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LEGENDA

Vermelho (correção ortográfica)


Azul (modificação de frases)
Amarelo (atenção: palavras repetidas ou frases confusas)
Verde (sugestões e comentários)

Capitulo 1
Hector

Imagino que todos tenham uma mínima ideia de como é a vida de um novo adulto, se é
que posso chamar assim. É sempre você se matando de trabalhar e estudar
normalmente, ainda por cima ter que lidar com pressão familiar com todos a sua volta
falando que você não vai chegar a lugar algum. Pois bem, essa é a minha realidade e não
só minha, mas de quase todos os meus colegas de casa, porém, sabemos bem que
alguns têm seus privilégios. Como eu nesta vida não nasci para ser amigo dos que têm
privilégio, sou o indiferente do grupo.
Tá, me deixa tentar explicar melhor, ou situar melhor. Sou um belo moreno, escritor, super
elegante e charmoso. Ok, isso é mentira. Eu sou bem sem graça, de moreno só meu
cabelo, e estudante, não escritor, mas escrevo, só que nunca tive coragem de mostrar
para ninguém, além do que preciso entregar nas aulas. Ainda mais que moro com um
cara que está estudando cinema, o outro é animador. Temos também um ator, ou melhor,
dois atores e um músico. Ah! E claro, um futuro chefe de cozinha que é cheio de opinião,
tem também a maravilhosa bailarina, que é minha melhor amiga e o senhor imbecil, que é
só talentoso mesmo e faz literatura inglesa comigo. Ele literalmente é a pedra no meu
caminho, mas não é como se nos odiássemos, nem nada assim. Mas também não somos
amigos, porém convivemos em paz, se posso chamar esses últimos três anos de conviver
em paz.
Porém, como todos sempre me falam: ele é super legal, o problema é que vocês têm uma
certa “rixa.” Gente, eu não tenho nada com ninguém, entenda, ele não foi com a minha
cara, eu não fui com a dele e só isso. Não somos inimigos declarados, nem amigos para
sempre, apenas duas pessoas normais que convivem. O famoso bom dia, boa tarde e
boa noite é o suficiente, não precisa ter um título para isso.
Ok, estou mentindo, a verdade é que no colegial ele foi para minha escola, meu coração
explodiu quando ele passou pela porta e o ar quase não voltou ao meu pulmão, eu

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simplesmente fiquei totalmente apaixonado por ele, sabe amor à primeira vista? Então, foi
isso que aconteceu, só que eu tentei me aproximar, só que ele foi para o caminho oposto,
ele se juntou aos piores seres da escola, claramente virou a escória. Eles eram violentos,
escrotos e o pior, sem qualquer limite. E aí meu coração se quebrou, mas claro que não
era só porque ele se juntou aquele grupo, mas pelo modo que ele agia e falava, o tom
ameaçador e agressivo me assustava, então, me protegi. Quando acabamos, não só na
mesma faculdade, mas no mesmo curso e também na mesma casa, subi uma enorme
parede, o mais alto possível, aprendi a me defender verbalmente. Se ele falasse um A, eu
falava B, se ele aumentasse o tom, eu aumentava ainda mais, sempre enfrentando sem
fugir. Tornei-me forte só para suportar e aguentar. Isso deve fazer dois anos, sempre com
uma resposta pronta para o idiota do Neitan Harman Yamamoto. o japonês mais lindo,
arrogante e falso que eu conheço.
Só que o grande problema é, as férias de verão estão prestes a começar ao estilo “High
School Musical 2”, nosso querido "amigo" com privilégios convidou todos para trabalhar
na ilha da família. Sim, eu disse certo, na ILHA da família. Ele fala que não é da família
dele, mas quando quase toda a cidade tem seu sobrenome nos negócios, eu chamo sim,
de ilha própria. Tá, não exatamente isso, na verdade, eles têm uma cidade. Melhorou?
Uma pequena cidade no interior, onde perto tem uma ilha, que é onde fica a casa dele.
Meu deus! Os caras têm uma ilha com a casa, é pior ainda.
Então, meio que como temos que sobreviver de algum modo, todo mundo da casa vai, ou
melhor, quase todo mundo, já que o Lucca fugirá do trabalho por conta que voltará para a
cidade dele e trabalhar no café da família. Mas o resto vai e alguns outros amigos
também. Como ele mesmo falou, enquanto estivéssemos por lá poderíamos nos divertir,
já que nas férias aquele lugar virava tipo um clube de gente infeliz, cheia de vontade de
gastar. Só que fazer o quê, não é mesmo? Eu só preciso tolerar o Neitan como sempre,
de preferência ficar longe dele quando ele bebe. Pois é insuportável, mais do que o
normal e aí nem os nossos amigos aguentam ele. Mas preciso de dinheiro, preciso
trabalhar, então, vou sorrir e me manter longe, o mais longe possível que se possa em
uma pequena cidade. O que vem a minha mente é o inferno de verão que todos nós
seremos obrigados a lidar com o senhor rico.
É isso, então, chega de divagar, eu preciso só entregar o tema do meu trabalho para a
professora de redação e férias. Não que eu saiba exatamente sobre o quê escrever, ainda
mais que eu não tenho muita criatividade quando se trata de romance, pois para mim, tem
que ser tudo meio drama e terror. Contudo, já passei muito tempo olhando essa folha em

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branco na minha frente, e como sei que metade da sala quer me matar por não ter escrito
meu tema, preciso focar.
— Hector. — A professora chamou minha atenção. — Já decidiu?
— É, não… — Olhei para o papel ainda em branco.
— Ai pelo amor de Deus. — Neitan levanta do fundo da sala com a caneta na mão e
escreve no meu papel. “Romance de férias”.
— Ei!?
— Já deu, só falta você. — Ele pega o meu papel e entrega para a professora. — Esse é
o tema dele
— Neitan, eu não sei escrever sobre isso.
— Olha só, você vai entrar de férias, que tal descobrir nela? Tem três meses para isso,
três meses para se apaixonar.
— O tema é válido. — A professora falou, já escrevendo na lousa meu nome e o tema do
meu romance. — Senhores, esses são os temas do trabalho de vocês do próximo
semestre. Sei que muitos vão viajar e aproveitar, mas não se esqueçam de que precisam
me entregar na segunda semana da volta às aulas.
— Sim senhora. — Neitan falou me olhando. — Não faz essa cara, Hector, eu te ajudo
qualquer coisa. Pega um dos meus romances se precisar e adapta, mas isso só se não
conseguir.
— Não preciso da sua ajuda.
Levantei irritado, pegando minhas coisas e saindo da sala. Monique, minha melhor amiga,
já estava me esperando do lado de fora com sua bolsa de ballet e suas sapatilhas
penduradas. Ela com seus cabelos ruivos enormes me encarou sorrindo.
— O tema é fácil. — Falou assim que me viu.
— Não é não, e ele sabe disso. Ele é um romancista, não eu. O Neitan escreveria de
cabeça para baixo, de olhos fechados dentro de um tanque com tubarões. — Sai andando
irritado. — Sou o cara do terror e fantasia, sabe disso.
— Ei, me espera. — Neitan correu quase pulando na Monique. — Amore, você precisa
me esperar. — ele fez cócegas nela como sempre.
— Não preciso não, e para de me chamar de amore, sei que é para dispensar suas ex, ou
seus ex. Sei lá ao certo, mas tô tentando ser levada a sério.
— Pelo idiota atleta? — Perguntei
— Ele não é idiota, e ele vai conosco para viagem. Então, não fala isso, ok?

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— Mas ele é burro como uma porta. — Neitan fez uma careta estranha. — Ele sabe que
trabalhará? Ou, ele sabe o que é isso?
— Parem com isso vocês dois. Nossa! Parece até amigos quando é para zoar alguém.
Vocês são péssimos. — Ela nos deu uma cotovelada. — Parem de julgar ele por ser
jogador, eu, heim? Só nisso vocês concordam também, né?
— É para você ter uma noção de como ele é imbecil, até a gente concorda, né, gatinho
manhoso? — Ele me provocou.
— Idiota, para de me chamar assim. Não tenho mais gatos, e não fico mais imitando o
som deles. — Parei no meio do corredor. — É tão idiota, você sabe, né?
— Desculpa, eu só estava brincando Hector, sabe disso? Eu sempre brinco com todo
mundo. — Ele me olhou sem graça.
— Tão infantil, sempre. Eu nunca falei coisas do tipo “abre o olho japonês”, ou “volta pro
seu país”, então, vamos melhorar a maturidade, que tal? Porque eu literalmente estava no
colegial, primeiro ano ainda. E eu nem tenho mais gato por sua causa.
— Desculpa, eu não vou mais… Desculpa, Hector. Foi mal pelo tema do trabalho, é que
fazia dez minutos já. E todo mundo queria te matar, então, só quis te ajudar.
Como sempre ele conseguia dar uma de herói do mundo e ajudar os pobres e oprimidos,
dando a entender que se não fosse por ele tudo estaria perdido. Seu charme idiota e seu
jeito de sempre tentar ajudar todos não me engana, eu o conheço há anos, estudamos na
mesma escola preparatória e ele era um completo nojento escroto. Então, sei sua real
natureza e mesmo que todos caiam nesse papinho dele, sei como ele é.
Saí sem dar bola para ele e fomos direto para nossa casa, que tinha muito a cara de uma
irmandade, porém, muito mais arrumado e organizado, já que dois de nós tem toc, e outro
é germofóbico. Então, tudo é bem limpo, daria até para comer no chão se você não fosse
escutar gritos de um maluco por limpeza por você estar comendo no chão.
Passei pela porta e vi Lucca com o namorado na cozinha como sempre, nunca entendi
porque o senhor Dominick não alugava uma casa para eles, ao invés de ficar sempre
tendo que viajar horas para visitar o namorado na faculdade.
— Comer? — Lucca perguntou assim que me viu.
— Se tiver veneno, eu aceito, aí dou para o cara do quarto ao lado.
— Já brigaram? Meu Deus último dia de aula, sério? — Dominick veio até mim com o
pote de pipoca. — Como vão sobreviver à viagem?
— Não sei, mas quem sabe eu me mato no caminho.

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— Ei! — Moni chamou minha atenção fazendo eu me virar. — E se fosse o Juan
chegando? Assuntos proibidos, lembra?
— Desculpa. — Fitei Neitan. — Mas o veneno ainda pode ser dito?
— Não. — Moni respondeu. — Nem remédio ou coisas assim, sabe disso, quer matar seu
coleguinha, não tem problema, mas não fala em se matar ou veneno e remédios, sabe
disso.
— Tudo bem, eu mato ele enquanto estiver dormindo. — Dei um sorriso falso passando
por eles e subindo as escadas.
— Sinto que nosso relacionamento melhora a cada dia, querido! — Neitan debochou e eu
mostrei o dedo do meio acima da cabeça sem me virar para o idiota.
Ele era um idiota irritante que sinceramente, nem valia meu tempo, e que se não fosse
pelos rapazes da casa eu já tinha matado. Ainda por cima presunçoso, irritante,
convencido que é sexy para cacete e sabe disso. Nossa! Como pode ser insuportável e
ainda por cima ter um sorriso galante, como odeio precisar ficar perto dele. Com olhos
profundos e penetrantes que focam sempre em mim, como se estivessem preparados
para receber uma resposta ácida.

Capitulo 2

Neitan

Não sei como consegui convencer quase todos a irem, mas eu estava realmente
empolgado, sei que meus amigos não têm ideia de como é realmente minha vida, porém,
eles fazem parte de tudo desde que cheguei aqui. Como minha mãe queria muito
conhecê-los e insistiu para que eu os levasse à ilha, dei um jeitinho. Até mesmo o Hector,
que tenho certeza que jamais iria se não fosse pelo emprego de verão, mesmo que eu
tenha notado certo interesse dele por andar de barco, para chegar à região que fica minha
casa. Além de que, quando se trata dele eu não sei ao certo seu real motivo ou interesse,
ainda mais que recebo sempre hostilidade e agressividade de sua parte.
Mas tudo bem, eu dei motivo por anos para ele não me suportar, então, não posso agora
pedir que simplesmente confie em mim, contudo, espero que a gente minimamente
consiga manter a paz sem nossas brigas, porque é bem difícil ganhar discussões com
alguém que tem um banco de dados na mente. Não que de fato eu queira ganhar

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discussões com ele, só gosto mesmo de provocar aquele garoto. Ainda mais quando ele
volta a usar os óculos ao invés das lentes. Sei que ele só usa as lentes porque provoco
ele, mas se ele soubesse que fica lindo com os óculos, ele com toda certeza nunca mais
usaria aquele negócio que só irrita os olhos verdes dele. Olhos lindos que eu com toda
certeza amo e que são o que me fizeram paralisar na primeira vez que nos vimos.
Mas foram anos de provocação, nada que eu fale agora mudará alguma coisa, então, o
jeito é mostrar que eu não sou mais o idiota do colegial e mesmo que eu nunca tenha feito
nada contra ele, nem deixado fazerem, ainda sim, ele observava o quão babaca eu era,
então, eu meio que tenho sorte dele ainda olhar para minha cara. Só que ele fazendo a
gente perder dez minutos da nossa liberdade tão merecida é o que faz ele merecer eu
zoar com ele. Ainda mais que é só para escolher um maldito tema de romance, e nem é o
título. Ou os detalhes, só um tema central, um ponto de partida, sei lá.
— Vou bater nele. — Carlos falou olhando pro relógio. — Juro, vou afogar ele na privada
lá de casa.
— Não vai tocar nele. — respondi baixinho. — Ele sempre teve decepções amorosas,
então, deixa ele.
— Ele poderia escrever sobre isso então, só que merda! Eu ainda tenho que pegar o
roteiro lá no teatro. — Meu amigo olhou o relógio no pulso pela milésima vez. — Que
merda.
— Eu sei, mas não podemos fazer nada.
— Você podia ir lá com sua atitude idiota, e escrever um tema que não está na lousa, né?
E aí começar seu romance, com “hate to Love” ou “enemies to lovers”.
— Meu livro não vai ser sobre eu e ele, ok? E eu não tô muito a fim de me meter nisso aí
— Deveria, já que é tão protetor com ele, sabe se lá por quê. Sei que ele é meu amigo,
agora, o que ele é seu?
— Carlos, cala a boca.
— Vai lá senhor. Precisa vivenciar seu romance para escrever, e ele é o seu Lucca e
sabemos disso.
— Cala a boca! Não compara meu relacionamento inexistente com a história do Dominick
e do Lucca. Nunca rolará eu e ele. Hector não me suporta, nem conseguimos passar do
preparo do café até a parte de sentarmos à mesa para tomar o café sem confronto.
— Vai logo, eu não aguento mais, e eu não sou o único que baterei nele. — Ele apontou
para os meninos no canto, ficando irritados e prestes a levantar.

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— AI, PELO AMOR DE DEUS. — Levantei rápido impedindo que os meninos
avançassem no Hector.
Olhei no fundo dos seus lindos olhos verdes e escrevi a primeira coisa que veio a minha
mente. Romance de férias, não que eu tivesse pensado em nós dois, mas foi a primeira
coisa que veio a minha mente quando olhei para ele. E com tudo que Carlos tinha dito,
não sei ao certo, mas foi esse o tema que coloquei, dando a ele três meses para vivenciar
esse romance.
Ele saiu irritado mesmo depois de eu literalmente, oferecer ajudar ele caso ele quisesse.
E como sempre ele nunca percebe o todo, só ficou puto comigo.
— Você salvou o pescoço dele. — Carlos passou por mim. — Tô indo pegar meu roteiro,
vai atrás dele, e oferece sua ajuda com jeitinho.
— Não vou forçar, ele não gosta de mim e tá tudo bem.
— Mas deveria. — Um dos meninos falou parando na minha frente. — É por isso que
senta no fundo, né? Para evitar a morte dele todas às vezes?
— Não vão tocar um dedo nele, eu já falei Ki, nenhum dedo nele. Ou eu vazo fotos suas,
deixa o Hector em paz.
— Sim senhor, mas eu não tenho como controlar o resto da sala de esfolar a cara do
Hector na próxima, ou no caminho até a casa de vocês.
— Tem sim, agora preciso ir. Vou acompanhá-lo para garantir que vocês não vão matá-lo
na esquina por segurar a turma.
— Claro que vai. — Carlos revirou os olhos e me deu passagem.
— Vai lá senhor, e boas festas. — Ki falou saudosamente.
Saí correndo e logo alcancei ele que estava, logicamente, acompanhado da Monique que
graciosamente sempre me faz lembrar que ela tem outros milhares de interesses
românticos que não envolvem o Hector, como se eu tivesse ciúmes ou algo assim ou
como se eu tivesse qualquer motivo para sentir ciúmes, já que, literalmente, nem amigos
nós somos. Além que sei que sou completamente apaixonado por ele, tipo muito. Mas,
qual é, não somos nada e meu interesse nele nunca vai evoluir disso. Não importa as
investidas que eu dê nele, nunca sairá de interesse. (está confuso porque não é o
interesse dele que não vai evoluir e sim o relacionamento)
— Ele vai me odiar para sempre, não é? — Perguntei para Monique assim que ele saiu
em disparado indo embora.
— Eu não sei, nunca entendi o que rola entre vocês, já que antigamente vocês brigavam
até por quem tinha ou não acabado com a pasta de dente ou se a lixeira estava torta.

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— Fato, mas agora a gente convive bem, né? Comparado a ter saído quase no soco por
conta do leite.
— Querido amigo, se ainda sente algo como me falou, faz alguma coisa, ou não sente
mais nada? — Ela perguntou sem rodeios.
— Não… Só… Se eu falo "bom dia" para ele de qualquer outro modo ele já é grosso.
Então, eu não tenho chance, e nem esperança. Então, não tem jeito.
— Mas parece que tem esperança, você sempre parece mover o mundo por conta dele.
— Acho que só estou tentando compensar o que eu fazia, e o que ele me viu fazendo. —
Tentei ser o mais sincero possível, já que nem eu sabia ao certo o que eu sentia pelo cara
ingrato que eu sempre ajudava. — Mas eu sei que ele nunca vai me olhar como olho para
ele. Então, sem sentimentos surreais.
— Qual é Neitan, seus olhos castanhos brilham por ele, vai me falar que não tem
esperança?
— Mas não é. Acho que é só porque a gente não se dava muito bem, e agora tento
consertar, mostrando ao máximo que eu mudei, sei lá. — Bufei
— O tema que deu para ele foi romance de verão e o seu é inimigos que se apaixonam.
Sério que não é uma coincidência?
— Tá… Não sei, eu ia escrever amor de infância, mas quando olhei para os olhos dele, só
consegui pensar na viagem, e na possibilidade da gente se conhecer melhor.
— Eu sabia. — Ela sorriu. — Mas espero que saiba que não vai ser fácil, Sydney e Cristal
também vão.
— Merda, sério? A Sidnei adora dar em cima dele, tipo toda hora. E a Cristal, você sabe,
nós dois tivemos algo, por que merda elas vão?
— Sua mãe me ligou, ela precisava de mais duas meninas pros acampamentos, e aí ela
perguntou se eu conhecia alguma, então, Sidnei e Cristal estavam do meu lado e eu
estava no viva voz.
— Odeio você. — Falei já parando para atravessar a rua. — Tá, eu não odeio você, mas,
né? elas vão atrapalhar tudo.
— Sua ex, e a garota que gosta do cara que você gosta? — Moni sorriu. — Como elas
poderiam atrapalhar? Até parece que foi proposital… — Ela fez um deboche clássico
colocando a mão no peito e sorrindo.
— Nossa, eu odeio você, meu Deus e eu já falei, quero, né?… — Gaguejei. — E eu…
Né?… Me aproximar, só isso.

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— Claro. Agora vem, vamos entrar, você tem as coisas para arrumar e a gente precisa
pegar a estrada, ainda mais que são agora três carros.
— Se você tirar uma das meninas ou as duas, fica confortável em dois carros.
— Já falei com todo mundo, são três carros, o meu, o do Carlos e o seu. E relaxa as
meninas não vão com vocês dois. — Ela sorriu. — Quer dizer, eu fiz de um jeito que elas
vão comigo, aí você não fica com ciúmes.
— E como vai ser o arranjo dos carros?
— Relaxa. — Ela apertou minha bochecha. — Abastece sua SUV, se arruma e confia em
mim.
Ela saiu saltitante para dentro da casa sem responder minha pergunta. Além de que
aquela ali consegue ser pior que casamenteira, mas se ela falou que as meninas não vão
nem comigo, nem com o Hector eu já fico aliviado. Não que eu me importe, não é isso,
mas eu queria muito ter um pouco de paz, e tentar de algum jeito alinhar as coisas com
ele.
E claro que em casa só piorou com o Hector falando em me matar, além de que eu
adorava quando ele falava isso porque eu o provocava e ele ficava todo bravinho e com
um bico lindo que com toda certeza me fazia querer mais ainda beijar aqueles lábios.
— Vocês dois… — Lucca me olhou. — Sério?
— Nem começa, você não pode falar nada nem esse aí. — Apontei para Dominick. —
Zero opinião, zero palpite. Não é todo mundo que conquistou o outro em treze dias, então,
não comecem.
— Mas nossas histórias são parecidas, então é fácil a gente entender. — Dom se
aproximou. — E de verdade, quer que alguém faça uma aposta idiota para você tomar
coragem?
— Não sou idiota como você, vamos com calma. E é bem diferente, ele me odeia. —
Passei a mão pelo meu cabelo. — De muitas formas e de todos os modos ele deixa bem
claro.
— Sua chance é mudar as coisas nesses três meses, então. — Lucca puxou o namorado.
— As coisas mudam às vezes mais rápido do que se imagina.
— Claro. — Sorri. — Agora se me derem licença eu vou tomar um banho, gritar no
travesseiro e respirar fundo, tentando sorrir que minha ex e a garota que gosta do cara
que gosto irão nesta viagem.
— Boa sorte gatinho.

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— Valeu, vou precisar e vocês também e boa viagem de volta para a cidade de vocês e
feliz natal, viu?
— Feliz natal e bom ano novo, amore! — Lucca deu um sorriso já soltando o namorado e
voltando a guardar suas coisas da cozinha.
Eu adorava aqueles dois, e adorava ainda mais as conversas, que juro, só Dom
conseguia entender, mas eles não iam viajar com a gente, e eu meio que ia perder meus
dois confidentes que sempre me davam os melhores conselhos. Não que eu não seja
próximo aos outros, mas basicamente Juan e Moni eram inseparáveis, o Hector nunca
largava a Moni. Já Yanmed e Carlos são tipo a pessoa um do outro, sempre na mesma
sintonia, Seba sempre com o Denis e aí sobra eu, que tecnicamente minha dupla está em
um trio ou o Lucca que estava me abandonando.

Capitulo 3
Hector

Arrumei todas as coisas na mala e as levei para a garagem onde o Denis e o Carlos
estavam arrumando tudo nos carros. Eles me olharam de um modo totalmente suspeito e
colocaram minhas malas na caçamba da SUV do Neitan, em seguida colocaram outras e
mais a caixa de bebidas.
— Eu não vou com o Neitan e vocês sabem disso, então parem de palhaçada, e
coloquem minha mala no carro certo.
— Sim senhor. — Carlos pegou a minha mala e colocou no porta mala do carro da
Monique. — Eu, heim? Só colocamos as coisas no carro que tinha mais espaço.
— Gracinha.
Dei as costas sem entender nada e voltei para dentro da casa onde Sydney e Cristal
estavam conversando empolgadas sobre a “ilha do Neitan” com o Rome, que não
entendia exatamente como ele tinha uma ilha.
— Vem cá querido. — Sidnei me chamou. — Vem, senta aqui comigo, adoro sua
companhia
— Vou pegar as coisas lá em cima ainda.
— Precisa de ajuda? — Rome levantou.
— Não. Relaxa, só ajuda os meninos com as coisas do carro, eu vou só pegar uma coisas
no meu banheiro. — Subi as escadas de madeira correndo e dei de cara com o Neitan

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sem camisa e com seus cabelos pretos e extremamente liso totalmente molhados. —
Sério, invadindo de novo?
— Foi mal, eu coloquei o desodorante na mala. E eu bati, você não estava e vim ver se
você tem, os meninos não têm outro.
— Eles não têm nem sabonete. Acha que eles teriam outro desodorante? Burrice.
— Yanmed vai te matar por falar isso, ele tem álcool em gel, lenço umedecido em duas
fragrâncias. Falar que ele não usa nem sabonete? Ofensivo.
— E ele te mataria por tocar nas coisas dele. — Falei tentando não olhar seu corpo
exposto com sua tatuagem idiota de dragão na costela.
— Pode me emprestar?
— Tanto faz, está no armário do canto à direita. — Apontei para o local.
— Valeu, não quero ficar fedendo, ainda mais que a primeira parada é em uma hora.
— Você e sua preocupação de ficar fedendo. — Ri baixinho.
— Eu te fiz rir, é só por isso que tenho essa preocupação. — Ele pegou o desodorante e
passou. — Agora estou com seu cheiro. Que é bem gostoso.
— Ah, pelos deuses, cala a boca. E sai do meu banheiro, eu preciso colocar as lentes.
— Não precisa não, e não vai. — Ele pegou o meu pote de lentes em cima da pia e
colocou no bolso. — Vai de óculos, é muito tempo para ficar de lente.
Olhei-o mudando completamente minha feição e quase avançando para matar ele de vez.
Logo o idiota que sempre me zoou pelos óculos está falando para eu usá-los, como se eu
fosse dar motivos para ser zoado.
— Me devolve? É sério, eu preciso pôr as lentes.
— Não precisa. — Ele sorriu. — Vai de óculos, sei que se sente mais confortável com
eles. E pega seus livros e seu tablet, vi que os está deixando.
— Qual é Neitan, por quê agora decidiu implicar comigo?
— Eu não estou. Só que é férias, todos sabemos que adora ler e que não vive sem seu
tablet, então, só leva suas coisas. Por favor, eu juro que não vou te irritar, a não ser em
questão das lentes. — Ele me entregou o desodorante e sorriu passando por mim. — E é
sério, seus livros…
Revirei os olhos e ele sorriu, logo saiu do banheiro me deixando sozinho, levando todas
as minhas lentes. Ele sempre, literalmente, implicou com meus óculos e agora quer que
os use, não faz nem sentido já que é o próprio que tira meus óculos e esconde. Mas foda-
se, eu não ia conseguir as lentes de volta mesmo.

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Guardei o desodorante no lugar, fui pro meu quarto pegar alguns livros e meu tablet.
Escolhi uns seis de terror e dois de fantasia, só para variar um pouco e ver se eu
conseguia uma inspiração, peguei um romance gay idiota que a Monique tinha me dado,
mas que eu nem sequer tirei do plástico. Coloquei tudo na minha bolsa de pano e sai do
quarto ouvindo o Neitan brigar com alguém.
Desci as escadas correndo e fui direto para a garagem onde todo mundo já estava nos
carros, menos nós dois, logicamente. Meu queixo caiu com a ousadia deles, e não só a
ousadia, mas também a pachorra de aprontarem uma dessas, ainda mais a Monique que
se diz minha melhor amiga.
— É sério isso? — Falei colocando a bolsa na caçamba da SUV.
— Vocês demoraram e a gente foi se arrumando. E tá tudo certo, daria até para ir mais
um aqui. — Monique sorriu. — Mas é perigoso viajar sozinho no carro, né? — Ela me
mandou um beijinho.
— Vocês nem sabem o caminho, então, abre essa porta. — Neitan respondeu tentando
abrir a porta do motorista.
— Sua mãe me mandou todos os dados, já está no gps. Agora, se nos dão licença, temos
uma estrada para pegar. Boa viagem meninos e não se matem, preciso acompanhar o
Carlos.
— Monique. — Falei. — Eu mato você, sabe disso. — Tentei abrir a porta do carro.
— Meninos se comportem. — Sebastian respondeu enquanto arrumava seu violão ao seu
lado. — Olha só, meu violão tem um lugar, não cabe mais ninguém aqui. — Ele sorriu
— Mudarei todas as funções de vocês quando eu chegar lá, juro! Vão recolher coco de
cavalo as férias inteiras. — Ele falou se afastando do carro. — Vai, podem ir! A gente se
vê na primeira parada, onde vão ter que sair do carro.
— Vamos direto. Já que só seu carro precisa abastecer no caminho. Então, a gente se
encontra lá. — Ela ligou o carro mandando um beijo e dando tchau ao sair.
Olhei para o Neitan que me fitou em silêncio e colocou as mãos no bolso. Nós dois
sabemos que há anos nossos amigos tentam fazer a gente se dar bem, mas nos forçar a
viajar no mesmo carro, passou de todos os limites permitidos. Todos mesmo, ainda mais
que eu simplesmente, não gosto do modo que ele dirige, todo irresponsável e
delinquente, como se fosse um piloto.
— Eu e você, então. — Ele falou sem tirar os olhos de mim.
— Posso não ir se preferir. — Peguei meus livros da caçamba e vi minha mala.

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— Ei? — Ele se aproximou rápido. — Preciso de companhia para dirigir, eu fico ansioso
sozinho.
— Posso dirigir, então? Fico nervoso com você dirigindo.
— Fico nervoso com outras pessoas dirigindo meu carro. Mas a gente pode trocar na
estrada. — Ele começou a estalar os dedos. — Mas é serio, eu quero que vá. E eu não
abro a boca, caso isso te fizer se sentir mais confortável.
— Ok, e relaxa, é impossível você não falar. Agora vamos, nós precisamos minimamente
alcançar eles.
— Sim senhor. — Neitan sorriu. — E coloca sua mala e sua bolsa aqui dentro, as coisas
aí fora são as que não têm problema molhar se chover. E como a capa da caçamba ta
meio rasgada, melhor suas coisas irem dentro, assim não molha caso chova.
— Tá preocupado se vou ficar com minhas roupas molhadas? Você? O cara que jogou
minha mala no rio da última vez?
Seu rosto ficou completamente sem expressão e logo em seguida ele desviou o olhar e
abriu a porta de trás do carro apontando para dentro.
— Coloca suas coisas com as minhas. Vamos, a estrada é longa e você tem medo dela
no escuro.
Parei por um segundo percebendo que ele sabia que eu odiava a estrada à noite.
Surpreendendo-me por completo, já que poucas pessoas sabem e percebem a minha
fobia. Não que eu esconda, mas ele saber desse fato e ainda se importar é estranho e
suspeito, mesmo eu sabendo que ele não me largaria no meio da estrada à noite, eu
fiquei com um certo pé atrás. Ainda mais que quando entramos no carro ele perguntou se
tinha alguma preferência de música e insistiu em colocar nossos dois celulares para
carregar.

Capitulo 4
Neitan

Já estávamos na estrada a mais de uma hora, e notei que mesmo com a música, até que
alta, Hector não se distraia por nada dos seus livros. Ele devorava com uma rapidez que
eu não tinha e que com toda certeza admirava, porém, como estudante de literatura, seus
gostos para livros eram bem limitados, e bem restritivos, o que explicava o porquê dele ter

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tanto problema com a escrita dos trabalhos de romance, já que ele não tinha base alguma
para se inspirar minimamente.
— Só trouxe terror?
— Não. — Ele respondeu sem parar de ler.
— Sério? Algum sem sangue na capa ou frases que lembraram terror?
— Peguei um romance que a Moni me deu. — Ele abaixou o livro e me olhou. — E você
trouxe o quê?
— Sabe que sou romântico por natureza, todos que eu peguei são de romance, e os do
Kindle também.
— Claro que não, e eu não acredito que você lê livro digital. Nossa, como pode? Você
precisa ser defensor do impresso, é quase uma lei.
— Não ofenda o Kindle. Tenho mais de quarenta livros para ler naquela belezinha e você
tem uns seis, no máximo. Eu vou passar as férias tendo o que ler.
— Você nem vai conseguir ler todos.
— Talvez, mas tenho três meses para isso.
— Uhum.— Ele se arrumou no banco do carro e se virou para mim. — Temos que
trabalhar certo?
— Sim.
— E fazer o trabalho?
— Sim. — Respondi sem entender as perguntas.
— E precisamos “descansar”? — Hector fez aspas com os dedos.
— Sim.— Dei uma leve risada.
— E quer ler quarenta livros?
— Queria viver uma aventura também, sair e também quem sabe … — Parei por um
segundo e voltei minha atenção no trânsito. — Você sabe…
— Viver um romance de verão?
— Talvez, mas se eu falasse isso você ia achar idiota. E falar algo idiota.
— Você que faz bullying.
— Tá vendo? Tá aí a resposta idiota que eu falei.
— Desculpa. É o hábito de te atacar sempre, e o culpado é você por eu sempre
responder. Sabe que eu sempre estou pronto para suas gracinhas.
— Mas eu nunca fiz nada contra você e sabe disso.

