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O

MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
O MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2020
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autorização escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da


imaginação. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida
real deve ser considerado mera coincidência.

Título:
O Melhor Acidente

Romance

ISBN – 9798636924555
Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:

"Você vai ser pai."


Uma única frase capaz de mudar todo o meu mundo.
Até então, eu era apenas um advogado com razoável sucesso, que costumava
aproveitar a vida de solteiro ao lado de belas mulheres, sem qualquer compromisso ou
responsabilidade.
Até ela...
Quando tive o final de semana mais fantástico de minha vida ao lado de Tatiana,
sabia que as coisas não estavam encerradas entre nós, mesmo quando retornássemos a
nossa cidade.
O que eu não imaginava era que nosso vínculo fosse incluir um bebê.
LIVRO 1

Apaixonei-me por Benjamin na escola... E durante toda a minha vida o observei ao longe,
vendo-o progredir, ter sucesso, mulheres e dinheiro.
Ao longe... Sem atrever-me a acreditar que um dia nós teríamos uma chance.
Então ele surge com uma proposta. “Seja a mãe dos meus filhos”.
Como recusar sendo que esse é meu maior desejo?
Leia Aqui
Sumário
O MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
LIVRO 1
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
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TATIANA

Eu não nasci em Esperança. Essa terra não me causava nenhuma


emoção e, por mais belas que fossem as montanhas perto da Fazenda
Laureana, eu não sentia nada de especial por essa região fria da Serra
Gaúcha.
Batuquei o dedo no balcão de madeira, perdida em pensamentos.
Nasci em Ijuí, terra das culturas diversificadas.
Soltei um longo sopro que fez minha franja voar brevemente antes de
pousar novamente na minha testa.
Ijuí é conhecida por esse título porque é um local de muitos imigrantes.
Tem de tudo: alemães, italianos, holandeses, letos, suecos, enfim... pense em
alguém do mundo e você encontrará em Ijuí. O que é quase incredível,
porque Ijuí é outro fim de mundo. Não como Esperança, mas é.
Tem menos de cem mil habitantes, nenhum ponto turístico que
realmente chame a atenção, a estrada que a liga a Cruz Alta (que por sua vez
é caminho para a capital), tem tantos buracos que é como se você estivesse
andando por Marte, e a praça que, antigamente, a gente curtia um sol à tarde,
agora está cheia de drogados e bêbados.
Por isso, quando vi o valor que teria que pagar para estudar na
Universidade de Ijuí, entusiasmei-me em sair de lá.
Dessa forma, vim parar nesse cu de mundo chamado Esperança. A
faculdade de enfermagem deles era uma das mais bem conceituadas do país e
o valor um dos mais acessíveis.
Com tristeza me despedi dos meus pais – dois apicultores que vivem
com dificuldade na divisa com Ajuricaba – e vim para Esperança. Arrumei
um trabalho como garçonete em uma cafeteria, estudando à noite.
Tudo no seu devido lugar.
Não que eu estivesse satisfeita. Longe disso.
— Tatiana. Olá. Você está me ouvindo?
A voz da minha melhor amiga, Helena, soou atrás de mim.
Eu estava inclinada no balcão, a mente voando em coisas que iam além
do trabalho ou do estudo.
Vai soar ridículo. Eu me sinto ridícula só de pensar nisso. Mas, o que
eu queria de verdade era amor.
Virei-me para Helena quando minha melhor amiga parou atrás de mim,
muito mais perto do que eu esperava. Ela estava carregando uma cafeteira
parcialmente cheia que agitou-se quando colidimos.
— Helena! — Eu gritei, e aproximadamente metade dos clientes se
viraram para nos olhar. Eram apenas quatro pessoas, já que estávamos no
meio da tarde, horário de pouco movimento.
Helena estava grávida de quase nove meses e tão redonda que parecia
que ia explodir a qualquer momento, mas ela conseguiu manter o equilíbrio e
a compostura.
De repente senti o calor no peito e percebi que o café derramou no meu
uniforme. Eu o tinha lavado no dia anterior, e fiquei com vontade de chorar
ao ver a mancha marrom.
— Você está bem? — Helena indagou, pousando a cafeteira e
puxando guardanapos, arrastando o tecido por cima da meu peito. —V ocê
se queimou?
— Não se preocupe. Eu cuidarei disso.
O que era uma mancha marrom numa vida marrom?
— Ah, você se lembra do nome do meio de Marcos Padilha? —
questionei.
— Marcos Padilha?
— Aquele rapaz que eu namorei no meu primeiro ano em Esperança —
apontei.
Céus, era tão idiota. Diante de uma vida sem qualquer estímulo, eu
estava mesmo perguntando o nome completo de um antigo namorado?
— Ele não era seu colega no curso de enfermagem?
— Isso.
— Por que está pensando nele?
— Estava apenas pensando que ele era um cara legal...
— Hum... — ela deu os ombros. — Ele não era gay?
— Não, esse foi o Gustavo.
— Gustavo não é gay. Ele se casou com a Manoela Fontes.
— Ah, é mesmo. O gay era o Jeferson... Enfim, você lembra o nome do
meio do Marcos? Estou pensando em buscá-lo no Facebook... pedir
amizade...
— Para quê?
Céus, eu me sentia tão sozinha. Eu havia tido vários mini namoros em
Esperança, sempre buscando por alguém especial, mas nunca apareceu
ninguém. E a verdade? Eu caía fora assim que os caras queriam sexo. Não
que eu fosse pudica, mas eu queria que minha primeira vez fosse com alguém
especial.
Helena não respondeu minha questão. Ela continuou passando os
guardanapos no meu peito, e depois recuou, como se fosse pegar mais.
Desamarrei meu avental encharcado e o afastei da minha blusa.
Levantando as sobrancelhas, percebi a umidade do café no chão recém-
polido.
Suspirei. Eu havia acabado de passar pano ali, pois limpava a cafeteria
logo após o almoço.
Esperança era uma cidade limitada e muita gente vinha lanchar na
cafeteria, como se fosse um restaurante. Não servíamos comida, mas
tínhamos muitos lanches.
Então, quando terminava o meio dia, o local sempre estava sujo de
terra, já que a maioria dos clientes eram agricultores. Eu lavava o chão tão
logo o movimento diminuísse.
E agora teria que fazer isso novamente, porque Helena nem podia
pensar em se inclinar para limpar qualquer coisa abaixo da barriga.
— Eu vou limpar essa bagunça assim que trocar minha blusa.
Segurando meu avental encharcado, caminhei entre as mesas em
direção ao depósito.
Eu queria tanto um amor... Era pedir demais? Mas ao invés disso eu
ganhava chão sujo para limpar.
Alice, a enteada de Helena, costumava me chamar de Cinderela.
Naquele momento me imaginei como sendo realmente a Gata Borralheira.
Onde estava meu príncipe encantado?
Eu sei que muitas mulheres se satisfazem com a carreira, mas eu não
sou assim. Mesmo a faculdade de enfermagem não se mostrou algo
significativo para mim e eu já pensava na possibilidade de mudar de curso.
A voz de Márcia, a nova gerente, berrou pela cozinha enquanto eu
andava na direção oposta.
— Por que está tudo uma bagunça?
— É minha culpa. — Helena assumiu, as mãos cheias de guardanapos
molhados. — Derramei café em Tati.
Márcia me deu um olhar duro.
Eu estava a meio caminho do depósito e fiquei entre seguir adiante, ou
voltar.
— Tatiana, novamente, estava dormindo acordada em serviço?
Eu não podia negar aquilo.
— Arrume essa bagunça. Noeli chegará em breve e não queremos que
ela veja este lugar parecendo um chiqueiro de porco.
Noeli, a dona do restaurante da cidade, havia também comprado a
cafeteria. Ela era uma boa patroa, muito gentil, mas colocou Márcia de
gerente, e eu não tinha certeza de que isso era uma boa ideia. Márcia
costumava ser um tanto dura comigo, não que estivesse fora de razão, mas
também era um pouco seca com nossa clientela. A Senhora Janete, nossa
mais fiel cliente, já havia reclamado.
Suspirei. Realmente, não me importava.
Estava num ponto da minha vida que queria algo significativo para
viver, mas não tinha isso. A cafeteria, tampouco, representava meus anseios.
Helena se manifestou.
— Sinto muito por isso. Eu posso limpar...
Neguei rapidamente.
— Você vai sair de licença maternidade essa semana. Ficarei triste se
você fizer alguma coisa que possa fazer meu sobrinho nascer antes do
previsto.
Ok, a criança não era tecnicamente minha sobrinha, mas era como eu
me sentia. Eu pretendia mimá-lo como se ele fosse. Além disso, Helena
sempre dizia que traços sanguíneos não significavam nada, já que ela não era
a mãe biológica de Alice, mas amava a menininha mais que a si mesma.
E eu amava Helena. Amava aquela mulher forte que me acolheu como
uma irmã. Sou filha única, e logo que cheguei a Esperança, me afeiçoei a ela,
como se fossemos parentes. Soube de sua história triste, soube de seu passado
frequentemente na boca do povo. Aquela mulher doce já sofreu tanto... E
mesmo assim ela me aceitou com um amor gigantesco.
Nunca fui muito boa com as mulheres. É meio vergonhoso dizer isso,
mas acho que minha cara de anjo tem responsabilidade nisso. As mulheres
me consideram rival simplesmente porque eu chamo a atenção por causa da
minha altura e do meu tipo físico. Mas, não Helena... Nunca, em nenhum
momento, ela me fez sentir-me acuada por ser, como dizia Alice, uma
Cinderela.
Helena esfregou a parte inferior das costas.
— Meu filho será forte como eu. — afirmou e eu não duvidei nem por
um momento. — Além disso, a culpa foi minha. Eu cuidarei disso.
Evidentemente, Márcia não se emocionou com a nossa exibição
tocante de preocupação mutua.
— Eu não me importo com quem vai limpar o chão, contanto que o
chão fique limpo. Então, faça de uma vez — ela disse a Helena.
Fiquei nervosa. Ela falou olhando diretamente para Helena, num tom
que fez minha pele se arrepiar. Céus, por que diabos ela achava que podia
avassalar Helena?
Preparei-me para dizer-lhe algumas verdades quando o som de sapatos
ecoando na madeira polida do assoalho fez-me virar.
Bruno Gatti surgiu diante dos meus olhos. Alto, forte e arrogante. O
filho mais novo de Benício Gatti, o advogado mais famoso daquelas bandas,
me encarou com ar surpreso.
Como aquele dia podia ficar pior?
Suspirei.
Eu não gostava dele. Não gostava do irmão dele. Não gostava do pai
dele.
E, não fosse pela linda Alice, eu diria que nenhum dos Gatti era
agradável.
Minha antipatia não era por acaso. Poderosos e ricos, eles estavam
sempre andando pela cidade com suas SUVs caras, e suas posturas
arrogantes. Depois, Benjamin, o irmão de Bruno e filho mais velho de
Benício, pediu para minha amiga Helena ser mãe dos seus filhos.
Mas, não romanticamente...
Ele a assediou e a forçou a um acordo. Tudo bem que terminaram
“felizes para sempre”, mas eu ainda sentia um gosto amargo na boca sempre
que o via.
E então tinha o Bruno. O advogado que se achava “O gostosão”, uma
mulher por semana, sempre se sentindo o maioral.
Sério... O que viam nele?
Não digo fisicamente, mas...
Já era ruim o suficiente Benjamin aparecer o tempo todo, agora Bruno
também vinha?
— Olá, Cinderela. — disse ele em sua voz suave e enganosamente
calma.
Seus olhos, no entanto, ardiam como brasas carbonizadas de um
incêndio.
Eu pisquei.
— Precisa de algo?
Mas ele não estava prestando atenção em mim. Fixado em Márcia, que
parecia ansiosa para estar sob o poder implacável de um homem tão
dominador.
— Olá, docinho — ele disse a Márcia. — Você eu não conheço...
Quanta intimidade com quem ele acabava de esbarrar! Não que isso
fosse especial. Ele chamava metade de Esperança de docinho.
Márcia ficou instantaneamente reluzente, um sorriso brilhante exibindo
seu rosto normalmente severo. Ela passou por mim e estendeu a mão para
Bruno.
— Meu nome é Márcia Martinho. Eu sou nova na cidade. Acabei de
me mudar para cá. Noeli comprou a cafeteria. Nós somos amigas. Ela me
ofereceu um emprego. — acrescentou com orgulho, como se Bruno ficasse
impressionado por ser amiga de uma das mulheres ricas de Esperança.
Eu escondi um sorriso.
— Adorável... Agora, está sujo aqui... ouvi você dizendo que qualquer
uma das meninas pode limpar?
— Você sabe... — ela nem se perturbou. — É difícil encontrar boas
funcionárias...
Bruno apenas olhou para ela com um daqueles olhares que sempre
faziam todos tremerem.
— Bom, que falha a minha. Nem sequer me apresentei. Deixe-me dizer
quem sou. Meu nome é Bruno Gatti, sou advogado, e Helena é minha
cunhada. — Ele apontou o queixo para Helena, que estava quieta perto da
cozinha. — Então, eu apreciaria muito se você se abstivesse de fazer
exigências físicas a uma mulher grávida de quase nove meses. Ou serei
forçado a entrar judicialmente contra a cafeteria, e ninguém quer isso, não é?
Não sei como Noeli se sentiria sendo levada a justiça por causa da sua nova
gerente...
— Bruno! — Helena disse fracamente. — Estou bem, e só tenho
mais dois dias...
— Estamos de acordo? — Bruno interrompeu, olhando fixamente para
Márcia.
O sorriso de Márcia se foi. Ela assentiu rapidamente, depois me
encarou com um olhar que parecia me fuzilar.
Puta que pariu!
— E essa? Ela também é sua parente ou pode trabalhar para limpar a
bagunça que causou?
Eu me irritei. Eu não ia com a cara de Bruno, e ele também não ia com
a minha. Mas ele me surpreendeu com sua frase seguinte:
— Acho que é a pausa dela, não? — Seu olhar caiu no meu rosto e
permaneceu. — Ela está suja e está um pouco... despida.
Soltei um grito assustado, agarrei minha camisa notando que estava
semiaberta (Helena deve ter puxado os botões quando tentou me limpar) e
corri para o corredor dos fundos.
Fui para o meu armário na sala de descanso, movendo-me o mais
rápido que podia.
Conversar com Márcia e Helena com a minha camisa meio aberta,
mostrando um pouco meu sutiã não era nada. Que mulher se importa que
outra veja suas roupas íntimas?
Com Bruno, no entanto, a história era diferente.
Joguei meu avental molhado no fundo do meu armário e tirei minha
camisa, deixando-a cair na mesma pilha. Eu a arrumaria mais tarde. O
importante agora era pegar uma blusa limpa e o avental.
Me observei levemente no espelho, tentando ignorar minha postura.
Droga... o avental não escondia o fato de eu ter seios enormes. Sempre
detestei ter tanto peito. Sentia-me uma atriz pornô.
Comodamente, meu apartamento era perto. Eu poderia me esgueirar e
correr até minha casa, tomar um banho rápido e colocar roupas que pudessem
esconder mais meu corpo.
Peguei meu cordão com as chaves do apartamento e bati a porta do
armário com força, pronta para fazer isso.
Todavia, ao virar-me, vi Bruno parado na porta, os braços cruzados
sobre o peito distraído.
— Você estava me observando trocar de roupa?
— Eu não estava espiando. — ele se defendeu. — Eu te segui, te
chamei, mas você estava envolvida demais em sua tarefa para me notar. —
Ele inclinou a cabeça. — Devo dizer que seu senso de moda é único.
Eu sabia o que ele queria dizer. Eu sempre me vestia da melhor forma
possível para que meu corpo não fosse ofensivo as outras mulheres. Peito
grande, bunda grande, pernas grossas, cintura fina, cabelos loiros, olhos
verdes... Deus, eu era um imã para a rivalidade e o ciúme.
Ainda mais em Esperança, uma cidade que não perdoava Helena por
ter destruído o casamento de sua tia, sendo que a mesma havia sido vítima de
um estupro pelo tio abusador.
A primeira vez que ouvi que Helena era a culpada por, mesmo tendo
apenas doze anos, ter usado shorts curtos na frente do tio, tive náuseas.
A culpa era sempre das mulheres. Nenhuma mulher daquela cidade se
faria de rogada em me apontar como puta se eu desse algum passo falso.
Deixar meu corpo a mostra era um desses erros.
Aliás, eu já devia ter a fama, pois tive muitos namorados e nunca
contei a ninguém que não mantinha algo sexual com os rapazes com quem
saía. Até mesmo para Helena eu insinuava que tinha experiência na área.
— Você tem um propósito em estar aqui ou só quer piorar meu dia?
Uma emoção sem nome surgiu em seus olhos escuros, mas sua pose
preguiçosa e curiosa nunca mudou.
— Você não precisa tolerar isso, você sabe.
— Márcia é nova aqui, e está tentando provar a si mesma que manda.
Tenho certeza de que ficará perfeitamente bem quando se acostumar aos
empregados.
Eu não tinha certeza disso, mas eu não ia derramar minhas queixas para
um cara que realmente não se importava com meus problemas.
— Seus pais comercializam peixes, não é? Para isso, precisam de
açudes. Para açudes, terra. Então, seus pais devem ter terra. Terra igual
dinheiro, não? — continuou como se não entendesse porque a filha de
agricultores precisava trabalhar para pagar seus estudos.
— Meus pais tem o suficiente para viver. — Eu fiz uma careta. —
Pode sair, por favor?
— Seus pais podem pagar a sua faculdade?
— Sim, podem. Mas, trabalhar é honroso. Eu tenho orgulho de eu
mesma pagar minhas despesas.
— Então, você espera que eu acredite que trabalha aqui pela
satisfação? Ouvindo uma chefe chata e usando sapatos horrorosos para evitar
joanetes?
Desta vez, eu ofeguei. Não havia como evitar. Quem diabos ele achava
que era para insultar os meus sapatos? Para questionar minha vida?
— O que exatamente você quer?
Ele deu alguns passos na minha direção.
— Bom, eu preciso lhe dar isso.
Eu ainda estava tentando me ajustar à sua proximidade repentina
quando ele tirou um objeto do bolso interno da jaqueta e o balançou na minha
frente.
— Por favor, confira e veja se está ok...
Mas não me mexi.
Como eu poderia? Eu acidentalmente olhei para a cintura dele. E
abaixo. Logo abaixo. Para onde seu terno impecavelmente cortado tinha uma
saliência.
Ele estava duro. Eu estava quase certa disso, apesar da minha
experiência limitada.
— Tatiana. Olhe para cima. — Sua voz estava comprimida. Séria.
Mas eu estava embasbacada. E tentando entender. Ele ficava excitado
do nada ou foi a visão dos meus seios?
Não.
Meus seios não eram suficientes para levar um homem como ele a ficar
duro. Eu sei que eram perfeitamente bonitos, até atraentes, mas ele era um
homem do mundo que dormia com muitas mulheres.
Ergui meu olhar e ele me encarava firme.
— Quem é Marcos Padilha?
Que merda era aquela?
— Há quanto tempo você estava escutando minha conversa com
Helena?
— Não se ofenda, foi sem querer. Só fiquei pensando, um cara que
você calcula a possibilidade de buscar no Facebook deve valer a pena.
— E ele vale.
Ele se aproximou mais.
E seu membro ereto... estava ali.
— Quem é ele exatamente? Um velho amigo?
— Por que você se importa? Por favor, pode me dar licença?
Como Bruno pode ser tão galante em repreender Márcia e tão idiota ao
lidar comigo?
— Cinderela... — ele começou. Eu amava aquele apelido vindo de
Alice, mas certamente não sentia o mesmo com o tom de Bruno, me
infantilizando. — Seja legal comigo. Eu até limpei o chão para você. — Seu
sorriso era tão quente quanto a expressão de uma cobra antes de dar o bote.
— Você podia pagar minha boa ação.
Lá vem...
— Como?
— Que tal uma conversa on-line com você vestindo apenas seu sutiã.
— Vá se foder.
— Oh, que boca suja... Às vezes me pergunto se tem mais coisas sujas
em você...
Eu devia bater nele. Mas, talvez fosse exatamente isso que ele
buscasse. Uma proximidade para tentar se fazer de gostosão para mim. Não
cairia nessa.
Meu celular vibrou no bolso e eu o busquei. Era uma mensagem da
estação de rádio informando que eu ganhei uma viagem para a Casa Valduga
Winery no vale dos Vinhedos.
Meu Deus!
Eu me esforcei para manter o rosto impassível, mas estava muito
emocionada. Conhecer Bento Gonçalves era um sonho, e eu passei a noite
toda acompanhando a estação e ligando a cada cinco minutos para concorrer
ao prêmio.
Claro que nem tudo eram flores. O passeio era extremamente
romântico, e eu podia levar um acompanhante. Infelizmente, não havia
ninguém em minha vida para desfrutar aquele lugar comigo.
De repente, me dei conta de que Bruno ainda estava perto demais. O
encarei. Bruno estava olhando por cima do meu celular, o bisbilhoteiro.
— Você ganhou o prêmio? — ele murmurou perto do meu cabelo. —
Acho que ganhou porque ninguém mais ligou para a rádio. É uma perda de
tempo, você sabe... Nem é inverno, a Serra Gaúcha só é interessante no
inverno. Além disso, com certeza devem ter escolhido um hotel de quinta
categoria. Por que você não recebe o prêmio em dinheiro em vez da viagem?
— Bruno parecia tão pragmático, e uma parte de mim queria rir.
Mas estava constrangida demais para rir. Ele ainda estava ereto, e não
fazia menção de se afastar.
— Pois eu irei a Casa Valduga Winery. É meu sonho conhecer a
cidade, e a vinícola. Pretendo me divertir muito. Beber muito vinho e
aproveitar uma cidade onde ninguém sabe quem eu sou.
— Você vai sozinha?
Dei de ombros e fingi estar absorvida no texto que já havia lido e relido
três vezes.
A verdade era que eu estava apavorada. Ir sozinha... beber? Isso não
era eu.
— Minha melhor amiga está muito grávida para ir, então o que você
espera que eu faça? — Dei de ombros novamente. — Vai ficar tudo bem. O
que possivelmente pode acontecer? Conhecer um italiano lindo e transar?
Muito provavelmente, isso não aconteceria. Até já pensei na
possibilidade, mas se eu não conseguia transar com caras que eu namorava,
quiçá um estranho.
Bruno respirou fundo e se afastou de mim.
— Você pode ter problemas.
— Eu não terei problemas.
— Você é basicamente um imã para problemas.
Aquilo me irritou. Dei um passo à frente para confrontá-lo quando
meus olhos se arregalaram e dei-me conta do que fiz.
Bruno ainda tinha uma ereção...
E meu corpo estava encostado no dele. Além disso, nenhum de nós
estava se movendo.
Por quê?
Mesmo se meus hormônios estivessem subitamente excedidos, eles
tinham moral para não me esfregar num cara idiota daqueles...
Ele estava perto demais e eu estava demasiadamente nervosa para
permitir que as coisas saíssem do meu controle.
Então, joguei a batata quente para ele:
— Parece que você tem problemas nas calças — disse, enquanto ele
emitia um som sufocado.
Não me restou nada além de me afastar rapidamente e sumir dali.
BRUNO

Observei Tatiana sumindo pela porta.


Problemas nas calças? Essa mulher tinha ideia do que um homem
sentia quando a olhava?
Não, eu não estou orgulhoso disso. Na verdade, eu tentei esconder
minha situação permanecendo longe. Mas eu a segui para devolver sua
carteira (que havia caído no chão na cafeteria) - e acabei me deparando com
aquela Barbie de carne e osso tirando a blusa.
O que era aquilo, meu pai?
Ela devia saber o poder que tinha sobre as pessoas. Isso explicaria o
quanto ela se esforçava para que sua presença não fosse notada. O que era
impossível de acontecer, aliás. Desde que Tatiana conseguiu o emprego na
cafeteria, a mesma vivia cheia de homens que uma ou duas vezes por semana
passavam por lá para tomar café.
Nada simbolizaria, não fosse o fato de que o gaúcho não é muito ligado
ao café. Especialmente o homem agrícola. Eu via homens que nunca haviam
bebido café na vida, de repente, indo semanalmente a uma cafeteria que
jamais colocaram o pé, apesar daquele comércio existir há uns trinta anos em
Esperança.
Que merda...
Agora ela provavelmente pensava que eu era um tarado, assediador.
E cara, sério... eu não era isso. Ao contrário, sentia nojo de pessoas
assim. Lembro-me de na pré-adolescência ver o tio de Helena lhe
sussurrando palavras cheias de duplo sentido. Eu tinha treze anos, e queria
matar aquele homem.
Todavia, o cheiro de Tatiana era como lembranças de um bom verão.
Luz do sol, grama verde e a brisa do lago. E havia o aroma de café preto
forte.
Mas meu controle me salvou de reagir tanto quanto poderia. Eu não era
mais adolescente. Já era ruim o suficiente ter ficado semiereto na sua
presença. Pelo menos eu poderia fazê-lo baixar agora que seu cheiro se
dissipava pelo ar.
Um grunhido saiu da minha garganta.
Quando ela se encostou em mim soube que teríamos problemas. Eu
seria um problema para ela. Como, não tinha certeza, mas sabia que
aconteceria.
Ela não gostava de mim. Eu não gostava dela. Não sei explicar
exatamente o motivo, mas existia uma antipatia.
E, bem... Que mulher hoje em dia ainda liga para as rádios para
participar de concursos? Isso é tão anos noventa. Obviamente ela ganhou.
Ninguém que eu conhecia ainda ouvia rádio. Tatiana sabia que existia algo
chamado Spotify?
Viajar sozinha... ir a uma cidade em que provavelmente ficaria
bêbada... sozinha...? Que mulher louca! E ainda havia o fato de ela procurar
um tal de Marcos na internet. Ela não lia as notícias? Não sabia o quanto era
perigoso?
Não que eu me preocupasse. Aliás, preocupação passava longe de mim.
Tatiana não era exatamente uma mulher indefesa. Na superfície, ela
parecia fofa, doce e facilmente manipulável. Contudo, na realidade? Ela era
forte como um touro e tinha uma boca capaz de afugentar muitos
desavisados.
Suspirei.
No caso dela, o tipo físico não ajudava. Qualquer um que olhasse, via
uma princesinha de contos de fadas.
Minha mente, de repente, focou-se em seus enormes seios. Eu nem me
importava com peito, sendo fã de bundas, embora obviamente não me
objetasse em apreciar um belo par.
E que belo par ela tinha...
Eu fiz uma careta quando puxei minha gravata. Eu não era esse tipo de
cara... que fica pensando em seios quando tinha tantas coisas importantes
para fazer.
Obviamente, Tatiana não me daria a chance de apreciar seus seios com
as mãos e com a boca, sem que firmássemos um compromisso, e isso não era
coisa que um cara como eu faria.
Meu irmão, coitado, se fodeu quando acabou muito jovem com uma
bebê nos braços e uma esposa dando tchauzinho e indo curtir a vida em Porto
Alegre. Não que Alice fosse um problema, mas eu preferia ser solteiro até os
quarenta. Aproveitar muito a vida, sem compromissos, e depois achar uma
jovem com a metade da minha idade para me casar.
Eu podia. Eu tinha dinheiro. Papai foi bem claro quando apontou o
quanto ser focado na advocacia podia me render prazeres futuros.
Essa mensagem foi recebida em voz alta e clara.
Um sorriso cruel surgiu nos meus lábios.
Não era bem assim. Eu nem sempre pensei assim. Mas, tendo em vista
que a única mulher que um dia fora capaz de me fazer pensar em desistir de
tudo estava casada e prestes a ter um bebê de meu irmão, não me restava nada
a não ser aceitar o plano B.
Nada de novo, aliás.
Meu amor por Helena foi se apagando com o passar dos anos. Era
apaixonado por ela na adolescência, mas vi que seus sentimentos eram
destinados a Benjamin. Eu tentei separá-los, e não consegui. Então, aceitei
que o que é pra ser. Helena e Benjamin são um do outro. E isso era bom. Eu
os amava. Aos dois. Queria que fossem felizes.
Além disso, os negócios estavam crescendo.
Nosso escritório já estava contratando mais alguns advogados e meu
pai planejava comprar o terreno ao lado para aumentar o prédio.
A vida estava calma, seguindo seu fluxo normal...
E estava um tédio, igualmente.
Para mim, fazia sentido que Tati quisesse alguma aventura em sua
vida, como uma viagem para os vinhedos, porque eu também queria algo
assim, algo que quebrasse o fluxo, mas não achava que ir para um lugar
sozinho era a resposta.
Inferno, sei lá porque, eu achava que a viagem de Tatiana daria algum
problema. Sexto sentido, coisa assim.
Depois, tinha esse tal de Marcos. Esse nome parecia vagamente
familiar. Eu não tinha cursado a faculdade de Esperança como Benjamin, mas
achava que era de lá que ouvi o nome. Numa cidade pequena como
Esperança, com cerca de quarenta mil habitantes – é... crescemos muito desde
que construíram a faculdade – você sabia de onde vinham os nomes. Eu teria
que perguntar a Benjamin se ele se lembrava do cara.
Não, eu não faria isso. A vida romântica de Tati não era da minha
conta. Ela era amiga da minha cunhada, então é claro que eu estava
preocupada com o bem-estar dela, mas a preocupação tinha limites.
Voltei para a cafeteria. Duas das moças que atendiam a tarde me
destinaram sorrisos doces quando cruzei por elas. Amava ser solteiro...
Observei o lugar. Logo vi minha cunhada. Felizmente, Helena estaria
pronta para ir.
Sorri para ela.
Eu era um cara legal. O tipo de cara que vai buscar sua cunhada
grávida no trabalho. O tipo de cara que é babá da sobrinha sempre que o pai
pede. O tipo de cara que leva comida pros animais de rua.
Por que diabos, então, Tatiana não gostava de mim?
Só porque eu gostava de dormir com mulheres bonitas por um breve
período antes de nos separarmos para sempre, isso me fez digno de ser
tratado como um pária?
Ajustei minhas abotoaduras - marcadas com o brasão Gatti - e
caminhei pelo corredor com minha dignidade intacta e a última ereção
firmemente banida.
Eu nem sei porque eu tive uma ereção, para começar...
Eu tive um encontro com Raquel na noite de sexta, e ela foi
arrebatadora. Ela também não teve nenhum problema com sexo sem
compromisso. Portanto, eu não estava na seca...
No corredor, Helena estava esperando, vestida com seu casaco azul do
Grêmio. Ela parecia uma bolinha.
— Você demorou — disse Helena, torcendo as mãos. — Eu estava
pensando que foi fabricar a carteira. Você saiu daqui já tem quinze minutos e
estou morrendo de fome.
— Sinto muito por mantê-la esperando, docinho. — Coloquei a mão
nas costas dela e a conduzi até a porta. — Você sabe que está em um lugar
onde eles servem comida, né?
— Você já ouviu aquele ditado: Não coma onde você faz cocô.
Eu tinha certeza que o ditado não era assim, mas ri.
— Você faz cocô na cafeteria?
Ela tocou sua barriga e fez uma careta.
— Não seja idiota, Bruno. Você sabe o que eu quero dizer: não se
divirta onde você trabalha, ou coisa assim.
— E você quer se divertir?
Eu estava com medo da resposta.
— Sim, com um xis, daqueles “Tudo” cheio de gordura.
Seus olhos brilharam quando ela sorriu para mim.
— E batatas fritas... E sorvete...
Sufocando um suspiro, abri a porta e cutuquei Helena na calçada. O
vento frio me atingiu e eu arqueei as sobrancelhas.
Não estávamos no inverno, mas o Sul costumava dar suas surpresas
como o verão de maio. Agora, por exemplo, devíamos estar indo para o
verão, mas o céu estava cinza. Eu tinha certeza que iria esfriar muito.
E eu disse para Tatiana que não valia a pena ir aos vinhedos nessa
época... o quão errado eu estava...?
— Sabe, lidar com os seus desejos é o trabalho do meu irmão. Ele que
aproveitou o bom da gravidez... — pisquei, malicioso.
Helena bufou.
— Não seja cruel com Benjamin porque ele está pagando todos os seus
pecados. Semana passada eu quis comer abacaxi com macarronada.
— Não estrague minha fome...
— Além disso, é sua culpa que Benjamin não pôde me levar para casa
hoje.
— Sério. Por quê?
Começamos a andar na direção do estacionamento.
— Ele teve que ir para Encanto comprar mais coisas de última hora
para o bebê, mas nós tínhamos planejado fazer isso na sexta à noite e não
pudemos porque você tinha um encontro.
— Então, porque eu tenho uma vida, sou o culpado?
— Você já tentou fazer compras com Alice?
Eu ri. Ser babá de Alice era uma das tarefas mais difíceis daquela
família.
— Você sabe que ela é uma Gatti, né? E esse bebê também será um
Gatti. Por que diabos vocês quiseram colocar mais um Gatti no mundo?
— As alegrias superam o trabalho que dá. — Ela parou no meio-fio e
colocou as mãos nos quadris. — Oh, Bruno, sério? Como eu vou entrar
nesse carro?
De verdade, eu não havia pensado nela quando escolhi meu novo
BMW Z4 ao invés da minha Chevrolet Tracker, espaçosa para uma grávida.
Com cuidado eu a ajudei a se sentar. Sério, foi uma das cenas mais
cômicas da minha vida. Nunca pensei que os bancos baixos do carro
pudessem ser tão trabalhosos para uma mulher prestes a dar à luz.
Dei a partida e sinalizei para entrar na rua que levava para sua casa.
— Não — ela reclamou. — Me leva para comer o Xis.
Você já viu um xis gaúcho? Tem tudo que você possa imaginar no
meio de dois pães. O último x-tudo que comi pesava quase um quilo.
— Não tem como isso fazer bem para uma grávida.
Mesmo assim, virei para uma rua lateral para inverter a direção.
— Você está mais mal humorado que de costume. Foi Tati quem o
provocou? — Helena tamborilou com os dedos na porta. — Ela levou uma
bronca de Márcia antes de você se intrometer, então é por isso que estava
nervosa. Seja lá o que ela disse a você, eu não levaria para o lado pessoal.
— Quando levo a sério as indiretas que ela me dá? — Fiz um sinal
para estacionar em frente a uma lancheria, sufocando um suspiro. — Ela te
disse que vai viajar para Bento Gonçalves? — indaguei, para, logo em
seguida, me lembrar que eu era a única pessoa que podia estar ciente porque
era com quem ela estava quando recebeu a mensagem da rádio.
— Ela ganhou a promoção da Rádio Esperança?
— Você sabia dessa promoção?
— Está brincando? Eu liguei também!
Gargalhei.
— Se você quer conhecer Bento, basta dizer a Benjamin. Ele iria
adorar uma viagem romântica.
— Eu queria ter essa viagem com Alice, antes do bebê nascer. Um
momento só nosso...
Fiquei emudecido por alguns segundos. Terminei de estacionar, saí do
carro e corri na outra direção, para ajudar Helena a sair do veículo.
Descobri que puxar uma mulher pesada era pior que empurrá-la contra
o banco.
— Você queria ir com Alice... Mas, sabia que sua amiga quer arrumar
um cara qualquer e transar? Com um desconhecido!
Helena ofegou.
— Você é tão machista! Não é você que sai com mulheres que nem
conhece e transa na mesma noite? Se quer exigir moral de Tatiana, comece
dando bons exemplos.
Mais uma vez, Helena me calou com apenas poucas palavras. Maldita
mulher!
— Quer saber? Não vamos brigar por besteira. Isso nem é problema
meu.
Helena estalou os lábios.
— Que adorável! Você está preocupado com ela!
— Eu estaria preocupado com qualquer mulher “amiga” que estivesse
na mesma situação. Uma viagem a uma cidade que não conhece, com o
intuito de beber e conhecer gente nova... você sabe quantos tarados existem
por aí?
— De novo você destaca o “mulher”. Se fosse um cara, você acharia
normal e legal? Já disse que isso é machismo.
Suspirei forte. Entramos na lancheria e nos sentamos perto da vidraça.
— Xis tudo, você disse?
— Bruno...
— Hum?
— Falando sério, você acha que ela vai ter problemas ou algo assim?
— Helena mordeu o lábio. — Eu gosto muito de Tatiana, não quero que ela
passe pelo que eu passei.
Recriminei-me. Como fui capaz de ficar apontando a situação para uma
mulher que já foi vítima de estupro?
— Bento Gonçalves é uma cidade segura, na serra gaúcha, é uma
cidade turística, não é? — ela começou a pensar no assunto. — Mas, se ela
estiver sozinha e bêbada...
Fiquei tentado a apresentar estatísticas que a fariam desmaiar, mas ela
estava grávida. À beira de estourar. Ela não precisava de estresse ou
especulação.
Mas, a verdade? Bento Gonçalves, assim como a maioria dos
municípios do Rio Grande do Sul, estava começando a ser levada por uma
onda de crime em consequência das drogas.
— É uma cidade linda, mas nem tudo são flores. Entretanto,
provavelmente, tudo ficará bem.
— Ela nunca viajou sozinha. Quero dizer... sair de Ijuí para Esperança
nem deve ser considerado uma viagem... — Helena brincou com sua aliança
de casamento.
— Ela nunca se aventurou em nada? — Fiquei curioso. Tatiana já era
uma mulher feita. Como podia não ter viajado sozinha antes? — Nem para
Porto Alegre? Ou para algo referente a faculdade?
— Não. Seus pais são apicultores em Ajuricaba. O máximo que ela
viajou foi pra Ijuí, que é a cidade vizinha. Tati, aliás, nasceu em Ijuí porque
seus pais estavam na cidade quando sua mãe entrou em trabalho de parto. As
cidades são praticamente coladas. Quando ela disse à mãe que iria se mudar
para Esperança, a mãe dela quase desmaiou. — Helena suspirou. — Você
sabe, teve aquela onda de crimes, quando invadiram a fazenda do Torto...
Seus pais não acharam uma boa coisa ela se mudar para cá, mas ela,
corajosamente, veio, arrumou um trabalho e começou a estudar. É sempre
difícil dar os passos além do local conhecido.
Limpando minha garganta, fiz um sinal para a atendente no balcão.
Logo uma garota jovem surgia para anotar nosso pedido.
Quando a garota se afastou, Helena permaneceu em silêncio. Meu
primeiro impulso foi mudar de assunto. Pedir desculpas por trazer à tona
inseguranças passadas.
Ah, diabos, foi por isso que me apeguei a mulheres fáceis de flertar e
de transar. Obviamente, eu não sabia como conversar com as mulheres.
— Helena, não se preocupe. Por favor, tudo vai dar certo, e Tatiana
terá um ótimo passeio.
— Sim, sim, claro. — disse ela finalmente. — Eu só me preocupo...
Você sabe, Tati é como uma irmã para mim...
Foi a minha vez de permanecer em silêncio.
Um tempo depois, finalmente chegou nossos pedidos.
— Então, vai sair de novo com Raquel? — Helena indagou. — Tem
mais alguma coisa planejada para o fim de semana?
Eu fiz um som sem compromisso. Normalmente, perguntas como essa
levavam a indagações sobre meu futuro solitário. Isso ou ser babá de Alice.
— Não há outros planos? — ela pressionou enquanto eu mordia meu
pedaço de xis.
— Não. O que você quer de mim desta vez? Deixe-me adivinhar, uma
massagem nos pés inchados? Uma sessão de tortura com Alice, Masha e o
urso? Aliás, o que diabos é aquela menininha de capuz? O demônio passaria
longe. Estou começando a entender de onde Alice tira tanta energia...
Ela mordeu o lábio antes de dizer.
— Normalmente, eu não perguntaria isso, porque tento muito não me
intrometer na vida das pessoas, e ela tem idade suficiente para fazer o que
quer e viver sua própria vida, mas não posso deixar de ficar um pouco
ansiosa. Com o bebê chegando, meus novos sentidos da mãe estão ficando
loucos, e gostaria que você pudesse fazer uma coisa por mim. — Ela fez uma
pausa longa o suficiente para encher os pulmões de oxigênio. — Então, você
pode ir com Tati para os Vinhedos?
TATIANA

