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: Silvia Helena

: Bec Deveraux

: Andreia M.

: Caroline

: Andreia M.
Uma mulher de negócios cheia de curvas que é nova na cidade + um metamorfo
solitário procurando alguém para compartilhar seu ninho + uma cidade pequena com um
grande segredo = uma história quente e comovente de amor e família.
Lainie Eaves nunca quis voltar para Hideaway Cove, a pequena cidade onde sua
própria família a rejeitou anos atrás. Quando herda a propriedade da família, decide vender
a velha mansão em ruínas e deixar sua história dolorosa onde pertence: no passado. Então
conhece Harrison e seu mundo vira de cabeça para baixo.
Harrison Galway, um grifo solitário, pensou ter encontrado o paraíso quando se
mudou para Hideaway Cove, onde shifters podiam viver sem ter que esconder sua
verdadeira natureza. Mas quando sua companheira Lainie entra em sua vida, ele descobre
que o paraíso tem um preço alto demais para pagar.
Quinze anos atrás, os avós de Lainie fizeram uma escolha que separou sua família para
sempre, mas Lainie nunca soube o motivo: ela não ter nascido uma metamorfa. Agora
finalmente encontrou alguém que pode preencher esse vazio em seu coração - ao custo de
tudo o mais que ele ama. Hideaway Cove é um santuário para shifters e isso significa que
nenhum humano é permitido.
— Oh não, não, não. — Lainie gemeu quando o motor do carro gemeu até parar. — Por
favor, não morra carro. Eu realmente não preciso disso hoje. Não com todo o restante
acontecendo.
O motor do carro, surdo aos seus apelos, deu um último grasnido e ficou em silêncio.
— Merda.
Lainie parou ao lado da estrada sob uma placa de madeira desgastada. Na caligrafia
vermelha desbotada, a placa dizia: Hideaway Cove: População...
O sinal era tão antigo que o número estava completamente gasto. Lainie suspirou.
População, menos uma família do que deveria haver, ela pensou. Seus avós foram os
últimos Eaves a morar em Hideaway Cove e depois da morte de sua avó um mês antes, isso
provavelmente não mudaria.
Lainie tentou se irritar, mas qual era o objetivo? Ela se resignou a sua situação anos
atrás. Seus problemas não iriam mudar apenas porque as circunstâncias finalmente a
forçavam a enfrentá-los.
Apenas uma noite, ela disse a si mesma. Uma tarde, uma noite, uma manhã. E então
posso ir embora novamente.
Protegeu os olhos do sol da tarde e olhou para a colina em direção ao conjunto de
edifícios que compunham Hideaway Cove.
A pequena cidade costeira na baía abaixo dela era quase carinhosamente fofa. Antigos
edifícios da era vitoriana se alinhavam na larga rua principal e uma praia descia até a enseada
abrigada. Uma pequena marina no final da cidade, perto da rodovia, continha um punhado de
pequenos barcos de pesca e lazer, no outro extremo da baía em forma de meia-lua, uma colina
projetava-se das ondas, protegendo a cidade dos ventos do norte.
E no alto da colina, uma casa construída na base de um antigo farol olhava para a cidade.
Lainie olhou diretamente para ela. A casa de seus avós.
Seu estômago se contorceu.
Já fazia quinze anos desde que Lainie pisou em Hideaway Cove. Quinze anos desde as
últimas férias longas de verão que passou na velha casa de seus avós paternos na colina. Um
mês de pesca e natação, se empanturrando de sorvete.
Quinze anos desde as brigas na madrugada, onde fingia que não podia ouvir. Desde que
seus avós começaram a suspirar e franzir os lábios quando olhavam para ela. Desde as férias
que terminaram com seus avós dizendo a Lainie, sua mãe e seu pai para nunca mais voltar.
Que não eram mais bem-vindos em Hideaway e nunca seriam.
Quatorze anos e meio desde que seu pai abandonou Lainie e sua mãe para sempre. Em
qualquer lugar entre quatorze e nove anos atrás, o avô de Lainie morreu. Ela não sabia
exatamente porque ninguém se incomodou em notificar sua mãe, que morava em um
pequeno apartamento na cidade.
Oito anos desde que a avó de Lainie foi para uma casa de repouso. E quatro semanas
desde que ela morreu.
Lainie gemeu. Contar dessa maneira normalmente ajudava. Separar um problema em
pequenos quadrados e olhá-los um de cada vez, fazia com que ela se sentisse mais no controle.
Mas ao entrar na vida dela assim, acabou deixando Lainie com mais perguntas.
A maior questão era a que ela nunca ousou falar. Não para sua mãe, não para seu pai
antes de partir, nem mesmo em seu próprio diário.
O que eu fiz de errado?
Agarrou o volante. É tarde demais para se preocupar com isso agora, disse a si mesma
severamente. Vovô está morto. Vovó está morta. Papai se foi - quem sabe se ele está vivo ou
não, mas desapareceu tão completamente que foi declarado legalmente morto. Quaisquer que
fossem as razões que tiveram para o que fizeram se foi com eles.
O testamento de sua avó foi um choque. A notícia foi entregue por um advogado
elegante de terno e sapatos brilhantes, que claramente passou algum tempo se preparando
para explicar a situação.
A Sra. Iris Eaves deixou toda sua herança para seu único filho, o Sr. Anton Eaves. Quando
Anton Eaves foi declarado morto, a herança recaiu sobre sua única filha, a Srta. Lainie Eaves.
Depois de quinze anos sendo completamente bloqueada pelo lado da família de seu pai,
de repente, Lainie herdou tudo o que possuía.
Foi o que a trouxe de volta a Hideaway Cove.
Lainie respirou fundo. Você pode fazer isso, ela disse a si mesma, murmurando as
palavras. Você é uma mulher adulta agora. E isso é negócio. Você é boa nos negócios.
— E quanto a você. — Disse Lainie em voz alta, olhando para o volante. — Não paguei
por um aluguel caro apenas para morrer! Vamos...
Prendendo a respiração, Lainie virou a chave na ignição. O motor acelerou, acelerou e
rugiu para a vida. Ela suspirou de alívio.
— Uma noite e você pode deixar tudo isso para trás. — Ela prometeu a si mesma. —
Um novo começo, sem Hideaway Cove.
Harrison olhou para o sol da tarde quando saiu para a rua principal de Hideaway Cove.
Atrás dele, a porta da frente da Sorveteria Sweet Dreams se fechava numa cacofonia de gritos
excitados de crianças. Ele passou a mão pelo cabelo, sorrindo para a cena da qual acabou de
sair.
Enquanto estava na calçada aproveitando o sol da tarde em seu rosto, a porta se abriu
e fechou novamente atrás dele, tilintando alegremente.
— Como você se sente sendo o herói do dia, Sparky? — Ele disse, olhando de lado para
o homem que o seguiu.
Apollo Jenkins - Pol para seus amigos e Sparky para seu chefe, pelo menos quando seu
chefe estava provocando-o - era alto e magro, com cabelos loiros que caiam sobre seu rosto
quando não o mantinha preso.
Harrison sempre se sentiu estranhamente ligado a terra quando saía com ele. Sua forma
humana era pesada e resistente ao lado da estrutura de Pol. Eles pareciam um par estranho,
embora a estranheza não fosse nada estranha aqui em Hideaway.
O corpo humano de Pol parecia às vezes quase tão etéreo quanto sua forma de shifter,
com seu cabelo parecido com Legolas1 e pálidos olhos dourados. Ao lado dele, Harrison não
parecia mais comum. Cabelo castanho, nariz torto e pele bronzeada. Seu trabalho muitas
vezes o deixava um pouco sujo, com lascas de madeira presas em seu cabelo ou óleo em suas
mãos.

1
Legolas Greenleaf, dentro do universo de fantasias criado pelo escritor J.R.R Tolkien, foi u elfo Sindar, filho de Thranduil, rei da
Floresta das Trevas. Em 3019 da Terceira Era, Legolas foi a Valfenda como mensageiros dos elfos em sua terra. Em O Senhor dos
Anéis foi interpretado por Orlando Blom.
Harrison não tinha certeza se Pol realmente trabalhou com as mãos em sua vida. Ele
certamente não o fazia agora. Seus talentos particulares significavam que não precisava tocar
um disjuntor para cuidar da eletricidade de Hideaway. Foi por isso que, enquanto Harrison
estava pendurando o cartaz sobre a porta que se soltou na última tempestade, Pol nem sequer
levou uma caixa de ferramentas com ele para consertar o freezer da sorveteria quebrado.
Mas por algum motivo, Pol não parecia apreciar o fato de que tudo o que precisava
fazer era acenar com a mão sobre aparelhos elétrico-eletrônicos quebrados para consertá-los.
Pol gemeu dramaticamente e encarou Harrison por cima de um cone de três bolas de
sorvete.
— Acho que isso tirou dez anos da minha vida. Um pelo grito estridente. Por que não
deixamos o trabalho até amanhã, novamente?
Harrison riu. — Se tivéssemos deixado o trabalho para mais tarde, Tessa Sweets teria
tirado vinte anos de sua vida. O primeiro dia de sol de verdade que tivemos em semanas e os
freezers de sorvetes estragam? Todas as crianças da cidade devem ter arrombado a porta
desde que a escola terminou. Imagine o caos se o sorvete acabasse.
Pol estremeceu dramaticamente e comeu seu sorvete. — Bem, francamente, eu não sei
qual é a pressa deles. Pode ter sol, mas percebeu como ainda não está quente? Será melhor
que Tessa se prepare para reclamações se algumas das crianças esfriarem demais e for para
casa chorando. — Oh olá. — Sua expressão de desgosto evaporou e foi substituída por um
sorriso aberto. — Tem carne fresca por perto. — Oh. Apolo gostou.
— Sobre o que você está falando? — Harrison levantou uma sobrancelha para Pol, cujos
olhos se estreitaram.
— Oh, apenas um intruso exótico. Você não esperava uma pessoa de fora da cidade
neste fim de semana?
— Não até amanhã. Deve ser outra pessoa. — Harrison franziu a testa. Se um forasteiro
chegasse a Hideaway, os moradores precisavam ser avisados. Não menos importante, as
crianças animadas na sorveteria atrás deles. — O que você tem?
Pol fechou os olhos. Por um momento, seu rosto expressivo ainda estava concentrado.
— Hmm... bem. Carro pequeno e elegante, mas cheio de energia pela forma como está.
Direção suave. E todo americano também. — Ele suspirou e abriu os olhos. — Apenas tração
nas duas rodas, no entanto. Quem está no banco do motorista teve um pouco de dificuldade
para levá-lo ao topo da colina.
Harrison bufou. — O que, na fronteira da cidade? Esse foi o seu trabalho ou o do carro?
A afinidade de Pol com a eletrônica era boa para mais do que apenas consertar freezers.
No verão anterior, ele montou uma espécie de bloqueio ao redor do pequeno povoado de
Hideaway Cove, para garantir que nenhum recém-chegado aparecesse e pegasse os
habitantes desprevenidos. Uma bateria descarregada ou um motor com defeito no carro do
recém-chegado dava ao povo da cidade tempo para voltar à forma humana ou nadar além das
ondas e para fora da vista.
Também deu a Hideaway Cove uma reputação de ser contra o turismo. Quem quer
passar as férias em algum lugar onde seu telefone (e apenas seu telefone) não tinha sinal, a
internet caindo a todo o momento e seus aparelhos eletrônicos sem funcionar?
— Um pouco da coluna A, um pouco da coluna B. — Pol respondeu distraidamente. —
Quanto, a saber, se nossa visitante é humana ou não, teremos que esperar até que apareça,
assim como todos os outros. Mas é melhor prevenir do que remediar, certo? — Ele pegou o
celular, deu um olhar severo, digitou e colocou de volta no bolso. — Pronto. A notícia foi dada:
Cuidado, potencial humano entrando!
Ele repetiu o aviso telepaticamente, para o benefício de qualquer um que não estivesse
perto de seu telefone: Visitante humano na cidade! Tomem cuidado!
Harrison bufou. Seu próprio telefone tocou no bolso e sabia que todos na cidade
receberiam o mesmo alerta. — Essa é a notícia oficial?
— Assinado pelo Conselho da cidade e tudo mais. — Pol lançou-lhe um sorriso angelical.
— Pelo menos, é o que a versão eletrônica diz.
— Não deixe os Sweet ouvirem você dizer isso. — Disse Harrison, sorrindo. —
Interferindo com registros da cidade, tsk, tsk.
O Sr. e a Sra. Sweet presidiam o Conselho da cidade de Hideaway Cove. O Sr. Sweet
estava atualmente como Prefeito, isso aconteceu após a aposentadoria do Prefeito anterior e
a maioria das pessoas assumia que ele manteria a posição após as eleições dentro de alguns
meses. Isso estava bem para Harrison. O velho não era do tipo de causar problemas. Na
verdade, estava tão relaxado que parecia em coma a maior parte do tempo.
Sua esposa, por outro lado, estava sempre metida nos assuntos de todos.
Harrison gemeu. Ele conseguiu se manter fora do radar da Sra. Sweet nas últimas
semanas, desde que finalmente a convenceu que não estava interessado em sua neta, Tessa.
Mas já sabia que ela lhe causaria dor de cabeça por causa do trabalho dele com os que estavam
fora da cidade.
Pol encolheu os ombros e lambeu uma bola de sorvete derretido antes de cair do cone.
— Bem, não estou preocupado com os Sweet. Afinal, trabalho para o próximo Prefeito de
Hideaway, verdade? Mesmo a aterrorizante Sra. Sweet não poderá me incomodar com a
papelada enquanto você estiver pisando na corrente e no manto.
— Eu já disse a você, não vou concorrer a Prefeito. — Disse Harrison, suspirando.
Colocou as mãos nos bolsos. — O trabalho é o suficiente para mim. Além disso, acho que a
corrente de ouro seria mais sua coisa.
Pol encolheu os ombros. — Ah com certeza. Se decidir que quero viver o clichê, a
prefeitura será minha primeira parada. Ali está nosso convidado, a propósito. — Ele
acrescentou, acenando para a estrada atrás de Harrison.
Harrison se virou e levantou uma mão para bloquear o sol da tarde. Um Ford Focus
prateado percorria o caminho, com a cuidadosa lentidão de um motorista que não conhecia
as ruas locais.
Atrás dele, a porta da sorveteria abriu-se novamente e ouviu a voz de Tessa Sweet
enquanto ela avisava as crianças para ficarem dentro. Todas as crianças em Hideaway Cove
sabiam o quão importante era não revelavam o segredo da cidade para os visitantes, mas a
excitação delas em ver um visitante humano podia ser demais e poderiam perder o controle
sobre seus poderes de shifters.
Harrison assentiu em aprovação quando a porta se fechou novamente. Tessa era uma
mulher boa e responsável - tão boa, na verdade, que frequentemente tinha dificuldade em
acreditar que era parente da péssima senhora Sweet.
Ele acenou para o recém-chegado quando o carro prateado se aproximou e teve um
vislumbre do motorista quando passou por eles.
Ele a viu por menos de um segundo. Um flash de cabelo loiro brilhante e um rosto
redondo, escondido por óculos escuros. A boca em arco apertada.
Aquele vislumbre o atingiu como um raio.
Harrison cambaleou para trás, encostando-se na parede externa da sorveteria de
Sweet.
— Oh, inferno. — Ele disse.
— Qual é o problema? Bateu o dedo do pé no meio-fio, cara grande? — Pol deu-lhe
uma cotovelada no lado quando terminou o cone de sorvete. — Oh, parece que essas crianças
estão prestes a sair da loja. Eu estou fora, vejo você esta noite na casa de Caro?
— O que? Sim. Claro. — Harrison não tinha ideia do que Pol disse. Ele ainda estava
olhando para a mulher no carro. Seu coração estava acelerado. Ela era a única. Ela era a única,
parecia dizer, batendo em seu peito e seus ouvidos.
Seus pés começaram a se mover sem qualquer estímulo de seu cérebro, seguindo o
carro, depois parou.
Ele viu quando ela apareceu em uma das poucas ruas laterais da estrada principal de
Hideaway. Sabia exatamente para onde ela estava indo. A estrada que levava ao alojamento
exclusivo para visitantes de Hideaway: o Innlet.
Se ela estivesse hospedada lá, não poderia ser parente para visitar a família em
Hideaway Cove. E Harrison não ouviu falar de quaisquer novos shifters chegando à cidade.
Então ela provavelmente era humana, uma turista aleatória que tropeçou em seu santuário
costeiro.
Harrison imaginou entrar ali e perguntar à proprietária da pousada, a pequena e velha
Marjorie Hanson, se poderia falar com sua visitante e gemeu. Mesmo se não assustasse a
mulher loira exigindo ser apresentado a ela, era uma má ideia. Seria uma passagem de ida
para ser a conversa da cidade. E fazer a mulher ser a conversa da cidade também.
Tanto quanto amava sua casa, não conseguia pensar em qualquer pior destino para um
visitante de Hideaway. A fofoca telepática se movia mais rápido que a luz, onde quer que ela
fosse, seria assunto de sussurros que sequer ouviria.
Não. Ele não podia fazer isso com ela.
Não com sua companheira.
— Não. Sim. Não, eu... — Lainie parou com um suspiro exasperado. — Eu organizei um
encontro com um construtor local amanhã para ver a casa enquanto descubro o que precisa
ser feito para concluir uma pesquisa sobre a terra. Não, isso não é sobre o trabalho, este é um
projeto pessoal, não cobrarei... sim, eu sei que o relatório da conta de Morrison deve ser
entregue na segunda-feira. O relatório está na sua mesa. Na pasta amarela. Sim, aquele.
Lainie esfregou a testa quando seu Gerente começou outra palestra do outro lado do
telefone.
Era nessa hora que Lainie realmente desejava um desses telefones fixos antiquados. Um
dos quais poderia bater. Jogar seu celular não tinha o mesmo efeito catártico, especialmente
porque precisaria tomar cuidado para não quebrar a tela. Não havia nenhuma maneira de
poder lidar com uma conta de conserto de telefone sobre tudo agora... no entanto, poderia
precisar de qualquer maneira, vendo estava tendo problemas agora. Era como se o telefone
tivesse começado a morrer no momento em que colocou os pés em Hideaway Cove.
Esperou até que seu chefe desligasse e resolveu se jogar na cama em vez disso. A
coberta grossa a envolveu como uma nuvem, abafando seu grito frustrado.
Ela tirou um dia de licença remunerada para ir de carro até Hideaway, merda. Talvez
devesse ter – acidentalmente – deixado o telefone no apartamento também. Esta viagem seria
difícil o suficiente sem seu chefe necessitado ligando a cada meia hora.
Então novamente, tranquilizando seu chefe de que o mundo não acabaria se Lainie
passasse um dia longe de sua mesa era uma grande distração de realmente lidar com seus
sentimentos sobre o retorno a Hideaway Cove.
Sua avó estava morta. O último parente de Lainie do lado de seu pai. E ela ainda não
sabia como se sentia sobre isso.
Oh, ela sabia como se sentia sobre todas as coisas ao redor da morte de sua avó. A
herança. A burocracia. As intermináveis e enlouquecedoras reuniões com advogados. Tudo
isso a deixou tão irritada, que poderia gritar.
A coisa que fazia seu estômago revirar era que ela não sabia o que sentia por trás da
raiva. Depois que todas as dores de cabeça legais terminassem, como se sentiria com relação
a morte de sua avó?
Lainie sabia que deveria estar de luto, mas Iris Eaves não fazia parte da vida dela há
quinze anos. Lainie tentou entrar em contato novamente depois que se formou no colegial,
mas isso não terminou bem.
Poderia estar morta o tempo todo. E agora que ela realmente estava...
Lainie gemeu e fechou os olhos. Agora que ela estava morta... era uma espécie de alívio.
Xingou baixinho. Uau. Que neta amorosa você é.
Talvez fosse capaz de lamentar por ela mais tarde. Talvez, quando os credores tivessem
sido apaziguados, Lainie tivesse tempo de lamentar a morte de sua avó e o relacionamento
que nunca tiveram.
Talvez no momento em que tudo estivesse resolvido, toda a provação teria azedado
quaisquer sentimentos que tivesse por aquele lado de sua família.
Lainie suspirou e desligou o telefone. Não apenas bloqueando a tela, mas desligando.
Ela passou o que sobrou da tarde atualizando as ligações de trabalho e e-mails, além de
conversar com o advogado de sua avó. Sabia que deveria ligar para a empresa de
armazenamento onde a mobília de sua avó estava sendo guardada, mas não podia encarar
isso agora. Merecia algumas horas de folga. Precisava disso.
E precisava jantar.
Lainie se virou e pegou uma pilha de folhetos da mesa de cabeceira. Era apenas uma
pequena pilha - Hideaway Cove era um desses lugares que tinha apenas um restaurante. Uma
pousada, um supermercado.
Era bom, mas não ficava chato depois de um tempo? E se você não gostasse do que o
restaurante servia - ou se as pessoas que o gerenciavam não gostassem de você?
Ela folheou os anúncios até encontrar uma sorveteria, aluguel de barcos e algum tipo
de centro de bem-estar com cristais e velas antes de encontrar o que procurava. Caro’s Hook
and Sinker, o famoso restaurante local e exclusivo de Hideaway Cove.
Seu estômago roncou ao ver os pratos de comida retratados na frente do folheto.
Bem, se este era o único restaurante na cidade, deveria ser bom, Lainie disse a si mesma
e pegou sua bolsa.
O ar salgado a atingiu quando saiu. Ela se despediu da Sra. Hanson através das grandes
janelas na frente do B&B. A velha sorriu alegremente para ela.
A Sra. Hanson parecia ter mais de oitenta anos, mas carregou a mala de Lainie pela
escada até o quarto, como se pesasse metade disso, ignorando os protestos de Lainie de que
poderia levar sua própria bagagem.
Devia ser o ar do mar, pensou Lainie, respirando fundo. O ar do mar não era bom para
você? Talvez todo aquele sal agisse como um conservante...
Lainie deixou sua mente vagar enquanto caminhava pela rua principal até Caro’s Hook
and Sinker. Ela tinha o panfleto com ela, caso precisasse verificar o pequeno mapa nas costas,
mas logo percebeu que não precisaria. A enseada de Hideaway era quase ridiculamente
pequena: uma rua principal ao longo da orla, com algumas estradas levando de volta para a
colina que contornava a enseada. O B&B da Sra. Hanson estava bem no final de um delas,
praticamente cravada no lado da colina. O Hook and Sinker ficava na estrada principal. Lainie
apenas precisava continuar andando até encontrar.
Era uma noite calma e Lainie não era a única pessoa caminhando. Ela trocou sorrisos e
cumprimentos com uma jovem família e um casal de velhos.
Isso não é tão ruim, disse a si mesma. Provavelmente ninguém aqui nem se lembra de
mim. E daí se o fizessem?
Lainie tentou ignorar a agitação da ansiedade que contorcia seu estômago toda vez que
vislumbrava alguém novo. Desde que percebeu que teria que voltar para Hideaway Cove para
cuidar dos pertences de sua avó, foi assombrada pelo medo ridículo de que todos na cidade
se lembrassem dela. A garota cujos avós expulsaram da cidade.
Estúpido. Ela não deveria deixar o que aconteceu há quinze anos afetá-la tanto. Mesmo
que sua família foi objeto de fofoca na cidade uma vez, com certeza já era tudo águas
passadas.
Uma explosão de música interrompeu os pensamentos mal-humorados de Lainie, ela
olhou para cima e viu a placa do Caro’s Hook and Sinker bem na sua frente.
O pub era um antigo prédio de madeira e pedra, com venezianas resistentes em todas
as janelas. Uma luz dourada atravessava as janelas e a porta aberta, Lainie entrou em meio a
uma calorosa cacofonia de música, risadas e o cheiro de comida.
Houve um silêncio momentâneo quando as pessoas se voltaram para olhá-la, mas para
seu alívio, apenas olharam para ela e então voltaram para suas refeições e conversas.
O lugar estava cheio, mas não lotado. Lainie olhou ao redor em busca de uma mesa e
depois fez uma pausa - era um pub onde se deveria pedir no balcão ou serviam nas mesas.
Ela olhou para o bar e chamou a atenção da mulher que trabalhava por trás.
— Sente-se! — Gritou a mulher, acenando com um pano de prato para uma mesa vazia
em um canto distante. Ela era encorpada e profundamente bronzeada, em seus quarenta
anos, com uma cicatriz em uma bochecha. —Estarei com você em um minuto!
Lainie abriu caminho pela sala até a mesa vazia, olhando distraidamente para os outros
clientes enquanto o fazia. Havia talvez vinte pessoas espalhadas pelas cadeiras e mesas
confortáveis, com pratos cheios de frutos do mar e pãezinhos crocantes.
E não reconheço nenhum deles. Lainie soltou um suspiro de alívio quando se sentou.
Lembranças antigas daqueles verões que passou em Hideaway voltaram. Ela passava a maior
parte do tempo com seus avós em sua casa no alto da colina e nadava na pequena praia abaixo
de sua casa, em vez de explorar a cidade. Como resultado, não se lembrava muito das pessoas
da cidade.
Deixe-me pensar... havia uma sorveteria e a horrível velhinha que a administrava. Ainda
estaria aqui? Lainie apenas podia esperar que a velha ainda não estivesse trabalhando lá. O
olhar desgostoso em seu rosto enquanto servia Lainie de onze anos quase estragava seu
sorvete.
— Aí está você!
Lainie piscou quando a mulher que estava atrás do bar colocou uma jarra de água e um
menu dobrado na frente dela. Ela inclinou o quadril contra a mesa de Lainie, olhando para ela
com um sorriso amigável que fez sua cicatriz torcer.
— Olá, eu sou Caro. Não é sempre que recebemos visitantes... quer dizer, nesta época
do ano. Espero que você goste de frutos do mar, porque é o que fazemos aqui. Peixe,
moluscos, mariscos...
— Quero sopa, obrigada. — Disse Lainie rapidamente. Ela esperava que Caro não
pudesse ouvir seu estômago.
— Ótima escolha. E alguma coisa para beber? Recomendo o Blueskin Bay Chardonnay
com a sopa.
— Parece bom, obrigada.
— Sem problemas. — A mulher sorriu, gritou o pedido de Lainie por cima do ombro
para a cozinha atrás do bar e não se moveu de seu lugar na borda da mesa de Lainie. — Eu já
vi você aqui antes? Há algo que parece familiar. Tem família por aqui ou algo assim? Quanto
tempo ficará na cidade?
— Apenas mais um dia. — Disse Lainie, devolvendo o sorriso de Caro com o seu próprio
nervoso. — Eu tenho alguns negócios para cuidar e então vou embora. — Ela esperava que
Caro não notasse que não respondeu a pergunta sobre sua família.
Caro levantou as sobrancelhas. — Esse é um longo caminho para dirigir apenas para
pernoitar!
— Eu tenho que voltar para o trabalho. — Explicou Lainie com um encolher de ombros.
— Você sabe como é...
Talvez não, ela pensou olhando ao redor do salão. A maioria das pessoas dali
provavelmente trabalhava na cidade ou nos barcos ancorados na pequena marina. Estavam
comendo com vontade, mas sem a velocidade furtiva e estressante que Lainie conhecia de
casa. Duvidava que algum deles estivesse estressado por ouvir uma bronca ao telefone e ter
que lidar com um novo cliente.
— Bem, é uma pena. — Disse Caro com outro sorriso. — Espero que você tenha a
chance de ir à sorveteria antes de ir. É o segredo mais bem guardado de Hideaway.
Isso parecia ser tudo o que Caro queria saber, depois de pouca conversa ela voltou para
trás do bar.
A refeição de Lainie chegou alguns minutos depois, carregada por duas garçonetes que
viu ao redor do salão. Ambas pareciam estar no final da adolescência, provavelmente
trabalhando no restaurante como um emprego de meio período depois da escola.
Aquela que carregava a sopa de Lainie e a taça de vinho usava longos brincos de penas
que pareciam vir de algum tipo de gaivota. Elas viravam de um lado para outro nos ombros
enquanto ela andava.
— Espero que você goste. — Disse a garçonete com um sorriso quando colocou a tigela
de sopa na frente de Lainie. — Jess trouxe os mariscos ontem... bom, verdade?
—Parece delicioso. — Disse Lainie com sinceridade. O vapor que saía da tigela de sopa
encheu sua boca de água. A garçonete sorriu e Lainie acrescentou em um súbito impulso
amigável. — Gostei de seus brincos.
— Obrigada, eles são meus... — A garota disse alegremente e então congelou. Colocou
a mão sobre a boca, os olhos arregalados e fugiu.
Lainie ficou olhando para ela, espantada. Foi algo que eu disse? Ela pensou. Não, não
seja boba. A pobre garota provavelmente está apenas mortificada por soar boba diante de um
novo cliente. “Eles são meus...” de quem mais seriam?
Mordendo o lábio para não rir - não queria envergonhar ainda mais a garota - Lainie
pegou a colher. Foi um longo dia e estava mais do que pronta para o jantar.
Quando olhou para a tigela, sentiu sua nuca se arrepiar.
Uma vida inteira de ser a gordinha da escola deu a Lainie um sexto sentido para quando
estava sendo observada. Particularmente durante as refeições. Nos dias de hoje, sabia como
se vestir para lisonjear sua figura e como arrumar o cabelo para que caísse em ondas retas,
em vez de uma nuvem esvoaçante, mas ainda se agitava quando sentia as pessoas
observando-a comer. Como agora.
Bem, fique olhando. Contanto que ninguém derrube creme de milho no meu cabelo,
podem olhar para o que quiserem.
Lainie mergulhou a colher na sopa cremosa e olhou de lado. Não olhou diretamente
para os outros clientes, mas a janela ao lado da mesa refletia o salão como um espelho.
O reflexo não era o mais claro, mas podia ver meia dúzia de pares de olhos brilhando
para ela do vidro.
O estômago de Lainie se contorceu.
Pare com isso, ela disse a si mesma. Eles apenas estão olhando, porque você é nova na
cidade. Isso não significa nada.
Atrás dela, a porta do restaurante se abriu, deixando entrar uma rajada de vento.
Felizmente, quem quer que entrou também distraiu a audiência de Lainie. Com a pressão dos
olhos longe, Lainie soltou um suspiro de alívio e colocou a colher de sopa em sua boca.
Estava tão deliciosa quanto cheirava, rica e cremosa. Lainie fechou os olhos saboreando.
Essa era a desvantagem de viver longe da costa: nada superava realmente frutos do mar
frescos.
Ela continuou comendo mal prestando atenção ao restante do salão. Atrás dela, quem
acabou de entrar parecia manter pelo menos três conversas, ocasionalmente fazendo
saudações alegres quando via pessoas que ele conhecia pelo restaurante.
— Você não pode me dizer isso... ei, Carter, como estão as coisas? Esse tipo de coisa
não aconteceu antes. E talvez ela tenha algum tipo de conexão com este lugar ou à noite...