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Respondi deixando ele com uma cara estranha, como se tivesse me analisando, fazendo
backup da mente dele, de alguma memória estranha ou sei lá. Ele sempre analisava tudo
e vinha com tantos fatos que eu já estava até esperando a lista que ele iria falar.
— Por quê?
— O que querido? — Perguntei
— Você sabe. Por quê eu nunca fui de fato um alvo para você? Tirando a questão com o
óculos, e o trote da faculdade. Por quê? Eu me encaixava, sou nerd, uso óculos. Era
magrelo e com um sorriso torto.
— Eu via um cara de olhos verdes, seguro de si. Que sempre usava os óculos mais caros
e as roupas mais caras, sempre tinha um livro na mão e resposta para tudo na ponta da
língua. E você não era magrelo, tudo bem que comparado com seu corpo atual,
realmente. Mas não era magrelo.
— Estranhamente você reparava em mim. — Ele me encarou.— Admite, gostava de mim,
por isso nunca fez nada. Porque é o único motivo.
Arregalei os olhos com sua frase, e liguei a seta para entrar no posto quando percebi que
o combustível tinha chegado à metade já. Eu nem consegui pensar no que responder,
ainda mais que sua frase foi repentina.
— Faremos uma pausa. — Falei rápido. — Colocar combustível, ver a água e … comprar
alguma coisa para beber.
— Gostava mesmo de mim. É fofo, queria ser tipo meu melhor amigo para todo o
sempre?
— Cala a boca Hector. — Parei o carro
— Queria mesmo ser meu amigo? Sendo escroto daquele modo?
—Chega. — Sai do carro e fui encher o tanque.
Olhei as horas e comecei a ficar preocupado. Não sei ao certo a real intensidade do medo
dele com a estrada enquanto escurecia, mas tudo bem. Observei-o dentro do carro pela
janela e ele voltou a ler seu livro. Encostei-me ao carro enquanto o tanque enchia e fiquei
pensando que, realmente sempre reparei nele, mais do que deveria. Sei que não gosto de
falar que sou apaixonado por ele, e não é questão dele ser um cara ou não. Porque eu
sou bem livre nessa questão, mas com ele é só uma questão de preocupação e culpa,
talvez. Não sei como falar nem demonstrar e talvez eu nunca saiba, ainda mais com o
senhor pavio curto.
— Ei! — Ele me chamou enquanto fechava a porta do carro. — Eu vou comprar coisas
pra gente beber, quer alguma específica?

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— Café, por favor e uma garrafa de água.
— Ok, já volto. — Hector saiu arrumando sua roupa em tons de preto e verde, entrando
na loja de conveniência.
Terminei de abastecer o carro e fui pagar. Assim que eu estava voltando vi uma
senhorinha me olhando de longe com um sorriso enorme como se estivesse nos
observando ou algo assim. Eu me aproximei cuidadosamente esperando a louca me
atacar ou tentar me assaltar.
— Você e seu namorado são bonitos juntos. — Ela falou apontando para ele que vinha na
minha direção.
— Nós não somos namorados, não sei nem se posso falar que somos amigos ao certo.
— O modo que um olha pro outro, não é como colegas se olham, nem mesmo amigos.
Então, dê tempo ao tempo criança.
Ela deu um sorriso estranho e entrou em se carro velho com a pintura vermelha
descascando, antes de o Hector parar ao meu lado, ela foi embora sem nem ao menos
falar algo que fizesse sentido. Ou um motivo de estar nos olhando.
— Encontrou o papai noel?
— Que?
— Desculpa, a mamãe noel, ela falou algo sobre amor verdadeiro e destino? Ou te
ofereceu um doce?
— Ela estava perdida. — Respondi pegando meu café da mão dele. — Só falei para onde
ficava o hotel que ela queria saber. Seu estranho.
— Você que é. Fala com senhoras suspeitas sem nenhum motivo, e ainda me olha
estranho quando me vê. — Ele me fitou. — Suspeito, e ainda ta me olhando estranho.
— Claro que olho, porque você é maluco. Agora vamos, eu preciso beber meu café e
você precisa dirigir. — Entreguei a chave pra ele.
— Eu falo que gosta de mim, assume. Já que não deixa ninguém dirigir seu carro.
— Claro, ou é porque eu to cansado e preciso descansar um pouco antes de anoitecer, e
ter que voltar para trás do volante.
Ele todo feliz com um sorriso lindo correu para o lado do motorista todo empolgado. Entrei
no carro e o notei parecendo perdido, tentando entender como exatamente meu carro
funcionava. O que era bem fofo, mas quanto mais ele demorasse mais tempo ficaremos
na estrada, o que não é nada bom para ele. Só que interromper uma criança não era meu
feitio, seus olhos brilhantes e o modo que ele tentava ajustar tudo ao seu tamanho. Não

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que tivéssemos uma diferença gritante de tamanho, mas minhas pernas são mais longas
que a dele, então, de certa forma ele precisou ajustar tudo para ficar confortável.

Capitulo 5
Hector

Por alguma razão o Neitan estava meio estranho. Não que ele não fosse, mas
sinceramente ele estava preocupado comigo e notei durante nossa conversa que mesmo
que eu sempre tentasse passar despercebido ele sempre me notara. O que fez meu
coração ficar todo feliz, pelo cara idiota sempre ter me notado, como eu sempre o notei.
Tudo bem que eu sempre o notei, pois é impossível não notar o grande Neitan Harman o
sempre estonteante, empolgado e cheio de vida Neitan. Com seu charme, que faz
até mesmo as professoras olharem para o lado quando ele fazia merda, o idiota
que sempre tem tudo como ele quer. Já que não tem como negar o quão tudo ele
é.
— Está calado. — Ele deu o último gole no seu café
— Só estava pensando, se falta muito para chegarmos. Tá começando a escurecer.
— Se quiser podemos trocar e você vai concentrado no seu livro.
— Relaxa. Você precisa descansar mais um pouco. — Foquei no relógio que tinha no
painel. — falta uns 30 minutos para escurecer ainda.
— Ei. — Ele colocou a mão na minha perna. — Eu posso dirigir. Eu já terminei o café.
Meu coração teve um mini ataque cardíaco com a mão dele na minha coxa. Sabe se lá
qual a merda do motivo para ele me tocar, mas meu coração não sabia como exatamente
reagir a isso. E eu juro que não sabia se surtava, se curtia seu toque ou se simplesmente
pedia para ele tirar a mão.
— Eu to bem, não se preocupa... — Minha voz saiu desafinada e falha.
— Falou o homem que parece tenso.
— Desculpa... É que… sua mão está na minha perna.
— Nossa desculpa eu… — Ele tirou a mão rápido. — Foi mal, não quis… Foi mal.
— Tá tudo bem. É que… — Tentei olhar para ele, mas logo voltei a atenção para a
estrada. — Desculpa, não quis ser grosso, nem… desagradável, é que eu e você não
temos muita…
— Intimidade. — Ele completou.

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— Sim, nem ao menos é um contato e é estranho pra mim porque eu não sei o que
esperar de você, nem o que as coisas que faz significam.
— Entendi. — Sua voz soou doce e carinhosa. — Você pensa demais. Anotado. — Ele
sorriu. — Agora encosta o carro, e vamos trocar de lugar, não precisa se preocupar.
Deixa que eu me preocupo e seria bom se eu chegasse dirigindo.
— Tem certeza?
— Hector, relaxa. Eu normalmente faço esse caminho sempre sozinho.
— Ok. — Liguei a seta e fui pro acostamento.
Desliguei o carro e tirei o cinto, assim que saímos eu ouvi uma buzina seguida de uma
grande batida. Olhei em pânico e vi os dois carros que estavam logo atrás de nós um
pouco mais à frente, um quase dentro do outro. Eu paralisei com tudo e rapidamente vi
Neitan parando na minha frente, sua boca mexia, mas eu não escutava nada. Tudo
estava em um grande zumbido desnorteando minha mente.
— Olha pra mim. — Ele tocou meu rosto. — Tá tudo bem, foi só uma batida, eles estão
bem. — Neitan acariciou minhas bochechas. — Hector, olha pra mim, por favor.
Olhei para ele ainda meio perdido, mas voltando a escutar o que ele estava falando. Seu
toque em minha pele me acalmava de um modo que eu nunca tinha vivenciado. Eu o
puxei e o abracei forte, então ele me envolveu em seus braços me fazendo sumir pelos
próximos 2 minutos. Por fim beijou o topo da minha cabeça já que era mais alto que eu e
me soltou com um olhar preocupado. Sua mão acariciou meu rosto novamente me
fazendo por fim me acalmar totalmente.
— Não os vi.
— Eu não sabia que ele ia bater, eu vi o cara. Por isso pedi para trocarmos de lugar. Mas
não achei que assim que eles nos passassem iriam bater um no outro.
— Você tinha percebido?
— É claro que sim, eu sempre presto muita atenção nesta estrada. — Ele observou cada
canto do meu rosto. — Agora vamos, eles estão bem olha ali.— Ele apontou.— E nós
também, agora vamos antes que fique muito tarde.
— Ok.
Ele se afastou e eu dei a volta no carro, sem ele tirar os olhos de mim e em seguida
entrei, e Neitan fez o mesmo. Colocamos o cinto e ele rapidamente notou minha
ansiedade aparecendo, o que para meus amigos era bem normal, mas para ele não.
Voltamos para a estrada e passamos pelos dois caras discutindo sobre quem estava
errado e isso só me lembrava o motivo de eu odiar tanto estradas a noite. Não só isso, na

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verdade, quando eu era pequeno, lá pelos meus 10 anos, meu pai de última hora decidiu
que iríamos viajar de férias. Para aproveitar nossa última semana do verão, já que
ficamos enfurnados em casa por ele trabalhar tanto. Minha mãe, muito relutante, aceitou.
Porém, como todos sabem, o verão tende ser uma época quente e com chuvas em
momentos inoportunos, ou como costumo dizer, chuva na hora que vai te atrapalhar.
Meu pai então, optou por viajar à noite, já que estaria mais fresco e provavelmente
fugiríamos da chuva. Mas claro que não foi bem assim, pois começou a chover lá para
umas oito horas da noite, meu pai já estava dirigindo há quase quatro horas, até que…
Em uma noite chuvosa de verão, em plena estrada mal iluminada, meu pai perdeu o
controle do carro quando desviava de um animal na estrada. Um carro, que também
perdeu o controle, bateu na lateral do nosso, é tudo que eu lembro, a buzina alta em
seguida a batida. Acordei duas semanas depois com minha mãe e meu pai em lágrimas,
e mesmo que eles estivessem felizes por eu acordar, eu não pude ignorar as lágrimas de
tristeza deles.
Minha irmãzinha de 5 anos, não sobreviveu ao acidente, ela morreu algumas horas antes
de eu acordar. Minha mãe disse que ela não tinha sofrido nenhum arranhão muito grande,
ela tinha ficado todo tempo acordada e esperta, ao contrário de mim. Melani brincou com
a minha mãe, no hospital e por fim falou que estava cansada e que precisava cuidar de
mim, e simplesmente dormiu. Ela teve uma micro lesão no cérebro que foi imperceptível
no exame inicial, porém coagulou levanto a um grande sangramento no cérebro.
Desde então, tenho medo de fazer viagens à noite e quanto mais escurece, pior fica, e se
chover meu corpo inteiro endurece como se eu tivesse virado pedra. A minha respiração
estava ofegante, as mãos ainda tremendo e com toda certeza, o fato de não parar de
mexer a perna, deixou bem claro que eu estava ansioso, mas não sei se o Neitan
perceberia ou saberia de algum modo como me distrair.

Capitulo 6
Neitan

Ele parecia não estar muito bem depois que viu o acidente, ainda mais por ter começado
a escurecer rápido, e pelo fato de o acidente ter sido perto da gente. Não que meu carro
teria tido algum arranhão, mas o fato do outro carro provavelmente estar embaixo do meu
agora seria um trauma maior ainda para ele.

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Mas eu precisava de algum modo tentar distraí-lo para que não ficasse mais ansioso ou
tivesse um ataque de pânico, que a Monique falou que é raro, mas poderia acontecer
dependendo da situação.
— Acho que vai chover. — Falei tentando distraí-lo dos pensamentos.
— Não podemos ... — ele gaguejou assim que olhou para o céu. — Não dá…. — Ele
tentou desenvolver, mas enfiou as unhas no braço, olhando em pânico os raios que
iluminavam o céu cheio de nuvens.
— Tá tudo bem. — O fitei por alguns segundos. — Não tá chovendo ainda, relaxa. — E foi
quando enfim, entendi o pânico dele.
— Não. — Ele respondeu de um modo ríspido. — Precisamos parar.
— Tá, faremos assim, vou ligar para a Monique e perguntar se lá esta chovendo, já que
os raios estão vindo daquela direção. Se já estiver chovendo a gente procura um hotel, e
para.
— Não. — Ele segurou minha mão com suas mãos frias. — Por favor…
— Estava chovendo? No dia do acidente, não é? Era de noite e estava chovendo? —
Perguntei assim que minha mente terminou de ligar todos os pontos.
— Como… — Gaguejou novamente. — Como sabe? Do acidente?
— Monique… Ela me disse o que rolou. — Puxei sua mão para minha e sobrepus minhas
mãos a dele. — Eu sei que perdeu sua irmã mais nova.
— É… Eu não falo disso.
— Tudo bem. — Acariciei com meus dedos sua mão. — Mas vai ficar tudo bem.
— Eu… — Ele me olhou completamente abatido, e abaixou a cabeça apertando minha
perna com força, virei sua mão e entrelaçamos as mãos, ele continuou apertando e eu
segurei.
— Falta só meia hora de viagem. Não vai chover, e se começar um pingo que seja, eu
encosto. Mas confia em mim, ficará tudo bem, eu prometo.
— Ok.
Hector não soltou minha mão por nada, e sorte que eu não precisava dela, já que o carro
é automático. Juro que não queria de modo algum que ele soltasse a minha mão, sei que
pode parecer estranho, mas eu fiquei muito feliz de acabar no carro sozinho com ele, e
sei que tudo faz parte do plano do Juan e da Monique que sabem que eu sou atencioso
com o Hector desde a escola, mas naquele momento eu nem me importava de estar no
meio de um dos planos malucos deles.

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Por sorte, como previ, não choveu até a gente finalmente chegar na cidade, porém, ainda
faltava atravessar a balsa. Chuva naquela hora também não era uma boa, ainda mais que
minha mãe avisou que o hotel estava meio cheio, não teria quartos, se necessário, então
a pior coisa agora era começar a chover.
— Chegamos. — Apontei para o carro do pessoal da casa em frente ao bar. — E eles
também.
— Tá todo mundo bem. — Ele deu um sorriso de canto, ainda parecendo incomodado
sem para de chacoalhar a perna.
— Está sim, agora só precisamos pegar a balsa, para chegar na casa.
— Entendi. Uma pergunta. A ilha só tem sua casa? Tipo uma ilha particular? — Ele me
encarou.
— Não, tem seis casas. Todas pertencem a alguém da minha família de algum modo,
mas a casa principal é a dos meus pais. Minha avó separou para os filhos e sobrinhos as
propriedades, contanto que eles trabalhassem nos negócios da família.
— Claro. — Hector revirou os olhos. — A definição de gente rica foi atualizada com
sucesso.
— Não sou rico, meus pais e tios que são. Eu moro na mesma casa que você, e estudo
na mesma faculdade.
— É, só que eu sou bolsista, e trabalho no refeitório da faculdade para conseguir manter a
faculdade. (POR QUE ELE TRABALHA PARA MANTER A FACULDADE SE É
BOLSISTA? ) Já você tem uma SUV, e nem sabe quanto custa encher seu tanque,
provavelmente.
— E mesmo assim, nós dois trabalharemos juntos o verão todo, recebendo o mesmo
salário. Acho que sua ideia sobre mim é um pouco distorcida, não acha?
— Não. Você foi gentil comigo, porque é com todo mundo. Sempre com um sorriso no
rosto porque é seu charme, e provavelmente ainda está segurando minha mão porque
não notou.
— Seu maior problema sempre foi e sempre será a falta de fé em mim. — Soltei sua mão
e peguei a chave do carro e a carteira. — Temos que entrar, nossos amigos estão
esperando. E não, não segurei sua mão por não notar, eu sabia bem que estava tendo
um ataque de ansiedade, então, te abracei na estrada, pois me importo e segurei sua
mão pelo mesmo motivo, só para te acalmar. Porque eu me importo. — Sai do carro
batendo a porta sem nem mais olhar para ele.

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Sempre que o Hector começava a falar sobre questões que envolviam dinheiro eu
normalmente perdia a paciência. Simplesmente ele sempre conseguia fazer os outros se
sentirem mal por terem mais dinheiro que ele, como se por alguma razão, precisasse se
passar de vítima do capitalismo. Entendo que nossas realidades financeiras são um
pouco diferentes, porém, toda hora jogar no ar que eu tenho mais dinheiro que ele, e que
o grande Hector é o garoto exemplar bolsista, que se mata de trabalhar, é irritante. É
sempre ele tentando menosprezar os atos de bondade e gentiliza que recebe, como se eu
só estivesse ao lado dele por cota, afinal, preciso de alguém com “menos dinheiro” para
ficar bem na fita.
Entrei no bar quase cheio e lá estavam nossos amigos bebendo e conversando tão alto
que abafava a musica ambiente, que era provavelmente alguma música de blues dos
anos 80 que meus tios amavam.
— A viagem não foi boa pela sua cara, acertei? — Sebastian perguntou assim que me viu
indo pegar uma cerveja.
— Tá tranquilo. — Respondi.
Juan e Monique me olharam, virando rápido para porta quando ouviram ela abrindo
novamente. Hector entrou e foi se sentar ao lado da Monique, sem falar absolutamente
nada, nem me olhar.
— Mentira que vocês brigaram? — Ela perguntou abertamente. — Meninos, é sério que
não conseguiram ficar nem o caminho da viagem em paz?
— Não brigamos. — Falei. — Só to cansado, e provavelmente, não vou mais conseguir
fingir ser gentil por muito tempo. — Olhei para o Hector que também me olhou irritado. —
Ou será que o dinheiro dos meus pais resolve?
— É serio?— Ele revirou os olhos. — Tá vendo como eu tenho razão.
— Claro que tem, você é perfeito, não é? Sabe de tudo, mas deixa eu colocar meu sorriso
simpático para você não acreditar que estou sendo grosso.
— Gente, chega! — Yamend falou. — Vocês viajaram juntos, tá tudo bem. Nós
chegamos, e estamos cansados, vamos pegar a balsa, por favor, eu preciso de um banho
e de uma alimentação decente.
— Tem razão. — Respondi levantando, e indo para o balcão.
Lorelai, uma das amigas mais antigas da minha mãe ainda mantinha aquele lugar de pé e
totalmente em ordem. Seus cabelos grisalhos e sua roupa de roqueira dos anos noventa
ainda eram os mesmos desde que eu era pequeno e vinha aqui tomar suco, fingindo ser
coquetel.

22
— Seus amigos?
— Sim, Lore. — Sorri olhando para a nossa mesa. — Quanto deu tudo?
— É por conta da casa e não venha perguntar de valores antes de me dar um abraço
enorme e me deixar olhar para você, mocinho.
Ela me puxou para um abraço me deixando completamente constrangido por saber que o
Hector, provavelmente, estava olhando aquela cena.
— Duzentos? — Perguntei me soltando
— Neitan, é por conta da casa.
— Sei que é, mas eu vou pagar senhora. — Peguei a carteira do bolso, contei a
quantidade de cervejas, de refrigerantes e os petiscos. Fiz uma rápida conta mental, já
que eu sabia todos os valores de cabeça. — Deu duzentos e vinte pelos meus cálculos.
— Não aceitarei seu dinheiro, mocinho. — Ela cruzou os braços com o pano de prato na
mão.
— Então eu vou deixar no balcão e sair correndo. — Coloquei as três notas no balcão e a
olhei. — Eu vou correr.
— Para de palhaçada ou vou contar pro seu namorado seus segredos, mocinho.
— Que? — Perguntei arregalando os olhos.
— Seus amigos, falam alto. Eles estavam falando sobre vocês no carro, sozinhos. É afim
do garoto? — Ela apontou para a mesa.
— Não conta pra minha mãe que ele veio. Se ela souber ficará estranha querendo saber
de tudo, e ele me odeia. Não preciso dela babando pelo Hector achando que eu ainda
gosto dele.
Ela sorriu de um modo suspeito e em seguida acenou para alguém que passou pela
porta, rapidamente virei vendo minha mãe entrando.
— Talvez eu já tenha mandado mensagem para a mãe ursa sobre o que eu ouvi. — Ela
apertou minha bochecha. — Não falei o nome do garoto, e tem vários ali, mas falei que
vocês viajaram juntos, então, acho que ela vai ligar os pontos bem rápido.
— Merda Lore, ela conhece ele. Da escola, que merda, ela vai saber.
— Ops. — Ela pegou o dinheiro do balcão. — Eu vou aceitar o pagamento já que a chefe
chegou.
Olhei para ela sem acreditar na tamanha cara de pau que ela conseguia ter. Deu-me uma
piscadinha e voltou rapidamente para o trabalho, indo servir os outros no bar que estava
bem cheio para o início das férias.

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— Ai meu Deus! — Minha mãe falou em um tom eufórico. — O rei do baile está no meu
bar. — Ela apontou para o Hector que ficou vermelho na mesma hora. — Eu não acredito
que são amigos na faculdade. — Ela o puxou para um abraço.
— Senhora Arman…
— Nãoooo. — Minha mãe o soltou segurando pelos braços. — Harman, com som de R no
começo meu amor. Sempre falando nosso sobrenome errado. — Ela apertou sua
bochecha. — Yamamoto, além que esse você falava mais errado ainda.
— Senhora Harman, não acredito que se lembra de mim. Faz tempo… Uns três a quatro
anos já…
— Nunca esqueceria o rei do baile, que ganhou do meu filho com seu belo terno cinza.
— Azul marinho. — Corrigi ela, fazendo todos me olharem. — O terno dele era azul
marinho e estava com uma gravata cinza, não o terno. Ele estava com os tons opostos
aos meus.
— Ok — Carlos falou olhando para a Moni.
Minha mãe sorriu ao vê-lo me olhar sem graça, e então, eu desviei o olhar percebendo o
quão idiota aquilo provavelmente pareceu. Ainda mais que eu lembrava o conjunto todo e
ainda corrigi minha mãe e voz alta.
— Então. — Ela tentou mudar de assunto. — Quero saber quem é quem, eu sou ótima de
memória, então, nome e o curso que faz e uma mania maravilhosa, a qual serei
apaixonada pelo resto da vida.
Hector como o amigo incrível que é começou a apresentar um por um. Enquanto minha
mãe não o largava, dentre tantos motivos, sei que sua empolgação é por ele ainda estar
na minha vida e saber que ainda gosto dele, ou melhor, que eu ainda me importava com
ele.
— Acho que é isso. — Ele sorriu.
— Casais? — Ela perguntou e eu arregalei os olhos ao mesmo momento que Hector.
— Não, só amigos, todos. — Falei. — Né?
— Quem sabe isso muda até o final das férias? — Minha mãe brincou e vi Carlos
engasgando enquanto olhava para Monique que não sabia onde enfiar a cara.
— Acho que podemos ir, né?
— Espera. — Cristal levantou toda empolgada. — Acho que devo me apresentar do modo
certo.
— Não precisa de sobrenome nem cpf aqui não, meu bem. — Juan respondeu rápido
levantando. — Ninguém nem quer saber nada fofa, abaixa a bola.

24
— Grosso!
— Direto sempre, florzinha. Aprenda. — Ele me olhou me mandou um beijinho. — Agora
podemos ir, eu preciso muito tirar essa calça apertada.
— Não posso…
— Não. — Moni cortou Cristal. — Eu tô dirigindo sem parar, não aguento nem acelerar
mais, então, não Cristal, economiza a gente, vai?
Depois de todas as apresentações, os cortes e claro a risadinha dela, minha mãe com
toda sua simpatia, nos chamou para irmos para a casa. Ela claramente tinha planejado
com todos os cuidados as coisas. Então, tínhamos uma balsa à nossa disposição e dois
barcos, para ir e vir se quiséssemos. Além das moradias adicionais para os dias que
trabalhássemos na cidade. Como eu que trabalharia no acampamento. Como tínhamos
muitas coisas no carro e estava quase chovendo, não deixamos os carros na costa,
iríamos guardá-los na garagem que era melhor e mais fácil.

Capitulo 7

Hector

A mãe do Neitan era uma das mulheres mais incríveis que eu já tinha conhecido e ela era
definitivamente perfeita, ainda mais comigo. Sempre foi muito gentil e com opinião sempre
formada, como a grande mulher que ela é. Porém, para a minha surpresa, ela ainda se
lembrava de mim e eu fiquei muito feliz por isso, sei que eu e o Neitan não somos de fato
amigos, mas eu adoro aquela mulher e sua energia. Jenet era sempre cheia de vida e seu
brilho iluminava todo o ambiente com toda certeza, então, ver que ela ainda gostava de
mim e sabia quem eu era, foi perfeito. E como ela era uma mulher muito curiosa e
querendo sempre ficar a par de tudo ela me “sequestrou”, me levando com ela no carro
até a balsa para que eu pudesse lhe contar tudo sobre o Neitan e nossos amigos.
— Mocinho, quero entender exatamente os casais, pois seu olhar e de meu filho foram os
mesmos, sendo assim, quero informações e para ontem.
— É complicado porque tudo está meio no ar.
— Ok, mas fala logo, quero saber.
— Que saibamos, a Monique é meio afim do Rome, mas juro que aquilo ali não é nada
muito sério. E acho que vi o Carlos com o…

25
— Yanamed?
— Yanmed. — Corrigi. — Eles são inseparáveis, então, meio que fica no ar o que rola ali.
Mas o Med é bem fechado e eu achava até que ele era meio homofóbico, fiquei com
receio de falar para ele que sou gay. Mas ele é bem tranquilo e legal, só que não sei
exatamente em relação a ele gostar de um cara.
— Compreendo.
— E aí, tem o Seba e o Denis que juro que não entendo, acho que ali é só amizade meio
distorcida.
— E as duas meninas? A negra é a Cristal, né? E a loirinha a Sidnei?
— Isso, a Cris… É…
— Gosta do meu filho. — Ela fez uma careta.
— Sim, ela é ex dele.
— Mas ela parece tão eufórica e metida, não imagino meu filho com ela, além de que ela
é linda, então, entendo. Pensando com a cabeça de baixo.
Não me aguentei e acabei rindo da frase dela, como ela em menos de cinco minutos
entendeu bem. Porque realmente, a Cristal era só beleza, uma beleza extraordinária, mas
só isso, e em comparação a Sidnei que era só cérebro dava para entender a escolha do
Neitan.
— Você conhece seu filho.
— Sim, mas ele tem outra pessoa, tipo mais interessante e não só linda?
— É…
Mais interessante? Neitan e eu não falávamos sobre isso, na verdade nós não falávamos
muito um com o outro, era mais ataque, brigas e cinco segundo de paz onde
normalmente, eu falava alguma coisa para irritar ele ou ele me dava motivo para sair
irritado.
— Ainda não me respondeu, Hector. Meu filho tem alguém na faculdade? Ele sai com
alguém, sei lá. Um romance, ou crush como vocês falam?
— É, eu… Não faço ideia. — Me enrolei todo ao lembrar das saídas dele. — Quer dizer
ele sai bastante, mas eu não sei o que rola. Talvez o Seba ou Med possam te responder
melhor que eu. Ou qualquer um dos outros meninos, eles falam mais disso com ele do
que eu.
— Ainda não se dão bem? — Ela me encarou quando o carro parou no porto.
— É, o problema sou eu… Sei que ele não é mais a criança idiota da escola, mas eu
tenho receio de me aproximar.

26
— E ele usar algo contra você? Como fazia na escola com os outros?
— Desculpa, eu não deveria estar falando isso do seu filho, senhora Harman. É que eu
tenho medo de me aproximar e me machucar, como eu sei que acontece.
Ela focou no volante por alguns segundos assim que o cara do porto fez o sinal para
entrar na balsa. E desligou o carro quando parou no lugar indicado, ficamos por alguns
segundos em silêncio e por fim ela se virou para mim novamente.
— Quando o Neitan perdeu o pai e o avô, ele prometeu que nunca mais machucaria
alguém daquele modo. Ele viu por muito tempo que a morte dos dois tinha sido o carma
que o universo mandou para ele.
— Ele perdeu os dois? — Perguntei pasmo.
— Sim, diferença de seis meses. Meu pai e o meu marido morreram quando ele estava
finalizando a escola. Ele nunca falou?
— Ele sempre fala do pai, eu achei que estava vivo. Nunca me passou pela cabeça que o
pai do Neitan morreu. Sinto muito, não tinha ideia. Nossa… Ele sempre fala do pai no
presente, então, eu não…
Ela deu um pequeno sorriso e respirou fundo. Olhou para trás pelo retrovisor, e eu fiz o
mesmo. Vi Neitan sair do carro com o Yanmed e ela rapidamente mudou o rosto,
estampando um enorme sorriso.
— Meus filhos são a única coisa que me faz levantar pela manhã, sei que o Neitan e os
irmãos fizeram muita besteira, mas depois das mortes na família os três mudaram muito.
Por mim e por eles, então, dê uma chance, conheça e deixe ser conhecido.
— Ok.
— E eu… Posso fazer mais uma pergunta?
— Claro!
— Juan namora?
— Não, ele é um pássaro solto e livre. Não sei se algum dia um cara consegue segurar
aquele ali.
— É… Acho que talvez eu conheça um… — Ela sorriu abrindo a porta e saindo do carro
sem explicar aquela frase solta que me fez transbordar de curiosidade.
Sai do carro indo até meus amigos e por alguns segundos olhei para o Neitan que parecia
extremamente empolgado por estar levando todo mundo para a casa dele. Ele explicava
sem parar sobre as casas, a floresta e as trilhas. Até mesmo sobre a fogueira e tudo mais.

27
Até nossos olhares se cruzarem e ele ficar completamente calado me olhando do mesmo
modo que eu o olhava. Desviei rapidamente quando Cristal se aproximou dele, se
pendurando nele como se ele fosse um brinquedo.
Mas por fim a viagem acabou e nós finalmente chegamos a casa, se posso chamar
aquele lugar de casa, porque com toda certeza tem muito hotel luxuoso que era menor
que esse lugar.
Os lustres enormes assim que entrávamos pela porta, mostravam o quanto a família dele
era realmente importante, quase que uma realeza na cidade ou algo assim. Fomos
levados até os quartos e logo um sorriso apareceu no rosto da senhora Harman.
— Nós tivemos um pequeno probleminha com uma das alas. — Ela sorriu. — Então, no
momento não tenho quarto para todos.
— Mãe, é sério?— Neitan ficou completamente sem graça.
— Relaxa filho. Eu já organizei tudo e é só por uma semana no máximo. Até terminarem
de arrumar os banheiros.
— Não tem problema Neitan, a gente mora em uma república cara, tudo amontoado,
estamos em uma casa separada em alas, a gente aguenta. — Seba falou.
— Perfeito. — Ela sorriu.— As três meninas ficarão com o quarto master de hóspedes.
Pois, têm dois banheiros e uma cama que cabe umas seis pessoas.
— Em um quarto só? — Monique piscou de um modo todo desengonçado. — Tem dois
banheiros em um só quarto?
— Sim minha querida, última porta do corredor. Já os meninos Denis e Carlos, segundo
quarto à direita. Yanmed e Juan, primeiro quarto. Sebastian e Rome, quarto à esquerda.
— Ela apontou para as portas. — E vocês dois, quarto do Neitan, é o único com cama de
casal, mas já se conhecem há anos, não terão problemas.
— Claro. — Ele quase morreu com aquela frase. — Mas porque separou a gente assim?
— Pelos trabalhos, eu já separei todos os horários e locais de cada um. Amanhã pela
manhã a senhora Madeleine passará os endereços e horários de tudo para vocês.
Eu olhei por alguns segundos o chão tentando não relutar pela escolha, só passando pela
minha cabeça que ia dar tudo certo, mesmo que não tivesse motivo algum para acreditar
nisso.
— Vem. — Neitan me olhou. — Meu quarto é no outro corredor. Então, vamos nos
instalar.

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— Se não fosse sua mãe ter separado os quartos desse jeito, juro que pensaria nisso
como um convite estranho para você me levar para a cama. — Falei fazendo ele se
engasgar.
— Se não tivesse sido minha mãe, eu acharia que foi um plano seu, para me ver sem
camiseta. — Ele começou a andar na direção do quarto.
— Acha mesmo que eu faria isso só para te ver sem camiseta? Sendo que moramos
juntos e você sempre está sem?
— Então você repara em mim sem camiseta. — Ele parou na frente de uma porta dupla
de madeira escura.
— Claro! preciso ter certeza dos lugares que tocou sem camiseta para eu poder
desinfetar. — Brinquei.
— Vai ter que desinfetar meu quarto inteiro.
Neitan abriu a porta do quarto mostrando aquele ambiente magnifico, que parecia mais
uma suíte presidencial de um hotel de luxo do que um quarto que tinha sido de um
adolescente idiota, que nem banho tomava. Os tons de azul escuro e branco, se
espalhavam por todo ambiente o que deixava maior ainda em conjunto com aquele pé
direito enorme de provavelmente, quatro metros de altura.
— Deve ser o maior quarto que eu já pisei em toda minha vida.
— É porque não viu o quarto dos meus pais ou a suíte de visita que as meninas estão,
aquele lugar da para dar uma festa de fraternidade e ainda sim não ficar cheio o
suficiente.
— Nossa! Tá, como faremos? Eu preciso de um banho e organizar minhas coisas, e eu só
durmo do lado direito da cama.
— Então, o lado direito é seu. — Ele sorriu.— Tem espaço no meu closet que fica
estrategicamente na frente do banheiro, então, pode tomar um banho, fica à vontade. Se
precisar de algo é só tocar a campainha.
— Tem uma campainha no banheiro? — Me espantei com aquela frase.
— Não… — Ele riu. — Desculpa, é brincadeira, mas temos interfones nos quartos. Dá
para ligar de um quarto para o outro, ou para a cozinha.
— Sério?
— Sim, vem aqui. — ele me puxou para a área do escritório dele e abriu a porta. — Cada
quarto tem um desses. Se tiver o número do quarto, que está escrito no telefone, é só
ligar.
— Ok, então.

