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MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
O MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2020
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
autorização escrita da autora.
Título:
O Melhor Acidente
Romance
ISBN – 9798636924555
Texto Copyright © 2020 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:
Apaixonei-me por Benjamin na escola... E durante toda a minha vida o observei ao longe,
vendo-o progredir, ter sucesso, mulheres e dinheiro.
Ao longe... Sem atrever-me a acreditar que um dia nós teríamos uma chance.
Então ele surge com uma proposta. “Seja a mãe dos meus filhos”.
Como recusar sendo que esse é meu maior desejo?
Leia Aqui
Sumário
O MELHOR ACIDENTE
JOSIANE VEIGA
LIVRO 1
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
BRUNO
TATIANA
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TATIANA
Cuidar de Tatiana devia ser um fardo. Então por que diabos tê-la nos
meus braços havia se mostrado uma das coisas mais prazerosas que eu já
havia desfrutado?
Eu não era acostumado a distribuir afagos ou compreensão. Na
verdade, minha relação com as mulheres sempre foi estritamente sexual. Não
era minha culpa, afinal. Eu não tinha sido criado de outra forma, e nunca
havia desenvolvido nenhuma afinidade em particular pela proximidade física
que não envolvesse meu pau.
Ok, isso é feio de se dizer, mas é verdade.
Tatiana se envolveu em mim como se eu fosse seu abrigo em uma
tempestade. Ela sempre me detestou, mas se aconchegou como se estivesse
faminta por esse tipo de conforto.
E eu não era acostumado a isso... Não era acostumado a simplesmente
“estar ali”, sem conotações sexuais.
Deus... Ela era tão macia. E estava rendida. Pelo menos neste momento
e neste espaço, senão em nenhum outro, ela confiava cegamente em mim.
Seus longos cabelos loiros estavam em um rabo de cavalo bagunçado, as
ondas claras tentando escapar da presilha, e eu estava me controlando para
não enterrar meu rosto nos fios grossos e perfumados.
Ela brilhava como a luz do sol. E cheirava como o orvalho da manhã.
Intoxicante. Um convite quase impossível de recusar.
Fechei meus olhos, tentando afastar a imagem física daquela mulher.
Ela era curvilínea como o inferno, e vamos apenas dizer que meu pau não
tinha nenhum problema em ser acolhido pelas partes dela que eu cobiçava no
outro dia. Seus seios impossivelmente cheios dobrados contra o meu peito
iriam me fazer bater punheta pelos próximos meses... talvez anos.
Ela finalmente voltou ao seu assento. Eu fingi estar tão absorto na
visão da janela que não a ouvi trocando algumas palavras com um senhor do
banco ao lado.
Meu Deus, que mulher que consegue ser dada com todos! Ela não sabia
viver discretamente?
Por que diabos isso me incomoda? Eu sabia a resposta: porque ela me
interessava. Ela era muito doce, inexperiente e ingênua. Mas, eu não podia
me atrever a ser um babaca com aquela mulher. Ela era a melhor amiga de
Helena.
Inferno, todo o meu papel nessa viagem era garantir que ela passasse
um tempo divertido e seguro.
Algumas horas depois, entramos em uma curva na RS-444 e de repente
o ônibus entrou em uma garagem num prédio largo.
Era uma rodoviária pequena, como todas as rodoviárias do interior.
Coletamos a mala rosa de Tati e arranjamos um táxi para o hotel. Uma vez
que estávamos no banco de trás, ela pegou o telefone e começou a mandar
mensagens, me ignorando completamente.
Tudo certo.
Meu celular vibrou. Eu o ergui, percebendo que Tatiana também o
olhava.
“Chegaram? Foi uma boa viagem?”, era Helena.
“Tudo certo. E você? O moleque já resolveu sair?”.
Tati suspirou.
— Como você pode ser tão grosso com seu próprio sobrinho? Não
demonstra nenhum interesse.
— O quê? Acabei de escrever uma pergunta que comprova minha
preocupação.
— Aham. — Ela voltou para o próprio celular, mas logo se remexeu,
num salto. — Olhe, Helena encontrou roupas do Grêmio para bebês... — ela
basicamente esfregou o celular na minha cara.
Uma minúscula roupa tricolor estava espalhada na cama de Helena e
Benjamin. Isso era fofo. Mas não o suficiente para me fazer surtar como
acontecia com Tatiana.
— Adorável.
Tatiana puxou o telefone de volta.
— Entendeu o que eu quis dizer? Desinteressado.
Ignorei-a.
— Você está se intrometendo na minha viagem, pode pelo menos
demonstrar algum espírito alegre de quem está passeando?
— Você não quer nem que eu faça sexo no quarto ao lado, e ainda me
quer alegre?
Eu não sabia por que tinha dito isso. Eu não queria fazer sexo. A
menos que ela estivesse disposta.
Que merda de pensamento foi esse?
Tati estreitou os olhos.
— Você disse que estava aqui para mim como amigo. A menos que
tenha sido o discurso do Dr. Gatti, o advogado, e você esteja aqui para ter
certeza de que não vou me divertir, enquanto você tem todo tipo de encontro
romântico.
Pousei meu celular no colo, mais divertido do que irritado pelas
palavras.
Aquela mulher passou metade da viagem de ônibus quase no meu colo
e agora queria me dar lição?
Seu rosto pareceu se enrugar por um momento, o brilho de seus olhos
desaparecendo antes que ela abaixasse a cabeça e voltasse a atenção para a
tela. Efetivamente bloqueando-me.
Tah, eu merecia. Estava sendo...
Idiota.
Eu não estava pensando em encontrar mulheres para fazer sexo, então
por que não deixava isso claro para ela?
Na verdade, não fosse o pedido de Helena eu nem estaria aqui, já que
não me importava com o bem-estar de Tatiana. Ela ficaria bem sozinha. Eu
tinha certeza disso.
Quanto a ela ficar com alguém? Não é da minha conta. Afinal ela não
era nenhuma virgem...
Não é?
Discretamente, olhei na sua direção.
Claro que não era. Quem, em nome de Deus, ainda era virgem aos
vinte e seis anos, nos dias de hoje?
Além disso, ela teve muitos namorados. Claro que não duravam tempo
algum para ter alguma significância, mas...
Jesus, será que ela era virgem? Eu nunca tinha estado com uma virgem.
Mesmo quando eu mesmo o era, minha primeira namorada já tinha
experiência. O que foi ótimo, porque francamente, não fosse ela me guiar,
tenho certeza de que minha primeira vez não teria sido satisfatória.
Por isso, é bom que se Tatiana fosse virgem, que ela tivesse sua
primeira vez com alguém experiente.
Olha só como eu sou... generoso.
Eu podia ser esse cara.
Não!
Merda, Bruno, pare de pensar besteiras!
O motorista finalmente parou na entrada circular em frente ao hotel e
desembarcamos. O check-in foi rápido, embora Tati não parasse de falar um
segundo e tivesse feito amizade com dois turistas idosos que estavam de
saída do hotel. Meu Deus, aquela mulher tinha uma matraca ao invés de uma
boca.
Fomos conduzidos a um elevador e a nossas suítes conectadas, e fiquei
feliz por ter gastado esse dinheiro. O sorriso radiante de Tatiana valeu a pena
quando ela comentou sobre todas as comodidades.
Infelizmente, não pude apreciar o brilho do seu sorriso por muito
tempo, pois logo precisei ir para minha própria suíte. Tão logo o carregador
das malas saiu, ela apontou a porta, e a bateu após eu cruzá-la.
— Tome um banho, eu vou levá-la para jantar — avisei do outro lado
da porta, e ouvi um resmungo que entendi como uma aquiescência.
De repente a visão daquela Barbie tirando a roupa se forçou na minha
mente. Estava tão perto... Uma porta e alguns passos e eu podia tocar naquela
pele... desfazer-me em seu calor...
Talvez cancelar meu encontro com Raquel na noite passada tenha sido
um erro. Evidentemente, eu precisava de algum alívio sexual porque não era
comum minha cabeça de baixo dominar a de cima.
Tati, no entanto, era fruto proibido. A melhor amiga da minha cunhada.
E tinha mais: nossas personalidades eram muito diferentes.
Eu sabia que sentimentos deviam ser carregados de semelhanças, como
Benjamin e Helena. Eles eram almas gêmeas, cópia um do outro. Mas, meu
Deus do céu, eu me mataria se aquela ali do outro lado fosse a minha. Fala
sério, a mulher não para de falar um segundo, e pior, com desconhecidos, é
muito atirada, muito sorridente, muito disposta. Ela me cansava.
Fui encarregado de mantê-la segura, e era só isso. Sobre o cara lá
embaixo me atiçando para sexo, eu precisava me lembrar de que Tati era
como uma irmã para Helena, e como minha relação com minha cunhada
poderia azedar se eu me atrevesse a...
Ah... Inferno, eu tinha todas as justificativas, e ainda assim meu pau
parecia uma rocha.
Fui para o banheiro. Havia uma banheira lá e a enchi de água quente.
Entrei na água e soltei um suspiro quando o calor penetrou em meus
músculos doloridos.
Você já passou frio? O frio da Serra era como o diabo. Os músculos
doíam e só água quente era capaz de aliviar.
Porra, era tão bom. Tati também adoraria tomar um banho assim.
Lá vem a imagem... aquela mulher... nua... seios grandes mergulhados
na água perfumada...
Barulho na porta. Seus passos no meu quarto. Logo, ela estava na porta
do meu banheiro, que estava aberta.
— Você tem uma banheira! — ela gritou, e eu precisei de todo auto
controle do mundo para não mandá-la sair dali.
Eu estava frustrado sexualmente. Minha mão estava quase no meu pau
quando ela entrou.
Que mulher chata, meu Deus do céu!
— Você está pelado aí?
— Por quê?
— Coloca uma sunga — ela disse, indo até minha mala em cima da
cama, abrindo-a sem hesitar e pegando uma cueca.
Eu fiquei sem palavras.
— Você quer tomar banho comigo?
— Eu quero é entrar nessa água quente, idiota — ela avisou. — Vou
botar outra roupa pra entrar, então vista isso até eu voltar.
Não sei por que, mas obedeci.
Eu devia estar louco. Mas, subitamente, me dei conta de que ela
realmente me considerava de confiança ao ponto de entrar comigo numa
banheira.
Uma amiga... era minha primeira, depois de Helena...
Tatiana surgiu cerca de cinco minutos depois, hesitante, vestindo um
shorts curto, apertado, e um top. Eu fiquei sem palavras diante da cena.
Ela era... perfeita.
E o que eram aqueles peitos? Apenas seus passos cautelosos estavam
fazendo seus seios saltarem de maneiras que fariam qualquer homem perder a
cabeça.
— Não — eu falei quando ela se moveu para se cobrir com o braço.
— Não se esconda.
Sua garganta tremeu, mas ela deixou o braço cair. Depois, deu um
passo para trás, já pegando a maçaneta da porta do banheiro.
— Quer saber... Não acho que foi uma boa ideia. Você pode usá-lo
agora. Quando terminar, eu usarei a banheira, ok?
— Não precisa fugir. Somos apenas dois amigos em uma banheira de
hidromassagem.
Ela limpou a garganta, e depois sorriu.
— Eu gosto de pensar em você assim. Sabe, eu sou uma pessoa que
precisa de amigos. Estou longe dos meus pais, e Helena está focada no
marido. Tipo, eu acho isso maravilhoso, mas sinto falta de um amigo
próximo, com tempo para mim.
— Ok, então, eu estou aqui — disse, estendendo os braços num convite
óbvio para um abraço.
