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Que são bondosos, gentis, generosos e úteis em seus lares e nas comunidades

onde vivem. Entretanto, o que a doutrina da depravação nos ensina é que o homem
está na pior situação possível. Há uma grande diferença entre ser o pior c estar na
pior situação possível.
A doutrina da depravação não se refere à avaliação do homem pelo homem,
mas sim à avaliação do homem por Deus. Há muitas gerações vimos recebendo en-
sinamentos sobre a evolução, a qual vê o homem numa espiral ascendente, a subir
cada vez mais acima das profundezas de onde se originou esperando-se que um dia,
finalmente, alcançará as estrelas. Esta ideia é tão amplamente aceita que chegamos
a pensar, às vezes, que há tanto de bom no pior indivíduo, que afinal o homem não
pode estar assim em tão má situação. Quando comparamos os homens, uns em
relação aos outros, sempre encontramos alguém que se encontra abaixo de nós na
escala moral ou ética, e essa comparação nos dá um sentimento de auto-aprovação.
Mas as Escrituras não avaliam os homens pelos homens, elas medem os homens
em relação ao Deus que os criou. A criatura é medida pelo Criador, revelando-se,
assim, a sua imperfeição. Chamamos sua atenção para algumas citações da Bíblia
que mostram como Deus avalia a humanidade, o homem sem Jesus Cristo, e o ho-
mem como consequência da queda.
A doutrina da depravação não tem tanto a ver com a conduta do homem, quanto
com o seu estado; nem tanto com o seu comportamento quanto com a sua condição
diante de Deus. Em Gálatas 3:22, lemos: “Mas a Escritura encerrou tudo sob o pe-
cado”. Nesta passagem vemos que Deus fez uma declaração universal, um pronun-
ciamento que caracteriza todas as criaturas. Toda a raça é classificada como estando
debaixo do pecado.
Entretanto, a fim de que se possa entender o que significa estar debaixo do
pecado, temos de compreender alguma coisa sobre os aspectos do pecado como é
apresentado nas Escrituras. A palavra de Deus mostra três desses aspectos. O pe-
cado pessoal é apresentado em primeiro lugar, abrangendo os atos de cada um, as
manifestações do exercício da vontade própria. Em Romanos 3:23 o apóstolo es-
creve: “...pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Esta é a qualificação
divina da vida do homem pecador. Todos pecaram. E quando Deus olhou para a raça
humana depois da queda, viu a todos como raça de pecadores, composta por indiví-
duos carregados de culpa pessoal.
A Palavra de Deus emprega termos diferentes para descrever os pecados pes-
soais do homem não regenerado. A palavra transgressão é um desses termos e está
ligado ao pecado pessoal. Mostra o homem se afastando ou transpondo as fronteiras
da decência ou da boa conduta, delimitadas por Deus. As Escrituras se referem ao
pecado como iniquidade, isto é, tudo que, de modo geral, é totalmente errado, A
palavra erro também é usada demonstrando que o pecador despreza o que é certo
ou se afasta das normas estabelecidas. O termo pecado se refere à transgressão
pessoal e identifica aqueles que ficam aquém do alvo, ou se desviam completamente
dele. A seguir vem perversidade e esta é a exteriorização e manifestação da natureza
pecaminosa que existe no íntimo do ser humano. Mal se refere àquilo que é real-
mente errado ou que se opõe à bondade e santidade de Deus. Encontramos incré-
dulo em relação ao homem que não tem respeito, referência ou temor a Deus. A
desobediência caracteriza o pecador, indicando má vontade em deixar-se guiar e
levar pelos caminhos da verdade. A palavra incredulidade distingue o pecador, e seu
significado é falta de confiança em Deus. Legalidade é um termo aplicado àqueles
que, abertamente, se opõem à lei divina. Assim sendo, essas dez palavras, todas
elas usadas para identificar o incrédulo, dão-nos a ideia que Deus faz do pecador e
mostra os tipos de pecado pessoal que o indivíduo pode cometer.
O segundo aspecto do pecado, como ele é mostrado na Palavra de Deus, não
se refere aos atos mas sim à natureza que produziu esses atos. Perante Deus a
natureza pecaminosa de cada pessoa é que é a grande responsável. Quando Adão
foi criado e colocado no Jardim do Éden, era uma pessoa total, com uma personali-
dade rica e completa. Adão foi criado completamente inocente; com potencialidade
para o mal, entretanto não era pecador e não possuía a natureza pecaminosa. Foi
colocado no Jardim um teste para a sua obediência e Adão sucumbiu à tentação de
Satanás comendo o fruto proibido. Como consequência, sua natureza foi mudada de
completa inocência para outra confirmada no pecado. Se me permitirem usar um
exemplo bem simples, diria que a natureza de Adão no Jardim era como a de uma
gelatina ainda não congelada. Quando pecou, sua natureza foi congelada naquela
forma, tornou-se pecaminosa. Uma vez tomada forma permanente, tornou-se
inalterável e imutável, dissociada da graça divina. A natureza, de Adão depois da
queda ficou caracterizada pelo pecado. Quando produziu frutos, estes foram chama-
dos por Deus, de frutos pecaminosos. Adão podia fazer boas coisas; podia amar a
mulher, cultivar a terra com carinho, ser bom pai e bom cidadão na sociedade à qual
pertencia. Mas, quando visto do prisma divino tudo que provinha da sua raiz natural
era pecado para Deus. Sendo a raiz corrupta o fruto trazia a corrupção dessa raiz.
Na obra da criação Deus estabeleceu o princípio de que cada grupo gera se-
gundo a sua semelhança, cada um deveria produzir de acordo com a sua espécie.
Quando Adão e Eva geraram filhos logo ficou provado que esses filhos haviam “saído
aos pais”, pois Caim matou seu irmão. O filho recebeu a natureza transmitida pelo
pai, e, sendo esta natureza pecadora, manifestou seu verdadeiro caráter no ódio que
resultou em assassinato.
Na Epístola aos Romanos, Paulo fala da natureza que existe em cada um pelo
nascimento natural: “De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente sou escravo
da lei de Deus, mas, segundo a carne da lei do pecado” (7:25). Outra vez em Roma-
nos 8:2 ele diz “. . .a lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado
e da morte”. Assim, a lei do pecado (7:25) e a lei do pecado e da morte (8:2) são o
princípio, ou a natureza que opera através de um indivíduo não-regenerado. Os frutos
da natureza do homem são caracterizados por Deus como o pecado e a morte. Em
Romanos 3:10-18 o apóstolo nomeia alguns dos frutos da carne: “Não há justo, nem
sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extravia-
ram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer. A
garganta deles é sepulcro aberto; com a língua urdem engano, veneno de víbora está
nos seus lábios, a boca eles a têm cheia de maldição e de amargura; são os seus
pés velozes para derramar sangue, nos seus caminhos há destruição e miséria; des-
conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos”. Nova-
mente em Gálatas 5, o apóstolo mostra os frutos da carne, os quais fazem parte da.
natureza humana desde o nascimento, pois nos versos 19-21 ele diz: “. . .as obras
da carne são conhecidas, e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias,
inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices,
glutonarias, e cousas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como
já outrora vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais cousas
praticam”. Em passagens como essa, Paulo apresenta esta verdade: o homem não
é culpado apenas pelo pecado pessoal, e portanto passível de condenação; mas,
tem dentro de si uma natureza pecadora que inspira e produz pecados pessoais, e
por causa dessa natureza ele está sujeito a julgamento.
Há um terceiro aspecto do pecado citado em Gálatas 3:22 “mas a Escritura
encerrou tudo sob o pecado...” A expressão “sob o pecado”, refere-se à condição em
que o homem se encontra por um ato de Deus. O homem além de ser culpado pelo
pecado pessoal, e de abrigar uma natureza pecaminosa dentro de si, foi também
colocado por Deus em situação de pecado. Encontramos mais uma vez essa verdade
apresentada pelo apóstolo em Romanos 3:9: “. . .pois já temos demonstrado que
todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado”. O homem no Jardim do
Éden achava-se em estado de inocência ainda não testada. Era um estado que tor-
nava possível a convivência com Deus, um estado em que retidão era alcançável.
Mas, ao desobedecer a Deus e comer do fruto proibido, foi colocado em estado de
pecado. Aquela era a sua condição, seu ambiente. Você é da terra e vive no seu
ambiente, todo o seu ser é condicionado à atmosfera onde vive. O peixe foi criado
para outro ambiente e difere tanto do homem porque foi determinado que vivesse em
atmosfera diferente. O homem, pela criação foi destinado a viver na esfera de Deus,
entretanto quando desobedeceu a Deus, todo o Seu ser foi mudado e se encontrou
em uma atmosfera completamente diferente. Sua vida agora está de acordo com
essa atmosfera à qual foi atirado pelo seu pecado. O homem não é apenas pecador
pela prática e pela natureza, mas Deus encerrou, ou, Deus colocou todos os homens
em estado de pecado. Esta é a classificação divina. Em Romanos 11:32 o apóstolo
mostra, como o faz em Gálatas 3:22, que os homens estão em estado de pecado por
decreto divino-. Deus enfeixou a todos na incredulidade para que pudesse ter mise-
ricórdia de todos. A fim de que a graça divina pudesse ser manifestada aos homens,
Ele colocou a todos em uma mesma classificação ou categoria, impondo aos homens
a condição de pecado para poder remir os pecadores. Se você se recusar a aceitar
o julgamento divino e sua declaração de que você pratica o pecado e possui uma
natureza pecaminosa, tendo sido colocado em estado de pecado, não haverá reden-
ção possível. Aprendemos então na Palavra de Deus este primeiro grande fato que
contribui para nossa compreensão da doutrina da depravação: os homens estão de-
baixo do pecado.
O segundo fato importante relativo aos homens é que estão espiritualmente
mortos. Em Efésios 2:1, Paulo afirma esta verdade: “Ele vos deu vida estando vós
mortos nos vossos delitos e pecados”.
Quando Deus criou o homem Ele estabeleceu uma punição para a sua deso-
bediência. O castigo para a desobediência era a morte espiritual. A morte física foi o
resultado da morte espiritual. Deus disse: (Ezequiel 18:4) “...a alma que pecar essa
morrerá”. Em Romanos 6:23, Paulo explica: “O salário do pecado é a morte”. Esta
verdade é bem conhecida e não precisa ser repetida aqui. Lembremo-nos do ensina-
mento de Paulo a esse respeito, em Romanos 5:12: “Portanto, assim como por um
só homem (Adão) entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte (morte física),
assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram”. Quando
Paulo afirma que “todos pecaram”, isto não indica que todos o fizeram individual-
mente. Embora isto seja verdade, não é o que Paulo está ensinando aqui. Ele explica
que todos pecaram em Adão, pois estávamos em Adão quando ele pecou. Os teólo-
gos dizem que, em embrião, nós nos encontramos em Adão e por estarmos nele
quando pecou, sua morte espiritual nos foi transmitida. Essa a razão
Em terceiro lugar quando o apóstolo fala da graça, às vezes se refere ao estado
em que nos encontramos pela-graça de Deus. Lembro-me de Romanos 6:14 onde
Paulo diz: “pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça.” Ou ainda romanos 5:2:
“por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual
estamos firmes;” O apóstolo mostra como o crente que já esteve sob a lei, sob a ira
e sob a condenação, sujeito ao domínio do príncipe e deus deste mundo, foi tirado
desta situação em que tinha sido colocado, encontrando-se agora em uma nova po-
sição. Ele está sob a graça. Assim como no ambiente do incrédulo predominava o
pecado, na vida do crente predomina a graça. Não vivemos debaixo da lei, mas da
graça. O ar que aspiramos, espiritualmente é graça. A água que bebemos, espiritu-
almente é graça. O alimento que nos sustenta, espiritualmente é. graça. Toda a
nossa vida está na esfera da graça de Deus.
Disto se segue, em quarto lugar o corolário preciso que a graça é o princípio
operante de Deus em relação a Seus filhos. Na Palavra de Deus, dois princípios são
colocados em contraste. A lei era necessária na infância. Como crianças, os filhos de
Israel disseram: “Não entendemos a justiça; não entendemos a santidade; não en-
tendemos o que um Deus santo requer de nós. Explique-nos no que se constitui a
santidade”. Assim Deus lhes deu a lei, adequada à sua infância espiritual, a fim de
que pudessem ter um padrão que os ajudasse a testar a validade de seus atos e ver
se estavam certos ou errados. No Novo Testamento, contrário e superior ao princípio
da lei, está o princípio da graça, pelo qual Deus tirou-nos da escravidão da lei, que
homem algum podia cumprir, e colocou-nos sob o domínio da graça. A graça não faz
menos exigências aos filhos de Deus do que a lei fazia, mas põe como nosso modelo
de perfeição o Senhor Jesus Cristo e diz: “Isto é1 o que a graça espera; isto é o que
a graça exige”. E por estarmos debaixo da graça não somos menos obrigados a bus-
car a santidade e justiça do que o seríamos se estivéssemos sob. a lei. Filho de Deus,
a lei que dominava Israel foi removida como um princípio dominante, e a graça é o
princípio operante. Isto nos é apresentado em Gálatas 5:4, onde o apóstolo afirma:
“De Cristo vos desligastes vós que procurais justificar-vos na lei, da graça decaístes”
— isto é, se você voltar à lei terá abandonado o princípio da graça, o âmbito em que
foi introduzido na graça. Se a graça não governa nem controla mais a sua vida, você
está vivendo sob a lei. A graça é, então, o princípio que opera na presente dispensa-
ção.
Continuando, encontramos em quinto lugar que a graça supre as necessidades
diárias do filho de Deus. Já falamos brevemente sobre isso quando citamos Hebreus
4:16 “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente junto ao trono da graça, a fim de re-
cebermos misericórdia e acharmos graça para socorro...” Se você interpretou essa
segunda graça no plural, com toda a certeza terá captado o pensamento do apóstolo,
pois recebemos inúmeras graças, vindas do Deus da graça, para suprir nossas ne-
cessidades de cada dia. Qual a necessidade que você tem, como filho de Deus? A
sua necessidade é física? Material? Espiritual? Deus é o Deus de todas as graças e
sente prazer em suprir, espontaneamente a todas elas. Pelo fato de Deus ser tão
bondoso e ter tantas bençãos para cada necessidade é que o apóstolo confiada-
mente escreveu: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em
Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades’’. Você acha que merece tudo o que
Deus lhe dá? Você não merece nada. Tudo o que Deus nos proporciona é por amor,
pois Ele é um Pai e nós somos Seus filhos. Mas Deus cuida de nós por ser um Deus
gracioso, que de boa vontade atende às nossas necessidades, e Ele faz isso por ser
essa a Sua natureza. Ele é o Deus de todas as graças para as necessidades de hoje.
Outro fato apresentado nas Escrituras deve ser enfatizado: não se pode transi-
gir com a graça. Não existe maneira alguma de conciliar a lei com a graça, assim
como não há maneira de misturai o dia e a noite, a luz e as trevas, ou o branco e o
preto. A lei e a graça não podem misturar-se ou unir-se em um sistema que seja parte
lei e parte graça. Afirmamos a verdade dos Evangelhos quando dizemos que não foi
pelas obras de justiça que tenhamos praticado, mas por Sua misericórdia, por ser um
Deus de amor, que Ele nos salvou e regenerou. Em Romanos 4:13-16 o apóstolo diz:
“Não fói por intermédio da lei que a Abraão, ou à sua descendência coube a pro-
messa de ser herdeiro do mundo; e sim, mediante a justiça da fé. Pois, se os da lei
é que são os herdeiros, anula-se e cancela-se a promessa, porque a lei suscita a ira;
mas onde não há lei, também não há transgressão. Essa é a razão por que provém
da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda
a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é
da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós. . .)” é pela fé, para que
seja segundo a graça a fim de que possa haver certeza. Mesmo que Deus tivesse
estabelecido que faria 99% da obra da salvação, caso você fizesse 1 %, você não
poderia ter certeza de haver cumprido sua parte de 1% no acordo ainda que Deus
cumprisse a d’Ele. Você viveria todos os dias de sua vida com medo e aflição porque
não poderia ter certeza alguma de que realizaria a sua parte. Mas para que a salva-
ção fosse garantida, Deus disse que seria dada de graça. Não admira que gostemos
tanto de louvar a graça de Deus que nos trouxe o FiIho de Deus pela fé no Senhor
Jesus Cristo? A Palavra de Deus já lhe revelou as suas necessidades e mostrou-lhe
como Cristo derramou Seu sangue para suprilas? Se ainda não o fez, saiba que você
pode tornar-se um filho de Deus agora, neste mesmo momento, mediante a fé em
Jesus. Hoje pode ser o dia de seu nascimento, o dia em que você nasceu na família
de Deus — basta apenas aceitar Jesus Cristo como seu Salvador.
IMPUTAÇÃO

