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O sentimento da paixão é semelhante ao vôo de uma libélula, violento e

frio comparado ao de uma borboleta.


Ana Maria Furtado.

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Capítulo um.
– Jane! Venha já aqui mocinha! – Estava eu em uma tarde normal
quando ouvi minha mãe (neurótica como sempre) gritar. Fui correndo
ver o que era, quando cheguei ao meu quarto encontrei dona Mônica
sentada na cadeira do meu computador. Agora ferrou.
– Venha cá, que tipo de linguajar é esse, dona moça? “Merda”,
“Xau”, “D+”. Você podia falar com seu tal amigo, por que de
amiguinho ele não tem nada pela a foto... Aliás, quem é ele? Posso
saber?
– Claro mãe, o nome dele é Lucha e ele é meu professor de
medicina da Universidade.
– E ele é seu professor e não faz nada em relação a sua escrita?!
Que tipo de professor é esse que deixa a aluna falar assim com ele, e ele
não é meio velho para você ficar conversando sobre assuntos
extracurriculares? Ai, ai Jane Grace, se eu saber que você está “ficando”
com ele...
– Mãe, me escuta! – Falei eu perdendo a paciência – Lucha
entendi muito bem o que eu falo e eu não estou FICANDO COM ELE!
E para de ficar mexendo no meu computador se não eu vou saber o que
você tanto fala na sua linha particular!
Enquanto falava eu via minha mãe começar a ficar vermelha, do
vermelho ela passou para o azul, do azul para o roxo, quando acabei ela
se levantou e saio gritando sobre responsabilidade dos pais de proteger
os filhos, de que eu ia me dar mal se continuasse a sair com homens
mais velhos que eu, que ela não ia arcar com despesas de um neto antes
da hora... Suspirei, fechei a porta do meu minúsculo quarto (Bom, ele é
médio, mas com as todas as tralhas da minha irmã Julieta, fica
minúsculo.), sentei na cadeira, entrei no MSN e ele estava lá. Meu
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coração quase parou e eu comecei a transpirar e coçar o nariz (Eu tenho
alergia a nervosismo, trágico!), mas mesmo tremendo abri a janela de
conversa dele e digitei:
– Oi.
– Oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi, oi! – Ele digitou.
– E ai o que eu tá rolando? Dona Mônica brigou com você hoje?
– Ah, você parece um telepata falando assim, minha mãe acabou
de brigar comigo por causa do meu linguajar no MSN.
– Nossa! Neurose total.
– Concordo, mas e ai... Soube dos “Babados”?
– Que negócio é esse de “Babados? Você está parecendo uma
patricinha! Bateu a cabeça?
– Há, há, há, há, há, há, é por causa da minha amiga Patrícia!
Ela é meio patricinha... Aliás, você foi muito malvadinho quando
colocou o dobro de dever de casa para ela. Pega leve! – Por falar
nisso... Vou explicar esse troço de professor, Lucha é meu professor de
medicina na UFBA, deve ser o professor mais novo do mundo já que
tem só vinte e três anos, então ele é super cultuado pela as meninas de
lá, mas eu gosto dele por outros motivos. Ele é gentil, carinhoso,
maduro, me entendi, engraçado... É perfeito para namorar, pena que ele
não pense assim de mim, mas nossa amizade é muito forte, pois só uma
amizade de aço suporta que eu me declare para ele, ele me rejeite e,
ainda, continuar normal, NADA, NADA estranha. Claro eu sofri,
minhas amigas acharam que eu estava virando EMO. Só uma amiga
minha sabe sobre eu e o professor, o nome dela é Kate, ela é minha
melhor amiga.

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– Sim... Tem mesmo um “Babado”? - Escreveu ele fazendo
aquele barulhinho irritante.
– AH, tem sim... Sabe Pohna? Ela está namorando o Marcos,
tosco não é?
– Tosco? Tosco é pouco. O mais tosco é você me contando isso...
Pensei que fosse isso que você odiasse nessas patricinhas.
– É você tem razão, deve ter coisa mais interessante para falar,
tipo que eu vou virar EMO.
– Nossa, levantou com o pé esquerdo hoje?
– Não, acordei caindo!
– Há, há, há, você é engraçada.
– Hmmm, certo... – Poxa, quando ele faz “ Hmmm, certo...” quer
dizer que lá vem bomba.
– Tá, o que foi dessa vez? – Escrevi espirrando.
– Talvez, quem sabe, você queria...
– Queria o que? Pode falar!
– Tipo... Ir a uma balada que eu fui convidado, recebi dois
convites. Eu ia levar minha namorada, mas como sempre ela está
ocupada... – Ter namorada é um dos motivos para que ele tenha me
rejeitado além do fato que ele achar que eu sou nova de mais para ele,
mas esse motivo eu não entendi! Eu tenho dezoito, a diferença é só de
cinco anos. Homens...
– Desculpe, eu não li direito, escreve de novo? – Achei que era
uma piada, pois ele tem uma reputação a zelar, imagina ele saindo
comigo...

