Você está na página 1de 10

3.

O a d o r a d o r (1 Rs 3:2-15) Salomão certamente começou bem, pois "amava ao S enho r


andando nos preceitos de Davi, seu pai" (v. 3); mas um bom começo não é garantia alguma de
um bom final. Saul, o primeiro rei de Israel, começou com humildade e vitória, mas terminou
rejeitado pelo Senhor e cometendo suicídio no campo de batalha. O próprio Salomão escreveu
em Eclesiastes 7:8: "Melhor é o fim das coisas do que o seu princípio" e "Melhor é a boa fama
do que o ungüento precioso, e o dia da morte, melhor do que o dia do nascimento" (Ec 7:1).
Recebemos nosso nome logo depois que nascemos e, entre o nascimento e a morte,
engrandecemos ou denegrimos esse nome. Depois da morte, não podemos melhorar uma
péssima reputação e nem o contrário. Nas palavras do poeta norte-americano Longfellow:
"Grande é a arte de começar, mas ainda maior é a arte de terminar". Consagração (vv. 2-4).
Deus desejava que Israel tivesse um lugar central de adoração e que não imitasse as nações de
Canaã construindo "altos"4 onde lhes parecesse melhor. Quando os israelitas entraram na
terra, foram instruídos a dar fim a esses "altos" e aos ídolos adorados nesses locais (Nm 3 3 :5
2 ; Dt 7:5; 12:1 ss; 33:29). Porém, até que o templo fosse construído e o culto centralizado
fosse estabelecido na terra, o povo de Israel adorou o Senhor em altos. Com o tempo, esse
termo passou a significar um "lugar de adoração", e era nesses santuários temporários que os
israelitas adoravam Jeová. Gibeão era um desses lugares sagrados, pois abrigava o
tabernáculo. Como primeiro passo para a construção do templo, Davi havia levado a arca da
aliança para Jerusalém, mas o restante do tabernáculo, inclusive o altar dos sacrifícios, ainda
se encontrava em Gibeão, cerca de oito quilômetros ao norte de Jerusalém. Salomão reuniu os
líderes de Israel e providenciou para que fossem até Gibeão com ele a fim de adorar ao Senhor
(2 Cr 1:1-6). Esse acontecimento seria não apenas um ato de consagração, mas também
mostraria ao povo a união dos líderes de sua nação. Salomão ofereceu mil holocaustos aos
Senhor, e ele e seus oficiais louvaram e buscaram ao Senhor juntos. Os holocaustos
representavam a consagração total ao Senhor. Revelação (v. 5). A assembléia estendeuse ao
longo de todo o dia, e tanto o povo quanto o rei passaram a noite em Gibeão, sendo que
Salomão recebeu um sonho extraordinário do Senhor. Davi tinha Natã e Gade como
conselheiros, mas, ao que parece, não havia profeta algum no círculo de conselheiros de
Salomão. Em duas ocasiões, o Senhor falou ao rei por intermédio de sonhos (ver 9:1-9). Por
vezes, Deus comunicava suas mensagens por meio de sonhos, não apenas a seus servos, mas
também a pessoas de outras nações, como Abimeleque (Gn 20), os servos egípcios do Faraó
(Gn 40) e o próprio Faraó (Gn 41). Salomão ouviu o Senhor dizer: "Pedeme o que queres que
eu te dê" (v. 5). Essa ordem do Senhor foi tanto uma revelação da graça de Deus como uma
prova do coração de Salomão (o verbo "pedir" é usado oito vezes nessa passagem). Aquilo que
as pessoas pedem costuma revelar seus verdadeiros desejos, e estes, por sua vez, dependem
de como cada um vê sua missão de vida. Se Salomão tivesse sido um guerreiro, talvez tivesse
pedido vitória sobre os inimigos. No entanto, via-se como um líder jovem precisando
desesperadamente de sabedoria para servir da melhor maneira possível o povo escolhido de
Deus. Era sucessor de Davi, o maior rei de Israel, e sabia que o povo não poderia evitar
compará-lo com o pai. Porém, mais do que isso, havia sido chamado para construir o templo
do Senhor, uma tarefa enorme para um líder inexperiente. Salomão sabia que não tinha meios
de levar a cabo esse grande empreendimento sem sabedoria do céu. Petição (vv. 6-9). A
oração de Salomão foi curta, direta e proferida com humildade, pois três vezes se referiu a si
mesmo como "teu servo". Primeiro, Salomão recapitulou o passado e agradeceu a Deus pela
fidelidade e amor inabalável que havia demonstrado a seu pai (v. 6). Salomão reconheceu a
bondade de Deus ao guardar seu pai em meio a várias tribulações e, depois, ao lhe dar um
filho para herdar o trono. Salomão refere-se aqui à aliança que Deus havia dado a Davi quando
o rei expressou o desejo de seu coração de construir um templo para o Senhor (2 Sm 7). Nessa
aliança, Deus prometeu a Davi um filho que construiria o templo, e Salomão era esse filho.
Salomão admitiu que não era rei pelo fato de Deus haver reconhecido suas aptidões, mas sim
porque o Senhor fora fiel a suas promessas a Davi. Assim, Salomão passou para o presente e
reconheceu a graça de Deus ao fazer dele o rei (v. 7). Porém, confessou também sua juventude
e inexperiência e, portanto, sua necessidade premente da ajuda de Deus, a fim de poder ser
bem-sucedido como rei de Israel. E provável que, nessa época, Salomão tivesse cerca de 20
anos de idade e, sem dúvida, era bem mais jovem que seus conselheiros e oficiais, sendo que
alguns deles haviam servido a seu pai. Referiu-se a si mesmo como "uma criança" (1 Cr 22:5;
29:1 ss), um sinal tanto de honestidade quanto de humildade. A expressão "não sei como
conduzir- me" refere-se a liderar a nação (Nm 27:15-17; Dt 31:2,3; 1 Sm 18:13,16; 2 Rs 11:8).
