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Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.ª Franciele Otto Duque
D946t
ISBN 978-85-515-0433-8
CDD 301
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Este é seu Livro Didático de Teoria Sociológica
II. Neste componente curricular você continuará seus estudos de teoria
sociológica, iniciados em Teoria Sociológica I. Se em Teoria I você conheceu
os clássicos da Sociologia, agora é hora de entender como essa ciência
prosseguiu seu percurso e consolidou-se como área de conhecimento,
desenvolvendo pesquisas, teorias e métodos.
III
e a Indústria Cultural, Habermas e o conceito de ação. Para finalizar, os
desdobramentos apresentados de suas análises sociológicas são: estudos
sobre a racionalidade, estudos sobre a arte e alguns outros temas, como a
autoridade, por exemplo.
IV
NOTA
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
LEMBRETE
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
V
UNI
VI
VII
VIII
Sumário
UNIDADE 1 – ESCOLA DE CHICAGO.................................................................................................1
IX
3 ADORNO E A INDÚSTRIA CULTURAL.........................................................................................88
4 HABERMAS E O CONCEITO DE AÇÃO........................................................................................94
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................98
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................99
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................189
X
UNIDADE 1
ESCOLA DE CHICAGO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1
A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE
CHICAGO
1 INTRODUÇÃO
Este primeiro tópico de seus estudos sobre a Escola de Chicago inicia
abordando os aspectos de base para o entendimento de como essa escola se formou
e sua influência na sociologia mundial, ou seja, por que ainda a estudamos na
contemporaneidade – principalmente quando tratamos do campo da Sociologia
Urbana.
3
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
2 DIMENSÕES HISTÓRICAS
Um primeiro item essencial que você deve saber para situar as terminologias
no campo das Ciências Sociais é que a Escola de Chicago é o núcleo de uma
sociologia norte-americana. Costumeiramente, ao se tratar sobre a sociologia
norte-americana, aparecerá a indicação de uma sociologia bastante pragmática,
cuja ênfase se dá em pesquisas com grande quantidade de dados empíricos e
desenvolvida a partir da Escola de Chicago. Portanto, ao consultar materiais sobre
a sociologia norte-americana, você encontrará menções à Escola de Chicago, que
consolidou a influência mundial dessa linha de análise sociológica.
4
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
FONTE: <http://www.blogdobraulio.com/2016/06/o-que-e-gentrificacao-e-por-que-se.html>.
Acesso em: 17 jun. 2019.
5
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
6
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
FONTE: <https://www.colegioweb.com.br/historia/voce-conhece-escola-de-chicago.html>.
Acesso em: 17 jun. 2019.
7
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
[...]
8
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
9
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
10
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
3 DIMENSÕES METODOLÓGICAS
A Escola de Chicago possui características específicas do ponto de vista
das formas metodológicas utilizadas em suas investigações, que interferiram
também no desenvolvimento das teorias de seus autores. Freitas (2002) explica
que três características peculiares foram o formalismo, o pragmatismo e a reforma
social. Vamos entender melhor cada um deles a seguir.
FONTE: <https://aminoapps.com/c/universodiverso/page/blog/pragmatismo/
xGWo_6mh2uxbYzEXz841oZpKKpe3bpxeN5>. Acesso em: 17 jun. 2019.
11
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
NOTA
Explicando a etnologia, ela pode ser definida como o estudo ou a ciência que
estuda os fatos e documentos obtidos por meio de etnografia – método de coleta de dados
comum no âmbito da antropologia cultural e social, que consiste no estudo descritivo da
cultura de diferentes grupos sociais.
12
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
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UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
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TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
15
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Seria possível estudar o controle social na cidade não mais realizado pelas
instituições clássicas, mas apoiado em normas jurídicas. Também as tentativas de
repressão ao vício e de controle do tráfico seriam objetos de investigação, já que o
espaço urbano torna-se o campo ideal para sua disseminação.
Silva (2009) destaca que Park indica que na cidade existem os chamados
tipos temperamentais, frutos das relações sutis causadas pela forte mobilidade
social. Neste sentido, Park destaca três eixos de estudos sociológicos:
Vejamos como Silva (2009, p. 73) descreve cada eixo de acordo com as
obras de Park:
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TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
17
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
Louis Wirth nasceu na Alemanha (1897-1952), mas fez seus estudos nos
Estados Unidos, na Universidade de Chicago. Formado pela primeira geração
dessa escola, este autor iria tornar-se, mais tarde, um de seus mais importantes
professores. Suas principais obras são O Gueto, publicado em 1928, e o texto O
urbanismo como modo de vida. Publicado originalmente no American Journal of
Sociology, em 1928, tornou-se o seu texto mais popular, muito utilizado pela
Antropologia em seus estudos sobre a cidade (SILVA, 2009).
FONTE: <https://www.isa-sociology.org/en/about-isa/history-of-isa/isa-past-presidents/list-of-
presidents/louis-wirth>. Acesso em: 17 jun. 2019.
18
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
ATENCAO
19
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Wirth volta suas análises para a cidade e para o urbanismo por identificar
a ausência de hipóteses sobre esses temas nas análises sociológicas. Para tanto, ele
baseia-se em Park e Weber, e busca analisar a cidade, desenvolvendo os seguintes
postulados, elencados por Silva (2009, p. 82):
20
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE CHICAGO
21
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
É dessa maneira que Wirth propõe que haja a construção de uma Sociologia
Urbana, tornando-se um dos precursores dessa abordagem. Uma teoria do
urbano, portanto, seria desenvolvida a partir de pesquisas e investigações que
tratem a cidade como objeto sociológico, considerando suas peculiaridades em
relação ao rural/tradicional.
DICAS
22
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
23
AUTOATIVIDADE
I- Formalismo
II- Pragmatismo
III- Reforma Social
24
UNIDADE 1
TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA
URBANA PARA A COMPREENSÃO DA
SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO
Agora que você já sabe como se originou a Escola de Chicago, as influências
que sofreu nas dimensões metodológicas e um pouco sobre alguns de seus autores
e pesquisas, é hora de adentrar no mundo dos seus conceitos. Muitas noções
sociológicas foram utilizadas, versões clássicas revisitadas e outras criadas.
Dentro do espaço que temos para estudo não seria possível esgotar todos
esses conceitos, portanto, novamente sua tarefa é ir além! Procure ampliar os
estudos com as leituras indicadas e pesquisar mais quando algum conceito lhe
chamar a atenção.
Por ora, vamos conhecer a ideia de cidade apresentada por este grupo, a
noção de estrutura urbana e suas características, e a ecologia humana. Este último
marcou fortemente toda a trajetória da Escola de Chicago, portanto, dê especial
atenção a este conceito/teoria.
2 A CIDADE
A cidade, nos estudos de Sociologia Urbana, possui sempre um peso
central nas análises – por ser uma categoria que aglutina a relação entre o
comportamento humano urbano e as instituições nesse espaço. Em se tratando da
Escola de Chicago, o autor clássico acerca do estudo da cidade é Park, conforme
vimos no primeiro tópico desta unidade. A cidade é o espaço de análise do
sociólogo, ela é entendida nesse contexto como laboratório social.
