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CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II
DISCENTE: FRANCISCO CARLOS ARAUJO ALBUQUERQUE
SEMESTRE: 2023.2
FORTALEZA – CEARÁ
2023
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“Com o fim do Quatrocentos [...], fecha-se um longo ciclo histórico e prepara-se outro,
igualmente longo e talvez ainda inconcluso, que é geralmente designado como
Modernidade. Trata-se de um ciclo histórico que tem características profundamente
diferentes do anterior, em relação ao qual ele opera uma ruptura consciente, manifestando
estruturas substancialmente homogéneas e orgânicas. (p. 195).
“[...] sociedade de ordens era também uma sociedade governada pela autoridade política,
religiosa e cultural, representada no grau máximo pelo imperador e pelo papa, que eram
os avalistas da ordem social e cultural, como também os intérpretes e os símbolos da
ordem do cosmos, estabelecida pelo ato divino da criação.” (p. 196).
“O mundo moderno é atravessado por uma profunda ambiguidade: deixa-se guiar pela
idéia de liberdade, mas efetua também uma exata e constante ação de governo;
pretende libertar o homem, a sociedade e a cultura de vínculos, ordens e limites, fazendo
viver de maneira completa esta liberdade, mas, ao mesmo tempo, tende a moldar
profundamente o indivíduo segundo modelos sociais de comportamento, tornando-
o produtivo e integrado [...]. Será depois na época contemporânea - da Revolução
Francesa até hoje - que a antinomia será assumida como uma estrutura inquieta e como
um problema aberto e contraditório, acentuando a dramaticidade e a incompletitude da
Modernidade. (p. 199-200, grifo nosso).
“Foi Michel Foucault quem lembrou, recentemente, o papel ‘fundante’ deste novo sistema
de governo para toda a vida social, para toda a história da Modernidade. Esta nasce como
desejo de governo e se põe constantemente o problema de como exercer tal função,
interroga-se sobre a governabilidade, mas ao mesmo tempo a exerce segundo um novo
itinerário, que é o da ‘microfísica do poder’, ou seja: um poder que age em muitos
espaços do social, de forma capilar, micrológica justamente, e que penetra nas
consciências através dos corpos, através do controle minucioso de gestos, posições,
atitudes físicas, estabelecendo a ordem de uma disciplina, tornando, assim, os
sujeitos dóceis, possuídos e guiados pelas finalidades do poder. O indivíduo é
controlado a partir do corpo, mas para tornar dócil, também, e sobretudo, a sua
consciência. E esse trabalho, complexo e minucioso, é exercido pelas instituições
educativas, que são dirigidas pelo Estado e das quais a sociedade, agora, está provida:
os hospitais (que curam e ‘endireitam’ os corpos doentes), os manicômios (que controlam
os loucos e separam a loucura da razão, livrando a vida social do perigo da desrazão),
mas sobretudo as prisões (que reabilitam para a vida social, reeducando os sujeitos
inadaptados e transviados), as escolas (que formam todas as jovens gerações e as
conformam a modelos de normalidade e de eficiência/produtividade social, além de
docilidade político-ideológica) e o exército.” (p. 201-202, grifo nosso).
“[...] Ao lado da família, a escola: uma escola que instrui e que forma, que ensina
conhecimentos mas também comportamentos, que se articula em torno da didática, da
racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, e em torno da disciplina, da
conformação programada e das práticas repressivas (constritivas, mas por isso mesmo
produtoras de novos comportamentos). Mas, sobretudo, uma escola que reorganiza -
racionalizando-as - suas próprias finalidades e seus meios específicos. Uma escola não
mais sem graduação na qual se ensinam as mesmas coisas a todos e segundo processos
de tipo adulto, não mais caracterizada pela “promiscuidade das diversas idades” e,
portanto, por uma forte incapacidade educativa, por uma rebeldia endémica por causa da
ação dos maiores sobre os menores e, ainda, marcada pela “liberdade dos estudantes”,
sem disciplina interna e externa. Com a instituição do colégio (no século XVI), porém,
terá início um processo de reorganização disciplinar da escola e de racionalização e
controle do ensino, através da elaboração de métodos de ensino/educação - o mais célebre
foi a Ratio studiorum dos jesuítas - que fixavam um programa minucioso de estudo e de
comportamento, o qual tinha ao centro a disciplina, o internato e as “classes de idade”,
além da graduação do ensino/aprendizagem. (p. 205, grifo do autor).
“[...] Isso significa também que à escola foram atribuídos um papel e um perfil
decididamente ideológicos: ela se torna agente da reprodução social e, em particular, da
ideologia dominante, do poder e seus objetivos, seus ideais e sua lógica. A escola se torna,
como dirá Althusser, “aparato ideológico de Estado” que conforma reproduzindo a força
de trabalho, mas sobretudo a ideologia.” (p. 207).
“Outra área de renovação pedagógica que veio estabelecer uma ruptura com o passado
diz respeito ao curriculum de estudos. [...] Estas, gradativamente, chegarão aos limiares
da educação e procurarão espaço nos curricula formativos. Serão sobretudo os anos
Seiscentos que trarão à luz essas novas tensões na cultura escolar, incluindo-as no projeto
formativo e escolar: com Comenius, com Locke, por exemplo, mas também com o
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“[...] Em relação a essas finalidades civis, a escola também muda: torna-se pública e
estatal, instituição cada vez mais central da sociedade, que - por meio da iniciação de
valores coletivos e através da reprodução da divisão do trabalho - reproduz sua complexa
organização. Mudados os fins, devem mudar também “programas e métodos”. E não se
trata de dar espaço a novas disciplinas ou de renovar a hierarquia dos saberes curriculares,
mas sim de repensar toda a cultura escolar, ir em busca de um novo centro para ela, de
um novo núcleo em torno do qual se faça girar todo o saber escolar.” (p. 212).