Guts, ótimo ver você de pé novamente... quer dizer, claro, talvez seja apenas o acaso que a
trouxe aqui, mas...
Sua voz sumiu. Lainie, ainda decidida terminar o jantar, sentiu um arrepio estranho. A
voz do homem era profunda, rica e... agradável de ouvir. Como chocolate suave e quente.
Ela pensou brevemente que teria gostado de ser uma das pessoas com quem ele estava
falando, com uma amizade tão casual.
Olhou para trás por cima do ombro, na esperança de ter um vislumbre do homem com
a voz linda. Ele estava de costas para ela, inclinado sobre outra mesa e conversando com a
família sentada em voz baixa, baixa demais para ela ouvir.
Ele era alto, com ombros largos que esticavam a parte de trás de sua camisa de flanela
desbotada. As mangas estavam dobradas sobre os antebraços bronzeados, do qual Lainie
tinha uma ótima visão enquanto apoiava uma das mãos nas costas de uma cadeira.
E até onde Lainie podia dizer a pessoa com quem ele estava conversando quando
entrou... era um cachorro.
Um cachorro grande, com pelos negros e grossos, um focinho mais fino e olhos azuis
inquisitivos. O melhor amigo do homem, com certeza, mas não o tipo de amigo com quem
você gostaria de conversar em profundidade.
Lainie piscou. O cachorro olhou para ela com os olhos escuros e bufou baixinho.
Seu dono se virou. Lainie estremeceu, pretendendo voltar para a refeição e fingir que
não olhava, certamente não para ele - mas ele a viu antes que conseguisse se mexer.
Seus olhos eram cor de avelã, com linhas profundas de sorriso nos cantos. Estava
bronzeado e barbeado, sem barba para esconder sua mandíbula forte e boca carnuda.
Quando olhou para Lainie, um sorriso surpreso se espalhou por seu rosto.
Ela sorriu em retorno e voltou para a sopa.
Ele ainda estava olhando. Ela não precisava olhar para a janela para saber disso.
Eu não posso acreditar que ele me pegou olhando, ela pensou com suas bochechas
ficando quentes. Espero que a garçonete tenha visto isso. Pelo menos, ela saberia que ela não
foi a única a se envergonhar está noite.
Ouviu passos atrás dela, o tilintar das botas nas tábuas do piso. Então o raspar de uma
cadeira. Lainie olhou para cima.
O homem que a pegou olhando estava de pé ao lado de sua mesa, o sorriso surpreso
ainda em seus lábios.
— Importa se me juntar a você? — Ele perguntou com aquela voz linda.
Seus olhos eram castanhos escuros, quase negros. Eles se destacavam como brasas
contra o cabelo loiro e a pele pálida. Quando ela olhou para ele, eles se arregalaram em
choque - estreitaram-se com suspeita e finalmente, se afastaram dele.
— Claro, sente-se. — Disse com suas bochechas vermelhas. Ela colocou a colher para
baixo e descansou as mãos na borda da mesa, observando-o pelo canto do olho.
Harrison sentou-se em uma cadeira à sua frente. Seu coração estava acelerado. Esta era
a mulher que ele viu antes, no carro. Deixou-o trêmulo desde então e isso foi a três metros de
distância, pelo para-brisa. Bem aqui, agora, ela estava perto o suficiente para que pudesse
alcançá-la e tocá-la. Sua cabeça estava girando.
— Eu sou Harrison. — Ele disse, ignorando o impulso de segurar a mão dela e beijá-la
em vez de agitá-la como uma pessoa normal. E você é a mulher mais linda que eu já vi.
—Lainie. Lainie Eaves.
Lainie Eaves. Harrison estendeu a mão para apertar a dela, usando seus sentidos shifters
ao mesmo tempo. Lainie Eaves: lindos olhos, mãos suaves e nenhum indício de shifter. Ela era
humana.
Harrison soltou sua mão e recostou-se na cadeira. Lainie ser humana não importava
para ele. Sabia que era perfeita daquele jeito.
Ele acenou para a tigela. — Acho que Caro já fez o discurso de boas vindas.
Lainie mordeu o lábio, mas a sugestão de um sorriso apareceu. — Sopa e sorvete? Ah,
é uma pena que ficarei apenas está noite.
— Ficará apenas está noite? Caro está certa, isso é ruim. — Harrison falou sem pensar
e com uma paixão indisfarçável em sua voz. Lainie olhou para ele, seus olhos questionando.
— Quer dizer, há mais em Hideaway Cove do que sopa e sorvete. Se ficasse por mais tempo...
— Eu realmente não ficarei. — Lainie falou tão rapidamente que quase tropeçou em
suas palavras. Harrison franziu a testa levemente enquanto tomava um gole de vinho, dando
tempo para se recuperar.
Isso é estranho. Há algo mais acontecendo, tenho certeza disso.
Então novamente, havia mais para em Hideaway Cove do que sopa e sorvete também.
Muito mais.
Harrison olhou para baixo, onde Arlo estava sentado paciente no chão ao lado da mesa.
O shifter lobo olhou de volta para ele. Harrison não precisou usar sua telepatia shifter para
entender a mensagem por trás do olhar.
— Caro. — Ele chamou, acenando sobre as cabeças dos outros clientes do restaurante
para chamar sua atenção. — Meu habitual? E uhh, para o cão também...
Ele podia ver Caro revirando os olhos do outro lado do salão. Quando ele se recostou
na cadeira, Lainie escondia outro sorriso.
— Seu cachorro tem um habitual.
— Ah, claro. — Disse Harrison mentindo. — Normalmente as sobras de todos os outros
em uma grande bacia. Você não acreditaria no quanto o velho mestiço come.
Ele sorriu para Arlo, que deu-lhe o olhar mais enojado de que sua forma de lobo era
capaz.
— Você me deve, Harrison. — O shifter lobo disse telepaticamente.
— O que ele é? Ele parece meio... — Lainie franziu a testa. Harrison não a culpava. Arlo
parecia o que ele era: um gigante lobo cinza-escuro. No momento, depois de um dia inteiro
em seu barco de pesca, um gigantesco lobo preto-acinzentado polvilhado de sal.
— Oh, ele é um pouco de tudo, não é meu velho? Husky, pastor alemão, um pouco de
Pomerânia...
— Idiota.
— Ele é muito bem comportado.
Harrison se inclinou e coçou as orelhas de Arlo com um sorriso malicioso. — Não é?
Bom garoto, esperando por suas refeições. — Ele acenou para o prato de Lainie. — Não deixe
que a impeça de jantar. Posso conversar enquanto você come.
— Não, eu estou bem. — Lainie respondeu. Ela estava apenas na metade de sua tigela
de sopa, que Harrison sabia que por longa experiência era deliciosa, mas ela a afastou com
firmeza. — Então... você mora aqui em Hideaway Cove?
— Eu tenho uma casa perto da água, do outro lado da baía. Vivo aqui por dez anos, mais
ou menos. — Harrison resolveu contar a história, tão familiar quanto um suéter velho. — Eu
cresci fora do estado e saí de casa depois que meus pais morreram. Tinha todas essas grandes
ideias sobre viver na estrada, como uma espécie de Cavaleiro Solitário em um Mustang. Isso
durou até que passei por aqui e de alguma forma nunca mais saí. Comecei a trabalhar com o
encarregado da construção e depois assumi o negócio dele quando o passou.
— Parece que você está aqui para ficar. — Lainie brincou com a haste de sua taça de
vinho, não encontrando os olhos de Harrison. — Sinto muito por ouvir sobre seus pais. Você
não teve problemas para se encaixar aqui? Quer dizer, sempre se ouve sobre pequenas
cidades sendo...
— ... acolhedoras, simpáticas e atenciosas? — Harrison disse com uma risada. — Não,
eu sei que alguns lugares têm uma reputação. Mas eu me adaptei a Hideaway Cove como se
pertencesse aqui. E agora o faço.
Não é como se em qualquer outro lugar eu pudesse viver abertamente como um shifter.
Depois que seus pais morreram, Harrison pensou que teria que viver constantemente
em movimento, no caso de alguém chegar perto demais e deixar escapar o que era. Em vez
disso, encontrou um lugar que o acolheu como um filho perdido.
A chegada da garçonete com as refeições de Harrison e Arlo interrompeu a conversa
brevemente. Harrison piscou para Jools, que fez uma careta para ele. Guts contou sobre o
deslize de Jools mais cedo, sobre seus brincos de pena. Feito de suas penas, claro. Jools era
uma das quatro irmãs shifters, sobrinhas de Guts, que pareciam gostar de fazer artesanato
com suas penas.
Harrison levantou sua cerveja em um brinde. — Está é sua primeira visita a Hideaway
Cove? — Perguntou.
A boca de Lainie se curvou, como se estivesse prestes a dizer alguma coisa, mas apenas
sorriu e bateu sua taça de vinho contra a de Harrison.
Ele comeu sua refeição, uma porção tripla de sopa e salada. Lainie voltou a comer,
aparentemente encorajada por seu apetite.
O intervalo deu a Harrison uma chance de pensar, embora pensar com a deliciosa
comida de Caro fosse uma dificuldade na melhor das hipóteses. Com a comida e sua
companheira na frente dele? Era quase impossível.
Ele olhou para Arlo, que estava comendo sua refeição com determinação resignada. Se
Lainie notou que a garçonete colocou uma tigela de carne na frente do cão, ela não disse nada.
Nos dez anos em que Harrison vivia em Hideaway, viu algumas dúzias de visitantes
humanos na cidade, sem incluir as visitas regulares dos funcionários do condado. Todos em
Hideaway sabiam manter o segredo da cidade a salvo de pessoas de fora. Mas até onde
Harrison sabia ninguém jamais reconheceu um estranho como seu companheiro.
Se o velho Sr. Mackaby ainda estivesse por perto, Harrison poderia ter conversado com
ele sobre isso. Arlo achava que deveria conversar com Caro, o que parecia uma boa ideia. Até
que entrou no restaurante e viu sua companheira sentada na mesa da janela.
Lainie Eaves. Um belo nome para uma mulher bonita.
Bem, tanto para o Plano A. O Plano B - vinho e jantar com uma mulher bonita, no melhor
restaurante da melhor cidade da costa - estava indo perfeitamente.
Ele não queria que Lainie pensasse que estava olhando-a, mas não podia deixar de
olhar. Ela comia com calma e ordenadamente, com pequenas colheradas e Harrison foi
atingido por uma súbita visão de ambos de frente a uma lareira, comendo juntos no conforto
tranquilo de sua casa.
Seu pulso acelerou. Sob sua pele, seu grifo ficou contente.
Nos últimos dez anos, Harrison sentiu um vazio no coração. Ele perdeu seus pais de
repente quando estava na adolescência e com eles mortos, sua casa, seu ninho, perdeu a alma.
Deixou a casa na esperança de encontrar alguém para preencher esse vazio.
Seus pais, ambos shifters grifo, tiveram o casamento perfeito e tudo o que Harrison
queria de sua vida era uma companheira que pudesse amar como seus pais se amaram. Ter
sua companheira ao seu lado, em uma casa acolhedora e aconchegante que construiu com as
próprias mãos. Cada prancha, cada prego, cada mobília carinhosamente trabalhada por ele,
para ela.
Um ninho quente e seguro.
E era isso. Com ela.
Talvez fosse bom que ele conhecesse Lainie pessoalmente pela primeira vez aqui, ao
redor de tantas outras pessoas. Se estivessem sozinhos, poderia ter deixado escapar o que
estava pensando e ela poderia pensar que estava bêbado, louco ou ambos.
Harrison respirou fundo, preparando-se. Tinha sorte de seu grifo ser sempre uma
criatura plácida, contente por passar a maior parte do tempo em forma humana, mesmo aqui
onde as pessoas eram livres para assumir suas formas animais sempre que quisessem. Mesmo
agora, encontrando sua companheira, estava feliz por assumir a liderança.
Dado o que ouviu sobre as reações de outros shifters quando encontravam seus
companheiros, estava feliz. Havia muitos olhos curiosos sobre os dois enquanto comiam. Um
shifter mais agressivo poderia ter se ofendido. Não queria que a primeira impressão de Lainie
dele fosse: aquele cara que me pegou em suas garras e me levou para seu covil.
Não que ele tivesse um covil, a menos que os quartos acima de sua oficina contassem.
Lainie limpou a garganta, imediatamente chamando a atenção de Harrison.
— Então, acho que vocês não recebem muitos visitantes aqui, verdade? — A expressão
de Lainie era neutra, mas seu olhar foi para a janela, que refletia o salão. Harrison não precisou
olhar ao redor para ver seus amigos e vizinhos olhando para os dois. Não culpava Lainie por
se sentir insegura.
— Não muito. — Disse ele. Era apenas uma mentirinha. Hideaway Cove recebia alguns
turistas, daí a existência do solitário B&B. Mas eram todos shifters, amigos ou familiares das
pessoas que já moravam ali. Um visitante humano era tão raro quanto dentes em uma galinha.
Talvez tão raro quanto um shifter grifo.
Lainie o olhou. Harrison notou que seus olhos escureciam como se estivesse se
resignando ao seu status como o objeto de grande interesse das outras pessoas da cidade.
Harrison se inclinou para frente, sorrindo conspiratório. — Quer sair dos holofotes?
Posso levá-la para um passeio pela cidade, se você quiser. Não poderá ver muito no escuro,
mas as luzes na água valem a pena.
Desta vez, Lainie sorriu devagar. —Você tem certeza? Eu não quero me intrometer.
— Aceitar um convite dificilmente é se intrometer. — Harrison disse gentilmente. Seu
coração acelerou quando Lainie sorriu, os últimos vestígios de sua relutância se derretendo
como a névoa do mar à luz do sol.
— Tudo bem. — Disse ela. — Se você insiste! Preciso apenas pagar minha conta.
— Não há necessidade. Pedirei a Caro que coloque em minha conta. —Lainie parecia
prestes a protestar, então Harrison ergueu as mãos num gesto de rendição, sem querer ceder.
— Você é minha convidada! Por favor, deixe-me compensar o meu cachorro fedorento em
seu jantar.
— Ei, cara, isso não é justo!
— Oh, seu cachorro não é... — Lainie se agitou e ergueu as mãos em falsa derrota. —
Ok. Obrigada. Isso é muito gentil da sua parte, embora saibamos que seu cachorro não está
fedendo a nada.
Seus olhos escuros brilharam para Harrison quando ela pegou sua bolsa e casaco,
enviando arrepios por suas costas. Ele viu o olhar de Caro do outro lado do salão.
— Coloque na minha conta, por favor, Caro.
Ele não esperou pela resposta de Caro. Lainie estava lutando com o casaco e ele ficou
de pé para ajudá-la.
No momento em que percebeu seu erro, já era tarde demais. Ele já estava de pé atrás
dela, a lã macia de seu casaco em suas mãos e o cheiro de seu corpo em suas narinas. Ela
estava usando um perfume floral, mas podia sentir o cheiro dela sob o aroma artificial.
Harrison fechou os olhos, engolindo um gemido. Rapidamente colocou o casaco sobre
os ombros de Lainie e deu um passo para trás.
— Obrigada. — Disse Lainie.
Era sua imaginação ou ela soava um pouco sem fôlego?
Lainie prendeu a respiração. Ela ainda podia sentir as mãos de Harrison em seus ombros.
Elas apenas ficaram lá por uma fração de segundo, mas foi o suficiente para deixar seu coração
batendo forte. Olhou para ele por cima do ombro enquanto abotoava o casaco.
— Obrigada. — Disse ela. Harrison deu-lhe um breve sorriso, colocando as mãos nos
bolsos. — Você tem um casaco?
Ele riu baixinho. — Eu não sinto frio. Camiseta, a menos que esteja nevando, sou eu.
Lainie estremeceu ao pensar nisso. — Neva aqui? — Ela perguntou enquanto
caminhavam até a porta. Ainda podia sentir os olhos em suas costas e um nó de preocupação
se formou em seu estômago. Sair daqui com um homem que acabei de conhecer realmente é
a melhor maneira de evitar que as pessoas fofoquem sobre mim?
Bem, era tarde demais para desistir agora. E, além disso, não queria desistir. Não
conseguia se lembrar da última vez que um homem demonstrou algum interesse por ela,
muito menos ser tão óbvio sobre isso. E cavalheiro.
Talvez eu não tenha que tomar todas as decisões com base no que acho que as outras
pessoas acham que devo fazer, ela pensou com firmeza.
Outro pensamento a atingiu quando Harrison segurou a porta aberta.
— Oh e o seu cachorro?
Harrison bateu a mão na testa e olhou de volta para onde seu cachorro estava sentado
pacientemente ao lado da mesa. O cachorro olhou de volta.
— Uh, ele fiará bem aqui. Caro cuidará dele.
— Oh. — Lainie sentiu seu estomago revirar. — Você e Caro...? — E se sim, eu recebi
totalmente os sinais errados?
— Eu e...? Ah não. Quer dizer, o cachorro não é meu. Ele é de toda a cidade. Nós todos
cuidamos dele. E eu sei que ele preferiria cochilar em frente ao fogo aqui esta noite, do que
debaixo da minha bancada em casa.
Bem, isso soava pelo menos um pouco crível. Ela deu uma última olhada para o cachorro
sentado desolado ao lado da mesa deles. Exceto que ele não estava mais sentado desolado.
Foi para a mesa ao lado e estava sendo coçado na cabeça por uma criança, pedindo as sobras
do garoto.
Ao lado dela, Harrison bufou. — Aproveitador.
Lainie riu. Ela não notou antes, mas o cachorro não estava usando uma coleira. Isso,
junto com sua aparência geralmente suja e o jeito que não pareceu notar que Harrison saia,
era prova suficiente para ela de que Harrison não estava mentindo.
— Então, para onde primeiro? — Ela perguntou, saindo para o ar fresco da noite.
O crepúsculo caía quando Lainie chegou ao restaurante e a essa altura já era noite. As
ruas estavam vazias.
Todos deveriam estar em casa ou atrás de nós no restaurante, pensou Lainie.
Lainie colocou as mãos nos bolsos do casaco. A brisa saindo da água era mais fria do
que esperava quando fez as malas para a viagem.
Mas não era como se eu estivesse esperando uma caminhada ao luar pela orla quando
estava escolhendo roupas, ela pensou de repente. Olhou para o céu noturno. Nenhuma lua.
Bem. Um passeio estrelado, pelo menos.
— Lindo, não? — Harrison se aproximou ao lado dela na calçada. —Você não acreditaria
que tivemos uma grande tempestade há apenas alguns dias.
— Sério? — Perguntou Lainie. — Eu não vi uma nuvem no céu o dia todo.
— Certo. Elas descem rapidamente nesta época do ano. Caiu tanta água em nós que
fiquei com medo de que toda a cidade flutuasse para o mar.
Lainie olhou ao redor. O céu estava claro e brilhante com estrelas, o que ela podia ver
dos prédios, à luz dos postes, parecia sem danos. — Não houve nenhum dano, espero?
— Oh, nós temos tempestades suficientes nesta época do ano que qualquer construção
que poderia ruir teria feito isso anos atrás. O pior que aconteceu foi que um fusível que
explodiu na sorveteria.
— Parece trágico!
— Quase foi. — Harrison concordou solenemente. — Felizmente, minha equipe estava
pronta para entrar em ação.
— Sua equipe?
— Eu tenho uma... bem, uma espécie de oficina. Jack Faz Tudo. Eu disse que assumi a
empresa de construção local? Bem, além de mim, há Pol, nosso eletricista local e Arlo, que
você... uh, que cuida de qualquer trabalho de barco que precise ser feito. Ele dirige a instalação
de armazenamento pela qual deve ter passado no seu caminho para a cidade também.
— Parece que você mantém esta cidade funcionando. — Disse Lainie.
— Oh, eu não iria tão longe. Existem instituições municipais mais importantes. A sopa
de Caro, por exemplo.
— Uma cidade que funciona a base de sopa? Com certeza foi a melhor que já provei. E
obrigada por me lembrar, precisarei arrumar um tempo para ver seu amigo Arlo amanhã,
sobre um contêiner de armazenamento. — Lainie colocou uma mecha de cabelo para trás da
orelha. — Então, qual é a primeira parada neste passeio?
— Um contêiner de armazenamento? — Os olhos de Harrison se iluminaram. — Eu
tenho que dizer, as palavras: contêiner de armazenamento e ficar apenas uma noite, não
parecem combinar. Tem certeza de que não está planejando ficar por perto?
Lainie fez uma careta e logo sorriu. Ficar? Nunca. — Bem, eu não estava planejando. —
Respondeu.
Harrison piscou para ela. — Tudo bem. De qualquer forma, pensei que poderíamos ir
pelo extremo norte da baía, já que já estamos quase lá e depois para o sul. Dessa forma,
passaremos pelo B&B da Sra. Hanson. É onde você está, não é?
— Sabe, algumas pessoas podem dizer que isto é um pouco assustador. — Disse Lainie,
rindo. —Você está me seguindo?
Harrison fez uma careta. — Desculpe, eu nem sequer pensei nisso. A Sra. Hanson é o
único lugar onde alguém fica.
— É um lugar adorável. — Disse Lainie, pensando no quarto arejado no qual a Sra.
Hanson a colocou, com a janela panorâmica da cidade e além dela, a praia. — E com preço
bom também, dado que ela tem o monopólio do alojamento turístico na cidade.
— Não deixe que ela ouça isso, terá ideias. — Harrison riu.
Eles caminharam juntos por um tempo em silêncio. Harrison conduziu Lainie pela
calçada larga em direção ao mar pela estrada principal. Uma trilha de pedra separava o
caminho da água, que espirrava contra a parede. Algumas pedras ocasionais desciam até a
água e enquanto caminhavam, a água recuou, empurrada para trás por uma praia de cascalho.
Lainie manteve os olhos no oceano. Depois da praia, ela sabia que ali estava a colina
onde ficava a casa de seus avós, protegida.
— Aqui estamos. — Disse Harrison de repente e por um momento Lainie pensou que
ele estava falando sobre a estrada até a casa de seus avós. Seu coração acelerou no peito,
mesmo depois de ver que ele estava acenando com a mão para um pequeno prédio contra a
parede do mar.
— O que, oh! — Lainie riu. — A famosa sorveteria?
— A primeira e única.
Lainie olhou para a pequena loja. Era exatamente como ela se lembrava: paredes de
madeira, telhas vermelhas e ladrilhos ao redor dos beirais e sob os parapeitos das janelas.
Como se tivesse pulado das páginas de um livro de histórias.
Estava fechada claro, as janelas fechadas e uma cortina na porta da frente indicavam
isto.
— Verei se consigo abrir espaço na minha agenda para isso. — Mentiu Lainie. Se
houvesse alguma chance do lugar ainda ser administrada pela velha senhora que ela se
lembrava de sua infância, não havia como voltar quando estivesse aberta.
Harrison colocou as mãos nos bolsos da calça, olhando para a água.
— O que você disse que a trouxe aqui? Não quero bisbilhotar, mas embora possamos
não receber muitos visitantes, eles costumam ficar mais tempo do que da noite para o dia. E
geralmente não priorizam os contêineres de armazenamento ao invés de sorvete.
— É uma longa viagem para uma breve visita. — Concordou Lainie. Sua mente correu.
Ela deveria dizer a ele? — É... algo familiar. — Disse ela por fim. — Apenas algumas pontas
soltas que preciso amarrar.
— Você tem família aqui? — Harrison parecia surpreso, mas mais do que isso, animado
também.
— Algo assim. Não mais. — Lainie encolheu os ombros. — Meus avós, do lado do meu
pai moravam aqui. Ambos estão mortos agora.
— Sinto muito. — Disse Harrison. Lainie apenas encolheu os ombros novamente.
— Está tudo bem. Nós nunca fomos... não éramos próximos. Minha mãe me criou.
Lainie não pode deixar de olhar para a colina com a velha casa. Dali era praticamente
invisível contra as sombras escuras da colina e o céu negro. Apenas algumas linhas retas nas
sombras indicavam algo feito por homens lá em cima.
Lainie virou as costas e começou a andar de volta pela calçada. Ela se obrigou a andar
devagar. Não é como se você estivesse fugindo. Não está. O ponto de vir aqui era voltar para
casa. Apenas não agora. Amanhã.
Harrison manteve o ritmo com ela. — Eu sinto muito. — Ele disse novamente, sua voz
baixa. — Eu não queria me intrometer.
— Não se preocupe com isso. — Lainie sorriu para ele. — É uma história antiga, na
verdade. Já passou.
Por alguns minutos, não houve nada além do som das ondas batendo contra a costa e
o distante murmúrio de vozes saindo do restaurante. Lainie relaxou. Estava ciente da presença
de Harrison ao lado dela, mas não era uma consciência espinhosa, desconfortável, como todos
aqueles olhos de volta ao restaurante. Até mesmo seu silêncio era reconfortante.
— Você estava certo. — Disse ela depois de um tempo.
— Estou? Sobre o que? — Harrison parecia genuinamente confuso e Lainie reprimiu
uma risadinha.
— Sobre as luzes.
A baía se estendia à frente deles. A terra se curvava ao redor da água como um gato
adormecido, uma colcha de retalhos de luzes douradas e amarelas brilhando através das
janelas das casas e das luzes da rua. A luz se refletia na água em constante movimento,
cintilando na escuridão. A água parecia negra, misturando-se ao céu à distância. As luzes se
moviam em sua superfície, cintilando como se viessem das profundezas das ondas, em vez
das casas aninhadas ao redor.
— É lindo.
— Deixarei Pol saber que você disse isso. — Harrison disse. Lainie franziu a testa antes
de se lembrar: Pol, o eletricista que trabalhava para Harrison.
Era sua imaginação ou havia uma pitada de ciúme na voz de Harrison?
Ela olhou de lado para ele a tempo de pegar uma fugaz careta autodepreciativa em seu
rosto. Não imaginou isso.
— Você não pode me dizer que um homem é responsável por toda a iluminação da
cidade. — Disse ela. — O Conselho Municipal não tem nada a ver com isso? De qualquer forma
e você? Disse que é o construtor por aqui, isso significa que todos os prédios da cidade são
obras suas?
Ela observou Harrison enquanto falava, ainda de lado. Ele sorriu para si mesmo, vincos
profundos se formando ao longo de suas bochechas.
— Eu gostaria de poder dizer sim. — Ele admitiu. — Mas não há muita necessidade de
novas construções aqui. Apenas impeço os prédios antigos de desmoronar.
— E flutuando no mar, certo?
— Engraçado você dizer isso agora. — Disse ele. Parou e segurou o braço dela. —Vê
aquela casa ali?
Lainie se forçou a olhar para onde ele estava apontando. Estava ciente da mão dele em
seu braço e o restante dele tão perto dela. Seus braços nus e bronzeados, o movimento dos
músculos duros sob o tecido gasto de sua camisa.
O botão de cima da camisa estava meio desfeito. Deve ter se soltado enquanto
andavam. Ela viu os pelos castanhos ali. Era difícil dizer à luz dos faróis de rua, mas Lainie
achava que poderia ser um tom mais escuro do que os cabelos. Como sua pele bronzeada, seu
cabelo deve ter adquirido esta cor de um trabalho ao ar livre no verão passado...
Lainie estremeceu, tentando escapar da visão que sua imaginação evocou. Harrison
trabalhando em um canteiro de obras sob o sol escaldante. Sem camisa. O suor escorrendo
pela testa e pelos duros músculos de seu peito.
— Hum. — Ela disse com a boca seca. Controle-se!
Ela franziu a testa e olhou ao longo do braço de Harrison. Não olhe para o braço dele,
vamos lá, controle-se para tentar distinguir a casa que ele estava apontando. As casas ali foram
colocadas abaixo e atrás da estrada, na borda do que parecia a escuridão como um quintal
compartilhado.
— Qual casa, desculpe?
— Próxima a colonial com as portas francesas. Com o gato na frente.
A careta de Lainie se aprofundou. O gato…? Tudo o que ela podia ver era uma casa de
madeira de um único andar com um pequeno barco amarrado na varanda da frente.
Oh. Gato. Catamarã.
— Sim. — Disse ela, corando.
— Nota alguma coisa estranha ali? — Harrison estava praticamente brilhando com
antecipação presunçosa.
Lainie ficou olhando. Ela assumiu que o pequeno barco, o catamarã estivesse aterrado
no jardim da frente, mas agora que realmente olhava para ele, parecia estar balançando para
cima e para baixo. Seguiu a parte negra do pátio em direção à estrada e viu a luz do poste de
luz.
— Isso é tudo água! Então, o que, a casa está sobre palafitas?
— E aqui eu pensando que seria divertido explicar isso para você. — Disse Harrison,
gemendo. Andou para frente, acenando para ela. — Veja, há uma pequena lagoa aqui que
volta da estrada. Fácil de ver à luz do dia, mas não tanto à noite.
— O catamarã pode se encaixar sob a estrada? Quer dizer, a ponte?
— Com o mastro para baixo, com certeza.
— E a casa não flutua na maré?
— Não recentemente. — Ela viu os dentes brancos de Harrison quando ele sorriu. —
Esta foi a minha primeira construção depois que terminei meu aprendizado. A casa saiu de
suas fundações em uma grande tempestade, então meu chefe, o Sr. Mackaby, encarregou-
me de consertá-la.
Harrison se apoiou na parede de pedra na beira da estrada acima da lagoa. Ficava claro
que ele estava orgulhoso do que fez. Lainie ficou ao lado dele, perto o suficiente para que a
barra de seu casaco roçasse contra ele.
— Eu imagino que se tivesse um barco, ser capaz de atracar na porta da frente seria
ideal. — Disse ela.
O rosto de Harrison estava nas sombras, mas seus olhos cor de avelã brilhavam como
ouro. — Meu chefe disse isto na época. O que é bom, porque essa era a casa dele. — Ele fez
uma pausa. — Sua filha mora ali agora, com o marido e as crianças. Então é melhor que eu
tenha feito um bom trabalho ou ele voltará para me assombrar.
— Ainda recebendo críticas anuais do trabalho além do túmulo? Ai.
— Bem, se isso acontecer, terei que manter sua atenção fantasmagórica na casa de
Marcie e não em sua antiga oficina. Ele realmente explodiria se visse o que eu fiz no lugar.
—Oh? — Lainie estava intrigada. Harrison falava sobre seu antigo chefe com tanto
respeito, que ficou surpresa ao ouvir que ele foi contra seus desejos.
— Sim. — Harrison parecia envergonhado. — Era para ser apenas um local de trabalho,
mas passei tanto tempo ali nos primeiros anos depois que assumi, que acabei me mudando.
Meu chefe sempre gostou de manter o trabalho e a casa separados, mas... — Ele encolheu os
ombros.
— Eu sei como você se sente. Não posso contar as noites em que teria preferido puxar
uma cama e dormir sob minha mesa do que ir para casa. — Disse Lainie. — Veja bem, espero
que você tenha menos probabilidade de ficar preso no meio de um colapso no metrô do que
em casa.
