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LIÇÃO 5 – A CONSPIRAÇÃO DOS INIMIGOS CONTRA NEEMIAS

O capítulo 6 de Neemias dá-nos uma preciosa lição de que como devemos enfrentar
a oposição dissimulada contra a obra de Deus.

INTRODUÇÃO

- No capítulo 6 de Neemias, vemos uma outra face da oposição dos inimigos da obra de
Deus: a conspiração.

- Assim como Neemias, precisamos ter discernimento espiritual para que não
venhamos ser enganados pelas astutas ciladas do adversário.

I – A NOVA ESTRATÉGIA DO INIMIGO: A CONSPIRAÇÃO

- Na lição anterior, iniciamos o estudo do relato de Neemias com relação à forte oposição que
enfrentou para a reedificação dos muros e das portas de Jerusalém, o que apenas confirma o que
fora profetizado por Daniel de que tudo se faria “em tempos angustiosos” (Dn.9:25).

- Na lição de hoje, continuaremos a estudar esta oposição, pois, como verdadeira figura do diabo,
que é o nosso adversário (I Pe.5:8), os inimigos de Neemias não descansaram, mesmo verificando
que suas estratégias não estavam impedindo de a obra ser realizada. Assim, depois de terem
tentado obstar a reedificação por meio da zombaria, da união das forças adversárias que lançaram
o pavor e a distração e, por fim, através da divulgação de más notícias para trazer o desânimo,
nem por isso desistiram de seu intento.

- Verificando Sambalate, Tobias e Gesem que, apesar de todas as suas armas, Neemias havia
perseverado em fazer a obra e, juntamente com os judeus, já haviam edificado o muro, no qual
não havia mais brecha alguma, mas ainda não tinham sido postas as portas nos portais, passaram
a usar de um último recurso, qual seja, a conspiração, como diz o título de nossa lição.

- A palavra “conspiração” tem como raiz “-spir-”, que significa “sopro”, de onde vem a palavra
“espírito”. “Conspiração” é uma união, uma concórdia, um acordo de espíritos e de vontades para
se conseguir algo, uma maquinação, uma trama para se obter um determinado propósito.

As Escrituras, na Versão Almeida Revista e Corrigida, falam de “conspiração” em quatro -


passagens, duas das quais revelam tramas efetuadas na história de Israel para a derrubada de um
rei (I Rs.16:20; II Rs.15:15), uma sobre a traição do rei de Israel em relação ao rei da Assíria e
que levou ao cativeiro do reino das dez tribos (II Rs.17:4) e, por fim, a trama dos inimigos de
Paulo para o matarem antes que fosse julgado pelo Sinédrio (At.23:12). No Antigo Testamento, a
cujo significado é, precisamente, o de “aliança ilegal”, de , (‫ ” )קשר‬palavra utilizada é “qesher
“união para fazer mal”. Já em o Novo Testamento, a palavra utilizada é “sustrophé” (συστροφή),
.”que tem o mesmo sentido de “união de pessoas desordeiras”, de “aliança secreta

- Vemos, pois, que a “conspiração” caracteriza-se por ser uma aliança de pessoas que buscam, de
forma velada, secreta, o mal de alguém, que se unem para promover o prejuízo, o mal. Neste
sentido, portanto, toda conspiração tem como característica a união de pessoas e o segredo de
seu verdadeiro intento.

- Vendo os adversários que Neemias não havia parado de executar a obra pelas armas anteriores,
buscaram, então, usar da estratégia da união velada, da maquinação secreta, a fim de poder, com
isso, enganar Neemias e impedir a conclusão da obra, já que somente faltava pôr as portas nos
portais.

- O inimigo de nossas almas não age de modo diferente. Ele é “a mais astuta das alimárias do
campo” (Gn.3:1) e, por isso, é o mestre da conspiração, o mestre da dissimulação. Como “pai da
mentira” (Jo.8:44), ele usa do engano e da dissimulação como algo que é próprio da sua natureza,
razão pela qual “engana todo mundo” (Ap.12:9). Por isso, como diz o apóstolo Paulo, não
podemos ignorar os seus ardis, se quisermos vencê-lo (II Co.2:10,11).

- Diante da notícia de que a obra estava para ser terminada, Sambalate e Gesem enviaram
mensageiros a Neemias e o convidaram a que se congregasse juntamente nas aldeias, no vale de
Ono (Ne.6:2).

- Se bem analisarmos a oferta apresentada por Sambalate e Gesem, veremos que seria
extremamente razoável para Neemias ir a este encontro no vale do Ono. Afinal de contas, toda a
reedificação dos muros se fizera diante das ameaças de ataque militar por parte dos inimigos,
como, aliás, por dez vezes, já havia sido anunciado pelos próprios judeus que moravam entre os
inimigos (Ne.4:11,12).

- Verdade é que os inimigos, até aquele momento, não haviam feito qualquer ataque, mas não nos
esqueçamos de que Samaria tinha um exército (Ne.4:2) e que a obra estava no final, não tendo
ainda Jerusalém portas, o que ainda tornava precária a sua segurança. Como a obra estava no
final, com o muro já completamente acabado, nada mais natural que Neemias, dando um gesto de
boa vontade, fosse ao encontro dos inimigos para que se fizesse um acordo de paz, para que se
desse fim àquela situação aflitiva que passava o povo, até porque “o pior já havia passado”.

- Este raciocínio, perfeito do ponto-de-vista humano, era precisamente o que os inimigos de


Neemias queriam que fosse feito. Conforme nos diz o texto sagrado, por detrás daquela oferta
aparentemente magnânima e razoável, escondia-se um mau intento, pois a Bíblia nos diz que o
objetivo real de Sambalate e Gesem era fazer mal a Neemias (Ne.6:2 “in fine”).

- Temos aqui uma grande astúcia que, quase sempre, é utilizada pelo adversário de nossas almas:
o uso da razão humana para nos enganar. Jesus foi claro ao dizer que o inimigo é perito nas
“coisas dos homens”, embora nada saiba sobre as “coisas de Deus” (Mt.16:23). O adversário sabe
como o homem pensa e, por ter este conhecimento, é capaz de nos manipular através da razão
humana. Por isso, não podemos, no nosso dia-a-dia, usar apenas da razão humana, deixarmos de
lado a orientação do Espírito Santo, pois, se assim procedermos, certamente seremos enganados e
vencidos por Satanás.