25
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
O artigo que Park escreveu sobre esse tema e que se tornou um marco para
a consolidação de uma tradição de pesquisa fortemente pragmática e de cunho
empírico foi A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio
urbano, em 1915. A publicação ocorreu no periódico American Journal of Sociology,
que – como já vimos – foi o principal meio de comunicação da Escola de Chicago.
Com o estímulo à exploração por esse método, Park e seus colegas na Escola
de Chicago desenvolveram importantes pesquisas, cujas diferentes dimensões
foram analisadas pelos mesmos participantes destes grupos de pesquisa. Assim,
a cidade de Chicago tornou-se um grande laboratório da vida social entre 1920
e 1930, quando os professores guiavam investigações – principalmente sobre a
criminalidade que crescia no espaço urbano.
26
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
FONTE: <https://www.reddit.com/r/oldcities/comments/77si71/chicago_in_1920/>.
Acesso em: 17 jun. 2019.
Park concebe a cidade como instituição, por isso ela se torna objeto
sociológico, sendo observada como estrutura externa ao indivíduo e que interfere
na sua subjetividade. De forma mais completa:
Assim, Eufrásio (1999) destaca que a cidade integra a estrutura física com
elementos espirituais, que são a ordem moral – e todo esse mecanismo é resultado
de um processo histórico. Ambas se moldam, se modificam, conforme interagem.
27
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
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UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
3 ESTRUTURA URBANA
Um dos estudos mais detidos relacionados ao conceito de estrutura urbana
foi desenvolvido por Robert McKenzie, publicado em 1923, cujo desenvolvimento
lhe permitiu a titulação no doutorado junto à Universidade de Chicago.
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
31
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Ele também descreve áreas que não possuem localização fixa no espaço
urbano, mas que são passíveis de identificação em função de suas características
(EUFRÁSIO, 1999, p. 62):
32
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
DICAS
4 ECOLOGIA HUMANA
A cidade, conforme vista no subtópico anterior, pode ter divisões bem
marcadas – que geram a divisão não apenas espacial, mas em regiões morais. Essa
divisão em áreas contribuiu para a elaboração do conceito de ecologia humana,
que possui forte relação com os estudos sobre a criminalidade.
33
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-31-Interaccion-del-Sistema-Social-
humano-y-el-Ecosistema-Fonte-Marten-2010_fig1_278667539>. Acesso em: 17 jun. 2019.
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
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UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
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UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A cidade, nos estudos de sociologia urbana, possui sempre um peso central nas
análises – por ser uma categoria que aglutina a relação entre o comportamento
humano urbano e as instituições nesse espaço. Em se tratando da Escola de
Chicago, o autor clássico acerca do estudo da cidade é Park.
• Para Park, por meio de métodos como a etnografia seria possível pesquisar
empiricamente a vida social ocorrida na cidade, especialmente suas nuances.
• Park concebe a cidade como instituição, por isso ela se torna objeto sociológico,
sendo observada como estrutura externa ao indivíduo e que interfere na sua
subjetividade.
39
AUTOATIVIDADE
a) Cidade:
b) Estrutura Urbana:
c) Ecologia Humana:
40
UNIDADE 1
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico de seus estudos sobre a Escola de Chicago. Ele
trata dos desdobramentos da sociologia ali praticada, ou seja, da aplicabilidade de
suas teorias e conceitos, vistos até aqui, em pesquisas empíricas e temas de análise
que até hoje são referência para reinterpretações e para autores contemporâneos –
especialmente no campo da Sociologia Urbana.
41
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Boa parte das pesquisas sobre o crime iniciava a partir da busca por
identificar as gangues que ocupavam um determinado território. As gangues
são formadas por grupos de adolescentes, geralmente filhos de imigrantes, que
ocupam as zonas mais pobres da cidade, e se encontram regularmente para
alguma prática – inclusive infrações e crimes. Esses grupos costumam se deslocar
e encontrar outros grupos, hostis, provocando muitas vezes, conflitos.
42
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
Uma outra característica das gangues indicada por Trasher é de que ela
é a “manifestação de conflitos culturais entre os comportamentos de imigrantes
entre si, por um lado, e, pelo outro, entre essas diferentes comunidades e os
valores de uma sociedade americana pouco atenta a seus problemas – sobretudo
sua pobreza – e que continua estrangeira a eles” (COULON, 1995, p. 66). Por
isso muitas gangues são formadas por pessoas de diferentes nacionalidades, que
sentem-se igualmente em condições de dominação.
DICAS
[...]
Sutherland, verdadeiro fundador da sociologia da delinquência,
considerava a criminalidade como, antes de mais nada, resultado de um
processo social. Segundo ele, a delinquência não é provocada por um
comportamento psicológico ou patológico; mesmo havendo, é claro, um
componente individual na criminalidade, a influência da organização social
e da herança cultural sobre o indivíduo são fatores determinantes. Segundo
Sutherland, não se nasce desviante ou delinquente, mas fica-se sendo por
“associação diferencial”, por aprendizagem, por se estar exposto a um meio
criminoso que considera como “natural” essa atividade e que impõe ao
indivíduo uma carga de significações sociais e de “definições da situação”: não
se é desviante ou delinquente por afinidade, mas por filiação, o que supõe uma
conversão do indivíduo, confrontado a vários mundos culturais diferentes e
conflitantes, que Sutherland chamou de “organizações sociais diferenciais”,
com integridade e funcionamento próprios. Essa ecologia da delinquência
elaborada em Chicago, especialmente por Sutherland, foi importante na
medida em que veio dar origem, 20 anos depois, às teorias modernas sobre
o desvio, em particular a labeling theory, que, mesmo ultrapassando as
orientações iniciais, apoiou-se sobre o conjunto desses trabalhos.
45
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
• Documentos pessoais
A obra que inaugurou o uso dessas fontes na sociologia foi The polish peasant
in Europe and in America, de Thomas e Znaniecki, cujo objetivo era descrever a vida
social dos camponeses poloneses em seu país de origem ou emigrados para os
Estados Unidos. Utilizaram para tal correspondências pessoais, autobiografias,
diários íntimos, testemunhos e relatos pessoais.
46
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
As cartas foram material de base para sua pesquisa etnográfica, cujo foco
eram as correspondências trocadas por famílias que moravam nos EUA com
os integrantes que permaneceram na Polônia. Os históricos de vida também
serviram como fonte, sendo solicitado a algumas pessoas que escrevessem sua
autobiografia, e cuja veracidade era verificada na comparação das cartas trocadas
com a Polônia, na época. Outros estudos, como o já mencionado trabalho de
Sutherland, que estudou a vida dos ladrões, também se utilizaram desses métodos.
• Trabalho de campo
47
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Outra pesquisa que utilizou esse método foi realizada por Cressey,
publicada em 1929, e que estudou as taxi-dance halls, casas de danças nas quais os
homens pagavam para que mulheres dançassem com eles. Essas casas possuíam
dançarinas e clientes fixos ou esporádicos, e eram associadas muitas vezes a
uma fachada para a prostituição. Cressey notou que as entrevistas formais não
davam conta de muitos aspectos, especialmente em se tratando de atividades
ilícitas envolvendo sujeitos. Assim, valeu-se de observadores e informantes que
participavam das atividades como clientes, não revelando que eram pesquisadores.
