e por um breve momento, sua mandíbula aperta e seus dedos se
contraem como se ela estivesse pensando em fazer algo violento.

No final, Marlene exala e olha para Sirius, que acena gentilmente, e então
Marlene dá um passo à frente e estende a mão para James. "Olá. Prazer em
conhecê-lo."

É muito duro e estranho entre eles, mas James estende a mão para apertar
a mão dela. Acaba rápido, e talvez seja melhor assim, porque Regulus está
começando a ficar nervoso. Ele fica assim, Dorcas notou. Qualquer coisa que
ele perceba como uma ameaça o deixa inquieto, e não deixe que seja uma
ameaça que ele sente ser direcionada a James ou Sirius, porque então as coisas
têm grandes chances de ir de mal a pior. Dorcas nunca viu um grupo de
pessoas mais hostil e perigoso em sua vida.

Então, porque Dorcas faz as coisas, e ela pode ver que isso é muito difícil
para Marlene e James, especificamente, ela avança e diz, "O que, sem olá para
mim, Marlene?"

102
ZEPPAZARIEL

A cabeça de Marlene vira em direção a ela, finalmente percebendo que ela


está lá, e ela fica mais alta imediatamente. Seus dedos se contraem novamente,
mas desta vez, Dorcas tem certeza de que não é porque ela deseja fazer algo
violento. "Dorcas."

"Em carne e osso," Dorcas reflete, parando perto de Marlene e se


perguntando se seria demais se ela fosse para um abraço. Amigas se abraçam,
não é? Oh, foda-se.

Apesar de saber que é uma ideia incrivelmente ruim, Dorcas dá um passo à


frente e estende os braços em oferenda, inclinando-se e se preparando
totalmente para que seja estranho ou horrível, ou para Marlene se esquivar
completamente dela. Marlene não se esquiva, e não é estranho ou horrível. Na
verdade, Marlene a encontra no meio do caminho, e é maravilhoso.

Dorcas é muito próxima da altura de Marlene, apenas um pouquinho mais


alta, então elas meio que encaixam, de alguma forma. Ou talvez seja assim que
Dorcas sente. De qualquer forma, envolver os braços em torno de Marlene é a
coisa mais natural do mundo, tão fodidamente certo que a ideia de soltar
parece errada. Marlene cheira a calor, como sol e... óleo de motor, por algum
motivo? É bom, algo caseiro e estrangeiro ao mesmo tempo.

"Eu não esperava ver você," Marlene diz baixinho quando elas se separam,
para desgosto interno de Dorcas. "Eu não tinha certeza se os estilistas
viajavam na turnê da vitória."

"Eu tinha tempo livre," murmura Dorcas.

Marlene limpa a garganta e assente. "Bem, isso é—quero dizer, eu fico


feliz. É bom ver você de novo."

"Eu queria... na verdade eu fui te ver—antes de você sair da Relíquia,


quero dizer," Dorcas deixa escapar, seu coração balançando para frente em
seu peito quando ela vê os olhos de Marlene se iluminarem com surpresa. "Eu
ia me despedir, mas eu só—eu esperei demais e cheguei tarde demais, só isso."

"Talvez não espere da próxima vez, sim?" Marlene brinca, abrindo um


largo sorriso que talvez faça os joelhos de Dorcas ficarem bambos; seja o que
for, está tudo bem.

103
CRIMSON RIVERS

"Eu não vou," diz Dorcas, e ela espera que não seja mentira, porque
mesmo que elas não possam ser... nada, ela não consegue resistir a querer
manter Marlene em sua vida, mesmo à distância.

Pandora vem agitada e reúne todos, conduzindo-os junto com a prefeita


do distrito onze, uma mulher gentil que os conduz a uma sala com refrescos e
lanches, mas não uma refeição completa. Não há necessidade, visto que o
distrito doze alimentou todos eles, mas cada distrito é obrigado a fornecer
bebidas e pelo menos algumas opções de comida para os Vitoriosos durante a
turnê.

Dorcas só agora está aprendendo em primeira mão como isso é cruel,


especialmente em distritos onde a pobreza é mais proeminente. Claro, várias
pessoas na Fênix que escaparam dos distritos já falaram com ela sobre essas
coisas antes, mas uma coisa é ouvir sobre isso e outra é ver.

A prefeita acaba se dando bem com Pandora e James, que fica com ela e
parece desesperado para evitar Marlene a todo custo. Regulus, sem surpresa,
paira em torno de Sirius como sua sombra pessoal. Ele também faz muito
isso, Dorcas notou. Apenas gravita em direção ao irmão sem nem mesmo
parecer perceber, como uma coisa instintiva. Quando ele não o faz, Sirius o
procura, nunca se acomodando completamente até saber onde seu irmão está
e o que ele está fazendo.

Às vezes isso parte o coração de Dorcas, honestamente. É só que é


descaradamente uma coisa familiar, apenas verificar com a pessoa com quem
você se sente confortável apenas da maneira que a família pode ser, mas
também está misturada com outra coisa. Uma constante e interminável
tendência de preocupação, precisando da garantia de que o outro está lá, que
está por perto, que está seguro.

Marlene passa o tempo com Sirius—e Regulus, porque ele está pairando—
enquanto Dorcas fica com James, Pandora e a gentil prefeita. Se a Prefeita
Matilda percebe que mais do que algumas pessoas estão evitando uns aos
outros—James e Marlene, James e Regulus, Dorcas e Marlene—então ela não
menciona isso ou parece se importar. Sinceramente, ela é uma mulher muito
legal.

Não é que Dorcas queira evitar Marlene, veja bem, é só que fazer isso é o
melhor. Ela está grata apenas por poder vê-la, no entanto, por colocar os
104
ZEPPAZARIEL

olhos nela mais uma vez e saber que ela está bem. Apenas isso é suficiente.
Tem que ser.

Em algum momento, Pandora e James entram em uma conversa muito


profunda e muito complicada com a prefeita Matilda sobre tipos de solo—um
interesse compartilhado entre eles, aparentemente—e Dorcas lentamente se
afasta e foge, porque ela realmente não tem ideia do que eles estão falando.

Em vez disso, ela sai pela porta lateral que a prefeita Matilda gentilmente a
informou antes que ela poderia usar para fazer uma pausa para fumar, se
quisesse. Dorcas, de fato, quer.

Ela só fuma metade do cigarro antes que a porta se abra e Marlene saia, o
que honestamente não deveria ser uma surpresa. De alguma forma, é. De
alguma forma, Dorcas se assusta que Marlene se juntaria a ela, que iria
procurá-la, que estaria à vontade com ela o suficiente para passar algum tempo
com ela de propósito. Ela não sabe por que isso é tão chocante, aqui no
distrito natal de Marlene, mas comparado à Relíquia, é. Este é o lugar de onde
Marlene é, onde ela cresceu, e Dorcas é apenas uma garota da Relíquia. Um
lugar que leva o ditado que tudo que reluz não é ouro para o próximo nível. Uma
fossa crescente de desespero e podridão que se esconde em belos sorrisos e
belas jóias.

Isso, aqui, é a verdadeira beleza. Marlene é a verdadeira beleza.

"Longo dia?" Marlene pergunta levemente, chegando a se encostar na


grade da varanda ao lado dela.

"Ainda mal começou," diz Dorcas com um suspiro. "Temos que ir até o
distrito nove hoje. Oito, sete, cinco e quatro no segundo dia. Três, dois, um e
depois para a Relíquia no terceiro dia, onde eu vou ter muito pouco tempo
para deixar James e Regulus prontos para a entrevista."

"Você não se ofereceu para estar junto para a viagem?" Marlene pergunta
com uma leve diversão, arqueando uma sobrancelha.

Dorcas faz um barulho de tch e dá outra tragada no cigarro, soprando a


fumaça preguiçosamente para o céu com a cabeça inclinada para trás. "Sim, eu
me ofereci, mas me deixe resmungar em paz."

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CRIMSON RIVERS

"Como você quiser," Marlene murmura, os lábios se contraindo.

"Como você tem estado?" Dorcas pergunta, observando-a com


curiosidade, impotente querendo saber tudo sobre ela.

Marlene respira fundo, depois sopra e rola os ombros em um encolher de


ombros preguiçoso. "Oh, você sabe, a mesma coisa de sempre, apenas um dia
diferente. Eu tenho ajudado meu pai na fábrica ultimamente; ele trabalha com
a maioria dos outros homens do distrito para construir motores e outras
coisas, geralmente para a Relíquia. Meu primo recentemente teve um bebê,
coisinha bonitinha, mas minha mãe tem sido um desastre emocional porque
eu nunca o seguro. Eu, ah, pintei a casa da Sra. Chevolik—ela é a mãe de
Hodge—agora ela me traz amendoim torrado toda semana."

"É bom?" Dorcas pergunta, porque é a primeira coisa que sai de sua boca.

"É absolutamente horrível," anuncia Marlene, e elas se encaram por um


instante antes de cair na gargalhada. "Não, não estou brincando, Dorcas. É
genuinamente muito ruim. Eu odeio isso de qualquer maneira, porque fica nos
meus dentes, e eu desprezo qualquer coisa que tenha um leve sabor de
caramelo. Mas eu como com um sorriso todas as vezes. Faz ela tão feliz, e era
o favorito de Hodge, então eu—eu acho que ela gosta de ter um motivo para
fazer."

Dorcas não está mais rindo, nem Marlene. Isso fica entre elas, pesado, e
então Dorcas desvia o olhar enquanto engole o nó na garganta. "Por que você
nunca segura o bebê?"

"Maximus é um bebê calmo, não me entenda mal, mas eu só... eu não sei,
ele é tão pequeno, e eu não—" Marlene para, então limpa a garganta. "Bem,
como eu te disse, eu nem sempre sei ser gentil."

"Você sabe," murmura Dorcas. "Você é capaz de ser gentil, Marlene. Você
come amendoim torrado que você odeia, só para fazer uma mãe feliz, e se isso
não é gentil, eu não sei o que é."

"Às vezes," sussurra Marlene, "Ser gentil é uma tarefa árdua."

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ZEPPAZARIEL

"Sim," Dorcas responde, lembrando-se de como o rosto de Slughorn ficou


sob seus dedos, quando ela cravou as suas unhas. "Sim, pode ser." Ela suspira.
"E a fábrica? Você gosta?"

"É quente e é cansativo, mas é... satisfatório," Marlene murmura, e Dorcas


sussurra para encorajar Marlene a continuar, dando outra tragada em seu
cigarro enquanto ouve. "A maior parte é um trabalho simples, uma vez que
você conhece todo o processo e descobre como trabalhar as máquinas. É—eu
posso perder dias inteiros lá, sem nem pensar o tempo todo. Pode ser um
pouco perigoso às vezes, no entanto. Na verdade eu quase cortei meu dedo
fora no mês passado."

"Porra, Marlene," Dorcas diz exasperada quando Marlene enfia a mão no


rosto de Dorcas e mostra a cicatriz do lado de fora do polegar.

Marlene sorri para ela, toda cheia de dentes. "Eu mesma costurei e depois
voltei ao trabalho."

"Idiota," Dorcas murmura com carinho, balançando a cabeça enquanto


sopra um pouco mais de fumaça, apontando para longe de Marlene.

"Eu não gosto de olhar para a cicatriz, no entanto," Marlene admite,


olhando para o polegar com uma carranca. "Ela curou toda deformada, então
parece estranho para mim, e também me faz sentir estúpido quando olho para
ela, porque tecnicamente, foi minha culpa, mas você não me ouviu dizer isso. Se
meu pai perguntar, eu não estava cochilando enquanto rodava o compactador,
combinado?"

"Você adormeceu—"

"Olha—"

Dorcas solta uma risada incrédula e começa a tossir, a fumaça se


acumulando em seus pulmões quando ela não a exala rápido o suficiente. Ela
passa tossindo, recupera o fôlego e diz, "Eu nem quero ouvir. Tenha mais
cuidado ao manusear máquinas pesadas, Marlene."

"Você soa como minha mãe." O rosto de Marlene se contorce uma batida
de silêncio depois. "Oh, eu odeio que eu acabei de dizer isso."

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CRIMSON RIVERS

"Não, eu também," Dorcas assegura a ela, então sorri quando Marlene


franze o nariz com mais desgosto. "Mas pelo menos sua mãe parece uma
mulher sensata."

"Ela não é. Ela é facilmente cansada e não tem ideia do que está
acontecendo a qualquer momento," Marlene corrige, seus olhos suavizando
com amor desenfreado. "Ela só—sente muito, se isso faz sentido. Não é um
pensamento por trás de seus olhos, na verdade, mas da melhor maneira. Ela
é... toda coração. Louca como ela é, eu a amo muito."

Parece Sybill, Dorcas pensa, engolindo as palavras antes que elas saiam de
sua boca de forma imprudente. "Ela parece adorável."

"Mhm." Marlene cutuca o polegar novamente, suspirando. "Ela me manda


um band-aid todos os dias como se eu fosse uma maldita criança, porque ela
sabe que a cicatriz me irrita. Eu disse a ela que a perdi em um momento, e ela
ainda faz isso de qualquer maneira. Eu vou ter que pensar em algo, ou então
ela vai usar todos eles."

"Hum." Dorcas a observa por um longo momento, depois termina o


cigarro. Ao soprar a última baforada de fumaça, ela puxa o anel do polegar
esquerdo—um simples de prata com gravuras pretas em toda a volta—e então
dá um passo à frente para contorcê-lo no polegar de Marlene, empurrando-o
para baixo onde se encaixa perfeitamente na sua cicatriz, exceto por uma
pequena porção que aparece um pouco acima do anel. "E quanto a isso? Isso
é suficiente?"

"Oh, Dorcas, eu não posso ficar com isso. É seu. É—"

"Cale a boca. Cobre, não é? Funciona para você?"

Marlene olha para baixo por um tempo, então olha para cima e encontra os
olhos de Dorcas. Suavemente, ela diz, "Sabe, na verdade sim."

"Bem, aí está," Dorcas murmura, sentindo seu coração se revirar


vibrantemente em seu peito só de pensar no fato de que Marlene o terá, o
guardará, o usará e terá um pouco de Dorcas com ela sempre. Talvez ela
pense em Dorcas toda vez que esfregar o dedo nele.

"Você não precisava fazer isso," sussurra Marlene.

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ZEPPAZARIEL

Dorcas engole. "Para que servem os amigos, certo?"

Marlene se aproxima, e só agora Dorcas percebe o quão perto elas


realmente estão, e é tarde demais para fazer qualquer coisa sobre isso, porque
Marlene está a beijando, simples assim. Amigas. Sim, elas têm essa coisa de
amiga muito bem, não é?

Dorcas a beija de volta, e não é porque ela está acostumada a beijar


Marlene de volta, mas porque ela não consegue se impedir de fazer isso.
Ela não deveria, ela sabe disso, e ela ainda não pode evitar. A boca de Marlene é
uma linha de calor contra a dela, pressionando e separando seus lábios, nada
gentil ou provocante. Não é como se Dorcas estivesse afundando nela, se
perdendo, mas como se ela estivesse ressurgindo, como se estivesse ganhando
vida.

Assim, nenhuma de suas responsabilidades importa. Ela não sabe sobre a


guerra, nem se preocupa com o perigo, nem pensa nos riscos. É apenas a boca
de Marlene contra a dela, a língua de Marlene deslizando na fenda de sua boca
desesperadamente, ansiosamente, como se ela quisesse muito.

Oh, mas Dorcas também quer.

Quando a mão de Marlene embala sua bochecha, Dorcas pode sentir a


linha fria do anel em seu polegar contra o calor de sua pele.

"E você?" Marlene expira, afastando-se para olhá-la com olhos brilhantes e
boca inchada. "Como você tem estado?"

Tudo desaba em Dorcas, então. Infiltrando-se como um cano que acabou


de estourar. Uma sala cheia de água, mas não há janelas nem saída. Eu tenho
estado horrível, cheia de luto por aqueles que se foram, pelos quais sou parcialmente culpada.
Eu tenho me preparado para a guerra. Eu estive perdida, perdida, perdida. Eu estive
pensando em você.

"Oh, você sabe, a mesma coisa de sempre, apenas um dia diferente,"


Dorcas resmunga, lambendo os lábios antes de se afastar cuidadosamente de
Marlene e trêmula procurando outro cigarro.

Marlene espera que Dorcas continue, que lhe dê mais, mas Dorcas não o
faz.

109
CRIMSON RIVERS

Dorcas não pode.

Marlene olha para baixo e gira o anel no polegar, e elas não dizem mais
nada. Apesar de tudo, o silêncio é confortável.

Geralmente é, entre amigos.

~•~

As coisas dão errado no momento em que James está no palco e põe os


olhos na família de Vanity.

A coisa é, isso foi difícil de fazer no distrito doze, e James nem


sequer falou com esses tributos, nem uma vez. Só de ver suas famílias nas duas
plataformas na parte de trás da multidão, de pé na frente e no centro, o tinha
machucado. É crueldade no seu melhor, fazer com que as pessoas que
perderam seus entes queridos se levantem e enfrentem as pessoas que
viveram.

É particularmente devastador quando James conhece os tributos caídos. Ele


conhecia Vanity. Ele falou com ela, riu com ela, fez tudo o que pôde para
protegê-la; ele viveu e ela não.

E Hodge... Bem, não apenas James sobreviveu, mas também o matou. Ele
é a razão pela qual Hodge está morto, e não importa se foi um acidente, não
importa se ele provavelmente não teria chegado ao fim de qualquer maneira.
Nada disso importa, certamente não para as pessoas que queriam que Hodge
voltasse para casa para eles.

A mãe, o pai e os três irmãos de Vanity—Divan, Curio e Hoosier—


prestam homenagem a ela. Seus irmãos são todos mais novos, dois deles são
gêmeos, e Curio se parece mais com Vanity. James olha para todos eles e
sente que vai virar pó, como se estivesse desmoronando de dentro para fora.

A única pessoa em homenagem a Hodge é quem James presume ser sua


mãe. Uma mulher assustadoramente jovem—não pode ser mais do que dez
anos mais velha que James—o que significa que ela teve Hodge bem jovem, e
também significa que ela tem muita vida para viver sem seu filho. Não há pai
ou outros irmãos. Ela está chorando antes que uma palavra seja dita.

110
ZEPPAZARIEL

James, de fato, tem o discurso que ele deveria fazer memorizado, assim
como Regulus. A questão é que James está preso. Atrás das famílias há
grandes telas exibindo o perfil do tributo, então lá está Vanity, lá está Hodge,
olhando diretamente para ele com olhos claros e inocentes. Ele esqueceu
como eles realmente eram, porque eles estão mortos e vingativos quando ele
os vê em seus pesadelos. Mas, assim, nada mais que uma lembrança em um
banner, eles são jovens e brilhantes. Ainda mortos de qualquer maneira.

Regulus está apertando a mão de James quase até um ponto violento, e


James sabe—ele sabe, ok? Ele sabe que precisa falar. Ele sabe que precisa
começar o discurso. Obrigado, Distrito Onze, pela calorosa recepção; estamos felizes por
estar aqui. Os tributos que vieram daqui defenderam tudo o que vocês representam com
integridade e respeito. Vocês tem todo o direito de se orgulhar—

Mas é isso, não é? Vanity e Hodge não eram representantes de seus


distritos, não realmente. Claro, é isso que a Relíquia gosta de perpetuar para
desumanizá-los ainda mais, mas não é isso. Vanity e Hodge eram crianças que
tiveram seus futuros roubados—e James, um dos ladrões. Suas famílias não
estão orgulhosas; o que há para se orgulhar? O que aconteceu não foi nobre.
Foi uma tragédia.

"Eu..." A voz de James fica presa na garganta, e aquele som ecoa pela
multidão silenciosa e morta. Regulus está estrangulando sua mão, neste
momento. James pode sentir a pressão crescendo em seu peito, em sua
cabeça, e a mãe de Hodge está chorando, silenciosamente. Curio tem os olhos
de Vanity. "Eu sou—eu—"

"James," Regulus sussurra, falando baixo, íntimo, tentando mantê-lo no


caminho certo.

James solta um ruído estrangulado e, pela primeira vez em sua vida, ele se
afasta de Regulus. Ele literalmente tira a mão do aperto de Regulus e se afasta
dele, aproximando-se do microfone enquanto as palavras começam a sair dele
em uma corrida que ele não consegue descobrir como parar.

"Eu sinto muito," James diz, olhando direto para a mãe de Hodge,
forçando-se a testemunhar sua dor, sabendo que ele é a causa disso. "Eu—eu
sinto muito. Eu—eu sei que isso não pode compensar a perda dos seus filhos,
porque nada vai compensar isso. Eles eram muito jovens, e não era justo.
Hodge—ele estava com medo. Ele estava com medo, e tentando sobreviver, e
111
CRIMSON RIVERS

não é justo que ele não tenha sobrevivido. Ele nunca deveria ter estado lá; ele
nunca deveria ter sido forçado a entrar naquela arena. Eu não queria empurrá-
lo; eu—eu nunca quis machucá-lo. Eu sinto muito. Ele não merecia isso, nada
disso. Eu carrego meu arrependimento comigo todos os dias, mas eu sei que
empalidece em comparação com a sua dor. Eu daria qualquer coisa para que
ele tivesse quinze anos."

A mãe de Hodge estende a mão para cobrir a boca, seus olhos se fecham
com força enquanto as lágrimas escorrem por suas bochechas. Ela nunca faz
um som. Atrás dela, na tela, Hodge sorri.

"E Vanity—ela—" Os olhos de James queimam quando ele olha para a


família dela, incapaz de falar por um momento por causa da onda de emoção
que o sufoca. Curio tem os olhos de Vanity, e eles estão cheios de lágrimas.
"Ela não era apenas um tributo, não para mim. Eu tentei protegê-la, e eu
falhei, e eu sinto muito. Ela era incrivelmente inteligente, e tão brilhante, e
eu—eu sinto falta dela. Toda vez que eu vejo um inseto, eu sinto falta dela.
Todos os dias, eu sinto falta dela. Ela merecia algo melhor, e eu sinto muito
que ela não tenha conseguido. Eu sinto muito por não conseguir salvá-la. Ela
deveria ter conseguido viver, crescer e o que aconteceu com ela foi errado. Ela
era—ela era tão jovem e ela—ela—"

James não consegue terminar, não consegue descobrir onde termina,


porque tudo isso é tão injusto e tão fodido, e ele está chorando muito para
localizar as palavras que merecem ser ditas para Vanity e Hodge. Palavras que
nem mesmo vão trazê-los de volta. Palavras que não os teriam mantido em
primeiro lugar.

Talvez não importe, porque Regulus de repente está bem ali, puxando
James para longe do microfone e basicamente empurrando sua cabeça para
baixo na curva de seu pescoço. James cai contra ele e se esconde lá, chorando,
mal ouvindo as palavras calmas e firmes que saem da boca de Regulus.

Algo sobre a culpa de James. Sua dor. Uma capa frágil para tudo o que
James já disse, para todas as maneiras pelas quais James acabou de falar fora
de hora, saiu do roteiro, os aproximou do perigo em sua necessidade de fazer
o que é certo.

James está chorando, e ele não sabe quando ele está. Parece que Vanity e
Hodge acabaram de morrer, e o mundo está desmoronando ao seu redor
112
ZEPPAZARIEL

novamente. O tempo gira em torno dele, e ele não está usando seus óculos, e
Regulus está sussurrando em seu ouvido enquanto o conduz para fora do
palco, fora de vista.

À distância, fraca e ao fundo, a multidão anteriormente silenciosa está


cantando, repetidamente, "Hallow is hollow."

~•~

James não está bem. Ele está chacoalhando contra Regulus e chorando
tanto que não está respirando direito. Ele não está aguentando, e Regulus não
sabe como ajudar. A pele de Regulus está arrepiando porque James está
pressionado contra ele, e ele odeia se sentir assim. Por James, ele tolera isso.

"Sirius. Sirius," Regulus sussurra freneticamente, sentindo-se impotente e


inadequado, esfregando as costas de James sem pensar enquanto ele encara
seu irmão desesperadamente.

Infelizmente, Sirius está discutindo o controle de danos com a Prefeita


Matilda, oferecendo conselhos enquanto seu distrito continua a ficar cada vez
mais inquieto e turbulento a cada segundo. Segundo a prefeita Matilda, nunca
houve problemas entre os do distrito e os aurores, mas a crescente
discordância é motivo de preocupação. Sirius e Pandora estão conversando
com a Prefeita Matilda para basicamente orientá-la sobre a melhor forma de
lidar com essa situação, sem dúvida tentando encobrir e suavizar o quão
severamente James acabou de estragar tudo.

A questão é que Regulus nem culpa James. Ele não pode culpar James.
Vanity era muito jovem, e Hodge também, e tudo que eles passaram não foi
justo. Eles nunca deveriam ter estado lá; eles nunca deveriam ter morrido.

Regulus não está com raiva. Ele está com medo, no entanto. Há uma
chance de que James tenha causado problemas para as suas cabeças, mesmo
que Regulus tenha feito o possível para consertá-los. Ele tentou. Ele realmente
tentou, apesar do fato de que isso o fez se odiar mais. Ele deveria ter ficado ao
lado de James, independentemente do medo, independentemente das
consequências. James merece alguém que o apoie em qualquer coisa, não
importa o quê.

113
CRIMSON RIVERS

James faz uma espécie de barulho fraco e indefeso contra Regulus, uma
merda da cabeça aos pés, e Regulus responde à sua angústia como se estivesse
se preparando para a batalha. Ele quer lutar contra isso, o que quer que esteja
perturbando James, mas não pode. Isso não é algo que ele pode matar, e isso
o deixa se sentindo perdido e inútil e terrivelmente fora de sua profundidade.

"Sirius!" Regulus chama, mais alto e mais frenético desta vez.

Isso, felizmente, chama a atenção de Sirius imediatamente. Ele abandona a


prefeita Matilda com Pandora em menos de um segundo, o que não parece
importar de qualquer maneira, porque segundos depois, a prefeita Matilda está
rapidamente entrando no palco para falar com seu distrito e acalmá-los
novamente.

"Ok, ok, ei," Sirius diz, sua voz suave quando ele para ao lado deles e
cuidadosamente coloca a mão no ombro de James, abaixando sua cabeça para
mais perto dele. "James, me escute. Eu preciso que você me escute, certo?
Você está no distrito onze. Seis meses depois dos jogos vorazes. Você não
está na arena. Você está na turnê da vitória."

Isso não parece importar para James. Ele não se acalma.

"Nós vamos voltar para o trem," Sirius declara, levantando a cabeça e


encontrando o olhar de Regulus. "Agora. Precisamos ir agora. Precisamos
afastar ele. Segure ele firme."

"Segure ele—o quê? Sirius, o quê?" Regulus deixa escapar.

"Apenas confie em mim," Sirius diz. "Vamos."

E assim, eles vão. Sirius diz algo para Pandora, que aparentemente está
ficando um pouco para falar com a Prefeita Matilda novamente. Na saída, eles
passam por Dorcas e Marlene, que os observam com os olhos arregalados.
Marlene está olhando direto para James, todos os traços de raiva persistente
inexistentes. Há respeito ali, em seu olhar, assim como choque. Há algo nos
olhos de Dorcas que Regulus não consegue nomear, algo estranhamente
calculista, mas ele não tem tempo ou foco para descobrir o que isso significa.

Mais ou menos na metade do caminho para o trem, Regulus entende o que


Sirius quer dizer sobre segurar James firme. Sem nenhum aviso, James

114
ZEPPAZARIEL

simplesmente—perde o controle. Ele vai de soluçar a atacar como se sua vida


dependesse disso, lutando contra eles e tentando fugir.

Sirius xinga quando começa a arrastar James mais rápido, fazendo Regulus
correr para acompanhá-lo. Eles não o soltam até que estejam no trem, e assim
que o fazem, Sirius está empurrando Regulus para trás, então eles dão a James
um amplo espaço.

Ele é como um touro solto em uma loja de figurinhas. Atordoado e


confuso e colidindo com as coisas. Tudo em que ele esbarra, ele empurra para
longe dele, quebrando as coisas e derrubando-as. Sirius continua a empurrar
Regulus para trás toda vez que James se aproxima deles, e Regulus espia em
volta de seu ombro, seu coração preso na garganta.

É ruim. Muito fodidamente ruim. Regulus pode dizer que James está fora
de contato com a realidade, com o tempo, agora. Ele não acha que James sabe
onde ele está, ou com quem está com ele. Várias vezes, ele diz o nome de
Regulus. Ele sai procurando seu machado, cantando onde está, onde está, onde
está? Ele começa a procurá-lo e, a certa altura, ele legitimamente apenas
derruba a mesa no meio do vagão, fazendo os pratos baterem e se espatifarem
no chão.

Regulus se sente—pequeno. Ele não tem certeza do porquê, exatamente.


Talvez seja porque Sirius está parado na frente dele, um braço estendido para
trás para manter Regulus lá, protegido, como se houvesse uma ameaça na sala
com eles. Há. É apenas James, e ainda assim, há.

Termina quando a perna de James cede. Também não há aviso para isso. A
perna de James se dobra abruptamente, mandando-o direto para o chão,
felizmente não em uma pilha de vidro. Assim que James desce, ele se arrasta
de volta contra a parede do vagão e se enrola em si mesmo, curvado e
estranhamente quieto.

Sirius se afasta de Regulus para ir até James, ajoelhando-se fora do alcance,


murmurando baixinho para ele. Mais uma vez, ele diz a James onde ele está,
quando está e o que está fazendo. Ele garante a James que ele não está na
arena. Ele faz isso de novo e de novo, até que James finalmente responde.

115
CRIMSON RIVERS

Lentamente, empertigado, Sirius convence James a sair do canto e ficar de


pé, mantendo-o firme enquanto manca. James dá uma olhada em Regulus e
imediatamente começa a chorar novamente.

Regulus só pode ficar ali, sentindo-se entorpecido enquanto Sirius leva


James para fora do compartimento, para onde eles estão dormindo em seus
próprios vagões de trem separados, ou para onde eles estarão viajando pelas
próximas duas noites.

Com as mãos tremendo, Regulus se aproxima para pegar a mesa. Sua


mente está em branco e seus olhos estão queimando. O tempo passa. Ele não
tem certeza de quanto, mas ele se move para limpar a bagunça que pode. É
como se um tornado tivesse passado, mas foi apenas James.

Regulus sente que vai vomitar. Ele se lembra na arena, dizendo que não
queria que James fosse mudado. Olhando para trás agora, ele percebe como
esse desejo era ingênuo. Como era injusto, até certo ponto, mesmo que ele
não pudesse evitar. Ele estava tão apaixonado, mesmo naquela época. Eu te
amei lá, ele pensa. Eu te amo aqui, ele pensa enquanto pega o vidro.

Sirius eventualmente volta, sozinho. Ele vê Regulus limpando, respira


fundo e se aproxima para ajudar. Eles ficam em silêncio por um longo tempo,
mas é Sirius quem fala primeiro.

"Eu sabia que seria difícil para ele," Sirius sussurra, fechando os olhos.
"Esse distrito, especificamente. Difícil para você também, sem dúvida, mas
eu—eu não sabia como consertar isso. Eu não acho que isso é algo que eu
poderia ter consertado."

"Você o ajudou," Regulus murmura, engolindo em seco. Seu peito parece


pequeno demais para conter tudo o que está dentro dele. "Você sabia
exatamente o que fazer. Isso é mais do que eu fiz."

"Não faça isso, Reggie," Sirius diz suavemente, parecendo tão exausto
quanto Regulus se sente.

Regulus pode sentir seus olhos coçando, sua respiração tremendo nas
paredes de sua garganta. "Eu nem sabia que ele—quero dizer, eu estou
assumindo que isso é bastante comum, já que você estava tão familiarizado
com isso."

116
ZEPPAZARIEL

"Nem sempre é tão ruim assim," Sirius diz baixinho. "Ele só... Bem, é pior
quando ele está tendo um dia ruim. Na maioria das vezes, quando ele não
consegue descobrir quando ele está, ele fica meio calmo. A primeira vez foi
quando ele descobriu o machado lá fora. Ele pensou que estava de volta à
arena, ficou confuso e com medo, quase arrancou minha cabeça. Mas fica—
fica melhor, com o tempo. Cada vez menos quanto mais longe da arena você
fica. Essas coisas passam, eventualmente, na maior parte. Será assim para você
também."

"Mas nunca vai embora," sussurra Regulus. "Não completamente."

Sirius suspira. "Não, não vai."

"Eu não estava lá para ele. Eu não estava lá para você, e eu não estive lá
para ele," Regulus resmunga, sentindo seu estômago revirar com aquela
realidade. Porque é verdade, e desta vez, ele escolheu.

"Pare com isso," Sirius ordena com firmeza, mantendo seu olhar. "Eu
não deixei você estar lá para mim, principalmente porque eu não sabia como, e
eu estava com medo. Isso é—está feito, certo? Você está aqui para mim agora,
e isso significa alguma coisa. E—e até se você não estivesse aqui para mim, se
você não pudesse estar, tudo bem. Nós estamos bem. Sempre estaremos bem,
eu e você, não importa o que aconteça."

"Eu deveria estar lá para você," insiste Regulus.

"Sim, bem, eu não deveria ter deixado você para trás," Sirius responde, e
Regulus esvazia um pouco, sentindo-se como um nervo exposto, sensível e
em carne viva. "Nós dois temos coisas das quais nos arrependemos, e nós dois
desejamos que pudéssemos ter feito as coisas de forma diferente do que
fizemos, mas estamos aqui agora de qualquer maneira. Isso é o suficiente, não
é? Para mim, é."

"Sim, é o suficiente," Regulus diz suavemente, olhando para suas mãos,


para a xícara de chá quebrada em suas palmas. "Mas James... eu não—ele
merece mais. Ele merece o melhor."

"Sabe," resmunga Sirius, "Remus me ensinou algo muito importante sobre


o que é dar alguma coisa a alguém. Ele não pode me trazer flores todos os
dias. Ele não pode dormir comigo à noite e me abraçar durante os pesadelos.

117
CRIMSON RIVERS

Ele não pode estar comigo onde qualquer um possa ver. Ele não tem posses,
nada que ele possui, e mesmo seu tempo não é seu para dar livremente. Ele
não pode me dar tudo, e ainda assim, ele me deu algo que ninguém mais deu.
Tudo o que qualquer outra pessoa poderia oferecer não tem sentido, porque
eles não são ele, e isso—simplesmente que Remus é a pessoa que eu amo—
supera qualquer outra coisa. Já passou pela sua cabeça pensar que talvez,
apenas talvez, você dê a James o que ninguém mais pode apenas sendo você?"

"Não é sobre o que eu posso dar a ele. É sobre como eu vou fazer isso,"
diz Regulus. "Eu não sei como. Eu não sou—eu mal suporto ser tocado, e eu
não consigo nem tomar banho, e eu peço demais enquanto eu sempre dou tão
pouco, e eu estou com medo—eu estou tão—Sirius, eu estou com tanto
medo—"

"Ok, Reggie, está tudo bem," Sirius interrompe rapidamente, arrastando os


pés para gentilmente arrancar o copo de suas mãos, o que é o melhor porque
Regulus estava inconscientemente enrolando os dedos ao redor dos cacos,
perigosamente perto de tirar sangue, e então tudo isso teria ficado muito pior.
"Me ouça, você não é obrigado a fazer nada com James, nunca. Apenas—
quero dizer, toda essa atuação para as Relíquias é uma coisa, mas a verdade
por trás disso é outra. Pare de colocar tanta pressão em você mesmo,
ok? James não coloca. Ele não espera nada de você. Se você estiver pronto
algum dia, então brilhante. Se você não estiver, se você nunca estiver, então
isso é—isso é uma tragédia, sim, mas é não é sua culpa, ou dele."

"Eu quero amá-lo direito," Regulus engasga, "E eu não sei se vou ser capaz
de fazer isso."

Ele acha que poderia ter sido, uma vez, mas isso foi há muito tempo.

~•~

Eles descobrem quando chegam ao distrito dez que a transmissão ao vivo


da turnê foi cortada logo no final do discurso de Regulus, suavizando o erro
de James, então ninguém assistindo viu o distrito inteiro chegar muito perto
de um tumulto antes da prefeita subir no palco e acalmar todos eles.

O distrito dez foi mais fácil, ele admite, porque, novamente, James e
Regulus nunca interagiram com os tributos. Eles subiram no palco, de mãos

118
ZEPPAZARIEL

dadas, e fizeram seus discursos como se o que aconteceu antes no distrito


onze nunca tivesse acontecido.

Parecia vazio, depois disso, pensa James. Todas aquelas pessoas, todos
aqueles olhares se fixaram nele e em Regulus, de alguma forma eles se sentiam
acusadores, até mesmo exigentes. James sente um profundo senso de
obrigação moral de fazer mais, dizer mais, abordar o fato de que todas essas
pessoas não mereciam morrer, chamar a atenção para o fato de que a Relíquia
está errada.

Mas ele não pode.

Em retrospecto, James percebe como foi um grande erro perder a cabeça


assim no distrito onze. Isso o atinge mais tarde, mas seus pais ainda estão em
perigo se ele estragar tudo. Sirius e Regulus também. Os pais deles. Qualquer
um com quem todos se importem.

No momento em que eles chegam ao distrito nove, James se sente como


uma concha vazia, raspada com sulcos dolorosos no interior de sua cavidade
torácica. Não está ajudando que ele e Regulus tenham que se apresentar como
um casal na câmera, de mãos dadas e próximos, trocando olhares e sorrisos
calorosos. É tudo falso. É tudo sem sentido, tão vazio quanto todo o resto.

Quando as câmeras não estão ligadas, Regulus quase não tem nada a ver
com ele. Não vai falar com ele. Não vai olhar para ele. Depois que ele surtou
no trem, James não pode culpá-lo, mesmo que doa.

Não é algo de que James se orgulhe, quando fica tão ruim. Isso o assusta,
honestamente, e o deixa uma pilha de nervos após o fato. Ele só—ele não
quer que isso aconteça, e ele não pode impedir. A primeira vez, ele balançou
um machado em Sirius e quase instantaneamente teve um ataque de pânico
assim que percebeu o que tinha feito. Por três dias, ele não deixou Sirius
chegar perto dele, e ele se esquivou de seus próprios pais, mas Sirius teve um
pesadelo muito ruim uma noite que fez com que James o acalmasse,
assegurando-lhe que as alucinações não eram reais, segurando-o através de seu
ataque.

Isso meio que lembrou James que não é culpa dele, porque não é culpa de
Sirius. É uma troca, o jeito que eles cuidam um do outro, o jeito que eles
tomam conta um do outro. James recebeu golpes de Sirius que trouxeram

119
CRIMSON RIVERS

lágrimas aos seus olhos de tanto doer, e ele nunca deixou que isso o impedisse
de voltar para cuidar dele quando precisava. Então, James deixa Sirius cuidar
dele também, porque ele precisa disso. Às vezes, ele precisa mais do que sabe
lidar.

Mas Regulus... Bem, ele nunca viu isso, algo pelo qual James é
secretamente grato. James sabe que é um pouco hipócrita da parte dele se
envergonhar, considerando que ele não culpa Sirius ou acha o que ele passa
vergonhoso, mas é muito mais difícil quando é você do que qualquer outra
pessoa. James é muito gentil, mas às vezes, ele não sabe se conceder a mesma
gentileza.

Então, sim, em seus piores dias, James fica envergonhado. Às vezes, tem
até vergonha de sua perna, de seus pesadelos, dessa solidão sempre presente
que parece existir em seus ossos, mesmo quando está cercado pelas pessoas
que ama. Ele pensa, tristemente, que o mundo sempre vai se sentir um pouco
mais solitário sem Vanity nele. Sem Peter. Irene. Mathias. Hodge. Evan.

Mas, com a ajuda de Sirius, ele tenta ser mais gentil consigo mesmo. Ele
lembra a si mesmo que suas lutas não são algo para se envergonhar. É difícil,
sim, mas ele está fazendo o seu melhor, e isso é algo para se orgulhar. Alguns
dias, é fácil acreditar nisso, realmente sentir isso. Outros dias, é quase
impossível. Os dias ruins são quando é mais difícil, e tem sido um dia ruim.
Ele está preocupado que seja um dia ruim para todos eles, e ele está com
medo de que vá piorar para Regulus, especialmente.

O distrito nove será outro difícil, James tem certeza. Ele não precisa falar
com Regulus para ver que isso está pesando sobre ele. Ele já está mais tenso,
mais retraído, no momento em que eles chegam.

Esse era o distrito de Evan.

Emmeline e Sirius se cumprimentam calorosamente, com um abraço, e


então ela faz questão de ir diretamente para Regulus e pedir sem rodeios para
apertar sua mão. Regulus, já tão nervoso, não responde nem pega a mão dela.
Emmeline não parece ofendida com isso.

É noite quando eles chegam, então eles fazem os discursos primeiro.


Regulus se agarra à mão de James durante toda a coisa. Juniper tem uma

120
ZEPPAZARIEL

família em seu palco, pais e irmãos. Evan não tem ninguém. Seu palco está
vazio.

Quando é a vez de Regulus falar, ele simplesmente—não fala. Ele não se


aproxima do microfone. Ele nem abre a boca. Seu olhar está preso no palco
onde ninguém está; ele parece a um milhão de quilômetros de distância, como
se nem estivesse aqui, como se talvez estivesse ali naquele palco para Evan, de
pé em homenagem a ele, sofrendo a dor de sua perda. O distrito está quieto,
tão quieto, e James se atrapalha com a parte do discurso de Regulus para ele.
Quando eles saem do palco, James tem que puxar Regulus junto, porque ele
resiste, ainda olhando para a plataforma vazia de Evan, e James tem que dar
um puxão forte para fazer Regulus segui-lo.

Eles jantam fora do caminho com Emmeline e o prefeito, que é onde eles
descobrem que Evan genuinamente não tinha ninguém. Ele era filho único e
seus pais faleceram no mesmo ano, quando ele tinha apenas dezenove anos.
Não que ele tenha sido próximo de seus pais, porque aparentemente é apenas
um fato conhecido que eles eram abusivos enquanto ele crescia. Ele não lhes
deu funerais e deixou sua casa de infância vazia e abandonada quando teve a
chance. Ele nunca teve amigos. Apenas um. Apenas Regulus.

Após a refeição, eles ficam um pouco no distrito antes de desembarcar


para viajar durante a noite para o distrito oito. Eles vão dormir a noite no
trem, então começar o resto da turnê amanhã. Emmeline se aproxima de
Regulus para falar com ele na frente de todos, completamente sem vergonha.

"Eu quero te levar a um lugar," Emmeline informa a Regulus, segurando


seu olhar.

"Em," Sirius diz em advertência, "Ele realmente não está—"

"Acho que Evan gostaria que você visse," Emmeline interrompe, olhando
diretamente para Regulus. "Claro, você não precisa, eu não posso te obrigar,
mas se você quiser—"

"Sim," murmura Regulus, "Eu vou."

"Reggie," Sirius começa.

121
CRIMSON RIVERS

"Eu vou ficar bem. Eu vou encontrar todos de volta no trem," Regulus diz
a ele, balançando a cabeça, e então ele sai com Emmeline sem parar para olhar
para trás.

Sirius está claramente preocupado, mas ele está lá com Pandora para
encantar o prefeito, enquanto James fica ao lado de Dorcas. Todos eles
acabam voltando para o trem, Pandora indo ao condutor para que eles saibam
que devem esperar e Dorcas escapando em seu próprio vagão. James senta
com Sirius em um silêncio pesado, esperando Regulus voltar.

"Ele vai ficar bem," James murmura, eventualmente, porque Sirius está
ficando mais preocupado a cada minuto.

"Certo, mas—mas Evan é só... um assunto muito doloroso para ele," Sirius
diz baixinho. "Emmeline é adorável, não me entenda mal, mas ela pode ser
um pouco direta às vezes, então eu só me preocupo..."

"Regulus gosta de pessoas diretas," aponta James. "Ele não gosta... de


coisas falsas."

Sirius olha para ele, e seu rosto suaviza. "Ei. Eu realmente não perguntei.
Como você está indo com... tudo isso? Com Regulus, quero dizer."

"Você quer falar sobre isso?" James pergunta cansado.

"Se você precisar," Sirius diz simplesmente, "Ou apenas quiser."

James engole, olhando para suas mãos enquanto mexe inquieto com os
dedos. "Você quer saber a pior parte disso, Sirius? A pior parte de tudo isso?
É horrível, mas há uma parte de mim que —que está tão feliz em segurar sua
mão, ter ele perto, mesmo sabendo que é apenas uma performance. É claro
que eu odeio isso, que não seja uma escolha, mas eu não posso evitar. Eu
só—eu o amo, sabe. Eu realmente amo. É errado, ser um pouco grato, Eu sei
disso, mas eu—"

"Humano," Sirius murmura, e ele dá a James um sorriso triste quando ele


olha para cima, assustado. "Você é humano, James. Claro que você vai ficar
feliz por estar com alguém que você ama, em qualquer forma—isso é apenas
ser humano, certo? Mas, a coisa é, além de todos os sentimentos, você

122
ZEPPAZARIEL

conhece a realidade. Você não está feliz com as circunstâncias e é respeitoso.


Isso é importante, especialmente para ele."

"Dói, também," James murmura. "Eu não—Sirius, eu não o culpo, mas às


vezes eu—eu fico com tanta raiva, porque é—nada disso é justo, e eu só
quero—eu quero que seja diferente, e eu quero consertar isso, e eu quero
tentar porque isso é tudo que eu sei fazer, mas eu estou tão cansado, na
maioria dos dias, e há uma parte de mim que gostaria que ele tentasse para que
eu pudesse fazer uma pausa, e eu sei que não é certo, não é justo com ele,
eu sei que—"

"James," Sirius interrompe gentilmente, estendendo a mão sobre a mesa


para cobrir sua mão e basicamente calá-lo. Suspirando, Sirius balança a cabeça.
"Olha, está tudo bem se sentir assim, sim? Só, eu quero que você saiba que
ele—ele tenta, à sua maneira. É muito diferente de como você faz, não é tão
fácil de notar, mas ele tenta. E eu preciso que você me ouça sobre isso, ok?"

"Ok," James resmunga.

Sirius acena com a cabeça e mantém seu olhar. "Assim como ele não tem
obrigação de fazer nada, você também não tem. Você não é obrigado a
continuar segurando, se for melhor você deixar ir. Ele não iria querer que
você fizesse isso, e não culparia você por isso. Ou se você só precisa de uma
pausa, tudo bem também. Se você precisar dar um passo para trás, se você
precisar de distância, tudo bem."

"Não é justo," James sussurra, seus olhos queimando. "É apenas deixá-los
ganhar, e eu—eu não quero fazer isso. Eu não quero ceder, Sirius. Talvez—
talvez seja um desafio, talvez seja isso que sempre foi, porque eu acho que eu
queimaria a Relíquia se isso nos desse a chance que nós deveríamos ter. Eu
ainda quero essa chance, mesmo agora. Eu ainda o amo. Eu não consigo
simplesmente—parar. Eu não sei como."

"Oh, James," Sirius suspira, parecendo um tanto carinhoso, seus lábios se


curvando nos cantos. "Isso não é nada do que eu quis dizer, mas é bom ouvir
de qualquer maneira. Realmente reconfortante, como seu irmão mais velho e
tudo mais. Um pouco sentimental, honestamente, mas—"

"Vai se foder," James diz com uma risada fraca.

123
CRIMSON RIVERS

"Eu não quis dizer que você tinha que... ceder, como você disse," Sirius diz
a ele. "Eu só quis dizer que você pode tomar seu tempo, e você pode parar de
se pressionar, assim como ele. Você não espera nada dele, mas espera tudo de
si mesmo. Você tem que parar com isso. Isso só está machucando você."

"Isso não é meio hipócrita?" James pergunta ironicamente.

"Não comece. Nós não estamos falando de mim. E não desvie—Remus


me ensinou a ver os sinais disso, sabe."

"Droga. A sabedoria infinita de Remus volta para me


pegar novamente. Quando você o vir, diga a ele que eu sofri por isso."

"Eu vou dizer," Sirius diz, os lábios se contraindo nos cantos enquanto
seus olhos se enchem com aquele carinho imediato que ele sempre sente
sempre que Remus aparece na conversa—o que é muitas vezes, porque Sirius
às vezes nunca se cala sobre ele. Francamente, James acha adorável. "Mas eu
quis dizer isso, o que eu disse."

Suspirando, James assente. "Eu sei. Eu só... Eu não sei. Eu estou com
medo de que sempre seja assim entre mim e ele, porque eu acho que nunca
teremos nossa chance enquanto ainda formos entretenimento para a Relíquia,
e você disse—você disse que poderia levar muito tempo. E eu não sei o
futuro. É uma merda. Todo esse salto de tempo que eu faço, e eu nunca
posso pular para frente."

"Bem, sabe, nós chegamos lá quando chegarmos lá," Sirius murmura com
um suspiro, dando um tapinha nas costas da mão de James em um claro sinal
de solidariedade. O coração de James dói quando ele lembra que Sirius está
aguentando um ano inteiro sem sequer ver Remus. O tempo também é cruel
com ele.

O tempo é cruel com todos eles.

~•~

Regulus gosta de Emmeline. Ela é muito direta. Ela não fala com ele como
se ele a deixasse desconfortável, e ela não o trata como se ele fosse quebrar
toda vez que ela menciona Evan, mesmo que talvez, só um pouco, ele esteja
preocupado que isso aconteça.

124
ZEPPAZARIEL

Em todo caso, ele não o faz. Ele realmente gosta de ouvir sobre Evan dela.
Emmeline é honesta, admitindo que eles nunca foram amigos e, de fato, uma
vez entraram em uma discussão terrível na escola quando ambos tinham
quatorze anos—acontece que ela e Evan tinham a mesma idade, a mesma
idade de Regulus—que terminou com ela chamando Evan de idiota e
empurrando todos os seus livros para fora de sua mesa, ao qual ele retaliou
fazendo-a tropeçar quando ela passou.

Eles nunca mais se falaram depois disso, não até que Emmeline se tornou
sua mentora, e Regulus está aprendendo que Emmeline não tem utilidade em
esconder as coisas que ela quer dizer. Ela admite que foi direto a Evan e disse
a ele, antes mesmo que ele pudesse perguntar, que sua discussão passada
quando eram crianças não teria impacto em seus deveres como mentora. Evan
aparentemente gostou disso, e imediatamente a respeitou depois disso.

Eles nunca se tornaram amigos, não realmente, Emmeline diz, mas ela não
nega que ela se importava com ele como uma mentor, da mesma forma que
ela se importava com Juniper. Ela não tem medo de dizer que doeu quando
eles morreram, e Regulus é grato por ouvir isso, por saber que alguém lá fora,
além dele, também dói por Evan.

"Evan conseguiu um emprego cuidando do gado," Emmeline diz a ele


enquanto caminha por uma longa e sinuosa estrada de terra com barro
vermelho espesso com um punhado de poeira que se agita na brisa quente.
Isso faz Regulus querer tossir, mas ele se conteve, andando ao lado dela com
as mãos enfiadas nos bolsos. "É um trabalho bom e honesto, suponho, se
você gosta desse tipo de coisa. Eu realmente não acho que Evan gostava, mas
ele tinha permissão para morar na parte de cima do celeiro da fazenda."

"O celeiro," Regulus ecoa incrédulo.

Emmeline dá de ombros. "Foi escolha dele, em vez de voltar para casa. De


qualquer forma, ele realmente enfeitou o lugar. Era mais arrumado do que a
minha casa, e eu tenho faxineiros que vêm duas vezes por mês. Todas as
coisas dele foram descartadas ou doadas agora, mas a verdadeira razão pela
qual eu estou trazendo você aqui não é por causa de algo que ele realmente
possuía. Veja, havia algo que todos sabiam sobre Evan Rosier, e era que ele
amava escalar. Essa é a verdadeira razão pela qual ele conseguiu esse
emprego."

125
CRIMSON RIVERS

"Eu não estou entendendo," Regulus admite.

"Quando éramos todos crianças, bem pequenos, vínhamos brincar nos


campos aqui. Isso nunca incomodou as moo-moos—"

"Desculpe, o quê?"

"As moo-moos. Vacas." Emmeline lhe lança um olhar estranho, como se


ele fosse o estranho. "Como diabos você as chama?"

"Vacas?" Regulus diz lentamente, perplexo.

"Que chato," murmura Emmeline. "Bem, no distrito nove, nós as


chamamos de moo-moos, e Evan também chamava. De qualquer forma,
quando nós éramos crianças, nós vínhamos correndo para ca depois da escola,
e as moo-moos não se importavam, então os donos da fazenda também não
se importavam muito. Eles tinham filhos—perderam os três para os jogos ao
longo dos anos, uma perda muito difícil, mas isso não vem ao caso. O ponto é
que todos nós viemos aqui, mas Evan? Ele não vinha aqui para brincar. Ele
vinha aqui para escalar."

"Bem, não é à toa que ele não tinha amigos," Regulus diz ironicamente, e
Emmeline bufa uma risada, seus lábios se contraindo. Ele quase pode ver o
sorriso de Evan em sua cabeça.

Torna-se evidente o que Emmeline está falando quando eles finalmente


passam pelos campos, porque a propriedade é cercada de árvores ao redor.
Regulus não está surpreso que Emmeline o esteja levando para a mais alto.

"Essa era a árvore favorita dele," Emmeline anuncia quando eles param na
frente dela. "Todo mundo sabia disso. Todos nós achávamos que ele era
louco para amá-la tanto, e ele escalava praticamente todos os dias. Eu vim
aqui uma vez, cerca de um ano atrás, não muito antes do nome dele ser
chamado, e é lá que ele estava. Apenas empoleirado na árvore, jogando
pedrinhas e balançando as pernas, parecendo satisfeito como uma torta de
estar exatamente onde estava."

Regulus olha para a árvore. É assustadoramente alta, e o primeiro galho


não é baixo o suficiente para estar ao alcance de apenas balançar nele, o que
significa que Evan—o maldito lunático—içou-se usando as cavidades das

126
ZEPPAZARIEL

árvores, ou os montes aleatórios na casca que servem como pontos de apoio.


Quando Regulus inclina a cabeça para cima, ele meio que espera encontrar
Evan sentado em um galho acima deles, sorrindo para eles do alto.

Ele não está lá. Ele nunca está lá.

Regulus pode imaginá-lo, no entanto, com uma clareza surpreendente. Para


ser justo, ele tem visto Evan nas árvores desde que o conheceu, e agora ele o
vê com frequência em seus sonhos. Eles conversam muito, ele e Evan. Ou o
fantasma de Evan. Regulus conta a ele segredos que ele nunca contou a outra
alma. Evan é seu melhor amigo, então por que ele não deveria?

É estranho, a forma como o luto toma forma nas pessoas, diferente para
cada um. Para Regulus, depois de tantas conversas com Evan em seus sonhos,
a dor de perdê-lo quase se tornou suave. Atinge ele pior em alguns dias, em
comparação com outros. Na maioria das vezes, não parece tão pesado, sua
dor. Na verdade, ele só sente falta de Evan, e a maneira como ele lida com
isso são seus sonhos, ele pensa. Eles sempre se transformam em pesadelos no
final, mas antes disso, ele aprecia aqueles momentos em que Evan está apenas
conversando com ele em metáforas ridículas e complicadas como conselhos
para todos os problemas em sua vida que Regulus reconhecidamente ignora
na maioria das vezes.

Evan está sempre falando sobre a vista. Sobre escalar até aquela vista,
chegar até ela, e aquela vista é sempre, inevitavelmente, Sirius e James toda
vez. Regulus nunca se move do galho e ele sempre quebra. Mas a vista? Evan
vive e morre pela promessa de que a vista vale a pena.

Qual era a vista de Evan? Essa era a sua árvore favorita, logo essa era a sua
vista favorita.

Regulus suspira. "Eu tenho que escalar."

"A árvore?" Emmeline pergunta, assustada.

"Infelizmente," Regulus murmura, fazendo uma careta. Ele olha para ela,
mas ela apenas dá de ombros e estende a mão no gesto universal
de fique à vontade.

127
CRIMSON RIVERS

"Você não tem medo de altura?" Emmeline pensa enquanto ele se


aproxima da árvore com muito cuidado.

"Não," Regulus retruca defensivamente, então faz uma pausa e chuta


levemente na base da árvore. Em um murmúrio, ele confessa, "Sim."

Emmeline tosse. "Você vai ser capaz de voltar para baixo, certo? Sem cair,
quero dizer. Porque eu não gostaria que Sirius venha para cima de mim por
deixar seu irmãozinho subir em uma árvore e ficar preso, ou pior, cair e
quebrar seu pescoço."

"Obrigado, Emmeline, por me fazer sentir melhor com essa decisão,"


Regulus diz categoricamente.

"Eu tento," Emmeline responde, divertida. "Não, mas sinceramente, eu


devo pegar uma escada ou algo assim?"

"Isso parece traição."

"Bem, quem vai saber?"

Evan vai me falar tanta merda por isso da próxima vez que eu o vir nos meus
sonhos, Regulus pensa precisamente cinco segundos antes de olhar para
Emmeline e murmurar, "Uma escada, você disse?"

Emmeline sorri.

Quinze minutos depois, Regulus está traindo a escalada de árvores, o que


ridiculamente o faz se sentir meio culpado, mas ele tem certeza de que é a
única maneira de subir nesta árvore. Emmeline segura a escada para ele,
mantendo-a firme, e ele ainda fica desconfortável quanto mais alto sobe.

Não vai tão alto quanto ele precisa. Ele pode ver o galho mais alto acima
dele, e ele sabe que é para onde Evan teria ido todas as vezes, porque é o
último lugar que Regulus quer estar. Ele sabiamente não está olhando para
baixo para ver o quão longe Emmeline está agora, e ele passa provavelmente
cinco minutos no topo da escada, apenas se agarrando a ela.

"Regulus?" Emmeline chama.

128
ZEPPAZARIEL

"Apenas—apenas me dê um minuto!" Regulus chama de volta, respirando


fundo enquanto estende a mão e coloca a mão no galho. Sob sua respiração,
ele murmura, "Evan, seu filho da puta, se isso me matar, eu—bem, talvez isso
seja carma. Certo. Ok."

Então, Regulus se convence a sair da escada, reclamando com Evan o


tempo todo, mesmo que ele não esteja lá. Algo sobre isso o acalma. Ele pode
ouvir a voz de Evan em sua cabeça como um eco, rindo dele, insultando ele e
encorajando ele durante todo o caminho. Eventualmente, Regulus está
empoleirado no galho, sentindo-se tão rígido que tem certeza de que cairia
como uma pedra no chão se inclinasse demais para o lado.

Em seguida, Regulus deve se levantar e subir mais alto, subir até aquele
galho mais alto, subir até a vista que Evan escalava todos os dias. Evan
merece isso. Regulus pode fazer isso por ele, depois de tudo que Evan fez por
ele, e talvez—apenas uma vez—ele possa sentir a presença de Evan em algum
lugar além de seus sonhos.

Tudo o que ele precisa fazer é escalar.

Regulus não se move.

Por mais que ele tente, por mais que ele queira fazer isso, Regulus não
consegue desbloquear seu corpo. Ele implora a si mesmo, ele se repreende, ele
começa e para de novo e de novo. Ele começa a tremer, e sua frustração
consegue subir mais alto dentro dele, e então de repente ele está chorando
muito, muito forte.

Regulus vira a cabeça e cobre a boca, apertando os olhos e chorando


silenciosamente. O galho é firme sob ele e não quebra. Ele não vai mais alto.
Quando ele engasga com um pedido de desculpas, Evan não está lá para
aceitá-lo.

Um pouco depois, Regulus desce a escada de volta, com os olhos


arregalados e o peito mais vazio do que nunca. Se Emmeline ouviu seu
colapso, ou notou que ele chorou, ela não menciona isso. Ela guarda a escada
e o leva de volta ao trem.

"Reggie? O que aconteceu? Você está bem?" Sirius deixa escapar no


momento em que Regulus entra no compartimento.

129
CRIMSON RIVERS

"Tudo bem. Nós podemos ir agora. Não há nada para mim aqui," Regulus
rosna, então abaixa a cabeça e vai para o vagão do trem, sem olhar para
ninguém no caminho.

Ninguém o incomoda naquela noite, pelo que ele é grato. Mesmo quando
o trem começa a se mover, Regulus é deixado por conta própria. Ele vê
James, Sirius e Pandora em fila para seus próprios quartos eventualmente, suas
vozes murmurando no caminho. Dorcas já deve estar na cama.

Regulus se vira e tenta dormir.

Ele também não consegue fazer isso. É claramente uma noite ruim, e
normalmente, ele tem a ajuda de Barty para isso, ou ele simplesmente... não
dorme. Mas, esta noite, Regulus realmente quer. Uma parte dele tem medo,
mas outra parte dele está desesperada para ver Evan em seus sonhos e pedir
desculpas, porque ele tentou. Ele realmente tentou, mas não conseguiu fazer,
e ele precisa que Evan saiba.

Evan está morto, o cérebro de Regulus o lembra. Ele não sabe de mais nada.
Tudo o que ele sabia era que ninguém pensava em olhar para cima, e você provou que ele
estava errado. Por que? Por que você faria isso? Ele não tinha ninguém, nem família, nem
amigos—apenas você, e você o arrastou para baixo. Você arrasta todo mundo para baixo,
porque você não sabe como escalar. Que porra tem de errado com você?

Regulus não sabe. Muita coisa está errada com ele. Tanto que ele não sabe
por onde começar.

A noite continua. O trem não chacoalha; ele anda suavemente, como uma
nuvem nos trilhos. Regulus tenta dormir, mas não consegue, e isso o deixa
inquieto. À medida que as horas passam, as sombras no canto da sala
começam a tomar forma, e o medo começa a afundar nele como as mãos frias
e implacáveis do rio. Ele está muito perto de ficar paralisado de pânico nesta
cama, seu coração acelerado e as memórias vindo para pegá-lo.

Ofegante, Regulus salta da cama e praticamente mergulha para a porta,


correndo para o corredor entre os quartos. Está tão quieto e escuro aqui
quanto estava em seu quarto, então ele ainda está abalado. Ele engole,
olhando para o quarto à sua frente. É o de Dorcas. Ao lado dela está o de
Pandora. Do outro lado do de Pandora está o de Sirius—ao lado de
Regulus—e do outro lado está o de James.

130
ZEPPAZARIEL

Todas essas opções, algumas mais sábias que outras.

E, no entanto, Regulus abre a porta de James com muito cuidado apenas


alguns minutos depois, entrando sem fazer barulho. James não está dormindo,
porém, mas ele parece muito sonolento, como se estivesse perigosamente
perto de cochilar. Ele pisca para Regulus como se não tivesse certeza de que
ele está lá. Regulus não fala, nem se move, apenas parado ali e se sentindo tão
pequeno.

"Reg?" James murmura cautelosamente.

"Desculpe—desculpe incomodar você," resmunga Regulus, engolindo o nó


em sua garganta. "Eu poderia—estaria tudo bem se eu dormisse com você
essa noite?"

James não responde imediatamente. Por um longo, longo momento, ele


está apenas olhando para Regulus com as sobrancelhas franzidas, os lábios
pressionados em uma linha fina. É neste exato momento que Regulus percebe
que uma parte dele esperava que James concordasse instantaneamente daquele
jeito sincero dele, porque James sempre concordou. Mas isso claramente não
é mais o caso, e Regulus não pode nem culpá-lo.

É indescritivelmente egoísta da parte de Regulus vir aqui, exigindo


conforto e segurança de James quando ele não oferece absolutamente nada
em troca, nem mesmo a simples cortesia de não ignorá-lo. Eles estão nisso
juntos, eles passaram por tudo isso juntos, e Regulus só retribuiu a
confiabilidade de James com indiferença e distância. Ele não quer ser cruel; ele
queria não precisar de James tanto quanto ele precisa, especialmente quando
ele não consegue descobrir como dar a ele o que ele merece.

Ele falhou. James precisava de mais dele, e assim como ele sabia que faria,
Regulus não conseguiu dar a ele.

Mas Regulus está aqui, e ele está implorando internamente para que James
não o recuse agora. Ele não culparia James se ele o fizesse, se ele precisasse de
seu espaço, se ele precisasse de distância também. Isso está machucando ele,
tudo isso, Regulus sabe disso. Ele pede muito de James, quando James não
pede nada dele.

131
CRIMSON RIVERS

Eu vou perder ele, pensa Regulus, a percepção o atingindo com força total, e
é como ter seu coração partido novamente. Eu já estou perdendo ele, Regulus
pensa em seguida, e isso envia uma nova onda de pânico através dele.

A pior parte é que ele nunca realmente teve James.

James exala um suspiro quieto, estendendo a mão para jogar seu cobertor
de volta, balançando a cabeça levemente enquanto diz, "Venha, então."

"Eu não deveria ter perguntado," resmunga Regulus.

"Provavelmente não, mas você perguntou," James responde simplesmente,


dando um tapinha na cama ao lado dele. "Está tudo bem, Regulus."

"Está?" Regulus murmura.

"Vai ter que estar," é a resposta de James enquanto ele se deita, e a curva
convidativa de seu corpo, a memória de seu calor e como é estar em seus
braços, é uma tentação que Regulus é fraco demais para resistir, especialmente
agora.

"Me desculpe," Regulus sussurra enquanto ele se aproxima e desliza direto


para a cama ao lado de James, sentindo-se seguro no momento em que ele
está lá, como sempre se sentiu. É diferente à noite, quando ele está tentando
dormir. O toque sempre é. Ele não tem certeza do por que é suportável agora,
quando não é em qualquer outro momento. Agora, ele não se importa.

"Eu tive um dia muito ruim, então qualquer coisa que eu disser para você
não vai ser legal, eu acho, e eu vou me arrepender mais tarde," James o
informa, enrolando o braço em volta dos ombros de Regulus.

Regulus engole e se aconchega mais perto, praticamente se encaixando no


lado de James e na curva de seus braços, escondendo seu rosto enquanto
murmura, "Você está com raiva de mim?"

"Regulus," James diz, sua voz tensa.

"Por favor, não fique com raiva de mim," Regulus rouca, sua voz ficando
trêmula e rachando no meio contra sua vontade. "Eu realmente odeio pra
caralho quando você está com raiva de mim."

132
ZEPPAZARIEL

James respira fundo, segura o ar, então sopra explosivamente e solta um


gemido enquanto se vira levemente e bate sua cabeça suavemente contra o
ombro de Regulus. "Oh, não faça isso. Vamos lá, isso não é justo. Você parece
tão triste..."

"Eu estou triste," admite Regulus.

"Oh, vamos lá," James reclama. "Isso é—manipulação emocional. Eu não


vou me render."

"Eu não estou... pedindo para você fazer isso. Não é isso que eu estou
tentando fazer. Eu só—eu vim aqui porque eu também tive um dia muito
ruim, e eu não consigo dormir, mas você—você me faz sentir..." Regulus para,
lutando por um momento, porque é tão vulnerável. Mas, depois de tudo, ele
pode admitir isso para James. Ele vai, porque James deveria saber. Ele merece
ouvir. "Você me faz sentir seguro, só isso. É por isso que eu estou aqui."

"Tudo bem, eu estou me rendendo," James declara com outro suspiro,


então ele dá uma risada cansada, parecendo cansado, mesmo quando ele
envolve seus braços mais firmemente ao redor de Regulus e o puxa para mais
perto.

Regulus provavelmente não deveria se sentir orgulhoso disso, mas ele se


sente. Ele não pode evitar. Um pequeno sorriso curva sua boca, satisfeito, e
ele o esconde contra o ombro de James. Eles estão entrelaçados, com as
pernas entrelaçadas e os braços em volta um do outro, basicamente sem
espaço entre eles. Isso é tão bom. Tão seguro. Os olhos de Regulus se fecham
quando um suspiro suave escapa dele, tudo nele se acalmando de uma vez.
Oh, ele sentiu falta disso.

James é tão quente. Ele é tão, tão quente. Ele cheira bem também, e
Regulus está perdido na sensação e no pulso constante de sinto sua falta, sinto
sua falta, sinto sua falta e estou tão feliz por estar em casa, eu queria voltar para
casa há tanto tempo, por favor, não me faça ir embora.

Eles ficam lá, aquecidos e embrulhados juntos, e Regulus está mais


acomodado do que esteve em muito tempo. Ele inspira e expira, ouvindo
James fazendo o mesmo, sentindo seu batimento cardíaco constante contra
ele, forte e vivo. Tão vivo. Regulus está tão agradecido por James estar vivo.

133
CRIMSON RIVERS

É a última coisa que ele se lembra de ter pensado, e então não se lembra de
nada porque ele dorme.

Ele não sonha.

Ele não verá Evan em seus sonhos novamente por muito, muito tempo.

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ZEPPAZARIEL

35
REVOLTAS E REUNIÕES

O distrito oito é difícil para James, porque é o lar de sua primeira morte. O
nome do homem era Cole, ele tinha vinte e quatro anos e tinha esposa e dois
filhos. Duas garotinhas—uma ainda tão jovem que é segurada pela mãe, e a
outra tão pequena que mal consegue chegar ao colo da mãe. As duas estão
afeiçoadas pela foto de seu pai na tela atrás delas, estendendo a mão para ele
com mãos pequenas e bochechas manchadas de lágrimas.

James vomita depois que eles saem do palco.

O distrito sete é mais fácil, lar de dois tributos com os quais eles nunca
falaram, mas um deles era uma criança, o que é sempre difícil de lidar. James e
Regulus estão no palco, fazendo seus discursos, suas mãos entrelaçadas entre
eles.

Eles ignoram o distrito seis—casa—mas todos eles (Sirius, James e


Regulus) olham melancólicos enquanto passam, mesmo que isso sinalize que
eles já estão basicamente na metade da turnê da vitória.

O distrito cinco é onde as coisas ficam interessantes.

135
CRIMSON RIVERS

~•~

Sirius fica encantado em ver Frank, e Frank não protesta quando Sirius o
puxa para um abraço. Frank estava em seus jogos anos e anos atrás—apenas
dois anos depois de Sirius, e dois anos mais velho que Sirius, então ele tinha
vinte anos quando ganhou—mas ele não se tornou um mentor até cinco anos
atrás, quando finalmente falou com sua mãe para se aposentar e deixá-lo
assumir.

Emmeline também está nisso há algum tempo, da mesma maneira. Ela é


um ano mais nova que Sirius, e ela ganhou seus jogos três anos depois que
Sirius ganhou os dele. Desde que ela tinha dezoito anos, ela poderia se tornar
uma mentora imediatamente se ela estivesse disposta, e aparentemente ela
estava, porque ela queria. Sirius só tinha sido um mentor por um ano naquele
ponto, então ele ainda era muito cauteloso com basicamente todo mundo e
tão novo em tudo. Aprendendo a navegar pelas lutas de ser um mentor, bem
como as expectativas que as Relíquias tinham para ele.

Quando Frank entrou, porém, ele era amigável com qualquer pessoa que
fosse amigável com ele, muito fácil de se conviver, mas também não alguém
para subestimar. Ele é um bom homem, mas trouxe para casa um Vitorioso
duas vezes—no seu primeiro ano como mentor e em um ano antes dos jogos
de James e Regulus. Isso pode não parecer muito, mas dois Vitoriosos em
cinco anos é uma grande coisa quando você não está treinando os Comensais
da Morte.

Sirius é reconhecidamente mais próximo de Marlene, puramente porque


ele não podia deixar de querer facilitar sua transição para ser uma mentora,
algo com o qual ela estava lutando. Sirius tinha lutado com isso também.
Muito. Então, ele tentou ajudar, assim como Alastor Moody o ajudou quando
ele estava apenas começando, e ao fazer isso, ele e Marlene ficaram muito
próximos.

Emmeline e Frank são próximos da mesma forma, se não pelos mesmos


motivos. Mas, na verdade, eles são todos um pequeno grupo próximo entre os
quatro, oferecendo conforto e solidariedade todos os anos quando a tortura
volta. Sirius é grato por todos eles, e grato por ver suas casas, por vê-los em
segurança em outro lugar que não seja a Relíquia.

136
ZEPPAZARIEL

Então, sim, ele puxa Frank para um abraço entusiasmado, assim como fez
com Emmeline e Marlene. Assim como eles, Frank o encontra no meio do
caminho. Todos eles têm essa coisa que carregam entre eles que ninguém mais
pode entender.

"É bom ver você, Sirius," Frank diz calorosamente. "Você parece bem.
Como você está indo?"

"Bem o suficiente," Sirius o assegura, dando um beijo em sua bochecha e


sorrindo quando Frank imediatamente pressiona as costas da mão em sua
testa e finge desmaiar. Eles começam a rir logo em seguida.

James limpa a garganta. Ruidosamente.

"Oh!" Sirius diz, se animando. "Frank, este é James, e aquele é Regulus.


Você conhece Pandora, é claro, e Dorcas é a melhor estilista que você vai ver.
Pessoal, este é Frank."

Um coro de saudações educadas circula, excluindo James, que está—por


algum motivo—olhando para Frank como se ele tivesse chutado o seu gato.
James nem sequer tem um gato. O gato dele está morto. Tem estado há anos,
então Sirius não tem certeza do que se trata.

O prefeito aparece, então. Um homem muito frenético, baixo e corpulento


e balbuciando antes mesmo de se apresentar. Sirius se diverte com o pobre
homem, ele admite, porque ele é possivelmente a pessoa mais desorganizada
que Sirius já viu, e ele tem um espelho. O prefeito Larch tem que alimentá-los
com o almoço antes que James e Regulus tenham que fazer seus discursos, e
então eles estarão a caminho do distrito quatro, ao qual chegarão à noite, e
seguirão durante a noite para o distrito três, onde a turnê será retomad na
manhã seguinte.

Por enquanto, porém, o prefeito Larch vai em uma longa tangente cheio de
desculpas pela espera, porque eles estão um pouco atrasados, então o almoço
só começará em meia hora. Sirius não se importa, e diz isso, feliz em
continuar conversando com Frank.

Então, o prefeito Larch sai novamente com promessas de voltar e escoltá-


los para o almoço assim que estiver pronto. Dorcas quase instantaneamente
sai para fumar, e Pandora sai correndo atrás do prefeito com a clara

137
CRIMSON RIVERS

determinação de organizar toda a vida daquele pobre homem, que talvez ele
precise, honestamente.

James e Regulus ficam para trás, ao lado de Sirius enquanto ele fala com
Frank. Regulus, como sempre, não fornece muita informação; ele nunca foi
muito conversador de qualquer maneira, mas ele parece satisfeito o suficiente
de apenas se encostar na parede e ouvir. James, por outro lado, aparentemente
tem muito a dizer.

Ele repetidamente entra na discussão—verbalmente, é claro, não


fisicamente—mesmo quando Sirius sabe de fato que James não tem ideia do
que eles estão falando. Frank gosta de costruir um pouco, assim como Sirius,
embora ele trabalhe mais com soldagem e Sirius não, na maioria das vezes.
Mas algumas das coisas que eles fizeram ou trabalharam têm alguma
sobreposição, o que contribui para um debate muito bom sobre os benefícios
de uma técnica sobre a outra. James não sabe se virar em um forno, então
Sirius está um pouco confuso sobre por que ele de repente tem algumas
opiniões muito agressivas, todas contradizendo as de Frank... mesmo quando
Frank está certo.

Regulus, por algum motivo, parece estar se divertindo muito. Sinceramente,


ele está encantado. Ele continua tossindo em seu punho, claramente
disfarçando o riso, o que é estranho. Sirius não tem absolutamente nenhuma
ideia do que é tão engraçado.

No momento em que o prefeito Larch voltou—sendo liderado por


Pandora, que sem dúvida está no comando agora—James praticamente se
fundiu ao lado de Sirius, com o qual Sirius não tem problemas, é claro, mas
causa uma sensação estranha no momento em que o prefeito Larch confunde
Sirius com Regulus porque ele assume que ele e James são um casal, e Regulus
é conhecido por ser o namorado. Devido ao fato de que James tem um braço
em volta dos ombros dele e parece determinado a permanecer ao seu lado,
isso possivelmente não é uma suposição injusta a se fazer.

"Oh, vá em frente," Sirius diz a James, empurrando-o para longe. "Apenas


fique com Regulus, sim? O pobre prefeito está confuso como está, e eu estou
bem com Frank."

James o encara, boquiaberto, mas Sirius já está andando para alcançar


Frank e ir almoçar. Ele ouve Regulus ofegante atrás dele e olha brevemente
138
ZEPPAZARIEL

para trás para ter certeza de que ele não está, tipo, morrendo; ele não está, ele
está apenas rindo muito de James, por algum motivo. Sirius os deixa com isso.

O almoço é divertido para Sirius, que se senta em uma cadeira ao lado de


Frank e conversa com ele durante toda a refeição. Frank tem inúmeras
histórias sobre sua mãe, que Sirius se lembra como uma mulher bastante
assustadora. O fato de que ela teve que orientar seu próprio filho e ajudá-lo a
sobreviver aos jogos vorazes é apenas mais uma coisa fodida com a qual a
Relíquia não vê problema. No entanto, Augusta lidou com isso e ajudou seu
filho a chegar em casa.

De acordo com Frank, tudo que sua mãe faz hoje em dia é gritar com as
crianças que correm pela Vila dos Vitoriosos e resmungar sobre todas as
fofocas que ela aprende em todo o distrito. Além disso, ela reclama de Frank
por algo que nem é verdade.

"Eu juro que disse a ela um milhão de vezes que Alice e eu não estamos
juntos; nós somos apenas colegas de quarto, mas ela não acredita em mim,"
Frank reclama angustiado. "Ela aparece sem avisar, toda suspeita, como se ela
estivesse tentando nos pegar em uma posição comprometedora, e eu não
tenho ideia de como fazê-la parar."

"Você... disse a ela para parar?" Sirius pergunta.

Frank parece magoado, o pobre coitado. "Ninguém diz à minha mãe para
fazer qualquer coisa. Ela tem boas intenções, ela tem, mas ela está genuinamente
apenas lutando contra as sombras, neste momento. Ela não aprova Alice para
mim—o que é um monte de besteira, porque Alice é brilhante—mas é só isso!
Nós nem estamos juntos."

"Você quer estar junto?" Sirius pergunta, arqueando uma sobrancelha para
ele.

"Não, honestamente, não é assim entre nós. Alice é brilhante, mas ela é
apenas minha melhor amiga," Frank diz, suspirando. "Mas mamãe não
acredita nisso."

"Ah, bem..." Sirius estala a língua e estende a mão para dar um tapinha no
ombro de Frank. "Mães, não é?"

139
CRIMSON RIVERS

Frank suspira.

Do outro lado da mesa, James furiosamente apunhala sua comida com o


garfo.

Regulus está sorrindo. Ele parece tão entretido, o que Sirius realmente não
entende, mas é bom vê-lo assim, então ele não está reclamando.

Toda a confusão de Sirius é esclarecida um pouco mais tarde, antes que


James e Regulus subam ao palco. Sirius deixa Frank ir vê-los, como sempre faz
antes de saírem para fazer seus discursos, mas James está com um humor
estranho, claramente.

Quando Sirius pergunta se ele está bem, James faz uma careta para o lado e
murmura, "Oh, eu estou ótimo. Não me deixe atrapalhar você. Tenho certeza
que você e Frank querem conversar sobre maçaricos estúpidos ou as
dificuldades da paternidade."

"As—eu—o quê?" Sirius pisca. James apenas faz uma careta, então se vira
e sai aparentemente para falar com Pandora. Sirius olha para Regulus, que
dobra os lábios com diversão dançando em seus olhos. "O que eu estou
perdendo?"

"James está com ciúmes," Regulus o informa.

"Com ciúmes?" Sirius arqueia uma sobrancelha. "Alguém farejando ao seu


redor, Reggie?"

Regulus abre um sorriso novamente, um tão raro que Sirius sente seu
coração apertar só de olhar para ele. "Não ciúmes de mim, seu idiota. Ele está
com ciúmes de Frank, por causa de você."

"O que?" Sirius deixa escapar, confuso. "Mas Frank é—quero dizer, nós
somos apenas amigos." Ele faz uma pausa, então franze a testa. "Espere,
James não se importaria se Frank fosse mais do que um amigo de qualquer
maneira."

"Sirius," Regulus diz, lutando para não rir, "Ele está com ciúmes porque
você e Frank são amigos. James é seu melhor amigo, lembra? Ele se sente
ameaçado."

140
ZEPPAZARIEL

Sirius abre a boca, fecha, então balança a cabeça em descrença. "Sério?"

"Sim. Eu estou me divertindo muito," Regulus diz com um suspiro feliz,


parecendo genuinamente satisfeito. "Isso meio que parece carma, sabe? Ele
também está terrivelmente adorável com a coisa toda, mas não diga a ele que
eu disse isso."

"Mas isso é um absurdo," Sirius murmura, piscando rapidamente e girando


a cabeça para localizar James.

Regulus bufa. "Eu sei disso, mas James é um idiota possessivo que está
tendo uma semana difícil. Dê um tempo a ele." Regulus sorri levemente e
acena para James. "Vá em frente, vá tranquilizá-lo de que ele é seu único
melhor amigo sempre e para sempre."

"Você está brincando, mas ele realmente é, sabe," Sirius se sente compelido
a apontar.

"Mm, sim, eu sei. Isso costumava me deixar terrivelmente ciumento


também, de maneiras muito diferentes para vocês dois," admite Regulus.

"Bem, isso também é um absurdo," Sirius diz a ele, revirando os olhos.


"Agora, se você me dá licença, eu tenho que ir e assegurar a James que ele é
meu único melhor amigo sempre e para sempre. Deseje-me sorte."

"Sorte," Regulus diz, rindo baixinho, ainda muito divertido.

Então, Sirius se aproxima para apaziguar James com menos sutileza do que
ele deveria admitir a situação, mas James está felizmente alheio e apenas feliz
por ser tranquilizado. Sirius talvez seja um pouco amoroso demais, porque
James honestamente está tendo uma semana muito ruim—todos eles estão,
francamente, mas James realmente tem isso vindo de todos os lados, então ele
merece um pouco de amor extra de qualquer maneira. Sirius dá a ele aos
montes, espalhando-se dramaticamente sobre ele e anunciando a todos que
estão ao alcance da audição que James é o melhor amigo que alguém poderia
ter, incluindo Frank.

James finalmente relaxa, e algo sobre toda a situação meio que parte o
coração de Sirius. Por um lado, o agita que ele nem tenha notado. Por outro
lado, Sirius tem certeza de que James está apenas... tentando segurar o que ele

141
CRIMSON RIVERS

não quer perder, porque esta semana é apenas um lembrete brutal de todas as
coisas que escorregaram por seus dedos, e todas as coisas que ele não pode
realmente ter ou segurar.

De qualquer forma, uma vez que ele está à vontade, James volta ao seu
habitual charme casual com basicamente todo mundo, e ele acaba sendo
vítima do comportamento amigável de Frank. Não demora muito para que ele
ceda e se dê bem com Frank, e é óbvio que James está envergonhado com
suas ações anteriores porque ele instantaneamente tenta compensar isso sendo
bastante agressivamente legal com Frank. Isso meio que soa como um flerte,
se Sirius for honesto, mas Frank—sempre descontraído e feliz em se ajustar
ao fluxo das coisas—combina com James passo a passo.

E, honestamente, Sirius nunca pensou em foder ou não com Frank. Para


ser justo, Sirius nunca pensou se ele foderia ou não com alguém além de
Remus, mas ele tenta abordar a ideia em sua mente com muito cuidado,
principalmente por curiosidade. Como ele suspeitava, o desejo simplesmente
não existe, não importa quão objetivamente atraente Frank seja, mas ele tenta
descobrir o porquê. Há, é claro, a parede de tijolos bastante grande que ele
encontra na forma de Remus, por quem ele está muito apaixonado, mas além
disso, o que é?

Sirius tenta chegar ao fundo disso, imaginando se é por causa de seu


desgosto interno com qualquer coisa sexual que não seja falsa, devido às
Relíquias; ou é só porque ele não confia em Frank? Bem, isso é um pouco
injusto. Sirius confia em Frank, mas com sexo? Não, ele não tem certeza disso,
honestamente. Ele teve que construir essa confiança com Remus, ajustar-se a
ela, antes que ele realmente sentisse o verdadeiro desejo de fazer isso. Frank é
seu amigo, mas esse não é o tipo de confiança que eles construíram entre eles.

Enquanto isso, James não tem esses requisitos, então ele não está imune ao
efeito que Frank pode ter quando ele dá um sorriso fácil e preguiçosamente
enfia os polegares nas presilhas do cinto, os olhos brilhando de tanto rir. O
flerte é quase uma competição neste momento, e não surpreende Sirius
quando Regulus aparece abruptamente como um mau hábito, praticamente se
materializando do nada, não parecendo mais divertido.

Parece atingir Frank e James ao mesmo tempo o que eles estavam fazendo,
bem como por que essa é uma ideia extremamente ruim para todos os

142
ZEPPAZARIEL

envolvidos, para seu desgosto compartilhado. Sirius sabe que nenhum deles
realmente quis dizer nada com isso, sabe que foi tudo uma boa diversão,
mas Regulus não sabe. Ele não está contente, e o pobre Frank está obviamente
agora na lista de Regulus.

Não há muito o que fazer sobre isso, na verdade. Regulus e James têm que
subir no palco de qualquer maneira muito cedo, então eles se afastam,
deixando Sirius com Frank enquanto Pandora e Dorcas se preocupam com
James e Regulus, certificando-se de que estejam apresentáveis e prontos,
como sempre fazem.

"Vocês são um grupo bastante complicado, não são?" Frank pensa,


inclinando a cabeça com uma vaga curiosidade.

Sirius bufa. "Você não tem ideia, Frank."

"Não, eu entendo," Frank diz a ele. "Eu venho de um distrito de pessoas


complicadas e teimosas, Sirius. Quer dizer, minha mãe? Você conheceu Alice
ano passado quando ela ganhou seus jogos. Irene e Mathias também. Até eu,
um pouco, eu suponho. Nascido e criado no distrito cinco leva a algumas
pessoas a serem bastante obstinadas."

Sirius apenas cantarola, porque Frank está certo. Ele nunca conheceu
alguém do distrito cinco que não fosse resiliente, mesmo os tributos ao longo
dos anos que nunca chegaram a ser Vitoriosos.

Isso o faz pensar se os moradores do distrito seis, sua casa, têm algo em
comum. Por mais que ele pense sobre isso, ele não pode chegar a uma coisa
que todos compartilhem.

~•~

James tem certeza de que Regulus está tentando quebrar sua mão. Ele está
segurando tão firmemente que James está lutando para não estremecer. Certo,
então não é uma boa ideia ser pego flertando com pessoas bonitas quando
Regulus está por perto. Anotado.

Não é como se isso significasse alguma coisa, é claro. Para James, isso
nunca significou. Ou, bem, não significou nada seriamente desde seu último
relacionamento, quando ele finalmente chegou à conclusão de que Regulus era

143
CRIMSON RIVERS

para ele. Além disso, Regulus não tem o direito de ficar com ciúmes, o babaca
exigente. Foi ele quem disse a James para seguir em frente há muito tempo.
Fácil em teoria; não tão simples na prática, não é?

É um pouco satisfatório, honestamente. James tem visto Barty na casa de


Regulus muito nos últimos seis meses, aparecendo e passando a noite, saindo
na manhã seguinte para o trabalho. Ele até viu Barty ao fundo pela janela
quando vai deixar a flor diária, se mexendo enquanto Regulus se senta bem ali
em sua mesa. James não se orgulha dos impulsos violentos que ele teve muitas
vezes de simplesmente entrar e arrastar Barty pela porra da sua garganta.

É bom saber que Regulus acha difícil manter a cabeça no lugar no que diz
respeito a James também.

No entanto, isso traz o assunto à mente que eles meio que não podem estar
com outras pessoas, não realmente. Não enquanto a Relíquia estiver
apaixonada por sua história de amor. Claro, talvez eles possam fazer isso em
segredo, talvez, mas sempre será um risco. James não deseja estar com mais
ninguém, mas isso não o torna ignorante de quão fodida é a situação deles.

E se Regulus pudesse ser feliz com outra pessoa? Barty, talvez. Ou apenas
alguém no distrito com quem ele nunca se preocupou em conversar, mas
possivelmente o fará algum dia. O mero pensamento faz James murchar em
honesto desânimo e mágoa, mas ao mesmo tempo, ele nunca prejudicaria a
felicidade de Regulus, onde quer que ele a encontrasse, mesmo que não fosse
com James.

Agora não é hora de se estressar com nada disso, porque eles estão no
palco, e há os banners exibindo Irene e Mathias. Irene tem uma família,
apenas mãe e pai, enquanto Mathias aparentemente foi criado por seus avós.
Nenhum dos dois tinha irmãos. Eles pareciam ter encontrado isso um no
outro.

Como todos os anteriores, o distrito cinco está quieto quando James


começa o discurso, mas não é um tipo solene de silêncio. Não, isso é tenso.
James pode sentir isso, a inquietação da multidão, os olhares afiados exigindo
algo, furiosos por mudança. Ninguém nunca parece feliz com isso, mas
geralmente há um nível excessivo de derrota e resignação, apenas simples
obediência, mas o distrito cinco não parece ter isso, pelo menos não este ano,

144
ZEPPAZARIEL

por algum motivo. Há uma energia sobre todos que James pode sentir se
instalando em seu intestino como uma pedra.

Apesar disso, James realmente não espera que nada aconteça. Ele espera
que eles terminem o discurso como fizeram em todos os distritos anteriores,
excluindo o distrito onze, contanto que não percam a cabeça novamente. É
difícil não ver os rostos de Mathias e Irene, suas famílias, forçados à
lembrança.

Mas eles fazem isso de qualquer maneira, sem perder o ritmo, porque a
vida das pessoas com quem eles se importam está em jogo, e James já
estragou tudo uma vez. Parece uma traição para Irene, para Mathias, mas
James continua pensando em seus pais, em Sirius, em Regulus. Ele não pode
arriscar. Ele não vai.

Está indo como deveria por um tempo, pelo menos até que alguém, de
algum lugar na multidão, levante a voz para gritar, "Isso é besteira! É a mesma
porra de discurso feito pela Relíquia sem coração nenhum! Hallow is hollow,
Hallow is hollow, Hallow is hollow!"

James vacila em suas palavras, os olhos se arregalando enquanto o resto da


multidão ouve o canto, crescendo em volume e raiva. Ele gagueja até parar,
agarrando-se à mão de Regulus agora, seu coração disparado em seu peito
enquanto tudo começa a dar merda de uma vez, tão rápido que ninguém pode
fazer nada sobre isso.

Os Aurores que estão na frente sofrem o impacto da multidão, pois todos


parecem avançar ao mesmo tempo, e o caos se espalha praticamente em todos
os lugares. Alguém rompe, com outros seguindo, e os Aurores estão
severamente em desvantagem. Há um barulho alto de armas sendo disparadas,
balas voando longe, pessoas caindo no chão, mas ninguém parando.

Regulus se move rápido, empurrando James para trás e abaixando sua


cabeça enquanto eles saem tropeçando do palco. Alguém bate um Auror nos
degraus, lutando com sua arma, mas ela não dispara. James nem está
pensando enquanto envolve o braço em volta da cintura de Regulus,
puxando-o para longe e girando-o para protegê-lo enquanto eles fogem
freneticamente.

145
CRIMSON RIVERS

Sirius os segura em segundos, puxando-os para perto e empurrando-os


cada vez mais para longe até que os gritos e tiros sejam abafados à distância.

~•~

Está quieto no trem.

Regulus sente que ele não se move há anos, como se estivesse sentado no
mesmo lugar que Sirius o colocou, e ele está envelhecendo rapidamente,
murchando rápido demais para acompanhar. Sirius não os deixa sair do
quarto—o vagão de trem em que ele está dormindo— então eles estão todos
meio que empacotados juntos. James está sentado na cama ao lado de
Regulus, e Sirius está no chão, mais próximo da porta como um cão de
guarda.

Eles estão tecnicamente em bloqueio, de acordo com Pandora, que está


entre o prefeito e eles para mantê-los atualizados sobre toda a situação.
Bloqueio significa que eles não podem viajar e também não podem voltar ao
distrito cinco; eles estão todos apenas esperando por notícias da Relíquia.

Regulus ainda pode ver a linha de corpos que caíram no chão, cheios de
balas e sangue. Ele ainda pode ouvir o canto furioso, bem como os gritos
seguintes. Tudo o que ele continua pensando é em Riddle e seus frios, frios
olhos.

"Isso é ruim, não é?" James sussurra, o primeiro a quebrar o silêncio depois
de horas.

"É—definitivamente não é bom," Sirius admite, seus olhos fixos na porta,


provavelmente esperando Pandora voltar, ou talvez Dorcas se juntar a eles.
Ela disse que estava abalada pela violência e foi para seu próprio vagão de
trem para levar algum tempo para se acalmar, grata pela oferta de Sirius de
ficar com eles, mas precisando de um tempo sozinha. Regulus não pode
culpá-la por isso. É provavelmente o mais próximo que ela já esteve do
perigo, como uma Relíquia.

"Isso foi ao vivo. Todos no mundo viram isso, não viram? Ou um pouco
disso," James resmunga, parecendo angustiado.

146
ZEPPAZARIEL

Sirius faz uma careta. "Eu estava assistindo a transmissão ao vivo e não
parou até que os tiros começaram, então... sim."

"Oh, isso é muito ruim," James murmura, ansiosamente circulando sua


bengala entre as mãos, porque sua perna está doendo desde que ele
essencialmente pegou Regulus com um braço e fugiu com ele. Ele disse que
precisava, e Sirius conseguiu uma para ele. Ocasionalmente, James tem que se
levantar e andar devagar para frente e para trás, apoiando-se em sua bengala o
tempo todo.

"Eu estava conversando com Frank," Sirius diz a eles, "E ele disse que o
distrito está brigando com os Aurores há anos. É—é um distrito realmente
desafiador mesmo sem o nosso envolvimento, mas vendo o que aconteceu no
onze e o fato de que Irene e Mathias eram adorados por tantas pessoas... Bem,
isso foi exatamente onde a panela ferveu, basicamente. Vocês não—nenhum
de vocês fez nada de errado, certo? Isso não é com vocês."

"Mas é," Regulus diz suavemente, olhando para os joelhos, mexendo


preguiçosamente na costura na parte externa da coxa direita. "Vai voltar para
nós, de alguma forma."

"Nós não sabemos disso," rebate Sirius. "É—sim, é uma possibilidade, mas
a turnê da vitória não acabou. Nada vai acontecer antes disso, por um lado, e
ainda há tempo. Nós seguimos o plano, certo? A Relíquia tem continuado em
feliz ignorância por anos, e eles continuarão a fazer isso. As coisas vão se
acalmar."

"Sirius," James engasga, "Mamãe e papai..."

Regulus sente um nó se formar em sua garganta, estrangulando-o. Ele não


se orgulha disso, mas o mesmo medo que James tem pelo destino de seus pais
existe dentro de Regulus por conta própria, porque mesmo depois de tudo, ele
ainda... Bem, honestamente, ele não sabe bem o que sente por sua mãe e seu
pai; ele só sabe que o pensamento deles serem feridos, ou mortos, o assusta
tanto que ele sente que está engasgando com isso.

Sirius não tem palavras de conforto para nenhum deles. Ele apenas fecha
os olhos e fica no chão, balançando para frente e para trás, para frente e para
trás.

147
CRIMSON RIVERS

~•~

Eventualmente, Pandora volta com notícias de que a situação se acalmou e


eles foram liberados pela Relíquia para continuar com a turnê, então eles
desembarcam para ir ao distrito quatro. Como diz o ditado, o show deve
continuar.

É o último distrito do dia, e eles chegam tarde, muito atrasados. Toda a


praça que normalmente estaria cheia de pessoas está vazia, e as famílias dos
tributos que morreram também não estão lá nas plataformas. É Quinn e outro
tributo que eles não conheciam. As câmeras focam apenas em James e
Regulus, e eles estão basicamente parados ali, fazendo um discurso para
ninguém. É desconcertante e tão vazio quanto todo o resto. Quando eles
saem do palco, Regulus beija James na bochecha, e então ele se afasta assim
que eles estão fora de vista das câmeras. Ele não tem nada a ver com James
depois disso, e ele não pede para dormir com ele novamente.

Na manhã seguinte, eles tomam café da manhã no trem, e então eles vão
para o distrito três. James não está nem um pouco ansioso por isso, porque
são Peter e Bernice.

Há algo muito estranho em ter que se levantar e fazer um discurso em um


distrito que abriga os tributos falecidos com os quais você, em algum
momento, realmente teve problemas. Com Cole e Hodge, James não teve
nenhum problema anterior com eles antes de matá-los. Tecnicamente, James
não matou Peter ou Bernice, mas ele estava lá para a morte deles.

As coisas voltaram ao normal, tanto quanto a multidão voltando e as


famílias esperando em homenagem aos caídos. Bernice, surpreendentemente,
teve um noivo e um bebê. Ela era uma mãe. Vinte e três anos, e seu bebê
ainda é tão pequeno, não pode ter mais de um ano, ainda nos braços do pai.
Parece a James que Bernice provavelmente teve entre três e seis meses com
seu bebê antes de seu nome ser chamado, e ela nunca mencionou seu filho,
nunca falou sobre ser mãe em entrevistas ou chamou atenção para isso.

Peter só tem sua mãe para ficar na plataforma para ele. Ela é uma mulher
baixa, e ela parece ainda mais baixa pela forma como ela se curva, nunca
levantando o olhar para olhar para cima, nem uma vez. Sinto muito que ele não
tenha chegado em casa, James pensa enquanto olha para ela, seu coração
apertando violentamente em seu peito.
148
ZEPPAZARIEL

Nos piores dias de James, ele está com raiva de Peter tanto quanto ele
pode estar de qualquer pessoa ou qualquer coisa que ele já sentiu alguma
semelhança de amor. Vai queimar dentro dele até que ele esteja fervendo, até
que ele deseje poder voltar atrás e matar Peter ele mesmo, e esses pesadelos
são os piores. Aquelas em que ele tem a garganta de Peter entre as mãos,
apertando cada vez mais forte, não importa o quanto ele implore. Isso o
aterroriza, o perturba, mesmo que Sirius tenha dito a ele muitas e muitas vezes
que seus sonhos não são um reflexo dele e que ele não tem controle sobre
eles.

Nos melhores dias de James, ele pode admitir para si mesmo que esses
sonhos não o tornam uma pessoa ruim, porque a verdade é que ele não
gostaria de ter matado Peter. Ele gostaria de ter salvado Peter, mas não
conseguiu; ele nunca seria capaz. Naqueles dias, os bons, James sente muita
falta de Peter, de sua risada e de seu calor e do jeito que ele cuidava de Vanity
como James fazia. A realidade é que Peter o deixa triste; toda a linha do
tempo do início ao fim, porque talvez James tenha se iludido acreditando que
Peter poderia representar algo bom e verdadeiro naquela arena, quando nunca
foi justo colocar isso em Peter, que só queria sobreviver.

James se afasta de Regulus primeiro quando eles saem do palco, e ele se


retira para seu quarto quando todos estão de volta ao trem, recusando-se a sair
até chegarem ao distrito dois.

Outro difícil, porque esse é Axus e Willa. Axus tem alguns irmãos e ambos
os pais em sua plataforma, enquanto Willa era filha única sendo criada por seu
pai, que parece completamente indiferente—quase entediado—por todo esse
processo. A família de Axus, pelo menos, parece estar de luto ainda, e se eles
estão um pouco envergonhados com todas as coisas que Axus fez na arena,
não há sinais disso. James está no palco, ainda usando uma bengala por
causa de Axus, e ainda assim ele honestamente não pode culpar a família de
Axus por não parecer incomodada com as coisas que Axus fez. Eram os jogos
vorazes. Axus não era uma pessoa muito boa lá, mas quem sabe como ele era
fora de lá? James não sabe, e ele nunca saberá.

Há um sentimento diferente nos distritos mais próximos da Relíquia, mais


parecido com a Relíquia, na verdade. Eles parecem realmente tocados pelos
discursos e são receptivos, torcendo por seus tributos caídos e pelos

149
CRIMSON RIVERS

Vitoriosos no palco diante deles. De alguma forma, isso é quase pior do que a
sensação de vazio.

Distrito um é outro difícil, Mulciber e Avery, mas Sirius e Regulus parecem


ficar cada vez mais inquietos quanto mais se aproximam. James não consegue
entender o porquê até eles chegarem, e então tudo o que ele consegue pensar
é oh.

"Eu não sabia que isso seria uma reunião de família," James sussurra para
Sirius, com os olhos arregalados.

O sorriso de Sirius é mais uma careta quando a prefeita vem ao seu


encontro, três pessoas vagando junto com ela. Apenas um homem que James
lembra vagamente de Sirius apontando para ele na Relíquia como o mentor de
Mulciber e Avery, Lucius Malfoy. Claro, James sabe que tecnicamente Lucius é
primo de Regulus e Sirius, mas Sirius deixou claro que isso não era algo que o
deixava nem um pouco satisfeito.

Além da prefeita, há duas outras mulheres que James reconhece apenas


levemente pelas memórias de quando era criança. Bellatrix e Narcissa (e
Andrômeda) moravam na Vila dos Vitoriosos com seu pai, então James
realmente as conhecia muito antes de conhecer Sirius, mas apenas de
passagem. Ele as via às vezes, e uma vez ele pegou Bellatrix tentando acertar o
gato dele com sua vassoura, então ele começou a chorar e chamou sua mãe,
que entrou em uma briga bastante ruidosa com Cygnus sobre realmente
cuidar de suas filhas.

De qualquer forma, o gato estava bem, Bellatrix era apenas uma


adolescente entediada cansada de um vira-lata aleatório entrando pela janela
dela, e a vida continuou. James talvez tenha tido uma pequena queda por
Narcissa quando ele era muito jovem, mas ele nunca contou a ninguém sobre
isso, nem mesmo Sirius. Ele cresceu, mas ele pode apreciar a ironia em sua
aparente afinidade por ter uma queda por irmãos Black mais novos.

James nunca viu Regulus ou Sirius na Vila dos Vitoriosos antes de


conhecer Sirius pela primeira vez, o que ele acha que se deve ao fato de
Cygnus ser um bastardo terrível que mal gostava de deixar suas próprias filhas
em sua casa, muito menos crianças que não eram dele mesmo. James se
lembra vividamente de uma vez em que Cygnus chegou em casa e encontrou

150
ZEPPAZARIEL

Alphard desmaiado, bêbado, na varanda da frente; Cygnus o jogou na vala e


apenas o deixou lá. Seu próprio irmão.

"Sirius," Regulus sussurra, "Por que eles estão aqui? É só para ser o mentor
e a prefeita."

"Eu temia que eles fizessem isso," Sirius murmura. "Lucius provavelmente
teve algo a ver com isso, o idiota."

"Vai ser realmente tão ruim?" James murmura. "Quero dizer, eles são sua
família."

"É por isso que vai ser ruim," Sirius diz categoricamente.

Nesse exato momento, o grupo que se aproxima os avista, e Bellatrix


levanta os braços e grita, "Oh, lá está ele! Minha pequena fofura favorita.
Reggie, veja como você cresceu," antes de se mover imediatamente para
Regulus, estender a mão e beliscar suas bochechas enquanto ela murmura,
como se ele fosse uma criança pequena.

James pisca.

~•~

Me mate, me mate, me mate, Regulus pensa repetidamente, seu rosto se


contorcendo enquanto Bellatrix o agarra em um abraço e bagunça seu cabelo,
ainda falando com ele naquela voz estúpida de bebê.

Quando eles eram crianças, Regulus era reconhecidamente o favorito de


Bellatrix entre ele e Sirius. Nas palavras de Bellatrix, Sirius era um merdinha
de boca grande que tinha mais cabelo do que cérebro. Sirius uma vez fez
Regulus chorar, e Bellatrix o empurrou escada abaixo. E embora Regulus
nunca admitisse isso em voz alta, Bellatrix sempre foi sua favorita também.
Ele tem certeza que é porque ele é um irmão mais novo, enquanto ela é a mais
velha; ela sempre o mimava um pouco, e Regulus não era imune a gostar do
fato de que ele não podia fazer absolutamente nada de errado aos olhos dela.

Sirius, é claro, era o favorito de Andromeda e Narcissa. Elas o mimavam, o


deixavam escapar impune, fazendo barulho com Bellatrix quando ela era má
com ele. É estranho, porque Regulus sabe com certeza que Sirius sempre
preferiu Narcissa do que Andromeda, pelo menos até eles ficarem mais
151
CRIMSON RIVERS

velhos, e então seus sentimentos mudaram. Talvez isso não seja nada
estranho, em retrospecto. As coisas que você sente quando criança se
transformam quando você cresce, porque de repente você pode entender
todas as coisas que não entendia antes.

Por exemplo, Regulus não entendia quando ele era criança que Bellatrix é
louca pra caralho. Ele entende agora, é claro, e é engraçado, não é, que
diferença o tempo pode fazer?

"É bom ver você, Sirius. Você parece bem," Narcissa cumprimenta
enquanto se aproxima, mas ela não vai para um abraço, mesmo que esteja
sorrindo. Regulus inveja tanto Sirius agora, porque Bellatrix ainda está
bajulando ele. "Bella, deixe ele em paz, sim? Você não pode ver que ele está
extremamente desconfortável?"

"Impossível," Bellatrix protesta, mas felizmente ela se afasta. É


desconcertante o quanto ela se parece com Andy, ou o quanto Andy se parece
com ela, na verdade. Narcissa sempre foi o patinho estranho, no que diz
respeito às características compartilhadas na família. Houve um boato por
muito tempo que sua mãe teve um caso com outro homem no distrito, mas
ninguém nunca se atreveu a dizer isso onde Cygnus ou Bella pudessem ouvir.
Os rumores pararam quando o homem desapareceu espontaneamente um dia
e nunca mais foi visto. Ninguém sabe o que aconteceu, mas Regulus lembra
distintamente de um olhar de satisfação no rosto de Bellatrix quando a notícia
estourou.

Regulus não entendia o que isso significava naquela época, mas ele entende
agora. Ele tem certeza de que sua prima mais velha matou um homem para
tornar a vida de sua irmã um pouco mais fácil. A coisa é, ela ainda nem tinha
entrado em seus jogos.

"Você também parece bem, Regulus," Narcissa comenta, sorrindo para ele,
pequena e recatada, mas seu olhar é afiado. Claro. Piscinas de azul que cobrem
mais em suas profundezas. Talvez seja uma coisa de irmãos mais novos, mas
assim como Regulus, ela sempre foi boa em esconder coisas. A única
diferença é que ela se esconde atrás de sorrisos delicados e palavras gentis, de
fala mansa e bonita como vidro artisticamente construído que você tranca
para que ninguém possa tocá-lo, para que eles só possam olhar, porque é
muito frágil.

152
ZEPPAZARIEL

Narcissa não é, e nunca foi, frágil. Oh, ela finge ser, é claro, mas ela é tão
perigosa quanto suas irmãs, especialmente porque você não espera por isso.
Regulus se lembra de seus jogos. As pessoas achavam que ela era frágil, e ela
provou que elas estavam erradas.

"Sirius," Bellatrix cumprimenta com muito menos entusiasmo do que


mostrou a Regulus.

"Bella," Sirius responde zombeteiro, o que faz os olhos de Bellatrix se


estreitarem em fendas, e Regulus solta um suspiro abafado.

Esse vai ser um longo almoço.

~•~

Sirius não quer estar aqui. Ele realmente, desesperadamente, não quer fazer
isso agora. Porra, por que Bellatrix e Narcissa tiveram que vir? Era para
ser apenas a prefeita e o mentor, mas não o surpreende que Narcissa e Bellatrix
tenham aproveitado a oportunidade para vir, e ele não duvida que Lucius
tenha algo a ver com tornar isso possível.

Veja, não é nenhum segredo que a família Black tem... problemas entre os
membros que estão distantes. Houve uma grande briga que ocorreu antes de
Narcissa e Bellatrix deixarem o distrito, uma que terminou com Andromeda
em lágrimas, Bellatrix com um olho roxo e Narcissa ameaçando matar
Cygnus.

Foi tudo muito dramático, pelo que Sirius se lembra, o que honestamente
não é muito com sua memória fraca. Ele foi capaz de juntar a maior parte
disso, no entanto. Basicamente, Cygnus era um pedaço de merda abusivo,
particularmente para Narcissa, que ele nunca tinha certeza se era sua filha ou
não. A mãe delas morreu antes de Sirius nascer, quando Narcissa ainda era
bem jovem, e coube a Bellatrix e Andromeda cuidar dela. Principalmente
Andy, porque Bella era e sempre foi verdadeiramente desequilibrada.

De qualquer forma, Andy foi a primeira a sair de casa com um homem que
a família não aprovava, e Bella tomou isso como uma afronta pessoal,
enquanto magoou profundamente Narcissa. No entanto, assim que Narcissa
viu sua chance de sair, de ir embora, ela também aproveitou. Até onde Sirius
sabe, ela não tinha planos de levar Bellatrix com ela, não no começo, mas

153
CRIMSON RIVERS

talvez Bellatrix apenas... se convidou. Ele não tem certeza sobre os detalhes,
honestamente. Andy não gosta muito de falar sobre isso, porque ainda é um
assunto delicado.

Cygnus morreu não muito tempo depois que todas as suas filhas o
abandonaram, e Alphard o seguiu rapidamente. Sirius sempre se perguntou se
parte da deterioração constante de Alphard nesses últimos meses foi porque
seu irmão mais velho estava morto. Mas, novamente, Alphard estava se
matando com álcool e drogas há tanto tempo que nunca ficou claro.

Então, sim, a família Black está cheia de complicações e gerações de


mágoas, e como uma família inclinada a um talento dramático, isso é fácil de
perceber para aqueles que prestam atenção. Lucius é, infelizmente, bastante
observador. Não só isso, mas ele tem conhecimento interno como marido de
Narcissa, Sirius tem certeza. Ele não duvida que Lucius os quer aqui apenas
para se vingar de Sirius e Regulus por envergonhá-lo seis meses atrás.

O almoço é doloroso.

A prefeita Delores é simplesmente—bem, Sirius não acha que ele já


desgostou de alguém tão rapidamente em sua vida, o que é dizer muito,
considerando o fato de que ele passa muito tempo com algumas Relíquias
muito evasivas. De alguma forma, a prefeita Delores é pior, empertigada e
apropriada e enjoativamente doce daquele jeito falso que é tão transparente
que pode ser ar. Ela limpa a garganta em um som irritante toda vez que ela
pega Sirius ou James colocando seus cotovelos na mesa.

Sirius está tão fodidamente desconfortável agora, ainda mais quando está
conversando com Bella e Cissa como se elas não fossem praticamente
estranhas para ele. Ele se lembra deles, um pouco. Ele se lembra de nunca ter
gostado muito de Bellatrix, acima de tudo.

Tudo isso o lembra de jantares sufocantes com seus pais, forçado sentar
com as últimas pessoas que ele quer estar perto, preso com o lembrete
constante de como é sua família. É sempre segredos ou loucura completa com
eles. Nunca houve um Black que não fosse, de alguma forma, magnificamente
fodido. Infelizmente, ele está incluído e ele não gosta de ter que enfrentar isso.

Pandora, a linda joia que ela é, faz a maior parte do trabalho pesado em
manter a conversa. Ela está usando o que Sirius decidiu rotular de sua voz de

154
ZEPPAZARIEL

'Relíquia'. Enquanto isso, Dorcas nem se dá ao trabalho de fingir que dá a


mínima para apaziguá-los, o que Sirius gosta muito nela. Ela é ousada, não há
como negar isso.

Não há muitos comentários sobre todos os seus respectivos tempos na


arena. Ele não se lembra do de Cissa, e ele só lembra vagamente do de Bella
porque foi o primeiro que as Relíquias ficaram realmente animadas depois do
Memorial Trimestral que aconteceu cinco anos antes. As pessoas ainda
estavam falando sobre os 60º jogos vorazes quando o 65º chegou, mas isso
desapareceu quando Bellatrix entrou na tela, a primeira Black a entrar nos
jogos desde seu pai, décadas antes disso.

Sirius se pergunta se, como ele e Regulus e James e Effie e todos os outros
Vitoriosos que ele já conheceu, Bellatrix e Narcissa não gostam de falar sobre
seus jogos. Elas não os mencionam, e também não falam dos de Sirius ou
Regulus, pelo que Sirius pode ser grato.

De qualquer forma, no momento em que Sirius vê sua chance de fugir, ele


faz exatamente isso. Lucius estava fazendo comentários sarcásticos para
Regulus e James, o que deixou Sirius eriçado, mas Narcissa chocantemente o
fechou com um olhar, e ele parou e voltou sua atenção para a Prefeita
Delores. Pandora está de alguma forma entretendo Bellatrix, enquanto
Regulus e Narcissa comem silenciosamente e ocasionalmente trocam um ou
dois comentários aleatórios. James está falando com segurança e sabedoria
com Dorcas.

Em outras palavras, Sirius tem sua chance de fugir, e assim como suas
primas mais velhas, ele não hesita em aproveitá-la.

Ele dá um tapinha no ombro de Dorcas enquanto passa, e ela não perde o


ritmo, passando-lhe o maço de cigarros e o isqueiro que eles têm
compartilhado há dias.

Sirius fica do lado de fora e fuma como se sua vida dependesse disso. Um
logo após o outro, ignorando os sons distantes de conversa e talheres
tilintantes flutuando até ele.

Ele não está livre por muito tempo, no entanto.

155
CRIMSON RIVERS

"Tem outro desses?" Narcissa pergunta enquanto ela corre para fora para
se juntar a ele, inclinando-se contra o pilar em frente a ele com um pequeno
sorriso moderado.

Sirius suspira, mas ele passa um cigarro para ela e acende o isqueiro,
observando-a inalar e olhar pensativo para o lado enquanto ela exala fumaça.
"Achei que você tinha parado."

"Há algumas coisas das quais você não cresce," responde Narcissa. "Eu dei
a você sua primeira tragada de cigarro, sabe. Você tinha dez anos. Você se
lembra?"

"Mhm," Sirius murmura vagamente, embora não lembre.

Narcissa parece notar. "Você me pegou com um e me implorou para


experimentar, achou legal, mas você sempre achou que tudo que eu fazia era
legal. Você deu uma tragada, começou a tossir, parecia enojado e jurou nunca
mais fazer isso." Ela olha para ele, seus olhos vagando sobre ele com algo
estranhamente triste. "Olhe para você agora."

"Bem, há algumas coisas das quais você cresce," Sirius murmura,


incisivamente dando uma tragada e soprando anéis lentamente, um por um
com precisão de especialista, segurando o olhar dela enquanto o faz.

"Como está minha irmã?" Narcissa pergunta baixinho, e pela primeira vez,
Sirius se pergunta se é por isso que ela está realmente aqui.

Sirius franze os lábios. "Sendo uma cadela furiosa na outra sala. Por que a
pergunta?"

Os lábios de Narcissa se contorcem. "Não aquela. A outra."

"Andy está maravilhosa. Prosperando, na verdade," Sirius a informa,


possivelmente um pouco na defensiva. Narcissa não parece ofendida. "Você
tem uma sobrinha."

"Uma sobrinha," Narcissa sussurra, sua respiração tão baixinho que ele
quase não ouve. "Eu tenho? Qual é o nome dela?"

"Nymphadora," Sirius murmura.

156
ZEPPAZARIEL

"Agora, por que ela faria isso com aquela pobre criança?" Narcissa
pergunta, balançando a cabeça enquanto inala novamente.

Sirius não pode evitar. Ele bufa uma risada. "Honestamente, eu perguntei a
mesma coisa. Não há nomes normais nessa família, você conhece as regras.
De qualquer forma, nós a chamamos na maior parte do tempo de Dora."

"Entendo." Narcissa fica um pouco calada depois disso, pensativa, ainda


fumando. Sirius dá alguns olhares para ela, incapaz de evitar. Suas memórias
estão todas desbotadas e fora de ordem, mas ela protagoniza mais do que
algumas de suas memórias mais velhas, algumas que ele nem tem certeza de
que são realmente reais. "Você ofendeu Lucius, sabe."

"Ah, adorável, fico feliz em ouvir isso," declara Sirius, abrindo um sorriso
desafiador. Ele está esperando que ela fique irritada, mas ela apenas ri. "Se
você acha que eu vou me desculpar—"

"Não se preocupe. Nós dois sabemos que seria uma mentira, e


francamente, eu não esperaria nada menos. Lucius é um homem orgulhoso
sobre coisas sem sentido que só existem em sua cabeça."

"Não muito elogios, vindo de sua esposa."

"Você sabe por que eu me casei com ele," Narcissa diz sem rodeios.

Uma fuga, pensa Sirius. "Sim, eu sei. Arrependida?"

"Se ao menos fosse tão simples," Narcissa reflete. "Ele quer tentar ter um
filho. De preferência um menino, ele diz."

"Ele—o quê?" Sirius hesita, piscando para ela surpreso. "Depois de todo
esse tempo, ele ainda não descobriu que é casado com uma mulher sem desejo
de sexo?"

Narcissa estala a língua, mas demora a responder. Ela continua a fumar, e


Sirius continua a olhar para ela incrédulo. Ele se lembra disso sobre ela e tem
quase certeza de que não é uma lembrança que ele está inventando. A primeira
vez que ele foi exposto ao tema do sexo foi porque ele pegou Andy beijando
um menino e foi correndo direto para Narcissa com cerca de um milhão de
perguntas, que ela respondeu obedientemente. Ele era tão jovem, mas ele se

157
CRIMSON RIVERS

lembra de Narcissa dizendo a ele sem rodeios que ela não tinha tais desejos,
como suas irmãs.

"Lucius sempre soube disso sobre mim. Ele também sabia que eu preferia
a companhia romântica de mulheres sobre qualquer outro gênero, e de
ninguém sexualmente. Isso nunca foi um segredo."

"Você está me dizendo que isso nunca o incomodou?"

Narcissa arqueia uma sobrancelha para ele. "Não. Lucius nunca me quis
para sexo ou romance. Ele sabe por que eu me casei com ele, sempre soube, e
nunca foi sobre me salvar, não para ele. É sobre poder. Ele sente que tem
poder sobre mim, e eu o deixo acreditar. Essa ilusão me mantém confortável,
e ele tem muitas pessoas para aquecer sua cama para manter ele confortável."

"Isso é..." Sirius faz uma careta e balança a cabeça. Honestamente, ele
odeia o som disso, mas é o que Narcissa escolheu. É o que Narcissa fez
acontecer, de propósito. Lucius não era nada mais do que um fantoche em
suas cordas, e provavelmente ainda é. "Certo, se for esse o caso, por que pedir
a você filhos?"

"Bem, nós somos casados, então ele gostaria que seu filho viesse de sua
esposa em vez de qualquer outra pessoa," explica Narcissa.

Sirius ergue as sobrancelhas para ela. "Você vai fazer isso?"

"Eu adoraria ser mãe. Eu posso não ter vontade de fazer sexo, mas eu
gosto de vez em quando, embora nunca com homens. Eu provavelmente
poderia convencê-lo a outras opções, talvez inseminação, mas eu não vou
fazer isso," murmura Narcissa. Ela dá uma forte tragada no cigarro, as
bochechas afundando, e seus olhos brilham enquanto ela exala. "Eu quero
criar um filho. Ele quer treinar um Vitorioso."

"Ele é uma escória, você sabe disso?" Sirius diz com desgosto, entendendo
instantaneamente o que ela quer dizer. Não que ele pudesse realmente não
entender, já que ela foi tão direta. Ele pode apreciar que ela não tem planos de
satisfazer o desejo de Lucius, no entanto.

158
ZEPPAZARIEL

Narcissa apenas cantarola e desvia o olhar. "E você, Sirius? O galã das
Relíquias. Você tem sua própria escória grudada na sola do seu sapato
enquanto ousa julgar a minha."

"Eu não pisei na minha de propósito."

"Não pisou?"

Sirius aperta a mandíbula. "Para sobrevivência, nada mais."

"Sim, o mesmo que eu, mas é claro que você não vê dessa maneira."

"Você poderia ter ficado, sabe."

"Não, eu realmente não poderia," responde Narcissa. "Não havia nada para
mim lá."

"E o que você tem aqui?" Sirius desafia.

"Quase tudo," é a resposta calma de Narcissa, ainda soltando fumaça, a


nuvem se afastando ao longe, uma distância ecoada em seus olhos.

Sirius acha que, na distância de seu olhar, ela está procurando por
Andrômeda.

~•~

Regulus vai matar Sirius. Como ele ousa abandoná-lo agora?


Com ela. Regulus entende que a família é particularmente difícil para Sirius,
especialmente agora que ele sabe que Sirius tem problemas de memória, mas
Regulus se sentiria muito melhor se ele estivesse aqui.

Bellatrix é uma ameaça.

É difícil descrever, porque às vezes ela parece genuinamente afeiçoada a


ele. Em outros momentos, parece que seu carinho por ser um lunática furiosa
supera isso.

Caso em questão:

159
CRIMSON RIVERS

"Então, Regulus, o que você tem feito ultimamente?" Bellatrix pergunta


enquanto ela cai direto na cadeira vazia de Sirius entre ele e James, inclinando-
se para trás e chutando os pés para cima da mesa sem hesitar.

Regulus a encara.

Bellatrix não se perturba com seu silêncio. "A última vez que eu te vi,
Reggie, você era tão doce. Ainda muito tímido como sempre, claramente." Ela
espera, então ri quando ele continua a olhar para ela. "Oh, vá em frente, me
diga tudo o que eu perdi. Como foi a adolescência? Tempo terrível para todos
nós, é claro, mas me dê todos os detalhes sórdidos."

"Não há muitos," Regulus mente categoricamente.

"Oh, claro que tem." Bellatrix franze a testa ligeiramente quando ele, mais
uma vez, não oferece resposta. "Anime-se, fofucho. Vire essa carranca para lá;
eu me lembro de você sorrindo muito mais do que isso. Para onde isso foi?"

"Hum-hum," diz a prefeita Delores, limpando a garganta várias vezes até


que todos olhem para ela. Ela dá a Bellatrix um sorriso afetado. "Pés não
ficam sobre a mesa, querida."

"Os garfos geralmente não entram nos globos oculares também, mas eu
posso fazer isso acontecer também," Bellatrix diz a ela, levantando um pé e
soltando-o de volta para enviar um garfo voando para cima da mesa pelo ar,
que ela estala sua mão para pegar. Ela sorri para a prefeita Delores, olhando
para ela, e a prefeita Delores fica pálida e silenciosa assim que reconhece a
ameaça. Bellatrix consegue deixar seus pés sobre a mesa. "De qualquer forma,
Regulus, o que você estava dizendo?"

"Eu não estava," Regulus murmura.

"Oh, tudo bem, se você não quer falar sobre nada disso, acho que vou
conhecer o namorado, certo?" Bellatrix gira a cabeça. "Potter!"

Ao som alto e estridente de seu nome, James dá um solavanco na cadeira,


piscando rapidamente. "Er... sim?"

"Nossa, você cresceu lindamente, não é?" Bellatrix diz em aparente


diversão, preguiçosamente jogando o garfo na mesa antes de alcançar James

160
ZEPPAZARIEL

com a clara intenção de tocar seu rosto, provavelmente girando-o pelo queixo
para examiná-lo.

Ela não consegue, porque a mão de Regulus se estende para pegar seu
pulso, sua voz afiada quando ele declara, "Não toque nele."

"Oh?" As sobrancelhas de Bellatrix se erguem e ela parece emocionada


instantaneamente. "Então, é verdade, então? Eu realmente não acreditei,
honestamente, que vocês dois estavam realmente juntos, mas olhe para você
sendo todo protetor e tudo mais." Ela abaixa o rosto em uma carranca e
abaixa a voz, zombando, "Não toque nele. Meu Deus, alguém é possessivo. Me
solte, sim? Eu só quero ter uma conversinha com ele. Dar a ele um discurso
sobre ser bom para você como qualquer prima mais velha respeitável faria."

"Bella," Regulus sibila, "Deixe ele em paz. Eu não estou brincando."

"Ou o que?" Bellatrix provoca, sorrindo para ele.

Regulus aperta seu pulso com mais força, muito apertado, mas ela nem se
mexe. "Se você tocar nele, a única a ser esfaqueada com um garfo será você.
Agora pare de ser tão..."

Honestamente, ele nem sabe a palavra para isso.

"Você não é divertido," Bellatrix reclama com um beicinho, caindo em sua


cadeira e batendo a mão preguiçosamente até que ele a solte. Ela ainda olha
para James, no entanto. "Tudo bem, eu não vou ameaçar arrancar sua pele dos
seus ossos se você não tratar meu pequeno fofucho direito, mas me diga, você
tem boas intenções, sim?"

"Apenas as melhores," James diz a ela, seu olhar rapidamente para Regulus
antes de desviar o olhar.

"Você ficou muito bonito, sabe. Quantos anos você tem agora? Vinte e
poucos anos, sim?" Bellatrix inclina a cabeça, considerando-o de perto. "Se
tornou um grande homem."

James tosse. "Ah, obrigado?"

"Bella," Regulus retruca, porque James está claramente desconfortável no


momento, e isso faz Regulus sentir... vergonha? Ele não está acostumado a
161
CRIMSON RIVERS

sentir vergonha de sua família quando se trata de James, porque seus pais têm
muito pouco a ver com ele, e Sirius sempre foi bom com ele.

"Tão ciumento," Bellatrix murmura, mesmo que Regulus honestamente não


esteja. "Olhe para você, fofucho, tão mal-humorado. O amor nos deixa
loucos, não é? Ou então foi o que eu ouvi dizer. Quão louco isso te deixa?"

"Confie em mim, você realmente não quer descobrir," diz Regulus.

Bellatrix repreende ele. "Faz muito tempo que eu não me divirto, sabe. Todo
mundo é tão chato, e Cissy está sempre por perto para me repreender, então,
na verdade, eu não adoraria nada mais." Ela prontamente se levanta e se vira
sem aviso para chutar a cadeira de James para trás, se jogando no colo dele e
se jogando sobre ele. James engasga, suas mãos voando para cima enquanto
ele as segura com as palmas para fora, olhos esbugalhados enquanto sua boca
cai aberta. Belatrix ri. "Olhe para isso, você encontrou um homem leal,
Reggie. Ele nem me toca, o que é uma pen—"

O resto de sua frase é abafada por seu grito repentino quando Regulus a
agarra pelos cabelos e literalmente a arrasta para fora do colo de James,
jogando-a impiedosamente no chão. James fica boquiaberto para ele onde ele
está, e Bellatrix solta uma longa série de maldições enquanto ela começa a se
levantar. No momento em que a mão dela pousa na mesa para se apoiar,
Regulus pega o garfo e finca nas costas da mão dela, porque ele disse que isso
aconteceria, e ela não ouviu. Culpa dela, na verdade.

"Puta merda, Reg!" James deixa escapar, levantando-se da cadeira enquanto


Bellatrix uiva do chão.

"Minha nossa!" A prefeita Delores suspira.

"Sirius!" Dorcas grita, enquanto Pandora cobre o rosto com as duas mãos,
abafando um gemido alto.

Bellatrix rosna enquanto leva a mão ao peito, o garfo ainda enterrado na


parte de trás, sangue pingando. "Seu filho da puta ingrato! Eu
estava testando ele, seu merdinha! Veja se eu faço alguma coisa por você de
novo! Você me esfaqueou! Você me esfaqueou, porra, por um homem
estúpido, seu bastardo!"

162
ZEPPAZARIEL

"Eu te disse o que aconteceria se você o tocasse," Regulus a lembra


defensivamente, olhando desesperadamente para Sirius, que está correndo
para a sala com Narcissa logo atrás dele.

Bellatrix arranca o garfo de sua mão e ataca Regulus com um grito agudo, e
o inferno imediatamente começa quando Sirius e Narcissa mergulham
freneticamente na briga. Narcissa tem que envolver seus braços em volta de
Bellatrix e arrastá-la de volta enquanto Regulus tem que se virar e fazer a
mesma coisa com Sirius, que aparentemente não precisa de contexto para
aproveitar a primeira oportunidade de dar uma surra nela, especialmente se ela
estiver tentando furar o olho de Regulus com um garfo.

Sirius e Bellatrix sibilam e cospem um no outro como gatos selvagens,


rosnando e grunhindo como cães selvagens, ambos tentando se aproximar
enquanto todos parecem estar gritando ao mesmo tempo.

Lucius está sorrindo de satisfação.

~•~

"Você é meu irmão favorito."

"Eu sou seu único irmão."

"Eu sei. Eu estou tão orgulhoso de você."

Regulus revira os olhos e vira a cabeça, mas James pode ver seus lábios se
contorcendo nos cantos. Pandora está sufocando o que parece ser uma risada
levemente histérica por trás de sua mão, e Dorcas está sorrindo
descaradamente para Sirius, que genuinamente parece orgulhoso de Regulus
por esfaquear Bellatrix com um garfo. O trem continua em direção a Relíquia.

"Não seria um almoço de família sem uma briga," Sirius anuncia


alegremente, seu ânimo elevado desde que deixou o distrito um. Eles foram
rapidamente escoltados para fazer os discursos e, em seguida, convidados a
sair imediatamente depois. O adeus entre Narcissa e Sirius tinha sido bom,
quase... caloroso, James diria, mas isso foi tudo em termos de afeto familiar,
até o final. Bem, excluindo Sirius e Regulus, porque Sirius passou cerca de
vinte minutos inteiros gargalhando depois que a coisa toda acabou, e ele tem
elogiado Regulus desde então.

163
CRIMSON RIVERS

"Nem um momento de tédio," diz Dorcas. "Não houve um momento de


tédio em toda a turnê."

"Ainda não acabou," Pandora a lembra, claramente tendo chegado ao


ponto em que desistiu de tentar fazer com que toda essa experiência corra
bem para todos. Foi doce da parte dela tentar, no entanto. Ela está sempre se
esforçando.

"Ainda não consigo acreditar que você literalmente esfaqueou ela com um
garfo," insiste Dorcas, balançando a cabeça enquanto olha para Regulus em
uma clara mistura de descrença e admiração.

Regulus suspira. "Eu avisei—"

"Sim, você a avisou que faria, então você fez," Pandora interrompe,
divertida, "Mas isso ainda não é uma coisa que a maioria das pessoas
simplesmente faz."

Regulus não é a maioria das pessoas, pensa James, olhando para ele impotente.
Ele se lembra de Mulciber novamente, como Regulus cortou sua mão quando
ele não atendeu ao aviso de Regulus para não cortar James. Isso, pelo menos,
foi um pouco menos violento, menos sangrento, menos bagunçado. Também
estava em uma situação e cenário totalmente diferentes. Isso significa que
James pode apreciar isso totalmente e, como tal, ele pode dizer com segurança
que nunca esteve tão desesperado para se ajoelhar por alguém do jeito que
está agora, por Regulus.

James tosse e fica de pé, murmurando, "Com licença."

Sirius franze a testa em preocupação enquanto passa, mas James apenas


balança a cabeça para ele, assegurando-lhe que nada está errado. Ele sabe que
tem estado excepcionalmente quieto, mas é o melhor, porque ele não pode
realmente confiar em si mesmo para falar no momento. Ele tem medo de
abrir a boca e dizer algo estúpido, como confessar repetidamente seu amor
como um disco quebrado.

Em vez disso, James entra em seu vagão, fechando a porta e soltando um


suspiro profundo. Depois de uma batida, ele olha para baixo e dá um sermão
bem severo (e interno) no seu pau sobre as respostas adequadas para

164
ZEPPAZARIEL

determinadas situações, inclusive como há um tempo e lugar, e cercado de


amigos não é o tempo e o lugar.

James continua repreendendo mentalmente seus próprios desejos—


honestamente, ele está começando a se perguntar se deveria se preocupar mais
com as coisas que o excitam—mas não adianta muito.

Não importa o que ele tente, seu corpo e coração têm certeza de uma coisa
sobre qualquer outra, e isso é Regulus Black.

"Essa é a segunda pior semana da minha vida," James declara


miseravelmente, então lenta e repetidamente bate a cabeça contra a porta
enquanto ele implora ao seu corpo e coração para eles entenderem o porquê.

Eles não o fazem.

~•~

Quando eles chegam na Relíquia, não há muito tempo antes que a


entrevista aconteça. Dorcas corre quase imediatamente para se preparar,
exigindo que os outros os sigam assim que estiverem acomodados em sua
suíte.

Pandora está andando rapidamente, liderando tudo, o que Sirius fica mais
do que feliz em deixá-la fazer. Como sempre, estar de volta à Relíquia não é
um bom momento para ele, nem James e Regulus parecem estar em êxtase
com isso.

De qualquer forma, as configurações são familiares como sempre. Bem, na


maior parte. Eles estão instalados na cobertura desta vez, de acordo com
Pandora, que os leva para o elevador. É uma longa e chata subida, e Sirius faz
uma lista de verificação interna do que tudo precisa ser feito em seguida.
Acomodar-se na suíte, levar Regulus e James para se prepararem para a
entrevista, assistir à entrevista, então eles estarão livres para dormir até
amanhã.

Simples o suficiente.

"Certo, então, vocês dois estão mais do que preparados para a entrevista, e
Dorcas me garante que vocês dois ficarão lindos," Pandora tagarela enquanto
eles descem do elevador e se dirigem para a cobertura, que fica no corredor. E
165
CRIMSON RIVERS

ela está certa, James e Regulus foram preparados para esta entrevista ainda
mais do que a última, então Sirius está bastante confiante de que eles vão se
sair bem. "Depois da entrevista, vamos voltar aqui, e então o mais importante
amanhã é a festa, que será um grande evento, então vocês dois precisarão me
ouvir."

"Nós vamos ficar aqui depois da festa também?" Regulus murmura em


queixa audível. "Não podemos simplesmente sair nessa noite?"

"Não, você passa uma noite, então sai na manhã seguinte," Pandora diz
com firmeza. Ela para na frente da porta e lhes dá um sorriso. "Tudo bem,
apresse-se, não temos muito tempo."

Sirius bufa quando Pandora abre a porta e estende a mão para agarrar seu
ombro, praticamente o empurrando para dentro. Ele não pode deixar de rir
carinhosamente na direção dela antes de se virar para examinar a cobertura
com curiosidade, ele nunca a tinha visto antes, e então sua risada pega na
garganta e morre.

Todo o resto imediatamente desaparece, o mundo inteiro encolhendo-se


para o homem do outro lado da sala, parado como uma sombra perto de uma
parede com as mãos atrás das costas e sua máscara firmemente no lugar. Mas
é ele. Sirius o reconheceria em qualquer lugar. Ele não esqueceu.

Remus.

Ele está lá com a cabeça inclinada para frente, seu perfil lateral à mostra, e
os ouvidos de Sirius estão zumbindo porque ele não entende. Eles—eles não
recebem servos para isso. Eles chegam muito tarde na primeira noite e estão
tem a festa durante a maior parte do segundo dia, e eles não vão se vestir aqui
antes dos eventos, então não precisarão de ninguém para cozinhar para eles,
ou lavar suas roupas, e eles realmente não terão tempo para fazer uma
bagunça a menos que eles estejam se esforçando muito para isso, o que os
faria parecer ruins, então é claro que ninguém faria isso, e—e—

"Surpresa," Pandora diz suavemente atrás dele.

Ao som de sua voz, a cabeça de Remus levanta e gira, e Sirius inala


profundamente ao ver uma cicatriz em seu rosto em uma linha diagonal
irregular acima de sua máscara e desaparecendo sob ela. Seus olhos se

166
ZEPPAZARIEL

encontram, e Sirius sente aquela guinada em seu centro, o mundo inteiro se


inclinando em seu eixo.

Lentamente, Remus dá um passo à frente e levanta a mão para soltar a


máscara, tirando-a enquanto respira fundo. Ele nunca desvia o olhar de Sirius,
e o que ele diz—a primeira coisa que ele diz—é um suave e ofegante, "Oi,
amor."

167
CRIMSON RIVERS

36
A CARTA

Remus mal consegue respirar novamente antes que Sirius esteja se jogando
pela sala em velocidades que seriam alarmantes em qualquer outra
circunstância. A máscara cai no chão segundos antes de Sirius estar em cima
dele, e é como se eles tivessem treinado, o jeito que Sirius genuinamente se
lança direto nos braços de Remus, com as pernas em volta dele, e Remus o
pega sem nem mesmo tropeçar.

Faz tanto tempo. Oh, aí está você, aqui está você, oi, o coração de Remus pulsa,
uma pulsação constante de alívio que inunda suas veias. Por mais que ele
tentasse se agarrar às memórias de como era ter Sirius em seus braços, não se
comparava com a realidade. Nada se compara a isso, ao calor dele, ao peso
dele, como ele cheira, sente e respira.

As mãos de Sirius voam para emoldurar seu rosto, segurando-o ali, e então
ele está literalmente apenas soltando beijos por todo o rosto de Remus com
um entusiasmo inegável. Ele beija a testa de Remus, suas bochechas, seu nariz,
acima e abaixo de cada olho, até a cicatriz. Se isso o incomoda, ele não mostra
sinais disso, apenas beijando o comprimento de onde começa no canto
interno da sobrancelha esquerda e se arrasta sobre o nariz, parando no canto

168
ZEPPAZARIEL

direito do lábio superior. Quando Sirius chega ao fim, ele beija cada canto da
boca de Remus, então nos lábios, forte, contundente e rápido, afastando-se
para falar.

"Oi," Sirius engasga, então imediatamente o beija de novo, e Remus não


está facilitando para ele com a forma como ele está abrindo um sorriso; seu
primeiro sorriso em seis meses. "Oh, oi. Eu senti sua falta, Remus. Eu senti
tanto a sua falta."

"Eu—" Remus começa, mas não consegue terminar.

"Cale a boca, não fale comigo, eu estou tão feliz por você estar aqui," Sirius
declara sem fôlego, seus olhos brilhando. "Oh, a lua está com tanta inveja de
você. Você está aqui. Você está—oi, você está aqui."

Mais uma vez, Remus tenta falar com sua risada borbulhante, sentindo-se
ridiculamente excitado e tonto, mas Sirius o interrompe mais uma vez, com
um beijo novamente. Desta vez, Sirius o beija uma, duas, uma terceira vez, e
então ele não se afasta. O beijo de boca fechada se transforma em boca
aberta, e Sirius faz um barulho verdadeiramente indecente (e alto) enquanto
balança nos braços de Remus, chacoalhando como se estivesse prestes a
desmoronar.

Remus o segura firmemente e se vira para sair imediatamente, o que


provavelmente é um pouco rude, considerando que os outros estão aqui e
podem querer cumprimentá-lo, mas ele honestamente não consegue se
importar com isso agora.

Não, em vez disso, ele tropeça pelo corredor para encontrar a primeira
porta que encontra, decidindo que só vai ter que ser o quarto de Sirius, porque
ele não vai perder tempo para ir mais longe. Ele abre a porta e a chuta com o
pé enquanto entra, os dedos trêmulos de Sirius deslizando em seu cabelo.

A cama felizmente não está longe, e Remus não perde tempo em levá-los
até ela. Ele é cuidadoso, abaixando Sirius com cuidado, como se ele fosse
precioso, porque ele é. Oh, ele é. Remus também está tremendo, mal
conseguindo entender que isso é real, que isso está realmente acontecendo,
não apenas um sonho.

169
CRIMSON RIVERS

Por um longo tempo, eles literalmente deitam lá e se beijam como se isso


fosse tudo o que eles fariam, como se isso fosse mais importante do que
oxigênio. Sirius está com os braços apertados ao redor dos ombros de Remus,
dedos emaranhados em seu cabelo, e Remus não está conseguindo muito mais
do que embalar a bochecha de Sirius com uma mão enquanto a outra segura
sua perna do lado de fora de onde ele está entre as coxas abertas de Sirius,
seus joelhos batendo nos quadris de Remus.

No momento em que eles se separam para tomar um pouco de ar, Sirius


começa a lutar freneticamente com seu casaco, seu peito arfando, o rosto
corado de um jeito que faz o sangue de Remus cantar de alegria. Porque Sirius
parece estar genuinamente lutando, Remus se levanta e faz o seu melhor para
ajudar, talvez um pouco apressado também. Ele praticamente tira o casaco de
Sirius e o arremessa um pouco. Um envelope cai na cama, mas Remus apenas
o pega e o joga pelo quarto descuidadamente com um movimento suave de
seu pulso.

"Espere," Sirius deixa escapar, olhos esbugalhados. "Espere, isso é


importante, Remus. Para onde foi? Eu tenho que—"

"Pode esperar?" Remus interrompe, estendendo a mão para empurrar os


dedos no cabelo de Sirius, sua respiração falhando. É tão suave quanto ele se
lembra, tão suave e tão adorável.

Sirius morde o lábio, e o olhar de Remus se concentra nele. "Eu—bem,


nós realmente não deveríamos esperar, e eu sou uma pessoa terrível por
sequer considerar isso, mas tecnicamente—"

"É o bastante para mim," Remus declara, porque realmente é, e ele


mergulha de volta para beijar Sirius novamente, sabendo que nada poderia ser
mais importante que isso, do que Sirius.

"Oh, porra," Sirius murmura contra sua boca, soltando um ruído


engasgado no fundo de sua garganta, e Remus sabe o momento em que ele
cedeu e decidiu que todo o resto pode esperar, na verdade, porque ele
legitimamente estremece e se aproxima ansiosamente.

Em um movimento que Remus não vê, Sirius os rola abruptamente,


empurrando-se para cima e praticamente jogando Remus de costas na cama.

170
ZEPPAZARIEL

Remus pisca, reconhecidamente um pouco atordoado, mas ele não está


reclamando. Na verdade, ele está bastante satisfeito.

Sirius não vacila, não mostra nenhum sinal de constrangimento sobre


essencialmente assumir o comando, por assim dizer. Ele parece singularmente
focado em ter o que quer—que, neste cenário, acaba sendo Remus—e Remus
está mais do que feliz em dar a ele. Ele passa suas mãos por todo Sirius, seus
braços e peito e coxas onde ele monta nos quadris de Remus, observando-o
com olhos semicerrados, deixando-o fazer o que quiser.

Eles estão um pouco limitados em recursos sexuais no momento, mas


Remus sabe que isso dificilmente impediu alguém antes, porque há inúmeras
outras coisas para fazer. Sirius parece estar na mesma opinião a este respeito,
porque o que ele aparentemente quer envolve beijar seu caminho quase
freneticamente pela garganta de Remus, seu peito e estômago através de sua
camisa, indo cada vez mais para baixo enquanto puxa o cinto de Remus.

Remus fecha os olhos e enterra a mão no cabelo de Sirius.

~•~

"Bem, isso está indo bem," Pandora declara brilhantemente, radiante


enquanto os gemidos abafados do corredor derivam para a sala silenciosa.

Surpreendentemente, é Regulus quem olha para ela e diz, bem baixinho,


"Nós não merecemos você, Pandora."

James está de acordo, e para provar isso, ele estende a mão para pegar a
mão dela, dando um beijo sorridente na parte de trás de seus dedos. Ela
parece tão satisfeita, tão tocada, com os olhos marejados enquanto sorri
brilhantemente. "Isso foi uma coisa muito gentil de se fazer, de verdade.
Regulus está certo. Nós não merecemos você."

"Obrigada," Pandora sussurra.

"Eu pensei que conseguir um servo não era... permitido?" James pergunta
enquanto aperta a mão dela antes de soltá-la.

Pandora ri. "Bem, os servos só podem sair durante as tarefas, e quando eu


verifiquei a lista, ele realmente estava na fila para os servos que estarão
trabalhando na festa amanhã. Isso funcionou a meu favor, porque eu posso
171
CRIMSON RIVERS

ter mentido um pouco e ter dito que Sirius não está se sentindo bem, então ele
precisa de cuidados, e então eu casualmente sugeri que eles nos enviassem o
servo que tínhamos antes para lidar com isso. De qualquer forma, ele está
tecnicamente se sentindo mal—Sirius, quero dizer, então ele não vai se juntar
a nós para a entrevista e tudo mais. Eu meio que imaginei que ele se distrairia
com Remus no momento em que o visse de qualquer maneira."

"Ah, brilhante," James gorjeia. "Você é brilhante."

"Vocês dois não se importam, não é?" Pandora pergunta cautelosamente.


"Que eu meio que o excluí de hoje, quero dizer. Eu sei que faz vocês se
sentirem melhor por tê-lo por perto, mas eu pensei..."

"Nós podemos deixar Sirius ter algum tempo para si mesmo pelo menos
uma vez," Regulus murmura, o que é bastante maduro da parte dele, James
pensa. "Nós não nos importamos. Está tudo bem, Pandora. Bom, até."

Pandora se anima. "Adorável. Então devemos ir, eu suponho. Vamos


deixá-los com isso."

Uma batida depois, um gemido quebrado e os sons desconexos de Remus


xingando uma tempestade chegam até eles fracamente, e James não pode
evitar a forma como uma risada se acumula na boca de seu estômago, subindo
por ele até seus ombros ficarem tremendo. As sobrancelhas de Pandora se
erguem e o nariz de Regulus se enruga de maneira adorável. Todos eles saem
rapidamente da sala, deixando Sirius e Remus lá.

No caminho, James olha para trás com um sorriso, desejando internamente


a Sirius todas as coisas boas, porque ninguém as merece mais.

~•~

Remus está bastante convencido de que a boca de Sirius é capaz de magia,


e não há absolutamente nenhuma evidência para apoiar o contrário, porque
ele viu Sirius encantar as pessoas com algumas palavras simples, e isso—bem,
ele nem precisou falar para deixar o cérebro de Remus vazando de seus
ouvidos.

É estranho, porque Remus teve pessoas fazendo isso com ele que
certamente eram mais experientes, mas ele ainda está muito certo de que ele

172
ZEPPAZARIEL

nunca esteve melhor. Um tema comum com Sirius é que o que lhe falta em
experiência, ele compensa em entusiasmo, especialmente quando ele está
focado no que quer que esteja fazendo.

Remus desaba contra a cama e tenta recuperar o fôlego, meio flácido


enquanto Sirius fecha o zíper das calças de Remus e rasteja pelo comprimento
de seu corpo para olhar para ele, pairando acima. Por alguma razão, o cérebro
de Remus não consegue entender por que Sirius parece tão tímido agora. Não,
esta é a hora que Sirius deveria estar se sentindo muito presunçoso. Em vez
disso, ele está corando e olhando para Remus com cautela, como se estivesse
esperando uma crítica ruim ou algo assim.

No momento em que Remus o alcança, assim que ele se recupera o


suficiente para lembrar a importância da reciprocidade, Sirius se inclina para
trás e balança a cabeça.

Remus pisca. "Não?"

"Não, eu..." Sirius limpa a garganta. "Quero dizer, obrigado, de verdade,


mas eu realmente não quero... isso, agora. Eu só—eu queria fazer o que fiz,
mas eu—bem, eu realmente gostaria de ser abraçado e beijado, se estiver tudo
bem."

"Se você tem certeza," Remus murmura. "Eu só pensei, porque você
está—bem, eu posso sentir que você está—"

O rosto de Sirius brilha ainda mais. "Sim, ignore isso, isso vai passar. É—
quero dizer, apenas uma coisa do corpo, mas eu não quero—"

"Claro," Remus diz simplesmente, abrindo os braços sem perder o ritmo,


reprimindo mais um gemido de alívio quando Sirius afunda em seu lado e se
aconchega nele. "Você não precisa explicar, Sirius. Está tudo bem. E—e eu
espero que isso seja óbvio, mas você não precisava—"

"Não, não, eu sei, mas eu queria," Sirius o assegura rapidamente, mudando


para inclinar a cabeça para que eles fiquem olhando um para o outro. Ele
ainda está muito vermelho, mas Remus tem certeza de que é porque ele está
dizendo a verdade. Oh, ele realmente queria. "Eu definitivamente—hum,
suponho que foi... para mim também. Para você—foi bom?"

173
CRIMSON RIVERS

Remus não pode evitar. Ele bufa uma risada suave e estende a mão para
colocar a mão em volta do pescoço de Sirius, puxando-o para dar um beijo
entre suas sobrancelhas, onde estão enrugadas com incerteza. "Confie em
mim, foi adorável."

Sirius parece relaxar de uma vez, se acomodando com um zumbido


enquanto cai estranhamente quieto, estudando o rosto de Remus com
intensidade focada. Remus está igualmente quieto, impotente para se impedir
de observar Sirius, faminto por cada segundo em que consegue traçar as
feições de Sirius com o olhar. A cor desbotada em suas bochechas; o arco
aristocrático natural em suas sobrancelhas; os cílios escuros emoldurando seus
olhos brilhantes, mas suaves; o lindo conjunto de sua boca, as linhas
inclinadas perpetuamente nos cantos como se ele estivesse sempre a segundos
de abrir um sorriso, seu lábio inferior um pouco mais carnudo que o superior,
ambos igualmente mordíveis.

Sirius estende a mão e cuidadosamente desliza as pontas dos dedos sobre a


cicatriz no rosto de Remus, sussurrando, "Isso é novo."

"Sim," Remus confirma, no caso de Sirius estar preocupado que ele tenha
esquecido, mesmo que não soe como se ele estivesse incerto.

"Isso aconteceu em Azkaban?" Sirius murmura.

Remus fecha os olhos, cantarolando baixinho e apenas sentindo a carícia


de Sirius. "Sim. Eles, ah... Bem, eu tenho certeza que era algo a ver com os
próximos jogos, ou talvez apenas uma coisa medicinal. Os servos são
frequentemente usados como cobaias; eu era apenas o idiota azarado que foi
escolhido no dia."

"Eles torturaram você," Sirius diz suavemente, mas há um tom em sua voz,
e quando Remus abre os olhos, os de Sirius estão afiados e brilhando de raiva.

"Eu fui levado para o nível mais baixo e injetado com algo, feito para inalar
outra coisa, e—bem, eu estava um pouco fora de mim por causa da dor,
honestamente, então eu quebrei as amarras na minha cabeça e bati na bandeja
ao lado da cadeira com o meu rosto." Remus examina o rosto de Sirius, sua
boca seca com a raiva fria crescendo mais brilhante em seu olhar. Eu quase
morri, ele não diz. Ele não quer que Sirius saiba disso, que fique perturbado
com isso. As próximas palavras que saem de sua boca são uma mentira

174
ZEPPAZARIEL

descarada, mas são dadas com o conforto de Sirius em mente. "Eu realmente
não me lembro da maior parte."

A garganta de Sirius sobe e desce em um gole áspero. "Eu sinto muito."

"É o que é. Apenas mais uma cratera entre muitas," Remus murmura,
oferecendo a Sirius um pequeno sorriso. "Eu me lembro de você dizer algo
sobre a lua estar com inveja de mim..."

"Oh, a lua está com muita inveja de você," Sirius declara, abrindo aquele
sorriso dele, aquele que instantaneamente rouba o fôlego de Remus porque
faz muito tempo que ele não o vê. "A lua é linda, não me entenda mal, mas
não é nada como você."

"Você gosta da minha nova cratera, então?" Remus provoca.

"Eu não gosto de como você conseguiu, mas você só é mais glorioso por
isso." Sirius sorri ainda mais quando Remus começa a rir, balançando a cabeça
incrédulo. "Não, eu não estou brincando! É sério, é sexy. Faz você parecer...
vulgar."

"Vulgar?"

"Mas faz!"

"De todas as palavras," Remus engasga.

"Libertino, então," Sirius diz. "Rude. Travesso. Patife."

"Patife."

"Mhm. Absolutamente. Eu mantenho isso."

Os lábios de Remus se curvam. "Bem, se você diz isso, deve ser verdade,
então. Sou eu. Remus, seu patife regular."

"Remus, o rude. Remus, o libertino. Remus, o patife."

"Você está tão entretido com isso."

Sirius solta uma risada trêmula e se aproxima dele, deslizando sua mão para
cima e para baixo na lateral do pescoço de Remus. "Eu quase não sei como
175
CRIMSON RIVERS

agir. Eu pensei—eu não esperava—eu não estava preparado para você, mas
eu também não estava na primeira vez, então agora eu suponho que eu estou
muito tonto para ser alguma coisa além de bobo. Eu estou apenas—eu estou
muito, muito feliz por você estar aqui."

"Você tem que agradecer a Pandora por isso," Remus diz com carinho.

"Ela é absolutamente—" Sirius congela abruptamente, e então seus olhos


se arregalam antes que ele engasgue e se jogue na cama, lutando para se
levantar. "Merda, merda, merda—"

"Sirius?"

"Porra!"

"Sirius," Remus chama, mais alto dessa vez, mas Sirius ainda está preso em
uma série de maldições, repreendendo-se enquanto mergulha para a porta.
Remus suspira e se levanta para segui-lo.

"Oh, eu estou atrasado. Eu estou muito atrasado," Sirius está gemendo na


sala principal, quando Remus o alcança, uma bagunça desgastada que enche
Remus com tanto carinho que ele só consegue sorrir. "Eu nem estava
pensando—eu realmente esqueci—oh, Remus, a entrevista, como eu esqueci
completamente a porra—"

"Sirius—"

"Eles já foram. Eles simplesmente—foram. Porra. Eu tenho que—"

Remus dá um passo à frente e estende a mão para agarrar Sirius pelos


ombros, parando-o, então deslizando as mãos para apertar as bochechas de
Sirius, fazendo seus lábios franzirem. Ele pisca, sobrancelhas dobradas, tão
insuportavelmente adorável que Remus só consegue mergulhar e roubar um
beijo rápido. Sirius se inclina para ele, mas Remus não o arrasta além de um
pequeno beijo.

"Respire," Remus ordena gentilmente, e Sirius o faz. "Relaxe. Os outros


podem fazer uma entrevista sem você. Eles vão ficar bem. Tenho certeza que
se eles precisassem de você, eles teriam esperado, e é claro que eles não
fizeram isso porque eles queriam te dar tempo para ter uma pausa. E me ver."

176
ZEPPAZARIEL

"Mas James e Regulus se sentem melhor quando eu estou lá," Sirius


protesta fracamente.

"Sim, eles se sentem, mas eu aposto que eles vão se sentir melhor sabendo
que você está tirando algum tempo para você. Pandora está com eles. Ela vai
se certificar de que eles estão bem," Remus o assegura.

"Eu—" Sirius visivelmente hesita, olhando para a porta antes de olhar de


volta para Remus, mordendo o lábio. "Sim, eles—eles provavelmente não vão
se importar, certo? Pandora sabe o que está fazendo."

Remus ri. "Exatamente."

"Desculpe," Sirius murmura, esvaziando completamente. "Eu não estou


tentando fugir e deixar você. Eu deveria estar te dando—" Ele para de
repente, e em uma imitação de alguns momentos antes, seus olhos se
arregalam quando outro suspiro sai de seus lábios. Ele se abaixa para pegar a
mão de Remus, e então ele está em movimento, arrastando Remus atrás dele.
"Eu não posso acreditar que eu esqueci!"

Remus não poderia estar mais apaixonado se tentasse.

"O que é agora?" Remus pergunta com afeição crescente quando eles
chegam ao quarto e Sirius deixa cair a mão para dar uma volta com toda a
sutileza de um tornado, freneticamente procurando por algo.

"Eu só—oh! Aha, aí está você!" Sirius anuncia em deleite, descuidadamente


jogando seu casaco de lado e pegando o envelope que Remus jogou do outro
lado da sala mais cedo. Remus ergue as sobrancelhas enquanto Sirius se vira
em direção a ele, olhos brilhantes, peito arfando. "Ok, sente-se. Agora."

"Estou sentado," Remus diz, uma vez que ele está realmente empoleirado
na beirada da cama, observando Sirius com curiosidade. "O que é isso?"

Sirius vem se afundar ao lado dele, respirando fundo. "Eu—eu tenho algo
para você. Eu não pensei que iria dar para você até—bem, eu pensei que
levaria mais seis meses, mas não há necessidade de esperar agora."

"Tudo bem," Remus reflete, olhando rapidamente para o envelope, então


de volta para cima. Tudo o que ele consegue pensar é que Sirius lhe escreveu
uma carta nos últimos seis meses.
177
CRIMSON RIVERS

"Eu nem sei por onde começar a explicar," Sirius murmura.

"Uh huh." Remus bufa. "Oh, vamos lá, fale logo."

"Eu..." Sirius engole, então solta uma respiração profunda e se senta um


pouco mais ereto. "Eu conheci o seu pai."

Remus congela, seu sorriso desaparece enquanto seu coração parece dar
um chute forte em seu peito. Sirius o observa de perto, e Remus sente uma
gota fria de medo deslizar por sua espinha. "Você o quê? Você conheceu
ele? Como? Você—você não sabe de que distrito eu sou."

"Doze," Sirius diz baixinho. "Você sabe como funciona a turnê da vitória,
Remus. Eu o conheci no primeiro dia quando nós—"

"Mas de jeito nenhum você poderia saber, Sirius, a não ser que você—você
tenha perguntado por aí para descobrir, e você não pode fazer isso. Você não
pode—isso chama a atenção para ele; isso coloca ele em perigo!" Remus
explode, seu coração martelando em seu peito. "Eu propositalmente não te
disse de qual distrito eu era—"

"Sim, você propositalmente não me contou muitas coisas," Sirius


interrompe friamente, seu olhar afiado o suficiente para que Remus
instintivamente feche a boca, o pavor afundando em suas entranhas como
uma pedra.

"Sirius," resmunga Remus.

Com o maxilar cerrado, Sirius balança a cabeça bruscamente. "Não. Não.


Agora não. Apenas—olhe, eu não saí por aí perguntando sobre você ou seu
pai, Remus, eu prometo. No escritório do prefeito, havia uma foto do seu pai,
e você parece um pouco como ele, então foi assim que eu soube. Eu perguntei
a algumas pessoas no distrito para obter informações, mas eu fui muito
discreto, então ninguém pensou muito nisso."

"Você não perguntou a ninguém na Relíquia?" Remus verifica.

"Não, eu não sou tão fodidamente estúpido, obrigado," Sirius retruca.

Remus faz uma careta. "Eu não estava—"

178
ZEPPAZARIEL

"Eu conheci o seu pai," Sirius continua, sua voz perdendo o tom a cada
palavra dita. "À propósito, ele é um homem adorável. Nós conversamos um
pouco e eu me ofereci para te trazer uma carta dele."

"Não," Remus sussurra, seu olhar caindo para o envelope enquanto um nó


se forma em sua garganta. "Isso—isso não é uma carta dele. Ele não me
escreveu uma carta. Ele não escreveria."

"Remus—"

"Não, Sirius, você—você não entende. Meu pai nunca correria esse risco,
especialmente não por—"

"Mas ele fez," Sirius diz a ele, sua voz suavizando, provavelmente devido
ao fato de que Remus acabou de engasgar com suas palavras. "Ele te escreveu
uma carta, essa carta, e se arriscou por você. Ele te ama, Remus, muito."

Os ombros de Remus se torcem quando ele engasga com uma respiração


áspera, seus olhos ardendo quando ele abaixa a cabeça. É preciso tudo nele
para não começar a chorar imediatamente, e uma parte dele ainda não
entende, não acredita totalmente nisso. Lyall nunca fez, nunca faria nada que
desafiasse a Relíquia. Não por lealdade, mas por autopreservação, e ele passou
anos tentando fazer com que Remus fizesse o mesmo para sua própria
segurança.

"Remus," Sirius sussurra, "Pegue."

"Eu—eu—" Remus engole com dificuldade, piscando as lágrimas


enquanto levanta a cabeça. Sirius o observa com muita compaixão,
estendendo a carta. Os dedos de Remus tremem quando ele estende a mão
para pegá-la. "É mesmo ele?"

"É. Eu prometo," Sirius murmura.

Remus olha para o envelope, virando-o lentamente em suas mãos. Uma


batida depois, ele olha para cima. "Você não abriu."

"Claro que não," Sirius responde, franzindo a testa. "É sua."

179
CRIMSON RIVERS

Eu te amo, Remus pensa, e ele quase deixa escapar, apenas se contendo


porque ele tem a sensação de que há muito sobre o que eles precisam falar
antes que o amor apareça na conversa.

Ele ama Sirius, no entanto. Ama ele muito, com cada osso desafiador em
seu corpo. Esse homem, que nem percebe a importância do que acabou de
fazer, dando a Remus um envelope fechado. Remus, que não possui nada.
Remus, que não tem nada. Remus, que não tem privacidade ou liberdade para
nada disso, para nada.

"Obrigado," Remus engasga.

Sirius lhe dá um sorriso vacilante e se inclina para beijá-lo na bochecha,


apertando seu braço gentilmente antes de se levantar. "Sabe, seu pai foi
escrever essa carta sozinho, então acho que é justo que você a leia sozinho.
Vou sair e fazer um chá para nós. Você pode vir quando estiver pronto, sim?
A não ser que você prefira que eu fique?"

É claro que Sirius lhe dá opções. É claro. "Não, eu—eu estarei lá em


breve," Remus diz. "Hum, só um pouco de leite e dois açúcares para o meu
chá, se você não se importa."

"Eu me lembro," Sirius diz a ele, dando-lhe um sorriso rápido, e então ele
sai e fecha a porta suavemente atrás dele.

Remus o encara por um longo tempo depois que ele sai, apenas respirando,
e então ele olha para o envelope. Uma parte dele quer rasgá-lo freneticamente
e devorar as palavras em um instante, mas uma parte muito maior quer ir
devagar, saborear cada traço de tinta no papel.

Para alguém que não tinha nada para reivindicar genuinamente como seu,
além da própria máscara que simboliza cada restrição da qual ele nunca
escapará, essa carta significa o mundo. Remus é tão cuidadoso ao abri-la,
recusando-se a causar o menor rasgo no envelope, muito menos na carta.
Quando ele puxa e abre, ele faz devagar, delicadamente, como se pudesse se
transformar em cinzas a qualquer momento.

Meu filho, a carta começa, e é só isso. As duas primeiras palavras, e Remus


já tem lágrimas escorrendo de seus olhos.

180
ZEPPAZARIEL

Eu espero que esta carta o encontre como aquele que a entregou me garantiu que vai. Eu
gostaria que esta carta fosse longa e cheia de todas as incontáveis coisas que eu gostaria
desesperadamente de poder lhe dizer, mas acho que a brevidade nos serviria muito bem.
Para ser honesto com você, temo que nenhuma palavra que eu pudesse escrever expressaria
adequadamente o quanto sinto sua falta todos os dias, nem forneceria um resumo adequado
do amor e da preocupação que sinto toda vez que você passa pela minha mente. Tenho
orgulho de admitir, como pai, que não passa um dia sem que eu pense em você. Dias
pensando em nossa última briga me ensinaram muitas coisas sobre arrependimento, e eu
quero lhe dizer agora que o único arrependimento que eu realmente tenho é de não
assegurar à você, mesmo em nossas diferenças, que eu sempre o amaria e o apoiaria em
qualquer coisa. Se você duvida de mais alguma coisa, não duvide disso, porque eu
sempre amarei você, não importa o que aconteça; Sempre terei orgulho de chamar você de
meu filho. Eu também só posso ser grato por saber que você encontrou a felicidade
possivelmente no último lugar em que eu poderia esperar que ela existisse, então sorria, ria e
ame, e nunca pare, nunca mude quem você é, por ninguém.

Remus dobra a carta e chora tanto que seu estômago se contrai; soluços
profundos e ofegantes saem dele enquanto ele embala o papel no peito e sente
falta de seu pai como uma criança pequena.

Já faz anos desde que ele se permitiu pensar em Lyall, sentir falta dele, e
isso o está atingindo de uma vez. Ele manteve isso a distância, como se isso
provasse algo, como se caso ele não se deixasse se sentir assim, significava que
ele não estava olhando para o passado, para quem ele estava determinado a
ser, com arrependimento. Ainda orgulhoso demais para estar errado,
orgulhoso demais para admitir que talvez, apenas talvez, ele gostaria de poder
voltar e fazer tudo de forma muito diferente.

Porque admitir isso—encarar isso—não pode mudar nada agora. É tarde


demais. Ele já está aqui e nunca mais verá seu pai. Ele nunca vai conseguir ir
para casa.

Quando Remus era muito jovem, Lyall costumava embalar para Remus seu
almoço para a escola todos os dias, e todos os dias, ele deixava um pequeno
bilhete para ele ler. Apenas três frases por dia, apenas três, porque eles criaram
um pequeno código entre elas. Cada segunda palavra em uma frase compunha
uma mensagem secreta. Todos os dias, essa mensagem secreta era eu te amo.

181
CRIMSON RIVERS

Lentamente, Remus se desdobra e lê a carta de novo, mais devagar,


observando a segunda palavra em cada frase, e no final, ele tem que se dobrar
para frente e chorar novamente enquanto a mensagem secreta ecoa em sua
cabeça e em seu coração.

Hope ficaria orgulhosa de você também.

~•~

Sirius tem uma estranha sensação de déjà-vu quando Remus entra na


cozinha, porque por um momento, tudo o que ele consegue pensar é em
como Lyall ficou depois de escrever a carta. Remus também claramente
chorou por isso, e é óbvio para Sirius que ele não quer reconhecer esse fato,
assim como seu pai.

Há também outra fonte de deja-vu, que vem de ver Remus entrar na


cozinha, como ele já viu muitas vezes antes, apenas seis meses atrás. Sirius
ainda está maravilhado com o fato dele estar aqui; ele está realmente, de
verdade, aqui. Isso supera todo o resto, todas as perguntas batendo em sua
cabeça, todas as incontáveis coisas que Sirius quer falar com Remus.
Genuinamente, parece que tudo o que ele pode realmente fazer é apenas olhar
para Remus e se surpreender por ele estar aqui.

Dois dias atrás, Sirius descobriu que Remus matou pessoas, e de alguma
forma isso parece muito trivial quando Remus está ao seu alcance. Não é uma
coisa trivial, ou talvez não devesse ser, mas Sirius não consegue encontrar
dentro de si mesmo algo para fazer disso uma prioridade. Basicamente, todos
que Sirius conhece são assassinos, então, na verdade, isso não o incomoda
muito.

Claro, Sirius tem um nível fervente de raiva borbulhando dentro dele,


inúmeras perguntas, e uma necessidade crescente de ter certeza de que Remus
sabe que Sirius está bravo com ele. É só que... Bem, há muitas camadas em
sua raiva, então ele nem sabe por onde começar, e Remus o olha um pouco
cauteloso como se ele estivesse captando todas essas camadas, cada uma.

"Eu sinto que estou com problemas," Remus murmura enquanto se


aproxima do balcão, parando a alguns passos de Sirius, claramente debatendo
se seria ou não uma boa ideia se aproximar neste momento em particular. Ele
escolhe ficar exatamente onde está, o que é uma decisão sábia.

182
ZEPPAZARIEL

Sirius empurra sua xícara de chá para Remus e diz, "Oh, você está, mas
isso pode esperar. Primeiro, você está bem?"

"Eu estou—sim, eu—" Remus luta por um momento, sua garganta


balançando, e então ele exala explosivamente e olha para ele com olhos suaves
cheios de algo quente e adorável que reconhecidamente enfraquece Sirius um
pouco. "Eu não posso nem começar a agradecer pelo que você fez, Sirius.
Você—você não tem ideia do quanto isso significa para mim. Eu—obrigado.
Apenas. Obrigado."

"Você não precisa me agradecer," Sirius murmura. "Eu queria fazer isso,
Remus. Você merece isso e muito mais. Isso é tudo que eu podia fazer, então
foi o que eu fiz."

"Você é o homem mais atencioso que eu já conheci," Remus sussurra,


olhando para sua xícara de chá, mas ele não a levanta. "Eu não vou mentir,
isso me faz sentir muito pior sobre o fato de que eu estou com problemas no
momento."

"Você tem certeza que quer falar sobre isso agora?" Sirius pergunta,
incapaz de manter o tom afiado fora de sua voz.

Remus respira fundo, então sopra e olha para Sirius. "O que eu fiz?"

"Você me diz," Sirius retruca.

"Sim, eu estava preocupado que você dissesse isso." Os olhos de Remus se


fecham, e ele se vira para se recostar no balcão, esfregando as mãos no rosto.
Quando ele abaixa as mãos, ele abre os olhos e encara a parede. "Eu pensei
que você tinha dito que não dava a mínima para qual era o meu crime, e que
eu não precisava te contar."

"Seu idiota passivo agressivo," Sirius sussurra, derrubando seu chá. "Não se
atreva a virar isso para mim. Eu nunca exigi nenhuma maldita coisa de você."

"Sério? Porque você está bastante chateado por não conseguir algo de
alguém que você não esperava nada," Remus retruca, cruzando os braços.

Sirius pode sentir seu sangue começando a ferver. "Talvez eu esteja


chateado porque você não sentiu que era importante mencionar nada antes
de me foder."
183
CRIMSON RIVERS

"O que isso tem a ver com isso?" Remus pergunta incrédulo. "Meu
crime—o que, você está dizendo que eu não tenho permissão para fazer sexo
só porque eu—" Ele para, piscando, e então olha para Sirius. "Espere, isso é
parte da razão pela qual você luta para se permitir aceitar o prazer, mesmo que
literalmente não tenha sido sua culpa? Sirius—"

"Não me dê um maldito sermão agora!" Sirius explode, levantando ambas


as mãos e batendo-as ao redor. "Eu não sei todas as razões, mas essa é
provavelmente uma delas. E—e isso não importa, de qualquer maneira,
porque minha aceitação do prazer é totalmente separada do meu desejo
sexual; são dois tópicos diferentes, e nós não estamos falando sobre nenhum
dos dois agora."

"Do que nós estamos falando?" Remus pergunta sarcasticamente. "Se eu


for honesto, não está muito claro."

"Sabe de uma coisa?" Sirius bufa uma risada fraca e balança a cabeça,
passando a língua pelos dentes. "Não importa. Esqueça isso; me conhecendo,
eu provavelmente vou esquecer de qualquer maneira."

No momento em que Sirius começa a se virar (e se afasta em um ataque


dramático), Remus geme e chama, "Espere. Apenas—ok, espere, me desculpe.
Venha aqui. Não vá embora."

"Se você não vai ter a porra de uma conversa—"

"Não. Não, eu vou. Eu prometo que eu vou. Eu só—eu não—"

"Você quer saber por que é tão perturbador?" Sirius pergunta, virando-se,
os lábios pressionados em uma linha fina. "Não é porque eu secretamente quis
saber. Eu não fui até a casa do seu pai esperando descobrir o que você fez; eu
fui só para poder fazer algo por você, e por ele. Foi isso. Ele foi quem deixou
escapar. Eu não perguntei, e então eu não deixei ele explicar mais, porque eu
queria ouvir de você. E sim, isso tem a ver com sexo—não minha aceitação
de prazer, mas sexo. Porque eu preciso de confiança para fazer sexo, Remus.
Não apenas eu confiando em você, mas você confiando em mim, e parece que
eu me enganei pensando que isso estava lá, mas acontece que não estava."

"O que?" Remus rosna. "Não, estava. Eu—eu não escondi isso de você
por desconfiança, Sirius. Não foi isso."

184
ZEPPAZARIEL

"Tem certeza?" Sirius desafia. "Porque quando eu estava diante de você e


te contei sobre como eu me sentia sendo um assassino, você não disse uma
palavra. E eu não tive escolha, Remus. Eu não decidi esconder isso de você,
ou de qualquer um, porque foi ao vivo para o mundo inteiro ver. Você sabia
disso sobre mim desde o início, tudo, tudo isso. O que eu sabia sobre você?
Hm? O nome da sua mãe e do seu pai. O nome da sua melhor amiga. Alguns
pequenos detalhes aqui e ali, mas foi isso, e você sabe tudo sobre mim."

"Então, você esperava mais de mim," Remus sussurra.

Sirius sente que está prestes a arrancar o cabelo. "Não! Não é isso que eu
estou dizendo. Você não tem que me dar nada, nunca. Eu não pedi nada, ou
pressionei você, nem uma vez. Mas isso não significa que você é
completamente inocente nisso. Você sabe muito dos meus problemas,
especialmente em torno do sexo, e eu estou chateado porque você—você
deixou acontecer sabendo que a confiança não era uma troca igual, e isso não
é justo. Eu estou chateado porque eu confiei você, e eu não sei se eu posso
mais."

"Eu te disse, não era desconfiança, não para mim. Eu—eu não vi dessa
maneira, então eu nem pensei nisso assim. Se eu suspeitasse que isso iria te
machucar, eu nunca teria permitido que isso acontecesse, Sirius, você tem que
saber disso. Eu preciso que você saiba disso," Remus diz a ele com
sinceridade, quase desesperadamente. "Eu juro para você, eu confio em você
mais do que confio em mim mesmo, honestamente."

"Então—então o que foi?" Sirius pergunta, completamente perdido,


confuso agora porque ele realmente não entende.

Remus engole em seco e joga a cabeça para trás, piscando com força e
revirando a mandíbula. Sua voz está cheia de emoção quando ele começa a
falar. "Sirius, eu te disse uma vez que você me vê no meu pior todos os dias, e
é verdade. Eu sou um servo. Um criminoso. Eu não tenho nada a oferecer,
nenhum lugar para ir, e literalmente nenhum valor como ser humano aos
olhos da Relíquia. Você foi a primeira pessoa a olhar para mim como se eu
valesse alguma coisa em cinco anos, e eu—eu só queria ser alguém que
merecesse isso. Eu queria—eu queria existir fora do que eu tinha feito. Eu
queria ficar livre disso."

185
CRIMSON RIVERS

"Remus," Sirius sussurra, aflito, toda a sua raiva evaporando no momento


em que clica, quando ele finalmente entende que Remus guardando isso para
si mesmo não tem nada a ver com Sirius. Realmente não era desconfiança.

"Eu nunca pensei que você olharia para mim de forma diferente, ou me
trataria de forma diferente," Remus engasga, seus olhos brilhando com
lágrimas que apertam o coração de Sirius. "Eu só gostava de ser alguém que
fosse realmente digno de você."

"Pare com isso," resmunga Sirius, empurrando-se para alcançar Remus no


momento em que Remus se curva e começa a chorar de verdade. Sirius se
estica e envolve seus braços ao redor dos ombros de Remus e abaixa sua
cabeça contra o peito de Sirius. Remus se dobra nele e chora, e Sirius o segura,
balançando-o suavemente e abaixando o rosto para pressioná-lo no cabelo de
Remus.

Por muito tempo, isso é tudo o que eles fazem. O coração de Sirius está
em frangalhos em seu peito, porque Remus chorando e ficando chateado
genuinamente o coloca em aflição instantânea. Ele esfrega as costas de Remus
e beija o lado de sua cabeça várias vezes, tentando sufocá-lo com conforto,
mas Remus parece ter muito alívio emocional que ele precisa trabalhar.

Sirius não tenta impedir, sabendo que provavelmente é sobre muitas coisas.
Seu pai, sentir falta de Sirius, a tortura que ele suportou, e possivelmente
muitas outras coisas que Sirius não sabe. Tudo bem. Sirius não precisa saber
para ter certeza de que quer cuidar de Remus através disso.

Então, ele faz, e Remus eventualmente se acalma, suas lágrimas parando


lentamente. Ele fica onde está por um tempo, e então levanta a cabeça para
engasgar, "Me desculpe, Sirius."

"Shh. Me ouça. Você está ouvindo?"

"Sim."

"Seu valor não é medido no seu passado, ou mesmo no seu presente, mas
sim em você, Remus, e você é valioso." Sirius diz suavemente. "Para mim,
para esse mundo, para quem te conhece, você é valioso."

186
ZEPPAZARIEL

A expressão de Remus desmorona novamente, sua respiração saindo dele


em mais um soluço áspero, e ele se enfia de volta nos braços de Sirius como
se nunca tivesse saído.

Sirius o segura por isso também.

~•~

Remus bebe seu chá, falhando em encontrar os olhos de Sirius no


momento. É um chá muito bom. Assim como ele gosta.

Com toda a honestidade, Remus não acha que chorou tão abertamente ou
tão forte com outro ser humano que não seja Lily. Ela é a única pessoa em
quem ele confiou para fazer isso, mas agora há Sirius também. Porque Remus
confia em Sirius. Eles construíram confiança entre eles e, apesar desse
contratempo, ele ainda acredita na base disso. Não há nada de errado em
precisar fortalecer isso, de tempos em tempos.

"Não fui só eu," Remus anuncia abruptamente, finalmente levantando o


olhar para encontrar o de Sirius. "Meu crime, quero dizer. Eu não cometi
sozinho. Lily estava lá comigo."

"Remus, pare," Sirius murmura. "Você não precisa me dizer. Eu não


deveria—quer dizer, eu também não gosto de falar sobre as coisas que eu fiz.
Eu não tenho direito a—"

"Não, está tudo bem. Eu—quero que você saiba," Remus interrompe, sua
voz grossa. "Seu nome era Fenrir Greyback, quem eu matei."

Sirius assente lentamente. "E os outros?"

"Os outros? Eu... não matei mais ninguém," Remus diz, perplexo.

"Seu pai disse pessoas. Ele disse que você matou pessoas," explica Sirius.
"Tipo no—plural."

Remus franze a testa. "Bem, eu não matei. Honestamente, eu só matei um


homem. Eu estava lá; eu saberia. Eu não estou mentindo—"

187
CRIMSON RIVERS

"Eu não estou dizendo que você está," Sirius diz a ele rapidamente,
levantando ambas as mãos em rendição. "Ele—talvez ele quis dizer Lily? Ou
talvez ele apenas... não sabia?"

"Havia—quer dizer, outras pessoas estavam perseguindo Lily, mesmo


depois que eu fui capturado, então... talvez?" Remus não pode ter certeza. Ele
nunca terá as respostas completas. "Foi—bem, foram pessoas, sim, mas
especificamente Aurores. Greyback era um Auror."

Os olhos de Sirius se arregalam. "Você matou um Auror? Remus! Isso é—"

"Loucura? Eu sei," Remus murmura. "Confie em mim, eu sei. Eles são os


executores dos distritos e literalmente as armas da Relíquia, então isso foi
loucura da nossa parte fazer, eu estou muito ciente. Não é como se nós
tivéssemos planejado isso. Nós—nós não sabíamos que chegaria a isso. Se nós
soubéssemos, talvez..."

"Remus, você realmente não precisa falar sobre isso."

"Sim, eu sei. Não é algo que eu goste de falar, mas eu acho que você
deveria saber, Sirius. Greyback implicou com meu pai por praticamente
metade da minha vida, só porque meu pai teve um dia ruim e disse algo que
ele não deveria dizer, apenas uma vez. Quando eu tinha vinte anos, a rixa
havia mudado na sua maior parte para mim."

"O que seu pai disse?"

"Bem, Greyback era uma parte da nova onda de Aurores que veio depois
que meu pai se aposentou, e você se lembra que eu disse a você que meu pai
não gostava de como eles faziam as coisas? Sim, então ele deixou isso bem
claro para Greyback, que não apreciou o sentimento."

"E você disse que a raiva mudou para você?" Sirius pergunta.

"Eu era..." Remus lambe os lábios e inclina a cabeça para o lado, bufando
uma risada suave. "Bem, eu era um pouco... falador."

"Por que eu sinto que isso está subestimando as coisas?" Sirius murmura
secamente, levantando uma sobrancelha.

188
ZEPPAZARIEL

Remus franze o rosto de brincadeira. "Sim, é, um pouco. Ah, minhas


crateras? Aquelas nas minhas costas?"

"Greyback," Sirius diz, estreitando os olhos.

"Mhm," Remus confirma.

"Só como um aparte, eu nem culpo você por matar ele. Tipo, eu já ouvi o
suficiente neste momento para não precisar de mais contexto para entender
por que o mundo está melhor sem ele."

"Sim, bem, eu vou te dar contexto de qualquer maneira."

"Tudo bem," Sirius diz calmamente, assentindo.

"Greyback vinha regularmente à minha casa e fazia suas pequenas


verificações obrigatórias, que basicamente era ele destruindo o lugar. Ele sabia
que não encontraria nada, é claro; ele adorava a desculpa de ser um idiota.
Mamãe e papai levavam isso com graça, geralmente, mas eu costumava causar
problemas. Um dia, ele apareceu na minha casa com sua equipe habitual de
Aurores, mas meus pais estavam fora. Lily estava lá. Estávamos apenas eu e
ela quando eles invadiram. Ela sabia que essas coisas aconteciam com a minha
família, mas ela nunca tinha visto antes. Greyback só nos destacou por causa
do seu ódio pelo meu pai, e depois por mim, então ela nunca experimentou
nada parecido."

"Ela estava assustada."

"Ela estava furiosa," Remus corrige com uma bufada. "Não se engane, Lily
não era uma flor. Ela era tão selvagem e imprudente quanto eu, às vezes. Nós
estávamos—eu não sei, apenas sempre na mesma onda o tempo todo.
Quando ela não estava, eu também não estava. Nós fazíamos tudo juntos, às
vezes até só—sentir."

O rosto de Sirius suaviza. "Eu sou do mesmo jeito com James."

"Sim, bem, acredite em mim—tome cuidado com isso," Remus diz


baixinho. "Talvez se um de nós fosse sensato, não teria sido como aconteceu.
Nós tínhamos dezesseis anos quando isso aconteceu. Minha mãe ainda
estava—" Ele para. Começa novamente. "De qualquer forma, Lily e eu

189
CRIMSON RIVERS

estávamos chateados e furiosos com o mundo, então nós decidimos—


encontrar uma maneira de nos livrar dele."

"Não por meios assassinos."

"Esse não era o plano original, não. Greyback era um Auror, e isso vem
com regras, todas as quais eu conhecia intimamente porque meu pai foi um
por mais de trinta anos. Eu sabia que não havia como Greyback seguir todas
as regras, porque ele simplesmente não era do tipo que faria isso. Então, nós
pretendíamos encontrar provas sólidas e entregá-las."

"Acho que isso não aconteceu," diz Sirius.

Remus suspira. "Quase. Nós encontramos a prova. Levamos três anos.


Quero dizer, parte desse tempo foi apenas—tudo em pausa depois que minha
mãe morreu, mas nunca desistimos totalmente. Eu não podia desistir disso,
especialmente porque—" Ele engole e fecha os olhos com força. "No dia em
que minha mãe morreu, eu não estava lá. Eu não estava com ela em seus
últimos momentos, porque eu estava desmaiado amarrado ao poste. Quando
alguém avisou Lily, e ela me ajudou a chegar em casa para que ela pudesse
cuidar de mim, minha mãe já tinha ido."

"Eu gostaria," Sirius murmura, baixo e perigoso, "Que você não tivesse
matado Greyback. Para que eu pudesse. Lentamente."

"Isso pode ser a coisa mais sexy que eu já ouvi você dizer," Remus o
informa, abrindo os olhos para encarar Sirius. Ele vai direto à fúria, não
parando para ter pena dele, e Remus acha isso insuportavelmente atraente,
honestamente.

"Me diga que ele morreu lentamente, pelo menos," Sirius resmunga.

"Bem, ele não morreu pacificamente, eu posso te dizer isso." Remus limpa
a garganta. "Depois de três anos, Lily e eu finalmente encontramos a prova
que estávamos procurando. Prova sólida e indiscutível, quero dizer. Nós
invadimos sua casa e verificamos seu computador, onde descobrimos que ele
estava roubando dinheiro de fundos distritais e enviando para uma mulher,
por quem assumimos que ele estava apaixonado ou pagando por sexo, e
ambos eram contra as regras, assim como roubar o dinheiro."

190
ZEPPAZARIEL

"Vocês só... não conseguiram entregar," Sirius sussurra.

"Não, não conseguimos," Remus diz suavemente. "Isso é na verdade o que


nós estávamos a caminho de fazer. Apenas um cálculo de tempo ruim, porque
Greyback nos encontrou, e ele nunca perdeu a chance de me intimidar. Ele
queria revistar Lily e eu, mas nós tínhamos—bem, o que tínhamos roubado,
então nós... resistimos. Apenas tentamos fazer com que ele nos deixasse seguir
nosso caminho, mas é claro que ele não fez isso. Ele começou a tentar me
revistar, então eu o empurrei para longe, e as coisas... aumentaram."

Sirius engole, seus olhos arregalados.

"Ele tinha a arma dele," Remus continua, seu olhar desviando para o lado.
"Tudo—tudo aconteceu tão rápido. Ele ia colocar ela na minha cabeça e me
ameaçar para obedecer, mas nós brigamos, e a arma estava—estava
balançando. Nós dois estávamos tentando mantê-la apontada para longe de
nós, e então Lily meio que—começou a estrangulá-lo. Acho que ela estava
tentando fazer ele desmaiar para que pudéssemos correr, mas a arma disparou
antes que isso acontecesse. Fui eu quem puxou o gatilho. Até hoje, eu não sei
se eu pretendia. Eu só sei que eu não me arrependi."

Sirius solta uma respiração profunda. "Merda."

"Sim," Remus concorda com uma risada rouca. "Nós tivemos que correr.
Os outros ouviram os tiros, e ou eles nos matariam ou nos pegariam, então
nós passamos pelos trilhos do trem pela primeira vez, e eles nos perseguiram.
Não havia como eles se aproximarem do jeito que eles estavam, então eu—eu
disse a Lily para continuar correndo, para não parar por nada, e eu dei a ela a
arma. Então eu circulei de volta e fiz com que eles me perseguissem na
direção oposta. Eu fui pego, e nunca mais vi Lily de novo."

"Puta merda, Remus," Sirius murmura, estendendo a mão para passar a


mão na boca.

"Você quer saber a pior parte?" Remus sussurra, um nó na garganta.


"Todos os dias, eu estou tão vividamente ciente de que, se as coisas tivessem
sido um pouco diferentes, seria Greyback aqui em vez de mim."

"Eu sinto muito," Sirius suspira, dando um passo à frente para estender as
mãos e deslizá-las para cima e para baixo nos braços de Remus. "Eu sinto

191
CRIMSON RIVERS

muito que isso tenha acontecido com você, Remus. Nada disso foi justo. Ele
deveria estar aqui, não você. Você não é uma pessoa ruim, sabe. Como você
pode pensar que isso te torna menos digno? Você não tinha mais controle
sobre isso do que eu tive."

"Mas essa é a coisa, no entanto. Eu tinha. Eu poderia ter parado, se eu


tivesse deixado para lá, se eu simplesmente... desistisse. Meu pai estava
constantemente tentando me fazer parar de causar problemas, e se eu tivesse
ouvido—"

"E o quê? Continuar aguentando a intimidação, os maus-tratos, o abuso de


poder? Você tinha todo o direito de responder como respondeu. Só porque
deu errado não significa que você estava errado. Você não estava. Você estava
certo, e você não precisa se sentir uma pessoa ruim por causa disso, de jeito
nenhum."

"Exceto que eu não me arrependo," Remus declara sem rodeios, sua voz
firme quando encontra o olhar de Sirius, segurando-o. "Eu não sinto nenhum
remorso por matar Greyback. Nenhum. Eu estou feliz que ele está morto, e
eu estou feliz por ter puxado o gatilho."

Sirius pigarreia violentamente. "Sim, bem, você está justificado em se sentir


assim. Além disso, se você está esperando que eu ache isso terrível—bem, eu
tenho algumas notícias para você."

"Oh, isso está fazendo isso para você?"

"Está—certamente está fazendo alguma coisa. Nós deveríamos—você


quer voltar para a cama? Eu posso te dar um boquete de novo. Eu posso?"

Remus o encara. "Eu te digo tudo isso e sua resposta é que você gostaria
de chupar o meu pau?"

"Hum." Sirius cora com aquele adorável rubor dele, e Remus nunca
poderia imaginar que ele estaria rindo depois da conversa que ele acabou de
ter, e ainda assim, aqui está ele.

Ele não pode evitar. Ele apenas ri, e Sirius geme, levantando as mãos para
cobrir o rosto, descaradamente mortificado. Remus ainda está rindo
impotente quando ele estende a mão para puxar as mãos de Sirius para baixo e

192
ZEPPAZARIEL

puxá-lo, sorrindo contra sua bochecha, beijando e beijando entre risos


ofegantes cheios de alívio.