- Neemias, porém, era um homem de oração, um homem que preservava a sua comunhão com
Deus. Diante desta proposta, não se deixou enganar, mas enviou mensageiros a Sambalate e
Gesem com uma resposta extremamente sábia: “Estou fazendo uma grande obra, de modo que
não poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?”
(Ne.6:3).
- Neemias analisou a oferta dos inimigos e verificou que ali não se encontrava a vontade de Deus.
Apesar da situação aflitiva que se vivia, o fato é que a zombaria, a união das forças adversárias, o
pavor gerado e o desânimo que atingira até parte dos construtores, nada disso tinha impedido a
realização da obra, que já se encontrava na parte final. Deus tinha feito prosperar a obra e
continuaria a fazê-lo. Assim, que proveito haveria em se ir até o vale do Ono para se fazer um
acordo com os inimigos, que não tinham podido até ali impedir a realização da tarefa que o
próprio Deus lhe ordenara?

- Precisamos ter esta mesma consciência. Quando o inimigo nos chama para uma “trégua”, para o
estabelecimento de “tratativas” que, aparentemente, melhorem a realização da obra de Deus,
devemos fazer como Neemias, ou seja, rejeitar todo e qualquer acordo com o adversário, pois a
sua oposição é incapaz de impedir a realização da obra do Senhor. Não dependemos da boa
vontade do inimigo para fazermos a vontade de Deus, mas tão somente da mão do Senhor sobre
nós, da companhia do Senhor conosco para que a obra prospere, pois é o Deus do céu que nos faz
prosperar (Ne.2:20).

- Ao longo da história da Igreja, constata-se, com tristeza, que muitos que estavam a realizar a
obra com dedicação, apesar de todas as aflições, diante do convite para descerem ao vale do Ono,
infelizmente aceitaram tal oferta diabólica, deixaram de fazer a obra, desceram e acabaram sendo
prejudicados, bem como prejudicando a obra do Senhor, porque não perceberam que o objetivo
do adversário era tão somente fazer-lhes mal.

- “Ono” era uma cidade do território de Benjamim e que havia sido construída ou restaurada por
Semede (I Cr.8:12), e que tinha sido habitada por alguns judeus quando do retorno do cativeiro da
Babilônia (Ed.2:33), provavelmente artífices, já que a região era chamada de “vale dos artífices”
(Ne.11:35). Seu nome significa “forte”, porque devia ter sido fortificada no passado. Tratava-se,
pois, de um lugar aparentemente seguro, onde havia aldeias de judeus, judeus laboriosos, onde
não haveria risco para um encontro com os inimigos.

- No entanto, Neemias percebeu que, ao aceitar a oferta dos inimigos, ele pararia de fazer a obra ,
justamente quando ela estava no final. Como se isto fosse pouco, ele teria de fazer uma viagem
do lugar onde estava, e para onde Deus o mandara, para ir a um lugar desconhecido, onde nada
tinha que fazer daquilo que propusera em seu coração e para o que Deus o havia chamado. Sairia
de um lugar “alto” (Jerusalém) para um lugar baixo (o “vale”). Deixaria a companhia daqueles que
havia unido em torno de um propósito divino, para se reunir com pessoas que não tinham parte,
justiça nem memória em Jerusalém.

- Eis um grande problema que aparece na vida de todo aquele que se dispõe a obedecer a Deus
neste mundo. Os “vales de Ono” surgem como uma “fortaleza”, como uma localidade segura onde
podemos descansar e sair das aflições e das dificuldades de nossa vida. Ali tudo parece ser “forte”,
ali tudo parece ser vantagem e segurança. No entanto, neste vale, não poderemos fazer a obra de
Deus; neste vale, não poderemos, de modo algum, fazer a vontade do Senhor e somente aquele
que faz a Sua vontade permanece para sempre (I Jo.2:17).

- Há um grande problema quando o servo do Senhor acha que pode ser “forte”. Paulo nos ensina
que o poder de Cristo em nossa vida se aperfeiçoa na fraqueza (II Co.12:9,10), ou seja, quando
achamos que estamos fortes, não permitimos que o poder de Jesus se aperfeiçoe em nós e isto é
fatal para nossa vida espiritual, pois, sem Cristo, nada podemos fazer (Jo.15:5).

- Ir para “o vale de Ono” é dizer que não se necessita mais de Deus, é afirmar que se é possível,
por si só, por sua própria conta e risco, deixar de fazer a obra de Deus e buscar uma “zona de
conforto”, onde a oposição do adversário diminua, onde se possa desfrutar mais da vida, mesmo
que ainda faltem as portas nos portais. Quantos, infelizmente, têm preferido ser “fortes” a concluir
a obra de Deus!

- Não foi este, porém, o procedimento de Neemias. Ele, que havia deixado o palácio real em Susã,
para enfrentar o desafio da reconstrução de Jerusalém, não tinha a menor vontade de “descer
para o vale de Ono”. Seu lugar era Jerusalém, sua tarefa era fazer a obra do Senhor, que ainda
não estava concluída, embora estivesse no fim. Neemias, analisando as coisas pelo aspecto
espiritual, pergunta: “Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?”

- Amados irmãos, também estamos no término da obra do Senhor, pois tudo nos mostra que Jesus
está às portas, já que todos os sinais do arrebatamento da Igreja estão se cumprindo. Por que,
então, devemos cessar a obra, deixando-a, para ir ao encontro do adversário?

- Os inimigos eram insistentes. Por quatro vezes, de modo incansável, tentaram demover Neemias
de seu intento, mas o servo de Deus, nas quatro oportunidades, deu a mesma resposta aos
adversários (Ne.6:4).

- Não há a menor possibilidade de estabelecermos uma trégua com o adversário de nossas almas,
até porque ele é mentiroso e não é digno de qualquer crédito. Seu único trabalho é matar, roubar
e destruir (Jo.10:10). Alguns objetam a alusão deste texto ao diabo, dizendo que Jesus, na
passagem, estava se referindo aos falsos pastores, não ao diabo. No entanto, estes falsos pastores
não passam de agentes do inimigo, de instrumentos da ação conspiratória do inimigo, até porque
o próprio Jesus disse que o inimigo é homicida desde o princípio (Jo.8:44), de sorte que o trabalho
de morte é, sim, orquestrado e originado no próprio adversário.

- Toda e qualquer proposta de trégua ou de acordo com o mundo, o pecado e a maldade esconde
o intento de fazer mal ao servo do Senhor que, se aceitar a proposta, estará irremediavelmente
perdido. A aparência pode ser a melhor possível, como era Dalila para Sansão, mas o intento é
sempre o pior possível: a destruição do servo do Senhor.

