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EEB 453: Princípios de Aplicação Bíblica

Prof. Heber Carlos de Campos Júnior


Email: heber.campos@mackenzie.br

Aula 11: Uma Cosmovisão para Aplicar

As duas últimas aulas do curso (aulas 11 e 12) visam alertar-nos para o conhecimento
daqueles com quem nós falamos. É indubitável nossa necessidade de conhecer as Escrituras a
fim de pregar de forma saudável, mas não podemos menosprezar a importância de entendermos
os seres humanos para quem pregamos a fim de aplicarmos mais adequadamente a eles. Vamos
reconhecer que há coisas que todo ser humano tem em comum, mas há aspectos da situação de
uma igreja local que quando conhecida torna-se muito útil para a aplicação (especialmente
levando em consideração a especificidade da aplicação). Precisamos conhecer os problemas, os
desafios, os questionamentos, aquilo que está na conversa do povo e do membro da igreja. Não
estou falando de “usar o púlpito como trincheira”, quando pastores usam o púlpito para se
defenderem publicamente de ataques à sua pessoa ou ministério, ou momentos em que
erroneamente substituímos a exortação privada pela exortação pública. Estou me referindo ao
conhecimento das necessidades dos que estão sob nosso pastoreio (1 Pe 5.1-3) a fim de
respondermos aos seus questionamentos com a verdade de Deus. Se as cartas de Paulo
demonstram uma preocupação em responder a problemas específicos de cada igreja – não são
cartas 'gerais' escritas à Igreja de maneira mais ampla, mas lida com situações particulares e
distintas em Corinto, Galácia, Colossos e Tessalônica –, então existe uma necessidade de
conhecermos as particularidades dos nossos ouvintes regulares. Eis a importância da visitação e
do convívio com os membros da igreja.
No texto de Atos 17, Paulo prega para ouvintes diferentes, sempre trazendo a mesma
mensagem (Cristo e sua ressurreição), porém sem deixar de adequar ao nível de conhecimento
bíblico e à cosmovisão de cada ouvinte. O primeiro par de ouvintes (“os judeus e os gentios
piedosos”, v. 17) é muito diferente do segundo par (“filósofos epicureus e estóicos”, v. 18), pois
estes não possuíam uma cosmovisão judaico-cristã. Por isso, quando se dirige aos gregos no
Areópago não vemos Paulo citando o Antigo Testamento e a cultura judaica, como vemos nos
livros de Mateus e Hebreus. Pelo contrário, vemos o apóstolo fazendo a ponte com a cultura
grega ao citar seus poetas, além de apresentar toda a cosmovisão bíblica para então tratar de

1
Cristo e sua ressurreição. Nisso temos um exemplo de quem estava consciente dos seus ouvintes
e de como apresentar-lhes a mensagem.1
Para que nossa aplicação tenha a especificidade necessária, para que ela apresente a
praticidade do como fazê-lo, para que contemos a grande história com detalhes suficientes para
compreensão do ouvinte, para que apliquemos a lei devidamente ao coração do pecador
(aspectos vistos até a aula 10), é necessário que façamos uma "exegese" de nossos ouvintes.
Certos escritores se referem à essa habilidade de conhecer os ouvintes de 'exegese' porque
envolve um bom conhecimento do contexto cultural por parte do pregador. Mestres sensíveis ao
contexto do público conseguem perceber as grandes tendências culturais vigentes em nossos
dias (exegese cultural) assim como as microculturas das pessoas a quem serve.
Essa exegese, portanto, envolve tanto um conhecimento amplo que abrange várias
pessoas (perspectiva de sobrevoo que enxerga a situação macro) quanto um conhecimento
específico que atinge diferentes desafios dentre o público ouvinte (perspectiva de quem anda ao
lado outras, enxergando microssituações). Por isso, estas duas aulas defenderão que aplicação
está totalmente relacionada a dois conhecimentos acerca do público que nos ouve. Primeiro,
precisamos conhecer o nosso tempo, as cosmovisões vigentes, o espírito da época em que tanto
eu como o ouvinte vivemos (aula 11). Em segundo lugar, precisamos conhecer os tipos
diferentes de ouvintes que nós temos (aula 12).
Entretanto, antes de trabalhar a necessidade de conhecer o nosso tempo, é necessário
fazer um alerta.

