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INTRODUÇÃO
1
Licenciado em História pela UFRPE e especialista em ensino da História pela UFRPE. Este trabalho é
derivado da pesquisa realizada por ocasião da produção da monografia de conclusão da graduação sob
orientação da Profa. Dra. Suely Cristina Albuquerque de Luna.
2
TUMIN, Melvin M. Estratificação Social. São Paulo: Pioneira, 1970.
3
ENGELS, Friedrich. Anti Düring. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
4
VEBLEN, Thorstein. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. São Paulo:
Pioneira, 1965.
3
5
Idem, p. 25.
6
CUNHA, Luiz Antônio. O ensino de ofícios artesanais e manufatureiros no Brasil escravocrata. São
Paulo/Brasília: Editora UNESP/FLACSO, 2000. p. 8.
7
Idem, p. 48.
8
CUNHA, Luiz Antônio. op. cit. p. 7.
4
9
Idem, pp. 300-301.
10
Idem, p. 293.
11
“Longe de conformar-se com uma viuvez honesta, de nação decaída – como mais tarde a Holanda,
que depois de senhora de vasto império entregou-se ao fabrico de queijo e de manteiga – continuou
Portugal, após Alcácer-Quebir, a supor-se Portugal opulento de Dom Sebastião vivo. A alimentar-se da
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fama adquirida nas conquistas de ultramar. A iludir-se de uma mística imperialista já sem base. A
envenenar-se da mania de grandeza (...) É um povo que vive a fazer de conta que é poderoso e
importante. Que é supercivilizado à européia (...) A Suíça que condense seu leite e a Holanda que
fabrique seus queijos. Portugal continua de ponta de pé, no esforço de aparecer entre as grandes
potências européias”. Idem, p. 257.
12
Idem, p. 301.
13
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: José Olímpio Editora, 1948. p. 23.
14
Idem, p. 27.
15
Idem, p. 40.
6
terra e sua vida mais ou menos estruturada na Europa para tentar o sucesso
explorando as terras selvagens da colônia, pois “o que o português vinha buscar era,
sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custasse ousadia, não riqueza que custasse
trabalho”.16
Este espírito e esta postura acabam aportando no Brasil trazidos pela fidalguia
que se estabeleceu na colônia como senhora de homens e terras. Esta mesma elite
acomodada ao conforto da contemplação do trabalho alheio e habituada à
demonstração de pujança fez com que se reproduzissem por aqui muitas das cenas e
hábitos que já eram comuns no Portugal de Clenardo e Alexandre de Gusmão. Nossa
classe ociosa tornou-se herdeira direta da fidalguia lusitana das aparências, mesmo
que ela não estivesse necessariamente fingindo uma opulência que nem viesse
efetivamente a gozar e dentro das condições que se viram no Brasil nem era
necessário ser nobre para ser ocioso, pois a repugnância pelo trabalho e o louvor ao
ócio não eram valores que concerniam com exclusividade à fidalguia.
16
Idem, p. 46.
17
ARAÚJO, Emanuel. O Teatro dos Vícios: transgressão e transigência na sociedade urbana colonial.
Rio de Janeiro: José Olímpio Editora, 1997. p. 84.
7
para quem não fosse senhor, não levava a parte alguma e o esforço de
realizá-lo, ao invés de dignificar quem o executasse, tendia, ao contrário
a aproxima-lo das regras de domínio e submissão imperantes na
20
condição cativa de existência.
18
CUNHA, Luiz Antônio. op. cit. p. 16.
19
KOWARICK, Lúcio. Trabalho e vadiagem: a origem do trabalho livre no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1994. p. 28.
20
Idem, p. 56.
21
CUNHA, Luiz Antônio. op. cit. 19.
8
22
TOLLENARE, L. F. de. Notas Dominicais. Salvador: Livraria Progresso Editora, 1956. p. 129.
