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Social no Brasil
Prof. Joel Haroldo Baade
Prof. Joel Cezar Bonin
2013
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof. Joel Haroldo Baade
Prof. Joel Cezar Bonin
101
B111p Baade, Joel Haroldo
Pensamento filosófico e social no Brasil / Joel Haroldo Baade;
Joel Cezar Bonin. Indaial : Uniasselvi, 2013.
270 p. : il
1. Filosofia – Teoria.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Impresso por:
Apresentação
A filosofia e a sociologia fazem parte do nosso cotidiano, embora
muitas vezes, não nos damos conta disso. Por essa razão, a presente
disciplina tem como proposta aproximar a reflexão filosófica e sociológica
daquilo que vivemos em nosso dia a dia, para que possamos compreendê-
lo melhor. Além disso, o foco desta disciplina não é tanto que você, caro(a)
acadêmico(a), “decore” os conteúdos, mas que participe da reflexão e, desse
modo, exercite a capacidade de pensar filosófica e sociologicamente.
Bons estudos!
III
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
UNI
IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL...... 1
VII
3.3.1 O pragmatismo........................................................................................................................ 73
3.3.2 A fenomenologia...................................................................................................................... 73
3.3.2.1 Edmund Husserl................................................................................................................... 74
3.3.2.2 Martin Heidegger................................................................................................................. 75
3.3.2.3 Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir............................................................................. 76
4 A FILOSOFIA DA LINGUAGEM...................................................................................................... 77
4.1 JÜRGEN HABERMAS E A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA........................................ 78
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 80
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 83
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 84
VIII
UNIDADE 3 – PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL......................................181
IX
X
UNIDADE 1
PENSAMENTO FILOSÓFICO E A
COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontrará
atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), o pensamento filosófico tem grande importância
para o pensamento social, pois ele é reflexo e aprofundamento deste. Você
já estudou a história da filosofia. Contudo, é necessário retomarmos alguns
aspectos do pensamento filosófico ao longo da história da humanidade para
entendermos em que medida eles contribuíram para a formação do pensamento
atual, especialmente o pensamento social brasileiro.
Veremos que com a perda da autonomia política da Grécia, após ela ser
invadida por vários impérios, também a filosofia sofre mudanças. Gradativamente,
as preocupações dos filósofos se voltam para o sobrenatural, pois neste mundo
já não havia muitas perspectivas para se viver uma vida em plenitude. Esse foi o
período do helenismo.
3
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Para ilustrar como a vida em sociedade exige dos indivíduos uma maior
capacidade de articulação, é interessante fazer uma analogia com o programa
Big Brother Brasil (BBB), da Rede Globo de Televisão. Enquanto os indivíduos
estão vivendo de forma isolada, distantes um do outro, há pouca necessidade de
esforço que possibilite a convivência.
4
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Feita esta reflexão inicial, vamos nos ocupar a seguir com alguns fatores
e mudanças na organização da vida social, que propiciaram o surgimento do
pensamento filosófico e que serviriam de base para a estruturação de todo o
pensamento racional humano posterior.
5
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Ela foi fundamental, isto sim, porque as pessoas puderam navegar para
locais cada vez mais distantes na Terra e, aos poucos, foram se dando conta
de que as criaturas mitológicas ou a própria imagem que se tinha do mundo,
transmitidas através dos mitos, não correspondiam à realidade.
6
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Nesse sentido, Marilena Chauí (2008, p. 37) acentua que, com o calendário,
foi possível:
Calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos
importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de
abstração nova ou uma percepção do tempo como algo natural e não
como uma força divina incompreensível.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
8
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Heráclito viveu entre os anos 544 e 484 a.C.. Ele nasceu em Éfeso, na
Jônia, que nos dias atuais é a Turquia. A sua grande preocupação foi entender a
multiplicidade do real. Ao olhar o mundo, percebia que ele não era uniforme, mas
que tudo estava em constante transformação. Heráclito não rejeita as contradições
do mundo e procura entendê-lo em sua dimensão de mudança, ou no seu devir.
TUROS
ESTUDOS FU
9
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
UNI
Mais adiante, no século XVI, esta ideia irá ser retomada por René Descartes,
quando este acentuar o papel da razão na construção do conhecimento. Mas isto é assunto
para o segundo tópico deste estudo.
2.3 OS SOFISTAS
A atuação dos sofistas destoa bastante da reflexão dos filósofos pré-
socráticos. Isto se deve, em boa medida, porque os seus interesses são distintos.
10
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
O ser bom era definido a partir das leituras de Homero e Hesíodo, por
exemplo, que descreviam as características dos heróis, cujas virtudes eram
admiradas pelos deuses, sendo a principal delas a coragem diante da morte na
guerra. A coragem aparece como importante elemento na luta de Heitor e Aquiles,
contada por Homero e retratada no cinema através do filme "Troia".
DICAS
11
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Conforme Chauí (2008, p. 40), "a virtude era a aretê (palavra grega que
significa 'excelência e superioridade'), própria dos melhores, ou, em grego, dos
aristoi." Daí deriva a palavra aristocracia, que quer dizer o governo dos melhores.
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
2.4 SÓCRATES
Como já vimos no ponto anterior, Sócrates não simpatizava com os sofistas.
Em primeiro lugar, pelo fato de eles cobrarem pelo ensino que ministravam, mas
também porque Sócrates não aceitava a possibilidade de se defender qualquer
ideia somente para que se pudesse ganhar um debate em praça pública.
Mas, quem foi Sócrates e quais foram as suas principais ideias filosóficas?
FIGURA 2 – SÓCRATES
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Por essa razão, Sócrates logo passou a ser visto como um perigo pelos
poderosos de Atenas e considerado alguém que estava corrompendo a juventude
com as suas ideias. Ele foi levado perante a assembleia da cidade e foi julgado
culpado, sendo obrigado a tomar veneno, a cicuta. Sócrates não se defendeu das
acusações, dizendo que não as aceitava. Também não abriu mão de suas ideias e
da liberdade de pensar e, dessa forma, preferiu a morte. (CHAUÍ, 2008).
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
DICAS
MATRIX
2.5 PLATÃO
Platão foi discípulo de Sócrates, como já referido acima, e desenvolveu
o pensamento do seu mestre. Muitas vezes é difícil saber onde termina o
pensamento de Sócrates e em que ponto começa o de Platão. Platão viveu em
Atenas entre os anos 428 e 347 a.C., onde fundou uma escola chamada Academia.
O seu pensamento pode ser mais bem compreendido a partir de uma análise do
seu famoso "Mito da Caverna".
DICAS
A seguir vamos ler este trecho da obra de Platão, no livro VII de “A República”.
Platão narra este mito como se fosse um diálogo entre Sócrates e alguém chamado Glauco.
Sócrates – [...] Pense em homens encerrados numa caverna, dotada de uma abertura que
permite a entrada de luz em toda a sua extensão da parede maior. Encerrados nela desde a
infância, acorrentados por grilhões nas pernas e no pescoço que os obrigam a ficar imóveis,
podem olhar para a frente, porquanto as correntes no pescoço os impedem de virar a cabeça.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Atrás e por sobre eles, brilha à distância uma chama. Entre esta e os prisioneiros delineia-
se uma estrada em aclive, ao longo da qual existe um pequeno muro, parecido com os
tabiques que os saltimbancos utilizam para mostrar ao público suas artes.
S. – Suponha ainda, ao longo daquele pequeno muro, homens que carregam todo tipo
de objetos que aparecem por sobre o muro, figuras de animais e de homens de pedra, de
madeira, de todos os tipos de formas. Alguns dentre os homens que as carregam, como é
natural, falam, enquanto outros ficam calados.
S. – Malgrado isso, são semelhantes a nós. Pense bem! Em primeiro lugar, deles mesmos e
de seus companheiros poderiam ver algo mais do que sombras projetadas pela chama na
parede da caverna diante deles?
G. – Impossível, se foram obrigados a ficar por toda a vida sem mover a cabeça.
S. – E não se encontram na mesma situação no tocante aos objetos que desfilam perante
eles?
G. – Certamente.
S. – Supondo que pudessem falar, você não acha que considerariam reais as figuras que
estão vendo?
S. – E se a parede oposta da caverna fizesse eco? Quando um dos que passam se pusesse a
falar, você não acha que eles haveriam de atribuir aquelas palavras à sua sombra?
S. – Então para esses homens a realidade consistiria somente nas sombras dos objetos.
S. – Vamos ver agora o que poderia significar para eles a eventual libertação das correntes
e da ignorância. Um prisioneiro que fosse libertado e obrigado a se levantar, virar a cabeça,
a caminhar e a erguer os olhos para a luz, haveria de sofrer ao tentar fazer tudo isso, ficaria
aturdido e seria incapaz de discernir aquilo de que antes só via a sombra. Se a ele se dissesse
que antes via somente as aparências e que agora poderia ver melhor porque seu olhar está
mais próximo da realidade e voltado para objetos bem reais; se lhe fosse mostrado cada
um dos objetos que desfilam e se fosse obrigado com algumas perguntas a responder o
que era isso, como você acha que ele haveria de se comportar? Você não acha que ficaria
atordoado e haveria de considerar as coisas que via antes mais verdadeiras do que aquelas
que são mostradas agora?
II.
Sócrates – Se fosse obrigado a olhar extremamente para a luz, não haveria de sentir os olhos
doloridos e não tentaria desviá-los e dirigi-los para o que pode ver? Não haveria de acreditar
que isto seria na realidade mais verdadeiro do que agora se quer mostrar a ele?
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Glauco – Certamente.
S. – E se alguém o tirasse à força dali, fazendo-o subir pela áspera e íngreme subida,
libertando-o somente depois de tê-lo levado à luz do sol, o prisioneiro não sentiria dor e
ao mesmo tempo raiva por ser assim arrastado? Uma vez fora, à luz do dia, por acaso não é
verdade que, com seus olhos cegados pelos raios do sol, não conseguiria contemplar sequer
um só dos objetos que agora nós consideramos reais?
S. – Acho que precisaria de tempo para habituar-se a contemplar essas realidades superiores.
Primeiramente, haveria de ver com a maior facilidade as sombras, depois as figuras humanas
e todas as outras refletidas na água e, por último, poderia vê-las como são na realidade. Após
isso, seria capaz de filtrar os olhos nas constelações e contemplaria o próprio céu à noite, à
luz das estrelas e da lua, mais facilmente que durante o dia, sob o esplendor do sol.
S. – Acho que, por fim, haveria de contemplar o sol, não sua imagem refletida na água ou em
qualquer outra superfície, mas em sua realidade, assim como realmente é, em seu próprio
lugar.
G. – Perfeito.
S. – Depois passaria a refletir que é o sol que produz as estações e os anos, que governa
todos os fenômenos do mundo visível e que, de algum modo, é ele a verdadeira causa
daquilo que os prisioneiros viam.
G. – Obviamente.
G. – Sim, acho que aceitaria sofrer qualquer tipo de privação, antes de retornar a viver
daquela maneira.
G. – Certamente.
S. – Se, enquanto tivesse a vista confusa pelo tempo que se passaria antes que os olhos se
acostumassem novamente com a obscuridade, devesse avaliar novamente aquelas sombras
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
e apostasse com aqueles eternos prisioneiros, você não acha que passaria por ridículo e
dele diriam que sua saída lhe havia arruinado a vista e que sequer valia a pena enfrentar
essa subida? Não haveria de ser morto aquele que tentasse libertar e fazer subir os outros,
bastando para isso que o tivessem entre as mãos para matar?
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
DICAS
NOTA
Portanto, Sócrates e Platão foram sérios críticos dos sofistas, que aceitavam como
verdadeiros os conhecimentos formados pela experiência sensível. Segundo os filósofos,
esta forma a mera opinião, ou dóxa em grego, que poderia variar de pessoa para pessoa,
conforme cada circunstância particular. A preocupação da filosofia, por sua vez, deveria ser
com o conhecimento verdadeiro, alcançável unicamente pelo pensamento. (CHAUÍ, 2008).
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
2.6 ARISTÓTELES
O tempo de atuação de Aristóteles é caracterizado na história da
filosofia como período sistemático. Isso se deve ao fato de que o filósofo tem um
papel fundamental na organização e sistematização do pensamento filosófico
desenvolvido até então e, ainda, ao seu aprofundamento.
Aristóteles viveu entre os anos de 384 e 322 a.C. Ele frequentou a Academia
de Platão e a sua fidelidade ao mestre é relativa. O filósofo desenvolveu o
pensamento de Platão e o aprofundou, mas também foi divergente em muitos
aspectos. Entre os principais aspectos críticos estava a compreensão de um
mundo separado das ideias.
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
pessoa for velha, nova, obesa ou magra, ou então tiver cabelos longos ou nem
sequer tiver cabelo, isso não faz com que ela deixe de ser um ser humano.
21
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
NOTA
Há uma discussão muito séria, atualmente, sobre qual seria o momento em que
o óvulo passa a ser um ser humano. Esta polêmica, normalmente, está associada à discussão
sobre o aborto. Então, caro(a) acadêmico(a), quando ocorre a passagem da simples matéria
para a vida humana? Pense a respeito!
a) A causa material: é aquilo de que uma coisa é feita. Ela é determinante, pois
de um monte de pedras não se pode esperar um ser humano. Mas as pedras
podem ser transformadas em uma estátua.
b) A causa eficiente: é aquilo com que a coisa é feita. Para que as pedras virem
esculturas, é preciso que haja um escultor.
c) A causa formal: é aquilo que a coisa vai ser. No caso das pedras, a estátua é a
causa formal, especificamente a imagem feita na mente do escultor. Quando
ele vê a pedra, ele já é capaz de imaginar em seu lugar a estátua pronta.
d) A causa final: é aquilo para o qual a coisa é feita. A estátua pode ter a finalidade
de servir de decoração ou homenagear alguma pessoa importante.