Francamente, não iria ficar pensando na ereção de Bruno.


Fala sério, eu tenho mais o que fazer!
Mas, supostamente, considerando que Bruno realmente estava excitado
por mim - eu, especificamente - aquela coisa tinha sido...
— Há! — gritei, esfregando a cabeça, evitando os pensamentos.
Eu tinha seios bonitos, mas pelo que ouvi, ele via essa parte da
anatomia feminina com muita frequência para ficar excitado pelos meus
peitos. A menos que os meus fossem mais estupendos do que eu pensava.
Jeferson uma vez comentou isso para mim, mas duas semanas depois ele se
assumiu gay quando, durante uma sessão de amassos, seu pênis pareceu
morto.
Independentemente disso, eu tinha mais o que fazer, e no que pensar.
Liguei para a estação de rádio e tentei reagendar minha viagem para o
outro ano. Junho ou julho, talvez. Assim Helena podia me acompanhar.
Mas é óbvio que eles não podiam. A viagem tinha sido dada numa
promoção exatamente porque era um mês de baixa frequência de turistas na
Serra, e os preços estavam bem em conta.
Eu podia simplesmente não ir. Contudo, deixar de fazer algo ou
conhecer um local que sempre sonhei por falta de companhia pareceu tão
infantil.
Sexta de manhã, acordei para meu último turno na lanchonete antes dos
meus dias de folga com enxaqueca e dores no estômago. Eu tinha certeza de
que havia pegado uma virose, mas também sabia que podia ser simplesmente
um ataque de pânico tentando sabotar minha viagem.
Isso ou eu estava doente.
Claro, eu não poderia viajar doente.
Nossa, que triste, Tatiana... Você não pode ir doente viajar, bah tchê,
que barbaridade...
Um dia de trabalho sendo pisada por Márcia, sem a presença de minha
melhor amiga - que estava de licença maternidade - não melhorou minha
condição. Eu me arrastei para a minha cama às dez da noite me embalando
para dormir, confiante de que o destino estava me instruindo a não viajar para
Bento Gonçalves.
Contudo, no sábado, acordei, estiquei-me e percebi que me sentia
absolutamente bem.
Não havia como voltar atrás agora.
Puta merda, Tatiana... cadê a porra da sua doença?
Não havia desculpas, eu tinha que ir.
Ou eu mesma iria me chamar de covarde para o resto da vida.
Busquei a página da Rádio no Facebook para olhar novamente para os
vinhedos, a fim de me animar. A viagem da estação de rádio incluía dois
ingressos para um baile com o Terceira Dimensão, que eu amava, então eu
sabia que devia a mim mesma ir ouvir a banda tocar e me divertir.
Tati, você é linda, jovem e solteira. Aproveite.
Mais tarde, eu estava pronta, arrumada e aguardando o táxi que me
levaria a rodoviária.
Estava realmente fazendo isso. Sozinha. Primeiras férias para sempre,
primeira viagem individual. E daí que era para o mesmo estado? Era um
passo enorme para mim.
Eu poderia até me orgulhar se não tivesse entrado em um ataque de
pânico antes mesmo de chegar a rodoviária.
Minha mãe sempre falava dos bandidos e de como o mundo era mau.
Ajuricaba, Ijuí, Esperança... eram cidades em que havia uma certa segurança.
Mas, uma cidade turística? Com pessoas de várias regiões do país?
Entrei no ônibus entregando minha passagem com as mãos trêmulas.
Então era isso. Eu estava a caminho, meu passo acelerado, a excitação
finalmente começando a superar os nervos.
Segurei a alça da minha bagagem de mão e caminhei pelo corredor,
procurando meu banco. Uau, assento muito bonito. Eu nunca havia andado
num ônibus intermunicipal, pois vim para Esperança com um vizinho, de
carona no seu carro.
Aquele ônibus tinha dois andares! Pena que minha passagem era para o
primeiro andar, adoraria ir “lá em cima” dar uma olhada.
Aos poucos, o ônibus foi se enchendo. Ele iria para outras cidades da
Serra, e eu vi muita gente bem vestida zanzando e procurando seus assentos.
De repente um cara grande começou a se aproximar. Eu apertei meu
olhar, certa de que estava começando a ter algum traço de miopia, porque não
era possível...
NÃO ERA POSSÍVEL!
— O que diabos você está fazendo aqui? — exigi, levantando-me e
colocando a mão no meu quadril amplo.
Bruno removeu seus óculos escuros - porque ele os usava em um
ônibus fechado, eu não sabia - e me deu um sorriso fino e proibitivo.
— Acredito que seja um ônibus comercial. Obviamente, eu posso
comprar uma passagem e...
— Ei — um rapaz retumbou em uma voz profunda. — Se vão
conversar, sente do lado dela. Não atrapalhe a fila.
— Não quero me sentar ao lado dela — Bruno rebateu.
— Então anda!
Quando Bruno fez menção de sentar-se no assento ao meu lado, eu
puxei o homem que reclamava no corredor.
— Ei, você já achou seu lugar? Pode sentar-se aqui.
— Desde quando você é tão oferecida? — Bruno questionou.
— Estou nessa viagem para fazer amigos e influenciar pessoas – usei o
título do famoso livro de Dale Carnegie certa de que ele se irritaria com a
referência.
— Há, há, há – ele deu um sorriso falso, uma risada ainda mais fingida,
e fechou a cara. – Do jeito que você é uma peste, não fará uma coisa, nem
outra.
Eu fiz uma careta.
— Isso é rude de se dizer a uma dama. Por que você está aqui, afinal?
— Antes que Bruno pudesse responder, dei ao cara resmungão meu sorriso
mais brilhante e amigável. — Eu devo me desculpar pelo comportamento do
meu amigo. Ele só anda de carro, então não sabe as normas de uma viagem
de ônibus.
O rapaz corou.
— Bom... Eu tenho um assento marcado — ele tentou se levantar.
— Não tem problema, você pode ficar aqui — expliquei, segurando
firme seu braço e dando meu ar “de Cinderela”.
Se beleza funcionava de alguma forma, seria agora que eu me
aproveitaria dela.
Bruno fez um barulho que parecia nojo, ou possivelmente indigestão
do café da manhã.
— Por que está tudo parado aí no meio? — alguém gritou da entrada
do ônibus. — Eu quero ir para o meu assento no final do corredor!
— Olha só, Bruno, você está atrapalhando a passagem.
— Tem espaço atrás de mim. Podem cruzar.
Uma mulher logo cruzou, reclamando alto, quase empurrando Bruno
por cima do rapaz do banco.
— Moça — ele disse, e eu pisquei meus olhos verdes para ele. — Foi
muito gentil da sua parte querer que eu me sente aqui, mas...
Estendi a mão.
— Sou Tatiana, tenho 26 anos e sou de aquário.
— Aquário, sério? — Bruno balançou a cabeça. — Por que você não
diz a ele sua cor favorita e a comida que mais gosta?
— Rosa — apontei, sem me intimidar. — E salada de batatas com
arroz de carreteiro. — sorri, embora interiormente estivesse apavorada por ser
tão honesta.
— Ah, legal — o rapaz arregalou os olhos. — Mas, sabe o que é... Eu
tenho...
— Qual sua comida favorita?
Sim, eu queria irritar Bruno. E eu percebia que todas as minhas ações
estavam conseguindo esse feito.
— Bom, eu gosto de sanduíches em geral.
— Que fofo...
Que porra havia de fofo nisso?
— Por favor, senhor — aproximou-se um dos motoristas. — Precisa se
sentar e colocar o cinto de segurança.
— O rapaz está no meu lugar — Bruno apontou.
O jovem tentou se erguer, mas o forcei para baixo.
— Troque de lugar com ele...
— Eu não vou trocar de lugar — ele resmungou.
— Por favor — o motorista se aproximou mais, e dirigiu-se ao jovem.
— Vá para o seu lugar.
— Eu quero isso! — ele reclamou.
— Mas... — eu comecei, quando uma voz feminina soou atrás da
minha cabeça.
— Evandro, o que você está fazendo aí com essa mulher?
Soltei-o imediatamente, e o tal Evandro quase correu para perto da
outra.
Suspirei.
— Pode se sentar agora, senhor — o motorista apontou o assento vago.
— Meu assento é na janela.
Fuzilei-o com o olhar, antes de me levantar e tentar sair para dar-lhe o
lugar para entrar.
Tive que ter cuidado para não me esbarrar em Bruno, mas enfim ele
conseguiu sentar-se no seu tão amado assento na janela.
Sentei ao seu lado.
— Aleluia! — alguns disseram, ironicamente.
A fila voltou a andar novamente.
— O que você está fazendo aqui? — questionei, séria.
Ele alisou a gravata como se não se importasse com o mundo. E, pela
cena ridícula que fez no ônibus, realmente não se importava.
— Como eu disse antes, este é um ônibus comercial. Não preciso
explicar minha presença aqui para você ou para qualquer outra pessoa.
— Certo. Você está aqui porque acha que preciso de um
acompanhante, não é?
Sério, as palavras soaram ridículas na minha boca. Por que ele iria dar
a mínima se eu viajasse para Bento sozinha?
Suspirei, nervosa. As coisas começavam a sair do meu cronograma
perfeito. Eu esperava andar de trem, conhecer as vinícolas, talvez fazer
compras, aproveitar o clima e dormir em uma cama diferente por algumas
noites. Se eu conhecesse um cara legal para jantar, isso seria uma vantagem.
Mas sinceramente duvidava que fosse capaz de abrir minhas pernas para um
estranho, não importava o quanto eu desejasse me sentir amada.
Cruzei os braços.
Bruno não tinha motivos para estar ali, mas estava. Não sei por que,
mas supus que ele não me considerava perfeitamente capaz de me proteger.
Sou uma mulher adulta. Não preciso de ninguém cuidando de mim.
Inclinei minha cabeça.
— Qual é a sua desculpa para estar aqui?
— É uma viagem a negócios.
— No final de semana? E em Bento Gonçalves?
— Na verdade, eu tenho alguns clientes na cidade. E eu pensei em ir no
final de semana para aproveitar um pouco a cidade, que aliás é muito bela.
— Sério?
Se eu pudesse chutá-lo do ônibus eu o faria. Mas, além de não poder,
Bruno provavelmente pegaria o carro e seguiria a viagem de qualquer
maneira. Ele sabia qual hotel eu estaria, porque isso estava escrito na página
da rádio no Facebook.
Observei-o. Seu sorriso era tão confiável que me despertou raiva.
— Sabe, Tati... Viajei sozinho muitas vezes, e é um tédio. Eu pensei
que você gostaria de ter alguém com quem possa conversar e curtir os locais.
— Eu sabia que você estava aqui para espionar.
— Espionar o quê? — Sua sobrancelha negra se ergueu e algo tremeu
dentro de mim. — Sua tentativa de encontrar um homem para atividades
imorais?
Comecei a respirar rapidamente, para tentar controlar minha raiva.
— Agora eu entendo por que você não tem outros amigos além de
Benjamin e Helena. Você é um saco!
Assim que o comentário sarcástico foi dito, me arrependi dele. Bruno
trazia a tona uma Tatiana cruel.
— Eu sinto muito. — Engoli em seco. — Eu não queria dizer algo
assim...
Ele estava estranhamente silencioso, desviando o olhar sombrio e
insondável para a janela.
— Certo. — disse ele depois de um momento, e meu peito apertou com
arrependimento e vergonha.
Desde quando eu era tão insensível? Aquela não era eu. Claro, eu
gostava de brigar com Bruno, e nosso relacionamento era diferente de
qualquer outro que eu já tive antes. Geralmente, as pessoas gostavam de mim,
e eu sentia o mesmo. Mas desde o primeiro dia com Bruno, éramos como
água e óleo, gelo e fogo, completamente antagônicos.
Isso não me dava motivos para ser má. Especialmente se ele realmente
se importava o suficiente comigo para se dar ao trabalho de viajar para os
Vinhedos apenas para ter certeza de que eu estava segura. Ele não era um
homem que fazia muito por quem não era um de seus entes queridos, então
sua atitude denotava que ele me queria bem.
— Você quer ser meu amigo? — indaguei, enrubescendo.
Quando ele não respondeu, tentei não me mexer. Então Bruno virou a
cabeça e me pegou em um olhar tão intenso que poderia queimar. Eu não
conseguia respirar, não conseguia pensar... O que diabos era aquilo?
De súbito, Bruno simplesmente assentiu.
Quando ele se afastou novamente, soltei uma respiração longa e
trêmula.
Minhas mãos suavam frio, meu coração parecia que ia ser arrebatado
do meu peito. Devia ter alguma explicação para essas reações. Devo estar
ovulando ou algo assim.
O ônibus começou a andar, e logo estava na rodovia. Nosso silêncio
parecia pesado, como se muitas palavras houvessem entre nós, mas que não
pudessem serem ditas.
Puxando meu telefone, tirei uma foto sentada dentro do ônibus, e postei
no meu Instagram. Era isso, eu estava saindo de Esperança.
Pensei na minha história favorita: O Senhor dos Anéis, e Bilbo
Bolseiro surge na minha mente: “É um negócio perigoso, Frodo, sair da sua
porta. Você pisa na estrada, e, se não controlar seus pés, não há como saber
até onde você pode ser levado”.
E então veio novamente o ataque de pânico. Frodo sofreu muito em sua
aventura, sua viagem. E se o destino estivesse me dando mais um sinal
trazendo essa frase em minha mente?
— Ei... — Bruno me chamou. — Você está bem? De repente ficou
pálida.
Eu nem pensei. Me encostei nele, num abraço desengonçado de duas
pessoas sentadas lado a lado.
— Tatiana?
— Só nervosa... — afundei meu rosto no seu casaco, respirando fundo.
— Ok. — Ele ficou em silêncio alguns segundos. — Tati, você está me
cheirando? — ele perguntou contra o meu ouvido.
Seu hálito quente bagunçou meu cabelo e um arrepio se moveu através
de mim, algo que não tinha nada a ver com o frio que fazia naquele dia. O
que estava errado comigo? Eu nunca reagi dessa maneira com ele quando
estávamos em Esperança.
— Você cheira a madeira.
— Madeira?
Eu fiz uma careta e finalmente me afastei, embora eu o mantivesse
firme apenas no caso de o pânico voltar.
— Não é uma crítica. Eu gostei da sua colônia.
Sua sobrancelha fez uma curva.
— Tipo, eu gostei assim... Você sabe... É um fato comprovado que um
cheiro específico desperta a maioria das mulheres.
— Ah, é? Foi por isso que você me agarrou?
Eu pulei para trás tão rápido que meu cotovelo bateu no encosto do
banco.
Caramba, isso devia ser coisa de virgem. Sabe, que mulher experiente
fica se encantando com o perfume de um cara? Eu realmente precisava
transar.
— Estou brincando, Tati — ele passou o braço em volta de mim e me
puxou para mais perto, colocando minha cabeça sob o queixo. Meu cinto de
segurança impedia o movimento, mas fizemos com que funcionasse de
alguma forma.
— Melhor? — A palavra retumbou direto no meu coração.
Era um homem que eu não conhecia, esse Bruno... A forma como ele
estava sendo gentil era completamente nova.
Aquela maldita colônia de novo me tomou. Por que ele estava
provocando meus hormônios?
Seu peito era tão sólido, como era seu aperto em volta dos meus
ombros. Eu queria apenas me deixar ficar um pouco...
Sem questões. Sem insinuações. Apenas fortaleza.
Não porque era Bruno. Claro que não. Era porque eu estava nervosa, e
em pânico. E ele era alguém conhecido. Alguém de Esperança. Esperança era
meu lugar seguro.
Bruno estava um pouco quente. Só um pouco. Verdade seja dita, seu
irmão era mais bonito. Mas, Bruno era o mais sensual dos dois, por causa de
seus olhos tenros e seu ar geral de predador.
Mas, claro, eu preferia Benjamin. Ele era mais amigável. Mais
acessível. Ele não era chato e arrogante como Bruno...
Agora, porém, eu não estava tendo problemas com nenhuma parte de
Bruno. Ele era inteiro gentileza e amizade.
— Você está tremendo. Onde está seu casaco? — Bruno puxou a
manga do meu suéter fino. — Isso não vai te manter quente.
Levei um momento para reunir minha mente o suficiente para falar. Se
eu tivesse mais alguns minutos, provavelmente teria ronronado.
— Na mala. — murmurei, lutando contra o desejo de pressionar meu
nariz em seu pescoço.
Ele estava tão agradável. Tão quente.
— Por que não trouxe com você? Não vê como o tempo está nublado?
— Frente fria na primavera... — murmurei. — Eu realmente não
esperava por essa. Pensei que tudo o que eu precisava era de alguns vestidos
bonitos, e talvez um maiô. No hotel tem piscina...
— Não é termal. Você vai congelar. Se quisesse ir nadar, devia ter ido
para Iraí. Aquelas águas são quentes como o inferno.
Bruno estava brigando comigo? Eu recuei, batendo o topo da minha
cabeça contra a seu queixo. Nós dois gememos, e o som vindo dele era muito
mais sexy do que deveria ter sido.
Isso foi o que aconteceu. Finalmente estava cedendo e caindo em
algum tipo de armadilha. Obviamente, algo havia tomado conta da minha
libido e toda racionalidade voara pela janela.
Esfreguei minha cabeça, olhando para a gravata dele, para não precisar
encontrar seus olhos escuros como a noite.
— Desculpa. — minha mente focou-se na mala que estava no
bagageiro. — Eu não consigo lembrar se coloquei meu maiô na mala.
— Acabei de dizer que não vai precisar.
— E se esquentar? E se tiver piscina térmica?
Eu iria fazer mais perguntas, mas subitamente o polegar de Bruno
tocou meus lábios.
— Então eu compro um biquíni para você — disse Bruno, soltando o
dedo da minha boca como se a discussão tivesse terminado.
— Eu posso comprar meu próprio biquíni.
— Que bom. Então o assunto está resolvido.
Me recostei no meu assento e mordi meu lábio.
— Ah, preciso te dizer que tomei a liberdade de atualizar sua suíte de
hotel. Estaremos em dois quartos conjugados. Não se preocupe, terá uma
porta de conexão entre nós, e você poderá trancá-la a hora que quiser.
Levei um segundo para entender a situação.
— Como é?
— As acomodações da rádio eram péssimas.
Sua declaração ousada me fez estremecer.
Fiz uma careta.
— Eu não acredito que você...
A expressão aguçada dele me calou. De muitas maneiras, me deixou
fervendo. Eu não sabia se era de raiva ou de outra coisa.
— Você realmente tem alguma objeção a uma suíte de hotel melhor?
Você não viaja muito. Por que não aproveitar?
— Essa é minha chance de ser independente, de viver por minha conta
e risco. — Eu tinha mais reclamações, mas minha boca não conseguia
acompanhar meu cérebro.
— Seja tão livre quanto você desejar. Eu também vou ser.
— O que quer dizer com isso? Você não está pensando que vai sair
pegando mulheres e me obrigar a ficar te ouvindo do outro lado da porta,
está?
— Você só pensa em sexo?
Fervi.
— Bruno, vai tomar no seu cu.
— Não lembro da Cinderela falar palavrões nos contos de fadas.
Minhas emoções estavam balançando para frente e para trás com mais
força do que o ônibus naquelas rodovias regionais esburacadas.
O ar voltou a faltar. Outra onda de ansiedade começou a me tomar.
Como se ele soubesse que eu estava à beira de um ataque de nervos
novamente, simplesmente me atraiu e acariciou meu cabelo novamente.
Golpes longos, suaves, que me fizeram fechar os olhos, apesar de odiar
aquele gesto.
— Você é minha amiga, lembra? E eu sou seu. Esse é o espírito.
Eu resmunguei e me agarrei naquelas palavras, porque elas tinham o
poder de me acalmar.
Nem sei por que a ideia de ele transando com outras mulheres me
incomodava tanto. Bruno era solteiro. Sua vida amorosa não era da minha
conta. Especialmente porque eu também pretendia ter uma vida amorosa em
breve. Eu estava no mercado, ansiosa para conhecer o cara certo e ter bebês.
Exalei, meus ombros relaxando. Graças a Deus. Ansiedade controlada.
— Você tem esses ataques com frequência? Já consultou um médico?
— Eu só tenho isso quando saio da minha zona de conforto — assumi.
Os lábios dele se curvaram.
— Você se acalma comigo. — Apontou, certeiro. — Eu sou sua zona
de conforto?
Emudeci. Não sabia o que responder. Não pude negar. Não quando sua
voz ficou rouca e seus olhos estavam chamando os meus, me forçando a
olhar para eles.
Com sua certa vitória à vista, ele me puxou de volta contra seu peito.
Eu fui, porque não havia outro lugar que eu queria estar naquele momento.
Mesmo ele sendo um idiota mandão que já estava tentando controlar as
coisas.
Mesmo que pudéssemos brigar o tempo todo.
Mesmo assim, eu estava estranhamente aliviada por ele estar ali, ao
meu lado.
BRUNO

