Ele tentou não se importar muito com Lily extremamente animada

pela manhã acordando todos da casa cedo demais, Gina fizera questão
da menina e a ajudou a fazer as malas, era o segundo ano de Lily, ela
estava eufórica para voltar a Hogwarts, depois de passar as férias
inteiras falando como tinha amado Hogwarts, claro, ela tinha entrado
para a casa dos leões.

Ele não queria ir pra Hogwarts aquele ano, era seu último ano, não
queria ter que encarar aquela realidade, apesar de Teddy tê-lo
incentivado todos os meses anteriores, Fred ter dado seus empurrões
para alegrar o primo, ele estava nervoso e a boca já secava só de ouvir
falar de Hogwarts.

Ele podia ser um grande jogador de quadribol e impressionar sua

mãe? Ou podia ser um grande Auror e encher Harry de orgulho? Ou
talvez ele não quisesse nenhum dos dois...

— Acorda, James – A voz de Alvo ecoou na sala, tirando o menino

de sua tortura interior.

Alvo carregava uma gravata da sonserina pra enfiar de algum jeito

na sua mala já muito cheia, após alguns anos Alvo estava tranquilo, sem
se auto pressionar por ter entrado na casa das cobras, ele gostava disso,
não haveria outro lugar melhor para ele que Scorpius não estivesse lá,
eram como carne e unha, mas James não queria lembrar dos dois agora,
deixou de implicar com os dois quando os encontrou na torre de
astronomia mais próximos que nunca.

Ele queria falar sobre a outra do trio, ele queria falar, ouvir e
pensar sobre ela, desde o final do último ano, queria falar sobre sua
farda da grifinoria devidamente passada e engomada todas as manhãs,
isso, claro, quando ela estava muito ocupada em impressionar os
professores, a pilha de livros que ela sempre carregava por aí, o seu
cabelo ruivo cheio de voltas e revoltas, uma vez ele o tocara e a menina
só faltou lhe enfiar a varinha goela a baixo, de suas sardas espalhadas
pelo rosto e de seus olhos extremamente azuis, de como a postura e
expressão dela mudava a cada reação, de como ela colocava as mãos na
cintura e depois cruzava os braços para passar um sermão, como ela
franzia o nariz quando estava confusa e comprimia os lábios quando não
sabia o que dizer...

— James! – Alvo estalou os dedos na frente do rosto do irmão que

estava perdido em seus próprios pensamentos

— O que houve? – Ele piscou desconexo

— Vamos nos atrasar – Alvo revirou os olhos pegando as malas e

levando para o carro.

***

A plataforma estava cheia de novo, fumaça para todos os lados, os

bruxinhos corriam e esbarravam nele, talvez porque o mesmo estava
absorto em pensamentos e não percebia a movimentação.

Ele não queria prestar atenção nos calouros esse ano ou nas
meninas que tinham crescido o suficiente para atrair seu olhar, esse ano
James não queria prestar atenção nelas.

Até mesmo Ginny notara que o filho estava estranho, tentando o

animar desde que voltara da casa de Molly no ultimo fim de semana,
quando a mãe perguntou a Alvo o que tinha acontecido, Alvo deu de
ombros e respondeu um “É complicado”, ele respeitou seu espaço com
maturidade o suficiente, como James nunca fizera com o irmão, por isso,
esse ano, ele não queria ser aquele James Sirius.

Avistou Fred ajudando Dominique a levar as malas para dentro do

trem, logo se disponibilizou a levar também, desde que todos os
Weasley's daquela geração estavam em Hogwarts eles compartilhavam o
mesmo vagão, mas na maioria das vezes não cabiam em um só, era
quando boa parte saia a procura dos Scamanders ou qualquer escoro
que sempre cediam para eles.

— Vamos, James, dá um sorriso ai, meu filho – Fred replicou em

tom zombeteiro
 — Hoje não, Fred – Revirou os olhos recebendo uma tapinha nas
costas amigável do primo

James voltou a plataforma para dar um beijo em seus pais e se

despedir, Alvo fizera isso primeiro e já estava sentado a janela de um
vagão, seguido de Scorpius e Dominique, que debatiam alguma coisa
muito interessante, enquanto sentado a frente estava um Hugo pegando
no sono, se Hugo estava ali...

— Você precisa se animar um pouco, Jimmy – Lily virou para o

irmão após abraçar os pais mostrando a língua.

A ruivinha foi saltitante até o trem, James abraçou o pai que lhe
afagou o cabelo já bagunçado e afastou o menino um pouco para olhar
em seus olhos.

— Não se cobre tanto, Potter, é o seu último ano – Harry piscou

para o filho, o largando para que Gina o enchesse de beijos e abraços.

— Mamãe... – James comentou rindo abafadamente enquanto a

mulher tornava a arrumar a gola da camisa do moreno.

— Pelo amor de Merlin, se cuide, James, não esqueça de escrever e

tome conta de Lily e Alvo por nós – Ela disse carinhosamente, o menino
assentiu.

***

Os seus primos já começaram a vestir suas fardas, estavam

próximos a Hogwarts, durante toda a viagem James passara pensando
sobre o futuro ao lado de um Hugo dorminhoco.

O mesmo seguiu para vestir a farda pensando que quem realmente

ele queria ver não tinha esbarrado nele ainda, nem quis comentar sobre
com Alvo para não levantar suspeitas, já fora suficiente o que o irmão
vira na Toca.
 James estava voltando para o vagão quando esbarraram de
verdade nele, estava distraído prendendo a gravata, viu somente os
doces se espalharem pelo chão, ele ergueu os olhos para encontrar uma
Rose desconcertada, seus olhos agradeceram pela visão, ela estava
levando doces para algum lugar, provavelmente distraída com eles.