• Fontes documentais
“Na maior parte das pesquisas que marcaram a Escola de Chicago, vários
tipos de fonte documental seriam utilizados: arquivos históricos, os jornais
diários, os arquivos dos tribunais, os fichários das agências de assistência social e
de diversas organizações” (COULON, 1995, p. 117).
48
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
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UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
51
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
Mas essa é apenas uma visão, existiram outras formas de pensar as relações
entre imigrantes e nativos, e uma série de pesquisas realizadas por outros autores
da Escola de Chicago sobre o tema – no entanto, nosso espaço não permite esgotar
o tema, portanto, veja a sugestão a seguir.
DICAS
A imigração estudada pela Escola de Chicago pode ser estudada por meio do
artigo disponível em: https://bdtd.ucb.br/index.php/esf/article/view/5130.
A referência é: ZANFORLIN, Sofia Cavalcanti. Migração e Escola de Chicago: caminhos para
uma comunicação intercultural. Esferas, v. 1, n. 3, 2013.
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
LEITURA COMPLEMENTAR
Falarei hoje a respeito da Escola de Chicago, mais conhecida por seu nome
do que pelo conteúdo do que efetivamente fez. Mas quero abordar este tema
como uma pequena história dentro de uma história mais ampla da sociologia.
Geralmente conta-se a história da sociologia como a história das grandes ideias
sobre a sociedade e das grandes teorias a respeito da sociedade. Quando estudei
esse assunto, ainda na universidade, meu professor, Louis Wirth, começava por
Heráclito e Tucídides, ou seja, pelos antigos gregos. Outros, mais modestos,
começavam por Maquiavel ou mesmo Khaldun. No entanto, esse é um tipo de
apropriação do passado que não tem muito a ver com a realidade. Poderíamos
apenas dizer, desse ponto de vista, que a história da sociologia, como história
das ideias e teorias, começou, talvez, em algum momento do século XIX. Nomes
como os de Durkheim, Marx, Weber e outros são, de fato, nomes do século XX e
do final do XIX.
Há, contudo, pelo menos duas outras histórias da sociologia que precisam
ser contadas, o que deve ocorrer simultaneamente com a história das ideias.
Uma delas é a história da prática da sociologia, dos métodos de pesquisa e das
pesquisas realizadas, porque não se deve tomar como óbvio que as ideias foram
as forças motrizes ou a principal realização de qualquer escola sociológica. De um
determinado ponto de vista, que defendo com firmeza, a história da sociologia
não é a história da grande teoria, mas a dos grandes trabalhos de pesquisa, dos
grandes estudos sobre a sociedade. A terceira história da sociologia é a das
instituições e organizações, dos locais onde o trabalho sociológico foi realizado,
porque nenhuma ideia existe por si mesma, em um vácuo; as ideias só existem
porque são levadas adiante por pessoas que trabalham em organizações que
perpetuam essas ideias e as mantêm vivas.
[...]
53
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
Acredito ser correto afirmar que cada aluno de Park absorveu uma de
suas ideias e levou-a adiante. O pensamento de Park sobre as relações sociais foi
desenvolvido por autores como Pierson e Wirth, que também se interessou muito
pela teoria do urbanismo e pelo estudo das sociedades urbanas. Um dos temas
considerados mais importantes naquele tempo era o da delinquência juvenil,
que afetava especialmente os filhos dos grupos de imigrantes de Chicago, que
não eram criados da maneira que a população dominante da cidade considerava
55
UNIDADE 1 | ESCOLA DE CHICAGO
apropriada. Muitos deles praticavam pequenos delitos e isso era tido como um
grande problema. A questão era considerada, em parte, como um problema de
reforma: o que vamos fazer com essas crianças? De outro lado, era tida como um
problema de teoria sociológica. Dizia-se que, se concordarmos que a sociedade é
criada por pessoas socializadas e treinadas nas atividades que a farão se mover
– esse conhecido processo circular –, então o fracasso da sociedade em socializar
adequadamente muitas crianças pode ser um presságio de terríveis problemas
que ocorrerão, assim como um índice daqueles que já existem. Alguns alunos
de Park, como Frederic Thrascher, puseram-se a estudar essa questão. Thrascher
escreveu um livro intitulado The Gang, que traz um subtítulo encantador: A Study
of 1,313 Gangs. Não sei como ele conseguiu contar todas essas gangues!
56
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE CHICAGO PARA A SOCIOLOGIA
acompanhar essa sequência por meio dos dados censitários, demonstrando como
as características de uma determinada área da cidade mudavam de ano para ano,
ou a cada dez anos. Outra pesquisa muito importante foi realizada por Robert
Farisson e Warren Danum, que estudaram a incidência e a localização da doença
mental na cidade. A pesquisa mostrou que havia um grande número de doentes
mentais em determinadas áreas da cidade, embora a população dessas áreas se
alterasse de modo significativo.
57
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• Uma das grandes contribuições da Escola de Chicago diz respeito aos estudos
que envolvem o fenômeno da criminalidade. A partir do estudo específico
desta cidade, cuja criminalidade estava associada a conflitos frequentes entre
grupos de imigrantes, os autores desenvolveram um arcabouço teórico e
metodológico.
CHAMADA
58
AUTOATIVIDADE
59
60
UNIDADE 2
ESCOLA DE FRANKFURT
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade de estudo está dividida em três tópicos. No decorrer da
unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.
CHAMADA
61
62
UNIDADE 2
TÓPICO 1
A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE
FRANKFURT
1 INTRODUÇÃO
Assim como vimos na unidade anterior, com a relação existente entre a
Sociologia Americana e a Escola de Chicago é possível estabelecer o alinhamento
entre a Sociologia Alemã e a Escola de Frankfurt. Os autores alemães que compõem
a Escola de Frankfurt vincularam-se ao Instituto de Pesquisa Social – situado em
Frankfurt, daí o nome atribuído a esse conjunto de pensadores. Como veremos,
em função de condições históricas, o exílio ocorreu para parte deles – o que fez
com que a sede do Instituto mudasse acompanhando seus diretores, retornando
posteriormente à Alemanha.
63
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
2 DIMENSÕES HISTÓRICAS
Se existe um consenso entre os intérpretes das obras da Escola de Frankfurt,
este é o consenso de que as condições históricas vivenciadas pelos autores que
dela fizeram parte foram cruciais para o seu desenvolvimento.
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TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
65
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
66
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
67
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
68
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
TUROS
ESTUDOS FU
DICAS
3 DIMENSÕES FILOSÓFICAS
A Escola de Frankfurt sofreu grande influência da Filosofia, assim como
inúmeras correntes sociológicas. Boa parte de seus autores possui formação nessa
área e a discussão central da Teoria Crítica aparece em oposição à ideia de uma
Teoria Tradicional, embasada na Filosofia.
69
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
Descartes não confia nos dados dos sentidos: nos sentidos e nos
dados dos sentidos não há estabilidade, permanência, identidade.
