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O TRABALHO EM RAÍZES DO BRASIL DE SÉRGIO BUARQUE DE

HOLANDA E O ‘ESPÍRITO’ DO CAPITALISMO EM MAX WEBER

LUIZ GUSTAVO DA SILVA1

SUMÁRIO

Introdução. Capítulo 1 –Linhas gerais da formação da consciência do trabalho em Raízes


do Brasil; Capítulo 2 – Estrutura geral do “espírito” do capitalismo em Max Weber;
Capítulo 3 – Cotejamento das estruturas e conclusões. Referências.

RESUMO

O presente trabalho busca consignar os elementos gerais acerca do diagnóstico da


formação da cultura do trabalho no Brasil, a partir da obra Raízes do Brasil de Sérgio
Buarque de Holanda e relacioná-lo, em contraponto, ao ‘espírito’ do capitalismo de Max
Weber e, ao final, a partir destes conceitos, proporcionar a possibilidade interpretar a
realidade brasileira.

PALAVRAS – CHAVE

Direito e economia. Comportamento. Interesse. Cultura. Trabalho. Raízes do Brasil.


‘Espírito’ do capitalismo. Realidade.

1
Trabalho entregue como conclusão da disciplina obrigatória Direito e Desenvolvimento no programa de
Mestrado em Direito, Justiça e Desenvolvimento do IDP-SP – Professor Doutor Luciano Timm.
INTRODUÇÃO

Uma contextualização necessária. O presente trabalho nasce de uma


exigência da disciplina de direito e desenvolvimento do programa de mestrado em direito,
justiça e desenvolvimento do IDP-SP. Nesta disciplina é que compreendemos que a
confluência entre direito e economia se dá por meio da análise do comportamento, no
direito sob a ótica da lei e na economia sob a ótica do custo. Ainda, à título de moldura
geral, a variável interesse se faz presente, seja no direito, seja na economia. Direito e
economia como paredes; comportamento e interesse como piso e telhado, formam a
construção da disciplina. A partir daqui o estudo se desenvolve em diversas escolas e
variados autores (Ronald Coese, Posner, Calabresi, Buchanan, Susten, North, Acemoglu,
Landes, Weber etc). Desses estudos, nasce a inteligente exigência de analisar a realidade
brasileira, a partir de um clássico, relacionando-a com um desses autores internacionais.
É neste contexto que o presente estudo se coloca.

É cediço que os fatores econômicos são categorizados em natureza,


trabalho, capital e tecnologia. Nossa proposta é fazer um recorte sobre a força de trabalho,
compreendendo-a à luz da escola culturalista, tendo como marco teórico os estudos de
Sérgio Buarque de Holanda em Raízes do Brasil, bem como de Max Weber em A ética
protestante e o ‘espírito’ do capitalismo. Tais obras, por sua vez, extravasam os estudos
para além do objeto trabalho. Sabemos disso. Porém, dentro desses estudos procuramos,
mais uma vez, recortar os elementos que possam explicar as diversas realidades acerca
da compreensão do trabalho. Exposto o marco teórico e o recorte do qual incidiremos
nossa análise, vejamos qual é o objeto da proposta.

Nosso principal objeto virá de Sérgio Buarque de Hollanda de onde


traremos os elementos centrais do Capítulo 2 de Raízes do Brasil – Trabalho e Aventura,
sem nos olvidar de importantes assertivas do Capítulo 1 - Fronteiras da Europa. De Max
Weber usaremos a significação cultural do ‘espírito’ do capitalismo, especialmente o que
o próprio Weber chamou de delineamento provisório do conceito, disponível nas
assertivas de Benjamim Franklin. Após, de uma a outra, e ao final, teremos variados
conceitos para interpretarmos a dura realidade brasileira, como por exemplo: i) a carga
histórica e os comportamentos ainda vistos ii. Falta de eficiência e racionalização da força
de trabalho; iii. Custos com mão de obra; iv. A geração dos que nem trabalham e nem
estudam; iv. Resistências irracionais às reformas – trabalhista, previdenciária e tributária
etc. Cremos, por fim, como hipótese e à título de conclusão, que será pela via da cultura
que poderemos emancipar o indivíduo desse aprisionamento inconsciente retratado em
Raízes do Brasil e, com isso, forjar maiores riquezas e crescimentos econômicos.