1. Obcecados por contextualização


Conhecer o nosso tempo é uma preocupação de pregadores mais antigos assim como de
pregadores bem atuais. Antes de explorarmos alguns aspectos de nossa época, faz-se necessário
um alerta. Tem havido uma preocupação exagerada com a ideia de adaptar a mensagem aos
nossos ouvintes. Sofremos com a tendência atual de preocuparmo-nos com o cliente, reflexo da
ênfase moderna no marketing. Se no início do século 20, o renomado estudioso do Novo
Testamento Rudolf Bultmann defendeu a necessidade de “desmitologizar” o evangelho (i.e.
retirar o elemento sobrenatural) a fim de se tornar crível ao homem moderno e sua mentalidade
científica, em nossos dias temos ouvido a proposta de outras adaptações. Frequentemente

1
Albert Mohler utiliza a mesma passagem de Atos 17 para apresentar um modelo de pregação apologética que, de acordo
com ele, é tão necessária em tempos pós-modernos que começa com um espírito instigado (v. 16), proclama o evangelho (v.
17), pressupõe um contexto de confusão espiritual (v. 18-21), se dirige a uma fome espiritual (v. 22-23), apresenta o ser de
Deus (v. 24-28), confronta o erro (v. 29), e afirma a totalidade do propósito salvífico de Deus (v. 30-31). MOHLER, Deus
não está em Silêncio, p. 134-142.

2
ouvimos ‘estudos científicos’ que dizem que o ser humano não consegue prestar atenção em um
discurso mais do que 20 ou 30 minutos e, por isso, sermão não pode passar desse tempo; ou que
o ser humano moderno precisa da tecnologia de ponta para aprender, do contrário a instituição
igreja perderá a sua eficácia e cairá no anonimato; ou que temos que usar a linguagem de cada
‘tribo’ se quisermos que o evangelho seja ouvido por aquela tribo urbana.
Veja, não sou contra sermões sucintos (acho inclusive que há certa prudência em parar
antes do público cansar), nem contra o uso de tecnologia (sou favorável ao seu uso, pois sei que
é uma ótima ferramenta para facilitar a aprendizagem), nem de usarmos uma linguagem
compreensível às pessoas. Entretanto, a ideia de adaptar a mensagem ao ouvinte – muitas vezes
chamada de ‘contextualização’ – tem sido dogmatizada a tal ponto que a questão virou uma
febre em meios teológicos. Como a sociedade contemporânea demonstra maior sensibilidade às
diversidades (sócio-culturais, religiosas, políticas), por vezes perdemos de vista aquilo que nos
une.
Por isso, essa febre por contextualização falha em um ponto crucial: as necessidades
básicas do ser humano são as mesmas, independente de época ou status social. O evangelho
supre as necessidades do homem antigo e do homem moderno, do homem do campo e do
cientista. Essa é uma verdade muito confortadora quando a maioria de nós experimenta pregar e
ensinar a uma congregação mista, com pessoas de nível social e educacional muito distintos. Na
verdade, essa é a grande beleza da igreja! Unida na fé (Ef 4.4-6), as diferentes classes sociais são
atingidas pela mesma verdade transformadora (Gl 3.26-29). Não precisamos conhecer
empiricamente todos os pecados a fim de compreender a dinâmica do pecado, nem precisamos
conhecer os desafios específicos de cada profissão representada em nossa igreja para que o
evangelho supra as necessidades mais profundas de cada trabalhador.2
Ainda que seja útil conhecer o que se passa ao nosso redor (você já deve ter ouvido a
antiga ilustração de pregar com uma Bíblia na mão e o jornal na outra), devemos ter o cuidado
de não nos tornarmos obcecados por informação – um alerta muito necessário para a geração da
internet. Antes do que conhecer um pouco de tudo, é mais útil que um pregador conheça muito
de uma coisa só: a complexidade do coração humano. É aqui que livros de aconselhamento
bíblico de autores como Paul Tripp, Edward Welch e David Powlison, dentre outros, servem
como ótimas ferramentas. Mas existem outras ferramentas homiléticas que lidam com a procura
do elemento de realidade na própria Escritura que conecta com o público contemporâneo, a
despeito das diferenças de tempo e cultura.3

2
LLOYD-JONES, Pregação e Pregadores, p. 96-98.
3
Zach Eswine gasta tempo em seu livro explicando o que chama de "Contexto da Realidade", que seria identificar
ambientes de vida que o público atual tem em comum com o texto bíblico. Essas situações compartilhadas nos ensinam
sobre a natureza da realidade (sofrimento, perigos, tradição, relacionamentos, dinheiro, festas, virtudes, etc.), ainda que a