22
TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Desse modo, com uma única teoria, Aristóteles foi capaz de reunir
os pensamentos de Parmênides e Heráclito e superar o mundo separado das
ideias proposto por Platão. O sistema aristotélico contempla ao mesmo tempo
a imutabilidade do mundo e as mudanças. Com Aristóteles se concretiza
definitivamente a mudança na mentalidade da antiguidade de uma esfera
sobrenatural e mítica para uma mentalidade racional e orientada exclusivamente
para a esfera imanente. Não era mais necessária a recorrência à transcendência
para explicar o cotidiano.
Por isso, Aranha e Martins (2003, p. 124) dizem que "toda a estrutura
teórica da filosofia aristotélica desemboca no divino". Vejamos: se todas as coisas
têm uma causa, como propôs Aristóteles, então nos restam duas possibilidades
para explicar a origem do universo. Ou ele é infinito, de modo que não haja uma
origem, mas cuja ideia é difícil de ser apreendida pela razão humana; ou então
ele é finito e, nesse caso, é preciso que haja um princípio gerador. Como princípio
primeiro, é preciso que seja diferente de todas as outras coisas, pois não pode ser
fruto de uma causa anterior.
Além das questões acima, Aristóteles ainda se ocupou com o tema da ética,
que é extremamente atual, se considerarmos os inúmeros escândalos políticos,
financeiros e as recorrentes denúncias de corrupção (TRIGO, 2009). Se o mundo é
organizado a partir do princípio de causas e efeitos, então o comportamento das
pessoas produz efeitos, que podem ser bons ou ruins. Desse modo, a ação humana
deve ser direcionada de tal forma a produzir os melhores efeitos possíveis. A ação
humana exige responsabilidade, segundo a teoria aristotélica.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
DICAS
UNI
Como Leitura Complementar para este tópico, caro(a) acadêmico(a), você tem
à disposição uma breve apresentação da lógica aristotélica.
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
LEITURA COMPLEMENTAR
A LÓGICA ARISTOTÉLICA
1- Princípio de Identidade: A é A.
2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo tempo.
3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade.
Afirmativas: S é P.
Negativas: S não é P.
Universais: Todo S é P (afirmativa) ou Nenhum S é P (negativa).
Particulares: Alguns S são P (afirmativa) ou Alguns S não são P (negativa).
Singulares: Este S é P (afirmativa) ou Este S não é P (negativa).
Necessárias: quando o predicado está incluso no sujeito (Todo triângulo tem três
lados).
Não necessárias ou impossíveis: o predicado jamais poderá ser atributo de um
sujeito (Nenhum triângulo tem quatro lados).
Possíveis: o predicado pode ou não ser atributo (Todos os homens são justos).
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
AéB
Logo, B é C (sempre os termos maior e menor).
CéA
AéB
Logo, B é C
CéA
Outro exemplo:
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
Formalmente o argumento é A é B
CéB
31
RESUMO DO TÓPICO 1
• Não se trata de um curso de filosofia, mas é preciso resgatar as ideias dos
principais pensadores de cada período para compreender, posteriormente,
como estas ideias estão na raiz do pensamento filosófico e sociológico moderno.
• Sócrates, Platão e Aristóteles, por sua vez, quiseram entender a essência das
coisas e acusavam os sofistas de serem inimigos da verdade, pois usavam de
todas as artimanhas para ter o apoio das outras pessoas. De Aristóteles, ainda
herdamos os fundamentos do pensamento lógico.
32
AUTOATIVIDADE
33
34
UNIDADE 1
TÓPICO 2
1 INTRODUÇÃO
As palavras “moderno” e “modernidade” têm muitas significações e são
empregadas das mais variadas formas. Aqui, vamos usá-las para nos referirmos
ao período histórico em torno do século XVI, que trouxe grandes mudanças
para todas as esferas do conhecimento humano. Ao longo deste tópico vamos
nos ocupar com estas mudanças e perguntar o que elas representaram e ainda
representam para o pensamento filosófico e sociológico.
Para analisar o período, vamos iniciar com uma breve análise do contexto
histórico do século XVI e ver quais foram as mudanças mais significativas desse
período, ressaltando aquelas que foram decisivas para o surgimento de novas
formas de pensar. Veremos que muitos dos fatores que contribuíram para o
surgimento da filosofia lá na Grécia antiga irão se repetir na modernidade. Uma
das características da modernidade é a recuperação da antiguidade grega, por
isso o período também é chamado de Renascença.
35
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Até então, acreditava-se que o mundo era plano e que, no oceano, além
da linha do horizonte, ele acabaria num grande abismo. Além disso, achava-se
que a Terra era o centro do universo. No século XVI, com as grandes navegações
e com as novas descobertas das ciências que estão nascendo, comprova-se que
a Terra é uma esfera e que ela, na realidade, ocupa lugar periférico e quase
insignificante diante da vastidão do universo.
36
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
NOTA
Figura ainda mais central para a história da ciência é Isaac Newton (1642-
1727) (TRIGO, 2009). O desafio que ele se propôs resolver foi determinar qual seria
a força que mantém a unidade do universo. Nesse contexto, é famosa a história do
pomar de maçãs, no qual um fruto teria caído na cabeça de Newton, levando-o a
elaborar, anos mais tarde, a teoria da gravidade.
Perguntava-se ele: por que as maçãs caem para baixo, e não para cima
ou para os lados? Newton revisou as teorias dos seus antecessores e, desse
modo, ofereceu contribuição decisiva para a invenção do cálculo, em suas bases
primordiais matemáticas; criou um sistema de física matemática e "traçou um
quadro preciso do sistema solar na obra Principia", de 1687.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
DICAS
Mas não foi somente no âmbito das ciências que o século XVI representou
uma mudança radical. No âmbito da própria Igreja cristã, as novas formas de
pensar, as descobertas das ciências e as mudanças sociais e políticas levaram à
formulação de novas perspectivas.
DICAS
FIGURA 8 – LUTERO
38
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
39
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
E
IMPORTANT
A partir dos séculos XIV e XV, o poder da Igreja decresce e o poder dos
reis aumenta. Progressivamente, mais poder é concentrado nas mãos desses
governantes. Dessa nova situação surge uma nova pergunta, de ordem político-
filosófica: de que forma essa nova configuração de sociedade e especialmente a
direção desses Estados deveriam organizar-se para que tudo transcorra da melhor
maneira possível? A estas perguntas tentou responder Nicolau Maquiavel.
Queria saber especialmente como era possível alcançar uma unidade nacional,
independente da religião.
40
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
NOTA
E
IMPORTANT
Nos dias atuais, contudo, Aranha e Martins (2003) afirmam que a obra
de Maquiavel é interpretada de modo distinto daquele sugerido por Rousseau.
41
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
TUROS
ESTUDOS FU
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TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
E
IMPORTANT
TUROS
ESTUDOS FU
Esse novo modelo de fazer ciência e filosofia será desenvolvido pelos chamados
empiristas, sobre os quais falaremos mais adiante.
43
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
NOTA
A sua preocupação foi encontrar uma verdade primeira, que não pudesse
ser posta em dúvida e sobre a qual todos os demais conhecimentos poderiam ser
assentados. Por essa razão, fez da dúvida o seu método investigativo.
AUTOATIVIDADE
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Você deve ter encontrado várias respostas à pergunta. Vamos ler um breve
trecho da obra "Discurso do método", de Descartes. Veja se consegue descobrir
a resposta.
Não sei se deva falar-vos das primeiras meditações que aí realizei; pois
são tão metafísicas e tão pouco comuns, que não serão, talvez, do gosto de todo
mundo. E, todavia, a fim de que se possa julgar se os fundamentos que escolhi
são bastante firmes, vejo-me, de alguma forma, compelido a falar-vos delas.
De há muito observara que, quanto aos costumes, é necessário, às vezes, seguir
opiniões, que sabemos serem muito incertas, tal como se fossem indubitáveis,
como já foi dito acima. Mas, por desejar então ocupar-me somente com a
pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário,
e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a
menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que
fosse inteiramente indubitável. Assim, porque os nossos sentidos nos enganam,
às vezes, quis supor que não havia coisa alguma que fosse tal como eles nos
fazem imaginar. E, porque há homens que se equivocam ao raciocinar, mesmo
no tocante às mais simples matérias de geometria e cometem aí paralogismos,
rejeitei como falsas, julgando que estava sujeito a falhar como qualquer
outro, todas as razões que eu tomara até então por demonstrações. E enfim,
considerando que todos os mesmos pensamentos que temos quando despertos
nos podem também ocorrer quando dormimos, sem que haja nenhum. Nesse
caso, que seja verdadeiro, resolvi fazer de conta que todas as coisas que até
então haviam entrado no meu espírito não eram mais verdadeiras que as ilusões
de meus sonhos. Mas, logo em seguida, adverti que, enquanto eu queria assim
pensar que tudo era falso, cumpria necessariamente que eu, que pensava,
fosse alguma coisa. E, notando que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão
firme e tão certa que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não
seriam capazes de a abalar, julguei que podia aceitá-la, sem escrúpulo, como o
primeiro princípio da filosofia que procurava. (DESCARTES, 1973, p. 54).
Até aqui, no entanto, ainda não conseguiu uma garantia de que o seu
pensamento efetivamente corresponda à realidade. Descartes se perguntava de
que modo poderíamos ter certeza de que a nossa vida e o mundo como um topo
não seriam apenas um sonho. O que garante que o meu raciocínio corresponde à
realidade ou que as coisas de nossa mente têm existência e não são mera imaginação?
Para resolver este problema e provar que o mundo tem realidade, lançou mão do
que ficou conhecido como "prova ontológica da existência de Deus".
46
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
NOTA
ATENCAO
a) O ideal matemático.
b) O dualismo psicofísico.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
TUROS
ESTUDOS FU
Na segunda unidade deste caderno veremos como esse ideal será incorporado
também nas ciências humanas, especialmente na sociologia positivista de Augusto Comte. O
princípio também terá forte influência no pensamento filosófico e sociológico brasileiro, que
será assunto na terceira unidade.
UNI
48
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
NOTA
ATENCAO
49
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Locke comparava a mente humana a uma tábula rasa, uma tábua sem
inscrições, tal como uma forma de cera sem impressões. Poderíamos falar também
num livro em branco. Quando o ser humano começa a experimentar a realidade
do mundo, este vai sendo impresso dentro dele.
50
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
Ao mesmo tempo, Hume chamou a atenção para o fato de que nem sempre
os fatos que observamos estão relacionados. Com isso, ele negou a validade
universal do princípio de causalidade e da noção de necessidade a ele associada.
Em outras palavras, Hume está dizendo que a realidade poderia ser diferente
daquilo que se tornou. Ela não é resultado necessário da história que a antecede.
A relação de causa e efeito é um princípio válido para a investigação científica,
mas ela não é universal, válida para todos os fenômenos, pois existem fatos que
não decorrem necessariamente do que havia antes.
51
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
TUROS
ESTUDOS FU
52
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
2.3 ILUMINISMO
Se as filosofias racionalistas e empiristas da modernidade foram
importantes para a formação da mentalidade necessária para as revoluções sociais
e políticas dos séculos XVIII e XIX, o Iluminismo foi absolutamente essencial. O
Iluminismo não foi somente a concepção de algumas novas ideias ou a proposição
de algumas reformas na sociedade, mas a criação de uma sociedade radicalmente
nova, fundamentada na razão. O período ainda é conhecido como Século das
Luzes, Ilustração ou Aufklärung, que em alemão quer dizer esclarecimento.
53
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
54
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
55
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
NOTA
56
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
57
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
LEITURA COMPLEMENTAR
Immanuel Kant
58
TÓPICO 2 | A REVOLUÇÃO FILOSÓFICA A PARTIR DA MODERNIDADE
Todavia, não é apenas nos juízos, mas ainda em alguns conceitos, que
se revela uma origem a priori. Eliminai, pouco a pouco, do vosso conceito de
experiência de um corpo tudo o que nele é empírico, a cor, a rugosidade ou
macieza, o peso, a própria impenetrabilidade; restará, por fim, o espaço que esse
corpo (agora totalmente desaparecido) ocupava e que não podereis eliminar. De
igual modo, se eliminardes do vosso conceito empírico de qualquer objeto, seja ele
corporal ou não, todas as qualidades que a experiência vos ensinou, não poderíeis,
contudo, retirar-lhe aquelas pelas quais o pensais como substância ou como
inerente a uma substância (embora este conceito contenha mais determinações
do que o conceito de um objeto em geral). Obrigados pela necessidade com que
este conceito se vos impõe, tereis de admitir que tem a sua sede a priori na nossa
faculdade de conhecer.
FONTE: KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. 5. ed. Lisboa: Gulbenkian, 2001. p. 63-65.
59
RESUMO DO TÓPICO 2
• Estudamos a filosofia do Renascimento até o Iluminismo. Vimos que o
século XVI foi um momento histórico de grandes transformações científicas e
filosóficas, que foram fruto das transformações da sociedade europeia da época.
Ao mesmo tempo em que foram fruto do contexto social e político, as novas
formas de pensar contribuíram para o surgimento de uma nova sociedade que
baseou a sua organização sobre princípios racionais.
• Na política, estudamos o pensamento de Nicolau Maquiavel, que propôs ainda
timidamente o consenso como a forma legítima de organização do governo
de um Estado. Este consenso deve ser buscado, segundo ele, a qualquer custo
pelos dirigentes.
60
AUTOATIVIDADE
61
das leis francesas, tentando esboçar um modelo legal que superasse o
autoritarismo monárquico característico da família real francesa de seu
tempo.
( ) A sua preocupação foi encontrar uma verdade primeira, que não pudesse
ser posta em dúvida e sobre a qual todos os demais conhecimentos
poderiam ser assentados. Por essa razão, fez da dúvida o seu método
investigativo.
62
UNIDADE 1
TÓPICO 3
A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
1 INTRODUÇÃO
“Na medida em que avançamos na história, a filosofia vai assumindo
reflexões nos mais diversos campos da atividade humana. Ela vai influenciar
profundamente áreas como a cultura, a ética, a educação, o prazer e a política”.
(TRIGO, 2009, p. 39).
