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Presa com um Cajun Michelle M. Pillow

Lançamentos
Pégasus

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3
Captured By a Dragon-Shifter
mento
Lança

Distribuído

Brevemente

Equipe PL
Tradução:PL

Revisão Inicial: Rayane

Revisão Final: Anne

Leitura Final: Deia Klein, SRM 4

Formatação: Sónia Campos


Este romance é uma obra de ficção. Todos os

personagens, eventos e lugares são da imaginação

do autor e não devem ser confundidos com a

verdade. Qualquer semelhança com pessoas, vivas

ou mortas, eventos ou lugares é mera

coincidência.

Livro destinado apenas para adultos.

O pântano está prestes a ficar muito mais


quente para Drake. Este alfa dragão shifter tinha
tudo, mas desistiu de encontrar sua companheira.
Isso até que ela praticamente cai em seu colo.

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Capítulo 1
Dois anos atrás…

Uma vez que uma decisão é tomada, ela precisa ser


mantida.

E Dimosthenis pensou muito na sua decisão. Com a


morte de irmão, era o único filho restante capaz de continuar
a linhagem da família. Porém, para que isso acontecesse,
seria preciso deixar tudo para trás e viajar para a Terra a fim
de procurar uma companheira; o que não era fácil de
encontrar em seu planeta, Qurilixen.

Ele amava sua casa, os pântanos sombreados onde


cresceu, as grossas árvores perto das fronteiras e as
montanhas, onde Dimosthenis estava agora, à beira de seu
futuro. Apesar da beleza do lugar, existia algo mais sombrio
abaixo da superfície. Uma maldição.

As pessoas Draig estavam morrendo. Não por uma


doença ou por uma guerra, mas porque sua população
precisava de fêmeas e, sem mulheres, não havia bebês.
Dimosthenis fazia parte de toda uma geração de homens
dragão shifter que não tinham esposas. Bem, todos, exceto o
príncipe.
A Família Real abriu o portal para a Terra visando
encontrar esposas para si e o guardavam com possessividade
não deixando os plebeus usarem. Dimosthenis sabia que
tinham os seus motivos, motivos que faziam sentido para os
governantes, mas para os homens que passavam todas as
noites solitárias sem o conforto de uma esposa, era
particularmente cruel. Dimosthenis merecia a chance de ter
uma família, uma esposa e amor.

Ele merecia uma viagem através do portal.

E as rochas pretas da caverna continham seu futuro.

Dimosthenis seguiu a humana Princesa Eve e seu


guarda, através da escada secreta no interior do palácio,
tomando cuidado para não ser visto. Agora encontrava-se
escondido na saída exterior da caverna esperando sua
chance. Tudo o que tinha que fazer era entrar na escuridão.
Esta poderia ser sua única oportunidade porque havia
aquelas facções shifter que queriam selar os portais para
sempre, que pensavam que as mulheres humanas não eram
a resposta e que planejavam detonar a câmara escondida.

Se Dimosthenis saísse, poderia não conseguir voltar


para casa.

Mas se ficasse, poderia nunca encontrar uma


companheira.

Um brilho roxo suave iluminou a caverna. Eles devem


ter ativado o portal. Dimosthenis se moveu para assistir das
sombras. Dragões e gatos foram esculpidos na câmara de
pedra, apontando para longe do portal; um símbolo de sua
saída da Terra. Os mais velhos contavam histórias na
fogueira sobre a magia do portal, de como ele levou-os da
Terra, longe da perseguição dos chefes militares humanos.

Será que os humanos mudaram? Ou as histórias de


caça e matança de dragões ainda eram uma realidade na
Terra? É certo que nem todos os dragões e gatos shifter
terráqueos vieram através do portal. Muitos conseguiram,
mas não ninguém nunca soube quantos escolheram ficar
para trás.

Ele estava com medo, sem garantias de que o amor o


esperava do outro lado do portal. Na verdade, pelo o que
sabia, poderia ser até a morte. A Terra poderia ser um lugar
feio e repleto de caçadores que odiavam os dragões.
Dimosthenis poderia retornar com nada além de solidão e
dor.

Talvez existisse uma razão para a realeza não convidar


os plebeus. Quem sabe devesse ouvir o que os anciãos
disseram quanto à vontade dos deuses, ir para casa e esperar
uma benção que poderia nunca chegar.

Não.

Dimosthenis tinha que tentar, já havia deixado


mensagens de despedida para seus amigos. A decisão que
tomou determinaria o seu futuro. Ficar significava
permanecer sozinho para sempre, que seria tão bom quanto
morrer hoje.

Então, não tinha escolha. Dimosthenis iria saltar para o


desconhecido.
Capítulo 2
Dias atuais da Terra...

― Vamos lá, Big Daddy, vamos lá. ― Lori Johnston


bateu no braço do homem freneticamente. ― Eu preciso de
você, Big Daddy.

Ela respirou antes de levantar a câmera para usar o


flash a fim de iluminar o crepúsculo. Lori disparou o flash
algumas vezes, tirando fotos. Quando olhou para a tela
digital, um pântano repleto de olhos brilhantes a encarou,
refletindo a luz áspera. Olhos assustadores. Olhos famintos.
Olhos pré-históricos de crocodilos. Lori virou a pequena
lanterna sobre a água parada e o litoral enlameado,
esperando revelar algo que a câmera não mostrou.

Suas mãos tremiam violentamente, fazendo com que o


feixe de luz dançasse. As criaturas estavam lá fora, além do
barco, flutuando como troncos misteriosos no pântano,
apenas esperando o momento certo para atacar e comê-los.

― Por favor. Eu não sei o que fazer e não posso ficar


presa no pântano, simplesmente não posso. Eu não fui feita
para isso. Acorde, Big Daddy! Por que você tem que morrer
logo aqui, hoje, agora? ― Lori olhou o corpo sem vida no
fundo do barco.

Alguém viria procurá-los? Eles tinham saído há horas


deixando o cais com todo mundo acenando para Big Daddy.
Todos. Big Daddy era popular. As pessoas gostavam dele. E
por que não? Ele parecia a versão cajun de Papai Noel e era
provavelmente tão velho quanto.

Calma. O povo viria buscá-lo quando ele não chegasse


em casa. A menos que achassem que a vida no pântano era
tão enraizada nele, que Big Daddy não precisaria de ajuda
imediatamente.

Oh Deus. E se as pessoas pensassem que Lori o matou


ou a culpassem? Lori tinha certeza de que os filmes de terror
na cidade eram sobre cafajestes que ficavam perdidos entre o
povo do pântano. Esses filmes podem não existir, mas ela
estava muito assustada agora.

É impossível imaginar o que passará na mente nas


pessoas quando ela contar que Big Daddy atingiu o
acelerador e berrou — Uhuul cachorrinho! — antes de cair de
sua cadeira de capitão do aerobarco1. Lori gritou quando o
aerobarco saltou. Talvez o grito dela tenha feito isso? Não,
não, isso era ridículo. Seu grito não lhe causou um ataque
cardíaco. Big Daddy era velho. Eles sabiam que ele era velho.

1
Barco utilizado em locais pantanosos, rios, lagos e regiões de difícil acesso.
Lori estava enlouquecendo quando deveria estar focada
nos problemas à sua frente.

O aerobarco encalhou num banco de lama e ela soube


disso porque seu sapato também ficou preso na lama.
Quando tentou puxar o pé, afundou-se até os joelhos. A
ilusão da costa era uma armadilha como areia movediça
barrenta, enlameada. Mesmo que chegasse à praia, ela não
tinha ideia para onde deveria ir.

Lori estapeou um mosquito em seu pescoço. Se os


jacarés não a comessem primeiro, os insetos gigantes fariam.

Ela ligou a lanterna e mirou sua luz sobre a água e


contou os olhos que a fitavam.

— Um, dois, três, quatro, seis, oito... — Era sua


imaginação ou o número de jacarés havia se multiplicado?

Seria engraçado se não fosse trágico. Na era dos


satélites e telefones, Lori estava no meio de um pântano sem
esperança de salvação. Tinha um dispositivo na bolsa da
câmera que sincronizava seu serviço de celular com sua
câmera para que ela pudesse usar o rastreamento de GPS
enquanto tirava fotos, mas não tinha como fazer uma ligação
porque deixou seu celular na pousada que estava hospedada.
Por alguma razão, Lori pensou que se desconectar do mundo
tecnológico, hoje, seria uma ótima ideia.

— Desligar. Descontrair. Grande ideia! — Ela sussurrou


sarcasticamente. — Conectar-se com a natureza, morrer num
barco no meio do pântano e passar a eternidade como cocô
de jacaré. Ciclo da vida.

Lori pagou por um passeio no pântano ao anoitecer,


esperando conseguir algumas fotos do pôr-do-sol para seu
artigo de viagem, enquanto os últimos fios de luz
desapareciam rapidamente na escuridão. Um respingo alto
soou, e ela virou a luz na direção das árvores que cresciam da
água, prendendo a respiração, ouvindo o movimento. Outro
respingo soou.

— Olá? Tem alguém aí?

Talvez fosse o monstro do pântano, o homem lagarto


com o qual a gerente da pousada brincou. Supostamente
aconteceram algumas aparições recentes e ele receberia uma
menção honrosa no artigo de Lori como um personagem da
vida local.

Mais salpicos soaram. Ela moveu o feixe de luz sobre a


água. Os olhos foram desaparecendo. A água ondulou onde
os jacarés estavam submersos. Lori subiu no banco do
motorista, puxou os joelhos contra o peito e desligou a
lanterna, poupando as baterias para quando realmente
precisasse. O luar deu pouquíssimo alívio para as sombras de
árvores.

A umidade era alta, fazendo com que a camisa colasse


na sua pele. O calor do final do verão estava ainda mais
sufocante pela falta de brisa, minando sua energia e
dificultando sua concentração. A garrafa de água morna
estava meio vazia, mas, sem saber quanto tempo ela estaria
fora, ainda precisava racioná-la.

Lori fechou os olhos e abraçou a lanterna e a câmera


junto ao peito. Tudo o que tinha que fazer era esperar
algumas horas até o amanhecer.

De repente o barco deslocou-se. Uma figura se moveu


nas sombras, perto de Big Daddy. Lori conteve o seu grito
enquanto pegava a câmera para disparar um rápido flash. O
feixe de luz iluminou até o fim do barco. Lori esperava ver um
jacaré puxando o corpo na água mas em vez disso, encontrou
um homem agachado sobre o cadáver de Big Daddy. Ela se
atrapalhou com a lanterna e deixou cair sua câmera,
deixando um pequeno feixe na direção do homem.

O alívio pouco durou quando o homem voltou sua


atenção para Lori. Olhos amarelos de réptil encontraram os
dela. Pele marrom escuro brilhava com a umidade, como se
tivesse acabado de deslizar sob a água. Dedos com garras
tocaram o rosto de Big Daddy.

— La-la-la-la... — Ela sussurrou.

— O que aconteceu? — Sua voz rouca sacudiu os seus


sentidos. A luz tremeu, mas Lori teve a impressão de ter visto
presas em sua boca.

— O homem La-la-lagarto. — Disse ela. — Homem


jacaré lagarto. Ja-ja-ja...
— Você está aprendendo a falar? — O homem jacaré
levantou-se como se fosse vir até Lori. Tudo o que ela viu foi
garras e presas.

Lori não pensou. Apenas saltou do barco para a lama,


segurando a lanterna e seus pés afundaram imediatamente.
Um som sibilante a deixou mais frenética para fugir, mas
quanto mais ela lutava, mais lama a puxava para baixo.

— Maldição mulher, o que... — As palavras duras do


homem réptil foram perdidas conforme ele saltava atrás dela.

Um grunhido ruidoso veio da outra direção. Ela estava


presa. Uma cabeça pré-histórica encostou-se em Lori. Ela
tentou cobrir seu rosto para se defender quando o jacaré
pulou nela.

O homem réptil avançou sobre a lama, bloqueando seu


braço na boca do jacaré. Lutaram, o homem jacaré e a besta,
rolando sobre a terra úmida, numa batalha feroz, antes de
cair na água. Lori usou todas as forças para voltar ao barco.
A lama reivindicou seu último sapato e pesou sob o algodão
de sua saia, dificultando a manobra. Sem pensar, deixou cair
a lanterna sobre a borda do barco, afastou a saia da cintura e
se arrastou da lama para o barco.

Lori se apressou em pegar a lanterna mas, na pressa, se


moveu muito rapidamente e bateu com a cabeça na estrutura
metálica. Ela segurou sua têmpora. Um respingo soou na
água, e Lori se virou para ver o que estava acontecendo.
Porém estava muito escuro, e Lori bateu de cara na
cadeira do aerobarco.
Capítulo 3
Drake não gostou de ferir o animal quando bateu o
punho contra a cabeça escamosa da criatura, mas era a
única maneira de forçá-lo a soltar seu braço. A pressão das
poderosas mandíbulas em seu antebraço doeu, mas a
armadura de sua pele o protegia de ferimentos graves. O
jacaré afrouxou o aperto e Drake arrancou o braço livre para
que pudesse ir a superfície respirar.

Ofegante, chutou na direção do jacaré algumas vezes. A


criatura se afastou e Drake conseguiu entrar no aerobarco.
Ele resmungou quando se afastou da água.

O brilho da lanterna iluminava o fundo do barco, mas


ele não precisava disso. Seus olhos se deslocaram na
escuridão com facilidade. Ele alcançou a mulher
inconsciente, deitada ao lado do cadáver do velho. Sua pele
estava quente, e ele podia ver a subida e descida de suas
costas enquanto ela respirava.

Humana estúpida.

O que ela estava pensando ao pular na boca de um


jacaré? Drake atravessou o portal para a Terra há apenas
alguns anos, mas até ele sabia que você não deve se oferecer
como um lanche saboroso para monstros com dentes
grandes.

Sem esperar que outros jacarés fossem atraídos pelo


barulho da briga subaquática e viessem à procura de uma
refeição, Drake se transformou para a forma humana e
imediatamente começou a trabalhar tentando colocar o barco
em movimento.

Estúpido dragão shifter.

Ele não deveria a ter assustado assim. O que estava


pensando ao saltar para o barco na sua forma alterada?
Aqueles que conheciam seu segredo o alertaram sobre se
mostrar aos outros. Não era como se Drake pudesse nadar
nos pântanos a noite sem proteção. A mulher claramente
precisava de ajuda. E se as habilidades de tomada de decisão
da Senhora Big Daddy numa crise fossem qualquer
indicação, ela não era da região.

Espere. Senhorita. Aqui, eles falam senhorita, não


senhora. Senhorita Big Daddy. Ou Big Daddy era seu pai?
Sim. Fazia mais sentido.

O bastão do leme estava preso e depois de algumas


manobras, Drake fez o aerobarco funcionar novamente.
Felizmente, o banco de lama não era muito alto pois ele
conseguiu desalojar rapidamente o fundo do barco e o
devolveu à água.
A lanterna saltou enquanto conduzia o barco através
dos pântanos escuros. A luz dançava sobre o corpo da
mulher inconsciente. Suas pernas estavam nuas e sujas de
lama. Drake viu-se prestando mais atenção à sua respiração
do que na condução pois algo sobre ela causou uma sensação
estranha em seu peito. Foi como se a tivesse encontrado
antes e Drake continuou à espera do reconhecimento.

Ele guiou muito perto das árvores até que um pequeno


galho atingiu a hélice por trás. Com uma velocidade de
240km/h, a força do ventilador fez com que pedaços de
detritos atingissem a parte de trás do seu pescoço.

— Ai! — Drake sentiu o sangue escorrendo por cima do


ombro.

Tinha trabalhado com barcos como um de seus biscates


para ganhar comida e suprimentos, mas não estava
acostumado a pilotá-los. Sem parar o barco, Drake fez o seu
melhor para diminuir a velocidade e seguir para a pequena
doca perto de sua casa. As velhas tábuas de madeira já
tinham visto dias melhores, um canto estava submerso na
água. O barco percorreu a costa ao lado da doca.

Seria mais fácil transportar a mulher se mudasse de


forma, mas Drake não queria assustá-la se ela acordasse
enquanto a levava para dentro de sua cabana. Drake
lentamente a virou sobre suas costas e a mudança sutil de
cor em sua testa previu a formação de um hematoma. Ele
tocou a ferida levemente. Sua pele era macia.
A tradição dizia que quando visse sua companheira, ele
saberia. Pelo menos é o que os anciãos falavam. Os seres
humanos pareciam estar muito mais inseguros do processo.
Por qual outra razão eles teriam errado tantas vezes com
suas escolhas de casamento? Talvez os humanos não tenham
o mesmo gene de acasalamento que o Draig.

Drake ergueu a mulher em seus braços e pulou do


barco para a praia. Ela gemeu um som suave e feminino
então ele tentou andar levemente para não machucá-la.

Sua cabana era pequena, simples, mas o lembrava de


casa e Drake não gostava das ruas movimentadas de Nova
Orleans, aonde foi apresentado pela primeira vez à cultura da
Terra. Os pântanos da Louisiana eram muito parecidos com
os pântanos de onde ele cresceu. Bem, exceto que em sua
terra natal tinha poucas plantas venenosas e Louisiana tinha
jacarés gigantes... E mulheres bonitas e encalhadas.

Uma viúva o deixou ficar na cabana, em troca de ajuda


sempre que ela precisasse. Normalmente, isso significava que
Ursa queria alguém para comer com ela e ajudar a cortar
grama. Antes de chegar à Terra, Drake nunca cortou um
gramado mas a tarefa era estranhamente gratificante, onde
ele era o gigante lavrando pequenos campos.

Ele passava muito tempo sozinho nos dias de hoje.

Drake colocou a mulher em sua cama e a estudou por


um momento. Parecia muito íntimo tê-la aqui, especialmente
porque ela estava sem calça. A cama de um homem era para
uma esposa.

Levantando-a em seus braços, a moveu para o sofá.