- O inimigo não se cansa e, portanto, por quatro vezes, insitiram Sambalate e Gesem com a oferta
do encontro no vale de Ono. Neemias não se deixou vencer pelo cansaço, como, infelizmente,
ocorreu com Sansão que, após tanta insistência, acabou abrindo seu coração a Dalila (Jz.16:15-
17), o que foi a causa da sua derrota. Que aprendamos com estes dois exemplos e jamais
aceitemos entrar em acordo com o adversário, que jamais deixemos Jerusalém em direção ao
“vale de Ono”.

II – A CARTA ABERTA DE SAMBALATE

- Após a quarta resposta de Neemias de que não desceria ao vale do Ono, Sambalate, então, usou
de nova estratégia. Até então a conspiração havia se circunscrito a um diálogo, por meio de
mensageiros, entre ele (juntamente com Gesem) e Neemias. Sambalate, então, resolveu levar ao
conhecimento de todos os judeus a sua oferta, querendo, com isso, criar uma pressão externa que
obrigasse Neemias a ceder.

- Para tanto, mandou o seu moço com uma carta aberta na sua mão, onde estava escrito: “Entre
as gentes se ouviu, e Gasmu diz, que tu e os judeus intentais revoltar-vos, pelo que edificas o
muro; e que tu farás reis deles segundo estas palavras; e que puseste profetas, para pregarem de
ti em Jerusalém, dizendo: Este é rei em Judá. Ora o rei o ouvirá, segundo estas palavras: vem,
pois, agora e consultemos juntamente” (Ne.6:6,7).
- Como diz Russell Norman Champlin, “…palavras bondosas e fingidas não surtiram efeito, pelo
que os inimigos dos judeus e de seu líder, Neemias, apelaram para uma abordagem mais
drástica…” (O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo, v.3, p.1793). Neemias é
publicamente acusado de se revoltar contra o rei da Pérsia, com o intuito de fazer-se rei de Judá,
utilizando-se da reconstrução dos muros e das portas de Jerusalém como pretexto.

- Os inimigos tentam levar Neemias até o vale do Ono pela pressão externa. A acusação de
sedição, feita em carta aberta, era um convite à perturbação de todo o povo que, já aflito com a
possibilidade de serem atacados pelo exército de Samaria, diante da notícia de que se estava a
acusar Neemias de sedição, bem podiam achar que não somente o exército de Samaria, mas que
o próprio exército persa poderia vir contra Jerusalém, caso Neemias não deixasse sua “teimosia” e
fosse ao encontro dos inimigos no “vale do Ono” para assim fazer um “acordo de paz”.

- Vemos aqui que, embora se tenha mudado a estratégia, o inimigo continuava a esconder o seu
verdadeiro intento e buscava, de todas as maneiras, que a obra cessasse e que Neemias, deixando
de fazer a obra, fosse ao encontro dos inimigos no vale do Ono, onde, certamente, seria
assassinado.

- Todo este raciocínio, que recomendava, ainda mais, a ida de Neemias até o vale do Ono para o
seu próprio bem e “para o bem do povo e da obra”, era, contudo, enganoso, visto que baseado em
mentiras. Observemos o teor da carta aberta: “Entre as gentes se ouviu, e Gasmu diz…”. Ora,
quem estava a dizer? A acusação não identifica os autores da notícia, até porque se tratava de
uma mentira. Era apenas um “boato”, na base do qual se construía todo o raciocínio enganoso que
pretendia fazer Neemias demover de seu intento.

- Nos dias em que vivemos, de grande quantidade de informações, a verdadeira era da


informação, não podemos nos deixar vencer pelos “boatos”, pelas “notícias” que circulam e cuja
autoria nos é desconhecida, mas que acabam sendo tomadas por verdades. Como já dizia o
ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, uma mentira repetidas seguidas
vezes “vira” verdade e é precisamente o que estamos a contemplar em nossos dias.

- Tudo quanto Sambalate escrevera na sua carta aberta era mentira, mas, se o raciocínio se fizesse
sobre esta mentira, não se teria outra conclusão senão a de que Neemias deveria ir ao vale do
Ono para “mostrar a verdade”. Entretanto, nesta sua ida, estaria a desagradar a Deus, visto que
viera de Susã para fazer aquela obra, que Deus estava prosperando, e não para dar satisfação a
quem quer que seja.

- Tristemente, verificamos que, em muitíssimas ocasiões, o povo de Deus deixa de fazer a obra do
Senhor, abandona aqueles que foram chamados para realizá-la, porque dá ouvidos a mentiras e
“boatos” que surgem não se sabe de onde mas que são cridos pelos que as ouvem sem que antes
haja uma análise, sem que antes haja a oitiva de todas as versões, sem que as notícias sejam
verificadas com os fatos. Crer cegamente no que se ouve, sem qualquer investigação, é um
procedimento típico de quem não serve a Deus, do ímpio (Sl.11:3). Os justos, os servos de Deus,
no entanto, devem investigar o que se diz e, em especial, observar se o que estão a ouvir está, ou
não, de acordo com as Escrituras.

- Como todo acusador, Sambalate, em sua carta, não assume qualquer responsabilidade pelo que
diz. Afirma que “entre as gentes se ouviu e Gasmu (que é Gesem) diz”. É próprio do acusado
imputar a outrem a prática de suas calúnias e injúrias, porque é um irresponsável, um criminoso
covarde, que jamais assume a sua própria condição. Tomemos cuidado com pessoas que somente
culpam os outros, que jamais assumem a sua responsabilidade. Tais pessoas estão a imitar ao
diabo (“diábolos”, palavra grega, significa “acusador”), jamais a Cristo que, pelo contrário, tomou
sobre si toda a culpa da humanidade.

- Na sua ardilosa acusação, Sambalate procurou não só incutir medo entre os judeus, mas,
também, criar uma intriga entre os judeus e Neemias. Esta é também uma atitude própria do
inimigo da obra de Deus: o fomentar de dissensões, de divisões, de discórdias entre os irmãos.
Não é à toa que o proverbista diz que ao Senhor é abominável aquele que semeia contendas entre
os irmãos (Pv.6:16,19).

- Assim, acusa os judeus de sedição contra o rei da Pérsia, mas também acusa Neemias de querer
se fazer rei de Judá. Com esta acusação, procura incutir medo entre os judeus e, assim, convencê-
los a se livrar de Neemias, a fim de que a acusação de revolta não lhes fosse imputada. Estava em
xeque o relacionamento entre Neemias e o povo, a confiança que o povo depositava em Neemias.