— O problema é que você está atraído por mim.
Eu fiquei pasmo.
— Perdão?
Ela mordeu o lábio.
— Você estava duro na semana passada. Lá na cafeteria.
Meu Deus, que mulher sincera!
— E eu meio que imaginei — prosseguiu — que era porque você me
viu trocando de roupa e tal. Mas agora você está me olhando de novo,
daquele jeito... E sabe... Eu penso que...
— Que serei tomado por uma onda de luxúria incontrolável? Que a
tomarei a força? — Meu tom estava seco. — Deixe-me garantir que estou no
controle total de meus impulsos. Aproxime-se e me dê um abraço. Um abraço
de amigos. Eu te dou minha palavra que será apenas isso. Uma prova das
minhas boas intenções.
Ela deu um passo à frente e parou.
— Caramba, isso foi tão esquisito... Tipo, se fosse qualquer um dos
meus amigos aqui, eu não hesitaria, mas com você... mesmo sabendo que
você não é um molestador... não sei por que é difícil cruzar o sinal. Acho que
nossa amizade ainda levará um tempo até termos mais confiança.
Eu assenti. Era compreensível.
— Vamos fazer um trato? A gente coloca essa viagem como um
divisor de águas na nossa amizade. O que acontece aqui, para o bem ou para
o mal, fica aqui. Quando voltarmos a Esperança, tentaremos restabelecer
nossa amizade, mas agora vamos focar que somos apenas duas pessoas
conhecidas que estão dividindo um quarto e serão adultas o suficiente para
não entrar em discussão e conflito e estragar o momento um do outro.
— Feito. — Ela atravessou o resto do caminho até a banheira de
hidromassagem enorme e entrou, parando para deixar escapar um suspiro.
— Nossa, está tão quente... tão bom.
— Não é? Nada como água quente em ossos gelados.
Ela engoliu em seco, olhando-me de cima a baixo.
— Você colocou a cueca, né?
Eu ri.
— Sim, Tatiana. Não se preocupe.
Ela respirou fundo e deslizou na água, submergindo até o pescoço em
um deslize surpreendentemente gracioso.
— Isso é tão bom. — repetiu, e fechou os olhos, agarrando as laterais
da banheira.
Suas pernas esbararam nas minhas por um segundo. Fiquei sem ar.
— Eu adoro espuma.
— Deveríamos ter pedido champanhe antes de entrarmos aqui.
— Por quê? O que estamos comemorando?
— Muitas coisas. Você fez sua primeira viagem hoje. Você está de
férias numa das regiões mais bonitas do mundo. Primeira estadia em um
hotel. Você provavelmente nunca tomou champanhe também.
— Tomei cidra. — Ela levantou a voz. — É quase a mesma coisa, não
é? Além disso, eu não sou muito de beber...
— Mas está de férias, não? — a lembrei, inclinando meu corpo para
apertar o botão da hidro para deixar a água com mais espuma.
No caminho, minha mão tocou na dela.
Seus olhos se abriram cautelosamente, mas nenhum medo residia neles.
Ela pode ter ficado inicialmente desconfortável comigo, mas sua ansiedade já
estava desaparecendo.
— É o momento de fazer as coisas fora da sua zona de conforto —
disse.
— Eu nem lembro a última vez que bebi mais de um copo... E mesmo
assim, não fiquei bêbada. Nunca me permiti ficar tipo... sem domínio
próprio...
— Nem nas festas da faculdade? Como isso é possível?
— Eu vim estudar em Esperança, não beber — ela brincou.
— Entendo. Também não ia as festas na faculdade.
— Ocupado, transando? — ela desferiu.
— Não sou esse garanhão que você pensa. Na verdade, eu tive bem
poucas namoradas naquele tempo. Eu estudei muito, me formei com louvor
numa faculdade pública.
— Pública?
— Sim, na USP.
— Por que tão longe?
— Eu queria uma das melhores em direito, e é ela.
Por que eu compartilhei isso com ela? Não foi relevante. No entanto,
ela se inclinou para frente, seus seios pesados balançando levemente para
fora da água. O top estava quase transparente. Mamilos grandes e tensos
fizeram minha garganta secar, e por mais que eu tentasse manter meu olhar
acima do pescoço, eu simplesmente não conseguia.
— Lá vem “o olhar” de novo.
— Como?
— O olhar, bem aí. Aquele em que você fica todo assanhado.
Seus dentes roçaram seu lábio inferior e meu pau estremeceu. Foi um
milagre não aparecer na minha maldita cintura.
— Você realmente está atraído por mim — ela decretou depois de um
momento, quase para si mesma.
Então desviou o olhar de mim, escondendo um brilho especial. Meu
corpo inteiro estava em chamas.
— Olhe para mim — pedi.
Ela balançou a cabeça.
— É sempre assim. Você só vê a casca. Todos só veem a casca. O que
eu sou pouco importa.
— E o que você é?
— O que você enxerga quando me olha? — rebateu.
— Você é linda — confessei. — É difícil não perceber. Mas, eu
também vejo que é espontânea e está sempre em busca de amizades. Você
fala com todo mundo, o que, ao meu entender, parece carência.
— Uma loira carente?
— Mais que isso. Você é uma pessoa boa, também. Você foi a primeira
pessoa que me convidou para ser amigo.
Ela me encarou. Ali... havia algo ali... naquele olhar.
Cuidadosamente, avancei na banheira, diminuindo a velocidade, mas
não parando quando ela olhou para mim, as pupilas largas. Minhas pernas
deslizaram contra as dela quando me aproximei o máximo que pude, sem
invadir completamente seu espaço pessoal.
Tatiana fechou os olhos por um instante, e eu tive um medo mortal de
que ela estivesse chorando. Mas quando ela os abriu novamente, seus olhos
estavam limpos e secos.
— Você está atraído por mim...
— Não nego. Você é uma mulher linda, confiante e doce, e
provavelmente boa demais para qualquer idiota que já tentou tocá-la. —
Segurei as laterais da banheira de hidromassagem para não a tocar.
Era um sinal. Ela tinha a chance e o espaço para sair se quisesse. Mas,
para minha surpresa, Tatiana deslizou para a frente na banheira, deslizando as
pernas sobre as minhas até que nossos peitos e nossos centros estivessem
muito perto. Vagamente, ela colocou os braços em volta do meu pescoço,
testando minha determinação de manter meus olhos diretamente nos dela
— Você queria um abraço — ela murmurou.
Peguei isso como convite e passei meus braços em volta dela,
puxando-a. Recuei com ela nos braços, até que estivesse praticamente no meu
colo. Mas não a beijei, nem a forcei contra meu pau duro. Eu apenas a atraí e
inalei o perfume fresco de seus cabelos. Então ela se enroscou em mim com
tanta confiança, como se nunca brigássemos, e eu era um homem em quem
ela podia se apoiar, um verdadeiro amigo.
Ela suspirou, tão suavemente que quase senti falta de algo que nunca
vivi.
Cumplicidade...
Sua testa descansou contra a minha e nós apenas respiramos juntos no
ar fumegante e perfumado.
— Você dormiu com Raquel ontem à noite?
A pergunta me desconcertou, especialmente porque eu não a esperava.
— Você sabia sobre o nosso encontro?
— Até parece que existe privacidade ou segredos em Esperança.
Eu ri.
— Não, não dormi com ela. Cancelamos nosso encontro.
— Por quê?
— Por que o quê?
— Por que cancelou?
— Porque teria que estar cedo no ônibus...
— Você cancelou por minha causa?
Era verdade. Não neguei.
— Por que nunca me convidou para sair?
— Você nunca demonstrou o mínimo interesse.
Ela fungou.
— Bom, nós brigamos o tempo todo...
— Não faz ideia de como uma briga pode ser uma preliminar
fantástica...
Ela inclinou a cabeça novamente.
— Isso é um convite?
— Você quer um convite?
— Não sei dizer. Mas, estou gostando dessa liberdade. Eu quero ser
honesta sobre meus desejos e minhas vontades a partir de agora. — Ela
respirou fundo, parecendo tomar coragem. — E aqui vai meu primeiro
desejo: quero vê-lo gozar.
TATIANA
Eu não disse isso. Não disse. Não!
Eu disse.
Tinha que ter alguma explicação para minha atitude. Talvez fosse o ar
de Bento Gonçalves ou alguém havia colocado algum tipo de droga na água.
Melhor ainda. Talvez fosse um pesadelo. Isso, um pesadelo.
Acorda, Tatiana! Acorda!
Mas não era um pesadelo. O rosto em choque dele deixava isso claro.
Por que mais eu pediria a Bruno que se masturbasse na minha frente
era um mistério
— O que acontecer aqui, fica aqui — eu o lembrei.
Por que diabos eu não calava a boca?
— Cinderela, eu acho que estou tendo alucinações...
De repente, me enfezei. Por que um cara lindo daqueles, com uma
ereção - para mim – estava tão surpreso pelo meu pedido?
Pelamor de Deus, Tatiana, olha o que você pediu, mulher!
— Tipo, eu estou determinada a viver coisas novas. E eu nunca... você
sabe...
— O quê? — ele perguntou, com tanto cuidado que uma parte de mim
realmente se comoveu.
Como ele poderia ser tão gentil e esconder essa característica
maravilhosa por tanto tempo?
Ou ele sempre foi assim, e eu era cega demais para notar?
Ou ele apenas estava sendo gentil porque esperava por sexo...
Então por que ele parecia tão assombrado pela minha proposta?
Hoje era a primeira chance que eu tinha de ser uma Tatiana diferente
da garçonete de uma cidade do interior, que estudava enfermagem sem gostar
do curso.
Céus, olha para mim: O mesmo corte de cabelo desde a adolescência,
trabalhando numa cafeteria servindo mesas, estudando em algo que meus pais
queriam, não que eu tivesse vocação, vivendo um dia após o outro na
esperança de encontrar um cara, me casar e ter filhos. Contudo, era isso
mesmo que eu queria?
Quero dizer... eu era romântica. Muito romântica. Mas, estamos em
2020, as coisas mudaram, não eram como os livros da Diana Palmer que eu
lia, e talvez eu nunca tivesse a chance de viver meu conto de fadas.
A Cinderela que nunca acharia seu sapato...
Assim, por que não ser uma versão mais ousada de mim mesma, o tipo
de mulher que pede o que quer e acredita em si?
Uma mulher que merece viver tudo...
— Bruno, se você continuar em silêncio, vou achar que teve um
derrame.
Estranhamente, ele não parecia satisfeito.
— Tatiana, estou fazendo das tripas o coração para não derreter de
tesão, agora. — murmurou.
Sorri.
— Por que está se segurando? —Virei minha cabeça e lambi seu lóbulo
da orelha.
Cacete... eu lambi Bruno! Eu realmente estava ficando louca.
— Você acabou de me lamber? — Ele parecia estrangulado.
Cuidadosamente, ele colocou as mãos em volta da minha cintura, me
levantou como se eu fosse feita de ar e me colocou a uma distância segura.
Não muito longe, já que a banheira de hidromassagem não era tão grande.
Ele levantou a mão.
— Vamos apenas deixar as coisas claras, está bem?
— Tá. Sobre o quê?
— Se o seu pedido for sério, eu não vou resistir, já vou avisando, sem
arrependimentos.
A maneira como ele falou foi tão excitante. Verdade seja dita, eu fiquei
ainda mais quente quando ele falou assim, meio ríspido. Eu também gostei do
lado mais suave dele. O que disse coisas boas e me segurou com gentileza.
