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I sm a el , i m >s S a n t o s
PREFÁCIO ............................................................ 7
INTRODUÇÃO ....................................................11
Capítulo I: UMA SÓ LINGUAGEM! ............13
Capítulo II: VOCÊ SABE O QUE É
COMUNHÃO? ............................................... 21
Capítulo III: FUNDAMENTOS
DA UNIDADE C R IS T Ã ................................33
Capítulo IV: UNIDOS PELA CRUZ ..............47
Capítulo V: É FÁCIL DIVIDIR! .................... 53
Capítulo VI: OS SETE LAÇOS
DA UNIDADE ............................................... 65
Capítulo VII: PRÁTICAS
REVOLUCIONÁRIAS ..................................75
Capítulo VIII: O QUE TEMOS
EM COMUM ................................................. 85
6 Para que todos sejam um
UMA SÓ
LINGUAGEM!
A linguagem da corrupção
Passaram-se cerca de mil e seiscentos e cin-
qüenta anos desde que Deus tinha criado o
primeiro hom em ; então, o Senhor volta o seu
olhar para a Terra, e o que seus olhos contem
plam deixa-o arrependido de ter criado o ser
humano, pois “viu Deus a terra, e que estava
corrompida” (Gênesis 6:12).
Eis os homens: estão a falar a mesm a lín
gua, porém, língua de anarquia generalizada.
Era a prim eira tentativa hum ana para estabe
lecer um a unidade alienada de Deus.
E, de lá para cá, o quadro continua desola
dor. O m undo prossegue coesamente atrela
do ao id iom a da lib ertin ag em coletiva.
Naqueles dias foi necessário o dilúvio para
desfazer a maléfica e corrupta sociedade con
temporânea de Noé. Todavia, Deus continuou
trabalhando para levar a humanidade a um a
Uma só linguagem! 15
comunhão cujo resultado fosse um a só lin
guagem de louvor à sua glória.
A linguagem da arrogância
Uns cem anos após Deus ter procurado
erradicar da civilização a linguagem da cor
rupção, ele retorna a contemplar a Terra e
percebe que sua criação oficializou um novo
idioma. Os homens estavam literalmente fa
lando a mesma linguagem: “a terra toda tinha
um a só língua, e um a só m aneira de falar”
(Gênesis 11:1). Eles sabiam da força existente
na unidade e tam bém de que o poder da
linguagem é persuasivo; então, conclam a
ram : “façamo-nos um nome, para que não
sejamos espalhados sobre a face de toda a
terra” (Gênesis 11:4b). Ora, a torre erigida
seria um m arco de independência, um ponto
de referência para um a união declaradamen
te embriagada pelo distanciamento de Deus.
Babel, um a confederação solidificada na
vaidade humana? Não! Os homens ainda não
tinham percebido que não poderíam manter-
se unidos enquanto não abandonassem o mi
nado terreno do orgulho. Esta atmosfera de
lisonja levou o Senhor a agir e, como resulta
do, o m onum ento erigido à custa da lingua
gem da arrogância espatifou-se no solo duro
da segregação racial idiomática, com o surgi
m ento de povos, tribos e nações.
Como é diferente a comunhão planejada
por Deus! Ela jam ais confunde ou separa;
antes, rompe os maus laços, omite as diferen
16 Para que todos sejam um
ças e ultrapassa os tempos, unindo os povos
em um só corpo. Enquanto a unidade maqui
nada pela m ente hu m an a volta-se contra
Deus, aquela que ele planejou procede do que
há de mais unido no Universo: a Trindade
divina.
A linguagem da rebelião
Se Deus decepcionou-se com as gerações
anteriores, muito m aior deve ter sido o seu
desagrado ao certificar-se de que a geração
que se cham a pelo seu nom e —Israel —estava
unida em torno da linguagem da rebelião.
Com efeito, a rebelião político-religiosa le
vada a efeito por Coré, primo de Moisés, Datã
e Abirã, evidenciou a antiga verdade de que
qualquer solidariedade que não parta dos
céus sempre estará propensa ao mal.
Os coatitas e rubenitas rebelaram-se, não
contra Moisés apenas, mas diretamente con
tra Deus. Foi um a espécie de psicose coletiva.
A propósito, a pior linguagem que podería ser
falada no meio do atual Israel de Deus — a
igreja de Cristo — é a linguagem da rebelião à
autoridade do próprio Deus.
Não há como duvidar de que o princípio da
rebeldia sempre corrói a beleza do Corpo. O
grande apóstolo das gentes — Paulo — ao
transm itir suas instruções ao jovem líder Ti
móteo, advertiu-o de que “nos últimos tempos
alguns apostatarão da fé” (1 Timóteo 4:1).
Apostasia é rebelião, e o que Paulo estava
querendo dizer é que a linguagem da revolta
Uma só linguagem! 17
substituirá, para alguns, a linguagem da ge
nuína fé cristã. Além disso, parece irrefutável
a idéia de que, muito em breve, a rebelião se
tornará a linguagem dominadora deste pla
neta.
Mas, aleluia! Deus apresenta um a opção
m uito mais sublime e excelente para a hum a
nidade.
A linguagem do Espírito
A nova era teria que ser iniciada com um a
nova linguagem e, por isso “todos foram
cheios do Espírito Santo, e com eçaram a falar
noutras línguas, conforme o Espírito Santo
lhes concedia que falassem” (Atos 2:4). No dia
de Pentecoste, cumpriu-se a promessa feita
através do profeta Sofonias: “Então darei lá
bios puros aos povos, para que todos invo
quem o nome do Senhor, para que o sirvam
de com um acordo” (Sofonias 3:9). Note-se que
um dos objetivos imediatos da descida do
Espírito foi que a humanidade, sem distinção
de cor, ritual ou situação geográfica, servisse
a Deus num mesmo e único espírito.
Ali estava gente “de todas as nações que
estão debaixo do céu” (Atos 2:5b), e todos
presenciaram as vozes de soberba e oposição
a Deus darem lugar a um novo som, o som da
unidade que brotou no Calvário e que, agora,
poderia ser ouvido nos quatro cantos da Ter
ra, por meio do sopro do Espírito de Deus.
Aqueles cento e vinte irmãos reunidos no
Cenáculo tiveram seus corações abrasados e
18 Para que todos sejam um
ainda mais fortemente ligados ao sentir a real
presença do Espírito do Senhor.
Antes, na linguagem da arrogância, os ho
mens se uniram para construir um a torre de
tijolos de barro, porém quando aqueles discí
pulos de Cristo com eçaram a falar a lingua
gem do Espírito, deu-se início à construção do
mais belo de todos os edifícios — o da comu
nhão espiritual, cujo material para edificação
eram eles próprios, “pedras vivas”, como bem
lembra o apóstolo Pedro (1 Pedro 2:5).
Dali para frente os cidadãos do Reino dos
Céus conversariam num novo idioma, lin
guagem esta que permitiría a cada cristão
extravasar sua necessidade de compreender e
ser igualmente compreendido. Essa lingua
gem veio para derrubar os muros de separa
ção, descongelar os “icebergs” da rivalidade e
fazer com que os homens respirem a própria
atm osfera dos céus. Naquele dia, quando
aqueles seguidores do Nazareno, na sua maio
ria iletrados pescadores, receberam o prom e
tido revestimento do alto, passaram a falar a
linguagem nativa dos céus, vinda, sobretudo,
para intensificar a unidade desejada por
Deus. Indubitavelmente, por detrás daquele
enchimento do Espírito havia um a positiva
resposta à oração sacerdotal de Cristo.
Esta, pois, foi a razão da explosão do cristia
nismo; os cristãos primitivos passaram a falar
um a só linguagem, a linguagem da unidade
cristã. Não será outra linguagem que poderá
impactar o mundo de hoje!
Uma só linguagem! 19
Falemos um a só linguagem. Sejamos um
povo onde circula a voz da unidade. Aliás, o
idioma do Espírito, no qual se sobressai o
am or de Deus, é o segredo para um a vida
com unitária brilhante.