CAPÍTULO 1

Linhas gerais da formação da consciência do trabalho em Raízes do Brasil

O ponto de partida para nos dedicarmos ao tema do trabalho em Sérgio Buarque


de Holanda nasceu de uma assertiva de Antônio Candido quando assim registrou: “ (...)
um dos temas fundamentais do livro; a repulsa pelo trabalho regular e as atividades
utilitárias, de que decorre por sua vez a falta de organização, porque o ibérico não
renuncia às veleidades em benefício do grupo ou dos princípios2”. É partir dessa premissa
que a leitura do tema deve ser realizada. Essa é a chave para compreensão de tudo o que
aqui será delineado. Façamos, portanto, esse registro geral fundamental, tido aqui como
uma das premissas à compreensão da realidade brasileira.

O mundo novo e a velha civilização foram marcados pela tentativa de implantação


da cultura europeia em outros territórios. É este o caso do Brasil. A consequência é que
tudo o que fazemos parece ser e pertencer a um outro sistema. Essa sensação de
pertencimento a uma outra cultura deve, desde já, ser compreendida como uma carga que
recebemos da nação ibérica. Representantes desse europeísmo, Espanha e Portugal
representam uma linha de transição, entre outras, a menos carregada da cultura europeia.
Os dois países entraram tarde nessa condição, o que implicou, já neles, um

2
Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda, Companhia das Letras – Prefácio de Antônio Candido, p.
15.
desenvolvimento às margens desta cultura. Talvez a razão para isso é que ficavam no
litoral da península. A entrada na cultura se deu justamente em razão dos descobrimentos
marítimos. Assim, na origem, Espanha e Portugal representam uma indecisão entre a
Europa e a África, ainda que separadas por uma faixa de mar.

A seguir, a origem ibérica legou-nos, outrossim, uma exagerada cultura da


personalidade, implicando em um personalismo exagerado nas relações. O resultado
concreto de tal personalismo é a tibieza do espírito de organização, solidariedade e dos
privilégios hereditários. Nosso objetivo com o que aqui chamamos de elementos gerais é
o de tentar captar os caracteres acerca da questão do trabalho. Evoluindo nesse objetivo,
a esta altura, torna-se imprescindível trazer à baila a letra do próprio Sérgio Buarque, a
julgar, no nosso sentir, tamanha proficuidade em seus ensinamentos. Vejamos:

Um fato que não se pode deixar de tomar em consideração no exame da


psicologia desses povos é a invencível repulsa que sempre lhes inspirou
toda moral fundada no culto ao trabalho. Sua atitude normal é
precisamente o inverso da que, em teoria, corresponde ao sistema do
artesanato medieval, onde se encarece o trabalho físico, denegrindo o
lucro, o “lucro torpe”. Só muito recentemente, com o prestígio maior
das instituições dos povos do Norte, é que essa ética do trabalho chegou
a conquistar algum terreno entre eles. Mas as resistências que encontrou
e ainda encontra têm sido tão vivas e perseverantes, que é licito duvidar
de seu êxito completo. A “inteireza”, o “ser”, a “gravidade”, o “termo
honrado”, o “proceder sisudo”, esses atributos que ornam e
engrandecem o nobre escudo, na expressão do poeta português
Francisco Rodrigues Lobo, representam virtudes essencialmente
inativas, pelas quais o indivíduo se reflete sobre si mesmo e renuncia a
modificar a face do mundo. A ação sobre as coisas, sobre o universo
material, implica submissão a um objeto exterior, aceitação de uma lei
estranha ao indivíduo. Ela não é exigida por Deus, nada acrescenta à
sua glória e não aumenta nossa própria dignidade. Pode dizer-se, ao
contrário, que a prejudica e a avilta. O trabalho manual e mecânico visa
a um fim exterior ao homem e pretende conseguir a perfeição de uma
obra distinta dele. É compreensível, assim, que jamais se tenha
naturalizado entre gente hispânica a moderna religião do trabalho e o
apreço à atividade utilitária. Uma digna ociosidade sempre pareceu
mais excelente, e até mais nobilitante, a um bom português, ou a um
espanhol, do que a luta insana pelo pão de cada dia. O que ambos
admiram como ideal é uma vida de um grande senhor, exclusiva de
qualquer esforço, de qualquer preocupação. (...) Nem o contato e a
mistura com raças indígenas ou adventícias fizeram-nos tão diferentes
dos nossos avós de além-mar como às vezes gostaríamos de sê-lo. No
caso brasileiro, a verdade, por menos sedutora que possa parecer a
alguns dos nossos patriotas, é que ainda nos associa à península ibérica,
a Portugal especialmente, uma tradição longa e viva, bastante viva para
nutrir, até hoje, uma alma comum, a despeito de tudo quanto nos separa.
Podemos dizer que lá nos veio a forma atual de nossa cultura; o resto
foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma3.