Em sua oração, o rei não apenas confessou sua pequenez, mas também a grandeza de Israel (v.
8). O povo de Israel era o povo de Deus! Isso significava que Deus tinha para eles um grande
propósito a ser cumprido na terra e que seu rei carregava a grande responsabilidade de
governá-los. Deus havia multiplicado a nação e cumprido sua promessa a Abraão (Gn 12:2;
13:16; 15:5), Isaque (Gn 26:1-5) e Jacó (Gn 28:10-14), e Salomão desejava que a bênção
continuasse. O rei conclui sua oração antevendo o futuro e pedindo ao Senhor a sabedoria
necessária para governar a nação (v. 9). A sabedoria era um elemento importante na vida do
Oriente Próximo, e todos os reis tinham seu grupo de "sábios" que os aconselhavam. Salomão,
porém, não pediu um comitê de conselheiros, mas sim sabedoria para si mesmo. Naquele
tempo, a pessoa sábia era a que mostrava aptidão para administrar a vida.5 Significava muito
mais do que a capacidade de ganhar o pão: era a habilidade de construir a vida e de aproveitar
ao máximo o que trazia consigo. A verdadeira sabedoria envolve aptidão nas relações humanas
bem como a capacidade de compreender e de cooperar com as leis fundamentais colocadas
por Deus na criação. As pessoas sábias não apenas têm conhecimento da natureza humana e
do mundo criado, mas também sabem como usar esse conhecimento da maneira correta na
hora certa. A sabedoria não é uma idéia abstrata nem teórica; é extremamente prática e
pessoal. Há muitas pessoas espertas o suficiente para conseguir ter uma boa vida, mas que
não têm a sabedoria necessária para construir uma vida boa, uma existência plena de
realização, que honre o Senhor. Salomão pediu ao Senhor que lhe desse um "coração
compreensivo", pois, por menor que seja a questão, se o coração estiver errado, a vida toda
estará errada. "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as
fontes da vida" (Pv 4:23). A palavra traduzida por "compreensivo" significa "que ouve";
Salomão queria ter "um coração que ouve". O verdadeiro entendimento vem de ouvir o que
Deus tem a dizer e, para o israelita do Antigo Testamento, "ouvir" significava "obedecer".
Quando o Senhor fala conosco, não temos a opção de analisar e de julgar o que ele diz; trata-
se somente de lhe obedecer. Um coração compreensivo possui um entendimento mais
profundo e discernimento. É capaz de fazer distinção entre coisas diferentes (Fp 1:9-11). Sabe
o que é real e o que é artificial, o que é temporal e o que é eterno.6 Esse tipo de 1 REIS 3:1 - 4 :
34 405 compreensão é descrito em Isaías 11:1-5, uma profecia sobre o Messias. Os cristãos de
hoje podem apropriar-se da promessa de Tiago 1:5. Aprovação (vv. 10-13). Deus se agradou
do pedido de Salomão por sabedoria, pois foi prova de que o rei estava preocupado em servir
a Deus e a seu povo, em conhecer e fazer a vontade de Deus. Salomão não leu Mateus 6:33,
mas colocou as palavras desse versículo em prática... e o Senhor lhe deu as bênçãos adicionais
que ele nem havia pedido! Deus sempre dá o melhor para os que deixam a escolha nas mãos
dele. Quando lemos o Livro de Provérbios, vemos que o amor à sabedoria e a prática do
discernimento podem levar a essas bênçãos adicionais (ver Pv 3:1, 2, 10, 13-18). Nos capítulos
subseqüentes, veremos a riqueza e a honra de Salomão e como ele atraiu visitantes de outras
nações que desejavam ouvir sua sabedoria. Obrigação (v. 14). O Senhor teve o cuidado de
lembrar a Salomão que sua obediência à aliança de Deus e sua devoção ao Senhor eram as
chaves para suas bênçãos futuras. Salomão deveria escrever a própria cópia de Deuteronômio
(Dt 17:18-20), incluindo a aliança descrita em Deuteronômio 28 - 30. Salomão também
conhecia as estipulações da aliança que Deus havia feito com seu pai, Davi (2 Sm 7:1-17), e que
ela exigia obediência da parte do filho e sucessor de Davi (vv. 12-16). Deus prometeu estender
a vida de Salomão, se ele obedecesse à Palavra (Pv 3:2, 16), pois estaria honrando a Deus e a
seu pai, Davi, e poderia apropriar-se da promessa de Êxodo 20:12 (ver Ef 6:1-3). Infelizmente,
mesmo com toda a sua sabedoria, Salomão se esqueceu de sua parte no acordo e, aos poucos,
desgarrou- se para o pecado e a desobediência, de modo que Deus precisou discipliná-lo.7
Quando Salomão voltou a Jerusalém, foi até a tenda que abrigava a arca e ofereceu mais
sacrifícios naquele local (v. 1 5). A arca representava a presença de Deus no meio de seu povo
e o governo do Senhor sobre os israelitas (Sl 80:1; 99:1). Salomão reconheceu o governo
soberano de Deus sobre sua vida e sobre a vida de sua nação. Em outras palavras, Salomão
sabia que era o segundo no poder. Foi quando começou a se esquecer dessa verdade básica
que se meteu em dificuldades.

