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COORDENAÇÃO

GERAL: COORDENAÇÃO ACADÊMICA:


CÉLIA BARBOSA ABREU EDSON ALVISI
MANOEL MESSIAS PEIXINHO SÉRGIO GUSTAVO DE MATTOS PAUSEIRO
TAUÃ LIMA VERDAN RANGEL





PESQUISA EM DIREITOS
HUMANOS FUNDAMENTAIS E
METODOLOGIA DA PESQUISA
JURÍDICA





Volume 1: Direitos Humanos & Empresa
PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E
METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
VOLUME 1: DIREITOS HUMANOS & EMPRESA
ISBN: 978-17-047-3137-7

Capa: Lásló Moholy-Nagy. Sem Título de Konstruktionen. (Kestermappe 6 –
Construções. Kertner Portfolio6), 1923.

COORDENAÇÃO GERAL:
Célia Barbosa Abreu
Manoel Messias Peixinho
Tauã Lima Verdan Rangel

COORDENAÇÃO ACADÊMICA:
Edson Alvisi
Sérgio Gustavo de Mattos Pauseiro

ORGANIZAÇÃO:

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos, Instituições e Negócios
(PPGDIN/UFF)


APOIADORES:

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito Econômico e Desenvolvimento
da Universidade Cândido Mendes (UCAM)


Editora: Kindle Edition



CONSELHO CIENTÍFICO & EDITORIAL

A Comissão Científica será presidida pelos Professores Dra. Célia Barbosa Abreu, Fábio
Carvalho Leite e Manoel Messias Peixinho, sendo composta pelos seguintes membros:
André Ordacgy; Antón Lois Fernandez Alvarez; Caitlin Sampaio Mulholland; Cândido
Francisco Duarte dos Santos e Silva; Carla Appollinário de Castro; Carolina Altoé Velasco;
Clarisse Inês de Oliveira; Eder Fernandes Monica; Edson Alvisi Neves; Fábio Carvalho
Leite; Fabrízia Bittencourt; Fernanda Pontes Pimentel; Fernando Gama de Miranda Netto;
Giselle Picorelli Yacoub Marques; João Marcelo de Lima Assafim; Marcus Fabiano
Gonçalves; Monica Paraguassu; Patrícia Garcia dos Santos; Plínio Lacerda Martins;
Rogério Pacheco Alves; Sérgio Gustavo de Mattos Pauseiro; Thadeu Andrade da Cunha.
COMISSÃO EXECUTIVA

A Comissão Executiva será presidida pelos Professores Dra. Célia Barbosa Abreu,
Fábio Carvalho Leite e Manoel Messias Peixinho, sendo composta pelos seguintes
membros: Alex Assis de Mendonça; Alexander Seixas da Costa; Andrea Drumond de
meireles Seyller; Anna Terra; Aurea Luise Abreu Alves; Camille Pacheco Carvalho;
Beatriz Azevedo Rangel; Caroline Juvencio Mariano de Medeiros; Daiane Conde da
Costa; Eduardo Langoni de Oliveira Filho; Fernanda Franklin Seixas Arakaki; Iara
Duque Soares; Isabelle Goulart Porto Nunes; João Pedro Schuab Stangari Silva; João
Victor Santilli; Joyce Abreu de Lira; Jorgina Peixoto Bonifácio; Karina Abreu Freire;
Leonardo Martins Costa; Luiza Paula Gomes; Pedro Paulo Carneiro Gasparri; Rafael
Bitencourt Carvalhaes; Rinara Coimbra de Morais; Rebeca Cordeiro da Rota Mota;
Renata Meda; Rosana Maria de Moraes e Silva Antunes; Tauã Lima Verdan Rangel;
Taís Silva; Tatiana Fernandes Dias da Silva; Thiago Villar Figueiredo; Verônica
Batista Nascimento; Wagner da Silva Reis.


EDITORAÇÃO, PADRONIZAÇÃO e FORMATAÇÃO DE TEXTO
Célia Barbosa Abreu (PPGDIN/UFF)
Tauã Lima Verdan Rangel (FAMESC/MULTIVIX)


CONTEÚDO, CITAÇÕES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
É de inteira responsabilidade dos autores o conteúdo aqui apresentado.
Reprodução dos textos autorizada mediante citação da fonte.
COORDENAÇÃO GERAL

Célia Barbosa Abreu
Pós-Doutorado em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ/2016). Doutora em Direito Civil pela Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (UERJ. 2008). Mestre em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ/2000). Graduação em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC/RJ. 1991). Professora Associada de Direito Civil da Universidade Federal
Fluminense. Professora do Corpo Docente do PPGDIN (Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Direito, Instituições e Negócios) da Faculdade de Direito - UFF. Autora das obras:
Contornos Dogmáticos & Eficácia da Boa-fé Objetiva, Curatela & Interdição Civil (1a e 2a edição)
e Primeiras Linhas sobre a Interdição após o Novo Código de Processo Civil, além de artigos
publicados em revistas especializadas e capítulos de livros publicados. Experiência em Direito,
com ênfase em Direito Comparado; Direito Constitucional Comparado nas Relações Privadas &
Públicas; Direitos Fundamentais nas Relações Privadas & Públicas; Direito Fundamental à Saúde
(especialmente, Saúde Mental); Direito Civil-Constitucional. Advogada.


Manoel Messias Peixinho
Pós-Doutorado. Université Paris - Nanterre. (2013-2014). Doutorado em Direito. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil (2000-2004). Mestrado em Direito.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil. (1995-1997).
Aperfeiçoamento em Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil
(1988 - 1992). Graduação em Direito. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-
Rio, Brasil (1987 - 1992) Graduação em Teologia. Seminário Metodista. (1987 - 1990).
Atualmente é professor do Departamento de direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro e do Mestrado em Direito da Universidade Cândido Mendes. É professor colaborador
da Fundação Getúlio Vargas e da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. A militância
na advocacia é dedicada, prioritariamente, às matérias especializadas em licitações e contratos
administrativos, ao servidor público e à responsabilidade civil do Estado.