O rosto de Sirius está quente contra seus lábios.

~•~

"Você disse algo mais cedo."

Sirius cantarola preguiçosamente, olhos fechados enquanto ele passa seus


dedos repetidamente pelo cabelo de Remus, sua outra mão deslizando
suavemente para cima e para baixo ao lado do braço de Remus. Remus está
todo enrolado contra ele, praticamente em cima dele, e Sirius realmente gosta
do peso dele. Ele também acha terrivelmente adorável que Remus esteja
essencialmente deixando Sirius mimá-lo após a agitação emocional da última
hora.

"Sobre a diferença entre seu desejo sexual e sua aceitação do prazer,"


Remus continua em um murmúrio, apertando preguiçosamente um dos
botões da camisa de Sirius.

"Certo," Sirius murmura, abrindo um olho. "Sim, e?"

Remus levanta a cabeça e descansa o queixo no peito de Sirius, olhando-o


cuidadosamente. "Você quer falar sobre isso?"

"Quero dizer, não é—eu nunca pensei sobre isso, até você, mas são duas
coisas separadas," Sirius murmura, franzindo as sobrancelhas enquanto ele
tenta encontrar as palavras certas para explicar isso. "Suponho que eu—bem,
por muito tempo, eu meio que pensei que minhas lutas para aceitar o prazer
influenciavam meu desejo sexual, e talvez isso torne mais complicado, mas eu
sou eu porque eu sou eu, não por causa do que foi feito comigo. Isso faz
sentido?"

"Sim," Remus diz suavemente, olhos claros, ouvindo pacientemente.

Sirius franze os lábios. "É—eu nunca percebi isso, porque acho que eu
nunca pensei sobre isso, mas sempre foi assim. Não sentindo desejo sexual,
quero dizer. Tipo, eu entrei nos meus jogos aos dezesseis anos, mas nunca fiz
nada até então. Nem mesmo sozinho, e sabe, a maioria das pessoas pelo
menos faz isso, apenas para tentar, ou porque é bom. Mas, honestamente, isso
193
CRIMSON RIVERS

literalmente nunca passou pela minha cabeça. Eu só... não me dei ao


trabalho."

"Não?" Remus pergunta curioso. "Porque no momento em que eu percebi


que tinha uma mão direita, acabou."

"Pervertido," Sirius comenta com uma bufada, e Remus sorri para ele,
torto e sedutor. Faz o estômago de Sirius se encher de borboletas, sim, mas
ele não pode ser culpado por isso. "Mas não, eu literalmente nunca me
importei ou pensei sobre isso. Então, bem, havia Mary. Nós éramos amigos
há anos antes de eu realmente começar a gostar dela, e não foi até que eu
comecei que eu realmente tive o desejo de fazer qualquer coisa."

Remus assente. "Me fale sobre ela. Mary."

"Ah, ela é adorável. Ainda é uma amiga íntima até hoje, alguém em quem
eu confio de todo o coração. Nós crescemos juntos, acho que se pode dizer.
Nós fomos para a mesma escola, e na verdade nós não morávamos muito
longe um do outro antes de eu me mudar para a Vila dos Vitoriosos. Ela foi a
primeira pessoa que fez minha maquiagem quando eu tinha, tipo, doze anos.
Então, quando eu tinha dezesseis anos, eu tinha certeza que ela era... isso, para
mim, sabe? " Sirius comenta.

"Na verdade não," Remus responde pensativo. "Eu não era realmente o
tipo de pensar em termos de sossego, não naquela época."

Sirius ri. "Sim, bem, eu nunca senti o que eu senti por Mary por ninguém
antes. Era muito novo, e também muito emocionante, ou é assim que eu me
lembro de qualquer maneira. Você pode perguntar a Regulus e James; eu
andei por aí por um mês inteiro fazendo todo mundo me chamar de Sr. Sirius
Macdonald."

"Pare, isso é adorável," Remus engasga, rindo baixinho.

"Um pouco embaraçoso, olhando para trás. Mary foi adorável sobre isso,
no entanto. Eu nunca a convidei para sair. Eu simplesmente falhei em manter
minha paixão em segredo, e ela acabou me confrontando sobre isso. Oh, eu
estava tão nervoso, mas—mas de um jeito bom, eu acho? Eu realmente não
consigo me lembrar da maior parte, mas ela foi muito legal sobre a coisa toda.

194
ZEPPAZARIEL

Acho que nós namoramos por uma semana antes de eu estar pronto para
beijá-la, e ela não se importou com isso."

"Isso é muito fofo, Sirius. Vocês dois nunca...?"

"Não." Sirius limpa a garganta e balança a cabeça. "Eu entrei nos meus
jogos não muito tempo depois, e eu não estava... Bem, nós nunca terminamos,
tecnicamente, então eu suponho que você possa argumentar que ainda
estamos namorando, já que nunca tivemos essa conversa."

Remus arqueia uma sobrancelha. "Sua namorada está ciente de que você
tem uma coisinha do outro lado?"

"Acredite ou não, sim," Sirius brinca, sorrindo. "Mary me conhece muito


bem. Ela percebeu cerca de duas semanas depois que eu voltei. Eu nunca
disse um nome ou a sua posição, apenas admiti que conheci alguém. Ela
estava feliz por mim."

"Ela parece brilhante," Remus murmura.

O rosto de Sirius suaviza. "Ela é. De qualquer forma, nós nunca


terminamos, mas eu estava uma bagunça depois que eu voltei da arena. Foi
apenas uma daquelas coisas que já se sabem, eu suponho. Foi só mais de um
ano depois que nós realmente sentamos para conversar, e não era o
mesmo. Eu não era o mesmo. Ela também tinha uma namorada na época,
então não havia ressentimentos nem nada. Acima de tudo, nós éramos
amigos, e ainda somos até hoje."

"Faz você se sentir... melhor? Saber que seu desejo sexual e aceitação do
prazer são separados, quero dizer?" Remus pergunta, pressionando a cabeça
na mão de Sirius, silenciosamente pedindo para ele continuar passando os
dedos pelo cabelo, porque ele se distraiu o suficiente para parar.

"Sim," Sirius admite, pegando o movimento de sua mão novamente. "Eu


nem sei se isso me incomodava antes, na verdade, mas eu gosto de ter certeza
agora. Eu diria que minha aceitação do prazer, ou minhas lutas com ele, não
tem nada a ver com minha sexualidade. Eu também diria que minha
sexualidade é provavelmente outra razão para minhas lutas para aceitar o
prazer, de forma realista, mas há muitas razões para isso, então não é
necessariamente culpa do desejo sexual em si. Mais como... Não era algo que

195
CRIMSON RIVERS

eu tinha que sentar e pensar, ou confrontar, porque eu nunca me importei em


ter prazer, não por muito tempo."

"Mas você se importa agora."

"Eu me importo agora, sim, por causa de você. Eu me importei antes com
Mary também, mas isso foi há muito tempo, e não chegou a lugar nenhum.
Também não foi uma luta para mim naquela época. quer dizer, eu estava
nervoso, sim, e eu precisava de tempo, mas eu estava—eu não sei,
inocentemente animado com isso, eu acho? Não havia... culpa. Ou vergonha."

Os lábios de Remus se inclinam para baixo. "E agora há, mesmo comigo."

"Não por causa de você, ou minha sexualidade. Como eu disse, isso é


totalmente separado." Sirius suspira. "Não, isso—isso são as Relíquias. Por
causa do que eles acreditam que eu sou, e como me faz sentir mal pensar que
pode ser um pouco verdade. Eu—eu melhorei com isso, eu acho,
especialmente com a sua ajuda. Eu passei tanto tempo sendo exposto aos
desejos sexuais de todos os outros que eu meio que tive dificuldade para ficar
bem com os meus, mas é—é muito bom ficar animado com isso de novo."

"Você está animado?" Remus verifica. "Porque, mais cedo, você disse que
não sabia se podia confiar mais em mim, e eu—"

Sirius faz um tsk e puxa seu cabelo um pouco. "Shh, eu sei o que eu disse,
mas foi quando eu tive a impressão de que você não confiava em mim. Eu—
eu preciso de um nível de confiança entre nós para que o sexo seja uma
opção, um desejo que eu tenho, e isso é tudo que eu quis dizer. Mas você
confia em mim. Eu sei disso agora."

"Eu sinto muito, você sabe."

"Shh, eu sei. Está tudo bem, Remus. Nós conversamos sobre isso."

Remus procura seu rosto e murmura, "É por isso que você não me deixou
retribuir antes? Porque, na hora, você não tinha certeza sobre a confiança?"

"Eu..." Sirius franze a testa, piscando. "Sabe, na verdade, eu não tenho


certeza sobre isso. Eu acho que não. Eu genuinamente não queria gozar. Parece
um pouco louco, eu suponho, mas tudo que eu realmente queria era abraçar e
beijar depois de fazer você se sentir bem. Eu não sei, talvez isso seja estranho
196
ZEPPAZARIEL

para você, mas para mim, é excitante pra caralho. Tipo, é tudo tão... novo, e
eu gostei. Que eu queria fazer isso por você, com você, mas não queria isso
em troca. E você apenas—me deixou. Eu gosto disso também. Que você
apenas vai com isso, e você não se ofende nem nada. Porque eu acho que vai
ser diferente; às vezes eu vou querer que você retribua, e outras vezes eu
provavelmente nem vou querer fazer nada. Eu gosto de poder confiar em
você apenas para estar—bem com tudo isso."

"Então, eu estou—eu estou acertando?" Remus pergunta, piscando para


ele lentamente, prestando atenção como se isso fosse muito importante para
ele. É, Sirius percebe, e isso faz seu coração apertar quando ele descobre que
Remus quer tratá-lo bem.

"Você está acertando," Sirius confirma, abaixando a cabeça para dar um


beijo suave na boca de Remus, incapaz de evitar um sorriso de prazer, cheio
de amor.

"Sinto muito por não acertado antes," Remus diz, mais uma vez.

Sirius geme de exasperação. "Oh, você pode parar com isso? Por favor,
não se preocupe com isso, Remus. É—quero dizer, nós conversamos sobre
isso, e isso é... Bem, honestamente, eu acho que é bom que nós conversamos
e eu acho que não seria bom continuar agarrado a isso. Eu sei que você sente
muito, e eu também. Está tudo bem. Eu prometo que está."

"Eu.—sim, bem, você está certo," Remus admite timidamente.

"Primeira vez para tudo," Sirius brinca com uma piscadela, bagunçando o
cabelo de Remus de brincadeira. "Você tem o cabelo da sua mãe, sabe. Eu vi
uma foto dela com você. Ela era linda."

Os olhos de Remus suavizam. "Ela era, sim. Eu sempre pareci mais com
meu pai, no entanto."

"Oh, sim, eu notei." Sirius mexe as sobrancelhas de brincadeira, abrindo


um sorriso. "Se o seu pai é alguma indicação do que eu tenho que esperar para
ver quando você ficar mais velho, então eu sou um homem de muita sorte.
Quero dizer, uau, ele é—"

197
CRIMSON RIVERS

"Amor, eu estou te implorando, por favor, pare," Remus murmura,


fechando os olhos.

Sirius morde o lábio, lutando contra uma risada. "Ele estava


usando suspensórios, Remus. Eu mal consegui me conter."

"Oh, pelo amor de Deus—"

"Não, sério, eu acho que realmente tenho uma chance. Estamos na base do
primeiro nome, seu pai e eu."

Remus abre os olhos e diz categoricamente, "Vocês estão?"

"Mhm. Ele gosta de mim," Sirius declara presunçosamente. "Eu o fiz rir.
Aposto que se eu me esforçasse, eu poderia—"

"Literalmente pare," Remus interrompe, cobrindo a boca de Sirius com a


mão.

"Tudo bem, tudo bem," Sirius murmura, assim que Remus levanta a mão.
Sirius sorri para ele suavemente. "De qualquer forma, todas as piadas à parte,
seu pai realmente é um homem legal, Remus. Eu estava muito nervoso em
conhecer ele, e eu queria causar uma boa impressão, ridiculamente o
suficiente. Acho que eu consegui sua aprovação, no entanto."

"Você conseguiu?" Os olhos de Remus brilham com diversão. "É bom


saber. Ele sempre foi um bom juiz de caráter, então isso não me surpreende
nem um pouco."

"Eu—eu fiz papel de bobo," Sirius admite timidamente. "Então, eu posso


ter acidentalmente dito a ele que fizemos sexo, apenas deixei escapar como
um idiota, e então imediatamente comecei a entrar em pânico assim que o
fiz."

"Eu—" Remus pisca. "Como isso poderia vir à tona na conversa, Sirius?
Você acabou de conhecer o homem."

"Eu estava me preocupando um pouco—bem, foi depois que ele deixou


escapar sobre seu crime muito justificado," explica Sirius. "Eu imediatamente
deixei escapar que eu achava que você deveria pelo menos ter mencionado

198
ZEPPAZARIEL

isso antes de fazermos sexo, e então tudo foi ladeira abaixo a partir daí. Eu
não estou brincando, Remus. Eu entrei em pânico."

Remus bufa uma risada suave e balança a cabeça no que Sirius sabe que é
puro espanto. "Sua bagunça absoluta de ser humano. O que ele disse?"

"Bem, honestamente, ele apenas disse que não esperava nada menos de
você, e também que o agradou saber que você ainda estava sendo um
merdinha rebelde." Sirius faz uma pausa. "Estou parafraseando."

"Obviamente. Continue," Remus diz, divertido.

"Ele também—bem, foi quando eu o fiz rir. Quando eu te digo que eu


entrei em pânico, quero dizer que eu entrei em pânico," Sirius insiste. "Eu
estava com medo que ele pensasse que eu te coagi, então eu comecei a divagar
para explicar que eu não tinha, então me assustei porque eu continuei
xingando acidentalmente na casa dele. Eu confessei que eu estou apaixonado
por você antes mesmo de conseguir para dizer a você, e ele acabou rindo, mas
ele parecia feliz em saber que você é—"

Sirius para.

Sua mão congela no cabelo de Remus.

Remus está olhando para ele, os lábios entreabertos.

"—amado," Sirius termina suavemente, seus olhos se fechando.


"Porra. Porra. Oh, isso não—eu não—eu não posso acreditar que eu—"

"Você está apaixonado por mim," Remus suspira, e quando Sirius abre os
olhos, seu coração dá um salto como se estivesse caindo de um penhasco pelo
jeito que Remus está olhando para ele. "Você está apaixonado por mim, e
você disse ao meu pai que você está apaixonado por mim, e você está
apaixonado por mim. Você me ama. Você está apaixonado por mim."

"Espere, espere, volte," Sirius diz fracamente. "Isso não foi nem perto de
romântico. Eu—eu queria te contar de uma maneira melhor. Tipo, eu não sei,
com vinho ou... algo assim. Oh, isso foi uma merda. Isso foi absolutamente a
pior—"

199
CRIMSON RIVERS

"Quando você soube?" Remus interrompe, seu olhar fixo no de Sirius,


mais intenso e focado do que Sirius jamais o viu. Faz Sirius ficar muito
quente, muito rapidamente. "Quando você percebeu? Qual foi o seu momento,
quero dizer?"

Sirius franze a testa levemente, então pisca. "Eu—eu... não me lembro."


Ele balança a cabeça rapidamente quando Remus parece brevemente ferido,
como se estivesse horrorizado com o pensamento de que Sirius perdeu aquele
momento, o que seria perturbador, exceto que... "Não, não de um jeito ruim.
Não houve um momento em que eu soubes; estava apenas... ali, por mais
absurdo que possa parecer. Não acho que seja algo que eu perdi, Remus.
Acho que é algo que eu sempre tive."

Há apenas um segundo entre a última palavra que sai dos lábios de Sirius e
Remus substituindo-a pelos seus, praticamente rastejando para que ele possa
alcançar, para que ele possa se dobrar sobre Sirius e beijá-lo como se estivesse
tentando se derramar em Sirius e desaparecer dentro dele, existir com ele
sempre, ficar e nunca sair.

Sirius enrosca os dedos no cabelo de Remus e se deixa ser beijado, se deixa


ficar completamente obcecado e apaixonado por cada segundo disso, se deixa
querer e tomar e gemer. Remus o beija como se estivesse tentando devorá-lo,
e é tão bom, é tão bom; Sirius não se cansa.

Não, ele literalmente não se cansa, então talvez ele reclame quando Remus
se afasta, tentando desesperadamente puxá-lo de volta, mas Remus resiste em
sussurrar, "No dia seguinte aos jogos vorazes, depois que Regulus foi liberado
da enfermaria, quando você e eu estávamos tirando um momento e você
começou a rir porque eu te disse que você era precioso para mim. Esse foi o
meu momento. Foi quando eu soube."

"Quando você soube que você—você—" Sirius suga uma respiração


gaguejante, seu coração batendo forte em seu peito, sentindo-se trêmulo e
fraco de excitação e esperança e amor e desejo e tantas coisas ao mesmo
tempo, como Remus é propenso a fazer ele sentir.

"Quando eu soube que te amava. Que eu te amo. Que eu estou apaixonado


por você," Remus diz a ele.

200
ZEPPAZARIEL

"Venha aqui, venha aqui, venha aqui," Sirius canta sem fôlego, puxando-o
e tremendo embaixo dele como uma linha de falha se abrindo em um abismo,
mais espaço para as coisas entrarem e sairem. Ele sente tanto, e tudo tão bom,
e só Remus pode fazer isso com ele.

"Sirius?" Remus resmunga quando Sirius começa a agarrar sua camisa e se


contorcer embaixo dele.

"Sexo," Sirius deixa escapar. "Sexo, agora."

Honestamente, isso é o melhor que ele pode fazer com o quão urgente ele
está no momento, mas aparentemente é tudo o que Remus precisa, porque ele
imediatamente diz, "Sim," e começa a se despir.

Sirius o ama tanto.

201
CRIMSON RIVERS

37
A FESTA

"—e então ele disse que foi quando ele soube, e nós fizemos sexo, o que
foi tão bom, muito bom, porque ele é realmente uma maldita maravilha com a
boca; não, você não entende as coisas que ele pode fazer, James, eu estou
falando sério," Sirius está divagando sem fôlego, apoiado na cama com um
travesseiro no colo, abraçado ao peito, olhos tão brilhantes que a estrela que
ele recebeu o nome deve estar pingando de inveja no momento.

James luta para não rir. Ele está feliz por Sirius, de verdade, mas ele não
pode deixar de achar incrivelmente divertido o quão tonto Sirius está agora.
James honestamente não acha que ele já viu Sirius ficar rindo e com os olhos
estrelados por... literalmente ninguém. Ele está tão apaixonado que seria
doloroso se Remus não sentisse o mesmo—embora, felizmente, esse não seja
o caso.

"O que ele pode fazer?" James pergunta, muito envolvido nessa conversa,
principalmente porque Sirius está muito feliz e animado com a coisa toda.
Sirius imediatamente inicia uma descrição detalhada de todas as coisas que
Remus pode fazer com prazer palpável. James não pode culpá-lo. É tão lindo
estar apaixonado, não é?

202
ZEPPAZARIEL

Quase sempre.

James firmemente empurra para baixo o pensamento crescente de Regulus


que nunca está muito longe do fundo de sua mente. Agora não é a hora. Isso
não é sobre ele, e não é sobre James. Não, é sobre Sirius e Remus, que estão
felizes e apaixonados e merecem cada pedacinho de alegria que podem
compartilhar entre eles.

Não que James soubesse alguma coisa sobre como é isso.

Oh, pelo amor de Deus, James pensa exasperado, fazendo a nota mental de
dar um tapa na sua cabeça. Ele absolutamente se recusa a ser amargo agora.
Não. Apenas não.

É legal, honestamente, ver Sirius tão feliz, especialmente sobre isso.


Quando James voltou da entrevista—que correu bem—não demorou muito
para Remus e Sirius ressurgirem do quarto; Sirius os checou e perguntou
como foi a entrevista, e Remus realmente deixou todos se reunirem com ele
dessa vez. Não que James possa culpá-lo por falhar nisso antes, porque ele
estava arrastando Sirius para ficar sozinho com ele. Ambos parecem tão
felizes juntos, simplesmente brilhando, francamente. Isso abre o peito de
James com alegria.

De qualquer forma, levou menos de vinte minutos para Regulus murmurar


baixinho com Remus, que acabou escapando com ele, para desgosto de Sirius.
Ele se recuperou no momento em que percebeu que poderia ficar sozinho
com James, rindo e fofocando com ele como se ainda fossem garotos
estúpidos que ainda não foram expostos ao pior do mundo.

Na verdade, Remus estar aqui parecia apenas... melhorar muitas coisas,


basicamente para todos. O próprio James está feliz em ver seu amigo
novamente e saber que ele está bem, e ele está especialmente feliz porque
Sirius está feliz. Regulus parece estar essencialmente se sentindo da mesma
maneira, pelo que James pode dizer, e isso parece ter levantado bastante seu
ânimo.

Isso rendeu uma entrevista muito boa. James e Regulus entraram nisso de
bom humor, então eles realmente se saíram extremamente bem, se o próprio
James disser. James foi especialmente borbulhante, e Regulus estava muito
discretamente satisfeito com aquele jeito secreto dele que James ama muito.

203
CRIMSON RIVERS

Eles deram um show, sentando tão perto um do outro que Regulus estava
praticamente no colo dele, sendo deliciosamente sentimental. E Regulus o
beijou.

Todo esse tempo, eles mantiveram as aparências como um casal, mas não é
como se os casais andassem se beijando o tempo todo, então eles estavam
livres disso. Regulus queria manter isso no mínimo, e James respeitou isso o
tempo todo, mantendo sua boca muito firmemente longe do rosto de Regulus
em literalmente qualquer medida. A única vez que ele fez alguma coisa foi
hoje, durante aquela entrevista, porque se fosse em outro lugar...

Ainda assim, ele só pretendia beijar a bochecha de Regulus, só isso, mas


Regulus pareceu se transformar instintivamente, então James pegou o canto
de sua boca e, por um momento, a sala inteira desapareceu. Rita não estava lá.
A multidão desapareceu. As câmeras não existiam. Era apenas Regulus, o
quão perto ele estava, o jeito que James descansou sua testa contra a têmpora
de Regulus e deixou seus olhos se fecharem, apenas por um momento,
sentindo ele, ele, ele...

E então James se forçou a se afastar, mas ele não foi muito longe, porque
Regulus genuinamente perseguiu sua boca, beijando-o completamente de
propósito, e James sabe que foi real. Ele sabe com certeza, porque Regulus
congelou no momento em que fez isso, e quando ele se afastou, James só
precisou de um vislumbre em seus olhos para ver que ele não pretendia. Ele não
tinha a intenção de fazer isso, ele só ficou tão envolvido, e ele queria isso, e
James sentiu como se seu coração fosse sair pela garganta e voar pela porra da
sala. As Relíquias, é claro, adoraram, mas tudo o que James podia ver era o
rubor rosado que cobria as bochechas de Regulus.

De qualquer forma, Pandora ficou satisfeita, e ela os elogiou durante todo


o caminho de volta para a cobertura, então James sabe que eles fizeram o que
precisavam.

Há uma batida na porta, e Sirius diminui, sua cabeça levantando ao mesmo


tempo que a de James. Segundos depois, a porta se abre e Remus enfia a
cabeça para dentro.

"Espaço para mais um?" ele pergunta.

204
ZEPPAZARIEL

O rosto de Sirius se ilumina tanto que é quase doloroso olhar para ele.
"Sim, sempre. Onde Reggie está?"

"Ele está chateado por não ter uma varanda, eu acho, então Pandora está
escoltando ele até o telhado," Remus explica enquanto entra no quarto e se
joga sem cerimônia na cama, cabeça e ombros caindo direto no colo de Sirius.

"Ele é um merdinha exigente," Sirius murmura carinhosamente, os lábios


se curvando enquanto ele coloca o travesseiro sob a cabeça de Remus e olha
para ele. Por um longo momento, eles apenas sorriem um para o outro, e
James força para baixo o suspiro melancólico que sobe em sua garganta.

Remus vira a cabeça para olhar para James calorosamente. "Como você
tem passado, James?"

"Já estive melhor, já estive pior," James admite honestamente, dando a


Remus um sorriso torto. "Aguentando Sirius sendo sensato de repente, desde
que ele conheceu você. Você é uma influência maravilhosa para ele, sabe. É
terrível."

"Oh, é mesmo?" Remus pergunta, parecendo divertido. Ele ergue as


sobrancelhas para Sirius, seus olhos brilhando com malícia descarada, lábios
curvados nos cantos.

"James só está chateado porque eu não deixo ele ser mau consigo mesmo,
só isso," Sirius murmura, revirando os olhos. "Eu juro, ele é tão ruim quanto
Regulus às vezes. Eu nunca conheci duas pessoas tão diferentes, mas tão
dispostas a fazerem as mesmas coisas."

"Sim, não seja mau consigo mesmo," Remus concorda, estalando a língua
para James em desaprovação. "O mundo é cruel o suficiente para nós por si
só; nós não precisamos acrescentar nada a isso."

Sirius cantarola presunçosamente. "Eu não disse que ele se sentiria assim?"

"Você disse," James admite com um suspiro.

"Oh, anime-se, James," Remus diz fracamente, estendendo a mão para dar
um tapinha gentil em seu joelho. "Olhe por esse lado, você vai beber amanhã
à noite."

205
CRIMSON RIVERS

"Sirius não me deixa beber," James responde sem rodeios.

"Bem, não diga assim, James. Você faz parecer que eu sou um pai rígido,
ou um cônjuge controlador," Sirius resmunga. "E eu deixo você beber, com
moderação, quando você está em um ambiente seguro e em bom estado
mental. Não se esqueça de mencionar que você só me deixa beber dentro dessas
mesmas regras."

James franze os lábios. "Posso beber amanhã à noite?"

"Absolutamente não," Sirius anuncia imediatamente.

"Então, não, na verdade eu não vou beber amanhã à noite," James informa
a Remus com um suspiro. "Para ser honesto, eu não tenho certeza se eu iria
querer de qualquer maneira. Não em alguma festa estúpida da Relíquia. Você
vai estar lá, Remus?"

"Sim, eu vou estar trabalhando," Remus o assegura com um pequeno


sorriso. "Apenas um lembrete, mas você não pode falar comigo ou interagir
comigo, certo? É—se ajudar, a maioria das pessoas vai deixar você em paz se
você estiver dançando. Esse é o meu conselho; apenas leve Regulus para a
pista de dança e não deixe ele a noite inteira, assim ninguém pode incomodar
nenhum de vocês."

"Você já trabalhou em uma dessas antes?" Sirius pergunta.

Remus assente. "Mhm. Eu estava trabalhando para a turnê da vitória antes


de ser designado para os jogos. É apenas uma noite, um evento, menos
chance de eu estragar tudo, então é por isso que fui escolhido para isso. Fiquei
surpreso que eles me escolheram esse ano, honestamente."

"Sério?" Sirius pergunta.

"Isso..." Remus estende a mão e gentilmente passa os dedos sobre a


cicatriz em seu rosto. "Na maioria das vezes, servos com marcas ou
características notáveis e distintivas são mantidos fora da programação para
eventos e coisas do tipo. Mas ah... há também—quero dizer, tecnicamente há
uma escassez de servos no momento..."

James pisca. "Uma—o quê? Como se eles estivessem... acabando? Eles


estão sem—em—em—"
206
ZEPPAZARIEL

"Eles não estavam, mas tem havido... um monte de experimentos,


ultimamente," Remus diz com cuidado, baixando o olhar. "Nem todos
sobreviveram."

Sirius encontra o olhar de James em segundos, e por um instante, eles


apenas se encaram em um silêncio pesado. James pode ler a preocupação,
o medo, nos olhos de Sirius como se ele próprio estivesse sentindo. Ele mesmo
está sentindo, porque Remus é seu amigo, e o pensamento de algo
acontecendo com ele...

É assustador pra caralho.

"Mas eu apaguei," Remus continua, quebrando o silêncio, mais uma vez


estendendo a mão para tocar sua cicatriz. "Poderia ser pior."

Sirius faz um pequeno ruído infeliz e agarra o pulso de Remus para levar
seus dedos à boca, pressionando beijos nas pontas deles. Isso faz Remus
observá-lo com carinho, seu rosto suavizando, e então ele solta uma risada
abafada quando Sirius se dobra para dar um beijo sem graça no meio de seu
rosto, onde está a cicatriz. Isso alivia o clima imediatamente, mas Sirius
sempre foi bom nisso.

"O que eu disse, hm? Remus, o patife." Sirius olha para cima com um
sorriso. "Vá em frente, James, Remus não é muito sexy com sua nova cicatriz?
Faz ele parecer vulgar, não é?"

"Muito vulgar," diz James apoiando. Ele pisca para Remus e balança as
sobrancelhas. "Na verdade, Remus, se você decidir que devemos abandonar
os irmãos Black, eu estou muito disposto a—"

"Ei, cai fora," Sirius interrompe, estendendo a mão para bater no braço de
James com as costas da mão, franzindo a testa.

Remus se apoia no cotovelo e enfia a mão sob o queixo, sorrindo para


James, lento e caloroso e honestamente um pouco sugestivo, e James gostaria
de dizer que ele é imune, mas ele não é. Remus é muito bonito, para ser justo.
"Oh, eu pensei que você nunca ofereceria, James. Sim, absolutamente, nós
deveríamos—"

207
CRIMSON RIVERS

"Eu vou matar todos nós agora, não brinque comigo," Sirius declara,
enganchando suas mãos no braço de Remus para embalá-lo de volta em seu
colo, eriçado como um pássaro ofendido.

James e Remus trocam um olhar antes de cair na gargalhada alta e ruidosa,


e Sirius resmunga baixinho antes de pegar o travesseiro debaixo da cabeça de
Remus e bater nos dois com ele em repreensão.

Não demora muito para que todos eles estejam rindo e brigando pelo
travesseiro, lutando na cama e falando merda como se as partes mais cruéis do
mundo não pudessem tocá-los. E não é muito depois dessa tolice que eles
estão todos esparramados novamente, conversando e brincando e rindo como
se as partes mais cruéis do mundo já não os tivessem tocado.

Tocaram, é claro que tocaram, e vai novamente; mas, agora, James acha
que isso importa mais.

~•~

Regulus não consegue entender por que estar no telhado não o assusta. É
alto, afinal, então, por todos os meios, deveria deixá-lo histérico, mas isso não
acontece.

Talvez seja a ilusão de um terreno seguro sob seus pés. As árvores


realmente não têm isso; galhos sempre quebram. Ele pensa sobre isso, como
este prédio pode tombar, ou o telhado pode desmoronar, e isso o deixa
desconfortável, então ele para de pensar nisso. De qualquer forma, há uma
saliência elevada que envolve todo o telhado, na qual ele pode se apoiar e usar
para observar a Relíquia.

Pandora está com ele. Ela está encostada no parapeito também, mas não
contra ele. Ela está quieta, meio pensativa, pensa Regulus. Eles não falaram,
em vez disso, estão apenas olhando para a borda, confortáveis e solenes.

"Você já pensou em quão grande é a Relíquia?" Regulus murmura,


varrendo o olhar sobre as luzes que banham a cidade, iluminando-a como
estrelas baratas no escuro.

Se Pandora está surpresa por ele estar aberto a conversar com ela, ou
mesmo a falar, ela não demonstra. Ela apenas responde, "Não, na verdade

208
ZEPPAZARIEL

não. Acho que nunca pensei sobre isso porque eu estou... nisso, se isso faz
sentido. Mas ultimamente..."

"O que?" Regulus pergunta, girando a cabeça para olhar para ela.

"Bem, ultimamente, eu tenho pensado em como os distritos parecem


pequenos quando eles são divididos, mas quando você pensa em colocá-los
todos juntos, eles são maiores do que a Relíquia," Pandora diz suavemente,
suas sobrancelhas franzidas. A brisa agita seus cabelos.

"Eu suponho que você esteja certa," Regulus responde, levemente


assustado. Ele nunca pensou sobre isso, mas... por que ele pensaria? Assim
como ela na Relíquia, ele é apenas mais uma pessoa de um distrito quebrado.

O silêncio se instala entre eles, principalmente confortável, mas então


Pandora o quebra com a última coisa que ele está preparado para ouvir.

"Meu pai está morrendo, sabe," Pandora sussurra.

Regulus estuda o lado de seu rosto, seu coração aperta quando vê a coluna
de sua garganta subir e descer em um gole áspero. Ele não sabe o que dizer,
então não diz nada.

"E eu vou trabalhar. Apenas. Continuar trabalhando." Pandora solta uma


risada fraca, balançando a cabeça. "Quero dizer, ele está vivo, apenas muito
doente, mas eu ainda—eu apenas... continuo trabalhando."

"Pandora," Regulus diz com cuidado, muito cuidado, porque ele


honestamente não está preparado para a dor na voz dela.

"Você disse uma vez..." Pandora se vira para olhar para ele, e seus olhos
brilham com lágrimas. "Você se lembra quando nos conhecemos? E você
disse que—que as Relíquias prosperam na morte, e eu disse que é um assunto
sombrio para nós também?"

"Eu não—eu estava apenas... chateado com as circunstâncias," Regulus


murmura, um nó se formando em sua garganta.

Pandora sufoca uma risada rouca. "Veja, é—é engraçado, porque eu tive a
audácia de ficar chateada com você por dizer isso. Meu pai estava morrendo
também, e essa é a primeira pessoa em que eu pensei, mas olhe para mim
209
CRIMSON RIVERS

agora. Eu só me levantei e continuei trabalhando. A Relíquia realmente é oca.


Eu—eu me sinto tão—"

"Ok. Ok, Pandora," Regulus sussurra, puxando-a um pouco enquanto seu


rosto desmorona, e ela se afunda nele assim que ele deixa claro que ela pode.

Regulus não—ele não gosta de tocar, obviamente, mas ele está achando
mais suportável quanto mais isso acontece, e Pandora... Apesar de tudo, ele
nutre uma espécie de confiança gentil nela. Ele a respeita imensamente, mais
do que ele esperava, e se é assim que ele pode consolá-la, ele o fará. Ela fez
tanto por eles, todos eles, e ela merece ser cuidada também.

Pandora enfia o rosto no ombro dele e solta um soluço horrível, de


repente agarrando-se a ele com toda a força, mais firme com ele do que
nunca. Ele a deixa fazer isso sem reclamar, sentindo o cabelo dela fazer
cócegas em seu nariz—cheirando levemente a limões—enquanto ela treme e
soluça contra ele.

Regulus tem certeza de que ela ignorando a morte iminente de seu pai não
tem nada a ver com ela não se importar, mas apenas um sintoma do quanto
ela se importa. Há uma razão pela qual a negação é o primeiro estágio do luto
e a aceitação é o último. Ela não está se deixando sentir, ou desmoronar,
como se isso pudesse tornar isso menos verdadeiro. Isso não a torna oca. Isso
a torna humana.

E agora está batendo nela. O momento em que ela fica quieta. O momento
em que o dia de trabalho está feito. O momento em que ela não tem nada a
fazer na tentativa de evitar isso. O dia começou com a morte de seu pai, e não
importa o que ela tenha feito, ele ainda está morrendo no final. Não há como
mudar isso.

"Pandora," Regulus diz o mais gentilmente possível, sem saber como


confortá-la, mas fazendo o seu melhor de qualquer maneira, porque ela
sempre faz o melhor para eles. "Ei, olhe para mim."

Pandora balança a cabeça contra ele e soluça outro soluço, então ele cede e
lhe dá mais tempo. Ele mantém os braços ao redor dela e acaricia suas costas,
engolindo reflexivamente o nó em sua garganta toda vez que outro soluço
engasgado sai dela. Regulus deseja poder ir até aquele dia no trem e retirar
aquilo, o que ele tão cruelmente disse a ela, tão descuidadamente.

210
ZEPPAZARIEL

"Bem, a morte é um assunto sombrio, geralmente, exceto para as Relíquias, eu suponho.


James e eu vamos bater na porta da morte em breve, então você vai nos perdoar por sermos
um pouco... bregas."

"A morte também é um assunto sombrio para nós."

"Oh, que chocante. Eu pensei que vocês Relíquias prosperavam com esse tipo de coisa,
mas apenas quando são pessoas como nós, certo?"

Pessoas como nós. Porque há um nós e um eles. Exceto que, neste


momento, nós e eles estão se abraçando em um telhado, conhecendo camadas
de tristeza dentro e fora, carregadas com o peso de perder pessoas em suas
vidas que nunca quiseram ficar sem. Nós os está segurando com um coração
dolorido, e eles estão caindo aos pedaços. A verdade é que a única coisa que
se interpõe entre nós e eles é a arena, e ao tomar o tempo para alcançar essa
distância de cada lado, é surpreendente como não é muito longe.

"Eu—eu estou bem. Está tudo bem. Eu estou bem," Pandora rosna,
afastando-se de uma vez com uma fungada para enxugar as lágrimas e firmar
os ombros. "Eu—é—"

"Não," Regulus interrompe silenciosamente. "Não, Pandora, você não está.


E eu sei o que eu disse antes, ok? Mas você não é oca. Eu nunca conheci uma
Relíquia que se importe tanto quanto você, então não ouse se culpar por
como você está lidando com isso."

Pandora exala trêmula. "Eu—eu não contei os detalhes a ninguém ainda.


Sirius sabe, vagamente, mas... Eu não sei. Falar sobre isso faz parecer mais
real. Eles acham que ele tem entre seis meses e um ano. Daqui a um ano ele
poderá ter ido embora—ele provavelmente vai—e eu não sei o que fazer com
isso. Ele continua querendo falar sobre os preparativos para o funeral, os
desejos finais e seu testamento, mas eu simplesmente—eu me recuso a ouvir
isso."

"Você tem alguma outra família?" Regulus pergunta.

"Só você, Sirius, James, Remus, e todos os outros tributos que eu colhi que
nunca chegaram em casa," Pandora responde instantaneamente, e Regulus
sente seu coração murchar como um pedaço de papel amassado quando ele

211
CRIMSON RIVERS

percebe que ela está falando sério, que ela os considera sua família. Ela já
perdeu tanta família.

"Olha, eu não estou—bem, honestamente, eu realmente não conheço todo


o processo," Regulus admite lentamente. "Eu estive em dois funerais. Meu tio
Cygnus e meu tio Alphard, mas eu era muito jovem, e minha família é... muito
disfuncional, como eu tenho certeza que você já deve ter notado."

"Sim, eu notei," Pandora confirma sem rodeios.

Regulus suspira. "Certo, bem, minha mãe planejou os dois funerais e


cuidou de tudo isso. Eles eram seus irmãos mais novos, e nenhum deles tinha
cônjuges vivos ou filhos por perto, então caiu sobre ela. Eu era muito jovem
para realmente entender isso, honestamente, e eu não posso prometer que
vou ser de muita ajuda—ou que Sirius e James serão, porque eu não sei—mas,
quando chegar a hora, você pode vir nos visitar se precisar."

Pandora parece relaxar de uma vez, piscando as lágrimas de seus olhos


enquanto lhe dá um sorriso vacilante. "Obrigada." Ela se vira para se apoiar
no parapeito novamente, soltando um suspiro profundo. "Nós percorremos
um longo caminho, não é? Você me odiava no começo."

"Sim, bem, é um tema comum para mim descobrir que meu ódio não é tão
forte quanto eu sempre me convenço que é," Regulus murmura com um
suspiro pesado.

"Você quer meu conselho?" Pandora pensa, então não espera por uma
resposta. "Não importa, eu vou dar a você de qualquer maneira. Apesar do
fato de que tudo isso é uma merda—o fingimento e tal—eu não acho que
você esteja tão preso quanto você acredita que está. E eu quero dizer isso,
tipo, quando você e James quando estão sozinhos. Talvez isso pudesse ser
separado de tudo isso, se você tentasse deixar ser. Você não ganha nada por
não tentar nada, Regulus."

"Não, mas eu também não perco nada," Regulus murmura.

"Não perde?" Pandora pergunta gentilmente, e Regulus sente aquelas


palavras saltarem em sua cabeça e estrangulá-lo no caminho para baixo,
ricocheteando por todo o seu corpo, jogando pingue-pongue entre os pontos
altos de seus ombros e balançando ao redor dos degraus de sua espinha antes

212
ZEPPAZARIEL

de se estabelecer na caverna de seu centro, gravada nas paredes daquele lugar


profundo nem no intestino nem nas costas, mas aquele desconhecido
insondável que vive no meio, de onde a sobrevivência e a necessidade são
originadas.

Não perde? Não perde? Não perde?

Ele não perde? Ele não perde sempre? Ele não perdeu o suficiente?

Sim, Regulus responde internamente. Sim, e eu estou cansado disso.

~•~

Sirius claramente nunca teve que expulsar James de seu quarto ou de seu
espaço antes, então provavelmente nem passa pela sua cabeça fazer isso, mas
Remus não tem tais escrúpulos.

Não é feito maliciosamente. Remus adora James, honestamente, e não é


como se James não pudesse voltar mais tarde. Na verdade, Remus só quer se
despedir de Sirius sozinho, sem ter certeza se ele vai sobreviver sem chorar de
novo.

Então, ele diz, "James, eu preciso que você vá embora," e


reconhecidamente fica um pouco emocionado por poder anunciar isso sem
nem se preocupar se isso vai matá-lo. Ele confia em Sirius, sim, mas também
confia em James, Regulus e Pandora também. É tão bom ter pessoas em sua
vida em quem ele pode confiar, com quem ele se sente seguro e protegido, com
quem ele se sente em casa.

James leva isso no ritmo. Na verdade, ele tem uma mente muito suja,
aparentemente, porque ele abre um sorriso quando suas sobrancelhas se
erguem, e ele diz, "Oh? Claro, claro! Eu vou deixar vocês dois sozinhos.
Divirtam-se, não façam nada que eu não faria!"

"Seu pervertido, assim como os seus pais," Sirius resmunga, balançando a


cabeça como se não estivesse sorrindo um pouco. "Não é isso, James. Ele só
quer dizer adeus, obviamente. Está quase na hora dele ir embora,
então você deveria dizer adeus agora também."

"Oh," James repete, desta vez com mais desânimo. "Bem, isso é uma
merda. Mas sim, venha aqui, me deixe abraçar você."
213
CRIMSON RIVERS

Remus abafa uma risada, mas ele obedientemente rasteja para fora da cama
para deixar James lhe dar um abraço, incapaz de engolir a risada quando Sirius
grita, "Cuidado com as mãos, Potter," e James quase imediatamente começa a
agarrar sugestivamente os braços de Remus e a comentar sobre o quão firme
ele é. Ambos são atingidos na lateral de suas cabeças quando Sirius joga o
travesseiro neles, absolutamente implacável com sua mira.

James mantém o adeus alegre no geral, como se ele achasse que faria isso
mais detalhadamente mais tarde, e Remus não quebra a ilusão. A única pessoa
que sabe que ele não voltará amanhã e será escoltado para Azkaban depois da
festa é Pandora—e Sirius, aqui em um minuto, quando Remus contar a ele,
porque não contar seria muito cruel.

Com um sorriso final para eles, James enfia os óculos no nariz e fecha a
porta, deixando-os sozinhos.

"Oh, pare de fazer beicinho," Remus murmura enquanto rasteja de volta


para a cama com Sirius, que está de fato um pouco amuado. "Não me diga
que você está realmente com ciúmes agora."

"Eu fico com ciúmes das suas roupas porque elas ficam enroladas em você
o tempo todo, Remus. Claro que eu estou com ciúmes," Sirius murmura,
acenando com a mão preguiçosamente. "Eu sei que vocês dois nunca fariam
isso e vocês estão apenas brincando comigo, e é engraçado, mas também eu
sou um merdinha ciumento. James diz que eu sou territorial, como um
cachorro."

Remus bufa. "Bem, você lambeu o rosto dele uma vez porque alguém
tentou reivindicá-lo como seu melhor amigo."

"E eu faria de novo," Sirius diz sem remorso. Ele faz uma pausa, então
parece divertido. "Ele não é muito melhor, e você acha que eu sou ruim? Oh.
Oh, não, Regulus é o pior."

"Você tem histórias," Remus observa, e os olhos de Sirius se iluminam


antes que ele comece a contar essas histórias.

Remus fica sabendo tudo sobre a situação com Frank, que aparentemente
tem um talento especial para deixar muitas pessoas com ciúmes, o que Remus
reconhece que acha divertido. Isso leva Sirius a explicar como Regulus

214
ZEPPAZARIEL

esfaqueou sua prima mais velha na mão com um garfo por tocar em James, e
Remus acha isso incrivelmente delicioso. Sirius fala sem parar sobre tudo o
que aconteceu na turnê, falando um pouco sobre sua família, e Remus ouve
obedientemente, satisfeito por alcançá-lo. Ele não pode estar lá. Ele nunca
poderá estar lá, então ele aprecia que ele esteja incluído assim. Ele também
adora ouvir Sirius falar, adora o som de sua voz, que é tão adorável.

"E você?" Sirius pergunta, no final. "Você é ciumento?"

"Eu não era, antes de você," Remus admite.

Sirius morde o lábio, os olhos brilhando. "Você vai ficar com ciúmes
amanhã, quando eu estiver dançando com todas aquelas Relíquias?"

"Sim," Remus murmura.

"Está tudo bem," Sirius sussurra, inclinando-se como se estivesse contando


um segredo muito especial. "O tempo todo, eu vou estar pensando em você."

"Promete?" Remus pergunta baixinho, empurrando levemente o cotovelo


para se aproximar de Sirius, sentindo-se atraído e bêbado com sua
proximidade.

"Eu estou sempre pensando em você," Sirius suspira, e então ele prende a
respiração no momento em que Remus estende a mão para segurar sua
mandíbula, mantendo-o parado enquanto ele se aproxima. Ele não o beija,
apenas se inclina o suficiente para pegar o lábio inferior de Sirius entre os
dentes e puxá-lo. Sirius engasga com sua própria expiração, curvando-se para
frente com um gemido suave. Ele quase parece assustado quando resmunga,
"Oh, isso foi muito bom."

"Gosta de um pouco de mordida, não é?" Remus diz, os lábios se


contorcendo, e isso é o máximo que ele consegue antes de Sirius soltar um
gemido e praticamente jogá-lo de volta na cama, beijando-o com fervor,
desesperado, praticamente tentando subir em cima dele. Remus não é contra
isso, e é devastadoramente injusto que ele tenha que parar com isso. "Sim,
tudo bem, anotado. Eu—eu vou manter isso em mente no futuro. Prometo.
Mas, infelizmente, não há muito que eu possa fazer sobre isso agora.
Sirius, Sirius, temos que parar."

215
CRIMSON RIVERS

"Não vamos, mas podemos fingir que sim," Sirius murmura na curva de
sua garganta, tentando deslizar sorrateiramente as mãos pela camisa de
Remus. "Eu nem quero fazer nada, na verdade. Só—talvez o que eu fiz antes.
Só isso. Vai ser tão rápido, Remus. Eu posso?"

Porra, Remus odeia ser um servo. Com um gemido, ele se abaixa para
colocar as mãos nos cotovelos de Sirius para puxá-lo para cima e basicamente
apenas esmagá-lo contra seu peito, envolvendo seus braços ao redor dele.
"Não me entenda mal, eu adoraria te dar o que você quiser, mas eu tenho que
ir."

"Oh. Certo." Sirius se esvazia contra ele e faz um barulho inquieto e infeliz.
Ele vira a cabeça para descansar o queixo no peito de Remus, lábios franzidos.
"Bem, há sempre o amanhã."

"Amor," Remus diz suavemente, um nó se formando em sua garganta.

Sirius o estuda, então murmura fracamente, "Na—na manhã antes de


partirmos, então?"

"Desculpe," Remus sussurra, e os olhos de Sirius se fecham. "Eu sei, Sirius.


Confie em mim, eu odeio isso também. Eu—eu não tenho escolha. Eu vou
estar com o resto dos servos no castelo de Riddle o dia todo amanhã,
preparando a festa, eu vou ser escoltado de volta a Azkaban com o resto
assim que a festa acabar."

"Nunca há a porra do tempo suficiente," Sirius engasga, inclinando o rosto


para enterrá-lo no peito de Remus.

"Ei, eu—eu queria pedir um favor," Remus murmura, passando os dedos


pelo cabelo de Sirius e esperando que ele levante a cabeça, o coração
apertando quando vê que os olhos de Sirius estão molhados. "Minha carta. Eu
não posso mantê-la comigo, ou eles vão encontrá-la, mas eu estava esperando
que você a guardasse para mim. Eu a deixei no suporte ao lado da cama. É
minha, a única coisa que eu realmente tenho, e não posso imaginar confiar em
ninguém além de você."

"Sim," Sirius sussurra, piscando rápido e forte. Ele dá um aceno severo,


como se esta fosse uma missão muito importante—e, para ele, Remus não
duvida que seja. "Claro, Remus."

216
ZEPPAZARIEL

"Obrigado," Remus sussurra de volta.

"Eu posso te ver na festa?" Sirius pergunta, sua voz tensa. Ele parece tão
desesperadamente esperançoso. "Eu não quero dizer apenas ver um ao outro
do outro lado da sala, ou quando eu pego uma bebida de uma bandeja que
você está carregando. Eu quero—eu quero—"

É arriscado. É sempre arriscado, entre eles, não importa onde eles estejam
ou o que estejam fazendo. Eles assumem os riscos de qualquer maneira,
porque sempre vale a pena. Remus diz, "A cada hora, os servos se revezam
para varrer o chão dos outros quartos para limpá-los, caso alguém tenha
deixado para trás copos ou pratos ou qualquer outra coisa, geralmente aqueles
que escapam com amantes e tal. Se você notar quando eu sair, você pode
seguir. Nós não teremos muito tempo, Sirius, mas é—é alguma coisa..."

Sirius abre um sorriso triste. "Alguma coisa é sempre suficiente para mim,
desde que seja com você."

~•~

O dia da festa amanhece brilhante e agitado, com Pandora acordando


todos e reunindo-os no que James sabe que Sirius e Regulus consideram uma
hora obscena. Ambos estão igualmente descontentes por estarem acordados,
usando carrancas duplas que os fazem parecer mais um com o outro do que
James honestamente já viu. É estranhamente adorável.

James é um madrugador, então ele está indo bem. Um pouco cansado de


acordar durante a noite com pesadelos, mas isso é rotina neste momento. Ele
já está acostumado com isso.

Pandora faz café no qual todos podem se afogar para acordar, exceto que
Regulus não gosta de café, então James se levanta para fazer uma xícara de
chá para ele, já que Pandora não sabe, Sirius está perto de adormecer
novamente, e Regulus apenas—não. Ele é do tipo que sofre em silêncio,
James sabe, e ele realmente não pode ficar parado e não fazer nada sobre isso
quando está ciente disso. Isso o torna patético? Bem, ele é sempre patético
sobre Regulus. Ele está acostumado com isso agora também.

A questão é que ele não se ressente disso. Na verdade, ele não guarda
nenhum ressentimento por sua incapacidade de ignorar Regulus em qualquer

217
CRIMSON RIVERS

capacidade. Na maioria das vezes, isso realmente o conforta. E, de vez em


quando, dá a ele pequenos momentos para dobrar e manter aquecido em seu
peito, algo para apreciar.

Como agora. Regulus parece genuinamente surpreso quando James lhe traz
uma xícara de chá. Ele nem parece perceber que é para ele no começo, mas no
momento em que clica, seus olhos ficam um pouco arregalados e suas
bochechas ficam um pouco vermelhas. Parece uma recompensa, francamente,
e James esconde seu sorriso enquanto se afasta. Regulus toma seu chá entre as
palmas das mãos como se fosse a coisa mais preciosa que ele já recebeu,
bebendo lentamente e ficando mais vivo enquanto Sirius bebe o café como se
fosse sua fonte de vida bem ao lado dele.

Pandora dá um resumo do que esperar na festa, o que equivale ao que


James já esperava. Ele e Regulus são tecnicamente os convidados de honra,
então muita atenção estará sobre eles durante a noite. As pessoas vão querer
falar com eles, dançar com eles, apenas... estar perto deles. Provavelmente será
insuportável, honestamente, mas uma vez que eles passarem por isso, eles
estarão fora dos holofotes na maior parte do tempo.

Na festa, eles têm que comer em algum momento, para não serem vistos
como ingratos. Eles têm que conhecer funcionários do governo, apertar suas
mãos e basicamente encantá-los. Eles precisam conhecer patrocinadores,
especialmente aqueles que doaram para eles em seus jogos, e essencialmente
expressar imensa gratidão. Eles precisam ser vistos se misturando com os
outros mentores que estão todos viajando para a festa hoje, incluindo os
mentores daqueles que eles mataram pessoalmente, como mais um sinal de
que os horrores da arena são algo que as pessoas podem simplesmente
ignorar. Durante tudo isso, eles precisam ser amigáveis, educados e
aparentemente felizes, enquanto fazem um show com o seu romance.

Dizer que James está nervoso seria um eufemismo.

No entanto, o dia passa e não demora muito para que todos sejam
conduzidos a Dorcas, que não irá à festa, mas está absolutamente linda como
sempre. Ela não está usando seu colar Hallow is Hollow, e James não consegue
se lembrar da última vez que o viu, mas ela está adornada com muitos
acessórios bonitos pelos quais ele continua se distraindo, literalmente
apaixonado por coisas brilhantes. Isso a faz sorrir.

218
ZEPPAZARIEL

"Você está linda," James diz a ela honestamente. "Bem, você sempre
parece sensacional, honestamente, mas você entende o que eu quero dizer."

Dorcas ri. "Sim, e obrigado. Aqui, vire-se para mim; ah, obrigada, meu
amor. Você também está lindo, a propósito."

"Tudo graças à você."

"Mm, não, a verdadeira beleza não tem nada a ver com o que podemos
ver, James. É algo completamente diferente. Você brilha com isso."

James se sente ridiculamente tímido. "Você acha?"

"Eu acho," confirma Dorcas.

"Você acha que... Regulus pensa assim?" James resmunga fracamente,


porque ele é guloso por punição e também muito patético.

Dorcas se vira para ficar na frente dele, seu rosto suavizando quando ela
encontra seus olhos. "Tenho certeza que sim, ainda mais do que qualquer
outra pessoa neste mundo, e acho que isso o cega. Acho que, para ele, você
brilha tanto que é difícil para ele ver você."

"Eu quero que ele me veja," James sussurra.

"Não se preocupe," Dorcas lhe assegura, "Ele não consegue desviar o


olhar, e acho que seus olhos estão começando a se ajustar."

James não consegue evitar ficar satisfeito com o pensamento, abaixando a


cabeça enquanto começa a mexer nas suas abotoaduras, atingido com a
esperança que ela convidou a entrar em seu coração para não faze nada além
de balançar para frente e para trás em seus calcanhares e sorrir para baixo no
chão. Dorcas gentilmente puxa as mãos de suas abotoaduras e dá a ele outra
coisa para mexer—sua pequena bolsa que tem um fecho que ele pode clicar e
desfazer repetidamente enquanto ela se agita ao redor dele e termina de
prepará-lo.

Vendo que todos eles estão chegando como uma unidade em um grupo
esta noite, causando impressões como um esforço de equipe, Dorcas está
essencialmente preparando todos eles. No momento em que ela termina com

219
CRIMSON RIVERS

todos eles, cada um parece tão bonito que James poderia chorar
honestamente.

Ela colocou Regulus em uma maldita gola alta feita daquele material macio
de cashmere que o faz parecer quente e doméstico, o que faz com
que James queira rastejar dentro do material com ele e simplesmente morar lá.
Quanto a Pandora, ela vestiu um terninho, exceto que o casaco se prende em
um cinto e flui em uma capa em trenzinho que James sabe que ele estará
constantemente se lembrando de não pisar; parece brilhante, no entanto. E
Sirius foi enfiado em calças pretas que parecem pintadas e uma daquelas
camisas de seda que descem na frente, não mostrando muito, mas mostrando
o suficiente para que as pessoas sonhem ansiosamente em ver mais, sem
dúvida; oh, e ela também confiou nele em um par de botas pretas de salto alto
que o tornam realmente mais alto que James pela primeira vez, embora apenas
por uma polegada ou duas.

Depois disso, tudo o que resta a fazer é ser escoltado para o castelo, o que
aparentemente eles têm que fazer em carruagens novamente, mesmo que
James ache um pouco ridículo quando eles podem literalmente levar carros. É
irritante entrar e sair da carruagem, que é muito alta do chão—mais alta do
que um carro seria—e coloca um pouco de tensão na perna dele. Isso o faz
desejar ter trazido sua bengala. Além disso, as carruagens são puxadas por algo
chamado testrálio, que é apenas uma criatura animatrônica parecida com um
cavalo a vapor que funciona com tecnologia que permite que eles sejam
codificados para serem revelados apenas para aqueles que viram a morte em
pessoa.

Sirius diz que é uma coisa simbólica, como tributos que chegam não
costumam ver os testrálios durante o desfile de apresentação, e apenas o
Vitorioso pode ver quando a turnê da vitória começa. James acha que é
mórbido, e não ajuda seus sentimentos que os testrálios sejam realmente
assustadores.

Durante todo o caminho para o castelo, Sirius e Pandora continuam dando


a ele e a Regulus lembretes e encorajamento, o que é apreciado, mas não ajuda
os nervos de James. Embora, honestamente, James duvide que qualquer coisa
possa ajudar de qualquer maneira. Ou, ele pensa isso até que os dedos de
Regulus cobrem abruptamente o lado de sua mão, hesitando apenas um
momento antes de deslizar para empurrar entre as fendas dos dedos de James.

220
ZEPPAZARIEL

Suas mãos se unem, e James esquece de ficar tão nervoso porque está muito
ocupado olhando como suas mãos se encaixam.

O prazer interior de James por ter a mão de Regulus na sua é rapidamente


desfeito quando ele percebe o porquê.

Eles chegaram.

Pandora sai primeiro, e Sirius está logo atrás dela, pulando de salto alto
como se fosse fácil. Por um segundo, nem James nem Regulus se movem, e
então eles trocam um olhar rápido antes de sair da carruagem. Regulus vai
primeiro para ajudá-lo a descer, pelo que James é grato.

James fica imediatamente sobrecarregado no momento em que eles


chegam ao castelo. Eles são conduzidos a um enorme salão cheio de pessoas.
É tudo brilho e glamour, cores chamativas e estilos excêntricos, risadas
tilintantes e olhos curiosos. Há uma mesa muito longa exibindo tanta comida
que James tem certeza que é desperdiçado com essas pessoas, assim como
servos agitados com bandejas de comida e bebida. Embora não haja um bar,
há uma mesa cheia de diferentes taças de vinho e champanhe.

A primeira hora da festa passa apressada. James honestamente não tem


tempo para se preocupar com muita coisa, porque Sirius insiste que eles tirem
certas coisas do caminho primeiro, só para ter certeza de que está feito.
Conhecer os patrocinadores é o primeiro, e James nem precisa fingir tanto
para ser grato ao falar com cada um. Sim, eles podem ter exigido um show,
mas mesmo assim forneceram o dinheiro que salvou sua vida—e também
ajudaram Regulus.

Regulus claramente luta com isso, mas James suspeita que ele vai lutar com
tudo esta noite. Este é basicamente um cenário de pesadelo para ele.
Ele odeia socializar, James sabe disso, então ele tenta fazer a maior parte do
trabalho pesado para ele, e Sirius pega muito disso também. Eles são muito
bons em serem charmosos, principalmente juntos, e deixam cada pessoa
sorrindo e satisfeita.

Pandora faz o trabalho pesado com os funcionários do governo, que eles


tiram do caminho em seguida. Como uma Relíquia, ela pelo menos sabe seus
nomes, e todos basicamente seguem sua liderança. É um sentimento diferente,
porque essas pessoas têm poder.

221
CRIMSON RIVERS

James se sente muito, muito sujo depois de apertar todas as mãos deles e
essencialmente agir como se o que eles fazem não fosse errado, como se o que
eles fazem não se espalhasse e afetasse os distritos, como se o que eles fazem
não criasse pobreza, morte e sofrimento. Eles podem não fazer todas as
regras, mas ficam felizes em aplicá-las, muito dispostos a manter os outros
para baixo para que possam subir mais alto.

Ele fica grato quando Sirius os leva para longe e promete que eles não
precisam mais procurar nenhuma dessas pessoas. Assim, eles podem evitá-los
pelo resto da noite. Tudo o que resta é se misturar com os mentores e lidar
com qualquer outro convidado que exija sua atenção.

Sirius e Pandora estão lá com eles para a primeira metade dos mentores.
Os que Sirius não gosta, ou não é próximo. Lucius e Yaxley, por exemplo. É
tão tenso quanto o esperado, honestamente. Lucius é o pior.

"Cuidado para não esfaquear ninguém esta noite, Regulus," Lucius diz,
levantando seu vinho em um brinde com um leve sorriso. "Este é um evento
formal, e eu não acho que seu pequeno... romance será suficiente para manter
você longe de problemas para sempre."

"Vai se foder, Malfoy," Sirius retruca rispidamente, antes que alguém possa
dizer uma palavra.

"Você nunca sabe quando tomar cuidado com a sua boca, não é?" Lucius
responde, seu lábio se curvando em desgosto.

Yaxley bufa. "Não, mas ele claramente sabe como usá-la." Ele acena para
Sirius, especificamente para a marca em seu pescoço que James sabe que
Remus deixou lá. "Se o romance deles não pode mantê-los longe de
problemas, Sirius usando seu corpo com certeza vai."

Regulus e James avançam ao mesmo tempo, suas mãos se partindo porque


estão preparados para usá-las, mas Pandora balança o braço para deter
Regulus e Sirius pega James pelo peito rapidamente, mantendo-o parado. Há
um momento tenso em que um grupo de assassinos se encara, sem se opor a
adicionar mais alguns nomes às suas listas. Oh, e Pandora também está lá,
surpreendentemente calma apesar disso.

222
ZEPPAZARIEL

"Sim, Yaxley, deixe mais óbvio o quão amargo você é porque as Relíquias
não acham você nem um pouco desejável." Sirius lhe dá um sorriso afiado.
"Você sabe que eles não se contentam com menos do que o melhor, e não é
minha culpa que isso seja claramente você."

"Alguns de nós têm padrões, Black," Yaxley retruca, eriçado.

"É isso que você diz a si mesmo cada vez que eles te rejeitam?" Sirius
ironiza, rindo quando Yaxley o encara e começa a avançar também, apenas
para ser parado também. Sirius cantarola. "Bem, terminamos aqui. Os
Vitoriosos deste ano têm assuntos mais importantes para tratar, você
entende."

"Nós entenderíamos melhor do que você," declara Lucius. "Afinal, você


nunca transformou um tributo em um Vitorioso antes, não é? É uma pena
que você não se importe com nenhum deles como você se importa com seu
melhor amigo e irmão, ou você poderia tê-los levado para casa."

Sirius fica rígido ao lado de James, sua expressão endurece, e James sente
uma onda de raiva tão forte que ele nem se importa quando se vê dizendo,
"Ei, Reg, lembra daquela vez que você cortou a mão de Mulciber?"

"Sim," Regulus responde imediatamente, sua voz fria.

"Foi bom, não foi?" James pergunta levemente, observando os lábios de


Lucius se apertarem em uma linha fina.

"Foi fantástico pra caralho," anuncia Regulus, sem perder o ritmo. "Só
lamento não ter terminado o que comecei."

James sorri para Lucius, que está claramente irritado. "Está tudo bem,
amor, eu cuidei disso."

"Mm, isso é verdade," Regulus reflete.

"Mas você lidou com Avery de qualquer maneira," diz James. "É uma pena
que o mentor deles não os preparou para nós, hein?"

Regulus cantarola. "Uma verdadeira pena."

223
CRIMSON RIVERS

"Ano que vem," Lucius sussurra, olhando direto para Sirius, "Eu vou
garantir que seus tributos não passem do primeiro dia."

"Oh, eu tomaria cuidado com isso, Lucius," Sirius retruca, olhando para
ele. "Não funcionou tão bem da última vez, funcionou?"

Lucius dá um passo à frente, os olhos brilhando. "Seu pequeno—"

"Como Sirius disse," Pandora interrompe, "Nós terminamos aqui."

Com isso, Pandora dá a Lucius e Yaxley um olhar tão frio e fulminante que
eles realmente param e calam a boca, embora isso possa ser apenas porque ela
é uma Relíquia. James não tem certeza. De qualquer forma, Pandora diz que
eles terminaram, então eles terminaram. Ninguém protesta quando ela os cala.

Eles passam por mais alguns mentores que Sirius conhece apenas
vagamente, e a maioria deles são educados, mas distantes. Alguns já estão
bêbados, o que é meio triste, honestamente.

Sirius está perdido para eles no momento em que eles encontram Marlene,
Frank e Emmeline. Ele instantaneamente pede a Marlene para dançar, apenas
para receber uma risada e um simples em seus malditos sonhos, Black que o faz
apertar o peito como se tivesse levado um tiro. Emmeline fica com pena dele
depois disso—ou, bem, ela apenas dá um passo à frente e diz que gostaria de
dançar, então Sirius se anima e a leva para a pista de dança.

Marlene se afasta para pegar outra bebida, aparentemente, e então há


apenas quatro. Frank balança a cabeça entre James, Pandora e Regulus.

Finalmente, Frank limpa a garganta e diz, "Então, James—"

"Não," Regulus interrompe antes que ele possa terminar, seus olhos
semicerrados. Ele solta a mão de James para segurar seu braço em vez disso,
puxando-o para longe sem aviso, deixando Pandora e Frank sozinhos.

"E para onde nós vamos?" James murmura, desamparadamente divertido,


talvez um pouco entretido.

"Nós vamos dançar."

"Oh, nós vamos? Sabe, normalmente as pessoas perguntam—"

224
ZEPPAZARIEL

"Cale a boca e dance comigo," Regulus interrompe com um bufo,


claramente mal-humorado, incapaz de tirar a carranca do rosto.

"Tudo bem, tudo bem," James diz com uma risada silenciosa, puxando
Regulus pela mão enquanto desliza o braço ao redor de sua cintura para puxá-
lo para mais perto.

Regulus está dolorosamente tenso nos braços de James, rígido como se


estivesse lutando, como se estivesse travando alguma batalha interna. O que
James não daria para se juntar a ele na linha de frente e ajudá-lo a vencer, ou
morrer tentando. Ele simplesmente não sabe pelo o que lutar, então ele só
pode assistir do lado de fora e esperar que ele possa fornecer apoio suficiente
para ajudar Regulus. Resumindo, ele mantém Regulus perto, porque ele tem
que estar perto agora, nesse cenário, e não chama a atenção para o fato de que
Regulus está lutando.

Eles estão cercados por pessoas dançando ao redor deles, pessoas que dão
uma segunda olhada quando percebem que são eles, e sem dúvida estão sendo
observados por pessoas à margem, mas, felizmente, ninguém está perto o
suficiente para ouvir o que eles estão realmente dizendo.

James ainda mantém sua voz baixa ao falar de qualquer maneira, só para
estar seguro. "Do que você está com ciúmes?"

"Ele gosta de você," Regulus resmunga.

James estala a língua. "Provavelmente apenas como um amigo, por um


lado. Pelo outro, mesmo que ele gostasse, isso realmente não importaria. Você
sabe disso."

"Certo, mas ele—" Regulus abruptamente se interrompe, embora não


pareça ser de propósito. Ele finalmente virou a cabeça para olhar para James,
e agora ele parece bastante preso. Todo o aborrecimento anterior se foi, como
se tivesse evaporado no local. Eles balançam lentamente, e Regulus olha para
James com os lábios entreabertos.

"O que?" James pergunta.

Regulus engole. "Você parece bonito."

225
CRIMSON RIVERS

"Você parece com casa," James sussurra, porque é a primeira coisa que sai
de sua boca, apenas a simples verdade.

São apenas quatro palavras, mas devem ser feitas de magia, porque Regulus
praticamente derrete. James sente isso. Regulus genuinamente apenas se
amolece e afunda em James, deslizando os braços sobre os ombros de James
para prendê-los atrás de seu pescoço, pressionando-os mais juntos. Toda a
luta sai dele, assim. James se ajusta, envolvendo os braços em volta da cintura
de Regulus. Eles continuam balançando, tão perto agora que não podem nem
ver mais ninguém.

"Me desculpe," Regulus murmura.

"Por quê? Por me beijar ontem?" James pergunta, observando-o


atentamente, porque sim, ele quer falar sobre isso.

"Eu—aquilo foi—foi necessário," Regulus começa, a tensão lentamente se


infiltrando em seu corpo.

James zomba. "Não minta para mim. Você acha que eu não te conheço
bem o suficiente para saber quando é apenas fingimento, ou quando é real?
Me dê um pouco mais de crédito. Eu sei que foi real."

"Você—isso te chateou?" Regulus pergunta com cuidado.

James hesita, e Regulus fica com aquele olhar de pânico em seus olhos
novamente, o mesmo olhar que ele tinha na noite em que ele pediu para
dormir com ele. Isso aperta as cordas do coração de James toda vez, e toda
maldita vez, James não consegue mandá-lo embora. Como ele pode? Ele ama
Regulus. Ele não quer rejeitá-lo, nunca, mesmo que doa continuar deixando
ele perto sem tê-lo.

"É—é complicado," James se acomoda.

Regulus respira fundo e, quando volta, é uma risada rouca. "Sim, as coisas
sempre são conosco, não são?"

"Isso não," James reflete, incisivamente puxando Regulus ainda mais para
indicar o que ele quer dizer. "Você acha que é tão fácil nessa nossa outra vida?
Eu imagino que é assim que nós dançamos nessa vida, muito perto, à luz do
fogo."
226
ZEPPAZARIEL

"Eu tenho imaginado isso desde os dez anos," resmunga Regulus. "Na
minha cabeça, nós estamos sempre sozinhos."

"Nós podemos ficar sozinhos," James diz a ele. "Nós podemos sair agora e
ir a algum lugar onde ninguém possa nos encontrar. Tenho certeza que temos
opções em um castelo tão grande quanto esse."

"Nós não podemos," diz Regulus. "Nós devemos—"

"Eu não dou a mínima para o que nós devemos fazer," James corta
descaradamente. "Você sabe o que eles vão supor que estamos fazendo."

"Fugindo," Regulus murmura.

James suspira em exasperação e diversão. "Não, Reg. Fodendo. Eles vão


assumir que nós escapamos para encontrar um canto para foder."

"Oh," Regulus engasga, um rubor se espalhando em suas bochechas, seus


olhos brilhando enquanto ele inala bruscamente e prende a respiração,
mordendo o lábio inferior com tanta força que James pode ver a marca branca
que seus dentes deixam para trás. É tão tentador.

"Não olhe para mim assim," James sussurra, cada centímetro dele focado
com total interesse agora, seu estômago afundando enquanto o calor desliza
sob sua pele e inunda suas veias.

"Eu não posso evitar," Regulus sussurra de volta, exalando trêmulo.

"Bem, eu preciso que você pare," James resmunga. "Porque eu—eu não
posso fazer isso. Eu não posso, Regulus, especialmente não agora, não essa
semana quando estamos fingindo assim. Eu não posso fazer isso e saber que
não muda nada, não dessa vez."

Regulus parece ferido. "Você se arrepende da última vez?"

Última vez. Oh, da última vez. Aquele último dia na Relíquia, quando eram
apenas eles, quando era sua escolha e seus desejos, mesmo antes de estarem
prontos. Essa foi a última vez que eles se tocaram enquanto não estavam na
frente de uma câmera, ou de uma multidão, até essa turnê. Aquele beijo
profundo e consumidor, e os muitos que se seguiram. Olhando para trás,

227
CRIMSON RIVERS

James se pergunta se foi um presente de despedida, a finalidade de um adeus a


algo que eles nunca teriam.

"Sim," James diz, porque ele o faz. Ele disse que não se arrependeria, e ele
o faz. Isso faz ele doer. Isso faz ele ansiar. Isso faz ele querer de novo, querer
doer, querer mais.

"Eu sabia que você iria," Regulus diz, seus olhos se fechando.

"Eu não posso evitar," murmura James, um eco das palavras anteriores de
Regulus. Os olhos de Regulus se abrem. "Eu não posso evitar como eu te
amo."

Regulus faz um pequeno som, quieto no fundo de sua garganta, e então ele
está derretendo ainda mais para tentar juntar suas bocas. James se esquiva
com cuidado, virando a cabeça para pressionar suas bochechas juntas,
abaixando o rosto enquanto fecha os olhos. É a primeira vez que ele rejeitou
Regulus, se afastou de qualquer coisa que ele ofereceu, e parece que está
partindo seu coração também.

"Desculpe," Regulus engasga. "Me desculpe. Me desculpe, James, me


desculpe. Eu sei que eu—eu sei, me desculpe."

"Regulus, ei, não—está tudo bem. Apenas respire," James diz, se afastando
para observá-lo com cautela. "Olha, eu não culpo você pelo que você não
pode fazer, certo? Honestamente, eu não acho que eu possa fazer isso
também, especialmente não durante isso, não aqui."

"Eu tenho sido tão cruel com você, pedindo demais e dando basicamente
nada," Regulus diz a ele, quase frenético, suas palavras saindo dele. "Eu
ignorei você, porque eu—porque eu estou com medo pra caralho o tempo
todo, e ter que fingir só torna as coisas mais difíceis, mas eu também não
consigo deixar você em paz. Eu não consigo parar de querer—eu ainda
quero—e eu estou perdendo você de novo e de novo. Eu continuo perdendo
você, e eu odeio isso. É por isso que eu odeio você, porque eu não posso ter
você, porque mesmo quando eu poderia ter você, eu não estou pronto, ou eu
estou com muito medo, ou as pessoas querem reivindicar isso para si mesmas,
ou todos os três, e eu odeio tudo. Eu—"

"Regulus," James interrompe calmamente.

228
ZEPPAZARIEL

"Eu odeio você, e tudo, e tudo menos você," Regulus sussurra, seu corpo
todo tenso como se ele estivesse prestes a se partir ao meio. "Eu estou
perdendo você. Eu sei que estou. Você está ficando cansado de mim, eu
posso sentir isso, e eu não posso nem culpar você porque eu estou cansado de
mim também. Eu—eu me odeio, principalmente."

"Regulus, eu preciso que você pare, e eu preciso que você respire," James
diz a ele, esfregando as mãos para cima e para baixo nas costas de Regulus,
seu coração apertando violentamente em seu peito repetidamente. Ele engole
o nó na garganta e se inclina para pressionar suas testas juntas, inspirando e
expirando, esperando Regulus o copia. "Me ouça, tudo bem? Eu não estou me
cansando de você. Eu nunca poderia me cansar de você. Eu estou cansado,
sim, mas não é por sua causa. É por causa das circunstâncias de merda, e eu...
estabelecendo limites e recuando um pouco não significa que você está me
perdendo."

Regulus inspira e expira, lentamente, acompanhando o ritmo de James.


Juntos, eles inspiram e expiram, repetindo o ciclo até que pareça mais natural
para ele novamente. Seus dedos flexionam nos ombros de James, e ele
continua pressionando como se quisesse abri-lo e rastejar para dentro, talvez
se esconder dentro dele. Ele disse que James o faz se sentir seguro, e James
não acha que nada o tenha feito se sentir simultaneamente forte e fraco como
saber disso.

Lentamente, aos poucos, Regulus se acomoda novamente.

"Eu sei que os nossos sentimentos em relação a nós mesmos são muitas
vezes mais duros do que merecemos," James continua suavemente, "E eu sei
que não é tão simples quanto decidir amar a nós mesmos, mas eu acho que se
esforçar para tentar vale a pena. "

"Eu nem gosto de mim mesmo," Regulus confessa baixinho.

"Isso é uma tragédia," James murmura, "Porque você é uma das minhas
pessoas favoritas. Eu gostaria que você se conhecesse como eu conheço
você."

"E se você estiver errado?" Regulus sussurra.

James se inclina para trás e encontra seus olhos. "E se você estiver?"

229
CRIMSON RIVERS

Regulus olha para ele, segurando seu olhar, e há tanto tumulto em seus
olhos que James tem certeza de que poderia ser sugado para o redemoinho de
complexidades e nunca encontrar a saída. Ele está realmente lutando com
tudo isso e, francamente, James não está muito melhor, mas à sua maneira,
eles estão tentando.

Regulus engole em seco e resmunga, sem aviso ou guia, "Você ainda vai
me trazer flores?"

"Sim, Regulus, eu ainda vou te trazer flores," James promete gentilmente,


seus lábios se curvando.

"Ok, bem, se—se você—apenas, se você bater, eu vou convidar você para
um chá," Regulus diz suavemente. "Se estiver tudo bem. Você não—quero
dizer, obviamente você não tem que vir, mas você pode se quiser. Eu gostaria
que você viesse. Eu... espero que você venha."

"Isso seria bom," James admite.

"Alguns dias, eu não falo," Regulus o informa. "Eu simplesmente—não


consigo. Não é mais tão frequente, mas pode haver alguns dias em que eu não
vou ser uma boa companhia."

"Você não tem que falar." James estende a mão para agarrar a mão de
Regulus, entrelaçando seus dedos frouxamente. "Nós podemos sentar em
completo silêncio, e eu vou ficar feliz em estar com você, desde que você me
queira por perto."

"Eu sempre quero você por perto," Regulus murmura.

"Bem, você pode ter isso a qualquer momento," James o assegura. "Você
não tem que me dar nada para... me ganhar, Regulus. Se você quer me ver,
então me veja. Se você quer sentar comigo, então me mostre a cadeira."

"Eu quero—" Regulus hesita, então puxa suas mãos unidas, puxando-as
até a boca, embora ele não toque. Ele espia James através de seus cílios. "Eu
posso?"

James jura que seu estômago desce uma colina, seu coração estremece de
excitação em seu peito. "Sim."

230
ZEPPAZARIEL

Regulus fecha os olhos e dá beijos suaves sobre os dedos de James, as


colinas de seus dedos, a curva entre o polegar e o dedo indicador. Ele faz isso
com reverência, como se as mãos de James fossem divinas, destinadas a serem
adoradas, como se nunca tivessem sido cobertas de sangue. James tem que
prender a respiração, cada parte de seu corpo cantando em puro deleite.

Ele continua, sem parar, Regulus ficando mais ansioso a cada beijo, quase
desesperado. Ele abre a mão de James para dar beijos quentes na palma da
mão, até a colina abaixo de seu polegar e depois sobre a curva de seu pulso.
Ele pressiona a boca no pulso ali, logo abaixo da pele, demorando-se por um
longo tempo. James luta para respirar.

James está com medo de chorar. Tipo, de verdade? Não, sério, seus olhos
estão ardendo com força, e ele nunca—ele nunca sentiu nada assim. Ele
precisa desesperadamente que isso pare e simultaneamente espera que nunca
acabe.

"Reg," James resmunga, piscando com força.

"Essas mãos—suas mãos devem ser adoradas," diz Regulus, como se fosse
apenas um comentário improvisado, e ele realmente parece um pouco
descontente por não haver santuários construídos em homenagem às mãos
dele. "Eu adoro suas mãos."

James engole. "Elas—elas destroem as coisas agora, quando nunca o


fizeram antes. Elas são duras às vezes. Amaldiçoadas."

"Quentes," Regulus responde, dando outro beijo nos dedos trêmulos de


James. "Firmes. Fortes. Essas mãos seguram as pessoas que você ama. Essas
mãos cuidam delas. Elas são gentis. Ternas." Ele vira a mão de James
levemente e beija o espaço entre o polegar e o indicador, aquela linha onde o
cabo de um machado ficaria. "Eu não suporto ser tocado, na maioria das
vezes, mas é o seu toque que eu sinto mais falta."

"Regulus, Regulus," James sussurra com urgência, dedos se contorcendo


contra a boca de Regulus, e sua voz falha porque ele está ridiculamente
engasgado agora.

"Suas mãos são tão lindas. Você é tão lindo, James," Regulus diz a ele,
levantando o olhar para que seus olhos se encontrem e se cruzem. Ele parece

231
CRIMSON RIVERS

estar falando sério, como se ele acreditasse de todo o coração. Há algo


pacífico em seus olhos quando ele coloca sua bochecha na palma aberta de
James, descansando-a ali, e ele fecha os olhos de uma maneira que parece tão
vulnerável, tão confiante, que James não consegue respirar por um momento.
Regulus fica lá e exala, "Ser tocado por você é ser abençoado por uma
divindade. Eu sei que não sou digno, mas eu desejo incessantemente mesmo
assim."

"Eu pensei que eu fosse o diabo," James engasga.

"Você também é isso. Você é tudo para mim, amor." Regulus vira a cabeça
e dá outro beijo na palma de James, os olhos ainda fechados. De novo e de
novo, ele chove mais beijos em seus dedos, parecendo que está bebendo a
salvação da palma da mão de James.

"Ok. Ok, ok, ok," James canta sem fôlego, balançando para frente para
pressionar suas testas juntas novamente, envolvendo o braço livre em volta da
cintura. Ele emaranha suas mãos mais uma vez e respira trêmulo quando
começa a puxá-las em círculos lentos novamente, sem saber quando pararam.
"Você—você não pode fazer coisas assim comigo. Sobre o que
nós acabamos de conversar?"

"Desculpe," Regulus murmura.

"Porra, por favor, não se desculpe," James bufa. "Você é incrível. Você é
tão fodidamente adorável, Regulus. Você nem sabe, e isso me mata. Você não
tem ideia do que você faz comigo."

Regulus fica quieto por um momento, e então, "Eu acho que, na maioria
das vezes, apesar dos meus melhores esforços, tudo que eu faço é te
machucar."

"Isso não é tudo que você faz," James sussurra, "E mesmo quando você
faz, é bom pra caralho. Eu não consigo me cansar de você."

"Lembre-se de seus limites, James."

"Você acabou de explodir todos eles. Eu não poderia dar a mínima para
eles no momento. Venha aqui. Eu sinto sua falta. Oh, eu—"

232
ZEPPAZARIEL

"Não," Regulus interrompe, inclinando a cabeça para baixo para que James
não possa beijá-lo como ele está tentando desesperadamente. "Você disse não,
você disse que era melhor para você, e eu vou respeitar isso, James. Eu não
vou fazer algo que você vai se arrepender, não de novo."

James geme. "Porra, eu sou tão estúpido. Você pode simplesmente—


esquecer que eu disse isso? Por favor? Eu já esqueci. Viu como é fácil?"

"Não, James," Regulus diz com uma bufada silenciosa de riso gentil, mas
ele acalma James envolvendo seu braço livre em volta do pescoço de James e
trazendo suas mãos unidas entre seus peitos. Ele abaixa a cabeça para dar um
beijo gentil nelas, então se inclina e descansa a cabeça no ombro de James
com um suspiro suave. "Eu vou fazer a coisa certa. Se eu não posso escalar,
eu vou evoluir."

"O que é isso?" James pergunta.

Regulus apenas cantarola. "Nada para se preocupar. Apenas dance comigo.


Vamos apenas dançar, James, só eu e você. Isso é nosso, mesmo que não
estejamos sozinhos."

"É nosso," James concorda. "É só eu e você, amor."

E é. Eles estão juntos, balançando em círculos lentos e de um lado para o


outro, segurando um ao outro, totalmente sozinhos na mente de James.
Porque, para ele, a sala inteira—o mundo inteiro—desapareceu, junto com
todos que nela estão. Não há ninguém mais. Nada mais.

Só isso e só eles.

~•~

Sirius dançou com nada menos que oito pessoas, porque Emmeline o
abandonou em algum momento para ir caçar Marlene para uma dança—o
que, Sirius observa, não funcionou para ela, claramente, porque ela agora está
dançando com Pandora, que provavelmente ofereceu quando ela não
conseguiu encontrar Marlene ou quando Marlene recusou. Marlene não gosta
de dançar.

Então, Sirius recorreu a dançar com várias Relíquias, ou patrocinadores


com os quais ele conta a cada ano, ou patrocinadores com os quais espera
233
CRIMSON RIVERS

contar no próximo ano, porque o trabalho nunca termina para um mentor.


Mesmo agora, ele está trabalhando.

Enquanto isso, James e Regulus estão seguros onde estão, tão intimamente
envolvidos que ninguém os incomoda. Bem, muitas pessoas os assistem, e há
risadinhas e sussurros ao redor da sala, mas Regulus e James parecem tão
pacíficos juntos que, felizmente, ninguém parece ter coragem de tentar
interromper. As pessoas parecem entretidas pela maneira como eles mal estão
dançando, seus braços em volta um do outro enquanto eles balançam
preguiçosamente, como uma desculpa apenas para segurar um ao outro.

Sirius não vai mentir, ele está levemente invejoso, porque ele não pode
passar os braços em volta daquele que ele ama e sentir todo o resto
desaparecer. Em vez disso, ele dança com pessoas com quem ele realmente
não se importa, tomando alguns segundos livres entre cada parceiro para
localizar repetidamente o homem por quem ele os deixaria para trás.

É fácil para Sirius encontrar Remus. Ele o fez no momento em que entrou
na sala, e ele o encontrou inúmeras vezes desde então. Lá está ele, o bastardo
mais bonito nesta sala em nada além de roupas cinzas, nada lisonjeiras e uma
máscara preta que cobre basicamente metade de seu rosto, e ainda assim ele
envergonha todos os outros. O fato de que ninguém mais percebe isso só
prova o quão estúpidos e sem vida eles são, cegos demais por luzes piscantes e
sorrisos falsos para ver a verdadeira glória bem na frente deles.

Remus nem sempre está olhando para ele—ele tem outras tarefas para se
concentrar, infelizmente—mas desta vez, ele está. Toda vez que
ele está observando Sirius, ele está fazendo isso com um olhar encoberto, algo
tão intenso em seus olhos que tem a capacidade de enviar um arrepio na
espinha de Sirius por toda a sala. Há algo mais desta vez, um tipo significativo
de olhar que faz o estômago de Sirius revirar de antecipação.

"Com licença, Boris," Sirius diz educadamente, adotando um sorriso de


desculpas e dando um passo para trás. "Eu estou um pouco cansado. Só
preciso de uma pequena pausa por enquanto, mas não se preocupe, eu estarei
de volta para roubar outra dança adorável com você."

Boris apenas ri, não parecendo nem um pouco ofendido por sua partida
abrupta, e ele se afasta rapidamente da pista de dança. A maioria das pessoas
parece distraída por James e Regulus, então Sirius escapa com relativa
234
ZEPPAZARIEL

facilidade. Ninguém o detém na saída, e ele desliza pelo corredor, cada vez
mais longe da festa que se torna mais abafada à distância.

Neste andar, há pelo menos três outras alas cheias de salas diferentes para...
quem sabe por quê, honestamente? Sirius não se importa. Ele se afasta o
suficiente para não ouvir os sons distantes da festa, pega uma porta e se
encosta nela para esperar.

Ele não tem que esperar muito, felizmente. Eventualmente, há o som de


passos silenciosos, e sua cabeça gira para ver Remus se movendo pelo
corredor, mal olhando para ele quando ele para na primeira, bate, espera um
momento, então desliza para dentro. Sirius entra em sua própria sala,
levemente confuso ao ver que é um armário de serviço cheio de produtos de
limpeza. Bem, muito tarde agora. Ele não poderia ter escolhido um quarto
com uma cama?

Sirius se mantém parado até que Remus o alcance, mas no momento em


que Remus entra e tira sua máscara, Sirius avança para beijá-lo, apenas para
ficar um pouco desorientado pela mudança de altura. Ele ainda não é mais
alto que Remus, mesmo de botas, mas tem quase sua altura, então o beijo fica
um pouco fora do centro.

"Oops," Sirius respira, balançando para trás e piscando.

"Um pouco mais alto que o normal," Remus observa com um pequeno
sorriso, suas mãos deslizando pelos lados de Sirius. "Além disso, o armário de
limpeza?"

"Eu não sabia o que seria até chegar aqui," Sirius reclama, passando os
braços pelos ombros de Remus e se inclinando para ele. Ele nem precisa se
esticar para pressionar suas testas juntas. "Quanto tempo nós temos?"

"Apenas alguns minutos, no máximo. Sinto muito. Eu sei que não é tempo
suficiente, mas—"

"É alguma coisa."

Remus cantarola e inclina o rosto para a frente para roçar suas bocas, suave
e doce. "Com certeza é. Você está lindo, a propósito. Eu gosto dos saltos."
Ele desliza uma mão para cima para passar o dedo suavemente pelo centro do

235
CRIMSON RIVERS

peito de Sirius, onde sua camisa se abre. "Eu gosto mais disso quando eu sou
o único a olhar."

"Eu também," admite Sirius.

"A quantidade de pessoas babando em cima de você esta noite..." Remus


balança a cabeça, ambas as mãos pousando em seus quadris, flexionando.

"Sim, eles, tanto faz," Sirius diz descuidadamente. "E você, no entanto?"

"Eu mal posso fazer a porra do meu trabalho porque você é tão
perturbador," Remus o informa, beijando um caminho lento ao longo de sua
mandíbula.

A respiração de Sirius engasga, seus olhos se fecham enquanto Remus


mordisca a pele de sua garganta, os dentes presos enviando uma onda por
todo o seu corpo. Ele se sente fraco e agitado novamente, como Remus
muitas vezes o faz sentir, e seu desejo vem escorrendo por uma coisa e apenas
uma coisa, no momento. Tudo o que ele quer é a boca de Remus contra a sua.

Ele enrola os dedos no cabelo de Remus para puxar suavemente, fazendo


um som baixo que provavelmente é apropriadamente rotulado como carente,
mas ele não se importa porque funciona. Remus responde instantaneamente,
levantando a cabeça, e então é muito fácil para Sirius ter o que ele quer,
porque a boca de Remus está bem ali, e Remus simplesmente deixa ele ter sem
nenhum problema.

Sirius quer fazer isso para sempre, o tempo todo, constantemente. Ele só
quer beijar Remus todos os dias, abraçá-lo e tê-lo. Ele não se sente
necessariamente inteiro, ou completo, porque duvida que algum dia se sentirá
assim, não importa o quê. Mas ele não tem que sofrer aquela sensação horrível
de sentir falta de Remus, ansiando por ele, querendo-o e não podendo tê-lo.
Não há nada para se preocupar, nada para se assustar, quando ele tem Remus
tão perto, porque Sirius pode mantê-lo seguro e garantir que nada aconteça
com ele. Ele o ama. Oh, ele o ama tanto, com cada batida constante de seu
coração.

"Eu te amo, Remus, tanto," Sirius sussurra quando Remus lentamente se


afasta dele. "Eu sei que você tem que ir. Eu sei que você precisa, mas eu só—
eu quero que você saiba que eu já sinto a sua falta. Nós nunca temos tempo

236
ZEPPAZARIEL

suficiente, mas eu estou tão feliz por ter conseguido ver você de novo. Eu—
eu vou guardar essa carta para você, eu prometo, e eu te vejo em seis meses."

Remus respira fundo e solta o ar lentamente, então começa a levantar a


máscara, mas Sirius estende a mão para pegar seu pulso e balança para frente
para abaixar sua cabeça, dando um beijo dentro dela antes de girar a cabeça
para beijar Remus novamente. Quando ele se afasta, Remus está sorrindo para
ele, suave e adorável.

"Eu também te amo," Remus sussurra de volta. Ele se inclina para a frente
para bater suas testas suavemente uma contra a outra, suspirando
melancolicamente, então se afasta. "Espere alguns minutos antes de voltar
para a festa, e não se esqueça de se cuidar. Vejo você em seis meses, amor."

Com isso, Remus coloca sua máscara de volta e sai da sala como se nunca
tivesse entrado nela, e Sirius leva os poucos minutos que tem que esperar para
pressionar a mão sobre a boca e fechar os olhos enquanto o crescente soluço
em seu peito luta para sair. Ele o aprisiona ali, sentindo-o apodrecer, mas
sabendo que não pode ceder, não desta vez.

Quando Sirius volta para a festa, ele o faz com os olhos secos e um sorriso
radiante, ninguém ao seu redor percebendo que ele está dolorido, exceto o
lindo bastardo da máscara, quando ele finalmente retorna, que não pode fazer
nada além de assistir de longe.

237
CRIMSON RIVERS

38
NÃO CONVENCIDO

James não está preparado para alguém ser corajoso o suficiente para
interromper ele e Regulus enquanto eles dançam, então pega ele de surpresa
quando ele sente alguém tocar em seu ombro. Regulus lentamente levanta a
cabeça com assassinato em seus olhos.

Marlene parece imperturbável. "Acalme-se, Reginald, isso não vai demorar


muito. Eu preciso pegar seu namorado emprestado por alguns minutos, e será
rápido. Eu odeio dançar de qualquer maneira."

"Bem, você não está bastante requisitado?" Regulus murmura para James,
franzindo a testa enquanto ele dá um passo para trás.

"Oh, não—" James geme enquanto Regulus se vira e marcha em um claro


mau humor, indo direto para Sirius, que está olhando boquiaberto para
Marlene e James, incrédulo. James suspira e olha para Marlene. Sem rodeios,
ele diz, "Obrigado por isso."

"Ele é exigente, não é?" Marlene pergunta, divertida. Ela dá um passo à


frente e desajeitadamente apoia as mãos nos ombros dele, literalmente
mantendo-os no comprimento do braço.

238
ZEPPAZARIEL

"Muito imprevisível, como o irmão dele," James diz secamente, então


limpa a garganta e estende a mão para cuidadosamente colocar as mãos nos
quadris dela. Ela olha para ele, então ele entra em pânico e desliza as mãos
para cima, mas seu olhar só se torna mais pronunciado, e ela está
estrangulando seus ombros agora, então ele afasta as mãos completamente.
"Er, desculpe. Eu pensei que você queria dançar."

"Eu não quero, mas... eu gostaria de falar com você, e eu posso entender
porque você e o projeto menor de Sirius podem querer ficar na pista de
dança." Marlene suspira e olha para as mãos dele. "Vá em frente, coloque-as
de volta. Está tudo bem."

James faz uma pausa. "Você prefere que eu segure seus ombros? Podemos
trocar, se você quiser."

"Eu—" Marlene pisca. "Na verdade, sim. Menos... invasivo dessa forma."

"Claro," James diz simplesmente, porque ele entende o que ela quer dizer,
ele pensa. Eles trocam rapidamente, com as mãos dele descansando nos
ombros dela enquanto ela coloca as dela na cintura dele. Eles não estão
próximos, e é um pouco divertido porque ela é mais baixa que ele, mas isso a
deixa à vontade. "Além disso, projeto pequeno de Sirius? Ele é, tipo, um
centímetro mais baixo que ele."

"Sim, mas eu aposto que Sirius nunca o deixa esquecer disso, então eu
também não posso ser solidária," Marlene reflete. "Além disso, aposto que eu
poderia quebrar ele como um galho facilmente."

"Não?" James responde lentamente. "Quero dizer, sem ofensa, mas


definitivamente não seria fácil."

Marlene estala a língua. "Coitadinho. Você não tem esperança. Eu poderia


quebrar ele se eu quisesse. Honestamente, é meio engraçado, já que não
parece ser simples de fazer, porque ele está sempre olhando para as coisas."

"Sim, ele é fofo," James murmura, os lábios se curvando com carinho.


Então ele franze a testa. "Ele realmente tem músculos e é mais forte do que
parece."

239
CRIMSON RIVERS

"Não, eu sei disso. Eu sei melhor do que a maioria que as aparências


podem enganar, e eu o vi pegar você uma vez quando você estava desmaiado
e te carregar ladeira acima," admite Marlene.

James abre a boca, fecha e diz, "Ele fez isso? Espere, quando foi isso? Na
arena, eu sei, mas—mas eu não me lembro disso."

"Sim, porque você estava desmaiado." Marlene revira os olhos para ele.
"Foi depois de toda aquela confusão com Mulciber. Você não estava bem,
então Regulus pegou você. Como exatamente você acha que voltou para a
caverna?"

"Eu... nunca pensei sobre isso," James admite calmamente.

Marlene assente. "Suponho que seja justo. Foi... um jogo difícil. Seus jogos,
quero dizer. Definitivamente um dos mais brutais, eu diria. Eles vão falar
sobre isso por um longo tempo."

"Eu gostaria que eles não falassem," James confessa.

"Eu entendo," Marlene o informa, e ele sabe que ela entende. Claro que ela
entende. Ela também é uma Vitoriosa. "Olha, eu só—eu queria te dizer que—
significou muito, o que você disse sobre Vanity e Hodge na turnê."

"Marlene," James murmura, um nó se formando em sua garganta


instantaneamente.

"Não, escute." Marlene segura seu olhar, seus olhos brilhantes e ferozes.
"Foi—foi um pouco confuso, sim, mas foi real. Foi importante, porque você
estava certo, e eu sou grata por você ter a coragem de dizer isso. Muitas
pessoas passaram muito tempo sem dizer isso, James, e você disse na primeira
chance que teve."

"Era tudo que eu podia fazer, e ainda não era o suficiente," James sussurra.
"Eles mereciam mais."

"Não é sua culpa que eles não tenham tido," Marlene diz a ele
simplesmente, e parece como ser absolvido, só um pouco, um simples perdão
que corta o peso que ele nem sabia que estava lá, permitindo que ele se
desfizesse para fora de suas costas até que ele está quase desequilibrado de
tanto se sentir mais leve. Tudo tem sido pesado por tanto tempo, mas ela era a
240
ZEPPAZARIEL

mentora deles, tentando ajudá-los a sobreviver, e ela não o culpa pelo fato de
eles não terem feito isso.

Ele pode respirar um pouco mais fácil.

"Obrigado," James sussurra, piscando rápido e com força. "Eu realmente


aprecio você dizendo isso, especialmente porque você—quer dizer, eu sei que
você não gosta muito de mim—"

"Não é que eu não goste de você, James. Eu gosto, na verdade. É só que


eu—" Marlene suspira, então dá a ele um sorriso tenso. "Eu ainda estou
aprendendo a ser gentil novamente. Por enquanto, ainda é um pouco difícil,
então eu sou meio merda nos piores momentos, além de ser uma mentora
inútil com um problema de bebida. E nem me fale sobre minha vida amorosa,
ou como ela está complicada e confusa agora, porque eu não estou brincando,
eu poderia tagarelar reclamando por horas."

James pisca. "Oh... Bem, sabe, você pode se quiser. Se você tem algumas
coisas para tirar do peito, quero dizer."

"Certo, então, sua estilista?" Marlene pergunta, se acomodando enquanto


eles continuam balançando. "Aquela que parece a porra de uma deusa? Sim,
então veja isso, ela diz que nós somos amigas..."

~•~

Sirius faz o possível para proteger Regulus do pior da atenção que ele recebe
quando está longe do lado de James, mas é difícil pra caralho, honestamente.
As Relíquias são uma força a ser reconhecida quando se reúnem assim, e
Regulus está, infelizmente, recebendo o peso disso no momento. Eles são
todos atraídos, curiosos, ansiosos e exigentes.

As pessoas perguntam sobre James, comentando sobre seu


relacionamento, dando conselhos e elogios não solicitados. A maioria dessas
pessoas só gosta de se ouvir falar, então Regulus geralmente pode apenas
acenar e fazer mhm, e isso parece satisfazê-los o suficiente. Ele deveria estar
sorrindo e rindo, mas ele luta honestamente com isso, Sirius pode dizer.
Então, Sirius faz isso por ele, sorrindo quando eles sorriem, forçando o riso
quando eles o fazem, espelhando-os porque, na verdade, é tudo o que eles
querem.

241
CRIMSON RIVERS

Ele tem certeza de que funciona, na maior parte. Algumas pessoas, ele
pensa, podem perceber que Regulus as odeia, mas elas parecem se convencer
de que não para o seu próprio conforto.

No final, Sirius salva Regulus da maior parte disso da única maneira que ele
sabe, levando-o para dançar com um dos patrocinadores mais bem-
intencionados. Um tímido, na verdade. Sirius não tem muitos favoritos, mas
Huey Rutledge é um deles. Ele é um coração mole, francamente, e
coincidentemente o patrocinador com a menor quantidade de dinheiro. Ele
geralmente só pode pagar uma ou duas doações por ano, e ele nunca as usou
em Comensais da Morte, sempre indo para os oprimidos na arena. Foi ele
quem doou a Frank para dar sopa quente a Irene que todos na caverna
poderiam dividir para se aquecer.

Regulus não parece muito satisfeito por sair dançando com um completo
estranho, mas ele parece aliviado por não ser oprimido por todos ao mesmo
tempo, e é claro que ele confia no julgamento de Sirius sobre isso, porque ele
vai sem protestar.

Sirius, por outro lado, tem trabalho a fazer.

Vendo que James está seguro com Marlene, Regulus está seguro dentro do
alcance de James e Marlene, e Pandora está segura com Emmeline, Sirius
localiza seu alvo do outro lado da sala—que Pandora apontou para ele antes
—e se dirige com um sorriso radiante. Ele pega a mão da próxima criadora
dos jogos e a leva aos lábios em um beijo rápido enquanto ela está se virando.

"Sra. McGonagall," Sirius cumprimenta calorosamente, ainda segurando a


mão dela enquanto olha por cima de seus cílios, galanteador. "Acho que ainda
não tivemos o prazer de nos conhecer."

McGonagall é uma mulher mais velha, cabelos grisalhos torcidos


artisticamente em seu rosto, usando um vestido vintage de linha. Sirius não
consegue parar de olhar para as tatuagens nos braços dela, visíveis através das
mangas do vestido dela, indo tão longe quanto ele pode ver dos ombros dela
até os pulsos.

A maioria delas é envelhecida, como se ela tivesse feito quando era jovem,
mas não todas—há algumas que sugerem que ela ainda faz tatuagens até hoje.
É mais comum na Relíquia, porque aqueles nos distritos têm que fazer isso

242
ZEPPAZARIEL

sozinhos, e eles não têm acesso a tratamento médico bom o suficiente para
consertar se algo der errado. Não que as pessoas nunca tenham feito isso nos
distritos, mas é mais raro, e nunca é algo assim. Uma ou duas tatuagens,
talvez, mas braços inteiros? Não, isso é definitivamente mais uma coisa de
Relíquia.

McGonagall é bonita de uma forma intimidadora, com olhos afiados e


costas retas, musculosa e aparentemente nada impressionada com todos ao
seu redor. Mesmo Sirius não consegue muito com seu sorriso normalmente
eficaz; ela ainda está apenas olhando para ele como se não se importasse em
cuspir nele se ele estivesse pegando fogo. Sirius está encantado. É uma boa
mudança de ritmo da habitual Relíquia, e ele ama um desafio.

"Não, eu acredito que não," McGonagall responde, deslizando a mão dela


enquanto ela o encara completamente, uma sobrancelha varrendo. "No
entanto, sua reputação o precede, Sr. Black."

"Bem, sabe, você não pode acreditar em tudo que ouve. Algumas coisas, é
melhor aprender por si mesma," Sirius diz a ela, segurando seu olhar. "Sempre
vale a pena verificar em primeira mão, eu digo."

O canto da boca de McGonagall se contorce levemente, como se ela


estivesse se divertindo, o que não é a resposta usual que ele recebe em seu
flerte. A maioria das pessoas—de todas as idades—está pelo menos
impotentemente intrigada. Ela parece imune, o que faz de Sirius aquele que
está impotentemente intrigado pela primeira vez. Ele adora quando alguém
consegue surpreendê-lo.

"Infelizmente, sua... reputação não é do meu interesse, então eu diria que


não vale o meu tempo," McGonagall o informa, completamente implacável
sobre isso, e oh, Sirius gosta dela. Ele não quer gostar, porque em seis meses,
ela vai estar por trás dos jogos, por trás da morte, por trás do tormento. Ainda
assim, ele não pode evitar, porque ele nunca, nem uma vez, teve uma Relíquia
descaradamente e sem rodeios não querendo algo dele.

Nunca recuando, Sirius sorri ainda mais e levanta as sobrancelhas para ela,
engolindo sua diversão e prazer ao dizer, "Então, você não quer descobrir se
minha reputação de ser o melhor dançarino nesta sala é verdade, Sra.
McGonagall?"

243
CRIMSON RIVERS

McGonagall pisca, lentamente. Sirius tem que lutar contra o riso crescente
quando algum tipo de luz de compreensão se apaga visivelmente nos olhos dela,
seguido por outra contração de sua boca e uma leve inclinação de cabeça, um
pequeno movimento que admite derrota e incita respeito, uma consciência de
que ela foi superada.

Porque, veja, ela estava supondo que ele estava insinuando algo sexual—e,
tudo bem, isso é o que ele estava fazendo, para ser justo, embora ele não fosse
seguir adiante, é claro, porque ele nunca segue, ou precisa—mas ele rebateu
isso sem esforço. Ele sendo o galã da Relíquia, amado e desejado por todos, é
algo que é conhecido, mas não se discute. Ou, bem, ele tem certeza que as
pessoas falam sobre isso quando ele não está por perto, mas fazer isso na cara
dele é algo completamente diferente, o que coloca McGonagall em um canto
onde ela tem que admitir a derrota, ou admitir que ela esperava que ele
seduzisse ela com favores sexuais.

A maioria das pessoas não seria corajosa ou sem vergonha o suficiente para
fazer isso, mas Sirius está aprendendo muito rapidamente que McGonagall
não é como a maioria das pessoas, certamente não como a maioria das
Relíquias.

"Eu não tenho interesse em quaisquer avanços sexuais que dizem que você
espalha como doces," esclarece McGonagall, mesmo enquanto ela estende a
mão, "Mas eu não vou dizer não a uma dança."

Sirius ri. Ele não pode evitar. Com uma gargalhada brilhante, ele estende a
mão para segurar a mão dela delicadamente na sua, erguida enquanto a leva
para a pista de dança. "Bom saber. Venha, então—Minerva, não é?"

"Sra. McGonagall vai servir," declara McGonagall.

"Claro, Sra. McGonagall. Sinta-se à vontade para me chamar de Sirius, se


você quiser," Sirius diz, arregaçando sua cintura educadamente e prontamente
puxando-a em círculos lentos e arrebatadores. Distintos e fluidos, eles
combinam com a música, e ela nunca deixa de acompanhar, tão sem esforço
quanto ele. Ele faz uma nota mental para se dirigir a ela respeitosamente,
como ela pediu, sem querer ofendê-la ou desagradá-la quando ela um dia em
breve terá a vida de seus futuros tributos em suas mãos. Tê-la chamando-o
pelo nome sugere familiaridade, então ele só pode esperar que ela o faça.

244
ZEPPAZARIEL

A questão é que Sirius sabe como fazer isso, como encantar as Relíquias. É
a coisa dele. A maioria deles são marionetes sem vida e sem cérebro que ele
pode manobrar à vontade, mas há alguns ocasionais que exigem um pouco
mais de esforço. Há sempre um ângulo, porém, e ele pretende encontrar o
dela.

"Foi uma boa participação," comenta McGonagall enquanto ela olha para
aqueles que estão dançando perto deles. Eles passam por James e Marlene—
James levanta a mão para sorrir e acenar para Sirius como um cachorrinho
animado enquanto ele passa, o que faz Sirius sorrir de volta contra sua
vontade, enquanto Marlene nem gagueja no que parece ser um longo discurso
sem fôlego sobre as implicações de um anel como um presente—e o olhar de
McGonagall permanece em James por um momento até que eles se afastem.
"É uma pena que Horace Slughorn não esteja aqui para aproveitar os frutos
de seu trabalho."

"Oh, eu tenho certeza que ele não teria amado nada mais," Sirius reflete,
lançando seu olhar em direção ao dela. Ela já está olhando para ele, sua
expressão neutra. Ele se pergunta o que ela sabe, porque ele suspeita do por
que Slughorn não está presente. Ele tem certeza de que o homem está morto,
e nenhuma parte de Sirius lamenta sua participação nessa possibilidade. Riddle
provavelmente o executou por permitir que James e Regulus vencessem, e
Sirius foi quem plantou essa ideia em sua cabeça. Ele não sente nenhum
remorso por isso.

"Foi uma coisa muito corajosa de se fazer, permitir dois Vitoriosos," diz
McGonagall. "Devo admitir, no meu tempo de conhecimento de Horace, ele
nunca me pareceu um homem muito valente."

"Não, eu diria que não era," Sirius concorda, nunca desviando o olhar dela,
porque ele pensa—bem, de alguma forma, ele tem quase certeza de que ela
sabe que foi ele. "Talvez ele precisasse de alguém mais valente para guiá-lo."

"Talvez sim," murmura McGonagall.

"E você, Sra. McGonagall?" Sirius pergunta, inclinando a cabeça


curiosamente. "Você se consideraria valente?"

"Eu considero," McGonagall diz simplesmente, então ela sorri para ele,
pequena e reservada, "Mas eu não sou tão facilmente guiada."

245
CRIMSON RIVERS

"Sim, bem, eu tenho certeza que Horace Slughorn pensou o mesmo,"


Sirius diz suavemente, deixando as implicações disso—o peso de uma ameaça
não dita—envolver suas palavras e escorregar como prata derretida de sua
língua. Se ele não puder encantá-la, talvez tudo o que resta a fazer seja
intimidá-la. "E onde isso o levou?"

"Ninguém sabe." McGonagall nunca perde aquele sorrisinho que vive nas
adoráveis pequenas rugas no canto de sua boca, e Sirius não tem ideia do que
fazer com isso. "O que eu sei é que Horace Slughorn foi um tolo, Sr. Black, e
eu não sou."

Então, como se vê, Minerva McGonagall não é tão facilmente intimidada,


e o mistério de qual ângulo será necessário para chegar até ela não é
simplesmente encontrado. Quem ela é, o que ela quer, e como ela será como
criadora dos jogos ainda é desconhecido, mas Sirius não se intimida. Embora
ela não permita nenhuma familiaridade entre eles, ele pretende continuar
tentando.

Ela é a primeira Relíquia que já representou um verdadeiro desafio, e talvez


seja tolice dele, mas ele está ansioso por isso.

~•~

Huey Rutledge é um homem quieto e tímido que cora com o rosto inteiro
toda vez que Regulus olha para ele, gaguejando e tropeçando em suas palavras
toda vez que tenta falar, ficando de olhos arregalados e focados toda vez que
Regulus fala em resposta, o que não são muitas vezes e geralmente acontece
de forma monossilábica.

Ele é um pouco mais alto que Regulus, ombros largos e bonito o suficiente
com cabelos loiros encaracolados, olhos verdes pálidos e covinhas muito
profundas em suas bochechas. Embora ele seja educado e pareça ter a
sensibilidade e decência humana simples que a maioria das outras Relíquias
não tem—especialmente patrocinadores, Regulus notou—o que Regulus mais
gosta nele é que ele parece não ter interesse em falar sobre os jogos de
Regulus ou o relacionamento de Regulus com James.

Não, seu interesse parece estar no próprio Regulus, como se ele estivesse
tentando conhecê-lo como pessoa, não como um Vitoriodo ou um

246
ZEPPAZARIEL

personagem de uma história de amor idolatrada. Regulus geralmente odeia


falar sobre si mesmo, mas honestamente? Ele aprecia mais agora.

"Então, é só escrever?" Huey pergunta devagar, cauteloso como se


estivesse fazendo o possível para não ofender. "Você pode desenhar
também?"

"Não," Regulus admite. "É só escrever."

Huey acena com a cabeça. "Alguma forma particular? Poesia? Ficção?"

"Poesia, geralmente," Regulus murmura. "Às vezes apenas entradas de


diário. A lista de tarefas ocasionais."

"Você gosta de organizar seus pensamentos," diz Huey.

Regulus faz uma pausa, então acena com a cabeça timidamente. "É mais
fácil colocar o que está na minha cabeça no papel do que na minha boca, na
maioria das vezes."

"Eu, hum—sim, eu entendo," Huey diz a ele. "Eu sou músico, mas não
cantor. Posso compor e tocar o que estou sentindo, mas a ideia de colocar em
palavras e cantar é... insondável para mim, honestamente. As pessoas só—
fazem isso. Eu não tenho ideia de como."

"O que você toca?"

"Piano, guitarra e violino principalmente. Eu vou bem com uma flauta, ou


eu ia quando criança, mas eu não pego uma há anos. Oh, e o kazoo. Eu não
sou tão ruim assim no kazoo."

"Isso é um instrumento real?" Regulus pergunta.

Huey abre um sorriso fraco, covinhas piscando. "Tecnicamente, sim.


Principalmente um instrumento de comédia, mas você ficaria surpreso com o
quão bem ele pode completar uma música se você o adicionar. Mas, para
minha paz de espírito, eu levo isso muito a sério, então eu não me sinto como
um idiota."

"Meu irmão teve um kazoo, uma vez," Regulus diz baixinho, os lábios se
curvando impotentes enquanto ele se lembra. "Ele o construiu quando tinha

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CRIMSON RIVERS

nove anos. Na maioria das vezes, ele só—gritava com ele, e nem sequer teve o
bom senso de se sentir um idiota por isso."

"Sim, irmãos mais velhos são bons para coisas assim," Huey diz a ele
ironicamente, rindo. "Eu tenho um desses também. Um irmão mais velho,
quero dizer. Louie nunca se leva a sério também."

"Louie e Sirius se dariam bem, então."

"Provavelmente, se eles se conhecessem. Ele—ele não gosta de coisas


assim. Louie, quero dizer. Então, cabe a mim lidar com isso."

"Cabe à você," Regulus repete. "Ser um patrocinador."

"Hum, sim," Huey murmura. "Nossos pais eram, então quando eles
passaram, a abertura permaneceu para nós entrarmos. Louie... não achava que
havia um ponto. Rutledges não são exatamente grandes apostadores, você
entende, mas nossos pais pensavam que cada pedacinho que poderiam dar era
importante. Raramente é o suficiente para realmente ajudar alguém, para
salvá-los, mas se pudermos pelo menos deixá-los um pouco mais confortáveis,
devemos fazer isso."

"Isso não te incomoda?" Regulus pergunta com cuidado, mantendo o


olhar, e Huey imediatamente fica vermelho sob sua análise. Ele está segurando
Regulus tão levemente, mal o tocando, mas parece que quer se aproximar.

"É—bem, eu—" Huey se interrompe, engolindo em seco. "Eu não sei. Eu


acho que costumava, mas então... Bem, eu costumava sentir que Louie se
incomodava, mas no meu primeiro ano como patrocinador, eu tive que ajudar
a enviar água a alguém quando eles estavam com dor, e—e eles ficaram tão
aliviados... Mesmo que eles não vivessem, eu fui capaz de oferecer a eles esse
conforto, e—e parecia que eu tinha que fazer isso, sabe? Porque se eu não
fizesse, quem faria?"

"Você quer saber um segredo, Huey?" Regulus murmura. Ele puxa Huey
um pouco mais perto, ouvindo sua respiração falhar enquanto Regulus se
inclina para sussurrar em seu ouvido. "Se você não fizesse, não importaria.
Não há conforto na arena."

Quando Regulus recua, Huey está pálido.

248
ZEPPAZARIEL

Ele não consegue descobrir como responder a isso, e Regulus tem uma
sensação de diversão vingativa ao ver sua visão de mundo mudar de uma só
vez. É bom, honestamente, mesmo que seja cruel. Certamente há
patrocinadores piores, e Huey claramente tem boas intenções de uma maneira
que poucas Relíquias tem, mas ele está cego por suas próprias contribuições
para questionar o sistema por trás de tudo isso. Ele deveria questionar isso.

Regulus espera que ele questione. Regulus espera que ele pense sobre isso,
pense em todas as pessoas que ele sentiu a necessidade de ajudar, todas as
pessoas que ele não teria que ajudar se a arena não existisse. Regulus espera
que isso o mantenha acordado à noite.

É injusto, na verdade, porque o que Huey pode fazer? Mesmo que ele não
esteja mais cego para o que está realmente errado, não é como se ele pudesse
fazer algo a respeito. Mas, bem, a miséria adora companhia, e Regulus nunca
mais dormiu em paz.

Há um pigarro alto que faz com que Regulus e Huey se entreolhem e


olhem para o lado para ver James, que tem seus lábios pressionados em uma
linha fina. Huey literalmente pula no lugar e dá um passo frenético para trás,
convidando o espaço entre ele e Regulus novamente, não mais pálido
enquanto seu rosto inteiro fica vermelho tão brilhante que parece doloroso.

"Você abordou meu parceiro de dança por tempo suficiente. Eu vou pegá-
lo de volta agora," James diz, sua voz entrecortada. Ele dá a Huey um último
olhar duro, então literalmente fica entre ele e Regulus para enrolar um braço
em volta da cintura de Regulus antes de arrastá-lo imediatamente.

"Pobre Huey está tendo uma noite muito ruim," é tudo que Regulus pode
pensar em dizer, seus lábios se contraindo.

"Oh, sim, pobre Huey," James murmura enquanto os gira para mais longe,
apenas diminuindo a velocidade deles para um movimento casual de balanço
quando Regulus não consegue esticar a cabeça e avistar Huey novamente. Ele
tenta, e James range os dentes audivelmente.

"Agora, quem está com ciúmes?" Regulus pergunta enquanto desliza os


braços ao redor dos ombros de James e se derrete impotente nele. Oh, ele é
tão quente, tão terrivelmente quente.

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CRIMSON RIVERS

Ele também é dolorosamente bonito. Dorcas é um terror, francamente.


Ela o colocou em uma camisa macia e cor ameixa que abraça seus ombros e
praticamente estrangula seus braços até o músculo, exceto que o tecido se
move fluidamente com cada movimento dele. Ela desce um pouco no
colarinho, mostrando a cavidade obscena de sua garganta e uma espiada de
cada clavícula. Entre isso, a calça carvão e os sapatos elegantes, olhar para ele
dá água na boca de Regulus. Ele teve a audácia de dizer que James
estava bonito. Bonito nem começa a cobrir isso, especialmente quando ele
parece feliz.

James não parece feliz agora, no entanto. Seu olhar é afiado. "Eu olhei e
você estava falando com ele, e então você estava sussurrando em seu ouvido
como se estivesse contando a ele um maldito segredo ou—"

"Eu estava," Regulus admite.

"Você estava," James repete, sua voz monótona.

Regulus arqueia uma sobrancelha. "Sim, e?"

"E, você não gosta das pessoas o suficiente para trocar segredos," James
grita. "Mas, o que, você gostou dele?"

"James."

"O que?"

"Não seja estúpido," diz Regulus.

James faz uma careta. "Você me deixa estúpido. E oh, ele obviamente gosta
de você. Nem sequer me olhava nos olhos, o maldito—"

"James," Regulus repete, sufocando uma risada crescente.

"Eu vou matá-lo. Eu faço isso agora. Matar pessoas. É algo que eu fiz e
aparentemente estou disposto a fazer de novo," James anuncia. "Ele forçou
você a dançar com ele? Você poderia ter vindo até mim. Por que você não
veio até mim? Se ele fez alguma coisa que você não gostou, eu realmente vou
matar—"

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ZEPPAZARIEL

"Pare com isso, idiota," Regulus diz, bufando uma risada silenciosa
enquanto balança a cabeça. James ainda parece muito mal-humorado com a
coisa toda, mas ele está apenas fazendo beicinho agora. Isso faz Regulus
querer mimar ele, embora ele se abstenha, porque ele morreria de vergonha se
cedesse ao desejo. "Você estava ocupado com Marlene, lembra? Sirius me
colocou com Huey para, eu presumo, me tirar da multidão de abutres que
estavam me cercando por todos os lados. Huey não é tão ruim, na verdade.
Um pouco equivocado, mas ele tem boas intenções."

"Ele tem a intenção de entrar na porra das suas calças," James declara
bruscamente. Regulus revira os olhos, e James solta um bufo. "Não, eu não
estou brincando. Estava na cara dele."

"Estava?"

"Sim. Eu reconheço isso, porque eu também tive a intenção de entrar nas


suas calças. Não apenas isso, obviamente, mas isso está além do ponto. O
ponto é, eu podia sentir isso."

Regulus suspira em exasperação. "E você parou para pensar no fato de que
eu não cederia às intenções dele?"

"Sim, isso foi antes de você começar a sussurrar segredos no ouvido dele,"
James murmura. "Você nunca sussurra segredos no meu ouvido."

"Sim, eu posso ver como isso é angustiante para você, como o homem que
eu realmente queria deixar entrar nas minhas calças antes," Regulus diz
secamente.

"Claro, mas agora eu estou triste com isso, então nem conta," responde
James.

"Tristeza retroativa à parte, eu me lembro bem o suficiente para saber que


absolutamente conta," Regulus reflete, arqueando uma sobrancelha para
James, que parece dividido entre ainda estar irritado ou se concentrar neste
tópico. Ele é facilmente distraído por coisas que o interessam—o que Regulus
gosta de pensar como tópicos brilhantes, coisas que James se fixa no momento
em que são trazidas à tona, sem falhas. Sexo, Regulus e sexo com Regulus são
tópicos muito brilhantes para ele, Regulus notou. Além disso, ele nem sempre

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CRIMSON RIVERS

pode fazer duas coisas ao mesmo tempo, especialmente quando são coisas
contraditórias, como ficar irritado ou ficar encantado.

"Eu não quero mais falar sobre Huey. Nunca mais vamos mencionar Huey
novamente," James anuncia previsivelmente. Ele puxa Regulus um pouco
mais perto, examinando seu rosto, lábios entreabertos. "Eu estou—oh, eu
estou esquecendo meus limites de novo."

"Não, nada disso," repreende Regulus. "Você—é bom para você ter eles,
honestamente. Especialmente se nós vamos tomar chá. Nós—você ainda quer
fazer isso?"

O rosto de James suaviza. "Sim, claro. O que, você acha que eu mudei de
ideia nos últimos trinta minutos?"

"Não, eu só..." Regulus não termina, limpando a garganta e desviando o


olhar. Ele não quer ser a pessoa que precisa de garantias, mas sempre há essa
dúvida horrível rastejando das profundezas dele, arranhando seu caminho,
não importa quantas vezes ele a empurre para baixo. Ele nunca tem certeza de
nada, e não acha que isso seja resultado da arena. Talvez a arena tenha
piorado, mas é algo que sempre existiu dentro dele desde que ele consegue se
lembrar.

"Eu gosto do seu chá," James oferece. "Talvez eu seja tendencioso, mas
tem um gosto melhor do que o de qualquer outra pessoa. O que você faz
nele?"

Regulus cantarola e levemente diz, "Eu cuspo nele."

Sem perder o ritmo, James responde, "Ah, isso explica."

Impotente, os ombros de Regulus começam a tremer enquanto ele se


dobra para frente em James e abafa suas risadas o máximo que pode. Ele pode
sentir o som grave do riso de James vibrando em seu peito, profundo e
adorável.

"Você—" Regulus engasga com outra risada implacável, ofegante um


pouco. "Espere, você realmente beberia meu chá se eu cuspisse nele, James?"

"Amor, eu deixaria você cuspir diretamente na minha boca," anuncia James


sem absolutamente nenhuma vergonha em seu tom.
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ZEPPAZARIEL

"Oh, pelo amor de—" Regulus nem consegue terminar antes de se


dissolver em risos novamente, apenas deixando isso acontecer neste
momento, incapaz de parar. James é tão engraçado. Regulus odeia isso,
sempre odiou e não odeia nenhum pouco.

James ainda está rindo, quieto e leve, quando protesta, "Há alguma razão
para que eu não devesse? Nós já nos beijamos antes, muitas vezes! Você
literalmente colocou a sua língua na minha boca. Tecnicamente, nós já
trocamos cuspe, se você pensar sobre isso, então sabe, se você tiver vontade
de—"

"Pare com isso. Cale a boca, pare," Regulus chia, enterrando o rosto no
ombro de James e agarrado-se a ele, estômago doendo pela risada que não vai
parar. "Só cale a boca e dance comigo."

"Sim, tudo bem," diz James suavemente, varrendo a mão para cima e para
baixo das costas de Regulus, segurando-o perto enquanto eles balançam.

E isso é tudo o que eles fazem, por um tempo. É tão fodidamente bom.
Não tem o direito de ser tão bom quanto é, honestamente. Regulus não gosta
da sensação de mãos nele, mas James... Bem, talvez não deva surpreendê-lo
que James esteja se tornando sua exceção. No começo, logo após a arena, era
insuportável a maior parte do tempo, mas Regulus está começando a ter
esperança que esteja ficando mais fácil, melhorando, se puder.

É diferente à noite, quando ele está ativamente tentando descansar, e ele


não consegue explicar o porquê. Por alguma razão, quando ele sabe que está
tentando dormir, estar ao lado de alguém, sentir, é a única coisa que ajuda. Mas
quando ele está acordado, não é a mesma coisa. Ele não sabe o que isso diz
sobre ele, que ele só pode aceitar conforto quando sabe que ficará alheio a
isso.

Mas a semana passada mostrou a ele que talvez, apenas talvez, seja algo
que vai passar. Talvez já esteja passando. É tão bom ter James por perto,
mesmo quando ele não está prestes a adormecer. Não há nenhuma parte de
Regulus que queira se afastar e encolher em si mesmo; ele quer ficar assim,
para sempre. Ele acha que isso é um bom sinal. É, não é? Ele quer que seja.

Ainda assim, Regulus não tem a menor ideia de como ele poderia oferecer
sexo a James. Não que ele pense que é tudo o que James quer, na verdade. Ele

253
CRIMSON RIVERS

tem certeza de que James nunca faria sexo com ele se não fosse isso que
Regulus quisesse, e ele nem ficaria chateado com isso, porque é claro que ele
não ficaria. Isso sendo reconhecido, é algo que Regulus quer dar a ele, e quer
se deixar ter, pelo menos algum dia.

Um dos principais problemas é que Regulus não consegue imaginar deixar


James ver suas cicatrizes. Ele não viu todos elas. Ninguém, exceto Barty, e
mesmo Barty não foi capaz de se impedir de sugar uma respiração afiada de
choque quando foi confrontado com todos elas. Ele superou isso rapidamente
e se acostumou com elas, continuando como se elas nem estivessem lá, e é
por isso que Regulus o deixou vê-las em primeiro lugar, porque ele sabe que
pode contar com Barty para fazer o que Regulus espera que ele faça.

Ele é consistente, sempre. A parte mais consistente da vida de Regulus.

Mas James... Bem, é diferente para James, não é? Ele está mais perto disso,
por um lado. Regulus está apavorado que James veja suas cicatrizes e o veja de
forma diferente, ou o veja e se culpe, ou apenas o veja e seja levado de volta à
arena, ou talvez uma mistura de tudo isso.

Regulus mal consegue se ver na maioria dos dias. Ele não quer
sobrecarregar James com isso.

James faz um som baixo de desagrado, de repente, e os olhos de Regulus


se abrem imediatamente. Ele não tem certeza se vai perder o desejo de
incendiar tudo e qualquer coisa que possa deixar James infeliz. Ele acha que
faria o mundo sangrar se isso significasse que James nunca mais ficaria triste.

"O que há de errado?" Regulus murmura.

"Minha perna," James murmura. "É—eu estive de pé e dançando por


muito tempo. Não trouxe minha bengala..."

"Você precisa se sentar?" Regulus pergunta, se afastando. "Nós podemos


pegar algo para comer. Fazer uma pausa. A noite está quase acabando agora,
James."

James sorri para ele. "Sim, obrigado."

Então, eles entrelaçam as mãos e vão encontrar uma mesa para se sentar.
Regulus faz James sentar lá e guardar seu lugar, então vai fazer pratinhos,
254
ZEPPAZARIEL

esquivando das pessoas o máximo que pode. Marlene ajuda em um ponto,


cortando alguém para chegar à mesa de bebidas. Sirius ainda está dançando, e
Frank está fazendo o mesmo, ao que parece. Quando Regulus volta para a
mesa, ele localiza Emmeline e Pandora, que estão ocupando cadeiras ao redor
de James, para que outras Relíquias não possam.

Regulus é grato, honestamente. Ele se senta ao lado de James e ouve todos


conversando ao seu redor, observando James se iluminar com pessoas com
quem ele realmente gosta de passar o tempo. Algumas Relíquias param para
conversar com ele e Regulus, mas James lida com a maior parte disso, o que
provavelmente é o melhor. Realmente não é o forte de Regulus. Ele se sente
mal por não estar ajudando mais James, mas para seu crédito, ele tenta o seu
melhor. É só que o seu melhor nunca é realmente bom o suficiente. Ele já
está acostumado com isso.

Eles acabaram de comer quando a música é cortada, fazendo as pessoas


dançando pararem e se virarem para a varanda do outro lado da sala, acima de
todos os outros. Riddle está lá, gentilmente tilintando uma colher ao lado de
uma taça de vinho.

Regulus sente seu coração acelerar de medo imediato.

Sirius disse a ele que isso aconteceria. Que Riddle sairia em algum
momento da noite e faria um discurso para o Vitorioso, assim como ele faz
todos os anos, exceto que este ano, são dois. É um show, é claro, então
acontece exatamente como Sirius disse que aconteceria. Palavras vazias e
celebrações sem vida. Oco. Riddle é a pessoa mais oca que Regulus já viu.

No final, Riddle levanta seu copo para James e Regulus em um brinde,


exigindo que toda a sala se vire e mostre seus sinais de respeito, e todos eles o
fazem. Mas Regulus está olhando diretamente para Riddle, seu coração
alojado em sua garganta, então ele vê em detalhes vívidos quando Riddle
encontra seu olhar e lentamente balança a cabeça. O coração de Regulus
afunda, porque ele sabe exatamente o que isso significa. Ele lê a mensagem
alto e claro.

Riddle não está convencido.

~•~

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CRIMSON RIVERS

Dorcas continua olhando para a porta. Ela não quer. Ela está se
esforçando ao máximo para prestar atenção, porque o que Minerva está
dizendo é sem dúvida importante de uma forma ou de outra. É só que... Bem,
os mentores dos outros distritos que viajaram para a festa estão saindo agora
que acabou, o que significa que Marlene vai embarcar em um trem em breve,
e Dorcas não conseguiu se despedir da última vez, mas ela gostaria desta vez,
pelo menos.

Mas o trabalho e a conversa com Minerva tem que ser mais importante.
Claro, ela receberá suas ordens finais de Dumbledore assim que Minerva o
informar, mas Dorcas sabe que elas vão coincidir com o que Minerva já pensa.

A turnê da vitória tem sido... uma loucura absoluta, particularmente para a


Ordem. Dorcas era sua principal conexão com tudo em tempo real, todas as
coisas que aconteciam nos bastidores, todas as pessoas que ela conheceu ao
longo do caminho. Ela teve que se fechar e entrar em contato com
Dumbledore com informações com muito mais frequência do que esperava,
honestamente.

O aumento constante de tumultos e rebeliões é um bom sinal para a


mudança das marés da guerra, e as coisas estão começando a acelerar. Com
sua conexão com a Ordem, eles podem realmente se manter atualizados sobre
os eventos atuais, bem como se envolver em um período de tempo adequado.
Dorcas não sabe muito, mas sabe que a mudança está no horizonte.

O principal papel de Minerva esta noite, além de desempenhar


perfeitamente sua posição como a próxima criadora dos jogos, era explorar
aqueles que ela achava que eram os principais candidatos para o recrutamento.
Será tarefa da Dorcas recrutá-los em seis meses.

Frank Longbottom é aquele em quem Minerva está investida, totalmente,


então caberá a Dorcas colocá-lo a bordo. Emmeline Vance, ela não tem
certeza, mas é uma possibilidade. Há um patrocinador também,
aparentemente, um homem chamado Huey Rutledge, que Minerva acredita
que ajudaria a fornecer dinheiro para os esforços de guerra, pelo menos. Até a
guerra tem um preço.

"E quanto a Sirius?" Dorcas pergunta, desviando o olhar da porta para


focar em Minerva.

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ZEPPAZARIEL

"Ah, Sr. Black," Minerva reflete, os lábios se contraindo. "Ele me ameaçou,


sabe."

Dorcas não consegue evitar levantar as sobrancelhas. "Ele ameaçou?


Talvez eu não devesse me surpreender. Ele é injustamente subestimado,
honestamente. Mais do que apenas um rostinho bonito, eu posso te dizer
isso."

"Seu rosto bonito parece ser sua arma de escolha," Minerva diz a ela. "No
entanto, ele se adapta bem e pensa rápido. Posso ver que ele é mais inteligente
do que as pessoas acreditam."

"Ele é um bom candidato," Dorcas diz suavemente, lutando contra o nó


que se forma em sua garganta. Ela luta para sufocar o impulso áspero em seu
peito de não fazer isso, de não arrastar Sirius para isso, mesmo que ele seja o
candidato perfeito para o recrutamento. O poder que ele tem sobre as Relíquias
sozinho...

Minerva cantarola. "Ele é, sim. No entanto, Albus não iria esclarecer isso, e
todos eles vão fornecer assistência para a guerra sem estar na linha de frente
ainda. É melhor deixá-los de fora por enquanto."

"Mas não para sempre," Dorcas pergunta, segurando seu olhar.


"Dumbledore pretende trazê-los em algum momento."

"Eu entendo que você veio a se importar com eles, Dorcas, eu realmente
entendo," diz Minerva calmamente, "Mas não há como mantê-los fora disso,
neste momento. Pessoalmente, eu preferiria, porque Deus sabe que eles já
passaram pelo suficiente, mas você sabe tão bem quanto eu que não é tão
simples. Você viu o tumulto no distrito cinco, o tropeço no onze. A
mensagem de Regulus—Hallow is Hollow—sem dúvida se tornará o principal
grito de guerra quando as batalhas realmente começarem."

"Você sabe de onde ele tirou isso, não é?"

"De você. Sim, eu sei."

Dorcas abre um sorriso triste. "Sirius, Regulus e James passaram por muita
coisa. Não é errado eu dizer que serem arrastados para isso é injusto com
eles."

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CRIMSON RIVERS

"A guerra nunca é justa," concorda Minerva, desviando os olhos enquanto


seus lábios se inclinam para baixo. "Eles estão nisso, Dorcas. Querendo ou
não, é uma luta que eles não podem evitar, e dependemos do... envolvimento
deles para vencer. Nós sabemos disso desde o momento em que eles
marcaram seu amor com desafio, todos eles. Sirius os amando tanto que
manipularia Horace e arriscaria sua própria vida para vê-los viver. Regulus os
amando tanto que morreria por eles, provando isso entrando naquele rio.
James os amando tanto que ameaçaria a Relíquia quando ninguém jamais
ousou antes."

"Eles vão me odiar quando descobrirem," Dorcas resmunga, seu coração


apertando, e Minerva não tem palavras de conforto para ela sobre isso. Os
olhos de Dorcas se fecham. "Eles não se alistaram para uma guerra, Minerva."

"No entanto, a guerra está aqui," diz Minerva suavemente, "E eles não
estão a salvo de seu alcance."

"Quanto tempo você acha...?" Dorcas para e engole, abrindo os olhos para
examinar o rosto de Minerva.

Minerva faz uma pausa, então cuidadosamente murmura, "Eu acredito que
as coisas vão ficar quietas pelos próximos seis meses, mas depois disso..."

"Os próximos jogos," murmura Dorcas, sobrancelhas franzidas. Minerva


não diz mais nada. "O que é? O que você sabe?"

"Nada," Minerva responde simplesmente.

Dorcas franze a testa, porque conhece Minerva há muito tempo, tempo


suficiente para saber quando ela não está contando tudo. Mas ela também
sabe que Minerva só não conta as coisas por um motivo. O que quer que ela
esteja escondendo, há uma necessidade disso. Dorcas sabe que às vezes
Minerva esconde coisas dela apenas para tentar mantê-la segura, porque ela
não quer que ela se machuque.

Minerva está na Ordem há muito tempo, a primeira Relíquia que se juntou,


e ela vem subindo em níveis de importância para a Relíquia há anos. O fato de
ela ter trabalhado até se tornar a principal criadora dos jogos é um grande
ponto de virada para a guerra, e Dorcas sabe disso. Ela está apavorada, porque
ela também não quer que Minerva se machuque.

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ZEPPAZARIEL

Mas aqui estão elas, nisto por opção, desejando que a outra não estivesse,
apesar de saberem o quanto é importante para elas estarem. Se importar com
pessoas no meio da guerra é sempre um jogo perigoso.

Novamente, impotente, o olhar de Dorcas rasteja para a porta.

"Você tem algum lugar para estar?" Minerva pergunta, porque ela conhece
Dorcas há anos, e ela é uma mulher assustadoramente observadora em todos
os momentos.

"Eu só—quero dizer, sim, mais ou menos," Dorcas diz fracamente.

Minerva a observa por um longo momento. "Agora? Tão tarde? E não


pode esperar?"

"Eu—bem, se eu—é, hum..." Dorcas faz uma careta ligeiramente,


sentindo-se como uma adolescente tentando esconder uma paixão de sua mãe.

"O único evento em que consigo pensar que tem um limite de tempo hoje
à noite são os mentores saindo para viajar de volta para seus distritos," diz
Minerva.

Dorcas tosse e bate as unhas na mesa, as pontas pontiagudas estalando.


Maldita Minerva por estar sempre atenta aos detalhes. Dorcas não diz nada.

Minerva suspira. "Qual deles?"

"Marlene," Dorcas murmura, seus ombros caindo. Quando ela espia,


Minerva está com os lábios pressionados em uma linha fina, o que significa
que ela está descontente. "O quê? Você não aprova?"

"Você diria que ela é uma boa candidata para se juntar à Ordem?" Minerva
pergunta simplesmente.

A respiração de Dorcas fica presa, seu corpo inteiro fica imóvel enquanto
Minerva a examina, estudando-a de perto. Dorcas fecha a mão em punho
sobre a mesa e engasga, "Por favor, não, Minerva. Ela não. Por favor, eu—
por favor—"

"Dorcas," Minerva diz suavemente.

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CRIMSON RIVERS

"Não a sugira a Dumbledore. Não—não faça isso comigo. Não coloque


isso em mim, recrutar ela, porque eu—eu—" Dorcas engole, seus olhos
ardendo. "Eu não vou fazer isso. Ela não."

Minerva respira fundo, prende o ar por um instante, depois solta o ar


lentamente. "Ok. Ok, Dorcas, eu vou deixar o nome dela de fora."

"Obrigada," Dorcas respira, sua voz rouca enquanto seus olhos se fecham,
alívio batendo nela de uma vez.

"Envolvimento nem sempre é uma escolha," murmura Minerva, seu olhar


triste quando os olhos de Dorcas se abrem. "Você deveria saber disso melhor
do que ninguém. Você pode querer mantê-la segura, mas se os desejos fossem
realidade, todos nós estaríamos sonhando acordados."

"Então me deixe sonhar acordada," sussurra Dorcas. "Por favor."

"Você a ama?" Minerva pergunta baixinho.

"Eu não sei," admite Dorcas. "Acho que eu poderia. Acho que eu quase
amo."

"Vá," é a única resposta de Minerva. Ela acena para a porta, recostando-se


na cadeira. "Vá para onde você precisa. Estarei esperando aqui quando você
voltar. Continuaremos com isso então. A guerra esperou tanto tempo; pode
esperar um pouco mais."

Dorcas está fora de sua cadeira em um instante, não precisando de


nenhum outro estímulo antes de sair pela porta.

Durante todo o caminho até o trem, ela pensa em como Minerva olha para
Poppy às vezes como se fosse a última vez. Como ela é forte o suficiente para
lidar com o risco disso, Dorcas não sabe.

Dorcas não é tão forte.

E, no entanto, ela é gulosa por punição, porque ela chega à estação de trem
e sente sua respiração sair dela no momento em que põe os olhos em Marlene.
Ela está em um terno azul ártico que Dorcas reconhece, um que ela mesma
desenhou e que Marlene deve ter se dado ao trabalho de comprar em uma loja
ou online. Os botões superiores de sua camiseta estão desabotoados, e sua
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ZEPPAZARIEL

gravata está aberta, dando a ela aquele visual preguiçoso e sexy que
genuinamente faz a cabeça de Dorcas girar um pouco. Dorcas quer tirá-la do
terno. Oh, ela é deslumbrante.

Ela também está... descaradamente bêbada.

Mesmo daqui, Dorcas pode ver. Ela está enrolada em Emmeline, rindo
alto, o rosto corado enquanto ela luta para ficar de pé. Frank paira ao lado
dela, como se ele pudesse precisar segurá-la se ela cair, mas Emmeline parece
estar fazendo a maior parte do trabalho para mantê-la firme. Na verdade,
Emmeline parece bastante dedicada a manter Marlene de pé, mãos nos
quadris, pressionada contra ela.

Bem, Dorcas não gosta disso. Nem um pouco. Oh, ela definitivamente não
gosta disso. Tardiamente, ela percebe que isso é bastante hipócrita da parte
dela, considerando que ela transou com Lily, e também ela e Marlene são
tecnicamente apenas... amigas. Ela não tem absolutamente nenhum direito de
ficar irritada com a visão de Marlene em cima de outra mulher, mas isso a
impede de ranger os dentes? Não, não, não impede.

Dorcas cruza os braços, encosta o quadril na parede de tijolos ao lado dela


e espera.

Marlene está bêbada, isso é óbvio, mas talvez a maneira como Dorcas está
fazendo buracos na lateral de sua cabeça com os olhos seja perceptível,
porque ela eventualmente a vê. Assim que o faz, ela dá uma piscadela bastante
cômica.

"Dorcas?" Marlene chama, afastando-se de Emmeline, que faz uma careta


quando tropeça. Emmeline e Frank instantaneamente estendem a mão como
se fossem ter que pegá-la, mas ela afasta suas mãos e faz seu caminho
cambaleante até Dorcas, seus olhos vidrados e arregalados.

"Bêbada, huh?" Dorcas pergunta baixinho.

Marlene limpa a garganta e estende a mão para apoiar a mão na parede de


tijolos ao lado dela, recuperando o equilíbrio. Ela parece um pouco tímida
quando diz, "Oh, só um pouco."

"Eu posso ver isso," Dorcas diz a ela.

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CRIMSON RIVERS

"Eu só... tomei algumas bebidas," Marlene murmura. "Só para tornar a
noite um pouco mais suportável, você sabe como é. Eu sou, ah, mais
apreciado pelas Relíquias quando estou bêbada. Eu rio mais fácil."

Dorcas tem certeza de que seu coração está partido. "Nem todas as
Relíquias. Eu gosto de você quando você está muito sóbria, na verdade."

"Sim, bem, você não pode me oferecer dinheiro para salvar a vida dos
meus futuros tributos, então sem ofensas, mas não é exatamente na sua
opinião sobre mim que eu estou contando," Marlene anuncia sem rodeios.

"Há uma linha tênue entre um bêbado divertido e um bêbado bagunçado,


pelo menos para eles, então tenha isso em mente," diz Dorcas. Ela ergue as
mãos em sinal de rendição quando Marlene aperta os olhos para ela. "Só estou
dizendo. É uma linha tênue a percorrer, e não conheço ninguém que já tenha
conseguido."

Os lábios de Marlene pressionam em uma linha fina. "Bem, porra, eu não


posso fazer isso sóbria, Dorcas, certo? Eu os odeio. Eu—quando eu estou
sóbria, eu—eu não consigo—eu não sei como—"

"Marlene," Dorcas interrompe gentilmente, "Eu não estou julgando você.


Eu só... Eu não quero que você se machuque por causa deles, especialmente
quando isso provavelmente não vai te levar a lugar nenhum de qualquer
maneira."

"Eu não sei o que fazer," Marlene confessa, piscando forte e rápido. "Eu
não sei como eu vou continuar fazendo isso. Eu vou acabar como tantos
outros mentores. Bêbada. Definhando. Escapando disso da única maneira que
podemos."

Dorcas engole em seco e estende a mão com cuidado para pegar a mão de
Marlene, apertando-a suavemente. "Eu—eu acho que você deveria parar de
beber, Marlene, ou tentar. Talvez seja injusto eu dizer, mas eu só—eu quero
que você fique bem. Eu quero que você esteja segura e saudável. Talvez
você—você poderia falar com sua mãe? Do jeito que você falou sobre ela, não
duvido que ela ajudaria você."

"Ela—ela ajudaria," resmunga Marlene. "Eu só—eu não—"

262
ZEPPAZARIEL

"Tudo bem precisar de ajuda." sussurra Dorcas.

Marlene funga baixinho e desvia o olhar, seus olhos se fechando. Ela


respira por um momento, então dá um aceno brusco antes de olhar para
Dorcas novamente. "Eu não esperava que você viesse, que estivesse aqui. Eu
não queria que você me visse assim. Não você."

"Ei, está tudo bem," Dorcas a assegura, apertando sua mão novamente.
"De verdade, está. Eu vim dizer adeus, porque eu—eu não consegui na última
vez."

"Vou ver você de novo no ano que vem?" pergunta Marlene. "Você vai
estar projetando para Sirius de novo?"

Dorcas assente. "Sim, eu vou. Eu estarei aqui, Marlene."

"Posso convencer você a largar Sirius e projetar para mim?" Marlene


murmura, balançando um pouco mais perto. "Tenho certeza de que ele não
aprecia você do jeito que eu faço."

"Ah," Dorcas diz, soltando uma risada fraca, "Sirius me mataria, eu acho."

"Eu não deixaria. Eu prometo," Marlene diz a ela, curvando-se para frente
até que ela está colocando a mão livre na cintura de Dorcas e se inclinando
para roçar os lábios ao longo da mandíbula de Dorcas.

"Marlene," Dorcas sussurra, seus olhos se fechando enquanto um gancho


afiado de desejo a puxa até ela ficar com medo de que ela vá se inclinar direto
para Marlene e nunca mais ressurgir.

"Você cheira a água de rosas, doçura diluída," Marlene respira, inalando


bruscamente enquanto flexiona a mão no quadril de Dorcas e abaixa a cabeça
para beijar o lado de sua garganta. "Isso é você. Doçura diluída. Toda vez,
você abafa toda a força disso, retém tudo, e eu não sei por quê."

"Você está bêbada," Dorcas rosna, sua boca seca enquanto ela gentilmente
desembaraça seus dedos para afastar Marlene de volta.

Marlene bufa. "Sim, mas não é como se eu te quisesse menos quando estou
sóbria."

263
CRIMSON RIVERS

"Bem, você parece querer muitas coisas quando está bêbada," Dorcas
murmura, seu olhar passando por cima do ombro de Marlene para pousar em
Emmeline, que está conversando facilmente com Frank.

"O que?" Marlene segue seu olhar, então se vira e a encara. "Você—está
com ciúmes?"

"Não," murmura Dorcas.

"Achei que nós fôssemos amigas," Marlene a lembra, cantando, essa última
palavra embrulhada em uma zombaria.

Dorcas franze os lábios. "Nós somos. Claro que somos."

"Emmeline é minha amiga," Marlene reflete.

"Sorte de Emmeline," Dorcas estala reflexivamente, então imediatamente


fecha os olhos com uma careta. Oh, pelo amor de Deus.

Marlene tem um sorriso no canto dos lábios quando Dorcas abre os olhos
novamente. "Sim, mas não há necessidade de ficar com ciúmes. Eu não tenho
uma amiga como você, além de você, e isso funciona para mim. Eu estou bem
em sermos amigas assim por enquanto, do jeito que ninguém mais é."

Dorcas não consegue se impedir de contrair os lábios e baixar o olhar, com


dor. Ah, merda. Porra, porra, porra.

"Oh," Marlene sussurra.

"Marlene," Dorcas diz fracamente, levantando o olhar e se arrependendo


instantaneamente quando vê o quão magoada Marlene parece.

"Merda," Marlene engasga com uma risada áspera, piscando rapidamente.


Ela dá um passo firme para trás e assente. "Certo. Bem, sabe, eu nem sei por
que eu—eu só presumi—"

Dorcas balança a cabeça. "Não. Não, espere, não é—"

"E você estava com ciúmes?" Marlene pergunta incrédula. "Pelo amor de
Deus, Dorcas, isso é—você percebe o quão ridículo isso é, não é? Quero

264
ZEPPAZARIEL

dizer, eu sabia que Relíquias sentiam um forte senso de posse, mas porra, o
duplo padrão é um pouco demais."

"Só—espere, não, não é assim," insiste Dorcas. "Eu juro que não, Marlene,
ok?"

"Não, isso é por minha conta. Foi um erro meu. É claro que você tem
outras amigas," Marlene sibila.

"Ela é—é—" Dorcas sente legitimamente que está prestes a soltar um


gemido baixo. "Sim, ela é minha amiga, mas nós não somos amigos como...
você e eu somos."

Marlene arqueia uma sobrancelha. "Então, vocês duas não foderam? Eu só


entendi errado, então?" Ela espera, e Dorcas abre e fecha a boca. Marlene
assente. "Certo, então, na verdade, parece que vocês duas são
amigas exatamente da mesma maneira que nós, a menos que você queira
elaborar sobre como é diferente."

Dorcas não amaria mais nada, exceto que ela não pode, porque então ela
teria que admitir que o que ela sente por Marlene é muito mais do que
amizade, e ela sabe disso, mas fazer isso seria colocar Marlene em perigo.
Dorcas tem responsabilidades e outras coisas que ela tem que deixar ser uma
prioridade, nenhuma das quais ela está disposta a arrastar Marlene. Ela estaria
mentindo para Marlene de uma maneira pior do que já está.

"Por favor, elabore sobre como é diferente," resmunga Marlene, segurando


seu olhar, sua voz baixa. "Eu estou—eu estou literalmente implorando,
porque você não fez nada de errado, e se você apenas—se você apenas me
desse alguma coisa, qualquer coisa, por favor..."

Dorcas quer dar o mundo ela.

Dorcas não pode dar nada a ela.

Marlene engole em seco e pisca as lágrimas visíveis, sua mandíbula rolando


enquanto ela vira a cabeça e respira, inspira e expira. Ela acena com a cabeça
novamente, então se abaixa para passar os dedos sobre o anel em seu polegar,
girando-o uma vez antes de retirá-lo completamente, revelando a cicatriz que
ela não gosta de olhar.

265
CRIMSON RIVERS

Encontrando os olhos de Dorcas, Marlene estende a mão e coloca o anel


em sua palma, enrolando os dedos sobre ele antes de afastar as mãos. "Não há
nada de errado em você ter amigas, Dorcas. Eu só não acho que posso ser
uma delas. Não assim. Não quando eu—"

"Marlene," Dorcas sussurra, aflita, sentindo que seu peito está encolhendo
quando Marlene se corta e desvia o olhar. "Pelo menos fique com o anel.
Você não gosta de ver essa cicatriz."

"Vai ser mais fácil ver do que lembrar de você," Marlene diz suavemente.

O trem toca a buzina, chamando-os para embarcar, e Marlene encontra os


olhos de Dorcas novamente. Não é o adeus que ela esperava, mas é o adeus
que ela recebe.

Sem outra palavra, Marlene se vira e cambaleia de volta para seus amigos,
embarcando no trem com a ajuda deles sem olhar para trás. Dorcas fica ali,
segurando o anel com tanta força que dói, sonhando acordada com não ter
vindo.

~•~

A última noite na Relíquia é ruim para Regulus, pessoalmente. Depois de


um dia sendo forçado a socializar, ele realmente se sente tão esgotado que o
pensamento de estar perto de outra pessoa soa como tortura. Então, ele foge
para o telhado e fica lá até o sol nascer. Por mais exausto que ele esteja, o
sono continua fora de alcance. É frustrante. Regulus sempre sente falta do
esquecimento quando não dorme.

Na manhã seguinte, bem cedo, todos se reúnem e embarcam no trem para


voltar para casa. Pandora os vê, mas Dorcas não aparece. Eles não
conseguiram se despedir dela, e Regulus se pergunta se ele a verá novamente.

A viagem de trem para casa é mais rápida sem nenhuma das paradas. Sirius
está carrancudo, mal-humorado e quieto, claramente chateado por estar longe
de Remus novamente. Ele está em seu ambiente de apenas James, aquele em
que a única pessoa que parece fazê-lo se sentir um pouco melhor é James.
Regulus não olha muito para isso, não mais. Não é um sentimento injusto ter,
afinal. Regulus não pode culpar Sirius por isso, especialmente quando ele
mesmo entende isso intimamente, de uma maneira muito diferente.

266
ZEPPAZARIEL

Há simplesmente algo sobre James. Algo tão inerentemente reconfortante.


Algo tão inabalavelmente seguro. Quando todos os outros não são suficientes,
James sempre é.

Às vezes, parte o coração de Regulus que James não possa ver isso.

Regulus deixa Sirius e James sozinhos, sentando do outro lado e vendo o


mundo passar, quieto e sozinho de um jeito que não o faz se sentir tão
pequeno.

Eles estão passando por um túnel no distrito cinco quando Regulus dá um


duplo olhar, a cabeça chicoteando para o lado. Ele juraria que acabou de
vislumbrar palavras pintadas com spray no interior do túnel. Talvez sua mente
esteja pregando peças nele, mas parecia que dizia Hallow is Hollow.

O trem está indo rápido demais para ele realmente ter certeza, então ele se
acomoda lentamente em seu assento, sobrancelhas franzidas. Contra sua
vontade, ele pensa na maneira como Riddle deixou bem claro que Regulus
não conseguiu fazê-lo mudar de ideia, ou fazer um trabalho adequado para
convencê-lo, como foi exigido.

Regulus não acredita que realmente haja algo que ele pudesse ter feito para
atingir esse objetivo, se ele for honesto. Riddle não lhe parece o tipo de
homem que se deixa influenciar quando tem sua mente fixada em alguma
coisa. Mas, bem, talvez Regulus tenha feito um trabalho bom o suficiente para
convencer todos os outros. James também. Eles realmente tentaram, não
importa o quão difícil fosse.

Isso tem que contar para alguma coisa, certo?

De qualquer forma, Regulus fica aliviado quando eles voltam para casa. Ele
não conhece o futuro, não sabe se as Relíquias exigirão mais dele e de James
em algum momento, mas ele tem certeza de que as chances deles
desaparecerem na obscuridade são maiores agora. Haverá novos tributos em
breve, e Sirius é o único que com certeza terá que retornar à Relíquia. James e
Regulus podem não precisar, possivelmente por um longo tempo.

Então... chá. Regulus acha que o chá é um bom lugar para começar. Ele
não tem certeza do que isso significa para eles, honestamente, mas ele tem
certeza de que ele não se opõe a descobrir. É mais fácil assim, sem o peso das

267
CRIMSON RIVERS

expectativas das Relíquias caindo sobre eles. O que quer que eles façam, seja
como for, será a escolha deles. Não será para exibição. Será deles, e só deles.

Quando o trem desacelera até parar, Regulus desce primeiro. James tem se
levantado em intervalos aleatórios para andar quando sua perna exigia, então
ele não parece tão desconfortável quanto da última vez que voltou para casa
da Relíquia. Regulus fica na frente, esperando em silêncio enquanto Sirius
desce atrás dele, então ajuda James a sair logo em seguida. James está bem o
suficiente para não estar usando sua bengala, apenas balançando
preguiçosamente enquanto andam.

Ele parece satisfeito que Regulus esperou por eles. Um sorriso curva sua
boca, e é lindo, tão lindo. Regulus quer sentir aquele sorriso contra seus
próprios lábios, e sem ninguém por perto ansioso para ver isso, o desejo
parece mais real de alguma forma. Isso o deixa um pouco confuso,
honestamente.

Regulus poderia ter saído e apenas—ido para casa, mas em vez disso, ele
caminha junto com Sirius e James até o portão. Estão todos quietos, mas não
é um silêncio pesado. É leve, na verdade, apenas um alívio tácito estar em casa
com a semana passada para trás.

Quando o portão se abre, Effie e Monty estão lá. Regulus está


secretamente aliviado, porque uma parte dele estava com medo de que eles
não estivessem, de que Riddle tivesse...

E então, Effie dá um passo à frente e diz baixinho, "Sirius, Regulus,


preciso de uma palavra com vocês dois," e Regulus sabe instantaneamente que
Riddle fez. Só não com eles.

O coração de Regulus afunda, seu estômago se contorce enquanto ele


lentamente olha para Sirius, que já está olhando diretamente para ele. Eles não
dizem nada; eles não precisam. James está congelado no lugar, olhando para
Monty com os olhos arregalados, e Monty tem tristeza gravada nas linhas de
seu rosto. Sem dizer uma palavra, Sirius e Regulus seguem Effie para o lado,
ouvindo em silêncio enquanto ela explica que seus pais sofreram um trágico
acidente e estão mortos.

Riddle nem mesmo concedeu a liberdade de deixar corpos para eles


enterrarem.

268
ZEPPAZARIEL

39
MEMORIAL QUARTERNÁRIO

A primeira vez que Regulus convida James para um chá é meses depois de
saber que seus pais estão mortos. James não pode culpá-lo por isso,
honestamente, porque—bem, seus pais estão mortos.

Foi um incêndio em casa, aparentemente, mas James—junto com Sirius e


Regulus—sabia que Riddle estava por trás disso de alguma forma. O prefeito
avaliou, mas tudo o que foi dito sobre isso foi que um fio defeituoso levou a
um trágico acidente. Ninguém se perguntou por que eles não tentaram
escapar, e nem pensaram em se perguntar se talvez Walburga e Orion não
pudessem. Effie disse que aconteceu no meio da noite, enquanto ela e Monty
dormiam, então, quando eles se levantaram com o cheiro forte de fumaça da
rua, já era tarde demais.

Regulus, previsivelmente e compreensivelmente, não estava bem depois do


fato. Sirius também não, embora suas emoções complexas pareçam
impregnadas de sua própria compreensão da moralidade, porque ele
confessou a James uma vez, tarde da noite, que o fato de seus pais estarem
mortos o confortava, e ele achava que isso o tornava uma pessoa ruim. Ele
ficava aleatoriamente triste também, no entanto. Cerca de duas semanas

269
CRIMSON RIVERS

depois de saber que seus pais morreram, Sirius teve um grande colapso
pensando que talvez, apenas talvez, houvesse lembranças felizes de sua
infância com seus pais, mas ele simplesmente as esqueceu. Naquele dia, a
única pessoa que poderia ajudar Sirius era Regulus—que também não estava
indo tão bem na época—e então foi Regulus quem teve que explicar que não,
eles não tinham muitas lembranças felizes com seus pais quando crianças, e
sim, seus pais eram pessoas de merda, mas eles ainda estavam mortos, e ainda
doía de qualquer maneira.

Não houve um funeral ou algo parecido. James tem quase certeza de que
Sirius e Regulus tiraram uma noite para ficarem absolutamente bêbados pra
caralho, porque Sirius não voltou para casa uma noite, e ele podia ouvir gritos
do outro lado da rua. No dia seguinte—não de manhã, mas à tarde—Sirius
veio tropeçando, de ressaca e com os dedos arrebentados, resmungando sobre
irmãos mais novos lunáticos.

Mesmo assim, quaisquer que fossem os problemas, eles pareciam passar


por eles, porque Sirius continuava a visitar Regulus com a mesma frequência
de antes. O único outro visitante comum ainda era, irritantemente, Barty
Crouch Jr., que entrava e saía da casa de Regulus como se ele morasse lá.
James, é claro, ainda estava levando a flor diária, e ele nem ficou com o
coração partido na primeira vez que ele se aproximou e viu a flor do dia
anterior exatamente onde a havia deixado. Bem, ele estava com o coração
partido, mas não por um sentimento de rejeição. Ele se lembrou de como
Regulus disse que a flor o tirou da cama quando fazer isso era muito difícil, e
ele tinha certeza que isso significava que Regulus simplesmente não tinha
saído da cama no dia anterior. De forma alguma. Nem mesmo pela flor.

Então, James colocou um pequeno vaso de flores para ele em sua varanda,
só para que a flor não morresse, deixando-a esperando lá para quando Regulus
estivesse pronto para pegá-la. Regulus finalmente o fez. James apareceu um
dia para ver que a flor havia sumido, então ele a recolocou novamente, e o
ciclo continuou. Houve alguns dias em que Regulus não pegou a flor, e houve
alguns dias em que James mal conseguiu atravessar a maldita rua antes que a
mão de Regulus estivesse correndo para fora de sua porta para pegar a flor
como se fosse tudo o que ele queria na vida.

Levou dois meses, quase três, para aquela porta se abrir quando James
subiu na varanda. Ele não esperava por isso, não naquele dia, e provavelmente

270
ZEPPAZARIEL

nunca. Alguma parte de James sentiu culpa, sentiu que era pelo menos
parcialmente culpa dele, porque talvez ele pudesse ter feito mais, tentado mais,
feito um desempenho melhor, e talvez Walburga e Orion tivessem
sobrevivido. Ele sabia, racionalmente, que ele não era o culpado—Riddle
era—mas isso não impediu que os sentimentos estivessem lá.

Sua vergonha por isso o levou a estar totalmente convencido de que


Regulus nunca mais falaria com ele. As cortinas de sua janela estavam sempre
fechadas.

Mas então, um dia sem aviso prévio, a porta da casa de Regulus se abriu no
momento em que James estava prestes a colocar uma flor em sua varanda, e
por mais bonito que Regulus sempre é, ele parecia bastante áspero na época.
Para James, que não colocava os olhos nele há meses, parecia uma mudança
drástica. Ele estava mais magro e tinha olheiras profundas e escuras sob os
olhos que pareciam estar lá há algum tempo. James imediatamente quis
alimentá-lo e colocá-lo na cama.

Mas ele estava lá, e sua voz falhou um pouco quando ele olhou para a flor
na mão de James e sussurrou, "Você gostaria de entrar para um chá?"

James queria, de fato, e então ele foi tomar chá.

O que o traz ao agora, dois meses depois, quase cinco meses depois de
voltar para casa e descobrir que Walburga e Orion haviam morrido. Não
apenas morrido, no entanto. Eles foram assassinados. James nunca se permite
esquecer, nunca se permite esquecer como foi fácil para Riddle assassinar eles,
feito em segredo, tarde da noite; não como um aviso, mas como uma punição.

Desde que Regulus o deixou entrar naquele primeiro dia, James tomou
pelo menos uma xícara de chá com Regulus todos os dias desde então. Ele
não coloca mais flores na varanda, em vez disso ele bate na porta—se Regulus
não abrir antes que ele possa levantar a mão em primeiro lugar—e entrega
diretamente para Regulus, que pega cada uma como se fosse preciosa. Ele
sempre substitui as flores velhas do vaso de sua cozinha pelas novas, levando
uma das velhas para o quarto antes de voltar para a cozinha para preparar o
chá para os dois.

Alguns dias, Regulus nem o reconhece, fazendo tudo com um olhar


distante, quieto e sem olhar para ele. Nesses dias, James se senta com ele em

271
CRIMSON RIVERS

silêncio e ouve os sons da vida que eles criam mesmo quando viver é tão
difícil; o tilintar de cerâmica, o arrastar de sapatos no chão, e a forma suave e
firme como eles respiram. Nesses dias, James sabe que não deve tocá-lo, e ele
sabe que, de alguma forma, apenas estar lá com Regulus é suficiente.

Outros dias, Regulus parece melhor. Ele está disposto a falar; ele vai olhar
nos olhos de James; ele vai um pouco mais devagar ao fazer o chá. Nesses
dias, James fala com ele, e geralmente é só isso. Conversa preguiçosa e fútil
sobre quaisquer pensamentos que passem por sua cabeça. Às vezes, o objetivo
é apenas fazê-lo rir, e James sempre fica satisfeito quando funciona. Nesses
dias, James tem quase certeza de que pode se aproximar, que pode estender a
mão e tocar, que Regulus o deixará. Na maioria das vezes, James não o faz.
Mas, ocasionalmente, ele não consegue evitar ao menos tentar—apenas uma
mão no braço de Regulus na mesa, ou chegar tão perto que apenas um passo
seria o suficiente para ele ter Regulus em seus braços—e nos dias bons,
Regulus permite, todas as vezes.

Alguns dias, James é quem está lutando. Ele se arrasta até a cozinha de
Regulus e não consegue se lembrar de como sorrir. Nos dias em que sua
perna dói mais do que o normal, ele está mais mal-humorado com a dor. No
dia em que ele acidentalmente mata uma abelha enquanto cuida de suas flores,
ele passa pelos cinco estágios do luto em menos de uma hora, que não tem
nada a ver com a abelha e tudo a ver com Vanity. Ele tem dias ruins também,
dias em que ele entra na casa de Regulus e quer se enrolar em uma bola e
chorar, ou se levantar e jogar tudo pela sala, ou gritar a plenos pulmões até
ficar sem fôlego.

Naqueles dias, Regulus sempre tenta estar lá para ele. James sabe que sim.
Ele pode ver. Regulus não é muito bom com vulnerabilidade, James sabe
disso, mas ele faz questão de perguntar se James precisa ou quer conversar, ou
apenas reclamar, se ele claramente está tendo um dia ruim. Ele ouve quando
James aceita a oferta, o que nem sempre acontece, mas James já aprendeu que
se sente um pouco melhor toda vez que se deixa descarregar um pouco. E,
quando James não quer falar, Regulus faz seu chá um pouco mais doce, e de
alguma forma isso o faz se sentir melhor também.

Hoje é um bom dia para os dois, o que não é tão raro como era quando
eles começaram a fazer isso no início. É mais frequente agora, na verdade,
especialmente porque Regulus parece ter chegado a um acordo com a morte

272
ZEPPAZARIEL

de seus pais, tanto quanto ele pode chegar. Ele não fala sobre eles, nunca, pelo
menos não com James—talvez com Sirius, mas Sirius não disse nada, então
James não sabe—mas Regulus parece melhor hoje em dia. Ainda cansado, na
maioria das vezes, e ainda lindo.

Neste dia, Regulus está de bom humor para adicionar bagels à hora do chá,
como James apelidou carinhosamente em sua cabeça. Quando Regulus quer
mais tempo com ele, ele adiciona bagels, que James agora inconscientemente
pensa como sua comida favorita por esse motivo. Por um lado, ele pode
assistir Regulus espalhar cream cheese nos bagels quentes; um deleite para os
olhos, porque Regulus usa uma faca de cozinha cega com a mesma facilidade
com que usava suas adagas na arena.

"Você é um pouco exibicionista, sabia disso?" James pergunta divertido


depois que Regulus gira sem esforço a faca entre os dedos. "Um pouco como
Sirius, mas mais secreto sobre isso. Não pense que eu não notei."

"Eu não estou me exibindo," Regulus murmura, enfiando o dedo


mindinho na boca e chupando um pedaço de cream cheese com uma pequena
carranca de concentração que faz James se sentir como se estivesse prestes a
derreter contra o balcão.

"Então, o que, você simplesmente não pode segurar uma faca


normalmente?" James provoca.

Regulus sussurra e gira a faca mais uma vez antes de colocá-la na mesa e
deslizar o bagel de James para ele. "Talvez. Eu não sei. Realmente é apenas
um movimento inconsciente. Um hábito."

"Você pode me ensinar?" James pergunta.

"Você quer que eu ensine?" Regulus responde.

James pensa sobre isso por um longo momento, então levanta metade de
seu bagel e admite, "Não, na verdade não. Eu só gosto de olhar, se eu for
honesto. Parece... legal."

"Legal não era a palavra que você ia usar, era?"

"Não, não era."

273
CRIMSON RIVERS

Regulus balança a cabeça, seus lábios se contraindo enquanto ele começa a


rasgar seu próprio bagel em porções, ao invés de apenas morder como James
faz. Ele é sempre assim, comendo educadamente, algo que sem dúvida
aprendeu com a forma como foi criado; levou séculos para Sirius se livrar do
hábito.

"Talvez você devesse pensar um pouco mais sobre seu fascínio por facas,
James," Regulus reflete, colocando um pedaço de bagel na boca e mastigando
lentamente, sobrancelhas levantadas.

"Eu realmente não preciso. Elas são sexy." James dá de ombros, sem
vergonha, porque isso é o suficiente para ele. "Isso é tudo que eu preciso
saber."

"É mesmo?"

"Eu sou um homem simples, Reg."

Regulus revira os olhos. "Você é alguma coisa, tudo bem."

James sorri para ele e morde seu bagel, mastigando detestavelmente como
se pudesse convidar um pouco de vida para esta casa com apenas um sorriso e
uma vontade de ser bobo. Ele está sempre fazendo isso, quando é capaz, em
seus melhores dias. Ele ri alto e o ouve ecoar por toda a casa, esperando que
penetre nas paredes e aqueça o espaço quando ele se for. Todos os dias,
quando James deixa para trás resquícios de conversa e comoção, parece um
pouco menos vazio.

Sirius está contribuindo à sua maneira também. Ele constrói móveis e


simplesmente—deixa tudo na casa de Regulus. Ele monta porta-retratos e os
enche com fotos suas e de James, dele mesmo e de Regulus e James quando
eram crianças, dele e de Regulus antes mesmo de James aparecer em uma
foto. Ele até colocou uma foto de seus pais, provavelmente por causa de
Regulus mais do que por ele mesmo, mas ainda é o pensamento que conta.

Effie manda comida e várias outras coisas para ter certeza de que a
despensa de Regulus nunca ficará vazia. Monty enviou livros para Regulus ler,
o que James sabe de fato que ele realmente lê, porque ele viu os livros
espalhados com flores que James lhe deu usadas como marcadores. Mary de
alguma forma descobriu através das divagações de James que eles estão

274
ZEPPAZARIEL

tentando tornar a casa de Regulus um pouco mais como um lar, então ela
enviou uma bela pintura cheia de cores brilhantes e felizes que
genuinamente fazem a casa parecer mais quente. E, claro, sempre tem um vaso
de flores na cozinha de Regulus.

Ainda é... Bem, ainda há um vazio que perdura, e James sabe por quê. É
difícil fazer de um lar uma casa onde vive um fantasma, e há dias em que a
única coisa que parece real nesta casa é a maneira como Regulus a assombra.

O que coloca uma explosão de esperança no peito de James é


que Regulus está começando a tentar também. Ele vê isso, os sinais de esforço,
tudo, desde os sinais claros de Regulus realmente limpando a casa, até ele
movendo os móveis por conta própria porque ele os quer em um local
diferente de onde Sirius os deixou. Ele vê isso nos sapatos perto da porta, e
nas pequenas notas de receitas coladas na geladeira, e a falta de um
estremecimento ou tensão visível nos ombros de Regulus sempre que ele abre
a torneira e ouve a água corrente.

Suas cortinas estão abertas novamente, também.

São as pequenas coisas, na verdade. Elas importam.

"Então," James diz mais tarde, uma vez que ambos terminaram seus bagels
e a visita está chegando ao fim. Há apenas algo que James quer falar primeiro,
e ele se atreve a esperar que ele realmente receba uma resposta positiva. "Eu
estive pensando..."

"Mm, perigoso," Regulus comenta preguiçosamente, carregando seu


pratinho e copo vazio até a pia. "Não sabia que você podia fazer isso, James.
Que descoberta aterrorizante."

James ri, incapaz de evitar, e isso é outra coisa. Regulus é malvado com ele
novamente, às vezes, mas no bom sentido. James não consegue explicar, o que
há de tão bom nisso, por que ele se sente feliz toda vez que Regulus faz isso,
mas mesmo assim ele fica satisfeito com isso. Ele nem percebeu como
Regulus parou de fazer isso até que ele começou a voltar.

"Sim, bem, é um negócio difícil, essa coisa de pensar que eu comecei a


fazer ultimamente," James anuncia com uma risadinha encantada enquanto ele

275
CRIMSON RIVERS

leva seu prato e xícara também. "Você vai, ah, assistir ao anúncio do Memorial
Quarternário hoje à noite, certo?"

Regulus o olha de lado, mesmo enquanto pega os pratos de James para


lavar junto com os seus. "Sim..."

"Bem, todos nós vamos assistir do outro lado da rua. Mamãe, papai, Sirius
e eu, quero dizer," James diz lentamente, apoiando a mão no balcão e olhando
para Regulus esperançoso. "Se você quiser—quero dizer, se você não quiser
assistir sozinho, você sempre pode vir e assistir com a gente."

"Ah, eu—eu não sei se essa seria a melhor ideia, James," Regulus responde
com cuidado.

"Você não estaria se intrometendo," James diz a ele, se aproximando para


tentar pegar seu olhar. "Na verdade, mamãe e papai acham que você deveria
estar lá de qualquer maneira. Não faz sentido assistir sozinho. Sirius
provavelmente se sentiria melhor com você lá também. Nós podemos—quero
dizer, você pode jantar com a gente e depois ficar por lá..."

"Eu—eu não—" Regulus faz uma pausa, então solta uma respiração
profunda e coloca os pratos para secar, desligando a torneira e virando-se para
encarar James, sobrancelhas franzidas. "Eu vou ver como me sinto mais tarde,
que tal isso? Eu vou pensar sobre isso."

James acena com a cabeça, sem vontade de insistir. Seu olhar se prende em
uma mecha de cabelo ondulada teimosamente sobre a testa de Regulus, e ele a
estuda por um longo momento antes de sua mão se levantar lentamente. Ele
hesita por um instante antes de entrar em contato, baixando o olhar para olhar
nos olhos de Regulus e ver se isso o está perturbando de alguma forma, ou se
vai. Regulus apenas o observa, seus olhos claros e afiados, um pouco intensos.

Gentilmente, James escova o cabelo para trás, deixando as pontas dos


dedos roçarem levemente o arco da sobrancelha de Regulus. James tem
certeza de que seu coração tenta bater para fora de seu peito, músculo e osso e
tudo, porque Regulus se inclina para ele. Ele se aproxima, um suspiro suave
saindo da sua boca no momento em que James se atreve a escovar a curva de
seus dedos em sua bochecha.

"Ei, o que está acontecendo aqui?"

276
ZEPPAZARIEL

James pula no lugar, puxando sua mão para trás reflexivamente enquanto
ele explode, "Puta merda, Sirius! Pelo amor de Deus, porra, não faça isso. Você
quase me matou de susto!"

"Porra, você não pode bater?" Regulus estala, fixando um olhar em Sirius,
que parece imperturbável com isso.

"Bem, eu geralmente não bato, não é? E agora eu estou feliz por não ter
feito isso. O que é tudo isso, então?" Sirius bate a mão entre eles, franzindo o
nariz. "Parem com isso. Eu sou miserável e sem amor, então isso significa que
todos os outros também devem ser miseráveis e sem amor em solidariedade
comigo, porque eu disse isso."

"Oh, pare de ser dramático," Regulus murmura. "Você não é miserável e


sem amor."

"Isso é verdade," James concorda solenemente. "Eu sempre me esforço


para fazer você feliz, e eu te amo muito."

"Não me façam sentir culpado, seus idiotas." Sirius geme e entra na


cozinha para se jogar no balcão, fazendo beicinho para eles. "Eu sinto falta
dele. Eu sinto tanto a falta dele. Eu tenho certeza que estou morrendo, isso é
o quanto eu sinto a falta dele."

"Não muito tempo agora," James diz a ele fracamente, caminhando para
dar um tapinha em seu ombro. Não há muito que James possa dizer para
fazer Sirius se sentir melhor por sentir falta de Remus; ele disse todas as coisas
reconfortantes que ele pode pensar tantas vezes que ele tem certeza que Sirius
está cansado de ouvir isso.

Sirius suspira e se levanta. "Vou atacá-lo com a boca quando o vir de novo.
Vou simplesmente absorver ele, assim eu posso manter ele quando for embora
da próxima vez. Isso é loucura? Acho que eu sou louco."

"Seu sobrenome é Black," Regulus diz ironicamente. "Claro que você é."

"Más notícias para você, Reggie," Sirius responde, mostrando os dentes em


uma careta brincalhona. Regulus bufa baixinho e se vira, então Sirius se
concentra em James. "Vocês dois terminaram com seu pequeno encontro de
chá agora? Mary está nos esperando, James."

277
CRIMSON RIVERS

"Não é um encontro," James e Regulus anunciam ao mesmo tempo.

"Claro que não é," Sirius declara categoricamente, claramente não


impressionado com os dois. "O que quer que ajude vocês dois a dormir à
noite. De qualquer forma, podemos ir agora?"

"Sim, você pode," Regulus murmura, apontando para a porta, suas


bochechas vermelhas. "Saia da minha casa."

"Você não quer levar James até a porta, Regulus? É apenas educado, sabe,
depois de um encontro."

"Fora!"

Sirius cacareja todo o caminho até a porta, e James tem que abafar o
próprio riso enquanto segue atrás. Ele olha para trás no caminho, bem a
tempo de ver Regulus balançando a cabeça com um pequeno sorriso
enquanto se vira, estendendo a mão para escovar suavemente os dedos sobre
as flores no parapeito da janela.

~•~

"Puta que pariu, Potter, você é pesado," Sirius reclama, parando no lugar
para dar um pequeno pulo para puxar James ainda mais para cima em suas
costas, tendo que se jogar para frente para manter o equilíbrio.

"Ei, isso foi ideia sua. Se acalme, meu nobre corcel," James declara em
deleite, estalando os dentes e levantando a bengala no ar, rindo alto quando
Sirius bufa.

Mesmo assim, Sirius continua, porque realmente foi ideia dele, então agora
ele tem que fazer isso. Está mais frio agora, hoje em dia, já que o inverno está
chegando; isso torna a perna de James um pouco mais difícil de lidar às vezes,
especialmente se ele estiver muito ativo. O idiota estava perseguindo crianças
do lado de fora hoje, enquanto Sirius—que é preguiçoso—preferia ficar do
lado de Mary e fofocar sobre os outros professores. No final, James estava
mancando um pouco no caminho para casa, mesmo com sua bengala, então
Sirius—que não é preguiçoso, quando se trata das pessoas que ele ama—
decidiu que dar carona era uma solução clara. Suas costas não estão felizes

278
ZEPPAZARIEL

com ele sobre isso, porque James é uma massa sólida de músculo envolto por
toda parte agora.

"Eu posso sentir você se virando para olhar para a casa dele," Sirius diz
secamente enquanto carrega James em direção à casa deles.
Ele pode literalmente sentir James se virando para olhar para Regulus atrás
deles.

"Ele está na sua mesa," James responde levemente. "Escrevendo mais


poesia de menino triste, sem dúvida, mas acho que acabamos de arruinar o
clima para ele. Ele está rindo tanto de você agora."

"Pequeno merdinha," Sirius murmura, mas não há muita rigidez em suas


palavras, honestamente. Regulus tem se saído melhor ultimamente, o que é
uma grande melhoria em relação ao quão fodido ele estava depois que seus
pais morreram. Francamente, Sirius não estava lidando bem com isso, então
ele não tem espaço para julgar.

É que foi tão inesperado. Tipo, sim, todos eles sabiam que era uma
possibilidade; isso é parte do medo que eles tiveram desde o momento em que
Riddle os visitou. Mas uma coisa é pensar sobre isso, e outra completamente
diferente é que isso realmente aconteça. Sirius não sabe por que, mas uma
parte dele não esperava. Talvez porque ele tenha passado anos de sua vida
apenas desejando que seus pais morressem, como se isso pudesse apagar tudo
o que eles fizeram ele e Regulus passarem, apenas para que isso realmente
acontecesse e ele descobrisse que não apaga.

Sirius teve uma guerra nele por meses depois que eles foram mortos.
Metade dele emaranhado com vergonha e esse desejo horrível por Walburga e
Orion que nunca existiu em primeiro lugar; a outra metade
simplesmente aliviada, por mais horrível que isso possa ser, porque eles
estarem mortos não pode mudar o que eles fizeram no passado, mas garante
que eles não possam fazer mais nada no futuro. A guerra se acalmou agora,
com o tempo, mas nenhum dos lados realmente ganhou. Ele apenas... deixou
pra lá. Ou, ele tentou. Ele ainda está tentando, e tenta um pouco mais a cada
dia.

Regulus, porém... Bem, ele amava seus pais. Ele ainda ama seus pais. Ele
nunca quis que eles morressem, apesar de todas as razões, seria perfeitamente
válido para ele desejar isso. Isso o atingiu muito, muito forte e não era uma
279
CRIMSON RIVERS

coisa complexa e complicada. Sua dor é clara e definida; Walburga e Orion


estão mortos, e ele não quer que eles estejam.

Então, é—bem, é um alívio para Sirius vê-lo melhor. Ele tem certeza que
um peso saiu de seu peito na primeira vez que James não voltou para casa
imediatamente depois de deixar uma de suas flores, e ele descobriu os dois
tomando chá em completo silêncio. Ele os deixou lá, esperando que fosse um
bom sinal.

E foi. Regulus tem se saído melhor, lenta mas seguramente. Não apenas
com a perda de seus pais, mas com muitas coisas, honestamente. Dois dias
atrás, Sirius apareceu na casa de Regulus sem avisar e eles entraram em uma
guerra de brigas que terminou com os dois subindo as escadas correndo,
empurrando um ao outro e insultando o outro durante todo o caminho, e no
topo, Sirius sem pensar jogou o braço em volta dos ombros de Regulus para
arrastar rudemente os nós dos dedos sobre sua cabeça, esquecendo por um
momento que Regulus odeia ser tocado. Exceto que Regulus se agitou e
esticou a cabeça para longe, mas ele não empurrou Sirius, até mesmo se
inclinando um pouco para ele enquanto eles tropeçavam, como se ele não
odiasse o contato.

É uma grande melhora em relação à briga horrível e feia que eles tiveram
na noite em que decidiram que misturar álcool com sua dor seria uma maneira
adequada de deixar seus pais irem. Parecia apropriado na época, mas, em
retrospecto, era uma ideia muito estúpida. Regulus acabou falando muita
merda para Sirius, gritando com ele sobre um monte de coisas, como ele era
um filho ruim e um irmão ruim e uma pessoa ruim, tudo porque Sirius fez o
comentário menos que inocente de que uma parte dele estava feliz que seus
pais estavam mortos, então eles não poderiam causar mais danos.

Em resposta, um Sirius muito bêbado retaliou gritando de volta e


reclamando sobre como Regulus é emocionalmente atrofiado e como ele é um
irmão ruim também. Em seu estupor bêbado, ele pode ter socado uma parede
algumas vezes, o que foi melhor do que socar Regulus, porque
ele realmente queria socar Regulus. Ele tem certeza que se eles lutassem naquela
noite, eles teriam acabado se matando, ou chegando perto disso.

No final, porém, ambos eram uma bagunça chorosa de desculpas e


confissões estúpidas e disfuncionais que provavelmente nunca verão a luz do

280
ZEPPAZARIEL

dia novamente. Coisas como o quanto eles sentiram falta um do outro nos
dez anos que passaram separados. Regulus admitindo que sentia falta de
Walburga e Orion e nem tinha certeza do que estava sentindo falta. Sirius
sussurrando que desejava se lembrar mais deles, mesmo que as memórias que
ele teria fossem tão ruins quanto todas as outras, mas uma parte dele queria se
agarrar a elas de qualquer maneira. Ambos desmaiaram no chão da sala
principal da casa de Regulus e se arrependeram de todas as suas decisões no
dia seguinte, além de lutarem para se olhar nos olhos após a agitação
emocional da noite anterior.

E ainda assim, Sirius voltou quando prometeu, e Regulus o recebeu sem


perder o ritmo.

"Sabe, ele disse que pensaria em vir jantar e assistir ao anúncio do


Memorial Quarternário com a gente," James diz enquanto desliza lentamente
pelas costas de Sirius na porta, se apoiando em sua bengala e seguindo Sirius
quando ele abre a porta e a segura para ele.

"Ele disse?"

"Ele—bem, ele não prometeu nada, mas ele também não disse não,
então..."

A ausência de um não ainda não é um sim, e James sabe disso tanto quanto
Sirius, especialmente com Regulus, mas Sirius pode ver que James está tendo
esperanças de qualquer maneira. Sirius não vai fazer barulho de forma alguma,
mas ele realmente espera que Regulus venha.

Mas Regulus não aparece para o jantar, e Sirius faz uma careta cada vez que
vê James olhando melancolicamente na direção da porta. É provavelmente
uma das merdas mais comoventes que ele já viu. James está tão ridiculamente
apaixonado que Sirius nem zomba dele por causa disso, mesmo que seja pelo
irmão de Sirius. Sirius também não tem espaço para julgar por estar
ridiculamente apaixonado, porque não passa uma noite em que ele não se
arrasta até o telhado para falar com a lua.

Você pensaria que ter a surpresa de ver Remus no meio do ano


inesperadamente faria com que ele sentisse menos a falta de Remus, mas ele
tem certeza que isso só o fez sentir mais falta de Remus. Ele pensa muito
sobre isso, como as coisas teriam sido diferentes se ele não tivesse o visto. Ele

281
CRIMSON RIVERS

não saberia a história por trás de Remus matar alguém—justificadamente. Ele


não saberia que Remus tem uma nova cicatriz. Ele conseguiu mais desde
então? Ele está bem? Ele está seguro? Ele está vivo?

O último pensamento o assusta muito, honestamente. Realmente,


realmente assusta, porque não há como ele saber, ou descobrir, até que ele
retorne à Relíquia como mentor. E é assim que o resto de sua vida vai ser. É a
vida que ele escolheu, e é uma que ele escolheria todas as vezes por Remus,
mas isso não torna as coisas mais fáceis. Ainda é tão difícil.

A única coisa que ele pode fazer é viver um dia de cada vez, como diria
Remus, e assim ele faz. Alguns dias são melhores que outros, mas todos os
dias, ele sente falta de Remus da mesma forma.

Antes do jantar, James estava de bom humor, mas durante o jantar, ele fica
mais visivelmente abatido e subjugado. Sirius não costuma ficar bravo com
Regulus ou James em nome do outro—ele falou sério quando prometeu ficar
de fora—mas há alguns momentos em que ele não pode evitar. Esse é um
deles. Ele quer atravessar a rua e agarrar seu irmão teimoso e emocionalmente
atrofiado pela orelha e arrastá-lo até aqui, só para colocar um sorriso de volta
no rosto de James.

Sirius sabe, do jeito que um irmão sabe, que Regulus ama James com tudo
o que tem nele. Ele não tem dúvidas de que um dia, algum dia, Regulus estará
pronto para permitir que James o ame do mesmo jeito. Muito em breve,
provavelmente, pelo que ele viu. Regulus está chegando lá. Lenta mas
seguramente, ele e James estão chegando lá.

Está demorando, e às vezes, Sirius fica um pouco impaciente quando um


deles fica triste pelo outro, o que infelizmente é uma ocorrência frequente.

Effie percebe, também, porque ela discretamente leva Sirius para ajudá-la a
lavar a louça enquanto Monty vai ligar a televisão e James implora para tomar
um banho. Assim que eles estão sozinhos, ela murmura, "James teve um dia
ruim?"

"Na verdade não," Sirius responde baixinho. "Um bom, na verdade. É só


que Regulus disse que pensaria em vir, mas ele deve ter decidido não vir, e
James... Bem."

282
ZEPPAZARIEL

"Ah," Effie diz suavemente, entendendo instantaneamente. "Mm, bem,


talvez ele só precise de um pouco mais de tempo. Regulus, quero dizer. Ele
sempre foi mais cauteloso do que você e James, mesmo quando crianças."

"Às vezes, eu mal consigo me lembrar de como éramos quando crianças,"


Sirius confessa, engolindo em seco. "Reggie, acima de tudo. Eu me lembro de
algumas coisas, mas não..."

"Bem, Regulus era... uma criança quieta e tímida que ficou acanhado no
momento em que eu sorri para ele. Um menino muito, muito gentil," Effie
reflete com um sorriso carinhoso. "Ele cresceu como um homem gentil."

Sirius para e a encara. "Ele—o quê? Regulus?"

"Sim," Effie confirma com uma risada. "A maioria não pensaria assim, mas
eu sei que sim. Eu o observei se levantar e se jogar em um rio de sangue em
um ato tão terno que eu nunca mais serei capaz de olhar para ele com nada
menos que puro amor. Todos os outros membros da família Black,
incluindo você, lutaram com garras e tentaram voltar para sua família, muitas
vezes para uma família que nunca os fez se sentir amados. Regulus? Ele lutou
com garras naquela arena, o tempo todo, por James. Ele é muito mais gentil do
que qualquer um acredita."

"Oh," Sirius sussurra, um nó se formando em sua garganta. Ele engole em


seco e pisca rapidamente, limpando a garganta ruidosamente. "Eu—eu
suponho que eu nunca realmente... pensei sobre isso assim."