63
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
TUROS
ESTUDOS FU
3 O IDEALISMO HEGELIANO
Georg Wilhelm Friedrich Hegel viveu entre 1770 e 1831 e introduziu uma
noção nova na filosofia, a de que a razão é histórica. Como ressalta Koyré (2011), a
teoria hegeliana é extremamente difícil, mas influenciou o pensamento filosófico
e sociológico posterior como nenhuma outra. A sua grande preocupação foi a
construção de um sistema filosófico que desse conta de explicar toda a realidade.
A sua intenção primordial não é mudar o mundo, mas está mais interessado em
dizer como ele funciona. Na medida em que oferece essa resposta, cria também a
ferramenta que será utilizada por muitos de seus discípulos que almejarão mudá-
lo, tais como Marx.
64
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
NOTA
TUROS
ESTUDOS FU
65
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
ATENCAO
Vamos pensar em um exemplo para deixar essa ideia mais explícita. Imagine
uma carteira, daquelas usadas em sala de aula. Pense que a carteira tal como a vemos, hoje,
é uma tese. Agora, pense no que fará com que a carteira deixe de ser uma carteira; qual a
antítese de uma carteira escolar? Podemos pensar em várias coisas. Os alunos podem ser
a antítese da carteira quando a riscam e danificam, mas o próprio uso dela já é suficiente
para causar desgaste. Talvez não sejamos capazes de perceber a mudança de um dia para o
outro ou mesmo de uma semana para a outra ao ocuparmos um lugar em sala de aula para
nossos estudos, mas a carteira está em constante processo de transformação. A própria ação
do tempo sobre os materiais faz com que a carteira lentamente deixe de ser uma carteira. Após
anos de contradição, já não existe mais uma carteira. O que restou da carteira? Restou a síntese
da tese (a carteira em si) e da antítese (ação dos usuários e a ação do tempo sobre a carteira).
66
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Mas o movimento não termina com a síntese. Segundo Hegel, cada síntese
é, por sua vez, uma nova tese, que terá as suas próprias contradições, produzindo
novas sínteses, e assim sucessivamente até que todas as contradições sejam
superadas. A mesma coisa vale para as nossas ideias, para os sistemas filosóficos,
enfim, para toda a realidade.
Embora tenha sofrido muitas críticas, principalmente por ter posto a ideia
como princípio gerador da realidade, o sistema hegeliano possui uma capacidade
explicativa e interpretativa enorme. O movimento dialético realmente nos ajuda
a entender e explicar muitos aspectos da nossa história. A partir do pensamento
de Hegel também somos levados a entender que cada um de nós (e isso também
vale para você, caro estudante) não é um ser pronto.
Quem acha que está pronto sempre será uma pessoa arrogante, pois crê
que não tem mais nada para aprender. Hegel nos diz que estamos em constante
processo de mudança, o que quer dizer que sempre podemos mudar, viver de
modo diferente, participar da construção do nosso futuro. Essas ideias tiveram uma
força enorme na sociedade do século XIX. Muitas pessoas foram realmente levadas
a acreditar que poderiam mudar a sociedade e resolver todos os seus problemas.
TUROS
ESTUDOS FU
67
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
68
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
FIGURA 16 – KIERKEGAARD
69
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
TUROS
ESTUDOS FU
70
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Dessa forma, caro(a) acadêmico(a), pudemos ver que o século XIX foi
marcado pela constituição de duas correntes filosóficas opostas. A primeira,
da qual Hegel é o principal expoente, afirmava a crença no potencial da razão
humana, considerando que ela levaria a humanidade para a formação de
uma sociedade perfeita, livre de qualquer contradição. Por outro lado, houve
pensadores como Kierkegaard, Nitzsche, Freud e Marx, que denunciaram as
armadilhas da razão, ajudando a preparar o terreno para as reflexões filosóficas
que seriam desenvolvidas no século XX.
71
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
O século XX, segundo Jaspers (2010), foi um tempo que demonstrou que
a história humana é cheia de riscos e possibilidades. Tanto o início da história
humana como o seu destino se tornam cada vez mais distantes diante das
descobertas científicas, tanto da arqueologia no que se refere ao início da vida no
planeta Terra, como da astronomia sobre a vastidão do universo. A fragilidade da
vida também é aumentada diante dos avanços tecnológicos, sobre os quais não se
tem controle absoluto.
72
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
3.3.1 O pragmatismo
O pragmatismo foi uma corrente filosófica que se desenvolveu
principalmente nos Estados Unidos. Entre os seus principais expoentes estão:
Charles Sanders Peirce (1839-1914), William James (1842-1910) e John Dewey
(1859-1952). A principal ideia do pragmatismo é a de que "o conhecimento é uma
atividade participativa (não impessoal) e consiste de explicações válidas, sendo
o instrumento mais importante para nossa sobrevivência". (TRIGO, 2009, p. 175).
Para os pragmáticos, o conhecimento válido é aquele que tem uma aplicação
prática ou então quando "funciona”. (ARANHA; MARTINS, 2003).
3.3.2 A fenomenologia
A fenomenologia é uma filosofia da vivência. Segundo Aranha e Martins
(2003, p. 150):
73
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Para isso, Husserl diz que toda consciência é intencional, o que significa
que não há pura consciência, separada do mundo, mas toda consciência visa ao
mundo (CHAUÍ, 2008). Segundo o próprio Husserl, "a palavra intencionalidade
não significa outra coisa senão essa particularidade fundamental da consciência
de ser a consciência de alguma coisa". (apud ARANHA; MARTINS, 2003, p. 206).
74
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
75
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Vejamos alguns exemplos de má-fé que são apresentados por Trigo (2009,
p. 46):
Não cursei moda porque meus pais queriam que eu fosse contador,
como eles.
Não fui trabalhar na Califórnia porque minha avó materna estava
doente e não sabia quanto tempo ela viveria.
Tive que aceitar as condições de trabalho desgastantes porque devia
favores ao meu chefe.
Acabei casando porque não tive coragem de falar, na última hora, que
não queria mais ficar com aquela pessoa, tão meiga e inocente, mas que me
consome a paciência.
Ela (ele) sempre acaba me obrigando a fazer o que não quero porque
tem um poder de persuasão imenso.
Acabei não indo ao cinema e fui com eles ao teatro (assistir a uma peça
que eu detesto) para não provocar um mal-estar no meu grupo de amigos.
Eu não concordo com nada do que vocês dizem, mas vou me calar para
não ser o único "do contra".
TUROS
ESTUDOS FU
76
TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
4 A FILOSOFIA DA LINGUAGEM
Os estudos da linguagem trouxeram uma reviravolta completa para a
Filosofia. Conforme Aranha e Martins (2003, p. 152):
A filosofia da linguagem ou filosofia analítica representa o esforço de
pensadores de diversas tendências no sentido de rever o conceito de
verdade, tal como outras correntes filosóficas também o fizeram no
decorrer do século XX. A diferença é que se verifica uma crítica radical
da tentativa tradicional de encontrar a verdade na relação sujeito e
objeto, deslocando esse fundamento para a linguagem.
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
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TÓPICO 3 | A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA
Num mundo que está cada vez mais conectado, interligado e no qual as
distâncias são superadas pelas modernas tecnologias de comunicação, nada mais
racional do que fazer da comunicação entre os sujeitos o meio para se alcançar
conhecimentos válidos para a organização da vida em sociedade.
Diante disso, segundo Jaspers (2010, p. 33), "a filosofia deve fazer-
nos conscientes dos horizontes do futuro, mostrando-nos os limites de toda a
ação humana, por gloriosa que seja, e aumentando em nós, por essa forma, o
sentimento de responsabilidade diante de qualquer situação nova".
UNI
79
UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
LEITURA COMPLEMENTAR
O FUTURO
Ensina, pelo menos, a não nos deixarmos iludir. Não permite que
se descarte fato algum e nenhuma possibilidade. Ensina a encarar de frente a
catástrofe possível. Em meio à serenidade do mundo, ela faz surgir a inquietude.
Mas proíbe a atitude tola de considerar inevitável a catástrofe. Com efeito, apesar
de tudo, o futuro depende também de nós.
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TÓPICO 1 | OS FILÓSOFOS ANTIGOS E MEDIEVAIS
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UNIDADE 1 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E A COMPREENSÃO DA VIDA SOCIAL
Modernidade Pós-modernidade
Simplificação Complexidade, contradição
Unicidade Ambiguidade, tensão
Exclusividade (ou, ou) Inclusividade (e, e)
Purismo Hibridismo
Unidade óbvia Vitalidade emaranhada
Lógica convencional Paradoxos
Continuidade Ruptura
Conservação, mudança Superação
Estabilidade Instabilidade
Certezas Consensos
Imutabilidade Transformação constante
O início do século XXI mostrou, mais uma vez, que não se pode ter
posições dogmáticas e que a abertura é necessária para o diálogo entre as
pessoas. O conhecimento é importante e gera riquezas, sim, mas a ética, a
sustentabilidade ambiental, a justiça social e a satisfação e a felicidade dessas
pessoas é igualmente importante. A sociedade não pode ser submetida a rígidos
programas políticos, partidários, corporativos, religiosos ou institucionais que
excluam o pluralismo, as liberdades individuais e os códigos de comportamento
que possibilitem uma vida melhor.
FONTE: TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Pensamento filosófico: um enfoque educacional. São
Paulo: IBPEX, 2009, p. 196-200.
82
RESUMO DO TÓPICO 3
• Estudamos a filosofia dos séculos XIX e XX em suas principais correntes. A
partir dos contextos históricos de cada século, caracterizados no início de
cada ponto correspondente, pudemos verificar que há uma grande diferença
entre eles, principalmente no que concerne à compreensão em relação à razão
humana.
83
AUTOATIVIDADE
84
para nossa sobrevivência”. (TRIGO, 2009, p. 175). Para os pragmáticos,
o conhecimento válido é aquele que tem uma aplicação prática ou então
quando “funciona”. (ARANHA; MARTINS, 2003).
( ) A sua grande preocupação foi a construção de um sistema filosófico que
desse conta de explicar toda a realidade. A sua intenção primordial não é
mudar o mundo, mas está mais interessado em dizer como ele funciona.
Na medida em que oferece essa resposta, cria também a ferramenta que
será utilizada por muitos de seus discípulos que almejarão mudá-lo, tais
como Marx.
( ) O movimento defendia a ideia de que “a tarefa da filosofia não é provar
que o homem é produzido por Deus, mas, inversamente, que Deus é
produzido pelo homem: não foi a ideia (Deus) que criou o homem, mas
o homem que criou a ideia (Deus)”. (MONDIN, 1983, p. 93).
85
86
UNIDADE 2
PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontra-
rá atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
87
88
UNIDADE 2
TÓPICO 1
DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA
SOCIOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
A Sociologia é considerada uma das ciências mais recentes da história do
pensamento humano. Apesar de ser nova, ela sempre esteve ligada às contradições
e contrastes da vida humana. Entretanto, alguns acontecimentos históricos
contribuíram para que ela se tornasse uma ciência especificamente ligada aos fatos
sociais. Seu primeiro pensador, Augusto Comte, antes mesmo de denominá-la como
Sociologia, a declarou como sendo uma espécie de “Física Social”.
Seu principal intuito foi o de demonstrar que a ciência pura poderia tentar
explicar os fatos que ocorriam na sociedade. Sua obra debruçou-se sobre uma
Europa transformada pelas várias invenções e criações do homem do século XVIII.
Tais invenções tiveram a intenção de melhorar a vida humana. A ideia de progresso
e sucesso econômicos estava no menu do dia a dia.
89
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
2 A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
A Revolução Industrial foi um processo encetado em meados do século
XVIII, mas seu verdadeiro início deu-se já na Idade Média. Principalmente no
final deste período histórico, via-se surgir uma nova classe social que conquistara
dinheiro e poder por meio da produção e venda de bens manufaturados e de
empréstimos fornecidos por meio de juros. Esta classe denominou-se burguesia.
90
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
TUROS
ESTUDOS FU
91
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
NOTA
LEITURA SOCIOLÓGICA
- Charles Dickens
Great Expectations
(DORÉ, Gustave. Over London by rail. 1872. 1 xilogravura: 25 cm x 19,5 cm. Londres)
Tradução do texto: “Foi um dia memorável, pois operou grandes mudanças em mim. Mas
isso se dá com qualquer vida. Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido
seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de
ferro, de ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento
do primeiro elo em um dia memorável”.
Numa depressão de terreno bastante funda, numa curva do Meldock (rio que corta a cidade
de Manchester), e cercada pelos quatro lados por grandes fábricas e margens altas cobertas de
casas e aterros, estão cerca de 200 casas repartidas em dois grupos, sendo frequentemente a
parede de trás a divisória. Habitam aí cerca de 4000 pessoas, quase todas irlandesas. As casas
são velhas, sujas e do tipo menor: as ruas são desiguais, cheias de saliências, em parte sem
pavimento nem canais de escoamento; por todo o lado há uma quantidade considerável
de imundícies, detritos e lama nauseabunda entre os charcos estagnados; a atmosfera
está empestada com suas emanações, enegrecida e pesada pelos fumos de uma dúzia de
chaminés de fábricas.
Isto quer dizer que, enquanto a burguesia enriquecia cada vez mais,
os trabalhadores empobreciam. Trabalhavam em jornadas extenuantes, sem a
menor diferenciação entre homens, mulheres e crianças. Aliás, era comum que
crianças e mulheres trabalhassem mais do que homens, pois elas reclamavam
menos e produziam mais. O salário de uma semana de trabalho era tão pífio que
era inferior a uma libra esterlina, o que, em moeda atual, representava menos do
que R$ 2,80.
92
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
DICAS
93
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
AUTOATIVIDADE
Leia com atenção a letra da música “Capitão de Indústria”, da banda brasileira Paralamas do
Sucesso e, logo após, responda à pergunta:
Capitão de Indústria
Os Paralamas do Sucesso
(PARALAMAS DO SUCESSO, Capitão de Indústria. In: CD 9 Luas, EMI, 1996 (1 CD (ca. 37’51”).