Se olho para o Sol, por exemplo, sou levado a concluir que o Sol é
do tamanho que meus olhos veem. Mas, pela razão calculadora, sei
que é infinitamente maior. Ora não podemos “confiar duas vezes em
quem já nos enganou uma vez”. E mais: os dados dos sentidos estão
em permanente metamorfose, transformam-se, às vezes de maneira
imperceptível (MATOS, 1993, p. 19).
70
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
71
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
72
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
E
IMPORTANT
73
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
4 DIMENSÕES METODOLÓGICAS
Uma das noções que aparece com frequência nos estudos de Frankfurt
e que destaca a forma como seus autores pensam a sociologia, ou os métodos
sociológicos é a ideia de uma sociologia crítica. A palavra que designa essa
dimensão é Sozialforschung, termo que pode ser entendido como “investigação
social” ou “ investigação que leva ao social”.
E
IMPORTANT
74
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
Weil, patrono do Instituto, também nessa época defende sua tese sobre
planejamento socialista, e um dos principais sociólogos do Instituto, Wittfogel,
estuda a China a partir de uma abordagem positivista e economista. Ou seja, tudo
convergia para que o modelo adotado fosse este, baseado em análises econômicas
e fundamentados em uma filosofia positiva.
76
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DA ESCOLA DE FRANKFURT
Esse estudo não foi publicado, mas é possível observar a partir dele a
maturação metodológica da Teoria Crítica na sociologia alemã e o surgimento
dos princípios da Escola de Frankfurt. É possível perceber a Teoria Crítica no
trabalho sociológico quando (ASSOUN, 1991):
77
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
78
AUTOATIVIDADE
I- Teoria Tradicional
II- Teoria Crítica
79
80
UNIDADE 2 TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA
ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA
SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO
A partir de seu estudo sobre as dimensões fundamentais que constituíram
a Escola de Frankfurt – históricas, filosóficas e metodológicas – você poderá
contextualizar e entender alguns de seus conceitos e teorias e os principais
autores que os desenvolveram. Dizemos autores principais porque grande parte
das obras frankfurtianas foram desenvolvidas em conjunto, com a participação
de pelo menos dois autores.
Bons estudos!
81
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
FONTE: <http://cdn.shopify.com/s/files/1/1828/7185/articles/Horkheimer_1024x1024.
jpg?v=1505915093>. Acesso em: 14 ago. 2019.
82
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
83
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
Assim, Horkheimer problematiza a função social da teoria: “Na época atual..., não
é nas ciências da natureza, baseada na matemática apresentada como Logos eterno,
que o homem pode aprender a conhecer-se a si próprio; é numa teoria crítica da
sociedade tal como ela é, inspirada e dominada pela preocupação de estabelecer
uma ordem conforme a razão” (HORKHEIMER apud ASSOUN, 1991, p. 34).
Para tal empreendimento, a Teoria Crítica busca dar conta das estruturas
presentes no trabalho humano, baseando-se na experiência, e defendendo a ideia
de uma organização social conforme a razão e os interesses da coletividade. Assim,
ela visa a uma transformação global da sociedade e, para tanto, tenta fortalecer
as lutas às quais está ligada. A Teoria Crítica é oposicional, mesmo mantendo a
exigência teórica de buscar as leis da realidade, ela reconhece como sua função de
provocar a mudança na história.
E
IMPORTANT
E
IMPORTANT
85
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
86
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
[...] Quando a Teoria Crítica surgiu, nos anos 20 partiu da ideia de uma
sociedade melhor. Ela se comportava de maneira crítica em relação à sociedade,
como em relação à ciência. O que eu disse da ciência não vale somente para ela,
mas também ao indivíduo particular [...]. Não sabe dizer por quais razões se
ocupa com paixão de tal coisa e não de outra.
Na origem, nossa Teoria Crítica era muito crítica – tal como está
amplamente exposta na Revista para a Pesquisa Social –, como é o caso do
início, em particular em relação à sociedade dominante, pois esta havia [...]
produzido o que é aterrorizador no fascismo e no comunismo terrorista. Eis
por que colocávamos nessa época nossas esperanças na revolução, pois era
certamente impossível que a situação se tornasse pior na Alemanha após
uma revolução do que era no nacional-socialismo. Se a “sociedade justa”
era realizada por uma revolução dos dominados, como Marx concebeu, o
pensamento também deveria tornar-se mais juntos. Com efeito, ele não teria
mais então que depender da luta consciente ou inconsciente das classes entre
si. Todavia tínhamos consciência – e aí está um momento decisivo na Teoria
Crítica da época, como na de hoje – de não poder determinar antecipadamente
a sociedade justa. Podíamos dizer o que era o mal na sociedade da época, mas
não podíamos dizer o que seria o bem; poder-se-ia apenas trabalhar para que,
ao fim, o mal desaparecesse. Devo agora descrever como se caminhou dessa
Teoria Crítica inicial à Teoria Crítica atual. A primeira razão foi constatar que
Marx se equivocara em diversos pontos. Nomearei aqui apenas alguns: Marx
afirmou que a revolução seria o resultado de crises econômicas cada vez mais
agudas, crises ligadas a uma pauperização crescente da classe operária em
todos os países capitalistas. Isso, pensava-se, deveria conduzir finalmente o
proletariado a pôr fim a esse estado de coisas e criar uma sociedade justa.
Começamos a perceber que essa doutrina era falsa, pois a situação da classe
operária é sensivelmente melhor que na época de Marx. De simples trabalhadores
manuais que eram, inúmeros operários tornaram-se funcionários, com um
estatuto social mais elevado e um melhor nível de vida [...]. Segundo, as crises
econômicas de impasse estão cada vez mais raras. Podem, em larga medida,
ser contornadas graças a medidas político-econômicas. Por último, aquilo que
Marx esperava da sociedade justa é falso – não fosse por outra razão –, e este
enunciado é importante para a Teoria Crítica, porque a liberdade e a justiça
tanto estão ligadas quanto opostas. Quanto mais justiça, menos liberdade.
Se quisermos caminhar para a equidade, devem-se proibir muitas coisas aos
homens, notadamente de espezinharem uns aos outros [...].
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
Seu pai era judeu assimilado, negociante de vinhos. Sua mãe era cantora
lírica até casar-se, e filha de uma cantora alemã e de um oficial do exército francês.
Em função disso, Adorno cresceu em um meio de musicistas e amantes da música,
destinando-se logo cedo para a estética musical, aprendendo piano e composição.
Também estudou a Filosofia, conhecendo Kant por meio de seu amigo Kracauer,
especialista em sociologia do conhecimento (obra famosa: de Cagliari a Hitler –
relações entre cinema e nazismo).
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
Para além das obras de arte, o mesmo fenômeno atinge outros itens de
produção cultural. A música, por exemplo, também passa pelo mesmo movimento:
a uniformização apresenta-se para uma audição de massas, já que a indústria elege
o que é música popular e estabelece um processo eficaz de venda a partir disso.
FONTE: <https://www.coladaweb.com/wp-content/uploads/2014/12/20170901-industria-
cultural.jpg>. Acesso em: 14 ago. 2019.