Capítulo II
Comunhão é renúncia
Comunhão é tam bém um a questão de re
Você sabe o que é comunhão? 25
núncia. Estar unido ao Corpo de Cristo é dis-
por-se a renunciar coisas que, aparentemen
te, nos são legítimas, planos que nos trariam
vantagens, mas que no entanto, impedir-nos-
iam de com preender os interesses e as lutas
daqueles que estão ao nosso lado.
Os meios de comunicação nos arrastam à
um a excessiva preocupação com aquilo que é
nosso: aparência, posses, dotes, posição. En
tão, passamos a ser embalados por um senti
m ento de auto-suficiência quando, com o
membros do corpo, os outros deveriam ter
um grau de importância superior aos nossos
caprichos e ambições egoístas.
A Palavra de Deus é rica em exemplos de
vidas que renunciaram algo para que a co
m unhão do grupo dos que são povo peculiar
do Senhor fosse um a realidade. Moisés, por
exemplo, “recusou ser chamado filho da filha
de Faraó, escolhendo antes ser maltratado
com o povo de Deus” (Hebreus 11:24b, 25a).
Este grande líder renunciou o próprio trono
egípcio para viver em comunhão com os seus
irmãos. E o que dizer de Paulo? Assumindo
um a atitude de “êxtase de am or e infinito
sentimento de com unhão”, no dizer de Ba
con, o apóstolo declarou sua disposição para
ser um dos separados de Cristo (Romanos
9:3), caso fosse possível, para que a nação
israelita —da qual a maioria odiava tanto a ele
quanto ao seu Senhor —passasse a fazer parte
do Corpo.
Há algo de significativa autonegação nestas
26 Para que todos sejam um
palavras do apóstolo. Aos coríntios ele disse:
“Eu de muito boa vontade gastarei, e m e dei
xarei gastar pelas vossas almas” (2 Coríntios
12:15a). Paulo procurava com diligência o
bem-estar daqueles crentes, embora se mos
trassem, na ocasião, frios e indiferentes ao seu
ministério.
É basicamente nisto que está a veracidade
de nosso am or para com Cristo: o sacrifício
em favor do seu Corpo. E que valor poderia
mos dar ao que fazemos, comparado ao que
ele fez? Voluntária e cabalmente ele renun
ciou a si mesmo, a fim de que eu e você nos
tornássemos um nele.
Em sua oração sacerdotal existe um a re
núncia incomparável. Voltemo-nos àquela ce
na. Eram os últimos instantes de Cristo antes
de subir ao Calvário. Um tom de despedida
m arca suas palavras. Seu semblante sereno,
sua voz meiga, sua presença inconfundível,
tornam a oração que brotou dos seus lábios
um a das mais emocionantes que temos nos
registros sagrados. De súbito, os discípulos
escutam um a intercessão que os deixa extasia
dos: “Eu não rogo somente por estes, mas
tam bém por aqueles que pela sua palavra hão
de crer em m im; para que todos sejam um ,
como tu, ó Pai, o és em m im , e eu em ti; que
tam bém eles sejam um em nós, para que o
mundo creia que tu me enviaste” (João 17:20,
21).
Era demais para os discípulos. Ali estava
diante deles o Senhor do Universo, o Todo-po-
Você sabe o que é comunhão? 27
deroso, declarando-se disposto a tom ar o cáli
ce — símbolo máxim o da renúncia —para que
tanto eles como nós fôssemos um , como refle
xo direto da unidade existente entre ele e o
Pai. Ora, é no seu exemplo que devemos nos
inspirar.
Verdadeiramente, não existe outro cami
nho! Somente um a aceitação incondicional
do outro —poderá nos rem eter a um a bem-su
cedida unidade.
Um dia, o apóstolo Paulo soube que duras
facções proliferavam no seio da igreja de Fili-
pos. Por isso, tomou da pena e escreveu com
autoridade: “Não atente cada um somente
para o que é seu, mas cada qual tam bém para
o que é dos outros” (Filipenses 2:4). Ele sabia
da eficácia do princípio da renúncia para res
tau rar elos partidos.
Mormente quando insistimos em não ce
der em nossos interesses, estamos sendo um
empecilho à unidade do Corpo. Temos de
aprender a renunciar, a optar por um estilo
de vida sacrificial e altruísta; do contrário
nossos esforços pela comunhão serão inúteis.
E o que dizer da maléfica preocupação com
o irm ão que está sendo mais abençoado do
que nós? Temos sofrido, não raro, a tentação
de não admitir o sucesso de outrem, quando
nós mesmos tivemos um inesperado retroces
so.
São horas de sabor amargo, que tornam
inevitáveis um sorriso forçado, um a congra
tulação inibida pela vitória alheia. Lá no re-
28 Para que todos sejam um
condito de nosso artificialismo, sentimos a
traça da frustração carcom endo implacavel
mente. Tal sentimento não traduz, em abso
luto, com unhão! Estar unido ao Corpo é
alegrar-se com a prosperidade de outrem, pro
curando o seu progresso e motivando-o no
sentido de alcançar níveis ainda mais eleva
dos. Descobrir o que há de melhor no irmão
é, inquestionavelmente, um desafio que exige
renúncia.
Que revolução! Imaginemos o que sucede
ría se todos os que se dizem nascidos de novo
adotassem o princípio da renúncia, esquecen
do seus interesses mesquinhos e tomassem a
firme decisão de assumir um real e fervoroso
interesse pelo irmão que está ao seu lado.
Seria, com toda certeza, um a revolução autên
tica — a revolução do amor!
Comunhão é responsabilidade
É impraticável divorciarmos o compromis
so com Deus do compromisso com o seu povo.
Quando nos propomos fazer parte do Corpo,
ficamos comprometidos não apenas com a
Cabeça — Cristo — mas tam bém com todos os
demais membros. Como se vê, comunhão de
m anda compromisso; requer com prom eti
mento de fidelidade e dedicação para com os
irmãos. Paulo, com voz enérgica, salienta a
responsabilidade que recai sobre cada m em
bro no tocante a este compromisso espiritual
e visível de uns para com os outros, quando
Você sabe o que é comunhão? 29
aconselha: “tenham os membros igual cuida
do uns dos outros” (1 Coríntios 12:25b).
No primeiro capitulo de Gênesis, pode-se
observar que a prim eira responsabilidade da
da ao hom em foi a de preservar a vida da
célula número um da sociedade — a família
(Gênesis 1:28).
Sabe por que não havia comunhão entre
Caim e Abel? Fácil! Porque Caim estava indi
ferente quanto à divina responsabilidade de
guardião do seu irmão. É tão evidente que,
quando Deus o interrogou sobre o paradeiro
de Abel, o primeiro fatricida respondeu laco-
nicamente: “Não sei: sou eu guardador do
m eu irmão?” (Gênesis 4:9b).
Todavia, a resposta de Caim não o absolveu
de sua culpa. Apenas serviu para ressaltar seu
determ inante NÃO ao princípio de fraterni
dade estabelecido pelo Senhor. Pobre Caim!
trocou a com panhia de Abel por um a vida
cheia de culpa e solidão.
Ora, se não me sinto responsável pelo meu
irm ão é porque certam ente nossa comunhão
acha-se interrompida, ou nunca existiu. Um
compromisso com Jesus Cristo tem que ser
obrigatoriam ente seguido de um sincero
com prom etim ento com o m eu irmão, nele.
Destarte, a ausência deste compromisso fra
terno produzirá relacionamentos apáticos e
espiritualmente neutros.
Responsabilidade gera dependência m ú
tua e a isto Caim não estava disposto. Mergu
lhado em si mesmo, não alimentava nenhum a
30 Para que todos sejam um
preocupação altruística pelo seu irmão m e
nor. Desconhecia que unidade envolve com
promisso, porque nela não apenas se recebe,
mas é preciso dar e doar-se. Assim, corroído
por um agudo sentimento de indiferença,
Caim lavrou sua própria sentença. Estar com
promissado fraternalmente significa um inte
resse positivo pelos problemas, pelas lutas e
pelos ideais do irmão. Pois, quanto m aior for
o sentimento de responsabilidade entre um
grupo de cristãos, maiores serão os laços que
os unirão.
Certamente, o valor extraordinário da uni
dade cristã deve nos levar a assumir sério e
profundo compromisso com o corpo. Deste
modo, firmados neste pacto de am or mútuo,
veremos florescer um a comunidade forte e
sadia.
