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Edição
2022
Copyright © Ágatha Santos
Produção Editorial: Criativa TI
Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.
Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa.
Levantar às oito da manhã não é uma tarefa tão fácil quando se foi
dormir a uma, da mesma madrugada. Quando isso já é uma rotina, você
pode acabar se acostumando, entretanto, não significa que se torna mais
amena.
Para o meu azar e excesso de cansaço pela rotina que tenho vivido,
não ouvi o despertador e cheguei com mais de uma hora de atraso no
trabalho. Ivo Smirnov, dono do restaurante Pardes, onde trabalho meio
período diurno, para cobrir o horário de maior movimento, não é nada
tolerante com atrasos, aliás, nenhum russo costuma ser, entretanto, foi a
primeira vez, em três anos, que um episódio desses aconteceu comigo, por
isso só irei repor as horas ao invés de perder o ganho do dia anterior.
Ela não precisa carregar culpa por tudo que nos aconteceu nos
últimos anos. Sei de seus sonhos para que minhas oportunidades fossem
diferentes das que ela e meu pai tiveram, entretanto, a vida nem sempre
corre o curso que esperamos e algo indesejado sempre poder descer sobre
nossas cabeças e mudar o rumo de tudo.
Gemo quando ergo a caixa e percebo que seu peso está além do
que normalmente eu suportaria, entretanto, não posso cogitar a
possibilidade de fazer duas viagens, ou isso vai atrasar ainda mais os
atendimentos no salão. Apoio a caixa na minha coxa e, devagar, desço o
lance de escadas, cuidadosa para não derrubar tudo e causar um acidente
desnecessário.
Planejar além do momento nunca foi meu forte, antes eu era uma
adolescente sonhadora, depois, quando soube da dívida, foquei totalmente
no problema, não dando brecha para qualquer sonho bobo ou ilusões a
longo prazo.
Ele tem consciência de que errou feio ao não cumprir suas tarefas
corretamente, entretanto, sua certeza sobre não ser punido supera qualquer
tipo de consideração que deveria ter com os colegas.
— Você quer que eu pare o meu serviço para fazer o teu? — Ele
torce os lábios, em desgosto.
— Não vai custar nem dois minutos do seu tempo. — Ele para o
que está fazendo, me encarando — Por favor? — Uno as mãos enfatizando
o pedido.
— Tak[5]! Só não demora. Não vou ficar cobrindo o salão pra você.
Nada disso tem qualquer relevância para eu sair fugindo feito uma
garotinha do salão, com medo de encarar um homem bonito.
Volto para o salão confiante, mas quando vejo a mesa dez vazia e a
comida ainda intocada sobre ela, enrugo o cenho, intrigada.
— O que houve com a mesa dez? — Apoio o cotovelo no balcão
quando pergunto ao Frans.
— Sim, você. Não posso sair daqui e Frans vai me ajudar com os
depósitos. — Ivo toma frente da conversa e coloca uma sacola de Kraft à
minha frente. — Pegue o endereço e entregue logo, antes que esfrie a
comida e o cliente devolva.
— Lápatchka. Entre, vou pegar algo para você. — Ele não sorri,
mas age tão naturalmente, como se fôssemos velhos conhecidos.
Ele volta para dentro e caminha até uma grande mesa de vidro. Seu
quarto é praticamente um apartamento, pelo que posso perceber de fora. O
ambiente começa com uma sala e mesa de jantar que dividem o espaço e as
portas em torno devem ser os quartos.
No caso, eu.
Eu não o conheço, por que estou tão feliz de ter sua atenção?
— Lápatchka...
Svolach[9]!
— Poka[10], lápatchka.
Confiro as horas e vejo que logo tenho que sair correndo daqui
para começar a trabalhar no segundo turno e emprego. Essa carga horária
tem causado uma exaustão descompassada no meu corpo e mente, culpo a
ela toda a confusão de hoje.
Ela acena com a cabeça, saindo como entrou, tão rápido quanto um
foguete.
Irina não tem marido, nem ao menos namorado, ela herdou este bar
do seu pai, na época era uma espelunca, que aos poucos conseguiu
remodelar e tornar o que é hoje.
Não é um lugar para ostentações, não carrega a tradição e nome de
um grande pub, mas é aconchegante o suficiente para as pessoas quererem
passar horas a fio por aqui, se divertindo.
— Água.
Ele ri, desta vez abertamente, confesso que não estava preparada
para essa visão, fico embevecida com sua imagem leve e descontraída e um
sorriso tão lindo, que torna seus traços ainda mais harmoniosos.
— Sacha, prima. Ainda bem que te achei aqui. — Katrina solta sua
bolsa sobre o balcão, me encarando.
— Eu sempre estou aqui. É meu trabalho.
— Não.
— Sim.
Svolach!
— O lutador? — Katrina praticamente grita, abismada.
Não perco a ironia que usa quando menciona meu nome da forma
correta.
Encontro com Irina, que volta do depósito com uma caixa cheia de
bebidas destiladas, quase causo um acidente esbarrando de frente com ela.
— Ei, cuidado!
Não consigo evitar meus olhos tediosos quando caminho até ela,
sabendo exatamente o que quer e o quanto vai lutar para que isso aconteça.
— Mas você nem sabe o que vou dizer. — Ela tem a audácia de
parecer ofendida.
— Tá, mas você não tem ideia de quem é esse homem. Ele fez...
Com um sorriso vitorioso, ela se afasta, sabendo que desta vez, não
terei como recusar sua ajuda. Tenho ciência de que Irina faz esse tipo de
coisa de propósito, às vezes chega a pagar um valor extra, alegando que é
uma gorjeta de algum cliente, o que tenho minhas dúvidas se é realmente
verdade.
— Está vendo! Sua sorte é favorável. Conseguiu a noite de folga e
podemos ir — Katrina comemora.
— Informalidade?
— Não tem perigo algum, Sacha, não seja uma chata. As lutas são
seguras e apesar de ter a proteção — ela faz aspas com os dedos,
enfatizando — da máfia, eles não estão diretamente ligados. Uma pequena
organização cuida de todos os trâmites e convida os lutadores que, em sua
maioria, foi expulso ou não luta mais pelas ligas convencionais.
— Para alguém muito certinha, você está com a boca suja demais,
prima.
— Irina...
— Está certo. Você ganhou boas gorjetas hoje — ela corta minha
tentativa de protesto e opto por calar.
Com o cansaço que sinto, não tenho a menor condição de
argumentar sobre qualquer coisa.
— Vamos?
Solto minhas mãos das suas e vou para o balcão da boate em busca
de uma água e uma trégua para meu corpo. Distante do aglomerado de
pessoas, consigo respirar melhor e sentir certo alívio ao perceber que minha
zonzeira está sob controle, ou eu achava que estaria.
— Svolach...
Capítulo 7
— Não fale dos meus pais — ergo o dedo em sua direção —, você
está me seguindo desde ontem.
Volto o corpo para sair dali e trombo com uma parede de músculos
que estava próxima demais de mim.
Abro a boca para dizer algo mordaz, mas sou impedida por Krigor,
que cobre minha boca com um dedo, exigindo meu silêncio. Sua outra mão
circula minha cintura, trazendo meu corpo para ainda mais próximo, de
forma rápida e certeira.
Sem dizer nada, sua mão sobe tocando com o dorso minha
bochecha. Os olhos atentos ao toque, a ruga ainda presente em sua
expressão, parece tentar me compreender através do contato singelo, o que
acaba por me incomodar e afasto o rosto, reticente.
Sem aguardar uma resposta, mesmo que não tivesse uma para dar,
Krigor contorna meu corpo caminhando de volta ao bar. Curiosa, olho para
trás e aquele mesmo amigo se aproximar com duas mulheres enganchadas,
uma em cada braço.
Vou até Katrina e aviso que estou encerrando a noite, ela não
parece feliz em fazer o mesmo, por isso, digo para ficar com o rapaz que
conheceu e aproveitar a noite, tomaria um táxi logo que saísse dali.
Viro meu corpo para a rua e logo o táxi encosta, dando a deixa que
precisava para sair deste lugar e nunca mais sequer olhar para aquele
imbecil ou qualquer coisa que se relacione a ele.
Chego em casa, ainda muito brava com tudo que aconteceu, mas
principalmente decepcionada comigo mesma. Não acredito que cedi tão
fácil à investida daquele brutamontes. Uma frase, um aperto e estava
completamente rendida a seu bel prazer, agindo igualmente aquelas
descaradas no balcão do bar.
Encaro minha bota, o salto mais alto que tenho, e ainda tive que
ouvi-lo me chamar de Króchka, pelo meu tamanho. Eu realmente sou baixa,
com salto me torno tolerável, ainda assim, comparada com aquele armário
humano, sou um cisco.
Puxo a bota, uma sai com facilidade, mas a outra tenho dificuldade
e acabo deitando na cama, segurando o sapato, ainda encaixado no meu pé,
para cima.
Minha mente traidora resolve trazer as lembranças do beijo, assim
como sua mão tocando minha pele de forma tão íntima e carinhosa, aquela
voz baixa e envolvente, pronunciando o apelido, deixando-me
momentaneamente derretida.
É fato que ele está mais do que acostumado com isso. Manipular as
mulheres com suas artimanhas, como se realmente estivesse em uma luta,
em que vencer o desafio é sempre o objetivo e todas fossem seus troféus a
serem conquistadas.
Posso jurar que senti cada entrelaçar de língua dos dois, como foi
comigo, um momento antes. A raiva retorna, mesmo que eu tente afugentá-
la socando meu travesseiro mais do que o normal, quando o ajeito na cama.
Não tenho motivos para sentir isso, ele não é o primeiro a agir de
forma tão idiota comigo, apesar de puxar na memória e não encontrar
nenhuma situação tão ultrajante quanto a de ontem.
Não temos nada, só um beijo roubado que ficou esquecido naquela
pista, quando não dei o que buscava. Um momento quente e sem
compromisso.