— Rose... – Ele disse em um fio de voz e a menina

automaticamente corou.

Ela se abaixou para pegar os doces e ele a acompanhou recobrando

sua mente sã.

— Não te vi hoje... – Ele comentou calculando suas palavras

— Lorcan me chamou para o vagão, Roxy e Lily também estão lá –

Ela tentou sorrir de canto juntando todos os doces de volta e fazendo
menção de voltar pelo corredor, porém o jovem não se moveu para dar
passagem a ela.

Ele a encarava e ela apenas baixava os olhos procurando algum

buraco para enfiar a cabeça.

— Você está me evitando – Disse o Potter franzindo o cenho, ela

finalmente fitou seus olhos.

— Não estou, estou evitando esse tipo de situação – Suspirou

— Não precisa fugir, não vou morder – Ele se sentiu aliviado ao

conseguir uma risada abafada da menina

— Nem se tentasse, Potter – A ruiva sibilou

Os dois se entreolharam sentindo aquilo no ar, temendo que

alguém aparecesse no corredor e visse aquilo James deu um passo para
o lado para que a prima passasse, ela agradeceu em silêncio assentindo
e seguindo seu caminho.

Ele praguejou na sua mente, tinha que fazer alguma coisa, falar
alguma coisa, perto dela era só um garotinho bobinho, lembrava bem
das palavras dela no ultimo dia na casa dos avós, “Você já está
grandinho o suficiente, James, é quase um homem agora e eu sou só a
sua prima”, falara em meio a lágrimas correndo pelo rosto que ele fizera
questão de enxuga-las enquanto a menina falava de suas inseguranças,
ele tinha várias também, naquela tarde eles compartilharam seus medos
e seus sonhos, como velhos amigos, eles compartilharam seus segredos,
antes que James pudesse responder o mais importante, Alvo brotou na
porta, pegando os dois de surpresa, então Rose não respondera
mensagens e ele preferiu evitar até a volta as aulas, quem sabe seria
melhor assim.

***

Os primeiranistas seguiam para suas mesas, lotadas de festejos e

gritarias dos veteranos, agradeceu por estar apertado no meio da
multidão e se alegrar junto a eles, gritando e se divertindo como se tudo
estivesse em ordem, se sentia bem ali, Hogwarts sempre o acolhia.

Já começara a hora de comer e Lily e Hugo devoravam tudo a

frente, se concentrou em ficar de barriga cheia e planejar pegadinhas
para seu ultimo ano ao lado de Fred.

Sabia que não ia esbarrar nela tão cedo, era monitora da grifinoria
e tinha que fazer toda aquela burocracia com os primeiranistas, eles não
demoraram muito a ir para os dormitórios logo que Minerva terminou
seu discurso saudoso.

Se jogou na cama e só percebeu que estava tão cansado quando

pegou no sono e acordou horas depois, já era próximo a meia noite e
seus colegas estavam todos dormindo, sentiu a garganta secar e pensou
que perdera a primeira noite em Hogwarts quase inteira, decidiu descer
para a comunal e se aquecer próximo a lareira, ficou observando o fogo
crepitar.
 Talvez James sabia o que queria da vida e talvez fosse hora de
parar de se importar com o que os outros iriam pensar, James não
precisava ser “Potter” o tempo todo, podia seguir seus passos.

O moreno se assustou quando ouviu alguém se aproximar, aquilo

não podia ser coincidência, Rose se encontrava no fim das escadas,
vestindo um suéter que vovó Weasley a dera de natal com sua inicial.

James rapidamente se levantou e foi até a menina, parando muito

próximo a ela.

— Eu já sei – Ele respondeu, os olhos antes sonolentos da ruiva se

acenderam

— E o que é? – Perguntou curiosa

— Eu quero ser medibruxo, Rose – Disse em alívio, como se tirasse

um peso de suas costas, Rose sorriu

— Então seja um, Potter – Ela comemorou e ele retribuiu o sorriso.

Os dois tinham esse costume de ficar em silêncio trocando olhares,

entretanto aquele fora um silêncio confortável, ele estava tomando por
uma coragem que há muito escondia.

— Rose... – Começou suspirando – Eu pensei muito sobre isso... E

provavelmente seria eu – Ele disse convicto, a jovem franziu o nariz

— O que? – perguntou confusa

— Eu gostaria de você – Assentiu com firmeza, Rose corou

violentamente – Facilmente, na verdade.

— Mas nós somos...

— Primos, eu sei – Ele estava atento e sua expressão cheia de

determinação.

Antes que retrucasse de volta, Rose desceu o ultimo degrau,

quebrando a distância entre os dois.
 — Eu também gostaria de você, Jay – Sussurrou encostando
levemente as mãos no peito do jovem, ele sentiu o arrepio correr todo
seu corpo.

Sem mais delongas e ao mesmo tempo que o relógio batia meia

noite encerrando o dia, James não esperou e segurou o rosto dela com
as duas mãos trazendo de encontro ao seu, tomando seus lábios em um
beijo desesperado, os dois sentiram o arrepio passar por eles, Rose
correspondeu avidamente o beijo.

Ele estava convicto, ela lhe trazia essa sensação de certeza,

certeza ao responder sua pergunta, era sim, claro que sim para “Você
acha que alguém poderia gostar de mim, James?”.