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O trabalho é uma das formas do homem atuar sobre o mundo e que o faz de
várias formas, mas com certeza o faz devido à bagagem que traz de sua herança cultural
e sua ideologia acerca das relações sociais.
“O trabalho – que é a ação transformadora do homem sobre a natureza –
modifica também a maneira de pensar, agir e sentir, de modo que nunca permanecemos
os mesmos ao fim de uma atividade, qualquer que ela seja. É nesse sentido que dizemos
que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, ao mesmo tempo em que produz sua
própria cultura”. (ARANHA, 1996)
Impossível chegar ao nosso foco como pesquisador na área da educação
organizacional sem antes abordarmos sobre o significado do termo e a evolução do
trabalho. Este artigo tem por objetivo resgatar a história do trabalho com o intuito de
apropriação do conhecimento acerca deste tema que tanto influencia na vida como todo
do ser humano. É resultado de pesquisas realizadas para a produção do Trabalho de
Conclusão de Curso de graduação em Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina
que aborda a importância do pedagogo no ambiente empresarial e que vem se firmando
como elemento importante para assumir novos papéis fora dos muros escolares. Por
esse motivo faremos um resgate histórico com o intuito de nos situarmos dentro deste
vasto campo que por sinal somente nas últimas décadas vem sendo explorado. A leitura
de autores que já escrevem acerca deste tema tem agregado muito para estabelecer e
direcionar este trabalho, além disso, as disciplinas do curso de Pedagogia tem dado
suporte reflexivo para o amadurecimento e os apontamentos feitos neste artigo. O
trabalho é uma das formas do homem atuar sobre o mundo e que o faz de várias formas,
mas com certeza o faz devido à bagagem que traz de sua herança cultural e sua
ideologia acerca das relações sociais. Franco (1989) em seu artigo aborda sobre a visão
marxista acerca do trabalho e relata que a consciência humana nesta concepção é
estabelecida a partir do trabalho e das relações sociais.
“O trabalho é, em primeiro lugar, um processo entre o homem e a natureza um
processo integrado no qual o ser humano faculta, regula e controla a sua forma material
com a natureza através de sua atividade... Ao atuar sobre a natureza externa a si,
modificando-a, o ser humano modifica simultaneamente sua própria natureza...” (Marx,
1979, p. 118).
Partindo da antiguidade Grega e Romana o homem adaptava a natureza a si e a
isso denominamos trabalho. Como naquele período não havia classes ele era educado
na lida com a terra, principal meio de produção e o que chamamos de “comunismo
primitivo”, e uma geração ensinava a outra. É nesse contexto que surge a propriedade
privada e as classes sociais. Os donos de terras não dependem do trabalho para viver,
cabendo assim aos não proprietários o cultivo das terras privadas para sua sobrevivência
e a dos seus senhores. Atrelada a forma de trabalho nesse período, incluímos aqui
algumas considerações acerca da educação, pois ambos estão em constante relação
desde essa época. Neste momento, portanto temos a origem da escola, que no grego
significa ócio. Indo além, mencionamos dois tipos de educação deste período: a
educação escolar para os donos das terras e a educação para o trabalho, destinada aos
não proprietários. A educação para o trabalho advém desse período e é nela que está o
foco de nossas pesquisas. Na Idade Média algumas características ainda permanecem.
Embora os gregos e os romanos já residissem nas cidades o trabalho agrícola supria suas
necessidades. A única coisa que podemos diferenciar uma época da outra era o tipo de
trabalho uma vez que no primeiro momento falamos de um trabalho escravo, já no
segundo momento falamos do trabalho servil. A educação nesta época se dava nas
escolas paroquiais para a classe dominante ainda caracterizada pela ocupação do ócio,
“ócio da dignidade”. Com atividades físicas assim como na Antiguidade, o foco esta
voltada para a cavalaria, atividades guerreiras o que sugere um homem com boas
maneiras e atitude cortês. De outro lado a grande maioria esta voltada para a educação
laboral. Com a vida urbana apontamos o surgimento de uma nova classe social, a
burguesia, derivada da palavra burgo (Cidade), e que nada mais era do que, pessoas que
desenvolviam atividades artesanais, fortalecendo as corporações de ofício aliadas com a
acumulação de capital através do comércio de suas produções. Falamos aqui do
deslocamento do eixo de produção da agricultura para o campo, o capitalismo ou o
modo de produção moderno. A época moderna tem como base a indústria e o comércio.
Com isso temos a mecanização das formas de agricultura e a estratificação e
hereditariedade, nobreza e a servidão passavam de pai para filho. As relações deixam de
ser naturais e passam a ser social. A sociedade capitalista substitui o termo comunidade
e lança a idéia de sociedade e o rompimento com a estratificação de classes. Surge neste
contexto o que os ideólogos chamam de contrato social. Caracterizada pela noção de
liberdade trazida pela ideologia do momento o Liberalismo e que mesmo assim está
vinculada a terra e que Marx aponta como contraditória, pois o servo poderá dispor da
sua força de trabalho, mas com isso se desvincula também de seus meios de existência.