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SAINDO – ENCONTRO – NAMORO!
AHHHHHHHHHHH!
– Sério? Tá bom... Quer sair comigo querida Jane?
– Espera, vou pegar a bombinha, to tendo um ataque de asma.
– Sério?! Respira pelo nariz, inspira pela boca.
– Claro. – Sai correndo para pegar a bombinha no meu banheiro.
Que vergonha, eu pareço uma CDF esquisita com todas essas alergias,
deve ser por isso que eu não me do com as “populares” do campus,
GRAÇAS A DEUS.
Quando voltei tinha uma frase na janela de conversa de Lucha:
– Não sei por que você ficou nervosa, eu gosto muito de você por
isso te convidei para a festa, relaxa e tchau. – Ele sabia sobre minhas
alergias e não é nada útil.
Percebi que ele já estava offline e fui conversar com Kate.
– Oi Ka, tudo bom? – Escrevi com o mínimo de entusiasmo.
– Tudo bom... E ai? Estava tão ocupada por quê? AH, já sei!
Você tava teclando com o professor gato. Vocês não se desgrudam, tu
tens que ver sua cara na aula dele!
– Que horror, pega leve... Onde anda Clair Mary? – Clair é
minha segunda melhor amiga, ela andou sumida os dois últimos dias,
não foi nem para a Universidade.
– Sabe que eu não sei? To ficando preocupada... Para ela faltar
dois dias na Universidade de medicina. Não acha que devemos ligar
para ela?

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– Já tentei. Agora estou preocupada! Amanhã mesmo vou a casa
dela, só tem um probleminha, minha mãe...
– Tá bem Jan, eu vou... OK!
A conversa já estava me deixando com sono, resolvi inventar uma
desculpa e ir dormir.
– Opa, acabei de lembrar que tenho dever de casa para fazer...
Beijos, nos vemos amanham.
– Beijão, tchau!
– Tchau!
Sai do MSN, desliguei o computador, levantei da cadeira e me
joguei na minha cama. Comecei a sonhar acordada e dormi.
Sonhei que estava no meu lugar secreto no campus que só eu,
Lucha e Kate sabem onde é. Estava pensando na vida quando Lucha
aparece do nada me dando baita susto. Ele se desculpou pelo susto e
perguntou o que eu estava fazendo ali.
– Pensando... – Enquanto eu falava, ele vinha até mim e se
sentava ao meu lado no banco para dois, branco. – E você o que tá
fazendo aqui?
– Vim pensar também...
– Acho legal.
– Hmm, certo. – Droga.
– Jesus! Fala logo. – Falei espirrando.
Ele virou a cara para mim e se aproximou seu rosto do meu,
infelizmente seu movimento acabou um pouco antes de nossos narizes
se encontrarem.