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— Agora se não se importa, preciso tirar esta camiseta. — Ele saiu andando e tirou a
camiseta mostrando perfeitamente suas costas completamente malhadas. Me perdi
naquela visão por alguns segundos sem nem saber ao certo como reagir. Sei que o via
sempre sem camiseta, desfilando por aí, mas agora estávamos no nosso quarto, onde
iríamos dormir juntos pela próxima semana. Aqueles momentos que eu sempre tentava
ignorar e relevar, iriam se tornar cada vez mais comuns e eu não sei ao certo como não
reparar naquele belíssimo corpo.
— Nossa… — Falei baixinho, mas ele ouviu.
— O que foi? — A escultura em forma de homem se virou pra mim e eu rapidamente
desviei o olhar, focando na cama ao lado dele.
— É uma cama grande… Pelo menos… — Pontuei sendo a única coisa que consegui
falar para disfarçar.
— Sim. — Ele sorriu. — E tem mais travesseiros, caso queira colocar entre nós dois, não
sei se dormirmos juntos é um problema para você.
— Depende, vai ficar desfilando sem roupa?
— Só tirei a camiseta. Não estou seminu andando por aí… Espera, não gosta do seu
corpo? Por isso a pergunta? E como fica inseguro, o problema não é com algo que eu
sempre faço, mas pelo fato de que você não vai se sentir confortável sem camiseta.
Olhei para ele boquiaberto, ele tinha um raciocínio rápido muito melhor do que eu
lembrava. O que sinceramente pode ser um grande problema, já que ele entenderá antes
mesmo que eu fale. — Não respondeu minha pergunta. — Retomei.
— Nem você. — Ele se aproximou. — Por quê não gosta do seu corpo?
— Você sabe, olha para mim…
— Estou olhando. — Ele mordeu o canto da boca. — Eu sempre olhei…
Seu tom foi sexy e baixo me fazendo estremecer na base, minha garganta secou por
alguns segundos e eu juro que tentei entender a reação em cadeia do meu corpo, mas
aquele modo sexy dele falar foi muito pro meu peito aguentar.
— Você não parece ver a realidade. — Tentei me recuperar. — Não sou o mais bonito do
nosso grupo, nem chego perto do mais gostoso, como se pode ver pelo seu corpo. Uso a
mesma paleta de cores porque eu não sei me vestir direito, e ninguém me nota.
— Claro! — Ele se afastou e deu as costas. — Talvez você seja só um idiota cego
mesmo…
Neitan foi para o closet e fechou a porta com força, como quando está irritado ou
frustrado, sabe se lá porque dessa vez. Ignorei sua rebeldia repentina e saí do quarto,

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tentando lembrar o caminho e achar o resto dos meus amigos. Assim que passei pelo
corredor ouvi Denis e Carlos falando bem alto sobre a contratação de alguns atores para
o novo filme que eu nem faço ideia do que era e de como o salário dos cineastas era
muito superior ao dos atores.
Juro que talvez essa separação tenha sido a pior do mundo, porque Denis e Carlos
sempre brigam por questões salariais dos atores, diretores e tudo mais. Cada um defende
basicamente seu lado e sempre acaba com os dois com um bico enorme e a frase do
filme é feito por… Mas nada vai ser pior que a Monique com as meninas e o fato dela, em
dois dias no máximo, estar dormindo em uma das camas com os meninos por não
aguentar as meninas falando sobre maquiagem e dieta. Espera, tem uma junção bem
pior, a minha e a do Neitan que, puta merda, não tem nem explicação. Tanto quanto a de
Sebastian com Rome… Seba literalmente apelidou Rome de homem das cavernas ou
quando ele tá de bom humor, hétero top da civilização passada. Acredito que os únicos
que estão de boa são Yanmed e Juan, que é só nenhum dos dois falar sobre sexualidade
ou religião que estamos seguros.

Capitulo 8

Neitan

De todos os malditos problemas de Hector, o pior é não se valorizar e não perceber o que
está bem a sua frente. Não me leve a mal, mas eu não era o único afim dele, a Sydnei
também e mesmo que eu, de muitas maneiras, tentasse demonstrar isso ou tentasse só
mostrar que me importava, ele conseguia ser um idiota e falar algo tão imbecil que só
poderia ter saído dele o que, aliás, me tira do sério e sei que não é por mal, mas custa
pensar antes de falar… ?
— Mãe?— Falei entrando em seu escritório.
— Preciso só terminar essa ligação. — Ela apontou para o fone no ouvido.
Ela tinha conseguido lidar muito bem com as coisas depois que meu pai e meu avô
morreram. Muitos acharam que ela iria surtar e sumir, que não daria conta, porém o
sobrenome é dela, Harman é quem ela sempre foi. Mesmo que ela tenha perdido tanto,
ainda assim, ela foi criada para aguentar muito mais que isso e me orgulho muito dela.

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Ela desligou a ligação e se jogou na cadeira, tirou o fone do ouvido e só apontou para a
garrafa de Bourbon atrás de mim.
— Só um copo. — Falei enquanto servia ela.
— Mocinho, não comece a controlar minha bebida. — Ela tomou um gole. — Agora
precisa me contar tudo.
— Mãeeeeee!
— Nada disso. Você insistiu muito para poder colocar um dos seus amigos com você no
acampamento e aí descubro que é o Hector, simplesmente sua paixão do colegial.
— Mãe qual é… Para com isso, ok? Já deu para perceber que você o adora, não precisa
mais que isso. O fato de eu ser apaixonado por ele ainda, é uma questão de…
— De... ? Não venha com desculpas.
— Fato de comodidade, gostar dele é cômodo.
— Ah, pelo amor de Deus! — Ela levantou e se sentou na cadeira ao meu lado. — Sofrer
por amor não é cômodo e sei que o trouxe aqui para tentar mudar o conceito que ele tem
sobre você, não é? Como é com as crianças.
— Talvez, eu não sei. Só quero ter a chance de conhecer ele, ainda mais que eu fui um
escroto por três anos no colegial e sabe disso. Eu claramente preciso me redimir, e
pensei nisso como um modo de mostrar como eu sou de verdade.
— Ai filho… — Ela me olhou toda orgulhosa. — Fico feliz que ainda lute pelo seus
sentimentos.
— Foi a promessa que fiz pro papai e não vou quebrar. Prometi que iria parar de ser o
idiota valentão e mostrar quem realmente sou para quem me apaixonei, não importa
quanto tempo isso demorará.
Minha mãe sorriu com o orgulho estampado em seu rosto e me abraçou, eu sabia que ela
era a maior fã do shippe “Neitor” que é como minha irmã nos nomeou há anos, meio
merda, eu sei.
— O Hector é incrível. Acho que se ele soubesse tudo o que você fez por ele, começando
por, como ele ganhou o rei do baile, tudo seria diferente.
— Ele sentiria gratidão por mim e eu não tô afim de gratidão, não quero ele ao meu lado
por ser grato, e sabe disso.
— Acho que então, ter colocado vocês no mesmo quarto é um bom começo. — Ela forçou
o sorriso. — Tem 15 dias até cada um ir para um quarto, mesmo que seja na mesma ala,
ainda assim, não é a mesma cama.

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— Eu duvido que ele volte para o quarto hoje, aposto que ficará no sofá de um dos
meninos, já que eu o chamei de idiota.
Minha mãe bufou batendo no meu braço como se eu fosse o culpado da nossa última
briga e não ele.
— Espero que estejam em ordem até o baile, sabe como seu pai adorava o baile de
verão. Então, tudo tem que estar perfeito, de preferência com vocês já resolvidos.
— Pode não dar uma de casamenteira? Nem de sogra melosa?
— Sogrinha orgulhosa, não melosa. Agora dê o fora do meu escritório e veja se mostra
tudo para seus amigos. A fogueira já deve ter sido acesa, eles vão adorar conhecer tudo a
noite e descobrir como não se perder.
— Sim senhora. Mas vou roubar um engradado de cerveja e um vinho da sua reserva.
— Já está separado. Só pedir para algum dos empregados da cozinha e não volte muito
bêbado, amanhã é logo cedo, principalmente para você.
— Ok…
Dei um beijo na testa dela e roubei um gole da sua bebida, sai correndo antes que ela me
batesse por beber seu Bourbon.
Fui até a cozinha e peguei uma das cestas de piquenique, coloquei as cervejas, o vinho e
marshmallow. Um dos empregados me deu chocolate e algumas frutas só para
contrabalancear a quantidade de álcool na cesta. Subi para os quartos e bati em todas as
portas, mostrando a cesta. Os meninos rapidamente se empolgaram e começaram a fazer
barulho.
— Tem uma fogueira aqui nesta ilha e já deve ter sido acesa, se quiserem ir… — Falei
empolgado. — Espera, cadê o Hector?
— Nossa, mas só quer saber dele não é mesmo! — Cristal respondeu se pendurando no
meu braço.
— Como assim, cadê o Hector? — Monique ignorou a garota. — Ele não é seu colega de
quarto? Por que está perguntando para a gente onde ele está?
Olhei ao redor e ele não estava com ninguém. Entreguei a cesta para os meninos e fui até
nosso quarto, lá estava ele. Hector voltou para o quarto depois que sai, estava
organizando sua roupa no closet, por ordem de cor.
— Tem toque? — Perguntei ao encostar na lateral da porta.
— Não, só gosto de tudo organizado.
— E limpo?
— Sim.

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— Entendi, estamos indo para a fogueira aqui na ilha.— Me aproximei dele e me ajoelhei
ao seu lado. — Quer vir? Tá todo mundo esperando a gente.
— Vão sair de noite?
— Não vamos pegar o carro, vamos pela trilha. Vai ser legal eu juro, promessa de
escoteiro. — Levantei os dedos.
— E você foi escoteiro?
— Antes de ser o babaca da escola eu fui sim. Agora, me deixa mostrar minhas medalhas
de sobrevivência para você e nossos amigos?
— Ok, mas… É…
— Eu não vou te deixar sozinho. Sei que não gosta do escuro, e a Monique também sabe,
ninguém vai te deixar para trás. Nem fazer alguma brincadeira idiota para te assustar.
— Tá bom. Vamos para essa tal fogueira.

Levantamos do chão e ele guardou a mala no armário, fomos ao encontro com nossos
amigos. Eu fui explicando basicamente tudo da ilha e da cidade para eles, falando como
tudo funcionava, como poderíamos ir de um lado para o outro e o horário das coisas.
Fomos por uma trilha e falei sobre as cores de cada uma e o lugar para o qual elas
levavam e que a trilha com os fios brancos sempre retornava à casa principal.
Nós assamos marshmallow, tomamos algumas cervejas, rimos muito e claro, como o
imaginado, a Cristal se pendurou em mim a noite toda, só faltou eu me esconder em um
buraco no chão para ela se afastar, mas não daria muito certo. Por sorte, Seba tirou seu
violão do buraco e roubou toda a cena, fazendo com que eu conseguisse me livrar da
criatura.
— Curtindo?— Monique sentou ao meu lado com uma cerveja.
— Depende. A música sim, a fogueira talvez, a Cristal em cima de mim, não. Com toda
certeza a Sidnei com ele, não mesmo, mas é só nosso primeiro dia, não é mesmo?
— Ciúmes?
— Tá na cara?
— Um pouco, mas se você pedir com jeitinho eu e o Juan nos livramos das duas, então,
você poderá sair por aí com ele. O que acha?
Olhei para o relógio e vi as horas, eu sabia que se fosse sair assim, só com ele, eu queria
mais tempo e de preferência com banho tomado e não queria estar cansado, só para
garantir. A proposta da Monique era uma boa, só que talvez para um outro dia.

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— Passo, talvez na próxima. — Mostrei o relógio. — mas será que você poderia sugerir
que voltássemos para os quartos? Caso contrário, sou capaz de atacar marshmallow
neles dois.
— Iria grudar naquele cabelo que precisa de hidratação.
— É nem todos tem sorte de ter meu lindo e sedoso cabelo.
— Genética filha da puta, né? — Ela soltou os cabelos mostrando as pontas. — Vê se
você tem ponta dupla assim? Não tem! Nossa, odeio você por ser descendente de
japonês com esse olho lindo, cabelo maravilhoso, sorriso perfeito e sobrancelha invejável,
já precisou fazer sobrancelha?
— Ridícula, sabe que sim. Não sou um robô, eu ainda tenho que aparar os pelos e cortar
o cabelo.
— Uuuh, você tem pelo lá embaixo?
— Meu deus Monique! Esta bêbada, né? — Levantei. — Acho que a Moni precisa ir pra
cama agora.
— Espertinho. — Ela sorriu. — Gente, só tava querendo saber se ele tem pelo lá
embaixo. — Moni falou em um tom alto me fazendo morrer.
— Cama, agora. — Juan respondeu pulando um tronco no chão vindo até Monique.
— Melhor todo mundo ir, né? — Carlos falou. — Estamos todos cansados mesmo e duas
cervejas já são o suficiente.
Todo mundo concordou e por sorte voltamos sem mais constrangimento. E sem ela falar
mais besteira, levei todo mundo para seus devidos quartos e por fim, fui para meu com o
Hector que estava um pouco alterado também, já que pelas minhas contas ele estava na
quarta cerveja ou algo assim. Sei que eu tinha bebido três cervejas e também não estava
no meu normal, porém ele estava mais passado.

Capitulo 9

Hector

De certa forma, eu era um pouco fraco na bebida, mas não muito. Só que eu começava a
ficar mais solto e completamente sem cara de pau, não que eu tivesse muita. Mas o real
problema é que eu nunca bebi e fui para um quarto com o Neitan, aquilo parecia ser uma
péssima ideia no fundo, mas eu não conseguia raciocinar direito.

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— Deita do meu lado. — Falei me jogando na cama sem nem tira a calça jeans.
— Parece uma cilada.
— Não é. Só que eu estou meio bêbado e provavelmente não vou lembrar de nada
amanhã, mas por favor eu só quero…
— Ok. — Neitan deitou olhando pra mim.
— A pergunta que não quer calar, é mesmo peludo lá embaixo? Porque sei que no peito
não é, nem nas costas ou debaixo do braço. Então, seus pelos estão todos embaixo?
— Não sou peludo. E se quiser posso te mostrar.
— Melhor não, posso acabar gamado na sua bunda. Que eu sei que é linda com calça
imagina sem.
— Está mesmo bêbado.
— É, mas não sou só eu… — Ri baixinho.
— Mas você está pior, porque eu não falei como amo seus olhos e como me deitar aqui te
olhando faz as borboletas no meu estômago acordarem. Entende? Então, você tá pior.

Eu voltei a rir e ele riu logo em seguida, percebendo o que tinha acabado de falar sem
nem se dar conta. Ele tentou se esconder no meu peito, mas assim que paramos de rir eu
emendei outra pergunta.
— Mas, de verdade, por que nunca contou que seu pai tinha morrido?
— Não sei. — Ele me olhou de um modo doce. — nunca surgiu o assunto e você nunca
falou da sua irmã.
— É… Mas eu conheci seu pai, você não conheceu minha irmã.
— Acho que eu só não gosto de falar sobre isso.
— Ok, desculpa perguntar.
— Tudo bem, não é segredo. Só não curto falar mesmo, mas eu tenho uma pergunta.
— Faça. — Fitei seus olhos.
— Minha mãe que falou?
— Foi.
— Por que foi com ela?
— Eu gosto dela, sempre gostei. — Toquei em seu peito sem motivo algum.
— Ela adora você também.
— É eu acho que deu para perceber.
— Minha culpa. — Ele colocou a mão sobre a minha. — Acho que porque eu sempre fui
apaixonado por você.

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— Não é realmente apaixonado por mim.
— Eu sou. — Ele se inclinou. — Eu sempre fui — Seus lábios tocaram os meus e eu
lentamente fechei os olhos me entregando aquele toque doce de nossas bocas. Por fim,
ele se afastou voltando a fitar meus olhos. — Desculpe, eu só queria… Mostrar que eu
gosto de você.
— Dado registrado.
Ficamos nos olhando sem nos distanciar mais e meus olhos começaram a pesar bastante
e eu fui apagando enquanto o olhava com nossas mãos ainda juntas em seu peito.

Uma imensa dor de cabeça me atingiu e uma grande falha na memória da noite anterior.
Só lembro que eu apaguei assim que voltamos para o quarto, nem sequer tomei banho,
só troquei de roupa e morri na cama. Até me importaria em tomar banho se estivesse
dividindo o quarto com qualquer outra pessoa, mas sendo o Neitan, não me importo nem
em escovar os dentes. O pior que eu não sei em que momento eu troquei de roupas, mas
lembro de levantar e ir atrás do meu pijama.
Porém, como eu não tive tempo nem de tomar banho imagina arrumar a cama, o que nos
leva ao momento de agora. Acordei e notei que eu e Neitan estamos de conchinha, em
uma mega cama enorme, nós dois acabamos abraçadinhos no meio dela e para ajudar
consigo sentir ele bem duro. Para minha surpresa, ele consegue ter quase uma terceira
perna, o que não vem ao caso, o problema é que eu não faço ideia de como escapar dos
seus braços, já que ele está me abraçando de um modo quase impossível de me mexer
sem acordá-lo. Só que se eu acordá-lo e ele notar que estamos assim, será muito
estranho e constrangedor, ainda mais que ele está duro. Sei que é normal, questão
matinal, mas é constrangedor do mesmo jeito.
Se não estivesse ruim suficiente ele está sem camiseta, só de calça, provavelmente sem
cueca, o que deixa esta situação duas vezes pior. Porém, por algum motivo eu estava
curtindo ficar assim com ele, sei que sou gay, sei da minha sexualidade há muito tempo e
já tive diversos relacionamentos. Só que não me lembro da última vez que acordei e me
senti seguro assim, como se aquele abraço fosse minha fortaleza, entretanto, assim que
eu lembro que são os braços do Neitan Harman parece que vira uma confusão de
sentimentos. Como posso me sentir seguro e bem nos braços deste idiota e imbecil que
só pensa em si?

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— Merda! — Ele sussurrou atrás de mim ao acordar e eu rapidamente fechei os olhos.—
Que merda… Ai droga me desculpa… ainda tá dormindo? — Ele sussurrou e se inclinou
sobre mim, verificando se eu estava acordado — Ainda tá dormindo, graças a Deus, como
eu ia explicar isso…? — Ele tirou a mão da minha barriga bem devagar e se afastou um
pouco desencostando nossos corpos. Neitan delicadamente tirou o outro braço que
estava embaixo do meu pescoço e se afastou. — Eu deveria parar de te olhar, né? Antes
que você acorde e me veja babando por você.
Ele se inclinou sobre mim e me deu um beijo na bochecha se afastando rápido e foi direto
para o banheiro, fechou a porta me deixando na cama. Eu levei minha mão até minha
bochecha ficando completamente paralisado com o que rolou. O cara que eu nem fico no
mesmo espaço por muito tempo acabou de me dar um beijo no rosto…

Levantei completamente perdido sem entender o que tinha acabado de rolar. Por que eu
estava me importando e simplesmente, por que eu tinha gostado de acordar com ele e
ainda ganhar um mínimo de atenção?
— Cabecinha gay, você não vai fazer isso. Não por ele, nem com ele… — Falei voltando
a me deitar e abraçando o travesseiro dele sem perceber.
Senti seu cheiro no travesseiro e aproximei o travesseiro, o cheiro amadeirado que é bem
típico do perfume dele, misturado com o cheiro forte de seu deixou um aroma perfeito e
intenso. Puxei o ar mais forte, deixando aquele perfume invadir minhas narinas, me
enlouquecendo por alguns segundos até eu perceber o que estava fazendo. Aquilo tinha
me deixado excitado, o simples cheiro dele pela manhã tinha mexido comigo. O pior é que
na minha mente só veio o gosto de seus lábios, como se, por alguma razão, eu tivesse
conhecimento do seu gosto doce.
Mas antes que eu pudesse enlouquecer, alguém bateu à porta me fazendo soltar o
travesseiro rápido e sentar na cama.
— Bom dia querido. — A senhora Harman entrou no quarto com um enorme sorriso.
— Bom dia senhora Harman, como a senhora está?
— Estaria melhor se não me chamasse sempre de senhora Harman, eu sempre procuro
minha sogra atrás de mim.
— Me desculpa, é só costume.
— Pode me chamar Janete. — Ela sentou na beira da cama — dormiram bem?
— Eu sim, já ele, eu não sei. Acordei e não sei dele, deve estar no banho ou já saiu. —
Disfarcei o máximo que consegui.

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— Tá bom. O café da manhã já está sendo servido. Como hoje vocês dois vão para o
acampamento, já deixei tudo organizado, as crianças começam a chegar amanhã. Então,
é bom conhecer tudo antes.
— Ahh, é claro. Ele sabe como funciona tudo ou é a primeira vez também?
Ela me olhou meio surpresa por alguns segundos e se levantou da cama, foi até um dos
móveis e pegou um álbum de fotos e o abriu.
— Ele é responsável pelo acampamento desde os 15 anos. — Janete começou a me
mostrar as fotos. — O Neitan é apaixonado por aquelas crianças, ele que programa as
atividades, os eventos. Tudo é o Neitan que faz há anos. Não sabia?
— Nem sabia que ele gostava de crianças, ainda mais que ele… Nossa, acho que a cada
dia aqui eu descubro algo novo dele.
— Cuidado para não se apaixonar, então. — Ela levantou. — Dá uma olhada nas fotos,
para entender como é o acampamento.
— Janete, quer que eu veja o acampamento ou seu filho? — Perguntei na lata.
— Os dois, não vai fazer mal. Quem sabe mudar essa ideia que tem dele e ver o cara
incrível que ele é. Porque eu acho muito estranho não serem melhores amigos…
Ela saiu do quarto me deixando com o álbum de fotos, que claramente comecei a folhear,
sempre procurando ele nas fotos para ver se realmente. Para minha surpresa ele estava
em quase em todas as fotos, mesmo que no fundo, ele estava lá. Com um enorme sorriso
no rosto, não importava o ano.
— Ei, o que está vendo?— Ele saiu com o cabelo molhado ainda e sem camiseta só para
variar.
— Sua mãe me deu o álbum de fotos do acampamento, e eu to vendo, já que ela me
falou que você sempre esteve presente.
— Claro que ela veio aqui.
— É…
— Deixa eu ver. — Ele sentou atrás de mim na cama me fazendo sentir seu corpo quente
e seu cheiro.
— Todos…— Travei por alguns segundos. — Aqui tem todos os anos? . — Desenvolvi
quase esquecendo de respirar.
— Não sei. — Ele passou o braço por volta de mim, virando para a última página. —
Acredito que tem sim. Até do primeiro ano da faculdade que rasparam meu cabelo.

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— Nossa, tem registro disso? — Falei empolgado, virando algumas páginas antes. — Ai
meu Deus! Você tava horrível, por que mesmo você deixou cortarem seu cabelo na
formatura?
— Porque eu perdi a aposta, fui o único que não conseguiu beijar a pessoa que eu
gostava no baile. Como eu e os rapazes tínhamos colocado o nome das pessoas na
aposta, eles sabiam que eu não havia conseguido.
Virei-me devagar em sua direção focando em seus olhos castanhos escuros, que
estavam com um brilho lindo pela manhã.
— Quem era? A pessoa? — Perguntei em um tom baixo.
— Não posso te contar…
— Ela não está aqui, por que o segredo?
— Porque nunca se sabe, Hector. A esperança é a última que morre.
— Entendi… — Olhei para sua boca por alguns instantes e ele seguiu meu olhar. —
Tenho que tomar banho, sua mãe falou que o café está pronto e temos muita coisa para
fazer. — Meu ar faltou e meu peito quase explodiu pela sua encarada em meus lábios.
Levantei rápido, me afastando dele e me trancando no banheiro, sem nem sequer pegar
uma roupa antes de fechar a porta. Fiquei me olhando no espelho completamente
confuso com a minha própria cabeça e as minhas ações. Já que eu olhei para a boca do
Neitan e não me afastei dele nem por um segundo.
O pior é que eu entrei no banheiro e não consegui não me tocar, seu cheiro estava
impregnado em mim e naquele maldito banheiro, acabei me masturbando no banho
pensando na nossa proximidade, nos seus lábios tão perto dos meus e como aquele
maldito volume estava enfiado na minha bunda quase pedindo passagem. Ficar assim
obrigatoriamente perto dele estava me enlouquecendo e eu sei que é o plano, mas puta
merda eu me masturbar por causa dele, parece até que estou no colegial novamente.

Capítulo 10

Neitan

Era nosso primeiro dia e eu estava empolgado, Hector parecia não estar mais se
importando com minha proximidade e isso era incrível, pra mim pelo menos. Nós

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tínhamos dormido juntos e eu, por sorte, acordei antes dele já que eu estava duro com ele
em meus braços. E mesmo que eu estivesse gostando dele comigo seria constrangedor
ele me ver daquele modo, ainda mais que nunca mencionei que sou bi, e eu não queria
ter essa conversa assim, mas acho que ficou bem claro meu interesse, uma vez que
sentei a centímetros dele e fitei sua boca quando se virou pra mim. Não que Hector
também não tenha feito o mesmo, só que sei que ele não sente nada por mim já que
deixa bem claro que não me suporta muito.
Saí da cama e terminei de me vestir, afinal, ficar pensando em uma coisa tão idiota não
faz o mínimo sentido, porque com toda certeza, não é a realidade. Fui direto para a sala
de café da manhã onde minha mãe estava sentada na ponta da mesa lendo o jornal como
de costume.
— Bom dia mãe. — Beijei sua bochecha e sentei na cadeira a sua frente.
— Bom dia querido, o Hector não vai se juntar a nós?
— Ele foi tomar banho. Então, acho que não terá a companhia dele, só a do seu filho
irritante mesmo.
— Besta, sabe que adoro sua companhia. Só queria ver vocês dois juntos.
— Eles formam um bonito casal, não é?— Monique passou pela porta com um conjunto
roxo de moletom.
— Sim, pena que ainda não são um casal. — Minha mãe respondeu sem tirar os olhos de
mim.
— Vocês duas são péssimas pessoas. Eu e o Hector não vamos rolar, e sabem disso.
Nunca rolou nada até agora, nem sequer uma esperança.
— Ajuda ele com o trabalho de vocês. Um romance de verão, não é esse o tema que
você escreveu para ele? — Monique se sentou na cadeira ao meu lado. — Sei lá, leva ele
para andar por aí, pescar, fazer trilha, mergulhar, eu não sei! Mas ajude ele com o
trabalho.
— Nossa, vamos parar de falar disso, por favor. — Levantei indo pegar o café. — Mas
pode deixar comigo, ok. Eu vou tentar.
As duas me olharam e em seguida se olharam com um sorriso suspeito, como se
tivessem pensado na mesma coisa e essa coisa era dar uma de cupido, com toda
certeza.
— Bom dia. — Hector passou pela porta ainda com o cabelo molhado, seus olhos verdes
estavam bem claros e suas bochechas rosadas.
— Bom dia. — Sorri igual a um idiota.

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— Você já me viu no quarto. — Ele passou por mim parando ao meu lado para pegar
café.
— Mas não tinha me dado bom dia no quarto e como seu bom dia não foi endereçado a
ninguém, eu respondi.
— Mesmo a gente já tendo se visto?
— Sim. — Servi o café em sua xícara.
— Parece mesmo algo que você faria, sabia?
— O que? Ignorar nós duas aqui ou nem piscar durante essa conversa sem sentido? —
Monique interrompeu como sempre.
— Bom dia Monique e bom dia Janete.
— Espera aí, chamou minha mãe pelo nome?
— Sim, agora se afasta. — Ele colocou a mão no meu peito.— Estamos muito próximos
ao ponto de eu conseguir sentir seu cheiro.
— Meu cheiro é ruim? — Falei baixinho me inclinando o que deixou nossos rostos
próximos.
— O que exatamente está fazendo?
— Perguntando do meu cheiro e o que você está fazendo?
— Tentando entender o que tá rolando aqui e querendo tomar meu café, se você me
permitir. — Ele aproximou a xícara aos lábios sentindo o vapor em sua boca, me fazendo
desejar ser aquela xícara.
— Já servi seu café senhor, é só se afastar.
— Ou você se afasta, já que você está com seu café na mão.
— Pelo amor de Deus vocês dois. — Minha mãe levantou. — Vão se beijar ou algo
assim? Porque se não vão, parem com isso, estão matando nós duas. Toda essa tensão
de vocês!
— Ai Janete! É assim todo dia, eles ficam nessa guerra fria pelo café, sorte que não vão
precisar escolher o horário do banho, porque, nossa!
— Como assim?
— Nada mãe…
Tentei fazer eles mudarem de assunto e me afastei do Hector dando passagem para ele
colocar os três quilos de açúcar no café dele só para variar.
— Ah não, eu preciso contar isso.
— Moni, calada vai. — Ele falou quase se enfiando no móvel de vergonha.

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— Calados. É assim, Jenete, na casa não dá para tomar banho todos juntos, e o quarto
dos dois é um do lado do outro. — Minha mãe nos encarou e Monique continuou com um
sorriso no rosto. — Porém, quando eles não respeitam o horário que eles dois fizeram,
um vai para o quarto do outro e fica lá só de toalha na cama esperando o outro sair. Só
para implicar.
— Ele que começou. — Apontei para o Hector. — Literalmente foi ele quem começou.
— É mas para minha defesa, você roubou meu horário e ficou quase uma hora no banho
e ainda cantarolando. — Ele veio e se sentou ao meu lado como nunca tinha feito antes.
— Eu estava exausto aquele dia, precisava de um tempo.
— Sim, eu lembro. Você tinha ficado o dia todo na biblioteca pesquisando para matéria
daquele imbecil. E ainda tinha brigado com a Cristal naquele dia.
— Foi. — Nós dois desviamos o olhar, eu foquei em xícara na minha mão e ele olhou
para a Monique.
— É...
Por algum motivo eu só lembrava dele naquele dia. Ver ele todo irritadinho sentado na
minha cama só de toalha, fez meu dia melhorar em 500% e ele nem faz ideia. Mesmo que
eu e ele tenhamos brigado por uns 10 minutos naquela noite, só de ter ele ali comigo fez
toda a diferença.
— Tá bom então.— Minha mãe levantou.— Vocês dois, precisam se arrumar e ir para o
acampamento infantil. Você Monique e as meninas vão comigo pro hotel fazenda.
— Sim senhora. — Respondi.
— Tem alguém que eu preciso punir, e dar o pior trabalho?
Eu olhei para o Hector e ele me olhou abrindo um lindo sorriso, nós dois pensamos no
mesmo nome. Olhamos para a Monique e ela fechou a cara na mesma hora.
— ROME. — Nós dois falamos ao mesmo tempo empolgados.
— Seus idiotas.
— Pode fazer ele suar mãe, sofrer mesmo. Pede para ele tirar leite de vaca, caçar os
bezerros, arrumar um barco ou descarregar a carga do porto, qualquer coisa pesada, não
sei.
— Você é um gênio.— Hector deu pulinhos de alegria e segurou minha mão. — Talvez
depois de tudo isso pode mandar ele empurrar um carro ou atravessar a nado.
— Misericórdia, o que ele fez para vocês dois para chegarem em um consenso?
— Ele comeu toda a nossa pizza. Quando chegamos de um dia exaustivo, descobrimos
que o boneco comeu nossos pedaços que havíamos deixado dinheiro para comprar.

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— Ahhh. — Minha mãe me olhou segurando o riso. — Mexeu com a comida dele, é a pior
coisa que alguém pode fazer.
— Igualmente. — Hector olhou para nossas mãos e soltou da minha, me fitou nos olhos
por alguns segundos. — Temos que ir.
— Sim, temos muita coisa para fazer.
— É…
— É…
— Meu Deus, cansei. — Monique levantou e saiu nos deixando para trás.

Sabe-se lá porque naquela manhã eu e o Hector estávamos diferentes ou ele estava


diferente comigo, de um modo que eu nunca tinha vivenciado. Mesmo com nossa
implicância matinal, ele ainda estava sorrindo e não saiu do meu lado, ainda que
houvesse outros quinze lugares à mesa, ele sentou ao meu lado por vontade própria, isso
querendo ou não, estava me dando falsas esperanças, mesmo eu sabendo disso, não
pude deixar de me apegar a esse momento.

Capitulo 11

Hector

Eu não conseguia parar de olhar o Neitan, sei que é estranho, mas eu comecei a observar
seu modo de lidar com as coisas do acampamento. Preocupado com cada detalhe,
olhando e checando tudo quinhentas vezes só para garantir que tudo ficasse perfeito, isso
de certa forma me impressionou. Sei que ele está sendo, querendo ou não, menos
irritante e imbecil que de costume, mas ele ficou literalmente preocupado até com questão
de segurança porque uma das campistas é cadeirante e a rampa não parecia presa o
suficiente. Então, ele desmontou e montou umas quatro vezes a rampa e testou com
várias pessoas e coisas, só para garantir.
Ele verificou até mesmo se todas as alimentações planejadas estavam de acordo com os
nutrientes certos para as crianças.
— Ei! Está tudo na validade. — Falei colocando todas as comidas no lugar.
— Ótimo. — Ele me olhou sério. — Verifica a próxima coisa da lista.
— Está escrito horário de almoço. — Mostrei para ele a prancheta.

