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Plano de ensino:

A disciplina História da Educação tem como preocupação central a re exão crítica em torno
do processo educativo ao longo do tempo e do espaço. Para que possamos provocar tal
nível de re exão é fundamental que o aluno compreenda o desenvolvimento da educação ao
longo do tempo, não como leitura passiva do passado, ou como simples relato cronológico
acerca das diferentes tradições educativas, mas, sobretudo, que consiga compreender que a
história das sociedades e o processo educativo são inseparáveis. Portanto, é fundamental
que se provoque o questionamento acerca do contexto social, histórico e cultural em que se
formam as diferentes concepções de educação a m de provocar a re exão em torno das
possibilidades que foram engendradas ao longo do tempo e que contribuíram para a
exclusão social das camadas menos favorecidas e dominadas nas diferentes épocas
estudadas.

Objetivos gerais:
- Promover a compreensão do conceito de história em sua relação com a
educação.
- Instrumentalizar o corpo discente para analisar e interpretar a realidade
educacional em suas dimensões históricas e sociais.
- Provocar o entendimento da importância da História da Educação para a
compreensão dos processos educativos ao longo do tempo e do espaço.
- Reconhecer os processos educativos no Brasil, da colonização aos dias atuais,
em suas relações com o sistema social identi cando crises, bem como avanços
e inovações.

Objetivos especí cos:


- Possibilitar ao aluno o desenvolvimento da consciência crítica sobre as
estreitas ligações entre educação e sociedade.
- Possibilitar ao aluno a identi cação e a análise das características econômicas,
políticas e socioculturais dos diferentes períodos estudados em sua correlação
com os processos educacionais.
- Possibilitar ao aluno a identi cação das características educacionais dos
diferentes períodos estudados a partir da análise da educação de diferentes
segmentos sociais a m de desvendar as relações de dominação social.
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1) o que é educação?
É um processo social que visa à formação integral do indivíduo, pretendendo formar
competências curriculares e sua ação cidadã na sociedade.

2) quem são os agentes da educação?


Os pais; a escola (professores, direção, orientação, etc); o Estado; o legislativo (leis voltadas
à educação); a sociedade; a iniciativa privada.

3) o que é a divisão da história?


É uma ferramenta metodológica que estabelece a divisão do tempo cronológico em cinco
períodos, para facilitar a assimilação e a aprendizagem dos seus conteúdos. Essa divisão
recebe críticas por ser considerada muito eurocêntrica e dar grande ênfase à cronologia.

4) resumo dos cinco períodos da história:


Pré-história (por volta de 2,5 mi de anos atrás - 4.000 a.c): já havia seres humanos muito
antes de haver história. Animais bem parecidos com os humanos modernos surgiram há
cerca de 2,5 mi de anos. No entanto, durante incontáveis gerações, não se distinguiram da
in nidade de outros organismos com os quais dividiam seu habitat. A pré- história é
considerada pelos historiadores o período que estuda o surgimento dos hominídeos e sua
evolução até o Homo sapiens, a atual espécie de seres humanos. É acompanhada a lenta
revolução cognitiva da espécie, passando pelo desenvolvimento do modo de vida dos seres
humanos e a luta pela sobrevivência. O surgimento da primeira forma de escrita marca o m
desse tempo.
Idade Antiga (4.000 a.c - 476 d.c): iniciou com o surgimento da primeira forma de escrita, a
cuneiforme pelos sumérios. Esse período presenciou o surgimento e desaparecimento de
diferentes civilizações de diferentes partes do planeta, tais como: egípcios; mesopotâmicos
(sumérios, assírios, babilônicos e acádios); hebreus; fenícios; persas; celtas; cartagineses;
chineses; germânicos; hititas; elamitas; gregos e romanos. O encerramento da Antiguidade
acompanhou a desagregação do Império Romano do Ocidente em 476. O império entrou em
crise a partir do século III, levando sua parte ocidental a se desagregar lentamente, sendo
ocupada por diferentes povos germânicos, que migravam para o interior do território.
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Idade Média (476 - 1453): marcada pela fusão das culturas germânica e latina na Europa
Ocidental. Esse período extenso foi dividido em duas grandes fases, a Alta Idade Média
(séculos V ao X) e a Baixa Idade Média (séculos XI ao XV), possuindo, cada qual, sus
próprias características. A Europa Ocidental medieval se formou da crise romana , sendo
marcada, a princípio, pela ruralização e enfraquecimento do comércio. Uma das grandes
marcas desse período foi o feudalismo (sistema político, econômico, social, cultural e
ideológico que viveu seu auge entre os séculos XI e XIII). A partir do século XI, houve um
crescimento do comércio e das cidades (renascimento comercial e urbano - burguesia),
dando uma nova dinâmica à cultura e a vida da Europa medieval. Vale lembrar que foi um
tempo marcado pelo grande poder da Igreja Católica (houve o Cisma e as cruzadas na Baixa
Idade). No século XIV, há uma forte crise na Europa, com revoltas camponesas contra os
senhores feudais por conta da fome e miséria, ocorre a Peste bubônica e a Guerra dos Cem
anos entre ingleses e franceses. Em 1453, a queda de Constantinopla pelos turco-otomanos
encerra esse período.

Idade Moderna (1453 - 1789): tem início no século XIV com o Renascimento. Mas a nal, o
que renasceu entre os séculos XIV e XVI? Além dos valores clássicos greco-romanos
(humanismo; antropocentrismo; hedonismo; racionalismo/cienti cismo; individualismo;
classicismo; universalismo), renasceu também a cultura urbana, comercial, com vida
intelectual e apreciação artística (claro, entre a parte mais abastada da população). Ocorreu
em 1440 a invenção da imprensa de Gutemberg (impressão de papel), que revolucionou a
literatura trazendo maior acesso aos livros. Há a formação das monarquias absolutistas (a
solução para o cenário de crise do século XIV foi a centralização do poder político, com
apoio da nobreza feudal e burguesia, esse poder foi concentrado em reis).
São exemplos de pensadores absolutistas desse período o Maquiavel (o príncipe) Thomás
Hobbes (homem é o lobo do homem) e Bossuet (direito divino). Portugal e Espanha; França
e Inglaterra são os principais grandes exemplos de monarquias absolutistas formadas nesse
período. Nesse tempo há também a primeira fase do capitalismo, o Mercantilismo
(intervencionismo; protecionismo; metalismo; balança comercial favorável e pacto colonial).
Há a Reforma Protestante e a Contrarreforma (Campanha de Jesus para atuar no Novo
Mundo) e a expansão marítima. No século XVIII, surgiu um movimento intelectual contrário
ao absolutismo, que valorizava a razão, o desenvolvimento cientí co, as liberdades
individuais e o liberalismo econômico, esse movimento foi o Iluminismo. Foi este que motivou
a Revolução Francesa em 1789, marcando o m dessa Idade.

Idade contemporânea (1789 - dias atuais): compreendido entre a Revolução Francesa e os


dias atuais, esse período histórico é marcado por transformações profundas na organização
da sociedade e também por con itos de enorme proporção. A Revolução Francesa iniciou
também a con guração do poder político que iria ser característico da burguesia que estava
em ascensão (republicano; constitucional; representativo; defensor da propriedade; com
força militar pro ssional). Houve o desenvolvimento e disseminação do capitalismo e a
formação dos Estados Nacionais. O nacionalismo originou regimes totalitários e inúmeras
disputas territoriais na Europa (Primeira e Segunda Guerra Mundial) e nas áreas coloniais.
No campo cientí co, as inovações e transformações foram profundas tanto na medicina,
quanto nas industrias e área militar. Essas mudanças não alcançaram toda a população do
planeta, pois há ainda intensa desigualdade social.
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Apresentação:
A disciplina de História da Educação está dividida em quatro unidades:

I) faremos uma re exão em torno da importância do estudo da História da Educação,


procurando entender conceitos fundamentais, tais como: o que é História, o que é Educação
e quais as relações entre História, Educação e sociedade? Abordaremos aspectos da
educação, da sociedade e da cultura entre os povos primitivos com a intenção de perceber
de que forma as diversas formações sociais, no tempo e espaço, elaboraram diferentes
sistemas educacionais.

II) estudaremos a educação, a sociedade e a cultura no Antigo Egito e na Grécia Clássica.


No Antigo Egito, já podemos perceber a educação como forma de ascensão social com a
formação de escribas. A Grécia Clássica teve importância decisiva na formação cultural da
civilização ocidental, com conceitos de educação que até hoje in uenciam.