Cuidar de Tatiana devia ser um fardo. Então por que diabos tê-la nos
meus braços havia se mostrado uma das coisas mais prazerosas que eu já
havia desfrutado?
Eu não era acostumado a distribuir afagos ou compreensão. Na
verdade, minha relação com as mulheres sempre foi estritamente sexual. Não
era minha culpa, afinal. Eu não tinha sido criado de outra forma, e nunca
havia desenvolvido nenhuma afinidade em particular pela proximidade física
que não envolvesse meu pau.
Ok, isso é feio de se dizer, mas é verdade.
Tatiana se envolveu em mim como se eu fosse seu abrigo em uma
tempestade. Ela sempre me detestou, mas se aconchegou como se estivesse
faminta por esse tipo de conforto.
E eu não era acostumado a isso... Não era acostumado a simplesmente
“estar ali”, sem conotações sexuais.
Deus... Ela era tão macia. E estava rendida. Pelo menos neste momento
e neste espaço, senão em nenhum outro, ela confiava cegamente em mim.
Seus longos cabelos loiros estavam em um rabo de cavalo bagunçado, as
ondas claras tentando escapar da presilha, e eu estava me controlando para
não enterrar meu rosto nos fios grossos e perfumados.
Ela brilhava como a luz do sol. E cheirava como o orvalho da manhã.
Intoxicante. Um convite quase impossível de recusar.
Fechei meus olhos, tentando afastar a imagem física daquela mulher.
Ela era curvilínea como o inferno, e vamos apenas dizer que meu pau não
tinha nenhum problema em ser acolhido pelas partes dela que eu cobiçava no
outro dia. Seus seios impossivelmente cheios dobrados contra o meu peito
iriam me fazer bater punheta pelos próximos meses... talvez anos.
Ela finalmente voltou ao seu assento. Eu fingi estar tão absorto na
visão da janela que não a ouvi trocando algumas palavras com um senhor do
banco ao lado.
Meu Deus, que mulher que consegue ser dada com todos! Ela não sabia
viver discretamente?
Por que diabos isso me incomoda? Eu sabia a resposta: porque ela me
interessava. Ela era muito doce, inexperiente e ingênua. Mas, eu não podia
me atrever a ser um babaca com aquela mulher. Ela era a melhor amiga de
Helena.
Inferno, todo o meu papel nessa viagem era garantir que ela passasse
um tempo divertido e seguro.
Algumas horas depois, entramos em uma curva na RS-444 e de repente
o ônibus entrou em uma garagem num prédio largo.
Era uma rodoviária pequena, como todas as rodoviárias do interior.
Coletamos a mala rosa de Tati e arranjamos um táxi para o hotel. Uma vez
que estávamos no banco de trás, ela pegou o telefone e começou a mandar
mensagens, me ignorando completamente.
Tudo certo.
Meu celular vibrou. Eu o ergui, percebendo que Tatiana também o
olhava.
“Chegaram? Foi uma boa viagem?”, era Helena.
“Tudo certo. E você? O moleque já resolveu sair?”.
Tati suspirou.
— Como você pode ser tão grosso com seu próprio sobrinho? Não
demonstra nenhum interesse.
— O quê? Acabei de escrever uma pergunta que comprova minha
preocupação.
— Aham. — Ela voltou para o próprio celular, mas logo se remexeu,
num salto. — Olhe, Helena encontrou roupas do Grêmio para bebês... — ela
basicamente esfregou o celular na minha cara.
Uma minúscula roupa tricolor estava espalhada na cama de Helena e
Benjamin. Isso era fofo. Mas não o suficiente para me fazer surtar como
acontecia com Tatiana.
— Adorável.
Tatiana puxou o telefone de volta.
— Entendeu o que eu quis dizer? Desinteressado.
Ignorei-a.
— Você está se intrometendo na minha viagem, pode pelo menos
demonstrar algum espírito alegre de quem está passeando?
— Você não quer nem que eu faça sexo no quarto ao lado, e ainda me
quer alegre?
Eu não sabia por que tinha dito isso. Eu não queria fazer sexo. A
menos que ela estivesse disposta.
Que merda de pensamento foi esse?
Tati estreitou os olhos.
— Você disse que estava aqui para mim como amigo. A menos que
tenha sido o discurso do Dr. Gatti, o advogado, e você esteja aqui para ter
certeza de que não vou me divertir, enquanto você tem todo tipo de encontro
romântico.
Pousei meu celular no colo, mais divertido do que irritado pelas
palavras.
Aquela mulher passou metade da viagem de ônibus quase no meu colo
e agora queria me dar lição?
Seu rosto pareceu se enrugar por um momento, o brilho de seus olhos
desaparecendo antes que ela abaixasse a cabeça e voltasse a atenção para a
tela. Efetivamente bloqueando-me.
Tah, eu merecia. Estava sendo...
Idiota.
Eu não estava pensando em encontrar mulheres para fazer sexo, então
por que não deixava isso claro para ela?
Na verdade, não fosse o pedido de Helena eu nem estaria aqui, já que
não me importava com o bem-estar de Tatiana. Ela ficaria bem sozinha. Eu
tinha certeza disso.
Quanto a ela ficar com alguém? Não é da minha conta. Afinal ela não
era nenhuma virgem...
Não é?
Discretamente, olhei na sua direção.
Claro que não era. Quem, em nome de Deus, ainda era virgem aos
vinte e seis anos, nos dias de hoje?
Além disso, ela teve muitos namorados. Claro que não duravam tempo
algum para ter alguma significância, mas...
Jesus, será que ela era virgem? Eu nunca tinha estado com uma virgem.
Mesmo quando eu mesmo o era, minha primeira namorada já tinha
experiência. O que foi ótimo, porque francamente, não fosse ela me guiar,
tenho certeza de que minha primeira vez não teria sido satisfatória.
Por isso, é bom que se Tatiana fosse virgem, que ela tivesse sua
primeira vez com alguém experiente.
Olha só como eu sou... generoso.
Eu podia ser esse cara.
Não!
Merda, Bruno, pare de pensar besteiras!
O motorista finalmente parou na entrada circular em frente ao hotel e
desembarcamos. O check-in foi rápido, embora Tati não parasse de falar um
segundo e tivesse feito amizade com dois turistas idosos que estavam de
saída do hotel. Meu Deus, aquela mulher tinha uma matraca ao invés de uma
boca.
Fomos conduzidos a um elevador e a nossas suítes conectadas, e fiquei
feliz por ter gastado esse dinheiro. O sorriso radiante de Tatiana valeu a pena
quando ela comentou sobre todas as comodidades.
Infelizmente, não pude apreciar o brilho do seu sorriso por muito
tempo, pois logo precisei ir para minha própria suíte. Tão logo o carregador
das malas saiu, ela apontou a porta, e a bateu após eu cruzá-la.
— Tome um banho, eu vou levá-la para jantar — avisei do outro lado
da porta, e ouvi um resmungo que entendi como uma aquiescência.
De repente a visão daquela Barbie tirando a roupa se forçou na minha
mente. Estava tão perto... Uma porta e alguns passos e eu podia tocar naquela
pele... desfazer-me em seu calor...
Talvez cancelar meu encontro com Raquel na noite passada tenha sido
um erro. Evidentemente, eu precisava de algum alívio sexual porque não era
comum minha cabeça de baixo dominar a de cima.
Tati, no entanto, era fruto proibido. A melhor amiga da minha cunhada.
E tinha mais: nossas personalidades eram muito diferentes.
Eu sabia que sentimentos deviam ser carregados de semelhanças, como
Benjamin e Helena. Eles eram almas gêmeas, cópia um do outro. Mas, meu
Deus do céu, eu me mataria se aquela ali do outro lado fosse a minha. Fala
sério, a mulher não para de falar um segundo, e pior, com desconhecidos, é
muito atirada, muito sorridente, muito disposta. Ela me cansava.
Fui encarregado de mantê-la segura, e era só isso. Sobre o cara lá
embaixo me atiçando para sexo, eu precisava me lembrar de que Tati era
como uma irmã para Helena, e como minha relação com minha cunhada
poderia azedar se eu me atrevesse a...
Ah... Inferno, eu tinha todas as justificativas, e ainda assim meu pau
parecia uma rocha.
Fui para o banheiro. Havia uma banheira lá e a enchi de água quente.
Entrei na água e soltei um suspiro quando o calor penetrou em meus
músculos doloridos.
Você já passou frio? O frio da Serra era como o diabo. Os músculos
doíam e só água quente era capaz de aliviar.
Porra, era tão bom. Tati também adoraria tomar um banho assim.
Lá vem a imagem... aquela mulher... nua... seios grandes mergulhados
na água perfumada...
Barulho na porta. Seus passos no meu quarto. Logo, ela estava na porta
do meu banheiro, que estava aberta.
— Você tem uma banheira! — ela gritou, e eu precisei de todo auto
controle do mundo para não mandá-la sair dali.
Eu estava frustrado sexualmente. Minha mão estava quase no meu pau
quando ela entrou.
Que mulher chata, meu Deus do céu!
— Você está pelado aí?
— Por quê?
— Coloca uma sunga — ela disse, indo até minha mala em cima da
cama, abrindo-a sem hesitar e pegando uma cueca.
Eu fiquei sem palavras.
— Você quer tomar banho comigo?
— Eu quero é entrar nessa água quente, idiota — ela avisou. — Vou
botar outra roupa pra entrar, então vista isso até eu voltar.
Não sei por que, mas obedeci.
Eu devia estar louco. Mas, subitamente, me dei conta de que ela
realmente me considerava de confiança ao ponto de entrar comigo numa
banheira.
Uma amiga... era minha primeira, depois de Helena...
Tatiana surgiu cerca de cinco minutos depois, hesitante, vestindo um
shorts curto, apertado, e um top. Eu fiquei sem palavras diante da cena.
Ela era... perfeita.
E o que eram aqueles peitos? Apenas seus passos cautelosos estavam
fazendo seus seios saltarem de maneiras que fariam qualquer homem perder a
cabeça.
— Não — eu falei quando ela se moveu para se cobrir com o braço.
— Não se esconda.
Sua garganta tremeu, mas ela deixou o braço cair. Depois, deu um
passo para trás, já pegando a maçaneta da porta do banheiro.
— Quer saber... Não acho que foi uma boa ideia. Você pode usá-lo
agora. Quando terminar, eu usarei a banheira, ok?
— Não precisa fugir. Somos apenas dois amigos em uma banheira de
hidromassagem.
Ela limpou a garganta, e depois sorriu.
— Eu gosto de pensar em você assim. Sabe, eu sou uma pessoa que
precisa de amigos. Estou longe dos meus pais, e Helena está focada no
marido. Tipo, eu acho isso maravilhoso, mas sinto falta de um amigo
próximo, com tempo para mim.
— Ok, então, eu estou aqui — disse, estendendo os braços num convite
óbvio para um abraço.
— O problema é que você está atraído por mim.
Eu fiquei pasmo.
— Perdão?
Ela mordeu o lábio.
— Você estava duro na semana passada. Lá na cafeteria.
Meu Deus, que mulher sincera!
— E eu meio que imaginei — prosseguiu — que era porque você me
viu trocando de roupa e tal. Mas agora você está me olhando de novo,
daquele jeito... E sabe... Eu penso que...
— Que serei tomado por uma onda de luxúria incontrolável? Que a
tomarei a força? — Meu tom estava seco. — Deixe-me garantir que estou no
controle total de meus impulsos. Aproxime-se e me dê um abraço. Um abraço
de amigos. Eu te dou minha palavra que será apenas isso. Uma prova das
minhas boas intenções.
Ela deu um passo à frente e parou.
— Caramba, isso foi tão esquisito... Tipo, se fosse qualquer um dos
meus amigos aqui, eu não hesitaria, mas com você... mesmo sabendo que
você não é um molestador... não sei por que é difícil cruzar o sinal. Acho que
nossa amizade ainda levará um tempo até termos mais confiança.
Eu assenti. Era compreensível.
— Vamos fazer um trato? A gente coloca essa viagem como um
divisor de águas na nossa amizade. O que acontece aqui, para o bem ou para
o mal, fica aqui. Quando voltarmos a Esperança, tentaremos restabelecer
nossa amizade, mas agora vamos focar que somos apenas duas pessoas
conhecidas que estão dividindo um quarto e serão adultas o suficiente para
não entrar em discussão e conflito e estragar o momento um do outro.
— Feito. — Ela atravessou o resto do caminho até a banheira de
hidromassagem enorme e entrou, parando para deixar escapar um suspiro.
— Nossa, está tão quente... tão bom.
— Não é? Nada como água quente em ossos gelados.
Ela engoliu em seco, olhando-me de cima a baixo.
— Você colocou a cueca, né?
Eu ri.
— Sim, Tatiana. Não se preocupe.
Ela respirou fundo e deslizou na água, submergindo até o pescoço em
um deslize surpreendentemente gracioso.
— Isso é tão bom. — repetiu, e fechou os olhos, agarrando as laterais
da banheira.
Suas pernas esbararam nas minhas por um segundo. Fiquei sem ar.
— Eu adoro espuma.
— Deveríamos ter pedido champanhe antes de entrarmos aqui.
— Por quê? O que estamos comemorando?
— Muitas coisas. Você fez sua primeira viagem hoje. Você está de
férias numa das regiões mais bonitas do mundo. Primeira estadia em um
hotel. Você provavelmente nunca tomou champanhe também.
— Tomei cidra. — Ela levantou a voz. — É quase a mesma coisa, não
é? Além disso, eu não sou muito de beber...
— Mas está de férias, não? — a lembrei, inclinando meu corpo para
apertar o botão da hidro para deixar a água com mais espuma.
No caminho, minha mão tocou na dela.
Seus olhos se abriram cautelosamente, mas nenhum medo residia neles.
Ela pode ter ficado inicialmente desconfortável comigo, mas sua ansiedade já
estava desaparecendo.
— É o momento de fazer as coisas fora da sua zona de conforto —
disse.
— Eu nem lembro a última vez que bebi mais de um copo... E mesmo
assim, não fiquei bêbada. Nunca me permiti ficar tipo... sem domínio
próprio...
— Nem nas festas da faculdade? Como isso é possível?
— Eu vim estudar em Esperança, não beber — ela brincou.
— Entendo. Também não ia as festas na faculdade.
— Ocupado, transando? — ela desferiu.
— Não sou esse garanhão que você pensa. Na verdade, eu tive bem
poucas namoradas naquele tempo. Eu estudei muito, me formei com louvor
numa faculdade pública.
— Pública?
— Sim, na USP.
— Por que tão longe?
— Eu queria uma das melhores em direito, e é ela.
Por que eu compartilhei isso com ela? Não foi relevante. No entanto,
ela se inclinou para frente, seus seios pesados balançando levemente para
fora da água. O top estava quase transparente. Mamilos grandes e tensos
fizeram minha garganta secar, e por mais que eu tentasse manter meu olhar
acima do pescoço, eu simplesmente não conseguia.
— Lá vem “o olhar” de novo.
— Como?
— O olhar, bem aí. Aquele em que você fica todo assanhado.
Seus dentes roçaram seu lábio inferior e meu pau estremeceu. Foi um
milagre não aparecer na minha maldita cintura.
— Você realmente está atraído por mim — ela decretou depois de um
momento, quase para si mesma.
Então desviou o olhar de mim, escondendo um brilho especial. Meu
corpo inteiro estava em chamas.
— Olhe para mim — pedi.
Ela balançou a cabeça.
— É sempre assim. Você só vê a casca. Todos só veem a casca. O que
eu sou pouco importa.
— E o que você é?
— O que você enxerga quando me olha? — rebateu.
— Você é linda — confessei. — É difícil não perceber. Mas, eu
também vejo que é espontânea e está sempre em busca de amizades. Você
fala com todo mundo, o que, ao meu entender, parece carência.
— Uma loira carente?
— Mais que isso. Você é uma pessoa boa, também. Você foi a primeira
pessoa que me convidou para ser amigo.
Ela me encarou. Ali... havia algo ali... naquele olhar.
Cuidadosamente, avancei na banheira, diminuindo a velocidade, mas
não parando quando ela olhou para mim, as pupilas largas. Minhas pernas
deslizaram contra as dela quando me aproximei o máximo que pude, sem
invadir completamente seu espaço pessoal.
Tatiana fechou os olhos por um instante, e eu tive um medo mortal de
que ela estivesse chorando. Mas quando ela os abriu novamente, seus olhos
estavam limpos e secos.
— Você está atraído por mim...
— Não nego. Você é uma mulher linda, confiante e doce, e
provavelmente boa demais para qualquer idiota que já tentou tocá-la. —
Segurei as laterais da banheira de hidromassagem para não a tocar.
Era um sinal. Ela tinha a chance e o espaço para sair se quisesse. Mas,
para minha surpresa, Tatiana deslizou para a frente na banheira, deslizando as
pernas sobre as minhas até que nossos peitos e nossos centros estivessem
muito perto. Vagamente, ela colocou os braços em volta do meu pescoço,
testando minha determinação de manter meus olhos diretamente nos dela
— Você queria um abraço — ela murmurou.
Peguei isso como convite e passei meus braços em volta dela,
puxando-a. Recuei com ela nos braços, até que estivesse praticamente no meu
colo. Mas não a beijei, nem a forcei contra meu pau duro. Eu apenas a atraí e
inalei o perfume fresco de seus cabelos. Então ela se enroscou em mim com
tanta confiança, como se nunca brigássemos, e eu era um homem em quem
ela podia se apoiar, um verdadeiro amigo.
Ela suspirou, tão suavemente que quase senti falta de algo que nunca
vivi.
Cumplicidade...
Sua testa descansou contra a minha e nós apenas respiramos juntos no
ar fumegante e perfumado.
— Você dormiu com Raquel ontem à noite?
A pergunta me desconcertou, especialmente porque eu não a esperava.
— Você sabia sobre o nosso encontro?
— Até parece que existe privacidade ou segredos em Esperança.
Eu ri.
— Não, não dormi com ela. Cancelamos nosso encontro.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que cancelou?
— Porque teria que estar cedo no ônibus...
— Você cancelou por minha causa?
Era verdade. Não neguei.
— Por que nunca me convidou para sair?
— Você nunca demonstrou o mínimo interesse.
Ela fungou.
— Bom, nós brigamos o tempo todo...
— Não faz ideia de como uma briga pode ser uma preliminar
fantástica...
Ela inclinou a cabeça novamente.
— Isso é um convite?
— Você quer um convite?
— Não sei dizer. Mas, estou gostando dessa liberdade. Eu quero ser
honesta sobre meus desejos e minhas vontades a partir de agora. — Ela
respirou fundo, parecendo tomar coragem. — E aqui vai meu primeiro
desejo: quero vê-lo gozar.
TATIANA
Eu não disse isso. Não disse. Não!
Eu disse.
Tinha que ter alguma explicação para minha atitude. Talvez fosse o ar
de Bento Gonçalves ou alguém havia colocado algum tipo de droga na água.
Melhor ainda. Talvez fosse um pesadelo. Isso, um pesadelo.
Acorda, Tatiana! Acorda!
Mas não era um pesadelo. O rosto em choque dele deixava isso claro.
Por que mais eu pediria a Bruno que se masturbasse na minha frente
era um mistério
— O que acontecer aqui, fica aqui — eu o lembrei.
Por que diabos eu não calava a boca?
— Cinderela, eu acho que estou tendo alucinações...
De repente, me enfezei. Por que um cara lindo daqueles, com uma
ereção - para mim – estava tão surpreso pelo meu pedido?
Pelamor de Deus, Tatiana, olha o que você pediu, mulher!
— Tipo, eu estou determinada a viver coisas novas. E eu nunca... você
sabe...
— O quê? — ele perguntou, com tanto cuidado que uma parte de mim
realmente se comoveu.
Como ele poderia ser tão gentil e esconder essa característica
maravilhosa por tanto tempo?
Ou ele sempre foi assim, e eu era cega demais para notar?
Ou ele apenas estava sendo gentil porque esperava por sexo...
Então por que ele parecia tão assombrado pela minha proposta?
Hoje era a primeira chance que eu tinha de ser uma Tatiana diferente
da garçonete de uma cidade do interior, que estudava enfermagem sem gostar
do curso.
Céus, olha para mim: O mesmo corte de cabelo desde a adolescência,
trabalhando numa cafeteria servindo mesas, estudando em algo que meus pais
queriam, não que eu tivesse vocação, vivendo um dia após o outro na
esperança de encontrar um cara, me casar e ter filhos. Contudo, era isso
mesmo que eu queria?
Quero dizer... eu era romântica. Muito romântica. Mas, estamos em
2020, as coisas mudaram, não eram como os livros da Diana Palmer que eu
lia, e talvez eu nunca tivesse a chance de viver meu conto de fadas.
A Cinderela que nunca acharia seu sapato...
Assim, por que não ser uma versão mais ousada de mim mesma, o tipo
de mulher que pede o que quer e acredita em si?
Uma mulher que merece viver tudo...
— Bruno, se você continuar em silêncio, vou achar que teve um
derrame.
Estranhamente, ele não parecia satisfeito.
— Tatiana, estou fazendo das tripas o coração para não derreter de
tesão, agora. — murmurou.
Sorri.
— Por que está se segurando? —Virei minha cabeça e lambi seu lóbulo
da orelha.
Cacete... eu lambi Bruno! Eu realmente estava ficando louca.
— Você acabou de me lamber? — Ele parecia estrangulado.
Cuidadosamente, ele colocou as mãos em volta da minha cintura, me
levantou como se eu fosse feita de ar e me colocou a uma distância segura.
Não muito longe, já que a banheira de hidromassagem não era tão grande.
Ele levantou a mão.
— Vamos apenas deixar as coisas claras, está bem?
— Tá. Sobre o quê?
— Se o seu pedido for sério, eu não vou resistir, já vou avisando, sem
arrependimentos.
A maneira como ele falou foi tão excitante. Verdade seja dita, eu fiquei
ainda mais quente quando ele falou assim, meio ríspido. Eu também gostei do
lado mais suave dele. O que disse coisas boas e me segurou com gentileza.
Tirei uma mecha solta do meu cabelo do rosto e lutei contra o desejo
de arrumar meu rabo de cavalo desgrenhado. Eu tinha medo de fazer
qualquer coisa que pudesse fazê-lo mudar de ideia.
— Mas o trato é você fazer, e eu assistir. Só isso.
Ele riu sombriamente. Seus olhos quase negros brilharam e me fizeram
tremer profundamente.
— Você entende que isso é prazer mútuo? Eu também vou assistir você
me observando.
— E isso é excitante?
— Te garanto que é. — Sua garganta se moveu quando ele engoliu. —
Supondo que eu aceite, posso pedir que você tire sua blusa para me excitar
mais? Ou melhor ainda, você podia se tocar, também...
Eu estava corando. E igualmente tão animada que não conseguia
pensar direito.
Isso realmente estava acontecendo comigo? Esse homem irritante e
tentador como o inferno realmente precisava de mim para ficar – mais -
excitado? Ele estava disposto a seguir meu pedido bizarro, em vez de apenas
beijar e fazer sexo como as pessoas normais faziam todos os dias.
Especialmente pessoas de férias, dividindo o mesmo quarto.
Sexo sem compromisso...
Uma coisa tão comum e igualmente assustadora.
Talvez porque Bruno fosse cunhado de Helena, e teríamos que nos ver
em todos os lugares depois que voltássemos. Nos jantares da casa de
Benjamin, na lanchonete, andando pela rua...
— Tatiana?
— Desculpa. Estou apenas pensando demais. — Inspirei
profundamente e peguei meu top, puxando-a sobre a cabeça antes de me
arrepiar completamente.
Ele só queria olhar. E eu tinha um belo par de airbags.
Joguei a blusa no chão e recostei-me, esticando meus braços ao longo
dos lados da banheira, segurando o material para não fugir. Esse tipo de
atenção focada era novo para mim.
Esmagadora. Viciante. Quente como o fogo.
— Você é magnífica — ele murmurou.
Outra respiração forte. Eu podia sentir minha confiança inchando como
um balão a cada momento que ele permanecia fixo nos meus seios. Ele nem
estava tentando esconder seu desejo. Eu estava corada por todo lado, e um
rápido olhar para baixo provou que o rosado não estava apenas nas minhas
bochechas. Entre o calor da banheira e meu constrangimento e excitação,
minha pele normalmente pálida estava vermelha. E meus mamilos eram
como cerejas, mergulhando acima e abaixo da água toda vez que eu me
mexia.
E eu estava me mexendo muito. A cada respiração.
— Sua vez.
Ao contrário de mim, ele não hesitou. Ele se ajoelhou, agarrou a
cintura de sua cueca e colocou o elástico sobre o seu...
Minha boca abriu num O.
Uau. Eu só peguei um breve vislumbre antes que ele entrasse na água
novamente para ajudar a tirar a cueca totalmente.
Ele a jogou para o lado. Estudei a pilha de nossas roupas, apenas
voltando para ele quando a onda de água chamou minha atenção de volta à
minha situação atual. Lamentava agora minhas limitadas experiências com
pornografia. Talvez então eu ficaria mais confortável vendo como ele...
Ele estava segurando seu pau. Seu pênis grande e totalmente ereto.
Muitas partes de mim começaram a pulsar. Eu não estava preparada
para isso.
— Você é tão grande — eu respirei.
Ele deslizou a mão por toda a extensão do seu mastro, depois lambeu
os lábios.
— Você quer tocar?
Alguns minutos atrás, provavelmente teria dito não. Mas agora, eu
avancei, aquela nova Tatiana me dominando.
— Você pode fazer o que você quiser. — Sua voz era baixa,
impossível resistir.
Meu olhar piscou para encontrar o dele enquanto eu passava as pontas
dos dedos sobre a cabeça úmida e inchada.
Ele assobiou como se eu o tivesse queimado.
— Mais — pediu.
Fiz isso de novo, fascinada por como seus músculos se esticaram e as
veias incharam e se deslocavam sob sua pele tensa. Era muito mais
interessante vê-lo tão perto, especialmente onde eu podia tocar.
Deslizei meus dedos mais para baixo em seu eixo. Vagamente, seus
dedos cercaram a base, segurando sua ereção para mim. Molhei meus lábios
enquanto envolvia meus dedos em torno de sua largura. Tentei de outra
maneira, mudei minha mão, movendo-a timidamente para cima e para baixo.
Eu podia senti-lo me observando, em vez de observar o movimento da
minha mão. Talvez ele estivesse se certificando de que eu não estivesse
prestes a surtar e correr gritando do banheiro.
A virgem em pânico.
Não mais.
Aquela confiança dentro de mim ainda estava crescendo. A água
borbulhante era como um escudo protetor, escondendo um pouco da agitação
da minha respiração. Eu estava nervosa, mas não assustada.
Eu sabia o que eu queria. E o que eu queria era fazer exatamente o que
eu estava fazendo.
Baixando a cabeça, lambi a ponta. Estava curiosa para saber o gosto, e
aquela sensação na minha língua me estimulou. Assim como seu gemido
retumbante, preso em sua garganta. Deus, como seria ouvi-lo gozar?
— Faça de novo — ele sussurrou, mas não precisava. Minha boca já
estava molhando para outro toque mais longo.
Ainda apertando-o em uma mão, eu usei a outra para segurar meu rabo
de cavalo desleixado enquanto descia mais uma vez. Desta vez, circulei
minha língua em volta da cabeça, lambendo a umidade lá, voltando a fazê-lo
novamente quando outra gota perolada se formou imediatamente.
Fiz isso de novo e de novo, concentrando-me estritamente na ponta,
deixando o poder desse momento surgir dentro de mim até que eu não tivesse
escolha a não ser tentar mais. Abri mais a boca e movi a cabeça para baixo,
para que ele descanse na minha língua. A água provocou as pontas apertadas
dos meus seios enquanto eu o levava mais fundo. Ele estava inchando mais, o
peso e a pressão dele me fazendo tentar tomar tudo.
Eu queria tudo.
— Ah... — Sua voz era um estrondo, quase inaudível.
Inspirei pelo nariz. O som da água e o ruído dos seus gemidos
zumbiram nos meus ouvidos, quase bloqueando tudo.
Só havia nós dois no universo.
Sua mão estava no meu cabelo agora, acariciando suavemente. O
sentimento gentil que surgiu desse gesto me permitiu tomar mais.
Era incrível que dar prazer a Bruno era dar prazer a mim mesma.
Ele desfez meu rabo de cavalo e meu cabelo caiu para a frente,
grudando no meu pescoço e peito, escondendo parcialmente meu rosto. Ele o
pegou na mão, puxando-o de volta com tanto cuidado. Coletando cada fio,
puxando-o para trás para que nada pudesse impedir sua visão. Ele estava
assistindo cada chupada da minha boca, cada movimento da minha língua.
Eu me forcei um pouco demais, mas a leve queimação na minha
garganta me avisou que era o limite. Eu o fiz se sentir bem, tão bem que seus
ombros estavam tensos e seu peito estava arfando, seus movimentos
anteriormente delicados no meu cabelo se tornando quase dolorosos.
Eu gostei da dor.
Ele se puxou de volta e vi a batalha visível acontecer em seu rosto. Ele
estava tentando tanto não me apressar, não me machucar...
Mas eu também queria essa parte da experiência. Eu o queria irracional
em mim.
Recuei apenas o suficiente para sussurrar contra a ponta brilhante.
— Mais.
Nossos olhares se conectaram e eu sabia que ele entendia. Os jatos da
hidromassagem subiram e espumaram em volta da minha barriga e
provocaram meus seios enquanto eu me aproximava mais usando nossa
diferença de altura para minha vantagem. Eu o empurrei de volta contra a
borda da banheira e agarrei a lateral para me equilibrar.
O calor e a emoção de controlá-lo - mesmo que um pouco - me
deixaram tonta.
Deslizei minha boca pelo seu eixo, pegando o máximo que pude. Ele
não me negou nada. Eu não tinha certeza se eu gostava, mas meu corpo
certamente gostava.
Meu clitóris tremeu e eu pressionei minhas coxas juntas para tentar
obter algum alívio. Ele deve ter notado, porque ele me alcançou com a mão
livre, sua expressão questionando quando seus lábios se abriram para respirar
forte.
Sutilmente, me afastei. Isso não era sobre mim. Agora não. Ainda não.
Toda vez que era demais, eu recuava, recuperava o fôlego e usava a
mão. Lento, rápido, às vezes apenas agarrando-o antes que eu o engolisse
novamente, o máximo que pude antes que a água e meus próprios limites me
impedissem. Mas quando finalmente consegui coragem suficiente para deixar
meus dedos esgueirarem-se sob seu eixo para o saco sensível abaixo, ele
arrastou minha cabeça, seus olhos selvagens.
— Eu vou gozar.
Meu coração estava batendo tão forte que eu podia ouvir o som, senti-
lo pulsando entre as minhas pernas. Não hesitei. Meu corpo inteiro estava em
sintonia com ele, corado e formigando com a necessidade.
— Tatiana — ele gritou, e meu nome naquele momento era uma
bênção. — Eu não quero te assustar, mas não posso... não consigo segurar...
— Não segure. — Soltei a banheira e arrastei minhas unhas pela parte
interna de sua coxa, tão perto de sua virilha que seu grande corpo estremeceu.
— Eu quero ver...
O primeiro jato se projetou diante dos meus olhos, inebriante e potente.
Não resistindo mais, fui em busca dos demais. Chupei e chupei, deixando
escapar um gemido enquanto ele estremecia e bombeava em mim, com força.
Eu me senti usada. E adorei isso.
Então veio o empurrão que me fez deslizar de costas para o lado oposto
da banheira. Bruno veio por cima de mim, fundindo sua boca na minha. Não
houve doçura em seu beijo. Era pura selvageria. Ele gemeu com isso também,
sua mão ficando suave no meu cabelo novamente. Seus golpes ao longo do
comprimento se tornaram rítmicos, me embalando em um espaço seguro.
Meu batimento cardíaco diminuiu enquanto nos beijávamos, como se eu
tivesse cavalgado até o topo de uma montanha-russa e agora fosse a queda
longa e interminável.
— Quero levar você para a cama — ele murmurou. — Não devia ser
assim que as coisas eram para acontecer...
Embora tivesse certeza de que ele não estava criticando, a palavra me
atingiu no peito da mesma forma.
Como se ele já pudesse me ler, ele xingou baixinho e segurou minha
bochecha, seu polegar sobre meus lábios inchados.
— Não pense errado. Essa foi a experiência mais incrível que já tive.
Mas, você merecia mais.
Eu fiz uma careta, com certeza eu o tinha ouvido mal.
— O que quer dizer?
— Que você é linda e naturalmente sedutora, já sabe. É difícil para um
homem resistir. Mas eu deveria ter te beijado primeiro. — Seu olhar caiu para
os meus seios e me chamuscou como uma marca. — Devia ter te chupado
primeiro.
Eu não pude deixar de segurar suas coxas com mais força. Sua mão
desceu para o meu quadril, seus dedos pontudos esgueirando-se sob o
algodão pegajoso da minha bermuda. A intenção em seu olhar não deixou
mistério.
Bruno queria me foder. E tudo que eu pensava era: “Sim, foda-me e me
preencha até que eu esteja completamente arruinada para qualquer outro
homem”.
Todavia, mesmo depois do que havíamos compartilhado, eu não estava
pronta. Ainda não. Porque eu sabia que quando isso acontecesse, ele não me
tomaria apenas sexualmente. Eu ficaria inteiramente à sua mercê.
Quando a mão dele fez menção de puxar meu shorts, eu a segurei.
— Não. — Eu respirei fundo. — Eu ganhei ingressos para um baile em
um CTG da cidade.
Sua testa franziu.
— Me diz que está brincando.
— Adoro Terceira Dimensão.
— Meu Deus, você não está brincando...
— Eu vou no baile — avisei. — Sem nenhuma parte de mim dolorida
— afirmei.
— Você realmente vai trocar um momento a sós comigo, por causa da
porcaria de uma banda?
E não é que o Bruno idiota retornou!
— Pode ter certeza disso. — Eu me afastei dele, confirmando. — E
minha banda favorita não é uma porcaria.
— Cite uma música. — ele duvidou.
— “Vi nos seus olhos, era mês de maio” — cantarolei.
— Meu Deus...
— “Te quis como amiga então”. — Sai do banheiro. — “Já se foi a
primavera e eu quero, por minha mão em sua mão”. Viu só?
Ouvi a risada dele do banheiro. Aquilo me aqueceu muito.
— Se quiser se juntar a mim, esteja pronto à noite.
E saí sem ficar para ouvir suas queixas.
BRUNO
Aquela mulher me deixou completamente desnorteado. Eu nem tinha
certeza de que ainda estava vivo. Entrei no chuveiro após Tatiana sair do
banheiro e tentei um banho frio porque meu corpo ainda estava em choque e
chamas, clamando por uma libertação que já havia acontecido.
Eu havia acabado de gozar e queria mais.
O que aquela boca linda era capaz de fazer...
Eu dormi algumas horas e quando acordei o sol já havia se posto. Ela
estava me esperando quando saí do meu quarto, em direção ao seu. Sem saber
em que consistia exatamente sua ideia de jantar, eu tinha me vestido
socialmente, uma calça escura, e uma camisa clara, sem gravata. Pensei em
pôr o paletó, mas não tinha certeza se devia.
Você não usa terno num CTG. Contudo, será que realmente ela me
levaria a um Centro de Tradições Gaúchas?
Para ouvir Terceira Dimensão?
Meu Deus, e se ela me fizesse dançar Maria tchá, tchá, tchá?
Ela usava um vestido azul que abraçava suas curvas, e seus cabelos
pendiam em ondas longas pelas costas. Meus dedos formigaram ao vê-lo.
O sorriso era atrevido, como se ela tivesse revelado um grande segredo.
No entanto, ela não tinha a menor ideia de todos os prazeres que a
esperavam. E eu sabia que viveria todos com ela.
Nós comemos em um restaurante perto do hotel, e ela parecia a mesma
Tatiana de sempre. Ela bateu papo com o garçom, com duas meninas perto da
mesa próxima, com um senhor idoso na mesa oposta, quando ligaram a
televisão e colocaram no canal de esportes, ela disse alto, buscando conversa
com ninguém em particular, que Lucca Moraes, o meio campista do Grêmio,
estava arrasador nesse ano. Um rapaz numa das mesas respondeu, dizendo
que o meio campista do Internacional era melhor. Ambos começaram um
embate animado sobre futebol que levou cerca de quinze minutos e me deu
dor de cabeça.
A única maneira daquela mulher calar a boca era com meu pau enfiado
nos lábios!
No entanto, ela mal falou comigo. Os arrependimentos já haviam
batido à porta?
— Terceira Dimensão sempre me animou. — Ela disse tão logo eu tive
esse pensamento, antagonizando-o. — Às vezes eu chegava exausta em casa,
mas colocava uma das suas músicas para tocar, e conseguia limpar todo o
apartamento, lavar todas as roupas, a louça, e ainda preparar meu jantar, sem
sentir cansaço. Eu juro, “Um Pedacinho do seu Coração” é quase um antídoto
para a tristeza, a cura para a solidão.
Eu teria rido da parte da cura se ela não tivesse tido as palavras de
forma tão séria.
Tatiana era uma mulher única. Uma preciosidade. E jamais teria
imaginado que ela tinha uma tendência submissa no âmbito sexual.
Ela parecia tão dominadora, tão dona de si, extrovertida... Mas, no
sexo, até então, havia se mostrado uma princesinha sapeca.
Eu sabia que ela era reprimida, mas quando consegui transpor o murro
com o qual se protegia... que vulcão encontrei do outro lado!
Esperava descobrir mais sobre ela.
— Uma cura para a solidão... — repeti. — Você tem medo de ficar
sozinha?
— Quem não tem medo? Sabe, eu sempre trabalhei... Lá em Ajuricaba,
eu me levantava cedo para ajudar a tirar leite das vacas, dar comida para as
galinhas. Depois eu ia para a escola, tinha bom comportamento e boas notas.
Voltava para casa, ajudava novamente em casa, alimentava os peixes... Era o
tipo de garota exemplar. Eu sempre pensei que se eu fosse uma boa pessoa, o
destino me recompensaria com coisas boas. Contudo, todas as minhas amigas
já se casaram e eu nunca conheci ninguém... Ninguém que me quisesse...
Como assim? Todos a queriam!
— Você só tem vinte e seis anos.
— Acho que para os homens é diferente. Mas, para nós, mulheres,
ainda mais em Esperança...
— O que quer dizer?
— Ficar mais velha e não casar não é bom, naquela cidade. — Ela
descansou o queixo nas mãos. Os cotovelos apoiados na mesa. — Todos os
homens que se aproximaram de mim buscavam sexo. As mulheres que se
aproximavam, me consideravam rival.
Estranhei as palavras.
— Está me dizendo que está aberta para as mulheres.
— Eu queria amor. Sempre pensei que fosse me apaixonar por uma
pessoa, não por um pênis ou uma vagina.
Ri baixinho, surpreso.
— Queria amor? Disse a frase no passado. Desistiu?
Ela sacudiu um ombro.
— Tenho certeza de que isso não faz sentido para você. Você nunca
lutou por aprovação.
— Isso não é verdade.
As palavras soaram vazias nos meus ouvidos.
Meu pai não tolerava idiotas e não suportava fraquezas, inclusive dos
filhos. Especialmente de seus filhos. E eu fiz tudo que podia para que Benício
sentisse orgulho de mim.
— Bom, em breve você estará formada.
— Ah, é... o sonho da minha vida. — Ironizou.
— Você não gosta do curso?
— Eu trabalho em uma cafeteria ao invés de tentar um estágio em uma
clínica ou num hospital. O que isso te diz?
Sua postura defensiva combinava com o brilho de irritação em seus
olhos. Ela percebeu isso e mudou o tom.
— Eu estou bem na cafeteria. — Apontou, mesmo assim.
Minha reação padrão foi rir. Discretamente, como meu pai faria. De
fato, o som retumbou no meu peito e sua cabeça se levantou, seu olhar suave
e cauteloso endurecendo. Então eu contive a reação.
Eu não era meu maldito pai.
Até porque meu pai era um doce com ela, bem diferente de mim.
O Dr. Benício Gatti sempre a amou. Certa vez, acreditei que era porque
a família dela parecia próspera. Agora, não tinha tanta certeza.
Poderia ter sido apenas a magia daquela loira, sua facilidade de fazer
amigos em todos os lugares que ela fosse.
Até porque, sempre que ele ia a cafeteria, ela lhe destinava um enorme
sorriso ao atendê-lo. Duvidava que fosse porque gostava dele. Tatiana não
escondia a antipatia pela minha família, mas era uma excelente garçonete.
— Cinderela — chamei sua atenção. — Você é linda e jovem. Pode
escolher ser o que quiser. Pode escolher ter quem quiser. Qualquer um teria
sorte de ter você.
O doce apelido escapou de meus lábios. Mas de repente, uma mudança
pareceu tomar conta dela. Ela se endireitou e seus olhos clarearam, e ela
sorriu da mesma maneira que no hotel.
— Sabe que está certo. Estou colocando muita importância no amor.
— Ela se inclinou para a frente e meu olhar mergulhou no V de seu vestido.
Deus, tinha alguma coisa nela. Agora que eu tinha visto seus seios,
fiquei ainda mais fascinado por eles.
— Eu gosto quando você me chama de Cinderela.
Eu me movi em direção a ela sobre a mesa, estendendo meu braço para
que eu pudesse esfregar meu polegar sobre o canto de sua boca.
— Você gosta? — indaguei, sensualmente, tocando meu polegar no
seu lábio inferior.
Em seguida, puxei minha mão e lambi meu polegar. Um beijo indireto.
Ela observou o movimento avidamente, sua respiração correndo entre
os lábios entreabertos.
Eu tive que sorrir. Aquela mulher se tornava muito mais atraente a cada
momento que passava ao seu lado.
— Bom, que horas começa o baile? — questionei.
— Você vai comigo? — ela devolveu, quase como se só então se desse
conta de que eu falava sério quando disse que a acompanharia.
O brilho em seu rosto valia a pena suportar qualquer coisa.
— Vou. — Inclinei meu queixo em direção ao prato dela. — Então
termine seu jantar.
Quando ela terminou e eu paguei a conta - depois de uma briga, já que
ela queria dividir a mesma - saímos para pegar um táxi até o CTG onde
ocorreria o baile.
— Não é longe daqui. Podíamos ir andando — ela sugeriu.
Tatiana apertou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus
enquanto olhava para mim.
— Está uma noite tão bonita...
Dizer não a ela parecia tarefa impossível.
Em vez de uma resposta, apertei a mão dela e acenei.
No começo, ela não chegou muito perto enquanto caminhávamos,
apesar de nunca quebrar o vínculo dos nossos dedos. Mas, de súbito, ela se
aconchegou, descansando a cabeça no meu braço de vez em quando enquanto
eu olhava no google maps do celular o local exato.
— Você sabe... podíamos ficar uns dias a mais. Tem muita coisa para
se ver em Bento Gonçalves.
Ela sorriu para mim, sutilmente apertando meu braço. Era como se
algum tipo de barreira tivesse quebrado entre nós.
— Gostaria disso.
Engoli em seco. Sua resposta foi uma surpresa porque eu realmente
não a esperava. Achei que ela fosse começar a colocar empecilhos, e estava
pronto para retorqui-los, mas seu jeito gentil de me responder me fez
acreditar que...
Me fez acreditar no quê?
Puta merda.
— Então, como você se sente sobre o que está rolando?
Era o momento certo para essa conversa?
— Estou me divertindo.
Por que ser a diversão sexual de uma mulher me causou queimor no
estômago?
— Você realmente é uma mulher... única.
Qualquer outra estaria sonhando com algo a mais comigo. Mas, ela me
encarava como se fosse me descartar em alguns dias.
Se eu não descobrisse um plano para garantir que ela continuasse me
vendo quando voltássemos para casa, ela provavelmente nem olharia para
minha cara.
E isso não me agradava.
Por quê? Só Deus sabia.
— O que você faz para se divertir, Tatiana? Além de ouvir música
cafona?
Ela riu.
— O que todas as mulheres solteiras de Esperança fazem? Passo a
noite na Netflix.
— Mesmo? Maratonando alguma série?
— Várias. Estou esperando a nova temporada de The Walking Dead.
— A dos zumbis?
— Amo Carol e Daryl.
Arqueei as sobrancelhas. Havia assistido apenas a primeira temporada
e não me lembrava muito dos personagens.
— Quem são?
Ela puxou o celular e me mostrou as fotos.
— Eu lembro dele, mas achei que ela fosse morrer logo. Era só uma
mulher que apanhava do marido, né? Uma coitada...
— Uma guerreira — ela objetou. — Às vezes, quando uma mulher
consegue escapar das amarras que a cercam... consegue transpor os muros
que constrói para se proteger... Céus, essa mulher se torna absoluta.
— Hum. Vou voltar a ver. Posso assistir com você?
— Acho que não vai dar para assistir nove temporadas num final de
semana.
Gravemente, assenti novamente.
— Estou dizendo para vermos na sua casa. Você aceita?
— Você quer que a gente continue a se ver? — ela arregalou os olhos.
Assenti.
Tatiana abaixou a voz e se inclinou.
— O tipo de encontro em que eu coloco minha boca em seus pedaços
masculinos.
Eu engasguei uma risada. Deus, que mulher era aquela?
— Não vou negar que eu gostaria disso, mas estou falando de a gente
assistir séries juntos, sair para tomar sorvete... jantar... — percebi o pânico
em seus olhos, e então adicionei: — agora somos amigos, certo?
— Sim.
Não havia entusiasmo em sua voz. Isso não me faria desistir, ao
contrário.
— Relaxe Tatiana...
— É que nunca sei o que esperar de você.
Cruzamos perto de uma praça. Nela, um casal se beijava entusiasmado.
Depois, o homem colocou um anel no dedo da mulher.
— Oh meu Deus, ele a pediu em casamento?
— Se foi, que porcaria de pedido, hem?
— Você sabe alguma coisa sobre romance? Talvez essa praça
signifique algo para eles.
— Romance é bobagem. Relações dão certo quando existe um comum
acordo e sexo satisfatório.
— Babaca... — ela murmurou sombriamente, se afastando de mim.
Quis negar, mas meu telefone tocou e eu atendi. Era Benjamin. Por que
ele estava ligando em vez de mandar uma mensagem como costumava fazer?
Engoli em seco.
—O bebê está bem?
Ao meu lado, Tati parou de andar e colocou a mão na boca.
— O bebê está bem. Como está Tatiana?
Eu olhei para ela de lado e balancei minha cabeça minuciosamente.
— Além de assustada por causa da minha pergunta, ela está
perfeitamente bem. Então, por que ligou?
— Como você está?
Suspirei. Eu odiava telefones, odiava falar no telefone, e francamente
odiava qualquer tipo de pergunta carregada de segundas intenções. O idiota
estava em uma missão de fofoca, graças à sua adorável esposa.
— Está sendo uma ótima viagem. — disse.
Ao meu lado, Tati inclinou a cabeça e estreitou os olhos.
— Bento Gonçalves é uma das cidades mais...
— Ok , c hega de besteira. Você já dormiu com ela?
Eu limpei minha garganta. Felizmente, as calçadas estavam cheias de
turistas, assim Tati não podia ouvir a voz estrondosa de Benjamin.
Troquei meu celular para a outra mão.
— Afirmativo.
Benjamin xingou.
— Ela era virgem, sabia disso. Como você pôde?
Em algum lugar lá no fundo, algo parecido com mágoa explodiu. Eu
não me importava em ser conhecido como mulherengo na cidade. Contudo,
as coisas não era assim. A verdade era que eu tratava as mulheres com
respeito e não mentia sobre minhas intenções. Mas para meu próprio irmão,
eu era um canalha capaz de usar Tatiana e descartá-la depois.
Tatiana parou de andar e apontou para uma loja que ainda estava
aberta. Eu não entendi o que ela quis até entrar na loja.
— Nós não dormimos juntos — eu disse entre dentes, quando a porta
se fechou atrás dela. — Feliz agora?
Benjamin audivelmente exalou.
— Sim. Helena disse que não estava preocupada, já que Tatiana te
odeia, mas avisei para não duvidar das suas habilidades de convencer uma
mulher a ir pra sua cama. Você é bom nisso. E Tatiana é inexperiente. Seria
fácil para ela confundir sexo e amor. Se ficar elogiando-a ou demonstrando
interesse, vai acreditar que está apaixonado.
— Você está louco. Não faz nem vinte e quatro horas que estamos
juntos nessa viagem e você já está falando de amor? Além disso, não acha
que deveria dar mais crédito a Tatiana?
Quando ele não respondeu imediatamente, balancei minha cabeça.
— Com todo respeito, acho que Helena e você não conseguem vê-la
pela mulher que é.
— Meu Deus, é você que está confundindo sexo com amor!
— Vá se foder, Benjamin. — Desliguei antes que ele pudesse fazer
mais do que engasgar.
Por mais que eu não quisesse desvalorizar o ele havia dito,
provavelmente estava certo sobre uma coisa. Tatiana era sensível. Claro,
nesse momento, queria diversão e aventura, e talvez isso a estivesse deixando
menos exigente quanto ao companheiro para isso. Mas, nem tudo eram flores.
Benjamin me confirmou algo que eu já desconfiava.
Ela era virgem, afinal.
Ela tinha que estar fervendo tanto que era capaz de se incendiar. Isso
não significava que ela estava fervendo especificamente para mim.
TATIANA