Q u a l é o tema central d o l iv ro de P rov érb ios ? Essa pergunta pode ser respondida com
uma palavra: sabedoria. Em Provérbios, as palavras sábio e sabedoria são usadas pelo menos
125 vezes, pois o objetivo do livro é nos ajudar a adquirir e a colocar em prática a sabedoria de
Deus nas decisões e atividades da vida diária. O Livro de Provérbios pertence ao que os
estudiosos chamam de "literatura de sabedoria" do Antigo Testamento, a qual também inclui
Jó e Eclesiastes.1 Os escritores desses livros debateram-se com algumas das perguntas mais
difíceis da vida ao procurar compreender os problemas existenciais do ponto de vista de Deus.
Afinal, só porque somos cristãos, isso não significa que guardamos o cérebro numa gaveta e
deixamos de pensar. O Senhor espera que nos esforcemos intelectualmente e que nos
dediquemos com seriedade a refletir enquanto estudamos sua Palavra. Devemos amar a Deus
de todo o coração, de toda a alma e mente (Mt 22:37). A sabedoria era um bem importante no
antigo Oriente Próximo; todo governante possuía "sábios" que costumava consultar antes de
tomar decisões críticas. No Egito, José era considerado um sábio, e na Babilônia, Daniel e seus
amigos eram respeitados por sua sabedoria. Nos dias de hoje, o Senhor deseja que seus filhos
sigam a orientação de Efésios 5:15: "Portanto, vede prudentemente como andais, não como
néscios, e sim como sábios". Entender o Livro de Provérbios pode nos ajudar a andar como
sábios. Por mais importante que seja a escolaridade, não basta ter estudos e conhecimento.
Também precisamos de sabedoria, que é a capacidade de usar o conhecimento. As pessoas
sábias têm a competência necessária de captar o significado de uma situação e de
compreender o que fazer e como fazer - da maneira correta e no momento mais apropriado.
Para os israelitas da Antiguidade, a sabedoria ia muito além de bons conselhos e de um
planejamento bem-sucedido. Gosto da definição que o Dr. Roy Zuck dá para esse termo: "Ter
sabedoria significa ser hábil e bemsucedido nos relacionamentos e responsabilidades [...]
observar e seguir os princípios de ordem do Criador no Universo moral".2 Encontramos nessa
definição os elementos mais importantes da sabedoria bíblica, do tipo que aprendemos em
Provérbios. A sabedoria bíblica tem como ponto de partida um relacionamento correto com o
Senhor. A pessoa sábia acredita que existe um Deus, que ele é o criador e governante de todas
as coisas e que incutiu na natureza uma ordem divina; se esta é obedecida, conduz, por fim, ao
sucesso. As pessoas sábias também afirmam que existe uma lei moral em funcionamento
neste mundo, um princípio de justiça divina que garante que, no devido tempo, os perversos
são julgados e os justos, recompensados. A sabedoria bíblica não está relacionada ao Ql ou ao
grau de instrução, pois é uma questão de entendimento moral e espiritual. Diz respeito ao
caráter e aos valores e significa olhar para o mundo mediante os padrões da verdade de Deus.
No Antigo Testamento, o termo hebraico para "sábio" (hakam) é .usado para descrever
pessoas hábeis em trabalhos manuais, como os artesãos que ajudaram a construir o
tabernáculo (Êx 28:3; 35:30 - 36:2) e o templo de Salomão (1 Cr 22:15). A sabedoria não é algo
teórico, mas sim bastante prático, e afeta todas as áreas da vida. Dá ordem e propósitos à vida,
oferece discernimento para as decisões e produz um senso de realização para a glória de Deus.
A sabedoria nos mantém em harmonia com os princípios e propósitos que o Senhor incutiu em
seu mundo, de modo que, ao obedecer a Deus, tudo trabalha em nosso favor, não contra nós.
Isso não significa que estamos isentos de provações e de dificuldades, pois as tribulações são
parte normal da vida. Mas quer dizer que temos a capacidade de lidar adequadamente com
essas adversidades, de tal maneira que cresçamos espiritualmente e que o Senhor seja
glorificado. Pessoas sábias têm a capacidade de enfrentar a vida com honestidade e coragem e
de administrá-la com sucesso, de modo que os propósitos de Deus se cumpram em sua vida.
Quando escrevi a primeira série de estudos sobre o Livro de Provérbios, chamei-a de Seja
Hábil, pois, ao estudar Provérbios, procuramos aprender os princípios que nos tornam aptos
não apenas para ganhar a vida, mas para viver a vida de verdade. As páginas da história estão
cheias de nomes de gente brilhante e talentosa, esperta o suficiente para ter riqueza e fama,
mas não sábia o suficiente para ter uma vida de sucesso e de satisfação. Pouco antes de
morrer, um dos homens mais ricos do mundo disse que teria dado toda sua riqueza só para
que um de seus seis casamentos não tivesse fracassado. Uma coisa é saber ganhar a vida,
outra bem diferente é saber viver.

Análise. Mas por que o Espírito Santo não orientou os autores a organizar esses provérbios
por assunto, a fim de que encontrássemos mais rapidamente aquilo que precisamos saber?
