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LIÇÃO 2 – LIDERANÇA EM TEMPOS DE CRISE

As atitudes de Neemias na sua chegada a Jerusalém


mostram que estava capacitado para fazer a obra que Deus queria que
fizesse em Judá.

INTRODUÇÃO

- Na sequência do estudo do livro de Neemias, estudaremos hoje o


capítulo 2, que nos narra a ida de Neemias até Jerusalém.

- As atitudes tomadas por Neemias mostram que estava devidamente


capacitado pelo Senhor para empreender aquela grande obra que era a
restauração da nação judaica.

I – NEEMIAS PEDE AO REI PARA IR PARA JERUSALÉM

- Na lição anterior, vimos que Neemias tinha a convicção íntima de que Deus queria
que fosse ele o instrumento para a modificação da deplorável situação em que se
encontrava o povo judeu. Diante desta convicção, o copeiro real iniciou um tempo
de oração em prol de seu povo, tempo este que durou por volta de quatro meses,
já que se iniciou no mês de Quisleu (correspondente a novembro/dezembro de
nosso calendário) e se estendeu até Nisã (correspondente a março/abril de nosso
calendário).

- Como vimos na lição anterior, esta atitude de Neemias bem demonstra que, antes
de qualquer ação que venhamos a tomar na obra do Senhor, precisamos ir aos pés
do Senhor, saber qual é a Sua vontade. O apóstolo Paulo já nos advertiu dizendo
que devemos apresentar os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, o nosso culto racional, para que, transformados pela renovação do nosso
entendimento e não nos conformando com este mundo, possamos experimentar a
boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm.12:1,2).

- Muitos, na atualidade, têm dado passos equivocados em sua vida terrena, apesar
de serem servos de Deus, simplesmente porque não vão à presença do Senhor
para saber qual é a Sua vontade. Se é verdade que não podemos apenas orar,
sendo necessário também agir (e Neemias é um exemplo disso), tem-se que é
necessário submetermos a nossa vontade à vontade do Senhor, sem o que nada
poderemos fazer, pois, sem Ele, nada pode ser feito (Jo.15:5 “in fine”).

- Neemias foi buscar a face do Senhor a fim de poder conhecer qual era a vontade
divina no caso e, no mês de Nisã, no vigésimo ano do reinado de Artaxerxes,
depois de quatro meses de oração, foi acometido de uma singular angústia, de
uma tristeza que, ao contrário das outras vezes, não pôde disfarçar diante do rei.
Artaxerxes notou que o semblante de Neemias era de tristeza e, como isto nunca
antes havia acontecido, perguntou-lhe o que se passava (Ne.2:1,2).

- Vemos desta afirmação do próprio Neemias que um servo de Deus, ainda que
esteja a passar por tribulações, angústias e provações, não deve ser alguém que
transmita tristeza ou melancolia aos que estão à sua volta. Muito pelo contrário, o
servo do Senhor precisa expressar alegria, uma alegria diferente, pois é a alegria
da salvação (Sl.51:12), uma das qualidades do fruto do Espírito Santo (Gl.5:22).

- Não estamos aqui a dizer que o salvo não passa por tristezas e aflições. O Senhor
Jesus só garantiu uma coisa para os Seus seguidores neste mundo – aflições
(Jo.16:33). Assim, é evidente que o salvo sempre passará por momentos de
dificuldades e de tristezas.

- O que estamos a dizer é que o salvo, apesar das aflições e tristezas, não pode
desanimar nem tampouco desanimar aqueles que estão à sua volta. O Senhor disse
que, apesar das aflições, devemos ter “bom ânimo”, ou seja, não podemos perder a
esperança da glória, nem tampouco fazer com que nossas dificuldades se
transformem em pedra de tropeço para os outros seres humanos. Neemias, apesar
de sua aflição, de seu choro contínuo, nunca havia se apresentado triste e abatido
diante do rei Artaxerxes. Apresentava-se, sempre, com um semblante alegre, sendo
um motivo de prazer e uma boa companhia para o rei.

- No entanto, naquele dia, por mais que tentasse, Neemias não conseguiu se
apresentar com semblante alegre. Aquela tristeza era, sem que ele soubesse, o
meio pelo qual o Senhor começaria a responder as suas orações. Neemias, apesar
de angustiado e triste (talvez se perguntasse o porquê daquela tristeza maior), não
se queixou diante do rei, mas efetuou o seu serviço como costumava fazer.

- O rei, no entanto, já acostumado com o semblante alegre de Neemias, percebeu


aquela mudança de ambiente e, mais do que depressa, perguntou-lhe qual era o
motivo daquilo, já que, como Neemias não estava doente, aquilo só podia ser
tristeza de coração (Ne.2:2).

- A indagação do rei era extremamente perigosa. Como sabemos, o copeiro real era
aquele que provava tudo quanto seria consumido pelo rei, a fim de evitar que fosse
ele envenenado. A demonstração de tristeza de coração por parte de Neemias
poderia indicar que ele soubesse de alguma trama ou conspiração contra o rei e,
como era um servo leal, sua tristeza poderia ser interpretada como um
cumplicidade com os inimigos, mesmo uma impotência diante daquilo, que poderia
custar-lhe a vida. Eis o motivo pelo qual Neemias “temeu muito em grande
maneira”.
- Apesar do perigo de vida que estava a correr, Neemias , naquele momento, sentiu
da parte do Senhor que ali estava uma oportunidade para relatar ao rei o
deplorável estado de seus compatriotas e, com coragem, disse ao rei que o motivo
de sua tristeza era o fato de Jerusalém, a cidade de seus pais, estar assolada e as
suas portas consumidas a fogo (Ne.2:3). O rei, então, vendo a sinceridade do seu
copeiro, perguntou-lhe o que Neemias desejava diante daquele quadro.

- Vemos, então, que Neemias, diante de tão grande oportunidade, não se


precipitou, mostrando ser pessoa extremamente prudente, uma característica que
deve ter todo líder. Indagado pelo rei o que queria, fez uma oração a Deus, esta,
sim, uma “oração-relâmpago”, uma “oração repentina”, mas que, com muita
propriedade, Charles Haddon Spurgeon, o príncipe dos pregadores britânicos do
século XIX, denominou de “oração fervorosa”.

- Nada podemos fazer sem a orientação, a direção e a ajuda do “Deus dos céus”.
Neemias havia orado durante quatro meses mas, quando se lhe abriu a
oportunidade de fazer seu pedido ao rei, não confiou no poder do rei, a maior
autoridade mundial daquele tempo, mas, sim, no “Deus dos céus”. Temos agido da
mesma maneira, amados irmãos? Mesmo quando aparentemente se abrem as
portas para nós, temos, apesar de tanto tempo de oração, ainda feito uma “oração
fervorosa” para o Senhor?