Bruno mal estava falando comigo. Ele aceitou dançar comigo no baile
e até riu de algumas letras das músicas, mas realmente havia algo nele....
Algo nele mudou.
Quando voltamos ao hotel, ele me convidou para ir até o bar para
bebermos um pouco, e imaginei que queria aproveitar aquele momento para
me dizer algo.
Mas, não disse.
Bruno tomou um gole de uísque, me olhando placidamente enquanto
eu afundava em preocupações.
— Eu pretendo me perder essa noite — comentei, pedindo mais uma
bebida. — Posso ficar bêbada? — perguntei, piscando um dos olhos em sua
direção.
Eu tentei parecer animada. Queria uma reação dele. Qualquer reação.
Mas o que veio, me deixou surpresa.
Ele agarrou meu cotovelo e me impulsionou para frente.
— Você pode — disse contra o meu ouvido — , porque estou aqui
para mantê-la segura.
As palavras criaram uma sensação potente no meu peito, suave e
quente como borboletas vagando sobre flores de um jardim.
— Eu sei... — disse um pouco nebulosa enquanto sorria para ele.
Ele era tão bonito, apesar de às vezes ser um idiota. Eu também gostei
do pênis dele.
— A Tatiana que você está conhecendo aqui, não é a Tatiana que
existia. Eu ainda não sei direito o que estou fazendo, mas quero sentir o
mundo na ponta dos meus dedos — avisei.
— Fico feliz em ouvir isso.
Eu tinha certeza de que o ouvi suspirar.
— Para tocar o mundo, você precisa começar tocando alguma coisa.
Quer começar com o quê?
Virando a cabeça, arregalei os olhos.
Agarrei sua manga. Luzes e barulho assaltaram meus sentidos. Tanta
coisa para absorver ao mesmo tempo. Não sabia para onde ir ou o que queria
fazer. Eu queria ter a experiência completa.
Tomei um gole e segurei o líquido na minha boca enquanto estendia a
mão pela sua camisa para puxá-lo para mim. Suas pupilas escuras queimaram
por um instante antes de nossas bocas se conectarem, e eu de certa forma
transferir a bebida.
Ele fez um barulho estrangulado e recuou, passando a mão sobre os
lábios. Ele estava dizendo algo, mas eu não estava ouvindo.
Eu queria transar com esse homem, e não porque estava alta por causa
dos três copos de Martini que já havia bebido. Havia esse estranho senso de
conexão entre nós, bêbados ou sóbrios. Não ligo para o que vem depois, para
como será nossa vida em Esperança, se posso ter tudo agora.
Seus lábios ainda estavam se movendo, e eu os encarava como um
viciado observando uma droga. Eu precisava de mais. Ele tinha uma vasta
experiência e a compartilharia comigo. Eu poderia me tornar uma especialista
em sexo em um fim de semana.
Quase ri com o pensamento.
— Tatiana? Você está bem? O que há de errado com você?
— Estou com tesão — confessei, rindo, e ele corou.
Foi a coisa mais fofa que eu já vi. Esse homem confiante e tentador,
corando porque eu dizia que tinha necessidades sexuais, era a coisa mais
adorável do mundo.
Até que ele segurou minha bochecha e virou minha cabeça o suficiente
para murmurar em meu ouvido:
— O bar está cheio de homens, e todos eles ouviram você dizendo isso,
Cinderela. Tem ideia do trabalho que me dá?
Estiquei o pescoço para olhar em volta de seus ombros largos e quase
tombei, então agarrei seu braço para equilibrar-me enquanto olhava para os
homens.
Alguns me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne suculento.
Eu odiava aqueles olhares. Eles existiam as pencas em Esperança, e era por
causa deles que eu me escondia em roupas largas e aparência desleixada.
— Eu estou com tesão por você. Só você — disse, de novo.
Aqueles olhares não iriam melindrar a nova Tatiana. Só um homem
tinha direito de me cobiçar ali, e esse homem era Bruno.
Em vez de responder com um daqueles olhares acalorados dos quais eu
gostava, ele passou o braço em volta dos meus ombros e me puxou para
frente.
— Tatiana, o que está rolando entre nós?
Ele definitivamente estava me dando um olhar aquecido.
— Eu não sei — Agitada, percebi seu olhar perdendo o fogo. — Por
que perguntou?
Ele não disse nada, apenas me encheu meu copo mais uma vez.
No último gole, não me importei que ele fosse um idiota. Eu só queria
beliscar sua bunda.
— O que quer que você esteja fazendo, eu não aconselho. — Ele
exalou e olhou para o teto. — Se eu soubesse o que estava fazendo quando
Helena me pediu para tomar conta de você...
As palavras não atingiram meu cérebro. O rapaz que atendia no bar se
afastou, e uma moça de cabelos escuros surgiu. Estavam trocando de turno, e
eu a percebi radiante, olhando na nossa direção.
Olhando para Bruno...
Segurei um palavrão.
Então, beber me deixou com ciúmes. Era uma nova faceta. Eu jamais
havia tido uma crise antes.
— Água, por favor — ouvi ele pedindo a ela. — Então, seu olhar
voltou para mim. — Você tem que ficar hidratada. Para cada copo, você
precisa beber a mesma quantidade de água ou vai passar metade da sua
viagem na cama, de ressaca.
Ela se afastou para buscar a água.
— Você acha que ela é gostosa?
— Quem? — Ele piscou para mim, claramente confuso, e eu queria
beijá-lo novamente.
Eu estava tão bêbada.
Me aproximei dele, segurando-me em seus braços. Bruno pressionou
os lábios no meu ouvido e deu um pequeno beijo ali.
Ah... era tão bom...
Sem pensar, virei minha cabeça e beijei seus lábios. Uma parte de mim
sabia que não era o álcool que me estimulava. Eu estava começando a gostar
de Bruno.
Incrível a rapidez com que as coisas podem mudar. Em vinte e quatro
horas, meus sentimentos deram uma volta de cento e oitenta graus.
Nos separamos. Ele pousou os dedos no meu ombro antes de
sutilmente transferir o aperto para minha garganta e inclinar minha cabeça.
Meus lábios se separaram enquanto meu coração disparava.
Perigo...
Isso tudo era muito perigoso.
Me afastei e a mão de Bruno caiu.
— Ah, é mesmo... Eu disse a Helena que mandaria uma mensagem
para ela sobre o baile.
Eu nem bem tinha puxado o meu telefone e Bruno já se erguia.
— Certo... eu vou dar uma volta... — avisou. — A gente se vê lá em
cima...
Uma parte de mim sentiu-se aliviada pelo seu afastamento.
Guardei o telefone na minha bolsa novamente, incapaz de escrever
qualquer coisa para minha melhor amiga.
Sai do bar e caminhei em direção ao elevador. Apesar do que disse,
Bruno não saiu do hotel. Ele estava ali, me aguardando.
Havia uma infinidade de dúvidas em seu olhar, nos seus sentimentos.
Eu sabia que ele estava em tormento. Porra, eu também estava.
Escondi um bocejo atrás da minha mão. Que horas eram? Eu estava
cansada. De súbito, todas as sensações daquele dia me deixaram exaurida.
— Foi um bom dia, não é? — ele indagou, enquanto o elevador abria
no térreo.
Entramos.
— Você se divertiu? — devolvi.
Ele olhou para mim tão intensamente que meu corpo inteiro ficou
vermelho.
— Muito — respondeu suavemente.
— Então, isso significa que você realmente não me odeia?
— Eu nunca te odiei. — Sua resposta veio tão rapidamente que eu
perdi o fôlego. — E quanto a você? Pode dizer o mesmo?
Apertando meus lábios, olhei para as luzes que denotavam os andares.
— Não.
Sua risada era rica e íntima.
— Adoro sua honestidade.
— Você é tão irritantemente convencido. E você dorme com todas e
pensa que é um presente de Deus para o mundo.
— Posso garantir-lhe que não dormi com todas as mulheres com quem
estive. A minha fama é maior que a realidade. — Ele parou, segurando meu
olhar enquanto meu batimento cardíaco trovejava fora de controle. — Eu não
transei com você.
— A gente fez sexo oral... — eu sussurrei.
A porta do elevador se abriu. Começamos a caminhar em direção ao
nosso quarto.
— Sexo oral só conta se for mútuo.
Eu limpei minha garganta.
— Mas a gente fará hoje, não? — questionei.
Eu podia ouvir minha virgindade gritando, implorando para ir embora.
Bruno apertou minha mão e gesticulou à frente dele.
— Sou todo seu.
BRUNO

— Sou todo seu.


Por que aquela afirmativa parecia mais forte do que realmente era? Por
que havia tanta coisa subentendida nas minhas palavras que me tiravam do
sério? Havia uma linha tênue entre o romantismo e a farsa.
Eu queria ser romântico porque ela não tinha experiência, e desejava
que sua primeira vez fosse legal.
Mas, não queria ser falso...
Eu estava diferente... por causa dela. Tatiana me fez querer ser
diferente.
Ela era tão atrevida e doce... tão pura...
Não que ela permaneceria imaculada por muito mais tempo. Eu tinha
minha parcela de qualidades positivas, mas santidade não era uma delas.
Tentei manter distância, as palavras severas do meu irmão batendo com
firmeza do meu cérebro. Mas, havia outra coisa que me puxava na direção
oposta.
Queria mais dela, mais do que Tatiana pudesse me dar. O que era,
ainda não tinha certeza. A dúvida me atormentava demasiadamente.
Tatiana se jogou na cama assim que entramos no quarto. Eu esperava
que ela me destinasse olhares atrevidos ou abrisse as pernas, num convite
sedutor. Mas, logo percebi um ronco.
Ela estava muito bêbada.
Cocei minha cabeça, lembrando-me de uma regra simples que homens
de caráter tinham: você não se aproveita de uma mulher inconsciente, ainda
mais se ela confia em você para cuidar dela num momento assim.
Deitei-me ao seu lado. Ambos vestidos. Observei o teto de gesso,
sabendo que não conseguiria dormir.
Tatiana se mexeu, virou-se para o meu lado, aconchegando-se com o
rosto na minha garganta.
Me afastei. Ergui-me novamente. Para tudo há um limite na vida, eu
tinha certeza que ficar deitado ao lado dela não seria bom para meu
autocontrole.
Sorri enquanto ajeitava os travesseiros embaixo da cabeça loira e
trabalhava cuidadosamente para libertar o lençol e as cobertas de baixo dela,
sem interromper o sono.
A noite estava gelada e ela precisava se cobrir para evitar uma gripe.
Nós tínhamos o domingo inteiro para explorarmos os vinhedos, ou um
ao outro.
Estranhamente, esse pensamento me incomodou. Eu sabia que quando
voltássemos a Esperança, Tatiana poderia querer fingir que tudo que rolara
entre nós ali na Serra não existiu.
Eu estava bem com isso. É sério. Eu não tinha expectativas sobre um
relacionamento. Eu nem era um cara romântico, um cara que pensava em
relacionamentos duradouros.
Até agora...
Depois de puxar o lençol até os ombros dela, olhei para a mesa de
cabeceira. Deveria ter água para quando acordasse. Provavelmente alguns
analgésicos também, apenas para o caso de uma dor de cabeça. A ressaca ia
ser terrível.
Peguei duas aspirinas da minha mala de viagem e enchi um copo de
água e depois verifiquei se ela ainda estava descansando em paz.
Tudo certo.
Eu me virei e fui em direção à porta da minha suíte.
— Bruno.
Sua voz estava cheia de fadiga e tão baixa que eu mal podia ouvi-la.
— Durma um pouco. Eu estarei ao lado direito da porta...
— Não. Fique. — Ela estendeu um braço e indicou a outra metade da
enorme cama.
Tatiana parecia tão pequena e vulnerável no centro daquele espaço
enorme.
Porra, meu pau estremeceu. Eu não pude evitar. Ela era tão linda. Cada
fibra do meu corpo se forçou em direção a ela, enquanto meu cérebro
colocava barreiras.
— Bruno — disse novamente, mais forte agora. Ela ainda não tinha
aberto os olhos. — Venha para a cama.
Naquele momento, eu não me importei mais com as razões pelas quais
eu devia ir para o outro quarto. Eu nunca tinha me envolvido daquela forma
desesperadora com uma mulher. De várias maneiras, Tatiana estava
quebrando meu corpo e minha alma aos pedaços.
Adeus autocontrole.
Tirei meus sapatos, depois joguei minhas roupas em uma cadeira
próxima.
Eu fiquei ao pé da cama, observando-a imóvel. Talvez ela tenha
adormecido novamente.
— Estou acordada. — Era como se ela pudesse ler meus pensamentos.
Tatiana mexeu os dedos.
— Vem, eu não mordo...
Mas, se mordesse... ah... se mordesse...
Entrei no lado oposto, depois hesitei, minhas costas apoiadas na
cabeceira da cama.
E agora? Fico num canto ou me aconchego contra aquelas curvas de
fazer qualquer um enlouquecer?
Normalmente, eu não pensava em nada disso. Quando eu me deitava
com uma mulher na cama, estava pronto para foder. Mas... havia a virgindade
de Tatiana me segurando.
Nenhum homem deseja que a primeira vez de uma mulher seja uma
bosta. Se ela transasse comigo, se me desse seu hímen, tinha que ser
fenomenal, algo que ela jamais sentiria com outro.
Era assim que eu me sentia.
Eu queria manchá-la. Depois de ter meu pau dentro dela, ela nunca iria
querer outro de qualquer cara.
Só o meu. No seu corpo, na sua boca, entre seus seios, na sua língua...
— Você está tão longe — ela murmurou, avançando sobre a cama até
que sua cabeça estivesse no meu colo.
Eu não era um santo, mas também não era um filho da puta egoísta. Eu
tinha que esperar o suficiente para que ela estivesse melhor. Não seria fácil
com ela tão perto do meu pênis.
Felizmente, eu não tive que afastá-la porque ela fez isso sozinha.
— Deite-se... — Sua voz estava abafada pela roupa de cama.
Eu escorreguei na cama. Tatiana achegou-se novamente em mim,
anexando-se como se eu fosse seu próprio travesseiro. Uma perna passou
sobre a minha, o braço dela estava na minha cintura e a boca pousou na base
da minha garganta.
Ah, cacete...
Ela cheirava tão bem.
— Tão gostoso...
Meu pau ficou mais duro.
— Vá dormir. — Passei a mão por seus cabelos.
Ela estava praticamente em cima de mim. Mesmo assim, dez minutos
depois meus olhos já estavam se fechando.
Bom, apesar do tesão, eu estava cansado. Aquela mulher me esgotou.
Parecia um papagaio, falando o tempo todo.
Sorri. Incrível como aproveitei todos os momentos.
Quando acordei, a luz estava filtrando o quarto. Eu tinha esquecido de
puxar as cortinas e o amanhecer estava invadindo nosso emaranhado quente
de braços e pernas.
Eu não sabia quanto tempo dormimos.
Seu rosto ainda estava dobrado na curva do meu pescoço, mas suas
mãos estavam vagando. Acariciando meu peito, deslizando mais baixo para
brincar com minha trilha de pelos. Quando ela se aproximou da cintura da
minha cueca, peguei a mão dela no meu estômago.
— Você é muito safada — apontei.
Ela soltou uma risadinha suave e levantou a cabeça para que seus
cabelos caíssem para emoldurar seu rosto.
— Você estava dormindo, mas eu estava acordada e queria fazer algo
divertido — comentou, me fazendo ferver.
— Você se aproveitou de mim?
— Não, eu sou uma dama.
Ri.
— Sente-se melhor?
— Sim. Você foi muito gentil me trazendo até a cama.
— Eu não tive muita escolha, pois você bebeu igual a um Monza anos
80.
A risada intoxicante novamente. Eu estava começando a ficar viciado
no som que vinha dela.
Deus, estava caidinho por ela. Tatiana poderia ter me pedido qualquer
coisa naquele momento, que eu daria a ela. Que tipo de mulher que em vinte
e quatro horas coloca um cara nas suas mãos e o faz se tornar um viciado
alucinado?
Ela deu um beijo no meu queixo. Depois, começou a rolar para longe
de mim, mas eu peguei um punhado de seu vestido.
Eu queria gritar para que não fosse, mas Tatiana afastou minha mão e
se levantou para puxar o vestido por cima da cabeça. Ele caiu no chão ao lado
da cama e ela sequer o observou antes de ir para o banheiro.
Não conseguia ficar longe, então a segui. De lingerie, ela escovava os
dentes como se nada estivesse acontecendo.
Meu pau estava rendido. Eu estava rendido.
Ela terminou de lavar a boca, e então me encarou. Sorriu, a luz do sol
tocando sua pele pálida e me deixando mais e mais alucinado.
Dois passos na minha direção.
Então sua boca estava na minha e eu não conseguia pensar direito, só
conseguia sentir.
Ela não perdeu tempo facilitando o beijo. Envolveu sua língua em
torno da minha, fazendo uma manobra que distorceu meus sentidos enquanto
pressionava seus seios cheios contra mim.
A virgem estava no controle. Eu era sua massa de manobra e ela podia
fazer comigo o que ela quisesse.
A empurrei contra a parede e peguei seus pulsos, arrastando-os acima
de sua cabeça. Ela gritou, claramente surpresa. Eu tinha visto a porra daquela
cena em 50 Tons de Cinza e sabia que Helena e ela amavam o filme. Então,
eu a quis dar o gosto de uma cena de submissão da mesma forma.
— O que você está fazendo? — ela indagou quando nossas bocas se
separaram.
Mordi seu lábio inferior quando encontrei seu olhar.
— Confia em mim?
Se ela hesitasse por um instante, eu teria interrompido tudo. Poderia ter
me matado, mas eu teria feito isso.
Ela assentiu, seus olhos firmes nos meus quando ela soltou um suspiro
impaciente.
Esfreguei meu polegar sobre o seu pulso.
— Cinderela, última chance: se não é isso que você deseja, precisa
falar agora. Caso contrário, você não vai sair deste quarto até ter sido
completamente fodida.
Eu esperei que ela se recusasse com a minha frase grosseira.
— Eu quero isso. Quero você.
Tatiana bateu os quadris, moendo contra mim, para que eu não tivesse
escolha a não ser fechar os olhos e cerrar os dentes.
Contei até dez e abri meus olhos, deixando meu olhar percorrer seu
corpo. Precisava ter calma. Eu queria ver, tocar, devastar cada pedaço dela.
Fazer dela minha de todas as maneiras.
— Por favor. Eu estou tão quente. — Sua voz saiu angustiada.
Uma rápida olhada em suas bochechas avermelhadas me disse que ela
também queria essa experiência.
Seu desejo estava prestes a se tornar realidade.
Mudei meu aperto em seus pulsos para uma mão, embora ela tenha
ficado mole o suficiente para que não lutasse comigo. Ela parecia gostar
quando eu assumia o comando, mesmo que se sentisse obrigada a honrar um
protesto simbólico.
Eu tive minhas suposições sobre sua natural submissão.
Rasguei a renda. Ela não emitiu som, apenas arqueou as costas,
oferecendo-me seus seios e a perfeição rosada de sua boceta intocada, como
se fossem presentes.
Sua inocência adorável e a coragem necessária para que ela se
compartilhasse dessa maneira me surpreendeu. Um estrondo de prazer
rebateu no meu peito.
Abaixei minha cabeça, lambendo seu mamilo. Ela se mexeu embaixo
de mim, seus pulsos flexionando enquanto eu aumentava minha área de foco,
dando a todo o seu peito a mesma atenção, meus olhos nunca deixando os
dela enquanto a respiração dela passava do acelerado para o ofegante.
Abandonei seus seios, agarrando todo o seu corpo. Logo, estávamos no
quarto, seu corpo jogado na cama, seus seios eretos, oferecendo-se para mim.
Apertando um, voltei à sua boca, beijando-a tão lentamente como se
tivéssemos o tempo todo no mundo. Lambi seus lábios, absorvendo seu
pequeno gemido enquanto beliscava seu mamilo.
Ainda a beijando, puxei seu outro mamilo, alternando entre toques
ásperos e gentis para descobrir o que fazia seu coração bater loucamente
contra o meu.
Ok, ela gostava de dor. Definitivamente. Esse lado selvagem escondido
me deixou obcecado por todas as suas nuances de mulher.
— Segure a cabeceira da cama — eu disse em sua boca.
Ela obedeceu imediatamente. Coloquei seus seios em concha e
esfreguei os dois, esfregando meus polegares sobre as pontas duras. Ela
assistiu todos os meus movimentos, fascinada. Sua expressão curiosa só me
deixou mais determinado a mostrar-lhe tudo.
Inclinei-me para beijá-la gentilmente, provocando. Ela estava tão
ansiosa, com tanta fome. Diminuí a velocidade, engolindo seu barulho de
frustração e dando-lhe um puxão de resposta em seus mamilos.
Ela arqueou e se acalmou. Exatamente no ritmo que eu pretendia.
Era isso. Eu era seu dono.
Ainda segurando seus seios, deslizei minha boca em suas costelas. Sua
pele estava toda vermelha, especialmente entre as pernas. Eu mal me permiti
olhar, sabendo que isso me levaria a andar mais rápido do que eu pretendia.
Mas agora deixei meu olhar permanecer entre suas coxas enquanto beijava o
caminho até lá, querendo que ela estivesse ciente do meu destino antes de
chegar a ele.
Tatiana era tão delicada, já úmida de desejo. Uma faixa de cachos
loiros e macios cercava aquela preciosidade.
Eu mal podia esperar para prová-la. Para conhecê-la de uma maneira
que ninguém mais tinha.
Mergulhei minha língua em seu umbigo
Finalmente soltei seus seios para separar suas pernas.
— Vou te comer, Tatiana, de todas as maneiras que um homem deve
comer uma mulher.
Deslizei a língua por seus grandes lábios. Ela soltou um urro de pura
necessidade. Eu não a repreendi quando ela soltou a guarda da cama – sem
minha autorização – e agarrou meus cabelos. Todas as reações dela só me
davam mais e mais tesão.
Então eu deslizei para dentro, apenas a ponta da minha língua,
saboreando.
Ela nunca seria uma amante passiva. Suas pernas bateram levemente ao
meu redor e suas mãos puxaram meus cabelos, provocando dor.
Eu olhei para ela e molhei as pontas dos dedos com a boca, mais uma
vez demorando para que ela não pudesse fazer nada além de assistir e esperar.
Quando passei um dedo por dentro, ofegou em desespero, ainda segurando
meu cabelo. Eu não recuei. Continuei, maravilhado com o aperto implacável
que certamente estrangularia meu pau. Repeti o movimento algumas vezes e
ela abriu as pernas, suas inibições fugindo em busca de mais.
Adicionei outro dedo, esticando-a, ganhando velocidade enquanto
lambia seu clitóris. Ela estava latejando ao meu redor. Sabia que não
demoraria muito, seu corpo clamava por algo que só eu era capaz de dar.
— Está chegando à meia noite, Cinderela — murmurei, encontrando
seus olhos enquanto eu pressionava a ponta da minha língua em seu clitóris e
curvava meus dedos dentro dela, procurando deliberadamente aquele local
secreto.
— Ah... ah... ah... — Ela gemeu contra mim, puxando meus cabelos
enquanto eu flexionava minha virilha na cama em uma tentativa de obter
algum alívio.
Afundar nela era mais erótico do que qualquer momento passado.
— Bruno! — ela gritou.
— Sua carruagem chegou, Cinderela — eu sussurrei, usando o apelido
que sempre parecia funcionar como mágica. — Apenas entre nela e vá para a
festa...
Suas pupilas se arregalaram antes que ela fechasse os olhos e se
arqueasse, seu corpo todo esticado de necessidade. Ela inundou minha língua,
seu clitóris uma batida maníaca contra a minha boca enquanto ela gritava.
Gritava... Não um pequeno gemido virginal, mas gritos de uma mulher
selvagem.
Ela ainda estava tremendo quando eu subi em seu corpo. Eu a beijei
com os lábios umedecidos e ela os comeu, faminta por todos os gostos e
sensações que eu poderia oferecer. Suas mãos correram pelas minhas costas,
suas unhas raspando minha pele enquanto puxava minha cueca e segurava
minha bunda.
— Camisinha — ela ofegou, e eu entrei em choque.
CA-MI-SI-NHA.
Eu não tinha. Quando que eu pensaria que usaria uma camisinha num
final de semana com Tatiana? Chutei minha cueca enquanto olhei na direção
do banheiro.
Devia ter no banheiro, né?
Meus pensamentos, porém, ficaram desconexos quando Tatiana ficou
de joelhos na cama, agarrou meu pau, dando-lhe um golpe longo e duro,
terminando com a quantidade perfeita de fricção na ponta.
— Posso chupar?
— Querida, eu quero é gozar nessa boceta...
— Então vamos. — Ela lambeu os lábios e apertou a mão sobre o meu
comprimento mais uma vez.
Ok, corri ao banheiro. Puxei cada uma das gavetas e não havia nada.
De alguma forma, me arrastei de volta ao quarto, até a cadeira que
segurava minhas roupas. Sua risada alegre encheu minha cabeça enquanto eu
lutava para recuperar minha carteira e ver se tinha preservativos ali.
Tinha. Eu nem lembrava de tê-los colocado. Normalmente eu transava
no meu apartamento e sempre tinha preservativos novos no meu criado
mudo.
Preservativos tem data de validade?
Quis perguntar para ela, mas era uma pergunta ridícula para se fazer a
uma virgem.
Volvi na sua direção. Seus olhos pesados me beberam, permanecendo
descaradamente no meu pau. Foi dolorosamente difícil, e sua atenção não
ajudou em nada.
Eu me acomodei entre as pernas dela e a beijei suavemente, tentando
transmitir que não tinha pressa. Mas eu tinha. E ela estava se esfregando
contra mim, me encharcando com a prova de sua prontidão e, porra, eu estava
com tanto tesão...
Quando me inclinei para rolar a camisinha, ela a tirou da minha mão.
— Eu faço isso... — ela gemeu .
Assentindo, guiei suas mãos, mas Tatiana era exatamente o tipo de
mulher que consegue te surpreender de todas as maneiras. Mesmo agora, ela
me deixou sem palavras. Claramente, isso também era novo para ela, mas não
estava intimidada. Com a boca e as mãos, foi deslizando pelo meu pau.
No instante em que o látex estava no lugar, eu pairava sobre ela,
apoiando meus braços de cada lado dela nos travesseiros.
— Certo, Cinderela... Agora vou ser seu príncipe encantado.
Ela colocou os braços e as pernas em volta de mim, inclinando a
cabeça para me dar o beijo mais doce.
— Estou feliz que é você, Bruno — sussurrou, e eu não pude segurar
mais um segundo. Meus quadris avançaram por vontade própria.
Ela gritou, mas eu não pestanejei. Estava entrando tão devagar que ela
choramingou e mordeu meu queixo.
— Tudo bem?
Eu esperava que me dissesse para parar, para sair. Seus olhos estavam
molhados, e eu podia dizer que estava machucada. Contudo, ela assentiu, seu
sorriso gentil quando se levantou para encontrar o meu próximo impulso. E o
próximo, e o próximo. E mais um depois desse...
Bater contra ela se tornou fácil como respirar. Tentei ir com calma,
lembrar que não importava o entusiasmo dela, era tudo novo para Tatiana.
Mas os sons que estava fazendo me tiraram a consciência.
Tatiana mordeu meu lábio.
— Eu quero mais. Faça-me gozar de novo.
Não havia mais autocontrole comigo. Seus gemidos sem fim, sua
boceta explodindo, apertando meu pau com tanta força que eu não consegui
segurar meu gemido, tudo... tudo estava me deixando mais perto.
Eu bati duro, e ainda mais, murmurando desculpas e prometendo
compensá-la mais tarde, enquanto procurava meu orgasmo.
E então eu senti o preservativo rasgar - um segundo antes de meus
quadris estalarem para frente e eu drenar em sua boceta dando um gemido
longo e baixo.
Eu caí em cima dela, puxando meu pau, tentando impedir que meu
sêmen escorresse para dentro dela.
Tarde demais...
Era a primeira vez de Tatiana. Ela não pode engravidar na primeira
vez, não é?
Alice existia porque Simone engravidou na primeira vez com
Benjamin.
— Sexo é tão incrível — seu murmuro ecoou nos meus ouvidos. —
Quero fazer isso de novo, e de novo, e pra sempre...
Eu devolvi seu sorriso fracamente.
— Pois é...
Eu me afastei dela para cuidar da camisinha. Coloquei minha mão
sobre meu pênis, entrei no banheiro, acendi a luz, olhei para baixo e vi o
estrago.
O látex estava rasgado.
— Bruno? — Tatiana chamou.
— Já vou, querida — disse.
Me observei no espelho. Ela notaria o quanto meus olhos estavam
arregalados?
Eu limpei meu pau e apoiei minhas mãos na borda da pia.
E agora?
Ok, ela não deve ter engravidado... Como eu perguntaria sobre
menstruação e se ela sabia se estava nos dias férteis?
Ela usava pílula? Para que, em nome de Deus, ela usaria pílula se não
transava?
Eu não tinha ideia do que dizer ou fazer a seguir. A última coisa que eu
queria fazer era estragar essa experiência para Tatiana, e discutir a
possibilidade de ela voltar prenhe para Esperança.
Seus passos ecoaram no quarto, se aproximando de mim.
Ela apareceu na porta, ainda gloriosamente nua, seu corpo exuberante
coberto com algumas marcas dos meus lábios.
Sem saída, fechei a porta na cara dela.
TATIANA