Não sou puritana, longe disso, acho perfeitamente normal e comum
duas pessoas se conhecerem numa noite e, se a química rolar, terminarem
juntos e curtir o prazer no corpo alheio.
Entretanto, por mais que eu quisesse isso com ele desde que o vi
pela primeira vez, algo me freou. O sentimento de desafiar sua
determinação era maior que qualquer outro desejo.
Finalmente saio do quarto com um punhado de roupas sujas nas
mãos, meu pai não está em casa, do contrário o veria em sua poltrona na
sala, assistindo a algum programa de domingo na televisão. Vou até a
pequena área de serviço e coloco as peças dentro da lavadora.
— Estava cansada.
— Ele não pegou muito — minha mãe declara, e paro tudo que
estou fazendo, fitando-a — Eu vi. Ele disse que era só para uma bebida.
— Bebida? Como pode ser ingênua, mãe? Ele contraiu essa dívida
por conta de bebida, de jogos, ele não sabe se controlar e está afundando
nossa família. — Altero minha voz, indignada.
— Não fale assim. Ele é seu pai! — ela grita, mas noto a lágrima
saltar dos seus olhos.
— Ele sempre fez tudo sozinho, você está sendo ingrata — minha
mãe acusa, e afasto um passo, indignada.
— A senhora está cega, não quer enxergar que seu marido, que
deveria cuidar e proteger a família, se tornou um viciado. Estou tentando
salvar o pouco de dignidade que ainda nos resta, mãe. Para isso, preciso da
sua ajuda, preciso que o faça entender que não pode mais agir assim.
Por mais que demorasse, sabia que um dia conseguiria ter todo o
dinheiro para quitar a dívida e livrar minha família desse compromisso.
Não foi a primeira vez que senti falta de dinheiro onde costumo
guardar. Das outras vezes, não falei nada, só a troca de olhares com minha
mãe e a lamentação estampada em sua face, era o suficiente para me fazer
calar.
Ergo a mão para bater na porta do seu apartamento, mas ela se abre
e dou de cara com minha prima, toda arrumada e sorrindo.
— Aonde vai?
— Sair. Quer vir junto? — ela pergunta, animada.
— Katrina... — advirto.
— Ontem, depois que você partiu da boate, Krigor veio até mim e
entregou dois ingressos para a luta de hoje e pediu que eu a trouxesse. Ele
disse que queria se desculpar com você e pediu que eu desse o recado.
Quando você bateu em casa, pensei que era o destino agindo e só lhe guiei
para cá.
— Boa noite a todos. Hoje teremos uma luta épica e aviso aos mais
próximos — um senhor moreno, vestido em um terno preto, ocupa o meio
da arena e aponta para as pessoas que ocupam as cadeiras da primeira fila
— que podem tomar um banho de sangue.
— E por que ele me quis aqui, então? — Essa pergunta não era
para ter sido verbalizada e só me dou conta do erro quando um sorriso
gracioso surge nos lábios da minha prima.
— Você será o objetivo dele. Simples.
— Garanto que ele já te viu aqui, bem de frente para ele. Isso só
aumenta sua expectativa e pressa em acabar logo com Russell. Dada a
última luta, no ano passado, em que ele perdeu, é como se já soubesse da
sua vitória hoje. Ele é um bruiser, com certeza fará jus a isso.
— Mas...
No fim das contas, não pretendo falar com o lutador, então não
vejo motivos para assistir ao banho de sangue que se prenuncia.
Capítulo 12
— O que...
— Você é maluco!
— Posso ser, mas você não sai daqui hoje, sem que conversemos.
Anda logo. — Ele estica a mão me chamando.
— Por quê?
Fecho os olhos por alguns segundos e respiro fundo, sei que não
conseguirei fugir desta vez, então, que seja a hora de enfrentar o Volk
lutador. Quando os abro novamente, Krigor está apoiado na grade, me
encarando, minucioso.
— Sua prima também virá. Terá uma recepção para a luta de hoje
no salão do hotel e vocês são minhas convidadas.
Dou a mão para o volk e decido acreditar de que não serei mordida.
Capítulo 13
— Não tive muita escolha. Seu capanga quis garantir que eu não
fugisse.
— Precauções.
Antes que ele termine o pequeno show erótico com a garota, viro
meu corpo e vou até um garçom, pegando duas doses da bandeja. Se tenho
que tolerar toda essa merda, sabe-se lá por que, farei isso bêbada.
Ela toca seu copo no meu, por reflexo, já que seu rosto ainda me
examina minuciosamente, aguardando o próximo passo. Posso ter que lidar
com esse lutador abusado, svolach, um sem noção que tem o ego maior que
o próprio...
— Quer saber de uma coisa? Vou embora. Não sou obrigada a nada
— declaro, afirmando com a cabeça.
Tento passar direto, sem hesitar, no entanto, sou impedida pela sua
mão grande e forte, que levanta e barra minha saída.
— Com licença. — Fecho a cara, tentando passar, e sou impedida
novamente.
— Aonde vai, Aleksandra? — Ouço a voz do lutador logo atrás de
mim.
Giro no lugar e, antes que possa dizer qualquer coisa, sinto uma
tontura tomar meus sentidos e acabo apoiando nele para me manter em pé.
Seus braços automaticamente circulam minha cintura, algo muito bem-
vindo por meu corpo, entretanto, rechaçado pela razão.
— Vem comigo.
Antes que ele diga algo, a mulher que ele beijou, ainda há pouco,
se aproxima de nós e apoia as mãos em seu ombro direito. Tenho o súbito
desejo de arrancá-la de lá aos tapas, fecho minhas mãos em punho e
mantenho os olhos cravados no contato de ambos.
— Sobe comigo. Quero conversar com você — ele não pede, mas
soa gentil na forma de falar.
— Volk, você vai convidá-la também? — a estranha, com uma voz
irritante, questiona Krigor.
Cruzo os braços na altura do peito, para conter qualquer ímpeto
sanguinário que passe pela minha mente já alterada pela bebida, ergo as
sobrancelhas e fito de um para o outro.
Não posso negar que uma pontada de felicidade tomou conta dos
meus sentimentos, alimentando meu ego perante essa oferecida, que ainda o
usa de apoio.
Por que ele ainda não a afastou? Se ele não o fizer logo, não
responderei por mim.
Ele estende a mão, mas antes de aceitá-la, olho ao redor e não vejo
minha prima, que sumiu em algum momento e eu nem ao menos percebi, já
que estava focada na mulher que usava Krigor de apoio.
Fecho os olhos por um minuto e no seguinte estendo minha mão,
que ele entrelaça a dele e logo passamos pela porta, que o brutamontes
guardava, indo para o elevador.
— Aonde vamos?
— Não poderia fazer da forma que gostaria. Não quero plateia para
tudo que pretendo desfrutar com você.
— Sei que quer isso tanto quanto eu, Króchka. Ontem tentei te
provocar, achei que tomaria uma atitude e se colocaria perante as garotas.
— Você faz de tudo um jogo? Uma luta a ser vencida?
— Eu não...
Se tudo isso é um jogo para ele, também é para mim. Pois nunca
senti prazer maior do que desafiar esse lutador inconveniente, levá-lo ao
limite somente com palavras, perceber que seu olhar determinado e duro, o
mesmo que usa na luta, é direcionado para mim.
Seguro sua nuca e fico na ponta dos pés, para alcançá-lo melhor,
nosso beijo aprofundando gradativamente, nos enredando a entrega que
parecia cada vez mais inevitável.
Para minha sorte, ou azar, ainda não defini muito bem, as doses
de vodca com Katrina empurraram meu bom senso em algum armário
escuro e empoeirado dentro da minha própria mente, dando vazão a uma
mulher desinibida que nunca fui.
Aperto sua cintura com mais força, testando sua carne macia,
enquanto esfrego minha ereção já eminente em sua barriga. Ela é tão baixa,
pequena realmente, que temo machucá-la se for com muita sede ao pote.
Controle-se, Krigor!
Não levei dois minutos na ligação e ela cai no sono? Que boa sorte
que estou tendo hoje.
Não quero dividir minha atenção com mais de uma, preciso ter
todo meu foco no prazer de Aleksandra, pois quando finalmente acontecer,
sei que será inesquecível para ambos.
— Krigor, sua mãe me ligou — Bóris fala, assim que entra pela
porta.
— Sim.
— Krigor, você sabe que as coisas não são assim. Os caras não são
os bonzinhos e temos que seguir as regras de acordo com eles.
— O que essa menina tem de tão especial, afinal? Você quase foi
penalizado na luta porque simplesmente abandonou o ringue, quando viu
que ela iria embora. Depois a trouxe para cá, passou a noite se esbaldando
com ela e fica puto pela garota ter dado o fora. No fim, é isso que
queremos, sempre, que elas partam e não se tornem pegajosas.
Vou direto para meu quarto, tiro as roupas da noite anterior para
um banho rápido, dessa forma já vou pronta para o bar e não preciso
carregar o peso da mochila que levo todos os dias.
— Você tem que se divertir mesmo, filha, tem muito tempo que só
vive para o trabalho, mas, por favor, não me deixe mais preocupada, assim.
— Pode deixar. Isso não irá se repetir. Agora, preciso tomar banho
e ir para o bar.
Ela concorda com a cabeça e volta para seus afazeres.
— Tem certeza?
— Tenho. Ficar aqui só vai nos desgastar para amanhã. Pode ir,
que eu fecho tudo. — Ela toca meu braço e segue em direção ao depósito.
Pensar que ele possa ser um perigo para mim, de forma literal, só
faz com que eu acredite ainda mais em meu sexto sentido, que me afastou
dele deliberadamente. Ainda bem que seu ego é grande o suficiente para ter
agido como um babaca ontem, me deixando sozinha hoje de manhã e
fazendo-me literalmente correr para longe de seu agarre.