- Ao término desta oração, com toda certeza o Espírito de Deus deu a Neemias a
convicção inabalável de que era ele quem deveria restaurar Jerusalém e, diante
disto, o copeiro pediu ao rei que fosse autorizado a ir até Jerusalém e, em nome do
rei, reedificasse Jerusalém.

- No pedido de Neemias, verificamos que, embora reconhecesse a Deus como o


Senhor de todas as coisas, o copeiro não menosprezou a autoridade de Artaxerxes,
bem sabendo lidar com as leis e costumes vigentes na Pérsia. Ao fazer o pedido,
nem sequer mencionou o nome do Senhor, pedindo que o rei, se quisesse e lhe
fosse agradável, autorizasse sua ida até Jerusalém para a reedificação da cidade.

- Que importante lição temos com este gesto de Neemias! Ainda que dirigidos e
orientados pelo Senhor, ainda que chamados para mudar uma situação secular de
injustiça e de desmando, não podemos nos apresentar como rebeldes,
insubordinados ou arrogantes diante das autoridades, pois elas foram constituídas
por Deus (Rm.13:1) e resistir-lhes no campo de sua competência é resistir a Deus
(Rm.13:2).

- Vemos com tristeza, na atualidade, que muitos dos servos de Deus não sabem se
relacionar convenientemente com as autoridades. Alguns resolvem se submeter
cegamente a elas, inclusive naquilo que fazem em contrariedade à Palavra do
Senhor, fazendo-o, não raras vezes, em virtude de interesses escusos e
reprováveis. Outros, pelo contrário, afrontam-nas, resistindo-lhes naquilo em que
estão a fazer precisamente o que lhes é permitido inclusive pela lei de Deus e,
nesta afronta, além de resistirem ao próprio Deus, também servem de escândalo
na obra de Deus. Saibamos os verdadeiros limites das autoridades e, naquilo para o
que foram elas constituídas, sejamos submissos e obedientes, como foi Neemias.

- O rei Artaxerxes demonstrou ter interesse em atender ao pedido de seu copeiro,


mas perguntou a Neemias quando tempo pretendia se ausentar da corte (Ne.2:6).
Este, foi, sem dúvida, um importante teste para Neemias. O rei mostrou-se
favorável, prova de que estava o Senhor abrindo as portas para que a obra de
reedificação de Jerusalém se realizasse, mas, também, o rei mostrou que não
pretendia “abrir mão” de seu servidor. Nesta pergunta, também, o rei quis verificar
duas coisas muito importantes: se Neemias tinha desejo de se tornar “senhor” de
Jerusalém, ou seja, se havia alguma ambição de poder por parte do copeiro e,
também, se Neemias tinha ideia do que iria fazer, daí porque ter pedido para que o
seu copeiro indicasse um período de ausência.

- Neemias mostra, claramente, ao apontar um certo tempo para o rei, de que não
havia apenas se dedicado à oração ao Senhor, mas que, também, procurara se
informar a respeito da situação de Jerusalém e do que seria necessário fazer.
Neemias não demonstrou uma “fé cega”, não se deixou levar apenas pelos desejos,
mas quis se informar a respeito do que seria necessário para reedificar a cidade,
como isso se daria.

- Agir por fé, amados irmãos, não é deixar tudo aos cuidados do Senhor e não se
preparar para aquilo que sente ter sido chamado a fazer. Neemias, em suas
orações, recebeu a convicção de que era o homem escolhido por Deus para
restaurar a sua nação, por mais que isto fosse algo irrazoável aos olhos humanos,
uma vez que era o copeiro do rei e nem sequer tivera contato com os seus
compatriotas, embora nem sequer conhecesse ou tivesse estado em Jerusalém
alguma vez em sua vida.

- É neste ponto que vemos o exercício da fé, quando vemos algo que é invisível,
quando esperamos algo que não tem a mínima condição de se nos mostrar ou de
acontecer (Hb.11:1). No entanto, exatamente por vermos o invisível e esperarmos
o que, natural e racionalmente, não pode vir a ocorrer, não podemos ficar de
braços cruzados, sem nada fazer. Pelo contrário, Neemias, tomado desta convicção,
procurou informar-se do estado de coisas e, mais do que isto, a planejar como se
daria a reedificação. Tanto assim é que, quando o rei pede que lhe aponte um
tempo, Neemias pôde fazê-lo sem titubeio nem mesmo pedindo “um tempo para
pensar”.

- O planejamento é algo que é indispensável para quem quer exercer um papel de


liderança, como, aliás, é algo indispensável para toda e qualquer ação inteligente
que se queira fazer. Deus dá-nos o exemplo pois Ele mesmo planejou a salvação da
humanidade ainda antes da fundação do mundo (Mt.25:34; Ef.1:4; Ap.13:8; 17:8).
- Neemias, instado pelo rei, como já tinha um planejamento, apontou, de imediato,
um certo tempo e obteve dele a autorização para partir.

II – NEEMIAS OBTÉM RECURSOS E MEIOS PARA EMPREENDER A OBRA DE


REEDIFICAÇÃO PARA JERUSALÉM

- Após a autorização real para partir para Jerusalém, numa clara demonstração de
que havia planejado o que iria fazer, Neemias pediu ao rei que lhe fossem dadas
cartas para os governadores dalém do rio para que lhe dessem passagem até Judá
(Ne.2:7). Vemos, aqui, mais uma vez, como Neemias tinha plena consciência de se
submeter a todas as regras e costumes existentes em seu tempo, apesar de ter a
convicção de que estava a fazer a vontade do Senhor e de que tinha, agora, a
autorização da autoridade máxima da Pérsia, o próprio rei Artaxerxes.

- Entretanto, Neemias sabia que não se pode realizar a obra de Deus de qualquer
maneira e de modo irresponsável. Embora tivesse a autorização do rei, esta
autorização deveria ser bem documentada e Neemias haveria de ter um
relacionamento correto e legal para com todos os governadores das terras ao longo
das terras que separavam a Pérsia (região que hoje corresponde ao Irã) da
Palestina.

- O Império Persa é conhecido na história por ser um dos primeiros impérios


mundiais que se dotou de uma razoável estrutura administrativa. O império era
dividido em satrapias, governadas por um sátrapa, que era o governador, aquele
que, em nome do rei, administrava uma determinada região do império (cfr.
Et.1:1). Assim, Neemias quis se cercar de todos os cuidados para, ao longo da
jornada, não ser molestado por qualquer governador e, desta maneira, poder
chegar em paz e sem qualquer problema até Jerusalém.