Tauã Lima Verdan Rangel
Pós-Doutorando, com bolsa FAPERJ, vinculado ao Programa de Pós-Graduação Strictu Sensu em
Sociologia Política da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Doutorado e
Mestrado, com bolsa (CAPES), em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação
em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Especialista Lato Sensu em
Gestão Educacional e Práticas Pedagógicas pela Faculdade Metropolitana São Carlos (FAMESC).
Especialista Lato Sensu em Direito Administrativo pela Faculdade de Venda Nova do Imigrante
(FAVENI). Especialista Lato Sensu em Direito Ambiental pela Faculdade de Venda Nova do
Imigrante (FAVENI). Especialista Lato Sensu em Direito de Família pela Faculdade de Venda
Nova do Imigrante (FAVENI). Especialista Lato Sensu em Práticas Processuais, Processo Civil,
Processo Penal e Processo do Trabalho pelo Centro Universitário São Camilo-ES. Docente dos
Cursos de Direito e de Medicina da Faculdade Metropolita São Carlos – unidade de Bom Jesus do
Itabapoana-RJ e do Curso de Direito do Instituto de Ensino Superior do Espírito Santo – unidade
de Cachoeiro de Itapemirim-ES. Integrante do Grupo de Pesquisa Direitos Fundamentais UFF,
coordenado pela Professora Dra. Célia Barbosa Abreu (PPGDC-UFF), e Ecossocial, coordenado
pelo Professor Dr. Wilson Madeira Filho (PPGSD-UFF). Coordenador do Grupo de Pesquisa
“Faces e Interfaces do Direito” e “Direito e Direitos Revisitados”. Experiência em Direito, com
especial ênfase para as Propedêuticas Jurídicas (História do Direito e Hermenêutica Jurídica) e
Direito Público (Direito Constitucional, Direito Administrativo e Direito Ambiental).
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

SUMÁRIO


Prefácio ......................................................................................................................... 7
Célia Barbosa Abreu, Fábio Carvalho Leite & Manoel Messias Peixinho

Compliance e Operadoras de Planos de Assistência à Saúde ......................... 8
Marcella da Costa Moreira de Paiva

Condição Humana e Empresa Simples de Crédito ............................................ 12
Carlos André Coutinho Teles & Fernando Rangel Alvarez dos Santos

Propriedade Industrial: revolução tecnológica com patentes e marcas .... 17
Diogo Menchise Ferreira & Rose Mary Gouvêa Menchise

Empresas Públicas e inclusão social: a função dos Correios na promoção da
dignidade da pessoa humana ................................................................................. 24
Fabiano Ramos de Moras Sacramento, João Miguel Grigório da Silva & Rodrigo
Soares da Silva

Compliance e Direitos Humanos ............................................................................ 29
Daniela Juliano Silva

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

P R E F Á C I O

Prezados Leitores, com satisfação, prefaciamos a coleção Pesquisa em Direitos
Humanos Fundamentais e Metodologia da Pesquisa Jurídica, que reúne pesquisas de
docentes e discentes de diferentes universidades.

Esta coleção é metódica e cientificamente organizada em nove volumes, que
versam sobre os direitos humanos e a empresa; e o consumidor; e os meios alternativos
de solução dos conflitos; e as famílias contemporâneas; e o futuro da sexualidade; e o
direito do trabalho; e os grupos vulneráveis e sua inclusão social, bem como o de
metodologia da pesquisa jurídica.

Desejamos a todos uma boa leitura.

Niterói, 31 de outubro de 2019.

Célia Barbosa Abreu
Fábio Carvalho Leite
Manoel Messias Peixinho

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

COMPLIANCE E OPERADORAS DE PLANOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE



Marcella da Costa Moreira de Paiva1


RESUMO
Há uma tendência internacional da adoção de regras e práticas de conduta, de cunho
deontológico como forma de ampliar a credibilidade nas relações comerciais. Esta vem
como contraponto à institucionalização dos modos de reprodução sistêmicos.
Adicionalmente, tem sido apontado como mecanismo para trazer maior eficiência para as
empresas, em face da ampliação da integridade nas relações internas e externas. Estabelece-
se um programa de ética empresarial, que não se limita unicamente à definição de normas
de conduta, devendo ser estruturado um setor na organização para a verificação do
cumprimento das regras de compliance. Levanta-se como hipótese a possibilidade deste
instrumento ser um aliado na reconstrução da confiabilidade nas operadoras de planos de
assistência à saúde. Além disso, pressupõe-se que pode ser um fator de aumento da
eficiência na prestação dos serviços de saúde, e de efetivação do direito à saúde. Salienta-se
que este direito à saúde abordado no presente artigo se refere à saúde suplementar, sendo
complementar ao serviço único e público. Nesse passo, utiliza-se

Palavras-chave: Operadoras de Saúde; Compliance; Direito à Saúde.

INTRODUÇÃO

O processo de modernidade provocou diversas modificações na
compreensão de mundo, até então dominantes, que promoveu, consequentemente,
mudanças na perspectiva ética e nas relações internas e externas das instituições
sociais. Durante tal processo, o capitalismo enfrentou diversos momentos de crise,
se reestruturando a cada uma delas. Com efeito, gradativamente começou a adentrar
nas instituições, colonizando-as com suas formas de reprodução.
As empresas, de modo geral, são umas das organizações que mais sofreram
com esse processo de invasão da lógica de mercado, ao passo que são institutos
originados pelo próprio capitalismo. Com isso, o sistema ético nas relações internas
das corporações e nas relações destas com outras empresas e com pessoas adotou
traços típicos de mercado, seguindo, de certa forma, o utilitarismo.

1
Doutoranda na UFF. Professora na UNIVERSO. Membro do NEPAC, UNIVERSO. E-mail:
marcellacmpaiva@hotmail.com

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

Ressalta-se que a compreensão ética-moral se fragmentou durante o


processo de modernidade, antes atribuída exclusivamente a aspectos religiosos e
míticos. Surge, assim, diversas perspectivas, sendo uma delas o utilitarismo.
Contudo, de forma contrafactual, amplia-se a exigência em âmbito internacional da
aplicação de um maior rigor ético para as corporações, de cunho não mais
utilitarista.
Inicia-se, desta forma, a cobrança de adoção de programas de integridade
para as instituições com aplicação nas relações internas e externas, com fulcro de
reduzir práticas antiéticas e corruptivas. Estruturam-se, por conseguinte, no Brasil
e no exterior sistemas anticorrupção e antitruste para a regulação e a sanção de
pessoas jurídicas e pessoas físicas de diversos ramos de mercado.
Frente o mencionado cenário, faz-se imprescindível a análise da aplicação de
programas de compliance no Brasil na área da saúde, principalmente em razão de
processos de intervenção da ANS nas operadoras de assistência à saúde, as quais
apresentaram práticas antiéticas. Com isso, aborda-se, no presente artigo, a adoção
de programas de integridade para tais organizações como forma de ampliar a
eficiência nas prestações de serviços de saúde e a confiabilidade nas suas relações.