III) estudaremos a educação, a sociedade e a cultura da Idade Média ao Iluminismo. Nesta


unidade, perceberemos a in uencia da Igreja Católica nos rumos e destinos do
conhecimento, da ciência e da educação. Veremos como cos controles políticos, religiosos e
ideológicos foram abalados pelo Renascimento e Iluminismo e de que forma a educação é
moldada para atender os interesses da sociedade.

IV) estudaremos a História da Educação no Brasil em dois momentos distintos: (1)


colonização, marcada pela monocultura e modelo econômico agrário, exportador
dependente e a ação pedagógica dos jesuítas; (2) modernidade e formação do pensamento
educacional brasileiro, especialmente por meio da re exão em torno as propostas da Escola
Nova e do Manifesto dos Pioneiros.
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Introdução
Pense em história em um sentido mais amplo, mais vibrante.
Inegavelmente, a história refere-se ao passado, mas é mais do que isso. Nós somos feitos
de história, somos seres históricos. Sabemos como somos porque conhecemos nossa
trajetória ao longo do tempo. Conhecemos o que nos faz ser como somos e sabemos que
nos transformamos ao longo do tempo. Por experiencia, evitamos sofrimento, bem como
trabalhamos para imaginar situações que possam nos favorecer.

O entendimento de História deve ser construído a partir dos


seguintes aspectos:

1. A história se refere à vida dos seres humanos em sociedade, à forma como se


organizam, se adaptam e transformam o ambiente (natural e social) em que vivem ao
longo do tempo;
2. Por meio da re exão histórica, entendemos como as diferentes sociedades se formam,
como se desenvolvem e como se transformam;
3. A história não é simples relato de fatos passados, mas, sobretudo, refere-se a uma forma
de re exão e análise que nos permite pensar como os fatos podem contribuir para
formação da vida;
4. A história nos leva a uma melhor compreensão do mundo em que vivemos,
proporcionando o entendimento de que as atuais formações sociais, políticas,
econômicas, jurídicas, educacionais, não aconteceram por acaso, mas tem sua origem
na forma como foram sendo organizadas a longo do tempo;
5. A história não signi ca apenas memorizar datas, fatos e nomes. A história tem muita
relação com o presente.
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Unidade I
O que é educação?
● Por educação entende-se a in uência intencional e sistemática sobre o ser juvenil, cm o
propósito de formá-lo e desenvolvê-lo, mas, signi ca também a ação genérica e ampla
de uma sociedade sobre as gerações jovens com o objetivo de conservar e transmitir
existência coletiva;
● A educação constitui um ser humano, estando presente desde seu nascimento até sua
morte, ou seja, o ser humano não nasce pronto, portanto precisa construir sua natureza
sempre e necessariamente por meio da aprendizagem, em contato com o sentido de
educação presente em determina cultura e sociedade;
● O signi cado de educação está intimamente ligado às visões de mundo e cultura de uma
determinada sociedade e tempo;
● “ […] cada tipo de povo tem um tipo de educação que lhe é próprio, e que pode servir
para de ni-lo tanto quanto sua organização moral, política e religiosa. " (Durkhein, 2001);
● A prática educativa não é neutra, possui inegável natureza politica. Não é uma prática
desinteressada, desligada das relações de poder e dominação. Uma educação
comprometida com as relações e poder pode contribuir para a manutenção de uma
sociedade injusta e desigual, mas pode, também ser um instrumento de transformação e
libertação de uma sociedade;
● Há uma relação de reciprocidade entre educação e sociedade, ou seja, uma pode
in uenciar a outra, mas a educação não é a solução mágica para todos os problemas;

Por que, então, estudar História da Educação?


● Essa é uma ótima maneira de contribuir com a melhora da educação atual, pois, por
meio desse estudo, podemos conhecer os percalços enfrentados com as reformas já
realizadas, as armadilhas da ideias ilusórias e da resistência antidemocrática que as
ideias inovadoras possam ter enfrentado;
● Possibilita a compreensão das relações de poder e dos mecanismos de exclusão de
determinados contextos sociais;
● Possibilita a ampliação de raciocínio, a clareza de ideias e a re exão crítica.
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Educação, sociedade e cultura entre os povos primitivos

A distinção entre cultura e civilização


● A educação existe desde o momento em que os seres humanos existiram, bem como a
sociedade e a cultura, ou seja, desde o aparecimento do Homo sapiens, há cerca de
35.000 anos. O aprendizado só pode ocorrer através do contato com outros humanos. A
ordem social e cultural na qual nascemos é que nos ensina a sermos seres humanos;
● A capacidade de construir a “condição humana” se dá em contato com uma ordem
humana, com uma cultura e com outros humanos, por meio de um processo de
socialização/endoculturação;
● “ Tomado em seu amplo sentido etnográ co, cultura é este complexo que inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou qualquer outra capacidade e
hábitos adquiridos pelo ser humano como membro de uma sociedade.” (Edward Taylor,
2001);
● Cultura x Civilização: a cultura é algo pertencente a toda a humanidade, presente entre
todos os grupos humanos, sejam eles considerados primitivos ou civilizados. É a cultura
que nos fornece a rede de signi cados com a qual damos sentido ao mundo que nos
cerca. Mas e civilização? É um determinado estágio de desenvolvimento cultural em que
se encontra um povo/sociedade. Esse desenvolvimento é representado pelo grau
alcançado pela tecnologia, economia, arte, ciência, etc. Assim, o desenvolvimento da
escrita, a construção de cidades, de artefatos, o desenvolvimento da arte e da ciência
caracterizam o surgimento de uma civilização;

A educação informal
● A educação no período pré-histórico é uma educação para a vida, para a sobrevivência,
difusa, natural, espontânea, inconsciente, adquirida na convivência familiar, de forma oral
sob in uencia dos anciãos, o ser juvenil aprendia as técnicas elementares necessárias à
vida: caça, pesca, pastoreio, agricultura e atividades domésticas;
● A educação informal/primária permeia todos os períodos da vida humana, é a
socialização/ endoculturação que ocorre no seio da família, feita por meio de imitação,
entretanto, é a única forma de educação dos povos pré-históricos;
● Fica claro que esse tipo de educação é bem diferente da formal, que é planejada
intencionalmente, com começo, meio e m;
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Pré-História e educação
● Esse período é identi cado como sendo um período histórico anterior ao aparecimento
da escrita, ou seja, cerca de 5.000 a.c, quando os sumérios desenvolveram o primeiro
sistema de escrita;
● Podemos subdividir a pré-história em dois períodos principais: Idade da Pedra Lascada
(Paleolítico), momento em que os homens são nômades e caçadores e Idade da Pedra
Polida (Neolítico), quando já dominam técnicas agrícolas e são sedentários;
● Estas duas formas de vida vão modelar sistemas sociais diferentes, que vão precisar de
modelos diferentes de educação, apesar de ambas serem educação informal;

● Paleolítico: o homem era um caçador e coletor nômade, não havia necessidade de


disciplina rígida para esse tipo de aprendizado, portanto a educação era informal, a nível
de socialização, com o objetivo de preparar o indivíduo para a sobrevivência básica.
Esses povo viviam em comunidades tribais de forma coletiva, ou seja, não conheciam a
propriedade privada, nem as riquezas particulares, portanto não conheciam a guerra. O
estilo de vida deles não exigia muita ordem e disciplina, sugerindo que hábitos morais e
intelectuais não tenham sido muito cultivados. No entanto, nesse período da pré-história,
as pinturas rupestres são consideradas mais notáveis, como na caverna de Altamira, na
Espanha.