Comunhão é cooperação
Operar junto, é assim que acontece a co
munhão participativa. Refiro-me a um a co
operação norteada para um a caridade mútua,
que traz em seu bojo a soma de esforços,
energias e disposição para a concretização de
um objetivo comum. Comunhão é, portanto,
ação em conjunto.
A unidade cristã deve ultrapassar os limites
da necessidade de relacionamento. Sua moti
vação deve provir de um puro e inquebrantá-
vel sentimento de cooperação.
Parece necessário insistir na idéia de que
comunhão representa um a vida de m ão du-
Você sabe o que é comunhão? 31
pia. Daí ser a reciprocidade um elemento fun
damental. Ser um com m eu irmão significa
que sou m em bro ativo de um a família dotada
da graça de dar e receber ininterruptamente.
Assim, você é ajudado quando ajuda, con
fortado quando conforta, animado quando
anima. Você aprende com seu irmão e ele com
você; o sofrimento dele tam bém é sofrido por
você, e sua alegria é dele igualmente. Nosso
irmão passa a ser alguém com quem dividi
mos vitórias e frustrações; alguém com quem
partilhamos nossas tristezas e triunfos.
Trata-se de um a dinâmica cooperação entre
os diferentes elementos que, desempenhan
do, harm onicam ente, o serviço que lhes são
inerentes, contribuem para o aperfeiçoamen
to do Corpo.
Mas, cuidado! Comunhão não é competi
ção! As disputas dilaceram o Corpo. Além
disso, não é tão interessante aquilo que nós
podemos fazer sozinhos, mas sim, o trabalho
que podemos desempenhar em equipe. Estar
cooperando no mesmo espírito de comunhão
é contribuir para que haja um ambiente de
compreensão, entendimento e solidariedade
e, finalmente, de bem-estar entre os m em
bros.
O plano de Deus é que as necessidades
sejam supridas mutuamente. Afinal, recorrer
ao auxílio de alguém não é sinal de fraqueza,
antes, de maturidade! Por outro lado, é tempo
de parar e ouvir o que o irmão tem a dizer:
suas lutas e vitórias, seus receios e esperanças.
32 Para que todos sejam um
O afeto e o calor da comunhão estão em suprir
as carências do irmão. De fato, os resultados
são bem maiores e mais eficazes quando um a
igreja tem seus membros cooperando entre
si.
Talvez, a julgar por estas definições, ainda
estejamos distantes de um a com unhão frater
nal perfeita. Lancemo-nos, portanto, num a
busca intensa de fortalecimento e solidifica
ção de nossa unidade espiritual.
Capítulo III
FUNDAMENTOS DA
UNIDADE CRISTÃ
v
vista dos ensinam entos sagrados, a
Base doutrinária
Sob a luz do evangelho, o vocábulo doutri
na, que é usado cerca de vinte vezes nas pági
nas neotestamentárias, define amplamente
os ensinos e as instruções à vida cristã. Se o
36 Para que todos sejam um
crente os praticar e a eles obedecer, obterá um
fortalecimento gradativo e profícuo no seu
relacionamento com Deus.
Fundamentos bíblicos distorcidos tornam
as ligações fracas, anêmicas, sem vida. Primei
ram ente porque nossa unidade é orgânica e
não administrativa. Isto posto, não podemos
estar associados àqueles que disvirtuam ou
interpretam erroneam ente as Escrituras. Afi
nal, seria ridículo se o pé esquerdo andasse
para trás enquanto o direito seguisse para
frente.
Disse o grande reform ador Martinho Lute-
ro: “Amaldiçoados sejam qualquer am or e
concórdia que coloquem em jogo a Palavra de
Deus”. Estar ligado a alguém que possui outro
fundamento além de Cristo é com ungar com
suas heresias, por isto: “Se alguém vem ter
convosco, e não traz esta doutrina, não o rece
bais em casa, nem tam pouco o saudeis” (2
João 10).
A comunhão se achará prejudicada quando
nos associarmos com aqueles que fazem opo
sição às verdades rudimentares do evange
lho. De fato, a confusão doutrinária tem
causado divisões irreparáveis no Corpo de
Cristo, desde a primeira era do cristianismo,
pelo que os irmãos de Roma foram severa
mente admoestados: “noteis os que prom o
v e m d isse n sõ e s e e scâ n d a lo s c o n tra a
doutrina que aprendestes. Desviai-vos deles”
(Romanos 16:17b).
Todo e qualquer outro ensinamento que
Fundamentos da unidade cristã 37
não esteja em harm onia com a Palavra deve
ser veem entemente rejeitado. Distanciar-se
dos preciosos e sacrossantos ditames bíblicos
é am eaça dram ática e perigosa à unidade do
Corpo.
A sã doutrina leva à unidade e não à discór
dia. Todavia, a comunhão autêntica jamais
poderá ser cúmplice do erro, e tam pouco po
d erá aco b ertar falsos en sin am en tos por
“am or” à unidade. Não! A com unhão cristã
não pode ser chantageada, aceitando tudo
para agradar a todos. Ela é defensora dos
inconfundíveis ensinos do Mestre e o zelo
doutrinário só lhe traz benefícios. Assim, vi
vamos um a comunhão mantida em toda a
verdade. Por outro lado, a sobrevivência da
unidade depende da nutrição espiritual que
cada m em bro recebe. Percebemos facilmente
que a ausência do alimento sólido (Hebreus
5:14) é a causa de haver membros fracos e
debilitados. É que o corpo estará fortalecido
só se for alimentado com a Palavra da sã
doutrina (1 Timóteo 4:6). Quanto mais afasta
dos da Palavra mais sujeitos estaremos às
intrigas e dissensões.
O conhecimento bíblico atesta a robustez
do Corpo. Se um a comunidade se rege pela
Palavra, com o os cristãos prim itivos, que
“perseveraram na doutrina” (Atos 2:42), não
há por que tem er divisões.
Repito, o evangelho puro não separa; tal
vez possam surgir divisões, em virtude da
defesa inescrupulosa de princípios e costu
38 Para que todos sejam um
m es e sta b e le cid o s p elo h o m e m . In d is
cutivelmente, existem igrejas locais que es
tão, de certa forma, intoxicadas por regras e
tradições que acabam atrasando a tarefa uni
ficadora do Espírito de Deus.
Se bem observarmos, as tradições mantidas
e praticadas em qualquer comunidade cristã
são insuficientes para m anter a comunhão.
Porém, as doutrinas cardinais da fé cristã,
quando tomadas como padrão de conduta,
nos conduzem a um a unidade singular e in
dissolúvel.
Há, portanto, dois extremos que precisam
ser evitados: o descompasso entre a Palavra e
as tradições humanas, e a indiferença para
com as doutrinas fundamentais do cristianis
mo.
Então, “andemos segundo o que já alcança
m os” (Filipenses 3:16), pois o testem unho do
evangelho, se observado, é substância eficaz
para eliminar as disputas e controvérsias.
O domínio da paz
Paz, afirma Phillip Keller, “é o espírito de
um a pessoa estar tão embebido da presença
do Espírito de Deus, que ela não se irrita com
facilidade. Não é um a pessoa susceptível. Não
se exaspera. Não fica enraivecida à-toa. Seu
orgulho não é facilmente ferido. (...) É um a
atitude de serenidade, calma e força, um a
atitude positiva, que reage ao ataque de ou
trem com bom ânimo, tranqüilidade e grande
44 Para que todos sejam, um
quietude de espírito”. (Phillip Keller, Frutos
do E spírito Santo, Venda Nova, Editora Betâ-
nia, 1981, p. 89.)
Vê-se que a paz é tam bém um dos alicerces
básicos da unidade cristã: Não é em vão que a
Palavra nos dá o imperativo: “Tende paz entre
vós” (1 Tessalonicenses 5:13b). Observar tal
ordem é estar imunizado contra brigas e res
sentimentos, pois esta paz nos m anterá afas
ta d o s de d isp u tas e c o n tro v é rs ia s que
debilitam o corpo.
Paz, na concepção bíblica, é o oposto do
ódio, da contenda, da dissensão; ela atua co
mo um a corda que am arra os corações, unifi
cando-os em to rn o de C risto, evitand o,
conseqüentemente, que qualquer perturba
ção fraternal venha a colocar em risco a soli
dez da nossa comunhão.