Hebreus 10:1-18

A cela de Paulo em Roma tornou-se um púlpito de onde o Evangelho se espa-


lhou para multidões na capital do Império Romano. Entre aqueles que foram trans-
formados pelo Evangelho estava Onésimo, um escravo fugido, que tinha roubado
seu senhor e escapado da cidade de Colossos na Ásia Menor, indo para Roma. Paulo
poderia ter usado este novo filho na fé para servi-lo na prisão, entretanto, propôs
fazer com que Onésimo retornasse a Filemon seu senhor. Escreveu então uma carta
a Filemon, exortando-o a perdoar e receber de volta o escravo fugido, aceitando-o
como um irmão em Cristo. Ele reconhecia que a dívida feita por Onésimo devia ser
paga antes de haver qualquer possibilidade de restauração. O escravo, porém, nada
possuía com que saldar seu débito, assim, ao escrever a carta o apóstolo diz (vs. 17-
18): “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim
mesmo. E se algum dano te fez, ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha
conta”. Com estas palavras o apóstolo nos deu um exemplo clássico da grande dou-
trina cristã da imputação.
A palavra “imputação” significa “debitar, atribuir responsabilidade” ou “lançar na
conta de alguém”. Paulo está mostrando o que Deus fez por nós em Cristo Jesus.
Assim como o apóstolo assumiu a dívida de Onésimo, solicitando que Filemon —
que tinha sido prejudicado — lançasse o débito à conta dele, Paulo, assim também
o Senhor Jesus Cristo tomou a dívida que tínhamos em relação Àquele que fora
ofendido — Deus — e cobrou de Si mesmo nosso débito, colocando Sua justiça em
nossa conta.
Embora a palavra “imputação” não ocorra com frequência nas Escrituras, as
ideias que constituem essa doutrina são abundantes em suas páginas. Reuniremos
aqui diversos conceitos apresentados na Palavra de Deus para que você possa ale-
grar-se com a quantidade de providências tomadas por Deus, para que pudéssemos
receber a graça da salvação que Ele oferece em Jesus Cristo.
Quando Deus, como um divino contador, começa a rever nossas contas, abre
o livro “Razão” diante de Si; e nele, como ocorre em todos os sistemas de
contabilidade, existem colunas onde devem ser lançados os débitos e créditos. Deus
tinha, como é natural, de começar pela coluna de débitos, anotando aqueles que são
realmente nossos. Com toda a honestidade, como perito-contador dos empreendi-
mentos humanos, Ele precisa encarar os fatos como realmente são, tendo dado início
ao trabalho de imputação lançando à nossa conta os nossos débitos. No quinto ca-
pítulo da carta de Paulo aos Romanos, encontramos a primeira grande parte da dou-
trina da imputação. Deus anotou na nossa coluna de débito, o pecado de Adão, por-
que esse pecado é imputado a toda sua descendência. O pecado de Adão é lançado
na conta de todos os seus descendentes. Com este ato Deus está nos imputando
aquilo que nos pertence de direito, porque somos filhos de Adão. Em Romanos 5:12
Paulo escreve: “... assim como por um só homem (este, naturalmente é Adão) entrou
o pecado no mundo (a entrada do pecado no mundo está registrada em Gênesis 3,
onde Adão se rebelou contra a ordem de Deus e comeu do fruto proibido) e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou • a todos os homens porque todos
pecaram”. O grande ato da imputação está implícito nas palavras aqui traduzidas por
“passou”. A morte espiritual é debitada em nossa conta. Quando Deus nos vê através
de Adão, Ele nos vê espiritualmente mortos. Nascemos espiritualmente mortos por-
que os pais que nos deram a vida física estavam também espiritualmente mortos, e
só podiam transmitir aquilo que possuíam. O apóstolo Paulo dá ênfase então ao fato
de a morte ter entrado no mundo por causa do pecado e de os homens morrerem
porque o pecado de Adão acha-se lançado na coluna de débito da conta de cada
homem.
A fim de tornar isto bem claro, o apóstolo mostra que os homens não morrem
por serem pecadores; mas, sim, que eles pecam por serem pecadores. Ele confirma
isso nos versos 13 e 14: “Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas
o pecado não é levado em conta (isto é, o pecado não é considerado transgressão)
quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre
aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”. Nos versos se-
guintes o apóstolo mostra que não foi a lei que tornou os homens pecadores, não foi
transgredindo a lei que eles se tornaram assim; porque os homens já eram pecadores
e morriam antes que lhes fosse dada a lei. Tanto a morte física como o pecado pes-
soal tiveram suas raízes e origens no pecado de Adão. Uma vez que estávamos em
Adão quando ele pecou, seu pecado foi lançado a débito de nossa conta e assim
permanecemos culpados diante de Deus, como se tivesse sido a nossa própria mão,
e não a de Adão, que colheu o fruto proibido da árvore, cedendo à tentação de Sata-
nás. Sendo assim, perante Deus somos corresponsáveis pelo pecado de Adão. Este
é o ato da imputação, pelo qual Deus lança na coluna de débito a nossa dívida.
Antes de ser levado a efeito o balanço das contas, é preciso considerar a nossa
dívida. Seria relativamente fácil fazer o balanço no fim do mês, e obter um saldo
positivo, se pudéssemos ignorar todos os nossos débitos grandes' recebidos durante
o período. Mas, nenhuma contabilidade pode ser satisfatória se não incluir todas as
nossas dívidas. Não temos o direito, ao fazer o balanço no fim do mês, de anunciar
alegremente que o nosso saldo é positivo, se tivermos deixado de incluir cada uma
das obrigações que nos cabem. Quando Deus começa Sua divina obra da salvação,
não deixa passar nenhuma dívida. Deus não trata do pecado como se ele não exis-
tisse na vida do indivíduo, mas abre o livro e faz uma entrada incluindo tudo. Esta
entrada é o “pecado de Adão”. Portanto, o primeiro grande fato da imputação é que
o pecado de Adão é atribuído a todos os homens. Quero lembrar-lhe mais uma vez
que, com este ato, Deus está imputando à nossa conta, aquilo que de fato já é nosso.
Dessa situação negativa vamos para o segundo grande fato da imputação: o
pecado da humanidade foi imputado por Deus, o Pai, a Deus, o Filho. Foi feita uma
transferência divina na qual lançou-se na conta do Senhor Jesus Cristo aquilo que
não lhe pertencia. Isto, como vê, é justamente o oposto do primeiro passo dado por
Deus na imputação. Quando Ele colocou o pecado de Adão em nossa conta, estava
apenas registrando o que na verdade nos pertencia. Agora Deus, neste segundo
passo, registra na conta de Jesus Cristo o que realmente não era dEle. Este foi um
ato judicial, mediante o qual a minha culpa, o meu pecado foi atribuído a Ele.
Recordemos algumas passagens bíblicas que nos mostram este ato de Deus.
Vejamos o capítulo 53 de Isaías, tão nosso conhecido, onde centenas de anos antes
do nascimento de Jesus Cristo, o profeta descreve Aquele que viria para levar sobre
Si os nossos pecados, com às seguintes palavras: “Certamente ele tomou sobre Si
as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si” (v. 4). As palavras “levou
sobre si” significam “carregar, porque uma carga foi colocada sobre outrem”, Ê uma
palavra usada em relação aos animais que carregam a carga que outros colocaram
em suas costas. É a palavra usada quando partilhamos da tristeza de outra pessoa,
sofrendo com ela através de nossa compreensão de seus sentimentos. O Senhor
Jesus Cristo é descrito como tendo carregado as nossas enfermidades, não as d’Ele,
as nossas dores, não as dEle. Como se explica que nossas dores e enfermidades
sejam levadas por Cristo? Foi porque Deus lançou na conta de Jesus Cristo um dé-
bito que não era dEle, Jesus, essa dívida era nossa. Nos versos 5 e 6 lemos: “...Ele
foi transpassado pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo cami-
nho, (agora, note bem) mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos”.
Aqui está a transferência, a imputação, o ajuste de contas, no qual o Deus-Pai com-
putou na coluna de débito do Deus-Filho, aquilo que realmente não lhe cabia.
Era costume, no Velho Testamento, para haver identificação entre a pessoa e
o cordeiro por ela oferecido como sacrifício, que colocasse a mão sobre a cabeça do
animal. Você se recorda que no dia da reconciliação o sumo sacerdote tomava dois
bodes e sobre um deles confessava os pecados de Israel; impondo a mão sobre a
cabeça do animal, este era então levado para o deserto. Quando os pecados do povo
eram confessados sobre aquele animal e o sacerdote impunha suas mãos sobre a
cabeça dele, os pecados da nação estavam sendo levados por ele. Havia um ajuste
de contas, havia a imputação dos pecados de Israel sobre o bode expiatório. Quando
um pai reunia seus filhos para dar-lhes a bênção paternal, como Jacó fez com seus
filhos em Gênesis 49, colocava a mão sobre a cabeça do filho que devia receber a
bênção. Agindo dessa forma, estava imputado, transferindo a bênção, identificando-
se com o filho pelo ato de colocar as mãos sobre sua cabeça.
Segundo aquela ilustração tão conhecida do Velho Testamento, Jesus Cristo é
descrito no capítulo 53 de Isaías como o Cordeiro de Deus que seria sacrificado para
remover o pecado do mundo. Ele é descrito como o bode expiatório que carregou os
pecados. É descrito como Aquele sobre quem o Pai colocou as mãos confessando
os pecados de um povo culpado, e o Pai imputou, ou registrou em Sua conta os
débitos dos pecadores; para que Jesus Cristo, como o “carregador de pecados” pu-
desse levar sobre Si nossas transgressões e iniquidades. Ele tomou sobre si nossas
enfermidades e carregou nossas dores, porque o Deus-Pai as imputou ao Deus-Fi-
lho. Por um ato divino, Deus colocou sobre Ele a iniquidade de todos
nós, transferiu nossos pecados ao Filho para que Ele os pudesse remover.
Você pode ver a mesma verdade ensinada também em 2 Coríntios 5:21, onde
o apóstolo escreve: “Aquele (isto é, o Filho) que não conheceu o pecado, Ele (isto é,
o Deus-Pai) O fez pecado por nós; para que nEle fôssemos feitos justiça de Deus”.
Chamo agora sua atenção para a primeira parte do versículo, Deus-Pai O fez
pecado por nós. Observe que Paulo não disse: “Deus, o Pai, O fez pecador", pois se
Jesus Cristo fosse pecador, não poderia ser um substituto para o pecador, nem levar
pecados sobre Si. Deus, o Pai; não fez dEle um pecador, mas sim O fez pecado.
Deus, o Pai computou em Sua conta todos os pecados da descendência de Adão.
Visto que o pecado de Adão foi imputado a toda a sua descendência, este mesmo
pecado foi transferido de toda a raça humana para Aquele que se fez pecado. Este
foi um ato divino de imputação que colocou sobre Jesus Cristo todas as nossas ini-
quidades.
Pedro também escreve a mesma verdade: (1 Pe 2:24-25) “carregando ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos
aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados. Porque está-
veis desgarrados como ovelhas; agora, porém, vos convertestes ao Pastor e Bispo
das vossas almas”. Aqui a figura é a mesma que já vimos em referências anteriores:
ao Senhor Jesus Cristo foi atribuída nossa culpa, nossa dívida, pecado, injustiça e
impurezas, para que Ele os pudesse levar em Seu próprio corpo, sobre a cruz.
As Escrituras empregam diferentes frases — Ele carregou nossas dores; Deus
colocou sobre Ele a iniquidade de todos nós; Deus O fez pecado; Ele levou sobre Si
nossos pecados — entretanto, o significado de todas elas são idênticas, apesar de
serem usados termos diferentes. Deus atribuiu a Jesus nossos pecados. Tome seu
lugar ao pé da cruz e olhe para Aquele que Se ofereceu como sacrifício a Deus, e
você não poderá fugir ao fato de que Ele ali se encontra como seu substituto. Não
poderá ignorar a realidade de que seus pecados foram colocados sobre Ele, e que
Ele está tomando o lugar que você merecia, a fim de dar a você o dom da vida eterna,
o perdão dos pecados e a justiça de Deus.
Isto nos leva ao terceiro passo deste grande ensinamento das Escrituras. Não
só o pecado de Adão é imputado à raça humana, e o pecado da humanidade a Cristo;
mas gloriosamente, a justiça de Cristo é imputada aos crentes. A justiça de Cristo é
lançada na conta do crente, sendo gratuitamente atribuída a quem recebe Jesus
Cristo como seu Salvador pessoal. Como vê, no primeiro ato da imputação, Deus
registrou nossa dívida na coluna de débito do Filho.
Embora a palavra “imputação” não ocorra com frequência nas Escrituras, as
ideias que constituem essa doutrina são abundantes em suas páginas. Reuniremos
aqui diversos conceitos apresentados na Palavra de Deus para que você possa ale-
grar-se com a quantidade de providências tomadas por Deus, para que pudéssemos
receber a graça da salvação que Ele oferece em Jesus Cristo.
Quando Deus, como um divino contador, começa a rever mossas contas, abre
o livro “Razão” diante de Si; e nele, como ocorre em todos os sistemas de contabili-
dade, existem colunas onde devem ser lançados os débitos e créditos. Deus tinha,
como é natural, de começar pela coluna de débitos, anotando aqueles que são real-
mente nossos. Com toda a honestidade, como perito-contador dos empreendimentos
humanos, Ele precisa encarar os fatos como realmente são, tendo dado inicie ao
trabalho de imputação lançando à nossa conta os nossos débitos. No quinto capítulo
da carta de Paulo aos Romanos, encontramos a primeira grande parte da doutrina
da imputação. Deus anotou na nossa coluna de débito, o pecado de Adão, porque
esse pecado é imputado a toda sua descendência. O pecado de Adão é lançado na
conta de todos os seus descendentes. Com este ato Deus está nos imputando aquilo
que nos pertence de direito, porque somos filhos de Adão. Em Romanos 5:12 Paulo
escreve: "... assim como por um só homem (este, naturalmente é Adão) entrou o
pecado no mundo (a entrada do pecado no mundo está registrada em Gênesis 3,
onde Adão se rebelou contra a ordem de Deus e comeu do fruto proibido) e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos
pecaram”. O grande ato da imputação está implícito nas palavras aqui traduzidas por
“passou”. A morte espiritual é debitada em nossa conta. Quando Deus nos vê através
de Adão, Ele nos vê espiritualmente mortos. Nascemos espiritualmente mortos por-
que os pais que nos deram a vida física estavam também espiritualmente mortos, e
só podiam transmitir aquilo que possuíam. O apóstolo Paulo dá ênfase então ao fato
de a morte ter entrado no mundo por causa do pecado e de os homens morrerem
porque o pecado de Adão acha-se lançado na coluna de débito da conta de cada
homem.
A fim de tornar isto bem claro, o apóstolo mostra que os homens não morrem
por serem pecadores; mas, sim, que eles pecam por serem pecadores. Ele confirma
isso nos versos 13 e 14: “Porque até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas
o pecado não é levado em conta (isto é, o pecado não é considerado transgressão)
quando não há lei. Entretanto, reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre
aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”. Nos versos se-
guintes o apóstolo mostra que não foi a lei que tornou os homens pecadores, não foi
transgredindo a lei que eles se tornaram assim; porque os homens já eram pecadores
e morriam antes que lhes fosse dada a lei. Tanto a morte física como o pecado pes-
soal tiveram suas raízes e origens no pecado de Adão. Uma vez que estávamos em
Adão quando ele pecou, seu pecado foi lançado a débito de nossa conta e assim
permanecemos culpados diante de Deus, como se tivesse sido a nossa própria mão,
e não a de Adão, que colheu o fruto proibido da árvore, cedendo à tentação de Sata-
nás. Sendo assim, perante Deus somos co-responsáveis pelo pecado de Adão. Este
é o ato da imputação, pelo qual Deus lança na coluna de débito a nossa dívida.
Antes de ser levado a efeito o balanço das contas, é preciso considerar a nossa
dívida. Seria relativamente fácil fazer o balanço no fim do mês, e obter um saldo
positivo, se pudéssemos ignorar todos os nossos débitos grandes' recebidos durante
o período. Mas, nenhuma contabilidade pode ser satisfatória se não incluir todas as
nossas dívidas. Não temos o direito, ao fazer o balanço no fim do mês, de anunciar
alegremente que o nosso saldo é positivo, se tivermos deixado de incluir cada uma
das obrigações que nos cabem. Quando Deus começa Sua divina obra da salvação,
não deixa passar nenhuma dívida. Deus não trata do pecado como se ele não exis-
tisse na vida do indivíduo, mas abre o livro e faz uma entrada incluindo tudo. Esta
entrada é o “pecado de Adão”. Portanto, o primeiro grande fato da imputação é que
o pecado de Adão é atribuído a todos os homens. Quero lembrar-lhe mais uma vez
que, com este ato, Deus está imputando à nossa conta, aquilo que de fato já é nosso.
Dessa situação negativa vamos para o segundo grande fato da imputação: o
pecado da humanidade foi imputado por Deus, o Pai, a Deus, o Filho. Foi feita uma.
transferência divina na qual lançou-se na conta do Senhor Jesus Cristo aquilo que
não lhe pertencia. Isto, como vê, é justamente o oposto do primeiro passo dado por
Deus na imputação. Quando Ele colocou o pecado de Adão em nossa conta, estava
apenas registrando o que na verdade nos pertencia. Agora Deus, neste segundo
passo, registra na conta de Jesus Cristo o que realmente não era dEle. Este foi um
ato judicial, mediante o qual a minha culpa, o meu pecado foi atribuído a Ele.
Recordemos algumas passagens bíblicas que nos mostram este ato de Deus.
Vejamos o capítulo 53 de Isaías, tão nosso conhecido, onde centenas de anos antes
do nascimento de Jesus Cristo, o profeta descreve Aquele que viria para levar sobre
Si os nossos pecados, com ás seguintes palavras: “Certamente ele tomou sobre Si
as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre Si” (v. 4).
livro Razão; no segundo ato, Deus apagou a entrada feita nessa coluna e a
debitou na conta de Jesus Cristo; no terceiro grande ato, Deus lançou na coluna de
crédito de nossa conta toda a justiça de Cristo, para que pudéssemos ter um saldo
positivo diante de Deus. Se a imputação tivesse sido interrompida na segunda fase,
teríamos um registro limpo, por ter sido removido o débito, mas ainda não haveria
uma base sobre a qual Deus pudesse apoiar-se para nos receber em Sua presença,
pois não possuíamos uma justiça positiva. Entretanto, a ser imputada a nós a justiça
de Cristo, encontramo-nos em uma situação positiva. Isto é registrado na coluna de
crédito, e nos dá o direito de chegar à presença de Deus.
No capítulo primeiro de Romanos, o apóstolo apresenta o grande tema da Epís-
tola. Ele escreve aos Romanos sobre a “justiça de Deus”. Paulo não se dirige a eles
para falar que Deus é justo, mas se refere à justiça que Deus imputa aos homens
pela fé no Senhor Jesus Cristo. Em Romanos 1:16-17, o apóstolo afirma: “Pois não
me envergonho do evangelho porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; visto que a justiça de Deus se
revela no evangelho, de fé em fé. . .” A justiça de Deus é revelada; não se trata do
fato de Deus ser justo — embora o Evangelho deixe bem clara esta verdade — mas
é revelada a justiça de Deus, que Ele imputa àqueles que creem. Encontramos a
mesma verdade em Romanos 3:21-22, “Mas, agora, sem lei, se manifestou a justiça
de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé, em
Jesus Cristo para todos (e sobre todos) os que creem”. Ainda em Romanos 10:3 o
apóstolo diz a respeito de Israel: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus, e
procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus”.
Um fato incontestável que a Bíblia nos apresenta é que Ele é um Deus justo. E
este Deus, justo em Sua obra da salvação, tem a sua própria justiça para conceder
— imputar, ou registrar na coluna de saldo positivo — a todo o filho culpado da raça
de Adão. Esta justiça vem de Deus e é de Deus. Lemos em Romanos 3:10 que sem
a justiça de Deus, “não há justo, nem sequer um”. Isto porque o pecado de Adão foi
imputado a toda a raça humana e toda ela está perdida, sem justiça, e carente da
justiça de Deus.
Neste grande ato da imputação Deus está concedendo a quem se aproxima
dEle através de Jesus Cristo, aquilo que não lhe pertence. Vamos recapitular nova-
mente os três passos. Primeiro: O pecado de Adão é atribuído à raça humana (Deus
atribui a nós aquilo que realmente nos pertence). Segundo: Deus atribui o pecado da
humanidade a Cristo (imputando a Ele o que não Lhe pertencia). Terceiro: Deus atri-
bui a Sua justiça ao pecador (Ele está imputando ao pecador o que não lhe pertence).
O ato que creditou a justiça de Cristo à conta do pecador foi um dom da graça. Em
Filipenses 3:8-9 o apóstolo fala desta grande dádiva divina. “Sim, deveras considero
tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu
Senhor: por amor do qual, perdi todas as coisas e as considero como refugo, para
ganhar a Cristo, e ser achado nele (atenção!) não tendo justiça própria, que procede
de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, base-
ada na fé”. Qual o significado das palavras do apóstolo? Ele afirma que em lugar da
justiça própria ou justiça proveniente da lei, foi lançada na conta do pecador a justiça
de Deus, a que ele tem direito pela fé no Senhor Jesus Cristo. Novamente em 2
Coríntios 5:21, cuja passagem já citamos antes, o apóstolo afirma: “Aquele que não
conheceu o pecado, ele (Deus) o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus” — para que fôssemos feitos justiça de Deus! Nosso parentesco com
Adão fez de nós pecadores, mas fomos considerados justos através de nosso paren-
tesco com Jesus Cristo. Da mesma forma que o pecado de Adão nos foi imputado
como débito (e nosso livro Razão ficou de novo em branco, porque Jesus Cristo to-
mou so-bre si nossos pecados) a justiça de Cristo foi anotada como crédito em nossa
conta. Deus tem assim uma base que lhe permite aceitar-nos em Sua presença e
nos receber em Sua família como filhos amados.
Como poderíamos cumprir a justiça de Deus? Diversas passagens nos ajuda-
rão a esclarecer esta dúvida. Em Hebreus 9:14, o autor diz: muito mais o sangue
de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus,
purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!” Quero
destacar a frase “a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus” — aqui o escritor está
visualizando a transação divina que se realizou na cruz. O Pai imputou ao Filho todos
os pecados e toda a culpa da humanidade. O Filho, carregando nossos pecados,
ofereceu-se a Si mesmo como sacrifício a Deus.
Isto é explicado com mais clareza em Hebreus 10:14: “Porque com uma única
oferta (o Filho) aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”. Com
esta única oferta Jesus Cristo nos concedeu a justiça de Deus, acessível através da
fé nEle. Ele é nosso substituto. Tomou sobre Si os nossos pecados e, em nosso
lugar, ofereceu-se a Si mesmo como sacrifício a Deus. Uma vez que o salário do
pecado é a morte, Jesus Cristo teve de morrer por nós. Ele sofreu a morte física e
espiritual por nós. Quando exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desampa-
raste?”, a alma do Filho foi separada de Deus — esta foi a morte espiritual. E quando
disse: “Está consumado”, rendendo o Seu espírito provou a morte física, Jesus Cristo
sofreu a morte física e espiritual em nosso lugar, como nosso substituto, a fim de que
Sua justiça fosse lançada em nossa conta.
Ainda mais, podemos ter essa justiça porque o crente foi colocado em Cristo
Jesus. Quando somos colocados em Cristo Jesus, passamos a compartilhar de tudo
o que Ele é em Sua essência, e sendo Ele justo, participamos de Sua justiça, e a
justiça de Deus passa a nos pertencer. Em 1 Coríntios 1:30. o apóstolo explica: “Mas
vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e
justiça, santificação e redenção”. Jesus Cristo é feito justiça em nós. Deus “o fez
pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co 5:21). Em
Filipenses 3:9, Paulo diz que podemos ter a justiça de Deus mediante a fé. Em Co-
lossenses 2:9-10 ele escreve, "... nele (isto é, no Filho amado) habita corporalmente
toda a plenitude da Divindade. Também nele estais aperfeiçoados (plenitude)”. Tudo
o que está em Jesus Cristo é registrado em nossa conta na coluna de saldo positivo
porque, pela fé, somos unidos a Ele, tornamo-nos dEle e Ele se torna nosso.
Quando um homem se casa em regime de comunhão de bens, tudo o que lhe
pertence passa a ser também da esposa. Na antiga cerimônia de casamento o ho-
mem dizia: “Eu te dou todos os meus bens”. A sua posição e preeminência são con-
feridos à esposa, em virtude de sua união. O Senhor Jesus Cristo, quando nos uniu
a Si mesmo, não nos concedeu bens materiais, mas todas as glórias do céu- Assim
tudo o que é do Filho, é também daquele que foi unido ao Filho, pela fé.
A imputação é a contabilidade de Deus. O pecado de Adão é atribuído a toda
a raça humana, sendo esse débito imputado ao homem e servindo de base para a
sua condenação. Mas Jesus Cristo veio e tomou o pecado de Adão sobre Si. Ele
carregou a culpa, a pena, a maldição da descendência de Adão, e se ofereceu a
Deus como substituto. Na coluna de crédito do registro da pessoa que recebe a Jesus
Cristo como Salvador pessoal (de onde foi expurgada a maldição do pecado de
Adão), vem lançada toda a justiça de Cristo. Seu parentesco com Adão foi cancelado
porque seu débito foi imputado a Cristo. Você está agora unido a Cristo, pois Sua
justiça lhe é imputada. Se você não tiver aceito Jesus Cristo como seu Salvador pes-
soal, continua culpado diante de Deus porque ainda pertence à descendência de
Adão. Apesar de ter sido atribuído a Cristo esse pecado, isso não significa nada para
você enquanto não se unir a Ele pela fé. A justiça de Cristo não lhe pode ser imputada
a menos que você O receba pessoalmente como Salvador.
Deus realizou uma obra divina. Apesar de ter sido necessário que Ele lançasse
em sua conta o pecado de Adão, Jesus Cristo veio e cancelou todos os seus débitos.
Por isso João pôde dizer: “e ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não so-
mente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2:2). Ele levou
sobre Si os pecados do mundo inteiro; a Sua morte só tem valor para aqueles que O
aceitam como Salvador pessoal. A justiça de Deus não é imputada ao mundo, mas
somente aos que aceitaram a Jesus Cristo como Salvador pessoal. Alegremo-nos ao
proclamar a você as maravilhas do Evangelho, no sentido de que a justiça de Deus
é imputada aos homens. Não precisamos negar que os homens são pecadores. Não
precisamos subestimar a enormidade da dívida de pecado e culpa que recai sobre
cada pessoa. Nossa salvação não depende de minimizar o pecado, mas sim da obra
divina pela qual nosso pecado, nossa culpa foi atribuída a quem não a merecia para
que Sua justiça pudesse ser imputada a nós. Podemos louvar a Deus por Sua divina
concessão. O Filho disse ao Pai: “Eles pecaram. Não imploro indulgência. Não peço
que seus pecados sejam ignorados. Ofereço pagamento total e completo — lance
tudo em Minha conta”. E o Pai, com base no pagamento feito pelo Filho, transferiu
nossa culpa e iniquidade para a conta dEle, e a justiça do Filho para a nossa conta.
O registro está limpo porque o débito foi pago. Somos aceitos porque Sua justiça foi
imputada a nós.
Se você não aceitar Jesus Cristo como Seu Salvador pessoal, estará debaixo
da ira divina, da maldição de Deus, porque o pecado de Adão foi registrado em sua
conta. Sua situação será essa, a menos que, pela fé, você receba Jesus Cristo como
seu Salvador; a fim de que Ele, que aceitou o castigo merecido por você, possa re-
vesti-lo com a Sua própria justiça e tomá-lo aceitável assim diante de Deus.