- Como é importante que o servo de Deus se mostre, diante dos homens, de forma
correta e insuspeita. Embora tenhamos um relacionamento íntimo com o Senhor,
que conhece o nosso coração, nem por isso devemos nos descuidar de nos mostrar,
diante dos homens, como pessoas de bem, como pessoas bem-intencionadas,
como portadoras de um bom testemunho. Os homens sem Deus nem salvação não
conhecem as realidades espirituais e, por isso, devemos nos mostrar a eles como
pessoas de boa índole, como pessoas de bem.

- Muitos, na atualidade, apesar de terem tido real encontro com o Senhor Jesus,
apesar de estarem agindo na direção do Senhor, prejudicam-se a si mesmos e à
obra do Senhor quando não tomam o cuidado que tomou Neemias de se precaver,
diante das instituições existentes na sua sociedade, de modo a se mostrar a todos,
a começar das autoridades, como pessoa de bem, como alguém que estava
perfeitamente dentro dos limites da lei e da ordem.
- Quantos, na atualidade, em nome de um “chamado de Deus”, causam
escândalos, descumprindo normas legais, afrontando autoridades e dando lugar ao
diabo para que a obra de Deus seja prejudicada. As Escrituras são claras ao afirmar
que não podemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27) e isto significa, entre outras coisas,
que não podemos, em nome de um voluntarismo, de uma indevida
“espiritualidade”, nos descuidarmos de cumprir tudo quanto nos é exigido na
sociedade e perante o Estado quando formos fazer a obra de Deus. Neemias tinha
autorização do rei para ir até Jerusalém, mas, por isso mesmo, não ousou sair de
Susã sem portar as devidas cartas para apresentar a todos os governadores que
encontraria pelo caminho, em especial os “governadores dalém do rio”, i.e., os
governadores que tivessem autoridade do lado de lá do rio Eufrates, quando já se
iniciava a Palestina.

- Isto nos mostra que Neemias, durante o seu tempo de oração, procurou todas as
informações que fossem necessárias para levar a efeito a obra de reedificação de
Jerusalém. Ciente de seu chamado, Neemias não ficou aguardando as coisas
acontecerem, mas, desde o primeiro instante em que sabia que Deus o queria
nesta empreitada, tratou de obter todas as informações necessárias para que
planejasse aquilo que deveria fazer.

- Temos nos comportado desta maneira, ou temos aderido a falsas concepções de


que basta apenas “orar” que Deus tudo fará por nós. Não resta dúvida de que sem
Cristo nada pode ser feito, como já dissemos supra, mas, em momento algum, o
Senhor Jesus disse que faria tudo sozinho. Nada podemos fazer sem Ele, mas Ele
não é nosso servo para tudo fazer. Lembremo-nos de que aquilo que não podemos
fazer, Ele fará, mas aquilo que podemos (e devemos) fazer, cabe a nós fazê-lo.
Ninguém poderia ressuscitar Lázaro, mas tirar a pedra alguém poderia fazer e é por
isso que Jesus ressuscitou Seu amigo, mas, antes, mandou que os que ali estavam
tirassem a pedra. Façamos sempre o que está ao nosso alcance fazer, amados
irmãos!

OBS: Esta ideia de que devemos sempre agir, trabalhar, além de orar, ficou
conhecida na máxima de Bento de Núrsia (480-547), o criador da ordem dos
beneditinos, cujo lema era “ora et labora”, ou seja, “ora e trabalha”.

- Além dos cuidados relativos à própria liberdade de locomoção e da demonstração


de sua boa índole em sua viagem, perante as autoridades, Neemias também se
preocupou em obter do rei os materiais necessários para a construção. Pediu,
então, a Artaxerxes que lhe fosse dada uma carta para Asafe, o guarda do jardim
do rei, para que lhe fosse fornecida madeira para cobrir as portas do paço da casa
e para o muro da cidade e para a causa em que ele houvesse de entrar (Ne.2:8).

- Por primeiro, não confundamos este Asafe, guarda do jardim do rei, com o
salmista de mesmo nome e autor de vários salmos (como os salmos 73 a 83), que
viveu na época de Davi, ou seja, centenas de anos antes. Seu nome pode dar a
entender que se tratava, também, de um judeu com uma alta posição na corte de
Artaxerxes e, assim, pessoa próxima de Neemias, mas que, nem por isso, deveria
ajudar o copeiro real sem que o rei mandasse fazê-lo.

- Temos aqui uma demonstração de que Neemias sabia bem diferenciar amizade de
responsabilidades, algo que, infelizmente, muitos salvos não compreendem. O fato
de Asafe ser judeu e amigo de Neemias nada tinha que ver com a missão que o
Senhor estava a dar a Neemias. Neemias, a despeito de estar a caminho de
Jerusalém para reedificar a cidade e de isto ser algo que seria muito caro a seu
compatriota Asafe, sabia muito bem que somente poderia retirar madeira para a
obra se houvesse uma ordem do rei a respeito. Não havia meios para que Asafe
“desse um jeitinho” e o ajudasse. Como seria bom se todos os salvos agissem
desta maneira…

- Ao fazer seu pedido ao rei para que Asafe lhe arrumasse a madeira necessária
para a obra, vemos, mais uma vez, que Neemias tinha buscado obter informações
do estado das coisas em Jerusalém e do que seria necessário para fazer a
reedificação. Neemias não deixou de confiar em Deus e de Lhe atribuir a abertura
da oportunidade, tanto que, em suas “memórias”, faz questão de dizer que tudo foi
obtido “segundo a boa mão de Deus sobre mim” (Ne.2:8 “in fine”), mas isto não o
impediu de ir atrás das informações e de saber que material e onde poderia obter
para realizar a obra.

- Esta precaução, este cuidado em bem planejar, algo que veio antes mesmo de
receber a autorização do rei para fazer a viagem, é uma demonstração eloquente
da fé de Neemias e a prova de que ter fé não é ser descuidado nem preguiçoso.
Como é diferente o proceder de tantos que dizem ter sido chamados por Deus em
nossos dias…

- Devidamente recomendado por cartas do rei, com o material suficiente, Neemias


iniciou sua viagem, tendo se apresentado aos governadores dalém do rio. Além
disso, também, foi acompanhado de chefes do exército e cavaleiros que lhe foram
fornecidos pelo rei Artaxerxes.

- É interessante aqui fazermos um paralelo entre Esdras e Neemias. Esdras havia


deixado Susã treze anos antes e, nos diz o relato do capítulo 8 do livro de Esdras,
que o escriba não quis pedir tropas nem soldados ao rei, porque teve vergonha de
pedi-lo diante do testemunho que dera a respeito do Senhor (Ed.8:21-23). Por que
Neemias aceitou a soldadesca fornecida pelo mesmo Artaxerxes? Teria Esdras fé e
Neemias, não?