Estudou-a de novo e franziu a testa. Não tinha tanto espaço
para ela no sofá e ele se sentia mal por dar a uma mulher
uma cama inadequada. Finalmente, a pegou novamente, e
colocou de volta na cama.

Por um longo momento observou a mulher. Agora que


estava segura, Drake se perguntou o que deveria fazer com
ela. Com seu pai morto, a mulher era sua responsabilidade.
Precisaria fazer as coisas por ela. Guardá-la. Alimentá-la.
Vesti-la. Encontrar-lhe um companheiro adequado. Matar os
inadequados se eles ousassem demais. Era muita
responsabilidade. Drake nunca foi um guardião antes.

Ajoelhado ao lado da cama, Drake ficou encantado com


seu rosto. Talvez ele devesse matar qualquer homem que se
atrevesse a chegar perto dela. A forte sensação de proteção
que sentia o surpreendeu, mas os deuses a colocaram em seu
caminho por uma razão. Hesitante, Drake acariciou sua
bochecha. Foi quando percebeu que sua camisa estava
ensopada de sangue e que estava um pouco tonto da batalha
no pântano.

Talvez descansar fosse a melhor opção. Drake se afastou


da mulher, caiu contra a parede do quarto e deslizou para o
chão. Ele precisava cuidar dela de qualquer maneira. Aqui
seria um lugar tão bom como qualquer outro.
Capítulo 4
Lori não abriu os olhos quando se levantou da cama.
Mais no piloto automático do que consciente, se moveu até
que seus pés tocaram o chão. Não gostava de acordar pela
manhã, mas muitas vezes os clientes exigiam que ela tirasse
fotos antes do amanhecer. Uma leve dor de cabeça se
instalou atrás de seu olho direito, mas Lori achou que não
fosse nada que um copo de café não curasse.

Esfregando a testa, estendeu a mão para onde seu


interruptor de luz deveria estar e finalmente olhou para o
lugar. O choque de ver uma parede desconhecida bateu
quase ao mesmo tempo em que seu pé acidentalmente
chutou um animal no chão. Ela saltou para trás com um
suspiro alto. Demorou alguns minutos para processar que
estava num quarto estranho, em algum tipo de cabana. A
cama estava coberta com um grande cobertor azul bordado
com um dragão de prata. Não era exatamente o que esperaria
ver numa cabana. Piscando com força, Lori tentou processar
seus arredores e olhou para o chão. Não era um cachorro,
mas um homem largado desconfortavelmente contra a
parede. Seu peito subia e descia em respirações rasas.

Lori se ajoelhou ao lado dele. Ela levantou o queixo e


afastou uma mecha de cabelo escuro de seu rosto. Ele tinha
belas feições num rosto robusto, com uma cicatriz ao longo
de sua testa e também uma barba por fazer. Sua pele estava
quente ao toque.

— Senhor? — Ela acariciou sua cabeça e deu-lhe uma


pequena sacudida. — Senhor, você pode acordar? — Ela fez
uma careta. Do que os Cajuns que alugaram o barco para ela
chamam um homem? — Hum, monsieur2? Senhor? Cara?
Homem sangrando no chão? Acorde!

Nenhuma resposta, apenas o mesmo subir e descer de


seu peito enquanto respirava. Lori olhou por cima do corpo,
encontrando seu braço coberto de sangue seco. Quando ela
tentou puxar a manga, percebe que estava presa à sua pele.
Lembrou-se de uma alucinação do que parecia ser um
homem lagarto lutando contra um jacaré. Ele, é claro, não
era nada tão ridículo como um homem lagarto, mas o
ferimento em seu braço a fez pensar que era o homem que a
salvou nos pântanos.

— Olá? — Ela gritou. — Tem alguém aqui? Precisamos


de um médico. Olá?

Lori ficou sem resposta.

— Ok, então, senhor. Vamos colocá-lo na cama e


descobrir o que há de errado com você.

2
Monsieur = senhor em francês.
Ter um plano era mais fácil do que executá-lo. Lori
apoiou as pernas e passou os braços ao redor de seu tronco,
mas nenhuma força de vontade ajudaria seus músculos a
levantar o amplo homem de 1,80 de altura.

— Merda. — Ela o apoiou contra a parede. — Não se


preocupe, senhor. Eu vou dar um jeito. Você me salvou do
pântano. Não vou deixar nada te acontecer.

Lori puxou a roupa e os travesseiros e os jogou no chão


enquanto tentava manobrar o homem na cama improvisada.
Não estava perfeito, mas pelo menos ele estaria mais
confortável. Depois que terminou, estudou seu trabalho. Ele
estava deitado de costas com seus braços ao seu lado e suas
pernas retas.

Lori foi à procura de um kit de primeiros socorros e um


telefone. A cabana tinha poucas peças de mobiliário, mas elas
eram resistentes. Uma geladeira e fogão, um banheiro
cuidadosamente abastecido com produtos de higiene pessoal
masculina.

— Oh, ótimo, continuo presa com Cajuns no meio do


nada, e este também está tentando morrer ao meu lado. Tudo
que eu preciso é um telefone estúpido. — Lori abriu gavetas e
armários, procurando freneticamente qualquer coisa que
ajudasse. — Vamos lá, quem não tem telefone neste século?

Encontrou panos, sabão e bebidas, mas nenhum


medicamento. Também encontrou um telefone fixo na casa,
mas sem conexão. Se esta viagem não era um aviso para
nunca deixar seu celular para trás e andar com pouca
tecnologia, ela não sabia o que era.

Fora da cabana estava o aerobarco com o corpo de Big


Daddy, que foi empurrado ao lado de um cais quebrado, mas
não viu sinais de outros veículos e ela não dirigiria o barco a
um hospital.

— Eu realmente estou presa aqui. — Disse Lori, o medo


crescendo dentro dela.

Voltando para o quarto, começou a limpar o braço do


homem. Várias feridas cercavam um longo corte e uma pele
irritada estava alinhada à uma ferida profunda.

— Isto é para o seu próprio bem. — Ela disse, enquanto


derramava bebida alcoólica ao longo do braço, para desinfetá-
lo, antes de colocar delicadamente um pano sobre a ferida.
Ele não reagiu nem mesmo quando ela amarrou o pano com
um par de meias.

Assim que terminou de amarrar a meia, ele levantou o


braço. Lori ofegou e caiu para trás. Ele estudou o curativo e
arqueou uma sobrancelha. — Você acabou de me queimar?

— Queimar...? — Lori olhou para a garrafa de licor. —


Você estava acordado quando fiz isso?

— Estou acordado desde quando você acariciou minhas


pernas. — Sua voz era profunda e enviou um arrepio na
espinha. Ela não reconheceu o sotaque, mas vagamente
lembrava de um ator escandinavo que viu na televisão uma
vez.

— Acariciar...? — Lori olhou para sua perna. Será que o


tinha tocado inadequadamente quando o moveu? — Não, eu
não estava...

O homem sorriu.

— Por que você não disse algo, se estava acordado? —


Ela perguntou.

Seu sorriso aumentou.

— Eu pensei que você estava morrendo. – Ela apontou


para o braço.

Ele deixou cair o braço enfaixado no seu estômago.

— Eu queria ver o que você estava tentando fazer


comigo.

Lori olhou o corpo do homem. Ela não tinha certeza se


ele queria soar tão sexual e convidativo, mas fez. Lori pensou
o quão fácil seria subir sobre ele e....

Pense em outra coisa, ordenou a si mesma.

— Você não parece Cajun. — Observou ela. — E


também não parece que é do sul. O que está fazendo nos
pântanos?
Ok, tema estúpido, mas melhor do que babar sobre ele.

— Eu sou. — Respondeu ele. — Eu moro aqui. Este é o


Sul. Eu sou Cajun.

— Não, eu diria escandinavo. Sueco? Norueguês?

— Ursa disse que se alguém perguntasse, era para falar


que sou Cajun. — Ele parecia muito sincero.

Lori ficou apreensiva. Logicamente, se alguém lhe


dissesse que eles estavam presos numa cabana num pântano
no meio do nada com um homem que dizia ser algo que não
era, sem hesitar, ela diria para fugirem porque este seria um
serial killer.... Ou um enredo de filme de terror realmente
horrível.

— Ursa?

— Ela fez uma cerimônia para formalizar. — Ele


continuou.

— Uma cerimônia? Para torná-lo Cajun?

— Sim.

— Que tipo de cerimônia?

— Nós tomamos uma bebida e então eu nadei pelado no


pântano, enquanto ela observava da costa.
— Oh, hum, ok. Meu erro. Você é um Cajun com
certeza. — Lori acenou, sem querer aprofundar a loucura
dessa conversa. — Devemos levá-lo a um hospital.

— Eu deveria te dar algo mais apropriado para vestir. —


Ele respondeu, ignorando sua sugestão de procurar ajuda
médica.

Lori olhou para baixo e viu que usava uma combinação


não tão encantadora de lama e calcinha.

— Cobre tanto quanto o meu maiô. — Ela disse. — Mas


sim, talvez eu deva mudar.

— Sim. Tome um banho. Eu cuidarei de seu pai.

— Meu pai?

— Eu ouvi você chamar aquele homem de pai. Lamento


que você o perdeu dessa maneira. — Ele empurrou-se para
sentar-se no chão.

— Big Daddy não é meu pai. Ele era o meu guia do


pântano. — Lori encarou sua cicatriz facial, perguntando-se
como ele a recebeu.

— Então eu deveria levar Big Daddy para seu povo. Eles


vão querer honrar os seus restos mortais.

— Big Daddy não pode ser ajudado. Você precisa de um


médico para olhar seu braço e evitar que ele piore. — Ela
usou a cômoda para levantar. Ele apontou para uma gaveta e
Lori encontrou um par de boxers dentro e a vestiu enquanto
ele a observava.

— Eu não deveria tê-lo deixado no barco. — O homem


se levantou.

— Ei, calma. Deixe as autoridades cuidarem dele. Eles


podem não gostar se você mover o corpo. — Lori o seguiu
quando ele saiu da sala.

— Você tem uma maneira estranha de mostrar respeito


aos mortos. — Afirmou.

— E você parece incapaz de admitir que esteja doente e


precisa de um médico. — Ela respondeu. — Isso precisa ser
olhado.

Ele levantou e estudou a ferida rapidamente, um gesto


superficial. — Vai curar.

Lori encarou sua antiga cicatriz.

— Existe um "porquê" de você não querer cuidados


médicos?

— Eu não preciso de médicos. — E encerrou o assunto


com naturalidade.

— Algo aconteceu para você não confiar em médicos?


Não tenho certeza de onde você é, mas o sistema de saúde
americano é muito confiável e seguro.

O homem tocou seu rosto.


— Você continua olhando para minha cicatriz. Ela não é
da noite passada. Então não se preocupe.

— Oh, eu não quis olhar. — Lori forçou seus olhos para


longe. — Parecia que tinha uma história lá.

— No meu mundo de origem houve um


desentendimento com os vizinhos agricultores de Var, que
queriam roubar parte do território crescente da minha
família. Quando eles se recusaram a recuar, nós lutamos e o
clã Myrddin enviou guardas gato para nos intimidar. Eles nos
atacaram como covardes e essa cicatriz é o resultado de um
desses ataques.

— O que aconteceu? — Lori não se lembrou de ouvir


algo sobre o que ele estava falando. — A sua família manteve
sua terra?

— Nós pedimos para a Realeza Draig nos ajudar a parar


os ataques às nossas fronteiras. O clã Myrddin negou e,
sendo como são, uma das mais antigas famílias nobres do
planeta, não foram questionados. Nossa realeza negociou um
acordo com a realeza Var, e perdemos algumas das
propriedades de nossa família para os Vars, porque estes
alegaram encontrar documentos territoriais antigos que
provaram que terra era a sua, e que nós estávamos
invadindo. Não importou que a minha família houvesse
crescido sobre estas terras desde que qualquer um podia se
lembrar, assim como a validade dos documentos não pôde ser
comprovada. — O homem suspirou. — É uma das razões
pelas quais deixei Qurilixen e vim para cá.

Draig?Var? Qurilixen? Ela não reconhecia nenhum


destes nomes.

Mas havia uma tristeza nele quando falou sobre isso e


também um desapego como se estivesse conformado com o
passado. Quando mais uma vez voltou-se para o barco, ela
agarrou seu braço bom para impedi-lo.

— Basta parar por um segundo.

Ele olhou para a mão dela. Lori tentou ignorá-la, mas


sentiu uma atração borbulhando dentro dela. Ele estreitou os
olhos e se inclinou mais perto.

— Você não está com medo de mim?

Lori balançou a cabeça em negação.

— Não. Por que eu estaria? Você me salvou e sou muito


grata a você. Eu não sei por que você estava nos pântanos na
noite passada, mas agradeço por estar lá.

— Eu estava seguindo caçadores. Eles causam


problemas nos pântanos sombreados. Perdão, vocês o
chamam de pântanos. Já me disseram que os caçadores são,
provavelmente, bêbados que agem sem pensar, que se
sentam em seus barcos à noite e atiram para a costa. Quase
atiraram em mim mais de uma vez, e eu me preocupo que
eles firam alguém. Pensei que seu barco fosse deles. — Como
se cético, ele estudou-a cuidadosamente e perguntou. — Você
sente isso também?

Lori engoliu nervosamente com a mudança abrupta na


conversa. Ela queria fingir que não sabia do que ele estava
falando, mas não teve coragem de jogar de tímida. Tinha algo
entre eles, uma conexão muito real que estalou através de
seus dedos quando se tocaram. Lori acenou fracamente.

— Você não me disse o seu nome.

— Aqui sou chamado de Drake. — Afirmou. — Ursa me


encontrou nos pântanos e pensou que era um nome
apropriado. Disse que se eu seria Cajun, precisava de um
novo nome que as pessoas pudessem pronunciar.

— Ursa? — Lori perguntou quem esta mulher era para


Drake. Ele já a mencionara várias vezes. Parecia estranho
sentir ciúmes de alguém que acabou de conhecer, mas o
sentimento estava lá.

— Ela é a dona dessa propriedade.

— E qual é o seu nome no outro lugar? — Ela lhe deu


um pequeno sorriso.

— Dimosthenis. — Disse ele com seu sotaque acentuado


fazendo a palavra quase impossível de repetir. — Mas eu não
posso voltar. Sou Cajun agora. Essa foi a minha antiga vida e
eu a deixei para trás.

— Bom te conhecer, Drake. Eu sou Lori Johnston.


— Nós nos conhecemos na noite passada e não foi tão
bom. — Afirmou.

Lori fez um barulho fraco, incapaz de criticar a tradução


literal de sua lógica.

— Então você vive aqui com sua família?

Talvez uma esposa? A última coisa que ela queria era


ser atraída por um homem casado.

— Eu não tenho família. Sou o último da minha


linhagem.

— Sinto muito por ouvir isso. — Disse ela, novamente


sentindo a solidão em sua declaração.

— Então eu não vou falar mais. Não quero dizer coisas


que desagradam a você.

— Não, eu quis dizer que sinto muito por sua perda.


Parecia pelo seu tom de voz que talvez tenha perdido a sua
família. Você pode me dizer o que quiser. Eu não vou impedir
que fale. — Lori começou a se aproximar mas recuou.

— Minha família está morta. Eles não vieram para


Louisiana comigo. Saí logo após a morte do meu irmão. Ele
foi morto por um gato.

— Eu sinto muito. Não deve ser fácil perder alguém sem


aviso, como num ataque de animal.
— Por que você continua se desculpando? Nenhum
desses eventos foi culpa sua. — Drake olhou para ela. — A
menos que você ache que é uma deusa?

— Não. Não uma deusa. — Lori não se incomodou em


continuar esse curso da conversa. Em vez disso, apontou
para o braço enfaixado. Os panos se afrouxaram. — Por
favor, me deixe te levar a um médico. Você salvou minha vida
na noite passada. O mínimo que você pode fazer é me deixar
salvar a sua hoje.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— As infecções podem matar. — Explicou Lori. —


Podem não ser tão perigosas quanto um jacaré e pelo visto
você gosta de nadar, mas eu não vou voltar a este pântano
tão cedo.

— Vai ficar tudo bem. Pode salvar a minha vida outra


vez, se quiser. Mas concordo que você não deve voltar aos
pântanos. Se debater na lama não é uma forma aceitável de
combate.

Lori começou a rir, mas Drake parecia muito sério.

— Eu vou tentar lembrar isso. — Ela disse.

— Você não foi treinada muito bem. Se quiser, posso te


mostrar habilidades de sobrevivência adequadas para o caso
de ficar presa novamente num barco nos pântanos.
— Obrigada pela oferta, mas tenho certeza que não vai
acontecer de novo. — Ela não tinha certeza do que o destino
reservava, trazendo-o à sua porta, mas estava muito curiosa
para ver onde sua amizade podia ir. Mesmo que Drake falasse
com palavras cortadas e usasse palavras muito formais,
sentiu como se o entendesse num nível natural, não dito.
Capítulo 5
Finalmente! Os deuses o abençoaram! Drake encontrou
sua companheira. Sua única e verdadeira esposa.

Eles deveriam estar juntos e Lori sabia disso também.


Ela disse isso. Sentiu sua conexão.

Drake queria sorrir e gritar para as árvores como estava


feliz por ter finalmente encontrado sua companheira. Foi
exatamente como os anciãos Draig disseram que seria.
Quando ele abriu os olhos naquela manhã e a encontrou
cuidando dele, Drake sabia. Algo dentro dele explodiu. No
entanto, com a sua responsabilidade sombria de entregar o
morto à sua família, Drake tentou manter a calma.

Não tinha muito que pudesse fazer para preparar Big


Daddy, além de envolvê-lo em uma capa. Quando terminou,
Drake encontrou Lori esperando por ele perto da casa. Ela
tomou banho e limpou a lama do corpo. Drake tirou tudo,
exceto a atadura do braço que Lori fez e lavou com uma
mangueira para tirar o cheiro de pântano. Ele vestiu um par
de jeans que havia secado no varal.
— Ursa terá um jeito de contatar as autoridades para
buscar o homem. — Disse ele. — Eu liguei para ela e pedi
para enviar ajuda. Agora vamos esperar.

