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A EVOLUÇÃO SOCIAL DO TRABALHO

O trabalho é uma das formas do homem atuar sobre o mundo e que o faz de
várias formas, mas com certeza o faz devido à bagagem que traz de sua herança cultural
e sua ideologia acerca das relações sociais.
“O trabalho – que é a ação transformadora do homem sobre a natureza –
modifica também a maneira de pensar, agir e sentir, de modo que nunca permanecemos
os mesmos ao fim de uma atividade, qualquer que ela seja. É nesse sentido que dizemos
que, pelo trabalho, o homem se autoproduz, ao mesmo tempo em que produz sua
própria cultura”. (ARANHA, 1996)
Impossível chegar ao nosso foco como pesquisador na área da educação
organizacional sem antes abordarmos sobre o significado do termo e a evolução do
trabalho. Este artigo tem por objetivo resgatar a história do trabalho com o intuito de
apropriação do conhecimento acerca deste tema que tanto influencia na vida como todo
do ser humano. É resultado de pesquisas realizadas para a produção do Trabalho de
Conclusão de Curso de graduação em Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina
que aborda a importância do pedagogo no ambiente empresarial e que vem se firmando
como elemento importante para assumir novos papéis fora dos muros escolares. Por
esse motivo faremos um resgate histórico com o intuito de nos situarmos dentro deste
vasto campo que por sinal somente nas últimas décadas vem sendo explorado. A leitura
de autores que já escrevem acerca deste tema tem agregado muito para estabelecer e
direcionar este trabalho, além disso, as disciplinas do curso de Pedagogia tem dado
suporte reflexivo para o amadurecimento e os apontamentos feitos neste artigo. O
trabalho é uma das formas do homem atuar sobre o mundo e que o faz de várias formas,
mas com certeza o faz devido à bagagem que traz de sua herança cultural e sua
ideologia acerca das relações sociais. Franco (1989) em seu artigo aborda sobre a visão
marxista acerca do trabalho e relata que a consciência humana nesta concepção é
estabelecida a partir do trabalho e das relações sociais.
“O trabalho é, em primeiro lugar, um processo entre o homem e a natureza um
processo integrado no qual o ser humano faculta, regula e controla a sua forma material
com a natureza através de sua atividade... Ao atuar sobre a natureza externa a si,
modificando-a, o ser humano modifica simultaneamente sua própria natureza...” (Marx,
1979, p. 118).
Partindo da antiguidade Grega e Romana o homem adaptava a natureza a si e a
isso denominamos trabalho. Como naquele período não havia classes ele era educado
na lida com a terra, principal meio de produção e o que chamamos de “comunismo
primitivo”, e uma geração ensinava a outra. É nesse contexto que surge a propriedade
privada e as classes sociais. Os donos de terras não dependem do trabalho para viver,
cabendo assim aos não proprietários o cultivo das terras privadas para sua sobrevivência
e a dos seus senhores. Atrelada a forma de trabalho nesse período, incluímos aqui
algumas considerações acerca da educação, pois ambos estão em constante relação
desde essa época. Neste momento, portanto temos a origem da escola, que no grego
significa ócio. Indo além, mencionamos dois tipos de educação deste período: a
educação escolar para os donos das terras e a educação para o trabalho, destinada aos
não proprietários. A educação para o trabalho advém desse período e é nela que está o
foco de nossas pesquisas. Na Idade Média algumas características ainda permanecem.
Embora os gregos e os romanos já residissem nas cidades o trabalho agrícola supria suas
necessidades. A única coisa que podemos diferenciar uma época da outra era o tipo de
trabalho uma vez que no primeiro momento falamos de um trabalho escravo, já no
segundo momento falamos do trabalho servil. A educação nesta época se dava nas
escolas paroquiais para a classe dominante ainda caracterizada pela ocupação do ócio,
“ócio da dignidade”. Com atividades físicas assim como na Antiguidade, o foco esta
voltada para a cavalaria, atividades guerreiras o que sugere um homem com boas
maneiras e atitude cortês. De outro lado a grande maioria esta voltada para a educação
laboral. Com a vida urbana apontamos o surgimento de uma nova classe social, a
burguesia, derivada da palavra burgo (Cidade), e que nada mais era do que, pessoas que
desenvolviam atividades artesanais, fortalecendo as corporações de ofício aliadas com a
acumulação de capital através do comércio de suas produções. Falamos aqui do
deslocamento do eixo de produção da agricultura para o campo, o capitalismo ou o
modo de produção moderno. A época moderna tem como base a indústria e o comércio.