Não quero mais saber de lutas, ameaças, lutador com ego gigante e
nem de vodcas. Estou abolindo tudo isso da minha vida e retomando minha
rotina exaustiva e pacata, focando somente em pagar a maldita dívida da
minha família, para que possa seguir adiante, esquecendo completamente
que Krigor, sequer um dia, passou pelo meu caminho.
— Como é que é?
— Deixa de idiotice e sente sua bunda aqui. Como assim, você foi
ameaçada?
— Eu não faço ideia. Mas se pensar bem, na forma como volk agiu
com você, todo possessivo, quebrando regras instransponíveis naquela luta
e te arrastando, sozinha — ela ergue um dedo enfatizando essa parte — para
o seu quarto, é óbvio que você tem importância para ele.
— Como não?
— Não voltando. Bóris, seu treinador, comandou a festa por um
tempo e logo depois encerrou tudo, subindo com duas garotas.
— Se ele não desceu, para aonde foi? Ele não estava lá quando
acordei.
No entanto, se tudo não passou de um engano, por que ele não veio
me procurar no dia seguinte? Ele sabe onde trabalho, nos dois empregos, se
quisesse explicar as coisas, poderia ter ido até mim.
Por mais que quisesse dizer algo, sei que, no fundo, minha prima
está falando a verdade: eu sou uma enganadora de mim mesma.
Capítulo 19
O volk!
Agora, mais do que nunca, acredito que vir até aqui foi o maior dos
meus erros.
— Nada. Eu me confundi com uma entrega. Já estou indo. —
Tento passar por ele, mas sua mão agarra meu punho em um aperto forte.
— Não sabia que você era dono ou hóspede único neste lugar.
— Só vim pedir que não deixe mais seu amigo lutador rondar meu
trabalho. Não gostei de ser cercada na saída do bar, aquela noite. — Não
entrego meus reais motivos, pega desprevenida, não consegui admitir que
gostaria de entender o que aconteceu na nossa noite juntos.
— Russell. O lutador que você derrotou aquele dia, foi até o bar,
esperou que eu saísse, para me parar na rua e fazer ameaças sobre estar
próxima de você.
— Há três dias.
Sua voz soa baixa e tranquila, mas em seus olhos posso ver o quão
sério ele fala, e se não for eu a ponderar, sofrerei a humilhação de ser
carregada como uma criança impertinente neste saguão.
— O que houve?
— Quero que fale com a organização. Ele não poderia ter feito
isso. É contra as regras.
— Se não foi tão sério assim, por que veio até mim? Se não se
sente ameaçada, não teria motivos para falar disso. — Ele dirige sua raiva
na minha direção e recuo um passo.
— O que ele quer com isso? Por que com ela, Bóris? Já houve
tantas e nunca foram ameaçadas por ninguém. — Krigor vem até próximo
de nós, questionando, indignado.
— Mas nenhuma delas fez você parar uma luta. Eu te avisei que
você colocou um holofote sobre a cabeça dessa moça.
— Acho que não é para tanto. Ele só quer mexer com seu
psicológico, Krigor.
— Você não tem ideia da yebat que está falando! — ele responde,
com aspereza, caminhando de um lado para outro.
— Tem razão. Eu não deveria ter pedido que sua prima a levasse
até lá, nem tentado impedir que fosse embora. Você se tornou meu ponto
fraco perante eles e preciso dar um jeito nisso.
Seus olhos estão mirando o chão, suas palavras saem da sua boca
com peso, e são tão desagradáveis para ele proferir, quanto foram para eu
ouvir. Bóris levanta do sofá e caminha até próximo dele, tocando seu
ombro.
— Você vai ter que mostrar publicamente a todos eles que ela não
tem qualquer importância.
— Claro que fiquei. Gostaria de ter estado mais próximo, mas não
poderia correr o risco de me aproveitar de você, que estava apagada pela
bebida.
Minha vida não tem sido um mar de rosas há muito tempo, acho
que nunca foi, agora não poderia ser diferente. Desde que coloquei meus
olhos nele, no restaurante, algo me alertou sobre seu jeito, que emanava
perigo.
Isso poderia não parecer, mas era ainda mais cruel do que se
tivesse os levado com ele. A frieza que transparecia em suas ações,
condiziam exatamente com sua personalidade egoísta e singular.
Sirvo a mesa e deixo a conta sobre ela, retornando para meu ponto
de costume no salão. Daqui consigo visualizar tudo, além de estar próxima,
suficiente, para escutar se Ivo ou alguém solicitar alguma coisa de dentro do
balcão.
Só gostaria que tudo isso acabasse de uma vez. Pensar que ainda
estarei próxima dele e que, na ocasião, teremos que fingir indiferença, não é
algo agradável. Imaginar que presenciarei Krigor em sua normalidade,
rodeado de mulheres e, por favor, levando quatro ou cinco delas para um
quarto de hotel, chega a ser ridículo.
Pego sua mão, sem nada dizer, praticamente arrastando-a para fora
do restaurante. Frans, hoje em particular, está observador demais e, se for
para fazer isso realmente acontecer como se deve, não posso dar margem
para qualquer dúvida ou especulação.
— Posso saber por que está agindo como uma louca? — Seu olhar
assustado combina com o timbre nervoso.
Fique bem...
Volk.
— Porque o volk não significa mais nada para mim. Ele mandou
ingressos, não foi? — Faço minha melhor cara de descaso, enquanto ela
concorda com a cabeça. — Então, nós vamos a essa festa e mostrar que
aquele lutador não é tanta coisa assim.
Não fazia ideia o que se tornaria minha rotina nas próximas vinte e
quatro horas. Depois do meu discurso motivacional sobre superar o volk,
para que Katrina não desconfiasse do plano arquitetado, já que não disse
uma palavra sobre minha visita ao hotel de Krigor, ela se esforçou de todas
as formas para me deixar linda e sedutora para a ocasião.
Não sei dizer até onde tudo isso foi positivo, minha prima e eu
temos conceitos tão diferenciados de vestimenta, comportamento e
ambientação, que temo me sentir completamente deslocada com as escolhas
que ela fez para esta noite.
Por ser mais baixa que Katrina, tenho o corpo um pouco mais
avantajado que ela nos quadris, pernas e bunda. Por isso, o vestido que ela
escolheu para eu usar, está agarrado em todas as minhas curvas, marcando
cada pedacinho de mim. O tecido de veludo faz um desenho plissado
retangular na parte de cima, onde uma enorme fenda divide meu colo e as
costas, desce ajustado e liso da cintura até o meio das coxas.
— Prima. Isso, sim, é uma festa com estilo. — Ela sorri com a
boca colorida em um vermelho chamativo.
Katrina usa um casaco cinza, que imita pele de chinchila. Sei que
não é verdadeiro, afinal, nunca teria dinheiro para bancar um item tão
exótico quanto esse, entretanto, tem uma qualidade excelente. Por baixo, ela
usa um vestido prateado de manga comprida e bem curto, as costas
completamente expostas e o tecido fino o torna ainda mais sensual que a
própria modelagem.
Sua forma íntima de falar, mostra que não é habituada com nossos
costumes.
— Oi, sou...
— Boa noite, garotas! — Sou interrompida, e quando olho para
cima, vejo Bóris de pé ao meu lado.
Troco um olhar com Katrina e vejo que ela está tão incomodada
quanto eu com a situação. Sei que está tomando minhas dores, mesmo sem
saber que tudo isso faz parte de um teatro previamente montado.
Olho, espantada, para cima do meu lado direito, vejo o homem que
me ameaçou há alguns dias e causou toda essa armação por parte do lutador
sem noção que conheci.
— Russell!
Capítulo 23
— Quer saber? Yeb vas você e sua maneira de lidar com tudo.
— Continue seu jogo, volk, está indo bem. Russell está interessado
em minha presença à mesa. Arrumarei uma companhia para o grande final
— comento, como se fosse uma profissional tratando de negócios.
— Você não está em posição de fazer isso, volk. Siga com seu
plano e boa sorte. — Dou um sorriso discreto.
Viro meu corpo e saio dali a passos firmes. Não me atrevo olhar
para trás, mas tenho certeza de que o lutador ficou muito irritado, bufando e
a ponto de explodir com qualquer um.
Capítulo 24
Ele sinaliza para que eu saia à frente, deixo minha taça sobre a
mesa, bem em frente a Krigor e caminhamos para a pista de dança. Escuto o
barulho de uma cadeira arrastando bruscamente e alguém manda Krigor
ficar calmo, imagino ser Bóris.
O que deu nesses homens russos para serem tão altos? Sinto-me
uma anã perto deles.
— Pode ser, mas eu acho que posso sair seriamente ferido, se não
me afastar de você nos próximos trinta segundos.
— Você pode me dizer que aquilo também foi uma questão de ego,
mas eu estava lá. Vi, ouvi e tirei a limpo com meu amigo de muitos anos,
tudo que aconteceu.
Pelo visto, o lutador venceu outra vez, tudo aconteceu como ele
quis e eu não posso evitar o sentimento de humilhação que me toma agora.
Capítulo 25
— Nenhum.
— Tem certeza? Pelo que vejo, o volk garantiu que um dos seus
homens a leve em segurança para casa, enquanto ele se esbalda com a
alcateia.
— Afinal de contas, o que você tem com tudo isso? Qual o seu
problema comigo? O que ganha ao ficar me cercando? Não viu que o volk e
eu não temos nada? — emendo uma pergunta seguida da outra, sem lhe dar
tempo de resposta.
Dou de ombros sem uma resposta coerente para rebater, já que está
coberta de razão. Minha cabeça parece não fazer conexão com meu senso
protetor desde que deixei Krigor, depois daquela conversa estranha, no seu
quarto de hotel.
— Disponha.
Aceno para o funcionário de Krigor e caminhamos para o pequeno
portão que separa a entrada do prédio da calçada. Algo chama a atenção ao
meu lado e viro o rosto por reflexo, firmando os olhos num canto distante
da rua.
— Aleksandra!