— Por que você não falou com as autoridades pelo


rádio? — Ela perguntou. Seus olhos estavam sobre o seu
peito nu, e ele olhou para baixo se perguntando por que Lori
o encarava com uma cara tão estranha.

— Meu rádio só contata Ursa. — Afirmou.

— Esta Ursa realmente o mantém sob seu polegar, não


é? — Lori murmurou.

— Eu não... — Ele começou a pedir para explicar o


comentário, mas ela o cortou.

— Eu não vejo um veículo. Você tem uma maneira de


sair daqui? — Seus olhos finalmente encontraram os de
Drake.

— Não preciso. Eu nado ou corro quando preciso ir a


algum lugar.

— E um telefone?

— Não preciso. Eu tenho um rádio.

— Que só faz ligação para Ursa. Você está vivendo sem


muitos recursos3, não é?

3
A expressão living off the grid significa vivendo fora da grade na tradução literal mas quer dizer viver
sem recursos ou desaparecer. Drake a entende de forma literal.
— Infelizmente, apesar desse lugar parecer com uma
casa, eu não posso sobreviver exclusivamente da terra aqui.
— Ele levantou o dispositivo preto que encontrou no barco. —
Esta arma piscando pertence a você?

Lori riu e estendeu a mão para pegar.

— Eu nunca ouvi alguém chamar minha câmera de


arma antes, mas acho que há poder em imagens.

Drake gostava do sorriso dela. Seus dedos se tocaram, e


ele foi incapaz de largar o dispositivo. Em vez disso, usou sua
força para aproximá-la. O magnetismo do seu corpo era
diferente de tudo que Drake já havia experimentado. Seu
coração acelerou como se estivesse numa caçada. Seu
estômago apertou, como nas horas solitárias da noite. Sua
boca doía por contato.

Drake já tinha assistido ao acasalamento de casais,


sabia o que acontecia, mas nunca teve a oportunidade ou
vontade de tocar uma mulher. Agora, a emoção era como
uma força da natureza e ele não se conteve. O instinto
assumiu e Drake encostou a boca na dela.

O contato íntimo aqueceu todo o seu corpo de uma


maneira que o sol quente da Louisiana não podia. Ela fez um
som suave e Drake interrompeu o beijo para olhar seu rosto.

Lori respirava pesadamente. Seus olhos estavam


fechados, e ela respirou várias vezes antes de olhar para ele.
— Por que você parou?

— Você reclamou. — Ele respondeu. — Tenho honra,


prometo que não ultrapasso limites. Existem regras. Não
importa o quanto quero te beijar, se você reclamar, eu...

— Eu não reclamei Drake. — Ela envolveu os braços em


seu pescoço. — Pelo contrário.
Capítulo 6
Lori não sabia por que estava tão desinibida mas não
era tola. Claro, ela sabia que o que sentia podia ser gratidão a
seu salvador e Drake a salvou do pântano.

Mas, e daí se estivesse agradecida? Ele também era um


homem bonito, que teve a bondade de ajudar um estranho.

Além disso, ele tinha lábios muito fortes.

Lábios firmes e fortes.

Lábios firmes, fortes e sexys.

Quanto um beijo poderia machucar?

Lori colou a boca de Drake na dela, trazendo-o de volta


ao beijo. Ele hesitou antes de tocar seus quadris, para
aproximá-la. Os músculos firmes de seu corpo colidiram com
os dela. O choque do contato completo a fez esquecer tudo.
Drake deslizou a língua sobre os lábios, não mergulhou, mas
testou para ver se ela resistiria.

Lori imitou seu movimento antes de aprofundar o beijo e


cada nervo despertou. Um beijo se transformou num toque,
que se transformou num aperto, numa carícia, e depois em
outra, e outra.... Outra.
Implacavelmente ela continuou a beijá-lo. Suas mãos
mergulharam em seus cabelos. Lori sentiu seu corpo sendo
erguido do chão, mas não pensou no motivo.

Drake a levou para dentro da cabana. O ar condicionado


da janela diminuía a temperatura lá dentro, mas o calor de
seu corpo a manteve quente. Quando seus pés voltaram ao
chão, Lori pensou em se afastar, ser sensata. Ela sabia que
deveria parar o que acontecia.

A lógica, porém, não substituiria a sua necessidade de


estar ao lado de Drake. Foi uma emoção primordial, uma
força invisível que trouxe seu olhar para ele, seus lábios nos
dele, seu corpo junto ao dele.

A luz dançava estranhamente em seus olhos, com um


brilho interno que sorria e fascinava.

— Isso não faz sentido. — Ela sussurrou.

— A vontade dos deuses não precisa fazer sentido.

Essa era a coisa mais estranha ou a coisa mais doce que


um homem já havia dito a ela.

Drake a beijou, cortando qualquer protesto que Lori


pudesse tentar transmitir. Ele a acompanhou até o lado da
cama e ela sentiu o colchão bater na parte de trás de suas
pernas quando Drake a pressionou contra ele. Suas mãos
percorreram seus lados e quadris antes de segurar sua
bunda.
— Camisinha? — Lori sussurrou enquanto a levava para
o colchão.

— Você é muito bonita. — Drake puxou sua roupa,


tirando facilmente os shorts de seus quadris e a camisa. Seus
olhos perfuraram os dela de forma tão intensa que Lori
desviou o olhar. O calor irradiava de Drake. Sua respiração se
aprofundou. A atração hipnótica de seu peito nu a atraía
como nada que ela já tivesse experimentado. A cada toque
Lori ficava mais e mais enfeitiçada.

Ela não acreditava em desejo irracional ou decisões


insensatas tomadas no calor do momento, mas aqui estava
ela tirando as calças de um homem que acabara de conhecer,
tomando cuidado para não tirar o curativo do seu braço.

Suas mãos tremiam enquanto tocava nos quadris de


Drake. A ponta de sua excitação, nua, roçou contra ela.

— Camisinha? — Lori perguntou de novo. Tomava


pílulas anticoncepcionais, mas se orgulhava de fazer boas
escolhas quando se tratava de sexo.

— Você é muito linda. — Drake respondeu com a voz


rouca.

Seus beijos se tornaram agressivos conforme a


empurrava para a cama. A sensação de seu corpo sobre o
dela tornou a concentração quase impossível. Ele tocou em
todos os lugares que podia alcançar, seguindo as mãos com
uma boca ansiosa. Ela queria que Drake fosse lento, mas ele
a explorava com pressa, como se tivesse muitas coisas para
descobrir e pouco tempo. Mas ainda assim tinha algo de
atraente no entusiasmo que ele mostrava.

— Não é uma corrida. — Disse Lori, rindo, enquanto


tentava empurrar a boca que acariciava seu seio.

Drake ergueu a cabeça para olhar para ela.

— Teremos festividades para celebrar nossa união, mais


tarde. Podemos realizar uma corrida, se desejar. Cumprirei
todos os costumes do seu povo. Sei que precisa ter flores e
bolo.

— Você quer dizer um encontro? — Lori não podia


deixar de rir. Festas?

— Se você deseja que seja formal, definiremos uma data


para as festividades. Tudo o que desejar amor, vou fazer
acontecer.

Amor? Lori começou a rir de novo, e só parou quando


viu sua expressão séria. Parecia que Drake queria
desesperadamente começar a beijá-la de novo, mas esperava
sua permissão para continuar.

Tentando não parecer crítica, ela sondou.

— Há quanto tempo você está neste país? Você fala


inglês muito bem.
— Eu atravessei o portal há alguns anos. Os deuses me
enviaram a Nova Orleans. — Ele fez uma careta
desagradável. — No começo pensei que havia sido punido
por sair de casa e caído aqui como penitência da vida após a
morte. O ar cheirava a resíduos humanos, e várias pessoas
estavam doentes. Na primeira noite da minha chegada, uma
mulher alertou sobre os espíritos LaLaurie4 presos num
grande templo. Eles deveriam deixar as ofertas aos espíritos
irritados. Talvez, então, a cidade não seria tão amaldiçoada.

— Doente? — Lori respirou fundo. Esta era uma


conversa estranha, com certeza, e definitivamente não era a
mais romântica. Ela não podia deixar de mexer as pernas
contra as coxas dele. Drake continuou rígido.

— Sim, eles vomitavam nas ruas e dançavam


erraticamente. Não sei se o desequilíbrio era uma praga ou
um feitiço que dos músicos médicos. De qualquer maneira,
nunca imaginei que pessoas doentes fossem tão felizes. A
melodia mágica era estranha para mim, mas os artistas eram
muito talentosos. Essa foi uma coisa que gostei da cidade. A
comida também cheirava deliciosa, mas eu não comi porque
não quis participar da tortura junto com os moradores.

Levou um momento para Lori processar, especialmente


porque Drake estava nu em cima dela, tendo essa conversa
estranha. Ela respirava com dificuldade, tentando muito se

4
Marie Delphine McCarthy ou Madame LaLaurie foi uma socialite de Nova Orleans e suposta assassina
em série, que segundo a lenda ajudou a torturar, mutilar e matar cerca de 96 escravos negros.
concentrar em suas palavras. Foi um pouco difícil seguir o
que ele falava em inglês. A dor dentro de seu corpo se
intensificou quando Drake se acomodou contra ela.

— Oh, quer dizer que você estava no Bairro Francês5


durante a noite.

— Sim, creio que Ursa também disse que as pessoas


tinham a praga dos bairros franceses. Aparentemente, as
pessoas de seu mundo vão lá para sofrer. Não faz sentido
para mim, mas não posso julgar o rito de passagem dos
humanos. Meu mundo de origem foi amaldiçoado à sua
maneira, mas não tão profundamente quanto o Bairro
Francês. Por razões desconhecidas ao meu povo — pelo
menos para as pessoas comuns já que a realeza nunca
chegou ao problema — crianças do sexo feminino não estão
nascendo, e minha geração não tem muitas chances de
encontrar uma esposa. Foi uma das razões pelas quais eu
saí. Não tinha futuro para mim lá.

Lori estava em algum lugar entre o rir ou ficar confusa.


Não compreendia o que Drake dizia. Músicos médicos?
Mundo de origem? Ela sabia que deveria dizer algo, mas tudo
o que queria era beijar o homem louco e fazê-lo terminar o
que começaram.

Drake respirou fundo, instável.

5
Bairro Francês é o bairro central de Nova Orleans, conhecido por suas características históricas e
intensa vida noturna e numerosos estabelecimentos de diversão.
— Você tem outras perguntas para mim? Responderei a
todas elas, mas agora eu gostaria muito de continuar o que
estávamos fazendo.

— Oh! — Lori olhou para baixo entre seus corpos. A


ondulação de seus músculos pairou perto de seu estômago. O
desejo agitou entre eles, e Lori levantou seus quadris. — Eu
não quis que você parasse e....

— Então, tem certeza que quer isso? — Ele esclareceu.

Lori alcançou o peito dele e esfregou as palmas das


mãos sobre o corpo firme.

— Estou aqui por vontade própria, obrigada por ser


respeitoso o suficiente para perguntar.

Uma barragem dentro dele se quebrou, inundando


numa torrente de emoções. Drake a beijou apaixonadamente
como se sua vida dependesse da respiração dela. Ele
acariciou a curva do quadril e da coxa, incentivando as
pernas a se separarem. Esse primeiro contato íntimo a fez
gemer em antecipação.

Isso estava realmente acontecendo.

Todos os pensamentos escaparam, mas o impulso


primitivo guiava seu corpo. Sem perceber, Lori estava faminta
por suas necessidades primitivas, e agora elas assumiram o
controle, estourando e exigindo serem saciadas.
Ironicamente, ela lhe disse para ir devagar. Mas agora parecia
que Drake não era rápido o suficiente. Lori precisava sentir
mais, precisava dele dentro dela.

Lori empurrou Drake em suas costas e montou sua


cintura. Agarrando seu rosto, ela o beijou. Seus quadris
trabalhavam sobre seu corpo, encaixando à posição perfeita
até que finalmente deslizou sobre ele. A plenitude causou um
empurrão involuntário, e ela ofegou. Drake segurou sua
cintura, evitando que seu corpo recuasse. Ele a segurou
firme, balançando profundamente e ela encarou seus olhos
carregados de paixão.

Ah, porra. Isso está realmente acontecendo.

Nada a impediria de se mover em cima dele. A


necessidade veio desesperada, exigente. Ela precisava senti-
lo, precisava encontrar o momento perfeito de liberação.

Ah, porra. Ah, porra.

Lori experimentou um clímax fantástico e não podia se


mover. Por um segundo, a tensão se segurou só para rolar em
ondas gloriosas de prazer. Drake gritou e agarrou Lori com
força.

Quando os tremores diminuíram, a razão voltou. Lori


olhou para seus corpos unidos. Ela tentou se desvencilhar, a
luta lógica para separar seus corpos, agora que ela tinha
encontrado a libertação. — Ah não!

Sua expressão mudou de prazer para preocupação.


— Nos esquecemos da proteção. Não devíamos ter feito
isso. — Ela levantou e deu uma olhada cautelosa.

— Eu não entendo. Por que você precisa de proteção?


Alguém quer te machucar? Os caçadores…?

— O quê? — Ela balançou a cabeça. — Não, proteção


contra doenças sexualmente transmissíveis.

Ele arqueou uma sobrancelha, claramente ainda sem


entender.

— Doenças sexualmente transmissíveis. — Ela


esclareceu. — Meus exames de sangue estão bons, mas para
isso entre nós valer à pena, eu não deveria engravidar... –
Lori o olhou com expectativa.

— Você acredita que porque eu estava em Nova Orleans,


vou te infectar? — Drake lentamente se sentou na cama. —
Eu lhe asseguro, sou honrado.

— Não é nada pessoal. Você sabe como é hoje em dia. O


movimento do amor livre acabou. Agora você tem que...

— Você quer que eu consiga um noivo para você?

Lori riu. Como não poderia?

— Casamento? Oh Deus, não! Acho que você não


entendeu o que eu disse. Não, não estou pedindo para que
você se case comigo. Isso seria ridículo. Eu quis dizer que não
deveríamos ter transado sem preservativo.
— Eu te disse, você é muito bonita. — Afirmou. — Por
que você continua pedindo para eu repetir isso? Você acha
que a minha palavra vai mudar?

— Eu, hum... O quê?

— Você continua me dando ordens para cumprimentá-


la.

— Preservativo?

— Sim, você é linda. Você cheira bem. Eu gosto da sua


pele. Qual o melhor elogio que você poderia querer?

— Os preservativos são o que você envolve em torno de


seu pênis para evitar a transmissão de doenças e gravidez.

— Acho que você está enganada. O cartaz com a mulher


sorrindo diz: "Preservativos: dê para ela o Último Elogio6."

— Isso é um anúncio. — Disse Lori. — Para que você


use um preservativo.

Drake de repente se levantou. Ele parecia irritado.

— Você continua dizendo que estou doente e que não


quer ter o meu filho.

— Eu estou confusa agora. — Lori se sentiu vulnerável,


nua diante dele então pegou a camisa e o calção
emprestados.

6
Pay her the Ultimate Compliment = Dê para ela o Último Elogio. Propaganda de preservativos.
— O que está feito, está feito, você não pode mudá-lo. —
Ele aparentemente não se incomodava em ficar nu, somente
com a bandagem no braço.

Seu corpo nu tornava difícil a tarefa de olhar


diretamente para ele. Lori queria esquecer essa conversa,
voltar para cama e começar de novo.

— Eu não estou dizendo que me arrependo de dormir


com você. Só estou dizendo que deveríamos ter pensado...

— Você é ou não minha noiva?

Era a segunda vez que Drake mencionava casamento.

— Cumprimos os costumes do meu povo. Declaramos


nossa intenção de estar juntos e acasalamos. Eu acredito que
você precisa de uma cerimônia com flores e bolo. Eu vi as
fotos de Ursa.

— Lori realmente queria conhecer essa Ursa, que


aparentemente gostava de encher a cabeça de Drake com
bobagens e explicações pela metade.

— Oh, ah, não estamos noivos para nos casar. —


Afirmou. Isso precisava ser esclarecido. Será que Lori poderia
namorar com ele? Sim. Será que dormiria com Drake de
novo? Sim, desde que este pequeno surto de loucura
passasse. Será que ela concordava em engravidar de um
compromisso sem amor, sério e um cuidadoso planejamento?
Não. A logística de uma relação potencial era confusa: Drake
não tinha telefone ou internet, e Lori não vivia na área.

— Entendo. — Drake pegou um par de jeans de uma


gaveta e saiu do quarto. Lori viu sua bunda quando ele
passou pela porta. — Eu ouvi o carro do xerife.

Lori o seguiu, mas não ouviu nada.

Drake não entendeu o que aconteceu. Eles estavam


acasalados, não estavam? Pelo menos de acordo com os
costumes de seu povo. Ambos concordaram e depois
compartilharam uma cama. Isso significava algo. Tudo bem,
sua cabana não era uma tenda de casamento Draig, e Drake
não apresentou ao Rei e Rainha Dragão, mas é claro que as
permissões seriam concedidas já que estava em outro
planeta.

Era um teste. Tinha que ser um teste.

Mas por quê? Os fatos eram simples e inconfundíveis.


Drake a encontrou. Lori concordou. Eles acasalaram. Fim.
Casaram-se de acordo com a mais fundamental das tradições
Draig. Já sentia seu corpo completamente concentrado nela,
cada nervo avivando para se unir aos dela. Cada pensamento
doía para alcançar sua mente e se comunicar.

Quando Drake a viu naquela primeira noite no barco


sentiu a familiaridade, embora não soubesse o porquê no
momento. Mas ainda assim seu subconsciente a reconheceu
e foi assim que funcionou. Um segundo foi tudo o que Drake
precisou para sentir seu vínculo. Ainda assim deu à Lori
muitas horas para se decidir. Então, por que ela agia como se
o que aconteceu não fosse nada?