"Coisas delicadas são facilmente esmagadas. É por isso que elas são
embaladas com mais cuidado. Demora um pouco mais para desembrulhar,"
Effie diz a ele com sua marca especial de sabedoria que ele tem a sorte de ter
em sua vida há muito tempo. Ela sorri para ele e estende a mão para passar a
mão pelo cabelo dele, inclinando-se para beijar sua têmpora, então ela volta a
lavar a louça.

Eles ficam em silêncio por um tempo, e ele pode ouvir os sons fracos de
um chuveiro, junto com o som baixo de Rita Skeeter tagarelando ao longe na
tela. Na semana passada, para a preparação do anúncio do Memorial
Quarternário, os jogos vorazes anteriores foram revistos para uma atualização.
Destacando momentos da arena, da entrevista antes e depois, bem como os
comentários constantes de Rita.

283
CRIMSON RIVERS

Eles não os estão assistindo por razões óbvias, mas eles não têm muita
escolha esta noite.

Por causa do Memorial Quarternário.

Sirius nem tinha nascido quando o primeiro Mestre das Relíquias foi
assassinado. Gellert Grindelwald, morto em seu próprio castelo apenas alguns
meses após os 34º Jogos Vorazes. Ele não sabe muito sobre isso, apenas que
as pessoas nos distritos esperavam que uma mudança na liderança traria boa
sorte para os distritos.

Não trouxe.

Tom Riddle foi o próximo a se tornar Mestre, e Sirius também não sabe
muito sobre isso, já que foi antes de seu tempo, mas ele sabe que as pessoas
ficaram chocadas com o quão jovem Riddle era quando chegou ao poder.
Nem mesmo dezoito anos na época, se Sirius tiver os fatos corretos, mas
enquanto os do distrito estavam chateados, as Relíquias o amavam.

Uma das primeiras coisas que ele implementou foram jogos especiais em
memória do anterior Mestre da Relíquia. Assim, os 35º jogos foram alterados
com uma regra para permitir que os tributos colhidos escolhessem voluntários
para ir em seu lugar, com o problema de que eles só poderiam escolher de sua
própria família.

As Relíquias adoraram tanto os jogos especiais que Riddle anunciou que


seria um evento quarternário. A cada vinte e cinco anos, em memória da
adorável liderança de Gellert Grindelwald, haveria um Memorial Quarternário.
Aparentemente foi um Vitorioso de muito tempo atrás que o matou, embora
ninguém saiba quem, ou o que aconteceu com ele. Provavelmente está morto,
Sirius adivinharia.

É o Memorial Quarternário. Eles são notoriamente piores do que os jogos


usuais. Mais sangrentos. Mais difíceis. Mais intensos. Qualquer que seja a regra
que Riddle apresente—porque é sua decisão no final, mesmo que funcionários
do governo e criadores dos jogos votem ou ofereçam ideias—será brutal. Será
difícil para os tributos, sim, mas também vai ser difícil para os mentores.

Vai ser difícil para Sirius.

284
ZEPPAZARIEL

"Qual você acha que vai ser a regra?" Sirius não pode deixar de perguntar,
sua voz baixa, seu coração acelerando de medo.

"Eu não sei," Effie diz baixinho. Ela lava um prato e olha para frente, seu
olhar distante como se ela estivesse olhando para o passado e existindo lá
também.

~•~

Regulus chegou à conclusão de que olhar para uma porta e pensar em bater
não é a mesma coisa que bater de verdade. Ele não sabe por que é tão difícil
de fazer, mas ele está realmente lutando para levantar a mão. O primeiro
passo, e de alguma forma ele está conseguindo estragar tudo.

Bem, não, o primeiro passo foi realmente chegar na hora, mas ele estragou
tudo também. Foi culpa dele. Ele não tem certeza do por que importava tanto
para ele o que ele usava, e ele não esperava que isso importasse, ou talvez ele
tivesse se vestido mais cedo do que ele se vestiu. Mas ele não estava ciente de
que isso o levaria a uma crise leve na qual ele despejou basicamente todo o seu
armário, trocou de roupa pelo menos seis vezes, então de alguma forma
acabou no chão com a cabeça entre os joelhos, tentando não chorar porque
ele percebeu que já estava atrasado e ainda não tinha encontrado roupas que o
fizessem se sentir apresentável o suficiente para aparecer em primeiro lugar.

Ele não tem ideia do porquê, além do fato de que ele se importa com o que
James pensa dele, o que é tão estúpido, porque James literalmente o viu no seu
pior e isso não o impediu de sentir por Regulus o que ele sente.

Então, Regulus estava atrasado para o jantar e decidiu simplesmente não ir,
já que ele já estava atrasado, mas então ele continuou pensando em como
James realmente parecia querer que ele viesse, e honestamente, Regulus
realmente queria ir. Quanto mais ele pensava nisso, mais o desejo se instalava
dentro dele, porque ele realmente não quer assistir ao anúncio do Memorial
Quarternário sozinho.

Ele também gostaria de escolher estar lá para Sirius pelo menos uma vez em
sua vida, e é Sirius quem realmente vai precisar de apoio esta noite, já que o
anúncio vai afetá-lo mais. Então, Regulus se convenceu a voltar.

285
CRIMSON RIVERS

E agora ele não consegue descobrir como bater, e a porta não se abrirá
magicamente para ele, então ele está meio—

A porta se abre magicamente sem nenhum aviso, e Monty pisca para ele
enquanto segura um saco de lixo na mão, claramente prestes a sair e jogá-lo na
grande lixeira no canto de sua propriedade.

Regulus pisca de volta.

"Oh," diz Monty. "Ei, Regulus."

"Olá, Monty," Regulus responde fracamente, seu rosto inteiro


imediatamente ficando quente. Oh, pelo amor de Deus, isso é mortificante.

"Você vai entrar?" Monty pergunta. "Você acabou de perder o jantar, mas
eu poderia fazer um prato para você, se você quiser."

"Oh, ah, obrigado, mas eu comi," Regulus admite timidamente, porque ele
de fato colocou para dentro dois sanduíches antes de sair de casa por estar
atrasado para o jantar, e sim, ele quase chorou com as migalhas que ficaram
em sua camisa, e ele também tinha certeza de que seus pais estavam rolando
em seus—bem, eles não tinham túmulos, então seus túmulos metafóricos, por
como ele empurrou aquelas migalhas de sanduíches de volta sem qualquer
educação.

"Tudo bem, entre," diz Monty agradavelmente, dando um passo para trás
para deixá-lo entrar. Assim que o faz, seus lábios se contorcem quando ele
inclina a cabeça e chama as escadas, "James, apresse-se no chuveiro, Regulus
está aqui!"

"O QUE? ELE ESTÁ?!" É o grito que volta para baixo, seguido por uma
série de baques altos e xingamentos abafados.

Monty ri baixinho, então olha para Regulus com carinho. "Meu pobre
filho. Tudo bem, eu já volto. Sirius está na cozinha com Euphemia se você
quiser ir vê-lo."

"Obrigado," Regulus murmura, e Monty pisca para ele antes de continuar o


que estava fazendo.

286
ZEPPAZARIEL

Antes que Regulus possa dar um passo, a cabeça de Sirius aparece pela
porta da cozinha. Ele pisca. "Reggie?"

"Não, uma invenção da sua imaginação. Uma ilusão, se você quiser."

"Altas chances disso, na verdade, com os horrores que meu cérebro gosta
de inventar."

"Não sei por que seu cérebro teria que inventar alguma coisa quando tudo
que você precisa fazer é olhar no espelho."

Sirius abre a boca como se estivesse prestes a responder, mas ele a fecha
novamente quando Effie aparece na porta, sorrindo enquanto diz, "Com
fome, querido? Eu posso fazer um prato para você."

"Eu comi, mas obrigado," Regulus responde rapidamente, ainda


envergonhado por ter perdido o jantar. Ele tem certeza de que morreria de
humilhação se ela o alimentasse agora.

"Você gostaria de um pouco de chá?" Effie oferece. "Está um pouco frio,


não é? Ou, oh, podemos fazer chocolate quente."

"Sim!" Sirius deixa escapar. "Sim, Regulus, adoraria chocolate quente,


porque Sirius também adoraria chocolate quente."

Os lábios de Regulus se contraem. "Chá é bom."

Sirius faz uma careta, e Effie ri enquanto acena para os dois na cozinha.
Regulus cede e concorda com chocolate quente quando Effie oferece
novamente, o que faz Sirius parar de resmungar baixinho. Regulus fica de lado
e observa em silêncio enquanto Effie e Sirius trabalham juntos para fazer as
bebidas, movendo-se fluidamente um ao redor do outro com uma
familiaridade que o próprio Regulus nunca teve—com ninguém,
honestamente.

Effie conversa um pouco com ele, pede para ele passar uma ou duas
canecas para ela, repreende Sirius quando ele esguicha creme diretamente em
sua boca, e é—legal. Ele se sente do lado de fora, mas ele se sente do lado de
fora de muitas coisas, e ele acha que sempre se sentirá. Na maioria das vezes,
ele nem se importa. Este é um daqueles casos em que ele está bem com isso,

287
CRIMSON RIVERS

onde é quase reconfortante apenas ficar nos bastidores e assistir, onde ele não
está com inveja ou anseio, apenas feliz em testemunhar.

James aparece na porta com uma bagunça de cabelos úmidos e olhos


brilhantes, apenas ficando mais brilhantes no momento em que pousam em
Regulus. Ele inala bruscamente, de forma audível, então segura por um longo
momento antes de exalar tudo de uma vez e entrar na cozinha. Sua
bengala bate levemente a cada passo, um ritmo que de alguma forma,
inexplicavelmente, parece música no peito de Regulus, uma batida que o deixa
sem fôlego.

"Reg," James cumprimenta alegremente, seu olhar quente, satisfeito.


Regulus gosta, daquele olhar, aquela simples alegria em vê-lo.

"James," Regulus murmura, seu coração dando um pequeno olá quieto,


mas não menos feliz em troca.

"Você está atrasado," diz James, mas é uma provocação, nenhum


verdadeiro desagrado em seu tom. Ele se apoia no balcão ao lado de Regulus,
inclinando-se sobre ele, virando-se para dar a Regulus toda a sua atenção. Seus
óculos estão um pouco embaçados por causa da rápida mudança de
temperatura, Regulus supõe, do banho quente e do frio na cozinha.

"Ah, sim, eu estava—" Regulus abre e fecha a boca, sua mente


completamente em branco, mas ele se recusa a dizer a James que está tão
atrasado porque ele literalmente não conseguia decidir o que vestir. "Sim,
bem, eu estou aqui agora. Desculpe por ter perdido o jantar."

James cantarola. "Tudo bem. Você está aqui agora. Mas você está com
fome? Eu posso fazer um prato para você."

"Não, eu comi, mas obrigado," diz Regulus, lutando contra um sorriso.


Potters. Eles são todos iguais.

"Mas Effie não pode deixar você de mãos vazias, então temos chocolate
quente!" Sirius anuncia brilhantemente, parecendo absolutamente encantado
enquanto segura sua caneca entre as palmas das mãos.

"Regulus, eu vou ter que pedir para você vir mais vezes," James diz,
ansiosamente estendendo suas mãos com um sorriso, e Sirius ri enquanto ele

288
ZEPPAZARIEL

senta sua própria caneca para passar uma para James, então mais uma para
Regulus.

Effie não é muito discreta sobre levar a si mesma e Sirius da cozinha logo
depois disso, embora isso seja parcialmente apenas porque Sirius não percebe
que é isso que ela está fazendo, então ele continua falhando em perder suas
deixas, e ela finalmente o empurra gentilmente pelo ombro e praticamente o
arrasta para fora do lugar. Regulus cora atrás de sua caneca de chocolate
quente, tentando se esconder, e pela primeira vez, James parece tão confuso
quanto ele.

"Desculpe por—" James tosse e acena com a mão timidamente, sentando


sua caneca e estendendo a mão para coçar o lado de sua cabeça em um gesto
nervoso. "Eu não quero que você se sinta emboscado. Eu não estava—quero
dizer, isso realmente era sobre ter você para o anúncio do Memorial
Quarternário, não para ficar preso a mim ou qualquer coisa."

"Eu não me sinto emboscado," Regulus o assegura. "Ou preso."

"Oh. Bom," James suspira, visivelmente aliviado. Ele relaxa um pouco,


estendendo a mão para pegar sua bebida e tomar um gole, todos os seus
nervos parecendo desaparecer de uma vez. Isso significa que é com total
sinceridade que ele diz, "Eu estou feliz por você estar aqui."

"Eu também," Regulus sussurra.

E ele está, essa é a coisa. Ele está tão feliz por estar aqui agora; ao lado de
James, perto de James, olhando para James, tendo a sorte de existir ao mesmo
tempo que James. É tão insuportável e inexplicavelmente bom estar perto
dele, estar com ele. Isso deixa Regulus feliz. Tão feliz.

Também faz com que ele sinta que vai desmoronar, mas não do jeito que
costumava acontecer. Ele não suportava ser tocado antes, e agora é tudo o
que ele quer que James faça. Tocar ele. Só tocar ele. Por favor, por favor,
toque ele. Seja como for, como quiser, Regulus não se importa. Ele anseia
pelas mãos de James com um desespero que ele nunca pensou que alcançaria
novamente, depois da arena, mas aqui está ele, e ele não esqueceu.

Ele não esqueceu o que é ansiar por James. Ele ainda sabe o que é desejá-
lo tanto que estaria disposto a se ajoelhar no altar de James Potter

289
CRIMSON RIVERS

e implorar; ele cairia de quatro e rastejaria se fosse preciso, se isso provasse sua
devoção. Ele é a manifestação do anseio construído sem ter para onde ir, e ele
anseia, deseja, suplica.

Isso foi crescendo lentamente, especialmente desde que ele começou a


deixar James entrar em sua casa todos os dias, mas ele tem certeza disso agora.
Toda vez que ele entra na mesma sala com James, tudo o que ele quer é que
James o toque, e talvez nunca pare.

As cicatrizes—bem, chegou a um ponto em que Regulus tem quase certeza


de que terá que deixar James vê-las, e o plano é implorar para ele se acostumar
com elas muito rápido e manter seus comentários para si mesmo e fingir que
não vê Regulus de forma diferente do que ele sempre viu. Porque,
honestamente? A libido de Regulus o alcançou, junto com sua vontade de
fazer algo sobre isso, e James mal pode respirar em sua direção sem invocar
nele essa necessidade carnal e desesperada de foder até que eles não possam se
mover.

A coisa insana sobre tudo isso é que Regulus poderia literalmente... ter isso.
Tudo isso. Qualquer coisa. Se ele pedisse, James o tocaria. Ele sabe disso.

É a parte de pedir que é difícil.

Ele pensa muito, o mais alto possível. Por favor, me toque, ele vai pensar
repetidamente, olhando para James e quase desejando que James pudesse ler
sua mente. Oh, se James pudesse ler sua mente, até ele provavelmente ficaria
atordoado—possivelmente até um pouco horrorizado—com o discurso
absoluto de pura obsceno que invadiu a cabeça de Regulus apenas nesta última
semana.

James literalmente não pode fazer nada sem Regulus querer arrancar suas
roupas e pular em seus ossos. Mas, acima de tudo, ele só quer as mãos de
James sobre ele, o peso e o calor delas pressionados contra ele por toda parte,
em qualquer lugar, por favor.

Infelizmente, James parece totalmente alheio a esse fato, o que


honestamente é um pouco decepcionante, porque se ele soubesse, ele faria isso
acontecer para eles. Regulus sabe que ele faria.

290
ZEPPAZARIEL

Regulus está honestamente fazendo o seu melhor para encontrar uma


maneira de transmitir isso a James, mas ele não consegue pensar em como.
Ele sabe que apenas dizer é uma opção, exceto que literalmente toda vez que
ele tenta, as palavras legitimamente não se formam. Ele está pensando em
escrever uma carta ou um poema, mas a ideia de realmente deixar James ver
sua cabeça assim é—oh, não, ele está pronto para algumas coisas, mas
não isso, ainda não. Talvez algum dia, mas ele está consciente de si mesmo o
suficiente para saber que levaria tempo para ele construir isso.

Então, na verdade, ele não conhece outra forma de comunicar seus desejos
sem apenas esperar que James perceba, ou apenas que fique descarado o
suficiente para ele agir por conta própria, enquanto Regulus participa
alegremente.

Nem passa pela sua cabeça que ele pode fazer isso sozinho, até que eles
terminem o chocolate em um silêncio confortável, e James se vira para levar
sua caneca para a pia. Regulus segue atrás dele automaticamente, apenas para
James virar de volta muito abruptamente e dizer, "Ah, merda, me deixe levar o
seu também, se você—" e não continua, porque Regulus literalmente apenas
esbarra diretamente nele. Tipo, direto no peito dele. Ele até quica um pouco
com um piscar de olhos, porque James é... firme.

"Oh, desculpe," James começa, e novamente, ele não termina, porque


Regulus ainda está tão perto dele, com a mão livre no braço de James, e ele
está olhando para ele com intensidade fixa enquanto percebe tudo de uma vez
que ele pode tocar. Ele flexiona os dedos no braço de James, como se estivesse
testando a teoria, e James senta sua caneca ao lado de Regulus com um baque
surdo, sem dizer uma palavra. Regulus está muito ciente do fato de que James
está prendendo a respiração agora.

Oh, olá, eu estou em casa de novo, pensa Regulus, ou talvez ele apenas sinta,
sempre sentindo sempre que James está perto dele, na ponta dos dedos. Tão
perto, e ainda assim, não perto o suficiente. Regulus o quer mais perto. Ele
quer estar mais perto.

É ao mesmo tempo tão fácil e nada fácil deslizar a mão pelo braço de
James e dar um passo à frente para pressioná-lo mais uma vez, e ele não
percebe que está prendendo a respiração até que ela escapa dele em um
suspiro agudo e trêmulo no momento em que ele cede ao calor que James

291
CRIMSON RIVERS

carrega com ele onde quer que vá. Já faz meses desde a última vez que
Regulus esteve em seus braços, com essa distância da Relíquia, e já faz muito
tempo. Regulus desliza o braço para cima para amarrar a nuca de James, então
faz o mesmo com o outro, seus olhos se fechando enquanto ele se derrete
nele de uma vez.

"Reg?" James murmura, sem se mover, sem retribuir o abraço. Suas mãos
pendem ao lado do corpo, esperando.

"Você pode, James. Você pode me tocar. Por favor," Regulus responde,
não querendo que a última palavra saia de sua boca, mas acontece, e ele não
pode voltar atrás agora. Ele não tem tanta certeza de que faria de qualquer
maneira, porque assim que ela cai de seus lábios, os braços de James voam
para envolvê-lo, instantaneamente, com sinceridade.

É diferente aqui, assim, na cozinha de James sem mais ninguém por perto,
só eles, sem olhares indiscretos e sem expectativas. É diferente depois do
tempo, depois que eles tiveram tempo para se ajustar, depois que eles
chegaram a um ponto em que tentar não é uma tarefa assustadora na qual eles
podem se afogar, mas uma possibilidade brilhante de que eles estão ansiosos
para pular direto para o fundo. James nunca o deixaria se afogar, ele sabe
disso; ele não sabia, depois de tudo, mas nunca foi sobre isso; sempre foi
sobre Regulus precisar aprender a nadar sozinho. Regulus pode nadar agora.
Ele está pronto para nadar.

"Você está tremendo," James sussurra, sua mão gentilmente varrendo para
cima e para baixo nas costas de Regulus.

"Eu estou—eu estou muito feliz no momento," Regulus engasga, então


enfia o rosto no ombro de James quando ele percebe que, pateticamente, ele
está chorando.

James, a alma pura que é, não chama a atenção para isso, nem faz
perguntas. Ele apenas segura Regulus em um aperto firme e continua a
acariciar suas costas, deixando Regulus soluçar, deixando Regulus tremer e
deixando Regulus se acalmar.

"Lembra daquela vez que eu te disse que continuaria esperando por nós?"
James pergunta baixinho.

292
ZEPPAZARIEL

"Eu me lembro," resmunga Regulus.

"Eu ainda estou," diz James. Regulus solta uma risada rouca e sufocada e
se agarra a ele ainda mais forte. James dá um beijo fugaz na lateral de sua
cabeça, em seu cabelo, e Regulus praticamente fica mole contra ele. Ele
quase choraminga. "Acho que, agora mais do que nunca, eu tenho motivos para
ter esperança. Não tenho? Eu tenho?"

"Sim," Regulus respira. "Sim, você tem. Você sempre tem."

James exala explosivamente e aperta os braços em volta dele, e eles ficam


assim por um tempo. É um abraço, mas também é muito mais do que isso. É
o começo de algo que eles têm certeza de que realmente terão.

~•~

James se acomoda ao lado de Sirius enquanto Regulus faz o mesmo do


outro lado dele. No meio, Sirius balança a cabeça entre eles, finalmente
resolvendo olhar para James, porque Regulus está fingindo que ele nem existe.
Sirius arqueia uma sobrancelha para James, e James morde a parte interna de
sua bochecha o mais forte que pode, mas isso não impede o sorriso que surge
em seu rosto. Sirius bufa e desvia o olhar.

Tudo bem, então talvez James esteja andando nas nuvens no momento,
mas ele está tranquilo. Na verdade, ele está sendo muito normal sobre isso, se
você ignorar o fato de que literalmente cada parte dele está formigando e seus
braços parecem permanentemente deformados para a forma do corpo de
Regulus. Ele tem certeza de que está prestes a começar a flutuar.

Esse sentimento desaparece quando Monty tira a televisão do mudo


quando Rita aparece nela, o clipe anterior de Regulus e James enrolados juntos
em uma caverna felizmente desaparecendo. Rita está sorrindo ao dizer, "E
agora, uma mensagem especial do próprio Mestre das Relíquias."

"Obrigado, Rita," Riddle murmura assim que ele está na tela, olhando
direto para a câmera. Ele parece estar em uma mesa, suas mãos entrelaçadas
casualmente em cima. Há um sorriso cordial em seu rosto, e seus olhos—
geralmente tão vazios—brilham com um prazer não dito que faz o coração de
James afundar em seu peito. "Assim como em cada Memorial Quarternário,

293
CRIMSON RIVERS

eu gostaria de fazer um breve momento de silêncio para lembrar o Mestre


caído que tenho muito orgulho de ter como antecessor."

Sirius zomba e murmura, "Bem, foda-se," então começa a tagarelar durante


todo o momento de silêncio, em um tom excessivamente alegre que faz todos
rirem impotentes. Ele fica em silêncio novamente quando Riddle levanta a
cabeça para falar.

"Cinquenta anos atrás, nós tivemos os primeiros jogos vorazes com uma
regra alterada, e o Memorial Quarternário nasceu," explica Riddle. "A cada
vinte e cinco anos após os primeiros jogos alterados, temos o Memorial
Quarternário para lembrar o Mestre anterior que nos foi tirado cedo demais,
um evento especial em sua homenagem que, se estivesse vivo hoje, acredito
que estaria verdadeiramente honrado por isso."

"Ele parece encantador," James diz sem rodeios, e Sirius bufa


ironicamente, cruzando os braços. Ele está tenso, sua mandíbula apertada.

"Ele não era," murmura Monty. "Grindelwald, quero dizer. Eu ainda era
muito jovem quando ele foi assassinado, mas lembro que meus pais ficaram
aliviados com a notícia. Grindelwald era jovem, vinte e seis anos, acredito. Ele
tinha sido um Mestre por oito anos antes de morrer. Muito jovem quando
assumiu o cargo, e ainda assim, Riddle era ainda mais jovem."

"Espere, então quem era o Mestre antes de Grindelwald?" James pergunta,


piscando para seu pai. Ele nunca pensou em perguntar sobre isso, ou mesmo
se importar, porque ele ainda era um bebê quando o Memorial Quarternário
anterior aconteceu. Sua mãe era uma mentora, no entanto. Talvez ele devesse
saber disso.

"Não havia um," diz Monty. "Os primeiros vinte e seis jogos vorazes não
eram... o que são agora. A Relíquia costumava ser uma democracia, há muito
tempo, dirigida por um conselho de pessoas em vez de apenas um, mas
Grindelwald de alguma forma conseguiu mudar isso, e com isso, os próprios
jogos vorazes. Costumava ser..."

"Meus pais disseram que não eram comemorações," Effie anuncia


baixinho. "Não havia colheita nos distritos. As pessoas não podiam se
voluntariar. Eram—no começo, eram apenas pessoas jogadas em um campo
com armas e mandadas matar umas às outras, ou seriam mortas. Não era...

294
ZEPPAZARIEL

adorado, se isso faz sentido. Não havia como eles manipularem para tornar
desejável para assistir, mas aparentemente Grindelwald o transformou no que
é agora."

"Tiramos o chapéu para quem o matou, então," Sirius declara com firmeza.
"Espero que aquele filho da puta não esteja descansando em paz, na verdade.
Eu adoraria que fizessem o mesmo com Riddle também."

Como se tivesse ouvido a ameaça, Riddle olha direto para a câmera e


encerra com um simples anúncio.

"Este ano," Riddle continua calmamente, "Em memória de Gellert


Grindelwald—que foi injustamente assassinado por um Vitorioso—para
lembrar a todos os Vitoriosos que seus crimes contra a Relíquia não ficarão
impunes, foi decidido que os tributos deste ano serão colhidos dos Vitoriosos
existentes em cada distrito."

Leva um segundo para James entender o que isso significa, honestamente.


Ele não tem certeza do porquê, mas é tão insondável para ele que ele
literalmente não consegue entender o que Riddle acabou de dizer. Vitoriosos
existentes em cada distrito. Serão colhidos dos existentes—

Os ouvidos de James ressoam.

Riddle ainda está falando na tela, embora o que ele está dizendo, James não
possa dizer. Ele não consegue ouvir além do tom alto em sua cabeça que está
lentamente, cada vez mais alto. Ele está apenas olhando para a tela,
observando a boca de Riddle se mover, e então Rita aparece na tela ao lado,
olhando para a câmera com os olhos arregalados.

A tela fica preta abruptamente.

"Fleamont," Effie resmunga, mas Monty já está fora de sua cadeira,


jogando o controle remoto na parede com tanta força que ele se despedaça e
cai no chão em pedaços. Deixa um amassado na parede.

"Não. Não, não—de novo não. Não—" Monty engasga e abaixa a cabeça
para frente antes de sair da sala completamente, marchando pelos degraus.
Uma porta bate ao longe, e então outra bate muito mais perto.

James olha e Regulus se foi.


295
CRIMSON RIVERS

~•~

No momento em que Sirius processou o que aquela regra significava, ele se


foi. Foi instantâneo. Um interruptor girou, e ele escapuliu.

Ele não sabe há quanto tempo ele está fora quando volta, mas não está no
mesmo lugar que estava. Ele está na cozinha, sentado ao lado de James,
enquanto Effie anda de um lado para o outro em completo silêncio. Sirius
pisca e olha para James, que está visivelmente abalado, o branco de seus olhos
mostrado com medo descarado enquanto observa cada movimento de sua
mãe. Sirius olha ao redor, mas Monty não está aqui, e nem Regulus.

"Onde está Regulus?" Sirius exige instantaneamente, começando a ficar de


pé.

"Tenho certeza de que ele foi para casa," murmura Effie, parando de
repente e encarando os dois. "Sente-se, Sirius. Há algo que eu preciso dizer
antes de você ir até ele."

Sirius se senta, apesar de todos os instintos gritando para ele ir até seu
irmão agora. James—ele tem Effie e Monty, e é claro que ele tem Sirius
também, mas Regulus? Ele não tem ninguém agora, e ele precisa de Sirius. Ele
tem que precisar. Sirius precisa que Regulus precise dele, porque ele também
precisa de Regulus.

"Sem se voluntariar," declara Effie bruscamente. James e Sirius ficam


parados ao mesmo tempo, e ela aperta a mandíbula. "Sem se voluntariar, não por
mim, fui clara?"

"Mãe," James sussurra.

"Nenhum de vocês se voluntariará no meu lugar se meu nome for


chamado," Effie diz a eles, cada palavra precisa e contundente, não
permitindo espaço para discussão. Sirius olha para ela com horror, porque só
agora está acertando ele que Effie pode—ela pode—

Sirius passou tanto tempo pensando nela como uma mentora que ele não
pensou em como ela é uma Vitoriosa também, na linha como o resto deles.
Sirius passou tanto tempo pensando nela como mãe que não se preparou para

296
ZEPPAZARIEL

perdê-la, porque uma verdadeira mãe não é alguém que você possa suportar
perder.

"Se seus nomes forem chamados, eu estarei me oferecendo para ir nos seus
lugares," Effie continua descaradamente, "E—não, não me interrompa, James
Potter—"

"Isso não é justo, mãe!" James explode de qualquer maneira, quase saindo
de sua cadeira. "Você não pode simplesmente—simplesmente nos dizer que
não podemos nos voluntariar por você, mas se virar e dizer que você vai se
voluntariar por nós!"

"Eu posso, e eu vou. Sente-se," Effie retruca, e James cai de volta em sua
cadeira. Ela o encara. "Você é meu filho, e eu sou sua mãe. Eu sou
sua mãe, então eu vou—"

"Você não é a minha," Sirius diz suavemente, então quase imediatamente


recua quando os olhos de Effie o cortam, cortam ele, brilhantes e ardentes de
um jeito que ele nunca viu antes. Ferozes.

"Eu sou," Effie informa a ele, seu tom cortante, e embora eles nunca
tenham dito isso em voz alta antes, ele já sabe disso. "Você é meu filho, e eu
vou me voluntariar no seu lugar, se isso acontecer."

Sirius engole. "Eu não posso deixar você fazer isso, Effie."

"Você não pode me parar, e não vai," Effie diz simplesmente, seu olhar
passando entre Sirius e James. "Eu vou me oferecer como voluntária por
qualquer um de vocês, e eu vou fazer com que quem quer que eu vá para
aquela arena chegue em casa, entende? E eu não vou ouvir uma palavra de
protesto de nenhum de vocês. E nenhum de vocês vai se voluntariar em meu
nome se ele for chamado. Me prometam. Agora. Vocês dois." Eles não falam,
e ela bate a mão no balcão, fazendo-os sacudir. "Me prometam."

"Mãe—"

"Agora, James."

Os olhos de James se fecham, e sua respiração estremece de uma vez. "Eu


prometo."

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CRIMSON RIVERS

"Sirius?" Effie exige.

"Eu prometo," Sirius sussurra.

Effie varre o olhar entre eles, então exala pesadamente e se inclina para
trás. "Bom. Agora, se vocês me dão licença, eu tenho que ir consolar meu
marido."

Com isso e nada mais, Effie sai da cozinha, com as costas retas e rígidas, os
lábios pressionados em uma linha fina enquanto ela vai. Sirius e James ficam
em silêncio por um longo momento, e então eles se olham, e isso é tudo o que
é preciso.

"Não," Sirius diz instantaneamente. "Me deixe fazer isso, James."

"Ela é minha mãe," James retruca.

"Você a ouviu; ela é minha também. Ela é—James, ela foi minha mentora.
Eu—eu nem estaria aqui se não fosse por ela," Sirius engasga. "Por favor, só—
por favor, não—"

"Eu não vou deixá-la voltar," James rosna, "E eu não vou deixar você
tomar o lugar dela, Sirius. Eu simplesmente não vou."

Sirius endireita os ombros e estreita os olhos. "Bem, é melhor você torcer


para ser mais rápido do que eu, porque no momento em que o nome dela for
chamado, se for, eu vou me voluntariar."

"E abandonar seu irmão?" James pergunta friamente, segurando seu olhar.

"Ah," Sirius suspira, sentindo como se tivesse levado um soco direto no


estômago. Seu cérebro bate em uma parede de tijolos, de repente, porque oh,
certo, Regulus também é um Vitorioso.

Regulus.

Seu irmãozinho.

Sempre seu irmãozinho.

298
ZEPPAZARIEL

James engole em seco. "Desculpe. Isso foi—eu não deveria ter dito isso.
Eu—"

"Vai se foder, James, de verdade," Sirius resmunga, se atrapalhando para


empurrar sua cadeira para trás e ficar de pé, seus olhos ardendo enquanto as
lágrimas se acumulam e um nó se forma em sua garganta. Ele está lutando
para respirar. Seu coração está desmoronando. Ambas as sensações estão em
guerra uma com a outra, e ele está tremendo, e ele quer Remus. Ele sente falta
de Remus. "Por que você diria—como você pode dizer isso? Vai se foder. Vai
se foder. Por que—"

"Sirius, espere, espere," James sussurra freneticamente, avançando para


pegar seu braço, com os olhos arregalados. "Eu—eu não—eu não quis dizer
isso. Eu estou apenas—eu estou com medo, certo? Eu estou com medo e eu
sinto muito. Eu não quero que ela volte, eu não quero que ele volte, e não
quero que você volte. Desculpe. Eu sinto muito."

E, finalmente, clica em Sirius que James também é um Vitorioso. Ele sabe,


é claro, mas cada opção se encaixa totalmente em algum ponto, e de alguma
forma, James afunda por último.

James não, ele pensa desesperadamente. James não, James não, James—

"Sirius?" James murmura, sua voz trêmula como uma criança pequena,
tanto remorso em seus olhos que chega a doer. Sirius sabe que James não
queria machucá-lo; ele estava apenas tentando ser quem toma o lugar de sua
mãe, outra maneira de manter Sirius fora disso.

Exceto que não há como manter Sirius fora disso, ou Regulus, ou Effie, ou
James. Existem quatro opções, dois nomes chamados e seis maneiras
diferentes de isso acontecer, sem incluir todas as maneiras pelas quais eles
poderiam chegar a essas maneiras se o voluntariado entrar em jogo. Duas
pessoas não vão voltar para a arena, o que significa que Sirius pode tomar o
lugar de Effie, ou James, ou Regulus, mas um dos outros ainda estará com ele
de qualquer maneira.

"Sem se voluntariar," Sirius sussurra, e os olhos de James se arregalam.


Sirius se força a expirar. "Me prometa que você não vai se voluntariar por
mim, James. Se for o meu nome—"

299
CRIMSON RIVERS

"Você não pode pedir isso de mim," James resmunga, seus olhos
visivelmente cheios de lágrimas. "Você não pode—"

"Eu posso e eu vou," rebate Sirius, e James puxa sua mão, sua garganta
balançando duramente, para cima e para baixo. "Eu nunca, nunca vou ser
capaz de viver comigo mesmo se você fizer isso, entende? A culpa—James, se
a arena não me matasse, isso mataria."

James abre e fecha a boca, então fala, "Sirius—"

"Isso vai me matar. Você vai me matar. Eu—eu preciso que você não faça
isso. Eu preciso que você me prometa que não vai," Sirius insiste.

"E quanto a—" a voz de James falha, estalando em sua garganta


ruidosamente. "E quanto a Regulus?"

"Eu não sei," Sirius murmura. "Eu tenho que ir falar com ele. Eu vou fazer
ele prometer também. Mas eu estou aqui com você agora, e eu não vou sair
até que você prometa."

"Você tem que prometer também," James diz a ele, mantendo seu olhar
firme. "Se eu vou prometer, então você tem que prometer não se voluntariar
por mim. E falar sério. Você tem que falar sério."

Isso fica entre eles por um longo momento, um momento pesado onde
algo insondável passa entre eles, um simples entendimento conjunto do
quanto dói estar nessa posição. Como é impossível ficar preso aqui, incapaz
de se separar para proteger e salvar todos ao seu redor, ambos desejando fazer
exatamente a mesma coisa. É agonizante olhar um para o outro com o
impulso de proteger um ao outro; é tão horrível olhar um para o outro e ver o
desespero ecoado para proteger as mesmas pessoas que não são eles. Effie e
Regulus, eles compartilham isso entre eles, aqui e agora, como um dos piores
segredos que já ouviram.

Não ser voluntário vai contra sua natureza em todos os sentidos. Sirius já
fez isso uma vez, e faria de novo mais três vezes por cada um deles. James
também fez isso uma vez, à sua maneira, planejando morrer para levar
Regulus para casa da arena, embora felizmente isso tenha ido em uma direção
melhor. Sirius tem a sensação de que não há como escapar disso, não desta
vez.

300
ZEPPAZARIEL

Eles são criaturas indefesas presas nas garras da vida, sem saída, sem
maneira de se libertar. Eles não podem fazer isso e, no entanto, não têm
escolha. Isso é o que é, e Sirius só consegue pensar em como isso o afetaria,
como realmente o mataria, se James entrasse naquela arena em seu lugar. Ele
não sobreviveria a isso e sabe que isso o mudaria irrevogavelmente. Ele sabe
que seria a pior coisa que James poderia fazer com ele.

E ele sabe que, fazer ao contrário, seria exatamente o mesmo para James.
Isso o arruinaria. Então, Sirius engole enquanto pisca duramente e diz, "Eu
prometo, James."

"Ok," James suspira, piscando forte e rápido, nem mesmo parecendo notar
as lágrimas que escorrem de seus olhos. "Ok, então eu—eu prometo também.
Nada de se voluntariar um para o outro."

"Eu tenho que ir," Sirius sussurra, sua visão embaçando, e James assente
antes de deixar sua cabeça cair nas mãos. Sirius quer confortá-lo, mas ele tem
que chegar a Regulus e resolver isso; ele tem que arrancar uma promessa dele
também.

Ele deixa James lá, assim, chorando baixinho.

~•~

Sirius está sentado à mesa da cozinha de Regulus com dois copos cheios de
uísque—o tipo de coisa fina que Orion sempre gostou de ter à mão—quando
Regulus chega em casa.

No rescaldo do anúncio, Regulus simplesmente correu. Ele não sabia para


onde estava indo até que acabou na árvore na beira da propriedade do
prefeito. Ele acha que estava chorando quando chegou lá. Ele acha que gritou.
Ele sabe que se jogou naquela árvore várias vezes, tentando desesperadamente
escalá-la, lutando para se apoiar na casca e escorregando repetidamente até
terminar em um monte no chão, mordendo o próprio braço com tanta força
que tirou sangue.

Ele engoliu—como se, depois de todo esse tempo, ainda estivesse


tentando sobreviver. Não é um gosto que ele esqueceu. Ele vomitou logo em
seguida e desejou, pateticamente, ter morrido naquele rio.

301
CRIMSON RIVERS

Mas ele não o fez. Ele ainda está aqui e ainda há mais para suportar. Ele
não podia fazer nada sobre isso, então ele se levantou e voltou para casa, onde
Sirius claramente estava esperando por ele.

Regulus olha para ele e se lembra de ser um menino com cara de bebê,
tendo acabado de fazer quinze anos, saindo para o centro do pátio na primeira
vez que foi colhido, apenas para o seu irmão mais velho sair tropeçando, sua
voz um apelo desesperado quando ele se ofereceu em seu lugar.

Já se passaram quase onze anos, e qual era o ponto? Qual era o ponto de
tudo isso? Olhe para eles. Aqui estão eles. Todas as escolhas que eles fizeram,
mesmo tão jovens, os levaram até aqui.

Regulus avança e se senta na cadeira em frente a Sirius, que pega o copo


cheio mais próximo a ele. Ele o segura do mesmo jeito preguiçoso que seu pai
sempre fazia, mas Regulus nunca diria isso a ele. Ele seguraria de forma
diferente se soubesse, e algo sobre a visão conforta Regulus, mesmo agora.

Juntos, eles bebem em silêncio, apenas olhando um para o outro. Regulus


se pergunta qual deles vai quebrar primeiro. Ele não está esperando que seja
ele, mas é.

"Você não pode fazer isso de novo," Regulus rosna, sua garganta dolorida
e ardida, seu corpo inteiro. "Eu quase não te perdoei da última vez, e eu não
vou desta vez."

"Regulus," Sirius diz suavemente.

"Você não pode fazer isso de novo, Sirius," Regulus sussurra, sua voz baixa,
uma nota desesperada e suplicante. Ele está se expondo, se abrindo na frente
de seu irmão, nu para ele e vulnerável. "Por favor, não se voluntarie por mim
de novo. Por favor."

Os olhos de Sirius se fecham, e ele pressiona o copo contra sua testa, seu
rosto contorcido. O momento se estende entre eles, e o coração de Regulus
bate mais forte a cada segundo que Sirius não responde. Regulus não sentia
terror assim desde os quinze anos, particularmente esse tipo de terror, o medo
avassalador de saber que ele será o culpado por tudo que Sirius sofre, assim
como sempre foi.

302
ZEPPAZARIEL

Cada grama da dor de Sirius pode ser originada de volta a um lugar. Uma
pessoa. Regulus. Mesmo quando criança, todos os golpes que ele levou por
ele, todas as punições que ele se ofereceu para ter para que Regulus não
tivesse, todos os abusos que ele carregou para que Regulus não precisasse. E a
arena, onde Sirius derramou sangue e tirou vidas em seu nome, onde sua vida
foi destruída e alterada, onde ele carregou feridas e cicatrizes e tragédias
apenas para que Regulus pudesse viver.

"Sirius. Sirius," Regulus engasga, quase frenético agora, e ele não quer sair
da cadeira, mas é isso que acontece. Lá vai ele, girando ao redor da mesa para
se agachar ao lado da cadeira de Sirius e pressionar as mãos trêmulas em seu
braço deitado na mesa, puxando sua manga como se não fosse nada mais do
que uma criança novamente. "Olhe para mim. Olhe para mim, Sirius, por
favor."

Sirius fecha os olhos com mais força, sua garganta convulsionando ao


engolir em seco. Quando ele exala, sai gaguejando e pesado, como se estivesse
sendo arremessado para fora de seus pulmões. Ele abre os olhos, gira a cabeça
e olha para Regulus.

"E se—"

"Não. Não, nós não estamos falando de mais nada, nenhuma outra
possibilidade. Nós estamos falando sobre isso. Sobre o que acontece se meu
nome for chamado. Me prometa, Sirius."

Novamente, Sirius não responde. Ele permanece imóvel, sem nenhuma


rachadura em sua expressão. Ele era assim quando estava na arena, quando
estava com dor, quando estava lutando por sua vida.

"Você não pode fazer isso de novo. Por favor, não faça isso de novo, não
tome o meu lugar de novo, porque eu—eu—" Eu te amo, eu te amo, eu também te
amo, Regulus pensa, tentando forçar as palavras, mas elas não vêm. Ele mal
consegue respirar. "Eu não vou ser capaz de perdoar você dessa vez, Sirius, se
você fizer isso. Tudo o que nós acabamos de voltar, tudo o que nós
trabalhamos juntos para ter todos os dias, tudo isso terá desaparecido. Vamos
nos perder de novo. Você vai me perder. Então, por favor, apenas—apenas
escolha ficar comigo dessa vez. Por favor."

303
CRIMSON RIVERS

E lá. Uma pequena lasca em sua expressão. A tristeza florescendo em seus


olhos. Sirius solta um suspiro áspero, senta seu copo com um baque e solta
um estrangulado "Ok."

"Ok?" Regulus repete, tremendo tanto que mal consegue se equilibrar,


tanto medo residual nele que não se sente capaz de experimentar o que é estar
seguro novamente.

"Ok," Sirius confirma, trêmulo, balançando a cabeça. "Eu prometo,


Reggie."

Regulus solta um suspiro profundo de alívio, e ele abaixa a cabeça para


pressionar o rosto contra o braço de Sirius, sussurrando sem parar,
"Obrigado, obrigado, obrigado."

Sirius segura a parte de trás de sua cabeça por um momento, sua palma um
peso quente de conforto que faz os olhos de Regulus arderem. Por um
instante, os dois ficam ali, simples assim, e então Sirius puxa seu cabelo para
fazê-lo levantar a cabeça. Ele segura o olhar de Regulus e exige, "Agora, você.
Sua vez. Me prometa o mesmo."

Desta vez, é Regulus quem permanece em silêncio. A questão é que ele


nunca pensou nisso, a mera chance de que o nome de Sirius fosse chamado. O
nome de Sirius nunca foi chamado. A ideia de que poderia ser desta vez, pela
primeira vez, é absolutamente insondável para Regulus. Sua mente não pode
sequer conceituar, como isso soaria, como seria.

"Regulus," Sirius diz rispidamente, tão ríspido que Regulus pode ouvir sua
mãe em sua voz.

A pior parte é que Regulus não pensou nisso. Sua mente estava muito cheia
de outras coisas, outros medos, outras preocupações. Mas pode acontecer.
Essa é uma realidade que ele não sabe como enfrentar, que o nome de Sirius
poderia ser chamado, e Regulus deveria apenas—o que, ficar em silêncio? Não
fazer nada? Nem retribuir o favor? Sirius fez isso por ele. Regulus deveria—
ele deveria—

"Se você não pode prometer, então eu também não," declara Sirius,
soltando a mão do cabelo de Regulus para agarrar seu ombro e sacudi-lo um
pouco. "Você entende o que eu estou dizendo, Regulus? Isso tem que ser uma

304
ZEPPAZARIEL

troca igual. Eu preciso que você me prometa, e é melhor você não mentir
quando fizer isso."

Certo. Porque é claro que é assim que tem que funcionar, para que tudo
isso funcione. Regulus reconhece isso, o que é se esforçar e exigir o mesmo
um do outro, porque eles passaram um ano fazendo exatamente isso. Eles
passaram um ano tentando tanto, trabalhando juntos para chegar a este ponto,
e agora eles têm que lutar contra todos os instintos de deixar isso desmoronar
novamente.

Então, ele inspira e expira e luta. Ele olha para Sirius, olha para ele e
afunda na crença daquele irmãozinho jovem de que o nome de Sirius não será
chamado, e ele acena com a cabeça. Ele engole e diz, "Ok."

"Promete?" Sirius pergunta.

"Eu prometo," Regulus sussurra. Parece o seu maior pecado.

"Você sabe que eu te amo, certo?" Sirius pergunta, sua voz falhando, as
palavras suaves como uma pena, mas tão pesadas com uma sinceridade
infinita, vindo direto do coração.

Regulus vira a cabeça, sentindo as lágrimas caírem, e tudo o que ele


consegue dizer é, "Eu sei," porque depois de todo esse tempo, depois de tudo
que eles passaram, ele sabe.

Eu também te amo, pensa Regulus.

Mesmo agora, as palavras nunca saem da sua cabeça.

305
CRIMSON RIVERS

40
VOLUNTÁRIOS

No vigésimo sexto aniversário de Regulus, James aparece em sua porta não


com uma flor, mas com um chapéu.

Um chapéu muito, muito velho com uma bola fofa em cima que
costumava ter um sino funcionando, mas não tem mais. Regulus não o vê há
literalmente onze anos, exatamente.

Está frio lá fora, há um manto de neve no chão, e James está lá com um


chapéu que guardou por onze anos como se todos os anos não tivessem
mudado nada.

Mas eles mudaram.

Tudo é diferente agora.

Tem sido difícil para eles desde o anúncio. Por uma semana inteira, James
não saiu de casa—não saiu do lado de seus pais, e Monty tem estado uma
bagunça, de acordo com Sirius—e Regulus estava basicamente na mesma
situação. Mesmo que James tivesse se incomodado em vir, Regulus não teria

306
ZEPPAZARIEL

saído da cama para deixá-lo entrar. A única razão pela qual ele saiu da cama
quando finalmente o fez foi porque Barty o persuadiu a sair.

Eventualmente, James apareceu de volta com uma flor, e Regulus não


atendeu a porta, ou o deixou entrar. Ele deixou a flor morrer em sua varanda,
mas James apenas substituiu aquela também.

Porra, Regulus estava com raiva por ele ainda estar tentando. Não importa
como isso aconteça, a chance deles—se foi. Regulus cometeu o erro de pensar
que eles realmente conseguiriam o que eles queriam, apenas para ter isso
arrancado dele imediatamente depois. Ele não conseguia entender como
James podia suportar isso, podia suportar ainda trazer flores para ele, ainda ter
esperança quando não havia mais a maldita esperança para elas. Ele estava tão,
tão bravo.

Isso também passou. Escorregou em simples resignação e arrependimento


esmagador. Mudou e se transformou em um pulso afiado de propósito em seu
peito, porque antes que tudo desmorone, ele quer todas as flores que puder
obter.

Uma vez que ele começou a pegá-las novamente, ele abriu a porta para
deixar James entrar, e eles tiveram uma conversa muito, muito difícil.

"Você não pode se voluntariar por mim," disse Regulus. Foi a primeira
coisa que ele disse. Era o que precisava ser dito, a coisa que estava entre eles,
um tópico que eles ainda não haviam abordado.

Foi uma briga. Mais ou menos. James estava na maior parte do tempo
implorando, muito perto de um colapso interior, querendo encerrar a
conversa e se afastar dela. Irritado por Regulus exigir isso dele. Uma
promessa, uma que ele honraria, uma que ele olharia Regulus nos olhos e
falaria sério.

Regulus, teimoso como ele é, não iria deixar passar. Mesmo quando James
chorou. Mesmo quando ele estendeu a mão para ele e implorou. Ele ficou ali e
abriu James para alcançar as profundezas dele e esculpir a promessa que ele
precisava. Ele recebeu.

E, quando James exigiu o mesmo dele, Regulus se acomodou nos braços


de James, escondeu o rosto no ombro de James e disse o mesmo. Ele também

307
CRIMSON RIVERS

prometeu, com os olhos fechados e o coração partido. Foi a última vez que
eles se falaram, a última vez que se tocaram, porque Regulus não abriu a porta
novamente para deixá-lo entrar até hoje.

E agora, aqui estão eles. James parado em sua porta com um chapéu, e
Regulus de pé na frente dele, querendo deixá-lo entrar, querendo-o tanto que
ele não consegue respirar.

"E-Eu só pensei que você gostaria disso de volta agora," James resmunga,
ansiosamente flexionando os dedos ao redor do chapéu em suas mãos. "Eu
sei que você não quer me ver—"

"Eu quero," Regulus interrompe. "Eu quero ver você, James."

James parece que vai chorar. "Você quer?"

"Eu sinto sua falta," Regulus sussurra.

James começa a chorar imediatamente. Instantaneamente. Sua expressão


desmorona, e ele abaixa a cabeça com um soluço ofegante. Ele fica lá e
desmorona de uma vez, e Regulus sente os estilhaços em seu coração se
alargarem.

"James," Regulus diz suavemente. "James, entre."

"Ok, s-sim, ok," James engasga, tropeçando para frente com o chapéu
pressionado em seu peito, agarrando-se a ele.

Regulus leva James para dentro e sobe as escadas, estendendo a mão para
trás para pegar uma das mãos de James no caminho, oferecendo equilíbrio
porque ele não está com a sua bengala hoje. Deve significar que sua perna não
está lhe causando problemas, mas as escadas são sempre irritantes para ele,
Regulus notou. Ele planejou pedir a Sirius para construir um daqueles
assentos para carregar James em sua casa também, mas ele supõe que não há
sentido agora.

James nunca esteve em seu quarto, mesmo que tenha visto vislumbres dele
pela janela. Ele não está realmente em condições de absorver tudo, chorando
como está, e não há muito o que ver de qualquer maneira. Regulus tira o
chapéu das mãos de James e gentilmente o coloca na mesa antes de se sentar
na cama e puxar James para perto dele. James vem de bom grado.
308
ZEPPAZARIEL

"Desculpe," James engasga em meio às lágrimas, mesmo quando ele se


aproxima. "É o seu aniversário, e eu—"

"Shh, não se preocupe com isso, James. Venha aqui," Regulus murmura, se
acomodando e puxando James para perto. James se aconchega ao seu lado e
enterra o rosto no peito de Regulus, chorando e tremendo. Regulus acaricia
suas costas e repetidamente passa a mão pelo cabelo de James.

Leva um tempo para James se acalmar. Ele faz, em algum momento, e


então ele está apenas respirando calmamente. Ele vira a cabeça para ficar mais
confortável. Regulus endireita os óculos para ele.

"Eu não sei como vou fazer isso," James resmunga. "Como eu posso não
fazer nada se seu nome for chamado? E Sirius—"

"Você prometeu, James," Regulus interrompe severamente, estendendo a


mão para segurar o queixo de James e inclinar o rosto para cima. "Todos nós
prometemos."

James engole em seco. "Eu sei, e eu—eu não vou me voluntariar, mas não
importa o que aconteça, vai partir meu coração. Eu espero que meu nome seja
chamado. Eu espero que seja eu."

"Eu não," murmura Regulus.

"Eu te amo," James sussurra. "Talvez você odeie ouvir isso, mas eu te amo
tanto, Regulus. Tanto."

"James—"

"Eu simplesmente te amo. Eu te amo. Tudo o que eu consigo fazer é te


amar. Eu—"

Regulus avança para cortá-lo com a boca, porque ele não pode evitar,
porque ele quer. Porque por que ele não deveria? Porque qual é o sentido de
não fazer isso, quando não há sentido em fazer isso em primeiro lugar? É
tudo tão inútil.

Exceto.

309
CRIMSON RIVERS

Exceto, oh, o calor da boca de James, e aquele gemido gentil, e como é


bom. Isso é tão bom. Talvez seja esse o ponto. Talvez nada mais importe
além disso, disso, disso. Regulus estava pronto antes, e ainda está pronto
agora. Se isso é tudo que ele tem... Isso é tudo que ele tem.

Ele perdeu tanto tempo.

"Oh," Regulus engasga com uma risada áspera e dolorida, sem fôlego
enquanto ele balança para trás para olhar para James, que está olhando
diretamente para ele, suplicante. "Isso vai doer."

E isso vai. Claro que vai, porque eles são uma grande, grande tragédia. Isso
é o que eles são; isso é o que eles sempre foram; isso é tudo que eles vão
conseguir ser. Não há como mudar isso agora, não importa o que eles façam,
não importa o quanto tentem.

Eles iam tentar.

"Desculpe. Eu sinto muito. Eu não deveria ter feito isso," James diz,
fechando os olhos.

"Fui eu. James, fui eu," Regulus diz a ele, porque foi. Ele sabia que James
iria se culpar. Ele genuinamente não parece perceber isso, como se o conceito
de Regulus escolhendo beijá-lo fosse impossível. Seus olhos se abrem, cheios
de confusão, e Regulus sente uma onda de raiva interior por
sempre, sempre fazer James duvidar do quanto Regulus o quer.

"Você...?" James procura seus olhos. "Por que?"

"Porque eu queria. Porque eu quero você," Regulus admite, cansado


demais para se preocupar em lidar com todas as complicações que existem
com isso, especialmente agora. Ele simplesmente deixa tudo de lado e, pela
primeira vez, deixa que o aqui e agora seja tudo o que ele conhece. Aqui e
agora, ele quer o que eles nunca terão—apenas um pedaço disso, algo que é
deles e só deles.

"Mesmo agora?" James sussurra.

"Em todos os momentos, amor, em todos os momentos," Regulus


sussurra de volta, segurando a mandíbula de James mais uma vez. "Eu vou te
beijar de novo, se estiver tudo bem para você."
310
ZEPPAZARIEL

"Por favor," James suspira, implorando, cada centímetro dele se esticando


para mais, desesperado. "Por favor, por favor, po—"

Regulus se recusa a deixá-lo implorar mais, atraindo-o novamente até que


James não possa dizer outra palavra, sua boca ocupada contra a de Regulus. É
um beijo lento, gentil, mas é profundo desde o início, como se as profundezas
deles estivessem escancaradas, e eles estivessem se inclinando para elas.

Se desenvolve, como essas coisas tendem a fazer quando permitidas, e


Regulus permite. Ele deita na cama e aceita cada coisa que James lhe dá,
implorando por mais sem ter que dizer uma palavra, e James dá a ele. James
lhe dará qualquer coisa, e Regulus quer tudo, quer pegar e devolver o favor,
dar tudo o que ele tem, tudo o que ele é, de volta.

Regulus não consegue beijar James sem perder a noção de todo o resto, de
qualquer outra coisa. É apenas James. Apenas James.

James.

James.

James.

"Não, não, está tudo bem. Está—" A respiração de Regulus fica presa em
sua garganta, porque James simplesmente enfiou a mão na camisa de Regulus
e congelou no momento em que percebeu o que fez. Ele não está tocando em
nenhuma cicatriz, mas Regulus suspeita que ele esteja preocupado com isso.
Regulus recua um pouco para encontrar seus olhos arregalados. "Você pode
ver. Eu vou deixar você ver. Você só—você tem que me prometer que você
não vai—que você vai fingir que eu—"

"O que?" James pergunta, confuso novamente. Regulus balança a cabeça e


James franze a testa. "Você não precisa, amor. Nós não—me escute, nós não
temos que fazer nada, certo?"

"Eu quero," diz Regulus, então acrescenta, "E é meu aniversário."

James pisca, então bufa uma risada fraca. "Certo, bem, esse é um
argumento sólido, eu admito."

311
CRIMSON RIVERS

"Você sabia que, no meu aniversário de quinze anos, eu desejei ao nascer


do sol que você me beijasse?" Regulus murmura.

James o beija imediatamente, abaixando-se para fazer isso, e Regulus


sussurra em aprovação presunçosa. Desejo concedido.

Por um tempo, é só isso, apenas isso, e então Regulus quebra o beijo e


empurra James para trás, cutucando-o persistentemente até ele cair para o
lado, apoiado no cotovelo e olhando para ele com os óculos tortos. Regulus
sente seu coração apertar violentamente antes de se sentar e, por um
momento, ele apenas respira.

Lentamente, ele se abaixa para agarrar a bainha de sua camisa, suas mãos
tremendo, e ainda leva um minuto inteiro para se mover. Ele fecha os olhos,
apertando-os bem apertados, e então ele tira a camisa. Há silêncio. Nenhum
deles está respirando, e Regulus não abre os olhos para ver a reação de James.

Algumas batidas de silêncio se passam, e então ele ouve James expirar,


inspirar e expirar novamente. "Regulus? Você vai olhar para mim?"

Regulus olha, lentamente. James encontra seu olhar, firme.

"Você acha que isso deixa você menos lindo?" James pergunta suavemente.
"Porque não deixa. Não deixa, Regulus."

E é isso. James Potter desmonta todo o seu medo em apenas três frases, e
a verdade em seus olhos. Regulus não queria, mas seus ombros se erguem, e
ele não está chorando, mas está perigosamente perto de fazer exatamente isso.

Toda a luta sai dele de uma vez, e ele cai, engasgando com uma respiração
áspera que pode ser uma risada ou um soluço, ou ambos. James chega mais
perto, cuidadosamente estendendo a mão para pegar a mão de Regulus, e
então ele se inclina e beija as cicatrizes na parte interna de seu antebraço. Elas
estão pálidas e desbotadas agora, mas para sempre arrancadas, amassadas
pelas garras que cavaram em sua pele. Os lábios de James estão quentes contra
elas.

Regulus chora, então. Ele não pode evitar, porque as cicatrizes sempre
foram como a morte para ele, como a morte permanentemente gravada em
sua pele, e James está respirando a vida de volta para ele.

312
ZEPPAZARIEL

James beija mais, até o comprimento de seu braço, cada conjunto de


cicatrizes de garras no caminho para cima. Ele empurra Regulus suavemente
de volta para a cama e rasteja sobre ele para alcançar mais, sussurrando, "Você
é lindo, Regulus. Tão lindo," repetidamente entre cada cicatriz e cada beijo, e
tudo o que Regulus pode fazer é chorar.

Os braços e pernas de Regulus estão cobertos pelas cicatrizes desbotadas,


assim como o peito e as costas, os lados e os quadris também. Parte interna
das coxas. Coxas externas. A parte externa de suas costelas. O lado de seu
pescoço. A maioria delas estão todos fracas agora, depois de quase um ano,
mas há uma...

A pior está em seu peito, bem acima do coração, onde a mão fria e
penetrante tentou arrancá-lo. Uma parte de Regulus acreditou por muito
tempo que ela realmente conseguiu. Toda vez que ele olha para James, ele se
lembra de que não.

Deixou para trás uma cicatriz mutilada e elevada, a pele cheia de nós e
irregular. James a beija como se não fosse diferente do resto.

"Você ainda—você não—" Regulus não consegue terminar nenhuma frase,


mas ele não precisa.

James levanta a cabeça e encontra seus olhos. "Você olha para mim de
forma diferente pela minha perna?" Regulus balança a cabeça. "Então por que
isso seria diferente, amor?"

"Porque você me implorou para não fazer isso," Regulus murmura. "Você
disse—você me disse que nunca me perdoaria, e agora você tem que olhar
para mim e ver—sempre ver—"

"Eu olho para você e vejo você," James interrompe. Ele levanta a mão e
cobre a pior cicatriz, nem mesmo olhando para ela. "Eu nunca quis—" Ele
engole, então suspira. "Eu poderia olhar para suas cicatrizes e me culpar por
elas, ou até mesmo culpar você, mas a verdade é que nenhum de nós foi
culpado pelas coisas que passamos naquela arena. No final do dia, você é
Regulus."

"Não o mesmo Regulus que eu era antes," resmunga Regulus.

313
CRIMSON RIVERS

"Você sempre será o meu Reg," James diz suavemente.

Regulus tem que beijá-lo por isso, de verdade. Ele enfia os dedos no cabelo
de James e freneticamente o puxa para outro beijo, seu peito arfando
enquanto suas emoções borbulham e ameaçam sair dele. Ele pensa sobre isso,
o jeito que James disse uma vez que a arena—as Relíquias—poderiam mudá-
los, mas não poderiam tirar quem eles são deles, e a ideia de que Regulus está
incluído nisso, para James, o envia em espiral.

Com cicatrizes e tudo, ele sempre será o Reg de James. Tem um belo toque
de finalidade, algo resoluto, algo seguro e protegido.

Os próximos minutos passam em uma névoa frenética de:

"Me toque, por favor. Em qualquer lugar. Em todo lugar. Só—só—"

"Ok, só—eu só tenho duas mãos, amor."

"James—"

"Me dê um segundo. Isso é—é um pouco difícil quando você não fica
parado. Você tem que—"

"James—"

"Só—de novo, apenas duas mãos, e minha perna está—"

No final, Regulus só tem que aceitar o fato de que James não pode crescer
espontaneamente mais mãos, o que é cruel e injusto, se você perguntar a ele.
Ele quer que James o toque por inteiro, toque suas cicatrizes e limpe a morte
que ecoa das mãos erradas que o tocaram antes. James faz. Leva tempo, mas
ele faz, deixando para trás marcas de mãos escaldantes com a vida gravada em
suas palmas que apenas Regulus pode sentir.

Regulus não sabe como será capaz de se olhar no espelho depois disso e
odiar o que vê, sabendo que verá as carícias persistentes da vida com as quais
James o abençoa.

Assim, com as mãos de James sobre ele, ele se sente mais bonito do que
nunca. Ele nunca realmente se sentiu, até agora.

314
ZEPPAZARIEL

É difícil entre eles, no início. Sexo. Eles lutam para encontrar a posição
certa que não incomode a perna de James. Eles lutam com roupas, lutam com
lençóis, lutam para não cair da cama quando Regulus se esforça para abrir a
gaveta de baixo da mesa para encontrar o que precisa, agradecendo
mentalmente a Barty por sempre manter ele bem abastecido. Sexo seguro é
importante para Barty, o que está valendo a pena para Regulus agora.

Fica mais fácil quando eles chegam aonde estão tentando ir, quando tudo
se encaixa e o mundo inteiro desmorona. É quando eles param, quando
pausam, nenhum deles se movendo ou falando ou fazendo nada.

James pressiona suas testas juntas, e eles respiram, a intimidade do


momento envolvendo-os, calor em suas bocas, ternura em suas peles.

"Tudo bem?" James sussurra.

Regulus olha para ele, e sua voz sai em um chiado quando ele diz, "Não, e
você também não vai ficar quando eu arrancar seus olhos em um segundo. Se
você não se mexer—"

"Sim, sim, sim," James provoca com uma risada eufórica, sorrindo
enquanto se abaixa para colocar a mão sob o joelho de Regulus e engatar a
perna mais alto, o que faz Regulus calar a boca imediatamente. "Tão
impaciente."

"Nós não temos muito tempo," Regulus murmura, assobiando entre os


dentes e reprimindo um gemido impotente quando James, de fato, se mexe.

"Nós temos todo o tempo do mundo," James mente, então começa a fodê-
lo como se fosse a verdade, lenta e íntima e revestida de amor, como se nada
mais existisse além disso.

Por enquanto, Regulus se permite acreditar.

~•~

Quando Pandora chega, ela dá uma olhada em Sirius e imediatamente


começa a chorar.

Sirius suspira.

315
CRIMSON RIVERS

"Eu sinto—eu sinto muito," Pandora engasga, seus olhos lacrimejando, peito
gaguejando em soluços ásperos e engasgados. "Sirius—"

"Pare, Pandora. Pare com isso," Sirius diz suavemente, avançando para
puxá-la para um abraço. "Não é sua culpa. Não faça isso."

"Eu sou a ceifadora," Pandora coaxa, se afastando para encará-lo com os


olhos inchados. "Sou eu. Eu chamo os nomes. Eu—eu escolho. Eu—"

Sirius apoia as mãos nos ombros dela e abaixa a cabeça para olhar nos
olhos dela. "Nenhum de nós culpa você, Pandora. Você não tem culpa disso.
Me desculpe, eu sei que é perturbador, mas eu preciso que você se segure
agora, porque você tem notícias que precisamos ouvir, não é?"

"Sim," diz Pandora, fungando.

"Vamos, então," Sirius responde, passando os braços pelos ombros dela e


guiando-a.

Eles vão para o escritório do prefeito, onde Effie já estava esperando, mas
Sirius fica surpreso ao descobrir que James e Regulus também chegaram cedo.
Ele pensou que eles estariam... fazendo coisas que Sirius prefere não pensar,
mas infelizmente ele está ciente mesmo assim, porque James sentiu a
necessidade de contar a ele.

Literalmente, no aniversário de Regulus dois dias atrás, Sirius apareceu em


sua casa, chamando para avisar Regulus que ele estava lá, o que resultou em
xingamentos distantes e abafados e uma série de baques altos, então
inesperadamente, o som de Regulus rindo.

James tinha aparecido no topo da escada, seu cabelo bagunçado e sua


camisa do avesso, então Sirius tinha uma ideia do que ele tinha acabado de
encontrar antes mesmo de James sorrir para ele e anunciar, "Eu acabei de
fazer sexo com o seu irmão. Quatro vezes."

Ele soou muito orgulhoso, também.

Independentemente das circunstâncias, James e Regulus capitalizaram seu...


novo desenvolvimento com vigor, e James repetidamente o atualiza sobre
isso, por algum motivo. Ele tem certeza de que James gosta de fazer seu rosto
enrugar do jeito que faz automaticamente, contra sua vontade. Sirius retaliou
316
ZEPPAZARIEL

chamando James de 'pegador de irmão', exceto que isso nunca funciona


porque James apenas sorri e diz, "Sim, o seu," e se esquiva rapidamente
quando Sirius faz um golpe preguiçoso e indiferente para ele.

Esta manhã, James o olhou nos olhos e disse sem vergonha alguma, "Eu
vou passar o dia todo transando com o seu irmão e fingindo que tudo não é
uma merda. Nos vemos mais tarde, sim?"

Para isso, Sirius só pôde suspirar e responder, "Sim."

Então, sim, Sirius esperava que James e Regulus aparecessem um pouco


mais tarde, e ele admite, o pensamento deles chegarem atrasados para a
colheita porque eles estavam muito ocupados fodendo é meio hilário. O
desgosto de baixo nível de Sirius é ofuscado por seu orgulho por eles serem
vadias. Ele gostaria que eles não estivessem sendo vadias um para o outro,
mas, infelizmente, pelo menos eles estão felizes.

Não é uma felicidade que pode durar, não depois de hoje.

Regulus e James não estão felizes agora, e com razão. Sirius não está, Effie
não está, Pandora não está. Nenhum deles está feliz, e a atmosfera é pesada e
solene quando todos se reúnem para ouvir o processo do que está prestes a
acontecer.

Pandora abraça James e Regulus primeiro, depois Effie, que nunca recusa
um abraço de ninguém, e então ela limpa a garganta e endireita os ombros,
inspirando e expirando. Suas mãos estão visivelmente tremendo. "Então, a
primeira coisa primeiro. Mentores. As—as opções de mentores que a Relíquia
aceitará são Regulus, Sirius e James. Euphemia, eles—eles querem que seja um
deles, independentemente de quais de vocês são tributos."

"Eu vou ser um tributo de qualquer maneira," é tudo o que Effie diz.

"Espere, então—então o que isso significa?" James pergunta baixinho.

"Isso significa..." Pandora engole. "Isso significa que se, digamos, sua mãe
e—e Sirius fossem tributos, por exemplo, então caberia a você e Regulus
decidir quem é o mentor entre vocês."

"Eu," James diz instantaneamente, olhando para Regulus.

317
CRIMSON RIVERS

Regulus não protesta. Não diz uma palavra.

"E se—se fosse sua mãe e Regulus, então seria entre Sirius e você para
decidir," Pandora continua.

"Eu," Sirius declara imediatamente, e se mantém firme quando James


encontra seu olhar. "Se eu não sou um tributo, então eu sou um mentor,
James. Eu sou bom com as Relíquias."

James cede, porque ele sabe que é verdade. "Ok."

"Então, pelo que eu entendi," Pandora diz cuidadosamente, "Regulus não


será um mentor em... nenhuma possibilidade? A menos que Euphemia não—
"

"Eu vou," Effie interrompe. "Não, Regulus não terá que ser um mentor, e
apenas um deles terá que ser um tributo. Eu pretendo me voluntariar por
quem for chamado—ou, se meu nome for chamado, eles não vão se
voluntariar por mim."

Pandora assente lentamente. "Entendo. Então vamos discutir o


voluntariado."

"Existem regras para isso?" James deixa escapar, assustado.

"Bem, há a regra de sempre," Pandora responde lentamente. "A pessoa


colhida não pode recusar um voluntário uma vez declarado, um segundo
voluntário não pode ser declarado após o primeiro, e a pessoa voluntária não
pode voltar atrás depois de dizer isso."

"Existem... novas regras?" James murmura, o rosto se contorcendo.

"Desta vez, sim. Algumas regras usuais não se aplicam necessariamente, já


que não há restrição de idade ou restrição de Vitoriosos," explica Pandora. "A
maneira como isso acontece é, se alguém se voluntariar, seu nome é retirado
da colheita, então se eu puxar, então eu tenho que escolher novamente. Então,
digamos que eu puxe James e depois Euphemia se voluntarie, se eu puxar o
nome dela em seguida, eu tenho que descartá-lo e puxar outro novamente.
Além disso, a pessoa que foi originalmente colhida antes de alguém se
voluntariar por ela é retirada da colheita. Isso significa que essa pessoa não
pode ser chamada uma segunda vez, mas ela pode se voluntariar por qualquer
318
ZEPPAZARIEL

outra pessoa. Então, por exemplo, se Euphemia se voluntariar por você,


James, seu nome não seria colocado de volta para ser chamado novamente,
mas você ainda poderia se voluntariar por Sirius ou Regulus depois disso."

"Isso não importa," murmura Effie. "A única pessoa que será voluntária
sou eu."

Pandora parece cética.

"É verdade," James confirma cansado. "Sirius, Regulus e eu não vamos nos
voluntariar um pelo outro. Nós concordamos em não fazer isso."

"Ok," Pandora sussurra, piscando rápido e com força. Sua boca se torce.
"Eu só—eu queria dizer que eu—que se houvesse alguma saída para isso,
qualquer maneira que eu não tivesse que escolher, eu—eu—"

"Oh, doce menina, isso não é com você," Effie diz suavemente,
estendendo a mão para pegar a mão dela. Pandora se agarra a ela, seu rosto se
contorcendo até que finalmente desmorona, e então ela está chorando de
novo.

"Nós—nós não temos muito tempo," Pandora chora. "Eu sinto muito. Eu
sinto muito, por todos vocês. Nenhum de vocês merece isso."

Ninguém discute com ela, porque eles não merecem.

~•~

É estranho subir ao palco desde o início, pensa Regulus. A caminhada até


o palco no pátio é como ser levado para a forca, subindo voluntariamente
para a guilhotina. Pandora, a salvo desse destino, é a única que está tremendo.

Regulus não está com medo, não desta vez. É irônico, ele pensa. Em todas
as outras colheitas, ele sempre alimentava uma forte dose de terror bem na
boca do estômago, e agora que suas chances são ainda piores do que nunca,
ele não sente nada.

Na colheita anual, geralmente há um medo palpável que pulsa na reunião


do distrito, mas este ano, não há nada além de raiva. Regulus pode sentir o
gosto dela em sua língua, a raiva inquieta ondulando sobre todos no pátio,
porque mesmo que eles estejam seguros, ainda não é justo. Está fodido.
319
CRIMSON RIVERS

Está errado. Os Vitoriosos deviam estar isentos disso; essa é a única promessa
que a Relíquia conseguiu manter, até agora, e é mais um sinal da desigualdade
e do poder abrangente mantido sobre eles em todos os momentos. Não ajuda
que muitas pessoas conheçam Sirius e James, amem Effie e tenham respeito
por Regulus de seus jogos, se nada mais, porque ele acredita que sim.

O distrito seis tem um bom relacionamento com seu prefeito,


possivelmente o prefeito vivo mais velho até hoje, que é prefeito há décadas.
Ele mantém um controle firme sobre os Aurores em seu distrito e realmente
trabalha para combater ativamente a pobreza com o pouco poder que ele
realmente tem. O prefeito Aberforth pode ser a única coisa entre o motim que
estourou hoje.

"Bem-vindo, distrito seis, à 85ª colheita anual do Memorial Quarternário


deste ano," diz Pandora, falando ao microfone, com a voz fraca e trêmula.

Regulus gira a cabeça para olhar para os que estão no palco com ele. Effie
está de pé, os ombros para trás e o queixo inclinado para cima, os olhos de
aço com determinação. Uma parte de Regulus olha para ela e sente—tristeza.
Apenas essa dor silenciosa e quieta pelo vínculo que ele nunca deixou
florescer totalmente entre eles. Ela teria sido gentil com ele, da mesma forma
que ela é com Sirius, se ele tivesse permitido. Ele gostaria de ter.

Ao lado dela está James, que parece com medo. Ele parece completamente
e totalmente aterrorizado, mais do que nunca, mais do que quando seu nome
foi chamado pela primeira vez. Mas isso faz sentido, porque desta vez, ele não
está apenas com medo por si mesmo; ele também está com medo pelas
pessoas que ele ama. Regulus está incluído nisso. É algo que ele duvida que ele
vai dar como certo novamente.

Entre James e Regulus está Sirius. Ele está olhando para frente, lábios
pressionados em uma linha fina, olhos em chamas. Ele está com raiva. Parece
que ele quer abrir caminho para a Relíquia e incendiá-la, como se ele se
alegrasse em massacrar cada pessoa que teve uma contribuição em fazer isso
acontecer. É um sentimento com o qual Regulus se identifica. Ele sente o
mesmo.

O resto do discurso de Pandora e a mensagem anual da Relíquia—a


mesma todos os anos—passa rápido demais, e Regulus sente seu coração
disparar quando chega ao fim. Tudo o que resta são os nomes a serem
320
ZEPPAZARIEL

chamados. Há quatro pedaços de papel dobrados na tigela, e Regulus os


encara, incapaz de desviar o olhar. Quatro nomes. Quatro pessoas que são, de
alguma forma, incrivelmente importantes umas para as outras. Quatro pessoas
que, inevitavelmente, serão reduzidas a pelo menos três em breve.

Pandora se aproxima da tigela como se ela fosse mordê-la. Regulus pode


ver as lágrimas nos olhos dela, e ele a observa hesitar com a mão pairando
sobre ela, dedos trêmulos. Um gemido silencioso escapa dela quando ela
mergulha a mão, ecoando pelo pátio silencioso. Regulus prende a respiração.

Lentamente, como se estivesse temendo cada passo, Pandora volta para o


microfone. Ela desdobra o pedaço de papel com as mãos trêmulas, um som
abafado escapando dela enquanto seus ombros se contorcem em um soluço
crescente. Há uma batida de silêncio, e então—a ironia. Porque é claro. Não
apenas uma vez, não duas, mas três malditas vezes, como se ele estivesse
destinado a isso. Ele riria, se pudesse respirar.

"Regulus Black."

~•~

Sirius ouve o nome de seu irmão, e ele tem dezesseis anos novamente.

Ele se lembra daquele dia, claramente, vividamente. O dia em que o nome


de Regulus foi chamado pela primeira vez. Ele não acreditou no início, porque
ele ainda não tinha aprendido que a sorte nunca está a seu favor, não importa
como ela pareça estar. O nome de Regulus, naquela época, estava em três tiras
de papel. Três, de centenas. Não deveria ter sido ele. Sirius não conseguia nem
imaginar como era ele, porque você nunca acredita que será você ou alguém
que você ama, até que seja.

Naquele dia, pela primeira vez, Sirius cambaleou por um momento. Ele
estava congelado no lugar, os ouvidos zumbindo, incapaz de entender
qualquer coisa. Um medo frio e desesperado tomou conta dele, e não tinha sido
uma escolha, na verdade, sair correndo e tomar o lugar de Regulus, se
voluntariar por ele.

Tinha sido um instinto.

321
CRIMSON RIVERS

Esse instinto ainda, apesar de tudo, existe dentro dele hoje. É um instinto
que ataca como uma cobra, rápido e implacável, de ação rápida e venenosa.
Uma invasão dos sentidos, tudo no mundo se esvaindo, e ele não perde a
consciência. Ele não se vai. Ele está aqui, plantado firmemente neste
momento, ancorado em uma coisa, uma necessidade.

Sirius é totalmente ele mesmo, totalmente consciente, quando—antes que


qualquer um possa recuperar o fôlego—ele se mexe no lugar, entra em
movimento, tão desesperado e frenético quanto da primeira vez, desta vez,
quando ele deixa escapar, "Eu me voluntario!"

Sua voz ecoa, arrancada dele, alta e suplicante. Ele não pode evitar.

É Regulus.

Seu irmãozinho.

Sempre seu irmãozinho.

Aí está, uma declaração clara de um voluntário, declarada antes que alguém


pudesse fazer qualquer coisa, antes que Regulus pudesse dar um passo à
frente. A parte horrível é que ele não sabia que ia fazer isso até que estava
fazendo. Pior do que isso, no fundo, ele sempre soube que faria, não
importava as promessas que fizesse. Ele sabia, não importa o nome chamado,
ele não seria capaz de se parar, mas é Regulus. É Regulus, e é instinto. Ele não
queria, e ele nunca iria fazer outra coisa. É uma declaração que ele não pode
retirar, e é uma que ele jamais retiraria; ele nunca quis desde a primeira vez,
nem uma vez. Ele não quer agora, e não é uma declaração que Regulus possa
recusar.

Regulus tenta de qualquer maneira, seu rosto perdendo toda a cor


enquanto ele fica rapidamente pálido e engasga, "Não. Não. Eu—não, eu
não—eu não vou aceitar isso. Sirius—"

Sirius desvia os olhos e dá um passo à frente, ouvindo Effie soltar um som


estrangulado, ouvindo a respiração de James como se ele tivesse acabado de
ser atingido. Uma mão pega o braço de Sirius, girando-o, e Sirius sente um nó
se formar em sua garganta no momento em que vê o olhar no rosto de
Regulus.

322
ZEPPAZARIEL

"Você—você deveria escolher—você deveria—" As palavras de Regulus


desmoronam em sua boca, e ele parece absolutamente, inequivocamente
traído.

A pior parte é que Sirius gostaria de ser o irmão que sempre acerta com
Regulus, mas ele errou muitas vezes, e ele tem certeza de que essa é uma delas.
Os olhos de Regulus estão girando de emoção, cheios de turbulência, e Sirius
sabe o que vem a seguir. Ele sabe, porque Regulus disse a ele.

Sirius vai perder ele.

Ele simplesmente vai.

Aí está. Como esperado, a expressão de Regulus se fecha, e toda a emoção


em seus olhos se esvai. É tão dolorosamente reminiscente de todos os anos
que eles passaram com uma distância enorme entre eles, um abismo que eles
gastaram tempo e esforço fechando em nada mais do que uma rachadura na
calçada, uma que eles podiam pular como costumavam fazer quando eram
apenas crianças jogando um jogo. Eles não são mais crianças, e com um passo
em falso, essa rachadura se abre mais uma vez, desmoronando para fora até
ficar mais ampla e profunda do que nunca.

Regulus é inalcançável. Sirius poderia tentar, e tentar, e tentar, mas ele


nunca mais vai conseguir consertar o que está quebrado entre eles mais uma
vez. Regulus não se atreverá a voltar atrás.

E tudo bem. Sirius faz as pazes com isso, rapidamente e de uma vez,
porque não importa. Sirius não consegue manter Regulus, mas se isso significa
mantê-lo vivo, a perda vale a pena.

Sempre valeu.

"Eu te amo, Reggie," Sirius murmura com um sorriso triste e um gentil


encolher de ombros, porque realmente, isso é o que importa. Ele ama. Ele
ama muito o seu irmão. Apenas uma vez, egoisticamente, ele deseja que
Regulus diga isso de volta.

Regulus não diz.

"Você está morto para mim," Regulus sussurra em vez disso.

323
CRIMSON RIVERS

Sirius luta contra a onda de dor que o atinge com essas palavras, dizendo a
si mesmo que é o melhor. Afinal, ele estará morto muito em breve, porque
com quem quer que ele esteja entrando, ele certamente o trará para casa.

Sem dizer uma palavra, Regulus deixa cair o seu braço e o solta para que
ele possa caminhar até a frente e tomar seu lugar. De novo.

Sirius faz.

~•~

James sente a percepção chegar tardiamente, como se ele não tivesse


aceitado completamente até este exato momento, e agora que está aqui, bate
nele de uma vez.

Sirius.

Ele está ali parado, um tributo de novo, e James sente que isso o atingiu
completamente. Sirius vai voltar para a arena. Não há como parar agora. Ele
vai voltar, de cabeça para o perigo, onde ele pode morrer, e James não pode—
ele não pode—

"Espere," James diz, a palavra saindo de sua boca enquanto ele avança.
"Espere, não, Sirius. Não."

"James," Sirius sussurra, virando a cabeça para encará-lo, sua mandíbula


apertada enquanto ele balança a cabeça.

"Me deixe ir. Eu posso ir?" James engasga, avançando firmemente


enquanto se dirige a Pandora, que o encara com dor. "Por favor. Por favor,
só—não ele, por favor—"

Sirius gira e o pega pelo peito, empurrando-o um pouco para trás.


"James. James, pare. Você não pode fazer isso. Você—"

"Sirius," James resmunga, seus olhos ardendo. "Sirius, não—por favor,


não—eu não posso—"

"Me ouça, você precisa voltar e esperar, ok? Você não pode fazer isso
aqui," Sirius insiste, lançando seu olhar para o lado. Quando James o segue,
ele encontra Aurores se aproximando lentamente dos degraus com as mãos

324
ZEPPAZARIEL

em suas armas. Sirius estende a mão e agarra o ombro de James, sacudindo-o


um pouco. "Está tudo bem, James. Apenas vá esperar com Regulus. Vá."

"Sirius," James diz novamente, impotente.

"Eu sei," Sirius responde, exalando trêmulo. Ele engole e arrasta James
para um abraço apertado por um momento, então o empurra de volta com a
mesma rapidez, dando-lhe um pequeno empurrão.

James cambaleia para trás, seu peito arfando e sua visão embaçada. Ele
continua recuando como se pudesse fugir disso, como se ficar mais longe
tornasse menos real, mas não ajuda. Ele sente como se estivesse sendo
rasgado diretamente ao meio.

Sirius não, ele pensa desesperadamente. Sirius não, Sirius não, Sirius—

James esbarra em alguém, e sua cabeça se vira para ver Regulus, que está
visivelmente e palpavelmente desligado. Seu rosto está em branco, olhos
desprovidos de emoção. Tudo nele está vazio, e ele está apenas parado ali,
apenas esperando. James espera com ele.

Pandora está de pé na tigela novamente, olhando para ela, para os três


pedaços de papel fechados. Pode ser Effie ou James—ou Sirius, mas ela teria
que escolher de novo se for. Não, tudo se resume a mãe e filho agora. Há
lágrimas escorrendo pelo rosto de Pandora, e ela não está se movendo. Ela
não se move.

"Pandora," Regulus diz rispidamente, e ela estremece, engasgando com


uma expiração áspera enquanto vira a cabeça para encará-los.

"Eu sinto muito," Pandora anuncia e nunca desvia o olhar deles enquanto
mergulha a mão na tigela e pega um pedaço de papel com o próximo tributo.

A questão é que James sabe que não importa de quem é o nome no papel,
porque sua mãe vai de qualquer maneira. Ela deixou bem claro que seria
voluntária, então se for o nome dele, ela fará exatamente isso. E, apesar de sua
reação instintiva para quebrar sua promessa e garantir que ela não volte, ele
sabe que não pode fazer isso com ela. Ele sabe que não pode machucá-la ou
decepcioná-la assim. Eles conversaram muito sobre isso, e ela disse algo para

325
CRIMSON RIVERS

ele, algo que partiu seu coração, mas algo que ele precisava ouvir mesmo
assim.

Uma mãe nunca deveria ter que sobreviver a seus filhos, James. Não me coloque em
uma posição em que eu tenha que fazer isso, ela disse, porque Sirius está incluído
nisso, tanto quanto James está. Se James se oferecesse por ela de qualquer
maneira, se ele quebrasse essa promessa, ele a condenaria a viver sem um de
seus filhos, possivelmente ambos, e quando ela começou a chorar, mais uma
vez fazendo-o prometer, ele só podia fazer isso novamente e dizer isso pela
segunda vez. Ele não foi capaz de pensar sobre o que isso implica, o que isso
significa para ele, o que isso fará com ele e sua família quando ela—quando
ela—

Ele não pode pensar sobre isso, e então ele não pensa, petrificado demais
pelo terror para se atrever a tentar. Mas ele sabe. Ele olha para aqueles
pedaços de papel e sabe que isso não importa, porque sua mãe vai com Sirius
de qualquer maneira, e ela não vai voltar. Ele olha para ela, seus olhos
ardendo, apenas para desviar o olhar quando Pandora alcança o microfone
novamente.

"O segundo tributo do distrito seis..." Pandora exala trêmula em meio às


lágrimas e se atrapalha com o papel para abri-lo. Ela solta um gemido baixo,
abaixando a cabeça para frente, e os olhos de James se fecham enquanto sua
devastação preventiva causa estragos nele. Depois de uma pausa pesada,
Pandora sussurra, "J—"

"Eu me voluntario."

James sente seu corpo inteiro esfriar. Como o sol morrendo. As chamas se
extinguiram. O mundo inteiro escurecendo.

Não.

Não, isso não.

Por favor, isso não.

James se vira lentamente e olha para Regulus, que encontra seu olhar firme,
inabalável. As três últimas palavras que ele falou soam nos ouvidos de James,

326
ZEPPAZARIEL

altas, contundentes e seguras. A voz de Regulus nem tremeu. Ele disse isso de
forma tão simples.

Sem hesitação.

O nome completo de James nem saiu da boca de Pandora. Effie parece


aflita, com os olhos arregalados, e sua mão se lança para pegar o braço de
Regulus quando ele começa a se mover para frente.

"Eu não posso deixar você fazer isso," Effie engasga.

"Você não pode me parar," Regulus responde suavemente, e a mão de


Effie cai ao seu lado, flácida, quando ela percebe que é verdade. Não há nada
que ela possa fazer. Regulus foi mais rápido.

"Não," James protesta, sua respiração fina. Ele balança a cabeça e dá um


passo para trás enquanto Regulus continua avançando. "Não, Regulus. Não.
Eu não—" James olha para Pandora e Sirius, olhos arregalados e frenéticos. O
rosto de Sirius está frouxo de horror, e ele parece que vai vomitar. "Eu—
eu recuso."

Pandora engole um soluço e engasga, "Você não pode, James."

"Não, não, não," James canta desesperadamente, avançando para agarrar


Regulus pelos braços e detê-lo, sacudindo-o um pouco, seu aperto muito
áspero. "Não faça isso comigo. Por favor, não—"

"Já está feito, amor," Regulus sussurra.

"Você prometeu," James choraminga.

Regulus lhe dá um sorriso triste. "Eu menti."

James começa a perder a porra da cabeça. Ele não pode dizer exatamente o
que acontece, mas os Aurores acabam envolvidos, junto com sua mãe. Ela
está lá, sussurrando asperamente em seu ouvido e tentando puxá-lo para longe
de Regulus, mas James não se mexe. Os Aurores têm que inundar o palco e
literalmente arrastá-lo para longe, e uma briga começa ali entre basicamente
todos. No momento em que James ataca, os Aurores revidam, e então Sirius,
Regulus e Effie estão lá também.

327
CRIMSON RIVERS

James observa sua mãe arrastar um homem adulto do chão e colocá-lo de


costas. Sirius soca um Auror com tanta força que ele cai do palco. Regulus
arranca um dos Aurores de James e dobra seu braço para trás tanto que há um
estalo alto e grotesco e um grito horrível de dor de onde Regulus acabou de
quebrar seu braço sem remorso.

A coisa é, James tem certeza de que, entre os quatro, eles poderiam lutar
honestamente contra todos os Aurores do distrito.

Se não fosse pelas armas.

No momento em que ela é apontada para a sua cabeça, tudo para. Sirius,
Regulus e Effie instantaneamente ficam parados, então soltam quem eles estão
batendo, se rendendo com as mãos para cima. James está tão irritado que ele
ainda está disposto a lutar, mas o medo palpável o impede.

Ele fecha os olhos e se deixa ser arrastado.

~•~

Euphemia observa o prefeito Aberforth coçar a barba com um suspiro


cansado, olhando para ela com olhos muito azuis e muito cansados. Ela o
conhece há muito, muito tempo. Ele é treze anos mais velho que ela e sabe
mais sobre a história do distrito seis do que qualquer pessoa viva hoje. Ele
tinha dezessete anos quando Grindelwald foi assassinado e vinte e seis quando
Euphemia foi colhida aos treze. Ele não se tornou prefeito até os trinta anos,
e já é prefeito há trinta e três anos.

Euphemia foi uma mentora por mais de vinte anos, então ela passou muito
tempo com Aberforth, e ela sabe que ele se preocupa com as pessoas em seu
distrito. Ela sabe que está incluída nisso. Ela também sabe que há muitas
coisas—a maioria das coisas, na verdade—que estão fora de seu poder.

"Você agrediu três aurores, Euphemia," Aberforth diz, sua voz rouca,
como sempre foi.

"Eles agrediram meu filho," responde Euphemia, seu tom cortante.

Aberforth suspira. "Seu filho estava agredindo eles."

328
ZEPPAZARIEL

"Tudo bem, e?" Euphemia arqueia uma sobrancelha para ele. Ele está
muito enganado se pensa, mesmo por um momento, que ela se importa com
o que James, Sirius, ou mesmo Regulus fazem, no que diz respeito a lutar por
eles. Ela sempre lutará por eles, independentemente.

"Você sabe o quão sortuda você é que eles decidiram não transmitir ao
vivo a colheita deste ano?" Aberforth pergunta, estendendo a mão para
esfregar os dedos sobre a sobrancelha. "Eles atrasaram a transmissão, para que
pudesse ser revisada, o que era uma preparação para circunstâncias
imprevistas."

Euphemia bufa uma risada aguda. "Circunstâncias imprevistas. Certo. E


isso não tem nada a ver com Riddle querendo ter certeza de que nenhum
possível tumulto ou clamor de rebelião chegaria mais longe do que já
chegou?"

"Eles foram capazes de cortar tudo o que precisavam, então o que


aconteceu está contido aqui, o que significa que James, Sirius e Regulus ficarão
impunes devido às suas posições no Memorial Quarternário deste ano como
mentores e tributos," continua Aberforth, enquanto ela não falou nada. "Eu
consegui atestar em seu nome e convencê-los a desistir da execução pública
que eles estavam exigindo originalmente."

"Obrigada," Euphemia diz baixinho, depois de um longo momento de


silêncio, porque ela não é tão orgulhosa para ser grata por isso. Não por medo
da morte, mas puramente porque Fleamont—oh, ele nunca teria se
recuperado. E James...

"No entanto," Aberforth continua com uma careta, "Eles não vão permitir
que seu crime fique impune."

"Não, é claro que não," Euphemia murmura, segurando seu olhar sem
vacilar. "Não gostariam que ninguém ficasse com a ideia de que eles podem
revidar, certo?"

Aberforth suspira novamente. "Você sabe tão bem quanto eu como isso
funciona, Euphemia."

"Quando vamos parar de aceitar isso, Aberforth?" Euphemia sibila,


inclinando-se para frente para encará-lo. "Quando vamos mandá-los para o

329
CRIMSON RIVERS

inferno e parar de aceitar isso? As crianças que eu amo estão destruídas. Você
entende? Eles passaram por muita coisa, e eu não vou suportar isso. Eu não
vou sentar e ficar em silêncio mais, não desta vez. Meus meninos—"

"Você vai se matar, mulher," Aberforth rosna, baixo e exasperado. "É isso
que você está tentando fazer? Porque eu estou tentando evitar que isso
aconteça."

"Assim seja," Euphemia declara com desdém. "Se eu morrer lutando por
eles, morrerei sem arrependimentos."

"E Fleamont?" Aberforth pergunta. "Você vai arriscá-lo?"

Euphemia prontamente fecha a boca. Ela fica em silêncio e o encara,


incapaz de dizer outra palavra. Fleamont... A mera ideia de Fleamont estar em
perigo, sendo ferido, faz seu coração apertar violentamente em puro terror.
Mesmo assim, Fleamont é um adulto que pode fazer suas próprias escolhas, e
ela não tem o direito de fazê-las por ele, mesmo por amor.

Isso é algo que Sirius, James e Regulus ainda precisam aprender, e ela
gostaria de poder voltar no tempo para contar a eles, para ensiná-los, mas
agora é tarde demais. Veja onde isso os levou.

"Qual é o meu castigo?" Euphemia diz rigidamente.

"Eles vão ver você chicoteada na frente de todo o distrito. Presença


obrigatória para todos," murmura Aberforth. Ele baixa o olhar, sua voz
caindo junto com ele. "Sete chicotadas para cada Auror agredido. Vinte e uma
no total."

Euphemia apenas cantarola e se vira para sair. "Muito bem. Estou


assumindo que isso acontecerá mais tarde, então se você me der licença,
prefeito Aberforth, eu vou dizer adeus aos meus filhos."

"Você não tem permissão, Euphemia," Aberforth chama. "Eles


disseram—"

"Apenas tente me impedir," Euphemia chama de volta, abrindo a porta.


"Adicione isso à minha sentença."

330
ZEPPAZARIEL

Com isso, ela bate a porta e continua sem olhar para trás. Ninguém vem
atrás dela, e ninguém a impede no caminho, o que é o melhor.

A primeira pessoa que ela encontra é James, que surge em sua direção no
momento em que a vê. Ele quase a derruba com a força de sua colisão,
agarrando-se a ela enquanto suga respirações profundas e ofegantes. Seu
pobre bebê. Ele passou por tanto. Ele perdeu muito.

Se ela pudesse mantê-lo longe de tudo o que ele suportou, e tudo o que ele
irá suportar, ela o faria. Ela planejava, e Regulus—oh, aquele garoto estúpido
e apaixonado. Ele havia planejado isso. Não há nenhuma maneira que ele não
tenha com o quão rápido ele foi. Um plano silencioso e secreto que ninguém
esperava. Vai arruinar James, e Sirius vai—ela já sabe. Ele vai lutar por seu
irmão; claro que ele vai. Euphemia queria que fosse ela, para que ela pudesse
entrar e garantir que Sirius voltasse para casa. Maldito seja aquele menino.
Malditos sejam os dois e suas formas egoístas e imprudentes de amar. Vai
destruí-los todos, e não há nada que ela possa fazer sobre isso.

"Mãe," James engasga, recuando para olhar para ela com os olhos
arregalados e óculos tortos. Ele parece inocente e muito jovem, mesmo agora.
Ela quase morreu ao dar à luz a ele, e ela o criou para ser o homem adorável
que ele é hoje, tão infinitamente orgulhosa da cor e vibração que ele convida
para as vidas ao seu redor apenas por ser ele mesmo—e ela não pode protegê-
lo.

"James," Euphemia sussurra, estendendo a mão para embalar suas


bochechas e estudar suas feições. Ele sempre se pareceu mais com ela do que
Fleamont, desculpando sua criação. Fleamont é uma espécie de gigante gentil.
Ele é alto e largo, mas nunca machucou uma mosca. Ele é um pouco sensível,
honestamente. James herdou isso dele também.

"O que eu faço, mãe? Eu não sei o que fazer," James diz freneticamente,
parecendo aterrorizado.

Euphemia engole. "O que você faz é ir para a Relíquia e ouvir o conselho
que Sirius lhe der sobre ser um mentor. Você faz o seu melhor, querido, pelos
dois."

"Mas—mas apenas um—"

331
CRIMSON RIVERS

"Eu sei, James. Eu sei disso. Não é—você não pode fazer nada sobre isso.
Sirius e Regulus farão o que eles decidirem fazer, e tudo o que você pode
fazer é ajudá-los ao longo do caminho. Eu sei que você está assustado, mas
nós não temos muito tempo, e eu—eu preciso falar com Sirius."

James se afasta lentamente, piscando com força. "Você acabou de vir de


uma reunião com o prefeito, certo? Está tudo bem? Você vai ficar bem, mãe?"

"Claro que sim, querido. Está tudo bem," Euphemia mente, porque não há
necessidade de James se preocupar com a punição que a espera. Ele só vai se
culpar.

Ela o puxa e segura um pouco mais.

~•~

Sirius olha para os nós dos dedos arrebentados e espera. Ele se sente
entorpecido. Ele se sente... Ele não sabe. Tudo o que ele consegue entender é
que, mesmo agora, ele sente falta de Remus.

Sua cabeça se levanta quando a porta se abre, uma onda de medo o atinge
de uma vez, e só se acalma levemente quando Monty entra na sala. Ele olha
para Sirius e engole em seco.

"Onde está Effie?" Sirius sussurra.

"Sendo responsabilizada pelo prefeito Aberforth, eu acredito," Monty


resmunga. "Ela—ela cometeu um crime, como todos vocês, mas James—ele
será um mentor, e você e Regulus são tributos, então vocês não terão punição.
Ela pode não se dar bem."

O coração de Sirius cai. "O que vai acontecer com ela?"

"Eu não sei," diz Monty, sua voz rouca. "O prefeito Aberforth é um bom
homem, e nós o conhecemos há muito tempo. Se houver algo que ele possa
fazer, ele fará."

"Então, eu—eu não vou vê-la de novo?" Sirius pergunta, sua voz baixa. A
pele ao redor dos olhos de Monty se contrai, porque ele sabe o que isso
significa, e então ele fecha os olhos e abaixa a cabeça para a frente. Os ombros

332
ZEPPAZARIEL

de Sirius caem. "Ele é meu irmão, Monty. Meu irmão mais novo. Você sabe
que eu vou trazê-lo para casa."

"Eu sei que você vai fazer o seu melhor," Monty murmura, seus olhos se
abrindo. "Eu só queria..."

Monty para, então solta um suspiro muito exausto. Ele dá um passo à


frente e estende a mão para apoiar as mãos nos ombros de Sirius, apenas
absorvendo-o por um longo momento. Sirius sente um nó se formar em sua
garganta quando Monty levanta a palma da mão e tão gentilmente acaricia sua
bochecha com uma ternura que o faz doer.

"Você está bravo comigo?" Sirius resmunga.

"Eu te conheço desde que você era uma criança, Sirius. Por mais
devastador que isso seja, uma parte de mim não está surpresa."

"Eu não sou mais uma criança."

O rosto de Monty suaviza. "Não, você não é, mas você sempre será nossa
criança, assim como James, não importa sua idade."

"Regulus me odeia agora. Eu vou morrer com ele me odiando, e eu não—


eu nem queria. Eu queria manter minha promessa, eu juro que queria, mas eu
não pude evitar," Sirius engasga, seus olhos marejando contra sua vontade.

"Você está apenas fazendo o seu melhor, é claro que você está," Monty
garante a ele, e Sirius não consegue se conter de quase explodir em lágrimas.
"Oh, Sirius, venha aqui, meu querido menino."

Monty o puxa, e Sirius cai contra seu peito, sentindo-se ridiculamente


pequeno, o que pode ter algo a ver com o fato de Monty ser mais alto e mais
largo que ele. Sirius esconde seu rosto no peito de Monty e chora, e ele ainda
está fazendo exatamente isso quando a porta se abre novamente.

Sirius e Monty se separam, girando ao mesmo tempo. Monty solta um


suspiro alto de puro alívio quando Effie entra, mas Sirius prende a respiração.
Effie olha direto para ele, parando e apenas olhando para ele, sua expressão
apertada e tensa. Isso faz Sirius querer se encolher e chorar.

333
CRIMSON RIVERS

Ele não queria dizer isso, mas o que sai da boca de Sirius é um pequeno e
sincero "Eu sinto muito, mãe."

"Ok, querido, shh," Effie o acalma, avançando para segurar


cuidadosamente seu rosto com as palmas das mãos delicadas, seus olhos
brilhando com lágrimas. "Eu te amo. Nós te amamos muito, Sirius."

"Por favor, eu preciso que você faça algo por mim. Há uma carta no meu
quarto para Remus, do pai dele. Eu preciso que você a mantenha segura, e se
você o vir, dê a ele por mim, porque eu não vou conseguir. Porque eu não
vou voltar," Sirius resmunga, colocando o rosto em suas mãos sem medo,
com nada além da necessidade desesperada de conforto.

Um som horrível sai da boca de Effie, e ela o puxa em seus braços,


segurando-o com força, e Monty está ali para segurar os dois. Effie se agarra a
ele e engasga, "Claro, Sirius. Claro que nós vamos."

Sirius está lá nos braços dos únicos pais que ele conhece verdadeiramente,
e ele chora. Eles choram junto com ele. Porque é isso. Esta é a última vez.

~•~

A cabeça de Regulus se levanta quando a porta se abre e, por um segundo,


ele espera que sejam seus pais, assim como da última vez. Ele tem que lembrar
que eles foram assassinados novamente. Dói da mesma forma que da primeira
vez.

Andrômeda está na porta, seus lábios pressionados em uma linha fina. Ao


lado dela, segurando sua mão com os olhos arregalados, uma Nymphadora de
cinco anos pisca para ele. Ela tem quase seis anos. O aniversário dela chegará
em uma semana, e Regulus não estará lá.

"Andrômeda," Regulus murmura, engolindo em seco.

"Regulus," Andrômeda responde, sua mandíbula apertada enquanto ela


solta a mão de Nymphadora e acena para ela. Dora imediatamente pula direto
para Regulus e sorri para ele, estendendo os braços.

Ela é muito jovem para entender a gravidade deste momento, mas Regulus
é grato, no entanto, que Andy a trouxe para vê-lo. Regulus nunca esperou se
apegar a Dora, honestamente. Por muito tempo, ele não tinha se apegado, e
334
ZEPPAZARIEL

ela tinha medo dele, porque Andrômeda se certificou de que ela soubesse que
não tinha permissão para tocar Regulus, especialmente nos primeiros dias
após a arena, quando ele não podia ser tocado por qualquer um, muito menos
uma criança.

Com o tempo, à medida que Regulus melhorou e Dora ficou mais velha, as
coisas mudaram. Ela se sentava ao lado dele e desenhava, ou lia livros, ou
pedia para ele segurar um de seus bichos de pelúcia—e ele elogiava suas
habilidades artísticas, ouvia as histórias e mantinha todos os bichos de pelúcia
seguros até que ela os pedisse de volta. Sendo tão jovem, ela adormeceu e se
inclinou contra ele um dia por completo acidente, e por mais que isso o
aterrorizasse, ele literalmente não se moveu um centímetro, recusando-se a
fazer isso, porque ela estava dormindo tão pacificamente e ele não podia
suportar acordá-la.

Foi nesse momento que ele percebeu que ela não tinha mais medo dele, e
algo sobre isso parecia bom. Com o tempo, ela se afastou cada vez mais da
memória de ter sido instruída a não tocá-lo, e ela simplesmente parecia
esquecer. Ela já havia feito isso muitas vezes, mas Andy e Ted sempre a
lembravam, insistindo que era importante ensinar as crianças a respeitar os
limites, mas Regulus acabou criando coragem para confessar que não se
importava mais tanto.

Era como se Nymphadora tivesse recebido um brinquedo novo e


brilhante. Com a permissão finalmente concedida, ela sempre queria subir
nele, ou ser pega por ele, ou correr e abraçá-lo no momento em que ele
entrasse pela porta. Ele se acostumou. Na verdade, ele acha que o toque de
uma criança inocente foi o primeiro toque com o qual ele realmente se sentiu
confortável depois da arena. Ele não tem tanta certeza de que teria melhorado
sem Dora.

"Olá, Dora," Regulus diz suavemente, abaixando-se para pegá-la e


balançando-a em seus braços com cuidado.

"Oi, Reggie," Nymphadora gorjeia, sorrindo para ele. Ela pegou isso de
Sirius. O sorriso e o apelido. "Mamãe disse que você tem que sair um pouco,
então você não poderá visitar na próxima semana como deveria."

Regulus engole em seco e assente. "Sim, é verdade. Me desculpe por isso."

335
CRIMSON RIVERS

"Vou sentir muito a sua falta," Nymphadora diz, seu sorriso caindo.

"Vou sentir muito a sua falta também," Regulus sussurra, piscando rápido
para dissipar o calor que se acumula em seus olhos.

Nymphadora está franzindo a testa agora. "Quando você e Sirius vão


voltar, Reggie?"

"Eu—" A voz de Regulus pega, e ele olha para Andrômeda, que está
desviando o olhar, esfregando o rosto rudemente. Ele se assusta ao vê-la
chorar. Andrômeda é uma mulher muito estóica, e sempre foi, nunca de
mostrar muita emoção. Regulus não apreciava isso o suficiente quando
criança, realmente não entendia, mas ele entende agora. Regulus limpa a
garganta e olha para Dora. "Eu não sei."

"Mas você vai, certo?" Nymphadora sussurra, sua voz baixa. "Você vai
voltar, não vai?"

"Não se preocupe com isso agora," Regulus diz suavemente, estendendo a


mão para cuidadosamente escovar o cabelo dela, oferecendo-lhe um pequeno
sorriso. "Você só—você vive sua vida, certo? Ria todos os dias, o quanto
quiser, e sempre que sentir minha falta, imagine que eu estou rindo junto com
você."

E há as lágrimas, porque ela pode ser muito jovem para entender


completamente o que está acontecendo, mas as crianças têm um talento
especial para perceber quando algo está errado. Quando algo é triste. Regulus
era assim quando criança, chorando sem nunca entender o porquê, apenas
sabendo que achava necessário.

"Eu não quero que você vá," Nymphadora diz a ele, fungando enquanto as
lágrimas caem de seus olhos, grandes lágrimas de olhos grandes que só uma
criança pode produzir. Ela envolve seus pequenos braços em volta do
pescoço dele e o abraça forte, chorando baixinho, mas de todo o coração.

"Andy, por favor," resmunga Regulus, olhando para ela desesperadamente


através do borrão de suas próprias lágrimas.

Andrômeda respira fundo e avança para persuadir Nymphadora a se


afastar de Regulus com murmúrios suaves e reconfortantes. Nymphadora tem

336
ZEPPAZARIEL

um ataque infernal, gritando a plenos pulmões e alcançando Regulus como se


soubesse, de alguma forma, que talvez nunca mais o veja.

Ted está esperando do lado de fora da porta e leva Dora embora, fazendo
o possível para acalmá-la. Seus gritos eventualmente são abafados, depois
desaparecem. Regulus tenta reunir os restos quebrados de seu coração e se
conforta com o conhecimento de que ela é muito jovem agora, ela
provavelmente nem se lembrará disso um dia.

"Você está com raiva de Sirius," Andrômeda diz no silêncio retumbante.


Regulus apenas acena com a cabeça. "Você está ciente, tenho certeza, que isso
faz de você um hipócrita, certo?"

"Eu não me importo," responde Regulus. "Ele prometeu."

"Pelo que eu ouvi, você também."

"Bem, ele deveria ser melhor do que eu. Mais honrado."

"Eu entendo por que você pensa assim," Andrômeda murmura, e quando
ele olha para ela, há um tipo de dor antiga e ecoada em seus olhos. "Bella,
Cissy e eu não éramos tão jovens quando seus nomes foram chamados. Você
acha que não havia nenhuma parte de mim que desejava ser voluntária para as
duas?"

Regulus estuda os olhos dela. "Por que você não foi?"

"Papai achou que era uma forma de fraqueza. Ele deixou bem claro que se
voluntariar seria inútil, porque ele mataria quem quer que nos oferecêssemos,"
Andrômeda murmura.

"Oh," Regulus diz baixinho, com o coração apertado quando percebe que
Cygnus fez suas filhas sentirem que tinham mais chances de sobreviver na
arena do que ele. Ele pensa em como Sirius foi evitado depois de seus jogos,
especialmente por Walburga, e se pergunta se o fato de Sirius se voluntariar
por Regulus teve alguma coisa a ver com isso. "Os jogos estão destruindo
nossa família muito antes de nós, não é?"

"Sim, estão," confirma Andrômeda, e então ela suspira e dá um passo à


frente para estender a mão e passar a mão sobre o cabelo dele, o lado de sua
cabeça, como ela fazia quando ele era criança e ainda faz às vezes com Sirius.
337
CRIMSON RIVERS

Ela não faz isso com Regulus desde que ele era criança, e ele não sabe por quê,
mas dá um nó na garganta. "Eu tenho que ir, não tenho muito tempo, mas
eu—eu—"

"Andy," Regulus sussurra, balançando a cabeça. Ele sabe que ela é mais
próxima de Sirius, sempre foi mais próxima de Sirius, mas isso não significa que
dói menos.

Andrômeda firma sua mandíbula, segurando seu olhar. "Você e Sirius são a
primeira ocasião de uma arena reunindo qualquer membro desta família, e eu
não posso dizer como isso se traduzirá quando vocês entrarem juntos, mas
vou dizer a você e a ele a mesma coisa." Ela se inclina e abaixa a voz para um
sussurro. "Uma família como a nossa, se nós trabalhássemos juntos, nós
poderíamos fazer qualquer coisa, Regulus. Depois de tudo, eu acredito nisso. Eu
acredito em você e em Sirius."

É um sentimento bom, mas nenhum que Regulus possaatender. Ele disse a


Sirius o que aconteceria, e ele falou sério. Sirius deveria escolher ficar com ele
desta vez, não apenas jogar tudo fora, como se não tivesse sentido. Aquele
idiota de merda. Ele está novamente entrando na arena por causa de Regulus;
seu nome nem foi chamado e não teria sido, e qual era o ponto? Regulus
sempre entraria de novo de qualquer maneira, então era inútil para Sirius fazer
isso, assim como da primeira vez. A história se repetiu, um ciclo que piora
cada vez que recomeça. Sirius deveria ter aprendido. Por que ele não
aprendeu? Está tudo arruinado agora. Eles estão arruinados.

Três palavras, e estava arruinado.

"Apenas um de nós pode voltar para casa," resmunga Regulus.

"Eu sei," Andrômeda concorda, se afastando para travar os olhos com ele,
seu olhar feroz. "Faça-os pagar por isso."

Regulus engole, mas, lentamente, ele assente.

Andrômeda não se demora depois disso, precisando ir ver Sirius em


seguida, e não é como se houvesse muito tempo para essas coisas. No silêncio
retumbante, Regulus vai até a cadeira e se senta, fechando os olhos e
encostando a cabeça na parede.

338
ZEPPAZARIEL

Ele não está esperando nenhum outro visitante.

Ele consegue um de qualquer maneira.

"Não," James diz friamente, no momento em que ele abre a porta e


Regulus automaticamente começa a se levantar. "Não se levante. Isso não vai
demorar muito."

"James," Regulus murmura, sentindo como se seu coração martelando


estivesse sendo preso a uma tábua como uma borboleta que ainda não sabe
que está morta. Oh, James parece... Ele parece tão...

E o fato é que Regulus sabia que James ficaria chateado se Regulus se


voluntariasse para ele. Uma parte horrível e egoísta de Regulus esperava que
fosse diferente, que James nunca descobrisse que sua promessa era uma
mentira. Se não fosse por Sirius, isso nunca teria acontecido. Se Sirius não
tivesse se oferecido como um maldito voluntário, então James não estaria
olhando para ele do jeito que ele está agora. Eles também estão arruinados.

Ele sabia que James não iria gostar, uma vez que descobrisse, mas isso é
outra coisa. Ele acha que nunca viu James parecer tão zangado,
tão distante com uma fúria vazia, do jeito que ele está agora. Regulus passou os
últimos dois dias tocando James o máximo que podia, sabendo que de uma
forma ou de outra ele estaria perdendo James após a colheita, mas ele ainda
não consegue parar de se levantar de qualquer maneira, preparado para se
aproximar, querendo pedir desculpas mesmo que ele não esteja arrependido.

"Sente," James ordena, e Regulus sente um raio de calor ricochetear entre os


degraus de suas costelas, e ele encontra suas pernas cedendo e ele estacionado
na cadeira imediatamente, zumbindo completamente como se tivesse acabado
de enfiar um garfo em uma tomada.

Regulus sabiamente se senta lá e não tenta interromper, não que James


realmente lhe dê muita escolha. Ele começa a falar, sua voz firme e afiada, e
seu tom está fazendo coisas maravilhosas com a cabeça de Regulus enquanto
suas palavras não fazem coisas maravilhosas com o coração de Regulus.

"Você mentiu para mim. Você quebrou sua promessa, e você pretendia
fazer isso o tempo todo, não é?" James exige.

339
CRIMSON RIVERS

"James—"

"Há quanto tempo?"

Regulus engole em seco.

"Há quanto tempo?" James estala, quando ele não responde. "Há quanto
tempo, porra, você planeja se voluntariar por mim, se meu nome que fosse
chamado? Há quanto tempo, Regulus?"

"Assim que eu ouvi o anúncio do Memorial Quarternário," Regulus


sussurra, e é verdade, porque no momento em que ele ouviu, o primeiro
pensamento que ele teve, egoisticamente, foi James não.

Esse sempre foi o plano. Ele sabia—o tempo todo, ele sabia que tomaria o
lugar de James se seu nome fosse chamado. Era apenas uma questão de em
que ordem os nomes seriam chamados primeiro. O que fosse necessário para
manter James fora, era o que Regulus sempre faria. E ele estava ciente, é claro,
que Effie tomaria seu lugar em um piscar de olhos, mas Regulus não a
deixaria. Não a mãe de James. Não a única mãe que já fez o certo por Sirius,
depois que sua mãe nunca fez, depois de toda a dor que Sirius recebeu de sua
mãe para que Regulus não precisasse. Se tivesse acontecido como deveria, na
ordem dos nomes chamados, Regulus teria sido colhido, então James e Effie
teriam se oferecido. Regulus garantiria que ela voltasse para casa para o seu
filho—para os dois.

Sirius fodeu tudo isso. Ele nunca deveria ter se envolvido. Ele se ofereceu,
apenas para Regulus se colocar ao lado dele segundos depois. Era quase—
justiça poética, de certa forma. Por um momento, Regulus só pôde pensar,
vingativo, olhe para isso, seu idiota, você tomou meu lugar e aqui estou eu; você deveria ter
aprendido da primeira vez, por que você não aprendeu?

O rosto de James se limpa de qualquer emoção assim que ele processa


completamente o que Regulus acabou de dizer a ele. Ele fica em silêncio por
um longo momento, e então ele diz, "Meus sentimentos pessoais não vão me
impedir de fazer qualquer coisa que eu possa para ajudar tanto você quanto
Sirius, mas eu quero que você esteja ciente dos meus sentimentos pessoais. Eu
quero que você esteja ciente de que eu não perdoo você por isso. Eu quero
que você esteja ciente de que o que quer que nós tenhamos, o que quer que
nós fizemos nos últimos dois dias, está acabado. Não me toque. Não entre no

340
ZEPPAZARIEL

meu quarto e espere que eu te abrace, porque eu não vou. Não se desculpe,
porque eu não quero ouvir isso."

"Ok," Regulus diz suavemente, mesmo quando seu coração bate aos seus
pés. Alguma parte dele estava se preparando para isso. Ainda dói. Ainda o faz
querer se enrolar em uma bola e chorar.

A mandíbula de James aperta. "Você ao menos sente muito?"

Regulus hesita, considerando mentir, mas ele já fez o suficiente disso, não
é? Então, ele olha James bem nos olhos e diz a verdade. "Não."

James não responde a isso, não reage nada, e Regulus se pergunta agora,
depois de todo esse tempo, se James está disposto a deixá-lo ir agora. Regulus
acha que ele está disposto a pelo menos tentar.

Sem dizer uma palavra, James gira no mesmo lugar e sai, batendo a porta
atrás dele enquanto ele vai.

Assim que Regulus fica sozinho, com as portas fechadas, todas as apostas
são canceladas. Ele se enrosca na cadeira e agarra os braços dela com tanta
força que seus dedos doem, o rosto enterrado na dobra do cotovelo enquanto
ele soluça com tanta força que nem faz barulho.

341
CRIMSON RIVERS

41

Não atinge Dorcas completamente até que ela esteja sentada na frente de
uma televisão, tarde da noite, assistindo com a respiração presa enquanto a
colheita do distrito dez termina e a do onze começa.

Mesmo quando a regra do Memorial Quaternário foi anunciada há um


mês, nunca passou pela cabeça de Dorcas pensar—nem por um segundo—
que Minerva estava envolvida, ou Dumbledore, nesse assunto. Era muito
cruel, muito horrível, para ela sequer imaginar que os supostos mocinhos teriam
uma mão nisso.

Não existem pessoas boas na guerra. Dorcas sabia disso o tempo todo,
então talvez uma parte dela devesse ter previsto isso, mas ela não previu. Ela
não previu.

Há apenas dois Vitoriosos no distrito onze.

Apenas dois, e um deles é Marlene.

Dorcas não sabia disso, porque ela não conhece todos os Vitoriosos em
cada distrito. Ela não descobre até que ela está olhando para a televisão onde
Marlene e o que deve ser o seu mentor anterior estão esperando no palco.
Sozinhos.

342
ZEPPAZARIEL

A colheita é uma formalidade. Uma piada, na verdade. Para esfregar sal na


ferida, é o nome de Marlene que é chamado primeiro. Ela dá um passo à
frente, impassível. Seu mentor, ao ser chamado, tropeça, visivelmente bêbado,
e vomita por todo o palco.

Dorcas está sentada ali, com os ouvidos zumbindo, e ela se lembra de


repente de como Minerva olhou para ela com tanta tristeza quando ela disse
que o envolvimento na guerra nem sempre é uma escolha. Ela se lembra de
repente do jeito que Minerva disse que as coisas estariam quietas até agora.
Ela se lembra de repente que Minerva disse que ela pode querer proteger
Marlene, mas se os desejos fossem realidade, todos estariam sonhando
acordados—e ah, isso não é verdade? A realidade é uma merda, e Dorcas está
sonhando acordada há muito tempo. Ela não pode mais.

Dorcas levanta da cadeira em segundos.

Está chovendo lá fora. Ela não se importa. Ela apenas corre.

Minerva mora do outro lado da cidade de Dorcas, a quase meia hora de


carro, então ela não vai chegar lá tão rápido quanto precisa a pé. O caminho
mais rápido será pegar o metrô, o que ela faz, praticamente chacoalhando no
mesmo lugar durante todo o trajeto. As pessoas olham para ela de forma
estranha, mas ela as ignora.

No momento em que ela está fora, ela está correndo novamente.


Descuidada e frenética, ela corre sem parar, a chuva torrencial encharcando-a
até que suas roupas estão grudadas em sua pele e suas tranças estão batendo
pesadamente em suas costas, pingando sobre seu pescoço e ombros. Ela está
encharcada, seca em lugar nenhum, e é assim que ela aparece na porta de
Minerva.

Assim que ela chega, ela bate o punho contra a porta repetidamente sem
parar, seu peito arfando enquanto ela não consegue recuperar o fôlego. Ela
gritaria se pudesse, se não estivesse ofegante, se conseguisse encontrar sua
voz.

A porta se abre para revelar Minerva com os lábios pressionados em uma


linha fina, mas ela não parece particularmente surpresa ao ver Dorcas em sua
porta. Ela não diz uma palavra. Ela apenas fica lá e segura o olhar de Dorcas.

343
CRIMSON RIVERS

"Você sabia," Dorcas engasga, desesperadamente querendo estar errada,


mas a boca de Minerva achata ainda mais, apertada e enrugada nos cantos.
Dorcas solta um suspiro áspero e recua, sussurrando em total traição,
"Você sabia?"

"Entre," é a resposta silenciosa de Minerva. "Você vai morrer do lado de


fora no frio, encharcada da cabeça aos pés."

Com isso, Minerva gira no local e sai voando, deixando a porta aberta.
Dorcas não se move por um longo momento, seu peito ainda doendo, seus
pulmões queimando. Ela leva alguns segundos, então ela levanta o queixo e
marcha para a casa de Minerva, onde ela nunca esteve antes.

Minerva traz uma toalha para ela, mas Dorcas não aceita. Ela fica lá e
continua a pingar no chão de Minerva.

"Você sabia?" Dorcas exige, querendo ouvir.

"Eu sabia," confirma Minerva.

Dorcas sempre observou Minerva. Sempre a respeitou. Sempre a admirou.


Quando Dorcas se juntou à Ordem, era como se Minerva fosse mentora dela.
O modelo dela.

Uma coisa sobre Minerva é que ela não é alguém com quem você ferra.
Dorcas viu Minerva derrubar homens adultos com o dobro do seu
tamanho sem esforço. Ela sabe com certeza que Minerva matou pessoas. Se você
a conhece, não encara a ideia de atacá-la de ânimo leve, e Dorcas a conhece
melhor do que a maioria.

Então, diz muito que a primeira coisa que Dorcas quer fazer é se jogar em
Minerva e ficar violenta.

Ela não o faz, porque ela sabe que não faria sentido. Ou Minerva a
esmagaria em cinco segundos, ou Minerva a deixaria fazer isso sem se
defender, o que só deixaria Dorcas com arrependimentos no final, e ela não
sabe qual possibilidade é pior. O que ela sabe é que ela já tem muitos
arrependimentos. Ela não adiciona outro.

"Me diga," Dorcas resmunga, "Que você não estava envolvida em fazer
isso acontecer. Pelo menos me diga que você—que você não—"
344
ZEPPAZARIEL

"Eu dei a ideia a Riddle," Minerva murmura, "Sob as ordens de Albus."

Dorcas inala bruscamente. "Riddle não—ele não inventou


isso? Dumbledore inventou, e você—você—"

"Eu preciso que você me escute, Dorcas," Minerva diz bruscamente,


dando um passo à frente abruptamente para agarrar o braço de Dorcas e
começar a secá-la com a toalha. Dorcas fica ali parada, manca como uma
boneca de pano, olhando para Minerva horrorizada. "Riddle os queria mortos,
você entende? James e Regulus, e Sirius como garantia também. Ele pretendia
matá-los quando chegassem em casa depois da turnê da vitória."

"E você pensou que essa era a solução?!"

"Não havia uma solução adequada, mas isso—nós podemos fazer algo
com isso. Houve quatro tumultos nos distritos desde a turnê da vitória. A
Ordem recebeu mais de trinta e cinco desertores. Mais de quinze Aurores
foram mortos, e você nem quer saber o número de mortos que varre os
distritos agora."

Dorcas engole. "Eu ainda não entendo como forçar a porra dos Vitoriosos
a voltar é benéfico, Minerva. Pelo amor de Deus, eles já não passaram
pelo suficiente?"

"Perder Regulus, James e Sirius seria um grande golpe para o nosso lado da
guerra, particularmente após suas habilidades aparentemente acidentais de
revigorar os rebeldes. A perda de todos eles—faria com que aqueles que
resistem perdessem força na melhor das hipóteses e cada pedacinho de
esperança na pior."

"Então—então nós deveríamos ter salvado eles! Eu deveria ter sido


notificada, e eu os teria levado para a Fênix. Como diabos essa foi a solução?!"

Os lábios de Minerva pressionam em uma linha fina enquanto ela se move


para agarrar o outro braço de Dorcas e secá-lo também. "O que nos falta
nesta guerra agora é união, assim como visibilidade. Precisa haver algo que
enfureça as pessoas e as una, até mesmo as Relíquias. Precisamos das
Relíquias com raiva também. Precisamos de um clamor de todos para empurrar
esta guerra na direção certa, e Albus—bem, ele sabe como fazer isso
acontecer."

345
CRIMSON RIVERS

"Mártires," Dorcas engasga. "Eles não são nada além de mártires para ele.
Para você."

"Dorcas," Minerva diz baixinho, estendendo a mão para secar suavemente


cada lado de sua garganta, "Eu estava apenas seguindo ordens."

Dorcas afasta a mão de Minerva e dá um passo para trás, olhando para ela.
"Sem questionar, Minerva? A vida deles não significa nada para você? Você vai
arrastar essas pessoas de volta para morrer, só para começar a porra de uma
guerra?"

"Para ganhar uma guerra," Minerva corrige bruscamente. "Eu segui ordens
que sei que nos ajudarão a vencer esta guerra. Uma guerra que estamos
lutando há muito tempo. Você acha que essas são as primeiras vidas que serão
perdidas? Você sabe como isso funciona, Dorcas, e se você não estivesse
liderando com o coração, você veria o quão importante é salvar
quem pudermos."

"Salvar—" Dorcas congela, seu coração caindo. "Você vai se certificar de


que um deles consiga sair. Sirius ou Regulus?"

Minerva não responde.

"Qual deles?" Dorcas sibila, suas narinas dilatadas.

"Certamente você já sabe," Minerva diz suavemente.

A questão é que Dorcas sabe. É claro que ela sabe, porque ela está lutando
nesta guerra há tempo suficiente para saber o que vai ajudar a longo prazo, e
ela tem sido uma Relíquia tempo suficiente para saber o que vai enfurecê-los
mais.

"Sirius," Dorcas sussurra. "Ele é quem você vai se certificar de que ganhe,
porque todo mundo vai ficar furioso que Regulus não conseguiu voltar para
James."

Minerva assente. "Isso, e a influência de Sirius nas Relíquias—"

"Ele não vai," Dorcas corta asperamente. "Porra, você é estúpida?


Dumbledore é? Você—você não entende o quanto ele ama o irmão dele.
Perder ele vai—vai arruinar ele pra caralho. Ele será inútil, Minerva. Ele não vai
346
ZEPPAZARIEL

lutar em uma guerra! Você terá sorte se ele não deitar e se lamentar até a
morte!"

"Albus pensa diferente," rebate Minerva. Há algo em seus olhos, algo


conhecedor e oculto, como sombras cobrindo uma sala quando as luzes se
apagam. "Ele acha que Sirius vai acabar com essa guerra depois de perder seu
irmão mais novo."

Dorcas faz uma careta e rosna, "Oh, é mesmo? Ele acha? E o que o levou
a ter tanta certeza disso?"

Minerva segura seu olhar. "Porque ele a começou quando perdeu a dele."

Por um segundo, apenas um, Dorcas sente sua respiração travar com uma
onda de empatia, pensando naquele retrato da jovem no escritório de
Dumbledore, a jovem que tem os olhos dele. A jovem que Dorcas nunca
conheceu.

Isso distorce as coisas na mente de Dorcas por um momento, pensando


nas motivações de Dumbledore por trás de tudo, porque ela nunca realmente
sabe. Tudo o que ela sabe é que foi ele quem matou Grindelwald depois de
vencer os 34º Jogos Vorazes, e então ele começou a Ordem da Fênix.
Ninguém sabe muito mais, honestamente, mas aparentemente Minerva sabe.

O momento passa rapidamente, e Dorcas sente toda aquela empatia se


esvair dela, porque não há desculpa para isso, para o que ele está fazendo
agora. Não há desculpa. Nenhuma.

"E se ele estiver errado?" Dorcas pergunta enquanto ela dá um passo


sólido para trás, sua mandíbula apertada.

"Apesar dos problemas que temos com ele e da maneira como ele faz as
coisas," murmura Minerva, "Ele nunca esteve errado antes."

Dorcas apenas zomba e balança a cabeça, girando nos calcanhares e saindo


sem outra palavra, batendo a porta enquanto vai, furiosa porque
Dumbledore está errado. E, desta vez, Dorcas não vai ficar para trás e não
fazer nada.

Não, não desta vez.

347
CRIMSON RIVERS

Desta vez, ela vai corrigi-lo.

Ela tem pensado nisso como uma escolha entre Riddle e Dumbledore,
ficando do lado do menor dos dois males, mas não há muita diferença no mal
entre eles agora—e Dorcas se recusa a ficar do lado de ambos. Se são as
únicas opções que ela tem, então ela terá que fazer outra.

Ela própria.

Desta vez, ela vai fazer do jeito dela.

~•~

Sirius sente náuseas.

"Não tem como isso não ter sido fodidamente manipulado," Sirius rosna,
olhando para Pandora incrédulo. "As duas?"

"Bellatrix primeiro, Narcissa logo depois," Pandora responde suavemente,


seus lábios inclinados para baixo. "Eu sinto muito."

"É a porra de uma reunião de família," Regulus murmura, sua cabeça


inclinada para trás contra a lateral do vagão, olhos fechados. Ele tem estado
quieto, na maior parte do tempo, e Sirius quer dizer a ele que ele não precisa
estar aqui para isso, que ele pode ficar com James agora, enquanto os dois
ainda têm tempo.

Não que eles não tenham mais tempo no futuro, porque Sirius obviamente
vai massacrar todo mundo para ter certeza de que Regulus chegará em casa,
mas independentemente disso. Regulus nem reconhece a presença dele. Nem
olha para ele. A única vez que Sirius se atreveu a falar com ele, Regulus fingiu
que ele nem existia.

James está trancado em seu próprio compartimento desde que eles


embarcaram no trem, mas Sirius tem certeza de que se Regulus batesse, James
abriria aquela porta e o deixaria entrar. O próprio Sirius quer ir, mas alguém
precisa estar aqui para descobrir as informações importantes, e ele sabe que
tem que ser ele. É melhor se for ele. Ele precisa estar preparado.

348
ZEPPAZARIEL

As 'informações importantes', por assim dizer, são os outros tributos que


Sirius deve matar em nome de manter seu irmão vivo. E, logo de cara, é uma
bagunça do caralho. Bellatrix e Narcissa.

Puta que pariu, é uma reunião de família.

Apesar de serem Vitoriosas do distrito seis, elas são residentes do distrito


um agora, então elas foram integradas à colheita de lá. Por sorte, seus nomes
foram chamados, e nenhuma parte de Sirius acredita que isso seja uma maldita
coincidência. Ele simplesmente não acredita. Não tem jeito.

Ele não pode fazer nada sobre isso, e não é algo que ele tenha certeza de
como se sentir. A ideia de matar Bellatrix ou Narcissa, ou as duas, não
exatamente... o desanima. Elas podem ser da família, mas ele não as conhece,
não realmente. Elas são estranhas para ele, e para Regulus, ele as mataria sem
piscar.

Mas ele particularmente não... quer. Talvez seja alguma lealdade familiar
estúpida e trêmula na parte de trás de sua cabeça, mas ele duvida disso. Ele
não quer matar ninguém. Bellatrix e Narcissa não são especiais, mas há uma
coisa que as diferencia de todos os outros. Independentemente disso,
elas são da família, e ele não pode deixar de pensar em Andrômeda... Ele sabe
que ele não vai voltar para casa para ver qualquer resposta que alguém terá ao
que ele fez na arena—em outra—mas isso não significa que ele está
simplesmente bem com a ideia de Andy vê-lo matar suas irmãs.

"Tudo bem, e o dois?" Sirius diz com um suspiro.

Pandora faz uma careta. "Corban Yaxley e Rabastan Lestrange."

"Maldito Yaxley," Sirius resmunga. "Três?"

"Alecto Carrow e Thorfinn Rowle."

"Quatro?"

"Majesty Mildred e Asher Rockwood," diz Pandora.

Sirius respira fundo, então solta o ar lentamente, apoiando os ombros.


"Cinco?"

349
CRIMSON RIVERS

"Havia um voluntário," Pandora murmura, e Sirius prende a respiração.


"Augusta Longbottom se voluntariou por Frank."

"Porra," Sirius sussurra, sentindo uma mistura de alívio e angústia abrir


caminho através dele de uma vez. Porque, sim, ele está agradecido por Frank
não ser um tributo de novo, mas o fato de que sua mãe estará lá... Sirius iria—
ele vai—se chegar a isso, por Regulus, ele faria o que tivesse que fazer.
Porra. Porra.

"Alice Fortescue era a outra do cinco," Pandora continua, e Sirius sente seu
coração afundar.

Oh, isso é difícil. Isso é—isso é uma merda. A mãe e a melhor amiga de
Frank. Nenhum dos dois pode voltar para casa, porque Sirius tem que se
certificar de que a única pessoa que consegue sair é Regulus.

"Sete?" Sirius resmunga, e assim vai. Sete e oito são apenas mais quatro
Vitoriosos que ele nunca conheceu, o que torna as coisas um pouco mais
fáceis, honestamente. Melhor se ele não os conhece.

E então, o nove, Pandora engole e murmura, "Dixon Darcy e—e


Emmeline Vance."

"Emmeline," Sirius diz fracamente, seus olhos se fechando. Não. Não, ela
não. Por que tinha que ser ela? Ela é amiga dele. Ele—ele—

"Distrito dez é Mavis e Velvet Oswald," Pandora continua, tensa. "Eles


são, ah, casados."

Sirius estremece, estendendo a mão para esfregar as duas mãos no rosto, e


então ele as abaixa e olha para Pandora com um nó na garganta. Seu estômago
está em nós, porque uma parte dele já sabe o que está por vir. Até onde ele
sabe, há apenas dois Vitoriosos no distrito onze, mas—mas talvez sua
memória esteja apenas—talvez ele esteja errado, e—e talvez—

Pandora não encontra seus olhos.

"Marlene?" Sirius engasga, sabendo lá no fundo e ainda sentindo uma


sensação horrível de esmagamento ao seu redor quando Pandora olha para ele
com lágrimas nos olhos.

350
ZEPPAZARIEL

"Marlene McKinnon e Eli Zatish," Pandora rosna.

"E quanto ao—eles não—não são só eles?" Sirius gagueja, sua garganta
está apertada, como se ele estivesse sendo estrangulado. "Quem vai ser o
mentor deles?"

"Eles vão ter um porta-voz eleito em seu nome com os patrocinadores e


tal, mas—mas é isso. Nenhum mentor," diz Pandora, engolindo em seco.

Os lábios de Sirius se torcem severamente. "Algum porta-voz trabalhando


com os patrocinadores não vai ser suficiente. Ele vai ser uma Relíquia, e ele não
vai se importa, não de verdade, então Marlene vai estar—" fodida, ele não
termina. Ele fecha a boca, porque ele percebe de uma vez que isso é,
tecnicamente, uma vantagem.

Assim que ele teve o pensamento, ele recuou fisicamente como se pudesse
recuar de si mesmo, seu estômago revirando com desgosto interno. Ele sabe,
objetivamente, que isso vem do que ele sempre rotulou como cérebro de
mentor, onde ele pensa em termos de vantagens e desvantagens para a
sobrevivência, mas ele nunca pensou em termos assim sobre amigos.

Marlene é sua amiga. Sua amiga mais próxima, depois de James,


basicamente no mesmo nível de Mary, apenas de uma maneira muito
diferente. Porque ela sabe sobre ser uma mentora, entendendo o que é ser
uma Vitoriosa. Sirius cuida dela há anos, tanto quanto pode, e ela também
cuida dele.

A mera ideia de—de machucá-la... De matá-la...

Sirius tem que respirar trêmulo, inspirando e expirando, só para não


vomitar. Lentamente, seu olhar rasteja para Regulus, que ainda não abriu os
olhos, como se talvez quisesse bloquear o resto do mundo, fugir da realidade.
Sirius o encara, apenas encara, e ele sabe—ele sabe em seu coração que fará o
que for preciso para trazer Regulus para casa. Ele sabe disso, e por isso, para
isso, ele acha que vai morrer como uma pessoa muito ruim com muito sangue
nas mãos. Isso deveria fazê-lo reconsiderar.

Não faz.

~•~

351
CRIMSON RIVERS

Leva mais tempo do que deveria para James sair do vagão de trem em que
ele está essencialmente se escondendo. Ele só queria um momento, na
verdade, apenas um para recuperar o fôlego e sufocar a dor em seu peito toda
vez que via Regulus com o canto do olho—mas então ele ficou sozinho e
começou a tremer, de novo, e ele simplesmente não conseguia. Ele não
conseguia parar, e ele não conseguia se recompor, e ele não conseguia
descobrir uma maneira de empurrar tudo para baixo para que ele pudesse lidar
com voltar lá.

Ele descobre, eventualmente, porque ele precisa voltar lá e lidar com tudo.
A raiva ajuda nisso. Ela vem em ondas e não vai embora; ela só fica piorando,
crescendo dentro dele até que ele pode sentir isso apodrecendo sob sua pele,
borbulhando em suas veias. Essa raiva...

Oh, essa raiva é diferente de tudo que ele já sentiu antes em toda a sua vida.
Ele nunca esteve tão furioso como está agora. É uma raiva áspera, implacável,
que o consome, e ele não acha que ela vai embora.

Ele não acha que quer que ela vá.

"Ah, James, aí está você," Sirius cumprimenta quando ele entra no vagão
do trem, onde todos estão reunidos. Ele está ocupado escrevendo algo, mas
Pandora ergue os olhos do bloco de notas e sorri para ele. James não sorri de
volta.

Regulus está sentado no canto, com os olhos fechados e a cabeça inclinada


para trás. James poderia facilmente achar que ele está dormindo, exceto que
ele não pode, porque ele sabe como Regulus fica quando está dormindo. Ele
sabe como Regulus fica logo após um beijo que ele considera muito curto,
seus lábios entreabertos e olhos suplicantes, aquela língua afiada dele, palavras
duras e exigentes assim podem esconder o fato de que ele está implorando
por outro beijo para compensar a brevidade do anterior. Ele sabe como
Regulus fica bem no meio do seu pico de prazer, quando ele está se
sentindo realmente bem, seu olhar admirado, olhos estrelados e pele corada. Ele
sabe como Regulus fica antes de quebrar uma promessa sobre a qual ele
sempre mentiu, aquela falta de remorso e aparentando inocência.

James não notou isso. Ele não notou. Todas as vezes que ele olhou nos
olhos de Regulus, todos os diferentes estados em que ele viu Regulus, e ele
não notou isso. Ele nunca viu isso chegando.
352
ZEPPAZARIEL

Uma nova onda de raiva o inunda, e ele desvia o olhar de Regulus para
pegar uma cadeira e se sentar em frente a Sirius e Pandora. "O que você está
escrevendo?"

"Listando todos os tributos," Sirius murmura com uma carranca, suas


sobrancelhas franzidas. "Apenas, ah, mostrando quais eram seus pontos fortes
e fracos em seus jogos. Eu realmente não me lembro de todos, então
provavelmente precisaremos assistir novamente e assistir todos os destaques."
Ele faz uma pausa e olha para cima, limpando a garganta. "Temos a lista de
quem foi colhido. Bella e Cissy estão na arena conosco, James."

"Bem, dê uma olhada nisso? Parece que toda a maldita família não
consegue ficar de fora disso," James diz brevemente, e Sirius pisca. James
tritura sua mandíbula. "E quem é o mentor delas? Malfoy, eu acho?"

Sirius o encara e diz baixinho, "Sim."

"Ele não se ofereceu pela sua esposa?" James pergunta. "Me pergunto por
quê. Hm, talvez porque ele realmente tenha um pingo de respeito por ela e
pelo que ela quer. Talvez ele até se importe com ela. Talvez—"

"Ok, um, isso não poderia estar mais longe da verdade se você tentasse,"
Sirius interrompe. "E dois, eu estou—eu estou sentindo que você tem
algumas coisas com as quais está claramente chateado—"

"Não, sério? Você sentiu isso?" James diz categoricamente.

Regulus suspira e murmura, "Aqui vamos nós."

"Não, não faça seus malditos comentários sarcásticos baixinho no seu


cantinho," James retruca. "Ou abra os olhos e olhe para o que diabos você
fez, ou guarde suas opiniões para si mesmo. Não, espere, eu retiro. Quando se
trata de mim, você não tem uma opinião, na verdade, então nem se incomode
em olhar."

"James," Pandora o repreende, quase engasgando como se ela nunca tivesse


ficado mais chocada em sua vida.

"Oh. Vocês estão—com raiva um do outro? Vocês estão brigando?" Sirius


deixa escapar, o rosto se contorcendo como se a ideia disso fosse
genuinamente a coisa mais confusa que ele já ouviu.
353
CRIMSON RIVERS

"Mas—mas por quê?" Pandora choraminga, como se já estivesse farta,


como se só quisesse que tudo isso deixasse de ser tão difícil. Bem,
complicado. Não é tão simples assim.

"Nós terminamos. De novo," Regulus diz secamente, levantando sua mão


preguiçosamente e dando um movimento descuidado de seus dedos, e James
tem que apertar a borda da mesa para se impedir de perder a cabeça
instantaneamente. Regulus ainda não abriu os olhos.

Sirius olha para James incrédulo. "Agora é um momento infernal para


terminar! James, que po—"

"Nós não terminamos," James interrompe asperamente, "Porque nós não


estávamos juntos. Nós nunca estivemos juntos. Ele só gosta de dizer coisas e
espera que as pessoas concordem com isso, como se tudo o que ele dissesse
estivesse certo, como se ele pudesse tomar decisões pelas pessoas, mesmo
quando ele prometeu não fazer isso. Mas ei, ele é um maldito mentiroso, então—"

"Ok, espere," Sirius diz rapidamente, os olhos um pouco arregalados


enquanto ele se inclina para frente em seus cotovelos. Ele parece um pouco
pálido, de repente. Preocupado. "Eu—sim, certo, eu vejo o... problema agora.
Hum, James, se você está—quero dizer, se você está chateado com ele por se
voluntariar por você, então você tem que ficar chateado comigo também."

E, a coisa é, James poderia estar chateado com Sirius também; talvez uma
parte dele esteja. Mas Sirius não quebrou sua promessa com James. Não,
apenas com Regulus. Talvez isso o torne uma pessoa horrível, mas James
simplesmente não pode. Ele não pode fazer isso. Não os dois. Ele não pode
carregar tudo isso, e Sirius—ele precisa de Sirius, especialmente pelo que está
por vir. E isso é diferente.

Isso é.

É diferente porque não foi Sirius quem quebrou a promessa a James. Ele
não mentiu. É diferente porque há coisas diferentes para perdoar. Porque
Sirius não transou com ele. Sirius não o segurou. Sirius não lhe deu pequenas
fatias de felicidade e as arrancou sem remorso.

Sirius sente muito. James pode olhar para ele e ver que ele sente.

354
ZEPPAZARIEL

Regulus não sentiu. Ele não sente. James só teve que olhar em seus olhos
para ver essa verdade. Ele se lembra, de repente, que não estava olhando nos
olhos de Regulus quando ele fez a promessa, quando ele mentiu. Por que James
não olhou? Ele deveria ter olhado.

"Não," James diz, sua voz saindo firme. "Não, eu não tenho que ficar
chateado com você, na verdade. Só com ele. Eu só estou chateado com ele.
Eu odeio o que ele fez. Eu odeio—" Ele para, as palavras pegando como se
estivessem batendo no dentro de sua garganta, inundado com a acidez ardente
de sua raiva crescente. Ele lança seu olhar para Regulus, que finalmente abriu
os olhos, olhando diretamente para ele. James segura seu olhar e espera com
tudo nele que Regulus veja a verdade nos olhos de James quando ele
friamente anuncia, "Eu odeio ele."

"Você não odeia nada," Sirius argumenta, parecendo tenso e um pouco


desesperado. "Pare com isso, James. Vamos, por favor, não faça isso, sim?
Regulus, ele não quis dizer isso. Ele está apenas—ele está chateado, só isso, e
ele está—"

"Eu te odeio," James afirma, falando sobre Sirius enquanto olha para
Regulus. "Eu não entendia antes, como alguém poderia odiar alguém que uma
vez disse amar, mas agora eu entendo. Não é irônico, Regulus?
Eu entendo agora."

Há um silêncio pesado e retumbante no trem, e James pode ouvir o correr


de seu próprio sangue em seus ouvidos, o terrível baque de seu coração contra
suas costelas. Ele está tão bravo. Ele nem sabe direito o que é ódio, mas tem
que ser isso. Tem que ser o que diabos acontece com ele toda vez que ele olha
para Regulus e sente vontade de destruir o mundo, como se ele estivesse
sendo despedaçado com ele, como se tudo fosse apenas—apenas—

Regulus se levanta abruptamente, devagar. Ele fica em pé, sem desviar o


olhar de James, e há algo em seus olhos que só deixa James mais irritado. Eles
são ocos. Tão fodidamente ocos. Ele nem fala. Ele apenas se vira para ir
embora sem dizer mais nada, e James o deixa ir.

Lutando contra todo desejo de chamá-lo de volta, de segui-lo, James fica


lá, furioso, e o deixa ir.

~•~

355
CRIMSON RIVERS

"Você está chorando," diz Dorcas.

Regulus pressiona os lábios em uma linha fina. "Não."

"Meu amor, você não precisa falar sobre isso, claro que não, mas você
também não precisa mentir," Dorcas diz a ele, segurando o queixo dele
suavemente entre os dedos enquanto ela faz sua maquiagem. Ele não tem
ideia do que ela vai fazer este ano, honestamente, mas ele a deixa com seus
caprichos neste momento, sabendo que não deve duvidar dela. Ele não vai
questionar as habilidades de estilista de Dorcas.

Assim que eles entraram na Relíquia, ele e Sirius foram conduzidos como
de costume, para serem apresentados para o desfile de introdução. O desfile
de reintrodução, mais precisamente. Regulus teve que esperar um pouco, visto
que ele estava sozinho com a porra de uma banheira, e então Dorcas apareceu
e começou a conversar com ele de pé no canto, de costas para ele,
trabalhando em algum tipo de design em sua mesa enquanto ele tomava
banho.

Depois disso, ela saiu novamente, depois voltou. Saiu novamente, depois
voltou. Levou algum tempo para Regulus perceber que ela estava correndo
entre ele e Sirius, o que o desconcertou. Ela é a estilista deles, sim, mas deveria
haver uma equipe de design para ajudá-la da maneira que ela precisar. Regulus
não duvida que existem inúmeras pessoas que venderiam pelo menos um órgão
interno apenas para trabalhar ao lado dela, especialmente este ano.

Talvez tenha a ver com Gideon e Fabian?

Talvez ela sinta falta deles.

De qualquer forma, Dorcas sempre foi assustadoramente boa em apenas—


ver através de todos. Regulus, que realmente está chorando muito hoje,
realmente não tem uma farsa para se apoiar quando ela está olhando
diretamente nos olhos dele e provavelmente vendo as evidências. Seus
ombros caem e ele suspira.

"James me odeia," Regulus sussurra, e leva tudo dentro dele, todo o seu
esforço, para não cair imediatamente em lágrimas assim que ele diz isso. Oh,
ele é patético.

356
ZEPPAZARIEL

Dorcas ri.

Ela apenas—ri, e Regulus não consegue se impedir de recuar para encará-la


incrédulo, porque isso é fodidamente rude. Tipo, sim, ele está ciente de que ele
não é bom, um terrível hipócrita que realmente deveria ter visto isso
acontecer, porque é claro que o universo teria a chance de virar a mesa contra
ele como uma forma de carma adequado, mas ela poderia pelo menos fingir ser
um pouco solidária com sua situação.

"Oh, não me olhe assim." Dorcas bufa e gentilmente estende a mão para
segurar seu queixo pela segunda vez. "James não te odeia. Eu não sei quem te
disse isso—"

"James disse," Regulus diz categoricamente, e Dorcas pisca. "Ele me disse


isso, Dorcas. Direto na minha cara. Tipo, propositalmente."

Dorcas não ri desta vez. Ela parece tão confusa, suas sobrancelhas se
juntando. "Isso é simplesmente impossível. Esse homem está tão apaixonado
por você que é quase loucura, Regulus. Ele está perdido. Quero dizer, tão
distante que não há como recuperá-lo."

"Sim, bem, parece que ele foi tão distante que passou para o outro lado,"
resmunga Regulus, e a pior parte é que ele sabe tudo sobre isso.

Ele sabe o que é amar tanto uma pessoa que você a odeia. Querer tanto
alguém que você o despreza. Precisar tanto de alguém que você o machuca.
Ele sabe exatamente o que é olhar para alguém que você ama após uma perda
horrível e sentir tanto, demais, toda aquela dor e tristeza e fúria pura, e isso
deixa você sem saber como entender o amor através de tudo isso. Ele sabe
muito bem.

É devastador pra caralho. É nada menos do que Regulus merece, sim, mas
não deixa de ser devastador. Isso devasta ele. Ele odeia quando James está
bravo com ele. Ele não quer que James fique bravo com ele; ele não quer que
James o odeie. Ele quer que James sorria para ele, e o abrace, e o segure até
que ele não possa mais.

Isso faz dele um grande hipócrita, ele sabe, e isso realmente é carma. Ele
passou anos fazendo James se sentir assim, sentir como Regulus está se
sentindo agora.

357
CRIMSON RIVERS

"Eu sei que isso é difícil para todos vocês," Dorcas murmura, sua garganta
subindo e descendo em um gole áspero. Ela gentilmente varre o polegar sobre
sua mandíbula. "Vai—vai ficar tudo bem, Regulus. Vai ficar. Eu prometo que
vai."

"Uma promessa ousada," Regulus sussurra, os lábios se inclinando


tristemente.

Dorcas o olha bem nos olhos e diz, ferozmente, "Sim, e é uma que não
será quebrada."

Regulus não responde, porque ele sabe tudo sobre promessas feitas que só
acabam sendo quebradas no final. Ele entende que ela também está chateada.
Um olhar para ela torna isso óbvio. Ainda assim, isso não vai ficar bem, mas
se for mais fácil para ela acreditar que ficará, ele vai deixar. A realidade vai
alcançá-la em breve. Sempre alcança.

Depois que Dorcas termina com o rosto dele, ela o deixa se vestir sozinho
com a promessa de que ele esperaria depois para que ela pudesse voltar e ter
certeza de que estava tudo certo. Ele pode ver que há uma diferença em suas
escolhas de estilo desta vez, e não como da última vez. Ele não parece
inocente, como o anjo que ele foi apresentado como antes, em vez disso
parece—bem, bastante perigoso.

Regulus não sabia que podia parecer perigoso. Ele se olha no espelho,
perplexo, mas seu olhar vazio de descrença só o faz parecer mais malvado. Ele
é todo afiado e couro, cores escuras e material atraente, uma arma ambulante
destinada a chamar a atenção e invocar... algo.

Medo, ele pensa. Ele deve invocar o medo.

Regulus se olha no espelho e percebe que ele parece a personificação


de não se meta comigo. Quanto mais ele olha, mais ele gosta. Ele parece
intocável. Ele parece uma ameaça. Mais uma vez, ele ouve as palavras de
Andrômeda em sua cabeça...

Faça-os pagar por isso, disse ela.

Oh, ele vai.

Essa é uma promessa que ele pretende manter.


358
ZEPPAZARIEL

~•~

Sirius olha para si mesmo no espelho, lábios franzidos. Dorcas está atrás
dele, esperando julgamento, e Sirius provavelmente é mais opinativo sobre
moda e tal do que—bem, James e Regulus eram, então ele é um crítico um
pouco severo.

Ele está tentando encontrar uma maneira de colocar isso educadamente,


mas ele não tem certeza se há alguma maneira possível de fazer isso.

"Eu só—não estou tendo a visão," Sirius admite fracamente, virando-se


para encará-la. "Tipo, sem ofensa, mas isso é... Quer dizer, é um sinal claro de
talento, suponho, conseguir me fazer parecer..."

"Desagradável?" Dorcas sugere, os lábios se contraindo.

"Dorcas, eu estou uma merda, querida," Sirius diz sem rodeios. "Puta que
pariu, o que você fez comigo? Como você—conseguiu isso? Você sabe o quão
sexy eu sou?"

Dorcas tosse em torno de uma risada, olhos brilhantes. "Sim, Sirius, eu


tenho certeza que o quão sexy você é não passou despercebido por ninguém,
mas eu te apresento com isso..." Ela cruza os braços e levanta as sobrancelhas
para ele. "Por que diabos eles deveriam babar em cima de você, hm? Isso é o
que eles querem, sabe. Eles querem ver você sair por aí parecendo puro sexo,
algo para cobiçar, alguém para roubar o fôlego—e não. Não, foda-se isso.
Eles não vão ter isso. Deixe-os desapontados. Esse é o objetivo."

Sirius a encara, assustado.

Ele não pensou nas implicações de sua posição como tributo este ano, se
for honesto. O desempenho que ele tem que fazer, por assim dizer. Ocorre a
ele de repente que ele não é realmente obrigado a se apoiar em seu papel
habitual pela vida de ninguém, exceto a sua própria, e se ele assim desejar, ele
não precisa se inclinar para isso.

É um estranho ponto positivo de encontrar em toda essa bagunça, mas


deixar as Relíquias desapontadas—sim, ele gosta dessa ideia. Ele gosta de ter a
chance de subverter as expectativas e tirar algo deles, algo que eles nunca

359
CRIMSON RIVERS

tiveram de verdade, embora sempre tenham acreditado que tinham. E ele os


deixou acreditarem. Mas não mais.

Não dessa vez.

Sirius se vira para se examinar no espelho novamente. Ele realmente


parece... simples. Ou tão simples quanto ele pode ser. Tão simples quanto ele
nunca esteve na Relíquia.

Seu cabelo está em um rabo de cavalo baixo que esconde principalmente o


comprimento e as ondas na gola, tirando o volume do rosto. Não há
maquiagem, exceto a que Dorcas adicionou para fazê-lo parecer—bem, mais
cansado, honestamente. Ele está em cores suaves, e não há um centímetro de
pele tentadora em exibição para qualquer um ver. Ele está dentro de camadas
para tirar ele de sua forma usual, como uma silhueta, nebulosa nas bordas e
indistinguível para que ninguém possa aplicá-lo adequadamente a uma
fantasia.

É só que ele parece mudo. Como alguém que não tenta deixar uma
impressão. Como alguém que não pode deixar uma impressão. E isso, ele pensa,
deixará uma impressão por si só.

"Não, tudo bem, você tem razão," Sirius murmura, piscando para seu
reflexo. "Eu estou tendo a visão."

"Brilhante," declara Dorcas, encantada. "Então, quando você for lá fora,


não sorria. Você realmente tem um sorriso adorável, e ele vai iluminar seu
rosto e arruinar a visão que estamos buscando."

Sirius sorri reflexivamente, incapaz de evitar, e vê a diferença


imediatamente no espelho. A maneira como seu sorriso tem efeito, como o
transforma, o poder que detém. Ele nunca pensou sobre isso—bem, ele diz
isso com bastante frequência, mas na verdade, ele é realmente um bastardo
atraente. Se ele não fosse ele, ele estaria muito afim dele. O pensamento o faz
rir. Para alguém desinteressado em ser cobiçado, ele é bastante vaidoso.

"Sim, não, não faça isso," diz Dorcas com uma bufada.

360
ZEPPAZARIEL

"Eu não vou," Sirius assegura a ela, ainda sorrindo enquanto a encara
novamente. "Só—obrigado. Por isso. Isso—isso significa muito. Mais do que
você jamais poderia saber."

O rosto de Dorcas suaviza. "Fico feliz. Agora, vamos lá. Eu preciso ir


buscar seu irmão, e então eu te acompanho até as carruagens."

Sirius a segue, então fica no lugar e gira os polegares preguiçosamente


enquanto espera, sua mente se voltando para James novamente. Ele está fora
com Pandora no momento, que está dando a ele um curso intensivo em todas
as coisas como mentor. Ela vai segurar a mão dele por muito tempo,
honestamente, mas Sirius tentou dar a ele o máximo de conselhos que pôde
no trem.

Mas, bem, isso foi difícil de fazer quando James está furioso, assim como
Regulus. Eles não estão bem. Nenhum deles. É uma situação de merda, e
Sirius sabe o quão difícil é ver duas das pessoas que você mais ama neste
mundo estarem nisso. Ele fez isso apenas no ano passado e quase não
conseguiu. James é mais forte do que ele, então ele vai conseguir. Ele precisa,
porque a ideia de qualquer outra coisa é algo que Sirius simplesmente não
aceita.

A questão é que James está muito, muito assustado agora. Ele está pirando,
e Sirius não pode nem culpá-lo. Não é como se ele tivesse lidado bem com
isso, quando foi ele, e as circunstâncias eram muito diferentes naquela época.
As circunstâncias são muito diferentes para James agora, especialmente em
relação a Regulus.

Mas—e talvez isso seja cruel, mesmo que seja a realidade—ele vai ter que
passar por isso e se recompor. Porque se ele não o fizer, Sirius sabe que James
vai se arrepender. Ele vai se arrepender de cada momento que passou com
raiva e mágoa, em vez de apreciar o tempo que poderia ter tido. Ele vai se
arrepender de todas as palavras duras que disse, e vai se arrepender de todas
as verdades não ditas que escondeu, como se isso pudesse protegê-lo da dor
de tudo. Ele vai se arrepender de todo o tempo perdido e de todas as
oportunidades perdidas.

O som de passos o tira de sua própria cabeça e o faz olhar para cima, e no
momento em que ele vê Regulus, ele fica ofendido. Ele olha para Dorcas em
descrença.
361
CRIMSON RIVERS

"Espere, por que diabos ele consegue parecer legal? Por que não podemos
ser chatos juntos?" Sirius deixa escapar.

Regulus parece legal. Há todo um olhar de eu vou te matar que Dorcas


colocou nele agora. Isso não é justo. Sirius quer parecer que mataria alguém.
Isso é uma palhaçada.

"Sirius," Dorcas diz, divertida, "Lembra do que conversamos? Se alguma


coisa, a diferença gritante entre vocês dois só vai deixar as
Relíquias mais desapontadas."

Sirius faz uma pausa, pensando sobre isso, então ele acena com a cabeça.
"Certo, não, isso faz sentido. Se eu realmente parecesse legal, então todos eles
estariam olhando para mim e nem notariam ele de qualquer maneira."

Tentar incitar Regulus a uma discussão, brigas leves ou até mesmo uma
briga completa de gritos, não funciona. Regulus não olha para ele. Não fala.
Não reage de forma alguma. É como se Sirius nem estivesse aqui, como se ele
realmente já estivesse morto.

Por um momento, Sirius olha para Regulus com um nó na garganta e se


lembra de uma das poucas lembranças entre eles que ele ainda tem. Quando
ele era jovem, quando ambos eram, ele tentou enterrar Regulus no quintal
uma vez. Ele descobriu que os cães tendem a esconder ou enterrar coisas de
valor para eles para protegê-los do mal, e sendo tão jovem, ele pensou que era
uma ideia brilhante fazer o mesmo. Então, ele pegou o que ele mais valorizava
e pretendia proteger.

Todos esses anos depois, e o que mudou?

Tudo, e quase nada.

~•~

Remus está fazendo um péssimo trabalho em manter sua empolgação em


um nível mais calmo. Ele está tão em êxtase que está tremendo, mesmo parado
no canto da sala com a cabeça abaixada e as mãos atrás das costas.

Alguma parte de Remus realmente não achava que ele seria designado para
esta suíte novamente. É um pouco arriscado, mas também não é. Alguém teria
que se importar o suficiente para investigar isso e, como servo, ninguém se
362
ZEPPAZARIEL

importa, a menos que ele não esteja sendo adequado. E sim, ele está falhando
nisso—descaradamente e com alegria—mas ninguém sabe disso. Ainda assim,
é muito raro que os servos sejam designados para as mesmas coisas duas
vezes, então o que quer que Sirius tenha feito para que isso acontecesse...

Bem, funcionou.

Remus está praticamente vibrando enquanto espera Sirius entrar. Talvez isso
seja injusto e até um pouco cruel, porque Sirius estará tão ocupado este ano
quanto esteve no último. Ele também terá dois novos tributos para cuidar,
embora Remus tenha certeza de que não será tão emocionalmente desgastante
quanto no ano passado, quando era seu irmão e melhor amigo que ele tinha
que cuidar, vivendo com esse medo de que ele perderia um deles, ou os dois.

Independentemente disso, Remus aprecia cada momento que tem com


Sirius. Ele ficará feliz apenas por estar na mesma sala com ele, honestamente.
Não há expectativa de que Sirius venha correndo e se jogue nos braços de
Remus imediatamente, porque ele provavelmente vai querer explicar aos seus
tributos sobre como os servos são tratados dentro da segurança da suíte.

É também o Memorial Quaternário, sobre o qual Remus não conhece


muito. Ele ouviu os guardas em Azkaban falando sobre o quão fodida era a
regra, e isso fez seu coração doer só de pensar em qualquer tormento que
Sirius terá que suportar este ano. E Pandora. E os tributos que chegarem. É
uma merda para todos.

O som da porta se abrindo faz seu coração pular, e ele não consegue parar
de olhar para cima, esperando com a respiração suspensa pelo momento em
que ele verá Sirius novamente.

Exceto que a primeira pessoa que entra é James.

A mente de Remus fica em branco.

Entram um atrás do outro. James primeiro, apoiado em sua bengala e se


movendo rapidamente apesar disso, com uma carranca que Remus
honestamente não sabia que os músculos de seu rosto sabiam fazer. Pandora
em seguida, e Regulus logo atrás dela, os ombros tensos. O último a entrar é
Sirius, e ele instantaneamente olha direto para Remus, mas o olhar em seu
rosto—

363
CRIMSON RIVERS

É todo errado.

Algo está errado.

James e Regulus não deveriam estar aqui.

Remus só pode ficar ali, congelado, sem entender o que está acontecendo
ou o que isso significa. James nem o cumprimenta; ele simplesmente marcha
pela sala e pelo corredor, uma porta batendo ao longe com força. Isso faz
Regulus se encolher.

Oh.

Oh, isso é ruim.

Seja o que for, é ruim.

Lentamente, quase temendo, Remus estende a mão para tirar a máscara


assim que a porta se fecha. Por um momento, ninguém se mexe ou diz nada.
Pandora está olhando para ele com as sobrancelhas juntas, tanta pena e
simpatia e tristeza pura e não adulterada em seus olhos que está sinceramente
assustando ele. Regulus não consegue encontrar seus olhos.

Sirius, no entanto... Ele respira fundo, então lentamente solta o ar. Apesar
de com quem ele chegou, ele não corre e se joga em Remus. Ele apenas se
aproxima dele lentamente, e a cada passo, seus olhos parecem ficar mais
brilhantes. Lágrimas. Há lágrimas em seus olhos, aumentando à medida que
ele se aproxima.

"Oi," Sirius engasga quando para na frente dele, e é aí que as lágrimas


começam a cair.

"O que—Sirius, o que—" Remus para, com um nó na garganta tornando


impossível falar, e há uma parte dele que está com mais medo do que há
muito tempo que não quer as respostas de qualquer maneira.

"Eu pensei que talvez você tivesse ouvido," Sirius resmunga, "Mas pelo seu
jeito, eu posso—eu suponho que você não tenha ouvido."

364
ZEPPAZARIEL

"Ouvido o quê?" Remus sussurra, fodidamente apavorado, tanto que sua voz
está tremendo, e Sirius não responde. O coração de Remus está acelerado, e
ele não sabe por quê.

"Vamos," Sirius murmura, limpando a garganta e estendendo a mão.


"Vamos—nos deveríamos ir conversar. Sozinhos."

Remus balança a cabeça reflexivamente, flexionando os dedos ao redor da


máscara. "Apenas—apenas me diga, Sirius. O que foi? O que—"

"Vocês podem nos dar um momento? Por favor?" Sirius pergunta


baixinho, virando a cabeça para olhar para Regulus e Pandora, ambos
obedientemente saem graciosamente sem reclamar, deixando Remus e Sirius
sozinhos. Sirius se concentra nele novamente, inalando profundamente e
exalando lentamente. "O Memorial Quaternário—esse ano, a regra era... Era
que os—os tributos seriam colhidos dos Vitoriosos existentes em cada
distrito. Assim, um Vitorioso poderia se tornar um tributo de novo."

Remus o encara, precisando de um segundo para entender isso, para


realmente entender o que isso significa. Ele leva um momento, então o atinge,
e seu coração cai, sua máscara junto com ele enquanto cai no chão quando
seus dedos ficam frouxos.

"Oh. Oh, Sirius, eu sinto muito," Remus suspira, estendendo a mão para
ele imediatamente, e Sirius solta um ruído áspero e engasgado no momento
em que ele se dobra nos braços de Remus. Remus o segura, segurando a parte
de trás de sua cabeça e apertando os olhos enquanto a dor se enraíza nele.

"Não é justo," Sirius choraminga.

"Eu sei," resmunga Remus, sentindo-se estrangulado, mal conseguindo


falar. Mais tarde, ele tem certeza, sua raiva o atingirá, porque Sirius está certo,
não é justo. Mas, por enquanto, ele está apenas—realmente triste. É horrível. É
absolutamente horrível que, depois de tudo que Sirius passou no ano passado,
ele tenha que fazer tudo de novo. Ele tenha que ver seu irmão e seu melhor
amigo voltarem para a arena. Remus se afasta para segurar o rosto de Sirius,
encontrando seus olhos. "Eu estou ciente de que isso não resolve nada, mas
eu estarei aqui com você o tempo todo. Eu vou cuidar de você, ok? É—
é errado que eles estejam voltando, e eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo."

365
CRIMSON RIVERS

A expressão de Sirius congela por um segundo, então muda rapidamente e


de uma vez. Isso meio que se transforma em dor, um certo tipo de dor que
Remus nunca viu antes.

"Remus," Sirius diz gentilmente, e é isso. É o olhar em seu rosto, e em seus


olhos, e quão gentil ele está sendo com Remus agora; mesmo antes de ele
abrir a boca para elaborar, é isso. "Sou eu. Eu vou voltar."

As mãos de Remus se afastam do rosto de Sirius enquanto ele dá um passo


para trás, tudo ao seu redor e nele parecendo desabar. Desmoronando. A
criação de todas as coisas sendo esmagada. Parece que algo dentro de Remus
se enrola em uma bola apertada e geme. Parece que um vento uivante passa por
ele e joga tudo o que ele é contra as paredes de si mesmo, deixando para trás
uma bagunça destroçada e quebrada.

Eu não vou quebrar, sabe, Remus disse a Sirius uma vez. Era mentira. Ele não
sabia, mas era mentira. Apenas espere, eu mal coloquei minhas mãos em você
ainda, Sirius respondeu, e ele estava certo. Porque aqui está Remus, agora, em
ruínas.

Não atinge Remus até este exato momento, mas havia segurança em Sirius,
uma sensação de segurança na qual ele tolamente acreditava, de todo o
coração. Não importa o que eles fizessem, Sirius nunca estava em perigo. O
risco nunca realmente se aplicava a ele, não realmente. Se alguma coisa desse
errado, Sirius provavelmente sobreviveria, escaparia da morte e tortura e
coisas piores; a ameaça de perdê-lo nunca foi uma ameaça genuína além de
não poder vê-lo novamente, mas ele sempre saberia, no mínimo, que Sirius
estaria seguro.

Remus nunca deveria viver em um mundo onde ele corresse o risco de


perder Sirius para a morte. Remus nunca deveria viver em um mundo onde
ele pudesse sobreviver a Sirius.

"Remus, por favor, diga alguma coisa," Sirius murmura, encarando-o com
olhos arregalados e brilhantes. "Me dê alguma coisa."

Eles nunca poderiam ter tudo, e agora, eles estão perdendo a única coisa
que eles tiveram, porque Remus não tem dúvidas, nem mesmo uma, que
Sirius está indo para aquela arena com seu irmão ou melhor amigo—qualquer
um—sem absolutamente nenhuma intenção de voltar.

366
ZEPPAZARIEL

Eles nunca deveriam ser nada.

Desamparado, Remus levanta a mão para cobrir a boca e abafar o soluço


que tenta subir pelas paredes de sua garganta, e seus olhos doem. Tudo dói.
Ele continua se movendo para trás até esbarrar direto na parede, e ele só
consegue ficar ali, os olhos se fechando enquanto as lágrimas se derramam,
uma parte horrível e secreta dele desejando que Sirius nunca o tenha tocado.

Tragicamente inevitável e lamentavelmente inútil. Ele também disse isso


sobre eles uma vez. Ele sabia. Ele realmente sabia.

Ele só desejou que ele estivesse errado.

367
CRIMSON RIVERS

42
A MISSÃO

Aberforth é um homem muito prático, mas também orgulhoso, e ele sabe


disso. É parte da razão pela qual ele está exatamente onde está hoje. Distrito
seis, nascido e criado—e sozinho.

Ser prefeito de um distrito não é exatamente o que ele esperava que fosse
quando ele lutou e abriu caminho para a posição, totalmente determinado a
subir o suficiente dentro do sistema para que ele pudesse realmente fazer a
diferença, apenas para chegar onde estava indo e aprender que não havia
muita diferença que ele pudesse fazer.

Isso escalda suas entranhas às vezes, saber que Albus estava certo.

Aberforth não pode negar que cuidou de seu distrito, de sua casa, com o
melhor de suas habilidades. Há sempre uma linha tênue a percorrer quando
plantada firmemente entre as demandas da Relíquia e as necessidades do
distrito. É um ato de equilíbrio constante, navegar em quais regras dobrar e
onde manter uma mão firme.

Ele sabe que as pessoas do distrito seis o respeitam, os Aurores e as


pessoas comuns; ele também sabe com que facilidade esse respeito pode

368
ZEPPAZARIEL

quebrar quando a Relíquia coloca todos eles sob uma pressão que ele não tem
como aliviar. Durante décadas—durante a maior parte de sua vida—ele esteve
no meio, pisando com cuidado para não se inclinar muito para nenhum dos
lados, e agora ele não tem escolha.

Albus está fazendo isso, sem dúvida. Aberforth não é tolo; ele está ciente
de que seu irmão está por trás de tudo, puxando as cordas, empurrando para a
guerra. Tentando compensar os erros antigos. Cometendo novos.

Suspirando pesadamente, Aberforth engole um gole profundo de uísque,


deixando-o queimar enquanto olha para o telefone em sua mesa. O telefone
que Alastor Moody deixou com ele anos e anos atrás, quando ele passou pelo
distrito seis em uma turnê de vitória para seu tributo na época. O telefone que
veio em um envelope com uma carta curta e simples junto.

O telefone que Aberforth nunca se preocupou em usar.

Muitas vezes—especialmente nos últimos seis meses—Aberforth


considerou usá-lo apenas para ligar para Albus e pedir que ele parasse. O que
quer que ele esteja fazendo, o que quer que ele esteja pressionando nos
bastidores, apenas pare. Apenas, depois de todo esse tempo, acabe com isso.

O número de mortos em todos os distritos tem aumentado com a


crescente rebelião e tumultos. Pessoas morrendo por pequenos crimes.
Pessoas atacando Aurores por causa de argumentos mesquinhos. Pessoas,
pessoas, pessoas. Albus não pensa nas pessoas? Albus não percebe a carnificina
que ele está ajudando a espalhar?

O distrito seis permaneceu em uma posição precária, a tensão aumentando


a cada dia que passa, especialmente desde o anúncio do Memorial
Quarternário. Está em alta desde a colheita, já que o distrito como um todo
testemunhou a rebelião em primeira mão, e Aberforth sabe que não há chance
de impedir isso de ir mais longe. O distrito está a um empurrão de um
tumulto do qual eles nunca poderão voltar, e ele sabe exatamente qual
empurrão os levará até lá. E ele não pode impedir.

Durante anos, ele manteve este distrito seguro. Amanhã, ele sabe, não
conseguirá. Porque, amanhã, um dia depois do desfile de apresentação
televisionado, Euphemia Potter será levada para o meio do distrito e
espancada na frente de todos, e ninguém será poupado da violência de tal

369
CRIMSON RIVERS

coisa, porque a presença de todos é obrigatória. Até ele. Até ele terá que estar
lá para testemunhar.

Aberforth não quer ver. Ele não quer assistir. Ele não quer se lembrar. O
distrito seis não usa um poste de açoite desde que ele se tornou prefeito, e a
última pessoa que ele se lembra de ter sido chicoteado foi o próprio Albus.
Aberforth não quer que isso aconteça, não de novo, e não há nada que ele
possa fazer.

Bem.

Bem, há algo que ele poderia fazer. Algo que ele tem que fazer, porque ele
conhece as pessoas de seu distrito e sabe que haverá um tumulto no momento
em que Euphemia for marchada na frente da multidão e deixada à própria
sorte.

O que todos os moradores do distrito seis têm em comum—sempre


tiveram em comum, desde que ele consegue se lembrar—é um senso de
lealdade feroz e inabalável.

Abaixando o copo, Aberforth engole o gosto amargo de seu orgulho e


pega o telefone.

Ele toca apenas duas vezes antes de ser atendido, como se não tivessem se
passado quase cinquenta anos, e a voz de Albus é suave, muito suave, quando
a linha estala e ele murmura, "Aberforth."

Os olhos de Aberforth se fecham, impotentes, porque já se passaram


quase cinquenta anos desde que ele e Albus falaram. Mesmo depois de todos
esses anos, a última discussão deles ainda soa em seus ouvidos.

Eu estou fazendo isso por Ariana! Albus gritou.

A culpa é sua que ela esteja morta! Aberforth gritou de volta.

Depois de todo esse tempo, Aberforth descobre que a força na voz de


Albus se acalmou. Ele soa... velho. Claro que sim, porque ele não é mais um
jovem de vinte e poucos anos. Ele não é mais o irmão mais velho brilhante e
iluminado que Aberforth admirava. Agora ele é um estranho, uma voz murcha
pelo telefone, envelhecido e ainda falando com tanto amor. E lealdade.

370
ZEPPAZARIEL

Tanta lealdade, mesmo agora. Esse sempre foi o problema de Albus, seu
senso de lealdade apegado, e como isso se manifestava quando confrontado
com a perda, quando manchado por seus próprios erros. O que as pessoas
não percebem no distrito seis é que uma lealdade como essa pode levar a um
caminho sombrio do qual não se pode voltar. Justiça gera vingança o que gera
um ponto sem retorno.

Albus superou isso há muito tempo, aquele ponto sem retorno. Ele o
solidificou no momento em que assassinou Grindelwald. Aberforth implorou
para que ele não o fizesse. Mas, na verdade, ele estava apenas implorando a
Albus para não deixá-lo. Ele não sabia disso na época, mas ele estava.

Albus o deixou de qualquer maneira e, inexplicavelmente, ele ainda está


aqui. Num instante. Sem perguntas. Ele pega o telefone, e é ridículo, mas
Aberforth sabe—mesmo depois de todo esse tempo, depois de tudo—Albus
fará o que sempre fez.

"Albus," Aberforth diz rispidamente, apoiando sua testa com uma mão
trêmula, "Eu... preciso da sua ajuda."

Embora sua voz seja diferente e o tempo certamente tenha mudado mais
do que Aberforth jamais poderia saber, Albus, de fato, faz o que sempre fez
como irmão mais velho. Sem perder o ritmo, sem sequer gaguejar, ele diz,
"Você a tem."

~•~

Dorcas tem lutado consigo mesma a manhã toda, sem saber como vai
convencer Marlene a fazer isso, mas precisando encontrar um jeito de
qualquer maneira. Cada pensamento e plano que ela tinha parece tão estúpido,
então agora ela não tem nenhum plano.

E, no entanto, aqui está ela.

Suspirando, Dorcas balança a cabeça pesarosamente antes de levantar a


mão para bater, ignorando a batida pesada de seu coração assim que o faz.
Demora aproxidamemte um minuto, e então ela ouve passos fracos se
aproximando, o que a deixa tensa em antecipação.

371
CRIMSON RIVERS

Quando a porta se abre, Dorcas pisca ao ver Emmeline Vance parada na


frente dela em nada além de um roupão de seda amarrado em volta dela. Ok,
então Dorcas foi para o andar errado? Pressionou o botão errado no
elevador? Ela poderia jurar que estava no quarto certo.

"Oh. Desculpe," Dorcas deixa escapar reflexivamente. "Eu pensei—bem,


eu acho que estou no quarto errado. Ah, eu vou—"

"Dorcas, olá," Emmeline interrompe, os lábios se contraindo. "Procurando


por Marlene? Porque se você estiver, você está no quarto certo."

Dorcas a encara, a mente parando por um instante. Não há como


confundir a visão de Emmeline e o que isso significa. Dorcas não pode deixar
de notar que Emmeline está bastante, ah, nua sob o manto, o que é bastante
óbvio pela forma como ela o amarra. Não parece incomodá-la nem um
pouco.

"Em, quem é na—" Marlene se interrompe no momento em que vê


Dorcas por cima do ombro de Emmeline. Por uma fração de segundo, seus
lábios se abrem enquanto seus olhos se iluminam e, com a mesma rapidez,
tudo isso desaparece antes mesmo de Dorcas conseguir apreciar. Marlene,
como Emmeline, está em um roupão de seda sob o qual está descaradamente
nua, como se o tivesse vestido para ir até a porta.

"Certo, bem, eu vou me vestir e sair," Emmeline anuncia, olhando para


Marlene com visível diversão, um sorriso se contorcendo em sua boca.

Marlene lhe lança um olhar penetrante. "Você não tem que—"

"Eu queria ver quem apareceu para treinar de qualquer maneira, e já que
você está sendo preguiçosa e não quer vir comigo, eu vou sozinha,"
Emmeline interrompe simplesmente. Com isso, ela se vira e se afasta.

"Certo. Obrigada, Em," Marlene resmunga baixinho, então dá um suspiro


e se vira para olhar para Dorcas, que está fazendo o seu melhor para manter sua
expressão o mais neutra possível. "O que você quer, Dorcas?"

"Eu queria falar com você," Dorcas responde rigidamente.

"O sentimento não é mútuo," Marlene diz a ela, a voz afiada.

372
ZEPPAZARIEL

Dorcas mexe um pouco os ombros, tentando ao máximo tirar a tensão


deles. "Ok, me deixe reformular. Há algo que eu preciso dizer a você. É
importante."

"Sim, eu, uh—" Marlene zomba um pouco e estende a mão para coçar a
sobrancelha, fazendo uma careta. "Eu realmente acho que é um pouco tarde
para isso, Dorcas."

"Você pode superar isso por cinco malditos minutos?" Dorcas estala. "Eu
não estou aqui para cair aos seus pés e—e—"

Marlene arqueia uma sobrancelha quando Dorcas vacila, porque ela, de


fato, cairia aos pés de Marlene aqui e agora se fosse isso que ela quisesse. A
progressão de seu relacionamento não mudou muito. Passar de duas pessoas
que foderam, para amigas, para nada—e apesar de tudo isso, Dorcas sempre
quis mais. Ela ainda quer mais, mas não é por isso que ela está aqui, e ainda
assim ela cairia de joelhos agora com uma palavra dita por Marlene. Isso é
tudo o que seria necessário.

"Apenas cinco minutos," murmura Dorcas. "Por favor."

Marlene a estuda por um longo momento em um silêncio tenso, e então


seus lábios pressionam em uma linha fina antes dela desviar o olhar com um
suspiro e dar um passo para o lado. "Tudo bem. Entre."

Dorcas avança, embora hesite na porta, parando no segundo em que se


aproxima de Marlene, tão perto que pode estender a mão e tocá-la. Ela não
consegue evitar pausar no lugar e encontrar os olhos de Marlene, seus olhares
travados enquanto elas se encaram, um momento carregado cada vez mais
denso com a tensão crescente. Depois de cada batida do coração de Dorcas,
ela acha cada vez mais difícil respirar, como se todo o ar da sala estivesse
sendo sugado por um maldito canudo.

Marlene está estrangulando a maçaneta com a mão, e está precisando de


tudo dentro dela para manter distância também? Ela quer dissolver o espaço
entre elas também? Reunir-se em uma colisão de calor e faíscas com as quais
elas podem se incendiar também? Porra, Dorcas espera que sim.

"Certo, eu vou indo agora," Emmeline anuncia, limpando a garganta e


fazendo-as virarem a cabeça para ela.

373
CRIMSON RIVERS

O rosto de Marlene fica vermelho, e ela parece irritada com isso. Dorcas
quer traçar a cicatriz em seu pescoço com a língua e sentir o calor de sua pele
entre os dentes. Emmeline parece completamente entretida enquanto passa
por elas, parando o suficiente para dar um sorriso a ambas antes de puxar a
porta de Marlene e fechá-la atrás dela, rindo enquanto ela sai.

"Chá?" Marlene oferece, tão tensa que ela quase parece que está se
preparando para a batalha, ou lidando com uma em curso já de dentro. Sua
mandíbula está apertada quando ela se vira e se dirige para a cozinha sem
esperar por uma resposta.

Dorcas segue, e ela simplesmente—ela literalmente não consegue resistir.


É como um nervo exposto em um dente quebrado; até que seja consertado, é
muito difícil parar de retornar à dor repetidamente. "Então, uma amiga, hein?"

"Oh, pelo amor de Deus," Marlene murmura, balançando a cabeça para


olhar para ela incrédula. "Sério, Dorcas?"

"O quê? Só estou dizendo. Você é quem disse que não era assim entre
vocês, então eu pensei—"

"Sim, bem, isso foi naquela época e isso é agora. Qual é o seu ponto? E,
francamente, como isso é da sua conta?"

"Não... é," Dorcas admite com uma careta, cruzando os braços e


encostando-se no balcão, lábios franzidos. "Mas você deveria estar fazendo
isso? Quero dizer, ela é... um tributo também, Marlene. E se—vocês duas
forem—"

Marlene dá um suspiro e bate a chaleira no fogão com força suficiente para


fazer Dorcas calar a boca. "Já que você está tão fodidamente curiosa, não
é assim entre nós. Nós somos amigas, que por acaso quiseram foder hoje. Ela
é apenas a que apareceu na minha porta primeiro."

"E se eu viesse um pouco mais cedo?" Dorcas pergunta, olhando para ela,
incapaz de se impedir de buscar a resposta, querendo tanto saber que mal
consegue pensar em mais nada.

"Bem, você não veio, então," Marlene murmura, desviando os olhos.

"Mas se eu tivesse?"
374
ZEPPAZARIEL

"Você não veio."

Dorcas engole. "Eu queria. Eu só esperei muito tempo. Eu estava—"

"Atrasada," Marlene interrompe, olhando para ela novamente. "Muito


atrasada. Sim, você sempre está, não é?"

"Marlene," Dorcas diz suavemente.

Limpando a garganta, Marlene pega xícaras de chá. "De qualquer forma, eu


precisava de uma amiga, e você certamente não é mais isso, então eu não acho
que importa quando você aparece ou não aparece."

"Olha, eu entendo que você está chateada—"

"Eu não estou chateada."

Dorcas zomba. "Você está claramente—"

"Na verdade, não, eu estou chateada." Marlene coloca a mão no balcão e se


vira para encará-la, os olhos em chamas. "Foda-se. Provavelmente vou estar
morta até o final da semana de qualquer maneira, então sim, eu estou chateada.
Eu estou chateada porque eu não consigo—não importa que porra eu faça, eu
não consigo tirar você da minha cabeça, certo? Eu não consigo—eu não sei o
que você fez comigo, mas eu quero tanto você que mal posso ficar perto de
você. Eu estou chateada porque você está aqui, então que porra você quer?
Diga o que você veio dizer e então vá."

"Eu nunca dei um anel para Lily," Dorcas deixa escapar, congelando no
momento em que a frase sai de sua boca. Não foi isso que ela veio aqui para
dizer, mas... bem, saiu agora. Marlene a encara. "Você perguntou antes o que
era diferente sobre como nós somos—como éramos amigas e como eu era
com qualquer outra pessoa. Lily—ela é minha amiga, certo? Ela é, mas é
diferente. Sempre foi diferente."

"Lily," Marlene diz baixinho, rolando o nome na boca como se estivesse


provando. Parece que ela quer mastigar e cuspir. É insuportavelmente
atraente. "Nome bonito."

"Ela sabe sobre você," sussurra Dorcas.

375
CRIMSON RIVERS

Marlene se endireita um pouco, abandonando completamente o chá neste


momento. Ela nem tinha ligado o fogão. "Ela sabe? E o que ela sabe,
exatamente?"

"Se eu tiver sorte, o mesmo tipo de coisas que Emmeline sabe sobre mim,"
Dorcas responde, porque se Emmeline é amiga de Marlene do jeito que Lily é
de Dorcas, então os olhares de diversão e prazer de Emmeline fariam total
sentido. Lily não seria diferente se fosse pega nessa situação.

"Você é tão—você só continua me confundindo," resmunga Marlene,


apertando os olhos fechados. "Isso não é justo, Dorcas, especialmente agora.
Eu vou estar na arena em três dias, então o que quer que você esteja tentando
fazer, é melhor você fazer rápido."

"Me ouça," Dorcas sussurra fervorosamente, avançando para estender a


mão e agarrar Marlene pelos dois braços. Marlene instantaneamente fica
imóvel, inalando bruscamente enquanto Dorcas desliza os dedos pelos pulsos
de Marlene, circulando-os levemente. "Eu preciso que você faça algo por
mim, ok?"

Marlene procura seu olhar e diz, "O quê?"

"Eu preciso que você use isso, mesmo na arena, e não tire ou perca, por
nada," Dorcas diz a ela, empurrando as mãos ainda mais para embalar os
dedos de Marlene, pressionando o anel em seu polegar. Faz Marlene
estremecer, sua garganta balançando em um gole áspero enquanto ela olha
para ele.

"Você está brincando, porra?" Marlene sibila, e quando ela levanta a


cabeça, seus olhos estão em chamas.

"Por favor. Eu preciso que você faça isso, ok? Confie em mim." Dorcas
aperta suas mãos, segurando seu olhar. "Eu preciso que você confie em mim."

"Você não me deu uma razão para confiar em você, Dorcas," diz Marlene
rigidamente, as narinas dilatadas.

Dorcas assente com cuidado. "Eu sei. Você confia em mim mesmo
assim?"

376
ZEPPAZARIEL

"De alguma forma, por alguma maldita razão, eu realmente confio,"


Marlene retruca, olhando para ela. "E isso me irrita. Você me irrita."

"Contanto que você use isso, você pode ficar tão irritada quanto precisar,"
Dorcas diz a ela sem rodeios.

Marlene zomba. "Seus cinco minutos acabaram."

"Eles acabaram?" Dorcas pergunta, segurando seu olhar.

"Saia," Marlene diz a ela bruscamente.

"Vai se foder," Dorcas responde, tão aquecida, tão irritada e desesperada


e—e querendo. Oh, ela quer tanto, ela quer mais, ela quer—

Marlene faz um som furioso no fundo da garganta, então estende a mão


para agarrar a nuca de Dorcas e a puxa para um beijo áspero de boca aberta, e
isso é tudo. Imediatamente, é a coisa mais importante. Uma guerra poderia
estourar do outro lado da porta, e Dorcas deixaria continuar para ficar bem
aqui, assim, com Marlene.

Assim que suas bocas se encontram, todas as apostas são canceladas.


Dorcas está empurrando Marlene de volta contra o balcão e ajudando a
levantá-la ao mesmo tempo em que Marlene sobe freneticamente e abre as
pernas para arrastar Dorcas entre elas. Dorcas está mais do que disposta a
estar lá, mas ela aperta as coxas de Marlene e para, o que não cai bem para
Marlene, que a puxa inquieta.

"Só—não, relaxe, eu não—quero dizer, essa não é apenas a sua suíte,


Marlene. Onde está o seu gerenciador? O outro tributo? O servo? Nós não
podemos fazer isso aqui," Dorcas suspira.

"Fora, fora, longe. Ninguém está aqui. Somos só eu e você," Marlene diz
rapidamente, seu peito arfando, olhos febris. "Nós podemos fazer isso aqui.
Nós vamos absolutamente fazer isso aqui. Venha aqui."