- Numa demonstração de como a trama era bem elaborada, Sambalate, na carta, ainda acusa
Neemias de ter contratado “profetas” para dizerem que ele deveria ser rei em Judá. Alguém
poderá argumentar que esta parte da carta era, provavelmente, a mais fraca, visto que, como
Neemias não havia contratado profeta algum, não haveria porque se temer esta acusação ou,
ainda, que esta acusação, por ser absurda, poderia ser um desserviço para o intento dos inimigos,
em vez de ajudá-los.

- Não resta dúvida de que Neemias não estava a contratar profetas para que dissessem que ele
seria rei em Judá, até porque, por não ser da descendência de Davi, tais profecias jamais seriam
aceitas no meio do povo. O intento do inimigo, no entanto, era muito mais ardiloso: com esta
acusação, procurava fazer o povo descrer da própria piedade de Neemias. Era uma trama muito
bem elaborada com o intuito de fazer com que o povo judeu resolvesse até deixar de servir a Deus
ou se dedicar menos ao Senhor como prova de que não tencionava se revoltar contra o rei da
Pérsia.

- A alusão de Sambalate aos profetas era, portanto, uma estratégia de fazer com que o povo se
distanciasse do Senhor, até porque, certamente, tinha pleno conhecimento de que, nas tentativas
anteriores, Neemias havia recorrido a Deus para manter a obra e, sejamos francos, era a confiança
em Deus que havia sido a responsável pela prosperidade da obra até aquele estágio terminal.

- Sambalate buscava, então, trazer divisão no meio do povo, tentando jogar o povo contra
Neemias e, mais do que isso, procurar fazer com que a própria piedade e fidelidade de Neemias
fosse um fator que fizesse com que o povo judeu o abandonasse.

- Nos dias hodiernos, a ação do inimigo de nossas almas não tem sido diferente. Ele procura, com
grande estardalhaço, lançar suas mentiras de modo a causar divisão no meio do povo de Deus,
pôr liderados contra líderes, bem como incutir na mente dos salvos a ideia de que não há tanta
necessidade de se buscar a Deus, que é necessário não ser “radical” para que se tenha uma vida
mais sossegada sobre a face da Terra. Devemos, porém, diante dessas mentiras e falsidades, que
são extremamente razoáveis aos olhos humanos, desconsiderar tudo e continuar a fazer a obra do
Senhor.

- A reação à carta aberta de Sambalate não demorou. Diz Neemias que todos procuravam
atemorizar Neemias, pressionando-o para que cedesse e fosse se encontrar com os inimigos no
vale do Ono (Ne.6:9). Quando se usa o estratagema da “carta aberta”, devemos saber, como
servos do Senhor, que alguém será atingido e amedrontado com todo o escândalo proporcionado
pelo inimigo. Nem todos têm a mesma estrutura e, portanto, não se pode exigir que todos
permaneçam inabalados diante de tanta pirotecnia, e pirotecnia muito bem elaborada, não
podendo, pois, os mais fortes na fé se abalarem por causa destes mais fracos.

- Diante da “carta aberta”, Neemias mantém a sua firmeza, mandando um mensageiro com a
seguinte declaração: “De tudo o que dizes coisa nenhuma sucedeu, mas tu do coração o inventas”
(Ne.6:8).

- Neemias usou da arma que todos nós devemos usar quando formos alvo de acusações
mentirosas, ainda que com grande estardalhaço, do adversário: a verdade. O apóstolo Paulo, ao
falar sobre o embate espiritual que todo salvo tem contra as hostes espirituais da maldade, entre
as armas que descreveu, fala-nos do “cinturão da verdade” (Ef.6:14), por sinal, a primeira arma
que manda que nos revistamos.

- Jesus, em Sua oração sacerdotal, também pediu ao Pai que fôssemos santificados na verdade,
esclarecendo que a verdade é a Palavra de Deus (Jo.17:17). Não há outra forma de vencermos o
pai da mentira a não ser com a verdade. Jesus é a própria verdade (Jo.14:6), de sorte que não
temos como deixarmos de conhecer a verdade, pois é ela que nos liberta das ciladas do inimigo
(Jo.8:32).

- Ultimamente, diante das acusações proferidas pelo inimigo, com grande estardalhaço, muitas
vezes se utilizando da mídia, que está praticamente em suas mãos, muitos servos do Senhor não
seguem este exemplo de Neemias e, em vez de falar a verdade, de pregar a Palavra de Deus,
ficam tentando iniciar discussões e contendas com base em investigações científicas, filosofias e
discursos racionalmente elaborados, mas que não têm o condão de nos fazer libertar do mal. A
arma utilizada por Neemias foi a verdade e só ela pode nos libertar.

- Mas, para que a arma da verdade seja utilizada, torna-se necessário que ela “cinja os nossos
lombos”, ou seja, é preciso que estejamos atados na verdade, que não tenhamos movimentos
próprios, conforme a nossa própria vontade, mas que nos conformemos à vontade do Senhor. A
verdade precisa “prender” as nossas vestes, ou seja, precisamos andar na verdade, seguir a
vontade de Deus, entrar pela porta estreita, pelo caminho apertado, difícil, mas que leva à vida
(Mt.7:13,14).

- Neemias somente pôde falar a verdade, porque a vivia, porque servia a Deus com integridade e
sinceridade, tendo, pois, autoridade diante do povo judeu para se contrapor às falsas acusações
dos inimigos. Apesar de alguns, pelo pavor, terem se abalado com as acusações, o fato é que
todos sabiam que Neemias não tinha qualquer intenção de ser rei nem de revoltar contra o rei da
Pérsia, pois demonstrava, no dia-a-dia, sua lealdade e fidelidade não só a Deus, o que o impedia
de querer ser rei pois sabia ele que o trono pertencia à casa de Davi, como ao rei, a quem havia
pedido autorização para realizar aquela obra.

- Neemias vivia no meio do povo, trabalhava junto com o povo e, por isso, quando vieram estas
acusações, seu testemunho e o conhecimento que o povo tinha dele foram suficientes para evitar
que o boato abalasse a maior parte do povo ou gerasse dissensão entre o povo e Neemias . Fosse
Neemias alguém isolado do povo, uma pessoa inatingível, certamente que as calúnias teriam outro
resultado, como, aliás, tem ocorrido em muitos lugares.