Com isso temos a mecanização das formas de agricultura e a estratificação e
hereditariedade, nobreza e a servidão passavam de pai para filho. As relações deixam de
ser naturais e passam a ser social. A sociedade capitalista substitui o termo comunidade
e lança a idéia de sociedade e o rompimento com a estratificação de classes. Surge neste
contexto o que os ideólogos chamam de contrato social. Caracterizada pela noção de
liberdade trazida pela ideologia do momento o Liberalismo e que mesmo assim está
vinculada a terra e que Marx aponta como contraditória, pois o servo poderá dispor da
sua força de trabalho, mas com isso se desvincula também de seus meios de existência.
A escola da sociedade moderna por estar baseada na sociedade contratual e
centralizada nos interesse das cidades e indústrias traz consigo a generalização da escola
e implica na aquisição de conhecimento e ciência. O homem modificando a natureza em
prol do seu bem estar, este é como uma ordem. Até aqui a escrita ficava em um segundo
plano, mas quando falamos da incorporação do processo produtivo a escrita aparece
como uma exigência e vinculamos o desenvolvimento da escola com o desenvolvimento
das relações urbanas e com isso a idéia de expansão escolar.
“... levanta a bandeira da escolarização universal, gratuita, obrigatória e leiga.
A escolaridade básica deve ser estendida a todos”. (Saviani, 1994)
Antigamente a cultura era transmitida pelos membros mais velhos da família
em diversas sociedades e cada uma com suas especificidades. Isto se dava pela ausência
de uma educação sistematizada. Junto a essa cultura falamos do trabalho e suas mais
variadas formas de desenvolvimento. O trabalho surge da necessidade do homem em
satisfazer suas necessidades e continuar sobrevivendo. Para Oliveira trabalho é “a
atividade desenvolvida pelo homem, sob determinadas formas, para produzir a riqueza”.
Com isso podemos dizer que é a partir desta perspectiva temos o estabelecimento das
relações sociais e na medida em que são satisfeitas suas necessidades é refeita novas
relações e assim sucessivamente. Dizemos ainda que, baseada nas várias concepções de
trabalho, o homem esta cada vez mais
dependente dele e principalmente em virtude das várias transformações
ocorridas nas sociedades. “O trabalho fica então subordinado a determinadas formas
sociais historicamente limitadas e a correspondentes organizações técnicas, o que
caracteriza o chamado modo de produção”. (Oliveira, 1995 p.6)
Os modos de produção dominam os modos naturais e estes é que vão
determinar a execução e a organização do trabalho. O mesmo autor ainda fala que toda
sociedade é um momento no processo histórico, e só pode ser apreendida como parte
daquele processo. O processo histórico significa a forma pela qual o homem produz sua
riqueza e que com os processos sociais, a exemplo do escravismo, feudalismo e
capitalismo estabelecem direcionamento para o futuro dos processos de trabalho e
organização humana. É importante salientar que o trabalho como conhecemos hoje
nunca esteve tão orientado para o resultado como nos últimos tempos e o lucro que se
obtém através dele e da força de trabalho. “No que diz respeito ao mundo do trabalho,
pode-se presenciar um conjunto de tendências que, em seus traços básicos, configuram
um quadro crítico e que têm direções assemelhadas em diversas partes do mundo, onde
vigora a lógica do capital. E a crítica às formas concretas da dessociabilização humana é
condição para que se possa empreender também a crítica e a desfetichização das formas
de representação hoje dominantes, do ideário que domina nossa sociedade
contemporânea.” (Antunes, p.37)
Depois de abordada brevemente a história do trabalho e da educação geral já é
possível o estreitamento histórico nos atentando especificamente ao Brasil desde a sua
colonização, século XVI. Em um primeiro momento, a vinda dos jesuítas e governantes
ao Brasil foi com a intenção de tomar posse, povoar, portanto sobrepondo valores
político-religiosos aos econômicos. A colonização irá acontecer em um segundo
momento com o rompimento da cristandade e o lucro passa a ser mais importante que
os valores político-religiosos. Nesse período havia o tráfico de escravos realizado pelos
cristãos novos que chegam ao poder.