Tirei uma mecha solta do meu cabelo do rosto e lutei contra o desejo
de arrumar meu rabo de cavalo desgrenhado. Eu tinha medo de fazer
qualquer coisa que pudesse fazê-lo mudar de ideia.
— Mas o trato é você fazer, e eu assistir. Só isso.
Ele riu sombriamente. Seus olhos quase negros brilharam e me fizeram
tremer profundamente.
— Você entende que isso é prazer mútuo? Eu também vou assistir você
me observando.
— E isso é excitante?
— Te garanto que é. — Sua garganta se moveu quando ele engoliu. —
Supondo que eu aceite, posso pedir que você tire sua blusa para me excitar
mais? Ou melhor ainda, você podia se tocar, também...
Eu estava corando. E igualmente tão animada que não conseguia
pensar direito.
Isso realmente estava acontecendo comigo? Esse homem irritante e
tentador como o inferno realmente precisava de mim para ficar – mais -
excitado? Ele estava disposto a seguir meu pedido bizarro, em vez de apenas
beijar e fazer sexo como as pessoas normais faziam todos os dias.
Especialmente pessoas de férias, dividindo o mesmo quarto.
Sexo sem compromisso...
Uma coisa tão comum e igualmente assustadora.
Talvez porque Bruno fosse cunhado de Helena, e teríamos que nos ver
em todos os lugares depois que voltássemos. Nos jantares da casa de
Benjamin, na lanchonete, andando pela rua...
— Tatiana?
— Desculpa. Estou apenas pensando demais. — Inspirei
profundamente e peguei meu top, puxando-a sobre a cabeça antes de me
arrepiar completamente.
Ele só queria olhar. E eu tinha um belo par de airbags.
Joguei a blusa no chão e recostei-me, esticando meus braços ao longo
dos lados da banheira, segurando o material para não fugir. Esse tipo de
atenção focada era novo para mim.
Esmagadora. Viciante. Quente como o fogo.
— Você é magnífica — ele murmurou.
Outra respiração forte. Eu podia sentir minha confiança inchando como
um balão a cada momento que ele permanecia fixo nos meus seios. Ele nem
estava tentando esconder seu desejo. Eu estava corada por todo lado, e um
rápido olhar para baixo provou que o rosado não estava apenas nas minhas
bochechas. Entre o calor da banheira e meu constrangimento e excitação,
minha pele normalmente pálida estava vermelha. E meus mamilos eram
como cerejas, mergulhando acima e abaixo da água toda vez que eu me
mexia.
E eu estava me mexendo muito. A cada respiração.
— Sua vez.
Ao contrário de mim, ele não hesitou. Ele se ajoelhou, agarrou a
cintura de sua cueca e colocou o elástico sobre o seu...
Minha boca abriu num O.
Uau. Eu só peguei um breve vislumbre antes que ele entrasse na água
novamente para ajudar a tirar a cueca totalmente.
Ele a jogou para o lado. Estudei a pilha de nossas roupas, apenas
voltando para ele quando a onda de água chamou minha atenção de volta à
minha situação atual. Lamentava agora minhas limitadas experiências com
pornografia. Talvez então eu ficaria mais confortável vendo como ele...
Ele estava segurando seu pau. Seu pênis grande e totalmente ereto.
Muitas partes de mim começaram a pulsar. Eu não estava preparada
para isso.
— Você é tão grande — eu respirei.
Ele deslizou a mão por toda a extensão do seu mastro, depois lambeu
os lábios.
— Você quer tocar?
Alguns minutos atrás, provavelmente teria dito não. Mas agora, eu
avancei, aquela nova Tatiana me dominando.
— Você pode fazer o que você quiser. — Sua voz era baixa,
impossível resistir.
Meu olhar piscou para encontrar o dele enquanto eu passava as pontas
dos dedos sobre a cabeça úmida e inchada.
Ele assobiou como se eu o tivesse queimado.
— Mais — pediu.
Fiz isso de novo, fascinada por como seus músculos se esticaram e as
veias incharam e se deslocavam sob sua pele tensa. Era muito mais
interessante vê-lo tão perto, especialmente onde eu podia tocar.
Deslizei meus dedos mais para baixo em seu eixo. Vagamente, seus
dedos cercaram a base, segurando sua ereção para mim. Molhei meus lábios
enquanto envolvia meus dedos em torno de sua largura. Tentei de outra
maneira, mudei minha mão, movendo-a timidamente para cima e para baixo.
Eu podia senti-lo me observando, em vez de observar o movimento da
minha mão. Talvez ele estivesse se certificando de que eu não estivesse
prestes a surtar e correr gritando do banheiro.
A virgem em pânico.
Não mais.
Aquela confiança dentro de mim ainda estava crescendo. A água
borbulhante era como um escudo protetor, escondendo um pouco da agitação
da minha respiração. Eu estava nervosa, mas não assustada.
Eu sabia o que eu queria. E o que eu queria era fazer exatamente o que
eu estava fazendo.
Baixando a cabeça, lambi a ponta. Estava curiosa para saber o gosto, e
aquela sensação na minha língua me estimulou. Assim como seu gemido
retumbante, preso em sua garganta. Deus, como seria ouvi-lo gozar?
— Faça de novo — ele sussurrou, mas não precisava. Minha boca já
estava molhando para outro toque mais longo.
Ainda apertando-o em uma mão, eu usei a outra para segurar meu rabo
de cavalo desleixado enquanto descia mais uma vez. Desta vez, circulei
minha língua em volta da cabeça, lambendo a umidade lá, voltando a fazê-lo
novamente quando outra gota perolada se formou imediatamente.
Fiz isso de novo e de novo, concentrando-me estritamente na ponta,
deixando o poder desse momento surgir dentro de mim até que eu não tivesse
escolha a não ser tentar mais. Abri mais a boca e movi a cabeça para baixo,
para que ele descanse na minha língua. A água provocou as pontas apertadas
dos meus seios enquanto eu o levava mais fundo. Ele estava inchando mais, o
peso e a pressão dele me fazendo tentar tomar tudo.
Eu queria tudo.
— Ah... — Sua voz era um estrondo, quase inaudível.
Inspirei pelo nariz. O som da água e o ruído dos seus gemidos
zumbiram nos meus ouvidos, quase bloqueando tudo.
Só havia nós dois no universo.
Sua mão estava no meu cabelo agora, acariciando suavemente. O
sentimento gentil que surgiu desse gesto me permitiu tomar mais.
Era incrível que dar prazer a Bruno era dar prazer a mim mesma.
Ele desfez meu rabo de cavalo e meu cabelo caiu para a frente,
grudando no meu pescoço e peito, escondendo parcialmente meu rosto. Ele o
pegou na mão, puxando-o de volta com tanto cuidado. Coletando cada fio,
puxando-o para trás para que nada pudesse impedir sua visão. Ele estava
assistindo cada chupada da minha boca, cada movimento da minha língua.
Eu me forcei um pouco demais, mas a leve queimação na minha
garganta me avisou que era o limite. Eu o fiz se sentir bem, tão bem que seus
ombros estavam tensos e seu peito estava arfando, seus movimentos
anteriormente delicados no meu cabelo se tornando quase dolorosos.
Eu gostei da dor.
Ele se puxou de volta e vi a batalha visível acontecer em seu rosto. Ele
estava tentando tanto não me apressar, não me machucar...
Mas eu também queria essa parte da experiência. Eu o queria irracional
em mim.
Recuei apenas o suficiente para sussurrar contra a ponta brilhante.
— Mais.
Nossos olhares se conectaram e eu sabia que ele entendia. Os jatos da
hidromassagem subiram e espumaram em volta da minha barriga e
provocaram meus seios enquanto eu me aproximava mais usando nossa
diferença de altura para minha vantagem. Eu o empurrei de volta contra a
borda da banheira e agarrei a lateral para me equilibrar.
O calor e a emoção de controlá-lo - mesmo que um pouco - me
deixaram tonta.
Deslizei minha boca pelo seu eixo, pegando o máximo que pude. Ele
não me negou nada. Eu não tinha certeza se eu gostava, mas meu corpo
certamente gostava.
Meu clitóris tremeu e eu pressionei minhas coxas juntas para tentar
obter algum alívio. Ele deve ter notado, porque ele me alcançou com a mão
livre, sua expressão questionando quando seus lábios se abriram para respirar
forte.
Sutilmente, me afastei. Isso não era sobre mim. Agora não. Ainda não.
Toda vez que era demais, eu recuava, recuperava o fôlego e usava a
mão. Lento, rápido, às vezes apenas agarrando-o antes que eu o engolisse
novamente, o máximo que pude antes que a água e meus próprios limites me
impedissem. Mas quando finalmente consegui coragem suficiente para deixar
meus dedos esgueirarem-se sob seu eixo para o saco sensível abaixo, ele
arrastou minha cabeça, seus olhos selvagens.
— Eu vou gozar.
Meu coração estava batendo tão forte que eu podia ouvir o som, senti-
lo pulsando entre as minhas pernas. Não hesitei. Meu corpo inteiro estava em
sintonia com ele, corado e formigando com a necessidade.
— Tatiana — ele gritou, e meu nome naquele momento era uma
bênção. — Eu não quero te assustar, mas não posso... não consigo segurar...
— Não segure. — Soltei a banheira e arrastei minhas unhas pela parte
interna de sua coxa, tão perto de sua virilha que seu grande corpo estremeceu.
— Eu quero ver...
O primeiro jato se projetou diante dos meus olhos, inebriante e potente.
Não resistindo mais, fui em busca dos demais. Chupei e chupei, deixando
escapar um gemido enquanto ele estremecia e bombeava em mim, com força.
Eu me senti usada. E adorei isso.
Então veio o empurrão que me fez deslizar de costas para o lado oposto
da banheira. Bruno veio por cima de mim, fundindo sua boca na minha. Não
houve doçura em seu beijo. Era pura selvageria. Ele gemeu com isso também,
sua mão ficando suave no meu cabelo novamente. Seus golpes ao longo do
comprimento se tornaram rítmicos, me embalando em um espaço seguro.
Meu batimento cardíaco diminuiu enquanto nos beijávamos, como se eu
tivesse cavalgado até o topo de uma montanha-russa e agora fosse a queda
longa e interminável.
— Quero levar você para a cama — ele murmurou. — Não devia ser
assim que as coisas eram para acontecer...
Embora tivesse certeza de que ele não estava criticando, a palavra me
atingiu no peito da mesma forma.
Como se ele já pudesse me ler, ele xingou baixinho e segurou minha
bochecha, seu polegar sobre meus lábios inchados.
— Não pense errado. Essa foi a experiência mais incrível que já tive.
Mas, você merecia mais.
Eu fiz uma careta, com certeza eu o tinha ouvido mal.
— O que quer dizer?
— Que você é linda e naturalmente sedutora, já sabe. É difícil para um
homem resistir. Mas eu deveria ter te beijado primeiro. — Seu olhar caiu para
os meus seios e me chamuscou como uma marca. — Devia ter te chupado
primeiro.
Eu não pude deixar de segurar suas coxas com mais força. Sua mão
desceu para o meu quadril, seus dedos pontudos esgueirando-se sob o
algodão pegajoso da minha bermuda. A intenção em seu olhar não deixou
mistério.
Bruno queria me foder. E tudo que eu pensava era: “Sim, foda-me e me
preencha até que eu esteja completamente arruinada para qualquer outro
homem”.
Todavia, mesmo depois do que havíamos compartilhado, eu não estava
pronta. Ainda não. Porque eu sabia que quando isso acontecesse, ele não me
tomaria apenas sexualmente. Eu ficaria inteiramente à sua mercê.