Tem ainda a paz oferecida por Cristo a
virtuosa atribuição de servir de bálsamo no
instante em que algum m em bro do Corpo é
ferido; não só alivia a dor, mas, tam bém , neu
traliza o veneno faccioso das guerras fratrici-
das.
Porém, esta paz não é obra de arte a ser
trabalhada em tela comum; é, sim, um a virtu
de que deve ser buscada e vivenciada; ora,
promover a paz é refazer relações quebradas,
reconstruir pontes fraternais destruídas pelo
ódio, cim entar nossos relacionamentos.
Fora dos domínios da paz de Cristo não
existe, como se vê, possibilidade de a família
Fundamentos da unidade cristã 45
cristã manter-se unida. Mas, sob sua égide,
existirá harmonia!
Ater-se a estes fundamentos da comunhão
cristã é estabelecer bonança nas relações fra
ternas perturbadas pelos ventos da discórdia.
Capítulo TV
É FÁCIL DIVIDIR!
Individualismo acentuado
Diótrefes foi, com toda certeza, um dos
principais inimigos da comunhão vivenciada
pela igreja primitiva. Dele foi dito: “Escrevi
algumas palavras à igreja, mas Diótrefes, que
gosta de exercer a primazia, não nos recebe”
(3 João 9).
Seguram ente, o apóstolo João via nesta
arrogante postura de Diótrefes um a liderança
prepotente, permeada de ambições pessoais.
A curta biografia deste hom em deixa transpa
recer alguém que se deleitava em vã jactância,
procurando construir seu próprio império
54 Para que todos sejam um
dentro da igreja, visando ditar ordens e diri
gir, a seu bel-prazer, os rumos daquela con
gregação.
São semelhantes a ele certos cristãos obce
cados em perpetuar vantagens autopromo-
cionais, que causam à unidade do Corpo o
mesmo dano que a areia num a engrenagem:
compromete-lhe drasticamente o funciona
mento.
A propósito, um a visão global da história da
civilizãção nos levará a concluir, sem muita
dificuldade, que os principais fatores de extin
ção das sociedades antigas foram a ambição e
o orgulho.
Impérios e reinos tom baram quando seus
governantes deram vazão ao egoísmo impla
cável. Quando não dessa forma, a extermina-
ção te v e o rig e m n a a m b içã o b ru ta l e
desumana de colonizadores e invasores que
destruíam tudo o que se atrevesse a estancar-
lhes a sede de maiores posses territoriais,
mais riquezas, mais poder. Este “mais para
m im ” tem sido o “carro-chefe” da desgraça,
não só de grandes impérios, mas tam bém de
pequenas sociedades como, por exemplo, a
família.
Permitiremos que o egoísmo faça rombos
tam bém na unidade do Corpo de Cristo? Não
exortou Paulo aos Filipenses: “Nada façais por
contenda ou por vangloria, mas por humilda
de; cada um considere os outros superiores a
si mesmo. Não atente cada um somente para
Éfácil dividir! 55
o que é seu, mas cada qual tam bém para o
que é dos outros” (Filipenses 2:3,4)?
O que o ensino paulino está condenando é
a preocupação excessiva com nós mesmos, ao
invés de estarmos interessados num trata
m ento preferencial para com os nossos ir
m ãos. Com efeito, a atenção dem asiada
àquilo que nos pertence distancia-nos dos de
mais. Trata-se, portanto, de um mal que pre
cisamos combater.
A natureza adâmica anseia por aplausos,
mas quando olhamos para Cristo acabamos
percebendo que, em nós mesmos, não existe
razão alguma para jactância. O orgulho não
passa de um ilusório pedestal onde tentamos
firm ar vantagens próprias.
Logo, o culto à personalidade, o exibicionis
m o e todo sentimento arrogante tornam-se
danosos à com unhão e, em conseqüência,
aguçam o esfacelamento de fraternais rela
ções.
Em outra ocasião Paulo reitera: “Ninguém
busque o proveito próprio, antes cada um o
que é de outrem ” (1 Coríntios 10:24). Procu
rar, antes de tudo, o bem-estar alheio, é con
tribuir para um a unidade totalizante.
Cum pre-nos, p o r isso, m otivados pelo
am or de Deus, considerar com mais apreço os
interesses do próximo, sem importar-nos se
tal atitude trará ou não benefícios pessoais.
Por outro lado, nenhum ser hum ano pode
ser um a ilha. O isolamento é a antítese m áxi
56 Para que todos sejam um
m a da comunhão. Quando um m em bro pen
sa poder crescer sozinho, ele se atrofia.
Queiramos ou não admitir, um a síndrome
de isolacionismo se alastra em nossas igrejas.
O crescimento do individualismo tem sido
vertiginoso: cada um vivendo para si, buscan
do o seu próprio bem.
Relutar em contar com o auxílio dos outros
é um a afronta à lei do amor; se depreciamos
a cooperação alheia provocamos maldosa-
mente o surgimento de rivalidades e antago
nism os. Quando um m em bro pressupõe:
“Não m e interessa muito se os outros m em
bros estão ou não progredindo, o importante
é que eu cresça”, ele está caindo no ridículo,
pois “o olho não pode dizer à mão: não tenho
necessidade de ti” (1 Coríntios 12:21a). Que
monstruosidade seria ter-se mão m aior que o
braço!
No capítulo quatorze da primeira carta aos
Coríntios, há um veemente protesto contra o
individualismo de alguns crentes daquela co
munidade. Ali, a comunhão estava fraciona-
da porque cada um daqueles irmãos exaltava
a função que lhe fora dada para exercer em
benefício do Corpo. Uma atitude interesseira
pervertia a serenidade e a pureza da unidade
cristã. Então, o apóstolo os advertiu: “Faça-se
tudo para edificação” (1 Coríntios 14:26b), de
m aneira que o valor da capacidade ou dos
dons pessoais está no seu uso para o benefício
com um do Corpo.
Esforcemo-nos, pois, no sentido de que ati
Éfácil dividir! 57
tudes independentes cedam lugar a um forte
sentimento de comunhão. Afinal, se quere
mos ser edificados em Cristo, devemos saber
que dependemos e precisamos dos demais
membros do seu Corpo.
Disputas carnais
No primeiro século da era cristã, Corinto
sobressaía-se como grande metrópole, além
de ser reduto da política romana na região.
Em Corinto, porém, os valores morais nada
valiam, e as distinções de classes eram acen-
tuadíssimas.
Foi neste ambiente que Paulo fundou a
igreja de Corinto. Anos depois, a família de
Cloé visita aqueles irmãos e vê um a comuni
dade esfacelada por contendas absurdas.
Com temor, transm itiram a desagradável no
tícia ao apóstolo que, imediatamente, tom a
da pena e remete um a carta àquela comuni
dade, interrogando: “Está Cristo dividido?” (1
Coríntios 1:13a).
Por causa desse ímpeto contencioso que
pairava sobre os cristãos de Corinto, Paulo,
Cefas, Apoio e, até m esm o Cristo, passaram a
ser motivo de um a divisão quádrupla naque
la igreja, como se o Senhor ou qualquer dos
outros líderes fosse possessão pessoal deles.
Cristo não pode ser dividido! Então, por
que nos lançarmos em disputas carnais? Ou,
por acaso, não é carnal sacrificar a paz entre
os irmãos a fim de manter-se posições egocên
tricas? “Havendo entre vós inveja, contendas
58 Para que todos sejam um
e dissensões, não sois porventura carnais, e
não andais segundo os homens?” (1 Coríntios
3:3), indaga o apóstolo.
Também Tiago tinha convicção de que o
partidarismo é obra da carne: “De onde vêm
as guerras e contendas entre vós? Não vêm
disto, dos prazeres que nos vossos membros
guerreiam?” (Tiago 4:1). Se damos lugar às
disputas, substituímos a cruz de Cristo por
heróis ou doutrinas humanas. Com isso, agi
mos como carnais.
Quando ficamos postados em nossas trin
cheiras partidárias, obstruímos os relaciona
m entos, dissolvemos os laços fraternos e
denegrimos a imagem da família de Deus. À
vista disso, “oh! quão bom e quão suave é que
os irmãos vivam em união” (Salmo 133:1).
