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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


PROJETO A VEZ DO MESTRE

Abandono e Adoção

Por: Monique Costa Correia

Orientadora:
Ana Paula Alves Ribeiro

Rio de Janeiro

Agosto 2010
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

Adoção e Abandono

Apresentação de monografia à Universidade


Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de Especialista em Psicologia
Jurídica.
Por: Monique Costa Correia
AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela minha vida e por mais


uma vitória.
A orientadora Ana Paula Alves Ribeiro,
pelo acompanhamento e revisão do
estudo. Aos docentes da UCAM, pela
contribuição na minha formação.
Aos amigos, parentes e a todos que
acreditaram em mim.
DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia à memória da


minha Mãe Helena Lopes da Costa
Correia, que tanto incentivou, quando
viva, para que eu continuasse os estudos.
Ao meu Pai Luis Correia, pela paciência e
apoio incondicional.
Aos meus irmãos em especial à Enelita,
pela força e compreensão nos momentos
difíceis.
Ao meu namorado Miguel Zamora Induta,
pela força e o apoio.
RESUMO

A idéia do presente trabalho surgiu a partir dos estudos feitos em sala de


aula sobre adoção. Devido ao grande interesse, surgiu a vontade de
aprofundar este tema.
A adoção de crianças institucionalizadas, cujo estudo objetivou levantar
alguns aspectos relevantes relacionados com o estado de carência da criança
abandonada por sua família de origem e, por isso, institucionalizada, de ambos
os sexos.
A adoção representa uma resposta às necessidades não satisfeitas pela
ordem natural dos acontecimentos, uma resposta que oferece a criança órfã e
abandonada, uma possibilidade de ter pais e ambiente familiar, indispensável
para o seu desenvolvimento.
METODOLOGIA

Para desenvolvimento deste trabalho, utilizarei as seguintes formas


de pesquisa: Leitura dos livros, revistas, pesquisa bibliográfica, pesquisa de
campo e buscas na internet.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 7
Capitulo I ....................................................................................................................... 10
1.1 As Evoluções das Leis de Adoção no Brasil ..................................................... 10
1.2. A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente ...................................... 12
Capitulo II ...................................................................................................................... 14
2.1. Adoção ................................................................................................................ 14
2.2. O Desenvolvimento Infantil e suas Dificuldades com relação à separação
Materna ..................................................................................................................... 21
2.3. Os Pais Biológicos .............................................................................................. 23
Capitulo III ..................................................................................................................... 26
3.1. Uma Visão Histórica do Abandono.................................................................. 26
3.2. Abandono ........................................................................................................... 28
CONCLUSÃO ............................................................................................................... 33
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 37
7

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho consiste inicialmente em oferecer subsídios e


materiais para a discussão de um tema polêmico, controverso e instigante:
adoção e abandono.

A família é insubstituível na criação e educação do ser humano, pois é


através dela que o homem se prepara para a vida. É neste primeiro núcleo
social, considerado como grupo primário, que o indivídou participa de suas
primeiras experiências, preparando-se para sua inserção futura nos diferentes
grupos secundários que compõem a sociedade.

As pesquisas realizadas sobre o desenvolvimento infantil têm cada vez


mais constatado que a qualidade dos cuidados parentais que uma criança
recebe em seus primeiros anos de vida é de importância vital para a sua saúde
mental futura. Vem se observando, através da experiência, ser essencial para a
saúde mental do bebê e da criança pequena, a vivência em relação calorosa
intima e contínua com a mãe biológica ou substituta, na qual ambos encontram
satisfação e prazer.

A adoção é o ato ou efeito de adotar. Adotar é reconhecer no filho


gerado por outros, nosso filho. É incorporar uma verdade que está sendo
assumida a partir da intenção. Para haver uma adoção, deve ter havido antes
um abandono.

No Brasil, existe um número elevado de crianças carentes, bem como


de crianças abandonadas por suas famílias de origem.

Portanto, a questão do abandono, sempre existiu, desde a Grécia


antiga; mas hoje, esta idéia veste uma outra roupagem, já que existe a
preocupação e o interesse por essas crianças expostas ao abandono. Assim,
veremos toda essa evolução da adoção no Brasil até a atualidade.
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As modernas leis de adoção no Brasil, o Estatuto da criança e do


adolescente, colocam em primeiro lugar o interesse maior da criança, aquela
criança que, esgotados os recursos de manutenção na própria família de
origem, (art. 92/principio II) deve ser integrada em uma família substituta. O
interesse da criança torna-se assim, a preocupação primeira, mais importante
do que os direitos dos pais biológicos.
A adoção representa uma resposta às necessidades não satisfeitas
pela ordem natural dos acontecimentos, uma resposta que oferece a criança
órfã e abandonada, uma possibilidade de ter pais e ambiente familiar,
indispensáveis para o seu desenvolvimento. A adoção, todos reconhecem, não
é mais uma matéria exclusivamente jurídica, mas um recurso, um instrumento,
pleno de profundas manifestações éticas e sociais.
De todos os sistemas alternativos de proteção às crianças e
adolescentes abandonados, a adoção é o único que cumpre com todas as
funções que caracterizam uma família, porque permite refazer os vínculos da
relação filial. É o único sistema que colabora amplamente na internalização do
sentimento de auto-estima, chave para o processo de desenvolvimento de uma
personalidade sadia e construtiva.
É um sistema que não marginaliza, pelo contrário, integra, fazendo com
que a criança possa adquirir o equilíbrio e o amadurecimento que lhe permitirá,
quando adulto, assumir suas futuras responsabilidades sociais e familiares, e o
pleno exercício de sua cidadania.
Precisamos sempre lembrar que a adoção tem um alcance limitado.
Ela é uma alternativa para um pequeno número de crianças pertencentes a
uma pequena proporção de famílias que não puderam, ou não quiseram
assumir suas responsabilidades para com elas. É uma alternativa apenas para
aqueles casos de crianças definitivamente abandonadas.
Na adoção, precisamos sempre considerar aquilo que antecede o
abandono, a ruptura dos laços biológicos. É absolutamente indispensável que
cada cidadão se empenhe para eliminar a miséria e que cada homem tenha
condições de se ocupar adequadamente do seu próprio filho. Mas, é preciso
reconhecer que ao lado dos direitos do adulto estão os direitos das crianças, e
neste caso, de uma criança abandonada.
9

“A situação de menor abandonado, institucionalizado ou não, é o


problema fundamental que devemos discutir. A criança vive a perda de seus
entes queridos, do afeto, da proteção e isso a marcará, de tal forma que, em
muitos casos, uma vez adulta, ela reproduzirá o seu próprio abandono.”
(Freire, 1994, p. 9).
10