Quando a mão dele fez menção de puxar meu shorts, eu a segurei.
— Não. — Eu respirei fundo. — Eu ganhei ingressos para um baile em
um CTG da cidade.
Sua testa franziu.
— Me diz que está brincando.
— Adoro Terceira Dimensão.
— Meu Deus, você não está brincando...
— Eu vou no baile — avisei. — Sem nenhuma parte de mim dolorida
— afirmei.
— Você realmente vai trocar um momento a sós comigo, por causa da
porcaria de uma banda?
E não é que o Bruno idiota retornou!
— Pode ter certeza disso. — Eu me afastei dele, confirmando. — E
minha banda favorita não é uma porcaria.
— Cite uma música. — ele duvidou.
— “Vi nos seus olhos, era mês de maio” — cantarolei.
— Meu Deus...
— “Te quis como amiga então”. — Sai do banheiro. — “Já se foi a
primavera e eu quero, por minha mão em sua mão”. Viu só?
Ouvi a risada dele do banheiro. Aquilo me aqueceu muito.
— Se quiser se juntar a mim, esteja pronto à noite.
E saí sem ficar para ouvir suas queixas.
BRUNO
Aquela mulher me deixou completamente desnorteado. Eu nem tinha
certeza de que ainda estava vivo. Entrei no chuveiro após Tatiana sair do
banheiro e tentei um banho frio porque meu corpo ainda estava em choque e
chamas, clamando por uma libertação que já havia acontecido.
Eu havia acabado de gozar e queria mais.
O que aquela boca linda era capaz de fazer...
Eu dormi algumas horas e quando acordei o sol já havia se posto. Ela
estava me esperando quando saí do meu quarto, em direção ao seu. Sem saber
em que consistia exatamente sua ideia de jantar, eu tinha me vestido
socialmente, uma calça escura, e uma camisa clara, sem gravata. Pensei em
pôr o paletó, mas não tinha certeza se devia.
Você não usa terno num CTG. Contudo, será que realmente ela me
levaria a um Centro de Tradições Gaúchas?
Para ouvir Terceira Dimensão?
Meu Deus, e se ela me fizesse dançar Maria tchá, tchá, tchá?
Ela usava um vestido azul que abraçava suas curvas, e seus cabelos
pendiam em ondas longas pelas costas. Meus dedos formigaram ao vê-lo.
O sorriso era atrevido, como se ela tivesse revelado um grande segredo.
No entanto, ela não tinha a menor ideia de todos os prazeres que a
esperavam. E eu sabia que viveria todos com ela.
Nós comemos em um restaurante perto do hotel, e ela parecia a mesma
Tatiana de sempre. Ela bateu papo com o garçom, com duas meninas perto da
mesa próxima, com um senhor idoso na mesa oposta, quando ligaram a
televisão e colocaram no canal de esportes, ela disse alto, buscando conversa
com ninguém em particular, que Lucca Moraes, o meio campista do Grêmio,
estava arrasador nesse ano. Um rapaz numa das mesas respondeu, dizendo
que o meio campista do Internacional era melhor. Ambos começaram um
embate animado sobre futebol que levou cerca de quinze minutos e me deu
dor de cabeça.
A única maneira daquela mulher calar a boca era com meu pau enfiado
nos lábios!
No entanto, ela mal falou comigo. Os arrependimentos já haviam
batido à porta?
— Terceira Dimensão sempre me animou. — Ela disse tão logo eu tive
esse pensamento, antagonizando-o. — Às vezes eu chegava exausta em casa,
mas colocava uma das suas músicas para tocar, e conseguia limpar todo o
apartamento, lavar todas as roupas, a louça, e ainda preparar meu jantar, sem
sentir cansaço. Eu juro, “Um Pedacinho do seu Coração” é quase um antídoto
para a tristeza, a cura para a solidão.
Eu teria rido da parte da cura se ela não tivesse tido as palavras de
forma tão séria.
Tatiana era uma mulher única. Uma preciosidade. E jamais teria
imaginado que ela tinha uma tendência submissa no âmbito sexual.
Ela parecia tão dominadora, tão dona de si, extrovertida... Mas, no
sexo, até então, havia se mostrado uma princesinha sapeca.
Eu sabia que ela era reprimida, mas quando consegui transpor o murro
com o qual se protegia... que vulcão encontrei do outro lado!
Esperava descobrir mais sobre ela.
— Uma cura para a solidão... — repeti. — Você tem medo de ficar
sozinha?
— Quem não tem medo? Sabe, eu sempre trabalhei... Lá em Ajuricaba,
eu me levantava cedo para ajudar a tirar leite das vacas, dar comida para as
galinhas. Depois eu ia para a escola, tinha bom comportamento e boas notas.
Voltava para casa, ajudava novamente em casa, alimentava os peixes... Era o
tipo de garota exemplar. Eu sempre pensei que se eu fosse uma boa pessoa, o
destino me recompensaria com coisas boas. Contudo, todas as minhas amigas
já se casaram e eu nunca conheci ninguém... Ninguém que me quisesse...
Como assim? Todos a queriam!
— Você só tem vinte e seis anos.
— Acho que para os homens é diferente. Mas, para nós, mulheres,
ainda mais em Esperança...
— O que quer dizer?
— Ficar mais velha e não casar não é bom, naquela cidade. — Ela
descansou o queixo nas mãos. Os cotovelos apoiados na mesa. — Todos os
homens que se aproximaram de mim buscavam sexo. As mulheres que se
aproximavam, me consideravam rival.
Estranhei as palavras.
— Está me dizendo que está aberta para as mulheres.
— Eu queria amor. Sempre pensei que fosse me apaixonar por uma
pessoa, não por um pênis ou uma vagina.
Ri baixinho, surpreso.
— Queria amor? Disse a frase no passado. Desistiu?
Ela sacudiu um ombro.
— Tenho certeza de que isso não faz sentido para você. Você nunca
lutou por aprovação.
— Isso não é verdade.
As palavras soaram vazias nos meus ouvidos.
Meu pai não tolerava idiotas e não suportava fraquezas, inclusive dos
filhos. Especialmente de seus filhos. E eu fiz tudo que podia para que Benício
sentisse orgulho de mim.
— Bom, em breve você estará formada.
— Ah, é... o sonho da minha vida. — Ironizou.
— Você não gosta do curso?
— Eu trabalho em uma cafeteria ao invés de tentar um estágio em uma
clínica ou num hospital. O que isso te diz?
Sua postura defensiva combinava com o brilho de irritação em seus
olhos. Ela percebeu isso e mudou o tom.
— Eu estou bem na cafeteria. — Apontou, mesmo assim.
Minha reação padrão foi rir. Discretamente, como meu pai faria. De
fato, o som retumbou no meu peito e sua cabeça se levantou, seu olhar suave
e cauteloso endurecendo. Então eu contive a reação.
Eu não era meu maldito pai.
Até porque meu pai era um doce com ela, bem diferente de mim.
O Dr. Benício Gatti sempre a amou. Certa vez, acreditei que era porque
a família dela parecia próspera. Agora, não tinha tanta certeza.
Poderia ter sido apenas a magia daquela loira, sua facilidade de fazer
amigos em todos os lugares que ela fosse.
Até porque, sempre que ele ia a cafeteria, ela lhe destinava um enorme
sorriso ao atendê-lo. Duvidava que fosse porque gostava dele. Tatiana não
escondia a antipatia pela minha família, mas era uma excelente garçonete.
— Cinderela — chamei sua atenção. — Você é linda e jovem. Pode
escolher ser o que quiser. Pode escolher ter quem quiser. Qualquer um teria
sorte de ter você.
O doce apelido escapou de meus lábios. Mas de repente, uma mudança
pareceu tomar conta dela. Ela se endireitou e seus olhos clarearam, e ela
sorriu da mesma maneira que no hotel.
— Sabe que está certo. Estou colocando muita importância no amor.
— Ela se inclinou para a frente e meu olhar mergulhou no V de seu vestido.
Deus, tinha alguma coisa nela. Agora que eu tinha visto seus seios,
fiquei ainda mais fascinado por eles.
— Eu gosto quando você me chama de Cinderela.
Eu me movi em direção a ela sobre a mesa, estendendo meu braço para
que eu pudesse esfregar meu polegar sobre o canto de sua boca.
— Você gosta? — indaguei, sensualmente, tocando meu polegar no
seu lábio inferior.
Em seguida, puxei minha mão e lambi meu polegar. Um beijo indireto.
Ela observou o movimento avidamente, sua respiração correndo entre
os lábios entreabertos.
Eu tive que sorrir. Aquela mulher se tornava muito mais atraente a cada
momento que passava ao seu lado.
— Bom, que horas começa o baile? — questionei.
— Você vai comigo? — ela devolveu, quase como se só então se desse
conta de que eu falava sério quando disse que a acompanharia.
O brilho em seu rosto valia a pena suportar qualquer coisa.
— Vou. — Inclinei meu queixo em direção ao prato dela. — Então
termine seu jantar.
Quando ela terminou e eu paguei a conta - depois de uma briga, já que
ela queria dividir a mesma - saímos para pegar um táxi até o CTG onde
ocorreria o baile.
— Não é longe daqui. Podíamos ir andando — ela sugeriu.
Tatiana apertou minha mão, entrelaçando seus dedos nos meus
enquanto olhava para mim.
— Está uma noite tão bonita...
Dizer não a ela parecia tarefa impossível.
Em vez de uma resposta, apertei a mão dela e acenei.
No começo, ela não chegou muito perto enquanto caminhávamos,
apesar de nunca quebrar o vínculo dos nossos dedos. Mas, de súbito, ela se
aconchegou, descansando a cabeça no meu braço de vez em quando enquanto
eu olhava no google maps do celular o local exato.
— Você sabe... podíamos ficar uns dias a mais. Tem muita coisa para
se ver em Bento Gonçalves.
Ela sorriu para mim, sutilmente apertando meu braço. Era como se
algum tipo de barreira tivesse quebrado entre nós.
— Gostaria disso.
Engoli em seco. Sua resposta foi uma surpresa porque eu realmente
não a esperava. Achei que ela fosse começar a colocar empecilhos, e estava
pronto para retorqui-los, mas seu jeito gentil de me responder me fez
acreditar que...
Me fez acreditar no quê?
Puta merda.
— Então, como você se sente sobre o que está rolando?
Era o momento certo para essa conversa?
— Estou me divertindo.
Por que ser a diversão sexual de uma mulher me causou queimor no
estômago?
— Você realmente é uma mulher... única.
Qualquer outra estaria sonhando com algo a mais comigo. Mas, ela me
encarava como se fosse me descartar em alguns dias.
Se eu não descobrisse um plano para garantir que ela continuasse me
vendo quando voltássemos para casa, ela provavelmente nem olharia para
minha cara.
E isso não me agradava.
Por quê? Só Deus sabia.
— O que você faz para se divertir, Tatiana? Além de ouvir música
cafona?
Ela riu.
— O que todas as mulheres solteiras de Esperança fazem? Passo a
noite na Netflix.
— Mesmo? Maratonando alguma série?
— Várias. Estou esperando a nova temporada de The Walking Dead.
— A dos zumbis?
— Amo Carol e Daryl.
Arqueei as sobrancelhas. Havia assistido apenas a primeira temporada
e não me lembrava muito dos personagens.
— Quem são?
Ela puxou o celular e me mostrou as fotos.
— Eu lembro dele, mas achei que ela fosse morrer logo. Era só uma
mulher que apanhava do marido, né? Uma coitada...