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os mecanismos de confiança, conforme Giddens (1991, p. 79), atuam tanto
na relação entre os sistemas peritos e as pessoas leigas quanto dentro dos próprios
sistemas. Deste modo, os próprios integrantes dos sistemas abstratos dependem de
mecanismos de reencaixe, capazes de gerar confiabilidade, sendo apontados pelo
sociólogo em questão os códigos de ética profissional como elemento essencial para
viabilizar a confiança. Este, mediante o estabelecimento de condutas e de sanções,
proporciona o controle interno de confiabilidade de colegas de profissão ou,
inclusive, entre funcionários de alguma organização.
Com isso, teremos a confiança, no âmbito dos sistemas abstratos, a partir de
compromisso sem rosto quando se refere a confiança em sistemas e compromissos

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

com rostos quando se fala de confiança em pessoas. No caso do primeiro, esta se


pauta na fé no devido funcionamento do sistema, enquanto, no segundo, a confiança
está baseada na integridade dos pontos de acesso (GIDDENS, 1991, p. 80).
As operadoras de planos de saúde, como setor dotado de conhecimento
específico, consistem em sistemas abstratos, constituídas por profissionais
especializados, que são os pontos de acesso do sistema. A confiança entre os colegas
é controlada internamente por códigos de ética de cada categoria profissional que
as integra e por regras de conduta aplicadas para a empresa.
Desde a formação do sistema legislativo de anticorrupção e de antitruste,
vem se ampliando a exigência de programas de integridade para todos os ramos de
mercados, sendo a saúde um destes. A Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), na resolução administrativa n. 443 de 2019, dispôs sobre as regras de
compliance para o sistema perito em questão.
É cediço que as operadoras de planos de saúde as baseiam em uma lógica de
base securitária, isto é, estrutura-se a partir da teoria do risco. Com isso, calcula o
valor da mensalidade do plano mediante a possibilidade de ocorrência ou não do
sinistro, que, no caso, deve ser entendido como a utilização ou não dos serviços de
saúde, embora a atuação para a efetivação do direito à saúde.

2 OBJETIVOS

De primeiro momento, há o objetivo de analisar o tratamento dos programas
de integridade para setor de prestação de serviços de saúde no Brasil, bem como a
legislação geral sobre o tema.
Posteriormente, passa-se para a análise do compliance como instrumento de
confiabilidade na saúde suplementar e como mecanismo de ampliação e de
efetivação do direito à saúde.


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Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

CONCLUSÕES

O presente artigo se apresenta ainda em estado embrionário, porém é
possível a menção de algumas conclusões iniciais. Primeiramente, aponta-se aqui a
institucionalização das formas de reprodução sistêmica, e a perspectiva utilitarista
presente, de forma geral, nas organizações da sociedade. Verifica-se uma lógica de
base securitária e utilitária em um setor que possui relação direta como um direito
tão essencial como o da saúde.
Neste sentido, deve haver determinados parâmetros com o intuito de efetivar
tal direito e de ampliar a credibilidade referente ao sistema e dentro do próprio
sistema de saúde suplementar. Inicialmente sustenta-se a possibilidade dos
programas de integridade potencialmente a atuarem como mecanismo para tais
questões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade /Anthony Giddens; tradução
de Raul Fiker. – São Paulo: Editora UNESP, 1991.

HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Tradução de
Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. 2 v.

RODRIGUES, Leo Peixoto; NEVES, Fabrício Monteiro. Niklas Luhmann: a sociedade
como sistema. Porto Alegre: Edipucrs, 2012.

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Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

CONDIÇÃO HUMANA E EMPRESA SIMPLES DE CRÉDITO



Carlos André Coutinho Teles2
Fernando Rangel Alvarez dos Santos 3


Palavras-chave: empresa social de crédito; condição humana; direitos humanos

O crescimento do sistema financeiro nacional e a ocupação do setor bancário
na vida econômica brasileira revela-se expressivo nos últimos 55 anos4.
Juridicamente, destaca-se a edição da Lei nº 4.595 de 1964, que até os dias atuais
dita as regras gerais para o sistema financeiro. O instituto da correção monetária
criado pela Lei nº 4.357 de 1964, contribuiu em grande parte para que a necessidade
da atividade bancária e financeira estivesse presente no cotidiano da sociedade
brasileira, principalmente em épocas inflacionárias. Para que a atividade econômica
pudesse fluir havia necessidade da capilarização e expansão do crédito, tanto na
atividade empreendedora, como, eventualmente no consumo.5 A importância do
crédito e seu crescimento para a atividade econômica se observa desde o século XVII
na Europa com a criação de instituições estatais de crédito.6

2
Doutorando em Direito pelo PPGDIN-UFF. Mestre em Direito pelo PPGD-UVA (2018). Especialista em
Responsabilidade Civil e Direito do Consumidor (2006) pela UCAM e em Direito e Processo do Trabalho
pelo IBMEC (2016). Advogado. E-mail: carlos.teles@ctfl.adv.br. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/1989831234582230
3
Doutor em Direito pelo PPGD (2019). Mestre em Direito (2007) e Especialista em Direito Civil e Processual
Civil (2001) pela UNESA e em Direito Corporativo pelo IBMEC (2015). Advogado. E-mail:
frangel2005@gmail.com Lattes: http://lattes.cnpq.br/0098582266948944
4
A FEBRABAN (Federação Brasileira dos Bancos) destaca os seguintes progressos no setor bancário, desde
a década de 1960: automação bancária, criação do Banco Central do Brasil, padronização dos boletos de
cobrança e a criação da compensação nacional.
5
BIELSCHOWSKY (2004, p. 420) esclarece que a reforma bancária tinha, dentre outros, o propósito da
expansão do crédito: “A discussão sobre a reforma bancária girava em torno da necessidade de
reestruturar o sistema financeiro, de modo a: (a) [...]; (b) criar novas instituições financeiras e novos
instrumentos de financiamento para o consumo, capital de giro e inversão fixa [...]
6
JANTALIA (2012, p. 10) ressalta a importância da criação do Banco da Inglaterra para a expansão do
crédito: “Justamente impulsionado por elementos políticos, em 1694 foi instituído o Banco da Inglaterra,
com o objetivo de proporcionar crédito à Coroa e financiar a participação inglesa na Guerra dos Nove
Anos.”