Derek Kidner lembra que Provérbios "não é uma antologia, mas um curso de educação na vida
de sabedoria".5 Ao ler capítulo por capítulo, o Espírito de Deus tem a liberdade de nos ensinar
sobre muitos assuntos, e não sabemos, a cada dia, de qual tema vamos precisar mais. Assim
como a Bíblia, em si, não é organizada como uma teologia sistemática, Provérbios também não
apresenta uma estruturação desse tipo. Aquilo que Salomão escreveu é mais parecido com um
caleidoscópio do que com um vitral: nunca sabemos o que vai aparecer em seguida. Os nove
primeiros capítulos de Provérbios constituem uma unidade que enfatiza a "sabedoria" e a
"insensatez" personificadas em duas mulheres. (O termo hebraico para sabedoria também é
feminino.) Nos capítulos 1, 8 e 9, a Sabedoria chama os homens e mulheres para segui-la e
para desfrutar de salvação, riqueza6 e vida. Nos capítulos 5, 6 e 7, a Loucura chama essas
mesmas pessoas e lhes oferece satisfação imediata, mas não avisa das conseqüências trágicas
de rejeitar a Sabedoria: condenação, pobreza e morte. Os capítulos 10 a 15 formam a unidade
seguinte e apresentam uma série de contrastes entre a vida de sabedoria e a vida de
insensatez. Os capítulos finais (16-31) apresentam vários provérbios que nos dão conselhos
sobre diversos aspectos importantes da vida. Ao avaliar a abordagem de Salomão, vemos a
sabedoria de Deus ao organizar o livro dessa maneira. A sabedoria não é um tesouro abstrato
e inalcançável. Por intermédio de sua Palavra e de seu Espírito, Deus nos chama a cada dia
para viver com sabedoria. Se desejamos viver sabiamente, nosso ponto de partida deve ser um
compromisso com ]esus Cristo, a "sabedoria de Deus" (1 Co 1:30). Tanto a Sabedoria quanto a
Loucura desejam controlar nossa vida, e cabe a nós fazer a escolha. Depois que nos
entregamos ao Senhor e à sua sabedoria, devemos reconhecer que nossas decisões têm
conseqüências. Os provérbios dos capítulos 10 a 15 retratam, de modo extremamente vivido,
os contrastes que existem entre a vida de sabedoria e a vida de insensatez, a fé e a
incredulidade, a obediência e a desobediência. Não podemos transigir e ainda esperar que
Deus nos abençoe. A última seção do livro (caps. 16 - 31) apresenta mais conselhos necessários
para desenvolvermos discernimento espiritual e para tomarmos decisões sábias. 3. Q ual é o v
er s íc u lo -chave q u e nos AJUDA A DESVENDAR A MENSAGEM DESTE LIVRO? Sugiro 1:7 como
o versículo-chave que estamos procurando: "O temor do S e n h o r é o princípio [parte
principal] do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino". Essa declaração é
ampliada em 9:10: "O temor do S e n h o r é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do
Santo é prudência" (ver também Jó 28:28 e Sl 111:10). Há pelo menos 18 referências ao
"temor do S e n h o r " em Provérbios (1:7, 29; 2:5; 3:7; 8:13; 9:10; 10:27; 14:2, 26, 27; 15:16,
33; 16:6; 19:23; 22:4; 23:17; 24:21; 31:30). Ao ler esses versículos com atenção, pode-se ter
uma boa idéia do que essa expressão bíblica importante significa. Se, de fato, "tememos o
Senhor", reconhecemos de coração que ele é o Criador e nós somos as criaturas; ele é o Pai e
nós somos os filhos; ele é o Senhor e nós somos os servos. Esse temor significa respeitar Deus
em função de quem ele é, ouvir com cuidado aquilo que diz e obedecer à sua Palavra, cientes
de que nossa desobediência o desagrada, rompe nossa comunhão com ele e faz sobrevir sua
disciplina. Não se trata do medo servil de um escravo diante de seu senhor, mas sim do temor
reverente e respeitoso de uma criança diante de seus pais. O temor dos filhos não se deve
apenas ao fato de que seus pais podem magoá-los, mas também de que e/es podem magoar
seus pais. Provérbios 13:13 nos admoesta a temer os mandamentos de Deus, o que sugere que
devemos tratar a Bíblia da mesma forma como tratamos Deus. "Mas o que vem a ser esse
temor do Senhor?", pergunta Charles Bridges, e em seguida responde de maneira bastante
apropriada: "E a reverência afetuosa que leva o filho de Deus a sujeitar-se humilde e
cuidadosamente à lei de seu Pai. Sua ira é tão amarga e seu amor é tão doce que fazem surgir
um desejo de lhe agradar e - por causa do perigo de ficar aquém dessa sujeição em virtude de
fraquezas e tentações - uma vigilância e temor santos, 'para que não peque contra ele'".7 Os
seis versículos que antecedem esse versículo-chave (1:7) explicam por que o livro de
Provérbios foi escrito: para dar sabedoria, instrução, entendimento, prudência, conhecimento,
juízo, saber e conselho. Tudo depende da sabedoria; essas outras sete palavras são
praticamente sinônimas. De acordo com Louis Goldberg, ter sabedoria significa demonstrar
"seu [de Deus] caráter nas muitas questões práticas da vida".8 A instrução dá a idéia de
disciplina, uma correção dos pais que resulta na construção do caráter do filho. O
entendimento é a capacidade de compreender a verdade com critério e discernimento. A
prudência é o tipo de inteligência que vê as motivações por trás das coisas. As pessoas
prudentes conseguem pensar com clareza sobre questões difíceis e ver o que há por trás delas,
tomando, desse modo, decisões sábias a respeito de tais questões. (Num sentido negativo,
esse termo também pode ser traduzido por "sagacidade", como na descrição de Satanás em
Cn 3:1.) A palavra traduzida por conhecimento vem de um radical hebraico que descreve
aptidão para caçar (Gn 25:27), navegar (2 Cr 8:18) e tocar instrumentos musicais (1 Sm 16:16).