Drake saiu para o gramado. Sua audição shifter pegou o


carro do xerife a cerca de cinco milhas da estrada. Tanto
quanto queria apresentar sua companheira à testemunhas,
um gesto um pouco tradicional para finalizar o casamento,
Drake manteve a distância. Se Lori não queria estar com ele,
talvez ele pudesse desfazer o acasalamento. Se Drake não
dissesse a uma testemunha que dormiu com ela...

Vendo-a em sua varanda, olhando para ele, Drake sabia


que era tarde demais. Ele encontrou sua mulher e ela não o
queria mais. O guerreiro nele queria lutar por Lori, exigir que
o amasse, ficasse com ele, acasalasse com ele. O dragão nele
queria pegá-la e escondê-la, até ela perceber o que de fato
havia acontecido entre os dois. O homem nele sabia que ele
era honrado, e não a forçaria se Lori não o queria.

Os deuses foram justos e cruéis em sua punição. Drake


saiu de casa, desafiou o plano da realeza, e agora pagava o
preço final: nunca estar completamente acasalado e banido
para sempre do seu mundo.
Capítulo 7
Lori estava dividida entre seus instintos jornalísticos
para levantar a câmera e tirar fotos da polícia e socorristas
enquanto pegavam o corpo de Big Daddy, e sua necessidade
de respeitar a privacidade do homem que perdeu a vida
enquanto a levava num tour pelos pântanos. No final, ela só
tirou fotos boas do evento. A ideia de escrever uma
homenagem com pedaços interessantes da vida de Big Daddy
no pântano já estava rodando em sua cabeça. Era o mínimo
que podia fazer, dadas às circunstâncias.

Drake não falou com ela, mas Lori o pegou observando-a


atentamente. Xerife Jackson chegou sozinho em seu carro,
um velho carro policial. Ele pegou algumas fotos em seu
telefone, ligou para alguém e ordenou que os paramédicos,
Chester e Jim, levassem o corpo.

— Você não precisa de um médico legista aqui para...?


— As palavras de Lori sumiram quando o xerife lhe deu um
não-se-intrometa-onde-não-é-chamada. Veja. O homem falou
em voz baixa para Drake, gesticulou para o pântano algumas
vezes, gesticulou para ela algumas vezes, escreveu algumas
coisas e fechou seu caderno. Caso encerrado, aparentemente.
— Com licença. – Lori o chamou, correndo atrás de um
dos paramédicos. Chester, o paramédico mais jovem,
aparentava ser novo no campo, mas ele e seu parceiro
pareciam qualificados no que estavam fazendo... Bem, até
onde pôde observar já que o paciente que estavam atendendo
estava morto. Tocou seu braço e com suavidade o conduziu
para onde Drake estava com o xerife. — Como eu mencionei
quando você chegou, eu preciso que você olhe o braço de
Drake. Ele foi mordido por um jacaré tentando me salvar.

— Ele disse que está bem. — Afirmou Chester. — Eu


não posso...

— Escute, ah... — Lori parou e olhou para os homens


que agora concentraram toda sua atenção sobre ela. —
Chester, você pode olhar para Drake e me fazer feliz, ou eu
posso continuar a insistir até você ceder.

— Eu... — Chester olhou para Drake. — Por favor, me


mostre o seu braço.

O xerife riu. Ele tinha o rosto marcado pelo sol como em


filmes de caubói e sua voz grave e com forte sotaque do sul
era quase difícil de entender, o que seria intimidante se não
fosse por seu sorriso fácil.

— Vá em frente, Drake. Melhor fazer o que ela diz. Eu


tenho o que preciso de você.

Drake assentiu uma vez. Sem falar, levantou o braço


para o paramédico e encontrou o olhar de Lori.
Chester arqueou uma sobrancelha enquanto
desamarrava as meias de seu curativo improvisado.

— Eu fiz isso, — Ela disse. — mas estou preocupada


com uma infecção. Drake não vai a um médico então talvez
se você falar, ele ouça.

Os olhos de Drake ficaram focados nela. Tinha uma


possessividade neles que causou um pequeno tremor sobre
Lori. Ela não gostava de onde deixaram a conversa, mas não
tinha certeza do que mais poderia dizer. Aparentemente
Drake queria um compromisso definitivo e ela não teria um
casamento e um bebê com ele após uma noite. Até mesmo
considerar isso seria insano.

Ainda assim, não podia explicar a dor dentro dela


quando pensou em ir embora e nunca mais ver Drake de
novo. Havia algo entre eles, algo potente e real. Apenas olhar
para ele fazia seu coração bater mais rápido. Lori queria tocá-
lo, queria ouvir suas histórias estranhas sobre desembarcar
em Nova Orleans e mal-entendidos do French Quarter,
histórias sobre o que ele chamou de seu mundo de origem,
onde tinha realeza e gatos comedores de homens.

O paramédico tirou o curativo e examinou o braço


ferido.

— Para mim não parece tão ruim. — Ele moveu o pulso


e cotovelo. — Qualquer outro machucado?

Drake negou.
— Fale com o médico, se quiser, mas... — Chester
começou.

— Não é ruim? — Lori fez um pequeno som de surpresa.


O homem é um idiota? Ela se aproximou para olhar por si
mesma. — Você olhou o braço direito? O homem claramente
precisa de pontos e médico... — As palavras dela
desapareceram quando olhou para o braço de Drake. Os
cortes profundos desapareceram. — Mas, não, eu vi... — Lori
pegou o braço e o levantou para verificar se examinaram o
certo. — Mas tinha sangue e...

— Não parece que a pele está machucada, mas você


pode usar uma pomada antibiótica nela, se quiser. Acho que
vai sobreviver. — Chester disse para Drake um pouco
sarcasticamente antes de olhar para Lori. Parecia que ele
queria dizer muitas coisas, mas segurou.

— Drake, tem certeza que não precisa ir para o hospital?


— Perguntou o xerife.

— Não, eu não estou ferido. — Afirmou Drake.

Lori olhava para o braço de Drake, estudando os


arranhões rosa como se os cortes fossem voltar.

Com um breve aceno para o xerife, Chester disse: —


Jackson... — E saiu.

— Drake, eu vi seu braço. Tem sangue na toalha. Isso


veio de... — Lori percebeu que ainda segurava o braço de
Drake, então o soltou. — Eu não sou louca. Você foi ferido.
Eu vi...

— Entendo que você teve uma noite difícil, senhorita


Johnston. — Xerife Jackson interrompeu. — Eu vou te dar
um passeio até a estação. Vamos pegar sua declaração lá e
depois te levar ao seu hotel o mais rápido possível. Tenho
certeza que você vai querer esquecer essa experiência. — O
xerife se virou para Drake. — Posso confiar que você levará o
aerobarco de volta ao seu lugar? Big Daddy era fixado em
barcos que correm rio acima, no Gator Boat Rides. Os
Beauchamps são boas pessoas e se você o levar de volta, eles
te darão uma carona para casa. Ou você quer que os
proprietários enviem alguém?

— Cuidarei disso. Eles terão trabalho suficiente com a


morte de seu ente querido. — Disse Drake.

— Sempre gostei de você. — Disse o xerife. — Pode não


ter nascido no pântano como o resto de nós, mas entende
como as coisas devem ser. — Então se virou para Lori. —
Venha, senhorita.

— Drake... — Lori começou, sem saber o que dizer. Ela


olhou para os lábios dele, querendo voltar no tempo quando
estavam sozinhos em seu quarto, antes que tivesse um
pequeno surto de responsabilidade. Mas isso era impossível.
Drake era um bom menino que vivia no pântano, que nadava
com jacarés e ela era da civilização. Tanto quanto queria
envolver seus braços ao redor do pescoço e o beijar, Lori
sabia que era melhor não demorar. Tinha tanta coisa que
queria dizer, mas o xerife olhava para ela com expectativa.
Em vez disso, Lori falou: — Obrigada por me salvar. Eu
nunca poderei pagar por isso. — Ela começou a sair, mas
depois parou. — Estarei no Plantation Inn pelos próximos
dias. Se você vier, eu gostaria de jantar com você... — Lori
olhou para o Xerife Jackson, que continuou a observá-la
atentamente. — ...como forma de agradecimento. Sei que não
é muito, mas...

Drake assentiu.

— Se for a vontade dos deuses, vou ver você de novo.

Certo. Os deuses. Não era exatamente a resposta


apaixonada que ela esperava.

Lori sentiu o xerife levando-a para o carro. Ele abriu a


porta do lado do passageiro e a colocou no banco da frente.
Lori se virou para olhar para Drake mas ele não se moveu,
apenas ficou de pé, olhando ela ir.

— Não se ofenda se Drake não aparecer senhorita. — O


xerife disse ao ligar o motor. — Esses meninos do pântano
tendem a ser solitários.

O homem não disse que Lori não se encaixava, mas não


precisava. Ela já sabia. Qualquer tipo de relacionamento seria
impossível. Drake não tinha um telefone, então um
relacionamento à distância estava fora de questão, e ela não
moraria numa vila de jacarés. O melhor que podia esperar
era que seus deuses quisessem que se encontrassem
novamente numa realidade diferente.

Quando o carro se moveu através das árvores grossas,


a cabana de Drake foi imediatamente escondida. As estradas
retorciam e giravam até ela ter certeza que nunca mais
poderia encontrá-lo. Lori voltou sua atenção para a câmera
no colo. A bateria estava quase morta, então a colocou
lentamente na bolsa.

Considerando onde estava na noite passada, deveria


estar feliz por voltar à civilização. Mas, quanto mais o carro
aumentava a distância entre ela e Drake, Lori não podia
deixar de sentir uma imensa perda. Isso apertou seu
estômago e causou uma dor real em seu peito, perto do
coração. Tinha algo entre eles, uma ligação inegável, e seu
breve momento juntos havia terminado.
Capítulo 8
A secretária da delegacia digitou com dois dedos, dois
dedos muito lentos. O xerife não mentiu quando disse que
dar a declaração seria rápido e indolor. O que ele não disse
foi que Darla gostava muito de sua manicure, e Lori não
podia sair até que ela assinasse o documento finalizado.

— Ao contrário da maioria das estações, o nosso café


não é ruim. — Disse o xerife Jackson, lhe entregando um
copo de café descartável e um bolinho num guardanapo. Ele
a deixou esperar em seu escritório num sofá de couro
marrom. — E nada de piadas de policial e bolinhos. Meu
irmão é dono de uma padaria.

— Obrigada. — Respondeu Lori dando um pequeno


sorriso. — E eu não brinco com uma boa rosquinha.

O xerife olhou para onde a bateria da câmera estava


carregando. Ele tomou um pequeno gole do seu próprio café
antes de colocá-lo na mesa. — Fotógrafa é?

Ele sabia tudo. Lori disse isso na sua declaração. Mas


apreciou seus esforços para conversar e concordou.

— Sim. — Foi buscar sua bateria e começou a montar a


câmera para ver as fotos. — A princípio, eu vim para escrever
uma peça de viagens no Plantation Inn pois queria ter
algumas fotos dos pântanos na luz noturna. Ainda devo essa
revisão ao meu editor, mas depois de tudo o que aconteceu,
sinto que preciso fazer algo para Big Daddy... e para Drake.

— Drake? — O xerife arqueou uma sobrancelha e fechou


a porta do escritório. Foi um gesto estranho, considerando
que os oficiais lá fora não faziam barulho.

— Ele me salvou. — Lori ligou a câmera e começou a ver


suas fotos. Tinha várias da pousada e dos proprietários.

— Mas por que você quer fazer uma história sobre ele?

— Porque ele me salvou. — Repetiu Lori, olhando para a


imagem do buffet de café da manhã. — E Drake é um
personagem único. Acho que as pessoas ficariam
interessadas em sua história.

— Você falou da ideia com ele?

Lori sacudiu a cabeça.

— Não, mas acho que boas ações merecem algum tipo


de reconhecimento, não é? E é uma ótima história: a
experiência pessoal do escritor, o medo dos pântanos à noite,
a alegria que Big Daddy teve durante toda a sua vida e até o
fim, jacarés famintos e depois o homem lagarto.

— O homem lagarto? — Xerife Jackson cruzou os braços


e se sentou em sua mesa. Ele olhou para a janela do
escritório onde três oficiais se inclinaram sobre um arquivo
antes de voltar a estudá-la.

— Isso é do que eu vou chamá-lo: “O Homem Lagarto do


Pântano”. — Disse Lori. Depois ela poderia escrever a história
de como Drake chegou à América. Primeiro tinha que
descobrir onde ficava Qurilixen e quem era Var e Draig.
Provavelmente falavam uma língua estrangeira de alguma
aldeia escandinava. Quando as pessoas ouvissem sobre
famílias reais que tiravam terras de pessoas comuns, como se
estivessem no período medieval, ficariam com raiva. Lori
chamaria atenção para a causa.

Ela passou as fotos mais rapidamente. Tinha várias de


Big Daddy e dos pântanos. Um professor de fotografia lhe
disse para tirar muitas fotos de tudo, porque o filme era
barato em comparação com um momento perdido, e era o que
Lori fazia.

— Eu não tenho certeza que uma história seja uma boa


ideia.

— Será que o título precisa de algo mais? Talvez eu vá


chamá-lo “Homem Lagarto do Pântano: Presa com um Cajun”
— Lori meditou.

— Você ficou lá uma noite. Isso não é estar presa. —


Disse o xerife.
— Parece mais dramático dessa maneira. — Respondeu
Lori. — E eu estava presa nos pântanos quando Drake me
salvou.

— E Drake não é Cajun. — O xerife continuou.

— Ele disse que sim. — Lori defendeu. — Big Daddy era.


Deixa para lá. Vai ser simplesmente “O Homem Lagarto do
Pântano”.

— Escute, Drake é... — O xerife fez uma pausa, como se


medindo as palavras. — Bem, ele é uma pessoa privada.

— Eu não vou imprimir o seu endereço residencial. —


Disse Lori. Ela finalmente encontrou uma foto de olhos de
jacaré iluminados pelo flash da câmera. O medo tomou conta
dela mais uma vez, e também o imenso alívio que suas
provações haviam terminado.

— Nós não precisamos de pessoas rondando os


pântanos e procurando...

— O Homem Lagarto. — Lori sussurrou.

— Exatamente. — O xerife concordou.

Ela piscou com força, encarando a câmera. Uma


criatura semelhante a um lagarto se inclinou sobre o corpo
de Big Daddy. Olhos amarelos de réptil olhavam com irritação
como se o flash o tivesse interrompido. Sua pele parecia
blindada como a de um dinossauro, com uma linha traçando
do centro da testa até o nariz e sobrancelhas. Garras
substituíam as pontas dos dedos. Lori passou as fotos. Ele
ainda estava lá. Desta vez, ela viu o brilho de dentes com
presas. Ela passou de novo e novamente o homem lagarto
estava lá. A linha inconfundível de uma cicatriz atraiu seu
rosto, assim como... — Drake!

— O que?

— Drake! — Disse ela, atordoada. Lori piscou com força,


como se isso fosse ajustar sua visão. Ele a tocou. Essa boca a
beijou. Esse corpo esteve... Dentro dela. — Drake é o homem
lagarto.

— Me deixe ver isso. — Disse o xerife. O tom duro e


autoritário fez seu cérebro atordoado obedecer
automaticamente. Quando ele olhou para a câmera,
amaldiçoou suavemente em voz baixa.

— Ele é... Ele é... — Lori se levantou e se moveu para


olhar sobre o ombro do xerife.

Xerife Jackson se afastou dela enquanto olhava para


suas fotos. Lori tentou se aproximar mais uma vez e ele
novamente mudou de posição. Depois de um longo momento,
entregou a câmera de volta. — Você deve estar cansada. Não
vejo nada.

— O quê? Espere... — Lori passou suas fotos.


Desapareceram. — Não, eu as vi. Elas estavam aqui. Elas
estavam... — As palavras dela sumiram quando entendeu. —
Você apagou. Por quê?
— Não sei do que você está falando. — Xerife Jackson
afirmou. — Você deve estar cansada pela sua experiência
ruim. Uma menina da cidade como você nos pântanos à
noite. É compreensível.

Mas ele estava mentindo, Lori viu isso em sua


expressão. Sabia o que tinha visto em sua câmera. — Por que
você faria isso? Eu tinha uma prova...

— Tudo o que vi era a prova de uma mulher presa e


assustada, num lugar ao qual ela não pertence. — O xerife
interrompeu. Lá se foi seu sorriso amigável.

— O que é isso? É algum tipo de cidade de lagartos?


Você...? — Lori olhou para o homem, tentando ver se seu
rosto mudaria ou seus olhos brilhariam. Ela viu os olhos de
Drake brilharem. Pensou que era um truque da luz, mas até
um minuto atrás, Lori não tinha qualquer prova de que ele
não era humano. Drake era um lagarto metamorfo. Isso
significava que... Criaturas sobrenaturais existiam. E ela foi a
primeira pessoa a fotografar um.

O xerife deu um sorriso forçado, como se estivesse


fazendo um show para quem olhava para o escritório dele. Ele
a pegou pelo braço e apertou em advertência. — Ouça com
muito cuidado. Drake é um bom homem. Ele salvou sua vida
e muitas outras por aqui. Você disse obrigada à ele pela
ajuda e isso acaba aqui. Você vai para casa escrever o seu
artigo de viagem sobre a pousada, e não vai mencionar
Drake.
— Você não pode fazer isso. Não pode me dizer o que
escrever. Esta não é a Alemanha nazista. — Lori ergueu o
queixo, esperando parecer corajosa. — Eu tenho liberdade de
imprensa.

— E eu tenho um distintivo. — Apertou ainda mais seu


braço. — Tenho também o número do diretor de saúde
mental do hospital local. Se você continuar falando sobre
isso, te prenderei para observação devido à exposição aos
elementos e ao sofrimento psíquico. Farei uma anotação no
meu relatório oficial. Então, se tiver alguma ideia, direi que é
louca, e como temia um colapso mental, a deixei ir porque
prometeu procurar ajuda médica quando voltasse para casa.
Em quem você acha que o público vai acreditar? Uma
repórter de viagens falando sobre homens-lagarto ou um
homem da lei? E se pensa que eu sou mau, você deve ver o
outro nativo que Drake ajudou. As pessoas aqui sabem o
preço de uma dívida de vida, e eles estão dispostas a pagar.