Ignoro a advertência da minha prima, que deve achar que sou uma
louca por sair a essa hora em direção a um estranho na rua. No entanto, algo
me diz que esse arrepio familiar só ocorre, ou ocorreria, na presença de um
único ser, que não acredito que tenha a intenção de me fazer mal. Ao
menos, não diretamente.
— Volk — confirmo, assim que estou perto o suficiente para
reconhecer seu rosto, parcialmente coberto pelo chapéu.
— Króchka — ele cumprimenta, parando os passos.
— Quem deveria ser, então? Por que tudo isso foi necessário,
Krigor?
Capítulo 26
O coração troveja no peito com tanta força, que temo ter um ataque
a qualquer momento. Minha razão e emoção ficam na costumeira guerra
interna, que é iniciada, ao ouvir seu pedido.
Ceder esta noite ao volk não irá só marcá-lo, mas a mim também, e
preciso ter a certeza de que saberei lidar com qualquer consequência que
venha depois.
— Eu vou.
Vejo uma pequena porta no canto, que deve ser o banheiro, deste
lado alguns quadros enfeitam a parede, uma penteadeira com um espelho
relativamente grande e duas poltronas. O mobiliário é refinado e de bom
gosto, ornamentando todo o ambiente. Basicamente, um quarto digno
demais para um motorista, no entanto, pouco para um lutador renomado e
suas peculiaridades.
— Vou pedir algo para beber. Você está com fome ou precisa de
alguma coisa específica? — ele oferece, quando tira o telefone do gancho.
— Tak!
Sem saber como agir, enquanto Krigor pede serviço de quarto, vou
para o banheiro e me tranco ali. Atitude muito coerente, depois de dizer sim
ao homem que prometeu uma noite marcante para mim, no meio da rua.
Por que, depois de tudo que fiz e vivi para me livrar dessa
confusão, aceitei vir para a toca do volk? O que ele tem que me atrai tanto?
Sua postura fica estática, parece nem respirar, atento aos meus
movimentos. Assim que o sobretudo deixa meu corpo, ergo a perna,
apoiando a ponta da bota na cama.
Parada, não rebato seu comentário, não teria palavras para fazê-lo
realmente. Krigor caminha até mim, a cada passo ele parece ainda mais
ameaçador, movendo-se com determinação e certeza, faz minha mente
imaginar todas as possibilidades para quando finalmente me tiver sob seu
domínio.
Suas mãos apertam minha cintura, desta vez com mais pressão, sua
respiração toca a pele do pescoço, arrepia o lugar e alastrando pela minha
espinha um frisson prazeroso.
— Vire-se.
— Fique assim e não se mexa — ele decreta, e uma das suas mãos
escorrega do meu calcanhar e sobe rapidamente até a lateral da minha
calcinha. — Linda peça, mas darei uma utilidade melhor para ela. — Com
os dedos, ele torce a renda e ouço o tecido se partir.
É completamente encantador!
Seu recado é dado com um leve balançar de cabeça, sei que tenho
que manter meus olhos nele, mas é tão difícil diante dessa tortura. Sinto
vontade de gritar para que acabe logo com isso, entretanto, seguir seu
comando e sentir meu desejo sobre seu domínio, aumenta ainda mais a
excitação no meu ventre e acabo por acatar.
Sinto sua língua passar pela minha fenda, quase fecho os olhos,
mas outro apertão de advertência me atenta. Com um pouco de pressão, ele
começa a me lamber, como se meu prazer fosse sua fonte e ele, realmente,
cumprindo o papel de volk, está focado em saciar sua sede.
Ele alinha seu rosto sobre o meu e juntando os lábios, Krigor cospe
a saliva que cai espessa em minha língua e escorrega direto para o fundo da
minha garganta. Um ato completamente incomum para tudo que já vivi até
hoje, que poderia repudiar e acabar completamente com o clima, mas ao
contrário, só atiçou ainda mais minha libido já saciada.
Ele cola sua boca na minha, sua língua consome todo o espaço,
meu gosto evidente é palco do sabor desfrutado por ambos. Gemidos
escapam, respirações entrecortadas, mãos apertando cada parte que possa
ser tocado e sinto a necessidade de liberação voltar para meu corpo.
— Ah...
Quero dizer que não acho possível mais um orgasmo. Meu limite
sempre foi dois em um encontro, mas não nessa velocidade. Normalmente,
isso acontecia durante uma noite toda de sexo, mas com Krigor, parece que
cada vez é mais rápido e mais intenso.
Não sei dizer como, mas ele conseguiu dominar minha mente a tal
ponto, que mesmo achando tudo diferente do que já vivi, até estranho se
comparado com minha pouca experiência, não consigo contestar.
Simplesmente, aceito e obedeço.
— Abra a boca.
Não imaginei que fosse possível, mas ouvir seus gemidos, somado
à cena erótica de estar subjugada à sua mercê e vontade, aviva ainda mais
minha libido e acabo pressionando as pernas juntas, na tentativa de aplacar
um pouco do desejo.
Sua mão abandona meu pescoço e logo sinto meu cabelo ser
enrolado em seu punho. Ele puxa o suficiente para curvar um pouco minha
cabeça, aumenta gradativamente seus movimentos, até que a cama passa a
ranger em seu compasso.
— Não... consigo...
Era uma guerra luxuriosa onde ambos sairiam vitoriosos: ele, por
ter o controle, a dominação e, a mim, entregue e submissa, da forma mais
lasciva, nunca desejada antes.
Encerro o banho rapidamente, ainda não sei como vai ser quando
acordar, afinal, só teríamos essa noite e nada mais. Ele quer me manter
segura, fora do seu mundo e não tenho condições de pensar diferente. Já
tenho problemas demais na vida para adquirir mais um.
— Alô — sussurro.
— Vem logo pra casa, Zhenya Gorky está na casa dos seus pais.
Pego a bolsa, pronta para sair, mas antes que saia de uma vez por
todas da vida desse homem, movo meu corpo até próximo dele, acaricio seu
cabelo com cuidado e delicadeza, memorizando seu rosto parcialmente
amassado, dormindo tranquilo e, finalmente, me afasto.
— Isso precisa mudar, pai — falo baixo, mas o suficiente para ser
ouvida por ele.
— Você é a culpada. — Ele aponta o dedo para mim, enérgico. —
Se não tivesse tirado o dinheiro do lugar de costume, nada disso
aconteceria.
— Mat’?
— Ele tem razão, filha. Você não pode desrespeitar sua família
assim.
— Já vai?
— Não entendo por que trabalha tanto assim, Sacha. Percebi que
chegou abatida, algo aconteceu, não foi?
— Nada aconteceu. Só perdi a hora e sabia que seu tio não ficaria
feliz.
Como será que ele ficou quando não me viu ao seu lado? Será que
já esperava por isso? Contava com o fato de eu não estar mais lá quando
acordasse?
— Oi.
— Por essa pergunta, vejo que não era de mim que estava falando.
— Krigor, você não pode ser visto aqui. Sabe disso tão bem quanto
eu. — Meus olhos correm da porta para o ambiente, imaginando quem
possa estar nos observando, mesmo que ainda nem estejamos abertos. —
Espera! Como entrou aqui? — Franzo a sobrancelha.
— Para quem estaria sorrindo daquele jeito, Króchka? —
Novamente, ele ignora minha fala, focando na brincadeira que fiz.
— Chega disso! Você precisa ir embora.
— Ele quem?
— Precisamos conversar.
— Não precisamos.
— Vai logo falar com ele, Sacha! — Olho, assustada, para o lado e
vejo Irina apoiada no balcão.
Desvio meu olhar para Krigor, que sorri, vitorioso, franzo o nariz,
irritada, solto uma lufada de ar e, finalmente, marcho para fora do balcão.
— Cala a boca!
Não preciso dar explicações ao meu motorista, ele sabe que só tem
que seguir as instruções sem saber o motivo e é por isso que está comigo há
tantos anos.
Assim que ouço o tal Zhenya Gorky se despedir, vou até o fim do
corredor e aguardo por ele.
Quando passa por mim, não penso e simplesmente agarro sua nuca,
puxando-o de encontro à parede e torço seu braço para trás.
Sinto algo maciço encostar em minha nuca e sei que é seu capanga
armado.
— Larga ele.
— Quanto?
— Quem você pensa que... — Ele para a fala no meio, suas
sobrancelhas enrugam duvidosas, analisando minha fisionomia.
— Claro! Vi sua última luta com Russell, você acabou com ele —
fala, animado, nem parece que acabei de lhe imobilizar.
— Diz o valor.
Antes que ele termine de fechar aquela boca imunda, meu punho
acerta em cheio seu nariz e sangue esguicha do corte que acabei de deixar
como lembrança no rosto desse rato.
Não sei até quando ele manterá a palavra, seu tipo costuma seguir
as regras do dinheiro, onde mais render, lá estará sua fidelidade.
— Nunca mencionei meus pais. Como sabe que moro com eles?
— Não sei como tudo isso pode ser bom para mim. Por que não
segue sua vida e eu, a minha? Se parar de me procurar, com certeza,
esquecerão de mim, em breve.
— O que quiser.
— Tudo bem.
Ela quer jogar, mostrar que está no controle, mesmo que não seja
totalmente assim. Torço o lábio e levo a mão até o pescoço, coçando de
baixo para cima, ponderando suas palavras.
— Tak!
Ela não vai admitir, mas sabe tão bem quanto eu, que fomos feitos
para nos perder um no outro. Uma conexão, a névoa lasciva, que só
acontece quando nos tocamos.
Sugo sua língua com meus lábios, enquanto projeto o quadril para
frente, iniciando um processo deliciosamente doloroso para nós dois. Minha
razão se esvai a cada segundo, cogito a possibilidade de rasgar suas roupas
e fodê-la aqui, desse jeito.
— Pode deixar que resolvo isso com a sua prima. Ela pega o que
for necessário.
— Sério?
— Sério. Ao menos que você peça. — Seus olhos descem até meus
lábios e logo retornam, afetada.
— Eu não falei.
— Volk!
— Vou falar, quando for o momento.