Capitulo I
1.1 As Evoluções das Leis de Adoção no Brasil
A princípio, a adoção surgiu somente para suprir a necessidade do casal
infértil. Não se pensava em dar uma família a uma criança abandonada.
A palavra adoção deriva do latim adoptare, significando o ato de
escolher, dar seu nome a alguém. Sob o aspecto jurídico, pode o instituto ser
conceituado como ato jurídico solene pelo qual se cria um laço de filiação entre
duas pessoas, com total desligamento do adotando de sua família biológica.
Tal instituto introduziu-se no Brasil a partir das Ordenações Filipinas e é a
primeira lei a cuidar do tema, de forma não sistematizada.
De acordo com Eunice Granato, a primeira lei referente à adoção no
Brasil data de 22 de setembro de 1828, que transferia da Mesa de Desembargo
do Paço para os juízes de primeira instância, a competência para a expedição
de carta de perfilhamento.
Mais tarde, conforme relata Caio Mário da Silva Pereira, no Brasil, a
adoção foi sistematizada pelo Código Civil de 1916 (art. 368 a 378) e deu
nascimento a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e
adotado, com a finalidade de proporcionar a filiação a quem não a tivesse de
seu próprio sangue. Estabelecia como pressuposto a ausência de filhos
legítimos ou legitimados, só os maiores de cinqüenta anos podiam adotar e a
diferença mínima de idade entre adotante e adotado era de dezoito anos; duas
pessoas somente poderiam adotar em conjunto se fossem casadas; não se
poderia adotar sem o consentimento da pessoa, debaixo de cuja guarda
estivesse o adotando, menor ou interdito; o adotando, quando menor ou
interdito, poderia desligar-se da adoção no ano seguinte em que cessasse a
interdição ou menoridade; o vínculo da adoção poderia ser dissolvido se as
duas partes (adotante e adotado) anuíssem ou se o adotado cometesse
ingratidão contra o adotante. A adoção era feita por escritura pública.
O parentesco resultante da adoção era limitado ao adotante e adotado,
salvo quanto a impedimentos matrimoniais. Os direitos e deveres que
resultavam do parentesco natural não se extinguiam pela adoção, exceto o
pátrio poder, transferido aos pais adotivos.
11

Tudo isso, bem como tratamento distinto entre filhos naturais e adotivos
quanto à partilha de bens, tornava a adoção pouco utilizada. Note-se que a
exigência de que o adotante não tivesse filhos legítimos ou legitimados
comprova que a finalidade primordial da adoção era suprir a vontade de
pessoas inférteis e não proteger a criança e garantir seu direito de ser criada
em uma família. No dia 12 de outubro de 1927, o Decreto 17.943-A consolidou
as leis relativas a menores, instituindo o Código de Menores, primeiro da
América Latina, como instrumento de proteção da infância e adolescência,
vítima da omissão e transgressão da família.
Contudo, não trouxe nenhuma alteração acerca da adoção. A Lei nº.
3.133 de oito de maio de 1957 alterou os requisitos indispensáveis para que a
adoção fosse possível: a idade mínima do adotante foi diminuída para trinta
anos e a diferença de idade entre adotante e adotado, para dezesseis anos.
Foi abolida a necessidade do casal adotante não possuir filhos, passando-se a
exigir que os adotantes fossem casados há, pelo menos, cinco anos (o que não
era necessário em 1916). Estabelecia ainda, a Lei nº. 3.133/57, que a adoção
poderia ser dissolvida por vontade do adotado, no ano seguinte em que
completasse a maioridade, pelo mútuo consentimento das partes e nos casos
em que se admitia a deserdação.
O parentesco resultante da adoção tinha efeitos apenas para o adotante
e adotado. Em se tratando de sucessão hereditária, o adotante tinha direito a
apenas metade do quinhão a que tinham direito os filhos biológicos, desde que
os filhos biológicos fossem nascidos depois da adoção. Se ao tempo da
adoção os adotantes tivessem filhos biológicos, o filho adotivo nada receberia.
Em 1965 entra em vigor a Lei nº. 4.655, criando a figura da legitimação
adotiva. Com isso, passaram a existir duas formas de adoção: aquela prevista
pelo Código Civil, alterada pela Lei 3.133/57 e a disciplinada pela nova lei. Por
essa, o adotado ficava quase equiparado nos direitos e deveres do filho
legítimo, salvo nos casos de sucessão hereditária. Essa lei estabelecia a
possibilidade de ser conferido ao menor o nome do legitimante, como também
a mudança de prenome. Assim os pais adotivos podiam dar ao menor o
prenome que escolhessem, acrescentando os apelidos de família que eles
próprios ostentavam. Era possível a legitimação da criança menor de sete anos
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e que estivesse sob a guarda dos requerentes há três anos. Era também
permitida a legitimação adotiva, em favor do menor, com mais de 7 (sete) anos,
desde que à época em que completou essa idade, já estivesse sob a guarda
dos legitimantes.
A Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1969, instituiu o chamado Código de
Menores, que introduziu a adoção plena, substituindo a legitimação adotiva da
Lei 4.655/65, que foi expressamente revogada, e também admitiu a adoção
simples. Essa lei destinava-se à proteção dos menores até dezoito anos de
idade que se encontrasse em situação irregular.
A Constituição Federal de 1988 igualou os direitos de todos os filhos, ao
tratar da Ordem Social, no Título VIII, Capítulo VII, da Família, da Criança, do
Adolescente e do Idoso (arts. 226 a 230), estabelecendo no § 6º do art. 227:
“Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.
O adotado ficava com os mesmos direitos dos filhos naturais, salvo na
hipótese de sucessão, se concorresse com filho biológico superveniente à
adoção.
A seguir, em 13 de julho de 1990, foi publicada a Lei nº 8.069/90,
conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que teve origem
no art. 227 da Constituição Federal. Revogou expressamente o Código de
Menores (lei 6.697/79) e dispôs que a adoção de criança ou adolescente menor
de 18 anos seja por ela regida (art. 39).
Após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a visão
do instituto mudou de ângulo e passou-se a enxergar a adoção como uma
forma de proteger a criança que por algum motivo estivesse sem a proteção de
seus pais biológicos.

1.2. A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente

O objetivo do Estatuto da Criança e do Adolescente é a proteção integral


da criança e do adolescente, conforme declara seu artigo 1º, sendo inovação à
colocação sob a égide dessa lei, de todo menor de 18 anos e não apenas
13

aqueles que estivessem em situação irregular, como ocorria com o Código de


Menores.
Dentre os diversos direitos nele elencados, dispõe que a criança ou
adolescente tem o direito fundamental de ser criado no seio de uma família,
seja esta natural ou substituta.
Entre as modalidades de colocação em família substituta, está a adoção,
medida de caráter excepcional, mas irrevogável, que atribui a condição de filho
ao adotado, impondo-lhe todos os direitos e deveres, inclusive sucessórios,
inerentes à filiação, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes.
Os dispositivos relacionados à adoção encontram-se elencados nos
artigos 39 aos 52 da Lei 8.069/90, dentre os quais se devem destacar:
a) o adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do
pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes (art. 40);
b) o adotante deve ter no mínimo 21 anos, independente de estado civil,
e ser pelo menos 16 anos mais velho que o adotando. Se for casado ou
conviver em união estável, um dos membros do casal deve ter a idade de 21
anos. (art. 42 “caput” e §§ 2º e 3º);
c) não podem adotar os ascendentes e irmãos do adotando (art. 42, §
1º);
d) a adoção poderá ser decretada se ocorrer a morte do adotante no
curso do procedimento e antes da sentença (art. 42, § 5º);
e) a adoção depende do consentimento dos pais ou do representante
legal do adotando, sendo dispensável se os pais forem desconhecidos ou
tenham sido destituídos do pátrio poder. Se o adotando for maio de 12 anos,
será necessário também o seu consentimento (art. 45);
f) o vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial que será inscrita
no registro civil e passará a produzir efeitos após o trânsito em julgado da
sentença (art. 47);
g) a adoção é irrevogável (art. 48).
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Capitulo II

2.1. Adoção

A adoção de crianças sempre existiu, desde a antiguidade.