A escola da sociedade moderna por estar baseada na sociedade contratual e
centralizada nos interesse das cidades e indústrias traz consigo a generalização da escola
e implica na aquisição de conhecimento e ciência. O homem modificando a natureza em
prol do seu bem estar, este é como uma ordem. Até aqui a escrita ficava em um segundo
plano, mas quando falamos da incorporação do processo produtivo a escrita aparece
como uma exigência e vinculamos o desenvolvimento da escola com o desenvolvimento
das relações urbanas e com isso a idéia de expansão escolar.
“... levanta a bandeira da escolarização universal, gratuita, obrigatória e leiga.
A escolaridade básica deve ser estendida a todos”. (Saviani, 1994)
Antigamente a cultura era transmitida pelos membros mais velhos da família
em diversas sociedades e cada uma com suas especificidades. Isto se dava pela ausência
de uma educação sistematizada. Junto a essa cultura falamos do trabalho e suas mais
variadas formas de desenvolvimento. O trabalho surge da necessidade do homem em
satisfazer suas necessidades e continuar sobrevivendo. Para Oliveira trabalho é “a
atividade desenvolvida pelo homem, sob determinadas formas, para produzir a riqueza”.
Com isso podemos dizer que é a partir desta perspectiva temos o estabelecimento das
relações sociais e na medida em que são satisfeitas suas necessidades é refeita novas
relações e assim sucessivamente. Dizemos ainda que, baseada nas várias concepções de
trabalho, o homem esta cada vez mais
dependente dele e principalmente em virtude das várias transformações
ocorridas nas sociedades. “O trabalho fica então subordinado a determinadas formas
sociais historicamente limitadas e a correspondentes organizações técnicas, o que
caracteriza o chamado modo de produção”. (Oliveira, 1995 p.6)
Os modos de produção dominam os modos naturais e estes é que vão
determinar a execução e a organização do trabalho. O mesmo autor ainda fala que toda
sociedade é um momento no processo histórico, e só pode ser apreendida como parte
daquele processo. O processo histórico significa a forma pela qual o homem produz sua
riqueza e que com os processos sociais, a exemplo do escravismo, feudalismo e
capitalismo estabelecem direcionamento para o futuro dos processos de trabalho e
organização humana. É importante salientar que o trabalho como conhecemos hoje
nunca esteve tão orientado para o resultado como nos últimos tempos e o lucro que se
obtém através dele e da força de trabalho. “No que diz respeito ao mundo do trabalho,
pode-se presenciar um conjunto de tendências que, em seus traços básicos, configuram
um quadro crítico e que têm direções assemelhadas em diversas partes do mundo, onde
vigora a lógica do capital. E a crítica às formas concretas da dessociabilização humana é
condição para que se possa empreender também a crítica e a desfetichização das formas
de representação hoje dominantes, do ideário que domina nossa sociedade
contemporânea.” (Antunes, p.37)
Depois de abordada brevemente a história do trabalho e da educação geral já é
possível o estreitamento histórico nos atentando especificamente ao Brasil desde a sua
colonização, século XVI. Em um primeiro momento, a vinda dos jesuítas e governantes
ao Brasil foi com a intenção de tomar posse, povoar, portanto sobrepondo valores
político-religiosos aos econômicos. A colonização irá acontecer em um segundo
momento com o rompimento da cristandade e o lucro passa a ser mais importante que
os valores político-religiosos. Nesse período havia o tráfico de escravos realizado pelos
cristãos novos que chegam ao poder.
O missionarismo significava viver nas aldeias e “adotar” os costumes dos
gentios¹ e em segundo momento catequizar, o que causou resistência. Com base no
insucesso da adaptação e permeabilidade entre ambos, os jesuítas mudam suas práticas
criando os aldeamentos de adultos e o recolhimento das crianças. Temos aqui indícios
do aparecimento das primeiras instituições de ensino:
A correspondência do período as “casas de meninos” já aprecem citadas como
uma promessa de êxito missionário, mais consistente que o trabalho com os adultos por
contato e convencimento. A proposta de Nóbrega para elas previa um programa de
atividades que incluía o aprendizado oral do português e do contar, do cantar, do tocar
flauta e outros instrumentos musicais, do catecismo e da doutrina cristã, além das
práticas ascéticas; em seguida, ler e escrever português e gramática latina para os
postulantes à Companhia e ensino profissional artesanal e agrícola nas oficinas para os
demais (Hilsdorf p.7)
Tem início a seguir, a crise do trabalho missionário dos jesuítas devido a falta
de controle da ordem na Europa, e que fora desencorajado pela Companhia. Para
escapar dos jesuítas, tribos inteiras fugiam para o interior prejudicando o trabalho
catequético, caracterizando assim, a perda da identidade cultura. A Companhia de Jesus
decide pelo trabalho em instituições escolares, ensino secundário e universidades.