Evódia e Síntique eram duas irmãs que
gozavam de boa reputação na igreja de Fili-
pos; ambas trabalhavam com galhardia em
prol do evangelho. Porém, “onde há inveja e
sentimento faccioso, aí há confusão e toda
obra m á” (Tiago 3:16). Foi necessário Paulo
apelar, verbal e diretamente: “Rogo a Evódia,
e rogo a Síntique, que sintam o m esm o no
Senhor” (Filipenses 4:2); ambas teriam que
declinar de suas preferências pessoais para
que a harm onia voltasse a reinar na igreja de
Filipos.
Dessas observações pode-se concluir que
dificilmente um a controvérsia trará benefí
cio ao Corpo; além disso, não nos iludamos,
Deus aborrece “o que semeia contendas entre
É fácil dividir! 59
irm ãos” (Provérbios 6:19b). Enfim, evitemos
os propagadores de discórdia que, ao invés de
cuidar que a igreja se torne um lugar de pas
tos verdejantes, transformam-na em campo
de batalha.
Más conversações
O emprego da língua, em más conversações,
tem produzido golpes cruéis no relacionamen
to fraterno. Quantas amizades rompidas por
causa da língua incontrolável!
A língua “contamina todo o corpo” (Tiago
3:6). Se pararmos para refletir sobre isso, ve
remos que se trata de um a conclusão óbvia:
podemos m acular a pureza da unidade se não
submetermos nossas conversas ao controle
do Espírito de Deus.
Palavras ferinas, descuidadas, duras, ditas
sem afeto e sem consideração, produzem o
rom pim ento dos mais resistentes selos de co
munhão. De fato, “há alguns cujas palavras
são com o pontas de espada” (Provérbios
12:18a)!
No âmbito fraterno dos crentes não deveria
ser assim. Antes, nossas conversas deveríam
ser despojadas “da ira, da cólera, da malícia,
da maledicência, das palavras torpes” (Colos-
senses 3:8). Aliás, podemos inferir deste texto
a certeza de que é inavaliável o poder faccioso
de um a língua viperina.
O que é maledicência? Diz respeito às críti
cas mordazes que fazemos às escondidas,
m orm ente carregadas de maldade e ressenti
60 Para que todos sejam um
mentos. É falar injuriosamente do irmão. Por
isso, “irmãos, não faleis mal uns dos outros”
(Tiago 4:11a). Tiago, com este conselho, visa
corrigir conversas contenciosas que são fonte
de discórdia e intrigas no seio da família
cristã. Acrescente-se a isto que a confiança
m útua fica duramente abalada quando deixa
mos vir à tona palavras frívolas.
Manter sob domínio nossas conversas evi
tará m uita confusão! O que falamos exerce
influência decisiva em nosso relacionamento
com os demais membros do Corpo. Então,
como é de se esperar, nossas palavras devem
com unicar força e edificação. Confirma esta
afirmativa a Palavra de Deus: “Não saia de
vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a
que for boa para prom over a edificação, para
que dê graça aos que a ouvem” (Efésios 4:29).
Portanto, que dos nossos lábios aflorem sá
bias palavras, que venham em benefício do
próximo e do fortalecimento da comunhão.
Julgamentos precipitados
Nossos julgamentos possuem um incrível
poder de atração sobre as desavenças e atritos
entre irmãos. Pior ainda é saber que esses
julgamentos, além de dosados de condenação
e punição, via de regra são destituídos da
inteiração dos fatos.
Certa feita, lendo um devocionário, ficou-
m e claro que “a crítica pressupõe que aquele
que está criticando conhece melhor e sabe
mais do que aquele que está sendo criticado;
É fácil dividir! 61
muitas vezes, a crítica é usada para disfarçar
as próprias incapacidades do crítico, tentan
do agradar outras pessoas”.
Não raro, o julgamento que fazemos do
próxim o ignora suas qualidades e destaca
seus defeitos; e numa observação minuciosa
pode-se ainda verificar que, freqüentemente,
as opiniões que emitimos diferem da realida
de. Será que nossa perfeição é tal que somos
capazes de im por condenação a outro m em
bro da família? Se não somos juizes compe
te n te s de nós m esm os, m u ito m enos o
seremos de nosso semelhante!
Para explicar que é do poço da vã exaltação
que surgem as incompreensões e os desenten
dimentos, que não poucos percalços têm cau
sado à unidade do Corpo, Tiago escreveu:
“Tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?”
(Tiago 4:12b).
Claramente se conclui, então, que não se
pode compensar defeitos pessoais, apontan
do erros alheios; fazer isto é embutir no Corpo
a chaga da divisão. Na verdade, encontrar
prazer nas falhas de outrem é um a postura
demasiadamente rude num cristão nascido
de novo.
A difamação sempre fez guerra ferrenha à
fraternidade; diz o ditado: “Repetir um a calú
nia é deitar azeite sobre o fogo”. Por isso, a
ordem divina a Israel foi: “Não andarás com
o mexeriqueiro entre os teus povos” (Levítico
19:16a).
Com a calúnia desacreditamos o irmão: tá
62 Para que todos sejam um
tica grosseira que apenas revela total afasta
m ento do am or fraterno. Com efeito, se acuso
o m eu irmão estou acusando a m im mesmo,
porque ele pertence ao mesmo Corpo a que
pertenço.
Seria muito bom que nos perguntássemos
antes de fazer qualquer com entário sobre ou
trem : “que proveito isto trará ao Corpo?” Mas,
melhor ainda é dar ouvidos à exortação pau-
lina de fazer “todas as coisas sem m urm ura-
ções nem contendas” (Filipenses 2:14).
É fato real que os m urm uradores nunca
estão satisfeitos. Ainda que o serviço tenha
sido muito bem feito, sempre encontrarão
falhas. Nada lhes dá contentamento.
Em geral, os que estão dispostos a julgar
precipitadamente, carregam consigo a peno
sa morosidade de aprovar o que os outros
fazem. Preferem reprovar sempre, aprovar
nunca!
Lembra-se do capítulo doze de Números?
Moisés, o líder espiritual de Israel, é duramen
te criticado pelo fato de ter tomado um a mu
lh e r e tío p e co m o esp o sa. Tal situ a çã o
provocou um mal-estar entre seus irmãos
Arão e Miriã, que tam bém eram auxiliares
diretos do grande líder. Não se sabe com m ui
ta precisão o porquê de tam anho constrangi
m ento de seus irmãos mais velhos, nesta
questão (preconceito racial?).
O certo é que o julgamento precipitado de
Arão e Miriã não atingiu apenas a pessoa de
Moisés, mas principalmente a autoridade que
Éfácil dividir! 63
Deus havia delegado a esse líder. Se analisar
mos o contexto histórico-jurídico da época,
concluiremos que não havia lei que proibisse
Moisés de desposar aquela estrangeira.
Observe, porém, a descrição do hom em de
Deus: “Moisés era hom em m uito m anso,
mais do que todos os homens que havia na
terra.” (Números 12:3). Ele não se apressou
em buscar argumentos para sua defesa, sim
plesmente se calou.
De fato, se na ânsia de salvaguardarmos
nossa reputação, revidarmos imediatamente
à critica que nos é dirigida, causaremos maior
im pacto ainda nas relações interpessoais.
Grande parte dos julgam entos teria suas for
ças diminuídas, se respondéssemos a tais
afrontas com tem peram ento dócil e compas
sivo. Senão, na luta pela defesa dos nossos
direitos, o coração se tornará insensível e o
espírito amargoso, a tal ponto que Cristo já
não mais terá influência em nós. Então, desa
parecerá a unidade!
Devido à m urm uração de Arão e Miriã,
Israel teve que se deter em Hazerote por sete
dias (Números 12:15), até que Miriã cumpris
se os dias de purificação de lepra (“prêm io” à
sua crítica descaridosa!). É inegável, pois, que
aqueles que m ergulham perdidamente nas
águas barrentas da m urm uração sempre de-
terão o avanço da igreja.
Não caia na cisterna dos boatos condená
veis. Saiba, contritamente, transform ar quei
xas e censuras em atitude de compreensão e
64 Para que todos sejam um
ajuda. Vamos, supere a crítica! Desarme os
julgamentos precipitados com um espírito
afável e genuinamente manso!