3
Isso significa que há desafios comuns a todas as eras no que tange a pregação. A
mensagem cristã sempre será distinta da que o ser humano está acostumado a ouvir. Lloyd-Jones
escreve:
“A resposta ao argumento que as pessoas desta era pós-cristã não entendem termos como
‘justificação’, ‘santificação’ e ‘glorificação’ consiste, simplesmente, em fazer-se uma
outra pergunta. Quando foi que as pessoas os entenderam? Quando foi que o incrédulo
compreendeu essa linguagem? A resposta é: Nunca! Esses termos são peculiares ao
Evangelho, pertencem-lhe de modo especial. Nossa tarefa, na posição de pregadores, é
mostrar que nosso Evangelho é essencialmente diferente, e que não estamos falando
sobre questões comuns.”4
Portanto, a preocupação com o nosso tempo não deve se perder em obsessão pela última
informação, pela última notícia, como se a mensagem do evangelho que carregamos só fosse
fazer sentido se formos extremamente conectados com a sociedade atual. Essa obsessão é típica
do nosso tempo e precisa ser descartada. Missionários investem anos na tentativa de
compreender a cultura a qual estão evangelizando, mas não é verdade que o evangelho só fará
sentido no final, quando eles entenderem tudo da cultura alheia. O evangelho é transcultural e
algumas de suas expressões são, por elas mesmas, facilmente traduzíveis para qualquer cultura
pois trabalham com aquilo que é comum ao ser humano.

2. Conhecendo o nosso tempo


Tendo feito esse alerta, agora voltamo-nos para a necessidade de conhecer o nosso tempo.
Como vivemos numa era mais consciente da subjetividade do intérprete da Escritura (a
linguagem teológica de "horizontes hermenêuticos" ou "exegese cultural" testificam dessa
percepção mais recente), podemos falar das nossas falhas de percepção como sendo ‘pontos
cegos’. Para um pregador/mestre da Palavra, um ponto cego pode ser certa ignorância de alguma
área da teologia (apologética, filosofia, línguas bíblicas, ou teologia sistemática) ou ignorância
da nossa tradição teológica (quais são as diferentes expressões da tradição reformada sobre um
assunto?), e tal falta de consciência teológica/histórica não desqualifica um pregador ou
professor, mas pode afetar a forma como ele comunica as Escrituras e como aborda certos
debates contemporâneos. Apolo era pregador de muitas qualidades, mas tinha um ponto cego, e
precisou de orientação para sanar essa deficiência e se tornar instrumento ainda mais poderoso

maneira de experimentá-las seja um pouco diferente. À medida que enxergamos tanto belezas quanto feiuras ao nosso
redor, percebemos os ecos da Criação assim como os ecos da Queda que permeiam a história desde tempos bíblicos até os
nossos dias. Essa ligação entre o texto sagrado e o ouvinte torna a aplicação muito vívida ao que se enxerga no texto. Cf.
ESWINE, Zack. Preaching to a Post-Everything World: Crafting Biblical Sermons That Connect with Our Culture (Grand
Rapids: Baker Books, 2008), p. 23-59.
4
LLOYD-JONES, Pregação e Pregadores, p. 95.