Consolidam-se assim, colégios nas principais vilas com a tarefa de educar meninos
brancos, em troca da redízima, assim como na Europa à clientela letrada. Esses colégios
deveriam receber alunos a título de atividade missionária aberto a todos, o que não
acontecia na prática, havia discriminação das raças mistas justificada pela formação de
padres da Companhia. Os colégios secundários seguiam o plano de estudos do Ratio
Estudiorum (1599), segundo os padrões humanístico-tridentino dos séculos XVI e
XVII. Um colégio modelar abrangia aulas de gramática latina, humanidades, retórica e
filosofia, cumprida depois de 8 ou 9 anos de freqüência. Este currículo era aplicado de
modo intermitente, dependendo da existência ou não de padres-mestres e também dos
alunos e seus conhecimentos acerca dos caracteres latinos, pois a língua de todas as
capitanias era a Tupi.
Perde-se nessa fase o caráter missionário apostólico heróico e a aceitação do
assistencialismo aos colonos, os jesuítas não estavam ligados a realidade social
brasileira e para aculturar alunos brancos usavam formas tradicionais, da repetição da
disciplina religiosa com castigos físicos, reclusão, repressão e exclusão. No século
XVIII os jesuítas são rejeitados pela sociedade portuguesa ilustrada dominante,
inclusive como educadores; em 1750 com a subida de Pombal ao poder é que acontece a
reformulação do sistema de ensino da metrópole e das colônias. Neste momento é
repassado o controle da educação escolar da Companhia de Jesus para o Estado
português, intencionalmente. Em 1759, iniciam-se as aulas régias avulsas secundárias
para os meninos com gramática latina, grega e hebraica, de retórica e filosofia, por
professores escolhidos em concurso público pagos pelo Erário Régio, portanto
funcionários estatais. A metodologia adotada era a gramática latina focalizada na
simplicidade, na racionalidade e na economia do classicismo. É divulgado o método
científico-indutivo no lugar da moral prática. Nota-se, pois que desde este período já há
intencionalidade de uma educação para o lucro e interesses da classe dominante. As
primeiras letras foram criadas em 1772, e que até então eram ministradas por
professores particulares leigos e por outras ordens religiosas. Isto deixa evidente que a
preocupação era voltada para o ensino em uma fase mais adulta, caracterizando assim o
descompromisso com a educação infantil, bem como o despreparo das pessoas a elas
envolvidas. Nas aulas elementares os meninos aprendiam ortografia, gramática da
língua nacional e da doutrina cristã, história da pátria, aritmética (pesos, medidas,
fração) e normas de civilidade. Em 1759, Pombal cria a Aula de Comércio para a
formação do “perfeito negociante”, ensinando caligrafia, contabilidade, escrituração
comercial e línguas modernas. No Brasil a ilustração ocorre entre 1770 a 1820 período
da crise do sistema colonial e em relação a educação, prática de memorização, disputas
orais traços jesuíticos ao invés da observação e experimentação pombalina divulgada no
período.
Resumindo, estes movimentos que se deram ao longo dos séculos XVI a XVIII
refletem sobremaneira o caráter de interesses políticos, econômicos e disputas pelo
poder de uma terra que prometia grandes fortunas pelas suas riquezas naturais, e nada
melhor para tanto, do que a educação dos nativos e colonos, ou melhor, dizendo o
direcionamento de suas vidas, ruptura com suas culturas, mudança de vida social e
promessa de melhorias para as condições das pessoas não letradas. O que fica evidente é
que, a educação vem sendo trabalhada ao longo do tempo, como meio de ascensão das
classes. No Brasil sempre fora excludente e em nada visa à igualdade, permitindo no
máximo a equidade social. Fazendo um corte na história e partindo do modo de
produção capitalista apresentamos em primeiro momento o conceito deste termo que é
de extrema importância para o estudo proposto. “Denominação do modo de produção
em que o capital, sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção. Tem como
princípio organizador a relação trabalho assalariado-capital e como contradição básica a
relação produção social-apropriação privada.” (Libâneo 2003, p.71)
O modo de produção capitalista teve sua origem no século XV. Como
características principais a produção para a venda, a mais-valia, luta pelos mercados, e
concentração de capital nas grandes empresas. A partir do século XVIII tivemos
algumas revoluções científicas a primeira teve como berço a Inglaterra com vínculo na
industrialização em substituição a produção artesanal, além disso, a utilização do ferro,
pela máquina a vapor, surgimento do trabalhado assalariado e do proletariado e do saber
global pelo trabalhador. A segunda no século XIX tem como características principais o
surgimento do aço, da energia elétrica, do petróleo, da indústria química dos meios de
transporte e de comunicação. Este período foi marcado pela produção em massa e linhas
de montagem, pela divisão técnica do trabalho e surgimento das escolas industriais e
profissionalizantes e a terceira revolução acontece na segunda metade do século XX
com a robótica, informática, aperfeiçoamento de transportes e das comunicações,
transformação da ciência e da tecnologia em matérias primas por excelência e na gestão
e organização do trabalho mais flexível e integrado globalmente.
“Essas transformações refletem a diversidade e os contrastes da sociedade e,
em decorrência, o empreendimento do capital em controlar e explorar
as capacidades materiais e humanas de produção de riqueza, para sua
autovalorização.” (Libâneo 2003, p. 60).
A revolução industrial