O missionarismo significava viver nas aldeias e “adotar” os costumes dos
gentios¹ e em segundo momento catequizar, o que causou resistência. Com base no
insucesso da adaptação e permeabilidade entre ambos, os jesuítas mudam suas práticas
criando os aldeamentos de adultos e o recolhimento das crianças. Temos aqui indícios
do aparecimento das primeiras instituições de ensino:
A correspondência do período as “casas de meninos” já aprecem citadas como
uma promessa de êxito missionário, mais consistente que o trabalho com os adultos por
contato e convencimento. A proposta de Nóbrega para elas previa um programa de
atividades que incluía o aprendizado oral do português e do contar, do cantar, do tocar
flauta e outros instrumentos musicais, do catecismo e da doutrina cristã, além das
práticas ascéticas; em seguida, ler e escrever português e gramática latina para os
postulantes à Companhia e ensino profissional artesanal e agrícola nas oficinas para os
demais (Hilsdorf p.7)
Tem início a seguir, a crise do trabalho missionário dos jesuítas devido a falta
de controle da ordem na Europa, e que fora desencorajado pela Companhia. Para
escapar dos jesuítas, tribos inteiras fugiam para o interior prejudicando o trabalho
catequético, caracterizando assim, a perda da identidade cultura. A Companhia de Jesus
decide pelo trabalho em instituições escolares, ensino secundário e universidades.
Consolidam-se assim, colégios nas principais vilas com a tarefa de educar meninos
brancos, em troca da redízima, assim como na Europa à clientela letrada. Esses colégios
deveriam receber alunos a título de atividade missionária aberto a todos, o que não
acontecia na prática, havia discriminação das raças mistas justificada pela formação de
padres da Companhia. Os colégios secundários seguiam o plano de estudos do Ratio
Estudiorum (1599), segundo os padrões humanístico-tridentino dos séculos XVI e
XVII. Um colégio modelar abrangia aulas de gramática latina, humanidades, retórica e
filosofia, cumprida depois de 8 ou 9 anos de freqüência. Este currículo era aplicado de
modo intermitente, dependendo da existência ou não de padres-mestres e também dos
alunos e seus conhecimentos acerca dos caracteres latinos, pois a língua de todas as
capitanias era a Tupi.
Perde-se nessa fase o caráter missionário apostólico heróico e a aceitação do
assistencialismo aos colonos, os jesuítas não estavam ligados a realidade social
brasileira e para aculturar alunos brancos usavam formas tradicionais, da repetição da
disciplina religiosa com castigos físicos, reclusão, repressão e exclusão. No século
XVIII os jesuítas são rejeitados pela sociedade portuguesa ilustrada dominante,
inclusive como educadores; em 1750 com a subida de Pombal ao poder é que acontece a
reformulação do sistema de ensino da metrópole e das colônias. Neste momento é
repassado o controle da educação escolar da Companhia de Jesus para o Estado
português, intencionalmente. Em 1759, iniciam-se as aulas régias avulsas secundárias
para os meninos com gramática latina, grega e hebraica, de retórica e filosofia, por
professores escolhidos em concurso público pagos pelo Erário Régio, portanto
funcionários estatais. A metodologia adotada era a gramática latina focalizada na
simplicidade, na racionalidade e na economia do classicismo. É divulgado o método
científico-indutivo no lugar da moral prática. Nota-se, pois que desde este período já há
intencionalidade de uma educação para o lucro e interesses da classe dominante. As
primeiras letras foram criadas em 1772, e que até então eram ministradas por
professores particulares leigos e por outras ordens religiosas. Isto deixa evidente que a
preocupação era voltada para o ensino em uma fase mais adulta, caracterizando assim o
descompromisso com a educação infantil, bem como o despreparo das pessoas a elas
envolvidas. Nas aulas elementares os meninos aprendiam ortografia, gramática da
língua nacional e da doutrina cristã, história da pátria, aritmética (pesos, medidas,
fração) e normas de civilidade. Em 1759, Pombal cria a Aula de Comércio para a
formação do “perfeito negociante”, ensinando caligrafia, contabilidade, escrituração
comercial e línguas modernas. No Brasil a ilustração ocorre entre 1770 a 1820 período
da crise do sistema colonial e em relação a educação, prática de memorização, disputas
orais traços jesuíticos ao invés da observação e experimentação pombalina divulgada no
período.