Faixa 5 (3’37”)
NOTA
Parte dos senhores feudais, a gentry, e uma camada rica de pequenos e médios proprietários,
os yeomen, passaram a cercar suas terras e impedir que os camponeses as utilizassem
para o cultivo de alimentos e criação de animais para consumo próprio. Esse processo de
cercamento era feito com anuência da autoridade real.
As terras cercadas eram, na maioria das vezes, utilizadas para a criação de carneiros e ovelhas
para a produção de lã. Essa produção seria beneficiada nas manufaturas e depois vendida no
mercado interno ou exportada. Como os camponeses não podiam mais plantar o próprio
alimento, tiveram que se submeter ao trabalho nas manufaturas, onde recebiam salários
baixíssimos.
94
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
Uma expressão que se tornou comum entre os séculos XVII e XVIII foi “os carneiros se
tornaram comedores de gente”. Isso porque os carneiros estavam sendo criados nas terras
que antes serviam para a produção dos alimentos das famílias. Enquanto os camponeses
padeciam na miséria, os grandes proprietários enriqueciam rapidamente. (LUI, 2012. p. 89).
3 REVOLUÇÃO FRANCESA
Como vimos na Revolução Industrial, muitas mudanças ocorreram
na sociedade da época. Entretanto, estas mudanças beneficiaram apenas uma
pequena parcela da sociedade (os burgueses). Esta classe social começou a assumir
boa parte do domínio econômico na Europa dos séculos XVII e XVIII. Porém, aqui
é pertinente destacar a importância da palavra "domínio", pois foi exatamente
isso o que aconteceu. A burguesia conquistou um poder. Poder este fundado na
exploração e alienação do trabalhador. Contudo, esta dominação era insuficiente
para a burguesia. Era preciso algo mais, era preciso ampliar as raízes deste poder.
95
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
3º ESTADO: BURGUESIA +
CAMPONESES + SANS
CULOTES: obrigações e impostos.
97%
96
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
UNI
Vê-se claramente nas figuras que a representação política dada à maior parcela
da sociedade era desproporcional, pois, nas tomadas de decisões, cada Estado tinha direito
a apenas um voto, o que significa dizer que 97% da população não era legitimamente
representada e que, além disso, os dois primeiros Estados sempre venceriam as decisões
por se colocarem sempre do mesmo lado, ou seja, ambos estavam sempre legislando ou
decidindo em favor dos seus próprios interesses e nunca a favor da coletividade.
97
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
E
IMPORTANT
“Não sendo o Estado ou a Cidade mais que uma pessoa moral, cuja vida consiste
na união de seus membros, e se o mais importante de seus cuidados é o de sua própria
conservação, torna-se-lhe necessária uma força universal e compulsiva para mover e dispor
cada parte da maneira mais conveniente a todos. Assim como a natureza dá a cada homem
poder absoluto sobre todos os seus membros, o pacto social dá ao corpo político um poder
absoluto sobre todos os seus, e é esse mesmo poder que, dirigido pela vontade geral, ganha,
como já disse, o nome de soberania”. (ROUSSEAU, 1994. p. 48).
Sendo assim, vemos, neste momento, com clareza e evidência uma coisa:
os pensadores da época estavam interessados em defender a democracia, mas
esta democracia não precisava ser tão equânime assim. Ela precisava, contudo,
ser feita para que a nobreza e o clero fossem depostos. A burguesia jamais
conseguiria expandir "o seu território" se o rei permanecesse com seu poder
absoluto. Era necessário "decapitá-lo".
98
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
DICAS
4 O ILUMINISMO
Depois de discorrermos sobre as duas grandes revoluções da Europa, é
preciso analisar e compreender como estas revoluções se deram, e por quê. Neste
sentido, se faz necessário ver o contexto intelectual da época e quais os fundamentos
que alicerçaram este período histórico.
Com o fim da Idade das Trevas (Idade Média), o poder religioso que
pertencia à Igreja Católica Apostólica Romana foi reduzido. O Teocentrismo
perdeu, em grande parte, o seu valor. As pessoas, contudo, precisavam
reencontrar um novo horizonte, outra perspectiva para seguir. Nasce aqui o
advento do indivíduo, isto é, aparece agora um novo substituto para a religião, a
saber: o próprio ser humano. Ele agora está no centro dos debates e das atenções
humanas. Ele saiu de sua pequenez e submissão a Deus para assumir o papel
de protagonista de sua própria emancipação. Principalmente por este motivo, a
palavra Iluminismo surgirá em oposição à ideia de trevas, característica atribuída
à Idade Medieval.
99
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Este novo racionalismo será a base para que se atinja um novo patamar
intelectual que, durante muito tempo, fora adormecido pelo excesso de regras
impostas pela religião, que afirmava ou legitimava o que era certo ou errado, bom
ou mau, sagrado ou profano etc. Os pensadores iluministas se opuseram, então,
a diversos campos da sociedade que, no seu entender, estavam em trevas, como o
domínio e os dogmas da Igreja Católica, as crendices populares, a intervenção do
Estado no mercado, bem como o direito divino dos reis.
100
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
ideia de que agora o ser humano conquistaria a plenitude que lhe fora negada
pela religião. O Iluminismo aparece, então, como a insigne marca de um novo
tempo. Todo misticismo deve ser negado ou superado. Toda explicação que não
for fundada na experiência não pode nem mesmo ser cogitada. Somente aquilo
que for percebido e experienciado pode ser realmente válido. Caso contrário, só
o banimento lhe restará.
Francis Bacon, filósofo inglês deste mesmo período, afirmava que apenas as
afirmações baseadas em observações empíricas eram aceitáveis como verdadeiras:
o que não proviesse, de alguma forma, da observação direta dos cinco sentidos
do corpo humano, não deveria ser visto como verdadeiro. (BACON, 2005).
Não obstante, nasce aqui uma cisão muito grande na História: religião e
ciência tornam-se simetricamente opostas entre si.
101
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Por falar nisso, Augusto Comte, pai da Sociologia, bebeu muito desta fonte.
Para ele, a ciência seria o estágio mais elevado da consciência humana. O ser humano,
após ter passado por dois estágios de completo atraso intelectual, teria alcançado o seu
ápice de desenvolvimento quando chegou ao Iluminismo. Segundo ele, o progresso
da humanidade se daria por meio do progresso advindo pela ciência. O estágio mais
alto da humanidade teria sido atingido com o empirismo (experiências concretas).
Sendo assim, a dor e a miséria humanas seriam definitivamente eliminadas, o que,
no fundo, não aconteceu. Mas isso é assunto para o próximo tópico.
DICAS
AUTOATIVIDADE
3 Pesquise sobre a expressão francesa laissez faire: o que ela realmente significa
e quais são as suas aplicações na atualidade?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
102
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
5 POSITIVISMO
Para este pensador francês, a ideia de positivismo quer dizer algo científico,
empírico ou concreto. Mas, para entender esta ideia se faz necessário compreender
que, segundo Comte, existem alguns estágios pelos quais a humanidade precisou
passar para chegar a este patamar positivista. Estes estágios são, por sua própria
lógica, momentos de transição, nos quais a humanidade precisou evoluir para
alcançar a perfeição do entendimento sobre si mesma e o mundo.
103
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Com isso, ele afirma que só existem três elementos básicos para
compreendermos a realidade social: o relativismo, o holismo e a historicidade.
O relativismo é um dos conceitos mais importantes de Comte. Todo saber que
possuímos é efêmero, fugaz e transitório, ou seja, o saber que possuímos sobre
o mundo não é eterno, não é dogmático. Ele tem, assim como na ciência, uma
validade provisória, isto é, o único princípio absoluto é que tudo é relativo.
104
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
105
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
AUTOATIVIDADE
106
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
● Estágio Positivo (Positivista): Comte afirma que, nos dois estágios anteriores,
o ser humano se preocupou em descobrir o porquê das coisas, isto é, ele quis
saber por que as coisas precisam funcionar de um determinado modo. Já no
estágio positivo, o que importa é a questão de como as coisas funcionam e que
relação podemos estabelecer entre elas. A visão agora é imanentista, empírica
e concreta e não mais algo abstrato, teoricista e sobrenatural. (COMTE, 1978).
107
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Por este viés criou-se, contraditoriamente, um novo mito (algo que Comte
sempre quis abolir): o mito do cientificismo. Ou seja, a ideia de que somente a
ciência teria as respostas certas sobre os fenômenos da vida biológica ou social. Este
erro talvez tenha sido o maior de Comte, justamente por ambicionar um propósito
tão incomensurável como este, pois boa parte dos problemas socioambientais
que vivenciamos hoje é decorrente desta superlativação da ciência como única
resposta para os problemas da humanidade.
6 ESCOLA DE CHICAGO
A sociologia a partir do próprio contexto social. Esta ideia é uma das
características mais marcantes desta escola. Seu principal propósito foi o de interpretar
os eventos sociais que começaram a ocorrer a partir do século XX na cidade de Chicago
e seus arredores, bem como em todo o território dos EUA. O advento da economia
americana na primeira metade do século XX fez com que um levante enorme de
imigrantes fosse levado a se transferir da Europa para os EUA.
108
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
Diante disso, Park investigou por que determinados fatos sociais (como
a delinquência e a prostituição) ocorriam em determinados espaços físicos da
cidade, ou seja, em que bairros isso ocorria e por que ocorria, pois, conforme esta
perspectiva, o indivíduo, uma vez inserido em determinado ambiente, perderia o
seu livre-arbítrio e receberia de maneira conformista as imposições dos elementos
socioambientais.
Esta análise feita por Park deu início a uma aplicação mais empírica da
Sociologia, isto é, a partir de agora a Sociologia assumiria verdadeiramente o seu
papel científico de investigação, a saber, o de estudar cientificamente os fatos
sociais, ao adotar um novo viés científico: o de compreender o espaço urbano
das cidades, pois os EUA, a partir deste momento histórico, personificam
três características de uma sociedade verdadeiramente contemporânea: a
industrialização, a urbanização e a democratização.
Sendo assim, era preciso deter tudo aquilo que rompesse com os critérios
do american way of life (estilo de vida americano). As autoridades competentes
da cidade de Chicago deviam saber agir de modo proativo, para frear todos os
modos possíveis de desorganização social.
109
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
DICAS
110
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
AUTOATIVIDADE
Algo que ocorre com frequência nos centros urbanos é o fato de que as pessoas são rotuladas
de acordo com os lugares onde elas vivem. Com base nesta ideia, elabore uma redação
abordando o problema da discriminação social, fundada na divisão geográfica da riqueza e da
pobreza em um espaço urbano.
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________
Vale destacar aqui que boa parte da inspiração intelectual desta escola de
pensamento é marxiana. O pensamento marxiano teve profunda influência no
pensamento e na compreensão de mundo para os frankfurtianos. Sendo assim,
podemos afirmar que este trecho do livro Manuscritos Econômico-Filosóficos, de
Karl Marx, serviu de base para a elaboração de muitos textos de Adorno e Horkheimer,
no que tange ao problema da alienação humana no mundo do trabalho:
112
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
O conceito de aura foi criado por Walter Benjamin. Segundo ele, a aura é
aquilo que é feito apenas uma única vez na produção de um objeto. Contudo, isto
deixou de existir, pois com a industrialização em massa tudo é feito com o intuito
de ser reproduzido. O capitalismo extrapolou o espaço das fábricas e foi residir
também no meio da cultura.
113
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
114
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES E HISTÓRIA DA SOCIOLOGIA
Neste sentido, o ser humano alienou a sua vida de tal maneira que até o
final de semana é tão igual quanto a semana. A própria vida comum (aos sábados
e domingos) se aprisiona numa rotina semelhante à rotina dos dias da semana.
A vida se repete, se reproduz sempre do mesmo modo. O indivíduo, preso ao
trabalho, não consegue imaginar outra vida possível, pois a vida deixou de ser
interessante para se tornar massificante, alienante, repetitiva. O espaço da rotina
do trabalho se expandiu para todas as áreas da vida. Até mesmo o lazer se tornou
um meio de ludibriar o indivíduo, pois já que no mundo do trabalho ele não se
reconhece naquilo que faz, no mundo do lazer ele apenas almeja a mesma diversão/
entretenimento: TV, cinema ou internet.
AUTOATIVIDADE
O Caminho Pisado
(Os Paralamas do Sucesso)
115
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Da cama p’ro banho, do banho p’rá sala. O sono persiste, o sol já não tarda.
A vida insiste em servir um velho ritual
Que sempre serve a tantos outros.
O mesmo pão comido aos poucos
Se senta e abre o jornal.
Tudo parece normal
Um dia a menos, um crime a mais.
No fundo, no fundo, no fundo tanto faz.
Já é hora de vestir o velho paletó surrado
e caminhar sobre o caminho pisado que
conduz rumo à batalha que inicia a cada dia
Conseguir um lugar p’rá sentar e sonhar na lotação
E é tudo igual, igual, igual...
No fim dos dias úteis há os dias inúteis,
que não bastam pra lembrar ou pra esquecer de quem se é.
O ar pesado nesse bairro pesado em
plena barra pesada
A mão pesada vem oferecer e conta os trocados contando vantagem.
E toma uma bola, começa a viagem e enquanto não chegar a velha hora
Que inicia cada dia
Em várias partes da cidade, por
Lazer ou rebeldia
A mão pesada se abrirá
Oferecendo a garantia barata de
Que tudo vai mudar.
8 A SOCIOLOGIA NA PÓS-MODERNIDADE
Caro(a) acadêmico(a), eis o problema mais intrigante da sociologia atual:
definir com exatidão o que é moderno ou pós-moderno. Sendo assim, para que
você não fique perdido no alto-mar do conhecimento sociológico, gostaríamos
de sucintamente definir este conceito da sociologia, a saber: o que é pós-
modernidade?
117
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Esta visão pode ser considerada pós-moderna, pois não existem mais
critérios exclusivos de entendimento do que seja a realidade. Seguir uma única
resposta é muito pouco. O universo cultural não pode se restringir (e este é o
aspecto mais interessante da pós-modernidade) a um anseio de categoria
universal, pois aquilo que é realmente universal (e esta é a grande verdade do
nosso tempo) é a multiplicidade, é a realidade vista em suas múltiplas facetas.