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— Que? — Ele parou de contar as garrafas e me olhou confuso.
— É o horário de almoço, sabe a segunda refeição do dia. Ou não sabe o que é isso?
— Nossa, é… Eu na verdade não como quando tô no acampamento. Eu trabalho direto.
— Sério isso? Fica sem comer?
— Sim, ele fica. — A senhora que gerenciava o bar se aproximou. — Não sei nem se ele
sabe o que são refeições. Sou Lorelai, a propósito.
— Sou o Hector. — A cumprimentei — É um prazer te conhecer.
— Igualmente, ainda mais que ele nunca traz ninguém para o acampamento. Nunca
mesmo, este lugar é o paraíso dele. É bom ver uma cara nova por aqui.
— Ela não está falando a verdade, ok? Está exagerando por completo. E não é que eu
nunca trouxe ninguém aqui.
— Então?
— Ninguém curte muito passar as férias aqui. Cuidando e gerenciando este lugar.
Entende? Cuidar das crianças em si. — Ele me olhou e deu um pequeno sorriso. — Você
se empolgou assim que eu falei deste lugar.
— Mais é claro, viver um “Camp Rock” não é todo dia. Têm músicas, apresentações,
aulas de dança, teatro e gincanas malucas, como alguém nega isso?
— É o que eu sempre falo…
— Fico feliz que vocês dois concordem, e ficaria mais feliz ainda se fossem almoçar. —
Lorelai me encarou quase querendo fazer algum tipo de contato mental.
— Seria uma boa, estou com fome. E você precisa me mostrar minimamente a cidade
para quando eu não aguentar mais olhar para a sua cara, Neitan.
— Entendi. — Ele riu baixinho. — Tá, vamos lá, né? Antes que eu dê mais motivo para
você me odiar.
— Impossível, eu já tenho todos os motivos do mundo para isso.
— Então, não tenho como te surpreender, que droga. — Ele brincou.
— Talvez possa dar todos os motivos para ele gostar de você. — Lorelai deu um sorriso e
saiu.
Ficamos em silêncio e completamente sem jeito pela frase dela. Não sei quais seriam os
motivos ou se teria motivos para eu gostar do Neitan, porém todo mundo o adora então, é
possível que alguma qualidade ele realmente tenha e talvez o modo que ele se importe
tanto com esse acabamento seja uma das suas qualidades.
— Posso te levar para almoçar? — Neitan quebrou o silêncio constrangedor.
— Não fale como se fosse um encontro, por favor.

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— E tudo isso não é um grande encontro?
— Que? — perguntei confuso.
Ele deixou as coisas de lado e começou a andar e eu o segui tentando entender a sua
frase sem sentido algum.
— Ué, eu o trouxe para minha casa, estamos no mesmo quarto e trabalhando juntos.
Tudo isso só para ver, nem que seja por um mísero segundo, se você me olha e pensa,
“ah, talvez ele não seja tão ruim quanto eu me lembro.”
— É sério isso?
— Claro que não! É brincadeira. — Ele sorriu. — Mas seria uma boa história de verão,
não acha? Para sua redação.
— Para minha redação… É verdade eu preciso escrever um romance de verão.
— Sim, você precisa.
— Não faço ideia de por onde começar. — Continuamos andando devagar pelo caminho
de terra.
— Eu te ajudo. Ainda mais que preciso fazer o meu e fui eu que te coloquei nessa de
romance de verão.
— E como pretende me ajudar?
— Não sei, meu plano é fazer você se apaixonar por mim nesses meses, aí eu tenho uma
história para escrever e você também. — Ele deu um sorriso de canto enquanto
chegávamos à avenida principal.
— Para de brincar, eu tô falando sério. É trabalho para faculdade.
— Ok, desculpa. Tá, eu posso, não sei... posso te levar nos lugares que são considerados
românticos, e você, não sei... observa os casais e vê se algo te inspira? Já que são
lugares bem populares nesta época do ano.
— Não é estranho? A gente ficar observando os casais?
— Não, porque vai parecer que estamos em um encontro e não que somos psicopatas
observando casais felizes para matá-los.
Não consegui disfarçar o sorriso bobo que estampou minha cara. E sem motivo qualquer,
um sorriso que começou a ser frequente ao lado do Neitan, nem sei direito o porquê. Só
sei que a ideia dele me ajudar não parecia tão ruim agora, sei que a gente meio que não
se suporta, mas ele está se mostrando muito suportável. Além de que, nem faz sentido...
o que eu tô pensando? Mudei de ideia sobre ele em um dia? Pelo amor de Deus, né
Hector? Você não tá caindo nesse papinho dele, né? Não é porque ele é todo charmoso e
está sendo todo simpático e preocupado que muda alguma coisa. Ainda é o idiota

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presunçoso que fazia bullying com as pessoas da nossa escola, com seu tom agressivo e
raiva nos olhos, ainda é o mesmo cara. Não é porque eu tô vendo ele em seu lugar de
origem, que muda algo ou pelo menos não deveria.
— Tá então, você me ajuda e é isso? Mas qual o preço? Sua ajuda nunca é de graça e
sabemos disso.
— Nossa… É claro, como eu poderia fazer algo minimamente altruísta, não é mesmo?
Quer saber, esquece, eu vou voltar a trabalhar. Tem muita coisa para fazer ainda. — Ele
parou no meio da calçada. — segue reto que é o restaurante, a sobremesa é ótima.
— Espera… — segurei seu braço, mas ele soltou rápido.
— Não, valeu. Provavelmente eu iria querer algo em troca por perder meu tempo
almoçando com você.
Ele saiu andando sem eu conseguir me explicar ou minimamente pedir desculpas por
falar algo sem pensar. Eu o vi indo embora e simplesmente não consegui fazer nada, só
ficar ali parado olhando. Sei que queria correr atrás dele e pedir desculpas, mas
sinceramente, não sei ao certo pelo que pedir desculpas, já que não era uma coisa
anormal, uma vez que ele sempre cobrava pelos seus "favores." Ainda mais que seu lema
de vida é “quase tudo tem um custo".
Eu juro que odiava como às vezes as palavras se perdiam na nossa comunicação, mas
qual é? Eu posso estar com um pé atrás.

Capitulo 12

Neitan

Parecia que a cada três passos em direção certa em relação ao Hector, ele dava uns 15
para trás. Mas qual é? Faz anos que saímos da escola, ele convive comigo todos os dias,
nunca peço nada em troca para ele. Sei que com os outros é diferente, mas com ele eu
nunca pedi nada em troca e tudo bem que não perceba que com ele é diferente, mas
poxa, eu tô aqui. Eu o trouxe para minha casa e para o meu trabalho de verão, que amo,
o trouxe para minha realidade e na primeira chance que ele tem, consegue duvidar de
mim. E o pior que do jeito que ele falou pareceu até que eu nunca fiz absolutamente nada
por ninguém sem pedir nada em troca, isso é irritante.

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Voltei para o acampamento e comecei a arrumar os dormitórios, como sempre. Era visível
na minha cara a raiva que eu estava sentindo do Hector. Era visível até demais.
— Brigou com o namorado? — um dos funcionários falou em tom de deboche.
— Ele não é meu namorado e não é da sua conta.
— Olha só, não é da minha conta? — ele me virou segurando o meu pulso. — Esqueceu
com quem está falando?
— Jorge, me larga, não vou tolerar mais nada de você.
— O boneco sabe o que você precisava fazer? Para proteger ele na escola ou nem faz
ideia?
— Cala a boca! — o empurrei, me soltando. — Não esqueça que eu coloco você no olho
da rua.
— Não esqueça que você é a cadelinha do meu irmão, então não se apega a esse idiota,
que o Naiol está voltando e você tem que pagar sua dívida. A não ser que queira que seu
namoradinho seja o pagamento. Aposto que meu irmão vai adorar.
— Cala a boca, sai da minha frente e não ouse chegar perto do Hector ou eu juro que
mato você.
— Por ele eu tenho certeza que sim… e não esqueça de ficar de olho no celular, da última
vez você quase fez merda e a gente quase foi pego.
— Eu tô falando muito sério, Jorge! Não chega perto do Hector. Nem se quer fale com ele
duas palavras, fique bem longe dele e dos meus amigos.
— Sim senhor. Faça seu último trabalho e não vai ter que se preocupar comigo nem com
o meu irmão. — Ele saiu batendo a porta forte tentando causar um efeito dramático, como
sempre.
Jorge era um dos garotos que na época da escola andavam comigo, se assim posso
dizer, na verdade eu andava com ele. Eu tinha acabado de me mudar para uma escola
nova, meus pais queriam ficar perto da faculdade do meu irmão e da minha irmã, então foi
a época que saímos do nosso pequeno paraíso para ficarmos juntos em outra cidade. Só
que eu comecei no meio do ano e fui tacado em um grupo de trabalho que era conhecido
como problemático, onde Jorge fazia parte. Claro que eu, cada vez mais, fiquei refém
daquele grupo, pois não poderia trocar, só que eles eram basicamente os valentões.
Eram agressivos, pequenos delinquentes, quando descobriram que meu pai era policial
começaram a me envolver realmente em tudo e eu sempre acabava sendo livrando, ai
que estava o problema.

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Mês após mês eu acabava me envolvendo com coisas que eu nem fazia ideia como
tinham acontecido, eram questões de invasões, assaltos, violência e engraçado que eu
nunca estava, mas o meu nome sempre surgia como sendo o problema. Quando eles
perceberam a real importância dos meus pais e de meu sobrenome, começaram a fazer
pequenos roubos em nossa cidade e causar baderna e destruição, contudo, meu nome
sempre surgia como envolvido. Até que o irmão do Jorge, o Naiol, foi preso… no dia que
meu pai foi assassinado, então depois disso, tudo meio que se acalmou.
Só que eu era esse “garoto problema” na escola onde o Hector estava, então ele ouviu
todas as mentiras e todos os problemas que me envolviam. Tudo que ele conseguia ver
era o garoto merda que roubava casas, batia nos alunos e vivia assustando os outros. Só
que chegou a época da faculdade e eu fui para na mesma que o Hector. Uma obra do
destino, como diria minha mãe, já que me apaixonei por ele a primeira vista e sempre fiz
de tudo na escola para nada nunca acontecer com ele. Não sei explicar meus
sentimentos pelo crítico e ácido Hector, mas é como se eu só precisasse muito protegê-lo
sempre. É como se tivéssemos uma ligação estranha que mesmo tentando muito não
conseguíamos nos afastar, sei que por alguma razão do destino a gente acabou na
mesma faculdade. Fazendo o mesmo curso e sendo vizinhos de casa, divididos por uma
simples parede, porque até nossos quartos são geminados.
Meus irmãos falam que esse tipo de coincidência só acontece por conta do destino e que
a ligação é tão forte que só pode ser explicada com sinais do universo ou uma coisa um
pouco mais mística. Minha irmã me falou que nós dois temos os sinais claros de pessoas
que se encontraram em vidas passadas e viveram algo incrível, com uma grande carga
emocional. Já minha mãe acredita que nós dois estamos ligados pelo fio vermelho. A
lenda chinesa, se não me engano, do fio vermelho, fala sobre destino, que no momento
do nascimento os deuses amarram um laço vermelho invisível nos tornozelos de duas
pessoas que estão predestinadas a serem almas gêmeas, não importa a diferença de
idade, o fio só pode ser ligada aquela pessoa e a ligação é inquebrável. Independente do
que aconteça, as duas pessoas estarão sempre ligadas e acabarão se encontrando.
Podem nunca viver de fato um grande amor, mas a ligação delas é inabalável, sendo
positiva ou negativa.
Enquanto eu… me perco em sua voz, seu olhar e suas histórias, mesmo que nunca tenha
entendido o que sinto por ele e como surgiu tão rápido e tão forte, não penso muito nas
possibilidades, nem nas teorias malucas da minha família, porque se somos almas

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gêmeas, rezo para ficarmos juntos e se realmente temos uma ligação de vidas passadas
eu não quero nem por um momento que nossa história não seja feliz desta vez.
— Maninhooo — Ouvi a voz da minha irmã.
— Moleque — Meu irmão falou logo em seguida e eles entraram na dispensa onde eu
tinha voltado para fazer a contagem.
— Dois, o que fazem aqui? — Olhei eles por alguns segundos. — Estão bêbados ou
perdidos?
— Eu sou dez anos mais velho que você pirralho, me respeita. Sou um homem da lei e é
uma da tarde.
— Claro, advogado Yamamoto. No que posso ser útil?
— Sabe quem é o homem mais lindo, educado, sexy e galante da cidade? Que consegue
com sua lábia coisas?
— Ai, lá vem. — Abaixei minha planilha me apoiando na parede. — O que foi?
— Grosso. — Vi respondeu. — Respeita, por favor.
— Claro. — Sorri. — Por obséquio, me diga vossa senhoria, quem?
— Bem melhor! E sou eu, consegui homens do corpo de bombeiros para o leilão, e alguns
médicos também.
— Olha só, fez seu trabalho. — Provoquei e minha irmã me bateu.
— Eu consegui as “veia” rica para participar dos lances e seis coleções raras. Tem um
carro lindo que eu sei que esse ai vai amar. Né, senhor advogado Yamamoto?
— Henrryque Yamamoto Herman ao seu dispor e aquele carro é meu, certeza.
— Sempre carros.
— Ou carro ou livros, nada melhor que isso.
— Ainda não acredito que deu um lance de dezessete mil no exemplar da primeira edição
do pequeno príncipe.
— Eu amo aquele livro e eu pagaria mais. — Meu irmão sorriu. — Nunca vai entender,
aquele exemplar é o amor da minha vida, procurei por anos, sabe disso.
— Você vai ver. — Vi me olhou. — Quando ele encontrar alguém de verdade, se
apaixonar, ele vai entregar o livro como se não fosse nada.
— Nunca, jamais. Imagina! — Meu irmão passou a mão pelo cabelo que estava bem
fixado com gel.
— Falando em livros. — Sorri. — O Juan… Meu amigo ele...
— Não. — Meu irmão me interrompeu.
— Ele ama livros.

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— Não.
— Meu Deus. — Vi bateu no Henrry. — Chega, chato. Nós viemos na verdade te chamar
para almoçar.
— Valeu, mas hoje, só jantar. Vou terminar tudo, tomar um banho aqui mesmo e dormir
bem ali. — Apontei para o alojamento dos voluntários.
— Claro que sim. Vai dormir em uma cabana velha no chão porque não quer ver o boy. —
Henrry provocou.
— Trabalho! Sabia que eu trabalho? Se me derem licença eu tenho mais o que fazer.
— Sempre, vem senhor advogado, deixa o nosso escritor favorito trabalhar. — Minha irmã
saiu puxando o terno caro do meu irmão e eles foram embora saindo do acampamento.
Voltei ao meu trabalho e continuei a organização, separando tudo. Pedi para um dos
funcionários mostrar o que o Hector tinha que fazer quando voltasse do almoço e assim
aconteceu, eu evitei ele todo o resto do dia e quando foi a hora de ir embora,
simplesmente fugi e ele foi embora com os meninos que estavam no hotel.
Mas claro que a super esperta e perceptiva Monique com seu querido companheiro
Sebastian notaram minha total intenção de não voltar para casa e não pararam de me
ligar nem por um segundo que fosse.
— Achei! — Moni berrou brotando do chão enquanto eu escrevia no relatório sentado na
escada do alojamento.
— E aí está ele. — Seba falou se aproximando.
— Jura? Foi tão difícil me achar? Eu nem estava me escondendo!
— De nós, não, do Hector, parece que sim. — Seba levantou a caixa de pizza. — Comeu
alguma coisa o dia todo?
— Só tomei suco.
— Então, comer senhor.
— Sim senhorita, obrigado por se preocuparem, eu to tão acostumado com esse primeiro
dia ser corrido que só caio na cama e durmo.
— É. — Os dois se entreolharam. — Olha… — Moni sorriu. — Foi o Hector quem
comprou, ele… pediu para que a gente trouxesse para você e tudo mais, falou que não
almoçou e que estaria cansado e faminto.
Parei por alguns segundos olhando os dois sem acreditar muito que o Hector comprou a
pizza e ainda pediu para me entregarem já que eu provavelmente ia fugir dele com toda
certeza ou não aceitar.
— Vai ficar a noite aqui? — Seba questionou.

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— Vou, eu sempre faço isso. As crianças chegam cedo e eu gosto de já estar preparado e
aqui. Não é nada com o Hector. Além de que fugi dele, mas eu sempre fico aqui,
perguntem pro meu irmão ele vai confirmar isso.
— Não se preocupa, a gente vai falar que é porque ficou bolado, aí ele amanhã vem
correndo ver você.
— Para de ser besta Seba, agora podem ir ou vai ficar tarde. A Vi não deve ter ido ainda
pra casa. — Olhei o relógio. — Se quiserem eu mando mensagem para ela esperar
vocês, ela sai em cinco minutos do trabalho.
— Perfeito. — Moni sorriu. — A gente tá indo então, e vê se come tudo em e o senhor
Hector falou que ele comprou refrigerante e que está na geladeira com seu nome.
— Ok. — Abri um enorme sorrio.
— Meu Deus é muito gamado nele. — Moni respondeu me dando um beijo na testa. —
Come, descansa e nos vemos amanhã.
— Perfeito.
— Boa noite caixinha. — Seba desejou já me chamando pelo apelido bobo que ele tinha
me dado.
— Boa noite senhor viola. — Respondi. — E boa noite amoré.
— Boa noite amoré.
Os dois deram o braço um ao outro e eu só ri dos dois brincando de cruzarem as pernas.
Peguei meu celular e avisei minha irmã que a Moni e o Seba estavam indo e
estranhamente minha irmã mandou uma figurinha de sorriso, falou que esperaria sem
problema algum. O estranho é que ela odeia esperar, ainda mais para voltar pro quarto
dela.

Capítulo 13
Hector

Eu tinha sido um idiota, não sei nem por onde começar, tinha sido um completo escroto
em tudo até agora. Ele estava sendo incrível como eu sempre ouvi nossos amigos falando
que ele era. Porém, no primeiro segundo em que me deixei levar e comecei a abaixar
minha guarda, logo em seguida minha autodefesa me fez voltar a ser um idiota e não fui
pouco idiota, to sendo a todo momento um grande babaca. Depois que ele me evitou o
resto do dia e nem se quer voltou para dormir, usando a desculpa de que preferiria ficar

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no acampamento, eu comprei a pizza favorita do Neitan e pedi para a Moni entregar. Sei
que se fosse eu a entregar, ele nunca aceitaria, então eu achei outra solução.
Assim que cheguei, nós jantamos e em seguida, todos fomos para nossos quartos, me
senti um completo estranho, era esquisito dormir na cama sem ele e estar ali sozinho.
Então fiz a única coisa sensata, chamei Monique para dormir comigo e claro, que ela veio,
como sempre.
— O boy te larga e você me liga? — Ela falou da porta com seu pijama de fantasma.
— É estranho, aqui tem o cheiro dele, eu não consegui nem…
— Nem? — Ela fechou a porta, vindo para cama.
— Este lado é o dele. — Respondi parando de abraçar seu travesseiro. — É o travesseiro
dele, e ah… Se sabe, eu to me sentindo mal eu acho.
— Sentindo mal? — Ela me pulou deitando do meu lado na cama. — Tá com o
travesseiro dele, do lado da cama que é dele, não sei se sentindo mal é a termo certo
para o que tá rolando.
— Não tô gostando dele.
— Então, essa blusa que tá vestindo não é dele? E não tá abraçado no travesseiro por
que tem o cheiro dele?
— Nossa, que sono que meu deu agora. — Sorri. — Dormir? Amanhã eu acordo cedo.
— Claro que sim, homenssss!
— Ei?
— O que, vocês homens, me cansam, sabia? Diálogo nunca existe, e ficam nessa de “ai
ele isso, ai eu aquilo”. Nossa, vocês sabem que um gosta do outro, então parem com
essa palhaçada, ok?
— Falou a garota que trouxe o Rome só para ter uma chance de chamar atenção dele.
— É… Tem razão, hora de dormir. — Ela virou desligando o abajur sem nem falar "boa
noite".
A Moni estava agindo estranho, não sei por que exatamente, mas na hora do almoço
quando o Rome sentou com o Seba ela nem se quer se importou, como se ele nem
estivesse ali. Ela foi completamente indiferente, sendo que eu já a vi literalmente arrastá-
lo para treinos de ballet, só para ele a ver dançar.

Acordei, claro que antes da Moni e fui me arrumar. O pior é que quando acordei eu sabia
que ele não estava do meu lado, mesmo que isso só tenha acontecido uma vez. Acordei

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sabendo que não era o Neitan e isso me deixou um pouco bolado, até mesmo na hora do
café quando a Jenete puxou assunto comigo, foi mais silencioso e sem o implicante para
falar sobre meu café ou perguntar se eu sentia algum gosto além do doce do açúcar. Até
mesmo quando quem me levou para a cidade foi a Violeta, eu fiquei um pouco chateado.
Mas assim que passei pelo portão do acampamento o sorriso no meu rosto apareceu,
quando eu fui ouvindo toda aquela gritaria das crianças que tinham de uns nove há, no
máximo, treze anos, pulando e se jogando em cima do Neitan que pedia socorro para um
garotinho que tentava puxar ele debaixo de todo aquele monte. Não sabia ao certo como
disfarçar o sorriso, mas eu sabia que aquela cena aqueceu meu coração de mil maneiras
diferentes, com toda certeza.
— Você esta sorrindo. — Lorelai falou atrás de mim me dando um mega susto.
— Não faz isso. — Falei quase sem fôlego.
— Gosta dele, do caçula Harman?
— Quê?
— O modo que esta olhando ele, é bem único.
— Só achei fofo, nada de mais. É que eu nunca o vi assim, ainda mais com crianças.
— Acho que por isso ele te trouxe aqui, para você ver como ele realmente é. E de
verdade é natal, tudo tá sendo preparado para a festa mais linda do ano, onde o amor
está no ar, então, porque não da uma chance?
— É…
— Sabe as meninas super poderosas? O desenho?
— Sim, eu sei.
— Henrry é a Docinho, Violeta a florzinho e ele a lindinha. O Henrry é a força, o sério,
sempre sem sorrir, a Vi, é a liderança e o poder. Já o Neitan é o carisma, simpatia e o ser
mais meigo e gentil. Eles têm uma tatuagem escrito Docinho, florzinha e lindinha. Talvez
um dia veja.
— Ele tem mais uma tatuagem? Eu acho que… — Olhei para ela entendendo onde
provavelmente estava. — Ok entendi… eu… é nunca vi…
— Mas vai. — Ela sorriu. — Agora se me der licença eu preciso botar ordem na bagunça
ou se não, será só bagunça.
— Ok.
Ela foi em direção a um dos monitores pegando o alto-falante e dando as boas-vindas ao
acampamento, pedindo para elas não matarem o Neitan e o libertarem por alguns
instantes enquanto eles iam sendo separados em quartos e tudo mais. Claro que depois

54
de muita bagunça as crianças foram saindo de cima do cara que eu juro que não
reconhecia e ele levantou saindo do chão e me vendo ainda parado no mesmo lugar.
Algumas crianças me olharam e como crianças não são nada discretas, começaram a
cochichar nos escarrando e Neitan veio por fim em minha direção.
— Bom dia Hector.
— Bom dia Neitan… Eu…
— É… Desculpa pelas crianças, eu falei que teríamos um monitor novo que era da minha
faculdade e eles meio que… Acharam que você é meu namorado, por isso está aqui.
— Ah, por isso os olhares e as fofocas.
— Desculpa, é que sabe como são crianças, elas são criativas. — Seu sorriso sem graça
não saia de seus lábios.
— Não tem problema algum. Mas eu preciso saber o que fazer exatamente, sei que sou
seu assistente, só que não sei o que fazer.
— Minha mãe colocou você como meu assistente? E não monitor?
— Foi. — Peguei o crachá do bolso mostrando para ele. — Acho que estou a sua
disposição.
— Ok, então. Vem, vamos para o posto geral.
Segui Naitan para uma das cabanas onde tinha um monte de monitores mostrando as
câmeras e tudo mais. Vários equipamentos de seguranças, caixa de primeiro socorros e
muito mais. Ele foi até o armário tirando um colete escrito apoio como o que ele usava,
junto um apito, a planilha de cronograma e uma lista com o nome de cada criança e
informações, como alergias, problemas e coisas do tipo.
— Pouca coisa, né?
— É, eu teria te dado ontem, mas achei que estava como monitor não apoio. Ser monitor
é mais fácil, se quiser eu posso mudar.
— Não precisa, relaxa.
— Tá bom, a lista é para você ter uma ideia das crianças, sempre tem a foto delas e
qualquer coisa que elas tenham como alergia a comidas, insetos, se são asmáticos ou
algo assim. — Ele se aproximou me mostrando a lista. — Cuidado, temos duas crianças
asmáticas e três com alergia a abelhas, uma que quase não come nada e três que tem
ansiedade, então preste muita atenção. — Ele virou a página. — São estas com o risco
verde embaixo, os monitores sabem de tudo e sabem como cuidar, mas às vezes elas
fogem do grupo, então sempre ligado no rádio. — Neitan pegou o rádio que estava na
gaveta colocando na minha cintura e pegando o fone colocando no meu ouvido.

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Ele parou por alguns segundos fitando meus olhos e eu fiz o mesmo, conseguia sentir o
calor do seu hálito de café. Meu coração quase explodiu com ele tão perto de mim
daquele modo e eu juro que se ele avançasse mais um centímetro que fosse, eu o beijaria
sem pensar duas vezes.

—P1, temos um 007 e um 008, apoio, por favor. — A voz masculina no rádio soou nos
fazendo voltar atenção a nossa proximidade.
— Gêmeos idênticos é complicado, não tinha no relatório. — Lorelai respondeu. —
P1, verifique se foi passada essa informação e se tem diferença de saúde entre eles.
— É comigo… — Ele se afastou fitando o chão por alguns segundos.
— Imaginei ser o P1. — Dei dois passos para trás.
—P1? Alguma restrição?
— Negativo. — Ele falou olhando a tela que estava aberto nos arquivos. — Sem
problemas de saúde relatado para nenhum dos irmãos. — Foi solicitado só que
mantivessem eles separados para construírem relação com outras crianças.
— Copiado P1, cabana seis e cabana catorze.
— Ok, P6. P14, verifica a altura dos dois por favor, vamos diferenciar eles assim.
— Ok P1 — uma moça respondeu.
Ver ele tão sério, e tão adulto foi bom. Eu sei que ele sempre foi responsável na faculdade
e tudo mais, porém ele era o organizador, e o apoio do acampamento e sabia muito bem
o que estava fazendo, sei que faz quatro anos que ele trabalha com isso, mas é incrível
ver esse lado dele.
— Então... — Suspirei.
— Fazemos rondas, a cada duas horas, observamos tudo, em todos os cantos e voltamos
para cá qualquer coisa. Sempre nos comunicando. Se quiser falar diretamente comigo e
só comigo ou com algum membro em específico é só por na frequência dessa pessoa. A
minha é a 1, logicamente, e assim por diante.
— E eu sou?
— Está com o P2, até o quatro é apoio. A P4 é a Lorelai. P3, Caia, é segurança aqui.
Você tem pausas e aí só deixar o rádio aqui em cima com o colete e o apito e tudo bem.
Eu nunca paro, então sempre estarei com o rádio ligado. A comunicação só funciona se o
botão estiver pressionado. Então, cuidado com o que fala com o botão pressionado.
— Sim senhor.

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— Ótimo, eu vou verificar todos os quartos e todos os monitores e pegar os relatórios
iniciais. Você pode começar sua hora aqui vendo as câmeras entendendo basicamente o
lugar das filmagens ou começar a ronda.
— Eu vou ficar um pouco aqui, sabe como sou perdido, então... eu ficou aqui, vou
entendendo o mapa e tudo mais.
— Ok, então sempre de fone e qualquer problema só falar no rádio. As câmeras estão
numeradas, se vir algum problema perto de alguma delas, só falar problema avistado na
câmera tal.
— Tá bom.
— Então, boa sorte. — Ele me deu um beijo na bochecha, saindo rápido pela porta já
falando com algumas crianças que estavam correndo.
Nem sei se ele percebeu que tinha beijado meu rosto, mas tudo bem. Eu me sentei numa
cadeira mega confortável e fiquei observando tudo enquanto ia lendo as fichas sobre as
crianças. Meus olhos dividiram a atenção entre as mais de trinta câmeras e os papéis. Por
sorte, eu ainda recebi meu almoço sem nem ter que sair do meu posto e me alimentei
muito bem. Em uma das olhadas para a câmera vi Neitan ajoelhado a frente de uma
menininha que não parava de chorar, porque tinha caído no chão. Ele tentava acalmar ela
de um modo tão fofo e carinhoso que fez meu coração ficar quentinho. Neitan sentou no
chão colocando ela sobre uma de suas pernas e limpou com a mão o joelho da garotinha.
O modo que ele conversava era perfeito.
Por fim, ela levantou já parando de chorar e saiu correndo em direção as outras crianças
que brincavam em uma gincana. Foi quando eu olhei para o rádio e coloquei no canal
dele.
— Você foi fofo, P1. — O vi sorrindo, levantando, limpando sua calça preta e pegando o
rádio que estava preso em sua cintura, provavelmente colocando no meu canal.
— Me observando P2?
— Só olhando as câmeras.
— Sei… Pareceu estar me observando.
— Convencido, eu a vi caindo, ia te avisar, mas você foi mais rápido e eu só queria
saber se ela estava bem.
— Sei, e ela está sim. Se é sua preocupação.
— É minha preocupação sim.
— Ok, aceito. Você almoçou?
— Sim, eu almocei, diferente de você que nem parou ainda.

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— Eu falei que está me observando.
— Você é convencido de mais senhor… — Parei observando uma das câmeras onde
notei uma sombra estranha perto da parte do lago.
— Senhor?
— Neitan, câmera 46.
— Liga o rádio geral. — Ele ordenou e eu abri o canal.
— Avistado, câmera 46, parece ter a sombra de duas crianças tentando evitar a
câmera.
— P2, eu to perto da câmera 46, to indo checar. — escutei a voz da P3 pelo rádio.
— Ótimo trabalho, Hector. Agora voltando para o rádio fechado. — Neitan começou e
eu mudei o rádio. — Eu acho que está reparando em mim.
— Não, eu não estou. Estou reparando nas câmeras.
— Tá bom senhor, finjo que acredito, agora deixa eu voltar ao trabalho. Vou indo em
direção a câmera 33 se quiser seguir me observando.
Ele era tão convencido, que eu juro que quase o mandei a merda, mas tudo bem eu que
não ia falar isso pro meu chefe, vai que ele me mandava lavar o banheiro. Mas o mais
importante que o resto do dia foi tranquilo, depois que checaram e viram dois pirralhos
tentando chegar à água para nadar. Eu redobrei a atenção nas telas. Claro que depois de
um dia todo em frente as câmera eu fui rendido pelo Neitan que ia passar a noite ali.
Mesmo que eu tenha falado que ele não ia aguentar porque nem comer ele tinha comido,
um dos rapazes que era voluntário falou que assumiria as câmeras e que ele poderia ir
dormir, mas claro que o senhor preocupado falou que ia descansar ali mesmo. E como
tirá-lo do acampamento seria meio complicado, resolvi providenciar o jantar para garantir
que ele, ao menos, comeria.

Capitulo 14

Neitan

Para mim, os três primeiros dias sempre são os piores, porque como são muitas crianças
é complicado ficar de olho em tudo e conseguir controlar. Mas como toda a equipe estava
sabendo lidar bem com as novas crianças, a gente estava já se acostumando. Ninguém
mais tentou fugir para o lago nem nada assim. E claro que com as coisas seguindo

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normalmente eu iria finalmente voltar para minha linda e bela casa e dormir pela primeira
vez na minha deliciosa cama, na companhia do senhor preocupado que toda noite levava
meu jantar e saia me procurando pelo acampamento para me fazer almoçar. Mas claro
que hoje, logo hoje, tivemos um pequeno desentendimento como sempre e ele foi
almoçar fora do acampamento. Já que, logicamente nós dois vivíamos em um constante
equilíbrio, se tá tudo indo bem alguma coisa vai acontecer para a gente brigar. E a da vez
dói, pois estou exausto e não parei ainda. Parece bobagem, eu sei, brigar porque ele ta
preocupado comigo, mas essa foi a pauta da discussão mais idiota do mundo.
— Seu idiota. — Violeta abriu a porta com tudo me assustando. — Não acredito que o
Hector está aqui, e eu sou a última a saber, como assim? Meu cunhadinho está aqui? —
Minha irmã perguntou olhando por todo a cabana.
— Não. — Respondi terminando a última cama. — Ele tá almoçando, e nós tivemos um
pequeno desentendimento.
— Idiota. — Ela me socou e se jogou na cama que eu tinha acabado de arrumar. —
Porque estão brigando, achei que o plano era fazer ele se aproximar.
— Obrigado por bagunçar a cama. E eu sei qual era a ideia, mas eu não sei o que fazer
perto dele, não posso falar que gosto dele, nem avançar muito. Sabe disso, eu preciso ir
devagar, porque eu sou apaixonado pelo Hector há anos. Porém, não sei o que fazer.
— Mas… — Antes que ela falasse alguma coisa escutamos um barulho do lado de fora
da cabana. — Ele está mesmo no restaurante? — Ela levantou rápido.
— Sim. — Olhei para ela em pânico que abriu a porta rápido e não viu ninguém.
Ela procurou por todos os cantos e não viu ninguém, eu saí também e fiquei olhando por
alguns segundos pro lado de fora, rezando para não ser ele escutando pela janela.
Olhamos ao redor e como não vimos ninguém voltamos para dentro da cabana.
— Ok, provavelmente algum pássaro. — Ela sorriu.
— É, mas você sabe, a gente brigou porque ele tava preocupado comigo e falou que eu
não tava descansando.
— É serio que foi por algo tão idiota?
— Pior que foi, e eu tô aqui esperando ele voltar para pedir desculpa. Sabe como eu sou,
eu nem fui para o lago com as crianças, só to aqui arrumando como sempre, pensando
como pedir desculpas.
— Que tal ir atrás dele e falar que ele tem razão?
— Não mesmo, falar que ele tem razão é a pior coisa que eu poderia fazer. — Me joguei
na cama que minha irmã já tinha bagunçado. — Por que gostar dele é tão complicado?