- Tanto Esdras quanto Neemias agiram com fé. Por primeiro, é interessante notar
que Neemias também não pediu soldados para o rei. Seu pedido foi para ir
reedificar Jerusalém, como também cartas para apresentar aos governadores e
madeira do jardim do rei. Neemias não pediu soldados. Assim, não podemos dizer
que, ao contrário de Esdras, Neemias tivesse pedido soldadesca para Artaxerxes,
pois não há registro de que o tenha pedido.

- Mas, alguém dirá, ainda que não tivesse pedido, quando o rei as ofereceu, não
deveria ter ele recusado para mostrar a mesma fé que teve Esdras? Não
necessariamente. Esdras havia se notabilizado na corte de Artaxerxes como
“escriba da lei do Deus do céu” (Ed.7:12). Assim, Esdras era conhecido como
alguém que tinha ensinado a respeito do poder de Deus, das maravilhas que o
Senhor havia feito em prol de Israel. Diante desta sua condição de mestre da lei e
pregador, ficaria mesmo inconveniente para Esdras vir a pedir tropas para proteger
a ele e aos que com ele iriam para Jerusalém. Certamente, poderia ser confrontado
por Artaxerxes, que não era um judeu, a respeito daquilo que pregara durante anos
na corte. Assim, para não dar escândalo, para não desacreditar o que havia
pregado, Esdras preferiu o caminho da oração e do jejum, caminho este que foi
aprovado por Deus, que Se moveu pelas orações do povo e realmente os guardou
na sua ida a Jerusalém.

- No caso de Neemias, porém, era diferente. Neemias não se notabilizara na corte


do rei da Pérsia como um pregador nem como um ensinador da lei. Embora tivesse
um bom testemunho e se apresentasse como um servo de Deus na corte, Neemias
não tinha a posição de Esdras e, por isso, não lhe era inconveniente aceitar a
soldadesca. Ademais, como era muito bem informado, sabia, de antemão, que
haveria oposição à sua empreitada e a presença da soldadesca lhe seria assaz
conveniente, não apenas para intimidar os adversários, para mostrar as suas boas
intenções e a circunstância de que estava agindo plenamente dentro da lei. Por
isso, ao lhe ser oferecida a ajuda militar, não a negou, pois tal aceitação em nada
representaria um escândalo diante da obra que estava a realizar.

- Esta situação diametralmente oposta entre Esdras e Neemias mostra-nos, com


clarevidência, que não podemos entender que Deus deve agir da mesma maneira
em todas as situações. Ao recusar soldados, Esdras agiu de forma a se dar glória a
Deus; ao aceitar soldados, Neemias também agiu de forma a se dar glória a Deus.
Isto nos prova de que, como não conhecemos os corações dos homens, não
devemos ficar a julgar esta ou aquela situação, só porque difere de uma situação
anterior. Deus tem muitas formas de agir e não cabe a nós o julgamento dos outros
(Tg.4:11,12). Tomemos, pois, cuidado, amados irmãos!

- Tanto foi prudente e divinamente orientada a aceitação da soldadesca por parte


de Neemias que, em chegando diante dos governadores dalém do rio e
apresentando suas cartas, logo surgiu a oposição, visto que, ao tomar
conhecimento das intenções de Neemias, Sambalate, o horonita e Tobias, servo
amonita, ficaram grandemente desagradados, já que surgira alguém que procurava
o bem dos filhos de Israel (Ne.2:10).
- Não se sabe se já nesta oportunidade, quando se apresentou aos governadores
dalém do rio, Neemias tomou conhecimento do desagrado de Sambalate e de
Tobias, mas isto nos serve de lição de que, sempre que buscarmos o bem dos filhos
de Deus, sempre haverá quem se levante com grande desagrado, visto que o
Senhor Jesus foi bem claro ao nos mostrar que as “portas do inferno” jamais
deixarão de se levantar contra a Igreja. Pode ser que não percebamos tal oposição
logo ao princípio de nossa atividade em prol dos bens dos filhos de Deus, mas não
nos iludamos, sempre haverá a oposição do maligno.

- Nesta palavra, aliás, entendemos qual era a motivação, qual era o objetivo de
Neemias: o bem dos filhos de Israel.Tem sido esta a motivação e o objetivo das
ações que temos feito na obra do Senhor? Queremos tão somente “o bem dos
filhos de Deus”, ou estamos à procura de outros interesses? Somente poderemos
trabalhar para o Senhor Jesus com este mesmo objetivo de Neemias: o bem dos
filhos de Deus.

- Há muitos que, hoje em dia, fazem o mesmo que já se fazia nos tempos do
apóstolo Paulo, que nos revela que muitos estavam a pregar o Evangelho por
inveja e porfia, por contenção, não puramente, mas apenas para acrescentar
aflição ao apóstolo em suas prisões (Fp.2:15-17). Certa feita, aliás, vimos e
ouvimos um ministro afirmar que estava a pregar o Evangelho numa determinada
localidade “por retaliação”! Que situação lamentável. Devemos sempre agir como
Neemias, trabalhar para o Senhor Jesus para que se tenha “o bem dos filhos de
Israel”.

- Devidamente credenciado, com os materiais necessários, Neemias se apresentou


aos governadores dalém do rio e depois se dirigiu a Jerusalém, tendo ali ficado
incógnito e sem qualquer alarde por três dias (Ne.2:11).

IV – NEEMIAS TOMA CONHECIMENTO DA SITUAÇÃO DE JERUSALÉM E CONVOCA


O POVO PARA A OBRA

- Neemias chegou a Jerusalém sem qualquer estardalhaço. Discreto, ciente de que


era escolhido de Deus para aquela obra, não quis se apresentar como “o tal”, como
o “restaurador”. Todo servo de Deus deve ter humildade e aguardar o momento
certo em que o Senhor o apresentará na posição de liderança. Muitos, infelizmente,
ainda que chamados por Deus para serem líderes, querem “aparecer”, querem se
sobressair, cuidando para que seu “marketing pessoal” seja estabelecido o quanto
antes, esquecendo-se que, na obra do Senhor, a propaganda não é a alma do
negócio.

- Neemias ficou três dias em silêncio após ter chegado a Jerusalém. Não nos diz o
que fez neste período, mas podemos deduzir que tenha buscado a Deus, como era
seu costume, bem como que revisitara todo o seu planejamento. Findos os três
dias, de noite, levantou-se e, na companhia de poucos homens, sem declarar a
ninguém o que Deus havia posto em seu coração para fazer em Jerusalém, saiu
para ver “in loco” a situação (Ne.2:12).