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Não foi diferente no sistema financeiro brasileiro. Dentre os bancos


brasileiros, cinco deles atendem, na atualidade, a 71% do mercado brasileiro,
destacando-se dentre eles, duas instituições estatais.
Já no século XXI, após anos de inflação em índices toleráveis, e com taxas de
juros declinantes, surge a ideia de se ampliar a oferta do crédito por meio de
instituições de porte bem menor que as grandes potências financeiras já
mencionadas, mas que possam atender a massa carente de crédito7, possibilitando
assim a intensificação da concorrência, e, por consequência, a almejada queda da
taxa de juros, vez que os juros brasileiros sempre foram elevados, se comparados a
outros países.
Em tal contexto, surge a empresa simples de crédito (ESC), instituição que
poderá atender, com atuação exclusiva no Município de sua sede e em Municípios
limítrofes, as operações de empréstimo, de financiamento e de desconto de títulos
de crédito, exclusivamente com recursos próprios, tendo como contratantes:
microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte.
Ou seja, nova forma jurídica de disseminar o crédito voltada para os
empreendimentos de menor porte.
A presente investigação tem por objetivo geral verificar a hipótese de que a
empresa social de crédito, nos moldes jurídicos em que foi criada, tem a centralidade
ou mesmo tangência de regras voltadas para a condição humana, considerando que
se trata de empresa voltada para os setores de pequeno porte na economia, ou seja,
ocupados por empreendedores que não exercem domínio de mercado, mas sim
atuam, esperando que a estrita concorrência seja respeitada. Como arcabouço
teórico, a pesquisa utilizará os aspectos formulados por Hannah Arendt para
configurar tal condição humana. O resultado, ainda não prospectado em definitivo,
mas aponta para uma tendência em se concentrar no sistema financeiro no

7
SILVA (2014, p. 50) trata tal papel do crédito como “função social do crédito”: “O crédito, sem dúvida,
cumpre importante papel econômico e social, a saber: (a) possibilita às empresas aumentarem seu nível
de atividade; (b) estimula o consumo, influenciando a demanda; (c) ajuda as pessoas a obterem, bens e até
alimentos; (d) facilita a execução de projetos para os quais as empresas não disponham de recursos
próprios suficientes.

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momento, do que nas necessidades e carências do ser humano que integra as


empresas de pequeno porte.
A primeira distinção que Arendt (2007, p. 17) traz é entre natureza humana
e condição humana, sendo que esta “compreende algo mais que as condições nas
quais a vida foi dada ao homem. Os homens são seres condicionados: tudo aquilo
com o qual eles entram em contato torna-se imediatamente uma condição de sua
existência.” A citada autora faz críticas contundentes aos contornos individualistas
surgidos na modernidade, destacando que a sociedade se organiza, desde então, em
função dos indivíduos. Segundo a autora, a sociedade do indivíduo que foi
instaurada para que ele fosse livre e soberano, mas acabou tornando-se uma
sociedade de massa, até mesmo para facilitar o controle. Em tal contexto, ou seja,
observando a ‘lei’ como uma categoria que carrega, por si só, tanto a generalidade,
quando a imperatividade, e que de certa forma, por ser algo emanado do Estado,
separa o público do privado, a citada autora a explica da seguinte forma: “A lei era
originalmente identificada com esta linha divisória que, em tempos antigos, era
ainda na verdade um espaço, uma espécie de terra de ninguém entre o público e o
privado, abrigando ambas esferas e ao mesmo tempo separando-as uma da outra. É
verdade que a lei da polis transcendia esta antiga concepção da qual, no entanto,
retinha a importância espacial original.” (ARENDT, 2007, p. 73). A autora quis
destacar a relação entre a lei e o ‘nomos’, ou seja, um ‘muro’ que separa as pessoas,
neste caso o público do privado. Em tal contexto, a autora critica o surgimento do
social, afirmando: “...pois sabemos que a contradição entre o privado e público, típica
dos estágios iniciais da era moderna, foi um fenômeno temporário que trouxe a
completa extinção da própria diferença entre as esferas pública e privada, a
submersão de ambas na esfera do social.” (ARENDT, 2007, p. 79), e é neste sentido
que podemos apontar alguns aspectos da norma que criou a ‘empresa simples de
crédito’ que não são voltados para público, nem mesmo para o social, mas sim para
o sistema financeiro como todo. Observe-se:
1) a lei não define tal ‘empresa simples’ como instituição não-bancária, como
o faz com algumas agências de fomento, todavia não autoriza a utilizar a expressão

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banco, bem como não pode se identificar como ‘autorizada’ pelo Banco Central.
Partindo-se do pressuposto que tais empresas de crédito têm âmbito municipal, por
que não as admiti-las como bancárias? A resposta parece mais aproximá-la do
sistema do que do ambiente social em que ela vai empreender. Imagine na cidade
pequena, será que ninguém conhece seu proprietário? Tal situação se coloca mais
ao lado da condição humana (Arendt) do que da realidade social.
2) O capital inicial deve ser realizado em moeda corrente (Art. 1º parágrafo
2º) – Contrariamente, as sociedades limitadas que não são empresas sociais de
crédito, podem integralizar capital com outras espécies de bens. A distância social
se faz perceber quando a ESC pode se constituir por empresários individuais que
necessariamente tem que ter a quantia em espécie disponível para fornecer o
crédito. Para que suas operações sejam bem sucedidas, tanto no aspecto do
adimplemento, quanto da avaliação de risco da empresa de crédito, tais ESCs
deverão exigir garantias reais dos contraentes, pois a fiança não é de tal forma tão
consistente quanto um bem dado em garantia, o que dificulta demasiadamente, o
início das operações das ESCs. Mais um contingenciamento da condição humana,
sem pensar no ambiente das operações;
3) As ESCs deverão manter escrituração com observância das leis comerciais
e fiscais e Escrituração Contábil Digital por meio do Sistema público de Escrituração
Digital – neste ponto, a obrigação é voltada à fiscalidade8, o que vai gerar custo para
uma empresa de expressão pequena e, não é demasiado lembrar que a
integralização de seu capital tem que ser feita em moeda corrente. Mais um exemplo
de que a norma se voltou para o sistema, neste caso, o fiscal, ou seja, caracterizando
o condicionamento humano, e se afastou da realidade.
O que se observa, dentre os poucos exemplos mencionados é que há
‘entificação’ nas normas em uma estrutura jurídica dita simples (ESC), e que, com
isso não mais se percebe um espaço público de discussão das normas a serem

8
A própria Receita Federal do Brasil, ao fazer um histórico do sistema, assim o descreve: “O Sped, no âmbito
da Receita Federal, faz parte do Projeto de Modernização da Administração Tributária e Aduaneira
(PMATA) que consiste na implantação de novos processos apoiados por sistemas de informação integrados,
tecnologia da informação e infra-estrutura logística adequados.”

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Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

impostas a sociedade. A norma é feita sob a perspectiva do ‘ente’ para o ‘ser’. Em


outras palavras, e o caso em questão exemplifica bem a problema: quando o
legislador, na qualidade de representante do povo, elabora uma norma, ele parte do
ente (sistema), que neste caso é o sistema tributário, não atende nem mesmo o
empresarial, não podendo de tal forma ser identificada como destinatária da norma,
a sociedade. Para tanto, utiliza-se do arcabouço da tecnologia jurídica. Assim, tal
norma irá satisfazer os condicionamentos que são impostos à sociedade, não irá
perceber a separação entre o público e o privado9, utilizará o rótulo de social, mas,
possivelmente, não terá nenhuma eficácia social.

REFERÊNCIAS:

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2007.

BIELSCHOWSKY, Ricardo. Pensamento Econômico Brasileiro. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2004.