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— É por isso que eu gosto de mulheres.
— Acho que seria mais fácil, do que gostar de um ser tão… Nem eu sei…
— Senhor, se permita que eu diga. Você só precisa beijar ele para isso tudo mudar.
— Não tenho coragem. Eu tive um sonho onde nós dois estávamos deitados na minha
cama e eu o beijei, foi tão surreal. Não sei, foi estranho ele não recuar, sabe?
— Homens. — Ela levantou rápido. — Para de ficar nessa, pelo amor de Deus, faz anos
que tem esse medo. Então ou avança ou se afasta.
— Moni sempre me fala isso.
— É… — Minha irmã segurou todo o ar enchendo as bochechas e segurando.
— Por que ficou assim?
— Assim como? — Ela soltou o ar me encarando.
— Gosta da Monique, não é? Aí Violeta é sério? Conhece as regras. Eu mataria você e o
Henrry ainda ajudaria a me livrar do seu corpo.
— Eu não estou gostando da sua amiga, só tenho um fraco para ruivas com sorriso bonito
e eu como uma bela japonesa, gosto da diversidade. Só isso.
— Corto seu cabelo mocinha.
— E eu corto seu pau se continuar enrolando com meu cunhadinho.
— Calada. — Taquei o travesseiro nela. — Ele não é seu cunhado, agora me deixa voltar
a trabalhar e vá lá pro hotel fazenda que hoje sei que é seu dia de trabalhar lá.
— Com prazer.
— Ah, notou o Henrry estranho?
— Desde quando o Henrry não é estranho?
— Não sei, para mim ele tá estranho, mas ele não me falou nada, achei que podia ter
conversado com você.
— A gente não conversou não, no máximo ele mandou mensagem para me irritar. Mas só
isso.
— Deve ser neura minha. — Ela sorriu me mandando um beijo. — Até a noite.
— Até.
A vi saindo e arrumei a cama que tínhamos bagunçado, fui para fora, sentei na escadinha
e mandei mensagem pro meu irmão. Sei lá, era estranho, porque quando a Vi percebe
algo, normalmente é real, ainda mais que ela sempre nota o Henrry estranho. Mas
qualquer coisa eu conversava com ele quando chegasse hoje, porque é meio suspeito ele
estranho, só se ele se incomodou com alguma coisa que meus amigos fizeram ou
falaram.

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Mas assim que ele respondeu estar tudo normal, abri o celular e mandei mensagem para
minha irmã falando que ele estava mesmo estranho e que depois falava com ele. E claro,
reforcei que ela não poderia quebrar as regras se aproximando da Moni, que era
basicamente minha melhor amiga.

Capítulo 15

Hector

Brigar com o Neitan nunca foi um problema realmente, agora, me sentir mal ao ponto de
eu me sentir culpado e ir comprar comida e voltar para almoçar com ele para fazer as
pazes, isso era o problema. Mas qual é? Eu sabia que ele não iria comer, então,
minimamente o que eu poderia fazer era me redimir, comprar comida para nós dois.
— Aqui está. — A atendente me entregou a sacola com a comida.
— Muito obrigado e bom trabalho.
Peguei a sacola de comida e as de refrigerante, voltei andando para o acampamento
tentando lembrar, exatamente, qual era a próxima cabana dele de trabalho.
Entrei pelo caminho de terra e vi o pessoal conversando, comendo no sol, passei por eles
e fui até a única cabana que estava sem ninguém na porta, provavelmente o idiota estava
lá trabalhando sem parar e com fome.
— Porque estão brigando, achei que o plano era fazer ele se aproximar? — Ouvi uma voz
feminina soar de dentro da cabana, então parei ao lado da janela.
— Obrigado por bagunçar a cama. — A voz do Neitan ecoou em alto e bom som. — E eu
sei qual era a ideia, mas eu não sei o que fazer perto dele, não posso falar que gosto
dele, nem avançar muito. Sabe disso, eu preciso ir devagar, porque eu sou apaixonado
pelo Hector há anos. Porém, não sei o que fazer.
Afastei-me rápido da janela tropeçando na pedra ao meu lado e batendo na lateral do
chalé, fazendo barulho. Entrei em pânico e saí correndo sem olhar para trás entrando no
banheiro que ficava atrás do chalé, me escondendo dentro de um dos biombos.
Meu coração estava saindo pela boca, o ar não chegava ao meu peito e por alguns
segundos eu fiquei completamente desnorteado. Era como se o mundo inteiro estivesse
em câmera lenta só esperando minha reação. Neitan acabou de falar em alto e bom som,
com todas as letras que é apaixonado por mim, eu nem ao menos sabia que ele era gay,

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imagina que ele poderia sentir algo por mim. E que a viagem faz parte de um plano para a
gente se aproximar. Como assim faz anos, ai meu Deus! Há quanto tempo ele é
apaixonado por mim? E como eu finjo que não sei de nada? Porque com toda certeza eu
vou entregar muito que eu sei que ele sente algo por mim e o clima vai ficar estranho uma
vez que eu nunca pensei nele assim. Tudo bem que às vezes eu me pego analisando ele
ou até mesmo apreciando ele, porém claramente, por conta do seu belo corpo. Nada além
disso.
Sei que me esconder no banheiro não é a melhor solução, mas eu preciso só de um
tempinho para conseguir respirar. Pois de algum jeito eu preciso fazer isso mudar rápido,
ele não pode gostar de mim, muito menos ficar esperando e torcendo para que nós
fiquemos juntos, já que isso nunca vai acontecer. Eu preciso de algum jeito ajudar ele a
ficar com alguém, e nessas férias de preferência, não sei como exatamente, mas ele
precisa desencanar de mim.
Saí do banheiro olhando para todos os lados vendo se não tinha ninguém, principalmente
o Neitan. Assim que percebi que estava tudo seguro, voltei para a avenida principal e
comecei a perguntar sobre o hotel, já que provavelmente o Juan e o Yanmed estariam lá,
na recepção ou algo assim. Só precisava muito conversar com meus amigos, sei que eles
são amigos do Neitan também, mas eles entenderiam, eu acho. Entrei no hall enorme do
hotel e Yanmed com aquela cara típica dele, sem expressar emoções, me encarou sem
qualquer surpresa.
Seus traços do oriente médio combinavam perfeitamente com sua falta de expressão.
Normalmente ele sempre sabia de tudo e era cheio de opinião, porém sempre com uma
cara séria.
— Sério, já quer mudar de emprego ou veio reclamar do Neitan?
— Neitan é apaixonado por mim há anos, sei que eu não deveria ter ouvido, mas ele não
pode... e eu fugi quando ouvi atrás da porta!
— Tá bom. — Ele olhou para a moça do lado dele. — Tá na hora do meu almoço, né? Eu
já volto. Meu amigo trouxe o almoço.
— Sem problema, se quiser chamar o Juan também, podem usar a ala dos fundos para
comer. — A atendente sorriu.
— Obrigado. — Ele passou pelo balcão me olhando. — Eu volto rápido. — Ele saiu me
puxando pelo braço, olhando para todos os lados e assim que bateu os olhos no Juan,
que estava organizando as malas, ele o chamou com as mãos. E nós três fomos para a
área de trás do hotel, que tinha o mesmo estilo sofisticado praiano. — Explica tudo direito,

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não esquece que todo mundo nessa cidade sabe quem ele é então fala baixo ou muda o
nome.
— O que tá acontecendo? — Juan perguntou sem entender nada.
— Neitan é apaixonado por mim. — Falei baixinho.
— Ok. — Eles se sentaram à minha volta. — Como sabe? — Juan perguntou.
— Vou chamá-lo de Natalia, ok?
— Ok.
— Eu e a Natalia brigamos, como sempre. Uma discussão boba e eu… — Encostei-me à
parede, deslizando meu corpo até o chão me encolhendo. — Estávamos indo almoçar e
na pequena discussão ele foi embora voltando pro acampamento.
— Ela… — Juan corrigiu vendo um dos rapazes da cozinha entrar.
— Ela… aí eu me senti mal, comprei comida para a gente comer juntos e voltei, acabei
ouvindo ela conversando com alguém, falando o que sentia por mim e que é apaixonada
por mim há anos…
— Nossa, eu não esperava. — Yanmend se sentou ao meu lado. — Mas qual o
problema? Você já me falou que era afim dele na escola.
— Dela. — Juan corrigiu. — E como assim, gostava dela?
— Foi… É que… — Respirei fundo soltando completamente o ar. — Me apaixonei por ele
assim que o vi, sabe…? Amor à primeira vista, não sei explicar, quando o vi na escola
meu coração parecia ter encontrado alguém que não via há anos. Sei que tinha sido a
primeira vez, mas foi estranho.
— Ok. — Juan sentou ao meu lado no chão também. — E o que rolou? Porque,
claramente vocês parecem se odiar e o sentimento sumiu.
— Depois de duas ou três semanas ele começou a mostrar quem era, seu modo
arrogante e agressivo.
— O Neitan? O nosso Neitan?
— Natalia… — Yanmend falou corrigindo o Juan.
— Tá, a nossa Natalia?
— É.
Um grande flashback veio à minha mente. Todas as brigas que ele começou a se
envolver, as discussões, a rebeldia e ainda por cima o bullying que ele fazia. Todas às
vezes que ele parou na coordenação com os amigos idiotas, por coisas que nem deveria
ser cogitado acontecer em uma escola.
— E aí? — Os dois perguntaram juntos.

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— Eu era um nerd, meu medo era visível. Ele fazia bullying com todos os nerds, colocava
em cestos de lixo. Roubava fones, quebrava óculos, ameaçava pelo dever de casa. Essas
coisas.
— Nossa! Tá. Espera, parece muito surreal. — Yanmend falou pegando a sacola de
comida que eu tinha até esquecido que tinha trazido. — Pode continuar, só vou comer
porque, né? Preciso mesmo almoçar.
— Verdade. — Juan pegou a outra comida e os dois começaram a comer. — Agora
continua.
— Eu gostava dele, mas não dava, entendeu? O monstro que ele se tornou, mudou tudo.
E quando eu acabei na coordenação por tentar separar uma briga, meus pais foram
chamados.
— Ai merda. Med, você não tem noção como os pais do Hector são sérios. Eles são
perfeitos, mas são tão super protetores.
— Sim, e quando eles souberam o que rolou... — Parei e olhei para o teto lembrando da
cara da minha mãe naquele dia. — Eles não brigaram comigo por defender meus amigos,
mas pela raiva dos meninos… Ela me fez prometer que nunca chegaria perto de pessoas
como o Neitan e os amigos. Foi quando eu me afastei totalmente.
— E foi quando criou o ranço por ele.
— Eles bateram tanto em um dos meus amigos por errar na prova que ele ficou duas
semanas no hospital. Comecei a só sentir um grande ódio e desprezo. Aí algo aconteceu
nas últimas semanas que tudo mudou. Não tudo, na verdade, ele só se afastou de tudo e
todos.
— Foi quando o pai dele morreu. — Juan respondeu. — Ele me contou sobre a morte do
pai. Neitan falou que o mundo inteiro parecia diferente e que ele se fechou muito até
entrar na faculdade.
Na época eu não fazia ideia porque a mudança dele, ninguém falava e nem mesmo ele.
Só tinha mudado da água pro vinho, parou de andar com os amigos e de fazer coisas
idiotas. Ele se fechou muito, mas não era como se tivesse virado o protetor das pessoas,
não. O Neitan não se envolvia em brigas, mas também não separava nem ajudava, ele
dava as costas e seguia em frente.
— Quando a gente se cruzou na casa, meus pais vieram comigo e minha mãe quis me
mudar de cidade na mesma hora. Demorei muito para convencer que iria ficar bem, e que
eu não poderia fugir, precisava enfrentar.
— Porém?

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— Porém, eu prometi ficar longe dele. Não me envolver e manter distância, mesmo que
eu tenha percebido a diferença, prometi que não iria me meter e me envolver com ele, em
qualquer sentido!
— Mas gosta dele?
— Não. Eu acho que não. Tipo, eu não posso ser cínico e falar que não reparei nele,
porém, para mim ele só é um cara sexy, nada além disso.
Juan pegou o refrigerante com os copos e me entregou. Ele nos serviu e ficou me
encarando em silêncio por alguns segundos. Dava para ver a fumaça saindo da sua
cabeça.
— Ok, então o que quer fazer? Porque você não vai ser um cretino com ele.
— Queria que ele parasse de gostar de mim, tipo se apaixonasse por outra pessoa. Eu
não quero machucar ele, mas não vai rolar nada entre nós e seria melhor se ele
desencanasse de mim.
— Nobre. — Yanmed respondeu rápido. — Mas idiota, como vai fazer ele se apaixonar
por outra pessoa? Você mesmo falou que ele disse ser apaixonado por você há anos.
Então, porque você só não dá uma chance para ele?
— Porque ele pode ter mudado. Mas o que ele fez ainda aconteceu, não dá para ignorar.
Eu vivenciei aquilo, não dá para deixar tudo de lado por um sentimento idiota. As ações
dele ainda causam muita dor para muita gente.
— E nunca vai perdoá-lo por ser um adolescente idiota?
— Nunca tive motivos para perdoar. Mas mesmo que eu tivesse... e meus pais? Vou
entrar em algo sabendo que vai dar merda? Sabendo que eu vou sofrer, porque meus
pais nunca vão aceitar!
— Seus pais podem mudar de ideia. — Juan respondeu.
— Podem? Gente, meus pais nunca tiveram problema com minha sexualidade, eles me
aceitam e sempre me apoiaram e eu vou estragar tudo quebrando o único pedido deles?
— E se acontecer?
— Não vai, não pode e não vai. Eu não vou me apaixonar por ele, e preciso da ajuda de
vocês para ele se apaixonar por outra pessoa. Qualquer outra pessoa do mundo.
— Tá bom. — Yanmed colocou as coisas de lado e levantou do chão. — A gente te ajuda,
mas tem uma condição.
— Qual?

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— Se por um acaso, você se apaixonar por ele e eu aposto que vai rolar, você vai contar
para ele tudo. Desde os seus sentimentos, até mesmo essa ideia idiota e o que rola com
seus pais.
— Tá bom. Sei que não vou me apaixonar, então para mim ta ok.

Sei que a ideia podia ser idiota e o modo da gente conseguir fazer isso seria complicado,
mas era meio que o certo a se fazer. E não era como se eu fosse me apaixonar no
processo, eu sempre soube controlar meus sentimentos, ainda mais depois de tudo e de
todos os meus relacionamentos.

Capitulo 16

Neitan

Eu tinha finalizado todas as tarefas daquele dia e deixando tudo pronto e organizado para
quem ficasse com o turno da noite. O Hector acabou não voltando, pois cruzou com os
meninos no restaurante e eles pediram ajuda no hotel. Também estavam correndo com
os preparativos para receber todos que iriam chegar no final de semana, então nem me
importei muito.
Porém, antes mesmo de eu conseguir entrar no meu quarto, fui arrastado pelo Juan até o
quarto dele sem nenhuma explicação se quer. E me deparei com a Monique detonando
um pote de sorvete.
— Precisamos conversar muito. — Juan respondeu fechando a porta. — Moni, já manda
mensagem pro Med e fala para ele tirar o pássaro da gaiola.
— Sim senhor. — Ela respondeu em um tom de brincadeira, parando de tomar sorvete.
— Vocês estão estranhos, o que está acontecendo e quem é o pássaro?
— Senta. — Monique me puxou. — Sabe quando você me contou a verdade dos seus
sentimentos e eu falei que iria te ajudar e você brigou comigo por eu envolver o Juan?
— Desenvolva.
— Fala para ele o que aconteceu.
— Então. — Juan parou na minha frente e puxou a cadeira. — Hector sabe que é
apaixonado por ele.

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— Que!? — Levantei em pânico e comecei a andar de um lado pro outro desesperado. —
Impossível. Como assim?
— Ele ouviu hoje.
— Merda, o barulho. — parei olhando para os dois. — Preciso falar com ele, não sei...
explicar.
— Não, me escuta, não pode. — Moni levantou e parou a minha frente. — Olha, ele quer
fazer você se apaixonar por outra pessoa, para você deixar de gostar dele.
— Que ideia mais estúpida!
— Sim, porém, ele não quer ser um babaca, nem um escroto e brincar com seus
sentimentos. Então, é um bom sinal, ele se importa. E já que você sabe, facilita. — Juan
começou a explicar. — Olha, você é apaixonado por ele, então vamos fazer ele se
apaixonar por você enquanto ele te “ajuda”.
— Tipo, estão tentando mesmo construir um clichê aqui? É sério? Vocês falaram com o
Lucca, não foi? Porque para pensarem nisso, só os meninos dos clichês junto com o rei
dos clichês que é o namorado dele. Consigo ouvir a voz do Dominick falando dessa ideia.
— Você quer ser romancista, não é? Então, essa é a história de vocês, desenvolve o
enredo.
— Qual o plano?
— A minha ideia. — Monique começou prendendo o cabelo. — É escolher uma vítima, sei
lá, um amigo seu ou amiga, que possa nos ajudar. Vamos falar para o Hector que é com
essa pessoa que você pode esquecer ele. E aí, ele vai tentar te ajudar com essa pessoa.
— Muito idiota, mas continua.
— Sei lá, você começa a pedir conselho, ou dicas para ele, envolve o Hector nisso. Deixa
ele por perto e o faça te conhecer como a gente conhece, o faça esquecer a época da
escola.
Olhei para os dois por alguns segundo analisando a ideia idiota da Monique. Pensando
nos prós e contras, entendo que o plano poderia funcionar ou dar muito errado, essa era a
pior parte, pois se desse muito errado, poderíamos sair muito machucados dessa história.
— Ter um plano em cima de um plano é idiota. Eu posso só falar com ele e contar a
verdade, sei lá.
— Se contar a verdade, o que muda?
— De verdade, Moni, não sei. Eu juro que não sei, eu poderia só… — Antes que eu
pudesse terminar, ouvi o barulho da chuva. — Está chovendo?
— Sim, ué… Continua.

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— Cadê eles? Para onde eles foram?
— Quê? — Moni perguntou confusa.
— O Hector, para onde ele foi com o Yanmed?
— Eles foram para a cidade.
— Merda. — Saí correndo sem falar mais nada.
Assim que escutei o barulho do trovão, desci as escadas correndo e fui direto para fora,
esbarrando no Rome, Carlos e Denis. Que me seguraram antes que chegasse ao chão.
— Cara, o que foi?
— A chuva. Viram o Hector?
— Saiu com o Yanmed.— Denis arregalou os olhos.— Merda, a chuva. Gente a chuva, o
Hector tá no barco na chuva.
— Caralho! — Carlos e eu saímos correndo enquanto Denis pegava o celular para ligar.
— Quanto tempo eles demoram para chegar ao outro lado de barco?
— 10 minutos. — parei no deck sem ver os dois nem o pequeno barco que o Yanmed
sabia pilotar.
— Tá. Vamos com o barco da sua mãe. — Ele me puxou e eu parei.
— Espera, a Violeta. Ela está na costa.
Peguei o celular do bolso e liguei desesperado enquanto o Carlos ia em direção ao barco
da minha mãe. Eu comecei a rezar a cada toque para ela atender e me falar que o barco
estava na doca, já que era onde ela trabalhava no período da noite.

— Oi. — Ela falou ao atender.
— O barco, o nosso, o meu. Ele está aí? O Yanmed, e o Hector, eles chegaram à costa?
— Não maninho. Eles saíram antes da chuva, já devem estar aí.
— Sim, eles saíram agora daqui voltando para aí, Vi. Dá o alerta agora, eu vou atrás
deles com o barco da mamãe.
— Não saia.
— Violeta eu vou atrás do Hector, dá o alerta, antes que eles cheguem a mar aberto.
— Ok.

Desliguei e entrei no barco que já estava ligado. Não bastava estar chovendo, eles ainda
tinham que estar no barco pequeno sem força que em chuva é igual a um galho de
arvore, só boia. E para piorar o Hector morre de medo de noite com chuva, mesmo que

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ele não esteja na estrada, tá no meio do mar, indo para mar aberto em um barco que não
vai aguentar.

Capitulo 17
Hector

O Yanmed pediu para eu acompanhá-lo à cidade, queria beber no bar, mas sem todos os
nossos amigos, ainda mais que ele tinha cruzado com a irmã do Neitan e tinha
basicamente gamado. Mas o estranho é que eu tinha certeza de tê-la visto na costa, mas
não vi o barco dela na ilha, então fiquei na duvida, como ele a viu? Porém, não iria
discutir. Se o Neitan descobrisse, provavelmente meu querido amigo estaria morto,
porque, de verdade, a gente nunca a viu. Ele sempre foi super protetor, tipo aquele irmão
urso, então meio que se o Yanmed falasse ele estaria morto, ainda mais que viu ela
tirando a roupa.
— Sabe mesmo pilotar esse negócio? — Falei olhando para o minúsculo barco à minha
frente.
— Relaxa, eu tive uma grande aula. A Jenete me falou e mostrou como fazer tudo com
esta belezinha, até mesmo como invejar ela com o barco dela.
— Besta, vamos logo vai. Espero que saiba mesmo pilotar esse negócio.
— Posso chamar o seu queridinho, quer?
— Para ele te matar por olhar para a irmã dele? Quero muito ver essa cena. — Sorri e ele
me bateu.
Entramos no barco e eu agradeci muito por estar de óculos naquele momento, já que era
basicamente uma proteção natural para a água, que voava em nossa direção. Assim que
nos afastamos, o vento forte começou a ganhar força e aquilo não parecia uma boa coisa,
pois o céu estava fechando rápido.
— Acho que vai chover. — Med falou em um tom alto por conta do barulho.
— Que merda, eu odeio chuva, sabe disso.
— Relaxa, vamos chegar do outro lado rapidinho. — Ele falou sem tirar os olhos do mar.
— Cara. — Olhei para a bússola. — Deveríamos estar indo para o norte, não o leste.
Lembra? O leste é o alto mar, o norte a civilização e oeste a ilha.
— Merda, eu me confundi, pensei que leste era a civilização e norte o alto mar. Que
merda. — Ele desacelerou o barco. — Então temos que ir pro Norte?

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— Yanmed, vai chover, melhor voltarmos para a casa.
— Tem razão, a gente bebe lá mesmo qualquer coisa, você tenta esquecer sobre o
Neitan e eu esquecer aquela deusa.
— Cala boca. E não fala do Neitan. A última coisa que eu quero é pensar no fato dele
gostar de mim.
— Você não faz nem sentido, sabia? — Ele desligou o motor do barco e se virou pra mim
cruzando os braços. — Qual é? Você sente algo pelo Neitan, sempre sentiu, a química
que vocês têm, os olhares, as discussões intensas e idiotas.
— Não criei coisas. — Me aproximei voltando a ligar o motor e ele desligou.
— O Neit é incrível, ele não é mais o cara da escola. É apaixonado por você e você já foi
por ele, e eu acredito que ainda é, então por que nega? Não fala que é pelos seus pais,
sei que é mentira. Pode ter enganado o Juan, mas não a mim.
— Cristal. — Falei me sentando no banco. — Eles namoraram, e…
Ele me olhou e sentou do meu lado, ele melhor que ninguém entendia o que é não querer
ficar no caminho, já que o Yanmed foi apaixonado pela Monique, no primeiro ano da
faculdade, que era apaixonada pelo Rome, e ainda é.
— A Cristal fez muito mal a ele. Sei que ela é nossa amiga e ficar com o ex da amiga é
péssimo, mas a história de vocês é muito mais antiga.
— É que se juntar tudo, eu juro que não parece valer a pena. Já que ela só veio para a
ilha, em um plano de reconquistar ele.
— E estranhamente você não pensou nela, como possibilidade dele se apaixonar.
Entendi. — Ele levantou voltando para o leme e tentando ligar o barco. — Merda. — Ele
girou a chave duas vezes ou mais e o barco não deu partida. Logo em seguida o barulho
do trovão e a claridade anunciaram a chuva que estava preste a começar. — Acho que
temos um problema.
— Ligue esse barco, é sério. Eu não gosto desse tipo de brincadeira, tá? Se é alguma
pegadinha para eu falar que sinto algo pelo Neitan não vai rolar porque eu já disse a
verdade.
— Cara, não é, eu juro. Tenta ligar para alguém, ou mandar mensagem, eu não to
brincando.
Ele girou a chave novamente e nada aconteceu. Eu entrei em pânico, e peguei o celular
do bolso, mas estava completamente sem sinal, tentei mandar mensagem, ligar, qualquer
coisa e ele fez o mesmo. Estávamos fora da rota, com o motor sem funcionar e prestes a

70
enfrentar chuva. Comecei a perder o controle da respiração, me desequilibrei e cai de
bunda no chão do barco.
— Essa brincadeira não tem graça, eu juro. — Coloquei a mão contra o peito. — Por
favor, vamos voltar.
— Hector respira fundo. Tá tudo bem. Desculpa cara, eu juro que não sei o que
aconteceu.
A chuva começou a cair rapidamente e as ondas começaram a balançar o barco, Yanmed
abriu a portinha embaixo do leme e pegou os coletes salva-vidas me entregando um, em
segui as pistolas localizadoras. Tinham exatamente seis tiros e tinha que ser o suficiente
antes de eu colapsar ou a gente ser levado para alto mar.
— Sabe usar essa arma?
— Sei sim, relaxa. Foca em respirar e se segurar, ok? A chuva está piorando.
— Ok.
Encolhi-me no canto e me segurei na barra, ele então abriu a maleta e deu o primeiro tiro
para cima, em seguida o alarme da costa soou. Parecia mais longe do que deveria, mas
ainda assim, havia soado.
— Eles sabem que estamos aqui. — Ele se aproximou me entregando um cobertor
térmico. — Daqui a pouco eu atiro o próximo, mas eles já sabem que estamos aqui, vão
nos procurar.
— Tá chovendo, o rádio não funciona e está tentando ser positivo? Ótimo, pelo menos se
morrermos vai ser ao estilo Titanic.
— Só que eu não sou seu Jack e você não é minha Rose e, sinceramente, é triste saber
que você mente para você mesmo e para o cara que gosta de você. Tudo por medo. —
Ele me cutucou.
— E você foge na primeira oportunidade que pode, por medo do amigo te matar por
gamar na irmã dele.
— Seria muito clichê se fosse o Neitan que viesse nos salvar e você se jogasse no colo
dele?
— Cala boca. Sei que ta tentando me fazer parar de pensar na chuva.
— Esta ajudando?
— Sim, valeu. Mas o Neitan nem sabe que saímos e ele nem chegou.
— Chegou sim e aposto que entrou em pânico quando percebeu a chuva e que você tinha
saído.

71
Yanmed tinha uma visão tão distorcida do Neitan, sei que ele é apaixonado por mim, mas
não chega a tanto. Quer dizer, lógico que ele deve ter se preocupado, mas entrar em
pânico é um pouco de mais.
— Eu e ele, não vai rolar, ok?
— Se você diz. — Ele atirou novamente pro alto. — Mas eu vejo vocês dois e é
engraçado, parecem que estão ligados pelo destino ou algo assim.
— Nem começa.
Falei vendo uma luz vinda em nossa direção, levantei rápido e graças a Deus, era um
barco. Não sabia se eu pulava de alegria, se eu enlouquecia com aquela chuva ou se eu
ficava surpreso de quem tinha nos achado.

Capitulo 18
Neitan

Eu estava em pânico, encharcado e pilotando igual a um louco. Carlos não parava de


tentar ligar pros meninos e eu a cada minuto mandava um rádio para minha irmã, que
tinha pegado um dos barcos da guarda costeira com mais alguns barcos para procurar os
meninos. Eu ia fazer o caminho mais rápido até a costa e procurar perto da casa,
enquanto os outros barcos iam em direção ao mar aberto. O maior problema era que a
chuva estava piorando e o vento também, o céu estava esbravejando e clareando com os
raios e trovões.
— Viu aquilo? — Carlos apontou para o sinalizador que cortou o céu.
— Eles estão na direção leste, é para o lado do mar aberto. — Virei na direção do
sinalizador, mudando nossa rota.
— Neitan. — A voz da minha irmã soou no rádio. — Não vá para a direção do
sinalizador, eu já estou indo. Você vai em direção às rochas, se for para lá. Eles já
estão aparecendo no nosso radar e você também.
— Let eu…(QUEM É LET?)
— Escuta, vai para a costa, me obedece. Está indo em direção às rochas, eu sei que
sabe pilotar por ali com seu barco, mas está no nemo. Não sabe pilotar esse barco
direito, então vai para a costa, não posso ter que resgatar você também, leva a
doroti para a costa e não discute.. Eu devo chegar nele em cinco minutos.
— Ok. — desacelerei e fiz a curva voltando em direção à costa.

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— Eles estão bem, o Med sabe como acalmar o Hector, sabe disso. O Med é atencioso,
sabe o que fazer, ele melhor que ninguém sabe como. Então, relaxa, um vai cuidar do
outro.
Minha mente travou por alguns segundos e analisou a frase do Carlos. Eu sei porque eu
entrei em pânico, sei porque eu sai correndo, mas ninguém mais fez isso, além de nós
dois. E antes mesmo de eu conseguir processar para pensar em pegar o barco da minha
mãe ele já estava desamarrando o barco e entrando nele. Estranhamente eu nunca
reparei, mas o Carlos sempre se preocupou com o Yanmed, além de que ele é do mesmo
jeito com o Juan, então não conta. Porém, foi meio estranho o desespero dele ser o
mesmo que o meu e na mesma intensidade.
— Alí. — Ele apontou para os meninos saindo do barco. — Graças a Deus! — ele falou
aliviado.
Meu peito parecia que tinha tirado um peso, os ver saindo andando do barco, embaixo da
chuva que estava finalmente começando a passar. Nunca tinha ficado tão feliz em ver o
Hector. Encostei o barco na doca e assim que desliguei o motor, Carlos pulou do barco e
correu em direção aos meninos e quase pulou no Med, o abraçando forte. Eu sai do barco
e o amarrei, fui em direção a eles sem tirar os olhos de Hector que me olhava com um
pequeno sorriso no rosto.
— Anota na sua lista. — ele se aproximou ainda embrulhado na coberta. — Odeio chuva
na estrada e no mar.
— Anotado. — Eu ri baixinho e ele riu também. — Nunca mais saiam assim, ainda mais
no meu barco, eu não faço a manutenção certa nele. — Passei a ponta dos dedos sobre
sua testa colocando seu cabelo para trás.
— Nunca mais ensine seus amigos a pilotar um barco. O Med falou que sabia.
— Claro que ele sabia. — Puxei ele para um abraço sem me importar muito com o que
ele ia pensar ou falar. — Nunca mais me dá esse susto, Hector.
— Sim senhor. — Ele falou baixinho enquanto eu soltava ele. — Mas relaxa, nós dois
estamos bem. — Hector apontou para os meninos que estavam ainda abraçados.
— É… Posso ver.
— Nossa… — Ele me olhou. — Carlos estava preocupado?
— Muito. — Olhei para Hector. — A gente perdeu alguma coisa?
— Acho que sim. A gente sai e deixa os dois? Ou fingi estar conversando sobre alguma
coisa ou entra no barco e some?
— Quer mesmo entrar no barco? — Me virei para ele. — Jura?

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— Só quero dormir. Deitar na cama depois de um banho e sumir. Rezando para o dia
acabar.
— Olha… — Virei ele para mim. — Me desculpa, eu fui idiota hoje e sinceramente, nem
sei por que reagi daquele modo.
— Porque você é pavio curto e a culpa é minha, então relaxa, me expressei mal, só
queria que comesse. Adoraria sua ajuda para escrever e talvez eu tenha minha história
logo ali. — Hector apontou para os meninos que conversavam. — Acho que vai rolar
alguma coisa. — Ele deu um sorriso lindo que foi de aquecer o coração.
— E se a gente meio que ajudasse? Tipo, déssemos uma de operação cupido?
— Sua referência é mesmo um filme velho? Que a história é bem fraca?
— Não falou isso. — Me afastei com as mãos levantadas. — Operação Cupido é uma
obra de arte.
— Nossa! Não mesmo. — Ele revirou os olhos e saiu andando de costas. — Filmes como
Operação Cupido são só para cumprir tabela. Filmes como O Vento Levou e Dançando
na Chuva são obras de arte. E sabe que eu prefiro referencias de livros, filmes é coisa do
Lucca, Dominick, Seba e Denis.
— Ai meu Deus. — Fui andando na sua direção. — Não vem com essa, você só gosta
dos velhos, nada depois da década de 80 presta para você e têm filmes tão bons quanto
livros.
— Mentira, Titanic é uma obra prima, é de 98, um belo filme, sei que tem filmes bons, mas
fala sério o livro de Nárnina é perfeito ou os livros do Stephen King, It é perfeito. Mas é
que você tem péssimo gosto para livros e sabemos disso.
Olhei sem acreditar, ignorando-o e deixando ele falar sozinho, fui em direção a minha
irmã que estava um pouco mais para dentro, fazendo anotações e sabe se lá mais o que
ela fazia.
— Destino. — Ela respondeu sem me olhar.
— Para, ele pode te ouvir e eu não to a fim de ouvir você falar sobre o fio vermelho de
novo.
— Na lenda japonesa um senhor que vive na lua, que não sei direito se é um deus ou
não, durante a noite sai procurando por almas que possuem algo para aprender e ensinar
ao outro e quando os encontra, amarra um fio vermelho em seus dedos mindinhos para
que seus caminhos se encontrem. Criando o destino deles.
— Você e essas lendas. Para de assistir animes e doramas, ok? Nada de lendas pra
mim.