Dorcas vai. Claro que ela vai. Como ela poderia não ir? Sem qualquer
barulho, ela começa freneticamente a arrancar os anéis de uma mão, cada
tilintar deles batendo no balcão fazendo Marlene gemer. Marlene se dobra
para beijá-la novamente e, assim que a mão de Dorcas está livre, ela puxa a

377
CRIMSON RIVERS

parte amarrada do roupão de Marlene, deixando-a aberta e imediatamente


deslizando a mão pela parte interna da coxa para fazer uso do acesso.

A boca de Marlene se abre em um gemido silencioso, um suspiro sem


fôlego, seus dedos cavando no quadril e ombro de Dorcas, onde ela está
segurando um de cada com as mãos. Dorcas pode sentir o estremecimento que
percorre seu corpo, e ela enrola a língua na boca de Marlene, cantarolando de
satisfação quando Marlene responde beijando-a com força, um pouco
confuso, com dentes e língua e desespero descarado.

É uma bagunça do começo ao fim, um acúmulo de calor, raiva e desejo


que se espalha ao redor delas. Elas não estão prestando atenção, então
inúmeras coisas caem no chão em seus movimentos imprudentes, não que
nenhuma delas realmente se importe. É um ângulo difícil, honestamente, mas
elas estão muito longe para parar agora, então Dorcas faz funcionar.

A cabeça de Marlene cai para trás, e Dorcas aproveita a oportunidade para


imediatamente passar a boca pelo lado da sua garganta, irritando a pele entre
os dentes e sentindo a cicatriz embaixo da língua. Marlene se agarra a ela, as
pernas se abrindo mais, o que na verdade é muito útil, já que dá mais espaço
ao pulso de Dorcas para um movimento melhor e mais estável.

"Oh, porra, meu—" Marlene engasga, sua mão no ombro de Dorcas


voando para cima para prender a parte de trás de seu pescoço sob suas
tranças, as unhas pressionando com tanta força que queima, mas Dorcas não se
importa. Ela tem certeza de que Marlene nem percebe que está fazendo isso,
um pouco presa demais para sequer estar ciente. Isso é bom. Tudo isso é bom
pra caralho. "Sim, sim, sim, simsimsim—"

O canto de aprovação de Marlene fica mais alto, e não demora muito para
que ela fique toda tensa, uma mistura do nome de Dorcas e xingamentos
realmente impressionantes saindo de sua boca. Suas costas arqueiam, o que
também é um feito impressionante, considerando sua posição. Ela quase cai
da beirada do balcão, e provavelmente cairia se Dorcas não a prendesse no
lugar, segurando-a ali, sem parar ou desacelerar até que Marlene estivesse
genuinamente apenas ofegante e se contorcendo contra ela.

Dorcas espera que ela caia para trás, respirando com dificuldade,
reconhecidamente satisfeita que as pernas de Marlene estão tremendo
enquanto caem um pouco, toda a energia parecendo sair dela por um
378
ZEPPAZARIEL

momento. Marlene apenas respira, olhos fechados, rosto corado. Ela parece
debochada e deliciosa espalhada no balcão, seu roupão aberto ao lado do
corpo. Dorcas fica lá e observa.

Quando os olhos de Marlene se abrem, Dorcas se inclina para beijá-la


rapidamente, sabendo que ela prefere ver isso acontecer, especialmente
quando ela se sente particularmente relaxada ou vulnerável, caso contrário,
isso a deixará tensa novamente—e não no bom sentido.

"Tudo bem?" Dorcas verifica enquanto recua.

"Sim, eu estou—sim," Marlene murmura.

Dorcas estuda seu rosto e murmura, "Você está bem?"

"Você quer dizer sobre a bebida?"

"Bem, apenas no geral, na verdade, mas isso também, suponho."

Marlene pigarreia e se senta um pouco, movendo-se devagar e se


posicionando, puxando o roupão frouxamente, embora não o amarre. "Sim,
eu—bem, minha mãe me ajudou a ficar sóbria. Meu pai jogou fora toda a
bebida da minha casa e ameaçou todos que me vendessem bebida, então
eles—pararam. Eu ainda tinha um estoque. Apenas um. Eu—eu não
consegui—eu não sei por que, mas eu não consegui jogar fora. Eu apenas...
olho para ele e deixo ele, tipo, zombar de mim ou algo assim. Lutar contra a
tentação diariamente, porque é como se eu precisasse de algo para lutar."

"É bom que você pediu ajuda, no entanto," diz Dorcas.

"Talvez, mas eu—eu tive uma recaída," responde Marlene, fazendo uma
careta e desviando os olhos. "Eu ainda tinha meu estoque, e na noite do
anúncio do Memorial Quaternário, fui direto para ele. Foi quando eu percebi
que estava apenas guardando para o caso de precisar. Eu estava lutando, tudo
bem, apenas pela coisa errada."

Dorcas suspira. "Marlene, você estava fazendo o seu melhor, e isso é tudo
que você pode fazer, ok? Uma recaída não faz—isso não faz de você uma
pessoa ruim. Não significa que você falhou. Você é humana, e essas coisas
acontecem."

379
CRIMSON RIVERS

"Acho que era de se esperar. Quer dizer, eu tinha acabado de saber que ia
voltar. Mas eu gostaria de não ter feito isso, e ficar sóbria uma segunda vez foi
uma merda," murmura Marlene. "Mas eu tenho sorte. Eu tive meus pais,
minha tia e meu tio, e meu primo. Bem, eu tive muito apoio, honestamente.
Eu sou grata, porque eu quero voltar para a arena com a cabeça limpa. Eu
quero ir como eu, não como a pessoa que eu tentei ser para as Relíquias."

"Eu estou orgulhosa de você," sussurra Dorcas.

Marlene engole em seco. "Eu estou orgulhosa de mim também."

"Bom. Você deveria estar," Dorcas diz a ela com firmeza, inclinando-se
para deslizar os braços em volta de suas costas e arrastá-la para mais perto, os
olhos se fechando enquanto Marlene se derrete nela com um suspiro
silencioso. Por um longo momento, elas ficam assim, e então Marlene a
empurra para trás e estende a mão para passar os dedos pelo seu cabelo.

"Não deveria ter feito isso. Porra," resmunga Marlene. "Oh, foda-
se você. Sério, apenas—apenas vai se foder, honestamente. Droga."

"Marlene—"

"Apenas vá. Porra, apenas vá, Dorcas."

Dando um passo para trás, Dorcas oscila no lugar, engolindo em seco. "Me
prometa que você vai usar o anel."

"Eu prometo que eu vou usar seu anel estúpido," Marlene resmunga,
fazendo uma careta para o lado.

"Obrigada." Dorcas hesita, então dá um passo à frente e estende a mão


para segurar o queixo de Marlene, inclinando-se para dar um beijo em sua
bochecha. Os olhos de Marlene se fecham e ela solta um suspiro trêmulo
antes de se inclinar para ele, descansando a têmpora contra a testa de Dorcas.
Dorcas também fecha os olhos.

"Você vai ser o último pensamento que eu vou ter, sabe," Marlene
sussurra. "Antes de eu morrer, vai ser você. Eu simplesmente sei disso."

Dorcas inspira e expira e luta contra o desejo de envolver Marlene em seus


braços e levá-la embora. Afastar ela. Esgueirar todos para fora e levá-los para
380
ZEPPAZARIEL

a Fênix. Ela quer, mas não tem tempo, recursos ou apoio para administrar
isso. Todos seriam mortos antes de dar um passo para fora do prédio.

Ela precisa ir. Ela tem que ir, porque ela tem uma chance de fazer a única
coisa que pode, neste momento. Há muito o que fazer e tão pouco tempo
para fazer, mas por Marlene, ela vai fazer acontecer. Custe o que custar, ela vai
conseguir.

É um momento estranho para perceber que ela caiu no fundo do amor


sem ter como ressurgir, mas depois de toda essa resistência e determinação
para manter suas prioridades em ordem, aqui está ela de qualquer maneira.
Tudo isso, tudo, é por Marlene agora.

"Não morra," Dorcas diz trêmula, se afastando para olhar para ela,
segurando seu olhar. "Faça o que fizer, não tire esse anel, e não morra."

Marlene lhe dá um sorriso triste e murmura, "Vou fazer o meu melhor."

~•~

"Evans, prepare-se, nós temos uma missão," Kingsley chama, batendo na


porta de Lily repetidamente.

A cabeça de Lily aparece entre as coxas de Ember, e ela ignora seu gemido
enquanto se levanta rapidamente, gritando, "Uma missão? Nós temos?!"

"Você tem dois minutos!" Kingsley a informa.

Ember choraminga. "Sério? Agora?"

"Desculpe," Lily diz distraidamente enquanto ela corre para seu armário
para encontrar as roupas designadas especificamente para ela para as missões,
embora ela nunca tenha tido a chance de usá-las até agora. Ember enterra o
rosto no travesseiro de Lily e solta um grito abafado, o que faz Lily
estremecer. "Ok, ei, eu sei que é uma merda, mas eu realmente tenho que ir.
Eu vou, ah, fazer as pazes com você mais tarde."

Ember apenas solta mais sons de frustração, e Lily só pode terminar de se


vestir e parar para beijá-la rapidamente no caminho para a porta, tendo que se
afastar quando Ember faz o possível para colocá-la de volta na cama. Lily

381
CRIMSON RIVERS

desliza para fora da porta rapidamente, bloqueando a abertura para proteger o


corpo de Ember, não que Kingsley esteja olhando.

"Siga-me," diz Kinglsey, depois a leva embora.

Lily pode sentir seus nervos emaranhados, uma mistura de excitação e


medo. Ela está treinando para isso há... basicamente um ano, neste momento,
e aparentemente ela agora está liberada para missões. Ela está pronta? Ela se
sente pronta.

O nível mais alto da Fênix é o mais seguro, visto que é a única maneira de
entrar e sair, se você excluir as aberturas. Há um hangar inteiro dedicado a
helicópteros, roubados ou construídos, ou ambos. Eles raramente são usados,
visto que a Ordem é uma organização silenciosa, e isso chamaria muita
atenção. Pouquíssimas pessoas se preocupam em se tornar pilotos, visto que é
basicamente visto como o 'trabalho preguiçoso'. Claro, Sybill sempre diz que é
exatamente por isso que ela escolheu, geralmente com um sorriso no rosto
quando ela diz isso. Apesar de ser treinada, ela nunca voou em nada antes.
Lily acha isso hilário.

A maior parte da atividade em torno do nível mais alto parece ser no trem,
que é—até onde Lily sabe—o meio de transporte usual para missões, visto
que é subterrâneo e fora da rede. Eles podem chegar a cada distrito e a
Relíquia a partir de uma rede de estações abaixo da terra. Praticamente todo
mundo é treinado para ser o motorista. Até Lily pode dirigir o trem.

"Tudo bem, resumo da missão. Reunam-se," Kinglsey chama, batendo


palmas. Lily se junta à multidão em formação, com o coração acelerado,
prestando atenção. "Local da missão—distrito seis. Nós recebemos uma dica
sobre um possível tumulto, então vamos chegar um pouco mais cedo desta
vez. Temos alvos para resgate; Euphemia e Fleamont Potter. Nós não vamos
deixar esse distrito até que tenhamos os dois à caminho da Fênix, fui claro?"

"E se eles estiverem mortos?" Alguém pergunta.

"Então resgatamos seus corpos, se for possível," diz Kinglsey sem rodeios.
"Como de costume, haverá duas equipes. A equipe A se moverá para o
distrito, enquanto a equipe B permanecerá no ponto de encontro. Cada equipe
tem seu líder dando as ordens; sou eu na equipe A e Bones na equipe B. Cada
equipe tem seu médico de campo, caso precisem realizar a triagem com o

382
ZEPPAZARIEL

melhor de suas habilidades—nossos alvos são prioritários, antes de qualquer


outra pessoa. Cada equipe tem seus artilheiros, as pessoas cujas principais
funções são fornecer defesa, cobertura de fogo, e assistência em situações
complicadas. Todos terão uma arma, mas nem todos estarão livres para usá-
las a cada segundo, e enfrentaremos mais armas do que temos."

"Equipe B, nós não saímos até termos Euphemia e Fleamont Potter


conosco, não importa quem mais chegue, ou em que estado eles estejam,"
declara Edgar. "Nós mantemos a posição e fazemos varreduras regulares para
qualquer retardatário que chegue."

"Falando em retardatários," acrescenta Kingsley, "Os alvos são nossa


prioridade em primeiro lugar. Equipe A, vocês podem direcionar as pessoas para
o ponto de encontro, mas não percam tempo fazendo isso, a menos que não
tenham outra escolha, e não parem para escoltá-los. As pessoas ficarão feridas,
em perigo e precisarão de ajuda—e vocêm não podem parar por elas, não antes
que os alvos sejam alcançados."

Lily sente sua boca ficar seca. Ela é médica. Como diabos ela deveria lutar
contra todos os instintos de ajudar as pessoas? E se...? E as crianças? E se ela
pudesse salvar—

"Provavelmente vamos nos separar no campo, o que é uma ocorrência


comum em uma missão," continua Kingsley, pegando uma caixa para começar
a distribuir pequenos dispositivos portáteis com um teclado. "É por isso que
todos vocês aprenderam códigos. Vocês os conhecem. Usem eles para se
comunicarem. Assim que os alvos forem adquiridos, enviem o código correto
e todos os outros ouvirão o sinal de seu Notif, o que nos dará autorização
para começar a ajudar os outros."

Lily pega seu Notif quando é oferecido a ela. Ela meio que odeia isso, só
porque há uma quantidade ridícula de códigos para memorizar, mas ela
encontra uma pequena guia útil quando ela o inicia que lista os códigos para
ela. TA para alvo adquirido, e o código para ir com ele é 0310. Ela começa a
cantá-lo internamente em seu cérebro, mas para quando Kingsley começa a
falar novamente.

"Precisamos de dois sinais para alvos adquiridos, um para cada.


Infelizmente, não há como comunicar com qual você está, então estaremos
atentos a qualquer um no caso de um sinal ser enviado, o que significa que
383
CRIMSON RIVERS

ainda há mais um alvo para encontrar. Somente depois de recebermos dois


sinais podemos voltar nossa atenção para qualquer outro," anuncia Kingsley.
"A coisa mais importante; se o seu líder pedir que a equipe recue ou enviar um
código de recuo, você recuará imediatamente. Entendido?"

Um murmúrio baixo de concordância varre a multidão.

"Bom," declara Kingsley. "Assim que eu chamar seu nome e designá-lo


para sua equipe, pegue sua arma e mochilas, então embarque no trem—
médicos, vocês pegam as mochilas com as listras laranjas. Clark, equipe B.
Delworth, equipe B. Diggory, equipe A. Evans, equipe A. Fargo, equipe B..."

Lily sai da multidão para contornar a mesa no caminho para o trem,


pegando seu kit médico e arma no caminho. Ela não coloca sua mochila
quando entra no trem, encontrando um assento para poder fazer isso.
Tecnicamente, ela já sabe com o que estará equipada, munição e várias coisas
para fins médicos de triagem, mas ainda se sente melhor explorando e se
sentindo confortável com onde tudo está.

Então, é isso que Lily faz até o trem começar a se mover, apenas se
familiarizando com seus suprimentos, descarregando e recarregando sua arma,
tentando manter a calma. Kingsley e Edgar vão para cima e para baixo no
corredor, respondendo a perguntas que Lily ouve, arquivando as respostas.
Quando as coisas ficam quietas, Kingsley se joga no assento ao lado dela.

"Equipe A, hein?" Lily pergunta levemente.

Kingsley lhe lança um olhar seco. "Você é muito boa de tiro para
desperdiçar no ponto de encontro." Quando Lily sorri, Kingsley ri e balança a
cabeça, então seu rosto suaviza quando ele pega seu olhar. "Nervosa?"

"Empolgada," diz Lily, porque uma vez ela leu em algum lugar que a
sensação de nervosismo e a sensação de empolgação vêm do mesmo lugar em
seu cérebro, e se você conseguir convencer sua mente a acreditar que é um em
vez do outro, seu cérebro não saberá a diferença. Sinceramente, não está
funcionando.

"Não vai ser limpo. Missões nunca são limpas. Elas ficam confusas e dão
errado o tempo todo," Kingsley a avisa. "Apenas lembre-se das suas
prioridades, e você ficará bem."

384
ZEPPAZARIEL

"Certo. Euphemia e Fleamont Potter." Lily levanta as sobrancelhas para


ele. "Sobre o que é tudo isso, King?"

"Não é da nossa conta, Red. Somos apenas os pés no chão entrando e


trazendo-os," murmura Kingsley.

Lily se inclina, a voz baixa, e murmura, "Mas se você tivesse que


adivinhar?"

Kingsley olha ao redor, então calmamente diz, "Se eu estivesse


adivinhando, eu diria que é um grande ponto de virada para a guerra. Eles são
figuras altamente conhecidas—ou Euphemia é, no mínimo—e tendo uma
conexão com James, Sirius e Regulus não é coincidência."

Lily sussurra e se inclina para trás, virando o olhar para sua arma, olhando
para onde a trava de segurança está. É uma boa metáfora para o que está por
vir, ela pensa, porque a segurança eventualmente terá que ser retirada. Da
mesma forma, a guerra eventualmente terá que ser travada. Ela acha que este
pode ser o primeiro tiro disparado.

Claro, tem havido muitas missões recentes trazendo pessoas resgatadas de


todos os distritos. Muitos vieram do cinco, o que deve ter sido interessante
para Kingsley, que é originalmente de lá. Ainda assim, não houve nenhum
alvo específico para uma missão de resgate antes, e até onde Lily sabe, eles
também nunca receberam uma dica antes de um tumulto. A guerra está
chegando, e está chegando rápido. Muito rápido.

Misericórdia de todos eles quando ela chegar aqui.

~•~

Aberforth atende o telefone assim que toca. Há um silêncio completo do


outro lado da linha, o que o faz revirar os olhos como se fosse jovem o
suficiente para fazer algo assim novamente. Irmãos traz isso em você todas as
vezes.

"Patrono?" Albus pergunta, e se Aberforth não estiver enganado, há um


leve toque de diversão em sua voz.

385
CRIMSON RIVERS

"Bode," Aberforth diz com um suspiro, e se eles fossem os jovens que


costumavam ser, ele tem quase certeza de que Albus estaria rindo baixinho
agora. "As palavras de código ridículas são absolutamente necessárias, Albus?"

"Claro, ou eu não insistiria nelas," diz Albus.

Aberforth não acredita nisso nem por um segundo. Albus adorava mexer
com as pessoas, e ele duvida que a idade tenha mudado muito isso. Talvez o
tenha tornado mais vingativo, se alguma coisa. "Essa é uma linha segura.
Você sabe que sou eu."

"Eu nunca posso ter certeza de que alguém não encontrou, e se você não
responder com sua resposta adequada, então é um sinal claro de que você não
está sozinho ou pode falar livremente. É uma questão de segurança e sigilo,
Aberforth."

"Sim, sim, sim. O que você quer?"

Albus faz uma pausa, então murmura, "As equipes estão à caminho."

"Eles chegarão a tempo?"

"Eu acredito que sim, ou muito perto disso."

Aberforth exala. "Eles enviaram um novo Auror chefe. Ele chegou esta
manhã e reuniu o resto com autorização da Relíquia para, ah, lidar com tudo
daqui. Ele... eu não sei o que ele fez, Albus, mas ele tinha malas cheias do que
parecia ser algum tipo de remédio. Todos os Aurores foram reunidos para
isso."

"Não é um bom sinal," comenta Albus.

"Você não acha que eu sei disso?" Aberforth estala.

Albus fica em silêncio por um longo momento. Quando ele fala


novamente, sua voz é muito baixa. "Fuja, Aberforth. Eu estou te pedindo
para—"

"Não," Aberforth corta asperamente. "Eu não vou embora. É a


minha casa, e este é o meu povo. Você pode estar bem em abandonar—"

386
ZEPPAZARIEL

"Aberforth," Albus interrompe, sua voz mais afiada do que tem sido até
agora, desde que Aberforth a ouviu décadas atrás, "Sua casa provavelmente
corre um grande risco de ser varrida do mapa, você e seu povo com ela. Se
você ficar, você vai morrer."

"Então que assim seja," diz Aberforth simplesmente.

"Você estará seguro aqui, comigo," Albus murmura.

Aberforth zomba. "Você acha que eu estou com medo, Albus? Eu não
estou. Se eu morrer aqui, então morrerei sem arrependimentos. Você pode
dizer o mesmo?" O silêncio é sua única resposta. Para enfiar a faca mais
fundo, Aberforth continua, "Nossa irmã está enterrada aqui, Albus."

Mais uma vez, mais silêncio.

Desamparado, Aberforth vira seu olhar para fora de sua janela, olhando
por cima da árvore na borda de sua propriedade. A que eles plantaram para
Ariana, junto com suas cinzas sob a base. Ele viu o menino—o Black mais
jovem—lá fora muitas vezes, jogando suas adagas na casca, ou simplesmente
sentado nas raízes frutíferas tecidas pela terra abaixo.

Às vezes, Aberforth teria que lutar contra o desejo físico de expulsar o


menino, mas a memória de Ariana sempre o impedia. Ela gostava de ter
amigos, visitas, especialmente quando eram aqueles que precisavam de
conforto. Ariana era reconfortante, muito gentil, e ela não gostava de ficar
sozinha. Toda vez que ele considerava se levantar para fazer o garoto ir
embora, era como se o eco da pequena mão de Ariana descesse em seu ombro
e o detivesse. Foi bom senti-la perto de novo, e ele tem que agradecer ao
menino por isso.

Aberforth sabe que ele e Albus não concordam com isso. A lealdade pode
se manifestar de maneira diferente para todos. A lealdade de Aberforth o
mantém aqui; A lealdade de Albus o levou embora. Ele duvida que eles vão
perdoar um ao outro por isso.

"Aberforth," Albus diz suavemente. "Por favor."

"Adeus, Albus," Aberforth responde, e então ele desliga.

~•~
387
CRIMSON RIVERS

"Tudo bem, todos, preparem-se," Kingsley chama, se levantando.


"Lembre-se, os Aurores estarão armados e perigosos, então atirem para matar.
Os alvos prioritários são Euphemia e Fleamont Potter. Vamos nos mover."

Lily balança sua mochila nos ombros e segura sua arma, acionando a trava
de segurança e seguindo Kingsley para fora do trem e subindo pela escotilha
até a superfície. Eles saem no meio da floresta, movendo-se em silêncio fora
do som de suas mudanças de marcha e batendo em seus corpos.

A equipe B para no ponto de encontro, que é o ponto intermediário entre


o distrito e a estação de metrô. A equipe A continua, cortando o grupo
viajando junto pela metade.

Lily estaria mentindo se dissesse que seu coração não está acelerado agora,
suas palmas um pouco suadas de onde ela segura sua arma. Eles revisaram
tudo no trem minuciosamente, passando fotos de Euphemia e Fleamont,
fazendo perguntas e apresentando cenários a serem observados. Mesmo
assim, Lily está no limite. Ela não foi tão longe da Fênix em seis anos agora. É
diferente de apenas esgueirar-se para a superfície pelas aberturas.

O distrito seis é construído como um quadrado, e eles estão indo direto


para o pátio central, aparentemente. Eles começam em um canto, e Lily não
pode deixar de se sentir desconfortável com o estranho silêncio e quietude
que existe aqui à margem. Kingsley os avisou, deixando claro que todos
estariam reunidos em um só lugar.

Só quando eles se aproximam é que ouvem os gritos.

"Espalhem-se," Kingsley ordena, olhando para eles. "Cerquem o pátio e


deem impulso. Vão agora."

E assim eles fazem.

Lily escorrega para a direita e segue um beco entre duas casas, correndo
com cuidado com a arma ao lado. Os gritos aumentam de volume à medida
que ela se aproxima. Parece que seu sangue se transforma em gelo quando ela
ouve a rajada de tiros, o estalo das balas voando, acompanhadas de mais gritos
e os sons de pés batendo se espalhando por toda parte.

388
ZEPPAZARIEL

Há uma pausa no final do beco, e assim que Lily vira a esquina, ela tem que
se jogar de volta. Ela suga uma respiração afiada e estica a cabeça para além da
parede de tijolos, seu corpo fica tenso enquanto ela observa um Auror arrastar
um homem pela rua. Ele não é Fleamont, mas...

Lily se empurra para frente ao mesmo tempo em que o Auror joga o


homem no chão, prendendo-o com a bota. Ele aponta a arma para a cabeça
dele, e antes que o gatilho possa ser puxado, a cabeça do Auror se move para
o lado enquanto seu corpo cai. Lily abaixa sua arma, soltando uma respiração
profunda. Seus dedos estão firmes, apesar de apenas puxar o gatilho. O
homem no chão nem hesita, lutando para tirar a arma do corpo e disparando
sem nem mesmo parar para ver quem o salvou. Lily fica lá por um longo
momento.

Ela fica lá.

Apenas fica lá.

Lily só atirou em uma pessoa, um Auror que a estava perseguindo


enquanto ela estava correndo, e ela não atirou para matar. Ela só conseguiu
acertá-lo no joelho, depois continuou correndo, e então foi baleada no ombro
por isso. Se Kingsley e sua equipe não tivessem chegado quando chegaram, ela
suspeita que o próximo tiro teria sido na cabeça.

O Auror que ela atirou morreu de qualquer maneira, mas ela não o matou.
Ela nunca matou ninguém, até agora. Uma pessoa. Alguém que tinha uma
vida para viver até que ela a tirasse.

Alguém que estava prestes a tirar a vida de outra pessoa, Lily lembra a si mesma,
firmando sua mandíbula e se forçando a continuar. Ela passa correndo pelo
corpo e não olha para trás.

Quanto mais perto do pátio ela fica, mais caos há para encontrar. Pessoas
correndo. Pessoas gritando. Pessoas lutando e pessoas morrendo. Há
cadáveres no chão, alguns que são Aurores, outros não.

Lily continua.

Nos arredores do pátio, Lily pode ver pessoas de sua equipe no meio da
luta, Kingsley entre eles. Os Aurores estão cercando as pessoas e arrastando-

389
CRIMSON RIVERS

as para o prédio central, empurrando-as e mantendo elas dentro. Soltando uma


respiração profunda, Lily começa a correr, então corre direto para uma luta,
porque um Auror literalmente bate diretamente nela.

É imediatamente uma bagunça. Há muitos gritos, e ela cai de costas em


outra pessoa, tentando se orientar enquanto o Auror levanta a arma. Lily o
bloqueia e o empurra para baixo, empurrando o joelho para cima em seu
abdômen e batendo a palma da mão para cima contra o nariz dele
com força. O Auror imediatamente resmunga e cambaleia para trás, segurando
o rosto dele, e quando ele se endireita, Lily está apontando a arma entre os
olhos dele e puxando o gatilho. O Auror cai.

Lily se vira apenas o suficiente para ver uma mulher derrubar o outro
Auror no chão, e o Auror não parece ter uma arma, o que provavelmente é o
melhor, ou a mulher estaria morta. Do jeito que está, ela luta valentemente,
arranhando e rosnando, uma potência forte, honestamente.

Sem esperar, Lily se aproxima e puxa a mulher de volta, colocando uma


bala no crânio do auror.

O que Lily não espera que aconteça é que a mulher se lance do chão e vá
direto para Lily em seguida. Isso a pega desprevenida, e ela resmunga
enquanto cambaleia para trás, batendo no chão com tanta força que sua
respiração sai de dentro dela. Ela só tem um flash de pele morena, cabelo
encaracolado e olhos negros frenéticos antes que a arma em suas mãos seja
arrancada.

"Ei!" Lily grita, ficando de pé ao mesmo tempo que a mulher, apenas para
parar imediatamente quando se vê olhando para o cano de sua própria arma.
Oh, que porra é essa? Lily range os dentes. "Você está louca? Devolva isso.
Eu estou aqui para ajudar. Eu pareço um Auror para você?"

"Não me importo," a mulher diz brevemente. "Eu preciso disso."

Lily estreita os olhos. "Você sabe mesmo atirar com uma arma?"

"Puxando o pequeno gatilho, certo?" é a resposta fria.

390
ZEPPAZARIEL

"Oh, pelo amor de Deus. Eu não tenho tempo para isso," Lily sussurra,
dando um passo à frente. "Não aponte uma arma para alguém se você não vai
puxar a porra do gatilho, e você está claramente—"

A mulher abaixa a arma e atira direto na perna de Lily, o que—ok, talvez


seja um pouco demais para ela, na verdade. Provocar alguém com uma
arma—má ideia. Anotado.

"Você atirou em mim, porra!" Lily explode quando ela cai no chão, uma
linha de fogo lambendo a parte externa de sua coxa. É apenas um arranhão,
na verdade, sem pontos de entrada ou saída, mas ainda dói pra caralho. Ela
fica boquiaberta para a mulher. "Você... Você atirou em mim."

"Como eu disse, puxando o pequeno gatilho," a mulher repete, dando um


passo para trás. "À propósito, meu nome é Mary."

Lily solta uma gargalhada atordoada, boquiaberta para ela, para Mary,
enquanto ela diz, "Lily. Eu sou Lily."

"Obrigada pela arma, Lily," Mary diz a ela, então se vira e sai correndo sem
olhar para trás. Ela está correndo em malditos saltos altos, também. Oh, ela é
louca, claramente.

Lily só pode ficar boquiaberta atrás dela em puro espanto por um


momento, absolutamente fascinada por vê-la ir, e então a dor ardente em sua
coxa a lembra da gravidade de sua situação. Ela está literalmente em uma zona
de guerra ativa, precisando de reparos e em constante perigo. Não há tempo a
perder, e por isso ela não o desperdiça.

A adrenalina a ajuda a se apressar em colocar um curativo sobre o


ferimento, porque agora não é hora de se preocupar em limpá-lo
adequadamente e cuidar dele. Ela só precisa chegar a um ponto em que possa
se levantar e continuar, e assim que consegue, é exatamente isso que ela faz.

Felizmente, não há escassez de armas no pátio entre todos os Aurores,


embora seja munição diferente, então ela não poderá recarregar se precisar.
Não importa. Ela se joga no primeiro Auror que encontra, um que está
arrastando uma adolescente pelo braço, a garota gritando e chamando por sua
mãe. No momento em que o Auror se distrai, a garota foge e Lily ganha uma
nova arma.

391
CRIMSON RIVERS

"Não! Não, Fleamont! Fleamont!"

O grito chama a atenção de Lily, e ela se vira a tempo de pegar Euphemia


Potter correndo a toda velocidade pelo pátio em direção a um grupo de
Aurores que estão arrastando um homem—Fleamont Potter—para a parte
bloqueada do pátio, uma fila inteira de Aurores mantendo as pessoas em um
só lugar. Lily avança pela multidão, não perto o suficiente, mas se ela
conseguir o ponto de vista certo...

No meio de tudo, há a porra de um poste de açoite que para Lily em seu


caminho, memórias passando por sua mente que fazem seu estômago revirar.

Remus...

Por um segundo, isso é tudo que ela pode ver. Remus preso ao poste, suas
costas sangrando e despedaçadas, a cabeça caída. Toda vez que ela o
encontrava assim, a respiração dele ficava tão superficial. Depois de todos os
gritos e tiros que ressoam em seus ouvidos, Lily jura que pode ouvir
novamente. Como ele respirava.

Só por um segundo.

E então Lily está correndo para agarrar o poste e se jogar na estrutura que
o sustenta, subindo mais alto até que ela possa ver bem acima da multidão.
Ela levanta a arma, inspira e expira, o mundo inteiro se reduz aos quatro
Aurores puxando Fleamont.

Um.

Dois.

Três.

Quatro.

Rapidamente, um após o outro, os Aurores caem. Ela pega dois na cabeça,


um na coxa e o último no ombro. É o melhor que ela poderia fazer desse
ângulo, mas é o suficiente. Isso permite que Euphemia alcance seu marido, e
ela avança para arrastar um Auror de volta, jogando-o impiedosamente no
chão. Ela puxa a cabeça dele com tanta força que, mesmo daqui, Lily pode ver

392
ZEPPAZARIEL

o ângulo estranho de seu pescoço, indicando que Euphemia acabou de


quebrar.

Kingsley está lá, de repente, atirando na cabeça do último Auror, não


diferente do que ele fez quando a vida de Lily estava em jogo, terminando o
que ela começou. Ele está lá com os alvos, e Lily começa a descer, porque ela
não tem dúvidas de que Kingsley os colocará em segurança.

De qualquer forma, eles podem precisar de ajuda, então Lily desce e ignora
o latejar em sua perna enquanto ela começa a correr mais uma vez. Seus
pulmões estão queimando. Seu coração está acelerado. Tudo é tão alto,
sangrento e rápido. Está tudo acontecendo tão rápido.

Kingsley e Amos estão com Euphemia e Fleamont quando ela os alcança, e


fica imediatamente claro que eles não estão conseguindo pegar os alvos. Kingsley
está fazendo o seu melhor para persuadir Euphemia e Fleamont a sair do
distrito e em segurança, mas não está funcionando muito bem para ele.

"Nós não podemos simplesmente deixá-los!" Euphemia explode,


empurrando a mão de Kingsley de seu braço. "Minhas costas seriam
despedaçadas se essas pessoas não lutassem por mim antes que o chicote
pudesse ser levantado. Eles nem conseguiram me amarrar no poste, e se você
acha que eu vou abandonar os meus vizinhos, meu povo—"

"Me ouça, Sra. Potter," Kingsley diz suavemente.

"Sim, muito nobre, mas você está apenas impedindo essas pessoas de uma
ajuda melhor do que você e o Sr. Potter sozinhos poderiam dar a elas," Lily
interrompe enquanto ela literalmente vem subindo os degraus, arma segura
em seu quadril. "Assim que você e seu marido estiverem em um local seguro,
o resto da equipe estará liberada para fornecer ajuda a todos os outros. Ficar
por perto para essas pessoas é realmente pior para elas, porra, então, mexam-
se."

Kingsley suspira e dá a ela um olhar que claramente afirma sério, não havia
como você ter colocado isso de forma mais delicada? Isso é irônico, visto que eles estão
cercados de pessoas morrendo por todos os lados. Não há tempo para ser
delicado.

"Euphemia," resmunga Fleamont, "Você está sangrando."

393
CRIMSON RIVERS

Em segundos, Lily pega sua mochila e está ajoelhada no degrau ao lado de


Euphemia, estudando o ferimento de bala em seu abdômen. Ela agarra o
quadril de Euphemia e a torce, os lábios pressionando em uma linha fina
enquanto ela procura e sente uma ferida de saída, mas não encontra uma. Lily
vasculha sua mochila e faz o que pode por enquanto, mal ouvindo enquanto
Euphemia gagueja tranquilizando Fleamont, enquanto Kingsley e Amos
tentam convencê-los a concordar em sair.

Lily se concentra em sua tarefa e não volta a sintonizar até que ela se
levante e declare, "Não há nenhum ferimento de saída, o que pode significar
que há sangramento interno. Eu preciso de atendimento médico mais cedo ou
mais tarde, Sra. Potter. Agora, Sr. Potter, se você não quer ver sua esposa
morrer, você vai pegá-la e arrastá-la para fora daqui se for preciso. "

Esse parece ser o botão certo para apertar, porque Fleamont consegue
fazer o que ninguém mais poderia—convencer Euphemia a sair. Kingsley,
Amos e Lily viajam rapidamente juntos pelo pátio, conduzindo Euphemia e
Fleamont junto. É difícil evitar que Euphemia se envolva em brigas; ela
continua tentando parar e ajudar as pessoas, e até mesmo Fleamont é vítima
do desejo de tempos em tempos.

Lily pode ver um monte de gente correndo na frente, e ela sabe que deve
haver alguns que já conseguiram escapar, mas ela está praticamente louca para
voltar e ajudar a reunir mais pessoas para salvá-las. Focar apenas em dois
alvos é restritivo, e Lily preferiria muito mais—

"Pare com isso! Pare de resistir! Você só está causando problemas!"

"Me deixe ir! Mamãe está lá. Eles levaram a mamãe!"

Muitas coisas estranhas já aconteceram, mas Lily está reconhecidamente


perplexa ao ver dois homens—que não são Aurores, um mais velho que o
outro—lutando um com o outro. O mais velho está tentando roubar uma
arma do mais novo, e é aí que Lily percebe que o jovem é aquele que quase foi
baleado mais cedo. Ele voltou por sua mãe.

"Você nunca consegue fazer o que é dito!" o homem mais velho grita,
lançando-se para a frente com uma carranca. "Se você não causar nenhum
problema, se você apenas ouvir e seguir a lei, sua mãe vai ficar bem. Você só
está piorando. Você faz tudo—"

394
ZEPPAZARIEL

A arma dispara, e o homem solta um ruído engasgado, tropeçando um


passo para trás. O mais novo dos dois segura a arma com firmeza, mandíbula
apertada enquanto continua a apontá-la para o outro homem, sem parecer
nem um pouco arrependido. O homem mais velho leva os dedos ao peito,
onde está sangrando profusamente.

"Eu disse para você me deixar ir, pai," e oh, oh, esse é o filho dele. Aquele
homem acabou de atirar no próprio pai. "Mamãe está lá, e eu vou levá-la para
um lugar seguro. Nem mesmo você vai ficar no meu caminho."

Lily exala surpresa, mas ela se vira para continuar assim que o homem cai
no chão, definitivamente mortalmente ferido. Ele acabou de ser baleado no
peito à queima-roupa. Infelizmente, a comoção conseguiu chamar a atenção
de Euphemia e, apesar de possivelmente estar mortalmente ferida, ela se vira
para encarar Fleamont com os olhos arregalados.

"Flea, é Crouch," Euphemia sussurra. "O menino do menino do nosso


menino. O menino de Regulus. Nós não podemos simplesmente—"

O rosto de Fleamont se contorce, e então ele geme, "Oh, tudo bem."

"Espere, espere, não—" Amos amaldiçoa enquanto eles giram em perfeita


sincronia e começam a ir logo atrás do homem—Crouch. Não o pai
sangrando, mas sim o filho sendo bloqueado por três Aurores. Amos
recarrega sua arma com um bufo. "Eu nunca conheci pessoas tão resistentes a
serem salvas na minha vida."

"Fiquem nos alvos," ordena Kingsley, e eles o fazem.

Crouch visivelmente não sabe se virar com uma arma, não com eficiência,
mas ele não tem medo de dar um soco, isso é óbvio. Ele está, no entanto, em
menor número no momento, o que significa que Fleamont e Euphemia o
alcançam no momento em que ele está sendo empurrado de joelhos, uma
arma pressionada em sua cabeça. Fleamont bate no Auror antes que ele possa
puxar o gatilho, e Euphemia se joga para frente também para empurrar outro
para trás, um braço em volta da cintura e ainda lutando apesar disso.

Crouch vai para o terceiro, agarrando-o pela manga e jogando-o com força
no chão. Não é preciso saber como lidar com uma arma nas proximidades;
tudo o que você precisa fazer, na verdade, é apontar e atirar. Crouch faz isso.

395
CRIMSON RIVERS

Euphemia luta com a arma para longe do Auror que ela atacou, também
apontando e atirando sem um segundo de hesitação. Lily e Amos correm para
ajudar Fleamont, que, apesar de ser um homem muito grande, está lutando
para conseguir a arma. Amos lida com isso para ele, chutando
impiedosamente o Auror no rosto enquanto Lily pega Fleamont pelas costas
de sua camisa e o arrasta para fora da linha de fogo, enquanto Kinglsey mira e
atira.

Fleamont e Lily tropeçam um no outro, e então eles colidem no chão em


um emaranhado de membros quando uma onda de gritos corta o ar tão alto
que é como uma explosão. É uma cacofonia de agonia pura, não adulterada, o
suficiente para fazer os ouvidos de Lily zumbirem e seu coração bater de
medo. Por um segundo, ela está apenas agarrada a Fleamont, sua respiração
saindo dela enquanto os gritos ficam mais altos, e então—de uma vez—
ambos correm para se levantar novamente.

O centro do pátio é a fonte, e Lily pode ouvir pessoas tentando fugir, ainda
bloqueadas por Aurores, implorando para serem libertadas. Então, um após o
outro, esses apelos também dão lugar a gritos, somando-se ao resto.

A fila de Aurores se rompe, e alguém sai tropeçando, mas eles estão


gritando quando caem no chão, se contorcendo no lugar e arranhando a
própria pele. De entre os Aurores, uma névoa verde brilhante começa a sair.

"Não! Não, mãe! Mãe!" Crouch berra, jogando-se para frente contra
Euphemia e Amos, que o estão empurrando desesperadamente para trás. Ele
luta contra eles, e Fleamont se afasta de Lily para ajudar a arrastá-lo de volta.

"Recuem! Todos recuem agora!" Kingsley grita, sua voz elevada até quase
explodir, e ele já está com seu Notif em mãos, enviando os códigos.

Lily sente seu Notif vibrar em seu bolso, dando um ping alto.

"Kingsley," Lily engasga, "Que porra é essa? O que—"

"Recuem!" Kingsley ruge. "Não esperem, apenas vão!"

Então, Lily o faz.

Os gritos ficam mais altos, mais próximos, e Lily não pensa. Ela apenas
corre. Ela não está sozinha. Kingsley está empurrando Euphemia na frente
396
ZEPPAZARIEL

dele para fazê-la se mover, enquanto Amos e Fleamont levantam Crouch e


saem correndo com ele.

Ao seu redor, há caos. Correria aos gritos. Todos tentando fugir,


reconhecendo uma ameaça quando vêem uma. Lily vê Auror após Auror
saindo da névoa, sem gritar, completamente ilesos. Aqueles que não são
Aurores caem no chão em clara agonia. Os gritos estão se espalhando por
todo o pátio agora, mais pessoas caindo no chão e gritando como se
estivessem sofrendo a pior dor que já sentiram em suas vidas.

Lily continua correndo.

Há uma rajada de tiros em direção ao lado oeste do distrito, na direção do


ponto de encontro, e todos eles saem para ver uma linha de Aurores
bloqueando a floresta, armas erguidas. Eles começam a atirar no momento em
que as pessoas chegam.

Lily corre para se esconder atrás de uma lixeira, seu peito arfando enquanto
ela fecha os olhos e leva um segundo para entender o que está acontecendo.
Lentamente, muito lentamente, ela percebe que a névoa verde está sendo
usada para matar pessoas rapidamente, e aqueles que tentam correr são
recebidos com balas, deixando todos presos. Eles precisam de uma brecha, ou
todos vão morrer.

Todos agora estão correndo na direção oposta, longe dos tiros, deixando a
linha de Aurores ainda no lugar, bloqueando a rota de fuga. Há Aurores vindo
atrás também. Lily não tem a mínima ideia de como eles vão—

"Abaixem-se!"

O aviso vem de cima, e a boca de Lily se abre com a visão de uma granada
voando pelo ar, lançada por um homem na frente com uma semelhança
surpreendente com Dumbledore.

Lily se abaixa e sente o forte impacto da explosão quando a granada


explode, o chão tremendo e seus ouvidos zumbindo depois. Isso levanta
sujeira e faz corpos voarem, mas—bem, essa é a brecha que eles precisam.

397
CRIMSON RIVERS

"Vamos! Vamos! Vamos!" O homem mais velho que realmente poderia ser
confundido com Dumbledore começa a conduzir as pessoas para a floresta, e
todos fazem uso da brecha imediatamente.

A maioria dos Aurores na linha foram explodidos, mas alguns se


espalharam, e menos ainda permanecem. Mas eles o fazem, e começam a
atirar enquanto as pessoas passam correndo, mandando as pessoas para o
chão.

Kingsley nem precisa dar a ordem. Amos e Lily imediatamente começam a


levantar suas armas para fornecer cobertura de fogo, tentando manter a
abertura. Algumas pessoas estão passando e desaparecendo nas árvores.

Lily avança, ganhando mais terreno, e um Auror cai. Então outro. Um


terceiro. Leva um segundo para Lily perceber que não é tudo ela e Amos. Ela
leva ainda mais tempo para localizar o resto. Mary, Crouch e Euphemia
também têm armas e, embora não tenham a melhor mira, isso não os impede.

Eles vão conseguir.

Lily pode ver que eles vão. Mary tem um menino dobrado ao seu lado,
bloqueando-o enquanto ela atira. Crouch é uma bagunça do caralho,
claramente, mal capaz de ficar em pé, ensanguentado e machucado e ainda
berrando sobre sua mãe. Euphemia está cobrindo a multidão enquanto
Fleamont os dirige com o outro homem que se parece com Dumbledore.

Então Kingsley está lá, gritando para todos correrem, e Lily nunca o ouviu
soar tão frenético. Um olhar ousado por cima do ombro lhe diz o porquê. A
neblina verde os alcança, derramando-se dos becos atrás deles. É uma nuvem
grossa que fica pendurada no chão, não se espalhando mais alto, mas viajando
em um aglomerado. Os Aurores saem correndo, ilesos.

Atrás, uma pequena família de três pessoas—sendo uma delas uma criança
assustadoramente jovemaavem correndo em direção a eles, e Euphemia
engasga, "Andrômeda!"

"Vá, vá, Ted, vá," Andrômeda está cantando, tentando afastá-lo. Ela está
mancando, coberta de sangue, e ele a ajuda com o braço em volta da cintura
dela, enquanto o outro braço está carregando a criança, que está escondendo o
rosto em seu pescoço.

398
ZEPPAZARIEL

"Nos ajude, por favor," Ted engasga, e é como se Fleamont se


teletransportasse, correndo para os lados deles. Ted imediatamente entrega a
criança, olhos selvagens e desesperados. "Leve ela e vá, certifique-se de que ela
saia daqui, eu não consigo ir rápido o suficiente e ajudar Andy."

"Eu disse para você me deixar," Andrômeda sussurra.

"Nunca, querida," Ted responde, balançando a cabeça agradecido


enquanto Fleamont segura a criança soluçando e imediatamente sai correndo.

"Afastem-se, temos que ir agora!" Kingsley ordena, e essa é a decisão final,


mas Lily ainda corre para ajudar Andrômeda do outro lado, ajudando-a o
máximo que puder.

Fleamont já se foi. Mary literalmente pega o garoto do chão e corre, Crouch


logo atrás dela com Amos o arrastando. Kingsley e Lily fecham a retaguarda
com Euphemia, junto com Ted e uma Andrômeda muito ferida.

O homem que se parece com Dumbledore não se move.

"Aberforth, você está louco?!" Euphemia grita, parando o suficiente para


encará-lo. "Vamos!"

O homem—Aberforth—apenas diz, "Não."

"Aberforth, nós não temos tempo para isso!" Ted estala, realmente
confiando em Andrômeda com Lily e Kingsley enquanto ele sai correndo para
Aberforth.

"Não! Não, eu não vou embora!" Aberforth rosna, atacando e empurrando


Ted para longe, seus olhos azuis brilhando. "É melhor morrer aqui do que—"

Aberforth não termina, o resto de suas palavras abafadas pelo estalo agudo
de um tiro, e a cabeça de Ted vira para o lado antes que seu corpo caia no
chão.

Andrômeda grita.

Ela grita de tal maneira que Lily pensa, por um momento, que a névoa
verde a pegou também. Um calafrio sobe pela espinha de Lily, sua respiração

399
CRIMSON RIVERS

saindo dela enquanto ela encara Ted, de olhos arregalados, sem se mover. Ela
não se apressa para fornecer assistência médica. Não há nada para ajudar.

Ele foi baleado na cabeça. Sua morte foi instantânea.

Aberforth ficou pálido, e por apenas um segundo, Lily se pergunta se ele


ainda acha que é melhor morrer aqui.

Andrômeda se joga no chão ao lado de Ted, soluçando e atacando quando


Kingsley tenta puxá-la de volta. Ela se agarra a ele, cantando seu nome
repetidamente, e Lily engole o nó em sua garganta para correr para ajudar
Kingsley, embora de pouco adiante. Andrômeda não está se mexendo.

"Mary, continue!" O grito de Euphemia é seguido rapidamente por sua


chegada, acompanhada por Crouch e Amos, os três avançando para ajudar
também. Euphemia cai de joelhos ao lado de Andrômeda e começa a falar
rapidamente. "Eu sei, ok? Eu sinto muito, eu sei, mas nós temos que correr."

"Ted," Andrômeda engasga, curvando-se sobre o corpo dele, seus ombros


levantando enquanto ela se agarra a ele.

"Pense na pequena Dora. Ela é sua filha, e ela precisa de você, ela ainda
precisa de você, então você tem que se levantar. Eu sinto muito mesmo, mas
você tem que se levantar," Euphemia continua em uma corrida frenética,
agarrando Andrômeda pelos ombros e puxando. "Vamos, nós temos que ir.
Não faça isso. Andrômeda—"

Entre Euphemia e o resto, eles conseguem arrastar Andrômeda para longe,


tendo que segurá-la firmemente enquanto ela grita, soluça e luta contra cada
um deles. Eles não têm escolha, nenhuma outra opção, e eles têm que ir.
Então, eles fazem isso. Todos eles fazem isso, exceto Ted, cujo corpo
permanece vago e ainda no chão até ser engolido por uma névoa verde,
desaparecendo de vista e deixado para trás.

Eles correm. Eles chegam ao ponto de encontro. Todos que saíram a


tempo chegam à segurança do trem. Quando eles chegam lá, Lily está sem
balas, e ela não sabe quantas pessoas ela matou. Mas ela está viva, assim como
os alvos, e todos os outros que fizeram isso.

A maioria não está.

400
ZEPPAZARIEL

43
PREPARANDO-SE

Regulus olha para a beirada da varanda de sua cadeira, sentindo a brisa


suave correr os dedos esvoaçantes por seu cabelo. A Relíquia está ocupada
hoje. Há uma multidão de pessoas em pé lá embaixo com cartazes,
protestando.

É estranho. Regulus nunca pensou muito em como as Relíquias veem os


Vitoriosos. Tributos? Sim, ele sabe que eles os veem apenas como novos
personagens para conhecer, para se apaixonar, para inevitavelmente assistir
morrer. Mas os Vitoriosos? Bem, Regulus está acabando de perceber isso, mas
as Relíquias não brincam quando se trata de seus amados Vitoriosos. Seus
favoritos. Suas celebridades.

Riddle possivelmente cometeu um erro, e talvez Regulus esteja gostando


demais disso. O desfile de reintrodução ontem foi exatamente como o
primeiro em que ele participou, exceto que desta vez ele estava ao lado de seu
irmão quando foi exibido para as Relíquias.

Mas as Relíquias já o conhecem, ou acreditam que sim,


e definitivamente acreditam que conhecem Sirius. Não houve um grito de
excitação e alegria pelo que está por vir. Em vez disso, a multidão estava
401
CRIMSON RIVERS

fodidamente furiosa. As pessoas estavam soluçando; as pessoas estavam


gritando em protesto; as pessoas estavam olhando para Vitoriosos que
deveriam estar seguros e furiosas por eles não estarem mais.

Ocorreu a Regulus então que havia pessoas naquela multidão que o


amavam. Não tradicionalmente, não verdadeiramente, porque eles não o
conhecem de verdade, não realmente. Mas, de alguma forma insondável, eles
têm amor por ele. Ele significa algo para alguns deles. Alguns o idolatram.
Alguns se preocupam com o bem-estar dele.

É completamente desvinculado da realidade, sim, mas eles o fazem. James


encontraria beleza nisso. Regulus, é claro, luta com isso. Isso o incomoda,
honestamente. No entanto, ele acha hilário que Riddle não está tendo a
recepção que ele provavelmente esperava que tivesse. Há algumas pessoas
animadas, com certeza, mas muitas delas não estão felizes com seus favoritos
sendo jogados de volta na arena. Sim, Regulus também não está muito feliz
com isso.

Então, os manifestantes lá em baixo são uma fonte genuína de


entretenimento para ele no momento. Essas pessoas se arrastaram para fora
de suas casas para ficar na rua e gritar como isso é injusto. Elas literalmente
organizaram um protesto para resolver o que está errado. Elas estão um
pouco atrasadas para essa percepção—teria sido bom se eles tivessem visto
isso anos atrás—mas ele supõe que eles têm o espírito.

"Isso não vai acabar bem, você percebe?" Remus murmura, mas ele não
soa como se realmente se importasse.

Regulus cantarola. "Sim, eu sei."

"Você parece satisfeito."

"Isso vai irritar Riddle, provavelmente, então eu estou."

Remus bufa. "Tudo bem, isso é justo."

Eles caem em silêncio, apenas ouvindo os gritos indistinguíveis lá de baixo.


Eles estão muito altos para serem vistos, então eles são os espectadores
escondidos curtindo o show pela primeira vez. Às vezes, as mesas viradas
podem ser divertidas.

402
ZEPPAZARIEL

Remus está aqui na varanda com ele desde que eles se encontraram na
cozinha nos primeiros cantos desta manhã. Sirius, Pandora e James ainda não
tinham acordado, mas Regulus nem tinha dormido na noite anterior. Remus
apareceu, exatamente como faria, mas não demorou muito para fazer ele
abandonar o café da manhã e sair com ele.

Eles não falaram sobre isso.

Nada disso.

Regulus sabe que Remus está ciente de que Sirius vai voltar para a arena
com ele. Ele sabe disso porque ouviu Remus chorando do seu quarto. Apenas
mais uma pessoa que está ferida por causa de Regulus. Sirius estaria seguro
agora, se ele não tivesse—mas ele fez. Ele fez, e agora Regulus sabe como
Remus soa quando chora. É de cortar o coração.

"Você parece melhor, sabe," Remus anuncia abruptamente. Regulus vira a


cabeça para arquear uma sobrancelha para ele, mas Remus não parece
envergonhado. "Eu estou falando sério. Apesar de tudo isso, você percorreu
um longo caminho. Eu pensei—bem, eu vi um pouco de você no ano
passado, então imaginei que você gostaria de saber que há uma melhora
visível."

"Eu, hum. Quer dizer, eu melhorei em alguns aspectos. Em outros, ainda é


a mesma coisa," Regulus murmura. Ele limpa a garganta e desvia o olhar.
"Menos pesadelos, mesmo que eles não tenham desaparecido completamente.
Menos paranóia. Menos aversão ao contato. Ainda não posso tomar um
maldito banho, mas... ficou mais fácil de administrar."

Os lábios de Remus se curvam. "Isso é bom, Regulus."

"É redundante," Regulus corrige sem rodeios. "Eu melhorei—eu ainda


estava melhorando, e bem na hora—"

Regulus se interrompe e eles ficam em silêncio, porque aí está. Nenhum


deles fala por um longo momento, o peso da realidade caindo sobre eles.
Quando Regulus vira a cabeça, Remus está olhando apático para seus dedos,
sua boca torcida como se ele estivesse tentando lutar contra uma grande
emoção.

403
CRIMSON RIVERS

"Ele se voluntariou por mim de novo," Regulus diz, e a cabeça de Remus


se levanta. Algo se passa entre eles, esse conhecimento sentado entre eles.
Regulus pode ver ali, nos olhos de Remus, a percepção de que, se não fosse
por Regulus, Sirius estaria seguro. É doloroso de ver. "Nós prometemos um
ao outro que não iríamos, e ele ainda sim fez isso. Não é a pior coisa que você
já ouviu?"

O rosto de Remus se enruga um pouco, fazendo a cicatriz enrugar em


certos lugares. "Você está com raiva dele."

"Raiva nem começa a definir isso," admite Regulus.

"Regulus," Remus engasga, balançando a cabeça.

"Você pode me odiar por isso. Faça o que você precisa fazer, e eu—vou te
apoiar nisso," Regulus continua, lutando contra a onda de emoção que faz seu
peito ficar apertado. "Mas não se esqueça de odiar ele por isso também. Eu
implorei para ele, Remus. E ele fez isso."

Remus fecha os olhos com força. "Eu não odeio você, Regulus. Eu
também não odeio ele."

Eu me pergunto como é isso, pensa Regulus.

Eles ficam em silêncio novamente, a tranquilidade entre eles se foi; ele já


sente falta, mas não há nada que ele possa fazer para recuperar isso, porque
eles estão todos presos nisso, presos a essa realidade fodida da qual eles não
podem se libertar. Isso é tudo que existe, para todos eles.

Lá embaixo, os Aurores chegam para acabar com o protesto, e o show


chega ao fim.

~•~

Sirius sabe que Remus o está evitando. Um movimento meio idiota se


esconder com o irmão de Sirius para fazer isso, mas Sirius não é estúpido. Ele
sabe que Remus quer espaço agora. Ele não pode culpá-lo.

A coisa é, Sirius não sabe o que fazer sobre isso. É claro que ele quer
respeitar a necessidade de espaço de Remus, mas ele também quer passar o

404
ZEPPAZARIEL

máximo de tempo que puder com ele enquanto ainda tem chance. Neste
ponto, todos eles estão apenas perdendo tempo.

E 'todos' inclui James, sim, que está fazendo sua versão de birra no
momento. Sirius não fica irritado com isso; ele é a última pessoa que pode
julgar alguém por fazer birras, com Regulus sendo o segundo próximo. Talvez
seja por isso que eles estão permitindo que James faça isso sem interferência,
sem falar, sem intervir para tentar melhorar. A verdade é que Sirius acha que
ambos—ele e Regulus—têm esse medo interior de que eles só são capazes de
piorar as coisas.

Honestamente, Sirius está apenas assustado no geral. Ele não consegue se


lembrar de uma vez em que James ficou tão bravo. Tipo, sobre qualquer coisa.
Não ajuda que Regulus esteja tão furioso—ou não, ele está outra coisa, algo
pior, de alguma forma. Não raiva. Apenas farto. Quando se trata de Sirius, ele
está farto.

Então, na realidade, Sirius quer encontrar Remus e segurá-lo, enterrar o


rosto no ombro de Remus e passar o dia inteiro se escondendo lá. Eles já
desperdiçaram metade do dia. Tecnicamente, Sirius e Regulus poderiam estar
usando a sala de treinamento hoje, mas nenhum deles se incomodou. Sirius
duvida que a maioria dos tributos vai se incomodar, honestamente, pelo
menos no primeiro dia. Amanhã, antes das avaliações? Sim, Provavelmente.
Sirius vai aparecer por tempo suficiente para garantir aliados para ele e
Regulus, então voltará direto para Remus, porque ele está mais do que
confiante em suas habilidades para lutar, obrigado.

No entanto, Remus precisa... de espaço agora, então Sirius fica com o que
ele realmente teme, possivelmente pela primeira vez em sua vida. Bem, a
primeira vez que ele consegue se lembrar, pelo menos.

"James?" Sirius chama fracamente, batendo em sua porta. "Posso entrar?"

"Sim, tudo bem," é a resposta calma de James.

Sirius entra cautelosamente, seus lábios se inclinando para baixo quando


ele encontra James sentado em sua cama contra a parede, a cabeça apoiada
contra ela, olhos fechados. James não abre os olhos, nem mesmo quando
Sirius afunda na beirada da cama.

405
CRIMSON RIVERS

"Podemos conversar?" Sirius pergunta.

"Vá em frente," James murmura, sua voz suave e sem vida.

"Você está, ah, bem?"

"Parece que eu estou bem, Sirius?"

Fazendo uma careta, Sirius estende a mão para esfregar a mão na boca,
então solta um suspiro e deixa seus ombros caírem. "Ok, apenas acabe com
isso. Vá em frente, solte. Grite à plenos pulmões."

"Eu não quero gritar," diz James.

"Acho que você pode precisar, no entanto," Sirius diz a ele, tentando se
preparar para isso. Seu estômago está embrulhado, e James não se incomoda
em responder. "Se—se você apenas tirar isso, e você puder passar por isso,
então—"

"Não há como passar por isso," James interrompe, e ele não parece
zangado. Ele parece exausto.

"Por favor, não diga isso, James," Sirius resmunga.

Os olhos de James se abrem, e ele apenas olha para Sirius, apenas o estuda
devagar, diligentemente. Suavemente, ele diz, "Você está planejando tirar ele
de lá."

Sirius respira fundo, então assente. "Claro que eu estou."

James faz um ruído áspero e engasgado. "O que eu faço com isso? O que
eu devo fazer com isso, com tudo isso? Está tudo fodido. Como ele pôde
fazer isso comigo?"

"Não havia uma resposta certa para isso," Sirius murmura. "Não havia
nenhuma maneira de qualquer um de nós conseguir—passar por isso sem que
tudo desse merda. A verdade é que estávamos todos fodidos de qualquer
maneira."

"Você quebrou sua promessa também," James sussurra.

406
ZEPPAZARIEL

Sirius engole em seco. "Sim, eu—eu quebrei. James, eu não pretendia. Eu


ouvi o nome dele, e eu só—eu não podia—"

"Ele pretendia," diz James, sua voz embargada. "Essa é a diferença. Ele
mentiu para mim, de propósito, Sirius. Ele esteve sempre planejando isso, e—e
eu não posso—é uma bagunça, porque minha mãe está segura por causa dele,
mas ele ainda—não é que eu a quero em perigo, ou você, é só que
ele pretendia—"

"James," Sirius interrompe gentilmente.

"Isso machuca pra caralho," James engasga. "Machuca, e ele sabia que iria,
e ele pretendia me machucar."

"Sempre iria machucar de qualquer maneira, não importa como fosse, e eu


sinto muito que seja assim. Eu sinto muito por ter que deixar você. Eu sinto
muito, James." Sirius pisca passando a mão pelos olhos ardendo. "Eu posso
entrar e garantir que ele saia, e vocês dois vão—vocês vão dar um jeito. Vocês
vão viver e serem felizes, e eu vou—eu ainda vou estar lá, porque assim como
você está sempre comigo, eu estou sempre com você."

"Mas você não vai estar," James diz, seu queixo balançando.

"Me perdoe mesmo assim," Sirius implora, porque ele precisa disso,
mesmo que seja mentira. Ele não quer morrer sem o perdão de James.

James parece engasgar com um soluço, ofegante, estremecendo e tremendo


enquanto ele se curva e desaba de uma vez. E ainda sim, através de suas
lágrimas, por Sirius, ele encontra dentro de si mesmo para dizer, "Eu perdôo.
Eu perdôo você, Sirius."

"James," Sirius diz, sua voz suave e rouca, e ele desliza para cima da cama
cautelosamente, sem saber se—

No momento em que ele chega ao seu alcance, James se desdobra e


estende a mão para agarrá-lo mais perto, agarrando-se a ele enquanto ele solta
soluços profundos e ofegantes. Os dedos de James torcem na parte de trás de
sua camisa, segurando-o tão apertado que é difícil respirar, mas Sirius o agarra
de volta e deixa seus pulmões protestarem.

407
CRIMSON RIVERS

"Eu não posso, eu não posso fazer isso, Sirius, eu não posso, por favor,"
James choraminga, as palavras saindo de sua boca. Ele não para de chorar por
muito tempo, mas quando o faz, ele cai nos braços de Sirius e repete, "Eu não
posso fazer isso."

"Você não tem escolha," Sirius murmura, afastando-se e segurando James


pelos ombros, mantendo seu olhar.

"Sim, por causa dele," diz James, e há força em sua voz novamente,
finalmente, alimentada pela raiva. "Você acha que eu e ele seremos felizes?
Você está errado. Eu odeio ele. Eu odeio a porra do seu irmão estúpido e suas
mentiras estúpidas e suas—"

"Tudo bem, pare," Sirius interrompe, um pouco ríspido, mas James


continua a encará-lo. "Olha, você precisa—"

"Eu não quero falar sobre ele," James interrompe friamente. "Nós não
vamos dar um jeito nisso. Eu e ele, nós não seremos felizes, Sirius. Ele é—eu
simplesmente não posso. Ele é quem—ele—"

"Regulus. Seu nome é Regulus. Você pode dizer isso."

James franze os lábios e desvia o olhar, teimoso.

"Me ouça," Sirius insiste, "Se você não—"

"Eu não vou falar sobre ele," James corrige, seus olhos brilhando, a
mandíbula apertada. "Eu não vou fazer isso, Sirius. Está acabado. Eu e ele—
nós acabamos. Eu o odeio, e é isso."

Sirius dá um suspiro e puxa as mãos para trás. "James—"

"Eu disse que é isso!" James explode, e Sirius instantaneamente se cala.


Tudo bem, então James não está pronto para falar sobre Regulus. Entendido.
Talvez seja melhor se Sirius revisitar isso mais tarde.

"Ok, claro, é isso," Sirius murmura, sem acreditar por um segundo. "Você,
ah, odeia ele. Não é da minha conta, mas o bem-estar dele é da minha conta
como irmão dele, então... Bem, seja o que for, eu sei que posso pedir isso a
você e ter certeza de que você fará isso. Eu vou me certificar de que ele
chegue em casa, então apenas... Cuide de Regulus, James, por favor."
408
ZEPPAZARIEL

A última vez que Sirius pediu isso a James, ele tinha dezesseis anos e estava
indo para a arena. James não conseguiu responder antes de Sirius ser
arrastado, e ele não responde agora, mas Sirius não precisa de uma resposta
para saber que ele vai tentar o seu melhor.

Ele sempre tenta.

~•~

"Ah, todos vocês estão me evitando, então?" Pandora pergunta, colocando


a cabeça para fora da porta da varanda.

Remus aponta para si mesmo e corrige, "Sirius, na verdade."

"E James," Regulus murmura, levantando a mão.

"É justo," Pandora reflete enquanto se joga na cadeira do outro lado da


mesa. "Suponho que eu esteja evitando eles também."

"Que razões você tem para evitar eles?" Remus pergunta, os lábios se
contraindo enquanto ele arqueia uma sobrancelha para ela.

"Bem, Sirius está todo deprimido, o que me deixa triste," Pandora explica,
lançando um olhar aguçado para Remus. Logo depois, ela lança um olhar
aguçado para Regulus também. "E James está todo... bravo, o que me deixa
preocupada. Eu preciso de uma pausa, honestamente, então nenhum de vocês
pode ser nada além de calmo e neutro pelos próximos cinco minutos, por
favor e obrigado."

Remus ri e repete com ela, "É justo."

Nos cinco minutos seguintes, eles literalmente não falam ou fazem nada
além de olhar para a varanda. Pandora começa a cantarolar baixinho, e é
reconfortante. Remus fecha os olhos e joga a cabeça para trás, inspirando e
expirando, inspirando e expirando.

"Pandora," Regulus diz, eventualmente.

"Hum?"

"Eu—eu queria perguntar... Como está o seu pai?"

409
CRIMSON RIVERS

Remus abre os olhos e olha para Pandora, que respira fundo, então
murmura, "Ele está—sim, ele ainda está praticamente o mesmo. Ainda
doente. Não está melhorando, e—e os curandeiros dizem que não resta muito
tempo, talvez um mês ou dois."

"Eu sinto muito," Regulus murmura. "Eu queria... Bem, eu esperava que eu
pudesse—estar lá para você quando..." Ele exala e desvia o olhar. "A única
razão pela qual eu trouxe isso à tona é porque, ah, eu tenho um conselho.
Apenas, hum, tenha alguém com você quando você estiver vasculhando as
coisas dele. Isso ajuda."

"Ok. Obrigada," Pandora sussurra. Ela faz uma pausa, então franze a testa
para ele. "Espere, eu pensei que você tinha dito que não sabia nada sobre o
processo?"

Regulus pisca para ela. "Oh, bem, eu ainda não sei, mas meus pais
morreram na última noite da turnê da vitória. Incêndio na casa. Nós
descobrimos quando voltamos. Foi—bem, nós temos certeza de que foi
Riddle que fez, mas de qualquer forma—"

Remus se levanta e sai da cadeira em um piscar de olhos, abrindo a porta e


praticamente correndo pelo quarto de Regulus e pelo corredor. Ele irrompe no
quarto de Sirius e o encontra vazio, então se vira para ir para o próximo que é
o de James. Nem sequer bate, frenético demais para sequer pensar nisso, e
Sirius está lá com James, ambas as cabeças se levantando enquanto ele entra
correndo.

Sirius salta da cama, virando-se para ele com os olhos arregalados,


parecendo prender a respiração.

"Seus pais morreram," Remus engasga. "Seus pais morreram, e eu não


sabia, e eu não estava lá. Eu não pude estar lá."

"Remus," Sirius diz, seu rosto suavizando.

"Eu sinto muito," Remus diz a ele, sincero e desesperado, cheio de tanto
arrependimento e tristeza por tantas coisas, porque ele está percebendo de
uma vez que ele sente tanta falta de Sirius, e aqui está ele como um maldito
tolo, faltando mais.

410
ZEPPAZARIEL

"Ok, ei, tudo—tudo bem, Remus. Não é sua culpa. Vamos, não faça isso,
sim?" Sirius se aproxima, estendendo a mão com visível apreensão. "Vamos
apenas—vamos falar sobre isso, certo? Podemos ir? Você vem comigo?"

Remus honestamente seguiria Sirius em qualquer lugar, em qualquer coisa.


Ele estende a mão e pega a mão de Sirius. Sirius troca um olhar com James,
que balança a cabeça em silêncio, oferecendo a Remus um sorriso fraco e
trêmulo. É visível que ele estava chorando.

Alguns momentos depois, Sirius está levando Remus direto para seu quarto
e direto para a cama. Ele tira os sapatos e solta a mão de Remus, subindo na
cama e se posicionando antes de olhar para ele com esperança descarada em
seus olhos.

"Eu sinto muito," Remus sussurra novamente enquanto se deita na cama


ao lado de Sirius, encolhido de lado, de frente para ele. Apenas olhando um
para o outro. Sem tocar. "Eu deveria estar lá."

"Remus, você literalmente não podia," Sirius murmura. "E eu não culpo
você por isso. E... na verdade, de certa forma, você estava lá para mim. Sabe,
eu saía todas as noites e falava com a lua como se estivesse falando com você,
e eu estava. Toda vez, eu estava apenas conversando com você, e conversar
com você ajudou. Mesmo com meus pais morrendo, ajudou."

"Não é a mesma coisa," resmunga Remus.

"Mas foi alguma coisa," Sirius diz suavemente. "Para mim, isso foi tudo.
Por favor, não diminua a maneira como você conseguiu cuidar de mim,
mesmo quando você não pôde estar lá."

Remus pisca forte e rápido, engolindo em seco. "Ok, eu não vou fazer isso,
então. Mas eu—eu falhei em estar aqui para você hoje, Sirius, e eu sinto muito
por isso."

"Você é humano, Remus, e você precisava de espaço," Sirius diz a ele.


"Não há nada de errado com isso. Está tudo bem."

"Eu não precisava," Remus murmura. "Eu só estou com medo."

Os olhos de Sirius ficam gentis, insuportáveis, e ele estende a mão


timidamente para segurar a mandíbula de Remus. No momento em que ele se
411
CRIMSON RIVERS

inclina, Remus o encontra no meio do caminho, afundando em seu primeiro


beijo desde o último na festa da turnê da vitória. A boca de Sirius é tão
quente, tão convidativa, quanto Remus se lembra.

"Eu te amo mais do que as marés amam a lua," Sirius suspira, se


aproximando, seus dedos trêmulos enquanto deslizam pelo pescoço de
Remus. "Eu sou temperamental como o oceano e, mesmo assim, eu estou à
sua mercê. Me dê um navio e eu o destruirei ao seu comando."

"Sirius," Remus sussurra, lutando para não cair no suave canto de Sirius e
no suave movimento de seu corpo.

"Nós não podemos roubar a lua, nós não podemos ficar com as estrelas,
mas nós não podemos ser gratos por amá-las de qualquer maneira? Apesar de
tudo, eu sou grato por amar você, Remus," Sirius sussurra de volta. "Você é?"

"Sim, amor, é claro," Remus confessa, sua voz falhando, um pouco


embargada, porque é verdade agora mais do que nunca. Ele tem uma galáxia
de estrelas em seus braços e não pode mantê-la.

Remus se abaixa e beija Sirius só para ele não chorar.

Sirius faz um barulho suave em sua boca, a mão deslizando para embalar a
nuca de Remus, segurando-o lá. É um beijo lento, profundo e sem pressa,
reverente e completo. Remus toma o tempo para reaprender os lábios de
Sirius, não que ele os tenha esquecido, mas ele sente o alívio de reencontrá-los
depois de tanto tempo. Ele não pode evitar. Sirius é pior que uma droga, e
Remus nunca quer largar ele.

"Oh, oh, porra, eu senti sua falta. Eu senti falta disso," Sirius murmura
enquanto se aproxima ainda mais, inalando bruscamente enquanto desliza a
mão no cabelo de Remus. "Merda, eu senti tanto a sua falta."

"Não se passou um dia sem que eu não pensasse em você, Sirius," Remus
responde. "Eu fechei meus olhos todas as noites e sonhei com você. É
sempre você, em qualquer mundo, em qualquer vida."

Sirius, depois de todo esse tempo, ainda cora lindamente como sempre. O
calor pulsa no peito de Remus quando ele o vê, aquele rubor que sobe às suas

412
ZEPPAZARIEL

bochechas quando ele está nervoso, ou satisfeito, ou tudo isso e muito mais.
Ele é precioso. Simplesmente precioso.

"Qualquer vida?" Sirius morde o lábio. "E a próxima?"

"Essa também," Remus murmura. "Talvez seja mais gentil conosco do que
essa foi."

"Talvez, mas por enquanto, essa não é tão ruim," Sirius diz a ele, sua
respiração engasgando quando ele finalmente se encaixa no lugar, onde ele
estava tentando ficar todo esse tempo, pressionado contra Remus. Ele parece
tão satisfeito consigo mesmo. "Não, não é tão ruim assim, não no momento.
Porque aqui está você. Aqui estamos nós, por enquanto."

"É alguma coisa," Remus diz, os lábios se curvando.

"Com certeza é," Sirius concorda e soa totalmente, de todo coração


contente e adorando cada pedacinho de algo que eles podem ter. Nunca é
nada, e isso sempre foi o suficiente, não é? Ainda é. Tem que ser.

Remus se vê sendo beijado novamente, com mais fervor dessa vez, mais
intensidade e propósito. Os dedos de Sirius apertam seu cabelo, e Remus se
ajusta. A mudança de tom rouba seu foco até que ele está agarrando o
caminho pela coxa de Sirius, finalmente enganchando os dedos sob seu joelho
e puxando a perna de Sirius sobre seu quadril.

Sirius geme no beijo, alto e orgulhoso por isso, e isso envia uma emoção
impotente através de Remus imediatamente. Ele puxa Sirius para mais perto,
subitamente desolado por todo o dia que ele desperdiçou até agora não
fazendo exatamente isso. Uma névoa enche sua cabeça, e ele quebra o beijo
para descer com a boca até a garganta de Sirius.

"Oh, sim, isso é—mm, Remus, espere um segundo," Sirius bufa, e Remus
o faz, recuando para piscar para ele.

"Tudo bem?" Remus verifica.

"Brilhante," Sirius diz fracamente, e então ele tosse um pouco, seu rosto
ficando vermelho vibrante. "Eu só—bem, eu estava me perguntando se nós
poderíamos... Hum."

413
CRIMSON RIVERS

Remus sorri para ele com carinho. "Você quer tentar alguma coisa? Você
pode apenas perguntar, Sirius, está tudo bem. Eu provavelmente vou dizer
sim de qualquer maneira. Eu não posso imaginar que há algo que eu não faria,
contanto que eu esteja fazendo isso com você."

Essa é a coisa certa a dizer. Remus pode ver imediatamente que ele acabou
de acertar o alvo, porque Sirius relaxa, e seus olhos brilham como se ele
tivesse acabado de descobrir uma nova função em um brinquedo que ele nem
sabia que existia. Oh, ele também faz isso? Sim, sim, ele faz. Remus luta para
abafar uma risada com o puro deleite no rosto de Sirius, sua excitação e alegria
palpáveis.

"Eu quero tentar—do outro jeito," Sirius diz a ele. "Me deixe tentar
realinhar a sua coluna dessa vez, se estiver tudo bem."

Remus bufa uma risada. "Você realmente pensa nisso assim? Como essa
frase, quero dizer. Realinhamento da coluna."

"James é uma influência terrível, mas ninguém sabe disso porque eles
pensam que ele é todo doce e inocente. Ele não é. Ele é um pervertido travesso
que—" Sirius engasga, e então ele se apoia em seu cotovelo. "Remus, eles
fizeram isso. O realinhamento da coluna; aconteceu. Bem, provavelmente. Eu
não sei os detalhes, felizmente, mas você entendeu."

"James e Regulus?" Remus pergunta, sobrancelhas se levantando.

Sirius balança a cabeça como um boneco. "Eles passaram, tipo, dois dias
seguidos apenas..." Ele franze o nariz. "Bem, você sabe."

"Então, o que diabos aconteceu?" Remus deixa escapar. "Regulus não falou
muito, mas eu acho que eles estão... brigando? Quero dizer, eu sei que isso é
tudo uma merda, mas James parece realmente, ah..."

"Regulus se voluntariou por James," Sirius murmura, e Remus suga uma


respiração afiada entre os dentes. "Sim, mas fica pior. Ele, hum, meio que
prometeu a James que ele não iria—quero dizer, todos nós prometemos que
não seríamos voluntários um pelo outro—mas Regulus estava mentindo sobre
isso. Eu não estava mentindo quando prometi a Regulus não me voluntariar
por ele, ou eu não achava que estava, mas então eu ouvi o nome dele, e eu—
eu não podia simplesmente—e agora Regulus me odeia pra caralho, tipo

414
ZEPPAZARIEL

genuinamente. Ele disse que eu estou morto para ele. E James disse que odeia
Regulus, só que é claro que ele não odeia, e é—é tudo uma bagunça, Remus."

Remus pisca. Muito. Tudo o que ele pode dizer é, "Oh, isso é tão fodido.
Tudo isso é tão fodido."

"Eu sei," Sirius concorda com um gemido, abaixando a cabeça para bater
no ombro de Remus, e então ele se levanta. "Eu não quero mais pensar nisso.
Você não disse se—se nós podíamos... fazer isso. Se você não quiser, tudo
bem. Podemos fazer outra coisa. Ou se você não—"

"Sirius," Remus interrompe, antes que ele possa divagar e se convencer


disso completamente, "Está tudo bem. Nós podemos fazer isso."

"Sim?" Sirius exala, seu rosto corando novamente, mas como um sinal de
ansiedade. Seus olhos dançam com antecipação.

"Sim," Remus confirma, os lábios se curvando, sua própria antecipação


causando uma propagação de calor sob sua pele.

Como se ele pudesse sentir isso, como se estivesse sendo atraído por isso,
Sirius avança para beijá-lo, e Remus fica muito grato por ele ter feito isso.

~•~

Sirius trabalha com Pandora para reunir todos mais perto da noite. James e
Remus ficam em um canto e murmuram para frente e para trás enquanto
Sirius e Pandora discutem sobre como configurar as telas para o que eles
precisam. Regulus fica em silêncio, olhando para os dedos sem dizer uma
palavra.

No final, Sirius e Remus se sentam juntos, e Regulus se senta sozinho,


enquanto James, que nem sequer respira em sua direção, se senta ao lado de
Pandora. Regulus também não reconhece a presença de Sirius de forma
alguma.

"Certo," Pandora diz com uma respiração profunda. "Então, a


programação é a mesma de sempre, apesar de ser o Memorial Quarternário. A
sala de treinamento estará aberta hoje e amanhã, e amanhã à noite, eles farão
avaliações. Este ano está muito relaxado, menos obrigatório o

415
CRIMSON RIVERS

comparecimento, então você pode ir ou não ir como quiser. No dia seguinte


são as entrevistas, e então—"

Ela não termina, mas todos eles sabem.

"Duvido que a maioria das pessoas vá para a sala de treinamento, e eu só—


não vou," Sirius declara sem rodeios. Ele limpa a garganta e olha para Remus.
"Eu vou aparecer amanhã só para conseguir aliados para mim e Reggie, mas
fora isso eu não vou perder tempo lá."

"É uma perca de tempo, no entanto?" Remus pergunta cansado. "Quero


dizer, sem ofensa, Sirius, mas faz... onze anos desde que você, hum, teve
que—você sabe, lutar. Se—se você precisar se aprimorar—"

Sirius não consegue evitar começar a rir. O som não parece apropriado
para a atmosfera atual, mas ele não pode evitar. Remus pisca para ele,
assustado, e James tosse como se estivesse lutando para não rir também.
Pandora dobra os lábios, visivelmente divertida. Regulus não reage nada.

"Confie em mim, eu vou ficar bem," Sirius o assegura, totalmente


confiante sobre isso.

Remus ainda não parece convencido, o que é meio fofo, honestamente.


Como se ele não pudesse nem imaginar Sirius sendo uma ameaça. "Ser
arrogante não é o mesmo que ser competente, sabe."

"Não? Você não acredita em mim?" Sirius desafia, levantando as


sobrancelhas lentamente e inclinando a cabeça. O olhar de Remus percorre
seu rosto, demorando-se na boca de Sirius, onde um sorriso lento se espalha,
e então ele estreita os olhos quando olha de volta, balançando a cabeça
lentamente. Sirius sussurra e se levanta, estendendo a mão para colocar o pé
contra a mesa de centro e lentamente empurrando-a para abrir espaço.
Quando ele se vira, ele bate palmas. "Tudo bem, vamos."

"O que?" Remus pisca novamente. "Onde eu estou indo? O que nós
estamos fazendo?"

Sirius bufa e se abaixa para pegar a mão de Remus, puxando-o para ficar de
pé. "Já que você duvida de mim, eu vou provar isso para você. Forte como
você é, certamente você pode dar conta de mim, certo?"

416
ZEPPAZARIEL

"Não foi isso que eu quis dizer," Remus diz fracamente, suas mãos
penduradas ao seu lado. "Eu só—eu só estava dizendo para não desperdiçar a
oportunidade de—"

"Não, não, eu não gostaria de ser muito arrogante, Remus," Sirius


interrompe, acenando com as mãos e dando um passo para trás. Ele morde
um sorriso quando Remus solta um suspiro, ainda resmungando que ele não
quis dizer isso, mas Sirius não se sente insultado de qualquer maneira. "Eu estou
prestes a mostrar que você não tem nada com que se preocupar. Agora, dê um
passo à frente. Apenas um."

"Isso é—talvez seja só eu, mas parece muito..." Remus tosse e dá a ele
um olhar. Sirius balança as sobrancelhas para ele, e ele realmente cora um
pouco. Oh, ele está nisso. Ele está tão envolvido nisso agora. Sirius nunca
sentiu tanta alegria em sua vida.

"Venha aqui," Sirius insiste, curvando um dedo para ele.

Remus bufa uma risada fraca, balançando a cabeça, mas ele realmente dá
um passo à frente, e suas mãos sobem quase automaticamente, como se seu
primeiro instinto fosse sempre alcançar Sirius no momento em que ele
chegasse ao alcance. Desta vez, ele não vai tão longe. Sirius estende a mão
para agarrar seu pulso, puxando com força e chutando com o pé para prendê-
lo ao redor do joelho de Remus, varrendo sua perna por baixo dele e
mandando-o direto para o chão. Isso acontece em cerca de cinco segundos, e
então Remus está caindo de costas com um baque.

Sirius estala a língua e vira a cabeça para o lado, olhando para Remus com
um zumbido baixinho. Remus pisca para ele, ofegando um pouco. Ele parece
bem assim. Bem, ele sempre parece bem, mas Sirius não é imune à visão de
Remus Lupin atordoado, olhando para ele sem esconder sua admiração. Ele
viu isso mais cedo quando eles estavam—

"Você mal se mexeu," Remus deixa escapar. "Que porra é essa?"

"Você acha que eu passei os últimos onze anos sem fazer nada, Remus?
Talvez seja o trauma, mas você não simplesmente para de se preparar para
qualquer coisa depois da arena, especialmente quando você é um mentor,"
Sirius diz a ele, divertido. Ele estende a mão, sorrindo gentilmente. "Me deixe
ajudar você a levantar. Você está bem?"

417
CRIMSON RIVERS

"Oh, eu nunca estive melhor," Remus responde, estendendo a mão para


segurar a mão de Sirius e deixando-se ser puxado para cima, olhos brilhantes
enquanto percorrem o corpo de Sirius. "Competente. Certo, entendi. Você
certamente fez o seu ponto."

"Quer saber algo sexy?"

"Absolutamente eu quero."

Sirius sorri para ele. "Eu posso fazer aquela coisa de balanço onde eu, tipo,
subo em seu corpo enquanto você está de pé e te jogo no chão com minhas
coxas em volta de sua cabeça."

"Eu não acredito em você. Eu preciso de provas imediatamente," Remus


diz, e Sirius começa a rir, arrastando-se para passar os braços ao redor de
Remus, abafando sua risada em seu ombro.

Remus ri e dá um beijo em sua têmpora, apertando seus quadris antes de


conduzi-los de volta aos seus lugares. Sirius se sente melhor, só de saber que
Remus está—bem, ele não está bem, a noite passada foi a prova disso, mas ele
não vai deixar que isso se interponha entre eles. É um grande alívio,
honestamente, porque Sirius estava com muito medo que Remus se afastasse
permanentemente.

Eles nunca têm tempo suficiente, e Sirius não quer perder um segundo do
que eles têm. Ele quer passar o máximo de tempo que puder junto apenas
sendo... feliz, ou o mais feliz possível com tudo isso acontecendo.

"Tudo bem," Sirius anuncia. "Hoje, nós vamos revisar os outros Vitoriosos
e os seus jogos, o que significa que vamos assistir aos destaques e tomar notas.
Será, tipo, uma atividade de união em grupo para todos nós. Aconcheguem-se,
desliguem as luzes, descontraiam-se e relaxem um pouco enquanto nós—"

"Sirius," James diz brevemente, e Sirius prontamente se cala.

"Eu achei engraçado," Remus sussurra em seu ouvido, provavelmente


apenas mimando ele, mas mesmo assim faz Sirius pressionar um sorriso em
seu ombro. Remus passa um braço ao redor dele, uma mão subindo para
brincar preguiçosamente com seu cabelo, e isso—é exatamente isso que Sirius
quer. Só isso. Eles.

418
ZEPPAZARIEL

O alguma coisa deles.

~•~

Regulus tem certeza de que ele tem o layout do lugar decorado no que diz
respeito aos outros tributos. Há Sirius, é claro, cujos jogos Regulus conhece
de trás para frente; está praticamente gravado em seu cérebro, mesmo onze
anos depois.

No distrito um, há Bellatrix e Narcissa, que é uma bagunça por si só, e isso
sem incluir o quão implacáveis as duas eram em seus jogos.

Bellatrix abordou seus jogos como—bem, como uma mulher louca. Ela era
uma Comensal da Morte—é claro que era—e não tinha vergonha de matar
qualquer um que encontrasse. Os Comensais da Morte chegaram ao fim em
um grupo de cinco, e Bellatrix foi a última de pé depois que eles se voltaram
um contra o outro.

Narcissa não era uma Comensal da Morte, mas ela parecia ter feito alianças
com os Comensais da Morte e praticamente com todos os outros tributos que
estavam dispostos a lutar. Ela se retratou como delicada, precisando de
proteção, e mal precisou levantar um dedo até chegar a hora de atirar em
alguém pelas costas. E ela fez exatamente isso, uma e outra vez. Ela até fez
isso para ganhar. Literalmente, no final dos jogos, ela atirou em um homem
nas costas com uma flecha antes que ele pudesse perceber que o canhão
anterior significava que restavam apenas dois tributos.

Do dois, há Yaxley e Rabastan Lestrange, ambos Comensais da Morte em


seus jogos. Yaxley venceu por andar na cola de seus superiores e ter sorte no
final. Rabastan venceu por ser o favorito entre os patrocinadores e obter
muito apoio.

O distrito três é Alecto e Thorfinn—também ambos Comensais da Morte


em seus jogos. Ambos fortes, ambos implacáveis, ambos inteligentes. É a
inteligência descarada que realmente preocupa Regulus, porque a maioria dos
Comensais da Morte—pelo que ele viu—vence por força bruta ou apenas um
esforço em grupo até o fim, além de favoritismo dos patrocinadores. Mas
Regulus pode dizer que Alecto e Thorfinn são dois a serem observados,
porque eles são do tipo sinistro, completamente sem medo de jogar jogos
mentais também.

419
CRIMSON RIVERS

Do quatro é Majesty, que não era um Comensal da Morte, mas era um


pequeno ladrão. Secreto e leve em seus pés, Majesty ganhou os jogos
literalmente se esgueirando, plantando bombas e minas, depois fugindo. Ele
nunca lutou contra ninguém, movendo-se pelas sombras e ficando fora de
vista. Outro inteligente. Asher, em contraste, envenenou um suprimento de
água e matou todos dessa maneira; seus jogos duraram dois dias e ela saiu
totalmente ilesa.

Alice Fortescue e Augusta Longbottom do cinco, e Regulus pode dizer que


isso é difícil para Sirius no momento em que os rolos de destaque começam a
tocar. Alice ganhou seus jogos um ano antes de James e Regulus, e ela o fez de
forma mais tradicional, apenas lutando quando precisava. Ela não era uma
Comensal da Morte, e ela teve que matar alguns Comensais da Morte que
encontrou, mas fora isso, ela ficou sozinha até o final, onde houve uma luta
brutal que só ela se levantou e foi embora.

Augusta é uma mulher mais velha e, em seu tempo, era mortal. Fora todos,
exceto Sirius, ela tem a maior contagem de mortes, que chega a nove pessoas
que ela matou em sua arena. Ela tem sessenta e três anos agora, mas isso não
significa automaticamente que ela seja mais fraca ou menos capaz. Afinal,
Effie tem cinquenta e quatro anos e é perigosa.

O sete tem Vitoriosos que venceram seus jogos de maneira semelhante.


Lester e Henri ficaram quase todo o tempo escondidos e fugiram do perigo,
até o fim. Henri teve sorte quando era apenas ele e outro tributo, o último
morrendo de desidratação antes que a luta final pudesse alcançá-los. Lester—
ele não teve sorte e teve que lutar no final, mas ele tinha uma besta e não
errou quando atirou. Ele faz Regulus pensar em Mathias.

Ambos do oito—Alowyn e Warwick—venceram seus jogos por meios


ambientais, embora ambos tenham entrado em várias brigas ao longo do
caminho. É só que os elementos lidaram com a competição para eles, na
maioria das vezes.

Emmeline do nove, o que faz o estômago de Regulus cair debaixo dele,


porque ele realmente gosta dela, e seus destaques deixam claro que ela é uma
ameaça. Ela é fodidamente inabalável. Ela nunca desmorona ou vacila, nem
mesmo quando mata pessoas. Ela também é um canhão solto pelo que
Regulus vê; coisas aleatórias iriam apenas tentar detoná-la, e então alguém

420
ZEPPAZARIEL

estaria morto momentos depois. O sangue nunca pareceu incomodá-la, do


ponto de vista dele.

"Não, isso foi apenas como ela lidou," Sirius murmura, quando James, que
também percebe, fala para perguntar. "Ela compartimentalizava muito em seus
jogos, ou pelo menos foi o que ela me disse. Mas isso a atingiu depois."

Dixon foi o mentor de Emmeline antes dela assumir o lugar dele, e ele
também era um Comensal da Morte. Ele está mais velho agora, mas ainda é
alguém para se preocupar, apenas por causa de quão forte ele era e
provavelmente ainda é, se ele continuou praticando.

Mavis e Velvet Oswald são casados e namoravam quando entraram nos


jogos, com dois anos de diferença. Velvet foi o mentor de Mavis, e a Relíquia
comeu sua história de amor, o que não é surpresa. Os patrocinadores os
levaram até o fim, apenas para que pudessem chegar em casa um para o outro.
E agora eles estão voltando, juntos. Dá um nó na garganta de Regulus só de
pensar nisso, porque é genuinamente fodido.

Marlene... Bem, Regulus fica surpreso ao observar seus destaques, porque


ele a conheceu, e ela é um pouco rude às vezes. Em seus jogos, porém, ela
estava apenas—com medo. Tranquila. Tímida, até. Ela fugia das brigas e não
aproveitava as oportunidades para matar quando passavam por ela. Não foi
até que ela estava com frio, com sede e faminta que seu interruptor de
sobrevivência pareceu virar, e assistir é como ver o nascimento da mulher que
ela é agora. Depois que o interruptor virou, ela foi implacável e totalmente
inesperada. Mesmo sabendo que ela ganhou, sua progressão no vídeo é
chocante, mas talvez não devesse ser. Afinal, ele sabe exatamente como a
arena afeta alguém.

Eli, seu mentor, era um jovem brilhante quando entrou em seus jogos.
Brilhante e charmoso. Amado pelos patrocinadores. Ele está mais velho agora,
e de acordo com Sirius, ele é um bêbado. Pandora diz que ele estava
literalmente perdido na colheita, e Regulus não pode deixar de sentir uma
profunda tristeza por aquele homem, que mudou depois de seus jogos. Isso o
lembra vividamente de seu tio Alphard.

Os dois últimos dos doze—Coen e Camilla—são muito diferentes. Coen


venceu seus jogos apenas sobrevivendo aos elementos, enquanto os outros
tributos falharam, mas ele é claramente inteligente quando se trata de qualquer
421
CRIMSON RIVERS

coisa ambiental. Camilla, por outro lado, foi ridiculamente esperta ao se juntar
aos Comensais da Morte e depois assassinar todos eles enquanto dormiam na
primeira noite. Ela sobreviveu a todo o resto e matou o último no sexto dia.

"Então, o que nós sabemos?" Pandora pergunta, uma vez que a tela está
desligada.

"Bellatrix e Narcissa vão ser um problema," Sirius anuncia imediatamente.

Pandora faz uma careta. "Certo. Existe alguma chance de que a lealdade
familiar entre em jogo aqui, ou...?"

Sirius bufa. "Um pela outra, sim, mas não para nós." Ele gesticula entre ele
e Regulus. "Elas provavelmente vão trabalhar juntas, e eu não duvido que
Bella queira se juntar aos Comensais da Morte, então Cissy provavelmente irá
junto com ela. Eu tenho a maior contagem de mortes dos meus jogos, e eu
também sou muito adorado pela Relíquia. Eles vão querer me tirar do
caminho mais cedo, e Regulus também, provavelmente."

"As Relíquias também amam eles, no entanto," Pandora aponta.

"Sim, mas os outros Comensais da Morte vão querer usar isso a seu favor.
As Relíquias amam todos os membros da família Black. Nós somos seus
favoritos. Os mais divertidos," Sirius explica, franzindo o nariz. "É porque
somos todos loucos. Faz um bom show. Eles amam o drama, sem dúvida, e
não há família mais dramática do que a nossa."

"Eles deviam ter cuidado com isso," murmura Pandora, seu rosto caindo
em uma carranca. "A insanidade não é um evento contido. Pode alcançar eles
também. Eu espero que alcance."

"Exatamente," Sirius concorda, assentindo com justiça. "Yaxley, Rowle e


Carrow serão Comensais da Morte, tenho certeza, mas eles nunca foram
realmente os favoritos. Lestrange era, no entanto, e ele também será um
Comensal da Morte, tenho certeza."

"Já são seis," James murmura, os lábios se inclinando para baixo.

"Talvez sete, se Dixon se juntar de novo," Sirius diz, "E eu não vejo por
que ele não faria isso. Ser um Comensal da Morte em uma arena cheia de
pessoas tão perigosas assim? Bem, é inteligente. É uma linha clara até o fim, se
422
ZEPPAZARIEL

for feita corretamente, porque isso é acesso aos melhores lutadores ao lado
deles e patrocinadores que vão apoiá-los."

"Coen e Camilla odeiam um ao outro," Remus anuncia, e ele tosse quando


todos o encaram. "Eles são, hum... do meu distrito, então eu—eu sei disso.
Confie em mim, eles vão direto um para o outro assim que os jogos
começarem."

As sobrancelhas de James se erguem. "O que aconteceu?"

"Camilla matou o namorado de Coen em seus jogos, e eles estão brigando


desde então. Quero dizer, briga ruim," Remus diz a eles. "Tipo, houve
momentos em que as pessoas tiveram que separá-los antes que eles matassem
un ao outro. Eu posso garantir a você que o desejo não passou nos últimos
seis anos."

"Certo. Hum, vamos ver..." Sirius hesita, então solta um suspiro profundo.
"O ponto fraco de Augusta é Frank, e o de Alice também, eu acho. Marlene—
"

"Dorcas," James diz baixinho. Ele fecha os olhos quando todos olham para
ele. "Dorcas, com certeza. Elas têm—uma coisa. Pelo que eu sei, é bem
complicado, mas o jeito que Marlene falou sobre ela... Sim, Dorcas é uma
fraqueza para ela."

Pandora faz um pequeno som, olhando para Sirius, que parece prestes a
vomitar. "Ok, não, não vamos—não vamos fazer isso. Elas são—quero dizer,
elas serão mesmo uma ameaça?"

"Bem, elas não vão simplesmente se deitar e morrer se pedirmos com


gentileza," retruca Regulus.

"Não, eu só quis dizer—" Pandora bufa, cruzando os braços. "Obviamente


elas serão um problema, mas elas não serão aliadas, pelo menos no começo?
Alguns deles?"

"Acho que sim," resmunga Sirius. "Para começar, tenho certeza que todos
seremos aliados, assim como os Comensais da Morte. Serei eu, Reggie,
Marlene, Emmeline, Augusta e Alice. Mavis e Velvet estarão juntos. Dixon e
Eli são curingas. Coen e Camilla estarão lutando entre si, aparentemente, mas

423
CRIMSON RIVERS

serão curingas fora disso. Majesty, Asher, Lester, Henri, Alowyn e Warwick
também serão curingas, mas eu suspeito que todos tentarão passar por isso
sozinhos. O resto serão Comensais da Morte."

"E os mentores?" James pergunta.

Pandora solta um suspiro profundo. "Bem, Lucius para Bellatrix e


Narcissa, obviamente. Ele é bom com patrocinadores, e vai ajudar que
Narcissa seja sua esposa. Ele vai usar esse ângulo, possivelmente até
negligenciar Bellatrix para fazer isso."

"Yaxley foi o último mentor para o dois, mas ele está de volta, então quem
é esse ano?" musas de Sirius.

"Rodolphus Lestrange," Pandora anuncia, e ela acena com a cabeça


quando todos a encaram com surpresa. "Sim, ele é o irmão mais velho de
Rabastan, então Yaxley provavelmente será negligenciado também."

Regulus não consegue parar de fazer uma careta, incapaz de parar seu
cérebro em desenhar as semelhanças com o ano anterior, quando seu irmão
mais velho era seu mentor. Sirius trabalhou até os ossos por ele, e por James,
então se Rodolphus se importa com seu irmão metade do que Sirius se
importava... Bem.

Regulus desliga esse pensamento imediatamente. Corta-o rapidamente e o


enfia em algum lugar onde ele possa mantê-lo trancado a sete chaves. Sirius
não se importa mais com ele, não do jeito que Regulus pensava que ele se
importava, não do jeito que Regulus precisava que ele se importasse.

"Dolohov no três?" Sirius continua, sem saber.

"Mhm," Pandora confirma. "Ele não é o melhor com patrocinadores,


honestamente, mas Alecto era mais favorecido do que Thorfinn, se bem me
lembro, então se ele for inteligente, é nele que ele vai se concentrar."

"E o quatro?" James pergunta.

Pandora suspira. "Donica."

"Ah." Sirius suspira também. "Ela é... uma bagunça, honestamente.


Geralmente chapada durante todos os jogos."
424
ZEPPAZARIEL

"Frank," James diz, e isso é tudo que ele diz. Regulus não quer ranger os
dentes, mas acontece de qualquer maneira. James não percebe, ou se importa,
porque ele ainda está agindo como se Regulus não existisse.

Sirius limpa a garganta. "Sim, Frank. Ele é—ele vai ser alguém para ficar de
olho, James. Ele é um mentor muito bom com pessoas que ele não é próximo,
mas pela sua mãe e Alice? Eu suspeito que ele estará trabalhando mais do que
nunca. Ele provavelmente também vai estar uma bagunça, porque não só elas
estão na arena, mas também o resto de seus amigos. Apenas... verifique se
você tiver a chance, ok? Se apoie nele. Deixe ele se apoiar em você."

"Certo," James diz suavemente. "Ok."

"Você é novo," Pandora diz a ele gentilmente. "Eles—bem, isso será uma
vantagem. Ninguém nunca teve acesso a você como mentor antes, então você
vai atrair o interesse deles. Você também..."

James pressiona os lábios em uma linha fina. "O que, Pandora?"

"Será um ato de equilíbrio," sussurra Pandora. "É o seu melhor amigo e o


seu—e até onde eles sabem, seu... amante. Você vai precisar se apoiar nisso,
James."

"Por se apoiar nisso, você quer dizer..."

"Eu quero dizer, que se Sirius precisar de algo na arena, então expressar o
quanto ele significa para você como seu melhor amigo, bem como o quanto
ele significa para as Relíquias, ajudará você a conseguir doações para usar para
ele. E—e para Regulus, se ele precisar de alguma coisa, então expressar o
quanto você... o ama—"

"Certo, entendi," James corta bruscamente, o músculo em sua mandíbula


se contraindo. "Fingir uma história de amor. Nada de novo. Ei, eu até tenho
prática."

Assim que as palavras saem da boca de James, Regulus se levanta e sai sem
dizer uma palavra, indo direto para o seu quarto. Ele fecha a porta
suavemente, tranca ela e vai encher a banheira. Pelo menos lá, quando ele
chora, ele pode mentir para si mesmo sobre o porquê.

~•~
425
CRIMSON RIVERS

O estado da Fênix menos favorito de Horace é depois que uma missão


acontece, porque é sempre um pouco caótico quando aqueles que partiram
finalmente retornam. Muitas pessoas correndo, muitas pessoas se apressando
para ajudar, muitas pessoas chegando frescas sem saber o que está
acontecendo.

Ele não gosta do lembrete de que ele já foi um ignorante também. Parece
uma mancha de vergonha que ele nunca consegue limpar. É verdade que a
ignorância é uma felicidade, e Horace passou a maior parte de sua vida feliz,
mas não mais.

Vir para a Fênix foi o equivalente a ser espancado na cabeça com uma dura
e medonha realidade que ele nunca teve conhecimento. Uma realidade onde as
pessoas estão sofrendo. Uma realidade onde a guerra está fervendo sob a
superfície, subindo mais alto a cada dia. Uma realidade onde existem
verdadeiros problemas neste mundo—sua parte do mundo,
especificamente—e ele ajudou a perpetuá-los.

Uma realidade em que ele participou do assassinato de pessoas.

Crianças.

Nunca pareceu assim antes, o que parece ridículo e estúpido em


retrospecto. Seu modo de vida na Relíquia era... bem, era normal. Ele estava
cercado por pessoas que se sentiam exatamente como ele, uma câmara de eco
de louvor e concordância, ninguém nunca saindo do contexto em que
cresceram para ver o que estava acontecendo com olhos claros.

Ele não sabia. Ele realmente não sabia. Uma parte dele ainda deseja que ele
não soubesse, porque às vezes ele não sabe lidar com o que sabe agora.

Estar na Fênix abriu seus olhos para todas as coisas que ele não podia ver
antes. As coisas sobre as quais Dorcas falava e muito mais. Muitas pessoas
aqui são de distritos e não têm vergonha de contar a ele o que sofreram, coisas
com as quais ele nunca teve que lidar. Por muito tempo, encarar de frente o
que eles lidaram o deixou desconfortável, o fez querer se virar e ignorar, e
levou tempo até que ele pudesse deixar de lado sua própria culpa, vergonha e
desconforto para realmente aprender os problemas, bem como perceber que
ele queria ajudar a consertá-los.

426
ZEPPAZARIEL

Minerva ajudou nisso. Horace tem vergonha de admitir que não a


reconheceu no dia em que ela apontou a arma para a cabeça dele antes de
embarcar no trem que o trouxe aqui. Ele sabia de Minerva, é claro, embora
nunca tivesse falado com ela, e como ela não era alguém com quem ele
pudesse formar uma conexão útil, ele não se importava em notá-la. Ela
sempre fazia seus movimentos em silêncio, não sendo chamativa ou
arrogante, raramente confiando em redes para chegar onde ela queria estar.
Mesmo na Relíquia, eles viviam em dois mundos diferentes.

Isso faz sentido agora, sabendo que ela está na Ordem.

De qualquer forma, Minerva teve algumas reuniões com ele sobre a


posição de criador dos jogos, recebendo conselhos dele sobre o que esperar.
Ele estava com medo dela para começar, visto que ela segurava uma arma na
cabeça dele, mas ela também o ensinou muito sobre o que é ser uma Relíquia
do outro lado das coisas. Se não fosse por ela, ele duvida que algum dia se
apresentaria para oferecer ajuda a Albus.

Mas ele o fez. Ele deu esse passo por conta própria, indo direto para Albus
e contando tudo o que sabia sobre Tom, sobre a Relíquia, sobre os
funcionários do governo e como os jogos funcionavam. Foi surpreendente
perceber que Albus foi o homem que assassinou Gellert, porque ele se
lembra disso. Ele e o resto da Relíquia foram informados de que o Vitorioso
que matou Gellert foi capturado e executado pelo crime. Aparentemente não.

A coisa é, Horace quer ajudar—ele quer—mas ele não quer lutar. Ele não
quer arriscar sua vida. Talvez isso seja vergonhoso e desprezível depois de
tudo o que ele fez e não fez na mesma medida, mas é verdade. Ele está feliz
em ser um consultor, respondendo perguntas e dando informações vitais,
vendendo os segredos de sua casa com uma ânsia que cresce a cada dia. Ele
apenas se sente inadequado de uma maneira que nunca se sentiu na Relíquia,
como se ele pudesse estar fazendo mais, como ele deveria estar.

Ele acha que, se encontrar a chance, ele fará mais.

E então, é claro, a chance o encontra.

A Fênix está fervilhando de atividade no momento, e tudo que Horace


sabe é que alguém muito importante foi levado para a cirurgia, enquanto outra
pessoa também importante foi escoltada diretamente para o escritório de

427
CRIMSON RIVERS

Albus. Não há uma contagem clara de quantos chegaram, mas Horace


apostaria mais de vinte, que é o máximo que ele já viu entrar de uma só vez.

De qualquer forma, ele decide que é melhor ficar fora do caminho, o que o
leva direto para seu quarto, onde ele entra, fecha a porta e se vira para
encontrar Dorcas Meadowes sentada na beirada de sua cama, arma na mão.

Horace congela instantaneamente.

"Sra. Meadowes," Horace deixa escapar, incapaz de remover a qualidade


estridente de sua voz. Ele não pode evitar. Dorcas o assusta mais do que Tom
Riddle jamais conseguiu. É diferente quando alguém vai te matar só
porque alguém quer te matar. Ela quer. Ele vê isso toda vez que olha nos olhos
dela.

"Ei, criador de jogos," Dorcas cumprimenta friamente, tirando a trava de


sua arma, "Acho que é hora de conversarmos um pouco."

"Ah, agora é um momento muito ruim," Horace tenta, então apenas cede e
começa a mergulhar para a porta.

Dorcas está de pé com a arma apontada para a cabeça dele antes que ele
faça isso, assobiando, "Nem pense nisso." Horace sabiamente para e engole em
seco. Dorcas cantarola. "Bom. Agora, eu tenho algumas perguntas, e você vai
responder a todas elas."

"Perguntas?" Horace murmura.

"Sim, perguntas," Dorcas confirma rispidamente. "Perguntas que apenas um


criador de jogos pode responder, começando com onde fica a arena e como
alguém rouba aqueles dentro dela."

Horace pisca. "Você—o que?"

"Os tributos," Dorcas estala. "Eu preciso tirá-los. Alguns deles. Todos eles.
Eu não me importo. Apenas—mais de um."

"Sra. Meadowes, isso é impossível," diz Horace lentamente.

Os olhos de Dorcas brilham. "Nada é impossível."

428
ZEPPAZARIEL

"Eu—bem, sim, mas é—é muito difícil,",Horace gagueja, e Dorcas estreita


os olhos. "Não há como você conseguir tudo o que será necessário para
gerenciar isso."

"Oh, eu vou encontrar um jeito," Dorcas o informa, e o brilho em seus


olhos o faz acreditar nela. "Comece a falar, Sr. Slughorn."

Horace respira fundo e solta o ar lentamente. "Você não tem que apontar a
arma para mim. Eu vou te dizer tudo o que eu sei. Se isso é algo que você
planeja fazer, embora eu duvide que você possa, eu gostaria de pelo menos
contribuir por minha própria escolha."

"É mesmo?" Dorcas murmura, estudando-o. Há uma longa pausa, e então


ela abaixa a arma. "Vá em frente. E stou ouvindo."

"Certo." Horace limpa a garganta, ficando mais ereto com a onda de


orgulho que o atravessa por realmente ser útil pela primeira vez. "Então, a
primeira coisa que você precisa saber, a arena é cercada por proteção muito
avançada..."

~•~

"Como ela está?" Lily pergunta enquanto Poppy dá um passo para trás e a
deixa deslizar para fora da cama, puxando suas calças de volta com um
pequeno pulo e careta, sua perna agora medicada e liberada para ir.

"Se recuperando. Ela se saiu bem na cirurgia," Poppy diz a ela. "Se ela
chegasse aqui mesmo uma hora depois, ela estaria em estado crítico, mas ela
vai viver."

Lily assente e revira os ombros. "Isso é bom. Os outros... Havia alguns no


trem que eu tinha que cuidar. Houve alguma perda, além de...?"

"Não, sem outras perdas," murmura Poppy. "Você fez bem. Temos alguns
ossos quebrados, mais do que alguns ferimentos de bala, mas fora isso
tivemos uma sorte incrível."

"Certo," Lily diz baixinho, seu coração aperta quando ela pensa em todas
aquelas pessoas que nunca conseguiram sair do distrito. Todos aqueles que
morreram, Ted entre eles. Todos que conseguiram tiveram sorte; Euphemia
passou por uma cirurgia, Andrômeda se reuniu com sua filha e
429
CRIMSON RIVERS

houve sobreviventes. Engraçado como a sorte funciona, no entanto. Você pode


ter a sorte de viver, mas estar sobrecarregado com tantas perdas que não
parece uma bênção; parece uma maldição. Ela se força a não pensar em
Remus. "Obrigada. Eu deveria sair, deixar alguém que precisa mais da cama
ficar com ela."

"Lily," Poppy interrompe, estendendo a mão para agarrar seu braço,


segurando seu olhar. "Foi sua primeira missão. Essas são sempre as mais
difíceis. Como você está indo?"

"Oh, foi só um arranhão, Poppy. Já tive coisa pior do que levar um tiro de
uma mulher muito atraente, acredite em mim," Lily diz a ela, achando graça,
embora não seja como se Poppy não soubesse. Poppy foi quem tirou a bala
quando ela foi baleada no ombro.

Os lábios de Poppy se contorcem levemente. "Sim, há coisas piores, eu


não posso discutir isso, mas isso... não é o que eu quis dizer. Como você está
indo aqui?" Ela levanta a mão e bate suavemente na têmpora de Lily. "Se você
precisar falar com alguém, eu vou—"

"Eu estou bem," Lily interrompe, dando um passo para trás e limpando a
garganta, dando-lhe um sorriso tenso. "Sim, eu estou bem, Poppy. Sério."

"Tudo bem não estar bem, Lily. Você sabe disso, não sabe? Eu não estava
depois da minha primeira missão," Poppy a assegura.

Lily cantarola. "Desculpe, não consigo me identificar. De qualquer forma,


eu tenho que ir."

Poppy dá um suspiro, mas Lily rapidamente vai embora, ficando o mais


longe possível dessa conversa. Ela realmente preferia não pensar nisso,
honestamente. Tudo o que ela quer fazer agora é entrar em seu quarto, pegar
seus cigarros e encontrar o caminho para a superfície para que ela possa fumar
seus problemas.

Não que ela tenha problemas. Ela está indo muito bem.

Lily tem que engolir um gemido quando ela entra em seu quarto e vê a
forma de alguém em sua cama com o canto do olho, pensando a princípio que
é Ember, ainda aqui e esperando Lily terminar o que começou. Por mais que

430
ZEPPAZARIEL

Lily adoraria compensar a interrupção anterior para ela, ela está morta e
realmente só quer um cigarro. Ou cinco.

"Ouça, eu estou muito cansada, então—" Lily cala a boca no momento em


que ela se vira completamente e vê que não é Ember. "Oh. Dorcas! Espere,
Dorcas? Você não deveria estar—"

"Sim," Dorcas interrompe secamente, "Eu deveria estar fazendo meu


trabalho, eu sei, mas eu tenho mais de uma ocupação, como você sabe, e
agora eu fui e adicionei uma terceira à lista."

Lily pisca. "Oh? O que é?"

"Estilista, rebelde e agora uma ladra," diz Dorcas.

"Oh, bem, bom para você," Lily responde apoiando. "O que você roubou,
então? Trouxe alguma coisa para mim? Você sabe que eu adoro quando você
me traz presentes."

"Lily, eu te amo," Dorcas anuncia sem qualquer aviso, e Lily dá um puxão


violento, congelando no lugar enquanto seus olhos se arregalam e a vontade
de correr para salvar sua vida a toma imediatamente. Dorcas bufa. "Oh, pelo
amor de Deus, se acalme, ok? Você nem me deixou terminar. Eu ia dizer, eu te
amo, eu realmente amo, mas nós temos que parar de fazer sexo, porque eu
estou bastante apaixonada por Marlene McKinnon."

"Oh, merda," Lily ofega, estendendo a mão para pressionar a mão sobre
seu coração acelerado. "Porra, Dorcas, não faça isso. Você não pode
simplesmente dizer essas merdas assim para mim! Você está louca? Eu quase
tive um maldito ataque cardíaco."

"Eu gostaria de ter consertado você," Dorcas reflete, os lábios se curvando


tristemente, e há uma tristeza ecoando em seu olhar. "Você tem muitos
problemas, sabia disso?"

"Eu estou bem," Lily diz, limpando a garganta, e ela ignora a pulsação fraca
em seu peito que parece... arrependimento. Há um pensamento no fundo de
sua mente tomando forma, não importa o quanto ela lute contra isso, com
certeza ela poderia ter amado Dorcas. Realmente a amado. Devidamente. Ela

431
CRIMSON RIVERS

força o pensamento para baixo e exala lentamente. "Então, Marlene, hein?


Amor?"

O rosto de Dorcas suaviza. "Sim."

"Isso é—oh, isso é... Ela é um tributo," Lily sussurra, e a pulsação em seu
peito desta vez é muito mais alta. "Oh, Dorcas..."

"Sim," Dorcas repete, ficando mais reta. "Então, sobre eu ser uma ladra..."

Lily a encara. "Você—você roubou Marlene?"

"Não," Dorcas assegura a ela, então, "Ainda não de qualquer maneira."

"Ainda não," Lily repete.

Dorcas sorri. "Exatamente. Eu vou precisar de uma ajudinha. Então, Lily,


como você se sente sobre um pequeno sequestro? Tudo em nome do amor, é
claro. Ah, e da justiça. Isso também."

Lily a encara novamente em silêncio por um instante, então suspira e diz,


"Posso fumar no caminho?"

Dorcas começa a rir, e Lily sorri para ela timidamente, sentindo uma onda
de carinho por Dorcas enquanto ela puxa Lily para a cama e expõe tudo o que
sabe, bem como seu plano.

Acontece que Lily terá muito tempo para fumar, então, na verdade, ela está
a bordo sem fazer perguntas. Ela diz a si mesma que é sobre a parte da justiça.

Mas, na realidade, o amor a motiva mais.

432
ZEPPAZARIEL

44
DECISÕES RUINS

James tem que ir para essa recepção estúpida de mentores, onde ele deveria
socializar com patrocinadores e com vários criadores dos jogos, enquanto
outros mentores fazem o mesmo ao seu redor.

Sirius fez isso muitas vezes, e ele deu a James um resumo muito completo
de como será, bem como uma lista estranhamente meticulosa de cada
patrocinador pelo nome. Ele sabe coisas sobre esses patrocinadores que
honestamente surpreendem James—os nomes dos pais, ou filhos, ou
cônjuges; suas bebidas favoritas; o que eles querem da vida e como fazê-los se
sentir muito bem consigo mesmos. James sabia que Sirius era bom com as
pessoas, bom em descobrir o que as motiva e como usar isso a seu favor, mas
mesmo assim James fica impressionado com o trabalho de base que ele
colocou nisso e como ele essencialmente conhece todos os ângulos para
manipular melhor essas pessoas, como marionetes em suas cordas. É incrível.
E inquietante.

De qualquer forma, James ouve obedientemente e faz o seu melhor,


porque é Sirius e o outro que precisam que eles os ajude. Para ajudar, ele tem
que se esforçar para fazer isso, e isso significa suportar as pessoas que o

433
CRIMSON RIVERS

bajulam por ter sido colocado em uma posição tão horrível, ou mesmo as
pessoas piores que querem saber qual pessoa ele prefere que consiga sair.

É um evento de duas horas.

James dura trinta e sete minutos e quarenta e quatro segundos exatamente,


tempo suficiente para Lucius se aproximar e dizer, zombeteiro, "Estou
surpreso que você apareceu, James. Eu pensei que você estaria muito ocupado
fodendo Regulus enquanto você ainda tem a chance. Ficando sem tempo
agora, não é?"

Ele está sorrindo quando diz isso, franco e sem vergonha bem na frente de
uma multidão de patrocinadores, e é claro que eles estão vivendo para o
drama. James não se importa. Ele apenas desliza a mão para pegar sua
bengala, agarra-a com força e se balança para colidir com a maçaneta no rosto
de Lucius com tanta força que ele bate nas cadeiras atrás dele. Um suspiro
coletivo ecoa pela sala enquanto Lucius agarra seu rosto e cospe sangue.

Frank está lá no que parecem segundos, agarrando apressadamente James


pelo braço e puxando-o para longe enquanto Lucius se levanta, narinas
dilatadas, sangue manchando seus dentes. James o ignora, mas Frank
rapidamente empurra sua mão para baixo.

Um murmúrio baixo começa na sala, e Frank tem que parar para falar com
os Aurores que estavam caminhando firmemente em direção à comoção. Ele
dissolve a tensão e acalma a situação prometendo escoltar James de volta à sua
suíte.

"Você não pode fazer isso, James," Frank sussurra enquanto o leva
rapidamente para longe da sala. "Existe uma certa maneira de você se
comportar como um mentor, não apenas por causa dos seus tributos, mas
também por você. Por mais que você queira, você não pode sair por aí batendo
nas pessoas com sua bengala quando elas te irritam. Corre o risco de custar
patrocinadores a Sirius e Regulus, se você se meter em encrencas."

"Eu só—" James aperta a mandíbula e para, apertando os olhos. "Frank."

"Sim?" Frank murmura.

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ZEPPAZARIEL

"Eu estou realmente com raiva," James sussurra, "E eu não sei como fazer
isso parar."

"Eu ouvi sobre Regulus se voluntariando por você," Frank diz suavemente,
e James range os dentes. "Eu—eu entendo. Minha mãe... eu pedi a ela de
antemão para não fazer isso, e ela fez isso de qualquer maneira. É—eu
entendo como é enfurecedor ter alguém que você ama fazendo isso,
especialmente quando seu melhor amigo está na mistura, apenas outra pessoa
que você ama. Eu entendo a raiva, James, eu realmente entendo. Dito isso,
essa é uma arena tanto para nós quanto para eles. Nós estamos lutando por
suas vidas e pela nossa, e a raiva? Ela não salva ninguém."

James olha para baixo e não responde. Frank suspira e estende a mão para
apertar seu ombro, gentilmente guiando-o de volta para a suíte, onde James
espera Frank ir embora antes de voltar para dentro.

~•~

Sirius geme e aperta a mão no cabelo de Remus, inclinando a cabeça para


baixo para ver a última marca florescendo em seu peito, o que o faz
imediatamente fechar os olhos e puxar o cabelo de Remus para pedir outra.

"Se ao menos você pudesse escrever meu em marcas," Sirius diz


sonhadoramente, então sibila bruscamente e dá uma contração violenta
porque Remus envolveu os dentes, raspando a pele sobre suas costelas. Oh,
Sirius ama quando envolve os dentes.

"Eu acho que as marcas passam a mensagem bem o suficiente," Remus


murmura em seu peito, acalmando a pele agora machucada com a língua.
Sirius estremece. "Não que alguém veja isso, já que eu duvido que você vá
andar por aí sem camisa, mas isso é definitivamente uma... declaração. Você
está—" Ele recua e passa o olhar sobre o torso de Sirius, então arqueia uma
sobrancelha para Sirius, que sorri para ele. "Francamente, parece que você
entrou em uma briga com um aspirador de pó e está ridiculamente satisfeito
com isso. Isso realmente é bom para você? Genuinamente?"

"Sim," Sirius o assegura, um pouco embaraçosamente sério enquanto ele


essencialmente empurra o rosto de Remus de volta para baixo para encorajá-
lo a continuar.

435
CRIMSON RIVERS

Remus continua.

Ele ainda está fazendo exatamente isso quando o som de vozes elevadas os
atinge e os faz congelar. Lentamente, ao mesmo tempo, eles levantam a
cabeça para olhar para a porta, depois se entreolham. No próximo segundo,
eles estão lutando com suas camisas e correndo para fora da sala.

A questão é que Regulus está fora. Ele foi para a sala de treinamento, então
ele não está aqui. James não deveria estar aqui, mas certamente é a voz dele,
abafada por Pandora, que está gritando com ele. O fato de Pandora e James
estarem discutindo não é bom. Nada bom. E desconcertante.

Quando eles chegam à sala principal, Pandora está parada bem na frente de
James, apontando um dedo em seu rosto, seus olhos brilhando como se ela
não estivesse com medo dele nem um pouco. "Você perdeu a porra
da cabeça?!"

"Sim, talvez eu tenha perdido," James retruca, seus olhos brilhando


também.

"Uau, o que está acontecendo?" Sirius deixa escapar enquanto ele corre
para frente para aliviar fisicamente Pandora pelas costas, porque ela está
tremendo de raiva de uma forma que ele legitimamente nunca viu antes.

"James agrediu Lucius!" Pandora assobia. "Bateu na cara dele com a


bengala."

"Oh, legal," Sirius diz reflexivamente, então se encolhe quando Pandora


lança um olhar fulminante para ele. Ele tosse. "Desculpe, não, quero dizer—
oh não, James, como você pôde?"

Remus bufa uma risada, então imediatamente suaviza sua expressão de


diversão quando Pandora lhe lança um olhar também.

"Você tem alguma ideia do que acabou de fazer?" Pandora pergunta


bruscamente, focando em James, que não vacila sob seu olhar. "Você acha
que é o primeiro mentor que quer atacar outros mentores, James? Não, você
não é, mas eles não atacam. Quer saber por quê? Porque se você fizer isso, isso
coloca você em perigo. Você poderia ser punido por isso. Não só você, mas
Sirius e Regulus. E, se por algum milagre, todos vocês sobreviverem, Lucius

436
ZEPPAZARIEL

ainda poderia encontrar maneiras de tornar a vida de todos muito mais difícil.
Ele só precisa subornar o criador de jogos certo para fazer Sirius e Regulus
sofrerem mais do que já vão, e se ele não ia conseguir que seus tributos e os
outros mentores de Comensais da Morte se concentrassem em Regulus e
Sirius antes, você pode apostar que ele vai agora."

E isso—isso faz James se encolher.

"Pare com isso, Pandora," Sirius murmura, suspirando enquanto olha para
James, que tem horror florescendo em seus olhos. "Não—James, está tudo
bem. Quero dizer, definitivamente não faça isso de novo, porque ela está
certa, você pode ser punido. Provavelmente não vai ser, se você não foi no
momento em que aconteceu, mas ainda assim. O que aconteceu?"

James engole e fala, "Eu estava apenas—eu estava conversando com


patrocinadores, e—e Lucius se aproximou... Ele disse—bem na frente de
todos, ele disse algo sobre... seu irmão. Eu não—eu estava tão zangado, e
eu—eu—

"Os Aurores se envolveram?" Sirius pergunta.

"Começaram, mas Frank lidou com isso," James sussurra.

Sirius morde a parte interna do lábio inferior por um momento, e então


assente. "Você é muito amado pelas Relíquias para ser punido no meio de
tudo isso, especialmente se uma briga não começou adequadamente. E você
estava defendendo Regulus, eu presumo, o que as Relíquias vão gostar. Eles
vão gostar disso, na verdade, então não vai custar patrocinadores. Apenas—na
maioria das vezes, eles gostam que seus mentores sejam mais organizados,
certo? Mais calmos. Não violentos. Não traumatizados. Eles não gostam de
ter que enfrentar o que a arena realmente faz com uma pessoa, então se
recompor é vital, James. Fazer isso em defesa de Regulus é—bem, está tudo
bem. Então, aposte nisso, ok?"

"Ok," diz James, seu olhar abatido.

"Viu? Está tudo bem. Pandora, está tudo bem," Sirius diz a ela, porque ela
ainda parece furiosa. "Deixe isso. Estou falando sério. Ele está fazendo o seu
melhor."

437
CRIMSON RIVERS

Pandora suaviza, lentamente. Demora alguns minutos, e então ela suspira


quando seus ombros caem. "James, eu—eu sei que isso é difícil para você. Me
desculpe por ter gritado. Eu só estou... muito estressada."

"Me desculpe," James murmura, sua voz áspera e grossa. Ele levanta o
olhar para olhar para Sirius. "Eu—coloquei você e... ele em perigo? Sirius, me
diga."

"Não é tão simples assim," Sirius murmura. "Olha, Lucius não pode fazer
Bella e Cissa fazerem nada que elas não queiram fazer. Se elas decidirem vir
para mim e Regulus, isso é o que elas vão fazer, independente do que ele
disser. Se elas decidirem não, então elas não vão, e é isso. O resto dos
Comensais da Morte virão direto para nós se eles forem espertos de qualquer
maneira. Lucius poderia subornar um criador de jogos, com certeza, mas a com
mais poder é Minerva McGonagall, e ela não me parece uma mulher
facilmente subornada por qualquer coisa. Regulus e eu vamos estar em perigo
na arena, não importa o que aconteça, e nós vamos lidar com isso quando
chegar a hora. Você apenas continua fazendo o seu melhor. Isso é o
suficiente. "

"Eu te disse," James engasga. "Eu te disse que eu não podia fazer isso, e eu
estou—eu estou fodendo tudo. Eu vou fazer você ser morto. Eu—"

"Ok, ei, pare com isso, você não vai," Sirius diz gentilmente, movendo-se
rapidamente para colocar seu braço em volta de James, apressadamente
escoltando-o para fora da sala no momento em que ele quebra, começando a
chorar.

Remus e Pandora não seguem.

O coração de Sirius aperta quando ele leva James em segurança para seu
quarto e para sua cama. Ele sobe na cama de James bem ao lado dele,
assistindo triste e impotente enquanto James fica lá e soluça. Sirius entende.
Ele também soluçou muito, em seu primeiro ano como mentor. E muitos
anos depois disso. Todos os anos, na verdade.

Essa é a coisa. Ninguém além dos mentores sabe o quão difícil é ser um
mentor. É um inferno para os nervos, por um lado, porque você está
literalmente segurando vidas em suas mãos, e depende de você fazer tudo o
que puder para salvar essas vidas. Cada movimento que você faz, cada palavra

438
ZEPPAZARIEL

que você diz, impacta seus tributos. Você pode cometer erros e trazer mais
perigo aos seus tributos; você pode cometer erros e custar aos seus tributos o
apoio que salva vidas que pode ajudá-los a vencer.

Pior do que tudo isso, você pode fazer tudo absolutamente certo e ainda
ver seus tributos morrerem de qualquer maneira.

É uma coisa pesada de segurar. É um fardo difícil de carregar. É apenas


uma arena diferente, e não uma da qual você pode lutar para sair. Para James,
que sente uma profunda necessidade de ajudar, para salvar Regulus e Sirius em
particular, a pressão o está esmagando.

Sirius não pode fazer nada além de confortá-lo, tranquilizá-lo, acalmá-lo—


então é isso que ele faz. Ele não para até que James adormeça, exausto e
esgotado, provavelmente precisando de descanso. Sirius suspira e se levanta
para gentilmente tirar os sapatos de James, então arrasta seu cobertor para
cobri-lo. Por um momento, ele apenas fica parado e o encara com essa dor
horrível e forte no peito, mal conseguindo respirar quando pensa em como,
muito em breve, James não o terá por perto para estar lá para ele.

Engolindo em seco, Sirius sai do quarto de James e vai para o seu,


tremendo ao entrar. Remus está lá, esperando por ele com tristeza nos olhos.

"Você—você tem que—eu preciso que você cuide dele," Sirius ofega, seus
ombros levantando. "Remus, por favor, eu—"

"Ei, shh, amor, venha aqui," Remus sussurra, se inclinando para pegar sua
mão e puxá-lo. Sirius se encaixa entre suas pernas abertas onde ele está
sentado na beira da cama, e ele desliza seus braços ao redor dos ombros de
Remus, inclinando-se para ele enquanto empurra os dedos trêmulos em seu
cabelo. Remus inclina a cabeça para cima, descansando o queixo na barriga de
Sirius, seus olhos gentis. "É claro que eu vou. Isso não é nem mesmo uma
pergunta."

"Ele vai—ele vai cuidar de você também," resmunga Sirius. "Esse é o


primeiro instinto dele—cuidar de todos os outros. Não é cuidar de si mesmo,
então você—você vai só—"

"Sim, Sirius, eu prometo," Remus murmura.

439
CRIMSON RIVERS

"Como você cuidou de mim?" Sirius verifica, deslizando a mão para baixo
para traçar o arco da sobrancelha de Remus, aquela com a cicatriz passando
por ela.

Remus lhe dá um pequeno sorriso, como um pedacinho de preciosidade,


só para ele. "Bem, não exatamente o mesmo, mas..."

"Eu—sim, talvez pule os beijos e outras coisas," Sirius concorda com uma
gargalhada, sua voz toda trêmula.

"Eu não sei... Eu aposto que ele é um beijador brilhante."

"Oh, cale a boca."

Remus ri baixinho, e Sirius encontra dentro de si mesmo um sorriso em


resposta, algo nele se acalmando com a garantia de que Remus terá James, e
James terá Remus. Através disso, eles terão um ao outro.

Não é muito, mas é o único conforto que Sirius tem.

~•~

Regulus expira e solta a adaga, observando enquanto ela voa pelo ar e


aterrissa com um baque alto no peito do alvo, bem no centro. Atrás dele,
alguém bate palmas lentamente.

Merda.

A sala de treinamento estava vazia.

Regulus olha por cima do ombro, abaixando o braço e ficando rígido


quando um grupo muito grande entra. Os Comensais da Morte, andando em
um bando como se todos tivessem se encontrado. Bellatrix e Narcissa estão
entre eles. Assim como Dixon.

Bellatrix, Narcissa, Yaxley, Rabastan, Thorfinn, Alecto e Dixon—eles vão


direto para o centro onde estão as armas, conversando casualmente entre si.
Eles parecem despreocupados, distantes, completamente à vontade, deixando
bem claro que são um grupo, que são os Comensais da Morte deste ano, e que
todos os viram ao entrarem. Ele se pergunta quem aplaudiu.

440
ZEPPAZARIEL

Regulus sente seu coração cair quando vê Bellatrix pegar algumas adagas,
girando-as entre os dedos com a mesma facilidade e prática que ele faz. Ele
esperava...

Veja, Bellatrix era sua favorita quando ele era jovem, e ela foi boa com
adagas primeiro. É por isso que ele gostava tanto delas, porque ela gostava.
Uma parte dele meio que suprimiu isso, honestamente, ou se recusou a pensar
sobre isso. Ele secretamente esperava que ela encontrasse um amor por
alguma outra arma, ou talvez tenha ficado enferrujada com elas ao longo dos
anos, mas vendo o jeito que ela lida com elas agora—sim, ela ainda é uma
especialista. Porra.

Narcissa vai para o arco e flecha, e ela o conhece bem. Willa era boa com
um arco. Narcissa? Ela é melhor.

Thorfinn e Rabastan vão para os tatames para fazer corpo a corpo, ao que
parece, enquanto Dixon e Yaxley se separam para percorrer as estações.
Alecto e Narcissa permanecem nas armas. Bella faz o caminho direto para
Regulus, presumivelmente para usar os alvos, mas ele duvida que isso seja
tudo. É claro que não é.

"Ei, fofura," Bellatrix cumprimenta enquanto ela se aproxima ao lado dele.

"Bella," Regulus responde, seus ombros tensos.

"Não posso deixar de notar que Sirius não está aqui," Bellatrix reflete, e ele
não se incomoda em responder. Ela se inclina contra sua baia e balança a mão
sem olhar, enviando uma de suas adagas girando no ar. Ela cai no centro da
cabeça do alvo, o que faz seu estômago revirar. "Ainda assim, aqui está você."

Regulus expira e se vira para ela. "O que você quer?"

"O que, eu não posso falar com meu primo favorito?"

"Depois que eu te esfaqueei com um garfo, eu ainda sou o favorito?"

Bellatrix ri. "Oh, passado e tudo mais. Honestamente, você


poderia realmente me matar, e eu ainda gostaria mais de você do que de Sirius.
Ele é um merdinha tão ingrato e tagarela. Além disso, você estava protegendo
seu namorado. Doce da sua parte, na verdade. É fofo."

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CRIMSON RIVERS

Regulus não diz nada. Ele não—ele não consegue descobrir o que
ela quer. Ele sabe que ela está atrás de alguma coisa, porque ela tem aquele
brilho nos olhos, aquele brilho levemente louco que todos na família têm
quando estão tramando. Até ele. É um traço de família que todos
compartilham.

"É uma pena tudo isso, a propósito," Bellatrix diz, virando a cabeça para
encarar o alvo. Na verdade, há uma nota de amargura em sua voz. "Ter que
voltar, quero dizer. Deve ser especialmente difícil para você. Ouvi dizer que
você ficou chateado quando Sirius tentou tomar o seu lugar, e aqui está você
de qualquer maneira, sem saber se você vai conseguir voltar para Potter."

"O quê. Você. Quer?" Regulus se solta.

"É difícil para Potter também, claramente," Bellatrix continua levemente,


ainda olhando para sua adaga. "Ele bateu em Lucius com sua bengala mais
cedo, sabe. Você soube?"

Regulus pisca. "Ele—o quê? Quando? Por quê?"

"Acho que você não soube. Você deve ter estado aqui." Bellatrix balança a
cabeça, bufando. "Lucius apareceu de volta na suíte, furioso com Potter.
Aparentemente ele disse algo sobre como você e Potter tem tão pouco tempo
juntos, e Potter bateu na cara dele. Ele está com um pequeno hematoma
adorável agora, seu lábio todo inchado. Hilário."

"Hilário," Regulus repete, estreitando os olhos.

Bellatrix cantarola. "Sim, com certeza. Ele fica todo vermelho no rosto
quando está furioso, como uma uva. Você só quer estourá-lo, sabe?" Ela olha
para ele com um sorriso. "De qualquer forma, ele quer que você e Sirius
paguem por isso."

"Aposto que você ama isso," Regulus murmura.

"Eu amo isso para Sirius. Menos para você." Bellatrix gira sua adaga entre
os dedos, segurando seu olhar. "Por que Sirius não está aqui, fofura? Ele
simplesmente deixou você sozinho?"

"E?" Regulus estala.

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ZEPPAZARIEL

"E," Bellatrix diz com um bufo, "Está claro que vocês dois não estão
lidando com isso tão bem quanto Cissy e eu estamos."

Regulus arqueia uma sobrancelha para ela. "E como exatamente vocês duas
estão lidando com isso?"

"Levando uma a outra até o fim, então vendo quem se move mais rápido,"
Bellatrix anuncia com um sorriso. Ela se inclina para frente e pisca para ele.
"Cá entre nós, acho que serei eu. Ela tem que pegar uma flecha. Eu já vou ter
uma adaga na mão."

"Que bom que vocês duas encontraram uma solução," diz Regulus, sua
voz afiada e implacável. "Eu ainda não sei por que você está me
incomodando."

"Você está em perigo, fofura," Bellatrix diz a ele, "E me parece que Sirius
não se importa com isso. Ele é uma criaturinha egoísta, sempre foi, e você o
odeia—eu posso ver isso em você. Confie em mim, eu sei como é."

Regulus pressiona os lábios em uma linha fina.

"Poderia ser nós, sabe," Bellatrix continua suavemente, sem desviar o olhar
dele. "Uma família adequada no final. Eu, você e Narcissa. Você estaria mais
seguro conosco, Regulus. Ninguém que queira atingir você ousaria, se você
estivesse conosco."

"Você—está me pedindo para ser um Comensal da Morte?" Regulus diz.

Bellatrix segura sua adaga, ficando imóvel. "Eu estou te dizendo, que se
você quer sobreviver, você vai me ouvir quando eu explicar por que a melhor
coisa a fazer é se juntar a nós."

Regulus a encara, o coração batendo forte no peito, as pontas dos dedos


formigando. Lentamente, ele olha para o alvo com a adaga saindo da sua
cabeça, e então olha para Bellatrix e sussurra, "Estou ouvindo."

Um sorriso triunfante surge no rosto de Bellatrix.

~•~

443
CRIMSON RIVERS

Sirius não demora muito na sala de treinamento. Ele está na estação de


fogo, apenas para aperfeiçoar preguiçosamente a habilidade, mas não é uma
que ele esqueceu. Ele consegue logo na primeira tentativa, depois passa muito
tempo pensando melancolicamente em Regulus, que saiu no momento em
que entrou. Sirius realmente queria—

"Oh, esfregar dois gravetos porque você não tem duas células cerebrais
para esfregar, eu vejo."

"Cai fora, Marlene," Sirius diz.

Alice ri. "Não, de verdade, é muito impressionante. Faça de novo."

Sieius suspira e as ignora enquanto se levanta. Ele tem uma plateia no


momento, basicamente todos o observando apenas com o único propósito de
zombar dele. Marlene deu mais do que algumas alfinetadas, Emmeline
continua rindo dele, e Augusta nem precisou dizer nada para deixar claro que
não estava nem um pouco impressionada ou intimidada por ele.

"Oh, me ensine como acender uma fogueira, Sirius, por favor," Marlene diz
sem fôlego, juntando as mãos e olhando para ele com uma falsa súplica em
seus olhos. O sorriso crescente em seu rosto meio que estraga esse efeito, não
que ela se importe.

"Você é tão talentoso," Alice sorri, balançando seus cílios para ele e
enrolando uma mecha de seu cabelo curto em torno de um dedo.

"O que seria necessário para você me proteger, uma donzela, que em breve
estará em perigo?" Emmeline pergunta. "Acenda a fogueira por mim, Sirius.
Apenas por mim. Me escolha. Me escolha. Me proteja."

"Vocês todas vão se juntar a mim e me matar no momento em que formos


os últimos de pé, não é?" Sirius pergunta sem rodeios.

"Sim."

"Absolutamente sim."

"Sem dúvida."

444
ZEPPAZARIEL

"E rapidamente também," acrescenta Augusta, depois que todas as outras


responderam. Ela nem parece envergonhada.

Sirius revira os olhos e se afasta delas, apagando o fogo com a bota


enquanto elas riem ao fundo. Ele está feliz por poder ser uma fonte de
entretenimento para elas, porque tudo isso seria muito chato de outra forma.

A sala de treinamento está bastante vazia, desde que ele chegou e Regulus
saiu. Augusta e Alice foram as próximas a entrar, e Augusta não hesitou em ir
até ele e perguntar, um tanto sem rodeios, se ele e Regulus seriam aliados ou
não. Quando ele disse que sim, Augusta assentiu com a cabeça e prometeu
não matá-lo ou Regulus antes que chegasse a hora, o que foi... legal da parte
dela, ele supõe. Mais ou menos.

Quando Marlene, Eli e Emmeline apareceram, Augusta fez a mesma coisa


com eles e deu a mesma resposta quando todos concordaram. Eli, que está
muito bêbado, desde então foi para um canto para desmaiar depois de garantir
seus aliados. Ninguém o incomoda.

Augusta perguntou sobre Dixon, e os lábios de Emmeline se apertaram em


uma linha fina antes que ela admitisse que duvidava que ele fosse um aliado.
Ela acha que ele vai ficar do lado dos Comensais da Morte.

Velvet, Mavis, Lester e Henri não apareceram. Alowyn e


Warwick apareceram brevemente, mas literalmente iam na direção oposta
sempre que alguém tentava se aproximar deles. Coen e Camilla também
apareceram por um curto período de tempo, apenas para entrarem em uma
briga e serem arrastados por Aurores. Nenhum Comensal da Morte chegou.

Sirius acha que poderia ser pior. Ele tem, em muitas palavras, aliados
garantidos para ele e Regulus, embora ele saiba que seus aliados já eram
garantidos, de certa forma. Em uma arena cheia de pessoas muito perigosas
que já têm experiência... bem, ter aliados é a escolha inteligente. Quanto mais,
melhor, especialmente quando há um grande grupo de Comensais da Morte.

E haverá muitos deles, Sirius não duvida disso. Ajuda que ele já saiba para
quem estar preparado. Conheça o seu inimigo, ou seja lá como diz o ditado.

Pelo menos ele não será pego de surpresa.

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CRIMSON RIVERS

~•~

James acorda lentamente, sonolento, seus olhos ásperos e sua mandíbula


estalando com um bocejo. Todo o seu corpo estremece enquanto ele se
espreguiça, e oh, porra, ele realmente precisava dessa soneca. Ele não
consegue se lembrar da última vez em que dormiu tão forte e sem pesadelos,
o que pode ter algo a ver com o que ele suspeita ter sido um pequeno
descanso rápido. Um par de horas, no máximo. Essas são os melhores tipos
de sonecas para ele. Elas o ajudam quando ele está exausto.

Ele está muito exausto esses dias.

Soltando uma respiração profunda, James se vira e pisca ao ver Regulus


sentado em uma cadeira ao lado de sua cama. Reflexivamente, James sorri
para ele, torto e caloroso, porque, por apenas um momento, ele está vivendo
em um mundo onde ver Regulus o enche de alegria, prazer, amor. Leva um
segundo para a realidade alcançá-lo, para ele se lembrar, para o seu sorriso
desaparecer.

Os lábios de Regulus estão pressionados em uma linha fina, e seus


cotovelos estão apoiados em seus joelhos onde ele está inclinado para frente,
suas mãos entrelaçadas e seu olhar afiado.

Oh, ele está aqui para uma briga.

Tudo bem. Sim, James fica feliz em atender.

"Que porra você pensa que está fazendo?" James estala enquanto se
levanta, olhando para ele. "Saia. Eu não quero—"

"Cale a boca," Regulus interrompe friamente. "Você atacou Lucius?"

James sente um aperto no peito, uma sensação de queimação, e ele não


consegue respirar por um segundo. Ele—isso era—não era o que ele
pretendia fazer. Ele nunca quis colocá-los em perigo ainda mais; ele está com
tanta raiva, sentindo que vai explodir o tempo todo, e Lucius nunca parece
saber quando observar sua boca. Talvez da próxima vez ele pense duas vezes.

Faz James querer gritar. Sirius assegurou-lhe que ele poderia tirar vantagem
disso, e James o fará. Ele fará o que for preciso, o que for preciso para os
dois, mas a raiva ainda está apodrecendo ele. Bater em Lucius não ajudou.
446
ZEPPAZARIEL

Nada ajuda.

"Me deixe deixar uma coisa bem clara para você, James," Regulus diz, sua
voz afiada como uma lâmina. "Você me odeia? Tudo bem. Me odeie, então.
Mas no momento em que isso começa a afetar você, é um problema. Você
poderia ter se colocado em apuros. O que quer que você tenha que fazer para
se recompor, você vai fazer. Entendido?"

"Eu não preciso que você me diga isso," James sussurra, se virando para
poder sentar na beirada da cama, encarando Regulus. "Eu sei, certo? Porra,
eu sei."

"Sério? Porque se você soubesse, você não estaria agredindo as pessoas só


porque você está chateado. Se recomponha."

"Eu estou trabalhando nisso!"

"Trabalhe mais."

"Você não acha que eu estou tentando, seu idiota insensível?! Como você
se atreve? Como se você soubesse o que é isso. Eu gostaria de ver você na
minha posição, lidando bem com isso. Oh, espere, seria você se— "

"Oh, pelo amor de Deus!" Regulus explode, saltando de sua cadeira para
ficar de pé, carrancudo. "Deixe pra lá, James! Você está revisitando algo que
nós já sabemos. Sim, eu menti para você. Sim, eu me voluntariei por você. Está
feito! Você não pode mudar isso, você não pode fazer nada sobre isso—"

"Por sua causa!" James grita. "Isso é por causa de você! Tudo isso poderia ter
sido evitado se você—"

"Evitado? Evitado?! Cresça, seu idiota!" Regulus grita de volta, seus olhos
brilhando, o rosto corado. "Não havia como evitar isso! Não importa como
fosse, não importa o que acontecesse, nós ainda teríamos acabado bem aqui."

"Não. Não, há uma diferença! Você mentiu para mim!" James ruge, se
levantando e arremessando os braços enquanto seu peito arfa. Ele dá um
passo à frente e aponta um dedo para Regulus. "Você fez isso
comigo! Você. Você é tão fodidamente egoísta, e um mentiroso, e
eu odeio você. Eu—eu odeio você. Eu—"

447
CRIMSON RIVERS

James vacila, tremendo da cabeça aos pés, seu sangue bombeando e seus
ouvidos zumbindo. Seus olhares não vacilam, porque eles estiveram olhando
um para o outro o tempo todo, olhando nos olhos um do outro sem vacilar
ou quebrar. O quarto está tão quente, tão sufocante, cheio de tensão que parece
muito perto de queimar fora de controle. Um movimento errado. Um erro.

Isso é tudo que vai precisae.

Uma parte de James deseja que ele possa desaparecer. Se ele pudesse, ele
simplesmente apertaria o botão e evaporaria para ir para outro lugar, para
fugir disso, porque ele sabe o que está por vir. Ele pode sentir isso no tremor
de seus dedos. Ele pode sentir isso no calor de sua pele. Ele pode sentir isso
no ar entre eles, uma distância frágil que será tão fácil de fechar.

A pior parte é que James ainda está com raiva. Mesmo com todo esse
desejo passando por ele como uma tempestade, a raiva não diminuiu nem um
pouco. Ele está chacoalhando como se estivesse prestes a se desfazer, e ele
está, e ele quer, ele quer, ele quer—

"Eu te odeio pra caralho," James engasga, porque essa é a única explicação,
isso é tudo que pode ser. As palavras mal saem de sua boca antes dele pegar o
rosto de Regulus em suas mãos e beijá-lo desesperadamente, furiosamente,
pateticamente.

As mãos de Regulus voam para agarrá-lo, para arrastá-lo para mais perto, e
o espaço entre eles se reduz a nada até que sejam pressionados juntos. O beijo
é mordaz, implacável, duro com todas as emoções que eles não conseguem
articular ou aceitar. Há língua e dentes e a vibração baixa de um gemido,
embora James não saiba de quem vem, dele mesmo ou de Regulus. Talvez
ambos.

James não está pensando, apenas agindo, e ele está empurrando


freneticamente a camisa de Regulus, tentando tão fodidamente tirá-la, tirá-la.
Ele odeia isso. Ele odeia tudo. É feita de botões, então James não se
incomoda em perder tempo, literalmente agarrando-a e abrindo-a com tanta
força que os botões se soltam e se espalham por todo o chão. Regulus faz um
barulho abafado de asfixia no beijo, e James o beija mais forte enquanto
empurra a porra da camisa estúpida de Regulus.

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ZEPPAZARIEL

No momento em que há pele para tocar, James não consegue se conter,


suas mãos correndo pelos ombros de Regulus, descendo por seu peito,
agarrando sua cintura enquanto ele tropeça para trás. Ele arrasta Regulus junto
com ele, que fica mais do que feliz em segui-lo, até mesmo ansioso por isso.
Eles batem na cama, James cambaleando no lugar antes de perder o equilíbrio
e cair sobre ela, o beijo quebrando pela primeira vez.

Regulus não perde tempo. Ele apenas se abaixa para pegar a camisa de
James, fazendo um som de frustração até que James finalmente levanta os
braços e deixa Regulus arrancá-la dele. Seus óculos ficam emaranhados em seu
colarinho, deixando-os tortos em seu rosto, mas quando ele começa a levantar
a mão para jogá-los de lado descuidadamente, Regulus pega seu pulso para
detê-lo antes de prontamente subir em seu colo e beijá-lo novamente.

James estremece quando os dedos de Regulus deslizam em seu cabelo,


apertando e puxando, e por um segundo, James permite. James afunda nele,
deixando acontecer enquanto ele desliza as mãos pelas costas de Regulus, os
dedos caindo sobre seus ombros, apertando como se ele pudesse mantê-lo
aqui, assim, para sempre.

Mas ele não pode.

O lembrete é amargo e serve apenas para enfurecê-lo ainda mais, até que
tudo o que ele pode fazer é recuar e empurrar Regulus para o lado. James
segue o movimento, pressionando Regulus na cama e pegando seus pulsos,
puxando as mãos de Regulus de seu cabelo e batendo-as nos travesseiros.

"James," Regulus ofega, seus dedos flexionando como se ele quisesse


estender a mão e tocar. Ele está corado, incapaz de ficar parado, suas pupilas
dilatadas e sua boca escorregadia e inchada. Ele é uma obra-prima, tão
dolorosamente lindo que James quer tirar uma maldita foto. James quer—ele
quer muitas coisas.

"Não. Mantenha elas aí," James diz a ele, sua voz áspera e rouca, baixa e
arranhada em sua garganta. Ele aperta os pulsos de Regulus para indicar o que
ele quer dizer, então solta. Regulus não levanta as mãos. "Bom. Não toque. Se
você fizer isso, eu vou parar."

Regulus se mexe, inquieto, com o peito arfando. Um gemido


verdadeiramente obsceno sai de sua boca com o que soa como uma mistura

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CRIMSON RIVERS

de aprovação e frustração. Suas mãos em punho nos lençóis, agarrando-se, e


isso é o suficiente para James. Isso o satisfaz, um sinal claro de que Regulus
vai fazer o que ele disse.

Com isso, James levanta para travar a parte de baixo de sua mandíbula e
lentamente, vagarosamente, desce em seu próprio ritmo. Não é a primeira vez
que ele faz isso, beijar Regulus todo, mas ele nunca se cansa disso.
Ele nunca terá o suficiente de Regulus sob sua boca, sob suas mãos, espalhado,
disposto e querendo. A eternidade não seria tempo suficiente.

As cicatrizes não o incomodam. Elas nunca o incomodaram, desde a


primeira vista delas. Elas são de partir o coração? Absolutamente. Isso torna
Regulus menos atraente? Não, de jeito nenhum. James ainda tem certeza de
que nunca viu alguém tão lindo quanto Regulus Black.

Há um ponto onde não há nenhuma cicatriz. O quadril direito de Regulus,


o próprio arco de seu osso do quadril, um lugar onde James sugou hematomas
amorosos. Desta vez, ele morde. Ele se lembra de querer, uma vez, na arena.
Ele estava com raiva lá, também.

Regulus suga uma respiração afiada entre os dentes, seus quadris


contraindo, e James planta as mãos contra suas coxas para mantê-lo quieto.
Uma longa série de maldições deixa a boca de Regulus, toda sem fôlego, e se
funde em súplicas quebradas muito rapidamente.

Eles fizeram isso... muito. Tanto quanto duas pessoas podem em dois dias,
na verdade. Em sua defesa, eles tinham muita tensão acumulada para
trabalhar—mais de uma década, na verdade—e dois dias não foram
suficientes. Dois dias nem sequer fizeram o mínimo.

Independentemente disso, eles fizeram sexo muitas vezes em muitas


posições diferentes, e ainda não conseguiram fazer tudo. Eles não tiveram
tempo suficiente. Mas eles fizeram isso, James indo para a cintura de Regulus e
colocando sua boca para usar. Regulus geralmente é um pouco mais
envolvido, mãos nos cabelos, dedos curvados sobre os ombros dele e unhas
cravadas. Ele não queria, mas deixou arranhões nos ombros e nas costas de
James. James não se importou. Ele gostou da queima deles. O lembrete e a
prova. Isso o deixou presunçoso.

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ZEPPAZARIEL

Desta vez, Regulus puxa os lençóis e canta o nome de James como uma
oração, como um juramento, como uma promessa. Ele também fez isso, e
quebrou sua promessa de qualquer maneira. James o odeia. James precisa
tanto dele que não consegue suportar.

É frenético e desesperado do começo ao fim, até que a respiração de


Regulus audivelmente trava, e então ele está arqueando, gemendo, mas nunca
soltando aqueles lençóis. Ele não o solta, mesmo depois de cair de costas
contra a cama, enquanto James levanta a cabeça e rasteja pelo corpo de
Regulus para olhar para ele. Regulus olha para ele, olhos estrelados e
atordoados, seu olhar nebuloso e sua boca frouxa enquanto ele ofega.

Ele está procurando algo. Perdão, pensa James. Ele não vai encontrar isso,
mas ele ainda está agarrado aos lençóis, nunca soltando ou levantando as
mãos, e isso merece uma recompensa, não é? Então, James se abaixa e o beija,
gentilmente.

Regulus suspira, suave e doce, finalmente se acalmando enquanto respira.


James afunda no beijo, empurrando tudo para o lado por um momento,
concedendo-se apenas um beijo onde ele se deixa fingir. Apenas um beijo
onde ele ignora sua raiva, tanto quanto pode. Isso funciona por todo o
caminho até que ele se afasta lentamente. Os olhos de Regulus se abrem e, por
um instante, eles apenas olham um para o outro em silêncio, tudo correndo de
volta.

James balança a cabeça e rola para o lado, pegando sua bengala enquanto
se levanta, sua perna rígida por estar em uma posição por muito tempo. Ele
ignora a excitação exigindo sua atenção, clamando por prioridade dentro dele,
e vai até o banheiro sem olhar para trás.

"James?" Regulus chama, sua voz falhando.

"Saia," diz James, olhando para a porta do banheiro.

"James," Regulus sussurra.

James olha para trás então, parando na porta do banheiro quando encontra
o olhar de Regulus. Tudo o que ele diz é, "Bem? Você não reconhece um
presente de despedida quando vê um?"

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CRIMSON RIVERS

Os olhos de Regulus se fecham, e James o deixa assim, fechando a porta


em sua expressão de dor. Sim, presentes de despedida não são exatamente os
presentes que deveriam ser, são?

~•~

Sirius olha para cima quando Regulus vem se arrastando da porta, um


brilho muito específico em seus olhos que faz o coração de Sirius afundar.

Sirius voltou após sua breve visita à sala de treinamento e foi direto para
Remus, sem espera. Remus estava escovando o cabelo para ele, os dois
murmurando quando Pandora entrou e disse nervosamente que Regulus havia
entrado no quarto de James antes de Sirius voltar, e ela estava preocupada,
sem saber se eles deveriam intervir ou não.

Por mais tentado que Sirius estivesse em se envolver, ele fez uma promessa
de ficar de fora, e então a cumpriu. Fazendo Pandora fazer o mesmo. Remus
tinha feito o comentário de que não ia terminar bem, e ele realmente nunca
está errado, está? Pandora se acomodou no quarto com eles, e todos ouviram
quando James e Regulus começaram a gritar um com o outro.

Eles ouviram quando a gritaria parou. Eles não conseguiram ouvir mais
nada, mas uma parte de Sirius ousou esperar que eles estivessem apenas—
trabalhando com as coisas, estando lá um para o outro, talvez tirando uma
soneca ou algo assim. Era otimista da parte dele, ele sabia disso, mas
ele realmente esperava que eles ficassem bem.

Eles não estão bem, o que ficou aparente quando Regulus passou todo o
tempo trancado em seu quarto, recusando-se a abrir a porta para qualquer um,
até mesmo Remus. James não tentou; ele foi o único que não tentou, e isso
dizia muito. Quando Sirius perguntou timidamente o que aconteceu, James
explicou, categoricamente, que eles fizeram um imprudente sexo de ódio, o
que honestamente fez Sirius realmente querer bater na cabeça dos dois por
serem idiotas, aparentemente determinados a machucar um ao outro.

Sirius está especialmente frustrado porque Regulus nem o deixa estar lá


para ele. Não o deixa ter nada a ver com ele. Ele está tão bravo com Sirius
quanto James está com ele, e se ele vê a hipocrisia nisso, ele claramente não se
importa. É diferente de qualquer maneira. Diferente entre eles como irmãos e
James e Regulus como amantes, ou algo próximo disso. Teria sido. Poderia ter

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ZEPPAZARIEL

sido. Está tudo perdido para eles agora, para todos eles. Isso não é nada
diferente. Tudo está fodidamente arruinado.

No final, Regulus não viu ninguém antes das avaliações, e ele nunca
ressurgiu até a hora de ir para as avaliações. Regulus ficou impassível e calado
esse tempo todo, sem dizer uma palavra, sem reconhecer Sirius. E agora,
vendo o olhar nos olhos de Regulus após sua avaliação... É selvagem.
Feroz. Desafiador.

"Sirius Black," é anunciado pelo interfone, e Sirius solta um suspiro


quando seus ombros caem.

Tudo isso é tão confuso.

Complicado.

Balançando a cabeça, Sirius vai fazer o que tem que fazer. Entrando na sala
de avaliação, a primeira coisa que ele faz é olhar para cima para ver os vários
criadores de jogos, funcionários do governo e quaisquer patrocinadores de
alto nível que possam entrar—todos o observando, fixos e ansiosos.

Exceto McGonagall. Ela está apenas observando, calmamente, focada, mas


não como um abutre. Esperando. Sirius desvia o olhar dela, para todos os
outros, e as diferenças são muito óbvias quando comparadas a ela. Eles estão
todos praticamente espumando pela boca, desesperados por qualquer show
que ele vá dar a eles, como se ele fosse deles, como se ele pertencesse a eles e
sempre tivesse pertencido.

Ele sabe que eles acreditam nisso, na verdade. Ele os deixou acreditar nisso
por um longo tempo, e de repente ele é atingido com a percepção e a
liberdade esmagadora do fato de que ele não precisa mais. Eles estão errados.
Ele não é deles.

Lentamente, Sirius vira a cabeça para olhar suas opções. Existem armas
com as quais ele poderia se exibir e, por um segundo, ele fica tentado a pegar
uma lança. Não, ainda não. Há muitas coisas que ele poderia fazer para
mostrar o quão competente ele é, desde lutar até sua aptidão na sobrevivência
dependendo do ambiente. Já faz anos desde que as pessoas o viram nesse
contexto; elas devem estar ansiosas para ver o que ele pode fazer.

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Quando Sirius vira a cabeça, ele sente sua respiração congelar em seus
pulmões, seu coração dando um chute forte em seu peito. A avaliação de
Regulus não demorou muito, e agora Sirius sabe o porquê.

Os tapetes são embutidos no chão, azuis e grossos, sem se mover. Eles se


estendem de um lado da sala até o outro, ocupando metade da sala. Em letras
grandes e irregulares, esculpidas com uma adaga, foi deixada uma mensagem
que diz:

HALLOW

IS

HOLLOW

Há Aurores tentando o seu melhor para rasgar os tapetes, mas não


conseguem. Sirius olha para isso, seu coração apertando e inchando ao mesmo
tempo que ele pensa, oh, Reggie.

Não é como se Sirius não tivesse notado, a raiva subjacente que está
varrendo a Relíquia, mas não só eles. Os Vitoriosos que agora são tributos
novamente também. Até os Comensais da Morte. Sirius tomou nota enquanto
esperava por sua avaliação, olhando para todos ao redor, estudando-
os. Ninguém está feliz por estar aqui, por estar voltando, nem uma maldita
pessoa, nem mesmo aqueles que prosperaram em seus jogos da primeira vez.

Porque todos eles sabem. Todos eles sabem o que é fazer isso e sair disso.
Eles não deveriam ter que fazer isso de novo. É quase um tipo de coisa
unificadora? Apenas um entendimento silencioso e tácito entre todos eles que
honestamente faz algo em Sirius murchar de tristeza, porque ele sabe que não
vai durar. Não pode. Assim que o canhão inicial na arena soar, todos estarão
prontos para matar uns aos outros.

Foda-se a Relíquia por isso. Foda-se Riddle, e os criadores dos jogos, e os


patrocinadores, e cada maldita pessoa envolvida. Eles acham que têm o
controle? Sério?

Não.

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ZEPPAZARIEL

Não, ainda não. Talvez quando as plataformas subirem e a contagem


regressiva chegar a zero e o canhão soar, mas nem um segundo antes. Agora
não.

Sirius vira a cabeça para encarar as pessoas que o observam, seus olhos
exigentes, possessividade em seus olhares. Eles realmente olham para ele
como se ele fosse deles, como se eles o possuíssem, como se ele fosse um
fantoche em suas cordas. Tolos. Eles são todos tolos.

Não é necessariamente apenas de natureza sexual. Há muitas pessoas que


sentem que têm direito a ele só porque ele é ele, e não porque querem seu
corpo. Eles querem a mente dele também. Seu desempenho. Sua presença.
Sua conformidade. Eles querem que ele apenas diga que eles o têm.

A única pessoa que o tem, de verdade, é Remus.

Sem dizer uma palavra, Sirius estende a mão e começa a desabotoar sua
camisa, lentamente, um botão de cada vez para que sua camisa se abra em
lascas. As pessoas—excluindo McGonagall—todas se inclinam para frente
ansiosamente, satisfeitas, encantadas com o que acreditam ser um strip-tease.
Surgem murmúrios. Risos suaves. Olhos brilhantes de encorajamento e elogio,
como se eles não esperassem por isso, mas estão encantados com isso de
qualquer maneira.

Tudo isso para no momento em que ele tira a camisa, revelando a pele
cheia de marcas que Remus deixou para trás, ainda bem frescas até agora.
Sirius estende os braços e dá um giro lento, deixando-os olhar, deixando-os se
perguntar.

Há uma frustração crescente deles que Sirius pode sentir daqui, sua
curiosidade correndo solta, sua inveja se transformando em amargura. Eles
acreditam que ele é deles, e essas marcas dizem o contrário. Eles podem
pensar que foi uma Relíquia que as deixou, mas não foram eles, e eles sabem
disso; eles não sabem quem, e estão cientes de que nunca conseguirão
descobrir.

É como um brinquedo em sua caixa de areia com o qual você não


conseguiu brincar, e você descobre que outra pessoa entrou em sua caixa de
areia para brincar com ele antes que você pudesse, sem sua permissão. É
assim que essas pessoas pensam. É assim que eles o vêem. E agora eles veem

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essas marcas que dizem, muito claramente, que ele pertence a outra pessoa.
Ele não é o brinquedo deles, e a caixa de areia está pegando fogo, então eles
não podem nem entrar para pegá-lo.

Olhe para mim, pensa Sirius. Olhe para mim e veja a quem eu pertenço. Não a
vocês. Nunca a vocês. Eu pertenço a mim, e eu me entreguei a ele, e não há nada que vocês
possam fazer sobre isso.

Com isso, Sirius pega sua camisa, coloca de volta, e dá a todos um sorriso
brilhante e desafiador. Ele se curva um pouco, deixando seu sorriso suavizar
em um sorriso malicioso enquanto ele passa o olhar sobre todos, e então ele
se levanta e sai.

Quando as notas da avaliação saem, Sirius fica com a menor pontuação de


todas, a menor pontuação possível, uma pontuação que nenhum outro tributo
na história conseguiu antes dele, e quando ele vê isso, entre o desânimo de
todos, ele ri.

~•~

Regulus espera duas horas depois que as notas da avaliação saem antes de
sair do quarto. Ele obteve uma pontuação bastante alta, apenas um ponto
abaixo do ano anterior. Sirius teve a menor da história.

Sirius achou hilário por algum motivo, enquanto Pandora se desesperava,


Remus empalidecia e James esfregava as têmporas como se estivesse com dor
de cabeça. Regulus não reagiu, nem mesmo o reconheceu. Não importa o
quanto os outros perguntassem, Sirius não diria o que ele fez em sua
avaliação.

Ele não teve problemas em contar a ninguém o que Regulus fez, no entanto.
Era como se ele estivesse fofocando sobre ele, falando com James e Pandora,
enquanto Regulus fazia uma careta enquanto Pandora o repreendia, e James...

Bem, ele apenas olhou para Regulus. A primeira vez que ele olhou para ele
desde que o deixou em sua cama com os restos frios de um presente de
despedida pesando nos ossos de Regulus. Sua mandíbula estava apertada,
narinas dilatadas, olhos cheios de calor e raiva. O coração de Regulus
começou a bater forte e rápido, porque ele sabia que James queria fodê-lo de
forma estúpida, o que é—sim, Regulus está bem com isso, na verdade. Os

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ZEPPAZARIEL

presentes de despedida não são bons, como se vê. Doem bastante,


emocionalmente falando. Regulus está ganancioso por mais de qualquer
maneira.

No final, James tinha apenas dito, rápido e afiado, "Pare de ser estúpido," e
desviou o olhar, flexionando os dedos. Regulus queria rastejar para o colo de
James e deixar aqueles dedos flexionarem ao redor de sua garganta. Ele acha
que talvez, apenas talvez, ele esteja ficando louco.

James está deixando ele louco.

Está chegando perto da noite agora, mas não exatamente, e ele tem um
lugar para estar. Sair parece simples no começo, mas então ele é pego por
Sirius e Remus, que por acaso estão dobrando roupas na sala principal,
conversando e rindo como uma cena de um filme caseiro.

"Para onde você está indo?" Remus pergunta enquanto tenta passar
casualmente, despercebido. Sirius parece saber que não deve falar, o que é o
melhor. Para ele, Regulus não responderia de qualquer maneira. Remus é...
Bem, Remus tem um passe.

"Apenas indo dar uma volta," Regulus murmura. "Estou cansado de olhar
para as mesmas quatro paredes."

"Você pode vir nos ajudar a dobrar a roupa suja," Remus oferece.

"Obrigado," Regulus diz categoricamente, "Mas acho que vou passar."

Sirius estala a língua, estendendo a mão para passar os dedos pelo cabelo
de Remus. "Você tentou, meu amor, não se preocupe com
isso. Eu vou dobrar a roupa com você o quanto você quiser."

Regulus poderia engasgar, honestamente.

"Você realmente não deveria ficar vagando por aí," Remus murmura,
olhando para ele. "Você tem um dia ocupado amanhã com a entrevista. Você
deveria descansar um pouco."

"Certo, eu não vou demorar muito. Só senti vontade de ir para o telhado,"


é tudo o que Regulus diz, vagamente, e então continua sem dizer mais nada.

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CRIMSON RIVERS

Ele entra no elevador.

Ele desce, não sobe.

Desce, desce, desce. Todo o caminho até o primeiro andar. Não no nível
do subsolo, ou do térreo, mas o primeiro andar com uma suíte para os do
distrito um.

O elevador apita, as portas se abrem, e Regulus exala tudo de uma vez


enquanto coloca os ombros e varre o corredor. Ele chega à suíte, firma a
mandíbula e bate na porta.

Regulus está feliz por ter se preparado, porque a visão de Lucius quando
ele abre a porta quase faz Regulus abrir um sorriso. O lado de sua mandíbula
está inchado e roxo, um hematoma terrível à mostra, forte contra a pele
pálida. Regulus quase começa a rir. James deu realmente bateu nele.

"Regulus," Lucius cumprimenta, um pouco amargamente.

"Lucius," Regulus responde, sua boca virando em um canto enquanto ele


incisivamente olha para o hematoma antes de erguer o olhar novamente para
ver Lucius o encarando. "Dia difícil?"

Lucius parece estar sentindo algo azedo, mas Narcissa deve ter repreendido
ele em algum momento, porque ele está se comportando. Ele recua sem
palavras e deixa Regulus entrar.

"Ah, aí está ele," Bellatrix chama, e a sala fica em silêncio enquanto ela
levanta os braços, sorrindo para ele. "Eu sempre soube que você era o irmão
mais esperto, fofura!"

"Dificilmente é uma revelação. Sirius sempre foi, e sempre será, um


maldito idiota," Regulus fala lentamente, arrastando seu olhar sobre todos na
sala.

Os Comensais da Morte, todos eles e alguns de seus mentores. Bella está


de pé com Rodolphus Lestrange, pressionada contra ele de forma bastante
provocativa, honestamente, o que o deixa muito feliz. O irmão mais novo—
Rabastan—está por perto, encostado na parede enquanto ele passa o olhar
sobre Regulus com curiosidade visível. Narcissa está perto da janela, fumando,

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ZEPPAZARIEL

mesmo quando ela o olha com um pequeno e triste sorriso. Todos os outros
bebem, claramente no meio da conversa antes de ele aparecer.

"Bem, entre, entre," Bella diz, acenando para ele entrar no quarto e
soprando cachos de seu rosto. "Pegue uma bebida, acomode-se, misture-se
um pouco. É melhor se acostumar com todos. Conversaremos mais quando a
comida estiver pronta."

Regulus, talvez infantilmente, vai direto para Narcissa porque ele a conhece
melhor do que ninguém, exceto Bellatrix, que provavelmente está a cerca de
oito segundos de arrastar o Lestrange mais velho para seu quarto, pelo que
parece. E ela chama ele de desesperado por pau.

"Ela está determinada a morrer em grande estilo," Narcissa diz secamente


enquanto ela joga cinzas e dá a ele um olhar exasperado que ele entende
completamente como um irmão mais novo que também tem um irmão mais
velho que é basicamente a personificação de uma dor de cabeça ambulante.

"Claramente," Regulus murmura.

"Quer um?" Narcissa oferece, pegando um maço de cigarros abertos do


parapeito da janela, estendendo-o para ele com as sobrancelhas levantadas.

Regulus balança a cabeça. "Não, obrigado. Eu não fumo."

"Mm, Sirius nunca te prendeu nisso, não é?" Narcissa reflete, sentando o
maço novamente.

"Ele não começou até depois de seus jogos, e nós não estávamos
realmente... Bem, nós não estávamos em bons termos na época," resmunga
Regulus.

Narcissa inala, deixando pequenos fios de fumaça escaparem de sua boca


enquanto ela o estuda. No final, ela apenas oferece a ele um pequeno sorriso e
murmura, "Sabe, todo Black que entrou na arena sempre conseguiu voltar.
Essa será a primeira vez que isso não acontece."

"Eu sei," Regulus diz baixinho.

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CRIMSON RIVERS

"É uma pena, não é?" Narcissa sussurra, seus olhos se fechando, a
expressão tensa. Assim como todos os outros, ela está legitimamente chateada
com a situação em que todos estão.

Regulus engole, hesitando, então ele admite, "Andrômeda veio me ver no


trem." Seus olhos se abrem, fixando-se nele imediatamente, e seu coração
aperta. "Ela não sabia sobre você e Bellatrix voltando na hora, eu acho que
não, mas ela disse algo que eu acho que se aplica a todos nós. Algo que eu
acho que ela gostaria que você soubesse também."

"O quê?" Narcissa exige, procurando o olhar dele, seus dedos se


contorcendo ao redor do cigarro.

"Quando eu apontei que apenas um de nós poderia ganhar, ela disse, faça-os
pagar por isso," Regulus diz a ela.

Narcissa não reage por um momento, e então ela solta uma risada fraca
enquanto seu rosto se suaviza. Ela desvia o olhar, seus cílios estremecendo. "É
claro que ela disse."

"Eu vou," Regulus confessa, segurando seu olhar firmemente quando ela
olha para ele novamente. "Você vai?"

"Sim," Narcissa diz suavemente. Seu olhar mais uma vez percorre a sala,
agarrando Bellatrix por um momento, e então ela olha de volta para ele, algo
afiado em seu olhar. Afiado como vidro estilhaçado que deveria estar
guardado, nunca destinado a ser tocado—não porque é frágil, mas porque
cortaria mais fundo do que qualquer outra coisa se fosse quebrado—e agora
ele caiu. "Sim, eu acredito que todos nós vamos."

"Bom," Regulus anuncia com firmeza.

Eles não dizem mais nada depois disso, e Bellatrix não tem tempo
suficiente para arrastar Rodolphus para longe, porque a refeição está pronta
antes que ela tenha a chance. A suíte não foi feita para acomodar essa
quantidade de pessoas—doze ao todo—então eles têm que se acomodar em
torno de uma mesa que poderia acomodar confortavelmente apenas metade
disso, na melhor das hipóteses. Regulus está enfiado entre Bellatrix e
Rabastan, sentindo-se muito apertado, e Narcissa se senta em frente a ele com
visível diversão no rosto.

460
ZEPPAZARIEL

Na maior parte do tempo, ninguém o incomoda. Rabastan fala um pouco


com ele, e ele é... legal? Curiosamente, ele é bastante agradável e tem uma
disposição calorosa e encantadora. Atencioso e observador, mas não de forma
arrogante. Ele é bonito em uma camisa cor de pêssego com um decote no
colarinho revelando um colar de prata com um rubi em forma de lágrima
aninhado contra a pele marrom no decote de seu peito. Ele tem uma voz
bonita, suave e profunda, tão profunda que é absolutamente necessário fazer
um duplo olhar. O tipo de voz que soa como se estivesse vibrando em seu
peito toda vez que ele fala, como se você pudesse realmente sentir se
estendesse a mão e tocasse. Ele tem um sorriso bonito, também.

Regulus entende por que as Relíquias gostam dele. Ele é fácil de conversar,
fácil de ouvir, facilmente engraçado e bastante descontraído, honestamente.
Preparado e equilibrado, Regulus não duvida que as Relíquias o admiraram
antes e provavelmente o farão novamente. Pessoalmente, além de Bellatrix e
Narcissa, Regulus suspeita que ele irá gravitar em torno de Rabastan também,
especialmente como uma pessoa que entende o que é ser um irmão mais
novo.

Por um segundo, Regulus observa Rabastan rir quando ele faz uma piada
seca sobre precisar de mais vinho para lidar com todos esses idiotas, e ele
sente seu estômago cair debaixo dele quando ele é atingido por um horrível
deja-vu só de pensar em Evan. Da última vez, Regulus fez um amigo—um
melhor amigo, não importa o quanto ele lutasse contra—e então ele o matou.
De repente, Regulus não tem certeza se quer ter algo a ver com Rabastan na
arena.

Regulus olha para ele, e olha para todos, e ele percebe que provavelmente
todos estarão mortos em questão de dias. Aqui estão eles, comendo e
conversando como se a realidade estivesse fora de alcance, como se não fosse
um conjunto de paredes se fechando em torno de todos eles. Isso revira a
porra do estômago dele.

Na maior parte depois disso, Regulus apenas senta e ouve, permanecendo


quieto e observador. Narcissa também. Os outros, porém... Eles falam sobre o
que está por vir. Eles especulam sobre a arena, discutem outros tributos e suas
fraquezas, e falam um pouco sobre as pessoas que sentem mais necessidade de
atingir. Previsivelmente, Sirius é um alvo de alta prioridade que eles acham
importante se livrar antes enquanto ainda têm os números para ultrapassá-lo,

461
CRIMSON RIVERS

porque essas pessoas podem ser horríveis, mas não são estúpidas. Eles sabem
que Sirius é uma ameaça. Eles sabem que será preciso esforço para matá-lo.

Emmeline é outra que eles têm certeza que precisa ser alvejada
rapidamente, assim como Marlene, e também Asher e Majesty. Eles não
sabem muito sobre Alice, não veem Augusta como uma ameaça e acham Eli
absolutamente ridículo. O resto são aqueles que eles têm certeza de que vão
lidar ao longo do caminho.

Sirius é o alvo principal, aquele que todos vão no momento em que


tiverem a chance, de preferência em grupo. Várias vezes, enquanto as pessoas
falam sobre Sirius, elas olham para Regulus como se tivessem algo a dizer,
mas Bellatrix e Narcissa aparentemente as assustam o suficiente para ficarem
de boca fechada. Bem, a maioria deles. Um não é tão sábio quanto o resto.

"Então, o que, você não tem nenhum comentário sobre nós planejando
matar seu irmão, Regulus?" Yaxley pergunta, curvando o lábio em desgosto.

"Oh, estranho," Rabastan cantarola baixinho.

Regulus se abaixa para pegar o guardanapo, limpa a boca, depois se


endireita e suspira. "Corban, o que exatamente você espera que eu diga?"

"Eu me importaria com a sua língua se eu fosse você," Bellatrix adverte,


seu olhar fixo em Yaxley. "Ele é um terror com um garfo, e eu também, e há
muitos nesta mesa. Tome cuidado."

"Você não pode honestamente esperar que nós nos sentemos aqui e
ajamos como se ele fosse alguém em quem podemos confiar," Yaxley sibila.

"Você não pode confiar em ninguém nos jogos vorazes," diz Alecto,
arqueando uma sobrancelha para ele. "Nenhum de nós pode confiar um no
outro. Em algum momento, Corban, todos nos voltaremos um contra o
outro."

"Sim, obviamente," Yaxley sibila. "Mas isso acontecerá quando for


necessário, e não um momento antes. Como podemos ter certeza de que ele
não planeja se virar contra nós antes disso? É o irmão dele. Esse senso de
lealdade, é uma preocupação. Se fosse o seu, Alecto, você iria abandoná-lo tão
facilmente? Matá-lo? E você, Rabastan? Até mesmo você, Bella, Narcissa—

462
ZEPPAZARIEL

vocês estão aqui juntas. Eu devo apenas acreditar que Regulus virou as costas
para Sirius e será um trunfo para nós? "

"Oh, eu quebraria o pescoço de Rodolphus na primeira chance que eu


tivesse," Rabastan diz levemente, compartilhando um sorriso com seu irmão
mais velho, que revira os olhos.

"Acho que a preocupação é válida," murmura Dolohov, olhando para seu


copo com uma carranca.

"Confie em mim, o fato de Regulus estar aqui é prova suficiente," Bellatrix


retruca. "Ele não estaria aqui se não estivesse disposto a fazer o que é
preciso para estar aqui. Você esquece que ele tem outra família aqui também.
Ele tem eu e Narcissa. Você não o conhece do jeito que nós conhecemos, e
você pode não ver, mas é muito claro que ele odeia Sirius. Ele está aqui porque
quer estar."

"Me desculpe se eu acho um pouco difícil de acreditar que vocês duas são
mais importantes para ele do que o irmão dele. Além disso, não faz anos que
vocês não se veem?" Desafios de Yaxley.

"Pare," Regulus diz, sua voz firme, e os olhos de Yaxley se fixam nele.
Muitos olhos, na verdade. "Você quer duvidar de mim? Fique à vontade. Eu
não tenho interesse em apaziguar suas inseguranças. Você tem medo de mim.
Você acabou de deixar isso claro para todos nesta mesa, e o que você acha
que isso significa para você? "

As narinas de Yaxley se dilatam. "Eu não tenho medo de você."

"Então você não tem nada para se preocupar, não é?" Regulus inclina a
cabeça para ele. "Afinal, quanta ameaça eu poderia representar para você se
você não é tão fraco quanto está se apresentando agora? Você está
preocupado que eu seja melhor que você, Corban?"

"Não," Yaxley diz bruscamente.

Regulus mantém seu olhar. "Você deveria estar."

"Você não é melhor do que eu," declara Yaxley, sua voz áspera.

463
CRIMSON RIVERS

"Eu sou," Regulus o informa simplesmente. "E Sirius também. Ele é


melhor do que você e todos os outros nesta mesa. Ele vai matar todos vocês
facilmente, sem esforço e sem vacilar por um segundo. Ninguém nesta mesa
seria capaz de vencer contra ele. A única fraqueza que Sirius tem na arena sou
eu. Se você fosse esperto, você perceberia que precisa de mim."

"Oh, é mesmo?" Yaxley zomba dele. "Então, você vai ficar aí e nos deixar
matá-lo?"

"Não," Regulus diz, e todos o encaram. Ele nunca desvia o olhar de Yaxley
enquanto anuncia, sem a menor hesitação em seu tom, "A única pessoa que
pode matar Sirius sou eu."

Para isso, ninguém tem uma resposta. Regulus pega seu garfo e recomeça a
comer, e—depois de algumas batidas—todos os outros seguem o exemplo.
Bellatrix parece satisfeita. Narcissa olha para ele, olha para ele, olha para ele e
então desvia o olhar.

Regulus não diz outra palavra. Ele não precisa.

Ele disse o suficiente.

464
ZEPPAZARIEL

45
FAZENDO ELES PAGAREM

"Ei," Sirius diz, "Onde você estava ontem à noite?"

Regulus faz uma pausa, suas mãos parando no meio de espalhar o cream
cheese nos bagels, porque ele se encarregou de fazer o café da manhã. Sirius
não sabe se bagels contam como café da manhã, mas também não tem
coragem de questionar isso. Por alguma razão, Regulus parece realmente
querer bagels agora.

Como sempre, Regulus não responde. Não olha para ele. Não tem nada a
ver com ele.

Sirius sente seu coração afundar um pouco, e ele não consegue entender o
porquê. Ele sabia que isso iria acontecer. Regulus disse a ele que Sirius iria
perdê-lo. É só que Sirius nunca quis que isso acontecesse.

Regulus não estava no telhado ontem à noite. Não a noite toda, pelo
menos. Sirius sabe disso porque, depois que Remus saiu para voltar para sua
cela, ele foi até o telhado com a ideia de ir lá em cima e passar um tempinho
com Regulus, talvez fumar um pouco, talvez tentar falar com ele. Ele sente

465
CRIMSON RIVERS

falta dele. É essa dor horrível bem onde seu coração está que pulsa a cada
batida.

Mas Regulus não estava lá, e ele não apareceu. Ele voltou para a suíte tarde
da noite, depois que Sirius desistiu e voltou para esperá-lo, e mais uma vez ele
não reconheceu a presença de Sirius antes de ir para a cama.

Sirius assume que Regulus foi para outro lugar para ficar sozinho, em
algum lugar onde ninguém poderia encontrá-lo, como ele ocasionalmente
fazia em casa. Ele entende que Regulus encontra conforto no isolamento às
vezes, especialmente quando ele está passando por um momento difícil, e as
coisas estão muito difíceis agora. Sirius só queria que Regulus ainda
encontrasse conforto nele.

Sirius dá um suspiro e se afasta de Regulus, olhando ao redor da cozinha.


James ainda não acordou, mas Pandora e Remus estão arrumando a mesa,
conversando.

Eles têm suas entrevistas em breve. Regulus não parece nervoso ou


assustado dessa vez, como da última vez, mas Sirius acha que ele não
demonstraria se estivesse. Especialmente não para Sirius. Quanto a Sirius, ele
também não está muito nervoso ou assustado. Ele tem jeito com as Relíquias,
sempre teve, e uma parte dele está gostando de outra chance de ser desafiador
novamente.

As mãos de Regulus brevemente param nos bagels mais uma vez quando o
som da bengala de James batendo no chão anuncia sua aproximação. Todos
se concentram nele quando ele entra com um bocejo, juntando os dedos em
um olho por baixo dos óculos, parecendo exausto. Quando ele abaixa a mão e
abre os olhos, ele olha para os bagels, e seu rosto parece se transformar em
pedra.

"Com fome, James?" Sirius pergunta, esperando tirá-lo de qualquer estado


furioso em que ele está agora.

"Não, eu acabei de perder meu apetite. Malditos bagels," James murmura,


então se vira e sai de volta.

Sirius o encara por um tempo, sentindo-se mal de um jeito que nunca se


sentiu antes quando se trata de James. Ele olha para Pandora e Remus, como

466
ZEPPAZARIEL

se eles tivessem as respostas, mas eles parecem tão perdidos quanto ele.
Finalmente, Sirius olha para Regulus, que está com os olhos bem fechados
enquanto estrangula a beirada do balcão com as duas mãos, e ele está tão
visivelmente mal que Sirius dói, dói, dói para confortá-lo. Ele não pode mais.

Ele perdeu isso também.

~•~

Regulus não tem certeza de como isso acontece exatamente. Apenas uma
daquelas coincidências estranhas que ninguém vê chegando, uma que leva a
um momento muito estranho e tenso para todos os envolvidos.

Não houve preparação para as entrevistas desta vez, visto que não há
realmente nenhum ponto. Sirius e Regulus já fizeram isso antes. Eles sabem o
que esperar. Na verdade, todos eles apenas sentaram e discutiram o que Rita
provavelmente iria trazer, mas há um aspecto disso que é desconhecido. As
entrevistas são diferentes este ano, em que todos os tributos estarão no palco
juntos ao mesmo tempo, sentados no fundo e se revezando para subir nas
cadeiras. É uma coisa do Memorial Quaternário, aparentemente, mas esse não
é o território desconhecido. Não, é o fato de que todos os tributos já são
Vitoriosos, e nenhum deles está feliz por estar aqui. Pode levar a problemas.

Regulus espera que leve. Ele espera que cada entrevista seja usada para
torcer a faca mais fundo nas Relíquias. Ele espera que isso acenda suas chamas
e convide mais raiva. Ele espera que Riddle assista e sinta seu poder tremer
em suas mãos. Embora ele possa nunca perdê-lo, Regulus se delicia com o
pensamento de que, mesmo por um momento, ele pode sentir medo dessa
possibilidade.

Dorcas preparou ele e Sirius, e desta vez, ela fez os dois parecerem
igualmente perigosos. Como armas ambulantes novamente, lâminas duplas
prontas para cortar. Eles estão em algum tipo de armadura leve e brilhante
que brilha e cintila com estrelas. Eles são estrelas, no nome, e tão belos quanto
as estrelas, eles poderiam envolver o mundo e incendiá-lo.

Parece que eles vão.

Regulus gosta da aparência dele, ainda mais porque James cerra os punhos,
se inclina contra a parede como se desejasse ter trazido sua bengala para se

467
CRIMSON RIVERS

apoiar, e inala bruscamente no momento em que ele o vê, embora não diga
uma palavra.

É uma caminhada totalmente silenciosa até o elevador para chegar onde


eles estão indo para a entrevista, Dorcas e Pandora vindo atrás. É no elevador
que as coisas ficam arriscadas. Veja, o elevador é espaçoso o suficiente para
que ninguém esteja realmente muito perto, mas não é espaçoso o suficiente
para continuar assim quando, no próximo andar, as portas se abrem para
revelar um grupo bastante grande esperando para entrar.

Por grande, Regulus quer dizer Frank, Alice, Augusta, Marlene e Eli. Mais
cinco em cima dos cinco que já estão lá dentro. Todos eles se arrastam para
dentro com murmúrios baixos de desculpas e risadinhas, mudando de lugar
para abrir espaço. De alguma forma, em todos os movimentos e arranjos
rápidos, Regulus acaba pressionado contra James no canto, contra sua
vontade.

Regulus realmente não quer. Isso meio que acontece, e então não há
espaço para fazer nada a respeito. Frank acaba esmagado perto de Alice, o que
faz Augusta olhar desconfiada para os dois. Dorcas e Marlene parecem ir a
extremos desesperados para evitar uma à outra, o que significa que Dorcas
praticamente se costura ao lado de Pandora, que fica visivelmente nervosa
quando acidentalmente fica com o rosto cheio no peito de Dorcas enquanto
tenta se esquivar. Isso faz com que Marlene a encare de onde ela está apenas
segurando Eli, porque ele está, como sempre, muito bêbado. Ele pode ou não
estar dormindo.

Sirius, o maldito bastardo, parece ser o mais confortável bem no meio


disso tudo, batendo com os cotovelos em Marlene e conversando alegremente
com Frank. James, por outro lado, está rígido e rangendo os dentes
audivelmente.

"Você poderia se afastar?" James sussurra acaloradamente, suas narinas


dilatadas enquanto ele lança um olhar duro para Regulus.

"Desculpe," Regulus murmura, sentindo seu rosto esquentar enquanto ele


tenta, e falha, criar espaço entre eles. Seu braço de alguma forma ficou preso
nas costas de James, e ele apoia o outro contra o quadril de James, porque ele
honestamente não tem outro lugar para colocá-lo enquanto tenta se afastar.

468
ZEPPAZARIEL

A mão livre de James voa para baixo para agarrar o pulso de Regulus, e
seus olhos se encontram, e é isso. Ambos param de se mover. Eles não falam,
nem respiram, apenas se encaram. O elevador apita. As portas se abrem.
Todos andam para fora.

