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PSICOLOGIA

SOCIAL

Daiane Duarte Lopes


Revisão técnica:

Marcia Paul Waquil


Assistente Social (PUCRS)
Mestre em Educação (PUCRS)
Doutora em Educação (UFRGS)

L864p Lopes, Daiane Duarte


Psicologia social [recurso eletrônico] / Daiane Duarte
Lopes ; [revisão técnica: Marcia Paul Waquil]. – Porto Alegre :
SAGAH, 2017.

ISBN 978-85-9502-161-7

1. Psicologia social. I. Título.

CDU 316.6

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


Psicologia social
contemporânea: tendências
e perspectivas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Analisar as características principais da psicologia social pós-moderna


e o seu relativismo epistemológico.
„„ Explorar a heterogeneidade entre a metodologia qualitativa e
quantitativa.
„„ Compreender o movimento de expansão e mudança da psicologia
social com o surgimento da psicologia social institucional.

Introdução
Neste capítulo, você vai acompanhar o desenvolvimento contemporâneo
da psicologia social. E estudará as forças que motivaram mudanças e
impulsionaram novos movimentos no direcionamento e alcance das
abordagens da psicologia social na atualidade.

Características da psicologia social pós-


moderna e o seu relativismo epistemológico
A organização da sociedade contemporânea, assim como sua constante trans-
formação, disponibiliza para a psicologia social uma variedade de desafios.
A maneira como na atualidade os modos de conhecimento circulam, muito em
função da pluralidade das questões evocadas pelo processo ao qual vivemos
hoje, se tornou um dos maiores desafios da psicologia social pós-moderna.
O próprio termo “psicologia social” acaba por despertar certa dicotomia
em sua significação, pois assume uma separação entre indivíduo e sociedade,
o que amplifica o conhecimento subjetivo privatizado por uma generalização
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da ideia de indivíduo e de uma naturalização do social. Os modos de viver


na atualidade, impulsionado pelo fluxo constante de informações, tornaram
por relativizar epistemologicamente a psicologia social pós-moderna. Isto é,
compreendendo que a dicotomia proposta na genealogia da psicologia social não
passa de um método determinado para a restrição dos modos de subjetivação
e acaba por deixar escapar toda a complexidade e multiplicidade da teoria do
conhecimento em psicologia social.
A partir disso, podemos entender que, na atualidade, o objeto de estudo
da psicologia social não se restringe ao estudo da interação entre indivíduo e
sociedade, mas se expande ao modo como um delimitado conjunto de práticas
sociais frutifica a relação do indivíduo consigo e com o mundo, em resumo, a
psicologia social pós-moderna estuda as maneiras como os modos de subjeti-
vação produzem novas possibilidades nos territórios existenciais. Nos tempos
atuais a psicologia social assumiu uma função altamente política, em que,
com acentuada frequência questiona o tempo presente e seus desdobramentos,
buscando pensar sobre as funções e propósitos dos indivíduos enquanto seres
producentes ao mesmo instante que produzidos por vivências sociais.
No entanto, a psicologia social pós-moderna não pretende promover uma
fragmentação dos campos de conhecimento, mas sim, objetiva ampliar os
processos de experimentações capazes de conceber articulações inovadoras na
leitura da realidade. Desta maneira, rompe com os equilíbrios preestabelecidos,
se negando a ocupar uma posição de verdade absoluta.
A proposta da psicologia social pós-moderna é o rompimento dos limites
que dividem os campos de conhecimento, assim como uma desconstrução
das hierarquias preestabelecidas. No pensamento da psicologia social atual, a
desnaturalização e problematização das dicotomias impostas historicamente,
tais como indivíduo/natureza e sociedade/indivíduo, fazem parte de uma
reinvenção infindável dos campos de investigação e análise.
Assim, mais importante do que a separação ou classificação, por exemplo,
entre indivíduo e sociedade, é a relação, sendo que a relação preferivelmente
necessita ser compreendida em sua transversalidade e variedade de níveis.
A psicologia social pós-moderna emerge orientada por valores de con-
solidação e amplificação de potencias, se posicionando de forma crítica aos
assujeitamentos limitantes das experiências e vivencias contemporâneas.
Podemos entender por assujeitamentos limitantes os eventos que oprimem as
maneiras criativas de viver em sociedade, por meio de regras, normas e eventos
que forçam um modo de ser limitado. Por exemplo, a apelação da mídia para
o consumo de produtos, tecnologia, moda, entre outros, na qual quem não
adere a aquisição é seguidamente julgado de maneira negativa.
Psicologia social contemporânea: tendências e perspectivas 3

O termo indivíduo também é problematizado na psicologia social pós-


-moderna, que o entende como uma restrição das possibilidades nos processos
de subjetivação. Desta forma, adota a ideia de sujeito como consciência singular
em meio à multiplicidade heterogênea da realidade. Em resumo, sujeito está
mais conectado com a ideia de autonomia, poder de escolha e criação. Já
indivíduo estaria mais implicado como produto, resultado de uma produção.
Por entender cada ser como sujeito-criador e indivíduo-produto, e ainda a
complexidade de interações provindas ficará a critério de cada pesquisador
e estudo adotar um termo ou outro, ou ainda ambos, como sujeito-indivíduo.