BRASIL. Poder Executivo. Lei nº Complementar nº 167 de 24 de abril de 2019.
Brasília (DF). Diário Oficial da União. 25abr. 2019. p. 1.

______. Poder Executivo. Receita Federal do Brasil. Disponível em
http://sped.rfb.gov.br/pagina/show/966. Acesso em 07 set. 2019.

FEBRABAN. Disponível em https://portal.febraban.org.br/50anos/linha-do-
tempo/. Acesso em 06 set. 2019.

JANTALIA, Fabiano. Juros Bancários. São Paulo: Atlas, 2012.

SILVA, José Pereira da. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 8 ed. São Paulo:
Atlas, 2014.

9
A autora divide o termo público em duas acepções: 1) ‘o que pode ser visto e ouvido por todos e tem a
maior divulgação possível; p. 59 2) “Em segundo lugar, o termo ‘público’ significa o próprio mundo, na
medida em que é comum a todos nós e diferente do lugar que nos cabe dentro dele.” (ARENDT, 2007, p.
62)

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Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

PROPRIEDADE INDUSTRIAL: REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA COM PATENTES E


MARCAS
Diogo Menchise Ferreira10
Rose Mary Gouvêa Menchise11

RESUMO
Este artigo tem como objeto o direito de propriedade industrial em sua esfera das leis
nacionais, através da abordagem dos diversos segmentos da sociedade atual principalmente
relacionados ao domínio das grandes corporações ao direito da propriedade industrial, com
o objetivo no desenvolvimento sustentável de uma sociedade em paralelo com o bem-estar
social e empregos. Pode-se falar em “fim do emprego no século XXI”? E o “domínio de
marcas, patentes, conhecimento, pesquisas, designer, tecnologias estratégicas de produto e de
processo das economias centrais”? Estas e outras questões exprimem uma grande
inquietação intelectual e política com transformações que vem sendo operadas nas
sociedades capitalistas ao longo dos últimos 30 anos.

Palavras-chave: Propriedade Industrial; Desenvolvimento Social; Emprego.

INTRODUÇÃO

O início do século XIX conheceu na Europa uma séria disputa entre
monopolistas, que eram favoráveis ao sistema de patentes, e os que defendiam o
livre comércio, buscando o mínimo de restrições à troca de bens e serviços. Foi
tamanha a controvérsia que, na época, Suíça e Holanda revogaram sua lei de
Propriedade Industrial. Em 1869, a Alemanha também revogou a sua legislação de
propriedade industrial, que havia sido adotada em 1817, colocando-a em vigência
novamente somente em 1910.

10
Doutorando em Direitos, Instituições e Negócios pela Universidade Federal Fluminense/RJ (PPGDIN-UFF).
Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense/RJ (PPGSD-UFF).Servidor
Público do Ministério Público Federal. E-mail: diogomenchise@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/1542336461406074
11
Doutoranda em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense/RJ (PPGSD-UFF).
Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal Fluminense/RJ (PPGSD-UFF) Master de
Desenvolvimento Local, Inovação e Tecnologia (2011), Universidade Federal Fluminense-UFF e
Universidade de Milão Bicocca. Direito pelo Centro Universitário Plínio Leite (2008). Graduação em Ciência
Econômica (1979), Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ. E-mail: rosemenchise@gmail.com
http://lattes.cnpq.br/5358122607423156

17
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

Era claro que um sistema de proteção a invenções baseadas em monopólios


tinha dificuldades de convivência com um sistema de livre comércio; afinal, são
posições antagônicas.
Dois séculos mais tarde, o mundo vive o seu mais forte movimento de livre
comércio: o fenômeno da globalização. Impulsionados pela forte difusão das novas
tecnologias de informação e comunicação (TIC) e estimulados pela força de pressão
advinda dos grandes países desenvolvidos, em especial Estados Unidos da América
do Norte (EUA), os demais países viram-se forçados a adotar medidas como abrir
suas fronteiras para produtos estrangeiros e reduzir tarifas, convivendo em
mercado interno com a concorrência de outros países (GONTIJO, 2005).
Segundo Gontijo (1995), alguns doutrinadores acreditavam que a teoria de
propriedade que sustenta o sistema de patentes estivesse sendo superada pelas
teorias da recompensa, que admitem algum tipo de benefício ao inventor e a
exclusão total da concessão de monopólios. No entanto, esta visão não se confirmou
com o passar dos anos; os dois movimentos (globalização e proteção) não se
mostraram antagônicos, a tal ponto que foram apresentados no mesmo Fórum
GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio), depois transformado em OMC
(Organização Mundial do Comércio) e foram aprovados simultaneamente.
Desde essa época, países como o Brasil, onde o sistema de proteção à
propriedade intelectual ainda não está suficientemente estruturado, buscam se
ajustar à nova realidade imposta pelos países que mais usufruem este direito a
(Propriedade Intelectual) com uma nova moeda no mercado internacional, como os
EUA, Alemanha e outros países desenvolvidos.
Cabe, aqui, a pergunta: até que ponto os regimes jurídicos dos países em
desenvolvimento estão apenas se adequando à nova realidade imposta pelos países
desenvolvidos ou estes regimes estão respeitando as necessidades específicas de
tais países?
Se por um lado as necessidades locais devem ser atendidas pelos regimes
jurídicos, por outro, hoje é impossível pensar em direitos do comércio somente em
dimensão local. Atualmente este é um direito essencialmente internacionalizado

18
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

porque envolve aspectos da economia global e das políticas de relações e acordos


internacionais.
O Direito de Propriedade Industrial é espécie de propriedade intelectual
voltada para a utilidade das criações, no âmbito empresarial ou comercial, que se dá
por meio da patente (invenções, modelos de utilidade, modelo industrial e desenho
industrial) ou marca (de indústria, comércio ou de serviço e de expressão, ou sinal
de propaganda) do produto (BARBOSA, 1988)
CAPITALISMO SÉCULO XXI: REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA COM PATENTES E
MARCAS
Desde meados da década de setenta, vem-se percebendo – sobretudo nos
círculos acadêmicos – que o modo capitalista de produção estar a passar por algum
tipo de profunda transformação em sua natureza econômica e social, e daí, também
política. Estudos fundadores apontando nessa direção, foram, entre outros, Harvey12
(1996), Becattinni13 (1997), Leonel Alvin e Jeammaud14 (2000), e Pochmann15
(2001). Embora distintos quanto às metodologias, terminologias, motivações e
objetivos, eles sustentam, com base em dados e análises sérias, estar o capitalismo
evoluindo para um novo regime de produção baseado numa “sociedade pós-
industrial” (nos serviços), ou uma nova divisão internacional do trabalho, ou novas
formas de exclusão social, ou capitalismo baseado na ciência e na tecnologia, ou uma
certa organização do processo produtivo as características socioculturais de uma
camada da população, ou nas redes de comunicação da informação.
Qualquer que fosse o foco central da análise, logo a rotulação
preferencialmente adotada por estes e outros autores, começavam todos a entender
que, nesta etapa então do capitalismo atual, emerge mudanças fundamentais nas
relações e práticas do trabalho e, também, uma nova ordem mundial com grande

12
HARVEY, David. Condição pós-moderna. “A transformação político-econômica do capitalismo do final do
século XX”. Parte II, 1992.
13
BECATTINI, Giacomo. Modelli locali di sviluppo, 1989. Professor do Departamento de Ciência Econômicas
da Universidade de Florença.
14
ALVIM, J. L. R.; JEAMMAUD, A.; FRAGALE FILHO, R. S. Trabalho, Cidadania & Magistratura. Rio de Janeiro:
Edições Trabalhistas, 2000.
15
POCHAMANN, Márcio. O emprego na globalização. “O curso atual da divisão internacional do trabalho”.
Parte 1, 2001.