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— Sabe por que é no dedo mindinho que é preso o fio? — Ela me olhou deixando o
caderno de lado e saindo do balcão.
— Por que Violeta?
— Porque nas lendas japonesas o dedo mindinho representa o coração. Então, o dedo
mindinho é uma extensão de seu coração, quando o fio é colocado nesse dedo o destino
das duas pessoas está ligado e pode estar por muitas vidas.
— Chega de fio vermelho. E me fala qual estado do meu barco e o que rolou?
— Só parou o motor de novo, nada de mais. Porém, o Hector… me chamou pelo seu
nome quando viu o barco se aproximar. Destino ou não, ele esperava por você, isso
mostra alguma coisa.
— Não vou criar esperanças assim. — Olhei para ele de canto de olho. — Destino não
significa nada, agora podemos ir para a casa?
— Sim, podemos. Mas vamos com o meu e o da mamãe, amanhã buscamos o seu barco
e você, assim que chegar, toma um banho também, está todo molhado.
— Ok maninha. Agora vamos, os meninos precisam descansar.
Ela só sorriu e saiu me puxando para fora, onde a chuva já tinha parado por completo.
Fomos até os meninos que estavam apoiados na parede conversando sobre gosto de
filmes. Minha irmã, do modo mandão dela, interrompeu a conversa e separou os meninos.
O Yanmed e o Hector foram com ela, Carlos e eu, voltamos juntos sem discutir o modo
autoritário dela, logicamente.

Capitulo 19

Hector

Claro que o jantar daquela noite não foi nada normal, juro que ver o Neitan fazer meu
prato e não tirar os olhos de mim foi muito além. Sei o que ele sente por mim e vendo
agora suas ações entendo ainda mais. Ele não me deixou sozinho em momento algum e
até mesmo quando eu falei que iria conversar com a Moni ele me acompanhou até a sala
de cinema. Só quando a viu e basicamente, a ordenou que ficasse de olho em mim, foi
que ele saiu.
— Ele ficou muito preocupado. — Moni falou assim que não ouvimos mais seus passos.
— É, eu sei. — Me joguei no sofá ao seu lado.

75
— Nunca o vi desesperado daquele modo saindo correndo.
— Neitan me abraçou quando me viu.
— Só te abraçou?
— Monique!
— O que? Eu achei que ele ia te dar uma surra, é o Neitan.
— Ah!
— Ai meu Deus, achou que eu ia falar te beijar? Era o que queria?
— Não seja boba.
— Menino do céu, era o que você queria, né? Que ele te beijasse? Por que você não o
beijou?
— Eu e o Neitan é bem… eu… você sabe…
— Mas se gosta dele e ele de você, porque ficar nessa?
— Nosso passado. Você sabe, eu já contei, então tudo é complicado demais.
— Só hoje, sobe, deita lá e só o deixa ver que você está bem.
— Sim senhora.
Subi as escadas e claro, que a dona Jenete tinha um modo perfeito de fazer todos os
planos, ideias e pensamentos se perderem. Pois assim que eu terminei de subir as
escadas vi Neitan com uma mega cara de irritado com sua mãe dando ordens para um
dos empregados que estava trocando minhas coisas de quarto. Ela iria por o Juan no
quarto com Neitan e eu com o Med dividiríamos outro.
— O que tá acontecendo?
— Você e o Yanmed ficarão de molho aqui, longe de barcos.
— Mas… E por que está separando os quartos?
— Os dois precisam acordar cedo, você e o Yanmed não vão trabalhar então, os que vão,
ficam juntos.
— Senhora Harman, não tem problema eu ficar com o Neitan.
— Não senhor. — Ela me fitou. — Melhor não estragar os horários.
— Mãe…
— Vai tomar banho. — Jenete olhou para o filho. — Está com a roupa ainda molhada, vai
ficar doente.
— Ok, eu vou tomar banho. Mas ele precisa pegar as coisas do banho ou vai recolher
também?
— Ele pode fazer isso. — Ela fitou o filho. — Mas não demorem, Neitan precisa dormir.

76
— Ok. — Passei por eles e entrei no quarto vendo o empregado fechando minha bolsa e
saindo com Jenete que deixou eu o Neitan sozinhos.
— Me desculpa por ela, sabe como ela é sistemática.
— Sinto que ela só está me punindo e o Med.
— Por deixar vocês aqui?
— Sim, e… olha, me desculpa. Eu te preocupei e deixei todo mundo preocupado, mas de
verdade me desculpa, Neit.
— Neit? — Ele sorriu se aproximando. — Nunca me chamou assim, sabia?
— E você nunca me chamou de Thor, os meninos sempre chamam, quando querem ser
fofos.
— Nunca me deu abertura, então nunca chamei mesmo querendo muito.
— Eu permito, a partir de hoje, quando quiser, pode me chamar de Thor.
— Ok, agora vai, eu preciso tomar banho e ela logo vai vir te buscar pelos cabelos. —
Neitan se aproximou me dando um beijo na bochecha. — Boa noite Thor.
— Boa noite Neit…
Afastei-me sem tirar os olhos dele, passei pela porta fechando-a. Fui pro meu novo quarto
e me joguei na cama vazia, simplesmente escutando meu coração que estava calmo e
completamente feliz, não sei como explicar, mas aquele beijo me fez sorrir na cama até
apagar.

….

Claro que o "descanso" não foi da boca para fora, eu e o Yanmed ficamos de molho por
uma semana inteira. Eu e ele não podíamos nem pensar em chegar perto de um barco,
então ir trabalhar estava fora de cogitação, o medo dela e a preocupação eram visíveis.
Como eu e o Yanmed não estávamos indo trabalhar, eu acabei tendo que me acostumar
com o Med e a visita constante de Carlos ao nosso quarto e um estranho afastamento do
Neitan, talvez pelos horários, já que ele saía cedo e voltava tarde.
— Eu acho que é castigo. — Yanmed falou saindo do banheiro. — fala sério, só pode ser
castigo, não acha?
— A gente aqui, trancado?
— Sim, eu tenho certeza, é castigo. Ela está nos punindo por pegar o barco.
— Eu acho que ela está sendo super protetora, igual os meninos.
— Meninos ou o Neitan?

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— Nem vem, Carlos está aqui sempre, e o Juan nem vou comentar.
— Do que tá falando?
— Yanmed é sério? Os dois mega preocupados com você e só você.
Ele parou por alguns segundos e ficou me encarando como se eu tivesse gritado ou algo
assim.
— Cara, nem todo mundo é gay, ou bi ok? Nossos amigos não são e eu também não,
Carlos e Juan são nossos amigos e eles estavam tão preocupados comigo quanto com
você.
— Claro, por isso o Carlos me abraçou quase meia hora como fez com você, né? Não,
pera, ele só falou oi pra mim.
— Porque ele sabe que o Neitan iria ficar com ciúmes.
— Está mentindo para você mesmo e tudo bem se não sente nada, mas para de fingir
que os dois não estavam preocupados com você.
— Cara, não exagera, somos todos heterossexuais.
— Tá bom. — levantei os braços. — Um bando de heterosexual, acho que se for nessa,
até eu.
— Cala boca e obrigado. — Ele continuou o que estava fazendo.
Eu que não ia falar sobre meu gaydar que gritava quando ele tava com os meninos. Nem
que os olhos do Carlos têm um brilho diferente quando está conversando com ele, muito
menos que ele fica diferente quando o Juan começa a brincar com ele. Longe de mim
falar sobre a troca de olhares intenso que todo mundo pode sentir entre os três. Espera, é
entre os três, será que por isso é confuso? É um trisal? Poderia ser um trisal? Tipo, qual
a chance deles terem a mesma vibe?
Olhei pela janela e pude ver o Neitan saindo do barco, ele parecia extremamente cansado
e dolorido, mas eu precisava de alguém para dividir essa teoria e ele melhor que ninguém
poderia me ajudar a analisar, já que ele é o mestre do romance.
— Já volto. — Sai correndo sem dar tempo do Yanmed responder nada.
Desci as escadas correndo e assim que passei pela porta vi a Cristal basicamente se
jogar no Neitan e o convidar para a fogueira. O que me fez congelar na porta, eu não sei o
por que, mas ver ela tentar voltar com ele era estranho, já que ele gostava de mim e ela
sempre me pediu conselhos para ficar com ele.
— Eu to exausto Cristal, porque não chama a Sydnei ou a Moni, só quero descansar um
pouco. — Neitan respondeu se afastando dela.
— Mas só você sabe chegar lá e fica escuro. E se chover?

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— Leva um guarda-chuva. — Falei. — É só seguir a trilha, não tem erro. — Fui me
aproximando. — E nós dois temos trabalho para fazer, mesmo que ele queira, terá que
passar a noite comigo, escrevendo.
— É. — ele sorriu vindo em minha direção. — Temos um romance para escrever e eu
prometi ajudar ele, já que o coloquei nessa furada.
Cristal me fuzilou com os olhos. Um olhar que eu sempre recebia quando me aproximava
muito do Neitan. Pior é que eu nunca tinha entendido esse olhar, até agora, e se ele sente
mesmo o que falou, há muito tempo, ela provavelmente me odeia.
— Um romance? — Ela se aproximou sem tirar os olhos de mim. — E como ele vai te
ajudar?
— Não sei. — Me irritei um pouco com seu tom e revirei os olhos. — Talvez ele me ajude
com as referências ou me levando para cama e falando que me ama em seis idiomas
diferentes. — Respondi vendo Neitan engasgar e ficar extremamente corado.
— Mas quem sabe você não faz sozinho. Assisti um filme, lê um livro. Melhor que segurar
ele como sua babá.
— Nossa! Ciúmes não combinam com você, sabia não é?
— E deboche não combina com você, Hector.
— Sério? Neitan sempre falou que era minha melhor qualidade ou eram meus olhos? —
Virei para ele. — Mas se ele quiser, podemos adiar. Pode ir à fogueira.
— Olhos. — Ele respondeu rápido. — E prometi te ajudar, estou cansado para fogueira.
— Claro que vai escolher o Hector, sempre foi ele.
Neitan olhou em pânico para Cristal e engoliu a seco. Era visível o quão tenso ele tinha
ficado com aquela frase.
— Gente? — Carlos saiu do barco com o Juan e a Monique. — O que fazem aqui?
— Conversando. — respondi. — Mas estávamos falando sobre a fogueira e como a
Cristal quer muito ir. — Olhei para a Monique que entendeu meu olhar na mesma hora.
— Incrível, eu queria muito ir também. — Ela se aproximou pegando o braço da Cristal e
saiu puxando. — A gente podia pegar umas cervejas e ir para lá o que acha?
— É que nem todos querem ir.
— Se você quer e eu quero, já é um começo. Rome também vai querer ir, por conta da
cerveja e Juan falou que queria ver de novo, né An?
— Falei sim, depois de um dia longo de trabalho, nada melhor que descansar na fogueira
com vocês e quem mais quiser. Então, vamos pegar as bebidas e ir.

79
Ele saiu puxando as duas para dentro e Carlos nos olhou por alguns segundos, saindo
sem falar nada, só com um sorrisinho sínico estampado no rosto. Por fim, Neitan levou
seus olhos até mim, não disse nada e deu um lindo sorriso idiota. Ele parecia ter gostado
da minha resposta ou de eu ter livrado ele da irritante da ex, que podia ser bem tóxica
quando queria.

Capitulo 20
Neitan

Eu não conseguia disfarçar o sorriso quando notei Hector incomodado com a Cristal, sei
que não é ciúmes nem nada, mas foi estranho, já que pela primeira vez ele pareceu
incomodado com a presença dela e o modo que ela estava em cima de mim. Foi
estranho, mas eu adorei, já que ele nunca respondeu ela, muito menos me ajudou a
escapar dela. E agora, literalmente insinuou algo comigo e se livrou dela com classe.
— Tira o sorriso da cara. — Ele respondeu em um tom ríspido.
— Eu diria que ciúme não combina com você, mas é bem fofo. — Provoquei.
— Que? — ele arregalou os olhos e eu ri. — Não senhor, eu só preciso dividir com você
minha teoria e essa garota nem era para ter vindo.
— Como aquela ali também não. — Apontei para a Sidnei vindo na nossa direção com o
Rome. — Round dois. — Brinquei.
— Que inferno. — Ele virou estampando um sorriso extremamente falso.
— A gente precisa começar logo a ver as referências. — Segurei ele pelo braço. — E eu
tenho que tomar banho ainda. Vamos?
— Vocês não vão conosco? — Sidnei perguntou.
— Foi mal. — Ele me olhou. — Trabalho da faculdade, se não começarmos logo, no final
das ferias vai ser só para trabalho.
Hector saiu me puxando pela mão e arrastando para o meu quarto, fazendo minha mente
imaginar mil possibilidades possíveis para os momentos seguintes. Entramos no quarto e
ele fechou a porta, em seguida trancou.
— Sabe que trancar o quarto é meio suspeito, não é? — Destranquei a porta.
— Não pretendo te beijar nem arrancar sua roupa, então relaxa e eu só preciso dividir
minha teria com você, porque não conseguimos conversar desde o dia da chuva.

80
— Se importa se eu tomar banho? Uma das crianças fez xixi em mim e eu só preciso de
um banho.
— Claro, vamos lá. — Ele começou a andar em direção ao meu banheiro.
— Que... calma... que? — Engasguei com a frase dele. — Que?
— Você toma banho enquanto eu falo, minha cabeça vai explodir.
— Vai entrar comigo no banheiro?
— Já te vi sem roupa, não é novidade. — Ele se aproximou. — E de verdade, não é tudo
isso.
— Como é que é? Eu malho pra cacete, para você falar que não é tudo isso? — Tirei a
camiseta amarela do acampamento. — Isso não é muito?
— Seu corpo é bonito, mas não é para tudo isso.
Olhei para ele me sentindo completamente ofendido pela frase. Já que eu passava horas
malhando na semana para ter meu corpo bem malhado e definido. Sei que podia não ser
sensacional, mas desmerecer meu corpo era demais, né?
— Só quer me provocar. Sabe que de nós dois eu sou o mais gostoso. É pura inveja e
sabe disso.
— Não é porque sou inseguro com meu corpo que você começa a ser grande coisa.
Seu corpo era lindo do jeito que era, sei que muita gente compara eu e os meninos,
porque eu sou extremamente malhado e definido. E passo as vezes mais tempo na
academia que dormindo, porém o corpo do Hector é lindo, sabe aquele corpo que não
precisa de nada, ele não é magro e nem gordinho. Não parece fraco, mas não parece
forte, seus músculos são levemente definidos e suas curvas desenhadas. O que combina
perfeitamente com seus olhos verdes e seu cabelo escuro e sem esquecer do seu perfeito
tom bronzeado que é de tirar o fôlego.
— Seu corpo é lindo e essa conversa não vai levar a lugar nenhum. Eu vou tomar banho,
vou tirar o resto da roupa e aviso quando puder entrar, a não ser que queira me ver
completamente nu.
— Não tem necessidade. Sabemos que não precisamos dessa intimidade. — Ele se
afastou.
Eu poderia mostrar qual tipo de intimidade eu queria com ele e como a falta de roupa era
um requisito, mas o Hector estava meio estranho. Seu tom e o modo de responder, ele
parecia bravo com alguma coisa, sua respostas diretas e afiadas, a porta trancada…

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— Se não liga pro meu corpo, por que parece estar olhando para ele? — Puxei ele pelo
braço. — Não precisa babar. — Provoquei.
Sua mão foi automaticamente pro meu peito e ficamos nos olhando por alguns segundos,
eu não fazia a mínima ideia por que eu tinha puxado ele, nem sabia o por quê ele estava
agindo estranho.
— Acho que o Carlos e o Juan são apaixonados pelo Yanmed e entre si também. — Ele
falou rápido.
— Triângulo amoroso, sério? — Me afastei indo para o banheiro.
— É. Eu acho. Quer dizer, eu senti um clima, faz tempo entre os três.
— Formule. — Entrei no banheiro deixando a porta semiaberta e começando a tirar a
roupa. — Preciso entender seus pontos.
— Claro! — Ele gaguejou. — Primeiro, no dia do incidente… é... o Carlos… entrou em
pânico. Você viu como ele ficou e a noite inteira também… Porém, quando chegamos o
Juan parecia tão preocupado quanto o Carlos e depois ficou brigando com o Carlos meia
hora por ter pegado o barco para ir atrás de nós.
— Pode entrar. — Falei ligando o chuveiro. — Porém, as meninas ficaram preocupadas
também. O Juan… não sei ele parece ser uma pessoa que precisa de mais.
— Mas até aí é entendível, a Cristal é apaixonada por você ainda e a Sydinei gosta de
mim, mesmo eu falando que sou gay.
Congelei por completo com aquela frase, já que ele nunca tinha me dito exatamente que
era gay e nem deixou muito claro. Porém, ele ter falado em voz alta e sem problema
algum, pareceu que não só era gay como também bem resolvido com isso.
— Continua. — falei sem parecer que aquela informação me afetou de algum modo.
— Então, elas preocupadas é normal, ainda mais que vocês saíram atrás de nós. Um ato
muito idiota, para falar a verdade.
— Claro que você iria achar um ato idiota… — Respondi baixinho.
— Vocês pegaram um barco na chuva, isso sim é um ato idiota.
— Você tem medo de chuva a noite e eu conheço meu barco, ele não aguenta
tempestade. Além de tudo, conheço vocês, principalmente você.
— Calma! quê? Você me conhece, principalmente?
— Eu conheço você há anos, então, claro que conheço você principalmente. Sei como
sua cabeça funciona, como seus medos se alastram. Sei que quando eu falo dos seus
olhos você não acredita, mas quando falo do seu corpo você aceita o elogio. Sei que
mesmo você colocando meio quilo de açúcar no café, ainda acha ele amargo, mas sei

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que o Lucca insistiu que te ensinaria a beber café, você nunca mais tomou outra coisa de
manhã. Sei que quando você tem um ataque de pânico sai correndo ou se encolhe em
um canto e meu maior medo naquela noite foi que você tentasse sair correndo de um
barco em movimento enquanto o Yanmed tentava controlá-lo. Sei que quando alguém
tem pesadelo a primeira coisa que faz é beijar a testa da pessoa. E também sei que
quando passa por um momento que teve medo você tem pesadelo e é por isso que eu
fiquei tão bravo com minha mãe por ter tirado você do quarto, pois eu sabia que teria um
pesadelo e eu não estaria ao seu lado para te abraçar e falar que estava tudo bem. —
Terminei de falar quase sem fôlego.
Um silêncio pairou por alguns segundos enquanto eu me ensaboava e em seguida ouvi a
porta do banheiro fechando. Abri um pedacinho do box e vi que ele tinha saído do
banheiro sem motivo algum. Ou melhor, sem falar nada e foi quando notei tudo que eu
tinha falado sem parar.

Capitulo 21

Hector

Meu coração não podia me trair assim, não podia. O coração acelerado misturado com
uma enorme vontade de sorrir e uma pequena falta de ar, misturada com minha mente
analisando tudo que ele falava, palavra por palavra. Saber o que o Neitan sente por mim
estava me matando, porque eu, literalmente começo a analisar cada frase, cada gesto,
ação e cada expressão. Tudo isso não está do jeito que deveria, já que quando ele fala
algo fofo ou legal, eu sei que é pelo sentimento dele por mim.
O pior é que nem eu sei o que está rolando comigo, escutei o que ele sentia, e de vez
falar com ele parece que eu to tentando ver se é um fato. Fiz ele escolher entre eu e a
Cristal, não que seja uma escolha difícil, já que eles terminaram por questão de química
pelo que entendi, além de que, aposto que foi por conta de sexo. Porque eu ouvi que a
Cris queria perder a virgindade com o Neitan e ele falou que não era o cara certo para
isso, porém, se ele é gay, as chances dele só não sentir atração é bem grande mesmo.

83
Saí do banheiro sem falar nada, nem conseguir pensar direito. Por que ele me conhece?
Só por que reparou em mim esse anos? Tipo, quem fica reparando e por que ou para
quê? Sério, eu sei que há alguns minutos atrás eu acabei reparando no reflexo dele pelo
espelho enquanto ele tirava o resto da roupa e que aquilo me deixou completamente
hipnotizado, mas é diferente, já que foi um momento e algo bem pontual.
Então, sentei na frente da janela em silêncio e olhei nossos amigos saindo para a
fogueira. Só ficando nós dois do grupo para trás e mesmo que eu quisesse muito ir, sei
que se a gente fosse a Cristal iria encher o saco e a Sydinei também. Isso meio que me
incomodava, sabe-se lá por quê.
Porém, antes que minha mente desse voltas atrás de respostas para perguntas
infundadas e desnecessárias, a porta do quarto se abriu e um rosto familiar passou por
ela, sorrindo ao me ver.
— Não sabia que estava no quarto com meu irmão, quatro olhos. — Henrry que era o
irmão mais velho do Neitan falou assim que a porta se fechou.
— Seu irmão escondeu minhas lentes de contato, então só me restam os óculos. —
Respondi saindo da janela. — E para um cara ficando calvo antes dos 30, bullying não
pode sair da sua boca.
— Tem razão. Você só precisa tirar os óculos e vira o supermam, eu preciso de uma
peruca.
— Só uma peruca?
— Filho da puta.
Ele riu baixinho e me abraçou, ele sempre me tratou como uma criança perdida, meio que
um irmão, mesmo eu e o Neitan nunca tendo ficado próximos.
— Soube que moram juntos. Tomou jeito? — Ele me soltou e ficou me analisando.
— Não. Nós dividimos a mesma casa com outros amigos. Mas não moramos juntos,
exatamente.
— O destino não deixa mesmo vocês em paz, não é?
— Destino, sério? O que exatamente tem em destino?
— Ai Hector… — ele deu um sorriso. — Cadê meu irmão?
— Banho, mas não muda de assunto, o que tem a ver destino?
— Uma hora vai descobrir pirralho, a vida ensina. Agora, minha mãe quer todo mundo na
fogueira, até você então, se puder avisar ele ou não estão se falando?
— Eu sou adulto, posso dar um recado.

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— Espero que sim, se não ela mata você. E só mais uma coisa, hoje é dia de… como eu
falo, brincadeiras na fogueira? É bom estar com roupa confortável. — Ele começou a
andar de costas em direção a porta.
— Sim senhor.
— E Hector… — Ele me olhou e apontou para baixo. — Se meu irmão te deixou duro,
melhor esconder. — Henrry saiu e fechou a porta.
Olhei para baixo e notei o volume ainda marcando na minha calça, que apareceu
repentinamente quando vi o Neitan tirando a roupa. Não repentinamente, já que eu gosto
de caras e ele tem um belo corpo, mas, né? De um modo inusitado, pois eu nunca olhei
para ele desse modo. Eu tinha ficado minimamente excitado e isso era um pouco
estranho.
— Por que saiu do banheiro?— Ele apareceu enrolado na toalha ainda com o corpo
úmido.
— Eu… — Suspirei completamente sem conseguir focar em nada além do seu corpo.
— Você?
— Ouvi… Alguém bater na porta. Aí vim… ver quem era, seu irmão… — Desviei o
olhar….— Ele falou que é dia de sua mãe… — Me enrolei todo.
— Quê?
— Hoje… — Gaguejei. — É dia de fogueira e sua mãe quer todos lá…
— Ah! merda, é verdade. Acho que não vai dar para a gente fugir…
— Mas está exausto, não é?
— Mas é dia da fogueira…
— Vai se vestir, você descansa um pouco enquanto eu começo a escrever alguma coisa,
caso alguém pergunte. — Aproximei-me tentando não olhar para o seu corpo e nem ficar
duro de novo. — Amanhã você vai trabalhar de novo? O resto do pessoal não, mas você
sim, né?
— Até parece que se preocupa comigo!
— Não sonha. Só que amanhã é meu primeiro dia e se não estiver descansado vai sobrar
tudo pra mim e Deus me livre disso.
— Vamos fazer assim, então... — Ele sorriu. — vamos assistir a um filme de romance,
que não seja do século passado. — Neitan foi em direção ao closet para se vestir. — Um
romance bobo e clichê, sei lá. Só para você ter uma inspiração, normalmente demora
uma hora e meia. Depois vamos para a fogueira que, normalmente vai até uma da
manhã.

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De todos os modos idiotas para passar um tempo comigo, acho que nunca o imaginei
usando a desculpa de me ajudar a ter inspiração, como uma possibilidade. Porém, não é
como se eu não tivesse gostado da ideia.
— É tipo um encontro?
— Não, nós dois sabemos que você nunca aceitaria se fosse um encontro e sabemos
também que sou muito romântico para não planejar cada detalhe.
— Que detalhes? — Encostei-me à parede ao lado da porta do closet.
— Se fosse um encontro, provavelmente teria velas. — Neitan me fitou. — Uma cesta de
piquenique com todas as comidas que você gosta tipo, morangos e laranjas. Teria vinho
tinto, já que odeia vinho seco. E, com toda certeza, eu jamais levaria queijo.
— Por quê?
— Você passa mal com queijo. — Ele parou ao meu lado. — Acho que eu tentaria
comprar os chocolates importados que você gosta e... não sei, pensaria se de algum
modo eu poderia deixar a noite mais confortável e inesquecível para você.
— Que bom que não é um encontro, então. — Olhei em seus olhos castanhos escuros. —
Porque eu teria que ser gentil e ficaria pensando em muitos modos para te fazer sorrir,
pensaria se você gostava mesmo das coisas que levou ou se teria sido só para me
agradar e se o queijo faria falta.
— O queijo atrapalharia o beijo, então não sentiria falta.
— Encerraria o encontro com um beijo? É sério?
— Não, eu provavelmente iniciaria o encontro com um beijo. Um selinho, só para deixar
claro que não estou ali só como amigo. Aí quando uma brisa passasse eu me inclinaria
para tirar seu cabelo do rosto. — Ele aproximou a mão do meu rosto.
— E então, me beijaria?
— Com toda certeza eu beijaria os lábios próximos aos meus, e mataria quem por um
segundo pensasse em interromper.
— Que bom que não é um encontro, então, não é? — Mordi o canto da boca.
— Você quer que seja? Posso arrumar tudo em segundos. Em segundos!
Não conseguia desviar os olhos dos seus e na minha mente só vinha um grande sim. E o
pior que não vinha nada, além disso. Só um grande sim, uma súplica por ele aparecer
com uma cesta sem queijo e com vinho tinto ao invés de seco. Ainda mais com meu
coração quase saindo pela boca, eu não conseguia pensar em nada além de um grande
sim.

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Capitulo 22
Neitan

Nós nunca tínhamos ficado assim, tão próximos, sozinhos, nos olhando de um modo
intenso e de mil modos diferentes nos dando bem, se eu pudesse arriscar, diria até
mesmo flertando. Seus olhos fixados no meu sem nada para fazer ele se afastar ou gritar,
nem um motivo para eu não beijar sua boca. Não temos questões de sexualidade, nem de
atuais compromissos, sequer tenho problemas com pais homofóbicos, nada me impede
de, finalmente, ter seus lábios nos meus. Ele não tinha se afastado, só mordido o lábio e
isso com toda certeza era perfeito em tantas maneiras.
— Se fosse um encontro. — Sua voz soou baixa. — Eu imploraria para me beijar logo,
porque a tensão estaria tão alta que sua boca seria meu único desejo.
— É, acho que acabei de transformar em um encontro, então…
— Meu deus! Não acredito que eu tive que vir arrastar vocês, a nossa mãe vai te matar.
— Violeta abriu a porta sem bater nos assustando. — Merda… Desculpa…
Eu me afastei rápido do Hector que arrumou a postura e desencostou da parede pegando
o celular na janela e saiu andando em silêncio, passou pela minha irmã e saiu do quarto
rapidamente.
— Ela pode me matar depois que eu matar você, aí ela terá um bom motivo, já que
acabou de estragar a primeira oportunidade que eu tive de beijar o Hector. — Deitei-me
na cama me esparramando. — Que inferno, eu deveria ter deixado trancada.
— Eu sinto muito, mas sabemos que se fosse para terem se beijado mesmo, vocês teriam
se beijado. O destino está brincando com vocês, não me culpe.
— Só fala porque eu vou ser morto e vá embora, eu…
— Noite da fogueira, sabe como é. Obrigatório, mesmo que esteja morrendo e hoje tem
verdade e consequência, na qual se você sentar do lado do seu boy, eu faço vocês se
beijarem.
— Não quero nada forçado, porém eu sei com quem você pode fazer isso. — Levantei-me
rápido. — Eu sei que se eu fizer vai parecer armação, mas se você fizer, não.
— Quem?

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— Yanmed e Carlos. Eu e o Hector temos uma teoria, meio que implica em rolar um
sentimento mútuo. Só que ele acha que o Juan também sente algo um pelo outro. Eu
discordo, então… Você vai ajudar. Porque rola algo, mas que eles não perceberam, então
você pode atiçar isso entre eles. E aí eu te perdoo por interromper.
— Tudo bem, eu faço isso. Mas você senta ao lado do Hector, porque é… Vai chover,
provavelmente e a mamãe tá levando cobertores, pediu para o Sebastian levar o violão
então, já sabe. Clima perfeito.
Claro que todo mundo estaria querendo se enfiar no meio para nós dois ficarmos juntos,
já que quase todo mundo sabe o que eu sinto pelo Hector, até mesmo a Cristal sabe.
Nunca foi bem, um segredo, ainda mais pelo fato de eu, simplesmente não conseguir nem
perder a virgindade. E olha que eu já tive relacionamentos com muitas mulheres antes de
perceber que eu era bi ou gay. Tá, bi, mas nada nunca me chamou atenção como o
Hector, ninguém nunca foi como é com ele. E o pior de tudo é que nós nunca nem
chegamos a ter nada, ou a possibilidade, parece algo tão fantasioso e distante, até termos
alguns momentos, mesmo que pequenos que parece que o que eu sinto ele também
sente.
— Eu sento ao lado dele, mas você faz aqueles dois se beijarem. E não eu e o Hector,
não quero que nosso primeiro beijo seja assim.
— Pode deixar criança, agora vamos. — Ela abriu a porta. — E coloca uma blusa, essa
regatinha aí, estilo atleta, não vai te ajudar em nada, tá ventando bastante.
— Preciso começar me vestindo, não é?
— Foi mal.
Bufei deixando bem claro quão irritante ela era quando dava uma de mãe pra cima de
mim. Porém, como eu não iria discutir, terminei de me vestir e só peguei a blusa de
moletom preta do conjunto e saímos do meu quarto. Fomos até o quarto onde o Hector
estava e mesmo sem ele me olhar nem por um segundo, aceitou as ordens da minha irmã
e nós três encontramos meu irmão na porta para irmos até a fogueira. Meus irmãos
estavam à nossa frente com os braços entrelaçados brincando de andar com as pernas
juntas, enquanto contavam quantos passos eles conseguiam dar sem errar.
— Seus irmãos… — Hector acelerou o passo começando a andar ao meu lado. — Eles
nem parecem que são mais velhos que nós. A Vi tem uns vinte e seis, certo? E o Henrry,
vinte e nove?
— Olha só, sabe as idades dos meus irmãos! Perguntou para eles ou escutou em algum
lugar?

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— A Violeta me contou, no dia do barco. Ela falou sobre a diferença de idades e como
nunca mudou a relação de vocês, mesmo você tendo dez anos a menos que seu irmão.
— É porque na escola eu… — Pensei bem antes de continuar. — Quando eu era
pequeno... — Respirei fundo. — Eu sofria bullying, porque eu era magrelo. E meu irmão
que resolvia tudo, sempre. Ele chegava de carro e ameaçava os meninos. E aí ele
começou a sempre me buscar para me proteger, quando ele não ia a Vi estava lá,
sempre.
— Inacreditável…
— O que?
— Sério que vai jogar essa pra cima de mim? — Ele revirou os olhos.
— No colegial eu cresci, fiquei forte, alto e bonito. Sem espinhas, eu fiquei só o cara rico
que era temido. E ao entrar na escola que você estudava, tudo mudou. E foi assustador.
— E o que mudou, Neitan Harman? — Ele parou no meio da trilha.
— Eu me apaixonei por alguém que eu não entendi o por quê. Foi confuso, estranho e
diferente. Foi assustador, de muitos modos. Eu não sabia como falar, nem o que era. Só
que eu não sabia controlar meu corpo e algumas pessoas perceberam.
— Tá, e depois?
Nós nunca tínhamos conversado sobre a escola, muito menos falado do que eu fazia, ou
de como era para ele. E isso me assustava um pouco, mas eu precisava contar o porquê
de tudo. Mas sério eu não sei por que eu fui falar da merda da escola em uma noite tão
perfeita como aquela onde estávamos nos dando tão bem.
— Mesmo que ele nunca tenha olhado para mim do modo que eu olhei… Mesmo que
nunca tenha sentido nada como eu senti… Quando eu o via em perigo precisava fazer de
tudo para protegê-lo… Até mesmo fazer o pacto com o capeta.
— Começou a ser agressor e andar com os idiotas da nossa escola, pra proteger
alguém? É a coisa mais idiota que eu já ouvi. Você era um imbecil agressor, assuma isso.
Não faça parecer que não teve escolha. — Ele saiu andando e o segurei pelo braço.
— Eu faço de tudo para proteger você. Eu sempre fiz. E provavelmente sempre vou fazer,
Hector. — Falei sem pensar. — Que merda eu acabei de falar.
— Que merda acabou de falar? — Ele se virou pra mim em choque.
— Você fudeu com a minha mente e eu por anos… Eu sonhava com você, eu só pensava
em você e contava as horas para te ver. Mas tudo que eu fiz, para proteger você sempre
vai ser a única coisa que vai ver. Não importa os motivos.