Regulus e James não.

O elevador se esvazia, e Regulus engole em seco enquanto lança seu olhar


para fora das portas que estão se fechando para ver os outros continuarem,
nem mesmo sabendo que estão faltando duas pessoas. No último segundo,
Pandora olha ao redor, depois para trás, localizando-os. Ela pisca, e então as
portas se fecham completamente.

No momento em que elas o fazem, o elevador começa a se mover


novamente, e Regulus volta seu olhar para James. Seu coração está acelerado.
Ele se sente um pouco louco, honestamente, parado aqui e tremendo e
lutando para respirar, porque ele sabe—ele sabe o que está prestes a acontecer.

Efetivamente, James estende a mão para apertar o botão de parada, o


elevador para, e então ele está apoiando Regulus contra a parede e beijando-o
como se sua vida dependesse disso.

Regulus o encontra no meio do caminho, ou talvez ele o atraia, ele não tem
certeza. Tudo o que ele sabe é que ele tem James sob suas mãos novamente, e
ele não se importa com sua maquiagem ou suas roupas ou qualquer outra
coisa além disso, disso, disso.

James, apesar de sua raiva e do ódio que afirma sentir, toca e beija Regulus
desesperadamente, com reverência, gemendo em derrota, totalmente
lamentável. Regulus sentiria pena dele se ele não estivesse exatamente na
mesma situação. É difícil ficar longe de alguém que você quer tanto, e Regulus
pode sentir o desejo de James combinando com o seu, emaranhado com ele,
áspero e queimando com uma necessidade simples e indescritível.

Regulus sabe que James é um emaranhado de emoções complicado e


complexo em relação a ele no momento, dificilmente capaz de entender tudo
ou equilibrar. Não há nada a ser feito sobre isso, não quando isso é bom pra
caralho.

O amor de James cresceu em espinhos, e Regulus está feliz em sangrar.

469
CRIMSON RIVERS

"Eu vou matar Dorcas. Porra, você está tão—" James se interrompe e
praticamente geme na garganta de Regulus, suas mãos agarrando Regulus por
toda parte. Um ruído impotente e engasgado sai de sua boca, e então ele
levanta a cabeça para beijá-lo novamente, profunda e apaixonadamente.

Regulus se agarra a ele, dando o melhor que pode, e então ele está
empurrando James para trás, seu peito arfando. James olha para ele, o olhar
encoberto enquanto estuda Regulus, a ponta de sua língua tocando seu lábio
inferior mordido e brilhante.

Esse olhar chia entre eles por um instante, e então Regulus está
freneticamente levando James de volta contra a parede oposta do elevador.
James o deixa, movendo-se como uma isca para atrair Regulus, e ele apoia as
mãos no corrimão depois de ter ido o mais longe que pode, esperando, suas
pálpebras penduradas pesadas, encapuzadas, um olhar sensual que acena para
Regulus, se engancha no seu umbigo, encurva um dedo e o faz ele querer se
ajoelhar.

Então ele o faz.

Regulus começa a cair de joelhos. James geme com a visão, e então sua
cabeça bate na parede com um baque. Se alguém estiver esperando o elevador,
bem, eles terão que subir as escadas.

~•~

"O que você fez?" Dorcas deixa escapar em desespero, parecendo completa
e totalmente horrorizada de uma forma que Sirius honestamente nunca viu
antes. O choque—o drama de tudo—é uma coisa tão Relíquia que ele é
lembrado muitas vezes que Dorcas também é uma Relíquia. Apenas uma das
melhores.

Sirius vira a cabeça para ver o que ela está olhando e se depara com a visão
de James e Regulus se aproximando deles rapidamente. Regulus não parece
mais tão arrumado quanto antes, seu cabelo uma bagunça e um pouco de
maquiagem borrada. Ele não consegue encontrar os olhos de Dorcas, suas
bochechas vermelhas brilhantes.

470
ZEPPAZARIEL

"Hum," Regulus resmunga, então pigarreia violentamente, dando a James


um olhar furtivo de lado, obviamente pedindo ajuda com um olhar que diz a
todos por que ele está nesse estado para começar.

James não oferece nenhuma ajuda. Ele nem está nervoso.

"Oh, oh, você tem tanta sorte que eu estou preparada em todos os
momentos," Dorcas sibila, estendendo a mão para agarrar o braço de Regulus
e levá-lo para o lado com uma carranca, remexendo em sua bolsa. Pandora,
como sempre, se move para controlar os danos, acalmando os nervos
desgastados de Dorcas enquanto Regulus fica parado como uma criança
repreendida e fica parado para Dorcas deixá-lo apresentável novamente.

Sirius se vira para James e diz categoricamente, "Sério?"

"Eu não quero falar sobre isso."

"Então, você o odeia, mas você simplesmente não consegue manter suas
mãos longe dele, é isso?"

"Sirius, eu disse que não quero falar sobre isso," James retruca, sua voz
baixa e afiada. "Além disso, você deveria ficar fora disso, não é? Então, fique
fora disso."

"Ele não vai falar comigo, James," Sirius engasga, e James olha para ele,
engolindo em seco. "Ele não vai olhar para mim, ou ter nada a ver comigo, ou
me deixar estar lá para ele. Ele não vai me deixar confortá-lo. Você não
entende? Eu estou morto para ele."

O rosto de James se contorce, então suaviza. "Sirius..."

"Ele disse isso, e ele quis dizer isso, e eu apenas—eu tenho que fazer as
pazes com isso," Sirius continua, sua voz grossa. "Mas é especialmente difícil
quando eu estou preso vendo vocês dois se machucarem, e eu não posso nem
consolar nenhum de vocês sobre isso. Ele está—isso está partindo o coração
dele, James. Você está partindo o coração dele. E eu sei, eu sei que ele quebrou
o seu de todas as maneiras possíveis, mas ele vai para a arena amanhã, nós dois
vamos, e isso—isso só vai piorar as coisas. Você tem tão pouco tempo de
sobra—"

471
CRIMSON RIVERS

"Ok, isso é—apenas não. Por favor, não," James diz, fechando os olhos.
Ele balança a cabeça, inspirando e expirando, suas feições torcidas. Sirius
pode vê-lo lutando ativamente contra o lembrete. A verdade.

"James," Sirius sussurra.

"Por favor," James engasga, estremecendo tanto que Sirius quer estender a
mão e puxá-lo em seus braços.

Sirius está planejando fazer exatamente isso, mas eles são interrompidos
por Pandora, que corre para dizer, "Sirius, eles estão prestes a levar os
tributos. Você e Regulus têm que ir."

"Vocês vão estar assistindo daqui?" Sirius verifica, olhando entre ela e
James.

"Nós estaremos bem aqui," Pandora garante a ele. "Dorcas estará no meio
da plateia, no entanto, se você precisar de um rosto familiar."

Sirius balança a cabeça e estende a mão para apertar o ombro de James


antes de se afastar, porque essa é realmente sua única escolha. Ele segue
Regulus e Dorcas para fora da sala e pelo corredor. Dorcas ainda está se
preocupando com Regulus enquanto caminham, e ele apenas aguenta em
silêncio, menos castigado e mais resignado agora.

Há um grande grupo esperando no espaço ao lado do palco, todos os


tributos vestidos e bonitos, permanecendo em silêncio. Dorcas faz uma última
coisa no cabelo de Regulus, lança um rápido olhar para Marlene, que
rapidamente desvia o olhar assim que o faz, e então corre para encontrar seu
lugar na multidão. Depois disso, é só esperar.

Sirius está ao lado de Regulus, querendo dizer alguma coisa, querendo dar
conselhos ou palavras de conforto, mas sentindo tanto frio. Regulus o está
congelando, uma espessa parede de gelo que não derrete nem racha. Sirius não
consegue falar com ele, não mais, então ele sabe que tentar seria inútil.

Não demora muito para que alguém saia para colocá-los em movimento,
acenando para eles até o palco em ordem de distrito. Sirius e Regulus
aparecem atrás de Augusta e Alice, e os sons abafados da multidão surgem
assim que ele começa a subir as escadas.

472
ZEPPAZARIEL

Eles estão ficando em êxtase, absolutamente apanhados na visão de seus


favoritos saindo em brilho e glamour, troféus derretidos em rios de ouro para
eles bajularem. Rita está rindo, alto e encantada, anunciando cada par quando
eles chegam e se sentam. Demora um pouco para a plateia se acalmar.

"Bem, bem, bem, que boas-vindas revigorantes ao 85º Memorial


Quarternário!" Rita chama, levantando as mãos para silenciar a multidão antes
que eles possam recomeçar. "Por que não entramos nisso, então? Vamos
começar com a querida da Relíquia, Narcissa Black, do distrito um!"

"Obrigada, Rita," Narcissa diz suavemente assim que chega ao assento na


frente do palco, com as mãos dobradas suavemente no colo, uma pequena
curva nos ombros. Há apenas uma leve oscilação em sua voz que retrata o
medo, mas apenas um pouco, como se ela estivesse fazendo o possível para
encobrir.

Sirius ouve enquanto Rita fala com Narcissa sobre o fato de que ela é
originalmente do distrito seis e que ela está aqui com três parentes, uma que é
sua irmã mais velha. Elas também revisitam seus primeiros jogos, tocando no
fato de que ela era mortal com um arco e flecha e fez muita gente passar
como tolo, o que provavelmente não será possível novamente este ano, agora
que as pessoas estão preparadas para ela. Narcissa leva isso com calma,
afirmando sem rodeios que ela ainda é muito boa com um arco, mas ela não
pensaria nem por um segundo que esse grupo de pessoas são aquelas que ela
pode enganar da mesma maneira que ela fez da primeira vez.

Ela é muito... diplomática, Sirius diria. Ela é boa com as palavras,


escolhendo sabiamente o que dizer, conduzindo a conversa sem que Rita
sequer perceba que perdeu o controle. Sirius não se lembra muito de Narcissa,
mas vendo seus destaques, pensando sobre de que família ela vem, que vida
ela escolheu com Lucius e como ela está lidando com essa entrevista—bem,
ela está no nível de Sirius quando se trata de manipulação. Oh, ela é boa.

Ao longo da entrevista, há pequenos momentos em que as palavras de


Narcissa pegam, onde ela tem que limpar a garganta e piscar duramente,
parecendo precisar de um momento para se recompor. Não demora muito
para que Rita não resista a apontar isso, focando nisso como um abutre.

"Minha querida Narcissa, você parece bastante emocionada com alguma


coisa," Rita diz gentilmente, estendendo a mão para cobrir o braço de
473
CRIMSON RIVERS

Narcissa enquanto ela a olha tristemente. Ela estala a língua. Tsk, tsk, tsk. Oh,
ela é horrível, verdadeiramente. "Eu entendo estar chateada, especialmente
porque você está dentro da arena com três membros da família."

"Três é perturbador, mas o que é realmente demais para suportar é..."


Narcissa para, lágrimas se acumulando em seus olhos enquanto ela levanta a
mão e a coloca em seu estômago, descansando lá com cuidado. "Bem, na
verdade, são quatro."

Rita empalidece tão rápido que é quase cômico. A sala inteira está cheia de
suspiros imediatos, e Rita tira a mão do braço de Narcissa como se ela tivesse
acabado de se queimar. Seus olhos estão muito arregalados. "Quatro? Você—
você está gr—você está—"

"Grávida?" Narcissa preenche tristemente. Ela olha para o seu estômago,


suas lágrimas caindo. "Sim, é isso. Eu ia chamá-lo de Draco."

Instantaneamente, a multidão perde a porra da cabeça. À direita de Sirius, ele


ouve uma risada suave e esmurrada escapar de Regulus, e Sirius não consegue
se impedir de repetir. Puta que pariu. Oh, merda.

"Você não pode enviar uma pessoa grávida para a arena!"

"Parem os jogos! Parem os jogos!"

"Ela ia chamá-lo de Draco!"

"Tire ela de lá! Tirem todos eles de lá!"

A sala é uma mistura de pessoas gritando ou soluçando histericamente,


uma cacofonia de puro caos enquanto Narcissa funga e acaricia sua barriga,
enquanto Rita parece estar a cinco segundos de um ataque de pânico. É
preciso tudo em Sirius para não se dobrar em sua cadeira e apenas—cair na
gargalhada.

Oh, merda, isso é—é brilhante. Narcissa provavelmente nem está grávida—
Sirius está quase cem por cento certo de que ela não está, considerando a
última conversa deles—mas as Relíquias não sabem disso, e
estão chateadas. Elas estão absolutamente revoltadas em indignação em nome
dela, e é glorioso pra caralho testemunhar. Desamparado, por apenas um
momento, Sirius está tão orgulhoso de ser parente dela que ele quase
474
ZEPPAZARIEL

consegue se lembrar do sentimento que teve há muito tempo, como um fiapo


de um sonho, quando ela era sua favorita.

"O-Ok! Ok, isso é—isso é tudo!" Rita chama alto, gaguejando em suas
palavras. Ela rapidamente leva Narcissa para cima e gesticula para que ela
volte para o assento.

Leva séculos para a sala ficar em silêncio novamente. Um grupo


particularmente furioso na parte de trás tem que ser escoltado por alguns
Aurores, gritando por todo o caminho. No meio, Dorcas está sentada com o
punho pressionado contra a boca, mas faz muito pouco para esconder seu
sorriso.

Sirius está praticamente vibrando, porque por mais que ele não goste dela,
Bellatrix é a próxima, e ela é louca pra caralho. Não há como Rita estar
preparada para lidar com ela; ninguém está, na verdade.

Com certeza, a entrevista de Bellatrix também é um pouco instável. À


princípio, parece bem. Rita não menciona que Bellatrix é aparentemente uma
tia em formação. Em vez disso, ela se concentra nos últimos jogos de
Bellatrix, perguntando se ela vai ser uma Comensal da Morte novamente—a
resposta é sim, e é entregue sem nenhuma vergonha, o que faz Sirius torcer o
nariz. Rita também pergunta o que Bellatrix tem feito desde seus jogos, se
gosta de viver no distrito um e se ela tem um amante.

Bellatrix responde a tudo com uma espécie de indiferença distante e


entediada, como se nada disso lhe interessasse. O que parece interessá-la são as
ameaças que ela continua deslizando sorrateiramente para Rita, lentamente no
início, quase imperceptíveis, mas depois ficam mais óbvias, e Bellatrix observa
com prazer enquanto Rita se contorce.

A promessa de Bellatrix de ser um bom show é o que todos amam nela. O


drama. A energia maníaca que apenas irradia dela, sem remorso. Ela está
ansiosa para matar; ela quer começar imediatamente.

"Seria uma honra, não seria, morrer pelas minhas mãos? Sangrenta e
brutalmente. Sua vida, tomada por mim. Eu a possuo. Eu possuo você,", diz
Bellatrix, e ela está falando diretamente para Rita, mas toda a multidão parece
sintonizada, atraída pelo fascínio mórbido de sua promessa de maldade e
violência.

475
CRIMSON RIVERS

Nem Rita está imune, ao que parece. Bellatrix se inclina para frente em sua
cadeira, indo para Rita de uma forma que nenhum tributo jamais fez,
levantando a mão e dobrando o dedo. Rita balança como um verme em um
anzol, parecendo absolutamente aterrorizada, mas completamente incapaz de
se libertar de qualquer maneira. Uma cobra presa na armadilha de uma cobra
mortal que balança e tece, encantada por ela, espelhando-a impotente.

"Você não gostaria disso, Rita?" Bellatrix pergunta, sua voz suave e doce
enquanto ela enrola o dedo sob o queixo de Rita, acariciando sua bochecha
com o polegar. "Hm? Não seria muito bom sangrar nas minhas mãos? Há
algo eterno entre o morto e seu assassino. Você estaria sempre comigo. Você
não quer isso?"

"Sim," Rita engasga, a resposta arrancada dela como se ela nunca tivesse
tido tanto medo em sua vida.

Bellatrix sorri para ela, largo e brilhante, então levanta a mão e dá um


tapinha no nariz de Rita. Rita se encolhe, sacudindo no lugar, e apesar disso,
ela está corada e nervosa. Rindo, Bellatrix se recosta, relaxando em seu
assento com um brilho de satisfação em seus olhos. Que mulher louca.

Nesse contexto, Sirius pode respeitar isso. Ele até encontra uma sensação
doentia e distorcida de diversão vingativa nisso.

Depois de Bellatrix, há Yaxley, que reconhecidamente teve dois atos muito


difíceis para seguir. Ele não se sai tão bem, não é um favorito das Relíquias, e
não alguém que Rita parece ter medo o suficiente para se abster de abusar
verbalmente. Yaxley aceita tudo com um sorriso de plástico no rosto, os olhos
brilhando de raiva.

Depois de Yaxley está Lestrange, que se sai muito melhor. Ele foi amado
pelas Relíquias pela última vez, e ainda é. Muito charmoso, ele é. Ele se inclina
para o fato de que seu irmão mais velho é seu mentor, falando um pouco
sobre o fato de que ele sentiria muita falta dele se algo acontecesse, sem
vergonha de quão injusto é para ele e seu irmão serem colocados essa posição,
particularmente pela Relíquia, um lar para pessoas que ele afirma que também
considera família. Seja verdade ou apenas algo para agitar a multidão, isso
realmente faz com que muitas pessoas fiquem chateadas. Como se Rabastan
também fosse irmão deles.

476
ZEPPAZARIEL

Sirius sente uma sensação aguda no centro do peito que ele não consegue
entender, na verdade. É um sentimento ardente que se espalha e o faz—bem,
ele nem sabe, mas o incomoda enquanto ele fica sentado lá e ouve Rabastan
Lestrange falar. Não é até Sirius dar uma olhada para Regulus, que está sem
expressão, que ele percebe que o sentimento é inveja.

Nunca, nem uma vez, houve um momento na vida de Sirius em que ele
estivesse com ciúmes ou inveja de outra pessoa em relação a Regulus. Ele
nunca foi colocado em uma posição em que teve que se sentir assim, porque
toda vez que ele e Regulus se distanciavam, era uma coisa mútua. Eles sempre
se perdiam, por escolha, um vínculo quebrado que ambos se afastavam.

Desta vez, é apenas Regulus, então Sirius ouve Rabastan falar sobre o
quanto ele ama seu irmão, e ele sente—inveja. A dura e frágil pressão da
inveja. Ele não se arrepende de ter tomado a decisão de fazer tudo para trazer
Regulus para casa, mas deseja que, até que esteja realmente morto, ele ainda
possa estar vivo para Regulus. Ainda aqui, ainda seu irmão mais velho, sempre
seu irmão mais velho. Ele quer isso. Ele quer que eles fiquem bem. Ele quer
que alguém lhe diga que, não importa o que aconteça, Regulus o ama.

Ele vai morrer nunca ouvindo Regulus dizer que o ama, porque mesmo
que ele tenha dito isso anos atrás, ou mesmo quando criança, Sirius não
consegue se lembrar. Sirius não sabe se ele fez isso, não mais. Talvez ele
nunca tenha dito.

Seguindo Lestrange está Rowle, que—como Yaxley—é um pouco abusado


verbalmente por Rita no início, até que ele começa a falar sobre sua vontade
de matar, e então ela parece ter medo dele também. Carrow está atrás e, como
Lestrange, ela fala sobre seu irmão, e ela fala sobre como ele ficou chateado
quando descobriu que havia uma chance de ela voltar. Ela não omite detalhes
sobre o quão horrível foi o anúncio do Memorial Quaternário para ela e sua
família, e isso só irrita ainda mais a multidão.

Majesty é o próximo, que é elogiado por seus últimos jogos, e ele admite
que vai fazer o que faz de melhor e sobreviver da maneira que tiver que
sobreviver. Depois disso é Asher, que é muito bom com venenos e não tem
vergonha de admitir esse fato. Ela se esquiva da maioria das perguntas de Rita
e ri quando perguntada, ironicamente, se ela espera que os jogos terminem tão
cedo desta vez, como aconteceu da última vez para ela.

477
CRIMSON RIVERS

Alice é a primeira do cinco, e Sirius sente seu coração pular quando ele
olha para ela. Ele não pode deixar de pensar em quão próximo Frank é dela,
seu melhor amigo, e Sirius pode ter que...

Ela é boa na entrevista, na maior parte. Ela parece gaguejar sobre o assunto
de seus pais, o que intriga Sirius, reconhecidamente. Até onde ele sabe, Alice
deu a seus pais a casa que ela conseguiu como uma Vitoriosa e foi morar com
Frank, mas ela têm um bom relacionamento com sua família, ao contrário do
relacionamento tenso de Frank com sua mãe. Rita vê claramente as
dificuldades de Alice em falar sobre isso, pressionando isso como uma
contusão, mas Alice a cala, friamente.

Augusta... Oh, ela é—ela é um espetáculo para ser visto, honestamente. Ela
se senta no banco e imediatamente começa a despedaçar Rita uma palavra afiada
e irônica de cada vez. Ela olha para Rita e, sem dúvida, a faz se sentir pequena.
É o talento de uma mãe, essa habilidade de fazer você se sentir absolutamente
inútil, e Sirius saberia. Augusta usa isso como arma contra Rita, e se Rita não
tinha problemas relacionados à mãe antes, ela certamente tem agora.

Sirius está atrás de Augusta, e ele está tão entretido com tudo o que
aconteceu até agora que não é tão difícil dar um sorriso de derreter os joelhos
para a câmera enquanto ele se dirige para o assento na frente do palco. Ele
sabe que Remus está assistindo da suíte, e isso o faz se sentir aquecido.

"Aqui está ele, Sirius Black, em carne e osso," Rita o cumprimenta com
olhos brilhantes, parecendo absolutamente encantada por estar falando com
ele. "Devo admitir, eu estou muito animada por ter a chance de falar com você,
Sirius."

"Como você deveria, Rita," Sirius diz a ela, recostando-se na cadeira com
as mãos preguiçosamente descansando nos braços em um sinal de confiança
fácil. Ele abre as pernas um pouco, como se estivesse confortável, como se
estivesse se abrindo para que os olhos deles se banqueteassem com ele.

"Por que não começamos com a sua colheita então?" Rita pergunta.

"Qual delas?" Sirius responde, arqueando uma sobrancelha.

É uma prova do descontentamento de todos com a regra do Memorial


Quaternário este ano quando, com uma simples pergunta, a plateia começa a

478
ZEPPAZARIEL

murmurar de desgosto e raiva. Rita parece extremamente desconfortável, fora


de ordem, e para afastá-la ainda mais, Sirius olha para a plateia gentilmente e
leva o dedo aos lábios, dizendo eu sei, eu sei em um tom reconfortante que faz
com que cada um deles se acalme. Completamente à sua mercê. Se ele
estalasse os dedos, eles estariam fora de seus assentos em segundos. É um
poder que ele sabe exatamente como usar.

Rita visivelmente não gosta do fato de ele ter mais controle do que ela em seu
próprio programa, mas há muito pouco que ela possa fazer sobre isso. Ela
pode ser uma idiota do caralho, no entanto, e é exatamente isso que ela faz.
"Bem, eu suponho que ambas são muito parecidas, não são? Em ambas as
colheitas, você se ofereceu pelo seu irmão, e nas duas vezes, ele acabou indo
de qualquer maneira."

O que Rita não sabe é que Sirius antecipou isso, e ele sabe exatamente
como usar isso a seu favor. Ela é uma idiota muito cega pelo poder que
ela acha que tem para perceber a magnitude do poder que ele sabe que tem.

"Sim, é—" Sirius engole em seco e varre seu olhar sobre a plateia,
suplicando. "É trágico. A pior coisa que eu poderia pensar. Sabe, eu—eu daria
qualquer coisa, faria qualquer coisa, se não fosse assim. Tem que ser assim,
realmente? Depois de todo o amor e calor que convidamos para suas vidas,
todos vocês, isso parece estar sendo jogado de volta em nossos rostos. Todos
nós aqui neste palco tivemos e ainda temos muito a oferecer, e vocês não
querem isso?"

Isso, previsivelmente, irrita bastante a plateia. Há clamores de pessoas


discutindo, prometendo que querem, que querem ele; há inúmeras pessoas
deixando bem claro o fato de que não concordam com isso, com nada disso;
há mais do que algumas pessoas gritando demandas para que a regra seja
mudada, para que o Memorial Quaternário seja abolido.

Desta vez, Sirius não os para.

A certa altura, alguém na primeira fila literalmente se joga da cadeira em


direção ao palco, soluçando, gritando sobre o quanto ama ele. Ele tenta subir,
mas os Aurores vêm correndo para arrastá-lo enquanto ele se debate e grita
que isso não é justo, que é errado.

479
CRIMSON RIVERS

"Ok! Ok, vamos—ei! Vamos ouvir o que mais Sirius tem a dizer!" Rita
grita, acenando com as mãos freneticamente até que pelo menos algumas
pessoas se acalmem para que ela possa falar por cima delas enquanto se vira
para falar com Sirius. "Você—sim, você falou de amor, não falou? Vamos
falar sobre o seu amor, Sirius. Você com certeza tem muito disso por aí, pelo
que eu ouvi."

"É mesmo?" Sirius pergunta, e no momento em que ele fala, a sala inteira
fica em silêncio para ouvir novamente. Ele ri e olha para a câmera, sentindo seu
rosto suavizar. "Engraçado você dizer isso, Rita, quando meu amor é
realmente por uma pessoa. Apenas uma."

"Oh?" Rita pergunta, agora soando alegre. "Sério? Então, existe alguém lá
fora que tem seu coração?"

"Sim," Sirius murmura, e a sala se enche de assobios baixos e suspiros


silenciosos. "Sim, existe."

"Bem, não nos deixe no suspense," diz Rita. "Conte-nos sobre ele. Quando
você o conheceu? Ele está esperando por você em casa, ou é alguém da
Relíquia?"

Sirius morde um sorriso, sentindo seu rosto ficar quente, sabendo que ele
está corando e não se importando nem um pouco. "Ele está aqui, na Relíquia.
Eu o encontrei brilhando como a lua no céu. Minha lua. Eu o amo mais do
que eu poderia explicar."

"Quem é esse?" Rita continua ansiosa. "Um patrocinador? Um colega


mentor? Alguém aqui esta noite?"

"Oh, ele sabe quem ele é," Sirius diz, sorrindo enquanto olha para a câmera
novamente, e quando ele desvia o olhar, olha para a plateia, ele deixa seu
sorriso sumir. "É uma pena. O que eu não daria para continuar sendo uma
estrela brilhante no céu com a minha lua, mas temo ser uma estrela prestes a
se apagar."

Alguém na plateia começa a chorar novamente, e Sirius dá um sorriso


triste, olhando para baixo e se mexendo em seu assento para se fechar,
encolher-se, pequeno como uma estrela já morrendo bem diante de seus
olhos. Ninguém está feliz com isso.

480
ZEPPAZARIEL

Rita tosse. "Ah, isso é—sim, é uma pena, mas—"

"Sabe," Sirius interrompe, sua voz gentil, "Eu nunca fui tão amado por
alguém como eu sou pela minha lua, e se eu tivesse escolha, eu não o deixaria.
Eu não deixaria nenhum de vocês, se estivesse nas minhas mãos decidir. Mas
não está. Está nas mãos do Mestre Riddle, e eu tenho que perguntar... Por que
deveríamos ter que pagar pelos crimes de outra pessoa que veio antes de nós?
Nossos laços com a Relíquia são verdadeiros. Eu não acredito que nenhum de
nós tenha, nem nunca tenha dado margem para duvidar disso, então por que
Mestre Riddle? Não é verdade que, já que estava em suas mãos fazer essa
regra, também está em suas mãos desfazê-la?"

"Ok! Entrevista encerrada! Volte para o seu lugar, Sirius, obrigado por se
juntar a nós!" Rita grita com mais uma manifestação de demandas e fúria da
plateia.

Sirius fica no meio de toda a raiva, todas as lágrimas, todos os pedidos por
sua vida, e ele abaixa a cabeça do mesmo jeito que viu Remus fazer, coloca as
mãos atrás das costas do mesmo jeito que Remus fez, e vai sentar em seu
assento.

Afinal, ele também é um servo da Relíquia. Todos eles são.

Aqui está ele, exigindo sua liberdade.

~•~

Você não poderia arrancar as palavras de Regulus nem com a porra de um


pé de cabra, mas ele está genuinamente satisfeito com o que Sirius acabou de
fazer. É realmente difícil não se virar e sorrir para ele por isso, apenas por um
segundo, tão simplesmente orgulhoso dele que ele quase faz isso, apenas para
parar de uma vez quando os mesmos sentimentos voltam correndo. A dor. A
raiva. A traição.

É uma coisa tão horrível, porque apenas alguns dias atrás, tudo em Regulus
estava à vontade com Sirius. Confortável com ele, confortado por ele. Seguro.
Confiando. Até admirando.

Ele já deveria saber com que rapidez as coisas podem mudar.

481
CRIMSON RIVERS

A sala está praticamente tremendo com as pessoas que estão fazendo ataques
em seu nome, e Rita está lutando para que todos se acalmem novamente.
Demora um pouco, e não parece ajudar que Sirius permaneça curvado em seu
assento como uma sombra, discreto, inalcançável. Todos eles querem mantê-
lo, e eles não podem. Está causando bastante problema.

Se Rita acha que a maré vai mudar com a entrevista de Regulus, ela está
muito enganada. Ele pretende manter o ritmo, custe o que custar.

Desta vez, quando Regulus se senta no banco, ele não o faz sob um verniz
de inocência. Ele permanece estóico, vazio, muito afiado e muito frio. Ele
segura o olhar de Rita e pode praticamente ver sua esperança de que isso vai
morrer em seus olhos. Bom.

"Regulus," Rita cumprimenta fracamente, engolindo em seco. "Eu—bem,


para ser honesta, eu... genuinamente não esperava estar falando com você de
novo tão cedo, especialmente não assim."

"Então somos dois," diz Regulus.

Rita faz uma leve careta, e a plateia já está tão chateada e sua resposta só
parece piorar as coisas. "Sim, bem, eu acho que há alguma honra nisso, no
entanto. Você escolheu isso. Certamente você não tem arrependimentos de
tomar o lugar do seu amor."

"Não," Regulus admite. "Eu não tenho nenhum. O que eu lamento é que
isso tivesse que acontecer. Você sabia, Rita, que apenas cinco minutos antes
do anúncio do Memorial Quarternário, James e eu estávamos juntos em uma
cozinha compartilhando chocolate quente? Ele me segurou. Nós rimos. Nós
estávamos felizes." Ele olha para a plateia, vendo várias expressões aflitas, e
ele apenas continua, fodidamente implacável sobre isso. "Acho que foi a última
vez que fomos verdadeiramente felizes juntos. Depois de tudo o que
passamos, tudo pelo que lutamos, e ainda acabamos não passando de uma
grande, grande tragédia."

"Oh, isso é uma bagunça! Não é justo!"

"Pare com a porra dos jogos!"

"Ele estava aqui no ano passado! Não o faça voltar!"

482
ZEPPAZARIEL

"E se James o perder?! Oh, porra, e se—"

Rita grita por cima da plateia novamente. Demora alguns minutos, e então
ela está chicoteando em direção a ele, o rosto tenso. "Sim, isso é só—oh, é
terrível, mas certamente você está planejando fazer tudo o que puder para
voltar para ele, certo?"

"Mas como poderia ser o mesmo, se eu conseguisse?" Regulus contra-ataca


sem rodeios. "Claro, há o fato de que eu posso não conseguir. Afinal, existem
outras vinte e três pessoas que são habilidosas e muito mais distantes de
traumas passados do que eu. Você sabe, o trauma da arena em que eu estava
apenas no ano passado. Você já pensou sobre isso, hm? O trauma com o qual
alguém tem que lidar depois de seus jogos? Isso afeta nossas vidas, acredite ou
não, e certamente afetou a minha e a de James. Isso sem mencionar a dor
de James quando ele olhar para mim, olhar nos meus olhos, tão parecidos com
os do meu irmão, e ver seu melhor amigo morto, se eu conseguisse sair. Diga-
me, Rita, que plano eu poderia ter que salvaria nós de tudo isso?"

Rita abre e fecha a boca, olhando para ele em choque. Ela não diz nada.
Ninguém faz um som.

"Vá em frente," insiste Regulus, lançando seu olhar sobre a plateia, em


seguida, olhando diretamente para Rita. "Certamente você tem as respostas
sobre como garantir que minha história de amor tenha um final feliz. Eu
adoraria ouvi-la, porque eu simplesmente não sei. Então? Vá em frente. Estou
esperando."

"Não—não é impossível, eu não acho," Rita resmunga. "Se você lutar,


você poderia—"

"Eu não deveria ter que lutar," Regulus retruca. "Eu já lutei, não é? Todos
nós lutamos. E aqui estamos nós, forçados a lutar de novo. O que é uma
história de amor sem conflito, certo? É isso. É tudo isso, eu espero que você
perceba. Todos vocês são o conflito, e a pior parte—a pior parte absoluta—é
que estávamos tão perto de nosso final feliz. Tão perto, mas nunca perto o
suficiente."

"Você—você tem muita motivação, no entanto", Rita tenta, tendo que


levantar a voz sobre as pessoas soluçando na multidão. "É—ah, bem, eu
acredito em você. Todos nós acreditamos, não é?"

483
CRIMSON RIVERS

Isso não recebe a resposta pela qual ela parece tão desesperada. As
Relíquias estão absolutamente furiosas. Rita nunca pareceu tão impotente, tão
preocupada, como agora.

"É uma pena..." Regulus suspira e balança a cabeça. "Sabe, eu quase


poderia encontrar em mim mesmo—o que é preciso para ser grato pelo que
James e eu conseguimos ter, se não fosse pela promessa do futuro que
estávamos tão perto. E nós nunca teremos esse futuro juntos. Ele se foi."

"Não, você não deve pensar assim, Regulus."

"Mas é verdade. Nosso plano—bem, isso nunca poderá acontecer. Se não


fosse por isso, acho que eu não ficaria tão chateado."

"Se não fosse pelo... o quê?"

Regulus mais uma vez olha ao redor para todos, observando os rostos
encharcados de lágrimas e pura raiva, e ele se permite pensar no quanto dói
que James esteja perdido para ele, e só vai se afastar ainda mais quando ele
falar em seguida. Ele deixa transparecer em seu rosto enquanto diz, "Se não
fosse pelo casamento."

"O—" Rita engasga, olhando para ele com olhos esbugalhados, a sala
inteira ressoando com um silêncio atordoado e horrorizado. "O casamento?
Você e James iam—"

"Casar? Sim. Nós planejamos, de qualquer maneira. Nós até esperávamos


ter o casamento aqui na Relíquia," Regulus declara, uma mentira em negrito
que o faz doer e o faz sentir-se doente e o faz querer destruir a porra do
mundo. "Ele ia ser meu marido. Mas nós perdemos essa chance também.
Acho que isso é algo que só teremos em outra vida."

O silêncio dura apenas alguns segundos a mais, e então todos entram em


erupção ao mesmo tempo, pessoas gritando e chorando e mais uma vez
fazendo exigências.

Rita nem precisa dispensar ele.

Ele se levanta e volta para o seu lugar, olhando para a câmera onde ele sabe
que James está assistindo. Ele espera que James entenda, mesmo sabendo que
James ficará chateado.
484
ZEPPAZARIEL

Regulus prometeu a si mesmo que iria fazê-los pagar, e ele quis dizer isso.
Essa é a promessa que ele escolheu manter.

Talvez, um dia, James o perdoe por isso.

~•~

Dorcas esfrega a mão na boca, o coração disparado no peito enquanto


observa um grupo de Aurores ter que retirar ainda mais Relíquias causando
uma cena. Sua boca está tão seca, e suas mãos estão tremendo. Ela nunca viu
nada assim antes.

No começo, tinha sido bom. Dorcas tinha gostado disso. Ela não pode
evitar, porque ela só pode imaginar como Riddle está se sentindo agora,
seguro dentro de seu castelo, vendo tudo sair do controle. As consequências
de suas ações, suas escolhas; mesmo ele não está a salvo delas.

Foi bom perceber isso, para começar. Mas agora, Dorcas está com medo.
Ela está com medo por Sirius e Regulus em particular, que causaram
problemas que ninguém jamais ousou. Problemas que, sem dúvida,
colocarão eles em apuros. Eles estão forçando, mostrando muito desafio,
revigorando a rebelião aqui mesmo na Relíquia—e Riddle certamente não vai
tolerar isso.

Se eles forçarem demais, ela não sabe o que pode acontecer. Há um aperto
de tempo em que todos estão, quer saibam ou não, e Dorcas ainda tem muito
o que fazer. Lily tem muito o que fazer. Isso não é algo que eles poderiam ter
feito tão cedo, e com Sirius e Regulus causando problemas, parece que o
relógio está apenas correndo mais rápido. O plano dela é muito delicado, e o
que Sirius e Regulus acabaram de fazer é—ousado.

O que se diz sobre jogos que se viram?

A pior parte é descobrir que Minerva—e Dumbledore, irritantemente o


suficiente—estava certa. O mundo está à beira de uma guerra, e isso... Assim
como Minerva disse, a regra é fazer o que tem que fazer. Dorcas odeia que o
plano de Dumbledore esteja realmente funcionando, e ela odeia ainda mais
que, se ela tivesse deixado a guerra ser uma prioridade como ela pretendia,
então ela apoiaria totalmente isso. Mas, como Minerva disse, Dorcas está
liderando com seu coração, e ela vai a extremos desesperados por isso.

485
CRIMSON RIVERS

Por Marlene.

Por seus amigos aqui que ela teme.

Por aqueles que nunca mereciam passar por isso novamente.

As entrevistas continuam, e o ritmo não se perde, nem uma vez. Os do


sete e oito são quietos e bastante gentis, mas assumem a responsabilidade de
expressar seu desconforto com a regra que os obriga a voltar, comentando
que seria bom se não precisassem, o que mantém os fogos de raiva em toda a
plateia ainda ardendo, se não ficando fora de controle novamente.

O distrito nove é, primeiro, Dixon. Ele fala sobre ser um mentor. Ele fala
sobre como é restritivo, como existem regras a serem seguidas, como não se
apaixonar por colegas mentores, o que pode dividir lealdades, e ele também
fala sobre quanto dinheiro vai para os jogos que poderia ser usado para
distritos famintos. Ele fala sobre como a Relíquia é conhecida por rejeitar as
pessoas quando se cansam delas, como foi isso que aconteceu com ele,
forçado a sair de sua posição de mentor e agora forçado a voltar para a arena.
A insinuação de que a Relíquia está agora rejeitando todo e qualquer Vitorioso
anterior naquele palco, aqueles que todas essas Relíquias prezam, não é bem
tratada.

Seguindo Dixon está Emmeline, que também mantém o ritmo. Dorcas—


apesar de seu ciúme anterior—descobre que tem muito respeito por
Emmeline, que chega lá e questiona sem rodeios a moralidade no Memorial
Quaternário, após a promessa descarada de que Vitoriosos poderiam viver em
segurança depois de vencer seus jogos. Uma promessa quebrada pelo próprio
Riddle. Ela afirma isso abertamente, perguntando como alguém pode confiar
no Mestre da Relíquia quando ele não pode nem arcar com a sua palavra,
quando ele não mantém tradições que nunca foram quebradas antes. É uma
coisa muito, muito perigosa para ela fazer, e ela nem sequer vacila quando faz
isso.

Depois de Emmeline está Mavis, que arrasta Velvet para participar da


entrevista também. Ambos afirmam que querem passar o máximo de tempo
juntos possível, e seu amor evidente um pelo outro deixa a plateia histérica
mais uma vez. Velvet e Mavis fazem algo que ninguém—além de James—
jamais fez antes. Eles estabelecem uma espécie de ultimato, prometendo que,

486
ZEPPAZARIEL

se forem forçados a entrar nessa arena juntos, matarão um ao outro e


morrerão juntos, em vez de perder um ao outro ou ficar sem o outro.

Previsivelmente, isso não vai bem, nem um pouco. As Relíquias


estão devastadas por isso, e não importa o quanto Rita tente mudar a ideia, elas
se recusam. Eles dizem isso e juram que estão falando sério. Dorcas acredita
que eles estão.

Depois deles, é Eli, o colega tributo de Marlene. Ele está... bêbado. Dorcas
fica tão incrivelmente triste quando ela o vê se levantar e cambalear até seu
assento, caindo sem graça e pendendo a boca quando ele a desliza um pouco
descuidadamente. O nariz de Rita se enruga em desgosto visível, então Dorcas
está assumindo que ele está usando grandes quantidades de álcool agora.

"Certo, Eli," Rita murmura. "Já faz alguns anos desde que você voltou para
a Relíquia, não é? Pelo menos cinco agora."

"Muito tempo," Eli insulta, balançando a cabeça. Ele soluça e olha para a
multidão. "Continuei procurando por Alphard, mas eu—eu não consegui
encontrá-lo. Estive procurando por muito, muito tempo."

"Alphard..." As sobrancelhas de Rita se erguem. "Você quer dizer Alphard


Black, Eli?"

"Esse mesmo."

"Quem ele era para você?"

"Tudo," Eli responde simplesmente, piscando quase sonolento para Rita,


parecendo não perceber que todos estão olhando para ele incrédulos,
incluindo toda a família Black atualmente presente.

"Você—por tudo, você quer dizer isso com... conotações românticas?" Rita
pergunta, visivelmente perplexa. Eli aperta os olhos para ela, parecendo lutar
para analisar essas palavras, e então ele apenas acena com a cabeça. "Ele era
seu amante?"

"Sim," Eli respira, seu rosto enrugado cedendo enquanto seus olhos se
fecham. "Sim, ele era. Não poderia—nós não poderíamos ficar juntos, sabe,
uma vez que a Relíquia descobrisse. Nos separou, fez com que ele deixasse de
ser um Mentor. Eles disseram que ele encontrou seu caminho em uma garrafa
487
CRIMSON RIVERS

e nunca encontrou seu caminho de volta. Suponho que eu tenha feito o


mesmo quando ele encontrou seu caminho para um túmulo."

"Oh," Rita diz suavemente, então ela limpa a garganta e lança seu olhar
para os outros tributos. "Eli, você—você está ciente de que os sobrinhos e
sobrinhas de Alphard estão aqui?"

"Eu sinto falta dele," Eli sussurra. "Ainda sinto falta dele."

"Eli?" Rita murmura.

Parece que Eli adormeceu. Apenas—caído, bochecha apoiada em seu


punho solto, boca frouxa. Ele está até roncando. A sala está silenciosa, pesada,
cheia de aborrecimento por apenas mais uma coisa. Até a porra
do Eli conseguiu manter o ritmo.

Não importa o quanto Rita tente acordar Eli, ele continua desmaiado. No
final, Marlene tem que se levantar já que ela é a próxima e ajudá-lo a sair da
cadeira e voltar ao seu lugar original. Ele acorda confuso por estar em
movimento, mas adormece novamente assim que se acomoda. Marlene dá um
tapinha em seu ombro antes de girar e marchar para se sentar em frente a
Rita.

Dorcas sente sua respiração congelar em seus pulmões só de olhar para ela,
assim como aconteceu a noite toda. A estilista de Marlene não é Dorcas, mas
genuinamente não há nada em que Marlene não ficaria bem, Dorcas tem
certeza. Ela parece desconfortável, porém, em um vestido. Talvez se não fosse
tão curto como é, ela não estaria, mas Dorcas pode dizer que ela não é fã
disso, apenas pela forma como ela puxa e quão estranha ela reage a isso, como
se ela não pudesse ser ela mesma nele, com tanta pele aparecendo para todas
essas pessoas que ela não confia.

Está deixando-a tensa, e Dorcas odeia isso, porque por mais linda que ela
esteja, sempre, Dorcas nunca a colocaria em roupas que a fizessem se sentir
tão exposta. Sim, a moda pode ser sobre expressão, mas também pode ser
sobre proteção. Marlene se sente melhor com roupas que tem espaço para se
mexer, roupas que ela não tem que acomodar, mas sim aquelas que vão
acomodar ela. Ela gosta de roupas que ela pode usar como apenas mais um
escudo, e por que não deveria? O que há de errado com isso? Ela merece estar
confortável.

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ZEPPAZARIEL

Marlene merece estar segura.

Dorcas vai fazer o que tem que fazer para que Marlene fique segura, ou ela
vai morrer tentando, porra. Tudo o que ela precisa é que Marlene passe por
isso sem se colocar em perigo ainda maior do que já está. É pedir demais?

Aparentemente é, porque Marlene não está escondendo o fato de que ela


está furiosa por estar de volta aqui. Mesmo sentada ali de salto alto que ela já
tirou e um vestido que ela continua puxando para baixo repetidamente,
obviamente frustrada por isso, Marlene rompe seu próprio desconforto visível
e não hesita em deixar bem claro que está irritada.

Rita parece sentir isso e, como uma idiota, ela acha que abordar isso seria
uma boa ideia. "Você parece bastante agitada, Marlene. É a sua roupa? Você
está muito bonita, chocantemente. Eu não acho que você tinha um estilista
que realmente realçasse sua beleza na última vez que você foi um tributo."

"Bem, as roupas certamente não estão ajudando, mas não, Rita, se você
acreditar, essa não é minha principal fonte de frustração no momento."

"Oh? Talvez seja sua família, ou um amante, ou—"

"Você sabe o que é?" Marlene corta bruscamente, seus ombros uma linha
tensa enquanto seus olhos brilham com a mesma raiva, o mesmo
ressentimento, que Dorcas viu pela primeira vez nela no dia em que Vanity e
Hodge morreram. "Eu vou te dizer o que é, Rita."

"Na verdade," Rita começa, porque agora ela pode sentir o perigo, mas é
um pouco tarde para isso, neste momento.

"Não, cale a porra da boca," Marlene cospe, e a boca de Rita cai aberta
enquanto ela recua, absolutamente chocada. Marlene obviamente não dá a
mínima. Ela se vira para se dirigir à multidão, que parece inquieta, apenas
esperando por mais uma coisa para ficar chateada. "A colheita—você sabe o
que sempre é para ser, um simples jogo de sorte, sim? Que a sorte esteja sempre
ao seu favor, todos vocês dizem. Onde diabos estava minha sorte quando eu era
um dos dois únicos tributos no meu palco? Isso não é a porra de
um jogo. Chame do que é. É—"

489
CRIMSON RIVERS

"Tudo bem, isso é—sim, eu acho que terminamos aqui," Rita interrompe
bruscamente, porque a plateia está ficando agitada novamente.

"Oh, não, nós acabamos de começar," retruca Marlene. "O que realmente
é, o que sempre foi, é uma execução com passos extras que vocês são cegos
demais para ver direito porque eles nos vestem e nos desfilam na frente das
câmeras e dizem que nossas mortes não significam nada só porque não
podemos fazer nada sobre isso. Quantas crianças foram executadas para isso?
Quem pode dizer que as suas não são as próximas? Quem pode dizer
que você não é o próximo?"

"Isso é o suficiente!" Rita explode, agarrando sua cadeira enquanto a plateia


começa a responder, crescendo em volume, um efeito cascata de medo
varrendo-os enquanto Marlene coloca tudo para fora e os faz olhar para isso.

"Seu amado Mestre do caralho pode voltar atrás na promessa de manter


Vitoriosos fora da arena, claramente, e quem pode dizer que ele não voltará
atrás em sua promessa de que vocês, todos vocês, estão a salvo desse destino?"
Exige Marlene. Ela se lança para fora de sua cadeira, chutando os calcanhares
para o lado descuidadamente, o rosto corado. "E quando forem vocês, seus
amantes, seus amigos, sua família, seus filhos—o que vocês vão fazer? Vocês
vão se levantar, então? Vocês se levantariam, não é? Então levantem-
se agora! Levantem-se, porra! Levantem-se!"

A primeira pessoa a sair da cadeira é Sirius, seguido muito rapidamente por


Emmeline, e então Regulus, e então todos os tributos no palco estão de pé ao
mesmo tempo, e a plateia segue o exemplo. É imediatamente um caos, um
tumulto que faz os Aurores inundarem a sala em ondas, pessoas gritando e
protestando. Todos os tributos estão de pé, até Eli, que está sendo segurado
por Emmeline e parece muito confuso com toda a comoção, mas é solidário
mesmo assim.

"Corte as câmeras! Corte as—" A voz de Rita é abafada, mas todas as


câmeras imediatamente caem, exceto que a realidade não é apenas um
devaneio ou um pesadelo rodando em uma tela; continua funcionando
mesmo quando as câmeras estão desligadas.

Dorcas está um pouco envolvida com a coisa toda, já que todos ao seu
redor se levantaram, e era fazer o mesmo ou ser pisoteada. Não que ela não

490
ZEPPAZARIEL

queira participar, obviamente, mas ela realmente não pode ter sua posição para
o que vem a seguir comprometida de forma alguma.

Ela fica tempo suficiente para ver Relíquias lutando contra Aurores pela
primeira vez em suas vidas, totalmente enfurecidas; ela fica tempo suficiente
para ver os tributos no palco sendo escoltados rapidamente para longe,
andando altos e orgulhosos; ela fica tempo suficiente para ter certeza de que
Marlene está segura, pelo menos por enquanto, e então ela vai o mais longe
possível, o mais rápido possível.

Ela sai pouco antes dos tiros começarem.

~•~

"Eu os quero mortos."

Há uma batida de silêncio, paciente, calma. Riddle quer dizer isso.


Ele não está absolutamente, inequivocamente, brincando. Não que ele seja o
tipo de homem que brinca em primeiro lugar, nem o tipo de homem que não
manda matar as pessoas quando ele as quer mortas, a menos que—em uma
rara chance—ele possa ser convencido do contrário. Severus o conhece há
anos, neste momento, e a única pessoa que conseguiu mudar a ideia dele é
Minerva McGonagall, com quem ele está falando agora.

Severus se atreve a acreditar que ela vai conseguir uma segunda vez. É
absolutamente vital que ela o faça, porque há vinte e quatro tributos em breve
(novamente) sendo levados a um local não revelado dentro do prédio,
literalmente uma ordem de execução.

"Sim, bem, amanhã será o começo de cuidar disso," diz Minerva


simplesmente. Ela está sentada do outro lado da mesa de Riddle, de costas
para Severus, aparentemente relaxada. Ela tem todos os motivos para ter
medo e, no entanto, o Besouro Horcrux em uma jarra sobre a mesa
permanece sossegado. Nenhum sinal de medo de ninguém.

Riddle é... Bem, Severus já viu o homem em vários estados antes—


zangado, concentrado, calmo, entediado, descontente—mas ele nunca o viu
em aflição agitada.

É estranhamente satisfatório.

491
CRIMSON RIVERS

"Eu quero que eles sofram," Riddle sussurra, os olhos brilhando enquanto
ele se inclina para frente para fixar um olhar afiado em Minerva. "Isso não
pode simplesmente ficar impune. Esse desafio descarado exige uma resposta
que provará a futilidade de tentar algo mais."

Minerva dá uma pausa, então calmamente diz, "Eu acredito que a arena
servirá como punição adequada. Senhor, a... revolta que acabou de acontecer
resultou na perda de vidas da Relíquia; nosso povo; seu povo. Uma resposta
apenas provocaria mais protestos. Seu silêncio sobre o assunto—a menos que
você esteja realmente disposto a mudar a regra completamente—falará muito.
Os jogos começarão como sempre, e isso provará a futilidade do desafio por
si só, apenas como sempre foi."

"Isso não é suficiente,",insiste Riddle.

"Você os veria marchando e sendo mortos, então?" Minerva pergunta sem


rodeios. "Talvez pudéssemos televisionar e enfurecer ainda mais o povo?
Vamos matar todos os tributos e começar de novo? Lançar outra colheita?"
Ela espera, e quando ele não diz nada, apenas fechando uma mão em punho
na mesa, ela dá um aceno conciso. "Esta é uma ocasião em que acredito que
simplesmente passar por isso, por assim dizer, é a melhor e única opção. Em
qualquer caso, posso garantir que eles realmente sofrerão na arena."

Riddle fica em silêncio por um longo tempo, sua expressão suavizando


enquanto ele relaxa a mão e lentamente começa a bater um dedo na mesa.
Depois de um tempo, ele diz, "Haverá um vencedor. Eu não me importo com
o que for preciso, mas você não permitirá que seja Sirius ou Regulus Black, fui
claro?"

"Sim, senhor."

"E aquela garota McKinnon, eu quero vê-la sofrer antes que ela morra.
Faça com que ela saiba disso. Sabote todo e qualquer apoio de qualquer
patrocinador e não dê a ela um momento de paz."

"Sim, senhor."

"Severus."

492
ZEPPAZARIEL

"Sim, senhor?" Severus pergunta instantaneamente, dando um passo à


frente com as mãos em volta da arma.

"A garota McKinnon—ela tem família?" Riddle pergunta.

Severus não hesita. "Pais, assim como a família extensa. Uma tia, um tio e
uma prima com marido e filho pequeno."

"Mate todos."

"Sim, senhor."

"Eu quero que os pais dela sejam trazidos aqui em seus momentos finais
antes deles serem levados para a arena; faça com que eles sejam executados na
frente dela," Riddle o informa. Não diferente dos Prewetts. Bem, Severus não
pode dizer que não é consistente. "O resto da família pode ser morta dentro
do distrito. Houve tumultos?"

"Apenas um até agora."

"Quando?"

"Hoje, na última hora," Severus admite, porque ele acabou de receber o


relatório do chefe dos aurores no distrito onze. Foi, previsivelmente, em
resposta ao pedido de McKinnon para se levantar durante a entrevista. O
distrito dela não tomou as palavras de ânimo leve e se rebelou em uma escala
tão grande que ele terá que enviar novos Aurores para substituir os mortos.

O lábio de Riddle se curva em raiva visível. "Envie alguém para imunizar


os Aurores lá, só por precaução. Na verdade, eu quero todos os Aurores nos
distritos e dentro da Relíquia imunizados."

"Sim, senhor," Severus concorda, abaixando a cabeça. Ele não gosta muito
da lembrança de ter sido imunizado.

Embora o proteja de qualquer forma do veneno da Horcrux, não foi uma


experiência agradável. A injeção queimou o suficiente para que ele tivesse que
cerrar os dentes e lutar contra a dor, e levou dias para o desconforto da
coceira do calor deixá-lo completamente. Seu corpo havia se ajustado, depois
de um período bastante doente—um efeito tardio da imunização que ocorreu

493
CRIMSON RIVERS

dias depois que ele a recebeu—, mas uma vez que a erupção desapareceu do
local da injeção, ele se curou o suficiente.

Severus infelizmente sabe muito pouco sobre isso, então ele não tinha
muita informação para dar a Albus. Ele não tem certeza de como a fórmula
para a imunidade ao veneno do Besouro Horcrux veio a ser, ou quais
ingredientes foram necessários para fazer. Tudo o que ele sabe é que foram
necessários meses de tentativas e erros antes que alguém conseguisse
sobreviver e, mesmo assim, os efeitos do veneno da Horcrux ainda
persistiram. Demorou mais tempo e mais tentativas e erros antes que eles
fossem capazes de erradicar os efeitos o suficiente para que uma imunização
pudesse ser liberada, convenientemente em tempo suficiente para que o
distrito seis fosse completamente dizimado.

Como um dos consultores mais próximos de Riddle, Severus foi escolhido


primeiro entre todos os Aurores para receber a imunização. Ser o chefe de
todos os Aurores não é uma tarefa fácil, e não é algo que ele leva de ânimo
leve. Ele recebeu a posição bastante jovem, seis anos atrás, porque Riddle não
acredita que a idade impeça a capacidade de provar a si mesmo. Ele não
acreditaria, visto que ele mesmo assumiu sua posição como Mestre da Relíquia
em uma idade jovem.

Severus trabalhou duro para chegar onde está hoje. Com ele sendo do
distrito dois, isso não é uma grande surpresa. É onde os Aurores são
treinados, e ser um Auror é saudado como uma grande honra e uma meta que
todos deveriam cumprir. Um distrito militarista na palma da mão da Relíquia.
Severus nunca quis ser um Auror; ele só queria cuidar de sua mãe. Muito
pouco bem isso lhe fez, no final.

Às vezes, Severus se pergunta se Riddle ainda se lembra do nome dela. Ele


sabe a resposta para isso. Claro que não. Riddle não se importa em lembrar os
nomes das pessoas pelas quais ele é responsável pela morte. Ele não se
importa com nada.

"Os tributos," Riddle grita, "Eles ainda estão sendo segurados?"

"Sim, senhor."

"Liberte-os. Eles têm uma última noite, então os recolham de manhã, antes
mesmo de o sol nascer. Não permita que eles se despeçam. Não permita que

494
ZEPPAZARIEL

eles tomem café da manhã ou banhos. Não permita que eles sejam escoltados
por seus mentores."

"Sim, senhor," Severus diz, mais uma vez abaixando a cabeça.

"Você está dispensado," Riddle responde, sacudindo os dedos.

Severus abaixa a cabeça novamente e se vira para sair. Ele tem muitas
ordens a seguir e muitas ordens a dar. Há muitas pessoas para matar em um
curto período de tempo, ao mesmo tempo em que equilibra o aumento da
rebelião em todos os distritos e agora na Relíquia. Há pessoas para enviar para
informar as famílias das Relíquias falecidas uma história de capa adequada que
provavelmente não será totalmente acreditada, tributos a serem liberados
depois de terem sido deixados para esperar e mantidos no limite, e pessoas
para entrar em contato sobre a imunização de cada Auror abaixo dele, um
sinal seguro de que a guerra não está chegando; ela já está aqui.

Ele também tem que entrar em contato com a Ordem como informante
secreto de Albus para mantê-lo atualizado, e também na esperança de que
Albus pelo menos consiga salvar o resto da família de McKinnon antes que
Severus e seus Aurores possam alcançá-los.

O destino de seus pais, no entanto, está selado.

495
CRIMSON RIVERS

46
APEGO

A primeira coisa que Sirius faz assim que volta para a suíte é se jogar em
um abraço apertado com Remus, exalando de alívio enquanto o segura, os
olhos se fechando. Ele enfia o rosto no ombro de Remus, respirando fundo, a
tensão se esvaindo lentamente, em pedaços.

Foi horrível, apenas esperar, sem saber se a última vez que ele viu Remus
seria a última vez que ele o veria. Sem saber se ele veria James novamente.
Sem saber se ele, junto com seu irmão e todos os tributos com os quais estava
esperando, estavam prestes a ser mortos por seu flagrante ato de rebelião.

Nenhum deles havia falado. Houve um silêncio pesado na sala, mas


permaneceu um acordo tácito de não simplesmente aceitar o que quer que
estivesse vindo. Todos se prepararam, tensos e prontos, no momento em que
um grupo de Aurores entrou na sala.

No final, eles simplesmente foram... soltos.

Bem desse jeito.

496
ZEPPAZARIEL

Talvez não devesse ter surpreendido Sirius. Afinal, por que desperdiçar a
munição para matá-los agora, quando todos, menos um, estarão mortos em
breve? E de tal forma que seja lucrativo também. No
entanto, surpreendeu Sirius. Por um momento, ele realmente acreditou que era
isso.

O alívio de ainda ter mais tempo é esmagador, e tudo o que ele quer é estar
com Remus. Eles têm tão pouco tempo no geral, especialmente porque
Remus não terá escolha a não ser voltar para sua cela em breve. Sirius só quer
segurá-lo para sempre.

"Oi," Sirius sussurra.

"Oi," Remus responde, gentilmente. Suas mãos quentes cobrem os lados


de Sirius, as pontas rombas de seus dedos curvando-se ao redor das costelas
de Sirius. Por um momento, Sirius quer que Remus se abra e se dobre para
dentro; apenas viva lá, fique lá, nele.

"Eu pensei—" Sirius para, então engole o nó em sua garganta, fechando os


olhos ainda mais forte. Ele exala e aperta seu aperto. "Eu te amo. Porra, u
realmente amo."

"Eu estava preocupado. Quer dizer, eu estava—bem, no começo eu


estava... ah, bastante encantado," Remus admite, soando envergonhado, "Mas
isso foi só por causa do que você disse na sua entrevista, e então as coisas
aumentaram, e eu—eu—"

Sirius limpa a garganta e se afasta para dar um sorriso trêmulo a Remus.


"Gostou disso, não é?"

"Você estava certo," Remus murmura. "Ninguém ama você como eu amo.
Ninguém nunca vai, Sirius, eu posso te prometer isso."

"Eu acredito nisso, na verdade," Sirius admite com uma risada fraca,
lentamente se afastando, por mais que ele odeie. "James?"

"No quarto dele. Ele está em pânico. Eu estava—bem, na verdade eu


estava pegando um copo d'água para ele," Remus diz a ele. Ele olha por cima
do ombro de Sirius, na direção de onde Pandora está com Regulus ao lado,

497
CRIMSON RIVERS

murmurando para ele. "Você deveria—eu, ah, acho que você deveria ir ver
James."

"Tudo bem, mas—mas espere por mim no meu quarto?" Sirius pergunta
esperançoso, segurando seu olhar.

Remus assente. "Sim, é claro que eu vou."

"Verifique Reggie primeiro, sim?" Sirius murmura, porque mesmo com


tudo isso, Regulus ainda não falava com ele. Ainda não vai falar, mesmo
agora. O que ele vai fazer, apenas ignorar Sirius na arena também? Ele é
tão teimoso.

"Ok," Remus concorda, então se inclina para beijá-lo rapidamente, bem no


canto de sua boca, afastando-se rapidamente como se ele não quisesse ir, ele
nunca quer. Sirius entende. Ele sente o mesmo.

Eles se separam e seguem em direções diferentes, Remus indo em direção


a Regulus e Sirius indo em direção a James. Quando Sirius chega à porta, ele
não se incomoda em bater, apenas gira a maçaneta e entra. A cabeça de James
levanta. Ele está sentado na beira da cama, e no momento em que vê Sirius,
ele se levanta e corre para pegar Sirius em seus braços.

"Eu pensei—oh, porra, Sirius, eu estava tão—eles não nos diziam onde
eles estavam mantendo você, e eu não sabia se você estava bem, se eu veria
você de novo antes—" James engasga, seus punhos pressionando mais forte
contra as costas de Sirius, tentando de forma intermitente mantê-lo preso na
segurança implacável de seus braços.

"Está tudo bem, James, nós estamos bem," Sirius murmura, segurando-o
com a mesma força. "Eles só nos seguraram por um tempo, provavelmente só
queriam nos colocar no limite enquanto decidiam o que fazer conosco. Está
tudo bem, sim? Ei, respire, está tudo bem."

"Eu estava com tanto medo," James diz, sua voz grossa.

"Eu também," Sirius admite em um sussurro. Ele normalmente não


admitiria, mas esse é James. Se ele não pode contar a James sobre isso, então a
quem ele pode contar? Além disso, James já sabe. Ele conhece Sirius muito
bem para não saber disso.

498
ZEPPAZARIEL

Por um longo tempo, eles ficam ali em completo silêncio, apenas


segurando um ao outro, respirando em sincronia. O peito de Sirius está
apertado com essa dor horrível e inabalável por James e por si mesmo. Há
medo nisso também. O que James vai fazer quando Sirius morrer? Ele vai ser
um desastre, e Sirius não estará aqui para ajudá-lo a juntar os cacos.

Mais uma vez, Sirius sente que a tragédia e a injustiça de toda essa situação
pesam sobre ele, um peso que ele se sente fraco demais para carregar. Ele vai
entrar em colapso. Talvez ele já esteja. Talvez todos estejam. Talvez todos
estejam desmoronando em câmera lenta desde o primeiro tremor que os fez
tombar. A base de todos eles está desmoronando desde que Sirius tinha
dezesseis anos, e não há mais onde se segurar.

"Você foi—tão corajoso," James resmunga, afastando-se lentamente para


olhar para ele, olhos brilhantes. "O que você fez foi tão corajoso, Sirius, e
eu—eu estou imensamente orgulhoso de você."

"Alguns chamariam de imprudente."

"Bem, eu chamo de justiça."

Sirius abre um pequeno sorriso. "Você só está dizendo isso porque as


consequências ainda não nos alcançaram."

"Não importa as consequências, o que aconteceu hoje durante essas


entrevistas foi corajoso. Nada pode mudar isso."

"Você se sente assim sobre Regulus?"

Previsivelmente, a expressão de James se fecha. Há mais para ele também.


Há dor. Muita dor. "Isso é diferente."

"Como?" Sirius pergunta suavemente.

"Ele mentiu," James engasga. "A porra de um casamento, Sirius? Ele sabia
que ia—ele sabia que ia doer, e ele fez mesmo assim. Ele não se importou."

"Você realmente precisa falar com ele, James," Sirius diz a ele, e então ele
balança a cabeça quando James abre a boca em protesto visível. "Não. Olha,
eu te amo, e eu entendo sua raiva—é mais do que justificada—mas isso não é
algo que você tem tempo para resolver. Você entende o que eu estou te
499
CRIMSON RIVERS

dizendo? Não há tempo. Eu—eu vou fazer tudo o que puder para trazê-lo para
casa e morrer tentando, mas qualquer coisa pode acontecer. Eu poderia falhar
com ele. Eu já fiz isso antes."

"Sirius," James suspira, com os olhos arregalados.

"Não cometa o mesmo erro que eu. Não perca tempo, não se atrase
tanto," Sirius murmura. "Eu tive sorte por ter vocês dois de volta e ter mais
tempo. Você não vai ter. Seja eu ou ele ou nós dois, James, você não vai ter."

James solta um barulho horrível como se estivesse doendo, como se


estivesse se partindo ao meio. É uma realidade terrível e cruel, e Sirius odeia
ser quem vai forçar ele a olhar para ela, mas não olhar para ela não significa
que não esteja lá. James está lutando tanto, com tudo nele, e ele vai desejar
não ter feito isso.

Mesmo agora, James está lutando contra isso. Ele balança a cabeça e passa
os dedos sobre os ombros de Sirius, apertando. Ele diz, "Não," e então, "Eu
não posso," e logo em seguida, "Eu—eu vou estar com você. Posso apenas
ficar aqui com você?"

"James, me escute," Sirius interrompe. "O que você precisa fazer é acertar as
coisas com ele de novo, porque quando eu não conseguir voltar, vocês vão
precisar um do outro para se ajudarem a sobreviver. Se vocês dois não
resolverem isso agora, eu estou preocupado que você nunca vai poder fazer
isso depois—depois que eu for, e saber que vocês dois têm um ao outro é
algo que eu preciso."

"Pare com isso. Pare, pare, pare," James canta, seus olhos se fechando
enquanto seu rosto se contorce. Ele está tremendo.

"James—"

"Por favor. Por favor, pare. Eu não posso—eu não—onde nós estamos?
Sirius, quando—o que está acontecendo? O que—"

O coração de Sirius aperta violentamente em seu peito. Já faz um tempo


desde que James entrou e saiu do tempo assim, especialmente tão
severamente. "Estamos na Relíquia, James. É o Memorial Quarternário, o dia

500
ZEPPAZARIEL

das entrevistas. Você não é um tributo; você é um mentor, e você está seguro.
Você não está na arena. Você está aqui comigo, e eu estou com você."

"Onde está a minha bengala?" James ofega, seu peito arfando enquanto ele
agarra os ombros de Sirius, claramente tentando se equilibrar.

"Está apoiada na cama. Presumo que você não precisava dela antes de eu
entrar. Você precisa agora?"

"Não. Não, eu estou—eu estou apenas—"

"Está tudo bem," Sirius diz calmamente, inspirando e expirando devagar,


profundamente, deixando James se igualar a ele e se acalmar.

Os olhos de James se abrem depois de alguns minutos, e ele suaviza seu


aperto nos ombros de Sirius. "Eu só quero ficar com você."

"Eu sei. Porque você está com medo," Sirius murmura, e é isso mesmo.
Quando eles estão com medo, eles vão direto um para o outro. "Mas eu e
você? James, não há... nada para resolver entre nós. Não importa para onde
vamos, ou o que acontece conosco, sempre estaremos um com o outro, sim?"
Ele levanta a mão e bate em James no centro de seu peito, bem no meio de
seus pulmões. "Cada respiração, inspirando e expirando, sou eu e você."

"Se você parar, eu paro," James sussurra.

"Não, nada disso," Sirius repreende gentilmente, apesar do fato de que ele
sentia o mesmo, quando era ele na posição de James. "Você vai continuar de
qualquer maneira, porque eu estou dizendo a você, e você pode ficar com
raiva de mim o quanto quiser, desde que faça isso. Porque Effie e Monty não
deveriam ter que perder nós dois. Regulus não deveria ter que perder nós dois.
Então, você vai respirar. Você vai. Eu vou ser a porra do ar nos seus pulmões,
mesmo quando eu for."

James apenas abaixa a cabeça para frente e meio que cai contra Sirius com
um pequeno som de dor, como um animal ferido. Eles voltam a se abraçar;
eles não têm tempo a perder não fazendo isso. O relógio continua a correr.

"Tem uma coisa que eu preciso que você me prometa," Sirius murmura,
ainda segurando James. "Eu preciso que você me prometa que vai cuidar de
Remus durante isso. Ele não é—ele não é alguém que realmente compartilha
501
CRIMSON RIVERS

quando está lutando com ele, mas ele—ele vai precisar de apoio. Ele vai
precisar de alguém para cuidar dele, e não pode ser eu, então eu preciso que
você faça isso por mim. E eu preciso que você prometa que vai continuar
fazendo isso, ano após ano, toda vez que você voltar como mentor. Porque eu
sei que vai ser você. E eu sei que você vai estar aqui quando ele for designado
para cá novamente—Pandora vai ajudar. Então, por favor, me prometa que
você vai fazer isso, James."

"Eu prometo," James responde instantaneamente, sem perder o ritmo,


porque é claro que ele não perde. Sirius cede de alívio e engole um som
abafado de tristeza, abafando-o enquanto aperta seus braços ao redor dele.

Tic, tac, tic. O tempo está circulando pelo ralo. Eles não estão prontos.
Nenhum deles está pronto, especialmente James. Ainda há algo que ele tem
que fazer primeiro, e ele precisa do empurrão, então Sirius não hesita em dar a
ele.

"Não é comigo que você realmente precisa encontrar paz agora," Sirius diz
tristemente, mesmo que haja uma parte terrível e minúscula dele que
egoisticamente quer ter todo o tempo que puder com James, mesmo que ele
esteja roubando de alguém. De Regulus. Mas Sirius não vai; claro que ele não
vai. Ele está sempre se oferecendo para suportar o peso da dor por Regulus,
então por que isso deveria ser diferente? "Fale com Regulus, James."

James apenas resmunga. É um ruído infeliz, cheio de queixas, um pouco


petulante com uma forte dose de relutância. Sirius aceita o que é e lentamente
se afasta.

"Enquanto isso," Sirius brinca, "Eu vou realinhar minha coluna, então
você não pode ficar comigo de qualquer maneira."

"Ok, para ser justo, eu—eu apoio muito isso para você," James murmura
com outra fungada. "Eu sou um bom melhor amigo. Eu tenho sido um bom
melhor amigo para você, não tenho?"

"O melhor," Sirius diz suavemente.

"Tudo bem. Bom. Eu—" a voz de James pega, e ele está claramente
tentando muito manter a calma. "Eu fico feliz que eu fui."

502
ZEPPAZARIEL

"Você ainda é, James. Você sempre será, até o fim."

"Sirius—"

James não vai muito além disso, e Sirius suspira tristemente enquanto
observa o rosto de James desmoronar novamente. Ele estende a mão e puxa
James de volta em seus braços, segurando-o por mais um pouco enquanto
sussurra, "Eu sei, James. Eu sei."

~•~

Regulus não consegue explicar a paz que Remus lhe traz, apenas por estar
presente. Talvez seja apenas Remus. Talvez seja exatamente isso que
Remus é, algum tipo de magia que existe nele onde quer que ele vá, tão
facilmente reconfortante para todos aqueles próximos a ele e completamente
alheio a esse fato. Talvez seja apenas porque Remus o ajudou com um de seus
maiores medos quando ninguém mais podia, ou porque Remus ainda é seu
amigo, ou porque—apesar de tudo—Remus nunca olha para ele como se
Regulus fosse o responsável por sua dor.

"Nós não conversamos sobre isso," Remus murmura. "Seus planos para a
arena, quero dizer."

"Eu sei," diz Regulus, e ele não dá mais detalhes. Todos eles vão descobrir
em breve.

"Parecia que..." Remus hesita por um instante, então vira a cabeça, olhando
por cima da borda da sacada. "Bem, do jeito que você estava na sua entrevista,
parecia—como se você estivesse planejando lutar. Lutar de verdade."

"Sim," Regulus concorda suavemente. "Isso é exatamente o que eu vou


fazer. Eu vou lutar mais do que nunca."

Remus fica em silêncio por um instante, e então ele exala trêmulo, sua
cabeça abaixando enquanto ele resmunga, "Como eu tenho certeza que você
sabe, Sirius—ele vai—ele vai lutar por você. Para levar você para casa. E eu—
eu acho que ele—bem, eu nunca tive tanta certeza de que uma pessoa pode
fazer qualquer coisa que decida fazer, não importa as probabilidades, até ele.
Então, você—toda essa raiva que você sente por ele, você tem que—Regulus,

503
CRIMSON RIVERS

você precisa deixar tudo isso passar antes que seja tarde demais, antes que
ele—antes—"

"Você acha que foi em vão?" Regulus interrompe distraidamente, traçando


muito gentilmente a costura de suas calças enquanto olha para a Relíquia, sem
nem mesmo vê-la.

"Regulus? Ei, você está me ouvindo?"

"Hum?"

"Eu—" Remus dá um suspiro. "Olha, eu sei que você—"

"Você acha que foi em vão?" Regulus repete, inclinando a cabeça para
olhar o céu. Ainda não está escuro, mas mesmo que estivesse, as estrelas não
são visíveis aqui na cidade. É só mais uma coisa que Regulus odeia nesse
lugar. "Ele se voluntariando por mim, quero dizer? Eu estou aqui, não estou?
O que ele conseguiu?"

"Ele é seu irmão," Remus sussurra. "Ele fez o que qualquer um faria por
alguém que ama. Ele fez o que eu fiz pela minha melhor amiga. Ele fez o que
você fez por James. Sacrifício é—é apenas um subproduto do amor; amor
genuíno e inabalável que nos agarra como a dor. É cruel. Nos leva a fazer o
impensável."

Regulus cantarola pensativamente. "Eu estou ciente de que isso me lança à


luz de um hipócrita, mas é diferente."

"Porque? Como?"

"Quando eu menti para James e fiz uma promessa que sabia que não iria
cumprir, eu fiz isso porque eu sei melhor do que ele o que vai machucar ele
mais. Eu passei a maior parte dos anos que nos conhecemos apenas
machucando ele, aprendendo a forma da sua dor, tentando moldá-la no
começo e então tentando erradicá-la no final. Eu conheço a dor de James por
dentro e por fora. Quando eu decidi fazer o que eu fiz, foi por ele. Isso fez
alguma coisa."

"O que isso fez?"

504
ZEPPAZARIEL

"Isso manteve a mãe dele segura, para começar. Mas Sirius? Ele não fez o
que fez por mim. Ele fez isso por ele."

"Ele não sabia que você seria voluntário," Remus diz baixinho. "Ele—
quando ele tomou o seu lugar, ele não tinha como saber que você iria...
Regulus, ele fez isso com a mente de que estava mantendo você longe da
arena."

"Não fez muito bem para ele, no final. Também não fez muito bem para
ele na primeira vez," Regulus murmura. "Esse não é o ponto de qualquer
maneira. Meu ponto é, ele fez isso por ele. Eu disse a ele, Remus, eu disse a
ele para me escolher, e eu disse a ele exatamente como. E ele não fez. Você
sabe o que ele escolheu?"

Remus engole audivelmente. "O que?"

"Ele escolheu me deixar para trás. De novo." Regulus se vira para olhar
para Remus, que o observa com as sobrancelhas juntas, expressão de dor.
"Ele escolheu me abandonar. De novo. Ele escolheu quebrar algo pelo qual
trabalhamos tanto, a única coisa que eu precisava dele, a única coisa que
eu sempre precisei dele; tudo que eu sempre quis foi que ele escolhesse ficar
comigo, e ele não fez isso. De novo. E desta vez—desta vez, eu não apenas
fiquei para trás e assisti. Eu não apenas aceitei. Eu o fiz olhar para isso, e eu
vou fazer ele se arrepender. Ele vai se arrepender dessa vez, Remus. Ele vai."

"Você...?" Remus o encara, seus olhos se arregalando enquanto sua


respiração fica presa. "Regulus, você—você se voluntariou por James só
para se vingar de Sirius?"

Regulus faz uma pausa, então diz, "O plano sempre foi tomar o lugar de
James, mas eu estaria mentindo se dissesse que as palavras não deixaram meus
lábios um pouco mais fáceis sabendo que Sirius iria engasgar com elas."

"Isso é tão—você é tão—" Remus geme, seus olhos se fechando. Ele


levanta as mãos e as esfrega no rosto antes de deixá-las cair pesadamente,
parecendo cansado. "Você é uma das pessoas mais fodidas que eu já conheci,
sabia disso?"

"Um reconhece o outro, suponho," Regulus responde ironicamente,


arqueando uma sobrancelha para ele.

505
CRIMSON RIVERS

Remus bufa uma risada fraca. "Sim, não posso discutir isso."

"Vá em frente, então. Qual foi a pior coisa que você já fez?" Regulus
pergunta, inclinando a cabeça para ele.

"Eu matei alguém," Remus diz suavemente.

Regulus não sabia disso, até agora. Se Sirius sabe, ele não disse. Talvez ele
não saiba. Regulus não se importa de qualquer maneira; ele não vai dizer a ele,
obviamente. O segredo de Remus—se é um segredo que Sirius não sabe—
está seguro com ele. E, francamente, não é um segredo que Regulus se
importe muito, no sentido de que isso não o incomoda nem um pouco.

Ele segura o olhar de Remus firmemente e responde, "Sim, bem, eu matei


cinco."

"Cinco?" Remus repete, piscando. "Eu—desculpe, você matou duas


pessoas desde—quer dizer, eu sei sobre Avery, Quinn e Irene, embora
ela realmente não conte como—"

"Você está esquecendo Evan," Regulus interrompe.

"O que?" Remus parece ferido. "Regulus, você—você não—"

"E Sirius," Regulus continua, observando Remus dar uma piscadela


violenta, os lábios se abrindo em descrença. "Eu o matei na colheita no
momento em que ele se voluntariou para mim."

Remus o encara, algo mudando em seus olhos que se parece muito com
pena. A pior parte é que Regulus pode ver a pergunta vagando pela cabeça de
Remus, uma pergunta muito válida que se transforma em algo afiado, feito
para esculpir, um pensamento intrusivo. Essa pergunta muito simples. Qual
delas?

Essa é a pergunta, não é? Afinal, isso aconteceu duas vezes. Então, qual?
Regulus sabe que são as duas. Não deveria ser possível que isso ocorresse
duas vezes, para ele ver Sirius ficar frio e sem vida, fazê-lo escorregar por
entre os dedos, enfiar a adaga e torcer. Como você mata o que já está morto?

Você o revive apenas para vê-lo apodrecer.

506
ZEPPAZARIEL

Sem dizer uma palavra, Regulus se levanta e entra em seu quarto, pegando
roupas e indo para o banheiro. Ele fecha a porta e começa a preparar o banho,
o olhar vago enquanto olha para a água. Já não o faz chorar com tanta
frequência. Ele achou que era um bom sinal, mas agora tem certeza de que é
porque ele não é diferente dos mortos que associa à água. Apenas mais um
par de mãos frias que a morte se agarra.

Seis.

Ele estava errado antes. Não cinco. Seis. Ele matou seis pessoas e está
olhando para a última no reflexo da água.

~•~

Dorcas anda furiosamente em sua suíte, olhando para seu celular. Até
mesmo o som da voz de Dumbledore a enfurece hoje em dia, embora ela
esteja satisfeita em saber que ele está totalmente distraído com toda a atividade
atual que está acontecendo para realmente perceber o que está acontecendo
bem debaixo do nariz dele.

No entanto, ela recebeu ordens, aquelas que ela já conhecia—mais


recrutamento. Frank. Huey. James.

Se não fosse por James, Dorcas iria desconsiderar as ordens


completamente, mas—frustrantemente—Dumbledore acabou de lembrar a
ela de um descuido que ela pode estar muito ocupada para realmente pensar.
É difícil tocar tantos lados de uma coisa, especialmente quando você está em
uma posição tão proeminente que não consegue nem trocar um lado pelo
outro.

A questão é que tirar tributos da arena já vai ser difícil o suficiente.


Adicionar mais pessoas de dentro da Relíquia só vai tornar as coisas mais
difíceis, mas ela—bem, ela não pode simplesmente deixar James para trás.
Não ele, e de preferência não Pandora, então talvez Frank possa vir também.
Ele é bom o suficiente, e será bom ter outra pessoa capaz de lutar quando
todos eles, sem dúvida, tiverem que fazer sua fuga ousada. Ela também pode
pegar Huey pelo caminho, mesmo que seja um sinal de boa vontade para
Dumbledore. Como uma criança tendo problemas na escola, mas tentando
mostrar um bom relatório para tirar um pouco do calor deles, porque eles
sabem muito bem que seus pais vão ficar irritados. Dorcas não se importa, mas

507
CRIMSON RIVERS

não faz mal apaziguar o homem, já que ela está prestes a


causar bastante confusão.

Dorcas para no local quando seu celular começa a zumbir em sua mão, e
sua respiração fica presa quando ela atende, esperando em um silêncio pesado
enquanto seu coração dispara.

"Patrono?" Lily sussurra.

"Estrela do mar," Dorcas responde, exalando tudo de uma vez. "Como


você está falando comigo agora, Lily? Que porra é essa?"

"Poppy tem um telefone na gaveta trancada do escritório, então eu abri e o


peguei enquanto ela estava em uma missão."

"Que missão?"

"Reconhecimento. Ela está em uma pequena equipe separada de volta ao


distrito seis para ver o que aconteceu depois de... Bem, eu—hum, eu não
deveria te contar, mas—"

"É de alguma forma vital para o outro plano?"

Lily faz uma pausa, então ela murmura, "Euphemia e Fleamont Potter
estão aqui. É por isso que todo o caos era quando você estava aqui no outro
dia."

"Espere, o quê?" Dorcas inala bruscamente, seus olhos se arregalando com


descrença. "Por que você não me contou?"

"Pelo amor de Deus, Dorcas, estávamos ocupadas lidando com outras


loucuras, e você não ficou muito tempo, não é?"

"Oh, me desculpe, eu não posso evitar, eu tenho que trabalhar, Lily."

"Sim, sim, sim," Lily murmura, e Dorcas apostaria muito na chance de Lily
estar revirando os olhos agora. "Para encurtar a história, nós entramos e
roubamos os pais de James—pessoas realmente adoráveis, a propósito—e
conseguimos salvar... um pouco dos moradores do distrito, mas a maioria?
Bem, não foi bom. Nada bom, se eu for honesta. Há toda essa merda de
neblina verde—"

508
ZEPPAZARIEL

"Guerra biológica," sussurra Dorcas.

"Sim, bastante," Lily diz. "De qualquer forma, Poppy vai dar uma olhada e
ver o que ela pode fazer com isso; teve que ir vestida com um terno de
borracha estranho, mas ela estava com uma equipe pequena. Uma outra
equipe inteira tem que entrar no distrito onze com novas ordens."

Dorcas engole. "Onze? Para quê?"

"Isso eu não sei. Não fui escolhida para essa missão, o que é bom, porque
eu tenho tempo para trabalhar nas outras coisas."

"Certo, e como está indo?"

Lily bufa. "Oh, eu estou progredindo. Talvez consiga adiantar tudo no dia,
pelo menos. Ou pelo menos na noite anterior ao que planejamos
originalmente." Dorcas não consegue evitar fazer um som abafado de pura
esperança, e Lily ri. "Em breve, Dorcas, muito em breve. Faça a sua parte, e
não se preocupe, eu farei a minha."

"Você é uma maravilha, Lily. Eu te amo demais."

"Eu vou desligar."

"Você também me ama."

"Ou vomitar. Essa é uma opção também."

Dorcas fecha os olhos, sentindo alguma tensão drenar de seus ombros, seu
coração palpitando. "Sério, Lily, obrigado."

"Mhm, sem pr—oh. Ah, merda. Só um minuto!" Lily chama, tossindo alto.
"Eu estou usando o grampeador, Molly! Me dê um segundo." Sua voz cai para
um assobio baixo. "Ok, eu tenho que ir. Se eu puder ligar de novo, eu ligo.
Ok, tchau."

"Tch—" Dorcas nem consegue terminar antes que a linha fique muda. Ela
bufa uma risada fraca e puxa o telefone para longe da orelha, soltando uma
respiração profunda.

O grampeador. Lily Evans, senhoras e senhores.

509
CRIMSON RIVERS

Balançando a cabeça, Dorcas deixa o telefone no balcão e se vira para


examinar sua suíte. Não é muito parecida com a suíte que os tributos recebem
com seus mentores, e ela não recebe um servo. Ela poderia tecnicamente
pagar uma taxa extra para ter um, mas ela nunca o faz. A suíte em si é uma
planta baixa aberta, a cozinha e a sala de estar e o quarto em um só lugar, sem
portas em nenhum lugar. O banheiro e a lavanderia, pelo menos, se ramificam
em um pequeno corredor separado. É muito compacto.

Isso significa que é fácil para Dorcas andar da cozinha para o quarto, para
frente e para trás, enquanto ela cruza os braços e levanta uma mão para passar
um dedo preguiçosamente sobre os lábios de novo e de novo, sua mente
correndo a mil por hora. Oh, ela tem muito o que fazer.

Bem, ela sabe exatamente como recrutar James, pelo menos. Ela não
estava muito preocupada com isso de qualquer maneira, para ser honesta.
Talvez seja ingenuidade, mas ela realmente acredita que ele a considera uma
amiga o suficiente para confiar nela sobre isso. No entanto, o plano de backup
agora é seus pais; é claro que ele estará especialmente disposto se souber que
eles—e o que quer que reste de seu distrito—já estão todos na Fênix. Além
disso, ele provavelmente iria aonde quer que Sirius e Regulus fossem, e
Dorcas fará tudo o que puder para garantir que eles fiquem seguros com a
Ordem.

E Frank? Hum. Sua mãe é um grande fator, com certeza. Se Augusta for
salva, então Frank sem dúvida seguirá. Mas ele também é próximo de Alice e
Emmeline...

Ah, porra, Emmeline. Dorcas estala a língua e faz uma careta. Seria
indescritivelmente falta de tato e cruel da parte dela não tentar salvar
Emmeline simplesmente porque ela esteve com Marlene. Dorcas afasta o
mero pensamento com uma zombaria. Sim, ela não é uma boa pessoa, porque
não há pessoas boas na guerra, mas isso é um ponto baixo que até ela se
recusa a alcançar. Então, há outra pessoa adicionada à lista. Seis já—Marlene,
Sirius, Regulus, Augusta, Alice e Emmeline.

Do ponto de vista estratégico, Asher seria incrivelmente útil para os esforços


de guerra, considerando seu conhecimento sobre venenos. Seria negligente da
parte de Dorcas não tentar pegá-la também. Ah, não que ela vá pegar eles,
mas ela dará instruções, tanto quanto puder.

510
ZEPPAZARIEL

O estômago de Dorcas de repente se revira quando ela para e percebe de


repente que ela está fazendo exatamente a mesma coisa que ela estava furiosa
com Dumbledore por fazer.

Escolhendo vidas.

Depois de uma longa pausa em que Dorcas teme que ela vá vomitar, ela
exala trêmula e endireita os ombros. Não. Não, ela não será vítima de um
poder como este e se perderá no processo. Marlene primeiro, claro, porque ela
não tem medo de ser egoísta nesse sentido, mas depois disso? Todos
eles. Qualquer um deles. Se eles seriam uma ajuda ou um obstáculo para a
guerra, independentemente do que eles podem oferecer a ela ou o que não
podem, fará com que ela salve tudo o que puder.

Ela teme não ser capaz de salvar tantos quanto gostaria. Vinte e quatro é o
objetivo, na verdade, por mais impossível que pareça, mas isso exigiria que
todos eles sobrevivessem o suficiente para serem salvos. Ela duvida que isso
aconteça.

Mas Marlene... Dorcas precisa que Marlene sobreviva por esse tempo.
Tudo isso está acontecendo porque é preciso, porque é o que é certo, mas o
coração de Dorcas está praticamente chorando com a verdade de tudo isso.
As prioridades de Dorcas mudaram, estão mudando há algum tempo, e
Marlene? Marlene é a prioridade.

Aconteça o que acontecer com ela naquela arena... Dorcas fecha os olhos,
inspirando e expirando. Ela sabe que Minerva não pode simplesmente
permitir que seja—fácil. Tem que ser brutal. Tem que ser a pior coisa que
alguém e todos vão ver, apenas para incitar mais raiva e desafio, encorajando
uma revolta. Tem que ser doentio, indutor de vômito, horrível de roer as unhas
a ponto de ser doloroso de assistir; um sinal de néon piscando para todos
olhando que eles deveriam odiar isso, que é errado.

Dorcas conhece Minerva. Ela sabe exatamente do que aquela mulher é


capaz, e para vencer esta guerra, aquela mulher fará o que precisa ser feito. É
algo que Dorcas sempre respeitou e provavelmente ainda respeitaria se não
estivesse afetando diretamente a mulher que ela ama e os amigos que ela fez
ao longo do caminho. Se alguma coisa acontecer com Marlene, Dorcas não tem
certeza se será capaz de perdoar Minerva, sabendo que ela está por trás de
tudo.
511
CRIMSON RIVERS

Como ela vai se sentir, olhando para Minerva? Do mesmo jeito que ela se
sente olhando para Slughorn? O pensamento a aterroriza.

Dorcas não pode se preocupar com isso, porque ela precisa se concentrar
no que tem que ser feito. O plano dela. Também suas ordens. Sim, adorável,
ela ainda tem que fazer isso. Recrutar. Certo, então James será fácil, ela
provavelmente pode convencer Frank, e se ela tiver que pegar Pandora e
carregá-la sozinha, ela o fará. Huey... Bem, Dorcas não o conhece, na verdade,
mas Minerva disse que o melhor ângulo seria culpá-lo. Ele quer ajudar, sente
que é obrigado, e ela pode trabalhar com isso. Ela fez mais com menos,
honestamente.

Uma batida na porta arranca Dorcas de seus pensamentos em espiral, e ela


se vira para piscar. Depois de uma pausa, ela se move até a porta para abri-la
com uma pequena careta de confusão sobre por que alguém iria parar aqui. A
carranca desaparece, e a respiração de Dorcas fica presa quando ela vê quem
é.

"Marlene," Dorcas respira. "O que você está fazendo aqui?"

"É minha última noite," murmura Marlene. "Eu não vou esperar você se
atrasar desta vez."

Com isso, as mãos de Marlene se levantam—ela ainda está usando o anel


no polegar—e elas pegam o rosto de Dorcas quando ela avança para beijá-la
com força suficiente para que ambas cambaleem alguns passos para trás. No
momento em que Marlene está oficialmente dentro, ela está chutando a porta
com o pé e empurrando Dorcas contra a parede mais próxima.

Dorcas está tão bem com isso, na verdade. Oh, ela realmente deveria estar
gastando seu tempo fazendo algo produtivo, mas nada parece importar tanto
quanto a boca de Marlene na dela, e as mãos de Marlene em sua pele, e
Marlene apenas estar aqui, viva, quente e sólida sob os dedos de Dorcas.

"Cama?" Dorcas engasga.

"Mmm," Marlene sussurra contra sua mandíbula, seus lábios se curvando


de uma forma satisfeita, e então elas vão tropeçando para longe.

É bom, na verdade, que a cama não seja tão longe.

512
ZEPPAZARIEL

~•~

Regulus se pergunta se James ainda o acha bonito.

Bem, não, ele sabe que James está atraído por ele, isso não é algo que ele
duvide, na verdade, mas não é isso que está pesando em sua mente. Ele se
olha no espelho e se pergunta se James ainda o acha bonito por dentro. Uma
pessoa digna de bondade. Uma pessoa digna de amor.

James nunca foi tão cruel. Regulus não sabe o que fazer com isso.
Ele sabe que James tem todo o direito de ficar chateado, mas ele não sabe por
quanto tempo mais ele pode fazer isso. Talvez isso o torne fraco. Talvez ele
seja patético por ter sido levado ao limite e ainda tão disposto a tudo o que
James lhe der. Ele entende agora, o que James quis dizer quando disse que
Regulus poderia fazer qualquer coisa com ele e ele agradeceria por isso.
James respira, e Regulus quer agradecê-lo.

Engolindo em seco, Regulus puxa a toalha para longe de seu cabelo úmido
e a pendura, em seguida, arrasta os dedos sobre o peito, pressionando
levemente a cicatriz levantada sobre o coração. É uma coisa estranha ter uma
cicatriz favorita, mas esta é dele. Esta é um lembrete de que algo tentou tirar
seu coração e falhou. Ninguém ou nada pode tê-lo, porque pertence apenas a
James; de alguma forma, depois de todas as vezes que James a beijou, Regulus
sente que a cicatriz é apenas uma prova disso.

Soltando a mão, Regulus pega sua camisa e a veste, então se vira para sair
do banheiro. Quando ele volta para seu quarto e olha para cima, ele congela.

James está empoleirado na beirada da cama.

Por um instante, eles apenas olham um para o outro. O coração de


Regulus já está acelerado, porque ele não sabe o que vai acontecer. Ele não
tem certeza do que está por vir. Isso é—James está prestes a lhe dar outro
presente de despedida? É a última noite de Regulus, então seria apropriado.
Regulus vai aceitar isso. Ele vai ficar ainda mais machucado por isso, mas ele
vai aceitar de qualquer maneira, de bom grado.

"Nós—" A voz de James morre em sua boca, momentaneamente, um


clique alto em sua garganta enquanto ele engole. Sua voz é rouca e baixa
quando ele fala novamente. "Nós precisamos conversar."

513
CRIMSON RIVERS

Regulus não acha justo que essas palavras o assustem. Não é como se as
coisas pudessem piorar. "Essas palavras temidas. Você está ciente de que não
pode terminar comigo de novo, não é?"

"Eu não terminei com você," James retruca. "Eu não tive exatamente a
chance, já que não estávamos juntos em primeiro lugar."

"Sim, nós estávamos," Regulus sussurra. Em sua cabeça, eles estavam. Em


seu coração, eles ainda estão.

James aperta o maxilar, fazendo com que o parafuso abaixo de sua orelha
pulsasse visivelmente, o músculo se contraindo. Regulus acha isso
incrivelmente atraente. Ele gostaria de lambê-lo. "Não, nós realmente não
estávamos. Os dois dias que passamos—bem, esses não contam."

"Não, mas eles contam, no entanto," Regulus responde, lançando seu olhar
sobre James lentamente, tentando ler sobre ele. Ele não consegue, o que é
frustrante. Regulus não sabe dizer se James quer foder ou brigar, e
francamente, se não for o primeiro, ele preferiria que James simplesmente
fosse embora; ele não está com vontade de fazer o último.

"Olha, eu não vou discutir com você sobre isso. Você está errado."

"Eu não estou, na verdade."

"O que eu acabei de dizer?" James pergunta, olhando para ele incrédulo.

Regulus suspira e dá um passo à frente, parando no momento em que


James fica ainda mais tenso. Há uma pausa, ambos avaliando um ao outro,
reavaliando a atmosfera e tentando descobrir o que vem a seguir. Finalmente,
Regulus não se incomoda com rodeios. "Então, você está aqui para me foder,
ou você quer ser um idiota um pouco mais?"

James o encara por um instante, então estreita os olhos e zomba. "Talvez


um pouco dos dois. Eu não posso fazer os dois?"

"Você pode fazer o que quiser, James," Regulus o informa honestamente,


segurando seu olhar. "Especialmente para mim."

514
ZEPPAZARIEL

"Eu não posso te proteger," James rebate, e ele não diz isso baixinho. Cai
de sua boca com força, uma acusação, escapando dele com pontas afiadas que
cortam os dois.

Sim, Regulus não vai fazer isso. Quando James disse que eles precisavam
conversar, ele não achou que James realmente quis dizer que
eles conversariam. Tipo, corretamente. Sobre as coisas sobre as quais eles ainda
não se atreveram a falar. Regulus não quer fazer isso. Ele vai chorar, porra; ele
sabe que vai, e apenas—não. Foda-se isso.

"Olha, nós vamos transar ou não?" Regulus pergunta, sua voz


entrecortada, seu estômago gelando com os nervos em ascensão. "Porque se
não, você pode apenas fazer um favor a nós dois e dar o fora."

"Eu disse que nós precisamos conversar, então—"

"Não vai acontecer. Não, obrigado."

"Não, vamos lá, nós temos que resolver isso," James insiste, se levantando
da cama, seus olhos brilhando. "Você não pode simplesmente fugir disso.
Você fez isso, agora, enfrente isso, porra."

"Oh, você quer dizer sobre o casamento?" Regulus diz, arqueando uma
sobrancelha para ele. "Acho que isso é você recusando meu pedido?"

"Seu maldito bastardo."

"Então, é um não?"

"Você não deveria ter feito isso," James sussurra. "Como diabos você pôde
fazer isso? Você sabia—você sabia que ficaria—que eu ficaria chateado, e você
apenas—você—"

"Acredite ou não," Regulus interrompe, "Isso na verdade não era sobre


você. Eu entendo sua confusão, considerando seu envolvimento necessário,
mas era sobre machucar eles. Enfurecer eles. Não era..." Ele engole. "Eu não
tinha mais nada, certo? Eu só importo para eles por causa de você. Era a única
coisa que eu tinha, e eu usei. Eu não fiz isso para te machucar, James."

"Mas você fez," James rosna. "Você sempre faz."

515
CRIMSON RIVERS

"Sim, eu sei," Regulus murmura, lutando contra o nó na garganta enquanto


ele aperta a mandíbula e desvia o olhar. "Era sobre isso que você queria falar?
Terminamos aqui?"

"Terminamos? Terminamos?" James repete, sua voz aumentando de tom,


parecendo absolutamente furioso. "Nós mal começamos! Você chegou lá em
cima naquele palco, de novo, e sentiu a necessidade de dizer a todos que você
se casaria comigo, o que é mais uma mentira—"

"Não, não é," Regulus retruca rispidamente, e James solta um suspiro


áspero, o rosto se contorcendo em uma carranca.

"Não minta para mim. Por que você está sempre mentindo?"

"Eu não estou mentindo, James. Não sobre isso."

James olha para ele, seu corpo tenso enquanto ele olha diretamente em
seus olhos, e então ele faz um barulho furioso e frustrado e dá os três passos
que precisa para alcançar Regulus. É fácil encontrá-lo no meio do caminho
com um beijo de boca aberta e ranger de dentes que ambos gemem no
momento em que se conectam. James coloca uma mão atrás do pescoço e o
segura lá. Regulus não quer que ele o solte nunca.

Mas, inevitavelmente, James solta. Ele quebra o beijo para ofegar um


trêmulo, "Maldito mentiroso. Você é um maldito—"

"Não sou," Regulus murmura, se aproximando, deslizando as mãos pelo


peito de James e sentindo a consciência de sua própria tentação distorcida,
porque oh, oh, James ainda o quer muito. A coisa é, Regulus entende. Ele
sabe exatamente como o desejo é diferente quando você está lutando contra
ele; a inebriante atração do fruto proibido. James não consegue resistir a dar
uma mordida, e Regulus sabe exatamente como ter certeza de que ele é doce
para ele.

"Você não faria isso," James argumenta, praticamente assobiando, e então


ele dá uma mordida, beliscando o lábio inferior de Regulus com um gemido
derrotado enquanto ele o puxa de volta para um beijo.

Regulus fala contra sua boca para dizer, "Eu teria feito."

516
ZEPPAZARIEL

"Não," James nega, sem fôlego enquanto fala ao longo da linha da


mandíbula de Regulus, reverente e carente.

"Eu teria me casado com você," Regulus sussurra, os olhos se fechando


enquanto James faz um som contra sua garganta como se tivesse acabado de
ser eviscerado. Regulus inclina a cabeça ainda mais para trás e dá mais espaço
a James, se ele quiser.

James não quer isso. Ele recua um pouco. "Cale a boca. Porra, só—só—"

"Mesmo se tivéssemos que ter um casamento aqui, eu teria, e poderíamos


ter um de verdade em casa," continua Regulus, ainda pressionando. Sempre
pressionando, pressionando, pressionando. Pegando nisso—neles—como a
porra de uma crosta, atingido pela necessidade habitual de tirar sangue
novamente. "Você teria pedido, e eu teria dito sim. Eu teria dito sim
no momento—"

"Cale a boca, cale a boca, cale a boca. Você é horrível, você é o homem
mais cruel e vingativo que eu já conheci, e se você não calar a boca—"

"Você ainda não disse não, sabe. Então, James, você aceita minha proposta
ou—"

Regulus não tem que ir muito além disso antes que James o esteja beijando
tão profundamente que ele não consegue nem recuperar o fôlego, movendo-o
firmemente para a cama. Eles caem em um emaranhado de membros
enquanto Regulus enrola os braços em torno de James e sente o amor sangrar
entre eles como a ferida aberta que é.

~•~

"Isso dói?"

Remus franze os lábios e olha para os dentes em seu ombro, porque


aparentemente, quando Sirius morde, ele morde com força. Muita força. Tanta
força que provavelmente teria doído se Remus não estivesse no meio do sexo
quando aconteceu.

Sirius parece uma mistura de preocupado e presunçoso, o que é bem


adorável, honestamente. Sua expressão muda rapidamente cada vez que seu

517
CRIMSON RIVERS

olhar passa de Remus para a mordida—preocupado, presunçoso, preocupado,


presunçoso, preocupado, presunçoso. É fofo.

"Não, está tudo bem," Remus o assegura, embora ele não vá insistir,
mesmo que esteja tentado. Pulsa um pouco. Ele está honestamente bastante
satisfeito com isso.

"Bem, nesse caso, aí está," Sirius brinca. "Algo para você se lembrar de
mim."

Remus o encara. Silenciosamente, ele diz, "Vai desaparecer."

"Eu sei, mas..." Sirius para, então engole, virando a cabeça para olhar para
o teto. Ele fecha os olhos. "Eu sei."

Em silêncio, Remus se vira de costas, deitado na cama ao lado de Sirius


vestindo nada além de calças, nenhum dos dois se tocando. Está
abruptamente frio entre eles, na pequena lasca de espaço onde seus corpos
não estão pressionados juntos, parecendo uma grande distância a ser
atravessada de repente.

Por apenas um momento, Remus realmente se deixa sentir, o que está por
vir, o que ele está prestes a perder. Ele não sentiu isso, na verdade, desde
aquela primeira noite quando ele não conseguiu construir algum tipo de defesa
interna contra isso. Ele colocou em outro lugar, só para poder se concentrar
em estar aqui com Sirius enquanto ainda tinha a chance, porque ele sabe o que
é não se despedir de alguém que ele ama, e ele sabe o que é desejar ter usado
melhor o tempo com alguém que ele ama que ele tinha.

Deixar-se sentir, como se vê, é uma ideia muito estúpida. Porque está lá,
por baixo de tudo; a raiva, a dor, a perda, o peso total e absoluto implacável
da desolação com tudo isso. Ainda mais profunda, a necessidade egoísta e
premente de pedir, implorar, para que Sirius volte para ele. Por favor, apenas
volte.

"Não é justo," Remus sussurra. Ele não se mexe, mas ouve o cabelo de
Sirius roçar no travesseiro, um sinal de que ele virou a cabeça para ouvir.
Remus pode sentir o olhar de Sirius preso ao lado de seu rosto, pesado e
intenso. "Não é—isso não é—"

518
ZEPPAZARIEL

"Remus," Sirius diz com muito cuidado.

"Por favor," Remus engasga, virando-se para ele desesperadamente para


alcançá-lo, pegar seu rosto entre as mãos e olhar em seus olhos implorando.
Sirius parece aflito. "Por favor, amor. Só—eu sei que é errado da minha parte,
eu sei que não é justo, eu—eu—"

"Shh, pare com isso," Sirius interrompe rapidamente, levantando os braços


entre os de Remus para embalar seu rosto também. "Está tudo bem. Isso é
apenas o que é ser humano, meu amor. Você não é uma pessoa ruim por isso,
por querer—" Ele para, engole, então dá a Remus um sorriso suave. "Você
pode dizer isso. Você provavelmente não deveria, mas—"

"Volte," Remus sussurra, como se fosse um pecado, e a respiração de


Sirius fica presa. Ele o encara, os lábios entreabertos, o olhar brilhante como
se nunca tivesse estado tão apaixonado por um conceito antes em sua vida.
"Certo, Sirius? Eu sou—eu sou egoísta o suficiente para pedir, mesmo
sabendo a sua resposta, e eu—eu entendo. Mas eu tenho, eu tenho que pedir.
Eu tenho que ao menos—eu tenho que tentar. Porque eu quero que você
viva, e eu quero que você volte para mim. Me desculpe. Me desculpe, Regulus
é meu amigo, mas você—você é outra coisa. Você é precioso para mim. Eu
quero que você volte, por favor."

Sirius o estuda, lambendo os lábios, e então ele exala lentamente e sussurra,


como um segredo, "Você sabia que você é a única pessoa que me pediu isso?
Todo mundo—eles apenas aceitaram isso, o que eu vou fazer, e não houve
ninguém que nem mesmo—quer dizer, ninguém nem mesmo... discutiu ou
protestou. Talvez seja porque eu sou muito teimoso e eles sabem que isso não
os levaria a lugar nenhum, mas—mas ninguém tentou. E talvez isso me torne
egoísta, mas eu estou tão feliz que você tenha feito isso."

Remus entende, realmente. Não é um desrespeito para ninguém pela forma


como eles estão respondendo à situação. Isso é muito difícil, e ninguém está
realmente na posição que ele está, porque sim, Remus se importa com
Regulus, mas ele não sente por ele o que ele sente por Sirius. Ele é um amigo,
mas não é Lily. Remus não odeia Regulus—claro que não—mas, se
dependesse dele e apenas um irmão pudesse voltar para casa, não seria o mais
novo.

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CRIMSON RIVERS

Até mesmo Remus sabe que é inútil pedir, porque ele conhece Sirius, mas
Sirius merece que alguém peça de qualquer maneira. Não é que Remus esteja
bravo com ele por isso, porque ele entende. Porque se fosse ele, se fosse ele e
Lily indo para a arena, ele não faria diferente do que Sirius vai fazer por
Regulus, do que Sirius faria por James. Não se trata de não escolher voltar um
para o outro; é sobre quem eles são.

É sobre como eles amam.

"Ele é meu irmão mais novo, Remus," Sirius murmura.

"Eu sei," resmunga Remus.

"Eu—" Sirius engole, lançando seu olhar para o lado, o lábio inferior preso
entre os dentes. Depois de um instante, ele fecha os olhos com força, a
expressão desabando em algo como vergonha, e quando ele começa a falar de
novo, ele fala tão suavemente, uma mera respiração, como se as palavras
fossem tão erradas, tão tabu, que até mesmo pronunciá-las é uma blasfêmia.
"Se—Remus, eu vou fazer o que for preciso por ele, ok? Eu vou fazer. Mas.
Mas se—apenas, se algo acontecer, se algo der errado e ele—se eu estragar
tudo, se eu falhar com ele, então eu—eu não vou parar de lutar. Eu vou
continuar lutando para voltar para você, ok? Isso—isso pode ser o suficiente?
Me diga que é o suficiente, porque é tudo que eu tenho."

"Você faria isso?" Remus pergunta baixinho. "Por mim?"

"Sim," Sirius suspira, os olhos se arregalando. Ele ainda parece inseguro,


como se tivesse cometido algum erro grandioso pelo qual nunca poderá ser
perdoado por simplesmente ser humano o suficiente por querer viver. É de
partir o coração. "Eu—eu duvido que eu seja—o que você está acostumado
agora. Isso vai me mudar, perder ele, e eu não posso—eu não vou ser capaz
de prometer que você ainda vai amar o que sair daquela arena se eu não
morrer lá pelo meu irmão, mas por você, eu voltaria de qualquer maneira. É
claro que eu voltaria."

"Sirius, não há uma versão de você que eu não amaria," Remus o informa
simplesmente. "Você não tem que ser outra pessoa além de quem você é. Eu
só... Bem, eu—talvez isso me surpreenda. Eu realmente não entendo o
porquê. Eu sei que você me ama, mas eu não posso te dar mais do que
algumas visitas por ano, e eu sou tão—há tantas restrições envolvidas no

520
ZEPPAZARIEL

nosso relacionamento por causa da minha posição, e é um incômodo, então—


não James? Eu?"

"James—se ele perder Regulus, se nós perdermos Regulus, vai ser... Eu não
sei. Eu acho que, por algum tempo, nós não seremos—nós não nos
recuperaremos disso por muito tempo. Não voltar é tanto por James quanto
por Regulus, de certa forma Você não vê?" Sirius murmura. "Eu morreria por
eles, mas eu viveria por você."

Remus tem que piscar com força contra a ardência repentina em seus
olhos, porque ele sabe melhor do que a maioria que morrer é fácil, mas viver?
Às vezes, viver é a parte mais difícil de estar vivo.

O fato de que Sirius faria isso por ele, que ele o ama o suficiente para isso,
é algo muito especial para Remus para ele tentar colocar em palavras. Remus,
que não tem nada a oferecer a Sirius além de si mesmo, e mesmo isso está em
falta. Ele não pode dar tudo para Sirius viver, apenas alguma coisa, e para isso
ser o suficiente... Oh, Remus sente como se seu peito estivesse se abrindo e
inundando com calor ao mesmo tempo.

"Obrigado," Remus engasga.

"Só—só para ficar claro," Sirius murmura cautelosamente, "Isso não sou
eu dizendo que não vou fazer tudo o que puder para salvá-lo, Remus. Eu vou
fazer. Eu vou. Eu não estou planejando voltar."

"Eu sei. Eu sei disso," Remus diz a ele, e ele ama Sirius por isso também.
Por quem ele é e como ele ama. Qualquer versão dele, mesmo esta, talvez
especialmente esta.

Sirius estende a mão e cruza o pequeno espaço entre eles para gentilmente
passar os dedos sobre a marca de mordida no ombro de Remus novamente.
"Sabe, nós falamos bastante sobre o nosso alguma coisa, mas como seria o
nosso tudo? Você já imaginou?"

"Eu já," Remus admite, e os lábios de Sirius se curvam em um pequeno


sorriso zombeteiro, olhos curiosos olhando para ele pacientemente. "Nós
temos uma casa. Um pouco exótica—"

"Como aquela em que você cresceu?"

521
CRIMSON RIVERS

"Sim. Você—você gostou quando esteve lá?"

"Eu gostei," Sirius confirma. "Era quente. Aconchegante. Nada como a


casa em que eu cresci antes de descobrir o que um lar poderia ser quando me
mudei para os Potters."

Remus cantarola. "Bem, nossa casa também é um lar. Exceto pela escada;
ela não é muito exótica, porque é um pouco estranha. Tem que ser uma
daquelas escadas tortuosas e ridículas para que você possa fazer uma entrada
dramática toda vez que descer nela."

"Oh, porra, sim," Sirius concorda imediatamente, abrindo um sorriso


enquanto começa a tremer de tanto rir. "Não, isso é perfeito. Eu quero um
sino no topo que eu possa tocar para que todos—mas especialmente você—
saibam virar todos os olhos para mim quando eu começar a descer."

"Muito conveniente. Eu gosto."

"Mhm. Oh, e James vai adorar, porque eu vou construir uma cadeira para
ele, e ele vai ficar girando e girando. Eu posso ouvir ele, na verdade.
Apenas: uhuuu."

"Isso é—hilariamente preciso," Remus reflete com uma risada, balançando


a cabeça. "Merda, eu posso ouvir isso. Eu não conheço ele há tempo suficiente
para justificar saber como isso soa."

Sirius bufa e estende a mão para, sem nenhum aviso, cutucar Remus no
canto da boca, puxando-o de brincadeira enquanto diz, "Eh, algumas pessoas
você apenas entende, não importa há quanto tempo você as conhece. De
qualquer forma, o que mais?"

"Nós temos uma varanda nos fundos com cadeiras de balanço onde nos
sentamos nas noites quentes e apenas—aproveitamos o ar fresco."

"Sob a lua e as estrelas."

"Em nome dos clichês, sim," Remus diz ironicamente, enquanto o dedo de
Sirius se afasta de sua boca para acariciar sua mandíbula com uma devoção
silenciosa e irracional que faz o coração de Remus apertar.

522
ZEPPAZARIEL

"Pode ser um banco?" Sirius pergunta. "Ou um balanço? Só para


podermos sentar juntos, eu acho. Podemos nos aconchegar sob a lua e as
estrelas no espírito dos mais clichês."

Remus sorri. "Mm, é um pensamento. Um balanço, então. Um acolchoado


que mantemos um cobertor jogado sobre as costas."

"O que mais?"

"Nós não temos uma secadora. Penduramos as roupas para secar do lado
de fora, como minha mãe sempre fazia. Era—bem, eu sempre amei a rotina
disso, o tipo de... realismo de planejar em torno de tempestades, então
inevitavelmente a tempestade chega quando você menos espera. Todos nós
saíamos correndo pela chuva, rindo e escorregando na lama, e corríamos para
pegar as roupas de volta para que pudéssemos lavá-las novamente quando o
sol voltasse. Eu sinto falta disso. "

"Só você, Remus Lupin, seria nostálgico sobre interrupções regulares."

"Você ficaria surpreso com as coisas que você tomará como garantidas até
que elas desapareçam."

Sirius suspira. "Confie em mim, eu não ficaria."

"Desculpe," Remus diz com uma careta. "Isso foi falta de sensibilidade da
minha parte."

"Não, está tudo bem. Eu entendi o que você quis dizer. Então, sem
secadora. Nós temos uma máquina de lavar? Podemos foder contra ela?"
Sirius responde. "Ou nela? Eu não sou exigente."

Remus pisca para ele, então arqueia uma sobrancelha até que o rosto de
Sirius começa a ficar vermelho, exatamente como ele sabia que ficaria. Uma
vez que o rubor está lá, Remus solta sua risada. "Você quer—"

"Oh, cale a boca—"

"Não, não, eu quero ouvir sobre essa sua fantasia secreta de fazer sexo em
cima ou contra eletrodomésticos. Me conte mais, amor. Me dê todos os
detalhes sujos."

523
CRIMSON RIVERS

"Por que você insiste em zoar comigo? Por que—"

"É só a máquina de lavar? O que você acha do forno? Vamos mantê-lo


desligado, é claro, mas—"

"Remus," Sirius geme, puxando suas mãos para trás como se estivesse
tentando cobrir seu rosto muito, muito vermelho.

"Pessoalmente," Remus brinca, estendendo a mão para pegar os pulsos de


Sirius e olhar para ele carinhosamente, "Eu sou parcial com a mesa da
cozinha. Seria legal, eu acho, te jogar lá e me aproveitar de você como uma
refeição. Não seria legal?"

Sirius pigarreia violentamente, e sua voz ainda falha um pouco quando ele
diz, "Isso seria—sim, isso—isso soa bem. Realmente, ah, legal. Você—você
gostaria de elaborar sobre isso, na verdade? Como uma refeição, você disse?"

"Bem, sabe, quando você tem uma refeição muito deliciosa na sua frente, a
melhor coisa a fazer é saborear cada mordida," Remus diz casualmente,
observando Sirius olhar para ele com os lábios entreabertos e uma gagueira
em sua respiração, peito engatado, corado por um motivo totalmente
diferente que não tem nada a ver com constrangimento.

"Eu quero que você me foda no chão," Sirius deixa escapar, e as


sobrancelhas de Remus se erguem. "E na cama. E na despensa. E nas escadas.
Por toda a casa. É tudo para nós, certo? Podemos fazer tudo em qualquer
lugar o tempo todo. O que quisermos. E podemos dormir juntos, à noite,
todas as noites. Eu vou babar em você e você ainda vai me chamar de bonito
pela manhã."

"Sim," Remus concorda suavemente.

"Nós vamos tomar banho juntos e vamos brigar sobre a cor que queremos
que as cortinas tenham em cada quarto e vamos lavar os pratos lado a lado
depois de cada refeição que compartilharmos."

"Sim."

"Você vai me dizer o que fazer o tempo todo, e eu vou ouvir porque eu
estou loucamente, profundamente, desesperadamente apaixonado por você e

524
ZEPPAZARIEL

eu só quero te fazer feliz, muito feliz, e eu—eu sinto—eu sinto muito por não
poder, Remus, eu sinto muito, eu—"

"Sirius—"

"Eu sinto muito," Sirius engasga, porque de repente ele está chorando
muito, pra caralho, seu corpo se curvando para frente enquanto ele se
aproxima de Remus, segurando-o com força. "Oh, oh, eu—eu não quero
fazer isso. Eu não quero deixar você. Eu—eu—"

Remus faz um barulho de dor e o puxa para mais perto, seus olhos
ardendo quando ele os fecha e abaixa o rosto para enterrá-lo no cabelo de
Sirius. Porque, a coisa é, alguma coisa é suficiente, mas é tão humano, tão
simplesmente natural, querer tudo. Eles não podem ter; eles nunca iriam
conseguir, mas isso não faz com que doa menos.

Por um longo tempo, eles apenas deitaram lá e choraram juntos, e se


afligiram, e se agarraram. Remus percebe de uma vez que Sirius também não
se deixou sentir. Isso é algo que Remus sabe inconscientemente, apenas pela
maturidade de Sirius, mas é algo que o alcança de qualquer maneira. Não há
como fugir disso para sempre.

"Está tudo bem," Remus sussurra, sua voz rouca. "Tudo vai ficar bem."

"Remus?" Sirius resmunga, levantando a cabeça para encará-lo com os


olhos marejados.

"Sim?" Remus murmura.

"Eu quero que você me prometa que—que você—que mesmo que eu não
esteja aqui para lembrar você, você nunca vai esquecer o seu valor, o quão
valioso você é. Nunca se esqueça disso," Sirius murmura.

Remus engole em seco. "Eu prometo."

"Venha aqui," Sirius sussurra, deslizando sua mão até a nuca de Remus,
puxando-o para um beijo lento.

"Eu te amo," Remus pressiona em sua boca, e sua pele, e talvez sua maldita
alma, tentando derramar de si mesmo até que Sirius esteja cheio dela, até que
ele nunca mais fique sem ela.
525
CRIMSON RIVERS

Sirius a pega dele, avidamente. Sirius aceita tudo, agradecido.

De alguma forma, inexplicavelmente, é tudo.

~•~

Dorcas espia Marlene pelo espelho, hesitante. Marlene mantém o olhar


firme, esperando, nem um pouco hesitante. As duas estão enfiadas no
banheiro apertado, vestindo nada além de camisetas grandes e sem calças, a
maquiagem de Dorcas borrada e suas tranças empilhadas ao acaso no topo de
sua cabeça, um pouco caídas pelo aperto solto do cabelo esticado no bobble,
uma ponta de uma trança pendurada sobre a testa. Marlene está sentada em
uma cadeira, as pernas abertas enquanto se inclina para trás como se não
tivesse nenhuma preocupação no mundo.

"Você tem certeza que confia em mim para fazer isso?" Dorcas pergunta,
mais uma vez.

"Se eu não tivesse, nós não estaríamos aqui," Marlene responde secamente.
Ela estala os dedos e revira os olhos. "Apenas faça."

"Certo, mas—"

"Dorcas, você é literalmente uma estilista. Tipo, isso é literalmente algo que
você está qualificada para fazer."

"Mas eu não sou sua estilista," Dorcas aponta.

Marlene sorri para ela através do espelho, muito doce, olhos semicerrados
com agressividade passiva latente. "Não, mas você é minha amiga, não é? Para
que servem as amigas?"

"Sabe de uma coisa, McKinnon?"

"O que, Meadowes?"

"Vai se foder," murmura Dorcas.

"Onde e quão forte?" Marlene responde instantaneamente, os lábios se


contraindo enquanto seu sorriso se suaviza em algo real.

526
ZEPPAZARIEL

Dorcas bufa e se inclina sobre o encosto da cadeira para segurar o queixo


de Marlene e inclinar a cabeça para cima, olhando para ela de cabeça para
baixo. "Nós não somos amigas."

"O que nós somos, então?" Marlene revida, um desafio.

"Mais," murmura Dorcas. "Definitivamente mais."

Marlene a estuda por um longo momento, então ela bufa uma risada fraca
e murmura, "Que inferno de hora para chegar a essa conclusão, Dorcas.
Sempre atrasada pra caralho."

"Se isso ajuda, eu sempre soube," confessa Dorcas. "Eu simplesmente


não—bem, eu estraguei tudo. Eu não fiz de você minha prioridade, e eu
deveria ter feito. Me desculpe por não ter feito."

"Você faz agora?" sussurra Marlene.

"Sim," Dorcas diz a ela, firme, então se abaixa para beijá-la com a mesma
firmeza, não deixando margem para dúvidas.

Marlene está sorrindo quando Dorcas se afasta, e é um sorriso muito


despreocupado e alegre que faz o coração de Dorcas apertar. Ela pode ver
Marlene brincando com o anel em seu dedo, girando-o e girando, e a luz em
seus olhos—ah, ela parece tão feliz. Dorcas não consegue pensar em uma vez
em que ela já tenha visto Marlene parecer genuinamente feliz. Esmaga ela
pensar que ela fez parte disso.

"Você fez no pior momento," declara Marlene, rindo novamente enquanto


puxa a cabeça para frente e volta a olhar para Dorcas através do espelho, seu
olhar carinhoso.

"Antes tarde do que nunca," Dorcas reflete, bufando, e ela suspira de


exasperação enquanto estende a mão para pegar a tesoura do balcão. "Tudo
bem, se você está realmente bem comigo fazendo isso—"

"Eu realmente estou. Eu quero. Eu quero—" Marlene para e levanta a mão


para pegar uma mecha de cabelo sobre o ombro entre dois dedos, olhando
para si mesma com uma ruga nas sobrancelhas. "Às vezes, eu olho para mim
mesma e não reconheço a pessoa que está olhando para mim. Ela parece
com—antes. Se o cabelo dela cair do jeito certo, você não pode ver a cicatriz
527
CRIMSON RIVERS

em seu pescoço, e ela—ela costumava amar o cabelo dela, sabe. Enrolava às


vezes ou deixava a prima dela fazer um penteado fofo, mas ela não faz mais
isso. Ela não se importa mais com isso. Ela nem está mais aqui. Sou só eu
agora, e eu—eu quero me ver. Eu fiquei tanto tempo sem me ver."

Dorcas sente seu rosto suavizar. "Ela era linda. Você também. Me diga o
que você quer ver, e eu vou mostrar a você."

"Curto," diz Marlene, mantendo seu próprio olhar no espelho. "Nada que
vá ficar na minha cara. Nada que alguém possa facilmente agarrar. Você pode
fazer isso?"

"Eu posso fazer isso," promete Dorcas, e então ela faz.

É íntimo, de alguma forma, de uma forma que nunca é com mais ninguém,
de uma forma que nunca foi quando Dorcas fez isso com amigos, ou mesmo
por Regulus. Ambas estão quietas, olhando uma para a outra através do
espelho após cada corte da tesoura. O cabelo cai, é cortado, um desabafo.

É aceitação, pensa Dorcas. A relação de Marlene consigo mesma tem sido,


pelo que ela viu, uma jornada cheia de turbulências. Agarrando-se a alguém
que ela nunca mais poderá ser, e agora, aqui, deixando-se levar por quem ela é
sem nenhuma vergonha por isso. A arena a mudou; ela é quem ela é,
independentemente, e quem quer que seja é dela. A realidade do horror no
reflexo de tudo o que ela fez para sobreviver, e ela é horrível aos olhos de
quem tem medo de olhar para a coisa mais real que verá, mas tão bonita para
quem não consegue desviar o olhar.

Para Dorcas, Marlene é a pessoa mais linda que ela já viu, ou conheceu.
Ninguém mais tem que olhar. Dorcas está mais do que feliz em nunca voltar
os olhos para outro lugar.

Dorcas corta o cabelo de Marlene suavemente, com ternura, com cuidado.


Ela o corta curto, deixando um pouco espetado e esvoaçante na parte superior
e levemente nas laterais, depois traz o aparador para zumbir na parte inferior,
dando-lhe uma aparência mais natural. Ela é cuidadosa e doce ao escovar os
restos de cabelo, nunca puxando durante todo o processo.

Marlene assiste avidamente o tempo todo, focada em cada clipe, recorte e


zumbido como se estivesse fascinada pelo processo, pela transformação do

528
ZEPPAZARIEL

antes para o depois. Seu antigo eu ela não está mais tentando encontrar, e
quem ela é agora é quem ela estava esperando para ver. Ela parece feliz
novamente. É lindo.

"Feito?" Marlene respira quando Dorcas abaixa a máquina e dá um passo


para trás.

"Feito." Dorcas sorri e acena com a cabeça. "Você gostou?"

"Sim," resmunga Marlene. "Sim, eu—eu realmente gostei. Obrigado."

"De nada," Dorcas diz a ela, ridiculamente satisfeita.

Marlene se desenrola da cadeira, afastando o cabelo e passando as mãos


sobre a cabeça, virando e inclinando para ver de todos os ângulos. Ela sorri de
novo, para si mesma, então se vira para sorrir diretamente para Dorcas. "Você
gostou?"

"Isso não importa, só para registrar. Só importa que você goste," diz
Dorcas. "Mas sim, eu gostei. Combina com você."

"Isso é bom," murmura Marlene, girando a cabeça para se olhar no espelho


novamente, como se não pudesse evitar. "Quando eu morrer, eu quero
morrer como eu."

"Você não vai morrer," Dorcas retruca bruscamente.

"Dorcas," Marlene diz suavemente, virando-se para encará-la


completamente, seus olhos tristes. "Eu vou lutar, ok? Eu vou, mas—" Ela
suspira e dá de ombros um pouco. "Mas, bem, a sorte nunca está a meu favor.
Eu os venci da última vez, para surpresa de todos e desgosto de muitas
pessoas. Eu não acho que vou fazer isso uma segunda vez, e se Riddle estiver
tão irritado como eu assumo que ele está pelo que eu fiz na minha entrevista,
então eu não vou poder fazer isso uma segunda vez."

Dorcas vacila no lugar por um longo momento, debatendo consigo


mesma, porque há uma razão para ela não ter contado a Marlene seu plano.
Por um lado, é perigoso pra caralho, porque se mesmo uma sugestão disso
voltar para Riddle em qualquer capacidade, mesmo apenas como uma
preocupação subconsciente que ele toma as medidas para lidar, então todo o
plano vai desmoronar. Por outro lado, contar a Marlene seria colocá-la em
529
CRIMSON RIVERS

risco ainda maior, pois poderia influenciar como ela se comporta na arena,
como age, como luta e como sobrevive.

E, finalmente, Dorcas está... com medo. Isso é horrível, é, mas é honesto.


Esta é uma categoria em que a ousadia de Dorcas falhou. Ela tem, de muitas
maneiras, mentido para Marlene. Segurando as coisas. Tomando decisões
baseadas na necessidade egoísta de mantê-la segura, mesmo sabendo que
Marlene não iria gostar. Marlene teria aceitado o recrutamento; ela gostaria de
estar envolvida, e ela disse isso desde quando Vanity e Hodge morreram.
Dorcas bloqueou todas as oportunidades de trazer Marlene para isso e fez
questão de esconder isso dela, assim como deixar isso ficar entre elas uma e
outra vez e nem mesmo teve coragem ou decência para explicar o porquê. Ela
partiu o coração de Marlene por isso.

Vai alcançar Dorcas eventualmente de qualquer maneira, mas ela já tem o


suficiente para se preocupar, então ela simplesmente decidiu lidar com um
problema de cada vez. Este pode vir depois, porque realmente, não é inteligente
dizer a Marlene ou a qualquer um que esteja entrando na arena o que está
sendo planejado nos bastidores. Não é inteligente prometer isso quando ela
nem sabe que vai funcionar, até que dê certo. Ela não pode fazer isso. Ela não
pode arriscar tudo, colocar Marlene em perigo, dar falsas esperanças das quais
ela não pode ter cem por cento de certeza e resolver o problema de seus erros
passados.

Então, Dorcas estende a mão e cautelosamente passa os dedos sobre o


arco da orelha de Marlene, acariciando o cabelo curto que ela não poderia
agarrar mesmo se quisesse, estudando sua expressão para qualquer sinal de
desconforto. Não há nenhum. Marlene parece extasiada com isso, focada, seus
lábios se separando e sua respiração falhando.

"Sobreviva," Dorcas ordena, exige, insiste. "Sobreviva, Marlene, e continue


sobrevivendo, e não pare de sobreviver. Está me ouvindo? É isso que você
faz. Apenas sobreviva."

"Isso é tudo que eu faço de qualquer maneira," Marlene responde, sua voz
suave e trêmula, a cabeça inclinada na mão de Dorcas.

Dorcas mantém seu olhar. "Isso é tudo que você tem que fazer, e o resto
vai se resolver."

530
ZEPPAZARIEL

"Se você diz." Os olhos de Marlene se fecham e ela se aproxima, exalando


baixinho. "Eu—oh, eu gosto—eu gosto disso. É diferente com meu cabelo
assim. Parece diferente. Bem diferente."

"Sim?"

"Sim. Você pode—quero dizer, se você quiser... Mais?"

"Mm, eu sempre quero mais," Dorcas murmura, deslizando os dedos ainda


mais para cima e mergulhando-os nos fios mais curtos e espetados do cabelo
de Marlene, sentindo-os roçarem o interior de seus dedos, macios. "Entre
você e eu, vamos encontrar isso."

Marlene solta um som de soco e afunda para frente, os olhos ainda


fechados, totalmente relaxada enquanto ela encontra o caminho para a boca
de Dorcas. Ela a beija, gentil e lentamente, com tudo o que ela é e tudo o que
elas têm, e muito mais.

Só um pouco mais.

~•~

James não sabe por que ele continua fazendo isso.

Bem, não, tudo bem, ele sabe por quê; porque ele não pode evitar, porque
ele é patético, porque dói e ele gosta que doa de alguma forma doente e
distorcida, e porque ele está carente e desesperado e caindo aos pedaços e tão
fodidamente atraído por Regulus todas as vezes; por causa dos olhos de Regulus,
e por causa do fio de adaga de suas palavras, pressionando a garganta de
James, frio com ameaça, sempre pressionando mais forte do jeito que ele
gosta, e porque Regulus é tão irresistivelmente emocionante que não há nada que
pareça melhor e pior do que simplesmente tê-lo, quase.

No momento, James está sempre superado, preso nisso, completamente


perdido por todas e quaisquer coisas de Regulus; como ele soa, sente e tem
gosto. Não é diferente de James passar dez anos incapaz de ignorar Regulus;
se alguma coisa, é a versão extrema dele. Assim, James se sente incapaz
de respirar sem Regulus, como se sua pele e cada beijo fosse mais vital para ele
do que oxigênio. James não está pensando, aqui, sua mente completamente
vazia de tudo que não é o jeito que Regulus geme seu nome, seu corpo

531
CRIMSON RIVERS

inconsciente de qualquer sensação além da forma como Regulus


desesperadamente o agarra, suas emoções dominadas pela implacável batida
de prazer que sacode seus ossos e apaga o mundo ao seu redor até que sejam
apenas eles e apenas isso.

E então acaba.

Essa é a tragédia disso. Que isso acabe. Que isso tenha que acabar.

James fez muito sexo em seu tempo, certo? Ele fez, e a maior parte não foi
realmente com Regulus, mas nada ou ninguém desmontou James e o montou
novamente do jeito que Regulus faz. Toda vez, algo dentro dele sobe pelos
degraus de suas costelas como uma escada para alcançar e bater em seu
coração, buscando entrada apenas para avisá-lo sobre a inevitabilidade de ser
dilacerado novamente, porque ele será. Porque ele sempre é, de novo e de
novo, sem falhar.

O pior é que ele deixa acontecer. Ele volta a isso a cada vez. Ele quer, não
se cansa disso, não sabe como ficar longe. James queria que ele pudesse ficar
com raiva de Regulus por isso, e ele está, mas ele também está ciente de que
Regulus não é o único culpado.

"Espere, James, apenas—espere, por favor," Regulus deixa escapar no


momento em que James começa a rolar para longe dele depois que ambos
voltaram a vestir as calças, sua voz aguda e desesperada, olhos um pouco
selvagens. Ele está sempre um pouco mais desnudo depois do sexo,
vulnerável, menos escudos depois que James os desmantela, lentamente. Ele
saboreia cada segundo disso, vendo Regulus se entregar a isso, a pura nudez
de confiança e desejo misturados na maneira como eles fazem isso. Não há
nada de casual nisso, entre eles. Eles são demais para que seja outra coisa que
não seja ardentemente importante todas as vezes.

"Claramente, conversar com você não vai me levar a lugar nenhum a não
ser—bem aqui," James murmura, incapaz de manter o tom amargo de sua
voz, puramente porque não há nenhum outro lugar neste mundo que ele
gostaria de estar. "Então, sim, eu vou—"

"James—"

"Me deixe ir. Agora."

532
ZEPPAZARIEL

Regulus o faz, suas mãos caindo frouxas e escorregando, e então ele faz
possivelmente a última coisa que James poderia ter esperado que ele fizesse.
Ele cobre o rosto com as mãos e começa a chorar.

James não pode ver, mas pode ouvir, e é imediatamente a coisa mais
angustiante que ele já ouviu. Ele conhece o som de uma criança se engasgando
com o próprio sangue; ele conhece o som de um respingo quando corpos
atingem um rio reluzente e carmesim. E ainda sim. E, no entanto, é isso que
mais o horroriza—o som de Regulus chorando, porque James o machucou.

James acha que nunca em sua vida machucou Regulus antes, a ponto dele
cair em lágrimas, pelo menos não de propósito. Ele nem sabia que podia. Ele
não sabia que tinha esse poder, e absolutamente nenhuma parte dele o quer.

"Pare," James deixa escapar reflexivamente, genuinamente tão


desprevenido que ele pode sentir as pontas de seus dedos formigando,
dormentes pelo puro choque de tudo isso. "Pare com isso. Espere. Isso não
é—espere, ei, não—por favor, não faça isso. Por favor, não."

Meros momentos atrás, James teria zombado e ficado bravo com a ideia de
Regulus chorando, apenas outra forma de manipulação emocional para fazê-lo
desistir, para fazê-lo ceder, mas isso absolutamente não é isso. Este é Regulus
escondendo o rosto e virando de lado enquanto se enrola como se estivesse
tentando encolher e desaparecer, como se estivesse tentando salvar James da
visão disso, mas ele está longe demais para fazer a distância que levaria para
cobrir isso. Este é Regulus quebrando com força, de repente e de uma só vez,
como se ele estivesse sofrendo algum peso insuportável e inescapável
pressionando-o, e agora ele está finalmente, impotente, cedendo debaixo dele.

James não se sente bem com o fato de ser ele. Que ele é o motivo. Que ele
fez isso. Ele pensou—bem, não, ele nunca pensou que iria gostar de ver
Regulus assim, mas ele nunca parou para pensar que poderia ter uma mão
em fazer Regulus se sentir assim. Ele nunca assumiu que poderia levar Regulus
a esse ponto, certamente não tão rapidamente.

James durou dez anos lidando com Regulus o odiando, sendo cruel e
ignorando ele.

Regulus não durou nem cinco dias.

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CRIMSON RIVERS

"Ok, ei, shh," James sussurra, um pouco irritado, sua voz tensa enquanto
ele volta para a cama e se pressiona cautelosamente atrás de Regulus,
enrolando-se em volta dele, embalando-o.

É devastador, honestamente, testemunhar algo assim sabendo que você é o


responsável por isso, pelo menos em parte, ou apenas na maior parte. James
tem certeza de que são outras coisas também—incluindo voltar para a arena
amanhã, bem como a tensão que existe entre ele e Sirius, e talvez ele sinta falta
de suas flores, e talvez ele só queira ser abraçado, e talvez ele apenas quer ir
para casa. Talvez, como James, ele só queira que tudo isso pare de ser assim, e
talvez, da mesma forma que James, ele queira, desesperadamente, pular nos
rios do tempo para encontrar a poça mais calma para descansar.

Regulus não é necessariamente resistente a que James o toque; é mais que


ele está enrolado em uma bola apertada e encolhido em si mesmo, deixando
muito pouco espaço para tocar. James tenta de qualquer maneira, dobrando-se
atrás dele e deslizando o braço sobre Regulus, serpenteando entre os braços
de Regulus para segurá-lo em seu peito, um peso seguro ao qual Regulus se
ajusta e se envolve quase instantaneamente. Ele se agarra a ele, ao braço de
James, tão rígido e tenso que os soluços trêmulos que escapam dele percorrem
cada centímetro de seu corpo.

James não aguenta. Genuinamente, ele não é feito para merdas como essa.
Toda a sua raiva ficou inutilmente silenciosa, calando a boca como uma
criança castigada com medo de falar novamente. Tudo o que ele é agora
é aflição pura e não adulterada, tudo nele desejando confortar, consertar,
tentar, tentar, tentar.

Demora um pouco para Regulus se acalmar, e mesmo quando o faz, ele


não se desvencilha de onde está. Tudo o que ele faz é fazer esses ruídos
fungando e pequenos engasgos e soluços em seu peito e respirar de onde ele
estava hiperventilando um pouco, todos os quais puxam cada uma das cordas
do coração de James. Em algum momento, ele faz esse tipo de barulho quieto
e agitado e agarra a mão de James para embalá-la entre as suas, dedos
trêmulos enquanto ele traça a pele morena e calos endurecidos e as linhas de
veias salientes. Ele aparentemente reivindicou a mão de James para si mesmo,
e neste momento em particular, James não tem intenção de pegá-la de volta.

"Você pode se virar e olhar para mim?" James murmura.

534
ZEPPAZARIEL

"Não," é a resposta murmurada de Regulus, rouca e petulante.

James suspira e abaixa a cabeça, enfiando o rosto na curva do pescoço de


Regulus. É o lado com a cicatriz, mas isso não o impede de beijá-lo,
gentilmente. Isso lhe rende outra fungada, e Regulus arrasta a mão para beijar
os dedos curvados como se estivessem trocando presentes de ternura.

"Eu não queria fazer você chorar," James admite.

"Tudo o que você está fazendo é me fazer chorar," Regulus retruca, uma
mordida em seu tom, o que não é inesperado, porque ele é ele. Ele não pode
ser empurrado ao ponto de quebrar e ressurgir entre as ruínas sem raiva pelo
que o levou até lá.

James sente seu coração afundar. "Eu estou?"

"Não, James, eu estava me divertindo muito enquanto você estava me


tratando como merda," Regulus retruca, abruptamente soltando a mão de
James e rolando para longe dele. Simples assim, ele está em movimento,
inquieto, uma explosão de energia alimentada pela fúria, e precisa de um lugar
para ir. Talvez seja justo que ele direcione isso diretamente para James. "Sabe
de uma coisa? Você queria conversar, sim? Então, vamos conversar. Levante-se.
Nós estamos conversando."

"Ei, agora—"

"Não, não, você é quem queria fazer isso. Então, vamos fazer isso. Por que
não começamos com o quão hipócrita você é?"

"Eu—com licença?" James solta um som incrédulo de pura descrença e


raiva crescente, porque oh, aí está. Está de volta, assim mesmo, com tanta
facilidade. Regulus não está mais chorando; ele está tão chateado quanto, e
James pode facilmente, sem esforço, igualá-lo nisso. Ele faz exatamente isso,
atirando-se para ficar do lado da cama em frente a Regulus, mandíbula
apertada enquanto olha diretamente para ele. "Você está me chamando de
hipócrita? Eu?!"

"Sim, você," Regulus morde. "Porque você é do tipo que fala comigo sobre
fugir das coisas, mas olhe para você! Como se você estivesse fazendo
diferente, James!"

535
CRIMSON RIVERS

"Eu não estou fugindo de nada," James diz bruscamente. "Você é quem
faz isso, sempre, e você não pode fazer isso."

Regulus solta uma risada aguda e sem humor. "Oh, e por que eu não posso
fugir disso, James? Isso é algo que apenas você pode fazer? O que, você acha
que isso é fácil para mim? Você acha que eu estou tendo o melhor momento
da porra da minha vida aqui?"

"Bem, talvez você devesse ter pensado nisso," James retruca, as narinas
dilatadas. "Talvez você devesse ter pensado todo esse tempo que
passou mentindo para mim—"

"Oh, vai se foder, James," Regulus sibila. "Nós estamos realmente fazendo
isso de novo? Ou me foda sobre isso, de novo, ou cale a boca sobre isso."

"Fazendo isso de novo?! Nós nunca fizemos isso!" James


explode. "Você fez isso! Você fez isso. Você tomou a porra da decisão, e
você mentiu, e você me machucou, e a pior parte—a pior parte—é que você
nem se importa!"

"Sim, eu menti, porque eu sabia que você nunca prometeria não se


voluntariar por mim se eu não prometesse também. Sim, eu te machuquei,
mas eu tinha meus motivos. E não se atreva a dizer que eu não me importo,"
Regulus grita. "Você não pode nem começar a compreender o quanto eu
realmente me importo. E quer saber? Pelo menos eu sei que eu sou um pouco
hipócrita, mas você? Você nem vê, não é?"

James recua incrédulo. "Você está brincando? Claro que eu não vejo,
porque não está lá! Eu sou o único que realmente conseguiu manter sua
maldita promessa!"

"Bom para você, você quer uma estrela dourada?" Regulus rosna,
movendo-se mais para longe da cama, e a cada passo que ele dá, James
combina e segue, um espelho. "Não é disso que eu estou falando. Você é um
hipócrita. Por que nós não falamos sobre os nossos jogos, hm? Por que nós não
fazemos isso, James?"

Há uma longa pausa. James o encara, sua boca se fechando lentamente, as


sobrancelhas se juntando. Seus jogos... Eles nunca falaram sobre os seus
jogos. Nem uma vez.

536
ZEPPAZARIEL

"Oh, claro, eu esqueço que não importa quando é você, certo?


Quando você decide se sacrificar por mim. Quando você é quem faz o que for
preciso para me manter seguro. Quando é você tão perto da morte, contanto
que não seja eu," Regulus lista, e o rosto de James fica frouxo. "Não é mesmo,
James? Está perfeitamente bem para você fazer isso, fazer essa escolha e
nunca me contar, e então planejar morrer de qualquer maneira quando eu fiz o
que eu pude para ter certeza de que isso não aconteceria. Tudo disso está tudo
bem, não é, porque... por quê? Porque é você?"

"Eu—isso não é—" James suga uma respiração áspera, seu rosto se
contorcendo enquanto ele fecha os olhos. Ele estende a mão e passa a mão
pelo cabelo, agarrando-o e puxando de forma irregular, e então ele solta um
som de frustração quando sua mão cai e seus olhos se abrem. "Há algumas
diferenças, não há?"

"Diga uma," Regulus desafia em um silvo baixo, balançando ao redor da


cama ao mesmo tempo que James faz, queixo inclinado para cima enquanto
ele encara James.

"Bem, para começar, eu não menti para você sobre isso," James resmunga,
fazendo uma careta para ele.

"Não, você apenas omitiu essa informação propositalmente até que você
não teve escolha a não ser revelá-la," Regulus corrige bruscamente, e James
engole. "Não há muita diferença entre o que você fez e o que eu fiz, na
verdade. Tente de novo."

"Eu nunca prometi que não faria porra nenhuma."

"Não, mas você propositalmente me levou a acreditar nisso, não é? Você


não acha que eu me lembro, James? Toda vez que eu indicava que estaríamos
lutando, que nós dois estaríamos tentando vencer, você permitia. Você nunca
me corrigiu. Você sabia que eu tinha certeza de que estávamos na mesma
página, e você não queria que eu descobrisse que não estávamos. De novo,
não tão diferente. Tente de novo."

"Dois erros não fazem um acerto," James retruca.

Regulus cantarola. "Não, mas com certeza faz de você um hipócrita, James
Potter. Porque aqui está você, me odiando pela mesma coisa que você fez, ou

537
CRIMSON RIVERS

apenas muito parecida. Jogando contra mim, quando eu não joguei contra
você. E eu—eu entendo, eu entendo que você está com raiva, e você tem
todo o direito de estar, mas eu tenho tanto quanto o direito de estar furioso
com o duplo padrão. Por que está tudo bem para você, James, mas não para
mim? Não é diferente."

"É sim!" James protesta. "É diferente porque eu nunca fiz isso para te
machucar! Eu fiz isso para te salvar!"

"O que diabos você acha que eu estou fazendo?!" Regulus estende os
braços, olhos esbugalhados. "Você acha que eu escolhi fazer isso para te
machucar? É isso? Você está louco, porra? Você realmente acredita que eu
nos arruinei por qualquer outra razão que não porque isso garantiria que você
estaria seguro?!"

"Eu não pedi isso de você!"

"Eu também não!"

"Minhas razões não eram egoístas!" James berra. "Eu nunca fiz isso
pensando que iria te machucar, você não entende?! Porra, eu pensei que você
me odiava, mas você? Você sabia como eu me sentia por você quando você
fez isso! Você tomou uma decisão informada—"

"Oh, vai se foder," Regulus sibila. "Minhas razões não eram diferentes das
suas, e você não pode suportar isso, pode? Você não pode suportar que eu
estou fazendo você se sentir do jeito que você me fez sentir, assim como eu
não suporto você estar me fazendo sentir como eu fiz você se sentir. É assim
que é quando você faz merda com as pessoas, e para as pessoas, e para quê?
Nós nos virando um para o outro como se um de nós estivesse realmente
certo, quando não estamos? Nós dois temos nossas razões, James! O que torna
a sua mais nobre que a minha?"

James faz um barulho áspero no fundo de sua garganta, seu coração


parecendo golpeado, pura fúria correndo em suas veias. "Seu idiota, eu faço
tudo o que eu faço porque eu te amo!"

"Eu também!" Regulus rosna, sua voz elevada, tremendo de fúria e esse
desespero horrível e inescapável que ecoa entre eles, contundente e áspero
como uma facada. James fecha a boca instantaneamente, seu coração

538
ZEPPAZARIEL

machucado dando uma pulsação estranha, o mundo inteiro se moldando ao


seu redor novamente. Diferente agora. Diferente instantaneamente. Diferente,
porque ele não sabia.

O silêncio é pesado.

Amor. Regulus nunca disse isso antes, que ele ama James. Não de forma
direta, não de forma descarada como essa. Ele falou sobre isso, claro, e ele
disse coisas para as Relíquias, mas não é a mesma coisa; isso não é real como
isso é.

Ele não disse as três palavras, mas disse duas palavras que podem ser a
mesma maldita coisa. James não estava ciente de que confissões de amor
poderiam vir de qualquer outra forma, mas eu também tomou a
responsabilidade de provar que ele estava errado.

Não há como confundir o impacto disso, a forma como tudo


simplesmente para, nenhum deles se movendo ou olhando para longe um do
outro. Regulus está congelado, e James não está respirando. Está escrito em
seus rostos; oh, isso significa alguma coisa.

"Eu também," Regulus repete, sua voz mais fraca, a garganta balançando
em um gole áspero. "Minhas razões são tão nobres quanto as suas."

"Você não pode simplesmente—você não pode dizer isso e—e esperar que
isso resolva alguma coisa," James engasga, seus olhos ardendo, algo nele
implorando e implorando para ele deixar ser o remédio para a ferida, algum
parte dele sabendo que é o suficiente.

"James," Regulus diz, e sai lamentoso, um pânico crescente em seus olhos,


tanto arrependimento e remorso em seu rosto que James nunca viu até este
momento—e ele esteve sempre procurando por isso, esperando por isso,
precisando disso.

James quer deixar isso de lado, deixar em paz e não levar adiante, apenas
existir neste momento que altera o mundo, onde o amor está sendo oferecido
a ele como uma oferta de paz. Ele quer tomar isso; ele quer agarrar issocomo
uma tábua de salvação e nunca mais soltar. Ele já pode sentir isso,
desgastando-o, enfraquecendo-o. É tão bom, pra caralho; é o que ele queria
por tanto, tanto tempo. No entanto, ele tem que lutar contra isso, porque

539
CRIMSON RIVERS

não pode ser tão fácil. "Eu não fiz uma promessa sabendo que iria quebrá-la.
Eu estava naquele palco e eu quase morri no momento em que eu ouvi o seu
nome pela terceira vez, assim como eu fiz nas vezes anteriores, e precisou
de tudo em mim, todo o amor e respeito que eu tenho por você e
para não machucar você ao me voluntariar por você. Isso me matou, e eu ainda
não fiz isso com você. É porque eu te amo que eu nunca teria feito isso com
você."

"É porque eu te amo que eu tive que fazer," Regulus sussurra. Ele balança
a cabeça. "Você não entende? Porque é verdade. Oh, oh, porra, você não
pode nem começar a imaginar o quão verdadeiro é. Eu te amo. Eu te amo
tanto, James. Eu te amei desde que que conheci você, e eu te amei esse tempo
todo. Eu ainda amo. Eu—"

"Pare com isso. Pare, Regulus, apenas—" James engasga, sentindo aquelas
palavras rastejarem dentro dele e invadir cada célula de seu corpo. É a
primeira vez que James fala seu nome desde que ele disse que o odiava. Isso
quebra em sua boca não diferente de como Regulus quebrou sua promessa,
tão condenatório, tão revelador.

"Eu—eu te amo, ok? O que—o que eu deveria fazer? O que eu poderia


fazer diferente do que você fez por mim por amor? Claro que era amor,
James. O que mais poderia ser? O que mais é isso?" Regulus engasga, e porra,
porra, lá vêm as lágrimas de novo. Ele está claramente tentando lutar contra
isso, mas ele não pode falar sem que tudo saia de uma vez, rasgado da
garganta ao umbigo, uma bagunça completa de sangue, lágrimas e amor; amor
desesperado, hediondo, carente. "Você não entende o quanto eu te amo. Eu—
eu faria qualquer coisa por você, qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa
que você precisasse. E você precisava da sua mãe. Você precisava—você—
não, tudo bem, eu precisava que você estivesse seguro, e se—se eu perdesse
você para ter certeza, então—então tudo bem, tudo bem, porque você está
seguro, você está vivo, e eu amo que você esteja, eu te amo, eu te amo
incessantemente, em todos os momentos, e eu sei—eu sei que eu não fiz isso
direito, eu sei que eu não—"

"Regulus," James resmunga.

"Eu te amo, e eu sinto muito. Eu sinto muito que eu ame, porque eu nunca
faço isso direito, mas eu ainda faço. Eu ainda amo você," Regulus continua, e

540
ZEPPAZARIEL

sai como um soluço. "Eu não sinto muito por fazer o que eu tinha que fazer
para que você tivesse tudo o que você precisa, mas eu sinto muito por ter que
mentir para fazer isso. Eu sinto muito por ter te machucado para fazer isso.
Eu sinto muito por nós estarmos aqui agora. Nós deveríamos estar dançando
perto de uma fogueira."

James faz um som abafado, sua visão turva a ponto de usar seus óculos
não o ajudar a ver de qualquer maneira, porque seus olhos estão cheios de
lágrimas para ver qualquer coisa. Ele não tem certeza de quem se move
primeiro de qualquer um deles, mas isso não importa quando parece um
piscar de olhos e uma década se passa antes que eles colidam um com o outro,
abraçando um ao outro. Seus apertos são apertados, grudados, e ambos são
uma confusão de lágrimas e a simples necessidade de estar nos braços um do
outro, tentando desmoronar ao mesmo tempo em que tentam manter um ao
outro.

"Não isso," Regulus engasga. "Nós não merecíamos isso."

E de repente, enquadrado dessa forma, nada disso é diferente. Porque


Sirius estava certo; não há como isso ter ido onde não teria ido para a merda.
Porque Regulus estava certo; não importa o que alguém fizesse, todos
terminariam bem aqui, presos nisso, presos em circunstâncias terríveis que
nenhum deles jamais mereceu. Porque, além de todas as promessas e mentiras
e as diferentes formas que o amor pode assumir, nenhum deles é
verdadeiramente culpado por nada disso, e cada um deles está sofrendo por
isso, juntos, igualmente arruinados pelas mãos cruéis do destino, um estrondo e
uma dispersão de dominós que os deixam perdidos entre os destroços dos
passos que deram após a primeira queda. Mas nenhum deles escolheu isso.

Eles nunca quiseram isso.

Atinge James de uma vez com um horror crescente de que isso é


exatamente o que Riddle queria. Exatamente isso. Quebrá-los ainda mais,
separar as pessoas, arrancar esperança e chances de seus dedos até que estejam
de mãos vazias, deixados com fantasias não realizadas de um futuro que nunca
terão.

Quase um ano atrás exatamente, Regulus disse algo para ele. Foi falado em
um contexto totalmente diferente, e ainda assim é aplicável a todos os

541
CRIMSON RIVERS

aspectos de seu relacionamento, desde o início até agora. Mãos vazias e fantasias
não realizadas; é tudo muito trágico, não é? ele disse.

Foi a primeira vez que ele os chamou de uma grande, grande tragédia. Ele
soube então, de uma forma que James não conseguia entender. Ele sempre
soube. E não é justo. Nunca foi justo. Eles foram uma tragédia em formação
no momento em que Regulus colocou os olhos nele pela primeira vez e corou
quando ele sorriu, quando Regulus jogou uma bola de neve nele em seu
aniversário de quinze anos, antes da última arena e depois dela, de pé em uma
cozinha e ousando tentar, e aqui, agora, quebrando os braços um do outro
com uma distância empurrada entre eles que nenhum dos dois queria.

Ele não queria isso, pensa James, tremendo como se a costura de si mesmo
estivesse se abrindo, estufada e transbordando. Ele não queria isso, não mais do
que eu.

É com um nó doentio no estômago de James que ele percebe que está


perdendo tempo. E sim, Sirius disse isso. Sirius tentou dizer a ele. Mas era tão
difícil olhar além de toda a dor e raiva para ver a realidade cruel da qual ele
queria desesperadamente escapar. Não há escapatória, e ele não pode fugir.
Todos eles cometeram erros e machucaram uns aos outros; estão todos
fazendo o melhor que podem com o que têm, com o que lhes é imposto, com
as exigências de seu amor que têm de responder. A horrível e feia verdade é
que nenhum deles—inclusive Regulus—jamais quis, ou mereceu, ser colocado
nessa posição.

Eles deveriam estar dançando perto de uma fogueira, e aqui estão eles de
qualquer maneira, tentando encontrar uma maneira de viver com o amor que
os trouxe até aqui, exceto que não é culpa do amor. Regulus respondeu. Não
diferente do que James fez na primeira vez quando eles entraram na arena
juntos, ele respondeu à ameaça com a mão orientadora do amor, um gancho o
arrastando, um gancho que perfura os dois. Juntos, eles sangram. Nenhum
deles quer.

Todo esse tempo que James poderia ter gasto tentando remendá-los e
estancar o fluxo sanguíneo, ele gastou encontrando novos lugares para abrir.
Ele poderia estar segurando ele. Ele poderia tê-lo confortado, porque não
importa o que eles façam, Regulus está voltando para aquela arena, e ele deve
estar com medo. James poderia ter passado esse tempo amando ele.

542
ZEPPAZARIEL

Ele fez isso, essa é a coisa. Ele fez isso. James descobre que seu ódio não é
e nunca foi realmente ódio. Mesmo isso, mesmo assim, é amor. Ele não sabia
que o amor podia cortar, mas pode, e corta, e ele também sente muito. É fácil
rotular o amor como ódio quando se quer que seu amor seja sempre gentil e
indolor, mas a horrível realidade é que James, como todo mundo, é humano.
Ele é humano, e seu amor pode causar dor da mesma forma que o de
Regulus.

Porque isso também é amor. Sempre foi, não foi? Regulus disse isso, mas
James está percebendo agora, entendendo aqui do outro lado. Regulus o
odiava e nunca o odiou de verdade. Regulus sempre o amou. Regulus ainda o
ama.

"Oh, oh, não. Não, não, não," James canta em um gemido quebrado e
desesperado sob o peso de seus arrependimentos, se afastando de Regulus e
continuamente se movendo para trás como se ele pudesse fisicamente viajar
de volta por todo o tempo que ele desperdiçou e obter uma segunda chance.
Tempo—ele luta muito com o tempo. Realmente não entende mais. Olhando
para Regulus agora, ele tem certeza de que este é o primeiro minuto que eles
se conhecem, e ao mesmo tempo convencido de que eles estão apaixonados
há sessenta anos. "Eu estou—oh, porra, me desculpe. Eu—merda, merda, eu
só—eu desperdicei todo esse tempo—"

"Não faça isso," Regulus interrompe instantaneamente, seus olhos se


tornando gentis, o rosto suavizando. "Por favor, não faça isso, James. Não se
culpe por sentir."

"Reg," James sussurra, "Eu sinto muito."

"Eu não estou com raiva," Regulus murmura. "Eu nunca estive, realmente.
Você tem todo o direito de ficar chateado comigo por mentir para você. Isso
foi errado—e por isso, eu sinto muito."

"Obrigado," James resmunga. "Eu sinto muito que você tenha sido
colocado em uma posição em que se sentiu forçado a mentir para mim. Eu
sinto muito que qualquer um de nós seja forçado a isso."

"Isso não é culpa sua. É de Riddle," Regulus afirma sem rodeios, seus
olhos brilhando, brilhando com raiva verdadeira. Nada como a raiva entre
eles; isso é frio e calculista, algo que não vai passar, algo que não pode ser

543
CRIMSON RIVERS

mudado. "Você vê por que eu—eu fiz o que fiz na minha entrevista? Para ele?
Não para você, mas para arruinar ele ainda mais. Porque ele fez isso conosco."

"Eu entendo. Eu vejo," James admite, porque ele entende. Na esteira de


sua fúria e com a devida explicação, ele até acha muito atraente, na verdade.
Ajuda tanto quanto dói que Regulus não estava realmente mentindo. Ele se
casaria com James, se pudesse. Ele quer. Ele não estava mentindo sobre isso,
e isso importa mais para James do que qualquer outra coisa.

"Você ainda acha que me odeia?" Regulus pergunta.

James podia rir, honestamente. Ele realmente ri, um pouco, porque


é claro que Regulus—o merdinha teimoso e exigente que ele é—vai insistir que
James apenas pensou que era ódio, quando na verdade não era, e bem, ele
saberia, não é? Ele fez isso primeiro. E, o fato é que James não pensa mais
nisso. Ele sabe o que era esse sentimento agora, o que ele confundiu com ódio
era apenas um amor desesperado, agudo, porque ele ama Regulus tanto, tanto,
e ele não quer que isso aconteça com nenhum deles, nenhum deles.

"Não, eu não acho que eu te odeio mais," James sussurra.

"Você ainda está com raiva de mim?" Regulus sussurra de volta.

"Eu não sei," James confessa. Não é tão simples assim. Ainda há essa coisa
rosnando bem no centro de seu peito toda vez que ele olha para Regulus, e ele
não sabe se é essa proteção profundamente enraizada exigindo que ele proteja
Regulus de mais dor, ou raiva que Regulus mentiu para ele—não importa suas
razões—e ajudou a colocá-lo nesta posição onde ele vai perder um, se não
dois, daqueles que ele mais ama neste mundo. Talvez seja os dois.
Provavelmente são os dois.

Regulus o estuda por um longo momento, e então ele solta uma respiração
profunda enquanto seus ombros caem como se toda a luta tivesse saído dele
de uma vez. Ele se move para frente e estende a mão para embalar o rosto de
James, puxando-o um pouco para baixo e se inclinando para pressionar sua
testa na têmpora de James, esbarrando em seus óculos e cutucando a
bochecha de James com o nariz. Os olhos de James se fecham quando o
rosnado em seu peito diminui, e ele desliza os braços ao redor de Regulus para
puxá-lo para mais perto.

544
ZEPPAZARIEL

"Tudo bem," Regulus respira, sua voz um pouco trêmula, as palavras


escapando dele trêmulas e assustadas. "Você não precisa saber. Você não
precisa ser nada além de você."

"Eu tenho que deixar pra lá," James murmura. "Está atrapalhando."

"James," Regulus diz suavemente.

"Eu não me sinto mais uma boa pessoa," James diz a ele, sua voz falhando.
"Eu não—eu não sou—"

"Você é," Regulus interrompe ferozmente, puxando para trás para segurar
seu olhar. "Você é uma boa pessoa. Você é a melhor pessoa que este mundo
já conheceu, e isso não significa que você não pode ficar com raiva, ou
cometer erros, ou fazer as coisas erradas. Você pode, e isso não significa que
tira o quão bom você é. Você é tão bom, amor."

James não está preparado para o quão forte essas palavras o atingiram,
quão profundo elas atingem dentro dele, quão boas elas podem ser quando
nada mais parece bom. Ele não tem certeza de qual é o som que sai de sua
boca, mas ele o abafa de qualquer maneira, avançando para beijar Regulus.

Naturalmente, previsivelmente, Regulus começa a derreter.

"Eu te amo. Eu te amo tanto," James engasga, estendendo a mão para


segurar a bochecha de Regulus e dar beijos fervorosos e desesperados na
outra. "Eu sinto muito, amor. Eu sinto muito que isso esteja acontecendo. Eu
sinto muito. Eu te amo pra caralho."

"Shh, você pode me perdoar amanhã, antes de eu ir," Regulus diz a ele,
puxando-o para a cama.

"Eu te perdôo agora. Eu te perdôo, Reg."

"Então se perdoe também."

"Eu preciso do seu perdão primeiro por isso," James declara sem rodeios.

O rosto de Regulus suaviza novamente. "Você tem. Você sempre teve."

545
CRIMSON RIVERS

"Ok. Ok, tudo bem," James exala, rastejando na cama e chamando Regulus
para segui-lo, e Regulus o faz. James se sente melhor do que estava preparado,
porque não apenas se recusa a deixar Riddle vencer da maneira que importa,
mas também alivia tanto a raiva em James que ele pode respirar novamente.
Ele ainda está com raiva, apenas de todas as coisas que ele sente que deveria
estar com raiva. Ficar com raiva de Regulus dói. Dói em ambos, e ele não quer
mais fazer isso; ele não está mais fazendo isso.

"James," Regulus murmura, uma vez que eles estão deitados enrolados na
cama, de frente um para o outro com suas mãos entrelaçadas frouxamente
entre eles, "Há algo que eu preciso que você saiba."

"O que?" James pergunta baixinho.

"Tudo que eu fizer nessa arena," Regulus sussurra, segurando seu olhar, "É
por você."

"Eu não vou julgar você por como você sobrevive lá, amor," James o
assegura. Regulus engole e fecha os olhos. "Você—eu sei que você não quer
ouvir, mas você tem que fazer as pazes com Sirius. Você tem que—"

"Shh, não, não vamos falar sobre nada disso." Os olhos de Regulus se
abrem, e ele legitimamente coloca um dedo sobre os lábios de James para
calá-lo. James apenas resiste a lambê-lo. "Não agora, não esta noite, não aqui.
Nós podemos—eu vou explicar mais amanhã, certo? Mas, por enquanto, isso
pode ser apenas nós? Por favor?"

"Sim, tudo bem," James concorda gentilmente.

"James?"

"Hum?"

"Você se casaria comigo?" Regulus diz suavemente, apenas olhando para


ele, seu cabelo espalhado ao redor de sua cabeça e rosto em ondas, olhos fixos
nele. Ele não se parece com alguém que acabou de fazer essa pergunta; não há
aviso para isso, apenas um simples desejo de ter uma resposta. Não você quer se
casar comigo, porque James não pode, mas você se casaria comigo, se pudesse? Então
e agora, antes de tudo e depois, durante e sempre—ele se casaria?

"Sim," James sussurra.


546
ZEPPAZARIEL

Os lábios de Regulus se curvam, e então eles continuam se curvando, e


então eles se curvam fora de controle até que um sorriso largo e radiante
aparece em seu rosto como uma flor da coisa mais linda que James já viu. Ele
está sorrindo. É um sorriso bobo, um de prazer e a alegria mais doce com a
qual James já foi atingido. O rosto de Regulus cora, satisfeito e confuso como
se ele ainda fosse um garoto apaixonado, olhos iluminados enquanto ele
respira fundo e o segura. Ele parece querer gritar, mas no bom sentido; ele
parece com o que James sente só de olhar para ele, tão apaixonado que está
brilhando de dentro para fora.

James solta uma risada impotente e atordoada de puro assombro, a


adrenalina se espalhando para ele também, apesar do fato de que é a última
noite e tudo vai desmoronar amanhã. E, no entanto, de alguma forma, isso
realmente não importa agora, assim, quando a felicidade pode crescer mesmo
nas condições mais adversas, quando existe entre eles tão descaradamente
com algo tão simples quanto uma possibilidade que eles podem nunca ter.

A vertigem e a excitação palpáveis de Regulus não diminuem. Se alguma


coisa, só fica mais forte até que ele está quase freneticamente no espaço entre
eles para beijar James ansiosamente, sinceramente, totalmente sem fôlego e
feliz. Tão feliz.

Neste momento, não há espaço para tragédia entre eles.

547
CRIMSON RIVERS

47
O LABIRINTO

Eles vêm nos primeiros cantos da manhã, antes que alguém acorde, antes
que os servos sejam liberados para retornar aos seus deveres, antes mesmo do
sol nascer.

Não há aviso. Não é manuseado com delicadeza. A porta se abre, e uma


equipe de Aurores entra, entrando nos quartos e marchando Sirius e Regulus
para fora com armas apontadas para eles. James e Pandora não lidam bem
com isso, mas as armas são apontadas para eles também, mantendo-os lá, não
deixando que os sigam.

É uma confusão de gritos e tentativas desesperadas de segurar um ao


outro, súplicas e brigas, e depois nada. Apenas nada, porque a porta se fecha,
Sirius e Regulus são levados, e James e Pandora ficam sozinhos.

Ninguém chegou a dizer adeus.

~•~

Quando Remus entra na suíte, ele sabe imediatamente que algo está errado,
mesmo quando ele cautelosamente tira sua máscara. Pandora está sentada na

548
ZEPPAZARIEL

sala principal ao lado de James, seu rosto inchado de onde ela claramente
chorou. James está com a cabeça entre as mãos, mas ele a levanta e olha para
Remus, sua expressão fraturada. E, simples assim, Remus sabe.

"Ele se foi, não é?" Remus sussurra.

"Eu sinto muito, Remus," James diz, segurando sua bengala e se


levantando. Lentamente, mancando mais pronunciado do que o normal, ele
vai até Remus até parar na frente dele e manter seu olhar. Engolindo em seco,
ele estende o braço livre para puxar Remus contra ele, mais baixo que ele, mas
não muito. É fácil enfiar o rosto no ombro de James e esconder a forma
como ele se contorce enquanto seus olhos ardem e a dor entope sua garganta.
"Eu sinto muito."

Remus fica muito quieto até ter certeza de que será capaz de respirar sem
chorar, e então ele envolve seus braços ao redor de James—solidariedade,
talvez? Amizade? Conforto, dar e receber? Talvez tudo isso. "Os dois, eu
estou supondo."

"Sim," James murmura, limpando a garganta enquanto eles se separam. Ele


aperta o ombro de Remus. "Eles só—os Aurores chegaram cerca de uma hora
atrás, os arrastaram para fora e os levaram embora. Nós lutamos e—e
tentamos, mas—"

"Eles não estão deixando nem você dizer adeus?" Remus sibila, totalmente
furioso. "Você é o mentor deles!"

James pisca com força, engolindo em seco. "Eu sei, mas—eles disseram
que não desta vez. Eu nem mesmo—Regulus e eu nem estávamos acordados
quando eles entraram. Não houve aviso. Eles apenas—"

"O que eles vão fazer?" Remus dispara. "Segurá-los o dia todo até os jogos
começarem? Sozinhos?"

"Sim," diz Pandora, então imediatamente começa a chorar.

"É por causa das entrevistas, nós achamos," James diz a ele, olhando
cansado para Pandora, seus ombros caindo. "Eu peguei o elevador para ver se
foi o mesmo com Frank, e foi. Todos os tributos se foram, Remus. É—um
castigo."

549
CRIMSON RIVERS

"Ele—ele disse alguma coisa? Sirius, quero dizer?" Remus pergunta.

"Er, ele estava um pouco ocupado gritando sobre ser acordado. Ele cuspiu
em um dos Aurores," James admite timidamente, e Remus solta uma risada
fraca. "Mas hum... não, não havia realmente tempo para nada ser dito. Nem
de Sirius ou Regulus."

"Eu vou—" Remus para, inala, exala. Ele leva um segundo, olha para
James e Pandora, então força a tensão para fora de seu corpo. "Ok, isso é o
que vai acontecer. No primeiro dia dos jogos, todo mundo assiste sem ir a
lugar nenhum, então estaremos todos aqui juntos para isso. Amanhã, James,
você terá que lidar com os deveres de mentor e tal. Mas, por hoje, todos nós
vamos entrar naquela cozinha e colocar algo em nossos estômagos antes de
assistirmos."

"Sim," James concorda com firmeza, agarrando o braço de Remus e se


apoiando nele enquanto caminham em direção à cozinha. "Eu vou fazer chá
para você. Sirius me disse como você gosta. A menos que você queira café?
Podemos tomar café, se você quiser. Pandora, vamos lá, vamos tomar café da
manhã. Levante-se."

Pandora fica de pé miseravelmente, fungando, mas segue obedientemente.


Remus vai no ritmo de James, dando cada passo medido com o mesmo
desafio e resiliência que ele dá todos os dias, um de cada vez. Sirius e Regulus
não estão aqui, ninguém conseguiu se despedir adequadamente, mas
desmoronar sob o peso disso não ajuda nenhum deles.

"Chá é bom," Remus diz suavemente, e então, é isso que eles fazem.

~•~

O tempo passa devagar.

Isso é irônico, pensa Regulus, porque não passou da última vez. Apenas no
ano passado, na preparação para a arena, tudo parecia um borrão após a
espera inicial. No momento em que eles saíram da suíte, tudo acelerou; e ele
estava lá, abraçando o seu irmão, não querendo soltá-lo; e ele estava lá,
arrastado pelo processo sem saber o que estava por vir; e ele estava lá, vendo
Gideon ser assassinado diante de seus olhos, o primeiro assassinato que
testemunharia pessoalmente, no mesmo dia em que terminaria a noite com o

550
ZEPPAZARIEL

seu primeiro assassinato; e então ele estava lá, subindo em uma plataforma
para a arena, apertando os olhos contra o sol, ouvindo a contagem regressiva
para o primeiro canhão que sinalizaria a mudança de tudo.

Desta vez, ele fica com um rastreador no braço e uma sala silenciosa e fria.
Sem um banho matinal para se preparar para a sujeira que certamente o
espera. Faminto pela falta de café da manhã, deveria ter sido concedido como
um gesto de uma última refeição. Apenas a presença constante de
desconforto, de espera, tempo se arrastando.

Não tem nada a ver com a roupa que ele teve que trocar. Bem, não, tem.
Não ter casaco, pelo menos, diz a ele que provavelmente não estará frio, mas
isso faz muito pouco para tranquilizá-lo. Ele está apenas com uma camisa
preta e calças pretas projetadas especificamente para atividades, fáceis de
mover, leves e duráveis. Seus braços ficam nus, revelando suas cicatrizes, o
que—bem, por um lado, o deixa desconfortável, porque ele está sempre em
mangas compridas, mas por outro lado, ele fica intrigado com a ideia de que
ver suas cicatrizes vai enfurecer ainda mais as Relíquias, pois o lembrete de
como ele as conseguiu e como é injusto que ele possa estar recebendo mais
não pode ser ignorado com elas em exibição.

Regulus percebe isso sentado ali, sem se mexer ou fazer nada, apenas
respirando; ele não está com medo desta vez.

Nem um pouco.

Ele olha para o tubo fechado ao redor da plataforma e espera no assento


desconfortável, as mãos entrelaçadas, pronto. Oh, ele está tão pronto.
Possivelmente mais pronto para isso do que qualquer outra coisa em toda a
sua vida.

Não pode haver qualquer hesitação, qualquer vacilação,


qualquer preocupação. Não pode haver nada além de entrar e fazer o que ele
precisa. Não pode haver um momento em que ele olhe para Sirius e—

Regulus fecha os olhos, exalando lentamente, tentando se livrar da onda de


emoção que ele não deixou irromper desde a colheita, desde que Sirius se
ofereceu novamente. Ele desliga e pensa, em vez disso, na maneira gentil
como James traçou sua pele na noite passada. Como James escovou o cabelo
de Regulus para trás e escaneou seu rosto com calma, com cuidado,

551
CRIMSON RIVERS

observando-o como se ele tivesse todo o tempo do mundo e fosse gastá-lo


fazendo exatamente isso.

Depois de todas as brigas, toda a dor e tristeza e medo, eles se tocaram


com tanta reverência e amor, sorrindo em beijos e sussurrando palavras doces
na pele um do outro, deixando o tempo escapar deles como as brasas de um
cigarro à meia-noite. Cinza, cinza, cinza. Eles arderam, e então esfriaram, e
então se estabeleceram ali, juntos, esperando que o vento entrasse e os levasse
para longe.

Levou.

~•~

Sirius, se você acreditar, está entediado pra caralho.

Com o tempo, a raiva de ser arrastado cedo demais sob a mira de uma
arma e a frustração de não conseguir se despedir adequadamente de Remus
desapareceram. Ele ficou triste, ansioso e simplesmente derrotado. Ele tinha
planejado beijar a máscara de Remus uma última vez, e beijar Remus também.
Tudo o que ele queria era beijar Remus pelo menos mais uma vez. Isso é tudo
o que ele sempre quer fazer, na verdade.

Ele andou em círculos sobre o que está por vir e o que ele vai ter que fazer,
novamente, literalmente passando horas apenas andando inquieto pela sala.

Ele perdeu momentos, pensando tanto e tanto que se cansa, e então pisca e
se vê estacionado na cadeira, sem se lembrar de quando se sentou. Isso o
preocupa, francamente. Isso é algo que não acontece com muita frequência, a
menos em situações muito estressantes que sua mente simplesmente não
consegue lidar, e a arena certamente representará muitas delas, mas ele não
pode se dar ao luxo de desassociar. Ele tem que estar presente; ele tem que
ficar aqui, por Regulus, ele tem que ficar.

Felizmente, Sirius nunca desassociou em uma briga. Quando James o


atacava, ou quando Regulus o atacava nos estágios iniciais logo após seus
jogos, Sirius permanecia firmemente plantado em si mesmo, talvez ainda mais
preso ali pela onda de adrenalina e instinto de sobrevivência que afastava

552
ZEPPAZARIEL

qualquer possibilidade de fuga. Ele fica aqui quando não há mais para onde ir,
e na arena, é apenas a arena. Não é nada além de adrenalina e instintos de
sobrevivência. Ele vai fazer o que tem que fazer. Ele vai. Não diferente do
que ele fez na colheita, reflexivamente.

O tédio é o que atinge Sirius, no final. Ele é deixado em uma sala sozinho
com literalmente nada além de si mesmo, um tubo fechado envolvendo uma
plataforma e uma cadeira de aço fria. Em um ponto, ele está apenas sentado
lá, girando os polegares e saltando uma perna inquieto, cheio de toda essa
antecipação acumulada que o deixa se sentindo fundamentalmente preso sem
nada ou ninguém para concentrar sua energia. Ele passa pelo menos uma hora
fazendo alguma manutenção de cutícula e refazendo seu cabelo repetidamente
até o ponto em que seu cabelo provavelmente está cansado dele.

É por isso que ele não pode ser culpado quando, finalmente, seu nome é
chamado e o tubo se abre, e a primeira coisa que ele faz é se levantar com um
suspiro profundo de alívio. Talvez isso pareça horrível, mas honestamente? O
suspense estava acabando com ele; não era um bom tipo de suspense que
Sirius associava com as carícias leves de Remus, mas sim esse medo pesado se
instalando em seus ossos. Ele só quer acabar com isso. Ele só quer que seja
feito.

Ele queria que isso nunca tivesse acontecido.

Não é até Sirius subir na plataforma que a realidade disso começa a se


encaixar. Ele pensa em como é ter os dedos de Remus em seu cabelo, a boca
de Remus roçando a curva de sua garganta, os braços de Remus envolto em
torno dele; ele pensa em tudo deles, na escada em espiral e no balanço da
varanda sob a lua e as estrelas.

Por um segundo, Sirius fecha os olhos, e ele se permite inventar uma


pequena fantasia melancólica de ter tudo isso em vez disso, e então ele é
esbofeteado com toda a força de sua realidade pelo estalo distante e abafado
de um tiro de algum lugar dentro do edifício, seguido muito rapidamente por
outro.

Os olhos de Sirius se abrem.

Há um silvo e um estalo do tubo se fechando novamente, e então a


plataforma começa a subir. Ele inclina a cabeça para cima para ver a abertura

553
CRIMSON RIVERS

circular ceder enquanto ele sobe, piscando lentamente quando não consegue
ver a luz do sol do outro lado. O único indicador, a princípio, de que ele está
se movendo para um ambiente totalmente diferente é a rápida mudança no ar,
passando de frio e quase metálico em baixo, para quente e um pouco rançoso
em cima. Quando ele é levantado, ele pode sentir o quão abafado e úmido
está, e ainda está bastante escuro, mesmo quando a plataforma para.

Com o coração acelerado, Sirius gira a cabeça automaticamente para


procurar Regulus, apenas para ver paredes fechadas de gramas grossas e
crescidas de cada lado dele. Ele estica a cabeça para cima, os olhos se
estreitando em fendas. O topo é obscenamente alto, a ponto de ele não conseguir
sair daqui, embora ele tenha uma ideia geral.

É uma massa rosnante de verde e marrom; um emaranhado de raízes e


folhas; galhos e folhagens tão compactos e impenetráveis que ele nem
consegue ver através deles. Isso significa que Sirius não pode ver quem está
do outro lado dele, se é que alguém está. Isso significa que Sirius não tem a
menor ideia de qual é a posição inicial de Regulus, ou de qualquer outra
pessoa. Ótimo. Simplesmente ótimo.

O céu é visível, mas parece algo de outro mundo, algo totalmente fora de
alcance. É um grande cobertor azul com um tom brilhante de sol nele,
grandes números exibidos em contagem regressiva junto com uma voz
ecoando no tempo com ele.

26, 25, 24...

A luz do sol não os alcança aqui embaixo, projetando-se nas grandes


sombras das paredes da cerca viva, deixadas para uma escuridão turva que
parece adequada de alguma forma, como o subterrâneo feio onde criaturas
habitam apodrecem. Aqui estão eles, nada mais do que os monstros em que
foram transformados e, finalmente, depois de todo esse tempo, há um lugar
que reflete isso. Há algum tipo de ironia cruel que ele encontraria isso na
arena. É claro. Onde mais? Onde mais além do lugar em que eles foram
criados?

17, 16, 15...

Na frente dele, Sirius pode ver uma longa e escura passagem bem à frente.
Se ele apertar os olhos, ele pode ver a abertura no final, como se o corredor

554
ZEPPAZARIEL

de vegetação o levasse a algum lugar. Ele apostaria muito no fato de que são
as armas e suprimentos, dependendo do layout. Se é o que ele pensa que é...

9, 8, 7...

Um labirinto. A porra. De um. Labirinto. Sirius riria pra caralho se ele


tivesse ar suficiente em seus pulmões para fazer isso. Oh, Minerva
McGonagall. Aquela mulher. Bastante comediante, ele pensa. Muito no ponto,
honestamente, jogando eles em um labirinto como um bando de ratos de
laboratório, todos tentando encontrar a saída; ela é
fodidamente hilária. Mesmo que ela não saiba, mesmo que ela esteja fazendo
isso inconscientemente, não há como negar o fato de que isso é exatamente o
que os tributos são todos os anos—os estúpidos ratos de laboratório das
Relíquias, sendo jogados para sua diversão mórbida, amarrados e levados a
extremos desesperados pela promessa de queijo.

3, 2, 1...

Assim que o canhão soa, Sirius desce da plataforma e se esgueira até a


cerca viva à sua esquerda, fechando os olhos e forçando os ouvidos a escutar.
Ele pode ouvir, fracamente, o som de pés batendo contra o chão.

Merda.

Sem um segundo de hesitação, Sirius gira em seus calcanhares e sai


correndo pela passagem à sua frente, porque se ele sabe de uma coisa com
certeza, é que haverá uma maldita briga esperando do outro lado dessa
abertura no final—uma em que Regulus também será pego.

Bem no final da passagem, há uma bolsa na beirada que Sirius pega


enquanto corre, sem nem mesmo parar para pensar nisso enquanto faz, sem
se perguntar por que está ali, ou o que significa. Ele atravessa o amplo espaço
aberto onde as pessoas estão saindo de suas próprias passagens ao redor, e
então ele imediatamente colide com alguém com tanta força que ele e quem
quer que seja caem no chão.

Sirius rola com o movimento, fácil e ágil, largando a bolsa e se preparando


enquanto sua cabeça se levanta para ver em quem ele acertou. Ele pisca para
encontrar Narcissa espelhando exatamente sua posição, embora ela não tenha

555
CRIMSON RIVERS

uma bolsa. Por um longo e tenso momento, nenhum dos dois se move ou faz
nada, e então, devagar e com muito cuidado, eles se levantam, olhares fixos.

"Cissy," Sirius diz, seu tom cortante.

"Sirius," Narcissa murmura, lançando seu olhar sobre ele, avaliando.


Depois de um instante, ela deixa cair a mão em seu estômago e arqueia uma
sobrancelha para ele. "Vamos lá, com certeza você não faria mal a mim e ao
pequeno Draco, faria?"

"Eu vou te dar uma chance de correr," Sirius diz a ela, ainda segurando o
olhar, "E levar o pequeno Draco com você."

Narcissa abre um sorriso, bufa uma risada, então não hesita em se virar
e correr. Sirius a observa ir por cerca de cinco segundos, então balança a cabeça
e pega sua bolsa para se virar e examinar os arredores.

"Andy, isso foi para você, à propósito," Sirius murmura baixinho, olhando
ao redor enquanto ele observa o caos se espalhando pela área.

É como uma parte aberta de um labirinto, um grande quadrado com armas


espalhadas por toda parte. Há muito menos bolsas, talvez cinco que ele possa
ver ao todo, o que lhe diz que este é principalmente um local de
armazenamento de armamento. Sirius pode ver pelo menos duas ou três
lanças diferentes saindo do chão, todas muito tentadoras, mas não tão
tentadoras quanto encontrar seu irmão. Ao redor, existem inúmeras aberturas
para correr, para mergulhar ainda mais no labirinto. Quando Sirius espia, a
que ele acabou de fugir já está se fechando em uma parede verde-escura.

Para onde quer que Sirius olhe, as pessoas estão correndo, algumas que ele
reconhece enquanto correm ao redor, e algumas que ele nem consegue
distinguir com a luz fraca. Todo mundo está tentando pegar as armas antes
que alguém possa pegar uma e atacar, aproveitando ao máximo os segundos
que leva para se preparar.

O som de um canhão, seguido rapidamente por um segundo, parece fazer


todo mundo parar. Tudo meio que—para. Duas mortes já, tão cedo, e todos
eles parecem um pouco atordoados com isso, um silêncio sinistro pairando
sobre tudo e todos, e Sirius entende. Houve esse sentimento subjacente de
camaradagem entre todos, nenhum deles ainda se voltando um contra o

556
ZEPPAZARIEL

outro, e não se passaram nem dois minutos, então pensar que já houve um
assassinato é apenas... desanimador, honestamente.

Mas, quando a fonte da morte é localizada, Sirius é interrompido por uma


forte sensação de solenidade. É Mavis e Velvet; eles fizeram exatamente como
prometeram que fariam. Eles encontraram armas, encontraram um ao outro e
morreram juntos. Seus corpos estão espalhados no chão, um ao lado do outro,
enrolados na morte como os amantes que foram em vida.

Por um longo momento, talvez meio minuto, ninguém se move. Ninguém


fala. Ninguém faz nada além de olhar. Nenhum Comensal da Morte aproveita
a oportunidade para atacar ninguém, e há apenas esse luto silencioso e
momentâneo e respeito por duas pessoas que se amavam e decidiram, juntas,
que não participariam de um jogo tão cruel e sádico quanto este. Eles saíram
daqui juntos, no controle total de seu próprio destino, e nunca mereceram
nada além de uma longa vida cheia de amor.

E então, inesperadamente, a voz de Regulus soa, quase rosnando. Ele está


se dirigindo ao céu, ao público, às Relíquias em um assobio baixo de escárnio
quando declara, "Quando você os pegou, você os pegou juntos, e você sabe
que a culpa é sua."

No momento em que Sirius localiza Regulus em campo aberto, ele está


correndo a toda velocidade para ele, e isso faz todos voltarem ao movimento.
Sirius bate em alguém, cortando enquanto ele passa—Emmeline, ele pensa—
mas ele não parou, então ele continua. As primeiras mortes iniciais já
passaram e as comportas se abriram. Algumas pessoas estão tomando rotas de
fuga para o labirinto, desinteressadas em começar a luta tão cedo, mas esse
não é o caso de todos eles.

Por um lado, Sirius vê Coen se afastando de Camilla enquanto ela corre


atrás dele com um maldito porrete na mão, os dois entrando no labirinto e
gritando com raiva um para o outro. Por outro lado, Regulus está no meio de
um mergulho para a adaga mais próxima dele quando Henri o derruba no
chão, tentando exatamente a mesma coisa.

Sirius havia puxado sua bolsa enquanto corria, que agora ele usa para
acertar a cabeça de Henri com tanta força que ele voa para o lado, arrancado
de onde estava estrangulando Regulus.

557
CRIMSON RIVERS

Leva menos de dez segundos.

Sirius deixa cair sua bolsa, arrasta Henri de volta e começa a pressionar
impiedosamente sua bota no pescoço de Henri, agarrando seu braço com
força para puxá-lo e pisar em sua garganta ao mesmo tempo. Há
um barulho doentio e o ruído sufocado de Henri se transforma em silêncio
enquanto sua cabeça pende desajeitadamente em seu pescoço quebrado e
esmagado.

O canhão soa.

"Ei, ei, você está bem?" Sirius deixa escapar, soltando o braço de Henri
descuidadamente enquanto se move para o lado de Regulus. Ele se abaixa
para ajudar Regulus a se sentar enquanto ele tosse e toca levemente sua
garganta. "Reggie? Olhe para mim. Me deixe ver se—"

Regulus afasta a mão dele com um bufo e faz uma careta enquanto se
afasta ainda mais e fica de pé. Sirius o segue, contornando o corpo de Henri
para pegar sua bolsa, ainda observando Regulus, examinando-o em busca de
mais ferimentos. Ele parece bem, apenas meio irritado, o que é—justo.

"Eu acabei de salvar sua vida. De novo," Sirius diz incisivamente, arqueando
uma sobrancelha para ele, porque certamente agora Regulus pode ver que o
tratamento silencioso e a frieza são apenas imaturos e não fazem nenhum
favor a nenhum deles na porra da arena entre todos os lugares. "De nada por
isso, à propósito."

Regulus o encara por um instante, com o maxilar cerrado, então ele diz,
numa voz monótona, "Obrigado," e imediatamente dá um soco na cara de
Sirius logo em seguida.

Sirius cambaleia com a força disso, sem ver nada, e ele vai tropeçando para
trás com uma forte maldição de pura descrença, seu rosto já doendo com o
golpe. Ele mal tem a chance de se orientar antes de ver Regulus sacudir o
punho e avançar para bater seu ombro no peito de Sirius enquanto arranca a
bolsa de suas mãos. Sirius bufa, o ar sai dele quando ele atinge o chão,
encontrando os olhos de Regulus com a boca aberta em choque.