Metodologia de pesquisa qualitativa


e quantitativa
Em torno da busca pela amplificação dos saberes, as pesquisas surgem como
ferramentas e caminham em direção à articulação entre teoria e prática.
O conhecimento e a atuação sobre a realidade se desenvolverão na investigação
das instâncias e interesses visando a uma possibilidade de aprimoramento na
busca por suprir demandas previamente instauradas ou mesmo na compreensão
de acontecimentos geradores e impulsionadores de diferentes percepções.
A pesquisa qualitativa parte da visão de que uma metodologia unificada
de pesquisa não poderia contemplar a todas as ciências. Os pesquisadores
das ciências sociais adotaram a abordagem de pesquisa qualitativa visando
à singularidade dessa ciência. O método de pesquisa qualitativa objetiva
compreender os movimentos existenciais de um determinado grupo social,
organização, instituição, entre outros. Sendo a amostra pequena ou grande, o
importante é produzir novas informações sobre os aspectos da realidade não
quantificáveis, não se ocupando das representações numéricas provindas ou
implicadas ao grupo de pesquisa.
Outro ponto importante da pesquisa qualitativa é o posicionamento do
pesquisador, que é tanto sujeito como objeto da pesquisa. O curso de de-
senvolvimento da pesquisa é imponderável, bem como o conhecimento do
pesquisador, que se manifesta limitada e parcialmente.
No entanto, é justamente esse ponto que é alvo de críticas, devido a subjeti-
vidade e envolvimento emocional do pesquisador. Dessa forma, o pesquisador
deve estar atento a coleta e análise de dados, envolvimento com o contexto,
sujeitos e situação pesquisada e sua orientação teórica e dados empíricos.
A pesquisa quantitativa possui instrumentos e procedimentos específicos e
estruturados para a coleta de dados, buscando dar ênfase ao raciocínio dedutivo,
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partindo de premissas e hipóteses. Ou seja, a coleta de dados se disponibiliza


em um ambiente controlado, valorizando a objetividade, utilizando dados
numéricos analisados conforme procedimentos estatísticos.
Ambos os métodos de pesquisa possuem aspectos positivos e negativos.
Porém, um método pode complementar outro. Ou seja, uma pesquisa pode ser
quanti-qualitativa e unir as potencialidades de cada método com o objetivo
de ampliar o alcance dos conhecimentos provindos das pesquisas e estudos,
sendo este o desafio da psicologia social na contemporaneidade.
Quando se propõe perspectivamente a compreender os modos de ser e de
viver plenos por meio de pesquisas, tanto quantitativamente quanto qualitativa-
mente, a psicologia social na atualidade se posiciona de maneira a manter uma
visão privilegiada, o que possibilita a geração de novos potenciais geradores
de conhecimento e mudanças.

Você pôde acompanhar a pesquisa qualitativa e quantitativa como abordagens para


o estudo em torno de um problema. Confira, a seguir, alguns métodos de pesquisa
do ponto de vista dos objetivos:
„„ Pesquisa exploratória: busca viabilizar familiaridade com o problema por meio de
levantamento bibliográfico e entrevistas, além da análise de exemplos. É comumente
realizada em pesquisas bibliográficas e estudos de caso.
„„ Pesquisa descritiva: descreve características de uma determinada população ou
fenômeno, ou ainda analisa relações entre variáveis, por meio de técnicas de coleta
de dados padronizadas, com questionários e observações, normalmente sob a
forma de levantamento.
„„ Pesquisa explicativa: identifica aspectos que designa fenômenos. Em geral, assume
a forma de pesquisa experimental.