SUBSTITUIÇÃO

Isaías 53:1-12

Desde antes da criação do mundo, Deus tinha o propósito de enviar Seu Filho
para que Ele pudesse demonstrar a infinita graça do Senhor através de Sua morte.
A partir da queda do homem, toda a criação pecadora esperava a vinda do Redentor.
Depois da morte de Cristo todos os olhos se voltam para esse evento do passado
que é o ponto principal da história divina. A cruz tornou-se o foco da atenção tanto
do céu como da terra. Quando vemos Jesus sendo levado à morte podemos fazer a
nós mesmos esta pergunta: “Por quê?”
Queremos considerar um dos pontos importantes de doutrina de nossa fé, a
palavra substituição. Embora esta palavra não apareça em nenhum lugar do texto,
nela se encerra uma grande parte da verdade revelada. Não há doutrina que mereça
mais atenção por parte dos filhos de Deus do que a da substituição. A necessidade
da substituição surge da exigência justa e santa de um Deus justo e santo, no sentido
de que os pecadores sejam punidos pelos seus pecados. Quando Deus criou o ho-
mem e o colocou no Jardim do Éden, fez uma restrição às Suas criaturas dizendo:
“De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morre-
rás” (Gn 2:16-17). Em Ezequiel 18:4, o profeta anuncia o julgamento divino, “a alma
que pecar, essa morrerá”. As palavras de Romanos 6:23 são familiares “. . .o salário
do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus,
nosso Senhor”.
É bem conhecido o princípio revelado pela Palavra de Deus, que um Deus
santo e justo precisa executar a sentença que Ele mesmo estabeleceu para o pe-
cado. Quando Adão pecou e vinculou toda a raça humana ao seu pecado e quando,
pela imputação, o pecado de Adão foi debitado na conta da humanidade, tomou-se
necessário que Deus julgasse o pecado e que os pecadores fossem punidos por
causa de suas transgressões. Entretanto nosso Deus não é apenas santo, justo, fiel
e verdadeiro, Ele é também um Deus de infinita paciência, compaixão, longanimi-
dade, misericórdia e graça. Não é um Deus que tenha prazer na morte do perverso,
mas sim que se alegra em conceder graça àqueles que merecem apenas condena-
ção e ira. É como se houvesse um conflito na própria natureza divina. Este conflito
que propõe o maior enigma do mundo, nos é apresentado em Romanos 3:23, quando
o apóstolo Paulo levanta a questão de como Deus pode, de um lado ser justo, e de
outro, defender o pecador. Como podia Deus ser fiel e verdadeiro com relação a Si
mesmo, à Sua palavra, ao Seu caráter, e executar uma sentença justa; e, ao mesmo
tempo, remir os pecadores?
Deus encontrou um meio de ser Justo e, ao mesmo tempo, Justificador daque-
les que nada fazem além de crer. A solução que Ele encontrou para esse problema
está na doutrina da substituição. Esta doutrina nos apresenta a grande verdade das
Escrituras, Deus foi fiel a Si mesmo, ao Seu caráter e à Sua palavra ao punir o peca-
dor. Mas a punição do pecador se realizou na pessoa de um Substituto, para que a
condenação de Deus fosse executada sobre Aquele que tomou nosso lugar. Deus
pode, por
tanto, receber aqueles que satisfaçam uma única exigência: a de crer, porque
o seu pecado recaiu sobre o Substituto e seu débito foi pago por outra pessoa. Peço
que o leitor se concentre nessa doutrina vital, enquanto consideramos os ensinamen-
tos das Escrituras sobre a substituição.
Antes de tudo, vejamos algumas passagens que nos apresentam o conceito de
um substituto e a doutrina da substituição. No texto original, os autores do Novo Tes-
tamento usam uma preposição que nos transmite a ideia de alguém fazendo alguma
coisa em benefício de outra, ou em seu lugar. Quando Jesus Cristo é apresentado
como o substituto, neste sentido Ele está se oferecendo em nosso benefício; está
realizando um ato para o nosso bem; executando uma obra a nosso favor. O apóstolo
escreve em Lucas 22:19-20 que Cristo “. . .tomando um pão, tendo dado graças, o
partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memó-
ria de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice dizendo: Este é o cálice
da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”. Quando Cristo diz aqui
“oferecido por vós”, e “derramado em favor de vós”, Ele está dizendo literalmente.
“Aqui está o corpo
Considere, primeiro, a encarnação de Cristo. Desde os primeiros capítulos do
Velho Testamento foi prometida a vinda de um Libertador e Redentor. Quando Deus
chamou Abraão, revelou a ele que um “Abençoador” viria de sua descendência. No
começo do Novo Testamento Jesus Cristo aparece como descendente de Abraão.
Sua genealogia é descrita no primeiro capítulo de Mateus e no terceiro de Lucas para
mostrar que Jesus Cristo é filho de Davi, filho de Abraão, filho de Adão. Jesus Cristo
por seu nascimento físico da virgem Maria, é um Homem entre homens. Através do
nascimento virginal, Ele possui a natureza humana total e completa. E essa natureza
estava inseparavelmente unida à divina, também total e completa, quando a “Pessoa
Teantrópica”, o Deus-Homem, veio habitar entre os homens. É esse fato, de sua
identificação com os homens, que o escritor de Hebreus destaca no segundo capítulo
dessa grande epístola. A começar do verso 14, lemos: “Visto, pois, que os filhos têm
participação comum de carne e de sangue, destes também ele, igualmente, partici-
pou, para que por- sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber,
o diabo”. Nesta passagem o escritor está enfatizando que Jesus veio libertar os ho-
mens do poder de Satanás e da morte. Para poder desempenhar o papel de Reden-
tor, e Libertador, era necessário participar da carne e do sangue; isto é, aquele que
se deu a si mesmo pelos homens, precisava ser também um Homem para que pu-
desse representá-los. Nenhum animal poderia satisfazer totalmente a Deus pelos
pecados dos homens, pois não seria um substituto equivalente; nenhum anjo poderia
oferecer satisfação total a Deus pelos pecados dos homens, pois também não seria
um substituto de igual valor. Se Jesus Cristo devia dar a Sua vida em resgate pelos
pecados dos homens, era necessário que Ele possuísse a natureza humana com-
pleta, total, sem mutilação. Portanto, segundo o apóstolo, desde que os filhos neces-
sitados de redenção possuem a verdadeira natureza humana, isto é, carne e sangue,
era necessário que Jesus tivesse a mesma natureza, completa, total e verdadeira.
Assim sendo, Jesus Cristo “não socorre a anjos, mas socorre a descendência de
Abraão. Por isso mesmo convinha que em todas as coisas, se torna-se semelhante
aos irmãos” (Hb 2:16-17). Jesus Cristo iria dar a sua vida como resgate, não de anjos,
mas de homens; e, sendo assim, era necessário que ele assumisse a natureza dos
homens e não a dos anjos. Ê por essa razão que neste mesmo capítulo (v. 12), ele
diz: “A meus irmãos declarei o teu nome”. Ou ainda (v.10): “...aquele, por cuja causa
e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse
por meio de sofrimentos o Autor da salvação deles”. Uma vez que Jesus Cristo teria
de identificar-se com os pecadores, era necessária a sua encarnação.
Vemos esta mesma verdade apresentada em Hebreus 5:1: “Porque todo sumo
sacerdote, sendo tomado dentre os homens, é constituído nas coisas concernentes
a Deus, a favor dos homens, para oferecer assim dons como sacrifícios pelos peca-
dos”. O apóstolo salienta neste ponto o seguinte princípio: antes de uma pessoa po-
der representar outra, é preciso que haja uma identificação entre ambas. Se Jesus
Cristo, como Sacerdote, vai representar os homens diante de Deus, é preciso que
seja um deles a fim de poder desempenhar esse papel. Ao nomear um sacerdote
para o povo de Israel, Deus primeiro escolheu uma das tribos dos filhos de Abraão,
e dessa tribo uma família, consagrando a seguir Aarão como o primeiro sumo sacer-
dote. Aarão podia representar seus irmãos porque era um deles, é para que Jesus
Cristo nos representasse diante de Deus, foi preciso que se encarnasse entre os
homens, passando a ter uma natureza verdadeiramente humana, a fim de poder to-
mar o lugar do homem. Quando lemos a narrativa do nascimento de Jesus nos Evan-
gelhos, ,é fácil perceber que não se trata apenas do milagre da vinda de Deus em
carne, mas também do fundamento da redenção; pois Jesus Cristo assumiu completa
e totalmente a humanidade para que pudesse representar os homens na Sua morte
na cruz. A encarnação foi o ponto de partida para a substituição.'
Em segundo lugar, descobrimos que o sumo sacerdote precisa estar identifi-
cado com os homens. Isto é enfatizado novamente em Hebreus 5:2-3; o sacerdote
deve ser “capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele
mesmo está rodeado de fraquezas. E, por esta razão, deve oferecer sacrifícios pelos
pecados, assim do povo, como de si mesmo”. Antes disso, em Hebreus 4:15 o após-
tolo escrevera: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se
das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança,
mas sem pecado”. O apóstolo afirmou aqui esta verdade: antes que alguém pudesse
substituir os homens, deveria estar de tal forma identificado com eles a ponto de ter
passado pelas mesmas experiências que eles passaram com exceção do pecado, a
fim de que possa ser um fiel sumo sacerdote.
Em Mateus, capítulo 3, encontramos o registro do batismo de Jesus. João Ba-
tista apareceu no deserto proclamando um remanescente de Israel que se identifi-
cava com a expectativa que tinham no Messias, como Redentor dos pecados.
Quando Jesus foi da Galileia para o Jordão, a fim de ser batizado por João, este se
negou, dizendo: “Eu é que preciso ser batizado por Ti, e Tu vens a mim? Mas Jesus
lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque assim nos convém cumprir toda a justiça.
Então ele o admitiu” (v. 14-15). O estudo do batismo de Cristo é complexo, entretanto,
não é nosso propósito tratar neste livro dos ensinamentos das Escrituras a este res-
peito. O que queremos é destacar este fato importante: João tinha identificado um
grupo de crentes que confessaram sua necessidade de um Redentor, os quais ora-
vam a Deus pedindo-Lhe que lhes enviasse Seu Messias-Libertador prometido. Je-
sus quis ser batizado por João a fim de poder identificar-se com aqueles que aguar-
davam um Redentor enviado por Deus. Ele tomou Seu lugar entre os homens, iden-
tificou-se com eles, para que pudesse representá-los em Sua morte na cruz. O ba-
tismo de Jesus foi um ato pelo qual, Cristo o Filho de Deus encarnado, identificou-Se
com os homens para que pudesse ser contado entre eles.
A história da vida de Cristo é semelhante à de qualquer homem. Ele se can-
sava, sentia fome e sede, entristecia-se, foi rejeitado, sabia o que significava cuspi-
rem nele e amaldiçoarem-no, sofreu todas as indignidades que o povo lhe quis infligir,
identificou-se com as fraquezas e com as tristezas dos homens. O apóstolo, escre-
vendo aos Hebreus, diz “. . . naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é
poderoso para socorrer os que são tentados” (2:18). Temos um Sumo Sacerdote fiel,
porque Ele foi provado em todos os pontos, como nós o somos, embora sem pecado.
Encontramos aqui o segundo passo para a substituição: Jesus Cristo não foi só o
Deus que se encarnou, mas também que Se identificou com os homens.
Isto nos leva ao terceiro passo. Encontramos em Hebreus capítulo 7 que Jesus
Cristo foi separado dos homens, nos versos 23 a 27 está registrado: “Ora aqueles
são feitos sacerdotes em maior número, porque são impedidos, pela morte, de con-
tinuar; este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável.
Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo
para interceder por eles”. Preste bastante atenção nestas palavras: “Com efeito nos
convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado
dos pecadores, e feito mais alto do que os céus; que não tem necessidade, como os
sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro por seus próprios
pecados, depois pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si
mesmo se ofereceu”. O apóstolo destaca que se Jesus Cristo fosse apenas um ho-
mem entre os homens, não seria um substituto aceitável, pois o substituto de que
precisamos é Alguém santo, inocente, sem mácula, separado dos pescadores, que
foi colocado à mão direita do Pai onde vive e intercede por nós. Se Jesus Cristo fosse
apenas um homem, se tivesse sido gerado de modo comum não podería ser aceito
como substituto. Ele também estaria debaixo da maldição e da ira de Deus, da
mesma forma que você e eu estamos. Uma pessoa que esteja debaixo da maldição
não pode se oferecer como sacrifício aceitável em lugar de outra. Mas o apóstolo
mostra que apesar de Jesus Cristo ter vindo na carne, apesar de Ele ter-se identifi-
cado com os pecadores, estava completamente separado deles, pois não havia nEle
pecado algum. Os Seus inimigos não puderam responder ao desafio que Cristo lhes
fez quando afirmou perante eles: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo
8:46). Seus amigos que haviam estado com Ele durante os três anos e meio de Seu
ministério tiveram de testemunhar que nEle não havia pecado, nem seus lábios pro-
feriam malícia. O centurião que estava ao pé da cruz levantou os seus olhos para a
cruz no centro onde Ele se achava pendurado, e testemunhou: “Verdadeiramente
este era o Filho de Deus”! (Mat 27:54). Abrindo os céus, Deus declarou: “Este é meu
Filho amado, em quem me comprazo” (Mat 3:17). Porque Jesus Cristo estava
separado dos pecadores, foi aceito como substituto. Por ter Deus vindo na carne, e
pelo fato de ter-se identificado com os homens, mesmo estando separado deles,
pôde oferecer-se como substituto dos homens.
Em Hebreus 2:9 o apóstolo apresenta a verdade: “... vemos, todavia, aquele
que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofri-
mento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus,
provasse a morte por todo homem”. Quero destacar estas palavras, “provasse a
morte por todo homem.” Jesus Cristo tomou sobre si o pecado do mundo, levou esse
pecado para a cruz. Ele não só expôs Suas costas aos açoites dos romanos e rece-
beu sobre a Sua pessoa a zombaria da multidão, mas também suportou em Seu
corpo toda a ira de Deus, derramada sobre o pecado. E quando Jesus Cristo se en-
tregou à morte, tinha consciência de que levava em Si os nossos pecados. Estava
consciente de que o castigo divino aplicado ao pecado e aos pecadores iria recair
sobre Ele por ser o Único sem mácula e sem pecado, separado dos pecadores, iden-
tificado de tal forma com eles que o apóstolo Paulo pôde escrever em 2 Coríntios
5:21: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele
fôssemos feitos justiça de Deus”.
Esta verdade foi claramente prevista pelo profeta Isaías, séculos antes do Se-
nhor Jesus Cristo submeter-se à morte como substituto. No capítulo 53, que nos é
tão familiar, o profeta prediz a vinda daquele sobre o qual se diria: “Certamente ele
tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nos-
sas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados” (v. 4-6).
O profeta Isaías descreveu Alguém que viria como seu substituto e nosso tam-
bém, sobre quem recairía o castigo de Deus de modo que Ele, Deus, pudesse ser
justo, por punir o pecado, e Justificador por justificar a todos os que aceitarem o pa-
gamento que foi feito por Jesus Cristo como o próprio pagamento de cada um deles
a Deus.
A doutrina da substituição é primeiramente demonstrada no Jardim do Éden
quando, logo após Adão haver pecado, Deus matou um cordeiro; a sua pele cobriu
a nudez de Adão e o sangue cobriu seu pecado.
Na Sua provisão desse cordeiro, Deus mostrou o modo pelo qual resolveria, o
problema do pecado em relação a todos os que fossem cobertos pelo sangue do
Cordeiro de Deus. O cordeiro foi substituto de Adão na sentença de morte. O cordeiro
de Abel prefigurou o Cordeiro que viria da parte de Deus. Cada animal oferecido nos
altares judaicos, em obediência à Lei de Moisés, prefigurava a vinda do Cordeiro de
Deus. Somente quando João Batista apontou para Jesus Cristo e disse: “Eis o Cor-
deiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29), é que o sacrifício aceitável a
Deus se apresentou diante dos homens. Jesus Cristo foi levantado na cruz, para que
Ele pudesse cumprir o eterno propósito de Deus no sentido de punir o pecado, pro-
porcionando a base para que o pecador pudesse ser aceitável a Deus e à Sua subs-
tituição.
Três cruzes foram preparadas pelos romanos para três malfeitores. Em duas
delas seriam pendurados ladrões, a do meio foi preparada para um conhecido crimi-
noso, culpado de traição ao Império Romano. Entretanto, Barrabás jamais foi levado
àquela cruz preparada para ele. A sua sentença foi proferida; ele tinha sido conside-
rado culpado pela corte romana, e não havia qualquer dúvida sobre a justiça de seu
castigo; entretanto, outro tomou o seu lugar. E na cruz do meio, naquele dia fatídico,
não penduraram Barrabás, o criminoso condenado, mas sim Alguém de cujos lábios
não se ouviu mal algum. No lugar de Barrabás achava-se Aquele de quem Pilatos e
Herodes repetidamente afirmaram: “Não encontramos nEle culpa alguma.” Se por
acaso Barrabás tivesse sido atraído para aquela cena do Gólgota, poderia ter olhado
para a cruz do centro, preparada para ele, e dizer: “Eis ali pendurado Alguém no lugar
que eu merecia. Fui julgado culpado, no entanto, é Ele quem está ali, e não eu”.
Barrabás foi libertado, não por ser inocente, mas porque Outro tomou o seu lugar.
Pecador, você pode parar ao pé da cruz enquanto as trevas descem sobre o
Calvário e, olhando para Aquele que ocupa a cruz do meio, dizer: “Esta cruz foi pre-
parada para mim. Deus julgou-me pecador e com justiça pronunciou a minha sen-
tença, mas estou livre porque Outro foi pendurado em meu lugar. Ele se deu a Si
mesmo em meu benefício; Ele se deu a Si mesmo em meu lugar. Ele é meu substi-
tuto.
Não é uma questão de você ser culpado ou inocente, pois todos estão conde-
nados diante de Deus. Existe agora apenas uma dúvida: é, saber se você aceita o
substituto de Deus como seu. A questão é saber se você aceita ou não o sacrifício
dAquele que morreu na cruz do Calvário para pagar a Deus os pecados cometidos
por você. Se recusar o pagamento proporcionado por Deus, este será então exigido
de quem devia fazê-lo logo de início. Ou a morte de Cristo em seu lugar, ou a sua
morte eterna para satisfazer a justiça de Deus. Qual é sua escolha?
ARREPENDIMENTO