— Mas...

— Não existe um homem lagarto. — O xerife declarou.

— Mas...

— Diga. Não existe um homem lagarto.

— Não existe um homem lagarto. — Lori sussurrou,


tremendo de medo.
— Boa menina. — Ele a soltou. — Agora assine sua
declaração e um de meus oficiais levará você para a pousada.
Seu carro foi retirado do estacionamento e estará esperando
por você quando chegar lá.

Lori esfregou o braço e se afastou do homem. Não


gostou de ser intimidada. Aqui podia ser o pântano e eles
podiam ter a sua cultura estranha de pessoas do pântano
aqui, mas ela era jornalista. Claro, era uma jornalista de
viagens, mas ainda assim, tinha o direito de publicar as
verdades que queria. Além disso, Lori tinha uma coisa que
essas pessoas claramente não ouviram falar: GPS e backup
automático para suas fotos.
Capítulo 9
— Não. Não posso te deixar ir até o hotel Plantation Inn.
Você precisa ficar longe dela, Drake. — Disse o xerife com
firmeza. –— Lori sabe o seu segredo e quer expor você. Não dê
à ela mais munição para fazer isso.

Drake ficou de pé com os braços cruzados, enquanto


olhava para o homem. Drake não acreditava que Lori tentasse
prejudicá-lo. Mesmo agora, ele sentiu como se ela fosse uma
parte dele. O toque da pele dela estava marcado em seu
corpo, seu cheiro ficou no seu nariz, sua voz ecoava na sua
cabeça. Vê-la se afastar no carro foi uma agonia e Drake a
queria de volta.

— Outros sabem e...

— Drake, escute. Ela não é uma de nós. Lori é uma


desconhecida. Eu consegui apagar as fotos que ela tirou, mas
você precisa mais cuidado. Te contei sobre câmeras e
Internet. Tudo o que precisamos é um rumor on-line para
viralizar e as pessoas de todo o mundo estarão aqui tentando
encontrar o homem lagarto. Isso se transformará num festival
de idiotas da nova geração investigando paranormais.
— Eu não sei o que isso significa. — Drake confiava no
xerife. O homem nunca mentiu para ele. Ainda tinha que
aprender muitas coisas sobre a Terra. Mesmo assim, Drake
não podia ver Lori causando problemas. Ela pode não querer
ser sua esposa, mas com certeza não tentaria prejudicá-lo
intencionalmente.

— Isso significa que sua vida tranquila aqui acabaria.


Significa que teremos centenas de idiotas nos pântanos
tentando pegar você. Se você acha que caipiras bêbados na
água que atiram no litoral são ruins, espere até a caça real
começar. — O homem suspirou profundamente. — Cerca de
seis anos atrás, um garoto encenou uma foto de um fantasma
numa casa abandonada em Bebette Road e inventou uma
lenda do monstro Bebette com instruções sobre encontrá-lo.
Nós ainda temos invasores lá fora. No inverno passado um
grupo entrou na casa errada e quase foi baleado pelos
proprietários. Dois invernos atrás, um par de idiotas se
perdeu na floresta, e tivemos que enviar grupos de busca.
Uma imagem estúpida, e agora tenho uma vida de dores de
cabeça.

— E idiotas no pântano olhando para mim significam


mais acidentes. — Drake concluiu.

— Sim. Se você acha que a temporada turística é ruim,


ainda não viu nada. Esses idiotas vão começar a pesca de
jacarés, tentando encontrá-lo na água.

Drake franziu o cenho.


— Isso não é bom.

— Não. Não é bom. Idiotas vão virar comida de jacaré, e


de repente estrangeiros serão chamados para acabar com os
jacarés como se a culpa fosse do animal. Muitas pessoas se
sustentam com a caça nos pântanos. É um equilíbrio
delicado.

Drake franziu a testa, entendendo o que o xerife dizia.


Se ele fosse ver Lori, poderia ser o fim de tudo o que conhecia
da Terra. Parecia absurdo que o amor pudesse ser tão
prejudicial, mas quem era Drake para discutir com um
homem que entendia os seres humanos de uma forma Drake
não podia?

— Me deixe falar com ela. Eu posso explicar isso. —


Drake pensou muito sobre o seu relacionamento com Lori.
Ela o convidou para o jantar, e ele tinha toda a intenção de
aparecer. Bem, toda a intenção até o xerife aparecer e dizer
que não deveria.

— Drake, confie em mim quando digo que privacidade é


melhor do que o tipo de atenção que Lori pode te dar. Não lhe
dê mais nada para escrever sobre você. Ele baixou a voz. —
Esqueça a multidão paranormal. E o Governo? Você sabe o
que farão com você, se descobrem que um alienígena vive nos
pântanos da Louisiana. Te mostrei os artigos e vídeos. Você
se lembra?
— Sim. Área 517. Roswell8. Eu não entendo porque os
Reticulanos foram tratados tão mal. Eles são grandes
embaixadores da medicina, curaram muitos planetas. Pensei
que a realeza Draig estava errada, mas seu governo... —
Drake sacudiu a cabeça em desaprovação. — Não quero ser
sondado.

— Então, por favor, ouça quando eu digo que é o


melhor. — O homem apertou o braço de Drake. — Eu não
sou casado e não tenho filhos. Tudo o que tenho é a família
do meu irmão. Quando você salvou a minha sobrinha-neta do
afogamento depois que ela se afastou de sua mãe, prometi
que faria tudo ao meu alcance para proteger seu segredo. Por
favor, me deixe cumprir a minha palavra. Fique longe dessa
mulher. Eu posso controlar alguns turistas e os habitantes
locais, mas nem mesmo eu posso parar o Governo dos EUA.

— Eu gostaria de dar a Lori as flores e bolo. — Disse


Drake. — Eu a amo. Lori é minha companheira. Estou ligado
à ela.

O xerife suspirou.

— Oh, meu filho, é como já disse. A Terra não é como o


seu mundo de origem. As mulheres da Terra não são como as
mulheres dragão. Mesmo sem o seu segredo, uma mulher

7
Instalação da Força Aérea dos Estados Unidos cujo principal objetivo é publicamente desconhecido. O
intendo sigilo em torno da base a tornou tema frequente de teorias da conspiração e conhecimentos do
folclore sobre alienígenas.
8
Roswell é o caso mais popular nos EUA sobre teorias da conspiração e aparições de naves e tripulantes.
como Lori Johnston nunca ficaria com um menino do
pântano como você. Você encontrou seu lugar aqui conosco e
ela vem de um mundo totalmente diferente. O que você
precisa é de uma boa mulher da ilha que não tenha medo de
um par de garras, se entende o que eu quis dizer. — O
delegado deu uma piscadinha.

— Eu não entendo. Você disse que os seres humanos


ainda não fazem viagens intergalácticas. De que planeta ela
é?

— Planeta Norte Americano9. — Xerife Jackson riu.

Drake franziu a testa.

— Ursa me disse dos Yankees10. Qual é a graça?

— Você não está rindo, então parece que não é muito


engraçado. — O xerife deixou ir. — Tem a situação ideal aqui,
Drake. Ninguém te incomoda, ninguém faz perguntas. Você
não paga impostos porque legalmente você não existe. Está
vivendo o sonho.

— Mas eu a amo. — Disse Drake.

— Ninguém que eu conheça já morreu de um coração


partido. — O Xerife respondeu. — Você é jovem. Vai se
apaixonar novamente.

9
Norte americano = yankee
10
Time de beisebol de Nova York. Drake se confundiu.
Drake arqueou uma sobrancelha. Ele estava bem ciente
de que parecia como um homem humano de trinta anos,
quando na verdade era um Draig de sessenta e um. — Eu
sou mais velho que você.

— Só por um par de anos. — Disse o xerife. Sua face


enrugada mudou para um sorriso. — Somos jovens rapazes
há muito tempo.
Capítulo 10
— Bem-vinda de volta, senhorita Lori. Você gostou dos
pântanos? — Parece que ninguém contou a Janice,
proprietária da pousada, o que aconteceu.

— Meu guia morreu e fui resgatada pelo homem lagarto.


— Respondeu Lori.

Janice começou a rir como uma menina.

— Ah você! Você é engraçada!

— Eu tento entreter. — Lori retrucou. Era melhor sair


antes que a pobre mulher fosse atingida bruscamente com o
mau humor de Lori. — Com licença.

— Então você o viu? — Um cavalheiro do sul


interrompeu. Ele colocou um livro perto de sua cadeira e se
levantou. A casa era aconchegante e as portas duplas
estavam abertas para a varanda. Sua camisa pólo e as calças
cáqui eram um contraste para a camisa e shorts emprestados
de Lori. A última coisa que queria era parar e ter uma
conversa enquanto parecesse que tinha acordado nua no
meio de uma casa de fraternidade.

Lori olhou para Janice e depois para o homem.


— Senhorita Lori, este é o Sr. Howards. Ele é um
viajante do mundo que acaba de voltar da África. Não é
excitante? — Janice apresentou. — E esta é senhorita Lori.
Ela é uma fotógrafa e está escrevendo um artigo sobre o meu
pequeno pedaço do céu.

— O que você fazia na África? — Perguntou Lori.

— Caça desportiva.

Lori tentou não parecer enojada. — Isso ainda é legal?

O homem riu, mas não respondeu.

— Então o que o traz para a Louisiana? — Lori tentou


ser educada, mas realmente não se importava com a
resposta.

— Negócios e prazer. — Ele deu de ombros levemente.

— Bem, foi bom conhecê-lo. — Lori se virou para sair,


mas suas palavras a detiveram. Aparentemente a conversa
estranha não havia acabado.

— Você estava no pântano? — Perguntou.

— Sim.

— Onde?

— Você foi a um passeio de barco com jacarés, não foi?


— Janice falou, tentando manter uma parte da conversa. —
Temos panfletos se está interessado.
— Sim, obrigado. — Respondeu o Sr. Howards.

— Na verdade, não sei se abrirá. O guia teve um ataque


cardíaco na noite passada e, infelizmente, não sobreviveu.
Ficaria surpresa se abrissem para o público hoje. — Lori se
afastou deles. — Desculpem, me dêem licença. Foi uma longa
noite.

— Você mencionou um homem lagarto? — Sr. Howards


insistiu. — Você estava nos pântanos para tirar fotos? Eu
adoraria vê-las.

— Não existe um homem lagarto. — Lori disse, um


pouco duro demais.

— Claro. — Admitiu. — Tenha um bom dia, senhorita


Lori.

Lori usou a oportunidade e saiu rapidamente para as


escadas atapetadas e se dirigiu ao quarto dela.

— Falando do homem lagarto. — Disse Janice,


seguindo-a para o segundo andar. — Eu estava conversando
com uma senhora que vende geleias no mercado dos
agricultores. Ela sabe tudo sobre as lendas do homem
lagarto. Se quiser falar com ela, posso apresentá-las.

— Hum, sim, com certeza, obrigada. — Respondeu Lori.


Ela não sabia o que faria com Drake. Ele salvou sua vida e,
tanto quanto ela não gostava de pessoas dizendo o que fazer,
também não queria lhe fazer mal. Expondo-o talvez fosse
exatamente isso que iria acontecer. Tendências jornalísticas
vinham depois do bem-estar de Drake.

— Mas você vai falar do homem lagarto? — Janice


insistiu.

— Não tenho certeza.

— Senhorita Lori, por favor. — O tom de Janice pediu


atenção.

Lori parou no corredor fora de seu quarto e se virou


para a mulher.

— Uma lenda local seria ótima para o nosso comércio.


Você disse que queria cultura daqui. Eu não estou pedindo
que aumente ou escreva algo que a deixe desconfortável. Mas,
se puder, por favor mencione o homem lagarto. Essa história
seria muito apreciada. Nós já temos camisetas do homem
lagarto prontas e até canecas. Meu filho está construindo um
site.

Um dia atrás, Lori diria que sim, sem problemas. A


pousada era adequada, boas acomodações e a equipe muito
educada. Janice tinha o tipo de personalidade borbulhante
necessária para administrar uma pequena pousada. Mas
agora sabia que o homem lagarto era real. Drake era real.

— Eu vou ter que falar com meu editor, mas prometo


ver o que posso fazer.
— Obrigada! — Janice bateu palmas. Então, como se a
ideia apenas tivesse surgido, ela acrescentou. — Eu vou te
dar uma camisa e caneca para tirarmos uma foto sua para o
site.
Capítulo 11
Lori esperou na pousada um dia inteiro, torcendo para
que Drake aceitasse sua oferta para jantar. Fingiu trabalhar
em seu artigo de viagem sentada na varanda, mas na verdade
ela observava ansiosamente a estrada e os viajantes,
analisando as fotos que o xerife Jackson não havia apagado.
Infelizmente, seu dispositivo sem fio não conectou ao serviço
celular no pântano e suas imagens não sincronizaram para
fazer um backup em seu armazenamento. Lori deveria ter
carregado a bateria do dispositivo quando fez com sua
câmera, mas não pensou nisso pois pensou que voltaria ao
hotel. Quando o xerife apagou suas imagens, ele tomou suas
únicas cópias.

Tinha uma imagem muito pequena de Drake em sua


forma shifter. Sua cabeça saía da água quando ela tirou fotos
dos jacarés que a rodeavam. Bem, sinceramente, poderia ser
a cabeça dele nas sombras cercada por galhos de árvores, ou
apenas mais um jacaré. Lori viu sua personalidade humana
enquanto Drake observava os paramédicos pegarem Big
Daddy do aerobarco.

Isso era tudo o que tinha, talvez o ponto da sua cabeça


de homem-lagarto e parte de seu rosto humano.
A ideia do homem lagarto a assustou, mas a memória do
homem doeu. Sim, muito era do desejo sexual. Lori era, sem
dúvida, atraída por Drake. Mas existia mais. Descobriu que
desejava observá-lo, estudar sua cicatriz, perguntar sobre
estes Var e Draig. Tinha mais shifters lá fora no mundo.
Tinha que ter. Este homem veio de algum lugar!

E ainda, tinha o próprio homem. Ele a salvou. Lori


sentiu a bondade nele e não teve medo.

Talvez estivesse louca. Talvez tenha imaginado as fotos e


as ameaças do xerife. Lori estava com medo quando Drake
veio para o aerobarco e estava muito escuro. Os jacarés a
deixaram com a adrenalina alta e ela sempre foi criativa e
propensa a imaginar coisas. Como a vez em que ficou numa
casa e se convenceu que era assombrada, por causa do bater
das portas nas paredes. Doze sessões de limpeza mais tarde,
foi comprovado que eram velhos tubos soltos.

Não, Drake era real. Lori se lembrou de seu beijo, seu


toque, sua hesitação e sua ânsia. Se qualquer outro homem
começasse a falar em casamento depois de um dia, ela
fugiria. Mas lembrar de Drake a fez querer dirigir para o
pântano.

A foto de Drake com os paramédicos foi marcada com


dados de GPS. A experiência do passado disse que não seria a
localização exata, mas iria levá-la perto de onde ele morava.
O caminho que o xerife pegou era como um labirinto sinuoso,
mas ela tinha que tentar. Nenhuma parte dela aceitaria que
tinha sido apenas uma manhã e então mais nada. Lori
passaria o resto de sua vida se perguntando, sua mente presa
para sempre no evento, incapaz de seguir em frente.

— São as fotos de sua aventura? — A voz de Sr.


Howards a assustou e ela sacudiu em sua cadeira. Lori
inclinou seu corpo para que as pessoas pudessem ver a tela
por trás dela... Bem, a menos que olhassem
propositadamente por cima do ombro.

Automaticamente, Lori pegou seu laptop e fechou para


esconder as fotos da suposta cabeça de Drake na água. —
Apenas algumas paisagens do pântano.

Mr. Howards riu.

— Se eu soubesse mais, diria que algo nessas águas te


assustou.

— Sim, jacarés famintos. — Ela chegou a puxar o cabo


do carregador da tomada na parede.

— Gostaria de falar sobre isso? — Perguntou. — Você


parece abalada.

— Obrigada pela oferta, mas estou bem. — Lori bateu


em seu laptop um par de vezes. — Só prazos. Muitos prazos.

Ah, uma desculpa perfeita, mesmo sendo verdade a


maior parte do tempo. Ninguém nunca pediu mais detalhes
sobre prazos.
— Dê uma pausa. Deixe-me pagar um jantar para você.
— Ele insistiu.

— Oh! — Disse Lori surpresa enquanto se apressava


para reunir sua bolsa de laptop e câmera. — Isso é muito
gentil da sua parte, mas eu tenho que terminar este artigo
hoje à noite. Afinal, a notícia nunca dorme.

Ok, era uma mentira. Lori tinha uma semana antes da


data limite do prazo.

— Você não vai se arrepender. — Sr. Howards sorriu.


Ela poderia dizer que ele estava acostumado a usar seu
charme, mas tinha algo sobre sua personalidade que a
deixava nervosa.

— Eu iria, mas estou encontrando meu noivo... — Ela


começou.

— Janice me disse que era solteira. — Ele interrompeu.


— Ela acha que seríamos perfeitos um para o outro.

— Oh, bem, Janice é uma intrometida que


aparentemente não consegue ser confiável quanto a
informações pessoais. — Lori ergueu suas bolsas nos ombros.
— Eu não a informei dos meus planos de casamento.

— Você não está usando um anel. — Ressaltou.

— E você não recebe notícias muito bem. Boa noite, Sr.


Howards.
Capítulo 12
Drake sentiu um arrepio através de seu corpo. Levantou
a cabeça e olhou para a água escura. Um carro passou
próximo, na estrada de terra. Drake ficou perto do cais
quebrado, fora de sua casa, para ouvir os barcos, como fazia
todas as noites.