Resumindo, estes movimentos que se deram ao longo dos séculos XVI a XVIII
refletem sobremaneira o caráter de interesses políticos, econômicos e disputas pelo
poder de uma terra que prometia grandes fortunas pelas suas riquezas naturais, e nada
melhor para tanto, do que a educação dos nativos e colonos, ou melhor, dizendo o
direcionamento de suas vidas, ruptura com suas culturas, mudança de vida social e
promessa de melhorias para as condições das pessoas não letradas. O que fica evidente é
que, a educação vem sendo trabalhada ao longo do tempo, como meio de ascensão das
classes. No Brasil sempre fora excludente e em nada visa à igualdade, permitindo no
máximo a equidade social. Fazendo um corte na história e partindo do modo de
produção capitalista apresentamos em primeiro momento o conceito deste termo que é
de extrema importância para o estudo proposto. “Denominação do modo de produção
em que o capital, sob suas diferentes formas, é o principal meio de produção. Tem como
princípio organizador a relação trabalho assalariado-capital e como contradição básica a
relação produção social-apropriação privada.” (Libâneo 2003, p.71)
O modo de produção capitalista teve sua origem no século XV. Como
características principais a produção para a venda, a mais-valia, luta pelos mercados, e
concentração de capital nas grandes empresas. A partir do século XVIII tivemos
algumas revoluções científicas a primeira teve como berço a Inglaterra com vínculo na
industrialização em substituição a produção artesanal, além disso, a utilização do ferro,
pela máquina a vapor, surgimento do trabalhado assalariado e do proletariado e do saber
global pelo trabalhador. A segunda no século XIX tem como características principais o
surgimento do aço, da energia elétrica, do petróleo, da indústria química dos meios de
transporte e de comunicação. Este período foi marcado pela produção em massa e linhas
de montagem, pela divisão técnica do trabalho e surgimento das escolas industriais e
profissionalizantes e a terceira revolução acontece na segunda metade do século XX
com a robótica, informática, aperfeiçoamento de transportes e das comunicações,
transformação da ciência e da tecnologia em matérias primas por excelência e na gestão
e organização do trabalho mais flexível e integrado globalmente.
“Essas transformações refletem a diversidade e os contrastes da sociedade e,
em decorrência, o empreendimento do capital em controlar e explorar
as capacidades materiais e humanas de produção de riqueza, para sua
autovalorização.” (Libâneo 2003, p. 60).
A revolução industrial

A Revolução Industrial representou a lenta e inevitável evolução do


capitalismo que, em última instância, substituiu a força motriz humana pelas máquinas,
com profundas consequências econômicas, políticas, sociais e culturais.
Mas, não podemos esquecer que a produção manual que antecede à Revolução
Industrial conheceu duas etapas bem definidas, dentro do processo de desenvolvimento
do capitalismo: primeiro o artesanato foi a forma de produção industrial característica
da Baixa Idade Média, durante o renascimento urbano e comercial, sendo representado
por uma produção de caráter familiar, na qual o produtor (artesão) possuía os meios de
produção (era o proprietário da oficina e das ferramentas) e trabalhava com a família em
sua própria casa, realizando todas as etapas da produção, desde o preparo da matéria-
prima, até o acabamento final; ou seja não havia divisão do trabalho ou especialização
para a confecção de algum produto. Em algumas situações o artesão tinha junto a si um
ajudante, porém não assalariado, pois realizava o mesmo trabalho pagando uma “taxa”
pela utilização das ferramentas. É importante lembrar que nesse período a produção
artesanal estava sob controle das corporações de ofício, assim como o comércio também
se encontrava sob controle de associações, limitando o desenvolvimento da produção.
Depois, lembremos que a manufatura, que predominou ao longo da Idade
Moderna e na Antiguidade Clássica, resultou da ampliação do mercado consumidor com
o desenvolvimento do comércio monetário. Nesse momento, já ocorre um aumento na
produtividade do trabalho, devido à divisão social da produção, onde cada trabalhador
realizava uma etapa na confecção de um único produto. A ampliação do mercado
consumidor relaciona-se diretamente ao alargamento do comércio, tanto em direção ao
oriente como em direção à América. Outra característica desse período foi a
interferência do capitalista no processo produtivo, passando a comprar a matéria-prima
e a determinar o ritmo de produção.