1 Tessalonicenses
A característica do Evangelho é a simplicidade. Quando o apóstolo Paulo de-
clarou ao carcereiro de Filipos os termos da salvação disse apenas: “Crê no Senhor
Jesus Cristo e serás salvo” (At 16:31). O apóstolo Pedro falando sobre o mesmo
assunto afirmou “. . . porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome dado entre
os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4:12) — nenhum outro a não
ser o nome de Jesus. Os pecadores, confrontados com a necessidade da salvação,
frequentemente se deixam confundir com a simplicidade da salvação oferecida por
Deus. Satanás, não podendo subtrair coisa alguma das condições ou do plano da
salvação — porque Deus já reduziu esse plano e essas condições a um mínimo irre-
dutível, ele só pode confundir a mente dos pecadores adicionando alguma coisa e
não subtraindo. Se Deus tivesse imposto condições para a salvação, Satanás pode-
ria anular essas condições e impedir os homens de alcançar a salvação, mas desde
que não há condições, e a salvação é um fato simples cuja única condição é crer, o
método usado por Satanás para enganar os homens tem sido o de fazer acréscimos
à simplicidade do Evangelho. É por essa razão que muitos pregam a salvação pela
fé e boas obras; ou salvação pela fé e batismo; ou salvação pela fé e por pertencer
a uma igreja, ou ainda, salvação pela fé mais arrependimento. Todas essas são ten-
tativas para perturbar a mente do homem que precisa ser salvo, em relação ao ponto
focal e ao plano básico da redenção.
É nossa intenção discutir a doutrina do arrependimento. Isto tem grande impor-
tância pelo fato de tantas mentes virem sendo confundidas quanto à simplicidade da
salvação pela deturpação do ensino das Escrituras a respeito desta importante dou-
trina. Confiamos em que você descobrirá nas Escrituras não apenas a simplicidade
do plano da salvação, mas a parte que o arrependimento desempenha na salvação
da alma.
Queremos considerar antes de tudo a definição da palavra “arrependimento”.
Essa doutrina, do arrependimento, tem sido tremendamente prejudicada pelo con-
ceito errôneo alimentado pela maioria dos homens, pois quando a palavra “arrepen-
dimento” é usada, traz à mente do indivíduo comum, a ideia de tristeza pelo pecado.
Geralmente lhe ocorre a imagem de alguém em cuja face correm lágrimas de re-
morso, e cujos lábios proferem promessas de mudança e um voto de jamais cair no
mesmo pecado. E essa tristeza pelo pecado é geralmente chamada de “arrependi-
mento”. Entretanto nada está mais longe do conceito da Palavra de Deus do que
essa ideia de arrependimento significar tristeza pelos pecados. Na Palavra de Deus
descobrimos que a palavra traduzida por “arrepender” quer dizer “mudança de ideia”.
Significa literalmente “virar”, trata-se de uma volta muito mais mental do que física,
uma mudança de rumo, mudança de direção, mudança de atitude. Este o significado
da palavra. Assim sendo, tal mudança de ideia, como prescrevem as Escrituras
quando falam de arrependimento, pode trazer tristeza pelo pecado, mas será a con-
sequência de alguém ter visto seu pecado à luz da santidade de Deus e ter mudado
de atitude em relação a ele.
O Senhor nos dá uma ideia clara do conceito de arrependimento nesta pará-
bola. Em Mateus 21:28-30 lemos: “Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao pri-
meiro, disse: Filho, vai hoje trabalhar na vinha. Ele respondeu: Sim, Senhor; porém
não foi. Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: Não
quero; depois, arrependido, foi”. Nesta parábola o segundo filho que tinha recebido a
ordem de ir trabalhar na vinha disse “Não quero”, depois se arrependeu. Que fez
então? Mudou de ideia. Ele negou-se a atender à ordem de seu pai, depois se con-
formou com ela. Essa mudança de ideia é, nada mais nada menos que, arrependi-
mento.
Em 2 Timóteo 2:24-25 encontramos o objeto particular que produz o arrepen-
dimento. Paulo escreve: “Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a con-
tender, e, sim, deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente; discipli-
nando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda
não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade”. Revelada na Pa-
lavra de Deus. Vemos então, pelas Escrituras, que a salvação é atribuída unicamente
à fé. A fé envolve a rejeição ou afastamento de tudo que é falso, de qualquer falso
conceito sobre a salvação, de qualquer falsa esperança, e faz o homem volver sobre
seus passos, para aceitar o dom da salvação feito por Deus através de Seu Filho. A
salvação, porém, não depende do ato de arrepender-se, mas da fé que envolve o
arrependimento.
A salvação será precedida pelo arrependimento. Aquele que se volta para
Deus, aceita Seu julgamento sobre o pecado, aceita o fato de que necessita de um
Salvador, aceita o fato de sua culpa e de sua perdição sem Cristo e a realidade de
seu desamparo. Afasta-se assim de sua auto-retidão, na qual confiava, de suas pró-
prias obras, e de sua igreja como meio de obter a salvação, voltando-se para o Se-
nhor Jesus Cristo, aceitando o fato do julgamento de Deus sobre o pecado e os pe-
cadores, e recebendo a Jesus Cristo pela fé, como Aquele sobre quem recaiu a sen-
tença que cabia a ele, pecador. Em muitas ocasiões tive o privilégio de abrir a Palavra
de Deus diante de homens e mulheres, a fim de mostrar-lhes que estavam perdidos
e sob a condenação de Deus por causa de sua injustiça, mas que Deus lhes oferece
a salvação através de Jesus Cristo; e tenho tido a alegria de ouvi-los dizer: “Aceito
Jesus Cristo como meu Salvador pessoal”. Quase invariavelmente, a emoção é tão
grande que a pessoa não pode refrear as lágrimas que lhe vêm aos olhos, ao sentir-
se maravilhado de pertencer à família de Deus. Estive há alguns dias com um homem
que, desesperado perguntou-me se eu podia dar-lhe alguma esperança. Apenas pela
fé ele se voltou para o Senhor Jesus Cristo e assim que O aceitou como seu Salva-
dor, lágrimas começaram a rolar pelas suas faces. Elas não tiveram parte na obten-
ção da salvação, mas nasceram da salvação proporcionada por Deus.
A salvação vem pela fé. Ela não depende da tristeza pelo pecado, mas da fé
no Senhor Jesus Cristo que se ofereceu como sacrifício pelos pecados do mundo.
Se Cristo não é seu Salvador, a salvação independe de qualquer experiência em que
você instigue suas emoções com o fim de entristecer-se pelos seus pecados; mas,
depende, isso sim, de uma mudança de opinião. Você O rejeitou; você O repudiou,
confiou em sua própria justiça, suas obras, seu modo de ser, sua sabedoria; en-
quanto não houver de sua parte uma mudança de modo de pensar sobre a verdade
da Palavra de Deus, não haverá salvação para você. A salvação deve ser precedida
por essa mudança de mente, porém não depende disso. A salvação depende de sua
fé no Senhor Jesus Cristo. Você quer aceitá-lo como seu Salvador pessoal, e sair,
assim, da morte para participar da Sua vida maravilhosa?
REDENÇÃO