— Temos muito poucos colapsos no metrô aqui, é verdade. — Disse Harrison
solenemente. — Não ter qualquer transporte público ajuda, é claro. — Ele fez uma pausa. —
Você gostaria de ver?
— Sua oficina? — Lainie mordeu o lábio. Ele está dizendo o que eu acho que ele está
dizendo? —… agora?
Lainie olhou de lado para Harrison. Ele estava olhando para a lagoa. Um olhar de horror
se espalhou por seu rosto, como se tivesse acabado de perceber o que disse e estivesse
desesperado para pegar as palavras de volta.
— Quero dizer… oh, Deus. Isso saiu totalmente errado. — Disse ele, parecendo
mortificado.
— Saiu errado, mas tinha a intenção de dizer isso? — As palavras saíram antes que Lainie
pudesse pará-las. Agora ambos estavam ruborizados.
Um brilho quente se acendeu dentro de Lainie, dominando o rubor quente da vergonha
em suas bochechas. Ela se virou, então ficou olhando para Harrison de frente. Não mais
olhares de lado.
O poste da rua estava atrás dele, iluminando o tecido esticado da camisa e os ombros
largos e poderosos. De alguma forma, o conhecimento de que ele construiu aqueles músculos
com trabalho manual, sem academia, o tornava ainda mais atraentes para Lainie. Ele parecia
sólido, forte e confiável. Sua leve autoconsciência apenas o deixava mais atraente, como se
não percebesse o quão bonito realmente era.
A luz iluminava seu cabelo castanho e a faixa de pele bronzeada entre a linha do cabelo
e o pescoço. Aquele botão de cima ainda estava se segurando. Lainie queria soltá-lo.
E porque não?
Ele basicamente não a convidou para conhecer sua casa?
Harrison se virou para ela e a luz atingiu seu rosto. Seus olhos estavam brilhantes e
olhando profundamente para dela. Estava observando-a quando seu rosto estava nas
sombras?
— Sim. Eu quis dizer aquilo, mesmo que não fosse desta forma. — Ele disse suavemente.
Hesitante, levantou uma mão e colocou uma mecha solta de cabelo atrás da orelha de Lainie.
— Eu pensei que os moradores fossem conservadores sobre esse tipo de coisa. — Ela
brincou, seu tom mascarando o zumbido de antecipação correndo em suas veias.
— Bem. — Harrison disse com a mão no rosto de Lainie. — Eu não sou daqui, afinal.
Lainie olhou em seus olhos, enfeitiçada pelas cintilações de verde, marrom e dourado.
Como o outono, ela pensou e estou ficando apaixonada.
Ela deu um passo à frente e encontrou-se em seus braços, envoltos em calor. Harrison
colocou as mãos em suas costas, segurando-a perto e inclinou a cabeça para encontrar seus
lábios.
Harrison a beijou, gentilmente a princípio e depois com uma paixão controlada que lhe
disse o quanto ainda estava se segurando. Todo o corpo de Lainie estremeceu, das solas dos
pés até o couro cabeludo.
Ela levantou as mãos, querendo coloca-las em seu peito e ombros, mas parou logo
abaixo da clavícula. Seu dedo foi ao botão meio desfeito, liberando-o.
Lainie deixou a mão escorregar, passando o dedo no botão seguinte. Harrison
murmurou algo contra seus lábios e ela rompeu o beijo para encontrá-lo olhando-a, seus olhos
escuros de desejo.
Seus olhos foram para a camisa e de volta para Lainie. — Planejando me puxar para
longe?
— Você precisa me dizer para arrastá-lo primeiro. Honestamente, este lugar não é o
ideal, verdade?
Harrison bateu a mão na testa. — Você está certa! — Ele disse, fingindo estar chocado.
—Acho que preciso dizer.
Lainie começou a rir e para seu deleite, Harrison também riu. Seu corpo inteiro estava
formigando, sua pele sensibilizada e desesperada para ser tocada. Ela nunca se sentiu assim
com ninguém antes. Ah a atração, isso era uma coisa, mas nunca se sentiu tão confortável
com alguém que acabou de conhecer. Tão disposto a deixar sua atração florescer para algo
mais.
Eles estavam brincando juntos. Ele a fez rir enquanto esperava passar toda a viagem
infeliz. Isso era loucura, mas estava realmente se divertindo. Muito.
E queria se divertir muito mais no futuro próximo.
Harrison estendeu a mão para ela e apenas com um pouco de pesar Lainie soltou o dedo
da camisa dele e pegou.
— Devemos?
Lainie não respondeu. Apenas apertou a mão dele, incapaz de tirar o sorriso do rosto e
seguiu-o.
A mão de Harrison era muito maior que a dela e calejada pelo seu trabalho. Enquanto
caminhavam em direção a sua casa, suas mãos eram as únicas partes que se tocavam. Os
lábios de Lainie ainda ardiam com o beijo e a eletricidade parecia percorrê-los, para a mão
dela e para trás, até que ela não queria nada mais do que puxar Harrison para um canto
sossegado e arrastar a boca para a dela novamente.
Não. Havia uma coisa que queria mais. E não era o tipo de coisa que queria fazer no
meio da rua principal.
Eles pararam do lado de fora de um prédio de dois andares. Havia uma placa pendurada
acima da porta, mas estava escuro demais para que Lainie a lesse. A essa altura estava frio o
suficiente para que pudesse ver sua respiração.
Mas oh, ela estava tão quente por dentro.
— É isso. — Disse Harrison. Ele parecia mais nervoso do que Lainie esperava.
Ela levantou uma sobrancelha. — É isso? Porque eu estava esperando que fôssemos
para dentro da casa...
O nervosismo aparentemente desapareceu e Harrison sorriu para ela enquanto abria a
porta. Ela atravessou a soleira, seu pulso acelerando.
A primeira coisa que notou na casa de Harrison foi o cheiro. Não era um mau cheiro,
muito pelo contrário. Lainie inalou profundamente, tentando identificar.
Claro, ele era um construtor, certo? E esta era sua oficina. Lascas de madeira, um toque
de fumaça e o mais fraco e persistente cheiro químico de terebintina e tinta. O mesmo cheiro
que qualquer um dos doze locais de trabalho em que ela esteve durante seu trabalho como
planejadora. Familiar. Reconfortante.
E sem a inevitável lama grossa sobre cada superfície, que era sua parte menos favorita
de visitas ao local.
— Posso pegar seu casaco?
Lainie olhou por cima do ombro para ver Harrison fechando a porta. Ela assentiu e
alguns momentos depois, seu gesto educado de alguma forma colocou os dois um nos braços
do outro, com o casaco esquecido no chão.
Lainie soltou um grito suave quando Harrison passou os dedos pelo cabelo dela,
agarrando-a a ele. Sua pele estava em chamas. A seda de sua blusa era tão fina que podia
sentir cada toque do corpo de Harrison através dela, mas ao mesmo tempo era uma barreira
frustrante entre sua pele e a dele.
Ela segurou a camisa de Harrison e puxou para cima, revelando sua barriga lisa e
abdômen duro. Seus ossos do quadril faziam um V que desaparecia sob o seu cinto,
convidando a uma investigação mais aprofundada.
Lainie passou as mãos pelo abdômen de Harrison e ele respirou fundo com um silvo. Ele
a soltou tempo suficiente para puxar a camisa por cima da cabeça e jogá-la para o lado, em
seguida, puxou-a novamente.
Lainie afastou as mãos dele. Ele olhou para ela, momentaneamente confuso, mas seu
rosto clareou quando ela tirou a blusa. Ficou na frente dele, com o peito arfando, em nada
além de sua calça e sutiã.
— Deus, você é tão linda. — Ele disse. Seus olhos percorreram o corpo dela, como se
não conseguisse olhar o suficiente. Ela aproveitou a oportunidade para devolver o elogio.
Harrison era todo musculoso. Peitorais duros, abdômen marcado e aquele tentador V.
Ele usava o jeans baixo nos quadris. De volta ao restaurante, Lainie admirou como sua bunda
parecia nele. Agora estava ansiosa para vê-la no chão.
O ar entre eles parecia zumbir com eletricidade. Lainie estendeu a mão, esperando ver
faíscas passarem das pontas dos dedos para o peito de Harrison. Ela se jogou em seus braços,
puxando-o para um longo beijo que a deixou tonta.
A pele de Harrison estava quente contra a dela. Pressionado contra ele, ela podia sentir
sua ereção empurrando contra a virilha de suas calças. Pressionando contra ela. Seu desejo
pulsou dentro dela em resposta. Estava pronta para ele.
Harrison colocou o rosto no cabelo dela, as mãos dele explorando da cintura até os
quadris. Ela gemeu quando ele se aproximou de seus seios, apertando-os suavemente.
— Você não quer ver o restante da casa? — Ele murmurou maliciosamente em seu
ouvido.
Ela gemeu, mas não podia deixá-lo escapar com a provocação. —Talvez sua oficina?
Imagino que funciona como o quarto com uma cama dobrável embaixo da bancada de
trabalho, não é?
— Como você adivinhou?
— Eu aposto que você mesmo construiu também. — Lainie ofegou quando Harrison
mordiscou seu pescoço. — Hum. Irá me mostrar?
— Se você insiste...
Lainie gritou quando Harrison colocou os braços ao redor da cintura dela e pendurou-a
sobre o ombro. Ele andou a passos largos pelo corredor, tomando cuidado ao passar pelas
portas, de modo que Lainie não batesse com a cabeça. Estava muito ocupada rindo para se
manter quieta. Teve um vislumbre dos outros cômodos enquanto Harrison a levava para a
parte de trás da casa: uma sala com sofás e uma mesa de café cheia de papéis, um escritório
em casa, com uma escrivaninha também cheia de papéis e finalmente, sua oficina.
— Sério? — Lainie deixou escapar. A oficina estava escrupulosamente arrumada,
diferente de todas as outras salas que viu, mais... ainda! Além disso, não havia sinal de uma
cama, de armar ou de outra forma. — Eu estava brincando...
— De verdade? — Harrison a beijou, empurrando-a para trás até que ficou contra uma
bancada de trabalho. A bancada era alta, feita sob medida para a estrutura de Harrison.
Quando ele a pegou e sentou nela, os pés de Lainie balançaram no ar.
Harrison passou as mãos por suas coxas, parando com as pontas dos dedos logo abaixo
de sua virilha. Passou um polegar entre as pernas dela, roçando seu clitóris através da calça.
Lainie gemeu.
— Merda. — Ela murmurou e se contorceu para que pudesse puxar a calça para baixo.
Harrison ajudou, mas parecia distraído com seu decote.
— Gosta do que vê? — Ela perguntou descaradamente. O olhar de assombro em seus
olhos a fez estremecer.
Existem alguns benefícios em ter curvas, ela pensou presunçosamente.
— Eu gosto de tudo em você. — Disse Harrison. Ele segurou a mão dela e beijou a palma,
depois o pulso, subindo pelo braço até o pescoço. —Cada parte de você. — Murmurou as
palavras pontuando-as com beijos.
Lainie prendeu a respiração quando ele acariciou seu pescoço, as mãos indo para trás
para soltar o sutiã. Ele puxou lentamente, acariciando a pele sensível de seus seios enquanto
os descobria. Lainie arqueou as costas.
— Sim. — Ela ofegou quando ele roçou um mamilo com o polegar. —Ah sim.
Ele provocou seus mamilos até que ambos ficaram duros e Lainie quase louca de desejo.
Ela agarrou a fivela do cinto e o puxou para mais perto, olhando para ele.
As pupilas de Harrison estavam tão cheias de desejo que seus olhos pareciam negros,
não avelã. Havia um anel dourado ao redor do verde. Ele deixou-a puxá-lo, movendo as mãos
para seus quadris.
Os dedos de Harrison apertaram seus quadris enquanto ela lutava com a fivela de seu
cinto. Uma vez que o abriu, ela desceu o zíper. Pela primeira vez, deu uma boa olhava na
protuberância entre as pernas dele.
Ela mordeu o lábio. Porra.
Harrison deve ter interpretado mal sua hesitação. — Nós podemos parar. Se você acha
que estamos indo rápido demais...
— Não, não é isso. — Lainie deu-lhe um sorriso tímido. — É apenas... já faz um tempo.
E você parece maior do que qualquer homem com quem já estive antes.
Harrison segurou seu rosto nas mãos dele. — Serei gentil.
Ele a beijou enquanto ela lentamente descia sua calça, empurrando-a junto com sua
cueca boxer. Com os olhos fechados, beijando-o, Lainie não viu seu pênis, mas podia senti-lo.
Ela sentiu Harrison tenso enquanto passava as mãos ao longo de seu eixo. Meu Deus.
Ele é enorme.
Seu pênis estava quente em suas mãos, duro, grosso e longo. Passou os dedos por sua
cabeça e Harrison gemeu em sua boca.
— Possua-me. — Lainie sussurrou.
Sua calça ainda na metade de suas pernas. Harrison puxou-a para baixo e chutou junto
com as botas. Ela estava completamente nua, exposta, com um homem que conheceu apenas
algumas horas antes.
E queria isso. Queria tanto que não conseguia encontrar as palavras certas.
— Agora? — Harrison perguntou com sua voz áspera pela luxúria e Lainie assentiu.
Ele se posicionou em sua entrada. Lainie estremeceu de antecipação quando sentiu a
cabeça do pênis dele contra suas dobras. Ela já estava molhada e incrivelmente excitada, mas
mesmo assim ele era tão grande que não tinha certeza se poderia tomar tudo dele.
Harrison tinha as mãos em seus quadris novamente e ela colocou os braços sobre os
ombros dele. Quando empurrou para dentro dela, as mãos de Lainie o apertaram.
— Oh meu Deus. — Ela gemeu, sem fôlego.
Ela sentiu cada centímetro de seu pênis quando entrou. Seu corpo se esticou para ele.
Pensou que sentiria dor. Em vez disso, a sensação de alongamento a excitou ainda mais.
— Está tudo bem? — Harrison murmurou em seu ouvido.
— Sim. — Lainie respondeu. — Oh Deus, sim.
Ela se deixou cair para frente, descansando a bochecha contra o peito de Harrison
enquanto ele empurrava dentro dela. Seu pênis roçou em um ponto sensível, fazendo-a
ofegar. Em resposta, ele acelerou, enterrando-se ao máximo em um movimento suave.
Lainie gemeu profundamente, passando as pernas ao redor da cintura de Harrison,
segurando-o completamente dentro dela. Seu batimento cardíaco parecia percorrer todo seu
corpo e pela primeira vez não queria mais ir devagar.
— Foda-me. — Disse ela, levantando a cabeça. Os olhos de Harrison se fixaram nos dela.
Ele agarrou seus quadris, ajustando seu aperto quando saiu. Lainie suspirou. Ser
preenchida por ele era incrível, mas horrível sem ele, ela se sentia mais vazia do que nunca.
Ela o queria novamente, agora, mais forte do que antes e ele empurrou dentro dela
como se tivesse lido sua mente. Lainie ofegou quando a encheu. O corpo dela se ajustou
novamente, mais rápido, mas não rápido o suficiente quando ele bateu nela, saboreando a
sensação esmagadora de ser esticada por seu pênis enorme.
Ela nunca experimentou nada assim antes. Nunca fiz nada assim antes. Mas parecia tão
certo.
O pênis de Harrison deslizou contra aquele ponto sensível dentro dela, mais e mais,
enquanto suas estocadas ficavam mais fortes. Os dedos dos pés de Lainie se curvaram. Cada
impulso desencadeou faíscas dentro dela, saindo de seu centro para percorrer sua pele.
Sua cabeça se inclinou para trás quando sentiu o orgasmo se aproximando. Ela caiu
sobre ele gritando e sentiu o pênis de Harrison pulsar dentro dela quando ele gozou.
Eles se abraçaram ofegantes, a cabeça de Lainie ainda girando com as últimas ondas de
seu orgasmo.
Os braços de Harrison se apertaram ao redor de Lainie. — Porra. — Ele murmurou. —
Controle de natalidade, nós não...
— Não se preocupe. — Disse Lainie rapidamente. — Tomo pílula.
Parecia ridículo ter essa conversa com ele ainda dentro dela. Ela se contorceu,
aproveitando a sensação.
Harrison encostou a testa na dela. Suspirou de prazer, tão profundamente que Lainie
sentiu todo seu corpo tremer.
— Ei. — Ela disse.
Ele sorriu. — Ei.
— Então... — Lainie traçou padrões em seu peito. — Isso foi incrível.
Harrison deslizou as mãos para descansar em sua bunda. — Lainie, eu... — Ele fez uma
pausa. — Eu não quero que você pense que eu sou o tipo de pessoa que faz isso.
Lainie levantou as sobrancelhas e olhou para baixo, para onde seus corpos se juntavam.
— Não. — Ela disse inocente. Harrison sorriu, sentindo vergonha.
— Não.
Lainie deu uma risadinha. Isso é tão ridículo. — Acho que isso me faz uma mulher
especial, então. — Ela respondeu.
— Sim. — Harrison parecia totalmente sério.
Lainie sorriu e soltou as pernas da cintura dele. Ele recuou e ela sentiu aquele estranho
vazio novamente quando saiu dela.
— Bem, bom. — Ela disse com ar de brincadeira. — Espero que nem todos os seus
passeios pela cidade terminem assim.
— Apenas o seu.
Lainie tocou seu rosto. Ela notou as linhas ao redor de seus olhos e boca mais cedo.
Pareciam mais suaves agora. Descontraído e contente.
Ela sentia o mesmo. Pela primeira vez em... muito tempo, embora com uma pontada.
Uh. Se soubesse que tudo o que eu precisava para superar meu estresse sobre essa
viagem era um orgasmo decente, poderia ter cuidado disso semanas atrás! Pela primeira vez,
se arrependeu do fato de ficar em Hideaway Cove apenas uma noite. Mas talvez, se as coisas
corressem bem amanhã, poderia voltar.
Sim. Isso poderia funcionar.
Harrison mostrou a ela o chuveiro e ajudou-a.
Bem. Ajudou.
Já passava da meia-noite quando Lainie vestiu a calça e a blusa. O jogo de caça às roupas
descartadas a levou de volta à porta da frente, passando pela oficina.
Ainda bem que nenhum dos colegas de Harrison estava fazendo horas extras hoje à
noite, pensou Lainie, enquanto enrolava o cabelo molhado em um nó na nuca para mantê-lo
longe do pescoço. Ela iria arrumá-lo corretamente quando voltasse para o B&B.
Harrison vestiu o jeans. O que acentuava seu V e pendia baixo nos quadris. Embora ela
já soubesse o que havia sob ele, Lainie achou a visão tentadora.
— Então... eu deveria ligar para você? — Ela disse.
Harrison pareceu surpreso. — Ligar? Você não ficará?
—Eu adoraria. — Lainie ficou surpresa com o quão verdadeiras eram as palavras clichês.
— Mesmo. Mas começo bem cedo manhã. Há algumas coisas que preciso resolver antes e...
Ela parou e encolheu os ombros, esperando que ele entendesse. Realmente queria
poder ficar. A ideia era tentadora, muito tentadora. Podia facilmente ver a si mesma
acordando ao lado de Harrison, o que a faria se levantar tarde.
Harrison encontrou seus olhos, seus lábios se curvando em um pequeno sorriso. — Eu
entendo. — Disse ele. — Aqui, apenas um segundo...
Ele foi para a sala ao lado. Lainie o seguiu, observando-o virar as pilhas de papéis que
cobriam a mesa de café e procurar sob as almofadas do sofá. Por fim, encontrou o que
procurava e logo soltou um grito de vitória.
— Seu cartão? — Lainie levantou uma sobrancelha ao passar para ela. Harrison sorriu
timidamente.
— Eu não os uso com frequência. Todo mundo que quer me contratar já sabe o meu
número. Ou simplesmente vem e bate na porta.
— Bem, agora me sinto especial. — Lainie riu. — Onde minha bolsa acabou... obrigada.
— Ela pendurou-a e calçou as botas.
Agora que era hora de sair, definitivamente não queria. Permaneceu na frente da porta.
— Sabe, você poderia ficar. — Disse Harrison. Ele caminhou até ela, com promessas em
seus olhos.
— Mmm. — Lainie fechou os olhos. — Isso é tentador. Muito tentador.
Ela sentiu a respiração de Harrison em seus lábios e então ele a beijou.
— Amanhã? — Ele sussurrou.
— Amanhã. — Ela concordou. — Tenho certeza de que posso encontrar uma maneira.
— Muito tarde. Ugh. Precisava fazer com que tudo funcionasse.
Isso significaria deixar Hideaway Cove tarde e chegar em casa mais tarde, mas tinha
certeza que valeria a pena.
— Ligarei para você. — Disse ela e saiu pela porta antes que Harrison pudesse convencê-
la a ficar. Ou antes de se convencer.
Harrison acordou com o canto dos pássaros da manhã. Ele gemeu. Os pássaros
eram gaivotas, mas pelo estilo pareciam mais um coro de bêbados em um karaokê de
bêbados.
— Fiquem quietos! — Gritou ele e ouviu a risada em sua cabeça.
— Qual é o problema, Sr. Galway? Dormiu muito tarde?
Jools. Claro que ela o viu e Lainie deixarem o restaurante na noite anterior. Deve
ter contado aos seus irmãos. Merda, metade da cidade provavelmente sabia agora.
Harrison se virou, estendendo-se enquanto o sol aquecia sua pele. Ele não se deu
ao trabalho de puxar as cortinas quando finalmente chegou à cama na noite passada.
Gostava de observar as estrelas enquanto adormecia e acordar com o sol. Exceto pelo
ângulo da luz que entrava em sua janela, ele dormiu durante o nascer do sol e por várias
horas mais.
Nesta manhã não era apenas o sol que o aquecia. Talvez fosse por isso que
dormiu por tanto tempo. Sentia-se muito feliz, de uma maneira que nunca pensou ser
possível.
Seu chefe, o velho Mackaby, disse que seria assim quando finalmente
encontrasse sua companheira. Dependendo do seu tipo de animal, diferentes shifters
reagiram de maneiras diferentes. Ninguém na cidade jamais ouviu falar de um shifter
grifo antes que Harrison aparecesse, mas Mackaby disse que uma coisa que todos os
shifters compartilhavam quando finalmente encontravam sua companheira era uma
sensação de paz. Como se tudo estivesse certo no mundo.
Bem, Harrison certamente sentia isso.
O que mais o velho disse? Harrison pensou. Paz e proteção. Foi isso.
Ele pensou em Lainie. Ela estava feliz quando saiu nas primeiras horas da manhã,
sabia disso. Sorria. Um contraste completo de quando a viu pela primeira vez no
restaurante, séria e tensa.
Bem, ela não teria que ser assim novamente. Merecia se sentir segura e bem
vinda, aonde quer que fosse. E seria. Iria garantir isto.
De alguma forma.
Primeiro, precisaria convencê-la de que a noite passada não era uma coisa única.
Se ao menos não estivesse à espera de outro visitante hoje. O trabalho deveria durar o
dia todo, o que não lhe dava muito tempo para conversar com Lainie.
Talvez se ela ficasse em Hideaway Cove um pouco mais do que o planejado,
poderiam se conhecer melhor...
Seus pensamentos se desviaram para Pol, com suas habilidades para manipular
eletrônicos. Não. Não pediria ao outro shifter para quebrar o carro de Lainie para
mantê-la na cidade. Isso seria errado.
Ela não disse que tinha família em Hideaway? Seus avós.
Se viveram em Hideaway, eram shifters. Não havia um único ser humano vivendo
na cidade, afinal. E se eram shifters... talvez a conversa com ela não seria tão difícil. Se
Lainie já soubesse sobre shifters, talvez soubesse sobre companheiros também.
Harrison ficou pensando, tentando lembrar se conhecia qualquer Eaves
enquanto vivia em Hideaway.
Eaves. Por que esse nome era tão familiar? Olhou pela janela. Sua casa ficava no
extremo sul da baía, onde a terra se curvava. A vista dava para o oceano, assim como a
cidade e além dela, a Colina do Farol. Seus olhos foram para a estrada sinuosa que subia
pelo lado da colina, até a velha casa desmoronada e meio abandonada...
Seus olhos se arregalaram. A velha casa dos Eaves? Como não fez a conexão
antes?
Mas se ela estava aqui por causa de seus avós, então isso significava...
Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Harrison saiu
da cama e se vestiu, ainda se repreendendo por ser tão grosseiro. Ficou tão
impressionado com Lainie que seu cérebro não conseguiu juntar dois e dois.
Subiu a escada três em três degraus. Quem estava batendo na porta a esta hora?
Pol e Arlo tinham suas próprias chaves. O único trabalho que agendou marcado para
hoje era...
Ele abriu a porta, já sabendo quem estava ali.
— Lainie.
— Oi, mais uma vez. — Lainie ficou ruborizada. Ela ergueu o cartão de visitas e
moveu-o entre os dedos. — Eu provavelmente deveria ter lido isto ontem à noite,
verdade? Harrison Galway, da oficina de Mackaby. É seu antigo patrão, certo? Por isso
que não reconheci o nome. Estava no depósito e seu amigo Arlo olhou para mim como
se eu tivesse duas cabeças quando disse que estava ansiosa para conhecê-lo. — Ela
gemeu e ruborizou.
Harrison passou a mão pelo cabelo, sorrindo. Ele podia imaginar a reação de Arlo.
— Merda. Eu gostaria de ter esse tipo de desculpa. — Ele disse. Ela levantou uma
sobrancelha e ele explicou. — Eu deveria ter reconhecido seu sobrenome.
O canto da boca de Lainie se contraiu. — Oh. Claro. — Ela brincou com a bolsa
por um momento, sem encontrar os olhos dele. — Bem, estranho como isso é...
podemos ir lá agora? Seu carro ou o meu?
— Vamos no meu. Se você não se importa? — Ele esperou que ela balançasse a
cabeça. — O meu equipamento já está na carroceira para o caso de você querer que
comece imediatamente.
— Oh. — Lainie franziu a testa. — Sim. Eu não pensei... não, isso faz sentido. —
Ela balançou a cabeça, a boca apertada em uma linha fina.
Dentro dele, o grifo ficou alerta. Algo estava errado ali.
Seja o que for, tem algo a ver com ela planejar ficar aqui apenas por uma noite?
Para um trabalho que pode levar dias?
Ele a acompanhou até a caminhonete e abriu a porta. Ela se aproximou com um
sorriso, passando por ele muito perto para que fosse um acidente. O calor floresceu
dentro de Harrison. Isso não mudou, pelo menos.
Determinação endureceu sua espinha. Ela era sua companheira e se estava
infeliz, era seu dever ajudá-la. O que quer que a incomodava, ele faria o que fosse
preciso para ajudar a consertar.
— Ok. — Disse ele, ficando no lado do motorista e ligando o motor. —Então, você
já viu com Arlo sobre as coisas no depósito? Ele foi quem... uh, que anotou a informação
quando ligou na semana passada.
Harrison estremeceu. Até que descobrisse se Lainie sabia ou não sobre shifters,
não poderia sair por aí dizendo coisas como: ele é o cara que estava em forma de
cachorro na noite passada. Lembra-se, meu pastor alemão?
Ele balançou sua cabeça. — Ele disse que você queria uma avaliação da casa?
— Sim... algo nesse sentido. — Ela puxou um chaveiro do bolso e começou a
brincar com ele.
A maioria das chaves parecia nova, exceto por duas. Uma era uma chave da casa
grande, mas era a menor que ela mais prestava atenção. Era uma chave de prata com
metade do comprimento do dedo mindinho, decorada com uma filigrana complicada.
O tipo de coisa que você imagina encaixando na fechadura de uma caixa de joias. Ela a
virava nas mãos.
— Eu estava esperando encontrar algo no depósito, mas... oh, isso não importa.
Então a casa. Não sei qual é o estado atual, mas Arlo disse que você pode fazer
verificação de segurança e ver quanto trabalho precisa ser feito com ela.
— Sim, claro. Não é um problema.
Lainie colocou o cabelo atrás das orelhas. Harrison observou a estrada enquanto
dirigia pela cidade, mas não pode deixar de olhar furtivamente para ela. Seus olhos
foram para ele também. Quando se encontraram, ela ruborizou.
— Você dormiu bem? — Harrison brincou.
Isso a fez sorrir. — Sim. — Disse ela, relaxando em seu assento. — Por alguma
razão, estava cansada.
— Bem. Você fez longa viagem, afinal.
Lainie bufou e Harrison sorriu. Ele pegou a estrada até a Colina do Farol,
mantendo um olho sobre sua companheira.
Seu sorriso desapareceu. Merda. O que quer que estivesse errado, a casa de seus
avós estava bem no meio, verdade?
A caminhonete balançou quando ele atingiu um buraco. — Desculpe por isso!
Esta estrada já não é muito usada.
— Acho que não havia necessidade de pessoas usá-la desde que minha avó foi
para a casa de repouso. — Disse Lainie. Ela suspirou. — Isso foi o que, há oito anos? O
tempo voa.
Harrison não perdeu a sugestão de amargura em sua voz. — Por isso não a vi na
cidade antes. Não estava morando aqui ainda.
Lainie balançou a cabeça. — Você não teria me visto antes, também. Como eu
disse, não era muito próxima deste lado da família. — Ela suspirou. — E agora eu sou a
única que restou e preciso lidar com o que ficou. Que bom!
O coração de Harrison se apertou. Se Lainie não era próxima dos Eaves, então
não sabia sobre os shifters.
Mas se ela herdou a casa de seus avós... bem, o mercado imobiliário era uma
conexão muito real com um lugar. Talvez acabasse passando mais tempo em Hideaway
Cove depois de tudo.
Eles contornaram a curva final e a antiga casa dos Eaves apareceu.
Pelo que Harrison ouviu das pessoas que moravam em Hideaway Cove há mais
tempo, a casa costumava ser um farol. Hideaway não precisava ou tinha um farol nos
dias atuais e a casa se converteu em uma casa de família. A estrutura antiga era pouco
visível sob as novas adições à estrutura.
Ele estacionou na frente. O caminho era de cascalho, mas a maior parte foi
varrida pelo vento e pela chuva, deixando uma superfície de terra e buracos.
Uma estranha sensação se instalou em seu estômago. De perto, a antiga casa
parecia ainda mais desmantelada do que vista da cidade. Em algum momento no
passado, as janelas ficaram fechadas contra os elementos da natureza. Mas
recentemente, a maioria das persianas se soltou, pendendo de suas dobradiças ou
desaparecendo por completo. Harrison podia ver pelo menos uma janela quebrada.
A casa foi pintada de amarelo-palha, mas depois de anos negligenciada, quase
toda a tinta foi removida, revelando um revestimento de madeira manchado pelo
tempo. Algumas das tábuas estavam caídas. O coração de Harrison se apertou.
Lainie xingou baixinho ao sair da caminhonete. — O lugar parece estar pronto
para desmoronar na beira do penhasco. — Disse ela. Virou-se para Harrison. — Alguma
ideia se o seu amigo eletricista esteve aqui recentemente?