19
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

aplicação do conhecimento, de conteúdos tecnológicos, inovação, patentes e marcas


das grandes corporações.
Começa a se reexaminar as consequências dessas transformações nas
relações econômicas e políticas entre os países centrais e os demais, periféricos e os
semiperiféricos16 (POCHMANN,1998).
Harvey denomina a acumulação flexível, do capitalismo pós-moderno que
é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Pochmann chama
atenção para que desde a década de 70, a uma nova modificação na Divisão
Internacional do Trabalho, associado ao processo de reestruturação empresarial,
acompanhado de uma nova Revolução Tecnológica, com os desenvolvimentos
acelerado das patentes nos países centrais.
Jeammaud advertiu sobre a nova internacionalização do trabalho, os
desafios da integração econômica e as dificuldades do Direito do Trabalho com suas
pluralidades formais em diferentes países.
Em face da globalização e da difusão das tecnologias da informação e de
comunicação, as análises das transformações do trabalho são marcadas pelas
imagens de um ciclo de inovação tecnológica que chegaria a eliminar o trabalho vivo
da produção.

GRANDES GRUPOS ECONÔMICOS E O EMPREGO

Hoje podemos encontrar uma quase unanimidade é da identificação do
processo de globalização dos grandes grupos econômicos com a sua financeirização
(rentistas). As turbulências que caracterizam a era pós fordista constituem uma
confirmação do papel cada vez mais importante da esfera financeira da qual
depende da esfera “real”. Desde o começo da década de 1990, o mundo econômico
vem assistindo a repetidos surtos de instabilidade financeira em intervalos de
aproximadamente dois anos.

16
Semiperiféricos: que possibilitou a conformação de um conjunto de nações semiperiféricas, a partir de
sua parcial industrialização como: Indonésia, Índia, Coreia, Cingapura, Brasil, entre outros.

20
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

CONCLUSÕES

Com o aprofundamento da concorrência intercapitalista tem havido uma
maior concentração e centralização do capital, seja nos setores produtivos, seja no
setor bancário e financeiro, o que concede maior importância ao papel das grandes
corporações transnacionais. Formam-se oligopólios mundiais, responsáveis pela
dominação dos principais mercados, como é o caso no setor de computadores com
apenas 10 empresas controlando 70% da produção, ou de 10 empresas que
correspondem por 82% da produção de automóveis, ou de 8 empresas que
dominam 90% do processamento de dados, ou de 8 empresas que dominam 71%
do setor petroquímico ou ainda de 7 empresas que respondem por 92% do setor de
material de saúde (POCHMANN, 2001).
Nesse sentido, assiste-se, desde a década de 70, a uma modificação
substancial na divisão internacional do trabalho. Embora o comando da nova divisão
internacional do trabalho pertença à dimensão financeira, há dois vetores
estruturais que influenciam a partir do centro do capitalismo mundial. O primeiro
vetor está associado ao processo de reestruturação empresarial, acompanhado da
maturação de uma nova Revolução Tecnológica com aumento significativo das
patentes e marcas.

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21
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

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suas implicações para o Brasil, Revista de Informação Legislativa, Senado
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22
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

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Cassiolato, Marina Szapiro, Sarita Albagli, Liz-Rejane Legey, Cristina Lemos e Maria
Lucia Maciel. Apoio Financeiro FINEP, SEBRAE, CNPQ, 2002.

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

EMPRESAS PÚBLICAS E INCLUSÃO SOCIAL: A FUNÇÃO DOS CORREIOS NA


PROMOÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Fabiano Ramos de Moras Sacramento17
João Miguel Grigório da Silva18
Rodrigo Soares da Silva19

Palavras-chave: Correios; Dignidade da Pessoa Humana; Direitos Fundamentais;
Direitos Humanos; Inclusão Social.

INTRODUÇÃO

Sob o governo atual, o caráter público das empresas estatais tem sido
discutido com base em uma agenda política abertamente favorável às privatições.
Uma das instituições mais recorretemente citadas, a Empresa Brasileira de Correios
e Telegráfos, popularmente conhecida como Correios, está vinculada ao Ministério
da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação. Em termos de natureza jurídica, os
Correios são uma empresa pública de direito privado responsável por um conjunto
de atividades que envolvem envio de cartas, logística integrada, serviços financeiros
e de conveniência, dentre outros. Uma das críticas feitas à proposta de privatizações
dos Correios se refere a sua função social. Considerando que as empresas se
orientam pelo lucro, regiões mais afastadas dos centros urbanos seriam
prejudicadas, pois sua demanda é relativamente baixa. Na prática atual e recorrente,
muitas empresas firmam contrato com os Correios a fim de que ofereçam o serviço
de entrega em áreas que não cobrem. Essa relação é mais favorável em razão da
cobertura abrangente dessa empresa pública, vez que não se orienta apenas pelo

17
Doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). Bacharelando pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (FND/UFRJ). Bacharel em Defesa e Gestão Estratégica Internacional pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (DGEI/UFRJ). Email:< fabianosacramento@hotmail.com> Lattes:
<http://lattes.cnpq.br/0273493417125062>.
18
Bacharelando pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FND/UFRJ).
Email: <grigorio.p47@gmail.com>. Lattes:< http://lattes.cnpq.br/1157906476968353>
19
Bacharelando pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FND/UFRJ).
Email: <rodrigorjst@gmail.com>. Lattes: < http://lattes.cnpq.br/8501575451321320>.