1 Pedro 1:3-20
A volta de um general vitorioso a Roma transformava a atmosfera calma e aus-
tera da cidade em uma ocasião festiva. Sempre que um general romano vencia um
inimigo, voltava para Roma à frente de uma parada triunfal. Ele trazia em triunfo não
só o exército que tinha servido sob suas ordens, mas também os despojos da terra
conquistada e grande número de prisioneiros. Tudo isso fazia parte do cortejo da
vitória. Quando a notícia chegava a Roma, começavam os preparativos para a volta
do conquistador, pois era nessa ocasião que ele recebia todas as homenagens devi-
das ao seu sucesso. Ele entrava na cidade, sendo acolhido pelos nobres e dignitá-
rios, de maneira condizente com a sua vitória. Essa era uma oportunidade que os
ricos aproveitavam para adquirir dentre os despojos da conquista, os tesouros que
enfeitariam suas casas. Era a ocasião esperada pelo senhor de escravos que dese-
jasse aumentar o número de seus servidores, pois terminada a parada triunfal os
cativos eram levados ao mercado, e ali, um a um, eram colocados no tronco, onde
podiam ser examinados e testados pelos prováveis compradores e então comprados
e levados para uma vida de cativeiro e servidão.
Essa ideia de escravos em um mercado era o que ocupava a mente dos após-
tolos quando falaram da grande obra do Senhor Jesus Cristo como o Redentor e da
obra da redenção por Ele proporcionada aos pecadores. A Palavra de Deus consi-
dera os homens que estão no pecado como escravos do pecado. Considera-os como
pertencendo a um senhor que os tenha conquistado e subjugado e
sé assim o desejasse, poderia devolvê-lo ao mercado, colocá-lo no bloco e
vendê-lo a um novo dono. Uma pessoa poderia ter um escravo, o qual tivesse com-
prado quando ainda jovem, fazendo-o trabalhar para si por longo tempo, e quando
ele se aproximava da velhice, quando a doença e a idade começassem a prejudicá-
lo, o senhor tinha o direito de devolvê-lo ao mercado, a fim de vendê-lo por uma
ninharia. O escravo seria entregue nas mãos de alguém que reconhecesse a sua
fraqueza e doença, esperando, entretanto, recuperar o seu investimento com a maior
brevidade possível. Desta forma, ser vendido novamente significava que o escravo
estaria provavelmente sujeito a um tratamento ainda mais rigoroso e a um sofrimento
ainda maior do que aquele já suportado.
O apóstolo nos diz que quando Cristo nos libertou pelo ato da redenção, e nos
comprou para si mesmo, pagando um preço por isso, ele nos remiu ou comprou do
mercado de escravos, a fim de nos livrar da escravidão para sempre; entregues a
uma nova servidão, a do amor, mas livres da escravidão e do cativeiro do pecado. O
próprio Senhor inferiu essa verdade preciosa em João 10:28-30: “Eu lhes dou a vida
eterna; jamais perecerão, eternamente, e ninguém as arrebatará da minha mão.
Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode
arrebatar. Eu e o Pai somos um”. Cristo está dando ênfase à segurança gozada pelo
filho de Deus por ter sido comprado pelo Pai, para ser dado ao Filho, como dádiva
de amor; cuja segurança faz parte da experiência do filho de Deus que foi redimido.
Esta compra permanente, sem direito a devolução, é a base de nossa confiança em
que Deus tendo-nos comprado para si mesmo, jamais cederá sua propriedade a ou-
tro dono.
O Novo Testamento faz uso de uma quarta palavra com referência à redenção.
Nós a encontramos em Romanos 3:24, onde o apóstolo escreve: “Sendo justificados
gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. No texto
original a ^palavra traduzida como “redenção” difere das outras três a que já nos
referimos. Ela expressa o destino daquele que foi remido, e: destaca o caráter com-
pleto e permanente de redenção. Fomos completa e absolutamente remidos: fomos
totalmente remidos por Deus. E o apóstolo afirma em Romanos 3:24 que fomos jus-
tificados gratuitamente pela sua graça pela completa redenção que há em Jesus
Cristo.
Em Romanos 8:2-3 o mesmo autor diz: “E não somente ela, mas também nós
que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguar-
dando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”. Tanto o corpo como a alma
foram remidos da maldição e da escravidão ao pecado. Apesar de vivermos agora
em corpo não redimido, Deus prometeu que nossa redenção será completa e isto
inclui a redenção deste corpo. Esta é a perspectiva futura que pertence a todo Filho
de Deus.
Em 1 Coríntios 1:30, falando de Jesus Cristo, o apóstolo afirma: “Cristo Jesus,
o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e reden-
ção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor”. O após-
tolo está antecipando a plenitude de nossa redenção quando seremos transformados
à semelhança de Cristo - corpo, alma e espírito iguais a Ele. Novamente, em Efésios
1:14 o apóstolo nos diz que o Espírito Santo “é o penhor da nossa herança até ao
resgate da sua propriedade (ou, tendo em vista a redenção da propriedade com-
prada), em louvor da sua glória”. Nesse último grupo de referências o apóstolo dá
ênfase àquilo que está no futuro. Ele tinha destacado anteriormente a nossa experi-
ência passada. Houve uma compra. Esta compra teve um preço e este preço foi o
sangue. Esta compra nos libertou da escravidão de uma vez por todas e nunca mais
retornaremos a essa condição. Esta compra também abre uma perspectiva gloriosa
para nós, a redenção do corpo, a redenção da pessoa transformada à semelhança
de Jesus Cristo, porque a obra redentora de Deus não se interrompe antes de ser
completada. À medida que vamos conhecendo as verdades de Deus vemos os cui-
dados que Ele tomou, em sua infinita sabedoria, para que nós que éramos escravos
postos à venda fôssemos comprados, não porque tivéssemos qualquer utilidade para
o comprador, mas porque Ele teve prazer em nos comprar a fim de nos conceder a
liberdade. Exaltamos a graça de Deus que nos trouxe a liberdade. Louvamos a Deus
como o apóstolo o faz, porque há liberdade em Cristo, e podemos permanecer livres
porque Cristo nos libertou. Mas essa liberdade que os filhos de Deus gozam existe
porque houve a redenção, existe porque foi pago um preço a fim de que o comprador
pudesse libertar.
Enquanto estávamos no mercado de escravos do pecado, enquanto estávamos
debaixo do cativeiro e da escravidão a Satanás, Deus não tinha o direito de tocar
naquele que pertencia a outro. Deus não podia, arbitrariamente, ir à casa de Satanás
e nos libertar. Ele não podia nos libertar, antes que nos tornássemos propriedade
Sua, antes que nos tivesse remido. Mas quando Ele o faz, pode então dispor daquilo
que lhe pertence, de suas possessões, como lhe agrade. A fim de que Jesus Cristo
pudesse nos dar a liberdade, e nos livrar dos grilhões do pecado, foi preciso que
houvesse uma compra: Ele pagou o preço, seu próprio sangue, e libertou aqueles
que comprou para si mesmo, tornando possível sua entrada na família da fé. A
Palavra de Deus nos dá, portanto, razão para exaltar ao Senhor pela magnificência
de nossa redenção.
Entretanto, se temos redenção, é necessário que haja um Redentor. No Velho
Testamento, Deus, por meio de exemplos, estava preparando o caminho para a vinda
do Redentor, pois instituiu uma tradição que representava graficamente a obra do
Senhor Jesus Cristo como o Redentor de Deus. Se um israelita era vendido como
escravo ou se entregava à escravidão como pagamento de alguma dívida, existia
uma provisão mediante a qual ele podia ser libertado. Um resgatador, um parente
próximo do escravo tinha o direito e a responsabilidade de pagar o preço para libertá-
lo da escravidão. Havia, porém, certas condições estabelecidas com respeito a quem
poderia ser o remidor e sobre os termos para a libertação do escravo. Quero destacar
rapidamente quatro fatos.
Primeiro, era necessário que o remidor do escravo fosse parente dele. Não
bastava que uma pessoa se compadecesse da situação de um escravo para libertá-
lo, pois o direito de redenção era reservado a um parente. Você deve estar lembrado
de que Boaz, quando Rute estava prestes a tornar-se escrava, tinha o direito de res-
gatá-la por ser parente dela. Se Jesus Cristo é o Redentor dos homens, deve ser
aparentado com eles, caso contrário não poderá ser aceito como Redentor. O escritor
da carta aos Hebreus, conhecendo as exigências do Velho Testamento, mostra-nos
como Cristo preencheu essas condições para poder ser o Redentor (2:14-15): “Visto,
pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele,
igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder
da morte, a saber, o diabo; e livrasse a todos que, pelo pavor da morte, estavam
sujeitos à escravidão por toda a vida”. O apóstolo continua então mostrando que Je-
sus Cristo não se identificou com os anjos, pois se Ele fosse anjo não seria elegível
como Redentor dos homens. Mas Jesus Cristo, o filho eterno de Deus, através do
nascimento virginal, assumiu total e completa humanidade, a fim de que, como Filho
do homem, aparentado com os homens pelo nascimento, pudesse ser o represen-
tante e resgatador deles. Jesus Cristo estava ligado aos homens, “Ele se fez carne”
para a obra da redenção.
Em segundo lugar, vemos no Velho Testamento que o remidor precisava ter
meios com que pagar o preço da libertação do escravo. Ele precisava estar
capacitado para libertar. O parente mais próximo de Rute não podia pagar seu res-
gate e Boaz ofereceu-se para remi-la, não só por ser seu parente, mas porque tinha
algo que o primeiro remidor não possuía: Boaz tinha meios com que pagar a liberta-
ção. Assim, Jesus Cristo, para tornar-se o Redentor dos homens, foi preciso que
tivesse os meios suficientes com que pagar satisfatoriamente o resgate. Em Atos
20:28 vemos que Jesus Cristo era o único que podia nos redimir, pois lemos o con-
selho dado aos anciãos: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito
Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou
com o seu próprio sangue”. Seu sangue foi o preço da compra. O sangue oferecido
para nossa redenção não foi o de um homem comum pois teria valor finito e limitado;
mas sim, o sangue do eterno Filho de Deus que se fez carne, de valor inestimável.
Era sangue que podia ser derramado por um número infinito de pecadores. Era san-
gue que podia encher um reservatório de capacidade suficiente para limpar os peca-
dos do mundo. Pedro nos relembra o fato (1 Pe 1:18-19) de que não fomos resgata-
dos mediante coisas corruptíveis, mas incorruptíveis; mas justamente pelo sangue
do Filho de Deus que, como o Cordeiro de Deus, se ofereceu pelos pecados do
mundo.
O terceiro requisito do resgatador era que ele quisesse remir. O parente mais
próximo de Rute não estava disposto a assumir as responsabilidades que lhe cabe-
ríam depois de tê-la remido. Sendo assim, devia passar adiante seu direito de resga-
tador. Boaz não só era parente, como também tinha meios e estava disposto a res-
gatar. Seguimos nosso Senhor até o Jardim do Getsêmani e o vemos extravasar seu
coração a Deus em oração e suplicar: “. . .se queres, passa de mim este cálice, con-
tudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua” (Lc 22:42). Reconhecemos que isto
mostra não apenas sua possibilidade, mas seu desejo. A mesma coisa vem decla-
rada em Hebreus 10:7: “Eis aqui estou. . . para fazer, ó Deus, a tua vontade”.
Quando Pedro procurou dissuadir Cristo de ir para a cruz, foi repreendido com
as palavras: 'Arreda! Satanás. . . porque não cogitas das cousas de Deus” (Mt, 16:23).
Quando tentou proteger a Cristo dos que queriam agarrá-10 e levá-10 perante o tri-
bunal romano, sua espada foi devolvida à bainha, pois nosso Senhor lembrou-lhe
que Ele podia pedir a Deus que lhe mandasse dez legiões de anjos para livrá-lo de
seus adversários. Ele, porém, acompanhou os romanos de boa vontade.
Se o sacrifício de Jesus não tivesse sido voluntário, Deus teria então cometido
o maior crime da História. Mas, se Jesus Cristo foi sacrificado por sua própria von-
tade, a cruz permanece como a maior prova de submissão e obediência à vontade
de Deus que o mundo jamais presenciou. Seu propósito era remir.
E finalmente era necessário que o remidor não precisasse, ele mesmo, da re-
missão que se propunha proporcionar a outrem. Isto significa que nenhum escravo
podia resgatar outro, pois um cativo não estaria em posição de remir quem quer que
fosse. Sua necessidade era tão grande quanto a de qualquer outro escravo. Se Jesus
Cristo devia resgatar os homens da escravidão do pecado, era preciso que Ele pró-
prio não tivesse pecado. Compreende-se assim a importância das palavras do escri-
tor de Hebreus: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se
das nossas fraquezas, antes foi ele tentado em todas as cousas, à nossa seme-
lhança, mas sem pecado” (4:15). O mesmo escritor que afirma que nós fomos redi-
midos pelo sangue precioso de Cristo, também se refere a Cristo, dizendo (1 P.e
2:22-24): “O qual não cometeu pecado, nem dolo algum se achou em sua boca, pois
ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje, quando maltratado não fazia amea-
ças, mas entregava-se àquele que julga retamente, carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós mortos aos pecados, vi-
vamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados”., A Palavra de Deus apresenta
a verdade no sentido de que Jesus Cristo era um Redentor aceitável para a raça
humana, pois não foi atingido pelo pecado. Por ser o único sem pecado, Ele mesmo
não precisa de redenção, mas pode oferecer seu sangue como pagamento pelos
pecadores onde quer que estejam. Podemos exaltar a Deus, não apenas pela reden-
ção que há em Cristo, mas também pelo Redentor, aquele que se fez carne para nos
redimir; o único que tinha possibilidade de o fazer por sua natureza infinita; o único
que estava disposto a nos remir, por ter-se submetido à vontade de Deus; o único
que, por não estar envolvido com o pecado, podia oferecer-se como sacrifício pelos
pecados do mundo.
Este Redentor fez uma compra, paga com o seu próprio sangue. Compra essa
que nos liberta e inclui a promessa de que jamais seremos conduzidos de volta à
escravidão. É uma compra que nos destina para a Glória e nos dá a certeza de nossa
confiança e segurança, porque a redenção foi feita em Cristo Jesus. Cristo não é seu
Redentor, debaixo da autoridade da Palavra de Deus, afirmo-lhe que não será pelas
obras de justiça que possamos praticar, mas, somente pela sua misericórdia é que
nos salvamos — não por obras, mas pela compra. Você já se tornou possessão de
Deus pela fé em Cristo?