Capítulo VI
OS SETE LAÇOS DA
UNIDADE
*
confortador saber que a despeito da
Quinto laço: um a só fé
A comunhão entre os irmãos tornar-se-ia
um ideal inatingível não fosse o efeito desta
“um a só fé” (v. 5). Paulo refere-se à um a co
m um e positiva crença em Jesus Cristo.
Da igreja primitiva é dito que “todos os que
criam estavam juntos, e tinham tudo em co
m um ” (Atos 2:44); note-se que a comunhão
existente entre os primeiros conversos ao cris
tianismo acontecia entre “os que criam ”. Por
isso se compreende que, quando entregamos
nossa vida ao Senhor Jesus, tornamo-nos par
70 Para que todos sejam um
te de um grupo que possui um a única fé; isto
é, de um povo que crê de um a com um manei
ra.
Da m esm a forma que não podemos aproxi
mar-nos de Deus sem o aval da fé, será infru
tífera a tentativa de unir-nos ao Corpo sem fé.
Antes de tudo, somos um a família de fé!
Fé, nas Escrituras, revela diferenciadas sig
nificações, duas das quais estão diretamente
relacionadas com a vida cristã comunitária.
Vejamos, primeiro, aquela fé que nos condu
ziu à regeneração; se bem que esteja vincula
da àquilo que, conscientemente cremos, não
é apenas um credo doutrinário com um , mas
um a fé que nos permitiu chegar ao conheci
mento de Cristo e confessá-lo como nosso
Salvador e Senhor.
Numa outra ótica dispomos da fé funcio
nal, que tem um a dupla finalidade: sustentar-
nos no presente e garantir-nos a perpetuidade
da vida com Deus.
Compete-nos exercitar essa confiança cole
tiva, dirigida ao Senhor, para que nossa uni
dade p e rm a n e ç a fo rte m e n te a lice rça d a
contra os embates da vida em conjunto; é
aquilo que os romanos são aconselhados a
fazer: consolar e serem consolados pela fé
m útua (Romanos 1:12).
Enquanto a incredulidade se interpõe en
tre nós e nossos irmãos, a fé enriquece subli
m em ente nossa vida com unitária. O que
ocorreu com os discípulos no Getsêmani, de
veria servir-nos de lição contínua: foram es
Os sete laços da unidade 71
palhados porque trocaram a fé pelo tem or
(João 16:32). É evidente, pois, que um a atmos
fera fraternal carregada de dúvidas será sem
pre terra fértil para desavenças e confusão.
PRÁTICAS
REVOLUCIONÁRIAS
A prática da consolação
O consolador é alguém que se aproxima de
outrem com u m coração cheio de estímulo.
76 Para que todos sejam um
Consolar é dar coragem a um irmão de jorna
da, ante circunstâncias aflitivas ou desanima-
doras.
“Consoleis os de pouco ânimo, sustenteis
os fracos, e sejais pacientes para com todos”
(1 Tessalonicenses 5:14b), foi o que rogou
Paulo aos irm ãos de Tessalônica. Ao cristão
cabe, sobretudo, a iniciativa de ir ao encon
tro daqueles que estão à espera de um a ação
consoladora. A m útua assistência, quer em
palavras, quer em atitudes concretas de con
solação, pode prodigiosam ente levantar o
caído, fortalecer o fraco, aliviar o sobrecarre
gado, anim ar o abatido, am parar o que su
cumbe.
A prática da consolação, traduzida num rela
cionamento de apoio e estímulo mútuos, dá-nos
vida fraternal robustecida, além de encoraja
m ento recíproco no caminho do Senhor.
A prática do conselho
Eis um a das mais importantes razões da
existência da igreja local, na qualidade de
grupo corporativo: o conselho mútuo. Numa
de suas exortações ao am or fraterno o apósto
lo Paulo ordena: “A palavra de Cristo habite
em vós abundantemente, em toda a sabedo
ria, ensinando-vos e admoestando-vos uns
aos outros” (Colossenses 3:16a); isso, um a vez
mais, reafirm a o propósito que deve perm ear
o envolvimento entre os irmãos: a prom oção
e o crescimento, através do compartilhar soli
dário de conselhos e experiências.
Práticas revolucionárias 77
O conselho, naturalm ente, não consiste
apenas de palavras afáveis. Haverá situações
em que se fará necessário o uso da exortação,
particularm ente quando isto servir para des
viar o irmão do erro, como bem adverte o
escritor aos Hebreus: “Exortai-vos uns aos ou
tros todos os dias, durante o tem po que se
cham a Hoje, para que nenhum de vós se en
dureça pelo engano do pecado” (Hebreus
3:13).
Ainda assim, em nossas palavras deve sem
pre prevalecer um espírito cortês e agradável,
medida que, com beleza poética, recomendou
Salomão: “O óleo e o perfume alegram o cora
ção, e a doçura do amigo vem do seu conselho”
(Provérbios 27:9).
Que Deus nos faça sábios conselheiros!
A prática da edificação
“Pelo que exortai-vos uns aos outros, e edi-
ficai-vos uns aos outros, como tam bém estais
fazendo (1 Tessalonicenses 5:11). Como edifi-
car e ser edificado num a vida comunitária?
Existem pelo menos duas maneiras de viven-
ciarmos um a edificação recíproca.
Por um lado, temos o exercício da confissão
m útua: “confessai as vossas culpas uns aos
outros” (Tiago 5:16a). Ainda que para muitos
isto tenha cheiro de confissão clerical, não é
por certo esta a intenção de Tiago. O apóstolo
nos fala da confissão entre irmãos, cujo obje
tivo é obter-se auxílio na oração. Aliás, quan
do param os para ouvir as falhas pessoais,
78 Para que todos sejam um
confessadas pelo próprio infrator, estamos
ajudando a levantar as mãos cansadas, e os
joelhos vacilantes... “para que o que é m anco
não se desvie inteiramente, antes seja cura
do” (Hebreus 12:12, 13).
Por outro lado, temos o ministério da inter-
cessão mútua: “e orai uns pelos outros, para
serdes curados. A oração de um justo é pode
rosa e eficaz” (Tiago 5:16b). Ao interceder,
levamos a carga do irm ão (Gênesis 6:2); lite
ralmente, tomamos parte do peso que está
sob seus ombros e compartilhamos do seu
fardo.
Portanto, confissão e intercessão estão es
treitam ente entrelaçadas na prática da edifi
cação. Esta parceria faz arder no peito um
relacionamento vibrante entre os irmãos.
Edificar o companheiro de jornada é reafir
m ar o nosso amor!
A prática da submissão
Não fora a submissão, seria impossível a
unidade de elementos tão divergentes em um
m esm o e único Corpo. Por isso, o Novo Testa
m ento atribui papel destacadíssimo à sujei
ção “no tem or de Cristo” (Efésios 5:21).
Submissão recíproca é um a interdepen
dência de amor; não um a sujeição indiscrimi
nada, m as um a disposição para valorizar,
antes de nossos próprios desejos tem porais, a
condição eterna do irmão.
Pedro nos alerta: “sede todos sujeitos uns
aos outros, e revesti-vos de humildade, por
Práticas revolucionárias 79
que Deus resiste aos soberbos, mas dá graça
aos humildes” (1 Pedro 5:5b). Nasce daí a ver
dade de que, removida a altivez, ter-se-á remo
vido indesejáveis conflitos e ressentimentos.
Além do que, Pedro, dotado de agudíssima
sensibilidade, faz-nos record ar, com este
mandam ento, a ceia no Cenáculo, quando
Jesus, cingindo-se com um a toalha, lavou os
pés dos discípulos. Ele quis, com isto, de
m onstrar o espírito ideal de submissão. Esta
sujeição recíproca, acionada pelo amor, e que
se exprime num a disposição altruística e vo
luntária em servir desprendidamente, não
apenas é um claríssimo atestado de nosso
com panheirism o e estim a fraternal, m as,
tam bém , é tudo de que precisamos para revo
lucionar o mundo! Se os de fora puderem
contemplar em nós um a submissão, em que
cada um considera os interesses do outro aci
m a dos seus próprios, certam ente ficarão de
sejosos de saber qual é o segredo.