Sem uma palavra, Regulus começa a recuar, balançando a bolsa que o


merdinha acabou de roubar de seus ombros e parando o suficiente para pegar a

558
ZEPPAZARIEL

adaga pela qual ele estava lutando em primeiro lugar. E então, fácil assim, ele
se vira e sai correndo sem olhar para trás, mergulhando no labirinto e
apenas—deixando Sirius para trás.

Sirius o encara, genuinamente tão desprevenido que não consegue nem


pensar no que diabos acabou de acontecer, ou por quê. Ele não—ele não
consegue entender. Por que—

"Levante-se, seu idiota!"

Com o assobio afiado e familiar em seu ouvido, Sirius pisca asperamente e


se levanta, ainda desorientado e confuso, mas muito certo que agora não é
hora de focar nisso. Ele se vira e fica cara a cara com Marlene, primeiro vendo
seus olhos inchados e bochechas manchadas de lágrimas, bem como o brilho
feroz neles apesar disso, e depois seu novo corte de cabelo.

Sirius olha para encontrar Marlene já segurando uma espada, então olha ao
redor para ver que o caos se acalmou. A maioria de todos já foi embora,
deixando apenas quatro; aquelas que já são aliadas. Augusta, como Marlene,
tem uma espada na mão. Emmeline tem uma besta e uma aljava de dardos já
colocados em suas costas. Alice aparentemente conseguiu pegar uma bolsa de
suprimentos, e ela segura um facão em uma mão com Augusta espiando por
cima do ombro dela, o que parece incomodá-la, mas ela não diz nada ou olha
para ela por fazer isso.

Sirius é o único de mãos vazias. Encantador.

"Bem, isso é uma merda," anuncia Emmeline, girando em um círculo lento


enquanto examina a área. Está limpa, nada foi deixado para trás; sem
suprimentos ou armas de nenhuma forma.

Não é um lugar para provisões ou qualquer coisa. Não é nem mesmo um


lugar para afirmar nada, francamente, porque é cercado por todos os lados
com aberturas para o labirinto. Agora, é apenas um campo que não oferece
defesa, abrigo ou proteção. Não é à toa que todos foram embora.

Normalmente, há um lugar logo no início que tem uma abundância de


armas e suprimentos, além de abrigo, para as pessoas reivindicarem,
geralmente os Comensais da Morte. Esse só tinha armas, e não o suficiente
para todos, e era muito escasso em suprimentos. Sirius percebe o quão

559
CRIMSON RIVERS

incrivelmente sortudo ele foi por encontrar a bolsa que ele encontrou antes
que seu irmão idiota o derrubasse e a pegasse.

"Bem, diz Augusta secamente, "Certamente poderia ter sido pior. Apenas
três mortos, e dois nem sequer foram realmente mortos."

Como um só, todas elas giram suas cabeças para encarar Sirius, que é
responsável pela primeira morte genuína na arena. Ele bufa e joga as mãos
para cima, porque honestamente, o que elas esperavam que ele fizesse naquela
situação? Henri estava estrangulando Regulus. Claro que Sirius quebrou a
porra do pescoço dele.

"Nós não podemos ficar aqui," Alice diz com firmeza enquanto ela fecha a
bolsa e fica de pé, os olhos correndo ao redor, visivelmente tensos.

"Os Comensais da Morte já fugiram," observa Emmeline. "Qual você acha


que é o plano deles?"

"Eu não sei, por que não perguntamos a Regulus?" Marlene dispara.

A cabeça de Sirius imediatamente vira em direção a ela. "O que isso quer
dizer? Regulus não é um maldito Comensal da Morte."

"Não? Porque ele com certeza parecia se sentir seguro o suficiente


correndo na mesma direção que todos eles," Marlene diz a ele, sua voz afiada
e seus olhos frios. "Você tem um roxo já florescendo que diz que ele não
é seu aliado—ou nosso, por extensão."

"Olha, ele está só—fazendo birra, basicamente," Sirius resmunga, fazendo


uma careta enquanto ele estende a mão para cutucar sua mandíbula, lançando
um olhar para Marlene quando ela zomba. "O problema dele é comigo, com
mais ninguém, então ele não é uma ameaça. Ele vai superar isso."

"Odeio dizer isso a você, garoto," Augusta diz a ele, "Mas ele não é um
aliado seguro, pelo que posso dizer. Eu entendo que ele é seu irmão—"

"Sim, exatamente, ele é meu irmão," Sirius interrompe duramente. "Ele


pode estar com raiva de—não, tudo bem, ele está com raiva de mim, mas isso
é entre nós. Ele não é um Comensal da Morte. Ele simplesmente não é."

560
ZEPPAZARIEL

"E se ele for?" Marlene desafia. "E então, Sirius? Porque se você espera
que eu me segure se ele estiver tentando me atacar só porque ele é seu
irmãozinho—"

"Cuidado, McKinnon," Sirius diz brevemente.

"Por que?" Marlene rosna. "Huh? Por que eu deveria? Porque ele é sua
família? Bem, sabe de uma coisa? Famílias morrem. Elas morrem. É isso que
elas fazem. Elas—elas—é isso que elas—"

"Marlene," Sirius murmura gentilmente, porque de repente ele pode ver


que ela está tremendo, e sua respiração está falhando em seu peito, e lágrimas
estão se acumulando em seus olhos.

Marlene engasga, "Meus pais, Sirius. Eles os mataram. Eles mataram


meus—"

"Puta merda," Sirius sussurra, avançando para pegá-la no momento em que


ela larga a espada e começa a chorar, abaixando o rosto contra o peito dele e
chacoalhando em seus braços. Ele segura a parte de trás de sua cabeça,
instintivamente querendo bloqueá-la da vista, e ele levanta o olhar para
encontrar as outras três assistindo com expressões tristes e dolorosas.

Marlene começa a explicar em meio às lágrimas, as palavras abafadas e


gaguejadas, mas audíveis mesmo assim. Os dois tiros que ele ouviu—todos
ouviram—logo antes de serem erguidos para a arena. Eram os pais de
Marlene sendo assassinados bem na frente de seus olhos, onde ela não podia
fazer nada para salvá-los, onde ela não podia fazer nada além de assistir.

É horrível. É fodido. Todos eles já não passaram pelo suficiente? A


punição da arena não é suficiente? Sim, Marlene convocou tumultos e rebelião,
e ela o fez mais sem rodeios do que qualquer outra pessoa, mas isso é demais.
Isso é—bem, isso é exatamente o que um homem como Riddle faria.

Algum dia, Riddle vai ferrar com a pessoa errada, e essa pessoa vai matá-lo,
e nesse dia, o mundo inteiro vai brilhar um pouco mais.

"Ok, Marlene, olhe para mim," Sirius ordena com firmeza, empurrando-a
para trás pelos ombros, então segurando seu rosto e gentilmente enxugando
suas lágrimas. "Eu sinto muito. Eles não mereciam isso, e nem você. Mas,

561
CRIMSON RIVERS

agora, você tem que se recompor. Eles querem que você desmorone, certo? É
exatamente isso que eles querem. Não dê a eles a satisfação."

Marlene engole, piscando forte e rápido, e ela é tão forte por como ela lida
com isso, como ela se ajusta ao peso disso e muda seus ombros, e fica mais
alta, e firma sua mandíbula. Atinge Sirius então, o lembrete de por que os
navios do mar são frequentemente chamados de ela, porque ninguém suporta
o peso de uma tempestade como uma mulher. A pior parte é que Marlene não
deveria. Ninguém deveria, e ainda assim ela faz. Ela inspira e expira, dá um
passo para trás e pega sua espada. Lá está ela, pronta para sobreviver.

"Eu sinto muito, eu realmente sinto, mas não podemos ficar aqui," Alice
repete.

"Precisamos de mais suprimentos. Uma fonte de água. De preferência


algum abrigo. E não podemos simplesmente ficar aqui onde qualquer um
pode nos encontrar facilmente," Emmeline lista, encaixando uma flecha em
sua besta enquanto franze a testa para todas as diferentes rotas que eles
podem levar. Os Comensais da Morte—e Regulus—foram todos para a
direita.

"Bem, eu não sei vocês, mas eu vou nessa direção," Sirius afirma,
apontando para a direita. "Eu tenho que encontrar—"

"Oh, deixe pra lá, Sirius," Marlene retruca. "Você sabe que assim que todos
os Comensais da Morte se agruparem, eles virão direto para você. Ir por ali
é perigoso."

"Regulus foi por ali."

"Mais uma vez, como você sabe que ele não está com eles?"

"Ele não faria isso. Não importa o quão bravo ele esteja, ele nunca faria
isso comigo. Ele nunca—" Sirius para, o mero conceito fazendo seu peito
doer. Ele balança a cabeça para Marlene. "Ele nunca me machucaria, Marlene.
Certamente nunca tentaria me matar."

"Ele já deu um soco em você," aponta Augusta.

"Sim, bem, irmãos fazem isso às vezes. Eu vou dar o troco quando eu ver
aquela merdinha de novo," Sirius resmunga.
562
ZEPPAZARIEL

"Mas na arena?" Marlene desafia, claramente se recusando a deixar isso pra


lá. "Isso parece uma afirmação que você realmente não pode deixar passar.
Quero dizer, ele alguma vez disse que era realmente nosso aliado, ou isso é
apenas algo que você assumiu automaticamente?"

Sirius aperta a mandíbula.

Não, Regulus nunca disse isso, mas... é Regulus. Ele não faria. Ele apenas—
ele não faria. Por nada.

"Bem, isso muda as coisas," diz Augusta com firmeza. "Se o garoto não
tem intenção de ser um aliado, então ele não será tratado como tal, e você
pode não gostar—"

"Olha, alguma de vocês tem irmãos?" Sirius interrompe, sua voz afiada. Ele
olha ao redor para todas elas. "Então, tem? Não? Exatamente, então vocês
não sabem o que é conhecer alguém por dentro e por fora do jeito que eu
conheço meu irmão. O que quer que vocês pensem que ele está fazendo, eu
garanto que vocês estão completamente erradas. Eu o conheço. Ele pode estar
enganando todas vocês, mas ele não pode me enganar."

"Eu acho que, porque ele é seu irmão, você é o mais fácil de enganar,"
argumenta Marlene, estreitando os olhos.

"Ok, você está muito cínica para qualquer coisa relacionada à família
devido ao luto, e você é válida para isso," Sirius murmura, "Então eu vou
deixar isso de lado e não considerar você uma fonte confiável. Só...
Olhe, eu sou seu aliado, certo? Vocês tem que confiar em mim nisso."

"E se você estiver errado?" Augusta pergunta sem rodeios.

"Eu não estou," Sirius declara, firme, inabalável.

Os lábios de Marlene pressionam em uma linha fina. "Tudo bem, tudo


bem, vamos acreditar na sua palavra. Mas, se—e eu falo sério—se ele atacar
qualquer um de nós, eu vou matá-lo, Sirius."

Sirius lhe dá um sorriso triste. "Você pode tentar."

"Você acha que eu não vou te matar?" pergunta Marlene.


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CRIMSON RIVERS

"Vou ficar ofendido se, em algum momento, você não ficar nem
um pouco tentada," Sirius diz a ela com um sorriso torto, e ela bufa fracamente
e desvia o olhar. "Certo, então de volta ao meu ponto original. Eu vou atrás
de Regulus. Quem está se juntando?"

"Ir nessa direção é apenas pedir problemas," diz Emmeline, arqueando uma
sobrancelha para ele.

"Bem, sabe, um por todos e todos por um?" Sirius tenta fracamente.
Ninguém parece achar graça. Ele suspira. "Ok, então me deixe com isso. Eu
não vou pedir a todas vocês que corram esse risco. Eu vou assumir sozinho, e
todas vocês podem fazer do jeito que quiserem. Ninguém disse que aliados
têm que permanecer juntos."

"Mas certamente seria mais prudente se permanecêssemos," Augusta o


informa, bufando e balançando a cabeça.

"Então, venham comigo. Essa é a única opção. Todos ficamos em um


grupo, todos nós, ou todas vocês me deixam ir sozinho," Sirius anuncia
simplesmente, "Porque não há nada nem ninguém que vai me impedir de
encontrar meu irmão. Depende de vocês, na verdade."

Alice estala a língua dela. "Oh, pelo amor de Deus. Isso importa mesmo?
Eu apostaria minha vida no fato de que todas essas passagens se conectam de
uma forma ou de outra, então duvido que não nos encontremos ao longo do
caminho de qualquer maneira. Vocês sabem que os criadores dos jogos
encontrarão uma maneira de nos levar exatamente onde eles querem. Eu voto
para ficarmos juntos. Segurança em números e tudo mais. Seria pior se
encontrássemos todos os Comensais da Morte sem todas as mãos disponíveis,
não é?"

"Ela têm razão," concorda Emmeline.

"Sim, infelizmente ela tem," admite Augusta de má vontade.

Marlene resmunga e olha de lado para Sirius. "Bastardo teimoso."

Sirius apenas cantarola, satisfeito, e abre um sorriso para todas.


Novamente, nenhuma delas parece nem um pouco impressionada, Na
verdade, todas estão olhando para ele como se estivessem pensando em matá-

564
ZEPPAZARIEL

lo agora, para que não tenham que lidar com a dor de cabeça que ele
certamente trará. Ele é tão ridiculamente apaixonado por cada uma delas, de
verdade.

O som de passos pesados e farfalhantes tira o sorriso de seu rosto, e todos


estão no limite imediatamente, girando para enfrentar o som do que é
claramente uma abordagem instável. Marlene e Augusta erguem as espadas em
segundos, Emmeline ergue sua besta e Alice segura o facão com força. Sirius
não tem uma arma, mas também não precisa de uma para lutar, então ele
apenas espera, olhos apertados, corpo tenso e pronto.

No momento em que uma forma sai tropeçando de uma abertura na


clareira, Emmeline atira, e a única razão pela qual ela erra é porque a forma
tropeça e cai.

"Merda," Marlene respira.

Gemendo, Eli se levanta e, ao acaso, volta a ficar de pé, apoiando-se na


lança que deixou cair quando caiu. Ele soluça, pisca turvamente para eles,
então levanta a lança como um troféu, chegando perigosamente perto de se
apunhalar no rosto com ela.

"Olha o que eu encontrei," Eli insulta, balançando no local.

"Merda," Marlene repete, desta vez com um suspiro pesado.

"Sirius, vá tirar isso dele antes que ele caia e morra," Augusta ordena,
balançando a cabeça. "Vai servir em você melhor do nele. Meu Deus,
ele ainda está bêbado?"

"Ele vai ter um puta tempo de abstinência nos próximos dias," Marlene
murmura com uma careta.

"Se ele viver tanto tempo," Emmeline diz sem rodeios.

Sirius avança com uma carranca, observando Eli cutucar a ponta afiada da
lança, o rosto relaxado. "Ei, Eli, você não se importaria muito se eu pegasse
isso, não é?"

565
CRIMSON RIVERS

"Nah." Eli estala os lábios e balança a lança tão longe que Sirius tem que
pular para trás, sibilando de susto enquanto seus olhos se arregalam. Eli olha
para ele. "Atrapalha muito. Bem? Você vai pegar ou não?"

"Certo." Sirius tosse e rapidamente tira a lança de Eli, girando-a habilmente


na palma da mão para que o cabo gire em torno de sua mão e se equilibre de
volta. Ele rola a alça ao longo de seus dedos, ajustando-se ao peso dela, então
volta seu olhar para Eli. "Você esteve nada sua plataforma esse tempo todo,
Eli? Apenas... fazendo o que, exatamente?"

"Mm, houve um estrondo; não ouvia um desses há algum tempo," Eli


murmura, coçando a cabeça. "Me assustei um pouco, então eu caí no chão,
talvez tirei um cochilo rápido. Quando eu me levantei, eu encontrei isso." Ele
gesticula para a lança, então deixa cair a mão e sorri para Sirius. "Diga, você
não teria uma bebida com você, teria? Eu realmente poderia beber uma. Não
tomei uma o dia todo."

"Você tirou um cochilo." Sirius se vira e olha para as outras, e agora elas
parecem divertidas. "Ele tirou um cochilo."

"Eli Zatish, você nunca deixa de me surpreender," diz Marlene com uma
risada carinhosa. "Vamos, velhote, precisamos nos mover, e você tem uma
noite muito ruim pela frente."

Eli dá uma carranca triste. "Oh. Não gosto disso."

"Bem-vindo ao clube," Sirius responde ironicamente, dando um tapinha no


ombro dele e mantendo ele firme enquanto todos se viram como um grupo e
se dirigem para o labirinto. Marlene se aproxima para ajudar Eli também, e
Sirius olha para ela. "Ei, McKinnon?"

"Sim, Black?" Marlene responde, virando os olhos cansados para ele.

"Eu gostei do seu cabelo, à propósito." Sirius observa os olhos dela


ficarem um pouco mais claros, satisfeitos, e ele sorri. "Combina com você."

Marlene desvia o olhar, mas não antes que ele veja seus lábios se curvando
nos cantos. Ela não responde, mas Sirius não precisa que ela responda. Juntos
como um grupo, eles continuam.

566
ZEPPAZARIEL

Encontrar comida, suprimentos, água e abrigo—tudo isso é vital para sua


sobrevivência e bem-estar, mas, francamente, Sirius está preocupado com uma
coisa e apenas uma coisa.

Encontrar Regulus.

~•~

Regulus está perdido.

Ele realmente, realmente não gosta disso. O labirinto, no caso. Bem, ele não
gosta de nenhuma parte disso, obviamente, mas o labirinto está fodendo com
a cabeça dele, e só se passaram vinte minutos. Ele desce uma passagem e faz
uma curva para ir na direção oposta, apenas para sentir que está indo na
mesma direção, e quando tenta voltar atrás, descobre que não há nada para
voltar atrás. Para onde quer que ele se volte, é tudo a mesma coisa, uma cerca
viva alta atrás da outra, nada diferente em nenhuma delas.

Não há senso de direção, não aqui, e é desorientador. A esquerda é a


direita, a frente é a costa, e a reta é uma curva que dá voltas. Ele está tonto
com isso, seu coração disparado enquanto ele constantemente balança a
cabeça para checar na frente e atrás dele alternadamente, em rotação, não
apreciando como não há realmente nenhum lugar para se esconder.

Não é quieto. Há um farfalhar abafado nas cercas vivas o tempo todo,


como se algo estivesse prestes a alcançá-lo e agarrá-lo. Ele não pode saber se
alguém está vindo atrás dele, ou se alguém vai fazer uma curva na frente dele,
ou se há uma abertura à frente da qual alguém possa sair. Isso o coloca em
suspense implacável, paranóico, muito tenso para realmente pensar com
clareza.

Por um segundo, apenas um segundo, Regulus se arrepende de não ter


aproveitado a chance de ficar com Sirius.

É apenas esse instinto estúpido com o qual ele está lutando há dias, aquele
em que, quando ele está com medo, algo em Regulus simplesmente quer seu
irmão. Ele não pode evitar, não pode parar, não importa o quanto ele esteja
lutando contra isso, e continue lutando contra isso.

567
CRIMSON RIVERS

Mas, neste momento, se Sirius aparecesse na frente dele, Regulus sabe que
ele seria incapaz de se impedir de ir direto até ele, porque ele se sentiria mais
seguro, por mais ridículo que isso seja.

Regulus faz uma parada brusca, inspirando e expirando lentamente. Porque


não, não, não pode haver nada disso. Só porque Sirius está aqui não significa
que Regulus precisa de mimos. São os malditos jogos vorazes; claro que isso é
aterrorizante. Ele vai ter que apenas superar isso, lidar com isso por conta
própria e parar de depender de seu irmão para lutar suas batalhas por ele.
Toda a sua vida, isso é tudo que Sirius fez, na verdade, e desta vez eles estão
no mesmo campo de batalha; apenas em lados opostos.

Lentamente, Regulus se agacha e tira a bolsa de suas costas para abri-la


rapidamente e ver o que, exatamente, ele conseguiu roubar de Sirius. Seu olhar
se move para frente e para trás, verificando os arredores, e ainda é a voz de
Sirius em sua cabeça lembrando-o de ser cauteloso, não demorar muito,
continuar até localizar uma fonte de água, no mínimo.

Dentro da bolsa, Regulus encontra seu primeiro golpe de sorte possível


que ele já teve em sua vida, e é terrivelmente irônico que nem seja a sorte dele,
mas na verdade a de Sirius que ele roubou. Há uma lanterna, um isqueiro e
um recipiente estranho que Regulus tem certeza que viu na sala de
treinamento, usado para coletar água da chuva. A visão disso dá um nó no
estômago de Regulus quando ele inclina a cabeça para cima para olhar para o
céu.

Oh.

Não é bom.

Não é nada bom.

Regulus realmente não gosta de chuva. Quando está chovendo, ele


simplesmente não sai de casa. Ele não vai para fora. A única vez que choveu
quando ele estava na árvore no distrito seis, ele literalmente invadiu o
necrotério e esperou as cinco horas que levou para parar.

Se chover aqui, Regulus está fodido. Não há para onde ir. É apenas céu
aberto acima dele, nada para se esconder ou se por em baixo; até as cercas
vivas são densas demais para ele entrar, mas ele literalmente suportaria o peso

568
ZEPPAZARIEL

de folhas afiadas e trepadeiras e qualquer outra coisa de que a cerca seja feita
se isso significasse que ele poderia sair da chuva. Mas ele não pode.

Ele vai ficar preso.

Engolindo em seco, Regulus olha para baixo e continua a vasculhar a


bolsa. Não está chovendo agora, e isso terá que servir. Ele consegue. Ele
vai—ele vai ficar bem. Provavelmente.

Por um momento, egoisticamente, Regulus deseja que James esteja aqui.

A ironia desse desejo não passa despercebida para ele. Ele realmente não
quer que James esteja em perigo, apenas... aqui. Bem ao lado dele, para tocar,
conversar, se apoiar. James levantaria a camisa e deixaria Regulus rastejar por
baixo dela para bloquear ele da chuva. James abriria seu peito e abrigaria
Regulus lá dentro, se fosse preciso. Esse tipo de devoção, esse tipo de amor,
vive em seu sangue, na medula de seus ossos. Regulus pode sentir isso
ressoando daqui, sabendo que James o está observando, sabendo que James...
provavelmente está muito bravo com ele. Novamente.

Bem, pelo menos desta vez, Regulus não sabe disso. Não precisa ver isso.
Não precisa conviver com isso. Ele provavelmente nunca perdoará Regulus
por isso, mas talvez algum dia ele entenda que é tanto por ele quanto por
Regulus. É pelos dois.

Há uma garrafa de água cheia no fundo da bolsa, junto com duas barras de
granola e um pacote de carne seca e frutas. Em um compartimento separado,
há um pequeno kit de primeiros socorros, completo com curativos,
antisséptico, creme para queimaduras e uma agulha já enfiada com um
pequeno carretel de linha. Francamente, é surpreendentemente útil, a ponto
de as sobrancelhas de Regulus estarem tão levantadas em descrença que estão
praticamente costuradas em sua linha de cabelo.

Ele vai começar a roubar a sorte de Sirius com mais frequência. Puta
merda, como Sirius conseguiu encontrar uma bolsa com pelo menos um dia
de comida e água para sobreviver—o que é muito na arena—bem como
suprimentos incrivelmente úteis, mesmo de variedade médica, está além dele.

Há uma agitação no ar atrás dele, uma mudança, uma presença que envia um
calafrio na espinha de Regulus e o faz se mover por puro instinto. Ele gira nas

569
CRIMSON RIVERS

pontas de seus pés e salta rapidamente, a lâmina girando em sua mão e


pousando diretamente na garganta de Thornfinn, que instantaneamente
congela onde ele tem um machado não muito diferente do que James
costumava usar levantado como se estivesse se preparando para atacar.

"Rowle," Regulus murmura.

"Black," Thorfinn responde, parado.

Regulus desvia o olhar para o machado, então arqueia uma sobrancelha


para Thorfinn. "O que você pensa que está fazendo?"

"Eu vi sua bolsa," Thorfinn murmura. "Planeja compartilhar?"

"Não."

"Bem, isso não é muito aliado da sua parte."

"Nem planejar arrancar a cabeça de alguém com um machado. Porra, você


não deveria ser inteligente?"

Thorfinn olha para ele. "Olha, você não pode me culpar por tentar.
Ninguém sabe onde você está, não importa o que suas malditas primas
pensem. Então, quero dizer, se você é realmente um aliado, agora é a chance
de provar isso."

"O que é meu é meu," Regulus o informa bruscamente, embora ele retire
sua adaga enquanto diz isso. "Tente tirar isso de mim, e eu vou enfiar essa
adaga na sua cara. Isso inclui essa bolsa e tentar matar meu irmão."

"Veja, você diz merdas assim e depois se pergunta por que ninguém confia
em você," Thorfinn retruca. "Quem se importa com quem realmente mata
Sirius se ele está morto de qualquer jeito, certo?"

"Você não ouve muito bem, ouve?"

"Talvez você precise começar a ouvir, Black. Eu estou te dizendo agora,


no segundo que eu ver seu irmão, eu vou matar, não importa o quanto você
queira que seja você. Eu vou arrancar a porra da cabeça dele, e não há nada
que você possa fazer sobre isso."

570
ZEPPAZARIEL

"Eu literalmente acabei de te dizer o que eu faria sobre isso. Se você não
acredita em mim, o erro é seu."

"É? Bem, se você quer me impedir, você pode me matar agora, porque—"

"Ok," Regulus diz, então estala sua mão e enfia a adaga através da parte
inferior do queixo de Thornfinn, atrás do maxilar, empurrando-a com força
suficiente para que ele possa ver a ponta se partir na língua de Thornfinn e
brilhar com o sangue de onde sua boca está aberta.

Os olhos de Thornfinn se arregalam e ele faz um barulho grotesco de


asfixia. Regulus segura seu olhar por um instante, o mantém ali, então arranca a
adaga de volta. O machado de Thornfinn atinge o chão enquanto suas mãos
voam até o pescoço, boca abrindo e fechando, sangue escorrendo de seus
lábios e entre os dedos. Ele dá um passo cambaleante para trás, depois outro,
e então cai. Regulus o vê sangrar, e ele não vacila quando, minutos depois, o
canhão soa.

Regulus realmente acha que está bem, por apenas um momento,


totalmente inabalável depois disso. Ele não tinha sentimentos por Thorfinn, e
ele o avisou sobre o que aconteceria. São os jogos vorazes. Morte acontece.
Assassinato acontece. Não é nem o primeiro de Regulus.

No entanto, no momento em que ele vê sangue em sua mão, ele se vira e


imediatamente vomita no chão com tanta violência que cai de joelhos e tem
que se segurar com a mão livre que, felizmente, está muito limpa. Sua outra
mão deixa cair a adaga manchada de sangue, e ele se afasta dela, engasgando
com força e fazendo o possível para recuperar o fôlego.

"Oh, porra, porra, porra," Regulus engasga, apertando os olhos enquanto


ele freneticamente arrasta a mão escorregadia pelo chão, tentando
desesperadamente tirar o sangue. O cheiro disso permanece em seu nariz,
enferrujado e metálico. Ele pode—ele pode sentir o gosto. Ele se lembra do
gosto, e ele está engolindo, ele está sufocando, tentando respirar, se afogando
de novo.

A sensação fantasma de mãos o deixa em parafuso, e ele chuta com força,


se arrastando ainda mais para trás enquanto passa a mão trêmula na camisa e
enfia a cabeça entre os joelhos dobrados. Ele respira. Ele tenta respirar.

571
CRIMSON RIVERS

Regulus não tem certeza de quanto tempo ele permanece curvado sobre si
mesmo, apenas ressurgindo quando ele é empurrado para fora de seu colapso
pelo som de mais um canhão, o que significa que alguém acabou de morrer.
Porra. Ele levanta a cabeça com a súbita rajada de vento que passa e o balanço
pronunciado das cercas vivas de cada lado dele enquanto um heliportador
paira, vindo para pegar Thorfinn.

Merda.

Merda, merda, merda.

Não há tempo para a porra de um colapso, não quando ele sabe que a
morte atrairá as pessoas, e a última coisa que ele precisa é ser colocado na cena
do crime pelo próprio grupo de pessoas que ele está tentando provar sua
confiabilidade. Ele sente que Bellatrix entenderia, se ele explicasse que
Thorfinn... o provocou, e Narcissa poderia deixar passar, mas todo o resto iria
apenas—oh, eles decidiriam que ele é mais um problema do que vale a pena
em um piscar de olhos.

Regulus não pode deixar isso acontecer. É vital que ele permaneça aliado
dos Comensais da Morte. Então, ele se levanta e sai correndo, pegando sua
adaga e bolsa enquanto caminha, sem nem mesmo olhar para elas. Ele só
precisa colocar a maior distância possível entre ele e—e isso.

Então, Regulus corre, e continua correndo, e não para de correr. Seus


pulmões estão protestando, e sua boca tem um gosto azedo, e ele não
consegue—ele ainda sente o sangue em sua lâmina, e talvez se ele correr para
sempre, ele nunca terá que parar e encarar—

Na próxima curva que ele faz, Regulus corre diretamente para Bellatrix,
literalmente tropeçando nela. Ela o pega enquanto ele tropeça, suas mãos se
lançando para agarrar seus ombros, firmando-o. Ele para, observando o olhar
dela vagar sobre ele lentamente, e então ele vira seu olhar para encontrar o
resto dos Comensais da Morte todos juntos. Cada. Um. Deles.

Regulus está diante deles, adaga ensanguentada na mão, rosto corado e


cabelos varridos pelo vento, ofegante.

De novo—merda, merda, merda.

572
ZEPPAZARIEL

"Bem, parece que alguém estava se divertindo sem o resto de nós," diz
Bellatrix, estendendo a mão para pegar a adaga de sua mão. Ele a deixa,
sentindo-se fraco e perto de vomitar novamente. Ela a gira, examinando o
sangue com curiosidade, depois inclina a cabeça para ele. "Quem você acabou
de matar, fofura?"

Ok, pausa.

Há momentos na vida de alguém em que eles podem identificar o peso de


suas próximas palavras. Para Regulus, este é um desses momentos. Se ele
disser Thorfinn, há uma boa chance de que pelo menos metade desse grupo—
Yaxley, Alecto, Dixon e possivelmente até Rabastan—imediatamente se volte
contra ele. Bellatrix provavelmente não; ele sente que ela pelo menos o ouviria,
por ele ser seu primo favorito. Mas se ela não achar que a razão dele é boa o
suficiente, é isso, e ela é tão fodidamente louca que Regulus nem se incomoda
em tentar descobrir qual seria a medida dela para bom o suficiente.

Um problema, no entanto. Eles vão descobrir que Thorfinn está morto em


questão de horas, quando os estandartes tocarem no céu. Ele não pode dizer
Henri com a chance de alguém ter visto Sirius matar Henri, e se ninguém
morrer antes dos estandartes, ou Regulus disser um nome que não bate, então
ele está fodido. Houve uma outra pessoa morta na mesma hora que Thorfinn,
e se ele conseguir adivinhar quem, então ele estará livre.

Então, na mudança de um segundo, Regulus se pergunta quem é uma das


pessoas mais inteligentes que ele conhece e, embora haja uma lista muito
longa de pessoas brilhantes que ele conhece, por algum motivo é Remus que
surge em sua cabeça. Pensar em Remus o leva a uma toca de coelho de
pensamentos que rolam por sua cabeça até que, antes que ele perceba, ele está
falando.

"Coen," Regulus deixa escapar, o nome escapando dele contundente e


abrupto, mas ele não vacila quando todos o encaram. É o melhor palpite que
ele tem, porque Camilla é implacável o suficiente para matar pessoas—como
provado em seus jogos anteriores—e ela está atrás do sangue de Coen. Ele
acha que a viu perseguir Coen. Talvez ela realmente tenha alcançado. "Eu
matei Coen. Do doze."

"O que aconteceu?" Narcissa pergunta.

573
CRIMSON RIVERS

Regulus limpa a garganta. "Nós acabamos esbarrando um no outro.


Entramos em uma briga. Eu ganhei."

"Hum." Bellatrix gira a adaga, então preguiçosamente a limpa em sua


camisa e a estende para ele, com o punho primeiro. Ela já tem uma adaga
enfiada no cós da calça. "Bem, bom para você. Já são cinco."

Regulus estende a mão e pega sua adaga, reconhecidamente grato por ela
ter limpado o sangue para ele. Ele lança seu olhar sobre o resto do grupo.
Todos eles têm armas; Narcissa com um arco e uma aljava de flechas, Dixon e
Alecto apoiados em suas espadas, Yaxley segurando uma lança de cabo curto,
Rabastan preguiçosamente segurando um bastão de correntes, enquanto
Bellatrix e Regulus têm suas adagas, uma para cada. Rabastan e Narcissa têm
bolsas de suprimentos nas costas, como Regulus.

Quando o olhar de Regulus rasteja de volta para Bellatrix, ela está sorrindo
para ele, e ela estende a mão para agarrar seu ombro, os olhos brilhando
enquanto ela diz, "Agora, vamos completar seis."

Ela nem precisa dizer quem. Ele sabe.

Sírius. Claro que ela quer dizer Sirius.

Regulus dá um giro preguiçoso em sua adaga e avança em silêncio. Quando


eles se viram, prontos e dispostos a caçar Sirius, ele se junta a eles.

574
ZEPPAZARIEL

48
CORDAS

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

James revira essas palavras em sua cabeça enquanto olha para a tela,
observando Regulus caminhar entre um grupo de seis outros Comensais da
Morte. Outros. Porque há sete.

Porque Regulus é um deles.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

A rapidez com que Sirius e Regulus mataram não surpreendeu James. Ele
realmente não pensou sobre isso, o que eles fariam na arena, porque ele estava
muito ocupado fazendo tudo o que podia para não pensar em nada disso,
focando em sua raiva antes de seu medo, porque ele sabia, mesmo então, que
apenas um deles poderia melhorar. No fundo, James sabia que, qualquer que
fosse a morte de Sirius e Regulus, ele não iria culpá-los ou julgá-los por isso.
Ele não o fez na primeira vez, afinal.

Não chocou James, na verdade, ver Sirius quebrar o pescoço de um


homem quase sem esforço, nada além da surpresa inicial de vê-lo fazer isso

575
CRIMSON RIVERS

depois de onze anos longe da violência que a arena atrai de alguém.


Honestamente, as próprias mãos de James se contraíram com o desejo de
rasgar Henri em pedaços por ousar estrangular Regulus; foi um dos
momentos mais aterrorizantes da vida de James, ver Regulus em perigo e não
poder fazer nada a respeito. Enquanto Remus respirou fundo no momento
em que Sirius matou Henri, James exalou em reflexo, um alívio egoísta,
porque Regulus estava seguro.

O que chocou James foi ver Regulus dar um soco em Sirius, roubar seus
suprimentos e depois deixá-lo para trás.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

James não estava preparado para isso. Muito parecido com Sirius, ele
apenas olhou, de queixo caído, totalmente incrédulo. Pandora cobriu a boca
com a mão, e Remus—bem, ele apertou os lábios em uma linha fina e
estreitou os olhos.

Mesmo aqui, à parte, James está tão em sintonia com Sirius que seu
instinto inicial foi se revoltar contra a ideia de Regulus ser um Comensal da
Morte, assim como Sirius, quando Marlene sugeriu. Marlene, que está usando
um novo corte de cabelo que fica ótimo nela. Marlene, que desmoronou nos
braços de Sirius e explicou para o mundo inteiro ver que seus pais foram
mortos diante de seus olhos. A câmera não se afastou; demorou, deixando
todos verem.

Uma ameaça do que Riddle poderia fazer? Possivelmente. James acha que é
uma faca de dois gumes, no entanto. As pessoas que têm medo preferem
aprimorar sua raiva. Ele saberia disso.

Então, James não acreditava realmente, assim como Sirius, que Regulus era
um Comensal da Morte. Francamente, apenas assistir Regulus e Sirius de volta
à arena foi duro com seus nervos desgastados. Sirius, pelo menos, tinha um
grupo de pessoas com quem ficar.

Regulus, para começar, não.

Ou assim parecia.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

576
ZEPPAZARIEL

Ele correu para o labirinto, e então ele estava sozinho. James queria gemer
e bater a cabeça contra a parede por causa da teimosia de Regulus. James o ama
pra caralho, mas ele é genuinamente um bastardo do contra. Na maioria das
vezes, isso é algo que James acha cativante. Quando Regulus está correndo em
um labirinto sozinho, longe do seu irmão?

Não muito.

As coisas deram errado, porque é claro que deram. Thorfinn Rowle. Um


Comensal da Morte. Alguém que sugeriu que Regulus era algum tipo de
aliado, o que James instantaneamente desconsiderou, apesar da familiaridade
com que falavam.

Não importava de qualquer maneira, no final, porque Regulus o matou.


Rapidamente. Ele apenas atacou como uma maldita cobra, absolutamente sem
hesitação, e James sabia—ele pensou—bem, parecia que Regulus estava
fazendo isso por Sirius, porque foi Sirius que Thorfinn cometeu o erro de
ameaçar.

Regulus não faz avisos de ânimo leve. Quando ele diz a alguém que vai
machucá-los se eles fizerem algo, ele fala sério. Ele disse que iria apunhalar
Thorfinn no rosto, e então ele fez exatamente isso.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Para James, Regulus matando Thorfinn parecia mais uma prova de que
Marlene estava errada, enquanto James e Sirius—que conhecem Regulus
melhor do que ninguém—estavam certos. Porque é claro que eles estavam.
Eles tinham que estar. É Regulus. Ele é deles, e eles o conhecem. Eles
o conhecem.

Por que matar um Comensal da Morte se você é um? Isso meio que anula
o propósito, não é? James pensou assim, e ele pensou, ali mesmo, que era isso.
Um negócio feito. Assinado, selado e carimbado. Sem mais perguntas.
Marlene e Augusta poderiam tirar sua dúvida e jogá-la de lado.

James estava orgulhoso de si mesmo, mesmo, por não ter dúvidas. Depois
de tudo nesses últimos dias, todos os seus problemas e brigas, James não
duvidava de Regulus. Nem por um segundo.

577
CRIMSON RIVERS

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Tudo o que restou foi a reviravolta doentia em seu estômago e a onda de


tristeza enquanto observava Regulus quebrar após sua primeira morte nesta
arena. James sentiu como se seu peito estivesse se abrindo, e ele
simplesmente—ele queria desesperadamente estar lá. Ele queria envolver seus
braços ao redor de Regulus e abraçá-lo. Ele queria limpar o sangue de suas
mãos e beijar cada dedo para lembrá-lo, para prometer a ele, que estava tudo
bem. Que isso não o tornava uma pessoa ruim. Que, não importa o que, ele
estava fazendo o seu melhor, e James ainda o amava.

Ele só queria ir lá e dizer isso a ele, para que ele soubesse, para que pudesse
ser confortado por isso, talvez. Ver Regulus em espiral após o assassinato
deixou James se sentindo perdido, preso e totalmente miserável pela
necessidade de simplesmente estar lá para ele. Mas ele não podia. Ele não
pode.

Então, Regulus se levantou e correu. Rápido e em pânico, ele correu.


Desesperadamente, ele correu, como se estivesse fugindo de algo,
possivelmente do que acabou de fazer, ou das consequências que certamente
o encontrariam se ele ficasse. Ele correu.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

James provavelmente nunca mais se sentirá do jeito que sentiu quando viu
Regulus correr diretamente para os Comensais da Morte. Um som abafado de
puro pânico escapou dele, e alguém estava segurando sua mão—Pandora, ele
pensa—então ele tem certeza de que, naquele momento, ele quase esmagou
todos os ossos da mão dela. Ele não podia evitar. Regulus tinha acabado de
esbarrar em um grupo que James achava que o queria morto, e ele o fez em
um estado que não era muito promissor para suas chances de sobrevivência.

James tem certeza de que seu coração nunca caiu tão rápido em sua vida.
Ele apenas—ele podia sentir os dedos frios do medo percorrendo sua
espinha, deixando-o sem fôlego enquanto o sangue em suas veias se
transformava em gelo.

Exceto.

Nada.

578
ZEPPAZARIEL

Aconteceu.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Regulus mentiu. Tinha confundido James porque Bellatrix parou para


questioná-lo sobre quem ele matou, mas fazia sentido para ele por que
Regulus mentiria. É uma boa mentira, até, porque Camilla alcançou
e matou Coen, apenas dez minutos depois que Regulus matou Thorfinn. Foi
uma boa mentira.

Regulus é um bom mentiroso.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Ele é um mentiroso tão bom.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Ele conta tantas mentiras.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

James não acreditou, mesmo assim. Mesmo quando os Comensais da


Morte não atacaram. Mesmo quando pararam, quando o questionaram e
quando ouviram.

Ele pensou que talvez, apenas talvez, fosse um tipo de coisa de lealdade
familiar, em que Bellatrix e Narcissa estavam deixando passar porque ele é
primo delas. Ele pensou que, talvez, Regulus seria capaz de se livrar da
situação e fugir.

James continuou esperando que ele corresse.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Regulus não correu. Ele deixou Bellatrix pegar sua adaga, e então a pegou
quando ela a devolveu. Ela sorriu para ele, tocou seu ombro e insinuou que
ele se juntaria a todos eles para massacrar mais pessoas como um grupo—
Sirius sendo seu primeiro alvo. E Regulus foi.

Ele se juntou a eles.

579
CRIMSON RIVERS

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Ele está com eles.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Regulus é um Comensal da Morte.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Como, Reg? James pensa, olhando para a tela com um nó na garganta. Como
isso é para mim? Me diga como.

Regulus não pode fazer isso, no entanto. Ele não pode explicar. Talvez ele
tenha planejado, mas nunca teve a chance, e James não entende. Ele não sabe
como, em qualquer mundo, Regulus sendo um Comensal da Morte poderia
ser por ele. Porque não só os Comensais da Morte são aqueles que gostam de
assassinato—mesmo fora da sobrevivência—mas eles estão todos
empenhados em encontrar Sirius e matá-lo o mais rápido possível. Então,
como? Como isso poderia, de alguma forma, ser por James?

James não sabe, e Regulus não pode responder, e tudo o que resta é
confiança. Tudo o que pode haver é—confiança. Um sentimento e uma
escolha em um. Depois que Regulus mentiu para ele, depois que ele quebrou
sua promessa, James é mais uma vez deixado no limite da confiança,
inclinando-se precariamente de um lado para o outro.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

E a coisa é, de alguma forma, impossível, James não precisa ter as


respostas para saber que ele acredita em Regulus. Ele não sabe o que vai
acontecer, ou o que Regulus está fazendo, mas James sabe outras coisas.
Coisas mais importantes. Ele sabe que o ama. Ele escolhe, aqui e agora,
confiar nele.

Sem hesitação.

Tudo que eu faço nessa arena, é por você.

Sim, é disso que James tem medo.

580
ZEPPAZARIEL

~•~

Sirius se recusa a pensar em Henri.

Toda vez que seu cérebro gira em torno do assunto, em torno do que
aconteceu, Sirius força sua mente a fazer uma curva abrupta e seguir em uma
direção diferente.

Ele não é estranho ao assassinato. Ele matou doze—não, treze, são treze
agora. Ele matou treze pessoas, então não é—não é esse conceito impossível
para ele entender. Na verdade, é mais fácil para ele lidar com isso na arena. Ele
não é diferente dentro dela agora do que era da primeira vez, porque depois
que ele fez sua primeira morte, depois de Gunther, Sirius nunca se conteve da
dor—infligindo-a ou suportando-a. Ele não deixou espaço para vergonha, ou
para fantasias infantis onde isso nunca tinha acontecido. Aconteceu. Está
acontecendo de novo.

E é isso.

Então, ele não sente isso, na verdade. Ele não precisa, e ele não vai
precisar, porque ele não vai voltar para casa, onde ele sentiria. Onde o atingiria.
Onde ele seria sugado para todas as coisas que tinha que fazer na arena para
sobreviver.

De certa forma, é quase um alívio ter outras coisas para focar. Como Eli,
por exemplo, que está suando lentamente o álcool que tinha no calor úmido
do labirinto. Como Marlene, que ficou em silêncio e tem sombras nos olhos,
essa dor horrível agarrando-se a ela onde quer que ela vá. Como Alice, que
parece muito agitada com Augusta o tempo todo e basicamente não quer nada
com ela. Como Augusta, que não parece se importar com o que Alice quer e
fica sempre perto dela. Como Emmeline, que... Bem, na verdade, Emmeline
está firme. Em tudo isso, Emmeline está calma, e Sirius genuinamente a
aprecia muito agora, mais do que ela jamais poderia saber.

Eles estão andando há algum tempo, mas o labirinto nunca parece levar a
lugar algum. É um corredor verde confuso logo após o outro, e os únicos
sons são as cercas vivas que farfalham o tempo todo, o que é sinistro. Eles
não conseguem ouvir uma fonte de água, nenhum som distante de
gotejamento ou qualquer coisa, e eles também não encontraram uma. Não há

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CRIMSON RIVERS

sinais de vida selvagem como fonte de alimento, ou qualquer fruta das sebes,
ou quaisquer outros esconderijos que tenham encontrado.

Eles poderiam iniciar uma fogueira, mas honestamente, não há necessidade


de uma. Está tão quente que todos estão suando, e todos estão com muita
sede a essa altura. Eles não têm nada para cozinhar, e nenhum lugar parece
bom para parar, porque não há abrigo ou senso de defesa dentro do labirinto.

Por horas, ninguém fala. Todos eles apenas ouvem, movem-se


silenciosamente e ficam preparados para qualquer coisa. Sirius está no limite,
esperando por qualquer sinal de Regulus, ou mesmo dos Comensais da Morte,
mas não há nada. São apenas eles, este grupo, e a escuridão que está crescendo
lentamente quando o sol começa a se pôr, exceto que eles também não podem
ver isso. O céu acima fica mais escuro, lentamente, e dentro do labirinto fica
mais escuro junto com ele.

Houve dois canhões adicionais depois dos três primeiros, e o coração de


Sirius gaguejou brevemente com o medo de que talvez fosse Regulus. Ele
imediatamente descartou a noção, porque não. Sirius não vai acreditar nisso a
menos que tenha provas, então onde quer que Regulus esteja, ele está bem, no
que diz respeito a Sirius.

E, no entanto, quando outro canhão soa, a onda de medo o atinge pela


terceira vez, sufocando-o até que ele a empurre com força. Ok, então seis
pessoas estão mortas. Apenas seis. Três dos quais Sirius já sabe—Velvet,
Mavis e Henri. Há mais três, e ele sabe que os seis aqui não são, o que deixa
quinze pessoas. Isso pode ser catorze pessoas além de Regulus. Regulus está
bem. Não é ele. Ele está bem.

É melhor todo mundo esperar que Regulus esteja bem, porque se ele não
estiver, se ele estiver morto, Sirius vai matar cada maldita pessoa neste
labirinto por ousar viver quando seu irmão não o fez.

O canhão paralisa todos. Até Eli, que balança sobre os pés e geme
baixinho, como se estivesse com dor. Todos se encaram, ninguém fala por um
longo momento.

"Assassinato ou labirinto, o que você acha?" Emmeline pergunta.

582
ZEPPAZARIEL

"Provavelmente assassinato," Alice responde. "O labirinto não parece ter


nada com que se preocupar ainda, e embora eu não duvide que terá,
certamente não terá na primeira noite. O sol está se pondo. Não vai demorar
muito para que todos estejam desligando suas telas."

"Não seja tola," Augusta retruca. "As pessoas morrem durante a noite nos
jogos o tempo todo, Alice. Eles só vão jogar os destaques na manhã seguinte."

Alice faz uma careta e sibila, "Sim, obrigada, Augusta, pela sua opinião que
eu não precisava ou pedi."

"Bem, se você insiste em ser vítima de esperanças idealistas de—"

"Eu estava fazendo uma teoria, sua—"

"Não me interrompa, ou me xingue," Augusta interrompe bruscamente, e


Sirius estremece um pouco com o quanto isso o lembra de sua própria mãe.
"Criança, se você pensa por um segundo—"

"Não me chame de criança," Alice interrompe corajosamente, seus olhos se


estreitando enquanto eles seguram o olhar de Augusta. "Eu não sou uma
criança."

"Você é uma criança—"

"Eu sou uma adulto, não uma criança. Você não é minha maldita mãe,
então não me trate como se fosse. Porque o que Frank atura de você, eu não
vou."

As narinas de Augusta se dilatam. "E o que, exatamente, isso quer dizer?"

"Você sabe o que isso quer dizer," Alice retruca. "Acho que já deixei bem
óbvio agora, mas permita-me deixar mais claro. Eu não gosto de você. Acho
que você é uma mãe de merda. Você usa a desculpa de ser mãe de Frank para
controlá-lo, não respeitando seus limites, ou entender o conceito básico de
que a vida dele é dele para fazer o que quiser com ela, não
importa suas expectativas ou demandas. E eu sei—oh quão bem eu sei que
você simplesmente o ama, e te ferrou ter que vê-lo entrar em seus jogos
enquanto era seu mentor, e você nunca mais foi a mesma desde então. Confie
em mim, eu entendo que você é do jeito que é por causa de algo horrível que
nenhuma mãe deveria ter experimentado, e Frank lhe dá muita margem de
583
CRIMSON RIVERS

manobra para isso, mas eu? Eu não. Você sufoca ele, Augusta. Você ajudou a
salvar a vida de seu filho apenas para dar a volta por cima e mal deixá-lo
viver."

A bochecha de Augusta se contrai, assim como sua mão, ao redor de sua


espada. Ninguém se move ou diz nada por um longo momento, a tensão é
espessa entre duas pessoas que compartilham apenas uma coisa; o quanto elas
se preocupam com Frank Longbottom.

Sirius resiste à vontade de tossir. Isso é... muito estranho. Ele está
absolutamente, resolutamente, não se envolvendo nisso, muito obrigado. Ele
tem problemas suficientes relacionados à mãe para enfrentar, então ele não vai
convidar mais para sua vida. Seu coração está com Frank, no entanto. Aquele
pobre homem.

"Ei, hum, ei... todos vocês vêem isso também?" Eli murmura
abruptamente, apertando os olhos enquanto levanta a mão para se apoiar na
linha do cabelo, olhando para a escuridão atrás deles.

Como um todo, todo o grupo se vira para ver do que ele está falando, e
Sirius também vê. No escuro, há formas se movendo na direção deles, e elas se
movem rapidamente.

No segundo seguinte, Asher e Warwick se aproximam, e Asher


grita, "Corra!"

Isso é tudo o que precisa ser dito, porque não se ouve corra dentro da arena
e simplesmente ignora. Em segundos, Sirius está se virando com todos os
outros e destruindo a passagem sem a menor ideia do que está fugindo.

O som de passos pesados atrás deles ressoa por Sirius, tão pesado que o
chão treme, então ele sabe que não é uma pessoa, ou mesmo um grupo de
pessoas. É outra coisa, algo feito pelas Relíquias, muito provavelmente.

"Me dê isso!" Warwick grita, batendo na lateral de Emmeline enquanto


tenta pegar sua besta. "Atire! Atire!"

"Saia," Emmeline rosna, empurrando Warwick e girando para longe.


Warwick cai no chão, imediatamente pisoteado por Asher e Eli enquanto eles

584
ZEPPAZARIEL

trabalham freneticamente para continuar correndo. Assim mesmo, deixado


para trás.

Warwick solta um grito horrível de gelar o sangue que Sirius não consegue
evitar de olhar, quase tropeçando quando vê o porquê. Há uma estátua muito
grande em forma de homem, com pelo menos quatro metros e meio de altura,
se não mais, com mãos de pedra que envolvem a caixa torácica de Warwick
para esmagá-la. A estátua não tem rosto, nem feições, o que de alguma forma
a torna ainda mais ameaçadora quando desmorona Warwick antes de rasgar
impiedosamente o corpo em dois.

O canhão soa.

Sirius continua correndo, seu coração batendo forte em seu peito enquanto
ele corre em uma esquina com o resto do grupo, quase derrapando de quão
rápido ele está se movendo na necessidade desesperada de colocar alguma
distância entre ele e aquela estátua.

Os passos recomeçam, a breve pausa na matança de Warwick termina, e o


ritmo da perseguição não traz nenhum conforto para Sirius. Não é tão rápido
quanto eles, mas devido ao tamanho, faz uma boa distância quando se move.
Se eles podem confundi-lo, talvez possam perdê-lo dessa maneira, e todos os
outros parecem concordar, porque todos estão dando cada passo que podem.

Sirius pode ouvir Eli chiando. Ele é mais velho e doente, passando por
uma desintoxicação sem água, comida ou remédios para ajudá-lo. Não é uma
surpresa quando ele tomba para trás, quando diminui a velocidade ou quando
cai completamente e atinge o chão.

"Merda!" Sirius explode, porque tudo o que ele consegue pensar é em seu
tio Alphard, e como Eli, aparentemente, era seu amante. Ele deveria deixar Eli
lá, mas ele não quer ser uma pessoa que faz isso. Isso pesaria mais sobre ele
do que matar Henri, e ele sabe disso.

Amaldiçoando novamente, Sirius se vira no lugar e corre de volta para Eli,


correndo para o lado dele para ajudá-lo a se levantar novamente enquanto o
som da estátua se aproxima. Ele não está sozinho. Marlene voltou também.
Ela está bem ali com ele, puxando Eli implacavelmente para seus pés e
empurrando-o de volta em uma corrida enquanto ela grita com ele.

585
CRIMSON RIVERS

"Sirius, Marlene, vamos lá!" Emmeline grita, balançando sua besta para cima
e desacelerando até parar. "Está bem al—"

Sirius e Eli tropeçam quando o apoio do outro lado é arrancado deles,


Marlene soltando um grito alto de dor quando a estátua a agarra pelo braço e
a puxa. Sirius ouve o braço dela quebrar, o barulho horrível ecoando em seus
ouvidos enquanto Marlene é arrastada pelo chão.

Não.

Não, não, não.

Isso não. Sirius não pode. Ele não pode.

Um grito coletivo de "Marlene!" ecoa quando ela é levantada no ar por seu


braço desajeitadamente dobrado, sua espada caindo no chão enquanto ela
chuta e se debate, tentando evitar que a estátua a agarre e a dilacere
completamente.

Sirius finca os calcanhares no chão e ergue sua lança, lançando-a com tanta
força que ele tropeça com um grunhido, que ele permite que a impulsione a
correr. A lança atinge a estátua diretamente no rosto, mas ela apenas bate na
pedra e desliza para fora, caindo no chão. No entanto, a força com que a lança
atinge faz a cabeça sem rosto balançar para trás como se estivesse evitando
um mosquito. Como uma distração incômoda, no máximo, mas uma distração
incômoda impede que ela mate Marlene, então...

"Atire! Emmeline, atire no rosto!" Sirius grita.

"Não tem rosto!" Emmeline grita de volta, mas ela solta um dardo bem na
cabeça mesmo assim.

A força de uma besta versus uma lança da força de Sirius é muito diferente.
É enorme, na verdade. Da besta, o dardo atinge velocidade e força que Sirius
não conseguiria apenas jogando sua lança. Então, quando ele aterrissa,
ele quebra a pedra, pequenas rachaduras se formando ao redor.

A estátua tropeça para trás, mas não solta Marlene.

Merda.

586
ZEPPAZARIEL

Ok, ok, pense. Porra. Pense, Sirius, pense. O que ele pode fazer?

Nada.

Ele não pode fazer nada.

"Marlene!" Sirius chama enquanto gagueja até parar embaixo dela. Ela paira
no ar bem acima dele, ainda lutando enquanto a estátua tenta inutilmente
pegar o dardo e arrancá-lo, exceto que as mãos da estátua são grandes demais
para lidar com isso. Os pés de Marlene estão bem acima da cabeça de
Sirius, fora de alcance. Ela estica a cabeça para olhar para ele, e ele pega sua
espada. "Aqui!"

Esse é o aviso que ele dá, e ela responde imediatamente, sua mão livre
caindo para alcançar a espada no momento em que ele a joga para ela. Ela
grita, provavelmente por causa da dor em seu braço enquanto ela se balança
para enfiar a espada nas rachaduras que se formaram na face da estátua ao
redor do dardo.

As rachaduras se estilhaçam, ficando mais amplas, viajando mais longe


como linhas de falha no vidro. Marlene pega a espada, abrindo caminho em
meio a outro grito de dor, então enfia a espada novamente. A cabeça da
estátua começa a se fragmentar pela frente, e abruptamente deixa Marlene ir
enquanto navega de volta.

Marlene cai no chão quando a estátua começa a cair, e Sirius pega sua
lança, girando-a em suas mãos enquanto corre para a frente para bater sua
lança na cabeça da estátua. A pedra racha e desmorona, a cabeça fica em
pedaços desintegrados e empoeirados enquanto a estátua para e fica imóvel.

Imediatamente começa a virar pó.

Sirius gira no local, sem fôlego, e corre até Marlene ao mesmo tempo que
Emmeline. Eli está de quatro, vomitando em uma cerca viva.

"Você está bem?" Sirius deixa escapar, estupidamente, enquanto cai de


joelhos ao lado de Marlene, que está pálida e embalando o braço contra o
peito, os dentes cerrados com dor visível.

"Eu vou viver," Marlene resmunga, então começa a rir. É seco e áspero em
sua garganta quando ela inclina a cabeça para trás, sorrindo para o céu com os
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CRIMSON RIVERS

dentes à mostra. "Vocês ouviram isso, seus filhos da puta? Eu vou viver. Eu
ainda estou viva. Eu ainda estou aqui, e ainda estou sobrevivendo! Como
vocês gostam disso? Vamos lá, o que mais vocês tem?!"

"Ok, cale a boca," Emmeline declara com firmeza, literalmente estendendo


a mão para cobrir a boca de Marlene. "Agora não é hora de provocar ninguém,
Marlene. Como está seu braço?"

Marlene faz uma careta ao redor da mão de Emmeline até que ela a deixa
cair, então resmunga a contragosto, "Está quebrado."

"Sim, obviamente, mas onde?" Sirius exige. Marlene bufa e fecha os olhos
antes de estender o braço para ele. Ele e Emmeline imediatamente começam a
inspecioná-lo, e então eles trocam um olhar. Sirius limpa a garganta. "Ok,
hum. Não—não é bom. Você vai precisar de uma tala. Alice tem—" Ele para
e olha ao redor, piscando. "Onde estão Alice e Augusta?"

Emmeline faz uma careta. "Elas estavam correndo na frente e fizeram uma
curva com Asher antes que Marlene fosse pega. Elas não viram isso acontecer,
e eu—eu não sei se elas vão conseguir encontrar o caminho de volta para nós.
Elas podem conseguir, mas até que as encontremos novamente, não temos
suprimentos."

"Ótimo," Sirius murmura, então solta um suspiro. Um minuto depois, ele


late, "Eli, me encontre alguns malditos gravetos."

"Ergh," Eli diz.

De alguma forma, Sirius sabe o que ele quer dizer. "Tire-os das cercas, se
for preciso. Eu não me importo. Apenas encontre alguns malditos gravetos que
eu possa usar como tala!"

"Aqui," Emmeline murmura, estendendo a mão para agarrar a lança de


Sirius no chão e cortando tiras de tecido de sua camisa.

"Obrigado," Sirius responde, ouvindo Eli tossir e tropeçar, murmurando


para si mesmo. O farfalhar das sebes torna-se mais pronunciado, e Eli gane.
Todos eles ignoram isso e ele, deixando-o aos seus caprichos.

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ZEPPAZARIEL

"Eu ainda tenho um braço," diz Marlene enquanto seus olhos se abrem
para olhar para onde seu braço quebrado está inchando e ficando roxo em
alguns lugares já. "Eu vou ficar bem. Eu ainda posso lutar."

"Ninguém está dizendo que você não pode," Sirius a assegura. "Talvez
você até consiga algum remédio de um patrocinador."

Marlene apenas bufa em dúvida.

"Que porra foi essa coisa?" Emmeline murmura, franzindo as sobrancelhas


enquanto ela olha para a pilha de poeira branca que resta da estátua.
"Era enorme. O topo quase chegava ao topo do labirinto."

"Seja o que for, foi assustador pra caralho," Sirius admite, franzindo o
nariz. "Pelo menos nós sabemos como matar, no entanto. Emmeline, você foi
brilhante. Você também, Marlene."

"Nós sabemos," Emmeline diz descaradamente, e ele ri.

Eli abruptamente vem tropeçando, cheirando muito mal, mas carregando


as varas solicitadas a ele. Ele pisca e afunda ao lado de Emmeline para olhar
para Marlene com um brilho de preocupação genuína em seus olhos. "Você
está bem, garota?"

Sirius acha que Eli não tem a menor ideia de qual é o nome deles, o que é
objetivamente hilário, e ainda assim ele parece conhecer Marlene o suficiente
para se importar com ela. Ele era seu mentor, e um não muito bom, ainda um
bêbado. Ele mal falava com os patrocinadores em nome dela, e ficava bêbado
o suficiente para chorar toda vez que algo dava errado para ela em seus jogos.
Ele chorou quando ela ganhou, também. Não eram lágrimas de felicidade. Ele
só ficava dizendo que ela não tinha ganhado nada.

Sirius sabe disso, porque ele foi um dos últimos que ficaram para assistir,
porque seu tributo naquele ano foi até os dois últimos. Ele queria que Marlene
morresse, na época, e agora está tão agradecido por ela não ter morrido.
Marlene matou seu tributo, e então ela se tornou sua amiga, e agora aqui estão
eles, colocados em posições onde eles podem ter que matar um ao outro, mas
ainda lutando muito para manter um ao outro vivo.

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CRIMSON RIVERS

Os olhos de Marlene suavizam um pouco quando ela oferece a Eli um


pequeno sorriso exausto. "Sim, eu estou bem, velhote. Você?"

"Poderia tomar uma bebida, mas eu tenho gravetos," Eli anuncia,


segurando-os com um sorriso cheio de dentes, faltando um par de dentes
além de seus lábios rachados e enrugados. "A cerca tentou me agarrar e ficar
com os gravetos, mas eu os peguei só para você."

"Eu agradeço," diz Marlene com uma risada cansada, "mesmo que isso vá
doer pra caramba. Apenas—acabe logo com isso."

"Quer ver se você pode quebrar meus dedos?" Emmeline brinca enquanto
estende a mão em oferenda.

"Cuidado, Vance, eu sou muito forte," Marlene responde enquanto ela de


fato estende a mão para pegar a mão de Emmeline.

"Sim, você é," Sirius concorda suavemente, tristemente, seu coração


doendo porque ela é, todos eles são, e ninguém deveria ter que ser, não assim.
"Tudo bem, prepare-se, McKinnon."

Marlene exala e fecha os olhos. "Faça o seu pior, Black."

Infelizmente, Sirius não tem escolha a não ser machucá-la na tentativa de


ajudá-la, então ele faz exatamente isso. Marlene não grita, nem chora, nem faz
quase nada. Ela morde o lábio e abafa um som de dor, mas agora, sua
tolerância é muito alta, e ela consegue apenas com a mão de Emmeline para
segurar. Emmeline faz uma careta junto com ela, dobrando os lábios e
passando por Marlene praticamente esmagando sua mão como um maldito
soldado.

Sirius é o mais rápido possível enquanto ainda é eficiente, usando o tecido


e as varetas para formar uma tala, então amarrando o braço dela ao peito e ao
lado dela, mantendo-o ali para evitar mais danos.

Uma vez que acabou, todos exalam em alívio.

"Ok, e agora?" Emmeline pergunta enquanto ela e Sirius ajudam Marlene a


se levantar, que mantém a espada na mão.

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ZEPPAZARIEL

"Bem, nós perdemos Alice e Augusta, mas não há canhões, então elas
estão bem. Asher também, ao que parece." Sirius olha ao redor lentamente. A
escuridão é tão densa agora que ele não consegue ver nenhuma das
extremidades da passagem, e só consegue distinguir as que estão próximas a
ele. Quando ele olha para o céu, ele instintivamente procura a lua, mas se
estiver lá em cima, se estiver lá, ele não consegue vê-la daqui. "Não adianta
continuar andando. Todos nós precisamos descansar, e será mais fácil para
Alice e Augusta nos encontrarem, se puderem."

"Ainda sem água ou fonte de comida, ou qualquer abrigo," diz Marlene.

Sirius suspira. "Não, mas podemos continuar procurando amanhã. Está


escuro demais para encontrarmos alguma coisa de qualquer maneira. Está
quente demais para uma fogueira, e talvez seja melhor se estivermos no
escuro, para não atrair ninguém ou qualquer coisa. Devemos dormir em turnos.
Posso ficar com o primeiro."

"Eu vou acompanhar você," murmura Marlene. "Não poderia dormir


agora nem se eu tentasse. Você está bem com isso, Em?"

"Sim, eu já estou cansada pra caralho," Emmeline admite, se jogando no


chão com um suspiro. "Vou esperar pelos estandartes, depois vou estar
apagada como uma luz."

"Eu estou muito cansado," Eli murmura, e mesmo enquanto diz isso, ele
está caindo para o lado para se enrolar no chão, os olhos se fechando. "Tem
sido um longo dia. Um dia muito, muito longo."

E, bem, ninguém pode discutir com isso.

Todos eles ficam em silêncio e se acomodam juntos após um longo dia,


preparando-se para uma longa, longa noite.

~•~

Regulus gostaria que ficasse registrado que ele não gosta dessas pessoas.
Não necessariamente porque são Comensais da Morte, que é um assunto
complexo por si só, neste contexto.

Dixon, por exemplo. Ele era um Comensal da Morte em seus jogos, mas
ele nunca parecia gostar de todo o aspecto do assassinato disso. Ele fez isso
591
CRIMSON RIVERS

para sobreviver e, na arena, isso faz dele uma pessoa ruim? Regulus não pensa
assim, não mais do que ele achava que isso fazia de Peter uma pessoa ruim. A
diferença é que Dixon não hesitou em matar no final de seus jogos, e Peter
sim. A diferença é que Dixon foi para casa e Peter não.

Mas há pessoas como Bellatrix, Alecto e até Thorfinn—que agora está


morto. Todos eles gostaram do aspecto do assassinato em seus primeiros jogos
e, embora não tenham vergonha de mostrar sua amargura por estar de volta
aqui, parecem tão inclinados a matar quanto estavam até então, mas quase
mais... cansados sobre isso, de certa forma? Como se eles fossem feitos para
isso. Como se isso fosse tudo o que eles sabem fazer agora, mesmo anos
depois de seus jogos. O trauma assume muitas formas, e este—bem, este por
acaso é prejudicial para mais do que apenas eles mesmos.

Até Thorfinn deixou claro que ele era sanguinário. Ele estava ansioso para
matar Sirius, como se fosse um prêmio. Eu vou conseguir matar, disse ele, como
se realmente fosse apenas um jogo em que ele poderia alcançar a pontuação
mais alta. Isso é uma maneira de lidar? Se for, Regulus encontra pouca ou
nenhuma simpatia por Thorfinn.

Depois, há Narcissa e Rabastan. Eles eram os encantadores, as coisas


bonitas que ninguém realmente conseguia quebrar em seus jogos. Inúmeros
patrocinadores os adoraram, tanto que o apoio dos patrocinadores e dos que
estavam na arena com eles os levou até o fim. Eles mataram, é claro que
mataram, mas apenas quando precisavam. Ainda parecia traição quando eles
se apresentavam como se não fossem uma ameaça. Narcissa se escondeu atrás
de um verniz de delicadeza; Rabastan se escondeu atrás de calor e calma que
ele armava para distrair do que ele era capaz. Ambos são camaleões, mudando
as sombras de si mesmos para o que melhor se adapta à sua sobrevivência.

Yaxley... Corban Yaxley, o bobo dos Comensais da Morte. Nunca o


melhor. Nunca adorado. Uma piada. Ele é uma maldita piada, todos falam sem
hesitar, que é uma das maiores razões pelas quais Regulus não tem
absolutamente nenhum respeito por ele. Em seus jogos, ele conseguiu tiros,
mas não fez muita coisa. Matar não é motivo de orgulho; Regulus não se
orgulha de ser um assassino. Yaxley matou uma pessoa no final de seus
jogos—uma que já estava sangrando e mal podia lutar e ainda quase o venceu
de qualquer maneira, veja bem—mas ele age como se isso o tornasse melhor,
ou mais forte, ou perigoso. Ele tem orgulho de matar, e nem é algo para se

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ZEPPAZARIEL

orgulhar, muito menos para ele, que não matava muito. É falso. Regulus não
gosta de coisas falsas, e ele realmente não gosta de Yaxley.

No entanto, aqui está ele, ficando com todos eles de qualquer maneira.

O labirinto permanece desorientador e sem direção. Não importa onde eles


vão, eles nunca parecem chegar a lugar algum. Eles estão tentando encontrar
Sirius, e há rumores de tentar localizar Thorfinn, que Regulus muito
inocentemente não comenta de qualquer maneira. Houve três canhões desde
que Thorfinn morreu. Regulus está escolhendo acreditar que um deles é Coen.

Regulus também está escolhendo acreditar que nenhum deles é Sirius. O


pensamento nem toma forma na cabeça de Regulus. Sirius está aqui, em
algum lugar, vivo. Ele ainda está aqui. Ele simplesmente está.

Está escuro agora, e o calor é... chato pra caralho, honestamente, mas eles
continuaram se movendo de qualquer maneira. Regulus e Rabastan têm bolsas
que vêm com lanternas, que eles usam para iluminar o caminho. Além do
alcance dos raios de luz que penetram na escuridão, está escuro como breu.

Isso torna imediatamente fácil identificar os estandartes quando eles


surgem no céu, mesmo antes que as primeiras trombetas comecem a tocar
para sinalizar. Como um todo, todo o grupo de Comensais da Morte parou
lentamente, inclinando a cabeça para olhar para o céu.

Como sempre, vai em ordem.

Os banners de Mavis e Velvet são exibidos juntos, o que significa que eles
morreram ao mesmo tempo, ou significa que os criadores de jogos queriam
destacar ainda mais a tragédia de suas mortes. É um lance para cima,
honestamente. Pode ser qualquer um de qualquer maneira e, por algum
motivo, suas mortes atingiram Regulus com força. Talvez porque, de certa
forma, eles o lembrem de seus primeiros jogos com James; apenas duas
pessoas profundamente apaixonadas, que não queriam viver uma sem a outra,
que não tinham interesse em ficar presas em uma jornada de sofrimento
juntas. Regulus pensa que, se ele e James tivessem voltado à arena desta vez,
seus destinos teriam sido semelhantes. Nenhum deles teria deixado a arena
sem o outro. Mavis e Velvet representam ainda mais o quão fodido tudo isso
é.

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CRIMSON RIVERS

Depois deles, é Henri. Regulus aperta os lábios em uma linha fina quando
vê seu rosto. Ele odeia admitir isso, mas ele congelou por um momento,
quando Henri o atacou. Estupidamente, tudo em que ele conseguia pensar era
em Bernice, e depois em seu bebê e marido, e como ela queria tão
desesperadamente viver, e como foi Peter quem o salvou quando ela o estava
estrangulando, uma lembrança tão vívida que ele quase esperava que fosse ele
mais uma vez.

Mas não foi. Foi Sirius, que quebrou o pescoço de Henri em menos de
trinta segundos logo depois, matando para Regulus em menos de cinco
minutos após o início do canhão. Isso enfurece Regulus, porque lá está ele
novamente, Sirius matando em seu nome, nem mesmo piscando um olho
como se isso não importasse para ele. Mas será importante para ele.
Será, porque essas coisas importam. Porque eles são quem são, e Regulus
ainda tem pesadelos com Avery, Quinn e Irene. Agora, por causa de Regulus,
Henri é apenas mais uma pessoa que assombrará Sirius.

Seguindo Henri está Thorfinn, e Regulus sente seu coração cair ao


perceber, de repente, que a próxima pessoa tem que ser Coen, ou todos
saberão que ele mentiu. Ele está na parte de trás do grupo, iluminando o
caminho em que todos estão andando, enquanto Rabastan está na frente,
iluminando o caminho à frente. Ele agarra sua adaga, sentindo seus músculos
se contraírem, os dedos flexionando ao redor da lanterna. Algumas pessoas
olham para ele, mas ele permanece estóico, impassível, como se não tivesse
nada com que se preocupar.

"Quero saber o que aconteceu com ele," murmura Alecto, e ela não
parece... satisfeita, exatamente. Afinal, eles vieram do mesmo distrito. Talvez
fossem amigos. Mas ela também não parece chateada, na verdade. Apenas
meio que—resignada. Talvez um pouco distante, como se ela já tivesse
chegado a um acordo com isso de antemão.

A bandeira de Thorfinn se desvanece, e Regulus sente seu coração bater


forte em seu peito enquanto seus músculos ficam tensos em preparação para
correr. Não é até que o estandarte de Coen substitui o de Thorfinn que ele
sente seus músculos se soltarem e seu coração acelerado lentamente se
acalmar. A corrente de tensão que percorre o grupo, dirigida diretamente a ele,
se dissolve de uma só vez.

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ZEPPAZARIEL

Regulus sente que merece um troféu, ou algo assim, por ser um mentiroso
tão bom. Ele recebe isso de sua mãe, ele sabe disso, mas neste cenário, ele
é muito grato por isso. Olhe para isso, sua mãe fez algo que valeu a pena para
ele, afinal.

Alowyn, do distrito oito, segue atrás de Coen, e depois Warwick por


último, também do oito. Então, um do doze, dois do dez, ambos de oito, um
do sete e um do três. Sete mortos ao todo, apenas na primeira noite.

Merda.

Regulus sabia que seria brutal, ele sabia, mas não consegue pensar em uma
arena em que mais de cinco morreram na primeira noite. Sim, duas das mortes
aqui foram suicídios, mas ainda assim. Ainda são sete pessoas. Restam
dezessete pessoas.

Ele faz um resumo rápido. Bellatrix e Narcissa do um. Yaxley e Rabastan


do dois. Alecto do três. Asher e Majesty do quatro. Alice e Augusta do cinco.
Sirius e ele mesmo do seis. Lester do sete. Emmeline e Dixon do nove.
Marlene e Eli do onze. Camila do doze.

De todas essas pessoas, apenas quatro não estão em um grupo de aliados.


Asher, Majesty, Lester e Camilla. Se Regulus tivesse que adivinhar, todos eles
estão fazendo isso sozinhos e farão tudo o que puderem para ficar sozinhos,
provavelmente esperando que os dois grupos maiores se matem. É um plano
inteligente, francamente. Também é perigoso, porque estar sozinho significa
que você é mais fácil de matar.

Quanto aos grupos—bem, eles estão empatados, na verdade. Os aliados


que Sirius tem são de pouca importância para Regulus; ele está aqui por uma
coisa e apenas uma coisa.

Há o pensamento passageiro de Emmeline—a que ele mais gosta, uma


com a qual ele sente uma leve sugestão de conexão, através de Evan. Ele
não—é tolice, possivelmente, mas ele não pode deixar de se sentir um pouco
doente com a ideia dela morrer, especialmente se ele tiver uma mão nisso.
Evan respeitava Emmeline. Parece mais uma traição para ele, de alguma
forma. Regulus já teve uma mão em matar seu melhor amigo, e agora isso?

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CRIMSON RIVERS

Regulus sente falta dos pesadelos em que Evan vinha visitá-lo. Ele quer
outro, egoisticamente. Ele quer se desculpar. Ele nunca chegou a se desculpar,
não corretamente.

Há tanta coisa que ele sente muito, agora.

"Acho que devemos parar," anuncia Narcissa assim que os banners


desaparecem. "Estamos desperdiçando as baterias nas lanternas apenas
vagando, e precisamos descansar. Vamos parar, Bella."

"Você não é divertida, Cissy, nada divertida," Bellatrix reclama, mas ela
suspira e acena com a cabeça de qualquer maneira. "Tudo bem, vamos
acampar aqui então, e dormir em turnos. Um grupo de três, o resto em pares.
Reivindiquem seus parceiros agora. Eu quero Alecto."

"Absolutamente não," Narcissa protesta imediatamente. "Ela é minha."

"Você só a quer porque eu disse ela primeiro," Bella diz.

"Não, eu a quero porque ela é a porra de um pesadelo com uma espada,"


Narcissa corrige.

Alecto parece bastante satisfeita por ter sido disputada, e ela levanta as
mãos, os lábios se contraindo. "Senhoras, senhoras, por favor, não há
necessidade de discutir. Há o suficiente de mim para as duas. Seremos apenas
uma equipe de três, sim?"

Regulus acha que Alecto é muito louca por se sujeitar a uma mudança de
lidar com duas das irmãs Black, que são tão dramáticas e ridículas quanto os
irmãos Black quando querem ser. Ele está silenciosamente grato que elas não
sentiram a necessidade de reivindicá-lo, o que certamente teria sido uma dor
de cabeça, embora elas provavelmente não o fizessem simplesmente porque
deixaria o resto do grupo inquieto. Uma demonstração clara de lealdade
familiar, ou um sinal de que eles são um trio que pode estar planejando matar
o resto enquanto dormem, e Regulus pode admitir internamente para si
mesmo que está pelo menos um pouco tentado pela ideia.

"Ok, eu quero Regulus," declara Rabastan.

Regulus se contrai. Ele não se importa muito, desde que não seja Yaxley,
que ele realmente não tem certeza de que seria capaz de se abster de matar se
596
ZEPPAZARIEL

o homem o empurrasse longe o suficiente. Dixon não seria um problema, ele


não acha. Ele prefere que seja Dixon, porque ele é um homem mais velho e
rude que não tem muito a dizer, enquanto Rabastan é... Bem, ele é amigável,
mais ou menos.

E não, não, Regulus não vai fazer isso de novo. Ele simplesmente não vai.
Ele sente como se pudesse acidentalmente se afeiçoar por Rabastan de alguma
forma, e isso simplesmente não vai acontecer. Ele não está aqui para fazer
amigos. Não foi bem para ele da última vez, literalmente só no ano passado,
até a porra do mesmo dia. Exatamente um ano atrás, Regulus passou o dia
com Evan Rosier, subindo em uma árvore para pegar as armas, aprendendo a
confiar, sem saber que estava em um relógio que estava acabando onde o
melhor amigo que ele nem sabia que teria ia deixá-lo, antes mesmo que
pudesse encontrá-lo e conhecê-lo.

"Não," Regulus diz friamente. "Eu estou com Dixon."

"Tudo bem por mim," Dixon concorda com um grunhido.

Rabastan estala os lábios. "Bem, droga, me diga como você realmente se


sente. Só porque eu estou no mesmo distrito que Corban não significa que
temos que formar duplas. Eu não quero ficar preso com esse guardanapo
molhado de homem—"

"Ei!" Yaxley deixa escapar, ofendido.

"Siga isso, botão de ouro," Bellatrix diz a Rebastan, que não parece se
importar que Yaxley esteja olhando para ele. "As damas vão fazer o primeiro
turno enquanto todos vocês dormem, então vamos alternar para Dixon e
Regulus, então para você e Corban. Parece bom?"

Um resmungo baixo de concordância ecoa para ela, e todos eles começam


a se acomodar. Regulus não admitiria isso nem para salvar sua vida, mas ele
honestamente se sente mais seguro com suas primos e Alecto, então é ao lado
de quem ele se senta. Bem, na verdade, ele se senta atrás delas, do lado de fora
do círculo do grupo, como se as estivesse usando como escudo. Ele não pode
evitar. Sua paranóia não o deixa fazer mais nada.

Ele também não tem interesse em participar da conversa baixa que todos
começam entre a distribuição de água e comida das três sacolas de

597
CRIMSON RIVERS

suprimentos do grupo. Regulus relutantemente intervém, porque seria ruim se


ele não o fizesse, mas ele não está feliz com isso. Ele os ouve teorizar sobre o
que realmente aconteceu com Thorfinn, discutir quais são os planos para o dia
seguinte e fazer comentários sobre como a arena está uma merda este ano.
Em silêncio, ele come e bebe água.

"Ei, me dê mais disso," Narcissa exige, estendendo a palma da mão para


Bellatrix, que estava prestes a passar o pequeno pacote de frutas secas de volta
para Regulus. Um pequeno sorriso curva sua boca. "Eu estou comendo por
dois, afinal."

Bellatrix estala a língua e se inclina para frente para despejar um pouco


mais para ela, refletindo, "Como está o pequeno Draco?"

"Oh, ele está bem por enquanto," Narcissa responde, seus olhos brilhando
com aquele brilho muito específico que existe em sua família; um sinal de
conspiração, um sinal de perigo, um sinal que Regulus percebe ali mesmo
porque ele viu o suficiente para saber o que é e o que significa. Assim como
ele, Bellatrix, Sirius, Andrômeda e toda a família deles—Narcissa também é
propensa ao drama. Ele sabe que ela não está grávida.

Ele a respeita muito por fingir estar. Ele acha que ela é bastante hilária por
isso, na verdade. Não há dúvida em sua mente de que ninguém além de sua
família realmente sabe que ela está apenas mentindo. Andrômeda certamente
também sabe. Regulus se pergunta o que ela pensa sobre tudo isso. Ela está
em casa com Ted, assistindo a tudo isso enquanto força Dora a brincar em
outra sala, para que ela não precise ver? Ela sente dor, vendo suas irmãs, seus
primos, sua família na arena novamente, tudo de uma vez?

Regulus se força a parar de pensar nisso.

"Tudo bem, jantar acabado, luzes apagadas," Bellatrix ordena, e Regulus


apaga sua lanterna ao mesmo tempo que Rabastan.

A escuridão imediatamente desce sobre eles, densa e sufocante, tanto que


Regulus não consegue ver mais ninguém. Seus olhos estão tentando se ajustar,
e isso só o deixa mais nervoso. Ele não se deita para dormir, ainda não, tenso
demais até para conseguir.

598
ZEPPAZARIEL

Ele pode ouvir os outros se acomodando. Dixon está roncando em menos


de cinco minutos. Rabastan pede muito educadamente para usar o colo de
Alecto como travesseiro, e ela permite. Yaxley resmunga e reclama do ronco
de Dixon, depois se cala e depois começa a roncar também.

"Eu posso ver você sentado aí, fofura," Bellatrix murmura, porque seus
olhos se ajustaram como os dele, apenas o suficiente para distinguir as formas
no escuro. "Vá dormir."

Regulus não responde, mas ele se deita rigidamente, com os olhos bem
abertos enquanto encara o nada. Ele não acha que vai conseguir dormir uma
piscadela, mas então Narcissa começa a cantarolar suavemente uma melodia
suave que ela cantava quando ele era jovem, antes de tudo isso, antes que
qualquer um deles conhecesse os horrores da arena e era apenas ele e seu
irmão sendo cuidados por suas primas mais velhas em uma casa vazia e uma
família vazia ainda tentando juntar suas partes quebradas, antes que os jogos
chegassem e os destruíssem, para sempre.

Desamparado, os olhos de Regulus se fecham. Com a ajuda da canção de


ninar de Narcissa e a presença fantasma de James que sua mente evoca bem
ao lado dele, Regulus dorme.

~•~

Remus pega o elevador até o porão, sua mente ainda agitada com a
memória do primeiro dia dos jogos, cheio de Sirius e tudo o que aconteceu
com ele.

Ele é brilhante. Sirius é absolutamente, inequivocamente brilhante e muito


corajoso. Ele matou alguém tão rápido, e o coração de Remus doeu, porque
ele conhece Sirius. Ele sabe que Sirius vai manter o foco e apenas—não lidar
com como isso o afeta, porque seu objetivo principal é salvar Regulus, e para
ele, nada mais importa além disso.

Mas Remus sabe que isso importa para ele, no fundo, ou importará. Sirius
luta tanto com a sensação de que as Relíquias o moldaram em algo que ele
nunca quis ser, e isso certamente só aumentará isso. Agora, ele pode usar a
desculpa de que está fazendo isso por seu irmão, como um escudo.

599
CRIMSON RIVERS

A questão é que não é bonito ver Sirius assassinar. Ele é lindo, mesmo em
meio a um assassinato, mas não há beleza no fato de que ele é colocado em
uma posição em que precisa. Sirius não merece isso. Ele merece existir sob a
luz das estrelas, olhos brilhando, rosto corado de prazer porque Remus o está
tocando e sua família está por perto. Isso é tudo que Sirius quer, na verdade.
Estar com as pessoas que mais ama, seguro e tranquilo, presente com as
memórias que ele terá prazer em guardar. Remus descobriu tudo agora.

É simples. Sirius quer uma vida simples. Ele quer Remus, e quer James e
Regulus em algum lugar por perto, e quer os pais que ele tem orgulho de ter.
Ele quer construir, e amar, e deixar para trás o sangue, a dor e a morte.

Remus quer o mesmo. Talvez por isso eles funcionem tão bem. Porque
eles querem seu amante, sua família e seus melhores amigos. Porque eles
querem liberdade.

Porque eles querem tudo.

Agora, porém, o que Remus mais quer, talvez egoisticamente, é que Sirius
viva.

Apenas viva.

Por favor, viva.

Volte, Remus pensa entrecortado, impotente, desesperado. Volte para


mim, amor, por favor.

O elevador toca, e Remus levanta a cabeça enquanto sai, movendo-se com


o silêncio habitual pelo corredor em direção às celas para as quais ele tem que
voltar todas as noites. A maioria dos outros servos provavelmente já estão lá,
dispensados após o jantar e não mantidos se não tiverem outras tarefas ou
exigências a cumprir. Remus, claro, fica até o último momento possível.

Tinha sido necessário, sua presença. Ele não estava preparado para o
quanto significava para James e Pandora que ele estivesse lá com eles, nem
estava preparado para o quão reconfortante era para eles estarem lá com ele.
Todos se sentaram juntos, observando e estendendo a mão para tocar,
murmurando tranquilizações e simplesmente tentando passar por isso como
um grupo.

600
ZEPPAZARIEL

Todos eles têm emoções misturadas sobre tudo o que aconteceu até agora,
principalmente com Regulus. James estava firme, Remus podia ver isso,
apenas murmurando que Regulus era um bom mentiroso e um homem
imprevisível, e isso não poderia ser apenas o que parece. Pandora—a pobre
Pandora estava tão inocentemente confusa, meio que arrasada com a coisa
toda, e ela continuou gaguejando que não fazia o menor sentido. Mas Remus?

Oh, Remus está com raiva.

Eu vou fazer ele se arrepender. Ele vai se arrepender dessa vez, Remus. Ele
vai, Regulus disse.

Remus pode ver agora que ele falava sério. Ele não pensou por
um segundo que Regulus quis dizer isso dessa maneira, e está genuinamente
irritado que isso é o que ele escolheu fazer. Ele entende que Regulus tem
problemas muito complexos em torno de Sirius, especialmente com Sirius se
voluntariando por ele, mas traí-lo assim?

Vai partir o coração de Sirius.

E então, Remus está com raiva. Ele quer cair na arena com o único
propósito de acertar o rosto de Regulus, depois pegá-lo pelos ombros e sacudi-
lo. Ele deseja—oh, ele realmente deseja tentar fazer Regulus ver melhor,
entender mais claramente; que Sirius está fazendo tudo isso por ele; que Sirius
também está com medo; que Sirius quer viver como todo mundo, mas ele está
pronto para dar sua vida por alguém que escolheu, por maldade, raiva e dor,
machucá-lo.

Regulus é ingrato. Isso é tudo que Remus pode pensar. Talvez venha de
um lugar de raiva, ele não tem certeza. Talvez seja apenas ele se agarrando a
qualquer desculpa que possa usar para aliviar a pequena culpa nele por desejar
que Sirius voltasse para ele, mesmo que isso signifique que Regulus morrerá.
Talvez Remus ame tanto Sirius que ele automaticamente quer dar uma surra
em qualquer coisa ou alguém que o machuque, mesmo que seja seu irmão
teimoso e traumatizado, mesmo que seja alguém que Remus considera um
amigo, apesar de tudo.

E Remus sabe, racionalmente, que fazer o que for preciso para sobreviver
na arena não faz de alguém automaticamente uma pessoa ruim. Ele até sabe,
racionalmente, que na verdade não sabe o que Regulus vai fazer, ou qual é o

601
CRIMSON RIVERS

seu plano. Ele também sabe, racionalmente, que Regulus é uma merda em ser
um Comensal da Morte até agora, pelo que ele viu, já que ele já matou alguém
que ameaçou Sirius.

Ele sabe de tudo isso, racionalmente, mas acontece que Remus é mais do
que um pouco irracional quando se trata da segurança e bem-estar de Sirius.
Ele está apaixonado. Processe ele.

Quando Remus faz uma curva para o corredor com todas as celas
esperando, ele ouve o elevador tocar atrás dele novamente, originalmente
assumindo que é apenas outro servo descendo atrás dele, pelo menos até
ouvir vozes abafadas.

Remus para bruscamente, então imediatamente se encosta na parede e


força os ouvidos para ouvir, porque ele é intrometido e absorve fofocas como
uma esponja.

"—não entende o quão rigorosa a Sra. McGonagall é. Quero dizer, ela


realmente comanda com a mão firme," diz uma voz baixa, as palavras mal
alcançando Remus no final do corredor.

"Você tem acesso aos painéis de controle como alguns dos outros
criadores dos jogos. Certamente você pode... fazer algo acontecer, não pode?"
é a resposta suave e sedosa.

Os olhos de Remus se estreitam. Ele conhece essas vozes. O primeiro


pertence a um criador dos jogos de baixo nível chamado Verna. O segundo é
ninguém menos que Lucius Malfoy, mentor do distrito um. Remus sabe disso,
porque ele trabalhou em festas com eles presentes, mesmo no ano passado.

"A Sra. McGonagall dirige tudo," Verna insiste em um silvo baixo. "Nada
passa por ela, estou lhe dizendo."

"Eu duvido que ela se importaria com isso, não é?"

"Ela diz que já tem planos para Sirius Black. Ela está de olho nele,
especialmente. Eu fui orientado a dar a Eli Zatish uma lança apenas para que
ela chegasse até ele. O que quer que ela tenha planejado, eu acho—bem, eu
acho que vai ser brutal. Honestamente, você deveria ver algumas das ordens
que temos tido. Eu não digo isso com frequência, mas é—é doentio."

602
ZEPPAZARIEL

Há uma pausa, e então Lucius suspira e murmura, "E Regulus Black,


então? Ela o observa de perto também?"

"Ela observa todos eles," explica Verna. "Como a porra de um gato que
nunca pisca. É terrível. Mas... eu—quero dizer, eu provavelmente poderia ter
certeza de que pelo menos um dos planos dela será direcionado para Regulus.
Talvez. Ou eu posso tentar."

"Ah, adorável," Lucius diz com um zumbido de satisfação. "Exatamente o


que eu queria ouvir. Venha, Verna, vamos passar pela garagem e tomar uma
bebida no pub. Vamos discutir os detalhes do nosso... acordo."

Remus se afasta da parede e se move rapidamente pelo corredor, entrando


em sua cela aberta assim que Lucius e Verna passam pela abertura no final do
corredor. Quando ele cruza a soleira, o sensor emite um ping suave, a luz
vermelha acima fica verde quando as portas das celas se fecham com um
tinido baixo.

Por um instante, Remus fica parado ali, com o coração acelerado, tentando
recuperar o fôlego dentro da máscara. O medo aumenta dentro dele enquanto
ele afunda em sua cama fina, as mãos tremendo enquanto as lágrimas picam
em seus olhos, puro pânico varrendo-o até que ele tenha certeza de que seu
coração vai bater para fora do peito.

Porra.

Porra.

De repente, Remus não tem espaço para raiva dentro dele por Regulus,
apenas medo por seu amigo. Não, toda a sua raiva muda e aponta para uma
nova direção, para Lucius Malfoy, para os criadores dos jogos, para Riddle.

Só assim, Remus é lembrado da realidade de tudo isso. Como um tapa na


cara, ele percebe que aqueles na arena não são realmente os culpados por tudo
o que acontece lá.

Nos bastidores, alguém está sempre puxando as cordas.

603
CRIMSON RIVERS

49
UMA LIÇÃO

James sorri para ele, gentilmente, e Regulus não consegue evitar sorrir de
volta. É reflexivo. Ele sente a mesma palpitação no coração que sempre sente
quando James olha para ele, especialmente quando James está olhando para
ele assim.

"Nós teríamos votos?" James murmura.

"Eu escreveria um poema para você," diz Regulus. "Você poderia ler, mas
não em voz alta. Só você saberia."

"Oh? Um poema de menino triste só para mim?" James pisca seus cílios,
seu sorriso crescendo. "Reg, eu estou honrado."

Regulus bufa uma risada suave. "Triste? No dia do nosso casamento? Não,
não seria triste. Nem um pouco."

"Você estaria feliz, então?"

"Sim. Por que eu não estaria?"

"Eu te faço feliz?" James pergunta.


604
ZEPPAZARIEL

"Você me lembra que a felicidade existe," admite Regulus.

O sorriso de James desaparece lentamente. "Então, por que você está


fazendo isso?"

"Fazendo o quê?"

"Você sabe o quê."

"Pare com isso, James," Regulus sussurra, engolindo em seco enquanto


examina as feições de James, carregadas de tristeza e dor. "Você sabe por que
eu estou fazendo isso. Eu preciso. É—é por você, tanto quanto é por mim. Por
favor, me diga que você entende."

"Eu não entendo," James sussurra de volta, e ele se apoia no cotovelo,


lágrimas se formando em seus olhos enquanto ele olha para Regulus. "Eu não
entendo, Regulus. Por quê? Não tem que ser assim."

"Sim, tem," Regulus engasga.

"Isso não é o que eu quero," James insiste. "Por favor, amor."

Regulus se encolhe quando uma lágrima atinge sua bochecha, molhada e


fria contra sua pele. "Você não quer dizer isso. Você nunca diria isso para
mim, James. Eu não acredito em você."

"É verdade," James respira, estendendo a mão para a bochecha de Regulus,


exceto que o peso de sua mão parece nada mais do que um sussurro de vento.
"Desculpe, mas é verdade. Por favor, não faça isso. Eu estou implorando, Reg."

"James," Regulus murmura, então recua novamente quando a próxima


lágrima cai em seu rosto, e depois outra, e depois uma mais pesada. Sua
respiração fica presa. "J-James? James, não—por favor, pare de chorar. É—
eu—eu não posso—"

"A culpa é sua," James diz a ele, mais lágrimas escorrendo, atingindo o
rosto de Regulus, seus braços expostos, sua pele. Está molhado e frio, fazendo-
o tremer e tentar se afastar dele. "É o que você faz. Isso é tudo que você sabe
fazer."

"James—"

605
CRIMSON RIVERS

Regulus dá outra vacilada violenta quando uma lágrima atinge o canto de


sua boca, embora não tenha gosto de sal. O deslizamento de água de sua
bochecha em sua boca o faz ofegar, engasgando quando mais lágrimas brotam
de seus lábios, e então seus olhos se abrem quando ele acorda e descobre que
está chovendo.

Está caindo com força agora, aumentando o ritmo, não é visível no escuro.
Ainda é noite, ainda é a primeira noite, e talvez ele tenha dormido algumas
horas, no máximo. A chuva o acordou, e a primeira coisa que ele faz é se jogar
para trás como se pudesse fugir, mas não há para onde correr.

Distante, Regulus pode ouvir o som de Bellatrix rindo de prazer, sua forma
girando na chuva com os braços estendidos, Narcissa rindo de acordo quando
ela sussurra como a chuva é gostosa no calor.

Sorte delas.

Para Regulus, é diferente.

Nenhuma parte disso é legal. Ele não gosta de água, principalmente a água
que ele pode sentir correndo sobre sua pele, especialmente no seu rosto. Estar
em um banho é ruim o suficiente, e ele tem isso como uma ciência neste
momento, confortável na rotina disso, conhecendo seus limites e ajustado em
como ele lida com seu trauma em torno da água. Ele sabe exatamente como
lavar o cabelo e o corpo sem enlouquecer; ele sabe exatamente como viver
uma vida plena e limpa sem se mobilizar para isso.

A chuva não faz parte de sua rotina, por motivos óbvios. É a forma como
seu cabelo cai na testa e nas laterais do rosto, um peso constante sob a pressão
de mais água corrente, não diferente de sair do rio carmesim com o cabelo
grudado na pele, pesado. É a água encharcando suas roupas, pesando-
as, puxando-o da mesma forma que no rio, quando ele lutou tanto para fugir,
para escapar das mãos e da correnteza do rio que o arrastava para baixo. É o
líquido em sua boca, confundindo sua mente enquanto ele luta para respirar,
desesperado para engolir para sobreviver, sentindo o gosto do sangue e
ofegante. É a completa falta de controle, e não há escapatória, e ele está
morrendo de novo.

Ele está morrendo de novo.

606
ZEPPAZARIEL

Regulus se empurra de volta para a escuridão, mais longe de todos, a mão


voando para apertar sua boca com tanta força que ele está apertando sua
mandíbula, apenas para ter certeza de que ninguém o ouvirá chorar. Eles não
podem saber. Eles não podem ver isso, não podem vê-lo fraco e vulnerável e
fácil de derrubar.

Ele arrasta a bolsa para cima com a mão livre e a coloca em cima de si o
máximo que pode enquanto se curva para a frente e abaixa a cabeça entre o
abrigo da bolsa e os joelhos. Ele dobra os cotovelos e se encolhe o máximo
possível, pressionado em uma bola compacta e apertada. Ele ainda pode sentir
a chuva batendo nos ombros, na nuca, nas laterais dos braços, na frente das
pernas. A única coisa protegida é sua cabeça, peito e coxas, que estão
principalmente bloqueadas da bolsa e como ele se dobra sobre si mesmo. A
água escorre de seu cabelo e da ponta de seu nariz direto para seu colo,
lágrimas misturadas a ela.

Uma mão pressionada na boca para abafar o som de seus soluços e


respiração irregular, a outra segurando sua adaga como uma tábua de salvação,
Regulus senta-se lá e aguenta.

Bellatrix continua a brincar na chuva.

~•~

Sirius acorda no momento em que percebe que está chovendo. Está


quente, úmido e espesso, então a chuva parece boa, na verdade. Apenas não
para todos. A mente de Sirius vai imediatamente para Regulus, e ele fica de pé
em segundos.

Emmeline e Eli estão tecnicamente de vigia agora, embora seja claramente


Emmeline fazendo o trabalho pesado nisso. Eli está um pouco ocupado
demais tremendo e suando, gemendo de dor, trabalhando no que
provavelmente vale décadas de ingestão consistente de álcool fora de seu
sistema. Não está indo bem para ele.

"Sirius?" Emmeline murmura.

"Eu—eu tenho que ir," Sirius deixa escapar, pegando sua lança e apertando
os olhos através da escuridão impotente.

607
CRIMSON RIVERS

"O quê? Ir? Sirius, ir para onde? O que você está—"

"Eu—eu tenho que encontrar Regulus."

Emmeline suspira. "Ok, eu sei, mas você não vai conseguir encontrá-lo
agora."

"Não, você não entende," Sirius sussurra, quase frenético neste momento,
sentindo a chuva escorrer de seu cabelo. Oh, está caindo com força. Porra.
"Eu tenho que encontrá-lo, Em, agora. Ele—ele precisa de mim. Ele precisa de
mim agora."

"Sirius, pare," Emmeline diz bruscamente quando Sirius se vira, totalmente


preparado para começar a correr.

Sirius se vira e diz, "Isso não é a porra de uma piada. Você não entende.
Ele—ele não aguenta a chuva, certo? Ele—ele tem aquafobia, o que significa
que ele provavelmente está um desastre agora, então eu preciso encontrá-lo, eu
tenho que chegar até ele e—"

"Se você for, você não será capaz de encontrá-lo de qualquer


maneira," Emmeline o informa duramente, brutalmente honesta. "Está muito
escuro para qualquer coisa, e você não vai encontrá-lo antes que eles queiram.
Sirius, não há nada que você possa fazer por ele."

A pior parte é que Sirius sabe que ela está certa. Ele sabe disso, e ainda
assim, tudo o que ele quer fazer é vasculhar cada centímetro desse labirinto
para encontrar Regulus o mais rápido possível. Ele nem tem certeza do que
faria quando o fizesse. Não é como se ele pudesse parar a porra da chuva. Mas
ele poderia bloquear um pouco dela, certo? O que quer que ele tivesse que
fazer, ele faria. Se tudo o que ele pudesse fazer fosse sentar lá e conversar com
Regulus sobre isso, é o que ele faria. Pelo menos ele estaria fazendo alguma
coisa.

"Sirius," Emmeline diz gentilmente, "Você não pode protegê-lo de tudo.


Você pode tentar, mas nem sempre será capaz."

Algo em Sirius rosna abertamente com isso. Sim, eu posso, e eu vou, ele pensa,
instintivamente, furiosamente.

Exceto que não, não, ele não pode.


608
ZEPPAZARIEL

Ele nem sempre conseguiu.

E ele não vai desta vez.

Sirius não pode parar a chuva, e ele não pode chegar a Regulus, e ele sente
vontade de destruir o mundo por causa disso. Ele sente vontade de
desenraizar todo este labirinto para abrir caminho para seu irmão. Ele está
desamparado, frustrado e preso.

Tudo o que ele consegue pensar é em Regulus em algum lugar lá fora,


tremendo e soluçando, mesmo no calor. Chorando. Encharcado. Sofrendo.
Tão preso e indefeso quanto Sirius se sente, passando por uma tortura que,
por sua vez, parece tortuosa para Sirius.

"Sente-se," Emmeline ordena, e Sirius o faz. "Pegue a chuva que puder e


beba ela. Mantenha-se hidratado. Onde quer que Regulus esteja, ele está vivo.
Sem canhão, lembra?"

Sirius faz o que ela diz, juntando as palmas das mãos para pegar punhados
de chuva e beber lentamente. Ele diz a si mesmo, enquanto o faz, que talvez
Regulus esteja dormindo com isso. Ou talvez ele tenha encontrado um lugar
no labirinto com algum abrigo, e Sirius está se preocupando à toa. Talvez,
talvez, talvez.

Se Regulus está, possivelmente, esperançosamente bem ou não,


ele está vivo, e isso é o que mais importa, agora.

A chuva não para até de manhã, mas um canhão nunca soa, e o peito de
Sirius dói de tristeza e pulsa de orgulho por saber que, apesar de tudo, Regulus
sobreviveu.

~•~

Dorcas se senta na beirada de sua cadeira e olha para a tela com os olhos
arregalados, a respiração presa enquanto ela assiste Rita fazer a recapitulação
da noite anterior, tocando alguns momentos de destaque que não foram
transmitidos ao vivo. Ela precisa saber que Marlene sobreviveu à noite. Ela
não vai respirar novamente até que o faça.

609
CRIMSON RIVERS

Marlene, que quase morreu. Marlene, que agora está com o braço quebrado.
Marlene, que felizmente ainda tem o anel na outra mão. Marlene, cujos pais
foram mortos da mesma forma que Fabian e Gideon.

Dorcas tem estado persistentemente enjoada desde o momento em que os


jogos começaram, e só piorou com tudo o que deu errado até agora, um logo
após o outro, e foi apenas a porra do primeiro dia. Não parece promissor para
o segundo.

Mas lá. Um pequeno clipe de Marlene no tom de verde vago da visão


noturna das câmeras, olhos brilhando como orbes opacos, sobrenaturais e
monstruosos. Lindos. No clipe, ela está bebendo água enquanto chove em sua
mão livre, a outra ainda amarrada em uma tala contra seu corpo. Ela chegou
até a manhã.

Dorcas expira.

O clipe muda para mostrar Regulus, que claramente teve uma noite muito
ruim. O coração de Dorcas aperta ao vê-lo assim, pequeno e com medo. Ela
se lembra de quando Sirius veio até ela depois dos jogos anteriores e
perguntou a ela, esperançosamente, se havia alguma maneira possível de ela
acomodar a aquafobia de Regulus, deixando-o tomar banho com pouca água,
o quanto fosse necessário para ajudá-lo a se limpar, e se ela ficaria e falaria
com ele através disso. Ela concordou. Claro que ela concordou.

Ela sentou-se ali mesmo na no banheiro com ele e ficou de costas para ele
enquanto falava, explicando seus tecidos favoritos para trabalhar, falando
sobre o efeito que o corte da roupa pode ter na percepção de uma roupa,
divagando sobre seu sentimento pessoal que os acessórios às vezes podem
unir uma roupa ou desconstruí-la completamente. Ela falava e falava e sabia
que ele mal entendia uma palavra enquanto tomava banho atrás dela,
chorando o mais baixinho que podia durante todo o processo.

Isso havia partido seu coração.

Vê-lo assim também.

Mas ele está vivo. Ele conseguiu passar a noite, assim como Marlene, assim
como Sirius. Estão todos vivos, um dia mais perto da liberdade se

610
ZEPPAZARIEL

continuarem sobrevivendo. Eles estão aqui, não importa como a noite os


tratou—o que não foi bem, não mesmo.

Honestamente, a noite não pareceu tratar bem nenhum dos tributos


restantes. Os clipes passam basicamente por todos eles acordando em algum
momento de pesadelos, ou simplesmente paranóicos. A condição de Eli só
piorou durante a noite, a ponto de ser tocante, uma ameaça genuína de morte
no horizonte. Ele conseguiu, mas Dorcas não tem ideia se ele vai funcionar
esta manhã ou não. Há o desconforto de Marlene com o braço, Majesty
dormindo em ataques de uma ou duas horas de cada vez antes de
aparentemente se sentir compelida a se levantar e se mudar para um novo
local, e mais do que algumas pessoas acordando de pesadelos durante o sono,
algumas até tendo ataques de pânico.

Isso inclui os Comensais da Morte, o que provavelmente não deveria


surpreender Dorcas tanto quanto surpreende. Mesmo eles não estão livres de
como estar de volta à arena os afeta. Alecto quase arrancou a cabeça de Dixon
com sua espada quando ele a acordou porque ela estava gemendo e chorando
em seu sono. Rabastan acordou com lágrimas brilhando em suas bochechas.

E depois há Sirius, que Marlene cutucou de longe com um pau durante seu
pesadelo, o que acabou sendo uma coisa boa quando ele apareceu balançando
e fazendo ameaças vagas e beligerantes a alguém chamado Gunther. Quando
ele se acalmou, foi estranho, como se ele meio que—desligasse. Ele olhou
para o espaço por um tempo, realmente não fazendo muito ou reconhecendo
ninguém, e então ele finalmente piscou, olhou ao redor e soltou um suspiro
enquanto segurava a parte de trás do pescoço e abaixou a cabeça.

Rita com certeza tem muito a dizer, mas ela nunca reconhece os sinais claros
de trauma de cada tributo naquela arena. Faz Dorcas ranger os dentes.

O segundo dia é... Bem, está aqui, gostem ou não, e Dorcas está
absolutamente aterrorizada. Ela não se importa com o que essas pessoas fazem
na arena; ela não se importa que Regulus seja um Comensal da Morte
aparentemente planejando matar seu irmão; ela não se importa que Augusta e
Alice pareçam não ter sentimentos calorosos entre elas. Nada disso importa
para ela.

O que importa é tirar todo mundo que ela puder, no momento que ela puder,
independente do que aconteça lá dentro. A parte aterrorizante é que o
611
CRIMSON RIVERS

momento em que ela pode ainda não está aqui, e ela não pode fazer nada além
de assistir a mulher que ama e seus amigos sofrerem. Ela só precisa que eles
sobrevivam um pouco mais. Apenas continuem sobrevivendo. Por favor,
continuem sobrevivendo.

O som de seu telefone tocando faz com que sua cabeça se levante
enquanto ela se levanta e imediatamente mergulha para ele.

"Patrono?" Lily diz em vez de uma saudação.

"Estrela do mar," Dorcas responde rapidamente. "O que é? O que você


tem? Por favor, me diga—"

"Na terceira noite," interrompe Lily, sem rodeios, e Dorcas prende a


respiração. "Então, amanhã à noite. Você vai estar pronta para isso? Você
consegue?"

Dorcas solta um suspiro aliviado e diz, "Sim, com certeza eu vou


conseguir. Porra, Evans, você se move rápido. Quero dizer, estávamos
planejando para o quinto dia, então você disse que talvez a quarta noite, mas
agora é amanhã? Como você...?"

"Meadowes, você sabe tão bem quanto muitos outros o que minha boca
pode fazer. Literalmente."

"Lily, você tem usado sexo por favores?"

"Não." Lily faz uma pausa, então bufa. "Bem, tudo bem, então é assim que
funciona, certo? Eu já estou fazendo sexo, e então eu fico tipo, digamos, olhe
para você toda arrumada e desesperada para me dar o que eu quero; você não
quer fazer essa coisa muito pequena e muito simples para mim? E então elas
geralmente sempre dizem sim, e conseguem o que elas querem, enquanto eu
estou me divertindo e também conseguindo o que eu quero. Viu? Os dois
lados ganham. Quer dizer, eu não poderia fazer isso com todo mundo, porque
eu não fiz sexo com todos com quem conversei, mas muitas pessoas me
devem de qualquer maneira. Seis anos de segredos e fofocas farão isso por
uma pessoa, sabe."

"Eu não posso acreditar que essa revolução está funcionando parcialmente
pela sua competência no sexo."

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ZEPPAZARIEL

"Oh, se ao menos pudesse funcionar totalmente com isso. Tudo correria tão
bem. Merda, nós venceríamos a guerra em, tipo, uma semana."

"Algum dia, alguém vai te fisgar," Dorcas a informa com um zumbido


baixo de diversão. "Eu só quero que você saiba, nesse dia, eu vou rir."

Lily apenas bufa, cética, e então sua voz suaviza consideravelmente quando
ela murmura, "Como você está, então? Molly me manteve atualizada sobre os
jogos. Ouvi dizer que tem sido uma merda e Marlene... teve um começo
difícil?"

"Ela ainda está viva," Dorcas responde, sua voz ficando mais baixa, mais
suave, e ela tem que engolir o nó que se forma em sua garganta. "Ela está
sobrevivendo."

"Bem, eu pensei que você gostaria de saber, aquela missão no distrito onze
trouxe mais algumas pessoas—e, dessas pessoas, havia uma pequena família
intimamente relacionada aos McKinnons. Um casal e seu filho pequeno. A
esposa costumava ser uma McKinnon antes de adotar o sobrenome do
marido."

"Prima de Marlene. O bebê—um menino, certo? Maximus?"

"Mhm, é esse," Lily confirma, e os ombros de Dorcas caem de alívio, seus


olhos se fechando. "Aparentemente, o distrito estava se
revoltando principalmente desde a entrevista de Marlene, e não ajudou que a
prefeita abandonou seu posto e se uniu ao seu povo contra os Aurores. A
Ordem entrou e tirou algumas pessoas, especialmente a prefeita, e do que eu
ouvi dizer, o distrito está agora fechado. Pessoas mantidas em suas casas, sem
permissão para sair, Aurores patrulhando as ruas. Há especulações de que o
onze receberá o mesmo tratamento que o seis, mas felizmente isso ainda não
aconteceu. "

Dorcas aperta os lábios em uma linha fina. "Não, eu não acho que Riddle
vai levar isso tão longe. Ele ainda está mantendo o que aconteceu com o
distrito seis em segredo. Nenhum anúncio formal, nem mesmo como uma
ameaça velada. Apenas—nada. É inteligente da parte dele, no entanto, porque
está... ficando muito pior aqui. Os protestos estão ficando mais ousados. Eles
passaram a ficar do lado de fora de seu castelo agora, exigindo que ele pare os
jogos. Muitas pessoas estão se recusando a assistir, e outras estão tão

613
CRIMSON RIVERS

horrorizadas com o que elas estão vendo que isso está apenas irritando-as
ainda mais."

"Sim, eu posso imaginar que se eles descobrirem que ele tem o poder de
destruir quase um distrito inteiro tão facilmente quanto ele pode, eles não vão
lidar bem com isso," Lily murmura. "Os outros distritos também, se eu tivesse
que adivinhar. A propagação da rebelião está crescendo a uma taxa que até
mesmo a Ordem está lutando para acompanhar, então eu sei que Riddle não
pode. Você deveria ver Dumbledore. Ele não está muito por perto, mas
quando o vejo, seus olhos estão sempre brilhando. Mas, de novo, isso pode
ter algo a ver com o fato de que seu irmão está aqui."

"Seu—" Dorcas pisca. "Espere, o quê? Ele tem um irmão?"

Lily suspira. "Acontece que sim. Aberforth Dumbledore, prefeito do


distrito seis, que aparentemente é de onde os dois são. Nem me fale sobre a
porra da ironia, ok?"

"A trama se complica," murmura Dorcas, balançando a cabeça incrédula


enquanto olha para a tela, vê Camilla andando pelo labirinto, depois desvia o
olhar novamente. "Ok, isso não é importante agora. Como estão os Potters?"

"Oh, eles estão bem. Euphemia—desculpe, Effie, ela me disse para chamá-
la de Effie. De qualquer forma, ela está curada e andando por aí agora,
embora um pouco lenta e dolorida. Eu continuo dizendo a ela que eu
sei exatamente como fazê-la se sentir melhor, mas ela insiste que é uma mulher
casada, e também muito velha para mim. Decepcionante, na verdade."

"Oh, não, eu entendo você. Ela é alguma coisa, não é?"

"Verdadeiramente," Lily concorda. "De qualquer forma, ela e Monty


estiveram muito focados nos jogos, assistindo Sirius e Regulus, se
preocupando com James. Você sabe, coisas de pais. Há muito luto
acontecendo no momento. O luto é pesado aqui, Dorcas. Pesado pra
caralho."

"Sim," murmura Dorcas, "Isso é de se esperar. Acho que vamos levantar


muitos ânimos amanhã, em todo o mundo. Quero dizer, ninguém
nunca parou os jogos antes. Vai revigorar muitas pessoas, Lily."

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ZEPPAZARIEL

"É guerra depois disso," Lily diz baixinho. "Você sabe disso, não é? Uma
vez feito, não há como voltar atrás."

Dorcas respira fundo, depois solta o ar lentamente e foca os olhos na tela.


"Eu sei."

~•~

James vai direto para Lucius no momento em que entra na vigília, seu
passo cheio de propósito, sem uma bengala hoje porque sua perna está bem
por enquanto.

Ele não precisa de uma bengala para assustar Lucius Malfoy.

Assim que Lucius o vê chegando, ele fica tenso, mesmo quando está ao
lado de Lestrange e Dolohov. Há um grupo de patrocinadores por perto,
sussurros cada vez mais altos no segundo em que veem James chegando,
atraídos por um possível drama.

"Potter," Lucius cumprimenta rigidamente.

"James, James, não—" Frank está de repente bem ali, agarrando o braço de
James para tentar puxá-lo para longe.

James o sacode. "Me ouça com muita atenção, Malfoy. Se eu descobrir que
você está tentando subornar os criadores dos jogos de novo, da próxima vez
que eu bater em você, eu não vou parar até que você esteja morto, porra, está
me ouvindo? "

"Eu não fiz tal coisa," Lucius retruca bruscamente. "Eu não aprecio a
implicação de que—"

"Não? Então, você não levou Verna—um criadora dos jogos—para o pub
ontem à noite para suborná-la? Para garantir que Regulus lidaria com o pior
na arena, ou morreria mais rápido? Sirius também?" James desafia, sua voz um
silvo baixo para que ninguém ouça além deles.

"Obviamente eu não fiz isso," Lucius retruca. "Você é novo como mentor,
mas permita-me deixar claro como isso funciona. Os criadores dos jogos não
podem ser subornados, Potter."

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CRIMSON RIVERS

"Oh, eu sei que eles não deveriam ser, mas todos nós sabemos que isso pode
acontecer, e aconteceu," argumenta James. "Engraçado, na verdade, porque há
uma testemunha colocando você no pub ontem à noite com Verna, onde
vocês dois discutiram um acordo." Isso é tecnicamente verdade, porque Remus
é a testemunha, e ele contou a James tudo o que ouviu esta manhã no café da
manhã. "Isso significa que você está propositalmente fazendo o que pode para
influenciar os jogos. Hoje, é Regulus. Quem pode dizer que amanhã não é
Rabastan? Ou Alecto? Ou Alice? Qualquer coisa para avançar, certo, Malfoy?
Qualquer coisa para você ganhar."

Frank solta as mãos de James, e agora ele está bem ao lado dele, encarando
Lucius.

Lucius olha ao redor para encontrar todos os olhos nele, o hematoma em


sua bochecha sumiu, provavelmente com a ajuda do remédio da Relíquia,
então há apenas um ponto vazio que James está praticamente vibrando para
acertar novamente. Dolohov dá um passo firme para trás de Lucius, seu rosto
caindo em uma carranca, e os olhos de Lestrange se estreitam lentamente.

Há um silêncio longo e tenso.

Quantas vezes Lucius subornou vários criadores de jogos e patrocinadores


para levar seus tributos mais longe? Quantos anos ele trouxe para casa
Vitoriosos só porque ele recorreu a suborno e manipulação? Há uma linha
tênue entre ser um mentor que faz tudo o que pode dentro das restrições a
que são forçados e ser um mentor que vai nos bastidores para influenciar os
próprios jogos.

Sirius, por exemplo. A única vez que ele influenciou os jogos foi com
Slughorn, e isso foi para tirar James e Regulus. Talvez, de certa forma, isso não
seja diferente do que Lucius fez para trazer tributos para casa; a motivação e
intenção por trás disso é diferente, no entanto. Sirius fez isso por amor e
desespero. Lucius fez isso pela glória.

E isso é pior, porque ele está trabalhando ativamente para garantir que
Regulus, no mínimo, sofra. Ele gostaria que Sirius sofresse também, pelo que
Remus disse, mas McGonagall está de olho nele, aparentemente.

Este não é um bom visual para Lucius, de jeito nenhum. Qualquer respeito
que os outros mentores pudessem ter por ele é imediatamente questionado.

616
ZEPPAZARIEL

Seus tributos também estão na arena. É muito, muito estúpido fazer esse tipo
de movimento, porque uma vez descoberto, há repercussões.

Mesmo agora, já há repercussões. As pessoas os observam, mas não têm


ideia do que está acontecendo. As únicas pessoas que estão perto o suficiente
para ouvir são Frank, Dolohov e Lestrange. Com a mesma facilidade, com
essa acusação feita para eles, todos voltaram os olhos frios para Lucius.

"Oh, eu vejo o que você está tentando fazer." Lucius ri suavemente e


levanta a mão. "Não deem ouvidos a essa bobagem. Ele está tentando
derrubar a concorrência, e quem pode culpá-lo? Meus tributos são realmente
uma ameaça para se preocupar. Bom esforço, Potter, mas como você vê—é
minha palavra contra a sua."

"Eu não me importo com palavras contra palavras, Lucius," James o


informa, falando baixo e firme, sem desviar o olhar uma única vez. "A
próxima vez que você entrar no meu caminho, as palavras não serão usadas.
Você vai estar morto, porra."

Com isso, James se vira e vai embora, deixando essa verdade se estabelecer
atrás dele enquanto ele vai, porque não era uma mentira. James não é um bom
mentiroso. Ele nunca foi.

Caso não seja óbvio, James não está de bom humor. Há muitas, muitas
razões para isso. Um, uma falta geral de sono porque ele passou a noite
anterior se preocupando com Sirius e Regulus. Dois, o empurra-empurra
sobre o que diabos Regulus está fazendo com os Comensais da Morte, e ainda
confiando nele, apesar de sua confusão. Três, acordar e ver que Regulus teve
que passar a noite na chuva, descaradamente atormentado por ela, e James
não conseguiu chegar até ele ou ajudá-lo. E então, finalmente, quando Remus
entrou para divagar sobre o que ele ouviu na noite anterior, foi apenas uma
cereja no topo desse sundae de merda.

Então, sim, James não está com vontade de fazer ameaças vazias. Ele disse
o que disse, e ele quis dizer isso. Ele veio para dizer o que precisava, e o fez. E
agora, ele tem trabalho a fazer.

"Sabe, se for preciso, eu ajudo," Frank anuncia enquanto caminha com ele.
"Com Malfoy, quero dizer."

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CRIMSON RIVERS

"Anotado," diz James, suspirando enquanto para abruptamente e limpa a


garganta. "Agora, no entanto, você pode me explicar como, hum, usar uma
doação?"

Frank pisca para ele. "Já?"

James acena e murmura, "Sim, eu... uh, eu preciso enviar uma mensagem
para Regulus."

"Certo, bem, tome cuidado para não desperdiçar doações muito cedo,
James," Frank avisa, mas mesmo assim ele aponta por cima do ombro de
James. "Se é tão importante, me siga..."

James segue Frank, porque é, de fato, muito importante.

~•~

Regulus está com dor de cabeça.

Passar a noite toda em uma posição apertada, soluçando silenciosamente e


caindo repetidamente em um ataque de pânico logo após o outro faz isso com
uma pessoa, ele supõe. A chuva felizmente parou quando o céu começou a
clarear e a escuridão começou a desaparecer. Regulus ficou instantaneamente
aliviado, mais calmo, mais lúcido. Quando a luz do dia realmente clareou, e
todos puderam realmente vê-lo, ele estava agindo como se a noite anterior
nem tivesse acontecido. Ninguém sequer sabia.

Bem, ele não duvida que inúmeras pessoas que assistiam sabiam. James
sabia. James provavelmente viu os destaques, mas Regulus espera que James
possa ver que ele está bem agora.

Bem é subjetivo, na verdade. Ele está bem comparativamente, que tal isso?
Acordado e em movimento, focado, visão clara sem lágrimas para bloquear.
Ainda aqui e ainda continuando.

É estranhamente... reconfortante saber que ele sobreviveu. Alguma parte


dele achava que ele não conseguiria, especialmente não sozinho, mas ele
conseguiu. Por si mesmo, ele passou por isso. Sem Barty, sem Sirius, sem
James. Ele deveria se orgulhar disso? Ele não pode se orgulhar disso?

618
ZEPPAZARIEL

Ele se orgulha disso. Ele quer que aconteça de novo? Não, absolutamente
não. Ele tem certeza de que pode sobreviver, se isso acontecer? Sim, ele tem, e
o conforta saber disso.

É o segundo dia, e o grupo está em movimento novamente, partindo mais


uma vez com a esperança de encontrar Sirius. Regulus caminha com eles em
silêncio, esperando o que quer que o dia jogue para ele.

O toque suave de uma caixa de patrocinador faz com que todos parem
lentamente, todas as cabeças se inclinando para cima enquanto observam a
caixa flutuar em um pára-quedas por cima da cerca viva. Ela desce
suavemente, balançando e tecendo no ar, afundando no lugar certo sobre
Regulus. Ele engole em seco e estende as mãos assim que a caixa se acomoda
suavemente em suas palmas.

"Aw, seu namorado te mandou um presente," brinca Rabastan, seu tom


alegre e bem-humorado.

"Noivo," Regulus corrige bruscamente, sobrancelhas franzidas enquanto


ele encara a caixa. Seu estômago se revira, e ele está tão fodidamente nervoso
que quase não consegue abri-la.

"Oh?" Rabastan diz, parecendo divertido. "Bem, quero dizer, você disse
que vocês dois estavam planejando se casar, mas eu não achei que fosse nada
oficial. Bom para você, cara."

"Fofucho está crescido," Bellatrix engasga com uma fungada falsa. "Ouviu
isso, Cissy? Ele é um homem comprometido."

"Bem-vindo à família, James," Narcissa anuncia levemente, os lábios se


contraindo quando Regulus lança um olhar em sua direção.

"Você vai abrir ou não?" Dixon murmura.

Regulus faz uma carranca, nem um pouco apreciando que ele tem uma
audiência olhando para ele como abutres. Ele especialmente não gosta que
Yaxley esteja aqui para isso, que já revirou os olhos pelo menos duas vezes.
Suspirando, Regulus abre a caixa e a inclina para ele para ver o que está
dentro.

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CRIMSON RIVERS

Imediatamente, contra sua vontade, seu rosto explode com calor, corando
com algum prazer interior ridículo ao ver um bagel ao lado de um pedaço de
cream cheese no menor recipiente que ele já viu em sua vida, contornado em
forma de flor. Ele não pode evitar a forma como seu rosto suaviza,
automaticamente, porque é claro que James lhe enviou um bagel, e é claro que
James encontrou uma maneira de lhe enviar uma flor, mesmo aqui. Depois da
noite passada, é uma fonte constante de conforto que coloca uma explosão
brilhante de calor bem no centro de seu peito. James sabia que isso o faria se
sentir melhor. Regulus poderia chorar.

O que ele faz, em vez disso, é sentir seus lábios se curvarem nos cantos,
seu rosto ainda quente e seu coração ainda palpitante. Mais uma vez, ele
gostaria que James estivesse aqui, não para ele estar em perigo, mas apenas
para que Regulus pudesse beijá-lo. Oh, ele sente muita falta dele.

"Puta que pariu, ele está sorrindo?" Rabastan pergunta. "Eu não sabia que
ele podia fazer isso. James Potter, você tem habilidades."

"Olhe para ele," Alecto murmura zombeteiramente, "Ele está corando."

Yaxley faz um som de desgosto.

"Tudo bem, tudo bem, vão se foder," Regulus resmunga, seu sorriso
desaparecendo enquanto ele olha para todos eles, bufando quando todos
continuam parecendo divertidos, exceto Yaxley. Até Dixon parece levemente
entretido com toda a provação.

"O que ele te deu?" Bellatrix pergunta curiosa, pulando ansiosamente e


espiando dentro da caixa antes que ele possa tirá-la de vista. Ela pisca para
isso, então levanta a cabeça para encará-lo sem expressão. "É um bagel."

"Olha—"

"Você está ficando de olhos arregalados por causa de um bagel?"

"Eu não—cale a boca, cai fora", Regulus retruca quando Narcissa começa a
rir e Rabastan tem que se curvar e apoiar as mãos nos joelhos enquanto ele
explode em risadinhas. "Nenhum de vocês sabe o contexto, então apenas
cuide da porra da sua vida."

A risada continua.
620
ZEPPAZARIEL

Regulus a ignora, passando pela flor de bagel e cream cheese para pegar o
pequeno cartão branco. Quando ele o vira, não há palavras. O cartão apenas
diz: ???

Isso é, objetivamente, meio hilário. Apenas: ??? Apenas isso, que James
decidiu enviar ativamente, provavelmente porque resume adequadamente seu
estado emocional no momento, pelo menos em relação à companhia que
Regulus escolheu manter.

Fazendo uma leve careta, Regulus olha para cima cansado e não diz nada
antes de esfarelar o cartão em seu punho. Ele come o seu bagel, no entanto,
enquanto o grupo continua.

Sabiamente, ninguém pede para ele compartilhar.

~•~

Sirius observa Marlene andar de um lado para o outro, inquieta,


balançando a espada na mão. Seu outro braço parece pior agora, à luz do dia.
É seguro, pelo menos, mas não há como ignorar que está ferido. Em uma
luta, se quem quer que seja seu oponente seja esperto, eles vão direto para
aquele braço.

Lentamente, Sirius troca um olhar com Emmeline. Ela levanta as


sobrancelhas para ele. Ele encolhe os ombros. Ambos suspiram.

"O que?" Marlene estala, lançando a ambos um olhar.

"Pare de andar," diz Emmeline. "Está me deixando nervosa."

Marlene zomba. "Você não fica nervosa."

"Bem, melhor dizer isso do que dizer que está me dando nos nervos. Você
é irritante, McKinnon. Dê um tempo, sim?"

"Nós deveríamos estar nos movendo."

Sirius olha para o céu, implorando por paciência. "Nós concordamos em


esperar o máximo que pudermos para ver se Alice e Augusta podem voltar
para nós, Marlene."

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CRIMSON RIVERS

"Sim, bem, claramente elas não vão. Elas teriam feito isso agora, se
pudessem," Marlene diz. "Nós vamos nos deparar com elas se apenas dermos
um passo em frente. Podemos ir?"

"Pare com isso," Emmeline repreende, "Eli teve uma noite muito ruim, e
ele ainda está descansando."

Isso é verdade. Sirius lança um olhar para Eli, que passou a maior parte da
noite gemendo de dor entre os vômitos, até que não havia mais nada para seu
corpo dar. Eles se revezaram para garantir que ele tivesse água da chuva para
beber, o que não ajudou muito, mas garantiram que ele estivesse hidratado em
toda aquela bagunça. O pobre homem está suando, alucinando e implorando
por uma bebida sempre que fica lúcido o suficiente para formar frases
completas.

Finalmente, algumas horas atrás, ele se acomodou em um descanso


genuíno, o que era um bom sinal. Na verdade, Sirius estava um pouco
preocupado para ele ter um derrame, ou um ataque cardíaco, e simplesmente
não sobreviver à noite.

A questão é que Sirius está tão ansioso para se levantar e ir embora quanto
Marlene, embora provavelmente por razões muito diferentes. Ele duvida que
ela se importe muito em encontrar Regulus, mas está claro que ela não gosta
de ficar em um lugar por muito tempo.

"Bem, que pena," declara Marlene bruscamente, marchando para cair


agachada ao lado de Eli, inclinando sua espada contra o lado de sua coxa. "Se
continuarmos demorando, eles vão encontrar uma maneira de nos colocar em
movimento, e eu não gosto de esperar para descobrir o que mais eles têm nas
mangas." Ela estende a mão livre e dá um tapa no rosto de Eli, não com força,
apenas o suficiente para acordá-lo. "Ei, velhote, hora de levantar e ir embora.
Vamos, mexa-se."

"Blergh," Eli deturpa.

Marlene suaviza, só um pouco. "Sim, eu sei. Eu sei que é difícil, mas


precisamos ir. Eu ajudo você a ficar de pé, vamos."

Resmungando, Emmeline avança para ajudar Marlene a levantar Eli. Ele


parece horrível, morto em seus pés, mãos tremendo e ainda suando. Sirius

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ZEPPAZARIEL

segura sua lança e fica de vigia ao redor deles enquanto Emmeline e Marlene
se certificam de que Eli pode andar. Ele está falando, mas é rouco e
gaguejante. Ele está se movendo, mas é lento e empolado.

Demora alguns minutos, mas então eles estão em movimento, e Eli


continua acenando para as pessoas. Ele não quer ser tocado e resmunga toda
vez que alguém se aproxima demais dele. Provavelmente devido à dor e
abstinência, ele é rabugento e mais duro. Eles o deixam em paz, na maior
parte. Emmeline caminha ao lado dele já que, por algum motivo, é ela que ele
não se importa de estar perto. Talvez porque ele não a reconheça. Marlene era
seu tributo. Sirius... Bem, ele tem os mesmos genes da família de seu tio
Alphard, então Sirius provavelmente é confuso para Eli, especialmente com o
inferno que sua mente e seu corpo estão sofrendo.

Sirius acompanha Marlene, e ele olha para ela com o coração afundando
em seus pés. "Marlene?"

"Sim?"

"Você disse que você sabia. Como...?"

Marlene apenas olha para ele, e Sirius sente seu estômago cair junto com
seu coração. Um nó se forma em sua garganta, e ele quer tanto parar e puxá-la
para um abraço, mas ele sabe que ela não vai suportar isso. Aqui não. Assim
não. Não depois de tudo que ela passou ultimamente.

Sirius também sabe. Ele pode não saber até que ponto Eli está passando
por isso, mas ele está desintoxicado e sofreu abstinência também. Muitas,
muitas vezes. Ele nunca quis que Marlene mergulhasse tão fundo nisso, e tudo
em que ele consegue pensar é nas vezes em que ele deixou Marlene beber
porque sabia o quão difícil era ser um mentor, ou todas as vezes em que
percebeu os sinais de que ela estava bebendo demais e dispensou-os, porque
todos eles bebem quando as coisas ficam difíceis, e todos eles lidam com isso,
e isso não significa que Marlene estava se tornando dependente disso.

Mas ela olha para ele, e ele sabe que ela se tornou. Ela olha para ele, e seu
peito dói, porque ele tentou—ele sempre tentou tão fodidamente—cuidar dela,
ajudá-la, e ele falhou. Ele fodeu tudo. Porra, ele nem percebeu.

"Oh, porra, Marlene," Sirius resmunga, "Eu sinto muito. Merda, eu—"

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CRIMSON RIVERS

"Sirius," Marlene interrompe, "Não se preocupe com isso. Foi uma merda?
Sim. Mas eu superei isso? Sim. Eu superei, e ainda estou aqui. Você é parte da
razão para que eu esteja, quer você perceba ou não. Vamos deixar por isso
mesmo, ok?"

"Você poderia ter me contado," Sirius sussurra. "Eu teria te ajudado,


Marlene."

"Você era uma das pessoas que eu não queria que soubessem." Marlene
limpa a garganta e desvia o olhar. "Não queria te decepcionar, eu acho. Eu
não sei. Eu só... Você estava sempre tentando, por mim, e então eu—" Ela
balança a cabeça, engolindo em seco. "Eu consegui ajuda, no entanto. Alguém
realmente importante para mim me encorajou, e eu fui corajosa o suficiente
para realmente fazer isso. Eu estou bem agora, certo? Não—eu não quero que
você me trate de forma diferente. "

Sirius a encara, ferido. "Eu não faria isso. Nunca. Eu juro. Eu—bem,
poucas pessoas sabem disso, mas eu também sei. Eu também precisava de
ajuda, e não há vergonha nisso. Eu nunca ficaria desapontado com você, ok?
Eu estou orgulhoso de você."

"Eu não sabia que você..." Marlene para e olha para ele, seus lábios se
inclinando para baixo. Ele dá um pequeno encolher de ombros e um pequeno
e triste sorriso. Há muito que as pessoas não sabem sobre ele, coisas que ele
nunca poderia revelar ao interpretar o papel que ele faz na Relíquia. Seu olhar
é suave. "Sim, bem, eu estou orgulhosa de você também."

Isso é tudo o que é dito sobre isso. Isso é tudo o que precisa ser dito, entre
eles. Ele se inclina e gentilmente bate seu ombro no dela, o ileso, e eles
continuam.

~•~

"Ei, todo mundo ouviu isso?"

Regulus infelizmente ouviu isso. E, com isso, ele quer dizer o crescente
farfalhar das cercas vivas à frente do grupo, tão alto que todos pararam
repentinamente. A parede verde de ambos os lados está tremendo.

"Bem," diz Rabastan, "Isso não pode ser bom."

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ZEPPAZARIEL

"Obrigado, Capitão Óbvio, como se isso não estivesse ficando cada vez
mais claro," Alecto sibila, já recuando enquanto todos se juntam a ela para
fazer o mesmo.

No momento—literalmente no momento exato—em que Regulus vê uma


mão pálida com garras se libertar da cerca, ele está se virando e correndo sem
olhar para trás. Foda-se o resto deles, ele sabe o que diabos é isso.

"Vai! Vai! Vai!" Dixon ruge.

Regulus não precisa que alguém diga a ele. Ele já se foi. Ele está correndo
mais rápido que nunca, possivelmente, não esperando por ninguém ou se
importando para onde eles vão. Não que eles possam ir a qualquer lugar, na
verdade, porque estão todos presos em uma longa passagem juntos. Houve,
em algum momento, uma passagem diferente para entrar, mas parece ter
desaparecido no caminho de volta.

O farfalhar das cercas fica mais pronunciado, sacudindo violentamente de


cada lado dele, depois logo à frente. Na frente dele, mãos irromperam de cada
lado, estendendo-se desde o topo até o chão, dedos em garras desesperados
para agarrar algo. Regulus engasga com uma respiração áspera e mergulha para
frente através dela.

Uma espada corta bem ao lado dele, enviando várias mãos ao chão,
jorrando sangue, o cheiro disso espesso em seu nariz. Ele se livra do aperto
duro de uma mão com garras em seu braço, as unhas cravadas, girando sua
adaga para bater no pulso enquanto ele se liberta com um rosnado.

Ele tropeça para a frente e derrapa na terra, lutando para se impulsionar ao


virar da esquina que se abre à sua frente, a cerca viva estremecendo ao se
abrir.

Regulus consegue passar, ainda correndo, ainda ultrapassando as mãos que


continuam a se libertar de ambos os lados dele. Ele não olha para trás, mas
pode ouvir o bater de passos atrás dele, apenas um par, uma pessoa ofegante.

Regulus não se importa com quem é, ou que o grupo acabou de se separar.


Ele continua correndo e não para.

~•~

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CRIMSON RIVERS

"Que porra é essa?" Marlene engasga.

Sirius já está recuando, com o coração acelerado enquanto observa a


neblina se espalhar em uma esquina à frente, uma nuvem de verde brilhante
derramando-se ao longo da passagem à frente deles. Ele não tem ideia do que
é isso, mas não duvida que seja uma má notícia.

"Corram!" Sirius ordena bruscamente, então ele mesmo faz isso, girando no
local e decolando. Ele pode ouvir os outros seguindo, até mesmo Eli, que está
ofegando enquanto anda.

Sirius mergulha na primeira curva que encontra e continua indo, sugado


pela atração de seus instintos de sobrevivência, onde correr é a única coisa que
ele sabe. Seus ouvidos zumbem. Ele pode sentir seu coração bater em seus
dentes, e ele quer morder, mastigar e provar o quanto ele quer viver. Ele
esqueceu isso; ele esqueceu exatamente como isso é, aquela ponta de faca da
pior coisa que ele já experimentou e a mais animada.

Você nunca realmente se sente tão vivo quanto quando a morte está
respirando em seu pescoço.

Sirius se vira e corre. Ele se vira, e corre, e se vira, e corre. Ele vai e
continua e sente que não está indo a lugar nenhum, convencido de que há
algo beliscando seus calcanhares, alcançando seus tornozelos, e uma vez que
seu passo terminará com ele no chão, depois embaixo dele, em seu túmulo.

O mundo desapareceu, e tudo o mais está perdido. Ele não sabe onde está,
onde estão seus aliados ou do que está realmente fugindo. Ele apenas sente,
intrinsecamente, que não pode ceder ao abraço da morte que espera, que tenta
puxá-lo de volta pelo colarinho, que sussurra como o vento contra a concha
de seu ouvido.

Eu terei você, eventualmente, diz. Eu tenho todos, eventualmente.

Ainda não. Ainda não. Ainda não, ainda não, ainda não.

E assim, Sirius corre, e ele não para de correr até que ele faz uma curva e
bate diretamente em outra pessoa, tropeçando com o impacto até quase
tombar. O acidente coloca o mundo em foco, e a primeira coisa que ele ouve
é um choro.

626
ZEPPAZARIEL

Sirius inala bruscamente quando ele se orienta o suficiente para ver Camilla
bem na frente dele, um olho arranhado, sangue escorrendo por sua bochecha.
Há sulcos profundos por todo o rosto e pescoço dela, assim como nos braços
e pernas, e o estômago de Sirius dá uma guinada quando ele reconhece.

"Havia—todas as mãos, havia tantas mãos," Camilla engasga. "Elas—elas


continuaram me arranhando. Elas—"

"Ok, ei, ok," Sirius deixa escapar enquanto ela se move como se fosse
passar por ele. "Não, você não pode ir por esse caminho. Confie em mim, não
é uma boa ideia. Há algum tipo de neblina verde, e eu apostaria minha vida
que é mortal, então não por esse caminho, ok?"

"Nós não podemos voltar por esse caminho," Camilla soluça, gesticulando
trêmula atrás dela. "As mãos. Há tantas malditas—"

Sirius se abaixa para pegar a mão dela, engolindo em seco enquanto olha
para ela. Um olho está bem, o outro está uma bagunça sangrenta. "Eu posso
ver um lugar por aqui. Vamos."

"As mãos—"

"Eu prometo, se houver mãos, nós não iremos por esse caminho."

Os ombros de Camilla engatam. "Não há para onde ir."

Vendo que Camilla não está no melhor dos estados no momento, o que é
justo, Sirius apenas mantém um aperto firme na mão dela e a puxa para uma
corrida. Ele perdeu todos os outros, não tem ideia de onde estão, mas sabe
que ninguém morreu. Não há canhão. Parece que o labirinto é um maldito
campo minado de horrores neste momento em particular. Camilla está certa,
no entanto. Realmente não há para onde ir; eles são todos apenas ratos em um
labirinto sem saída, guiados de um pesadelo para o outro.

A corrida recomeça, agora com alguém com quem Sirius nunca esperou se
encontrar em primeiro lugar. Camilla ainda está chorando, mesmo tropeçando
atrás dele.

Eles correm por uma passagem, então pegam uma curva para subir a
próxima. Há uma abertura no meio do caminho que Sirius os puxa, apenas

627
CRIMSON RIVERS

para parar bruscamente quando mãos começam a irromper das cercas na


frente deles. Camilla esbarra nas costas dele e grita.

Por um segundo, Sirius olha para as mãos e não consegue se mexer,


pensando em Regulus, no rio, nas cicatrizes em sua pele até hoje. Camilla puxa
a parte de trás de sua camisa, puxando-o, e Sirius pisca enquanto o mundo se
inclina. Ele está lá, e então—

Sirius pisca novamente para se ver correndo, o grito de Camilla ainda


ecoando em seus ouvidos. Eles estão indo na direção oposta, retrocedendo
novamente. Eles estão—

Sirius pisca quando eles param e cambaleiam para trás, observando uma
névoa verde se espalhar de um canto à frente, e—

Sirius pisca—

Sirius pisca—

Sirius—

~•~

"Oh, não," Remus sussurra. "Não, não, não."

Seus olhos estão presos na tela, o coração na garganta enquanto ele


observa a cortina cair nos olhos de Sirius. Uma luz piscando, e então se apaga,
e então ele se foi. Em branco. Lá, mas ao mesmo tempo não.

"O que?" Pandora choraminga. "O que é isso? Remus, o que—"

A questão é que Remus reconhece. Essa névoa. A sombra dela. Ele se


lembra, mesmo através de sua tortura, de como era quando vinha de um
frasco. Quase o matou, e foi isso? Ele era apenas um corpo em um
experimento para os jogos? Um mero passo na sequência de eventos que
levaria a este momento, onde—o quê? Outros servos morreram por isso. Eles
estavam tentando encontrar a fórmula certa onde causaria dor, mas não
mataria? Foi Remus o sucesso que levou a isso?

"Sirius é—ele tem—há momentos em que ele—quando ele meio que—"


Remus engole, as palavras ficam presas em sua garganta, e ele olha impotente

628
ZEPPAZARIEL

enquanto Camilla puxa freneticamente o braço de Sirius, tentando fazê-lo se


mover novamente. Sirius não se mexe.

"Por que ele não está correndo?" Pandora pergunta desesperadamente, com
os olhos brilhando com lágrimas. Ela tem as mãos apertadas juntas, as pernas
saltando para cima e para baixo com pura ansiedade.

"Ele não está lá," resmunga Remus. Volte, ele pensa, olhando para Sirius
com os olhos arregalados. Volte. Você tem que voltar agora, agora mesmo, amor, ou
você vai—

A cerca ao lado de Sirius se abre abruptamente, abrindo-se em uma nova


passagem, e Camilla começa a empurrar Sirius para dentro e mergulhar atrás
dele assim que a neblina se aproxima e as mãos se libertam do outro lado de
onde estavam.

Remus expira.

Sirius ainda não está lá, não realmente, mas ele começa a correr quando
está em movimento, aparentemente só porque Camilla o puxa. É estranho ver
Sirius passar pelos movimentos dele, correndo sem expressão. Ele não vai se
lembrar disso, não dessa parte, e Remus se pergunta se isso é uma gentileza.

"Oh, isso é tão ruim. Eu me sinto doente," Pandora ofega, seu braço
subindo para embalar seu estômago. "Isso é doentio, Remus. Sempre foi
doentio, mas isso—"

"Eu entendo," Remus rosna, porque ele entende.

Ninguém dentro daquele labirinto não está passando por algo agora. Todos
eles estão correndo por suas vidas. Cada grupo está dividido ao ponto de
serem pessoas correndo em pares ou pessoas correndo sozinhas. A morte os
cerca por todos os lados, cada um deles. Todos eles só querem sobreviver.

Isso é tudo que eles estão tentando fazer.

Sobreviver.

Remus continua a observar Sirius, esperando desesperadamente que ele


volte a si, precisando ver, para ter certeza. Não é a primeira vez que Sirius
desassocia. Remus o viu fazer isso brevemente durante o destaque da noite
629
CRIMSON RIVERS

passada, depois que Marlene o cutucou para acordá-lo com um bastão e ele
apareceu balançando. Não durou muito tempo, e ele não estava em
perigo imediato, então não era tão preocupante quanto isso.

Não demora muito para Sirius voltar desta vez também, felizmente. Remus
observa isso acontecer, vê ele dar uma piscada dura e tropeçar um pouco
surpreso ao encontrar-se correndo, vê ele essencialmente se livrar disso com
uma careta e apenas—continuar correndo. Claro que ele corre.

Não é como se ele pudesse fazer outra coisa.

Pandora faz um pequeno e abafado ruído de medo. "Remus, eles não


podem fugir para sempre, mas—mas eu não acho que isso seja realmente algo
que qualquer um deles possa lutar. Eles não têm chance, e não é justo. É—
é errado."

"Eu sei," Remus diz suavemente. "Talvez seja esse o ponto."

~•~

A sala está em um silêncio mortal, cheia de tanta tensão que ninguém


parece estar respirando. James está ao lado de Frank, com os olhos
arregalados enquanto ele passa o olhar entre a tela e o mapa mostrando as
posições de todos os tributos.

"Isso está prestes a ficar uma bagunça," sussurra Frank.

"Já está uma bagunça," resmunga James.

E está. Está uma bagunça do caralho nessa arena agora, para praticamente
todo mundo. Majesty está sozinha, fugindo das mãos. Lester está sozinho,
fugindo da neblina. Bellatrix e Narcissa se separaram fugindo dos dois.
Marlene está sozinha com um braço quebrado, correndo para salvar sua vida.
Augusta e Alice estão correndo juntas, enquanto Alecto está sozinha, assim
como Dixon. Eli e Emmeline estão juntos, um par improvável da mesma
forma que Sirius e Camilla, Rabastan e Asher, e Regulus e Yaxley são—
embora, Regulus nem pareça perceber que Yaxley está correndo atrás dele, e
já que é das mãos que eles está fugindo, James não está nem um pouco
surpreso com isso.

630
ZEPPAZARIEL

Eles estão tão presos no meio da fuga de ameaças externas que ninguém
parece se importar em se unir com o outro. Isso lembra James visceralmente
do momento em que ele e Regulus se uniram a Axus, Bernice e Peter para
derrubar a aranha feita pela Relíquia usando o rosto e o torso de Irene. A
sobrevivência é um forte motivador; pode separar as pessoas, e pode uni-las.
James sabe disso. Ele experimentou ambos.

Mais uma vez, os olhos de James se movem para o mapa.

O layout do labirinto é intrincado. É uma praça muito grande, com um


espaço aberto no meio onde todos começaram, que continha armas e algumas
sacolas de suprimentos. Há três outros que contêm comida e mais
suprimentos, e ninguém os encontrou ainda. Um deles tem um abrigo com
duas caixas contendo comida e vários suprimentos, mas no geral é escasso. Os
outros dois têm apenas bolsas e duas pequenas plataformas com o mínimo
quando se trata de nutrição. E é isso. Sem animais para matar e cozinhar, sem
riachos para tropeçar, sem cavernas ou árvores para se esconder.

É como o pior pesadelo de todo tributo, francamente. James odeia a arena,


puramente por causa do quão doentio é. Ela apenas arrebata ainda mais
qualquer sensação de segurança daqueles que estão dentro dela; tudo com o
que eles contavam apenas—se foi. O ambiente não atende a ninguém em
qualquer capacidade.

Isso sem contar que as malditas paredes do labirinto se movem. Elas mudam
e mudam quando e onde quiserem. Elas se abrem em alguns lugares e fecham
em outros. Uma passagem se transformará em um loop sem saída. James
assistiu Majesty andar em um maldito círculo por uma hora seguida.

James lembra como sua mãe disse, uma vez, que os jogos costumavam ser
apenas pessoas jogadas em um campo e mandadas matar umas às outras, e
como ninguém poderia realmente glamourizar isso. Ele está descobrindo que
esta arena é da mesma maneira, exceto pior, porque as pessoas dentro são
jogadas para serem atormentadas e brincadas o tempo todo. É doentio assistir.

A pior parte é que James sabe que existem algumas pessoas por aí que
estão realmente gostando. Pessoas que acenam para os pesadelos dos tributos
com um revirar de olhos; pessoas que se empolgam com as brigas e
prosperam com a violência; pessoas que sempre viveram e ainda vivem por

631
CRIMSON RIVERS

tudo o que os jogos vorazes representam, não importa a arena, e—para eles—
quanto pior for para os que estão dentro, melhor será para eles assistirem.

Eles vêem essas pessoas reais e não têm empatia, absolutamente nenhuma.
James podia entender se fosse falso, se esses fossem atores pagos e ninguém
estivesse realmente destinado a se machucar, porque isso não seria realidade. Isso
não seria real. Seriam apenas personagens que na verdade não existem, e
ninguém está realmente sendo prejudicado. Mas isso? É real. Estas são pessoas
reais morrendo; são pessoas reais sofrendo. Como alguém pode assistir isso e
se divertir?

É como a diferença entre uma fantasia secreta e o que alguém está


realmente disposto a fazer. James, por exemplo. Ele teve sonhos com Regulus,
ah, usando sua adaga durante... momentos íntimos, mas isso é algo que ele
realmente faria?

Bem...

Ok, mau exemplo.

Talvez isso não precise de comparação. Talvez devesse ser simples o


suficiente para entender por conta própria. Talvez o fato de pessoas—pessoas
reais e vivas—estarem sendo atormentadas e mortas, ou forçadas a matar, já
seja bastante angustiante por si só. Ou deveria ser. James tem certeza de que é
normal achar isso angustiante, o que significa que todo mundo precisa
recuperar o senso.

A quantidade de pessoas que acham angustiante na Relíquia está


aumentando, e James acha que pode ver o porquê. É como se os tributos não
fossem realmente pessoas para eles, e eles só podem alcançar o rótulo
de humanos se tornando um Vitorioso, convidando um senso de realismo para
suas vidas apenas por serem os únicos a viver, e de repente eles são reais para
essas pessoas.

Então, agora, aos olhos de muitas Relíquias, eles estão realmente assistindo
pessoas reais, porque todos são Vitoriosos; eles já alcançaram a humanidade.
É mais difícil para eles verem e se divertirem, agora que aplicaram esse senso
de realidade a isso.

632
ZEPPAZARIEL

Você olha para um corpo e enxerga apenas um corpo, e realmente não


importa o que acontece com ele porque não é seu, ou de alguém que você
ama. Mas... quando você olha para um corpo e enxerga a alma dentro
também, você não consegue desver.

James se lembra de ter vindo no trem um ano atrás, acenando para rostos
radiantes, abrindo sorrisos para aqueles que gritaram e aplaudiram em puro
deleite.

"Como você pode se suportar, fazendo isso?" Regulus havia perguntado.

"Eles não sabem," James respondeu, ainda sorrindo. "Assim como nós fomos
condicionados, eles também, Regulus. Não é realmente culpa deles, se você pensar bem. Eles
não fizeram os jogos."

"Eles os assistem. Eles os amam."

"Sim, exatamente como eles foram ensinados. Assim como nós os assistimos. Assim
como fomos ensinados a temê-los."

James se lembra como se fosse ontem, e uma parte dele que luta tanto com
o tempo não tem certeza de que não foi. Suas sobrancelhas se juntam
enquanto ele observa a tela. Lentamente, ele inclina a cabeça.

Huh.

Ele sente o pensamento tomar forma em sua mente, tão forçado e fora dos
limites quanto parece, mas se encaixa. Minerva McGonagall é uma professora
rigorosa, e ela parece estar ensinando todos que foram condicionados a amar
os jogos a temê-los. Ninguém poderá assistir e continuar sem saber, não mais.
Agora, por que ela faria isso?

Ela está fazendo isso de propósito?

James revira isso em sua mente um pouco, então finalmente deixa para lá,
porque não importa que lição essas pessoas precisem aprender, ele não aprecia
seu melhor amigo e o homem que ele ama sendo usados na demonstração.

~•~

633
CRIMSON RIVERS

Regulus faz uma curva e fica instantaneamente aliviado ao ver uma


completa falta de mãos, e diminui um pouco a velocidade à medida que
avança e encontra as cercas calmas. Seu peito está arfando, pulmões em
chamas, e ele só precisa de um segundo. Só um segundo.

Porra.

Cuidadosamente, Regulus para e levanta as duas mãos para apoiar sua


cabeça enquanto luta para regular sua respiração, mantendo um olhar
cauteloso nas cercas, mas nenhuma mão se solta. Ele se vira, lentamente, e
observa Yaxley correr para parar atrás dele. O idiota se inclina e apoia as mãos
nos joelhos, ainda segurando a lança curta, ofegante.

"Que porra," Yaxley ofega, "foi essa?"

Ok, essa é uma avaliação justa, na verdade, mas Regulus não gosta de
Yaxley o suficiente para se incomodar em concordar ou responder. Ele apenas
fica parado e sente seu coração acelerado lentamente começar a se acalmar.

Depois de um tempo, Yaxley se endireita e inclina a cabeça para cima


enquanto solta uma respiração profunda. Regulus o encara, abaixando os
braços, sua adaga em uma das mãos. Yaxley abaixa a cabeça e olha para ele.
Ambos estão muito quietos, de repente.

Os dedos de Regulus se contorcem em torno de sua adaga. Ele poderia...

Seria simples, na verdade. Apenas um movimento, e a lâmina se enterraria


na porra do crânio de Yaxley. Regulus poderia mentir de novo, para os outros,
mentir e dizer que Yaxley foi dilacerado pelas mãos. Ele poderia descrever em
detalhes, porque ele sabe como é. Ele poderia tornar crível.

É uma pessoa a menos para lidar, e todos eles vão ter que morrer de
qualquer maneira. Regulus não estaria se defendendo, no entanto. Ele estaria
matando apenas para matar, e ele nunca... Ele não fez isso antes. Nunca se
tratava de tirar a vida de alguém quando ele estava tirando vidas. O mais perto
que ele chegou disso foi Irene, mas isso foi misericórdia. Uma gentileza,
diriam alguns. Ainda assombra Regulus, apesar disso.

Mas Thorfinn... Ele matou Thorfinn, não por autodefesa ou bondade ou


mesmo por acidente.

634
ZEPPAZARIEL

Assassinato é assassinato, e Regulus não se sente bem com isso, com nada
disso, mas seus sentimentos em matar Thorfinn são muito semelhantes aos
seus sentimentos em matar Quinn. Ele particularmente não queria matá-los;
ele apenas... fez, como resposta, sem realmente pensar nisso de antemão. Um
instinto, na verdade. Quinn jogou sua lança em Evan, então Regulus jogou sua
adaga nela. Thorfinn disse que ele teria que ser morto para ser impedido de ir
atrás de Sirius, mesmo que Regulus explicitamente disse a ele o que ele faria sobre
isso, e então Regulus o matou. Terceira lei de Newton: para cada ação na
natureza há uma reação igual e oposta.

Mas, matar Yaxley agora, seria matar por matar. Bem, as leis disso são
complexas aqui, na arena, quando o assassinato é imposto às pessoas. No
entanto, Regulus simplesmente não poderia matar Yaxley, neste momento,
porque Yaxley não fez nada para justificar isso, além de ser alguém que
Regulus não gosta. Ele não ameaçou Sirius explicitamente; ele não tentou
atacar Regulus; ele não fez nada, na verdade.

Antes que Regulus possa decidir de qualquer maneira—porque,


internamente, ele está realmente debatendo isso—o som de passos se
aproximando por trás chama sua atenção, junto com a de Yaxley. Eles têm
talvez cinco segundos para se preparar, e então duas pessoas estão virando a
esquina e colidindo diretamente com eles com tanta força que todos caem no
chão.

Regulus rola com o movimento, tossindo com força enquanto se empurra


para trás e apoia um joelho no chão. Quando ele levanta a cabeça, a primeira
coisa que Regulus vê é seu irmão.

A segunda coisa que ele vê é o punho de Sirius, apenas o flash dele, apenas
alguns segundos antes de colidir com o lado de seu rosto.

Bem, sim, tudo bem.

O que é justo, é justo.

635
CRIMSON RIVERS

50
IRMÃO

A questão é que Sirius nem queria bater nele.

Agora, não o entenda mal, ele tinha a intenção de dar um soco em Regulus
no momento em que chegasse ao alcance, apenas para dar o troco por socar
ele e roubar seus suprimentos. Ele está até agitado, um pouco, que isso
acontece quando nem é o que ele quer fazer.

Mas, na verdade, Sirius apenas reage por instinto. Ele bate em alguém, é
empurrado e, naturalmente, apenas ataca com o punho antes mesmo de
pensar nisso. Ele está se recuperando da pressa de correr para salvar sua vida,
então inesperadamente é derrubado, e então ele está socando seu irmão na cara
antes mesmo de perceber o que está acontecendo.

Regulus absorve. Ele recebe o golpe como se estivesse esperando por isso.

Lentamente, Regulus rola a cabeça para cima, bochecha vermelha de onde


Sirius o atingiu, e então ele sorri. Não é um sorriso bonito, e é seguido por
uma risada baixa e rouca. "Oh. Ha. Sim."

636
ZEPPAZARIEL

E então ele está se lançando do chão para socar Sirius com tanta força que
ele tropeça para trás com um grunhido. Antes que ele possa se equilibrar,
Regulus está agarrando-o pela frente de sua camisa e arrastando-o para
empurrá-lo para o chão. Regulus bate nele de novo, e Sirius bate nele de volta,
e oh, merda, eles estão tendo uma briga total.

É ruim. São unhas e puxões de cabelo e eles são brutais do jeito que apenas
irmãos podem ser. Em meros segundos, ambos fizeram um ao outro sangrar,
e eles não parecem inclinados a parar por aí.

Sirius bufa enquanto ele chuta e bate sua bota na perna de Regulus,
ganhando um silvo baixo de dor, e ele usa o espaço para se arrastar para trás
pelo chão. Mais uma vez, ele levanta a perna e chuta mais uma vez, sua bota
colidindo com o peito de Regulus com tanta força que ele chia ao voltar,
batendo no chão com um baque e um gemido baixo.

Sirius se levanta, ofegante, então cospe sangue em seus pés enquanto faz
uma careta para Regulus, que está lentamente se levantando para ficar de pé,
seus movimentos cheios de tensão.

Um grunhido do lado rouba o foco de ambos, e eles giram ao mesmo


tempo para ver Yaxley e Camilla lutando. Apesar dos ferimentos de Camilla,
ela está balançando seu taco na cabeça de Yaxley com uma precisão
assustadora.

Sirius nem pensa nisso; ele imediatamente mergulha na briga, estendendo a


mão para agarrar Yaxley pelas costas de sua camisa e puxá-lo ao redor. Yaxley
tropeça, então bate o cotovelo no braço de Sirius para se libertar. Ele tropeça
para frente e bate em Regulus, que ele prontamente se move para ficar atrás,
como se Regulus fosse protegê-lo.

A expressão de Regulus cai imediatamente. Ele parece absolutamente não


se divertir com essa reviravolta.

"E então?" Yaxley exige, cutucando Regulus nas costas. "Vá em frente,
Regulus, mate ele."

Sirius pisca, então ele começa a rir. Ele quase deixa cair sua lança pela
forma como o riso flui através dele e parece pular livre de sua boca. "Matar—

637
CRIMSON RIVERS

espere, matar? Quem, eu? Regulus? Regulus me matar? Quão estúpido você é,
Yaxley? Ele não vai me matar. Eu sou seu irmão, idiota."

"Sabe, Black, esse é o seu problema," Yaxley diz a ele com um sorriso de
escárnio. "Você é tão fodidamente arrogante."

"Isso não é arrogância. Isso é fato," argumenta Sirius. "Eu não sei por que
você quer tratá-lo como uma espécie de aliado—"

Desta vez, Yaxley é quem ri. Seus olhos se iluminam e ele balança a
cabeça. "Oh? Oh, isso é bom demais. Quer dizer que você não sabe? Você nem
sabe, não é? Meu Deus, Regulus, você não contou a ele?"

Lentamente, os olhos de Sirius rastejam para Regulus, que mantém seu


olhar firme, e é como se o mundo caísse debaixo dos pés de Sirius por um
momento. Ele se sente suspenso aqui, completamente sem peso, pois tudo
cede ao seu redor, e ele fica pendurado na balança quando tudo em que ele
acredita—tudo o que ele sabe—é questionado.

Por causa daquele olhar no rosto de Regulus. Por causa daquele olhar nos
olhos de Regulus. Porque, mesmo depois de todo esse tempo, Regulus ainda
está olhando para ele da mesma forma que ele fez no momento em que ele
parou na colheita. Mesmo aqui, na arena, Regulus está perdido para ele. Sirius
sente um nó se formando em sua garganta.

"Não," Sirius murmura, seu peito pulsando com essa dor horrível e forte
que torna a respiração difícil, e neste momento, ele deseja que James esteja
aqui para sincronizar sua respiração.

"Sim," Yaxley diz com prazer, alegre.

"Não," Sirius repete em um coaxar, apenas olhando para Regulus e


esperando, ainda esperando, que tudo fique claro, porque certamente Regulus
não iria. Ele não iria. Não quando—não quando Sirius for o alvo principal.
"Você é—não, você não é, Reggie. Você não é."

Regulus fica sem expressão quando diz, brandamente, "O quê? Não sou
um Comensal da Morte? É isso que você acha?"

"Claro que é o que eu acho, porque você não é," Sirius explode, coçando
por toda parte e desesperado, seu coração batendo forte e rápido em seu
638
ZEPPAZARIEL

peito. "Você—você não seria, porque eles me querem morto, e você poderia
ter ficado comigo. Então, você não seria. Você não é. Você não faria isso
comigo."

"Oh, mas foi exatamente o que eu fiz," Regulus diz suavemente, e Sirius
inala bruscamente, congelando no lugar. Os olhos de Regulus piscam,
brilhando como lâminas. "Eu me juntei a eles no momento em que Bella
ofereceu. Eu agarrei a chance, mesmo. Então, quem é o idiota, Sirius? Porque,
se você me perguntar, é você."

Sirius prende a respiração por um longo momento, olhando para ele, e


então ele exala e lentamente estreita os olhos. "Então, você quer me matar, é
isso? Você acha realmente que pode?"

"Por que ele não seria capaz?" Yaxley interrompe, os lábios se curvando
em um sorriso. "Você não seria sua primeira morte. Quero dizer, ele já matou
Coen, então ele é claramente capaz."

"Uh," Camilla diz, "Isso é besteira."

"Ninguém te perguntou," Regulus retruca, lançando-lhe um olhar severo.

Camilla zomba, parecendo ofendida. "Oh, cai fora. Eu não gastei quase uma
década da minha vida tentando matar aquele bastardo para que algum pirralho
filho da puta tentasse levar o crédito. Foda-se isso e foda-se você. Eu matei
Coen. Isso foi eu."

"Eu entendo que deve ter sido difícil para você, não conseguir matá-lo,"
Regulus diz calmamente, "Mas criar uma narrativa falsa na sua cabeça para
lidar com isso não é realmente a realidade. Também não é saudável. Talvez
você devesse procurar ajuda."

"Camilla," Sirius diz em advertência, porque ele pode ver os ombros dela
tensos enquanto ela flexiona os dedos ao redor do taco.

"Sua cobra mentirosa," Camilla rosna, então começa a se lançar para frente
direto em Regulus.

Todo o inferno se solta imediatamente. Camilla e Regulus começam uma


briga, e Sirius avança para—bem, ele não tem certeza, neste momento, ainda

639
CRIMSON RIVERS

preso no modo proteger Regulus. Não é um modo do qual ele tenha certeza de
que pode sair, honestamente.

Yaxley aproveita a oportunidade para dar um soco em Sirius enquanto ele


está distraído, e Sirius solta um grunhido baixo de frustração enquanto se vira
em direção a ele, com os olhos arregalados e furiosos. Os olhos de Yaxley giram
e se arregalam com alarme, e ele tenta freneticamente lançar sua lança curta
para frente, mas Sirius balança sua própria lança em um arco para derrubar a
mira para o lado.

Há o barulho do cabo da lança contra o cabo da lança, e Sirius se levanta


com um grunhido para arrancar a lança curta da mão de Yaxley. Ela vai
voando e derrapa pelo chão. Um ganido curto escapa de Yaxley quando Sirius
o agarra pela gola, então começa a dar uma cabeçada no rosto dele.

Yaxley amaldiçoa e empurra Sirius para trás, tropeçando nele e tentando


arrancar a lança dele. Sirius tropeça para trás até colidir com alguma coisa—
não, alguém. Ironicamente, ele se vê pressionado lado a lado com Regulus,
que está tentando lutar contra Camilla.

"Você é a porra de um Comensal da Morte?!" Sirius rosna enquanto desvia do


cotovelo de Yaxley.

"Sim, isso não é bom, não é?!" Regulus rosna de volta, abaixando-se para o
lado no momento em que o taco de Camilla passa pelo braço de Sirius, onde a
cabeça de Regulus estava.

"Como isso é comparável, seu merdinha?!" Sirius grita, balançando o joelho


para bater entre as pernas de Yaxley, fazendo-o engasgar e se curvar com um
gemido baixo de dor. "Eu me voluntariei por você! Isso—você está literalmente
contribuindo para me matar, Regulus! Isso não é nem perto da mesma coisa!
Isso é, tipo, a coisa oposta!"

"Traição é traição!" Regulus grita, e ele se inclina contra Sirius com força
enquanto chuta com a perna. Sirius pode ouvir o suspiro de Camilla quando o
chute acerta.

"Traição?! Seu pequeno dramático—"

"Eu?! Eu sou dramático?! Você é dr—"

640
ZEPPAZARIEL

"Oh, pelo amor de Deus!" Sirius explode, oficialmente cansado dessa


merda, chegando ao fim de sua corda.

Ok, chega de brincar. Sirius avança e bate a palma da mão no nariz de


Yaxley, enganchando o pé em seu tornozelo e arrastando. Yaxley atinge o chão
com um ruído engasgado, e ele não tem tempo suficiente para recuperar o
fôlego antes de Sirius girar sua lança para cima e enfiá-la em seu peito. É
rápido, um golpe que acerta rápido e forte o suficiente para que Yaxley se
enrole com a força dele, sangue respingando contra seus lábios quando ele
tosse.

Sirius puxa a lança com força, a ferida aberta no peito de Yaxley jorrando
imediatamente. Yaxley raspa e arranha seu peito, atordoado enquanto a luz
escurece lentamente em seus olhos, sangrando. Ele tenta dizer algo, mas Sirius
não se importa com o que ele tem a dizer. Ele se vira para ver Regulus
empurrando Camilla para trás, que instantaneamente levanta seu taco para
acertá-lo na cabeça. Ele se abaixa ao mesmo tempo em que Sirius se joga para
frente e lança sua lança contra ela com precisão implacável.

A lança se encaixa bem no peito de Camilla, aterrissando com tanta força


que seus pés saem do chão enquanto ela navega de volta antes de cair com um
ruído engasgado e depois ficar imóvel.

Um canhão. Esse é Yaxley.

Um momento.

Outro canhão. Essa é Camilla.

Regulus solta um suspiro áspero, então se vira para encará-lo, e eles se


encaram em um silêncio pesado.

"Você matou mesmo Coen?" Sirius estala.

"Não," Regulus admite sem nenhuma vergonha.

Sirius range os dentes. "Regulus Arcturus Black, eu não sei o que deu em
você—"

"Oh, bem, você não soa exatamente como a mamãe?" Regulus sibila, e
Sirius recua no ataque. Regulus torce o lábio com desgosto e zomba, "Sirius
641
CRIMSON RIVERS

Orion Black, o que deu em você? Nós não o criamos dessa maneira. Blá, blá, blá. É
assim que você parece, eu espero que saiba. Você parece estúpido."

"Você parece estúpido," Sirius corrige. "Você é estúpido. O que diabos você
estava pensando, sendo aliado dos Comensais da Morte? Reggie, você não
pode confiar neles."

"Mas eu posso confiar em você?" Regulus retruca.

"Sim! Porra, obviamente!" Os olhos de Sirius se arregalam quando ele abre os


braços. "Você está louco?! Você é meu irmão!"

Regulus só parece ficar mais irritado. "Não, mas eu confiei em você, Sirius!
Eu confiei em você, porra, e o que você fez? Você estragou tudo. Você
estragou tudo."

"Regulus," Sirius sibila, "Se você não começar a usar sua mente, eu vou
pensar que você a perdeu."

"Você é a pior pessoa desse mundo. Você é a pior merda de irmão que
alguém poderia ter," Regulus sibila, marchando para frente e estendendo a
mão para empurrar Sirius no peito. "Você prometeu. Você me prometeu—"

"Sim, bem, eu menti," Sirius interrompe friamente, afastando as mãos de


Regulus com uma carranca. "Você não fez o mesmo? Que espaço você tem
para me julgar quando você—"

"É diferente!" Regulus argumenta furiosamente, olhos em chamas, rosto


vermelho furioso. Um homem adulto agindo como a porra de
uma criança. Sirius quer agarrá-lo e sacudi-lo. "Eu ia perder James de qualquer
maneira, você não entende?! Eu nunca consegui tê-lo de verdade! Mas você—
eu tive você de volta. Eu tive você de volta, e você tirou isso de mim. Você
não—você prometeu que não faria isso. Como você pôde fazer isso, depois
que eu—eu implorei para você não fazer? E pelo quê? Por mim? Você acha que
fez isso por mim? Não, você fez isso por você. Você me jogou fora, e não é
nem a primeira vez!"

"Você percebe o quão infantil você soa?" Sirius pergunta bruscamente,


encarando-o. "Você parece uma criança tendo um ataque porque não
conseguiu o que queria. Cresça, Regulus."

642
ZEPPAZARIEL

"Você não me deixa!" Regulus ruge, e Sirius se encolhe em pura surpresa,


seus olhos se arregalando. "Você não me deixa. Isso é o que você me fez.
Decepcionado com seu próprio projeto? Você não tem ninguém para culpar
além de si mesmo, porque você não me respeita como um adulto, porque
você olha para mim e vê seu irmãozinho como se eu ainda fosse uma criança
que você tem que cuidar, o que é irônico, porque nem isso você fez direito."

Sirius não está preparado para o quanto essas palavras doem. Elas picam.
Muito. Oh, cara, elas picam. Ele—ele se esforçou muito para cuidar de
Regulus, ele realmente se esforçou, mas...

Engolindo em seco, Sirius sussurra com voz rouca, "Eu também era uma
criança."

"Sim, eu sei," Regulus diz, seu volume caindo e sua voz ficando fria. Seus
olhos estão mais frios. "Quem não cresceu foi você, Sirius, não eu. Você ainda
é aquele garoto que tenta me proteger a cada passo, mas eu envelheci e
aprendi a cuidar de mim mesmo, e eu não preciso mais de você."

"Cale a boca," Sirius diz reflexivamente, sua boca seca, o coração batendo
forte em seu peito. Você precisa, ele pensa desesperadamente. Você precisa de
mim. Você sempre vai precisar de mim.

"Você não pode nem começar a imaginar o quanto eu te odeio," Regulus o


informa, sua voz entrecortada. "O quanto eu sempre odiei você. As partes mais
libertadoras da minha vida foram aquelas em que você não estava envolvido."

"Cale a boca," Sirius repete, um zumbido alto em seus ouvidos.

"O que eu mais lamento não é que você quebrou sua promessa, Sirius,"
Regulus continua. "É que eu perdi tempo me preocupando o suficiente para
pedir uma promessa sua."

Sirius fecha os olhos com força, tentando pensar, precisando pensar. É


difícil, muito difícil, deixar de lado os pensamentos em espiral em sua cabeça
para tentar ser racional. As palavras de Regulus o cortaram mais
profundamente, mais impiedosamente, do que sua adaga jamais poderia.

"E eu não faço isso mais," Regulus insiste. "Me importar. É libertador,
honestamente. Ver quem você é, de verdade, depois de ser enganado

643
CRIMSON RIVERS

pensando que você poderia valer a pena meu esforço. Sabe, você
é sufocante. Você é egoísta. Você é cada coisa que mamãe e papai sempre
falaram sobre você. Eu não entendia na época, mas agora eu entendo o que
eles viram quando olharam para você e por que ficaram tão
fodidamente desapontados."

Não.

Não, isso não está certo.

Não, simplesmente não encaixa.

A mente de Sirius apenas—não aceita isso. Isso não. Não de seu irmão.
Seu irmãozinho. Sempre seu irmãozinho.

Lentamente, Sirius abre os olhos e encara Regulus, e na verdade, é a


menção de seus pais que realmente solidifica isso para Sirius. Porque tudo o
que ele consegue pensar é como, depois que seus pais morreram,
era Regulus que ainda os amava. Mesmo depois de tudo que eles fizeram ele—
os dois—passarem, Regulus ainda os amava tanto que ele não conseguiu sair
da cama por dias depois que eles morreram, e ainda sim, mesmo agora, ele
sente falta deles quando ele mal tem nada para sentir falta.

"Oh, você é esperto," Sirius respira, e Regulus pisca, visivelmente assustado.


"Você—ok, eu não te dou crédito suficiente, eu posso ver isso. Seu
pequeno gênio. Quero dizer, você ainda é um idiota, só para deixar claro, mas
isso—isso quase funcionou."

Regulus olha para ele, então diz categoricamente, "O quê?"

"Você quase me fez acreditar," admite Sirius com uma bufada, balançando
a cabeça enquanto preguiçosamente estende a mão para tirar a adaga da mão
de Regulus, observando-a cair no chão antes de ampliar sua postura. "Tudo
bem, Sr. Comensal da Morte. Faça uma tentativa."

"Faça... uma... tentativa..." Regulus repete lentamente.

Os lábios de Sirius se contorcem, e ele arqueia uma sobrancelha. "Sim,


você é um Comensal da Morte, certo? Você me odeia, me quer morto, e tudo
mais. Então, faça uma tentativa." Regulus apenas o encara um pouco mais, e

644
ZEPPAZARIEL

Sirius sacode as mãos, rola a cabeça no pescoço e salta no lugar. Ele sorri.
"Vamos, Reggie, você nunca se perguntou quem é melhor entre mim e você?"

"Não," Regulus diz brevemente. "Eu já sei disso."

"Ah, mas e se você estiver errado?" Sirius provoca.

Regulus suspira. "Eu não estou."

Com isso, Regulus avança e Sirius o encontra no meio do caminho; mão a


mão e golpe por golpe; duas estrelas colidindo no meio do dia enquanto a
mais brilhante ri como se não estivesse se queimando.

É honestamente um pouco divertido, apesar de tudo. A pressa faz o


sangue de Sirius bombear, todo o seu mundo se reduz a bloquear cada golpe
que Regulus lança nele. Ele se esquiva, se inclina para fora do caminho, dança
fora do alcance; ainda rindo; totalmente sem fôlego enquanto se mantém fora
de alcance, observando Regulus tentar desesperadamente diminuir a distância.

Talvez isso seja um pouco confuso, mas Sirius não pode deixar de ser
ridiculamente aquecido por isso. Regulus—essa é a coisa com ele, na verdade.
Suas ações sempre falaram por ele, não importa quais palavras saíssem de sua
boca. Regulus pode dizer qualquer coisa que queira insinuar que ele despreza
Sirius, e ainda assim, aqui está ele, fazendo tudo ao seu alcance apenas para
tocá-lo. Para tê-lo novamente.

"Oh, você vai querer não se deixar exposto aqui," Sirius anuncia, dando
um tapa na lateral de Regulus gentilmente. Ele começa a rir e recua quando
Regulus tenta dar um soco na lateral do rosto de Sirius, errando por pouco.
"Sua forma está boa, na verdade, mas você está ficando desleixado."

"Vai se foder," Regulus rosna, então tenta acertá-lo novamente.

Sirius facilmente empurra seu braço para o lado e diz, calorosamente,


"Sabe, aposto que você matou um Comensal da Morte, não foi? Não Coen,
você disse, então... Thorfinn? Você matou Rowle, Reggie?"

"E?" Regulus estala, abruptamente parando no lugar para olhar para ele,
seu peito arfando.

"Não é um aliado muito bom," Sirius aponta, divertido.


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CRIMSON RIVERS

"Ele me provocou," resmunga Regulus. "Não pude evitar. Não é um


reflexo da minha lealdade."

"Mhm," Sirius murmura com ceticismo. "Claro que não é."

Os lábios de Regulus se abrem. "O que você está insinuando?"

"Cansado ainda? Precisa de uma pausa?" Sirius pergunta com um sorriso,


levantando as sobrancelhas. "Se você tem que recuperar o fôlego—"

Sirius gane e se abaixa rapidamente quando a mão de Regulus dispara. Ele


é rápido. Sempre foi, na verdade. Sirius não pode dizer quem é mais rápido
entre eles, porque ele suspeita que depende das circunstâncias e do que eles
estão tentando provar. No momento, Regulus tem algo a provar, mas é uma
pena para ele, porque Sirius não está acreditando.

Há outra rodada de Regulus repetidamente tentando acabar com ele, e


Sirius repetidamente não deixando ele fazer isso. É uma rodada divertida.
Sirius vence novamente, e está rindo no final, quando Regulus se afasta com
um som baixo de frustração. Ele se afasta, totalmente furioso, então caminha
de volta para Sirius, parecendo que está atrás de sangue.

"Lute de volta!" Regulus estala, parecendo tão reprimido e chacoalhando


com tanta raiva que é meio—triste. "Eu não te considero
um maldito covarde. De todas as coisas que você foi, eu posso pelo menos dizer
que você nunca foi isso. O que é, então?"

"Eu não tenho que lutar com você," Sirius diz simplesmente. "Eu posso
vencer você sem nunca colocar a mão em você. Eu sou melhor, Reggie.
Simplesmente sou, e tudo bem. Eu tenho que ser, por você. Eu tenho que ser,
por isso. Então, eu sou, e você pode levar o seu tempo para chegar a um
acordo com isso; você realmente tem algumas coisas para resolver—"

"Seu maldito bastardo," Regulus sibila, balançando o punho novamente,


que Sirius habilmente se esquiva.

Sirius suspira melancolicamente. "Oh, se ao menos eu fosse. Mas não,


infelizmente, eu sou o filho dos nossos pais. O mais velho deles. Menos
infelizmente, seu irmão mais velho."

"Eu gostaria que você não fosse," Regulus cospe.


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ZEPPAZARIEL

"Mentiroso," Sirius responde, dando um tapa na cabeça de Regulus e


afastando seus pés com um chute. "Você não está mantendo seu equilíbrio
estável. Pense no seu centro de gravidade, sim? Se você ficar assim, em vez
de assim, será fácil de derrubar."

"Pare com isso! Apenas—pare, porra," Regulus declara, batendo nas mãos
de Sirius e olhando para ele. Ele dá um passo para trás, olhar calculista e
afiado. "Você não vai lutar comigo."

"Não," Sirius diz. "Eu não vou."

Regulus cerra a mandíbula. "Por que?"

"Porque eu conheço você," Sirius diz a ele simplesmente. "Você está


bravo, e você quer atacar, mas você não quer realmente me machucar. Você não
poderia me matar nem se tentasse, nem mesmo se eu te desse a chance.
Então, ok, você é um Comensal da Morte. Você é um Comensal da Morte
porque queria se vingar de mim, já que você é um merdinha malvado e
miserável. Você também é um Comensal da Morte para garantir que nenhum
dos outros coloque a mão em mim. Deixe-me adivinhar, você disse a eles que
só você poderia me matar? Algo assim, certo?"

"Oh, é isso que você pensa?" Regulus pisca para ele, e é como se toda a sua
raiva simplesmente desaparecesse. Antes, ele era uma janela quebrada que
deixava a tempestade de dentro para fora; agora, assim, ele fechou a janela
com tábuas, e tudo ainda está dentro. "Já passou pela sua cabeça pensar que
eu me juntei aos Comensais da Morte porque eu concordo com eles?"

Sirius estala os dentes. "Oh, por favor. Desista, Regulus. Eu já entendi tudo
e você não pode me enganar. Você simplesmente não pode."

"Você se enganou. Eu nem precisei fazer nada; isso é o quão idiota você é,"
diz Regulus. "Você acha que eu estou tentando proteger você, sério? Isso é mais
coisa sua do que minha, não é?"

"Você só faz diferente," Sirius murmura. "Dramaticamente, para ser mais


claro. Além disso, você está com raiva de mim. Claro que você quer ser um
idiota sobre a coisa toda."

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CRIMSON RIVERS

Regulus zomba. "Pelo amor de Deus, Sirius, você está se agarrando. Você
percebe isso? Você está tão desesperado para acreditar que eu nunca te
machucaria que está inventando mentiras para lidar com isso. Eu não me
juntei aos Comensais da Morte para proteger você, seu idiota do caralho."

"E quanto a James?" Sirius pergunta sem rodeios, e Regulus fica muito
quieto. Sirius cantarola. "Sim. Ele está assistindo agora, sabe. Assistindo nós
dois. Você está realmente bem com o quê, me matar bem na frente dele?
Você planejou isso?"

"James..." Regulus para, expressão se contorcendo, e então seu rosto


parece se transformar em pedra. "Tudo que eu faço, eu faço por James, e por
mim, e por nós. Ele sabe disso. Eu disse isso a ele, e ele vai entender isso,
quando chegar a hora."

Sirius solta um suspiro. "Você conhece James. Você o conhece, Regulus.


Você sabe que ele nunca se recuperaria disso, e o que quer que você faça
comigo, você nunca faria isso com ele."

"Você subestima o quanto ele me ama."

"Não, você subestima, geralmente. Eu sei o quanto ele te ama. E eu sei que
você nem percebe isso completamente, porque você não sabe como aceitar
isso, então eu sei que você não está usando isso como um desculpa para fazer
o que você está fingindo que está tentando fazer aqui."

"Ok," Regulus murmura, "Então você subestima o quanto eu amo ele."

"Eu—" Sirius faz uma pausa, vacilando, sua mente pulando como um
disco fora da pista. Ele não pode evitar, aquele pensamento insidioso de que,
em seu desespero para voltar para James, Regulus se agarraria à sua raiva de
Sirius apenas para lidar, deixaria se transformar em ódio para que ele pudesse
deixar Sirius morrer e não sentir o quão dói. Regulus faria isso. Ele é um
homem confuso e complexo jogado em situações impossíveis e lutando com
sentimentos que ele não sabe como. Sirius hesita por um longo tempo, então
se afasta. "Não, eu não compro isso também."

"Você realmente quer acreditar em mim tanto assim?" Regulus pergunta.

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ZEPPAZARIEL

"Eu acredito em você," Sirius insiste, como um desafio, apenas desafiando


Regulus a provar que ele está errado, porque ele não pode. Ele não pode
enganar Sirius, não pode influenciar Sirius, não pode fazê-lo mudar de ideia.
"Não há nada neste mundo que você possa dizer ou fazer que vai mudar isso,
Reggie. Você é meu irmão. Eu te amo. Isso é o que é, é o que sempre foi, e é
o que será para sempre."

Regulus não quebra. Ele não descongela. Ele permanece imóvel e frio.
Com um aceno brusco, ele gira nos calcanhares e mergulha para pegar a adaga
do chão. Ele a segura com força, então se levanta, gira e se move direto para
Sirius.

"Esse é o seu erro," Regulus anuncia, e então ele está se jogando para a
frente, e é diferente.

É imediatamente diferente de antes.

Sirius pode sentir a mudança, de alguma forma. Regulus é diferente quando


está lutando com uma adaga, para começar. Mais mortal. Mais afiado, como se
ele estivesse se tornando parte da lâmina. Mais frio, mais rápido, mais
implacável. Ele também está diferente agora de momentos antes, como se
tivesse deixado a emoção tomar conta.

É mais difícil, então, bloquear e esquivar. Sirius faz, mas ele não está mais
rindo, porque ele tem que se concentrar. Ele não pode perder um movimento,
um deslocamento do corpo de Regulus, um lampejo da adaga. Se ele fizer
isso—bem, se ele fizer isso, Regulus vai cortá-lo.

É simples assim. Não é Sirius apenas deixando Regulus desabafar, não


agora. É Sirius se defendendo ativamente, porque se ele não o fizer, ele vai se
machucar. Possivelmente muito.

Os instintos de sobrevivência de Sirius surgem dentro dele, e quando


Regulus estende a mão, Sirius pega seu pulso e o torce. Ele está tentando
desarmá-lo, tirar o punhal da equação, mas Regulus—teimoso como ele—se
recusa a deixá-lo ir. O que ele faz, em vez disso, é virar a adaga em sua mão
dobrada e cortar.

Sirius o solta com uma maldição, recuando incrédulo, totalmente surpreso


com a visão do corte em seu antebraço onde Regulus o pegou. O sangue

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CRIMSON RIVERS

escorre em um pequeno riacho, um pequeno rio carmesim que flui para o


chão.

Nem dói tanto. Não é muito profundo, e Sirius teve piores, mas é
desorientador puramente porque foi Regulus quem fez isso. Ele olha para cima
com uma reprimenda na língua, apenas para inalar bruscamente quando vê
Regulus ainda vindo.

Sirius reage sem querer, mais uma vez. Ele pega a mão de Regulus com a
adaga, então balança a mão livre para socar Regulus bem no rosto. Regulus
resmunga, xinga e tenta corrigir onde Sirius o tirou do curso. Sirius não o
deixa, nem mesmo lhe dá tempo, apenas puxa seu pulso e coloca um braço
em volta da garganta de Regulus. Facilmente, rapidamente, Sirius puxa
Regulus e levanta os braços para prendê-lo em uma chave de braço.

"Porra, pare com isso, seu merdinha," Sirius sussurra em seu ouvido. "Isso
não vai funcionar. Você só está me irritando."

Regulus não responde fora um rosnado, e então ele joga seu cotovelo de
volta no peito de Sirius com força. Sirius—teimoso como ele é—não solta.
Regulus se mexe, jogando o cotovelo para trás novamente, então alcança
Sirius pelas costas de sua camisa enquanto ele se lança para frente, dobrando-
se ao meio e jogando Sirius totalmente sobre ele.

Sirius sente o mundo se inclinar em um turbilhão, e então ele cai de costas


com a respiração saindo de seus pulmões. Ele chia por um segundo, piscando
rapidamente, então rola para fora do caminho quando Regulus tenta enterrar
sua adaga em seu ombro.

Com um grunhido, Sirius fica de pé e chuta antes que Regulus possa se


levantar. Sua bota colide com a bochecha de Regulus com tanta força que sua
cabeça vira para o lado, uma marca deixada na forma da pisada da bota de
Sirius, dura e suja contra a pele corada. É preciso um esforço genuíno para
Sirius não chutá-lo na cara de novo, e depois apenas bater a porra da cabeça
dele no chão. Qualquer outra pessoa, e sua cabeça se abriria sob sua bota
como um melão.

"Já acabou a birra?" Sirius ri quando Regulus revira a mandíbula, então fica
de pé.

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ZEPPAZARIEL

"Oh, é isso que você acha que é?" Regulus pergunta zombeteiro,
inclinando a cabeça. "Você realmente se convenceu, não é? Que eu não iria te
trair. Que eu não iria te matar."

"Você não vai," Sirius declara. "Você pode me machucar, porque eu te


machuquei, mas você não vai cruzar essa linha. Você não pode, então
apenas desista. Deixe pra lá, Reggie. Eu estou aqui. Nós estamos aqui, e está
feito. Vamos apenas aceitar e passar por isso juntos."

"Apenas um de nós pode chegar em casa," Regulus diz a ele.

Sirius suaviza, impotente, "Eu sei, e esse é você. É você, e eu sei que você
sabe disso. Eu sei que você sabe que eu vou garantir que você chegue em casa,
e isso dói, isso te assusta, mas ceder à raiva não vai ajudar. Só vai piorar
quando eu for."

"Eu não vou me machucar," afirma Regulus, e ele soa como se estivesse
falando sério. Ele parece estar falando sério. "Eu vou ficar totalmente em paz
quando tudo isso acabar."

"Pare com isso," Sirius sussurra. "Apenas pare. Você não entende? Você
não pode provar algo que eu já sei que não é real."

Regulus não se move, não desvia o olhar, não faz nada por um longo
momento—e então, calmamente, ele diz, "Você está disposto a apostar sua
vida nisso?"