- A liderança se legitima e se fortalece quando o líder tem empatia com os liderados , ou seja,
quando há um relacionamento próximo, aberto e franco entre líder e liderados. Jesus, o exemplo
máximo de liderança, ao término de Seu ministério público, pôde dizer que já não chamava Seus
discípulos de servos, mas de amigos, ante a intimidade e franqueza que havia entre Ele e Seus
apóstolos (Jo.15:15). Se Jesus, sendo o Senhor (Jo.13:13), tinha esta proximidade com os
discípulos, por que algumas lideranças cristãs insistem em se manter distantes dos liderados?
Nesta arrogância apenas criam condições para que a “arma da carta aberta” surta muito efeito.
Vigiemos, amados irmãos!

- Além de afirmar que não era verdade o que Sambalate havia dito, Neemias, ao contrário do seu
adversário, bem apontou a origem de todas as invenções que haviam sido ditas: “o coração de
Sambalate”. Enquanto Sambalate não indicava a fonte de suas assertivas, Neemias, como homem
de Deus, mostrava qual era a origem de todas aquelas acusações.

- Como servos do Senhor, ao falarmos a verdade, devemos, também indicar a fonte das mentiras.
Muitos estão a acusar os salvos, na atualidade, de fomentarem “teorias da conspiração”, de
“delirarem” e “inventarem complôs inexistentes”. Se é certo que há muito exagero na atualidade,
muitos ensinamentos escatológicos cujo objetivo é tão somente aterrorizar (e que, neste passo,
são armas do inimigo, como já tivemos ocasião não só de estudar na lição anterior mas nesta
própria lição), também não podemos deixar de reconhecer que há, no mundo, uma conspiração
com origem no inimigo de nossas almas contra a Igreja e que esta conspiração está a alcançar o
seu ápice.

- O apóstolo Paulo foi claríssimo ao nos dizer que “o mistério da injustiça” já operava nos seus dias
e que esta operação tem por finalidade fazer manifestar-se “o homem do pecado, o filho da
perdição” (II Ts.2:3-10). Trata-se de uma verdadeira conspiração satânica que terá o condão de
enganar a todos os que perecem e, se possível fosse, enganariam até os escolhidos (Mt.24:24). A
jornalista e escritora Marilyn Ferguson (1930-2008), ligada à Nova Era, desnudou este movimento,
que chamou de “conspiração aquariana”, uma mudança de mentalidade que levaria a uma “nova
era”, que sabemos, à luz da Palavra de Deus, que é “o engano da injustiça”.

OBS: Eis a descrição de um adepto da Nova Era sobre esta “conspiração aquariana” segundo a
concebeu Ferguson: “…Conspirar quer dizer ‘respirar junto’, numa ligação íntima, harmônica e
introspectiva, quase imperceptível. Era dessa forma que ela [Ferguson] enxergava a conexão
existente entre essas pessoas, que não pareciam estar ligadas a nenhum movimento, mas que se
comportavam como se obedecessem a uma estratégia comum, como se seguissem uma voz
silenciosa, mística e imperceptível.(…)Espalhados por esse mundo afora existem milhões de
pessoas, sem o mesmo nível de consciência desses conspiradores mais atuantes, mas ainda assim
conectadas a essa rede de transformação. Elas não se dão conta de que fazem parte dessa rede,
mas estão contribuindo, cada uma do seu jeito, para que a conspiração aquariana tenha sucesso.
…” (GONÇALVES, Gilberto. A conspiração aquariana. 23 mar. 2009. Disponível
em: http://brasilan.blogspot.com/2009/03/conspiracao-aquariana.html Acesso em 09 set. 2011).
Explicitamente, mostra-se que se trata de um movimento em que grande número de pessoas está
a agir inconscientemente, pois se trata, mesmo do “engano da injustiça”.

- Por isso, ao ouvirmos as “cartas abertas” que chamam a um “acordo no vale do Ono”, devemos
falar a verdade, devemos mostrar a Palavra de Deus e indicar a verdadeira fonte de todas estas
acusações infundadas, que não é outro lugar senão o “coração do inimigo”. E o que há no
“coração do inimigo”? Ora, sabemos que naquele coração somente há maldade, uma revolta
contra Deus e tudo quanto Deus ama. Daí porque a “conspiração aquariana” somente trazer
“oposição e levantamento contra tudo o que se chama Deus ou se adora” (II Ts.2:4).

- O inimigo está atuando de forma cada vez mais terrível, sem dó nem piedade, porque sabe que
tem pouco tempo, mas muitos dos salvos está inerte, agindo como se o inimigo tivesse se
cansado. Por isso, vivem uma vida dúbia, uma vida de mistura com a mentalidade mundana e,
sem que saibam, passam a ser agentes desta mesma “conspiração”, que, como nos mostra Paulo,
traz a “apostasia”, i.e., o desvio espiritual, que é absolutamente necessário para que haja o triunfo
desta conspiração.
- O Senhor Jesus foi bem claro ao mostrar que, quando nos deixamos levar pela nossa natureza
pecaminosa, pelo nosso “coração” corrompido pelo pecado, somente estaremos a espalhar tudo
quanto ofende a Deus, “porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt.15:19). Jeremias diz que nada é mais
enganoso e perverso que o coração humano (Jr.17:9). Por isso, não podemos, de modo algum,
aceitar a oferta do inimigo e passarmos a agir “segundo o coração”, pois dele somente virão
males, como estas acusações infundadas de Sambalate.

- Por isso, para termos o mesmo resultado que teve o povo judeu nos dias de Neemias, a começar
das lideranças, devemos ter uma vida sincera e reta diante de Deus. Neemias não só falou a
verdade como a verdade estava respaldada pela sua maneira de viver e, diante de seu
testemunho, salvo alguns, mais fracos, que o pressionaram para ceder à oferta do inimigo, que o
faziam por medo e não por convicção, o povo pôde continuar a obra apesar do uso da “arma da
carta aberta”. Será que estamos nas mesmas condições para superar esta estratégia do inimigo?

- A pressão trazida pelos fracos era de que, caso Neemias não descesse ao vale do Ono, ele não
terminaria a obra, visto que os exércitos do rei da Pérsia viriam e impediriam a sua conclusão. Era,
pois, necessário, segundo o entendimento destas pessoas, que Neemias fosse até o vale do Ono,
fizesse um acordo com os inimigos e, depois, em segurança, retornasse para a conclusão da obra
(Ne.6:9a).

- Diante de tais afirmações que, como vemos, eram razoáveis, Neemias não se intimidou. Deveria
ele parar a obrar, que estava sendo realizada por causa da prosperidade do Deus do céu, para
impedir que ela não cessasse? Se Deus garantia a continuidade da obra, por que deveria ele pará-
la, exatamente para que ela não parasse?