91
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
“A velhíssima tensão entre cultura e barbárie, arte série e arte leve, foi
superada com a criação de uma cultura de mercado em que suas qualidades se
misturam e vêm a conformar um modo de vida nivelado pelo valor de troca das
pessoas e dos bens de consumo” (RÜDIGER, s.d., p. 139). As obras de arte, as
ideias, as pessoas, passam a ser criadas e negociadas como bens descartáveis.
FONTE: <https://evolucaosertaneja.files.wordpress.com/2015/05/calvin-e-a-tv.
jpg?w=414&h=214>. Acesso em: 14 ago. 2019.
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
DICAS
FONTE: <https://images.wook.pt/getresourcesservlet/
GetResource?zGV1ec7MWFnEoY+1t2IbUe7Sfr5HvHZy4VOBpjE2YeY=>. Acesso em: 14 ago. 2019.
94
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
E
IMPORTANT
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA ALEMÃ PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
• Ações teleológicas: definidas como aquelas realizadas por uma pessoa em busca
de um objetivo. São estratégicas e incluem pelo menos outra pessoa no cálculo
dos meios e fins. Esse tipo de ação é racional por que os agentes calculam qual a
melhor estratégia para atingir um determinado fim e, assim, eles se relacionam uns
com os outros compreendendo-os como meios ou obstáculos para a realização de
seus fins. Também chamadas de ações instrumentais. São frequentes nas relações
estabelecidas entre as pessoas no contexto do mercado de trabalho.
• Ações normativas: a intenção das ações normativas é atender às expectativas
recíprocas por meio do ajuste de conduta aos valores e normas compartilhados
na sociedade. Os objetivos individuais podem ser neutralizados pelos deveres
sociais e padrões de gosto, que são legitimados na forma de um código
normativo compartilhado. Para ser considerada racional, esse tipo de ação
deve se conformar com os padrões de comportamento aceitos pela sociedade e
defender os interesses gerais das pessoas afetadas. Essas ações apresentam-se
em situações nas quais as normas sociais precisam ser evocadas para a solução
de conflitos, como em uma disputa judicial, por exemplo.
• Ações dramatúrgicas: são revestidas pela personalidade do agente, estratégicas
no sentido de obter uma resposta determinada de certa audiência. Essas ações
são baseadas na sinceridade dos agentes, envolvidas por seu caráter verdadeiro.
São racionais se forem sinceras e se não permitirem que um dos agentes seja
enganado. Essas ações pressupõem um consenso entre as pessoas envolvidas,
quando se estabelecem acordos nas relações sociais.
• Ações comunicativas: ocorrem quando duas pessoas pretendem chegar a um
acordo voluntário, coordenando esforços para uma cooperação mútua. Nas
outras ações não é necessário que os agentes desejem necessariamente chegar
livremente a um acordo, porém na ação comunicativa utiliza-se a linguagem
para obter um acordo em torno de temas problemáticos, por isso não é uma
ação estratégica. Esse tipo de ação é frequente nas relações familiares, em que
todos buscam o bem comum para uma convivência harmônica.
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• A Teoria Crítica busca dar conta das estruturas presentes no trabalho humano,
baseando-se na experiência e defendendo a ideia de uma organização social
conforme a razão e os interesses da coletividade. Ela visa a uma transformação
global da sociedade, para tanto, tenta fortalecer as lutas às quais está ligada.
• Sempre que um produto cultural passa a ter uma fórmula popular, associada
ao êxito de consumo, a indústria promove e repete sempre o mesmo padrão.
Cria-se também a ideia de dependência do produto, com isso origina-se o
comportamento consumista.
98
AUTOATIVIDADE
a) Indústria Cultural:
b) Ação Social:
99
100
UNIDADE 2 TÓPICO 3
OS DESDOBRAMENTOS DOS
ESTUDOS DA ESCOLA DE
FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
Para o estudo do último tópico deste livro didático, temos a seleção de
alguns temas de pesquisa que foram importantes para a consolidação da Escola
de Frankfurt como uma escola de pensamento sociológico, cujos materiais são
revisitados com frequência e utilizados por autores contemporâneos das mais
diversas áreas. É comum que as obras da Sociologia Alemã estejam presentes em
análises das áreas de Comunicação, Economia, Artes, Filosofia, entre outras.
101
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
FONTE: A autora
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
Com esse processo, Habermas defende que se produzem três ilusões: que
a linguagem é um meio de conhecimento verídico e transparente; que a interação
comunicativa se caracteriza pela pura reciprocidade; e que os indivíduos são
plenamente conscientes dos seus motivos, que funcionam como pressupostos
contrafactuais subjacentes à ação comunicativa (INGRAM, 1993).
105
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
FONTE: <https://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2018/07/reproducao_
marcuse.jpg>. Acesso em: 14 ago. 2019.
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
Para Marcuse, a beleza das obras de arte não pode ser relacionada
a contextos históricos específicos, pois se fosse dessa maneira cairíamos no
relativismo. Assim, ele sugere pensar certas qualidades da arte ao longo de
todas as mudanças de estilo e períodos históricos, que seriam, conforme Chaves
e Rodrigues (2014), caráter político da arte, o fato dela ser revolucionária, a
universalidade, a alteridade, a transcendência, a forma estética, o belo e a
possibilidade de instigar a sensibilidade.
Marcuse afirmava que a arte poderia ser engajada, e aos que entendiam
que a realidade da época só poderia ser modificada por meio de radicalismo
político – e que a arte apenas era romântica e elitista – ele dizia que a arte era
parte do processo revolucionário.
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
Existem ainda alguns itens que Marcuse analisa quando estuda a arte:
sua universalidade – ela articula a humanidade em todas as pessoas que podem
ser livres, portanto, não pode ser associada a uma classe em particular; os
personagens representam tendências do desenvolvimento da sociedade como um
todo – não apenas de uma classe específica; a existência na arte de uma alteridade
ligada à autonomia, pela possibilidade de comunicar verdades que não podem
ser comunicadas por outras linguagens, entre outros.
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
4 OUTROS ESTUDOS
A sociologia crítica passou por dificuldades de aplicação empírica em seus
primeiros estudos, enquanto ajustava seus fundamentos epistemológicos para
que as pesquisas baseadas em suas teorias atingissem o rigor científico necessário
para sua legitimação como metodologia das ciências sociais. Isso ocorreu, em
parte, em função da linha positivista dominante na ciência da época, que colocava
a Teoria Crítica à prova diante de investigações empíricas.
110
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
A partir disso, definem-se três conclusões, sob o ponto de vista dos três
autores citados há pouco (TOMÁS, 2009, p. 105):
111
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
- Marcuse: conclui, que para que exista uma democracia (que ele
e Horkheimer veem como a polis grega sem a escravatura), a
sociedade tem de ser racionalmente organizada. Existe por isso um
tipo de autoridade legítima: a autoridade da razão. No entanto, a
autoridade política que domina o homem moderno parece cada vez
mais irracional.
Essa situação gerou uma adaptação por parte da Teoria Crítica, se antes ela era
defendida com total autonomia (mesmo em terras norte-americanas as publicações
saíam em alemão), a partir de então surgem trabalhos mistos nos quais essa teoria
é mais uma inspiração do que uma metodologia. Mas foi a ocasião para cultivar a
investigação empírica e fortalecer esse espaço nas análises da Teoria Crítica.