4
da Palavra (At 18.24-28). Portanto, tornar-se ciente de alguns pontos cegos na sua própria vida e
procurar saná-los pode prover ótimos insights ao público que te ouve.
Outro tipo de ponto cego está relacionado com as premissas culturais que pessoas
assumem sem perceber (lentes hermenêuticas), levando-as a tomar certas posturas sem
ponderada reflexão bíblica.5 Pode ser que Deus nos leve a perceber atitudes que são
pecaminosas: o temor de homens que nos leva a 'caprichar' nas informações do nosso currículo
para que as pessoas nos vejam pelo tanto que já fizemos (isso acontece no mundo profissional e
acadêmico)6 ou a busca por segurança que leva jovens adultos a postergar anos de vida de
trabalho em busca do concurso ideal para atingirem 'estabilidade profissional' (a estabilidade se
torna mais importante do que o serviço prestado ao próximo). Pode ser que Deus nos leve a
perceber atitudes que não são erradas em si, mas não são sábias: qual é a lista de prioridade que
me leva a decidir mudar de cidade ou de país: segurança pública, prosperidade material e
tranquilidade de vida (motivações autocentradas) ou utilidade dos meus dons e uma boa igreja
para a família (motivações centradas no próximo e em Deus)?7 Ainda que nós também
estejamos inseridos na cultura que nos cerca, e estejamos sujeitos a alguns desses pontos cegos,
é nosso papel como mestres da Escritura termos a sensibilidade de enxergar idolatrias culturais e
tendências pecaminosas ou ao menos imprudentes, assim como os profetas do Antigo
Testamento foram críticos de sua própria cultura judaica. Alguns autores ilustram essa
percepção cultural afiada (ex: David F. Wells). Vamos dar dois exemplos.
No livro O Deus Amordaçado, de Donald A. Carson (Vida Nova, 2013), vemos que o
autor se preocupa em socorrer aqueles que não conseguem acompanhar uma cultura que muda
tão rapidamente. Lá ele fala do pluralismo filosófico que desafia o nosso direito de evangelizar,
pois implica em “impor” a fé de um sobre outro. Vivemos em tempos nos quais o diálogo é
bem-vindo, mas a proclamação não o é. Outro problema abordado por Carson é a espiritualidade
em voga, mas acompanhada de analfabetismo bíblico. Isto é, pessoas que falam de Deus ou de
Jesus, mas não conhecem o mínimo sequer da história da redenção. Diante desses dilemas e
outros, Carson propõe algumas coisas das quais já temos falado: a necessidade de uma teologia
bíblica (a estrutura para inserir o evangelho), a necessidade de proclamação ousada, etc.

5
Existem bons livros que lidam com a nossa cosmovisão distorcendo nossa leitura das Escrituras. Cf. E. Randolph Richards e
Brandon J. O'Brien, Misreading Scripture with Western Eyes: Removing Cultural Blinders to Better Understand the Bible
(Downers Grove, IL: IVP, 2012). No entanto, minha ênfase se refere a tomamos certas atitudes sem a devida reflexão
bíblica, quando nossa cosmovisão fortemente influenciada por paganismos culturais nos leva a agir sem testar nossas
convicções com os princípios da Palavra. Cf. ESWINE, Preaching to a Post-Everything World, p. 181-266.
6
Para o tema de 'temor de homens' veja o livro de Edward Welch, Quando as Pessoas são Grandes e Deus é Pequeno.
7
Para ver esse exemplo melhor explicado, veja o capítulo 5 do livro Tomando Decisões Segundo a Vontade de Deus (São
José dos Campos: Fiel, 2013), de minha autoria.

5
Essas considerações também se conectam a uma forma de apresentação da mensagem
que leve em consideração a cultura dos ouvintes. Um autor que tem se mostrado bastante
sensível a isso é Timothy Keller. Em seu curso sobre ‘Pregação do Evangelho no Mundo Pós-
Moderno’ ele ilustra essa apresentação afinada com o contexto de Nova Iorque, onde ele
pastoreou por mais de três décadas. Ele diz ser importante apresentar o evangelho como uma
terceira alternativa, diferente da irreligiosidade e da religiosidade. Isso se assemelha aos opostos
do Novo Testamento: os fariseus legalistas e os liberais saduceus. “Saduceus liberais não creem
em um Deus de ira que precisa ser propiciado, mas fariseus legalistas não creem de fato em um
Deus cuja ira foi propiciada.”8 O moralista/religioso enfatiza a verdade acima da graça, pois diz
que temos que obedecer a verdade para sermos salvos. O relativista/irreligioso enfatiza a graça
acima da verdade, pois diz que todos somos aceitos por Deus e cada um decide o que é
verdadeiro para si. No fundo, diz Keller, ambos são a mesma coisa, pois são estratégias
diferentes para uma autossalvação. Nosso Salvador não optou por nenhum dos dois grupos, pois
ele habitou entre nós cheio de graça e de verdade (Jo 1.14). “O verdadeiro evangelho nos dá um
Deus muito mais santo do que um moralista consegue suportar (sendo que sua moralidade é
apenas um trapo de imundícia perante Ele) e muito mais amoroso do que um relativista pode
imaginar (sendo que o seu amor lhe custou muito).”9 Por isso, Keller continua, quando
desconstruímos o farisaísmo, nós surpreendemos os descrentes ou antinomistas que sempre
identificaram o cristianismo com o moralismo. A proposta do evangelho não é o que os
descrentes entendem por religião, mas algo totalmente contrastante.
No seu livro Pregação, Tim Keller apela para uma comunicação contextualizada que
alcance a cultura. Não precisamos pensar que fidelidade bíblica exija exposição do texto antes
do que responder aos dilemas existenciais de nossos dias. Uma pregação que se adapte à cultura
e que confronte a cultura não são mutuamente excludentes.10 Paulo em Atenas (At 17) tanto se
adaptou quanto confrontou as crenças de seus ouvintes. A adaptação ganha os ouvidos e
responde diretamente às perguntas que estão fazendo enquanto a confrontação reformula nossa
leitura do mundo e propõe uma salvação que nós não poderíamos cunhar.11 Quando conhecemos
as narrativas culturais por trás de muitos valores e práticas adotadas em nossos dias,12 estamos