"Sim," Sirius diz com firmeza, então estende os braços e se torna um alvo
aberto. Tudo o que Regulus tem que fazer é jogar sua adaga, e pronto. Ele não
joga.

"Você está disposto a apostar a vida de outra pessoa nisso?" Regulus


pergunta baixinho, segurando seu olhar. "Sua lua, talvez."

Sirius congela. Todos os seus músculos travam quando seu coração


começa a bater forte e rápido em seu peito. "Regulus—"

"Eu conheço a sua lua, não é, Sirius?" Regulus diz, olhando para ele. "Oh,
isso iria doer, não iria? Isso faria você desistir completamente, se eu apenas
dissesse o nome dele."

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CRIMSON RIVERS

"Cale a porra da boca," Sirius explode, frenético e feroz em um piscar de


olhos, sentindo-se selvagem e indomado e empurrado para a beira tão rápido,
tão facilmente, porque é Remus. É Remus, e Sirius não pode ser racional sobre
Remus.

"A vida dele estaria arruinada no momento em que ele estivesse conectado
a você," Regulus murmura. "Porque é isso que você faz. Você estraga as
coisas. Por que eu não compartilho com o mundo a facilidade com que você
arruinou a lua? Um nome. Isso é tudo que vai demorar."

"Não se atreva, porra," Sirius sibila, dando um passo à frente e ouvindo seu
sangue correr em seus ouvidos, instintos descontrolados, tudo desequilibrado
pela ameaça. Se Regulus disser o nome de Remus, é isso. Remus está morto.
Ele—ele não faria isso, certo? Remus é seu amigo. Então, por que ele está
assim? Por que Sirius está tão assustado? "Cale a boca. Pare. Você não faria
isso."

"Não?" Regulus diz suavemente, nunca quebrando o olhar, nunca


recuando. Sua boca se abre, lentamente, lábios se moldando em torno da
primeira sílaba, "R—"

Sirius não o deixa terminar. Nem lhe dá chance. Em segundos, ele tem
Regulus de costas no chão, acertando-o uma, duas, uma terceira vez.

"Cale a porra da sua boca!" Sirius ruge, tremendo todo enquanto se inclina
sobre Regulus e paira seu punho em ameaça.

Regulus tosse, então mal fala, "R—"

Sirius bate nele de novo.

De novo.

De novo.

E de novo.

As coisas entram e saem, sua mente em alvoroço, e ele está aqui, depois se
foi, aqui, depois não, e volta novamente. Sirius sente como se o mundo
estivesse girando ao seu redor, girando em uma nuvem nebulosa de aquarelas
opacas, o ar viciado e o fedor de morte e sangue grudado em seu nariz.
652
ZEPPAZARIEL

Tudo parece desmoronar, e dói, porque isso—é a prova. É convincente.


Sirius, pela primeira vez, não acredita em seu irmão. Porque Regulus quer
dizer o nome de Remus, e isso machucaria Sirius mais do que morrer pelas
mãos de Regulus. Isso não é raiva. Isso vai além de Regulus apenas estar com
raiva dele. Regulus quis dizer isso. Oh, oh, porra, ele quis dizer isso quando
disse que Sirius estava morto para ele, e ele está—ele está realmente tentando
fazer isso.

Ele realmente quer matar Sirius e voltar para casa, custe o que custar. Seu
próprio irmão. Sirius, que ia morrer por ele. Sirius, que ainda quer. Sirius, que
ainda o faria, se não fosse o fato de que o homem que ele ama está sob
ameaça.

E é aqui, com Regulus debaixo dele, sendo espancado até a morte pelas
mãos de Sirius, que Sirius percebe que também o odeia.

Depois de tudo que Sirius fez por ele.

Depois de tudo que Sirius sofreu por ele.

Depois de tudo que Sirius se esforçou pra caralho pra consertar.

Depois de tudo isso, foi Regulus quem jogou fora, zangado, traído e
magoado. Seu irmãozinho. Sempre seu irmãozinho.

E Sirius o odeia por isso.

"Eu dei tudo por você!" Sirius grita, então bate em Regulus novamente. "E
isso é o que você me dá?!"

Regulus está engasgando com seu próprio sangue.

"Seu pedaço de merda ingrato, rancoroso e odiável!" Sirius engasga, sua


visão embaçada com lágrimas até que o jeito que Regulus está ali, rosto
coberto de sangue, nem parece real. Apenas uma simples ilusão. Um sonho.
Uma memória que ele quer manter e afastar em igual medida.

Uma respiração ruidosa escapa de Regulus, e ele levanta a mão fracamente,


dedos frouxos ao redor de sua adaga. "R—"

653
CRIMSON RIVERS

Sirius bate nele de novo, soltando um suspiro áspero que escapa dele como
um soluço, lágrimas quentes escorrendo pelo nariz enquanto ele confessa,
"Eu odeio você. Eu odeio você, porra. Por que você faria isso? Como você
pode fazer isso comigo, depois que eu—depois de tudo isso? Tudo que eu fiz
foi amar você! Tudo que eu fiz, eu fiz por você! A culpa é sua, e eu odeio que
você tenha nascido, porra!"

Regulus empurra a adaga para frente, ainda tentando,


ainda tentando, mesmo agora. Ele balança, balançando fracamente no ar, muito
lento, ridiculamente lento a ponto de Sirius facilmente arrancá-la de suas mãos
enquanto ele geme, "R—"

"Cale a boca!" Sirius grita.

"Você vai—" Regulus tosse novamente, os olhos rolando antes de se fixar


nele mais uma vez. "Você vai ter que me matar."

"Eu vou! Não me provoque, porra, porque eu vou," Sirius rosna, vibrando
no lugar, suspenso neste momento de raiva horrível e doentia, mágoa, traição
e medo.

Regulus apenas olha para ele e sussurra, "R—"

Sirius bate nele com uma mão para calá-lo, e Regulus se vira embaixo dele,
ofegante, apenas para ele parar no momento em que vê Sirius erguer a adaga.

Sirius não a derruba, mas ele quer. Ele quer tanto que está tremendo. Ele
quer enfiar a adaga no peito de Regulus e torcer. Tudo o que ele tem que fazer
é tentar falar o nome de Remus de novo, e Sirius o fará. Tudo o que ele tem
que dizer é—

"Está tudo bem," Regulus suspira, uma mão manchada de sangue subindo
para cobrir a adaga de Sirius trêmula. Seus dedos estão escorregadios
enquanto envolvem a mão de Sirius, e ele engole, engole seu próprio sangue
apenas para olhar diretamente para Sirius e engasgar, "Eu também te amo.
Queria dizer isso há um bom tempo. Eu sinto muito. Eu sinto muito por não
ter falado. Eu sinto muito por estar dizendo isso agora, mas eu amo. Está
tudo bem, certo? Está tudo bem. Eu também te amo."

654
ZEPPAZARIEL

Sirius sente uma sensação horrível e fria lentamente rastejar por seu corpo,
e ele não consegue—ele não consegue se mover, não consegue desviar o olhar
do rosto de Regulus. Suas mãos doem, os nós dos dedos estão quebrados, e
seu irmão mais novo está ensanguentado e espancado embaixo dele, sob a
ameaça de morte por uma adaga, e Sirius é quem o colocou lá.

E ele sabe por quê.

Ele pode ver, de repente. Fica claro, então, tudo de uma vez. Regulus o
enganou. Ele o enganou. Só não do jeito que Sirius estava preparado. Ele
nunca imaginou isso.

Regulus nunca teve a intenção de voltar para casa.

Sirius solta um gemido e pressiona a parte de trás de seu pulso contra sua
boca enquanto olha para Regulus através das lágrimas em seus olhos. Oh. Oh,
está tudo se encaixando agora.

Regulus sabia que Sirius estava planejando levá-lo para casa, e sabia que
Sirius preferiria se matar a deixar Regulus fazer o mesmo, e Sirius é melhor
que Regulus. Mais rápido. Mais forte. Ainda mais eficiente, dependendo das
circunstâncias.

Não havia como Regulus garantir que Sirius chegasse em casa a menos que
Sirius fizesse isso. Apenas Sirius poderia se levar para casa, e ele não iria, e esse
foi o último obstáculo que Regulus teve que superar. Ele
sabia exatamente como.

Sirius não ia deixar ninguém matar seu irmão, e ainda assim aqui está ele, às
portas da morte, porque Sirius foi enganado. Porque Sirius vacilou. Porque
Sirius foi incitado a isso como um idiota. Regulus nunca diria o nome de
Remus, não é? Regulus encontrou o botão de Sirius e apertou-o
repetidamente, até empurrar Sirius bem acima da borda. De propósito.

Sirius não ia deixar Regulus morrer por ele, então, Regulus provocou Sirius
para matá-lo. Um plano simples e eficaz para distorcer a mente de Sirius,
apostando em seus instintos de sobrevivência e no quanto ele ama Remus.
Um ato simples e eficaz de se transformar no vilão, dizendo todas as coisas
erradas e ficando do lado de todas as pessoas erradas, tornando-se algo que

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CRIMSON RIVERS

Sirius poderia odiar o suficiente para lutar, porque uma vez que ele começasse
a lutar, realmente lutar, era isso.

Um sacrifício. Foi um sacrifício.

Eu também te amo.

Como se todas as vezes que Sirius tivesse dito isso, cada uma delas,
houvesse um eco de Regulus respondendo. Havia. Sirius sabia disso. Ele sabia
que Regulus o amava.

Eu também te amo.

Como ele esqueceu? Como ele se permitiu duvidar, mesmo que por um
momento, mesmo por medo?

Eu também te amo.

As palavras abrem o peito de Sirius, e ele engasga com um soluço áspero


enquanto larga a adaga. Suas mãos chegam trêmulas ao rosto de Regulus, e
talvez fosse verdade, talvez Regulus estivesse certo quando disse que Sirius
ainda olha para ele como uma criança, porque não importa para ele que
Regulus tenha vinte e seis anos, exatamente agora; Sirius olha para ele e se
lembra, vagamente, tão vagamente, do jeito que ele gaguejou aos seis anos de
idade porque seus dentes de leite da frente caíram, então quando ele riu e
sussurrou o nome de Sirius, não saiu direito, mas Sirius veio correndo direto
para ele de qualquer maneira. Já se passaram vinte anos e vinte segundos, e
Sirius ainda está aqui.

Os olhos de Regulus se abrem, nublados e nebulosos, então se iluminam


com um crescente alarme enquanto ele observa Sirius, chorando por ele. Seu
rosto está inchado e aberto, traços de carmesim em sua pele pálida, mas seu
pânico vem alto e claro.

"Pegue," resmunga Regulus. "Pegue. Sirius, pegue."

Sirius balança a cabeça, sugando uma respiração áspera, o peito gaguejando


em torno de suas lágrimas. Regulus levanta a mão para agarrar a frente da
camisa de Sirius, desesperado, fazendo um barulho baixo. Parece que ele está
implorando. Mais uma vez, Sirius balança a cabeça, os olhos ardendo. Regulus
choraminga, sua mão caindo.
656
ZEPPAZARIEL

A pior parte é que Regulus teria conseguido. Ele chegou até o fim antes de
escorregar, antes de estragar tudo, porque ele é humano, e no que ele
considerou seus últimos momentos, ele só queria dizer uma última coisa.

Eu também te amo.

"Então—então me deixe fazer isso, ok? Me deixe fazer isso. Por favor, me
deixe fazer isso," Regulus canta, sua mão batendo freneticamente no chão
enquanto ele tenta localizar a adaga. Sirius se mexe para chutá-la com força, e
Regulus começa a chorar pra valer. "Não, por favor, não faça isso comigo.
Sirius, por favor, apenas—por favor, faça, ou me deixe fazer isso. Não me
faça viver sem você, por favor, não, Sirius—"

Regulus é uma bagunça sangrenta e chorosa e foi pego no limite de um


maldito ataque de pânico—e Sirius não se importa. Ele se abaixa para pegar a
gola de Regulus e puxá-lo para cima. Ele está um pouco mole e solto,
delirando por Sirius ter lhe dado uma surra, então ele flui como água e cai
facilmente no corpo de Sirius. Sirius envolve seus braços e o segura, olhando
fixamente para o nada enquanto segura a parte de trás da cabeça de Regulus e
as lágrimas caem livremente por seu rosto.

Sirius não pode fazer nada além de sentar e ouvir seu irmão implorar com
palavras arrastadas e engasgadas. Implorando para morrer. Implorando pela
vida de Sirius. Implorando com desespero que transborda como um cano
finalmente estourando, voando aos pedaços sob a pressão.

Eventualmente, Regulus fica tão desesperado que tenta uma tática


totalmente diferente. "James," diz ele. "Sirius, James precisa de você. Ele
precisa de você. Não—não faça isso com ele. Não—"

"Regulus, Regulus, pare," Sirius ordena com firmeza, recuando para agarrar
seus ombros e sacudi-lo um pouco. O peito de Regulus sobe e desce
rapidamente, olhos arregalados e selvagens como um animal preso em uma
armadilha. "Pare. Acabou. Está feito, ok? Você—você tentou, e não
funcionou, e é isso. Apenas pare."

"Eu vou—eu vou dizer. Eu vou dizer o nome," Regulus engasga.

Sirius engole, então fala, "Não, você não vai."

657
CRIMSON RIVERS

"R—R—" e é isso. Isso é o máximo que ele consegue. Sirius não faz nada,
e a boca de Regulus permanece aberta. Sirius espera, e então o lábio quebrado
de Regulus começa a tremer enquanto as lágrimas de construção em seus
olhos transbordam. Ele abaixa a cabeça para frente e soluça, "Porra. Porra."

"Sim, eu sei, seu pequeno fodido," Sirius murmura com uma risada fraca e
cheia de lágrimas. Ele segura a nuca de Regulus e o puxa de volta para um
abraço.

Regulus abaixa a cabeça no ombro de Sirius e chora. Seus dedos torcem na


camisa de Sirius ao seu lado, agarrados, inquietos. "Eu sinto muito. Porra, eu
sinto muito. Eu—eu realmente—eu tentei."

"Eu sei," Sirius sussurra.

"Eu estava tentando tanto," Regulus ofega, tremendo e chorando,


chorando e tremendo. "Eu sinto muito. Eu—"

"Eu sei, Reggie. Está tudo bem. Vai ficar tudo bem." Sirius engole em
seco, porque ele sabe, realisticamente, que não vai. Não pode ficar. Todo esse
tempo, ele pensou muito no que sua perda faria com James e Remus, mas não
tanto para Regulus. Um grande descuido de sua parte, Sirius agora sabe. Ele
vai ter que deixar seu irmão também. Por alguma razão, ele nunca poderia
realmente olhar além sabendo que faria qualquer coisa que pudesse para
proteger Regulus, até mesmo morrer para salvá-lo, para ver que ele o deixaria
para trás. Novamente.

E essa deve ter sido a primeira coisa que Regulus percebeu no segundo que
ouviu Sirius se voluntariar por ele. É horrível, porque a arena trouxe Regulus
de volta para ele duas vezes, uma vez quando Regulus se tornou um Vitorioso
e neste exato segundo, mas para Regulus, tudo o que a arena faz é tirar Sirius
dele.

Regulus se inclina contra ele e soluça como se ele tivesse perdido tudo, e
talvez, de certa forma, ele tenha.

~•~

658
ZEPPAZARIEL

Com um estremecimento, Regulus enxuga o rosto com os suprimentos do


kit médico na sua—na bolsa de Sirius. Sirius pegou de volta, e Regulus deixou,
sem dizer uma palavra de protesto.

Sirius senta ao lado dele em silêncio, limpando seu braço onde Regulus o
cortou com uma adaga.

O heliportador já veio buscar Yaxley e Camilla, que foi o que inicialmente


os fez parar de chorar e se separar, porque ah, certo, eles ainda estão no meio
da porra dos jogos vorazes. A realidade é uma merda, na verdade.

Sirius havia se levantado para recuperar sua lança do corpo de Camilla,


então eles começaram a cuidar de seus ferimentos. Sem falar. Sem olhar um
para o outro.

Regulus está preocupado que se ele abrir a boca, ele vai vomitar.

A coisa é.

Bem, sabe, a coisa é, Regulus tinha um plano, certo? Era um bom plano, e
ele sabe disso porque quase funcionou. Teria funcionado se ele não tivesse
estragado tudo na reta final. Tudo o que ele tinha que fazer era ficar de boca
fechada, ou fingir que ia dizer o nome de Remus de novo, e então
simplesmente morrer.

Ele estava tão perto. Tão fodidamente perto.

Mas é claro que ele estragou tudo, porque ele é um fodido, e ele sempre
falha quando é mais importante não fazer isso. Ele estava com medo de
morrer? Sim, é verdade que ele estava, mas não tão aterrorizado quanto ele
estava de morrer sem dizer isso pelo menos uma vez, apenas uma vez,
precisando dizer isso, um desejo egoísta de provar que ele tem isso nele, e
tudo o que ele estava fazendo—tudo isso—era porque ele também ama Sirius.
Sirius e James.

Uma parte importante do plano era deixá-los zangados com ele. Fazendo-
os odiarem eles até. Ser alguém mais fácil para eles perderem e deixarem ir.
Regulus sabe através de seus pais que estar zangado com alguém que morre
não faz com que doa menos, mas ele só pode imaginar a dor que ele sentiria

659
CRIMSON RIVERS

se não estivesse zangado com eles, se eles fossem pessoas boas que nunca o
machucaram ou a Sirius, se eles tivessem feito o certo por eles.

Ele estava tentando, à sua maneira, tornar as coisas mais fáceis para eles.

Ele fodeu com isso também.

Regulus deveria ter pegado a porra da adaga nos primeiros cinco minutos e
acabado com isso, mas... bem, como diabos ele deveria fazer isso, sabendo
que Sirius poderia ter desmoronado depois disso? Isso o teria machucado,
enfraquecido, e então os Comensais da Morte poderiam realmente ter uma
chance de matá-lo. Regulus tinha que estar aqui; ele tinha que fazer isso, só
para ter certeza de que ninguém chegaria até Sirius.

Não era para ser assim. Regulus esperava ir mais longe nos jogos e
diminuir significativamente os números antes de incitar Sirius a matá-lo.
Porque tinha que ser Sirius quem o mataria. Sirius é melhor—Regulus sempre
soube disso, e ele estava contando com isso. Se Sirius o matasse, se ele
chegasse a esse ponto, ele sairia da arena. Ele continuaria. Ele não teria
nenhuma razão para parar e nada o segurando.

Tudo que Regulus fez foi segurar Sirius. Arrastar ele para baixo. Afundar
suas garras nele e desesperadamente não querer que ele fosse embora. Regulus
poderia libertá-lo, e não é menos do que ele merece, na verdade, depois de
toda a dor, trauma e tristeza que Regulus convidou para sua vida.

Regulus é seu irmão mais novo, e tudo o que ele fez por ele foi piorar sua
vida. Tudo—tudo isso—é culpa dele. Sirius até disse isso. Sim, Regulus
também gostaria de nunca ter nascido.

E, tudo bem, uma parte de Regulus esperava que talvez... Bem, talvez,
assim, Sirius se arrependesse de se voluntariar por ele, porque
ele deveria. Porque ele tem todo o direito, e por que ele não o faz? Regulus não
suporta isso, ser amado tanto, ser responsável pelo que o amor de Sirius lhe
custa.

Sempre lhe custa.

660
ZEPPAZARIEL

Desta vez, vai lhe custar tudo. Ele nem vê, por que precisa ser ele a sair
daqui. Como ele pode não ver? Todas as vidas que ele tocou. Todas as
pessoas que precisam dele. Effie, Monty, Andy, Pandora, Remus, James.

Oh, James...

Regulus também. Regulus realmente precisa que seja Sirius quem vai para
casa. Porque como ele deveria viver com isso? O fato de ele ter matado seu
irmão; como ele aguenta esse peso? Como ele continua com isso sempre no
fundo de sua mente? Então, ele se matou também.

Foi uma escolha fácil. Não é diferente da decisão que Sirius tomou por ele.
Aqui estão eles, ambos cadáveres ambulantes, mortos pelas próprias mãos um
do outro. Só um pode continuar, no final de tudo isso. Apenas um deles pode
reviver.

Regulus ainda quer que seja Sirius. Tem que ser, porque Regulus é a espada
que Sirius pega, e a espada pela qual Sirius cai, e Sirius merece a chance de
soltar a espada.

"Aqui," Sirius diz secamente, segurando uma garrafa de água.

Regulus aceita com gratidão, porque ele ainda pode sentir o gosto de
sangue na boca, e ele se sente perigosamente perto de vomitar por causa disso.
Ele engoliu sangue novamente. Faz seu estômago revirar.

A água ajuda. Ele chupa na boca, cospe, e então toma um gole. Seu rosto
inteiro está latejando, mas está tão limpo quanto pode ficar. Provavelmente é
um susto de ver, inchado e todo arrebentado. Um olho não abre
completamente, e seu lábio inferior arde toda vez que sua boca se move.

Um toque suave faz com que ambos inclinem a cabeça para cima para
observar como uma caixa de patrocinador flutua suavemente no espaço entre
eles. Nenhum dos dois se move. Ambos apenas olham para isso como se
pudesse mordê-los, igualmente cautelosos e envergonhados.

Pela primeira vez desde a luta, eles se olham. Sirius arqueia uma
sobrancelha. Seu rosto está inchado e machucado em certos lugares, mas não
tão ruim quanto o de Regulus no momento. Regulus não pode arquear uma
sobrancelha para cima, porque isso machucaria seu rosto, então ele apenas

661
CRIMSON RIVERS

inclina a cabeça para Sirius. Ele não é corajoso o suficiente para enfrentar uma
bronca de James primeiro.

Sirius solta um suspiro profundo e estende a mão para pegar a caixa,


puxando-a para seu colo. Ele hesita, então a abre para chegar lá dentro. Há
um murmúrio de aprovação quando Sirius tira um pequeno recipiente de
pomada para seus ferimentos, o que é reconhecidamente aliviador de ver. O
que sai depois são dois pães e um pouco de queijo para eles compartilharem.

"Não há nenhum bilhete," Sirius respira, inclinando a cabeça para trás para
olhar para o céu, ferido.

Regulus desvia o olhar, seus olhos se fechando, o peito pulsando com uma
dor áspera e horrível que ele quase não consegue respirar. O silêncio de James
fala muito. Ele deve estar tão chateado. Eu sinto muito, pensa Regulus. Eu
sinto muito, James.

Em silêncio, eles abrem a pomada para colocar em seus próprios


ferimentos—Regulus precisa da maior parte—e então comem e passam água
entre eles.

Quando isso é feito, Sirius se levanta e acena para ele ficar de pé,
murmurando que eles deveriam usar o resto da luz do dia para fugirem daqui.
Apenas para se mover. Só para não ficarem muito tempo em um lugar. O
labirinto os deixou paranóicos, provavelmente todos, mas pelo menos as
mãos foram embora.

O labirinto está calmo agora enquanto eles caminham por ele, caminhando
em nenhuma direção, caminhando sem uma palavra entre eles. Sirius tem a
adaga de Regulus, porque ele não confia nele. Ele até disse isso, brusco e
áspero quando a pegou. Isso é justo.

Eles caminham juntos em silêncio por horas.

Regulus não sabe o que dizer. Sirius não olha para ele, ou o reconhece, e
Regulus não consegue evitar dar uma espiada rápida, esperando por algo.
Nada.

Conforme o dia passa, a pomada faz seu trabalho na cura de Sirius, pelo
que Regulus pode ver. O inchaço desce em seu rosto e mãos, os hematomas

662
ZEPPAZARIEL

desaparecendo um pouco e os nós dos dedos cicatrizando. O corte no braço


de Sirius ficou por último. O próprio rosto de Regulus para de doer tanto,
mas ele suspeita, já que está pior, que não vai se curar completamente até
amanhã.

Não há um som entre eles, além de seus passos calmos e cuidadosos, junto
com o farfalhar consistente das cercas pelas quais caminham. Regulus
continua esperando que mãos irrompam e o agarrem, mas elas nunca o fazem.

Nenhum deles realmente faz muita coisa até que eles pegam um canto e
ambos respiram fundo ao mesmo tempo. Na frente deles há um pequeno
abrigo aberto, semelhante a um galpão, com fundos, duas paredes de cada
lado e um telhado—tudo feito de metal. Sob ela estão duas caixas abertas que
mostram pacotes de carne seca e frutas. Regulus acha que vê uma lanterna
também.

A área é pequena e quadrada, compacta com o abrigo no centro, mas há


uma entrada e uma saída. Pelo menos no momento. Regulus não duvida que
as cercas que cercam o espaço aberto possam se abrir ou se mover; este
labirinto é uma bagunça do caralho na mente de alguém. Na verdade, o
labirinto não é realmente um labirinto, pelo menos não para todos. Um
labirinto indica que há uma saída, mas apenas uma pessoa conseguirá isso.

Sirius e Regulus trocam um olhar rápido, e então eles avançam ao mesmo


tempo para entrar no abrigo e pegar as caixas. É muito escasso, infelizmente.
Há uma lanterna, bem como comida suficiente para eles colocarem outra
coisa em seus estômagos, passando um pacote de carne seca para frente e para
trás enquanto pegam todo o resto.

Há também mais duas garrafas de água, o que é bom, porque eles já


terminaram uma e meia entre beber e caminhar. Um caixote tem um pedaço
de corda que Sirius imediatamente arranca das mãos de Regulus para colocar
em sua bolsa. Regulus faz uma carranca, mas novamente, é justo. Ele roubou
de Sirius primeiro, afinal. Não é muita corda, pelo que Regulus pode dizer,
apenas longa o suficiente para alcançar dos pés até a cintura, no máximo.

Regulus quer sua adaga, principalmente. Apesar do que Sirius pode estar
preocupado, Regulus não vai fazer algum tipo de suicídio sacrificial—pelo
menos não ainda. Não até que ele tenha certeza de que Sirius é o último no
final, e então é um jogo justo.
663
CRIMSON RIVERS

Uma vez que os caixotes são limpos, ambos os jogam fora e usam o espaço
e a segurança que o abrigo lhes dá, encostando as costas na parede e espiando
pela frente aberta.

A primeira coisa que Sirius diz a ele, depois de horas de silêncio, é muito
dura, "Você foi imperdoável, sabe."

"Esse era o plano," Regulus murmura.

"Você é um idiota. Você é—" as narinas de Sirius se dilatam quando ele


olha para ele. "Quero dizer, só a hipocrisia, Regulus..."

"Eu sei," Regulus admite. "Eu sei que eu sou um hipócrita, mas você
também é. Como você está bravo comigo por fazer a mesma coisa que você?"

"Você fez isso de uma maneira muito pior," Sirius retruca. "Ou você estava
planejando fazer. Como você acha que isso seria para mim, hein? Se eu—se eu
realmente—"

Regulus entrelaça os dedos no colo. "É—bem, essa é a coisa, não é? Se


você tivesse feito, você teria uma justificativa. Eu—eu cheguei onde você
poderia me matar, e isso seria justo. Você teria motivos para isso. Você
poderia me odiar. Então, você não teria sentido—quer dizer, você poderia—
você poderia viver com isso, porque eu não sou uma boa pessoa, e isso é tudo
que eu estava mostrando a você. O que você ia fazer? Lamentar o irmão que
tentou te matar, que te machucou, que—que arruinou a porra da sua vida?"

"Você é tão estúpido," Sirius sussurra, fechando os olhos. Ele balança a


cabeça bruscamente, os lábios pressionados em uma linha fina, e então ele
olha direto para Regulus. "Olha, não há mundo em que eu não lamentaria a
sua perda, porque seria uma perda. Eu não me importo com o que você fez,
ou com o quão ruim você faz a sua pessoa ser. Você é meu irmão. Você não
entende? Eu nunca seria o mesmo se eu te perdesse. E, porra, se eu perdesse a
cabeça o suficiente para te matar? Você—você pode imaginar o que isso faria
para mim, Regulus? Eu—eu nunca superaria isso, não importa o que você
fizesse para me incitar a isso. Mesmo que tudo o que você disse fosse verdade
e não apenas um truque, mesmo que você cruzasse a linha, eu nunca me
recuperaria. Nunca."

"Oh." Os ombros de Regulus caem.

664
ZEPPAZARIEL

Sirius o encara incrédulo. "Você honestamente não sabia disso? Você


pensou, o que, que eu apenas—continuaria?"

"Eu esperava," Regulus engasga, porque é verdade, e ele não sabe se isso o
torna tolo ou simplesmente desesperado, porque ele queria tanto só—só—
"Só dessa vez, tudo que eu queria fazer era tomar a dor e fazer as coisas
difíceis por você desta vez."

"Porra, Reggie," Sirius murmura, soltando um suspiro enquanto esfrega


uma mão cansada no rosto. Ele abaixa a mão e o encara. "Olha, eu entendo
que seu coração estava no lugar certo aqui, mas—não. Apenas não. Isso não é
bom."

Os olhos de Regulus se fecham. "Eu sei que eu entendi errado. Eu sei


disso. Mas eu só—eu queria—" Seus olhos se abrem, e ele olha para Sirius
impotente. "Eu tinha que tentar, e essa era a única coisa que eu podia fazer,
Sirius, porque eu não posso—eu não posso te vencer. Eu não posso vencer
quando você está na corrida, você percebe isso? No momento em que você
decide algo, é isso. Eu só tive uma chance de ser mais esperto que você, e eu
fodi tudo."

"Eu pensei que você me odiasse," Sirius sussurra. "Você disse que eu
estava morto para você. Isso era tudo mentira também?"

"Sim e não," admite Regulus, fazendo uma careta. "Eu odeio você. Eu
odeio você e não odeio, obviamente. E eu—eu matei você no momento em
que você se voluntariou por mim, nas duas vezes. Algo em você morreu, e eu
sei disso em primeira mão agora, e isso é minha culpa. Cada coisa que você
sofreu, tudo o que você perdeu, tudo é rastreado até mim. Eu não queria ser
culpado por isso de novo."

"Ei, não, isso não—não faça isso, Regulus," Sirius diz com firmeza. "Isso
não é com você, ok?"

"Você disse isso. Você disse que desejava que eu nunca tivesse nascido."

"Eu sei o que eu disse. Eu estava chateado e fora da minha cabeça, mas
isso não é—não é verdade. Você claramente não quis dizer isso quando disse
que não se importava mais comigo, e estou assumindo que a maioria do resto
foi só você tentando me fazer..."

665
CRIMSON RIVERS

"Sim." Regulus limpa a garganta e murmura sem jeito, "Me desculpe.


Trazer nossos pais para isso foi—baixo."

Sirius lhe dá um olhar irônico. "Você acha?"

"Eu sou muito bom em machucar pessoas que eu nunca realmente quero
machucar," Regulus diz suavemente, seu olhar vagando contra sua vontade, a
mente se voltando para James, que nunca está muito longe de sua mente de
qualquer maneira. "Eu não sou—bom, sabe? Não como você."

"Regulus, você acabou de tentar se sacrificar por mim, e de uma forma que
você se envolveu em tudo de ruim na tentativa de tornar as coisas mais fáceis
para todos," Sirius diz sem rodeios. "Não é convencional, sim, mas isso não é
algo que pessoas ruins gostariam de fazer. E o que é bom, na verdade? Neste
mundo? Aqui? Eu não acho que alguém seja simplesmente bom, sabe? Eu não
acho que ninguém pode ser; eu acho que há as pessoas que tentam e as que
não tentam, e você—você tenta. Você realmente tenta."

Regulus pisca duramente por causa do ardor em seus olhos. "E eu falho.
Toda vez, eu falho."

"Todos nós falhamos," Sirius murmura, "E então tentamos de novo."

"Eu estou tão cansado," Regulus rosna, olhando para ele com
essa exaustão inabalável e profunda. "Você deveria continuar tentando. Deveria
ser você. Eu quero que seja você."

"Você não acha que eu quero a mesma coisa para você?" Sirius pergunta.

"Mas há uma diferença," Regulus sussurra. "Uma diferença gritante da qual


você nem está ciente. Veja, você—você tem uma família. Não apenas eu, mas
os Potters. Você tem James, sempre terá James, e eu—eu nunca tive de
qualquer maneira. Você pode continuar sem mim se você tiver eles, se você
tiver James, e James pode também. Vocês dois já fizeram isso, não é? Mas eu?
Eu nunca consegui, Sirius. Eu nunca realmente consegui."

"Você não sabe o que você significa para nós," resmunga Sirius, sua
expressão se contorcendo de dor.

"Talvez não. Talvez eu saiba. Independentemente disso, o que eu sei é que


vocês dois nunca precisaram de mim—para fazer isso. Não na primeira vez, e
666
ZEPPAZARIEL

não nessa última vez. Eu não estava lá como deveria estar para qualquer um
de vocês dois, e vocês conseguiram, porque vocês precisam um do outro.
Você pode me querer também, mas nós não podemos mais ter o que
queremos," Regulus explica calmamente.

Sirius parece tenso quando murmura, "E você? O que você precisa,
Regulus?"

"Eu preciso de vocês dois," Regulus admite, virando-se para segurar o


olhar de Sirius. "Você—você entende o que eu estou dizendo? Eu não
posso sair dessa arena. Tem que ser você. Todos nós precisamos que seja
você."

"Reggie," Sirius diz suavemente.

Regulus balança a cabeça e engole o nó em sua garganta para se aproximar


de Sirius, precisando se aproximar para transmitir a importância do que ele
está tentando explicar. "Tem que ser você, ok? Tem que ser, porque eu não
quero ir para casa se eu não for para casa com você. Eu—eu simplesmente
não vejo o ponto."

Sirius parece ferido. "James. James é o ponto, Regulus. Vocês dois—vocês


poderiam ser—"

"Você acha, por um segundo, que qualquer um de nós seria capaz de se curar
neste mundo sem você nele, mesmo um com o outro?" Regulus sussurra. "Ele
precisa de você, Sirius. Você. Eu sei que ele me ama, ok? Eu sei. E eu—porra,
eu o amo tanto que mal posso suportar. Mas ele passou por esse ano anterior
sem mim, e ele não teria passado sem você." Ele pisca com força e dá um
sorriso triste para Sirius. "Eu também não teria."

"Bem, nós estamos numa puta situação então," Sirius diz a ele, sua voz
falhando, "Porque eu—eu me recuso a acreditar nisso. Eu não aceito isso.
Vocês dois vão—vocês vão conseguir sem mim. Você vai ter que fazer isso,
porque não há nada que você possa dizer que vai me impedir de levar você
para casa."

"Você pode parar com isso?" Regulus range os dentes. "Pare de ser
teimoso sobre isso. Pense nisso logicamente, certo? Você nunca precisou de
mim tanto quanto precisava dele."

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CRIMSON RIVERS

"Cale a boca. Cale a boca. Apenas—"

"Você não precisou. Você não precisa. Ele cuidou de você, e eu sempre
falhei. Você cuidou dele, e eu mal comecei a tentar. Não sou eu, Sirius. Você
não entende? Nós sabemos disso. Nós passamos dez anos sabendo disso. É
sempre você e ele, e não eu, e eu estou bem com isso agora."

"Vai se foder," Sirius diz, suas narinas dilatadas. "Não. Foda-se isso e foda-
se você e—e foda-se tudo isso. Eu vou te levar para casa."

"E quanto—e quanto a sua lua?" Regulus tenta, desesperado neste


momento. "Sua lua também precisa de você. Sirius—"

"Pare com isso," Sirius corta duramente, tão duramente que a boca de
Regulus se fecha quando ele se afasta. Sirius o encara, e então seu rosto
suaviza quando ele solta um suspiro. "Você realmente me ama, hein?"

Regulus obviamente não vai dizer isso em voz alta novamente, a menos
que ele esteja à beira da morte. Ele dá a Sirius um olhar vazio por se atrever a
esperar. Por alguma razão, isso faz Sirius rir, seu rosto se iluminando.

"Sim, você ama," Sirius murmura. "Oh, eu nunca vou deixar isso passar.
Eu vou segurar isso sobre sua cabeça até meu último suspiro."

"Sabe quando eu disse que você é o pior irmão?"

"Eu me lembro, sim."

"Aquilo era verdade."

"Ah, você me ama, de verdade."

"Vai se foder," Regulus resmunga, desviando o olhar com um bufo, e


então ele está inclinando a cabeça para trás para olhar para o telhado quando o
primeiro pequeno pingo o atinge, seguido rapidamente por outro, e depois um
pouco mais até que cresce em consistência.

Está chovendo.

"Tudo bem?" Sirius pergunta baixinho, não mais divertido, não se


animando na chuva do jeito que Bellatrix fazia, apesar do calor.

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ZEPPAZARIEL

"Sim," Regulus responde, igualmente quieto, recostando-se na parede para


observar a chuva, onde não é um problema quando ele não está preso nela,
onde—assim como ele sabia que faria—ele se sente seguro, simplesmente
porque Sirius está com ele. "Sim, eu estou bem."

669
CRIMSON RIVERS

51
ESCALADA

Remus empurra um waffle para James assim que James coloca uma xícara
de chá na frente dele, os dois fazendo os deveres de Sirius em seu lugar
enquanto ele está fora. Objetivamente, isso é hilário.

Na verdade, isso só faz Remus sentir mais falta de Sirius.

E, bem, Remus nunca vai admitir, pelo menos não para James, mas Sirius
faz seu chá melhor. Isso pode ser apenas porque Remus acha basicamente
todo mundo sem brilho em comparação com Sirius. Não é culpa de James; ele
está realmente fazendo o seu melhor.

"Como você está essa manhã?" Remus murmura.

"Oh, você sabe," James diz vagamente, suspirando e derramando calda


preguiçosamente sobre seu waffle. Ele tem estado miserável, na verdade,
desde o que aconteceu entre Sirius e Regulus.

Ele estava agitado ontem, mal-humorado e irritado com a coisa toda, mas
ele ficou progressivamente mais triste quando teve que sentar lá e assistir seu...
namorado? Noivo? Honestamente, não está claro, e neste ponto, Remus é

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ZEPPAZARIEL

educado demais para perguntar. De qualquer forma, ele ficou


progressivamente mais triste quando teve que assistir Regulus listar todas as
razões pelas quais Sirius deveria ser quem vai viver, em um claro ataque de
desespero, e nessa lista aconteceu de ele incluir James e a tragédia de toda a
situação deles.

"Você sabe que não é—não é que ele não queira voltar para você, certo?"
Remus pergunta gentilmente, porque ele entende Regulus o suficiente para
saber disso de fato. "Ele está apenas—realmente desesperado pra caralho,
James. Ele está com medo. Ele está... Bem, você o ouviu. Ele não quer perder
seu irmão."

James suspira e coloca a calda. "Eu sei. É só que... Olha, eu não quero
perder nenhum deles, e eu não posso—eu não posso nem pensar nisso, se eu
for honesto. Mas o que eu posso pensar é em como Regulus vê a si mesmo. E
eu—eu não posso deixar de pensar que de alguma forma eu contribuí para
isso. Não fazendo ele perceber o quanto eu—" Ele se interrompe, engolindo
em seco. "Eu o amo tanto. Me deixa em pedaços que eu não posso fazê-lo ver
o quão especial ele é."

"James, por mais que desejemos, não podemos fazer as pessoas se amarem
apenas amando-as o suficiente," Remus diz suavemente. "Não há nada que
você possa fazer para que isso seja possível. Você pode amar Regulus, ou
qualquer um, tanto que você quebra a porra do limite, mas... algumas pessoas
simplesmente não sabem como se amar, e elas têm que aprender a fazer isso.
Você acha que se pudesse ser feito por alguém, você e Sirius não teriam feito
isso por Regulus até agora?"

"Eu..." James fecha os olhos, parecendo aflito, e então ele solta uma
respiração profunda enquanto seus olhos se abrem novamente. "Sim, eu sei.
Eu sei o que você está dizendo. Ele estava—eu acho que ele estava
aprendendo, antes de tudo isso. Você deveria ter visto ele, Remus. Foi
incrível. Ele estava—ele estava tentando, sabe, e—e então isso aconteceu, e não
é justo. Não é justo com ele, ou com qualquer um de nós."

"Não," Remus concorda calmamente, "Não é."

"Eu não posso nem ficar realmente chateado com ele sobre isso," James
diz, os lábios se inclinando para baixo. "Com o que ele fez, quero dizer. Ou o
que ele estava planejando fazer, e o fato de eu ser um fator nisso. É como
671
CRIMSON RIVERS

com minha mãe, certo? Eu não poderia ficar chateado com ele por se
certificar de que ela ficasse segura, e eu não posso ficar chateado com ele por
querer trazer meu melhor amigo de volta para mim—e mais outras coisas."

"Você não está chateado?" Remus pergunta, assustado.

"Eu estou com raiva, não me entenda mal. Com raiva dele por me assustar
pra caralho e levar isso tão longe, e com raiva da situação, e apenas—com
raiva. Mas ao mesmo tempo... É perturbador que ele esteja tão pronto para se
jogar fora por isso, mas é como—eu entendo agora, o jeito que ele ama. É—
oh, diabos, Remus, é uma bagunça o jeito que ele ama. Uma bagunça e—e
quase violento, sabe? Ele faz isso com tudo dele, tudo o que ele tem, e é apenas
essa força emaranhada e complicada nele que se derrama, mesmo quando ele
tenta manter tudo dentro. Como se fosse grande demais para ele, e grande
demais para o mundo, e ele acha que não faz isso direito, mas tudo na verdade
é..." O rosto de James suaviza, gentil e adorador. "Ele não sabe como parar.
Isso é tudo o que é. E eu não acho que ele deveria. Em um mundo melhor,
não seria como é aqui. Em um mundo melhor, nunca faria mal a ninguém."

Remus revira isso em sua mente e pensa em tudo o que sabe sobre
Regulus, e—bem, sim. Sim, isso faz sentido. É um padrão para ele, a maneira
como seu amor se revela em grandes gestos e circunstâncias terríveis. A
primeira vez que ele chamou James de amor ele estava em pânico. Quando
Evan morreu, Regulus soltou um grito tão cru de dor que foi arrepiante, algo
horrível e trêmulo subindo das profundezas dele. Um dos segredos que ele
guardava no peito era que sentia falta do irmão. Ele se jogou em um rio,
acreditando que não voltaria, e sabendo que nunca poderia retornar. Ele
tentou fazer com que seu próprio irmão o matasse para não ter que viver sem
ele, e só falhou nessa empreitada porque precisava que seu irmão soubesse
que, apesar de tudo e talvez por tudo, que ele o amava. Ainda o ama.

Se o mundo fosse diferente, melhor, mais gentil, talvez o amor de Regulus


não fluísse dele dessa maneira. Talvez fosse mais fácil, mais calmo, mais suave.
Remus sabe como é difícil amar aqui; ele sabe o quanto dói. Ele acha que
talvez Regulus seja uma pessoa muito sensível. A maioria provavelmente não
seria capaz de ver dessa forma, mas corações ternos crescem farpas para
resistir a serem machucados.

672
ZEPPAZARIEL

"Eu não sei o que vai acontecer. Eu só sei que eu o amo. Eu amo os dois,"
James murmura, então suspira novamente e levanta o garfo para cutucar seu
waffle. Ele não parece muito interessado nele e levanta o olhar para Remus.
"E você? Como você está essa manhã?"

Remus dá a ele um olhar irônico e murmura, "Oh, você sabe."

Os lábios de James se contorcem nos cantos. "Sim, suponho que sim.


Ainda assim, estou verificando. Você tem que me dar alguma coisa."

"Eu tenho?"

"Mhm. Apenas se abra um pouco, por favor, isso é tudo que eu peço. Me
deixe... Eu não sei. Me deixe ajudar."

"Eu não preciso que você cuide de mim, James," Remus diz a ele,
balançando a cabeça. "Apenas se preocupe com você mesmo."

"Não," James diz simplesmente, segurando seu olhar. "Não, eu vou me


preocupar com você também, muito obrigado. Boa tentativa, mas não é assim
que isso vai acontecer. Eu não sou estúpido, sabe. Você faz essa coisa onde
você, tipo, exala essa—sensação de serenidade e calma, como se você fosse
forte o suficiente para suportar tudo sozinho, mas isso não vai passar por
mim. Todos nós precisamos de pessoas para nos apoiar de vez em quando, e
eu estou aqui. Eu estou bem aqui."

A questão é que James é seu amigo. Remus sabe disso. Mas é aqui, neste
exato momento, que Remus se acomoda totalmente na dinâmica deles,
deixando-a tomar forma ao seu redor, sentindo o peso da importância mudar
até crescer um pouco mais. Às vezes, você pode realmente sentir um
momento com outra pessoa, como essa coisa tangível que você pode tocar, e
você simplesmente sabe, de alguma forma, que qualquer vínculo que existia
antes se fortaleceu. Remus sente que pode estender a mão e tocar este
momento, aqui, com James; ele tem certeza de que seria quente.

Infelizmente, Remus tem o hábito de não se abrir para outras pessoas, e ele
quase não tem certeza de como. Mesmo com Sirius, levou tempo, e foi
preciso um vínculo que eles trabalharam juntos para construir. Ele se abriu
para Regulus apenas um pouco, e isso é—bem, ele tem certeza que é
parcialmente só porque Regulus meio que não teve escolha a não ser expor

673
CRIMSON RIVERS

suas próprias vulnerabilidades a Remus, então Remus simplesmente devolveu


o favor. Isso aproximou eles, mas ambos são igualmente fodidos o suficiente
para não terem feito isso sozinhos.

"Ah, eu realmente não—sei o que dizer," Remus admite, sentindo-se um


pouco estranho, honestamente. Não pela primeira vez, ele sofre pela facilidade
que sempre sentiu com Lily, não importa o quê.

"Hum." James parece pensativo, e felizmente para Remus, ele claramente


sabe como fazer toda essa coisa de amigo e se abrir o suficiente para guiá-lo
através disso. "Você estava bem na noite passada? Eu nem mesmo—eu não
estava realmente em um lugar bom para perguntar, mas Regulus ameaçou—"
Ele faz uma careta, então tosse. "Bem, isso não foi legal, independentemente
das razões por trás disso."

Remus franze a testa. "Sabe, honestamente, eu nem estava com medo. Na


maior parte, eu estava apenas—confuso. Porque, sim, eu sabia que ele estava
com raiva de Sirius, mas ele nunca me tratou de forma diferente. Eu não
conseguia entender por que ele estaria bem comigo antes da arena e depois...
fazer isso. Eu não estou bravo com ele nem nada. Eu acho que sabia que ele
realmente não faria isso. Apenas pela lógica, basicamente. Ele nunca
especificou um gênero. Ele só usou os termos lua e sua lua quando falou com
Sirius. Ele não disse meu nome completo, e então... não conseguiu, nem
mesmo quando Sirius realmente lhe deu a chance."

"Sim, tudo bem, mas você ainda tem todo o direito de ficar chateado com
ele sobre isso," James o informa. "Quero dizer, você está em perigo agora?
Ele—isso colocou você em perigo?"

"O que? Não." Remus bufa. "As Relíquias prefeririam acreditar que Sirius
se apaixonou pela lua real antes que de acreditar que ele se apaixonou por um
servo. Quero dizer, se Regulus tivesse dito meu nome completo, seria
diferente, mas ele não fez isso. Eu estou seguro, James, eu prometo. Mas...
bem, suponho que eu estou um pouco chateado por ele ter me usado como
vantagem sobre Sirius, só para incomodá-lo."

"Mm, eu sei. Ele é um idiota," James concorda com um suspiro, e soa


ridiculamente sentimental e apaixonado. Remus dá a ele um olhar, e James
parece envergonhado. "Desculpe. Não, eu—eu quero dizer isso. Você tem
todo o direito de estar chateado. E eu estou feliz que você esteja seguro."
674
ZEPPAZARIEL

"Eu não... Eu não gosto que ele tenha feito isso, mas eu também sei por
que ele fez." Remus engole e tenta afastar o pensamento terrível e insidioso
que ele quase, quase, quase desejou que tivesse funcionado. Ele aperta os
olhos fechados. Oh, ele é tão egoísta. Tão fodido. Não é diferente de James,
ele não pode evitar.

"Remus?" James diz gentilmente.

"Eu estou bem," Remus murmura reflexivamente, os olhos se abrindo, e


então James apenas o encara, esperando como se ele fosse esperar aqui o dia
todo se for preciso, mesmo que ambos saibam que ele não vai. Seu olhar é
penetrante por trás de seus óculos, e Remus cede. "Eu só... Eu acho que foi
isso, sabe. Essa foi—foi a única chance de—de Sirius sair."

Porque essa é a coisa. Regulus estava certo. Sirius nunca iria deixar seu
irmão morrer, mas se Sirius se sentisse traído por ele o suficiente para ficar
com raiva e matá-lo, essa raiva poderia levá-lo para fora da arena, mandá-lo
para a fúria e deixá-lo implacável no tentar chegar em casa. Mas, se Regulus
tivesse simplesmente morrido ou se matado enquanto Sirius tentava tanto
levá-lo para casa, não importaria que promessa Sirius tivesse feito a Remus
sobre tentar voltar para casa. Ele tentaria, Remus tem certeza, mas ele estaria
de luto. Ele seria uma bagunça do caralho. Remus sabe em primeira mão
como é impossível conseguir muita coisa depois da perda de uma das pessoas
mais importantes da sua vida; depois que sua mãe morreu, Remus mal
conseguiu muita coisa, nem mesmo tentando fazer com que Greyback fosse
preso e saísse do distrito, porque nem mesmo a vingança poderia dominar a
sua dor.

Então, Remus acha que Sirius teria tentado, mas ele não teria as mesmas
chances de realmente conseguir, como teria se o plano de Regulus realmente
funcionasse. E agora? Oh, agora Sirius não vai deixar nada acontecer com seu
irmão, se ele puder evitar. É isso. Sirius provavelmente não vai voltar, e
Remus não acha que pode lidar com isso.

James fica quieto por um longo momento, então sua garganta sobe e desce
enquanto ele engole convulsivamente. Ele inspira e expira, e Remus
pode ver ele colocando seus próprios sentimentos de lado para estar aqui para
Remus, para ouvir, para deixá-lo se abrir. "Você não é uma pessoa ruim por se
machucar com isso, Remus. Você é apenas humano, e você não precisa—

675
CRIMSON RIVERS

bem, você não deveria se envergonhar de querer que o homem que você ama
saia."

"Eu não estou pronto para perdê-lo," Remus sussurra. "Acho que eu
nunca estarei pronto para perdê-lo. Eu—eu não—eu não posso—"

"Eu sei," James resmunga. "Remus, eu sei."

Remus solta uma risada rouca e dolorida. "Sim, acho que você saberia, não
é? Porra, isso é—é horrível para você também."

"É horrível para todos, eu acho. Alguns mais do que outros. Mais para eles,
que estão dentro da arena," James murmura. "Eu continuo tentando encontrar
algum tipo de conforto em tudo isso, é como um hábito, mas a coisa é... Às
vezes, as coisas são uma merda."

"Confie em mim, eu estou bem ciente," Remus responde. "Se há uma coisa
que eu aprendi, no entanto, é que a impermanência só solidifica a importância.
Você pode aprender através da perda a valorizar melhor o que você tem e ser
grato pelo que você tem. É horrível, principalmente, mas você olha para trás e
há vislumbres que você não pode se arrepender. A inevitabilidade dos finais
não pode remover tudo o que veio antes dele. Isso ainda existe, e nós
conseguimos isso, e mantemos isso. E isso é—isso é especial. Isso é
precioso."

James olha para ele por um longo momento, então sorri e murmura
baixinho, "Isso foi muito bonito, Remus."

"Oh. Ha, certo," Remus murmura com uma tosse, esticando a mão para
esfregar a nuca desajeitadamente.

"É—-não, eu estou falando sério. Eu—" James limpa a garganta, suas


sobrancelhas desmoronando. "Isso é algo que eu tenho lutado, porque eu—eu
perdi muito tempo com Regulus, sabe? Nos últimos dias, quero dizer. Tempo
que poderia ter sido melhor gasto, e eu não... sei realmente como chegar a um
acordo com isso. Então, isso é... É bom, eu acho, ser grato pelo tempo que
passamos juntos, no final. Todos nós queremos mais tempo, eu acho, e lidar
sem ter isso é... É difícil pra caralho."

"Sim," Remus sussurra, um nó na garganta. "É."

676
ZEPPAZARIEL

"Você é um homem muito sábio, Remus Lupin," James declara, brincando


apontando o garfo para ele.

Remus abre um pequeno sorriso. "Eu faço o meu melhor."

"E você faz isso bem," diz James, e é sincero. Remus sabe disso. Ele pode
ver, e isso o aquece. "Viu? Se abrir um pouco não é tão ruim. Deveríamos
fazer isso de novo algum dia."

"Oh, cale a boca," Remus murmura com uma risada quando James sorri
para ele. Remus revira os olhos, então pega a colher para mexer o chá,
divagando em pensamentos. Depois de um longo momento, ele olha para
cima e olha para James por um instante, pensativo, e então ele fala. "Meu
aniversário é dia 10 de março."

James pisca para ele. "É? Ei, eu nasci dia 27 de março! Você é dezessete
dias mais velho que eu."

"Ah, isso explica por que eu sou mais sábio do que você."

"Ha ha, muito engraçado. Feliz aniversário antecipado."

"James, meu aniversário—e o seu—ainda está um pouco distante."

"Eh, quem está contando? Feliz aniversário atrasado, então, para todos os
que eu perdi."

Remus balança a cabeça, divertido. "Obrigado."

"Não que isso não seja uma boa informação sobre você, mas o que fez
você trazer isso à tona?" James pergunta curioso.

"Bem, eu só..." Remus franze os lábios, então os empurra de um lado para


o outro, então solta um suspiro profundo. "Acho que estive pensando em
todas as coisas que nunca consegui dizer a muitas pessoas. Ninguém sabe isso
sobre mim, sabe. Meu aniversário. Ninguém na Relíquia, em todo caso. Nem
é tão importante, na verdade, mas estávamos falando sobre se abrir e—e
alguém deveria saber, eu acho. Nem mesmo Sirius sabia. Não é algo que já
surgiu, e isso é apenas uma coisa que eu não disse a ele. Eu também não sei o
dele."

677
CRIMSON RIVERS

"3 de novembro," James diz suavemente. "Quatro meses antes de nós."

"Oh," Remus sussurra. "Eu perdi."

O rosto de James suaviza. "Ele estava—foi um bom dia para ele, sabe.
Mamãe fez um bolo. Ele passou uma boa parte do dia apenas incomodando
Reg, que fingiu não saber que era seu aniversário. Foi hilário. Ele não desejou
feliz aniversário para Sirius; ele esperou até quase meia-noite, até o último
segundo, então abriu a janela e gritou do outro lado da rua. Sirius estava no
telhado, falando com você, e todos nós o ouvimos xingar e quase cair, depois
rir."

"Falando comigo," Remus repete.

"Sim. Falando com a lua, falando com você, a mesma coisa," James diz a
ele, acenando com o garfo preguiçosamente. "Você não perdeu, não
realmente. Você estava sempre lá para ele, lá com ele, acredite ou não. Eu sei
que é—eu sei que não é justo que nenhum de vocês tenha mais do que isso,
mas foi... foi ..."

"Alguma coisa," Remus completa, seu peito quente e apertado ao mesmo


tempo. "Foi alguma coisa."

"Sim," James murmura. "Significou muito para ele. Você significa muito
para ele, Remus. Ele te ama muito."

Os lábios de Remus se curvam. "Eu sei que ele ama."

Os lábios de James se curvam em resposta, um eco suave, quente, terno e


agridoce. Eles ficam em silêncio novamente, confortáveis e talvez até mais
confortados, e então ambos olham para cima quando a porta se abre. Pandora
entra parecendo um pouco pior, ainda vestida de pijama, a maquiagem da
noite anterior desbotada e manchada no rosto. Remus e James
simultaneamente franzem a testa e olham um para o outro, e faz muito tempo
desde que Remus teve um amigo com quem ele pudesse se comunicar sem
nunca dizer uma palavra. Novamente, ele e Sirius podem, mas. Bem, Sirius
não é apenas seu amigo. Ele é seu melhor amigo, de certa forma, e muito mais.
Nunca o melhor amigo que Lily foi—e ainda é.

Não, isso é apenas Lily. Sempre será Lily.

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ZEPPAZARIEL

Pandora se move para o lado do balcão entre os dois e estende a mão para
pegar uma de suas mãos em cada uma das suas. Sem uma palavra de
advertência, ela leva a mão de Remus à boca para dar um beijo rápido e gentil
nas costas de seus dedos, então faz a mesma coisa com James. Remus sente
seus ouvidos ficarem quentes, porque ele sabe o que isso significa, um gesto
de Relíquia para profunda admiração. Ninguém nunca fez isso com ele antes,
então ele está um pouco confuso com isso, ele admite.

James, no entanto, aparentemente está mais acostumado com isso, porque


parece menos perturbado e mais afeiçoado. "E para que exatamente foi isso,
Pandora?"

"Bem, sabe, eu acordei e não queria sair da cama, então pensei em vocês
dois acordados e esperando por mim, e de repente eu magicamente encontrei
meu caminho para os meus pés," diz Pandora, e é entregue levemente, como
se fosse algo simples, mas a sinceridade em sua voz torna o impacto de suas
palavras mais pesado. Há algo encantador nela, e no que ela disse, e James
deve concordar, porque ele beija a mão dela de volta.

"Nós vamos tomar café da manhã antes de eu ir," James diz a ela. Ele
passa o braço em volta dos ombros dela e lhe dá um aperto que ela parece
feliz em se inclinar. "Com fome?"

"Não, enjoada, na verdade. Mas eu deveria comer," admite Pandora, e


ambos lhe dão um murmúrio de aprovação e encorajamento ao mesmo
tempo, embora ambos entendam como é difícil manter o apetite quando seus
entes queridos estão em constante risco de morte. "E você, James. Como está
indo, então? Você mencionou que lidou com isso com Lucius calmamente—
" Ela dá a ele um olhar de soslaio, desconfiado, "—então não haverá
problemas hoje, certo? Você precisa de alguma coisa? Devo ir?"

"Pandora, sério, eu estou bem," insiste James. "Você fica aqui com Remus,
ok? Ajuda saber que vocês dois têm um ao outro, e que eu vou voltar para
vocês até o final do dia. Além disso, eu tenho Frank para me apoiar, e acho
que vi Dorcas por aí em algum momento ontem, mas eu não consegui falar
com ela, então talvez eu consiga hoje. Eu até falei um pouco com Lestrange.
Ele está bravo com Lucius, eu suponho, então ele fez questão de conversar
comigo e sacudir minha mão onde Lucius e, convenientemente,
patrocinadores pudessem ver. Provavelmente é apenas um monte de

679
CRIMSON RIVERS

bobagens e segundas intenções, mas... bem, ele é tranquilo na maior parte do


tempo, apesar de seus tributos serem Comensais da Morte. Eu, ah, realmente
não tenho espaço para julgar nada sobre isso, considerando todas as coisas."

Remus não deve achar isso meio divertido, mas James parece tão
envergonhado que é meio hilário. James, apaixonado por um Comensal da
Morte. Quem teria pensado? Balançando a cabeça, Remus se inclina no balcão
com uma gargalhada.

"Vamos, James já fez um prato para você," Remus murmura, oferecendo a


Pandora um pequeno sorriso enquanto desliza o prato de café da manhã na
frente dela. "Se acalme. Tenho a sensação de que vai ser um maldito longo dia
cheio de nada além de insanidade."

E, bem, ele já esteve errado antes?

~•~

Sirius sabe o momento em que Regulus acorda, porque ele fica tenso e
estremece levemente enquanto sua cabeça voa do ombro de Sirius. Ele pisca
turvamente, se orientando, então olha para o ombro de Sirius—que ele estava
usando como travesseiro momentos antes—e imediatamente faz uma
carranca.

"Oh, não fique assim. Você fez isso," Sirius diz a ele com uma bufada,
desamparadamente divertido. Regulus olha para ele desconfiado, como se não
acreditasse nem por um segundo, mas é verdade.

Em algum momento durante a noite, Regulus acabou cochilando. De


qualquer forma, não há muito espaço no abrigo, então eles estavam quase
ombro a ombro. Sirius não estava prestando atenção, sua cabeça inclinada
para cima contra a parede e seus olhos fechados enquanto apreciava a brisa
leve que soprava, um pouco fresca da chuva, uma maravilha no calor. Ele
sentiu quando a cabeça de Regulus caiu em seu ombro, abriu um olho para vê-
lo dormindo, então fechou os olhos e voltou para o interior de sua mente,
onde a risada calorosa de Remus ecoava em seus ouvidos e o flash do sorriso
de Remus estava piscando atrás de suas pálpebras.

Sirius não dormiu. Ele não conseguiria. Ele não vai, apenas pela chance de
que Regulus possa fazer algo estúpido como se matar enquanto Sirius está

680
ZEPPAZARIEL

tirando uma soneca. Ei, está tudo bem. Sirius vai dormir quando estiver
morto, e ei, isso provavelmente chegará para ele mais cedo ou mais tarde.
Lado positivo?

Piada ruim. Ele está feliz por não ter dito isso em voz alta. A única pessoa
com quem ele poderia contar para rir disso seria Marlene, muito
provavelmente. Sirius se pergunta como ela está esta manhã. Ela está viva. Ele
sabe disso. Os banners da noite passada provaram isso.

Há nove pessoas mortas agora. Quinze restantes. Cinco Comensais da


Morte—não incluindo Regulus, porque Sirius se recusa a contar com ele—que
são Narcissa, Bellatrix, Alecto, Rabastan e Dixon. Separado deles, um ex-
Comensal da Morte, se preferir, está Regulus. Depois, há Sirius, Marlene,
Emmeline, Augusta, Eli e Alice. Fora isso, é apenas Asher, Majesty e Lester. É
apenas o terceiro dia... Puta que pariu.

A coisa é, não é inédito. No ano passado, por exemplo; Sirius não poderia
esquecer nem se tentasse. No final do segundo dia, dezesseis pessoas
permaneceram e, no final do terceiro dia, onze. Foi considerado um ano
brutal, no que diz respeito aos jogos, e este ano está claramente se tornando
ainda pior. O fato de ser uma arena cheia de Vitoriosos endurecidos e
traumatizados só aumenta isso.

Com um grunhido, Regulus se levanta e imediatamente procura algo para


fazer, exceto que não há nada para fazer, porque Sirius já tratou de tudo. Isso,
por alguma razão, só faz Regulus franzir a testa ainda mais.

"Bem?" Regulus estala. "Vamos então?"

"Mm, café da manhã primeiro," Sirius diz a ele, gesticulando


preguiçosamente para o chão antes de pegar seu suprimento de volta para
trazer água e algo para comer. "Refeição mais importante do dia, sabe, ou
assim diz o ditado."

Regulus de alguma forma fica mais carrancudo, e Sirius resiste à vontade de


dizer a ele para consertar o rosto. Em vez disso, ele aponta para o chão
novamente e arqueia uma sobrancelha para Regulus, que continua carrancudo,
mas mesmo assim se senta de volta.

Eles tomam café da manhã.

681
CRIMSON RIVERS

Não é ótimo.

É alguma coisa, no entanto, e entrar no dia que com certeza será uma
merda com comida e água para obter energia é muito importante. Ele se
pergunta como os outros estão indo, se encontraram comida ou não, porque
mesmo que a chuva os mantenha hidratados, eles devem estar com fome
agora no terceiro dia sem comida deles.

O silêncio entre ele e Regulus é vagamente irritante, mas Sirius se recusa a


quebrá-lo. Ele passou boa parte da noite oscilando entre a fúria total de
Regulus e alguma outra emoção inominável e insondável que ainda, mesmo
agora, pulsa suave e brilhante sob suas costelas.

É só que. Porra. Porra, porra, puta que pariu. Ele sabe—ok, ele
realmente sabe que Regulus é muito fodido. Ele também sabe que ele mesmo
está fodido também. Talvez seja a família de onde eles vêm, ou os rumos que
suas vidas tomaram, ou possivelmente como eles influenciam um ao outro,
como eles dão voltas e voltas em círculos, duas ondas batendo contra cada
lado de um navio, balançando-o para frente e para trás e esperando para que
afunde.

Tudo o que eles querem, na verdade, é que o navio afunde.

Só para que eles possam se encontrar no meio novamente.

Só para que as águas turbulentas possam se acalmar.

É provavelmente uma mistura emaranhada de trauma de infância e trauma


de arena e muitas outras coisas também, todas as coisas com as quais eles
realmente conseguiram encontrar um equilíbrio antes da colheita. Foi aí que o
navio chegou, e eles estão travando guerra contra ele desde então. Vá embora,
vá embora, vá embora.

Não vai. Está aqui para ficar, e não há nada que nenhum deles possa fazer
sobre isso. Eles estão tentando de qualquer maneira. Tentando a mesma
merda, pelas mesmas razões, e arruinando um ao outro e a si mesmos no
processo. Eles são parasitas e simbióticos ao mesmo tempo, uma força
imparável e um objeto imóvel, planejando perder para não perder nada.

682
ZEPPAZARIEL

Sirius pensa naquela fábula do escorpião e do sapo. Aquela em que, para


atravessar o rio, o escorpião monta nas costas do sapo. Na metade do
caminho, o escorpião pica o sapo, apesar de ele também se afogar,
simplesmente porque essa é a sua natureza. Sirius pensa sobre isso e não
consegue descobrir, entre ele e Regulus, quem é o escorpião e quem é o sapo.

Mas, de qualquer forma, eles estão se afogando.

"Olha, nós—" Regulus bufa e faz uma careta, estendendo a mão para
enfiar a garrafa de água de volta na bolsa de Sirius. Ele não está olhando Sirius
nos olhos. "Precisamos—conversar?"

"Eu não sei, Reggie, nós precisamos?" Sirius pergunta, arqueando uma
sobrancelha para ele. "O que você acha?"

"Bem, eu não quero," Regulus murmura.

Sirius dá de ombros. "Tudo bem. Tanto faz. Viva com seus


arrependimentos, então."

"Eu disse que eu—eu pedi desculpas, não foi?" Regulus diz, tenso.

"Eu não sei, parecia meio insincero, se você me perguntar."

"Sirius, qual é."

"O que é?" Sirius pergunta, cobrindo sua orelha e virando a cabeça para
Regulus. "O que você estava dizendo?"

Regulus exala bruscamente pelo nariz, então muito lentamente e com


muito cuidado, "Me... desculpe..."

"Bem, isso não foi muito convincente," Sirius reflete.

"Oh, vai se foder," Regulus retruca, ficando de pé e olhando para ele. Sirius
permanece no lugar, indiferente e despreocupado, apenas levantando as
sobrancelhas para ele. "Onde está o meu pedido de desculpas?"

"Desculpe," Sirius diz.

683
CRIMSON RIVERS

"Exatamente, então—" Regulus para e olha para ele, então franze a testa
para ele. "Espere. Pelo quê?"

Sirius limpa a garganta. "Por me voluntariar por você quando prometi não
fazer isso. Eu—sabe, eu não queria. Era—é claro que eu queria toda vez que
pensava sobre isso, mas eu sabia o quanto significava para você que eu não
fizesse, então eu—eu planejava não fazer, mas eu só..." Ele sopra uma
respiração profunda, dando de ombros fracos. "Eu ouvi seu nome, e eu tinha
dezesseis anos de novo. Foi instinto, sabe? Um reflexo. Como respirar."

Regulus engole em seco, mas não consegue falar.

"E eu sinto muito que eu vá morrer," Sirius continua sem rodeios, seu
estômago se contraindo quando Regulus visivelmente se encolhe um pouco,
seus olhos se fechando. "Sinto muito ter que deixar você para trás de novo, e
se não fosse um requisito para você viver, eu não faria isso."

"Não faça," Regulus sussurra, os olhos se arregalando. "Não faça, ok? Por
mim? Não—eu não estou nem pedindo por James ou por qualquer outra
pessoa neste momento. Apenas por mim. Você não pode simplesmente me
deixar ir?"

"Sim," Sirius responde facilmente. "Ir para casa. Eu posso fazer isso."

A expressão de Regulus cai por terra. "Você não é engraçado."

"Eu sou hilário," rebate Sirius, preguiçosamente se levantando com um


suspiro. "Nós não podemos continuar falando sobre isso, e não vamos.
Vamos apenas... fazer isso um dia de cada vez, sim? Eu e você."

"Eu e você," Regulus repete, olhando para ele por um longo momento,
então soltando um suspiro e balançando a cabeça. "Ok."

"Bom. Vamos."

"Sirius?"

"Hum?" Sirius pergunta enquanto pega sua bolsa para vestir.

"Eu sinto muito também. Genuinamente," Regulus murmura, sua voz


pesando com sinceridade agora, e simples remorso.

684
ZEPPAZARIEL

Sirius fica parado por um momento, então levanta a cabeça e olha para
Regulus, lábios franzidos. "Pelo quê?"

"Por tentar fazer você me matar," Regulus admite, parecendo


apropriadamente tímido sobre a coisa toda, como se dizer isso em voz alta o
deixasse ciente de quão louco isso era de se fazer. "E também, hum, por dizer...
todas as coisas que eu disse."

"Você quis dizer alguma delas?"

"Você quis?"

Eles se encaram. Uma força imparável, um objeto imóvel. Escorpião,


sapo. Sim, pensa Sirius. Não, nem uma maldita palavra, pensa Sirius. A verdade
horrível e hedionda é que ele não sabe. O que ele sabe é que ele ama seu
irmão até a morte, literalmente, e seu irmão também o ama.

Talvez seja tudo o que ele precisa saber.

"Eu não quero que você se sinta responsável por nada do que eu passei, ou
por qualquer coisa que aconteça comigo," diz Sirius.

Regulus segura seu olhar e sussurra, "Eu não quero que você se sinta
responsável por mim."

"Eu—" Sirius abre e fecha a boca, porque ele se sente, e ele sempre se
sentiu, e talvez sempre se sentirá. Ele não pode mudar isso. Está em seu
maldito sangue, circulando de seu coração com cada teimoso aperto e
liberação. Ele pode ver como isso é prejudicial, como os deixa presos em um
loop que nenhum deles pode escapar, mas ele não pode fazer nada para
libertá-los a não ser deixar seu coração parar. Então, no final, ele apenas diz,
"Eu sinto muito."

"Sim," Regulus diz. "Sim, Sirius, eu também."

~•~

"Já?" James pergunta, talvez um pouco em pânico.

Frank está segurando seu braço com força. "Estamos começando forte no
terceiro dia, aparentemente."

685
CRIMSON RIVERS

"Puta merda," Rodolphus sibila enquanto observa Rabastan balançar seu


bastão com correntes na estranha criatura perseguindo ele e Asher. A criatura
é muito grande, tem pele vermelha semelhante a couro, cascos e garras. Ela
não tem olhos, e o nariz é apenas cortado como uma cobra, enquanto a boca
sem lábios é larga com dentes pontiagudos se espalhando por toda parte. Há
pelo menos mais três correndo atrás daquele que Rabastan atinge, que navega
para o lado com a cabeça amassada e aberta como um pêssego podre.

James olha duas vezes quando percebe que Lestrange e Dolohov estão ao
lado dele e Frank para assistir as telas, deixando Malfoy sozinho com alguns
patrocinadores. Ok, então claramente eles estão muito chateados com ele.
Justo.

"Mãe, não se atreva," Frank engasga, e o olhar de James volta para a tela
para ver Augusta tropeçar pelo corredor do labirinto que se aproxima dela e
de Alice de ambos os lados. Alice mergulha, mas Augusta não consegue, além
de sua mão, e o labirinto se fecha ao redor dela.

Desamparado, James só consegue estender a mão e agarrar o pulso de


Frank, ouvindo-o abafar um som fraco de puro pânico. Na tela, Alice
amaldiçoa duramente e estende a mão para agarrar a mão de Augusta, usando
seu facão para cortar as cercas para criar uma abertura enquanto ela
desesperadamente puxa Augusta.

Augusta vem caindo, ofegante, trêmula e atordoada enquanto se apoia em


Alice, que a equilibra e puxa as duas de volta para uma corrida desesperada.

A mão de Frank relaxa no braço de James enquanto ele expira.

A câmera corta para mostrar Marlene e Eli fazendo uma curva e batendo
diretamente um no outro, ambos fugindo de coisas diferentes. Marlene grita
quando ela cai em seu braço, e Eli gagueja desculpas impotentes enquanto ele
a agarra com as mãos trêmulas e a puxa de volta para seus pés. Sinto muito,
garota, sinto muito, mas temos que correr, ele continua dizendo, e Marlene cerra os
dentes de dor para segui-lo.

Emmeline foi separada de Eli e está de pé no final de uma passagem


fechada no labirinto, atirando flecha após flecha enquanto as criaturas
rastejam no chão e nas paredes das cercas em direção a ela. Elas são parecidas
com aranhas no jeito que parecem apenas correr e desafiar a gravidade, mas

686
ZEPPAZARIEL

parecem manequins de merda. Suas bochechas estão altas, arqueadas para


dentro, e quando piscam, é exatamente como um manequim ganhando vida,
confuso sobre por que está acordado. Os brancos de seus olhos são um
pouco visíveis demais. Eles seguram seus rostos como aquelas bonecas sem
pálpebras, e seus cílios parecem pontos contra a pele.

É assustador. Como Emmeline é tão estóica quando uma massa inteira deles
vem correndo em direção a ela de uma só vez, James não sabe. Uma flecha na
cara parece detê-los, mas há mais deles do que ela tem flechas para atirar
neles. Ela sai correndo, e então ela é dominada, porque ela está no final da
passagem sem ter para onde correr.

Todos os outros estão sozinhos, correndo em suas próprias partes do


labirinto, fugindo de mãos ou criaturas ou da névoa verde. Alguns deles estão
mais próximos de outros, pelo que James pode ver no mapa de suas posições.
Bellatrix está bem próxima de Alice e Augusta, e há uma boa chance de ela se
encontrar com elas. Narcissa e Dixon não estão muito longe de Sirius e
Regulus, o que é bastante estressante para James.

No momento, Sirius e Regulus estão—bem. Eles estão alertas e se movem


pelo labirinto sem problemas. Sirius está reclamando do fato de que ele não
pode ver a lua à noite, inclinando a cabeça para cima e corajosamente pedindo
a McGonagall pessoalmente para pendurá-la no céu só para ele. Regulus revira
os olhos, mas no final deixa Sirius choramingar.

James não está... satisfeito com nenhum deles, no momento. Ter que vê-
los literalmente batendo um no outro tinha sido muito angustiante. Nem uma
única vez James duvidou de Regulus, no entanto. Nem por um segundo. Ele
sabia que Regulus não mataria Sirius, e também sabia que Sirius não mataria
Regulus. Eles podem ter ficado com raiva o suficiente no momento para
querer, mas James não acreditou nem por um segundo que qualquer um deles
pudesse realmente ver através de qualquer tentativa do que eles estavam
fazendo naquele momento. Então, para ele, eles estavam essencialmente
machucando um ao outro sem nenhuma porra de motivo no meio de uma
arena assassina, onde todos os outros, de uma forma ou de outra, os
querem mortos. E sim, ele não está satisfeito que ambos estejam tão
desesperados para morrer um pelo outro que o usam como uma desculpa para
se misturar com a verdade, que é que, no fundo, ambos estão totalmente
aterrorizados em perder o outro.

687
CRIMSON RIVERS

Foi proposital não enviar uma mensagem a eles após a briga, porque ele
estava com raiva e sabia que seu silêncio transmitiria isso. Com raiva de
ambos, com raiva de si mesmo, com raiva de cada pessoa naquela arena e
todas as suas famílias e as pessoas que terão que ir no ano seguinte e apenas—
apenas com raiva de tantas coisas. Ele se arrepende agora, de não aproveitar a
oportunidade para enviar algum tipo de mensagem para que eles saibam,
apesar de tudo, que ele ainda ama os dois. Mas ontem? A luta e a tentativa de
sacrifício? Ele não quer isso.

O que James quer é que ambos lutem para viver, não apenas por outras
pessoas, mas para si mesmos. E ele quer que os dois vivam. Os dois. Ele faria
literalmente qualquer coisa se houvesse alguma maneira que ambos pudessem
conseguir, porque a partir de agora, seu cérebro simplesmente não consegue
aceitar que apenas um pode. Ele ainda não se conformou com isso. Ele não
tem certeza se algum dia o fará.

Dolohov grunhe, e todos eles voltam sua atenção para Alecto na tela, que
por acaso está correndo pela abertura da passagem onde Emmeline está presa
e sob ataque. A visão das criaturas parece atordoar Alecto o suficiente para
que ela realmente pare e as encare no que parece ser pura descrença. É óbvio
que ela vê Emmeline no final, mas ela não ajuda. Ela apenas se vira e continua
correndo.

"Bem, ela está caída," murmura Dolohov, apontando o queixo para


Emmeline, que solta sua última flecha com uma maldição afiada.

Frank aperta sua mandíbula, rangendo, "Eu não teria tanta certeza disso,
Dolohov. Apenas espere."

Eles esperam.

Emmeline segura sua besta, estreitando os olhos, e então ela começa a


marchar pela passagem sem gaguejar em seu passo, encontrando as criaturas
no meio do caminho. Eles imediatamente começam a enxameá-la, e ela—

James pisca rapidamente, observando-a atingir as cabeças das criaturas com


sua besta, sempre se movendo, nunca ficando parado tempo suficiente para
que elas realmente a peguem. Ela apenas continua, não parecendo nem um
pouco assustada, e as criaturas começam a diminuir, deitadas quebradas e
descartadas a seus pés. Ela deve ter entrado em um enxame de pelo menos

688
ZEPPAZARIEL

dez, e ainda assim ela volta com um rastro de criaturas desmembradas e se


contorcendo atrás dela.

"Tudo bem," resmunga Dolohov, "Me corrijo."

"Como você deveria," Frank diz, sorrindo.

James bufa uma risada levemente histérica e balança a cabeça com espanto
enquanto observa cada uma dessas pessoas se esforçando para sobreviver,
algumas apenas se recusando teimosamente a morrer.

Desamparado, os olhos de James rastejam para duas das pessoas mais


teimosas que ele conhece, olhando para Regulus e Sirius e esperando
egoisticamente que eles sejam mais teimosos que o resto.

~•~

"Sabe," Sirius reflete, "Se James estivesse aqui, ele estaria fazendo beat-
boxing agora."

*Beat-boxing é reproduzir sons de bateria e efeitos eletrônicos com a


boca e nariz, formando batidas e ritmos.

Regulus suspira. Olhando para trás, ele talvez tenha dado como certa a
leveza que James trouxe para a primeira arena, especialmente no começo. De
alguma forma, James encontrou maneiras de melhorar até mesmo
toda essa situação, e Regulus sabe disso, porque ele está nisso de novo e,
comparativamente, Sirius é uma merda nisso.

Simplificando, Sirius é um idiota que nunca se cala, e não há o benefício de


ele ter uma voz que Regulus realmente gosta de ouvir. James tem uma voz tão
adorável. Regulus sente falta disso. Mas nãooo, ele está preso ouvindo a
conversa fútil de seu irmão e sua voz estúpida e presunçosa que geralmente
sempre parece ter um sorriso nela, de alguma forma.

Regulus meio que quer socá-lo novamente.

Regulus meio que quer abraçá-lo novamente.

Regulus não faz nenhuma dessas coisas e, em vez disso, sente uma onda de
culpa e angústia emaranhados como nós em seu peito quando percebe que há

689
CRIMSON RIVERS

uma boa chance de que, em alguns dias, ele nunca mais ouvirá Sirius falar. De
repente, Regulus quer ouvir cada palavra que ele diz e implorar para que ele
nunca cale a boca.

"James," Sirius diz, dirigindo-se ao céu, "Eu quero que você saiba que,
diferente de algumas pessoas, eu apreciaria você fazer beatbox em situações
estressantes, e eu ficaria feliz em fazer backing vocals para juntar tudo."

"Oh, desculpe por ser normal," Regulus murmura defensivamente, e então


quase instantaneamente percebe o que ele acabou de dizer e o que está prestes
a acontecer, porque Sirius vai—

Isso. Ele vai fazer isso. Sirius começa a rir dele, ofegante, "Normal? Você
acha que é normal?"

"Comparado a você e James? Sim, de longe," Regulus insiste, porque ele


tem que fazer isso agora. "Apenas—quando se trata de situações pesadas e
perigosas, quero dizer. Porque eu não estou fazendo piadas e rindo das
coisas."

"Reggie, você nunca faz piadas ou ri das coisas."

"Eu—sim, eu faço. Eu... faço. Eu fazia antes."

"Diga uma vez," Sirius diz, os lábios se contraindo.

Regulus abre a boca, depois a fecha e então franze a testa. Ele se senta com
isso por um segundo, então diz, "James acha que eu sou engraçado."

"James está cego de amor, é o que ele está," Sirius diz a ele, claramente
exasperado. "Ele não é uma opinião imparcial."

"Antes de você se voluntariar," Regulus afirma finalmente, e Sirius pisca


para ele. "A primeira vez, quero dizer. Eu sei que você realmente não se
lembra de muitas coisas daquela época, mas eu—eu ocasionalmente fazia piadas,
e eu ria muito mais."

Sirius estala a língua. "Bem, isso é trágico."

"Não é?" Regulus concorda secamente.

690
ZEPPAZARIEL

"Eu aposto que você era uma merda nisso mesmo naquela época."

"Eu não era. James ria, e ele nem gostava de mim antes do meu aniversário
de quinze anos."

"Mm, não, eu não acredito em você," Sirius diz. "Eu simplesmente sempre
vou ver você como não-engraçado. Você nunca contou uma piada boa na sua
vida, eu só sei disso. James." Ele olha para o céu novamente, seus olhos
dançando com diversão. "Se acontecer de você nos enviar alguma coisa
novamente, deixe-me saber se eu estiver certo. Bem, você ficará do meu lado
mesmo se eu estiver errado, mas ainda assim."

"Por que ele ficaria do seu lado sobre mim?" Regulus pergunta incrédulo,
estreitando os olhos ligeiramente.

"Ele é meu melhor amigo," Sirius anuncia lentamente, como se Regulus


fosse um idiota que não consegue entender conceitos básicos.

Regulus arqueia uma sobrancelha. "Ele é meu noivo."

"Ele—" Sirius para. Ele para bruscamente, o que faz Regulus parar e se
virar para piscar para ele. "Espere. Espere, não, porque você não estava
mentindo naquele momento. Seu noivo?"

"Sim," Regulus diz, seus lábios se curvando nos cantos contra sua vontade,
e ele não pode evitar. Ele não consegue reprimir o calor do orgulho em sua
voz, ou como ele fica um pouco sem fôlego com alegria e excitação
vertiginosas. Provavelmente o envergonharia se tivesse algum espaço nele
para ser outra coisa que não encantado.

Sirius suspira. Suspiros legítimos. É muito dramático. "Oh, merda, você vai
se casar? Reggie!"

"O que?"

"Quando foi isso?! Quando ele pediu? Quero dizer, sabe, corretamente. Não
apenas, hum, falando sobre o casamento na Relíquia ou qualquer outra coisa.
Quero dizer, quando ele realmente pediu?"

691
CRIMSON RIVERS

Regulus pode ver que Sirius está andando em uma linha tênue aqui, falando
meias verdades para passar a mensagem. Ele entende bem o que Sirius está
dizendo. "Por que você está assumindo que ele pediu?"

"Porque ele é James." Sirius o encara, esperando com uma espécie de


paciência ansiosa e sincera por mais detalhes, e então seus olhos se
arregalam. "Você pediu? Você?!"

"Sim," Regulus admite.

Sirius fica boquiaberto para ele. "Oh, porra. Ele chorou, não foi? Aposto
que ele chorou. Por que você não me contou?! Por que ele não me contou?!"

"Não houve realmente tempo," explica Regulus. "Foi na última noite antes
de entrarmos na arena. Corretamente, quero dizer."

"Oh. Espere, você pediu então? Espere..." Sirius aperta os olhos para ele,
os lábios franzindo como se ele estivesse tentando lutar contra um sorriso.
"Você—você realmente pediu a ele corretamente?"

"Sim! Eu acabei de dizer isso, Sirius."

"O que você disse? O que exatamente você disse?"

Regulus bufa e revira os olhos para o céu, literalmente implorando por


paciência. "Eu disse: você se casaria comigo? Ele disse: sim. Muito simples.
Pedido, respondido, noivado."

"Você—" Sirius começa a rir abruptamente, e Regulus o encara fixamente.


"Oh, Regulus. Regulus. Isso não—isso—ok, então você percebe que concordar
que você se casaria não é o mesmo que concordar em se casar, certo?"

"Não, tenho certeza de que são iguais," responde Regulus.

Sirius bufa de tanto rir, dobrando os lábios enquanto se apoia em sua lança
como se pudesse cair se não o fizesse. Quando ele se acalma, ele respira, "Não
é... a mesma coisa. A intenção realmente importa. Algum de vocês falou sobre
como o casamento iria acontecer? Começaram a fazer planos?"

"Bem, não, obviamente não poderíamos," Regulus retruca, gesticulando


incisivamente ao redor deles. "Vendo como não haveria nenhum ponto."
692
ZEPPAZARIEL

"Você..." Sirius não está mais rindo. Suas sobrancelhas se juntam enquanto
ele observa Regulus em confusão. "Espere, por que você faria isso se
planejava morrer?"

"Eu queria que ele tivesse isso. Eu—eu não poderia dar a ele mais nada,
por causa de tudo isso." Regulus mais uma vez gesticula ao redor deles, desta
vez com desânimo. "Mas eu poderia dar isso a ele. E—bem, egoisticamente,
eu também queria. Isso me fez feliz. Ainda me faz feliz. Eu queria ter isso até
o fim. E ele me deu. ."

"Certo," Sirius diz baixinho, e então ele engole e dá um sorriso tenso para
Regulus. "Eu sei que eu disse que não falaríamos sobre isso, mas você percebe
que isso só me deixa mais determinado a levar você para casa, certo? Eu—
quero dizer, vamos lá, Reggie, você poderia se casar! Você—você poderia—"

Regulus balança a cabeça. "Nós não iríamos. Não sem você lá. Não
pareceria certo para nenhum de nós, eu não acho."

"Apesar de que eu genuinamente mataria para estar lá, e eu quero


dizer genuinamente, isso não deveria parar só porque eu não vou estar lá. Só,
sabe, não fisicamente. Mas eu vou estar lá. Eu não perderia isso." Sirius inclina
a cabeça para cima para se dirigir ao céu novamente. "James, estou falando
sério. Não estou brincando. Convença ele como for necessário, mas faça isso.
Vocês dois querem, e assim vão. Por favor."

"Eu não vou. Vou deixar ele no altar."

"Não, você não vai."

"Isso não vai acontecer, Sirius," Regulus morde, um aperto áspero em seu
peito. "Nós vamos ficar noivos para sempre, eu acho, porque não vamos nos
casar se você não puder estar fisicamente lá."

"Não coloque isso em mim. Não me responsabilize por segurar você,"


Sirius murmura.

"Bem, agora você sabe como eu me sinto," Regulus declara bruscamente.

Sirius suspira. "Você é tão rancoroso."

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CRIMSON RIVERS

"Sim, eu sou rancoroso pra caralho, porque eu não quero que você morra!
Eu não quero que você esteja morto!" Regulus explode. "Eu quero que você
continue sendo um idiota até ficar velho e feio, e eu quero que você venha
para a porra do meu casamento!"

"Primeiro de tudo, eu seria velho e bonito," Sirius afirma com firmeza,


levantando um dedo. "Eu vou ser sexy até o dia em que eu morrer, mesmo
que possa viver até os cem anos. Em segundo lugar, eu vou estar no casamento.
Em espírito. Faça ele na noite sob minha estrela. Ou apenas—eu não sei,
coloque uma foto minha em uma cadeira e—"

"Você é tão estúpido," Regulus interrompe, então se vira no local e sai


pisando forte, carrancudo enquanto vai.

"James, como você aguenta ele?" Sirius geme atrás dele. "A ideia da cadeira é
uma boa ideia, não é? Você entendeu. Veja, agora você precisa fazer isso. É
engraçado! Seria—"

"Pare de falar com meu noivo!" Regulus estala enquanto continua, e Sirius
não para, mas ele baixa a voz enquanto segue, o que terá que servir.

~•~

"Parabéns, a propósito," diz Frank.

Apesar de tudo, James abre um sorriso bobo. Ele sabia que estava noivo
antes de Regulus anunciar quando enviou o bagel? Não. Ele vai protestar?
Também não.

James sorri para Frank e gorjeia, "Obrigado!"

~•~

As coisas estão bem, até que não estejam.

Regulus está andando à frente em uma birra clara, e Sirius o deixa sozinho,
resmungando para James baixinho. Ele não entende por que eles não podem
simplesmente se casar sem ele. Sim, a ideia de eles terem um casamento sem
ele lá quer fazê-lo se encolher e chorar, mas isso não significa que eles não
devam.

694
ZEPPAZARIEL

Ele quer que eles sejam felizes, mesmo quando ele se for. Ele precisa que
eles sejam. E Remus. Ele precisa que Remus esteja bem. Idealmente, ele
estaria livre, mas Sirius sabe que este não é um mundo ideal. Ele morreria de
bom grado se isso significasse que Remus poderia ser livre, no entanto.
Quando ele disse que viveria por Remus, ele estava falando sério, mas ele
também daria sua vida em um piscar de olhos se isso fosse tudo o que
precisaria para dar a Remus uma chance melhor.

Sirius está achando todo esse negócio de morrer uma tarefa árdua,
honestamente. Você pensaria que seria mais fácil; você está aqui um dia, então
se foi no dia seguinte. Bastante simples, certo? Como se vê, não, não é tão
simples, porque afeta mais do que apenas você.

Sim, bem, Sirius adoraria viver, na verdade. Todo mundo se esqueceu dessa
parte? Obviamente ele não quer morrer e nunca mais ver Remus, e nunca ir ao
casamento do seu irmão e do seu melhor amigo, e nunca continuar na vida e
ver o que vem a seguir. Ele faria qualquer coisa para continuar vivendo,
qualquer coisa exceto deixar seu irmão morrer para tornar isso possível.

Então, mal-humorado como ele está sobre toda a provação, Sirius olha
para Regulus e pensa coisas rudes para ele enquanto murmura para James que
ele seria seu padrinho, não de Regulus, porque Regulus está sendo um merda,
então James está muito à frente na corrida de quem iria pegá-lo. Sirius acha o
pensamento deles brigando por ele como padrinho levemente divertido e se
pergunta, preguiçosamente, quem venceria.

Antes que ele possa pensar em uma resposta adequada, o som das cercas
estremecendo fica mais alto, e o rosto de Sirius fica frouxo quando as paredes
do labirinto entre ele e Regulus começam a crescer juntas, fechando-se entre
eles.

Regulus se vira, olhos arregalados, e eles se olham pela abertura por um


instante antes de Sirius imediatamente sair correndo, tentando alcançá-lo e
pular.

Ele não consegue.

"Regulus? Regulus!" Sirius chama através da cerca, seu coração batendo


forte enquanto ele enfia uma mão na parede de folhas e enfia um golpe nele e
não o deixa passar. É tão grosso que ele não acha que chega nem pela metade.

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CRIMSON RIVERS

"Sirius?" Regulus chama de volta, sua voz fraca e abafada.

"Ei, você está bem?" Sirius pergunta, a voz elevada.

"Sim, eu estou—" Regulus se interrompe, e Sirius abaixa a cabeça para


ouvir melhor, mas não consegue ouvir muita coisa através da barreira. E
então, de repente, a voz de Regulus fica mais alta, tingida de pânico.
"Sirius! Sirius!"

A respiração de Sirius fica presa com a porra de angústia e terror audível na


voz de Regulus. Imediatamente, o coração de Sirius acelera quando ele
começa a puxar freneticamente as cercas, tentando abrir caminho com sua
lança, mas não adianta. "Reggie? O que foi? Regulus? Ei! Eu preciso que você
fale comigo! Regulus!"

Não há resposta.

~•~

Regulus está congelado, de costas para a cerca onde Sirius está preso do
outro lado, ainda gritando, embora Regulus não tenha ideia do que está sendo
dito além do zumbido alto em seus ouvidos.

A passagem foi dividida ao meio, bloqueada bem no meio com Regulus de


um lado e Sirius do outro, uma barreira muito grossa para romper entre eles.
O final da passagem que Regulus está de frente está bloqueada, sem nenhum
lugar para correr, sem voltas para tomar.

Ele só pode ficar ali, cada músculo de seu corpo travado enquanto observa
o fluxo constante de sangue escorrer pelo comprimento da passagem. É um
rio carmesim, abrindo caminho para ele.

Regulus não se mexe, nem mesmo respira, porque ele não consegue, pelo
menos não até que o rio chegue ao piso de suas botas, o sangue lambendo as
solas. Ele instintivamente solta um suspiro áspero e cambaleia para trás o mais
longe que pode, até que ele está pressionado contra a parede de vegetação
atrás dele, empurrando-se para trás de forma constante, desesperada e
irregularmente tentando correr do sangue. Ele não chega a lugar nenhum.

Não há para onde ir.

696
ZEPPAZARIEL

"Por favor," Regulus engasga. "Não isso. Não assim. Qualquer outra
coisa. Qualquer coisa, por favor, apenas—apenas—"

O rio de sangue corre para ele mais rápido, corredeiras e espuma vermelha,
o som disso enviando uma onda de pânico através dele. Ele começa a subir,
espirrando contra as cercas vivas e balançando por cima de suas botas, quase
alcançando seus tornozelos com a mesma rapidez.

"Não, não, não," Regulus canta, sua respiração gaguejando enquanto ele se
vira e abaixa a cabeça, apertando os olhos bem apertados só para que ele não
tenha que ver. Ele treme e prende um gemido atrás de seus dentes cerrados,
lágrimas ardendo em seus olhos enquanto ele sente o rio envolver suas
panturrilhas. "Ok, ok, me desculpe, ok? Me desculpe. Eu—eu não vou—eu
não deveria ter dito nada. Eu não deveria ter—me—me desculpe. Por
favor. Você quer me matar? Tudo bem, tudo bem, mas não—por favor, não
desse jeito."

Sirius ainda está gritando, abafado e frenético. "Regulus? Regulus, o que


está acontecendo? Regulus, o que está—"

O rio carmesim gruda na parte de trás dos joelhos de Regulus.

"Sirius," Regulus chora, porque ele está chorando agora, completamente


apenas soluçando—uma bagunça rouca e chorosa que ele sabe que Sirius
provavelmente nem pode ouvir, mas Regulus não consegue recuperar o fôlego
para levantar a voz sobre o sangue correndo. "Sirius, eu vou morrer."

Ele vai. Ele sabe que vai.

E a coisa insana é que ele não quer.

Atinge ele agora, assim, que ele não quer morrer, e mais do que isso, ele
não merece. Agora não. Assim não. Aqui não. Ele não, e Sirius não, e nenhum
deles.

É à beira da morte que fica claro o quão desesperado é viver. Ninguém


quer morrer, não realmente. Uma coisa é dizer, pensar, sentir, mas os humanos
são criaturas resistentes. Eles aguentam, e aguentam, e aguentam. É instinto. É
o medo do desconhecido e o desejo de mais.

As pessoas nascem para viver e estão destinadas a morrer.


697
CRIMSON RIVERS

Regulus não se importa com o destino. O que ele se importa é com Sirius,
e James, e tantos outros que o estão assistindo neste momento, tantas pessoas
que ele está percebendo que impacta apenas por viver e ser quem ele é.
Pessoas que ele não quer deixar ainda. Pessoas com quem ele quer mais
tempo. Pessoas para quem ele significa algo. Pessoas que o amam. Ele não
quer perder um segundo que poderia passar com seu irmão; ele não quer
perder um momento que poderia passar sabendo que James é dele, e que está
vivo, e que o ama a cada respiração que ele dá.

Regulus quer viver por tantas pessoas e, no fundo, quer viver por si
mesmo. Porque ele estava crescendo. Porque ele estava aprendendo a
transformar uma casa em um lar. Porque ele estava pronto para deixar o amor
entrar e deixar o amor sair. Porque ele estava tentando, e não importa que ele
esteja cansado, e não importa que tentar pareça inútil, porque ele
quer continuar tentando.

O rio carmesim prende sua cintura.

Ofegante, os olhos de Regulus se abrem enquanto ele encara a cerca à sua


frente, mal ouvindo Sirius chamá-lo por cima do zumbido em seus ouvidos.
Seus olhos estão cheios, a visão embaçada pelas lágrimas constantemente
derramando. O sangue que o lambe o faz balançar, mas ele pode sentir que
está tremendo tanto que seus dentes estão batendo. O rio é tão frio. Tão
fodidamente frio, como antes, e Regulus—

A última vez que Regulus se perdeu em um rio carmesim, ele se jogou nele
por James e por Sirius. Ele escolheu fazer isso por eles. Um sacrifício.

Desta vez, quando Regulus está perdido em mais um rio carmesim, ele
escolhe encontrar a saída por si mesmo. Um renascimento.

Lentamente, Regulus olha para a cerca à sua frente, e com cuidado, ele
inclina a cabeça para cima, porque o que passa por sua cabeça é ninguém pensa
em olhar para cima.

Regulus pensa.

Ele sempre pensa em olhar para cima agora.

698
ZEPPAZARIEL

"Sirius," resmunga Regulus, então pigarreia violentamente e pisca para tirar


as lágrimas dos olhos. Ele levanta a voz para gritar por Sirius, que também
está gritando. "Sirius! Sirius, cale a boca e me escute, ok? Eu preciso que você
escute!"

"Não se atreva a fazer algum tipo de discurso de despedida, Regulus, ou eu


juro que vou—"

"Eu não vou fazer um discurso de despedida! Eu preciso de ajuda!"

Há um instante de silêncio, e então Sirius deixa escapar um tenso e


abafado, "Qualquer coisa. Qualquer coisa que você precise. O que é?"

"Eu preciso que você suba até o topo da cerca e solte a corda da sua
bolsa!" Regulus grita, então geme impotente quando o rio bate em suas
costelas.

Sirius não responde, e o pânico e a angústia de Regulus começam a se


espalhar por tudo, para se preocupar com Sirius também. Por que ele não
respondeu? Por que ele não disse tudo bem? Por que ele não—

Um chiado engasgado de cima chama a atenção de Regulus, sua cabeça


caindo para trás para que ele possa olhar com os olhos arregalados para Sirius,
que aparentemente escalou a cerca em tempo recorde e agora está
empoleirado no topo, olhando para ele com horror, muito pálido.

"Oh, que porra é essa, Reggie?" Sirius sibila, suas mãos voando ao redor
enquanto ele corre para desenrolar a corda e soltá-la. Não chega onde Regulus
está, ainda muito alta. "Vamos. Você tem que se mover agora. Você tem que
escalar."

Essa é a coisa. Regulus não pode escalar. Toda vez que ele tentou desde
que deixou a arena, ele falhou. Toda vez, ele congela e não consegue se
mover. Toda vez, ele fica ali mesmo no chão, nunca chegando ao topo.

Se eu não posso escalar, eu vou crescer. E ele fez isso. Ele tem feito isso. Ele
ainda faz, mesmo agora. O crescimento não para. Mas, a coisa é, para viver
agora, ele vai ter que fazer as duas coisas.

699
CRIMSON RIVERS

"Regulus!" Sirius explode, olhos selvagens, sua voz tingida de pânico e


puro desespero. Ele se inclinou para a frente o máximo que pôde, segurando a
corda o mais longe possível. "Apenas vá em frente e não olhe para baixo!"

O rio carmesim cai sobre os ombros de Regulus.

Crescer é escalar, escalar é crescer. De qualquer forma, ele está subindo. Lenta
mas seguramente, ele está chegando ao topo.

Regulus solta um suspiro profundo e trêmulo e estende a mão o mais alto


que pode, fechando a mão na cerca até que ele tenha um aperto seguro. Por
baixo, ele balança o pé para a frente através do sangue espesso para cravar a
bota no ponto de apoio que ele vê, e então sente o rio envolver seu pescoço
como um laço antes de apertar a mandíbula e escalar.

Sua outra mão voa para enterrar na parede de folhas e trepadeiras,


agarrando-se enquanto ele abafa um som fraco no fundo de sua garganta e
puxa, e continua puxando, e se puxa para fora do rio um punhado de cada
vez. O sangue cai dele, centímetro por maldito centímetro, pesando-o para
baixo, tentando arrastá-lo para baixo. Ele pensa que está soluçando, mas ele
não para. Apesar da tensão, do esforço, do medo—ele continua escalando.

O peito de Regulus arfa quando ele sente o rio ainda batendo em suas
pernas, ainda subindo enquanto ele faz o mesmo, mas ele não olha para baixo.
Ele não olha para nada. Ele continua, sentindo seus braços tremerem,
sentindo o mundo mudar ao seu redor e desmoronar e de alguma forma,
inexplicavelmente, se construir de novo.

Para alguns, isso seria simples. Para alguns, escalar para escapar de um rio
de sangue parece o curso de ação sensato. Para alguns, isso não seria uma
grande façanha.

Mas para Regulus? É a luta da vida dele.

É a luta pela vida dele.

E ele vence.

Ele vence, porra.

700
ZEPPAZARIEL

Regulus ouve quando Sirius grita para ele pegar a corda, finalmente ficando
alto o suficiente para alcançá-la, e então Regulus a segura e começa a se
levantar quase desesperadamente ao mesmo tempo em que Sirius começa a
puxar freneticamente, suas mãos voando ao longo da corda, palmas comendo
o comprimento dela enquanto ele coloca toda a sua força para ajudar Regulus
a chegar ao topo.

Regulus chega. Ele se dobra por cima da cerca viva e sente a mão de Sirius
na parte de trás de sua camisa apertada, apertando e puxando com tanta força
que os pontos fazem barulhos de rasgar. Regulus sobe até que ele está lá, até
que ele está ofegante e tremendo e imediatamente sendo puxado direto para
os braços de Sirius.

"Ok, ok, você está bem," Sirius engasga, agarrando-se a Regulus tão forte
quanto Regulus se agarra a ele, com sangue e tudo.

"Eu sei," Regulus ofega. "Eu sei que estou."

"Você está bem, certo? Você está bem," Sirius canta, as mãos voando para
agarrar os ombros de Regulus e empurrá-lo para trás, sacudindo os dedos
acariciando-o, verificando-o. "Sim, você está bem. Você está bem. Você
está—"

"Sirius," Regulus murmura.

"Você está bem," Sirius insiste, ofegando mais do que Regulus, neste
momento.

"Sirius," Regulus diz com firmeza, chocantemente firme enquanto lança


suas mãos para agarrar os pulsos de Sirius, parando suas mãos. Sirius o encara
com os olhos arregalados, toda a cor sumindo de seu rosto. "Eu estou bem.
Eu estou realmente bem."

"Ok," Sirius sussurra, seus dedos ainda tremendo.

"Chega de tentar morrer," Regulus afirma, segurando o olhar de Sirius, seu


coração acelerado lentamente começando a se acalmar. "Chega. Nem eu, nem
você, nem ninguém. Nós tentamos viver, ok? Nós temos tanto pelo que viver,
até mesmo por nós mesmos, então nós tentamos viver. Eu e você."

701
CRIMSON RIVERS

Sirius o encara por um longo momento, então solta um suspiro profundo.


"Porra, Reggie, você acabou de ter algum tipo de revelação ou algo assim?"

"Sim," Regulus diz com uma risada levemente histérica, piscando


rapidamente. "Sim, eu acho que sim."

"Oh, bem, é justo," Sirius responde, igualmente histérico.

Regulus engole. "Você me ouviu? Nós tentamos viver. Nós—"

"Você sabe que não podemos os dois—"

"Eu não me importo. Eu não me importo com o que não deveríamos ser
capazes de fazer, Sirius. Fodam-se eles. Fodam-se todos eles. Nós podemos
fazer qualquer coisa. Nós podemos fazer o que decidirmos, então vamos
viver. Vamos tentar viver, ok? Custe o que custar. Eu e você."

Sirius segura seu olhar, e ele parece prender a respiração, e ele é melhor
que Regulus—ele sempre foi—então faz sentido que ele seja melhor em ter
esperança também. Uma faísca entra em seus olhos, e ele ri, engasgado e
despreocupado ao mesmo tempo, totalmente empolgado enquanto balança a
cabeça e expira, "Eu e você."

Uma risada impotente e histérica sai da boca de Regulus, e ele se inclina


para trás para se livrar do aperto de Sirius para se recostar no topo da cerca
viva, olhando vagamente para o laranja queimado e o rosa suave do sol
dançando no céu, e ele ri suavemente, baixinho, relaxando na onda de
adrenalina e achando que a vista vale a subida.

"Você ouviu isso?!" Sirius grita para a platéia. "Eu e ele! Nós dois! Vai se
foder! Foda-se todos vocês! Vamos viver!"

Regulus solta outra gargalhada e levanta a cabeça para ver Sirius sorrindo
como um louco enquanto ele aponta para o céu com as duas mãos. Regulus
deixa cair a cabeça para trás e levanta as mãos para se juntar preguiçosamente
a Sirius, apontando para o céu também.

Lentamente, a pressa desaparece, e Regulus abaixa os braços, deixando-os


pousar sobre seu estômago e peito com um tapa molhado, ainda tremendo,
ainda pingando sangue. Ele pendura a mão na lateral da cerca viva e vira a

702
ZEPPAZARIEL

cabeça para olhar para ela, observando o pequeno rio vermelho escorrer por
seu braço, sobre suas cicatrizes, e escorregar por entre os dedos.

O olhar de Regulus passa por ele para encarar o rio de sangue abaixo. Está
recuando, se acalmando, se esvaindo para lugar nenhum. O rio queria ele
novamente. O rio queria ficar com ele desta vez.

Você não pode me ter, eu não sou seu, pensa Regulus, e então vira o rosto para o
sol e sorri.

703
CRIMSON RIVERS

52
BICHOS-PAPÕES

"Meu irmão. Louie," diz Huey, parecendo nervoso. "Eu preciso saber se ele
vai ficar bem. Ele vai ficar bem?"

"Ele tem algum lugar para onde possa ir?" Dorcas murmura, mantendo a voz
baixa. "Alguém com quem ele possa se esconder?"

Huey hesita, então murmura, "Ele tem uma antiga paixão que o acolheria e o
manteria seguro em um piscar de olhos. É um pouco complicado, mas..."

"Ligue para ele, diga a ele para ir para lá, e ele deve ficar bem," diz Dorcas.
"É—eu quero que você esteja ciente do risco, no entanto. Para ele e para
você. Não vou mentir para você, Huey. Isso vai ser uma guerra. Ninguém vai
ficar bem."

"Certo," Huey sussurra. "Certo, ok, e se eu recusar?"

Dorcas o encara. "Esteja você aqui ou em outro lugar, você não estará a salvo
da guerra, nem ninguém mais. E, deixe-me ser bem clara, se você pretende
de alguma forma comprometer o que eu estou fazendo, eu vou matar você
antes que você tenha a chance."

704
ZEPPAZARIEL

Huey engole em seco. "Certo. Sim, ok. Vou ligar para ele."

"Ótimo, " Dorcas diz a ele.

Huey acena com a cabeça e se afasta, sua mão deslizando para o bolso para
pegar o telefone. Dorcas suspira baixinho e sente o aperto de antecipação e
preocupação dentro de seu peito um pouco mais. Ela estava tão ansiosa para
chegar ao que estava por vir e, no entanto, quanto mais perto chegava, menos
preparada se sentia.

Ainda há mais tempo, mas Dorcas tem muito o que fazer, além de equilibrar
sua necessidade desesperada de ficar de olho em Marlene na arena. Ela está
tão distraída se preocupando com ela que é muito difícil administrar qualquer
outra coisa.

"Sra. Meadowes, estou curioso para saber por que você, de todas as pessoas,
estaria conversando com um patrocinador."

Com os lábios se afinando, Dorcas se vira para ver Lucius Malfoy parado na
frente dela, seu olhar seguindo Huey antes de voltar para ela. Ele arqueia uma
sobrancelha.

"Você está ciente, tenho certeza, que apenas mentores devem se relacionar em
nome de seus tributos," Lucius continua, e Dorcas acha sua voz muito, muito
irritante. "Não manipuladores. Não estilistas. Para interferir em nome de—"

"Malfoy, eu literalmente não tenho tempo para isso, ou para você," Dorcas
interrompe, e então nem se dá ao trabalho de ficar por perto e ouvi-lo
gaguejar ofendido. Dorcas não perde tempo com gente que não vale a pena.

Dorcas sai sem dizer uma palavra, examinando a sala para encontrar James ou
Frank. Ela localiza James primeiro, que está encostado na parede. Ele parece
estar se recuperando depois que Regulus quase morreu, pressionando uma das
mãos contra o peito enquanto inspira e expira. É seu primeiro ano como
mentor—ela espera que seja o último—e ele ainda não sabe com manter as
aparências. Outras pessoas estão tentando bajulá-lo e oferecer conforto,
exceto que James não está aceitando. Ele continua balançando sua bengala
para forçar as pessoas a se afastarem dele, sem tentar atingir ninguém, mas
tendo certeza de que não chegarão muito perto.

705
CRIMSON RIVERS

Tudo bem, Dorcas pode respeitar isso. Ela gira sobre os calcanhares e decide
voltar para ele mais tarde. Ele é praticamente uma coisa certa de qualquer
maneira. Frank, no entanto, não é.

"Dorcas," Frank cumprimenta com uma leve e distraída surpresa quando ela
para ao lado dele. Ele é amigo de Marlene, e Dorcas se pergunta se Marlene já
falou sobre ela com ele. Ele parece bastante envolvido em observar Alice e
Augusta para se concentrar totalmente nela no momento, o que é justo.

"Ei, Frank, como você está?" Dorcas murmura.

Frank suspira. "Gerenciando, principalmente. Você?"

"Oh, eu estou—bem," Dorcas diz hesitante, e Frank vira a cabeça para erguer
as sobrancelhas para ela então, e sim, ok, ele sabe que ela está envolvida com
Marlene. Certo, bem, isso deve ser um pouco mais fácil, nesse caso. "Na
verdade, não tão bem assim."

"Sim, bem, quando alguém de quem você gosta está na arena, é sempre mais
difícil," Frank anuncia, segurando o olhar dela. Ele parece estar procurando
seus olhos. "Você a ama, não é?"

"Eu amo, sim," Dorcas admite calmamente, e o rosto de Frank se suaviza


imediatamente. "Você não tem ideia do quão longe eu irei por ela."

"Infelizmente, não há muito que você possa fazer na sua posição," Frank diz
suavemente.

Dorcas pigarreia. "Sim, uh, sobre isso..."

"O que?" Frank pergunta, franzindo as sobrancelhas.

"E se eu dissesse—" Dorcas se interrompe quando várias pessoas ofegam por


toda a sala, chamando sua atenção, assim como a de Frank, que suga uma
respiração profunda e fica imóvel.

Rita está em uma tela, inclinando-se para a frente com claro interesse
enquanto mostra a cena de Augusta e Alice fazendo uma curva e ambas
parando bruscamente ao ver Frank deitado no meio de uma passagem, com
um buraco na cabeça de um ferimento de bala, claramente morto. Dorcas
pisca e olha para Frank, depois de volta para seu cadáver na tela.
706
ZEPPAZARIEL

"Ah, sim, isso é emocionante," afirma Rita. "Uma nova criação da própria
criadora dos jogos Minerva McGonagall, algo chamado de bicho-papão. É uma
criatura que assume a forma do maior medo dos tributos e é interativa. Ela
pode e vai atacar e, como podemos ver aqui, parece que Augusta e Alice
compartilham o mesmo medo. Claro, elas não têm como saber que não é
real..."

Frank faz um som baixo, olhando para a tela com os olhos arregalados, e
Dorcas engole em seco, seu estômago revirando ao pensar que Minerva criou
isso. Claro que sim. Minerva é brilhante, até um ponto aterrorizante, e ela sabe
tão bem quanto todos dentro da Ordem que Riddle tem uma estranha
obsessão por medos e coisas assim. Ele acha isso fascinante, especialmente
porque ele é essencialmente imune, visto que há rumores de que ele não tem
medo de nada e não sente medo algum. É por isso que ele ama tanto
Besouros Horcrux, ou assim disse Slughorn.

Na tela, o cadáver de Frank vira a cabeça e encara Alice e Augusta com olhos
mortos. "Por que, mãe? Por que você tomou o meu lugar quando isso nem
importa?" O cadáver se arrasta sobre os membros que rangem. "Alice, como
você pôde me deixar morrer da mesma forma que seus pais morreram? Como
você pôde—"

Alice choraminga e tropeça de volta para Augusta, que exala fortemente e os


firma antes de resmungar, "Não é real. Alice, não é real. Isso não é Frank. Ele
não é—meu filho não está morto. É um truque. Vamos. Vamos!"

Augusta se afasta do cadáver e puxa Alice, que parece estar hiperventilando


em meio às lágrimas, mas ela obedientemente começa a fugir quando Augusta
a força. Enquanto elas vão, Augusta continua cantando não é real, não é real, não
é real.

Assim que Alice e Augusta dobram uma esquina, fora de vista, o bicho-papão
se dissolve na névoa e flutua como fios de fumaça, viajando pelo labirinto.

"Desculpe," Frank resmunga, piscando rapidamente. "Hum, você estava—


você estava dizendo algo antes."

"Certo," Dorcas sussurra, engolindo o nó na garganta. "Sim, eu estava. Frank,


eu preciso que você me ouça, ok?"

707
CRIMSON RIVERS

Frank se vira e olha para ela, e então ouve.

~•~

Quando o sangue seca no tecido, torna ele rígido. Regulus sente que está
usando pranchas, o que é muito desconfortável, mas literalmente não há lugar
para limpar suas roupas. Sirius o ajudou a torcer o que pôde, certificando-se
de manter as partes pingando da camisa de Regulus longe de sua pele para que
ele não sentisse, o que Regulus aprecia. Ficou úmido por um tempo, úmido e
pegajoso contra sua pele, o que ele odiou, mas agora está seco e áspero. Ainda
é uma melhoria, em sua opinião.

De qualquer forma, é um pequeno preço a pagar por não estar morto.

"Você não precisa andar tão perto, sabe," Regulus murmura, exasperado
porque Sirius está andando ao lado dele, bem ao lado dele em um passo
perfeito, seus cotovelos batendo sem parar.

Sirius resmunga. "Não, mas eu preciso. Aparentemente—" Ele atira um olhar


para o céu, "—eles sentem a necessidade de nos separar."

"Sirius, nós provavelmente vamos ser separados, realisticamente falando,"


Regulus diz a ele, e Sirius franze os lábios em visível desgosto com essa ideia.
"Esse labirinto é uma bagunça do caralho, então há uma boa chance de
sermos. E, se formos, então nós apenas continuamos e tentamos nos
encontrar novamente. Ficando vivos até que consigamos."

"Sim, eu sei, mas eu não vou facilitar as coisas para eles," Sirius declara com
firmeza.

Regulus cantarola. "É justo. Eu também não."

Abruptamente, Sirius estende sua mão para apertar o braço de Regulus, e


Regulus para instantaneamente, ficando tenso enquanto olha para ver o quão
sério Sirius está. Ele inclina um pouco a cabeça, estreitando os olhos, e
Regulus aguça os ouvidos e olha ao redor, tentando ouvir o que Sirius está
ouvindo e ver o que Sirius está vendo. Demora um momento, e então Regulus
capta o som fraco de passos batendo contra o chão.

"Você ouviu isso, certo?"

708
ZEPPAZARIEL

"Eu ouvi isso."

"Alguém está—"

Sirius nunca termina antes que uma forma irrompa pela abertura à frente,
tropeçando um pouco quando eles fazem a curva. Regulus percebe que é
Lester apenas alguns segundos antes de ele vir direto para eles, erguendo sua
lança.

Antes mesmo de Regulus pensar sobre isso, ele empurra Sirius para o lado
com força e tropeça para trás, observando a lança voar pelo ar onde Sirius
estava.

"Não se atreva, porra!" Regulus explode, totalmente furioso em apenas uma


fração de segundo, e Sirius se abaixa novamente quando Lester tenta colocar
as mãos em volta de sua garganta.

"Não vai parar!" Lester ruge, ofegante, totalmente desvairado e frenético.


"Você não entendeu?! O labirinto não vai parar de jogar merda em nós até
que estejamos todos mortos! Nós temos que matar! Eu tenho que matar você!
Eu tenho!"

Em segundos, Regulus está girando atrás de Lester para agarrá-lo pelos


cabelos, batendo sua bota na parte de trás do joelho de Lester e empurrando-
o para frente ao mesmo tempo em que Sirius ataca com sua lança. É tão
preciso, tão rápido, que Lester quase não gorgoleja quando a lança corta sua
garganta, aberta e descoberta onde Regulus puxa sua cabeça para trás.

Regulus vê o sangue imediatamente começar a escorrer pela frente de Lester,


mas ele não solta até que as mãos de Lester fiquem frouxas, não tentando
mais alcançar Sirius, que está perfeitamente bem. Ele já está limpando sua
lança preguiçosamente, observando enquanto Lester cai para a frente em uma
poça de seu próprio sangue e continua a sangrar.

"Você está bem?" Sirius pergunta, tirando a ponta da lança e olhando Regulus
cuidadosamente.

Regulus está fazendo o possível para não engasgar, honestamente. Nada do


sangue caiu nele, mas ele pode sentir o cheiro, e ele viu, e depois do rio

709
CRIMSON RIVERS

carmesim, ele está tão enjoado que a morte está genuinamente apenas fazendo
com que ele se sinta em perigo de vomitar.

"Sim, tudo bem," Regulus consegue dizer, e então estraga tudo ao se encolher
levemente quando o canhão soa. Sirius levanta as sobrancelhas para ele, e
Regulus bufa. "Oh, cale a boca. É o sangue, certo? Isso fede pra caralho. Como
você está tão—tão—"

"Calmo?" Sirius pergunta.

"Sim, isso," Regulus murmura de má vontade.

Sirius suspira e gira sua lança sobre o pulso. "Reggie, eu não estou
exatamente—quero dizer, eu... eu tive meus momentos, certo? Mas é a arena.
Aqui, isso não pode—eu não posso pensar nisso. Eu não posso me
concentrar no que eu estou fazendo ou no que eu tenho que fazer. Eu só
faço."

"Você não acha que estou eu tentando fazer o mesmo?" Regulus estala, dando
mais um passo para trás de Lester, respirando pela boca. As roupas sujas de
sangue que ele está vestindo estão fazendo sua pele coçar. "Porra, Sirius, você
matou quatro pessoas sem nem mesmo hesitar. Nem sequer piscou. E
Camilla—quero dizer, você parecia estar bem com ela, e então—"

"E então ela tentou te matar," Sirius interrompe sem rodeios. Ele sustenta o
olhar de Regulus. "Olha, eu sabia exatamente no que estava me metendo
voltando para cá. Eu já matei doze pessoas. O que são
dezesseis, especialmente para manter eu e você vivos? Se eu viver, eu vou viver
com isso. Se eu não, bem, acho que não vou precisar. De qualquer forma, eu
faço o que tenho que fazer, assim como você. Não é fácil, mas eu não tenho
os mesmos problemas com sangue que você, por um lado. E eu não estava
aqui no ano passado, por outro."

"E se eu estragar tudo? Ou chegar tarde demais para ajudar você? Ou não for
rápido o suficiente?" Regulus sussurra, e seu estômago revira ainda mais com
o mero pensamento.

"É com isso que você está se preocupando agora?" Sirius pergunta cansado,
suspirando. "Honestamente, você tem alguns grandes problemas de ansiedade

710
ZEPPAZARIEL

acontecendo, sabia disso? Me escute, ok? Eu e você, o que for preciso. Nós
concordamos com isso, não concordamos?"

"Sim," Regulus murmura.

"Então é isso," Sirius diz simplesmente. "Isso significa que nós dois estamos
tentando o nosso melhor, e isso é o suficiente, Reggie. Não importa o que
aconteça, é o suficiente. Estamos fazendo o suficiente."

Regulus engole em seco, então acena com a cabeça. "Ok."

"Ok, bom," Sirius murmura. "Agora, vamos."

~•~

Eles dobram uma esquina, e Sirius imediatamente vê do que Lester estava


fugindo, e por que ele estava tão frenético quando os alcançou.

Francamente, se Sirius tivesse sido perseguido incansavelmente por essas


criaturas, ele também estaria uma bagunça.

"Sirius," Regulus sussurra, estendendo a mão lentamente e batendo no peito


de Sirius com as costas da mão, sem tirar os olhos das criaturas à sua frente.
"Adaga. Me dê minha adaga. Agora é a hora de me dar minha adaga."

Sirius silenciosamente passa a adaga para ele.

As criaturas têm cerca de metade do tamanho de um ser humano médio, mas


a enorme quantidade delas é o que desanima. Seus braços são mais longos que
seus corpos, ramificando-se em pontas afiadas que se enterram no solo como
agulhas em tamanho natural. Pelo que Sirius pode dizer, não há pés nelas,
apenas um peito humanóide que termina em uma caixa torácica aberta,
nenhum órgão à mostra. Onde está a cabeça, há uma boca lisa e bulbosa com
tentáculos se abrindo, exceto que os tentáculos parecem ter dentes. Não
dentes humanos, não. Dentes afiados e curvos que parecem a porra de
ganchos feitos de osso.

Naturalmente, a abertura atrás deles que eles acabaram de passar já se fechou,


então eles estão presos sem ter para onde ir. Deve haver pelo menos vinte
criaturas esperando do outro lado da passagem. Eles estão muito silenciosos e
muito quietos.
711
CRIMSON RIVERS

"Ok," diz Sirius. "Ok, então."

"Então?" Regulus pergunta.

"Então," Sirius repete, e não tem ideia do que vem a seguir.

Regulus pigarreia. "Sirius, qual é o plano aqui?"

"Escalar de novo?" Sirius sugere fracamente.

"Ah," Regulus responde, soltando um soco para fora da respiração, sua cabeça
girando para olhar para a sebe ao lado deles. Sirius olha para ele para vê-lo
parecendo cauteloso, mas ele parece endireitar os ombros. "Certo. Certo, ok.
Escalar de novo. Eu posso—quero dizer, eu já fiz isso uma vez. Eu
provavelmente posso fazer isso de novo."

No segundo em que eles se aproximam da parede verde ao lado deles, o


farfalhar fica mais alto e as mãos se libertam dela, golpeando-os. Sirius pega
Regulus de volta e observa as garras recuarem lentamente. "Ok, então isso...
não vai acontecer, aparentemente. Hum. Merda."

"Sem escalar," Regulus murmura, parecendo ao mesmo tempo aliviado e


chateado com isso, de alguma forma.

"Acho que não." Sirius flexiona seus dedos em torno de sua lança e aperta os
olhos para as criaturas à frente. "Então, parece que a única maneira de ir
é passar. Lutando, no caso."

"Pelo amor de Deus," Regulus resmunga, seu rosto caindo em uma carranca,
mas ele dá um pequeno giro rápido de sua adaga e coloca um pé para trás, de
pé pronto.

"Ei, Reggie?"

"Hum?"

"Aposto que posso derrubar mais do que você," Sirius brinca, ampliando sua
postura e deixando um sorriso crescer em seu rosto.

Há uma pausa, então Regulus bufa e diz, "Apostado," antes de prontamente


disparar pela passagem, correndo direto para as criaturas sem hesitar.

712
ZEPPAZARIEL

"Ei!" Sirius deixa escapar. "Isso é trapaça, seu merdinha!"

Ele acha que ouve a risada de Regulus, mas se ouviu, foi perdida no meio da
agitação que encheu a cabeça de Sirius quando ele saiu correndo também. No
momento em que eles chegam à metade da passagem, a multidão de criaturas
no final é uma explosão repentina de movimento, bastante rápidas em seus
braços de agulha enquanto correm para encontrá-los.

Sirius e Regulus estão em menor número, e também há muitas criaturas para


enfrentar entre os braços pontudos e a quantidade ridícula de tentáculos
voando para eles. Sirius descobre muito rapidamente que a caixa torácica das
criaturas se abre e tenta prender o que quer que se aproxime demais, então
isso é mais uma coisa com que se preocupar.

E, no entanto, eles avançam como se tivessem sido feitos para isso.

Se Sirius e Regulus são armas por direito próprio, então eles são lâminas
duplas, trabalhando facilmente em conjunto como extensões um do outro.
Perigosos sozinhos, ainda mais perigosos juntos. Eles nunca precisam falar,
nunca precisam nem olhar um para o outro; eles fluem como se estivessem no
meio de uma dança que conhecem os passos desde o nascimento.

Sirius espeta uma criatura no rosto e a acerta em outra, atacando com sua
lança para derrubar pelo menos quatro no chão de uma vez. Regulus pisa nas
cabeças enquanto passa, como se eles tivessem praticado isso. Da mesma
forma, quando Regulus enfia sua adaga na cabeça de um, Sirius a chuta na
espinha para tornar mais fácil para Regulus pegar sua adaga de volta, girá-la e
enfiá-la na cabeça do próximo.

É fluído o modo como eles mudam e se movem um ao redor do outro,


focados e atentos, derrubando uma criatura logo após a outra. Sirius descobre
que todo o seu mundo se reduz à luta, à emoção dela, não pensando nisso
como uma competição, mas sim como algo que eles estão lidando juntos. Ele é
mais ousado do que Regulus, sem medo de estender a mão e agarrar as
criaturas pelo lado de fora de seus tentáculos, onde seus dentes não
estão, apenas para levantá-las e jogá-las no chão. Em algum momento, Sirius
literalmente tem uma criatura alinhada ao longo de sua lança, pendurada onde
ele a perfurou em seu rosto.

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CRIMSON RIVERS

A massa de criaturas diminui, e então a última cai quando Sirius enfia sua
lança através da caixa torácica aberta com tanta força que a ponta da lança
atravessa o topo da cabeça da criatura. Os tentáculos caem instantaneamente,
não tentando mais envolver seu rosto.

Ofegante, Sirius inclina sua lança para baixo e coloca sua bota contra as
costelas dela para chutar a criatura. Há um squelch, então um splat muito
nojento, e é isso.

"Bem," Sirius ofega, "Eu definitivamente ganhei."

"O quê? Não, você não ganhou. Você não pode provar isso," Regulus gagueja
instantaneamente, o que diz a Sirius que ele, de fato, ganhou.

"Não seja um mau perdedor," Sirius brinca, franzindo o nariz enquanto


inspeciona sua lança. Está coberta de gosma. As criaturas não pareciam sangrar,
mas eram muito... viscosas.

"O que você está fazendo?" Regulus pergunta.

Sirius continua a mexer na sua bolsa, procurando dentro dela para encontrar o
pano de que precisa. "Limpando minha lança. É nojento."

"Você tem um pouco de..." Regulus tosse e gesticula para seu próprio cabelo,
depois para o de Sirius.

"O que?!" Sirius engasga, instantaneamente deixando cair sua lança e pano,
mãos voando até seu cabelo em horror.

Os ombros de Regulus começam a tremer, e então Sirius percebe que ele


está rindo, porque ele é horrível pra caralho, é o que ele é. Sirius olha para ele,
mas não consegue parar de acariciar seu cabelo, passando os dedos por ele
enquanto Regulus continua a rir dele.

"Ah, você é muito fácil," Regulus suspira, parecendo bastante satisfeito


consigo mesmo enquanto se move para pegar o pano presunçosamente e
limpar sua adaga.

Sirius bufa para ele. "Por que você não limpa minha lança então?"

714
ZEPPAZARIEL

"Não," Regulus diz brandamente, então deixa cair o pano de volta no chão
assim que termina de usá-lo.

"Idiota," Sirius resmunga, mas cede e deixa seu cabelo em paz assim que tem
certeza de que está limpo. Ele pega sua lança e pano para voltar sua atenção
para isso. "Isso porque você diz que me ama."

Regulus franze a testa. "Eu amo—" Ele para, então semicerra os olhos
quando Sirius sorri triunfantemente para ele.

"Você é muito fácil," Sirius corrige, gargalhando quando Regulus zomba e


desvia o olhar. Depois que Sirius termina com sua lança, ele se levanta
novamente e coloca sua bolsa de volta. "Sabe, isso não foi tão ruim, na
verdade. Quer dizer, o que quer que essas coisas fossem, elas eram nojentas,
mas nós nos saímos bem. Nós realmente—"

"Sirius," Regulus interrompe, seu tom fazendo a espinha de Sirius se endireitar


enquanto ele se vira para ver o que Regulus está olhando com tanta
intensidade. Todo o orgulho de Sirius se esvai para ser substituído por um
medo intenso no momento em que ele vê a névoa verde se espalhando à
frente. "Isso não é bom, é?"

"Não," Sirius confirma. "Hora de ir."

~•~

Dorcas vê Eli cair e sabe, de alguma forma, que ele não vai se levantar.

Marlene parece não saber disso.

"Vamos, velhote, continue andando!" Marlene ordena severamente, enfiando a


espada no chão para voltar e colocar a mão ilesa sob o braço de Eli.

Eli está ofegante e, embora tente se levantar cambaleando, ele cai de joelhos e
imediatamente vomita no chão. Ele geme e balança a cabeça, ofegante, "Não
consigo. Não consigo."

"Sim, você consegue," Marlene insiste, agarrando-o em torno de seu próprio


vômito e arrastando-o junto, mas, novamente, ele cai de volta e tosse
enquanto aperta o peito, cortando com tanta força que soa doloroso. "Se você
ficar aqui, Eli, você vai morrer."
715
CRIMSON RIVERS

"Garota, se eu continuar correndo, eu vou morrer," Eli consegue dizer, sua


voz irônica. Ele inclina a cabeça para cima para encará-la. "Meu coração vai
desistir. Eu—eu não posso fugir dessa merda, mas você pode."

Marlene lança um olhar desesperado para a névoa verde que se aproxima cada
vez mais deles. "Olha, dê uma festa de pena para alguém que se importa. Eu
não tenho tempo para isso. Levante-se!"

"Você me lembra o meu Alphard," Eli murmura, dando-lhe um sorriso triste.


"Ele se importava tanto que isso o matou."

"Eli, agora não é hora de—"

"Você precisa me deixar agora, garota. Eu sei o que posso aguentar, e eu não
aguento mais. Eu estou cansado. Tão cansado."

"Bem, que pena, porque eu não vou deixar você aqui," declara Marlene em
clara angústia. Ela tenta ajudá-lo, mas mal consegue com apenas um braço,
especialmente com o cansaço que ela está. Ela consegue colocá-lo de pé,
gritando enquanto se abaixa sob seu braço e suporta seu peso, apenas para
que as pernas dele cedam quase instantaneamente e esbarrem em seu ombro.
"Eli, por favor. Por favor, por favor, levante-se. Por favor—"

"Vá," Eli sussurra com a voz rouca, e então ele estende a mão para empurrá-la
com força suficiente para que ela tropeça alguns passos para trás. A névoa
quase os alcançou. "Eu disse vá!"

"Eli," Marlene resmunga, seus olhos brilhando na tela enquanto ela olha para
ele com horror.

"Você me deixou orgulhoso," Eli diz a ela. "Realmente orgulhoso. E eu não


fiz o certo por você, não fiz absolutamente nada por você, nem mesmo tentei.
Mas você não precisava de mim, e ainda não precisa, então vá."

"Eu sinto muito," Marlene diz com dificuldade, as lágrimas escorrendo de seus
olhos e escorrendo por suas bochechas. Dorcas sente o peito apertar, as
palmas das mãos coçando com o desejo de estender a mão e gentilmente
enxugar aquelas lágrimas.

"Pelo o que você sente muito, Marlene McKinnon? Eu vou ver meu Alphard
de novo." Eli dá a ela um sorriso cheio de dentes, que mostra um vislumbre
716
ZEPPAZARIEL

de como seu sorriso deve ter sido encantador quando ele era mais jovem.
Ainda encantador agora, mesmo assim. "Eu faria qualquer coisa por Alphard.
Até mesmo viver. E eu fiz isso, da melhor maneira que pude. Espero que você
encontre isso algum dia."

Ela já encontrou, pensa Dorcas. Qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa.

Os olhos de Dorcas queimam enquanto ela observa os ombros de Marlene


levantarem, ainda congelados no lugar enquanto a névoa atinge os pés de Eli.
Ela sobe por todo o corpo dele, e Marlene não se mexe, parece que não
consegue. Eli se encolhe no chão e fecha os olhos com um sorriso sereno,
mas no momento em que a névoa atinge sua cabeça e ele respira, ele começa a
gritar.

É absolutamente devastador. A sala inteira fica em silêncio só de ouvi-lo,


totalmente horrorizada com o grito cru de agonia que escapa do homem que
não conseguia mais correr e ir mais longe. Dorcas sente as pontas dos dedos
formigando, os olhos arregalados e a boca seca. A névoa verde. Guerra
biológica. O veneno do Besouro Horcrux se transformou nisso.

Ela sabia que havia uma chance de que pudesse ser usado nos jogos, mas
nunca viu e não conectou tudo até aquele momento. Isso é o que a maioria do
distrito seis experimentou, e esta é uma arma que Riddle tem à sua disposição
para usar contra aqueles que o desafiam. Eli está gritando como se estivesse
sofrendo o pior tormento que qualquer ser humano poderia sentir. É o auge
da tortura, agarrado em agonia, simplesmente sofrendo.

A pele de Dorcas se arrepia. Tudo o que ela viu, tudo o que ela conhece, e
nada poderia tê-la preparado para isso.

Não há pessoas boas na guerra, mas há pessoas apavoradas, e enquanto


Dorcas observa isso, ela é estrangulada por um medo tão intenso que mal
consegue respirar.

Isso? ela pensa. Nós temos que vencer isso? Ninguém pode vencer isso.

Como se para provar seu ponto de vista, os gritos de Eli são interrompidos e,
segundos depois, o canhão soa.

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CRIMSON RIVERS

Marlene não se mexeu. Ela está congelada, olhos arregalados e cheios de


lágrimas, lábios entreabertos como se estivesse sem fôlego, totalmente
atordoada e horrorizada com o que acabou de testemunhar. A névoa não
parou de se mover, ainda rastejando em sua direção, tão perto agora que ela só
teria que dar um passo à frente e estender a mão para tocá-la.

"Vá," Dorcas suspira, o olhar fixo na tela. Seu corpo inteiro está tremendo.
"Vamos, Marlene. Vamos, vamos, vamos. Vá. Por favor, vá. Você tem que—"

Sufocando uma respiração áspera, Marlene começa a ir, como se talvez tivesse
ouvido Dorcas, ou apenas sentisse o desespero absoluto envolvendo os ossos
de Dorcas, seu próprio sangue, onde seu amor flui e se consolida nela;
certamente Marlene pode senti-lo, tão grande e implacável como é, mesmo
estando presa lá. Ela não pode?

Se ela sente ou não, Marlene pega sua espada e corre, e Dorcas pensa que ela
está chorando enquanto ela vai, mas ela ainda está indo. Ainda aqui. Ainda
sobrevivendo.

Na tela, Marlene corre por uma passagem e vira a esquina da próxima, nem
mesmo diminuindo a velocidade enquanto deixa a névoa para trás. Ela para de
avançar e Dorcas a princípio fica confusa por que, mas então seu coração para
quando a câmera faz uma panorâmica para a névoa branca no final da
passagem que Marlene está correndo. Ela não parece vê-la, mesmo quando ela
olha diretamente para ela, e no momento em que desvia o olhar, ela começa a
tomar forma.

O coração de Dorcas para, o sangue em suas veias se transforma em gelo


quando ela vê... Marlene. Outra. Uma diferente. Ela parece tão diferente do
que Dorcas está acostumada. Cabelo comprido em cachos perfeitos e
delicados nas costas e nos ombros; olhos brilhantes e calorosos, uma centelha
de inocência neles que Dorcas nunca tinha visto antes; vestindo um vestido de
cor creme claro que mostra seus braços e pernas, completamente sem
cicatrizes. Ela parece jovem; não, ela parece criança, algo doce e tímido
pairando sobre ela, até os pés descalços. Há algo de inocente nos pés
descalços e na maneira como ela anda como se não tivesse medo de um passo
que ela dá, sem medo do mundo ao seu redor.

Esta é uma Marlene que ninguém nunca viu antes. Ela nem parecia assim em
seus primeiros jogos. Para as Relíquias, mesmo então, Marlene era bastante
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ZEPPAZARIEL

simples e normal. Mas essa Marlene? Ela é o bater de asas de fada e pedaços
de algodão-doce, e Dorcas sabe—ela apenas sabe em seu coração—que se
fosse assim que Marlene fosse apresentada a Relíquia, eles teriam se
importado com ela muito mais.

A Marlene que Dorcas conhece, aquela que é real, aquela por quem ela está
profundamente, descaradamente, apaixonada, aquela que tem unhas rasgadas
e dentes sangrentos e cicatrizes que vão além da profundidade da pele—
aquela Marlene tropeça até parar e se aproxima.

"Quem é você?" o bicho-papão pergunta suavemente.

Marlene olha, parecendo genuinamente assustada com sua própria dor ao


ver—ela mesma. Ou não, não é ela. Não é, e Dorcas duvida que algum dia
tenha sido. Então... do que Marlene tem medo? Por que esse é o maior medo
dela?

"O que diabos é isso?" Marlene resmunga, seus dedos flexionando em torno
de sua espada. Ela só tem uma mão para segurar sua arma, mas seu olhar é
duro como se ela não tivesse medo de usá-la.

"O que você é?" o bicho-papão sussurra, o rosto se contorcendo de horror e—


e medo. Dorcas engole asperamente, seu olhar indo e voltando entre elas.
"Você é um monstro."

Marlene fica imóvel, então repete com os dentes cerrados, "Que diabos é isso?"

"Você é o monstro que matou nossos pais," o bicho-papão engasga,


parecendo genuinamente assustado. "Você os matou, e o quê? Você—você se
consola com o fato de que eles puderam ver você como você é antes de
morrerem? Eles nunca quiseram você como você é. Eles queriam isso! Eles me
queriam!"

"Cale a boca. Cale a boca, cale a boca, cale a boca," canta Marlene, seu peito
gaguejando em uma forte inspiração. "Que porra é você? O que—"

"Deveria ter sido eu, não você, não o monstro que você é, que você se tornou,"
insiste o bicho-papão. Ele dá um passo à frente e Marlene imediatamente
balança sua espada para cima, sua respiração errática. "Olhe o que você se
tornou."

719
CRIMSON RIVERS

"Cale a boca!" Marlene explode.

A névoa gira do bicho-papão, descendo pelos pés descalços, e no próximo


segundo, Hodge e Vanity estão saindo da escuridão para caminhar ao lado da
Marlene que não é real. A visão deles rouba a respiração de Dorcas, ainda
mais porque eles estão mortos. Cadáveres. De olhos vazios, os dois; Vanity
com a garganta cortada; Hodge encharcado, pingando vermelho. Enquanto
caminham para frente, eles estão de mãos dadas.

De algum lugar da sala, alguém emite um ruído abafado e Dorcas o


reconhece. James.

"Nós precisávamos dela," murmura Vanity, "Mas ficamos presos com um


monstro. Imagine só, um monstro tentando salvar as crianças pelo menos
uma vez, e tudo o que você conseguiu foi falhar."

"Se você fosse ela," Hodge gorgoleja, um fio vermelho saindo de sua boca
enquanto ele fala, "Você poderia ter feito mais. Mas você não é. Você é
apenas você, e isso é tudo que você pode ser. Tudo o que você sempre será é
isso, um monstro que não pode salvar ninguém."

"Isso é o que todos eles precisavam," o bicho-papão sussurra, de repente não


parecendo tão inocente quanto antes quando começa a avançar para Marlene,
que está claramente lutando para respirar. "Nossa mãe. Nosso pai. Cada
tributo que já tivemos. Nossa família. Eli. Todos eles precisam de mim, e eles
ficaram presos com você, e veja onde isso os levou. E quanto a sua amante? E
quanto a ela?"

Dorcas suga uma respiração profunda e segura, seu coração martelando forte
em seu peito. Marlene balança a cabeça e recua, olhos arregalados e úmidos.

"Como ela poderia amar você?" o bicho-papão cospe.

"Cale a boca," Marlene diz fracamente.

"Você acha que ela olha para você e vê algo além do monstro que você é?" o
bicho-papão exige, avançando continuamente, chegando muito perto. "Tudo
pelo que você está lutando, tentando tanto sobreviver, e para quê? Para voltar
para ela? Ela não quer você. Ela nunca quis você, e você sabia disso, e então ela

720
ZEPPAZARIEL

sentiu pena de você. O que ela realmente quer sou eu, e você não pode dar isso
a ela, pode? Pode?!"

Marlene solta uma respiração profunda que parece se transformar em um


grito e um soluço ao mesmo tempo, e ela ataca com sua espada com o que
parece ser toda sua força, a lâmina cortando o bicho-papão. Há um momento,
apenas um, e então Marlene e todos os outros assistem enquanto o espelho
distorcido de Marlene é dividido em dois, decapitado. A cabeça do bicho-
papão rola para fora do pescoço, atingindo o chão primeiro antes que o resto
do corpo caia. Marlene olha fixamente, seu peito subindo e descendo
rapidamente.

"Por que você não fez mais?" Vanity pergunta, porque ela ainda está lá. Ainda
é o bicho-papão, ainda avançando, ainda não derrotado. A cabeça de Marlene
se ergue. "Minha família precisava de mim. Eles precisavam que você fizesse
mais por mim, e você não conseguia."

"Minha mãe está sozinha agora," Hodge diz através de um bocado de rio
carmesim. "Eu não queria deixá-la sozinha. Você deveria me ajudar para que
eu não a deixasse sozinha."

"Eu—eu sinto muito. Por favor, eu sinto muito," Marlene chora, um gemido
saindo de sua boca enquanto eles caminham em direção a ela firmemente, de
mãos dadas.

"Você é um monstro," eles dizem a ela, cantando enquanto continuam a se


aproximar. "Você é um monstro. Você é um monstro."

Dorcas estende a mão para cobrir a boca, tentando abafar o som que sobe
pelas paredes de sua garganta contraída. Marlene não levanta a espada contra
eles, e não vai levantar. Dorcas sabe que não. Sabe que ela não pode.

Tudo o que Marlene faz é tropeçar para trás quando eles a alcançam com
mãos pequenas. Ela continua recuando, hiperventilando e parecendo incapaz
de desviar os olhos deles enquanto avançam.

Ela se move rapidamente em pânico, recuando todo o caminho para fora da


passagem para a parede oposta antes da abertura. Ela para ali, congelada no
lugar, não correndo para a esquerda ou para a direita, não indo mais a lugar
nenhum. Sua espada cai no chão.

721
CRIMSON RIVERS

"Vá," Dorcas implora por entre os dedos. "Por favor, Marlene, apenas—
apenas vá. Você tem que ir."

Desta vez, Marlene não parece sentir o amor clamando por cada célula do
corpo de Dorcas, e ela não se mexe.

~•~

Sirius encontrou Regulus, manteve ele por um dia e depois o perdeu


novamente.

Ele odeia esse maldito labirinto.

Na verdade, não é culpa deles, porque parece que os criadores dos jogos estão
determinados a separá-los, e com toda a merda que eles têm à sua disposição
no labirinto, não era impossível para eles fazerem isso. Entre as mãos, a
névoa, até as malditas voltas e reviravoltas e as sebes que abrem e fecham, em
algum lugar ao longo do caminho, eles se separaram.

Sirius quer arrancar a porra do seu cabelo, ou talvez rasgar o maldito mundo
inteiro ao meio, mas tudo o que ele pode fazer é correr. Ele ainda está
correndo.

Ele alguma vez parou?

O pior é que o som inesperado de um grito distante o desencadeou, e ele


desassociou sem saber, então ele não tem ideia de onde perdeu Regulus. Ele
apenas voltou a si, ainda correndo, para descobrir que Regulus havia sumido.

Então, como você pode imaginar, ele não está de bom humor no momento,
literalmente amaldiçoando uma tempestade enquanto derruba uma passagem
após a outra, e isso significa que ele rosna abertamente quando faz uma curva e
bate em alguém que não é Regulus, ou qualquer um de seus aliados, ou
qualquer um que ele gostaria de ver.

Sirius talvez empurre Dixon para longe rudemente, e entre isso e o rosnado,
não é surpresa que uma briga comece instantaneamente entre eles. Dixon,
previsivelmente, é muito forte. Ele também é mais velho e mais sábio, então
ele fica fora do alcance enquanto eles se chocam, espada com lança. Mesmo
assim, Sirius não está muito preocupado até que Dixon de alguma forma
consegue desarmá-lo, a lança rolando para longe.
722
ZEPPAZARIEL

Existem esses níveis para Sirius, quando se trata da ameaça que ele representa.
Na maioria das vezes, ele faz o mínimo, apenas o que precisa para vencer
rapidamente. Mas, de vez em quando, ele vai entrar em uma briga com alguém
que ele tem que cavar fundo em si mesmo para obter vantagem contra.

Como a pessoa com quem ele lutou em seus últimos jogos, onde literalmente
ele arrancou o dedo com uma mordida. Um dedo inteiro. Sangue, músculos e
ossos. Ele mordeu e cuspiu. Não engasgou, não tossiu, nem diminuiu a
velocidade.

Então, sim, ele não é estranho em ir até o fim para sobreviver, e oh, Sirius
está obcecado com a sobrevivência agora. Especialmente agora. Enquanto ele
puder. Custe o que custar.

Geralmente, o que é preciso para ativar essa necessidade de cavar fundo é um


adversário muito difícil de vencer, ou ter alguém para proteger, ou perceber
que está perdendo a vantagem que tem apenas por ser tão bom quanto ele é.
Ele sabe que é bom, mas também sabe que não é indestrutível ou infalível.
Talvez a lembrança de sua própria mortalidade frágil em um lugar que pode
ser facilmente esmagado o leve ao limite. Talvez ele seja apenas louco.

De qualquer maneira, quando Dixon vem para ele rápido, Sirius revida sujo. Ele
crava as unhas no pulso de Dixon e torce, girando para trás e batendo a bota
na lateral do joelho dele com tanta força que ele grita e cai. A espada cai no
chão, mas Dixon ainda ataca forte o suficiente para que Sirius tenha que soltá-
lo e sair do caminho.

Dixon dá pequenos saltos para se levantar—bem, seu pé. Ele está


cuidadosamente se afastando da perna que Sirius acabou de chutar, então
Sirius naturalmente a chuta de novo, impiedosamente, ainda mais forte. Desta
vez, há um estalo doentio e a perna de Dixon se dobra na altura do joelho de
uma forma que absolutamente não deveria. Ele começa a desmoronar
novamente, gritando e xingando, e Sirius tem todas as intenções de esmagar
seu joelho e, possivelmente, seu crânio, mas Dixon não é medroso. Ele é um
bastardo resiliente e resistente, claramente, que Sirius não pode deixar de
respeitar.

De alguma forma, Dixon se equilibra em uma perna e levanta as mãos,


respirando com dificuldade antes de atacar Sirius, rápido o suficiente para que
Sirius tenha que se esquivar. Enquanto ele volta, Dixon se inclina para frente
723
CRIMSON RIVERS

para pegar sua espada, e Sirius ainda está ao alcance, incapaz de se mover a
tempo, então ele literalmente vê sua vida passar diante de seus olhos no brilho
da lâmina.

E então, sem aviso, há um zing agudo no ar, e Sirius sente seu cabelo roçando
em seu rosto, assim como uma sensação de ardor em sua bochecha segundos
antes de observar uma flecha enterrar-se bem no olho de Dixon. Ela acerta
com tanta força que sua cabeça pende para trás quando acerta, e o canhão soa
antes que seu corpo atinja o chão.

Lentamente, Sirius estende a mão para tocar o corte em sua bochecha, os


dedos encontrando o sangue que borbulha. Não é profundo ou um problema
genuíno, mas queima um pouco. Ele se vira para encontrar Narcisa de pé do
outro lado da passagem atrás dele, abaixando o arco quando ela encontra seus
olhos.

Sua mira é mortal. Sirius sabe que ela nunca erra, o que significa que ela matou
Dixon de propósito, seu próprio aliado, e também significa que ela deu a ele
um pequeno corte pela diversão.

Os lábios de Narcisa se contorcem quando ele abre um sorriso impotente, e


ela pisca para ele antes de se virar e sair correndo sem olhar para trás, sem
uma palavra dita entre eles.

"Essa maldita família," Sirius murmura ironicamente, balançando a cabeça


enquanto se abaixa para pegar sua lança e recuar firmemente. Uma gargalhada
incrédula escapa dele antes que ele se vire e saia em uma corrida leve, seu
peito estranhamente, inexplicavelmente quente.

Apenas por um momento.

~•~

Regulus não está nem um pouco satisfeito com a forma como isso está indo,
mas, na verdade, ele nunca está. Se não é uma coisa, é outra. Toda essa arena é
uma merda, mesmo de maneiras que ele nunca poderia esperar.

Ele pensou que seria semelhante a todas as arenas anteriores, em que pelo
menos os aliados teriam a chance de ficar uns com os outros, mas claramente
não é o caso. Pelo que ele sabe, os Comensais da Morte estão todos

724
ZEPPAZARIEL

separados, e os aliados de Sirius também. É como se a arena estivesse tirando


cada pedacinho de qualquer coisa em que alguém já tenha confiado. Sem
recursos, sem solidariedade, sem meios de se firmar ou encontrar uma
sensação de segurança. Está tudo uma confusão.

O som de um canhão quase o faz tropeçar, e ele xinga baixinho quando vira
uma esquina, olhando freneticamente por cima do ombro enquanto foge
daquelas malditas mãos. Ele jura que se ele nunca mais ver uma mão sem
corpo com garras e semelhante a um cadáver em sua vida, não será muito
cedo.

Porém, não há mãos na passagem que ele vira, o que ele considera uma grande
melhoria até ver o que há na passagem. Ele para com tanta força que derrapa,
os olhos esbugalhados ao ver—Vanity? Hodge?

Leva um segundo para o cérebro de Regulus entender o que ele está realmente
vendo. Vanity e Hodge, claramente mortos, envolvendo suas mãos ao redor da
garganta de Marlene e apertando. Ela está lutando, fracamente, mas
principalmente apenas ofegando e afundando no chão, lentamente ficando
mole.

O estômago de Regulus cai debaixo dele, e antes mesmo que ele pense sobre
isso, ele estala a mão e observa sua adaga voar pelo ar. Ela se encaixa na lateral
da cabeça de Hodge, o que surpreendentemente parece ajudar um pouco
Marlene. O menino já está morto, mas suas mãos ficam frouxas quando ele cai
no chão como uma pedra. Pequenos rios vermelhos escorrem dos cantos de
sua boca, seu olhar cego e vítreo.

Vanity não para, no entanto. Os olhos de Marlene se fecham.

"Merda," Regulus sussurra, e ele não está pensando em nada além do fato de
que Marlene é amiga de Sirius, e de acordo com James, amante de... Dorcas,
possivelmente?

Não apenas isso, mas apenas a própria Marlene. Regulus a respeita, e ele só
está percebendo isso agora. Ele pensou que não se importava com os aliados
de Sirius, planejava matá-los se pudesse, para que Sirius não precisasse, até,
mas a coisa é. Bem, o que Marlene fez em sua entrevista foi comovente. Ela é
apenas—ela é alguém a ser respeitada e ninguém merece morrer assim.

725
CRIMSON RIVERS

Não assim.

É tão repelente e horrível quanto estar preso em um rio carmesim, na mente


de Regulus. Pelo amor de Deus, as famílias de Vanity e Hodge podem estar
assistindo agora. James certamente está.

Oh, James. Não há dúvida na mente de Regulus de que ver isso, ver esses dois
novamente, o machucou. Regulus instintivamente quer impedir que James se
machuque ainda mais, e Marlene morrendo nas mãos dos cadáveres desses
dois seria pior.

Regulus literalmente bate no cadáver de Vanity para arrancá-lo de Marlene,


que solta um ruído engasgado e rouco antes de cair para o lado, sua respiração
preocupantemente superficial. O cadáver de Vanity está em seus braços em
um segundo e desaparece no seguinte. Apenas puf. Névoa. Ela se dissolve,
desaparece, e quando Regulus se vira, o corpo de Hodge também desaparece.
Regulus exala em alívio.

A adaga foi deixada para trás, felizmente. Regulus a pega enquanto se move
para se agachar ao lado de Marlene. O braço em que ela está apoiada está
bom, mas o outro... Regulus faz uma careta só de olhar para ele, inchado e
visivelmente quebrado como está. Ele não a toca, mas estende a mão para
pressionar os dedos ao lado de sua garganta, verificando seu pulso.

Ela tem um. É fraco e um pouco lento, mas está lá. Marcas já estão se
formando em seu pescoço de onde ela foi estrangulada, em forma de quatro
mãos. Regulus puxa a mão para trás e olha para ela, considerando-a.

Por mais horrível que seja, uma parte de Regulus gostaria de tê-la deixado
morrer. Teria sido mais fácil, não? Porque ela vai ter que morrer em algum
momento de qualquer maneira, e adiar o inevitável não vai mudar muito no
final.

No entanto, Regulus apenas—não pode. Ele não consegue se arrepender, de


dar a ela mais tempo, porque foi—isso foi bom, não foi? Mesmo aqui, mesmo
neste maldito labirinto infestado de podridão onde o sol nem chega a alcançá-
los, há o brilho quente da humanidade a ser encontrado. Mesmo nele. Mesmo
depois de tudo.

726
ZEPPAZARIEL

Regulus respira fundo, então estende a mão livre e começa a bater suavemente
na bochecha de Marlene com as costas da mão, tentando acordá-la. Ela está
viva, apenas parece ter desmaiado. Ele daria água a ela se tivesse, mas Sirius
tem todos os malditos suprimentos.

O rosto de Marlene se contrai, só um pouco, então ele puxa a mão para trás
com a intenção de bater nela com um pouco mais de força, mas fica imóvel
quando ouve passos atrás dele.

Rapidamente, Regulus gira e fica de pé enquanto vira sua adaga e a aponta na


garganta da pessoa atrás dele em meros segundos. Ele congela no momento
em que vê quem é.

"Ei, amor," James cumprimenta suavemente.

~•~

No momento em que James se vê na tela, ele sente seu coração afundar. Ele
avança o mais rápido que pode com sua bengala, sua respiração errática
quando ele para entre Dorcas e Frank, olhando para a versão bicho-papão de
si mesmo e Regulus congelado no lugar, olhos arregalados.

"Não," James engasga, e ele se sobressalta quando Dorcas estende a mão para
pegar sua mão, apertando-a gentilmente. Ela parece enjoada, todo o seu corpo
cheio de tensão, o rosto contorcido pela tensão. "Eu não. Porra. Ele não—ele
não vai me matar. Ele sempre hesita. Ele vai hesitar. Ele—"

"James," Frank diz com firmeza, "Respire. Apenas respire. Nós não—nós não
temos como saber o que vai acontecer, e ele só tem que aguentar mais um
pouco, ok?"

"O que?" James resmunga, olhando para ver Dorcas e Frank trocarem um
olhar rápido. "O que isso significa?"

"James?" Regulus sussurra na tela, então Dorcas e Frank não elaboram. James
não ouviria se eles o fizessem. Ele se concentra na cena à sua frente. "Você
está—como você está aqui? Por que você—"

"Tudo o que você fez para me manter fora, e aqui estou eu de qualquer
maneira," o bicho-papão diz levemente, fazendo parecer uma piada.

727
CRIMSON RIVERS

Regulus não parece achar isso engraçado. "Como diabos—"

"Oh, pare com isso, Reg," o bicho-papão brinca, e James instantaneamente odeia
qualquer outra pessoa, qualquer outra coisa, chamando-o assim. Ele não se
importa se é sua boca moldando o apelido; não é ele falando, o que James
descobre rapidamente que não gosta, especialmente nessas circunstâncias.
"Não aja como se não estivesse satisfeito, mesmo secretamente. Eu sei que
você me quer aqui. É egoísta, mas você está feliz por eu estar aqui, não está?"

"O que?" Regulus resmunga, toda a cor desaparecendo de seu rosto de uma só
vez. "Não, James, eu—eu não quero—"

"Sim, você quer. Não minta. Você está sempre mentindo," murmura o bicho-
papão, franzindo a testa para ele. "Você é um mentiroso. Tudo o que você faz
é—"

"Não, isso não é—eu—quero dizer, eu quero você aqui, mas não—não em
perigo, James. Apenas—apenas—" Regulus engole asperamente, seus dedos
tremendo em torno de sua adaga. Ele parece se dar conta disso então, onde
ela está, ainda pressionada contra a garganta do bicho-papão. Ele
instantaneamente a tira de volta, parecendo horrorizado, e James
quase choraminga de pura angústia. "Desculpe. Porra, me desculpe. É—sim,
ok? Sim, eu quero você por perto, sempre, mas eu não quero que você se
machuque, e isso—você não pode estar aqui. Como—"

"Bem, você estragou tudo isso também," diz o bicho-papão, e Regulus recua,
visivelmente ferido. "Por que você acha que eu estou aqui, hm?
Por sua causa. Por quem mais?"

"Eles—o quê? Eu não entendo. Eu não—"

"Isso é o que você faz, sabe. Você arrasta todos que você ama para baixo.
Você falha, e falha, e falha. Por que você se preocupa em tentar? Se sacrificar
pelo seu irmão, o que era o melhor para todos—não, nem isso você poderia
fazer. Me manter seguro e fora da arena—bem, você estragou tudo também.
E o quê? Você quer viver agora? Você acha que você merece tanto quanto
qualquer outra pessoa? Depois de tudo o que você fez, toda a dor que você
causou, todas as maneiras que você arruinou a vida de todos?"

728
ZEPPAZARIEL

"O que?" Regulus diz, olhando para ele com os olhos arregalados, sua voz
oscilando precariamente. "Você—o quê? Você está... Isso não é—isso não é
você. Não é. Você nunca diria isso para mim."

O bicho-papão zomba e dá um passo à frente. "Você está delirando, porra?


Eu tenho todo o direito de dizer isso para você! Pense em tudo que você me
fez passar! E não apenas eu, mas Sirius também. E Evan—ele está morto por
sua causa. E seus pais, Regulus? Eu fiz tudo certo, mas você? É como se você
tivesse um mau funcionamento toda vez que se atreve a tentar. Você
honestamente não esperava que isso acontecesse algum dia? Você pensou que
eu nunca acordaria e veria quem você realmente é? Você é tudo que eu odeio
neste mundo, não é? Nós somos completamente opostos. Eu tento, tento,
tento—e você nunca consegue, porque toda vez, tudo o que você faz é falhar.
Eu me importo com o mundo e com as pessoas nele, mas você não, não
realmente. Eu sou honesto e você é um mentiroso. Eu faço o máximo que eu
posso por todos, e você é egoísta. Eu sei como curar, e você
está quebrado, irreparável. Por que eu deveria ficar preso com isso,
com você? Você sabe o quão exaustivo você é? Você sabe o quanto você
me suga?"

"Não," Regulus engasga, tropeçando para trás como um reflexo quando o


bicho-papão começa a avançar, constantemente afastando-o de Marlene.
"James, apenas—apenas espere, ok? Eu sei que eu sou—eu sei, mas eu—eu—
"

"O quê? Você o quê?!" o bicho-papão ruge, e Regulus solta um suspiro áspero
que se transforma em um soluço. James aperta a mão de Dorcas, com os
olhos ardendo. "Você me ama? Não, você não ama! Você chama isso de
amor?! Você não saberia amar direito nem se tivesse um guia passo a passo. O
que você faz é podre. Você é o epítome da podridão, Regulus. Você pega tudo
de bom neste mundo e inventa maneiras de deteriorá-lo, porque você está
com tanto medo de ficar sozinho que vai se agarrar até que não haja mais
nada para se agarrar. Tudo que você toca egoisticamente sai com marcas de
garras. Você não é diferente dos cadáveres no rio carmesim em que você
deveria ter morrido!"

Regulus faz um barulho baixo e choramingando que perfura James bem na


porra do coração, e isso—honestamente, James acha que esse é o seu maior
medo também. Se ver assim. Tornar-se uma pessoa que machuca aqueles que

729
CRIMSON RIVERS

ama. Ele quer mergulhar na tela e quebrar o pescoço de sua imagem no


espelho, depois envolver os braços em volta de Regulus e retirar tudo o que
acabou de ser dito com a sua boca. Segurar ele. Beijar ele. Prometer a ele que
não é verdade, que James já o vê como ele é, e não é nada disso, nada disso, e
James o ama muito. Ele o ama pra caralho. Com tudo nele.

"Eu sei que você pensou sobre isso, porque eu com certeza pensei," o bicho-
papão sussurra. "Eu pensei sobre o quanto eu estaria melhor sem você, o
quanto Sirius estaria melhor, o quanto a porra do mundo inteiro estaria
melhor. Então, quer saber? Me deixe fazer isso."

"Não!" Regulus explode, soando quase histérico, sua mão golpeando


rapidamente como uma cobra, apontando a adaga sob o queixo do bicho-
papão.

Tudo para.

Faça isso, pensa James, implorando internamente, prendendo a respiração. Mate


isso. Basta matá-lo. Vamos, amor, não é real. Não sou eu. Você tem que saber disso, no
fundo. Por favor, por favor, por favor, por favor, por favor...

"Oh, qual é o problema?" o bicho-papão zomba, os olhos de James brilhando


cruelmente, um sorriso de pura malícia em seu rosto que deixa James enojado.
"Olhe para você. Você está hesitando, amor."

Regulus engole em seco, visivelmente, e está tremendo. James pode ver ele
tremendo como se estivesse prestes a desmoronar. Lágrimas não estão caindo,
mas estão lá, brilhando.

"Nós dois sabemos que você não vai fazer nada comigo. Isso te assusta, Reg?
Hm? Saber que você está completamente indefeso para outra pessoa. Fraco
para outra pessoa." O bicho-papão estende a mão e envolve os dedos em
torno dos de Regulus, arrancando-os do cabo de sua adaga. Regulus observa
isso acontecer, os lábios tremendo, e então as lágrimas caem ao mesmo tempo
que sua mão. O bicho-papão sorri. "Viu? Lá vai você, falhando de novo. E a
parte patética é—uma parte de você está realmente grata por pelo menos eu
ser a última coisa que você verá. Mas eu quero que você saiba, você não está
olhando para alguém que ainda te acha bonito. Você não está morrendo nas
mãos de um homem que te ama, Regulus. Apenas um homem que não é seu."

730
ZEPPAZARIEL

Com isso, o bicho-papão levanta a adaga e coloca a ponta bem sobre o


coração de Regulus, deixando-a ali. James conhece isso. Ele conhece aquele
ponto, aquela cicatriz, depois de todas as vezes que pressionou a boca contra
ela com reverência, apreciando a batida contínua sob o osso. Regulus fica lá, e
ele não faz nada.

"Não," James sussurra. "Não, não, não. Por favor, espere. Por favor—"

"James!" Dorcas explode, estrangulando sua mão enquanto ela aponta para o
mapa, e ele olha para ele desesperadamente, engasgando com uma respiração
áspera com a rápida aproximação de Marlene.

"Vamos, vamos, vamos," canta James, agarrando-se genuinamente à última


esperança que ele tem, porque ela sabe que não é real.

Com certeza, a câmera mostra Marlene correndo ao longo da passagem o mais


rápido que pode, e ela não hesita nem um pouco. No momento em que ela
consegue, Marlene enfia sua espada nas costas do bicho-papão, perfurando
toda a frente, a ponta quase atingindo Regulus.

A adaga cai no chão.

Regulus engasga, olhando para a espada com os olhos arregalados, e então seu
olhar volta para cima para olhar para o rosto do bicho-papão. Em um coaxar
terrível e aflito, ele sussurra, "James?"

"Viu?" o bicho-papão suspira. "Isso é o que você faz."

Marlene flexiona os dedos ao redor do cabo de sua espada e a puxa de volta


com uma respiração áspera, os olhos brilhantes e ardentes, o peito arfando. O
bicho-papão cai de joelhos e, em uma fração de segundo, Regulus se junta a
ele. Suas mãos voam até o rosto do bicho-papão, e sua expressão—o coração
de James aperta violentamente em seu peito só de olhar para ele.

James acha que nunca viu alguém parecer tão arrasado quanto Regulus neste
momento. Regulus não costuma se emocionar fortemente por meio de sua
expressão; geralmente, está tudo nos olhos dele. Mas isso? É como se as
comportas tivessem sido abertas. Não há como esconder a onda pura e
consumidora de dor e medo que cai sobre as feições de Regulus. James nunca o
viu assim antes.

731
CRIMSON RIVERS

Ele está arrasado. Totalmente, completamente destruído. No momento em


que o bicho-papão cai em seus braços, na forma de um James morto, um
ruído bruto sai da boca de Regulus. Ele tenta desesperadamente levantar a
cabeça do bicho-papão, deixando escapar um gemido fraco, não como um
animal ferido, mas como um moribundo.

"Não, não, James, não," Regulus choraminga, parecendo tão jovem, tão
apavorado, tão fodidamente de coração partido que a visão de James fica
borrada com as lágrimas que queimam seus olhos. "Não—por favor, não faça
isso comigo, amor. Por favor, por favor, por favor. Vamos, não—"

"Regulus," Marlene resmunga, sua voz rasgada, mal conseguindo levantar a


voz além de um suspiro. Pelo estremecimento dela, James adivinharia que
falar dói, o que é justo, considerando que ela quase foi estrangulada até a
morte.

Regulus não a reconhece. Não faz nada além de se agarrar ao cadáver de


James e chorar. Ele é carinhoso, tão carinhoso, quando afasta o cabelo da
testa do bicho-papão e endireita os óculos com os dedos trêmulos.

Esse tipo de evento cataclísmico destrutivo geralmente é reservado para


nivelar cidades, desastres naturais ou horrores indescritíveis que ninguém
pode suportar, muito menos testemunhar. Não é algo que as pessoas veem
todos os dias e, no entanto, está aí. Disposto na tela para que todos possam
olhar. Uma grande, grande tragédia.

James jura que, neste momento, ele engoliu o coração de Regulus. De alguma
forma, inexplicável, assombrosa e horrível, ele se joga contra as paredes de
seus dentes, e James o morde como o primeiro gosto do conhecimento,
engolindo o livre-arbítrio e engasgando com ele. Inutilmente, ele tenta se
soltar, mas James simplesmente não o deixa; ele não apenas o possui e o
segura em mãos quentes; não, ele o consumiu e o tornou parte de si mesmo,
um eco de tambor de peito a peito, sangue a sangue e respiração a respiração.

Não é apenas tocar Regulus, é enfiar as mãos dentro e colocar tudo o que
Regulus tem nas suas palmas que desejam apenas embalar e, no entanto, aqui
está James, esmagando. Ele não escolhe isso. Esta não é a escolha dele. Ele
queria manter o coração de Regulus, não comê-lo, mas foi enfiado em sua
garganta contra sua vontade.

732
ZEPPAZARIEL

Ele gostaria de não ter gostado do sabor.

James está mastigando, mastigando, mastigando. Assistir Regulus se envolver


em seu cadáver como se nunca fosse deixá-lo ir e sentir algo dentro de si com
desejo, um desejo egoísta que, talvez, tenha apodrecido por anos desejando
ser amado tão completamente, tão violentamente, que ninguém pode sair
disso ileso. Ele quer ser despedaçado, e dói, oh como dói, como é bom, neste
momento, ser despedaçado pela profundidade que Regulus o ama.

Um amor como esse, um amor assim, um amor tão inegável e interminável e


imparável; James engole sangue por isso, músculos e vida. Ele engole e se
sente cheio, saciado e com fome de mais imediatamente depois. Hedonista em
seu desejo de brilhar tão brilhante quanto o sol, brilhante o suficiente para
queimar, e ter alguém queimando por ele de qualquer maneira. Regulus faz
isso. Regulus queima.

E é horrível, hediondo, tão humano—nada bom, no fundo, ele não acha—


mas há uma parte dele observando o homem que ama desmoronar sobre seu
cadáver que sente que o envolve como um beijo suave em sua testa, terno e
doce com a prova, do quão amado, amado, amado ele é.

Mesmo assim, uma guerra continua onde ele queima com Regulus,
engasgando com o coração que ele nunca quis em sua boca, nunca quis
arrancá-lo do peito em que deveria residir com segurança. É quase assustador
enfrentar isso. Ver isso. Testemunhar com que facilidade, com que falta de
esforço, ele poderia arruinar alguém que ama. Ser amado assim é sua maior
vergonha e seu maior prazer.

O amor deveria ser simples. O amor deveria ser seguro.

Não é.

E ainda, e ainda assim, James não iria, não poderia desistir por nada neste
mundo. Ele vai pegar, pegar e pegar. Ele deixará Regulus se segurar e se
agarrar com a mesma força, e ele usará todas as marcas que forem deixadas
com orgulho. E, quando não houver mais nada para se agarrar, ele buscará
mais.

Ele pode ser gentil. Eles podem ser. James quer, um dia, viver em um mundo
onde eles terão a chance.

733
CRIMSON RIVERS

Mas, por enquanto, é só isso.

~•~

Regulus viu horrores inimagináveis e sentiu uma dor indescritível, mas nada se
compara a isso. Nada, jamais, poderia se comparar a isso.

É aqui, assim, que Regulus sente o desejo profundo e ardente de gritar para o
céu, para o mundo, para o universo e qualquer força que o ouça, porque isso
não pode estar acontecendo com ele. Porque está acontecendo
com ele, porque James é dele, dele, dele; meu, meu, meu, ele pensa
desesperadamente, meu James, meu amor, meu e não seu, ele não é seu para levá-lo,
devolva ele.

"Regulus."

Ele é meu.

"Regulus."

Ele não é seu.

"Regulus."

Por favor, devolva ele para mim.

Há uma pressão em seu ombro, uma mão, e Regulus percebe que está
balançando e falando alto, implorando e implorando para qualquer um que
queira ouvir, exceto que nada acontece.

James permanece morto em seus braços.

Marlene está olhando para ele, e ele olha para ela, e seus olhos se encontram
apenas por um segundo antes de Regulus começar a se mexer. Ele sai do chão
rapidamente, e Marlene pula para trás como se estivesse antecipando isso,
como se fizesse todo o sentido que todo o mundo dele se reduzisse a cortar
sua garganta.

Ela o matou. Ela o matou e Regulus vai matá-la. Ele vai passar a adaga pelo
pescoço machucado dela e se deliciar com o sangue que escorre, até que cada

734
ZEPPAZARIEL

gota se esgote, e ele não vacilará. Ele lavará as mãos no sangue dela e
carregará as manchas com ele como uma medalha de honra.

O único problema é que Marlene—bem, ela não é fácil de matar, mesmo com
uma mão. Ela tem uma espada e pode lutar, e luta. É confuso e feio entre eles.
Regulus acerta seu braço quebrado. Marlene acerta o joelho entre as pernas
dele. Eles chutam, socam e rosnam um para o outro com uma energia
selvagem suficiente para que nenhum deles pareça ter muita humanidade neles
no momento. É só violência. Eles são apenas violência.

Regulus não para, e então ele para quando Marlene para, quando ela bate o
cabo de sua espada em seu rosto e chuta com o pé para derrubá-lo de costas.
Sem hesitar, ela enfia a espada na parte de cima da camisa dele, por cima do
ombro, cortando o tecido e prendendo-o ali para que ele não consiga se
levantar. Ela poderia ter colocado no peito dele.

Ele gostaria que ela o fizesse.

Teria doído menos do que perder James.

"Não... é... real," Marlene resmunga, pressionando a bota no pulso dele para
impedi-lo de erguer a adaga. "James... está... bem. Aquele... não era... ele. Ele
está vivo."

Regulus congela, olhando para ela, esperando. Ele espera, e espera, e espera
que isso seja verdade, precisando que seja verdade, querendo tanto que seja
verdade que não consegue respirar.

Marlene engole com esforço, fazendo uma careta, claramente de dor. Ela
aponta o queixo para onde Regulus deixou o corpo de James. "Olha. Uma...
ilusão. Não é... real."

Lentamente, Regulus estica a cabeça para trás para encontrar o cadáver de


James se dissolvendo na névoa da mesma forma que o de Vanity. Ele observa,
fixado, até que a forma de James desaparece. A névoa forma redemoinhos e
se dissipa, desaparecendo na escuridão.

Uma ilusão.

Não é real.

735
CRIMSON RIVERS

Tipo—ok, então. Ok, então não é James. Aquele não era James. Não é James.
Ele está bem. Ele está vivo. Regulus é simplesmente louco.

Ok.

Sim, ok.

Regulus cai de costas no chão e faz algum tipo de barulho que pode ser
rotulado como a causa de um maldito colapso mental, porque ele está rindo e
chorando e desmoronando e consertando, tudo de uma vez.

E, o fato é que, no fundo, Regulus sabia que o que quer que fosse não poderia
ter sido James, não realmente, porque James—ele nunca diria essas coisas a
Regulus, por qualquer motivo, nem mesmo se ele realmente acreditasse nisso.
Mesmo quando ele achava que odiava Regulus, ele nunca foi tão longe.

James não é o tipo de homem que faz coisas assim. Que diz coisas assim. Que
destrói as pessoas, só porque pode, só porque tem poder para isso. Ele pode
destruir Regulus, fácil, sem problemas; acabou de ser provado, e nem era ele.

É possivelmente uma loucura, mas depois de tudo isso, Regulus só quer se


aconchegar nos braços de James e dormir. Ele quer esquecimento e segurança.
Ele quer ir para casa.

A bota de Marlene se afasta do pulso dele, e ela puxa a espada da camisa dele,
que agora tem um buraco e desliza um pouco sobre o ombro dele. Ele não se
importa. Ele não levanta a adaga, não para de chorar ou de rir, não faz nada
além de deitar no chão e tentar se agarrar a todo o progresso pessoal que fez
recentemente, que quase foi arrancado de debaixo dele mais uma vez.

No entanto, de alguma forma, ele consegue mantê-lo. Ou é apenas ele sendo


teimoso demais para o seu próprio bem, ou talvez valesse a pena acreditar em
sua revelação, porque ele a mantém perto do peito, quente e seguro como
James estaria, se ele estivesse aqui.

Eu mereço viver, pensa Regulus. Eu mereço tentar.

"James," Regulus murmura uma vez que ele de alguma forma consegue se
acalmar. Seus olhos se fecham. "É melhor você ficar bem. É melhor você
estar perfeitamente fodidamente bem, porque se você tiver apenas uma
contusão por bater em uma parede, eu vou enlouquecer."
736
ZEPPAZARIEL

James, é claro, não pode responder a ele. Não porque ele está morto, no
entanto. Ele não está. Ele não está. Ele não está, ele não está, ele não está.

Talvez James lhe envie algo. Isso seria bom, simplesmente saber que ele está
vivo, só isso. Mas, realmente, aqui do outro lado, Regulus tem certeza
absoluta de que ele está, e diz a si mesmo que não é uma negação. Aquela—
aquela coisa era apenas mais um pesadelo inventado pelo labirinto, e Regulus
se recusa a cair nisso novamente. James iria—se ele de alguma forma viesse
para a arena, então ele definitivamente beijaria Regulus primeiro, falaria
depois.

Regulus conhece James. Ele conhece seu noivo, e o que diabos era aquela
coisa não era ele. Então, tudo bem, parecia com ele, e entrou na cabeça de
Regulus, e brincou com as emoções de Regulus. Meio constrangedor agora, na
verdade.

No entanto, não há espaço ou tempo para constrangimento, porque há um


empurrão forte de uma bota contra seu braço que o faz abrir os olhos para
encarar Marlene, mas ela nem está olhando para ele. Ela já está recuando,
fazendo um barulho baixo e abafado de urgência que o faz se levantar
rapidamente. Quando ele gira, ele geme ao ver a névoa verde se espalhando
pela passagem.

Isso é outra coisa, quase não há tempo para descansar nesta arena. As pessoas
não devem ser levadas a limites como esses; sim, os humanos são criaturas de
resistência, mas eles só podem resistir por um certo tempo antes de desistir.

Pelo amor de Deus, Regulus está exausto. Pela aparência das coisas, Marlene
também, e ainda assim os dois trocam um breve olhar antes de se virarem e
saírem correndo. Marlene está à frente dele e vira uma esquina para uma
passagem aberta, mas quando ele a alcança, a passagem está fechada.

E, assim, Regulus está sozinho novamente.

~•~

A maneira como a câmera corta bruscamente traz a James uma sensação


crescente de desconforto. Ele se fixa muito abruptamente em Bellatrix, que
passa por uma esquina que por acaso leva a uma passagem onde Alice e
Augusta estão correndo.

737
CRIMSON RIVERS

Idealmente, Bellatrix não pararia.

Idealmente, ela continuaria correndo.

Idealmente, ela as deixaria em paz.

Este não é um mundo ideal, e Bellatrix para. Ela não continua correndo. Ela
fica parada por um momento, respirando pesadamente, e então começa a
recuar.

"Merda," Frank diz asperamente. "Merda, merda, merda. Espere—"

Não há espera. No momento em que Bellatrix alcança a abertura novamente,


ela se vira para ver as outros duas fugindo da névoa verde. Augusta e Alice
estão muito ocupadas tentando sobreviver, e nenhuma delas vê Bellatrix até
que seja tarde demais, até que ela está levantando sua adaga com um sorriso se
espalhando em seu rosto.

É Alice. Isso é tudo que James consegue pensar. A adaga chicoteia pelo ar
rapidamente, mas Alice é claramente o alvo, aquela que Bellatrix escolheu
matar, então James tem apenas um segundo para se preparar para—

Augusta bloqueia.

Com ela mesma.

Acontece tão rápido que James mal consegue entender a princípio, mas
Frank... Oh, Frank parece entender imediatamente. Um ruído baixo e agudo
escapa dele, ofegante, algo que se prende no peito de James e arranca dele
uma onda profunda de empatia. Essa é a mãe dele. É a mãe de Frank parada
ali, uma adaga saindo do peito onde ela tropeçou na frente dela, na frente de
Alice, de propósito.

Bellatrix ri. Ela ri e mexe os dedos em um aceno zombeteiro quando Alice


derrapa até parar e suga uma respiração afiada, seu olhar passando
rapidamente de Augusta, então para Bellatrix.

Ainda rindo, Bellatrix sai correndo, continuando como se nunca tivesse


parado, ainda fugindo das mãos que se libertaram das sebes atrás dela.

738
ZEPPAZARIEL

"Ah," Augusta engasga, tentando dar um passo à frente, conseguindo ir até


um pouco mais longe, e então ela cai de joelhos, ofegante. Ela coloca a mão
em volta da adaga e cai de costas no quadril, piscando rapidamente, parecendo
atordoada.

"Augusta," Alice sussurra, tropeçando um pouco na pressa de se agachar ao


lado de Augusta, estendendo a mão trêmula para tocar seu ombro. "Deixe-me
ver. Apenas espere, deixe-me olhar, ok? Não—não puxe para fora."

"Fatal," Frank resmunga. James olha para vê-lo olhando para sua mãe
inexpressivamente, seu rosto flácido com o choque. "É—é fatal. A ferida—ela
não—ela não pode sobreviver a isso. É—"

"Frank," James diz com muito cuidado, soltando sua mão da de Dorcas para
estender a mão e gentilmente colocá-la no braço de Frank. Ele pretende dizer
outra coisa, mas fica boquiaberto, porque não sabe o que dizer. Não sobre
isso.

Augusta tosse e imediatamente cospe sangue. Ela balança a cabeça, apertando


os olhos bem fechados por um momento, então olha para cima para
encontrar o olhar de Alice. Chiando, ela diz, "Criança, não há nada para se
olhar. Você—você precisa ir."

"Frank," Alice declara, sua voz aumentando de tom. "Frank pode enviar—
alguma coisa. Ele pode—ele será capaz de—"

"Nada vai ajudar, e seria um desperdício para mim, especialmente tão cedo.
Ele sabe disso," Augusta diz a ela com firmeza, soltando um suspiro áspero e
flexionando os dedos ao redor do cabo da adaga. "A névoa—ainda está...?"

Alice olha rapidamente para trás delas, então faz uma careta. "Sim, ainda está
vindo. Augusta, nós temos que ir."

"Nós não podemos. Você—"

"Cale a boca. Nem tente."

"Criança," começa Augusta.

"Eu não sou uma criança, certamente eu não sou a sua!" Alice explode,
parecendo bastante histérica. "Mas você sabe quem é? Frank. E eu vou ser
739
CRIMSON RIVERS

amaldiçoada se deixar você morrer aqui, porque isso vai partir a porra do
coração dele, então nós vamos embora. Agora."

Augusta tosse novamente, inclinando a cabeça para a frente para cuspir


sangue no chão. Parece difícil levantar a cabeça e focar em Alice mais uma
vez. "Não. Não, nós não vamos."

"Augusta—" Alice se interrompe com um ruído áspero baixo em sua garganta


quando Augusta começa a arrancar a adaga de seu peito, gritando e
desmoronando para frente. "Não! Não, o que você está fazendo?! Por que
você—"

"Não adianta prolongar," suspira Augusta, ainda severa e sensata mesmo


agora, assim. "Apenas uma de nós poderia voltar para ele de qualquer maneira,
e sempre seria você. Ele te ama, você sabe. Não consigo imaginar por que,
mas ele ama."

"Oh, sua—sua velha estúpida," Alice sussurra, o rosto dela se contorcendo


enquanto ela se ajoelha ao lado de Augusta e tenta cobrir o ferimento com a
mão. "Quantas vezes Frank e eu dissemos a você? Não é assim. Nós não
somos—"

"Não tem que ser," Augusta sussurra, seu olhar fixo em Alice. "Você acha que
amar alguém assim é a única coisa que importa? Não importa como meu filho
te ama; o que importa é que ele te ama."

"Ele também te ama," diz Alice.

"Eu sou a mãe dele. Ele é a única pessoa neste mundo que eu amo, mas eu
não sou a única pessoa neste mundo que ele ama," confessa Augusta com a
voz rouca. "Eu não sou a única pessoa que o ama. Você também, então você
tem que ir agora. Por ele."

"Eu não vou," Alice anuncia com uma fungada áspera, piscando rapidamente.
"Eu—eu não sua filha. Você não pode simplesmente me dizer o que diabos
fazer, e eu não vou deixar você assim."

"Eu sei que perder seus pais no tumulto te machucou, Alice, mas ficar comigo
agora não vai doer menos."

"Cale a boca. Não fale sobre meus pais."


740
ZEPPAZARIEL

"Criança desafiadora e insolente," repreende Augusta, fechando os olhos.


"Você quer saber por que eu nunca gostei de você?"

"Porque eu tirei seu filho de você."

"Mm, não. Porque ele estava melhor com você. Eu não conseguia tratá-lo
direito. Eu tentei, mas não sabia como deixá-lo ir. Para fazer o certo por ele,
eu tinha que deixá-lo ir, e eu não conseguia descobrir como."

Alice fica em silêncio por um segundo, e então ela se abaixa com a mão livre
para agarrar a mão manchada de sangue de Augusta, e as duas seguram com
força enquanto Augusta solta outra tosse, com sangue nos dentes. "Eu—eu
sinto muito por ter dito que você era uma mãe ruim."

"Nem sempre eu fui," diz Augusta, "Mas foi isso que me tornei."

"Mãe," Frank suspira, dando um passo à frente, com lágrimas brilhando em


seus olhos. Todos os olhos estão sobre ele, e James não pode deixar de
observá-lo com uma pontada no peito. Frank levanta a mão para alcançar a
tela como se pudesse estender a mão e tocar sua mãe uma última vez, e é
possivelmente uma das merdas mais devastadoras que James já viu.

"Está tudo bem," Alice sussurra, e quando ela pisca, as lágrimas escorrem de
seus olhos. "Está tudo bem, Augusta. Ele te perdoa por isso, por tudo. Você
fez o seu melhor. Você pode—você pode deixar ir agora."

"Você vai estar com ele?" Augusta resmunga.

A expressão de Alice desmorona quando ela puxam a mão flácida de Augusta


para o peito, choramingando, "Eu vou estar com ele."

Augusta não responde. Ela fica lá, sangrando lentamente, aproximando-se da


morte a cada segundo enquanto a névoa se aproxima de ambas, e Alice não se
move. Alice segura a mão de Augusta e fica sentada com ela, chorando
baixinho por ela enquanto, bem aqui, Frank também chora.

~•~

Sirius a ouve antes de vê-la. A risada maníaca é seu aviso, e então Bellatrix está
saindo de uma abertura na passagem à sua frente, dançando com pés leves
para escapar do alcance das mãos que se estendem das sebes.
741
CRIMSON RIVERS

Quando ela sai, a cerca estremece fechada, e Bellatrix se vira com outra risada
ofegante, apenas para sua respiração falhar quando seus olhos pousam nele.
Ela está de mãos vazias, mas Sirius fica tenso ao vê-la de qualquer maneira,
porque ele sabe que ela—de todos—representa uma ameaça adequada, com
ou sem arma. Seus olhos brilham positivamente.

"Aí está você," Bellatrix declara alegremente, como se estivesse genuinamente


encantada em vê-lo. "Eu estive procurando por você há séculos."

"Você esteve?" Sirius pergunta categoricamente, parado enquanto acompanha


cada movimento que ela faz com o olhar. Ela está se aproximando
vagarosamente, a mão preguiçosamente sobre o cinto, um sorriso perverso no
rosto.

"Você não acreditaria nos problemas que eu tive que enfrentar na minha
jornada até você," reclama Bellatrix. "Primeiro, eu perdi Narcisa, que—você
pode acreditar nessa merda? Você não teria se encontrado com ela
ultimamente, teria?"

"Não," Sirius mente alegremente. "Ei, talvez ela esteja morta."

Bellatrix para brevemente, e então ela ri. "Bem, isso tornaria as coisas mais
simples, não é? Todos esses canhões hoje—ei, talvez Regulus esteja morto.
Pobre fofucho, sozinho, apenas um ano fora de sua arena e enfrentando a
manifestação física de todos os mais feios pequenos lembretes. Quero dizer,
as mãos? Não consigo imaginar que ele lidaria bem com isso. O
que você acha?"

"Eu acho melhor você calar a porra da sua boca antes que eu te alimente com
essa lança," Sirius estala.

"Bem, isso não é jeito de falar com a família, Sirius," Bellatrix repreende,
aproximando-se dele. "Mas, bem, nossa família nunca foi particularmente
adequada, não é? Por que quebrar a tradição?"

"Exatamente meus pensamentos," Sirius concorda, e então ela se lança sobre


ele com um rosnado enquanto ele a encontra no meio do caminho.

Agora, isso—oh, isso é brutal, e Sirius se delicia com isso. Ele está a todo vapor,
dando tudo de si, sem se preocupar em se conter ou manter alguma medida

742
ZEPPAZARIEL

interna de sanidade à qual possa se agarrar quando a vergonha se insinua. Ela


é igual a ele em muitos aspectos; a irmã mais velha, aquela com mais mortes, a
maior ameaça; implacável e disposta a fazer o que for preciso para sobreviver.
Ela perde sua cabeça com mais facilidade do que a maioria, como ele, os dois
sempre a um pequeno empurrão de ir longe demais para voltar; a única
diferença é que Sirius faz de tudo para manter o equilíbrio, e Bellatrix ri antes
de pular.

Bellatrix é rápida. Ela é tão rápida que é difícil acompanhá-la, mas Sirius
consegue. Ela o desarma em segundos, chutando sua lança para longe
enquanto ela crava as unhas no lado de sua garganta e cospe bem em seu
rosto. Ele a agarra pela parte de trás do cabelo e a puxa, batendo o joelho em
sua pélvis e fazendo-a tropeçar para trás com um suspiro.

Sirius não dá tempo para ela se recuperar. Ele a joga direto no chão, então
instantaneamente é empurrado de costas com um baque. Bellatrix dá um soco
nele, acertando-o no rosto com tanta força que sua cabeça cai para o lado.
Suas unhas cravam em seu couro cabeludo quando ela o agarra pelos cabelos e
bate sua cabeça no chão. Xingando bruscamente, Sirius dá um golpe com o
cotovelo para acertá-la na lateral da cabeça, empurrando-a para o lado. Ela usa
o impulso para avançar, tentando alcançar a lança descartada no chão.