— Acho que não. — Disse Harrison, seu coração ainda mais apertado. —Pegarei
uma lanterna.
Quando ele alcançou Lainie com a lanterna na mão, ela já usava as chaves.
Segurou a grande e antiquada, logo a girou na fechadura. O mecanismo rangeu, mas
abriu.
— Aqui vamos nós. — A voz de Lainie era tão suave que Harrison mal podia ouvir.
Ela entrou e Harrison ouviu o click-click de um interruptor de luz. — A energia
está desligada. — Ela disse e ligou o aplicativo de lanterna em seu telefone. Harrison a
seguiu com sua própria lanterna.
Eles estavam de pé em uma grande sala. Dois raios de luz iluminavam nuvens de
poeira que giravam toda vez que ele ou Lainie davam um passo. A poeira grossa cobria
as tábuas do assoalho de madeira e uma camada quase tão grossa parecia ter se
instalado nas paredes e nas janelas.
Lainie espirrou e cobriu a boca. — Bem, isso é algo que o advogado pode
contestar, pelo menos. — Ela murmurou. — Não há nenhuma maneira de que este lugar
tenha visto uma empregada doméstica na última década.
Eles exploraram ainda mais, passando por uma escada de madeira que
desaparecia na escuridão. Uma parede de concreto branca se curvava em um dos lados
da escada, parecendo o fantasma de alguma outra estrutura mais antiga. Enquanto
olhava, Harrison percebeu que era exatamente o que era: o lado de fora do velho farol,
agora de pé no centro da casa da família Eaves.
A casa da família Eaves vazia e quebrada.
Harrison olhou para Lainie. Como era esse lugar quando ela era jovem? E o que
aconteceu que foi deixado em pedaços assim?
Ele mordeu a língua e a seguiu até o que parecia ser uma sala de estar.
Se aquelas janelas estivessem abertas, a sala seria inundada pela luz da manhã,
pensou Harrison. Em vez disso, estava escuro como breu do lado de fora dos finos feixes
de suas lanternas.
— Verei se consigo abrir qualquer uma dessas janelas. — Disse e foi até elas. O
chão rangeu e pulou para trás em um ponto quando as tábuas do assoalho se
afundaram sob seu peso.
Ele cuidadosamente testou a janela. A madeira estava podre. Se tentasse abri-la,
apenas se fecharia novamente - a menos que a estrutura estivesse podre também e
nesse caso a coisa toda poderia desmoronar.
Ele se virou para explicar para Lainie e a viu encarando o caminho de volta. Não
na porta pela qual entraram, mas na lareira ao lado.
Sua postura mudou. Ela parecia hesitante quando chegaram, mas agora,
caminhava com raiva, sua lanterna apontada acima da lareira.
— Isso deveria estar no depósito! — Ela gritou.
Sua lanterna iluminou uma grande pintura a óleo. O pó era tão grosso que
Harrison mal conseguia distinguir o que era. Ao se aproximar, mirando sua própria luz,
a imagem ficou clara.
Era um retrato de um casal de trinta e poucos anos. Harrison viu imediatamente
sua semelhança com Lainie: a mulher tinha o cabelo loiro, puxado para trás em uma
espécie de coque e o homem tinha os olhos escuros penetrantes de Lainie. A mulher
estava sentada, o homem de pé atrás dela com a mão em seu ombro. Ele estava usando
um uniforme militar, ela estava toda de branco, com joias coloridas brilhando em seu
pescoço e nos dedos.
— São seus avós? — Ele perguntou.
— Sim. — Respondeu Lainie rapidamente. — E essas são as famosas joias dos
Eaves. Aquelas que ninguém parece ter visto desde... ugh. Por que ninguém o levou
quando tiraram as coisas da casa? Deveriam ter levado tudo.
Ela caminhou para frente e tentou colocar os dedos sob a armação. Não se
mexeu. Lainie deu um passo para trás, franzindo a testa.
— Está preso à parede. Merda! Esta casa estúpida e idiota!
Abriu a boca para dizer mais, ofegou e começou a tossir. Harrison correu até ela,
colocando a mão ao redor de seus ombros.
— Estou bem. Eu estou bem. — Ela murmurou, mas o abraçou com seus ombros
tremendo. Atrapalhou-se com a bolsa e sua luz piscou enquanto vasculhava e
encontrava um pacote de lenços.
— É toda essa poeira... — Ela resmungou e começou a chorar.
Oh Deus. O que você está fazendo? Pare de chorar! De todas as coisas
estúpidas...
Harrison notou. Claro que sim. Ela percebeu o momento em que ele viu que o
fungar mudou de alergia ao pó para soluços: seus braços ficaram rígidos e se afastou
dela, quase imperceptivelmente.
Ele tentou abraçá-la um momento depois, mas o estrago estava feito.
Lainie se afastou dele. — Não. Por favor. Estou bem. É apenas a poeira, de
verdade.
O que é mentira, mas não irei admitir isso para meu caso de uma noite. Mesmo
que ele seja o homem que contratei para avaliar a casa dos meus avós. Especialmente
por causa disso.
Ela respirou fundo. — Ok. Estou bem. Podemos olhar para o restante da casa?
Rapidamente?
Ela não encontrou os olhos de Harrison. Não tinha certeza do que faria se visse
preocupação neles.
Provavelmente chore mais um pouco, ela pensou amargamente. Deus, isso é tão
patético. Odeio tanto. Chorar não ajuda em nada, então por que meu corpo estúpido
continua fazendo isso?
— Claro. — Disse Harrison suavemente. Ele apontou a lanterna para a porta e
ofereceu-lhe o braço. Ela pegou, dizendo a si mesma que era apenas porque não queria
tropeçar e cair em nada no escuro.
Ele não mencionou sua explosão quando se aventuraram pelo resto da casa.
Lainie ficou feliz. Apesar de toda sua preparação, olhar os cômodos antigos foi mais
difícil do que ela esperava.
Não foi de todo ruim afinal, ela pensou. A maior parte do tempo que passei aqui
foi maravilhosa. Apenas os últimos dias foram difíceis. Antes disso...
Era fácil se lembrar andando pelos cômodos familiares. Ali estava a cozinha, onde
fez várias refeições com os pais e avós ou incomodava sua vovó enquanto cozinhava. O
corredor da frente - as tábuas de madeira eram tão polidas que podia deslizar sobre
elas em suas meias. Depois de descer o corrimão da escada principal, por exemplo.
Então havia o antigo farol. Lainie se lembrava que parecia que um bruxo o tele
transportou para o meio da casa de madeira de seus avós. Ninguém jamais pintou ou
usou papel nas paredes brancas para fazê-las combinar com o resto da casa.
E subir a escada era como entrar em outro mundo, lembrou Lainie. As grossas
paredes isolavam o antigo farol dos rangidos e gemidos da casa de madeira.
E os gritos. Lainie lembrava-se disso.
Harrison a parou quando foi para a escada. — Eu não acho que seria seguro. —
Disse ele. — As tábuas estão muito ruins. Não quero nenhum de nós caindo no chão.
Você, especialmente. — Ele moveu a mão para as costas dela e sussurrou conspiratório.
— Ainda não tomei meu café da manhã. Receio não estar preparado para heroísmo
com o estômago vazio.
Lainie sorriu. Ela não pode evitar. — Tudo bem. — Disse ela. — Vamos deixar
tudo isso para trás e voltar ao seu escritório para descobrir o próximo passo.
Ela não notou o chão rangendo antes - apenas o carpete de poeira - mas o fazia
agora. Quando chegaram à porta da frente, ficou mais do que feliz em ver a parte de
trás da casa em ruínas.
Lá fora, o sol estava brilhando, mas o ar ainda estava fresco. Lainie respirou
fundo, imaginando que limpar a poeira de seus pulmões com o ar fresco e salgado.
Bem, isso foi inútil. O depósito, a casa - não encontrei nada que pudesse ajudar.
Apenas tenho que encarar isso. Apenas há uma maneira de sair dessa bagunça.
— Certo. — Ela disse uma vez que ambos saíram. — Acho que está muito claro
que teremos que derrubar tudo.
— Derrubar? — Harrison parecia genuinamente chocado e Lainie franziu a testa
para ele, intrigada.
— Sim, derrubar. — Ela olhou para ele. — Eu trabalho com planejamento, então
sei como isso acontecerá. Não há como pagar para consertar a casa para vender e lucrar
com isso. Os custos da reforma sugariam qualquer receita. — Ela suspirou e enxugou o
rosto com um lenço novo. Ele ficou cinza de poeira. — Ugh. A terra provavelmente vale
mais sem a casa, de qualquer forma. Terei que verificar novamente, mas não consegui
encontrar dados de vendas recentes para essa região, é como se ninguém se mudasse
para cá há anos.
Ela parou. Harrison não parecia confiante com sua explicação. Sabia que ela
estava divagando, mas estava fazendo sentido, não? Então, por que ele parecia que
doente?
— O que há de errado? — Ela disse, com a voz hesitante.
O rosto de Harrison ficou mais calmo ou talvez apenas se controlou melhor. Deu
a ela um sorriso fraco, mas viu a linha que se formava entre as sobrancelhas dele. Estava
agindo como se tudo estivesse bem, mas claramente ela fez algo errado.
— Não é nada. — Disse ele, como se isso fosse verdade. — Eu não sabia que você
queria vender, isso é tudo.
Lainie encolheu os ombros com força. — Querer não tem nada a ver com isso.
Apenas preciso fazer o melhor que posso em uma situação ruim.
Ela fechou a boca. E isso é tudo que você precisa saber, ela pensou ferozmente.
Não quero minha história triste correndo pela cidade.
Ela sabia que não estava sendo justa, presumindo que Harrison fofocaria sobre
sua situação. Mas sabia como era fácil para uma pessoa deixar passar alguns detalhes
para alguém que os transmitisse em confiança, para outra pessoa... então de alguma
forma, todos saberiam o que estava acontecendo.
— Você pode fazer um orçamento para a demolição, certo? — Ela disse, sua voz
mais firme do que pretendia.
Os ombros de Harrison endureceram. — Sim. Mas não baseado apenas no que
vimos hoje. Preciso das plantas da casa, se existirem e informações sobre reformas
recentes. Amianto, qualquer parede de suporte removida, esse tipo de coisa. Posso
fazer a verificação sozinho se você não tiver os papéis. —Sua voz era plana.
— Enviarei as cópias de tudo o que tenho. — Disse Lainie. Sua mente estava
trabalhando rapidamente. Sabia que tinha algumas das coisas que ele mencionou, mas
todas elas? Precisava voltar para seus arquivos e verificar. —Se não puder me dizer o
valor agora, poderia me levar de volta para o B&B? Eu preciso... tem algumas coisas das
quais preciso cuidar. — Ela terminou sem jeito.
Tanto por seus planos de sair mais tarde hoje. O que Harrison mais queria era
passar mais tempo com ela.
Harrison passou toda a viagem de volta à cidade tentando encontrar a coisa
certa para dizer e com medo de dizer a coisa errada, e estragar as coisas ainda mais.
Então não disse nada. Concentrou-se na estrada esburacada, tentando evitar o
maior número de buracos possível. Mantinha um olho no horizonte, onde nuvens
escuras estavam se formando e fez uma anotação mental para verificar se o barco de
Arlo estava na marina. Todo o tempo, uma amarga premonição fervia dentro dele.
Ele não sabia qual era a situação de Lainie, mas o que quer que fosse, ela estava
prestes a descobrir que era muito pior. Vender a terra? Se isto era o que planejava, as
coisas ficariam complicadas.
Harrison suspirou. Não podia esconder nada dela. Seus sentimentos, o fato de
ser sua companheira, o que poderia esperar. O importante era mantê-la segura.
— Lainie, há algo que você precisa saber sobre Hideaway Cove...
Harrison estava tão ocupado tentando garantir que suas palavras saíssem bem,
que quase não viu o homem na frente de sua caminhonete, acenando. Ele pisou no
freio, xingando.
— Jesus Guts, onde acha que está, em um episódio... de Supernatural?
Guts era um homem bronzeado, com pouco mais de cinquenta anos. Harrison
sempre achou difícil acreditar que era parente de Jools e seus irmãos, mas era tio deles.
Até mesmo sua forma de gaivota parecia ser demais.
Guts foi para o lado de Harrison. Ele deu a Lainie um aceno educado, em seguida,
acenou para Harrison se inclinar para baixo. Harrison abaixou a janela e colocou a
cabeça para fora.
— O que fez suas penas se eriçarem?
Os olhos de Guts foram para os lados. — Todo mundo está no restaurante da
Caro. Querem conversar com sua namorada. Bem, hum, a Srta. Eaves. — Ele se inclinou
para mais perto e sussurrou. — Ela é sua namorada, certo?
Harrison olhou para ele. — O que você quer dizer com todo mundo quer falar
com a Srta. Eaves? — Os pelos de seus braços se arrepiaram, o único sinal visível de que
dentro dele, o grifo estava eriçando suas penas defensivamente.
Ele avisou a todos antes que deveriam esperar um visitante humano, claro, mas
ninguém disse nada sobre querer conhecer Lainie quando ela estivesse aqui.
Guts abaixou a cabeça, culpado. — São os Sweet e seu grupo. — Ele murmurou.
— Podemos ir, por favor? — Disse Lainie atrás dele, sua voz tensa. — Eu ainda
preciso pegar os papéis para você.
Sua voz era firme, mas parecia frágil. Harrison lembrou-se de quão rápido ela se
desestruturou antes e quão irritada pareceu com sua própria angústia. Seu coração se
apertou quando percebeu que deveria estar com medo de que alguém visse o quanto
a velha casa a deixou angustiada.
Todos aqueles anos longe de Hideaway Cove devem ter doído muito e sua única
defesa foi construir muros ao redor de seus sentimentos. Sozinha.
Bem, não mais. Ela era sua companheira e Harrison faria tudo ao seu alcance para
proteger Lainie de qualquer coisa que estivesse causando sua dor.
— Guts está dizendo que algumas pessoas do Conselho da cidade querem
conversar com você. — Explicou ele. — Eu não sei o que querem...
— Querem falar sobre a antiga casa de Eaves. — Interrompeu Guts prestativo.
— Obrigado, Guts. — Disse Harrison, sem desviar os olhos de Lainie. Xingou
silenciosamente. Claro que queriam. Apenas o que ela precisa.
Ele olhou para a estrada. Caro estava a cerca de 5 metros de distância. Guts o
avisou um pouco tarde - se é que isto era um aviso.
— Você não precisa vê-los se não quiser, Lainie.
O rosto de Lainie ficou tenso. Ela manteve os olhos no painel, mas Harrison ainda
via como o canto de sua boca se movia. Ela respirou fundo.
— Bem. Falarei com eles. — Ela esfregou o rosto, depois hesitou. — Pode dar-me
alguns minutos para limpar meu rosto antes de entrarmos?
Harrison esperou do lado de fora da caminhonete enquanto Lainie se arrumava.
Quando ficou pronta, ele abriu a porta. Sua boca ainda estava tensa.
Ele ofereceu-lhe o braço e ela olhou para ele. — Você não precisa... olha, eu sei
que não está feliz com a propriedade sendo vendida. Mas não precisa cuidar de mim.
Sua voz era firme, mas seus olhos imploravam para ele ficar. Harrison apertou o
braço dela.
— Eu quero. — Ele disse simplesmente. — Você é uma misteriosa senhorita,
Lainie Eaves. Posso não saber o que está acontecendo, mas sei que não a deixarei
sozinha com os Sweet.
— Obrigada, Harrison. Isso significa muito para mim. — Ela murmurou. Respirou
fundo e tocou as bochechas. — Ok. Vamos fazer isso. E depois, quer voltar para o B&B
e terminar o que estava dizendo antes que seu amigo nos parasse?
Ela disse isso tudo de uma vez, com os olhos nervosos sobre Harrison. Ele sorriu
e tocou a mão dela.
— Claro. Eu adoraria. — Harrison a tranquilizou. E tenho certeza que você terá
muitas perguntas, depois de uma rápida conversa com a Sra. Sweet.

***
O restaurante de Caro estava estranhamente vazio. Normalmente, a essa hora
do dia estaria lotado, quando todos os barcos de pesca voltavam e desembarcavam na
marina para o almoço. Mas hoje, apenas uma mesa tinha pessoas sentadas nela.
O Sr. e a Sra. Sweet, com seu grupo pareciam deslocados no bar acolhedor,
embora Harrison já os tivesse visto ali antes. Talvez fosse o jeito que estavam: no limite,
como se todos estivessem esperando que algo acontecesse. Os olhos da Sra. Sweet se
arregalaram com uma leve excitação quando Harrison e Lainie entraram.
Para surpresa de Harrison, Arlo também estava lá. Entre os conselheiros e donos
de empresas, ele se sobressaía como um polegar machucado, com o cabelo negro
indisciplinado, a barba grossa e escura. Seus penetrantes olhos azuis encontraram os
de Harrison.
— Cuidado. Eu não sei o que eles estão planejando, mas a Sra. Sweet tem esse
olhar estranho.
— Como se acabasse de ver um barco cheio de turistas saborosos rio abaixo?
— O próprio.
Harrison puxou Lainie mais perto. Ela olhou para ele questionando, mas não teve
tempo para dizer nada.
— Você deve ser Lainie Eaves. — Sra. Sweet levantou-se de sua cadeira como um
leviatã das profundezas do mar. — Meu Deus, como você cresceu! Não posso dizer o
quanto estamos felizes de vê-la novamente!
A Sra. Sweet tinha um metro e meio de altura, perto dos sessenta anos e ninguém
jamais viu sua forma humana em nada além de um casaquinho e pérolas. Ela mostrava
seus dentes brancos e perolados em um sorriso acolhedor quando se aproximou de
Lainie e Harrison.
Harrison se perguntou se Lainie notava a única coisa estranha na expressão da
vereadora: ela estava sorrindo, mas seus dentes não se encontravam.
Pronta para morder, ele pensou impiedosamente.
— Sra. Sweet. — Disse Lainie com firmeza. — Sim. Eu me lembro de você. — Ela
se inclinou quase imperceptivelmente para Harrison e ele colocou o braço ao redor da
cintura dela.
— E jovem Harrison! Imagine vê-lo aqui. — Disse a senhora Sweet, com os olhos
arregalados e inocentes. — Bem, tenho certeza que Caro pode encontrar algo para você
comer se puder esperar no terraço enquanto conversamos...
— Ficarei com Lainie neste momento. — Harrison respondeu categoricamente.
Havia apenas uma cadeira ao pé da mesa. Ele levou Lainie para lá e ficou atrás dela, uma
mão sobre seu ombro. Em guarda.
A Sra. Sweet olhou para ele, mas seus olhos se estreitaram desconfiados. Ela
cheirou e sentou-se na cabeceira da mesa, cruzando as mãos na frente.
— Bem, tenho certeza que você sabe por que todos nós queríamos conversar
com você, querida. —A Sra. Sweet começou.
— Temo que não. — Disse Lainie hesitante. — Eu nem tenho certeza de quem a
maioria de vocês é, na verdade...
A Sra. Sweet riu de forma sutil. — Oh querida, eu não espero que você se lembre
de nós! — Ela continuou sem apresentar ninguém. — Agora, querida. Ficamos todos
tão angustiados ao saber da morte de sua avó. Ela e seu avô eram pessoas tão boas.
Verdadeiramente pilares da comunidade aqui na pequena Hideaway Cove. Ele foi
Prefeito uma vez, um homem tão bom. Todos estão simplesmente querendo saber o
que está planejando fazer com sua herança.
Ela fez pergunta em um tom afiado. Harrison apertou o ombro de Lainie.
— Minha herança? — A voz de Lainie era plana.
— A casa querida, na Colina do Farol. Sei que você subiu esta manhã com nosso
querido Harrison?
O que ela diria se Lainie anunciasse que iria se mudar? Harrison pensou de
repente. Ele se sentiu desconfortável. Lainie era humana. Ninguém sabia que ela era
sua companheira ainda ou não com certeza, de qualquer maneira. Tinha certeza de que
havia rumores. Mas nada confirmado.
Ele nem disse a ela.
O que o Conselho da cidade diria a um humano querendo se mudar para o
santuário shifter de Hideaway Cove, mesmo se ela fosse parente de um ex-morador da
cidade?
— Sim, fizemos uma breve inspeção. Não resta muito para ver. — Disse Lainie. —
É estranho. Eu sei que minha avó contratou alguém local para manter a casa depois que
se mudou para a casa de repouso, mas o lugar não parece ter sido cuidado em anos.
Apesar das faturas de limpeza que caíram no meu colo desde que o testamento foi lido.
Harrison olhou ao redor da mesa. Uma das amigas da Sra. Sweet, um shifter
pássaro chamada Sharon Walbol, ficou vermelha.
Ele olhou para Lainie. Ela parecia bem, mas seu sorriso estava congelado no rosto.
Percebeu o quanto de tensão essa conversa causava.
— O que é que você quer dizer a Lainie, exatamente? — Ele exigiu.
A Sra. Sweet levantou as sobrancelhas perfeitamente delineadas para ele.
— Tudo em seu tempo, querida.
Ao lado dela, o Sr. Sweet se despertou finalmente. Ele era da mesma safra que
sua esposa, mas enquanto ela se mantinha firme e os olhos em todos na sala, os ossos
de Sr. Sweet pareciam soltos dentro de sua pele. E ele nunca olhava para ninguém,
mesmo quando estava falando com eles. Era o Prefeito em exercício de Hideaway Cove
e tinha a forma de marsupial.
— Setenta e cinco mil. — Ele bufou e aparentemente voltou a dormir.
Ao lado de Harrison, Lainie quase pulou da cadeira. — O que? — Ela gritou.
A Sra. Sweet permaneceu calma e com um sorriso falso. — Minha querida, com
certeza entendeu. Uma garota da cidade como você não pode querer se mudar para
uma cidade pequena como a nossa. E como sem dúvida, já descobriu, nossa cidade não
possui serviços imobiliários. Achamos que seria muito mais fácil conseguir uma venda
particular.
— Uma venda particular? — Lainie relaxou em sua cadeira, mas seus olhos ainda
se moviam de forma suspeita ao redor da mesa. — Com metade da cidade aqui? — Ela
acrescentou em voz baixa para Harrison.
Harrison observou o ângulo tenso de seus ombros. — Eu sei que é um pouco
estranho, mas você estava planejando vender de qualquer maneira, não é?
Um murmúrio se ouviu ao redor da mesa e Harrison amaldiçoou silenciosamente.
Mal sussurrou as palavras, mas em um lugar cheio de shifters com audição aguda,
poderia muito bem ter gritado.
O sorriso da Sra. Sweet tornou-se, se possível, ainda mais cheio de dentes.
Harrison sentiu um arrepio em sua nuca.
— Você está pensando em vender a propriedade? Bem, isso parece resolver
todos os nossos problemas. Peça seu advogado para enviar os documentos diretamente
para mim...
—Não. — A voz de Lainie era baixa, mas firme. — Não, isso não vai funcionar.
Sinto muito.
— Desculpe-me? — A mão da Sra. Sweet foi para suas pérolas. Seu sorriso
desapareceu e a mudança na aparência da velha senhora foi arrepiante. Seu sorriso
poderia ser predatório, mas pelo menos era um sorriso, sem isso ela parecia uma
caveira.
— Talvez eu não tenha sido clara, minha querida. — Ela disse. — Eu sei que você
tem conexões familiares em Hideaway Cove, mas é impossível que se mude para cá.
Não será tolerado. Realmente garota, nem mesmo seus avós a queriam aqui depois que
você se mostrou ser uma decepção, por que acha que as coisas seriam diferentes
agora?
— Como você se atreve a falar assim com ela? — Harrison rosnou, a mão livre
formando um punho ao seu lado. Dentro dele, seu grifo gritou de raiva. Eles estavam
em perfeita harmonia: águia, leão e humano, todos unidos em fúria protetora. — Lainie
Eaves é minha...
— Não se preocupe. — A voz de Lainie soou sob a sua, gotejando amargura. —
Nada no mundo poderia me motivar a me mudar para aquela velha casa quebrada. Eu
a venderei e deixarei este lugar para trás, mas com certeza que não me livrarei da
propriedade por uma quantia tão baixa. Setenta e cinco mil dólares? Isso é um insulto.
Não compraria o farol, muito menos a terra!
Ela se levantou, afastando a mão de Harrison. Tão perto, Harrison podia ver que
ela estava tremendo. Será que ninguém poderia ver? Ou eles apenas viam sua raiva e
não as lágrimas?
— Lainie, eu...
Ela se virou para ele, os olhos cheios de lágrimas de raiva. — Oh, você não
comece. Não quer que eu venda, prefere que eu fique aqui? Depois de ouvir isso? —
Seu corpo inteiro tremia de raiva. — Essa coisa toda foi um erro. Nunca deveria ter
vindo aqui em primeiro lugar. Estou indo embora. Meu advogado entrará em contato
sobre a demolição e você... — Voltou-se para a senhora Sweet. — Você não ouvirá nada,
nem de mim nem de ninguém que tenha algo a ver com a propriedade.
Sem outra palavra, ela saiu batendo a porta atrás dela.
Harrison olhou para ela, um vazio se formando em seu peito.
— Bem. — Disse a Sra. Sweet atrás dele, cheirando. — Que catástrofe. E que
conivente e desconsiderada...
Harrison se virou para ela. — Lainie Eaves. É. Minha. Companheira. —Ele rosnou.
— O que está prestes a dizer, não o faça.
— Ah. Eu ouvi alguns sussurros perturbadores sobre isso, mas... você tem
certeza? Isso é lamentável. — A Sra. Sweet era bem mais baixa que Harrison e ainda
conseguia olhar com o nariz empinado para ele. —Você tem uma decisão difícil à sua
frente, Sr. Galway. Espero que faça a escolha certa.
— Do que você está falando? — Harrison perguntou.
A Sra. Sweet limpou uma partícula invisível de poeira de sua saia. — O absurdo
da pequena Lainie sobre a venda da propriedade de seus avós não dará em nada. Será
um incômodo, mas isso não é novidade quando se trata de sua família! — Ela fungou.
— Quer dizer Sr. Galway, que você terá que decidir entre permanecer no santuário de
Hideaway Cove ou sair com sua humana.
— Eu não sairei de Hideaway Cove. — Disse Harrison automaticamente. A Sra.
Sweet sorriu.
— Então não fale mais da Sra. Eaves ser sua companheira, por favor. Será melhor
que a esqueça.
Ela se afastou, reunindo seu marido e amigos quando saiu do restaurante.
Nenhum deles olhou para Harrison.
O lugar estava quase vazio agora. As únicas pessoas que restaram foram Caro,
limpando o bar com um olhar duro em seu rosto e Arlo. O shifter lobo ainda estava
sentado à mesa, com um olhar ferido no rosto.
— Jesus, Harrison. — Ele murmurou.
— E o que porra você está fazendo aqui, novamente? — Harrison explodiu para
ele. — Desde quando você está no Conselho da cidade?
Arlo olhou para a mesa, sem encontrar os olhos de Harrison. — Não é assim,
Harrison. A Sra. Sweet me pediu para falar com você...
— E o que? Convencer-me a deixar Lainie ou simplesmente rolar e ouvir a Sra.
Sweet insultá-la? Exatamente de que lado você está?
Os ombros de Arlo caíram e Harrison tentou controlar sua raiva. Arlo podia
parecer rude, mas Harrison sabia que seu exterior rude escondia uma alma antiga e
ferida. Ele era um solitário desde que se mudou para Hideaway. Inteligente e
experiente, mas não confortável com as pessoas.
— Apenas... pense nisso, Harrison. — Arlo murmurou. — Ignore que é a Sra.
Sweet quem disse isso. Hideaway Cove é o único lugar que a maioria de nós já viveu
onde nos sentimos seguros e Lainie Eaves está colocando isso em risco. Se ela vender a
propriedade...
— Se a Sra. Sweets não sabotar a venda, você quer dizer.
Arlo levantou os olhos para Harrison. — Harrison, o que acontecerá com
Hideaway Cove se encher de seres humanos? Perderemos tudo o que temos aqui.
Nossa segurança. Nosso lar.
Harrison cedeu. Sentou-se de frente para Arlo e apoiou a testa nos nós dos dedos,
movendo a cabeça para trás e para frente para massagear uma dor de cabeça crescente.
— Não. Lainie é uma boa pessoa. Se ela soubesse o que está em jogo...
— Ela sabe que você é um shifter?
A resposta deve ter sido clara no rosto de Harrison. Arlo gemeu. — Você não disse
a ela, não é?
Harrison esfregou o rosto. — Preciso conversar com ela. Preciso explicar tudo.
Merda, pensei que teria tempo... — Ele se levantou.
— Seja cuidadoso.
— Não se preocupe. Não farei nada estúpido.
— Quero dizer, pense no que você está fazendo. Os Sweet não a querem por
perto porque não querem que humanos conheçam Hideaway Cove. Se você disser a
ela...
— Então eles não terão motivos para fazê-la sair, não é?
Arlo balançou a cabeça. — Você realmente acha que será tão simples assim?
— Eu sei. — Harrison começou a sair pela porta, seguindo o caminho pelo qual
Lainie fugiu. — Mas eu tenho que fazer alguma coisa.

***
— Ela não quer ver você. — A Sra. Hanson trancou a porta da frente de B&B com
sua pequena estrutura de pássaro. — Ela não quer ver ninguém. Eu não sei o que você
fez...
— Foi a Sra. Sweet e seu grupo. — Explicou Harrison. — Eles pularam nela com
esse plano desenfreado para comprar a propriedade Eaves e disseram que a
expulsariam da cidade se não vendesse para eles. — Ele tentou se afastar da Sra.
Hanson, mas ela permaneceu firme.
— Oh querida, oh querida. — Ela murmurou. — Eu esperava que não chegasse a
isso. Ela aceitou a oferta, pelo menos?
Harrison olhou para ela. —Você sabia disso? — A Sra. Hanson não estava na
reunião. Harrison estava começando a ter a sensação desagradável de que estava sendo
mantido no escuro e as próximas palavras da Sra. Hanson apenas confirmaram seus
medos.
— Eu sinto muito querido, mas ninguém queria envolvê-lo, dadas as
circunstâncias.
— Você quer dizer porque ela é minha companheira.
A Sra. Hanson parecia aflita. — Isso e... bem, por causa da história dela. Tudo
aconteceu muito antes do seu tempo, é claro.
Harrison estava ficando impaciente. — Se você quer dar desculpas sobre
machucar Lainie por causa de algo que aconteceu anos atrás, esse é o seu problema. —
Ele rosnou. — Eu quero falar com ela.
A Sra. Hanson suspirou. —Vá em frente, Romeo. Ela está no quarto da frente,
primeiro andar.
Antes que Harrison pudesse reagir, ela recuou para trás da porta e fechou. Ele
levantou a mão para bater e ouviu a fechadura girar.