24
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

lucro, mas também pelo compromisso com a oferta desses tipos de serviço ao maior
número de pessoas possível.
Nesse trabalho, busca-se brevemente apresentar a função social dos
Correios como responsiva aos direitos fundamentais, ressaltando as preocupações
para com um modelo sustentável que não determina o alcance das atividades com
base simplesmente na lógica do lucro. Para tanto, esse trabalho será dividido em três
partes: (1) apresentação de argumentos favoráveis e contrários à privatização dos
Correios; (2) análise da missão dos Correios, sua política, e como pode ser articulada
com as principais noções acerca dos direitos fundamentais; (3) consideração acerca
do cenário político e as prospecções de privatização dos Correios.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Há que se destacar, primeiramente, as principais definições e matrizes
epistemológicas a serem utilizadas neste trabalho. Nesse sentido, faz-se necessária
tal abordagem não só em se tratando do direito à vida, mas também da dignidade da
pessoa humana. Primeiro por ser o fundamento axiológico do ordenamento jurídico
brasileiro, segundo, segundo por estar garantida não só nas Leis Maiores da maioria
dos países ditos democráticos, mas também no preâmbulo e no artigo primeiro da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Para que entendamos o direito à vida precisamos compreender que os
direitos fundamentais foram desenvolvidos em contextos antropocêntricos e que,
por isso, vigeu unanimemente uma interpretação que levava em conta apenas o
homem como ser vivo e, em decorrência disso, único destinatário legítimo para tal
dispositivo. Contudo, tal unanimidade não é mais absoluta, haja vista que é comum
interpretarmos como legítimos ao gozo do direito à vida não só seres humanos, mas
também aquilo que extrapola o ser humano, mas mesmo extrapolando ainda é
dotado e tem direito à vida. Além disso, o direito à vida está intimamente ligado a
duas acepções, quais sejam, o direito de se permanecer vivo e o direito à uma vida
digna. Ambas acepções se apresentam de forma explicíta no texto da Constituição

25
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

da República Federativa do Brasil de 1988, este, no artigo primeiro, inciso terceiro:


“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana;” (BRASIL,
1988, p.11). Aquele, no caput do artigo quinto: “Art. 5º Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:” (BRASIL, 1988,
p.13).
É justamente sob a acepção de uma vida digna, como bem diz o título, que
nos desbruçaremos, mais precisamente na tentativa de definição de dignidade
humana fornecida por Ana Paula de Barcellos. A autora importa a teoria do mínimo
existêncial que estabelece como dever do Estado fornecer um mínimo de direitos e
de deveres para que a população se sinta digna, além disso, divide a teoria em quatro
elementos: educação fundamental, saúde básica, assistência aos desamparados
(abrigo, alimentação e vestuário) e acesso à justiça. Sendo os três primeiros
materiais, foco do deste trabalho, e o último instrumental. A adoção de uma
definição se faz necessária para que possamos trabalhar o termo, isto se dá pela
amplitude do termo e sua vasta possibilidade de interpretação, a definição da
referida autora é a adotada porque ela trabalha com a ideia do mínimo existencial e
o objetivo deste trabalho é demonstrar que os Correios promovem a dignidade da
pessoa humana mesmo quando utilizada a concepção menos abrangente do termo.

RESULTADOS DA PESQUISA

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos tem por função precípua a
integração nacional. O foco deste trabalho é explicitar a forma encontrada pela
empresa para promover a dignidade da pessoa humana e, ao mesmo tempo, realizar
sua função institucional sem qualquer forma de prejuízo desta por causa daquela. O
simples fato da empresa estar presente em todo o Brasil por si só a coloca num

26
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

patamar extremamente elevado em se tratando da potencialidade de impacto social


positivo, felizmente tal questão não se manifesta unicamente no plano teórico,
diversas políticas públicas as quais colocam os Correios como protagonista nacional
no setor, também serão protagonistas na análise proposta por este trabalho.
O primeiro elemento da divisão quadripartite de Ana Paula de Barcellos é a
educação fundamental. Nesse setor, apesar de ser um dos mais distantes da função
institucional dos Correios, os Correios marcam presença, a ação de maior sucesso
dos Correios na educação em âmbito fundamental foi a política pública denominada
“Correios na Escola”, na qual a empresa pública distribuiu panfletos sobre a sua
prestação de serviços nas escolas públicas e privadas das comunidades carentes no
Estado do Rio Grande do Norte.
O segundo elemento é a saúde básica. Nesse fator, apesar dos Correios
estarem ainda mais distantes da sua função institucional principal, a empresa
conseguiu participar de forma nobre e por meio de um mecanismo que faz total
sentido com suas atribuições, qual seja, a divulgação de cartilhas. Um dos maiores
exemplos de atuação nesse sentido foi a distribuição de cartilhas sobre as doenças
sexualmente transmissíveis durante o carnaval.
O terceiro elemento, por sua vez, é representado pela assistência aos
desamparados, sendo dividido em abrigo, alimentação e vestuário. Nesse elemento,
em específico, os Correios apesar de não atuarem de forma direta, é o elemento no
qual atuam com maior força e trazem os melhores resultados, eles trabalham de
forma a oferecer oportunidades àqueles que são aflingidos de forma substancial pela
desigualdade do país, bem como àqueles que sofrem preconceitos, apesar de termos
diferenciado os que sofrem da desigualdade dos que sofrem preconceito é de
comum conhecimento que na maioria das vezes tais categorias estão em simbiose.
Um exemplo de atuação desse tipo por parte dos Correios é a política
pública de nome “Programa Começar de Novo nos Correios”, o intuito de tal
programa é fornecer não só emprego, mas também qualificação profissional e, mais
importante que os dois, a reincersão no mercado de trabalho àqueles que estejam
cumprindo pena em regime semi-aberto ou aberto. Outro programa destaque é o

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

“Programa Pessoas com Deficiência”, que visa à inclusão no mercado de trabalho


para as pessoas com deficiência, tal política oferece oportunidades socioeducativas,
culturais e desportivas, para além das empregatícias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, levando em conta a vertente da teoria do mínimo exintencial que
divide a dignidade da pessoa humana em quatro elementos, é seguro dizer que a
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, por meio das mais diversas políticas
públicas, consegue cumprir papel de protagonismo em âmbito nacional no que
tange à promoção da dignidade da pessoa humana.

REFERÊNCIAS

BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Editora
Forense, 2018.

BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais: o
princípio da dignidade da pessoa humana. 3 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF.
Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso
em 07 set. 2019.

28
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

COMPLIANCE E DIREITOS HUMANOS



Daniela Juliano Silva20


Palavras-chave: Compliance. Direitos Humanos.