Possivelmente, na sua origem, a adoção teria tido como uma de suas razões
básicas assegurar a um indivíduo com descendência desconhecida, não só a
perpetuação do culto ou antepassado, como também preservar sua estirpe de
extinção; assim, quando um casal não tinha descendentes naturais, logo
procurava na adoção a solução do seu problema, elegendo uma pessoa para
ficar com a herança e dar continuidade ao patrimônio da família.
“Essa prática não teve vigência uniforme em toda a Europa. Alguns
países demoraram algum tempo em admiti-la e muitos, quando o fizeram,
foram com certa reserva. As leis européias refletem claramente a desconfiança
que inspirava, em determinados setores, essa nova instituição que procurava
superar os impasses criados pela natureza através de um expediente jurídico”.
(Moraes, 1983, p. 31).
Sérias restrições passavam desde o início sobre o processo de adoção,
limitando não só a idade dos pais adotivos, como ainda condicionando a
operação jurídica ao consentimento dos pais naturais e biológicos.
Segundo Moraes (1983), a forma de adoção mais utilizada até meados
do século xx foi a da adoção simples, inspirado no direito romano. Esta adoção
confere ao adotado um novo estatuto legal frente aos seus pais adotivos.
Este tipo de adoção confere direito e obrigações em relação aos pais e vice-
versa. Como anteriormente citado, não se considera adotado totalmente como
um filho. Os direitos recíprocos de sucessão são limitados; o adotado está
unido somente e totalmente aos pais adotantes e não a família deste. Os laços
com sua família natural, ou seja, sua família de origem não se rompe de todo e
finalmente a adoção é revogável com o consentimento mútuo.
Existe outro tipo de adoção, previsto pelo código Justiniano, é o da
adoção plena. Nessa modalidade, também atualmente em uso, ao se atribuir a
situação de filho ao adotado, desliga-o de qualquer vínculo com os pais
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biológicos e parentes, consignando-lhe o nome dos pais adotivos como pais,


bem como o dos seus antecedentes.
A adoção plena é irrevogável, ainda que aos adotantes venham a ter
filhos, aos quais estão equiparados os adotados com os mesmos direitos e
deveres.
Encontramos hoje na sociedade diversas formas de famílias, alguma
mais aceita que outras, mas todas convivendo abertamente. Ha vinte anos
atrás, a mulher desquitada era mal vista, um filho de mãe solteira era banido do
convívio dos outros meninos, de casais não separados. Os tempos passaram e
hoje não é raro encontrar casamentos inter-raciais, ou famílias com enteado/a
ou madrasta.
No entanto a adoção ainda é cochichada. Mesmo quando as famílias
mostram-se abertas para qualquer abordagem, encontra-se constrangimentos
por parte de terceiros.
Precisamos combater essas noções o mais rápido possível, e isso
porque existem milhares de crianças que esperam um lar acolhedor, uma
família adotiva, que esperam que nós sejamos capazes de facilitar a sua
adaptação ao meio social.
“Em certas famílias, até hoje, medidas são tomadas no sentido de
proteger a mãe biológica e os pais adotivos, mantendo-se segredos sobre as
origens da criança e sobre seu destino quando adotada, o que nos faz supor
que continua havendo a pré-suposição de motivos para constrangimentos ou
temor ao contato por parte de todos os envolvidos.” (Motta, 2001, p. 55).

Conforme Freire (1994), podemos definir a adoção como inserção num


ambiente familiar, de forma definitiva e com aquisição de vínculo jurídico
próprio da filiação, segundo as normas legais em vigor, de uma criança cujos
pais morreram ou são desconhecidos, ou, não sendo esse o caso, não podem
ou não querem assumir o desempenho das suas funções parentais, ou são
pelas autoridades competentes, considerados indignos para tal.
Para Motta (2001), adoção implicaria a possibilidade de a mãe biológica
dispor da criança voluntariamente. O conceito de adoção está por sua vez
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indissoluvelmente ligado à decisão. A mãe se desfaz voluntariamente da


criança se assim decidiu.
A adoção surge como um meio de proteger a criança, e que, portanto,
deve ser vista no conjunto dos vários recursos de uma política integrada de
proteção à infância e juventude. Pode significar também encontrar lares
substitutos, pais adotivos, enfim, tentar criar condições familiares para crianças
destituídos de lar e família.
Conforme Lei n° 8.069 aprovado em treze de julho de 1990 que dispõe
sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente o qual reza em seu artigo 3° das
disposições preliminares, que a criança e o adolescente gozam de todos os
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios,
todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Com as leis a favor das crianças, ainda assim, muitos deles ainda
institucionalizados não são felizes.
Freire (1994) ressalta que, vida no internato nunca irá suprir o vazio de
amor e carinho, de segurança que existe em cada criança internada. O
internato nunca irá substituir uma família. Ou seja, são muitas crianças para
poucos profissionais, como, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiras, e
voluntários. Cada criança tem as suas necessidades, cada uma delas quer
uma atenção especial só para ela, devido à falta dessas pessoas, tornam as
crianças cada vez mais carentes e tristes.
Quando uma criança sai de lares de acolhimentos e vai para o seio de
uma família que desempenha seu papel, com amor, carinho e dando um nome
para essa criança, a satisfação dela se torna ainda maior, na preservação da
sua família. A colocação de uma criança numa família tem como objetivo
assegurar a cada criança a integração em um lar, onde ela terá uma atenção
especial, carinho, enfim, um lugar aonde ela mesma vai se descobrindo. É
assegurar a cada criança e a seus pais, a possibilidade de manter, estabelecer,
ou restabelecer entre eles, laços psicológicos, ao abrigo de uma nova
intervenção do Estado.
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Esse motivo de intervenção é destinado a fornecer ao estado os meios


de conhecer e proteger as crianças cujos pais não tomaram as medidas
necessárias para protegê-las seja por motivo de morte, de desaparecimento,
de prisão ou de hospitalização.
Na adoção existe preconceito por duas partes, tanto por parte de quem
adota como por parte dos pais biológicos. Muitos pais biológicos que não estão
verdadeiramente interessados nos seus filhos, não têm coragem de entregá-los
para adoção, preferem “ficar” com a criança, ou melhor, preferem deixá-los de
qualquer jeito andando pelas ruas, sem cuidado nenhum, não freqüentam
escolas, não tem nenhum tipo de educação e saúde.
Em muitos casos as crianças não dormem em casa e às vezes, por
semanas. Quando voltam, os pais não tomam providências para que não
repitam o ato, e quando a fuga se repete por mais de três vezes, os pais se
acomodam com o caso e tomam o ato como normal. Não se preocupam mais
com a criança porque acham que por algum motivo o filho voltará, já que ele
sempre volta.
Se tivesse mais informações sobre entregar um filho para adoção e
também se não houvesse tantos preconceitos contra a adoção, certamente que
muitas outras crianças poderiam ser adotadas, sem passar por processo de
abandono, sem ter que ficar pelas ruas pedindo esmolas, roubando,
ameaçando pessoas, fumando, trilhando maus caminhos. A vida dessas
crianças seria mais fácil e menos dolorosa.
Hoje, no Brasil, o número de crianças que está nas instituições de
acolhimento à espera de uma família é muito menor de que o número de
famílias habilitadas que desejam adotar uma criança e estão na fila de espera.
Uma das maiores causas da fila de espera é por conta da “escolha” das
crianças, muitos pais desejam bebês recém-nascidos de pele branca e sem
problema de saúde. Mas esses pais esquecem que ao gerar um filho nunca
temos opção de escolha, e se os pais têm uma boa saúde isto não garante que
o filho gerado nasça sem nenhum problema.
A criança pode nascer bem e depois vir a ter complicações mentais e
físicas. Nesse caso esses pais criam os seus filhos do mesmo jeito. Agora eu
pergunto, por que tem que ser diferente quando é o caso de adoção? É porque
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na ficha de inscrição tem todas as opções de escolhas; idade, cor, doença etc.
todas essas opções dificultam, ainda mais, o processo de adoção.
“O preparo daqueles que se dispõe a adotar, e se cadastram para tanto,
é muito importante. Imprescindível um preparo e uma avaliação a nível psico-
pedagógico. Poder-se-á, nessa oportunidade, desvendar quais os valores que
regem os pretensos adotantes. O que os levou a isso? Quais as expectativas
que os nutrem? Como é o filho sonhado? Sem dúvida, nessa avaliação valores
éticos, morais e espirituais terão decisivos papéis”.
“É ótimo que cada adotante possa vir a ser um disseminador da rica
experiência de gestar e fazer nascer um filho do amor e da razão. Portanto,
não se adota, e não se deve adotar sem querer.” (Freire, 1994, p. 223).

