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“FIDES ET RATIO: O SIGNFICADO HISTÓRICO.

O Cardeal J.Ratzinger, hoje Papa, para introduzir-nos nos conteúdos


essenciais da Carta Encíclica Fides et Ratio começa com uma citação tomada
das “Lettere di Berlicche” do conhecido escritor e filósofo inglês C.S. Lewis.
Trata-se de um pequeno livro publicado pela primeira vez em 1942, que traz à
luz problemas e perigos do homem moderno de um modo espirituoso e
irônico sob forma de cartas imaginárias de um diabo de grau mais elevado,
que a um principiante na obra da sedução do homem transmite instruções
sobre como deve comportar-se O pequeno diabo expressou preocupações ao
seu superior pelo fato que justamente pessoas particularmente inteligentes
lessem livros da sabedoria dos antigos e deste modo teriam podido colocar-se
no caminho da verdade. Berlicche o tranqüiliza recordando-lhe que a
aproximação histórica, a qual felizmente os estudiosos do mundo ocidental
foram convencidos pelos espíritos infernais, significa justamente isto “que o
único problema , que com segurança nunca se porá, e o da verdade do que se
tem lido; perguntar-se-á, ao invés, sobre os influxos e dependências, sobre o
desenvolvimento do escritor interessado, sobre a historia dos efeitos da sua
obra e assim por diante”1. Por sua vez Josef Piper, que no seu tratado sobre a
interpretação2 retomou esta passagem de C.S. Lwvis, lembra que em relação
às obras ,por exemplo, de Platão e de Dante, publicadas nos paises dominados
pelo comunismo eram sistematicamente precedidas por uma introdução, que
tinha a intenção de comunicar aos leitores uma compreensão “histórica” e
assim excluir a questão da verdade.3 Uma cientificidade exercitada deste
modo torna-se uma imunidade em relação à verdade. A pergunta se e quando
o que o leitor exprime seja verdade, seria um pergunta não cientifica;
conduziria antes para fora do âmbito do documentável e do demonstrável,
fazendo recair na ingenuidade do mundo pre-critico. Em tal modo é
neutralizada também a leitura da Biblia: podemos explicar quando e em que
condições uma frase teve origem e deste modo coloca-la no âmbito histórico
que não nos interessa. Sob esta forma de interpretação existe uma filosofia,
uma atitude de fundo na relações da realidade: que se nos diz: não tem
sentido interrogar-se sobre o que é; podemos somente perguntar-nos que
coisa podemos fazer com as coisas; não está em questão verdade, mas a
praxe, o domínio das coisas para nossa utilidade. Nas relações de uma
semelhante e aparente e iluminante limitação do pensamento humano surge
1
Cfr C>S.LEWIS, The Screwtape Letters, Londom 1965,pp. 139( da trad. itlainana,Lettere di
Berlicche,Mondadadori, Milano 1985.
2
J. Pieper, Was beit interpretation?, in Idem, Schriften zum Philosophiebegriff, vol. III, das obras ,ed. B.
Wald Hmsmburg 1995, pp. 226s).
3
Ibid,p 227.
2