A porta fechada me fez arquear as sobrancelhas, mas não me deixou


em pânico, nem com ressentimentos.
Era tipo... foda-se: foi a melhor experiência da minha vida e não seria a
porra de um Gatti que tiraria isso de mim.
Além disso, eu sabia que tinha sido fodastica com ele, também. O cara
quase se quebrou ao meio quando chegou. Se isso era um sexo ruim, bem,
então eu aceitava sexo ruim para o resto da vida.
Eu me mexi e estremeci com a dor entre as minhas coxas, tanto do sexo
em si quanto da forma como ele forçou minha boceta com a língua. Essa
mesma sensação formigou sobre meus seios e pescoço.
Tantas reações me atingindo ao mesmo tempo. E havia tantas outras
que eu queria explorar.
Eu não era mais virgem.
Missão cumprida.
Eu tinha uma vida inteira para descobrir tudo sobre meu corpo.
— Bruno, você está bem? — questionei.
Ele não respondeu imediatamente.
Bom, talvez ele tenha decidido que virgens davam muito trabalho. Ou
talvez ele achasse que eu fosse chorar, emocionada, e pedir para ele se casar
comigo.
Coitado...
Bom, tanto faz.
Olhei para o quarto, pensando que queria que ele saísse DO MEU
BANHEIRO, porque eu estava viajando a passeio e ainda tinha tanta coisa
para ver e fazer em Bento Gonçalves
Os problemas de Bruno com a intimidade não se encaixavam no meu
horário.
E sabe de uma coisa? Eu ia dizer isso a ele.
Seja homem!
Eu levantei minha mão para bater na porta, mas ela se abriu antes.
Antes que eu pudesse dizer a ele que estava prestes a me vestir e ir passear,
Bruno passou o braço debaixo da minha bunda e me levantou do chão. Sua
boca se fechou sobre a minha e eu esqueci que deveria estar chateada.
Certeza que esqueci tudo, exceto a pressão de seus lábios, provocando-me.
Ele me levou de volta para a cama e sentou-se comigo no colo,
acariciando sensualmente a mão no meu cabelo.
Ok, então...
— Nós temos que conversar. — Ele fechou os olhos e respirou fundo.
— Peço desculpas por ter fugido de você, mas realmente não sabia como
lidar com isso.
Ah, meu Deus do céu. Ele não iria começar a chorar agora, né? Era só
o que me faltava...
— Não entre em pânico, ok? — pediu.
Onde estava o cafajeste quando se queria ele?
Me mexi no colo dele, preparada para sair.
— Olha, se você ficou...
— O preservativo rasgou.
Eu estreitei meus olhos em sua expressão claramente preocupada.
Genuinamente preocupada.
— Ah. — disse, tentando entender direito o que significava.
— Existe alguma possibilidade de você estar tomando
anticoncepcional?
Eu balancei minha cabeça.
Por um breve momento, seus lábios se contraíram antes de ele ficar
sóbrio mais uma vez.
— Ok. Sem pânico. — Contudo, era ele que parecia prestes a ter um
colapso. — Existe a tabelinha, não é? Quando foi a sua última menstruação.
— Você está me assustando com esse tipo de pergunta.
Ele não riu, apenas afastou meu cabelo da minha testa.
— Certo. Desculpe. É que... tenho trauma disso. Você sabe como foi
com Benjamin... Um tiro certeiro e hoje temos uma pequena serelepe
chamada Alice na família...
Eu estava tão mortificada que mal conseguia raciocinar. Me levantei do
seu colo, buscando algo que me ocupasse enquanto tentava entender o tipo de
preocupação que o agoniava.
Imagine... engravidar na primeira transa!
Era simplesmente ridículo.
O que ele achava que era? O Catra?
Mordendo o lábio, olhei de volta para os lençóis bagunçados.
Vislumbrei a pequena mancha de sangue.
Isso me envergonhou mais do que qualquer outra coisa. A mulher que
limpasse os quartos iria ver... nossa, que vergonha...
Corri para o banheiro para pegar uma toalha molhada, mas quando me
virei, esbarrei em Bruno. Eu nem o ouvi me seguir. Malditos movimentos
silenciosos.
— Seja o que for, eu vou cuidar de você — ele afirmou.
Para meu horror absoluto, todo meu corpo ficou quente. O que diabos
havia de errado comigo? Eu estava bem cinco minutos atrás.
— Quer parar de besteira? — Eu olhei para a garganta dele porque eu
não aguentava encará-lo. — Eu sei que Benjamin engravidou Simone num
momento assim e foi obrigado a se casar com ela por causa disso. Sei que
isso o afastou por anos de Helena. Sei que seu pai também engravidou sua
mãe por um erro do tipo. Mas, isso não vai rolar entre nós.
— Como você pode ter tanta certeza?
— Porque eu não sou tão azarada assim — resmunguei.
— Você vai tomar a pílula do dia seguinte? — ele indagou de súbito,
como se tivesse descoberto um grande estratagema.
— Não.
— Não? Por que não? É uma ótima precaução.
— Porque se, por um acaso do destino, eu realmente tenha
engravidado, a pílula seria abortiva, e eu não farei isso.
— Por que não?
— Eu podia te dar um soco agora, mas só vou responder que sou
católica.
— Você não era católica transando comigo antes do casamento.
Eu quase avancei. Mas, meu corpo estava satisfeito demais para eu
sentir raiva.
— Escute aqui, Gatti. Fica frio. Se engravidei, eu assumo. Não preciso
de você para nada, entendeu?
A criança realmente não existia, mas eu lutaria da mesma forma.
Em vez de rebater, ele agarrou meu queixo e puxou meu rosto para
mais perto.
— Desculpe, eu fui um babaca. Eu respeito sua decisão. Eu só estou
um pouco apavorado, porque como você mesma disse, eu tenho um histórico
familiar de camisinhas rasgadas.
As lágrimas vieram novamente, exceto que dessa vez uma se infiltrou.
Ele a pegou com o polegar e eu engoli em seco.
— Eu sei que você pode assumir sozinha, mas não precisará. Estou
aqui, está bem?
Inclinei minha cabeça contra ele e absorvi o baque louco do seu
coração sob a minha orelha.
Ele roçou um beijo no topo da minha cabeça.
Voltamos para o quarto e ele ajudou a trocar o lençol.
— Você acha que tem pedaços de látex dentro de mim? — perguntei,
alto, de repente me dando conta de que não havia visto nada na cama.
Ele riu.
— Não. Eu provavelmente tirei tudo.
Tomamos banho e ele voltou ao seu quarto para mexer nas suas malas.
Parecia estúpido que ele estivesse tão longe, quando eu praticamente queria
que ele morasse dentro de mim.
Nem sei por que me sentia assim...
Algumas horas depois estávamos na estação férrea. O passeio turístico
do trem a vapor incluía a beleza da região serrana, das vinícolas e uma
degustação de sabores.
— Meu Deus, vou encher a cara de novo — resmunguei para ele.
Bruno riu quando eu aceitei uma taça de vinho, ainda na recepção da
estação. Depois, embarcamos. O som característico da Maria Fumaça me
alegrou, enquanto ocorriam apresentações de músicas gaúchas e italianas.
Eu tirei algumas fotos de Bruno observando a paisagem na janela. Era
tão fofo...
Postei no Facebook. Uma legenda brincalhona.
Bruno Gatti após duas taças de vinho.
Descemos em Garibaldi para experimentar uma espumante. De repente,
Bruno pareceu se dar conta de algo:
— Ei... beba o suco de uva — apontou.
— Por quê?
— Se você estiver grávida...
Eu quis rir, mas havia alguma verdade nas palavras dele, então eu
recusei a taça alcoólica e aceitei o suco dos vinhedos.
Maravilhoso.
— Seria incrível se você estivesse esperando o meu bebê.
Eu quase ri. Tirando a parte do sexo, ele sequer me suportava.
— Torço para que seja uma menina — brinquei. — Bem falante, como
eu... Só para te irritar mais.
Seu sorriso se animou.
— Lembro quando você chegou em Esperança. Eu estava na cafeteria
quando você foi levar seu curriculum. Estava com uma trança enorme, calças
escuras e blusa rosa. Pensei realmente que fosse uma Barbie. Até você abrir a
boca. Foram tipo, umas cinco mil palavras em 2 minutos.
— Você se lembra da minha roupa?
Ele assentiu.
— Alice, algum tempo depois, falou sobre uma Cinderela. Eu pensei...
Quem é Cinderela? Quando soube que era você, percebi que realmente há
semelhanças. Você é muito princesinha.
— É o que todos dizem, mas não é a realidade. Eu sempre trabalhei
duro, nunca me recusei a limpar o chão ou tirar leite das vacas. Essa coisa de
princesa parece mais o tipo de garotas da cidade. Eu nasci na roça.
Aquela maldita sobrancelha negra se ergueu, debochada.
— Bom, suas mãos são grandes e fortes. Então, sim, tem um pouco de
mulher do campo em você.
Eu ri enquanto voltávamos ao trem. Meu celular vibrou com
mensagens de Helena.
“Tentei te ligar ontem, mas seu celular estava desligado. Ok, eu posso
ser apenas uma mulher grávida que está paranoica, mas sua falta de
resposta me deixou nervosa. Está tudo bem entre Bruno e você?”.
Posicionei meu dedo para responder, quando o telefone começou a
tocar.
Benjamin?
— Oi — atendi rápido. — Está tudo bem com Helena? O bebê...?
— Você está bem? — Antes que eu pudesse responder, ele abaixou a
voz. — O que quer que tenha acontecido, estamos do seu lado.
Que porra é essa?
Sentamo-nos nas poltronas do trem, e logo a locomotiva voltava a
andar pelos trilhos.
— Estou bem. Mais que bem. Nesse momento estamos cruzando a
serra de Maria Fumaça.
— Bruno está num trem barulhento com você? — ele parecia não
acreditar.
— Sim, saímos agora da estação de Garibaldi, e estamos indo em
direção à Carlos Barbosa.
Ao meu lado, Bruno soltou um suspiro.
— Deixe-me falar com o meu irmão.
Iria estender o telefone para Bruno, quando Benjamin voltou a falar:
— Tati, sei que você odeia pressão e pode se sentir sufocada com a
nossa preocupação, mas acredite, temos motivos para nos preocuparmos.
— Tem?
— Meu irmão tem muito mais experiência que você, e a tentativa de
minha esposa de garantir que estivesse segura nas suas férias, obrigando
Bruno a estar aí, pode te levar a um caminho exatamente oposto da
segurança.
Não ouvi nada depois disso.
O trem apitou.
A respiração acelerou. Eu sabia o que era... meu ataque de pânico,
dando-me, subitamente, razões antagônicas a minha calma da manhã.
Que porra eu estava fazendo?
— Tchau, Benjamin. — Desliguei a ligação e imediatamente
apareceram na tela mais mensagens de Helena.
— Tatiana? Eu queria ter falado com meu irmão.
Eu sabia. Não me importava.
Em vez de olhar para ele, olhei para o corredor onde um gaiteiro tocava
uma música tradicional.
— Tatiana?
— Por que mesmo veio para cá?
— Como?
— Você disse... que tinha trabalho na cidade...
— Isso.
— E isso não tem nada a ver com o fato de Helena ter pedido que
viesse cuidar de mim?
Eu esperei que negasse. Mas, ele não negou. Simplesmente voltou seu
olhar para a janela.
— Sou tão idiota. Achei que tivesse ficado ao meu lado porque criamos
uma amizade.
— Mas, agora, somos mais que amigos...
Não me importava com aquela declaração. Estava arrasada porque
minha primeira viagem libertadora e independente na verdade era a prova de
que eu não passava de uma caipira que não sabia se virar sozinha.
Minha melhor amiga pediu para ele me vigiar? E ele concordou? Bruno
deve ter visto o sexo como um bônus.
Fechei meus olhos, cansada.
Não sei quanto tempo passou, mas quando chegamos a Carlos Barbosa,
eu simplesmente me afastei dele com urgência.
— Tatiana. — Seus passos soaram atrás de mim.
Precisava de espaço.
Ele respeitou isso.
Nem sabia por que estava tão magoada. Nós nem tínhamos um
envolvimento, nem nada. Era apenas sexo.
A viagem de volta a Bento Gonçalves foi feita em completo silêncio.
Quando chegamos na estação, eu andei reto até um táxi.
— Precisamos conversar — disse Bruno, a voz baixa, antes de
chegarmos até o veículo.
Eu cruzei meus braços.
— Não tenho nada a dizer a você.
— Eu tenho, então vou falar. Durante a semana, Helena deu a ideia de
seguir você. Ela está grávida. Você esperava que eu dissesse não e a
condenasse a um fim de semana cheio de preocupação? Ela te ama, quer você
queira ou não. E amor é assim, amor torna as pessoas família. Helena te
considera uma irmã e queria que você ficasse segura.
Ele olhou para longe antes de finalmente encontrar meus olhos.
— Foi com relutância que eu aceitei, admito. Mas, todo esse fim de
semana foi incrível, foi o melhor final de semana da minha vida.
A honestidade flagrante em sua declaração me arrepiou. Bruno não
estava mentindo. Ele quis dizer isso.
— Eu conheci uma mulher bem diferente da Cinderela de Esperança.
Céus, você é um mulherão. Com M maiúsculo. E se Helena pudesse vê-la
aqui como eu a vi, ela saberia que essa Tatiana não é uma garotinha ingênua e
sim uma mulher que sabe o que quer.
Não pude deixar de rir.
— Você é bom com as palavras, Gatti.
Eu bati meu punho suavemente em seu estômago duro como pedra e
ele o pegou, segurando-o lá.
Derreti.
Ficar brava com ele era impossível. Ele tinha sido tão gentil comigo
quando precisei de alguém neste fim de semana, e ele era tão quente e
gostoso.
— Não quero que Helena ou Benjamin saibam o que aconteceu aqui.
Ok?
Ele hesitou antes de concordar.
— Não me sinto preparada para as perguntas dela. — expliquei.
Depois, molhei o lábio inferior e prossegui — Eu também não quero que isso
termine quando voltarmos para casa. — Soltei um suspiro trêmulo. — Tipo,
não estou falando de um namoro, mas... Enquanto isso funcionar para nós...
O olhar dele pareceu chocado.
— Apenas diversão — finalizei.
Ele abriu a boca para falar, mas eu coloquei a mão em sua camisa e me
inclinei para murmurar perto de sua orelha.
— Que tal continuar a ter a Tatiana de Bento Gonçalves em Esperança?
Ele deslizou a mão livre no meu cabelo e segurou a base da minha
cabeça, sua expressão feroz.
Seu toque no meu couro cabeludo ficou mais áspero e meus mamilos
frisaram, ali mesmo, perto do táxi.
— Você vai fazer de mim o que você quiser, não vai?
Eu sorri contra sua boca.
— Eu vou sim.
Nos separamos e entramos no táxi.
— Obrigado por me dar outra chance — ele disse, baixinho, quando
sua mão segurou a minha.
Como se eu tivesse outra escolha.
BRUNO
Ok. Obviamente, iria ser um problema. Aquela loira com cara de anjo
praticamente me disse que eu era apenas sua diversão. O que aconteceria se
ela fosse buscar diversão em outro cara?
Ia dar confusão. Eu sabia. Não sou do tipo que consegue manter uma
relação não exclusiva, assim. Aliás, eu até conseguiria, mas não com Tatiana.
Como evitar a vontade de cumprir todos os seus desejos, atirando o
bom senso ao léu?
Só me dei conta da dificuldade quando retornamos para Esperança.
Mentir para Benjamin não era nada, mas fugir das dúvidas no olhar de
Helena provou-se um suplício.
E houve outros problemas, também. Quando Tatiana voltou ao trabalho
na cafeteria, o movimento costumeiro de agricultores retornou. Assistir
aqueles homens babando pela loira que os atendia com um sorriso gentil no
rosto, de repente, me dava calafrios. Eu só queria colocá-la sobre os ombros e
nunca mais deixar qualquer homem se aproximar.
Os dias pareciam carregados de ciúme doentio.
Mas, à noite, ela era minha...
Um lado meu se perguntava o que diabos eu estava fazendo. Eu me
corroía de ciúmes por causa daquela mulher, e não tê-la num compromisso
público parecia anular meu valor na relação. Fora os pensamentos que me
assaltavam de que Tatiana iria me trocar assim que outro lhe despertasse
interesse. Todavia, havia outro lado que me mandava relaxar. Poh, eu estava
tendo acesso fácil a sexo com uma mulher linda que não me cobrava nada.
Por exemplo, sequer fiquei sabendo por ela que os pais de Tatiana viriam lhe
fazer uma visita, quando Helena tivesse o bebê.
Por que ela não me disse? Sequer pensou que eu queria conhecê-los?
Claro que eu não tinha nenhum desejo de conhecer os pais da garota
com quem eu andava trepando. Mas, ela não devia ao menos sugerir?
Demonstrar interesse?
Meu Deus, eu era um maricas sentimental.
Qualquer outro homem tem urticaria com compromisso ou com a
possibilidade de conhecer os pais de uma garota. Qualquer outro cara estaria
feliz porque uma loira linda e gostosa estava numa relação sem compromisso
com ele. Mas, eu... eu... em vez de procurar agir como todos os homens, eu
parecia estar buscando maneiras de me afundar mais. E não apenas em sua
doce vagina — noite após noite — , mas também no dia a dia de Tatiana.
Eu era uma mulherzinha.
Patético.
— Você tem certeza sobre cuidar de Alice enquanto Helena está no
hospital? — meu irmão perguntou, girando a colher no café.
Estávamos almoçando. Olhei através da mesa para Helena, que parecia
prestes a explodir.
Sua barriga havia abaixado nos últimos dias e ela estava pronta para
dar à luz. Contudo, seu olhar preocupado parecia esconder mais do que seus
pensamentos sobre o parto.
— Não precisam se preocupar, porque eu cuidarei de Alice. —
balancei minha cabeça e peguei o café preto.
Estávamos na cafeteria, e Tatiana surgiu no lado oposto, segurando
uma bandeja.
— Você tem trabalhado muito ultimamente. — Benjamin murmurou.
— Seu síndico me disse que nem está dormindo em casa...
Pelamor de Deus, quando se teria qualquer tipo de privacidade em
Esperança?
— Qualquer coisa, Tatiana pode cuidar de Alice. — Benjamin apontou.
Meu olhar iluminou.
— Bom, Tati poderia me ajudar. — Ergui a mão, e a chamei até a
mesa. — O que acha, Tatiana?
Ela assentiu para mim, indicando que logo iria a nossa mesa. Eu fiz
uma careta. Ela estava esfregando as costas como se estivesse dolorida. Devia
estar porque na noite passada eu fui devastador contra seus quadris.
Helena olhou por cima do ombro para Tatiana e voltou sua atenção
para a mesa.
— Estou preocupada com ela — disse ela em voz baixa.
— Por quê? — Eu bebi mais um gole do café.
— Ela parece muito cansada ultimamente. E anda mais silenciosa...
Claro que ela estava quieta, pois tinha o que esconder em sua vida.
— Talvez ela esteja deprimida — comentou Benjamin igualmente em
voz baixa, mantendo-se atento à chegada de Tatiana nas proximidades. —
Ela está diferente desde a viagem. — Seu olhar caiu em mim.
— Ela não parece deprimida para mim — devolvi, rápido.
Ela se aproximou da mesa, com a cafeteira na mão, os olhos estreitados
no meu copo quase vazio. Eu terminei e sorri.
Ela estendeu a mão para a xícara. Encheu e me devolveu. Nosso olhar
se encontrou por um momento, mas logo desviou. Quando volvi para meu
irmão, notei Benjamin observando de perto.
— Quem disse que estou deprimida? — Antes que alguém pudesse
responder, ela pousou a cafeteira na mesa e esfregou a parte de baixo das
costas. — Acho que você me confundiu com o seu irmão, que dificilmente
faz alguma coisa além de resmungar.
Verdade seja dita, não era mentira. Eu gostava de poucas palavras e
pouco contato humano. Era antagônico àquela mulher que parecia se dar com
todo mundo.
— Você parece um pouco diferente — Helena pousou as mãos na
barriga enorme e deu um sorriso fraco. — Embora o universo pareça
diferente para mim. Malditos hormônios.
— Tudo bem querida, logo o parto chegará – Benjamin a confortou.
— Certo, porque é super animador passar uma melancia por um lugar
que passaria uma pera. Mal posso esperar!
— Helena...
— Oh, fique quieto.
— Ei... — Tati os interrompeu. — Não vamos brigar. Eu odiaria ter
que colocá-los para fora. Odiaria ter que colocar “os dois” para fora, aliás,
porque dar um pé na bunda de Bruno me daria uma grande satisfação.
Seu sorriso era falso, mas a brincadeira me deixou quente.
E eu nem devia... estava tão cansado...
Nós não estávamos dormindo muito, ultimamente. Algumas horas por
noite, no máximo. Nunca parecia haver tempo suficiente para explorar um ao
outro de todas as maneiras que queríamos.
Tudo era muito novo, muito abrasador.
Claramente, estava cobrando um preço. Ela precisava de mais
descanso. Uma verdadeira noite de sono.
— Terra para Bruno — Benjamin estralou os dedos na minha frente.
— Você está quase tão ruim quanto Tatiana. Está até com olheiras. Precisa
descansar um pouco. O trabalho é importante, mas não é tudo.
Tatiana sorriu enquanto se afastava.
Foi perturbador perceber que o simples fato de que eu teria que usar
uma das noites daquela semana para dormir e não ficar ao lado dela, me
causou pânico.
— O que aconteceu com você e Raquel? — ele mudou de assunto
repentinamente, fazendo minha sobrancelha arquear. — Eu pensei que vocês
dois tinham algo.
Não sabia o que responder.
— Acabou? — Helena questionou. — Sua vida amorosa é triste,
sabia? Raquel era uma moça legal. O que você fez para que ela não te
quisesse mais?
— Na verdade, não terminamos porque não tínhamos nenhum
compromisso... Eu simplesmente não liguei mais para ela. E ela também não
entrou em contato.
Benjamin parecia perplexo.
— Você não ligou? Por quê? Bruno, você tem que começar a levar as
mulheres mais a sério...
Comecei a me sentir sufocado. De repente entendia o que Tatiana
sentia quando todos a inquiriam dessa forma.
— Olha, não rolou. Ok? Não é nada demais, apenas Raquel não é a
pessoa certa.
Benjamin assentiu.
— Certo. Desculpe por isso, por esse interrogatório...
— Ninguém quer se meter na sua vida — Helena interpôs
rapidamente...
Eu assenti, mas tentei manter o olhar firme para não abrir espaço para
mais questionamentos. Pouco depois, Helena se levantou para ir ao banheiro.
Benjamin, solícito como sempre, também se ergueu para auxiliá-la.
Quando eles sumiram, fui rapidamente até a porta por onde vira
Tatiana saindo segundos antes.
Ela estava no depósito.
Nenhuma palavra enquanto eu me aproximava, minha mão achegando-
se ao seu rosto, meus dedos escorregando para seus cabelos.
Torci minha mão em seu rabo de cavalo, provavelmente destruindo-o
quando a puxei para mais perto. Ela não lutou contra o movimento, ao invés
disso, subiu na ponta dos pés para encontrar minha boca. O beijo foi todo de
fome, e ela gemeu enquanto punha uma mão no meu paletó. A outra mão
estava estendida cuidadosamente para o lado, segurando uma prancheta onde
ela anotava a quantidade de condimentos.
— Você tem compromisso para o final de semana?
— Não iríamos assistir Netflix?
— Não que eu não esteja louco para aproveitar os zumbis ao seu lado,
mas estou pensando em ir passar uns dias na cabana da família.
Um sorriso apareceu em seus lábios. Eu tinha beijado metade do batom
dela. Na hora, sua mão veio para esfregar na minha boca.
— Se aqueles dois vê-lo assim, vão saber que me beijou. Isso, ou
pensarão que, enfim, saiu do armário.
Agarrei seu pulso, segurando-a no lugar.
— Não ligo para o que eles pensam.
Seus olhos brilharam e ela abriu a boca para falar, quando o som de
passos nos calou. A porta abriu, e Benjamin apareceu nela.
— Aí está você. Helena está tendo contrações, mas acredito que seja
apenas cansaço. Acho que ela precisa descansar um pouco. Então... vamos
indo...
—Eu vou cuidar da conta — avisei.
— Tem certeza? — De repente se deu conta de que eu estava ali com
Tatiana. — Está tudo bem aqui?
— Sim. — Ela ainda estava agarrada em mim, um sorriso
constrangedor nos lábios. — Apenas tropecei. Felizmente, Bruno estava aqui
para me segurar.
Benjamin riu.
— Ok. Te vejo depois. — disse para mim.
A porta fechou e nossos olhos voltaram a se encontrar.
— Foi por pouco — ela murmurou.
— Dane-se. Diga sim — pedi suavemente. — Vamos juntos para a
cabana.
Ela segurou minha mandíbula, esfregando o polegar no meu lábio
inferior úmido.
— Sim.
TATIANA

Foi a porcaria da lasanha da Noeli.