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— É serio? Por isso estávamos quase nos beijando? Por isso que eu fui atrás de você
hoje? Por que a única coisa que eu sempre vou ver é o que fez? E não porque eu gosto
de você? É claro… — Ele se aproximou rápido e irritado. — Não importa os motivos,
nunca vai ser um bom motivo. Nunca acredite em todos os outros, nunca terá um bom
motivo.
— Mas eu fiz para proteger você.
— Não, você fez para que você não ficasse mal. Porque tinha medo de voltar a sofrer
bullying, nunca foi para me proteger ou até foi, depois, mas a verdade é que seu medo
era sofrer por ser gay, bi ou sei lá qual sua sexualidade. Só que não ouse falar que foi por
mim, porque se fosse teria me beijado no baile, se fosse por mim teria me beijado aquela
noite e não fingido. E mesmo que tenha feito de tudo para eu ganhar o rei do baile, não foi
o suficiente, porque se tivesse sido por mim, quando anunciaram a dança, você teria ido
lá, dançado comigo e me beijado. Mas sempre teve medo, por você.
Dei dois passos para trás e o observei em silêncio, nunca passou pela minha cabeça que
tudo que eu fazia, na verdade era só para me proteger. Sempre me falaram que era para
não tocar no Hector, mas nunca pensei que no fundo, sempre foi por mim.

Capitulo 23

Hector

De todas as merdas que o Neitan já tinha falado, essa foi uma das maiores. Conseguindo
de verdade me tirar do sério, porque de verdade, falar que ele era um valentão para me
proteger beira a imbecilidade.
— Eu…
— Não, eu não acabei… Você não sabe como era, não sabe como foi pra mim durante
três anos… Você sofreu bullying quando criança? Olha, foi bem pior no colegial, eu tinha
tanto medo do dia que seria comigo... — Enxuguei as lágrimas que tentaram escorrer.
— Eu nunca machucaria você.
— Você e seus amigos batiam em pessoas como eu. Vocês quase mataram meu melhor
amigo, porque ele errou algumas questões da prova e você olha pra mim e fala que foi
por mim? — Afastei-me transtornado e aumentando a voz. — Você não tem noção do

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medo que eu tinha de você… Eu tinha medo só de ouvir a voz de vocês no corredor… Eu
tremia na base de ouvir sua voz. Quando começamos a morar na mesma casa eu dormia
com medo, com a porta trancada e um canivete embaixo do travesseiro, por medo de
você… — Confessei.
— Hector… — Seus olhos encheram d’água.
— Não é simples. Aquilo é passado pra vocês, não é? Todos seguiram em frente, mas e
nós que sofremos semana após semana?? Como se segue em frente? Me fala Neitan…
Me fala como eu posso conviver com você em paz sabendo de tudo que fez…
— Eu nunca… — Ele se aproximou e eu me afastei. — Eu nunca… Nunca machuquei
ninguém, eu juro, nunca toquei em nenhum deles. Lógico, eu sempre estava junto… Nem
sempre… — Ele passou as mãos no cabelo passando para trás. — Eu não estava no dia
que machucaram seu amigo, mas fui eu quem ligou para ambulância. E fui eu que…
contei tudo, mas não fui eu…
— Não foi você? Estava sujo de sangue. Sabe como eu me senti, vendo o cara que eu
me apaixonei à primeira vista daquele jeito. Como eu podia ter sentido qualquer coisa por
você no momento que eu botei meus olhos. E aí você era aquilo, sabe como eu me senti
mal por isso.
— Hector… eu nunca toquei em ninguém, eu falava muito e provocava. Mas eu nunca
machuquei ninguém, o sangue é porque eu que socorri ele. E eu entendo que quando
você me viu… Pareceu outra coisa, mas não foi…
— Desculpa, mas eu não acredito em você, já que foi ele quem te reconheceu como
agressor…
O rosto inteiro do Neitan mostrou a surpresa por aquele fato. Ele parecia extremamente
surpreso com aquela acusação me fazendo duvidar das palavras do meu melhor amigo
da época. Ele deu um sorriso indignado e enxugou as lágrimas que escorreram.
— Eu nunca… nossa… me perdoa… sei que não vai mudar nada, mas sei que nada que
eu fale vai mudar como me vê e o medo que sentiu… então, me perdoa… — Ele
começou a andar de costas sem tirar os olhos de mim. — Eu tô indo pro acampamento,
estarei lá qualquer coisa, tem muita coisa o que fazer para as crianças amanhã. E é
melhor eu me afastar, assim não vai mais precisar dormir com um canivete embaixo do
travesseiro.
Ele saiu completamente transtornado, nunca tinha visto o Neitan daquele modo, como se
tivesse levado um soco no estômago ou algo assim. Porém, não parecia problema meu,

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então me virei e dei alguns passos em diante na trilha quando vi todos parados, me
olhando em silêncio.

— Henrry, vai atrás do seu irmão. — Janete falou se aproximando de mim. — Violeta,
continue com as histórias e os jogos, por favor. Eu e o Hector vamos andar um pouco
pela ilha.
— Ok. — Henrry saiu correndo e Violeta voltou à atenção para todos na roda envolta.
Jenete segurou meu braço e começou a caminhar para a outra trilha que tinha, ela
encostou a cabeça no meu ombro e me levou para uma parte onde não tinha mais
árvores, só o mar com uma pedrinhas formando a praia.
— Seus pais sabem que é gay? — Ela perguntou encerrando o silêncio.
— Sim, eles sabem… Assim que eu percebi, minha mãe percebeu junto, o modo que eu
olhava para as embalagens de cuecas. Ela soube na mesma hora, antes mesmo que
eu…
— As mães sempre sabem, não é meu bem? — ela olhou para o chão soltou meu braço e
se sentou.
— Acho que sim. — Sentei-me ao seu lado.
— Eu sabia, no primeiro dia de aula, no colegial, o modo intenso que vocês se olharam. Ai
meu querido, na mesma hora, eu soube. Vocês se olhavam de um modo tão único e
especial, parecia até que se conheciam.
— Eu…
— É verdade o que falou? Se apaixonou por ele à primeira vista?
— Me apaixonei. Não sei o que foi, mas foi amor à primeira vista.
— Como foi com ele. Ele se apaixonou por você à primeira vista também. — Ela sorriu. —
Acho que eu posso falar sobre isso, né? Já que ficou bem claro os sentimentos dele por
você.
— E vai me falar que tudo que ele fez foi por mim?
— Meu bem, eu não vou te falar nada. Eu quero que você me conte, eu sou a mãe do
Neitan, sei qual o lado dele da história, sei tudo que rolou com ele. Mas quero saber com
você, me fale o que esses olhos verdes têm para me contar.
— Não sei se quer saber o que eu tenho dentro de mim, quer dizer, são muitos lados
ruins do seu filho.
— Me fale o que quiser.

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Encolhi-me abraçando as pernas e encostando a cabeça nos joelhos sem tirar os olhos
do mar. Mesmo sendo um adulto e sabendo que o Neitan nunca conseguiria me tocar,
algumas vezes eu fechava os olhos e lembrava de tudo que tinha acontecido na época da
escola e aquilo era impossível de ser esquecido.
— Um dia, eu estava entrando na sala e vi ele encostado na lousa. Meu coração
disparou, o sorriso ficou estampado no meu rosto. Eu gostei tanto dele ser da minha sala,
íamos estudar juntos.
— O que aconteceu naquele dia?
— Um dos amigos dele pegou meus óculos e falou que iria testar se eu era cego mesmo.
Eu fiquei por quatro aulas sem ver nada a minha frente. Logo no primeiro dia de aula, eu
nem consegui ver as apresentações.
— Foi a primeira vez que eu fui chamada na escola, sabia?
— Por que te chamaram? — Perguntei tentando ver a ligação dos fatos.
— Neitan foi parar na coordenação. — Ela sorriu. — Ele entrou em uma discussão verbal
com um dos colegas, por conta de um óculos. Meu filho ameaçou um garoto por conta de
um óculos preto e redondo e ficou bem encrencado por aquilo.
— Foi o Neitan que… A coordenadora me devolveu sem falar o por quê nem como tinha
conseguido meus óculos.
— Ele pediu para que não fosse contado. O Neit nunca brigou fisicamente com ninguém,
sabe como meu marido era. Ele teria quebrado o filho na porrada.
— O pai do Neitan sabia sobre ele ser…
— Bissexual? Sim, sempre soubemos. E sempre apoiamos, quando ele brigou com meu
marido falando que faria de tudo para te proteger, eu entendi o quanto ele gostava de
você. E aí eu sentei com ele e nós conversamos por horas, eu entendia que eu iria muitas
vezes na coordenação, por conta dele defender você, mas se ele levantasse a mão para
alguém, iria para um colégio interno.
— Como sabe que ele nunca agrediu ninguém?
— O pai do Neitan sempre pedia as gravações do que tinha acontecido e fez isso no dia
que seu amigo foi machucado.
Comecei a balançar a cabeça e levantei rápido. Eu passei os últimos anos odiando o
Neitan pelo que ele fez naquele dia e qualquer outra versão da história acabaria com
todos os motivos. Acabaria com tudo. Eu tive medo do Neitan, eu sentia pavor dele e só
dele passar por mim eu tremia.
— Por que meu amigo mentiria?

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— Ai meu amor, não sei, mas acho que ele sentia mais medo dos outros rapazes do que
do Neitan. Meu marido era policial naquela cidade, ele não comandava como era aqui.
Então…
— Eu passei muito tempo com medo do Neitan pelo modo que eu vi meu amigo.
Entende? Eu… O Neitan… Entende?
— Na última briga do Neitan na escola, ele bateu em alguém. Lembra do Jorge? Ele
quase quebrou o garoto na porrada. O irmão mais velho do rapaz falou que iria… fazer
coisas com você, ele iria te embebedar no baile, como você estava desacompanhado e
ninguém iria te notar, ninguém iria saber o que aconteceu.
— Ele… O que? Ele queria me drogar? Ai meu Deus, calma, mas o Neitan não foi para o
colégio interno como você falou.
— O pai do Neitan morreu naquele dia. Ele foi buscar nosso filho na escola, ficou horas
na coordenação e eles nem foram para nossa casa, eu estava aqui, resolvendo algumas
coisas. Eu estava aqui e eles vieram direto para cá. Iríamos sentar e resolver o que
aconteceria com ele, já que faltava menos de um mês para o fim das aulas.
— E foi quando eles pararam no bar?
— Um policial em sua cidade. O que acha que aconteceria? Meu marido viu a confusão e
entrou no bar. Mandou meu filho esperar no carro e ligar para o delegado avisando.
Jenete parou respirando fundo deixando as lágrimas escaparem, mostrando como aquele
dia era duro para ela lembrar.
— Não precisa continuar…
— Preciso sim. — Ela sorriu. — Neitan viu o pai morrendo. Quando ele viu os idiotas dos
irmãos saindo correndo do bar, sujos de sangue, ele entrou e viu minha amiga sobre o
corpo do pai tentando estancar o sangue. Ele fez meu filho prometer que nunca mais se
envolver com aqueles rapazes e que iria seguir o coração.
— O Neit viu tudo? Ele viu o pai morrendo? Como… Ele…
— Ele fez muita coisa por você, eu admito claro, muita coisa sei que foi por ele. Mas o
baile, o rei do baile, era dele e sabemos disso. Porém, meu filho fez de tudo para você
ganhar para não ser invisível e ficar seguro.
Meu peito apertou de um modo insuportável, a completa agonia que tomou conta do meu
coração e que parecia que dilacerá-lo por completo. Eu sempre o odiei por coisas
pontuais, eu me convenci que ele não poderia ser o que todos falam pelo que eu achava
que era real.

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— Eu odeio o Neit… Eu o odeio pelo que ele fez e se não foi ele… Se nunca foi ele…
Meu medo, os pesadelos… tudo… entende? Se não foi o Neit, eu me torturei por anos,
por sentir algo por ele, por ter olhado e amado ele. Se não foi o Neit, eu me puni por anos.
Tem que ser o Neit. Por favor, me de um motivo para odiar ele… Porque eu fui mal com
ele todo o primeiro ano da faculdade depois dele ter perdido o pai, eu fui péssimo. Então,
eu não posso ter machucado quem eu amo, por algo que nunca foi ele.
— É o único motivo? Para você odiar ele? — Ela levantou e parou na minha frente. —
Aquele, só aquele dia? — Ela pegou o celular do bolso.
— Me deixa odiar o Neitan. Eu e ele, não é destino, é… Por favor, porque se eu não odiar
ele, eu vou me odiar. Porque eu tenho sido escroto nos últimos dois anos, cada resposta,
cada patada, cada vez que eu gritava com ele ou o ofendia. Por favor, me fale que eu não
acreditei em uma mentira.
— Eu vou deixar meu celular com você, se der play no vídeo que tem aí dentro, você vai
saber o que rolou assim que os imbecis se afastaram. Não tem a parte da agressão, mas
se quer saber a verdade. É com você…
Ela me entregou o celular desbloqueado e deu as costas e saiu andando. Eu fiquei
olhando para o celular na minha mão por alguns segundos. Sei que se eu desse play eu
iria saber a verdade sobre aquele dia e aí a culpa por tudo que eu já fiz ou falei viria à
tona. Até mesmo qualquer coisa que meus pais pudessem falar para contra, seria
mentira, tudo absolutamente tudo…

Capitulo 24

Neitan

Minha cabeça estava estourando, eu tinha falado a verdade para o Hector, eu finalmente
tinha falado a verdade para ele e ele falou tanta coisa que eu nem consegui processar
tudo. Eu só entrei no meu barco e logo meu irmão me alcançou me segurando.
— Não pegamos o barco com raiva, regra do papai.
— Não posso ficar, sabe disso.
— Por favor. Fica no meu quarto, que tal?
— Você odeia companhia. E eu preciso ficar longe, você o ouviu. Ele tinha medo de mim,
medo… Meu deus, eu o fiz ter medo de mim! Não entende?
— Entendo, só que ele não sente mais.

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— Não importa. A dor que eu causei nunca será esquecida mesmo que não seja minha
culpa, ele vai sempre me culpar.
— Neit, por favor, sai do barco, a gente entra. Vamos para minha ala e você bebe minha
adega inteira se quiser, mas, por favor, me escute, você tá cansado, precisa dormir
direito.
— Sai do barco ou eu te jogo na água. — Falei. — Ele não me quer perto e eu não vou
ficar, agora sai por favor, ou eu te empurro na água.
— Neit.
— Agora.
— Ok. — Ele respondeu dando um passo para trás, voltando para o deck.
Eu saí em direção à costa, eu iria para o acampamento distrair minha mente e focar no
trabalho. Sei que era idiota fugir, mas precisava de um tempo porque agora eu entendo o
ódio dele por mim, já que só sabe das mentiras contadas para ele. O pior é que não faz
sentido nenhum, porque o amigo do Hector falaria que eu o machuquei, sendo que eu
quem o salvei.
Parei o barco no deck, amarrei-o e subi as escadas para a cidade. Comecei a caminhar
pela rua de pedrinhas e a processar tudo, sei que eu não era o mais popular, mas mesmo
assim, porque ele mentiria? Se o Naiol foi preso aquele dia, não teria como machucar
ninguém, o Jorge estava apavorado com a prisão então, como ele poderia fazer alguma
coisa.
— Se não é minha puta favorita. — Naiol falou em um tom alto e embriagado.
Congelei por completo, meu corpo inteiro estava em pânico. Um grande flashback veio a
minha mente. A gritaria no bar, minutos antes do meu pai entrar. A conversa, a promessa,
e em seguida o silêncio devastador que teve no bar e o Naiol junto com o irmão.
— Vai embora. — Falei em um tom baixo e fraco.
— Como é que? Minha cadelinha está me mandando ir embora? Você esqueceu que me
deve um roubo? Lembra o roubo ao hotel, na época de férias?
— Não vou fazer isso.
— Como assim? — Ele estalou os dedos e os outros cinco meninos que andavam com a
gente apareceram me cercando. — Soube que o Hector está com você, nunca vai mudar,
não é?
— Vai fazer o que? Me bater? Bater no Hector? Somos adultos, o que acha que vai rolar
agora?

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— Sabe a faca que entrou no seu pai? — Naiol sorriu. — Eu ainda tenho ela, suja do
sangue daquele porco.
— Não ouse falar do meu pai. — Avancei e um dos garotos apontou uma arma pra mim.
— Olha só, armado! E o idiota pretende fazer o que, exatamente? Atirar em mim no meio
de uma rua vazia? No bar não tinha como saber quem esfaqueou meu pai, mas aqui dá
para saber quem foi o imbecil que puxou o gatilho.
— Ah, não se preocupe, a arma é pros convidados. — Ele apontou atrás de mim. —
Reconheço muito bem o barco da sua família.
— Merda. — O pânico tomou conta de mim. — O barco do meu irmão só era pilotado por
ele e como eu sei que minha mãe jamais deixaria ele vir sozinho, tem grandes chances ou
dela estar junto ou a minha irmã. — Quer o dinheiro do hotel, tudo bem. Eu te dou, mas
não envolve eles nisso.
— Espera, eu não posso fazer isso. Eu tenho saudades da sua família, eles eram tão
acolhedores. — Ele tirou uma arma das costas. — Quem será que veio atrás de você
cadelinha. — Ele se aproximou parando atrás de mim e passando a arma no meu rosto.
— Naiol, por favor, só vai embora.
— E qual seria a graça de ir embora, qual?
Eu comecei a rezar, suplicar para ser dois dos meus amigos, que ele não fazia ideia de
quem são e deixaria os dois irem, ou empregados, qualquer desconhecido para o Naiol,
que não faria nada. Mas assim que o barco parou meu coração doeu, pois eu pude ouvir
a voz que saia do barco.
— Naiol, por favor, só vai embora e eu prometo que terá o dinheiro, não faz nada.
O medo tomou conta de todo meu corpo e assim que Hector apareceu no topo da escada
com meu irmão ao seu lado meu coração apertou de um modo que eu não saberia
descrever. Uma garoa fraca começou a cair e a cada segundo a dor piorava de muitos
modos.
— NEIT! — Hector gritou ao me ver e assim que ele tentou correr meu irmão o segurou.
— Naiol, por favor… — Implorei.
— O que veio fazer aqui Naiol? O que você quer? — Meu irmão falou sem soltar o Hector
— Seu irmão nunca contou sobre nós? — Ele acariciou meu rosto com a arma. — O
combinado era que eu teria dinheiro enquanto esse negocinho aí tivesse proteção.
— E quanto você quer? Me fala que dou um jeito de conseguir.
— Por favor, Naiol, deixa eles fora disso. O acordo é comigo, então, deixa o Hector e o
Henrry irem embora.

97
— E aí eu perco a vantagem? Não sou idiota. Porém, em sinal de boa fé, deixo um ir e o
outro vem comigo. Qual você escolhe?
— Me leva. — Falei. — Meu irmão faz a transferência para você, aí quando tiver o
dinheiro, você some.
— Eu sempre amei os olhos verdes do seu namoradinho.
— Não somos namorados. — Respondi rápido. — Nunca tivemos nada, é só uma queda
idiota que eu tenho por ele, então, por favor, deixa o Hector ir embora com meu irmão.
— Olha bem para aqueles olhos. — Ele apontou a arma para o Hector e mandou ele se
aproximar. — Acha mesmo que ele não sente nada? O medo dele. Olha para esses lindos
olhos Neitan. O destino parece adorar vocês…
— Eu fico. — Hector me olhou nos olhos. — Eu fico como garantia, todos sabem que o
Neitan faria tudo por mim, então, eu fico. E os dois vão…
— Hector, cala a boca… Por favor, cala a droga da boca.
Eu sabia exatamente do que o Naiol era capaz, sempre soube, por isso eu contava para
os meus pais todos os planos, por mais idiotas e estúpidos que parecessem, só para
evitar que alguém se machucasse, mas agora, eu to às cegas e não tenho como fazer
nada, além do que ele me pede.
— Tá tudo bem. — Ele deu um pequeno sorriso. — Eu sei que não deixará nada
acontecer comigo, confio em você.
— Ele confia em você. — Naiol me soltou e se aproximou do Hector puxando o amor da
minha vida contra seu peito e virando seu rosto para mim. — Ele confia em você, não é
bonito? Ai o amor, ele é apaixonado por você desde o momento que olhou para você na
escola. Não é, olhos verdes?
— Sim… — Hector desviou o olhar. — Desde o segundo que eu te vi com seus pais.
— Own… — Naiol me olhou e sorriu. — Fofo, não é? Mas agora que você tem a
motivação certa, espero o meio milhão?
— O que? — Meu irmão falou sem acreditar. — Quer meio milhão? De onde acha que
vamos tirar esse dinheiro?
— Não sou idiota, sei quanto o Hotel fatura, o bar, até mesmo o acampamento, então, dê
um jeito ou grande destino do Neitan morre, como seu pai.
— Eu vou dar um jeito. — Falei. — Mas não machuca o Hector, por favor?!
— Eu vou ficar bem. Eu juro. — Hector me olhou. — Eu sou apaixonado por você, sempre
fui, e sei que vai ficar tudo bem, porque eu fui muito idiota.

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— Chega. — Naiol falou apontando a arma para mim. — Vai, o dinheiro tem que estar na
minha conta que você deve saber de cor. A das ilhas bem distantes, eu quero o dinheiro
nela, e aí eu aviso o lugar para você encontrar o seu pequeno destino.
Um dos rapazes pegou o Hector pelo braço e o levou para um dos carros, colocando ele
no banco do motorista. E os outros se distribuíram em dois carros, sendo que Naiol foi no
banco do carona ao lado do Hector.
Hector me olhou uma última vez antes de ligar o carro e começar a dirigir. A pior
combinação tinha acabado de acontecer, o Hector com o Naiol dirigindo na chuva,
provavelmente indo pegar a estrada a noite….

Capitulo 25
Hector

Ver o Naiol com uma arma contra o Neitan me deixou em pânico, eu nem sabia ao certo
como reagir, eu só precisava protegê-lo, como ele sempre fez por mim. E eu sei que de
muitas maneiras nada vai acabar bem, já que os meninos podiam ter ligado para mãe e
transferido o dinheiro na mesma hora, porém, não era a ideia do Naiol e essa era a pior
parte. Porque eu sei que ele vai me usar para conseguir muito mais da família Harman, e
eu não podia deixar isso acontecer.
— Ele nunca tocou em você? — Jorge perguntou do banco de trás.
— Não, nós nunca tivemos nada. Nem sequer nos beijamos.
— Não acredito que o idiota continua guardando a virgindade para você. — Jorge riu
olhando para o irmão que ria junto.
— O Neitan é virgem? Mas ele teve várias namoradas de muito anos.
— E você? — Naiol tocou minha cocha. — É virgem?
— Não, mas eu juro por Deus que se pensar em tocar em mim eu capoto esse maldito
carro, sem me importar se eu vou morrer junto ou não.
— Olha só, sempre achei que era um nerd idiota. Mas na verdade não é bobinho. —
Jorge se aproximou de mim, passando os dedos pela lateral do meu rosto — O que ele vê
em você? Eu sempre estive ali com ele, era comigo que ele ria, era comigo que ele se
divertia, mas sempre foi para você que ele teve olhos não é…

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— Esquece o idiota maninho. A gente vai pegar o dinheiro e tudo mais que conseguirmos
em troca dos olhos verdes, vamos recomeçar bem longe daqui e quando acabar o
dinheiro, a gente volta e faz de novo.
— Pediram muito dinheiro e ainda pretendem repetir daqui a alguns anos? O que
impedem eles de mandar prender vocês?
— Talvez o medo de saber que se ele fizer isso, uma hora eu vou querer acertar as
coisas e não serei tão gentil.
— Gentil? Estava passando uma arma pelo rosto do Neitan, como é ser gentil? —
Perguntei transtornado.
— Ué, não atirei em você. Eu quis saber como você estava, e mesmo que ele tenha me
implorado, tenha suplicado para deixar você ir, eu fui gentil e te trouxe para um passeio,
um adorável passeio. E tô pensando em como te entregar.
— Talvez se mandássemos em partes, o Neit iria gostar ou talvez com a faca que você
usou para matar o pai dele enfiado na garganta desse aí. — Jorge sorriu.
— Se me matar sabe que nunca vai ter mais nada do Neitan, nem da família dele. Se me
matarem ele nunca mais vai deixar vocês em paz e sabem disso.
— Ele tem razão. Mas se eu tirar sua roupa e mandar fotinhos para ele, acho que o jogo
fica mais divertido. — Jorge pegou a arma e segurou.
— É só um jogo, não é? Porque você sabe que eles poderiam ter o dinheiro em minutos,
mas mesmo assim você me quis, por quê?
— Porque machucar você é melhor que dinheiro. — Ele olhou para o irmão que estava ao
meu lado. — E quando eu gravar, fudendo com você que nem eu sempre quis fazer com
ele, o Neitan vai entender, que eu sou melhor que ele. Sempre fui…
Tentei processar ao máximo aquela informação e pensar em todas as possibilidades,
porque eles iriam fazer isso para sempre e ainda por cima iriam sabe se lá fazer o quê
comigo para machucar ainda mais o Neitan. E mesmo que eles fossem presos de novo
iriam continuar saindo e infernizando a vida do Neitan, mesmo que a gente nunca fique
juntos, ele não merece sofrer todas às vezes. E sem motivo algum, só para me proteger.
Olhei disfarçadamente para o Naiol para verificar se ele estava de cinto e por sorte ele
não estava, muito menos o Jorge que estava sentado atrás do irmão. E misturando isso,
com a pista molhada pela chuva e estarmos chegando a quase oitenta quilometro por
hora com o carro atrás do nosso sendo o dos outros idiotas que devem também estar sem
cinto. Talvez causar um acidente não fosse realmente a pior coisa, já que com a

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velocidade e o impacto provavelmente os dois morreriam na hora ou pelo menos ficariam
gravemente feridos. E eu talvez sobrevivesse…
A questão não era pensar, a questão era só fazer, era só por uma vez fazer por ele o que
ele sempre fez por mim. É demonstrar só uma vez que eu estava errado e que ele vale a
pena, que eu sei a verdade, que eu vi o vídeo do dia e sei o que rolou… Então, fiz o que
eu precisava fazer…

Capitulo 26

Neitan

Eu e meu irmão corremos para o hotel, eu estava falando com a minha mãe enquanto o
meu irmão entrava no sistema do hotel. Porque eu sei que temos dinheiro, todos sabem
que temos dinheiro, mas temos muitos negócios, e muitos empregados, então querendo
ou não o dinheiro não é livre. Mas não é como se eu não fosse vender a alma caso
precisasse.
— Filho me esculta. — Minha mãe falou do outro lado da linha. — Eu só preciso de um
tempinho, para movimentar o dinheiro pelas contas…
— Mãe quanto mais tempo demorar, mais longe eles vão estar.
Falei completamente em pânico, sem saber o que fazer. Meu irmão digitava rápido no
computador acessando as contas dele e da empresa, enquanto minha mãe tentava me
acalmar e falava com a minha irmã que acessava as outras contas. Assim que ouvi o
telefone da minha irmã tocar, o silêncio pairou do outro lado da linha, os cochichos
pararam e eu não ouvi mais ninguém além da minha irmã que falava no celular.
— Sim, sim. Não é o meu irmão… é o namorado dele… — Minha irmã falou com alguém
do outro lado da linha. — Eu agradeço obrigada…
— O que aconteceu? — Perguntei em pânico. — Mãe fala o que tá acontecendo, com
quem a Vi estava falando?
— Filho… era do hospital…
Meu mundo inteiro parou naquele segundo. Eu soltei o celular que foi para o chão, peguei
a chave do carro que pertencia ao hotel e sai correndo, não me importava o resto da
ligação, não importava mais nada. O mundo inteiro estava em câmera lenta, minha
respiração, meus passos, o barulho ao fundo. Tudo tinha ficado diferente, não tinha nem

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passado meia hora que eles tinham saído. Meia hora, e simplesmente eu não podia
acreditar naquilo, não dava para suportar a possibilidade de alguma coisa ter acontecido
com ele por minha causa.
— Espera. — Meu irmão me segurou assim que cheguei à porta do carro. — Você não
tem condições de dirigir, eu te levo.
Eu não discuti, estava tremendo tanto, que nem destrancar o carro eu conseguia direito,
imagina discutir com meu irmão mais velho.
Ele me devolveu o celular e entramos no carro, eu estava atordoado e em pânico, de
novo o Naiol iria conseguir tirar alguém de mim. Eu perderia o homem que eu prometi pro
meu pai, que faria de tudo para me ver de outro modo, que eu prometi que iria cuidar do
modo certo. Eu prometi que mesmo que o Hector nunca me quisesse, eu faria de tudo
para ele ser feliz, e seguir sem qualquer motivo para me odiar.
— Não posso perder ele. — Me encolhi no banco do carro. — Não posso, não dá…
— Maninho ele vai ficar bem, você vai ver, ele é forte. E ele é o seu destino, a Vi sempre
fala isso. Vocês estão ligados e ele não vai te deixar assim…
Queria tanto acreditar, queria mesmo que fossemos o destino um do outro, mas são só
tolices que meus irmãos acreditam e nada, além disso. Nada além que superstições e
crenças que eu não sei como acreditar, que eu não faço ideia do que significam ao certo.
Assim que eu vi as luzes da sirene da polícia e das ambulâncias na estrada e os dois
carros estraçalhados, o carro que o Hector estava tinha capotado e o de trás estava
completamente deformado, Hector deve ter freado o carro e com a pancada do carro
traseiro eles capotaram.
— Ai meu Deus. — Meu irmão falou assim que vimos as lonas cobrindo cinco corpos na
estrada. — Ele freou o carro, não foi?
— Ele sabia que não iriam devolver ele ileso… — As lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Provavelmente ele sabia o que queriam com ele, porque se fosse só pelo dinheiro não
teriam levado ele…
— Maninho…
— Não fala nada, não precisa só me leva para o hospital.
A dor me consumia de tal maneira que eu nem conseguia falar, eu não conseguia pensar
em mais nada. Na minha cabeça só vinha cada momento idiota ou bobo entre nós dois,
cada olhar, briga ou provocação. E a dor incessante que vinha um modo estranho que
nós dois tínhamos de ficar um do lado do outro, de sempre estar presente.

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— Chegamos. — Meu irmão apontou para o hospital que ficava fora da cidade.
Saí do carro devagar, olhando para cada canto daquele ambiente, que sempre me
apavorou, as mesmas luzes piscantes, o barulho alto de pessoas desesperadas, e o
cheiro de ambiente hospitalar. A mesma sensação que eu senti quando foi com meu pai
reapareceu, o medo, a dor, insegurança, a incerteza, tudo, menos a esperança, como
naquele dia.
Entrei pela porta com meu irmão logo atrás e meu tio estava nos esperando na recepção,
eu não ouvia nada que ele falava, nem uma palavra sequer. Tudo que eu conseguia ver
eram os rostos e os detalhes nas paredes, como um grande déjà vu. Nada era diferente,
as cores, os detalhes, nada tinha mudado.
— Ei. — Meu tio parou na minha frente. — Ele está vivo. — Ele me olhou nos olhos. —
Está apagado, mas ele sobreviveu.
— Maninho, não é o mesmo dia. Não é, olha para mim, não vai acontecer o que
aconteceu com o papai. O Hector vai ficar bem.
Assim que meu irmão falou o nome dele, o mundo inteiro voltou ao normal, o som, o
cheiro, a velocidade das coisas, tudo voltou ao normal de uma vez só.
— Quero ver o Hector, eu quero ver ele. — Falei.
— Ele está no exame, passando pela última bateria de exames e assim que for liberado
eu levo vocês lá.
— Os pais dele, foram avisados? Eles perderam a filha em um acidente de carro, e o
Hector ficou inconsciente por dias, alguém precisa avisar eles.
— A mamãe mandou um dos helicópteros do hotel ir buscar eles e a Monique ia ligar, não
se preocupa. Vai ficar tudo bem.
— Vai ficar tudo bem, é uma sequência de palavras muito ariscada para ser dita nesse
momento. — Respondi. — Mais alguém sobreviveu ao acidente?
— Não, os dois carros que se envolveram no acidente só ele estava com cinto de
segurança e era o único que não estava bêbado.
— Eles sequestraram o Hector, Naiol saiu da cadeia e queria dinheiro. Levaram o Hector
como garantia tio. E provavelmente o Hector causou o acidente.
— Cinco mortos. — Ele me olhou. — Estará no relatório médico que ele levou uma
coronhada antes do acidente. Provavelmente foi o que fez ele perder o controle do carro e
causar o acidente. Não vou colocar outra coisa além disso.
— Ok…

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— Espera, seis. São seis. — Meu irmão falou. — Eu contei tinham quatro no segundo
carro. Seis mortes, não cinco.
— Temos cinco. Mas não se preocupem, provavelmente o outro deve ter sido
arremessado para fora do carro, eu vou pedir para realizarem busca por perto.
— Ok.
Meu tio era quem comandava o hospital há quase cinco anos, ele era o diretor, então
provavelmente, assim que minha irmã falou quem era, tudo ficou um pouco diferente. Já
que todos da minha família sabem quem o Hector é e o que ele significa para mim, ainda
mais que eu precisei ser livrado por anos da merda que eu fazia.