— Uma guerreira — ela objetou. — Às vezes, quando uma mulher
consegue escapar das amarras que a cercam... consegue transpor os muros
que constrói para se proteger... Céus, essa mulher se torna absoluta.
— Hum. Vou voltar a ver. Posso assistir com você?
— Acho que não vai dar para assistir nove temporadas num final de
semana.
Gravemente, assenti novamente.
— Estou dizendo para vermos na sua casa. Você aceita?
— Você quer que a gente continue a se ver? — ela arregalou os olhos.
Assenti.
Tatiana abaixou a voz e se inclinou.
— O tipo de encontro em que eu coloco minha boca em seus pedaços
masculinos.
Eu engasguei uma risada. Deus, que mulher era aquela?
— Não vou negar que eu gostaria disso, mas estou falando de a gente
assistir séries juntos, sair para tomar sorvete... jantar... — percebi o pânico
em seus olhos, e então adicionei: — agora somos amigos, certo?
— Sim.
Não havia entusiasmo em sua voz. Isso não me faria desistir, ao
contrário.
— Relaxe Tatiana...
— É que nunca sei o que esperar de você.
Cruzamos perto de uma praça. Nela, um casal se beijava entusiasmado.
Depois, o homem colocou um anel no dedo da mulher.
— Oh meu Deus, ele a pediu em casamento?
— Se foi, que porcaria de pedido, hem?
— Você sabe alguma coisa sobre romance? Talvez essa praça
signifique algo para eles.
— Romance é bobagem. Relações dão certo quando existe um comum
acordo e sexo satisfatório.
— Babaca... — ela murmurou sombriamente, se afastando de mim.
Quis negar, mas meu telefone tocou e eu atendi. Era Benjamin. Por que
ele estava ligando em vez de mandar uma mensagem como costumava fazer?
Engoli em seco.
—O bebê está bem?
Ao meu lado, Tati parou de andar e colocou a mão na boca.
— O bebê está bem. Como está Tatiana?
Eu olhei para ela de lado e balancei minha cabeça minuciosamente.
— Além de assustada por causa da minha pergunta, ela está
perfeitamente bem. Então, por que ligou?
— Como você está?
Suspirei. Eu odiava telefones, odiava falar no telefone, e francamente
odiava qualquer tipo de pergunta carregada de segundas intenções. O idiota
estava em uma missão de fofoca, graças à sua adorável esposa.
— Está sendo uma ótima viagem. — disse.
Ao meu lado, Tati inclinou a cabeça e estreitou os olhos.
— Bento Gonçalves é uma das cidades mais...
— Ok , c hega de besteira. Você já dormiu com ela?
Eu limpei minha garganta. Felizmente, as calçadas estavam cheias de
turistas, assim Tati não podia ouvir a voz estrondosa de Benjamin.
Troquei meu celular para a outra mão.
— Afirmativo.
Benjamin xingou.
— Ela era virgem, sabia disso. Como você pôde?
Em algum lugar lá no fundo, algo parecido com mágoa explodiu. Eu
não me importava em ser conhecido como mulherengo na cidade. Contudo,
as coisas não era assim. A verdade era que eu tratava as mulheres com
respeito e não mentia sobre minhas intenções. Mas para meu próprio irmão,
eu era um canalha capaz de usar Tatiana e descartá-la depois.
Tatiana parou de andar e apontou para uma loja que ainda estava
aberta. Eu não entendi o que ela quis até entrar na loja.
— Nós não dormimos juntos — eu disse entre dentes, quando a porta
se fechou atrás dela. — Feliz agora?
Benjamin audivelmente exalou.
— Sim. Helena disse que não estava preocupada, já que Tatiana te
odeia, mas avisei para não duvidar das suas habilidades de convencer uma
mulher a ir pra sua cama. Você é bom nisso. E Tatiana é inexperiente. Seria
fácil para ela confundir sexo e amor. Se ficar elogiando-a ou demonstrando
interesse, vai acreditar que está apaixonado.
— Você está louco. Não faz nem vinte e quatro horas que estamos
juntos nessa viagem e você já está falando de amor? Além disso, não acha
que deveria dar mais crédito a Tatiana?
Quando ele não respondeu imediatamente, balancei minha cabeça.
— Com todo respeito, acho que Helena e você não conseguem vê-la
pela mulher que é.
— Meu Deus, é você que está confundindo sexo com amor!
— Vá se foder, Benjamin. — Desliguei antes que ele pudesse fazer
mais do que engasgar.
Por mais que eu não quisesse desvalorizar o ele havia dito,
provavelmente estava certo sobre uma coisa. Tatiana era sensível. Claro,
nesse momento, queria diversão e aventura, e talvez isso a estivesse deixando
menos exigente quanto ao companheiro para isso. Mas, nem tudo eram flores.
Benjamin me confirmou algo que eu já desconfiava.
Ela era virgem, afinal.
Ela tinha que estar fervendo tanto que era capaz de se incendiar. Isso
não significava que ela estava fervendo especificamente para mim.
TATIANA
Bruno mal estava falando comigo. Ele aceitou dançar comigo no baile
e até riu de algumas letras das músicas, mas realmente havia algo nele....
Algo nele mudou.
Quando voltamos ao hotel, ele me convidou para ir até o bar para
bebermos um pouco, e imaginei que queria aproveitar aquele momento para
me dizer algo.
Mas, não disse.
Bruno tomou um gole de uísque, me olhando placidamente enquanto
eu afundava em preocupações.
— Eu pretendo me perder essa noite — comentei, pedindo mais uma
bebida. — Posso ficar bêbada? — perguntei, piscando um dos olhos em sua
direção.
Eu tentei parecer animada. Queria uma reação dele. Qualquer reação.
Mas o que veio, me deixou surpresa.
Ele agarrou meu cotovelo e me impulsionou para frente.
— Você pode — disse contra o meu ouvido — , porque estou aqui
para mantê-la segura.
As palavras criaram uma sensação potente no meu peito, suave e
quente como borboletas vagando sobre flores de um jardim.
— Eu sei... — disse um pouco nebulosa enquanto sorria para ele.
Ele era tão bonito, apesar de às vezes ser um idiota. Eu também gostei
do pênis dele.
— A Tatiana que você está conhecendo aqui, não é a Tatiana que
existia. Eu ainda não sei direito o que estou fazendo, mas quero sentir o
mundo na ponta dos meus dedos — avisei.
— Fico feliz em ouvir isso.
Eu tinha certeza de que o ouvi suspirar.
— Para tocar o mundo, você precisa começar tocando alguma coisa.
Quer começar com o quê?
Virando a cabeça, arregalei os olhos.
Agarrei sua manga. Luzes e barulho assaltaram meus sentidos. Tanta
coisa para absorver ao mesmo tempo. Não sabia para onde ir ou o que queria
fazer. Eu queria ter a experiência completa.
Tomei um gole e segurei o líquido na minha boca enquanto estendia a
mão pela sua camisa para puxá-lo para mim. Suas pupilas escuras queimaram
por um instante antes de nossas bocas se conectarem, e eu de certa forma
transferir a bebida.
Ele fez um barulho estrangulado e recuou, passando a mão sobre os
lábios. Ele estava dizendo algo, mas eu não estava ouvindo.
Eu queria transar com esse homem, e não porque estava alta por causa
dos três copos de Martini que já havia bebido. Havia esse estranho senso de
conexão entre nós, bêbados ou sóbrios. Não ligo para o que vem depois, para
como será nossa vida em Esperança, se posso ter tudo agora.
Seus lábios ainda estavam se movendo, e eu os encarava como um
viciado observando uma droga. Eu precisava de mais. Ele tinha uma vasta
experiência e a compartilharia comigo. Eu poderia me tornar uma especialista
em sexo em um fim de semana.
Quase ri com o pensamento.
— Tatiana? Você está bem? O que há de errado com você?
— Estou com tesão — confessei, rindo, e ele corou.
Foi a coisa mais fofa que eu já vi. Esse homem confiante e tentador,
corando porque eu dizia que tinha necessidades sexuais, era a coisa mais
adorável do mundo.
Até que ele segurou minha bochecha e virou minha cabeça o suficiente
para murmurar em meu ouvido:
— O bar está cheio de homens, e todos eles ouviram você dizendo isso,
Cinderela. Tem ideia do trabalho que me dá?
Estiquei o pescoço para olhar em volta de seus ombros largos e quase
tombei, então agarrei seu braço para equilibrar-me enquanto olhava para os
homens.
Alguns me encaravam como se eu fosse um pedaço de carne suculento.
Eu odiava aqueles olhares. Eles existiam as pencas em Esperança, e era por
causa deles que eu me escondia em roupas largas e aparência desleixada.
— Eu estou com tesão por você. Só você — disse, de novo.
Aqueles olhares não iriam melindrar a nova Tatiana. Só um homem
tinha direito de me cobiçar ali, e esse homem era Bruno.
Em vez de responder com um daqueles olhares acalorados dos quais eu
gostava, ele passou o braço em volta dos meus ombros e me puxou para
frente.
— Tatiana, o que está rolando entre nós?
Ele definitivamente estava me dando um olhar aquecido.
— Eu não sei — Agitada, percebi seu olhar perdendo o fogo. — Por
que perguntou?
Ele não disse nada, apenas me encheu meu copo mais uma vez.
No último gole, não me importei que ele fosse um idiota. Eu só queria
beliscar sua bunda.
— O que quer que você esteja fazendo, eu não aconselho. — Ele
exalou e olhou para o teto. — Se eu soubesse o que estava fazendo quando
Helena me pediu para tomar conta de você...
As palavras não atingiram meu cérebro. O rapaz que atendia no bar se
afastou, e uma moça de cabelos escuros surgiu. Estavam trocando de turno, e
eu a percebi radiante, olhando na nossa direção.
Olhando para Bruno...
Segurei um palavrão.
Então, beber me deixou com ciúmes. Era uma nova faceta. Eu jamais
havia tido uma crise antes.
— Água, por favor — ouvi ele pedindo a ela. — Então, seu olhar
voltou para mim. — Você tem que ficar hidratada. Para cada copo, você
precisa beber a mesma quantidade de água ou vai passar metade da sua
viagem na cama, de ressaca.
Ela se afastou para buscar a água.
— Você acha que ela é gostosa?
— Quem? — Ele piscou para mim, claramente confuso, e eu queria
beijá-lo novamente.
Eu estava tão bêbada.
Me aproximei dele, segurando-me em seus braços. Bruno pressionou
os lábios no meu ouvido e deu um pequeno beijo ali.
Ah... era tão bom...
Sem pensar, virei minha cabeça e beijei seus lábios. Uma parte de mim
sabia que não era o álcool que me estimulava. Eu estava começando a gostar
de Bruno.
Incrível a rapidez com que as coisas podem mudar. Em vinte e quatro
horas, meus sentimentos deram uma volta de cento e oitenta graus.
Nos separamos. Ele pousou os dedos no meu ombro antes de
sutilmente transferir o aperto para minha garganta e inclinar minha cabeça.
Meus lábios se separaram enquanto meu coração disparava.
Perigo...
Isso tudo era muito perigoso.
Me afastei e a mão de Bruno caiu.
— Ah, é mesmo... Eu disse a Helena que mandaria uma mensagem
para ela sobre o baile.
Eu nem bem tinha puxado o meu telefone e Bruno já se erguia.
— Certo... eu vou dar uma volta... — avisou. — A gente se vê lá em
cima...
Uma parte de mim sentiu-se aliviada pelo seu afastamento.
Guardei o telefone na minha bolsa novamente, incapaz de escrever
qualquer coisa para minha melhor amiga.