Os pais que estão na fila de adoção, devem estar psicologicamente


preparados para receber o filho que vier. Porque mais que tudo, a criança
precisa de uma família, precisa de um pai e uma mãe, em muitas ocasiões as
crianças precisam mais dos pais do que eles dos filhos, porque as crianças
ainda precisam de proteção.
É preciso lembrar que a adoção ajuda a resolver um dos mais graves
problemas da nossa sociedade, que é o abandono de crianças. Cada criança
que fica solta, que fica isolada, impossibilitada de expressar seus sentimentos,
de adquirir as noções de valores, não desenvolve o respeito pelos outros seres
humanos, não assimila modelos, não tem pontos de referência.
Finalmente, uma criança abandonada é um ser em profunda solidão.
“Se dermos uma chance a essas crianças, ajudando-os a estabelecer relações
de afeto e confiança, elas serão capazes de mais tarde, construir famílias
estáveis, e por sua vez, dar amor. É importantíssimo para a nossa sociedade
que as pessoas se disponham a adotar crianças. Essas crianças vão crescer e
dar o seu testemunho às futuras gerações”. (Freire, 1994, p. 178)
E quem sabe, essas gerações virão a conviver sem preconceito numa nova
sociedade, e acolherão futuras crianças que virão aquelas que perderão suas
famílias, e que possam amá-las como um filho.
É triste ver futuros pais recusarem uma criança porque ela é deficiente
ou porque tem a cor diferente da dele. Muitos chegam ao ponto de negociar, de
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escolher uma criança, parecendo que estão tratando de uma mercadoria.


Todos querem os melhores, sendo assim, o que será feito dos que ficaram?
O trabalho dos psicólogos, juizes, assistentes sociais, funcionários e
técnicos das instituições que trabalham com crianças órfãs, abandonadas,
devem se pautar pela busca de pais para as crianças que necessitam de um lar
e nunca atender a pessoas que querem um filho, se possível, bebê loiro recém-
nascido, saudável de olhos claros.
Quem quer um filho, tem que ter o amor e a disponibilidade de conviver
com aquela criança, de educar, se alegrar, sofrer e vencer barreiras que devem
estimular uma adoção. Na verdade quase sempre não é isso o que ocorre,
sempre que tiver um problema relacionado à criança que seja adotada, seja por
não adaptação, por não aprendizado na escola, por ter um gênio difícil, os pais
já pensam em desistir dela.
Então se pode dizer que esses pais quando pensam em adotar acham
que só vão ter momentos bons e felizes, ou então a vida será um conto de
fadas. Eles não levam em consideração que algumas dessas crianças já vêm
com muitos problemas psicológicos, de modo, que isso dificulta a relação.
Devido a isso, quando esses pais se deparam com situações
desagradáveis e problemáticas, entram em depressão sem saber o que fazer,
sempre colocam a culpa na criança, e, por fim, decidem devolver a criança.
A certeza de que é preciso uma preparação moral de um casal ou
mesmo de uma pessoa interessada em adotar sozinha, consistem também em
pesquisas, que devem trazer à luz as motivações reais dos interessados. Não
se prepara moralmente um adulto com algumas conversas, pois ele já tem seu
caráter firmado e dificilmente vai fugir dos padrões morais que já tem
incorporado.
“Uma simples informação a respeito de necessidades morais não é
suficiente na preparação desses pais. Foram vistos muitos fracassos
posteriores por falta de consciência moral, em casos onde inicialmente, houve
preparo e certeza de vocação, que, no entanto, não resistiu ao tempo e as
dificuldades encontradas”. (Freire, 1994, p. 227).
20

Adotar não é um ato de caridade, de benevolência, algo que se faça


pensando no bem-estar do próximo. Adotar deveria ser um ato de simbiose,
pois beneficiaria simultaneamente crianças sem família e família sem crianças.
O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana: a vida, a saúde, a liberdade, ao respeito, a
dignidade, a convivência familiar e comunitária, a educação, cultura, esporte e
lazer, a profissionalização e a proteção ao trabalho, sem prejuízo da proteção
integral, assegurando –se –lhes todas as oportunidades e facilidades, a fim de
lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
A adoção se completa a partir do encontro de duas realidades bastante
evidentes: de um lado, a criança abandonada e carente de um lar, afeto,
atenção, e de uma pessoa que a proteja e a faça sentir digna dos seus direitos;
e do outro lado, uma família desejosa de acolher alguém e dar-lhe a
oportunidade de vida. Essa vontade ou desejo de dar amor a um filho nascida
de você ou não e receber amor desse filho prova que a filiação não se constitui
apenas por vínculos de sangue. Só depende de nós, dos nossos familiares e
da nossa sociedade.
O desejo de adotar uma criança deve nascer desde cedo, ser
compartilhado no seio da família. Ela como um todo deve acompanhar o
amadurecimento do desejo, até que se concretize. Porque a criança vai levar o
nome da família e, para tanto, deve existir plena aceitação da mesma.
Assim, a criança, além de se adaptar rapidamente, se sente mais à
vontade de aprender os hábitos da sua nova família. Se acontecer o contrário,
a criança, na ausência dos que a desejam, nesse caso, os pais, não sente a
vontade e se fecha para o restante da família, não querendo participar das
atividades.
Se a família não for trabalhada em tempo, a criança crescida vai
descobrir na adolescência, que ela não era desejada aos olhos de uma boa
parte dos que até então considerava sua família. O adolescente ao deparar
com essa dura realidade, e todos os valores que tinham crescido nele,
desmanchará, quebrará. Por isso o trabalho com a família deve ser feito com
muita cautela.
21

2.2. O Desenvolvimento Infantil e suas Dificuldades com


relação à separação Materna
A família é insubstituível na criação e educação do ser humano, pois é
através dela que o homem se prepara para a vida. É neste primeiro núcleo
social, considerado como grupo primário, que o individuo participa de suas
primeiras experiências, preparando-se para sua inserção futura nos diferentes
grupos secundários que compõem a sociedade.
“Essas experiências são adquiridas através do relacionamento entre
pais e filhos, possibilitando um fortalecimento na estrutura da personalidade de
cada membro da família, podendo, dessa maneira, o indivíduo desfrutar do
sentido da vida de forma real e objetiva”. (Moraes, 1983, p. 13).

Quando os componentes da família não dispõem de condições


psicossociais e econômicas suficientes para o desempenho de seus encargos,
na maioria das vezes, surge a desorganização de sua estrutura, emergindo
como conseqüência, o desajuste, o abandono e o aparecimento da conduta
anti-social do menor em formação.
“As pesquisas realizadas sobre o desenvolvimento infantil têm cada vez
mais constatadas que a qualidade dos cuidados parentais que uma criança
recebe em seus primeiros anos de vida é de importância vital para a sua saúde
mental futura. Vem se observando, através da experiência, que é essencial
para a saúde do bebê e da criança pequena, a vivência em relação calorosa
íntima e contínua com a mãe biológica ou substituta, na qual ambos encontram
satisfação e prazer”. (Moraes, 1983, p. 13).