naturalmente a pergunta: que coisa nos é verdadeiramente útil? E para que


fim é útil? Porque escopo nos mesmos existimos?. A quem observa com
atenção manifesta-se neste atitude moderna contemporaneamente uma falsa
humildade e uma falsa presunção: a falsa humildade, que não reconhece ao
homem a capacidade da verdade; a falsa presunção, com a qual ele se coloca
acima das coisas, acima da própria verdade e, enquanto eleva ao fim de tudo o
seu pensamento o ampliar seu poder, o domínio sobre as coisas.
Tendo como fundo esta orientação geral do pensamento moderno
compreender-se-á melhor a intenção da Encíclica, seu significado para ao
momento histórico atual. Ela quer restituir ao homem a coragem da verdade
excitar novamente a razão para a aventura da procura da verdade. A este
respeito veja-se quando se diz sobre a tarefa da interpretação, justamente
tempo presente todas indicações de Berlicche: “ A interpretação desta palavra
( = da Palavra de Deus) não pode remeter-nos apenas de uma interpretação
para outra, sem nunca fazer-nos chegar a uma afirmação absolutamente
vrdadeira( n. 84); caso contrário, não haveria revelação de deus, mas só a
expressão de noções humanas sobre El e sobre aquilo que presumivelmente
Ele pensa de nós”(ib). O homem não está fechado num gabinete dos expelhos
das interpretações , ele pode e deve tentar de abrir-se uma passagem ao que
é verdadeiramente real; ele deve perguntar-se se Deus existe, quem é Deus e
o que é o mundo. O homem que não faz mais essas perguntas trona-se privado
de critérios e perdido De fato, se está difundindo, por exemplo, a tese
segundo a qual os direitos humanos seriam um produto cultural do mundo
judaico-cristão e se revelariam incompreensíveis e sem fundamento fora fora
dele.4 Mas o que acontece então? Quando o homem não pode mais reconhecer
critérios comuns que vão alem das culturas? Quando não lhe aparece mais
recognoscível a unidade do ser humano? Não se torna então inevitável elevar
barreiras nas quais recolher raças, classes e nações? O homem que além de
todas as fronteiras não pode mais reconhecer no outro a sua essência comum,
perdeu sua identidade Como homem está em perigo. Por isso a questão da
verdade, a filosofia no seu sentido clássico e original não é um passatempo das
culturas do bem estar, que podem se conceder este luxo. mas uma questão de
ser e não ser do homem. E por isso o Papa convida com tanta decisão a
romper as barreiras levantadas pelo ecletismo, historicísmo, pragamatismo,
niilismo e também não abandonar-se a uma forma de de pós- modernidade ,
que desemboca numa decadente complacência na própia negatividade, como
renúncia a todo sentido e escolhe contentar-se com provisório e o
4
Aqui deve-se ere presente H. STEIN, Moises und die Offenbarung, Berlin 1998,p.49 onde o autro se refere
às correspondtes teses de S Huntington e contrapõe a tese : “A cultura não é o fato”entre as boas novas da
Biblia existe também aquela segundo a qual segundo é possível romper com a tradição daq própria
tribo. .Antes isto é, talvéz ,o anuncio mais extraordinário da Biblia”.
3

efêmero( n.91) Muitos autores, na sua crítica demolidora de toda certeza e


ignorando as devidas distinções contestam inclusivamente as certezas da fé.

Quem coloca o problema da verdade, é hoje - como já foi acenado-


necessariamente remandado ao problema das culturas e de sua reciproca
abertura. À pretensão de universalidade do cristianismo, que se fundamente na
universalidade da verdade, se contrapõe hoje facilmente a relatividade das
culturas. Praticamente a missão cristã não teria difundido a verdade
concernente todos os homens do mesmo modo, mas submeteu as outras
culturas à própria cultura européia e assim destruído as riqueza das culturas
desenvolvidas de cada povo. A missão se apresenta assim como um dos
grande pecados da Europa, como a forma originária do colonialismo, e
portanto praticamente de alienação cultural dos os outros povos. Que na
história das missões se tenha cometido tais erros, ninguém pode contestar.
Que a multiplicidade cultural da humanidade deva encontrar espaço na Igreja
como na casa comum dos homens, é hoje por todos conhecido. Mas na critica
radical das missão cristã a partir do ponto de vista das culturas está em questão
algo mais profundo: Pergunta-se se possa simplesmente existir uma
comunhão das culturas na verdade que as une ; pergunta-se se a verdade
possa ser expressa por todos homens alem de suas configurações culturais ou
se ultimamente sob as diversidades das culturas se possa sempre somente
pressagiar uma uma verdade de modo assintomático. O Papa dedicou a esse
problema, por causa de sua importância, diverso parágrafos de sua Encíclica )
nn. 69-72) Ele sublinha que as culturas quando são profudamente radicadas
no homem, carregam em si o testemunho da abertura típica do homem ao
universal e à transcendência(n.7o). Por este motivo as culturas, como expresão
da única essência do homem, são caracterizada pela dinâmica do homem, que
supera todas as fronteiras. As culturas, portanto, não são fixadas uma vez por
todas numa forma; a elas pertence a capacidade de progredir e de
transformar-se, e certamente também o perigo da decadência. Elas estão
predispostas ao encontro, a à mutua fecundação Porque a abertura interior do
homem a Deus plasma tanto mais quanto maiores e puras elas são, por isso
nelas está inscrita a interior abertura para a revelação de Deus. A Revelação
não é algo estranho a elas, mas responde a uma espera interior às próprias
culturas. Teodoro Haecker a este respeito falou do caráter adventício das
culturas pre-cristãs5, e durante este tempo muitas perquisas de história das
religiões puderam mostrar também de um modo muito evidente este
caminho das cultura s para o Lgos de Deus que em Jesus Cristo se fez carne. 6
Papa retoma neste contexto a lista dos povos da narração de Pentecostes dos
5
TH. Haecker, Vergil. Vater des Abendlandes , München 1947 , por ex. pp.117s
4