Harrison colocou a palma da mão aberta na porta fechada. Não adiantava gritar
para a Sra. Hanson abrir. Em vez disso ele recuou, olhando para a casa.
Sala da frente, primeiro andar...
Um lampejo de movimento na grande janela do primeiro andar chamou sua
atenção.
— Lainie? — Ele chamou, protegendo os olhos. — É você?
Não houve resposta. Harrison concentrou-se. Lainie estava lá, tinha certeza disso.
A cortina se moveu levemente, era ela?
— Lainie, por favor, fale comigo. Há algo que precisa saber. Se me deixar subir
posso explicar...
A cortina foi puxada de lado e Lainie apareceu, olhando para ele. O coração de
Harrison se apertou. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, mas sua boca estava
firme em uma linha enquanto abria a janela.
— Eu não quero falar com você! Apenas vá embora! — Ela gritou, sua voz cortada
por um soluço.
— Lainie, por favor...
— Apenas deixe-me em paz! Você não consegue ver que acabou de piorar tudo?
Ela fechou a janela e puxou as cortinas. Harrison olhou para cima, ainda tentando
encontrar as palavras, qualquer palavra, para convencê-la a ouvi-lo.
Não havia sentido. Ela não voltou para a janela.
Harrison ficou ali esperando. As cortinas não se moveram. Ela não estava do outro
lado, esperando e se perguntando se ainda estava lá.
Mas suas palavras ainda ecoavam em sua cabeça. Você não consegue ver que
acabou de piorar tudo?
Era verdade. Ele podia ver isso. O que quer que estivesse acontecendo ali,
quaisquer que fossem as razões por trás do cruel tratamento de Lainie pela Sra. Sweet,
suas ações para atraí-la para sua vida apenas deixavam as coisas mais difíceis para ela.
Ele a deixou desestabilizada quando deveria descobrir a melhor maneira de
protegê-la.
Lainie estava deitada na cama, olhando para o teto, mas não vendo. Ela pensou
que iria chorar até dormir, exausta pela dor e raiva. Em vez disso, desde que fechou a
janela no rosto de Harrison, não chorou nada. Estava com raiva e confusa e
implacavelmente, terrivelmente acordada.
Por que foi ali em primeiro lugar? Esperança. Esperança idiota e estúpida. Disse
a si mesma que precisava supervisionar a avaliação da propriedade, depois de ver
clientes suficientes enganados por contratados inescrupulosos. Mas poderia ter
contratado alguém para fazer isso. Até apoiou um de seus colegas do escritório para
lidar com todo o maldito projeto.
Ela poderia ter deixado alguém separar a coisa toda e nunca mais pisar em
Hideaway Cove novamente.
Então, por que eu não fiz isso? Por que vim enfrentar toda esta miséria?
Por causa da esperança. A mesma coisa que sempre a incomodou.
A esperança de que uma história estúpida de família se mostrasse verdadeira e
resolvesse todos seus problemas. Esperança de que voltar para Hideaway Coe pudesse
de alguma forma, ajudá-la a desvendar a feia massa de nós dentro dela.
Lainie gemeu e fechou os olhos. Em vez disso, você apenas piorou tudo.
Outro nó se formou dentro dela quando se lembrou de gritar as mesmas palavras
para Harrison. Pobre homem. Ele apenas queria uma noite de diversão e ali estava ela,
arrastando-o para a casa dos horrores que era a sua vida.
Isso era culpa dela. Viu a chance de uma distração divertida do trabalho que a
trouxe até aqui e agarrou-a com as duas mãos. Não pensou sobre as consequências.
Culpa dela.
Assim como é tudo culpa sua, ela pensou de repente se sentindo muito cansada.
Papai indo embora. Nunca mais se encontrar com vovó e vovô. Você deveria ter
aprendido oito anos atrás que tentar consertar as coisas apenas as deixa pior...
Ela enterrou o rosto no travesseiro, como se isso a ajudasse a se esconder da
lembrança de seus dezoito anos, tão esperançosa e querendo ajudar.
Bem, tudo isso saiu pela culatra, verdade? Se você tivesse sido uma cadela, em
vez de tentar consertar as coisas, não estaria nessa bagunça.
Setenta e cinco mil dólares. Esse dinheiro poderia fazer todos seus problemas
desaparecerem. Infelizmente, aquela esperançosa e útil Lainie de dezoito anos de idade
entrou em mais de setenta e cinco mil problemas.
Um barulho repentino fez com que ela se sentasse. Por um segundo insano, ela
pensou que Harrison tivesse voltado e estava abrindo a porta. Então o barulho voltou e
desta vez se levantou. A chuva pesada caía em rajadas contra a janela. Quando o vento
aumentou, o mesmo aconteceu com o som da chuva que soprava contra as paredes.
Lainie estremeceu. Quando ficou tão escuro? Ela pensou, envolvendo os braços
ao redor de si mesma. Olhou o lindo relógio de estilo marítimo na parede: não era nem
tarde ainda, mas parecia o começo da noite. Aproximou-se e olhou pela janela. O céu
estava cinza escuro e a enseada, que antes estava calma, era uma massa fervente de
ondas brancas.
Deve ser uma daquelas tempestades que Harrison falou. Sentindo-se culpada,
Lainie olhou para o caminho em frente ao B&B, onde Harrison esteve mais cedo. Ele
estava muito longe, claro.
Merda. Tanto pelos meus planos de voltar para casa hoje. Mesmo se saísse agora,
já seria bem passado da meia-noite quando voltasse e isso se não tivesse problemas
com o mau tempo.
Outra rajada de chuva bateu na janela e Lainie estremeceu, deixando a cortina
cair.
Pelo menos a chuva conseguiu alguma coisa. O cansaço miserável que a
atormentava desde que voltou daquele interrogatório apavorante se dissipou. Sentia-
se energizada.
Precisava fazer alguma coisa. Deitar-se em um nevoeiro de infelicidade não iria
ajudá-la.
Estremeceu quando se lembrou do desgosto da Sra. Sweet. Era a mesma
expressão que a velha tinha em seu rosto quando entregou a Lainie, de onze anos, seu
sorvete.
Eu poderia realmente dar trabalho, ela pensou, imaginando as pilhas de projetos
esperando por ela em sua mesa na cidade. Ou...
Talvez deva ligar para mamãe.
Sua reação automática ao pensamento foi relutante. Ela tentou conversar com
sua mãe sobre isso antes, sem sucesso. Quando falava sobre Hideaway Cove e seu
divórcio, a mãe de Lainie era um livro fechado.
Mas isso é diferente. Estou realmente aqui agora. E depois que contar a ela o que
aconteceu esta tarde, certamente terá que explicar alguma coisa. A situação toda é
apenas... louca.
Se nada mais, se eu começar a chorar pelo telefone, talvez isso a convença.
Lainie agarrou sua bolsa, correndo para fazer a ligação antes que mudasse de
ideia. O telefone não estava no bolso de sempre. Verificou novamente, em seguida,
vasculhou o fundo da bolsa. Nada.
Franzindo a testa, checou a bolsa de laptop e depois a mala. Sem telefone.
Isso está ficando estúpido. Onde estava?
Lainie pensou na última vez que usou. Na estrada, para ter certeza de que estava
no caminho certo... checando meu e-mail de trabalho depois que cheguei... ligando para
meu gerente... ah, não.
A última vez que se lembrou de usar o celular foi naquela manhã. Parecia há
muito tempo agora. Usou como uma lanterna para iluminar o interior sombrio da casa
de seus avós.
Não usei desde então. Merda. Devo ter deixado cair depois que vi a pintura.
Andamos pelo restante da casa com apenas a lanterna de Harrison, verdade?
Merda.
Ela teria que voltar. Não podia deixá-lo lá, não nesta chuva, com a sua sorte, a
velha casa teria um vazamento e quando aparecesse de manhã descobriria que seu
telefone se afogou até a morte.
Maldita Hideaway Cove. Lainie abriu a mala e agarrou a capa de chuva que
guardou na esperança de não ter que usá-la. Pelo menos ainda tinha o carro alugado.
Por favor, diga-me que eu não deixei cair as chaves também... oh, graças a Deus, estão
aqui.
Lainie colocou a cabeça na recepção, mas não havia sinal da Sra. Hanson, a
proprietária do B&B. Ela gritou, mas não ouviu resposta. Lutando contra o pensamento
pouco caridoso de que a velha provavelmente foi se juntar ao restante deles no
planejamento da melhor maneira de chutar Lainie, escreveu uma pequena nota em um
bloco na recepção:
Cara Sra. Hanson. Mudança de planos. Precisarei ficar mais uma noite devido à
tempestade, espero que esteja tudo bem. Obrigada, Lainie.
***
A tempestade estava furiosa no momento em que Lainie parou em frente à
antiga casa de seus avós. A subida da colina foi difícil e demorou alguns minutos para
se recompor. O pequeno Ford não lidava bem com os buracos, assim como a
caminhonete de Harrison.
A chuva açoitava o para-brisa. Caía tão forte os limpadores não funcionaram
direito. Ela desligou o motor e o mundo lá fora ficou embaçado.
Lainie fechou a capa de chuva e puxou o capuz até a testa. — Aqui vamos...
Ela apertou os dentes e se lançou na chuva.
O vento estava mais forte do que esperava, batendo de um lado para o outro
enquanto corria para a porta da frente. Lutou com a fechadura por um momento -
tempo suficiente para cada parte dela não coberta pela caspa ficar encharcada - e
entrou. O frio do vento e da chuva a deixou ofegante quando fechou a porta.
Naquela manhã, pensou que as janelas fechadas e cheias de poeira não
deixassem entrar nenhuma luz. Então, por que parecia ainda mais escuro agora?
Era como se estivesse usando uma venda nos olhos. Lainie xingou ao perceber
que não levou uma lanterna. Bem, claro que não o fez. Sempre usava seu telefone. Ela
teria que encontrá-lo pelo toque, isso era tudo.
Pelo menos sabia onde seu telefone estava. Na sala de estar, do outro lado da
casa.
Lainie deu um passo à frente, as mãos esticadas na frente. Por enquanto, tudo
bem. Avançou até encontrar a parede mais distante. Até agora... ainda esta tudo bem.
Navegando nas lembranças, Lainie foi lentamente para a sala de estar. Graças a
Deus, toda a mobília foi guardada há anos, pensou ela.
Ao redor dela, a casa rangeu e gemeu quando a tempestade assolou o lado de
fora. Lainie se encolheu quando uma forte rajada de vento fez toda a casa estremecer.
Nem queria pensar em como sua calça ficaria depois disso. Encharcada pela chuva, em
seguida, marinada por toda a poeira... ugh.
Por fim, encontrou a porta da sala de estar. A sala dava para o mar aberto e
mesmo através das venezianas, o barulho das ondas era ensurdecedor. Quase soava
como se estivesse subindo sob as tábuas do assoalho. Lainie estremeceu.
Ela foi para o lado até encontrar a velha lareira de tijolos. Deus, minhas mãos
devem estar imundas. Certo, aqui estou eu. Agora, onde estava quando soltei o
telefone?
Lainie imaginou-se olhando para a pintura e recuou devagar, deslizando os pés
pelas tábuas do assoalho. Outra rajada atingiu a casa, fazendo-a pular. Seu calcanhar
bateu em alguma coisa.
Tentando ignorar os sons ensurdecedores da tempestade e das ondas do lado de
fora, Lainie se abaixou, depois de um momento de luta, pegou o telefone.
— Finalmente! Hora de sair daqui.
Lainie ligou o telefone e milagrosamente, ainda restava alguma bateria. Usou a
luz para olhar ao redor. A sala estava exatamente como se lembrava do dia anterior,
não de sua infância. Os sofás estofados e os tapetes coloridos desapareceram há muito
tempo, substituídos por grossos lençóis de poeira e sujeira.
Ela olhou para as sombras. Isso era um truque da luz ou alguma coisa
simplesmente se moveu?
Lainie ergueu a luz do telefone mais alto, olhando para a escuridão. Havia um
animal ou algo preso aqui, se escondendo da tempestade? Oh inferno, não poderia ser
uma criança, poderia? Este lugar era provavelmente o mais assombrado em Hideaway
Cove para adolescentes. A casa assombrada dos Eaves.
— Olá?
A casa gemeu, um rangido longo e prolongado que pareceu durar para sempre.
Definitivamente havia algo se movendo. Lainie estava do outro lado da sala antes de
perceber que a coisa que estava se movendo era a sala.
Ela xingou e deu um pulo para trás, mas já era tarde demais. Com um rugido, a
parede distante caiu. Lainie observou horrorizada o chão se afundar. A chuva inundava
a casa, tão forte como as ondas.
Lainie deu um salto para trás quando as tábuas começaram a se mover. Seus pés
escorregaram na poeira úmida e caiu sobre suas mãos e joelhos, xingando. Atrás dela,
a casa gemeu novamente. Virou-se bem a tempo de ver metade da sala desaparecer.
Que porra foi isso? Nós não estamos tão perto do precipício!
— Merda. — Ela apertou os dentes, tentando se levantar. Seu pulso esquerdo
torceu e Lainie gemeu quando a dor subiu por seu braço. Não há tempo para pensar
sobre isso. A luz do telefone ainda estava ligada pelo menos. Ela segurou o braço ferido
contra o peito e empurrou para frente, indo para a porta.
Sob seus pés, tábuas podres rangeram. Lainie congelou.
Ah não. Não, não, não.
Lainie deslizou um passo para frente lentamente e as tábuas do assoalho se
afundaram ainda mais. Toda vez que me movo, estou prejudicando mais.
Ela arriscou um rápido olhar para trás por cima do ombro. A chuva açoitava seu
rosto. Não sabia dizer até onde a queda seria no chão ou até mesmo onde o chão estava.
E se a beira do penhasco tivesse desmoronado debaixo da casa e foi por isso que a sala
caiu?
Estava presa. Se ela se movesse, as tábuas do assoalho poderiam desmoronar.
Mas se ficasse onde estava...
A mesma coisa acontecerá, apenas que mais devagar. Ela apertou os dentes. Não
posso me esconder aqui e esperar que isso aconteça.
Harrison olhou para as mãos.
Quando ele chegou a Hideaway Cove, pensou ser o paraíso. Uma cidade inteira
de shifters? Nunca sonhou que tal lugar pudesse existir.
Estava feliz ali e nunca se perguntou por que todos em Hideaway eram shifters.
Bem, isso estava claro agora. Os Sweet e seus companheiros devem ter expulsado
todos os seres humanos que tentaram se mudar. Independentemente de estarem ou
não relacionados aos shifters.
Não mais, pensou sombriamente. Ele não podia voltar no tempo e evitar que
Lainie fosse ferida, mas podia mantê-la segura agora.
Se ela quisesse falar com ele novamente.
Houve uma batida na porta, quase inaudível pelo som da tempestade lá fora.
— O que? — Harrison rosnou. Controlou sua frustração quando Arlo colocou a
cabeça pela porta. — O que você quer?
—É sobre Lainie.
Harrison deixou suas ferramentas. — Ela ligou? — Ele ouviu alguém no corredor
atrás de Arlo. Ela estava ali? — Preciso falar com ela. — Ele foi para a porta, mas Arlo
levantou a mão, segurando-o.
Se fosse alguém além de Arlo, Harrison teria passado por ele. Mas conhecia Arlo.
Ele respirou fundo. Seja paciente. Ser impulsivo deu errado antes.
— O que foi? — Ele perguntou, tentando descobrir quem estava atrás de Arlo.
Era uma mulher, mas agora que estava mais perto, podia dizer que não era Lainie. Teria
reconhecido o cheiro dela imediatamente.
Arlo suspirou e chamou a mulher atrás dele. — Diga a ele o que você me disse.
Para surpresa de Harrison, a pessoa que deu um passo à frente foi Tessa Sweet,
a atual gerente da sorveteria.
Tessa tinha vinte e poucos anos, uma morena gordinha com cachos bagunçados
e olhos castanhos. Como sua avó, ela era um metamorfo.
Sua avó, que estava tentando tirar Lainie da cidade.
— O que você quer? — Harrison disse rispidamente. O que Arlo estava fazendo?
O que poderia ter a dizer para a neta da mulher que insultou sua companheira? — Se
os seus freezers não estão funcionando, acho que pode esperar até depois da
tempestade.
— Não é a loja. Há algo que você precisa saber. — Tessa deixou escapar. Seus
olhos foram de um lado para o outro. — Sobre... sobre o que aconteceu esta tarde.
— Está tudo bem. — Arlo disse suavemente. — Não tem como sua avó ou
qualquer um de seus amigos a ouvirem aqui.
A boca de Tessa se apertou. — Oh eu sei. Eles estão todos escondidos na sala de
estar, gargalhando. — Ela respirou fundo e olhou nos olhos de Harrison. — Eu não
deveria dizer isso, mas eu não posso guardar para mim mesma. Ouvi vovó e vovô
conversando ontem à noite. De acordo com vovó, ela é a razão pela qual Lainie foi
expulsa de Hideaway Cove antes.
— Expulsa? — Harrison ficou atordoado. — Eu não sabia que ela morava aqui.
Isso explica...
Ele parou. Isso explicava por que estar aqui a deixava tão chateada. — Ela me
disse que não era próxima de seus avós. — Disse ele lentamente.
— Sim, vovó estava muito orgulhosa disso. — Disse Tessa, com a boca torta. —
Ela estava praticamente cantando sobre isso ontem à noite.
— Quando isto aconteceu?
— Antes de você se mudar para cá. Qualquer um de vocês. — Tessa acenou com
a cabeça para incluir Arlo. — Honestamente, não sei quantas pessoas aqui sabem sobre
isso, mesmo as pessoas que sempre viveram. Vovó parece ter silenciado todos muito
bem... exceto quando a tentação de se gabar se torna demais, eu acho.
Arlo interrompeu. — O que Tessa está dizendo é que quinze anos atrás, Lainie e
sua mãe foram obrigadas a deixar Hideaway Cove. Porque seu pai casou-se com uma
humana e Lainie não nasceu uma shifter.
— É isso? Apenas porque eram humanas?
Tessa bufou. — Isso é o suficiente, aparentemente. Vovó diz que esta cidade é
um santuário para shifters e isso significa que nenhum ser humano é permitido.
— Isso é uma loucura.
— É? — Perguntou Arlo. — Pense nisso. O mundo exterior não é exatamente um
lugar amigável para shifters.
Harrison trocou um olhar com ele. Era verdade que nenhum deles teve uma vida
feliz antes de encontrarem Hideaway Cove. O estresse de esconder constantemente
quem e o que você era causava uma tensão constante no mundo exterior.
— Mas Lainie está relacionada com shifters. — Argumentou ele. — Eles
separaram a família dela, para que? Achavam que ela iria trair seus próprios avós para
o mundo exterior?
Arlo encolheu os ombros, parecendo infeliz. Tessa não encontrou seus olhos.
Harrison gemeu e passou os dedos pelos cabelos. — Bem. Seguirei em frente e
assumirei que suas razões foram estúpidas, então. E conversarei com Lainie.
Ele passou por Arlo e Tessa, que ainda parecia triste. Ele pegou o casaco e as
chaves, estava prestes a sair quando bateu em Pol.
Pol estava pálido, quase verde sob seu bronzeado dourado. Harrison fez uma
pausa. — Você está bem?
Pol encolheu os ombros, mostrando um sorriso fraco para Harrison. —Oscilação
de energia. Todos foram para casa e ligaram o aquecimento. Estou bem, apenas preciso
de carboidratos e descansar.
— Cuide-se, está bem? — Harrison franziu a testa enquanto Pol cambaleava até
a sala e sentava-se num dos sofás. Mas ele não tinha tempo para lidar com os problemas
de Pol agora.
Ele dirigiu para o B&B, a chuva batendo no teto de sua caminhonete. O barulho
era como uma britadeira indo direto para o cérebro.
Preciso consertar isso. Preciso explicar tudo. Shifters. Companheiros. Que seus
avós não queriam mandá-la embora, simplesmente não tiveram escolha.
E irei me certificar de que ela saiba que não há como eu deixar que os Sweets se
safem disso.
Ele apenas tinha que encontrar as palavras para dizer isso.
Estacionou na frente do B&B e caminhou até a porta da frente. Abriu-se quase
antes de começar a bater e a Sra. Hanson olhou para ele. Seu rosto estava sério.
— Ela não está com você? — Ela perguntou.
— Quem não está comigo? — A chuva escorria pelo pescoço de Harrison. — Você
quer dizer Lainie? Ela não está aqui?
— É melhor você entrar. — A Sra. Hanson entrou e Harrison a seguiu, a chuva
escorrendo por seu corpo. A Sra. Hanson desapareceu por trás de sua mesa brevemente
e voltou balançando um pedaço de papel.
— Saí por um minuto para verificar se o telhado do galpão estava se segurando
com a chuva e ela deve saído neste momento também. Deixou isso. Pensei que fosse
se encontrar com você, bem, esperava que sim, depois de tudo o que aconteceu.
Ela entregou a nota a Harrison. Ele a leu.
— O carro dela não está aqui. Se não tivesse deixado a nota, teria pensado que
foi embora. Sua bagagem ainda está aqui também. — A Sra. Hanson torceu as mãos. —
Onde pode ter ido? Não é seguro dirigir em um clima como esse.
Para onde ela teria ido? Harrison não podia imaginar Lainie voltando para o
restaurante de Caro, não depois desta tarde.
Quão bem ela se lembra de Hideaway Cove desde a infância? Talvez estivesse em
algum lugar onde costumava ir...
...talvez ele estivesse perdendo a resposta mais óbvia. — A antiga casa dos Eaves.
— Ah não! Neste tempo? — A Sra. Hanson bateu as mãos infeliz. —Você tem
certeza?
— Onde mais ela teria ido? Não é como se as pessoas daqui a fizeram se sentir
bem-vinda. — Harrison saiu sem esperar pela resposta da Sra. Hanson.
Ele olhou para a colina através da chuva. Aquele vislumbre prata era o carro de
Lainie? Precisava saber com certeza. Harrison entrou em sua caminhonete. Apesar do
coração acelerado, dirigiu com cuidado. Viu muitos carros acabarem na lagoa por se
arriscar a dirigir rápido em uma tempestade.
A estrada até a antiga casa do Eaves parecia um rio. Os buracos eram invisíveis
sob o ímpeto da água e Harrison apertou os dentes enquanto ele batia e pulava na
colina. Por fim, chegou ao topo e viu o carro de Lainie estacionado em frente a casa.
Ele não sabia se ficava aliviado ou horrorizado. Que porra ela estava fazendo lá,
nesse clima?
— Lainie! — Ele chamou, mas o vento chicoteou sua voz. A porta da frente estava
destrancada e ele a abriu, sacudindo a chuva de seus cabelos. —Lainie, você está aqui?
Ele pensou que estar dentro silenciaria o som da tempestade, mas estava tão alto
quanto antes. A casa inteira estava gemendo sob o ataque. — Lainie?
— Harrison?!
Harrison seguiu sua voz para os fundos da casa. Um vento frio bateu em suas
roupas, mas não deu atenção a isso até chegar à porta da sala de estar.
Lainie estava parada rigidamente a poucos metros da porta, encurvada contra a
chuva e o vento. Estava completamente encharcada, o cabelo loiro colado às bochechas
pálidas. Atrás dela não havia... nada.
— Oh meu Deus. — Harrison começou a avançar e os olhos de Lainie se
arregalaram.
— Não, não... — Ela gritou, mas foi tarde demais. As tábuas do assoalho rangeram
sob os pés de Harrison e com um crepitar de lascas de madeira, ambos caíram.
Harrison não pensou. Não havia tempo. Alcançou dentro de si e encontrou sua
forma de grifo, mudando mais rápido do que nunca o fez antes.
Lainie gritou quando caiu. Algo enorme bateu contra ela no ar. Membros pesados
ao seu redor. Harrison?
Ela caiu no chão, sem fôlego, sobre Harrison. Ou o que ela achava que fosse
Harrison. Sentiu-o com as mãos geladas. Quem quer que fosse a pessoa sobre a qual
caiu, era enorme. E... com penas?
Lainie afastou-se. Seus pés encontraram o chão sólido e escorregou novamente.
A coisa sobre a qual aterrissou grunhiu e começou a se levantar. Havia luz suficiente
para que Lainie vislumbrasse seu enorme volume. Um relâmpago iluminou as penas
encharcadas pela chuva e um enorme bico afiado. Olhos predatórios brilharam negros
quando se virou para olhá-la.
— Oh merda. — Ela ofegou e recuou. Outro clarão de luz encheu o céu,
confirmando o que achava ter visto.
A criatura tinha a cabeça de uma águia, mas era maior do que qualquer pássaro
que Lainie já viu ou ouviu falar. Tinha duas patas dianteiras enormes com garras e asas
de listras escuras. Mas isso não era tudo. Sua metade traseira parecia um gato gigante,
não um pássaro. Pele. Enormes patas. E uma cauda chicoteando de um lado para o
outro na chuva.
Um grifo. Havia um maldito grifo na casa de seus avós.
Não, pensou Lainie, congelada. Isso é impossível. Você deve ter batido sua cabeça.
É impossível.
O grifo levantou o bico, farejando o ar. Atrás dela, a casa rangeu. Lainie
escorregou para trás quando o grifo ficou de pé. Era tão alto quanto ela.
Preciso sair daqui. Lainie olhou ao redor desesperadamente. Caiu sobre o que
deveria ser as antigas fundações da casa. Uma queda longa o suficiente para se soltar,
mas não para quebrar algo. Se pudesse simplesmente atravessar os escombros sem
perturbar a - ela mal conseguia pensar nisso. O grifo O grifo que deveria ser algum tipo
de alucinação induzida por trauma.
... e onde está Harrison?
Lainie afastou o cabelo molhado do rosto. A chuva ainda caia, mas pelo menos ali
ao ar livre ainda era leve o suficiente para ver. Não havia sinal de Harrison.
O que significa que ele provavelmente está preso sob alguma coisa, ela pensou
com sua garganta ficando apertada. Deus, espero que ele esteja bem.
Precisava de ajuda. Queria acreditar que Harrison ainda estava vivo em algum
lugar e conseguir ajuda de Hideaway Cove para afugentar o grifo e salvá-lo.
Afugentar o grifo? Você decidiu que é real agora? É isso que está acontecendo?
Lainie deu um passo cuidadoso para trás, certificando-se de que seus pés
estivessem seguros antes de mudar o peso. Já estava com um pulso torcido. Não havia
como sair dali sem ficar presa sob uma viga ou se prender a um monte de escombros.
O grifo estava definitivamente olhando para ela. Lainie segurou a respiração. Não
é real, disse a si mesma.
Mas com certeza parece real.
Outro estrondo da casa a distraiu. Ela olhou para trás do grifo para ver outra
parede desmoronando em direção a ela. Não havia tempo para sair do caminho.
O grifo se moveu mais rápido do que ela poderia imaginar, saltando entre ela e a
queda da alvenaria. Lainie gritou quando a parede atingiu a criatura, empurrando-a para
ela. Ambos caíram para trás. As tábuas do assoalho se quebraram sob o peso
combinado e Lainie gritou quando o chão desapareceu embaixo dela. Novamente.

***

Desta vez, ela abriu os olhos para a total escuridão. Suas costas estavam
pressionadas contra a pedra fria e todo seu corpo se sentia maltratado.
Uma respiração quente atingiu seu rosto e ela atacou com o punho. O que quer
que acertou caiu com um barulho estranho como se alguém quebrasse todos os nós
dos dedos de uma só vez.
— Ow!
— Harrison? — Lainie não podia acreditar em seus ouvidos.
— Lainie? Onde está você? E onde estamos?
Lainie podia chorar de alívio. Ela sentiu a parede atrás. Era granito sólido, muito
liso para ser natural. — No porão, eu acho. Você está machucado?
— Além do meu nariz?
Lainie estendeu a mão. Seus dedos roçaram o queixo de Harrison. — Sinto Muito.
Havia um... algum tipo de animal ou algo assim...
Harrison segurou as mãos dela entre as suas. Suas mãos estavam quentes e Lainie
estremeceu, de repente consciente de como estava fria.
— Acho que já se foi. — Disse Harrison depois de um momento. — Pelo menos...
não está aqui agora.
—Bem, isso é algo. — Lainie estremeceu. Não resistiu quando Harrison a puxou
para ele e passou os braços ao redor dela. — Eu pensei... não o vi depois que o chão
desabou e pensei...
—Shh. Eu estou bem. — Harrison a tranquilizou. — Vim aqui para encontrá-la e
estou feliz por ter chegado a tempo.
Ela deixou a cabeça cair em seu ombro. Sua pele estava escorregadia de chuva,
mas ele irradiava calor. Aconchegou-se a ele. Espere...
— O que aconteceu com a sua camisa?
O queixo de Harrison ficou tenso contra o topo de sua cabeça. — Isso, er...
— Você irá congelar. — Disse ela. — Precisamos sair daqui.
Ela sentiu Harrison olhar para cima. — Acho que nós quebramos a escada na
descida. — Disse ele com um gemido.
Lainie esfregou o rosto. — Acha que está muito longe para escalar? Merda. Bem...
— Ela tentou pensar em algo. — Há saída pelo porão. Um velho túnel que leva até a
praia. Não me lembro muito bem. Nunca tinha permissão para descer sozinha.
— Vamos ver se conseguimos encontrá-lo. — Disse Harrison. Ele se levantou,
puxando Lainie. Ela assobiou quando ele bateu no braço machucado.
— O que está errado?
— Meu pulso… acho que torci mais cedo. Não se preocupe com isso. O
importante é encontrar um jeito de sair daqui. — Ela estendeu a mão para encontrar a
parede e começou a sentir o caminho ao longo dela. — Deve haver uma porta...
Harrison colocou a mão no peito dela, segurando-a gentilmente no lugar. — Você
está ferida. — Ele disse, sua voz firme. — Fique aqui e eu encontrarei a porta.
Lainie fez o que ele disse, segurando as mãos no peito, onde ainda podia sentir a
lembrança do toque dele, quente e reconfortante. Ouviu seus passos enquanto
caminhava cuidadosamente ao longo da parede e entrou em algo sólido.
— Ow! Eu pensei que todos os móveis tivessem sido retirados daqui.
— O que foi? — Lainie correu para frente.
Ela podia sentir o calor do corpo de Harrison quando ficou ao seu lado. A chuva
estava tão fria que não pode evitar se apoiar contra ele, apenas um pouquinho.
Apenas porque estou com frio. E dolorida. E… a calça dele desapareceu também?
Lainie se endireitou novamente rapidamente.
— É um armário de algum tipo. — Disse Harrison com a voz abafada. — Deve ter
caído quando eu... quando caímos aqui. Espere, há algo por trás. Parece uma porta.
— Atrás de um armário? — Lainie esfregou o pulso dolorido. — Isso não faz
qualquer sentido.
— Bem, é aí que estava... vamos dar uma olhada? Er, vamos tentar com as mãos?
Eu quis dizer...
Lainie bufou. —Vamos.