O desenvolvimento da criança é um processo que começa no ato da


concepção e evolui de modo contínuo. A relação com o objeto da libido não
está pronta no momento em que a criança nasce, é um resultado de uma
construção lenta e gradual, da qual participam todos os esforços de
crescimento da criança no nível físico, fisiológico, neurológico, cognitivo e
afetivo, durante os oitos primeiros meses de vida.
22

A privação das relações com os pais, no primeiro ano de vida é um fato


muito prejudicial. A criança pode vir a desenvolver doenças conseqüentes da
privação do cuidado maternal e das provisões afetivas vitais, que naturalmente
recebem através do convívio com a mãe. Os bebês já nascem prontos para
receber todo o aprendizado, tempo a tempo ele vai se adaptando.
Agora, um bebê abandonado ou privado da relação familiar não tem a
mesma alegria, a mesma prontidão que os outros bebês têm, ele se fecha para
o mundo e se comporta da seguinte maneira:
● Conforme Moraes (1983), no primeiro mês, a criança torna-se choraminga,
exigente e agarra-se a pessoa que entra em contato com ela.
● No segundo mês, o choro do bebê transforma-se em guincho, perde muito
peso, e o processo de desenvolvimento é prejudicada.
● No terceiro mês, com recusa de contato, ela permanece a maior parte do
tempo deitada de barriga para baixo em seu berço, insônia, perda de peso
contínua, tendência a contrair doenças intercorrentes, generalização do retardo
motor, rigidez da expressão facial.
● após o terceiro mês, a rigidez no rosto se estabelece, os choros são
substituídos por raros gemidos, o retardamento aumenta e transforma-se em
letargia.
● Se a separação ocorrer depois dos três anos, quando a criança já é capaz de
uma estruturação mais adequada do tempo e tem um ego mais fortalecido,
poderá suportá-la melhor, pois poderá prever a volta da figura materna e com
isto, reduzir sua ansiedade.
Os bebês e crianças separados das mães apresentam distúrbios de
natureza diferentes, porque não é possível assegurar a cada criança os
cuidados de um substituto materno único. Porém, todas as crianças nessa
situação manifestam rapidamente um apego espontâneo intenso e a princípio,
com uma ansiedade com relação ao substituto materno. As crianças
estabelecem relações sociais com maior facilidade e se mostram acessíveis às
influências educativas.
Mesmo assim, a cada mudança da figura materna, se causa uma nova e
dolorosa separação, faz com que a criança feche novamente para o
aprendizado e com constante sensação de abandono. Por outro lado, a criança
23

tem a habilidade crescente de representar para si a outra pessoa, em sua


ausência, a imagem dessa pessoa que a criança guarda dentro da sua mente,
lhe fornece a segurança que antes só a presença física dessa pessoa fornecia.
Quanto mais firmemente se estabelece a representação interna, e
quanto mais facilmente a criança puder evocá-la, maiores serão os intervalos
de tempo nos quais ela pode se lançar à exploração de terreno desconhecido.
Com essa exploração a criança descobrirá cada vez mais objetos novos e
pessoas desconhecidas e com a familiarização crescente com eles, irá
atenuando o medo do estranho. Assim, ela vai sustentando esse hábito até que
encontre uma família na qual ela se adapte a novos valores.

2.3. Os Pais Biológicos

Até os dias de hoje, sabe-se pouco sobre os pais que abandonam ou


entregam seus filhos; se existe um acompanhamento desses pais em relação
aos filhos, ainda que esse acompanhamento seja de longe e sem um contato,
sem nenhum tipo de intervenção; como é e como esta sendo a vida desses
pais durante e depois da tomada de decisão no processo de entrega ou de
abandono da criança. Ressalto que algumas características das mães que
entregam ou que abandonam seus filhos.
”São mulheres solteiras, menores de 21 anos, tecnicamente menores de
idade não emancipadas, incapazes, sujeitas ao pátrio-poder de seus próprios
pais; também muitas mulheres solteiras grávidas não comunicam à sua
família primária seu estado de gravidez; em muitos casos são provenientes do
interior do país, que deixaram seu local de origem precisamente para ocultar
sua situação, ou na busca de melhores horizontes. Se forem maiores de idade
poderão recorrer aos organismos de saúde ou jurídicos, separando-se de seus
filhos sem que sua família de origem conheça a existência da criança que foi
entregue em adoção”. (Freire, 1994, p. 77).

Não há referências sobre os efeitos, a curto e longo prazo, provocados


nos pais a respeito da entrega ou abandono dos próprios filhos. A falta de
informação faz com que a sociedade se revolte contra esses pais. A ambígua
24

atitude da sociedade para com eles está bem assinalada pela variedade de
nomes que se lhes outorgam e as reações que estes despertam.
Logo que os passos para uma adoção foram completados, a partir do
momento em que a criança foi entregue aos pais adotivos, os pais biológicos
tornam-se os pais esquecidos, ou seja, ocultos. As instituições de adoção
manejam o critério de que o anonimato e a privacidade para todas as partes
são vitais para o êxito do caso, pelo que quanto mais rapidamente
desapareçam os pais biológicos, melhor para o bem estar de todos. Inclusive
deles mesmos, já que devem padecer ao separar-se de seus filhos.
Devemos levar em conta que aqueles que se separam de seus filhos,
levam, quase com segurança, uma grande carga de angústia, de sensação de
fracasso ou de sentimento de culpa; estes sentimentos podem agravar-se, se
as instituições que decidem a adoção das criança pressionam para realizar
uma separação excessivamente precoce.
“Muitas mães solteiras, especialmente, se jovens, quando decidem
entregar seus filhos, são praticamente forçadas a separar-se de seus filhos
antes mesmo de estar em condições de fazê-lo. Esta pessoa não provém
unicamente das instituições; o grupo social ao qual a mulher pertence orienta
também para duas direções aparentemente opostas, mas, que tem como
conseqüência, impedí-la de trabalhar sobre seus sentimentos ambivalentes e
oferecer-lhe uma oportunidade para elaborar sua decisão”.
(Freire, 1994, p. 77).

Muitas mães acreditam que ao entregar seus filhos, seus problemas


serão solucionados, mas para muitos, a separação é apenas o começo de um
processo, cujos custos afetivos e sociais desconhecemos e sobre cujas
conseqüências emocionais as mães não recebem advertências claras, sendo
apenas desalentos para com os filhos. Essas mães esforçam-se para esquecer
esse filho, para que assim possam seguir a vida e que no futuro, quando
estiverem prontas, passam a formar outra família, e, os filhos que virão a farão
esquecer aquele que ela deixou.
25