Atos dos Apóstolos( 2, 7-11),que nos conta como o testemunho dado a Jesus,
superando as barreiras de todas as línguas torna-se perceptível em todas as
línguas , isto é, em todas as culturas que se exprimem na língua. Em todas
estas culturas a palavra do homem torna-se portadora da própria palavra de
Deus, do seu próprio Logos. Diz a Encíclica : “ O anuncio do Evangelho nas
diversas culturas, ao exigir de cada um dos destinatários a adesão da fé, não
os impede de conservar uma própria identidade cultural. Isto não provoca
qualquer divisão, pois o povo dos batizados distingue-se pou um
universalidade que é capaz de acolher todas as culturas, fazendo com que
aquilo nelas está implícito se desenvolva até à sua epanação plena na
verdade”(n.71).
“Em conseqüência disto, uma cultura nunca pode servir de critério de juízo
e, menos ainda, de critério último de verdade a respeito da revelação de Deus.
O Evangelho não é contrário a esta ou àquela cultura , como se quisesse, ao
encontrar-se com ela, privá-la daquilo que lhe pertence, e a obrigasse a
assumir formas extrínsecas que lhe são estranhas. Pelo contrário, o anúncio
que o crente leva ao mundo e às culturas é um forma real de libertação de
toda a desordem introduzida pelo pecado e, simultaneamente, uma chamada
à verdade plena. Neste encontro, as culturas não são privadas de nada, antes
são estimuladas a abrirem-se à novidade da verdade evangélica, de que
recebem impulso para novos progressos”( n.71).

“ O fato da missão evangelizadora Ter encontrado em primeiro lugar no


seu caminho a filosofia grega, não constitui de forma alguma impedimento
para outros relacionamentos. Hoje, à medida que o Evangelho entra em
contato com áreas culturais que estiverem até agora fora do âmbito de
irradiação do cristianismo, novas tarefas se abrem à inculturação. Colocam-se
à nossa geração problemas análogos aos que a Igreja teve de enfrentar nos
primeiros séculos”( n.72).
“O pensamento do Papa vai “espontaneamente até as terras do Oriente, tao
ricas de tradições religiosas e filosóficas muito antigas. Entre elas, ocupa um
lugar especial a Índia. Um grande ímpeto espiritual leva ao pensamento
indiano a procurar uma experiência que, libertando o espírito dos
condicionamentos do tempo e espaço, tenha valor de absoluto. No dinamismo
desta busca de libertação, situam-se grandes sistemas metafísicos”( 72).
O Papa a partir do encontro coma cultura indiana, desenvolve os principio
fundamentais para a relação da fé cristã com as cultura pre-cristãs.O Papa
evoca antes de mais nada, como acabamos de falar, o grande ímpeto
6
Cfr. por ex. H. Bürkle, Der Mensch auf der Suyche nach Gott- die Frage der Religionen, Lehrbücher
Thologie II, Paderbonrn 1996.
5

espiritual do pensamento indiano que o leva a procurar uma experiência que,


libertando o espírito dos condicionamentos do espaço e do tempo, tenha valor
de absoluto e assim se realiza na prática a abertura metafísica do homem,
que depois recebeu também forma orgânica de pensamento em significativos
sistemas filosóficos( n.72). Com esta evocação torna-se evidente a tendência
universalista das grandes culturas , seu superação de espaço e de tempo e
assim também sua capacidade de penetrar no ser do homem e nas suas altas
possibilidades.
Aqui encontra o seu fundamento a capacidade de diálogo recíproco das
culturas , nesse caso. Entre a cultura indiana e as outras culturas que
cresceram no terreno de fé cristã. Assim do profundo contato com a cultura
indiana emerge , como que espontaneamente , o primeiro critério: “ ele
consiste na “universalidade do espírito humano, cujas exigências
fundamentais se encontram idênticas nas culturas mais diversas”( n.72).
Desse primeiro critério, segue logo um segundo critério: “quando a Igreja
entre em contato com as grandes culturas que nunca tinha encontrado antes,
não pode pôr de parte o que adquiriu pela inculturação do pensamento greco-
latino. Rejeitar uma tal herança seria contrariar o desígnio providencial de
Deus que conduz a sua Igreja pelos caminhos do tempo e da história. Aliás,
esse critério é valido para todos os tempos – também para a Igreja dee
amanhã, que se sentirá enriquecida comas aquisições resultantes do encontro
dos nosso dias com culturas orientais e desta herança há-de tirar, por sua
vez , indicações novas para entrar frutuosamente em diálogo com as culturas
que a humanidade fizer florir no seu caminho rumo ao futuro.
Em terceiro lugar, há-de precaver-se por não confundir a legitima
reivindicação de especificidade e originalidade do pensamento indiano, com
a idéia de que, uma tradição cultural deve enclausurar-se na sua diferença e
afirma-se pela oposição às outras tradições – idéia essa que seria contrária
precisamente à natureza do Espírito( n.72). Depois de afirmar que o que foi
dito vale também para as culturas da China, do Japão e demais países da Ásia,
bem como da África, o Papa passa para outro assunto.