Sai do bar e caminhei em direção ao elevador. Apesar do que disse,
Bruno não saiu do hotel. Ele estava ali, me aguardando.
Havia uma infinidade de dúvidas em seu olhar, nos seus sentimentos.
Eu sabia que ele estava em tormento. Porra, eu também estava.
Escondi um bocejo atrás da minha mão. Que horas eram? Eu estava
cansada. De súbito, todas as sensações daquele dia me deixaram exaurida.
— Foi um bom dia, não é? — ele indagou, enquanto o elevador abria
no térreo.
Entramos.
— Você se divertiu? — devolvi.
Ele olhou para mim tão intensamente que meu corpo inteiro ficou
vermelho.
— Muito — respondeu suavemente.
— Então, isso significa que você realmente não me odeia?
— Eu nunca te odiei. — Sua resposta veio tão rapidamente que eu
perdi o fôlego. — E quanto a você? Pode dizer o mesmo?
Apertando meus lábios, olhei para as luzes que denotavam os andares.
— Não.
Sua risada era rica e íntima.
— Adoro sua honestidade.
— Você é tão irritantemente convencido. E você dorme com todas e
pensa que é um presente de Deus para o mundo.
— Posso garantir-lhe que não dormi com todas as mulheres com quem
estive. A minha fama é maior que a realidade. — Ele parou, segurando meu
olhar enquanto meu batimento cardíaco trovejava fora de controle. — Eu não
transei com você.
— A gente fez sexo oral... — eu sussurrei.
A porta do elevador se abriu. Começamos a caminhar em direção ao
nosso quarto.
— Sexo oral só conta se for mútuo.
Eu limpei minha garganta.
— Mas a gente fará hoje, não? — questionei.
Eu podia ouvir minha virgindade gritando, implorando para ir embora.
Bruno apertou minha mão e gesticulou à frente dele.
— Sou todo seu.
BRUNO
Talvez ele estivesse prestes a desmaiar. Não sei dizer. Ele permaneceu
em silêncio, olhos arregalados fixos em mim, sem emitir nenhum som ou dar
qualquer sinal de que havia me ouvido.
— Você lembra que o preservativo rasgou, né?
Nada. Eu nem tinha certeza de que ele ainda estava respirando.
— Eu não queria esperar para lhe contar. Descobri hoje à noite, antes
de Benjamin me ligar sobre o bebê. O outro bebê. Não o nosso bebê. Ah,
Deus. Você não vai mesmo sair desse estado catatônico, né?
Bruno ainda estava parado imóvel.
O medo se enrolou ao meu redor como fumaça. Olhei para o celular,
pensando em chamar um táxi, meio tentada a ir embora. Mas, ao mesmo
tempo, não podia deixá-lo ali, daquele jeito.
— Bruno, pelo amor de Deus, diga alguma coisa.
Eu queria tanto que ele falasse. Todavia, quando ele o fez, desejei que
jamais tivesse aberto a boca.
— Isso é tudo culpa do meu irmão.
Eu esperei muita coisa. Especialmente um sorriso e um abraço. Na pior
das hipóteses, que ele fosse a porra de um homem que ao menos se
dispusesse a assumir a consequência dos seus atos. Mas, nada me preparou
para vê-lo jogando a culpa em Benjamin por ter ido a Bento atrás de mim,
começando essa relação.
— O que vamos fazer sobre isso? — indagou, como se eu tivesse todas
as respostas.
Eu estreitei meus olhos.
— O que vamos fazer? — repeti a pergunta. — Você, não sei, mas já
decidi ter esse bebê. Não precisa se envolver, se não quiser. A julgar pela sua
reação até agora, acho que nem quero que se envolva.
Deus, doeu dizer isso. Mas era melhor do que forçá-lo a ser pai se ele
não queria. Eu tinha amigos que os pais os desprezavam, tive uma amiga que
a própria mãe perguntava por que ela nasceu... Eu não queria que meu bebê
passasse pela mesma coisa.
Ele soltou um suspiro gelado.
— Talvez não devêssemos discutir isso agora. Seu sobrinho acabou de
nascer. Se vamos brigar ou coisa assim, é melhor eu pegar um táxi e ir
embora.
— Brigar? Estou pensando em soluções.
— Olha, com todo o respeito, vai pra puta que te pariu — afirmei.
— Pronto, começou.
— Comecei? Foi você quem culpou Benjamin por nosso filho e depois
perguntou o que íamos fazer, como se isso fosse um problema a ser resolvido.
E agora fala em “solução”. Vá se foder!
— Você está me ouvindo errado.
— Ah, jura? Você não está sendo um merda, é apenas a minha falta de
interpretação. Típico das mulheres surtadas — ironizei.
Eu não conseguia lidar com a negação, com a falta de alegria, não
quando estava vulnerável e determinada a proteger a vida frágil que crescia
dentro de mim.
A vida que eu mal tinha descoberto. Esses sentimentos eram todos tão
novos.
Respirei fundo, pensando em ser mais racional:
— Não precisamos conversar sobre isso hoje à noite, se você precisar
de algum tempo para processar, eu posso te dar isso.
— Você quer fugir?
Sua pergunta abriu um buraco dentro do meu peito.
— Não. Eu vim aqui hoje para me desculpar e contar sobre o bebê. E
queria estar com você. — Admiti. — Porque eu gosto de estar com você.
Acho que isso você sabe.
— Na verdade, não.
Apertei meus lábios e tentei não tremer.
Nas últimas semanas, comecei a ver que havia muito mais nele do que
aparentava. O problema era que continuávamos voltando aos nossos papéis
antigos e desgastados. Onde éramos adversários, em lados opostos sobre
tudo. Não sabia se devia baixar meus muros no que dizia respeito a ele, mas
tinha que tentar. Pelo meu bebê, eu arriscaria. E se ele me rejeitasse, bem,
então eu enfrentaria isso também.
Bruno foi até a lareira num dos cantos e jogou algumas toras no fogo.
Sua bunda se apertou contra as calças, fazendo minha boca secar.
Aparentemente, minha libido não tinha nenhum problema com ele, ou com as
palavras anteriores dele. Ou talvez pudesse culpar os hormônios da gravidez,
que começaram a funcionar cedo. Ou foram os muitos anos de abstinência.
Seja qual for o motivo, eu estava lambendo meus lábios quando ele se voltou
para mim.
Minha expressão deve ter me denunciado. Ele parou bruscamente,
franzindo a testa quando estendeu a mão para afrouxar a gravata. Essa
mudança não ajudou meu estado indesejado de excitação. Apenas os
movimentos rápidos de seus dedos quando ele separou o tecido fizeram
minha barriga tremer de uma maneira que não tinha nada a ver com o frio.
Eu precisava estar em guarda até saber sua posição exata. Em vez
disso, estava ficando mais e mais molhada.
Ele deu um passo em minha direção e passou os dedos sobre meu
pulso. A consciência formigou em seu rastro.
— Você sabe... os Gatti não têm muita sorte com mulheres e crianças.
Tipo, acho que Benjamin meio que quebrou a maldição, mas antes de Helena,
minha mãe nos abandonou por dinheiro, e a mãe de Alice foi embora para
não voltar por uma pomposa poupança que custa seus luxos na capital. Eu
meio que me assustei quando me contou sobre a nossa criança...
Nossa criança. Apenas duas palavras fizeram meu coração desmoronar.
— Eu não ia exigir que você fizesse parte da vida da criança. — Assim
que a declaração foi dita, amaldiçoei minha boca grande. — Quero dizer...
Eu não fiquei grávida para ganhar dinheiro... — Por que eu não consegui
calar a boca e deixar o homem falar?
— Não? — A mão dele caiu. — O que você ia fazer se eu sumisse?
— Nada.
— Nada? Você realmente não faz ideia dos gastos que uma criança dá,
não é?
Não havia recriminação no seu tom. Era mais tipo: “estou aqui e você
não vai me mandar embora!”. Não pude deixar de rir. Sua expressão suavizou
e minha garganta se apertou mais uma vez.
— Você tem certeza?
Engolindo profundamente, assenti.
— Sim. Fiz mais de um teste.
O pomo de Adão subia e descia.
— O que a fez fazer os testes? Está sentindo os sintomas?
— Um pouco de enjoo matinal essa semana. Fadiga. Desejo de comer
banana com salgadinhos – que aliás, é uma delícia, experimente. — Meu
estômago escolheu aquele momento para rugir, e ele olhou para mim,
horrorizado.
— Você realmente comeu isso?
— Não faz ideia de como é gostoso.
Sua mão tocou meu queixo. Logo, senti seus dedos afundando-se nos
meus cabelos. Puxando-me contra ele, rostos próximos, boca grudando-se.
Meus mamilos sensíveis e a fenda encharcada entre minhas coxas
deram um sinal positivo.
Eu estava tendo um bebê com esse homem. Isso significava tanto.
— Bruno... Caso você se sinta sufocado, eu só quero que você saiba
que tudo é voluntário. Eu não estou esperando nada. Nem dinheiro, nem...
nada.
Ele colocou as mãos sobre meus ombros.
— Não é uma situação como a de Benjamin e Simone — continuei. —
Estou pronta para enfrentar a situação da maneira que desejar. O que quer que
te faça sentir confortável, eu não vou te cobrar nada.
— E como você planeja fazer tudo sem mim?
— Eu não planejo nada — me defendi. — Não estou dizendo que sou
super foda, a mulher fantástica. — Suspirei. — Oh, que mulher não sonha
com esse momento e não o deseja perfeito? Num ambiente seguro para o
bebê. Sem drama. Sem brigas. Sem pressa de voltar ao trabalho para que
possa ter muito tempo com a criança. Sem se preocupar com o aluguel e as
despesas. Você sabe, ter uma família. Um lugar seguro e acolhedor para o
bebê. — Ao me ouvir, eu ri baixinho, balançando a cabeça. — Meu Deus,
eu sou muito mulherzinha.
— Parece que você será uma mãe incrível.
— É tudo que eu sempre quis. — Fechei meus olhos. — Não
engravidei de propósito. Mesmo que eu não tenha tomado a pílula do dia
seguinte, e ciente da camisinha rasgada... eu não estava esperando por um
acidente. Eu queria uma aventura. Algo divertido e casual. Eu não estava
pedindo uma gravidez.
— Eu sei que você não engravidou de propósito. Eu estava lá, lembra?
Assenti.
— Então, o que está pensando em fazer?
~***~
Deslizei minha mão para baixo, parando por um momento sobre minha
barriga. Nossos olhares travaram. Tantas coisas não ditas. Eu não sabia se
tinha imaginado como as pupilas dele estavam mais largas.
— Vamos fazer amor? — ele pediu.
Não era bem uma pergunta, e eu não conseguia responder de qualquer
forma. Eu apenas gemi enquanto ele me levava para o quarto.
Mãos, toque... tato... Cada movimento mais rápido, necessidade
aumentando até que não houvesse mais roupas entre nós.
Depois, seu pênis estava ao lado da minha bochecha, cheio e duro, e eu
queria na minha boca. Meus lábios se separaram e ele me deu a ponta,
descansando lá enquanto eu choramingava e usava meu corpo para nosso
prazer combinado.
Muito cedo, ele o retirou. Meus olhos confusos prenderam-se nos de
Bruno.
— O que foi?
Ele colocou as mãos debaixo dos meus braços e me levantou, não me
dando escolha a não ser envolver minhas pernas em volta dele enquanto ele
me carregava para a cama.