A prática da m ansidão
Ser manso é, basicamente, subjugar tudo
que caracteriza a nossa índole obstinada, re
belde, teimosa e hostil, em proveito da co
munhão com o irmão.
Não deve passar despercebido que os man
sos, fazendo agudo contraste à arrogância, ao
insulto e à ameaça, são perpassados por um
ameno sopro de serenidade, qualidade eficaz
na convivência norm al com os defeitos e as
virtudes do semelhante.
80 Para que todos sejam um
Há, entre outros, um texto sagrado precio
síssimo sobre este assunto: “Quem entre vós
é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom
procedimento as suas obras em mansidão de
sabedoria” (Tiago 3:13); o que esta passagem
traz a lume é a notoriedade da presença da
mansidão em nossas palavras e, principal
mente, obras.
Os irmãos de difícil convivência são inevi
táveis! Você pode escolher um amigo, mas
não um irmão! Porém, se atentarmos para a
prática da m ansidão poderem os respirar,
sem m uita dificuldade, o ar puro da unidade
cristã.
Praticar a mansidão é rum ar definitiva
m ente para um nível extraordinário de rela
ções fraternas.
A prática da m isericórdia
Entenda-se misericórdia como sendo a ca
pacidade de se ter um profundo interesse na
felicidade alheia. Pertinentemente, a miseri
córdia a que o Mestre faz referência no Ser
m ão da M ontanha registrado por Lucas:
“Sede pois misericordiosos, como tam bém
vosso Pai é misericordioso” (Lucas 6:36), cor
responde a um a disposição amorosa que dá
diapasão à convivência de irmão com irmão.
Se alguém não trata o seu companheiro
com misericórdia, como pode esperar que
Deus use de misericórdia para com ele mes
mo? “Porque o juízo será sem misericórdia
Práticas revolucionárias 81
sobre aquele que não usou de m isericórdia”
(Tiago 2:13a).
Exercer piedade significa pleitear pelo ir
m ão vacilante; não que devamos tolerar o
erro, mas sim, que é nossa obrigação promo
ver a restauração daquele que errou; em vez
de explorar suas falhas, precisamos suportá-
las amorosa e fraternalmente a fim de recon
duzir nosso irmão errante à com unhão com
Deus. Destarte, se algum m embro for lesado
todo o Corpo deve estar atento.
Judas, por sua vez, ordena que sejamos
compassivos e piedosos com “alguns, que es
tão duvidosos” (Judas 22b); como vemos, tam
bém a misericórdia se confirma na atitude de
procurarm os eliminar as dúvidas e preocupa
ções que atorm entam morm ente cristãos m e
nos esclarecidos.
Nossa unidade precisa ser sempre a expres
são de nossa misericórdia, inserida na amabi-
lidade com que tratam os os outros. O profeta
Zacarias, revelando ao povo a vontade de
Deus, declarou: “Assim falou o Senhor dos
Exércitos, dizendo: Executai justiça verdadei
ra, m ostrai bondade e misericórdia cada um
a seu irm ão” (Zacarias 7:9). É isto que nos fará
fortes no Senhor!
Sejamos, a cada novo dia, um instrumento
de misericórdia de Deus entre os irmãos.
A prática da hospitalidade
À sombra da hospitalidade, o evangelho
82 Para que todos sejam um
obteve grande prosperidade nos seus primei
ros tempos.
Com freqüência, encontramos nas epísto
las algum tipo de referência a essa prática; há,
entretanto, um texto indispensável, porque
considera não apenas o ato de receber alguém
em casa, conforme a praxe cristã primitiva,
mas um envolvimento social em benefício da
vida comunitária. Refiro-me ao que foi dito
aos Hebreus: “Não vos esqueçais da hospitali
dade, por ela alguns, não o sabendo, hospeda
ram anjos” (Hebreus 13:2).
Ser hospitaleiro im plica num gesto de
am or intenso que dá e que se doa a favor dos
irmãos. Por que não estarmos tam bém uni
dos reciprocamente por laços acolhedores? O
desprezo desta prática cristã não se coaduna,
em circunstância alguma, com o espírito da
fraternidade.
Admiro o exemplo abnegado de Lídia; gra
ve bem o que ela disse a Paulo e aos seus
companheiros de viagem: “Se haveis julgado
que eu seja fiel ao Senhor, entrai em m inha
casa, e ficai ali. E nos constrangeu a isso” (Atos
16:15b). A nova convertida abriu as portas de
sua casa àqueles missionários que, vindos a
Filipos, revelaram-lhe as verdades do evange
lho.
Não parece ser esta um a postura com um
em nossos dias, mas se quisermos encontrar
a comunhão bíblica, tem os que nos prender
a atitudes iguais a esta, de distinta generosi
dade.
Práticas revolucionárias 83
Ainda temos que aprender muito sobre tais
práticas, algumas até já adormecidas. Isso não
significa, porém, que modificações revolucio
nárias não possam ter lugar a partir do pouco
que sabemos.
Capítulo VIII
O QUE TEMOS EM
COMUM
A m esm a cidadania
Somos um povo vinculado aos céus e, por
fazer parte das fileiras dos cidadãos celestiais,
vivemos num a dimensão não terrenal: “Mas
nós, segundo a sua promessa, aguardamos
86 Para que todos sejam um
novos céus e nova terra, nos quais habita a
justiça” (2 Pedro 3:13).
Repare-se ainda que há um a insistente
preocupação nos escritores neotestamentá-
rios para que nossas inclinações se fixem lá,
nessa nova cidade: “Pensai nas coisas que são
de cima, e não nas que são da terra” (Colos-
senses 3:2); ou então, declarações veementes
como esta, que não deixam dúvidas quanto a
que “a nossa cidade está nos céus” (Filipenses
3:20).
No dizer de H. H. Halley: “Andamos aqui,
mas nosso coração está ali”; por isso, não
deveriamos ressentir-nos quando o mundo
nos marginaliza: não somente somos estra
nhos ao seu convívio, mas tam bém fazemos
ferrenha oposição às suas práticas.
Tendo rejeitado a cidadania m undana im
porta-nos, então, buscar, diligentemente, a
cidade cujos fundamentos são inabaláveis.
A m esm a peregrinação
Considerando-se que nossa perm anência
neste m undo é transitória, embora im portan
te e divinamente planejada, cabe-nos, na con
dição de peregrinos, m archar juntos para a
pátria dos justificados pelo sangue do Cordei
ro.
A propósito, o term o paróquia, em nossa
língua, procede do grego “parókis”, que quer
dizer “assembléia de estrangeiros”, o que vem
confirmar que nossa residência nesta terra é
provisória. Assim, observada esta condição
O que temos em comum 87
ineludível, é-nos imperativo deixar para trás
tudo aquilo quanto se nos apresenta nos esca-
ninhos da efemeridade. Aliás, chega a ser ri
dículo ver cristãos vivendo sobrecarregados
de preocupações e superfluidades como se
nossa existência terrena fosse eterna. E não é
só. Seremos igualmente insensatos se o nosso
relacionamento com os demais peregrinos
for praticam ente nulo. Dá-nos a impressão de
que se poderá ter um cantinho hermetica-
m ente isolado lá na glória.
Nossa peregrinção deve estar toda ponti
lhada de m arcos de solidariedade vital. Por
mais que forasteiros, formamos um a família.
A m esm a corrida
Estamos num a m aratona: o curso é a vida
cristã, o alvo são as mansões celestiais e o
prêm io, superior às nossas expectativas, é
conquistado por cooperação!
O fato de que não correm os sozinhos é de
significativa inspiração; a carreira é com um a
todos quantos pretendem chegar às seguras
paragens celestiais. Por mais que estejamos
correndo em épocas distintas daquelas do
passado, todos correm os na m esm a trilha,
rumo à presença perene de Deus.
É bem possível, tam bém , que ao longo des
te percurso existam corredores fadigados à
espera de um alento, porquanto cabe a cada
participante ser um entusiasmador do seu
companheiro de corrida.
A m esm a herança
Um destino com um nos envolve! Assim
como Canaã era um a possessão coletiva para
os israelitas, a herança eterna reservada por
Deus para os eleitos tam bém o é.