Aceitar a pluralidade e compreender que esta é a nova chave de leitura e de
interpretação do mundo é o caminho certo para entendermos o nosso tempo, tão
confuso, difuso e complexo.
DICAS
118
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos:
119
AUTOATIVIDADE
120
UNIDADE 2 TÓPICO 2
IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU
PENSAMENTO
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a), no primeiro tópico desta unidade o nosso principal
propósito foi o de abordar do modo mais amplo possível as principais teorias
sociológicas do século XVIII ao século XX. Aliás, é importante relembrar que
o pensamento sociológico surge no mundo especificamente após as grandes
revoluções mundiais (Industrial e Francesa). Tais revoluções modificaram tão
fortemente a vida das pessoas na Terra que foi necessário o surgimento de uma
nova ciência para compreender e interpretar este novo modus vivendi (modo de
vida), marcado pelo capitalismo, pela máquina e pelos ideais utópicos de liberdade,
fraternidade e igualdade.
121
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Por fim, Max Weber é considerado o sociólogo mais compreensivo dos três,
pois ao tentar analisar, por exemplo, o sucesso econômico dos EUA, Weber justifica
que tal sucesso é fruto de uma ética oblativa, de uma ética severa com relação ao
trabalho, algo que só seria possível graças à imigração de protestantes e puritanos
que alicerçaram a construção da grande nação americana na vida religiosa e no
famoso princípio do no pain, no gain (sem dor, sem ganho).
2 KARL MARX
Prezado(a) acadêmico(a), gostaríamos, de antemão, de iniciar a
apresentação das teorias marxianas sobre a sociedade, fazendo uma breve
recapitulação. Como já vimos, Marx serviu de base para a Escola de Frankfurt.
Quando Adorno e Horkheimer, por exemplo, escrevem sobre o novo encantamento
da contemporaneidade (a mercadoria) em seu livro Dialética do Esclarecimento,
vê-se claro o pensamento de Karl Marx como suporte:
122
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
DICAS
124
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
125
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Nesse sentido, cabe-nos aqui citar o próprio Marx para abordar o problema
da luta de classes:
126
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
travaram uma luta ininterrupta, ora oculta, ora aberta, uma luta que de cada vez
acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio
comum das classes em luta. (MARX e ENGELS, 1997).
Por este viés, Marx afirma que é preciso superar toda esta divisão social
por meio da revolução do proletariado, dando fim aos três grandes pilares do
mundo capitalista: a propriedade privada, o Estado (que, para Marx, sempre
estaria do lado da burguesia, devido à clara defesa de interesses comuns) e a
própria luta de classes.
AUTOATIVIDADE
Desde os primórdios
Até hoje em dia
O homem ainda faz
O que o macaco fazia
Eu não trabalhava
Eu não sabia
Que o homem criava
E também destruía...
Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Oh! Oh! Oh!...(2x)
Eu aprendi
A vida é um jogo
127
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Cada um por si
E Deus contra todos
Você vai morrer
E não vai pro céu
É bom aprender
A vida é cruel...
Homem Primata
Capitalismo Selvagem
Oh! Oh! Oh!...(2x)
Eu me perdi
Na selva de pedra
Eu me perdi
Eu me perdi...
“I’m a cave man
A young man
I fight with my hands
(With my hands)
I am a jungle man
A monkey man
Concrete jungle!
Concrete jungle!
Slave driver, the table is turn;
Catch a fire, so you can get burn.
Slave driver, the table is turn;
Catch a fire: so you can get burn”.
3 ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim (2007) foi considerado o pensador mais ligado ao
fundador da Sociologia, Augusto Comte (como já fora dito na introdução deste
tópico). Émile Durkheim faz uma análise social partindo do pressuposto de que
todos nós devemos assumir os nossos postos de atividade, na intenção de manter
a sociedade coesa e harmônica. Dito de outro modo: se cada um de nós ficar e
assumir plenamente o seu quadrado, a sociedade sempre será perfeita.
128
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
Sendo assim, para este pensador, a sociedade era formada por um conjunto
de forças morais, que foram se justapondo com o decorrer dos tempos. Estas
regras teriam uma força muito poderosa sobre a vida dos indivíduos, educando-
os e orientando-os em suas ações particulares. Não obstante, estas regras teriam a
finalidade, em última análise, de orientar a vida social.
O nomos (que quer dizer norma) nos direciona, nos orienta nas nossas
ações particulares, e estas ações pessoais nos levam a um fim coletivo: manter
o mundo social organizado e estruturado dentro de um método: a observância
dos fatos sociais. Assim, as organizações ou instituições sociais podem medir,
até mesmo cientificamente, o quanto a sociedade está no caminho certo ou não.
Por fim, para Durkheim, os fatos sociais são exteriores, isto é, tudo aquilo que
sabemos ou aprendemos nos veio de fora e, deste modo, a educação estabelece um
caráter impositivo e não consultivo sobre nossas vidas. O nomos (que a educação
familiar ou institucional teria o papel de ensinar) seria, então, o grande edifício
que o ser humano construiu contra as forças malignas do caos. Como ele mesmo
afirma neste trecho do livro Educação e Sociologia:
129
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
DICAS
Dito de outro modo, seu propósito era o de criar em cada cidadão uma
certa aceitação da vida como ela é, a fim de evitar conflitos e represálias entre os
vários segmentos sociais. Vejamos um exemplo concreto: a educação teria como
escopo introjetar nas crianças o bom comportamento. Este comportamento faria
com que a delinquência e a marginalidade fossem freadas ou reduzidas. O que,
no fundo, é bem mais complexo do que isso.
DICAS
131
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
AUTOATIVIDADE
1 Com base na leitura do texto sobre Durkheim, tente apontar quais seriam
as maiores falhas do pensamento de Émile Durkheim, no que tange ao
problema da educação e dos fatos sociais.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4 MAX WEBER
Max Weber (1989) é considerado o pensador mais compreensivo da
Sociologia. Essa denominação é dada a ele justamente porque seu modo de
análise da realidade está mais ligado à noção de entendimento dos fatos do que
de intervenção sobre a realidade dos fatos, como pensava Karl Marx.
132
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
133
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Weber afirma que a burocracia, por mais incrível que isso possa parecer, tem
a tarefa de manter a ordem e a paz social, visto que (como já dissemos) os papéis
incorporados pelos burocratas são mais importantes do que o papel assumido pelo
chefe político. Segundo este pensador, não haveria, com isso, nenhuma aliança entre
burguesia e Estado, pois com o controle da burocracia nenhum tipo de conchavo
ou estratagema se sucederia entre os dois grupos.
134
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
1. Ação social racional com relação a fins: na qual a ação é estritamente racional.
Toma-se um fim e este é, então, racionalmente buscado. Há a escolha dos
melhores meios para se realizar um fim.
2. Ação social racional com relação a valores: na qual não é o fim que orienta a
ação, mas o valor, seja este ético, religioso, político ou estético.
3. Ação social afetiva: em que a conduta é movida por sentimentos, tais como
orgulho, vingança, loucura, paixão, inveja, medo.
135
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
afetiva: num determinado momento, a nossa ação pode ser de afeto/amor e, num
dado momento, pode ser de raiva/rancor. Este comportamento é consequência dos
sentimentos que todos nós, seres humanos, possuímos, mas que naturalmente em
si mesmos são contraditórios e confusos. Por outro lado, nossas atitudes, muitas
vezes, são resultado de inúmeros costumes, nós os repetimos e não nos damos conta
desta reprodução, de tão arraigada que ela é (ação social tradicional). Max Weber foi
um pensador que contribuiu imensamente para o aprofundamento do pensamento
sociológico, por abordar de modo mais compreensivo a realidade social. Dizer que
a vida social se circunscreve a um pensamento só é muita pretensão. Contudo, Max
Weber demonstrou que seu pensamento é fundamental para compreendermos de
modo “imparcial” a sociedade na qual vivemos, ao vermos que luta de classes e
mais-valia (Marx) ou anomia e organicidade (Durkheim) não são pressupostos
dados a priori e aceitos por todos unanimemente. (WEBER, 1982).
AUTOATIVIDADE
136
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
DICAS
5 MICHEL FOUCAULT
O pensamento de Michel Foucault (2007) é visto como um dos mais
contundentes do século XX. Suas ideias foram revolucionárias para a segunda
metade do século XX, pois seu modo de entendimento da realidade não é em nada
compreensivo. Aliás, suas ideias até hoje são profundamente perturbadoras, por
tocarem em pontos indeléveis do nosso mainframe intelectual.
137
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
138
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
DICAS
139
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
140
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
141
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
AUTOATIVIDADE
Aliás, nós não nascemos como meninos ou meninas, mas nós nos
tornamos na medida em que assimilamos certas atitudes que serão aprovadas
ou reprovadas pelos demais. Um exemplo: um bebê-menino brasileiro não sabe,
ao nascer, que será motivo de chacota se usar uma camiseta cor-de-rosa, mas,
por um processo de aprendizado familiar, ele será ensinado a negar o uso de
qualquer objeto rosa e de recriminar o uso desta cor por qualquer pessoa do sexo
masculino. Na Coreia, provavelmente, não haverá tal recriminação. Isto mostra o
quanto a cultura exerce um papel preponderante no nosso modo de ver o mundo.
A ideia do eu, segundo Elias, é uma construção social. (ELIAS, 1994). Esse
processo é inconsciente, pois, de um modo geral, não nos perguntamos por que agimos
de um modo e não de outro. Entretanto, essa construção é dinâmica, pois é modulada
segundo o momento e o contexto histórico. Desta forma, quando afirmamos que
gostamos ou odiamos alguma coisa, é bem provável que nossa escolha tenha sido
fruto de uma influência externa (pais, atores, músicos, amigos, professores).
142
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
[...] que não há a Cultura, mas culturas diferentes. [...] Cada cultura inventa
seu modo de relacionar-se com o tempo, de criar sua linguagem, de elaborar seus
mitos e suas crenças, de organizar o trabalho e as relações sociais, de criar as obras
de pensamento e de arte. Cada uma, em decorrência das condições históricas,
geográficas e políticas em que se forma, tem seu modo próprio de organizar o
poder e a autoridade, de produzir seus valores.
FIGURA 42 – MULTICULTURALISMO
Há alguns anos, conheci em Nova York um jovem que não falava uma
palavra em inglês e estava evidentemente perplexo com os costumes
americanos. Pelo "sangue", era tão americano como qualquer outro, pois
seus pais eram de Indiana e tinham ido para a China como missionários.
Órfão desde a infância, fora criado por uma família chinesa, numa
aldeia perdida. Todos os que o conheceram acharam-no mais chinês do
que americano. O fato de ter olhos azuis e cabelos claros impressionava
menos que o andar chinês, os movimentos chineses dos braços e das
mãos, a expressão facial chinesa e os modos chineses de pensamento. A
herança biológica era americana, mas a formação cultural fora chinesa.
143
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
OS HÁBITOS DE INTRIGA
ELES ELAS
33% contam fofocas 26% contam fofocas
diariamente todo dia
Essa forma de contato amoroso tem sido denominada pelos jovens como
ficar. Assim, em uma festa, pode-se ficar com vários parceiros ou durante um tempo
ir ficando em diferentes situações, sem que isso se configure em compromisso,
namoro ou outra modalidade institucional de relação. Os processos sociais que
provocaram as mudanças nas relações amorosas, bem como suas consequências
para o indivíduo e para a sociedade, têm sido problematizados por vários
cientistas sociais e, dentre eles, destacamos aqui Zygmunt Bauman.
Ele afirma em seu livro: Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços
humanos:
146
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
Bauman, ao falar sobre a relação entre amor e mercadoria, resgata uma análise
frankfurtiana sobre as relações entre pessoas e objetos. Se, no início do século XX, a
Escola de Frankfurt abordava o problema da alienação e da reificação do ser humano
pela indústria cultural ou no mundo do trabalho, atualmente Bauman analisa os
problemas ligados à relação interpessoal e a visualização do outro como objeto. No
livro “Amor Líquido”, Bauman verifica o quanto as pessoas, por meio dos modernos
meios de comunicação, virtualizam tudo e todos. O fetiche da mercadoria é o outro,
que agora pode ser, com naturalidade, consumido e descartado.
DICAS
Anna (Julia Roberts) é uma fotógrafa bem-sucedida, que se divorciou recentemente. Ela
conhece e seduz Dan (Jude Law), um aspirante a romancista que ganha a vida escrevendo
obituários, mas se casa com Larry (Clive Owen). Dan mantém um caso secreto com Anna
147
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
mesmo após ela se casar e usa Alice (Natalie Portman), uma stripper, como musa inspiradora
para ganhar confiança e tentar conquistar o amor de Anna.
Além disso, o autor polonês afirma que nós estamos vivendo numa época
de transvaloração daquilo que parecia ser concreto e real. Estamos vivendo em
uma mutação entre real e virtual. Os princípios que pareciam óbvios já não
existem mais. A conversa direta foi substituída pelo celular. A realidade virtual
e a comunicação tecnológica são mais fortes e contundentes do que a conversa
“olho no olho”.
148
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
FIGURA 47 – A TECNODEPENDÊNCIA
149
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
em um ledo engano, pois segundo Bourdieu (1992), tão logo certos hábitos de
consumo, estilos de vida de uma classe, passem a ser incorporados por outra,
a primeira tratará de reinventar novos estilos que delimitem a extensão do seu
pertencimento. O que distingue um grupo do outro é a constante reinvenção e
criação de estilos. Aliás, em uma única palavra, para Bourdieu, o que define um
grupo é o seu estilo.
150
TÓPICO 2 | IMPORTANTES SOCIÓLOGOS E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO SEU PENSAMENTO
Não obstante, Bourdieu, ao afirmar que boa parte dos estudantes que teria
sucesso na vida acadêmica era proveniente de famílias de intelectuais ou mais ricas,
denuncia a visão vigente de que pessoas nativas de famílias mais carentes são, via
de regra, fracassadas, pois o acesso aos bens culturais estaria restrito apenas às
pessoas das classes mais ricas, o que vetaria a ideia de que a escolarização seria um
caminho de ascensão social por meio do aprendizado e da instrução pessoal.