- Neemias dá-nos aqui preciosas liçõesde que como devemos agir na obra do
Senhor. Por primeiro, não se pode ficar a alardear aquilo que recebemos em nossa
intimidade com o Senhor. Neemias havia recebido de Deus uma incumbência e
havia recebido esta incumbência, esta tarefa em sua busca particular de Deus
quando ainda estava em Susã. Ora, aquilo que é fruto de nossa intimidade com
Deus não deve ser propalado aos quatro cantos da Terra.

- Temos de ter um relacionamento íntimo com o Senhor e este relacionamento


deve se manter particular, entre nós e Deus. Neemias bem sabia o que devia fazer,
mas não foi proclamando em alto e bom som quando chegou a Jerusalém. Ele não
conhecia as pessoas, nem tampouco a cidade, por isso, antes que pudesse divulgar
parte daquilo que o Senhor lhe dissera (pois nem tudo era para ser revelado),
precisava “tomar pé da situação”.

- Neemias tinha feito um planejamento em Susã, dentro daquilo que Deus pusera
em seu coração, mas ainda não havia tido uma experiência seja com o povo seja
com o próprio local em Jerusalém. Umlíder não pode ser apenas um teórico,
alguém que trabalha única e exclusivamente com a sua mente e seu homem
interior, mas precisa ter contato com a situação real e com o povo que irá liderar.
Não é por outro motivo que a Bíblia denomina de “pastores” aos líderes do povo de
Deus (Jr.2:8; 3:15; 10:21; 23:1; Ez.34:7-10; Ef.4:11; Hb.13:7,17). O pastor não
tem apenas uma liderança mental e contemplativa, mas é necessário que ele
“apascente as ovelhas”, ou seja, que se mantenha em constante contato com seus
liderados, que as conheça particularmente, que conviva com elas.

OBS: Um querido irmão que conosco acompanha as aulas do Estudo Preparatório


dos Professores de EBD costuma dizer que ser pastor não é ser “almofadinha”,
alguém que fica apenas em seu gabinete e que, com sua “malinha 007” passa sem
nem sequer cumprimentar as pessoas que alega apascentar, como, infelizmente,
temos visto muito por aí…

- Neemias, então, precisava fazer um “levantamento de campo”, saber o real


estado dos muros e das portas de Jerusalém, a fim de que, só então, com a devida
verificação do seu planejamento, feito com as informações obtidas em Susã,
pudesse revelar seus intentos ao povo de Jerusalém, povo que havia observado
durante estes três dias.

- Como é importante ouvir e observar antes de falar. Já vimos, na lição anterior,


que Neemias era um bom ouvinte e, uma vez mais aqui, demonstra esta
importante qualidade, indispensável para quem quer liderar. O líder não é aquele
que manda, mas, sim, “aquele que leva os demais” a uma direção: “…a função do
verdadeiro líder é identificar-se com o que está para fazê-lo cada vez melhor.(…). O
líder não deve apenas estudar os assuntos que se lhe apresentam, mas vivê-los
para com eles vibrar e poder falar a ponto de suscitar a inteligência em seus mais
rudes liderados. Assim, a obra poderá ser vivenciada e desejada em seus
corações…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. Os dez mandamentos de um líder idôneo
para o século XXI, p.18).

- Neemias, então, na companhia de poucas pessoas, pessoas de sua mais estrita


confiança, de noite, para que ninguém o visse, nem mesmo de animais, tendo
apenas utilizado um para sua própria montaria, foi até os muros e portas de
Jerusalém, para verificar o estado em que se encontravam.

- É fundamental que, antes de iniciarmos a fazer a obra que o Senhor pôs em


nosso coração, tenhamos um amplo conhecimento da situação que iremos
enfrentar. Apesar de todas as informações que angariemos, é imperioso que nós
mesmos vivenciemos a situação, para que, diante de nossa experiência, possamos
bem realizar a tarefa que nos foi dada pelo Senhor. É certo que Deus, na Sua
infinita misericórdia, sempre há de revelar aquilo que não formos capazes de
descobrir, mas aquilo que pudermos levantar e experimentar, o Senhor não o fará
por nós.

- Saindo pela porta do vale, para a banda da fonte do dragão e para a ponta do
monturo, Neemias contemplou os muros de Jerusalém e pôde verificar que
estavam fendidos e que suas portas tinham sido consumidas pelo fogo (Ne.2:13).
Interessante verificarmos que ele foi em direção à porta do monturo, ou seja, à
porta do lixo (a Tradução Brasileira fala em “entrada do esterco”), certamente o
lugar mais fétido e pior de toda aquela deplorável situação, numa demonstração de
que, quando queremos conhecer a situação real, temos de ir ao pior lugar. Trata-se
de uma verdadeira experiência, de uma real vivência da situação, não uma
“amostragem” que busque tão somente uma “meia verificação” do que está a
ocorrer.

- Mas Neemias não ficou apenas na “porta do monturo”. Também foi até a porta da
fonte e ao viveiro do rei, que eram, presumivelmente, lugares mais aprazíveis,
lugar da água, onde se encontrava o “açude do rei” (como nos fala a Versão
Almeida Revista e Atualizada). Não se pode fugir do pior ponto da situação para se
conhecer a realidade, mas não se pode ficar apenas neste local, é preciso também
ver os lugares melhores. É preciso ter uma visão global, total, não baseada em
estimativas, mas em reais experiências.

- Uma boa administração, um bom exercício de liderança não pode dispensar esta
experiência da realidade. Se somos chamados por Deus a realizar uma tarefa, uma
missão, não podemos nos precipitar. Temos de confiar em Deus e, sem medo de
demorar, devemos calmamente, na direção do Senhor, “tomar pé da situação”.
Quantos acham que, por terem sido mandados por Deus, podem tudo modificar e
tudo mudar de uma hora para a outra. Tenhamos calma, amados irmãos! Sejamos
prudentes. Antes é preciso “tomarmos pé da situação”, conhecermos a realidade
que se nos apresenta, algo que o Senhor não fará por nós, pois nos dotou de
conhecimento e inteligência para tanto. Lembremo-nos disto!

- A porta da fonte e o viveiro do rei, que eram os “melhores” lugares daquela


caótica situação, estavam em estado tão precário, tão ruim que não havia lugar por
onde pudesse passar a cavalgadura que estava debaixo de Neemias. Observemos:
o que seria o melhor lugar não tinha sequer espaço para que um animal ali
passasse, tamanha era a presença de monturo e de ruínas no local.