RECONCILIAÇÃO

2 Coríntios 5:14-21

Eu descia a Rua Principal há pouco tempo, quando olhei para meu relógio e vi
que estava parado; eu tinha esquecido de dar-lhe corda. Passando por uma grande
joalheria vi um relógio de precisão exibido com grande destaque e acertei o meu por
ele. Enquanto fazia isso, notei que um homem havia parado e também acertava seu
relógio pelo mesmo cronômetro. Pude notar que tinha um relógio de pulso novo e
com grande orgulho verificava a sua exatidão. Ele olhou para o cronômetro, depois
para o seu relógio e o ouvi murmurar: “Está atrasado um minuto”. Acertou-o de
acordo com o cronômetro e seguiu seu caminho. Um pouco adiante havia outra joa-
lheria e lá também estava em exibição um cronômetro. Quando o homem passou por
ela, parou e olhou outra vez para seu relógio. Seu rosto demonstrou aborrecimento,
pois os dois cronômetros não estavam sincronizados e cada um marcava uma hora
diferente. O pobre homem não sabia o que fazer , se aceitava a hora marcada pela
primeira joalheria ou se acertava seu relógio pelo da segunda. Fiquei observando
para ver sua reação. Ele voltou-se, atravessou a rua em direção a uma terceira joa-
lheria que também expunha um cronômetro na vitrina. Não tive coragem de segui-lo,
mas penso que ele estava tirando a média entre os três a fim de acertar o seu relógio.
Aquele homem estava ajustando seu relógio, conformando-o com um padrão.
Pelo menos uma vez por mês nós nos sentamos para acertar nossa conta ban-
cária. No fim do mês é preciso fazer um ajuste de contas, um acerto, quando o talão
de cheques deve ser confrontado com o extrato enviado pelo Banco. Ao acertar suas
contas de acordo com o extrato fornecido pelo Banco, no sentido bíblico você está
“reconciliando” suas contas. O que estou tentando mostrar é que a palavra que tem
confundido tantos filhos de Deus por parecer um termo teológico complexo e
complicado é realmente bem simples. A palavra “reconciliação” nas Escrituras signi-
fica “conformar-se com um modelo, ajustar-se a um modelo específico”.
De acordo com a Palavra de Deus, o mundo está fora de equilíbrio. Não está
ajustado de acordo com o padrão estabelecido por Deus. Isto é ilustrado com clareza
em Romanos 5:6 onde o apóstolo apresenta muitos detalhes a respeito da doutrina
de reconciliação. Lemos ali “porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu
a seu tempo pelos ímpios”. Há duas afirmações neste verso que destacam o fato de
não estarmos de acordo com o padrão estabelecido por Deus. Paulo diz primeiro que
“éramos fracos” e, a seguir, que “éramos ímpios”. A palavra “fracos” dá ênfase à
nossa total debilidade, à nossa completa incapacidade de nos tornarmos aceitáveis
a Deus ou conformes ao seu modelo. Mesmo sabendo o que Deus exigia de nós,
éramos incapazes de nos ajustarmos a esses requisitos porque estávamos fracos.
Mas Paulo diz, em segundo lugar, éramos ímpios, salientando o fato de não nos
ajustarmos; não só somos incapazes de nos ajustar, mas realmente não estamos de
acordo com o modelo estabelecido por Deus.
Paulo continua: “Dificilmente alguém morrería por um justo; pois poderá ser que
pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu amor para conosco, pelo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (v. 7-8). Temos aqui
uma terceira evidência de que não nos ajustamos aos padrões de Deus, pois Paulo
diz que somos pecadores. O apóstolo não mostra apenas a natureza que nos con-
trola, mas também o resultado dessa natureza. Não somos somente fracos e incapa-
zes de nos ajustar aos padrões de Deus; não somos apenas ímpios, porque Deus
não faz parte de nossos conceitos, mas praticamos• ainda a impiedade e a injustiça,
somos tidos como pecadores aos olhos de Deus.
O apóstolo prossegue: “Logo muito mais agora, sendo justificados pelo seu
sangue, seremos por ele salvos da ira” (v. 9). Isto nos dá uma quarta evidência de
que não nos ajustamos aos padrões de Deus. Longe de sermos objetos do favor
divino, somos objetos de sua ira. Deus proferiu uma sentença contra todos que são
fracos, ímpios e pecadores e o julgamento divino para o pecado é a ira, por isso
somos objetos da ira divina. Paulo diz: “Por que se nós, sendo inimigos, fomos re-
conciliados com Deus pela morte de Seu Filho, muito mais, estando já reconciliados,
seremos salvos pela sua vida” (v. 10). Paulo diz que somos inimigos. Isto destaca o
fato de que nossa impiedade, nossa ignorância e fraqueza e nossos pecados são
traduzidos como atos manifestos de guerra e rebelião contra Deus. Não somos plá-
cidos em nossa ignorância e fraqueza, não somos passivos em nosso pecado e im-
piedade, mas violentamente ativos a um ponto tal que Paulo exclama: “somos inimi-
gos”. Em vista dessas razões apresentadas por Paulo nesta breve passagem, temos
de confessar que, nosso desajuste aos padrões de Deus é semelhante ao de um
relógio sem corda em contraste com um cronômetro de precisão. Pela nossa própria
natureza, é necessário que nos ajustemos ao padrão de Deus. É muito importante
que nos lembremos ser o próprio Deus o modelo por Ele usado para testar os ho-
mens. Deus não estabeleceu um padrão independente de si mesmo, do qual Ele
esteja separado, e ao qual pede aos homens que se ajustem. Mas o próprio Deus é
o modelo inalterável e imutável pelo qual os homens são julgados. Como os homens
pecaram e carecem da glória de Deus há necessidade de reconciliação. É por isso
que em Romanos capítulo 3 Paulo destaca o fato de que todos pecaram e foram
destituídos, está dando ênfase à grande necessidade de reconciliação, à grande ne-
cessidade de se conformar ou serem ajustados ao padrão divino. Tenho a certeza de
que vocês já ouviram a história divertida de uma fábrica, de cujo escritório, todas as
manhãs telefonavam para um centro de informações para saber as horas e assim
acertar seus relógios de acordo com a informação. Quando o apito do meio-dia so-
ava, o chefe do centro de informações, por sua vez, acertava o seu relógio pelo da
fábrica. Não é de admirar que houvesse uma confusão sem fim, pois cada um deles
se apoiava no outro, acertando seus relógios nessa conformidade. Se nosso modelo
for flexível então a necessidade de reconciliação desaparece, pois cada homem se
torna seu próprio padrão. Não podem haver mudanças para conformar-se a um mo-
delo, a menos que este seja absoluto e inflexível. E quando alguém quer ter certeza
da exatidão da hora, manda ajustar todos os seus relógios pelos corpos celestes
porque estes são os padrões mais imutáveis e inflexíveis que se conhece. Deus es-
tabelece sua santidade como esse modelo inflexível pelo qual os homens são testa-
dos e se torna o padrão de confronto.
Ê errado dizer-se: “Deus está reconciliado”. O que essa expressão sugere?
Que Deus precisa-se ajustar a uma norma? Que Deus de algum modo está em de-
sarmonia com alguma coisa? Não está de acordo com as normas estabelecidas? Ou
que mudou para se ajustar? Isto é completamente impossível! Devemos corrigir essa
expressão dizendo: “Estou reconciliado com Deus”, pois o ensinamento sobre a re-
conciliação contido nas Escrituras nos diz que Deus é sempre o Reconciliador e é
sempre o homem quem se reconcilia como Ele. Deus nos aproxima dele e faz com
que nos ajustemos ao seu Modelo.
Ao considerarmos os ensinamentos bíblicos sobre a Reconciliação, quero des-
tacar primeiramente o fato de que Deus reconciliou o mundo consigo mesmo. Leia-
mos o que o apóstolo Paulo escreve em 2 Coríntios 5:19: “Deus estava em Cristo
reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões.
. .” Note: Deus estava em Cristo reconciliando o mundo. A palavra mundo não se
refere à terra habitada, isto é, ao globo terrestre no qual vivemos,’ mas ao mundo
daqueles que, de acordo com Romanos 5, foram chamados de ímpios, de pecadores
é de inimigos e que estavam sob a ira de Deus. O relacionamento do mundo com
Deus foi mudado de tal modo que Ele pode ajustá-lo a seus padrões. Agora, uma
coisa deve ficar bem clara em sua mente, isto não indica que Deus salvou todos os
homens, nem que toda a humanidade está agora salva, nem ainda que todos os
homens no final serão salvos. Tal ideia iria contradizer grande parte dos ensinamen-
tos da Palavra de Deus. Pelo contrário, isto destaca o fato de que o Senhor Jesus
Cristo lançou o fundamento sobre o qual Deus pode firmar-se para alcançar os pe-
cadores e levá-los para Si mesmo. Ele não podia arbitrariamente lançar uma ponte
sobre o abismo que se abriu entre a sua pessoa e os homens pecadores. Era neces-
sário que houvesse uma base sobre a qual a graça divina pudesse manifestar-se a
agir. Deus, em Cristo Jesus, estava mudando o relacionamento entre Ele mesmo e
o mundo, para que os homens pudessem ser salvos.
Quando Deus criou Adão e Eva e os colocou no Jardim do Éden, Adão e Deus
gozavam de um relacionamento face a face. Era costume de Deus ir ao Jardim no
frescor da manhã, como relatado em Gênesis 3, para passear e falar com Adão e
Eva. Eles podiam assim gozar de uma doce amizade e camaradagem. Não sabemos
quanto tempo, durou essa situação, mas Gênesis, no capítulo 3, nos diz que esse
estado foi interrompido pela desobediência de Adão e Eva. Os dois, deliberada e
propositadamente voltaram as costas a Deus. Como resultado, a amizade entre Deus
e Adão tornou-se impossível, porque o Senhor era um Deus Santo e Adão se tornara
um pecador. Adão era fraco, ímpio, inimigo de Deus e estava sob condenação. Deus
teve de voltar suas costas a Adão porque não podia continuar ligado a uma criatura
pecadora. O privilégio daquela amizade face a face tinha sido total e completamente
perdido.
Existe por parte do homem um sentimento de hostilidade contra Deus. Esta foi
a situação à qual o homem foi lançado por causa do pecado de Adão, tendo perma-
necido neste estado até que Jesus Cristo veio para reconciliar o mundo com Deus.
Jesus Cristo cobriu o pecado do mundo, e quando cobriu, ou quando fez uma propi-
ciação pelo pecado do mundo, Deus pôde voltar sua face para o homem. E Deus,
que havia voltado as costas aos pecadores, porque não existiam condições para re-
cebê-los, pode agora voltar-se para o homem e estender-lhe a mão dizendo: “Vinde
a Mim”. A morte de Jesus Cristo foi o fundamento necessário para que Deus pudesse
receber os homens. Deus não se reconciliou com o mundo, mas o mundo foi recon-
ciliado com Deus. Através da morte de Cristo o mundo foi levado a um novo relacio-
namento com Deus — o mundo pôde ser salvo.
O segundo fato a respeito da doutrina da reconciliação está salientado nas Es-
crituras. Não apenas o mundo foi reconciliado com Deus, mas de acordo com 2 Co-
ríntios 5:20 existe a reconciliação pessoal do indivíduo com Deus. A reconciliação do
mundo com Deus tornou possível a reconciliação pessoal com Ele. Em 2 Coríntios
5:20 lemos: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo como se Deus
exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconci-
lieis com Deus”. Embora a morte de Cristo tenha propiciado o relacionamento de
Deus com o mundo, o homem ainda se mantém fora desse relacionamento com Deus
com o mundo, o homem ainda se mantém fora desse relacionamento com o Senhor
e precisa ser conduzido de volta à comunhão com Ele. Paulo ensina que o mundo foi
reconciliado com Deus. A face divina está voltada para o mundo, chamando-o para
si, mas os indivíduos mantêm suas costas voltadas para Deus. Eles precisam atender
o convite de Deus para que se reconciliem com Ele, se ajustem a seus padrões,
sejam conformados a Ele através de Jesus Cristo. E a isto que se dá o nome de
reconciliação do indivíduo com Deus.
A Palavra de Deus tem muito a dizer com relação à base desses dois aspectos
da reconciliação. Assim sendo, em terceiro lugar, devemos considerar os
ensinamentos das Escrituras a respeito do fundamento pelo qual o mundo foi recon-
ciliado com Deus, e os pecadores também podem sê-lo individualmente. Note que
essa reconciliação é feita através de Jesus Cristo. Veja em 2 Coríntios 5:18: “Ora,
tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo...” Re-
conciliação do mundo e do indivíduo através de Jesus Cristo. Em Romanos 5:11 o
mesmo fato é apresentado: “E não isto apenas, mas também nos gloriamos em Deus
por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem acabamos agora de receber
a reconciliação”. Vemos assim a obra de Deus, reconciliando o mundo e os pecado-
res consigo mesmo, através de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo.
Em segundo lugar Paulo nos mostra que a reconciliação é obtida pela morte de
Cristo, pois Ele diz (Rm 5:10): “. . .se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com
Deus mediante a morte do Seu Filho...” A reconciliação não dependeu só de Cristo;
mas, mais ainda, dependeu da sua morte. Foi a morte de Cristo que reconciliou o
mundo com Deus e tornou possível a cada pecador essa mesma reconciliação.
Em Efésios 2:16, o apóstolo mostra em terceiro lugar que fomos reconciliados
pela cruz. “E reconciliasse ambos em um só corpo com Deus por intermédio da cruz,
destruindo por ela a inimizade”. Em Efésios 2, Paulo está falando sobre os judeus e
os gentios que pela cruz de Cristo são levados à conformidade com Deus, e é a cruz
de Cristo que reconcilia ambos a Deus Pai. Somos reconciliados pela cruz.
Em quarto lugar, somos reconciliados pelo sangue: “. . .e não isto apenas, mas
também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de
quem acabamos agora de receber a reconciliação” (Rm 5:11). A palavra “reconcilia-
ção” ou “expiação” é a empregada no Velho Testamento quando se fala do sangue
usado no propiciatório. Quando o sumo sacerdote recolhia em uma vasilha o sangue
do animal sacrificado, e o levava ao santuário, atrás do véu, e à presença de Deus
no Santo dos Santos, ele espalhava esse sangue sobre o propiciatório, fazendo as-
sim a reconciliação pelos pecados do povo; toda reconciliação no Velho Testamento
era sempre feita com derramamento de sangue. Sem sangue não havia reconcilia-
ção. Não existia outro meio de alcançar o padrão divino a não ser pelo sangue.
Quando em Romanos 5:11 Paulo diz: “. . .acabamos agora de receber a reconciliação
(ou expiação)”, ele está lembrando o que cada cordeiro sacrificado no Velho Testa-
mento ensinava que: — sem derramamento de sangue não podia haver remissão de
pecados. Sem o sacrifício de sangue o mundo não podia ser reconciliado com Deus.
Os pecadores não podiam se reconciliar com um Deus Santo e justo.
Finalmente, em quinto lugar, vemos que a reconciliação se baseia na identifi-
cação de Cristo com o pecador, pois Ele tomou o seu lugar. Em 2 Coríntios 5:20-21
lemos: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exor-
tasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis
com Deus. Àquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que
nele fôssemos feitos justiça de Deus”. No verso 21 ele nos dá a explicação de como
a reconciliação se tornou possível. Você pode se ajustar ao padrão de Deus porque
Ele fez com que Cristo se tornasse pecado por nós. O Único que não conhecia o
pecado, o Único em cujos lábios jamais se encontrou o engano, tomou sobre si o
nosso pecado para que pudesse levar todos os pecados até a cruz, e oferecer-se
como um substituto aceitável a Deus em nosso lugar. Quando Jesus Cristo se iden-
tificou com o pecador, indo para a cruz em seu lugar, tornou possível a doutrina da
reconciliação. Ele proporcionou a Deus o ensejo de amoldar o mundo a Si mesmo;
ajustar o mundo a seus padrões de. modo que os pecadores pudessem encontrar a
salvação, pois “Jesus pagou por tudo”. Você pode se ajustar a Deus, a seus padrões,
por meio de Cristo, pela sua morte, pela sua cruz, pelo seu sangue e pela sua iden-
tificação com os pecadores.
O Senhor Jesus Cristo com sua morte na cruz realizou a grande mudança. Foi
uma mudança de posição: o relacionamento do mundo com Deus foi mudado, e a
sua salvação se tornou possível. Mas Jesus Cristo com sua morte na cruz possibilitou
uma segunda grande mudança e esta não foi de posição; esta é experimental, a
mudança do homem mundano em direção a Deus. É por isso que o apóstolo em sua
carta aos Coríntios destaca exatamente o ponto para o qual quero chamar sua aten-
ção em nossas considerações sobre a doutrina da reconciliação.
Ao filho de Deus foi confiada uma mensagem, a mensagem da reconciliação.
Leiamos as palavras de Paulo em 2 Coríntios 5:18-20: “Ora, tudo provém de Deus,
que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e (note bem) nos deu o mi-
nistério da reconciliação; a saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo
o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra
da reconciliação. De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se
Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos
reconcilieis com Deus”. Deus reconciliou o mundo consigo mesmo para que este pu-
desse gozar da salvação. Deus convida o pecador à reconciliação através de Jesus
Cristo, em sua morte, sua cruz, seu sangue, sua identificação com os homens. Mas,
sem o ministério de reconciliação, aqueles para os quais ela foi propositada jamais
se ajustarão aos padrões divinos. É por essa razão que Paulo diz ter sido dado aos
filhos de Deus o ministério de anunciar aos homens que Deus foi pacificado, Deus
foi satisfeito, a sua exigência Santa e justa foi satisfeita por Jesus Cristo e os peca-
dores podem se aproximar de Deus através dEle. Deus nos fez seus embaixadores.
Temos uma ideia muito vaga sobre o que é um embaixador. Às vezes pensa-
mos que o embaixador do Brasil é um representante do país, ou representa o Con-
gresso, ou o povo, ou ainda o Departamento de Estado. Na realidade um embaixador
é o representante pessoal do Presidente; ele representa alguém que não está pre-
sente em pessoa. O apóstolo diz que Deus nos fez seus embaixadores. Como Ele
não está visivelmente presente para anunciar as boas novas da reconciliação dos
pecadores com Deus, fez de nós seus representantes.
PROPICIAÇÃO
1 João 2:1-10