9
Lourenço”23. Avé-Lallemant ressaltara que o domingo haveria de ser santificado por ter
sido o dia de descanso de Deus. Homens e até os animais que eram utilizados na
jornada de trabalho que ele testemunhara na propriedade S. Lourenço deveriam estar
sendo poupados daqueles trabalhos no dia sagrado, pois foram estas as instruções de
Deus mesmo considerando que “embora não tivesse falado nos negros escravos, eles
estão incluídos nessa sua mercê”.24 Mas em vez de descanso, o que esta testemunha
religiosamente espantada relatou foi que “os escravos estavam de pé; andaram,
carregaram e arrastaram – homens, mulheres, velhos e moços – por todo o domingo, e
já estava escuro quando o movimento cessou”25. O alemão ressaltou ainda que
“mesmo que aquele trabalho num dia de semana fosse também assim, encolheria os
ombros da mesma forma”26. E, não deixando passar a oportunidade, o protestante
ainda fez sua estocada de mordaz ironia: “O que diria o Bispo de Pernambuco, o
ultracatólico furibundo papa-protestantes?”27
23
AVÉ-LALLEMANT, Robert. Viagem pelo Norte do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério de Educação e
Cultura - Instituto Nacional do Livro, 1961. p. 34.
24
Idem.
25
Idem.
26
Idem.
27
Idem.
28
VEBLEN, Thorstein. Op. cit. p. 62.
10
De acordo com Emanuel Araújo, a necessidade que havia no Brasil por parte de
significativa parcela da população livre de se mostrar em condição de vida digna
dependia de demonstração de ociosidade que fazia com que fosse indispensável a
posse ou uso de escravos, eximindo da indignidade do trabalho até pessoas que nem
mesmo chegavam a ser realmente abastadas30. Os cânones da fidalguia (e da
pretensão à fidalguia) recomendavam também uma postura de certa distância do
trabalho para uma nobreza que jurava viver em cortes européias. Desnecessário seria
duvidar de que a honorabilidade do senhor estava diretamente relacionada à
quantidade de escravos que ele possuía a seu dispor, ainda mais quando estes
escravos possuíam atividades relativas exclusivamente ao bem-estar pessoal do
senhor, ou seja, os escravos de mero luxo que atuavam na qualidade de lacaios ou
criados domésticos. O serviço prestado por estes escravos não era um tipo de serviço
produtivo e aí está a grande proeza de seu proprietário: dispor de escravos que
necessariamente não tenham função produtiva, mas a atribuição de exaltar ainda mais
a ociosidade do senhor. Este trabalho de atendimento ao conforto dos senhores trata-
se daquele tipo de atividade que Veblen definiu como atividades de ócio vicário, ou
seja, o dispêndio de esforços improdutivos destinados ao conforto alheio. Os escravos
de mero luxo acabam por contemplar mais esta regalia da escravista classe ociosa
brasileira. Emanuel Araújo acrescenta ainda que “o padrão ideal de status, portanto, era
esse: possuir escravos que dispensassem o dono de certos trabalhos ou, melhor ainda,
de todo trabalho”31.
29
CALDEIRA, Jorge. A nação mercantilista. São Paulo: Editora 34, 1999. p. 53.
30
ARAÚJO, Emanuel. Op. cit.
31
Idem, p. 90.
11
32
FREYRE, Gilberto. Vida Social no Nordeste: aspectos de um século em transição. In FREYRE, Gilberto
(org). O Livro do Nordeste. Recife: Arquivo Público do Estado, 1979. p. 81.
33
Idem.
34
Idem.
35
Idem.
12
geral”36. Koster ainda considerava que estas mulheres por toda sua vida se viram
rodeadas de escravos e não tiveram a devida percepção do verdadeiro censo de
autoridade e apresentou uma sábia sugestão: “levai essas mulheres para adiante,
educando-as; ensinai-lhes o que é racional e serão iguais e em nada inferiores aos
seus patrícios”37. Enquanto Gilberto Freyre imputava aos escravos a responsabilidade
pelo autoritarismo cruel das senhoras, Henry Koster atribuiu ao esquema de educação
e cultura patriarcal a culpa por esse comportamento, pois “a falta não está no sexo mas
no estado de costumes”38.
CONCLUSÃO
36
KOSTER, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Recife: Secretaria de Educação e Cultura, 1978. p.
375.
37
Idem.
13
38
Idem.
14
REFERÊNCIAS