8
KELLER, Timothy. Preaching the Gospel in a Post-Modern World, p. 71. In: http://pt.scribd.com/doc/158837604/Keller-on-
Preaching-Syllabus
9
KELLER, Preaching the Gospel in a Post-Modern World, p. 72.
10
KELLER, Pregação, p. 119.
11
Keller propõe seis maneiras de atingir a cultura: utilizar vocabulário acessível, fundamentar com autoridades respeitadas
na sociedade, demonstrar sensibilidade quanto a dúvidas e objeções em seus ouvintes, expor as narrativas culturais por
detrás de suas crenças, apresentar as ofertas do evangelho às contradições nas cosmovisões alheias, convocar a uma
motivação evangélica. KELLER, Pregação, p. 124-140.
12
Para exemplos de narrativas dominantes no ocidente, como interagir com elas e confrontá-las, veja KELLER, Pregação, p.
159-186.

6
fazendo a ponte (adaptação) ao mesmo tempo em que estamos reformulando cosmovisões
(confrontação).
Carson e Keller são apenas dois autores dentre outros que são preocupados em
compreender o nosso tempo e falar em uma linguagem que seja compreensível e desperte a
curiosidade do ouvinte. Eles nos lembram como é útil que conheçamos a cosmovisão por trás da
cultura vigente e destacar os pontos cegos de nossa cultura. Quando conhecemos as lentes
utilizadas pela cultura de forma geral, conseguiremos aplicar a pessoas mesmo não as
conhecendo pessoalmente. Quando um pregador conhece narrativas culturais que sublinham a
cultura dominante, o que ele fala numa parte do país vale na outra (às vezes até
internacionalmente). Conhecer os dilemas próprios da humanidade também nos permite aplicar
em diferentes lugares; os temores, anseios, sonhos comuns são bons alvos de nossa aplicação.

Conclusão
Para que nos aproximemos de homens como esses na habilidade de atingir as pessoas
onde elas estão, quero voltar a um ponto mencionado na primeira aula que carece de um pouco
mais de desenvolvimento. Essa leitura do nosso tempo acontece mediante a interação entre as
informações que entram de fora e os paradigmas já estabelecidos dentro de nossa mente. Dois
dos meios mais úteis para interpretarmos as pessoas e o nosso tempo são a observação e a
leitura. Por observação, me refiro ao trabalho pastoral de visitação, a conversa com pessoas, a
interpretação das reações das pessoas em face de certas situações.13 Quando observamos
pessoas, aprendemos sobre os comportamentos vigentes. Outro meio de se aperceber desse
espírito vigente é através da leitura. Sendo que os que escrevem procuram influenciar leitores
com seus princípios, é útil observamos o que as pessoas escrevem não só em círculos teológicos,
mas em mídias seculares. Na leitura, a mensagem comunicada costuma ficar ainda mais
explícita do que quando assistimos algum vídeo. A interpretação das imagens feita no papel é
um dos melhores veículos para nos apercebermos da cosmovisão de nosso tempo.
O contraponto, porém, é que toda essa informação não deve ser recebida com o intuito de
você ser a pessoa mais atualizada do momento. Afinal, mais vale ser uma pessoa bem formada
do que bem informada. O que quero dizer com isso é que antes do que ser ávido curioso pela
última notícia da internet ou do telejornal, você deve se preocupar em formar uma mente crítica,
apta a discernir diferentes expressões culturais com uma cosmovisão cristã. O pregador e

13
O diálogo com intérpretes bíblicos do passado ou cristãos atuais de outras culturas ou outras tradições cristãs pode ser
muito útil em ajudar-nos a entender certas tendências, corrigir certas áreas mal trabalhadas em nossa própria tradição, mas
também certificar-nos de que estamos num bom caminho quando ouvimos os descaminhos de outros.

7
professor que constantemente observa o mundo ao seu redor com discernimento, tem mais
aplicações persuasivas em seu arcabouço.

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