O vazio se construindo dentro dele desde que Lori se


afastou com o xerife era insuportável, a solidão pior que
nunca. Como os humanos não sabiam quando encontravam
seu companheiro? Bastou apenas um olhar e Drake teve
certeza. Lá no barco, pode não perceber o que estava
acontecendo, mas seu corpo sabia, sentia que ela era
familiar.

Ele manteve o som do carro em segundo plano enquanto


se concentrava na água. Se caçadores descuidados tomassem
toda a terra, poderia rastreá-los. Desde que eles
permanecessem no barco, Drake apenas observava e
esperava que voltassem. Talvez este fosse seu propósito na
vida. Jackson o chamava de guardião do pântano.

Drake não queria ser um guardião.

Mas o dever exigia que ele fizesse exatamente isso.


A dor o encheu, irradiando a parte perdida de sua alma
que tinha dado a Lori. Com o passar das horas, tudo foi
ficando cada vez mais claro. Um segundo foi tudo o que teve.
Um olhar. Um toque. Um beijo.

Agora seria uma maldição viver seus dias vazios.

Guardião do pântano.

Sozinho.

Os deuses realmente eram cruéis.

Seus olhos espiaram por cima da água. Nesta forma, ele


poderia ouvir melhor e ver no escuro. Drake se concentrou
nos detalhes familiares distantes, prestando atenção nas
mudanças. O som do carro diminuiu e se aproximou, mas
Drake ignorou. Ele focou nos pântanos de novo.

Drake não sabia quanto tempo havia passado,


esperando. De repente franziu a testa. Algo não estava certo.
Olhou para sua casa, em seguida, para as árvores. A floresta
não fazia seus sons habituais. Ele dirigiu sua audição para a
estrada de terra. Nenhum carro. Sem motor. Passos seguidos
de passos. Era um animal? Não. Tinha duas pernas. Passos
lentos. Parou. Farfalhar das folhas.

Drake ficou perfeitamente imóvel enquanto olhava as


árvores. A lua não fornecia muita luz para ajudar a busca
nas sombras mais escuras. Um pequeno pop soou, e ele
rapidamente voltou sua atenção para o barulho. Uma
queimação ardeu em seu ombro, obrigando-o a recuar.

— Bom tiro! Isso é uma boa caça. — Alguém gritou com


tom risonho e animado. — Você tem isso, Sr. Howards.

Drake agarrou seu ombro e sentiu o sangue sobre seus


dedos. O fogo inicial não diminuiu. Dor queimou do seu
braço e até seu pescoço.

— Agarre-o! — Uma voz mais calma respondeu. — Não


deixe meu troféu fugir.

Drake corria tropeçando e atordoado com o que


acontecia enquanto ouvia o som de passos correndo e
triturando galhos e pedras. Outro pop soou. Sua perna bateu
no cais quebrado e Drake caiu de costas na água escura. O
líquido o envolveu quando colidiu contra o chão do pântano.
Tentou se levantar mas ele não conseguia mover o braço para
nadar ou se defender. Outro tiro soou, quebrando a superfície
da água e uma luz passou sobre ele. Ele ouviu gritos, mas
não conseguia distinguir as palavras distorcidas.

Que bom guardião ele acabou por ser.

Outra dor cresceu, pior do que a dor em seu corpo,


quando Drake pensou em Lori. Não era assim que sua
jornada deveria terminar.
Capítulo 13
— Você está invadindo.

Pelo menos, foi o que Lori pensou que a velha disse com
seu forte inglês de Cajun. Mesmo que as palavras fossem
traduzidas incorretamente pelo cérebro de Lori, o fato de Ursa
apontar um rifle para ela era bem fácil de entender. Lori
invadiu uma propriedade e não era bem-vinda.

Esta era Ursa? A mulher que encheu a cabeça de Drake


com bobagens e o convenceu a nadar bêbado numa
cerimônia falsa de Cajun? Esta era a mulher da qual Lori
tinha ciúmes?

O vestido fino e caseiro de Ursa pendia em seu pequeno


corpo. Mas, apesar de toda a aparência de fragilidade, Ursa
segurava a arma firmemente. Encontrar a mulher foi fácil
uma vez que Lori pediu um par de informações aos
moradores... E comprou um pouco de suas geléias locais.

— Meu nome é Lori. – Lori declarou em voz alta, no


gramado da mulher. Ela teve o cuidado de manter os braços
levantados para mostrar que não era uma ameaça.
— Eu sei quem você é. O Xerife me avisou sobre você. —
Ursa afirmou. Lori teve que escutar com muito cuidado para
entendê-la.

O pequeno barraco parecia que ter sido construído a


mão há uma centena de anos atrás, mas foi mantido com
carinho, ou pelo menos com cuidado, em caso de
necessidade. Duas lamparinas e uma luz elétrica iluminavam
a varanda e quintal. A dona, pela aparência, nunca antes
havia saído de seu pedaço do pântano.

— O menino Drake salvou minha vida. Ele salva um


monte de vidas. Agora você acabou de chegar antes... — O
resto da frase foi perdido numa corrente rápida, indecifrável,
de ameaças, em Cajun inglês e francês, que foram
murmuradas juntas, sendo pontuadas pela inclinação da
arma de Ursa.

— Ele me salvou também. Você ficou presa nos


pântanos? — Perguntou Lori, tentando manter uma conversa
civilizada. No momento, ela não podia imaginar Ursa
precisando de ajuda com qualquer coisa. Sua mente correu,
esperando que Ursa não cumprisse suas ameaças. Mas era
difícil pensar em opções quando Lori não conseguia parar de
olhar a arma com o brilho metálico sob a luz suave.

— Não. Eu sei que você sabe sobre Drake. De... — Mais


uma vez as palavras foram perdidas.

— Sinto muito, eu não entendo.


— Eu disse não. — Repetiu Ursa, falando devagar, como
se Lori fosse burra. — Eu sei que você sabe sobre Drake. O
xerife me disse. Ele chegou uma noite, saindo dos pântanos
como uma criatura homem dragão, da baía. Eu tinha uma
arma na minha boca. Drake me salvou. Deus, deuses, não
importa quem o enviou. Ele está aqui. Ele é a minha família e
nós protegemos a nossa família. — Ursa ergueu o rifle e o
apontou fixamente para Lori.

— As pessoas virão me procurar aqui. — Lori esperava


que a mulher não detectasse a mentira.

— Deixe vir. Os jacarés vão ter utilidade.

Lori engoliu nervosamente e olhou por cima do ombro


para a água e depois para a arma.

— Por favor. Eu só quero falar com ele. Se Drake me


disser para deixá-lo sozinho, eu vou.

— Shush!

Lori saltou quando Ursa atacou. Ela se arrastou para


sair do caminho e, para sua surpresa, em vez de ameaçá-la
ainda mais, a velha foi para a beira da água e olhou para
dentro. Lori não ouviu nada que chamasse a atenção.
Somente o coaxar de rãs cercando a noite, um plano de fundo
cantando na fétida paisagem.

Com a atenção de Ursa desviada, a coisa prudente seria


correr para o carro. Com as pernas tremendo, Lori não se
moveria tão rápido e em vez disso rastejou o mais
silenciosamente que pôde em direção à liberdade.

— Pare de se mexer. Tem alguma coisa lá. — Ursa


levantou a arma e a apontou para a água, seguindo uma
onda sutil ao longo da superfície que se aproximava.

Sem saber por que pensou isso, Lori sussurrou. —


Drake.

Lori instantaneamente mudou de rumo, sentindo-se


atraída para a beira da água. Descuidadamente colocou a
mão sobre o barril para virar a arma da água. Ursa apontou a
arma para longe dela.

— Não. — Disse Lori, olhando a água. — Drake.

— Como...? — Ursa baixou a arma.

— Drake? — Lori gritou muito certa que ele estava


perto.

Ao som de sua voz, algo quebrou a superfície da água.


Drake aparentava a mesma imagem de quando apareceu no
pântano para resgatá-la, como nas fotos apagadas. Lori se
esticou para ver Drake na sua forma shifter. De alguma
forma, o ver agora era diferente porque ela sabia que ele era
real.

Lori o chamou de homem lagarto, mas ele era mais


dinossauro do que lagarto. A luz atrás dela brilhou em seu
rosto, contrastando a pele castanha espessa com o nariz.
Seus lábios se separaram enquanto ele respirava ofegante,
mostrando as pontas de suas presas. Uma mão com garras
pressionava seu ombro enquanto ele saía da água.

Seus olhos amarelos encontraram os dela e ele tropeçou.

— Drake? — Lori entrou na água rasa sem pensar. Ela o


pegou pelo braço e o ajudou a andar. A casca dura de seu
corpo parecia estranha contra sua mão. O sangue escorria
sobre seus dedos e de seu ombro. Lori tentou tirar Drake da
água e colocá-lo na terra. — O que aconteceu? Atiraram em
você?

Seus olhos encontraram os dela; os olhos que estavam


longe do ser humano e ainda assim ela o sentiu naquele
olhar. O homem estava lá, debaixo da blindagem difícil e do
rosto assustador. Ele tinha características de um dragão
medieval, se uma criatura daquela tivesse acasalado com um
ser humano. — O que você está fazendo aqui?

Sua voz rouca soou mais dura do que Lori se lembrava.

— Eu não consegui encontrar você. — Disse Lori. Uma


corrida de nervos e emoções estava se construindo dentro
dela. Tudo o que sentia vontade de dizer soou estranho em
sua cabeça. Seguir o impulso de saltar em seus braços e
beijá-lo seria ainda mais estranho. Em vez disso, Lori
murmurou. — Eu encontrei Ursa.
Ursa a interrompeu com uma corrente grossa de
palavras acentuadas. Drake respondeu a mulher fluente,
falando com ela como se fosse um nativo.

— O que está acontecendo? — Lori exigia, não


entendendo.

— Ela se ofereceu para atirar em você. — Disse Drake.

Lori endureceu.

— Eu disse a ela que não é necessário. — Acrescentou.

Lori pensou que ela o viu sorrir, mas era muito difícil
dizer.

Ursa resmungou e se virou para a casa dela. — Traz


ele.

— Por que você estava procurando por mim? — Ele


perguntou quando estavam relativamente sozinhos.

— Por que você está sangrando? — Ela perguntou. — O


que aconteceu?

— Isto vai se curar. — Drake se apoiou pesadamente


nela, mas Lori diria que ele estava tentando não demonstrar
vulnerabilidade.

— Isso não está certo. Você precisa de um médico. Meu


carro está aqui.
— Sem médicos. Eu não quero ser enviado para Roswell.
Eu vi as fotos.

— O lugar da conspiração alien? Isso não existe. É uma


grande mentira. Aliens não ex...istem. — Lori de repente
percebeu o quão ridículo a crença parecia dadas as
circunstâncias.

— Eu lhe asseguro que extraterrestres são reais.


Conheci várias pessoas que vieram para o meu planeta.

— Alienígena. — Ela sussurrou. Lori não pensou nisso.


Ela dormiu com um alien. Não é apenas uma mutação
genética do ser humano, mas um alienígena. Espaço sideral.
Alienígena. Ela respirava com mais força, tentando não
hiperventilar. O peso contra seu braço cresceu e se ela o
deixasse agora, ele cairia.

— Me espanta como os seres humanos pensam que são


as únicas formas de vida em todo o universo. — Ele fez uma
careta e apertou o ombro mais forte. Lori sentiu seu músculo
flexionar sob sua mão enquanto andavam lentamente para a
varanda.

— Você precisa de um hospital. Me deixa te levar. Vou


ligar para o xerife no caminho e nós o avisamos. Ele parece
protetor com você. O xerife terá que ajudar em tudo o que
você precise. — Ela tentou redirecionar seus passos em
direção a seu carro. — Você pode mudar de volta para a sua
outra forma?
— Eu sararei melhor nesta forma. — Ele a forçou a
voltar para a varanda. — Eu preciso descansar.

— Se apresse menino. — Ursa exigiu de dentro da casa.


— As armas estão carregadas. Os idiotas terão suas bundas
cheias de chumbo quente se tentarem atravessar minha
porta.

— Armas? — Repetiu Lori. — Para o jacaré que te


mordeu?

— Para os caçadores que atiraram em mim. — Ele


corrigiu.

— Você levou um tiro? — Lori engasgou. Por que ele não


estava em pânico?

— Parece que atualmente as pessoas estão caçando


alienígenas. Aparentemente, acham que eu seria um troféu.
Embora, eu não seja realmente um alienígena.

Lori olhou para a água antes de empurrá-lo para andar


mais rápido. Ele resmungou em protesto, mas ela não se
importou.

— Que diabos? Caramba, Drake, entre! Como você pode


estar tão calmo sobre isso?

— Como um tiro é pior do que uma mordida?

— Ser caçado pelos humanos é pior do que ser mordido


por um jacaré no pântano. Um jacaré não tentará encontrá-lo
para terminar o... Oh meu Deus. — Lori balançou a cabeça
em negação. — Ele não poderia ter... Oh meu Deus.

— Você está orando por mim? — Drake se inclinou


contra a porta e parou.

— É minha culpa. O Sr. Howards da pousada.

— Eu ouvi alguém dizer esse nome. — Disse Drake.

— Sr. Howards ficou me perguntando sobre o homem


lagarto. Eu não lhe disse nada, mas ele parecia pensar que
eu sabia onde encontrá-lo. Pensei que meu computador
estava instável, mas a pousada tem conexão de internet
pública, e acho que ele deve ter raqueado meu computador e
copiado as fotos que tirei fora de sua casa. Ele usou o meu
rastreador GPS para rastrear você.

— Eu não sou um lagarto e tecnicamente também não


sou um alienígena. — Drake afirmou. — Meu povo é dragão
shifters. Dizem que vivemos aqui na Terra há muito tempo
atrás e fugimos através dos portais para escapar da
perseguição humana. Gatos-shifters vieram conosco. Eu
simplesmente voltei para a casa de meus antepassados.

— Isso é tudo que entendeu? Você está preocupado em


ser confundido com um alienígena lagarto? Vamos,
precisamos ir para dentro. Você não pode ir para casa. — Lori
fez um pequeno ruído de exasperação e lhe pediu para ir para
a cabana. Ela fechou a porta. — Você tem um... — A voz de
Lori parou quando ela olhou ao redor. O interior da casa de
Ursa não era um barracão sujo. Uma luz vinha de uma
lâmpada sobre uma mesa altamente polida e o mobiliário
antigo em madeira complementava os tapetes limpos. Uma
grande televisão de tela plana estava montada na parede
sobre a lareira e prateleiras alinhavam-se ao lado da lareira,
cheias de DVDs.

— Não tenha ideias. — Ursa advertiu como se Lori


estivesse prestes a roubar algo.

— Drake precisa de atenção médica. — Disse Lori, sem


se preocupar em discutir com a mulher. — Por que eu sou a
única que parece entender a urgência desta situação?

— Por que? – Ursa franziu a testa. — Ele vai ficar bem.


Sempre fica. — Ela empurrou seu polegar por cima do ombro.
— Você sabe para onde ir, cherrie11.

Drake assentiu e foi para a mesa da sala de jantar. Ursa


pegou uma caixa de costura de um armário e o seguiu. Ela
abriu a tampa e tirou um instrumento de metal bruto e uma
garrafa de uísque. Deu a Drake a bebida, então esperou até
que ele tomasse vários goles, antes de começar a costurar seu
ombro.

Drake voltou sua atenção para Lori e ela se aproximou


dele lentamente. Foi difícil ver se ele estava com dor pela
dureza do seu rosto transformado.

11
Cherrie = Querido
— Por que você estava procurando por mim? —
Perguntou Drake, seus olhos se estreitando enquanto Ursa
futucava em torno de sua ferida.

— Eu... — Lori fez um pequeno gesto impotente. — Você


não veio para o jantar. Eu queria vê-lo, agradecer-lhe, para,
hum, vê-lo. Como você está?

Drake olhou para seu braço ferido e de volta para ela.

— Eu estou bem.

Lori estremeceu quando Ursa empurrou o instrumento


mais profundamente no ombro de Drake. Ela permaneceu em
silêncio, observando o procedimento com um sentimento de
horror.
Capítulo 14
Que novo teste era este?

O Xerife Jackson o alertou para ficar longe de Lori e


Ursa queria atirar em Lori. Ambos eram pessoas cujas
opiniões ele confiava. Drake queria manter Lori com ele nos
pântanos como sua companheira, ter bebês com ela e, se os
deuses já o abençoaram com uma maneira de fazer isso
acontecer, a levar de volta ao seu mundo de origem para lhe
mostrar onde nasceu.

Drake olhou para Lori, pensando nela para evitar sentir


a dor em seu braço. Ursa encheu o silêncio, exigindo a
história de como Drake veio para em seu gramado. Ele
contou tudo. Não tinha nenhuma razão para não contar.

Quando Ursa finalmente tirou a bala de seu braço,


Drake sentiu uma dormência quase instantânea quando seu
corpo começou a curar. O som de metal contra porcelana
soou quando Ursa colocou a bala num recipiente. Ela, então,
esfregou seu braço.

— Você não parece como um dragão. — Disse Lori. —


Pelo menos nenhum que eu já vi em livros de mitologia.
— Você está pensando em dragão shifters femininos. —
Ele respondeu.

— Eu entendi que você disse que voltou para a Terra


porque seu povo não tinha dragões do sexo feminino. — Lori
se aproximou dele. Drake observou sua expressão em busca
de medo, mas não encontrou nenhuma. Em vez disso, Lori
parecia curiosa.

— Ainda existem muito poucas em nossas gerações


mais velhas. — Ele respondeu. — Mas elas estão morrendo e
nós não tivemos um nascimento shifter fêmea em Qurilixen
por um longo tempo. Quando o problema começou, os casais
foram incentivados a terem mais filhos na esperança de que
isso resultaria em algumas mulheres mas não funcionou.
Tudo o que fizeram foi uma grande geração de homens com
pouca perspectiva de ter uma família.