O conceito de Deus universalmente aceito pelos pagãos é o de um deus irado,


cuja ira deve ser aplacada, sem o que nenhuma bênção pode ser esperada da parte
dele. E é o que todos os pagãos procuram fazer: mudar a atitude de seu deus para
com eles, de modo que possam receber bondade e misericórdia de suas mãos. So-
mente a Palavra de Deus nos dá a imagem do verdadeiro caráter de Deus — um
Deus de amor, de misericórdia, de graça; um Deus que por ser santo tem de punir
os pecadores, mas que os ama e procura derramar misericórdia e graça sobre eles
desde que haja um modo de extravasar a torrente de seu amor sobre os homens.
Em 1 Reis capítulo 18 temos um exemplo claro dó conceito pagão de deus —
um deus que precisa ser aplacado, cuja atitude para com os homens deve ser mu-
dada para que possam receber dele algum favor. Naquele capítulo, se você se re-
corda, o profeta Elias está em luta com os profetas de Baal. Ele os desafiou para uma
prova com a finalidade de demonstrar qual é o verdadeiro Deus. Lemos nos versos
25-26: “disse Elias aos profetas de Baal: Escolhei para vós outros um dos novilhos e
preparai-o primeiro, porque sois muitos, invocai o nome de vosso deus; e não lhe
metais fogo. Tomaram o novilho que lhes fora dado, prepararam-no, e invocaram o
nome de Baal, desde a manhã até ao meio-dia dizendo: Ah! Baal, responde-nos!”
Aqueles profetas de uma divindade falsa estavam tentando mudar a atitude de seu
deus para com eles, através da oração e súplica. Mas como resultado: “...não havia
uma voz que respondesse; e, manquejando, se movimentavam ao redor do altar que
tinham feito" (v. 26). Através dessa demonstração exterior, estavam procurando mu-
dar o comportamento do seu deus de uma atitude de animosidade e ódio para outra
de bondade e misericórdia. “Ao meio-dia Elias zombava deles, dizendo: Clamai em
altas vozes, porque ele é deus; pode ser que esteja meditando, ou atendendo a ne-
cessidades, ou de viagem, ou a dormir e despertará” (v. 27). Elias estava citando o
conceito pagão de que o deus era indiferente às necessidades dos homens, e que
seria preciso muito esforço por parte destes para despertar num deus, qualquer inte-
resse, compaixão ou preocupação pelo ser humano. Mas nós lemos: “E eles clama-
vam em altas vozes, e se retalhavam com facas e com lancetas, segundo o seu
costume, até derramarem sangue (v. 28). Através do sacrifício pessoal, sofrimento a
penitência procuravam fazer com que o seu deus saísse de seu silêncio de pedra e
os fizesse gozar de sua misericórdia.
Em contrapartida, Elias apresentou-se a Deus, não com súplicas, nem com de-
monstrações exteriores, nem mesmo com lamentações ou atos de penitência, mas
com um sacrifício. Com uma fé simples ele ofereceu um cordeiro a Deus. Este o ouviu
e respondeu.
Neste registro temos um exemplo muito claro do conceito comum de Deus —
a saber, que Deus é duro, frio, obstinado, desinteressado e despreocupado; e que
sua atitude para com os pecadores só pode mudar através de súplicas, penitência e
sacrifício pessoal. Quando conhecemos o Deus que nos é apresentado na Bíblia,
revelado na pessoa de Jesus Cristo, descobrimos que, ao contrário da ideia pagã,
Ele é um Deus de infinita bondade, infinita misericórdia e graça — um Deus que se
preocupa com as necessidades de suas criaturas embora elas sejam pecadoras; um
Deus que pode atender-lhes as necessidades pessoais; um Deus que tem prazer em
extravasar seu amor, sua graça e misericórdia sobre elas. Não é a atitude de Deus
que precisa ser mudada; mas, sim, que as comportas do grande reservatório do
amor, da misericórdia e da graça de Deus sejam abertas, para que os homens vejam
supridas as suas necessidades pela sua graciosa providência, em Jesus Cristo e
através dEIe.
Quando chegamos aos ensinamentos das Escrituras sobre a propiciação, es-
tamos estudando uma das três grandes palavras doutrinárias empregadas nas Es-
crituras para nos revelar a extensão do valor da morte de Cristo pelos pecadores.
Tão vasta é a obra de Cristo a favor dos pecadores, que todos os benefícios da sua
morte não podem ser resumidos em uma só palavra ou em um breve ensinamento.
Pelo contrário, todos os aspectos da obra de Cristo devem ser examinados e toma-
dos em conjunto, para podermos calcular melhor o valor inestimável de sua morte.
Quando estudamos a doutrina da redenção, vimos que esta focalizou a morte de
Cristo em relação ao pecado, quando através dela Ele comprou do mercado de es-
cravos do pecado aqueles que estavam acorrentados e presos. Quando estudamos
a doutrina da reconciliação focalizamos a morte de Cristo em relação ao homem. Os
pecadores que estavam separados de Deus por um grande abismo foram trazidos
para perto. E agora ao considerarmos esta terceira grande palavra doutrinai, propici-
ação, estaremos estudando o valor da morte de Cristo em relação a Deus. Enquanto
a redenção foi feita visando o pecado e a reconciliação visando o homem, a propici-
ação focaliza o terceiro aspecto ou o valor da morte de Cristo em relação a Deus.
A propiciação não sugere que Deus precise mudar, pois o nosso Deus é imu-
tável. O Pai, assim como o Filho, é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Quando o
apóstolo João escreveu que Deus é amor, não estava sugerindo que Ele tivesse co-
meçado a amar somente depois que Cristo morreu pelos pecados do mundo; mas,
sim, que Ele, eterna e infinitamente, é um Deus de amor. O Seu amor pelos pecado-
res não podia, porém ser desencadeado, extravasado, enquanto não houvesse uma
base sobre a qual Deus pudesse se apoiar em seu relacionamento com os homens.
A propiciação é a obra de Cristo que satisfaz todas as exigências da justiça, santi-
dade e retidão divinas para que Deus ficasse livre para agir em benefício dos peca-
dores. Quero salientar mais uma vez que a propiciação não muda a atitude de Deus,
mas Lhe dá liberdade de ação para favorecer os pecadores.
O Velho Testamento, através de tipos, ilustra para nós o valor da morte de
Cristo como aquilo que propicia ou desencadeia o amor e a misericórdia de Deus em
relação aos pecadores. Esta propiciação é descrita para nós em Levítico 16, onde
temos a revelação de Deus sobre o dia da expiação. Quero chamar sua atenção para
alguns fatos sobre o ritual deste dia que constituem uma espécie de previsão sobre
a obra propiciatória de Jesus Cristo.
Deus falou a Moisés, dizendo-lhe em Levítico 16:2: “Dize a Arão, teu irmão, que
não entre no santuário em todo tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório
que está sobre a Arca, para que não morra; porque aparecerei na nuvem sobre o
propiciatório”. O primeiro grande fato que descobrimos é que um Deus Santo é ina-
cessível, por causa dos pecados do homem. Moisés e Arão não tinham permissão
para apresentar-se diante de Deus a não ser pelo sangue do sacrifício, e mesmo
assim só quando realizavam o ritual ordenado. Deus erigiu no Tabernáculo um véu
exterior e um interior, para lembrar ao povo de Israel, e a nós também que Ele seja
um Deus de infinito amor, misericórdia e graça, a barreira do pecado O separa do
homem, de modo que o pecador não pode aproximar-se dEle.
Em Levítico, 16:16-17, lemos a respeito da aspersão do sangue: fará expiação
pelo santuário por causa das impurezas dos filhos de Israel e das suas transgressões
e de todos os seus pecados. Da mesma sorte fará pela tenda da congregação que
está com eles no meio das suas impurezas. Nenhum homem estará na tenda da
congregação quando ele entrar para fazer propiciação no santuário, até que ela
saia...” descobrimos nestes versos que a expiação, ou propiciação era necessária
por causa do pecado da nação representada pelos sacerdotes. Os versículos reve-
lam o primeiro grande fato de que a propiciação é uma exigência porque Deus é
santo e os homens pecadores. São os homens que precisam ser reconciliados com
Deus, e não Deus com eles. Deus só necessita de uma base como ponto de apoio,
para que possa receber os pecadores. A propiciação oferece essa base.
Quando voltamos ao verso 14 descobrimos que é o sangue que faz a obra da
propiciação. Lemos: “Tomará do sangue do novilho, e com o dedo o espargirá sobre
a frente do propiciatório; e diante do propiciatório espargirá sete vezes do sangue
com o dedo”. Não era o incenso, nem as ofertas de ouro ou prata que operavam a
propiciação. Não eram também as orações dos sacerdotes pedindo o perdão para o
povo de Israel, nem as boas obras, que operavam a propiciação, mas única e exclu-
sivamente o sangue.
Deus mostrou onde o sangue da propiciação devia ser colocado. Esse lugar
era o propiciatório, acima da Arca. Dentro da Arca estava a Lei que tinha sido trans-
gredida. Ordenou também que o sangue fosse posto no propiciatório para que, ao
ser feita a propiciação Ele pudesse olhar para a lei transgredida, dentro da Arca, e
ter misericórdia dos homens. Depois do sangue ter sido aplicado e Deus propiciado,
Sua condenação dos pecadores da nação de Israel seria de novo suspensa por um
período de doze meses. O escritor de Hebreus nos conta (10:3) que, todos os anos
o sumo sacerdote espargia o sangue sobre o propiciatório para lembrar o pecado.
Cada vez que o sacrifício era oferecido e o sangue espargido sobre o propiciatório,
tratava-se do reconhecimento de uma dívida. Os filhos estavam renovando uma dí-
vida, e todos os anos no dia da expiação ofereciam o sangue com a intenção de que
seu débito fosse prorrogado, pois como diz o escritor aos Hebreus, era impossível
que o sangue de novilhos e bodes pudesse finalmente remover o pecado.
Tudo isto era uma antecipação da vinda do Senhor Jesus Cristo, “A quem Deus
propôs no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua jus-
tiça, por ter Deus na sua tolerância deixado impunes os pecados anteriormente co-
metidos” (Rm 3:25). O que o apóstolo está explicando é que Jesus Cristo, quando foi
para a cruz, reuniu todas as dívidas que o povo de Israel renovava anualmente no
dia da expiação e, oferecendo Seu sangue como propiciação a um Deus santo, fez
um pagamento total e final de todas essas dívidas. Como resultado temos a remis-
são, o perdão dos pecados. Fatos físicos descobertos no Velho Testamento nos mos-
tram que Deus é quem deve ser tornado propício. Essa propiciação é necessária por
causa dos pecados da humanidade e somente o sangue pode efetuá-la. O Senhor
indicou o lugar onde a mesma deve ser realizada e, quando o sangue é espargido no
propiciatório, Ele se torna propício: manifestando Sua graça, Sua misericórdia e Seu
amor, porque encontrou um meio pelo qual pode extravasar sobre o homem decaído
todo esse amor e misericórdia. Todavia, a propiciação no Velho Testamento era pro-
visória.
Quando chegamos ao Novo Testamento vemos que as mesmas verdades
apresentadas no Velho Testamento, quanto ao ritual do dia da expiação, são com-
pleta e finalmente cumpridas pelo Senhor Jesus Cristo. Se você, por exemplo, ler o
livro de Hebreus, cap. 9, v. 28, descobrirá que a propiciação foi oferecida a Deus
porque os homens eram pecadores: “Assim também Cristo, tendo-se oferecido uma
vez para sempre para tirar os pecados de muitos...” Quando Jesus Cristo foi para a
cruz, levou sobre Si nossos pecados. Pedro diz que “carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados...” (1 Pe 2:24). O profeta Isaías, anteci-
pando a vinda de Alguém, disse que “Todos nós andávamos desgarrados como ove-
lhas; cada um se desviava pelo caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade
de nós todos” (53:6). Foi o pecado que levou Jesus Cristo ao Calvário. Assim como
pelo pecado do povo de Israel se oferecia um animal no dia da expiação, também
pelo pecado da humanidade Cristo foi oferecido na cruz como sacrifício.
Descobrimos, em segundo lugar, que ao oferecer-se como sacrifício pelos pe-
cadores, Jesus Cristo ofereceu-se a Deus. Leiamos as palavras de Hebreus 9:13-14:
“Portanto, se o sangue de bode e de touros, e a cinza de uma novilha, espargida
sobre os contaminados os santifica, quanto a purificação da carne, muito mais o
sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a
Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para servirmos ao Deus vivo!”.
Observe em relação a isto que o apóstolo afirma ter Cristo Se oferecido imaculado a
Deus. Jesus Cristo reconheceu o fato de que Deus, o Pai, tinha dentro de Si um
manancial de misericórdia e graça para as dispensar aos homens em suas misérias
e necessidades, mas que não podia extravasá-lo enquanto não encontra se uma
base através da qual Lhe fosse possível ser justo e ao mesmo tempo justificar os
ímpios. Jesus Cristo reconheceu que Deus precisa ser satisfeito antes de poder remir
os pecadores. Portanto, Cristo Se ofereceu sem mácula a Deus, a fim de torná-lo
propício.
Vemos, em terceiro lugar, que Jesus Cristo ofereceu a Deus aquilo que seria
aceito como propiciação, pois no mesmo livro de Hebreus, lemos: “Muito mais o san-
gue de Cristo, ... purificará a nossa consciência de obras mortas, para servirmos ao
Deus vivo! (9:14). O que propiciava era o Seu próprio sangue. Em Hebreus 9:22 o
apóstolo diz “quase todas as cousas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem
derramamento de sangue não há remissão”. Como não poderia haver propiciação,
nem perdão, nem reconciliação sem o derramamento de sangue, Jesus Cristo ofere-
ceu o Seu sangue como aquilo que tornaria Deus propício. De modo que, através do
sangue de Cristo, Deus tivesse uma base de onde pudesse estender Sua mão aos
pecadores e chamá-los a Si através de Seu Filho, que se fez propiciação por eles.
Quando nos voltamos para 1 João 2:2 descobrimos Aquele que fez a propicia-
ção. No Velho Testamento o sangue de um bode era derramado por um sacerdote
sobre o propiciatório, mas no Novo Testamento não foi usado o sangue de um animal,
pois este tem valor apenas temporal e transitório. Foi o sangue do Filho, oferecido
pelo eterno Filho de Deus, que Se fez propiciação por nós. O apóstolo João escreve,
pois: “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos pró-
prios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2:2). E em 1 João 4:10 ele diz: “Nisto
consiste o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas. em que ele nos
amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. Você também
pode interpretar deste modo: “Ele nos amou e enviou Seu Filho como Aquele que
faria a propiciação, oferecendo o sangue propiciatório no lugar da propiciação”.
Descobrimos a seguir mais um fato. O corpo de Jesus Cristo tornou-se o lugar
da propiciação. No Velho Testamento, o propiciatório era o lugar onde se espargia o
sangue; mas no Calvário, o corpo do Senhor Jesus Cristo, pendurado na cruz, tornou-
se o lugar onde foi feita a propiciação. Pedro referiu-se a este fato quando disse:
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados para que
nós, mortos aos pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas fostes sarados”
(1 Pe 2:24). Note a frase “em seu corpo”. O Senhor Jesus Cristo foi para a cruz do
Calvário para derramar o- Seu sangue. Estava oferecendo ali um sacrifício propicia-
tório a Deus. Era o Seu sangue que propiciava, e Seu corpo oferecido na cruz, era o
lugar da propiciação. Ele estava, com efeito, dizendo a Deus: “Eu sou aquilo que, em
Israel. era o lugar da propiciação. Em meu corpo se reuniram todas as leis transgre-
didas e todas as dívidas foram nele acumuladas. No meu corpo será feita a propici-
ação”. Ele derramou então Seu sangue como um sacrifício a Deus e erguendo a voz
orou: “Pai, perdoa-lhes”. Ele reconheceu o débito do pecador, reconheceu que Deus
era Aquele que devia receber propiciação. Jesus ofereceu Seu sangue para que pu-
desse ser propiciado, havendo então uma base sobre a qual pudesse remover a con-
denação de todos aqueles que se aproximam dEle através de Jesus Cristo.
Ao vermos Jesus Cristo oferecendo a propiciação a Deus, alguns fatos se evi-
denciam claramente. Jesus Cristo propiciou o Pai. Jesus Cristo, e somente Ele, era
o Único que poderia oferecer-Se de modo que Deus, tendo de aplicar a condenação
pelo pecado, por ser um Deus santo, pudesse extravasar Sua misericórdia, amor e
graça sobre os pecadores. * Cristo é a única propiciação. Cristo, pendurado sobre a
cruz, era o lugar da propiciação. Essa propiciação Ele não fez em nenhum altar da
terra ou em algo levantado por mãos humanas, nem através de qualquer sacrifício
planejado pelo homem, nem mesmo por meio de penitência ou súplica; mas, sim. em
Seu próprio corpo. O sangue de Cristo foi o que propiciou, e o pecador recebe o
benefício dessa propiciação. E Deus, que antes teria de dizer ao pecador: “Há entre
nós um grande abismo”, pode agora declarar-; “Jesus Cristo carregou na cruz em
Seu próprio corpo, os pecados de todos. Existe um abismo, mas há uma ponte sobre
ele, e Eu encontrei um meio pelo qual posso ser justo e o Justificador daqueles que
nada mais têm a fazer senão crer. Encontrei um modo pelo qual meu eterno amor,
misericórdia, graça e compaixão podem ser derramados sobre os pecadores que
vêm a Mim, porque sou um Deus propiciador”.
No livro de Lucas, capítulo 18, nosso Senhor narrou um incidente que revela
uma verdade preciosa a respeito desta doutrina. Na parábola sobre aqueles que con-
fiam na Sua própria justiça, Ele diz (v.10): “Dois homens subiram ao templo com o
propósito de orar; um fariseu e o outro publicano”. O fariseu, confiando na sua própria
justiça, sentia que a atitude de Deus para com ele seria mudada através de sua ora-
ção, suas ofertas, sua conduta e seus atos. Lembrando a Deus o que ele era, espe-
rava mudar a sua atitude em relação aos pecadores. Permaneceu então em pé e
orou: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores,
injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana
e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (v. 11-12). Este homem se julgava aceitável
perante Deus, primeiro por se achar melhor do que os outros homens, e segundo
pelas coisas que fazia em nome de Deus, Ele dava o dízimo, orava e jejuava, espe-
rava dessa forma que Deus o aceitasse tendo em vista todos esses atos.
Por outro lado, o publicano permanecia em pé e orava, dizendo: “Ó Deus, sê
propício a mim, pecador!” (v. 131; ou, em outras palavras: “Ó Deus, confesso meu
pecado, quebrei a Lei. Foi contra Ti que pequei. Sou responsável diante de Ti; sou
pecador; Tu és santo. Ponho-me sob o sangue do cordeiro que foi espalhado no
propiciatório. Ponho-me sob esse sangue protetor. Agora, Deus, olha para mim como
Tu olhas para o pecado coberto pelo sangue”. Ele não negou seu pecado e sua culpa,
não ofereceu a Deus coisa alguma que viesse de suas próprias mãos; mas pediu que
Deus mostrasse Sua misericórdia para com ele, firmado no sangue derramado con-
forme o exigia a Lei, de acordo com Levítico 16. E Cristo disse “. . . este desceu
justificado para sua casa, e não aquele. . .” (Lc 18:14). Por quê? Por ter-se colocado
debaixo do sangue que deu a Deus uma base sobre a qual pudesse tratar com ele
em misericórdia e graça.
Afirmo, com a autoridade dada pela Bíblia, que Deus, por ser santo, justo e
verdadeiro precisa condená-lo, a menos que seja encontrado um meio pelo qual
possa ser aplacado. Você não tem nada que possa oferecer a Deus que O satisfaça
a não ser o sangue propiciatório do Senhor Jesus Cristo. Não precisamos orar como
fez o publicano: “Deus tem misericórdia de mim pecador”, pois Deus é misericordioso.
Ele manifestou Sua graça e misericórdia dando-nos Cristo como sacrifício propicia-
tório. Nós, como o publicano, nos colocamos sob o sangue propiciador. Afirmamos o
fato de que Deus é propício e, colocando-nos debaixo do sangue propiciatório, acei-
tamos Seu perdão porque Ele é um Deus que foi conciliado pelo sacrifício e pelo
sangue propiciador de Seu Filho.
Israel, no Velho Testamento, olhava para o propiciatório como o lugar onde os
pecadores podiam se encontrar com um Deus gracioso. Nós olhamos para o Senhor
Jesus Cristo na cruz do Calvário, e reconhecemos que Ele levou sobre Si, nossos
pecados, em Seu corpo. Ele é o nosso propiciatório. Nós olhamos para Seu sangue
derramado pelos pecados do mundo e reconhecemos que é isso que nos reconcilia.
Vemo-nos em nossos pecados e confessamos a necessidade que temos de reden-
ção e reconciliação; mas olhamos através de Cristo para um Deus' que se satisfaz
com a morte de Seu Filho, um Deus que foi pacificado e que pode deixar seu amor
fluir porque Cristo fez a propiciação pelos pecados do mundo.
O que tem você para oferecer a Deus a fim de se tornar aceitável? Será que,
como os sacerdotes de Baal, você está tentando com súplicas, demonstrações exte-
riores, penitência, sacrifício, sofrimento, ganhar o perdão ou o amor .de Deus? Quero
encaminhá-lo para Jesus Cristo, o Único que é nosso propiciatório; quero encaminhá-
lo para Seu sangue que propicia; e para o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo
que deseja e pode receber qualquer pecador que se chegue a Ele, pois é um Deus
benigno.

JUSTIFICAÇÃO

Romanos 3:21—4:8
Em muitos tribunais adota-se o princípio jurídico de que a sentença, em qual-
quer caso, seja de acordo com os fatos apresentados nos autos. Nenhum juiz tem o
direito de absolver o culpado ou de condenar o inocente, e para que a justiça seja
exercida, o julgamento deve estar de acordo com este princípio. No Velho Testa-
mento este princípio é bem claro a respeito da administração da justiça na nação de
Israel.' Em Deuteronômio 25:1 lemos: “Em havendo contenda entre alguns, e vierem
a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”. Este
versículo poderia ser traduzido “Absolverão o justo e condenarão ao injusto”. A fim
de que a justiça fosse exercida, a Lei mosaica exigia que toda sentença estivesse de
acordo com este princípio. É por essa razão que a representação da Justiça aparece
sempre com os olhos vendados, de modo que o julgamento possa fazer-se de acordo
com a verdade e não visando as pessoas.
Este princípio de lei que rege os negócios dos homens, é também o princípio
pelo qual Deus exerce a justiça. Quando Deus, como Juiz santo e justo, senta-se
para julgar os homens, Seu julgamento deve ser feito de acordo com a verdade e a
justiça. Deus precisa justificar o inocente e condenar o culpado. Nenhum juiz poderia
administrar a justiça se tratasse os fatos de modo diferente do que são na realidade;
e seria então um juiz injusto se, por favoritismo, absolvesse o culpado e condenasse
o inocente. Esta lei é tão inflexível que deu origem ao que se poderia chamar de “o
maior enigma já enfrentado,
súplicas, demonstrações exteriores, penitência, sacrifício, sofrimento, ganhar o
perdão ou o amor de Deus? Quero encaminhá-lo para Jesus Cristo, o Único que é
nosso propiciatório; quero encaminhá-lo para Seu sangue que propicia; e para o
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo que deseja e pode receber qualquer peca-
dor que se chegue a Ele, pois é um Deus benigno.