112
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
Esse foi o estímulo para uma pesquisa que deveria tratar de um campo
ideológico mais vasto, desde as técnicas de agitação política, problemas do
antissemitismo, estabelecimentos de ensino, até mesmo aos conjuntos ideológicos
dos antigos combatentes. Esse material é o balanço do período americano do
instituto e foi publicado em cinco volumes no ano de 1950, no seguinte formato,
conforme Assoun (1991, p. 49):
113
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
DICAS
DICAS
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
LEITURA COMPLEMENTAR
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UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
116
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
Para o autor, a Escola de Frankfurt é responsável por dois grandes feitos: levar
a problemática cultural para o campo da filosofia, bem como transformá-lo num ponto
de partida para os teóricos de esquerda refletirem sobre as contradições sociais.
Adorno, segundo Barbero (2003, p. 80), se coloca numa posição tal que
muitas vezes o leitor não sabe de que lado o crítico se encontra. “Que sentido tem
tudo o que foi afirmado sobre a lógica da mercadoria, que sentido tem criticar a
indústria cultural se ‘o que parece decadência da cultura é seu puro chegar a si
mesma’?” (Adorno in BARBERO, 2003, p. 80). Segundo o autor, Adorno, ao fazer
da arte o único caminho para a verdade, omite a pluralidade das experiências
estéticas e, ao se colocar num lugar mais elevado, parece se distanciar do estudo
das contradições das massas.
117
UNIDADE 2 | ESCOLA DE FRANKFURT
***
118
TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA A SOCIOLOGIA
119
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
CHAMADA
120
AUTOATIVIDADE
I- Razão Instrumental
II- Razão Comunicativa
III- Mundo da Vida
IV- Mundo Sistêmico
121
122
UNIDADE 3
SOCIOLOGIA FRANCESA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
123
124
UNIDADE 3
TÓPICO 1
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, neste tópico abriremos a unidade com os fundamentos
necessários para a compreensão do pensamento e obras dos autores que
representam a sociologia francesa: Norbert Elias e Pierre Bourdieu. Elias na
verdade é alemão, mas a sua abordagem sociológica e, especialmente, seus
estudos sobre a sociedade de corte francesa (que desencadearam as teorias acerca
do processo civilizador) o aproximam muito mais de uma sociologia francesa do
que da escola alemã de teoria sociológica.
125
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/norbertelias-130505214533-phpapp01/95/norbert-
elias-1-638.jpg?cb=1367790368>. Acesso em: 18 out. 2019.
Entre 1925 e 1930 ocorre uma melhora na economia e Elias retorna para
a Universidade de Heidelberg, preparando sua tese de habilitation, orientado por
Alfred Weber (irmão de Max Weber), cujo tema era a sociedade de corte francesa
nos séculos XVII e XVIII, publicada apenas em 1969 – com o título A sociedade de
corte (uma de suas obras mais famosas).
126
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
Essa situação obrigou Elias a fugir para a França, em 1933, e depois para
a Inglaterra, em 1935, onde naturalizou-se. Lá, ele escreve seu primeiro artigo
como exilado, publicado em um jornal de Paris, editado em língua alemã por
refugiados – no qual analisa a expulsão dos calvinistas da França no século XVII.
Para muitos autores esse texto já apresenta as bases de sua teoria das relações
sociais entre ‘estabelecidos e outsiders’.
127
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
A questão posta por Elias, é a seguinte: uma vez que todos os fenômenos
históricos, tanto atitudes humanas como instituições sociais, realmente
se ‘desenvolveram’ em alguma época, qual o método histórico mais
adequado para estudá-las, o relativismo histórico ou o estatismo
histórico? Com o intuito de responder a essa questão, Elias primeiro
define o que ele chama de estatismo histórico. Para ele, essa expressão
refere-se ao método de análise histórica que tende a descrever todos
os movimentos históricos como algo estacionário e sem evolução. O
relativismo histórico, por sua vez, é o método de análise da história
que a enxerga apenas em transformação constante, sem chegar à
128
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
Essa nova proposta que Elias indica como sendo um meio-termo entre
ambas, ele utiliza para analisar o que chama de curva da civilização, ou seja, o
fenômeno da civilização dentro de uma perspectiva de longa duração. Ele indica
que essa curva não é a única possível, mas que esse processo civilizatório tende
a mundializar-se, no que ele é questionado por outros autores, que indicam essa
perspectiva como determinista, já que as dimensões históricas e sociais teriam
uma direção marcada dentro da civilização.
Para fechar, cabe destacar o papel que o cientista social possui para
Norbert Elias, que é o de investigar processos sociais de longo curso, de longa
duração, pois como cientista especializado, o sociólogo pode apreender algumas
transformações sociais e processos de civilização por meio da análise de seu
desenvolvimento a partir de várias gerações.
129
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
DICAS
DICAS
Elias é um autor que também gosta dos trabalhos com bases empíricas
e, para comprovar essa sua perspectiva, utilizou dois aspectos: a história dos
costumes das pessoas na vida cotidiana e a formação dos Estados Nacionais.
Também a interdependência entre esses dois fenômenos é indicada pelo autor
como importante foco de análise.
130
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
DICAS
FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-UzMsj_-fDlY/TsJO4hVQPYI/AAAAAAAAAUM/up2ICnzK8w4/
s1600/eso.jpg>. Acesso em: 18 out. 2019.
132
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/sociedadefeudal-170927200257/95/sociedade-
feudal-11-638.jpg?cb=1506542613>. Acesso em: 18 out. 2019.
133
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
FONTE: <http://4.bp.blogspot.com/_I6_w6-SDUMo/S6P9Fr_4B9I/AAAAAAAABVI/Kz5RfHBR6_o/
s400/mussini.jpg>. Acesso em: 18 out. 2019.
134
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
135
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
FONTE: <https://www.gestaoeducacional.com.br/wp-content/uploads/2019/05/Burguesia2.png>.
Acesso em: 18 out. 2019.
É com base nessa análise que Elias defende um método histórico como
forma de compreender as figurações sociais, ou seja, as diferentes estruturas
e relações entre as pessoas. Vamos estudar essa proposta elisiana no próximo
subtópico, com vistas a apreender a teoria social proposta a partir dos estudos
desse autor.
136
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
FONTE: <https://colunastortas.files.wordpress.com/2013/09/d29a5-bourdieu2.
jpg?resize=400%2C600>. Acesso em: 18 out. 2019.
137
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
138
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
A obra de Bourdieu passa ainda por outras temáticas, tais como as funções
sociais das práticas culturais (L’Amour de l’art, em 1966), os professores universitários
(Homo academicus, 1984), a alta burguesia (La noblesse d’etat, 1989), a exclusão social
(La misère du monde, 1993), entre outros. Além disso, passou por uma fase de forte
engajamento político, nos anos 1990, quando publicou livros visando alimentar os
debates sociais e ideológicos, sobretudo com Sur la television, 1996.
139
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
DICAS
140
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
E
IMPORTANT
DICAS
Para avançar na ideia de Teoria da Prática, você pode buscar duas obras: Razões
Práticas (Editora Papirus, 2017) ou Esboço de uma Teoria da Prática (Editora Celta, 2002).