- Como não podia passar por ali, Neemias subiu pelo ribeiro e contemplou o muro,
tendo, então, voltado e entrado pela porta do vale, a mesma porta por onde havia
saído (Ne.2:15).

- Neemias fez esta inspeção “in loco” sem qualquer comentário, sem abrir a sua
boca. Não só os poucos homens que o acompanhavam não puderam saber o que
estava a fazer e o que significava aquilo, como também não contou Neemias o que
fizera a ninguém, nem aos magistrados, nem os nobres, nem aos judeus em geral
(Ne.2:16). Neemias mantinha silêncio total, porque não era hora de falar, mas, sim,
de ver e ouvir tudo quanto estava a ocorrer.

- Voltamos a insistir na importância de deixarmos o falar para um momento


subsequente do exercício da liderança. A situação era difícil e não devem ter sido
poucas as manifestações de desânimo e de tristeza que Neemias observara
naqueles três dias em que estava em Jerusalém. Mas o momento não era de falar
e, sim, de ver e ouvir.

- Salomão ensina-nos que “o homem de entendimento se cala” (Pv.11:12) e que


“até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios,
por sábio” (Pv.17:28). Saibamos calar no momento necessário para isto, entre os
quais se encontra o do planejamento e do conhecimento da situação real em que
nos encontramos para dar início àquilo que Deus nos pôs em seu coração.

- Verificada a situação, devidamente reajustado o planejamento que havia sido feito


anteriormente, ante a contemplação da realidade, Neemias, então, chamou os
magistrados, os nobres, os judeus e os que faziam a obra para uma reunião.
Notemos que Neemias chamou todos os interessados, sem fazer acepção de
pessoas. Para que tivesse êxito, Neemias tinha de ter o consentimento de todos.

- Em nossos dias, na Igreja, que é um corpo (I Co.12:12-27), muito mais do que


Neemias, devemos todos buscar o consentimento e a participação de todos os
interessados para que possamos bem realizar a obra de Deus. O fato é que,
ultimamente, em nome de uma “teocracia”, tem-se alijado boa parte dos salvos das
deliberações e das decisões, o que não é correto. Neemias tinha autorização da
máxima autoridade daquele tempo para reedificar Jerusalém e estava na direção de
Deus, que era quem o escolhera para a realização daquela grande obra, mas não
ousou usar de sua “autoridade”, tendo preferido antes obter o consenso de todo o
povo, sem o que, sabia ele, nada poderia ser realizado

- Deus, apesar de ser o Criador de todas as coisas e Senhor de tudo (Sl.19:1), não
é um ditador. Muito pelo contrário, tem prazer em compartilhar a existência com o
homem e, por isso, convida o homem a esta parceria. Este gesto divino é a
demonstração indelével do Seu amor para conosco e tem de ser, necessariamente,
imitado pelos Seus servos. Por isso, uma das características da Igreja é a
“perseverança na comunhão e no partir do pão”, ou seja, a mantença de uma vida
de compartilhamento entre os irmãos, de colaboração mútua, de exercício do amor
desinteressado.

- Neemias não impôs coisa alguma ao povo judeu, embora tivesse poder e
autoridade, tanto da parte de Deus quanto da dos homens, para fazê-lo. Preferiu
obter o apoio e a adesão dos judeus e, por isso, convocou esta reunião, onde, na
presença de todos, desde os magistrados, passando pelos nobres, até os judeus
em geral, fez uma análise da situação e conclamou o povo à obra.

OBS: “…Um dos meios, e o mais apropriado para o líder conseguir esse objetivo, é
promover reuniões producentes com os seus liderados. Essas reuniões dão a
oportunidade aos subordinados de apresentar suas queixas e suas dificuldades,
além de fazer sugestões e ouvir as opiniões de seus colegas, em relação aos
problemas gerais enfrentados e resolvidos pelo grupo. Tem ainda a vantagem de
colocar a liderança, democraticamente, diante de seus subordinados, para colocá-
los a par dos planos emergentes da obra e integrá-los. Passarão, assim, a cooperar
com convicção no projeto do superior, deixando de ser, apenas, cumpridores de
ordens.…” (CARVALHO, Ailton Muniz de. op.cit., p.41).

- Neemias não “dourou a pílula”. Foi bem enfático: “bem vedes a miséria em que
estamos” (Ne.2:17). Uma das características do líder é o de dizer necessariamente
a verdade. Na obra de Deus, então, que é a própria Verdade (Jr.10:10), não há
como sermos bem sucedidos se não falarmos e mostrarmos a verdade.

- Neemias foi direto ao ponto: o povo judeu vivia um estado de miséria. Se não
reconhecermos a nossa situação real, se não assumirmos a nossa integral e total
dependência de Deus, jamais poderemos triunfar na obra do Senhor. Aliás, se não
assumirmos a nossa maldade e depravação, nem sequer conseguiremos ser salvos.
Não nos esqueçamos de que uma das poucas pessoas que saiu da presença de
Cristo Jesus sem a salvação foi o mancebo de qualidade, precisamente porque ele
se achava bom (Mt.19:16-22; Mc.10:17-22; Lc.18:18-23).

- Hoje em dia, falta este “choque de realidade” na Igreja. Após termos completado
o centenário das Assembleias de Deus, precisamos refletir a respeito do atual
estado em que nos encontramos. Sem dúvida, devemos ser gratos a Deus pela
extraordinária operação do Espírito Santo em nosso país durante estes cem anos,
mas não podemos negar que estamos muito, mas muito distantes do fervor dos
primeiros dias. Pesquisa recente indicou que, nos anos 1950, a proporção de
crescimento da Igreja era de que um crente ganhava, em média, doze outros para
Cristo, por ano, enquanto que, na atualidade, são necessários 144 crentes para
ganhar um por ano em média em nosso país. Deixamos de crescer como antes e
nosso crescimento tem sido pífio, como mostrou recente pesquisa da Fundação
Getúlio Vargas, que indica que, somados pentecostais e neopentecostais, tivemos,
nos últimos dez anos, a mantença de 12% (doze por cento) da população, ou seja,
pela primeira vez, não houve crescimento real dos pentecostais. Enquanto isso, o
número de evangélicos que “não têm igreja” alcança 14% (quatorze por cento) dos
evangélicos, um número estarrecedor, que indica como tem crescido a apostasia no
meio do povo.

- Ao mesmo tempo em que isto acontece, vemos rarear a manifestação dos dons
do Espírito Santo em nossas igrejas locais, sem falar que muitos já não são
batizados com o Espírito Santo. Enquanto isto, o ingresso do mundanismo em
nossas igrejas é visível, além da subversão dos cultos a Deus, levando cada vez
mais a um distanciamento de uma espiritualidade sadia em todos os segmentos da
Igreja. Por fim, o “analfabetismo bíblico” é assustador, com o total
desconhecimento das Escrituras por parte da esmagadora maioria dos crentes que,
há muito, não frequentam reuniões de ensino nem Escolas Bíblicas Dominicais.