— Você vai ferrar com a sua vida e a dela, juntos. Deveria ter
deixado como estava.
— Isso só vai durar até o final desse circuito. Depois, ela está livre.
— Tomara que você não estrague tudo até lá.
Trazê-la para minha vida tortuosa não foi certo, mas como manter
distância de um imã potente que te chama? Puxa e envolve com tamanho
magnetismo, que ao perceber, está tão tomado e só não consegue se manter
longe o suficiente, mesmo que seja o correto.
Capítulo 33
Por mais que eu tente argumentar com minha mãe sobre a doença
viciosa que meu pai se afundou, ela não quer ouvir. Como esposa, acredita
que independente da circunstância, deve-se estar junto, apoiando no
momento difícil. O problema é que sua atitude só dá mais espaço e acaba
fortalecendo o vício dele.
— Sim. Krigor me ligou logo que saiu do bar, contou uma história
muito esquisita, que você precisava ficar com ele por um tempo, por
segurança, mas eu deveria estar junto.
— Nem me fale sobre isso. Não sei aonde fui me meter, mas tenha
certeza de que vou descobrir. — Coloco minha mochila sobre o aparador no
canto.
— Não. Brigamos depois, meu pai me bateu quando disse que ele
está afundando a família e ela, como sempre, foi a favor dele.
— Sim.
— Ainda não sei. Ele diz que tem algo pior que o seu inimigo de
ringue. Talvez, a organização.
— Qual?
Usando uma camiseta velha que adoro, meias e nada mais, abro a
porta, um olho ainda meio fechado, cansado demais para despertar por
completo.
— Cedo.
Ergo só uma sobrancelha, olho para mim mesma, volto meu olhar
para Krigor que está hipnotizado pela barra da minha camiseta, que termina
no topo das coxas.
— Sim.
— Você viu bem mais que isso ontem, Króchka. — Ele pega um
pedaço de fruta e coloca na boca, mastigando demoradamente.
Por que tudo que ele faz soa tão erótico para mim?
Capítulo 34
— Blinis! — comemoro.
— Sua prima disse que você ama comer isso no café — Krigor
comenta, quando retorna e, agora vestido decentemente, vem até a mesa,
ocupa a cadeira de frente para mim, seus olhos penetrantes analisam cada
movimento meu.
— Você já ouviu sobre quem está por trás da organização das lutas.
— Sim, a máfia.
— Exato. Eles não têm uma forma muito branda de lidar com as
coisas, Sacha, usam qualquer tipo de pressão para manter tudo na linha.
— Dez anos.
— A organização?
— Sim.
— Acha que podem te ameaçar, me usando? — As coisas
começam a fazer sentido na minha mente.
— Exatamente.
— Então, por que não me deixou em paz? Estar aqui hoje é ainda
pior, sabia?
— Eu diria meses.
— Não tem nada a ver com você e, sim, com a minha vida. Não
posso passar meses fora de casa. Isso está muito confuso, Krigor.
— Eu vou dar um jeito de resolver tudo. Só te peço um pouco de
paciência, está bem?
— Não.
Quando giro a maçaneta para sair dali o mais rápido possível, sem
dar mais explicações da minha revelação, Krigor espalma a mão na porta,
empurrando a pequena fresta de volta, fechando-a.
— Isso é inveja dela, tio, porque queria estar no meu lugar aqui —
Frans argumenta, ardiloso.
— Eu posso te ajudar.
Encaro o rosto de Krigor e vejo que ele fala sério. Puxo minha mão
automaticamente, na defensiva.
Krigor abre minha porta e estende a mão para que eu desça. Ignoro
sua gentileza e ajo por mim mesma, avanço alguns passos à frente e espero
por ele.
Desta vez, sou eu a fingir tédio. Não sei onde ele adquiriu essa
educação, mas começo a duvidar muito de sua base familiar.
— Você fica aqui, quieta. Não fala com ninguém. Vou me trocar
para o treino.
A única mulher no ambiente sou eu, apesar de não estar tão cheio,
os poucos homens espalhados não tiram os olhos de mim, que claro,
começa a me incomodar e questiono até onde foi uma boa ideia ter vindo.
Capítulo 36
— Não. Não chega tão perto assim da realidade. Hoje tem vários
principiantes, é bom uma demonstração do que os aguarda.
Danya separa as cordas, passando seu corpo entre elas e assim que
está no ringue, repete os movimentos de Krigor. Os garotos que estavam
executando algum tipo de exercício nos aparelhos param e vão até próximo
ao ringue, fascinados.
— Para eles, independe o motivo de estarem aqui, todos só sonham
em lutar.
— Mas você disse que ele pertence a outro setor, eles não lutam
entre si. E o que é cartel?
— Impressionante.
— Muito. Por isso é importante, Sacha, que você entenda onde está
se metendo. Russell é perigoso, um lutador ardiloso e que gosta de estar no
topo, mas o maior problema entre você e o volk é ele mesmo. A organização
o tem em alto valor e não vai pensar duas vezes para tirar um problema do
caminho.
— Exatamente.
Um baque repentino nos desperta desse pequeno momento de
confidências e esclarecimentos, volto meu olhar para a arena e vejo Danya
deitado no tatame e Krigor sobre ele.
Até tentei contar, mas a rapidez com que Krigor acerta seu
oponente tornou impossível saber quantas vezes ele foi golpeado, até que
consegue reagir, girando seu quadril entre as pernas de Krigor. Danya, por
um segundo, desequilibra-o e acerta um soco em seu estômago,
empurrando-o para trás.
— Bom, então essa sou eu e ele vai ter que lidar com isso também.
— Por que você não é claro no que diz? — Deslizo minha mão no
banco, tocando a dele.
— Sim.
— Obrigado, Króchka.
Entro, sem dizer uma palavra mais, fecho a porta atrás de mim,
respirando profundamente. Percebo que estou sozinha, Katrina deve ter ido
para o trabalho, entretanto, deixou a bagunça dela para trás.
Escolho uma calça de linho preta e uma blusa de tricô rose, sua
gola é grande e sobrepõe os ombros, charmosa e conveniente para o lugar.
Coloco minha bota de camurça preta, faço um coque bagunçado e aplico
um pouco de batom nos lábios.
— Sim.
Desta vez, ele não toma minha mão para si entrelaçando nossos
dedos, e mesmo que minha razão castigue meus sentimentos, sinto falta do
contato. Estava me acostumando com o fato de ele me rebocar para todos os
lados, quando estamos juntos.
O lutador quer me agradar, mas ele não sabe o quanto posso ser
impertinente.
Capítulo 38
— Onde está Bóris? Ele não almoça com você? — pergunto, para
quebrar o incômodo que começa a surgir entre nós.
Dou de ombros, já que não tenho uma resposta para minha atitude.
Posso culpar minha irritação, frustração, ou o dia de merda que mais uma
vez estou tendo, mas a verdade é uma só: quero deixar o lutador irritado.
— Aleksandra Yakovna, como vai? — ele me cumprimenta.
— Sempre.
— Afaste-se.
— O que foi?
— Você não tem ideia mesmo das coisas que faz, não é, Króchka?
— Faça.
Meu corpo está em brasa, seu toque queima com sua exploração
libidinosa, os sentidos se perdem na névoa luxuriosa que sempre nos cobre
quando temos esses momentos.
— Sim, eu aviso.
— Foi só um momento, que não vai se repetir. Você está aqui para
garantir isso — falo, me sentando na cama.
Não me cabe ditar a forma como eles escolhem viver esse dilema,
entretanto, a cada dia que passa, sinto menos obrigada a ajudar de alguma
forma. É cruel o pensamento, afinal, são meus pais e os amo mais que tudo
na vida, mas estou cansada de toda essa situação.
— Onde estão seus pensamentos? — Olho para cima e vejo Irina
encostada no balcão.
— Incrível!
— Que você é a solução para o meu dilema e eu, para o seu. Como
sempre imaginei que seríamos, Sacha. — Irina ergue o dedo, enfatizando
sua fala otimista.
Ouço suas palavras, entendo-as, mas por algum motivo, meu corpo
trava, a garganta fecha e permaneço encarando seu rosto em expectativa por
uma reação minha.
— Nunca serei grata o suficiente por tudo que está fazendo por
mim, Irina.
— Qual?
— Quem?
— Você vai ver quando eu chegar.
— Sim, ele é. Mas o inimigo do volk vir aqui não é algo comum.
— Muito. Não gosto de protelar nada. Fala de uma vez, por que
está me cercando.
— Terei uma luta amistosa contra Danya na próxima semana, você
sabe. — Concordo com a cabeça, recordando do que disse no restaurante do
hotel. — Gostaria que fosse, como minha convidada.
— Definitivamente, não.
— Por causa do volk? Ele não precisa saber que está lá. Pode ficar
ao meu lado, na área VIP.
— Por que aceitaria isso? A única coisa que tem feito é me cercar,
ameaçar e falar sobre vingança.
— Krigor me ligou e disse que eles iriam a uma boate bem bacana,
então, resolvi ir também — Katrina toma à frente, contando, animada.
Mesmo sabendo que farei o jogo de Russell, seja ele qual for, não
consigo deixar a razão falar mais alto que a raiva que sinto agora.
— Prima, quero mais uma dose. — Katrina bate seu copo de shot
sobre o balcão.
— Por que ficou tão brava com ele, afinal? Ele nunca aceitaria que
você fosse a qualquer luta na área VIP do Russel.
— Krigor, eu...
— Você faz um péssimo juízo de mim, Króchka. Eu só não
entendo o porquê. — A voz dele é baixa e contida, seus olhos expressam a
dúvida em seu comentário.
— Talvez seja o momento de você falar mais sobre tudo que lhe
cerca, Krigor. Pode ser que eu tenha mais credibilidade quando estou a par
do que me espera.
Desde que Krigor disse que revelaria mais sobre seu passado, meu
corpo entrou em estado de alerta, trabalhando no automático e com pressa,
para que a noite finalmente encerre no bar.