Com relação aos homens, é pouco freqüente obter informações


concretas sobre eles. O pouco que se consegue saber é dito, geralmente, pela
mãe da criança.
Segundo Freire (1994) são os vilões que declinaram todas as
responsabilidades e vitimizaram primeiro a mãe, em seguida o filho; ou então
uma absoluta falta de imagem, como se a criança tivesse apenas um
progenitor, a mãe.
E a lógica é clara, para ter um filho é preciso de um homem e uma
mulher, ou então, materiais genéticos dos dois, ainda que a ciência esteja
superando mais e mais barreiras. Sendo assim, a responsabilidade deveria ser
do homem e da mulher.
Muitos homens, ao se relacionar com uma mulher pela primeira vez, não
se preocupa se vai ou não, engravidar a mulher. Estes homens pensam
primeiro em ter prazer, para eles, a mulher é que deve se preocupar com esse
assunto. O problema mais grave é se esse encontro for só um simples “ficar”, e
o casal decide não saber nada, um sobre o outro, ou seja, quando o primeiro é
o último encontro, ele pode engravidar a mulher e ir embora, e nunca mais ser
visto.
A mulher, por sua vez, se desespera sem saber nada deste pai, não
pensa duas vezes e procura abortar ou então abandona o filho depois de
nascer. Enfim, são muitos os casos diferentes, mas, com um mesmo final.
Portanto, é preciso ter mais responsabilidade, tanto por parte do homem como
por parte da mulher, para que um inocente não venha a sofrer.
Na maioria das vezes, quando o suposto pai não é localizado, as mães
alegam dificuldades econômicas, a falta do contexto doméstico favorável, seja
pelo abandono do recém-nascido, pelo pai (muitas vezes o pai sabe, mas não
quer assumir às vezes por dúvida se é ele ou não o pai), seja pela ausência de
respaldo da família da mãe. Devido a isso, muitas mães acabam sendo
influenciadas, quer por familiares, quer pelo pai da criança ou por colaterais.
Em muitos casos, quando as mães decidem entregar os filhos, a adoção
é apresentada como decisão não influenciada; mas que resulta efetivamente
da postura negativa adotada por aqueles que poderiam favorecer a recepção
do recém-nascido.
26

Capitulo III

3.1. Uma Visão Histórica do Abandono

Há muito tempo atrás, os gregos assim como os romanos, controlavam


as suas esposas de modo que não tivessem muitos filhos. O papel do homem
como pai, seja pela tradição ou pela lei, define o papel do homem como aquele
que tem o direito de controlar a fecundidade e a mortalidade do seu filho
gerado pela esposa. Uma mulher que queria ter filhos só podia tê-lo com o
consentimento do marido. Uma gravidez por acidente ou contra a vontade do
marido era vista como infanticídio. O esposo pode expor e abandonar a
criança. Esse ato é tomado com maior naturalidade.
A maneira como vemos o abandono varia no tempo e no espaço,
levando em conta a cultura dominante em cada época.
“Ano de 519, a lei decretou que os filhos nascidos de mulheres ilustres, se
haviam sido procriados dentro do casamento, deveriam ser preferidos aos
concebidos fora dele, pois o respeito à castidade é um dever que se refere
particularmente às mulheres livres de nascimento e de origem ilustre, e deixar
que se designe de bastardos é uma ofensa para o nosso reino. Por isso, os
ilegítimos perdiam o direito a herança da mãe”.
(Justiniano apud Motta, 2001, p. 51).

Na época, muitas mulheres também recorreram ao ato de infanticídio e


abandono dos seus filhos, como forma de esconder a sua desonra e escapar
da punição da sociedade. Em contra partida, elas sofreram com transtornos
psicológicos, por ter que ocultar a gravidez e sofriam sozinhas a dor do parto e,
em seguida, desfazer-se da criança. O preço que essas mulheres pagavam era
muito alto, por não ter poder perante a lei, e perante a sociedade, não podiam
proteger os seus filhos indesejados pelo marido, temiam ser abandonadas
juntamente com o filho e ver o casamento se desfazer.
Então, as mulheres que recorreram ao abandono tinham que ficar com o
segredo, silenciado, que de jeito nenhum podiam falar para alguém. Este tipo
de sofrimento aconteceu por muitos e muitos tempos.
27

Este ato também teve uma grande influência aqui no Brasil. Segundo
Venâncio apud Motta (2001), durante a colonização, surgiu o abandono,
caracterizado pelo abandono de crianças em calçadas e florestas. Por conta de
traição e amores ilícitos, muitas crianças sofreram; uns foram mortos e outros
foram abandonados.
O governo dava o auxílio a essas crianças abandonadas, o acolhimento
nas Santas Casas de Misericórdia, através da roda dos expostos. (Motta,
2001).
No início, o povo apoiava, mas depois, houve protestos contra as
instituições que acolhiam essas crianças abandonadas, alegando que o
acolhimento era uma forma de incentivo para que agissem com mais crianças
abandonadas e que também houvesse mais infidelidades.
O abandono das crianças era mais freqüente nas cidades do que no
interior, porque, além das leis, também existia a punição da Igreja, que não
permitia filhos fora, ou antes, do casamento. Por esse motivo, muitas mulheres
que tiveram filhos, por algum motivo, fora do padrão, escolheram abandonar o
filho para que, assim, pudessem proteger suas famílias para que não houvesse
uma desestruturação. Enquanto que no campo, longe da lei e da punição da
igreja, havia pouco abandono, porque a maioria vivia de pesca e de agricultura,
com trabalhos que exigiam muitos braços. Sendo assim, os filhos ajudariam
nessa atividade, levando em conta que eles começavam a trabalhar desde
cedo.
Então podemos constatar que, na época, as mulheres que abandonaram
os filhos, não abandonavam com a finalidade de dar aos seus filhos uma
chance de vida melhor, mas sim, porque preferiam ser bem vistas na
sociedade.
Podemos observar que, conforme o tempo passa a história do abandono
também muda, e hoje, as mães continuam abandonando seus filhos pelos
mesmos motivos, e por outros motivos que surgiram ao longo do tempo.
Observa-se que, nos dias de hoje, as instituições acolhedoras de crianças
abandonadas aumentaram e muitas crianças, hoje, têm chances de uma vida
melhor dentro de uma nova família, através da adoção.
28

3.2. Abandono

A idéia de abandonar uma criança pode ter vários momentos, desde


aceitar a impossibilidade de criá-lo, a rejeição, ou ainda, aceitar a frustração do
amor e do desejo maternal.
Para muitas pessoas, no processo de abandono a mãe biológica é uma
mulher desnaturada, sem coração e que depois de nove meses de contato com
o filho, não conseguiu desenvolver qualquer vinculação com o bebê. É bom
lembrar que, o fato da mãe permanecer com a criança sem ter ciência dos
motivos e das conseqüências de sua decisão pode ser igualmente desastroso;
como falta de assistência maternal, criação, educação, e moralidade, tudo isso
também pode ser considerado abandono.
Por outro lado, a difícil e a dolorosa experiência de abandonar um filho
vem a passar com o tempo, pois o que se verifica é que a tristeza e o remorso
freqüentemente se fazem presentes quando tudo parece estar concluído.
Muitas delas criam seus filhos em suas mentes; outras evitam novos
relacionamentos devido ao medo, vergonha e culpa; algumas se referem às
dificuldades na maternagem de outros filhos, transformando-se em mães
afetivamente distantes ou prejudicialmente superprotetoras.
A atribuição às mães, de certa anormalidade psíquica ou uma disfunção
de caráter são as saídas encontradas por elas.
Quando não conseguem se livrar dessa angústia que fica na mente
delas por toda vida, elas acabam se atrapalhando na forma de educar os filhos
e, até mesmo, na convivência no seio familiar.
“As definições jurídicas do abandono de crianças são ligadas ao
exercício do pátrio poder e da guarda, e têm sido consideradas suficientes para
apoiar a prática da adoção e da colocação de crianças em instituições ou lares
substitutos”. (Motta, 2001, p. 39).