Na especificidade de seu contexto, observaremos que a história britânica
contou com uma série de experiências que fez dela o primeiro dos países a transformar
as feições do capitalismo mercantilista. Entre tais transformações históricas podemos
destacar o vanguardismo de suas políticas liberais, o incentivo ao desenvolvimento da
economia burguesa e um conjunto de inovações tecnológicas que colocaram a Inglaterra
à frente do processo hoje conhecido como Revolução Industrial.
A Grã-Bretanha foi pioneira no processo da Revolução Industrial por diversos
fatores: Pela aplicação de uma política econômica liberal desde meados do século
XVIII. Antes da liberalização econômica, as atividades industriais e comerciais estavam
cartelizadas pelo rígido sistema de guildas, razão pela qual a entrada de novos
competidores e a inovação tecnológica eram muito limitados. Com a liberalização da
indústria e do comércio ocorreu um enorme progresso tecnológico e um grande aumento
da produtividade em um curto espaço de tempo.  O processo de enriquecimento
britânico adquiriu maior impulso após a Revolução Inglesa, que forneceu ao seu
capitalismo a estabilidade que faltava para expandir os investimentos e ampliar os
lucros. A Grã-Bretanha firmou vários acordos comerciais vantajosos com outros países.
Um desses acordos foi o Tratado de Methuen, celebrado com a decadência da
monarquia absoluta portuguesa, em 1703, por meio do qual conseguiu taxas
preferenciais para os seus produtos no mercado português.  A Grã-Bretanha possuía
grandes reservas de ferro e de carvão mineral em seu subsolo, principais matérias-
primas utilizadas neste período. Dispunham de mão de obra em abundância desde a Lei
dos Cercamentos de Terras, que provocou o êxodo rural. Os trabalhadores dirigiram-se
para os centros urbanos em busca de trabalho nas manufaturas.  A burguesia inglesa
tinha capital suficiente para financiar as fábricas, adquirir matérias-primas e máquinas e
contratar empregados.
Para ilustrar a relativa abundância do capital que existia na Inglaterra, pode se
constatar que a taxa de juros no final do século XVIII era de cerca de 5% ao ano; já na
China, onde praticamente não existia progresso econômico, a taxa de juros era de cerca
de 30% ao ano.
Com a Revolução Industrial, a qualidade das relações de trabalho no ambiente
manufatureiro se transformou sensivelmente. Antes, os artesãos se agrupavam no
ambiente da corporação de oficio para produzirem os produtos manufaturados. Todos os
artesãos dominavam integralmente as etapas do processo de produção de um
determinado produto. Dessa forma, o trabalhador era ciente do valor, do tempo gasto e
da habilidade requerida na fabricação de certo produto. Ou seja, ele sabia qual o valor
do bem por ele produzido.
As inovações tecnológicas oferecidas, principalmente a partir do século XVIII,
proporcionaram maior velocidade ao processo de transformações da matéria-prima.
Novas máquinas automatizadas, geralmente movidas pela tecnologia do motor a vapor,
foram responsáveis por esse tipo de melhoria. No entanto, além de acelerar processos e
reduzir custos, as máquinas também transformaram as relações de trabalho no meio
fabril. Os trabalhadores passaram por um processo de especialização de sua mão de
obra, assim só tinham responsabilidade e domínio sob uma única parte do processo
industrial.
Dessa maneira, o trabalhador não tinha mais ciência do valor da riqueza por ele
produzida. Ele passou a receber um salário pelo qual era pago para exercer uma
determinada função que, nem sempre, correspondia ao valor daquilo que ele era capaz
de produzir. Esse tipo de mudança também só foi possível porque a própria formação de
uma classe burguesa – munida de um grande acúmulo de capitais – começou a controlar
os meios de produção da economia.
O acesso às matérias primas, a compra de maquinário e a disponibilidade de
terras representavam algumas modalidades desse controle da burguesia industrial sob os
meios de produção. Essas condições favoráveis à burguesia também provocou a
deflagração de contradições entre eles e os trabalhadores. As más condições de trabalho,
os baixos salários e carência de outros recursos incentivaram o aparecimento das
primeiras greves e revoltas operárias que, mais tarde, deram origem aos movimentos
sindicais.