Ela recuou quando Harrison puxou o armário para fora do caminho. A porta foi
quebrada no meio junto as dobradiças quando o armário caiu e abriram caminho
cuidadosamente. Lainie não queria adicionar um olho roxo a sua lista de ferimentos.
— Isso parece... uh, familiar?
Ainda estavam tentando ver no escuro. — Bem, é um túnel de pedra, com...
oops... passos descendo. A menos que a colina esteja repleta de passagens secretas, eu
diria que é isso. — Lainie deu alguns passos cuidadosos. — Acho que minha avó queria
esconder alguém, passando por outa porta quando se mudou para a casa. Mantendo a
passagem secreta em segredo, mesmo depois que foi embora.
O túnel era estreito o suficiente para que os ombros de Lainie às vezes roçassem
as duas paredes ao mesmo tempo. Ela ouviu Harrison grunhir uma ou duas vezes
enquanto se contorcia de lado para passar.
— Espero que você não seja claustrofóbica. — Disse ele em determinado
momento. Lainie riu com surpresa.
— Eu? Você é o único que parece estar se transformando em pretzels para
passar. O que acontece comigo se você ficar preso?
Ela quis dizer isso como uma piada, mas Harrison levou a sério. — Este é um bom
ponto. Aqui, a passagem se abre um pouco onde estou agora... você pode passar por
mim e ir na frente? — Ele fez uma pausa. — Dada como minha primeira tentativa de
resgate esta noite foi, será apenas uma sorte se ficar preso e prendê-la aqui.
Lainie estendeu a mão até tocar o ombro de Harrison. O túnel se ampliou, sim,
mas ainda era estreito o suficiente para ela pressionar o corpo contra o dele para passar.
Colocou a mão em seu ombro de desceu pelo peito enquanto passava. Seu coração
estava acelerado.
— Não se renda pelo o que aconteceu lá em cima. — Murmurou. — Não era
como se estivesse muito antes de você chegar aqui. Eu nem sequer me atrevi a mover
no caso do chão desabar, e eu com ele.
— O que foi inteligente, já que no momento em que me aproximei de você, toda
a casa caiu sobre nós. — Harrison resmungou em seu cabelo. Ela parou de se mover,
presa entre ele e a parede.
— Obrigada por ter vindo ao meu resgate. — Ela inclinou a cabeça para cima,
mesmo sabendo que não havia como ver seu rosto na escuridão. —Como você sabia
onde eu estava?
— Eu imaginei. — Harrison colocou os braços ao redor dela. —A Sra. Hanson me
mostrou sua nota e bem, não consegui pensar em outro lugar da cidade para o qual
poderia ir.
— Estava procurando o meu telefone. — Admitiu Lainie. — Deus, isso soa
estúpido. Provavelmente já está em pedaços. — Ela suspirou. — Desculpe por gritar
com você, antes.
Uma das mãos de Harrison acariciou seu corpo para embalar sua cabeça contra
o peito dele. — Sinto muito que meus vizinhos sejam idiotas. — Ele respondeu. — Se
eu soubesse como iriam tratá-la, nunca teríamos ido para lá.
Ela encolheu os ombros. — Deixe os loucos serem loucos. Não fará qualquer
diferença. — Seu coração se apertou ao lembrar que, mesmo depois de saírem dessa
situação ridícula, ela ainda teria que enfrentar a Sra. Sweet e as outras pessoas da
cidade até que o projeto terminasse.
Relutantemente, Lainie se afastou de Harrison. O túnel estava frio e ele estava
maravilhosamente quente, mas sabia que quanto mais ficassem ali, maior a
probabilidade de ambos desenvolverem hipotermia.
— Eu não posso dizer o quão longe nós já chegamos. — Disse ela, uma mão ainda
descendo pelo braço quando se adiantou. — Mas você não acha que o mar está
parecendo próximo... aah!
Os pés de Lainie escorregaram. Harrison já estava segurando o braço dela, mas o
envolveu com o outro, tentando recuperar o equilíbrio. Seu braço agitado pegou
alguma coisa na parede e a derrubou em suas pernas.
— Ow! — Ela gemeu. — Que merda foi isso?
Ela apertou o braço contra o peito. Teve a sorte de que o braço machucado fosse
aquele com o qual se debateu loucamente para manter o equilíbrio. E o que acertou,
afinal?
Harrison colocou as mãos ao redor da cintura dela e puxou-a para cima. — O que
aconteceu? Você está bem?
— Eu bati em alguma coisa na parede... — Com Harrison ainda segurando-a,
Lainie tateou ao redor da parede. Havia um nicho raso cortado na pedra na altura da
cintura. — Devo ter derrubado alguma coisa dessa prateleira quando caí. E também
tenho algo no meu sapato.
Ela moveu o pé, tentando colocar o pedregulho em um lugar mais confortável. —
Pelo lado positivo, tenho certeza de que escorreguei em um pedaço de alga, então acho
que isso significa que estamos perto do fim do túnel.
O som das ondas estava ficando mais alto e quando contornaram o seguinte
corredor, com Lainie mancando levemente, um vislumbre de luz apareceu à frente. Luz
fraca, mas comparada com a escuridão sólida dentro do túnel, poderia muito bem ser
o sol do meio-dia.
Os degraus de pedra sob os pés de Lainie ficaram arenosos e depois
desapareceram completamente. O spray de sal bateu em seu rosto e ela parou.
— Oh, não. — Ela disse, seu coração acelerado. — Se a água já está entrando na
caverna... então estamos presos. Até mesmo andar pela baía nesse clima seria suicídio.
— Vou olhar. Espere aqui. — Harrison apertou a mão dela e o observou enquanto
caminhava lentamente em direção à boca da caverna. Era apenas uma silhueta, seus
passos sombras mais escuras na areia molhada.
Ainda não consigo acreditar que isto está acontecendo, pensou Lainie, firmando-
se contra a parede da caverna. A casa, a alucinação do grifo... Deus, eu provavelmente
tenho uma concussão, parecia tão real e Harrison vindo me procurar. Não posso
acreditar que fez isso por mim.
— Lainie! — Harrison estava acenando para ela. Correu até ele, estremecendo
quando o pedaço de cascalho em seu sapato cortou seu tornozelo. Oh, não seja tão
bebê, disse a si mesma. Pense em Harrison, atravessando este túnel sem roupas.
Harrison colocou o braço ao redor dela e apontou para o fundo do penhasco.
Havia uma pequena praia de areia na boca da caverna. Em dias ensolarados, era
um local agradável entre as pedras empilhadas que ficavam no fundo do penhasco. Está
noite, a praia plana era um funil para a maré da tempestade.
Lainie levantou a mão para afastar o mar do rosto, olhando na direção que
Harrison apontava.
— Ali, vê? Há um caminho na rocha.
Lainie enxugou os olhos. Sim, conseguia ver. Um caminho estreito ao lado do
penhasco.
Enquanto observava, uma onda quebrou em parte do caminho, depois voltou ao
mar. — Você não está sugerindo irmos por ali, verdade?
— Eu sei que não parece seguro, mas a maré está baixa agora. — Harrison
explicou com a voz tensa. — Quanto mais esperarmos, mais a maré subirá à caverna.
Não podemos esperar a tempestade passar lá. Você já está com muito frio. Nem está
mais tremendo.
Lainie abriu a boca para protestar, mas era verdade. Fechou a boca novamente.
— Como chegaremos lá?
— Fiquei observando as ondas. Estão em série, começando pequenas e ficando
maiores. Depois que a maior onda cai, ficam pequenas novamente. —Ele colocou os
braços ao redor de Lainie e ela se inclinou para o calor dele. —As ondas menores não
chegam perto do caminho e logo ele fica mais alto. Vamos esperar que a série comece
novamente e a levarei.
— Ok.
— Sério? — Harrison ergueu as sobrancelhas. — Eu esperava que você... bem,
não discutisse, mas pensei que teria que convencê-la.
Lainie envolveu seus braços ao redor de si mesma. — Não. Você está certo. Estou
com frio, molhada e não sabemos quanto tempo a tempestade irá durar. — E há uma
maldita... alguma coisa do outro lado do túnel, embora agora honestamente não tenho
certeza se estava alucinando.
— Tudo bem. — Harrison se inclinou e a beijou, tão rápido que não teve a chance
de beijá-lo de volta, então a levantou em seus braços.
Ele ficou parado por um momento, avaliando as ondas. Lainie se encolheu
quando outra onda enorme caiu na praia, girando ao redor dos tornozelos de Harrison.
Quando a água recuou, ele se lançou para frente, correndo através do fino trecho
de areia até onde as rochas se erguiam. Lainie segurou firme nos ombros dele enquanto
saltava para cima das pedras empilhadas e para o caminho de pedra.
Ela podia sentir seu coração batendo contra o peito enquanto ele corria. Seu
próprio coração estava na garganta. Se isso não funcionasse... sequer conseguia pensar
a respeito.
Se olhasse para frente, tudo que veria era o oceano, esperando para arrastá-la
para longe. Se virasse a cabeça, veria o penhasco que passava pelo seu rosto enquanto
Harrison corria contra as ondas. Fechou os olhos bem apertados.
Pareceu anos depois que o ritmo de Harrison diminuiu. Ele apertou Lainie
suavemente. — Estamos a salvo.
Ela abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi Harrison, olhando para ela. Seus
olhos castanhos estavam quentes e olhando para eles, se sentia segura.
— Vamos levá-la para casa. — Ele murmurou baixinho.
Harrison atravessou a porta da frente da Oficina Mackaby, ignorando o grito de
surpresa de Pol enquanto passava pela sala. Ele tinha algo mais importante para cuidar:
sua companheira, que ainda estava tremendo em seus braços.
Subiu a escada para o apartamento do segundo andar, três degraus de cada vez,
sem parar até chegar ao banheiro. Abaixou Lainie no chão e segurou-a contra o peito
enquanto ligava o chuveiro.
Lainie não se incomodou em tirar a roupa antes de entrar.
— Oh, isso é maravilhoso. — Ela disse, colocando o rosto debaixo da água.
Afastou os cabelos do rosto e olhou para Harrison. Seus olhos negros tinham olheiras,
mas sorria. — Eu não posso acreditar que nós conseguimos sair de lá. Você me salvou,
Harrison.
Lainie segurou a mão dele e puxou-o para o chuveiro com ela. Harrison colocou
os braços ao redor dela. Mesmo no banho quente, estava tremendo.
Ela encostou a testa no peito dele. — Eu não posso acreditar que tudo isso está
realmente acontecendo. — Sussurrou.
O coração de Harrison se apertou. Ele queria poder acreditar que ela queria dizer
isso de um jeito bom... mas não havia como ser possível. Foi insultada, humilhada e
quase morta. Provavelmente estava apenas espantada por estar viva e desesperada
para deixar Hideaway Cove para trás para sempre.
Por enquanto, porém, parecia feliz em seus braços.
Logo ela se afastou. — Deus. O que eu estou fazendo? Vestida sob o chuveiro?
— Ela saiu dos braços de Harrison. — Ajude-me a sair disso, sim?
Harrison obedeceu de bom grado. O casaco de Lainie estava molhado tanto por
dentro como fora, como o dele ficou antes. Por baixo, sua blusa de seda estava
transparente. Harrison teria achado a visão atraente, se não fosse pelo jeito instável
que Lainie estava se movendo.
— Quando você comeu pela última vez? — Ele perguntou, franzindo a testa.
— O que? Ah... — Lainie fez uma careta. — Café da manhã?
— Você... — Harrison começou e mordeu a língua. Você tinha muito em sua
mente hoje, ele pensou, beijando o topo de sua cabeça. — Deixa para lá. Vou arrumar
algo para comer.
Harrison se secou e envolveu a toalha ao redor da cintura. Antes de ir até a
cozinha, parou e olhou para Lainie. Ela estava de pé sob a água, a cabeça inclinada para
trás, os olhos fechados. Segura.
Não, ela não está, pensou. Não está salvo de suas próprias lembranças e dor. E
não estará até que saiba a história completa.
Ele sabia o que precisava fazer.
— Harrison! Que porra está acontecendo?
Pol. Harrison fechou a porta do banheiro atrás de si. Não parecia certo conversar
com Pol enquanto olhava para Lainie.
— Houve uma situação na antiga casa dos Eaves. — Ele disse simplesmente.
— Eu sei! Nós ouvimos o acidente daqui. Parece que metade da casa caiu no mar.
Cristo, não me diga que você e Lainie estavam lá em cima.
— Conseguimos sair.
— Jesus, Harrison. Chega de ato heroico. Que porra você estava fazendo lá em
cima?
— Pol, ouça. — A mente de Harrison estava acelerada. — Preciso que você faça
algo por mim.
— Diga, chefe.
Harrison explicou seu plano. Ele quase podia sentir Pol balançando a cabeça. —
Tem certeza de que sou a pessoa certa para fazer isso? Pessoas como eu, com certeza,
vamos ser honestos, não sou bom com coisa sérias.
— Desculpe, Sparky. Você é o melhor que tenho agora. Boa sorte. —Ele fez uma
pausa. — Fale com Tessa, se puder. Se há mais alguma coisa que ela sabe que poderia
ajudar...
— Ok, chefe.
Harrison esperou até ouvir a porta da frente se fechar no andar de baixo.
Se este é o final. Salve a garota e ganhe o dia. Gostaria que fosse assim tão
simples.

***

Meia hora depois, Lainie estava sentada à mesa da cozinha, envolta no roupão
mais quente de Harrison e com um prato meio comido de queijo grelhado na frente
dela. Harrison mantinha as mãos ocupadas fazendo duas canecas de limão quente e
mel, mas não podia evitar o jeito que seu olhar continuava indo para ela.
Todo seu corpo doía para abraçá-la. Seu grifo estava reclamando. Sua irritação
era tão forte que fazia a pele de Harrison coçar: o que você está esperando? Leve-a para
sua cama. Envolva-a com travesseiros e cobertores e a mantenha aquecida com seu
corpo. Por que ainda estamos aqui na cozinha?
Ele não podia mais adiar.
— Lainie, há algo que preciso dizer. — Harrison fechou os olhos. Bem. Ele
conseguiu. Primeiro passo... sem voltar atrás agora. — Eu queria esperar até que fosse
o momento perfeito para contar, com as palavras certas, o momento certo, mas agora
sei que esse momento nunca chegará e quanto mais adiar, pior as coisas ficarão.
Lainie olhou para ele. Fora da chuva, quente do chuveiro e com uma refeição
quente dentro dela, já não parecia à beira de um colapso. Mas ainda havia uma
cuidadosa cautela em seus olhos quando ela disse baixinho: — As coisas já são muito
ruins, para ser sincera. Mas continue. O que é?
— Tem a ver com o que aconteceu no restaurante de Caro mais cedo. E...
Harrison parou logo antes de dizer: sobre nós. A boca de Lainie se apertou no
momento em que mencionou a reunião. Merda.
— Sabe, eu realmente prefiro não falar sobre isso. — Ela disse baixinho, olhando
para a mesa.
— Eu compreendo. Deus sabe que se estivesse em sua posição, eu me sentiria da
mesma maneira. — Harrison sentou-se em frente a ela. — Mas acho que isso ajudará
você a entender por que a Sra. Sweet e os outros estão se comportando daquele jeito.
E... porque seus avós foram forçados a expulsá-la.
Isso chamou sua atenção. Os olhos de Lainie se levantaram. Ela olhou fixamente
para ele por um momento, como se estivesse tentando encontrar algo em seu olhar.
Finalmente respirou devagar. — Tudo bem. — Disse ela. — Continue. Estou ouvindo.
É isso. Se você fizer isso, estará se preparando para ser expulso da cidade também.
Harrison empurrou os pensamentos traiçoeiros para o lado. Melhor deixar
Hideaway, Cove e ter a chance de ficar com Lainie, do que ficar aqui, sabendo que
participei da mentira que a levou embora.
Harrison empurrou a cadeira para trás da mesa. Não se incomodou em se vestir.
Apesar de colocar Lainie em seu roupão mais grosso e empurrar o máximo de
cobertores que encontrou, o próprio Harrison ainda usava apenas uma toalha ao redor
da cintura. Isso seria mais fácil.
— A única maneira de você acreditar é se mostrar. — Ele disse e alcançou
profundamente dentro de si por sua forma de grifo.
Calor correu através dele, um fogo que começou em seu coração e explodiu.
Encheu seu peito, seus membros e então houve aquele momento de parar o coração
onde, apenas por um instante, sentia como se o fogo explodisse por ele. Em vez disso,
seu corpo mudou para se encaixar.
Seus ossos rangeram, mudando de forma e tamanho. Garras se esticaram a partir
do final de seus dedos e ele caiu de quatro. Dois conjuntos de garras afiadas e duas
patas pesadas. Pelos grossos e dourados cobriam a parte de trás de seu corpo, fazendo
a transição para penas elegantes do peito apenas na frente.
A única parte do corpo que não mudava eram os olhos dele. Ficavam da mesma
cor avelã brilhante como em sua forma humana.
Harrison levou um momento para se concentrar. As coisas ficavam sempre um
pouco nebulosas por alguns segundos depois que mudava. Quando sua visão clareou,
imediatamente olhou ao redor procurando por Lainie.
Ela estava de pé na metade da cadeira, congelada no meio da ação. Seus olhos
estavam arregalados, mas não havia vestígio do horror que Harrison imaginou que
veria.
Estou sonhando?
Lainie sentiu-se tonta. Por um momento, se perguntou se ainda estava na colina
nas ruínas da casa de seus avós, delirando com o frio.
O que estava vendo não podia ser real. Harrison se levantou na frente dela e tão
casualmente como se estivesse abotoando uma camisa, transformou-se em um imenso
grifo.
Igual ao que pensei ter visto na casa. Acho que ainda estou alucinando.
Mas não estava. Aquela corrida aterrorizante pelo caminho ao lado do penhasco,
a sensação de calor penetrando em seu corpo sob o banho quente, o queijo grelhado
que ainda podia sentir em sua boca, não era sua imaginação.
O que deixava apenas uma explicação.
— Isso é real? — Perguntou.
O grifo ocupava metade da cozinha. Ele olhou para ela com os olhos castanhos
de Harrison e assentiu.
— Oh, meu Deus. — Lainie cambaleou, apoiando-se contra a mesa. Nem
percebeu que estava de pé. Caminhou ao redor da mesa, com uma mão para equilibrar,
até que ficou de pé na frente do grifo. Na frente de Harrison. Na frente de Harrison, o
grifo.
Ela estendeu a mão e parou com os dedos a centímetros do bico do grifo. Do bico
de Harrison.
Alguma parte pré-histórica de seu cérebro estava gritando que este era um
animal perigoso. Que deveria correr, agora, o mais rápido que pudesse.
Mas uma parte maior dela, uma parte muito maior, foi pega em uma sensação
de maravilha vertiginosa. O que acabou de ver era incrível. E quanto mais olhava para
o grifo, mais o podia ver Harrison nele. O jeito como mantinha a cabeça no alto. Sua
postura, mesmo com quatro patas, lembrava estranhamente como Harrison ficava de
pé.
Como era o olhar atento em seus olhos, enquanto esperava que ela reagisse.
— Isso é loucura. — Disse ela. — Isso é apenas... oh. — Ela ficou de joelhos. O
grifo baixou a cabeça para manter-se nivelado. Assim como Harrison, mantendo um olho
em mim, ela pensou distraidamente.
Uma nova e horripilante realização a atingiu. — Foi por isso que precisei que
deixar Hideaway Cove, não é? São todos... assim?
Harrison assentiu.
Tudo fazia sentido agora. As brigas de seus pais, que sempre paravam no
momento em que ela entrava na sala, como se houvesse mais do que apenas seus
problemas conjugais no ar. A determinação do Srs. Sweet de que Lainie não se mudasse
para Hideaway Cove. Até os estranhos e curiosos olhares das outras pessoas que
moravam aqui. Se todos estavam guardando um segredo assim...
Então não é de admirar que todos quisessem se livrar de mim, ela pensou. Até
meus avós. Até meu pai. Porque eu não pertenço aqui.
— Eu sempre pensei que meus pais se separaram por minha causa. — Disse ela,
com a voz hesitante. — Por causa de algo que fiz. Mas não foi isso, foi? Foi por causa do
que sou.
Seu coração estava pesado e seu peito ficou tão apertado que era difícil respirar.
Houve aquele ruído de estalo na frente dela novamente, o que a lembrava da casa e
então os braços de Harrison estavam ao seu redor. Desmoronou contra ele, deixando-
o segurá-la contra seu peito.
— Por que eles não me disseram? — Ela gritou. — Oh merda. Eu não posso... a
propriedade, o dinheiro... o que farei?
Os braços de Harrison se apertaram ao redor dela, quentes e seguros. —Eu sinto
muito. — Ele disse, sua própria voz rouca.
Lainie respirou fundo. De alguma forma, estar nos braços de Harrison fazia seu
coração doer menos. — Então? Todos nesta cidade podem se transformar em um grifo?
— Não. Eu sou o único grifo. —Harrison suspirou. — Não deveria contar isso, mas
não posso mantê-la no escuro por mais tempo. E não irei. Nós somos chamados de
shifters. Cada um de nós tem um lado animal, uma criatura na qual podemos nos
transformar. Como um grifo. Um pássaro ou um peixe...
Lainie ouvia sua explicação com olhos arregalados. Mas não pode evitar
interromper. — Um peixe? E se eles mudassem quando não estão perto da água?
Harrison sorriu. — Bem, nós somos uma cidade costeira, não somos? De qualquer
forma, os shifters podem controlar quando se transformam. Não é como... oh, as
histórias sobre lobisomens, onde a lua cheia os força a se transformar.
— Não posso acreditar que estou perguntando sobre os detalhes técnicos de
como as pessoas lidam com a transformação em outros animais. — Resmungou Lainie.
Ela encostou a cabeça no ombro de Harrison. — Como você sabe se é um shifter?
— Bem, para mim, eu cresci assim. Meus pais eram ambos grifos, então eles me
ensinaram tudo a respeito. Podia mudar quando eu era bebê, mas não é assim para
todos. O que é uma coisa boa, eu acho. Não posso imaginar que qualquer pai humano
queira olhar para o berço e ver que seu recém-nascido se transformou em uma
doninha. — Ele fez uma pausa. — Não é muito divertido para um pai, não importa a
idade do filho, realmente. Alguns dos meus amigos aqui são assim, shifters cujos pais
eram humanos.
— Quando foi que aconteceu pela primeira vez? — Perguntou Lainie. Sua mente
estava acelerada enquanto reunia lembranças da infância com essa nova informação.
— Quando descobriram que eram shifters?
A mão de Harrison parou no cabelo dela. Ela se perguntou se ele adivinharia por
que estava perguntando. — Pelo que aprendi com as pessoas daqui, é normal que os
shifters que não nascem de sua própria espécie mudem quando têm dez ou onze anos.
Crianças shifter de famílias shifter tendem a começar a mudar desde o berço, mas
nunca ouvi falar de um shifter que não tenha encontrado o animal antes da puberdade.
— Isso explica muito. — Lainie engoliu um nó na garganta.
— Eu pensei que poderia. — Disse Harrison hesitante. Ela se afastou do colo dele
e o olhou. Ele fez uma careta e explicou. — Tessa Sweet veio antes e me contou o que
aconteceu com sua família. Ela disse que sua avó e o restante do Conselho da cidade
fizeram seus avós a mandarem embora depois que ficou claro que nunca iria mudar.
Lainie soltou um suspiro lento. — Eles os forçaram a fazer isso? Eu pensei…
— Que a rejeitaram? — Harrison abaixou a cabeça para encostar-se à dela. — Eu
não conheço toda a história e não posso dizer o que seus avós estavam pensando. Mas
sei que os Sweet estavam por trás da decisão.
— Pensei que eles me odiassem. — Lainie sussurrou. — Todo esse tempo…
Ela parou. Nunca contou a ninguém sobre isso, nem mesmo seus amigos mais
próximos.
Mas Harrison era diferente. Ele salvou sua vida. E confiou nela com seu segredo.
— Eu tinha onze anos. — Disse ela finalmente. — Mamãe e papai costumavam
me levar para visitar meus avós todos os fins de semana, quando eu era mais jovem,
mas naquela última viagem... algo estava diferente. Acho que era mais velha, então
estava começando a querer fazer mais nas minhas férias do que apenas ficar na casa.
Queria explorar mais a cidade. Mas nunca me deixavam ir sozinha. Até mesmo tomar
sorvete era sempre uma grande missão. — Ela suspirou. — O que faz mais sentido
agora. Acho que tinham que avisar a todos na cidade que um ser humano estava vindo.
Harrison assentiu. — Não temos muitos visitantes humanos. Todo mundo precisa
ter cuidado quando há visitas.
— Como eu, agora? — Lainie fez uma careta. — Perguntei-me por que todos
pareciam tão curiosos na noite passada. Acho que teria sido mais fácil para vocês se eu
tivesse jantado no meu quarto no B&B.
— Estou feliz que não o fez. — Harrison estendeu a mão e segurou a dela. Ele a
virou, acariciando a palma da mão com o polegar calejado e ela de repente ficou muito
consciente de que ele não estava usando roupas. Um arrepio subiu por seu braço.
— Eu-hum-oh. — Ela murmurou. Fico feliz também, ela pensou. Não posso
imaginar passar por tudo isso sem alguém do meu lado. — Por que você está me
contando tudo isso?
Harrison sorriu triste. — Porque você merece saber.
— Eu queria que você não fosse a única pessoa a pensar assim. — Ela suspirou.
— As coisas teriam sido muito mais fáceis se eu soubesse anos atrás... bem, não há nada
que possa fazer agora.
Ela olhou para Harrison. Ele ainda estava segurando a mão dela. Seu toque
aqueceu mais que apenas sua pele, apenas estar com ele a fazia se sentir mais calma,
mais no controle de si mesma.
Ela geralmente lidava com a infelicidade se distanciando das pessoas, afastando-
as, mas com Harrison, se sentia... segura. Era isso. Segura para mostrar suas emoções.
Ser ela mesma.
Estendeu a mão e abriu os dedos sobre o peito dele, sentindo o batimento de seu
coração sob sua pele quente. Harrison revelou o segredo da cidade para ela.
Demonstrou um nível de confiança como ninguém mais fez em sua vida.
Havia algo que precisava explicar também.
— Você tem sido incrível através de tudo isso. — Ela começou, sua voz hesitante.
— Saber porque tive que deixar Hideaway Cove quando era criança… bem, fico feliz por
conhecer a história por trás disso, agora. Mas não resolve tudo. — Ela apontou a cabeça
para a mesa da cozinha. — Podemos nos sentar lá enquanto eu explico? É complicado.
Harrison pegou a toalha enquanto se levantava. Lainie sorriu. Ele parecia
confortável em ficar nu e ainda mais cedo, quando estavam caminhando pelo túnel,
mas a conversa complicada exigia alguma cobertura, aparentemente.
Lainie pegou rapidamente os restos do queijo grelhado e colocou os cotovelos na
mesa. — Tudo bem. — Disse, em seguida, fez uma careta. —Você já está enrolando.
Pare com isso.
Lainie gemeu. — É melhor apenas dizer... — Ela esfregou o rosto. —Quando eu
tinha dezoito anos, minha avó entrou em tratamento. Meu avô morreu alguns anos
antes, eu acho. Bem, a casa de repouso assistida para qual foi precisava de alguém para
as mensalidades. Ela precisava de cuidados especializados, por ser um shifter, eu acho.
— Encolheu os ombros com força, olhando para a mesa. — Não a via há seis ou sete
anos nessa fase. O local de atendimento enviou os papéis para o meu pai, mas ele estava
muito longe. Então os assinei com meu próprio nome.
Harrison fez um pequeno ruído de compreensão. — E agora que sua avó está
morta...
— ... as dívidas dela voltaram para casa para se alojar comigo. — Lainie franziu a
testa e esfregou o rosto. —Mamãe parecia pensar que a família de papai fosse
realmente rica, mas não há sinal disso. Minha avó não tinha nada além da casa e tudo
nela, que para ser honesta não era muito. Apenas móveis antigos e coisas de cozinha.
Não há contas bancárias com milhões escondidos.
—Porra. — Harrison murmurou. — É por isso que você precisa vender a casa.
Lainie assentiu com tristeza. — O Sr. Sweet ofereceu setenta e cinco mil dólares
para comprar a casa. Bem, isso não irá cobrir. Subdividir a seção custará, mas os
retornos de vender os pedaços separados de terra... pode funcionar. É a minha única
opção neste momento. — Ela olhou para as mãos. —Não, isso é mentira. Minha outra
opção é pagar a dívida, com meus empréstimos estudantis.
— Ninguém poderia pedir-lhe para fazer isso. — Harrison parecia certo.
— Você tem certeza sobre isso? E esta tarde? Não consigo ver a Sra. Sweet
valorizando meu futuro ao manter Hideaway Cove a salvo dos recém-chegados.
— Dorothy Sweet não é responsável pelo que acontece nesta cidade.
— Mesmo? Porque com certeza parece ser de onde estou sentada. — Disse
Lainie. Ela ergueu as mãos. — Desculpe. Continuo gritando com você e isso não é justo.
Nada disso é culpa sua. Tem sido nada além de gentil comigo desde que cheguei.
Ela timidamente olhou para cima e encontrou os olhos de Harrison. Ele sorriu de
volta.
— Eu não podia fazer outra coisa, Lainie. Não aguento vê-la sofrer enquanto há
algo que posso fazer para ajudar. É... uma coisa de shifter.
O estômago de Lainie revirou. — O que você quer dizer?
Harrison lambeu os lábios. Ele parece nervoso? Lainie se perguntou, observando
as linhas entre as sobrancelhas e a boca.
— Eu faria qualquer coisa por você, Lainie. Odeio dizer que estou feliz por ter
vindo aqui, porque estar aqui foi tão doloroso, mas conhecê-la foi a melhor coisa que
já aconteceu comigo.
— Eu não entendo. — Lainie estendeu a mão para ele que a segurou. —Apenas
nos conhecemos ontem. Eu sei que nós, bem, nós levamos as coisas muito rápido, mas...
— Ela parou. Harrison parecia ainda mais nervoso agora. Ele era tão grande e forte,
tinha tantos amigos aqui, o que poderia deixá-lo nervoso?
Ele limpou a garganta. — Cada shifter tem uma pessoa com quem eles deveriam
estar. Sua alma gêmea. Alguns shifters passam a vida inteira sem conhecer o parceiro,
mas quando os conhece, sabe imediatamente. Que acabou de conhecer a única pessoa
no mundo que fará sua vida completa. — Ele se inclinou para frente. — Lainie, você é
essa pessoa para mim. No momento em que a conheci, eu soube. Era como o sol saindo
de trás de uma nuvem na qual estava vivendo minha vida. Você é minha companheira.
Por um momento, Lainie não reagiu. Ela sentiu como se estivesse flutuando fora
de si mesma. As palavras de Harrison faziam sentido individualmente, mas colocadas
juntas...