O conhecimento envolve a capacidade de distinguir, sendo que nossa palavra ciência vem de
seu equivalente em latim. O juízo é a capacidade de elaborar planos sábios depois de
compreender uma questão. Seu sentido negativo é "maquinar, tramar". O radical hebraico
para saber significa "apreender, captar, adquirir ou comprar". Quando captamos alguma coisa
com a mente, isso quer dizer que sabemos do que se trata. O termo traduzido por conselho é
relacionado ao verbo "pilotar uma embarcação". O conselho é a orientação sábia que coloca a
vida de uma pessoa no rumo certo. Essas oito palavras são repetidas com freqüência ao longo
de Provérbios e, quando as reunimos, temos um resumo daquilo que Salomão entende por
sabedoria.
A lguém Está O u v in d o ? P ro v é rb io s 1 :7-3 3 ; 8 - 9 Trezentos anos antes de Cristo, o
filósofo grego Zenão jamais imaginou que uma de suas declarações se transformaria numa
arma poderosa para os pais de todo o mundo. Sem dúvida, seus pais citaram as palavras de
Zenão a você quando, em sua infância, falava demais: "Temos dois ouvidos e apenas uma
boca, porque devemos ouvir mais e falar menos". Se a Grécia antiga fosse tão barulhenta
quanto nosso mundo de hoje, talvez Zenão tivesse mudado de idéia e tapado os ouvidos. Os
gregos não possuíam todo o aparato que nos cerca hoje em dia: aparelhos de som e de
televisão (grandes e portáteis), rock amplificado (120 decibéis), telefones e te\e-marketing
inconveniente, filmadoras e DVDs e mais uma porção de dispositivos que invadiram a vida
moderna. Zenão nunca ouviu um jato (140 decibéis), nem uma motosserra (100 decibéis),
tampouco parou num semáforo ao lado de um carro com aquelas caixas de som que fazem o
veículo todo sacudir. Também nunca passou a noite num apartamento com um vizinho
obviamente surdo que coloca a TV no volume máximo. "Ouça mais e fale menos." Bobagem!
Há certas ocasiões em que uma das poucas coisas que podem proteger nossa sanidade mental
e audição é abrir a boca e dizer alguma coisa, nem que seja para dar um grito primitivo. Porém,
o mais triste da vida não é o fato de outros invadirem nossa privacidade, nos exasperarem e
ajudarem a destruir nosso delicado sistema auditivo. O mais triste é que em meio a tanto
barulho as pessoas não 2 conseguem ouvir aquilo que é mais necessário. Deus está tentando
se comunicar com elas através da voz da sabedoria, mas só são capazes de ouvir uma porção
de ruídos confusos e vozes insensatas que as afastam cada vez mais da verdade. Mesmo sem
nossos equipamentos modernos de produzir barulho, o povo de Israel tinha um problema
parecido, quando Salomão escreveu Provérbios, pois, de fato, não há nada de novo debaixo do
sol. Deus falava ao povo do tempo de Salomão, mas ele não ouvia. De acordo com o esboço
sugerido de Provérbios, os nove primeiros capítulos apresentam duas mulheres, a Sabedoria e
a Loucura, personificadas - enquanto ambas procuram receber atenção e obediência das
pessoas nas ruas e praças da cidade. Neste capítulo, estudaremos os chamados da Sabedoria
e, no capítulo seguinte, veremos o que a Loucura tem a oferecer. 1. A Sabedoria co n v id a à
salvação (Pv 1:8-33) Esse parágrafo registra três vozes que devem ser identificadas pelo leitor
de Provérbios. A voz da instrução (vv. 8-10, 15-19). Trata- se da voz de um pai temente a Deus,
instando o filho a dar ouvidos à Sabedoria e a obedecer a suas instruções. Observe que tanto o
pai quanto a mãe participam da educação do menino,1 e ambos advertem a criança a não
abandonar o que lhe foi dito. Esses pais estão seguindo as instruções de Moisés (Dt 6:6-9) e
sendo fiéis no ensino da Palavra de Deus à sua família. Mas o que seus filhos farão com todos
esses ensinamentos? O desejo dos pais é que seus filhos obedeçam àquilo que aprenderam, de
modo que a verdade de Deus possa tornar sua vida mais bela, como a coroa de um rei ou o
colar de uma rainha. Paulo pediu aos servos cristãos para "ornarem, em todas as coisas, a
doutrina de Deus, nosso Salvador" (Tt 2:10), o que significa simplesmente tornar a Bíblia bela a
outros por meio de uma vida de piedade. Pedro exortou as esposas cristãs a ganhar o marido
para Cristo, concentrando sua atenção na beleza imperecível do caráter cristão, em vez de na
beleza artificial do glamour criado por mãos humanas (1 Pe 3:3, 4). Em Provérbios 1:15-19, o
pai diz ao filho como evitar se entregar à tentação. De acordo com ele, em primeiro lugar é
preciso considerar com cuidado o caminho que estamos trilhando e não caminhar com
pessoas erradas (conselho bastante parecido com o de Sl 1:1 e de 2 Co 6:14-18). Se andarmos
com as pessoas erradas, acabaremos fazendo coisas erradas. Em segundo lugar, não devemos
brincar com a tentação, pois ela sempre conduz a uma armadilha (Pv 1:1 7). Os pássaros não
apaham a isca quando conseguem ver a armadilha, e as pessoas devem ser mais espertas do
que os pássaros.2 Em terceiro lugar, quando desobedecemos a Deus fazendo mal a outros
prejudicamos a nós mesmos (vv. 18, 19). Temos liberdade de fazer o que bem entendemos
com a vida; porém, cedo ou tarde, pagamos o preço por nossas escolhas, e o preço das
escolhas erradas é mais alto que aquilo que oferecem. No final, sacrificamos o permanente em
troca do imediato - um péssimo investimento. A voz da tentação (w. 11-14). Qualquer um que
torna mais fácil a alguém desobedecer a Deus certamente não é um amigo. A oferta até parece
empolgante, mas só leva à desgraça. Como é triste saber que há pessoas que têm prazer em
fazer o mal, e como é tolo da parte delas acreditar que seus ganhos ilícitos satisfarão seus
desejos. Rejeitam os tesouros eternos da sabedoria (3:14-16; 16:16) em troca de
quinquilharias baratas deste mundo e, nessa negociação, o que perdem é sua alma. A voz da
salvação (vv. 20-33). De que maneira a Sabedoria se comunica? Numa voz alta e clara que
pode ser ouvida por todos! Por meio da criação (Rm 10:18; Sl 19:1-4) e da consciência (Rm
2:14-16), "porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus
lhes manifestou" (Rm 1:19). A Igreja é incumbida de transmitir a mensagem do evangelho, de
modo que todos possam ouvir, crer e ser salvos. Onde a Sabedoria fala? Nas ruas cheias de
gente e nos lugares públicos onde pessoas atarefadas se reúnem para cuidar de seus negócios.