— Hoje você está com segurança particular? — Irina encosta ao
meu lado no balcão.
— O que tem eu? — Ela troca o peso nas pernas e cruza os braços,
na defensiva.
— Sim, chefe.
Vou até o fundo, recolho minha bolsa, tiro o avental e volto para o
salão indo até o lutador, que levanta, animado, assim que me vê pronta para
partir.
— Eu não disse para ficar. Deveria ter ido com suas amiguinhas
aproveitar o resto da noite. — Torço os lábios em total desgosto,
caminhando para a saída.
Krigor captura minha mão, puxando-a para si, o que faz meu corpo
projetar para cima dele, deixando-nos bem próximos.
— Obrigada.
— Vamos conversar.
— Direta.
— Como sempre.
Meses depois, soube que Russell tinha se drogado tanto que ficou
hospitalizado. Não sabia que ele fazia esse tipo de coisa, já que somos
testados frequentemente, para manter a mente e o físico focados no circuito
de lutas, por isso minha surpresa.
Fiquei preocupado e acabei procurando-o na reabilitação. Ainda
não sei por que fiz isso, nunca fomos amigos, mas algo me dizia que ele não
estava bem, esse não parecia ser seu modo de agir normalmente. Russell
sempre foi um lutador determinado, faria qualquer coisa para subir na
escala dos circuitos e se drogar não o colocaria em um bom patamar.
Na visita, ele foi agressivo, dizia a todo o momento que a culpa era
minha e que um dia ele me faria pagar na mesma moeda. Questionei do que
estava falando, afinal, eu não tinha nenhuma ligação com a sua vida dentro
ou fora dos ringues, nem ao menos nos enfrentamos, até aquele momento.
— Mas o que você tem a ver com isso? Por que Russel te culpou?
— questiono confusa após ouvir seu breve relato.
Suas mãos agarram minha bunda com força, puxando meu corpo
para cima, o que me faz envolver as pernas em sua cintura. Aperto os
braços em torno do seu pescoço, aprofundando ainda mais nosso beijo.
— Krigor... — Arfo.
— Isso é bom.
— Tak! Eu irei.
Fico sem palavras com a sua declaração. Ela pensa que estamos na
mesma condição de uma noite com um lutador e, depois, cada um segue seu
caminho.
— Sim.
Disco seu número umas quatro vezes e deixo tocar até entrar na
caixa postal, em que, na última tentativa, deixo uma mensagem acusando-a
de desnaturada por não falar aonde foi.
— Quem será?
— De quem?
Krigor.”
— Conformados, eu acho.
O sábado chegou tão rápido que mal tive tempo de processar todo
o plano armado pela minha prima. Encontrei com Krigor nos corredores do
hotel depois daquele almoço, ele sempre focado em algo e eu fingindo que
não me importava.
Para sair do bar, usei a porta dos fundos, não sei por que, mas tinha
a sensação de estar sendo vigiada aquela noite. Poderia ser só mais uma
paranoia minha, por via das dúvidas, resolvi me precaver.
Foi pouco mais de meia hora entre socos, chutes e corpos no chão
para finalmente Russell ser considerado o vencedor. Seu rosto inchado e as
marcas de sangue pisado enfeitavam sua face quando o locutor lhe passou o
microfone a seu pedido.
— Hoje é um dia especial para mim. Venci uma luta contra o
melhor lutador do sul, mas o que me alegra mesmo é ter roubado a distração
do volk. — Russell aponta para mim na área VIP e um holofote me ilumina.
Quando tento sair dali para ir atrás de Krigor e explicar o que está
acontecendo, um homem me barra, apanhando meu braço com força.
Comecei meu treino pesado, logo terei a primeira luta desse novo
circuito e preciso estar preparado. Bóris passou os últimos dois dias
brigando comigo a cada golpe, passada ou luta corporal que venho
desempenhando. Meu corpo executa todos os movimentos, mas minha
cabeça não sai dela.
Króchka moyá.
Gostaria de ter dito muito mais naquele almoço, a ideia era algo
romântico, em que eu finalmente dissesse tudo que venho sufocando dentro
do peito, mas ela não pareceu tão receptiva.
— Olá, volk. — Uma mão toca meu ombro e vejo Nikita ao nosso
lado.
— Como assim?
— Ele não está usando o pé... — Bóris aperta os olhos, ainda mais
atento. — Danya está alterado.
— Chyort voz'mi[30]!
— Tak!
— Não! Volk! — Bóris me segura por trás e sacudo meu corpo, lhe
dando um tranco.
— Krigor, calma...
— Sim. Sabia.
— Mas...
— Tak! Mas não me chame quando vê-la desfilar com seu rival por
aí.
Praticamente rosno, lembrando o motivo da minha derrocada.
Como ela pôde fazer isso comigo? Será que estava todo esse tempo me
enganando para colher informações para ele?
Não pode ser. Eu via em seus olhos a verdade, não é possível que
tenha me enganado tanto a seu respeito.
— Preciso falar com a minha amiga, ela não dormiu bem e não
atende a porta.
— Ainda não sei, mas mandei testar meu sangue assim que a luta
acabou. Eu estava um pouco entorpecido, mais lento.
— O laboratório ainda não entregou os resultados, mas já sabemos
que a equipe de Russell não tem qualquer relação com o ocorrido — Bóris
se aproxima quando informa.
— Isso é estranho.
— Muito, por isso temos que agir com a máxima cautela, Krigor.
— Acho que a prima não vai lhe dar ouvidos, ainda mais depois de
te ver no bar do hotel com a Nikita. — Danya sorri de lado quando se
levanta.
Meus sonhos são conturbados, onde vejo Sacha gritar para que eu
não desista dela, que ela pertencia a mim e que tudo não passava de um
terrível engano.
— Pode sair, volk. — Sua voz é baixa, mas só assimilo o que diz
quando gira seu corpo ficando de frente para onde estou.
— Eu precisava.
— Eu ia te contar...
— Você não ia. Queria me ver presa a você, sabendo que não
aceitaria bancar mais uma fêmea da alcateia. Como sempre, o volk quer
exercer controle sobre tudo e todos. Mas adivinha: eu não sou um boneco
manipulável.
— Feche a porta quando sair. Não quero acabar baleada por andar
com você.
Ela sabe...
Seu braço pousa sobre meus ombros, ele estende a mão livre
cumprimentando algumas pessoas, passo a somente acompanhá-lo, mesmo
que meu desejo seja sair correndo para o mais longe possível.
— Se sabia, por que fez aquilo? Ele vai acabar com você! —
declaro, convicta.
— Ou, ele, agora, não vai mais querer saber de você. — Seus olhos
se voltam para mim, convencido.
— Está trancada.
Bufo, encarando o banco à minha frente e cruzo os braços,
impaciente como tudo se desenrola.
— Krigor fez uma péssima jogada quando parou aquela luta para
evitar que fosse embora. Seu cartel sempre foi invejável e valioso para a
organização, principalmente, por nunca ter saído da linha. Era o exemplo, a
propaganda, o brilho dos olhos e estímulo para os que pretendiam iniciar no
circuito de lutas.
— Uma pequena falta e fez nossas vidas correrem risco? Por favor
— debocho, desacreditada.
— Você não odeia Krigor? Quer dizer, vocês sempre se tratam com
hostilidade e tem toda a história de inimigos, desde sempre.
— Não. Eu não deveria. Mas sei que Krigor carrega uma parcela
de culpa pela mulher que eu amo ter morrido, mesmo ele não sendo
culpado. Precisava corrigir isso de alguma forma.
— Por que você faz esse gênero de mau? — Fico intrigada com
tudo que ele revela.
Apesar de não ter motivos para acreditar em uma palavra sequer
que Russell diz, algo dentro de mim confia nele, que a casca dura que
sempre mostrou, não era a real.
— Termine de falar.
— Direta.
— É o que Krigor costuma dizer.
— O que você precisa saber, já está dito. Agora, você pertence a
mim e será tratada como uma das minhas garotas.
— Como é que é?
— O que aconteceu?
Doeu mais do que imaginei saber que Krigor estava aplacando seu
ódio por mim nos braços de outra e precisei usar minha razão para
compreender que isso era ainda mais benéfico para ambos.
Não tive coragem de voltar para casa, passei a noite em uma cama
improvisada no depósito mesmo e hoje, provavelmente, farei a mesma
coisa. Katrina ficou de trazer minhas coisas para cá, ontem ela passou o dia
com Danya — segundo ela —, bancando a enfermeira do lutador devido à
luta.
— Você demorou.
— Tak! Mas não quero beber. Tenho muito serviço por aqui
amanhã.
— Não acha estranho tudo isso? Quer dizer, ele é um oponente que
não é inimigo verdadeiramente, mas não esclarece tudo com Krigor. Já
pensou que tudo possa ser um jogo para desestabilizar Krigor nesse novo
circuito. Danya foi drogado para a luta contra Russell.
— Eu não sabia disso.
— Claro que não. Você estava nos braços do rival. — Faço uma
careta para seu comentário. — Ele não te falaria nada sobre isso, de
qualquer maneira. É vergonhoso demais um lutador com o cartel dele
admitir que jogou sujo.
— Ou não jogou.
— Mas agora que estou em contato com ele, posso tentar descobrir
algo.
— Bem. Muito bem. Você que não parece feliz. Seus olhos... —
Ela franze o cenho, me observando, atenta.
— Tak!
— Olá, Sacha.
— Serguei. Meu homem favorito. — Sorrio em cumprimento.
— Acho que não sou o lutador que ele admira. — Russell torce os
lábios.
— Sim.
— Sim.
Irina sugere uma pausa, mas sou orgulhosa o suficiente para não
admitir estar afetada com o encontro e continuo trabalhando.
Aviso Katrina sobre a boate, ela responde que já sabe e irá com
Danya, o que será uma coisa péssima. Russell e Danya não são aliados e
provavelmente, estarão em lados opostos do salão.