Quando o Papa insiste que não se deve renunciar a herança cultural adquirida,
que se tornou um veículo para procurar a verdade comum sobre Deus e sobre
o próprio homens, coloca-se naturalmente a questão se deste modo não
estaremos canonizando um eurocentrísmo da fé, que não parece superado nem
pelo fato que na sucessiva história da fé também uma nova herança possa
entrar, de fato entrou, na permanente identidade da fé que concerne a todos A
pergunta, permanece, portanto inevitável: quanto grega e quanto latina é a
6

realidade da fé, que por outra não surgiu no mundo grego e latino, mas no
semita do Meio Oriente, no qual somos sempre encontrados e e se
encontram a Ásia, a África e a Europa A Encíclica toma posição a respeito
deste problema sobretudo no seu segundo capítulo sobre o desenvolvimento
do pensamento filosófico no interior da Bíblia e no quarto capítulo
apresentando o encontro decisivo desta sabedoria da razão crescida na fé com
a sabedoria grega da filosofia.

Já na própria Bíblia vem elaborado um patrimônio de pensamento religioso


e filosófico pluralista que deriva de diversos mundo culturais. A palavra de
deus se desenvolve no contexto de um série de encontros como procura do
homem de uma resposta às suas perguntas últimas. Não caiu diretamente do
céu, mas é propriamente uma síntese das culturas. A um olhar maus profundo
é ,porém, possível individualizar um processo, no qual Deus luta com o
homem e o abre lentamente à sua palavra mais profunda, a si mesmo: ao
Filho, que o Logos. A Bíblia não é simplesmente expressão da cultura do
povo de Israel, mas se encontra em constante conflito com a tend6encia,
totalmente natural deste povo, a ser simplesmente ele mesmo a enclausurar-se
na sua própria cultura . A fé em Deus e o “sim” à vontade de Deus lhe de
quando em vez arrancado, andando contra suas concepções e seus desejos.
Coloca-se continuamente contra a religiosidade de Israel e sua cultura
religiosa que queria exprimir-se no culto das alturas, no culto da rainha do
céu, na procura de um poder para o próprio reino. Começando de ira de deus
e de Moisés contra o culto do bezerro de ouro no Sinai ate os profetas do tarde
pós-exilio se trata sempre do fato que Israel vem arrancando d sua identidade
cultural e aos seus desejos religiosos. Que deve, por assim dizer, abandonar o
culto da própria nacionalidade, o culto do “sangue e da terra” par dobrar-se
totalmente outro, a deus que não lhe pertg4ence , que criou o céu e a terra e
éo Deus de todos os povos. A fé em Israel significa uma contínua auto
superação da própria cultura para abrir-se e entrar vastidão da verdade
comum a todos Os livros do Antigo Testamento podem parecer sob muitos
aspectos menos piedosos, menos poéticos, menos inspirados do que passagem
significativas dos livros de outros povos. Mas a sua originalidade reside
neste caráter conflituoso da fé contra o que é próprio, neste sair do que é
próprio que começa com a peregrinação de Abraão. A libertação da lei que
São Paulo alcança a partir de seu encontro com Jesus Cristo ressuscitado, leva
esta orientação de fundo do Antigo testamento ao seu fim lógico: exprime
plenamente a universalização desta fé, que é libertada da particularidade de
um ordenamento étnico. Agora todos os povos são convidados a entrar neste
processo de superação da particularidade, que teve início antes de mais nada
7