- Esta mesma contradição observamos nas “cartas abertas” apresentadas pelo inimigo de nossas
almas na atualidade. Tais “cartas abertas” convidam os salvos a terem um “diálogo interreligioso”,
uma “tolerância com os demais credos”, uma “convivência pacífica com todas as religiões”, uma
“fraternidade com o mundo”. Ora, se a Igreja veio pregar o Evangelho, para que Jesus salve as
pessoas e as liberte, como podemos cumprir nossa tarefa deixando e permitindo que as pessoas
continuem presas no pecado? Como podemos fazer a obra de libertação do pecado mantendo e
permitindo que as pessoas continuem presas ainda nele?

- Lamentavelmente, muitos dos que cristãos se dizem ser têm abraçado esta proposta satânica e
tem alardeado a “convivência pacífica entre os credos”, a “atuação unida contra os males deste
mundo”, esquecidos de que o maior mal do mundo é o pecado e que Jesus veio tirá-lo do mundo e
que ninguém pode fazê-lo a não ser o Senhor Jesus. Estão descendo ao “vale do Ono” e ali serão
mortos, passando a ser tão somente daqueles que perecem, daqueles que foram vítimas do
“engano da injustiça”. Qual é a nossa condição?

- Evidentemente que o salvo em Jesus Cristo, por amar até os próprios inimigos (Mt.5:44), não
quer o mal de pessoa alguma e, portanto, sempre respeitará, como o próprio Deus o faz, aqueles
que rejeitam a verdade e não querem crer em Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas. Com
eles, conviverá pacificamente sobre a face da Terra, não lhes querendo fazer mal, mas sempre
mostrando a eles que caminham para a perdição eterna. Agora, há uma diferença muito grande
entre o amor que o salvo tem para com o próximo e a concordância com o que o próximo faz em
desacordo com a Palavra de Deus e, mais ainda, com a comunhão com o pecado do próximo.
- Neemias sabia que a obra que estava a fazer não era resultado de nenhuma permissão ou
paciência do inimigo, mas, sim, consequência da prosperidade dada pelo Deus dos céus. Por isso,
não dependia de qualquer acordo com os inimigos para prosseguimento da obra. Pelo contrário,
saísse ele do lugar onde Deus o havia posto, aí sim a obra não mais se faria. Ir ao vale do Ono
teria o efeito de paralisação da obra e isto não poderia ser feito de modo algum.

- Que faz, então, Neemias? O que sempre esteve a fazer desde que havia recebido a notícia da
situação de miséria e desprezo em que estava Jerusalém: ora a Deus. Sua oração agora foi:
“Agora, pois, ó Deus, esforça as minhas mãos” (Ne.6:9b).

- O pedido de Neemias era de que fosse fortalecido, que tivesse suas forças aumentadas (como
traduz a Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Na Bíblia de Jerusalém, o texto mostra que,
enquanto os inimigos tencionavam desanimar e amedrontar com a “carta aberta” Neemias e o
povo, o efeito foi de que tudo isto fortaleceu ainda mais o ânimo dos edificadores.

OBS: Reproduzimos o texto da Bíblia de Jerusalém: “ A verdade é que todos eles queriam nos
amedrontar, pensando: ‘Suas mãos se cansarão do trabalho e jamais será terminado’. No entanto,
dava-se o contrário: eu fortalecia as minhas mãos!” (Ne.6:9,.10).

- Quando vemos, como estamos a ver, todas as coisas que o Senhor Jesus disse que iriam
acontecer quando estivesse próxima a Sua vinda para arrebatar a Igreja, não podemos desfalecer,
nem desanimar. É certo que o aumento da perseguição ao Evangelho, as sucessivas vitórias dos
inimigos do povo de Deus em todo o mundo podem nos abalar, nos abater, pois somos humanos.
Mas, diante destas circunstâncias, não podemos nos esquecer de que isto é sinal de que Jesus
está às portas e que a nossa esperança está cada vez mais perto de se concretizar. Não é,
portanto, motivo de desânimo mas de fortalecimento de nossa fé. Aleluia!

III – A UTILIZAÇÃO DE FALSOS PROFETAS CONTRA NEEMIAS

- Neemias não foi para o vale do Ono, continuando a edificar, juntamente com o povo judeu, os
muros e portas de Jerusalém, dando início à colocação das portas nos portais. E os inimigos, que
fizeram? Desistiram de seu intento? De jeito nenhum! Usaram de mais um recurso: a utilização de
falsos profetas.

- Já na sua “carta aberta”, Sambalate havia tentado levar o descrédito à Palavra de Deus ao povo
judeu, acusando Neemias de “contratar profetas” para lançá-lo como rei de Judá. Conforme
conhecido provérbio popular, “quem disso usa, disso cuida”. Ao acusar Neemias de “contratar
profetas”, o inimigo acabou denunciando uma de suas armas, que era, precisamente, a de
“subornar profetas” para confundirem tanto o povo quanto Neemias.

- Esta é, também, uma arma que o inimigo de nossas almas se utiliza, com permissão divina, no
meio do povo de Deus. Desde os dias de Israel, o Senhor já alertava contra os “falsos profetas”
(Dt.13:1-5) e o apóstolo Pedro foi claro ao dizer que, como sucedeu em Israel, também ocorreria
na Igreja (II Pe.2:1-3). O Senhor Jesus deu grande ênfase aos falsos profetas e seu alto poder de
engano (Mt.7:15; 24:11,24; Mc.13:22).

- A arma dos falsos profetas é extremamente perigosa, pois se trata de uma arma que se utiliza no
meio do povo de Deus. Não é uma pressão externa, mas algo que vem do próprio interior da
comunidade e que, portanto, passa despercebido por quem não se encontrar atento, por quem
não estiver “atado com o cinturão da verdade”, pois o falso profeta só é conhecido quando sua
mensagem é analisada à luz da Palavra de Deus, que é a verdade (Jo.17:17).
- Neemias continuava a sua obra e, num certo dia, entrou na casa de Semaías, filho de Delaías, o
filho de Meetabel. Segundo nos diz o texto sagrado, Semaías estava impedido de ir até Neemias.
Não sabemos qual teria sido este impedimento, mas, sendo Semaías um profeta, Neemias, ao ser
comunicado de que Semaías desejava falar-lhe, prontamente foi ao seu encontro, como, aliás, era
do perfil de Neemias que, como vimos, era próximo ao povo, não ficava separado dos seus
liderados.