141
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
E
IMPORTANT
142
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
Cabe lembrar que essas estratégias nem sempre são conscientes, pois
resultam da conjunção do habitus com práticas anteriores. Na obra O Poder
Simbólico (1989), Bourdieu discute como a produção e a reprodução da vida
social são influenciadas pela dimensão simbólica, que defende ser uma dimensão
fundamental na análise da realidade social.
Bourdieu não se filia a essas tradições, embora seja influenciado por elas.
Ele procura desenvolver uma teoria de síntese, afirmando que a organização e
a lógica da percepção dos indivíduos podem ser cientificamente identificadas,
pois as produções simbólicas (língua, ciência, religião, arte, moral etc.) funcionam
como estruturas estruturantes (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2006).
143
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
E
IMPORTANT
144
TÓPICO 1 | A SOCIOLOGIA DE PIERRE BOURDIEU E NORBERT ELIAS
DICAS
145
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
146
AUTOATIVIDADE
1 Norbert Elias desenvolveu sua teoria sociológica com base na análise dos
processos civilizadores, utilizando a análise de longa duração para explicar
as mudanças de figurações sociais ocorridas ao longo dos períodos históricos.
Sobre a Teoria dos Processos de Civilização, analise as seguintes sentenças:
I- Elias afirma que o processo civilizador possui uma direção que culmina em
um final, que seria a sociedade científica.
II- Um dos materiais empíricos mais importantes para a análise da civilização
foi a história dos costumes da vida cotidiana.
III- Elias afirma que existe uma forte relação entre o desenvolvimento da
civilização e o aumento do controle emocional dos indivíduos.
IV- O processo de civilização, para Elias, ocorre a partir da modificação
consciente e planejada dos sentimentos e condutas humanas.
147
148
UNIDADE 3
TÓPICO 2
CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA
FRANCESA PARA A COMPREENSÃO DA
SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO
Agora que você já conheceu o contexto histórico que envolveu Elias
e Bourdieu, e os fundamentos de suas principais teorias sociológicas, vamos
conhecer mais pontualmente alguns dos conceitos mais utilizados por eles. Ambos
consolidaram um vasto conjunto conceitual, que não conseguiríamos estudar por
completo nesta unidade curricular, portanto, prossiga com seus estudos para
conhecer mais noções de cada autor.
149
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
O uso correto desse conceito se dá, para Elias, a partir de dois pontos:
primeiro, a natureza das transformações que dada figuração social pode sofrer,
pois toda a figuração complexa e integrada deve surgir de figurações inicialmente
menos complexas e menos integradas; segundo, a necessidade do distanciamento
para a correta compreensão da autonomia e dinâmica de uma figuração social,
pois para ele não é possível perceber os conflitos existentes na interdependência
das relações de uma figuração enquanto se estiver envolvido nela. Ou seja, para
o sociólogo, seria impossível realizar uma análise coerente das figurações sociais
estando ou sendo parte do grupo que a integra.
150
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/_44fPDMi1Gzc/TALX2nZsLEI/AAAAAAAAFYI/dloMBfoK_m0/
s1600/a%C3%A7%C3%A3o+social.jpg>. Acesso em: 18 out. 2019.
Para Elias também é essa noção que pode evitar a redução processual na
sociologia, que é a tendência a reduzir processos a estados, do ponto de vista
conceitual. Isso aconteceria nas distinções que são feitas entre o indivíduo e
suas atividades, entre estruturas e processos, objetos e relações (LANDINI,
2005). Conceitos como normas, valores, classes, papéis sociais, muitas vezes
são apresentados como independentes dos indivíduos, o que ele defende não
151
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
ser correto. Por isso a ideia de figuração seria tão importante, já que considera
as relações entre as pessoas. Na citação a seguir, o intérprete de Elias, chamado
Mennell, explica como funcionariam essas redes de figurações:
Portanto, ele reconhece que existem processos que vão além do controle
do indivíduo, mas que não devem ser tratados como independentes, já que se
efetivam apenas nas relações entre as pessoas.
152
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
DICAS
153
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
Esses pares de conceitos podem servir para determinar a direção dos processos
sociais, mas também podem indicar oposições e tensões estruturais no interior do
próprio movimento processual. Eles são importantes para determinar as fases ou
estágios de um processo social. “No processo de desenvolvimento da humanidade
até agora, uma fase posterior frequentemente apresenta, em relação à fase anterior,
uma ruptura na dominância decisiva de um centro de poder, cujos representantes
anteriormente disputavam com outros centros de poder” (ELIAS, 2006, p. 30).
154
TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
Esta é uma das razões pelas quais o fulcro do que se entende por
processo social deslocou-se na segunda metade do século XX,
principalmente em relação ao século XIX. No século XIX e início do
XX, o foco dos sociólogos ao utilizarem esse conceito, ou outros a
ele aparentados, limitava-se geralmente aos processos intraestatais
— portanto, por exemplo, à dinâmica de processos sociais ligados à
monopolização intraestatal dos meios de produção. Processos sociais
interestatais apareciam implicitamente como não estruturados,
talvez até como um campo de problemas para além do domínio de
pesquisa sociológica. Transformações da realidade social mostram
agora mais claramente que essa separação de processos intraestatais
e interestatais corresponde decerto à divisão das disciplinas, mas não
à própria coisa. A integração crescente da humanidade aponta cada
vez mais inequivocamente para a interdependência de processos intra
e interestatais. A isso corresponde ao fato de que o campo de tarefas
da sociologia não se restringe aos processos sociais intraestatais,
por exemplo à dinâmica dos processos de industrialização ou dos
conflitos sociais de um Estado singular. Processos de formação ou
de desintegração do Estado, de integração e desintegração estatal
e supraestatal podem servir como exemplos de processos sociais
cuja estrutura e transcurso influenciam fortemente a estrutura e
o transcurso de processos de Estados singulares, mas que não se
deixam mais esclarecer e determinar diagnosticamente pela limitação
do campo de investigação. Pode servir como exemplo o poderoso
processo de integração que, atualmente, leva todas as sociedades
singulares da humanidade a uma dependência cada vez mais estreita
umas das outras. Ele merece a atenção dos sociólogos. Como no
caso de muitos outros surtos de integração, com isso aumentam
inicialmente as tensões e os conflitos entre as unidades participantes
que, sem serem consultadas e frequentemente à revelia, tornam-se
dependentes umas das outras. Uma teoria dos processos sociais não
pode ignorar processos desse tipo, ou seja, processos que englobam
a humanidade. Antigamente, o conceito de humanidade referia-se a
uma imagem ideal distante, sempre pacífica e harmônica. Hoje, refere-
se a uma realidade rica em conflitos e tensões. Na teoria e na prática, o
processo social de uma humanidade que se integra ou se autodestrói
com alguma velocidade constitui o enquadramento universal para
a investigação de todos os processos sociais específicos. Só assim se
abrirá caminho para a discussão de outros problemas relativos aos
processos sociais (ELIAS, 2006, p. 31).