em Israel, a voltar-se para aquele Deus de sua parte se ultrapassou em Jesus


Cristo e derrubou a muro da inimizade que havia entre nós( Ef 2,14) e nos
conduziu um conta o outro na auto espoliação da cruz. A fé em Jesus Cristo é,
portanto, por sua natureza um contínuo abrir-se, irrupção de Deus no mundo
humano e abrir-se do homem em resposta a Deus, que ao mesmo tempo
conduz os homens um contra o outro. Tudo que se tem agora pertence a todos,
e tudo o que é dos outros torna-se, ao mesmo tempo, também nosso; esta
totalidade é indicada na palavra do pai ao filho mais velho: “Tudo o que é
meu é teu”( Lc 15,31), que retorna na oração sacerdotal de Jesus como palavra
do Filho ao Pai: “Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu”( Jo
17,10).

Este modelo fundamental determina também o encontro da mensagem


cristã com a cultura grega, que na realidade não tem início só coma missão
cristã, mas se tinha desenvolvida no interior das Escrituras do Antigo
Testamento, sobretudo através de sua tradução ao grego e a partir desta no
período do primeiro judaísmo. Este encontro foi possível, porque neste meio
tempo no mundo grego se tinha feita caminho um semelhante processo de auto
superação. Os Padres não simplesmente traduziram no evangelho uma cultura
grega autônoma e que vive por si. Eles podia retomar o diálogo com a
filosofia grega e torná-la instrumento do evangelho, do momento que no
mundo grego a procura de Deus se tinha colocado em movimento uma
autocrítica da própria cultura e do próprio pensamento.. A fé aproximou
diversos povos – começando com os germanos e eslavos., que entraram em
contato com a mensagem cristã no tempo das grande migrações dos povos,
até os povos da Ásia. Da África da América- não a cultura grega enquanto
tal, mas a sua auto superação, que foi o verdadeiro ponto de coligação na
utilização do pensamento grego para a interpretação da mensagem cristã. A
partir desta abertura a fé levou a cultura grega sempre mais numa dinâmica
se auto superação.

Richad Schäffles recentemente disse a este respeito muito acuradamente


que a pregação cristã desde o princípio exige dos povos da Europa( que por
outra como tal não existia antes da missão cristão), o äbandono... de todo
Deus autóctone dos europeus, muito antes que que entrassem em cena as
culturas extra européias”7. A partir daqui se pode compreender porque o
anúncio cristão procurava uma ligação com as filosofias, e não com as
religiões. Onde esta última ligação foi tentada , onde, por exemplo, se quer
interpretar Cristo como o verdadeiro Dionísio, Asclépio, ou Ercoles, tais
7
R. Schäffler, Ent-europäsierung des Christentums, in Theologie und Glaubes 86,( 1996) ,p. 131.
8

tentativas foram consideradas como superadas8. Não se procurou uma ligação


com as religiões , mas com as filosofias, pela fato que não se canizou uma
cultura, mas se pôde penetrar no seu interior, em quanto ela tinha começado a
sair de si mesma, se tinha posto a caminho para abrir-se à verdade comum a
todos e tinha abandonado para traz o fechamento na sua particularidade . Isto é
ainda hoje uma indicação fundamental para o problema doos contatos e do
transpasso a outros povos e culturas. Certamente a fé não pode contrair
ligaçoes com filosofia que excluem a questão da verdade, mas segurament o
pode fazer com aquele movimentos que procuram sair da prisão relativista.
Certamente não pode ligar-se de modo imediato às antigas religiões: tais
tentativas aconteceram no tempo do cristianismo nascente, lá onde, por
exemplo, os cultos mistéricos deram um novo conteúdo à veneração dos
antigos deuses ou também correntes filosóficas interpretando de um novo
modo a antiga doutrina sobre os deuses 9. Entretanto as religiões podem
certament oferecer formas e estruturas, mas sobretudo atitudes,
comportamentos: o temor referencial, a humildade, a disponibilidade para o
sacrifício, a bondade, o amor ao próximo, a esperança na vida eterna.10.
Isto é importante também para a questão do significado salvífico das
religiões . Elas são salvíficas não em quanto “sistemas fechados” e pela
fidelidade de seus aderentes ao próprio sistema, mas elas contribuem para as
salvação, lá onde conduzem o homem, a “procurar o rosto de Deus”( como
se exprime o AT), “a procurar o reino de Deus e a sua justiça. Explicando
melhor: a salvação não se encontra nas religiões como tais, mas a elas
conexas na medida na qual e até quando elas levam o homem ao único bem,
a procurar a verdade e ao amor. Deste ponto de vista a questão da salvação
traz consigo também sempre um elemento de crítica da religião, assim como
ela pode , por outro lado, estar ligada positivamente com as religiões . Em
todo caso ela terá que fazer com a unidade do bem, com a unidade do
verdadeiro – com a unidade de Deus e do homem.