Em que pese a extensa citação, fato é que ela contém vários elementos à
compreensão de nossa proposta. Do excerto acima fica revelado ainda a sua atualidade.
É sabido o quão presente que ainda temos na necessidade de relações personalistas. É
dessa quadra a dificuldade e o desprezo pelo trabalho operacional e tático. O quanto de
dinheiro é gasto em salários e processos ineficientes notadamente para suportar níveis de
gerenciamento nas hierarquias empresariais. Na verdade, é cultura quase que popular: um
trabalhando e três fiscalizando. Essa cultura atinge a todos os níveis sociais: de
empresários a trabalhadores. Há, quiçá, uma verdadeira inflação nas folhas de salários.
Aos trabalhadores, a patente dificuldade de se dedicar aos trabalhos em níveis de base. É
o famoso colocar a mão na massa. Eis acima, nas palavras do autor, uma hipótese,
escorada no fator cultural, para explicar, ainda nos dias de hoje, tamanha dificuldade e
desprezo pelo trabalho. Por fim, uma passagem no texto não podemos deixar sem o
devido destaque, seja pela relevância em si, seja pela exata conexão com a análise que
aqui propomos. Tal assertiva se dá no momento em que fica registrada a chegada de uma
ética de trabalho vindo dos povos do Norte. Adiante voltaremos nesse ponto. Voltemos
ao intento de emoldurar a questão do trabalho em Raízes do Brasil.

Sérgio Buarque ao traçar as características dos dois tipos de homem, o aventureiro


e o trabalhador, buscou, no Capítulo 2, mostrar a mestiçagem que acabou por possibilitar
a construção de uma nova pátria. Interessa-nos, porém, melhor detalhar tais categorias. O
homem aventureiro é de olhar mais amplo. Em palavras atuais: é empreendedor. Já o
trabalhador é o de olhar mais restrito. Reconhece, contudo, a possibilidade de haver uma

3
Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda, Companhia das Letras p.44 a 46.
confusão, dos dois, dentro de si. Foi o gosto pela aventura que possibilitou a colonização
do Novo Mundo, sendo o povo português que melhor se adaptou na América. Nascida
nesse contexto, a economia escravista colonial foi a forma pela qual a Europa conseguiu
suprir o que faltava em sua economia. Lançando mão do escravo africano, o povo
português vinha para a colônia buscar riqueza sem muito trabalho. Segue alertando que
os portugueses já eram mestiços antes dos descobrimentos, além do que já conheciam a
escravidão africana no seu país. O autor faz parecer que o preconceito com os negros era
bem maior do que com os índios no Brasil colonial. Nosso país não conheceu outro tipo
de trabalho que não fosse o escravo. Justamente daí que o trabalho mecânico era
desprezado, pois só se fazia o que valia a pena, o que era lucrativo. Os brasileiros não
eram solidários entre si.

Estribados no consignado acima, elegemos dois elementos gerais: o culto à


ociosidade e o personalismo. É verdade que poderíamos avaliar a produtividade do
trabalhador e nos negócios também à luz do Capítulo 5 – O homem cordial -, mas aí
cremos ser tema para outro artigo, quiçá em cotejo com Douglas North. Neste ponto,
interessa entender que a cultura do trabalhador brasileiro é formada, inconscientemente4,
por um culto à ociosidade e um personalismo marcante nas relações. Culto à ociosidade
e personalismos são nossos elementos gerais que avaliaremos à luz do ‘espírito’ do
capitalismo retratado por Max Weber.

CAPÍTULO 2

Estrutura geral do ‘espírito’ do capitalismo em Max Weber

De saída importa registrar que não cabe aqui conceituar capitalismo. Longe disso.
O intento maior é captar elementos gerais acerca do ‘espírito’, o zeistgeist, da temática
tratada por Weber, já que o conceito de capitalismo é complexo. A proposta é captar o
que em termos de consciência do trabalhador, imerso nesse espírito, pode ser elencada
como elemento geral para traduzir, no plano concreto, a presença ou não de tais

4
A descoberta de que fazemos coisas de forma inconsciente (Freud) foi tão dura para humanidade quanto
à descoberta que a Terra gira em torno do sol (Copérnico) e a evolução das espécies (Darwin).
condições. Ou seja, a formação da consciência do trabalhador brasileiro, em linha com o
descrito alhures é, invariavelmente, marcada pelo culto à ociosidade e impregnada por
personalismos. Neste mesmo sentido, quais são os elementos que traduzirão os elementos
de “espírito” do e no capitalismo.