155
UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
DICAS
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TÓPICO 2 | CONTRIBUIÇÕES DA SOCIOLOGIA URBANA PARA A COMPREENSÃO DA SOCIEDADE
profundo, que orienta suas ações de forma durável. Desse modo, outros autores
posteriormente apropriaram-se do conceito de habitus em seus estudos, tais como
Marcel Mauss, Max Weber, Thorstein Veblen, Edmund Husserl, Alfred Schutz,
Maurice Merleau-Ponty e até mesmo Norbert Elias.
FONTE: <http://sociologiailustrada.com/wp-content/uploads/2018/11/01-23.png>.
Acesso em: 18 out. 2019.
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E
IMPORTANT
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{
Ethos: valores (dimensão normativa).
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DICAS
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CAMPOS
{
Doxa: senso comum.
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Os campos se articulam entre si, eles não são totalmente autônomos e suas
fronteiras não são completamente delimitadas. Pode haver uma interpenetração
dos campos, em que um determinado campo passa a reger de alguma forma
aspectos do outro (BONNEWITZ, 2003). As inter-relações, influências e
contaminações entre os campos são refratadas de acordo com a autonomia destes,
pois elas passam por um prisma composto por suas próprias regras.
DICAS
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
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AUTOATIVIDADE
a) Figuração:
b) Interdependência:
c) Processos sociais:
a) Habitus:
b) Campos:
c) Capitais:
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UNIDADE 3
TÓPICO 3
1 INTRODUÇÃO
Este é o último tópico de seu livro didático, no qual estudaremos
alguns dos desdobramentos da sociologia francesa para as análises e pesquisas
contemporâneas. Tanto Elias quanto Bourdieu desenvolveram importantes
estudos aplicando seus conceitos e consolidando teorias, com os mais diversos
temas, e são autores fundamentais para a área das ciências sociais.
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
Essa nobreza cortesã seguia regras rígidas de etiqueta para legitimar sua
‘civilidade francesa’, que era muito criticada pela classe média, tido como um
modo de vida superficial e falso. “Para os indivíduos alemães que se orgulhavam
de serem detentores da Kultur, os nobres cortesãos possuíam uma polidez de
fachada” (ELIAS, 1994 apud BRANDÃO, 2003, p. 87).
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DE BOURDIEU E ELIAS PARA A SOCIOLOGIA
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UNIDADE 3 | SOCIOLOGIA FRANCESA
FONTE: <https://www.estudokids.com.br/wp-content/uploads/2015/06/habitos-da-nobreza-
absolutista-1200x675.jpg>. Acesso em: 18 out. 2019.
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DE BOURDIEU E ELIAS PARA A SOCIOLOGIA
DICAS
É na obra Sociedade de Corte que Norbert Elias apresenta suas análises sobre
essa figuração social. No Brasil está publicada pela Editora Zahar, com edição de 2001.
3 BOURDIEU E A EDUCAÇÃO
Uma das grandes contribuições de Bourdieu ocorreu em suas análises
sobre a educação, conforme já mencionado, dado que a abordagem sociológica
permitiu desvelar as desigualdades de capitais que os agentes sociais trazem
para a instituição escolar já na ocasião de seu ingresso, e que são reforçadas pela
estrutura educacional.
Para aplicar suas teorias aos aspectos conceituais desse campo, pode-se
afirmar que a dimensão individual do mundo social, o habitus, encontra-se nos
alunos; enquanto que a dimensão estrutural, o campo, está expressa na instituição
escolar e nos elementos que a compõem.
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Para Bourdieu, a escola nega que seu público seja diferenciado, nega que
existam diferentes habitus entre os alunos. Consequentemente, o aluno que não
tiver suas disposições conformadas à estrutura do campo, ou seja, não possuir o
capital específico do campo, pode sofrer o insucesso. Cada campo social possui
um habitus próprio, e apenas quem tiver incorporado o habitus do campo tem
condições de jogar o jogo desse campo e de acreditar na importância desse jogo.
Essa situação é caracterizada como a illusio. Sobre a conformidade dos agentes
aos campos sociais, Catani e Pereira (2002, p. 110) esclarecem, fundamentados em
Bourdieu, que:
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DICAS
DICAS
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Em meio a estss lutas, os grupos definem o que é legítimo para o grupo social,
pois isso é que define a busca por mudança ou por manutenção da ordem social:
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Em meio a estss lutas, os grupos definem o que é legítimo para o grupo social,
pois isso é que define a busca por mudança ou por manutenção da ordem social:
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DICAS
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LEITURA COMPLEMENTAR
Segundo Bourdieu:
Vale ressaltar ainda que tal conceito passou por algumas inflexões
na obra de Bourdieu. Se no livro O senso prático ({1980} 2009) o autor define
a noção de forma mais rígida e fechada, em várias outras ocasiões, como nos
livros Réponses {1992}, Razões Práticas ({1994} 1996) e Meditações Pascalianas ({1997}
1998), sobretudo, revisita o uso anterior para uma versão mais ampliada. Por
exemplo, a noção de habitus clivado passou a existir na obra de maturidade do
autor, visando explicar o descompasso, sempre considerável, entre as relações
primeiras com o mundo social e a trajetória completa dos indivíduos. Se o
conjunto de estratégias continua a ser reenviado a uma unidade de um princípio
unificador, o habitus revisitado seria caracterizado pela heterogeneidade e
multiplicidade que se ajustaria a um grau variável de consciência. Uma dialética
entre disposições e ocasião se efetuaria em cada indivíduo. O habitus, de acordo
com a circunstância, perderia seu automatismo. Concordando com Fabiani
(2016), esse aprimoramento seria menos uma fragilidade do que um maior poder
analítico atribuído ao conceito.
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TÓPICO 3 | OS DESDOBRAMENTOS DOS ESTUDOS DE BOURDIEU E ELIAS PARA A SOCIOLOGIA
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UNIDADE 1 | SOCIOLOGIA FRANCESA
Como não ver que o grau em que um habitus é sistemático (ou, pelo contrário,
dividido, contraditório), constante (ou flutuante ou variável), depende das condições
sociais da sua formação e do seu exercício, e que pode e deve, portanto, ser medido e
explicado empiricamente? (Bourdieu, {1997} 1998, p. 54, grifo do original).
Citando Elias:
No caso de Bourdieu:
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E, agora em Bourdieu:
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FONTE: SETTON, M. G. J. Socialização de habitus: um diálogo entre Norbert Elias e Pierre Bourdieu.
Revista Brasileira de Educação, v. 23, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/
275/27554785056/html/index.html. Acesso em: 6 nov. 2019.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
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• Para Bourdieu, a cultura dominante é a cultura da classe dominante, e o
espectro cultural das demais classes apenas existe de fato, mas não de direito.
CHAMADA
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AUTOATIVIDADE
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REFERÊNCIAS
ARAGÃO, L. M. de C. Habermas: filósofo e sociólogo do nosso tempo. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 2002.
189
EUFRÁSIO, M. A. Estrutura urbana e ecologia humana: a escola sociológica de
Chicago. São Paulo: Editora 34, 1999. 303 p.
190
RÜDIGER, F. Comunicação e teoria crítica da sociedade: Adorno e a escola de
Frankfurt. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999.
191