Antes de terminar podemos dizer que Encíclica apresenta ainda , entre


outros, a saber O “Acento da circularidade entre fé e filosofia”( n. 74) e
aportes da teologia à filosofia.
Quanto ao primeiro ponto a Encíclica a entende no sentido que a teologia
possui como ponto de partida sempre da palavra de Deus, mas porque esta
Palavra é verdade, a colocará sempre em relação com a procura humana da
verdade , com o empenho da religião pela verdade e assim pela diálogo com
8
Cfr. R. Schäffler, ibid., p.125.
9
Idem,ibid., p. 125.
10
Cfr. H. Bürkle, Der Mensch auf der Suche nah Gottt- die Frage der Religipnen, Lehrbücher zur
katholischen Theologie III,Paderborn 1996.
9

a filosofia. A procura d verdade da parte do crente se realiza assim num


movimento, no qual a escuta da Palavra tornada história e procura da religião
se encontram continuamente Vejamos o que diz a Encíclica no número
falando da justa relação que se deve instaurar entre a teologia e a filosofia.
Esta justa relação entre as duas

“ há-de ser pautada por um reciprocidade circular. Quanto à teologia, o eu ponto de


parida e fonte primeira terá de ser sempre a palavra de Deus revelada na história, ao passo
que o objetivo final só poderá ser uma compreensão cada vez mais profunda dessa mesma
palavra por parte das sucessivas gerações. Visto que a palavra de Deus é Verdade( cf. Jo
17,17), uma melhor compreensão dela só tem a beneficiar com a busca humana da verdade,
ou seja, o filosofar, no respeito das leis que lhe são próprias. Não se trata simplesmente de
utilizar, no raciocínio teológico, qualquer conceito ou parcela dum sistema filosófico; o
fato decisivo é que a razão do crente exerce as sus capacidades de reflexão na busca da
verdade , dentro de um movimento que, partindo da palavra de Deus, procura alcançar uma
melhor compreensão da mesma. É claro, de resto, que a razão, movendo-se dentro destes
dois pólos – palavra de Deus e melhor conhecimento desta- - , encontra-se prevenida, e de
algum modo guiada, para evitar percursos que poderiam conduzi-la fora da Verdade
revelada e, em última análise , fora pura e simplesmente da verdade; mais ainda, ela
sente-se estimulada a explorar caminhos que, sozinha, nem sequer suspeitaria de poder
percorrer. Esta relação de reciprocidade circular com a Palavra de Deus enriquece a
filosofia, porque a razão descobre horizontes novos e inesperados”( n.73)

A prova da fecundidade de tal relação é oferecida ela própria vida de grande


teólogos cristão que se distinguiram também como grande filósofos, deixando
escritos de tamanho valor especulativo que justificam se r colocados ao lado
de granes mestres da filosofia antiga. Isto ‘verdade tanto para os Padres da
Igreja, de entre quais há que citar pelo menos os nomes de Gregório
Nazianzeno e S. Agostinho.

Finalmente vamos tratar do segundo ponto para terminar nosso estudo. Entre
a filosofia podem ser distinguidos diversos estádios relativamente à fé.
O primeiro é filosofia totalmente independente da revelação evangélica: é o
estádio da filosofia, existente historicamente nas épocas que precedem o
nascimento do Redentor, e, mesmo depois dele, nas regiões onde o Evangelho
ainda não chegou. Nesta situação, a filosofia apresenta a legitima aspiração de
ser um empreendimento “autônomo”, ou seja, que procede segundo suas
próprias leis, valendo-se simplesmente das forças da razão. Embora cientes
dos graves limites devidos à debilidade congénita da razão humana, uma tal
aspiração deve ser apoiada e fortalecida. De fato, o trabalho filosófico, como
busca da verdade no âmbito natural, pelo menos implicitamente permanece
aberto ao sobrenatural.
10

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