Peço que traga uma muda de roupa para eu ir a tal boate, já que
desempenharei o papel de acompanhante de Russell e, de quebra, encararei
o volk com uma alcateia de mulheres, preciso estar mais apresentável.
Capítulo 50
Enquanto ele socializa com todos, vou para o canto da sala e ocupo
um lugar, uno as pernas, lamentando consideravelmente em aceitar um
vestido de Katrina para hoje. Meus quadris mal cabem na peça, o que a faz
subir e mostrar mais do que deveria das minhas coxas.
Não posso negar que o tom verde água do vestido, seu pano leve e
bem encaixado no corpo, deixou minha autoestima mais confiante em
enfrentar o grande momento. Fiz um rabo de cavalo, o mais prático devido
ao tempo limitado, passei um pouco de maquiagem e pronto.
— Ótimo.
— Quer dançar?
— Não.
— Aleksandra Yakovna.
— Gostou da boate? — Seu olhar mede todo meu corpo,
abertamente.
Fecho a porta atrás de mim, respiro aliviada e vou até a pia, abro a
torneira, molho a mão e passo na nuca. Permaneço ali, observando meu
reflexo no grande espelho e só consigo me perguntar como minha vida
virou completamente sem que eu, ao menos, me desse conta.
— Você não tem nada a ver com isso. A vida é minha e a única
coisa que nos unia era uma dívida que já foi paga.
— Yeb vas! Não me importo com o dinheiro, nunca quis aquele
pagamento, Króchka.
— Não tinha o direito de se intrometer na minha vida — acuso,
irritada.
— Por quê? Você não esperou para afogar sua ira com a Nikita.
— Você não pode me cobrar por dormir com ela. Me traiu esse
tempo todo, estando ao lado do meu maior inimigo.
— Isso só prova o quanto é um cego.
Aperto sua cintura para que fique ainda mais próxima de mim.
Engulo seu gemido que tenta escapar pelos lábios, minhas mãos escorregam
para a barra do vestido completamente indecente que usa, subindo o
suficiente para desnudar seu traseiro delicioso.
— Não! — Ela empurra meu peito devagar.
Será que estou tão obcecado assim, que enxergo coisas que não
existem?
— Nikita me fez companhia, mas não rolou nada. Bebi até cair e
sabe por quê? — Aproximo meu tronco dela, o suficiente para que olhe
claramente dentro dos meus olhos. — Porque você me apunhalou pelas
costas.
— Você só enxerga o que quer ver, volk. Sua arrogância não lhe
permite olhar além — ela retruca e cruza os braços, imponente.
Ela solta o cesto que carregava no chão e vem até mim. Anya, que
estava distraída, assusta-se e a acompanha quando percebe minha presença.
Aceito ambas em meus braços, abraçando-as apertado, beijando o topo de
suas cabeças e, em paz, por constatar que estão bem.
— Por que não avisou que viria? — Anya acerta um tapa no meu
peito, a voz embargada.
— Você faz falta, meu filho. — Minha mãe acaricia meu rosto. —
Cada vez que te vejo, está mais diferente. Precisa vir mais vezes — ela
ralha, se afastando.
— Você não tem culpa, filho. Foi tão enganado quanto nós.
Ele afasta e segura meu rosto com as mãos, seus olhos estão
límpidos e livres de qualquer julgamento ao falar:
— Já chega de perdão. Você fez e faz o que precisa ser feito. Honra
com sua palavra e arca com as consequências das escolhas, isso te torna um
grande homem. Tenho orgulho de você.
Depois de uma boa refeição com minha família, vou até um dos
ginásios de treino. Daguestão é conhecida por formar os melhores lutadores
da Rússia, praticamente todos os campeões olímpicos saíram daqui.
Desde muito cedo, são treinados para isso, a família investe na sua
capacitação para que, no futuro, seja um campeão e possa ajudar os seus. A
região ainda é uma área de conflito, mais brando que no passado, mas,
ainda assim, limitada de recursos e ajuda do governo.
Foi minha primeira e mais dura lição de que toda ação tem
consequências e pago essa dívida com ardor, ciente de que se não o fizer, as
pessoas que amo estariam condenadas.
— Continua pensando demais no que não deve, filho. — Meu pai
para ao meu lado.
Estava perdido, observando os garotos treinando no espaço, todos
determinados a mostrar a melhor técnica, principalmente por me verem ali.
Aqui, sou tratado como um herói, mesmo estando longe de ser um. A
organização faz questão de espalhar as histórias mais gloriosas do volk, para
que eles vivam a ilusão de uma vida maravilhosa nos circuitos de luta
informal e não posso fazer nada a respeito disso.
— Quando tudo acabar, quero fazer algo bom, quem sabe ajudar
esses meninos a serem grandes, de verdade.
— Isso é ótimo e terá meu apoio. Você está diferente, parece mais
desapegado e distante do seu foco. O que aconteceu? — Encaro meu pai,
que está atento a mim.
— Você não veio nos visitar. Está fugindo de algo, posso sentir.
— Conheci alguém e ela não era o que imaginei.
— Que conversa?
— Mulheres.
— Mas foi por minha causa. Eu os trouxe até aqui e enfrentei algo
que nunca teria chance de vencer.
— E a vida, mais uma vez, provou o quanto não sei escolher bem.
Ela me trocou pelo meu inimigo de arena.
Como sempre, meu pai tenta me livrar da culpa por ele arrastar
uma perna, mas não consigo me perdoar, arrisquei a vida de quem deveria
proteger e isso não tem justificativa que aplaque.
Bóris está conosco e relata para meu pai todo o ocorrido com as
lutas legais e minha insistência em fazer as lutas clandestinas. Sinto tanta
vergonha, que não consigo erguer os olhos para encarar o homem que me
criou e ensinou tudo na vida.
— Entende a importância do seu filho cumprir o trato? Ou ele
cumpre o contrato de treze anos que assinou ou terá que pagar com a vida.
— Isso não. — Meu pai entra na minha frente. — Ele fará o que
tiver que ser feito.
— Você fez uma escolha errada, filho. Agora, precisa arcar com as
consequências. Faça o que tem que ser feito.
— Não! — grito.
3 meses depois
— Se ele fosse um pouco mais esperto, saberia que tem muita coisa
errada em tudo isso.
— Tudo bem. Depois de hoje, acho difícil o volk lhe procurar, isso
vai afastar a organização do seu pé. Manterei contato por telefone,
Aleksandra.”
Entro na pequena sala, antes usada por Irina, mas agora sou eu
quem mais passo o tempo por aqui, ainda me adaptando às questões
burocráticas. Pensei que o maior desafio seria comandar a equipe, lidar com
pessoas nunca foi meu forte, entretanto, fiquei surpresa em me adaptar
facilmente com essa tarefa.
— Oi, chefe!
Não fazia ideia de que precisava dessa folga até ela acontecer.
Depois da noite movimentada de ontem, acordei sentindo que havia sido
atropelada por um caminhão de carga, avisei a equipe que não apareceria
hoje e que lidassem com tudo.
Saí para colocar o lixo que minha mãe pediu e acabei parada,
encarando o celular na tela de mensagens, ponderando se era mesmo uma
boa ideia voltar àquele lugar.
— Disponha.
— Sorte a minha.
Meu dia de descanso foi embora, assim que Katrina passou pela
porta do quarto e iniciou a operação reconstituição, assim definido por ela.
Fez minhas unhas, que realmente precisavam de cuidado, hidratou meu
cabelo, que não recebia qualquer tratamento há meses e, graças a ela, será
usado solto hoje.
Cheguei a pensar que seu sumiço fosse por ele, mas descobri, uns
dias depois da festa no clube, que não estão mais saindo juntos.
O pessoal do volk.
— Por favor, Sacha. — Sua mão toca meu cabelo com delicadeza.
— Hoje tudo isso acaba e finalmente poderei tê-la por inteiro, Króchka
moyá.
— Então, tire o que ele tanto quer. Vença hoje e quebre de vez essa
rotina de vitórias intercaladas.
— Farei isso.
— Sabe que serão três rounds. Deixe o gás para o final. Controle o
primeiro, pontue no segundo e acabe com ele no último.
Aceno com a cabeça, visto meu roupão preto, que tem o nome
VOLK bordado nas costas em tom azul e o contorno de um lobo abaixo.
Coloco o capuz e salto no lugar, sentindo a adrenalina tomar conta do meu
corpo.
Hoje é uma noite importante, todo esse circuito de lutas criado com
os melhores lutadores da Rússia aconteceu para que a organização
finalmente unificasse todos os campeonatos e fundasse a liga nacional de
combate.
Quero ser perverso, tocar sua pele com intensidade, castigar seu
corpo pela distância e sucumbir a necessidade da falta que me faz. Observá-
la de longe nunca foi o suficiente, pelo contrário, sempre causou ainda mais
vontade e desejo de que tudo isso acabe de uma vez e, finalmente, eu a
tenha para mim.
— Vou colocar uma pomada que vai estancar, não é nada de mais.
Guarde sua ira para o terceiro round.
— Tak!
— Não estou com cabeça para nada. — Passo direto por ele, indo
a caminho do elevador.
Parto para cima dele, disposto a fazê-lo engolir cada uma de suas
acusações.
— A pedido da organização.
— Eu não sabia...
— Sinto muito.
Não tenho experiência alguma em luta, mas está claro que algo não
vai bem com Krigor. No último embate de ambos, o volk acabou com
Russell em pouco tempo e hoje parece que nem ao menos sabe o que está
fazendo.
Assim que seus olhos cruzaram com os meus da arena, senti que
está diferente, como se ele tentasse me passar tranquilidade. Sua arrogância
natural estava totalmente esquecida.
— Nada. Eu sei que na volta você vai dar tudo de si, a luta não está
perdida.
— Tak!
— É melhor ela sair daqui, antes que Russell faça outra cena. —
Bóris aponta para mim e estranho sua hostilidade.
— Ela não sai mais do meu lado, Bóris. Ele que venha e verá o que
lhe acontece.