● Neolítico: o homem já dominava as técnicas agrícolas e pecuárias, deixando de ser


nômade. Como a forma de organização social passou por profundas mudanças,
imprimindo outro ritmo de vida e outras necessidades à sociedade, acredita-se que a
educação também mudou. A educação cou mais rígida e disciplinada, pois agora, era
preciso aprender a construir residências mais sólidas, a plantar e pastorear, conhecer os
fenômenos meteorológicos e como agora há noção de propriedade privada, precisavam
saber atacar e se defender. Claro que a educação primária continuou sendo central;
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Unidade II
Educação, sociedade e cultura no Antigo Egito
Educação, sociedade e cultura na Grécia Antiga

● A Antiguidade Clássica refere-se à um período da história humana que ocorreu


especi camente na Europa, na Grécia e em Roma. A periodização é feita mais para ns
didáticos, entre os séculos VIII a.c (inicio marcado pelo surgimento da poesia de Homero
na Grécia) e V d.c ( m marcado pela queda do Império Romano do Ocidente em 476);
● O Egito foi o berço cultural de nossa civilização, que, por sua vez, é herdeira dos ideais
greco-romanos no que se refere ao conhecimento, ciência e cultura. É fundamental
entendermos essas civilizações porque foram elas que tiveram maior in uência na
formação ocidental;

A Grécia
● Há muito em comum entre nosso mundo atual e o mundo dos gregos antigos: os
conceitos de cidadania e democracia, a loso a, os jogos olímpicos, o teatro, etc. A
Grécia é o berço da Pedagogia;
● Para compreender pensamento educacional na Grécia Antiga, vamos, resumidamente,
vislumbrar os traços característicos de sua cultura e sociedade:

• Descobrimento do valor humano independentemente de autoridade religiosa ou política;


• Reconhecimento da razão e da inteligência crítica ausente de dogmas;
• Criação da ordem, da lei e do cosmos, tanto na natureza como na humanidade;
• Criação da vida cidadã, do Estado e da organização política;
• Criação da liberdade individual e política dentro da lei e do Estado;
• Invenção da poesia épica, da história, da literatura dramática, da loso a e das ciências
físicas;
• Reconhecimento do valor decisivo da educação na vida social e individual;
• Consideração da educação humana em sua integridade: física, intelectual, ética e estética;
• O princípio da competição e seleção dos melhores, na vida e na educação.
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Para car mais fácil a compreensão da história da educação grega, vamos dividir os
períodos: é um tempo bastante longo, portanto há muitas mudanças de um para o outro

● Período Homérico (1100-800 a.c): Corresponde à Educação Heróica/Cavalheiresca.


Essa fase é retratada pelos poemas de Homero “ Ilíada e Odisseia “.
● Período Arcaico (800-500 a.c): Fase da formação das cidades-estado, as polis.
Introdução da escrita, da moeda e das leis. Corresponde à Educação Cívica (Atenas e
Esparta);
● Período Clássico (500-400 a.c): Apogeu da civilização grega, quando vivem Sócrates,
Platão e Aristóteles. Corresponde à Educação Clássica/Humanista;
● Período Helenístico (336-146 a.c): Fase da decadência das pólis gregas, quando há a
dominação da civilização grega pelos macedônicos sob liderança de Alexandre Magno,
fazendo com que a cultura grega chegue nos povos orientais. Corresponde à Educação
Helenística/Enciclopédica.

O Período Homérico e a Educação Heróica/Cavalheiresca


● Tem sua origem e base em dois poemas épicos de autoria de Homero: A Ilíada e a
Odisseia. Como ainda não havia domínio da escrita, o processo educativo ocorria na
tradição oral, especialmente por meio desses dois poemas, que só foram redigidos
entre os séculos IX e VIII a.c. Estes, in uenciaram de forma marcante toda a
educação e cultura clássica grega e romana e são considerados fundadores da literatura
ocidental;
● Na verdade, estes poemas tratam das venturas e desventuras de heróis que servem de
modelos permanentes para a juventude. Seus heróis mais importantes, como Aquiles e
Ulisses, atravessaram os séculos. Estes heróis são modelos de virtude, honra, conquista
dos objetivos, coragem, perseverança e cumprimento do dever, apesar dos mais temidos
obstáculos. Os feitos heroicos destes personagens eram aprendidos de memória pelas
crianças e detalhadamente analisados pelos jovens;
● Fortemente alicerçada nos conceitos de honra e valor e no espírito de luta e
sacrifício, bem como nas capacidades e nos feitos individuais. Percebe‐se, porém, mais
claramente, o ideal educativo grego “Arete”, entendida como um atributo próprio da
nobreza um conjunto de qualidades físicas, espirituais e morais, tal como um herói.
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● A Ilíada é recheada de episódios que valorizam a característica do herói de se
sobressair, de estar entre os primeiros, fazendo com que a característica principal da
educação seja o espírito de superioridade. Ainda no mesmo poema a capacidade para
“falar” e para “agir”, ou seja, a capacidade de intervir na política e de fazer a guerra são
valorizadas;
● A educação formal e institucionalizada ainda não existia. Não sendo pública nem
gratuita, a educação tinha um caráter elitista. Era ministrada nos palácios ou castelos
dos nobres, onde se recebia uma formação integral que incluía atividades físicas, manejo
de armas, arco e echa, exercícios militares, a arte da caça, da música, da dança e do
canto, história e poesia.

O Período Arcaico e a Educação Cívica


● No nal do período homérico, por volta de 800 a.C., ocorreram grandes mudanças na
vida política, social, cultural e econômica dos gregos. Dentre estas mudanças, podemos
citar: o desenvolvimento das chamadas cidades‐estado, as polis; o desenvolvimento da
racionalidade e da re exão em detrimento do mito; a utilização da escrita; o uso da
moeda; a elaboração de leis escritas por legisladores; e o aparecimento dos primeiros
lósofos;
● Neste período, ocorre o que muitos autores denominam de Educação Cívica, ou seja,
uma educação para a cidadania, capaz de formar bons cidadãos comprometidos com os
interesses de suas sociedades. Neste momento, ocorre um alargamento do ideal
educativo arete, que passa a ser denominado kaloskagathia.
● O ideal educativo denominado kaloskagathia buscou atingir mais do que a honra e a
glória contidos no arete, pois pretendia‐se, além disto, alcançar a excelência física e
moral. Os atributos que o homem devia procurar realizar eram: a beleza (kalos) e a
bondade (kagatos). Para alcançar este ideal, foi proposto um programa educativo que
implicou dois elementos fundamentais: a ginástica para o desenvolvimento do corpo e a
música (aliada à leitura e ao canto) para o desenvolvimento da alma. Ao nal da época
arcaica, este programa educativo completava‐se com a gramática e, posteriormente,
transformou‐se na paideia.
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Educação Esparta
● A sociedade espartana é muito comumente identi cada como sendo composta por um
povo guerreiro, de modos rudes e de pouca cultura. A verdade é que, em virtude das
conquistas políticas, os espartanos tinham que manter os povos conquistados com
punhos de aço e, para tal, todos os cidadãos foram convertidos em soldados. Desta
forma, Esparta tinha um clima de constante estado de guerra, o que impunha a
necessidade de um Estado forte que controlasse e disciplinasse totalmente os
indivíduos. A forma de governo que se estabeleceu é próxima ao que conhecemos como
sendo um governo totalitário;
● Neste tipo de sociedade, era necessário que a educação fosse calcada na severidade e
na disciplina. Neste sentido, a educação espartana era essencialmente militar, embora
os esportes e a música também fossem incentivados. Nos esportes, por exemplo,
Esparta alcançou grandes feitos e vitórias, especialmente naqueles relacionados às
necessidades militares, enquanto que as atividades artísticas caram visivelmente
comprometidas;
● A educação da criança, especialmente do menino após os sete e até os vinte anos de
idade, era realizada diretamente pelo Estado, tendo diversas atividades com o objetivo
de embrutecer ao máximo o jovem. “Na escola, os exercícios comuns são a corrida, o
salto, a natação, o arremesso de disco, a caça e a luta livre. O objetivo de tal formação é
embrutecer ao máximo o jovem aspirante” (Giles, 2006);
● A educação da mulher também era preocupação do Estado, com formação parecida com
a dos homens, mas se fazia com a intenção de prepará-las para gerarem os lhos de
Esparta. “Exercita‐se os corpos das donzelas no correr, lutar, arremessar o disco e atirar
com o arco para que a concepção dos lhos, em corpos robustos, brotasse com mais
força.” (Luzuriaga, 2001);
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Educação Atenas
● Enquanto Esparta se preocupou com a formação do patriota guerreiro, Atenas se
preocupou com a formação do homem livre.
● De fato, Atenas é considerada o berço da democracia. Este tipo de governo e sociedade,
por não prescindir de uma formação militarista, têm outros anseios e outras
necessidades, muito diferentes dos anseios e necessidades de uma sociedade
fortemente militarista;
● Por volta do século V a.C., a democracia foi consolidada em Atenas e a cidade viveu um
clima de efervescência artística e literária. Pisístrato e seus lhos foram patronos
ardorosos das artes e atraíram artistas e poetas estrangeiros para obras de
embelezamento e concursos musicais e poéticos. No entanto, essa democracia que se
estabelece em Atenas é muito limitante. Apenas 10% dos habitantes da cidade eram
considerados cidadãos, portanto, só estes possuíam os direitos políticos conquistados;
● As preocupações da sociedade ateniense eram muito voltadas para o desenvolvimento
artístico e cultural de seu povo, o que levou à formação de uma civilização de forte
tendência intelectual, artística e cultural. Atenas foi uma sociedade que desenvolveu o
teatro, a loso a e a arquitetura;
● Enquanto os ideais educacionais do arete e kaloskagathia tinham como foco a formação
do homem individual, a partir do século V a.C. a educação precisou dar conta de uma
outra realidade, que era a formação do cidadão. Neste momento, o ideal educativo grego
aparece como paideia, cujo foco essencial era a formação geral capaz de construir o
cidadão pretendido;
● “Aos sete anos de idade, sob os cuidados do pedagogo, todo cidadão ateniense livre
enviava o lho a três tipos de escola elementar: Palestra ou Escola de Ginástica, Escola
de Música e Escola de Escrita.” (Giles, 2006);
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O Período Clássico e a Educação Clássica ou Humanista
● Durante o período clássico, Atenas se fortalece como centro da vida social, econômica
política e cultural da Grécia em virtude do crescimento do comércio, da economia, do
artesanato e das artes militares. Atenas viveu, ainda, durante este período, um processo
de fortalecimento da ideia e do conceito de democracia;
● Esta democracia, que se fortalece na Grécia, é uma democracia direta, ou seja, não é
estabelecida por eleição de representantes no governo, mas sim por meio da
participação de todos no governo. Todos, desde que fossem cidadãos, tinham o direito
de expor e defender em público suas ideias e opiniões sobre as resoluções políticas
mais adequadas para a cidade;
● Era preciso ser versado na arte de falar em público de modo a convencer os que
escutavam e para essa necessidade, havia os so stas. Estes, foram os primeiros
educadores pagos, mas o que ensinavam? O ensino da retórica, da arte de falar em
público, da arte da persuasão e das técnicas que ajudavam os homens a defenderem
suas opiniões, mesmo que não fossem boas. Mas não apenas isso. Os so stas não
eram lósofos, mas ensinavam tudo aquilo que fosse necessário: retórica, política,
gramática, história, física e matemática. Apesar de serem alvos de preconceito, tiveram
grande importância para a educação e a democracia;