Sem o mérito, seríamos muito mais injustos, mas se nos limitarmos a ele,
em contrapartida, estaríamos mascarando todos os problemas enraizados fora da
escola [...] pois não podemos crer na visão salvacionista de que uma escola “justa”
seja capaz de solucionar as desigualdades sociais. Discutir igualdade, como
tenho falado, é antes de tudo reduzir tais disparidades, por meio de medidas
sistêmicas, estruturais, que vão muito além de uma escola. Essa apenas reflete
as desigualdades e, não sendo capaz de rompê-las, as reproduz. Dubet enfatiza:
“nenhuma escola consegue, sozinha, produzir uma sociedade justa”. Logo,
independente do modelo que escolhermos, bem como a noção de justiça escolar,
temos que ter em mente que o problema é muito maior, pois ele reside na própria
sociedade. (SENKEVICS, 2012).
151
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:
152
AUTOATIVIDADE
153
154
UNIDADE 2 TÓPICO 3
TEMAS SOCIOLÓGICOS
1 INTRODUÇÃO
Foi um longo caminho até aqui, já não sou mais quem eu era antes: talvez
esta seja a grande ideia que nós gostaríamos que cada estudante, ao entrar em
contato com este material, pudesse experimentar. É impossível permanecermos
impassíveis diante dos temas que a Sociologia e seus pensadores se colocam
a questionar. A vida social é uma amálgama tão bem feita, que nos parece
indispensável pararmos nossas atividades rotineiras para pensarmos um pouco
sobre ela. Entretanto, para muitos de nós, exercitarmos o pensamento sobre a
vida social parece ser um exercício vazio e sem o menor sentido. Contudo, para
entendermos a nós próprios, julgamos necessário o estudo sociológico e filosófico
do mundo, pois aceitar as coisas como óbvias é algo inadmissível.
155
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
2 PROCESSOS SOCIAIS
De um modo geral, podemos considerar que existem cinco processos sociais
básicos e que estes processos determinam a convivência entre os indivíduos. Estes
processos podem ser classificados em dois grupos: os processos sociais associativos
e os processos sociais dissociativos. Os processos associativos são denominados
assimilação, acomodação e cooperação, enquanto que os processos dissociativos são
denominados como competição e conflito.
Por outro lado, a cooperação direta implica em uma ação entre pessoas
que possuem uma finalidade comum a ser executada em benefício de um grupo.
Um exemplo fácil de ser assimilado é quando determinadas pessoas de um
bairro da cidade se organizam para, em mutirão, construírem casas populares.
As pessoas agem pensando no benefício que estão proporcionando aos outros, na
garantia de que serão favorecidas quando necessitarem da ajuda do beneficiado.
Esta reciprocidade na ideia e na ação pode ser considerada como um exemplo de
cooperação direta.
156
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
157
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
158
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
AUTOATIVIDADE
DICAS
159
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
160
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
Por outro viés, a ideia de papel social é algo que está ligado, como já
dissemos, à noção de status. Um professor, por exemplo, possui determinadas
funções em uma sala de aula, que são consequência do seu status de professor. De
modo bem simplificado, o professor está exercendo o seu papel. A ideia de papel
aqui representa a noção de comportamento. O professor deve ter uma postura,
um comportamento que seja compatível com este papel que ele adquiriu, pois,
via de regra, um professor não assume um cargo somente porque lhe foi atribuída
tal tarefa. Espera-se que um professor de Matemática tenha as competências e o
conhecimento necessário para exercer a função que lhe foi designada.
AUTOATIVIDADE
161
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
Antes de tudo, é preciso recordar que status e papel social são coisas
inseparáveis e indissolúveis. Sendo assim, dentro do contexto social, cada um
de nós assume um papel, uma função. Cada função, quando bem executada e
bem assumida, faz com que o todo social funcione, de modo harmonioso e coeso
(como Durkheim afirmava). Se tudo funcionar como deve, podemos inferir que
há um conjunto ordenado e conexo que executa de modo concatenado todas as
ações da sociedade. A isso damos o nome de estrutura, ou seja, se todos nós,
dentro de uma fábrica, executamos com precisão e perfeição as nossas atividades,
é porque a estrutura está bem montada e bem definida. Não havendo falhas
ou incorreções, a estrutura funcionará como base para o sucesso produtivo da
fábrica. Mas é preciso lembrar mais uma vez a ideia principal: é necessário que
cada um esteja no seu devido quadrado, na sua devida função, para que a vida
social funcione bem. Como já afirmava Aristóteles, é preciso dividir os ofícios
para a convergência dos esforços.
Ou como afirmara São Paulo: "De fato, o corpo é um só, mas tem muitos
membros; e, no entanto, apesar de serem muitos, todos os membros do corpo
formam um só corpo" (1Cor 12. 12). O que nos leva a dizer que a estrutura tem
um papel tão totalizante quanto o corpo.
Por outro lado, diante da ideia de estrutura, nos vem a pergunta: E onde
entra a organização? Simplificadamente, podemos dizer que a organização
acontece na medida em que cada uma das pessoas ligadas à estrutura desempenha
o seu papel. A organização ocorre na medida em que as coisas acontecem e,
literalmente, funcionam. Como vimos no parágrafo anterior, na medida em que
o corpo representa o todo e é um só, as partes são múltiplas e desempenham,
por sua vez, múltiplas tarefas. Cada membro deve fazer acontecer o que é de sua
competência.
162
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
A charge a seguir demonstra que para cada dia da semana há uma máscara
a ser usada.
AUTOATIVIDADE
163
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
FIGURA 52 – FAMÍLIA
164
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
NOTA
165
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
DICAS
a) ter filhos;
b) garantir o bem-estar dos seus integrantes; e
c) educá-los.
166
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
167
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
que sua presença é mais sutil, é invisível. Sabemos que estamos pagando, o tempo
todo, vários impostos para que o Estado funcione e exerça a sua função. Mas o
pagamento tributário quase sempre é imperceptível, pois quando adquirimos
qualquer produto há uma carga embutida de impostos, que normalmente não
nos é declarada.
Em Marx, por outro lado, há uma clara ligação entre burguesia e Estado,
pois na medida em que a burguesia se alia ao Estado, esta passa a comandar
as suas ações. Sendo assim, a televisão e os outros órgãos de comunicação, por
exemplo, servem à burguesia que, ideologicamente, comanda e ordena os órgãos
de imprensa, outorgando-lhes o que é permitido ou proibido, isto é, vetando ou
liberando o que pode ou não ser publicado nos meios de comunicação. A este
estratagema Marx deu o nome de alienação, pois mesmo de modo involuntário,
as pessoas consentem com esta ação arbitrária. (MARX, 1988). Além do aspecto
ideológico, há o aspecto repressor do Estado. Neste caso, a polícia exerce um papel
sobremaneira importante, pois sua ação está sempre voltada, como já afirmara
Weber, a legitimar o seu papel de regulador da vida social. (WEBER, 1982).
168
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
LEITURA COMPLEMENTAR
FAMÍLIA
169
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
170
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
É por isso que, para ele, surge o conceito de nova classe média:
profissionais que teriam uma formação intelectual que os habilitaria para o
desenvolvimento de atividades mais complexas e, por conseguinte, mais bem
remuneradas. Entretanto, esta classe não deixaria de ser assalariada, isto é, o
trabalhador intelectual desenvolve outras funções, mas continua unido à classe
dos trabalhadores. Porém, socialmente, os trabalhadores manuais e intelectuais
não se veem como iguais. Muito pelo contrário, eles se observam, reciprocamente,
como protagonistas e antagonistas da história. As próprias empresas estipulam
hierarquias bem definidas entre os dois grupos, gerando, muitas vezes, desavenças
e conflitos entre eles. (MILLS, 1976).
172
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
Diante disso, também não podemos nos esquecer dos vários mitos que
envolvem a ideia de sucesso no mundo do trabalho, pois nem sempre esta
ideia está ligada apenas à competência do sujeito. É preciso avaliar que fatores
sociais de exclusão pesam muito nesta análise. Há, em nosso país, uma difusão
de que vivemos sem discriminação, sem preconceito, que somos racialmente
democráticos, que nosso país é bonito por natureza, que o Brasil é o país do
futuro, que Deus é brasileiro.
Se você diz a alguém que estuda piadas, o primeiro efeito que produz
ainda é o riso. É uma pena que seja assim, porque as piadas são de
fato um tipo de material altamente interessante. Por várias razões.
Em primeiro lugar, as piadas são interessantes para os estudiosos
porque praticamente só há piadas sobre temas que são socialmente
controversos. Assim, sociólogos e antropólogos poderiam ter
nelas um excelente corpus para tentar reconhecer (ou confirmar)
diversas manifestações culturais e ideológicas, valores arraigados.
[...] Em segundo lugar, porque piadas operam fortemente com
estereótipos. Assim, fornecem um bom material para pesquisas sobre
"representações", por exemplo. Possivelmente, qualquer estudioso
tenha o direito de afirmar que tais representações são grosseiras demais
para revelarem qualquer fato significativo. Mas estará enganado. De
fato, elas revelam que, frequentemente, discursos operam mesmo com
173
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
NOTA
4 MOVIMENTOS SOCIAIS
Como pudemos ver a partir das abordagens realizadas até aqui, a vida
humana é essencialmente coletiva e marcada pelos interesses e disputas dos
indivíduos na busca de atingirem melhores posições dentro da sociedade em
que vivem. Contudo, isto produz inúmeros distúrbios e contradições, o que pode
provocar o descontentamento de muitos membros desta mesma sociedade, que
eventualmente estarão dispostos a se organizar e a buscar a superação da situação
na qual se julgam erroneamente colocados. A esta organização e busca de um
objetivo comum, de modo relativamente duradouro, por parte de um número
significativo de indivíduos de uma sociedade, dá-se o nome de movimento social.
174
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
175
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
f) Utópicos: são movimentos que criam uma visão ideal da sociedade. O seu
objetivo é a edificação de uma sociedade perfeita, levando os seus integrantes à
fuga e constituição de comunidades isoladas ou ao conflito para a instauração
da nova sociedade. Ex.: revoluções socialistas e movimento hippie.
LEITURA COMPLEMENTAR 2
A SOCIEDADE ESTAMENTAL
Hans Freyer
176
TÓPICO 3 | TEMAS SOCIOLÓGICOS
177
UNIDADE 2 | PENSAMENTO SOCIOLÓGICO
FONTE: FREYER, Hans. A sociedade estamental. In: IANNI, Octávio. Teorias de Estratificação
Social. SP: Cia. Editora Nacional, 1972, p. 168-171.
178
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos:
179
AUTOATIVIDADE
180
UNIDADE 3
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos e em cada um deles você encontra-
rá atividades visando à compreensão dos conteúdos apresentados.
181
182
UNIDADE 3
TÓPICO 1
FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA
HISTÓRIA DO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) à Unidade 3.
Nesta unidade queremos fazer a você uma proposta que, num primeiro
momento, pode aparentar ser um pouco inusitada: estudar a sociologia brasileira.
Muitas pessoas desconhecem o fato de que existe uma grande produção intelectual
no Brasil, pois normalmente, quando falamos de pensadores da sociologia, nos
referimos a estrangeiros, como Marx, Durkheim, Bauman e Weber.
Falar sobre o Brasil é uma provocação sempre latente, pois é muito difícil
compreender tantas disparidades dentro de um único espaço territorial. Isso não
significa dizer que tenhamos uma visão totalmente pessimista sobre a realidade
nacional. Apenas queremos afirmar que um povo que não conhece, de fato, a sua
história, jamais será totalmente livre e independente.
183
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Bem-vindo(a) a bordo.
184
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
DICAS
185
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
186
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
DICAS
187
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Sua vida como ser humano, a partir de então, será cancelada, negada e
suprimida. A experiência de saída de sua terra natal e de seus costumes peculiares
será violenta e criminosa. Atualmente, mesmo após 400 anos da ocorrência destes
fatos, as marcas permanecem nos rostos de muitos negros "brasileiros".
188
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
DICAS
Este processo escravocrata perdurou por dois séculos em nosso país, até a
iminência da Proclamação da República Federativa do Brasil. O fim da escravidão
ocorre no Brasil por volta de 1888. Entretanto, alguns pensadores tiveram uma
importância muito grande neste processo de abolição. No Brasil, Joaquim Nabuco
pode ser considerado, quiçá, o de maior destaque, apesar de suas intenções nos
levarem a possíveis interpretações duvidosas.
NOTA
189
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Entretanto, esta ideia (da abolição) esteve muito presente neste momento
da História do Brasil, pois a defesa de Nabuco pelos ideais europeus inspirou-se
sobremaneira na Revolução Francesa que ocorrera no século XVIII. O negro era
visto como mercadoria, como objeto, como propriedade do dono de engenho/
fazendeiro, em suma, ele não era cidadão, não possuía direitos.
190
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
AUTOATIVIDADE
191
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
192
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
193
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Uma lágrima desceu e Zezinho percebeu que descobria mais uma mentira nessa
hora...
Homem também chora
194
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Deste modo, uma das possíveis soluções para a resolução dos conflitos
com os vizinhos europeus era o abandono do controle da coroa em Portugal, ou
seja, D. João VI deveria fugir de Portugal, para encontrar "asilo" em sua colônia
mais próspera, o Brasil. O que, de fato, veio a acontecer. Assim, tem início, em
1808, a solidificação do Brasil enquanto império e sede da monarquia portuguesa.
D. João VI permaneceu no Brasil por 12 anos, quando a Revolução de 1820,
em Portugal, exigiu o retorno da Família Real portuguesa e da Corte a Lisboa.
Além disso, Pedro de Alcântara (D. Pedro I), filho de D. João VI, que nascera
em Portugal, continuou o mandato de seu pai no Brasil, assumindo o poder da
colônia e, posteriormente, a sua independência da metrópole. (LUI, 2012).