À luz das Escrituras tem os que Cristo nos
gerou “para um a herança incorruptível, incon-
taminável, e imarcescível, guardada nos céus
para vós” (1 Pedro 1:4); veja-se o envolvente
“vós”. Por isso, erram os quando idealizamos
um a herança particular. A natureza da nossa
herança é coletiva! O Corpo, na sua totalida
90 Para que todos sejam um
de, se acha vocacionado para herdar as rique
zas da eterna glória.
Esta herança, além de ser um vínculo de
união com os irmãos no presente, aponta pa
ra o futuro de nossa unidade: a participação
com um da glória reservada aos remidos!
A herança que nos aguarda, fruto da m ente
divina, será surpreendente! Tinha razão o
saudoso com positor de m úsica evangélica
brasileira, Sérgio Pimenta (que já desfruta
hoje, em parte, desta herança celeste), em
dizer:
“Lá está o meu tesouro,
Lá onde não há choro,
Onde todos cantarem os juntos
Hinos de louvor ao Senhor”.
Capítulo IX
COMUNHÃO SEM
MÁSCARAS
COMUNHÃO E
PARTILHA
DIVERSIDADE NA
UNIDADE
IGREJA, UMA
FAMÍLIA QUE AMA
A Cristo!
O Credo Apostólico define-a como “a comu
nhão dos santos”. A verdade é: o conceito
pessoal que temos da igreja de Cristo determi
nará o nosso relacionamento com os m em
bros do Corpo. Em sua plenitude, a igreja de
Cristo é a junção de vidas conquistadas pelo
Calvário. Entendemo-la, tam bém , como um a
associação multicultural sem paralelo. Repu
tá-la, pois, como m era instituição religiosa é
duvidar do propósito eterno de Deus, que a
elegeu antes da fundação do m undo, a fim de
que, através dela, se completasse gloriosa
m ente o seu desígnio de plena unidade de
todas as coisas em Cristo. Isso, precisamente,
ensinou o apóstolo Paulo: “Para que agora,
pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus
110 Para que todos sejam um
seja conhecida dos principados e potestades
nos céus, segundo o eterno propósito que fez
em Cristo Jesus nosso Senhor” (Efésios 3:10,
11).
No entanto, embora a igreja de Cristo seja
um a só, ela é representada por assembléias
locais. Prova disso é que das cento e quinze
referências contidas no Novo Testamento,
inerentes à igreja, mais de noventa dizem
respeito às igrejas locais. Desse modo, dare
mos ênfase neste capítulo, não à igreja no seu
sentido amplo, mas no aspecto microcósmi-
co, a saber, a igreja local como manifestação
concreta da Igreja Universal.
Aliás, não se pode excluir um a comunidade
geograficamente do Corpo inteiro de salvos
sobre a Terra; nem se deve pressupor que
esta, por apresentar um a estrutura aparente
mente falha, não represente a igreja de Cristo.
Há relação vital entre um a e outra. Assim,
antes de censurar um a igreja em particular,
quem sabe pelo simples prazer de m urm urar,
é necessário ponderar que ela faz parte inte
grante do program a unificador de Deus.
Mas, o que entendemos por igreja local? É
aquela que se reúne freqüentemente num
mesmo lugar, sob a bênção do Senhor Jesus e
da sua Palavra, servindo como um centro
irradiador de vida, graça e paz.
Dever-se-ia, contudo, cham ar a atenção pa
ra o fato de que, a nosso ver, um a das grandes
dificuldades das igrejas atuais tem sido o es
Igreja, uma fam üia que ama 111
quecimento do seu importantíssimo ministé
rio na unidade dos salvos.
Ora, justamente por causa desse involuntá
rio (ou voluntário) esquecimento, muitos cris
tãos vivem como se não pertencessem a um a
fam ília que, n ecessariam en te, deveriam
amar.
A igreja de Cristo é um a fraternidade! Basta
com preender que desde os seus primeiros
passos esta foi a sua identidade. Lucas descre
ve com exatidão a comunhão que envolvia os
cristãos primitivos ao registrar que “era um o
coração e a alma da multidão dos que criam ”
(Atos 4:32a). Todavia, é evidente que a unida
de cristã não pode ficar presa à sua gênese
histórica. É necessário senti-la efusivamente
em nossas igrejas hoje.
O cristianismo nunca foi um movimento
isolado! Bruce L. Shelley diz com razão: “A
salvação plena sempre significa vida na famí
lia de Deus, a igreja de Jesus Cristo”. (Bruce L.
Shelley, A Igreja: o Povo de Deus, São Paulo,
Edições Vida Nova, 1984, p. 42.)
E a despeito de nenhuma igreja ter poder
em si m esm a para produzir comunhão frater
nal (se assim fosse, freqüentá-la seria o bastan
te para ser parte do Corpo), percebe-se que
este fato não diminui a função das igrejas.
Desde que ligadas ao Corpo de Cristo, as igre
jas locais são instrumentos concretizadores
do anseio unificador existente no coração di
vino. Evidentemente, é nas assembléias lo
cais que a comunhão tem o seu campo de
112 Para que todos sejam um
ação; nelas, o mundo deve conhecer um a uni
dade que ignora barreiras geográficas, raciais
ou políticas.
Aqui tam bém irrompe outra verdade: do
mesmo modo que um a criança necessita de
um a família para crescer, o cristão precisa da
igreja para desenvolver-se com equilíbrio e
harmonia. E à igreja local cabe sustentar um a
comunhão regular, criando e promovendo
oportunidades de relações estáveis e de enco
rajamento mútuo. Afinal, se não encontrar
m os na com unidade cristã um lu gar de
satisfatório relacionamento com os irmãos,
onde o encontraremos?
Uma breve reflexão em torno da prontidão
em se reunir poderá ajudar-nos a m elhor
com preender a im portância da igreja local.
O congraçamento com os companheiros de
fé não pode, em hipótese alguma, ser relegado
a um plano secundário. A igreja que freqüenta-
mos merece fiel dedicação. Possivelmente, te
nha pensado nisso o escritor aos Hebreus ao
advertir: “Não deixando a nossa congregação,
como é costume de alguns, antes admoestan
do-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto
vedes que se vai aproximando aquele dia”
(Hebreus 10:25). É de notar, em face do que o
autor desta carta postula, que a falta de fre
quência aos cultos estará furtando-nos um a
rara oportunidade de aconselhamentos e es
tímulos mútuos. A adoração corporativa tra
duz, sobretudo, a nossa participação em um a
entidade exclusiva —o Corpo de Cristo. Desse
Igreja, uma famüia que ama 113
caráter sobrenatural provém a possibilidade
de nos encontrarm os não só com o Senhor,
mas tam bém com os irmãos que nele foram
gerados. Que mais se pode acrescentar que
não seja redundante? Talvez lem brar que o
pecador ficará m uito mais impressionado
com a comunhão que nos envolve do que com
qualquer outra atividade no culto que esta
mos celebrando a Deus. Aliás, não é desta
m aneira que levaremos o mundo a crer nas
boas novas do evangelho?
Logo, se queremos sentir mais amplamen
te a comunhão que envolve o Corpo de Cristo,
temos que rejeitar qualquer maquinação ecle
siástica que esteja a produzir igrejas afetiva
m ente m ortas, cujos m em bros se acham
perdidos num a alienante sensação de desam
paro. É imperioso, portanto, que nos empe
nhemos em tornar nossa igreja local numa
família que saiba viver, real e impetuosamen-
te, o am or em toda sua magnitude.
Capítulo XIII
A QUESTÃO
ECUMÊNICA
Conclusão
Nossa comunhão não foi hum anam ente
bosquejada, e tam pouco condicionada às li
mitações ou mutações dos tempos.
Deus a planejou inspirado na sua própria
perpetuidade. Seu porvir será um perfeito
relacionamento, livre de dissonâncias e res-
118 Para que todos sejam um
sentimentos, pois a presença m arcante de
Cristo fará de nossa união um magnífico elo
de am or e glória.
Mas, enquanto lá não chegarmos, que o
mundo contemple em nossa vida familiar
cristã um a unidade coesa, imutável e divina.
Vivamos, portanto, aqui e agora, um a in
tensa e fervorosa comunhão fraternal!