● Pedagogia e pedagogo - termos de origem grega: etimologicamente, o termo


“pedagogo” é originário da palavra grega paidagogo, em que paidós signi ca criança e
agodé signi ca condução. Na Grécia Antiga, os paidagogos eram escravos encarregados
de acompanhar as crianças em diversos locais, especialmente até o local de estudos. O
paidagogo sempre carregava uma lamparina para qualquer eventualidade e,
especialmente, para iluminar o caminho. Além de conduzirem as crianças, os paidagogos
também tinham a função de transmitir ensinamentos e cultura. Com o tempo, o termo
passou a ser utilizado para signi car as re exões feitas em torno da educação.

● Este período também é identi cado com Período Socrático (séculos V a IV a.C.),
marcado pela in uência de três grandes lósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Neste
período, há o desabrochar da loso a, bem como das ideias pedagógicas, sendo que
Platão e Aristóteles são considerados dois grandes clássicos da pedagogia grega;
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Sócrates
● Já dissemos que os primeiros educadores pro ssionais da Grécia foram os so stas, mas
Sócrates é considerado o grande educador espiritual. Seja como lósofo ou como
pensador, Sócrates foi, antes de tudo, um educador;
● Nascido em Atenas no ano de 469 a.C., Sócrates não era de família nobre, seu pai era
escultor e sua mãe era parteira. Nasceu pobre e pobre morreu, apesar de frequentar a
melhor sociedade da época.
● Assim como os so stas, Sócrates utilizava as palavras faladas, o discurso e o diálogo em
suas atividades educacionais e, assim como eles, acreditava que a virtude deveria ser
ensinada a todos. Mas, se Sócrates concordava com algumas ideias pedagógicas dos
so stas, discordava de outras, como: receber pelo ensino; não deveria ser de caráter
pratico, nem de proveito pessoal, mas sim espiritual, moral, virtude, ética e em busca da
verdade;
● As ideias socráticas foram extremamente inovadoras na educação. Com Sócrates, o
domínio da razão adquire nova importância. Sócrates percebe que, para o ensino ser
e ciente, é necessário ensinar a pensar. O método de Sócrates é basicamente o diálogo
em dois momentos: a ironia e a maiêutica;
Platão
● Enquanto Sócrates foi o primeiro educador da Grécia, alguns autores admitem que
Platão tenha sido o fundador da teoria da educação, ou seja, da pedagogia, pois Platão
se destacou muito mais pela re exão pedagógica do que pela atividade educativa;
● Assim como para Sócrates, para Platão a nalidade da educação era a formação do
homem moral, e o meio era a educação do Estado. Para tanto, o Estado deveria
encarnar a ideia de justiça;
● Platão considerava que a educação deveria ser obrigação do Estado, bem como admitia
que ela deveria ser universal e igual para homens e mulheres;
Aristóteles
● Para Aristóteles, era necessário ensinar o que é virtude, mas somente pela prática da
mesma é que seria possível, realmente, aprender o que esta é de fato;
● Esteve aos seus encargos a educação de Alexandre Magno, lho de Filipe, Rei da
Macedônia, iniciando aquilo que cou conhecido como “educação do príncipe”;
● Para ele, a educação deveria ser responsabilidade do Estado e a mesma para todos,
composta de ginástica, música, letras e desenho.
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O Período Helenístico e a Educação Helenística ou Enciclopédica
● No período helenístico, ocorre a decadência das cid ades‐estado. Foi neste período que
Alexandre Magno, Rei da Macedônia, conquistou a Grécia, colocando‐a sob o seu
domínio. Contudo, este também é um momento em que a cultura grega se amplia de tal
maneira que se universaliza e se espalha para todo o mundo. Isto ocorre porque
Alexandre admirava muito a cultura grega, inclusive havia sido educado por Aristóteles e,
em sua empreitada de conquistar o mundo, acabou difundindo‐a de forma magistral;
● Na verdade, o contato da cultura grega com as diferentes culturas do mundo,
especialmente com o mundo oriental (Pérsia e Egito), gerou uma fusão cultural que
passou a caracterizar o helenismo;
● A educação particular, mantida com os pagamentos dos alunos, continuou a existir,
porém, a educação pública se expandiu e passou a ser uma obrigação dos municípios e
das cidades. Apenas a educação militar é que continuou a cargo do Estado;
● Os conteúdos da educação continuam parecidos com os das épocas anteriores, contudo,
há uma diminuição da importância da educação física e dos aspectos estéticos, em
geral, e uma valorização dos aspectos intelectuais. Nesta época, a paideia se
transformou em enkyklios paideia (enciclopédia). A partir do método da memorização, a
leitura, a escrita e o cálculo ganharam maior destaque em relação às outras épocas e a
disciplina era muito rígida, inclusive com a adoção de castigos corporais;
● No período helenístico, a divisão entre matérias humanistas e realistas foi estabelecida
por meio do trivium (gramática, retórica e loso a) e quadrivium (aritmética, música,
geometria e astronomia).
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Unidade III
Educação, sociedade e cultura da Idade Média