Ele me abaixou gentilmente em cima dos lençóis e abriu minhas coxas,
espalhando-as obscenamente largas quando se ajoelhou entre elas. Então sua
boca estava em mim, e eu não conseguia pensar, não conseguia respirar, não
podia fazer nada além de ser completamente dele.
— Tatiana — ele gemeu e eu me arrepiei inteira. — Você quer ser
minha namorada?
~***~
Eu sorri para meus pais. Eu não sei como diabos eles descobriram que
eu estava numa cabana com Bruno, mas eles apareceram naquela manhã no
lugar com olhar inquisidor.
Uma filha solteira numa cabana com um homem. Era uma vergonha...
Eu podia ler isso na face deles.
— Oi mãe — volvi para meu pai e percebi suas sobrancelhas curvadas.
— Oi pai. Como foi a viagem?
Bruno e eu havíamos acabado de acordar. Ele estava desnudo da
cintura pra cima, e eu estava usando uma boxer larga com uma camiseta –
dele. Nossas vestes explicitavam exatamente nossa relação.
Minha mãe veio em minha direção e me envolveu em um abraço.
— Tatiana... senti sua falta.
— Eu também, mãe. Muito. É tão bom ter você aqui.
Abracei minha mãe por mais tempo do que costumava, porque me deu
a oportunidade de manter os olhos fechados e rezar para que toda essa cena
desaparecesse. Eu vi Bruno antes de fechar os olhos, e ele estava atônito.
— Então, me diga como foi a viagem? Soube que as estradas estão
boas se vier por Panambi...
Minha mãe voltou e acenou com a mão.
— Seu pai insistiu em vir por Cruz Alta. Então, imagine... foi horrível.
Depois de Ijuí, as estradas estão péssimas.
Meu pai se aproximou, me dando um abraço também.
Minha mãe sorriu e olhou rapidamente para Bruno.
— Bruno Gatti, não é? Eu conheço bem seu irmão. Helena e ele foram
nos visitar Fenape.
— Fenape?
— Feira do peixe.
— Ah... — Bruno só faltava desmaiar. — Já tomaram o café da
manhã? Estávamos indo...
Não era que eu não estivesse feliz em ver meus pais. Pelo contrário, eu
sentia falta deles desesperadamente. Mas essa situação foi além de
embaraçosa. Normalmente, tinha que dar a notícia de que estava namorando
alguém, mas isso não acontecia quando teus pais te flagram numa cabana no
meio do mato com o cara.
Meu estômago roncou e eu os chamei em direção à cozinha.
Estava com tanta fome que enchi meu prato de omelete e estava prestes
a me sentar sem lembrar que não estava com roupas apropriadas.
— Volto já — eu disse. — Conversem entre si.
Depois de voltar correndo para o quarto, entrei no banheiro e gritei
com meu semblante de mulher fodida.
Sério. Se alguém quisesse ver a definição de mulher fodida no
dicionário, devia ter minha foto ao lado como exemplo.
Era muito óbvio que eu acordava de uma noite de sexo.
Vesti minhas roupas do dia anterior, tentando não me envergonhar com
os pensamentos. Eu já era uma mulher feita. Adulta. Que pagava minhas
contas.
Não é?
Eu dobrei meu cabelo, belisquei minhas bochechas e entrei na cozinha
com um sorriso, preparada para comer.
Entrei bem a tempo de ouvir as palavras "casamento" e "não tenho
muito tempo para escolher um local".
— Quem vai se casar?
Os três pares de olhos volveram para mim.
— Você — minha mãe apontou.
Foi quando eu comecei a engasgar.
— Quem disse? — Eu cuspi, lançando um olhar para Bruno antes que
fugisse para perto do fogão.
Meu Deus, o que ele havia dito enquanto eu ia me arrumar?
Meu pai pareceu sério ao responder:
— Bruno disse que você não nos avisou antes porque preferia dar a
notícia pessoalmente.
— Ah, ele disse?
Que diabos ele estava pensando? Por que ele mentiria para eles que
estávamos nos casando? A menos que... a menos que...
— Ele contou sobre o bebê? É disso que se trata?
O silêncio reinou, me fazendo pensar que não, esse era o palpite errado.
Talvez ele tivesse entrado em pânico por ter sido flagrado por meu pai.
Mas isso era loucura, considerando que nunca tínhamos discutido casamento.
Nós nem tínhamos discutido o compromisso real. Mesmo o pedido de
namoro pareceu apenas coisa do sexo, no limiar da paixão.
— Bebê? — Minha mãe pulou da mesa e correu na minha direção.
— Você está grávida? De Bruno?
— Ou do espírito santo. Vai que eu sou a nova Maria e o anjo Gabriel
esqueceu de avisar.
Bruno se mexeu para encostar no fogão, levando uma caneca de café
aos lábios.
— Eu não contei a eles. Achei que você iria querer...
— Gentil da sua parte. — Eu balancei minha cabeça quando minha
mãe finalmente parou de procurar no estômago por sinais de vida e recuou.
— Talvez você também pudesse ter adiado a conversa sobre casamento?
Pelo menos até falar comigo antes.
— Você me disse o que queria na noite passada. Explicou claramente.
Meu Deus, ele era tão retardado!
E pior, agia como se eu fosse uma boba.
Eu queria voar na cara dele, mas minha mãe segurou minhas mãos.
— Você está grávida? Tatiana, eu vou ser avó?
Eu balancei a cabeça. Que vergonha.
— Sim. Descobri ontem à noite antes de Helena ter seu bebê.
Eu não queria mais falar disso. Queria desaparecer. Olhei para o meu
relógio. Pela primeira vez, eu estava realmente empolgada para ir trabalhar,
mesmo com Márcia como chefe. Qualquer coisa para escapar dessa bagunça.
— Eu tenho um turno na cafeteria daqui um pouco.
— Você não precisa se preocupar mais com isso.
O tom de desdém de Bruno me enfureceu.
— O que isso quer dizer?
— Você realmente esqueceu tudo o que disse na noite passada.
— Eu não disse nada sobre o meu trabalho.
Ou disse?
— Você explicitou o cenário perfeito para ter esse bebê, disse que
queria se casar e ser dona de casa, sem se preocupar com aluguel e com o
tempo longe do bebê.
Meu rosto estava em chamas.
— E se vamos fazer tudo certinho, o melhor é fazermos o quanto antes,
para que você não se case como Helena, quase explodindo.
— É claro! Por que não agora, nesse exato momento? — retruquei. —
Não queremos que o abençoado nome Gatti seja manchado por um bebê fora
do casamento, não é?
— Você sabe como é Esperança. — disse ele firmemente.
— Eu quero que Esperança, você e esse estupido casamento vão pro
diabo que os carregue!
— Tatiana! — minha mãe reagiu.
Eu não quis dizer isso da maneira que soou. Mas... como não perder a
cabeça?
Bruno nunca disse "eu te amo" ou "quer se casar comigo, Tati?". Ele
apenas despejou tudo em cima de mim, sem esperar uma resposta.
Ele cruzou os braços, apertando o queixo. Seu rosto estava rubro.
— Bom, você passou tanto tempo na minha cama que a ideia de um
casamento rápido não me pareceu descabida.
Minha garganta estava doendo tanto que era incrível que eu conseguia
falar.
— Você é um idiota!
— Sou? Não fui eu que respondi a uma proposta de casamento com
“que o diabo te carregue”.
— Proposta de casamento? Em que momento?
— Chega disso! — meu pai me interrompeu. — Você sempre foi
assim, Tatiana. Sempre quis estudar, trabalhar fora... Uma moça devia se
casar, ter filhos, ser dona de casa. Em Ajuricaba, vários rapazes se
interessaram por você. Mas, sempre quis independência. E olha como
acabou...
— Como acabei?
— Num casamento às pressas para não mostrar que está grávida.
Recuei, furiosa.
— Amo minha independência. Amo quem sou, a pessoa que me tornei.
Incluindo minha gravidez. Amo esse bebê, e não tenho vergonha dele, nem
desejo de escondê-lo de ninguém. E ninguém vai decidir por mim que vou
me casar e largar meu emprego só porque fui honesta com meus sonhos de
ter uma família.
Os olhos dele brilharam.
— O tempo de decidir passou — meu pai apontou. — Você está
grávida.
— Do meu bebê. — Bruno completou. — Não podemos simplesmente
fingir que nada está acontecendo. Decisões precisam ser tomadas. É hora de
crescer e agir como adulta.
— Você é um babaca. Agir como adulta? Você quase teve um troço
quando soube que eu estava grávida. E, aliás, você nem consegue manter um
relacionamento com uma pessoa. Nem amigos você tem. A única coisa que
você consegue segurar na sua vida é o seu pau.
Minha mãe ofegou, mas eu não havia terminado.
— Você estava todo apavorado para que eu tomasse a pílula quando
aconteceu esse acidente. Ontem, quando lhe contei, estava todo aterrorizado.
Em nenhum momento você me deu sinais claros de que quer esse bebê. Então
foda-se você. Foda-se as regras de Esperança. Foda-se a vergonha de uma
filha grávida e solteira — olhei para meus pais. Voltei novamente para
Bruno. — Ah, e para sua informação, estou agindo como adulta. Estou
cuidando de mim e do meu filho, e depende de você se quer se envolver. Mas
pensei ter deixado muito claro ontem à noite que posso lidar com isso
sozinha. Eu posso cuidar do meu filho sem que alguém tome decisões por
mim, porque não sou fraca nem fresca.
— Pelo amor de Deus, Tatiana... — meu pai rebateu.
— Eu só estou tentando fazer o que é certo — Bruno interrompeu o
que quer que fosse que meu pai diria.
— O que é certo? Como você reagiria se eu fosse ao seu pai e dissesse
a ele que nos casaríamos sem sequer ter te perguntado isso antes? — Cobri
meu rosto com as mãos, incapaz de acreditar que essa era minha realidade
agora. — Eu sei que você pensa que estava fazendo a coisa certa, mas não
estava.
— Bem, então, me diga como devo corrigir isso, porque tudo parece
muito errado.
Eu deixei cair minhas mãos.
— Você não pode. Sabe por quê? Porque em toda a sua tomada de
decisão, você esqueceu o principal. Você sabe por que as pessoas geralmente
se casam, Bruno? — Minha voz era brutalmente suave quando dei um passo
à frente. — Não é para solucionar um problema. É porque se amam e querem
passar a vida juntos.
Ele olhou para mim, sua mandíbula dura e inflexível.
— Eu sei que você não me ama. Tudo bem. Mas não vou viver uma
vida de mentira apenas porque os Gatti ou meus pais acham que isso é o
melhor. Eu te disse ontem à noite que eu não sou Simone, jamais venderia
minha vida, nem meu bebê. Aliás, não tem dinheiro no mundo que me faça
desistir do meu bebê. — Engoli em seco, determinada a não chorar. — Você
também não vai me forçar a fazer o que acha melhor.
— Você não tem ideia do que estou pensando. Ou do que eu sinto.
— Talvez não. Mas agora você sabe como eu me sinto.
Eu me virei para encarar meus pais, que pareciam atordoados.
— Estou feliz que estejam na cidade. Vou conversar com Helena hoje e
combinarei um jantar para conhecerem o bebê. — Avancei para dar um
longo abraço em minha mãe e depois fiz o mesmo com meu pai. — Sinto
muito que essa manhã tenha sido assim. Conversaremos mais tarde, prometo.
— Então é isso? — Bruno perguntou. — Você está indo embora?
— Eu tenho que trabalhar.
Ele olhou para o meu prato ainda quase cheio.
— Você mal tocou no seu café da manhã.
Não respondi.
Apenas deixei a cabana sem olhar para trás.