— Sem essa cena de macho alfa, Krigor. Você tem anos de contrato
ainda para cumprir, não precisa ter distrações no caminho.
— Bóris, você não era tão chato assim. — Katrina vai até uma
pequena mesa e pega a garrafa de água. — Estou com sede.
Ele passa o olhar dela para Bóris, que também parece curioso com
a mudança de humor do lutador.
— Você não vai ganhar nada hoje. — Ele entrega a garrafa para
Danya. — E acho bom sair daqui antes que eu chame Cossack e conte as
suas artimanhas. A organização não fica feliz com quem tenta ganhar em
suas costas. — Krigor se aproxima alguns passos e cospe no chão próximo
ao pé do seu treinador. — Está demitido!
— Qual a graça disso tudo, se não fosse para ver essa cara de
espanto? — Ele dá de ombros.
— Não agradeça. Ainda vou acabar com você hoje. — Ele pisca
um olho, descontraído. — Por sinal, vamos todos sair daqui, antes que a
organização perceba.
— Alô?
— Olá, Króchka. — A voz risonha e provocadora de sempre não
me surpreende.
— Pode deixar.
Acordo cedo no outro dia, Krigor ainda dorme, apagado ao meu
lado e mesmo desejando ardentemente ficar e pagar minha promessa com o
lutador, preciso voltar para casa e me arrumar para trabalhar.
Seu sorriso aberto e sincero é a imagem mais bonita que já vi. Ele
me coloca no chão novamente e acaricia meu rosto com cuidado,
nitidamente aliviado com a minha declaração.
— Eu mato o Danya.
— Mas isso te garantiu pontos extras, lutador. — Seguro a lapela
do seu paletó e com a mão livre, ele puxa minha cintura para si.
— Olá, lutador.
— Saio em um minuto.
Ele retorna para o banco, feliz por ter ganhado mais do que pediu
em tempo e pouco me importo. A verdade é que, se pudesse, nem teria
saído daquele quarto hoje pela manhã, saciaria todo meu desejo reprimido.
Passamos por uma saleta, onde fica o cabideiro, mas meus olhos se
mantêm totalmente focados na parede de vidro que preenche toda à nossa
frente, sem cortinas, dando visão longínqua da cidade.
— Sei que ainda é cedo, Króchka, isso pode soar meio assustador,
mas minha maior motivação em comprar este apartamento é que você
viesse passar uns dias aqui. — Afasto, encarando-o, assustada. — Ou, quem
sabe, morar? — O final soa como uma pergunta.
— Eu...
Com cuidado, Krigor abre cada botão da minha blusa, assim como
da calça, tira as peças de mim como se despisse um item valioso e delicado,
sem pressa, beijando cada ponto desnudado e, ao final, quando estou nua e
ávida o suficiente, afasta-se.
Em pé, abre o botão da calça e desce o zíper, sua mão segue para a
nuca e ele puxa a camiseta, se livrando dela. Tira a calça, deixando somente
a boxer com um volume protuberante na frente.
— Não seja, boba. — Ela finge ultraje, mas seu sorriso entrega a
felicidade por mencionar seu amor recém-descoberto. — Olá, lutador,
obrigada por ter vindo — Irina cumprimenta Krigor, que eu já havia
esquecido ao meu lado, assim que me distraí com o lugar.
— Sei bem o que é essa fase, vivemos isso há dois meses. — Irina
sorri e Serguei passa a mão sobre seus ombros, olhando admirado para sua
amada.
— Está muito doce o ambiente, vou para o balcão tomar uns shots.
— Katrina atravessa no meio de nós, caminhando para seu destino.
Irina nos leva até uma mesa próxima ao balcão onde colocamos o
papo em dia. Brindamos à inauguração, nossas vidas completamente
diferentes e à felicidade.
— Você vai. Não quero que sua família pense que estou te
afastando deles. Minha mãe me contou ontem que meu pai tem um novo
emprego, quero visitá-los, ainda não se acostumaram com o fato de eu
morar com meu namorado. — Beijo a ponta do seu nariz.
— Zólattse mayó[41].
— Vamos dançar.
— Claro que não. Amo tudo em você, até seus dois pés esquerdos.
Solto uma gargalhada e Krigor me acompanha. Sinto meu corpo
acolhido no seu, nossos passos contidos, risos e brincadeiras e todo o
sentimento que nos envolve, faz-me perceber que fomos destinados a ficar
juntos. Nunca funcionaria individual, somos metades de um só e
compreender isso traz a alegria e a paz que preciso para minha vida.
Epílogo
A fria Moscou resolve nos brindar com uma nevasca logo pela
manhã, impossibilitando que os veículos saiam para as ruas e a maioria
acabe atrasando para os compromissos matinais.
Aperto o casaco em torno do meu corpo, mesmo com a vestimenta
certa para enfrentar o frio, sinto meus dedos congelarem dentro das luvas.
Entro no metrô e, como previa, está tão cheio que nem consigo
passar a bilheteria. A nevasca deixou somente essa opção para nos
deslocarmos e o caos se instaurou no subsolo de Moscou.
Tento outra chamada a Krigor novamente e, para minha surpresa,
cai direto na caixa postal, todas as outras só tocou.
— Mesmo?
— Sim. Quero sair no próximo ano. Não sou mais o rapazote que
amava dar e tomar socos.
Olho para onde os alunos estão e vejo Lenin, o menino que jurei
treinar quando estivesse livre do contrato.
— O desejo por ensinar, ter a possibilidade de mostrar como um
sonho pode se tornar real e, da maneira certa, de que seriam muito mais que
lutadores de combates clandestinos, me fez chegar aqui. Mas nada disso
seria possível, camaradas, se não fosse pela Króchka moyá. — Aponto para
Sacha, que já ocupa seu lugar ao lado da minha família. — Venha até aqui.
— Faço sinal com a mão e ela nega com o dedo. — Vai me fazer ir te
buscar?
— Króchka moyá…
A frase que leva para a vida: “Se você sonha, você pode fazer.”
[1]
Kopek ꟷ caracteriza parte do Rubro, moeda corrente na Rússia. Seria o centavo aqui no Brasil.
[2]
Dóbraie útra ꟷ Bom dia. (pela manhã)
[3]
Dóbridién ꟷ bom dia (ao meio dia)
[4]
Solyanca ꟷ é uma sopa picante e cremosa popular na cozinha russa .
[5]
Tak ꟷ Ok, está bem!
[6]
Os russos são muito supersticiosos. Sempre entrar antes de apertar as mãos: nunca ficar na porta - Apertar as
mãos enquanto você está fora e seu anfitrião está dentro de casa é sinal de má sorte. Ou você entra, ou ele sai.
[7]
Dóbri viétcher ꟷ Boa tarde.
[8]
Yeb vas ꟷ Foda-se.
[9]
Svolach ꟷ algo como “idiota”.
[10]
Poka ꟷ Adeus, por agora.
[11]
Króchka ꟷ Migalha de pão, a palavra carinhosa que usa se para mulher no sentido de pequena.
[12]
Tak! ꟷ algo como “OK”, “está bem”. Dependendo da entonação pode soar como concordância ou relutância.
[13]
Chto za huy ꟷ Que porra.
[14]
MMA: Mixed Martial Arts, artes marciais mistas. Esporte de combate do tipo full contact que cobre uma
diversidade enorme de técnicas de lutas, é uma evolução do que antigamente era conhecido por Vale-tudo. De acordo com
a evolução do esporte, o MMA vem se tornando um estilo de luta definido.
[15]
Yebat ꟷ Caralho, porra. (xingamento chulo)
[16]
Chto za huy ꟷ Que porra.
[17]
Króchka Moyá ꟷ Minha pequena.
[18]
Mílaya — Querida.
[19]
Chyort voz'mi — Caralho, Porra! (xingamento forte)
[20]
Dyévatchka — Garota.
[21]
Mat’ — mãe.
[22]
Chto za huy — Que porra.
[23]
Króchka Moyá — Minha pequena.
[24]
Chyort voz'mi — Caralho, Porra! (xingamento forte)
[25]
Blad — Puta.
[26]
Papa — Papai.
[27]
Kóchetchka — gatinha.
[28]
Meça sete vezes, corte uma. — (Pense duas vezes antes de agir) Este provérbio recomenda que você se
prepare cuidadosamente antes de fazer algo, porque só há uma chance.
[29]
Blads — Putas.
[30]
Chyort voz'mi — Caralho, Porra! (xingamento forte)
[31]
Yeb vas — foda-se.
[32]
Chto za huy — Que porra!
[33]
UFC ꟷ é a sigla de Ultimate Fighting Championship, uma organização americana de artes marciais mistas,
também conhecida por MMA (Mixed Martial Arts). As lutas deste campeonato envolvem uma mistura de estilos, como o Jiu Jitsu,
Boxe, Wrestling, Muay Thay, Karate e outras.
[34]
Radnóy ꟷ Querido, literalmente pessoa próxima.
[35]
Finta ꟷ ato de simular um golpe para enganar o oponente. Com uma finta um lutador pode conseguir brecha
necessária para atingir o adversário.
[36] Gancho (ou hook) ꟷ da família dos golpes curvos, bastante semelhante ao cruzado, com a diferença que é
executado em curta distância e contornando a guarda do adversário.
[37]
Cinturar ꟷ gíria que significa pegar o adversário pela cintura a partir das costas.
[38]
Quedar ꟷ derrubar o adversário. Manobra normalmente pontuada no MMA.
[39]
Ground and Pound ꟷ tática de luta de chão criada e introduzida no MMA pelo wrestler americano Mark
Coleman, visa quedar o adversário, obter uma posição dominante e atingi-lo predominantemente com socos e cotoveladas. Hoje é
uma parte essencial do estilo MMA.
[40]
Chush' sobach'ya ꟷ Merda, mentiroso. (xingamento forte)
[41]
Zólattse mayó ꟷ Meu ouro (palavra carinhosa no diminutivo).