A ignorância por parte dos pais, sobre a possibilidade da adoção, a


existência de dificuldades pessoais ou mesmo de preconceitos do meio social,
onde uma solução desse gênero é vista como altamente condenável. Devido a
isso, muitas mães assustadas com a condenação tomam a decisão de
29

abandonar o filho recém-nascido logo após o parto, muitas deixam-no no


hospital, para que os familiares, os vizinhos e amigos não tomem
conhecimento da existência da criança.
Com certeza deve ser difícil abandonar uma criança, principalmente
essa criança sendo o seu próprio filho, que não pode fazer nada mais, além de
chorar. Muitas mulheres quando tomam a decisão de abandonar, preferem que
seja num lugar deserto como, mato, terrenos baldios, praias desertas e alguns
outros lugares que não sejam muito movimentados. Tudo isto, por conta do
sigilo e anonimato.
São muitas as causas que levam uma mãe a abandonar seu filho, uma
parte destas mães, abandona por medo da crítica feroz da família que não
aceita, ou não sabia do relacionamento proibido; outras, por serem
abandonadas pelos parceiros em função da gravidez; outras, ainda, por não ter
lugar para morar, sem emprego, e por serem ameaçadas e obrigadas a
abandonarem o filho, por problemas mentais, questões econômicas e por não
ter amor à criança e, ainda, por simplesmente não querer ser mãe.
É de se observar que a maioria dos casos de abandono se dá nas
famílias pobres, de baixa condição econômica. No caso das famílias com uma
condição econômica estável ou alta, as mães recorrem à prática do aborto.
Desde sempre, na sociedade, existe o mito que já faz parte da nossa
cultura, é o do amor maternal; sendo assim, mulheres que escolheram não ter
filhos e nem mesmo cuidar de tal, eram consideradas anormais, com algum
tipo de problema, ou seja, ela é vista como uma desviante. Durante muitos
séculos, os homens achavam que as mulheres nasciam exclusivamente para
um único objetivo, para dar a luz e cuidar dos filhos; hoje muitas delas não
querem ter filhos e nem mesmo se casar. A vida da mulher foi mudando a partir
do momento em que elas ganharam o direito de expressão e de trabalhar,
assim como os homens.
“Quando se diz que a vergonha e o medo de desafiar o mito do amor
materno têm levado muitas mulheres a preferir abandonar sorrateiramente
suas crianças em portas alheias, em latas de lixo e em locais, os mais
variados, a fim de não terem de abrir mão voluntariamente de o pátrio poder,
30

tornando assim pública a sua ausência de condição materna e afetiva para


exercer a maternagem.” (Santos, apud Motta, 2001, p. 71).

A situação do menor abandonado que esteja, ou não, institucionalizado,


é o problema fundamental que devemos enfrentar. A criança vive a perda de
seus entes queridos, do afeto, da proteção, e isso a marcará, de tal forma que,
em muitos casos, uma vez adulta, ela reproduzirá o seu próprio abandono.
Devemos ter muitos cuidados quando nos relacionamos com uma
criança, principalmente, sendo ela abandonada; a criança abandonada, o que
ela mais sente, é que não é importante para ninguém. Então, se nós lhe
dermos a noção de que ela é querida, de que ela é importante, com certeza ela
se integrará, e retribuirá o amor que recebeu.
A questão da criança abandonada é um problema que tem que ser
trabalhado com muita cautela. Há que se saber como e onde colocar uma
criança nessas condições. Uma família intacta raramente oferece à criança,
elementos necessários para seu crescimento, como por exemplo: o sentimento
de ter o seu lugar permanente, a estimulação de suas capacidades inatas, a
estimulação de suas potencialidades, assim como outras coisas.
A tomada de consciência dessas imperfeições deveria conduzir a lei a
colocar em cada caso a seguinte questão: retirar uma criança do seu meio, por
mais imperfeito que ele seja, terá os benefícios desejados para a criança?
Esses critérios devem ser vistos para proteger todas as famílias, pobres ou
ricas, pertencentes aos diversos setores da população, que sejam famílias
biológicas, famílias adotivas ou famílias de acolhimento.
Como podemos ver, existem dois tipos de abandono, abandono legal ou
tardio e abandono ilegal ou precoce. O abandono legal ou precoce, permite
respeitar o desejo dos pais, por suas incapacidades de criar o filho, ao mesmo
tempo em que oferece à criança a possibilidade de pertencer a uma família
onde será desejada, e onde serão satisfeitas suas necessidades físicas e
afetivas.
“Não se trata de uma solução de facilidade, nem de uma recompensa
injusta aos pais que rejeitam seu filho. Trata-se de proteger certas crianças que
de um risco previsível, logo, evitável. É um meio de tentar responder a
31

necessidade de toda criança de ser amada e de amar. Sendo que os pais que
rejeitam a sua criança se beneficiam, também, desse direito, que lhe é
reconhecido. Entretanto, é o bem-estar da criança, o valor soberano, que deve
ser protegido.” (Freire, 1994, p. 67).

O abandono ilegal ou tardio se dá por desinteresses progressivos dos


pais, como no caso de abandono do recém-nascido, na via pública, ou na
maternidade, desconhecendo-se o paradeiro da mãe, como já tinha citado
anteriormente. Os pais apagam todo o histórico de vida dessa criança,
deixando-a em brancas informações precisas para a vida futura.
É certo que devemos respeitar as dificuldades e os sofrimentos destas
famílias, porque muitos também sofrem com essa situação, mais não é
aceitável sacrificar todo o futuro de uma criança só pelo medo de enfrentar as
críticas. Existem famílias, que por não ter o que comer e nem vestir, tomam a
decisão de colocar (abandonar) seu filho em uma instituição, onde são
sustentados e educados por outras pessoas. Os pais vão visitar os filhos uma
vez ou outra, até desistirem e não aparecerem nunca mais para levar os filhos
para suas casas. Os anos passam e a criança vai crescendo sem se beneficiar
de um ambiente familiar de que precisaria para se desenvolver e preparar o
seu futuro.
Dizer, ou de qualquer maneira, fazer sentir a uma criança adotada, que a
sua mãe foi má, não gostou dela, porque a abandonou, é uma atitude
inutilmente cruel. Se isto acontecer, irá aumentar na criança, a curiosidade, a
inquietação e, mesmo, a angústia ligada à sua origem. Conseqüentemente, a
relação com os pais adotivos será também perturbada, uma vez que tenderão
a passar de bons a beneméritos, de pais a benfeitores, de pessoas a quem
espontaneamente se ama, a pessoas a quem se deve gratidão.
“A responsabilidade pelo abandono é social, e comunitária. Na medida
em que as comunidades tiverem preocupação com a criança abandonada,
algumas coisas sempre poderão ser feitas para minimizar a extensão do
problema. O abandono, considerado como um todo, não tem solução a curto
ou médio prazo, pois que depende de inúmeras variáveis de ordem sócio-
político e econômico. Um caso de abandono, porém, pode encontrar a solução
32

desde que por ele se interesse a comunidade, pela individualidade de seus


membros.” (Freire, 1994, p. 214).
A comunidade reunida é capaz de estabelecer um projeto de vida para
as crianças abandonadas, seja os encaminhando para um lar substituto, seja
acolhendo-as em pequenos abrigos. É um trabalho árduo, que exige
desprendimento e abnegação. Assim facilitaria o trabalho de muitas instituições
acolhedoras dessas crianças, de cada comunidade.
33