- Diante de tal quadro, torna-se urgente que as lideranças façam como Neemias,
parem de ficar se digladiando por posições seja na igreja local, seja na sociedade e,
bnuscando a direção do Senhor, contemplem a realidade que está a lhes escapar
dos olhos e, depois de devidamente orientados pelo Espírito Santo e terem
“tomado pé da situação”, venham ao encontro do povo e os reúna para que,
juntos, saiamos desta situação de miséria espiritual em que estamos nos
envolvendo. Não temos muito tempo, amados irmãos!
OBS: “…A pergunta que vem agora é: Por que os evangélicos perderam o fôlego?
Parafraseando o apóstolo Paulo: Corríeis tão bem, quem vos impediu de continuar
a carreira no mesmo ritmo? Isso mesmo: o que aconteceu para uma queda de 40%
- de 98 para 40%? Tendo dito isto, gostaria de fazer uma análise do que está
acontecendo nesses últimos nove anos com a Igreja Evangélica. Direto ao ponto: O
Evangelho da ‘prosperidade’, a novidade introduzida pelas Igrejas Neo-pentecostais
na década de 1991-2000 perdeu o encanto e se revelou descartável. A inovação
eficiente nos anos 90 trouxe um componente estranho para os primeiros nove anos
do nosso século: as pessoas perderam o entusiasmo por ele e aguardam uma outra
novidade que agrade aos seus ouvidos. Para mim, o Espírito Santo foi trocado pela
"novidade" dos anos 90, mas a energia daquela "prosperidade" minguou, assim
como o azeite das lamparinas da Parábola das dez virgens, do Evangelho. Como
bem criticou alguns blogueiros da comunidade, a quantidade não trouxe qualidade.
Para não ser prolixo, vou concluir. O método que Jesus Cristo usou há 2000 anos
ainda se mostra o mais eficiente para nortear a Igreja. Quando ele concluiu seu
ministério, estima-se que tivesse 500 discípulos. Discipulado. A TV mostra-se
eficiente para evangelizar, mas ela tem um ponto falho: não produz discipulado!
Não, porque trata-se de um veículo de entretenimento descartável na sua essência.
E, discipulado significa um novo convertido aprendendo com um cristão maduro -
em comunhão com o Espírito Santo. Para por isto em prática não é necessário um
mega-projeto nem recursos financeiros astronômicos, basta implantar em cada
Igreja a volta do discipulado. Ainda não inventaram nada melhor para a
prosperidade da Igreja.…” (CRUZUÉ, João. Projeções da população evangélica para
2010. Disponível em:http://olharcristao.blogspot.com/2011/02/projecoes-da-
populacao-evangelica-para.html Acesso em 25 ago. 2011).
- Neemias disse que Jerusalém estava assolada e suas portas queimadas a fogo.
Bem mostrou, pois, o quadro de caos que vigorava, mas não se limitou a dar o
correto diagnóstico da situação. Muitos até se saem bem quando o assunto é falar
da situação real. Bem investigam (como deve fazer todo justo, pois quem não
investiga é o ímpio – Sl.10:4), mas se limitam a dar a imagem do caos. Neemias,
porém, não viera para desanimar ou simplesmente engrossar o lamento dos
judeus. Após ter falado francamente a respeito da situação, traz a mensagem de
esperança: “vinde, pois, reedifiquemos o muro de Jerusalém e não estejamos mais
em opróbrio” (Ne.2:17).

- Neemias, então, revela parte do que Deus havia posto em seu coração e convida
o povo a se juntar a ele para reedificar o muro de Jerusalém e mudar a situação de
opróbrio que estavam a viver. Notemos que Neemias usa apropriadamente a
primeira pessoa do plural: “reedifiquemos” e “não estejamos em opróbrio”.
Neemias não veio dar ordens, mas chamar o povo para que, com ele, mudasse a
situação. Neemias põe-se, desde já, como um dos envolvidos na obra que era
proposta, o que, certamente, representou uma surpresa e um nítido incentivo para
os judeus, pois, afinal de contas, Neemias, que nem sequer morava ou conhecia
Jerusalém, tudo deixara em Susã para se irmanar com os seus compatriotas.

- É muito fácil dar ordens, ainda mais quando autorizado por quem de direito,
como é o caso de Neemias. Mas o homem de Deus não deve estar disposto a
simplesmente mandar fazer, mas a convidar os demais a que venham fazer
juntamente com ele. Temos de ser imitadores de Cristo (I Co.11:1) e, como tal,
temos de também trabalhar, pois foi assim que procedeu o Senhor Jesus (Jo.5:17).
Temos agido desta maneira?

- Após ter se identificado com todos os judeus, Neemias, então, dá o seu


testemunho diante do povo, mostrando que ali estava não por vontade própria,
mas por determinação divina (Ne.2:18). É necessário que o líder dê o seu
testemunho de chamada, que mostre aos que estão à sua volta que é o escolhido
para estar à frente do povo (e isto que significa “presidir”, ou seja, “estar à
frente”), mas tal declaração, sabiamente, foi feita por Neemias depois que tinha já
tomado conhecimento da situação real, tanto do povo quanto da cidade desolada.
- Esta declaração foi feita a todo o povo, pois Neemias reconhecia que estava
diante do povo de Deus, do povo tão amado pelo Senhor que o trouxera de Susã
para a realização daquela obra. Também devemos, enquanto líderes, falar aos
nossos liderados em conjunto, pois, se fomos chamados por Deus, não podemos
nos esquecer que o mesmo Espírito Santo que habita em nós, também habita
naqueles que serão liderados. Não pode haver “segredos” quanto a este assunto,
pois o Espírito hoje habita em todos os salvos. Por isso, duvidemos daqueles que
respaldam sua liderança em “visões”, “revelações” que são inalcançáveis aos
demais crentes.

- Neemias, apesar de se apresentar como chamado pelo Senhor para esta obra,
não tirou a devida glória ao Senhor. Disse que o Senhor lhe fora favorável,
reconhecendo que dependia de Deus para a execução daquela tarefa. Neemias era
o líder chamado por Deus, mas não se portava como um “super-homem”, pois,
efetivamente, não o era. O líder está à frente do povo, mas não está acima do
povo, pois acima do povo só pode estar um: o Senhor.