Nos últimos anos, empresas, instituições financeiras, Organizações da
Sociedade Civil e a própria Administração Pública parecem fascinados pelos ideais
éticos e noções de sustentabilidade redesenhadas sob o viés de uma governança
corporativa pautada no compliance. “Boa governança”, “boas práticas”,
“responsabilidade social” são termos invariavelmente atrelados a esse universo e
que, sem ressalvas ou senso crítico, alimentam a dinâmica em estudo, apresentando-
se como uma aposta de resgate da reputação das instituições, não só no Brasil, como
no mundo. A questão que deveria afligir a todos aqueles que abraçam os modismos
de ocasião deveria ser uma análise crítica do que efetivamente se tem alcançado em
termos de resultados e ativos que efetivamente venham fazer a diferença na vida
dos mais diferentes atores sociais, mas tal preocupação parece se mostrar
secundária quando da construção dos denominados “programas de integridade”.
Referidos programas, sem os quais as instituições da atualidade parecem não
sobreviver, apresentam-se como verdadeiro “salvo-conduto”, como garantia de um
comportamento probo, havendo verdadeira corrida por profissionais que atuem
nessa área, bem como propostas de trabalho e políticas públicas construídas nessas
bases. Na prática, os programas parecem se ocupar unicamente do cumprimento de
requisitos (“tick the box”), sujeitos às auditorias de conformidade legal e a
protocolos para obtenção de certificações internacionais.

20
Doutora e Mestra em Ciências Jurídicas e Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e
Direito da Universidade Federal Fluminense. Professora convidada da FGV Direito Rio e na UNESA.
Coordenadora da linha de pesquisa “Tributação e Novas Tecnologias” do Laboratório Empresa e Direitos
Humanos da Universidade Federal Fluminense (LEDH.uff). danjulsil@yahoo.com (Lattes:
http://lattes.cnpq.br/4620285328081573).

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

Experimenta-se na prática, toda uma estrutura repleta de anglicismos21


(accountability, stakeholders, shareholders, due diligence, hotlines) que pouco parece
se conectar com o capital humano que encabeça esses programas de integridade.
O próprio costume de se interpretar o termo compliance, do verbo em
inglês “to comply”, que significa, em suas diversas acepções – conformar-se,
aquiescer, observar, odedecer, respeitar, submeter-se – reflete, portanto, a ideia de
agir de acordo ou em conformidade com algo, em contrapartida da etimologia da
palavra compliance, derivada do latim complere, cujo significado está ligado à
“vontade de fazer o que foi pedido” (BLOK, 2018, p. 28), diz muito sobre o
desenvolvimento do tema.
Há de se reconhecer que os norte-americanos foram pioneiros no uso do
termo, tendo surgido no universo das instituições financeiras americanas, quando
do descortinamento de escândalos financeiros em Wall Street (2002). Exteriorizou-
se, especialmente, na expressão “risco de compliance”, então definida como um risco
legal, de sanções regulatórias, de perda financeira ou perda de reputação, que uma
organização pode sofrer como resultado de falhas no cumprimento de leis,
regulamentações, códigos de conduta e das boas práticas22.
Nesse viés e por conta desse peso histórico, a ABBI - Associação Brasileira de
Bancos Internacionais e a FEBRABAN - Federação Brasileira de Bancos,
desenvolveram um estudo intitulado “Função Compliance”23, de modo a servir de
norte para sua implementação nas instituições financeiras brasileiras. Referido

21
Elisa Rodrigues Alves Larroudé, em dissertação de Mestrado (2006) intitulada “Accountability de
organizações do espaço público não estatal: uma apreciação crítica da regulação brasileira”, na tentativa
de dar significado ao termo “accountability” brilhantemente leciona: “A transposição do conceito de
accountability para o contexto da América Latina vem sendo tema de especial preocupação para o Centro
Latino Americano de Administración para el Desarrollo (CLAD), para quem o termo alude, em sua acepção
original, “al cumplimiento de una obligación del funcionario público de rendir cuentas, sea a un organismo
de control, al parlamento o a la sociedad misma” (CLAD, 1999, p. 329, ênfases no original) e não encontra
um equivalente direto e preciso nos idiomas latinos. A conclusão oferecida para tanto é que “si un idioma
es incapaz de expresar conceptos […] con una sola palabra, ello se debe a que la idea que subyace a esos
conceptos no forma parte de la cultura vigente” (grifo nosso) (CLAD, 1999, p. 329)”.
22
COIMBRA, Marcelo de Aguiar; MANZI, Vanessa A. Manual de Compliance. São Paulo: Editora Atlas, 2010,
p. 42.
23
“Função Compliance” (2009). Disponível em:
http://www.abbi.com.br/download/funcaodecompliance_09.pdf. Consulta em: Fev. 2018.

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

documento apresenta conceitos fundamentais para a compreensão do tema,


afirmando, logo de início, que “compliance está relacionado ao investimento em
pessoas, processos e conscientização”.
O presente estudo desenvolve-se em duas frentes: uma frente histórica que
busca reconhecer as influências da normativa internacional (FCPA americano,
Convenções da OCDE, ONU e OEA) na construção da legislação brasileira relativa à
transparência nos negócios, no que citamos a Lei n. Federal n. 12.846/13, apelidada
de Lei Anticorrupção, e seu decreto regulamentador n. 8.420/2015 e; em um
segundo momento, imperativa a reflexão acerca da denominada “compliance de
direitos humanos” que se desenvolve na França desde 2017 como obrigação legal,
no sentido de que “as multinacionais francesas devem estabelecer mecanismos para
prevenir a violação de direitos humanos e danos ao meio ambiente em todas as
etapas da sua cadeia de produção, incluindo toda a sua rede de fornecedores” (BLOK,
2018, p. 261). Esse caminho trilhado pela legislação francesa parece ditar um rumo
totalmente inesperado ao se comparar com o que se tem visto em termos de
programas de integridade no Brasil.
Com base nesses dois momentos, pretende-se a reflexão acerca do real papel
do compliance na construção dos programas de integridade das empresas
brasileiras e a possibilidade de que os mesmos sirvam como instrumento de efetivo
comprometimento por parte das instituições com algo maior que sua própria
reputação.
A metodologia proposta no desenvolvimento do presente artigo são os
métodos historiográfico e dedutivo, auxiliados das seguintes técnicas de pesquisa:
revisão de literatura sistemática e análise documental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBI – Associação Brasileira dos Bancos Internacionais; FEBRABAN – Federação
Brasileira de Bancos. Cartilha Função de Compliance, Jul/2009. Disponível em:
www.febraban.com.br. Acesso em: 22 maio 2019.

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PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E METODOLOGIA DA PESQUISA JURÍDICA
Volume 1: Direitos Humanos & Empresa

BLOK, Marcella. Compliance e Governança corporativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Freitas


Bastos, 2018.

CANDELORO, Ana P.P.; RIZZO, Maria B.M.; PINHO, Vinícius. Compliance 360°. São
Paulo: Trevisan, 2012.

CHEN, Hui; SOLTES, Eugene. “Why Compliance Programs Fail – and how to fix
them”. Harvard Business Review, Abr/Mai 2018. Disponível em:
<https://hbr.org/2018/03/why-compliance-programs-fail>.

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Atlas, 2010.

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