— Então todos vocês decidiram se mudar de volta à


Terra? — Perguntou Lori.

— Nossos registros antigos dizem que os seres humanos


são reprodutivamente compatíveis. Assim, o portal que foi
usado para escapar da perseguição na Terra foi reaberto.
Infelizmente ninguém pode concordar sobre como proceder
para encontrar noivas. Alguns queriam atravessar e tomar
lotes delas pela força. Alguns querem mover nossas
populações aos poucos e voltar quando estiverem acasalados.
Outros sugerem que negociemos com o Governo. E depois de
viver aqui, eu acho que é isso um erro. Eu vi como o seu povo
lida com pessoas de fora. Alguns acreditam que estamos
desafiando a vontade dos deuses e querem fechar o portal
permanentemente para que os humanos não possam passar.
Eles acham que os seres humanos vão manchar nosso
sangue shifter. Mas tudo isso pouco importa no momento,
porque a família real mantém a população afastada do portal
e somente os membros reais podem atravessá-lo para
encontrar esposas.

Ursa bufou e recolheu seu kit médico arcaico. — Eu


vou chamar o xerife e dizer sobre Howards.

Lori esperou até que a mulher fosse para a cozinha


antes de se aproximar e estudar o braço de Drake. Quando
ficaram a sós, ela perguntou. — Você está com dor?

— Sim. — Ele respondeu e era a verdade. Seu coração


sofria desde que ela o deixou e agora estava cheio de medo
dela sair novamente. Era a mais grave das dores.

— A realeza quer controlar a população, bloqueando o


acesso a noivas? — Lori perguntou.

— Acredito que sim. — Drake permaneceu em sua


cadeira, com medo que se ele mudasse, estaria tentado a
segurá-la. Se Drake a segurasse, gostaria de beijá-la. E se a
beijasse, nunca deixaria ir.

— Então como é que você chegou a Terra? — Lori tocou


levemente o braço ferido, mantendo os dedos longe da ferida.
— Eles não nos deixam tomar decisões por nós mesmos
sobre nossa vinda para a Terra, mas permitem que a nova
princesa humana venha e volte quando quiser. Eu a esperei,
a segui e vim através do portal atrás dela. — Drake se
lembrou do medo que sentira ao deixar a sua casa. Muitas
vezes se perguntou se tinha tomado a decisão certa.

— Você quer voltar? Você deve estar com saudades de


casa.

— Eu sinto falta de partes do meu mundo de origem.


Sinto falta do contraste do cheiro doce e acre do ar da
montanha. Nós só temos a escuridão uma vez por ano. E há
três sóis no céu e não apenas um. Muitas das nossas árvores
são tão grandes quanto as suas sequóias, com textura suave,
e aparência de bolha, muito diferente de sua casca áspera
que cresce em cacos. As folhas são muito mais amplas. — Ele
se lembrava dos detalhes muito claramente, mas ficava
preocupado que um dia a memória da casa fosse
desaparecer. — O pântano me faz lembrar os pântanos
sombreados próximas das fronteiras onde eu cresci.

— Você vai voltar? Ou eles te punirão por desobedecer?


— Ela parou de tocar Drake e sua mão caiu no ar entre eles.

— Eu duvido que notem que fui embora. Se eles fizerem


isso, tenho certeza que vão suspeitar do clã Myrddin, mas
sem prova ou qualquer um para protestar, não serão
obrigados a analisar a questão. Os amigos que eu disse adeus
não irão me trair. Eu gostaria de voltar algum dia, mas não
tenho certeza de que encontrarei um jeito. — Drake olhou
para a mão dela. Lori era tão delicada e suave. Tudo dentro
dele queria protegê-la. Como poderia fazer isso quando tinha
pessoas à sua caça?

— Se é algo que você quer, eu vou ajudá-lo. Nós


podemos ir para o Bairro Francês. Você mencionou a Mansão
LaLaurie. Podemos encontrar...

— É uma gentil oferta, mas o portal não abre no mesmo


local todas as noites. Eu não sei quando ou se ele aparecerá
lá novamente.

— Drake. — Lori hesitou. Lentamente, ela estendeu a


mão para seu rosto transformado. Seus dedos se moviam
sobre suas feições endurecidas e apesar do escudo protetor
de sua armadura entorpecer a sensibilidade da sua pele,
Drake ainda sentia. Ela traçou sua antiga cicatriz.

— Devo parecer com um monstro para você. — Disse


ele.

— Os homens que atiraram em você que são os


monstros. — Lori segurou seu queixo e virou o rosto dele
para ela. — Você me confunde.

— Eu não estou confuso. Eu sei o que sinto. – Drake


traçou a ponta da garra de um dedo em seu braço.

— Dói para mudar?

Drake riu.
— Não mais do que respirar

— Você pode mudar sempre que quiser?

— Sim.

– Você vai me mostrar?

— Não.

Lori parou de acariciá-lo.

— Será que é porque você vai morrer da ferida?

— Não.

— Você não quer me ver? — Ela fez uma careta.

— Estar na forma dragão aumenta meus desejos, já que


não posso fazer amor com você neste corpo.

— Oh. — Lori disse, e então, como se a realização


batesse nela, ela repetiu mais alto. — Oh!

— Se eu mudasse, poderia fazer algo que você não quer


que eu faça.

— O que faz você pensar que eu não quero? — Suas


bochechas ficaram coloridas levemente.

Drake levantou de sua cadeira para se debruçar sobre


ela. Sua pele formigava enquanto seu corpo se transformava
em sua forma humana. Lori prendeu a respiração, enquanto
observava, mas ela não se afastou com medo. Ele se inclinou
para ela e apertou seus lábios nos dela. A dor dentro dele
instantaneamente diminuiu com o contato.

Lori engasgou e se afastou.

— O que é que foi isso?

— Não me deixe de novo. – ele sussurrou.

— Orle Jack disse para trancar e ficar aqui. — Ursa


anunciou em voz alta. — Drake pode ouvir algo vindo a dez
milhas de distância. Eu tenho armas, uísque e cartões. —
Ursa veio da cozinha, segurando todos os três itens. —
Alguma coisa sobre os bourre12.

— Boo-ray—? — Lori soou. Ela olhou para o uísque. —


Eu não sei o que isso significa, mas é melhor não envolver
ficar nua para nadar e me tornar uma Cajun.

Ursa arqueou uma sobrancelha e riu.

— Ninguém está pedindo para vê-la nua. Por que isso


seria divertido para mim?

12
Carteado.
Capítulo 15
Boo-ray era algum tipo de jogo de cartas. Lori não sabia
exatamente como jogá-lo, mas tinha certeza de que Ursa
ficava mudando as regras. Ela também estava confiante que
Ursa se iluminava como um garoto de fraternidade numa
casa de festa. A velha pode parecer frágil, mas poderia beber
o uísque como o melhor deles e contava altas histórias,
incompreensíveis, que provavelmente não eram apropriadas,
pela forma como ela gargalhava e piscava depois de cada
uma.

Sempre que Ursa deixava a mesa para fazer sua versão


de checagem de perímetro, Drake sorrateiramente bebia o
uísque de Lori por ela. Lori concordou, grata a ele por
reconhecer que ela não poderia manter-se com os dois.
Embora ela tentasse dizer a Ursa que não queria outra
bebida, a mulher continuou a tentar embebedá-la.

— Drake. — Lori insistiu que Ursa pegasse uma


espingarda e fosse até a janela da frente. — Ela não deveria
estar com uma arma carregada.

Drake alcançou debaixo da mesa até a cadeira ao lado


dele e, em seguida, revelou um par de espingardas e escudos
que escondeu lá. — Ela não está.
Lori deu uma risadinha e relaxou.

— Como você se tornou amigo de Ursa?

A mulher não parecia como o embaixador ideal para o


primeiro contato com uma espécie alienígena... Ou um
dragão shifter ex-terráqueo vindo para a casa dos seus
antepassados medievais.

— Eu a encontrei os pântanos. Ela me encontrou.

— Eu não acho que é assim tão simples. Ela disse que


você salvou a vida dela. Que estava prestes a morrer. — Lori
olhou por cima do ombro. Ursa parou, olhando para fora da
janela, sentada numa cadeira. A velha olhou para a parede,
fechando os olhos enquanto lutava para ficar acordada.

Drake olhou para Ursa e parou quando a velha não se


mexeu. Ele estendeu a mão para Lori.

— Vem.

Lori o seguiu até uma salinha. Drake fechou a porta e


acendeu a luz. As fotografias estavam alinhadas na parede,
enchendo quase todo o espaço. Uma colcha velha foi
cuidadosamente dobrada sobre uma cadeira de balanço.
Bugigangas pequenas e bugigangas que só fazem sentido
para seu proprietário forravam a cômoda.

— Todas as imagens são do mesmo casal. — Observou


Lori. A parede exibia toda a vida de um casal, as fotos
arranjadas como o fluxo de memórias com nenhum
cronograma determinado, um cigarro, uma dança, uma
risada, um carro destruído, lágrimas, uma torta em ruínas,
dois garfos em um pedaço de bolo. Eles eram os pequenos
momentos que construíram uma vida. Como fotógrafa, ela
poderia apreciar a simplicidade da coleção. Como mulher,
sentiu inveja de tudo o que casal teve e foi. Ela apontou para
uma mulher sorridente em um vestido de casamento de
1950. — É a Ursa?

Drake assentiu.

— Com seu companheiro, Irving. Ursa perdeu seu único


e verdadeiro amor. Ele morreu em seu quinquagésimo
aniversário e eu cheguei dez anos depois, no aniversário de
sua morte, quando ela havia decidido se juntar à ele.

— Eu não posso imaginar. — Lori sussurrou. Ela


pensou na mulher bêbada segurando uma arma vazia e de
repente se sentiu muito triste por sua trágica história. —
Quando se fica com alguém por tanto tempo, se ama tanto
que o tempo não pode curar... Eu não acho que ninguém ama
mais assim. Quer dizer, ouvi a geração dos meus avós
falando de amor à primeira vista, casando soldados um dia
antes de eles partirem para a guerra mas não posso pensar
em fazer algo assim. Logicamente não faz sentido dar um
salto para decisões tão grandes

Drake segurou seu rosto.


— Talvez isso não seja algo que precisa de lógica, mas
do seu coração. Eu vejo vocês seres humanos. Correm soltos
pela vida sem parar para respirar. Tomam decisões e depois
duvidam delas. Tomam novas decisões e duvidam delas
também. Às vezes, não tomam qualquer decisão e deixam as
coisas acontecerem independentemente das consequências.
Eu não acho que a vida é tão difícil. Se você vir uma criança
em perigo, você a salva. Se vir um animal com dor, você o
ajuda. Se está com fome, você encontra comida. Se tem
responsabilidades, faz o seu dever. E se encontrar o amor,
deve senti-lo. Você se agarra a ele, porque essa é a única
coisa pela qual vale a pena viver, e nunca sabe quando ele
será levado pelos deuses. Se você o encontrar, não há
necessidade de procurar em outro lugar. Os Draig entendem
isso. Nós não temos o divórcio. Nós nos conectamos para a
vida como a Ursa fez. Quando dragões acasalam, nossas
vidas se estendem aos nossos parceiros, ficando tão
entrelaçadas que dizem que os seres humanos vivem por
mais anos. Eu acho que é porque nós naturalmente
queremos mais tempo.

Lori viu a seriedade de sua expressão. Se sentia segura.


Em algum lugar, nas milhas e milhas deste pântano e charco
tinha um caçador maníaco com uma arma, e ainda assim ela
se sentia segura com Drake dentro desta pequena cabana no
meio do nada.

Seu rosto formigava onde ele a tocou. Lori engoliu em


seco, nervosa, lambendo os lábios. Seu olhar permaneceu
fixado no dela. Pequenos redemoinhos amarelos alinharam
suas pupilas. Desejo borbulhava para a superfície. Drake
esteve lá durante toda a noite, fervendo e esperando. Não era
apenas seu corpo que formigava, mas sua mente. Lori sentiu
um formigamento em seu cérebro como se alguém estivesse
vindo dentro de seus pensamentos.

A combinação de medo e antecipação a encheu. Lori se


aproximou até que seu corpo pressionasse contra o
comprimento do dele. Drake encostou a testa na dela e não
desviou o olhar. As necessidades físicas do seu corpo fizeram
com que Lori se concentrasse apenas no eixo duro contra seu
estômago. O calor dele aqueceu sua roupa.

— O que está acontecendo? — Ela sussurrou. Ela não


podia se mover.

— Me deixe te amar. — Disse ele. — Se deixe ser amada


por mim.

Lori se afastou. Seus lábios não se moveram quando ele


disse as últimas palavras, mas ela ouviu a sua voz dentro de
sua mente.

— Espere, o que você disse?

— Deixa eu te amar. — Mais uma vez, os lábios não se


moveram. — Eu tenho que acreditar que os meus deuses me
trouxeram até aqui, para você, por uma razão.
— Drake, pare com isso. — Ela insistiu antes de pensar.
— Como você está na minha cabeça?

— Nós estamos acasalados. — Ele respondeu, desta vez


usando sua boca.

— Você está lendo meus pensamentos? Quero dizer,


você sabe o que... — Lori tentou não pensar em todas as
coisas que não queria que ele visse: a memória de seu corpo
nu, as fantasias que teve sobre esse corpo nu, o clímax
desesperado que ela experimentou tarde da noite na pousada
só de pensar nele, e imaginando ele todo transformado e duro
e, porra...

Drake sorriu e deixou seus olhos piscarem, indo a cor


do ouro e, em seguida, de volta.

— A pele dragão é uma armadura protetora, e eu não


posso foder na minha forma shifter, mas se você quer ser
caçada eu posso...

— Ah! — Lori bateu em seu braço. — Deixe uma menina


ser um pouco misteriosa.

— Por quê? Você me quer. — Afirmou.

— Sim, eu quero você de novo, mas...

— Não apenas sexo. Você quer ser minha esposa. Você


me ama.
— Não, não. — Ela balançou a cabeça. — Isso é um
absurdo. Faz um par de dias. E pare de sorrir. E saia dos
meus pensamentos.

— Eu gosto de seus pensamentos. — Ele respondeu para


ela. Drake a puxou com força contra ele. Sua pele ondulava, e
em alguns segundos, ele estava diante dela em sua forma de
dragão. Lori sentiu a mudança ao longo do seu corpo, carne
firme transformando a pele dura.

— Bem, então eu só vou ter que... — Lori ficou


concentrada, tentando ler sua mente. Primeiro, foi macio e
confuso, mas então ela o sentiu. A sensação se tornou
cócegas de pura emoção, construindo até que todos os
sentimentos que ele tinha por ela vieram à tona. Drake disse
a verdade. Ele a amava desde o início. Ela sentiu a dor que
sua partida com o xerife causou. Nunca em sua vida
imaginou que alguém sentiria tanta falta dela.

— Deixe-me lhe comprar flores e bolo. — Drake deixou o


seu corpo mudar de volta para a forma humana.

Lori riu do estranho pedido.

— Bem, que menina não gosta de flores e bolo?

— Então, sim? — Drake acariciou o lábio inferior com o


polegar. — Você aceita estarmos acasalados? Para sempre?

— Casamento. — Lori disse na súbita compreensão. Sua


risada se desvaneceu. Sem hesitar, ela respondeu. — Sim.
Ela olhou para os cinquenta anos de uma vida cheia de amor
no mural de Ursa. Seu caminho de repente se tornou muito
claro. Isto é o que ela queria. Não havia mais procura na
próxima esquina. Não importava se vivesse num pântano, se
isso significava que ela teria uma vida cheia de felicidade. —
Sim, Drake, eu vou ter flores e bolo com você.
Capítulo 16
Drake não conseguia parar de beijar sua companheira.
Lori era tudo o que ele poderia esperar. A conexão entre eles
se aprofundava a cada segundo até que Drake podia senti-la
dentro de sua alma. Lori era uma parte vital que ele nunca
poderia viver sem.

Sua necessidade dolorida por Drake espelhava a dele


por ela, e ele se atrapalhou ao tirar suas calças. Lori puxou a
cintura, liberando sua excitação. Numa ansiosa união de
corpos semi vestidos e mãos desesperadas, conseguiram se
unir contra a porta. Drake levantou sua coxa, entrando nela
sem testar suas profundezas. Ele não precisou, sabia o que
Lori queria.

A perfeição do momento foi marcada por respirações


duras e suspiros baixos. Eles se conectaram mais e a ligação
profunda nunca seria cortada. Lori se agarrou a ele,
segurando seus ombros enquanto Drake levantava sua outra
perna. A posição permitia mais profundidade, e Drake
bombeou dentro dela. A tensão se construiu e ele empurrou
mais e mais rápido, a libertação de Lori tomou conta dele,
enquanto ela o deixou participar de seu prazer. Os
sentimentos eram demais e Drake teve um orgasmo forte.
Na sequência, ele não a soltou. Ele a abraçou.

— Prometo fazer tudo o que puder para te fazer feliz,


Lori.

— Você já f...

Suas palavras foram cortadas por um estrondo vindo da


frente da casa. Drake a empurrou imediatamente para trás
dele e olhou para a porta. Ele estava tão concentrado em Lori
e na conexão entre seus corpos e almas que não prestou
atenção para potenciais perigos.

— Saia da minha casa! — Ursa gritou agressivamente.


Ouviu um som de luta.

Drake colocou suas calças e sussurrou. — Fique aqui.

— As armas não funcionam sem balas. — Um homem


zombou do outro quarto. — Me dê antes de você se
machucar.

— Drake. — Lori sussurrou e agarrou seu braço, e ele


sentiu seu medo.

— Fique. — Ele insistiu. Quando pegou as balas de


Ursa, Drake pensou que a estava protegendo. Era sua culpa
ela estar desprotegida.

— Tudo o que queremos é o homem lagarto. — Disse um


homem.
— Esse é Howards. — Disse Lori. — Ele deve ter
rastreado você até aqui.

— Onde você o está escondendo? — Sr. Howards gritou


com Ursa.