JUSTIFICAÇÃO

Romanos 3:2J-—4:8
Em muitos tribunais adota-se o princípio jurídico de que a sentença, em qual-
quer caso, seja de acordo com os fatos apresentados nos autos. Nenhum juiz tem o
direito de absolver o culpado ou de condenar o inocente, e para que a justiça seja
exercida, o julgamento deve estar de acordo com este princípio. No Velho Testa-
mento este princípio é bem claro a respeito da administração da justiça na nação de
Israel; Em Deuteronômio 25:1 lemos: “Em havendo contenda entre alguns, e vierem
a juízo, os juízes os julgarão, justificando ao justo e condenando ao culpado”. Este
versículo poderia ser traduzido “Absolverão o justo e condenarão ao injusto”. A fim
de que a justiça fosse exercida, a Lei mosaica exigia que toda sentença estivesse de
acordo com este princípio. Ê por essa razão que a representação da Justiça aparece
sempre com os olhos vendados, de modo que o julgamento possa fazer-se de acordo
com a verdade e não visando as pessoas.
Este princípio de lei que rege os negócios dos homens, é também o princípio
pelo qual Deus exerce a justiça. Quando Deus, como Juiz santo e justo, senta-se
para julgar os homens, Seu julgamento deve ser feito de acordo com a verdade e a
justiça. Deus precisa justificar o inocente e condenar o culpado. Nenhum juiz poderia
administrar a justiça se tratasse os fatos de modo diferente do que são na realidade;
e seria então um juiz injusto se, por favoritismo, absolvesse o culpado e condenasse
o inocente. Esta lei é tão inflexível que deu origem ao que se poderia chamar de “o
maior enigma já enfrentado”, o enigma que Deus enfrenta quando, como Deus santo
e justo, tenta aceitar os pecadores em Sua presença. Como pode Deus ser justo e
ao mesmo tempo justificar o ímpio?
O apóstolo Paulo apresentou esse problema em Romanos 3:26. Como pode
Deus ser “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus?” No verso 23, o apóstolo
resumiu o ensinamento dos três capítulos de Romanos quando deu o veredicto di-
vino: “Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus”. Isto estabelece a universa-
lidade do pecado, a experiência da raça humana no pecado. Todos pecaram. Por-
tanto, quando Deus, justo e verdadeiro, senta-se para julgar e exercer a justiça deve
pronunciar todo mundo como culpado, pois esta é a verdade dos fatos. Como então,
pode Deus, que é amor e compaixão, um Deus de misericórdia e graça, salvar qual-
quer homem? Como pode Deus receber em Sua presença um pecador quando estes
são os fatos? Deus precisa absolver ou justificar o inocente, mas condenar o culpado.
Como pais, estamos sempre prontos a desculpar o mau comportamento de
nossos filhos. Não nos sentamos como juízes para julgar a conduta deles. Quando
nos desobedecem estamos sempre inclinados a encontrar alguma escusa para essa
conduta, pois não queremos administrar a justiça como sabemos que deveríamos
fazê-lo. Justificamos assim os seus atos. Fazendo isso não estamos agindo com jus-
tiça, não agimos de acordo com os fatos apresentados. Por serem eles nossos filhos,
e porque os amamos, nós os desculpamos e não condenamos o culpado. Se fossem
os filhos do vizinho, seríamos justos, mas o amor nos impede de julgar aos que nos
pertencem.
Deus não pode agir tão injustamente com os homens, pois de acordo com Sua
santidade, retidão e justiça, deve julgar e condenar o culpado. Entretanto, se todo o
mundo é culpado, como pode alguém se salvar? Este foi o problema com. que Deus
se defrontou. Como ser justo e ao mesmo tempo justificar aquele que nada pode
fazer além de crer? E este problema nos traz o que se constitui na mais simples e ao
mesmo tempo mais profunda verdade da Palavra de Deus: a doutrina da justificação.
É para essa doutrina que quero chamar sua atenção, à medida que vamos desco-
brindo na Bíblia como um Deus justo e amoroso resolveu este problema de modo
que pudesse receber os pecadores em Sua presença.
Se nos reportarmos ao livro de Romanos, capítulo 8, descobrimos que a dou-
trina da justificação é, logicamente, a conclusão de um processo. Destaquei a palavra
logicamente, porque em ordem cronológica, todos os atos de Deus para a salvação
acontecem instantaneamente com base na fé que se tenha no Senhor Jesus Cristo.
Não há um desenvolvimento cronológico na obra salvadora de Deus, mas pode haver
um desenvolvimento lógico e é a essa progressão que o apóstolo se refere em Ro-
manos 8:29-30 quando diz: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou;
e os que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também
glorificou”. Você pode notar a progressão na apresentação de Paulo: começa com o
conhecimento, segue para a predestinação, depois ao chamado divino e finalmente
para a justificação. E a justificação é vista como o ponto alto da obra salvadora de
Deus. A ela só pode seguir-se a nossa glorificação, quando na glória seremos trans-
formados à imagem de Seu Filho.
Tornamo-nos filhos de Deus pelo novo nascimento. Quando alguém aceita Je-
sus Cristo como Salvador pessoal é colocado em Cristo Jesus pelo batismo do Espí-
rito Santo. Quando é colocado em Cristo, compartilha de tudo o que Cristo é, do
mesmo modo que a noiva unida ao noivo compartilha de tudo que lhe pertence.
A fim de podermos entender a obra da justificação é necessário lembrarmos de
algo que acontece quando somos colocados em Cristo Jesus. Primeiro, de acordo
com 2 Coríntios 5:17: “. . . se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas
já passaram; eis que se fizeram novas”. Quando a pessoa está em Cristo, o passado
se desfaz. Com isto o apóstolo demonstra a verdade de que todas as nossas antigas
relações foram cortadas. Nascemos neste mundo ligados a Satanás. Ele era o deus
deste mundo, o príncipe das forças do ar, e nós, súditos do Seu reino. Estávamos
relacionados ao reino das trevas, ao reino do pecado. Estávamos ligados a Adão,
pois ele era nosso pai. Estávamos relacionados com o pecado, pois este não apenas
nos caracteriza, como nos escraviza. Estávamos dominados pela velha natureza que
nos comandava, motivava e controlava. Tudo isto são as velhas coisas que foram
cortadas, ou “já passa-ram.” Quando somos colocados em Cristo Jesus, nos torna-
mos novas criaturas. Somos unidos a uma nova cabeça, Jesus Cristo. Recebemos
uma natureza nova e divina, somos levados a um novo Reino e feitos cidadãos de
uma nova comunidade. Os elos antigos se desfizeram, terminaram, tendo sido insti-
tuído um novo relacionamento.
O apóstolo mostra que, ao sermos colocados em Cristo Jesus, o velho relacio-
namento termina e um novo relacionamento é instituído. É como o relacionamento
que temos de manter com o lugar onde moramos. Ali pagamos nossos impostos e
nos submetemos às suas leis. Ao mudarmos para outro lugar, seja cidade, Estado
ou país, a antiga relação deixa de existir e uma nova relação é instituída.
do Espírito Santo, ligamo-nos de tal forma ao Filho de Deus que tudo que Lhe
pertence, passa a pertencer também a nós. Ele partilhou tudo conosco, exceto a Sua
divina essência. Quando o Pai nos vê na qualidade de filhos de Deus, Ele o faz como
se estivesse contemplando o Seu próprio Filho.
Todos estes fatos, como é lógico, antecedem a obra da justificação; porque
Deus primeiro remove todo o pecado, cancelando os débitos, e finalmente nos colo-
cando em Cristo Jesus como novas criaturas. Isto abrange o novo relacionamento
envolvido nessa nova criação. Deus nos concede a justiça de Cristo. Deus nos dá
inteireza no Filho, dá-nos toda a plenitude da divindade que habita no Filho. Depois,
então, é que somos levados diante do tribunal da justiça divina, a fim de que Ele
possa nos examinar e proclamar a justiça de acordo com os fatos. Uma única sen-
tença pode ser pronunciada com base nesses fatos: absolvição. Justificação — este
é o pronunciamento divino. Aquele que está em Cristo Jesus é completamente acei-
tável a Ele.
Gostaria muito que você se imaginasse sendo levado diante do tribunal onde
Deus preside como juiz. No vestíbulo da corte, você que já recebeu a Cristo como,
Salvador, está sendo preparado para se apresentar. Você está revestido de Cristo, é
uma nova criatura, está vestido da Sua justiça, recebeu a maturidade no Filho. Toda
a plenitude do Filho tornou-se sua, porque você está em Cristo. Você então atravessa
a sala ..do juiz e toma seu lugar diante do tribunal presidido por um Deus santo e
justo, que precisa julgar de acordo com os fatos apresentados. Ele deve justificar o
inocente e condenar o culpado. Se você estivesse diante desse Deus, santo e justo,
sem Cristo, sem ter aceito Seu sacrifício, só poderia haver um pronunciamento: “cul-
pado, condenado, sujeito à pena”. Mas quando você se apresenta diante desse tri-
bunal revestido de Cristo, só um? sentença pode ser aplicada por um Deus santo e
justo: “Absolvido!” Não há base para sua condenação. Apoiado na autoridade da Pa-
lavra de Deus, afirmo-lhe. que se você está em Cristo Jesus, não existe base alguma
sobre a qual um Deus santo possa pronunciar outra sentença a não ser esta: “ino-
cente!”.
A justificação não depende de qualquer alteração na santidade de Deus, nem
do fato de você ter sido pecador. A condenação permanece, pois todos os que peca-
ram foram destituídos da glória de Deus. Deus resolveu, porém, de forma tão perfeita
o problema do pecado, satisfazendo a todas as exigências impostas ao pecador que,
quando este se encontra em Cristo Jesus, não existe fundamento algum para excluí-
lo, como não há fundamento para excluir o Filho santo e eterno do próprio Deus.
Deus pode absolver alguém que tenha sido pecador; mas afirmo, baseado na auto-
ridade da Palavra de Deus, que Ele só pode justificar aquele que está em Cristo
Jesus.
A palavra de Deus inclui um grande número de ensinamentos sobre esta dou-
trina da justificação. Para apresentar brevemente alguns aspectos desta verdade,
quero citar sete passagens que nos mostrarão sete pontos diferentes da doutrina da
justificação. Primeiro, aprendemos que o homem é justificado por Deus. Em Roma-
nos 8:30 lemos: "... e aos que (Deus) chamou, a esses, também justificou...” Ou ainda
no verso 33: “Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os
justifica”. Nesta passagem vemos a primeira grande verdade, a origem da justificação
está no Deus santo e justo. Em Romanos 3:26, o apóstolo diz algo semelhante: “. . .
para Ele (Deus) mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus”. Esta
verdade reconhece o fato de que todo pecado é basicamente um pecado contra
Deus. Apesar de poder prejudicar o indivíduo ou seu semelhante, ou a sociedade, na
realidade todo pecado é contra Deus. Um homem pode cumprir seu dever em relação
a outro, ou ao Estado, mas isso não significa que o tenha cumprido no que se refere
a Deus. Esse dever não está cumprido enquanto Deus, justo juiz, não tenha sido
satisfeito. Precisamos, pois, antes de tudo, ser justificados por Deus.
Em segundo lugar, somos justificados pelo sangue. E em passagens como Ro-
manos 3:24-26 temos revelada a base da justificação. Deus planejou nossa justifica-
ção e providenciou também o modo como seria realizada; unicamente através do
sangue derramado por Jesus Cristo. Temos redenção pelo Seu sangue (v.24); temos
propiciação pelo Seu sangue; temos a remissão dos pecados, tudo através de Seu
sangue. O sangue é o fundamento da justificação porque as Escrituras revelam que
a vida está no sangue. E quando Jesus Cristo derramou Seu sangue, entregou Sua
vida. Era a vida dEle em substituição à sua, a morte dEle em lugar da sua morte,
para que você pudesse receber a remissão de pecados através do sangue de Cristo.
Em terceiro lugar descobrimos que somos justificados pela fé. A fé é o instru-
mento da justificação. Veja ainda em Romanos 3:28 “. . . concluímos, pois, que o
homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei”. Em Romanos 4:5:
“Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é
atribuída como justiça”, ou em Romanos 5:1: “Justificados, pois, mediante a fé tenha-
mos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”. Isto nos leva a concluir:
que não são as obras que trazem justificação. Homem algum pode liquidar o seu
débito em relação a Deus; ninguém pode chegar ao tribunal da justiça divina e ofe-
recer-se para trabalhar até pagar tudo, se lhe for dado tempo, pois mesmo a eterni-
dade não seria suficientemente longa para cumprirmos nosso dever para com Deus.
O homem não é justificado pelas obras, mas pela fé. É por essa razão que continua-
mente convidamos a todos para que recebam Jesus Cristo, pela fé, como seu Salva-
dor pessoal, pois sem fé é impossível agradar a Deus.
Em quarto lugar, descobrimos nesta passagem do livro de Romanos que somos
justificados pela graça, e isto nos dá a própria essência da justificação. Paulo es-
creve, em Romanos 3:24: “Sendo justificados gratuitamente por sua graça. . .” A
graça é o favor de Deus concedido aos pecadores, a fim de conferir-lhes aquilo que
jamais poderiam alcançar por seus próprios méritos, deixando de lado a sentença
por eles merecida. Paulo acrescenta aqui que somos justificados gratuitamente. A
palavra traduzida como “gratuitamente” envolve a ideia de “sem 'justa causa”, sem
qualquer razão ligada a nós. Deus não nos justificou por possuirmos qualquer quali-
dade positiva ou qualquer traço de bondade, nem mesmo porque valesse a pena
salvar-nos. Mas Ele nos justificou pela Sua graça infinita e incomparável.
Em quinto lugar, quando lemos 1 Coríntios 6:11 descobrimos que fomos justifi-
cados pelo Espírito. Depois de dar uma lista dos pecados da carne nos versos 9 e
10, Paulo explica: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos levastes, mas fostes san-
tificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus”. O Espírito que é o agente no novo nascimento coloca-nos em Cristo
Jesus. Pelo fato de termos sido postos em Cristo Jesus, Deus, um juiz justo, pode
pronunciar a sentença da absolvição, não porque jamais tivéssemos pecado, mas
por estarmos em Cristo. É a obra do Espírito que torna possível ouvirmos o veredicto:
“absolvido por este tribunal”.
Em sexto lugar, em Tiago 2, vemos que somos justificados pelas obras. Temos
aqui a evidência da justificação. Tiago diz: “Não foi por obras que o nosso pai Abraão
foi justificado...?” (v.21). “De igual modo não foi também justificada por obras a me-
retriz Raabe...?” (v.25). Estas referências são de justificação perante os homens. De-
pois de alguém ter sido inocentado por Deus, irá manifestar sua absolvição perante
os demais através da retidão produzida pela sua posição em Cristo. O homem não é
justificado diante de Deus pelas obras, mas demonstra através delas a sua justifica-
ção.
Finalmente descobrimos que somos justificados em Cristo. Isto nos dá a posi-
ção daquele que é justificado. Leia novamente 2 Coríntios 5:21 “Aquele que não co-
nheceu pecado, ele (Deus) o fez pecado por nós; para que nele (em Cristo) fôssemos
feitos justiça de Deus”. A justificação tornou-se possível por estarmos nEle. Justifica-
dos por Deus, justiça planejada; justificados pelo sangue, justiça providenciada; jus-
tificados pela fé, justiça procurada; justificados pela graça, o princípio divino pelo qual
é executada a justiça; justificados pelo Espírito, o poder pelo qual somos feitos justos;
justificados pelas obras, justificação provada; justificados em Cristo, justificação
possuída. Deus separou Abraão para Si e lhe disse: “Abraão, mesmo na sua idade
avançada você terá um filho. Olhe para as estrelas do céu e tente contá-las, se puder.
Sua descendência será tão numerosa como as estrelas nos céus”. E Abraão ouviu a
promessa de Deus e creu. Abraão, em seu coração, disse “Amém” à promessa, e
Deus declarou-o justo, ou justificado, porque confiou nEle.
A sentença de Deus recaiu sobre todos os homens. Todos pecaram e foram
destituídos da glória de Deus. Como então, pode Ele receber em Sua presença
aquele que está sob condenação? Deus, com infinita sabedoria, e pela obra do Es-
pírito Santo, coloca esse pecador em Cristo Jesus, torna-o nova criatura, torna-o jus-
tificado em Cristo, dá-lhe uma situação de perfeição- em Cristo, concede-lhe toda a
plenitude de Cristo. Depois de haver feito isto, Deus-Pai o examina e diz: “Não há
base para condená-lo, há, sim, uma base evidente para recebê-lo”. Conforme as pa-
lavras de Paulo em Efésios 1:6: "... nos concedeu gratuitamente no Amado”, isto é,
na pessoa de Jesus Cristo. Essa a razão pela qual o apóstolo João escreveu a res-
peito de Cristo segundo ele é, também nós somos neste mundo” (1 Jo 4:17). Da
mesma forma que Jesus Cristo não pode ser levado a julgamento perante Deus, por
ser o Filho de Deus, santo e sem pecado, quem está em Cristo Jesus não pode ser
também condenado, pois quando se coloca diante de Deus, este diz: “Eu o aceito no
Amado, declarando-o aceitável em relação à Minha justiça e santidade. Embora eu
não possa absolver o culpado, este não é mais o seu caso porque você está em
Cristo Jesus. Considero, pois, justificado aquele que estava sob condenação”. Esta
é sua situação diante do Pai, se você aceitou a Cristo como seu Salvador.
Se você não tiver Cristo como seu Salvador, sob a autoridade da Palavra de
Deus, eu afirmo que ao se apresentar diante do tribunal de um Deus justo, exata-
mente por ser justo, este poderá fazer apenas um pronunciamento. Desde que não
pode inocentar o pecador, Deus só poderá dizer: “Apartai-vos de -mim, malditos, para
o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. Se você aceitar a Cristo como
seu Salvador haverá apenas uma sentença que Deus, com justiça, pode dar : “Aceito
no Amado”. Qual será a sua sentença?

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