Com a mão disparada, Sirius a agarra pelo tornozelo e a arrasta para trás,
sussurrando, "Oh, não, não."

"Seu pirralho egoísta!" Bellatrix grita, o resto de suas palavras abafadas


enquanto ele coloca as mãos na parte de trás de sua cabeça para esmagar seu
rosto no chão. Ela cospe terra e grama quando levanta a cabeça, e ele a joga
para a frente novamente, satisfeito com o estalo que ouve.

Sirius bate o rosto dela no chão novamente, bastante presunçoso com a coisa
toda até que ela levanta o pé atrás dele e o chuta com o calcanhar de sua
bota com força, bem na espinha dele. Suas costas se curvam enquanto ele
avança com um gemido, e no momento em que Bellatrix está livre, ela está
rastejando freneticamente para a lança.

Bem, ótimo. Simplesmente ótimo. Lá vai ela e—sim, ela pega. Encantador.
Sirius resmunga baixinho enquanto se levanta ao mesmo tempo em que ela
pula e se vira para ele. Seu nariz está visivelmente quebrado, sangue jorrando,
manchando seus dentes enquanto ela sorri para ele, largo e malicioso.
743
CRIMSON RIVERS

Soltando uma gargalhada, Sirius balança a cabeça e preguiçosamente estica os


braços um pouco e os deixa cair de lado. Ele abaixa a cabeça para ela,
arqueando uma sobrancelha enquanto lhe dá um meio sorriso e diz, "Bem?
Vamos lá."

"Essa não é a primeira vez que tento matar você," Bellatrix o informa,
jogando a lança de mão em mão, olhos brilhantes.

"O que aconteceu da última vez?" Sirius murmura. "Você errou?"

Bellatrix instantaneamente franze a testa. "Não. Eu empurrei você escada


abaixo. Você simplesmente levantou."

"Sim," Sirius diz com um zumbido. "Eu costumo fazer isso."

"Não desta vez," Bellatrix sussurra, então começa a lançar a lança nele com
um grunhido.

O problema é que Sirius passou mais de uma década sendo preparado para
situações como essa e, quer ele se lembre de tudo ou não, a maior parte é
memória de movimento. Bellatrix é rápida e forte, mas Sirius vê isso
chegando. Ele antecipa isso, então ele já está se inclinando para o lado quando
a lança atravessa o ar em sua direção, e é insano até para ele quando ele faz
isso, o estalo rápido de sua mão quando ele estende a mão e a pega.

Sirius a pega.

Bellatrix sibila como um gato sendo mergulhado na água. Sirius, é claro,


aproveita a oportunidade para sorrir para ela e se endireitar, girando a lança
preguiçosamente. Não é a arma dela, não uma que ela conheça como conhece
as adagas. Embora não seja exatamente difícil de usar, há uma diferença entre
a maneira como um novato lida com uma e a maneira como um especialista o
faz. Sirius é o especialista.

Para provar isso, ele não a joga e a mantém perto de seu corpo enquanto ela
corre na direção dele. Ele está firme, esperando, observando-a chegar mais
perto, mais perto, muito perto—

Sirius mergulha e engancha o cabo da lança nos tornozelos dela, então a


derruba. Ela bate nas suas costas com um baque, ofegante, e ele levanta a

744
ZEPPAZARIEL

lança, preparando-se para enfiá-la de volta. Bellatrix dá um grito


verdadeiramente animalesco e se joga para trás, subindo contra a sebe.

As mãos imediatamente se libertam para agarrá-la, o que só a faz gritar mais.


Ela se liberta, ainda gritando, e Sirius pisca—

Sirius pisca—

Sirius—

~•~

Regulus sabe no instante em que ouve Bellatrix gritando que ele tem que
chegar até ela, porque só há uma pessoa nesta arena que pode fazê-la soar
assim. Totalmente furiosa, fervendo de raiva, empurrada completamente para
o limite. Apenas Sirius consegue levá-la a esse ponto.

Então, Regulus corre, porque ele—bem, honestamente, ele não acha que
Bellatrix poderia vencer Sirius, não realmente. Em sua mente, ninguém pode
vencer Sirius, porque Sirius é—ele é o melhor. Em tudo. Talvez ele pense
assim porque é o irmão mais novo, ou talvez porque isso o enche de uma
nostalgia segura e agridoce de quando ele era criança, seguindo Sirius com os
olhos arregalados cheios de admiração por absolutamente qualquer coisa que
ele fizesse, não importa o quão simples ou quão tolo fosse. Sirius deu uma
cambalhota quando tinha nove anos, e Regulus achou que ele era a pessoa
mais legal do mundo.

Talvez ele pense assim porque é verdade, porque Sirius sempre foi capaz de
fazer absolutamente qualquer coisa que ele colocasse em sua mente. A
admiração de Regulus por isso azedou quando eles se separaram, e então isso
o enfureceu, mas ele sempre acreditou nisso. Ele ainda acredita nisso depois
de todo esse tempo.

Então, você pode imaginar como é para ele dobrar uma esquina e parar sem
fôlego enquanto observa Bellatrix empurrar um Sirius imóvel no peito, e
então ele se move. Ele o faz. Ele tomba de volta para a sebe atrás dele, para as
mãos que se estendem, e Regulus as observa envolverem-no e arrastá-lo de
volta para elas. Sirius é puxado para dentro da sebe pelas mãos,
desaparecendo, e então o canhão soa.

745
CRIMSON RIVERS

Todo o corpo de Regulus fica frio instantaneamente.

Bellatrix canta de alegria, jogando as mãos para o alto e cacarejando enquanto


dança um pouco, pulando para cima e para baixo em um sinal claro de vitória.

"Eu matei Sirius Black! Eu matei Sirius Black!" Bellatrix canta, canta, e então
ela gira para vê-lo. Seu rosto absolutamente se ilumina. "Fofucho! Você
viu? Eu matei Sirius Black!"

Ela vem pulando na direção dele, totalmente triunfante, ensanguentada e


machucada e brilhando apesar de tudo. Regulus a encara inexpressivamente,
sem se mover, sem fazer nada quando ela o alcança e imediatamente o puxa
para perto com uma risada. Ela o empurra e bagunça seu cabelo, radiante.

"Eu disse—" A boca de Regulus está seca e ele engole, sentindo frio. Ele se
sente tão—ele sente—ele não sente nada. Ele não consegue sentir nada. "Eu
disse que só eu poderia. Eu disse—"

"Oh, eu sei, mas você não estava por perto," Bellatrix diz a ele, estalando a
língua. "Oh, bem. Tudo está bem quando acaba bem, eu digo. Isso acabou
agora, sim? Ele mereceu."

"Eu disse," Regulus repete em voz rouca, e ele não pode—ele não tem certeza
do que vem a seguir. O que ele faz agora? Sua língua parece muito grande em
sua boca, e seu peito parece muito apertado para seus pulmões, e de repente,
inexplicavelmente, ele não sabe quem ele é.

"Ei, você viu Cissy? Eu a perdi ontem, então ainda estou procurando—"
Bellatrix para, sua boca aberta. Uma exalação estrangulada escapa dela, e ela
pisca violentamente antes de olhar lentamente para baixo. Regulus também,
olhando para onde ele enterrou sua adaga entre o ponto alto de suas costelas,
inclinada para cima para cravar em seu coração. Sua cabeça se levanta e seus
olhos se encontram. Confusa, ela sussurra, "Fofucho?"

A visão de Regulus fica embaçada e ele não tem certeza do porquê. Um ruído
abafado sai da boca de Bellatrix enquanto ele empurra sua adaga para frente
e gira, repetindo, "Eu disse," e então tirando a adaga de volta, apenas para
enfiá-la novamente enquanto cai no padrão de "Eu disse," enfia, "Eu disse,"
enfia, "Eu disse—"

746
ZEPPAZARIEL

Bellatrix finalmente cai.

Outro canhão soa.

As orelhas de Regulus zombem.

É como a gravidade, certo? Porque, durante toda a sua vida, a gravidade é


uma constante. Você depende disso. Você realmente não pode existir neste
mundo sem isso, porque o que acontece sem isso? Sem gravidade, nada para
prendê-lo a este mundo, e então você se foi. Você flutua para longe, para cima
e para cima, leve e solitário e perdido entre as estrelas, mas a mais brilhante se
foi, e o céu está escuro, e não há gravidade, e onde está você, como você volta
para baixo, quem você é, como você volta para casa?

Lentamente, Regulus se senta. Bem, ele apenas encontra suas pernas dobradas
sob ele, e então ele está lá no chão, olhando impassivelmente para sua adaga
coberta de sangue em suas mãos manchadas de sangue. Ele não se sente mal.

Ele não sente nada.

E quanto ao eu e você? E quanto a isso? E quanto ao fato de Regulus não saber


quem ele é, de repente? Ele nunca viveu em um mundo que não tivesse Sirius
nele. Ele sempre foi o irmão mais novo de Sirius. Sempre seu irmãozinho.
Sempre isso. E agora, e agora o que, ele—ele não é isso? Ele não pode ser
isso? Ele para de ser isso se Sirius—se Sirius está—

Então quem diabos ele é? O que ele é? O próprio senso de identidade de


Regulus está marcado com a assinatura de Sirius. Ele é quem é por causa de
Sirius, e nunca pode ser outra coisa, e nem mesmo quer ser. Seja o que isso
for, seja o que for, seja o que talvez seja, é um conceito estranho para ele. É
como tentar visualizar nada. Você não pode. Ele não pode. Ele é isso agora,
apenas nada, uma tela em branco. Vazio.

Há um farfalhar, o som de botas batendo no chão, então uma mão quente


pressionando o ombro de Regulus.

Regulus olha para cima, pisca, provavelmente ele está morto. Tem que estar.
Certamente a inundação açucarada de alívio em seus ossos quebradiços é
apenas a segurança da vida após a morte tomando a forma de seu irmão

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CRIMSON RIVERS

olhando para ele quase com curiosidade. Regulus nem se lembra de ter
morrido. Nem doeu.

"Ei," Sirius diz, e não, o calor ainda está pegajoso e espesso, e o baixo-ventre
do labirinto está ficando mais escuro enquanto o eco do sol pede que eles
digam adeus; tem uma jornada a seguir e retornará amanhã. Ei, como
olá; Ei, como a saudação instintiva de um humano para outro; Ei, como a
vida, ainda vivo, ainda aqui e respirando e—

"Ei? Ei?!" Regulus explode, soando bastante estridente, e Sirius se sacode no


lugar, recuando, visivelmente assustado por Regulus se levantar do chão para
bater as mãos contra o seu peito. Seu próprio peito arfa, e ele não consegue
respirar, e ele sente—ele sente—ele pode sentir de novo, de alguma forma,
inexplicavelmente, e ele é o irmão mais novo e está vivo e o mundo faz
sentido agora. "Eu pensei que você tinha morrido, e tudo o que você disse
foi ei?!"

"Você pensou? O quê? Espere, o que aconteceu?" Sirius pergunta, parecendo


extremamente confuso.

"Seu—seu idiota de merda," Regulus engasga, empurrando-o novamente, e


então imediatamente e desamparadamente puxando-o para um abraço que
provavelmente não faz nada para esclarecer sua confusão.

Sirius sempre foi mais afetuoso do que Regulus, mesmo quando eles eram
apenas crianças. Mas, quando eles eram apenas crianças, Regulus abraçava
Sirius, pendurava-se em seu braço e batia em suas costas até que ele caísse,
apenas para subir em cima dele e lutar no chão, então eles ficavam em silêncio
e ficavam quietos e seguravam suas respirações ao ouvirem o rangido de peso
na escada, sabendo e temendo a aproximação de seus pais; de qualquer um,
dos dois, a sombra que se abatia sobre eles e franzia a testa a qualquer sinal de
dois irmãos ousando se divertir.

Regulus acha que não abraçou Sirius primeiro desde os quatorze anos de
idade, talvez até antes disso, talvez tenham passado quatorze anos desde o
último, quatorze anos e quatorze segundos e incontáveis mortes. Não importa
quando ele encontrou o lugar para parar por qualquer motivo; importa que,
apesar disso e depois de todo esse tempo com cada coisa fodida no meio, ele
se encontre cruzando a distância para fazer isso de novo.

748
ZEPPAZARIEL

"Oh, você realmente pensou que eu morri," Sirius observa com uma espécie de
risada cansada. Sua voz fica menor. "Desculpe por isso. Não queria assustar
você."

"Eu não tenho medo de nada," resmunga Regulus, porque ele tem medo de
muitas coisas para contar, porque tem medo de tudo e de tudo em si.

Sirius bagunça a parte de trás de seu cabelo, soltando um tipo de ruído


carinhoso, e então ele agarra o lóbulo da orelha de Regulus e o torce,
puxando-o gentilmente como costumava fazer quando eles eram crianças e
queria fazer Regulus gemer e dar um tapa nele. "Claro que não. Vamos, se
recomponha, Reggie. Você está me dando todo tipo de material de chantagem
agora, literalmente enquanto conversamos. Eu vou dizer para você fazer algo,
e você não vai, e eu vou dizer, oh, mas você não se lembra daquela vez que estávamos
nos jogos vorazes, e você pensou que eu morri, e então você me abraçou e se recusou a
me soltar, e você vai dizer, isso não aconteceu, e então eu não vou ter escolha a não
ser acessar a filmagem ao vivo, porque só para lembrar você, isso vai ter
evidências em vídeo, que eu não tenho medo de recorrer para ganhar
argumentos, apesar de que—"

"E eu superei isso," Regulus interrompe rispidamente, finalmente, embora ele


não tenha certeza se é verdade. Ele tem certeza de que Sirius teria divagado
tanto quanto Regulus precisava, apenas para ficar assim, mas isso não é viável
para nenhum deles agora, não aqui.

"Aí está ele," Sirius diz, a voz quente com diversão, e ele bate no ombro de
Regulus, apertando brevemente antes de se mover para o lado para inclinar a
cabeça para Bellatrix. Ela está caída de frente. "O que aconteceu com ela? Eu
fiz isso?"

"Hum," Regulus murmura, limpando a garganta.

"Eu—eu tive meio que um momento. Acho que gritos muito altos meio que...
Bem, de qualquer forma, eu estou percebendo um padrão." Sirius estala a
língua em desaprovação, então estende o pé com a bota para cutucar Bellatrix.
Ele fica imóvel, então olha para Regulus, o olhar descendo para onde ele
deixou cair a adaga ensanguentada enquanto se levantava freneticamente
antes. "Oh. Você, hum."

Regulus tosse. "Eu... também tive um momento."

749
CRIMSON RIVERS

"Certo."

"Eu não estava—"

"Não, não, está—tudo bem. Sério, Reggie, está—" Sirius para de falar,
olhando rapidamente para Bellatrix novamente.

"Eu não queria," Regulus sussurra.

O olhar de Sirius se volta para ele. "Eu sei. Você estava—quero dizer, você
pensou que eu estava morto. Acredite em mim, eu não estaria melhor.
Provavelmente eu estaria... muito pior. Eu só—eu acho que eu—"

"Não é sua culpa," Regulus oferece, porque Sirius parece estar lutando para
articular o que está sentindo no momento, mas o fato é que Regulus tem se
sentido assim desde os quinze anos. Ele sabe o fardo de ser o motivo da luta
de alguém. Matar. Ele sabe. E agora, do outro lado, ele sabe que não é tão
simples assim.

"Quantas vezes você...?" Sirius vacila mais uma vez.

Regulus não suporta olhar para Bellatrix e não consegue se lembrar de quantas
vezes a esfaqueou. Tudo o que ele sabe é que, no momento, ele não sabia
como parar. Mas, aqui e agora, ele é repentinamente atingido por esse
profundo sentimento de—luto. Por Bella. Por sua prima, sua favorita, seu eu
passado onde ele nunca poderia imaginar que iria realmente, sinceramente,
matá-la. Ou qualquer um.

Talvez ela fosse louca. Talvez ela estivesse em um mundo fodido como o
resto deles. De qualquer maneira, independentemente de motivos ou
facilidades mentais, ela era da família.

Oh. Oh, não.

"Cissy," Regulus resmunga, seus olhos se arregalando.

"Regulus," Sirius diz com muito cuidado.

"Oh, puta que pariu, Andy," Regulus engasga, dando um passo brusco para
trás e pressionando uma mão trêmula em seu estômago. Ele acabou de matar
sua própria prima, e isso o machuca, porque da mesma forma que ele sempre,

750
ZEPPAZARIEL

sempre carregará o duro fardo de amar seus pais, ele também tem amor por
ela. Mas ele não apenas matou sua prima favorita. Ele matou a irmã delas. De
Narcissa. De Andrômeda. Embora Narcissa possa não saber agora, talvez
nunca saiba, há uma boa chance de que Andrômeda tenha
simplesmente assistido isso acontecer.

E foi brutal. Foi sangrento. Foi traição.

"Não. Não faça isso, ok?" Sirius diz a ele, sua voz tensa. "Isso é—é a porra
dos jogos vorazes, Regulus. Eu ia matá-la. Eu ia. Eu teria. Você pode me
culpar?"

"Não foi você. Fui eu."

"Eu não culpo você."

"Mas elas podem," Regulus sussurra.

Sirius pensa nisso por um segundo, e então diz, "Bem, ok. Tudo bem. Elas
podem culpar você, e me culpar também, mas elas estão culpando as pessoas
erradas. Talvez tenha sido sua adaga e minha influência, mas quem colocou
ela aqui em primeiro lugar? Quem a colocou aqui, e nos colocou aqui, e
colocou a adaga na sua mão?"

"Ainda era a minha adaga, minha mão e isso—eu nunca vou poder mudar
isso," murmura Regulus. "Nós podemos culpar o bater de asas de uma
borboleta pelos problemas do mundo, mas isso não ajuda a tornar o mundo
um lugar melhor, Sirius. Talvez eu não seja o começo do que trouxe ela aqui,
mas eu fui o fim dela."

"Ela estava tentando me matar. Ela quase o fez. Ela teria tentado matar você
também, se soubesse que você não era aliado dela." Sirius suspira cansado.
"Olha, eu sei o que você está dizendo, ok? Eu sei, e é bom—é muito bom
fazer o tipo de auto-reflexão que busca seu próprio senso de moralidade, mas
aqui? Regulus, aqui? Coisas assim não existem aqui. Você não pode encontrar
isso, e tentar só vai te destruir, e não há tempo para isso. Você tem que
continuar, e então você pode desmoronar depois. Assim como eu. Assim
como todos nós. Nós nos preocupamos com tudo isso quando temos tempo
e espaço para isso, mas aqui e agora? Nós não fazemos isso."

751
CRIMSON RIVERS

Regulus engole em seco e abaixa a mão, olhando para Sirius com um buraco
crescente em seu estômago, o interior de si mesmo parecendo cavernoso.
Lentamente, seu olhar rasteja para Bellatrix, e a mera visão dela faz seus olhos
arderem imediatamente.

Ele se lembra de enterrar o rosto no cabelo dela quando era jovem e rir, rir, rir
enquanto ela sussurrava coisas rudes sobre Sirius em seu ouvido, fazendo
Sirius fazer beicinho e xingar e ir até Narcissa em busca de atenção. Ele se
lembra da maneira como ela revirava os olhos, da maneira fácil como ela
balançava a própria adaga entre os dedos, do pequeno grunhido no canto da
boca quando Andrômeda falava sobre Ted. Ele se lembra de como ela
dançava na chuva, os braços estendidos, o rosto voltado para o céu.

Sirius não tem o benefício de lembrar, e Regulus está sobrecarregado com as


memórias. Que diferença a maldição da lembrança pode fazer.

"Regulus," Sirius insiste. Quando Regulus olha para ele, ele parece triste.
Lentamente, ele balança a cabeça. "Agora não é a hora. Temos que ir. Temos
que continuar. Eu e você, lembra?"

Regulus inspira, depois expira, então dá um aceno agudo antes de se abaixar


para pegar sua adaga. Quando ele se levanta, ele encontra os olhos de Sirius
firmemente. "Eu e você."

Com isso, Sirius vai pegar sua lança e, juntos, eles se afastam, caminhando em
um passo perfeito enquanto andam, deixando o corpo de sua prima mais
velha para trás.

À medida que avançam, Regulus não consegue resistir a olhar para trás,
sentindo uma pulsação forte no peito.

Bellatrix morreu com lágrimas no rosto.

~•~

"Eu sinto muito," James sussurra, apertando o ombro de Frank enquanto ele e
Dorcas o amontoam em um canto isolado, tendo o salvado de patrocinadores
simpáticos e condolências ocas.

Augusta morreu no mesmo momento em que Sirius foi agarrado na sebe. Não
houve nem um segundo de confusão para ninguém aqui, porque foi exibido
752
ZEPPAZARIEL

na tela e eles viram isso acontecer. Alice a arrastou continuamente para longe
da névoa enquanto ela sangrava, chorando e gritando com os dentes cerrados,
mas quando o canhão soou, ela desabou no chão ao lado de seu corpo e
chorou.

Foi devastador testemunhar. Foi ainda mais devastador ver a expressão de


Frank desmoronar enquanto ele inalava uma respiração sufocada e exalava um
soluço, estendendo a mão para cobrir a boca enquanto seus ombros tremiam.
O som dele chorando parecia preencher toda a sala e todos—cada pessoa—
ficaram em silêncio com simpatia ou desconforto. Ninguém prosperou com
isso. Nenhuma maldita pessoa achou isso nem um pouco divertido.

No final, Alice não teve escolha a não ser se levantar e correr, e é isso que ela
está fazendo agora. À medida que avança, ela apenas entoa repetidamente,
"Sinto muito, Frank, sinto muito."

É um momento assustador para todos, mas para Frank é algo além disso. É a
perda de sua mãe e, independentemente do relacionamento, isso nunca é fácil.
Sentir muito não resolve. Sentir muito não pode trazê-la de volta. Sentir muito
não pode fazer nada.

No entanto, isso é tudo que eles podem fazer.

Mas, aparentemente não, porque Dorcas gira para pegar a bochecha de Frank
em sua mão e inclinar seu rosto para cima, fazendo-o olhá-la nos olhos
enquanto ela sussurra, "Alice. Ela ainda está nisso, Frank. Alice ainda está lá,
ok? Eu—eu sei que é injusto e eu sei que é fodido, mas você não pode fazer
isso agora. Não aqui."

"Você disse—" James engole e abaixa a cabeça enquanto abaixa a voz,


arrastando a mão para baixo para esfregar círculos suaves nas costas de Frank.
"Você disse que esta é uma arena para nós tanto quanto é para eles, lembra? O
dia está quase acabando agora. Apenas mais algumas horas e então a noite
cairá, e eu vou—eu vou voltar para a sua suíte com você, sim? Eu vou ficar
com você, o que você precisar, eu prometo. Eu posso fazer isso?"

"Não," Dorcas responde, e James pisca para ela. "Ainda não tive a chance de
falar com você, mas você vai estar ocupado esta noite, e Frank também.
Certo, Frank?"

753
CRIMSON RIVERS

Há uma pausa, e então Frank solta um suspiro áspero, fechando os olhos com
força. Seu rosto se contorce através de múltiplas expressões antes de ele
estender a mão para enxugar as lágrimas. Quando suas mãos caem, seus olhos
estão abertos, fixos em Dorcas, e seu maxilar está cerrado. "Sim," ele
murmura. "Sim, eu vou."

"Er," James diz, "O que exatamente vamos fazer esta noite?"

Dorcas olha em volta, então se inclina tão perto que seus narizes quase se
tocam antes de ela sussurrar, "Começar uma guerra."

754
ZEPPAZARIEL

53
A FUGA: PARTE I

"Você não precisa ficar, sabe," murmura Pandora.

Remus engole em seco e desvia os olhos da tela. Sirius e Regulus se separaram


novamente. Todos os outros foram confundidos e distorcidos, então agora
Emmeline está com Alice, Marlene ainda está sozinha, Narcissa e Alecto se
encontraram, Rabastan e Asher não se perderam porque se recusaram a soltar
as mãos um do outro enquanto lutavam (um tanto genial se você perguntar a
Remus; todos devem estar operando sob as leis do sistema de amizade), e
Majesty literalmente não para de se mover, mesmo que esteja escurecendo
dentro do labirinto.

A pobre Asher está sofrendo alguns ferimentos horríveis das criaturas que ela
e Rabastan estavam lutando, e agora não parece que ela vai sobreviver à noite,
mas Rabastan tem comida e água para eles, então é isso. Alice teve um colapso
total ao contar a Emmeline o que aconteceu com Augusta, e ela se desculpou
com Frank repetidamente enquanto hiperventilava até que Emmeline segurou
seu rosto com firmeza e a fez parar, respirar e se acalmar; Alice está em
silêncio agora, sem falar ou fazer nada, mas as duas encontraram um

755
CRIMSON RIVERS

esconderijo no labirinto com água e comida, então elas também conseguiram


comer e estocar um pouco.

Narcissa não informou a Alecto que matou Dixon, mas as bandeiras de


tributo tocaram no céu, então todos sabem quem está morto. Narcissa sabe
que sua irmã está morta; ela não chorou, não falou, apenas engoliu em seco e
se afastou de Alecto, que na verdade pareceu estender a mão para ela como se
para confortá-la. Ela não tentou depois disso. Como Rabastan, Narcissa tem
comida e água em sua bolsa, então ela e Alecto também podem comer esta
noite. Majesty também encontrou um esconderijo, o terceiro e último segundo
Rita. Remus acha que é apenas uma armação para os próximos dias dos
tributos sendo levados ao limite.

A única pessoa que não conseguiu comida ou água depois de tudo o que
aconteceu ao longo do dia é Marlene. É a terceira noite, e ela só bebeu água da
chuva nas duas noites, mas não comeu nada. Ela é... Bem, Remus não a
conhece muito bem, mas ele assistiu aos destaques de seus jogos como todos
os outros, e ela está claramente sendo levada a esse ponto de sobrevivência
novamente, faminta, com sede e com dor. Seu braço está muito ruim, sua
garganta está inchada e machucada, e ela parece exausta pra caralho. De todos,
ela não teve um momento de paz hoje.

Regulus também não tem suprimentos e não foi levado a um esconderijo, mas
pelo menos tomou café da manhã com Sirius. Sirius, é claro, tem sua sacola de
suprimentos, então ele está bem a esse respeito.

Eles estão, no entanto, separados mais uma vez, e Remus não se conforta
com a distância que eles estão um do outro. Eles foram levados para lados
opostos do labirinto, e Sirius, preocupantemente, foi isolado para longe de
todos os outros. Ele está bem, no que diz respeito aos meios físicos. Ele tem
comida e água e não está em perigo.

Ele estava, no entanto. Por um segundo, por um momento, ele estava... ele...

Foi um longo dia cheio de golpe após golpe após golpe. Primeiro, houve o rio
carmesim que quase pegou Regulus pela segunda vez, e foi muito fodido de
assistir. O peito de Remus estava apertado, sua respiração presa enquanto
observava Regulus e Sirius chamando um pelo outro. Ele pensou naquele
momento que Regulus iria morrer e, honestamente, nenhuma parte dele

756
ZEPPAZARIEL

queria isso, mesmo como um pensamento culpado. Ele sentiu repulsa pelo que
viu, sentado ali agarrado à mão de Pandora enquanto ela chorava.

Mas Regulus—oh, foi incrível, como James disse. Porque era como assistir
algo mudar. Remus podia ver em seu rosto, não apenas a sobrevivência, mas o
desejo de viver. Tentar. Ter esperança. E Sirius também. Foi confuso e lindo,
vê-los decidirem tentar, juntos, os dois. Chega dessa bobagem de quem
merece viver mais, de quem é mais necessário, porque ambos merecem viver e
são necessários.

Agora, obviamente, Remus não tem ideia de como seria possível para os dois
conseguirem isso, e foi um desafio flagrante, então uma parte dele esperou
que os dois fossem derrubados imediatamente. Mas eles não foram. Eles ainda
estão aqui, ainda tentando, mesmo agora. Remus não sabe o que virá, mas ele
sabe que, se alguém pode fazer isso, serão eles.

Os golpes não pararam depois disso, no entanto. Eli. A névoa verde que não
apenas dói, mas mata, então como diabos Remus está aqui agora? Qual era o
objetivo do experimento? Ele não tem as respostas e não teve tempo de
descobrir, porque havia mais. Bichos-papões. Augusta. Bellatrix. Sirius...

Oh, Sirius lutando contra Bellatrix. Isso foi—Remus não gostou disso,
exatamente. Ele estava no limite o tempo todo, mas houve um momento.
Apenas aquele maldito momento em que Sirius pegou a lança. Ele pegou.
Remus quase se dobrou ao meio, então se odiou um pouco pela reação. Mas
então—mas então Sirius desassociou. Bellatrix gritou e Sirius desassociou.

Remus tinha certeza de que ele tinha morrido por um segundo. Parecia... Ele
nem sabe como descrever. O mundo parou. desassociou, foi puxado para a
parede do labirinto, houve um canhão e o mundo parou.

Durou apenas um segundo, apenas um em que Remus nem conseguiu


entender totalmente o que estava sentindo, e ele ainda tem certeza de que foi
o pior segundo de sua vida.

Logo em seguida, a câmera foi cortada e Rita apareceu na tela para revelar que
era Augusta quem havia morrido. Quando voltou para Bellatrix, foi para
mostrar Regulus matando ela.

757
CRIMSON RIVERS

E então Sirius estava lá. Remus não tem ideia de como. Ele suspeita que Sirius
nem saiba, devido a seus problemas de memória. Ele foi cuspido para o outro
lado do labirinto? Ele escalou? Ele foi mantido dentro da cerca e depois
empurrado para fora novamente? Não havia um arranhão nele, além de alguns
hematomas e pequenos cortes de lutas anteriores, mas não das mãos. É—
bem, obviamente Remus não quer que Sirius se machuque ou morra, mas não
fazia sentido.

Não havia tempo para pensar sobre isso, e na verdade, Remus nem se
importa. Ele genuinamente não se importa, porque Sirius ainda está aqui,
ainda vivo, ainda sobrevivendo. É isso que importa.

Está ficando mais escuro no labirinto agora, assim como na Relíquia.


Normalmente, James estaria de volta neste ponto, mas ele não voltou, e
Remus... Remus está cansado pra caralho. Não demora muito para que ele não
tenha escolha a não ser voltar para sua cela, e ele meio que só quer ir agora,
para que ele possa se enrolar e chorar em paz e lidar com tudo isso sozinho,
porque está pesando sobre ele pra caralho, e ele está preso nessa necessidade
habitual de se manter bem na frente de todos e desmoronar sozinho.

Pandora deve saber disso, porque ela está dando a ele o que ele precisa. Você
não tem que ficar, sabe. Ele não tem? Ele não deveria? Só para verificar James,
pelo menos.

"Eu posso—eu deveria esperar por James," Remus murmura.

"Remus, você não precisa fazer isso se for melhor para você ir. Eu posso
verificar James. Você pode ver como ele está pela manhã. Se você precisar
apenas—acabar por hoje à noite e descansar um pouco, se recuperar sozinho,
tudo bem. Eu também estou aqui."

"Eu sei disso, mas eu prometi a Sirius—"

"Sirius não iria querer que você se destruísse tentando cuidar de todo mundo,"
Pandora murmura com um sorriso cansado. Ela tem chorado muito e parece
cansada, soa cansada, claramente se sente tão cansada quanto todos eles.
"Você tem me ajudado muito, mesmo só esta noite, e está tudo bem precisar
ficar sozinho. Está tudo bem. Eu vou checar com James quando ele chegar,
então mandá-lo para a cama; você pode vê-lo pela manhã. É uma noite.
Honestamente, que diferença uma noite pode fazer?"

758
ZEPPAZARIEL

Remus hesita, porque sabe que as coisas podem mudar em um piscar de


olhos, em menos de uma noite até, mas no final, ele cede. Ele cede porque é
tudo a mesma coisa, é um dia cheio de pesadelos após o outro, e eles têm que
engasgar com isso sem parar, assim como Sirius disse a ele uma vez. Nós
engolimos isso. Nós engasgamos com isso, ano após ano, porque o que mais podemos fazer?
Isso é tudo que podemos fazer.

O que mais Remus pode fazer?

"Obrigado, Pandora," Remus sussurra, estendendo a mão para apertar a mão


dela, então se afasta para pegar sua máscara, colocá-la e sair enquanto se
concede o espaço que precisa para engasgar sozinho.

~•~

"Espere, então está—está simplesmente vazio?" James deixa escapar, sentado


na ponta de seu assento na pequena suíte de Dorcas, suas mãos enterradas em
seu cabelo enquanto ele olha para ela incrédulo. "Onde—o que aconteceu
com todos os outros?"

Dorcas dá a ele um olhar triste enquanto deixa cair uma caixa preta na mesa
de centro entre eles. "James..."

"Não," James sussurra. "Eles—todo o meu distrito? Minha casa?"

"Algumas pessoas saíram," murmura Dorcas. "Eu não sei todos os números,
mas Lily disse que seus pais estão seguros."

"Porra," James engasga, estendendo a mão para cobrir o rosto com as duas
mãos, os ombros curvados.

Distrito seis. Pessoas que ele conhece a vida toda. A porra de uma cidade
fantasma agora, por causa de Riddle. E quanto a Mary? Bingley? A família
deles. E a família de Sirius e Regulus também? Andromeda, Ted, a pequena
Dora. E quanto a Barty e sua família? E o prefeito Aberforth, e Dotty, do fim
da rua, e Quiverlee, que vendia muffins no mercado desde que James
consegue se lembrar? E quanto a—

"Uh, o que—por que—por que você tem isso?" Huey fala, sua voz tensa o
suficiente para que James levante a cabeça.

759
CRIMSON RIVERS

Oh.

Armas.

Dorcas tem armas.

"Bem, o que você achou?" Dorcas estala, estendendo uma arma para Frank,
que a pega com o maxilar cerrado. "Você achou que simplesmente tiraríamos
as pessoas da arena sem nenhum problema? Não seja ingênuo, Huey. Isso não
ajuda."

"Você disse que não iríamos tirá-los!"

"Não, eu disse que não iríamos para a arena. Estamos absolutamente


ajudando a tirá-los. Agora, pegue a porra de uma arma."

Huey morde o lábio e, desajeitadamente, estende a mão para pegar a arma,


com as sobrancelhas franzidas. "Não tenho ideia de como usar isso."

"Aponte, atire, espere não errar," Dorcas o informa, com a voz cortada. Ela
estende a próxima arma para James, que a pega com o cenho franzido.
Parece... estranho. Ele nunca segurou uma arma antes. É fria. Pesada. "Agora,
obviamente faremos o possível para passar por isso o mais silenciosamente
possível, mas não posso prometer que não teremos que lutar em algum
momento. E, bem, as armas são necessárias para uma tática de intimidação,
também."

"Quando chegarmos à sala dos criadores dos jogos," diz Frank, e Dorcas
acena com a cabeça. "Só uma coisa. McGonagall."

Dorcas bufa. "Me deixe lidar com Minerva."

"Sirius disse que ela não se intimida facilmente," James murmura.

"Eu conheço Minerva," Dorcas diz a ele, pegando sua própria arma e
segurando-a muito mais confortavelmente do que todos eles. James não pode
deixar de encará-la, não totalmente certo de que não está olhando para uma
estranha. Ela faz parte de uma organização secreta e clandestina para rebeldes
e uma revolução; ontem, ela era apenas sua estilista e amiga. "Ela também está
na Ordem, acredite ou não."

760
ZEPPAZARIEL

Frank sibila entre os dentes e cospe, "O quê?! Então, o que diabos ela está
fazendo com a arena?! Ela—"

"Frank," interrompe Dorcas, "Eu sei que é difícil para você ver isso, mas o
que aconteceu na arena não é algo separado da guerra. Você nem percebe,
mas o estado do mundo agora é... muito precário, e Minerva está apenas—"
Ela engole, então suspira. "Olha, eu obviamente não gosto disso mais do que
você, mas é algo que—que—"

"Funcionaria," James diz suavemente, e todo mundo se vira para encará-lo.


"Funcionaria. Está funcionando. Ela está desmantelando os jogos por dentro.
Fazendo com que todos odeiem. Ela está—ela está usando isso para trazer a
guerra daqui, de onde Riddle está."

Dorcas hesita, então acena com a cabeça hesitantemente. "Sim. Não é ela. Ela
não é—ela está apenas seguindo ordens, fazendo o que precisa ser feito,
fazendo o que for preciso para chegar a um mundo melhor. Às vezes, temos
que passar pela guerra para chegar lá. E nós estamos prestes a fazer isso, então
agora é a hora de deixar de lado a moral e os sentimentos pessoais, porque—
porque não há pessoas boas na guerra."

"Isso é estatisticamente impossível," argumenta Huey.

"Na verdade, não é," Dorcas corrige, varrendo seu olhar sobre eles enquanto
enfia as balas no cabo da arma com um clique agudo. "Todas as pessoas boas
morrem. Se você viver o suficiente para ver o fim da guerra, acredite em mim,
você não vai voltar do outro lado com as mãos limpas."

"Tipo, literalmente?" Huey pergunta, com os olhos arregalados.

"Bem, provavelmente, mas também figurativamente. Mãos, almas, o que quer


que seja. A questão é que você pode aceitar isso agora," diz Dorcas.

James vira a arma na mão, seu estômago meio que caindo debaixo dele. A
questão é que ele fará qualquer coisa para tirar Sirius e Regulus da arena.
Qualquer coisa. Custe o que custar. Ele está tão—ele mal consegue parar de
tremer de tão ansioso que está para fazer isso, tudo isso. Ele não precisa de
mais motivação do que tirá-los de lá, mas especialmente agora que sabe que
seus pais não estão em casa, ele está mais do que disposto. A Fênix soa como

761
CRIMSON RIVERS

um outro mundo. Um mundo mais seguro do que este. Eles precisam chegar
lá. Todos eles.

Abruptamente, a cabeça de James se ergue com uma forte inspiração que faz
com que todos olhem para ele. "Merda. Pandora. R—"

"Vamos passar e levá-la no caminho," interrompe Dorcas.

"E Remus," James afirma com firmeza.

Dorcas pisca. "Quem?"

"Remus," James repete. "Ele é, ah, a lua de Sirius? Ele é meu amigo. Ele—ele
vem conosco."

"Ele é uma Relíquia? Um patrocinador? Um—"

"Um servo."

"Um—desculpe, o quê?" Dorcas diz, tão assustada que é quase cômico. Os


olhos de Huey se arregalam. Até as sobrancelhas de Frank sobem em sua
testa. "Sirius está apaixonado por um servo?"

James franze a testa. "Sirius está apaixonado por Remus. Ele é uma pessoa.
Suas malditas Relíquias, vocês fazem isso, sabe. Vocês nunca—"

"Ok, desculpe," Dorcas murmura, levantando uma mão em um gesto


apaziguador. "Isso é—sim, você tem um bom ponto. Remus, então. Presumo
que ele seja o servo designado para a sua suíte?"

"Sim."

"Então, ele estará lá."

"Deve estar," James diz, olhando rapidamente para o relógio, seus lábios se
inclinando para baixo. "Bem, já está ficando tarde. Não temos muito tempo.
Dorcas, eu não estou brincando, eu não vou deixá-lo."

Dorcas morde o lábio e pigarreia. "É só que... James, os servos têm


rastreadores em suas coxas. Se trouxermos ele conosco, eles poderão nos
encontrar. Todos nós."

762
ZEPPAZARIEL

"Então eu vou cortar," James declara simplesmente, e Dorcas pisca para ele
novamente. "O quê? Você disse que é guerra, certo? Vida ou morte. Bem, não
há tempo para nada além do que é preciso, então me dê uma faca, e eu vou
cortar e carregá-lo nas minhas costas se for preciso, porque eu não vou deixá-
lo."

"Oh, sua pobre perna," murmura Huey.

James o encara com um olhar penetrante e bate de propósito na bengala que


está entre suas pernas abertas. "Ele vai sobreviver. Confie em mim, uma perna
ferida não é uma sentença de morte."

"Mas ele não deveria fazer essa escolha?" Huey insiste, com as sobrancelhas
franzidas. "Tipo, desculpe, mas isso vai doer. Eu nem quero dizer nada sobre
complicações futuras. Eu literalmente quero dizer a dor de ter o
rastreador arrancado de seu corpo."

"Você não foi feito para a guerra, ou para a arena, ou—basicamente para
qualquer dura realidade da vida," Frank diz a ele com um suspiro. Ele estende
a mão e dá um tapinha no ombro de Huey. "Você vai aprender."

"Remus provavelmente cortaria sozinho, honestamente," James admite, os


lábios se contraindo com carinho. "De qualquer forma, é a coxa dele, e se o
rastreador não for muito profundo e eu mantiver uma mão firme, a perna dele
deve sarar muito bem. A escolha será dele, eu prometo, mas eu já sei o que ele
vai escolher, então Dorcas... Faca?"

"É para já," afirma Dorcas, "E então vamos embora."

James solta um suspiro profundo. Certo, porque isso é o que vem a seguir—e
então eles irão embora e começarão uma guerra.

~•~

Euphemia passa a mão sobre a carta em seu bolso, ainda em seu bolso até
agora, seu coração batendo forte em seu peito enquanto caminha ao lado de
Lily Evans, que é engraçada e gentil com ela fora de uma zona de guerra, mas
também sem medo de pedir ajuda daqueles que ela sabe que prontamente a
darão.

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CRIMSON RIVERS

"Agora, lembre-se, a patrulha muda na hora, então vocês dois têm dez
minutos para abrirem essas portas manualmente e sair," explica Lily, sua voz
baixa enquanto ela balança a cabeça entre Fleamont e Euphemia. "Eu tirei os
olhos do céu, graças a Wren, que colocou um loop nas câmeras de vigilância.
Ember quebrou a saída traseira que não era usada há anos, então se vocês
estiverem procurando um lugar rápido para se esconder, vão até lá. Se vocês
forem pegos fora dos limites no caminho de volta para o seu quarto, digam
que se perderam, já que vocês são novos, ou apenas deixem que eles peguem
vocês se agarrando."

"Você é divertida. Eu gosto de você." Fleamont se inclina para sorrir para


Euphemia. "Eu gosto dela."

"Sim, querido, eu tenho ouvidos," diz Euphemia, divertida.

"Obrigada, Monty," Lily murmura, uma corrente de calor em seu tom e algo
meio triste por baixo ao mesmo tempo que Euphemia não acha que ela
percebe que está lá.

Isso a faz se perguntar o que aconteceu com a família de Lily. Ela está sozinha
e parece usar isso como uma armadura. Por mais jovem que seja, ela costuma
ser vista perseguindo mulheres e apenas mais um cigarro, mas há esse tipo de
sombra que fica em seus olhos o tempo todo, apenas perceptível quando ela
pensa que ninguém está olhando. Como um daqueles chocolates moldados
em algo, mas é apenas uma casca; parece estruturalmente sólido, e então
você pressiona, e o chocolate se abre para não revelar nada dentro.

"Lily, tem uma coisa..." Euphemia hesita, passando o polegar sobre o canto da
carta em seu bolso, um hábito nervoso agora. Ela nunca teve hábitos nervosos
antes de ver seu lar destruído, junto com a maioria das pessoas nele. Hoje em
dia, suas mãos tremem com mais frequência do que o normal. Isso a assusta,
estar tão assustada. "Bem, eu tenho um pedido a fazer."

O rosto de Lily se contorce quando ela diminui a velocidade, com as


sobrancelhas franzidas. O problema é que, com Lily, ela é uma pessoa
totalmente diferente quando não está no meio de uma missão. Surpreendeu
um pouco Euphemia vê-la provocar e fazer piadas e responder gentilmente
aparentemente por instinto, especialmente quando ela foi tão dura e eficiente
na missão de recuperá-los, e então agia sem ser afetada por toda a provação.
Mas, fora da missão, ela checou pessoalmente Euphemia, assim como todas as
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ZEPPAZARIEL

outras pessoas feridas que ela ajudou ao longo do caminho. Ela ajudava as
pessoas em tudo o que precisavam sem que ninguém pedisse, uma das poucas
que realmente conseguiu que algumas das crianças salvas do distrito rissem e
sorrissem pela primeira vez.

Na missão, no entanto? Lily é obstinada. Ela não diminui a velocidade, não


para e não vacila. Ela age como uma máquina, honestamente, e isso é
admirável e bastante preocupante. A própria Euphemia sabe o que é fazer o
que precisa ser feito, mas também sabe a importância de se deixar sentir no
rescaldo. Ela passou dias de luto com seu povo, apoiando-se em Fleamont,
deixando Fleamont apoiar-se nela, conversando com ele na segurança de seu
quarto compartilhado sobre como ela está com medo de tudo isso, por seus
filhos e por todos que eles amam. Ela não permite que essas coisas apodreçam
nela e se acumulem sem liberação, e talvez ela tenha o benefício da idade para
lhe conceder a sabedoria de saber o quanto é necessário se doar a isso, mas
Lily? Ela não.

Então, Euphemia sabe que esse é um pedido um tanto exagerado de se fazer


e, no entanto, ela não consegue se conter. Sirius... Ela tem que tentar, pelo
menos por ele. Ela tem.

Euphemia respira fundo. "Eu entendo que esse é uma tarefa muito
desafiadora, bem como bastante sensível ao tempo, mas eu não pediria se não
fosse importante."

Lily limpa a garganta. "Você pode pedir, mas"

"Tem um servo," Effie diz, e Lily ergue as sobrancelhas em clara descrença.


"Ele é muito importante para Sirius, para James, para Regulus, para todos eles.
Ele é—eu sei que esse não é realmente o ponto de tudo isso, mas se
houver alguma maneira de você—"

"Effie," Lily interrompe com firmeza, "Sinto muito, realmente sinto muito,
mas esta não é minha missão. Não sou eu quem está comandando as coisas,
ok? É Dorcas, e eu tenho um alvo prioritário, Marlene McKinnon. Não Sirius,
não Regulus, mas ela. É ela primeiro, e então eu posso me preocupar em
salvar o resto dos que estão na arena. Além disso, eu nem vou estar desse lado
das coisas. Dorcas está preocupada em tirar as pessoas de lá, não eu."

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CRIMSON RIVERS

Euphemia luta para não cerrar os dentes, e Fleamont estende a mão para
esfregar suas costas, fazendo-a inspirar e expirar profundamente. "Tudo bem.
Você pode passar a mensagem pormim, então, pelo menos?"

"Eu posso," Lily diz a ela. "O servo que Sirius ama. Entendi." Ela começa a
recuar, fazendo uma careta. "Só não espere nada, certo? É cruel, mas salvar
algum servo apenas porque acontece de Sirius amar ele não vai estar no topo
da lista de prioridades."

"James vai insistir nisso," diz Fleamont, e Euphemia também não duvida. Eles
conhecem o filho deles. Claro que ele vai.

"Então vamos esperar que James trabalhe para garantir que ninguém seja
deixado para trás," Lily responde simplesmente. "Infelizmente, tenho outro
trabalho a fazer, e vocês dois também. Tenham cuidado, sim?"

Euphemia e Fleamont a dizem para fazer o mesmo, mas ela já se foi,


obstinada como sempre. Suspirando, Euphemia olha para Fleamont, que a
presenteia com um pequeno e reconfortante sorriso.

"Menos de uma semana e já estamos quebrando todas as regras," diz


Fleamont alegremente. "Provavelmente é melhor não mencionarmos isso para
as crianças. Eles nunca vão nos deixar esquecer isso."

"Nosso segredo," murmura Euphemia, franzindo o nariz de brincadeira antes


de pegar sua mão e puxá-lo, os dois fazendo o que puderem para ajudar a
trazer o resto da família para casa, e qualquer outra pessoa que pode ter a
sorte de ser pego ao longo do caminho.

Euphemia passa o polegar sobre a carta em seu bolso e


realmente, realmente espera que Remus esteja incluído nisso.

~•~

Lily vira uma esquina e dá de cara com Mary, que está com os braços cruzados
e as sobrancelhas erguidas. Oh, ótimo, exatamente o que Lily precisa.
Agora não é hora de se distrair, então Lily vai precisar que Mary saia de sua
cola imediatamente.

"Ah, Mary, o que você—" Hm, não. Não é importante. Lily precisa que ela vá
embora. "Não importa. É um prazer ver você, como sempre. A parte mais
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ZEPPAZARIEL

brilhante do meu dia, na verdade. Um verdadeiro presente. Agora, se você não


se importar muito, eu vou passar por você e—"

"O que você está fazendo?" Mary interrompe, os olhos se estreitando já com
suspeita.

"Caminhando. Sabe, como os humanos tendem a fazer quando estão tentando


ir de um lugar para o outro. Você pega um pé—"

"Não, não brinque comigo. Eu não estou brincando. Eu vi você mais cedo,
sabe, conversando com Effie e Monty no Salão Principal—"

"Grande Salão," Lily murmura.

Mary acena com a mão descuidadamente. "Tanto faz. Você estava


conversando com eles, e o que quer que tenha dito os fez parar de assistir aos
jogos mais cedo, então obviamente você está fazendo alguma coisa."

"Olha, Mary, eu adoraria ficar por aqui e ter essa adorável discussão verbal que
sempre fazemos," diz Lily, cansada, porque é verdade; seus quartos são
próximos um do outro, então elas se veem bastante, e Lily não acha que elas
tiveram uma conversa genuinamente civilizada na última semana. "Isso parte
meu coração, de verdade, mas eu estou um pouco ocupada no momento,
então, se você puder—"

"Nem tente," diz Mary categoricamente. "Sério, o que você está fazendo, e o
que isso tem a ver com Effie e Monty? Não consigo encontrá-los. Onde eles
estão?"

Lily resiste à vontade de bufar. Qualquer outra pessoa, e ela provavelmente


poderia sair dessa, mas Lily percebeu que Mary é uma força a ser
reconhecida, especialmente quando se trata de pessoas de quem ela gosta. Após
o que aconteceu no distrito seis, Mary começou a verificar muito Effie e
Monty, junto com Andromeda e Barty, se ela realmente conseguisse encontrá-
lo. Pessoas que são importantes para Sirius, James e Regulus. E há Bingley, é
claro, que ela mal perdeu de vista no início e ainda tem medo de perder.

O fato de Mary estar aqui agora, em vez de em seu quarto com seu irmão mais
novo, permite que Lily saiba que ela não vai ceder, e se ela pensa que Lily está

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CRIMSON RIVERS

envolvendo Effie e Monty em alguma coisa, ela absolutamente não vai deixar
isso passar.

Lily entende, respeita e até gosta. Só... não tanto quando está fodendo com os
planos dela. Lily honestamente não tem tempo para essa merda.

"Ok, eu realmente preciso que você se mexa," Lily diz brevemente, sem
vontade de continuar brincando. Ela passa por Mary, que imediatamente
segura seu braço, e Lily se vira para encará-la, com as narinas dilatadas. "Não
tenho tempo para isso, Macdonald."

"Bem, isso solidifica tudo," Mary declara decisivamente, seguindo atrás dela
quando ela se afasta. "Você definitivamente está fazendo alguma coisa, e de
alguma forma isso envolve Effie e Monty."

Lily a ignora. Ou, bem, ela finge. Ignorar Mary é praticamente impossível. Ela
é alta, com cachos pretos e saltitantes emoldurando seu rosto, e seus olhos são
possivelmente os mais penetrantes que Lily já viu em sua vida. Às vezes, Lily
fica quase genuinamente inquieta com o pensamento de que Mary pode ver
através dela. Além disso, ela é frustrantemente brilhante, o que não está
fazendo nenhum favor a Lily no momento.

Vendo que Lily não tem ideia de como fazer Mary ir embora, ela
simplesmente continua, porque ela genuinamente não tem tempo para parar.
Felizmente, Sybill já está esperando por ela no lugar que ela prometeu que
estaria, então as coisas estão se encaixando.

"Oh, aí está você," Sybill sussurra quando Lily se aproxima dela. Ela move seu
olhar de Lily para Mary. "Mais um?"

"Não, ela não está envolvida. Ignore ela, e talvez ela vá embora," Lily
resmunga.

"Não é provável," Mary responde com uma zombaria.

"Certo, bem, você está pronta?" Sybill pergunta a Lily, torcendo os dedos.
"Porque eu quero apontar, mais uma vez, que eu não estou. Isso—não parece
uma boa ideia, Lily, e—e eu odeio mentir para Kingsley. Isso faz meu
estômago se contorcer."

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ZEPPAZARIEL

"Você não está mentindo para ele... exatamente," Lily acalma. "Você está
apenas, sabe, esperando para contar a ele até que já esteja feito."

"Espere," diz Mary, "Isso é—oh, pelo amor de Deus, isso é uma coisa de
sexo? Isso é uma coisa de sexo, não é?"

"O que?" Sybill pergunta, piscando. "Quem está fazendo sexo?"

"Vocês duas. Vocês estão se esgueirando para fazer sexo," Mary deixa escapar,
olhando entre elas em descrença.

Sybill franze a testa. "Não, não estamos. Estamos nos esgueirando para
podermos sequestrar os tributos dos jogos vorazes."

"Sybill!" Lily sibila, olhos esbugalhados.

"O quê? Nós estamos," Sybill gagueja.

Mary exala profundamente, seus olhos brilhando, e então ela avança para
anunciar, "Oh, com certeza. Sim. Isso é muito melhor do que uma coisa de sexo,
e foda-se, Lily, eu estou definitivamente envolvida. Eu vou com você."

"Não." Lily aperta a mandíbula. "Não, você não está."

"Sirius está lá. Sim, porra, eu estou."

"E quanto a Bingley, hm? Porque isso não vai ser seguro, Mary.
É perigoso. Você pode realmente morrer."

"Você sabe que eu sou uma pessoa, certo? Não apenas uma irmã. Eu posso
tomar minhas próprias decisões e Bingley está seguro," retruca Mary. "Eu não
vou ficar parada sem fazer nada se eu puder ajudar meus amigos. Então, você
não vai se livrar de mim tão facilmente. Olhe só, você tem um par extra de
mãos."

"Quero dizer... isso seria útil, Lily," aponta Sybill.

Lily geme. "Você não vai deixar isso passar, vai?"

"Não," confirma Mary.

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CRIMSON RIVERS

"Tudo bem. Tudo bem, mas se você está nisso, então você vai me ouvir. Nada
de pegar em armas e atirar nas pessoas e fugir para fazer suas próprias coisas.
Você não sai do porta-helicópteros por nada nem ninguém, tudo bem?" Lily
afirma, segurando seu olhar.

Mary não parece satisfeita, mas levanta as mãos e abaixa a cabeça. "É justo.
Me coloque dentro, treinadora. O que eu posso fazer?"

"Siga-nos. Ou, siga Sybill." Lily gira a cabeça para olhar para a mulher em
questão. "Você escolheu, certo?"

"Sim, vamos lá," diz Sybill, conduzindo-as mais adiante no corredor, em


seguida, abrindo a entrada do hangar para que elas possam entrar. Está
bastante deserta como sempre, grande, cavernosa e escura com apenas seis
tipos diferentes de helicópteros dentro. Lily acha que nenhum deles já voou
antes. "Eu escolhi aquele que mais se parece com as aulas de simulação que fiz
na aula para me tornar piloto, então isso deve ajudar. Está bem aqui no final."

"Espere, deve ajudar o quê?" Mary pergunta com cautela, sua voz baixa
enquanto elas se movem silenciosamente pela sala.

"Me ajudar a voar," sussurra Sybill.

Mary faz um barulho estranho e suspira, "Você—você nunca voou antes? Eu


achei que você fosse piloto."

"Eu sou," Sybill a informa. "Certificada e tudo. Eu apenas nunca, hum, tive a
oportunidade de colocar à prova."

"Há quanto tempo foram suas aulas?"

"Sete anos atrás? Oito? Em algum lugar por aí."

"Oh," diz Mary solenemente, "Nós vamos morrer."

Lily suspira. "Não dê ouvidos a ela, Sybill, você vai se sair perfeitamente bem.
É como andar de bicicleta, tenho certeza."

"Bicicletas não têm botões. Ou asas. Ou—"

"Sybill, sério, eu acredito em você, ok? Você pode fazer isso."

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ZEPPAZARIEL

Fazendo uma careta, Sybill para no porta-helicópteros. "Vamos esperar que


você esteja certa, porque senão, nós vamos morrer, e então Kingsley vai ficar
muito chateado."

"Kingsley é seu namorado, certo?" Mary pergunta.

"Sim," Lily responde ao mesmo tempo que Sybill balança a cabeça. Elas
param, piscam e se encaram. "Sybill, você e Kingsley estão namorando há
meses. Você estava literalmente com ele mais cedo. Vocês dois terminaram
ou...?"

"Nós estamos namorando?" Sybill deixa escapar. "Por que ele não me contou?!"

Lily luta para não rir. "O quê? Como você pode não saber? Vocês
praticamente moram juntos, Sybill! Todo mundo sabe que você basicamente
se mudou para o quarto dele."

"Eu continuo caindo no sono lá depois que fazemos sexo, e ele gosta de
abraçar, o que é legal. Ele é muito legal, honestamente. Me deu uma escova de
dentes e me deixou levar algumas das minhas roupas. Oh, e ele me deixa
esconder o cobertor que estou tricotando debaixo do colchão porque eles
nunca checam o quarto dele." Sybill faz uma pausa, seus lábios se inclinam
para baixo. "Ele nunca me disse que estávamos namorando. Quero dizer, eu
estou bem com isso. Mais do que bem, mas ele não disse!"

"Oh, vocês dois combinam tão bem," Lily engasga, seus ombros tremendo
com o riso. "É—sim, vocês estão namorando. Você provavelmente deveria
falar com ele sobre isso, mas... bem, ele te chamou de namorada na semana
passada, então tenho certeza que ele tem a impressão de que vocês estão
juntos."

Sybill parece encantada. "Oh, adorável. Então sim, Mary, ele é meu namorado.
Mal posso esperar para contar a ele."

Claramente satisfeita com a notícia, Sybill está um pouco animada enquanto se


move para abrir a porta lateral do porta-helicópteros com um barulho agudo.
Ela é rápida ao se inclinar para puxar a rampa, então sorri durante todo o
caminho para dentro. Os lábios de Lily se curvam e ela balança a cabeça com
carinho enquanto segue Sybill para dentro com Mary logo atrás dela, apenas

771
CRIMSON RIVERS

para que todas se choquem costas com costas como uma linha de dominós
que não cai.

"Oh, que porra é essa?" Lily deixa escapar incrédula, uma dor de cabeça se
formando tão rapidamente que ela tem o forte impulso de pegar o crânio
entre as mãos e apertar.

Amos e Barty estão se separando e tentando arrumar suas roupas, mas não
está adiantando nada para esconder o que eles estavam fazendo. Amos pelo
menos teve a decência de parecer envergonhado, mas Barty não. Na verdade,
Barty parece ligeiramente divertido por ter sido pego com os botões de sua
camisa abertos. Bem, ele parece divertido se você ignorar que seu sorriso não
chega aos olhos e seu olhar é bastante plano e vazio.

"Lily," Amos diz, procurando seus óculos para colocá-los e piscar para ela,
com o rosto vermelho. "Uh, oi. Oi. Eu—" Ele abre e fecha a boca, olhando
para Barty, depois de volta para elas. Ele tosse. "Eu não tenho uma boa
explicação."

"Pelo amor de Deus, Amos, o pobre homem está de luto," repreende Lily,
jogando as mãos para cima. Não que ela realmente tenha muito espaço para
falar sobre como alguém lida com a perda de pessoas. Ainda assim, não se
passou nem uma semana, e Amos talvez não devesse permitir o uso do sexo
para evitar problemas, o que Lily sabe que a torna um pouco hipócrita, mas só
porque ela faz algo não significa que ela pensa que outros deveriam, e Barty
parece um desastre. Parece que não dorme há dias. Amos deveria tê-lo levado
para a cama para descansar, não—

"Para ser justo, não é culpa dele. Eu sou muito persuasivo quando quero ser,"
diz Barty, "E acredite em mim, eu não estava reclamando ."

"Eu—eu estava tentando confortá-lo," Amos gagueja, parecendo exausto. "Eu


não ia fazer nada, mas aí ele—eu—eu nem sei o que aconteceu. Eu nem gosto
de homens!"

"Você gosta agora, querido," Barty o informa, sorrindo.

"Tudo bem não saber das coisas, Amos. Descobrir pode ser divertido," diz
Sybill. "Acabei de descobrir que Kinglsey é meu namorado. Você sabia disso?
Não é divertido?"

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ZEPPAZARIEL

Amos pisca para ela. "Espere, você só está descobrindo isso agora? Sybill,
vocês dois estão namorando há meses."

"Viu? Você aprende algo novo todos os dias," reflete Sybill, sorrindo para ele.
"Parabéns pela sua pequena e divertida descoberta do dia e, embora eu apoie
você de todo o coração, receio ter que interromper. Nós meio que precisamos
disso."

"O porta-helicópteros?" Amos pergunta, erguendo as sobrancelhas enquanto


Sybill circula o dedo para mostrar o que ela quer dizer. Sybill acena com a
cabeça, e ele inclina a cabeça. "Por que você precisa do porta-helicópteros?"

"Estamos pegando ele para que possamos sequestrar os tributos dos jogos
vorazes," responde Sybill.

Lily deseja a doce libertação da morte. "Sybill!"

"O quê? É verdade," responde Sybill.

"Missão secreta! Se-cre-ta!" Lily declara, batendo as costas de uma mão na


palma da outra para dar ênfase. "Isso significa que não contamos às pessoas sobre
isso."

"Espere, desculpe, o quê? Você está fazendo o quê?" Amos sibila, com os
olhos arregalados. "Lily, você está maluca?! O que—quem—Dumbledore sabe
sobre isso?"

"Obviamente Dumbledore não sabe sobre isso," Lily estala, seus ombros
tensos. "É segredo por uma razão, Amos, e é melhor você escolher suas
próximas palavras com sabedoria, porque se você pensar em estragar tudo,
farei o que for preciso para garantir que você não o faça."

Barty dá um passo à frente. "Eu vou junto."

"Não," Lily resmunga.

"Ok, deixe-me reformular. Você não pode me impedir de ir," Barty corrige, e
ele parece muito sério. "Regulus está lá."

Lily esfrega as têmporas, fechando os olhos enquanto abaixa a voz e canta,


"Não dê um soco nele, não dê um soco nele, não dê um soco nele, não—"

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CRIMSON RIVERS

"Por que não vamos todos?" Sybil pergunta. Todos param e olham para ela.
Ela dá de ombros. "O quê? Já estamos todos aqui, e não é como se mais ajuda
fosse uma coisa ruim, sério."

"Onde está Kingsley?" Amos pergunta, olhando ao redor como se esperasse


que Kingsley aparecesse e começasse a dar ordens.

"Lily disse que não podemos contar a ele até que acabe," Sybill murmura,
torcendo a barra de sua camisa entre os dedos. "Ela acha que ele contaria a
Dumbledore e o impediria."

Com isso, Lily estremece. Kingsley é um homem muito bom, e ele é muito
bom em missões, mas ele está em uma posição elevada, e Lily não pode ter
certeza de que ele não teria arruinado o plano na tentativa de fazer o que ele
acha que é certo. Ele tem sido o favorito de Dumbledore para tudo que
envolve missões há anos, mesmo quando Lily veio para a Fênix, e ele pode
não estar disposto a ir contra isso. Lily não tem como saber se Kingsley
concordaria com isso, e ela não podia arriscar.

Amos pigarreia. "Lily, esta não é uma missão limpa. Eu não posso
simplesmente ficar parado e—"

"Mm, você não pode?" Barty pergunta, estendendo a mão para tocar o ombro
de Amos, leve, olhando para ele. Suas sobrancelhas se levantam lentamente e
ele inclina a cabeça. "Eu acho que você pode."

"Eu—" Amos abre e fecha a boca, parecendo perdido, ainda parecendo


esgotado por Barty, ou possivelmente pelo que ele estava fazendo com Barty.
Ele provavelmente viu Barty disparando como sempre faz hoje em dia e
decidiu segui-lo, para dar-lhe algum conforto, porque, afinal, Amos também
estava na missão. E então, antes que ele percebesse, ele estava escondido em
um porta-helicópteros abandonado fazendo algo que nunca havia feito antes.
Lily quase sente pena do pobre homem, mas no final, Amos apenas murcha
um pouco e acena com a cabeça. "Suponho que eu possa, porque não é como
se eu tivesse muita escolha. Eu estou nessa merda agora."

"Boa resposta," diz Lily. "Caso contrário, eu teria que nocautear amarrar você
para escondê-lo em algum lugar até que eu voltasse, se eu voltasse."

"Encantadora como sempre, Evans," Amos responde categoricamente.

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ZEPPAZARIEL

Lily sorri, cheia de dentes. "Estou aqui para agradar, Diggory."

"Olhe para nós," declara Sybill calorosamente. Ela acena para todos os cinco.
"A equipe de resgate. Eu decreto que somos chamados de Ladrões do
Thunderbird."

"Por que?" Mary pergunta, as sobrancelhas levantadas.

"Bem, estamos roubando, tecnicamente," aponta Sybill, então se move para


tocar no painel interno do porta-helicópteros, parecendo apaixonada. "Além
disso, seremos pássaros no céu, e esse bebê foi construído para resistir a
qualquer tempestade."

Ninguém se opõe. Por alguma razão, este é um tipo de momento unificador


para eles. Tudo bem, então.

Ladrões do Thunderbird.

~•~

"Merda, merda, merda," canta James.

Dorcas observa James abaixar a cabeça, então olha de volta para Pandora, que
está apenas—olhando para ela. Olhando como se ela nunca a tivesse visto
antes. Tem havido muito disso ultimamente.

Isso dá um nó em seu estômago, embora ela tenha previsto isso. Ela entende.
Ela conhece essas pessoas há um ano, é amiga delas, e mentiu na cara delas
mais de uma vez, de todas elas. Embora eles não tenham direito a todas as
facetas de sua vida, essa revelação é chocante por uma grande margem. Não
apenas uma simples estilista que é um pouco ousada demais, nem de longe.

Dorcas entende que é um ajuste. Ela também percebe que é muita informação
sendo lançada para eles de uma só vez. Não, não apenas que ela é mais do que
uma estilista, mas também que há um refúgio subterrâneo secreto que abriga
uma rebelião em formação da qual ela faz parte, e também que ela decidiu
assumir a responsabilidade de iniciar a revolução invadindo a arena dentro de
uma hora para salvar todos lá dentro, e oh, todos eles têm que deixar a
Relíquia esta noite.

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CRIMSON RIVERS

Infelizmente para eles, eles estão com o tempo apertado aqui, e não há tempo
a perder.

Dorcas se levanta. "James, respire. Nós temos que ir até o nível do porão para
chegar à garagem de qualquer maneira para nossa grande fuga, então vamos
pegar Remus no caminho. Não vai ser uma transição suave para ele, mas é
tudo o que temos. Precisamos ir. Agora."

"Meu pai," Pandora diz suavemente.

Todos param e olham para ela.

"Ele está morrendo," continua Pandora. Ela está olhando para Dorcas sem
expressão. "Ele vai morrer, e eu não vou estar aqui."

Há algo trágico na maneira como ela diz isso, já sabendo disso, nem mesmo
protestando. Ela sabe que está vindo. Ela sabe que tem que fazer isso, porque
se ela ficar, eles vão matá-la só porque ela é a treinadora deles, porque isso iria
machucá-los, porque ela se desculpou na colheita e chorou enquanto lia os
nomes. Ela não pode ficar, e seu pai está morrendo, e não importa se ele ainda
não morreu; ele pode muito bem estar morrendo neste momento, para ela,
porque ela nunca mais o verá.

"Pandora," James sussurra, aflito.

Piscando, Pandora balança a cabeça bruscamente e encontra os olhos de


Dorcas. "Bem, vamos lá."

Eles vão.

É uma espera silenciosa no elevador, um pulso constante de antecipação entre


os cinco. James está flexionando os dedos ao redor do cabo de sua bengala,
Frank está tão inexpressivo quanto Pandora e Huey está mordendo o lábio
ansiosamente. Todos eles têm suas armas escondidas, guardadas. Pandora não
tem uma.

Quando o elevador apita, as portas se abrem para revelar que não está vazio.
Rodolphus Lestrange pisca para eles, parecendo adequadamente surpreso com
o grupo eclético diante dele.

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ZEPPAZARIEL

"Vindo de uma festa?" Rodolphus pergunta, erguendo as sobrancelhas


enquanto estende a mão para segurar as portas para todos, embora ninguém
se mexa. "E eu não fui convidado? Rude."

Dorcas percebe tardiamente que todos estão lançando olhares para ela,
esperando que ela lidere. Aqui está ela, esperando que a pessoa responsável se
apresente e assuma o controle da situação, apenas para lembrar que é ela. Ela
está no comando. Ela está liderando.

Expirando lentamente, Dorcas entra no elevador com os outros entrando


atrás dela, porque seria mais suspeito se eles não o fizessem. Dorcas não sabe
muito sobre Rodolphus, além do fato de que seu irmão ainda está na arena,
vivo, e é outra pessoa que Dorcas espera salvar.

"Um grupo meio estranho," comenta Rodolphus.

Ele está pescando, Dorcas pode dizer. Ele parece curioso. Não está
exatamente suspeitando, mas ele sabe que algo está acontecendo.

"Tem sido um dia difícil," James responde, olhando para oferecer a


Rodolphus um sorriso tenso. "Huey aqui está planejando nos levar para beber
para, ah, relaxar um pouco."

James é inteligente. Muito inteligente. Dorcas sabe disso, mas é em momentos


como esse que ele realmente brilha. Ele também é socialmente inteligente, e isso
é uma arma por si só. Huey, o patrocinador, pagando a conta. Frank, de luto,
provavelmente desesperado para ficar tão bêbado até desmaiar. James,
sofrendo depois de tudo o que testemunhou hoje. Pandora, a ceifadora.
Dorcas, a amiga.

Funciona. Rodolphus concorda, porque funciona e é fácil de acreditar. "Sim,


isso tem sido. Suspeito que amanhã não será muito melhor, então uma palavra
para os sábios, não fiquem muito bêbados esta noite."

"Obrigado," James murmura.

As coisas estão quietas por um tempo enquanto o elevador continua subindo.


Dorcas observa os botões acenderem lentamente, um de cada vez, a cada
andar que eles passam. Mais próximo. Mais próximo. Tão perto. Quase lá.

"Oh," Rodolphus diz suavemente.


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CRIMSON RIVERS

Dorcas move seu olhar para vê-lo olhando para o quadril de Huey, para a
linha da arma sob sua camisa, revelada pela forma como ele mexe o braço.
Por um segundo, ninguém se mexe. Ninguém respira.

E então, rapidamente, Dorcas saca sua arma e pressiona o queixo de


Rodolphus enquanto o empurra contra a parede do elevador. Huey grita e
James amaldiçoa baixinho. Rodolphus inclina a cabeça para cima, mantendo-
se imóvel.

"Você vê o que está na ponta da minha arma, Lestrange?" Dorcas pergunta


friamente. "Isso é um silenciador. Isso significa que, se acontecer de eu
explodir a porra da sua cabeça, vai ser muito mais silencioso do que um tiro
normal, e eu estarei livre para despejar seu corpo no primeiro armário de
suprimentos que eu encontrar. Até que eles te encontrem, eu já terei ido
embora."

A coluna da garganta de Rodolphus sobe, depois desce. Sua voz é rouca


quando diz, "Sim, sim, entendi."

"Dorcas," James adverte, soando cauteloso. Ela não desvia o olhar de


Rodolphus, sua mente correndo a mil por hora com tantas possibilidades. Ela
nunca matou ninguém antes, mas ela está muito perto agora. Muito perto para
foder com isso. Agora não. Ela não vai deixar ninguém estragar isso. "Dorcas,
ei, só—só espere, ok? Ele—ele pode—ele pode nos ajudar."

"Ele é um risco, James," retruca Dorcas.

"Não, não, ele é—um irmão. Um irmão mais velho, que ama seu irmão mais
novo," James argumenta cuidadosamente. "Pense nisso, ok? Ele não escondeu
o quanto se preocupa com Rabastan. É o irmão dele, sim? Olhe para Sirius e
Regulus. Você vê como eles são, especialmente quando se trata dos jogos.
Você viu como Sirius estava ano passado; ele estava disposto a fazer qualquer
coisa por mim, e também por Regulus. Apenas—dê a ele uma chance, pelo
menos."

"Se fosse Louie, eu faria," concorda Huey, com a voz trêmula.

Dorcas solta o ar pelo nariz e puxa a arma, mas mantém a mão livre no
ombro de Rodolphus para segurá-lo ali, sustentando seu olhar. "Vamos

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ZEPPAZARIEL

invandir a arena para retirar os tributos e levá-los para algum lugar seguro, e
isso inclui seu irmão, se pudermos."

"Como diabos você vai fazer isso?" Rodolphus deixa escapar, com os olhos
esbugalhados.

"Não importa," Dorcas diz brevemente. "Você está dentro ou não?"

"Oh, eu estou dentro. É meu irmão," Rodolphus responde simplesmente,


piscando para ela. "Inferno, sim, eu estou dentro. Eu tenho uma arma
também?"

"Se você fizer qualquer movimento brusco, a única parte da arma que você
conseguirá é uma bala," Dorcas o informa, cortada. Ela desliza a arma para
longe, olhando-o com desconfiança. "Agora, cale a boca, eu tenho que fazer
uma ligação. Fiquem todos quietos."

Quando Lily atende o telefone, ela parece estar no vácuo e já está falando. "—
totalmente com isso, eu prometo. Você está indo muito bem."

"NÓS ESTAMOS INCLINANDO!" alguém grita ao fundo. Dorcas não


reconhece a voz.

"Desculpe, desculpe, eu estou tentando," soluça Sybill, com a voz abafada.

"É—não, está tudo bem. Você conseguiu. Eu—eu não acho que esse era o
botão certo, mas—"

"NÓS TEMOS A PORRA DE UMA METRALHADORA?!"

"Ah, isso—essas serão as armas, eu acho, Sybill," Lily grita, parecendo tensa.

"POR QUE EU POSSO VER O CHÃO?! SUBA! SUBA!"

Dorcas tosse e estremece quando alguém grita ao fundo, e então é puro caos
na linha. Todos no elevador estão olhando. Todos eles podem ouvir.

"Lily?" Dorcas pergunta timidamente, encolhendo-se com o som de fundo de


algo batendo, como metal contra metal.

"Oi, Dorcas, um pouco ocupada aqui," Lily ofega. "Nós estamos, hum."

779
CRIMSON RIVERS

"Problema?"

"O quê? Não. Está tudo b-ei! Não, afaste-se da metralhadora! Barty, não me
faça sair desta cabine!"

James se endireita. "Barty? Ela—desculpe, ela acabou de dizer Barty? Barty


está aí? Ele está vivo?"

"Lily?" Dorcas tenta novamente.

"Nós temos isso sob controle," Lily responde, e então há um soluço sufocado
e o grito distante de todos nós vamos morrer!

Dorcas suspira. "Certo. Claramente."

"Só—oh, cale a boca, estamos bem! Barty! Pare de brincar com a porra da
arma!" Lily grita. Há uma pausa, então, mais calmo, "Obrigado. Ok, Sybill, fale
comigo. Bem, não, respire primeiro. Viu? Olhe para isso. Estamos todos
endireitados agora, voando fácil e suave. Você fez isso. Você foi ótima. Você
está indo muito bem."

"Sim," vem a resposta abafada e trêmula de Sybill. "S-Sim, eu consegui. Eu fiz


isso. Está—está tudo certo. Ok."

O elevador apita, as portas se abrem e Dorcas acena para que todos saiam, de
olho em Rodolphus. Ele não faz nada. Como todo mundo, ele parece bastante
interessado no telefone dela no momento. Ela levanta um dedo para que
todos esperem, e eles esperam.

"Você está a caminho?" Dorcas pergunta.

Lily solta um suspiro profundo. "Sim, uh, estamos a caminho. Sybill, temos
uma estimativa de tempo?"

"Em menos de doze minutos," responde Sybill.

O coração de Dorcas salta. "Ok, bem, estamos indo. Vou ter tudo pronto
para quando você chegar lá, e você—você tem o localizador, certo?"

"Sim. Ele vai pegar Marlene assim que estivermos ao alcance. Vamos direto
para ela primeiro, Dorcas, eu prometo."

780
ZEPPAZARIEL

"Ok, bom. Lembre-se, assim que você aparecer, você terá oposição chegando,
então você terá que ser rápida. Vou fazer o que eu puder para colocar todos
os tributos o mais perto possível um do outro, mas você não tem muito
tempo. Lily, se—se você tiver que ir, vá, está me ouvindo?"

"Tudo bem," Lily murmura. "Ei, um, Effie meio que—bem, ela pediu sobre
você talvez tirar alguém da Relíquia se for possível. Um servo. Uh, a lua de
Sirius?"

"Oh, sim, isso já está em andamento," Dorcas a assegura.

"Quem é—" Lily se interrompe com um gemido. "Barty, pelo amor de Deus,
isso não é um brinquedo! O que eu disse?!"

"Lily, eu tenho que ir," Dorcas diz a ela. "Tenha cuidado, ok?"

"Sim, faremos o nosso melhor. Você também."

"Vejo você em breve, Evans."

"Muito em breve, Meadowes. Muito em breve," Lily responde, baixinho, e


então ela começa a gritar de novo, e a linha fica muda.

"Barty?" James pergunta imediatamente. "Barty está vivo?"

"Eu—James, eu não sei se era ele com certeza. Ela disse o nome Barty, então
talvez?" Dorcas oferece com cautela. "Eu nunca conheci outro Barty na
Fênix, então... é uma boa chance. Mas, quem quer que fosse, ele não deixava a
metralhadora em paz."

James bufa uma risada fraca. "Sim, esse é Barty." Ele parece aliviado,
balançando a cabeça enquanto exala. "Ok, bem, isso é bom. Isso é—sim, isso
é bom. Certo, o que vem depois?"

"Tudo bem, agora, os aurores em rotação não chegarão a este andar por mais
quinze minutos, então é todo o tempo que temos para entrar e dar o fora,"
explica Dorcas. "Haverá uma mudança de turno depois, o que significa que
quando sairmos, devemos ignorar a quantidade normal de Aurores."

"Você cronometrou isso?" Frank pergunta.

781
CRIMSON RIVERS

"Claro que sim." Dorcas desliza seu telefone longe. "Ainda assim, os criadores
dos jogos do turno da noite já estão a postos, então é muito menos para lidar
quando entrarmos."

"Você cronometrou isso também?" Huey pergunta incrédulo.

Dorcas arqueia uma sobrancelha. "Eu cronometrei tudo. Memorizei os


horários da patrulha. Conheço cada rota. Já tenho o veículo de fuga escondido
na garagem. Este não é um plano mal elaborado de forma alguma, não
importa o pouco tempo que tive para me preparar, e contanto que todos
vocês ouçam, ficaremos bem."

"Bem," Frank murmura, "Isso é o suficiente para mim."

"Agora, quando entrarmos," explica Dorcas, "Eu vou direto para Minerva.
Preciso de todos para reunir o restante dos criadores de jogos. Usem suas
armas. Vocês não precisam atirar, a menos que seja necessário. Situações em
que é necessário incluem se você tem que se defender, se eles tentarem fugir,
ou se você precisa que ninguém atrapalhe a missão. Caso contrário, a escolha
é sua, você é quem terá que conviver com isso de qualquer maneira , mas
não deixe, em hipótese alguma, de atirar se for necessário."

"Ainda não tenho uma arma, a propósito," diz Rodolphus.

"Você vai ficar parado na porta, certificando-se de que ninguém saia," Dorcas
diz a ele. "Se aquela porta abrir antes da hora, eu vou atirar em quem quer que
esteja nela. Lembre-se de que isso inclui você."

"Você é louca," afirma Rodolphus. "Eu gosto de loucura."

"Eu gosto de mulheres," responde Dorcas. "Apenas."

"Oh. Bom para você, triste para mim, mas a próxima louca virá, eu suponho,"
diz Rodolphus melancolicamente.

Dorcas revira os olhos, então se concentra em Pandora quando ela anuncia


baixinho, "Eu também não tenho uma arma."

"Isso é porque você vai estar no painel de controle principal, Pandora,"


Dorcas murmura, mais gentil com ela. "Para derrubar o perímetro de proteção

782
ZEPPAZARIEL

ao redor da arena para que os outros possam entrar, é necessária uma senha
definida pela criadora dos jogos."

Frank respira fundo. "Então, se—se não conseguirmos a senha..."

"Nós vamos," Dorcas garante a ele. "Agora, todo mundo sabe o que vai fazer
e onde estará, certo?" Ela recebe acenos de cabeça e murmúrios baixos de
concordância. "Ok, então vamos."

Eles vão.

A sala dos criadores dos jogos não é tão fortemente vigiada à noite, e com os
Aurores em rotação, há apenas um esperando na porta, sem arma na mão. O
Auror parece entediado, e por que isso não seria entediante? Literalmente,
nada dá errado aqui. Dorcas examinou todo este edifício ontem, e é negligente
de uma forma arrogante, muito confortável nos anos e anos de luxo e falta de
resistência. Este será um rude despertar.

"E aquele?" Frank sussurra enquanto eles se aproximam.

"James," Dorcas murmura, "Você pode nocauteá-lo com sua bengala e fazer
isso rápido e silenciosamente?"

Há um instante de silêncio, e então James pigarreia. "Sim. Frank, vem pegar o


corpo?"

"Mhm," Frank cantarola.

Eles se separaram juntos, caminhando na frente. Dorcas observa o Auror


virar a cabeça, piscando, e então sua cabeça vira para o lado quando recebe o
forte impacto da bengala de James. Há uma quantidade perigosa de força por
trás disso, tanto que o Auror instantaneamente cai, ficando frouxo enquanto
seu corpo cai como uma marionete sem cordas. Frank o pega e o coloca
cuidadosamente no chão.

"Sem arma," James comenta suavemente enquanto esfrega a mão no cabo da


bengala, então a planta no chão, apoiando-se nela.

"Você tem que ter um certo nível de autorização para ter uma arma neste
prédio," explica Dorcas. "Ou apenas esgueirar-se como eu, mas—bem, por
que alguém iria querer isso?"
783
CRIMSON RIVERS

Frank olha de soslaio para ela. "Você queria."

"Eu sou a exceção," diz Dorcas, "Não a regra."

"Então, nós apenas... entramos?" Huey sussurra, olhando para a porta.

Dorcas se aproxima e saca sua arma, então levanta a outra mão. "Bem, seria
rude não bater primeiro."

Ela bate.

"Posso ajudar—" A pessoa que abriu a porta se interrompe no momento em


que Dorcas pressiona a arma contra sua cabeça. Ele congela, olhos
arregalados.

"Sim, na verdade, você pode." Dorcas pressiona a arma contra a cabeça dele
com mais força, empurrando-o para trás. "Ande. Eu disse ande."

Ele anda. Bem, ele tropeça, fazendo um barulho baixo e choramingando


enquanto avança. A sala é grande, mas muito escassa. Existem painéis de
controle circulares ao redor da sala e várias telas, bem como hologramas e
monitores. Há uma grande tela mostrando os sinais vitais de todos os tributos,
e nenhum morreu desde a última vez que Dorcas os viu, o que é um alívio.
No centro está um holograma menor de todo o layout da arena e as posições
marcadas de cada tributo.

Slughorn não mentiu. Slughorn deu a ela absolutamente todas as informações


que ela poderia precisar, e parecia ansioso para fazer isso, e pela primeira vez,
Dorcas não quer matá-lo quando ele passa por sua cabeça. Ela pode dar
crédito onde é devido.

Na sala, há apenas cerca de doze pessoas, e os outros entram e se dividem


para prendê-los imediatamente. Antes que alguém perceba que eles estão
entrando, Dorcas empurra a pessoa à sua frente e se posiciona atrás de
Minerva assim que ela se vira. A arma de Dorcas descansa na testa de
Minerva.

Por um momento, nada mais importa fora disso. Apenas a colisão nítida de
seus olhares, os olhos astutos de Minerva e os frios de Dorcas. Uma parte dela
quer chorar. Nenhuma parte dela quer puxar o gatilho. Ela sabe que fará o
último se precisar, então cederá ao primeiro se for necessário.
784
ZEPPAZARIEL

Ela não faz nenhum dos dois, por enquanto.

Minerva só parece surpresa por um segundo, apenas um, e ela nunca desvia o
olhar do olhar de Dorcas, então Dorcas vê a maneira como ela reprime seus
próprios sentimentos e os fecha. Ela é boa nisso. Você fica bom nisso, na
guerra.

Mas há algumas coisas que você não pode esconder. Quando você está sendo
dilacerado por dentro, o exterior reflete isso. Isso cobra um preço do seu
corpo. Minerva sempre foi uma mulher muito organizada. Agora, ela está
diante de Dorcas e aparenta cada centímetro de sua idade e mais alguns anos.
Ela parece cansada.

No entanto, seu olhar é afiado e sua boca está tão severa como sempre. Ainda
a mesma Minerva. Dorcas a conhece. Dorcas insiste que a conhece, em sua
própria mente, porque seu coração está seguro e sua ansiedade está
discutindo. Quem é você? Dorcas pensa, impotente. Não, não, eu te conheço, o
coração de Dorcas bate forte. Uma guerra interior. Ela não tem ideia de qual
vencerá, ou qual vitória seria mais fácil de se alegrar, ou qual derrota seria mais
fácil de lidar.

Dorcas olha para ela, Minerva, e ela pensa. Ela imagina. Isso a mudou? Ela
gostou do poder? Ela teve um pensamento, qualquer um, sobre como isso
pode estar afetando Dorcas ou qualquer outra pessoa? Isso a afetou?

"O que você está fazendo?" Minerva pergunta suavemente.

"O que você deveria ter feito," sussurra Dorcas.

"Dorcas," Pandora grita.

"O que foi, Pandora?" Dorcas pergunta, sem tirar os olhos de Minerva ou o
dedo do gatilho. Ela não consegue desviar o olhar. Uma fração de segundo de
atenção dividida e Minerva poderia partir a porra do seu crânio. Ela atacaria?

Dorcas não sabe mais.

"Estou no painel de controle," diz Pandora, tensa. Frank pode ser ouvido
fazendo os criadores dos jogos deitarem no chão, com as mãos atrás da
cabeça; muitos deles estão chorando. Rodolphus permanece na porta. Dorcas
pode vê-lo em sua visão periférica. "Nós temos um problema."
785
CRIMSON RIVERS

"O que é?" Dorcas pergunta.

"A—a senha é definida entre cinco a sete letras, e há apenas três tentativas
antes de bloquear e enviar um alerta," explica Pandora.

Por um instante, há apenas silêncio. Minerva não se mexe. Ela não faz nada.
Ela apenas encara Dorcas.

Eu conheço você, pensa Dorcas.

"Tente Ordem," Dorcas responde rigidamente.

Um instante.

Ruídos do teclado.

Pandora inspira profundamente. "Errado. Duas tentativas restantes."

"O que você está fazendo, Dorcas?" Minerva repete.

Eu conheço você. Eu conheço você, pensa Dorcas, olhando para ela. Ela a conhece.
Ela a conhece há anos. Alguém que ela sempre, sempre, sempre olhou e
admirou. Ela ainda o faz? Ela não sabe disso. Ela não pode saber disso, agora.

"Tente Fênix," diz Dorcas, com a boca seca.

Outro instante.

Mais ruídos de teclado.

Pandora faz um barulho alto de aflição. "Falta uma tentativa, Dorcas.


Você tem que acertar, ou é isso. Estamos fodidos."

Eu conheço você. Eu sei disso, pensa Dorcas, segurando o seu olhar. Algo que
apenas Minerva saberia. Um segredo, mas não o maior. Não, não, algo
pessoal. Algo que ela tem que digitar todos os dias. Algo que nunca poderia
escapar de sua mente.

Um lembrete. Uma razão. Sua razão por trás de tudo, e Dorcas a conhece.
Sabe que ela quer derrotar Riddle.

786
ZEPPAZARIEL

Riddle—seis letras. É genial, na verdade. Um nome. Um que mostraria falsa


lealdade a qualquer um que o visse. Uma senha flutuando em um servidor em
algum lugar, fácil de descobrir se alguém realmente tentasse, e faria quem a
encontrasse pensar uma coisa, enquanto a verdade seria outra completamente
diferente. Brilhante.

"Tente—" Dorcas para, e ela olha para Minerva, e a guerra dentro dela faz
uma pausa. Porque ela não está olhando para Minerva e vendo nada além de
um espelho do que ela poderia ter se tornado. Eu, pensa Dorcas. Você sou eu, se
as coisas fossem um pouco diferentes, se eu tivesse permanecido no caminho que defini no
início.

"Dorcas?" Pandora pergunta.

"Poppy," declara Dorcas. "Tente Poppy."

Cinco letras. Um nome. Um lembrete e uma razão. Impossível de rastrear da


mesma maneira que Riddle seria, porque Poppy é uma flor e Poppy é uma
pessoa que Minerva ama, e poucas pessoas sabem dos dois. Poppy, porque
Dorcas teria escolhido Marlene. Poppy, porque Dorcas conhece Minerva. Não
há pessoas boas na guerra, mas há amor.

Aquele último instante.

Aqueles ruídos finais do teclado.

Pandora exala uma risada suave e expira, "É isso."

E ali, bem ali, aquela mudança nos olhos de Minerva. Não derrota, mas
orgulho, mas bênção. Há elogios ali, não ditos, e um calor não filtrado. Eu,
você, nós. O aluno supera o professor; ensinando novos truques ao velho
gato; sabedoria transmitida, então empunhada como uma arma. Tudo o que
Minerva sempre escondeu dela, e ela nunca escondeu isso. O coração dela.

"O que você está fazendo?" Minerva pergunta mais uma vez. Há a leve
impressão de um sorriso no canto de sua boca enrugada, suave, quase
maternal. Ela conhece Dorcas, e com certeza sabe disso, e está apenas
esperando. Simplesmente esperando.

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CRIMSON RIVERS

Dorcas engole. "Eu estou tirando ela. Eu estou tirando todos eles, Minerva.
Eu estou começando a guerra um pouco mais cedo, e você—você não vai me
impedir."

"Não," Minerva concorda, "Eu não vou."

"Você não vai?" Dorcas engasga, e ela quase chora então. Ela parece pequena.
Jovem. Apavorada pra caralho. Ela está, na verdade.

"Parece que eu não poderia mesmo se quisesse, mas eu—não quero," Minerva
diz a ela de forma bastante simples.

E o fato é que Dorcas sabia disso, no fundo. Ela sabia que Minerva estava
apenas cumprindo ordens, e que era sobre a guerra, e que ela só não fez isso
porque não tinha ideia de que poderia. É só pelo amor que Dorcas soube
disso, e o amor de Minerva a espera em casa. O amor de Minerva está diante
dela com uma arma apontada para sua cabeça, e agora ela tem a ideia de que
pode.

Ela ama Dorcas, e Dorcas sabe disso. Ela não ama Albus. Ela segue suas
ordens e acredita que ele ajudará a trazer o mundo que Minerva deseja para as
pessoas que ama e para si mesma, e ele é o menor de dois males. Mas é o
amor, no centro de todos, que as pessoas procuram e seguem. Minerva a ama
como uma mãe, uma mentora e uma amiga. Ela a ama como um reflexo. Ela a
ama do jeito que alguém ama seu eu passado, apenas um que tem um longo
caminho a percorrer e vários erros a cometer.

Dorcas abaixa a arma. Minerva não atacará. Minerva, agora que conhece suas
opções, vai ajudar. Tudo o que Dorcas precisa fazer é pedir. Então ela faz.
"Me ajude."

"Como?" Minerva murmura.

"Preciso aproximar os tributos de Marlene," diz Dorcas com um suspiro de


alívio. "O mais perto que possamos chegar."

Minerva cantarola, então se vira e se afasta sem hesitar, parando ao lado de


Pandora, que se sobressalta e a encara com os olhos arregalados. "Você, fique
aqui. Aperte os botões que eu apontar quando eu mandar. Dorcas, observe o
layout."

788
ZEPPAZARIEL

Dorcas gira a cabeça para verificar os outros. Rodolphus fica à porta, atento, à
espera. James, Huey e Frank estão lidando com todos os criadores dos jogos,
mantendo-os quietos. Seus soluços suavizaram. Alguns deles estão olhando
para Minerva com descrença, ou fúria, ou traição.

Expirando, Dorcas se aproxima para examinar o layout. Marlene está bastante


isolada, mais distante de Sirius e Regulus igualmente, que estão em lados
opostos do labirinto um do outro. Narcissa, Alecto, Rabastan e Asher são os
mais próximos de Marlene. Majesty em seguida, e então Emmeline e Alice.

Está chovendo, e eles estão todos presos na chuva. Cada tributo está
acordado. Marlene está cutucando o chão com sua espada, seu olhar vazio,
braço inchado dobrado perto de seu corpo. Sirius está—oh, ele está falando
com a lua. Não a lua real, mas Remus, exceto pelo nome. Eu sinto falta da
lua, diz ele, e sinto falta da minha lua. Eu sinto sua falta. Eu te amo. Enquanto isso,
Regulus está mais uma vez lutando contra sua aquafobia, desta vez sem bolsa
para se cobrir. Ele está sozinho, curvado sobre si mesmo, claramente fazendo
o possível para respirar, para sobreviver.

"Aquele botão ali, aquele que acabou de acender," ordena Minera.

A chuva na arena para abruptamente. Está derramando em um segundo, e


então parando no próximo. Regulus engasga com uma respiração áspera e se
atreve a levantar a cabeça, olhando para o céu como se um maldito milagre
tivesse acabado de acontecer. Sirius fica em silêncio. Marlene pisca, depois
franze a testa. Os outros tributos também olham para cima, observando,
assustados e inseguros. É uma quebra na rotina. Todas as noites, choveu até
de manhã.

A mudança é suficiente para levantar os tributos, e então Minerva está


fazendo Pandora apertar outro botão, que começa a mudar o layout do
labirinto. Naturalmente, o movimento faz com que os tributos corram, e
então é um jogo de colocar cada um deles o mais próximo possível de
Marlene, guiando-os como ratos com as mãos e a névoa e o que quer que os
faça ir.

"Espere, Minerva, mantenha Marlene no lugar," diz Dorcas, observando


enquanto Marlene fica cautelosa o suficiente para começar a se mover, o que
só vai tornar mais difícil para as pessoas se aproximarem dela.

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CRIMSON RIVERS

Alguns momentos depois, Minerva faz Pandora apertar todos os tipos de


botões, e as sebes prendem Marlene, mantendo-a no lugar. O coração de
Dorcas aperta ao vê-la responder a isso, paranóica e em pânico, tão
fodidamente exausta que seu braço treme enquanto ela segura sua espada.

"Como eu posso ter certeza de que as mãos não vão machucá-los?" Pandora
pergunta, e então ela é instruída a apertar outro botão. Todos eles observam
enquanto Rabastan pega Asher em seus braços e a carrega o mais rápido que
pode, xingando baixinho durante todo o caminho.

"Minerva," resmunga Dorcas, sentindo o celular vibrar no bolso, o alarme


disparando. Está na hora. Não há mais espera. É agora ou nunca. "O
perímetro de proteção tem que cair. Precisa cair agora."

Minerva levanta o olhar para encontrar os olhos de Dorcas. "Assim que eu


fizer isso, os porta-helicópteros da Relíquia serão despachados."

"Eu sei," diz Dorcas, "Mas não temos muito tempo. Eles estão lá, você
entende? Lily está lá para tirá-los, e estamos com um cronograma apertado.
Ele tem que cair."

Quando a arena se abre, é por ordem de Dorcas, mas são as mãos de Minerva
que fazem isso acontecer. A criadora crava suas garras e rasga, e destrói, e não
se arrepende disso.

Cinco letras. Um nome. A palavra que começa a guerra.

Poppy.

~•~

Lily prende o cinto em volta da cintura e dá um puxão forte, olhando mais


uma vez para a tela para se certificar de que eles estão no lugar certo. É
bastante simples, Lily supõe. Um rastreador em um anel para chegar ao ponto
de partida. Marlene primeiro.

"Pronta?" Amos pergunta, apoiando a mão no trinco da porta lateral, olhando


para ela e esperando a deixa.

"Pronta," Lily confirma, e ela não espera um segundo no momento em que a


porta se abre.
790
ZEPPAZARIEL

É uma descida lenta onde eles pairam sobre o topo do labirinto, e ela desce
em um ritmo que a deixa impaciente. Ela quer afundar rapidamente e atingir o
chão correndo.

Em vez disso, ela cai levemente de pé em um cubo de sebes, encontrando


uma esfarrapada Marlene McKinnon olhando para ela com a espada
levantada, parecendo quase selvagem. Lily percebe, tardiamente, que
simplesmente agarrá-la e ir embora não será tão simples.

"Quem diabos é você?" Marlene cospe.

"Meu nome é Lily," diz Lily, levantando cuidadosamente as mãos para


mostrar que não é uma ameaça. "Eu sou amiga da Dorcas."

Por alguma razão, isso não acalma Marlene como Lily esperava. Em vez disso,
isso a faz rosnar e correr direto para ela com sua espada. Lily grita e pula para
o lado, desajeitada e lenta com o cinto, e xinga baixinho quando a espada
corta seu braço.

Bem, ótimo. Isso é ótimo. Bufando, Lily pede desculpas mentalmente a


Dorcas antes de chutar com o pé para desacelerar Marlene, então enrola a
corda em seu pulso e a agarra. Marlene grita e a espada cai no chão. Aí,
perfeito. Nenhuma arma.

"Me ouça, eu estou aqui para ajudar," Lily assobia, aproximando-se e apenas
arrastando Marlene para dentro. Elas colidem uma com a outra, e Marlene
grita, luntando para se afastar e não realmente gerenciando isso muito bem
com o estado de seu braço quebrado e o aperto implacável de Lily para
enfrentar. "Eu não tenho tempo para isso! Eu vou tirar você daqui. Espere aí!"

Com isso, Lily envolve o gancho pendurado no cinto em torno de Marlene e o


prende, então a agarra e dá um puxão forte na corda, berrando em seu fone de
ouvido para ser levantada. Assim que seus pés saem do chão, Lily envolve
suas pernas em volta de Marlene e a segura, e a segura, e a segura a cada
mordida, silvo e garra de dedos.

Marlene ainda está lutando e atacando o máximo que pode no ar e no porta-


helicópteros. Barty, Mary e Amos estão lá para ajudá-las a entrar, todos
falando e tentando afastar Marlene de Lily ao mesmo tempo.

791
CRIMSON RIVERS

Não é até Marlene realmente registrar que há outras pessoas que ela se acalma
o suficiente para fazer uma pausa, a cabeça balançando ao redor, os olhos
brilhando. Ela está na defensiva, ofegante, sem saber que foi salva. Lily deixa
Mary oferecer água a ela, acalmando-a com a promessa de que ela está bem
agora, ela não está mais na arena e nunca mais terá que voltar.

"Barty, tire o rastreador do braço dela," ordena Lily, passando por ele para ir
para a cabine. Ela ignora a ardência em seu braço por causa da espada e a dor
de Marlene literalmente batendo nela para se abaixar na cabine e olhar para o
radar. "Ela já conseguiu?"

"Não, ainda esperando," diz Sybill nervosamente. "Deveria ser possível captar
os pings dos rastreadores nos braços dos tributos para sabermos para onde ir,
mas..."

"Merda," Lily amaldiçoa. "Merda, merda, merda."

Sybill olha para ela com os olhos arregalados. "O que nós fazemos?"

"Nós não fazemos nada," murmura Lily. "Eu tenho que entrar no labirinto."

"Lily—"

"Não temos tempo, Sybill."

"Mas," Sybill começa, apenas para se interromper quando Lily deixa cair o
telefone no colo de Sybill, mostrando a posição de Marlene. Sybill pisca. "O
que é isso?"

"Esta serei eu, daqui a pouco," declara Lily, apontando para a tela. "Você
poderá me seguir pelo labirinto e enviar Barty ou Amos para pegar quem eu
encontrar. "

"Tudo bem," diz Sybill. "Seja cuidadosa."

Lily acena com a cabeça e sai da cabine para encontrar Marlene absolutamente
soluçando enquanto Barty tira o rastreador de seu braço. Seu braço quebrado.
Oh, isso é—bem, isso é horrível, mas é necessário. Ela está permitindo, no
entanto, e Mary está bem ali, segurando sua outra mão e acalmando-a.

792
ZEPPAZARIEL

"Consegui!" Barty anuncia o momento em que ele, de fato, tira. Ele o segura
como um troféu, sangue em seus dedos.

"Jogue," ordena Lily, e Barty o faz, apenas jogando-o para fora da porta
aberta. Lily cai ao lado de Marlene e Mary, estendendo a mão para separar
suas mãos. Ela não hesita, apenas tira o anel do dedo e olha para cima para
encontrar Marlene olhando para ela. "Desculpe, eu preciso disso. Eu vou
devolver."

"Eu—" A respiração de Marlene prende, sua voz rouca, a garganta ainda


machucada e o braço ainda quebrado e sangrando. Ela é uma bagunça do
caralho, e ainda assim, ela segura o olhar de Lily e diz, "Se você perder isso, eu
vou te matar."

Lily apenas solta uma risada e se afasta, parando apenas o tempo suficiente
para explicar o que está fazendo e deixando bem claro que Mary não deve cair
no labirinto. Barty tem a tarefa de remover rastreadores, Sybill tem que voar, e
isso deixa Amos para descer para recuperação. Mary entende isso, e a última
coisa que Lily ouve quando ela sai do porta-helicópteros é Mary Macdonald
dizendo a ela para ir se foder.

~•~

"Por que o radar não capta o sinal dos rastreadores dos tributos?" Dorcas
sibila.

Minerva aperta os lábios em uma linha fina e balança a cabeça bruscamente.


"Está ligado apenas à tecnologia da Relíquia, Dorcas. Nenhum outro
radar pode detectar."

"Merda," Dorcas engasga, olhando para a tela enquanto observa Lily atingir o
chão no labirinto, se soltar do porta-helicópteros e sair correndo. Dorcas
engole. "Ok, bem, isso vai tornar isso um pouco mais difícil."

"O que podemos fazer?" Pandora pergunta.

Dorcas morde o lábio. "Ajudar a guiá-la até que tenhamos que ir. De quem ela
está mais próxima de sua posição?"

"A partir de agora... Majesty, que se move rápido," diz Minerva.

793
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"Tudo bem," Dorcas responde com firmeza, "Então leve ela até lá."

~•~

Lily poderia ficar sem as mãos que se soltaram das sebes atrás dela, obrigada.
Ela não as aprecia de forma alguma e não consegue se impedir de lançar um
olhar de pura descrença para o céu enquanto rasga a passagem, um anel no
dedo e um porta-helicópteros voando acima.

Lily tem certeza de que as mãos a estão apenas guiando, mas não é exatamente
um conforto sentir-se perseguida por elas. Elas são assustadores pra caralho, e é
genuinamente aterrorizante. Ela as ignora o máximo possível e serpenteia pelo
labirinto o mais rápido que pode, revezando-se quando as mãos se abrem à
sua frente e as sebes se abrem para ela mergulhar.

Não demora muito para ela encontrar alguém. Majesty, lembra Lily, e elas só
conseguem olhar uma para a outra por um momento antes que as cercas vivas
se fechem ao redor delas, sem ter para onde ir, e Lily olha para cima para ver
alguém afundando. Imediatamente, ela fica irritada, porque ela reconheceria
aquele cabelo em qualquer lugar.

"Que porra eu disse?!" Lily explode incrédula.

"Na verdade, Amos tem um histórico de remendar feridas, então ele precisa
ajudar Marlene," retruca Mary.

"Então eles poderiam ter enviado Barty!"

"Ele está ajudando Sybill!"

"Oh, pelo amor de Deus," Lily sibila, lançando-lhe um olhar antes de se


concentrar em Majesty, que está olhando para elas como se elas fossem novas
formas de vida alienígenas vindo para abduzi-la.

Não muito longe disso, na verdade.

"Ei," diz Mary gentilmente, dirigindo-se a Majesty. Como ela pode ser gentil
agora, aqui, Lily não sabe. "Majesty, certo? Meu nome é Mary. Eu entendo
que isso pode ser confuso para você, mas estamos aqui para tirar você daqui,
certo? Nós já resgatamos Marlene McKinnon, e temos que ajudar os outros

794
ZEPPAZARIEL

depois de você. Eu sei que é pedir muito, mas preciso que você confie em
mim, ok?"

"Tirar?" Majestade pergunta, cautelosa. "Você está me tirando daqui?"

"Nós vamos. Eu prometo," murmura Mary. "Não estamos com a Relíquia. Eu


juro que não. Hallow is hollow."

Majesty olha para ela, e então ela engole e olha para o porta-helicópteros, e
então, hesitante, ela dá um passo à frente. Atraída pela promessa de liberdade.
Atraída pela chance de finalmente descansar. Atraída pelas palavras calmas e a
declaração desafiadora de Mary. Hallow is hollow.

E assim, Majesty sobe sem lutar, e Lily verifica pelo fone de ouvido, obtendo
as atualizações. O rastreador é retirado de seu braço. Amos está fazendo o que
pode para ajudar. Barty está de olho na posição de Lily, removendo
rastreadores e distribuindo água constantemente. Mary planeja continuar
aparecendo, e Lily cede, porque ela é melhor nisso do que Lily.

As próximas pessoas que Lily encontra são Narcissa e Alecto. Elas estão
correndo de mãos dadas e se chocando, e a cabeça de Lily quase é arrancada
pela espada de Alecto. Narcissa tem seu arco erguido e apontado para Mary
em segundos quando ela desce, e Lily se move rápido, atacando enquanto ela
está distraída e quase levando uma espada no estômago, se não fosse pelas
mãos que disparam para agarrar Alecto e segurá-la.

Narcissa e Lily lutam, e ainda estão lutando quando Mary aterrisa no chão. Ela
corre para puxar Narcissa de cima de Lily, as duas lutando contra o arco dela.
Alecto rosna e luta contra as mãos que não a machucam, apenas a seguram, e
então Mary está falando. Não suave, não calmante, mas firme. Me escute.
Agora. Isso é o que suas palavras significam, e é o que essas duas precisam,
aparentemente, porque elas escutam.

Narcissa sobe primeiro. Alecto segue.

É a mesma coisa, sempre, a mesma luta e depois o mesmo discurso. Lily


localizando, Mary descendo, Barty tirando os rastreadores e fazendo tudo de
novo. Rabastan e Asher. Emmeline e Alice. Tudo o que resta é—

795
CRIMSON RIVERS

"Lily!" Sybill grita enquanto Lily corre, guiada por mais mãos e um labirinto
em constante mudança. "Lily, eles estão aqui! As Relíquias estão aqui! Nós
precisamos ir!"

"Ainda não!" Lily grita de volta, porque ainda não. Ainda não. Ainda não. Eles
podem fazer isso. Eles podem tirar todos eles. Ainda há Regulus, ainda há
Sirius, ainda há mais da missão.

Então, Lily não para, e ela não diminui a velocidade.

~•~

O prédio inteiro geme. O alarme alto que soa pelo prédio faz Dorcas respirar
fundo, com os olhos arregalados e as mãos tremendo.

"Dorcas, temos que ir," declara Minerva.

"Mas—" Dorcas prende um gemido atrás de seus dentes e olha para a tela
onde Lily ainda está correndo, ainda correndo, ainda correndo das mãos
guiando. Se eles partirem agora, eles não poderão ajudá-la. Eles não saberão se
ela e todos os outros conseguiram escapar, não até que acabe, não até que
Dorcas possa fazer a ligação.

"Dorca!" Minerva grita.

"Espere," James engasga. "Por favor, espere. Regulus e—"

"Temos que fazer isso. James, desculpe, temos que fazer isso," Dorcas diz a
ele, totalmente arrasada. "Não temos tempo. Se não formos agora, nós vamos
morrer. James, eu sei, ok? Eu sei, mas—mas Lily ainda está nisso, e assim que
estivermos na garagem, eu vou fazer a ligação. Ela vai fazer tudo o que puder
para tirá-los de lá. Ela vai."

"Ainda há uma chance, James," diz Frank. "Você só tem que esperar, ok? Mas
ela está certa. Temos que ir agora."

"Vamos! Vamos," ordena Dorcas. "Vai! Vai! Vai!"

Sem outras opções, é isso que todos fazem.

~•~

796
ZEPPAZARIEL

Regulus está molhado de chuva e correndo para salvar sua vida. Sempre as
mãos. Ele está tão cansado das mãos. O farfalhar das sebes é alto, depois mais
alto, depois muito alto. Há um forte ruído vindo de cima que o faz olhar para
cima quando ele vira uma esquina, conseguindo avistar uma sombra enorme
passando no céu por apenas um segundo antes de colidir com alguém forte o
suficiente para atingir o chão.

Ele rola, então volta com sua adaga pronta, apenas para vacilar de surpresa ao
ver uma mulher que definitivamente não deveria estar no labirinto. Não é um
tributo. Uma ilusão?

"Regulus," ela diz, com as mãos levantadas, sem se mexer—ela fala como se o
conhecesse, "Meu nome é Lily. Eu não estou aqui para—"

"Regulus!"

Um choque percorre o corpo de Regulus ao som familiar da voz de Mary, e


seu coração martela quando ela cai no chão de uma corda à qual está presa.
Ela se move em direção a ele, rápido, e ele recua abruptamente, girando sua
lâmina para cima.

Mary para, pisca, então parece tão fodidamente triste. "Ei, Regulus, sou eu. Eu
prometo que sou eu, ok? Eu—eu sei que isso é confuso, mas nós realmente
não temos muito tempo agora. Nós estamos tirando você daqui. Eu preciso
que você venha comigo ."

"Para onde?" Regulus pergunta brevemente, olhos estreitados.

"Fora. Em um lugar seguro," Mary diz a ele. "Eu—eu sei que você está com
medo e no limite, mas quanto mais cedo tirarmos você daqui, mais cedo
podemos encontrar Sirius e tirá-lo também."

É como se ela dissesse as palavras mágicas. O coração de Regulus salta e ele


abaixa sua adaga. "Você vai tirar ele?"

"Assim que tirarmos você," promete Mary. Ela estende a mão para ele.
"Vamos. Barty está esperando no porta-helicópteros."

"Barty?" Regulus pergunta, e sua voz falha, lágrimas enchendo seus olhos
enquanto uma forte pressão aumenta em seu peito. Lá está Mary, não
exatamente uma amiga, mas amiga de Sirius e James. Alguém gentil. Alguém
797
CRIMSON RIVERS

que o lembra de casa. E lá está Barty, em algum lugar, esperando. Barty. Uma
constante. Ele está aqui? O lar está aqui, e o lar chegou para ele, e Regulus
quer tanto voltar para casa agora. James é sua casa. Onde ele está?

Mary dá um passo à frente e o toca gentilmente, passando a mão pelo


cotovelo dele para puxá-lo para mais perto. Ela puxa a adaga dele e murmura
para ele, explicando que eles têm que subir, subir, subir. Regulus não está bem
com isso, na verdade, porque ele não gosta de altura, mas ela negocia com
ele; Assim que você estiver no porta-helicópteros, encontraremos Sirius.

Não há muito tempo, e Regulus quer ir para casa, e fará de tudo para garantir
que Sirius também possa ir. Então, ele enfia o rosto no cabelo de Mary, fecha
os olhos e a segura enquanto eles se levantam.

É um caos no porta-helicópteros. A porra do caos total. As pessoas estão


gritando, se movimentando, cheias de atividade. Há rostos que ele não
reconhece e rostos que ele reconhece do labirinto. Lá está Barty, de repente,
que praticamente o afasta de Mary e engasga com uma respiração áspera
enquanto o agarra em um abraço. Regulus afunda nele de uma só vez.

"Puta que pariu, porra—" Barty se interrompe e empurra Regulus para trás,
guiando-o para um assento embutido no lado fechado do porta-helicópteros,
ao lado de uma arma muito grande. "Ok, olha, eu tenho que tirar o rastreador
do seu braço, Regulus. Eu tenho que cortar e desenterrá-lo. Isso vai doer. Ei,
você está ouvindo?"

Regulus está atordoado, oprimido e mal consegue se ouvir pensando sobre os


sons de todos os outros. Barty bate nele. Apenas dá um tapa nele com força
suficiente para fazê-lo se sacudir e se concentrar. Barty levanta um bisturi e
também ergue as sobrancelhas.

"Ok," Regulus diz, balançando a cabeça. "Ok."

Regulus mal consegue sentir ou entender alguma coisa, porque alguém


começa a gritar da cabine, e um homem de óculos começa a latir ordens para
Mary, e é um caos total. O porta-helicópteros se inclina e todos balançam com
o movimento.

"Sybill!" Barty ruge. "Mantenha a porra da coisa estável!"

798
ZEPPAZARIEL

Há sangue no braço de Regulus.

"Eles estão atirando em nós!" alguém grita.

"Regulus? Regulus?" Narcissa pergunta, de repente ao seu lado, olhando para


ele com os olhos arregalados. Seu braço está envolto em um pano branco.
Tem sangue nele.

Eu matei sua irmã, pensa Regulus. Ele não diz, mas sente, e não sente nada.

"Consegui!" Barty declara. "Ok, hora de jogar fora!"

"Barty, não!" O homem de óculos avança para puxar Barty para fora do
caminho no momento em que ele joga o rastreador pela abertura, e todos
começam a gritar e se abaixar quando tiros se espalham pelo porta-
helicópteros.

"Temos que pegar Lily!" a pessoa da cabine grita. "Mary, pegue Lily! Traga
Lily para cima agora!"

"Porra!" Mary grita, e então ela está correndo direto para a porta aberta e
balançando para fora, a corda prendendo e girando no mecanismo enquanto
ela desce.

Regulus observa devagar.

Os ouvidos de Regulus estão zumbindo.

Regulus está segurando a mão de Narcissa.

"Amos, você pode—" Barty se interrompe e atinge o chão no momento em


que mais tiros atravessam a abertura. Todos vão para o chão, mergulhando
para fora do caminho.

O porta-helicópteros se inclina novamente, e todos eles deslizam e balançam,


balançando com o movimento dele. Regulus está no chão, debaixo de
Narcissa, e não sabe como chegou aqui.

"Não! Não!" Lily grita, voltando para dentro com Mary e claramente não
satisfeita por estar aqui. "Ainda não! Ainda há—"

799
CRIMSON RIVERS

"Temos que ir, Lily! Fizemos tudo o que podíamos!" a pessoa da cabine grita
de volta. "Eles já estão aqui!"

Lily marcha para a cabine, e Regulus empurra Narcissa para o lado, tonto e
tremendo. Ele se levanta e observa Mary, com lágrimas no rosto, fechar a
porta lateral do porta-helicópteros e trancar o trinco.

"Porra! Porra!" Lily rosna, saindo da cabine, e todos olham para ela. Ela fica
parada, com o peito arfando, e fecha os olhos com força. "Tudo bem,
escutem! Todo mundo se segure em alguma coisa. Estamos saindo, e não vai
ser uma saída elegante!"

"Espere," Regulus resmunga, tropeçando para frente. "Espere, você não


pegou todo mundo. Você não—"

"Pegamos todos que podíamos," diz Lily.

"Regulus," Barty sussurra, de repente, pegando ele pelo peito e parando ele.
Regulus ainda está tentando seguir em frente, e ele pode ver. Ele pode ver
pela janela da frente do porta-helicópteros, assim como Barty, e Barty se mexe
para bloqueá-lo, para bloquear sua visão. Os olhos de Regulus ardem.

"Sirius," Regulus engasga, caindo nos braços de Barty e tentando inutilmente


passar por ele, tentando olhar o porta-helicópteros da Relíquia à frente do céu.
"Sirius. Barty, por favor. Sirius—"

"Eu sei, eu sei," diz Barty, e ele olha por cima do ombro, faz uma careta e
depois deixa os dois caírem no chão.

"Sirius," Regulus repete, chorando. "Sirius. Nós temos que pegar Sirius. Barty,
nós não podemos deixá-lo. Nós não podemos—"

"Pare. Regulus, pare." Barty o agarra mais perto e o segura, olhando em seus
olhos. "Só pare."

"Nós não podemos ir embora," Regulus choraminga. "Por favor. Por favor,
Barty, nós não podemos deixá-lo. Nós não podemos, temos que ir buscar ele,
deveria ser eu e ele. Onde ele está?"

"Eles pegaram ele, Regulus," Barty diz suavemente, sua voz carregada de
pena. "As Relíquias pegaram ele."
800
ZEPPAZARIEL

Regulus solta um soluço rouco e balança a cabeça, a porra do mundo inteiro


desmoronando ao seu redor. Ele se enrola. Ele deita ali e sangra, deita ali e
chora, deita ali e grita.

Eles o pegaram. As Relíquias pegaram seu irmão.

Seu irmão mais velho.

Sempre seu irmão mais velho.

801
CRIMSON RIVERS

54
A FUGA: PARTE II

É um longo caminho até o porão, e o elevador foi fechado, porque—sem o


conhecimento de todos—quando as coisas dão terrivelmente, terrivelmente
errado dentro da arena, as coisas começam a dar terrivelmente, terrivelmente
errado dentro do prédio que controla a dita arena. Dorcas provavelmente
deveria ter previsto isso.

É inteligente, Dorcas pode reconhecer amargamente, porque uma vez que o


alerta foi enviado e houve a confirmação de que alguém ou algo estava
invadindo a arena, a nave-mãe disparou o alarme e respondeu de acordo.

"Vamos, vamos, escada," Dorcas instrui, segurando a porta aberta para que
todos possam passar por ela. Melhor ficar fora de vista na saída, se puderem.

O planejamento de Dorcas em torno de patrulhas e rotas concedeu a eles a


vantagem de que eles precisam. Os sete descem a escada rápido, ou o mais
rápido que eles podem. James atrás, mas Frank fica com ele. Enquanto eles
contornam o sexto andar em direção ao quinto, a porta se abre abaixo e uma
enxurrada de Aurores entra.

802
ZEPPAZARIEL

Deve haver um momento de hesitação, porque Dorcas nunca matou ninguém


antes, mas ela aponta e atira sem nem piscar. Tiro na Cabeça. Huey suspira.
James e Frank se inclinam sobre o parapeito mais acima e atiram também.
Não necessariamente tiros na cabeça, mas Aurores caem.

Tiros ricocheteiam nas paredes, espalhando concreto em ruínas e fazendo


com que todos se agachem. Minerva avança, atinge um Auror, agarra o
próximo e impiedosamente o joga de volta contra o muro, e então o inclina
para o lado. Ele grita enquanto cai, navegando para baixo e aterrissando em
uma pilha amassada no fundo. Rodolphus, que está mais próximo do que
Frank e James, vê isso e se inspira, claramente, porque ele se lança na briga e
começa a jogar Aurores também.

No momento em que os Aurores são liberados, eles continuam rapidamente


no caminho. Eles chegaram ao terceiro andar quando as portas à frente, no
sexto andar, se abrem novamente. Mais Aurores entram na escada, atirando
neles e os seguindo. Dorcas descuidadamente levanta a arma sobre o corrimão
e começa a puxar o gatilho, levemente satisfeita ao ouvir o uivo e o gemido de
pessoas sendo atingidas.

Alguns descem e os alcançam no segundo andar, encontrando James e Frank


primeiro, já que eles estão no fundo. Frank joga um Auror contra a parede,
então o arrasta totalmente pela frente do colete para literalmente jogá-lo por
cima do parapeito. Eles não caem de muito alto, então podem voltar a subir.
Minerva deve pensar assim também, porque ela pega a arma de Huey e a
aponta para baixo para atirar.

Outro passa voando, lançado para o lado de onde James bateu neles com sua
bengala, sua outra mão levantada enquanto ele atira nos Aurores ainda caindo
com a ajuda de Frank. Alguns caem. Alguns atiram de volta, e Pandora
engasga quando ela sai do caminho, seu ombro batendo de volta na parede.
Rodolphus a agarra pela nuca e a empurra para baixo, então apoia uma mão
contra a parede e a outra na grade enquanto se levanta e chuta um Auror que
passa por Frank e James. O Auror cai de costas, e Dorcas desvia o olhar antes
de Frank colocar o pé levantado contra a cabeça do Auror com força.

No momento em que todos chegam ao primeiro andar, os Aurores próximos


estão diminuindo, mas mais deles estão constantemente inundando a escada
de cima, atirando neles com pouco sucesso. A certa altura, James fica sem

803
CRIMSON RIVERS

balas, olha para sua arma e simplesmente a joga no Auror à sua frente,
acertando-o no rosto com tanta força que ele tropeça para trás.

Minerva chega primeiro ao nível do porão com Huey e Pandora logo atrás. Há
alguns Aurores que caíram que estão vivos e bem o suficiente para se
levantarem, e Minerva os coloca de volta no chão com balas entre os olhos.
Um Auror ataca Huey, que grita e cambaleia para trás, e Rodolphus solta um
suspiro como se fosse uma babá quando começa a ajudar.

Pandora está mais perto. Ela dá um soco no rosto do Auror e, quase


instantaneamente, começa a chorar. Simplesmente começa a chorar, e o Auror
parece tão genuinamente alarmado com isso por um segundo que ele nem se
move ou faz qualquer coisa. Isso acaba sendo um erro, porque enquanto ainda
chora, Pandora se joga no Auror como um gato selvagem e indomável
tentando arrancar seu rosto.

É terrível, honestamente. Ela está apenas se debatendo, gritando e chorando


ao mesmo tempo, deixando arranhões sangrentos no rosto dele, mas sem
causar nenhum dano real. Rodolphus é quem tem que intervir e enfiar a
cabeça do Auror em uma parede, fazendo-o ficar mole e cair no chão,
nocauteado.

Rodolphus pisca para Pandora. "Você está, uh, bem?"

"Não," diz Pandora com uma fungada.

"Vamos!" Minvera chama, segurando a porta aberta e acenando para que


todos entrem. O chão está cheio de corpos e sangue, alguns mortos e outros
não e alguns feridos demais para se mover.

Dorcas consegue passar pela porta, mas espera por James e Frank, e então
Minerva bate a porta assim que todos saem. Mais Aurores ainda estão
perseguindo-os, mas Minerva dá um passo para trás e começa a atirar na
fechadura até que ela esvazie seu pente. Ela tenta a maçaneta e pressiona
contra a porta, aparentemente satisfeita quando ela não cede.

"Me diga que você tem uma maneira de sair daqui," Minerva resmunga,
virando-se para enfrentar Dorcas enquanto ela joga de lado sua arma com um
barulho surdo. Frank faz o mesmo e, quando Dorcas verifica, ela repete o
movimento. Ótimo, então eles estão todos fora.

804
ZEPPAZARIEL

A boa notícia é que os Aurores vão demorar um pouco para alcançá-los. Se


eles chegarem à garagem rapidamente, poderão sair e pegar o trem, e então
estarão todos a salvo.

"Sim, há uma van na garagem," Dorcas diz a ela.

"Quem está esperando para nos deixar entrar na estação?" pergunta Minerva.

Dorcas dá de ombros. "Eu não sei. Quem quer que seja que Lily enviou. Eles
vão nos deixar entrar no momento em que acionarmos os censores."

"Ótimo," diz Minerva. "Vamos lá."

"Espere," resmunga Dorcas. "Temos que fazer um pequeno desvio."

Minerva levanta as sobrancelhas em descrença, mas Dorcas endireita os


ombros e inclina o queixo para cima, porque ela está no comando aqui e fez
uma promessa. James sorri para ela.

~•~

"Você ouviu isso? Malditos tiros! E o prédio está fechado agora. O elevador
não funciona. Potter e seu bando, sem dúvida."

Remus cruza os braços com mais força ao redor de sua caixa torácica,
sentindo as batidas frenéticas de seu coração enquanto anda de um lado para
o outro em sua cela. O som abafado de tiros desapareceu, mas o som fraco de
um alarme soando pelo prédio não.

Algo aconteceu, obviamente.

Remus não sabe o que aconteceu, mas pelo pavor transformando o sangue em
suas veias em gelo, ele apenas sabe que de alguma forma envolve James, e
provavelmente Pandora. Oh, o que eles fizeram? Ele está pirando pra caralho
se perguntando se eles estão bem, se eles ainda estão vivos, e o
maldito Malfoy não está ajudando.

Mais uma vez, Lucius deve ter saído com alguém para beber ou algo assim,
porque ele ficou preso neste nível quando o prédio fechou inesperadamente.
Remus não sabe com quantas pessoas ele está, mas ele ouviu pelo menos uma
pessoa grunhir em resposta às coisas que ele disse.

805
CRIMSON RIVERS

À princípio, Lucius estava tagarelando sobre James aparentemente ter algum


tipo de plano secreto acontecendo para ajudar Regulus ou Sirius a vencer os
jogos vorazes. Ele estava falando sem parar sobre como James colocou sua
estilista para fazer o trabalho sujo, o que é contra as regras, e Remus tem
resistido ao impulso de arrancar suas próprias orelhas ou arrancar sua máscara
e gritar no corredor para Lucius fechar sua maldita boca estúpida. Porra,
Remus quer matá-lo. Ele coça com o desejo. Faminto por isso.

Assim que os tiros começaram, Lucius ficou em silêncio. Ele agora está
derramando suas reclamações, e Remus pode ouvi-lo andando no final do
corredor, provavelmente esperando o elevador voltar para que ele e seu
companheiro possam sair.

Há o som distante de uma porta batendo e pés batendo contra o chão. Remus
congela, seus olhos se arregalam, e ele não consegue parar de se virar para
encarar as grades de sua cela, encarando o nada com os olhos arregalados e
aguçando os ouvidos. Lucius ficou em silêncio. Os passos pararam.

E então, Lucius diz categoricamente, "Potter, como eu sabia que era você? É
claro que era você e..."

O silêncio é denso.

"Sim, eu," vem a voz seca de Minerva McGonagall. "Termine sua frase, Sr.
Malfoy, por favor."

"O que isso significa?" Lucius sussurra.

"Olhe," diz James, sua voz soando afiada, "Só vou fazer esta oferta uma vez.
Você e Dolohov podem vir conosco, ou podemos passar por vocês. A arena
caiu. Estamos tirando os tributos. Ou venha conosco, ou dê o fora do
caminho, se não—bem, eu disse a você o que aconteceria se você entrasse no
meu caminho de novo."

Remus tem certeza que seu coração parou. A arena caiu. Estamos tirando os
tributos. Sirius. Essa é a primeira coisa que Remus pensa. Apenas Sirius.

O que diabos está acontecendo? James nunca mencionou isso, e certamente


ele teria, se soubesse. Droga. Que diferença uma noite pode fazer, de fato.

806
ZEPPAZARIEL

"Você—" Lucius faz um grunhido baixo de fúria. "O que eu disse, Dolohov?
Eu disse que Potter iria estragar tudo de alguma forma. Eu sabia que você
estava planejando algo. Eu sabia ."

"Oh, pare com isso, Lucius," diz outra pessoa, alguém que Remus não
conhece. "Foda-se a glória de vencer. Quem se importa com isso? Eles estão
tirando meu irmão. Sua esposa também. Vencer os jogos não é importante—"

"Para você," Lucius resmunga. "Não é importante para você, mas para
algumas pessoas, a integridade por trás desses jogos é importante. Se você acha
que vou ficar parado e deixar vocês estragarem isso—"

"Bem," James interrompe, "Eu fiz minha parte. Eu tentei."

Há o seguinte som de um grunhido, e então as pessoas estão gritando, e


Remus fica muito quieto enquanto ouve os sons claros de uma briga.
Possivelmente mais de uma. Ele pode ouvir Pandora gritando, e Frank
xingando, e outra pessoa batendo em uma superfície dura.

A briga não fica mais distante. Aproxima-se. Remus dá um passo à frente,


atraído por ela como uma mariposa para uma chama, suas palmas coçando.
Faz anos desde que ele fez qualquer coisa, absolutamente qualquer coisa, que
pudesse liberar a pressão acumulada sempre vibrando sob sua pele, como se
ele estivesse ansioso para sair de si mesmo e deixar ir. Seu coração palpita
rapidamente na base de sua garganta, suas têmporas latejando, lutando para
respirar por trás de sua máscara em uma estranha sensação de antecipação que
ele realmente não consegue entender. Ouve-se o som de violência, corpos
sendo atingidos, e Remus avança de novo. De novo. De novo.

No momento em que Lucius Malfoy aparece na frente de sua cela, as mãos de


Remus estão correndo entre as barras por conta própria. Seus dedos se
enrolam em cabelos sedosos, e ele os agarra antes de puxar com força. Lucius
mal consegue um segundo para ofegar, e então Remus está batendo a cabeça
dele na barra de aço uma, duas, uma terceira vez. Lucius olha para ele
atordoado, ensanguentado e já machucado, olhos desfocados.

Remus puxa a cabeça dele com toda a força e ouve o estalo ao mesmo tempo
em que registra a sensação de sangue se acumulando em seus dedos no cabelo
de Lucius, onde sua cabeça foi aberta. Remus sabe como são os olhos de um

807
CRIMSON RIVERS

homem morto, e Lucius é de fato um homem morto antes mesmo de atingir o


chão quando Remus finalmente solta seu aperto.

Está estranhamente quieto.

James passa por cima das pernas abertas de Lucius lentamente e aparece, seus
olhos arregalados, mas eles ainda se iluminam no momento em que ele vê
Remus. Apesar do homem morto a seus pés, James sorri.

Remus estende a mão e hesita por um momento, sentindo-se brevemente


suspenso neste segundo, preso em âmbar e preso em uma cela da qual ele
nunca removeu sua máscara.

Mas é apenas James aqui. Apenas James. O amigo dele. Se Remus pode
confiar em alguém, é nele. E, bem, Remus acabou de matar um homem, então
tirar a máscara não vai fazer muita diferença neste momento. De qualquer
maneira, ele seria executado por isso. Então, exalando de alívio ao fazer isso,
Remus remove a máscara.

"Remus," James cumprimenta calorosamente, "Eu estava cuidando disso."

"Eu fui mais rápido," é tudo que Remus consegue pensar em dizer, e James
solta uma risada estridente e histérica, olhando para ele em pura descrença.
Ele balança a cabeça como se estivesse surpreso.

"Você acabou de—você matou alguém. Você está bem?"

"Ele não é o primeiro, James."

James pisca. Ele pisca novamente. "Oh, então você—você—"

"É uma longa história, mas vamos apenas dizer que não acabei me tornando
um servo na Relíquia por um crime pequeno," Remus diz secamente. "Eu
posso, uh, te contar tudo sobre isso mais tarde da próxima vez que eu sentir
vontade de me abrir um pouco mais, mas depois que você me explicar o que
diabos está acontecendo agora."

"Oh. Certo. Sim, então, eu estou aqui para te libertar," James o informa, e
então ele puxa uma faca.

808
ZEPPAZARIEL

Remus o encara. "James, esse não é o tipo de cela que você pode arrombar
com uma faca, e eu—eu não posso ir com você. Meu—"

"Me ouça, não há muito tempo," James interrompe. "A arena foi—bem,
algumas pessoas invadiram. Há toda essa revolução secreta da qual minha
estilista faz parte. É insano, e nós—nós esperamos que eles tenham
conseguido tirar Sirius e Regulus. Você ouviu o que eu estou dizendo, Remus?
Você pode ser livre. Você pode vir conosco e estar em um lugar seguro, e
Sirius estará lá, e—e—" Ele para, então engole. Sua voz cai para um sussurro.
"Por favor. Apenas, por favor, venha, porque—porque Sirius gostaria que
você viesse, e porque você é meu amigo, e porque você merece ser livre, e
porque eu não vou deixar você para trás."

James soa—e parece—desesperado. Esperançoso. Suplicante. Tudo o que


Remus quer fazer é concordar, apenas concordar pra caralho, porque ele é
quem ele é e ele daria qualquer coisa para ir embora.

Qualquer coisa, exceto a vida de seu pai.

"Eles vão matar meu pai, James," Remus sussurra, sua voz baixa.

"Acredite em mim, Riddle estará um pouco ocupado com muitos outros


assuntos para se concentrar na perda de um servo," diz McGonagall, que
aparece. "Não posso prometer que seu pai viverá, mas posso prometer que,
quer você fique aqui ou vá conosco, as chances dele morrer são as mesmas. A
guerra está aqui e isso vale para todos, incluindo o próprio Riddle. Além disso,
a propagação da rebelião certamente levará a missões de recrutação em todos
os distritos e já o leva; seu pai pode já estar seguro, ou um dia pode estar."

Remus a encara, sua boca seca. Ele hesita, o coração batendo forte no
peito. Pai, ele pensa. Pai, por favor, não morra. Por favor, não esteja morto. Eu quero
ser livre. Eu posso ser livre?

"Remus," James resmunga, "Você acha que seu pai iria querer que você
desistisse da sua liberdade e chance de segurança só por ele? Você não acha
que ele daria a vida dele para você ter tudo isso?"

Remus pensa sobre isso, aquela carta, aquelas palavras que ele leu tantas vezes
que as memorizou, palavras nas quais ele pensava dia após dia. Dias pensando
em nossa última briga me ensinaram muitas coisas sobre arrependimento, e quero dizer

809
CRIMSON RIVERS

agora que o único arrependimento que realmente tenho é não ter assegurado a você, mesmo
com nossas diferenças, que sempre amaria você e o apoiaria em qualquer coisa. Se você
duvida de alguma coisa, não duvide disso, porque eu sempre vou te amar, aconteça o que
acontecer; Sempre terei orgulho de te chamar de meu filho.

Depois de todas as brigas e lutas para se comunicar, todos os empurrões e


puxões e dor, toda a distância e anos passados separados, e todas as vezes que
Remus nunca realmente ouviu seu pai—depois de tudo isso, aqui está Remus,
decidindo ouvir desta vez.

"Ok," Remus resmungou. "Tudo bem, eu vou, mas—mas você realmente não
pode invadir a cela com uma faca."

James exala em alívio visível, então limpa a garganta. "Um, bem, na verdade a
faca é para cortar o rastreador da sua coxa."

"Oh," Remus diz.

"Er, se você está bem com isso, quero dizer," James murmura sem jeito,
parecendo um pouco inseguro.

"Eu—não, quero dizer sim, isso é—bem, é meio que necessário, não é?"
Remus pergunta, tossindo. "Certo, apenas—uh, você tem um plano para entrar
na cela? Porque ela tem um cronômetro. Ela não abrirá de novo até de
manhã, a menos que seja aberta manualmente."

"Ok, como eu faço para abrir manualmente?"

"No final do corredor, você vira à esquerda e desce para o segundo escritório.
Essa é a sala de controle. As três chaves devem ser giradas ao mesmo tempo,
e todas estão em partes separadas da sala, mas uma vez giradas, você pode
abrir qualquer cela que quiser."

James acena com a cabeça e se vira para o lado para, presumivelmente, olhar
para todos os outros com quem ele está. "Ok, eu vou. Preciso de mais dois."

"Frank, Rodolphus, vão com James," diz Dorcas, a estilista, que


aparentemente também faz parte de uma revolução? "Se os Aurores
conseguirem passar, eles alcançarão vocês três primeiro, e vocês estarão todos
fortes o suficiente para lutar. Huey, você e eu iremos trazer a van para a

810
ZEPPAZARIEL

garagem. Minerva, tire aquele rastreador da coxa dele, e Pandora... Querida, o


que você gostaria de fazer?"

Pandora aparece e olha através das grades para Remus com um sorriso
trêmulo. "Acho que vou segurar a mão de Remus."

O rosto de Remus se suaviza. Pandora parece um desastre. Seu cabelo está


uma bagunça, o rosto inchado de lágrimas e ela está toda machucada. Ele
estende a mão por entre as barras e ela se aproxima, sem olhar para o corpo
de Lucius enquanto estende a mão para entrelaçar os dedos deles. Ele aperta
suavemente, e ela aperta de volta.

James passa a faca para Minerva, e então ele se foi, movendo-se rapidamente
para longe com sua bengala batendo contra o chão enquanto ele vai. Os
outros também partem, exceto Minerva, que se aproxima das grades. Remus
se pressiona contra elas e se vira, segurando sua coxa no espaço aberto entre
eles.

"Remus, não é?" Minerva pergunta baixinho.

"Sim," Remus murmura.

"Eu sou Minerva," ela responde, ajoelhando-se. "Eu vou cortar a costura das
suas calças para revelar o local da injeção. Você deve ter uma pequena cicatriz
aí. Vou fazer o possível para ser o mais rápido possível, mas temo que
também vá doer de qualquer jeito."

Remus respira fundo e fecha os olhos, deixando sua testa descansar contra as
barras frias e sentindo Pandora mais uma vez apertar sua mão. Exalando,
Remus dá um aceno brusco e diz, "Faça o que você precisa fazer."

~•~

"Nós pegamos todos eles," Lily sussurra pelo telefone. "Nós pegamos todos
eles, Dorcas, todos menos Sirius. As Relíquias pegaram ele."

Os olhos de Dorcas se fecham. Ela se inclina para a frente e pressiona o rosto


contra o volante, trancada em uma van silenciosa, o único som que a
acompanha é a respiração silenciosa de Huey.

811
CRIMSON RIVERS

"Ok," Dorcas murmura. Ela pisca, abre os olhos e se endireita. "Ok, mas—
mas vocês estão fora, sim? Marlene? Ela está segura? Vocês estão todos
voltando para o Fênix?"

Há um momento de silêncio, e então Lily murmura, "Nós, hum, conseguimos


sair da arena, mas tivemos alguns problemas. Marlene está bem, e todos nós
estamos bem, e vamos lidar com isso."

"Lily—"

"Apenas—apenas se preocupe com você e sua sorte, Dorcas. Vocês todos


saiam daí, ok? Nos veremos em breve."

Dorcas não responde antes de Lily desligar. Engolindo em seco, Dorcas


abaixa a janela e joga o telefone, cerrando o maxilar, então estende a mão para
a lateral do volante e gira a chave.

~•~

James vê o que Remus quis dizer sobre o escritório quando ele entra. Está
deserto e intocado, tão sem uso que o ar está rançoso e há teias de aranha
abandonadas nos cantos. Há também três painéis separados na sala, com
distância suficiente entre eles para que uma pessoa não consiga alcançá-los
todos de uma vez. James não tem certeza se alguém entra aqui.

Com uma troca de olhares entre todos eles, James se separa enquanto
Rodolphus e Frank fazem o mesmo. Frank vai para o canto mais distante,
Rodolphus vai para trás e James vai para o painel principal na frente.

"Tudo bem, vou fazer uma contagem regressiva e depois viramos," declara
Frank enquanto estende a mão para pegar sua chave. James e Rodolphus
fazem o mesmo. "Três... dois... um..."

James vira a chave e observa o painel acender à sua frente, uma pequena tela
piscando Manual Override Opcional e uma fileira de números entre um e doze
piscando. Apenas doze servos pernoitam, e os demais são levados para festas
ou a pedido, e depois escoltados para fora após o cumprimento de suas
obrigações. Mas estes são os que ficam, um servo por distrito, e James olha
para o número seis. Esse é o Remus.

812
ZEPPAZARIEL

Por alguma razão, a mão de James paira sobre o botão e seu olhar rasteja
lentamente para o número doze. Sim, Remus foi designado para o distrito seis,
mas ele é do distrito doze. Lentamente, os olhos de James percorrem cada
número brilhante, seu peito apertando quando ele pensa em como essas
pessoas, todas elas, são reduzidas a números e aos serviços que prestam, mas
todas têm casas de onde vêm e vidas que deveriam viver. Não é só Remus.
Ele não é o único.

"James?" Frank pergunta. "Funcionou?"

"Os números estão iluminados," comenta Rodolphus, movendo-se para olhar


entre os referidos números e James. "Você está esperando por um convite ou
algo assim? Alô? Deixe seu amigo sair."

James o ignora e pressiona o número um. Ouve-se um zumbido e a tecla no


painel volta ao lugar quando os números diminuem. Ok.

Ok, então um de cada vez.

"Volte para o seu painel," James ordena. "Temos que virar essas chaves mais
onze vezes."

Rodolphus suspira e se vira para voltar para seu painel, murmurando, "Oh,
pelo amor de Deus. Ótimo, estou preco com um coração mole."

"Frank," diz James, "Conte."

Então, Frank faz. E de novo. E ele continua fazendo isso. Repetidas vezes,
eles repetem o processo, uma cela por vez. Eles quase certamente não têm
tempo para isso, e são onze outras pessoas que terão rastreadores cortados de
suas coxas, mas... Bem, James não pode deixar de fazer isso. O que ele vai
fazer? Não salvar a todos que ele puder? Você o conhece?

Na décima primeira vez, eles entraram no ritmo, rápidos com isso e


acostumados com o padrão. Eles só vacilam quando há um barulho ao longe,
fazendo com que todos congelem. James vira a cabeça para olhar para Frank,
que está muito quieto.

"Merda," Frank sussurra. "Três, dois, um."

813
CRIMSON RIVERS

Todos eles apertam as teclas uma última vez, e James rapidamente pressiona o
número doze, estremecendo com a campainha alta. Fora isso, está quieto lá
fora, e todos se entreolham e esperam. Quando nada acontece, eles dão de
ombros.

Não há passos fortes, nenhum som de movimento, nenhum estalo de tiros.


Sem mais nada para fazer, eles se movem para a porta com cautela. Está
fechada, e Frank a alcança, agarrando a maçaneta e estendendo a mão livre
para eles. Eles esperam e ouvem, mas não há nada. A porta se abre e nada.
Frank pressiona as costas contra a porta e enfia a cabeça pela porta, e ainda
nada.

"Vendo alguma coisa?" James sussurra.

"Não, estamos limpos, vamos lá," Frank murmura com um forte suspiro de
alívio, endireitando-se e saindo e levando um tiro na cabeça segundos depois.

É rápido, repentino, um crack! abrupto que faz a cabeça de Frank balançar e o


sangue espirrar contra a porta e na frente de James. Ele se encolhe quando
atinge seu rosto, pequenos pontos e manchas vermelhas na frente de seus
óculos.

Frank está lá em um segundo, vivo e de pé, e então ele está caindo no chão no
seguinte.

James realmente não entende isso. Ele vê, e não faz sentido para ele. Ele olha,
e ele não tem certeza do que diabos ele está olhando. Ele acha que talvez
Frank esteja apenas muito ferido.

"Frank?" James pergunta, começando a dar um passo à frente, e então ele é


puxado bruscamente para trás pelo colarinho e jogado contra a parede por
Rodolphus, que o pressiona ali e tapa a sua boca com a mão, os olhos
arregalados.

James acha que Rodolphus está tremendo e então percebe que é ele, mas não
tem certeza do porquê. Ele não sente frio. Há algo quente e úmido em seu
rosto. Sangue.

Como isso foi parar lá?

814
ZEPPAZARIEL

Rodolphus fica parado por um longo momento. Um batimento cardíaco, dois,


cinco, dez. No décimo quinto, James percebe que o coração de Frank não está
mais batendo. Ele não—ele realmente não consegue juntar as peças, o som de
um tiro e sangue em seu rosto e Frank ferido no chão e Frank de pé e o
coração de Frank não batendo e Frank e Frank e Frank—

A mãe dele morreu hoje.

Um barulho estranho rasteja pela garganta de James, abafado na palma da


mão contra sua boca, Rodolphus empurrando com mais força quando ele
tenta se mover, lutar, pegar Frank e detê-lo antes que ele saia da sala, mas há
sangue em seu rosto, e Rodolphus está sussurrando para ele fervorosamente,
implorando.

"Shh, shh, por favor, você tem que ficar quieto, cara," Rodolphus sibila
baixinho. "Eu sei, ok? Eu sei, mas ele está morto. Ele está morto, James. Cale
a boca, eles estão vindo."

James fica parado, porque a urgência na voz de Rodolphus é suficiente para


assustá-lo, e ele fica com medo. Ele não consegue ver muito bem. Há algo em
seus óculos, obscurecendo sua visão.

Sangue.

Sangue de Frank.

Ouve-se o som de uma bota se levantando pegajosa do chão, e então uma


arma acerta o cano da porta aberta, avançando apenas uma polegada antes de
Rodolphus se afastar de James para bater e atacar o Auror que está
começando a aparecer. James observa Rodolphus acertar a arma no rosto do
Auror, não consegue ver tudo, mas então o Auror grita e Rodolphus tem a
arma.

O ar se enche de tiros, Rodolphus usando o Auror como escudo enquanto sai


pela porta para atirar naqueles que estão atirando neles. James levanta a mão
trêmulo e tira os óculos, olhando fixamente para o chão, a visão embaçada e
seca enquanto limpa os óculos antes de colocá-los de volta.

"James!" Rodolphus berra. "Uma maldita ajudinha aqui!"

815
CRIMSON RIVERS

Piscando rapidamente, James gira e se apoia em sua bengala enquanto sai pela
porta. Seu primeiro instinto é ajudar Frank a se levantar, mas Rodolphus
parece estar em uma situação pior agora, então é nisso que James se
concentra.

James pega sua bengala e acerta o rosto do Auror mais próximo com ela,
grunhindo com a força e o seguindo enquanto ele se choca contra a parede.
Ele levanta a perna dolorida para dar uma joelhada no estômago dele e
arrancar a arma dele. Não é uma pistola, mas algo com um jato largo e tiro
rápido. Mirar, atirar e torcer para não errar é mais fácil assim.

Rodolphus e James entram e saem da sala para se proteger, atirando quando


podem, principalmente rasgando as paredes. O grupo de Aurores está do
outro lado do corredor perto do elevador, nos cantos. Alguns caem de cada
vez, então James e Rodolphus os pegam e fazem o possível para não levar um
tiro. O tempo todo, Frank permanece no chão.

James e Rodolphus têm a melhor cobertura, reconhecidamente, e não


desperdiçam balas quando os Aurores se aproximam. Eles apenas os arrastam
para a sala e batem neles e, em algum momento, as coisas ficam muito quietas.

Cuidadosamente, James espreita ao virar da esquina. Há corpos sangrando por


todo o corredor, e é tão silencioso que é totalmente arrepiante. Rodolphus
estende a mão e toca seu ombro, então gesticula para ele ficar, e James fica.

Leva apenas um minuto para Rodolphus se esgueirar pelo corredor, arma em


punho, endireitar-se e voltar quando descobre que eles estão bem. James se
apoia em sua bengala e grunhe enquanto sai para o corredor.

"Esse não é o último deles," murmura Rodolphus. "Precisamos dar o fora


daqui."

"Sim, ok, vamos embora," James concorda, e então eles o fazem. No


caminho, James para perto de Frank e se inclina para cutucá-lo no ombro. "Ei,
vamos. Frank, precisamos ir embora."

Rodolphus para e o encara.

"Hora de ir, Frank, vamos," James insiste, puxando sua manga e empurrando
um pouco, tentando fazê-lo se mover.

816
ZEPPAZARIEL

"James," Rodolphus diz suavemente.

"Você pode ir," James oferece. "Nós alcançamos você."

"James," Rodolphus repete, seu rosto se contorcendo em uma careta


enquanto acena para Frank, "Olhe para ele."

James não está olhando para ele.

James não quer olhar para ele.

James está com medo de olhar para ele, por algum motivo.

Engolindo em seco, a mão de James fica frouxa no braço de Frank, e ele fecha
os olhos com força. Há o som da respiração. Duas pessoas. Apenas duas
pessoas. Há sangue no rosto de James, mas não em seus óculos, e ele pode
ver. Ele abre os olhos e olha.

Ele sempre desejará não ter feito isso.

Frank caiu desajeitadamente, então metade de seu rosto está em sua própria
poça de sangue cada vez maior. Seus olhos estão arregalados e vidrados, sua
boca ainda ligeiramente aberta em seu último suspiro de alívio.

James sente sua boca se contrair e tremer, seus olhos queimando, e ele nem
sabe por que, mas neste momento, tudo o que ele consegue pensar é em
como Alice chorou Eu vou estar com ele como uma última promessa para
Augusta, e era uma mentira.

Não há mais nada para Alice estar.

Com dedos trêmulos, James estende a mão e abaixa as pálpebras de Frank,


como se ele estivesse dormindo. James não sabe ao certo por que ele faz isso,
porque Frank não está dormindo. Frank está morto.

"James," diz Rodolphus, "Nós temos que ir."

Cada célula do corpo de James protesta em ir embora e, no entanto, ele sabe


que não tem escolha. Ele pisca rapidamente contra seus olhos ardendo,
tentando respirar em meio à dor forte em seu peito, e ele se força a se
levantar. A perna dele dói.

817
CRIMSON RIVERS

Rodolphus começa a se mover quando James o faz, e eles não falam. Ao


contrário de Frank, Rodolphus não acompanha o ritmo de James, mas
mantém uma arma em punho enquanto eles se movem em direção às celas
novamente. Eles são parados rapidamente por Pandora ajudando uma mulher
mancando em direção à garagem.

"James," Pandora respira aliviada enquanto ele avança para ir ajudá-la. "Nós
ouvimos tiros. Você está—" Ela vacila quando olha para ele. "Tem sangue em
você."

"Frank," é o que sai de sua boca.

Os olhos de Pandora se arregalam. "Frank? Ele está—onde ele está?"

"Morto," é o que sai da boca de James em seguida, o que é estranho, ele


pensa, porque sua voz soa vazia, desprovida de emoção, como se ele não
sentisse nada, mas ele sente tudo.

"Morto?" Pandora engasga. "Ele está—"

"Ele foi baleado," James explica categoricamente, e então ele não quer mais
falar sobre isso. "Remus—Remus saiu? Esse é o último da cela?"

"Não, ele—quero dizer, ele está bem. O rastreador está fora, e ele está
ajudando a levar os últimos servos com Minerva. Ele, hum, teve que persuadir
alguns a concordarem em sair, mas nós levamos a maioria deles para a van
agora. Remus e Minerva devem estar seguindo com os dois últimos aqui em
breve," Pandora diz a ele.

"Bom." James acena com a cabeça e não diz mais nada durante todo o
caminho até a garagem com Rodolphus fechando a retaguarda, mantendo sua
arma apontada. Pandora começou a chorar. A mulher entre eles está
tremendo e sugando o ar como se fosse um milagre.

Na garagem, há muita atividade na van do centro. Dorcas e Huey estão


ocupados, ajudando as pessoas que eles tiraram lá de dentro. Já parece um
ajuste apertado, mas não é impossível. Algumas das pessoas libertas choram
silenciosamente, mas nenhuma delas fala. Todos eles parecem apavorados, e
cada um deles tem coxas machucadas, que Dorcas e Huey estão enrolando o
mais gentilmente possível.

818
ZEPPAZARIEL

"Temos mais uma," grita Pandora, e Dorcas pula na parte de trás da van para
ajudar a mulher a entrar. Pandora rasteja atrás dela, ajudando Huey com o
resto.

"Você está bem?" Dorcas pergunta a James e Rodolphus, balançando o olhar


entre eles. Ela olha para a arma nas mãos de Rodolphus, mas não comenta
sobre isso, aparentemente confiando nele o suficiente a essa altura. "Nós
ouvimos tiros. Onde está Frank?"

"Você já ligou para Lily?" James murmura.

Dorcas hesita, depois murmura, "James, onde está Frank?"

"Morto," James diz irritado. "Você já ligou para Lily?"

Rodolphus avança para plantar um pé na parte de trás da van, dando um olhar


de dor para uma Dorcas atordoada. "Frank levou um tiro na cabeça. Houve—
nós não pudemos fazer nada. Pegue leve com ele, ok? Acho que ele está em
choque."

James não está em choque. James se sente bem. James tem sangue no rosto e
sua perna dói, e ele precisa saber se Dorcas já ligou para Lily, então ele
pergunta novamente. "Você já ligou para Lily?"

"Oh, James," Dorcas resmunga, seu rosto parecendo simplesmente cair, seus
olhos ficando mais brilhantes e ombros caídos como se um novo peso tivesse
caído sobre eles. A líder. Ela é a líder e deu a ordem para enviar Frank junto, e
James foi quem salvou onze pessoas extras apenas para perder um amigo.

"Você já ligou para Lily?" James estala.

"S-Sim, eu—eu—" Dorcas revira a mandíbula, gaguejando até parar e


erguendo o olhar como se pudesse lutar contra a gravidade das lágrimas que
se formavam em seus olhos. Ela solta um suspiro lento, dá uma fungada
áspera e então balança a cabeça. "Sim, eu liguei para ela. Ela—"

"O que?" James sussurra, ofegante, desesperado pra caralho.

Dorcas engole. "Eles tiraram Regulus. Ele saiu, James. Ele saiu e está a
caminho da Fênix."

819
CRIMSON RIVERS

James sente como se seu peito se partisse ao meio. Um gemido baixo sai dele,
e sua mão voa até a boca enquanto seus olhos começam a arder, e aí está. O
transbordamento. Instante. Ele está aqui agora, desmoronando de puro alívio
e querendo tanto chegar até Regulus agora, abraçá-lo, cair em seus braços e
chorar até não ter mais lágrimas para derramar.

Em breve. Tão em breve. Muito em breve, James poderá ir até ele e enterrar o
rosto no cabelo de Regulus, e talvez nunca mais deixá-lo ir. Ele quer—oh,
porra, oh, ele quer as mãos de Regulus em seu cabelo e os olhos de Regulus
encontrando os dele e Regulus prometendo a ele que ele é bom, que ele ainda
é bom, e que não é ruim ser bom, mesmo quando fazer o bem leva a coisas
ruins acontecendo. Ele pode explicar isso a Regulus, dizer a ele que nunca
quis que Frank morresse, porque ele só queria salvar todos que pudesse, e
Regulus será capaz de explicar a ele que não é culpa dele, e que ele tentou o
seu melhor, e que está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem quando todos
eles estão juntos, seguros e protegidos.

E Sirius. Ele vai perdoá-lo, não vai? James sabe, no fundo, que Sirius nem vai
culpá-lo. Sirius vai abraçá-lo, e eles vão aguentar, e eles vão chorar por Frank
juntos. Eles vão respirar juntos. Eles finalmente, finalmente, finalmente
ficarão juntos.

"Ok," James engasga. "Ok, então—então Regulus e Sirius estão seguros? Eles
estarão lá quando chegarmos?"

Dorcas não responde.

Dorcas baixa o olhar.

Eles tiraram Regulus, disse ela. Regulus. Eles tiraram Regulus. Por que ela não
disse Sirius também? Por que ela simplesmente não disse que eles tiraram
todo mundo? Eles não tiraram todo mundo?

"Dorcas?" James sussurra.

"Sinto muito," Dorcas sussurra de volta, olhando para cima com lágrimas nos
olhos, e James sente seus pulmões pararem. "Sinto muito, James. Eles—eles
não conseguiram pegar Sirius. Eu—"

820
ZEPPAZARIEL

"Não," James geme, balançando a cabeça e dando um passo para trás. "Não,
não, não diga—não me diga isso. Não—"

"Eu sinto muito," diz Dorcas, com a voz rouca. "James, eles fizeram tudo o
que podiam, mas eles simplesmente—eles não conseguiram pegá-lo. Eu sinto
muito, James. As Relíquias pegaram Sirius antes de nós."

James se afasta dela, deixando cair a cabeça para frente e estrangulando o cabo
de sua bengala enquanto tenta respirar e só consegue soluçar. Há uma mão
hesitante pressionada entre seus ombros, e ele choraminga impotente,
sentindo Dorcas envolver seus braços ao redor de sua frente enquanto ela se
inclina contra suas costas, abraçando-o por trás, segurando-o firme.

"James," Dorcas murmura, "James, Regulus estará lá. Ele estará lá, e ele—ele
precisa de você, ok? Eu sei. Eu sei que é difícil, e eu sinto muito, mas Regulus
estará lá."

Regulus. Oh, Regulus. Eles levaram seu irmão embora. Ele nunca vai ficar
bem de novo, não sem Sirius. James também não sabe se ele vai. E, por um
momento, James só pode ficar parado e odiar todos os outros, todos aqueles
outros tributos que foram escolhidos antes de Regulus e Sirius. Por que outra
pessoa não poderia ficar para trás? Por que Sirius e Regulus não conseguiram
sair?

É um pensamento egoísta e duro que queima através dele como um fogo


ardente, o sol aquece até você chegar muito perto, e James incineraria todos
eles se isso significasse que Sirius poderia ter saído com Regulus. Apenas eles,
se pudessem ser apenas dois. James não se importa que isso o torne egoísta.
Ele não se importa que ele pense e sinta, aqui e agora, que sacrificaria todos os
outros se fosse necessário. Aqui, pensa James. Pegue eles. Pegue qualquer um deles,
exceto os meus. Esses dois são meus. Por favor, por favor, por favor, não os tire de mim.

James não pode fazer isso, nem com Sirius, nem com Regulus, nem com ele
mesmo. Como ele pode? Ele tem que tentar. Ele tem que fazer alguma coisa.
Ele tem que—

"James?"

821
CRIMSON RIVERS

O som da voz de Remus faz James erguer os olhos, e oh, não. Oh, não, não,
não, por favor, não, isso não. Não Remus. Ele disse a Remus que Sirius estaria
esperando. Ele disse—ele prometeu que—

"O que há de errado?" Remus deixa escapar, mancando mais rápido com uma
mulher mancando ao lado dele. Sua perna já está enfaixada e Minerva segue
atrás com um homem que toca seu rosto como se tivesse esquecido como era
sem máscara.

"Frank," Rodolphus chama da van, e James inala profundamente enquanto


Dorcas se afasta dele para ajudar os outros a entrarem na van. Rodolphus
claramente pensa que James está desmoronando com a morte de Frank, e
talvez ele sinta que cabe a ele ser quem diz isso para que James não precise,
porque é ele quem dá uma resposta a Remus. Não a resposta completa, mas
uma resposta, no entanto. "Frank não conseguiu. Nós—nós o vimos cair, e
James não está... aceitando bem."

"Oh, James, eu—eu sinto muito," Remus sussurra, arrastando os pés para a
frente, e então ele está lá, puxando James em seus braços.

James fica mole em seu aperto por alguns segundos, e então ele levanta os
braços e o abraça com força, agarrando-se a ele, não o deixando ir enquanto
Minerva e o outro homem passam. Há mais agitação na van, e James agarra
Remus o mais forte que pode, piscando para tirar as lágrimas dos olhos,
inspirando e expirando.

"Vai ficar tudo bem," James resmunga, engolindo em seco antes de se afastar
e não encontrar o olhar de Remus. "Você está bem? Como está a perna?"

"Eu vou viver," Remus diz, então estremece. "Merda. Ah, desculpe."

"Merda!" Huey explode. "Ei, uh, nós temos companhia!"

"Droga!" Dorcas sibila, e James se vira para vê-la acenando com a mão para
Minerva. "Você dirige. Vá! James, Remus, entrem. Hora de ir."

Há um movimento frenético na parte de trás da van. Huey corre para a frente


com Minerva, Pandora grita ao cair diretamente no colo de Rodolphus, que
apressadamente move sua arma para o lado com os olhos arregalados cheios

822
ZEPPAZARIEL

de alarme. A van balança enquanto todos se movem, empilhando uns sobre os


outros e se amontoando.

Passando pela van, na saída da garagem, um elegante carro preto estacionou,


de frente para a van. Na rua, dois outros carros estão parados um em frente
ao outro, bloqueando a saída. Aurores tentando prendê-los.

Remus e James se movem para a parte de trás da van, e James agarra Remus
pelo cotovelo para ajudá-lo a subir nela. Pandora se mexe no colo de
Rodolphus, ganhando um grunhido enquanto se inclina para frente para
ajudar a puxar Remus.

"Vamos!" Minerva chama da frente.

"Qual é o plano aqui, Dorcas?!" Huey grita estridentemente.

"Eu—porra, eu não sei!" Dorcas grita. "Minerva?!"

Silêncio.

James pega sua bengala e a enfia debaixo de um braço enquanto estende a


mão para agarrar uma das portas da van com a outra mão. Ele a fecha com
uma batida e, em vez de se jogar para dentro, ele agarra a outra porta e a fecha
também.

Remus se vira e pisca. "James?"

James pega sua bengala e olha através da rede de aço na parte de trás da van,
então rapidamente passa a linha de sua bengala pelas duas maçanetas na parte
de trás da van. A mão de Remus voa contra a rede de aço, os dedos
espreitando. Seus olhos estão arregalados enquanto ele sacode as portas,
incapaz de abri-las por dentro.

"James?" Remus repete, mais frenético desta vez. "James, o que diabos você
está fazendo? O que você—"

"Remus, está tudo bem. Está tudo bem."

"James, abra a porra da porta! Abra a—"

823
CRIMSON RIVERS

"Remus!" James explode, e Remus fecha a boca, o rosto pairando do outro


lado como pixels. "Está tudo bem. Eu prometo que está tudo bem. Eu só—eu
tenho que tentar."

"Tentar o quê? Entre aqui. Abra a porra da porta, James, e entre," Remus cospe.
James dá um passo para trás e Remus bate a mão contra a barreira. "James,
onde diabos você está indo? O que você está fazendo? Não, James. James!"

Há outros também chamando por ele, Pandora e Dorcas e até mesmo


Rodolphus exigindo que ele entre na van. James levanta a voz e grita, "Assim
que você tiver a abertura para ir, Minerva, você dirige! Você vai, você me
ouviu?!"

"James, pare!" Dorcas grita. "Não faça isso! Entre na porra da van. Isso é
uma ordem!"

"James!" Remus bate as mãos contra a única coisa que os separa, com os
olhos arregalados. "James!"

Virando-se, James contorna a van e segue direto para o carro que bloqueia o
caminho, ouvindo todos gritando para ele voltar. A perna de James
está pegando fogo e ele sai correndo sem a bengala, mas cerra os dentes e sai
correndo. Sua perna passou por um inferno hoje, então ele tem certeza que é
a adrenalina que o leva até aquele carro, e pura força de vontade.

O Auror já está abrindo a porta e saindo com uma arma na mão quando
James o alcança. Ele levanta e puxa o gatilho, mas o tiro dispara quando James
empurra a mão dele para cima e os joga contra a lateral do carro. A arma cai
no chão e é chutada para longe, deslizando pelo concreto e desaparecendo
sob um carro diferente.

Com um xingamento, o Auror o ataca, e James se abaixa, então dá uma


cotovelada na lateral da cabeça dele. O Auror grita e se curva para a frente,
escorregando e caindo em seus joelhos. James agarra a porta do carro
e puxa. Ele faz isso uma segunda vez e depois uma terceira, batendo a cabeça
na porta do carro até que ele caia no chão, nocauteado.

James respira com força antes de entrar no carro atrás do volante, estendendo
a mão para fechar a porta atrás dele. Ele agarra o volante e olha em volta, um
pouco perdido por um momento. Ele nunca dirigiu um carro antes.

824
ZEPPAZARIEL

Certo, bem, já está ligado, então isso ajuda. Ele olha para a alavanca com as
letras pequenas ao lado. R para ré, certo? Ele tenta puxar para baixo, mas está
preso. Ok, isso não. Merda.

James tenta pisar no pedal e dá um solavanco quando o motor ronca para ele,
embora o carro permaneça parado. Um ruído de frustração sai dos lábios de
James, seus olhos ardem, porque ele tem que fazer isso. Ele tem que salvar seu
melhor amigo, como não pôde salvar Frank, por si mesmo, por Regulus e por
Remus. Ele não pode simplesmente deixar Sirius aqui. As Relíquias o
pegaram, então James vai trazê-lo de volta, mas ele não pode fazer isso se não
consegue nem se mover.

Ainda há sangue em seu rosto.

As pessoas gritam seu nome à distância.

"Vamos, vamos, vamos!" James grita, batendo a mão no volante enquanto pisa
no pedal e puxa a alavanca ao mesmo tempo. Ele engasga com uma respiração
áspera quando a alavanca desce, finalmente, encaixando no lugar.

Oh. Oh, tudo bem. Aqui.

Fungando, James exala trêmulo e coloca as duas mãos no volante, então tira o
pé de um dos pedais. R é de fato para ré, porque o carro começa lentamente a
recuar. Muito devagar. James precisa ir mais rápido.

Então, James bate o pé no outro pedal e quase instantaneamente começa a


gritar quando o carro sacoleja e voa para trás. Seus olhos se arregalam
enquanto ele grita sem parar, olhando pelo para-brisa dianteiro para ver os
rostos de seus amigos da van na frente deles. Todos eles parecem
fodidamente horrorizados. Todos menos Minerva, que flexiona os dedos no
volante.

O carro sacoleja e balança na inclinação enquanto vai para trás, e então James
ouve o barulho de metal contra metal antes de sentir a colisão da traseira de
seu carro entre os outros dois carros bloqueando a saída.

James ainda está pisando fundo no pedal, seu corpo estremecendo e batendo
os dentes com o barulho alto dos outros carros sendo empurrados para trás
pela força. Ele deixa uma grande abertura, e James freneticamente puxa o

825
CRIMSON RIVERS

volante, cheio de pânico enquanto o carro sacode de um lado para o outro, e


ele não consegue pensar, não consegue descobrir o que fazer ou como fazer,
mas ainda tentando tão fodidamente fazer. Tudo o que ele pode ver é o
mundo voando pelas janelas, a van guinchando ao passar voando pela
abertura, e então há um estrondo ensurdecedor.

James sente essa colisão percorrer todo o carro e todo o corpo, ouvindo o
estrondo de vidro estilhaçando ao seu redor, e então tudo para tão
repentinamente que toda a sua estrutura chacoalha. Sua cabeça se projeta para
a frente em seu pescoço, e a última coisa que ele vê é uma explosão de branco,
e então tudo começa a ficar preto.

~•~

"James!" Remus grita, totalmente frenético enquanto se joga pelas portas


traseiras, olhando pelos pequenos buracos enquanto a van acelera pela rua. O
carro que James pegou—a metade de trás está enfiada dentro de uma vitrine
atrás dele, a metade da frente para fora. Remus não consegue ver James de tão
longe.

"Volte!" Pandora grita. "Você tem que voltar!"

"Minerva, vire essa porra de van agora mesmo!" Dorcas berra, balançando com
o movimento brusco do veículo enquanto Minerva faz uma curva fechada.

"Não podemos!" Minerva diz asperamente. "Se pararmos agora, nenhum de


nós conseguirá escapar, Dorcas! E, caso isso tenha escapado da sua atenção,
estamos sendo perseguidos!"

"Então despiste-os e volte!" Dorcas rosna.

"Estou tentando despistá-los!" Minerva estala. "Quando fizermos isso, não


haverá nada para onde voltar. Você sabe disso! Temos que ir, Dorcas.
Sinto muito, mas não podemos voltar!"

"Nós não podemos deixar James!" Remus se vira e olha para Dorcas. Ele não
a conhece muito bem, mas ela está no comando aqui, pelo que ele viu, e ela é
próxima de James. Ele olha para ela, e sua respiração fica fraca quando ele vê
o rosto dela se contorcer antes que sua expressão desmorone completamente.
Seus ombros levantam. "Não! Não, nós—nós não podemos deixá-lo. Nós—"

826
ZEPPAZARIEL

"Não temos escolha!" Dorcas explode, sua voz embargada, seu tom tão áspero
que muitos dos servos ao seu redor recuam. "Você não acha que eu quero
voltar?! Eu quero, ok? Eu queria que todos conseguissem, mas—mas—" Seus
ombros levantam de novo, e as lágrimas em seus olhos se derramam. "Mas
nem todo mundo poderia."

Remus quer rosnar para ela, e talvez ele tenha rosnado, mas gritos ressoam
quando há um tiro contra o metal. Todos imediatamente se abaixam,
cobrindo suas cabeças. A van vira mais uma curva, pneus cantando, e os tiros
param.

"Eles estão atirando em nós," Pandora ofega, praticamente se agarrando a


Rodolphus para salvar sua vida.

"Minerva, você precisa despistá-los!" chama Dorcas.

"Estou fazendo o meu melhor," Minerva retruca, e então ela gira o volante
novamente com tanta força que todos na parte de trás caem uns sobre os
outros, várias pessoas gemendo.

Remus se levanta para espiar por trás e ver dois carros fazendo a curva atrás
deles, e ele olha por um instante antes de se deitar. Ele acaba esparramado no
colo de Dorcas, e ela pisca para ele confusa. Ele a ignora e estende a mão para
agarrar a perna de Rodolphus como apoio, apoiando a outra mão na parede
da van. Então, bufando, ele levanta a perna ilesa e bate a bota na grade de aço
do batente da porta. Não cede, então ele chuta com mais força.

"O que você está fazendo?" Dorcas pergunta, audivelmente alarmada.

"Nos. Ajudando. A despistar. Eles," Remus resmunga, batendo sua bota para
frente em cada palavra, e na última, o metal aparece em um canto. Ele a chuta
mais uma vez e a observa voar.

Há um estrondo alto, e Remus se levanta para observar um dos carros passar


pela porta, e o carro desvia com força antes de bater na lateral de um prédio.
O outro carro gira em torno dele, ainda vindo e não diminuindo a velocidade.

Remus balança com o movimento da van enquanto Minerva os leva para fora
da estrada inesperadamente, mas mesmo assim, o carro continua seguindo.

827
CRIMSON RIVERS

Com um grunhido de frustração, Remus estende a mão para arrancar a arma


das mãos de Rodolphus e rasteja em direção à janela traseira.

Esta não é uma arma que ele já segurou antes, mas ele segurou pelo menos
uma arma, então ele tem uma ideia geral de como isso deve acontecer. Ele
aponta a arma para fora da abertura e começa a atirar.

O carro atrás deles dá um solavanco, o vidro quebrando. Remus pode ouvir o


grito fraco do motorista lá dentro, mas ele continua atirando até que o carro
desvia muito para o lado, a frente afundando e então batendo rápido demais.
O carro se inclina, pega um pouco de ar, então vira e derrapa em um horrível
guincho de metal.

"Aqui!" Remus cospe furiosamente, apontando a arma para Rodolphus


enquanto todos ficam boquiabertos com ele. Ele olha para Dorcas e sussurra,
"Nós despistamos eles, porra."

"Minerva," resmunga Dorcas, "A que distância estamos?"

"Dois minutos," responde Minerva, e os olhos de Dorcas se fecham enquanto


ela cai, sem dizer outra palavra.

A van está silenciosa. Pandora está chorando. Dorcas parece que está prestes a
desmoronar. Huey está segurando a alça na cintura como se sua vida
dependesse disso. Nenhum servo libertado fala, e Rodolphus segura Pandora
e sua arma, e Minerva dirige. James não está com eles. James foi deixado para
trás.

Remus quer destruir o mundo. Por mais que ele pense, ele não tem a menor
ideia de como vai conseguir explicar isso a Sirius quando o vir novamente.

~•~

"Nós temos que despistá-los agora, Lily!" Sybill grita, e o porta-helicópteros


mergulha baixo em um mergulho que faz o estômago de Lily revirar. Ela se
sente doente. Oh, ela se sente tão fodidamente doente.

Lily engole em seco e se levanta, inclinando-se para olhar o radar. Ainda um


helicóptero da Relíquia os seguindo. Dois entraram na arena, um que pegou
Sirius e outro que os segue. Muito perto. É muito perto do Phoenix. Sybill
está certa; eles têm que despistá-los. Agora.
828
ZEPPAZARIEL

Lily cambaleia para fora da cabine, o peito arfando enquanto ela varre seu
olhar sobre todos. Muitos dos tributos anteriores parecem estar em choque,
muito atordoados com o que aconteceu e o que ainda está acontecendo para
realmente estarem envolvidos. Lá está Mary ainda distribuindo água, Amos
ajudando com os ferimentos e depois Barty. Oh, isso é... A mera visão de
Barty segurando Regulus Black faz seu coração apertar.

Regulus está flácido como uma boneca de pano, olhando fixamente para o
nada. Ele não está mais chorando. Ele não está gritando o nome do seu irmão,
embora o som disso tenha rasgado Lily, especialmente sendo uma irmã mais
nova. A dor dele—ela sentiu isso.

Agora, ele está apenas deitado lá. Barty enfaixou seu braço e simplesmente
ficou sentado com ele, parecendo exausto pra caralho. Narcissa sentou ao
lado de Regulus, e ela está acariciando seus cabelos, murmurando para ele,
mas ele não parece ouvi-la. Ela parece entender. Ela entenderia, não é? Sua
irmã mais velha está morta. Eles os tiraram depois que os estandartes tocaram
no céu, então ela tem que saber. Lily só acha que ela não percebeu que está
segurando a mão do assassino de sua irmã mais velha.

Ouve-se um já familiar ping de metal quando tiros chovem na lateral do


porta-helicópteros. Eles ainda estão sendo alvejados, e isso é tão esperado
agora que ninguém nem se mexe. Todos permanecem abaixados no chão e
longe da porta, apenas por segurança.

Lily engole. "Barty."

"Sim?" Barty murmura, virando a cabeça para encará-la.

"Eu preciso que você use a arma," Lily diz a ele, e então ela espera que ele siga
seu olhar em direção à metralhadora. Quando ele segue, ela olha para ele,
esperando.

Lentamente, Barty olha para ela e então sorri. "Achei que você nunca iria
pedir."

"Todo mundo, fique longe da porta!" Lily chama, apenas por precaução, e ela
se move para segurar a maçaneta, esperando que Barty se aproxime da
metralhadora. É muito grande com duas alças grandes. Barty resmunga
enquanto a gira em direção à porta. "Pronto?"

829
CRIMSON RIVERS

"Pronto," Barty garante a ela, os olhos arregalados de alegria, sorrindo com


todos os dentes e parecendo jovem assim, um menino que gosta de destruição
e tem um novo brinquedo que vai destruir.

Lily dá um aceno de advertência antes de liberar o trinco e abrir a porta,


pressionando-a contra a parede.

A metralhadora faz um zumbido, o cano grosso começa a girar, e então Barty


está fazendo uma estranha mistura de grito de guerra e gargalhada quando as
balas começam a se libertar. É alto. O simples barulho faz os ouvidos de Lily
zumbirem e seus dentes doerem. As balas atravessam seu porta-helicópteros e
Sybill grita da cabine.

O porta-helicópteros se inclina e as pessoas tropeçam e deslizam pelo chão,


incluindo Regulus, que parece um fantoche sem vida enquanto ele
legitimamente apenas flutua sem nem mesmo se contorcer. Narcissa rasteja
atrás dele. Alguém grita e outra pessoa grita, e Barty está rindo como um
louco.

Lily não tem ideia de quanto tempo leva, mas qualquer que seja o arsenal que
o outro porta-helicópteros tenha, não se compara a esta arma aqui, porque
eventualmente há uma explosão que balança o próprio ar ao redor deles. Sybill
grita novamente, e o estômago de Lily revira quando o porta-helicópteros
começa a subir. O cheiro de ferro queimado e combustível vazando enche o
nariz de Lily, fumaça e calor tão pesados vindos do outro porta-helicópteros
que ela jura que está estrangulando ela.

A metralhadora zombe até parar e Barty tropeça para trás, literalmente caindo
no chão, apenas sentado lá, ofegante e parecendo atordoado. Lily agarra o
corrimão sobre a porta e gira para olhar para fora. Ela assiste, totalmente
hipnotizada, enquanto o helicóptero da Relíquia gira no céu, um pedaço de
metal em chamas que finalmente cai no chão e explode novamente.

Uma risada histérica sai da boca de Lily, e ela bate a porta, trancando o trinco.
Parece insuportavelmente quieto no rescaldo, e Lily apenas fica lá e treme até
encontrar sua voz e gritar, "Ei, Sybill, parece que os despistamos!"

"Sim, parece," Sybill engasga, rindo histericamente junto com ela.

"Tempo?" Lily pergunta enquanto se dirige para a cabine.

830
ZEPPAZARIEL

"Três minutos e meio," Sybill diz a ela.

"Marlene. Marlene!"

Lily para e se vira imediatamente. Emmeline está ajoelhada ao lado de


Marlene, que está olhando para ela com visível angústia. Ela está tentando
falar, mas parece que não consegue respirar. Há sangue no peito dela.

"Socorro! Socorro, ela levou um tiro!" Emmeline chama, e Lily corre com o
coração na garganta. As mãos de Emmeline estão tremendo. "Eu—eu não sei
o que aconteceu. Ela estava—ela—"

"Saia. Saia, eu sou médica!" Lily ordena, e Emmeline vai lutando para trás até
que ela esbarra em Alice, que envolve seus braços em volta dela e a segura.
Lily estende a mão para Marlene, seu coração batendo forte enquanto observa
Marlene ofegar por ar, seus olhos arregalados e em pânico, sangue
derramando sobre os dedos que ela pressionou contra o peito. "Deixe-me ver,
deixe-me—"

Marlene está rígida, deitada de costas, e estremece de dor visível toda vez que
tenta mover o braço quebrado. Seu próprio corpo está lutando contra ela,
instintivamente tentando fazer tudo o que pode para colocar ar em seus
pulmões, mas algo deu errado.

Lily é uma enxurrada de atividades ao seu redor, latindo ordens e exigindo o


que ela precisa. Amos e Mary correm para conseguir tudo o que ela pede. Sem
sutileza, Lily rasga a camisa de Marlene e empurra o tecido rasgado para o
lado, seu estômago caindo debaixo dela em angústia com a quantidade de
sangue. Não é externo, Lily pode dizer isso apenas pelo dano. É interno. Ela
vai precisar de cirurgia, e vai precisar disso rápido.

"Sybill!" Lily grita. "Tempo?!"

"Dois minutos!"

"Leve-nos lá agora!"

"O que eu posso fazer?" Mary pergunta, parecendo impaciente.

"Vá para a cabine e pegue o telefone lá. Eu roubei do escritório de Poppy,


mas ela tem uma lista de contatos. Ligue para Kingsley e diga a ele para dizer a
831
CRIMSON RIVERS

Poppy para começar a se preparar para uma cirurgia de emergência," ordena


Lily, pegando o pano que Amos traz para ela e colocando-o no peito de
Marlene. Mary se levanta e sai correndo. "Amos, pegue o kit de primeiros
socorros."

"Lily," Amos diz, sua voz tensa enquanto acena para Marlene.

Lily olha para baixo e, a um minuto de distância da segurança, Marlene expira


e não inspira novamente. Lily congela. Marlene caiu mole. Ela está. Ela.

"Não," Lily sussurra. Em segundos, ela está passando a perna sobre os quadris
de Marlene e montando nela, procurando por um pulso e não encontrando, e
imediatamente iniciando as compressões torácicas com os dentes cerrados.
"Amos, encontre um equipamento de choque para mim."

"Não sei se temos—"

"Encontre a porra de um equipamento de choque!"

Com o grito de Lily, Amos se levanta apressadamente e Lily fica com Marlene.
Ela entoa, desesperada, vamos, Marlene, vamos, vamos. Uma pressão constante
das mãos no peito dela, força suficiente para quebrar costelas, fazendo seu
coração continuar a bater, circulando o sangue que está tentando escapar de
seu ferimento à bala e enchendo seus pulmões com respiração boca a boca.
Cabeça inclinada para trás, vias aéreas desobstruídas, nariz tampado e respire,
vamos, porra, respire!

Amos consegue milagrosamente um equipamento, e ele está lá, trabalhando


em torno dela, porque ela não consegue parar. Equipamentos de choque não
são muito difíceis de usar, na verdade. Eles vêm com instruções, geralmente,
mesmo que nunca haja uma situação em que eles sejam necessários para que
você tenha tempo de ler com calma essas instruções, mas Amos tem
treinamento suficiente para saber disso.

Lily se inclina para cobrir os lábios de Marlene com os dela, respirando um,
dois, e então voltando para as compressões no peito. Amos coloca os
eletrodos de desfibrilação no peito de Marlene, tendo que levantar o sutiã de
um lado para um deles, e então ele coloca, e Lily levanta as mãos.

"Nada," diz Amos.

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ZEPPAZARIEL

"De novo," Lily ordena.

Amos deixa o equipamento analisar e, em seguida, faz de novo. Um instante.


Os ouvidos de Lily estão zumbindo, mas ela o ouve dizer, "Nada."

"De novo," Lily repete.

"Lily," Amos murmura, sua voz gentil.

"Eu disse para fazer de novo!" Lily grita, e ela não se importa que, a cada
choque, as chances de ressucitação de uma pessoa diminuam. Ela não
se importa com o que isso é, ou parece. Marlene não está morrendo aqui, não
assim, não agora, não tão perto, não—

"Nada," Amos repete suavemente.

"Vamos, Marlene!" Lily rosna, seus olhos quentes e afiados com algo que
queima, e ela está com raiva, com muita raiva. Ela apoia as mãos no peito de
Marlene e volta às compressões, falando com os dentes cerrados. "Vai se
foder, McKinnon. Você não pode fazer isso com ela, está me ouvindo? Eu
não posso—eu não posso amá-la como ela merece, então você tem que fazer
isso. Você tem que estar aqui! Vamos lá, por favor!"

"Lily," Amos murmura, "Ela está morta."

"Choque de novo," Lily resmunga.

"Ela está morta," Amos sussurra, estendendo a mão para colocar as mãos
sobre as dela. "Pare com isso, Lily, ela se foi."

"Não," Lily engasga, com a visão embaçada. "Choque de novo, Amos! Faça
isso! Não fique aí sentado, porra!"

Amos suspira, observando-a com pena, mas obedientemente retira as mãos.


Lily mergulha e respira por ela novamente, implorando internamente que
desta vez, desta vez, será o suficiente. Quando ela sai, Amos dá o choque
novamente.

"Puta merda," Amos exala um momento depois.

"O quê? O quê? Ela está—"

833
CRIMSON RIVERS

"Ela está de volta."

Lily suspira fundo e soluça ao mesmo tempo, derretendo para frente como se
todos os seus fios tivessem sido cortados de uma vez, e ela encontra sua testa
encostada na de Marlene. Está úmida e Lily está pingando lágrimas sobre ela,
mas ela não se importa.

"Obrigada," Lily sussurra. "Obrigada, obrigada, obrigada."

"Vamos, Lily, precisamos colocá-la em uma maca para carregá-la," Amos


insiste, começando a se mover.

Lily se afasta com as mãos trêmulas e procura o anel em seu dedo. Está
manchado de sangue e desliza de volta para o dedo de Marlene com facilidade,
onde deve estar.

"Tudo bem, pessoal!" Sybill chama da cabine, sua voz quente com triunfo.
"Estou nos levando para casa!"

~•~

Severus estaciona o carro e abre a porta. Quando ele sai, o vidro e o cascalho
estalam sob seu sapato, e continua a fazer isso a cada passo enquanto ele fecha
a porta do carro.

"Senhor?"

"Deixe-me ver," Severus murmura, passando pelo grupo de Aurores que


cercam o carro pendurado na vitrine.

A metade de trás parece uma lata amassada, metal deformado e cacos de vidro
por toda parte. A metade da frente está praticamente intocada, e Severus não
pode deixar de pensar que alguma divindade ou força superior que existe lá
fora—se é que existe—é muito parcial para James Potter. Algo certamente
está cuidando dele.

Bem, na maior parte. Severus dá a volta na frente do carro e espia pela janela.
Lá dentro, Potter está caído contra um airbag murcho, o corpo contra o
volante. Tem um pequeno corte na cabeça, acima da sobrancelha, e os óculos
estão quebrados no colo. Ele parece bem de outra forma.

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ZEPPAZARIEL

Ele pode estar morto. Severus não consegue dizer se ele está respirando. Pelo
bem de Potter, Severus espera que ele esteja morto.

Suspirando, Severus estende a mão e agarra a maçaneta da porta. Ele tem que
puxar um pouco para abrir, e então ele abre. Potter não se mexe. Severus
estende a mão e sente o pulso.

Vivo.

Severus quase tem pena do pobre coitado.

"Senhor?" é perguntado mais uma vez.

Por um longo momento, Severus não responde. Ele encara Potter e o odeia.
Tudo começou a desmoronar por causa dele, na verdade. Porque ele ameaçou
beber um veneno por amor. Depois disso, foi um caos total. Severus
realmente não teve um momento de descanso desde então.

Severus não consegue resistir a zombar dele. A última coisa que esta guerra
precisa é de um tolo incompetente arruinando tudo sem ao menos tentar.
Potter simplesmente existe e causa problemas. Ele fala quando não deveria e
age sem pensar. Um tolo. O pior tipo de tolo. Aquele que tem influência.

Esta noite foi... Severus nem mesmo tem uma palavra para isso. Ele foi
notificado antecipadamente sobre o envio de Aurores para a arena na tentativa
de recuperar os tributos antes que a oposição pudesse. A Ordem, Severus
presume, mas Albus nunca o notificou disso. Albus não o avisa de tudo como
ele é um homem preso no meio de dois lados, porque ele não vai arriscar,
então é perfeitamente possível que isso tenha sido planejado.

Severus não pensa assim, no entanto. Ele olha para Potter assim e pensa que,
de alguma forma, ele estava por trás disso. Severus pode dar crédito onde é
devido. Se Potter estava por trás disso, ele se saiu muito bem. Todos os
tributos liberados, exceto um. Mm, aquele, no entanto. Sirius Black. Outra
chave nesta guerra, e Riddle o utilizará, é claro. Severus não duvida.

Se Riddle for usar Black, ele certamente encontrará uma maneira de


transformar Potter em sua arma também. Depois desta noite, não há como
Riddle ignorar a guerra que está se formando, e não apenas isso, mas também
o fato de que há oposição. A Ordem era uma organização secreta, mas não será

835
CRIMSON RIVERS

mais. Riddle pode não saber todos os detalhes ainda, mas certamente fará o
que for preciso para aprendê-los e, independentemente disso, saberá que a
Ordem está lá fora. Ele estará preparado para isso agora.

Seu tolo, Severus pensa enquanto olha para Potter com desdém.

O que Potter sabe? Ele sabe de alguma coisa? Esse não é um risco que Severus
está disposto a correr. Black certamente não sabe, mas Potter pode saber.
Riddle vai querer obter informações dele, ou ele vai descobrir como usar ele,
ou os dois. De qualquer maneira, Severus não planeja deixar isso acontecer, se
ele puder evitar.

Esta é uma responsabilidade que precisa ser tratada agora. Então, Severus saca
sua arma e a aponta para a cabeça de Potter. Ainda assim, Potter não se mexe.
Isso é uma gentileza, na verdade. Ele é um tolo, mas um tolo morto não pode
causar mais danos.

Assim que Severus vai puxar o gatilho, ouve-se o som de uma porta de carro
se abrindo, e Riddle diz, "Não atire nele."

Severus fecha os olhos, apenas por um segundo, e então ele puxa a arma para
baixo e se vira. Riddle não dirige. Ele tem seu próprio motorista pessoal, um
homem que mantém a porta aberta e a fecha quando ele sai e se aproxima.
Vidro e detritos se quebram sob seus sapatos brilhantes.

Riddle para ao lado de Severus, olhos frios examinando Potter


pensativamente. Todos os outros Aurores na cena se movem nervosamente,
apenas com a mera presença de Riddle. Severus permanece imóvel, apenas
esperando, sem dizer uma palavra.

"Embora ele tenha causado muita confusão, James Potter é mais útil para
mim vivo do que morto," declara Riddle, e Severus descobre que ele pode
odiar mais Potter, afinal. "Tire-o e leve-o para o meu castelo."

"Não Azkaban, senhor?" Severus pergunta.

"Não," Riddle murmura. "Não Azkaban. Sirius Black está sendo mantido lá
por enquanto. James Potter permanecerá perto de mim."

"Sim, senhor," Severus diz.

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Riddle fica em silêncio por um momento, e então ele estende a mão e coloca a
mão em concha na testa de Potter, empurrando sua cabeça para trás para
olhá-lo. Potter se mexe, então. Só um pouco. Seu rosto se contorce, os lábios
se movem e ele sussurra, "Reg."

Os lábios de Riddle se curvam em desgosto, e ele deixa cair a cabeça de


Potter, deixando-a pender para frente novamente. Ele recua. "Severus."

"Sim, senhor?" Severo murmura.

"Limpe isso," Riddle ordena, girando um dedo para apontar para a rua;
enquanto se afasta, acrescenta, "E se prepare para a guerra."

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