A obra de Max Weber é um clássico, posto atravessar gerações. Talvez um dos


grandes pontos a ser esclarecido que, antes de um julgamento, o estudo é fruto de um
intenso interesse em tentar compreender uma dada situação. Metodologicamente, para
nós, essa é uma grande lição. O ponto que brilha aos olhos para o intento aqui narrado
vem do Capítulo 2 - O “espirito” do capitalismo5, quando o autor delineia uma estrutura,
por ele mesmo tratada com provisória, do conteúdo de tal “espírito”. Diz o autor:

Mas como, apesar de tudo, se trata de identificar o objeto com cuja


análise e explicação histórica estamos às voltas, então não é o caso de
dar um definição conceitual, mas cabe tão somente oferecer um
delineamento provisório daquilo que aqui se entende por “espírito” do
capitalismo6”. Seguindo em frente cita um documento que diz retratar
o que mais interessa no intento de compreender tal espírito. Ancorado
nos escritos de Benjamin Franklin, reproduz: Lembra-te que tempo é
dinheiro; aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e
vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve,
mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar uma
só despesa; na verdade gastou, ou melhor jogou fora, cinco xelins a
mais. Lembra-te que crédito é dinheiro. Se alguém me deixa ficar com
seu dinheiro depois da data de vencimento, está me entregando os juros
ou tudo quanto nesse intervalo de tempo ele tiver rendido para mim.
Isso atinge uma soma considerável se a pessoa tem bom crédito e dele
faz bom uso. Lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e
fértil. O dinheiro pode gerar dinheiro, e seus rebentos podem gerar
ainda mais, e assim por diante. Cinco xelins investidos são seis,
reinvestidos são sete xelins e três pence, e assim por diante, até se
tornarem cem libras esterlinas. Quanto mais dinheiro houver, mais
produzirá ao ser investido, de sorte que os lucros crescem a cada vez
mais rápido. Quem mata um porca prenha destrói sua prole até a

5
WEBER, Max – A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, Edição de Antônio Flávio Pierucci,
Companhia das Letras, p. 41, 2017.
6
Ob. Cit item 4 p. 42.
milésima geração. Quem estraga uma moeda de cinco xelins,
assassina(!) tudo o que ela poderia ter produzido: pilhas inteiras de
libras esterlinas. Lembra-te que – como diz o ditado – um bom pagador
é senhor da bolsa alheia. Quem é conhecido por pagar pontualmente na
data combinada pode a qualquer momento pedir emprestado todo o
dinheiro que seus amigos não gastam. Isso pode ser de grande utilidade.
A par da presteza e frugalidade, nada contribui mais para um jovem
subir na vida do que pontualidade e retidão em todos os seus negócios.
Por isso, jamais retenhas dinheiro emprestado uma hora a mais do que
prometeste, para que tal dissabor não te feche para sempre a bolsa de
teu amigo. As mais insignificantes ações que afetam o crédito de um
homem devem ser por ele ponderadas. As pancadas de teu martelo que
teu credor escuta às cinco da manhã ou às oito da noite o deixam seis
meses sossegado; mas se te vê à mesa de bilhar ou escuta tua voz numa
taberna quando devias estar a trabalhar, no dia seguinte vai reclamar-te
o reembolso e exigir seu dinheiro antes que o tenhas à disposição, duma
vez só. Isso mostra, além do mais, que não te esqueces das tuas dívidas,
fazendo com que pareças um homem tão cuidadoso quanto honesto, e
isso aumenta teu crédito. Guarda-te de pensar que tudo que possuis é
propriedade tua e de viver como se fosse. Nessa ilusão incorre muita
gente que tem crédito. Para te precaveres disso, mantém uma
contabilidade exata de tuas despesas e receitas. Se te deres a pena de
atentar para os detalhes, isso terá o seguinte efeito benéfico: descobrirás
como pequenas despesas se avolumam em grandes quantias e
discernirás o que poderia ter sido poupado e o que poderá sê-lo no
futuro...Por seis libras por ano podes fazer uso de cem libras, contanto
que sejas reconhecido como um homem prudente e honesto. Quem
esbanja um groat (quatro pence) por dia esbanja seis libras por ano, que
é o preço para o uso de cem libras. Quem perde a cada dia um bocado
de seu tempo no valor de quatro pence (mesmo que seja apenas alguns
minutos) perde, dia após dia, o privilégio de utilizar cem libras por ano.
Quem desperdiça seu tempo no valor de cinco xelins não perde somente
essa quantia, mas tudo o que com ela poderia ganhar aplicando-a em
negócios – o que, ao atingir o jovem uma certa idade, daria uma soma
bem considerável7.