A idade Média e o Feudalismo


● Esse período da história europeia durou cerca de mil anos, entre os séculos V e XV, mais
especi camente entre 476 (Queda do Império Romano do Ocidente) e 1453 (tomada de
Constantinopla pelos turcos-otomanos);
● Há uma subdivisão em dois períodos: Alta Idade Média (V ao XI), que é caracterizada
pela formação dos reinos germânicos, crescimento do Império Bizantino (oriundo do
Império Romano do Oriente), surgimento do Império Carolíngio, fortalecimento da Igreja
Católica, e o surgimento e expansão do islamismo na Ásia e na África. A Baixa Idade
Média (XI ao XV) é caracterizada pelo auge e decadência feudal, pelo Renascimento
comercial e urbano (burguesia), crescimento populacional (melhorias na agricultura e
pouca difusão de epidemias), Cruzadas e Cisma da Igreja e a Crise do Século XIV;
● Feudalismo: uma forma de organização política, social e econômica que tem suas
origens na Queda do Império Romano Ocidental, quando há invasões germânicas e
consequentemente há a fuga das cidades para os campos (ruralização). De início, os
donos das terras deixavam os refugiados se abrigarem em troca de favores.
● Sociedade dividida em estamentos - nenhuma mobilidade social: Clero (intensa
in uência e poder de decisão em todos os setores da vida humana, produção de
conhecimento, isento de impostos e arrecadava dízimo); Nobreza (eram os senhores
feudais, detentores de terras e arrecadavam impostos dos camponeses) e Servos (a
terceira camada da sociedade, formada pelos servos/camponeses e pequenos artesãos,
que deviam pagar várias taxas e tributos aos senhores feudais);
● Poder descentralizado: os poderes (jurídico, econômico e político) concentravam-se
nas mãos dos senhores feudais, donos de lotes de terras (feudos). Como o clero e a
nobreza comandavam, era comum que se criassem justi cativas religiosas para que os
servos não contestassem a sociedade;
● Havia outros grupos sociais: como os poucos comerciantes existentes na Alta Idade
Média, mas foi somente na Baixa Idade Média que começou a surgiu a burguesia,
rompendo com a característica da sociedade apresentada acima.
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● Economia feudal: baseava-se principalmente na agricultura. Existiam algumas moedas
na Idade Média, porém, elas eram pouco utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias
eram comuns. O feudo era a base econômica deste período, pois quem possuía a terra,
desfrutava de mais poder. A produção era baixa, uma vez que as técnicas de trabalho
agrícola eram extremamente rudimentares. O arado puxado por bois era muito utilizado
na agricultura. O artesanato também era praticado na, inicialmente nas o cinas dos
feudos, mais tarde nas chamadas Corporações de Ofício, depois nas manufaturas e
nalmente nas fábricas. Durante a Alta Idade Média, a economia feudal era
autossu ciente, ou seja, somente para manutenção da comunidade (sem comércio);
● Cultura: fortemente marcada pela religiosidade. A predominância cultural e ideológica da
Igreja católica valorizava a vida extraterrena, condenava a usura e mantinha sua posição
em relação ao “justo preço” das mercadorias;
● Renascimento comercial e urbano - surgimento da burguesia: Até o século X, a
Europa medieval foi constantemente ameaçada por invasões “bárbaras”, notadamente
pelos povos normandos e eslavos. Porém, já no século X, estes povos se estabeleceram
e não ofereciam mais perigo. De forma geral, a Europa vivia um clima de paz. Houve um
aumento populacional, que levou à necessidade de ampliação das terras, nas quais os
trabalhadores desenvolveram técnicas agrícolas melhores. Em torno dos castelos,
indivíduos começaram a se estabelecer e comercializar produtos excedentes locais e
originários de outras regiões da Europa. A moeda voltou a ser necessária, e surgiram
várias cidades importantes junto às rotas comerciais marítimas e terrestres. O aumento
do comércio promoveu o desenvolvimento das cidades medievais que, em grande parte
dos casos, possuía um núcleo forti cado com muralhas, chamado burgo. Com o
crescimento da população, o burgo foi alargando seus limites para além das muralhas.
Os comerciantes e artesãos que viviam em torno desses núcleos eram chamados de
burgueses. Aos poucos, o progresso do comércio e das cidades foi tornando a burguesia
mais rica e poderosa, passando a disputar interesses com a nobreza feudal. Além disso,
a expansão do comércio também in uenciou na mentalidade da população camponesa,
contribuindo para desorganizar o feudalismo. Vale lembrar que as Cruzadas contribuíram
para esse processo, pois as expedições acabaram estabelecendo rotas comerciais.
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O conhecimento cientí co na Idade Média
● Neste período, o poder e a in uência da Igreja permearam tanto a vida política e
econômica, quanto a vida intelectual. A produção do conhecimento tinha seu centro e
elite no seio das hierarquias da Igreja. Sendo assim, era mantido um severo controle
sobre os produtores do saber, havendo, para eles, a obrigação de darem um
determinado sentido a seus trabalhos: o conhecimento humano deveria estar voltado
para fundamentar, legitimar e difundir as verdades contidas nas Sagradas Escrituras e,
portanto, para glori car à Deus. O conhecimento que não tivesse exatamente essa
nalidade era considerado herege;
● Alguns dogmas como geocentrismo (Terra é o centro do universo), teocentrismo (Deus
é o centro de todas as explicações) e teocracia (todo poder do rei mana de Deus) não
poderiam ser contestados pelos estudos cientí cos;
● Com isso, o exercício do conhecimento durante a Idade Média aconteceu sob muita
repressão. Foi apenas no nal do período que algumas correntes de pensamento
tentaram uma leitura menos ortodoxa e dogmática acerca da relação entre razão e fé;
● Os pensadores dos séculos XIII e XIV, introduziram o pensamento de que o mundo de
Deus e o mundo cósmico (dos homens) eram diferentes, e, portanto, os meios de
conhecimento de cada um deles teriam que ser também distintos. Daí a necessidade de
separar a fé (caminho para conhecer o mundo de Deus) e a razão (meio de conhecer o
mundo cósmico). Ou seja, a fé poderia continuar sendo a base para explicar o mundo de
Deus, mas o nosso mundo terreno e material deveria ser explicado pela racionalidade;
● Alguns pensadores começaram a perceber que razão e conhecimento não deveriam,
necessariamente, depender da fé. A ideia de fazer “experiências” para atingir o saber
sobre as coisas do mundo natural foi a virada ocorrida em direção ao empirismo.
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A educação na Idade Média
● O clero foi o grande guardião da cultura e do conhecimento e se dedicava ao estudo
de temas religiosos, à defesa da fé cristã e ao trabalho de conversão dos não cristãos;
● A cultura greco-romana perdeu seu vigor e importância e praticamente desapareceu,
cando guardada nos mosteiros pelos monges;
● Durante a Idade Média, os clérigos e monges eram, praticamente, os únicos que sabiam
ler e escrever. Portanto, a Igreja foi responsável pelo ensino, que acontecia nas
escolas episcopais (escolas erguidas junto às catedrais), abaciais (escolas erguidas
junto às abadias) ou palatinas (escolas que funcionavam nos palácios);
● A organização da educação na Idade Média deve muito ao monge Beneditino de York,
Alcuíno, que foi chamado à França por Carlos Magno para estruturar e reformular o
ensino. Algumas biogra as nos informam que Carlos Magno era analfabeto, mas
conseguiu realizar uma monumental reforma educacional em todo império carolíngio;
● No mundo medieval, a educação era para poucos, pois só os lhos dos nobres
estudavam. Ensinava-se o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerra. Grande
parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros.
● De forma didática, é possível dizer que, durante a Idade Média, a educação apresentou
duas tendências básicas: a Educação Patrística e a Escolástica.
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Educação Patrística - Santo Agostinho
● Estava ancorada na loso a Patrística, que foi uma linha de pensamento cristã
formulada pelos padres da Igreja. Esta loso a consistiu basicamente na elaboração das
verdades do cristianismo como uma forma de defesa para conter os ataques dos pagãos
