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Certa vez me perguntaram o que eu queria para

o meu futuro, era claro que eu não sabia responder. Até


hoje eu não sei o que responder. Nunca saberei.

Minha vida é cheia de objeções,


arrependimentos, fatos que não podem ser interferidos.
Eu me acostumei com isso, o mínimo que eu poderia
fazer era me acostumar com minha vida trágica e
insignificante.

Hoje foi o dia mais calmo que os outros, chorei


consideravelmente pouco. Estou começando a achar que
tenho depressão, mas pensar nisso me deixa mais triste
do que já sou.

Passa-se uma hora depois que acordei, resolvo


levantar porque preciso ir para a escola, minha frequência
está baixa, não quero que a coordenação venha aqui em
casa veja o estado da qual está.

Levanto-me e abro as cortinas, avisto de longe


um buraco do qual eu não me lembro de ter feito, não
estou com vontade de ir lá ver ou mesmo tampa-ló, a
preguiça me consome. Vontade zero reina em mim.

Desço as escadas em direção ao banheiro, como


moro sozinho vou pelado mesmo. A casa tá uma zona
total, não sei que dia criarei coragem para arrumar, mas

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eu nem faço questão de limpar. Nunca terei disposição
para isso.

Pelo menos a sala tá arrumada, quase não assisto


Televisão, então quase não vou lá. Também tem a
garagem, não tenho carro, então não tá suja o suficiente
para me limpar. Mas em compensação o restante da casa.

Termino de banhar, me visto e vou direto para a


escola. Chegando lá já me deparo com o Otto, um dos
meus melhores amigos, ele é o único que me tira essa
parte morta dentro de mim.

“Vamos, Manu tá quase para chegar.” Otto grita


ao me avistar.

“Oi Otto, já estou indo né bebê” falo. E logo


após ele retruca: “Me bate logo, é melhor”.

É sempre assim, não mudou nada em todos esses


anos que estudamos juntos. Manu também não mudou
nada, continua “vampira” desde sempre, ela diz que só se
torna vampira quando tá nos dias. Acho que é mentira.

Quando chegamos na entrada Manu grita


dizendo para esperarmos ela, após isso fomos direto para
sala no segundo andar.

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“Nossa Manu teu fone alto em, bora baixar esse
volume?” Grito para que elas possam ouvir. “Teu fone ta
alto de mais!”

“An? O que tu disse?” Ela grita de volta.

“Tu tá surda, eu tô dizendo que teu fone ta alto,


nessa altura tu vai ficar surda!” Falo após tirar um dos
lados dos fones. Só de ouvir a melodia da música já sei
qual é. Não julgo, também chegaria na escola com um
fone no máximo escutando Doja Cat, fazer o quê?

“Que música é essa Manu?” Pergunta Otto.

“Estou escutando ‘DIVA’ do grupo ‘After


School’, adoro essa”.

“Sério? Que triste”. Otto afirma, e eu confirmo.

“Vocês não sabem o que é cultura!”. Defende


Manu. “Essa é minha música favorita, se soubessem
disso o taria falando mal dela.”

“É verdade, Manuzete Lindete”. Já disse que sou


bipolar? Mudo de opinião mais que mudo de roupa.

“Hum, seu chato” Otto cutuca ela um pouco.


“Ai, me deixa Otavio, que ódio” ela diz resmungando.
Sempre isso, nada muda.

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“Vocês vão fazer o que no final de semana?”
Pergunto.

“Eu vou para a casa dos meus pais com a minha


irmã, depois vamos no shopping” Acho incrível como ele
se destaca na riqueza, quando digo que ele é rico e se
contorce de rir e diz que é mentira.

“Também vou para a casa dos meus pais, só que


eu não vou para o shopping”

“Lamento Vampiresca” digo. “Vamos nos


arrumar, hoje é o Éder que dará aula”

Éder é nosso professor de biologia, entre os que


tem na escola ele é o melhor.

E quando eu menos percebo minha vista


escurece e eu acordo de um sonho. Isso tudo foi um
sonho? Não, isso foi flashbacks do meu passado. Fatos
que aconteceram no primeiro ano.

Eu me sinto triste por largar a escola, nessa


semana, eu sinto que eu poderia ficar lá, ficar mais um
pouco com eles, eram eles quem eu realmente amava. E
eu sempre vou amá-los mesmo sabendo que eles gostam
de outras pessoas, nunca vou superá-los.

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Me vejo acordar novamente, dessa vez é real.
Abro as cortinas, e de longe avisto o mesmo buraco do
qual eu não fiz. Não dou a mínima para ele.

Faz uma semana que eu não vou à escola, que


tal ir hoje? Sei que vão brigar comigo, mas tenho meus
motivos.

Minha mãe veio “visitar”, só veio brigar o porquê


descobriu que tomo anti-depressivos, ela não gosta nada disso.
Às vezes sinto que ela quer que eu morra. A família inteira
quer que eu morra. Só minha tia que não, ela me criou e eu
considero-a como se fosse minha verdadeira mãe. Ela que me
entende de verdade, ela que compra meus remédios, ela que
cuida de mim. Esse fato nunca mudará. Nunca.

Desço as escadas e vejo a casa completamente


arrumada, nada se condizia com o sonho. Cozinha impecável,
sala arrumada, tudo muito bem limpo.

Banho tomado e arrumado, vou para cozinha


merendar. Minha tia (que eu considero uma mãe pra mim) já
estava fazendo a merenda.

“Bom dia! Como foi sua noite? Estou vendo que já


está arrumado, vai pra escola? Já está se sentindo melhor?
Pergunta.

“Bom dia! Eu estou melhor sim, acho que estou indo


mais pelo sonho estranho que tive”.

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“Conta mais sobre esse tal sonho estranho que você
teve, não vai demorar muito para sair os ovos fritos”.

“Era tipo uns flashbacks de quando eu tava no


primeiro ano, aí eu revia meus amigos, então resolvi ir hoje
vê-los”.

“Que bom, se não se sentir confortável na escola é só


me ligar que eu vou te buscar”.

“Mas a senhora não vai estar no trabalho?”.

“Sim, mas não tem problema eu sair por uns


minutinhos, vai?”.

“Não…”

“Pronto, aqui está. Come tudo, você está tão


magrinho, e anêmico também. Vou marcar uma consulta pra
vê isso daí. Já estou indo pro trabalho, cuidado no caminho da
escola, qualquer coisa me liga viu?

“Tá mãe…”

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