7
Ob. Cit. Item 4, p. 42 a 44.
Tais assertivas caracterizam o “espírito” do capitalismo, isto é, a ideia de dever
que naturalmente tem o indivíduo de aumentar suas posses, como um fim em si mesmo.
Um elemento geral e abstrato é possível de se extrair dessas premissas e de tal espírito, a
saber: a relação do trabalho é com o dinheiro e a riqueza como dever ético, social e
religioso. Assim sendo, à guisa de conclusão, urge consignar que o elemento geral
adotado como premissa para cotejamento no presente estudo é a mostrada acima, ou seja,
a relação do trabalho com o dinheiro e a riqueza.

CAPÍTULO 3

Cotejamento das estruturas e conclusões

De todo o exposto até aqui, na perspectiva da análise da força de trabalho, bem


como de sua produtividade propriamente dita, imperioso, agora, cotejar os elementos
gerais do Capítulo 1 com o do Capítulo 2 do presente artigo. De Sérgio Buarque de
Holanda foi possível extrair que é marcante na formação cultural da força de trabalho no
Brasil os elementos de um culto à ociosidade e aos personalismos. À ociosidade oriunda
de uma cultura colonizadora e o personalismo em virtude do relacionamento com os
índios e a escravidão dos africanos, explorando estes e relacionando-se com aqueles. Pois
bem. Tais conclusões certamente encontram respaldo até os dias de hoje. Óbvio que com
outra moldura. De outro lado, vimos que o trabalho na cultura americana tem uma relação
com a riqueza e a prosperidade, culminando, por assim dizer com maiores produtividade
e progresso material.

Longe de assertivas abstratas, analisemos a realidade concreta. A uma, pesquisas


revelam que a produtividade de americano corresponde a de quatro brasileiros8. Já somam
mais de 11 milhões de jovens entre 15 e 29 anos que nem trabalham e nem estudam 9.

8
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1635927-1-trabalhador-americano-produz-como-4-
brasileiros.shtml
9
http://www.revistaeducacao.com.br/nem-nem-jovens-nem-estudam-nem-trabalham-sao-11-milhoes-
brasil/
Mais ainda. Se aplicarmos o critério de 10% do faturamento para gasto com folha de
salário (a relação de produtividade de uma força de trabalho pode ser medida pelo
percentual do gasto com a folha relacionando-a com o faturamento), certamente várias
empresas se deparariam com enorme falta de produtividade.

Uma conclusão possível é a de que a forma de como as diferentes populações


interiorizaram, e na nossa hipótese interiorizam até os dias de hoje, a relação com o
trabalho. Os descendentes ibéricos veem no trabalho uma forma de ocupação, meio de
garantir a sobrevivência e uma forma de poder (na modalidade aventureiro, colonizador).
Os descendentes dos ingleses assimilaram o trabalho relacionando-o com o dinheiro e a
riqueza. Assim sendo, é esse cotejo formulado, por essa hipótese, uma contribuição que
deva ser divulgada, proporcionando, sobretudo ao jovem, uma reflexão sobre o trabalho,
o estudo e a atividade empreendedora. Não somos insensíveis à realidade econômica e
das dificuldades que daí advém. A proposta é uma reflexão emancipatória na perspectiva
cultural, por isso autores culturalistas, lançando luz em um inconsciente coletivo que
certamente conduz hábitos e escolhas até os dias atuais.

REFERÊNCIAS

CANDIDO, Antonio – O significado de Raízes do Brasil em Raízes do Brasil de Sérgio


Buarque de Holanda, Companhia das Letras, 27° Edição, 2018.
HOLANDA, Ségio Buarque – Raízes do Brasil, Companhia das Letras, 27° Edição, 2018
WEBER, Max - A ética protestante e “espírito” do capitalismo, Companhia das Letras,
17 edição, 2017.
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1635927-1-trabalhador-americano-
produz-como-4-brasileiros.shtml
http://www.revistaeducacao.com.br/nem-nem-jovens-nem-estudam-nem-trabalham-sao-
11-milhoes-brasil/

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