e dos hereges. Os clérigos que organizavam estes princípios procuravam fundamentos
nos textos losó cos gregos, especialmente nos de Platão;
● De inspiração platônica, a Patrística expôs a necessidade de uma rigorosa ética moral e
de controle racional das paixões. Caracterizada por sua intenção apologética (defesa da
fé e conversão dos pagãos), a Patrística procedeu a uma forma racional de exposição da
doutrina cristã, preocupando-se, principalmente, em tentar equilibrar as relações entre fé
e ciência, entre fé e razão, para poder entender a natureza de Deus e da alma.
● Representantes: Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano. O seu membro mais
in uente foi Santo Agostinho (354-430), que embora tenha sofrido in uência de Platão
ao unir loso a e religião, acabou formando sua própria loso a baseada em
conhecimento, sabedoria e amizade;
● Em relação à Educação, Santo Agostinho teve ação decisiva e inovadora ao reconhecer
que, ao lado da conquista e do domínio dos conteúdos, o aluno precisava saber
relacionar esse conhecimento à realidade. Na forma de concepção de educação de
Agostinho, há duas fases - (1) formação humanista e (2) formação ascética. Em ambas
as fases, ele considera ser decisiva a formação da consciência moral, única forma
de iluminar a inteligência para o reconhecimento da lei divina;
● Formação humanista de Agostinho: realização dos exercícios físicos, o ensino da
retórica, a prática da disciplina e da obediência. Para os adultos, especialmente para os
futuros dirigentes da Igreja, deve-se oferecer uma ampla cultura humanística,
incorporando aqui as tradições greco-romanas à formação religiosa teológica. No
entanto, Santo Agostinho nos adverte que a erudição e o saber sem objetivos devem ser
totalmente evitados. O objetivo de toda sabedoria é o desenvolvimento do reino moral e
ético, ou seja, o desenvolvimento dos profundos valores cristãos;
● Formação ascética de Agostinho: ascese signi ca renúncia e penitência para alcançar
a perfeição. Portanto, a expressão “formação ascética”, signi ca uma formação rigorosa,
capaz de conduzir aos caminhos do bem e à perfeição.
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Educação Escolástica e as primeiras universidades
● A Escolástica foi uma corrente losó ca e um método de ensino que ocorreu na
sociedade medieval entre XI e XV, contribuindo para o surgimento das primeiras
universidades;
● Inicialmente, a partir do século IX, deu-se a fundação de escolas junto às catedrais
(episcopais), para logo em seguida surgirem as universidades. Podemos destacar as de
Paris (1150), Bologna (1088), Oxford (1096) e Cambrigde (1209);
● A primeira universidade medieval foi a Escola de Medicina de Salerno na Itália e,
seguindo-se a ela, também na Itália, em Bolonha, outra dedicada ao Direito. Contudo, a
mais importante para a cultura ocidental foi a de Paris, que se originou da Escola
Catedral de Notre Dame e in uenciou o modelo de todas as universidades europeias;
● O ensino na universidades era fortemente inspirado pela Igreja, as aulas eram em latim
e as matérias era compostas pelo trivium e quadrivium;
● Trivium: conjunto de três matérias lecionadas nos anos iniciais - gramática, dialética e
retórica;
● Quadrivium: conjunto de quatro matérias restantes: aritmética (teoria do número),
música (aplicação da teoria do número), geometria (teoria do espaço) e astronomia
(aplicação da teoria do espaço);
● Importância da Dialética na Escolástica: buscando entender a relação entre loso a e
teologia e tentando explicar a fé de forma racional, estimulou a dialética, uma das
disciplinas que compunham o trivium. Isso signi cou suscitar a discussão, o diálogo e a
exposição de diferentes pontos de vista. Durante a Escolástica, a Dialética assumiu
contornos muito importantes no que tange à organização do conhecimento nas escolas e
nas universidades;
● Essas instituições passaram a ser frequentadas por diferentes grupos da sociedade e
não apenas por clérigos e religiosos. As cidades que possuíam universidades
começavam a receber estudantes de toda Europa, que chegavam com diferentes formas
de ver a vida e com distintos objetivos. Este contato com a diversidade que se
estabelecia no continente difundiu debates, fortalecendo o conhecimento;
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● A Escolástica, bem como as universidades, representou o melhor do conhecimento
e da sabedoria desde o período medieval até a época do Renascimento, mas começou a
declinar, principalmente por manter as tradições e demorar em admitir as novas ciências
que o mundo transformado começava a pedir;
● A Escolástica contribuiu para o Renascimento: por meio das universidades medievais
e do método produzido pela Escolástica (baseado na leitura e nas discussões de textos
sagrados e profanos) que a sociedade medieval desenvolveu uma loso a capaz de
produzir o pensamento losó co do Renascimento;
● São Tomás de Aquino (1226-1274): membro italiano mais importante do movimento
escolástico. Tomás de Aquino elaborou um sistema losó co que cou conhecido por
tomismo, fortemente in uenciado pela loso a de Aristóteles, trabalho que leu e
consultou diretamente do grego e não por meio de traduções. Escreveu a Suma
Teológica, cujo conteúdo aborda de forma racional as questões de fé e mostra que a
loso a pode ser instrumento de auxílio ao trabalho da teologia.
● Com Tomás de Aquino, a loso a de Aristóteles foi cristianizada, surgindo a loso a
aristotélico- tomista;
● Tal como Santo Agostinho, Tomás comparou a função do professor com a do agricultor,
ou seja, enquanto um cultivava plantas, o outro cultivava a sabedoria;
● A Escolástica foi muito e ciente na tentativa de atrair os pagãos, utilizando argumentos
racionais ao invés da força e da violência.
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Educação, sociedade e cultura - Renascimento
● Entre os séculos XIV (1300) e XV (1400), o mundo ocidental produziu um dos mais
inovadores movimentos sociais, econômicos e culturais da história da humanidade, o
Renascimento, que lenta e vagarosamente já vinha se insinuando no mundo ocidental
culto há mais tempo (desde o século XII), mas que se consolidou durante o século XVI
(1500) e início do século XVII (1600) com o Iluminismo;
● Mas o que foi o Renascimento? Foi um período da história europeia, marcando o m
da Idade Média e inicio da Moderna, caracterizado pela volta dos valores clássicos
greco-romanos, da cultura urbana, com comércio, vida intelectual e apreciação artística.
Tem como berço a Itália, região que enriqueceu na Baixa Idade Média, por conta do
comércio com o Mediterrâneo, originando uma burguesia mercantil. A burguesia, a Igreja
e a nobreza patrocinaram os artistas a m de obter prestígio social. A base teórica do
Renascimento foi o Humanismo, um movimento intelectual que tinha objetivo de trazer à
tona questões sobre o universo humano, afastando-se do Teocentrismo e impulsionando
o desenvolvimento do saber humano, das artes e da ciência. Como consequência deste
movimento, ocorreram : Reforma e Contrarreforma; Grandes Navegações e Primeira
Fase do Capitalismo (Mercantilismo);
● Neste canário cada vez mais laico/independente da religião, começou a aparecer um
novo pensamento social. Ainda não se podia a rmar que este pensamento era cientí co,
mas evidentemente havia uma tentativa rigorosa e objetiva neste sentido, de forma que
as instituições políticas e sociais, as nações, os Estados, as legislações e o exército
conduziam os estudiosos a pensá-los como consequência da consciência, da vontade,
do discernimento e da intervenção humana nos rumos dos acontecimentos, não mais
como resultado da vontade divina;
● Principais características: Humanismo - antropocentrismo; racionalismo (valorização
da razão e estudo); individualismo (ser humano responsável por suas ações e
pensamentos); classicismo (resgate da cultura greco-romana); universalismo (busca pelo
conhecimento em diversas áreas do saber) e laicidade;
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A ciência no Renascimento
● Das discussões estabelecidas entre 1200 (séc. XI) e 1300 (séc. XII), e que se
estenderam durante todo Renascimento e Iluminismo, brotaram as sementes da ciência