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– Sabe... Sempre achei a cor dos seus olhos linda. – Disse ele
numa voz sensual e quente.
Comecei a ofegar alto e a ficar corada, ele começou a se
aproximar muito lentamente da minha boca, não agüentei a demora e
selei o espaço entre nossos lábios com um beijo que foi tão real que eu
sentia sua língua na minha.
Mas essa sensação durou pouco, pois minha mãe me acordou. Eu
a odeio! Levantei da cama toda confusa e fui para a cozinha preparar o
café da manhã, cheguei a sala de estar antiga do meu apartamento,
aquelas paredes cor de pêssego que me lembravam coisas engraçadas
tipo quando eu estava indo sentar no mesmo sofá preto encostado na
parede central da sala, que hoje vejo, e bati com tudo minha cabeça na
parede e comecei a rir. Incrível como eu já era idiota naquela época.
Suspirei e fui comer, acabei rápido e fui me aprontar para ir ao
Campus. Fiquei pronta, peguei minha mochila, sai do meu apartamento
e olhei para dentro dele, estava um típico dia perfeito.
~~~~~~~~~~~~~~
Cheguei à Universidade atrasada, como sempre. Fui correndo que
nem um raio para a classe que estava quase lotada. Uma coisa que eu
odeio é de lugares muito cheios, quando me sinto presa meu nariz
entope e é um caos. Sentei-me num lugar bom inconveniente, eu estava
pouco me importando com essa aula... Já tinha adiantado tudo e sabia o
que daríamos hoje e amanhã, só estava pensando em ir para o
jardinzinho atrás da cantina onde meu sonho perfeito aconteceu. Depois
de três aulas chatas que duravam duas horas cada (que para mim
pareciam meses) a campainha tocou anunciando o almoço e eu sai
correndo que nem uma doida.

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Quando cheguei ao meu jardim vi Lucha sentado naquele
banquinho para dois, comecei a tremer e coçar o nariz até que um
espirro delatou meu esconderijo para ele. Malditas alergias.
– Ei, quem está ai?! AH! È você Jan, senta aqui. – Segui as
ordens dele que nem uma cadelinha adestrada. QUE VOZ ELE TEM!
– E como vai minha “bones” preferida? Que missão você está
tramando hoje?
– Sabe que você lê meus pensamentos? É assustador o jeito que
você sabe sempre o que acontece comigo... – Ele sorrio para mim.
– Acho que temos muita coisa em comum. – Ele se aproximou
mais de mim me fazendo corar. Pegou uma mecha do meu cabelo
castanho, liso e começou a alisá-lo. Acho que fui muito idiota ao
colocar meu rosto em seu ombro, pois isso poderia me causar dor
depois, mas adorei sentir seu cheiro familiar em meu nariz,
incrivelmente curava todas as minhas incertezas.
– Sabe de uma coisa? – Perguntou ele der repente – Você ainda
não me respondeu se vai ou não comigo para a balada... Seu silêncio vai
significar um sim para mim...
– OK, OK... Eu vou sim, mas tenho que falar primeiro com minha
mãe.
– Esqueci a neura da sua mãe... Por que você não pergunta para
seu pai?
– Boa pergunta... – Ele riu e olhou para seu relógio de pulso prata.
– Bem, já está quase na hora da aula. Acho melhor eu ir andando e
você comendo. – Ele se afastou de mim e deu um pulo – Até a aula
Jane!
– Até.
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Quando eu sai do meu lugar feliz dei de cara com Kate. Ela estava
com a cara vermelha e a expressão de pura dor. Meu Deus eu senti um
aperto inexplicável no coração, isso me fez tremer. P... eu tive um
arrepio, isso não é NADA bom.
– Jane! Aimeudeus! Clair, Clair sofreu um acidente, ela... Espera,
você tremeu? JANE! Você não podia ter um arrepio agora! – Espera,
espera, essa neura toda por causa de meus arrepios é porque eu e minhas
amigas descobrimos que eles são premonitórios (ótimo, mais um motivo
para nos acharem patetas.). Mas, do tipo “eu tenho um arrepio e ai eu
tenho uma visão do que vai acontecer” tipos as visões da Raven não, é
mais complicado. Eu tenho e... PUF! Simplesmente acontece coisas
MUITO ruins, é meio sinistro.
Sim, voltando... Eu não agüento suspense e resolvi acabar com a
palhaçada.
– Tá, não importa! Ela teve acidente? E ela está como? DIZ!
– Ela está no hospital, porque caiu dois lances de escadas, o
estado é estável, mas nada de arrepios!
– Meu Deus! Vou agora para lá!
– Eim? Você é doida Jane? Logo na aula de Lucha! – Tá, vamos
dizer que ao falar isso eu até pensei duas vezes, mas era a Clair!
– Não importa, eu preciso ir até lá! Ka, é a Clair Mary no hospital
machucada! – Dito isso ela ficou calada e me deixou ir.

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Capítulo dois.
Cheguei em menos de 10 minutos ao Aliança, sai correndo que
nem uma alienada e fui parada na recepção. Concentrei-me e tentei
lembrar o número do quarto onde Clair estava, desistir assim que passou
dois minutos e sai em disparada para o balcão, tentei sorrir para a
funcionaria, mas tudo que saio de mim foi uma careta muito estranha
que assustou a moça.
– Olá senhorita. – Disse ela hesitando – O que deseja?
– Hmm, por acaso está no horário de visitas?
– Sim, quem a senhora desejaria ver?
– Clair Mary, er... A que caio da escada.
– Ah, sim... Preencha a ficha e vá para o quarto 281, fica no
segundo andar, duas portas a direita do elevador.
– OK – Peguei a pranchetinha e a caneta que ela me estendia,
preenchi aquela burocracia em três minutos e praticamente joguei para a
mulher. Sai correndo assim que ela balançou a cabeça.
Cheguei em frente á porta do quarto 281 e respirei fundo, não
estava preparada para o que eu veria do outro lado.

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