195
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
NOTA
196
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Vê se agora sossega e
para de renunciar!
Num primeiro momento, parece que esta "estória" acaba por aqui, porém os
absurdos ainda não findaram. Ao retornar para Portugal, D. Pedro I deixa seu filho
de apenas cinco anos de idade para governar o Brasil. Veja, caro(a) acadêmico(a),
D. Pedro II era um simples garotinho e foi-lhe confiada uma tarefa que muito
"marmanjo" teria medo de enfrentar. Sendo assim, como ele não era maior de
idade, fora composta uma equipe regencial liderada por José Bonifácio de Andrada
e Silva, que, concomitantemente, fora o tutor mais importante de D. Pedro II.
197
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
navios" (referência à charge acima), pois o modo como o Brasil foi "descoberto" e
construído sempre se pautou nos interesses da nobreza ou da burguesia.
ATENCAO
198
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Mais curioso ainda é notar que, no século XX, isso volta a se repetir com o
período da ditadura militar em nosso país, só que de um modo invertido: rechaçando
a democracia e impondo um absolutismo ditatorial e violento. (LUI, 2012).
DICAS
4 A REPÚBLICA VELHA
Mas a história não para por aqui. Há muito ainda para ser contado. Após
a Proclamação da República, houve um período no Brasil denominado República
Velha, no qual o governo do país foi intercalado entre os barões do café e os
agropecuaristas da região Sudeste do Brasil (a famosa política do "café com leite").
Neste período houve, ao mesmo tempo, uma grande transformação urbanista
das cidades do Sudeste, principalmente do Rio de Janeiro. Esta mudança ficou
conhecida como Belle Époque, que conceitualmente é compreendida.
199
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
200
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
5 A ERA VARGAS
Sendo assim, vejamos, caro(a) acadêmico(a), algumas estratégias de
governo usadas por Vargas durante seu governo: a industrialização progrediu
de forma substancial, as cidades cresceram, o Estado se tornou forte, houve
interferência na economia e foi instaurada uma nova relação com os trabalhadores
urbanos. Enquanto permaneceu no poder, Vargas foi chefe de um governo
provisório (1930-1934), presidente eleito pelo voto indireto (1934-1937) e ditador
(1937-1945).
Ao tomar posse em 1930, Getúlio Vargas discursou que o seu governo era
provisório, mas tão logo começou a governar, tomou uma série de medidas que
fortificaram o seu poder. Dissociou todos os segmentos que compunham o Poder
Legislativo, exercendo assim o Poder Legislativo e o Executivo simultaneamente.
201
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
DICAS
202
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
AUTOATIVIDADE
204
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Essa rixa entre Vargas e Lacerda ganhou as páginas dos jornais quando,
em agosto de 1954, Carlos Lacerda escapou de um atentado promovido
por Gregório Fortunato, guarda pessoal do presidente. A polêmica sob o
envolvimento de Vargas no episódio serviu de justificativa para que as forças
oposicionistas exigissem a renúncia do presidente. Mediante a pressão política
estabelecida contra si, Vargas escolheu outra solução.
205
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
6 A DITADURA MILITAR
Não obstante, o referido golpe de Estado veio a ocorrer apenas em 1964,
quando as Forças Armadas do Brasil derrubaram o governo do presidente
esquerdista democraticamente eleito João Goulart e só veio a se findar quando
José Sarney assumiu o cargo de presidente, em 1985. O período da ditadura
militar talvez tenha sido o pior de todos na nossa história. Mas antes de falarmos
sobre isso, é necessário falarmos um pouco sobre os antecedentes da implantação
da ditadura no Brasil.
206
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
207
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Portanto, o clima no país era tão tenso que Elio Gaspari assim descreve
uma tentativa fracassada de atentado contra o presidente militar Costa e Silva,
em 1966:
Na manhã de 25 de julho de 1966, algumas dezenas de pessoas
esperavam-no [o candidato a presidente Costa e Silva] no aeroporto dos
Guararapes, no Recife. Havia gente querendo a revolução e disposta a
matar para fazê-la. Um cidadão entrou na banca de jornais do saguão
com uma maleta e saiu sem ela. Pouco depois o serviço de alto-falantes
anunciou que o candidato, que estava em João Pessoa, tivera uma pane
no avião e chegaria de automóvel a outro ponto da cidade. O jornaleiro
notou a maleta deixada no chão e pediu a um guarda-civil que a levasse
para a sala de achados e perdidos. O guarda apanhou-a e tinha dado
poucos passos quando ela explodiu. Costa e Silva deveria ter chegado
às 8h30min. A maleta detonou às 8h50min. Guardava uma bomba feita
com um pedaço de cano e que fora acionada por um mecanismo de
relógio [...]. (GASPARI, 2002, p. 240-241).
209
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
O eleitor que não votar e nem justificar a sua ausência estará sujeito às
seguintes restrições:
a) não poderá inscrever-se em concurso público;
b) não receberá vencimentos, remuneração, salário ou proventos, se o
eleitor for funcionário público;
c) não poderá participar de concorrência pública;
d) não poderá obter empréstimo, desde que não se trate de instituição
bancária privada;
e) não poderá obter passaporte, carteira de identidade ou CPF;
f) não poderá matricular-se em estabelecimento de ensino oficial ou
fiscalizado pelo governo;
g) não poderá praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do
serviço militar ou Imposto de Renda. (PODER JUDICIÁRIO, GUIA
DO ELEITOR 2010, p. 58-59).
NOTA
210
TÓPICO 1 | FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA HISTÓRIA DO BRASIL
No Brasil, além de todas as interdições que são impostas àquele que não
vota, é preciso pensar em outro ponto crucial da nossa democracia: os partidos
políticos. Sendo assim, o sociólogo brasileiro Octávio Ianni fala sobre os grupos
que representam democraticamente toda a população brasileira.
211
RESUMO DO TÓPICO 1
212
AUTOATIVIDADE
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213
214
UNIDADE 3
TÓPICO 2
FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS
BRASILEIROS DE DESTAQUE
1 INTRODUÇÃO
Falar sobre a sociologia do Brasil é um desafio muito grande. Como já
vimos na Unidade 2, os pensadores mais conhecidos e respeitados no mundo
acadêmico são europeus. Entretanto, no século XX (principalmente na segunda
metade desse século), vários pensadores nacionais se propuseram a pensar a vida
social do Brasil.
215
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
2 EUCLIDES DA CUNHA
Euclides da Cunha, no nosso entendimento, é considerado um dos
pensadores mais autênticos do Brasil. Seu modo de compreensão do país parece
ser muito real no que se refere à relação dos dois mundos que compõem o país, a
saber, o litoral e o interior. De um modo geral, a visão que se tem do interior, no
início do século XX, é de que a barbárie e o atraso residiam nesta região e de que
o desenvolvimento jamais chegaria a este lugar.
Deste modo, esta divisão sempre foi muito clara quando se abordavam
os acontecimentos nacionais. Hodiernamente ainda vemos, em jornais e revistas
dedicadas a notícias e fatos, que esta divisão ainda permanece. Para Euclides,
esta divisão não é justa e nem mesmo corresponde à realidade, pois, segundo ele,
o homem litorâneo, por mais que seja desenvolvido, não é autêntico, pois é uma
imitação dos modelos europeus de homem.
Este encantamento pelo mundo europeu era falso para Euclides e não
representava fidedignamente a realidade nacional. Ao contrário, o homem do
216
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
FIGURA 69 – O SERTANEJO
217
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Todavia, a visão de Euclides nunca foi bem recebida por outros intelectuais
de sua época, pois falar do homem sertanejo como novo representante do Brasil
218
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
era uma afronta ao progresso. Outra coisa muito curiosa do pensamento brasileiro
vigente à época era o de difundir um abandono do passado, um completo
esquecimento da história e a fundação de um novo olhar sobre o Brasil, ou seja,
era necessário implantar em todos um ardente desejo de mudança, mas esta
mudança deveria ser o mais pragmática possível. Este pragmatismo foi a nova
regra: o que vale é aquilo que tem utilidade agora.
O passado deve ser deixado para trás. Sabemos que, quando falamos no
sentido individual e psicológico, muitos erros e equívocos devem ser superados
(porém não esquecidos), mas quando abordamos o passado em um sentido mais
coletivo, é necessário esmiuçá-lo e analisá-lo de modo mais coerente. As marcas
históricas do passado não podem ser simplesmente olvidadas. Elas devem ser
assimiladas e literalmente digeridas para que um novo começo seja realizado. O
esquecimento do passado é uma atitude incorreta e inútil. Entretanto, a máxima
de que "quem vive do passado é museu" tenta incutir nas pessoas a ideia de
que somente a novidade interessa. Até mesmo o ato de não irmos ao museu
já nos delata: a história não nos interessa. Apenas o progresso nos fascina.
(BERLATTO, 2010).
219
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
DICAS
AUTOATIVIDADE
220
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
3 OLIVEIRA VIANA
FIGURA 70 – OLIVEIRA VIANA
Oliveira Viana não acreditava que houvesse uma evolução unânime das
etnias. Cada etnia ou raça se desenvolve de modo diferente. Aliás, ele considerava
que determinadas raças/etnias jamais alcançariam o patamar de outras mais
evoluídas. Não bastaria copiar o modus vivendi de outro grupo étnico para que
houvesse alguma alteração ou evolução. Era preciso levar em conta outros
aspectos, tais como, espaço geográfico, história, cultura etc.
221
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Por outro lado, se faz necessário lembrar a você, caro(a) acadêmico(a), que
a visão de sociedade apresentada por Oliveira Viana (e por muitos pensadores
contemporâneos a ele) coaduna-se com aquilo que abordamos recentemente neste
material: “A história do passado deve ser esquecida. O que vale é o agora”. Enfim,
neste caso, "os negros que se danem". Além do mais, Oliveira Viana pensava como
burguês e defendia os interesses de sua classe.
Ao falar sobre o sistema social do Brasil, ele protegia "com unhas e dentes"
a ideia de que o melhor modelo que nós tivemos foi o latifundiário. Além disso,
é muito difícil afirmar se a sua visão de mundo era ingênua ou estrábica, pois
afirmava que durante a sua História o Brasil havia passado por poucas revoluções
ou conflitos e que, justamente por este motivo, o povo era afeito às decisões de
seus superiores, principalmente seus governantes, que sabiam lidar com maestria
222
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
223
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
MV Bill
224
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
225
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
AUTOATIVIDADE
226
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
228
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
229
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
DICAS
AUTOATIVIDADE
2 Por que é tão forte, em nosso país, a ideia de que o trabalho e a educação não
são caminhos para o sucesso? Justifique.
____________________________________________________________________
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230
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
LEITURA COMPLEMENTAR
OscarPilagallo
A polêmica sobre a semântica teria ficado perdida no passado não fosse o fato
de que, até hoje, muitas pessoas, ao citar inadvertidamente a obra, emprestam à noção
de Buarque de Holanda uma conotação positiva que, desde a origem, lhe é estranha.
Em resposta a Cassiano, o autor explicou ter usado a palavra em seu verdadeiro
sentido, inclusive etimológico, que remete a coração. Opunha, assim, emoção à razão.
O didatismo foi incluído numa nota na segunda edição, de 1947, bastante modificada,
e que seria a definitiva, salvo por pequenas alterações posteriores.
231
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
“Não existe, entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma
descontinuidade e até uma oposição.” Para o homem cordial, no entanto, há uma
extensão natural entre os dois planos. A atitude se manifesta até na linguística,
“com o nosso pendor acentuado para o emprego de diminutivos”. Se tal expressão
já existisse, Buarque de Holanda certamente teria falado no “jeitinho brasileiro”,
pela síntese involuntária que faz de suas ideias.
Passados mais de 70 anos, por mais que o Brasil tenha mudado, suas raízes
continuam visíveis na informalidade descompromissada com a ética que ainda
perpassa setores da vida pública. Mas não é só por isso que a obra merece ser (re)
lida. Se o livro sobrevive com o frescor próprio dos clássicos é também porque
Sérgio Buarque de Holanda, dono de um texto em que nada falta, nem sobra, se
expressa com a elegância, a erudição e a sofisticação dos grandes escritores, que
fazem tais predicados parecerem naturais.
232
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
5 FLORESTAN FERNANDES
Florestan Fernandes é considerado um dos principais sistematizadores
do pensamento sociológico do Brasil. Suas principais ideias estão relacionadas
com um problema já abordado por Oliveira Viana no início do século XX, a
saber, o problema racial. Contudo, suas ideias estão relacionadas a uma visão
mais abrangente do conceito de raça no Brasil. Não obstante, ele definia que era
preciso ponderar sobre tal julgamento, utilizando-se as noções de relativismo
e diversidade culturais. Ele se autodenominava um “sociólogo militante”, pois
defendia as causas populares e seguia uma linha de pensamento mais marxista.
233
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
ATENCAO
O estudo analisou cinco setores econômicos: serviços, indústria, comércio, construção civil
e serviços domésticos. De acordo com o levantamento, 8,4% dos trabalhadores negros estão
na construção civil, enquanto a parcela de não negros empregados neste setor é de 4,9%.
Serviços domésticos empregam 10,1% dos negros, ante 5,4% de não negros.
No setor de serviços está a maior parcela de trabalhadores não negros (54,6%), enquanto a
dos negros chega a 48,8%. Na indústria, estão empregados 18,4% dos não negros e 17,2% de
negros. No comércio, as vagas estão com 16,2% dos não negros e 15% de negros.
Em 2011, na Grande São Paulo, os negros representavam cerca de 34% tanto da População
em Idade Ativa (PIA) quanto da População Economicamente Ativa (PEA).
234
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
Esse quadro se repete na indústria, segundo setor que melhor paga, cujo rendimento médio
por hora é de R$ 9,76. Os negros ganham R$ 6,75 ante R$ 11,26 dos não negros. Nesse setor,
o rendimento médio por hora dos negros representa 59,9% dos não negros.