BRUNO
Fui rejeitado.
Era isso.
Eu tinha um plano, certo de que era a escolha certa para Tati e meu
filho. Mas fui chutado tão logo o deixei claro.
Tah, ok. Eu não tinha pedido para ela se casar comigo. Francamente,
isso nem me ocorreu. Sei que Benjamin pediu Helena de joelhos, uma
caixinha com aliança nas mãos, mas cara... era outra circunstância. A
diferença era que eles tinham uma base de amor, confiança e amizade. Tati e
eu tínhamos sexo.
Suspirei.
Eu fui um idiota.
Tatiana disse mais de uma vez que ela não era como Simone, e eu sabia
disso. Minha relação com ela não chegava nem perto do que Benjamin viveu
com a mãe de Alice. Aquele havia sido um casamento puramente por conta
da gravidez. Mas... o nosso...
O nosso...
Tati sabia que meus sentimentos existiam? Não. Eu era um covarde,
tentei forçá-la a algo usando as aparências como escudo.
Tati não dava a mínima para as aparências. Eu estava errado em não
ver isso antes. Seu amor por nosso filho me abalou profundamente. Ela já era
uma mãe incrível, e o bebê ainda não havia nem crescido em seu ventre.
Eu tinha que ser digno dessa mulher.
Só que estraguei tudo.
E agora precisava provar a ela como me sentia. Mostrar a ela o quanto
significava para mim. Acreditava que ela entenderia o quanto eu me
importava pelas minhas ações. Acordar ao lado dela, ir dormir ao seu lado à
noite... Minha vontade de compartilhar minha vida com ela, de estar lá para o
nosso filho, parecia ser suficiente.
Não foi.
Obviamente, precisava de alguma orientação. Minha primeira
inclinação foi consertar as coisas com algum gesto romântico. Mas essa
também não era a resposta. Tati queria o romance, mas era muito mais prática
do que acreditava.
E ela estava puta da vida comigo...
Assim, não podia simplesmente aparecer diante dela com um buquê de
rosas.
Ela despedaçaria tudo e enfiaria as flores no meu cu.
Eu tinha que arriscar mais. Colocar tudo em jogo, mesmo sabendo que
havia uma boa chance de que não fosse suficiente.
A verdade? Eu estava apaixonado por aquela mulher. Como nunca
estive por nenhuma. Ela acreditaria nisso? Eu duvidava.
Durante quase uma semana, dei-lhe espaço. Me matou não vê-la, mas
eu esperei seu tempo.
E eu estava ocupado, também. Tinha um sobrinho novinho em folha
para estragar. Agora, estar perto de bebês tinha assumido um significado
diferente, considerando o fato de que eu teria o meu em um futuro não muito
distante.
— Você é bom com Bernardo — Helena murmurou, alguns dias
depois, enquanto eu embalava o bebê dormindo.
— O que não é bom é nomear uma criança inocente com o nome de um
cachorro famoso. Você sabe que ele vai se chamar São Bernardo na escola,
não sabe?
Ela revirou os olhos para mim.
— Era o nome do seu avô. Todos os homens Gatti começam com “B”.
Estava em dúvida entre Breno e Bernardo e fiquei com Bernardo. Vou contar
com a sorte, que a nova geração de crianças não seja tão estupida quanto a
nossa quando se trata de bulling.
Passei meus dedos por seu cabelo escuro. Meu sobrinho abriu seus
grandes olhos e bocejou. Eu ri.
— Você está muito cansado, hein, amigo? É difícil ser adorável e ter
todo mundo bajulado você, né?
— Ele está dormindo fácil com você. Ele nem sempre é esse tranquilo
assim. Você vai ser bom nisso... sabe... Como pai. — Helena sorriu
serenamente para mim quando eu dei a ela um olhar aguçado.
Tatiana deve ter contado a ela sobre nosso filho. No entanto, nenhum
de nós estava falando do assunto.
— Incrível como o tempo muda as coisas — murmurei. — Ano
passado você nem pensava em ter um filho.
— Seu irmão é um homem persistente. — Ela se inclinou para a frente
e passou os dedos sobre a bochecha macia de Bernardo. — Claro, eu quis
matá-lo quando ele me apareceu com um contrato para eu ser a mãe de um
filho seu..., mas Ben soube manejar a situação. Descobri que um Gatti,
quando quer algo, consegue.
Eu fiz uma careta. Essa era a maneira dela de me empurrar para ir atrás
de Tatiana?
— É mesmo?
— É verdade que, às vezes, os Gatti cometem erros. E persistem neles
por muito tempo.
Eu estava prestes a intervir quando ela continuou.
— Por exemplo, Benjamin. Ele acha que você é tipo um caçador.
Alguém que gosta mais da caçada do que da presa. Mas, eu não acho isso.
— Por quê?
— Minha melhor amiga me deu outra imagem do homem que você é.
Alguém gentil, presente...
Eu não sabia o que dizer. Tatiana tinha realmente dito isso a Helena?
Helena mexeu no cobertor que ela estava dobrando perto do berço. Ela
provavelmente não queria ter essa conversa. Mas devia pensar que importava
o suficiente para tentar. Por Tatiana e por mim.
— Nem Benjamin, nem eu, acreditávamos que você estaria levando
Tatiana a sério - disse Helena.
O bebê choramingou.
Comecei a devolver o filho, mas ela balançou a cabeça.
— Segure-o um pouco mais perto.
Eu fiz o que ela disse, deslocando-o contra o meu peito. A mãozinha de
Bernardo se esgueirou e agarrou minha jaqueta. Por algum motivo, meu
coração disparou.
Eu teria um desses. Ou seria uma garotinha como Alice, cheia de
impetuosidade?
— Ele já te ama.
Eu respirei fundo.
— Como vou fazer isso?
— Ser pai? Acho que é instinto.
— Bom, você é naturalmente mãe. Sempre foi, mesmo quando ainda
não tinha o seu. Como madrinha de Alice, você sempre foi uma mãezona.
Mas, eu...
— Você não pode ver o quão perfeitamente ele está aconchegado em
seus braços? Como se ele pertencesse a esse lugar? Você se subestima.
— Não sei o que estou fazendo.
— Nenhum de nós sabe. Simplesmente agimos por instinto. — Ela
sorriu e deu um tapinha no meu braço.
Talvez Helena estivesse certa. Não era possível ser o pai perfeito do dia
para a noite. Era um caminho no qual eu precisava dar o primeiro passo.
E para isso eu precisava de Tatiana. Eu a queria ali comigo, naquele
momento. Já não tinha certeza se poderia viver sem ela.
— Quando você vai entrar em contato com Tati e acabar com essa
loucura?
Até o nome dela fez meu coração acelerar.
— Não sei.
Eu queria estar com ela e com meu bebê. Se isso significasse que nos
casaríamos algum dia, não importava. Dei-me conta de que as regras sociais
pouco me importavam quando tudo que eu queria...
Tudo o que eu queria...
A felicidade não estava vinculada a um contrato. Estava vinculada ao
sentimento.
TATIANA
— Tatiana? É você?
Um cara grande de cabelos escuros, parou ao lado da mesa, sorrindo
amplamente.
— Eu não posso acreditar no que estava vendo. Quanto tempo faz?
Cinco anos?
Meus pulmões travaram, prendendo a respiração na garganta.
De jeito nenhum. Não era possível. Quando eu estava procurando por
ele, ele não estava em lugar nenhum. Agora que tudo em mim estava ocupado
– por Bruno e pelo bebê dele – o infeliz surgia diante dos meus olhos?
— Marcos Padilha — cumprimentei. — Faz tempo mesmo. Muito
tempo. Como você está? Você parece bem.
— Estou. Você também. Sempre linda.
Eu cacei aquele cara na internet por meses. Ele havia sido um dos meus
melhores namorados, e eu pensei que poderia retomar a relação. Naquela
época, dias antes da viagem a Bento Gonçalves, eu me sentia sozinha e
vulnerável.
Mas agora não.
Portanto, quando a mão dele pousou no meu ombro e ele me deu um
abraço leve, eu só queria sumir.
Foi quando meu olhar encontrou Bruno.
Fazia um tempão que ele não vinha na cafeteria, por que chegou no
lugar exatamente nesse momento?
Bruno não estava rosnando ou qualquer outra coisa, apenas olhando
para mim com uma expressão indecifrável. Ele entrou na cafeteria com
Benjamin ao seu lado.
— Bom, por favor, sente-se. Eu já vou lhe atender — avisei,
contradizendo minhas palavras com um sinal para uma colega de trabalho.
Nenhum homem me interessava mais, além daquele maldito Gatti.
De fato, ele me estragou para todos os outros.
Precisava sumir dali. Eu tinha chegado no meio do corredor até o
banheiro feminino quando passos soaram no chão atrás de mim.
— Tatiana.
Sua voz sempre foi tão profunda? Era como se eu estivesse em um
estado de privação, e ele fosse minha chance de sobrevivência. Meu coração
deu voltas e minha garganta contraiu, enquanto voltava para o banheiro.
Eu queria falar com ele. Todavia, não agora. Eu estava tão vulnerável,
tão...
— Você está bem? — Bruno ainda estava vindo em minha direção em
passos lentos e medidos. — Você está pálida.
— Por que está aqui?
Ele parou e enfiou as mãos nos bolsos.
Sua risada baixa me desarmou. Era constrangida, nervosa. Fiquei
quieta quando ele se aproximou, apoiando o braço na parede ao meu lado.
Estendeu a mão para tocar meu cabelo, passando os dedos pelas pontas, como
se fossem tão delicadas quanto cetim.
— Você está linda.
— Certo.
Eu odiava aquele elogio. Eu queria ser mais do que minha aparência.
Ele não percebia isso?
— Você é linda de muitas formas. Eu sinto tanto a sua falta...
Eita, caralho, ele iria me virar do avesso com aquele tom. Suas palavras
patinaram sobre a minha pele.
— Tem certeza?
— Você precisa de provas? — ele murmurou a questão, sua
respiração soprando sobre os meus lábios e os fazendo tremer. — Eu entendo
você, Tatiana. Eu entendo que me quer ao seu lado, não acima, não atrás... ao
seu lado. Um igual. É isso que você quer, é isso que eu quero ser. Não tenho
o direito de decidir nada por nós dois. Porque para sermos companheiros,
temos que estarmos cientes do que queremos, juntos.
Eu assenti.
— Não importa o que os outros pensam?
Em vez de responder com palavras, ele colocou a mão sobre minha
barriga e colocou seus lábios ternamente nos meus. Ele não pressionou por
mais, apenas me atormentou com o peso suave e persistente de sua boca.
Depois, recuou, removendo o calor da palma da mão na minha barriga.
— Vou deixá-la trabalhar. Também preciso. Benjamin queria um café,
mas acho melhor eu voltar ao escritório.
Eu ainda estava tremendo depois que ele se foi.
Se Bruno tivesse me pedido para ir para casa com ele, eu teria dito que
sim. Como poderia dizer não? Ele atacou meu coração - e o resto de mim -
com uma habilidade que nenhum outro homem jamais teve. Não queria que
essa lacuna continuasse entre nós. Tudo que eu queria era que ele me dissesse
que se importava. Não apenas insinuar, mas dizer as palavras exatas.
No entanto, ele estava me mostrando à sua maneira. O jeito que ele
tocou meu estômago com tanto cuidado. Ele não era indiferente, e ele não
estava apenas sugerindo casamento pelo bem do seu sobrenome.
BRUNO
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por
literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais
de vinte livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
WWW.JOSIANEVEIGA.COM.BR