A verdade de Deus é destinada a todos, não a uma pequena elite; devemos compartilhá-la "na
rua [...], nas praças [...] do alto dos muros [...] à entrada das portas e nas cidades" (Pv 1:20, 21).
A Sabedoria vai até as portas da cidade, onde os líderes realizam seus negócios oficiais. Não
importa onde as pessoas estejam, precisam ouvir o chamado da Sabedoria. A quem a
Sabedoria se dirige? A três tipos de pecadores: os néscios, os escarnecedores e os loucos3 (v.
22). Os néscios são pessoas ingênuas que crêem em qualquer coisa (14:15), mas que não
examinam coisa alguma. São crédulos e se deixam desviar facilmente. Os escarnecedores
pensam que sabem tudo (21:24) e se riem de coisas que, na verdade, são importantes.
Enquanto o néscio tem um olhar perdido, o escarnecedor tem os olhos cheios de sarcasmo. Os
loucos são pessoas ignorantes da verdade por causa de sua estupidez e obstinação. Não se
trata de um Q1 baixo nem de falta de escolaridade; seu problema é falta de desejo espiritual
de buscar e de encontrar a sabedoria de Deus. Os loucos gostam de sua insensatez, mas não
sabem como são, de fato, imbecis! Sua visão de mundo é puramente materialista e humanista.
Detestam o conhecimento e não têm interesse algum nas coisas eternas. Apresentaremos
outros comentários sobre cada um desses tipos mais adiante. O que a Sabedoria lhes diz? Em
primeiro lugar, apresenta acusações contra eles (1:22) e pergunta por quanto tempo planejam
permanecer em sua situação espiritual perigosa. A Sabedoria lhes falou repetidamente, mas se
recusaram a ouvir. Por isso, seu julgamento será ainda mais severo. A Sabedoria faz um
convite a que deixem seus caminhos maus e recebam as dádivas que ela oferece (v. 23). Trata-
se de um convite ao arrependimento e à fé. Ela promete transformar o coração deles e
ensinar-lhes a sabedoria de Deus, que vem de sua Palavra. De que maneira os néscios,
escarnecedores e loucos respondem à Sabedoria? Recusam- se a obedecer à sua voz; não
aceitam sua mão estendida; riem de suas advertências e zombam de suas palavras. Observe o
uso do advérbio "também" no versículo 26. Tendo em vista que riram da sabedoria, um dia ela
rirá deles, e porque zombaram da Sabedoria, um dia ela também zombará deles. A sabedoria
vê uma tempestade de julgamento, que trará consigo aflição e angústia a todos os que
rejeitaram o convite de Deus. Quando esse julgamento chegar, os pecadores clamarão ao
Senhor, mas será tarde demais. "Buscai o S en h o r enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto" (Is 55:6). Os pecadores colherão aquilo que semearam. "Portanto,
comerão do fruto do seu procedimento e dos seus próprios conselhos se fartarão" (Pv 1:31).
Não deram ouvidos à verdade (v. 32; ver 2 Tm 4:4) e, em sua complacência, se contentaram
em acreditar em mentiras. Ao contrário do julgamento prometido aos incrédulos, a Sabedoria
promete segurança e paz àqueles que lhe derem ouvidos e que obedecerem a ela (Pv 1:33). 2.
A Sabedoria co n v id a à verdadeira riqueza (Pv 8:1-36) Em sua misericórdia, o Senhor continua
a chamar os pecadores, pois ele é "longânimo para convosco, não querendo que nenhum
pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pe 3:9). A Sabedoria volta aos
lugares cheios de gente na cidade e fala em alta voz, para que todos possam ouvir. Observe,
porém, que se dirige somente aos néscios e loucos, mas não aos escarnecedores (comparar Pv
1:22 com 8:5). Eles haviam zombado de sua mensagem e dado as costas à verdade, de modo
que sua oportunidade havia passado, não porque Deus havia deixado de falar, mas porque o
coração deles se recusava a escutar. "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso
coração" (Hb 4:7, 8). "Tende cuidado, não recuseis ao que fala" (Hb 12:25). A segunda
mensagem da Sabedoria apresenta três pontos bastante claros, seguidos por uma chamada à
decisão. "Podem confiar em minhas palavras" (w. 6-9). A mensagem proclamada pela
Sabedoria é descrita com cinco adjetivos. Suas palavras são "excelentes" (v. 6), termo que, no
Antigo Testamento, é traduzido com freqüência por "comandante" ou "príncipe". Uma vez que
a mensagem de Deus é a Palavra do Rei, pode-se dizer que suas palavras são nobres e
magníficas. A mensagem também fala de coisas "retas" (vv. 6, 9), adjetivo que descreve algo
direito. O termo "reto" vem do latim rectas, que significa "sem curvas, que segue a mesma
direção". Esse radical também aparece em palavras como "correto" e "direto". A Palavra de
Deus também é verdadeira (v. 7) e justa (v. 8). A insensatez usa palavras enganosas e
"sinuosas" para alcançar seus propósitos, aquilo que George Orwell chamou de "linguagem de
noticiário", em seu romance 1984, e que, hoje, poderia ser chamado de "linguagem ambígua".