- Ao chegar à casa de Semaías, o profeta lhe trouxe uma mensagem: “Vamos juntamente à casa
de Deus, ao meio do templo, e fechemos as portas do templo, porque virão matar-te; sim, de
noite, virão matar-te” (Ne.6:10 “in fine”).

- Notemos o cenário. Semaías, um profeta, manda chamar Neemias, que vai até sua casa e o
profeta, como que a ter uma “revelação” de uma conspiração, fala que Neemias estava para ser
assassinado e que deveria ir, com ele, até o templo e ali se refugiar. Nada mais razoável para um
homem de oração: refugiar-se no templo, onde é a presença do Senhor. Nada mais razoável para
um homem de oração: Deus estava preservando-lhe a vida!

- Contudo, Neemias tinha discernimento espiritual. Poderia um profeta verdadeiro dar um conselho
contrário à lei do Senhor? Poderia um profeta desdizer o que Deus já havia dito? Em suma:
poderia o mesmo Deus que dissera que o lugar santo somente poderia ser frequentado pelos
sacerdotes (Ex.40:31-33) e mandar Neemias ali entrar para se refugiar? Poderia o mesmo Deus
que havia dito que prosperaria, e estava prosperando a obra, mandar que Neemias ficasse no
templo enquanto o restante do povo ficasse à mercê de assassinos e inimigos?

- Neemias confrontou a mensagem do “profeta” Semaías com a Palavra de Deus, com as


Escrituras e com aquilo que Deus já lhe havia dito desde o momento em que começou a buscá-lo
ainda em Susã. A mensagem de Semaías discrepava do que Deus havia falado através de Moisés,
bem como do que Deus lhe havia falado. Diante desta contradição, Neemias ficou com a Palavra
de Deus, rejeitando a mensagem, que compreendeu ser uma falsa mensagem, a mensagem de
um falso profeta.

- Se Neemias não conhecesse a lei de Moisés, como poderia saber que Semaías era um falso
profeta? Se Neemias não vivesse em comunhão íntima com o Senhor, como saber que Semaías era
um falso profeta? Eis o motivo por que muitos que cristãos se dizem ser, na atualidade,
encontram-se iludidos e enganados pelos falsos profetas que proliferam e se multiplicam no meio
do povo de Deus: desconhecimento da Palavra de Deus. Não é à toa que Oseias constatava, com
tristeza, nos últimos dias do reino das dez tribos, do reino de Israel: “O meu povo foi destruído
porque lhe faltou o conhecimento” (Os.4:6 “in initio”).

- Só há um modo para não sermos enganados pela mentira: conhecer a verdade. Neemias, ao
receber a mensagem de Semaías, identificou que ela contrariava a lei e tudo quanto o Senhor já
lhe dissera ao longo daqueles meses e, por isso mesmo, rejeitou a mensagem. Com convicção,
disse a Semaías: “Um homem como eu fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo e viva?
De maneira nenhuma entrarei” (Ne.6:11).

- Neemias diz, com convicção, em seu relato inspirado pelo Espírito Santo e que hoje compõe o
texto sagrado: “Então conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas esta profecia falou
contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram. Para isto o subornaram, para me
atemorizar, e para que eu assim fizesse, e pecasse, para que tivessem alguma causa a fim de me
infamarem, e assim me vituperarem” (Ne.6:12,13).
- Neemias, por discernimento espiritual, pôde entender que a mensagem de Semaías era falsa,
porque contrariava as Escrituras. Toda e qualquer mensagem que contrarie a Bíblia Sagrada deve
ser repudiada, pois o que contraria a verdade é mentira e nosso compromisso é com Cristo Jesus,
a Verdade. Não nos iludamos com “profecias”, “visões”, “sonhos”, “revelações” que contrariem a
Palavra de Deus. Em vez de corrermos atrás disso, leiamos e meditemos na Bíblia Sagrada para
que não venhamos a ser enganados.

- Mas Neemias não ficou apenas com o discernimento espiritual. Como justo, investigou o que se
passava e acabou descobrindo que Semaías havia sido subornado por Sambalate e Tobias para
que levasse Neemias ao pecado e, assim, tivessem eles o que falar de Neemias para o povo. Como
é importante que o líder seja íntegro, pois, assim fazendo, não tem como o inimigo infamá-lo e
vituperá-lo. Por isso mesmo, deve se manter em comunhão com Deus, em constante oração e
meditação nas Escrituras, para que não venha a cair. Tem misericórdia de nós, Senhor!

- Nesta sua investigação, Neemias descobriu que Semaías não foi o único, mas que também outros
profetas foram subornados por Tobias e Sambalate, entre os quais a profetisa Noadias (Ne.6:14).

- Triste é quando o profeta passa a amar o dinheiro. Nos dias de Miqueias, era esta também a
situação do povo de Israel. Lá, os profetas também profetizavam por dinheiro (Mq.3:11) e o
resultado disto foi o cativeiro (Mq.3:12). Não é diferente nos dias atuais. Paulo advertiu que
muitos se desviarão da fé por causa do amor do dinheiro (I Tm.6:10). Devemos ter muito cuidado
pois o vil metal continua atuando e fazendo com que as pessoas deixem de servir a Deus, pois
quem serve às riquezas não pode servir a Deus (Mt.6:24).

- Uma característica desta gente é bem explicitada por Neemias em seu relato. Os traidores, os
conspiradores são os conhecidos “leva-e-traz”. Assim nos diz Neemias: “Também as suas bondades
contavam perante mim, e as minhas palavras lhe levavam a ele” (Ne.6:19a).

- Quando percebermos que, no meio do povo de Deus, existem os “leva-e-traz”, aqueles que tudo
nos contam, mas que também contam tudo para outrem, devemos deles nos distanciar, pois são
agentes do inimigo, conspiradores introduzidos no meio do povo do Senhor. Por isso, a lei já
condenava os mexeriqueiros (Lv.9:17), como também Paulo pedia que não houvesse mexericos no
meio da igreja (II Co.12:20).

- Que fez Neemias ao saber dos subornos? Mandou matar os falsos profetas? Não. E por que não
o fez? Porque não podia se distrair com outros assuntos que não fosse a obra que tinha de ser
concluída. Além do mais, a conspiração, soube ele, não se limitara aos profetas, mas o fato é que
alguns nobres de Judá trocavam cartas com Tobias, que era genro de Secanias, filho de Ará e
Joanã, filho de Tobias, tomara como esposa a filha de Mesulão, filho de Berequias (Ne.6:17,18),
que era um dos edificadores mais laboriosos (Ne.3:4,30).