Com o passar do tempo, as formas de atuação do capitalismo industrial ganhou
outras feições. Na segunda metade do século XIX, a eletricidade, o transporte
ferroviário, o telégrafo e o motor a combustão deram início à chamada Segunda
Revolução Industrial. A partir daí, os avanços capitalistas ampliaram significativamente
o seu raio de ação. Nesse mesmo período, nações asiáticas e africanas se inseriram nesse
processo com a deflagração do imperialismo (ou neocolonialismo), capitaneado pelas
maiores nações industriais da época.
Durante o século XX, outras novidades trouxeram diferentes aspectos ao
capitalismo. O industriário Henry Ford e o engenheiro Frederick Winslow Taylor
incentivaram a criação de métodos onde o tempo gasto e a eficiência do processo
produtivo fossem cada vez mais aperfeiçoados. Nos últimos anos, alguns estudiosos
afirmam que vivemos a Terceira Revolução Industrial. Nela, a rápida integração dos
mercados, a informática, a microeletrônica e a tecnologia nuclear seriam suas principais
conquistas.
A Revolução Industrial foi responsável por inúmeras mudanças que podem ser
avaliadas tanto por suas características negativas, quanto positivas. Alguns dos avanços
tecnológicos trazidos por essa experiência trouxeram maior conforto à nossa vida. Por
outro lado, a questão ambiental (principalmente no que se refere ao aquecimento global)
traz à tona a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida e a nossa relação com a
natureza.

AS TRÊS REVOLUÇÕES INDUSTRIAIS

A Primeira Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra, no século XVIII


(1780-1830). A Inglaterra foi o primeiro país a passar por esta revolução.
Por volta de 1830, a Primeira Revolução Industrial se completou na Inglaterra,
e daí migrou para o continente europeu. Chegou à Bélgica e França, países próximos do
arquipélago britânico. Por volta dos meados do século XIX, atravessou o Atlântico e
rumou para os Estados Unidos. E, no final do século, retornou ao continente europeu
para retomar seu fio tardio na Alemanha e na Itália, chegando, também, ao Japão.
O ramo característico da Primeira Revolução Industrial é o têxtil de algodão.
Ao seu lado, aparece a siderurgia, dada a importância que o aço tem na instalação de um
período técnico apoiado na mecanização do trabalho.
O sistema de técnica e de trabalho desse período é o paradigma
manchesteriano, nome dado por referência a Manchester, o centro têxtil por excelência
representativo desse período. A tecnologia característica é a máquina de fiar, o tear
mecânico. Todas são máquinas movidas a vapor originado da combustão do carvão, a
forma de energia principal desse período técnico. O sistema de transporte característico
é a ferrovia, além da navegação marítima, também movida à energia do vapor do
carvão.
A base do sistema manchesteriano é o trabalho assalariado, cujo cerne é o
trabalhador por ofício. Um trabalhador qualificado é geralmente pago por peça.
A Segunda Revolução Industrial começou por volta de 1870. Mas a
transparência de um novo ciclo só se deu nas primeiras décadas do século XX. Foi um
fenômeno muito mais dos Estados Unidos que dos países europeus.
E esta segunda revolução industrial que está por trás de todo desenvolvimento
técnico, científico e de trabalho que ocorre nos anos da Primeira e, principalmente, da
Segunda Guerra Mundial.
A Segunda Revolução Industrial tem suas bases nos ramos metalúrgico e
químico. Neste período, o aço torna-se um material tão básico que é nele que a
siderurgia ganha sua grande expressão. A indústria automobilística assume grande
importância nesse período. O trabalhador típico desse período é o metalúrgico. O
sistema de técnica e de trabalho desse período é o fordista, termo que se refere ao
empresário Ford, criador, na sua indústria de automóveis em Detroit, Estados Unidos,
do sistema que se tornou o paradigma de regulação técnica e do trabalho conhecido em
todo o mundo industrial.
A tecnologia característica desse período é o aço, a metalurgia, a eletricidade, a
eletromecânica, o petróleo, o motor a explosão e a petroquímica. A eletricidade e o
petróleo são as principais formas de energia.
A forma mais característica de automação é a linha de montagem, criada por
Ford (1920), com a qual introduz na indústria a produção padronizada, em série e em
massa.
