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mais articulada, contrastando-se ao modelo dos ultrapassa os princípios da Deontologia – que dita
anos 1980. As Caps, contudo, têm como premissa o que se deve ou não fazer, baseado em concepções
central os Projetos Terapêuticos Individuais (PTI) humanitárias ou em códigos redigidos pelas pró-
e ignoram o contexto social do indivíduo. As Eaps, prias disciplinas profissionais. Isso contribui para
por sua vez, são uma estratégia mais abrangente e que o sujeito do sofrimento fique isolado de ações
consideram a complexidade e a abrangência ter- e discussões. No modelo da atenção psicossocial,
ritorial de onde a Unidade se insere. A crítica aos a ética – chamada ética da ação social – pauta-se
PTI também está presente em outros autores2,3 que na premissa de que o indivíduo do sofrimento é
afirmam que se configura em um conjunto de atos o principal agente do processo de produção dessa
de assistência porque a interdisciplinaridade, na atenção. Assim, a ética pressupõe que o sujeito
prática, é difícil de ser implementada, por questões possui inconsciente e potencial de produzir novo
várias, entre elas o próprio momento de encontro sentido às injunções sociais do seu cotidiano.
de toda a equipe de cuidado para discutir casos. Para que o papel daquele que escuta seja exer-
Costa-Rosa acrescenta a essas críticas o fato de que cido é necessário que o trabalhador-intercessor
a abrangência territorial é minimizada nos PTI. esteja consciente de que seu ‘saber’ se encontra
O quarto Capítulo – Interprofissionalidade, muitas vezes alienado ao sofrimento do sujeito,
disciplinas, transdisciplinaridade: modos da divi- sendo, logo, importante agir sobre essa ignorância
são do trabalho nas práticas de Atenção Psicosso- por remanejamentos transferenciais que restabe-
cial – reforça ainda mais importância do contexto lecerão o protagonismo ao indivíduo. A ética da
na prestação do cuidado. atenção psicossocial demanda que o significado
O Capítulo 5 – Para uma crítica da razão de ‘cura’ seja reinterpretado como a capacidade
medicalizadora: o consumo de psicofármacos de ‘cuidar-se’.
com sintoma social dominante – discute como A Conclusão elabora a necessidade de implan-
os psicofármacos são utilizados na atenção e sua tar um modelo novo, onde o sujeito do sofrimento
real necessidade em larga escala na abordagem deve construir, descobrir e resolver seus impasses
do sofrimento psíquico. Embora o autor saliente geradores do sofrimento. Para tanto, os profissio-
que não se deve abolir os psicofármacos, expressa nais de saúde necessitam reconhecer esse saber
a necessidade de um processo de desmedicaliza- inconsciente.
ção como meta. Um psiquiatra não tão médico: Costa-Rosa explora aspectos institucionais
o lugar necessário da psiquiatria da Atenção dos paradigmas atuais e a necessidade da presença
Psicossocial é o Capítulo 6. O autor discute a real da atenção psicossocial na rede de atenção
posição do psiquiatra no sistema de saúde e sua à saúde mental no Brasil. O autor acompanha
contribuição para a persistência de um modelo a opinião de outros estudiosos do tema sub-
hospitalocêntrico medicalizador. O capítulo é uma jetivação em saúde mental e tenta avançar ao
continuação do capítulo 5, e enfoca a mudança utilizar conceitos de modo de produção para a
necessária do paradigma médico, muito calcado ampliação das possibilidades de implementar
nos psicofármacos. ações na atenção psicossocial. A leitura do texto,
No Capítulo 7 – O grupo psicoterapêutico às vezes marcada por dificuldades pelo uso de
na psicanálise de Lacan: um novo dispositivo termos relativos aos modos de produção, vale
da clínica na Atenção Psicossocial – Costa-Rosa pelo esforço que o autor faz ao elaborar um
apresenta uma possibilidade de modo de atenção modelo de atenção que produz saúde mental.
que permita a produção de subjetividade singula-
rizada por indivíduos com sofrimento psíquico e
deslocamento do processo ativo para os pacientes: Referências
o grupo psicoterapêutico. Os benefícios existem
pois, para que haja produção de saúde psíquica, os 1. Fiorati RC, Saeki T. As dificuldades na construção
sujeitos do sofrimento precisam ser os produtores, do modo de atenção psicossocial em serviços ex-
tra-hospitalares de saúde mental. Saúde debate 2013;
e tais relações permitiriam produção de subjeti- 37(97):305-312.
vidade, ao permitirem aos envolvidos a escolha 2. Vasconcelos MGF, Jorge MSB, Catrib AMF, Bezerra IC,
do que é melhor em um tratamento. A teoria de Franco TB. Projeto terapêutico em Saúde Mental: práti-
Lacan sobre os fenômenos interindividuais e a cas e processos nas dimensões constituintes da atenção
representatividade das pulsões em um grupo tem psicossocial. Interface (Botucatu) 2016; 20(57):313-323.
3. Hori AA, Nascimento AF. O Projeto Terapêutico Singular
importante foco no texto.
e as práticas de saúde mental nos Núcleos de Apoio à
No capítulo final 8 – Uma ética da Atenção Saúde da Família (NASF) em Guarulhos (SP), Brasil.
Psicossocial: o cuidado em análise – Costa-Rosa Cien Saude Colet 2014; 19(8):3561-3571.
aborda a ética na saúde mental que, raramente,