moderna. Estas discussões, especialmente travadas nas universidades da Escolástica,
provocaram, aos poucos, a derrocada da concepção medieval de mundo;
● De uma ordem cósmica dominada pelo sagrado, passou-se a uma ordem cósmica
secular, (desvinculado de qualquer caráter divino ou sagrado);
● De um universo geocêntrico, no qual a Terra estaria no centro, passou-se para um
universo heliocêntrico, onde o Sol ocuparia o lugar central e a Terra um lugar discreto e
desvinculado de toda divindade;
● De um universo teocrático, no qual todo poder emana de Deus, e teocêntrico onde Deus
é o centro de todas as explicações, passou-se a um universo antropocêntrico, no qual o
homem e a razão são centrais para as explicações;
● Copérnico (polonês, 1473- 1543), e seu heliocentrismo são seguidos por Kepler
(alemão, 1571-1630) e suas leis sobre as órbitas dos planetas. Galileu Galilei (italiano,
1564-1642) melhorou signi cativamente o telescópio e foi o primeiro a utilizá-lo para
fazer observações astronômicas, descobrindo, assim, as manchas solares, as
montanhas da lua, as fases de Vênus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de
Saturno e as estrelas da Via Láctea. Estas descobertas contribuíram para o
fortalecimento da teoria heliocêntrica e a refutação da loso a aristotélica.
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A sociedade renascentista e a Educação
● Como já citado, no Renascimento houve formação e fortalecimento das cidades e
comércio, sendo um momento de estabelecimento de novas relações sociais, menos
rígidas e estamentais como as anteriores;
● Este foi um período no qual o capitalismo começou a se insinuar na sociedade, em que
se estabeleceram as Corporações de Ofício e a divisão do trabalho e no qual se
preconizou a união entre teoria e prática. O mundo culto deveria se voltar para as
necessidades sociais e humanas, não mais habitando as esferas abstratas;
● Em um ambiente como este, em que o trabalho começava a deixar de ser pensado como
castigo divino para ser entendido como algo que poderia digni car o homem, a educação
e a cultura deviam contribuir com esta nova visão;
● Expandiram-se as atividades comerciais e artesanais ocorrendo uma ascensão da
burguesia. Iniciou-se a formação dos estados nacionais com apoio dos burgueses ricos.
As invenções da imprensa (Gutemberg, 1440) e do papel contribuíram para a
disseminação da educação e da cultura.
● "(...) o ensino não pode mais ser somente o do trivium e do quadrivium. Em primeiro
lugar, a escrita precisa dar conta dos contratos comerciais que são redigidos. Não pode
ter mais, pois, a forma dos escritos solenes. (...) Ao contrário, precisa ser clara, rápida e
exprimir energia, equilíbrio e gosto. (...) A língua não pode ser mais o latim, mas a língua
vulgar. Os comerciantes, por exemplo, passam a utilizar as línguas das regiões onde o
comércio está mais orescente. (...) Ao lado das mudanças na língua e na escrita, esta
sociedade precisa aprender o cálculo. Seu ensino passa a ser feito de forma simples,
com o uso de objetos práticos. Utiliza-se, por exemplo, o ábaco e o tabuleiro de xadrez.
(...) Não menos importante passa a ser a aprendizagem de uma geogra a prática. É
preciso saber onde se localizam determinadas regiões, determinados portos, mapas que
facilitem a localização de rotas marítimas" (OLIVEIRA, 2005);
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Reforma e Contrarreforma
● Durante o século XVI, a Europa foi abalada por uma série de movimentos religiosos que
contestavam abertamente os dogmas da Igreja católica e a autoridade do papa, estes,
foram de intenso cunho religioso, mas não apenas;
● Tais transformações estavam ocorrendo simultaneamente às mudanças na economia
europeia, assim como à ascensão da burguesia. Por isso, algumas correntes religiosas
do movimento reformista se adequavam às necessidades da burguesia, ao valorizarem o
homem “empreendedor” e ao justi carem a busca pelo lucro, sempre condenado pela
Igreja católica;
● Moralmente, a Igreja estava em decadência e preocupava-se mais com as questões
políticas e econômicas do que com as questões religiosas. Para aumentar ainda mais
suas riquezas, recorria a qualquer subterfúgio, como, por exemplo, a venda de cargos
eclesiásticos, de relíquias e, principalmente, das famosas indulgências, que foram a
causa imediata das críticas feitas por Lutero. O papado garantia que cada cristão
pecador poderia comprar seu perdão da Igreja;
● Além disto, a formação das monarquias nacionais, a partir de 1400, trouxe consigo um
sentimento de nacionalidade às pessoas que habitavam uma mesma região, sentimento
este desconhecido na Europa feudal. Esse fato motivou o declínio da autoridade papal,
pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
● A ascensão da burguesia, além do papel decisivo que representou na formação das
monarquias nacionais e no pensamento humanista, foi fundamental na Reforma
religiosa. Na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra; o dinheiro, o
comércio e as atividades bancárias eram práticas pecaminosas; trabalhar pela obtenção
do lucro (que é a essência do capital) era pecado. A burguesia precisava, portanto, de
uma nova religião, que justi casse seu amor pelo dinheiro e incentivasse as atividades
ligadas ao comércio;
● Contrarreforma: com a expansão da doutrina protestante, a Igreja católica protagonizou
uma forte reação conhecida como Contrarreforma com o objetivo de recuperar o poder
que vinha perdendo. Como reação à Reforma, o papa Paulo III convocou o Concílio de
Trento (1545-1563) para assegurar a unidade da fé católica e a disciplina dos
sacerdotes. Foi rea rmada a infalibilidade papal e estabelecidas normas para a criação
de seminários para a formação de eclesiásticos. Surge a Companhia de Jesus.
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A Educação Renascentista
● Pelo que já foi exposto, podemos perceber que a sociedade renascentista tinha um
apreço grande pela Educação, que passou a ser questão fundamental. Houve
crescimento e difusão de colégios e obras dedicadas aos alunos e professores;
● Os preceptores que ensinavam nos palácios dos nobres continuaram existindo, mas a
burguesia que cresceu e ascendeu socialmente pretendia agora preparar os lhos para
os negócios e a política. Com dinheiro sobrando, acabavam nanciando universidades
falidas em troca da educação dos lhos. Em relação à educação dos mais necessitados
(o povo em geral), não havia nenhuma preocupação de nida. A eles cabia a educação
pro ssionalizante, ou seja, a aprendizagem de um ofício;
● O ideal de educação laica não era muito fácil de ser cumprido naquele período, uma vez
que a religião e as ordens religiosas eram as grandes detentoras do ensino. Mas,
algumas iniciativas particulares, por parte de leigos, começaram esse ideal;
● Além das iniciativas particulares por parte de leigos, a hegemonia católica no ensino
também se via ameaçada pela Reforma, que fazia pesadas críticas em relação à forma
como a Igreja conduzia o ensino. Ao propor que todos pudessem ler e interpretar a Bíblia
sem a interferência de padres, a educação tornava-se instrumento de divulgação da
Reforma Protestante.
● Lutero, com ideias diferentes daquelas predominantes, considerava que a escola,
primária pelo menos, deveria ser para todos. Embora diferenciando a educação para os
trabalhadores (básica, elementar: como ler, escrever e contar) da educação de nobres e
burgueses (equivalente ao ensino médio e superior), os pensamentos de Lutero a
respeito da educação eram bastante avançados para a época. Ele defendia a educação
universal, pública e gratuita, criticando os castigos corporais, bem como os métodos da
Escolástica.
● A Igreja apresentou uma rápida reação para combater a expansão de escolas
protestantes e leigas - criação de ordens religiosas e colégios jesuítas, sendo essa uma
postura decisiva nos rumos da educação católica;
● A educação do Renascimento se deu em meio a severas críticas à tradição medieval.
Era uma educação que buscava tornar-se cada vez mais laica para divulgar os ideais
humanistas e burgueses.
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Unidade IV
História da Educação no Brasil: A catequese e o início da
colonização - os jesuítas, a educação da elite e a reforma
pombalina