Psicologia social institucional


Devido ao conhecimento gerado pelas pesquisas e em meio a busca da psi-
cologia social pela amplificação da compreensão sobre o viver na contempo-
raneidade, surge a psicologia social institucional e sua constante inquietude
e incessante provocação desenvolvedora de críticas. Nascida na França, no
período pós-guerra com o mundo dividido entre capitalismo e socialismo,
a psicologia social institucional começou a ser composta, preocupada em
problematizar o naturalizado pelos olhos da maioria.
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Em um cenário de total abandono material e relacional, com asilos psi-


quiátricos equivalentes a campos de concentração, ficou latente a urgência
de um olhar atento por transformações nos campos de saúde, saúde mental e
educação, não tardando a contagiar outras regiões do mundo, devido ao seu
caráter de livre incursão sobre a diversidade de saberes.
No Brasil, a psicologia social institucional desembarcou ao final da década
de 1960, provocada pelo contexto de repressão política, devido à ditadura, em
meio ao enfraquecimento e desestabilização das resistências dos movimentos
populares, pelas constantes prisões e exilamentos de frentes opostas à conduta
do governo vigente na época.
Os pensadores e estudiosos que puderam continuar seus estudos e
permanecer no país conseguiram se inspirar pelos movimentos franceses
e levaram adiante os questionamentos e a problematização das pesquisas
tradicionais que insistiam na separação entre ciência e política, contestando
o fracionamento da vida social e o impedimento de uma atuação real de
grupos assujeitados e marginalizados sobre a escolha para a direção dos
rumos da sociedade.
Dessa forma, a psicologia social institucional tomou corpo e se delineou con-
forme uma potencialização promovida pelo pesquisador, nos espaços de participa-
ção popular e coletiva constituindo possíveis transformações da realidade. Assim,
fundamentos da educação, participação e cultura popular guiaram os pesquisadores
sociais por meio de novas formas de produção e organização dos conhecimentos.
Assim surge juntamente com a psicologia social institucional uma nova
forma de produzir conhecimento por meio da pesquisa, por esta assumir um
traço desarticulador dos discursos e das práticas instituídas. As questões
sociais puderam ser contextualizadas por meio de pesquisas participativas,
viabilizando o fluxo dos diálogos e a construção do exercício de empodera-
mento sobre o campo das transformações sociais.

O livro Ponto de Mutação, de Fritjof Capra, físico austríaco, assim como o filme de mesmo
nome, apresenta a história do pensamento científico. E contempla a ideia de que se
faz necessário romper com as bases da ciência moderna, edificada sobre um sistema
matemático cartesiano, onde o mundo se disponibiliza como uma máquina a serviço do
indivíduo, dialogando sobre a maneira como, ao longo do tempo, o universo se dirigiu a
um ponto onde a natureza e os indivíduos se organizaram para a manutenção da vida.
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A psicologia social institucional e seu campo de pesquisa abrem uma série de


oportunidades que promovem o esclarecimento sobre novos campos de análise
desnaturalizadores, objetivando a geração e invenção de campos de intervenção
instituintes. Com propósito de compreender as relações sociais, o pesquisador
ocupa uma posição política, buscando analisar as contradições sociais.
Dessa forma, a psicologia social institucional lança olhar sobre a ação
grupal e se disponibiliza como provocadora. Porém, tanto a análise quanto
uma possível intervenção serão desencadeadas de acordo com o movimento
do grupo, sendo a subjetividade das relações, o objeto de estudo primordial
para a atuação da psicologia social institucional.
Uma ferramenta conceitual da psicologia social institucional é a análise institu-
cional, que possui utilização livre e ilimitada, questionando e problematizando as
relações de poder, bem como as forças que geram visibilidade ao ato do poder. O
analista institucional é militante, defensor das próprias ideias, sem neutralidades,
valoriza o espaço “entre”, ou seja, desconstrói dicotomias. Por exemplo: o que antes
da análise institucional carregava a marca de “OU isto, OU aquilo”, por meio da
análise institucional, passa a se constituir como “isso E aquilo”.

Conheça algumas metodologias de pesquisa utilizadas pela psicologia social


institucional:
„„ Levantamento: método de pesquisa que envolve o questionamento dos sujeitos
dos quais o pesquisador deseja conhecer o comportamento.
„„ Estudo de caso: estudo aprofundado sobre determinado assunto, problema e/ou
objeto com objetivo de obter o mais detalhado conhecimento.
„„ Pesquisa-ação: de modo cooperativo e participativo, os participantes e o pesquisador
se envolvem para conceber a pesquisa em torno de uma ação.
„„ Pesquisa-intervenção: desenvolvida por meio da interação entre pesquisador e
participantes.
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BIASOLI-ALVES, Z. M. M. A pesquisa psicológica: análise de métodos e estratégias


na construção de um conhecimento que se pretende científico. In: ROMANELLI, G.
(Ed.). Diálogos metodológicos sobre práticas de pesquisa. Ribeirão Preto: Legis Summa,
1998. p. 135-157.
BLEGER, J. Psicohigiene e psicologia institucional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1984.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002.
GUIRADO, M. Psicologia institucional. 2. ed. São Paulo: EPU, 2004.
GÜNTHER, I. A. Pesquisa para conhecimento ou pesquisa para decisão? Psicologia:
Reflexão e Crítica, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 75-78, 1986.
LAPASSADE, G. Grupos, organizações e instituições. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
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