Por outro lado, no setor de serviços domésticos, em que o rendimento médio por hora é de
R$ 4,83, os negros ganham R$ 4,83 e os não negros R$ 4,84, ou seja, o rendimento médio
por hora dos negros nesse setor representa 99,8% do rendimento dos não negros.
O coordenador de análise da Fundação Seade, Alexandre Loloian, disse que, embora haja
essa diferença significativa, os números já foram piores para os negros. Ele mostrou que, em
2002, o rendimento médio por hora dos negros no setor de serviços representava 55,5%
dos não negros. Na indústria, esse valor era de 53,2%.
No índice geral, o rendimento médio por hora dos trabalhadores negros era de R$ 5,47 em
2002 e, em 2011, ficou em R$ 6,28. “Isso representa uma alta de 14,8% em termos reais”,
disse Loloian. No caso dos trabalhadores não negros, o rendimento médio por hora era de
R$ 10,01 em 2002 e em 2011 ficou em R$ 10 30, um avanço de apenas 2,9%.
“O crescimento da economia nos últimos anos e seus reflexos positivos no mercado de
trabalho da região contribuíram para a melhoria geral do mercado, em especial para os
negros. No entanto, o crescimento econômico por si só não é capaz de garantir igualdade
de oportunidades”, avaliou, acrescentando que é preciso que se atenuem as discrepâncias
socioeconômicas e, mais especificamente, o nível de escolaridade.
235
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
Aliás, este status no Brasil, segundo Fernandes, não é legítimo, pois muitas
pessoas não conquistam determinadas posições sociais apenas por mérito, mas
principalmente porque já iniciaram a corrida da ascensão social em pontos de
largada muito diferentes, isto é, as pessoas “ricas” já estão colocadas em posições
bem mais avançadas se comparadas com pessoas “pobres”.
DICAS
236
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
AUTOATIVIDADE
6 DARCY RIBEIRO
Darcy Ribeiro é apontado como um grande antropólogo indigenista, pois,
do mesmo modo que Florestan Fernandes defendeu as causas dos negros no
Brasil, Ribeiro defendeu os valores dos nossos índios.
DICAS
238
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
Segundo Frans Moonen, a questão indígena no Brasil sempre foi vista com
desdém pelos órgãos responsáveis, como a Funai, por exemplo. De um modo geral,
segundo ele, a instituição fora criada não para proteger os índios, mas, ao contrário,
para proteger a população não indígena (MOONEN, 1988). O desinteresse e a falta
de respeito por esta população é algo recorrente em nosso país, como já sabemos,
desde a colonização. E esta atitude, certamente, não mudará tão cedo, pois
recentemente um grupo de agropecuaristas do Mato Grosso demonstrou que o afã
de conquistar e possuir aquilo que pertence legalmente ao índio não tem limites.
Damião Paridzané é o líder dos Xavantes que luta contra a invasão dos
fazendeiros na área do Mato Grosso.
239
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
240
TÓPICO 2 | FILÓSOFOS E SOCIÓLOGOS BRASILEIROS DE DESTAQUE
241
RESUMO DO TÓPICO 2
• Abordamos o pensamento de alguns pensadores importantes do Brasil. Cada
um deles destaca nuances muito interessantes da nossa História e de como o
Brasil se tornou aquilo que é hoje.
• Desde o modo como o índio, o negro e o caboclo foram tratados até o modo
como os próprios brasileiros se veem na atualidade são temas que despertaram
a curiosidade e a reflexão destes pensadores.
• Ele não pode ser esquecido ou engavetado. Além disso, é importante destacar
que vários destes pensadores inspiraram-se em pensadores europeus
(essencialmente, em Karl Marx). Contudo, a análise feita por eles está voltada
para nossa realidade.
242
AUTOATIVIDADE
243
Impávido, que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que vi
O axé do afoxé filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento
Se revelará aos povos
Surpreenderá a todos
Não por ser exótico
Mas pelo fato de poder
Ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio
FONTE: Disponível em: <letras.mus.br › MPB › Milton Nascimento>. Acesso em: 5 fev. 2013.
3 Realize uma pesquisa sobre a vida dos índios no Estado de Santa Catarina:
Quais são os grupos étnicos que ainda vivem no Estado? Quais são as suas
reservas mais importantes? As culturas permanecem vivas ou elas foram
tragadas pela cultura “branca”? Faça um relatório, apontando, ao final, as
conclusões pessoais.
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244
UNIDADE 3
TÓPICO 3
QUESTÕES SOCIAIS BRASILEIRAS NA
ATUALIDADE: CRIMINALIDADE,
SOCIOLOGIA RURAL,
MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E
LIBERTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a), chegamos finalmente ao último tópico desta
unidade (e, por extensão, deste material). Sabemos que fizemos um longo caminho
de estudos sociológicos e filosóficos a respeito do Brasil e do mundo até aqui.
Acreditamos, sinceramente, que nos esforçamos para despertar a sua curiosidade
sobre estes temas, que, genericamente, não são devidamente discutidos ou
aprofundados no nosso dia a dia.
245
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
2 CRIMINALIDADE E COMPORTAMENTO
Falar sobre criminalidade implica, logicamente, em falar sobre crime.
Contudo, a noção de crime não é consensual. A utilização banal desta palavra
fez com que o seu sentido real se perdesse. Segundo o Dicionário Aurélio, crime
caracteriza-se como “1. Violação da lei penal; delito; 2. Ato de desobediência ao
que é considerado direito, correto”. (FERREIRA, 2011, p. 265). Estas definições
representam um conjunto de ideias muito curiosas sobre o verdadeiro sentido da
palavra crime.
Além disso, faz-se comumente uma associação desta pessoa com bairros
pobres e sem infraestrutura. É por isto que há, no Brasil, uma estigmatização
das pessoas que vivem nas favelas. Elas são consideradas como criminosas só
porque vivem nestes lugares. Ou seja, é muito mais fácil rotular uma pessoa como
criminosa só porque ela vive em um determinado lugar, em vez de compreender
as verdadeiras causas da criminalidade.
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
É por isso que, no Brasil, falar sobre criminalidade não é uma tarefa
fácil. Para quem se recorda do filme “Tropa de Elite”, o capitão Nascimento
(personificado pelo ator Wagner Moura), ao invadir os morros das favelas do Rio
de Janeiro, descobre, na continuação do filme (Tropa de Elite 2), que o espaço do
crime não se circunscreve apenas à favela, mas reside predominantemente entre
os “criminosos de colarinho branco”. Contudo, todos nós compreendemos que o
principal alvo da retaliação policial são os mais pobres, pois seria como se a favela
fosse o próprio símbolo da criminalidade, o único local que aglomera problemas
sociais. (BERLATTO, 2011).
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248
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
Émile Durkheim (1987), por sua vez, acredita que o crime é um evento
normal na sociedade. Ele considera o crime algo normal na medida em que ele é
resultado de um desequilíbrio ou desajuste no ambiente coletivo. Se pessoas estão
passando por dificuldades e não há nenhuma retaguarda por parte do Estado,
elas apelarão ao recurso que estiver disponível, no caso, o crime.
Isso não significa dizer que Durkheim é conivente com o crime, mas ele
nos alerta para a questão de que o crime não é só um problema que compete
ao criminoso resolver, mas que é efeito da ruptura dos laços de solidariedade
orgânica (conceito que já vimos neste material) na sociedade. O pior efeito da
criminalidade, na visão durkheimiana, é a ocorrência da anomia, que significa,
em breves palavras, a ideia de que não existem mais regras a serem seguidas,
que não há mais respeito pela alteridade. Durkheim crê que, na medida em que
estes fatos acontecem, a importância das instituições sociais se desintegra. Isso
representa um verdadeiro caos social, pois, para ele, a relação entre os indivíduos
deve ser respeitada constantemente. Esta desintegração representa, em outras
palavras, um verdadeiro decreto de falência da vida social, pois se não houver
integração e coesão, não haverá solidariedade. (DIMENSTEIN, 2008).
DICAS
250
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
Mas, afinal, o que Becker quis dizer com isso? Ele revela que o ato de
desviar-se daquilo que é padrão ou aceitável pela maioria das pessoas não é algo
que está inserido nas pessoas que cometem o desvio. Mas, ao contrário, o pior
são as sanções e punições que são aplicadas e impostas pelas outras pessoas, que
agem como se fossem vigilantes da regra.
Neste caso fictício (mas plausível de ser real), é comum que as pessoas
rotuladas sofram amargamente o peso da incompreensão ou o desejo de
“autodestruição”. É comum encontrarmos casos nos quais a pessoa tira a própria
vida e a vida de pessoas próximas por não ser aceita como é. Durkheim tem uma
frase muito célebre sobre a questão do comportamento que devemos adquirir no
decorrer de nossas vidas na interação com as outras pessoas: “A maioria de nossas
ideias e tendências não são elaboradas por nós, mas nos vêm de fora e não podem
penetrar em nós senão através de uma imposição”. (DURKHEIM, 1987, 90).
Deste modo, manter-se normal faz com que as outras pessoas “não nos vejam”
e nada falem sobre nós. É por isso que temos que destacar aqui que o crime, como
contravenção, faz parte de um rol de ações que devem ser analisadas e penitenciadas
segundo os critérios do controle social formal. Não obstante, as ações desviantes são
“retaliadas” segundo critérios do controle social informal e – por incrível que pareça –
elas podem ser mais “impetuosas e eficazes” do que as do controle formal. Ir à escola
sem o uniforme, usar uma roupa extravagante, não saber a prática correta de um
esporte, cometer um erro crasso no convívio com seus colegas são alguns exemplos
que podem revelar o quanto uma pessoa pode ser motivo de chacota e humilhada por
não se enquadrar no modelo “padrão de comportamento”. (ELIAS; SCOTSON, 2000).
DICAS
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
AUTOATIVIDADE
A sociologia rural no Brasil, por muito tempo, sofreu forte influência das
correntes filosófico-sociológicas marxistas, o que levou à acentuação de temas ligados
ao "êxodo rural, à necessidade de reforma agrária, às ameaças de desaparecimento da
agricultura familiar diante da concentração da propriedade, às relações de trabalho,
ao poder do capital das multinacionais etc". (GUIVANT, 2010, p. 375).
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FIGURA 78 – ECO 92
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
NOTA
DICAS
4 TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Além dos assuntos ligados à Sociologia do Meio Ambiente e à
Criminalidade Nacional, outro tema que despertou bastante o interesse de vários
pensadores da Filosofia e da Sociologia foi a Teologia da Libertação. A Teologia
da Libertação ficou conhecida como expressão de um movimento religioso
transconfessional, que surpreendeu o pensamento filosófico e sociológico da
América Latina, nos anos 1970.
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
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MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
AUTOATIVIDADE
Elabore uma pesquisa sobre Leonardo Boff e sua obra. Boff é considerado
um dos teólogos mais respeitados do Brasil. Suas contribuições são muito
importantes para o entendimento da Teologia da Libertação no Brasil. Pesquise
e saiba mais sobre ele no site: <leonardoboff.com>.
Assim sendo, durante muito tempo ficou clara a ideia de que as pessoas
só seriam capazes de agir em prol de seus interesses se estivessem ligadas a
determinados grupos sociais e engajadas na luta pelos interesses coletivos. A ideia
de classe predominava como caracterização do pensamento geral dos movimentos
259
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Outrossim, é muito interessante destacar que esta ideia não prevaleceu por
muito tempo, pois a noção de classe dá um caráter demasiado homogêneo às pessoas
vinculadas. Deste modo, muitas pessoas ligadas aos movimentos sociais começaram
a divergir dos preceitos estabelecidos pelas classes às quais pertenciam (lembrando
aqui que, para Marx, só existem duas classes: o proletariado e a burguesia).
260
TÓPICO 3 | QUESTÕES SOCIAIS BRASILEIRAS NA ATUALIDADE: CRIMINALIDADE, SOCIOLOGIA RURAL,
MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
Assim podemos deduzir que, para Butler, aquilo que é visto como normal
e aceitável nada mais é do que uma imposição midiática, mesmo sabendo que
nossas atuações no mundo social não passam de uma performance. Assumimos
vários papéis e, em cada um deles, assumimos a persona que julgamos ser
mais adequada. Não obstante, hoje não há, do ponto de vista social, classes
propriamente ditas, como classe operária ou classe dos trabalhadores. Aliás, esta
linguagem caiu em desuso.
261
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
DICAS
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TÓPICO 3 | QUESTÕES SOCIAIS BRASILEIRAS NA ATUALIDADE: CRIMINALIDADE, SOCIOLOGIA RURAL,
MOVIMENTOS SOCIAIS, RELIGIÃO E LIBERTAÇÃO
Entretanto, sabemos que ainda há muito a ser feito em nosso país. Não
podemos esmorecer ou desanimar, pois nosso papel como professores, estudantes
e pensadores, é o de jamais entregar-se diante das adversidades que encontramos
em nosso dia a dia. Com isso, deixamos a você, caro(a) acadêmico(a), esta Leitura
Complementar, que aborda os problemas e os desafios que os movimentos sociais
encararam em nosso país, como encerramento de nosso material didático.
LEITURA COMPLEMENTAR
Gilberto Dimenstein
263
UNIDADE 3 | PENSAMENTO FILOSÓFICO E SOCIAL NO BRASIL
início dos anos 1960, caravanas culturais organizadas pela UNE - União Nacional
dos Estudantes percorreram o país divulgando atividades do Centro Popular
de Cultura. Durante a ditadura, grandes manifestações estudantis expressavam
o desejo de toda a sociedade por liberdades democráticas. Tiveram também
importante papel na campanha “Diretas já!”, em 1984, e pelo impeachment do
presidente Fernando Collor, em 1992.
Em 1932, como resultado de uma luta histórica, o voto feminino foi incluído
no Código Eleitoral. Desde então, as mulheres têm ampliado sua participação
política e tornaram-se agentes transformadores da própria História.
FONTE: DIMENSTEIN, Gilberto. Dez Lições de Sociologia para um Brasil cidadão. São Paulo:
FTD, 2008, p. 266-267.
264
RESUMO DO TÓPICO 3
265
AUTOATIVIDADE
266
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