● Segundo vários estudiosos, a História da Educação no Brasil pode ser dividida em duas
fases: antes e depois da expulsão dos jesuítas. Portanto, primeiro será abordado a
Educação brasileira a partir da ação dos jesuítas.

Os jesuítas no Brasil
● Origem dos padres jesuítas: Companhia de Jesus, ordem criada por Inácio de Loyola
em 1534 na Contrarreforma católica. Essa foi uma das medidas tomadas pela Igreja
católica para conter a Reforma Protestante, como já explicado;
● Os jesuítas chegaram ao Brasil com o governador geral Tomé de Souza, em 1549. Entre
eles, estava o padre Manuel da Nóbrega, jesuíta que teve importante papel na educação
e catequese dos indígenas. Como “soldados da fé católica”, os jesuítas tinham o objetivo
de disseminar o catolicismo e a educação era a principal via para alcançarem esta meta.
Quinze dias depois de sua chegada à recém‐fundada cidade de Salvador, os jesuítas já
conseguiram fazer funcionar uma escola elementar de “ler e escrever”;
● Ao padre Manuel da Nóbrega juntaram‐se outros dois: Aspilcueta Navarro (o primeiro
jesuíta a falar a língua dos índios) e José de Anchieta (o patrono do Brasil). Este trio
representou a melhor fase da história dos jesuítas no Brasil, fase esta que foi de 1549
até 1570, data da morte de padre Nóbrega;
● Neste período, os jesuítas aprenderam tupi‐guarani, elaboraram material didático para a
catequese e Anchieta organizou uma gramática tupi. Num primeiro momento, eles
ensinavam os curumins junto com os lhos dos colonos. Neste processo, Anchieta usava
vários recursos como a música, a poesia e o teatro. Substituiu as cantigas cantadas
pelos índios pelos hinos de louvor à Virgem. Não demorou que houvesse um choque
cultural entre os valores dos indígenas e dos colonizadores;
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Missões/reduções
● Os jesuítas permaneciam um determinado período nas tribos, realizando a pregação e
os batismos e, para dar continuidade ao trabalho, logo seguiam para outra tribo. Mas
acabaram percebendo que esta maneira não estava surtindo os efeitos necessários de
conversão que eles esperavam. Para que as conversões fossem realmente
consolidadas, foram criadas as missões ou reduções. Do século XVI ao XVII, os jesuítas
desenvolveram a catequese por meio do con namento indígena nas missões ou
reduções;
● As missões ou reduções eram povoamentos ou aldeias criadas pelos jesuítas. Possuíam
uma organização bem de nida que podia reunir várias etnias. Foram construídas casas
para cada família, pois os jesuítas se surpreenderam com o fato de duzentas famílias
morarem numa mesma oca. A catequese nas missões, reduções, povoamentos ou
aldeias era mais e ciente. Os jesuítas ensinavam regras de higiene e saúde, técnicas e
práticas agrícolas. Algumas missões foram muito prósperas. Nelas, se praticava
agricultura, criação de gado e artesanato e os jesuítas tinham uma ação ampla de
conversão religiosa, educação e trabalho;
● A ação dos jesuítas procurava anular as tradições indígenas, pois elas eram
reconhecidas como atrasadas, selvagens e indignas;
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A sociedade colonial e o ensino jesuítico
● Num primeiro momento, os lhos de colonos e curumins aprenderam juntos, mas a
tendência que se con rmou não foi esta, ou seja, a educação jesuítica separou os
catequizados dos instruídos. Assim, a educação para os curumins tinha o objetivo de
cristianizar, paci car e torná‐los dóceis para o trabalho, enquanto que, para os lhos dos
colonos, a educação poderia ir além de ler, escrever e contar;
● Para relembrar a colonização no Brasil: centrada na ocupação do território, de modo a
viabilizar a produção agrícola de interesse para o mercado europeu, ou seja, nossa
economia era baseada num modelo agrário‐exportador dependente. A viabilização deste
modelo teve como apoio a larga distribuição de terras pelo sistema de sesmarias. Para
ter o “direito” de receber estas terras, era preciso ter condições de aproveitá‐las e isso
signi cava possuir recursos para produzir cana‐de‐açúcar e comprar escravos para tal
trabalho. Desta forma, a distribuição de terras no Brasil, desde o início da colonização,
foi marcada por um caráter de privilégio, elitista e discriminatório, que marcará
profundamente a estrutura social brasileira. A economia se expandiu em torno do
engenho de açúcar, centrada no latifúndio, na escravidão e na monocultura;
● Numa sociedade agrária e escravista, o interesse pela educação era quase nulo e,
portanto, a quantidade de analfabetos era muito grande. As mulheres e negros eram
excluídos do ensino e pouco despertavam o interesse dos padres, que se concentravam
na catequese dos curumins. Ao enviar os jesuítas para o Brasil com a nalidade de
converter os índios pela educação, regulando a consciência pela uniformidade da fé,
Portugal tinha como prioridade manter a unidade política e a dominação da metrópole
sobre a colônia. O ensino que se estabelecia carregava estas marcas;
● A educação para os lhos dos senhores de engenho seguia a tradição portuguesa, o
primeiro lho do sexo masculino herdava o patrimônio do pai e deveria dar continuidade
ao trabalho nas terras, no engenho. O segundo lho poderia se dedicar às letras e
normalmente frequentava o colégio para depois concluir os estudos na Europa. O
terceiro estudava para se tornar um religioso.
● Outra forma de educação praticada pelos jesuítas acontecia nos confessionários, pois,
ao ouvir os pecado, os padres iam modelando o pensamento dos colonos.
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A educação montada pelos jesuítas - os colégios tinham a seguinte estrutura
● Inicialmente a criança aprendia a ler, escrever e contar.
● Após este ensino elementar, os colégios forneciam formação em Humanidades, Filoso a,
Ciência e Teologia. O curso de Humanidades era de grau médio e se ensinava latim e
gramática, especialmente para meninos brancos e mamelucos (mestiços de branco e
índio). Os outros dois cursos eram de grau superior e alguns colégios ofereciam até as
quatro possibilidades;
● Após o curso de Artes e Filoso a, o jovem podia escolher entre duas opções: ou estudar
teologia, tornado‐se padre, ou preparar‐se para as carreiras liberais como Direito e
Medicina. Para tal, deveria estudar em uma das diversas universidades europeias. Os
brasileiros optavam, em grande parte, pela universidade de Coimbra, em Portugal.
● Por três séculos (XVI, XVII e XVIII), a educação dos jesuítas no Brasil praticamente não
se alterou. Foi uma educação com prioridades no nível secundário visando a formação
humanista, com privilégio dos estudos de latim, dos clássicos e da religião. Não faziam
parte do currículo dos colégios as ciências físicas ou naturais;
● Na verdade, a educação não era de interesse geral. Ela, durante muito tempo, destinava‐
se apenas àqueles que pertenciam à classe dirigente e, mesmo assim, possuía um
caráter muito mais de erudição e ornamento por ser literária, abstrata e alheia aos
interesses materiais e utilitários;
● Não havia interesse na educação para o trabalho. Esta era realizada de maneira informal
no próprio ambiente de trabalho, sem nenhuma regulamentação nem organização. Os
jesuítas tinham escolas‐o cinas nas missões guaranis para ensinar os indígenas , mas
não as difundiram para o restante da sociedade, fazendo‐o apenas em raras
oportunidades;
● Assim, nos duzentos anos de existência no Brasil (de 1549 até 1759, quando os jesuítas
foram expulsos pelo Marquês de Pombal), a educação jesuítica foi uma educação
conservadora, mas que, no entanto, estava de acordo com o tipo de sociedade que aqui
se desenvolvia: aristocrática, agrária e escravista, que depreciava o trabalho manual,
entendido como desclassi cado, e com uma economia agroexportadora dependente e
submetida à opressão política da metrópole;
● Características: analfabetismo; ensino restrito - elitismo; sem compromisso com o
trabalho; ensino clássico que valorizava a literatura e retórica e desprezava as ciências.
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A expulsão dos jesuítas do Brasil e as reformas pombalinas na Educação
● Contexto histórico em Portugal: Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de
Pombal, foi primeiro‐ministro de Portugal de 1750 a 1777, com a missão de reerguer o
país da decadência na qual se encontrava diante de outras potências europeias na
época. Como um país católico, Portugal condenava o juro. Enquanto outras nações
como Inglaterra e França promoviam as manufaturas, Portugal permaneceu atrelado a
uma mentalidade medieval, o que contribuiu para retardar a implantação do capitalismo e
colaborar com a decadência. Além disto, enquanto a Europa renascentista se preparava
para o livre pensar que se consolidaria no Iluminismo do século XVIII, Portugal
permanecia cioso da herança cultural clássico‐medieval, preservando o latim, a loso a
e a literatura cristã;
● A partir do século XVIII, a vida intelectual portuguesa começou a mudar e se abrir para
as ideias iluministas por meio de vários debates acerca da educação, que aconteceram
principalmente com o lançamento da obra Apontamentos para a educação de um menino
nobre (1734), de Martinho de Pina e Proença, em cujas páginas o autor recomendava
aos professores que se preocupassem também com Geogra a, História, Matemática e
Direito, revelando uma nítida inspiração de autores iluministas como Locke e Fénelon;
● Aos poucos, as coisas foram mudando. A estrutura social começou a se transformar, por
exemplo, quando um novo segmento social se formou no Brasil, a pequena burguesia
urbana, que tinha pretensões de ascender socialmente, sendo a Educação a melhor
forma de alcançar este objetivo;
● Além disto, Marquês de Pombal tinha grande apreço para com os ideais iluministas e
com sua chegada ao poder e preocupação de modernizar a administração pública e
maximizar os lucros com a exploração colonial, a própria coroa portuguesa sofreu
in uência dos princípios iluministas;
● Os debates travados sobre educação repercutiram imediatamente sobre as atividades
educacionais dos jesuítas, pois eles detinham o monopólio da educação superior em
Portugal e da educação nas colônias portuguesas espalhadas pelo mundo. Eram
considerados defensores de uma educação tradicional, abstrata, sem fundamento
utilitário, portanto inadequada para a realidade do momento;
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● Assim, por meio do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, Marquês de Pombal, como
primeiro‐ministro de Portugal expulsou, ao mesmo tempo, os jesuítas de Portugal e de
suas colônias, suprimindo as escolas e colégios jesuíticos. Pombal empreendeu um
extenso programa de transformações administrativas tanto em Portugal como no Brasil.
As reformas educacionais pombalinas tiveram que acontecer, pois, com a extinção dos
colégios, tal responsabilidade deveria ser assumida pelo governo;

As principais modi cações feitas por Pombal, foram:


● Criação das aulas régias ou avulsas, autônomas e isoladas, com professor único de
latim, grego, Filoso a e Retórica;
● Criação da gura do diretor geral dos estudos, para nomear e scalizar a ação dos
professores;
● Implantação do subsídio literário, imposto colonial para custear o ensino;
● Há certo consenso entre os estudiosos da História da Educação no Brasil em a rmar que
a reforma pombalina foi algo desastroso, fazendo com que adentrássemos o século XIX
com uma educação caótica;
● Segundo Fernando de Azevedo, as ações de Pombal signi caram a destruição do único
sistema de ensino existente no país e foi a primeira grande e desastrosa reforma de
ensino no Brasil, atingindo muito super cialmente a vida escolar, imprimindo na
educação meio século de decadência e transição;
● A organicidade da educação jesuítica foi consagrada quando Pombal os expulsou,
levando o ensino brasileiro ao caos, através de suas famosas “aulas régias”, a despeito
da existência de escolas fundadas por outras ordens religiosas, como os beneditinos, os
franciscanos e os carmelitas;
◆ Esta situação de caos e precariedade no ensino brasileiro só começa a sofrer
alguma mudança com a chegada da família real ao Brasil em 1808.
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