O que a Palavra de Deus diz sobre todo e qualquer assunto é correto e confiável (Sl 11 9:128).
"Os juízos do S en h o r são verdadeiros e todos igualmente, justos" (Sl 19:9). As palavras da
Sabedoria são francas, proferidas clara e abertamente para que não haja confusão. É evidente
que os que rejeitam o Senhor não compreendem o que Deus está dizendo (1 Co 2:12-16), mas
isso não significa que a Palavra de Deus seja confusa ou ininteligível, mas sim que os pecadores
são espiritualmente cegos e surdos (Mt 13:14, 1 5). O problema está com quem está ouvindo,
não com quem está falando. Dizse que foi Mark Twain quem declarou: "O que me preocupa
não é aquilo que não compreendo na Bíblia, mas sim aquilo que compreendo". "Podem
receber a verdadeira riqueza" (w. 10-21). Esta passagem trata de um tipo de enriquecimento
que não se refere aos bens materiais. A Sabedoria não promete colocar dinheiro em nossa
conta bancária; antes, está nos instando a buscar a riqueza eterna em lugar de ouro, prata e
pedras preciosas (ver vv. 18, 19; e também 2:4; 3:13-15 e 1 Co 3:12). Trata-se da versão do
Antigo Testamento para Mateus 6:33: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua
justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas". No tempo do Antigo Testamento, alguns
israelitas acreditavam que a riqueza era sinal da bênção de Deus, enquanto as dificuldades
eram sinal de que a pessoa não tinha o favor divino. Pelo fato de crerem numa "teologia da
prosperidade", os amigos de Jó concluíram que ele era um grande pecador; de outro modo,
não estaria sofrendo tanto. Quando Jesus disse que era difícil um homem rico entrar no reino
de Deus, seus discípulos perguntaram cheios de espanto: "Sendo assim, quem pode ser salvo?"
(Mt 19:23-26). Se os ricos não vão conseguir chegar ao céu, então quem vai? Porém, a
Sabedoria tem algo melhor a oferecer do que riquezas perecíveis - bênçãos como prudência,
conhecimento, juízo ("conselhos", Pv 8:12), o temor do Senhor, humildade, palavras de
piedade, admoestações sábias, direção nos caminhos da vida e "bens duráveis". Uma vida
enriquecida por Deus pode ser pobre neste mundo, mas é rica nas coisas que mais importam.
É bom desfrutar as coisas que o dinheiro pode comprar, desde que não se percam as coisas
que o dinheiro não compra. Por mais dinheiro que alguém tenha, aquilo que a Sabedoria
oferece não pode ser comprado em lugar algum. De que maneira podemos obter essa riqueza
satisfatória e duradoura? Ouvindo a Palavra de Deus (v. 6), recebendo sua instrução (v. 10),
amando a verdade e a sabedoria (vv. 17, 21) e buscando a Deus e sua sabedoria diariamente
(v. 17). Muitos filhos de Deus descobriram como é importante começar cada dia com o Senhor,
meditando em sua Palavra, orando e adorando a Deus (ver Sl 57:8 e 63:11; Gn 19:27; Êx 24:4;
Mc 1:35). "Podem ver minhas obras" (vv. 22-31). Tocamos neste assunto no capítulo 1 e
consideramos que se trata de uma explicação sobre a sabedoria de Deus operante na criação
do Universo. Apesar de não ser uma descrição de Jesus Cristo, pois o Filho eterno de Deus não
foi criado, é verdade que prefigura Cristo como o Verbo Criador que fez todas as coisas
existirem (Jo 1:1-4; Cl 2:3). Uma das lições deste parágrafo é que o poder e o esplendor de
Deus, encontrados em toda parte na criação a nosso redor, são prova daquilo que a sabedoria
de Deus pode fazer. O mesmo Deus que trabalhou na "antiga criação" também deseja
trabalhar em nossa vida, em suas "novas criaturas" (2 Co 5:17; Ef 2:10; 4:24; Cl 3:10). O Senhor
Jesus Cristo, que cuida do Universo e faz com que realize sua vontade, pode cuidar de nossa
vida e realizar seus propósitos para sua glória. Quando pertencemos a Jesus Cristo e andamos
em sua sabedoria, toda a natureza trabalha a nosso favor; se nos rebelamos contra sua
sabedoria e sua vontade, as coisas começam a trabalhar contra nós. Foi o que Jonas descobriu
quando tentou fugir do Senhor. "Devem tomar uma decisão" (w. 32-36). Depois de declarar a
verdade de Deus, a Sabedoria exige uma decisão, como todo arauto fiel deve fazer. A maneira
de as pessoas responderem à mensagem de Deus é uma questão de vida ou morte (vv. 35, 36),
e é impossível permanecer neutro. A sabedoria pede uma decisão sincera e transformadora,
que implica abandonar o pecado (arrependimento) e se voltar para Cristo (fé). Se a decisão for
real, resultará num compromisso com o Senhor, o que, por sua vez, levará a um encontro
diário com ele, como um servo à porta de seu senhor. Aqueles que rejeitam a verdade de Deus
pecam contra a própria alma. Aqueles que odeiam a verdade de Deus estão rumando para a
morte eterna (Ap 20:11-1 5). 3. A Sabedoria co n v id a a viver (Pv 9:1-18) Em vez de ir aos
lugares de maior movimento na cidade, a Sabedoria fica em casa e oferece um grande
banquete. Preparativos (w. 1, 2). No capítulo anterior, vimos a Sabedoria trabalhando na
criação, mas aqui a vemos depois de construir uma casa espaçosa ("sete colunas"), onde
prepara um banquete suntuoso. Os israelitas não costumavam abater os animais de seus
rebanhos para consumi-los, de modo que eram raras e bem-vindas as oportunidades de comer
carne de boi ou de cordeiro assada. A mesa seria posta com inúmeras iguarias e também com
vinho. O vinho poderia ser misturado com água (normalmente três partes de água para uma
de vinho) ou com especiarias. Porém, a presença de vinho à mesa não deve ser interpretada
como um endosso divino para o consumo de bebidas alcoólicas. O vinho era parte normal das
refeições em Israel, mas em momento algum a Bíblia aprova a embriaguez (ver 20:1; 23:29-35;
31:4-7). Outros comentários sobre essa questão serão apresentados mais adiante. Convite (w.