Era uma loucura. Impossível. Não fazia o menor sentido.
Lainie olhou nos olhos de Harrison. O ouro em sua íris cor de avelã brilhou quando
olhou para eles, lembrando-a de sua forma de grifo.
Impossível? Homens se transformando em criaturas míticas deveriam ser
impossíveis, mas viu isso acontecer. O mundo era mais complicado do que jamais
imaginou ser possível. Quem era ela para dizer o que era possível ou não?
— Se isso for verdade. — Ela disse com cuidado, com medo de colocar em
palavras seus pensamentos e então tudo ao seu redor acabar com um sonho. — Se isso
for verdade...
— É verdade. — Insistiu Harrison. — Eu sei que é difícil de acreditar e eu não
espero nada de você, apenas porque é minha companheira. Parece-me que as pessoas
já tomaram muitas decisões sobre sua vida sem sua opinião. Eu apenas quero que
saiba... que isso significa que ficarei do seu lado. Aconteça o que acontecer.
Harrison acordou pelo segundo dia consecutivo, para o sol que entrava pela
janela e batia em seu rosto. Mas desta vez não estava sozinho.
Ele rolou e ficou no cotovelo, olhando para Lainie. Ela dormia enrolada ao seu
lado, mechas de cabelo loiro espalhados pelo travesseiro. Uma de suas mãos estava
descansando ao lado do rosto. A outra estava estendida para ele.
Ele acariciou sua mão estendida suavemente, não querendo acordá-la. Parecia
tão tranquila e fez o coração de seu grifo se apertar ao vê-la dormindo em sua cama.
Este lugar era a coisa mais próxima que tinha de um ninho para levar sua companheira...
e ali estava ela.
A tempestade ainda estava furiosa quando foram para a cama na noite passada,
ambos exaustos demais por terem escapado da casa em colapso e as revelações sobre
o passado de Hideaway Cove e Lainie, para fazer qualquer coisa além de se abraçarem.
A respiração de Lainie mudou e Harrison parou de acariciar a mão dela, com
medo de tê-la perturbado. Mas já estava acordando, seus olhos cintilando sob as
pálpebras, os dedos flexionando enquanto se espreguiçava.
— Bom dia, dorminhoca. — Harrison sussurrou enquanto os olhos de Lainie se
abriram.
Ela franziu o cenho para ele, os olhos ainda embaçados pelo sono. —Você é o
dorminhoco. — Ela murmurou rabugenta. — Eu acordei horas atrás e você... — Ela se
interrompeu e bocejou. — … você estava em um sono profundo. Acabei fechando meus
olhos novamente para esperar que acordasse.
— Hmm? Apenas fechou os olhos? Quantas horas atrás? — Harrison se inclinou
sobre Lainie, traçando o queixo com o dedo. Seus lábios eram carnudos e rosados,
implorando para serem beijados. Então ele o fez.
Lainie se esticou sob ele, contorcendo-se para pressionar o corpo contra as
camadas de cobertores. Ele estava nu. Então ela também. A única coisa que os separava
era o casulo de edredons no qual se envolveu antes de dormir.
Um ninho para nossa companheira, seu grifo ronronou. Um ninho do qual ela
agora estava tentando fugir.
Harrison continuou beijando-a, fingindo não perceber suas tentativas
desajeitadas de sair de seus cobertores. Seus lábios eram macios e quentes, ela o beijou
de volta como se realmente estivesse há horas esperando que acordasse.
— Mmf. — Ela murmurou rabugenta. — Esses malditos cobertores...
Rindo, Harrison ajudou-a a sair deles. Não pode evitar o gemido de apreciação
que escapou quando o corpo de Lainie saiu da pilha de cobertores. Sua pele macia,
cremosa e as curvas generosas fizeram seu coração disparar. Beijá-la? Ele queria mais
do que apenas beijá-la. Queria tudo dela.
— Oh... bom dia. — Disse Lainie com uma risada maliciosa, olhando para baixo
entre suas pernas. Harrison sorriu. Ele já estava duro e a reação de Lainie apenas o
excitou mais.
Ele acariciou sua bochecha com as costas de uma mão, depois desceu pelo
pescoço e ombro dela. Lainie estremeceu quando acariciou seu seio e sentiu o mamilo
endurecer sob a palma da mão.
Lainie gemeu e puxou o último dos cobertores para longe. Moveu-se contra ele
e cada toque de seu corpo fazia a pele de Harrison se arrepiar. Beijou seus seios,
movendo as mãos até a cintura, os quadris, as coxas grossas e...
Encorajado pelo modo como Lainie se contorcia contra ele, Harrison colocou a
mão entre as pernas dela. Já estava molhada e ofegou quando a acariciou.
— Sim... — Ela sussurrou e ele ficou sobre ela. Os olhos negros de Lainie
brilharam, com as pálpebras pesadas de necessidade.
— Não sabe o quanto isso significa para mim, tê-la aqui. — Harrison encontrou-
se sussurrando. —Você significa tudo para mim.
Os lábios de Lainie se separaram, vermelhos e molhados. — Harrison. Ela
murmurou. — Meu Harrison. Meu protetor.
Ele não conseguiu mais segurar. Não depois disso. Lainie abriu as pernas sob ele
e se posicionou em sua entrada, observando seus cílios tremularem quando ela o sentiu
pressionar.
Ele empurrou nela em um movimento suave. Um gemido profundo escapou de
sua garganta por quão quente e molhada estava. Com que facilidade a preenchia e
como era perfeito.
Lainie fechou os olhos quando ele entrou nela. Agora os abriu e segurou o rosto
de Harrison entre as mãos. — Eu nunca quis tanto alguém quanto quero você. — Ela
admitiu. Seu rosto inteiro estava vermelho, seus olhos negros brilhando. — Isso é... é
parte do vínculo de companheiros? Tudo ser tão certo?
Harrison moveu-se contra ela, fazendo-a arquear as costas com prazer. —Sim.
Porque está certo. É perfeito. Você é perfeita. — Disse ele, aumentando sua velocidade.
— Minha Lainie. Minha companheira.
Todo o corpo de Lainie ficou tenso e ela gritou, enterrando as unhas nas costas
dele enquanto gozava. Harrison a acompanhou através do orgasmo o máximo que pode
antes que a visão de seu prazer se tornasse demais para ele.
Ele gemeu, enterrando o rosto no ombro de Lainie quando gozou dentro dela.
Prendeu a respiração, ainda acariciando seu pescoço e então começou a se afastar.
Lainie segurou-o, mantendo-o sobre ela. Por um momento, eles se deitaram em
silêncio, o único ruído era o da respiração misturada e os batimentos cardíacos de
Harrison soando em seus ouvidos. Seu batimento cardíaco diminuiu, a respiração
acompanhando o ritmo de Lainie.
— Eu gostaria que pudéssemos ficar aqui para sempre. — Disse ela calmamente.
— Mas não podemos, verdade? Preciso descobrir o que farei. De alguma forma.
Harrison descansou sua testa contra a dela. — Iremos descobrir como. Juntos.
Lembre-se, estou do seu lado.
Lainie sorriu para ele. — Eu me lembro.

***
Harrison fez ovos mexidos no café da manhã, temperando-os com ervas frescas
e servindo-os ao lado de um pão crocante de Pol, que pegou na despensa compartilhada
do térreo. Sua cozinha não se estendia muito além do queijo grelhado. Até mesmo
pegou o limão e o mel para as bebidas na noite anterior de Pol.
Preciso melhorar minha despensa agora que Lainie está aqui, ele pensou,
deslizando os ovos em dois pratos… e ir ao supermercado antes que Pol perceba seus
suprimentos esgotados, acrescentou ele.
— Isso cheira delicioso. — Disse Lainie, vindo do chuveiro. Ela abotoava a blusa e
sentou-se, deixando cair os sapatos por baixo da mesa. — Mmm.
— Eu sou melhor com um martelo e pregos do que na cozinha, mas posso fazer
algumas coisas. — Disse Harrison, sorrindo enquanto colocava o prato de Lainie na
frente dela. — Refeições simples e saudáveis.
— Depois da tempestade de ontem, refeições simples e saudáveis soam
perfeitas. — Seus olhos se arregalaram quando Harrison colocou uma xícara de café ao
lado do prato. — E você acabou de deixar isso mais perfeito ainda.
Harrison conversou com Arlo e Pol enquanto eles comiam. — Há muito dano da
tempestade?
— Não muito. Algumas janelas quebradas por galhos caindo. A antiga casa dos
Eaves se foi. — A voz telepática de Arlo era indignada. — Pol disse que você estava lá.
— Lainie estava em apuros. Ei, Pol como foi o trabalho da noite passada?
Pol deu um gemido telepático. — Eu tive que barganhar as luzes de Natal este
ano... mas todo mundo está de acordo. Estão dispostos a ouvir, pelo menos.
Harrison colocou ovo em sua boca, lutando para manter seus sentimentos longe
de seu rosto. Ele não queria que Lainie perguntasse o que estava acontecendo antes
que tivesse todos os detalhes resolvidos. Não queria dar esperanças sem motivo.
Harrison podia sentir a vergonha na voz de Pol quando falou novamente. — Olha
chefe... essa coisa toda está causando muitos sentimentos nas pessoas, nem todos bons.
Faça o que precisa ser feito, Harrison. Estou do seu lado, aconteça o que acontecer.
Um momento depois, Arlo entrou na conversa. — Eu também.
— Obrigado, pessoal. — Harrison não sabia mais o que dizer. Não sabia como
seria o dia de hoje. Nenhum deles sabia e ainda assim estavam dispostos a apoiá-lo. E
não por causa de qualquer vínculo de parceiro. Porque eram seus amigos e confiavam
em seu julgamento.
Todos eram estranhos de um tipo ou outro, aqui em Hideaway Cove. Nenhum
deles nasceu ali e alguns se misturaram melhor na comunidade do que outros. Pol, com
sua simpatia casual e talentos especiais, se acomodou bem em Hideaway Cove poucas
semanas depois de chegar. Harrison sabia que seria capaz de encantar seu caminho de
volta para seus livros, mesmo que fosse expulso com Harrison e Lainie depois do
julgamento da cidade.
Arlo estava arriscando mais indo contra os Sweet e o restante da cidade. Era um
solitário e apenas tinha alguns amigos de verdade em Hideaway Cove. Quantos
decidiriam que ele não valia a pena se causasse problemas?
Harrison piscou e murmurou. — Merda. — Sua visão embaçou. Tentou afastar as
lágrimas, mas era tarde demais. Lainie estava olhando para ele, seus olhos escuros
cheios de preocupação.
— O que está errado?
— Não é nada. Eu estava apenas... — Harrison acenou com o garfo e fez uma
pausa. — Ah. Eu estava apenas, uh, conversando com os rapazes, usando... meus
poderes telepáticos shifter...
— Seu o que? — Lainie deixou cair os talheres e cobriu os olhos. — Você sabe o
que, tudo bem. Acima de tudo, a telepatia não parece tão estranha. O que seus amigos
estavam dizendo?
— Pol e Arlo. Não sei se você conheceu Pol, alto, loiro? — Lainie balançou a
cabeça. — Bem, irá conhecê-lo hoje, de qualquer maneira. Arlo você conheceu ontem
de manhã, claro. E... na noite anterior. Meu... cachorro.
— O cachorro? — Gemeu Lainie, depois riu. — Oh pobre rapaz. E precisou fingir
ser um cachorro de verdade, porque você não estava esperando que eu estivesse no
restaurante... caramba.
— Sim. Ele não vai me deixar esquecer por um longo tempo. — Harrison riu,
depois ficou sério. — Eles disseram que estão conosco, aconteça o que acontecer hoje.
Lainie visivelmente estremeceu. — Isso é muito legal da parte deles. — Ela disse
baixinho. — Mas eu ainda não sei o que farei. Não sei se há algo que possa fazer, exceto
tentar com que todos entendam o meu lado da história.
Harrison alcançou a mesa e segurou a mão dela. — Faremos isso juntos. — Ele
assegurou-lhe.
Ela suspirou e calçou os sapatos. — Bem, não há como adiar isso. — Disse ela. Ela
sorriu para Harrison, mas mesmo do outro lado da mesa ele poderia dizer que estava
hesitando.
Ele observou enquanto ela puxava uma bota e depois a outra.
— Ugh, ainda estão molhadas... ai! — Ela chutou a bota direita e agarrou seu pé.
Harrison aproximou e se ajoelhou ao lado da cadeira. — Merda, eu esqueci. Havia uma
pedra lá ontem, cortando meu pé. Esqueci-me de limpar. É realmente afiado.
Harrison pegou o sapato e virou-o. Um pequeno objeto coberto de sujeira caiu.
Ele franziu a testa. Parte da sujeira foi removida pela meia de Lainie, mas o que havia
embaixo não parecia pedra. Brilhava.
Harrison esfregou o objeto contra a perna da calça dela. — Isto não é pedra. —
Disse ele, mostrando. —Veja.
Ele levantou para ela. Os olhos de Lainie se arregalaram. — Um anel! — Ela
ofegou. — Mas isso parece...
— A aliança de seus avós. — Harrison terminou sua frase.
O anel brilhava sob a luz da janela da cozinha. Tinha uma fina faixa dourada e com
vários diamantes do tamanho da unha de Harrison. Pedras menores estavam de cada
lado, captando a luz e enviando-a de volta.
— Mas onde-oh, meu Deus. — Lainie respirou. — Quando caí, tirei algo daquela
caverna, lembra? O anel ficou alojado no meu sapato depois disso. — Ela encontrou os
olhos de Harrison. — Harrison… quanto valeria um anel desses? E se o restante do
tesouro dos Eaves estiver lá também? E se realmente existe?
Seus olhos cheios de esperança. Harrison deslizou o anel na mão dela.
— Pedi a Pol para reunir meus amigos para conversarmos com eles esta manhã.
Descobrir se há alguma forma de ficarmos juntos e resolver seu problema de dívida. —
Disse ele. — Mas tem outra coisa na qual eles podem nos ajudar.
— Vamos. — Disse ele e puxou-a para seus pés.
Lainie afundou os dedos na areia. Ela estava segurando o anel de sua avó desde
que Harrison lhe entregou. Estava quente na mão dela.
Isso é só porque você está segurando por tanto tempo, pensou. Mas ainda parecia
algo mais. Tantas coisas mágicas foram reveladas nas últimas vinte e quatro horas.
Quem pode dizer que não foi por acaso que este anel caiu na minha bota?
Ruborizou e olhou em volta. Harrison assegurou a ela que a telepatia dos shifters
não significava que podiam ler sua mente, mas não queria que ninguém a ouvisse
pensando que o espírito de sua avó poderia ter enviado o anel para ela.
De que outra forma podia explicar o que estava acontecendo?
Estava de pé na mesma praia da qual ela e Harrison fugiram no dia anterior.
Agora, na maré baixa e apenas com a brisa mais leve saindo do mar, era idílico. O sol
brilhava nas pequenas ondas, cintilando quando quebraram na pequena praia e nas
rochas de cada lado. A areia foi aquecida pelo sol. Até a caverna parecia acolhedora.
Lainie mal podia acreditar que aquele era o mesmo lugar onde esteve tremendo,
tentando decidir se arriscaria correr sobre o caminho do penhasco e ser arrastada ou
se esconder na caverna e sucumbir à hipotermia.
Ela e Harrison andaram pelo caminho apenas meia hora atrás. Era lindo. Em
nenhum momento ficou aterrorizada com o fato de que uma onda a pegaria e a
golpearia nas pedras.
Observaram a caverna primeiro. Não encontraram nada, nem mesmo os restos
de qualquer caixa que Lainie tivesse arrancado de sua prateleira secreta. As ondas
levaram tudo.
Lainie estava pronta para perder a esperança, mas Harrison fez uma pausa, um
olhar distante no rosto. E sorriu.
Ele disse a ela que Jools, a garota que foi sua garçonete na primeira noite que
passou em Hideaway Cove, encontrou alguma coisa. Ela estava voando... oh mencionou
que ela era uma gaivota? E viu algo brilhando na água. Um colar.
Agora, menos de uma hora depois, a água estava cheia de animais. Não, não
animais - shifters. Tentou contá-los através das ondas, mas não conseguiu. Sabia que
havia um shifter leão-marinho em algum lugar lá fora e Jools com seus irmãos e irmãs
estavam alternativamente voando acima da água e mergulhando nela. Tinha certeza de
que havia uma arraia na equipe também. Uma arraia! Ela nunca viu um desses antes, a
não ser em Procurando Nemo.
E lá estava Harrison. Ela pensou que ele fosse se juntar às gaivotas no céu e o fez,
então como eles, mergulhou sob as ondas.
Por que você está surpresa? Ela perguntou a si mesma. Um grifo que é parte
águia, parte gato? Ambas as espécies entram na água às vezes. Bem, algumas espécies
de águia, pelo menos. E alguns gatos.
Além disso. Até ontem, você não sabia que existiam grifos. Agora que sabe, por
que alguma coisa sobre eles é surpreendente?
Uma gaivota de listras pretas desceu do céu e aterrissou ao lado de Lainie,
transformando-se em uma jovem mulher.
— Jools! — Exclamou Lainie. — Eu-oh, você está nua. — Ela ruborizou e cobriu
os olhos.
— Ei, não se preocupe com isso. — Disse Jools alegremente. — Harrison me
enviou com uma mensagem. Ele disse que encontraram algo!
Esperança encheu o peito de Lainie. — Ele disse o que era?
— Diz que... — Os olhos de Jools ficaram desfocados, como se ela estivesse
ouvindo algo distante. — Ele disse que é a caixa ou a maior parte. Talvez. Está trazendo-
a agora.
Lainie ficou de olhos arregalados ao olhar para água. Uma forma escura se
formou sob as ondas, crescendo enquanto observava. Por fim, rompeu as ondas.
Harrison estava em sua forma de grifo. A água salgada separava as penas de sua
cabeça e das patas dianteiras e logo depois as asas se abriam sobre as ondas. Seus olhos
eram mais dourados que avelã, cheio de orgulho.
Segurava um pequeno baú de madeira com uma enorme garra de latão.
— Harrison! — Lainie gritou, correndo pela praia em direção a ele. Seus pés
afundaram na areia, diminuindo sua velocidade. Quando chegou a Harrison, ele se
transformou e a abraçou.
— Lainie. — Ele disse em seu cabelo, pingando água salgada sobre ela. — Eu não
olhei ainda. E está quebrado. Não quero que você tenha esperanças...
— É tarde demais para isso. — Lainie pegou o baú enquanto ele entregava a ela.
Era mais pesado do que esperava. Por favor, que esteja cheio, e não de água, ela
implorou silenciosamente.
Cambaleou até a areia seca e caiu de joelhos. Harrison correu pela praia até onde
estavam suas roupas, junto com as roupas do restante do grupo de busca e vestiu uma
calça. Então se juntou a ela com a mão em suas costas. Ela olhou para ele. — Pronto?
Ele sorriu de volta. — Pronto.
O baú tinha uma pesada fechadura. A fechadura estava intacta, mas a madeira
estava quase podre. Em um canto, estava completamente podre.
— Deve ser de onde o anel caiu. — Disse Lainie.
— E o colar que Jools encontrou. — Acrescentou Harrison.
— Bem, não acho que há muito sentido em chamar um serralheiro. — Brincou
Lainie. Ela traçou o desenho na face da fechadura. — Espere um minuto…
Ela mexeu no bolso e tirou as chaves. Lá estava: a pequena chave de prata que
estava junto com o testamento de sua avó, de acordo com o advogado que a entregou
a Lainie. Queria saber para o que era. O testamento não mencionou nada.
Lainie inseriu a chave na fechadura e prendeu a respiração quando a torceu.
Clique.
— Oh, meu Deus... — Lainie respirou fundo quando abriu a tampa do baú.
A boca de Lainie ficou aberta. O velho baú de madeira tinha um tesouro
escondido. Não apenas um tesouro: as lendárias joias dos Eaves.
Lainie vasculhou bolsas e estojos de veludo podres, retirando punhados
brilhantes de pedras preciosas. Algumas foram colocadas em colares, brincos e até uma
tiara, mas muitas eram apenas pedras soltas: diamantes transparentes, safiras,
esmeraldas e rubis.
O braço de Harrison se apertou ao redor dela. Olhou para ele, sem palavras.
— Isso é incrível. — Ela disse por fim.
— É seu.
— Sim, mas... — Lainie balançou a cabeça. — Vovó mencionou joias, mas eu
nunca pensei... isso é muito mais do que em qualquer um dos registros encontrados
pelos advogados. Algumas reconheço do retrato, mas a maioria...
Harrison riu. — Gansos.
—O que?
Ele riu e beijou-a. — Gansos. — Ele disse novamente. — Não conheci seus avós,
mas Tessa disse que eram gansos. Colecionadores de coisas brilhantes.
Lainie olhou para ele. — Mesmo? Eu não tinha ideia... — Ela passou as mãos pelas
joias brilhantes novamente. — Alguém da cidade esvaziou a casa dos meus avós depois
que minha avó entrou em tratamento e guardou tudo. As joias nunca foram
encontradas. E aquele armário estava na frente da passagem para a praia, mas não me
lembro de estar lá quando era criança. — Ela franziu a testa. —Eu me pergunto…
— O que está acontecendo aqui?
Lainie sentiu os braços de Harrison se apertar ao redor dela enquanto a voz da
Sra. Sweet cortava o ar. Lainie franziu a testa.
Eu me pergunto se minha avó queria manter as joias a salvo de alguém em
particular.
A velha estava andando ao longo do caminho do penhasco, parecendo
completamente deslocada em seu casaquinho e pérolas. Seu marido a seguia e atrás
dele estava alguns rostos que Lainie reconheceu da reunião surpresa.
— Eles sempre andam como um crocodilo atrás dela? — Lainie murmurou para
Harrison. Ele riu, mas não se moveu de onde estava ajoelhado protetoramente ao lado
dela.
Lainie ficou feliz. Estava com raiva da Sra. Sweet pela maneira como a tratou, mas
a raiva por si não a faria passar por isso. Precisava de apoio também. O conhecimento
de que alguém estava do lado dela.
Agarrou a mão de Harrison e apertou-a quando a Sra. Sweet se aproximou deles.
Precisou apertar a outra mão no colo para se impedir de guardar as joias para mantê-
las longe da visão da velha. São suas, ela lembrou a si mesma. Não há nada que ela
possa fazer para tirá-las de você. Mesmo que já tenha tirado muito.
E quem são seus amigos, afinal? Lainie olhou para trás da Sra. Sweet, pela
primeira vez dando uma boa olhada nos homens e mulheres que estavam atrás dela
como patinhos.
Havia o Sr. Sweet, claro, de alguma forma parecendo dormir, mesmo quando
estava de pé. Duas mulheres mais velhas, uma magra e outra gordinha, com casacos de
lavanda combinando e olhavam para Lainie e Harrison através de óculos combinando.
E atrás deles, para surpresa de Lainie, estava outra mulher, que devia ser pelo
menos cinquenta anos mais jovem do que qualquer outra pessoa do grupo. Ao contrário
dos outros, cujos rostos exibiam expressões de alegria e curiosidade, ela parecia infeliz.
— Você não me ouviu, Srta. Eaves? Eu perguntei o que está fazendo. — O sorriso
da Sra. Sweet tinha dentes demais para o gosto de Lainie.
— Eu ouvi. — Respondeu Lainie, sua voz fria. Afastou o cabelo do rosto enquanto
olhava para a velha. — Estava muito ocupada me perguntando o que você estava
fazendo em minha propriedade para responder imediatamente.
Duas manchas vermelhas apareceram nas bochechas da Sra. Sweet. —Garota. —
Ela começou e depois parou. Seus olhos se estreitaram e soltou o ar lentamente pelo
nariz. No momento em que abriu a boca novamente, não havia nenhum traço de raiva
em seu rosto. — Eu vim oferecer minhas condolências pela casa de sua família. Que
terrível, ela desmoronar, quando a visitou apenas uma vez.
A confiança de Lainie hesitou. Algo sobre a rápida mudança de humor da Sra.
Sweet a deixou nervosa. — Esse lugar não é a casa da minha família há muito tempo. —
Disse suavemente.
— Mas você sabe disso, não é? — Harrison curvou a mão protetoramente sobre
o ombro de Lainie, seu toque suave em contraste com o tom feroz em sua voz.
Os lábios da Sra. Sweet se estreitaram. — Eu tenho certeza que não sei o que
você quer dizer. — Ela fungou.
— Você destruiu minha família! — Lainie gritou. Murmúrios explodiram ao redor
dela e sua respiração ficou presa na garganta. Não os ouça. Não preste atenção ao que
estão dizendo. — Você forçou meus avós a mandarem minha mãe e eu para longe de
Hideaway Cove, porque não me tornei um shifter. Fico surpresa que não tenha
expulsado meu pai quando ele se casou com minha mãe!
A Sra. Sweet olhou para Lainie. — Você realmente não sabe muito de sua história
familiar, verdade? Seu pai sempre foi volúvel. Conheceu sua mãe enquanto estava
viajando. Quando a apresentou a seus pais, já era tarde demais. Se tivesse acontecido
aqui, a cidade teria algo a dizer sobre isso, acredite em mim.
— Quer dizer que você teria algo a dizer sobre isso. — Harrison disse. —Sempre
pensei que este lugar fosse um paraíso, um lugar de segurança. Mas a maneira como
você tratou Lainie é muito pior do que qualquer humano já tratou qualquer shifter que
conheço.
Lainie segurou firme a mão de Harrison enquanto ficava ao lado dela, sentindo
como se ele fosse a única coisa que a ancorasse.
— Eu ficava com meus avós na maioria dos finais de semana quando era criança.
Posso não saber muito, mas eu me lembro. — Ela disse firmemente. — Eles me
receberam em sua casa.
— Apenas enquanto houve esperança de que você se tornaria uma de nós. — A
Sra. Sweet sibilou. — Não vê querida, você é exatamente a razão pela qual temos essa
regra. Se os shifters se acasalam com seres humanos, sabem que risco que corre. Uma
criança humana.
— É isso? Isso é tudo? Apenas porque eu nasci humana? — Lainie meio riu e meio
soluçou. Ela estava segurando a mão de Harrison com tanta força que seu braço
começava a doer.
— Precisa haver mais alguma coisa, querida? — Os olhos da Sra. Sweet
percorriam o corpo de Lainie. — Tenho certeza de que podemos pensar em algo, se
você insistir.
— Não se atreva a falar com Lainie assim. — Harrison rosnou.
— E você. Harrison Galway. — o Sr. Sweet fungou. — Nós tínhamos grandes
planos para você. Que pena que seu grifo estava fadado a aliar-se com... ela.
O peito de Lainie doía. Ele não escolheu, verdade? O vínculo de companheiros
apenas acontecer.
Mas Harrison balançou a cabeça. — Eu escolho ficar com Lainie. Mesmo sem o
vínculo de companheiros ela é a mulher mais maravilhosa que já conheci. E acho
horrível que vocês fizeram. Quantas outras famílias sofreram a mesma coisa? Quantas
pessoas deixaram Hideaway Cove porque não os deixou ficarem aqui com seus
companheiros?
— O suficiente para manter Hideaway Cove segura. — A Sra. Sweet respondeu.
Para surpresa de todos, incluindo a dela, Lainie começou a rir.
— Segura. — Ela exclamou com lágrimas escorrendo por suas bochechas. —É isso
que você acha?
Estava ciente de uma dúzia de pares de olhos olhando para ela. Até mesmo
Harrison a olhava, seus olhos castanhos confusos. Ela não o culpava. Seu cérebro
repassou toda a conversa saltando em pânico de ideia a ideia e finalmente entendeu o
que fazia sentido. Um sentido horrível e cruel.
A Sra. Sweet a olhava com ar satisfeito. — Até você pode ver o sucesso que nossa
política é.
Você acha que ganhou, pensou Lainie, olhando para o rosto calmo da Sra. Sweet.
Você não pode nem ver que em sua louca corrida para me manter fora de Hideaway
Cove, colocou toda a cidade em risco.
Lainie abriu bem os braços. — Exatamente que sucesso acha que alcançou aqui?
Graças a você, não pisei em Hideaway Cove em quinze anos. Não tenho nenhuma
conexão com o lugar. Nenhuma lealdade para com as pessoas que moram aqui,
especialmente agora que minha avó morreu. Até meu pai nunca voltou para cá. E você
nunca pensou sobre o que isso significaria? Que um dia eu voltaria e não teria nenhum
motivo para proteger seu segredo?
A boca da Sra. Sweet se abriu levemente. Atrás dela, murmúrios surgiram dos
outros espectadores. Lainie seguiu em frente, a raiva fluindo através dela.
— Mesmo que eu não tivesse assumido as dívidas médicas da minha avó, seu
executor teria que vender toda a propriedade para pagar os credores. Você não tem
nenhum agente imobiliário aqui, então alguém viria de fora da cidade. Não teria como
controlar se a terra seria vendida para shifters ou humanos.
Sra. Sweet fungou. — Nós temos formas únicas de convencer as pessoas a
mudarem de ideia...
Lainie não a deixou terminar. — Mesmo? Como? Cortar seus pneus? Barulhos
estranhos durante a noite? Ou está falando sobre o bom e velho assédio? Você não
acha que isso seria investigado? Que alguém faria uma queixa? E o que então?
Alguém murmurou na multidão. Lainie virou a cabeça e viu o homem com uma
barriga grande, Guts parecendo desconfortável. — Ela está certa. — Ele murmurou. —
Não há policiais aqui. Se alguma coisa acontecesse, viria alguém da cidade.
A Sra. Sweet lançou-lhe um olhar irritado. — Obrigada por sua opinião, Sr. White.
— Ela se virou para Lainie. — Noto que nada do que você acabou de descrever
realmente aconteceu.
— Não. — Lainie sorriu feroz. — Em vez disso, você me pegou. E o que acha que
farei? Rolar e deixá-la pisar em cima de mim? Vocês, idiotas! Não vê como seria fácil
destruir tudo o que tem aqui? Harrison é a única razão pela qual sou fiel a Hideaway
Cove e você acabou de dizer a ele para ir embora!
As palavras saíram de sua garganta e não deixaram nada para trás. Não a vitória.
Nem mesmo alegria viciosa. Apenas um sentimento oco que doía em seu peito.
— Oh Deus, preciso sair daqui. — Ela murmurou. — Harrison...
— Volte para o túnel. — Ele disse imediatamente. — Pol e Arlo limparam o local.
Pol pode cuidar disso? — Ele gesticulou com a mão livre para as pilhas de joias
reluzentes que estavam esquecidas na praia. Sua outra mão ainda segurava firmemente
a de Lainie. Sua âncora.
Mas não foi o suficiente para impedi-la de querer fugir. Deus, ela precisava de ar.
Espaço. Precisava de tempo para pensar, sem os olhos da Sra. Sweet sobre ela.
— Vamos. — Disse ela e seguiu em direção à entrada da caverna, arrastando
Harrison atrás dela.