- Além de se apresentar como chamado por Deus, Neemias também teve a


preocupação de mostrar ao povo que ali estava com expressa autorização do rei
Artaxerxes. Neemias, em momento algum, queria dar a mínima suspeita de
rebelião ao domínio persa. Tinha consciência de que o Senhor havia posto o povo
debaixo do jugo da Pérsia e que não havia qualquer demonstração, da parte do
Senhor, de alterar esta situação política. Por isso, bem disse para o que tinha vindo:
reedificar os muros de Jerusalém e tirar o povo judeu daquela miséria. Era isto e
nada mais! Jamais percamos o foco da chamada que Deus nos deu e da tarefa que
deveremos desempenhar junto com os demais irmãos.

- O povo judeu reconheceu a integridade e a coragem daquele homem e, a uma só


voz, animou-se e aderiu ao projeto: “Levantemo-nos e ediquemos”. Não temos
porque, diante do chamado do Senhor, acharmos que não seremos correspondidos
pelos autênticos e genuínos servos de Cristo Jesus. Se fomos chamados, o mesmo
Espírito que nos chamou também irá agir naqueles que serão os liderados e todos,
juntos, faremos a obra do Senhor.

- Neemias, em sua fala, também demonstrou que estava a querer o bem dos filhos
de Israel, como já havia mencionado quando comparecera diante dos governadores
dalém do rio e que motivou o desagrado de Sambalate e de Tobias. Sabemos disto
porque o texto sagrado nos fala que os judeus “esforçaram as suas mãos para o
bem” (Ne.2:18 “in fine”).

- É fundamental que o líder mostre, com objetividade e transparência, quais os


objetivos que pretende na realização da obra que irá fazer. Esta clareza e
transparência é fundamental para que haja a união de esforços e a obra se realize.
Onde há união, ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Sl.133:3) e
não há como se obter esta união de forma duradoura sem que se saiba
precisamente qual a finalidade que se busca alcançar.

- O próprio Jesus, diz-nos a Bíblia, tudo suportou pelo gozo que Lhe estava
proposto (Hb.12:2). Também os crentes tudo suportam nesta vida de aflições
porque sabem que lhes está reservada uma glória que não dá para comparar com
as aflições do tempo presente (Rm.8:18). Se assim vive o salvo, como podemos ter
a sua colaboração sem que ele tenha consciência dos objetivos que se pretendem
atingir?

- Todos resolveram aderir à proposta de Neemias, porque sabiam que aquele


esforço era “para o bem”. Também, neste mundo, nós, como servos do Senhor
Jesus, devemos, como Ele, “andar fazendo bem” (At.10:38). Devemos deixar bem
claro a todos que nos cercam que nosso esforço é “para o bem”, sem qualquer
outro interesse. Temos agido desta maneira?

- Observemos, ainda, que este bem, ainda que querido por Deus, que, inclusive,
criara todas as condições para que a obra fosse possível, dependia do esforço de
todos. Bem ao contrário do que dizem os triunfalistas e os teólogos da
prosperidade, nada viria “de mão beijada” para o povo judeu. Eles teriam de se
esforçar, de fazer aquela grandiosa obra. Deus não estava pronto a num passe
imediato fazer os muros de Jerusalém se levantarem, assim como haviam caído os
muros de Jericó. Não nos iludamos, amados irmãos: Deus não é nosso empregado,
não é nosso serviçal. Ele faz o que ninguém poderia fazer (como capacitar alguém
como Neemias e tirá-lo de Susã para liderar o povo em Jerusalém), mas não faz
aquilo que podemos fazer (reedificar os muros e as portas de Jerusalém).

- Assim que todos se comprometeram a reedificar os muros de Jerusalém e a


mudar a situação de miséria do povo, não demorou muito para que os inimigos se
levantassem.

- É sempre assim, como já tivemos ocasião de dizer neste estudo. Tendo sabido do
comprometimento do povo, ainda que só por informações, Sambalate, Tobias e
Gesem, o arábio (percebem como já aumentou o número de inimigos, de dois
passamos para três), zombaram dos judeus e os desprezaram, acusando-os de
querer rebelar-se contra o rei da Pérsia (Ne.2:19).

- Não nos deteremos aqui na atuação dos inimigos de Neemias, pois analisaremos
minudentemente esta oposição em duas lições (lições 4 e 5), mas, desde já,
podemos verificar que a oposição do inimigo não tarda quando há disposição do
povo de Deus para realizar uma obra querida pelo Senhor. Não podemos, portanto,
nos assustar e nos intimidar quando vêm as zombarias, os desprezos e as calúnias
do adversário de nossas almas.
- Nossa reação deve ser a mesma de Neemias que, sem se importar com a
oposição, deu testemunho de que “o Deus dos céus é que nos fará prosperar” e
que os judeus, que eram servos do Senhor, se levantariam e edificariam Jerusalém
uma vez mais (Ne.2:20).

- Além disto, Neemias foi bem claro ao mandar dizer aos inimigos que “eles não
tinham parte, nem justiça, nem memória em Jerusalém”. Neemias continuou sendo
fiel à verdade e não teve preocupação alguma em agradar aos homens. Aqueles
homens eram de nações inimigas de Israel, não queriam o seu bem, nunca o
tinham querido e, inclusive, tinham prazer em contemplar a situação deplorável em
que se encontrava o povo judeu. Por isso, não tinham “parte, nem justiça, nem
memória em Jerusalém” e, desta maneira, não poderiam cooperar com aquela
obra.

- Precisamos ter o mesmo discernimento de Neemias. A obra que ele haveria de


realizar é “para o bem dos filhos de Israel” e, deste modo, somente poderia contar
com a colaboração e participação dos filhos de Israel. Era uma obra que Deus
estava a fazer com o Seu povo e, portanto, não podia, de forma alguma, ter a
participação de quem não pertencia ao povo de Deus.

- Precisamos ter esta compreensão quando começamos a realizar a obra de Deus.


Nela não tem parte, nem justiça nem memória aqueles que não pertencem ao povo
do Senhor. Quanto prejuízo temos causado ao Senhor quando permitimos que
inimigos de Deus venham a cerrar fileira ao nosso lado? Não nos esqueçamos dos
malefícios causados pelo “vulgo”, pela “mistura de gente” que saiu do Egito
juntamente com Israel (Ex.12:38; Nm.11:4), bem como os povos que habitavam
em Canaã e que foram poupados pelos israelitas na conquista da terra (Jz.2:3).

- Neemias não os amaldiçoou, nem tampouco lhes declarou guerra, mas


simplesmente disse que aquela obra era uma obra exclusiva para o povo de Deus.
Que assim também procedamos para que tudo seja feito conforme a vontade do
Senhor.

Colaboração para o Portal Escola Dominical – Ev. Profº Dr. Caramuru Afonso
Francisco

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