Eu tinha certeza disso.
Como um restaurante consegue se manter durante anos vendendo
apenas uma droga de lasanha que, todo mundo sabe, é comprada congelada e
aquecida no micro-ondas antes de servirem aos clientes?
Eu quis chutar o saco de Bruno.
Ele me convida para um final de semana romântico na cabana, e ao
invés de me preparar algo gostoso, ele simplesmente compra comida da Noeli
e me faz passar aquele dia agachada diante do vaso sanitário, vomitando as
minhas tripas.
— Você está bem?
Ergui minha mão para trás e lhe mostrei meu dedo do meio.
Porque tinha que ser a lasanha da Noeli. Ou gripe. Contudo, não um
bebê.
Bebê, não.
Ridículo até o pensamento.
Imagine... grávida...
Além disso, bebês levam tempo para se manifestarem no corpo e só
fazia algumas semanas que a gente tinha tido aquele acidente com a
camisinha em Bento Gonçalves.
Eu provavelmente estava me preocupando por nada.
Normalmente, eu faria perguntas a Helena. Eu gostaria de poder. Ela
estava no final de sua gravidez e era minha melhor amiga. Queria poder
desabafar com ela...
Eu me sentia tão culpada. Todas as vezes que ela me encarava como se
soubesse a verdade e estava me dando um tempo para assimilá-la e transmiti-
la, meu coração era avassalado por culpa.
Eu estava vivendo um momento incrível e novo. E não o estava
compartilhando com ninguém além de Bruno.
Me ergui e fui até a pia. Lavei a boca, e observei o homem que me
encarava com preocupação.
Bruno raramente durava tanto tempo com alguém, a menos que ele só a
visse duas vezes por mês. Não é o nosso caso. Estávamos nos vendo todos os
dias. Estávamos transando todos os dias. Por que ele ainda não deu mostras
de ter enjoado?
Minha cabeça girou.
O que isso importava? Se ele terminasse amanhã, eu nem ligava. Eu
não estava apaixonada, nem sentia que ele era meu tipo de homem.
Nem em um milhão de anos.
Deus é mais, eu nunca vou amar Bruno!
E eu só estava vivendo o momento. Bruno e eu tínhamos uma boa
química, e quando um dos dois não quisesse mais, terminaríamos, sem
neuras.
Ninguém nem ficaria sabendo...
Isso significava que não haveria olhares tristes da minha melhor amiga,
nem comentários preocupados dos meus pais. Nenhuma preocupação das
pessoas da cidade que não podiam deixar de ser intrometidas.
Sem compartilhar minha empolgação com a melhor amiga, colegas de
trabalho ou moradores de Esperança, ninguém iria ficar com aquele olhar de
“coitadinha” quando Bruno me desse um pé na bunda.
Não!
Quando EU lhe desse um pé na bunda!
Por que diabos isso parecia tão improvável?
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas as reprimi, sentindo-me
idiota. Cruzei por ele e fui até o quarto. Joguei-me na cama, querendo minha
mãe.
Ok. Eu não era nada madura como estava tentando me convencer a ser.
Mas, eu tinha uma desculpa: estar doente não era divertido.
Especialmente quando havia pensamentos de que essa "doença" duraria nove
meses.
Se ao menos eu pudesse perguntar a Helena quanto tempo demorou
para ela ter enjoo. Por falar nisso, eu não tinha certeza de que ela teve. Ela
falava sobre carregar bolachas na bolsa, e viver com água com gás nas mãos,
mas... nada que me marcasse.
Peguei meu celular na mesa de cabeceira para lhe enviar uma
mensagem rápida. Talvez ela tivesse algum tempo livre e eu pudesse,
casualmente, perguntar quais foram os primeiros sinais que a indicaram estar
grávida.
Ridículo uma estudante de enfermagem ter que fazer esse tipo de
pergunta, mas francamente, eu nem prestava atenção das aulas. Arrependo-
me disso, agora.
“Oi... está ocupada?”
Helena respondeu imediatamente.
“Arrumando os últimos detalhes do quarto do bebê”.
Sorrindo, sentei-me de pernas cruzadas. Bruno havia ido em direção a
cozinha e me senti melhor por sua ausência.
“Oh, e como está?”
“Coloquei muitos enfeites de carrinhos e coisas azuis. Bruno
reclamou, você sabe como ele detesta enfeites, disse que quarto de macho
não tem que ter essas besteiras”.
Se eu estivesse esperando um bebê dele, iria colocar enfeites até no
teto. Irritá-lo era metade da diversão.
“Devia ter o mandado a merda!”
“Benjamin fez isso”.
Outra mensagem seguiu essa.
“Podemos lanchar a tarde? Estou sentindo falta de conversar com
você sem Benjamin no meu encalço”.
Bruno provavelmente não iria gostar que eu saísse da cabana, mas eu
não iria recusar o pedido de minha melhor amiga grávida.
“Certo. Onde?”
“X-Tudo perto do hotel?”
Eu já estava salivando. Mal acabei de vomitar, e já estava com fome.
Suspirei.
Senhor, eu estava fodida.
Mas o que eu não sabia com certeza não devia me fazer arrancar os
cabelos. Sem a certeza, eu podia negar até o fim.
Observei o celular, pensando no que devia escrever.
Helena foi quem mandou Bruno atrás de mim na viagem. Se não fosse
por ela, não teríamos o melhor sexo da minha vida. Bem, eu nunca fiz sexo
antes, mas ainda assim, eu sabia que não haveria melhor.
Encerrei a conversa. Eu estava ansiosa e de repente, Bruno parecia ser
exatamente o tipo que me acalmaria.
Não há como fugir.
Sem perceber, eu apertei um braço protetoramente sobre minha barriga.
Agora eu estava uma bagunça.
Fui até a cozinha e o observei cortando um pedaço de frango.
— Eu preciso ir à cidade — avisei.
Ele me encarou com olhos indagadores, mas assentiu.
Era como se temesse me questionar qualquer coisa.
— Vou pegar seu carro — avisei.
Bruno apontou as chaves e eu saí.
Dirigi pela estrada enlameada e estacionei longe do hotel. Fui
caminhando até perto da lancheria, quando meu olhar cruzou com Helena.
Minha amiga estava em pé na porta de uma loja, com os braços
cruzados.
— O que são todas essas sacolas? — reclamei. — Você não pode
carregar peso. Tem um bebê na barriga.
Eu também podia ter, mas puxei as sacolas da mão dela.
— Pelo menos, deixe-me levar uma dessas sacolas. — Ela pegou um
dos sacos de plástico e espiou dentro.
— São coisas para o bebê?
— Não, para o escritório. Sheila me comentou que o lugar parecia sem
vida e eu concordei. Comprei essa bacia de lata para colocar na mesa de
Bruno. O que acha?
— Oh meu Deus, ele vai te matar.
— Eu não tenho medo de Bruno Gatti.
Passei por Helena - e pela barriga formidável dela – em direção a
Sheila, a assistente administrativa dos Gatti, que chegava naquele momento.
— Olá Sheila — a cumprimentei. — Seu cabelo está lindo.
Sheila deu um sorriso quando deu a volta para observar as compras.
— Sabe o que dizem de você, Tatiana? Que não abre a boca se não é
pra elevar o espírito das pessoas. Obrigada, eu estava precisando ouvir algo
assim hoje.
Eu fiquei tão feliz por aquilo que senti os olhos úmidos. Não gostava
de rebaixar os outros. Queria que todos fossem felizes. Sei que é uma
característica esquisita de se ter, num mundo como o nosso, mas eu não
conseguia evitar.
— Aconteceu algo? — Helena indagou a mulher.
— A vida aconteceu — ela respondeu, dando os ombros.
A vida... Realmente, parecia tão estranho eu estar num dos meus
melhores momentos e outra pessoa estar sofrendo. Mas, era a vida... a vida
era assim.
De repente, um homem cruzou por nós. Meu estômago revirou
novamente. Eu não o via desde que Bruno e eu tínhamos – corrigindo: desde
que estávamos – tendo um caso.
Benício Gatti. O pai de Bruno e Benjamin. Ele sempre foi arrogante
com Helena, mas costumava me tratar bem.
— Olá, Sr. Gatti. Como vai o senhor? — Seus olhos me estreitaram e
eu perdi o ar. — Devo dizer que a cor da sua gravata é muito bonita
Parei e respirei fundo. Realmente, eu não sabia abrir a boca se não era
para elogiar.
Bruno era a exceção.
Benício Gatti riu.
— Obrigado, Tatiana. Deixe-me ajudá-la com essas sacolas. — Ele
tirou-as das minhas mãos, ignorando meus protestos. — O que temos aqui?
Oh, itens de decoração. — Eu esperava que ele fizesse alguma observação
cáustica para Helena, mas apenas sorriu com benevolência observando a
bacia decorativa. — Eu acho que isso seria perfeito para Bruno.
— Bom, espero convencê-lo a usá-la — Helena apontou.
— Bruno faz tudo o que você quer, então acho que não terá problemas.
De repente, me lembrei de alguma fofoca que ouvi quando conheci os
Gatti. Diziam que Bruno era apaixonado por Helena. Claro que eu não
acreditava nisso, mas fiquei estranha em perceber que, mesmo reclamando,
ele fazia tudo que ela pedia. Incluindo viajar para Bento Gonçalves para me
seguir.
Afastei os pensamentos. Helena era minha melhor amiga. Eu estava tão
feliz por ela. Se alguém merecia amor verdadeiro, eram ela e Benjamin. Eu
provavelmente estava com ciúmes. Não especificadamente de Bruno, mas me
perguntando se eu acharia o amor também.
Ah, tola... adianta mentir para si mesma?
Não. Sem pensamentos idiotas.
Eu estava feliz como as coisas estavam. Sem amor.
— Você está saindo com alguém, Tatiana?
A pergunta masculina me fez perder o ar. Encarei Helena, sem saber
como reagir.
— Como?
— Meu filho mais novo, Bruno, precisa conhecer uma boa moça.
Tentei sorrir.
— Bruno me daria um fora em menos de um dia.
O Sr. Gatti olhou para mim e depois para Helena.
— Estão indo lanchar?
— Sim.
— Por que não vamos com Sheila até o escritório? Helena precisa
descansar um pouco e o sofá de Benjamin é um bom lugar para isso.
BRUNO

Tatiana foi a primeira pessoa que vi quando entrei no meu escritório.


Ela estava de pé no segundo degrau de uma escada em frente à minha
janela, amarrando mini sapatinhos azuis e brancos em volta da moldura.
— O que diabos está acontecendo aqui?
Quando ela me deixou sozinho na cabana, busquei meu celular para
verificar meus e-mails e percebi uma pendência jurídica que podia ser
resolvida no meu computador do trabalho.
A cabana não ficava muito longe da cidade, e eu decidi calçar tênis e ir
caminhando até lá.
No percurso, conversei com Max, da Fazenda do Torno, e com Vitalli,
veterinário da Fazenda Laureana. Falamos sobre cavalos e eles me
ofereceram uma égua por um bom preço.
Onde eu enfiaria aquele bicho? Mesmo assim, um lado meu... um lado
meu pensou em como seria divertido criar animais e viver no campo.
Meu Deus, era o que eu mais queria...
— Bruno! O que está fazendo aqui?
Havia animação em sua voz.
— O que “você” está fazendo aqui?
— Estamos arrumando o escritório para a chegada do futuro Gatti.
Uma parte de mim explodiu no pensamento de um bebê. Nosso. Mas,
logo a razão me trouxe a realidade. Ela falava do bebê de Benjamin.
— A ideia foi sua? Ou de Helena? Isso é um escritório jurídico.
Ela bufou e se mexeu contra mim, acordando outra parte da minha
anatomia. Seus grandes olhos verdes se arregalaram ainda mais.
— Não vai te atrapalhar em nada, e qualquer coisa você pode explicar
ao seu cliente que é apenas felicidade pelo nascimento do bebê.
Ajudei-a a descer a escada. Segurei suas mãos e a trouxe para mim.
Abaixei minha cabeça e cheirei seu cabelo.
Tatiana deu uma rápida olhada na porta e parte do meu tesão se esvaiu.
Claro que ela estava preocupada em ser descoberta.
— Benjamin está lá fora?
— Com Helena em seu escritório, tenho certeza.
Observei meu escritório com mais atenção, havia uma bacia horrorosa
de latão em cima da minha mesa.
E encarei. Ela fungou.
— Eu tive um dia difícil. — Tatiana encolheu os ombros.
— E resolveu se vingar no meu escritório?
— Ei! A bacia foi ideia de Helena.
— E os enfeites?
Ela piscou um dos lindos olhos verdes.
— Eu sabia que isso iria te irritar, e eu queria uma briga. — Ela deu de
ombros novamente, suas bochechas ficando rosadas.
— Você queria brigar? — Eu balancei minha cabeça. — Mulheres
gostam de brigar? Eu realmente entendo pouco as mulheres. É por isso que
meus relacionamentos duram um mês, no máximo.
Não era a coisa certa a dizer.
Ela me empurrou.
— Já passamos um mês. Então, você está dizendo que chegamos ao
“limite”. Se é isso...
O pânico tomou conta da minha garganta e eu a puxei contra mim.
— Eu sinto muito. Eu sou um idiota. Fui cruel, e peço desculpas — eu
apertei seu pulso e segurei firme. — Eu não sei direito como falar... Eu
nunca tive isso antes.
— Isso o quê?
Eu puxei um ombro.
— Compromisso. E uma relação em que tivesse que tentar entender os
sentimentos de outra pessoa. Eu sempre pensei apenas em mim.
Sua risada flutuou sobre mim, mais doce que o copo de vinho que eu
tinha tomado no almoço.
— Você é tão incrível.
— Foi o que você disse essa manhã.
— Não, idiota. Falo de como você é legal quando é sincero.
Eu gostei dessa declaração. Me aproximei mais, e Tati não fugiu.
Nossos rostos cada vez mais pertos, meu coração acelerado como nunca.
— Ei, está tudo bem aqui? — Helena ficou em silêncio, parando na
porta.
Imediatamente, dei um passo para trás e alisei a mão sobre a gravata
enquanto Tati pulava na direção oposta.
— Claro. — A voz de Tati era estranhamente alta enquanto ela corria
para recolher papéis brilhantes azuis do chão.
A ação não enganou ninguém, inclusive minha cunhada. Mas ela não
estava olhando para Tati. Sua atenção estava centrada diretamente em mim.
— Tati, você pode me dar licença? Quero falar com Bruno.
Ainda coletando papéis, Tati olhou entre nós.
— Helena?
Contudo Helena não a esperou sair. Seu dedo em riste apontou para
mim.
— Eu confiei em você. E você a seduziu, não é?
Fiquei sem palavras.
— E daí? — Tati tentou entrar na minha frente. — Não tenho
permissão para ter prazer na minha vida? Você tem isso o tempo todo. E eu?
— Eu nunca disse que você não podia ter prazer. Até me ofereci para
comprar aquele vibrador que eu gostei e você disse que não!
Meus olhos se arregalaram.
— Senhoras, este é um local de trabalho. — Eu imediatamente parei
de falar quando elas olharam para mim. Talvez quando recomeçassem, eu
simplesmente podia escapar da sala e resolver a pendência que me trouxe ao
escritório.
Oh merda, a pendência!
— O que está acontecendo? — Benjamin surgiu na porta.
Maravilha. Minha vida agora seria parte da reunião de família.
— Por que você não pergunta a seu irmão o que está acontecendo?
Pelo olhar de Helena, percebi que deveria dizer algo. Como eu me
importava com o fato de estarmos num escritório de negócios - apesar dos
sapatinhos azuis – decidi ter bom senso.
— Isso pode ser discutido em outro momento — eu disse
uniformemente.
— Ah sim, como quando? Hoje à noite?
— Não. Temos planos essa noite. E planos que incluem orgasmos. —
Tati retorquiu.
Benjamin esfregou sua têmpora.
— Do que diabos vocês estão falando?
— Lembre-se, isso é tudo por sua causa, Helena. Foi você quem
insistiu que ele viesse comigo para Bento Gonçalves. E sabe por quê? Não
confiou que a caipira aqui podia se virar sozinha! E você, Benjamin, sempre
me tratou como uma coitada que não consegue arrumar um homem. Olha só
a novidade! A caipira aqui está fazendo sexo por fazer com um cara bonitão,
sem nenhum vínculo sentimental, porque eu não preciso de sentimentos para
estar com alguém. Eu só preciso da minha própria satisfação.
Ninguém falou, muito menos eu. Ela conseguiu me colocar no lugar
que eu estava tentando negar desde o primeiro dia. Que tudo aconteceu por
conveniência, pelo mesmo motivo que continuamos, por conveniência.
Só havia um problema: não era verdade. Não, ao menos, para mim.
Mas como eu saberia o que se passava com Tati? Pelo que ela acabara
de dizer, com certeza eu era apenas o cara que estava no lugar certo. Fosse
porque estava zangada, ou por se sentir acuada, ela também parecia honesta.
Às vezes, a verdade era falada nos momentos mais inconvenientes.
E eu não queria ouvir isso. Agora não.
— Eu tenho algo a resolver — disse, querendo todos eles fora da
minha vista.
Incluindo Tati.
Especialmente ela.
TATIANA

Em vez de fazer sexo romântico em um final de semana maravilhoso


na cabana da família - ou, melhor ainda, sexo bem sacana - passei a noite
sentada no sofá assistindo Midsommar na Amazon Prime.
Sério. Nem foi tão ruim. A protagonista do filme ao menos consegue se
vingar do merda do namorado. Eu queria poder ver Bruno queimar depois de
me deixar de lado como se eu não fosse nada.
Suspirei.
Se ele estava zangado, não podia culpá-lo. A forma como reagi a
Helena, a maneira como desqualifiquei nossa relação a um sexo casual sem
importância... Como eu me sentiria se fosse ele a dizer as palavras?
Isso precisava parar. Eu não era essa pessoa. Estava na hora de fazer
escolhas claras e decisivas. Bancar a mulher madura, sem amarras sexuais
não estava funcionando. Eu estava mais ciente que nunca que não era algo
casual. Eu sabia que meu coração se partiria aos pedaços se ele terminasse
comigo.
Busquei um pote de sorvete de chocolate e comecei a comer diante da
TV. Foda-se a dieta.
Tinha sido tolice nos forçar a nos esconder como se fôssemos um
segredo vergonhoso. Talvez tenha sido divertido a curto prazo, mas a longo
prazo, não fazia sentido. A longo prazo eu só estava me machucando.
Exceto que esse era o ponto. Eu não tinha pensado que havia uma
chance de continuarmos a longo prazo. Claro, eu queria uma aventura, mas
parte disso era porque era Bruno, e eu o conhecia o suficiente para confiar
nele.
Eu sabia que ele não me machucaria. Não propositalmente. Porra, ele
havia deixado eu pendurar sapatinhos em seu escritório, mesmo que não
quisesse decorações. Por quê? Só para me agradar.
Bruno era esse tipo de cara. Nunca – nunca – ouvi qualquer uma das
suas ex falando mal dele.
E eu retribui fazendo-o parecer um idiota.
Eu também menti para minha melhor amiga e fui estúpida quando tudo
que ela demonstrou foi se preocupar comigo. Ela podia ter enviado Bruno
atrás de mim, mas tinha sido minha escolha - nossa escolha - dar o próximo
passo.
Um que tínhamos repetido desde então.
Nosso relacionamento não era a única coisa que eu escondia. Eu
também estava negando seriamente porque vomitei três vezes seguidas,
apenas para não ficar doente pelo resto do dia. Isso foi agravado pelo fato de
eu ter sentido outros sintomas preocupantes também.
Meu celular vibrou. Busquei-o com ansiedade, esperando ser Bruno.
Mas era minha mãe.
“Ei, adivinha quem está indo para Esperança? Mal podemos esperar
para vê-la. Espero que você tenha arrumado uma cama extra”.
Nós não nos víamos há meses. Eu não queria fazer um teste de
gravidez com minha mãe em casa, mas também não queria fazer sozinha.
De alguma forma, queria Helena comigo.
Ou Bruno.
Desliguei o televisor. Me levantei.
Ele não voltaria a cabana e eu precisava retornar para meu apartamento
para recepcionar minha mãe quando ela chegasse – o que podia ser naquela
mesma noite ou na manhã seguinte – ela não especificou.
E então? Era o fim?
Era assim que se acabava essa coisa? Achei que ele fosse dizer algo,
mas seu silêncio era o que mais me perturbava.
Ainda estava com as chaves do seu carro, rumei para fora.
Se Bruno não me queria mais, como eu explicaria a coisa toda da
gravidez, embora ele tivesse uma noção da possibilidade por causa da coisa
idiota do preservativo em Bento Gonçalves.
Também não sabia como ele reagiria às notícias de uma criança. Ele se
provou tão imprevisível ultimamente. Aliás, eu também.
Eu queria um relacionamento.
Eu não queria um relacionamento.
Tudo se resumia ao fato de eu estar com medo.
Eu estava com medo de querer e não ter. Era mais fácil recusar o
pensamento do que alimentar esperanças.
Avancei pela estrada. Passei pela casa mal assombrada. Eu lembro de
ser apaixonada por sua arquitetura única, mas sua história era perturbadora.
Tanta gente morreu naquele lugar...
Desviei o olhar e continuei conduzindo até perto do escritório dele.
Estacionei lá e pus a chave embaixo da porta.
Comecei a andar em direção ao meu prédio.
E se eu perdesse Bruno por causa dessa coisa toda me perturbando? Se
ele conhecesse outra? E se eles se apaixonassem e tivessem bebês perfeitos
num casamento perfeito. Talvez eles nem brigassem...
Ao contrário de nós que parecíamos gato e rato.
Mas, gostava de brigar com ele. E de fazer as pazes depois. Eu também
gostava de rir com ele. Sim, passei boa parte do tempo irritada com ele, mas
nós dois gostamos do nosso estilo combativo.
Deus, eu estava tão vulnerável agora...
Ele provavelmente estava bravo comigo - com razão - mas eu não
podia aguentar esse momento. Não agora. Não com tantas dúvidas dentro de
mim.
Havia outras questões. Se eu estivesse grávida, eu teria que deixar o
bebê numa creche para ir trabalhar... Eu precisava do dinheiro. Não seria uma
coisa tranquila, compartilhar com Bruno as responsabilidades, porque eu era
ciente de que a coisa toda sempre sobrava para as mulheres.
Mãe solteira em Esperança. Por que eu não me dava logo um tiro na
cara?
Seja adulta, Tatiana! Foi pra foder, seja para assumir sua
responsabilidade!
Não que eu pensasse que Bruno fosse se esquivar de algo. Ele era
muito homem. Mas... tinha coisas que eu iria querer fazer. Ter...
Porém, antes de tudo, precisava ver se realmente havia motivo para a
preocupação.
Olhei para meu apartamento a meia quadra e depois espiei a farmácia.
Estava frio para cacete, mas eu precisava resolver isso antes de ir pra
segurança e calor da minha casa.
Comprei meu teste sem nem olhar para a cara da atendente. Saí
correndo e rumei na direção da segurança.
Meus olhos estavam ardendo, e não era por causa do vento frio.
Entrei no meu banheiro e alinhei os testes na pia. Minhas mãos
tremiam e eu tive problemas para fazer xixi, já que estava muito nervosa.
Depois de enfim conseguir, nada restou a fazer senão esperar. Olhos
fechados, mal respirando.
A parte mais louca de tudo isso? Eu não sabia se queria engravidar. Ao
mesmo tempo, o pensamento de não estar grávida me deixava tão vazia.
Mordi meu lábio, pressionando até provar o sangue. Fui até os testes.
Um a um, eles foram me dando sua sentença.
Grávida.
Meus olhos transbordaram, correndo lágrimas sem controle pelas
minhas bochechas. Eu olhei para o meu reflexo no espelho e segurei meu
estômago, incrédula, assustada e tão feliz.
E Bruno? Como se sentiria?
Ele iria surtar? Claro que iria. Ele quase teve um surto com o
preservativo rasgado. Antes daquela viagem, nunca pensamos em algo
íntimo.
Mas é isso. Juntos. Presos pelo resto da vida por essa criança, goste ele
ou não.
Benjamin era um ótimo pai e fora pego de surpresa pela gravidez da
ex-mulher. Bruno sabia das possibilidades. Mas Benjamin e sua ex haviam se
casado apenas por causa do bebê, e o casamento logo terminou.
Não queria me casar pelo mesmo motivo. Quando me casasse, queria
que fosse por amor.
Amor...
Meus pensamentos deram um movimento súbito com outro
pensamento.
O que pensaria a família de Bruno da situação?
Deus, e se Helena e Benjamin me odiassem? E se eu tivesse perdido
Bruno por causa do que disse mais cedo?
Talvez isso não importasse mais.
Eu funguei e me recompus.
Meu celular tocou e eu o peguei, o nome de Benjamin na tela.
— O bebê? — Eu perguntei, sentindo um alívio através de mim que
eles ainda pensavam em entrar em contato comigo apesar da nossa discussão.
— Está na hora?
— Está na hora. Estamos a caminho do hospital.
Ouvi um grito ao fundo que era inconfundivelmente minha melhor
amiga.
— Tatiana - Helena me chamou. — Depressa!
Meus olhos se encheram de novo e eu ri, desistindo de qualquer
esperança de conter as lágrimas. Claramente, essa noite eu deixaria minhas
emoções correrem desenfreadas, sem culpa.
— Estou a caminho. Não ganhe até eu chegar lá, está bem? Eu quero
ouvir o primeiro choro.
Tudo em um dia.
Descobri que teria meu próprio filho e conheceria meu afilhado.
— Eu farei o meu melhor — disse Helena em voz alta, obviamente
falando entre dentes. — Mas é melhor se apressar.
Corri até a sala. Enfiei meus pés de volta em minhas botas e umedeci
meus lábios.
— Alice?
— Bruno está com ela. Não se preocupe.
— Obrigada por me ligar, Benjamin. Eu... isso significa muito para
mim.
— Você é da família — ele disse simplesmente.
Sim, as lágrimas seriam uma coisa hoje.
Depois de pegar minha bolsa, corri para o hospital. Mal tinha chegado,
Benjamin me mandou uma mensagem novamente. Desta vez, havia uma
imagem de um menino lindo de cabelo escuro, enrolado em um cobertor
branco.
Eu gritei exatamente onde estava no corredor do hospital.
— Você está bem, senhora? — Uma enfermeira tocou no meu braço.
— Sim, estou bem. Olha, minha melhor amiga acabou de ter um bebê!
Eu sou madrinha dele. Ele não é o garoto mais adorável do mundo? Espero
que o meu seja... — Parei e apontei um olhar culpado para minha barriga.
Essa informação precisava permanecer em segredo apenas um pouco mais.
— Ele é tão fofo.
— Com certeza ele é. — A enfermeira sorriu. — Olhe para as
bochechas coradas.
Alguns minutos depois, aproximei-me da porta de Helena, parando do
lado de fora quando a voz estridente do Sr. Gatti ecoou para fora da sala. Ele
estava mais feliz agora do que no passado. Talvez porque seu filho fosse
casado e tivesse um novo neto...
Era estranho, mas acho que Helena mudou Benício. Antes, ele sequer
aceitava a presença da nora. Agora, a via com outros olhos.
Respiro fundo. Deus, o que ele pensaria do meu bebê? Ele pensaria que
fiz isso intencionalmente para tentar conseguir uma pensão polpuda?
Bruno pensaria que eu estava atrás do dinheiro dele?
Eu não conseguia pensar em nada disso agora. Estava aqui para apoiar
Helena e Benjamin e ver meu afilhado fofinho. O resto esperaria.
Batendo na porta, enfiei a cabeça e sorri.
— Olá. Posso entrar?
— Claro. — Helena deu um sorriso cansado e me acenou. Ela estava
apoiada por um monte de travesseiros com Benjamin e o Sr. Gatti nos dois
lados da cama.
Quando vi Benício, lembrei-me de que ele estava no escritório quando
eu tive aquela explosão.
Por favor, por favor, não deixe que ele tenha ouvido sobre minha vida
sexual com seu filho caçula.
Se ele ouviu, o bebê não seria um choque.
— Cheguei tarde demais, desculpe. Terminou tudo bem? Seu filho veio
tão rápido. Super rápido, especialmente para uma mãe de primeira viagem.
Onde ele está? Ele é tão adorável. Benjamin me enviou uma foto.
— Ele teve angústia respiratória, então eles o levaram para garantir que
estivesse bem. Nada para se preocupar. — Helena torceu o anel de
casamento em volta do dedo. — C oisas de rotina, eles disseram.
Benjamin cobriu as mãos dela com as dele muito maiores.
— O mesmo aconteceu com Alice quando ela nasceu.
— E com você — acrescentou Benício. — Bruno não, no entanto.
Esse já saiu gritando.
Todos nós rimos, e Helena e eu trocamos um olhar do tipo que dizia
que tínhamos muito a dizer uma a outra, depois que os ouvidos indiscretos
dos homens se fossem.
Isso aconteceu mais rápido do que eu esperava.
O Sr. Gatti e Benjamin foram tomar um café, e puxei um banquinho ao
lado da cama.
— Então, quando as contrações começaram? Doeu mesmo? Oh meu
Deus, o que estou perguntando, você estava gritando no telefone.
Helena riu baixinho e balançou a cabeça.
— Nós vamos conversar sobre isso, mas primeiro, o que está
acontecendo com você?
— Comigo? — Coloquei meu cabelo atrás das orelhas.
— Eu conheço você. Algo está acontecendo. Algo grande. — Ela se
inclinou para a frente e estremeceu. — Ah, ainda não consigo me mexer bem.
Eu estou costurada como uma roupa velha.
— Acho que gosto mais da ideia de uma cesariana. Minha vagina não
foi feita para empurrar uma melancia.
Ela sorriu.
— Na verdade, toda vagina consegue isso. Somos super vaginas,
fantásticas, amiga — cantarolou.
— Você sabe o que eu quero dizer.
— Eu achei que seria pior — ela confidenciou.
— Conte-me tudo.
E ela contou. Contou da dor. Foi imensa. As contrações, a forma como
apertou a mão de Benjamin. A maneira como começou a andar no hospital.
Contudo, como uma gata, logo ela já sentia o bebê saindo. Ela quase teve o
filho de cócoras no corredor.
— Você parece prestes a desmaiar. Está bem?
— Estou bem. — Eu sorri e respirei fundo. — Estou grávida.
Eu não quis dizer isso. Não aqui, e sem dizer a Bruno primeiro. Mas eu
precisava desabafar.
Helena soltou uma risada e apertou o peito através da fina roupa de
hospital.
— Por um segundo, pensei que você estivesse falando sério.
— Estou.
Eu olhei para a roupa de cama que eu não tinha percebido que estava
puxando com meus dedos.
— Antes de Benjamin ligar, eu estava fazendo o teste...
— Oh, Tati. — Seu sussurro compreensivo me fez encarar com mais
força o cobertor branco para que eu não começasse a berrar histérica. — Ele
sabe?
— Ainda não. Mas não será uma grande surpresa. Pelo menos não
deveria. O preservativo rasgou na primeira vez.
— Eu nem sei o que dizer... me desculpe...
Eu funguei e ri.
— Você sabe que eu sempre quis filhos. Acho que provavelmente foi
bom manter o hímen por tanto tempo, porque devo ser putamente fértil. — E
sim, havia mais lágrimas se juntando bem na hora. Eu teria que beber um
galão de água para me reidratar.
Suspirei. Eu já amava meu filho, já o queria desesperadamente, então
não havia espaço para olhar para trás ou para ter arrependimentos.
A única coisa que ainda me enervava era a reação de Bruno.
— Quando você vai contar a ele?
Eu suspirei e lutei contra o desejo de fugir da pergunta.
— Hoje à noite, assim que eu sair daqui. Eu não falo com ele desde...
— Eu inclinei minha cabeça. — Eu sinto muito. Eu agi como uma idiota lá
no escritório. Estou surpresa que você me ligou hoje à noite.
— Melhor amiga, lembra?
Nós duas rimos.
Foi tão bom rir no meio da loucura que minha vida se tornou.
Nada poderia ser tão ruim ou assustador, desde que eu tivesse minha
melhor amiga.
— Você e Bruno, eu sei como começou. Eu sei que desempenhei um
papel nisso, e se isso foi um erro...
— Não — assegurei-lhe rapidamente. — Tudo foi bom. Eu não me
arrependo de nada.
Ela assentiu, seus olhos suspeitosamente brilhantes.
— Ele é um homem decente. O que isso significava?
Esfreguei minha testa, cansada. Agora que sabia, sem dúvida, que estava
grávida, estava exausta. Não era como se eu não tivesse outras preocupações,
mas elas seriam enfrentadas no devido tempo.
No momento, Bruno era o mais importante e, além disso, meu foco
estava na minha necessidade de descansar.
— Eu me sinto tão culpada. Tudo o que você disse sobre mim e
Benjamin era verdade. Enfiamos o nariz e dissemos coisas que não estavam
certas, e isso nem era da nossa conta.
— Hormônios — eu apontei. — Seus e meus.
— Você sabe o que eu vi quando entrei no escritório dele?
— O quê? — Eu perguntei cautelosamente
— Bem, o lance sexual era gritante, e quase me deu um ataque
cardíaco. Mas havia mais. O jeito que ele estava olhando para você, à beira
de um sorriso... havia mais lá, Tati, eu juro.
Minha garganta parecia muito apertada para engolir, então esfreguei
meu pescoço para tentar fazer tudo funcionar novamente.
— Você precisa contar a ele imediatamente.
— Eu vou.
Helena assentiu, aplacada. Depois agarrou minha mão ferozmente.
— Eu estarei lá a cada passo do caminho. Eu juro.
Exalei, longa e lentamente, e apertei seus dedos.
— Eu sei disso. — Forcei um sorriso no meu rosto. — Meus pais
estarão aqui amanhã.
— O que eles vão dizer? — ela pareceu assustada.
Dei de ombros.
— Não importa. Eu nunca quis tanto algo quanto eu quero esse bebê.
Nós compartilhamos um sorriso e então eu me inclinei para frente para
lhe dar um abraço gentil.
— Vou passar pela sua casa, ver se ele precisa de ajuda com Alice.
Assim que saí da sala, peguei meu telefone.
Era hora de enfrentar a consequência dos meus atos.
BRUNO