Por favor, entenda, ela implorou a ele enquanto corria pelo túnel, o peito tão
apertado que parecia explodir. Eu quero que tudo dê certo, mas como poderia, se todos
aqui me odeiam?
— Qualquer um deles pode nos ouvir daqui de cima? — Lainie se virou para ele,
suplicando, com os braços bem apertados ao redor de si. Harrison tocou-a brevemente
no ombro e depois se concentrou.
— Arlo? Pol? Vocês a ouviram?
— Não. — Veio a resposta de Pol. — E não se preocupe, estamos nos certificando
de que ninguém entre no túnel.
— Não. Os shifters têm melhor audição do que a maioria das pessoas, mas há
barulho suficiente das ondas e de todo o resto para chegar aqui. — Ele garantiu. Com
seu olhar interrogativo, acrescentou. — Acabei de verificar com Pol e Arlo.
Algo da tensão saiu dos ombros de Lainie. — Tudo bem. — Ela disse para si
mesma. — Isso é algo, pelo menos.
Harrison segurou a língua enquanto ela caminhava ao redor das ruínas da casa
de seus avós. Ela não cairá do lado do penhasco, ele disse a si mesmo enquanto seus
músculos ficavam tensos, prontos para entrar e agarrá-la. E olhe ao redor. Alguém, Pol
ou Arlo, provavelmente, já estiveram aqui e começara a arrumar tudo. Eles não
deixaram nada perigoso por aí.
Ele esperou enquanto Lainie olhava para a casa. A maior parte da estrutura
desabou na tempestade, o lado profissional de Harrison ficou horrorizado com o fato
do antigo local estar tão para baixo. Mas outra parte dele estava mais preocupando com
o que Lainie estava fazendo.
Por fim, ela fez um ruído impaciente e olhou para o céu. Por um momento,
nenhum dos dois falou. O farol abandonado se estendia ao lado deles lavado pela chuva,
tábuas e tijolos quebrados rangiam sob seus pés.
Harrison observou Lainie com cuidado. Ele não gostava do jeito que ela saiu da
praia, seu rosto e corpo tensos como se tivesse fechado uma porta para suas emoções.
Isso o lembrou de como ela estava no restaurante na primeira vez que a viu. Defensiva
e incerta, sem ninguém para defendê-la.
Lainie chutou uma tábua quebrada em uma pilha de entulho, olhando para
Harrison de lado.
— Você não precisa dizer. — Ela disse com a voz firme. — Eu sei que fui uma
cadela na praia.
— O que? Lainie, não. Você não disse nada fora de linha, nada. — Harrison riu,
mas parou no momento em que viu os ombros de Lainie ficarem tensos novamente. —
Lainie, ninguém poderia culpá-la pelo que disse.
— Eu odeio. — Ela disse baixinho. — Odeio a forma como ficar perto dela me faz
sentir. Estar aqui. Sinto-me tão ferida e assustada, então ataco e não quero ser essa
pessoa. — Ela se virou para Harrison. — Eu não quero zombar e fazer ameaças para
tentar obter vantagem. Eu não quero ser como ela.
Harrison passou pelos escombros e ficou ao lado dela. — Você não é nada como
ela. — Ele tranquilizou-a, esfregando os ombros. Ela se inclinou contra ele, descansando
a cabeça contra seu peito. — Você estava sofrendo e com medo, ela a atacou.
— Eu não quero ficar no nível dela. Aposto que ela está com medo, em algum
lugar sob aquele sorriso de Teflon. Essa coisa toda começou porque achava que
qualquer humano que descobrisse sobre Hideaway Cove começaria a gritar a respeito
e destruir o lugar, logo ameacei fazer isso, Harrison! Eu sou o monstro cavador de ouro
que quer vender metade da cidade para intrusos!
— Não, você não é. — Harrison levantou seu queixo, sorrindo enquanto a olhava
nos olhos. — Uma verdadeira e monstruosa escavadora de ouro não ficaria tão irritada
com tudo que acontecesse com ela.
Lainie sorriu de volta. — Eu sei. — Disse ela, fechando os olhos. — Mas é tão
tentador. E parte de mim quer ser essa pessoa. Para mostrar a Sra. Sweet e todo o
restante que não sou uma garotinha assustada que eles podem intimidar.
— O que você quer? A verdadeira você, não a cavadora de ouro. —Apesar da
piada, Harrison sentiu como se estivesse andando na borda de um precipício.
Lainie esfregou o rosto. Ela se virou e colocou as mãos no peito de Harrison. —
De verdade? Seria tão fácil agora, deixar esse lugar. Se essas joias forem verdadeiras,
nem sei quanto valem, mas deve estar perto do que preciso. Poderia pagar todas as
minhas dívidas, deixar Hideaway Cove e nunca mais pensar sobre esse lugar.
Ela suspirou. — Eu poderia... se não fosse por você.
Harrison franziu a testa. — Por que não? Parece a solução perfeita. — Ele engoliu
o sentimento pesado que se instalou em seu coração. Poderia eixar Hideaway Cove?
Deixar o único lugar que foi um lar para ele desde que perdeu seus pais? — Eu poderia
ir com você.
Lainie balançou a cabeça. — Não. Se isto que temos for a qualquer lugar, não
posso começar obrigando-o a escolher entre esta cidade e eu.
— Você não estaria me forçando a fazer nada. — Insistiu Harrison. — Eu quero
ficar com você, Lainie. Mais do que qualquer outra coisa no mundo.
Lainie bateu em seu peito e sorriu. — Sabe, você não é bom em esconder suas
emoções. Eu não sei se é este vínculo mágico ou o que, mas é como se eu pudesse dizer
exatamente o que você está sentindo.
O grifo de Harrison se moveu com admiração dentro dele. Era isso que significava
ter uma companheira que o amava. Ela o entendia completamente, o amava e aceitava
pelo que era.
O rosto de Lainie ficou sério. — Harrison, meus pais se separaram menos de um
ano depois que minha mãe e eu fomos expulsas de Hideaway Cove. Essa coisa toda de
vínculo entre companheiros é como algo de conto de fadas, mas... o casamento deles
acabou porque papai precisou escolher entre seus pais e nós. Entre sua comunidade
shifter e sua família humana. E no final, não escolheu nenhum deles. Ele simplesmente...
desapareceu. Não tenho ideia de onde está, mas sei que não em sua casa. Não quero
que você perca sua casa também. Não quero começar nosso relacionamento com esse
tipo de sacrifício.
— Nosso relacionamento? —Harrison sentiu-se aquecido, mais quente e mais
reconfortante que o sol.
Lainie riu sem jeito. — Quer dizer, soa bobo tomar decisões baseadas em um
potencial relacionamento tão cedo, mas… parece certo. E há tão pouco em minha vida
que parece certo que não quero estragar tudo. — Ela encolheu os ombros. — Então…
é isso, eu acho. Ficar aqui com você e lidar com a Sra. Sweet, com o restante da cidade
me odiando. Ou ir embora e arrastá-lo comigo.
— Há outra opção. — Disse Harrison, inclinando a cabeça para trás e deixando
um beijo em sua testa. — Por que você acha que disse Pol para trazer todos está
manhã?
— Para procurar... não, não é verdade. Você chamou-os antes de encontrarmos
o anel, não é?
— Porque queria conversar com eles. — Harrison acariciou o cabelo de Lainie e
segurou sua nuca. — Quando cheguei a Hideaway Cove, achei ter encontrado o paraíso.
Agora eu sei que este lugar não é o santuário que pensava ser. Nós não deveríamos
separar famílias. E não irei me sentar e deixar acontecer. — Ele respirou fundo. —
Lainie, eu te amo. Eu te amo tanto que sinto que meu coração pode explodir. E não vou
perguntar se você também me ama, mas... confia em mim?
— Eu... — Lainie fez uma pausa e uma expressão de admiração cruzou seu rosto.
— Sim. Sim, confio em você, Harrison.
— Então desça comigo agora. É meu dever protegê-la, Lainie. E é isso que farei.
Ele olhou nos olhos de Lainie e sentiu o fogo crescer dentro dele. Isto é para você.
Tudo por você, meu amor. Qualquer coisa por você. Ele se esticou e sentiu suas asas
explodirem pelas omoplatas e a estranha sensação de vertigem quando caiu sobre as
quatro patas.
A primeira coisa que sentiu depois de terminar de mudar foi o toque de Lainie.
Ela apoiou a mão na cabeça dele e a sensação disso acendeu uma chama de alegria
feroz e orgulhosa dentro dele.
— Acho que não vou me acostumar a isso. — Ela admitiu, com os olhos
arregalados. Harrison se preparou e então pensou:
Merda. Eu deveria ter explicado para ela antes de mudar.
Hmm.
Harrison se virou para Lainie, girando a cabeça sobre os ombros e batendo o bico
nas costas. Então inclinou a cabeça para ela.
Harrison fez um gesto para as costas e depois olhou para Lainie, fazendo um
pequeno e inquisitivo ruído. O coração de Lainie acelerou.
Uau, ela pensou. Ele realmente quer dizer...
Ela estendeu a mão e tocou as costas de Harrison, onde suas penas se
transformaram em pele grossa. Podia sentir os músculos dele movendo-se sob elas,
fortes e firmes.
— Você quer que eu... monte? — Ela perguntou, gaguejando. Harrison acenou
com a cabeça enorme de penas.
Lainie engoliu em seco e deslizou a mão pelas costas largas do grifo, apoiando-a
na base de uma das asas. Se ela se sentasse ali, atrás das asas dele...
Sua mente ainda estava espantada com o pensamento de Harrison voando. Agora
apareceu um pensamento desagradável.
Ele vai voar comigo em cima dele? Todo esse peso extra?
A mão livre de Lainie flutuou inconscientemente para seus quadris. Harrison
gosta de suas curvas, ela disse a si mesma, mas a parte frágil e assustada dela
acrescentou: isso não deixa você mais leve.
Harrison se virou para olhá-la por cima do ombro. Provavelmente imaginando por
que você está demorando tanto, ela pensou. Ela deu-lhe um sorriso tenso.
— Hum. — Ela disse em voz alta. — Você tem certeza disso?
Harrison assentiu. Ela não conseguia ver nenhuma expressão em seu rosto de
falcão, mas sentiu-se tranquilizada por ele.
— Tudo bem. — Disse ela, ouvindo a dúvida em sua própria voz. Olhou para baixo
e algo chamou sua atenção. — Oh, é melhor nós levarmos isso para baixo, certo? — Ela
disse, juntando a calça de Harrison em seus braços. Não que as pessoas na praia
parecessem incomodadas com o frio.
A forma de grifo de Harrison era enorme. Seu ombro estava nivelado com o peito
quando ele estava de pé, mas se ajoelhou agora, dobrando suas garras na frente de si
mesmo. Isso levou suas costas para mais perto da altura da cintura. Lainie respirou
fundo, colocou a calça sob o cotovelo e estendeu a mão.
Antes que pudesse mudar de ideia, agarrou a base da asa de Harrison e passou
uma perna pelas costas dele. Ele se contorceu sob ela e de repente estava sentada sobre
dele, agarrando algumas penas.
— Oh meu Deus. Oh. Uau.
Lainie nunca andou a cavalo. Fazia anos desde que andou de bicicleta. E nenhum
desses se comparava, nem remotamente a isso.
Harrison olhou por cima do ombro novamente. Pronta? Ele parecia estar
perguntando.
Lainie fixou o aperto nas costas de Harrison. — Pronta. — Disse ela.
Harrison se agachou, seus músculos se amontoaram e depois se lançou no ar.
Lainie gritou, o vento chicoteando seu cabelo para trás. As asas maciças, marrom e
creme, se espalharam pelos lados dela, bloqueando sua visão dos escombros e então
estavam no ar, voando sobre a borda do penhasco.
Lainie apertou os dedos nos ombros grossos de Harrison. Ela estava voando.
Estava voando, montada nas costas de uma criatura mítica. Uma criatura mítica que
queria ser seu namorado.
Ela não sabia qual dessas declarações era a mais impossível.
Hoje é um dia para o impossível, ela pensou de repente, alegria borbulhando
dentro dela. Grifos. Tesouro. A possibilidade de que tudo isso acabe bem...
Harrison deslizou sobre a água e Lainie estreitou os olhos para ver através do
brilho da luz do sol se refletindo nas ondas. Outra curva e ela viu o farol, ainda no topo
da colina, mesmo quando o resto da casa desmoronou.
Harrison segurava as asas rigidamente, flutuando com as correntes de ar. Ele se
virou novamente e desta vez Lainie teve um vislumbre da pequena praia na base do
penhasco. Lá de cima, as pessoas de pé na praia eram tão pequenas quanto bonecas.
Ela apenas conseguia distinguir a Sra. Sweet por causa de suas companheiras de casaco
lavanda. E algumas outras pessoas nuas.
Devem ser os shifters que estavam ajudando a procurar o tesouro. Eu nem sei a
maioria dos nomes deles. Não posso me referir a eles como... meus ajudantes
misteriosos e nus? Uma risadinha escapou de seus lábios e foi levada pelo vento.
Ela nem conhecia essas pessoas, mas depois que Harrison as chamou, não
hesitaram em ajudá-la.
Harrison voltou para as ondas. Lainie se inclinou para frente até que ela pudesse
descansar a bochecha contra o pescoço dele. Suas penas fizeram cócegas em seu nariz.
Dali ela podia ver a praia novamente. O que aconteceria quando eles pousassem?
Ainda tinha certeza de que algo iria dar errado. Ou tudo. Perderia tudo o que encontrou
nos últimos dois dias?
Mesmo os shifters que a ajudaram a encontrar as joias concordaram em ajudar
antes de ouvir o que a Sra. Sweet disse sobre ela. Agora que sabiam que ela já foi expulsa
de Hideaway Cove uma vez, ainda a receberiam... ou a rejeitariam?
Seria a razão pela qual Harrison deixaria sua casa?
Lainie prendeu a respiração, o coração apertado, enquanto Harrison descia em
direção à praia. A areia e as ondas se aproximavam de forma alarmante, mas a três
metros do solo, Harrison abriu as asas e pousou levemente sobre as quatro patas.
Lainie escorregou de suas costas, mantendo uma mão sobre ele, mesmo quando
seus próprios pés afundaram com segurança na areia úmida. As penas sob a palma da
mão ondularam e depois desapareceram, substituídas por uma pele macia. Lainie
passou a mão pelo ombro humano de Harrison, depois lhe entregou a calça.
Eu nunca vou me acostumar a vê-lo se transformar assim, ela pensou com uma
pontada. Mas realmente quero tentar. Eu quero aproveitar a chance. Não quero perder
tudo isso, ele, quando acabei de encontrar.
Ela deu um passo à frente, pronta para falar, com Harrison ao seu lado.
Harrison apertou a mão dela. — Sem mais segredos. — Disse ele, olhando
friamente para a Sra. Sweet. — Eu ouvi algumas coisas nestes últimos dias que abalaram
minha fé nas pessoas de Hideaway Cove. Decisões tomadas sobre nosso lar da qual não
sabíamos e nem sequer fizemos parte. Não pode continuar assim
— Seu tolo ingênuo! — A Sra. Sweet sibilou. — Nossas regras mantiveram
Hideaway Cove segura por décadas. A segurança é ainda mais importante nos dias de
hoje, quando um vídeo de celular pode nos revelar ao mundo. E esta mulher acabou de
ameaçar vender metade da cidade para pessoas de fora!
— Como último recurso. — Gritou Lainie. — E isso foi antes de saber sobre
shifters!
Ela mordeu o lábio, consciente de todos os olhos focados nela.
Que idiota disse para imaginar sua audiência em roupa interior se você tiver
problemas para falar em público? Ela pensou, reunindo sua coragem. Metade dessas
pessoas estava completamente nua e isso não ajudava.
Ela deu um passo à frente, firmando os pés com uma confiança que não sentia.
— Eu não vim aqui planejando vender a casa, mas sabia que era uma opção. —
Ela admitiu na frente de todos. — Eu não sei quantos de vocês conheceram minha avó,
mas ela estava muito doente em seus últimos anos. O pagamento pelo seu cuidado
precisava vir de algum lugar e a terra era a única parte de sua propriedade que valia
qualquer coisa.
— Então como você chama isso? — Perguntou uma das mulheres de lavanda, sua
boca apertada em uma linha desagradável. Ela apontou um dedo acusador para as joias
espalhadas aos pés de Lainie.
Lainie olhou para ela. — Chegarei a isso, senhora. — Ela disse tão educada quanto
podia. — Você está certa. Vender a terra claramente já não é minha única opção.
— Então, está escolhendo a chantagem? — A Sra. Sweet disse. — O que vem a
seguir: A aceitarmos ou vender para grandes caçadores?
Os olhos da Sra. Sweet estavam cheios de desgosto enquanto acusava Lainie.
Lainie a olhou de volta. A compreensão surgiu dentro dela e com isso, um tipo estranho
de paz.
A Sra. Sweet e suas amigas talvez nunca mudassem de ideia sobre ela.
Independentemente do que dissesse iriam distorcer, na pior das hipóteses.
Mas isso não significava que Lainie precisasse combater golpe com golpe. Se
enfrentasse a Sra. Sweet em seu próprio jogo, as únicas pessoas feridas seriam os
inocentes cidadãos de Hideaway Cove.
— Não. — Ela disse baixinho. — Não, já tomei minha decisão. Se essas joias
cobrirem as dívidas, é para isso que irei usá-las. Se não, bem, espero que sua oferta
muito generosa continue válida. Não tenho a intenção de vender a propriedade para
destruir este lugar. E precisa agradecer a Harrison por isso.
Ela se aproximou de Harrison e colocou o braço ao redor de sua cintura. Ele
colocou o braço sobre seus ombros em resposta, sorrindo para ela.
E ele não foi o único. Ao seu redor, as pessoas sorriam e acenavam para ela.
Exceto os Sweet.
— Bem. — Disse a Sra. Sweet. — Tudo isso está muito bem, mas...
— Isso não é tudo. — Harrison interrompeu. — Lainie é minha companheira.
Soube no momento em que a conheci. E não gostei do que você fez com ela. Tirou dela
sua família. Deixou-a se perguntando por todos esses anos por que seus avós a
abandonaram. — Ele se virou para a Sra. Sweet e seu marido, furioso. — Há quantos
anos antes teríamos nos encontrado se você não tivesse feito isso com ela? Há quantos
anos poderíamos estar juntos? E com quantas outras famílias fez isso e manteve em
segredo do restante de nós?
No meio da multidão, alguém ofegou. Lainie olhou para o outro lado e viu Caro
com o rosto pálido.
Harrison seguiu seu olhar e seus olhos se arregalaram quando olhou para Caro.
Olhou ao redor, parando para olhar nos olhos de todos os shifters da multidão.
— Muitos de vocês têm me provocado sobre concorrer a Prefeito este ano, bem
se estivesse concorrendo, esta seria a minha campanha. Se Hideaway Cove for um
santuário para famílias de shifters, precisamos aceitar todos os membros destas
famílias. Ninguém deve viver aqui com medo de ser expulso da cidade por se apaixonar
pela pessoa errada ou Deus me livre, ter um filho que não pode mudar.
— O que foi feito aqui é vergonhoso. Podemos nos manter seguros sem destruir
famílias inocentes, famílias construídas com a conexão de companheiros, a força mais
poderosa na vida de qualquer shifter. — Ele segurou as duas mãos de Lainie e olhou
bem nos olhos dela. — Lainie não é uma cavadora de ouro. Mesmo depois de tudo o
que foi feito, ela não quer colocar Hideaway Cove em risco.
— Se todos quiserem que ela saia, então irei junto. Mas cabe a vocês: Caro, Guts,
Jools, todos aqui. Não apenas a Sra. Sweet e suas amigas. Vocês querem que nós dois
fiquemos?
— Sim!
Lainie olhou através da areia para ver Jools, o metamorfo gaivota, de pé com os
braços cruzados desafiadoramente no peito. — É claro que queremos que você fique!
— Gritou a adolescente.
A Sra. Sweet sibilou. — Shifters pássaros! Vocês são todos iguais...
— Eu quero que vocês dois fiquem, também! — Outra voz gritou da multidão. —
E isso é de um velho predador terrestre, Sra. S!
— Harrison trabalhou durante a noite mais vezes do que posso contar para ajudar
as pessoas desta cidade. — Uma mulher gritou. — O que é que você fez? Trabalhou
durante a noite para tirar os filhos das famílias deles?
Mais vozes se juntaram a ele. Lainie tentou ouvir, mas não conseguiu ouvir
ninguém dizendo: não, não, faça-os sair! Até o grupo de apoio da Sra. Sweet estava
quieto diante de tanto apoio a Harrison e Lainie.
Lainie olhou ao redor surpresa. Em nenhum de seus sonhos mais loucos imaginou
ser recebida de volta a Hideaway Cove por uma multidão de homens e mulheres quase
nus.
Harrison se aproximou dela, segurando sua bochecha com uma mão. — O que
você diz, Lainie? — Ele perguntou com a voz baixa. — Irá nos dar uma chance? Irá me
dar uma chance?
Havia apenas uma coisa a dizer. — Sim, Harrison. Sim, claro que sim.
Lainie parou no final do caminho. O sol da tarde iluminava a nova casa como um
holofote, transformando suas paredes pintadas em dourado.
Hoje era o dia. Depois de seis meses de planejamento, de conseguir as licenças e
as obras, a nova casa dos Eaves estava pronta.
Seis meses desde que colocou os pés em Hideaway Cove pela primeira vez em
quinze anos. Seis meses desde que conheceu Harrison, descobriu a existência secreta
dos shifters e sentiu o nó de infelicidade que a atormentava por tantos anos, finalmente
começar a se desfazer.
Ela vendeu as joias através de um dos contatos de Pol, por um preço que fez
todos seus problemas financeiros desaparecerem. Depois de pagar as dívidas de sua
avó e separar o suficiente para os impostos, ainda havia o suficiente para um novo
projeto. A casa.
Lainie ainda possuía a terra na qual a casa de seus avós se encontrava, afinal,
mesmo que a velha casa tivesse ido embora. A propriedade que herdou compunha a
maior parte da colina, da costa até o farol. Com a ajuda de Harrison, selecionou um
novo lugar para construir um pouco mais abaixo do farol. Depois daquela tempestade,
não queria que a nova casa ficasse na beira do penhasco como era a de seus avós.
Pouco a pouco, a casa se transformou de uma ideia em algo real. Lainie manteve
seu emprego na cidade, dirigindo nos fins de semana para ver Harrison e verificar a
construção. E algo mais aconteceu. Em vez de morar em sua casa durante a semana e
visitar nos fins de semana, Lainie começou a sentir que voltava para casa nos fins de
semana. Para a casa de Harrison e Hideaway Cove.
E isso foi tudo. O último final de semana.
Lainie sabia que os homens estavam por perto no começo do dia, ajudando
Harrison com os últimos retoques. Por alguma razão, ele pediu para ela ficar longe.
Lainie não se importaria em ajudar, mas ficou mais do que feliz em passar o dia
ensolarado na cidade.
Conversou com Tessa na sorveteria e elas se reuniram para tomar um sorvete de
framboesa e começaram uma nova amizade que provavelmente estava dando à velha
Sra. Sweet uma úlcera. Depois disso, ela foi até ai supermercado para comprar algumas
para um jantar fácil, além de uma garrafa de espumante para celebrar a nova casa. E
depois, o shifter dos correios enviou-lhe uma mensagem para dizer que seus utensílios
domésticos chegaram e estava no quarto dos fundos. Em todos os lugares que Lainie ia,
as pessoas pareciam fazer com que tivesse a certeza de que ela soubesse que era bem-
vinda agora.
No momento em que Lainie colocou sua correspondência no porta-malas, o dia
estava quase no fim. Agora, olhando para a casa banhada pela luz dourada da tarde,
uma sensação de paz tomou conta dela.
Ela viu este edifício transformar-se de linhas em papel, em uma estrutura
esquelética cercada por materiais de construção, até o que era hoje: uma casa pronta,
pronta para alguém se mudar. E a cada passo do caminho Harrison estava lá,
observando, supervisionando as entregas, construindo a estrutura com suas próprias
mãos. Não havia um quarto na casa que não fosse obra dele.
Talvez fosse por isso que Lainie já estava começando a pensar nela como uma
casa, não apenas a casa.
Enquanto estava pensando sobre isso, Harrison apareceu na esquina da casa. Um
sorriso floresceu em seu rosto e ele acenou para ela.
— Lainie!
Lainie saiu do carro, arrastando as compras atrás dela. — Toda vez que vejo este
lugar, não posso acreditar em como é incrível. — Disse ela quando Harrison se
aproximou. — Eu...
Antes que ela pudesse dizer outra palavra, Harrison tomou-a nos braços e beijou-
a. Lainie se deixou derreter em seu abraço. Ele cheirava a madeira, suor e o cheiro
almiscarado que começou a reconhecer como seu grifo.
Ele tomou seu tempo com o beijo, mordiscando e acariciando seus lábios até que
Lainie pensou que seu corpo inteiro iria se dissolver de felicidade. Ela suspirou quando
ele se afastou.
— O que você estava dizendo? — Ele murmurou, seus olhos cor de avelã
brilhando.
—Eu... esqueci completamente. — Lainie admitiu alegremente. Ela abriu o botão
de cima de sua camisa e pressionou o rosto no triângulo de pelos por baixo. — Mmm.
— Que tal eu pegar isso antes que nosso jantar role pela colina? — Harrison
mordiscou sua orelha brevemente, tirando os sacos de mantimentos de sua mão.
— Ah sim. Todo esse negócio de romance é apenas um disfarce para você
conseguir comida, não é? — Brincou Lainie. Ela pegou a mão livre e começou a subir o
caminho para a casa. — Por que está tão sossegado hoje? Está tudo bem com a
construção?
— Tudo perfeito. — Harrison olhou de lado para ela, seus olhos brilhando. — Está
quase terminado, na verdade.
— Quase? — Lainie fingiu parecer chocada. — Francamente, Sr. Galway, isso não
é bom o suficiente. Eu não vendi as joias da família para quase ter uma casa.
Harrison olhou por cima do ombro para o sol. — Oh, eu não sei sobre isso. Eu
diria que tenho pelo menos três horas antes que o trabalho esteja oficialmente
atrasado. — Ele respondeu.
Eles se aproximaram da porta da frente e Harrison agarrou Lainie pela cintura,
apertando-a. — Vê alguma coisa faltando?
Lainie olhou. — Vamos ver. Há um buraco na porta em vez de uma maçaneta...
usarei seu salário para comprar uma. — Ela riu quando Harrison cuidadosamente
colocou as compras no degrau e tirou uma maçaneta da porta do bolso. — Ah não. Você
sabe que não sou boa com isso, eu não posso...
— Tudo que você precisa fazer colocá-la ali. — Disse Harrison. — Eu vou te
mostrar como. E então sua casa estará cem por cento acabada.
Sim, apenas colocá-la e apertar com a chave de fenda, aposto, pensou Lainie.
Harrison segurou a maçaneta para ela, seus olhos suplicando.
— Oh tudo bem. Provavelmente terei apenas que empurrar. — Ela cedeu com
relutância e pegou a pesada maçaneta de bronze dele.
Harrison se ajoelhou e Lainie se agachou ao lado dele. — Aqui, veja, eu já coloquei
o trinco. Tudo que precisa fazer é anexar a maçaneta. — Ele colocou as mãos sobre as
de Lainie e as levantou, direcionando-a para onde segurar a maçaneta no lugar. Suas
mãos quase completamente engoliram as dela. Ele mostrou onde colocar os parafusos
e esperou paciente enquanto ela laboriosamente os apertava.
Por fim, Lainie empurrou a maçaneta e ouviu o trinco se abrir com um clique.
— Funciona! — Lainie não pode deixar de gritar de alegria. Com toda sua
experiência com o planejamento arquitetônico, sempre tinha um polegar negro quando
se tratava de manutenção doméstica. Ou o que quer que poderia ser chamado de
polegar preto quando aplicado a travas de janelas e lâmpadas em vez de plantas.
Ela empurrou a porta aberta. Ela abriu suavemente, claro, perfeitamente
colocada por Harrison. A luz do final da tarde entrava, iluminando o chão polido e as
paredes pintadas de creme.
Atrás dela, Harrison limpou a garganta. Lainie olhou ao redor e depois para baixo.
Ele ainda estava de joelhos no degrau da frente, mas desta vez, estava segurando algo
mais para ela.
Harrison limpou a garganta novamente. Pela primeira vez em meses, Lainie viu
que ele parecia nervoso. — Lainie. — Ele começou e parou, engasgando. — Lainie. Meu
amor. Os últimos seis meses, desde que a conheci, foram os mais felizes da minha vida.
Construir esta casa para você foi a melhor coisa que já fiz. Usará este anel e juntos
poderemos transformar esta casa em um lar?
Lainie ficou de joelhos. A caixa que Harrison segurava era de veludo preto e havia
um anel de brilhante aninhado dentro dela. Um diamante de lapidação almofadada,
ridiculamente grande, em ouro no meio do círculo, cercado por pedras amarelas
menores. O anel de sua avó.
— Mas eu o vendi. — Ela disse. — Como você…?
As linhas de risada nos olhos de Harrison se enrugaram. — Você vendeu para
mim. — Disse ele. — Bem, através de um dos contatos de Pol. Usará isso como desculpa
para chegar atrasada para trabalhar nos próximos dez anos, mas valerá a pena, se...
Ele parou em expectativa. Lainie se adiantou e agarrou não o anel, mas a mão
que o segurava.
— Claro que sim. — Disse ela. — Quer dizer, sim. Aceito. Claro. — Ela chorou e
riu de alegria.
Harrison tirou o anel da caixa e colocou-o no dedo, onde se encaixava
perfeitamente. A visão encheu o coração de Lainie. Ela perdeu a chance de um
relacionamento com sua avó, mas esse anel era uma conexão entre as gerações. Uma
promessa de que as coisas seriam diferentes para seus próprios filhos, quando os
tivesse.
Harrison cobriu a mão pequena com a sua e depois a puxou para um beijo que
fez seu coração acelerar.
— Meu amor. — Harrison murmurou contra seus lábios. — Minha Lainie. Minha
companheira. Minha querida, mais doce, mais linda...
Seus beijos começaram a descer pelo pescoço dela e Lainie deu uma risadinha.
— Quer levar isso para dentro? — Ela perguntou. — Para o ninho?
Ela não sabia o que a fez chamar a casa de ninho, mas por mais instinto que fosse,
era bom. Os olhos de Harrison se fixaram nos dela, o dourado queimando ao redor das
pupilas negras como carvão.
— Não há móveis ali ainda. — Ele disse com suas mãos deslizando sob a camisa
de Lainie. — Tem certeza de que não quer voltar para a oficina?
— Nós podemos improvisar. — Disse Lainie, ignorando seu argumento. — Vamos.
Vamos fazer deste lugar nossa casa.

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