3-9). Em vez de ela própria sair, como nos outros dois "convites", dessa vez a Sabedoria envia
suas belas servas para os lugares mais altos da cidade, a fim de convidar as pessoas para o
banquete. Naquele tempo, era costume o anfitrião ou a anfitriã fazerem dois convites. O
primeiro, realizado com alguns dias de antecedência, informava os convidados sobre o dia e a
hora do banquete e o segundo, realizado no dia da festa, confirmava quem estaria presente
(ver Lc 14:16-24; Mt 22:1-14). Sabendo o número aproximado de convidados, os cozinheiros
poderiam preparar carne suficiente para que houvesse bastante para todos sem que nada
fosse desperdiçado. Esta passagem não fala de um convite preliminar. As servas dizem apenas:
"Venham imediatamente!" Observe que seu convite é dirigido a um grupo de pessoas: os
simples (Pv 9:4). O primeiro convite da Sabedoria foi para os néscios, os escarnecedores e os
loucos (1:22). Os escarnecedores riram dela, de modo que seu segundo convite foi apenas para
os néscios e loucos (8:5). Mas os loucos rejeitaram a sabedoria de Deus, de modo que, neste
terceiro convite, ela chama apenas os néscios ("simples") para o banquete. E arriscado rejeitar
o convite de Deus, pois nunca sabemos se é nossa última chance de participar dele (Lc 14:24).
É evidente que, quando os néscios aceitam o convite, isso implica deixar para trás sua "turma",
e os escarnecedores e loucos tentam convencê-los a ficar (Pv 9:6-8). Os pecadores rejeitam a
repreensão e a reprovação, mas os sábios aceitam ambas e se beneficiam delas. Os néscios,
escarnecedores e loucos preferem fazer as coisas a seu modo e ouvir os outros dizerem que
estão certos, mas os sábios querem ouvir a verdade. Ensine os sábios, e eles aceitarão a
verdade e se tornarão ainda mais sábios; tente ensinar os insensatos, e eles rejeitarão a
verdade e se tornarão ainda mais insensatos. Celebração (Vv. 10-12). O que recebemos
quando aceitamos o convite da Sabedoria e comparecemos ao banquete? Em primeiro lugar,
crescemos em nossa reverência pelo Senhor e nos aprofundamos em nosso conhecimento do
Santo (v. 10). Quanto mais completo é nosso conhecimento de Deus, mais aguçado se torna o
nosso discernimento com relação às decisões da vida. Além disso, a Sabedoria promete dar
vida longa (v. 11) e encher nossos dias e anos de experiências ricas da graça de Deus. O Senhor
quer acrescentar anos a nossa vida e vida a nossos anos, e ele o fará, se obedecermos à sua
sabedoria. O versículo 12 lembra que o Senhor deseja construir um caráter piedoso em nós e
que não podemos tomar esse caráter emprestado de outros nem transferi- lo para outros.
Trata-se de uma questão individual, que implica decisões individuais. Pertencer a uma boa
família, freqüentar uma igreja fiel ou estudar nos melhores estabelecimentos de ensino não
garante a construção de nosso caráter. O caráter é construído com base nas decisões, e,
quando estas são erradas, criam um mau caráter. Condenação (w. 13-18). O capítulo encerra
com um vislumbre da prostituta (Loucura), enquanto chama os mesmos néscios e os convida
para sua casa. Porém, se aceitarem seu convite, em vez de um banquete, participarão de um
funeral - o deles! Em 5:1 5-18, Salomão compara as alegrias do amor conjugal com beber água
pura de uma fonte refrescante, mas a Loucura (a adúltera) oferece "água roubada" da fonte de
outra pessoa. Deus ordenou que o casamento fosse uma "cerca" ao redor da fonte, para que
ninguém a poluísse. "Não adulterarás" (Êx 20:14) nunca deixou de fazer parte da lei de Deus.
Em se tratando de possuir vida eterna e de viver de modo agradável a Deus, não há meio-
termo. Aceitamos o convite ou o PROVÉRBIOS 1:7-33; 8 - 9 375 recusamos; obedecemos à
sabedoria ou a rejeitamos. Aqueles que se dizem neutros, na verdade, estão rejeitando a
Palavra tanto quanto aqueles que a recusam de todo. "Quem nao é por mim é contra mim"
(Mt 12:30). Qual será sua escolha: um banquete ou um funeral?

Você também pode gostar