- Neemias bem percebeu que, caso tomasse atitudes drásticas, além de não ter condições de
extirpar todos os conspiradores, ainda enfraqueceria o ânimo do povo. Seu papel ali era a
edificação dos muros e portas de Jerusalém e isto é que teria de ser feito. Muitas vezes, somos
distraídos da obra de Deus por causa das traições, das conspirações e, mesmo quando tudo nos é
revelado, devemos sempre agir com prudência, pois o objetivo maior é a realização da obra de
Deus, que não pode ser paralisada por causa das traições, das infidelidades.

- Lembremo-nos do que o Senhor Jesus nos ensina na parábola do joio e do trigo, quando nos
ensina que não devemos tirar o joio quando ele é detectado, mas que aguardemos a colheita,
quando, então, será separado o joio do trigo (Mt.13:24-30,36-43). Foi, precisamente, o que fez
Neemias: ao tomar conhecimento de toda a conspiração, entregou o caso nas mãos do Senhor:
“Lembra-Te, meu Deus, de Tobias e de Sambalate, conforme a estas suas obras, e também da
profetisa Noadias, e dos mais profetas que procuraram atemorizar-me” (Ne.6:14).

- O objetivo destes falsos profetas era buscar atemorizar Neemias para que este viesse a pecar e,
assim, dar alguma causa para que fosse infamado diante do povo. Sabendo que este era o
propósito dos inimigos, Neemias tão somente não deu lugar para a infâmia. O objetivo era
atemorizá-lo? Ele não se atemorizou. O objetivo era fazê-lo pecar? Ele não pecou. O objetivo era
fazê-lo paralisar a obra? Ele não a paralisou.

- O líder tem de ter este discernimento. Era bom ter tamanha quantidade de traidores no meio do
povo? Não, não era bom. Entretanto, o objetivo daquela traição era a paralisação da obra e não
havia resposta melhor para os inimigos que a continuação da obra. Neemias não pensava em si,
mas na obra, na realização da vontade de Deus. Quando o líder assim age, a obra do Senhor
continua a prosperar, sem que se precise gastar tempo e energia com uma “execução de
vingança”, com uma “execução de justiça”, pois o Senhor, ao seu tempo, saberá de tudo cuidar.
Aprendamos com Neemias!

IV – A CONCLUSÃO DA OBRA

- Não se deixando levar por todos os estratagemas do inimigo, Neemias pôde ver concluída a obra ,
o que se deu no dia vinte e cinco de Elul, num prazo recorde de cinquenta e dois dias (Ne.6:15).
Não tendo dado lugar ao inimigo, não se distraindo com as artimanhas dos adversários, não se
deixando enganar com os ardis, que não ignorou nem um só momento, Neemias alcançou a
vitória. Assim também, se procedermos da mesma maneira, também seremos vitoriosos.

- O resultado da conclusão da obra foi muito maior do que poderiam imaginar Neemias e o povo
judeu. Ao saberem todos os gentios que a obra fora concluída em prazo tão exíguo, abateram-se
em seus próprios olhos, porque reconheceram que Deus fizera aquela obra (Ne.6:16).

- Sem ir ao vale do Ono, sem temer pela sua própria vida, sem se distrair com as diversas
artimanhas do inimigo, Neemias concluiu a obra e a conclusão da obra, a realização da vontade do
Senhor trouxe a paz que se prometia na descida ao vale do Ono e, mais do que isto, trouxe a
glorificação do nome do Senhor, pois foram os gentios que reconheceram que a obra se fez por
Deus e não pelos judeus nem tampouco por Neemias.

- É isto que temos de entender enquanto estamos sobre a face da Terra fazendo a obra do Senhor.
Não podemos titubear, nem deixar nos enganar pelo inimigo de nossas almas, que sempre está a
se opor ao que fazemos para Deus. Temos de prosseguir realizando aquilo que Deus nos mandou,
sem vacilação, numa constante vigilância, com amor e dedicação, em oração e meditação nas
Escrituras. Quando a obra se concluir, os homens saberão que foi Deus quem o fez e o glorificarão
por causa de nossas boas obras.

- Muitos, no entanto, não compreendem esta situação e se embaraçam com as coisas desta vida,
inquietam-se com os movimentos do inimigo e deixam de fazer a obra de Deus que, desta
maneira, não é concluída. Deus é quem faz a obra, Ele é que será glorificado, mas depende de
nossas mãos para que ela se realize. Sem que nos disponhamos a realizar a obra, ela não se fará e
o nome do Senhor não será glorificado.
- Muitos, ainda, diante da pressão externa, atemorizam-se e fogem, deixando de fazer a obra.
Nestes casos, também, a obra não será feita e o resultado é que o nome do Senhor também não é
glorificado.

- Outros, por fim, no meio da obra, dela se desviam, passam a trabalhar contra ela, por amor do
dinheiro e seduzidos pelas ofertas apresentadas pelos inimigos. Estes, além de não poderem
impedir a obra de ser realizada, em vão buscarão uma glória própria, pois a obra de Deus somente
permite a glorificação do Senhor.

- Todos têm se unido contra Deus e o Seu Cristo (Sl.2:1-3) e parece mesmo que não há mais
condições para que a Igreja, que é o corpo de Cristo, possa subsistir. No entanto, diz-nos o texto
sagrado, que “Aquele que habita nos céus Se rirá; o Senhor zombará deles. Então lhes falará na
Sua ira, e no Seu furor os confundirá” (Sl.2:4,5). Estamos, ainda, no tempo da graça, não é
momento ainda da manifestação da ira divina, que somente se iniciará com o arrebatamento da
Igreja.

- Assim, o que nos resta a fazer? O salmista mesmo responde: “Agora, pois, ó reis, sede
prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com
tremor. Beijai o Filho, para que Se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a
Sua ira; bem-aventurados todos aqueles que n’Ele confiam” (Sl.2:10-12).

- Diante desta grande “conspiração” do inimigo contra nós, os que estamos a edificar, com o
Senhor Jesus, a Sua Igreja, sejamos prudentes e aprendamos com o Senhor Jesus. Sirvamos a Ele
e O adoremos, cumprindo a Sua vontade e, assim como Neemias e os judeus concluíram a obra da
reedificação de Jerusalém, também concluiremos as nossas tarefas e alcançaremos a bem-
aventurança eterna por termos confiado no Senhor. Amém!

Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso Francisco

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