Capitulo 27

Hector

A sensação de morrer era estranha, mas conhecida para mim. Eu tinha ficado em coma a
beira da morte, anos atrás. Tudo era igual aquele exato momento, minha mente tentava
processar o que estava ouvindo, mas rapidamente parava, eu me via em um sonho, um
lugar lindo com muitas árvores. Com o som do mar ao fundo, deixando o ambiente lindo e
calmo. Levantei-me do chão e vi minha irmã jogando pedrinhas em direção à água, ela
estava enorme e tão diferente, com um ar tão angelical.
— Por que está aqui? — Ela falou sem se virar. — Por que fez aquilo?
— Porque eu minto para mim há anos, sobre o Neitan. Porque todas às vezes que ele
mostrou bondade eu duvidei e eu sei que ele merece mais, ele passou por muito e eu sei
que ele merece mais.
Ela me fitou com seus lindos olhos verdes e se aproximou de mim, me analisando por
alguns segundos.
— Você quis se matar?
— Não, eu quis salvar o Neitan. Eu juro que eu não consegui pensar em outra
possibilidade. — Peguei algumas pedrinhas do chão e comecei a jogar em direção a
água. — Eu sou apaixonado por ele desde o minuto que o vi.
— Eu sei, e ele é por você. Mas vocês ficam fazendo coisas idiotas que afastam um do
outro.

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Era estranho ter minha irmã, ainda mais ela sabendo de tudo e mesmo que eu saiba que
é só minha cabeça criando tudo isso. Eu ainda estou.
— Sim, eu sei. Somos bem complicados e cabeça dura.
— Vocês gostam um do outro, então, por que não param de se enganar e dão uma
chance para o destino de vocês?
— Por que todos falam sobre destino? É tão irritante.
— Sabe que existe uma lenda sobre o fio vermelho? — Ela sentou no chão. — Na
verdade, existe mais de uma. Existe a tailandesa, que envolve o ato de amarrar o fio
vermelho nos dedos de pessoas que morreram por amor. E que na próxima vida eles vão
ficar juntos em algum momento.
— Sim, eu conheço essa. — Me sentei ao seu lado.
— Essas pessoas são predestinadas pela vida anterior. E mesmo que elas queiram não
tem como fugir. Tem a lenda mais comum que é a do destino, ela é a da China. Que fala
sobre a ligação de almas criadas por um deus da noite. E a interpretação dela em outras
culturas em que é chamada de construção das almas gêmeas. Todas envolvem o amor, o
destino, a predestinação, o amor eterno e as almas que não podem viver uma sem a
outra.
— E nós dois somos o destino, não é?
— São! E você pode tentar fugir dele ou aceitar. Mas se eu deixar você acordar, tem que
me prometer que vai fazer de tudo pelo seu destino. — Ela pontuou firmemente.
— Eu prometo. Fazer o que puder.
— Então acorda. Nossos pais estão preocupados, faz muitos dias. Esta na hora.
Ela me deu um beijo na testa e se levantou, começando a andar em direção à floresta
fechada. E foi quando eu vi o Neitan se aproximando de mim, com aquele lindo sorriso.
Levantei-me e ele segurou minha mão, seu rosto estava úmido pelas lágrimas e seus
olhos vermelhos.
— Por favor, acorda. Por favor, eu não posso perder você. Não é justo! Então, por favor…
— Sua voz ecoou em minha mente.
E foi quando eu comecei a sentir a dor percorrendo todo meu corpo, uma grande pressão
veio a minha mente. Comecei a tentar me mexer, segurei a mão do Neitan mais forte e foi
quando comecei a ouvir outras vozes e por fim comecei a abrir os olhos.
Eu só consegui ver Neitan segurando minha mão, não conseguia nem por um segundo
desviar meus olhos dos dele. Seu lindo sorriso abriu quando me viu e eu não consegui
não sorrir de volta para ele.

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— Nunca mais faça isso. — Ele acariciou meus cabelos. — Nunca mais me assusta
assim, Hector.
— Nunca mais se envolva com quem não presta, Neitan.
— Eu prometo. — Ele sorriu e beijou minha testa.
— Filho. — meu pai sentou na beira da cama. — Você está bem?
— Pai… desculpa, eu fiz algo idiota, mas eu precisei.
— O Neitan nos contou tudo, esta tudo bem filho. Mas sua mãe… Você sabe como ela é,
ela pediu a sua transferência da faculdade. E assim que você for liberado vamos te levar
para casa.
— O quê? — Fitei Neitan que abaixou a cabeça. — Eu não vou a lugar nenhum, tenho um
trabalho de verão para fazer, e um trabalho para fazer. E espero que ela não tenha feito
nada sem meu consentimento, porque eu não tenho cinco anos.
— Filho se acalma. Depois falamos disso. — Meu pai levantou pegando o celular,
provavelmente para avisar minha mãe.
— Não pai. Eu sou completamente apaixonado pelo Neitan desde o momento em que o
vi. E eu sempre tentei me afastar e negar isso. Mas eu não vou fugir do que eu sinto e
sinceramente, eu quase morri para proteger ele, não vou simplesmente levantar e ir
embora. Então não, eu não vou a lugar nenhum porque a mamãe quer. Isso está fora de
cogitação.
— Vou falar com a sua mãe. — Ele saiu do quarto nos deixando sozinhos.
— Hector, por favor, se acalma. — ele acariciou meu rosto. — Tá tudo bem.
— Você me deve um encontro, com uma cesta de piquenique, chocolates importados.
Deve-me laranja com morangos e nada de queijo. — Sorri. — Neitan, você me deve uma
noite incrível onde fique pensando, se esta tudo perfeito ou se faltou algo, me deve um
encontro onde eu pense se o queijo fez falta e se você gosta mesmo daquilo ou se só fez
para me agradar. Deve-me um vinho tinto ao invés de seco, você me deve um encontro.
Onde mate qualquer um que sonhar em interromper nosso beijo.
— Quer um encontro?
— Eu quero e um filme clichê horrível que eu sei que eu vou odiar, mas que te faça sorrir
porque você é um bobo romântico.
— Acredito que se apaixonou antes dos três meses acabarem. — Neitan abriu um
grande sorriso se aproximando mais de mim.
— O problema que eu sempre fui apaixonado pelo idiota da minha sala.

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— Então, eu vou te dar um selinho só para deixar claro que não tenho a intenção de ser
só seu amigo.
Eu sorri mordendo o lábio como da primeira vez que ele falou sobre me beijar. E dessa
vez ele fez o mesmo, mordeu o canto do lábio e foi se inclinando sobre mim, logo eu senti
seus lábios tocarem os meus. O toque mais doce e carinhoso que eu já tinha sentido em
meus lábios.
Sua mão foi para a lateral do meu rosto e eu iniciei lentamente um beijo mais profundo e
ele começou a retribuir. Eu não sabia o quanto queria beijar aqueles lábios até por fim ter
eles nos meus em um beijo delicado e incrível.

Capitulo 28
Neitan

Mas obviamente que, aquele momento doce e nosso não duraria por muito tempo, eu sei
que não queria ter que enfrentar a mãe do Hector, mas claro que assim que o pai dele
avisou que ele tinha acordado ela voltaria correndo para ver o filho, e como estávamos
nos beijando não poderia ser em outro momento. Mas eu queria pelo menos ter
aprofundado mais e conhecido sua língua antes daquela pausa ríspida.
— Será que pode se afastar do meu filho. — A voz ríspida da mãe do Hector soou no
quarto do hospital, me fazendo levantar rápido.
— Desculpa senhora. — Olhei para Hector e depois fitei o chão em silêncio.
— Pode sair do quarto, Neitan?
— Claro, senhora!
— Ele fica. — Hector segurou meu punho. — Ele vai ficar aqui comigo, mãe.
— Precisamos conversar filho.
— Uma conversa que irá envolver o nome do Neitan, então, não tem porque ele sair. —
Hector se arrumou na cama.
— Hector, está tudo bem, eu posso sair.
— Não vai a lugar nenhum. — Ele me puxou para sentar ao seu lado. — Somos todos
adultos, não é? Então, o que quiser falar mãe, pode falar na frente do cara que eu sou
completamente apaixonado desde o colegial.

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A mãe do Hector foi até a porta do quarto e a fechou por completo me fazendo sentir o
que estava por vir. O ar ficou preso no meu peito e eu segurei a mão do Hector com força
e ele logo me puxou para mais perto.
— Sabe muito bem minha opinião sobre esse menino.
— Sei mãe, e você sabe muito bem meus sentimentos para o mesmo menino em
questão.
— Vai ser transferido de faculdade, eu tolerei você morando com ele e olha aonde você
veio parar.
— Mãe… — Hector me fitou e sorriu. — Você nunca me proibiu de nada e sempre falou
que me amaria, então, por favor me ame sem me proibir, porque eu sou apaixonado pelo
Neitan há anos e sabe disso.
— Como pode gostar de um agressor.
— Senhora. — Levantei tomando coragem. — Se quiser falar que eu gritava com as
pessoas, que eu fazia elas se sentirem mal, pode falar, eu sou realmente culpado desses
fatos, mas eu nunca agredi ninguém.
— Agressor não é só o que bate, é o que fala e o que intimida.
— Sei que nunca vai entender senhora, como é ser um homem como eu ou como seu
filho. Nunca vai saber o que as pessoas fazem para se proteger e tudo bem não entender
o que eu sentia, mas meu medo de me assumir sempre foi minha maior fraqueza e
sinceramente, eu fiz de tudo para me proteger, sim, mas eu nunca toquei um dedo no seu
filho e sempre fiz de tudo para proteger ele ao máximo.
— Você é como aquele menino que mora com vocês. O tal de Domincik, outro agressor
que acha que os meios não importam, não é? Vocês fizeram bullying e não se importam
como as pessoas ficavam, era eu quem dormia com o Hector quando ele voltava para
casa, apavorado por sua culpa.
— Mãe…
Olhei para o Hector e ele abaixou a cabeça. Eu sabia bem tudo que tinha rolado e ele
deixou bem claro na nossa última briga tudo que tinha passado e sentido, mas ele voltar
tão apavorado por minha culpa ao ponto de só dormir com alguém por perto é um pouco
mais complicado do que se imagina.
— Senhora… — Fitei-a. — Eu sei que nada pode explicar o que eu fiz, nem mesmo
apagar tudo que o Hector passou, mas primeiro, gostaria que não falasse o nome do
Dominck em vão, ele nunca fez nada. Sei que nossas histórias são parecidas, mas ele
nunca fez nada, e meu amigo não merece ser comparado comigo.

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— Um agressor sempre defende o outro.
— Senhora, em segundo lugar, sei que pode me odiar por tudo que o Hector sentiu nos
últimos anos, mas eu sei que ele nunca mais passou por nada disso, porque eu estive lá
todos os dias. Eu sempre garantia que ele comesse a noite e que, mesmo brigando
comigo todas as refeições eu sabia que ele comia porque eu garantia isso. Sei que ele
começou a comer melhor porque o Lucca fez todo mundo entrar na linha e sei que ele
não trabalha mais como um louco porque eu fui ao trabalho dele e resolvi isso.
— Foi você? — Hector voltou a me olhar. — Você que falou com a minha chefe?
— Eu… Qual é? Não tava dando conta de tudo, então, eu fiz o que eu sempre faço, eu
cuidei de você.
— Mãe… — Ele encarou a mãe e esticou a mão em sua direção e ela se aproximou. —
Confia em mim? Eu disse que ficaria tudo bem na faculdade, não é? Então, agora confia
em mim de novo? Por favor? Eu gosto do Neitan, e ele não é o cara que eu achei nem
que.
A mulher nos olhou por alguns segundos e fitou nossas mãos ainda entrelaçadas desde o
início da conversa e por fim ela deu um pequeno sorriso e beijou a testa do Hector.
— Ele em momento algum foi embora, sabia? Nem eu gritando com ele, nem mesmo
ameaçando. O Neitan não foi embora, só que eu queria saber se era só por culpa ou se
era porque sentia algo realmente.
— Estava me testando? — Perguntei abismado.
— Sim, eu estava, você já fez muita merda com um péssimo histórico, então, sim, eu
estava e mesmo ainda não gostando de você, eu nunca me meteria no que esse aí quer.
— Obrigado mãe.
— Calma, é sério? — Questionei mais uma vez. — Não vai me matar nem mudar ele de
faculdade?
— Não, vocês são adultos. Meu filho é livre para decidir a merda que quer fazer, e quem
quer namorar, então não é um problema meu. Mesmo que eu seja mãe, não posso
proteger ele dos problemas do coração.
— Mas não gosta de mim?
— Nem um pouco, mas não sou eu que tenho que gostar. E se gosta mesmo do meu filho
sei que fará de tudo para que eu mude de ideia querido.
— Ainda vai me chamar de genrinho.
— Minha mãe? — Hector gargalhou.
— Nunca. — Ela afirmou.

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— Vocês vão ver. — Provoquei abraçando o Hector. — Ela vai me amar, todo mundo me
ama de crianças a idosos.
— Claro que sim. — Minha sogrinha respondeu sem botar fé.
Os dois gargalharam da minha cara como se eu nem estivesse lá. Mas eu sei que eu
poderia demorar pra conseguir conquistar a minha querida sogra, mas eu gostava de
verdade do Hector, então, eu não iria simplesmente me afastar dele nem deixar ninguém
intervir, não de novo.

Capitulo 29
Hector

Eu conhecia muito bem minha mãe e sabia que mesmo ela querendo muito intervir e
bater no Neitan por tudo, eu sabia que ela não faria isso de modo algum, pois como ela
mesma sempre fala a vida é minha para eu escolher as merdas que eu faço. Mas acho
que o modo que ela testou o Neitan foi bem à cara dela e eu adorei ver que ele não saiu
do meu lado e muito menos aceitou as coisas que ela estava falando dele. Claro que
depois de todo um discurso, dela e depois do meu pai, vários exames de reflexo e uma
visita dos meus amigos, eu e o Neitan voltamos a ficar novamente sozinhos e eu adorei
aquilo.
— Então… — Ele deitou ao meu lado na cama de hospital. — Aquele encontro que eu te
devo, o que acha de marcarmos para quando você sair daqui?
— Parece perfeito, mas não sei... isso é um convite?
— Não é. O convite foi feito quando eu te beijei.
— Acho que eu não ouvi o convite. — Provoquei.
— Droga! Terei que te beijar de novo?
— Me chama para sair, de verdade, sem brincadeira, como fez milhares de vezes com
outras pessoas.
Neitan sorriu, levantou da cama me soltando e fitando meus olhos.
— Não posso. — Ele segurou minha mão. — Não posso fazer como eu sempre fiz com as
outras pessoas, porque eu não estaria sendo justo. Pois eu não chamo as pessoas para
sair. Elas se convidam ou me convidam então, não posso fazer como faço com as outras
pessoas, porque aí eu não convidaria você.
— Espera aí, você nunca convidou ninguém?

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— Não, do mesmo modo que eu nunca passei das preliminares, nem mesmo cogitei. E
claro, do mesmo modo que eu nunca viajei com alguém do meu lado no carro que não
fosse da minha família, nem nunca deixei ninguém dirigir meu carro.
Meu peito transbordou por alguns segundos e o sorriso ficou estampado sem nem
conseguir disfarçar o quanto eu queria beijá-lo. Não sei por que, mas querendo ou não o
Neitan tinha a fama de ser bem “solto” então, quando ele me fala que, literalmente nunca
nem chamou ninguém para sair, isso me faz sorrir igual a um idiota.
— Então, vai ter mesmo que me chamar para sair. — Respondi.
— Ok… — Ele sorriu. — Me um minuto.
Neitan sorriu e saiu correndo passando pela porta do quarto e esbarrando no tio que
estava entrando para me ver. Nós dois ficamos sem entender nada, nos olhando por
alguns segundos. Meu médico verificou meus sinais vitais e falou quando eu seria
liberado. Antes que eu pudesse perguntar sobre os caras que estavam no carro comigo,
Neitan voltou correndo com uma cesta de piquenique vazia e uma flor, provavelmente do
jardim do hospital.
— Eu vou dar licença para vocês. — O tio do Neitan sorriu e nos deixou sozinhos.
— Eu falei que um encontro seria com uma cesta de piquenique, velas e também que
teria morangos e laranjas. Então, eu sei que vai ser complicado eu conseguir tudo agora,
porém, permita que eu comece esse convite com o que para mim é o mais fácil de
conseguir, já que tenho a cesta no carro. — Neitan colocou a cesta no meu colo. — Quer
um encontro comigo? Onde a cesta vai ter tudo que você gosta, menos queijo?
— Tudo que eu gosto pode ser complicado.
— Prometo me esforçar para te fazer ter o melhor primeiro encontro que já teve, ainda
mais que sei que você já teve muitos. Permita que eu lhe dê seu primeiro último
encontro? — Neit me entregou a flor sentando ao meu lado. — Aceita?
— Vai garantir que será meu primeiro último encontro?
— Sim, eu vou garantir que nunca mais queira outra pessoa além de mim. Vou ser
perfeito, romântico, presente, carinhoso e você nunca vai cansar de mim, nunca vai
querer me trocar.
— Sei não, natal tá chegando, eu posso ter pedido para o papai Noel um macho de
presente de natal.
— Esse macho está na sua frente. Besta. — Ele deu um tapinha na minha mão. — E você
lembra que eu já vi a mamãe Noel? Lá no posto de gasolina? Então querido, esquece,

111
você me ganhou de natal. Que, aliás, será em duas semanas, e eu nem sei se vou passar
com meu namorado.
— Namorado? — Questionei rápido.
— Preciso fazer esse pedido também, né?
— Tem sim!
— Ok, mas você não pode estar na cama do hospital.
— Sem problema, seu tio falou que eu saio amanhã, então…
— Então…
— Eu aceito sair com você.
— Perfeito!
— Mas, eu preciso só ver com meus pais onde eles vão passar o natal, ok?
— Eu… posso fazer uma coisa? — Ele mudou rapidamente de assunto.
— Acho que sim.
— Ok, respira fundo e fecha os olhos.
— O que?
— Confia em mim?
Sem contestar, respirei fundo e fechei os olhos, ficando completamente tenso. Minhas
mãos ficaram rapidamente soadas e eu fiquei parado esperando alguma coisa acontecer
e foi quando senti seus lábios, indo em encontro aos meus, me fazendo assustar. Mas
rapidamente me deixei levar e senti sua língua úmida pedindo passagem convidando
nosso beijo para ser um pouco diferente do que estava sendo. Eu o queria no meu colo,
mesmo que isso pudesse ser um problema naquele momento, eu queria muito tê-lo mais
perto possível. Nossas línguas se entrelaçam e em movimentos doces e intensos. E
mesmo sabendo que estávamos em um quarto de hospital, eu queria muito arrancar sua
roupa e tocar em seu corpo aqui e agora. Assim que minha mão encontrou uma abertura,
eu toquei sua pele por baixo da camiseta, sentindo seu corpo arrepiado.
Meu membro começou a implorar por atenção enquanto eu puxava Dominck para mais
perto em uma tentativa de suprir meu desejo apenas com um toque superficial e um beijo
intenso.
— Espera. — Dominick afastou rapidamente nossos lábios tentando tomar fôlego.
— Esperando… — Sussurrei quase implorando por mais.
— A gente tá em um hospital, onde todo mundo me conhece e se alguém entrar e vir a
gente quase…
— Arrancando a roupa um do outro?

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— É…
— Ok… Então, não me beija mais assim enquanto estivermos aqui. Não vem com esses
lábios pequenos e doces, e essa língua safada e toda deliciosa para cima de mim.
— Não vou.
Seus olhos não condiziam com a sua fala, muito menos o modo que ele fitava minha
boca, com um modo agressivo e delicioso que, com toda certeza, mostrava a vontade que
ele tinha de arrancar minha pouca roupa.

Capitulo 30

Neitan

Alguns dias depois.

Assim que o Hector acordou eu consegui voltar a respirar normalmente, sei que de muitos
modos eu sou culpado por tudo que houve, sei que os pais deles não estão errados por
não me querer perto dele. Ainda mais a mãe dele que deixou bem claro que não é muito
minha fã. Porém, agora eu tenho a grande missão de conquistar ela, e fazer aquela
mulher me chamar de genrinho. Porque eu não vou, de modo algum, dar chance do
Hector me deixar, então, tudo que eu puder fazer para ele ficar comigo para sempre eu
vou. E eu sei que só se passou uma semana que ele saiu do hospital, mas eu acho que
perdemos muito tempo já lutando contra o que sentíamos e escondendo tudo.
— Oi. — Hector entrou no quarto com um sorriso no rosto. — Acho que o Carlos estava
flertando com Yanmed, sem perceber. E nós literalmente saímos de fininho.
— Ainda acha que tem algo entre os dois?
— Qual é! A química é visível e quando saímos da cozinha ontem eles estavam falando
sobre as estrelas e o Carlos falou que um dia os dois poderiam ir até um observatório.
— Para de se meter. A gente tem que focar em escrever, lembra? Não em dar uma de
cupido. — Me levantei e puxei-o para cama.
— Mas você que me falou que eu só precisava me apaixonar. — Ele sorriu de um modo
perfeito. — Então, eu não preciso me preocupar com isso, só com o nosso encontro mais
tarde.
— É?

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— Sim, não sei se vai ter ou não queijo. Isso está me apavorando. — Hector me deu um
selinho.
— Jamais estragaria nosso primeiro encontro. E se quiser, pode verificar, eu já trouxe a
cesta para cá. — Apontei para a mesinha no canto.
— E se ele começar aqui no quarto? De outro jeito? Na verdade, é do mesmo jeito já que
eu acabei de te dar um selinho, mas e se eu falasse que amo você, o que aconteceria
depois? Já que estamos na cama.
— Eu te beijaria e rezaria para você ter trancado a porta.
— E se eu tivesse trancado mesmo a porta? — Hector mordeu o lábio.
— Então, nada me impediria de tirar sua roupa e de me entregar para você.
— E eu teria que perguntar se tem certeza, se está pronto.
— Eu amo você Hector e só quero você…
Ele me puxou para um beijo e eu senti meu corpo inteiro em êxtase. Seus lábios quentes
e doces, com sua intensidade a cada segundo, me deixavam em uma explosão de
sentimentos que eu não podia negar. Sua mão entrando por baixo da minha camiseta me
fazia implorar por mais e mais, seu toque, seus lábios e seu cheiro, era tudo que eu
precisava naquele momento e era tudo que eu iria ter.
Seus lábios se afastaram dos meus e senti suas mãos sobre meu corpo e por fim ele tirou
minha camiseta me fazendo perder o ar. Seus lábios percorreram meu peito e eu sem
controle algum dos meus atos, tirei sua camiseta e o puxei mais para cima da cama.
— Faz amor comigo. — Sussurrei.
— É tudo que eu mais quero. — Seus lábios voltaram para os meus e nosso beijo se
intensificou cada segundo mais.
Eu o pressionei contra meu corpo sem me importa que ele sentisse meu corpo desejando
por ele, e meu volume duro e pulsante por ele. Suas mãos passeavam pelo meu corpo e
eu adorava aquela sensação. Antes que eu enlouquecesse de vez, Hector ficou por cima
de mim e me olhou do modo mais safado que eu já tinha presenciado, ele então, abriu o
botão da minha calça me fazendo perder o fôlego por completo. Assim que ele tirou minha
calça, o vi mordendo aquele maldito lábio que me pertencia.
— Hector… — Falei quase sem ar. — Eu nunca fiz isso.
— Eu sei. — Ele sussurrou. — Só precisa confiar em mim meu amor, eu te mostro como
é…

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Afirmei com a cabeça e ele começou a beijar lentamente meu peito, me fazendo
aproveitar cada mordiscada que ele depositava na minha cintura. Antes que eu perdesse
completamente meu raciocínio lógico, ele foi abaixando minha box devagar, mostrando
meu volume completamente duro que o desejava. Suas mãos quentes acompanharam
seus lábios que foram direto para minha ereção, o que me fez gemer alto e sem controle.
Assim que ele começou a fazer o movimento com a cabeça me engolindo quase por
inteiro, meu corpo se estremeceu perdendo a força. Senti todo meu corpo responder a
ele, meus gemidos altos e sem controle, entregavam o grande prazer que eu estava
sentindo.
O interior de sua boca era tão úmido e quente que me enlouquecia, sua língua que
envolvia minha rola e meu corpo estremecia de desejo.
Eu estava completamente entregue, cada vez que meu corpo reagia ao seu toque ele
parecia mais atrevido e mais ganancioso. E meus gemidos altos e sem qualquer controle
e medo, parecia fazer ele me querer cada vez mais.
Assim que meu corpo se contorceu por inteiro, eu percebi estar prestes a gozar, sem
nem ter visto ele completamente nu. E foi quando ele se afastou rápido me torturando
com aquela prorrogação
— Tem camisinha… — tentei falar. — Tem… camisinha na mesa de cabeceira e
lubrificante também. — Apontei, não sei se é seu tamanho.
— Está mesmo pronto para isso, amor?
— Faz muito tempo. — Sorri sem tirar os olhos dele.
— Ok. Prometo ir devagar. Ele pegou a camisinha e o lubrificante.
Foi o suficiente para um grande arrepio tomar conta de mim, sem qualquer precedente.
Hector levantou da cama bem devagar e abriu o botão das calças; meu coração disparou
quase explodindo. Assim que ele tirou a calça, o ar falhou e meu desejo por ele aumentou
em mil porcento. Eu me sentei na beira da cama e me aproximei levanto a mão a sua
cintura, assim que ele mordeu o lábio comecei a abaixar sua box até o chão.
— Ele é enorme, como vai entrar? — Falei assim que me deparei com aquele enorme
volume rosado pulsando com as veias marcadas. Que era com toda certeza maior e mais
grosso que o meu.
— Não é, não. Mas não se preocupa faço caber.
— Ok… — me inclinei beijando sua pélvis. — Posso provar?
— Claro. — Hector respondeu com desejo.

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Minhas mãos geladas foram de encontro com aquele homem, que se arrepiou com meu
toque. Enquanto uma das minhas mãos o masturbava, eu o observava reagindo a cada
movimento. Assim que ele fechou os olhos, minha língua foi de encontro aquele delicioso
corpo o fazendo gemer baixinho.
O movimento que eu estava fazendo estava enlouquecendo ele que gemia cada vez mais
alto, até que ele me empurrou contra a cama fazendo eu me afastar. Ele colocou a
camisinha sem parar de me olhar. A santidade tinha me abandonado há muito tempo e
eu não conseguia disfarçar como eu queria que ele me invadisse.
— Me deixa consumir você, de um modo que nunca vai esquecer.
— Sou todo seu. — Mordi o lábio tentando me conter.
E foi o suficiente para ele avançar na minha boca e ir se deitando sobre mim. Fazendo-me
sentir seu corpo quente sobre o meu. Fui me arrastando para trás enquanto ele avançava
sobre mim. Assim que cheguei ao meio da cama, senti sua mão indo até minhas costas e
me puxando mais para perto.
A insegurança da primeira vez tomou conta, mas assim que percebeu ele foi me
relaxando, com pequenos beijos. Ele passou lubrificante na camisinha deixando bem
lubrificado. Assim que sua mão voltou a me tocar senti um calo renome tomou conta,
sentia sua mão deslizando para a parte interna da minha chocha e voltando a me beijar e
por fim eu senti seu membro tocando minha entrada. Eu prendi o ar e ele foi me
invadindo, minhas mãos foram para suas costas e um gemido alto escapou entre meus
lábios. Ele me olhou e meu rosto transmitia exatamente o que eu estava sentindo. A
pressão misturada com a dor e o prazer que pareciam gritar. Hector pulsava dentro de
mim enquanto eu tentava me acostumar com aquela invasão, mas eu claramente queria
mais, então implorei.
— Não para. Eu aguento tudo. — Sussurrei. — Continua.
— Ok amor…
Fui sentido cada vez mais ele dentro de mim, aquele sentimento era tão distinto de tudo
que eu já tinha sentido. O desconforto logo deu passagem para o prazer e assim que ele
terminou de meter tudo em mim, me contorci inteiro embaixo dele e soltei outro gemido
alto que foi abafado pelo seu beijo. Aquele movimento contínuo e delicioso me fez desejar
ele cada vez mais, eu queria tudo cada vez mais, tanto o toque quanto o beijo e a
penetração. Queria mais daquilo e fui tendo, cada vez mais um gemido alto escapava
sem eu conseguir ter qualquer controle sobre ele.

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Hector sorriu perversamente, adorando aquele efeito que tinha sob mim, em cada
movimento eu sentia mais e mais prazer. Ele finalmente era meu e eu era completamente
dele, de um modo tão íntimo e a cada segundo eu me sentia mais dele, eu de muitos
modos sonhava com ele me possuindo, mas nunca sonhei que seria tão perfeito, tão
delicioso como estava sendo e quando ele começou a me masturbar enquanto ainda
estava dentro de mim me levou a loucura me fazendo desmanchar completamente e
levando nós dois ao nosso ápice.

Capitulo 31
Hector

Depois da melhor noite da minha vida, sem dúvidas com o cara mais incrível, a gente teve
nosso primeiro encontro como falamos, com um péssimo clichê que ele encontrou na
netflix. Porém, depois de umas duas ou três rodadas, nós acabamos não saindo do
quarto, fazendo nossa noite ali mesmo. Não sei como a gente evitou tantos sentimentos
por tanto tempo, os olhares, os sorrisos, até mesmo as discussões sobre quem tomaria
banho ou quando ele me chamava de baixinho e me provocava com meus óculos, falando
que meus olhos ficavam escondidos, que era um crime.
— Então… — Ele me puxou para encostar em seu peito. — Nós fizemos amor, tomamos
banho, transamos. Começamos a comer e fizemos amor de novo. E aí terminamos de
comer e vimos um filme…
— Sim, senhor… — Comecei a brincar com sua mão.
— E agora? Você nunca mais me deixa?
— Não sei, talvez eu esteja só te usando para escrever meu trabalho.
— E como exatamente a parte do sexo vai entrar no seu trabalho?
— Talvez para saber como é fazer amor com um colega… — Brinquei.
— Ai meu Deus! Me chamou de colega?
Ele soltou minha mão e saiu de mim, eu me virei rápido e sentei no seu colo. Fazendo
nós dois pararmos naquele segundo e ficarmos em silêncio.
— Se eu te pedir para me levar a loucura, o que faria?
Neitan sorriu e mordeu o lábio enquanto olhava para minha boca. E foi descendo os olhos
para meu corpo completamente despido sobre ele.
— Como já tivemos nosso primeiro encontro e nossa primeira vez… Eu te beijaria sem
medo.

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— Bom saber… Seu beijo é delicioso.
— E então, eu faria sentar no meu colo, como está agora, só que estaria mais perto. —
Ele me puxou para mais perto. — E então, eu começaria a te beijar, e acariciar seu
corpo… Pensando se você aceitaria que eu te possuísse.
— E eu ficaria pensando se você tomaria a iniciativa de me possuir…
— E…
Antes que ele continuasse, alguém bateu na porta, repetidamente, atrapalhando como
sempre nosso flerte. Eu olhei para sua boca que ele mordia, provavelmente por raiva ou
algo assim…
— Preciso sair de cima de você, não é?
— Sim… e eu preciso colocar a cueca e ir ver quem é.
— Ok, eu vou sair, então. — Me ajoelhei na cama e me joguei pro lado, me cobrindo
completamente frustrado.
Neitan me olhou e me deu um beijo na testa, pegou a cueca no chão, vestiu e foi em
direção à porta. Respirou fundo e abriu a porta e para zero surpresa Monique entrou
desesperada como se tivesse visto um fantasma.
— Que cara é essa? — Neit perguntou fechando a porta.
— Acho que o Seba gosta do Denis… E é o mesmo gostar que vocês dois. E eu acabei
agitando para o Denis ficar com a Sydnei. Só que não é só do Denis, o Seba gosta do
Rome.
— Merda Moni. — Me enrolei no lençol. — Mas por que acha isso?
— Sinceramente, acho que o Seba ficou com ciúmes. Ele tava tocando violão olhando
para o Denis e eu não percebi a vibe gay entre eles, até eu começar a agitar para ele ficar
com a Sydinei. Só que quando o Rome se aproximou dele, tudo ficou estranho, o Seba
sorriu e mudou a cara, não sei, sabe... pareceu esquecer em segundos.
— Então, temos mais um casal para juntar, é isso? Ou um trisal? — Falei
— Não, nada de trisal. Seba nunca conseguiria e sinceramente, se o Seba gosta do
Rome e do Denis, nosso foco tem que ser ajudar ele a entender o que sente pelos dois.
— Neitan como sempre tentando ser o sensato do grupo.
— Espera, o Juan está vindo. — Moni falou. — Dá tempo de vocês se vestirem
apropriadamente, porque eu sei que não tem uma roupa por baixo deste lençol aí. — Ela
apontou para mim.
— Caladinha e claro que o casamenteiro está vindo….

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Falei já causando riso nos outros dois também, que assim que viram Juan entrar sem
bater começaram a rir mais ainda sem conseguirmos explicar nada para o pobre coitado.
Mas era um fato, o Juan era basicamente o cara que se envolvia no relacionamento de
todo mundo que ele acreditava ser um casal ou possível casal. Ele e a Moni que fizeram
eu e o Neit dividir o carro, provavelmente o quarto também, uma vez que eles tinham o
telefone da minha sogra.
Acho que o mais estranho que os dois sempre vêm algo antes mesmo dos outros
perceberem, eles de alguma forma sabem o que mais ninguém sabe. E como eles já
tinham encerrado os trabalhos comigo e com o Neit, iriam partir pro próximo casal com
toda certeza, só que se eu estiver certo, o Juan gosta do Yanmed, mas duvido que ele
diria ou faria algo, já que o Carlos e ele são quase que melhores amigos, se assim posso
dizer. E se eles conseguirem juntar todos os casais, o Juan no final vai acabar passando
as férias sendo o único solteiro. E não que seja ruim, porém parece meio solitário e
injusto, logo nosso cupido acabar sozinho. Além de quê, se o destino conseguiu juntar eu
e o Neit, depois de tudo, tenho certeza que todos vão ter um final feliz. Ainda mais que
temos todas as férias para juntar os casais que vão acabar seguindo o destino.

fim

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