Com o fordismo, surge um trabalhador desqualificado, que desenvolve uma
função mecânica, extenuante e para a qual não precisa pensar. Pensar é a função de um
especialista, o engenheiro, que planeja para o conjunto dos trabalhadores dentro do
sistema da fábrica.
Temos aqui a principal característica do período técnico da Segunda Revolução
Industrial: a separação entre concepção e execução, separando quem pensa (o
engenheiro) e quem executa (o trabalhador em massa). É, pois, o taylorismo que está na
base do fordismo. É criação do taylorismo (Taylor, 1900) essa série de segmentações
que quebra e dissocia o trabalho em aspectos até então organicamente integrados, a
partir da separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual (operários).
Taylor elabora um sistema que designa de organização científica do trabalho
(OIT).
O trabalho taylorizado é especializado, fragmentado, não-qualificado, intenso,
rotineiro, insalubre e hierarquizado.
A Terceira Revolução Industrial tem início na década de 1970, tendo por
base a alta tecnologia, a tecnologia de ponta (HIGH-TECH). As atividades tornam-se
mais criativas, exigem elevada qualificação da mão-de-obra e têm horário flexível. E
uma revolução técnicocientífica, tendo a flexibilidade do Toyotismo. As características
do toyotismo foram desenvolvidas pelos engenheiros da Toyota, indústria
automobilística japonesa, cujo método foi abolir a função de trabalhadores profissionais
especializados para torná-los especialistas multifuncionais, lidando com as emergências
locais anonimamente.
A tecnologia característica desse período técnico, que tem início no Japão, é a
microeletrônica, a informática, a máquina CNC (Controle Numérico Computadorizado),
o robô, o sistema integrado à telemática (telecomunicações informatizadas), a
biotecnologia. Sua base mistura, à Física e à Química, a Engenharia Genética e a
Biologia Molecular. O computador é a máquina da terceira revolução industrial. É uma
máquina flexível, composto por duas partes: o hardware (a máquina propriamente dita)
e o software (o programa). O circuito e o programa integram-se sob o comando do chip,
o que faz do computador, ao contrário da máquina comum, uma
máquina reprogramável e mesmo autoprogramável. Basta para isso que se
troque o programa ou se monte uma programação adequadamente intercambiável. A
organização do trabalho sofre uma profunda reestruturação. Resulta um sistema de
trabalho polivalente, flexível, integrado em equipe, menos hierárquico.
Computadorizada, a programação do conjunto é passada a cada setor da fábrica para
discussão e adaptação em equipe (CCQ), na qual se converte num sistema de rodízio de
tarefa que restabelece a possibilidade de uma ação criativa dos trabalhadores no setor.
Para efetivar esta flexibilização do trabalho de execução, distribui-se pelo
espaço da fábrica um sistema de sinalização semelhante ao do tráfego.
Elimina-se pela reengenharia grande parte da rede de chefias.
Toda essa flexibilização técnica e do trabalho toma-se mais adaptável ao
sistema econômico. Sobretudo a relação entre produção e consumo, por meio do JIT
(just-in-time).
A verticalização do tempo fordista cede lugar à horizontalização. Com a
horizontalização terceirizada e subcontratada, o problema dos altíssimos investimentos
que a nova tecnologia pede é contornado e o controle da economia agora
transnacionalizada fica nas mãos de um punhado ainda menor de empresas. Sob a
condução delas, a velha divisão imperial do planeta cede lugar à globalização.
As novas regiões industriais de alta tecnologia, de ponta, unem centros
produtores de tecnologia com indústrias de informações, associados a grandes centros
de pesquisa (universidades): são os tecnopólos. O principal tecnopólo é o Vale do
Silício, localizado na Califórnia (EUA) ao sul de São Francisco, próximo da
Universidade de Stanford. Outros exemplos importantes são: a chamada Route 128,
perto de Boston e do MIT (EUA), a região de Tóquio-Yokohama (Japão), a região
Paris-Sud (França), o corredor M4, ao redor de Londres Reino Unido), a região de
Milão (Itália), as regiões de Berlim e Munique (Alemanha), Moscou, Zelenogrado e São
Petersburgo (Rússia), São Paulo-Campinas-São Carlos (Brasil).

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