CONCLUSÃO
Muitas são as famílias que querem adotar crianças, muitas são as
crianças sem famílias, mas, muitos também são os problemas que envolvem a
adoção no Brasil.
Incontáveis crianças são abandonadas por pais logo que nascem e são
encaminhadas a instituições que as abrigam e que devem ter um caráter
transitório, ou seja, ali elas deveriam ficar até que pudessem ir para uma
família substituta.
Infelizmente, a maior parte dessas crianças cresce e se desenvolve sem
conhecer o que é uma família. Não que não existam famílias que as queriam,
mas, por não estarem juridicamente em condições de serem adotadas. Para
que uma criança esteja em condições de adoção, primeiramente, ela não deve
ter vínculo familiar. Quando abandonadas, não se tem o nome dos pais e seus
endereços, ou, quando se tem, não são encontrados; e se as crianças têm
esses vínculos elas estão disponíveis para adoção. É preciso entrar
juridicamente com a destituição de o pátrio poder.
O Ministério Público tem legitimidade para propô-la, independentemente
de uma ação de adoção, para que desta forma, e aí já em condições de
adoção, estas crianças possam ser apresentadas às famílias interessadas.
A experiência tem mostrado ser a adoção um instituto em que se pode
confiar e que pode ser convertido numa autêntica filiação, apresentando-se
como uma solução eficaz, não só para os casais sem filhos, mas, sobretudo,
no atendimento a infância abandonada ou privada dos cuidados mais
elementares.
“A adoção, em sentido estrito, significa o processo jurídico através do
que se estabelece independente do fato normal da procriação, o vínculo da
filiação. Adoção em sentido amplo significa o ato de assumir, aceitar, usar,
resolver receber como filho.” (Moraes, 1983, p. 65).

Em conformidade com o que preconiza a nova doutrina, sentimos que é


grande a responsabilidade da sociedade em relação à criança. Maior ainda é a
34

responsabilidade daqueles que, conscientemente, exercem a paternidade pela


adoção, aceitação voluntária e legal de uma criança como filho.
É hora de cumprir nosso dever como cidadão, pais e educadores. Não
podemos individualizar os fatos, mas sim entendê-los como manifestações
sociais.
“No Brasil, é imprescindível criar uma nova cultura da adoção.
Entendemos que adotar é acima de tudo um ato de amor, mas é também um
ato de cidadania e respeito ao ser humano. Aquele ser que você adotou, ou vai
adotar, não pediu para nascer, mas tem o direito de viver, viver dignamente,
sob todos os aspectos. Ter uma família é fundamental”. (Freire, 1994, p. 174).

Ele merece a nossa luta, nosso trabalho para que o seu mundo, o nosso
mundo, seja melhor, sem preconceitos. Não é necessário que ele seja visto e
rotulado pela sociedade como filho adotivo, às vezes no sentido pejorativo. Ele
é filho, isto basta você o quis você o assumiu de forma expressiva pela adoção;
não importa sua procedência, sua cor, sua origem.
Precisamos abraçar a causa, ir à luta e desmistificar os preconceitos que
dificultam a adoção e a educação de nossos filhos. Precisamos reivindicar junto
ao órgão de representatividade judicial, para que estes não negligenciem as
novas leis que estão para serem postas em prática, e que não sejam
interpretadas de forma distorcida, dando origem às injustiças, mas sim
adequadamente, buscando soluções reais e precisas, e que suas aplicações
possam assegurar, com prioridade, todos os direitos da criança e do
adolescente, proporcionando-lhes proteção integral.
A sociedade precisa saber que um filho adotivo é tão ou mais importante
que um biológico. Um filho da barriga às vezes vem sem os pais quererem,
mas, o do coração é sempre muito, muito esperado. Com a convivência, ele se
torna parecido com os pais adotivos. Não deviam existir critérios para a escolha
da criança, como já se falou exaustivamente, é preferível efetuar a adoção o
mais precocemente possível.
Toda criança sem lar é, por definição, adotável, e é desejável que ela
seja recebida por uma família, independentemente de sua idade, cor, saúde,
origens. A adoção de crianças deficientes é a isenção com que o tema deve
35

ser tratado; nem os pais que entregam os filhos para adoção devem ser alvos
de execração pública, nem os que os recebem devem ser vistos como
benfeitores.
As situações de adoção envolvem muitas variáveis, mas, existe uma
predominância, a dos casais estéreis de classe média para cima, da
preferência por crianças recém-nascidas, com características físicas
semelhantes a dos pais adotivos. Por outro lado, nas camadas mais pobres da
população é muito comum a figura do “filho de criação”, do agregado, da
criança acolhida depois de abandonada no portão, da criança dada pela mãe.
O que se observa é que a adoção é vista como um empreendimento
ousado e arriscado, ou como uma prova de generosidade dos pais. São ambas
as atitudes mistificadoras que só fazem prejudicar a criança, levando-a a se
sentir diferente. O ideal é que a adoção seja conhecida e “esquecida”, por
todos, que não sirva para explicar todos os comportamentos, desvios, opções
de vida do indivíduo.
A adoção é uma circunstancia de vida que não deve ser julgada ou
supervalorizada. Estou certa de que, atingido este estágio ideal de naturalidade
diante da adoção, muito mais crianças poderão conhecer a felicidade de ser
criadas em lares normais, com erros e acertos, mas, sobretudo, com amor.
Com relação à diferença de cor, penso que o maior problema não estaria
necessariamente nos pais adotivos, se eles foram preparados para essa
aceitação, mas, no preconceito existente na nossa sociedade, que infelizmente,
ainda não está preparada para aceitar, com naturalidade, diferenças raciais. No
caso de crianças que apresentam deficiências, tal preconceito estaria, sim, nos
pais adotivos.
Portanto, enfatizo o que coloquei anteriormente, para se adotar uma
criança de qualquer idade, raça ou portadora de alguma deficiência, o
importante mesmo é acreditar que ela é para nós uma dádiva de Deus.
É preciso lembrar sempre que a adoção é uma pista de mão dupla, que,
como as crianças, a família também tem seus limites. Tomando como exemplo,
o caso das adoções inter-raciais, elas só terão sucesso se resultar de
movimento bastante natural, de dentro para fora, partindo dos pretendentes.
36

Somente assim, os pais terão a tranqüilidade e a postura necessária para


enfrentar as críticas e os preconceitos que infelizmente ainda existem.
É fundamental que seja dada ao filho adotivo a chance de se sentir
amado, desejado e, principalmente, respeitado. E isso só será possível se o
seu passado, e suas raízes, forem olhados de frente, sem medo ou
preconceito, não como um fantasma que ameaça a estabilidade da família,
mas, como um pedaço da vida vivida por seus membros.
Os pais têm para oferecer aquilo de que as crianças precisam, e elas, as
crianças têm para dar aos pais aquilo de que mais anseiam. É um casamento
perfeito.
“A possibilidade de adoção pela criança, e não pela impossibilidade de
ter filhos deveria ser veiculada em todos os meios através de uma ponderação
de cunho filosófico, psicológico e espiritual. Mostrar intensamente a vida das
crianças abandonadas em orfanatos, como meio determinante de futuras vidas
marginalizadas. Mostrar, de forma inteligível, a teoria do apego, e da
necessidade de uma criança ter um lar, e pessoas seguras para conviver.
Ressaltar que o laço sangüíneo não é absolutamente necessário para o
envolvimento afetivo. Enfatizar as altas probabilidades de crianças
abandonadas, e sem vínculos afetivos fortes, entrarem para o caminho da
marginalização. Com tais informações é possível sensibilizar boa parte da
população sobre o tema da adoção.” (Freire, 1994, p. 217).
37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂMARA DOS DEPUTADOS, ESTATUTO DE CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE, 3ª edição, Brasília – 2001.
FREIRE, Fernando (org.) Abandono e Adoção: contribuições para uma cultura
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São Paulo: Cortez Editora, 2001.
MORAES, Maria M. de. Abandono e Adoção: algumas repercussões
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ITABORAÍ, Nathalie R.. A proteção social da família brasileira contemporânea:
reflexão sobre a dimensão simbólica das políticas públicas.

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