Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caso
estudo de
caso
Este estudo de caso se refere ao uso da Escritura na tradição das Igrejas Cristãs do Ocidente
contemporâneo. Seu foco recai sobre o monopólio pastoral-clerical da interpretação da
Escritura e como superá-lo. Este é, portanto, o problema a ser resolvido: como superar o mo-
nopólio clerical da interpretação bíblica na Igreja?
Bom trabalho a todas e todos.
“A Palavra Proclamada”
estudo de
caso
(2) A palavra internalizada deve, em seguida (do ponto de vista lógico, não
necessariamente cronológico), ser discernida, pois, ainda mais em nosso tempo, o
volume de palavras que circula entre as pessoas é imenso e sem controle, de modo
que é necessário “cuidado para que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia
e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do
mundo, e não segundo Cristo” (Cl 2,8). A palavra discernida é a palavra internalizada
refletida, criticada, analisada e verificada. Discernir é criticar, e a comunidade que
preza a Palavra de Deus não pode ter medo de exercer o discernimento crítico em
relação à palavra, especialmente em relação à sua própria palavra – é muito comum
que dogmas eclesiásticos bem como teologias e testemunhos pessoais sejam
confundidos com a palavra de Deus, e seus porta-vozes não mais sejam capazes de
perceber a diferença entre elas.
(3) A palavra discernida pode se tornar, então, palavra criativa – assim como a palavra
de Deus criou todo o mundo. A filosofia ocidental pós-virada linguística constata,
consensualmente, que o ser humano é ser de linguagem – a essência do ser
humano é a sua linguagem, que o distingue radicalmente de todas as demais
criaturas vivas na terra. Por meio da palavra, criamos mundos (seja na ficção, seja no
mito, seja na filosofia, seja na religião, seja na teologia, seja na ciência etc.), criamos e
recriamos a vida sociocultural e fazemos política, economia, ecologia etc. Por meio
da palavra criamos, infinitamente, os sinais e significados que dão sentido à vida
e ao mundo em que vivemos. A palavra proclamada gera vida, mas se distorcida,
gera morte: “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam
e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para
aqueles, cheiro de vida para vida. E para estas coisas quem é idôneo? Porque nós
não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo
com sinceridade, como de Deus na presença de Deus” (2 Co 2,15-17).
Unicesumar
4
estudo de
caso
(4) A palavra proclamada precisa ser verídica, pois é “falando a verdade, em amor” que
edificamos a comunidade, assim como é por intermédio da palavra que destruímos
nosso irmão e nossa irmã, conforme advertia Tiago: “Porque todos tropeçamos em
muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear
também todo o corpo. [...] Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de
grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva” (Tg 3, 2-5).
A palavra, assim, pode escravizar como também libertar:
Por sua própria ambiguidade, que é uma parte fundamental e essencial dela, a linguagem
deixa o ouvinte com uma ampla margem de liberdade. Como o que fala, eu, de fato, convido
o que me ouve a exercer sua liberdade de duas maneiras. Primeiro, cada ato de fala supõe
a concordância ou a rejeição. Em outras palavras, eu coloco meu ouvinte, necessariamente,
em uma situação de escolha. Uma situação onde há escolha há também liberdade. Mas, ao
mesmo tempo, eu o convido a usar o dom da liberdade, inerente à linguagem, assim como
eu o usei. Ele deve falar na sua vez, fazendo uso consciente de sua liberdade. Eu o convido
para entrar na difícil jornada do autoconhecimento e da autoexpressão, da escolha, da au-
toexposição e do desvelamento.
A palavra é a ferramenta básica da ação pastoral – e a ação pastoral, aqui, entendida
como ação de toda a comunidade. O monopólio clerical da palavra é um dos imensos en-
traves à renovação da Igreja e à legitimação do Cristianismo, no mundo contemporâneo. A
palavra monopolizada torna-se palavra meramente assertiva, institucionalizada, distante da
vida e do contexto real, pende para o polo negativo da escravização e da morte do próximo,
perde sua característica de evento (aquilo que não tem controle e não controla a vida) e
se reduz ao acontecimento (dogmático, doutrinário ou clerical). A palavra pastoral, para ser
palavra edificante e viva, precisa ser socializada, dispersa na vida da comunidade, circulan-
do entre todos os membros da comunidade e aberta aos de fora da mesma. Assim, embora
permaneça ambígua, a palavra pode ser geradora de vida, pois será palavra criativa, discer-
nida, refletida, discutida.
Unicesumar
5
estudo de
caso