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2ª Edição Digital (CDA/ CEM XXX) 4º BIMESTRE 2022 Organizado e editado: prof. Luis José
Capítulo 10 - O trabalho e a estratificação social na sociedade capitalista
Com o desenvolvimento da manufatura, a partir do século XVI, e principalmente com a Revolução Industrial,
o século XVIII, uma nova relação de trabalho desenvolveu-se na sociedade. O trabalho, assim como a
produção, passou a ter valor de uso e de troca e a ser negociado como uma mercadoria. O artesão deu lugar
ao operário, obrigado, para sobreviver, a trocar sua força de trabalho por um salário, condicionado a uma
jornada preestabelecida, e por novas relações hierárquicas de poder.
“Entre outras coisas a industrialização também modificou profundamente a percepção do tempo entre as
populações europeias, ajustadas a ritmos naturais em obediência a costumes milenares. Isso se explica porque
quanto menos os povos dependem da tecnologia para levar adiante suas atividades produtivas, mais o tempo
social é regulado pelos fenômenos da natureza – as estações, as marés, a noite e dia, o clima. A Revolução
Industrial obriga a um registro mais preciso do tempo da vida social. O empresário passa a comprar horas de
trabalho e exigir seu cumprimento. Os trabalhadores perdem o controle do ritmo produtivo que impõe uma
disciplina até então desconhecida.”
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia
Gardênia Monteiro. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2017. p. 12.
As mudanças no sistema produtivo e as alterações nas relações de trabalho não se restringiram apenas à
produção industrial. Elas reverberaram por toda a sociedade e trouxeram novos problemas e dilemas. É
nesse contexto que pensadores como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber promoveram importantes e
significativas contribuições para a compreensão do funcionamento da sociedade capitalista ocidental. Suas
análises nos dão importantes referências para entender como essas transformações foram capazes de
transformar toda a estrutura da sociedade e de modificar a maneira como homens e mulheres ocidentais
interpretam o mundo e a si mesmos.
A riqueza proveniente dessas atividades representava a retribuição divina pelos esforços dos fiéis. Esse
tipo de pensamento, segundo Weber, estimulou os protestantes a viver em função de suas atividades
e negócios, e o trabalho passou a figurar como uma espécie de vocação. De acordo com Weber, essa
nova concepção de trabalho e riqueza impunha sobre trabalhadores e empresários uma vida regrada
pela disciplina e pelo controle, uma vez que a riqueza adquirida não deveria ser destinada à satisfação
de prazeres ou luxos. O estímulo era direcionado para poupar e reinvestir esse montante, visando
multiplicá-lo.
(BNCC) Competências específicas: 1, 4, 5 e 6 Habilidades: EM13CHS101 EM13CHS402 EM13CHS502 EM13CHS503 EM13CHS606
Estratificação social
Ao longo da história, o trabalho vem sendo usado como um importante elemento no processo de
diferenciação dos indivíduos dentro da estrutura social. Dessa forma, as atividades que desempenhamos
tendem a influenciar nossa posição na sociedade e, consequentemente, nosso acesso a recursos materiais,
direitos e oportunidades. Esse sistema, marcado pela hierarquização de indivíduos ou grupos, caracteriza a
chamada estratificação social. Podemos compreendê-la como uma construção histórica, em que as
diferenças entre indivíduos ou grupos passam a localizá-los socialmente em camadas ou estratos distintos.
O pertencimento a esses estratos está vinculado a um conjunto de critérios, que podem aparecer
isoladamente ou sobrepostos, como gênero, raça, classe e etnia. Cada sociedade desenvolve um sistema de
diferenciação social específico, elegendo os critérios necessários para a ocupação de cada um de seus
estratos sociais. Na sociedade tradicional chinesa, por exemplo, a posição era definida pelas qualificações
dos indivíduos, mais do que pela riqueza que eles possuíam. Na sociedade contemporânea, o pertencimento
a uma classe social está vinculado a um conjunto de elementos, entre os quais o trabalho e a renda gerada
por ele têm uma importância significativa.
No Brasil, as desigualdades
sociais figuram como uma das
principais características de
nossa sociedade e colocam o
país no ranking das nações mais
desiguais do mundo. Na foto,
catador de lixo trabalha no Lixão
da Estrutural, em Brasília (DF),
em 2018.
Apesar das particularidades dos diversos sistemas de estratificação social estabelecidos ao longo da história,
podemos destacar três exemplos que nos auxiliam a compreender como as desigualdades sociais são
produzidas através do tempo: as castas, os estamentos e as classes sociais.
A sociedade francesa do Antigo Regime, por exemplo, mantinha características estamentais de origem
feudal. Às vésperas da Revolução da 1789, a população francesa dividia-se em três grandes estamentos: o
primeiro estado, constituído pela nobreza; o segundo estado, representado pelo clero; e o terceiro estado,
que reunia todos os indivíduos que não pertenciam aos outros dois estados.
Embora houvesse grandes variações de prestígio e riqueza no interior da nobreza e do clero, os principais
cargos da administração pública eram ocupados por membros desses dois estados, que também estavam
isentos do pagamento da maior parte dos impostos. O terceiro estado era o grupo mais heterogêneo, que
reunia desde a grande burguesia (banqueiros e comerciantes) até camponeses submetidos a obrigações
feudais, havendo entre os dois extremos pequenos e médios lojistas, artesãos, trabalhadores urbanos,
desempregados etc. A grande burguesia tinha hábitos e um padrão de riqueza que a aproximavam da
nobreza. Porém, mesmo com grandes fortunas, a burguesia tinha pouca influência política, além de carregar
o estigma da origem não aristocrática.
Os privilégios políticos, as isenções fiscais e o prestígio social eram exclusivos do primeiro e do segundo
estados. Mas era principalmente sobre os camponeses e os trabalhadores urbanos que recaía o peso de uma
sociedade estratificada de origem feudal, que mantinha ainda direitos senhoriais e obrigações servis para
sustentar o reino e a riqueza da aristocracia. Apesar de permitir certa mobilidade social, a sociedade de
estamentos francesa se chocava com os anseios de ascensão política da burguesia e de mais igualdade social
por parte de camponeses e trabalhadores urbanos. O resultado desse confronto foi a Revolução Francesa,
em 1789, que destruiu o Antigo Regime no país.