Alice não queria dormir. Estava animada com o nascimento do irmão, e


achei que colocá-la para assistir O REI LEÃO, na Amazon Prime, seria
melhor que tentar obrigá-la a se deitar.
Não sei por que diabos aquele filme me emocionava tanto. Tive que
afugentar as lágrimas quando o pai de Simba morre. Dancei e cantei com ela
Hakuna Matata e, depois, enquanto organizava alguns papeis, assisti a luta
das leoas contra as hienas.
Enquanto me sentava na mesa de jantar, com uma pasta e uma caneta a
minha frente, e os olhos girando para a enorme televisão de Benjamin,
vislumbrei o telefone vibrar.
Era Tatiana. Eu quis ignorar, mas cedi a tentação de ler sua mensagem,
as palavras ecoando na minha cabeça.
“Precisamos conversar. É importante”.
Eu nem precisei pensar na minha resposta.
“Quando?”
Imaginei que ela marcaria o encontro para o dia seguinte. Talvez
depois do trabalho. Importante ou não, já era tarde o bastante e aquele dia
havia sido cheio.
Sua resposta veio rapidamente.
“Agora, se puder. Eu sei que está com Alice, mas seu pai está indo
cuidar dela. Ou, se quiser ficar aí, posso te ajudar a cuidar dela”.
Cuidar de minha sobrinha não era o que eu tinha em mente. Apesar de
estar um pouco magoado pela maneira como ela falou no escritório, estava
mais que disposto a trocar meu perdão por sexo. Mas se passarmos a noite
com Alice, certamente não seria transando na casa de Benjamin.
Eu digitei uma resposta.
“Se meu pai está vindo, prefiro te ver em outro lugar. Te encontro em
uma hora?”.
“Onde?”
“Na cabana. Você está de carro? Posso te dar uma carona.”
“Eu pego um táxi. Te encontro lá”.
Eu me congratulei mentalmente, já ansioso para a chegada de meu pai.
Gostava de sexo, mas com Tatiana cheguei a um novo nível de intimidade.
— Posso ver meu irmão de novo? — Alice veio até mim e pressionou
as mãozinhas nos meus joelhos.
Afastei o texto de Tati e puxei o que Benjamin havia enviado junto
com a foto do bebê.
Meu novo sobrinho era tão pequeno. Tão fácil de quebrar. Eu segurei
Alice logo após o nascimento dela e fui atingido pela mesma coisa. Aquela
sensação de impotência e medo.
Era assustador e eu me perguntava como Benjamin não surtava.
Quando Alice nasceu, e foi colocada em meus braços, fiquei ansioso
para devolvê-la aos pais. Ela era fofa e tudo mais, e eu a amava antes mesmo
de nascer, mas não tinha nenhum interesse em crianças.
Nos últimos anos, as coisas mudaram. Eu mudei. Não ao ponto de estar
ansioso para procriar, mas a ideia não era tão abjeta quanto antes. Eu também
desenvolvi alguma afinidade com crianças. Minha sobrinha em particular.
Você não consegue ser um bom tio se não entender que a Elza de Frozen é a
melhor princesa e que o Bob Esponja é legal e não um retardado.
Alice esticou o pescoço para ver meu telefone, e a sensação potente de
paternidade me tocou.
Desviei os pensamentos.
Isso é tudo culpa de Benjamin. Maldito seja. Ele ficou me mandando
fotos adoráveis do recém-nascido, e me dava tempo para ficar perto dessa
loirinha perfeita que parece uma boneca, e todos os meus instintos me tocam
em direção à paternidade.
Virei o telefone em sua direção e ela o pegou, puxando a tela para perto
do rosto para poder examinar todos os detalhes.
— Ele não se parece comigo — disse tristemente.
— A cor do cabelo?
Ela assentiu.
— Bem, ainda é cedo. Seu pai e eu nascemos com cabelos claros que
depois ficaram mais escuros. Às vezes muda.
— Ele não é uma garota.
Meus lábios tremeram. Alice queria uma irmã. Quando Helena lhe
dissesse que estava tendo um menino, todos pensaram que ela aceitou a ideia
de um irmão. Contudo, claramente, agora, mudava de opinião.
— Não, ele é um garotinho. Mas os meninos são divertidos também.
Ela olhou para mim, havia deboche em seu olhar. Deus me ajude,
aquela menina era quase minha cópia advogando. Com certeza ela seria
herdeira de nosso escritório.
— Você não tem um amiguinho na escola? Como é mesmo o nome
dele? Daniel?
Sua expressão se iluminou.
— Meu namorado?
Propositalmente ignorei a informação. Era só o que faltava, um
namorado!
— Sim, seu amigo que é menino. Você gosta dele, não é?
— Sim, nós vamos nos casar.
Arquivei essa informação para incomodar Benjamin no futuro.
Provavelmente quando ele me encurralasse sobre Tati, o que esperava que
fosse a qualquer momento, agora que Helena havia descoberto.
— Seu pai sabe do seu casamento? Ele deve estar tão animado.
Alice colocou o dedo na boca, em sinal de silêncio.
— É um segredo.
— Ah, eu sei como é isso.
Percebi que fiquei feliz por pelo menos a parte secreta da minha
relação com Tatiana ter terminado. Segredos eram um saco.
— Daniel é legal — ela acrescentou, voltando a olhar para o meu
telefone. — Mas não sei se meu irmão vai ser.
— Bom... Meu irmão era muito chato...
Alice franziu a testa.
— Papai?
— Sim. Ele era chorão, e eu não o queria por perto. Até que seu avô o
levou para a escola um dia e eu tive que ficar em casa porque estava doente.
Você sabe o que aconteceu?
Lentamente, ela balançou a cabeça.
— Fiquei sozinho o dia inteiro. Devia ter sido legal, mas não tinha
ninguém com quem conversar, brincar ou mesmo brigar. Não foi divertido.
— Você queria que ele voltasse?
Eu assenti.
— E quando ele conheceu Helena e ela se tornou sua melhor amiga, eu
fiquei com ciúmes.
Eu não contaria que também gostava de Helena e meus ciúmes eram
além dos de irmão. Alice não precisava saber disso.
— Papai é seu melhor amigo?
Eu jamais teria caracterizado Benjamin dessa maneira, mas supunha
que era verdade. Até porque eu não tinha amigos além do meu irmão e da
minha cunhada.
E agora, Tatiana.
— Sim. — Engoli em seco e baixei meu telefone.
Alice torceu o nariz.
— Mas, e se papai e mamãe gostarem mais dele? — ela sussurrou.
Oh céus, era tão adorável.
— Isso nunca vai acontecer. — Peguei-a pela cintura e a puxei para
meu colo, fazendo cócegas que a fizeram gritar e rir. — Helena ama você
mais que tudo nesse mundo. E ela vai amar seu irmão da mesma maneira.
Além disso, você é a princesa dos olhos do seu pai. Seu irmão também será
amado, porém, não mais nem menos.
De repente a porta abriu e meu pai surgiu por ela. Alice desceu do meu
colo e correu para agarrá-lo pelos joelhos. Ele nunca tinha sido um pai
presente ou um avô excessivamente carinhoso. Até o último ano.
Ele mudou.
Não sei bem por que, mas estou feliz que o tenha feito.
Depois que Alice correu para a cozinha para pegar alguns doces, dei
um rápido abraço em meu pai.
— Como está o bebê?
— Saudável. Um Gatti em tudo. — Meu pai sorriu. — Como estão as
coisas aqui?
— Bem. Ela está assistindo “O Rei Leão” pela quinta vez só hoje.
— Oh céus.
— Ah, e tem que dançar a música do Timão e Pumba junto com ela.
— De novo, oh céus.
Eu tive que rir
— Vai assumir a guarda da rainha, não é?
— Quem te contou? Seu irmão?
— Tatiana — eu disse cuidadosamente, testando.
Eu não sabia se ele tinha ouvido a gritaria no escritório - certamente
esperava que não -, mas estava interessado em ver como ele reagiria à ideia
de seu filho com Tatiana.
— Você está namorando com ela? — exigiu.
Não sabia o que responder. Nós não tínhamos discutido isso, e ela
insistia na ideia de que era só sexo.
— E se eu dissesse que estou?
— Eu diria que está na hora de você se aquietar e assumir uma mulher.
Ela é uma boa menina.
Me despedi de Alice e saí mais chocado do que queria admitir. Meu pai
não tinha incomodado Benjamin com Simone, a mãe de Alice, mas ele
relutou em dar a Helena qualquer sinal de aprovação.
Cheguei à cabana e Tati estava sentada no sofá, com os olhos fechados
enquanto parecia meditar.
Sua beleza era impressionante.
Bati na porta e de repente sua tranquilidade desapareceu.
— Oi. — Ela passou a mão pelos cabelos, parecendo receosa.
Aproximei-me. Esfreguei meu polegar sobre sua bochecha e ela
estremeceu visivelmente.
Porém, logo se afastou, nervosa. Arqueei as sobrancelhas.
— Olha, eu queria me desculpar. Eu nunca quis insinuar que você é
tipo... um vibrador. Eu estou feliz por estar com você. Eu disse isso a Helena
hoje à noite — ela atirou tudo de uma só vez, me surpreendendo.
Engolir de repente se tornou muito mais difícil.
— Você disse?
— Sim. Eu disse a verdade, que você era exatamente o que eu
precisava naquela noite, e continuou sendo nas noites que se seguiram, desde
então. — Ela contorceu as mãos. — Ok, estraguei tudo. Às vezes, minha
boca é muito grande. Eu sinto muito. — Ela avançou e inclinou a cabeça no
meu queixo. — Sinto muito, Bruno. É sério. Eu sinto.
Sorri.
Minha. Tatiana era minha.
— Você viu o bebê? — Eu perguntei.
— Não. O bebê está em observação. Ele teve alguns probleminhas,
mas está bem. Eu vi uma foto. Ele é maravilhoso, perfeito. — Ela engoliu
audivelmente. — Você viu uma foto também, suponho?
— Sim. Provavelmente a mesma. Alice ficou desapontada por ele não
se parecer com ela.
— Oh, bem, os bebês mudam muito.
— Exatamente o que eu disse a ela. Além disso...
— Oh... Deus, isso é tão difícil — ela me interrompeu.
Tati estava muito nervosa, mas não devia estar. Tivemos um
afastamento temporário, uma mini briga, mas já estava tudo ok. Então, por
que ela estava prestes a desmaiar?
Eu não estava pronto para ouvir o que ela tinha a dizer, fosse o que
fosse. Tudo o que eu queria fazer era voltar para onde estávamos. No sexo.
Na paixão. As coisas estavam perfeitas.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, apesar disso.
Ela se aproximou e passou a mão sobre a minha gravata, desde o nó até
o fim. Meu estômago tremia como se ela tivesse usado sua língua.
— Espero que você ainda me queira depois que eu te contar. Eu
realmente poderia aliviar o estresse fazendo sexo.
Eu fiz uma careta.
— Me contar o quê?
— Você vai ser pai.
TATIANA

Talvez ele estivesse prestes a desmaiar. Não sei dizer. Ele permaneceu
em silêncio, olhos arregalados fixos em mim, sem emitir nenhum som ou dar
qualquer sinal de que havia me ouvido.
— Você lembra que o preservativo rasgou, né?
Nada. Eu nem tinha certeza de que ele ainda estava respirando.
— Eu não queria esperar para lhe contar. Descobri hoje à noite, antes
de Benjamin me ligar sobre o bebê. O outro bebê. Não o nosso bebê. Ah,
Deus. Você não vai mesmo sair desse estado catatônico, né?
Bruno ainda estava parado imóvel.
O medo se enrolou ao meu redor como fumaça. Olhei para o celular,
pensando em chamar um táxi, meio tentada a ir embora. Mas, ao mesmo
tempo, não podia deixá-lo ali, daquele jeito.
— Bruno, pelo amor de Deus, diga alguma coisa.
Eu queria tanto que ele falasse. Todavia, quando ele o fez, desejei que
jamais tivesse aberto a boca.
— Isso é tudo culpa do meu irmão.
Eu esperei muita coisa. Especialmente um sorriso e um abraço. Na pior
das hipóteses, que ele fosse a porra de um homem que ao menos se
dispusesse a assumir a consequência dos seus atos. Mas, nada me preparou
para vê-lo jogando a culpa em Benjamin por ter ido a Bento atrás de mim,
começando essa relação.
— O que vamos fazer sobre isso? — indagou, como se eu tivesse todas
as respostas.
Eu estreitei meus olhos.
— O que vamos fazer? — repeti a pergunta. — Você, não sei, mas já
decidi ter esse bebê. Não precisa se envolver, se não quiser. A julgar pela sua
reação até agora, acho que nem quero que se envolva.
Deus, doeu dizer isso. Mas era melhor do que forçá-lo a ser pai se ele
não queria. Eu tinha amigos que os pais os desprezavam, tive uma amiga que
a própria mãe perguntava por que ela nasceu... Eu não queria que meu bebê
passasse pela mesma coisa.
Ele soltou um suspiro gelado.
— Talvez não devêssemos discutir isso agora. Seu sobrinho acabou de
nascer. Se vamos brigar ou coisa assim, é melhor eu pegar um táxi e ir
embora.
— Brigar? Estou pensando em soluções.
— Olha, com todo o respeito, vai pra puta que te pariu — afirmei.
— Pronto, começou.
— Comecei? Foi você quem culpou Benjamin por nosso filho e depois
perguntou o que íamos fazer, como se isso fosse um problema a ser resolvido.
E agora fala em “solução”. Vá se foder!
— Você está me ouvindo errado.
— Ah, jura? Você não está sendo um merda, é apenas a minha falta de
interpretação. Típico das mulheres surtadas — ironizei.
Eu não conseguia lidar com a negação, com a falta de alegria, não
quando estava vulnerável e determinada a proteger a vida frágil que crescia
dentro de mim.
A vida que eu mal tinha descoberto. Esses sentimentos eram todos tão
novos.
Respirei fundo, pensando em ser mais racional:
— Não precisamos conversar sobre isso hoje à noite, se você precisar
de algum tempo para processar, eu posso te dar isso.
— Você quer fugir?
Sua pergunta abriu um buraco dentro do meu peito.
— Não. Eu vim aqui hoje para me desculpar e contar sobre o bebê. E
queria estar com você. — Admiti. — Porque eu gosto de estar com você.
Acho que isso você sabe.
— Na verdade, não.
Apertei meus lábios e tentei não tremer.
Nas últimas semanas, comecei a ver que havia muito mais nele do que
aparentava. O problema era que continuávamos voltando aos nossos papéis
antigos e desgastados. Onde éramos adversários, em lados opostos sobre
tudo. Não sabia se devia baixar meus muros no que dizia respeito a ele, mas
tinha que tentar. Pelo meu bebê, eu arriscaria. E se ele me rejeitasse, bem,
então eu enfrentaria isso também.
Bruno foi até a lareira num dos cantos e jogou algumas toras no fogo.
Sua bunda se apertou contra as calças, fazendo minha boca secar.
Aparentemente, minha libido não tinha nenhum problema com ele, ou com as
palavras anteriores dele. Ou talvez pudesse culpar os hormônios da gravidez,
que começaram a funcionar cedo. Ou foram os muitos anos de abstinência.
Seja qual for o motivo, eu estava lambendo meus lábios quando ele se voltou
para mim.
Minha expressão deve ter me denunciado. Ele parou bruscamente,
franzindo a testa quando estendeu a mão para afrouxar a gravata. Essa
mudança não ajudou meu estado indesejado de excitação. Apenas os
movimentos rápidos de seus dedos quando ele separou o tecido fizeram
minha barriga tremer de uma maneira que não tinha nada a ver com o frio.
Eu precisava estar em guarda até saber sua posição exata. Em vez
disso, estava ficando mais e mais molhada.
Ele deu um passo em minha direção e passou os dedos sobre meu
pulso. A consciência formigou em seu rastro.
— Você sabe... os Gatti não têm muita sorte com mulheres e crianças.
Tipo, acho que Benjamin meio que quebrou a maldição, mas antes de Helena,
minha mãe nos abandonou por dinheiro, e a mãe de Alice foi embora para
não voltar por uma pomposa poupança que custa seus luxos na capital. Eu
meio que me assustei quando me contou sobre a nossa criança...
Nossa criança. Apenas duas palavras fizeram meu coração desmoronar.
— Eu não ia exigir que você fizesse parte da vida da criança. — Assim
que a declaração foi dita, amaldiçoei minha boca grande. — Quero dizer...
Eu não fiquei grávida para ganhar dinheiro... — Por que eu não consegui
calar a boca e deixar o homem falar?
— Não? — A mão dele caiu. — O que você ia fazer se eu sumisse?
— Nada.
— Nada? Você realmente não faz ideia dos gastos que uma criança dá,
não é?
Não havia recriminação no seu tom. Era mais tipo: “estou aqui e você
não vai me mandar embora!”. Não pude deixar de rir. Sua expressão suavizou
e minha garganta se apertou mais uma vez.
— Você tem certeza?
Engolindo profundamente, assenti.
— Sim. Fiz mais de um teste.
O pomo de Adão subia e descia.
— O que a fez fazer os testes? Está sentindo os sintomas?
— Um pouco de enjoo matinal essa semana. Fadiga. Desejo de comer
banana com salgadinhos – que aliás, é uma delícia, experimente. — Meu
estômago escolheu aquele momento para rugir, e ele olhou para mim,
horrorizado.
— Você realmente comeu isso?
— Não faz ideia de como é gostoso.
Sua mão tocou meu queixo. Logo, senti seus dedos afundando-se nos
meus cabelos. Puxando-me contra ele, rostos próximos, boca grudando-se.
Meus mamilos sensíveis e a fenda encharcada entre minhas coxas
deram um sinal positivo.
Eu estava tendo um bebê com esse homem. Isso significava tanto.
— Bruno... Caso você se sinta sufocado, eu só quero que você saiba
que tudo é voluntário. Eu não estou esperando nada. Nem dinheiro, nem...
nada.
Ele colocou as mãos sobre meus ombros.
— Não é uma situação como a de Benjamin e Simone — continuei. —
Estou pronta para enfrentar a situação da maneira que desejar. O que quer que
te faça sentir confortável, eu não vou te cobrar nada.
— E como você planeja fazer tudo sem mim?
— Eu não planejo nada — me defendi. — Não estou dizendo que sou
super foda, a mulher fantástica. — Suspirei. — Oh, que mulher não sonha
com esse momento e não o deseja perfeito? Num ambiente seguro para o
bebê. Sem drama. Sem brigas. Sem pressa de voltar ao trabalho para que
possa ter muito tempo com a criança. Sem se preocupar com o aluguel e as
despesas. Você sabe, ter uma família. Um lugar seguro e acolhedor para o
bebê. — Ao me ouvir, eu ri baixinho, balançando a cabeça. — Meu Deus,
eu sou muito mulherzinha.
— Parece que você será uma mãe incrível.
— É tudo que eu sempre quis. — Fechei meus olhos. — Não
engravidei de propósito. Mesmo que eu não tenha tomado a pílula do dia
seguinte, e ciente da camisinha rasgada... eu não estava esperando por um
acidente. Eu queria uma aventura. Algo divertido e casual. Eu não estava
pedindo uma gravidez.
— Eu sei que você não engravidou de propósito. Eu estava lá, lembra?
Assenti.
— Então, o que está pensando em fazer?

~***~

Deslizei minha mão para baixo, parando por um momento sobre minha
barriga. Nossos olhares travaram. Tantas coisas não ditas. Eu não sabia se
tinha imaginado como as pupilas dele estavam mais largas.
— Vamos fazer amor? — ele pediu.
Não era bem uma pergunta, e eu não conseguia responder de qualquer
forma. Eu apenas gemi enquanto ele me levava para o quarto.
Mãos, toque... tato... Cada movimento mais rápido, necessidade
aumentando até que não houvesse mais roupas entre nós.
Depois, seu pênis estava ao lado da minha bochecha, cheio e duro, e eu
queria na minha boca. Meus lábios se separaram e ele me deu a ponta,
descansando lá enquanto eu choramingava e usava meu corpo para nosso
prazer combinado.
Muito cedo, ele o retirou. Meus olhos confusos prenderam-se nos de
Bruno.
— O que foi?
Ele colocou as mãos debaixo dos meus braços e me levantou, não me
dando escolha a não ser envolver minhas pernas em volta dele enquanto ele
me carregava para a cama.
Ele me abaixou gentilmente em cima dos lençóis e abriu minhas coxas,
espalhando-as obscenamente largas quando se ajoelhou entre elas. Então sua
boca estava em mim, e eu não conseguia pensar, não conseguia respirar, não
podia fazer nada além de ser completamente dele.
— Tatiana — ele gemeu e eu me arrepiei inteira. — Você quer ser
minha namorada?
~***~

Eu sorri para meus pais. Eu não sei como diabos eles descobriram que
eu estava numa cabana com Bruno, mas eles apareceram naquela manhã no
lugar com olhar inquisidor.
Uma filha solteira numa cabana com um homem. Era uma vergonha...
Eu podia ler isso na face deles.
— Oi mãe — volvi para meu pai e percebi suas sobrancelhas curvadas.
— Oi pai. Como foi a viagem?
Bruno e eu havíamos acabado de acordar. Ele estava desnudo da
cintura pra cima, e eu estava usando uma boxer larga com uma camiseta –
dele. Nossas vestes explicitavam exatamente nossa relação.
Minha mãe veio em minha direção e me envolveu em um abraço.
— Tatiana... senti sua falta.
— Eu também, mãe. Muito. É tão bom ter você aqui.
Abracei minha mãe por mais tempo do que costumava, porque me deu
a oportunidade de manter os olhos fechados e rezar para que toda essa cena
desaparecesse. Eu vi Bruno antes de fechar os olhos, e ele estava atônito.
— Então, me diga como foi a viagem? Soube que as estradas estão
boas se vier por Panambi...
Minha mãe voltou e acenou com a mão.
— Seu pai insistiu em vir por Cruz Alta. Então, imagine... foi horrível.
Depois de Ijuí, as estradas estão péssimas.
Meu pai se aproximou, me dando um abraço também.
Minha mãe sorriu e olhou rapidamente para Bruno.
— Bruno Gatti, não é? Eu conheço bem seu irmão. Helena e ele foram
nos visitar Fenape.
— Fenape?
— Feira do peixe.
— Ah... — Bruno só faltava desmaiar. — Já tomaram o café da
manhã? Estávamos indo...
Não era que eu não estivesse feliz em ver meus pais. Pelo contrário, eu
sentia falta deles desesperadamente. Mas essa situação foi além de
embaraçosa. Normalmente, tinha que dar a notícia de que estava namorando
alguém, mas isso não acontecia quando teus pais te flagram numa cabana no
meio do mato com o cara.
Meu estômago roncou e eu os chamei em direção à cozinha.
Estava com tanta fome que enchi meu prato de omelete e estava prestes
a me sentar sem lembrar que não estava com roupas apropriadas.
— Volto já — eu disse. — Conversem entre si.
Depois de voltar correndo para o quarto, entrei no banheiro e gritei
com meu semblante de mulher fodida.
Sério. Se alguém quisesse ver a definição de mulher fodida no
dicionário, devia ter minha foto ao lado como exemplo.
Era muito óbvio que eu acordava de uma noite de sexo.
Vesti minhas roupas do dia anterior, tentando não me envergonhar com
os pensamentos. Eu já era uma mulher feita. Adulta. Que pagava minhas
contas.
Não é?
Eu dobrei meu cabelo, belisquei minhas bochechas e entrei na cozinha
com um sorriso, preparada para comer.
Entrei bem a tempo de ouvir as palavras "casamento" e "não tenho
muito tempo para escolher um local".
— Quem vai se casar?
Os três pares de olhos volveram para mim.
— Você — minha mãe apontou.
Foi quando eu comecei a engasgar.
— Quem disse? — Eu cuspi, lançando um olhar para Bruno antes que
fugisse para perto do fogão.
Meu Deus, o que ele havia dito enquanto eu ia me arrumar?
Meu pai pareceu sério ao responder:
— Bruno disse que você não nos avisou antes porque preferia dar a
notícia pessoalmente.
— Ah, ele disse?
Que diabos ele estava pensando? Por que ele mentiria para eles que
estávamos nos casando? A menos que... a menos que...
— Ele contou sobre o bebê? É disso que se trata?
O silêncio reinou, me fazendo pensar que não, esse era o palpite errado.
Talvez ele tivesse entrado em pânico por ter sido flagrado por meu pai.
Mas isso era loucura, considerando que nunca tínhamos discutido casamento.
Nós nem tínhamos discutido o compromisso real. Mesmo o pedido de
namoro pareceu apenas coisa do sexo, no limiar da paixão.
— Bebê? — Minha mãe pulou da mesa e correu na minha direção.
— Você está grávida? De Bruno?
— Ou do espírito santo. Vai que eu sou a nova Maria e o anjo Gabriel
esqueceu de avisar.
Bruno se mexeu para encostar no fogão, levando uma caneca de café
aos lábios.
— Eu não contei a eles. Achei que você iria querer...
— Gentil da sua parte. — Eu balancei minha cabeça quando minha
mãe finalmente parou de procurar no estômago por sinais de vida e recuou.
— Talvez você também pudesse ter adiado a conversa sobre casamento?
Pelo menos até falar comigo antes.
— Você me disse o que queria na noite passada. Explicou claramente.
Meu Deus, ele era tão retardado!
E pior, agia como se eu fosse uma boba.
Eu queria voar na cara dele, mas minha mãe segurou minhas mãos.
— Você está grávida? Tatiana, eu vou ser avó?
Eu balancei a cabeça. Que vergonha.
— Sim. Descobri ontem à noite antes de Helena ter seu bebê.
Eu não queria mais falar disso. Queria desaparecer. Olhei para o meu
relógio. Pela primeira vez, eu estava realmente empolgada para ir trabalhar,
mesmo com Márcia como chefe. Qualquer coisa para escapar dessa bagunça.
— Eu tenho um turno na cafeteria daqui um pouco.
— Você não precisa se preocupar mais com isso.
O tom de desdém de Bruno me enfureceu.
— O que isso quer dizer?
— Você realmente esqueceu tudo o que disse na noite passada.
— Eu não disse nada sobre o meu trabalho.
Ou disse?
— Você explicitou o cenário perfeito para ter esse bebê, disse que
queria se casar e ser dona de casa, sem se preocupar com aluguel e com o
tempo longe do bebê.
Meu rosto estava em chamas.
— E se vamos fazer tudo certinho, o melhor é fazermos o quanto antes,
para que você não se case como Helena, quase explodindo.
— É claro! Por que não agora, nesse exato momento? — retruquei. —
Não queremos que o abençoado nome Gatti seja manchado por um bebê fora
do casamento, não é?
— Você sabe como é Esperança. — disse ele firmemente.
— Eu quero que Esperança, você e esse estupido casamento vão pro
diabo que os carregue!
— Tatiana! — minha mãe reagiu.
Eu não quis dizer isso da maneira que soou. Mas... como não perder a
cabeça?
Bruno nunca disse "eu te amo" ou "quer se casar comigo, Tati?". Ele
apenas despejou tudo em cima de mim, sem esperar uma resposta.
Ele cruzou os braços, apertando o queixo. Seu rosto estava rubro.
— Bom, você passou tanto tempo na minha cama que a ideia de um
casamento rápido não me pareceu descabida.
Minha garganta estava doendo tanto que era incrível que eu conseguia
falar.
— Você é um idiota!
— Sou? Não fui eu que respondi a uma proposta de casamento com
“que o diabo te carregue”.
— Proposta de casamento? Em que momento?
— Chega disso! — meu pai me interrompeu. — Você sempre foi
assim, Tatiana. Sempre quis estudar, trabalhar fora... Uma moça devia se
casar, ter filhos, ser dona de casa. Em Ajuricaba, vários rapazes se
interessaram por você. Mas, sempre quis independência. E olha como
acabou...
— Como acabei?
— Num casamento às pressas para não mostrar que está grávida.
Recuei, furiosa.
— Amo minha independência. Amo quem sou, a pessoa que me tornei.
Incluindo minha gravidez. Amo esse bebê, e não tenho vergonha dele, nem
desejo de escondê-lo de ninguém. E ninguém vai decidir por mim que vou
me casar e largar meu emprego só porque fui honesta com meus sonhos de
ter uma família.
Os olhos dele brilharam.
— O tempo de decidir passou — meu pai apontou. — Você está
grávida.
— Do meu bebê. — Bruno completou. — Não podemos simplesmente
fingir que nada está acontecendo. Decisões precisam ser tomadas. É hora de
crescer e agir como adulta.
— Você é um babaca. Agir como adulta? Você quase teve um troço
quando soube que eu estava grávida. E, aliás, você nem consegue manter um
relacionamento com uma pessoa. Nem amigos você tem. A única coisa que
você consegue segurar na sua vida é o seu pau.
Minha mãe ofegou, mas eu não havia terminado.
— Você estava todo apavorado para que eu tomasse a pílula quando
aconteceu esse acidente. Ontem, quando lhe contei, estava todo aterrorizado.
Em nenhum momento você me deu sinais claros de que quer esse bebê. Então
foda-se você. Foda-se as regras de Esperança. Foda-se a vergonha de uma
filha grávida e solteira — olhei para meus pais. Voltei novamente para
Bruno. — Ah, e para sua informação, estou agindo como adulta. Estou
cuidando de mim e do meu filho, e depende de você se quer se envolver. Mas
pensei ter deixado muito claro ontem à noite que posso lidar com isso
sozinha. Eu posso cuidar do meu filho sem que alguém tome decisões por
mim, porque não sou fraca nem fresca.
— Pelo amor de Deus, Tatiana... — meu pai rebateu.
— Eu só estou tentando fazer o que é certo — Bruno interrompeu o
que quer que fosse que meu pai diria.
— O que é certo? Como você reagiria se eu fosse ao seu pai e dissesse
a ele que nos casaríamos sem sequer ter te perguntado isso antes? — Cobri
meu rosto com as mãos, incapaz de acreditar que essa era minha realidade
agora. — Eu sei que você pensa que estava fazendo a coisa certa, mas não
estava.
— Bem, então, me diga como devo corrigir isso, porque tudo parece
muito errado.
Eu deixei cair minhas mãos.
— Você não pode. Sabe por quê? Porque em toda a sua tomada de
decisão, você esqueceu o principal. Você sabe por que as pessoas geralmente
se casam, Bruno? — Minha voz era brutalmente suave quando dei um passo
à frente. — Não é para solucionar um problema. É porque se amam e querem
passar a vida juntos.
Ele olhou para mim, sua mandíbula dura e inflexível.
— Eu sei que você não me ama. Tudo bem. Mas não vou viver uma
vida de mentira apenas porque os Gatti ou meus pais acham que isso é o
melhor. Eu te disse ontem à noite que eu não sou Simone, jamais venderia
minha vida, nem meu bebê. Aliás, não tem dinheiro no mundo que me faça
desistir do meu bebê. — Engoli em seco, determinada a não chorar. — Você
também não vai me forçar a fazer o que acha melhor.
— Você não tem ideia do que estou pensando. Ou do que eu sinto.
— Talvez não. Mas agora você sabe como eu me sinto.
Eu me virei para encarar meus pais, que pareciam atordoados.
— Estou feliz que estejam na cidade. Vou conversar com Helena hoje e
combinarei um jantar para conhecerem o bebê. — Avancei para dar um
longo abraço em minha mãe e depois fiz o mesmo com meu pai. — Sinto
muito que essa manhã tenha sido assim. Conversaremos mais tarde, prometo.
— Então é isso? — Bruno perguntou. — Você está indo embora?
— Eu tenho que trabalhar.
Ele olhou para o meu prato ainda quase cheio.
— Você mal tocou no seu café da manhã.
Não respondi.
Apenas deixei a cabana sem olhar para trás.
BRUNO
Fui rejeitado.
Era isso.
Eu tinha um plano, certo de que era a escolha certa para Tati e meu
filho. Mas fui chutado tão logo o deixei claro.
Tah, ok. Eu não tinha pedido para ela se casar comigo. Francamente,
isso nem me ocorreu. Sei que Benjamin pediu Helena de joelhos, uma
caixinha com aliança nas mãos, mas cara... era outra circunstância. A
diferença era que eles tinham uma base de amor, confiança e amizade. Tati e
eu tínhamos sexo.
Suspirei.
Eu fui um idiota.
Tatiana disse mais de uma vez que ela não era como Simone, e eu sabia
disso. Minha relação com ela não chegava nem perto do que Benjamin viveu
com a mãe de Alice. Aquele havia sido um casamento puramente por conta
da gravidez. Mas... o nosso...
O nosso...
Tati sabia que meus sentimentos existiam? Não. Eu era um covarde,
tentei forçá-la a algo usando as aparências como escudo.
Tati não dava a mínima para as aparências. Eu estava errado em não
ver isso antes. Seu amor por nosso filho me abalou profundamente. Ela já era
uma mãe incrível, e o bebê ainda não havia nem crescido em seu ventre.
Eu tinha que ser digno dessa mulher.
Só que estraguei tudo.
E agora precisava provar a ela como me sentia. Mostrar a ela o quanto
significava para mim. Acreditava que ela entenderia o quanto eu me
importava pelas minhas ações. Acordar ao lado dela, ir dormir ao seu lado à
noite... Minha vontade de compartilhar minha vida com ela, de estar lá para o
nosso filho, parecia ser suficiente.
Não foi.
Obviamente, precisava de alguma orientação. Minha primeira
inclinação foi consertar as coisas com algum gesto romântico. Mas essa
também não era a resposta. Tati queria o romance, mas era muito mais prática
do que acreditava.
E ela estava puta da vida comigo...
Assim, não podia simplesmente aparecer diante dela com um buquê de
rosas.
Ela despedaçaria tudo e enfiaria as flores no meu cu.
Eu tinha que arriscar mais. Colocar tudo em jogo, mesmo sabendo que
havia uma boa chance de que não fosse suficiente.
A verdade? Eu estava apaixonado por aquela mulher. Como nunca
estive por nenhuma. Ela acreditaria nisso? Eu duvidava.
Durante quase uma semana, dei-lhe espaço. Me matou não vê-la, mas
eu esperei seu tempo.
E eu estava ocupado, também. Tinha um sobrinho novinho em folha
para estragar. Agora, estar perto de bebês tinha assumido um significado
diferente, considerando o fato de que eu teria o meu em um futuro não muito
distante.
— Você é bom com Bernardo — Helena murmurou, alguns dias
depois, enquanto eu embalava o bebê dormindo.
— O que não é bom é nomear uma criança inocente com o nome de um
cachorro famoso. Você sabe que ele vai se chamar São Bernardo na escola,
não sabe?
Ela revirou os olhos para mim.
— Era o nome do seu avô. Todos os homens Gatti começam com “B”.
Estava em dúvida entre Breno e Bernardo e fiquei com Bernardo. Vou contar
com a sorte, que a nova geração de crianças não seja tão estupida quanto a
nossa quando se trata de bulling.
Passei meus dedos por seu cabelo escuro. Meu sobrinho abriu seus
grandes olhos e bocejou. Eu ri.
— Você está muito cansado, hein, amigo? É difícil ser adorável e ter
todo mundo bajulado você, né?
— Ele está dormindo fácil com você. Ele nem sempre é esse tranquilo
assim. Você vai ser bom nisso... sabe... Como pai. — Helena sorriu
serenamente para mim quando eu dei a ela um olhar aguçado.
Tatiana deve ter contado a ela sobre nosso filho. No entanto, nenhum
de nós estava falando do assunto.
— Incrível como o tempo muda as coisas — murmurei. — Ano
passado você nem pensava em ter um filho.
— Seu irmão é um homem persistente. — Ela se inclinou para a frente
e passou os dedos sobre a bochecha macia de Bernardo. — Claro, eu quis
matá-lo quando ele me apareceu com um contrato para eu ser a mãe de um
filho seu..., mas Ben soube manejar a situação. Descobri que um Gatti,
quando quer algo, consegue.
Eu fiz uma careta. Essa era a maneira dela de me empurrar para ir atrás
de Tatiana?
— É mesmo?
— É verdade que, às vezes, os Gatti cometem erros. E persistem neles
por muito tempo.
Eu estava prestes a intervir quando ela continuou.
— Por exemplo, Benjamin. Ele acha que você é tipo um caçador.
Alguém que gosta mais da caçada do que da presa. Mas, eu não acho isso.
— Por quê?
— Minha melhor amiga me deu outra imagem do homem que você é.
Alguém gentil, presente...
Eu não sabia o que dizer. Tatiana tinha realmente dito isso a Helena?
Helena mexeu no cobertor que ela estava dobrando perto do berço. Ela
provavelmente não queria ter essa conversa. Mas devia pensar que importava
o suficiente para tentar. Por Tatiana e por mim.
— Nem Benjamin, nem eu, acreditávamos que você estaria levando
Tatiana a sério - disse Helena.
O bebê choramingou.
Comecei a devolver o filho, mas ela balançou a cabeça.
— Segure-o um pouco mais perto.
Eu fiz o que ela disse, deslocando-o contra o meu peito. A mãozinha de
Bernardo se esgueirou e agarrou minha jaqueta. Por algum motivo, meu
coração disparou.
Eu teria um desses. Ou seria uma garotinha como Alice, cheia de
impetuosidade?
— Ele já te ama.
Eu respirei fundo.
— Como vou fazer isso?
— Ser pai? Acho que é instinto.
— Bom, você é naturalmente mãe. Sempre foi, mesmo quando ainda
não tinha o seu. Como madrinha de Alice, você sempre foi uma mãezona.
Mas, eu...
— Você não pode ver o quão perfeitamente ele está aconchegado em
seus braços? Como se ele pertencesse a esse lugar? Você se subestima.
— Não sei o que estou fazendo.
— Nenhum de nós sabe. Simplesmente agimos por instinto. — Ela
sorriu e deu um tapinha no meu braço.
Talvez Helena estivesse certa. Não era possível ser o pai perfeito do dia
para a noite. Era um caminho no qual eu precisava dar o primeiro passo.
E para isso eu precisava de Tatiana. Eu a queria ali comigo, naquele
momento. Já não tinha certeza se poderia viver sem ela.
— Quando você vai entrar em contato com Tati e acabar com essa
loucura?
Até o nome dela fez meu coração acelerar.
— Não sei.
Eu queria estar com ela e com meu bebê. Se isso significasse que nos
casaríamos algum dia, não importava. Dei-me conta de que as regras sociais
pouco me importavam quando tudo que eu queria...
Tudo o que eu queria...
A felicidade não estava vinculada a um contrato. Estava vinculada ao
sentimento.
TATIANA