Ursa respondeu com uma série de palavras de


confronto.

— Nós sabemos que ele está se escondendo aqui. Segui


as pistas que vinham do pântano.

O som de fechar portas seguiu a declaração do Sr.


Howards.

Drake lentamente abriu a porta para avaliar o que


acontecia. Ursa estava deitada no chão, tremendo e
segurando seu rosto. Ainda assim, apesar de sua dor óbvia,
ela continuou a xingar os dois homens e todos os seus
descendentes. Howards era o homem maior e ajudava ao
segundo e menor homem, derrubando os DVDs das
prateleiras.

Drake tentou se mover sem ser detectado para ganhar


vantagem e evitar que os homens atirassem próximo das
mulheres, mas a dobradiça da porta rangeu e denunciou a
sua posição. Drake entrou em ação, avançando. Drake se
transformou quando atacou, usando a mão com garras
deslizando no oponente mais próximo.
— Mate ele, Sr. Howards, mate ele! — O ser humano
menor gritou de susto e balançou descontroladamente,
empunhando a espingarda como um porrete porque Drake
estava perto demais para atirar. Ele atingiu o peito de Drake,
mas o cano de metal mal não fez nada contra a armadura de
dragão shifter.

Tiros soaram atrás de Drake quando Howards atirou em


suas costas. A bala atingiu de raspão na coxa e atingiu o
homem no quadril. O homem gritou e caiu para trás,
deixando cair a arma. Ele agarrou sua lesão e se arrastou
pelo chão até a porta da frente aberta.

O caos entrou em erupção. Drake viu Lori do canto do


seu olho confrontando Howards. O caçador disparou
novamente, mas o tiro se perdeu quando Lori jogou seu corpo
contra o braço do homem. Ursa agarrou o tornozelo de
Howards e puxou. O caçador gritava em protesto contra o
ataque. Ele chutava e socava tentando tirar as mulheres de
cima dele. Ursa e Lori receberam golpes, mas continuaram
lutando. Howards inclinou a coronha de seu rifle em direção
Lori.

Drake rugiu. O som ecoou nas paredes da cabine. Ele


alcançou o homem quando a arma balançou. Suas garras
cortaram o braço do caçador e Drake puxou a arma de suas
mãos e jogou para o lado.

Ao contrário de seu parceiro aterrorizado, Sr. Howards


não parou de lutar. Ele estendeu a mão para sua cintura e
puxou um revólver apontando para a cabeça de Ursa
enquanto ela agarrava a sua perna. Drake reagiu, rasgando o
pescoço e o ombro do homem com um golpe de sua mão. A
arma não disparou e saiu da mão do homem. Sr. Howards
agarrou seu pescoço para parar o fluxo de sangue, mas a
ferida era muito profunda. Ele desmoronou no chão.

— Drake. — Lori sussurrou, sua voz baixinha.

Drake se virou para a porta. Ele bloqueou as mulheres


com seu corpo.

— Vá. — Ele ordenou, preocupado que mais caçadores


estivessem vindo para eles. — Pegue Ursa e corram. Eu vou
lutar contra eles.

— Somos nós, a polícia! — Xerife Jackson gritou do lado


de fora. — Ursa? Drake?

Drake deixou cair os braços ligeiramente em alívio ao


ouvir a voz de seu amigo.

— Entre! — Ursa gritou do chão. — Você está atrasado


para a festa. A taça está vazia, e eu vou para a cama.

Lori ofereceu a Ursa uma mão e ajudou-a a ficar de pé.


Drake não relaxou até ver o xerife entrar.

Jackson olhou para a poça de sangue no piso da Ursa.

— Ah, inferno, Ursa, o que você fez? Eu te disse para


fechar a porta.
— Eles invadiram. — Disse Lori, usando o braço de
Drake para se apoiar enquanto avançava além do corpo
morto. — Foi legítima defesa. Vou confirmar isso. Este é o Sr.
Howards. Ele é um caçador desportista hospedado na
pousada. Ele raqueou o meu computador e encontrou a
localização de Drake e tentou caçá-lo. Ele é um bastardo
doente. E eles atiraram em Drake. — Ela apontou para o seu
ombro curado e, em seguida, sua perna. — Duas vezes.

Ursa acenou com a mão para Lori e apontou para o Sr.


Howards. — Dei um tiro no outro que sangrou na varanda e
eu, um... — Ela inclinou a cabeça e estudou o corte gigante
no corpo do Sr. Howards. — Mordi este no pescoço e ele
sangrou aqui. Eu estava sozinha, cuidando da minha vida,
quando eles entraram e começaram a demolir o lugar. Não
me deixaram escolha. Sou apenas uma velhinha, sozinha no
pântano e... Tão impotente.

— Tudo bem, tudo bem. — O xerife interrompeu. Ursa


riu para si mesma, o som soou mais como uma gargalhada.

— Eu os matei. — Afirmou Drake. — E vou aceitar o


meu castigo.

— Você não estava aqui. — Ursa negou. — Você nem


está aqui agora.

O xerife olhou para o Sr. Howards. — Eu acho que você


está confusa Ursa. Acho que você o esfaqueou com uma faca
de cozinha. Estava cozinhando quando eles te
surpreenderam.

— É isso. — Disse Ursa. Ela mancou até onde a arma do


caçador caiu no chão, a pegou e se moveu para o quarto dela.
— Isso é meu agora. Estou indo para a cama. Tranque tudo
quando terminar de arrastar para fora o...

— Uh, Ursa, isso é evidência. Eu tenho que levar isso


comigo. — O xerife seguiu.

— Não, você não tem! — Ursa gritou. — Isso é uma boa


arma. Pegue a minha velha...

Lori não poderia ficar na sala de estar de Ursa por mais


tempo. A cabana parecia muito pequena e o cheiro de sangue
estava deixando-a doente do estômago. Ela correu para a
porta da frente. O parceiro de Sr. Howards estava morto na
varanda. Se a poça de sangue era uma indicação, sua artéria
é que havia sido acertada. Lori correu, passando o corpo, e
imediatamente começou a caminhar em direção a seu carro.

— Lori, espere. — Drake correu atrás dela.

Tremendo, ela se virou para ele.

— Eu sinto muito, Drake. Isto é minha culpa.

Ele parou de andar.

— Você está pedindo desculpas a mim? Era meu dever


protegê-la. Eu deveria ter ouvido eles chegando.
— Eu deveria saber que ele seguiria você até aqui. —
Disse Lori. — Você estava muito calmo e eu pensei que era
seguro. Se ele raqueou o meu computador para encontrar
você, provavelmente também colocou um rastreador no meu
carro. Isso tudo é minha culpa.

— Você não pode controlar a maldade de outros


homens. — Drake afirmou. — Os deuses viram que ele foi
punido. Talvez fosse essa a sua vontade. Eles queriam que
terminássemos com os assassinatos do Sr. Howards.

Sua resposta foi tão simples e tão pura que Lori poderia
dizer que Drake acreditava.

— Eu não sei se eu disse isso em voz alta, mas eu te


amo.

— Eu sei. Eu sinto isso em você. — Ele se aproximou. —


E você sente isso em mim.

— Se vou ficar aqui com você, se nós vamos fazer isso


funcionar, teremos que falar sobre nadar com jacarés, e sobre
conseguir Internet na sua casa para que eu possa trabalhar.
Você ainda tem um emprego? E sem caçadores. Eu não posso
lidar com você sendo baleado. E...

Drake fez uma careta e segurou sua testa.

— O que é isso? Você está ferido? — Ela se aproximou


dele e estendeu a mão para seu rosto.
— Será que todos os cérebros femininos funcionam com
tantos pensamentos e preocupações como o seu faz? –— Ele
lhe deu um olhar cauteloso. — Seu cérebro foi muito
assustador agora.

— Bem... — Ela respondeu, envolvendo os braços em


seu pescoço. — Pelo menos agora eu sei como te tirar dos
meus pensamentos.
Epílogo
— Uh, Drake?

Drake sentiu sua esposa chamando-o em sua mente,


enquanto nadava sob a água. Algo não estava muito certo
sobre o som ambiente do pântano e Drake queria ter certeza
que sua esposa grávida estava segura. Com toda a força da
sua apreensão, ele apressou o passo.

— Drake, você tem companhia. — Ele viu um flash de


olhos de réptil na sua mente ao ouvir suas palavras.

Drake subiu acima da água e saltou para a praia. Seu


olhar preocupado encontrou Lori de pé na varanda, não se
atrevendo a se mover. Lori apontou para a linha de árvore
perto da água para um par de olhos de réptil amarelo
olhando para ela na luz da noite. Ela viu Drake mudar em
muitas ocasiões, mas aparentemente não a preparou para
um quintal cheio de dragões olhando como se tivessem
acabado de chegar de um campo de refugiados. Meia dúzia de
homens se virou para olhar para ele.

— Dimosthenis, graças aos deuses que encontramos


você. — Disse Galen, relaxando sua posição. Ele ficou em
forma deslocada, falando sua língua nativa Draig. Ele era um
guarda no palácio real e por todas as memórias, um dragão
muito leal à família governante. — Temíamos que estivesse
perdido na cidade de Praga, mas depois encontramos este...
— O homem ergueu um folheto para passeios do pântano. —
... sabia q era onde estaria esperando por nós se conseguisse
sair vivo.

— Galen? — Drake não podia acreditar no que estava


vendo. Desde que ele estava nadando nu, Drake pegou um
par de shorts, que estava na borda do cais quebrado e os
colocou. Embora não conhecesse todos os homens na sua
frente, Drake reconheceu alguns deles como trabalhadores do
palácio. — Eu não entendo. Como você me achou?

— Veja. — Galen ofereceu o velho folheto amassado. —


Os pântanos sombreados. Os deuses nos apontaram para
você. É a sua vontade. Soubemos quando você fez isso.
Então, esperamos o momento certo para que pudéssemos
segui-lo.

— Você está aqui para me levar de volta? — Drake se


aproximou de sua esposa. Ele lutaria contra todos eles se
fosse preciso. — Não vou deixar que me levem sem uma
batalha.

— Drake? — Lori perguntou em sua mente. Ele levantou


a mão para ela num esforço para acalmar seus medos.

— Estamos aqui para segui-lo. — Disse Galen. Aqueles


por trás dele assentiram ansiosamente, concordando. — Você
teve a coragem de sair, para trilhar um caminho para o
desconhecido. — O homem olhou para Lori e começou a
respirar com dificuldade, como se emoções brotassem dentro
dele. — Para encontrar uma esposa. Todas as coisas que a
realeza procura, e nos nega, e mantêm para si próprios. Um
príncipe Var e um príncipe Draig têm esposas. Os outros dois
se recusam a escolher e ainda veem aqui sempre que
desejam. Eles negam ao resto de nós uma chance de
felicidade. Você é uma lenda e nós gostaríamos de ser como
você, Dimosthenis. Por favor, não nos mande de volta. Não
podemos voltar para a cidade de Praga. O modo como vivem
aqueles seres humanos é horrível.

— Morte e medo nas ruas. — Alguém acrescentou, atrás


de Galen. O dragão shifter se adiantou para ser visto. —
Chicoteados, num frenesi de dança e gritando. E riem quando
eles derramam suas entranhas nas ruas.

— Temos enfrentado esse desafio e não o temos


aprovado. — Disse Galen, tocando o braço do homem em um
gesto reconfortante. Ele então se virou para Drake. — Nos
ajude a compreender este mundo.

— Drake? – Lori perguntou em voz alta. Ela não


conseguia entender sua língua nativa. Dragões shifters se
viraram para ela em uníssono.

Drake voltou para a forma humana. Usando a


linguagem da Terra, ele disse. — Deixe-me apresentar minha
esposa, Lori.
— Esposa. — Os homens repetiram, impressionados
com a própria palavra. Eles também trocaram para suas
formas humanas enquanto olhavam Lori atentamente.

— Então é verdade. A Terra tem mulheres para nós. —


Gerard abriu caminho, avançando. Trabalhava cuidando de
ceffyls nos estábulos reais e, normalmente, guardava para si
suas palavras. Desde que trabalhava no palácio seu inglês
era muito mais claro. — Lady Lori, você nos mostrará como
capturar mulheres e torná-las nossas companheiras? Você
nos mostrará onde tem vilas para invadir e conquistar
esposas?

Lori abriu a boca e fez um barulho fraco antes de dizer:

— Uh, bem, eu acho que você está pensando no período


medieval, e eu, uh, bem...

— Eu sou um homem honrado. — Outro dragão shifter


interrompeu com entusiasmo. Seu inglês era bem acentuado,
como Drake imaginou que soara o seu quando ele chegou
pela primeira vez. — Quando o portal se abrir novamente,
atenderei meus irmãos. Há sete de nós. Eu gostaria de
encontrar uma mulher que me dará muitas crianças. E meus
irmãos terão esposas também. Viveremos juntos na floresta
como fizemos em Qurilixen. Você encontrará para mim uma
mulher que não é como aquelas nos desenhos de tabuleiro
gigante?
— Gigante do...? — Lori olhou desesperadamente para
Drake. Os homens se aproximaram dela.

— Modelos. — Drake esclareceu. — Eu acredito que ele


esteja se referindo aos outdoors. Ele não quer uma... —
Drake fez uma pausa e puxou as mãos para cima e para
baixo na frente dele numa linha reta. — Ele deseja uma
mulher com... — Drake fez gestos para desenhar curvas
voluptuosas no ar.

— Oh! — Disse Lori, surpresa quando entendeu o


significado.

— Eu sou treinado em combate. Você pode encontrar


para mim uma mulher para proteger? Gostaria de levar uma
mulher para a minha casa e trancá-la ali onde ela estaria
segura. — Disse Galen. — A realeza disse o quão frágil as
mulheres humanas são e por isso que eles não queriam que a
gente viesse aqui para obtê-las. Mas eu prometo que não a
deixarei fora de casa para que ela não seja ferida.

— Oh, tudo bem. — Lori disse num tom autoritário. Ela


levantou as mãos com um ar decisivo para impedi-los de
falar. — Em primeiro lugar, bem-vindo à Terra. Sinto muito
que você teve que entrar pelo French Quarter.

— Cidade de pragas. — Drake falou.

— Lá não é uma cidade de pragas. — Lori continuou. —


É um lugar de festa aonde os alunos da faculdade vão para
festejar e as mulheres tiram suas camisas em troca, você
sabe o que, não importa. Tanto quanto você acha, é uma
cidade de peste. Fique longe dela. Vamos encontrar para você
um piquenique de igreja agradável ou algo para tentar em
primeiro lugar. Na verdade, você pode querer ficar fora da
maioria das cidades até ficarem um pouco mais acostumados
com o planeta. Passos de bebê13.

— Eu gostaria de bebês. — O homem com sete irmãos


falou.

— Eu gostaria também. — Outro acrescentou.

— E eu. — Disse outro.

— Eu ficaria feliz apenas por ter uma mulher. — Disse


Galen. — E os bebês, se ela não for muito delicada para ser
preenchida com a semente do dragão.

— Ok, hora das regras básicas. — Disse Lori, tocando


em seu estômago arredondado. — Ninguém diz as palavras
dragão e sementes juntas numa mesma frase.

— Como quiser, minha senhora. — Disse Galen. —


Então você vai nos ajudar?

Lori olhou para Drake. Ele não poderia esconder a


felicidade que sentiu quando olhou para ela. Telepaticamente,
falou. — Eles não têm outro lugar para ir, cherrie. Olhe para
eles.

13
Ir aos poucos.
Lentamente, Lori se virou para o olhar o grupo de
dragões shifters esfarrapados atrás dela. Eles claramente
viajaram por um longo tempo e estavam cansados. — Vocês
podem ficar aqui por enquanto, até que descubram alguma
coisa. Não podemos ter vocês correndo pelo campo como um
enxame de homens lagartos do pântano. A última coisa que
precisamos é da Janice, do hotel Plantation Inn, sabendo que
vocês existem.

— Eu vou ser um bom marido para Janice. — Disse um


deles. — Janice é uma mulher?

— Primeiras coisas primeiro. Entrem. Comam. Durmam.


E amanhã vamos discut...

— Os planos para a invasão da aldeia? — Galen


completou ansiosamente.

— Etiqueta na Terra. — Lori corrigiu.

— E eu falarei com Ursa sobre os transformar em Cajun.


— Drake afirmou. — Eu espero que ela tenha luar suficiente
para executar muitas cerimônias.

— Oh, eu tenho certeza que ela vai descobrir isso. —


Disse Lori, rindo. Ela acenou para os homens em sua casa. —
Encontrem um lugar para descansar e tentem não quebrar
nada.

Drake encontrou sua esposa na varanda e a puxou em


seus braços.
— Eles ouviram contos de minha vinda através do portal
e seguiram. Eu não desejo desviá-los. Eles nem sequer
pensaram em esconder seus dragões de você. Eu não posso
deixá-los vaguear por aí assim. E não posso enviá-los para
casa depois de desafiaram ordens reais para não vir à Terra.

Lori deslizou suas mãos pelo peito para agarrar seus


ombros.

— Drake, eu nunca pediria a você para enviar seus


amigos para longe. Eles precisam de nós e as mulheres da
Terra não têm necessidade de se protegerem de investidas de
alguns bem-intencionados “Romeos”.

— Eles são dragões, não “Romeos”. — Drake disse,


confuso.

— Meu erro. — Respondeu ela, se inclinando na ponta


dos pés para oferecer sua boca para um beijo. Foi uma oferta
que ele aceitou de bom grado.

— Lady Lori. — Galen chamou. — Encontramos esta


caixa com as mulheres. Você nos levará para encontrá-las?

— Caixa...? — Lori engasgou. — Minhas fotos. Eles


estão no meu escritório. Eu tinha essas provas organizadas
para o livro, oh meu Deus, pare! — Ela correu para dentro da
casa.
Drake sorriu enquanto estava sozinho na varanda e
ouviu o caos dentro da casa. Era assim que a vida deveria ser
preenchida, com amor, propósito e família.

FIM

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