— Tatiana? É você?
Um cara grande de cabelos escuros, parou ao lado da mesa, sorrindo
amplamente.
— Eu não posso acreditar no que estava vendo. Quanto tempo faz?
Cinco anos?
Meus pulmões travaram, prendendo a respiração na garganta.
De jeito nenhum. Não era possível. Quando eu estava procurando por
ele, ele não estava em lugar nenhum. Agora que tudo em mim estava ocupado
– por Bruno e pelo bebê dele – o infeliz surgia diante dos meus olhos?
— Marcos Padilha — cumprimentei. — Faz tempo mesmo. Muito
tempo. Como você está? Você parece bem.
— Estou. Você também. Sempre linda.
Eu cacei aquele cara na internet por meses. Ele havia sido um dos meus
melhores namorados, e eu pensei que poderia retomar a relação. Naquela
época, dias antes da viagem a Bento Gonçalves, eu me sentia sozinha e
vulnerável.
Mas agora não.
Portanto, quando a mão dele pousou no meu ombro e ele me deu um
abraço leve, eu só queria sumir.
Foi quando meu olhar encontrou Bruno.
Fazia um tempão que ele não vinha na cafeteria, por que chegou no
lugar exatamente nesse momento?
Bruno não estava rosnando ou qualquer outra coisa, apenas olhando
para mim com uma expressão indecifrável. Ele entrou na cafeteria com
Benjamin ao seu lado.
— Bom, por favor, sente-se. Eu já vou lhe atender — avisei,
contradizendo minhas palavras com um sinal para uma colega de trabalho.
Nenhum homem me interessava mais, além daquele maldito Gatti.
De fato, ele me estragou para todos os outros.
Precisava sumir dali. Eu tinha chegado no meio do corredor até o
banheiro feminino quando passos soaram no chão atrás de mim.
— Tatiana.
Sua voz sempre foi tão profunda? Era como se eu estivesse em um
estado de privação, e ele fosse minha chance de sobrevivência. Meu coração
deu voltas e minha garganta contraiu, enquanto voltava para o banheiro.
Eu queria falar com ele. Todavia, não agora. Eu estava tão vulnerável,
tão...
— Você está bem? — Bruno ainda estava vindo em minha direção em
passos lentos e medidos. — Você está pálida.
— Por que está aqui?
Ele parou e enfiou as mãos nos bolsos.
Sua risada baixa me desarmou. Era constrangida, nervosa. Fiquei
quieta quando ele se aproximou, apoiando o braço na parede ao meu lado.
Estendeu a mão para tocar meu cabelo, passando os dedos pelas pontas, como
se fossem tão delicadas quanto cetim.
— Você está linda.
— Certo.
Eu odiava aquele elogio. Eu queria ser mais do que minha aparência.
Ele não percebia isso?
— Você é linda de muitas formas. Eu sinto tanto a sua falta...
Eita, caralho, ele iria me virar do avesso com aquele tom. Suas palavras
patinaram sobre a minha pele.
— Tem certeza?
— Você precisa de provas? — ele murmurou a questão, sua
respiração soprando sobre os meus lábios e os fazendo tremer. — Eu entendo
você, Tatiana. Eu entendo que me quer ao seu lado, não acima, não atrás... ao
seu lado. Um igual. É isso que você quer, é isso que eu quero ser. Não tenho
o direito de decidir nada por nós dois. Porque para sermos companheiros,
temos que estarmos cientes do que queremos, juntos.
Eu assenti.
— Não importa o que os outros pensam?
Em vez de responder com palavras, ele colocou a mão sobre minha
barriga e colocou seus lábios ternamente nos meus. Ele não pressionou por
mais, apenas me atormentou com o peso suave e persistente de sua boca.
Depois, recuou, removendo o calor da palma da mão na minha barriga.
— Vou deixá-la trabalhar. Também preciso. Benjamin queria um café,
mas acho melhor eu voltar ao escritório.
Eu ainda estava tremendo depois que ele se foi.
Se Bruno tivesse me pedido para ir para casa com ele, eu teria dito que
sim. Como poderia dizer não? Ele atacou meu coração - e o resto de mim -
com uma habilidade que nenhum outro homem jamais teve. Não queria que
essa lacuna continuasse entre nós. Tudo que eu queria era que ele me dissesse
que se importava. Não apenas insinuar, mas dizer as palavras exatas.
No entanto, ele estava me mostrando à sua maneira. O jeito que ele
tocou meu estômago com tanto cuidado. Ele não era indiferente, e ele não
estava apenas sugerindo casamento pelo bem do seu sobrenome.
BRUNO

Nós morávamos em Esperança. Isso significava que a gravidez de


Tatiana não ficaria em segredo por muito tempo. Não que fosse exatamente
um segredo, mas obviamente, a notícia correu a cidade de que ela estivera na
farmácia comprando o teste. Na manhã seguinte, metade da população
indagava quem havia engravidado a linda garçonete enquanto a outra metade
tomava chimarrão sussurrando sua tristeza pela bela moça ser mãe solteira.
“Coitada... Mas, quem diria, né? Muito safada!”.
Estranho que o homem que a engravidou não recebeu uma mísera
crítica.
Eu soube dos boatos assim que cheguei ao escritório. Sheila comentava
com uma das estagiárias. Nem parecia que, alguns dias antes, conforme me
confidenciou Helena, ela havia tido um momento amigável com Tatiana.
Ignorei ambas e andei até o escritório do meu pai. Bati na porta. Entrei
e fechei a porta atrás de mim.
— Obrigado por reservar um tempo para me ver.
Meu pai colocou as mãos sobre a mesa. Seus cabelos estavam riscados
com branco, seus olhos fortemente alinhados. Mas havia uma leveza nele que
eu não conseguia lembrar.
— Diga-me o que está acontecendo.
— Eu engravidei a Tati.
Ok, não era isso que eu planejava dizer. Eu também não esperava que
ele apenas levantasse uma sobrancelha. Talvez ele já tivesse ouvido a notícia.
— Então, você fará a coisa certa e se casará com a garota.
Eu balancei a cabeça e soltei um suspiro.
— O problema é ela me querer.
— O que quer dizer?
— Não quero forçá-la a um casamento para o qual não está pronta.
Não porque eu não me importo com ela. Eu me importo. Muito.
— Mas...
— Sem “mas”. Eu me importo. Ponto.
Ele esfregou a testa. Não era uma situação fácil para mim. Meu pai era
um tradicionalista, alguém que se importava com a imagem que
desempenhava em Esperança. O advogado sério. Seus negócios escusos
jamais foram expostos, e nem seriam, porque ele era cuidadoso demais para
se expor. Eu sabia o que ele esperava. Que o filho mais novo se casasse e
tivesse filhos dentro do casamento. Isso era o que todos esperavam de um
Gatti.
Contudo... forçar Tatiana...? Jamais.
E céus, como eu a queria forçar. Queria obrigá-la a me querer. Não vê-
la, ou cheirar seu perfume, ou sentir a suavidade de sua pele, era quase mais
do que eu podia suportar.
Ontem, eu enviei flores, e ela devolveu algumas pétalas com corações
desenhados nelas. Guardei essas pétalas. Um pequeno gesto que me trouxe
tanta felicidade.
Nós nos vimos algumas vezes na casa do meu irmão enquanto
visitávamos o bebê, mas esses tempos eram poucos e distantes. Eu
ansiosamente aspirava cada vislumbre dela, marcando-os no meu coração.
Tatiana precisava de um tempo, e eu precisava dá-lo. Parecia estranho,
ninguém mais faria isso... Mas, para nós era importante. Respirar e pensar
exatamente em como seguir adiante. Sem culpas ou arrependimentos. Apenas
com a certeza de que era o que a gente queria.
— Ela sabe que você a ama?
Eu a amava?
— Você é um Gatti. Um Gatti jamais pensaria no que a mulher quer.
Ele avassalaria tudo e a tomaria para si. Mas, você está lutando contra a
necessidade de ir lá e reivindicá-la. Isso é amor.
Eu fiz uma careta.
— Só estou tentando fazer as coisas da maneira certa. E ela deixou
claro de que não precisa de mim para ter esse bebê.
— Então, qual é o seu plano? Apenas vai deixá-la sozinha até que ela
decida que te quer? Isso está funcionando?
— Não exatamente. Mas, pedindo que ela se case comigo agora, parece
que estou fazendo isso para que todos na cidade não falem sobre como eu a
engravidei.
— Filho, todo mundo na cidade vai falar sobre isso. Esperança é uma
cidade que parou no tempo. Deve ser a maldição daquela casa que fica na
saída da cidade. Estamos em 2020, mas parece que estamos no século 19.
Temos carro, televisão, celulares, computadores... Mas, também temos
julgamentos, olhares, fanatismo religioso...
— Bom, o senhor mesmo disse que eu devia me casar com ela.
Assumir a coisa toda. E fez o mesmo com Benjamin, quando Simone
engravidou de Alice.
— Eu sou o que se espera que eu seja.
Era verdade. Aquilo era indiscutível.
— E está n a hora de você começar uma família — meu pai continuou.
— Estou aliviado por você não ter entrado em uma situação como de
Benjamin. Não que o resultado, Alice, seja ruim. Eu amo minha neta.
Eu resmunguei de acordo.
— Bom, de certa forma eu entrei...
— Não. Benjamin sequer gostava de Simone. Mas, você ama Tatiana.
Ergui meus olhos para meu pai. Mastiguei a informação. Era a segunda
vez que ele afirmava isso.
— Olhe, filho. A gente não ama muitas vezes na vida. Gostamos de um
monte de gente, nos sentimos bem com outro tanto... Mas, amor... amor
mesmo... Isso é raro.
Eu não queria mais perder tempo tentando aceitar isso.
Eu a amava.
Ela disse que pessoas devem se casar por motivos maiores do que uma
gravidez, e ela estava certa. Ela simplesmente não percebeu que o motivo
maior estava lá o tempo todo.
Nem eu percebi.
E era recíproco. Eu podia ver nos olhos dela.
— Eu estou pensando em comprar uma casa no campo.
— É sério?
— Perto da fazenda Laureana.
Papai sorriu e se levantou, contornando a mesa para segurar minhas
bochechas de um jeito que ele não fazia desde que eu tinha dez anos.
Possivelmente ainda mais jovem.
— Estou orgulhoso de você, filho...
— Por que quero criar cavalos?
— Porque quer assumir as rédeas da própria vida.
Ele deu um passo para trás, encostando-se à mesa.
— Ela será uma ótima esposa e mãe. E uma grande fazendeira. Você
não tem experiência no campo, mas ela tem. Então, vá lá e cuide dos
negócios, filho.
Eu balancei a cabeça e me levantei.
— Obrigado, pai.
TATIANA

Joguei minhas sacolas no porta-malas e corri para a frente do veículo,


apoiando minha mão na lateral para não escorregar. O vento soprava feroz.
— Talvez você deva me deixar em casa. — disse. Helena deslizou
para o lado do motorista enquanto eu fazia o mesmo ao seu lado. — Não que
eu não queira ajudar você com meu afilhado, mas...
Nós almoçamos juntas e ela me pediu para passar a tarde com ela e o
bebê. Contudo, já estava usando a gravidez como desculpa para qualquer
coisa que não quisesse fazer. Estava tão cansada o tempo todo.
Coloquei meu cinto de segurança no lugar quando ela saiu do
estacionamento.
Eu cruzei meus braços.
Helena estava quieta enquanto sinalizava para fora do estacionamento,
e eu imaginei que era porque estava se concentrando na direção.
— Então... Bruno e você?
Por um momento, eu não reagi.
— Não o vejo há semanas.
— Sim, eu sei disso. O que quero saber é se já descobriu o que você
quer.
— Eu quero ele. Nós. A vida que poderíamos ter se ele realmente
quisesse fazer isso pelos motivos certos. Mas, não casamento. Não agora. Eu
não me importo como as coisas parecem.
— Casamento, não? Ele propôs? — Helena parecia incrédula.
— Essa é a parte mais ridícula.
— Ele não propôs? Estou confusa.
De propósito, eu não tinha contado a Helena o que tinha acontecido,
principalmente porque tinha vergonha de como as coisas aconteceram. Eu fui
vaga sobre tudo, deixando que ela soubesse que eu havia contado a Bruno
sobre o bebê e ele tinha sido favorável, mas estávamos resolvendo as coisas.
Mais ou menos. À nossa maneira.
— Quando meus pais estiveram na cidade, Bruno preparou o café da
manhã para eles...
— E?
— E todos começaram a conversar sobre o casamento. Nosso
casamento. Ele nem sugeriu que nos morássemos juntos ou mesmo fez um
pedido normal. Foi tão estranho, ele apenas me avisou que iriamos nos casar.
Eu fiquei tão puta da vida.
— Eu entendo, mas esse é o Bruno. Ele gosta de resolver as coisas
rapidamente. Ele provavelmente achou que era a melhor coisa e que você se
casaria com ele sem pestanejar.
Eu ri.
— Se ele tivesse me perguntado, eu teria dito sim, embora seja
loucura.
— Por causa do bebê?
— Não. Porque ele me faz sentir...
Apertei minha bolsa no meu colo enquanto Helena desviava de um
buraco.
— Meus pais testemunharam nossa briga. — contei. — Não era o que
eu queria, deveria ter esperado e falado com ele em privacidade, mas no
momento e com os hormônios, eu estava uma bagunça. Tive tempo para
considerar muitas coisas depois disso.
Helena franziu a testa.
— Ele obviamente se importa muito com você.
— Sim — sussurrei.
— E você? Você se importa com ele também? Além do bebê.
— Sim. Muito. É tão assustador. Tenho medo disso.
Helena apertou o volante com as mãos e assentiu. Ela não desviou o
olhar da estrada.
— Bruno, agora, está quase me cortejando. Ele até me enviou flores
ontem. — Suspirei sonhadora.
Helena suspirou também.
— Tão doce. Benjamin me enviou margaridas no hospital. Receber
flores é sempre maravilhoso.
— Esses homens Gatti sabem serem românticos quando querem.
Minha mão tocou meu ventre. Bruno estava em toda parte comigo,
mesmo quando não estava.
— Eu vou sair com ele e depois vamos ver...
Foi a última coisa que consegui dizer antes que o pneu afundasse em
um buraco e estourasse, fazendo o veículo derrapar.
BRUNO

Benjamin entrou na cozinha. Alice vinha ao seu lado, sua mãozinha


envolvida firmemente na dele.
— Helena não está atendendo o telefone.
De imediato, minha pele arrepiou. Olhei para fora. O dia estava
bastante nublado, havia chovido durante a noite, mas nada que tornasse a
estrada perigosa. Fora que Helena era uma baita motorista, daquelas que tem
braço na direção.
— Tente novamente.
— Eu tentei várias vezes. Ela saiu para se encontrar com Tati. Liguei
para Tatiana também, e ela também não responde.
Eu sabia disso. Helena me comentou o fato e eu lhe mandei uma
mensagem pedindo para que ela trouxesse Tati até mim.
Ergui-me e andei na direção da porta.
— Onde você vai? — Benjamin exigiu.
— Encontrá-las.
Eu não tinha tempo para discutir o assunto, então meu tom foi bem
firme.
Ele me seguiu até a varanda.
— Quem vai ficar com as crianças?
— Você. Porque eu vou. — Eu já estava no meio da escada.
— Ela é minha esposa! Tatiana é apenas...
Eu me virei e levantei a mão.
— Não se atreva a concluir. Ela não é qualquer uma! E ela está tendo
meu bebê. Se você acha que eu vou ficar aqui, está enganado.
— Eu cuido do Bernardo. — A voz de Alice me fez focar nela.
Ela nunca ouviu o pai e eu gritarmos um com o outro, mas ela
compreendia que Helena e Tati poderiam estar com problemas.
E aqui estávamos nós, tornando tudo pior.
Benjamin se agachou.
— Ah, querida, você não precisa fazer isso. — Benjamin me lançou
um olhar. — Vamos apenas...
Eu apertei meus olhos com força, depois os abri novamente. Eu não
queria pensar no pior, mas era essa a sensação que estava tendo. Algo não
estava certo, e eu estava quase prestes a ter um colapso. Contudo, se alguma
coisa grave houvesse realmente acontecido, Benjamin não era a melhor
pessoa para ficar com Alice ou o bebê.
— Eu vou ficar aqui com você, Alice. Papai vai encontrar sua mãe e tia
Tatiana e as trará de volta para nós.
Eu a levantei e a balancei no meu quadril, deixando-a lá enquanto
Benjamin e eu trocamos outro olhar.
Ele disse "obrigado" e todos nós entramos. Rapidamente, ele verificou
o bebê e depois partiu em seu carro.
Tudo o que me restava fazer era esperar.
Exceto que eu não pude.
Tentei o telefone de Tatiana. Nada. O desamparo estava me sufocando.
E culpa.
Quando Helena estava com Tatiana, eu lhe pedi que a trouxesse até a
casa, com a desculpa de cuidar de Bernardo.
Porque... porque eu queria vê-la. E assim as fiz voltar mais cedo do que
gostariam, e pelo amor de Deus, eu disse para se apressarem. Por quê?
Porque eu queria me confessar para Tatiana, mas ao invés de ir, como um
homem, até sua casa, eu temia ser rechaçado, então tentei um terreno neutro.
Eu era um idiota.
Se ela e o bebê voltassem para mim inteiros, eu passaria o resto da
minha vida tentando me redimir.
— Bruno? — Sua voz estava tão distante, arrebatada pelo vento e pela
conexão de merda. Mas era ela. Tatiana.
Ela enfim havia atendido a ligação.
— Cinderela — eu murmurei. — Você está bem? Onde vocês estão?
— Tudo bem. Saímos da estrada e entramos em uma vala, mas estamos
bem. — ela riu. — Helena é o Senna num volante. Ela conseguiu equilibrar o
carro tão rápido e segurá-lo... Bruno?
— Estou aqui. Tem certeza de que está bem? — Eu estava tentando
respirar e não gritar com ela, por estar rindo quando tudo em mim era
desespero. — Como está Helena?
— Xingando o cara do guincho que disse que vai demorar cerca de
meia hora pra nos tirar daqui. Mas, parece que vem antes. Se eu fosse ele,
viria. Você sabe que Helena é assustadora quando quer...
Era por isso que não conseguíamos ligar? Helena estava no telefone?
Tatiana riu de novo. Eu podia sentir a calma na voz dela. Após um
acidente de carro. Ela bateu a cabeça?
— Vocês estão perto de casa? Onde vocês estão? É melhor voltar para
o carro, é mais seguro. Benjamin está dirigindo até aí...
— Estamos perto da casa onde a mulher do dono da fábrica matou a
filha.
— A casa mal assombrada?
— Nunca reparei como é bonita.
— Certo. Não se atreva a ir lá, ok?
Ela gargalhou.
— Você tem medo de fantasmas?
— Não. A casa está caindo aos pedaços e você pode se machucar.
Além disso, Benjamin estará aí em breve.
Eu esperava. Ele teria que passar por onde elas estavam se seguisse o
caminho habitual para o restaurante de Noeli.
Eu tinha que mandar um zap para ele avisando isso, mas não conseguia
desligar. Ouvi-la me tranquilizou como nada até então. Sua voz suave e forte
ao mesmo tempo era tudo.
— Você tem certeza de que está bem? Eu posso chamar o Samu...
— Sim, estou bem. Nós duas estamos.
Eu suspirei, nervoso. Suas palavras não pareciam suficientes. Eu queria
tocá-la. Agora.
— Bruno? Você está bem?
— Não. Não, eu não estou bem, e não estarei até que esteja aqui e eu
possa verificar cada centímetro de você para me certificar de que realmente
não está machucada. E então eu vou levá-la ao médico para que eles
executem todos os tipos de exames em você e no meu filho. É isso.
— Bruno...
— Não, me ouça. Você tem alguma ideia do que passou pela minha
cabeça quando Helena e você não estavam atendendo seus telefones e
sabíamos que estavam na estrada? — Eu não esperei por uma resposta. —
Eu não conseguia respirar. Eu quase fugi daqui até Benjamin me lembrar que
eu não tenho nenhum lance legal com você, que você não é minha esposa.
Ele não quis dizer dessa maneira, mas é a porra da verdade. Eu estraguei
tudo. Eu nem te dei a chance de dizer sim. Decretei nosso casamento. Bem,
reconsidere isso e case comigo. Não é uma ordem. É um pedido. Eu não
tenho anel. Eu não tenho um plano. Eu não estou ajoelhado aos seus pés,
fazendo a coisa como deve ser feita. Tudo o que tenho é a certeza de que não
consigo imaginar acordar outro dia sem você na minha cama e na minha vida.
E quero mais do que tudo ser pai de nosso filho. Se você me quiser. Se você
me amar... Tatiana... eu amo você.
O único som do outro lado do telefone era o rugido do vento e das
vozes, tantas vozes. Benjamin deve estar lá, ou o cara do guincho. Enquanto
eu estava me declarando, ela nem deve ter me ouvido.
E se eu tivesse que dizer tudo isso de novo?
Eu diria. Repetidamente, quantas vezes precisasse até que ela
acreditasse em mim. Até que ela me amasse de volta.
— Bruno, Benjamin chegou. Eu tenho que ir.
Eu assenti, incapaz de falar.
— Eu ouvi você, Bruno.
Ela estava sussurrando, tinha que estar. Ou então o vento era tão forte
que afogava a maior parte de sua resposta.
— Ouvi cada palavra. Eu também te amo. Eu também te quero. Deus,
eu sempre vou querer. Também não consigo me imaginar longe de você...
Eu sorri. Ela e nosso bebê estavam bem, e de alguma forma ela me
amava. Nada mais importava.
— Eu tenho que ir agora, mas estarei aí em breve.
— Estarei aqui para você.
— É tudo que eu quero. — Ela fez uma pausa para falar com outra
pessoa e depois voltou à linha, sua voz aparentemente muito mais próxima.
— Bruno?
— Cinderela?
— Minha resposta é sim.
TATIANA

Apesar da minha promessa, não fui para a casa de Benjamin. Chamei


um táxi e fui para casa. Precisava respirar e absorver a nova informação.
Bruno disse que me amava. Me pediu para casar com ele. Era o homem
que eu adorava me mostrando que se importava comigo pela maneira como
seu tom parecia em pânico.
— Tatiana.
Ele não me deu tempo para me virar em sua direção, apenas me
envolveu em seus braços e me levantou do chão. Meu cabelo voou para trás,
mas ele não me colocou no chão enquanto eu ria. Eu não tinha certeza de
como isso aconteceu, mas num minuto estávamos em pé e depois estávamos
agachados, meu corpo embalado e cercado pelo dele. E eu não estava mais
rindo.
— Como você entrou no meu apartamento?
— Você deixou a porta aberta — ele sussurrou.
— E você não bateu?
Eu só estava provocando. Ele sabia.
— Eu preciso? — ele me analisou, sério. — Ok, temos de levantarmos,
quero levá-la para o hospital para ter certeza...
Enquadrei seu rosto com minhas mãos antes de esmagar minha boca na
dele. Eu o beijei forte o suficiente para calá-lo e para deixá-lo saber que eu
não estava apenas bem, estava perfeita. Seus lábios eram como uma febre sob
os meus, mas apenas por um momento. Então eles se tornaram suaves e
hesitantes. Sua preocupação palpável nos cobriu.
Isso tudo porque ele me ama. A mim e ao bebê. Isso é amor.
— Eu estou bem — afirmei, entre beijos, mordiscando seu lábio
inferior. — Não sou de açúcar. O bebê é do tamanho de uma bala agora,
então confie em mim, todos estamos bem.
Ele não riu.
— O que você está fazendo aqui? Quando Helena e Benjamin entraram
sem você, eu quase tive um troço.
— Sinto muito. Eu não pensei. Só queria vir para casa. E eu sabia que
você viria atrás de mim — pisquei.
Ele exalou.
— Eu não achava que queria esposa e família. Não até você. Você
tornou a vida muito mais brilhante e completa.
Inclinei minha cabeça contra a dele, lutando contra as lágrimas. Eu não
queria estragar um momento bonito com mais soluços hormonais.
— Eu já disse que sim.
— Eu sei. — De alguma forma, ele conseguiu se levantar enquanto
ainda me segurava em seus braços.
— Eu te amo.
— Eu sei também.
— E você me ama.
— Tudo isso está certo — ele riu.
— E vamos ficar juntos para sempre.
— Cinderela, eu não podia escolher um final mais feliz para o seu
conto de fadas.
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Como começo a explicar toda essa loucura?


Bom, meu nome é Gustavo, eu sou um cara tranquilo do interior do Rio Grande do Sul. Mas,
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por
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Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais
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